fica a dica - Curso de Redação Rogi

Transcrição

fica a dica - Curso de Redação Rogi
Nº 04 – Maio 2015
Nesta edição
Editorial
O futuro a cada instante
3
4
5
7
IMAGEM EM FOCO
O
futuro é o próximo milésimo de segundo, é a
oportunidade à vista, confunde-se com o presente e,
como se diz por toda parte, constrói-se no agora.
Nesta edição, a proposta é pensar no amanhã de uma
maneira ampla e abrangente: vamos refletir coletivamente, pensar nos
rumos da sociedade e – por que não? – da humanidade.
Na seção “Entrelinhas”, trazemos um assunto que é pré-requisito
para se construir um futuro mais justo: os caminhos da educação e o
valor que damos aos protagonistas do processo de transmissão do
conhecimento, os quais dedicam os instantes de sua vida a um amanhã
mais consciente. Afinal, em que estágio do desenvolvimento educacional
da sociedade estamos? De que maneira podemos nos posicionar como
agentes na luta por uma educação mais humana e enriquecedora?
Seguindo esse raciocínio de desenvolvimento e evolução,
adentramos duas outras seções que convidam para um mergulho no
mundo das pesquisas e descobertas que, a cada instante, avançam
em prol da saúde humana: em “Contexto”, a situação epidêmica de
dengue em diversos estados do país é a deixa para conhecermos
a ciência que desvendou as doenças transmitidas por mosquitos
e pensarmos também sobre a responsabilidade que assumimos,
como cidadãos, no controle da transmissão dessas doenças; já em
“Entrevista”, vamos conhecer uma “profissão de futuro”, a Biomedicina,
que tem ganhado espaço e visibilidade no ramo da saúde.
Reflita sobre os próximos passos do caminho que você tem
trilhado em busca de uma sociedade mais engajada. Aproveite seus
instantes de leitura!
Acervo on-line
Uma das 2 mil fotos da história do Brasil
ENTRELINHAS
Protestos pela educação
Os significados dos gestos e das palavras
CONTEXTO
Mosquitos como vetores
A transmissão de doenças como a dengue
PLUGADO
Entrevista: Biomedicina
Uma carreira em prol da saúde humana
PARTICIPE DO ESPAÇO LITERÁRIO!
“Espaço literário” é a seção* de literatura do Leia Agora e
queremos dividi-la com você, nosso leitor, como uma forma
de estimular sua participação, além de divulgar e descobrir
novos talentos. Se você tem um poema, uma crônica ou
um pequeno conto que gostaria de compartilhar, envie para
[email protected], indicando o seu nome, a sua
idade, a Unidade Parceira e a sua cidade.
A sua composição poderá estar nas próximas edições. Participe!
*A Editora Poliedro não realiza a edição dos textos veiculados
nesta seção, respeitando, assim, a liberdade de criação do(a)
autor(a) integralmente.
Equipe Leia Agora
Expediente
Edição:
Texto:
Ilustração:
Projeto gráfico:
Revisão:
Diagramação:
Licenciamento:
Anaiza Selingardi, Erica Moraes, Matheus Monteiro e Vanessa Pereira
Anaiza Selingardi e Matheus Monteiro
Pedro Nogueira
Willyam Gonçalves
Tamires Faria Fonseca e Kemi Tanisho
Paula Oliveira
Letícia Aparecida Tashiro
// NOTÍCIAS EM FOCO
$
Caixa revê crédito a
imóveis após poupança
perder R$ 7 bilhões
Prefeitura de SP registra
quase 39 mil casos de
dengue e oito mortes
O número é 2,7 vezes maior que o do
mesmo período de 2014, quando a
cidade computou 14.219 casos. Até
agora, a Secretaria Municipal da Saúde
confirmou oito mortes decorrentes
da doença. Outros 25 óbitos são
investigados.
7 maio 2015
G1
$
Nave espacial russa
desintegra-se ao
chegar à Terra
Uma nave espacial de
abastecimento russa,
não tripulada,
desintegrou-se hoje (8)
ao cair sobre a Terra,
após sofrer falhas de
comunicação a caminho
da Estação Espacial
Internacional (EEI). A
nave transportava
oxigênio, água e
alimentos para a equipe
de seis astronautas da
EEI.
8 maio 2015
Agência Lusa
Principal fonte de financiamento da
habitação no país decidiu rever a
concessão de empréstimos dentro
do Sistema Financeiro da Habitação
(SFH), especialmente para novas
obras e imóveis usados.
Diante de recursos escassos,
a prioridade será cumprir os
empréstimos já contratados pelas
construtoras, incluindo eventual
promessa de financiamento
aos clientes desses
empreendimentos.
Desemprego
ficou em 7,9%
no primeiro
trimestre de
2015, diz IBGE
No trimestre anterior,
índice era de 6,5%. A
taxa de desemprego
subiu nos três
primeiros meses
deste ano e chegou
a 7,9%, segundo
dados divulgados pelo
Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística
(IBGE). O percentual
equivale a 7,934
milhões de pessoas.
7 maio 2015
G1
Brasil
Meio Ambiente
$
Economia
Educação
Saúde
Internacional
Energia
Campanha de vacinação contra
gripe imunizou menos de 30% do
público-alvo
Após 11 dias de campanha de vacinação
contra a gripe, apenas 29,24% do público-alvo já foi imunizado. O grupo mais vulnerável
a complicações da doença é formado por 49,7
milhões de pessoas, das quais 14,5 milhões
foram vacinadas, segundo balanço divulgado
pelo Ministério da Saúde.
18 maio 2015
Agência Brasil
8 maio 2015
Folha de S.Paulo
Russia threatens to
ban Google, Twitter
and Facebook over
extremist content
Facebook and Twitter,
in particular, have been
instrumental to organisers of
opposition protests in Russia,
where the major television
news channels are controlled
by the state. Since the start
of Vladimir Putin’s third term,
the government has launched
a crackdown on the internet,
passing laws that give state
supervisory bodies wide-ranging powers to regulate
and block websites.
20 maio 2015
The Guardian
Inscrições do
Enem começam
às 10h do dia 25
de maio
Inscrições ficarão
abertas até as 23h59
do dia 5 de junho. O
Enem será realizado
nos dias 24 e 25 de
outubro.
La oposición recurre
la “ley mordaza” al
vulnerar 12 puntos de
la Constitución
O emprego na indústria
caiu 0,6% em março
em relação ao mês
anterior, segundo
informou o Instituto
Brasileiro de Geografia
e Estatística (IBGE).
É o terceiro resultado
negativo seguido.
La oposición presentará
este jueves en el Tribunal
Constitucional un recurso
contra la ley de Seguridad
Ciudadana, conocida como
ley mordaza, que entrará en
vigor el próximo día 1 de julio.
El texto del recurso considera
que la norma vulnera una
docena de artículos de la
Constitución y es la primera
vez que un texto de este tipo
es suscrito por casi todos los
grupos parlamentarios, salvo
el mayoritario, en este caso el
PP. Los derechos afectados,
según el recurso, son
fundamentalmente los de tutela
judicial efectiva, manifestación,
reunión y expresión.
19 maio 2015
G1
20 maio 2015
El País
18 maio 2015
G1
Emprego na
indústria cai pelo
terceiro mês
seguido, diz IBGE
2
$
TCU: atraso em elétricas causa
prejuízo de R$ 8 bi e faz subir
conta de luz
Atrasos em obras de geração e transmissão
de energia nos últimos anos no país resultaram
em prejuízo bilionário (mais de R$ 8 bi),
aumentaram a conta de luz e contribuíram
para insegurança do sistema elétrico.
20 maio 2015
UOL
Dilma sanciona Marco da
Biodiversidade em evento no
Planalto
Lei regulamenta o acesso ao patrimônio
genético de plantas e animais do país,
bem como de conhecimentos indígenas e
tradicionais associados. Na prática, o texto
estabelece um marco legal para a exploração
da biodiversidade brasileira.
No azul, Petrobras alimenta alta da
Bolsa e investimentos no Brasil
Acervo on-line
oferece fotos da
história do Brasil
em alta definição
A recuperação das ações da Petrobras,
cujos resultados do primeiro trimestre
surpreenderam na sexta (15), tem o potencial
de impulsionar um novo ciclo de alta na
Bolsa brasileira e uma entrada maior de
investimentos estrangeiros no país.
São duas mil fotos
digitalizadas, da
Biblioteca Nacional
e do Instituto
Moreira Salles. As
imagens têm uma
riqueza de detalhes
impressionante.
Momentos históricos
do Brasil estão
ao alcance de um
clique, em: <http://
brasilianafotografica.
bn.br/>.
20 maio 2015
G1
18 maio 2015
Folha de S.Paulo
Milícias xiitas tentam recuperar
Ramadi após conquista pelo
Estado Islâmico
Grupos de milícias xiitas estão na cidade
iraquiana de Ramadi para ajudar as forças
de segurança do Iraque a recuperar a cidade
do controle do grupo Estado Islâmico, que
a tomou no domingo (17), após intenso
combate.
19 maio 2015
G1
18 maio 2015
Agência Brasil
Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 20 maio 2015.
Avenida Paulista, Guilherme Gaensly, 1843-1928. Imagem
do acervo on-line da história do Brasil.
// IMAGEM EM FOCO
Todas as notícias foram adaptadas e todos os sites foram acessados em 18 fev. 2015.
3
ENTRELINHAS
Os professores do Paraná e a educação no Brasil
Nos protestos, as palavras e os gestos têm um significado maior do que podemos imaginar em um primeiro momento.
TEXTO
[...] Quando testemunho as manifestações
de repúdio ao massacre de Curitiba, sinto
esse misto de esperança e de incômodo.
Esperança pelos motivos óbvios. Quem sabe
não acordamos, todos nós, para o buraco da
educação no Brasil? [...]
Wilson Dias/Agência Brasil
02
Agora, o incômodo. O que esse limite revela
sobre o que não é limite? [...] Em resumo:
pode pagar salário indecente, pode botar
gente pra ensinar e gente pra ser ensinado
debaixo de um teto que pode cair, pode quase
tudo. Só não pode ferir com balas de borracha
e sufocar com bombas de gás lacrimogênio.
Ah, pit bull também pega mal. Bem, isso
os governantes acabaram de aprender que
não podem fazer sem provocar repúdio dos
eleitores. Já o resto... [...]
BRUM, Eliane. “Humilhar e ignorar professor pode.
Sufocar e ferir não”. El País, 11 maio 2015. Disponível em: <http://
brasil.elpais.com/brasil/2015/05/11/opinion/1431351138_436101.
html>. Acesso em: 13 maio 2015.
TEXTO
01
O
texto e a foto fazem referência
ao protesto dos professores
em Curitiba que ocorreu no
final de abril e que foi marcado
pelo confronto entre policiais e protestantes e pela atitude violenta da polícia militar.
O artigo de opinião de Eliane Brum
expressa o repúdio pela ação violenta
empregada contra os docentes e, consequentemente, a simpatia pelos que
mostraram a mesma indignação. Para
tanto, a autora não precisou explicitar
cada intenção no texto, mas pôde deixar
algumas implícitas, por meio de certas
opções de redação.
A jornalista usa a palavra massacre,
por exemplo, para intensificar a impressão do leitor a respeito da ação policial,
que foi muito violenta. Assim, essa ação
não parece neutra nem justificada, sequer
moderada; pelo contrário, na imaginação
de quem lê, ela desperta a compaixão
pela vítima e a ira contra o agressor, pois
Em Curitiba, no dia 5 de maio, professores protestam contra violência policial.
ANÁLISE
sugere o condenável, o excessivo, a desproporção de forças, o intolerável.
Um recurso semelhante é usado na
foto, na qual vemos a combinação de uma
intervenção no espaço urbano (o desenho
de figuras no asfalto) e o retrato de um
evento (o protesto dos professores contra
a violência policial). As silhuetas desenhadas no chão, ainda manchado do sangue
dos feridos no confronto, e as palavras escritas indicam que as “vítimas” foram a democracia, o povo, o respeito, entre outras.
O fotógrafo, Wilson Dias, aproveita a cena e nos mostra os professores
em marcha, como se continuassem em
frente, apesar das “baixas” que sofreram;
assim, permite a conotação de luta, resistência, determinação.
Note, então, que certos recursos
expressivos, diversos quanto à natureza,
podem, cada um a seu modo, dizer mais
do que aparece explícito nas letras ou nas
linhas e cores. A leitura dessas intenções
é pessoal (poderá variar de um leitor para
outro), porém isso não impede que você,
como autor, por exemplo, em uma redação
do vestibular, utilize recursos retóricos como
esses propositalmente, seja em favor da argumentação ou para ganho de estilo.
Assim, parece claro que um texto ou
uma imagem, além de oferecerem ferramentas para expressar o pensamento,
podem atuar também no combate à injustiça e à violência, precisamente porque
nos permitem formalizar e publicar a denúncia e promover o debate em vez de a
“luta de todos contra todos”, tirando do
Estado a justificativa para o uso de balas de borracha e gás lacrimogênio. No
lugar, põe-se a palavra, a expressão e a
comunicação como meios eficientes, por
excelência, de atuação política.
Lute você também, com suas palavras e ideias, por uma política mais cidadã e um país mais justo!
Editorial
4
Mosquitos como vetores de doenças
A ciência que descobriu os insetos transmissores, as pesquisas que revelam as características da dengue e do
vetor Aedes aegypti e a luta da sociedade contra a situação epidêmica que enfrentamos
POR TAMARA NUNES DE LIMA CAMARA
O
contato do homem com
mosquitos vetores de doenças acontece há muitos
séculos, mas o reconhecimento desses insetos como transmissores só ocorreu no final do século XIX.
No ano de 1878, o cientista escocês Sir Patrick Manson descobriu
que a filariose (ou elefantíase), causada pelo verme nematoide Wuchereria
bancrofti, era transmitida para o homem pela picada de fêmeas infectadas por mosquitos do gênero Culex.
A partir desse momento, o interesse
na identificação e na verificação de
mosquitos vetores aumentou, levando
ao desenvolvimento da entomologia
médica. O grande crescimento dessa
área pode ser facilmente observado
na comparação entre o século XVIII,
quando apenas duas espécies de
mosquitos eram conhecidas, e a primeira década do século XX, quando
esse número aumentou para mais de
duzentos e quarenta.
Em 1881, o médico cubano Carlos Finlay apontou o Aedes aegypti
como vetor da febre amarela urbana,
mas seus estudos não foram reconhecidos pela comunidade científica.
Em 1901, o americano Walter Reed
confirmou os estudos de Finlay, acusando ser o mosquito o responsável
pela transmissão do vírus da febre
amarela urbana ao homem.
No início do século XX, a cidade
do Rio de Janeiro enfrentava graves
epidemias de varíola, peste bubônica e febre amarela. Nessa época, o
presidente do Brasil, Rodrigues Alves, nomeou Oswaldo Cruz, chefe
do Departamento Nacional de Saúde
Pública, ao cargo de Ministro da Saúde. Oswaldo Cruz iniciou uma intensa
campanha contra a febre amarela e
seu vetor A. aegypti no Rio de Janeiro
e, para isso, melhorou as condições
de higiene das residências, mandou
limpar rios e lagoas, eliminou criadouros com água parada e isolou os
doentes, para que estes não servissem de fonte de infecção para
o mosquito transmissor. Com essa
campanha, o ministro não erradicou
o mosquito, mas conseguiu reduzir
significativamente os casos de febre
amarela urbana. Essa redução do
número de casos foi ainda maior após
o advento da vacina como medida
profilática, em 1937, e o último caso
de febre amarela urbana no Brasil foi
registrado no Acre, em 1942.
A dengue é considerada
uma das mais importantes
arboviroses humanas
transmitidas por
mosquitos no mundo,
sendo endêmica em
aproximadamente
112 países tropicais e
subtropicais da Ásia, África
e Américas.
Atualmente, o mosquito Aedes
aegypti continua sendo preocupação
para a saúde pública brasileira, mas
devido à transmissão de outra doença: a dengue.
A dengue entra em cena
A dengue é uma arbovirose que
tem como origem um vírus RNA fita
simples, com quatro sorotipos antigenicamente distintos: DENV-1, DENV-2,
DENV-3 e DENV-4. É considerada
uma das mais importantes arboviroses
humanas transmitidas por mosquitos
no mundo, sendo endêmica em aproximadamente 112 países tropicais e
subtropicais da Ásia, da África e da
América.
No Brasil, a primeira epidemia
comprovada de dengue ocorreu em
Roraima, em 1981, com isolamento
dos sorotipos DENV-1 e DENV-4.
Essa epidemia foi rapidamente debelada, o que fez com que o vírus não
se expandisse para outras regiões.
Mais tarde, em 1986, o sorotipo
DENV-1 foi isolado no Rio de Janeiro,
seguido dos sorotipos 2 e 3, registrados pela primeira vez no mesmo
estado, em 1990 e em 2000, respectivamente. Já o sorotipo DENV-4 foi
isolado, em 2010, nos estados de
Roraima e Amazonas e, em 2011, no
Rio de Janeiro.
A transmissão dos quatro sorotipos do vírus da dengue ocorre pela
picada da fêmea infectada do mosquito A. aegypti, considerado o principal vetor da doença em diferentes
partes do mundo.
O vetor: Aedes aegypti
Aedes aegypti é um mosquito originário da África que invadiu o
Brasil, provavelmente, na época da
colonização, por meio do tráfico de
escravos. Na década de 1950, esse
mosquito foi considerado erradicado
do Brasil, porém, na década seguinte, invadiu novamente o país e, hoje
em dia, pode ser encontrado em todos os estados brasileiros. Os ambientes urbanos e suburbanos, onde
há elevada presença humana e grande concentração de residências, favorecem a proliferação do A. aegypti.
Com efeito, essa espécie é considerada altamente sinantrópica, além de
endofílica – utilizando o interior das
5
Gabriel Jabur/Agência Brasília
Ciências Humanas e suas Tecnologias
HISTÓRIA
TOQUE DO
ESPECIALISTA
POR AMANDA CHAVES RAPOSO
A Revolta da Vacina
N
Mosquito Aedes aegypti.
casas para se abrigar – e antropofílica, sugando o homem com elevada
frequência.
O ciclo de vida do A. aegypti é
chamado de holometábolo, ou seja,
apresenta metamorfose completa e
engloba as fases de ovo, larva, pupa
e adulto. Os ovos são colocados nas
paredes dos criadouros, que costumam ser artificiais; dessa forma,
pneus, latas, caixas-d´água, vasos
de plantas, entre outros recipientes,
são frequentemente utilizados como
criadouros pelas fêmeas desse
mosquito. O tempo de desenvolvimento entre o ovo e o adulto pode
durar de 7 a 10 dias, dependendo
de fatores abióticos, como a temperatura e a umidade, e bióticos, como
a competição entre as larvas por espaço e alimento. Dos ovos, nascem
as larvas, que apresentam quatro
estágios de desenvolvimento (L1L4) e das quais serão formadas as
pupas; destas, posteriormente, vão
emergir os adultos. É importante
ressaltar que apenas as fêmeas
sugam sangue, pois precisam desse tipo de alimentação para maturarem seus ovos; já os machos se alimentam apenas de açúcar, como o
encontrado nas seivas das plantas.
Como ainda não existe uma
vacina contra a dengue, a melhor
estratégia para reduzir os casos da
doença é controlar a proliferação
do mosquito. Para isso, é essencial
que haja eliminação de todos os recipientes que possam servir como
criadouros. Como as ações do governo nem sempre conseguem cobrir todo o país com suas equipes
de combate ao vetor, é essencial
que cada cidadão faça a sua parte
e elimine ou inviabilize os potenciais
criadouros desse transmissor.
Tamara é cientista biológica,
doutora em Biologia Parasitária
pela Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz) e pesquisadora da
Universidade de São Paulo (USP).
Glossário
Entomologia médica: ciência que estuda os insetos sob todos os seus aspectos, considerando suas
relações com os seres vivos e com o meio ambiente.
Arbovirose: infecções causadas por arbovírus, ou seja, vírus que podem ser transmitidos ao homem por
vetores artrópodos.
Endêmica: referente a endemia, doença infecciosa que ocorre habitualmente e com incidência significativa
em dada população e/ou região.
Sinantrópica: espécie de animais que se adaptaram a viver junto ao homem, a despeito da vontade humana.
o início do século XX, o Rio de
Janeiro, então capital do país,
passou por um processo de
modernização, o que levou à
sua reestruturação e à higienização de
suas ruas insalubres. A cidade não mais
comportava o acelerado crescimento populacional, que vinha desde o século XIX,
com a chegada da família real, e que se
intensificou com a vinda de imigrantes europeus e a abolição da escravidão.
Com o governo mais preocupado em
atender os interesses da elite carioca, a
população mais pobre foi submetida a moradias irregulares, como os cortiços, casas
velhas e barracos construídos nos morros,
formando, assim, as primeiras favelas.
Isso gerou constantes epidemias – principalmente de varíola, febre amarela e peste
bubônica – e acentuou o clima de tensão
na cidade. Em vista disso, com o intuito de
controlar as epidemias, o Governo Federal
convocou o médico sanitarista Oswaldo
Cruz, que adotou uma série de medidas,
aplicadas, muitas vezes, de forma violenta, com os agentes sanitários invadindo as
casas da população mais pobre – e desinformada, pois não houve um esclarecimento adequado por parte do governo
sobre esse assunto.
Dessa forma, o estopim da chamada
Revolta da Vacina foi a obrigatoriedade da
vacina contra varíola, em 1904, que levou
a população a se rebelar, pois via nessa
medida uma violação também de seus
corpos. Diante desse cenário de insatisfação generalizada, a população tomou as
ruas da cidade, que se transformou em
palco de combates violentos. A revolta foi
contida dias depois por forças da Guarda
Nacional e do Exército.
6
PLUGADO
E N T R E V I S TA
| Bruno Oliva
?
CARREIRA: Biomedicina
Bruno é biomédico, especialista em Patologia Clínica e
mestrando em Imunologia pela Universidade de São Paulo (USP). Para que você conheça mais
sobre a profissão, nesta entrevista, o biomédico conta alguns detalhes de uma carreira dedicada à
investigação, às novas descobertas e à atuação em benefício da saúde humana.
O que é Biomedicina? Quais devem ser os inte-
quase 50% do curso. Dentre as disciplinas estudadas
resses de quem escolhe se dedicar a essa área?
em sala de aula, destacamos matérias básicas como
Dentre todos os cursos da área da saúde, a
Química, Biologia Celular e Bioestatística, além das
Biomedicina é o mais novo e o mais estruturado
clínicas, como: Hematologia, Imunologia, Práticas de
para atender as demandas de pesquisa, diagnóstico
Pesquisa Clínica, Farmacologia, entre outras.
e promoção à saúde do país. O perfil dos alunos
que escolhem a Biomedicina como carreira é quase
O que esperar do dia a dia desse profissional?
sempre comparado com o de um bom investigador
Em que áreas ele pode atuar?
ou detetive. Tem que estar sempre ligado nas
O profissional biomédico tende a fazer carreira dentro
atualidades da saúde e ir em busca de novas
de hospitais, clínicas ambulatoriais, centros de pesquisa
tecnologias e conceitos.
e em saúde pública no geral. O grande diferencial do
curso é a liberdade que o aluno possui de, no último
Como é o curso de Biomedicina? Quais são os
ano, escolher a área que seguirá. Chamamos essa
principais tópicos estudados?
escolha de “habilitação”. Dentre as habilitações em que
O curso tem duração de 4 anos (em algumas
o aluno pode atuar, destacamos: docência e pesquisa,
instituições, 5 anos) e tem como principal diferencial a
neurociência, patologia clínica, imunologia, biomedicina
alta demanda de aulas práticas, chegando a perfazer
estética, ciências forenses, perfusão, entre outras.
O perfil dos alunos
que escolhem a Biomedicina
como carreira é quase sempre
comparado com o de um
bom investigador ou detetive.
Tem que estar sempre ligado
nas atualidades da saúde e
ir em busca de novas
tecnologias e conceitos.
Andre Borges/Agência Brasília/ Flickr
7
elucidar, não há um único concurso público da área
da saúde no país inteiro que o jurídico do CFBM não
avalie para inserir o biomédico quando as atribuições do edital são inerentes às nossas habilitações.
Em uma sociedade cada vez mais envolvida em
pesquisas e novas descobertas, qual seria o
papel social do biomédico?
A profissão foi criada, inicialmente, para formar
pesquisadores gabaritados em novas descobertas científicas. O biomédico está inserido intrinsecamente nesse papel. Um exemplo prático desse
panorama é apresentado graficamente pela sociedade científica, visto que quase 10% de todas as
publicações científicas nacionais são assinadas
por biomédicos.
mtr/123rf.com
Qual a relação da Biomedicina com a Medicina e
a Biologia? Seria essa uma carreira intermediária
entre as outras duas?
Embora o nome seja sugestivo para a comparação,
não costumamos relacionar a Medicina – que tem
como principal função tratar o paciente – com a
Biomedicina. O nosso nicho de fatia de mercado
é disputado com a Medicina apenas na área de
gestão de negócios e gerência de setor. No mais,
trabalhamos juntos em prol do paciente.
Tratando-se de Biologia, carregamos o bio no nosso
nome referindo-se à vida. O aluno que escolher
a Biomedicina perceberá que, em alguns poucos
momentos da graduação, nossas matérias se
encontram com as matérias da Biologia, porém
todo assunto abordado é voltado para a saúde
exclusivamente humana.
Qual o panorama da
profissão no Brasil?
O mercado está mais aquecido
do que nunca. Pela primorosa
atuação dos órgãos fiscalizadores da Biomedicina, como os
Conselhos Regionais e o Conselho Federal de Biomedicina,
estamos ganhando cada vez
mais fatia de mercado. Para
FICADICA
Dicas para você tornar seu dia a dia mais interessante e adquirir conhecimento de uma maneira ainda mais agradável.
Lixo Extraordinário. Direção: Lucy Walker.
Reino Unido/Brasil, 2009. 99 min.
O documentário acompanha o trabalho do artista
plástico Vik
Muniz
em um dos maiores
aterros sanitários do
mundo: o Jardim Gramacho, na periferia do
Rio de Janeiro. Lixo
Extraordinário mostra a
Extraordinário
produção de obras de
arte feitas a partir de
Documentário
materiais coletados no
aterro e acompanha a
rotina de personagens
que trabalham no local.
Lixo
Aldous Huxley. Admirável mundo
novo. Inglaterra, 1932. Uma sociedade distópica é toda organizada por
um Estado científico-industrial. Sua
população, concebida em laboratório,
é dividida em castas e desfruta de
todos os prazeres, mas sem os direitos
de questionar, criar, amar e ter privacidade. O livro encontra-se em várias
traduções para português.
ADMIRÁVEL
Portal Fiocruz.
A Fundação Oswaldo
PORTAL
Cruz, Fiocruz, é uma
instituição vinculada ao
Ministério da Saúde,
e seus conceitos se
baseiam na promoção da saúde e no desenvolvimento social,
com geração e difusão de conhecimento
científico e tecnológico. No site, é possível
encontrar informações variadas sobre saúde pública, pesquisas e novidades da área.
FIOCRUZ
ACIDACI
MUNDO NOVO
Aldous Huxley
Acesse:
<http://portal.fiocruz.br/pt-br>.
8
ESPAÇO LITERÁRIO
A primeira estrela
Era um ponto de luz vivo e brilhante no fim de onde os olhos podiam alcançar. Tão
grandioso que fez com que ela deixasse seus brinquedos de lado.
Os ombros da garotinha agora se debruçavam com esforço para enxergar tudo sobre o
parapeito da sacada.
Os seis aninhos de idade, que então pensavam em estrelas, consideravam que os astros não
deviam estar tão baixos, ou será que sim? Imaginavam que aquilo talvez fosse um cometa, a
lua, uma nave espacial, entre tantas ideias...
Não era mais possível contemplar o brilho sozinha:
– Papai, corre! Vem ver!
Ele, que sempre vivia as curiosidades da filha, logo deixou alguns afazeres para estar ali.
Mostrou-se surpreso com a luz que também enxergava, agora com a filha nos braços:
– Vamos até lá descobrir o que é. Você quer?
Um abraço respondia que aquilo era o que ela mais desejava. Seu coraçãozinho saltava
quando entraram apressados no carro para ir ao encontro de, talvez, a sua primeira estrela.
Ao dirigir, o pai se divertia com os olhinhos da criança na parte mais baixa da janela do
banco de trás, raivosos de árvores e postes que atrapalhavam o contemplar de um brilho
algumas vezes mais vivo, outras quase perdido.
No carro, acompanhavam pai e filha o mistério com olhares atentos. Ele falava com ela de
hipóteses, repleto da alegria de ser parte daquele pequenino sonho: encontrar um brilho que,
em verdade, não era mais curiosidade só de sua criança.
Foi assim que o trajeto se estendeu até que estivessem perto o bastante para estacionar o
carro. Pararam, finalmente, quando o pai avistou o que buscavam em um espaço escuro.
– Tem certeza de que é aqui, papai?
Ao se aproximarem do local, de mãos dadas na escuridão, a menina estava aflita; o relógio
de todo o planeta, de repente, parou. Era um lugar lindo, ainda vazio de outros olhares: o
brilho de uma roda-gigante levava luz a um parque de diversões intacto. Em poucos dias,
outros também o conheceriam, mas aquela ainda era uma descoberta só dos dois. Para o herói
e a sua garotinha, era, sem dúvida, muito mais do que a chance de avistar um cometa.
Michelle Teixeira de Vasconcelos
A autora é formada em Letras e revisora no
Sistema de Ensino Poliedro.
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