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EXPRESSÕES FACIAIS E EMOÇÕES H U MANAS LEVANTAMENTO BIBLlOGRAFICO· Josinete Aparecida da Silva' Maria Júlia Paes da Silva 2 RES UMO: Este tra ba l h o tem porobjetivo reg istrar um leva nta mento bibliográfico feito nas á reas d e con heci mento de Enfermagem e Psicolog i a , sobre as expressões faciais e as emoções h u m a nas. Visa a uxi liar os profissionais de saúde a refleti rem sobre a i m portância da face nas rel ações i nterpessoais, mostrando as pesq u isas mais citadas em bibliografia específica , primeiro referente às crianças e depois aos adu ltos. UNITERMOS: Emoções - Expressão facia l - Prática profissional - Eq u i pe de assistência ao paciente 1 . INTRODUÇÃO o rosto é rico em potenci a l com u n i cativo , ocu pando o pri m e i ro lugar das zonas do corpo n a comunicação d o s estados emocionais. Alg uns estudos a legam que isso se deve à n ossa primeira infânci a , quando prestávamos mu ita atenção aos rostos que atendiam às n ossas necessidades; outros, tentam demonstra r q u e m uitas expressões faciais são i n atas, i ndependem de aprendizagem . Consideramos o rosto como a fonte primári a d e informações sobre a s pessoas e provavelmente form u l amos j u ízo acerca de sua personalidade por suas características faciais. Por exemplo, podemos ver u m a pessoa parecida com alguém que já con h ecemos, e apenas a partir dessa i n fe ri r c a r a cte ríst i cas d e i n f o r m a çã o , persona lidade similares a ela . Também pelo rosto, defi n i mos aproxi madamente sua idad e , etn i a e gênero. Sabemos q u e o ser humano uti l iza o rosto como um reg u lador das conversações, a bri ndo e fechando canais d e- c{)m u n icação (por exemplo, v i ra n d o o rost ó e d e s v i a n d o o o l h a r) , com plementando e q u a l ificando outros sinais não verbais em itidos pelo ind ivíd u o (q uando d izemos * "estou triste " e chora mos) , e em su bstituição a mensagens verbais, como por exemplo, q u a ndo alguém nos perg u nta "gostou"e sorri mos, ao i nvés de fa lar. A face h u m a n a mostra um g rande n ú m e ro de informações, que são a presentadas através de váIbst:p:sde si:ais .PauJEKMAN(5J, o pri ncipal pesquisados das expressões faciaisda atual idade, classificou os sinais faciais em q uatro categorias, descritas e seg u i r: a) sinais estáticos - aq ueles que não mudam ou mu d am pouco d u ra nte a vida d a pessoa , po r ex e m p l o , a estru t u ra ósse a , a pig mentação da pele. b) sinais lentos - são as mudanças q u e ocorrem com a idade e q u e se tornam mais evidentes na velh ice , por exemplo, rugas, pilosidades faciais, ca belos. c) sinais rápidos - os que ocorrem em q uestão de seg u ndos e que são , às vezes, mas sutis ou não, por exemplo, o tamanho da pupi l a , coloração da pel e , suor, tônus e contrações m uscu lares, posição da cabeça. d) sinais artificiais - assim cha m ados por i nte rferi re m n os veícu l os dos si n a i s estáticos e lentos, Excetuando-se os óculos de g ra u , a maiori a desses s i n a is são ut i l izados para a u mentar a bel eza ou combater os sinais d a idad e , por exemplo, cosméticos, tinturas, operações plásticas. Trabalho apresentado como Tema Livre no 46° Congresso Brasileiro de Enfermagem. Porto Alegre, 30 de outubro a 4 de novembro de 1 994. Aluna Monitora do Curso de Graduaçao em Enfermagem da Escola de Enfermagem da U S P . Enfermeira, Prota Dr' do Departamento d e Enfermagem Médico-Cirúrgica d a Escola d e Enfermagem da U S P . 1 80 R. bras. Enferm. Brasília, v. 48, n. 2, p. 1 80- 1 87, abr./jun. 1 995 Ekman e Friesen apud KNAPP (8) afirmam que as i nformações faciais a respeito de emoções podem ser i nferidas apenas a partir dos sinais rápidos, d e st a ca n do- se pri nci pal m e nte os movimentos faciais, o tônus m uscular, o tamanho da pupila, a coloração da pele e a posição da cabeça como indicadores emocionais. É importante registrar que os sinais rápidos também apresentam outros tipos de informações, tais como, os movimentos faciais significando doenças, temperamento , atratividade sexual ou até parentesco. Além do que, certos sinais estáticos e lentos contribuem para que as faces de algumas pessoas se assemelhem com os padrões de algumas emoções. Exempl ificando, algu mas pessoas possuem sobrancelhas distantes dos olhos (sinal estático) e rugas horizontais na testa (sinal lento) - sinais que caracterizam a su rpresa(8. 9) . Esse tipo de coincidência pode leva r o observador a cometer erros ao tentar julgar qual emoção está presente em uma determinada face, principalmente se a avaliação forfeita porfotografia . Quando o julgamento é feito na vida real , o u através de.filmes, é provável que a i nterferência dos sinais estáticos e lentos seja menor , pois em poucos momentos o observador pode distinguir a -linha de base" facial do observador ( 1 3). Até hoje, existem pelo menos seis emoções que parecem ser possíveisde serem identificadas pela expressão facial, em qualquer cultura já estudada. São elas: a cólera , a tristeza , o medo, a surpresa , a felicidade e o desprazer2•22). Certas pesquisas sugerem que. a identiflcaçlJo das expresslJes faciais de emoçlJes podem ajudar nos a prever condutas posteriores que a pessoa pode apresentar originadas pela emoçlJes nela existente. Como identificamos a emoção, às vezes, a ntes da própria pessoa tomar consciência dela, podemos conduzir a i nteração de maneira mais ou menos efetiva . ZAGO et alo ( 1 7) afirmam que, quando a comu nicação enfellTleiro-paciente é i n efetiva , o pacie nte pode com portar-se passivamente , o q ue pode levar à falsa impressão de relaxamento, e quando este insiste na utilização de um tipo de comunicação e a mensagem não t captada pelo e nfe rm e i ro , o pacie nte pode a prese nta r reações psico lóg icas negativas, agravando ainda mais a sua recuperação. As expressões faciais das emoções têm sido pesquisadas com diferentes objetivos, que podem ser classificados em quatro categorias: ( 1 3, 1 5, 16). R. 1- categoria - experimentos que procuram evidenciar quais sinais faciais são característicos dos diferentes estados emociona is. A maior dificuldade desse tipo de estudo está relacionada com a procura de estimulos que evoquem as emoções, ou as habilidades dos sujeitos para executar as expressões faciais solicitadas, Quanto mais a situação, diante da q ual a expressA0 facial é mostrada, aproxima-se de uma situação real ou natura l , mais aceitáveis são os resultados dos estudos. �categoria - experimentos que se preocupam com o problema da fidedignidade de julgamentos das expressões faciais de emoções, Embora a l iteratura nAo apresente estatísticas quanto às percentagens dos diferentes tipos de estudos nessa área, aparentemente esta modalidade de pesqu isa é a mais freqüente, pois até há poucos anos atrás havia controvérsias a respeito da u n iversa l idade das expressões fa ci ais d e emoções. Y' categoria experimentos que estudam os fatores que infl uenciam ou acompanham as diferenças nas habilidades para julgarcorretamente expressões faciais de emoções e a possibilidade de mel hora r essas habil idades através de treinamento. Os estudos realizados nesta área verificam que há correlação entre uma grande número de variáveis e a sensibilidade para a comunicação não verbal. Os estudos que tentam aperfeiçoara capacidade de julgamento dosjuízes, através de treinamento, são ainda muito recentes e inconclusivos. 4- categoria experimentos que verificam os sinais faciais de cada emoção e as contribuições m usculares para a produção desses sinais. A descoberta dessas unidades faciais de ação talvez possa ser comparada à descoberta de que toda a i nfin idade de palavras de uma l íngua é com posta de um número bastante reduzido de sons. Esses sons podem ser combinados e produziru m número quase ilimitado de palavras, frases, etc. Esse tipo de pesqu isa exige equ ipamentos sofisticados e consome bastante tem po . Existem também dois temas q ue ainda exigem uma séiie de pesquisas (7, 8, 12): é a detecção da mentira facial e a relação entre a simetria facial e . as expressões faciais d e emoções. Por exemplo, pessoas que possuem algum tipo de assimetria facial, como cicatrizes ou problemas neurológicos expressam e demonstram emoções com os mesmo músculos ou com a mesma i ntensidade bras. Enferm. - - Brasília, v. 48, n. 2, p. 1 80-1 87, abr.ljun. 1 995 181 que as outras pessoas? Para os profissionais de saúde, q u e entendem o ser h u m a n o com o alguém que sem pre se a p re s e nta co m a s p e ct o s b i o - p s i c o - s ó c i o espiritua is, identificar e entender a emoção presente no paciente , pode aj udá-lo a compreender suas ações e seu com portamento , visto q u e o mesmo é orig inado, pri ncipalmente, pôr suas emoções. O p rese n te t ra b a l h o p rete n d e a ux i l i a r os profissio nais d e saúde a reflet i rem sobre a i m portância da face nas relações i nterpessoais, fazendo um levantamento bibliográfico e agrupando várias pesq u isas q u e refletem sobre o tema . 2. CAM INHO M ETODOLÓGICO Foi feito u m leva nta mento n o sistema M ed Li ne que contém periódicos das diferentes áreas de sa úde do mundo todo , a pesarde não ter indexad as todas as revistas do m u nd o , no período de 1 987 a 1 993. Por considera rmos esse levantamento parcia l , pois po r exemplo, na área de enfermagem a ú n i ca revista brasileira indexada n o sistema é a Revista da Esco l a de Enfermagem da USP, uti liza mos também l ivros, teses, outros periódicos e os ANAIS de três S i m pósios Brasi leiros de Comu nicação em Enfe rmage m , acontecidos nos a nos de 1 988, 1 990 e 1 992 . Pelo levanta mento feito n o Sistema Med L i n e , encontramos d o i s artigos pu bl icados sobre o tema em 1 987, n e n h u m n os a nos d e 1 988 e 1 989, três em 1 990, quatro em 1 99 1 , cinco em 1 992 , dez em 1 993, total izando 24 a rtigos. Poré m , não foi possível consultar todos esses a rtigos - a maioria da área d e Psicologia - pois a l g u ns estão em revistas que não se e ncontram n o Brasil , ( a lém de estarem em a l g u m a o utra l íngua q u e não a espan hola , i ng lesa , fra ncesa ou ita liana) , ou estão co m a refe rê n c i a i n co rreta n o S i st e m a , i m possi b i l it a n d o s e u ped i d o pe l o C O M U T (Prog rama d e Com utação Bibliográfico da USP) . Percebe-se , pelos artigos mais recentes, q u e existe u m crescente i nteresse pelas pesq u isas quetrabalham com o recon hecimento das emoções nas expressões faciais a pós treina mento , em cu ltu ras dife rentes e com d eficientes mentais. Nos ANA I S dos 3 S i m pósios Brasi leiros de Com u n i cação em Enfermagem só encontramos um artigo que cita a face como seguimento corpóreo o n d e os enfe rm e i ros pode m i d e ntifi ca r as m e n sa g e ns (se nt i m e n t os) dos p a c i e n t e s 1 82 R. bras. Enferm. Brasília, v. entu bados em UTI 'S( 1 7). Procu rou-se ressaltar, no próxi mo item deste trabalho, as pesq uisas ma is citadas n os d iferentes estudos consultados, apresentando primeiramente os dados referentes às crianças e depois aos ad u ltos. Reg istrou-se ta m bém as pesq u isas que auxi l i a ra m na compree nsão da face , enquanto seguimento do corpo responsável pela transmissão e demonstração das emoções h u m a nas. 3. DESCRiÇÃO DAS PESQU ISAS O i m porta nte natura l ista C h a rles Darwin ela borador da Teoria da Evol ução - considerava que as exp ressões faci a is de e m oções são et iologica m ente dete rm i n adas, ou sej a , são comuns em toda espécie h u m a n a , independente da cultu ra ou origem soci a l . Ele identificou sete estados emocionais mais com u ns em crianças, acompa n h ados de expressões faciais disti ntas: ra iva , medo, afeição, aleg ria , i ncômodo, ci úme, tim idez. Em observações posteriores relatou sobre verg o n h a , embaraço , mágoa e resignação (1). Outros pesq u isadores ta m bém tra ba l h a ra m com crianças, especialmente as mais jovens, pois nestas podiam observa r m e l horar as influências da hereditariedade e da aprendizagem na formação das expressões faciais h u m a nas ( 1 . 2, 4) . H e rz a apud C HARLESWORTH & KREUTZER(l), fotografando 38 bebês de uma hora a duas semanas de vid a , observou q u e logo após o nasci m ento , já aprese nta ra m expressões variadas como bocejos, sorrisos, choro , atenção visual, com g rande mobilidade facial e organ ização neurom uscu lar, sugeri ndo que muitas expressões faciais são controladas em g rande extensão pela h e reditariedade ou fatores não a p re n d idos. CHARLESWORTH & KRE UTZE R (1) relata m que as expressões faciais podem ocorrer nas pri meiras horas de be bês nascidos a termo, assim como nos prematuros; tam bém considera ra m o choro, o sorriso e a g a rg a l h a d a as t rês expressões com porta menta is que ocorrem mais ced o no ser h u m a n o e o acompa n h a m até a morte. Popu larmente , o choro tem a função de sinalizar u m i n cômod o . Dor, incômodo gera l , i nterru pção da a l i mentação, retirada de u m brinquedo ou afasta mento de u m a d u lto, podem prod uzir o choro na criança ; o choro é u m sinal de ang ústia . A presença do choro pode serta mbém u m sinal de med o ; Sti rn i m a n n apud C HARLESWORTH & KREUTZER(l), descreveu q u e o choro e o medo 48, n. 2, p. 1 80 - 1 87, abr./jun. 1 995 são expressos pela criança n o parto , quando o oxigênio está escasso . Na maiori a d os estudos, a gargal hada a parece mais tardiamente q u e o sorriso , ocorrendo em bebês mais freqü entemente pela estim ulação táti l e social (cócegas por pessoas con hecidas) . Com o tempo, há uma resposta mais efetiva a estímulos sociais (pessoa sorri ndo , bri ncando) . Para Darwi n a p u d C HARLESWORTH & KRE UTZER( l ), a aq u i si çã o g ra d u a l d a expressão fa c i a l d a g a rg a l h a d a , d e v e - s e à n e c e ss i d a d e d e desenvolvimento d o aparelho neuromuscular, para articulação de sons e movimentos da boca . Outros pesq u isado res procu ra ra m analisar a capacidade do bebê em reco n h ecer expressões faciais e com portamentos d as outras pessoas. C o n c l u í ra m q u e p ro va v e l m e n t e , a l é m d a estimulação aud itiva e táti l d a pessoa q u e fa la o u toca a criança , o con heci m e nto d o contexto e d e com portamento a nteriores contri buem para o recon heci mento da e moção ( 1 . 3 , 4 , 8) . Buhler e Hetzer apud CHARLESWORTH & KREUTZER ( 1 ), concl u íram que crianças a partirde 5 m eses, são ca pazes de d i st i n g u i r faces sorridentes e vozes a m igáveis, d e faces e vozes raivosas e q u e , após o oitavo mês, d iscri m i n a m os gestos afetu osos d o s a meaçado res. C H A R L E S WO R T H & K R E U TZ E R ( 1 ) , observando a resposta d e quarenta bebês (de 4 a 1 0 meses) a u m experimentadorque representava expressões de raiva , alegria, tristeze e neutralidade, a companhadas de vocal ização a prop riadas , concl u íra m que as crianças a parti r d e seis meses, d iscri m i navam as expressões, respo nde ndo adequadamente . Considerara m que a falta d e i nd ícios com portamentais n as primeiras semanas não sign ifica que os bebês desta idade são inca pazes d e reco n h ecer e moções. Bebês com alguns m i n utos de vida i m itam expressões faciais d e o utras pessoas; para P EASE (lO) , a i m itação é u m m odo d e t ra nsmitir q u e se está de acordo com as atitudes d o o utro , q u e ele nos ag rada , é uma forma de e m patia. Esses estudos referem que crianças até seis m eses podem ter a capacidade de reco n h ecer as e moções, contudo apresentam também pouco d esenvolvimento neur0lT! uscular, ou há a usência d e m etodologia adeq uada para pesq uisar o reco n heci mento das suas emoções. De fato, parece que a m etodologia uti l izada tem sido m u itas vezes barreira para o estudo do reconhecimento das expressões facia is. Darwi n e Gates apud CHARLESWORTH & KREUTZER( 1 ) d efendiam que a ca pacidade de reco n h eci mento em crianças a partir de 3 anos aumentava com a idad e , pois a metodologia que util izaram exigi a q u e as cri a n ças, a o verem as fotog rafias, verbal izassem seu j u lgamento a respeito das expressões faciais; as crianças com menor idade ti nham maior d ificu ldade d e se expressarem ve rba l m e nte, e porta nto , menor acerto das respostas. Ekman e Friesen a pud EKMAN (4) descreveram estórias sim ples a 1 30 crianças de um g ru po pri m itivo da Nova G u i n é e depois solicita ram que apontassem u m a entre suas fotografias com expressões faciais de e moções h u manas. Esta técn ica red uzi u o papel da verbal ização e houve acerto de 90% e m méd i a , sem d isti nção entre idade de 6 a 1 5 anos. O contexto tem tam bém u m papel i m portante na i nterpretação das expressões faciais. As cores quentes e brilhantes tendem a pred ispor o afeto para valores positivos, enquanto cores sombrias produzem um efeito contrário (2, 8) . Um i nteressante estudo d esen volvido por H o n kavaara apud CHARLES WORTH & KREUTZER ( 1 ) relatou que m a is d e 50% das · cri a n ças d e 3 a 4 a n os identificara m u m a m e n i n a com expressão facial triste e vestido vermelho como sendo uma "menina alegre". Uma característica fa cial pode ter vários sign ificados, por isso n u nca deve ser anal isada isoladamente ; a presença d o ru bor facial pode expri m i r raiva , vergonha ou alegri a . A expressão facial está sempre acompanhada de outros sinais n ã o-verbais, como entonação das palavras, posição d o tronco e mem bros em relação a algo ou alg u é m , e d istância existente entre as pessoas. Esses sinais tam bém d evem ser considerados para a decod ificação correta do estado emocional predo m i n a nte nas pessoas. (2 , 3 , 8, 20). M u ito se tem estudado também sobre o papel da aprendizagem e da cultura n a aq u isição e demonstração das expressões faciais. Estudos com "crianças selvagens", queforam a bandonadas pelos pais e cuidadas por a n imais, relatam que esta têm expressões faciais semelhantes às das c ri a n ç a s s o c i a l i z a d a s , co m d i sto rçõ e s com porta mentais sig n ificativas, a s quais não podem ser totalmente compreendidas por não haver alguém que se comu nique com a criança n a mesma l i nguagem(4). T h o m pso n a p u d C HA R L E S W O R T H & K R E U TZ E R ( 1 ), e st u d a n d o c ri a n ça c e g a s R . bras. Enferm. Brasília, v. 48, n . 2 , p . 1 80-1 87, abr.lj un. 1 995 1 83 congên itas , con cl u i u q u e estas apresentam expressões faciais de emoções, com decrésci mo da atividade facial em sorriso e gargal hada , p ro p o rci o n a l m e nte a o a u me nto d a i d a d e . C u ri o sa m e nt e , A m b ro s e e G ewi rtz a p u d CHARLESWORTH & KREUTZER(1 ), expondo cria nças i nstitucional izadas excl usivamente a cu idadores q u e se a presentavam somente com faces neutras, o bservam que essas sorrira m mais tardiamente e menos vezes que as que 'estavam com a fam íl i a . Assim , concluíram que o reforço ou retri b u i ç ã o socia l i n t e rfe re m no tempo d e aparecimento e freqüência das expressões faciais. As crianças cegas, tendo diminuída a possibilidade reforço social (a provação e retri buição das outras pesso as) a s u a s expressões, red uzira m a freq üência de sorrisos e gargal hadas. Estudos com adu ltos envolvem maiorcontrole m et o d o l ó g i c o e c o n h e c i m e n t o s o b re o com portamento individual e cu ltura , pois maior é a possi bil idade de h aver controle da a parência visual , med i a nte m eca n ismos cu ltu ra l m e nte aprendidos como emblemas e exposição de regras (2. 6 . 7. 12. 13) Exposição de regras são as normas culturais com relação à aparência facial esperada e determ ina quando uma expressão facial d eve ser moderada , exagerada , d isfa rçada ou supri m id a . Emblemas são os atos não verbais que têm sign ificado comum aos mem bros d e u m a cultu ra , envolvem mais comumente as mãos, e são usados nas i nterações sociais, especia l m ente quando não se pode usar as palavras, q uando há necessidade de silêncio ou distância (4. 5) . Assi m , para alguns africa nos, a su rpresa e o e m baraço são expressos por uma risada (em blema) , ou em um fu nera l , os orientais perm a n ecem com uma face neutra , d i m i n u i ndo a expressão de tristeza (uma reg ra socialmente aprendida) . . Outro exemplo d o papel da exposição de reg ras pode ser demonstrado por uma pesq u isa re a lizada com estudantes u n iversitários japoneses e . a m e ri ca n o s , os q u a i s ass i st i a m fi l m es estressantes e depois relatavam suas impressões. Os dois gru pos a ltera ra m suas expressões faciais para m a is neutra q u a n d o na presença dos pesqu isadores; e os japoneses relataram mais senti mentos positivos que negativos (3 , 4). Seg u nd o EKMAN( 4), quando uma emoção é experenciad a , h á m udanças na expressão facial se a exposição d e reg ras não i ntervé m , ou sej a , para cada emoção h á u m padrão d e expressão 1 84 R. bras. Enferm. Brasília, v. facial, Outras sensações físicas, afi rmações ve rbais, movi m e ntos corpora i s e ati vidad es autônomas são cu ltura lmente variáveis. Por exe m p l o , co m ra i v a , u m a pess o a at a ca verba lmente , outra corporalmente, outra i ron iza ou se deprime, de acordo com os hábitos próprios ou da cultura . A s expressões faciais são menos volu ntárias que os emblemas, as pessoas podem não percebê las até que outro chame sua atenção, enquanto os emblemas são vol u ntários, as pessoas sabem quando e como usá-los (5 , 7, 12) . D u mas a pud CHARLESWORTH & KREUTZER( 1 ), observando 33 cegos congênitos, de 1 2 a 20 anos, percebeu q u e apresar d e terem expressões faciais de emoções semelhantes às das pessoas que vêe m , e ra m i n capazes de descrevê-Ias q u a nd o q u esti onados, dando a expressão de emoção u m ca ráter mais corporal (bater palmas quando se está feliz, por exemplo) . Este experi mento demonstrou q u e m u itas vezes as expressões faciais não passa m pelo n ível consciente do indivíduo, mas podem ser percebidas pelos que as observa m . Ekman a pud DAVIS (3) estudou o j u lga mento de emoções através de expressões faci ais "micromomenfáneas", as q u a is acontecem em frações de seg u ndos. Com a aj uda d e um taq uitoscópio, projetava fig uras a uma velocidade de 1 /1 00 de segundo, e as pessoas de estudo d iziam não enxergar nad a , além d e uma tela branca , dando seu parecer por "pura conjectura" O número de acertos nos j u lgamentos foi m u ito alto , indicando que mesmo a essa velocidade, a percepção h u mana ca pta expressões faciais de emoções. Menor acerto foi conseg uido para expressões desag radáveis, como nojo ou raiva , levando Ekman a i nferi r que possivelmente as pessoas tinham u m bloq ueio à percepção ou verbal ização dessas expressões . Normal mente , uma expressão facial acontece de 3/4 a 1 /2 segund o e se engloba em expressões precedentes e posteriores, bem como movimentos corporais e manifestações verba is. Podem existir m istu ras de emoções, quando d u as ou mais emoções coexistem ou q u a n d o o há bito as co m bi n a ; a ra iva, por exe m plo , pod e estar associada ao medo , ou o medo à su rpresa (3). A região dos olhos é quase sem pre controlada i nconscientemente, em especial , as pupi las. Hess apud DAVI S(3) demonstro u q u e as pupilas,diante de fig u ras, gostos e até sons agradáveis, d i lata m , 48, n. 2, p. 1 80 - 1 87, abr./jun. 1 995 . . enquanto q u e nas situa ções d esag radáveis, contraem-se . Quando observamos os olhos d e alg u é m , seg u ndo esse a utor, inconscientemente , procuramos o g ra u d e d i latação pupilar. Pessoas cujas pupilas estão d i l atadas são consideradas mais atraentes, sim páticas. A fixação d o olhar com a pupila dilatada demonstra i nteresse, atração, necessidade d e transmitir afeto o u senti-lo(3). Tra b a l h o s m u it o i nteressantes têm sido , d esenvolvidos a fi m d e se o bservar, reg istrar e analisar o com po rtamento facial em d iversas cu ltu ras. E k m a n e F ri ese n a p ud KNAPP(8) oferecera m fotog rafias de norte-americanos com expressões faciais d e felicidad e , tristeza , med o , raiva , su rpresa e n oj o a pessoas d e 5 países (Japão, Brasil, EUA, C hile e Argentina), solicitando que fornecessem j u lga mento a respe ito das expressões; o índice de acerto/concord ância em todos os pa íses foi m u ito a lto , atingindo u m a médi a d e 85% . Repetindo o experi mento com pessoas de u ma com u n idade não alfabetizada na Nova G u i n é , sem i nfl uência da cultu ra norte ameri ca n a , o btiveram resu ltados semelhantes, s ug e ri n d o q u e estas expressões facia is d e e moções são u n iversais, o u sej a , possuem o mesmo sig n ificado em vari ad as culturas. Izard a pud KNAPP(8) também realizou estudos com pessoas d e 9 países disti ntos acerca de demonstração e d ecodificação das expressões faciais de excitação , alegri a , surpresa, ang ústia, n oj o e verg o n h a , con cl u i n d o que não houve dife renças sig nificativas nas d iversas culturas. Consideramos perti n e nte reg istrar também neste tra ba l h o um resumo das d escrições feitas em bibliografias consultada sobre a demonstração de algumas e moções através d as expressões faciais, com o i ntu ito de a uxi l i a r o enfermeiro e outros profissionais d e saúde a entendere m o ' paciente e os eleme ntos d e sua equipe, no d ia-a , , , 2, , d i a( 3 4 8 1 1 1 4). Descrição de expressões faciais de emoções : Afeição/Amor. fixação do olharcom pupila d i latada , "olhar brilhante': "endireitamenfo" do nariz. Alegria/Prazer. ru bor faci a l , l evantar pálpebras, sorriso, gargalhad a , beij os, "olhar brilhante". Ansiedade: suo r n a reg ião frontal , pal id ez, rugas n a fronte , mordiscar os lábios o u cutícu l a . · · · Dor/lnc6modo: choro , olhos fechados, ru g a s n a testa , l á b i o s com p ri m i d o's, aumento da rig idez faci a l , com issu ra da boca para baixo , suor fri o . Dúvida : "lábios e m bico ", i n cl i n a r latera l m e nt e a ca b e ça , e rg u e n d o as sobra ncel has. Interesse: olhar na d i reção do objeto ou d a pessoa, sorriso, meneio positivo da ca beça. Medo: pál pe bras fechadas rapidamente, o u a brindo-se excessivamente, expressão "seria" e ríg i d a , franzi menta dos lábios . • Raiva/Ódio: ru borda face, dentes e maxilar cerrados, protrusão dos lábios, enrugamento da pele ao redo r dos o lhos, olhar fixo n o o bj eto d a raiva , c o m p u p i l a contra íd a . Surpresa: abertura d a boca e d o s olhos , e rguendo as sobrancelhas. TimidezlVergonha: ru bo r na face, abaixar os ol hos, mudança do foco do olhar, leve protrusão d a líng u a , o bservação através d os cílios. Tristeza: com issu ra d a boca voltada para ba ixo , s o b ra n ce l h as o b l íq u a s , "olhar cabisbaixo", choro . · · · · · · · · 4 . CONSIDERAÇÕES FINAIS É i m portante lem brar novamente que a face, a pesar d e ser a zon a pri n ci pal de demonstração d as e m o ções, d eve ser contextualizada n o conj u nto d a s o utras expressões n ã o verbais d o ser h u m a n o . N osso sentimentos estão tam bém expressos e m n osso atos, em n ossos corpos, ass i m co m o os d os nossos cl i e ntes e stão expressos,n os d eles. Portanto, é pertinente lembrar q u e i> estudo das expressões faciais de e moções deve ser necessariamente acompanhado do estudo d e t o d a a com unica çllo n ll o verbal. O profissional d e saúde d eve pois, estar a pto a d ecod ifi car e uti lizar as expressões não verbais, a fim de estabelecer um plano terapêutico i n d ivid ual e coerente com a p e rcepção co rreta d os sentimentos e necessidades expressas verbal e não verbal m e nte pelos seus cl ientes, bem com o s e r capaz d e esta belecer uma com u n i cação tera pê utica com esses, já que crianças e adu ltos reco n h ece m as expressões faci ais e o utras expressões não ve rbais, daq u e l es q u.e l h es prestam assistênci a . A s d escobertas sobre expressões faciais de e moções estão l i m itadas por alguns fato res q u e . R . bras. Enferm. Brasília, v. 48, n . 2, p . 1 80-1 87, abr./jun, 1 995 1 85 i nterferem na sua pesq u isa , como a ausência d e estudos l o ng itud i n a i s (q u e a co m p a n h e m o desenvolvi mento do i ndivíduos da i nfâ ncia à fase adu lta) , dificuldade d as pessoas em verbal izarem os próprios senti m e ntos ou de se com u n i carem co n s c i e n t e m e n t e n ã o - v e rb a l m e nt e ( 1 ) . O s interessados nessa área, aqu i no Brasi l , enfrentam ainda a d ificu ldade de saber q u e , apesar de pesq u isas relatara m a existência de expressões faciais de emoções u n iversais, também existem d iferenças cultu rais na demonstração de m u itas outras. Essasdiferenças dificulta m a transposição l iteral das concl usões de experi mentos real izados fora do país, todavia os d ados conseg u idos até o m o m e nt o n ã o pod e m s e r ig n o ra d o s pe l a enfermagem . Apesar dessas d ificu ldades, existem dois cursos que visam contri b u i r para a m e l horia da capacidade d e j u lgamento das emoções através da face : o Unmasking lhe face, de Ekman e Friesen e o Max-Affex, de Izard (3. 8. 13). Esses cursos não são m i nistrados no Brasi l e apenas u m deles foi testado com u niversitári os brasi leiros por S I LVA (1 3 ). Parece que as evidências mais fortes de que e les real mente são eficazes, são d erivadas d a s bases c i e n fíti ca s uti l izad a s n a s s u a s e l a b orações e n a s co i n ci d ê n ci as d e s e u s conteúdos, apesar de terem s i d o desenvolvidos independentemente. U m aspecto i m po rtante desses resu ltados pa ra a enfermagem é que os sujeitos trei nados melhorara m a capacidade de j u lgamento com poucas horas d e trei namento, ou seja, é possível se i m plantar um cu rso assim nos prog ra m a s de e d u ca çã o c o nt i n u a d a d a s i nstituições de saúde. Ainda não existem resu ltados concl usivos q uanto a esta bil i d ad e tem pora l pa ra j u lg a r expressões faciais (d uração deste conhecimentos na memória) , aceita ndo-se que variáveis como motivação, atenção e condições físicas, podem alterar essa habilidade nos ind ivíd uos. Poré m , u ma v e z e nsi n a d o , n ão esta m os d a nd o a o p o rt u n id a d e d o profiss i o n a l uti l izar essas informações sempre que for possível pelo menos? ABSTRACT: The present work i ntendsto divu lge some Nu rsing and Psychology'publ ications about h u m a n facies and emotions. I ntends do help the health professional t h i n king about the facial expressions of emotion in the i nterpersonal relationsh i ps, showi ng the researches more cited at specific bibliog raphy, fi rst regard i ng to ch ildren and to adu lts. KEYWORDS : Emotions - Faci a l expression - Professional practice - Patients ca re team REFERÊNCIAS BI BLIOGRÁFICAS 1 . C H A R L ESWO R T H , W . 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