Encontro de Indígenas Brasileiros e Canadenses

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Encontro de Indígenas Brasileiros e Canadenses
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1. INTRODUÇÃO
Este é o relatório da viagem de intercâmbio de três indígenas brasileiros que estiveram em Toronto –
Canadá, no período de 20 a 27 de Junho de 2007. Toê Pankararu (Fogo), Itxai Pataxó (Grande Estrela) e
Yamany Pataxó (Mãe da Água) da Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, município de Araçuaí ( 716 Km de Belo
Horizonte), viajaram a convite do Centro de Estudos em Segurança Alimentar e Nutricional da Ryerson
University. Nesta oportunidade, o grupo foi acompanhado pela pesquisadora e pedagoga mineira, Geralda
Soares.
O objetivo principal deste projeto (Anexo I) foi fomentar o encontro destes Pataxós e Pankararu com
alguns integrantes da comunidade dos indígenas Mi’Kmaq (Canadá) e identificar como o alimento e a
segurança alimentar impactam a identidade cultural desses jovens indígenas. Para tanto, foram consideradas
algumas diferenças existentes como localização geográfica, questões sociais, políticas, meio ambiente, etc.
Para atingir este objetivo, várias atividades foram cuidadosamente planejadas (Anexo II). O seminário
Jovens Indígenas Explorando Idenidades através da Segurança Alimentar e Nutricional (Anexo III) realizado nos dias 26
e 27, coordenado pela Dra. Cyndy Baskin (Ryerson University), arrematou uma temporada de muitas visitas
orientadas e eventos, já que aconteceram neste período uma série de celebrações em torno do Dia Nacional
dos Indígenas (National Aboriginal Day), celebrado na semana do dia 21 de Junho.
Por certo, mais que atividades acadêmicas e exploratórias, comuns àqueles que alçam um vôo desta
proporção, esta atividade relatada foi um marco na expansão do projeto Construindo Capacidades em
Segurança Alimentar e Nutricional no Brasil e Angola, desenvolvido desde 2004 pela Ryerson University, sob
direção da Dra. Cecília Rocha.
Com este intercâmbio, esse projeto transcendeu uma ação já em desenvolvimento em Araçuaí, com as
parcerias da Fevale e Instituto Fênix, sob financiamento da Canadian International Development Agency –
CIDA/UPCD, passando a alcançar uma perspectiva ainda mais ampliada, trazida à tona pela inserção dos
termos Permacultura e Identidade Indígena, nos Projetos-Pitoto.
Estima-se que este desdobramento alcance também os outros municípios onde o trabalho já está em
desenvolvimento desde 2004: Juazeiro- Bahia e Fortaleza-Ceará.
Buscando uma constituição mais descritiva deste relatório, o dividimos em cinco partes. A primeira
trata das atividades desenvolvidas de 20 a 25 de Junho. São visitas orientadas e encontros com algumas
personalidades no Canadá. Na segunda parte, trata-se do Seminário realizado de 26 e 27 de Junho.
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Por: Rita Simone Liberato
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Já na terceira, apresentamos os documentos (Anexos) relativos a esse trabalho, como Projeto, Agenda
Geral, Programação do Seminário, etc. Em seguida, encontra-se a clipagem com os artigos publicados na
imprensa em Toronto.
Por certo, os indígenas brasileiros e suas atitudes positivas diante de uma série de desafios, como o
desta própria viagem (eles não haviam sequer entrado anteriormente em um avião), inspiraram a todos que os
conheceram a fazer um mergulho nas entrelinhas do poeta brasileiro Oswald de Andrade, quando afirmou em
1928: “Antes dos portugueses descobrirem o Brasil, o Brasil tinha descoberto a felicidade”.
II. ATIVIDADES DE 20 A 25 DE JUNHO, 2007
2.1. Quarta-feira, 20 de Junho de 2007
- A viagem a Toronto
Toê Pankararu, Itxai Pataxó e Yamany Pataxó, chegaram em Toronto numa quartafeira, vindos de Belo Horizonte, capital de Minas Gerais. Eles foram recebidos pela professora Cecília Rocha e
suas duas Assistentes de Pesquisa, Bernadete Nóbrega e Rita Simone Liberato. Dois jornalistas Gabi Veras e
Marcelo Paolinelli também estavam presentes no Pearson Airport, gravando imagens para a elaboração de um
documentário sobre esta viagem.
O atraso do vôo não tirou o ânimo desse grupo, que acompanhado pela pesquisadora Geralda Soares,
chegou entusiasmado com a viagem e os planos da semana. “É bom demais viajar de avião, agora que eu já
sei, não quero outra vida”, disse com um largo sorriso o jovem Cacique da Aldeia Cinta Vermelha Jundida,
Toê Pankararu.
Os visitantes foram levados para seu endereço em Toronto 2387 Yonge Street , Hotel Glengrove.
Na chegada, Itxai reconheceu o símbolo do Canadá quando se sentou à
sombra de uma Maple Tree. Como não poderia deixar de ser, eles estavam atentos a cada detalhe ao redor,
principalmente aos da natureza, exuberante no início do verão canadense.
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Sobre a expectativa da viagem, a pesquisadora Geralda Soares afirmou, ainda na chegada que
considerava importante conhecer os povos canadenses, suas estruturas, a alimentação. “A vida toda é ritual,
mas a sociedade por ser tão invasora, tão absorvedora, destruidora desses costumes, passou a discriminar os
indígenas. O diferente não tem lugar mais”, disse.
No Brasil, declarou Soares, há uma luta muito grande desses povos para manter sua cultura. “A
ocupação das terras indígenas, ainda é um problema grave e ultimamente com esses projetos de
desenvolvimento do país, quem está sofrendo mais é a população indígena, pois os territórios estão sendo
diminuídos por hidroelétricas, por monoculturas de eucalipto, soja, etc. Tudo isso em função do
‘desenvolvimento’, mas não o desenvolvimento que os índios querem, pois a maioria dos povos indígenas não
pensa em produzir para o mercado, mas para a vida, partilha e alegria. Acho que essa é a grande diferença de
projetos de vida dos indígenas e de um projeto capitalista, que é destruidor e uniformizador de tudo”,
comentou.
Sobre os objetivos do projeto, Soares declarou serem muito importantes
para que se possa mater a riqueza cultural dos indígenas. “No dia em que o mundo virar um supermercado,
vai ser uma tristeza. Tudo igual, todas as latinhas na prateleira. Acho que a beleza é a diversidade. A riqueza é
a diferença, isso que é importante. Eu tenho aprendido muito a ver o mundo dessa forma, aprendi muito a
entender o mundo nosso, a partir dos indígenas”, disse a pesquisadora.
Comentando sobre alimentação, Soares disse que essa Aldeia dos Pataxós e Pankararus é rica em
identidade cultural. Seus alimentos a base mandioca, suas bebidas, suas ervas medicinais, matêm a vida plena.
“Tudo isso é muito bonito e talvez com essa invasão dos grandes projetos de alimentos, toda essa diversidade
de conhecimentos milenares possa ir por água abaixo”, ressaltou.
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Geralda disse ainda que esse convite da Ryerson University foi muito enriquecedor,
pois apesar de conhecer outros povos da América Latina, essa convivência com os canadenses enriquece
muito o grupo, pois a questão indígena é um problema no mundo inteiro, ela não está reduzida à América, ao
Brasil.
“É uma situação que perpassa a relação dos povos com o Estado, que foi construído em cima dos
territórios. Essa questão da terra vai atravessar séculos e vai continuar, pois a tendência da sociedade e do
Estado é se estruturar, crescer e querer se organizar, para sustentar essa população toda que está aí. E quem
sofrem são os povos indígenas, que são originários nessas terras”, disse.
Ressaltou que no Brasil há um direito que é pouco cumprido que é o dos originários, reconhecido pela
Constituição aos povos indígenas.A pesquisadora disse também que espera que os indígenas com este
intercâmbio se fortaleçam mais no movimento indígena, pois às vezes os grupos ficam muito ligados aos
problemas das aldeias e não conseguem perceber que esse é um problema universal, pois há indígenas em
todo o planeta. Espero que eles se fortaleçam e tenham uma compreensão mais ampla do que é ser indígena.
Pessoalmente penso que essa é uma oportunidade de aprender muito para continuar ajudando ao movimento
e ter mais forças para as lutas futuras e presentes”, frisou.
No Brasil, comentou, temos o projeto de educação escolar indígena na Universidade. E essa
oportunidade da Ryerson University pode nos favorecer o desenvolvimento das propostas em relação a
questão da alimentação. Eles têm um projeto muito especial em relação ao trabalho na terra, como produzir,
como se organizar, como estruturar a aldeia de forma que ela dê sustentalidade às famílias. Nós poderíamos
ter mais informação sobre a agricultura ecológica que eles propõem, para que isso seja um exemplo para as
outras aldeias também.
Concluiu dizendo que a universidade é muito importante, pois o saber que existe nela deve ser
socializado. “O mundo está mudando muito e esses jovens organizando uma Aldeia, tentando recuperar as
línguas e as tradições, precisam de apoio. Sei que a Universidade está fora da Aldeia, mas ela pode ajudar os
indígenas a reforçarem a proposta deles, o movimento e fornecer mais informações”, frisou.
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2.2. Quinta-feira, 21 de Junho de 2006
- Caminhada O Pulo do Búfalo (Buffalo Jump)
- Reunião na Ryerson University
Neste dia do Solstício de Verão, Toê, Yamany e Itxai acordaram “junto com o sol” e começaram o
ritual de pintura, preparando-se para a Caminhada do Pulo do Búfalo (Buffalo Jump), que saiu às 9h da
Prefeitura de Toronto (Toronto City Hall) para o Parque Trinity-Bellwoods, a cerca de 5 km do ponto inicial.
A caminhada liderada pelos povos das Primeiras Nações (First Nations) foi ritmada por tambores, cantos,
animais gigantes e por performistas em perna de pau. Neste evento intergeracional, todos caminharam juntos:
idosos, crianças, homens e mulheres.
Durante o percurso, foram distribuídos broches com quatro fitas: vermelha, amarela,
branca e preta, que representavam os quatro caminhos e todas as raças humanas. De acordo com os
coordenadores, quando você usa este broche, você mostra orgulho por sua própria cultura e boa vontade em
dividir a sabedoria e ensinamentos dos ancestrais. Além disso, você demonstra o compromisso com todas as
culturas do mundo.
E foi neste clima de tambores e cores, que os indígenas brasileiros foram abraçados pelos seus
“parentes” do Canadá, dentre eles a professora Cyndy Baskin.
Eles empunharam seus maracás e participando da comissão de frente da caminhada, cantaram e se
emocionaram por toda a jornada. Ao chegar ao destino, Parque Trinity-Bellwoods, eles participaram do
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Círculo em torno do Fogo Sagrado e ouviram as palavras dos respeitados anciãos Homem Estrela (Starman) e
do Chefe Asin.
Em seguida, participaram do círculo da comunhão (vermelho, amarelo, preto e branco). Na
oportunidade, os indígenas brasileiros interagiram com os seus parentes do Canadá, conheceram seu
artesanato, alimentação e danças tradicionais. Pela primeira vez, eles tomaram o “suco sagrado de morango”,
que foi oferecido pelo indígena Mi’Kmaq Daniel ao chefe Toê Pakararu e seu grupo. Retribuindo a oferta,
Toê o presenteou com um colar feito por indígenas da Aldeia Cinta Vemelha Jundiba com sementes do Brasil.
Itxai disse que o “Espírito do Pássaro” parecia estar com eles. Já Yamany disse que
ainda não tinha visto um ritual tão grande. “Em nossa Aldeia nós temos os nossos próprios, mas aquele
momento do Grande Círculo foi muito especial. Eu não entendi o que aquela indígena da Sibéria falou
quando me benzeu, por exemplo, mas eu senti uma energia muito positiva vindo dela. O medo que eu senti
com essa viagem, pois eu nunca havia saído do Brasil, já não existe. Terei muito que contar aos meus parentes
da Aldeia,” disse a Pataxó.
Após as atividades do Parque, eles tomaram um bonde elétrico (street car) e se dirigiram à sala KHS
363B da Ryerson University, lugar onde tiveram uma reunião às 16h, com alguns convidados da professora
Cecília Rocha. Cyndy Baskin, (Indígena Mi’kmaq - Professora da Faculdade de Serviço Social da Ryerson),
Wayne Roberts (Conselho de Segurança Alimentar de Toronto e jornalista da revista Now Magazine), Judy
New (Nutricionista Comanche - trabalha no governo de Ontário - Centros Indígenas), Vânia Freire, Evelyn
Gere, Bernadete Nóbrega e Rita Simone (Assistentes de Pesquisa do Centro de Estudos em Segurança
Alimentar) e Christy Brissette (Estudante de Nutrição da Ryerson que estaria em seguida viajando para fazer
um intercâmbio no Brasil).
A reunião foi conduzida pela professora Cecília Rocha, que utilizando slides em Power Point
apresentou a Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, o projeto de intercâmbio e então, abriu espaço para que os
visitantes Pankararu e Pataxós, bem como Geralda Soares, se apresentassem.
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Tôe, o cacique da Aldeia Cinta Vermelha Jundiba, agradeceu ao convite recebido e
falou que desde o início de sua viagem ao Canadá, começou a perceber as diferenças. “Hoje foi um dia
importante, pois nós encontramos nossos parentes e nos sentimos em casa. Percebemos que a luta indígena
está em toda parte do mundo, são as mesmas lutas pela sobrevivência.
Apesar da gente não falar inglês a gente pôde construir algumas amizades, pois a gente tem esse
costume de sempre presentear um convidado. Talvez pelos laços, por causa da energia da nossa Mãe Terra ou
pelo Espírito, a gente tem facilidade em se comunicar”, disse. Em seguida, entregou a Yamani um presente
para ser dado a Judy, que agradeceu e retribuiu com outro presente.
Tôe comentou sobre a viagem que Cyndy fez ao Brasil e a curiosidade que foi despertada. Afirmou
que eles têm um compromisso sério, pois a comunidade quer ter um retorno sobre essa viagem. “Quando o
convite foi oficializado ficamos preocupados em definir quem viria, pois Itxai e Yamany, professores da escola
da Aldeia, estão estudando na Universidade Federal de Minas Gerais”, ressaltou.
Em seguida, Itxai se apresentou dizendo que sua origem é baiana, mas que eles foram ainda
crianças para Minas Gerais (Fazenda Guarani), em uma reserva onde havia diferentes etnias. Ele se casou com
uma Pankararu e então, juntamente com Toê resolveram juntar os dois povos (Pataxó e Pankararu) para
formar uma aldeia. Daí nasceu em Julho de 2005, a Aldeia Cinta Vermelha Jundiba. Cinta Vermelha por parte
dos Pankararus e Jundiba por parte dos Pataxós, simbolizando a união entre os povos.
Formado em Técnicas Agrícolas, Itxai disse que eles têm o sonho de desenvolver um projeto de
Permacultura em sua Aldeia. E comentou que eles não querem destruir a natureza, mas trabalhar para
restaurá-la. “Nossa região é bastante seca e o solo foi muito degradado pela ação humana. Não temos água
suficiente, por isso queremos fazer represas, recolhermos água da chuva, para desenvolvermos nosso projeto”,
comentou.
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Itxai falou da alegria da Aldeia, especialmente de seu pai, quando Cyndy os visitou.
“Quando o convite chegou para virmos ao Canadá, ficamos numa felicidade muito grande”, ressaltou. Nossa
expectativa de encontrarmos nossos parentes era muito grande. “Quando nós encontramos o pessoal na
caminhada de hoje, e ouvimos o som das músicas de nossos parentes, deu vontade até de chorar. Tinha uma
mulher que cantava e quando ela soltava os gritos em seu canto, me dava vontade de chorar e eu tinha que
abaixar a cabeça, pois aquele parecia um grito pelo direito a educação, a saúde e um direito de ser livre.
Yamany se apresentou e disse que fez o curso de Magistério Indígena e que está
também estudando na Universidade o Programa para Indígenas. Ela disse que é importante ser uma mulher e
olhar ao redor e ver tantas mulheres à mesa, pois muitas mulheres indígenas no Brasil estão desenvolvendo
lideranças, especialmente lutando pela terra. “A gente quer fazer uma Aldeia com nosso retrato mesmo”. Ela
disse que está formando indígenas, mas também reforçando o valor de respeitar os outros para que se possa
viver em comunidade.
Comentando seu trabalho na escola da Aldeia, Yamani disse que ensina a grade comum, como
português, matemática, mas também as disciplinas relacionadas à cultura indígena. “Linguagem é muito
importante nesse processo, pois nossos ancestrais foram proibidos de falar Pataxó. Então nós desenvolvemos
um dicionário com 1.500 palavras e estamos ensinando para as crianças e para os mais velhos. Nós também
estamos aprendendo muito”, comentou.
Yamany falou também do valor do casamento em sua cultura, pois eles estão se casando com
Pankararus e portanto, consideram importante o desenvolvimento do entendimento entre essas duas culturas.
Informou ainda que eles trabalham na escola com a preservação dos hábitos de alimentação, como a
mandioca, o peixe e a bebida cauim.
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O artesanato também foi pontuado tanto como tradição cultural, como fonte de renda. “Ele é vendido
aos visitantes da Aldeia, em viagens a Belo Horizonte, e em atividades das quais eles são convidados a
participar”, disse.
Na oportunidade, Geralda Soares afirmou que é uma alegria conviver com os indígenas. “Quando um
povo se propõe a viver junto, respeitando as diferenças isso nos entusiasma muito”, disse. Comentou ainda
que para ela é um orgulho estar convivendo e acompanhando essa experiência, pois cada povo tem sua
identidade, seus costumes, modo de trabalhar, ser, pensar e ver o mundo. “Eu nunca falei isso para eles, estou
dizendo agora, eu acho que eles são fundadores de um povo novo, que vai ter muito de Pankararu e Pataxó”,
ressaltou.
Disse ainda que já viu várias situações de moças indígenas que se casam com outros povos, desistindo
de sua identidade e vivendo em submissão à cultura do parceiro. Ela vê, no entanto, que nessa Aldeia há algo
diferente nascendo no Brasil, pois há um respeito tanto à cultura Pataxó, quanto Pankararu, e não submissão
de uma cultura à outra.
Respondendo a pergunta de Judy sobre o patriarcalismo junto aos povos indígenas no Brasil, Geralda
disse que nos povos antigos do Jequitinhonha havia uma influência das mulheres muito grande. “Hoje
predomina ainda nos Krenaks, que vivem na região do Rio Doce a importância das mulheres. Nos demais é
sempre a família e toda a organização familiar que vai se reproduzindo. Ultimamente há uma discussão sobre
o cacicado, uma invenção norte americana, enquanto que no Brasil havia sempre a tradição das famílias”,
ressaltou.
Geralda destacou que para quem não é indígena e vive naquela região de muito pouca chuva, foi uma
surpresa a chegada dos indígenas, inclusive com muitas críticas, as pessoas diziam “eles vieram morrer aqui,
pois esse lugar não produz nada”. De fato, afirma, eles abriram um janela para a região, pois a maioria das
pessoas pobres dessa região migra para São Paulo e Mato Grosso para trabalharem no corte de cana. E eles
estão dando um exemplo, mostrando que com o projeto de Permacultura, a terra pode ser produtiva sim. “Até
para os demais indígenas que vivem no sistema de coleta, agricultura familiar e caça, essa persectiva da Aldeia
Cinta Vermelha-Jundiba é uma lição, pois é uma afirmação de que com o reflorestamento e com o tratamento
adequado da terra, ela dá frutos.
Nesse momento, a professora Cyndy Baskin disse que a lição pode também servir para os povos
indígenas do Canadá.
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Wayne Roberts aproveitou a oportunidade para perguntar se eles tinham
conhecimento do conceito de soberania alimentar. Tôe informou que eles têm um programa de saúde por
parte do Governo Brasileiro para os indígenas, assegurado na Constituição, mas que de fato quando se refere à
alimentação, isso vai totalmente contra a cultura dos indígenas. “A gente investe não na medicina, na química,
mas na alimentação sem agrotóxicos e saudável que a gente tem na Aldeia. Também acreditamos na força do
maracá”, disse o cacique.
Para Geralda, esses projetos do Governo têm um impacto muito forte. Informou que a hidroelétrica
mais alta do mundo está no Jequitinhonha e quando as comportas são abertas, as águas trazem toda a sujeira
para o Baixo-Vale, além de muita areia. O peixe então quase que desaparece, comentou ressaltando que há
também o envenenamento por agrotóxicos, pela prática de monocultura das plantações de eucalipto, que já
ocupou 90% das terras do Espírito Santo e agora está entrando pelo Jequitinhonha. As grandes empresas de
celulose estão comprando as terras que ainda sobraram e destruindo as chapadas, para plantar eucalipto. “Nós
estamos abaixo das montanhas. Entre o Rio e as montanhas estão as aldeias e isso, agora, é muito perigoso”.
No Brasil, disse Toê, temos também agora um problema sério que é a transposição de
um importante Rio, que é o São Francisco, e vamos perder muito. “É triste a gente falar coisas ruins de um
país que a gente gosta, mas não depende da gente. Os mais velhos estão falando que estão ficando cansados
de lutar, porque estão ficando muito tristes com tudo que eles estão vendo. E há muito suicídio. Essa noção
de desenvolvimento a qualquer preço, é muito triste e a gente não entende porque, pois poderíamos produzir
para termos alimento para toda a população”, declarou.
“A mídia é contra a gente e tem alguns jornais que dizem que a gente é o atraso do país. Há um
preconceito muito grande. No Espírito Santo as empresas de eucalipto trazem o desenvolvimento e a Funai
traz os indígenas, é o que o povo pensa, por causa da mídia”, frisa.
Comentando sobre as diferenças alimentares entre os Pataxós e Pankararus eles informaram que os
primeiros, por serem originários do litoral, têm uma dieta formada por mariscos, peixes, mandioca, etc. Já os
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segundos, consomem alimentos originários das matas, como cobras, por exemplo. “Mas respeitamos um o
hábito do outro”, disse Tôe.
Wayne Roberts informou que a dieta da população indígena, na América do Norte, com a chegada dos
europeus, mudou muito e causou muitos problemas de saúde. Toê então frisou que a alimentação dos
indígenas brasileiros também mudou muito. “A colonização foi muito triste no Brasil. Hoje são mais de 200
povos no país, mas poucos deles estão guardando ainda os costumes. Eles foram forçados, quando os
portugueses chegaram, a deixar seus territórios, como é o caso do meu povo. Acabou tudo! Tem rio que não
tem mais peixe, não temos caças das matas e as nascentes de água estão comprometidas. Tudo mudou muito e
nós fomos obrigados a consumir uma alimentação que a gente não era acostumado.
Muitos dos mais velhos morreram por recusar o alimento que eles não eram habituados a ingerir”,
comentou.
2.2. Sexta-feira, 22 de Junho de 2006
- Visita às Organizações Não Governamentais (ONGs) Indígenas em Toronto
- Subindo a CN Tower
O terceiro dia da agenda foi composto pelas visitas às ONG’s e foi dividido em dois
momentos.
Pela manhã o grupo, acompanhado pela professora Cyndy Baskin, as assistentes de pesquisa e a
jornalista Gabi Veras visitou o Conselho de Fogo (Council Fire - 439 Dundas St. East, fundado em Maio de
1997). Após o almoço, eles seguiram para o Centro de Saúde e Programas para Jovens Anishnawbe
(Anishnawbe Health and Youth Program - 225 Queen Street East) e o Centro de Canadenses Nativos (Native
Canadian Centre – 16 Spadina Road).
Na primeira visita (Council Fire), cujo um dos principais objetivos é promover o
trabalho intergeracional, eles foram recebidos pela coordenação da organização, que através de slides
apresentou a estrutura do trabalho, seus objetivos e projetos nas áreas social, de saúde, cultura, educação
infantil, arte indígena, banco de alimentos, entre outros. Eles deram presentes para seus anfitriões e, em
seguida, foram levados a conhecer o edifício de dois andares, que foi restaurado recentemente, a horta
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medicinal e o espaço para produção de material de limpeza feito com ervas especiais, inclusive o “bom ar” –
aromatizador, natural.
Os nomes dos indígenas brasileiros ficaram registrados no Conselho, para que na próxima reunião
geral a presença deles fosse relatada e as fotografias apresentadas.
Os indígenas se despediram falando do privilégio em conhecer seus parentes de outros países. “Para a
gente, parece um sonho, temos que nos beliscar!”, disse Toê.
À tarde, eles visitaram o Centro de Saúde Anishnawbe (Anishnawbe Health and Youth Program),
dedicado a pesquisar e divulgar as práticas medicinais indígenas. Este centro holístico possui inúmeros
serviços disponíveis à comunidade, como dentistas, médicos, enfermeiras, orientação sobre medicina indígena,
entre outros.
Seguindo em frente, os indígenas conheceram o Centro Canadense de Nativos (Native Canadian
Centre), que visa promover a cultura e a filosofia dos povos indígenas no país. Eles utilizam inúmeros
recursos didáticos e visuais, e têm uma exposição permanente sobre arte indígena. Em sua programação
também estão incluidos diversos programas intergeracionais, bem como visitas orientadas a estudantes.
- CN Tower
Finalizando o dia, Itxai e Toê subiram a famosa CN Tower. De lá, eles puderam ver toda a cidade
de Toronto e o Lago Ontário. “Esse passeio vai ficar na história”, disse o jovem cacique Toê.
2.3. Sábado, 23 de Junho de 2007
- Pow Wow
- Intercâmbio com pesquisadores Brasileiros
Neste quarto dia em Toronto, eles participaram do Pow Wow, um das mais antigas e
importantes cerimônias dos indígenas na América do Norte. Tradicionalmente, é um agradecimento ao
Criador por tudo que a Mãe Terra proporciona a Seus filhos. É uma das principais atividades dentro do
Festival Indígena no Canadá e conta com a participação de visitantes de todas as partes do país e do planeta, a
exemplo dos Pataxós e Pankararu. Tambores, cantos, danças, artesanato e alimento, compõem a programação
desse importante evento.
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E foi neste contexto que Yamani, Itxai e Toê foram integrados à programação no Pow
Wow. Eles participaram no círculo sagrado, com vários clãs que estavam no local. Participaram também da
dança que homenageou os anciãos de todas as partes do Canadá. Ao final, os indígenas canadenses disseram
que estavam muito comovidos com a presença dos brasileiros e então, convidaram os Pataxós e Pankararu a
se apresentarem.
Segundo Itxai Pataxó, “o encontro com os parentes fez o coração bater forte. Algumas vezes
tínhamos que respirar fundo quando estávamos cantando, pois a voz quase não saía. Eu tive que me esforçar”.
Comentou ainda que foi muito interessante este encontro, porque mesmo já tendo visto no cinema os rituais
dos parentes na América do Norte, ver tudo isso pessoalmente foi muito emocionante.
A arte do povo da Aldeia Cinta Vermelha Jundida foi também divulgada também através da estrutura
que as voluntárias do Projeto Betinho da Ryerson University, Vânia Freire, Bernadete Nóbrega, Evelyn Gere e
Alison Clegg montaram, através de fotografias, textos explicativos, colares, pulseiras, bolsas e demais peças de
artesanato que os indígenas trouxeram para o Canadá.
À noite, os indígenas e Geralda Soares participaram de um encontro com estudantes
brasileiros de doutorado das universidades York (Carlos Liberato, José Cairus, Brigite Cairus), Toronto
(Roberta Cardoso e Renato Cardoso), com a coordenadora do Projeto CIDA da York, socióloga Andréa
Moraes e com os jornalistas Latino-Americanos Pedro Valdez,
Marcelo Paolinelli e Gabi Veras. Na
oportunidade, eles contaram várias histórias e lendas de seu povo.
O encontro aconteceu no bairro High Park. Sobre essa programação, Itxai comentou que não sabia
que ia encontrar tantos brasileiros. “Parecia que nós havíamos voltado ao nosso país, que é muito alegre, onde
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a gente sorri sempre, mesmo que a gente tenha muita tristeza a gente está com o coração aberto para a nossa
mente sorrir”.
2.4. Domingo, 24 de Junho de 2007.
- Viagem às Cachoeiras de Niagara
Acerca de uma hora de Toronto existem as Quedas de Niagara (Niagara Falls). Sua beleza atrai milhares
de visitantes de todas as partes do mundo. E foi para lá que os indígenas e Geralda Soares foram conduzidos
pelas assistentes de pesquisa da Ryerson University.
Um arco-íris os saldou na chegada. Após uma caminhada às margens das cachoeiras, eles
almoçaram e retornaram à Toronto para se prepararem para a segunda-feira, dia em que visitariam a grande
reserva Seis Nações (Six Nations).
2.5. Segunda-feira, 25 de Junho de 2007.
- Viagem à Reserva Seis Nações (Six Nations)
- Jantar com Cyndy Baskin
A viagem a uma das maiores reservas indígenas do Canadá estava sendo muito esperada
pelo grupo. Juntamente com as professoras Cecília Rocha, Cyndy Baskin e as assistentes Bonnie Johnston,
Bruce, Bernadete Nóbrega e Rita Simone, o grupo viajou quase duas horas para chegar a grande reserva Seis
Nações. Chegando por volta das 11 da manhã, eles foram recebidos no Salão Redondo da administração por
uma das coordenadoras do trabalho Julie Bomberry, que explanou sobre a arquitetura do espaço, objetos de
arte, tradições e estrutura do trabalho. Segundo a anfitriã, o nome Seis Nações se refere aos povos de seis
diferentes tribos Seneca, Cayuga, Onondaga, Oneida, Mohawk and Tuscarora Nations. Com 20.435 habitantes
em 46.500 acres de terra, esta se constitui na mais populosa reserva indígena do Canadá.
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Julie descreveu a arquitetura do edifício e os objetos de arte que se encontravam em exposição, como
as esculturas que simbolizam os povos indígenas (tartaruga e urso). Todo o edifício é constituído de objetos
simbólicos, dos afrescos do teto às imagens gravadas no piso. E foi caminhando pelo edifiício sede, que
Yamany encontrou uma ponte entre sua cultura e a dos povos indígenas do Norte, quando viu a relação entre
as avós e a lua, estampadas no chão.
Para os povos tanto do Norte, quanto do Sul, a lua simboliza as avós.
Judy também informou que na reserva existem dois tipos de governantes, um escolhido pelo governo
federal e outro eleito pelos indígenas. Nesta Agência especificamente, eles não seguem as orientações do
governo federal, mas a do próprio povo.
Em seguida, o grupo foi conduzido a conhecer os diversos trabalhos que são
realizados nas Seis Nações: o centro de saúde holística, o abrigo para homens, mulheres e crianças que sofrem
violência doméstica, o centro de aconselhamento, o centro de educação para a família e recuperação de
pessoas com problemas com uso de drogas, o centro de maternidade que desenvolve um trabalho com
parteiras, o abrigo para jovens e adultos com problemas familiares.
Após o almoço, o grupo seguiu para visitar a residência de uma das erveiras da Reserva, que possui
uma grande horta com diferentes ervas medicinais e alimentos. Por último, eles visitaram uma Grande Casa,
que tradicionalmente era usada para a moradas das famílias, principalmente durante o inverno.
Ao retornar a Toronto, por volta das 18h, o grupo foi
convidado a jantar na residência da Professora Cyndy Baskin, momento de desconstração e de muita interação
entre a anfitriã e os viajantes do Brasil.
3. Seminário realizado de 26 a 27 de Junho
“Jovens Indígenas Explorando Identidades através da Segurança Alimentar e Nutricional”
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Por: Rita Simone Liberato
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O seminário Indígenas Explorando Idenidades através da Segurança Alimentar e Nutricional aconteceu na sala de
reunião 433 do Graduate Studies da Ryerson University. A abertura foi feita pela professora Cyndy Baskyn e
sua assistente Bonnie Johnston. Estavam presentes Toê Pankararu, Itxai Pataxó, Yamany Pataxó, Katrina
Mi’Kmaq, Duma Dean Mi’kmaq, Elisa, Ann , Geralda Soares, professora Cecília Rocha e suas assistentes
Bernadete Nóbrega e Rita Simone Liberato.
Na oportunidade, a professora Baskin apresentou a agenda e pediu que cada pessoa à
mesa, se apresentasse. Ann, que estava acompanhado os jovens Mi’kmaqs de New Brunswick, falou que a
presença deles fazia parte de um treinamento de lideranças jovens que eles estavam recebendo e que as
perguntas deveriam ser feitas para os indígenas.
Toê Pankararu se apresentou dizendo que estava feliz em ouvir os jovens falando das questões de
identidade e que eles também têm uma organização de jovens. Informou que houve em 2006 um encontro
com todos os jovens do Estado de Minas Gerais e lembrou que política, identidade, cultura e educação
estavam na agenda do encontro.
Yamany Pataxó falou que em sua Aldeia ela é professora das crianças de 5 a 8 anos e que está
estudando na Universidade Federal de Minas Gerais. Enquanto jovem líder, ela disse que está aprendendo a
lutar pela terra, comunidade e cultura. Lembrou que os mais velhos estão deixando para os mais jovens essa
busca. “Estamos saindo para aprender a debater nossos direitos à educação e saúde”, afirmou.
Itxai Pataxó ao se apresentar, informou que começou a dar aulas há um ano atrás e que foi escolhido
pela comunidade, que é quem elege os professores. Falou que é o presidente da Asssociação Indígena
Pankararu-Pataxó - AIPA –, que foi formada em 2005 com o objetivo de elaborar projetos de autosustentabilidade para que eles tenham uma vida mais digna, na região semi-árida onde vivem. “Nossa região é
muito seca e precisa de uma atenção maior”, afirmou. Ao falar sobre a equipe que está sendo formada em
Minas Gerais pelos jovens caciques, ressaltou que hoje há a necessidade de se colocar uma liderança mais
jovem, que tenha responsabilidade dentro da comunidade, pois os mais velhos não têm costume de comer
diferentes alimentos e “correr atrás”de soluções para os problemas atuais. Frisou ainda que também há várias
mulheres indígenas em posição de liderança.
Geralda Soares se apresentou informando que desde a década de 80 vem trabalhando com a causa
indígena no Brasil, principalmente na região leste de Minas. “A escola no Brasil não ensina a história indígena,
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então eu comecei a conhecer essa história a partir da convivência com eles”, disse. Geralda afirmou ainda que
quando eles chegaram na região que estão hoje, havia mais de 200 anos que não se encontravam indígenas por
lá. “Na década de 80, tempo da ditadura, fui morar com os Maxakalis e era uma época muito difícil, de muita
violência, mortes”, disse. Falou que nesse período entendeu um pouco da estrutura e da luta pela organização
necessárias para a eficiênia desse embate.
“Há organizações nacionais, estaduais e locais, como essa Aldeia, que surgiram da necessidade dos
indígenas aprenderem a lidar com o projeto capitalista que está posto, e que parece querer engolir os povos
indígenas”, afirmou. Nesse processo, disse, vale tudo. “Às vezes uma cartilha, um livro, pode ajudar os mais
jovens a entenderem o que se passou”. Falou também que trabalhou em duas entidades (Igreja Católica e
Cedefs) e que agora está por conta da amizade e solidariedade com esses grupos. Disse da importância de
Paulo Freire em sua educação e que formou um grupo clandestino que trazia do Chile os textos de Freire em
espanhol para estudá-los no Brasil, já que a ditadura militar não permitia estes estudos nas Univerisidades
brasileitas.
Ann neste momento, falou emocionada da importância de Freire em sua formação
também. “Considero que a teoria de Paulo Freire é muito importante na região canadense em que trabalho, já
que há um grande índice de analfabetismo, inclusive funcional”, disse.
Toê disse que é muito importante a educação das crianças e já que eles não educam as crianças com
uma data marcada. “Quando nossas crianças nascem, elas já trazem conhecimento e entram em outro
processo de aprendizagem. Nós não separamos nossas crianças dos jovens e adultos, elas aprendem conosco,
no dia-a-dia”, disse.
Seguindo o círculo da mesa, Bernadete Nóbrega se apresentou e falou de sua formação em nutrição e
segurança alimentar entre o Brasil e Canadá. Cecília Rocha se apresentou informando que dirige um projeto de
construção de capacidades em segurança alimentar no Brasil e Angola, financiado pela CIDA, e que foi através
dele que Cyndy Baskin esteve no Brasil em 2006, falou de sua alegria em ver este projeto de intercâmbio e
agradeceu o apoio da Ryerson University e CIDA.
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Elisa, que trabalha em uma organização a nível federal no Canadá, se apresentou e falou que morou
primeiro em uma reserva em Ontário e que depois sua família se mudou para a reserva do pai dela, em outra
província. Disse que quando foi para escola lá, eles falavam Mi’kmaq e isso foi muito positivo. Disse ainda que
estudou nutrição na Ryerson e conheceu a professora Cecília Rocha. Fez o mestrado em segurança alimentar e
quando foi fazer a pesquisa na comunidade entrou em contato com o centro de saúde, e resolveu tomar uma
atitude mais positiva, se aproximando da comunidade e perguntou: o que é a segurança alimentar para você e
como manter a segurança alimentar?. Teve também a oportunidade de participar de um intercâmbio no Brasil,
coordenado por Cecília Rocha.
Katrina se apresentou dizendo que trabalhava na ONG Quebrando Barreiras e
estuda Pedagogia. Rita Simone Liberato também se apresentou falando de sua formação em Comunicação,
experiência em trabalhos com Ong’s no Brasil e estudos em segurança alimentar através do programa de
certificado do projeto CIDA.
A professora Cyndy Baskin deu início oficialmente aos trabalhos com uma cerimônia religiosa de
boas- vindas que pedia a bênção dos ancestrais ao projeto. “A benção com a fumaça e objetos sagrados” foi
feita por sua assistente Bonnie Johnston. Cyndy agradeceu a presença de uma mulher que tem um espírito
dentro dela (Yamany, grávida de dois meses), “porque em nossa visão não existe presença mais forte que
essa”, disse.
Cyndy abriu espaço para quem quisesse se pronunciar. O Mi’kmaq Duma Dean falou um pouco mais
sobre sua comunidade, dizendo que a população da comunidade é de 3 mil pessoas, com coisas boas e ruins.
“As boas são a presença dos mais velhos, das tradições. As coisas ruins são principalmente a entrada de drogas
na comunidade”disse.
Cecília explicou como se deu início a idéia desse projeto, não previsto inicialmente no
CIDA, mas que desde a participação dos indígenas na oficina do projeto em Araçuaí, seu contato com Elisa, e
outra aluna indígena, ela sentiu a importância de favorecer o encontro das comunidades indígenas do Brasil e
Canadá para compartilharem suas experiências.
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Após esta primeira estapa foi servido um almoço indígena aos participantes. Dentre a diversidade dos
alimentos, o que chamou a atenção do grupo brasileiro foi o morango e o seu uso como alimento medicinal.
Bonnie fez o ritual de bênção da alimentação, “para alimentar os espíritos”, como disse a professora Baskin,
que questionou aos visitantes se eles tinham alguma coisa parecida. Yamany disse que quando eles caçam no
Brasil, eles dançam e cantam para os espíritos antes de dividirem com a comunidade o alimento.
A segunda parte do seminário foi iniciada com a pergunta: “quando nós dizemos jovens, identidade e
alimento, o que você pensa sobre isso?”
O grupo respondeu:
- Identidade é a pergunta quem você é? Tem ligação com crenças, família e quando se coloca a questão
de alimento nisso você vê como está relacionado, pois traz essa noção de família. Alimento tem o
poder de aproximar as pessoas. (Elisa)
- Nosso costume é colocarmos a panela no meio e a gente se sentar ao redor. Acho que isso chama o
conjunto, sendo o encontro da família. (Itxai)
- Nós dividimos juntos o alimento e comemos juntos, é a hora da partilha familiar. (Yamany)
- katrina falou da importância dos alimentos nas cerimônias religionas.
Continuando na temática, os indígenas brasileiros falaram de sua bebida sagrada, o Cauim, que os
conecta com os espíritos. Falaram também de suas atividades familiares de coleta de fruta, caça e pesca.
Katrina Mi’kmaq falou que a maioria das pessoas de sua comunidade depende de assistência do
governo. Apesar de poderem pescar ou caçar, eles não o fazem, pois no primeiro caso, eles não têm barco. “A
situação econômica é um desafio nessa área. Inclusive para comprar alimentos eles precisam de automóvel”,
disse.
Itxai lembrou que eles promovem algumas festas em torno do alimento, como a festa da água, em
outubro, para louvar a natureza e a chegada das chuvas. “Nessa festa todos se dirigem à cabana e cada família
prepara seu alimento. Em seguida, eles fazem o ritual em si, cantando e dançando com o maracá”comentou.
Disse ainda, que eles estão planejando reflorestar uma área na Aldeia com árvores frutíferas de suas tradições
alimentares, para que as crianças possam conhecer os rituais, já que eles se mudaram para esta área nova há
dois anos, e a alimentação tradicional não é de fácil acesso.
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SEGUNDO DIA DO SEMINÁRIO
Após um breve resumo das questões colocadas no dia anterior, o grupo foi encorajado a responder: o
que você gostaria de saber sobre jovens, identidade e alimento que poderia beneficiar sua comunidade?
Na oportunidade, Itxai apresentou o projeto de permacultura da Aldeia Cinta
vermelha Jundiba, que inclui entre inúmeras iniciativas, o plantio de árvores frutíferas, o cultivo de animais e
peixes, horta, plantação de alimentos, reserva para a preservação da floresta nativa e construção de residências.
Cyndy Baskin disse que quando visitou a Aldeia viu que eles não tinham quase nada em termos
materiais, mas o que impressionou ela de fato foi a visão, a generosidade e o espírito forte e mais ainda, a
felicidade estampada em suas faces. Ao contrário, aqui no Canadá ela vê que os jovens tem mais condições
materiais, mas eles estão em desespero, e perguntou, o que os faz serem tão felizes.
Toê explicou que parte da resposta para ele é que eles gostam mesmo é de viver e que o
conjunto da vida deles, a família, faz parte da vida e que o grupo vai conquistar as coisas que vêm de fora. “A
identidade é muito importante. Então devemos gostar de sermos o que somos: nos pintarmos, tomamos
banho no rio juntos, isso que é felicidade. Na Aldeia tudo é dividido, nossa vida é o conjunto. A gente nunca
foi de se apegar a bens materiais, nunca pensamos em acumular riqueza. Hoje nós sentimos a falta do que a
gente perdeu, mas não do que a gente não possui. Sentimos falta do rio que morreu, da mata, de muita coisas
da natureza, mas não pensamos em acumulação de riqueza. A gente luta por um conforto maior, porque se
não temos o dinheiro para as compras, isso dificulta nossa vivência, mas se a gente tiver tudo plantado em
nossa Aldeia, o resto vem depois.”
Ann declarou estar muito impressionada com o projeto CIDA, com a vinda dos indígenas, pois sabe
que é muito difícil conseguir dinheiro do governo federal para financiamento de projetos indígenas no
Canadá.
No encerramento do Seminário uma carga de emoção foi trazida à mesa com a troca dos presentes.
Cyndy Baskin deu a Toê a pena branca dos grandes chefes, a Itxai, Yamany e Geralda, peças especiais de
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artesanato feitos por sua família. Os Pataxó e Pankararu responderam dando também presentes à Cyndy e aos
demais indígenas.
O Cacique Toê na oportunidade agradeceu o apoio e falou da importância dessa viagem para eles,
como também da esperança de poderem construir um trabalho conjunto com os parentes canadenses.
REPERCUSSÃO NA IMPRENSA
A presença dos indígenas brasileiros em Toronto recebeu uma especial atenção da imprensa,
especialmente a de língua portuguesa e destacamos:
- Entrevista feita pelo repórter Marzo e veiculada na Omni TV;
- Três matérias no Jornal Brazil News;
- Matéria no Jornal Gazeta
E ainda:
- Na importante revista canandense Now Magazine;
- No Jornal On Line Here We Are.
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ANEXOS
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INDIGENOUS YOUTH EXPLORING IDENTITIES
THROUGH FOOD SECURITY
SUMMARY OF PROPOSED RESEARCH
The Rome Declaration on World Food Security asserts the commitment from governments around the
world to “the right of everyone to have access to safe and nutritious food, consistent with the right to adequate food
and the fundamental right of everyone to be free from hunger” (FAO, 1996). However, throughout the world, the
rights of Indigenous peoples to food security are often compromised. Food security for Indigenous peoples is a
complex global issue that is tied to cultural, spiritual, economic and social realities and approaches.
The intent of this research project is to identify how food and food security impact on the cultural identities
of Indigenous youth, in different geographic locations in the Americas, with distinct (and yet, similar) colonization
histories, living in different social, political, economic, and natural environments. Indigenous Youth Exploring
Identities through Food Security is a proposed research project attempting to bring together the needs and struggles
of two different Indigenous communities through the important issue of food -- in its material and symbolic
manifestations. This development grant would assist us in carrying out a preliminary investigation of how issues of
food security manifest themselves in relation to youth in these two communities. We will build on our past literature
reviews and services scan on Indigenous peoples and food security to focus on Indigenous youth, food security and
identity. We will also conduct structured interviews and hold a consultation workshop with our partners from Brazil
and New Brunswick. These activities will clarify the central aspects of our research topic which will be the focus of
a major cross country study and lead to a publication on our topic.
The research project is being developed as a collaboration between the Centre for Studies in Food Security
at Ryerson University, Toronto, Canada, and partners in Araçuaí, Brazil (Fevale University and Fênix Research
Institute). It has been designed to leverage a unique opportunity provided by the six-year (2004-2010) training and
education project Building Capacity in Food Security in Brazil, supported by the University Partnership in
Cooperation and Development of the Canadian International Development Agency (CIDA-UPCD project). With
contacts already developed and consolidated in Brazil through this project and in New Brunswick through the
principal investigator’s relationships there, this project offers an excellent research opportunity for investigating the
role of food and food security in shaping identities of Indigenous youth.
While not a comparative study in the traditional sense, the project will investigate two communities as parallel case
studies which will illuminate and inform each other through the generation of questions, issues and approaches that
can be transposed to the different sites. One of these communities is the Mi’kmaq community of Elsipogtog First
Nation in New Brunswick and the other is the Pataxo community of Brazil.
It is the belief of the applicants of this proposal that food and food security can provide a conduit for
recovering identities and preserving the cultures of Indigenous peoples, especially when youth are empowered to
participate in reaffirming pride in their traditions. We also believe that despite, or even because of, their differences,
youth from the two communities have much to offer to each other. It is our hope that the research project will lead
to answers on how Indigenous communities in different parts of the world can work together in supporting their
youth.
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Agenda
Encontro sobre Jovens Indígenas, Identidade e Alimentos
Acomodação: Hotel Glengrove, localizado a 30 minutos (de metro) da
Universidade Ryerson
2387 Yonge Street Toronto On M4N 2J6
Estação de Metro: Lawrence
Fone # 4164898441
PROGRAMAÇÃO:
Datas
Junho 19
terça-feira
Atividades
Embarque de Sao Paulo pela Air Canada 21:30 h
Junho 20
quarta-feira
Desembarque em Toronto 7:00 h
Cecilia e Cyndy busca-los.
Bernadete e Rita no apt com breakfast e lanche comprado (pao, leite, ovos,
queijo, yougurt, cafe, frutas, ookies, papel toalha descartaveis: prato, talheres,
copos e detergente e buxa.
Kensington Market and Chinatown
National Aboriginal Day:
Atividades Indígenas por toda Toronto
Cyndy schedule.
Visita às Agências Indígenas: Aboriginal Agencies: Council Fire; Anishnawbe
Health / Youth Program; Native Canadian Centre.
Cyndy schedule.
Toronto tour (Bernadete).
Churrasco de hamburguer / BBQ
Bernadete
Dia livre (Bernadete e Rita)
Competição de queimada / Projeto Betinho (opcional).
Niagara Falls / Cataratas (opcional) Robert 9058191228 $69,00
www.niagaratorontotours.com
Comunidade Indígena de New Brunswick chega a Toronto.
Visita à Comunidade Indígena: Six Nations.
(Cyndy, Rita, Bernadete)
Junho 21
quinta-feira
Junho 22
sexta-feira
Junho 23
sábado
Junho 24
domingo
Junho 25
segunda-feira
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CENTRO DE ESTUDOS EM SEGURANÇA ALIMENTAR – RYERSON UNIVERSITY
Junho 26
terça–feira
Reunião: Ryerson University (Bernadete e Rita)
Office of International Affairs, Boarding Room, EPH433
Junho 27
quarta-feira
Reunião: Ryerson University (Bernadete e Rita)
Office of International Affairs, Boarding Room, EPH433
Embarque de volta ao Brasil 23:10 h
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Indigenous Youth Exploring Identities Through Food Security
June 26 & 27, 2007
10:00 am to 4:00 pm
Ryerson University Office of International Affairs Board Room EPH 433
June 26, 2007:
Introductions (Cyndy is Chair)
Opening With Smudge Including Explanation (Cyndy & Bonnie)
Background
- CIDA Project in Brazil (Cecilia & People From Brazil)
- Mi’kmaq Community in NB (Katrina, Duma Dean, Elisa & Ann)
- Theme of Youth and Food (Cyndy & Bonnie)
- Purpose of 2 Days (Cyndy)
First Circle Go Around: “When we say youth, identity and food, what comes up for
you/what do you think of?” (Cyndy)
Second Circle Go Around: “Given what you’ve said, what would you like to know about
youth, identity and food that could be of benefit to your community?”
(Cyndy)
Closing (Indigenous Person From Brazil)
June 27, 2007:
Opening (Bonnie)
Recap Day One (Cyndy)
First Circle Go Around: “If we, at universities, can help you find out what you’d like to know, how do
you think we could work with you?” (Cyndy)
(This is meant to get at ethics, challenges to us in the university doing research with these 2 communities,
the possible benefits to doing the research, what we need to know about conducting research in their
communities and what the communities need to know about us working with them on a research project.)
Second Circle Go Around: “Where do we go from here?” (Cyndy)
(Suggestions: a report which everyone will agree to once it’s written, it will be in both English and
Portuguese and is intended for use in whatever ways may be of use to the 2 communities.)
Closing (Indigenous Person From Brazil)
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