AlentejAnedotas lentejAnedotas AlentejAnedotas

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AlentejAnedotas lentejAnedotas AlentejAnedotas
José Penedo do Alentejo
AlentejAnedotas
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AlentejAnedotas
Penedo Gordo - Beja Maio de 1994 - Corroios - Maio de 1997
Uma introdução
“Sabes aquela do Alentejano...” “sabes a última dos alentejanos...” É a fórmula mágica que
normalmente abre uma sessão de disparates, alarvices e até obscenidades com os ou as quais,
os lisboetas ou outros espertos pensam que conseguem achincalhar e menosprezar os alentejanos... Nas anedotas mais comuns dos ou sobre os alentejanos, o que mais sobressai é a
estupidez, a tacanhez de espírito, a ingenuidade, em suma a falta de uma inteligência média
normal!...
Atenção!
Eu, que antes de viver no Alentejo, pensava que as anedotas sobre os alentejanos eram de
exclusiva propriedade dos não alentejanos e daqueles que não podiam com eles, passadas quase duas decadas de viver no Alentejo e conviver com alentejanos, não mudei propriamente de
opinião mas, decididamente, não consegui encontrar quem conseguisse contar melhor anedotas sobre os alentejanos do que os próprios alentejanos...
Ora um povo que sabe rir de si próprio é porque se conhece muito bem e aquele que se conhece a si próprio melhor que os outros é um sábio...
A sátira, o ridículo, o cómico, o burlesco, a denúncia do disparate, o insólito, a ironia, são na
nossa tradição meios relativamente eficazes de denunciar os males do mundo e por outro lado,
um meio social de prevenção e mudança para que o disparate não se repita... Também podem
ser uma arma nas mãos ou melhor, na boca de um charlatão ou dum vigarista, de um prepotente ou arrogante cacique como todos conhecem na nossa praça política, etc.. cuidado! O
habilidoso só ganha perante papalvos e desprevenidos que podem tolerar a sua imbecilidade!...
De qualquer maneira o riso é próprio do Homem! É portanto sinal de inteligência. Saber rir
tem até efeitos terapêuticos como nos recorda a conhecida coluna internacional do riso: “Rir é
o melhor remédio...”
Além do mais, como muitos têm constatado, uma sessão ou antes, um despique de anedotas
em que a explosão de uma gargalhada produz o efeito de uma explosão em cadeia e provoca a
intervenção mais ou menos (des)organizada de um, dois mais peritos que toleram a participação de, por vezes, de todos os convivas que choram de riso e experimentam o poder que têm
de captar a atenção de uma pequena assembleia, é outro exercício sedutor...
E, assistir ao jogo subtil de os vários contendores, se de regiões diferentes, contarem as mesmas anedotas subvertendo os personagens e colocando os galegos ou beirões ou os lisboetas
no lugar dos alentejanos!!!... é qualquer coisa de sedutor e fascinante em que ninguém quer
ofender o outro ou se sente ofendido, mas antes, se sente espicaçado a refinar a sua arte de
contar, adaptar, reinventar, aprendendo a usar todos os recursos da arte de contar histórias que
vai da estruturação mental, até à encenação, ao gesto, à oportuna chamada de atenção, intervenção, atenção ao outros/s, sentido de oportunidade, entoação, escolha das palavras, construção melódica ou enfática das frases para captar e por vezes provocar... enfim todo um jogo de
oralidade e comunicação que um registo por escrito como este não pretende nem deseja impedir, antes pelo contrário... As várias formas de registo querem dizer isso mesmo.
Uma pequena anedota pode transformar-se numa mais ou menos longa narrativa o que lhe faz
perder todo o impacto que lhe advém da brevidade e do insólito, até a sua dramatização ou
transformação em poema satírico, até aos simples tópicos que cada um pode usar segundo a
sua arte e as suas capacidades mais ou menos desenvolvidas e treinadas... só pretendemos cultivar este jogo puramente lúdico e de diversão que faz reflectir e não num concurso de alarvisse em que ganha o maior número ou a maior duração das palmas... Uma sessão de anedotas é,
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pela sua exigência etimológica, algo que não é publicado e divulgado e se baseia numa comunicação e partilha directa em que a oralidade e arte de comunicar são rainhas... Um trabalho
destes não pode, por isso, ir contra este princípio fundamental... Existe só para que a memória
não se perca e para que a partir dele provoque uma sã e salutar criatividade e até de improviso
que é outro aspecto importante da anedota...
Assim, fico com a impressão que a maior parte da saloiada que conta ou não sabe contar lá
muito bem as anedotas dos ou sobre os alentejanos, ainda não percebeu da missa a metade...
Há muitas maneiras de conhecer e identificar ou manifestar a identidade cultural de um povo
ou de uma região, embora seja complicado tentar definir, primeiro uma região dentro de um
país e depois tirar conclusões apressadas sobre os pontos comuns que podem definir uma
identidade cultural com bastante exactidão... Deixando este estudo mais aprofundado para
quando os antropólogos, em vez de estudarem os nossos antípodas passarem a estudar-se e a
estudar os povos onde vivem, vamos, generalizando um pouco, e pelo conjunto de anedotas
que temos e não são de modo algum uma recolha exaustiva, admitir que a maior parte das
anedotas refere a preguiça, a indolência, a fraqueza, a falta de dinâmica ou de energia dos
alentejanos... como se fossem defeitos.
Talvez seja um risco afirmá-lo, mas parece-nos um erro crasso e primário duma estupidez elementar... Nada define melhor a estupidez do que aquele que considera o diferente estúpido
porque não reage e não age como ele, sem olhar às circunstâncias, ao ambiente, à cultura, ao
meio, aos envolventes... É a intolerância primária e arrogante dos que se consideram únicos e
os melhores do mundo!... Quando afinal somos todos iguais sendo diferentes e ser melhor ou
pior já é outro problema mais complexo que não vamos aqui abordar... Confundir preguiça
com a lei natural de que nada nem ninguém deve fazer um esforço notoriamente inútil é um
erro crasso... Até a água dos rios cava e bordeja a montanha que se levanta diante da sua força
imparável... mas ai de quem levante uma barragem a um desprezível fio de água sem ter em
conta os escapes e as fugas... é parede que, por mais resistente que seja, não resistirá a duas ou
três chuvadas bem caídas... os exemplos que há por aí pelas obras de muito engenheiro e
estradas e túneis são sobejos para perder tempo a desenvolver esta teoria que é observável no
quotidiano...
Talvez também seja ousadia afirmá-lo, mas afirmamo-lo até prova em contrário que o Povo
Alentejano, no seu todo, no seu conjunto social global e não urbano, será dos povos que ainda
conseguem viver mais próximo da Natureza e das leis naturais sem a agredir... bastaria, como
prova analisar com certa ponderação a frequência com que os desiludidos do proclamado progresso das cidades e do “desenvolvimento” moderno (poluente, agressivo, antinatural), mal
arranjam cinco tostões e meio, não param enquanto não arranjam um monte lá para o Alentejo
onde se vão refugiar todos os fins de semana ou quase, para onde gostam de levar os amigos,
quando não acontece mesmo, os casos não são assim tão raros, que largam tudo na cidade e
vão viver para o campo, para o Alentejo... Além destes que conseguem mesmo uma destas
alternativas, é pensar, se fosse possível, fazer uma sondagem entre todos aqueles que, mesmo
ostentando uma vida de sucesso, lá no fundo, bem no fundo, quanto é que dariam por uma
vida pacata longe da cidade? No campo? No Alentejo?
É neste sentido que ousámos este ensaio de arriscar uma colectânea de ANEDOTAS ALENTEJO ou ALENTEJO - ANEDOTAS como quiserem... Não são Anedotas do Alentejo,
nem muito menos Anedotas sobre ou contra os alentejanos... Antes pelo contrário, ou talvez
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não... Ficam aí como anedotas que não têm autor nem origem e que para obedecerem ao seu
verdadeiro significado nem deviam ser publicadas nem divulgadas desta maneira, mas pensamos que a apartir de cada uma, como ficam registadas, nada da sua riqueza se perde nem fica
proibido ou impedido o engenho de a recriar e a contar de mil maneiras diferentes pois aí está
a riqueza e a originalidade da oralidade que é a característica fundamental deste fenómeno - a
anedota - que não tem autor, não tem origem, não tem direitos de autor, não tem fronteiras,
não tem polícias, não tem censura... mesmo quando lha quiseram pôr... ainda há aí quem se
lembre, com certeza, que durante quase cinquenta anos de estúpida e primária e alarve censura, aquilo que nos restava, era uma saborosa e saudável risada solta de uma anedota bem contada que nem aquelas bestas encarregadas do lápis vermelho entendiam e riam riam que nem
uns alarves...
Não sou alentejano... Mas que ninguém pense que alguma vez me atreveria a menosprezar ou
a ter em menor conta um povo e uma região que me acolheu por quase duas décadas e com
quem muito aprendi... Claro que não têm só virtudes... Nem, para eles, é virtude aquilo que
para os do norte ou outras regiões são um exemplo de virtudes... Claro que o Alentejo, como
todas a s regiões, tem os seus exemplares que os próprios alentejanos rejeitam... Mas o Alentejano retratado por um Torga, como o Pastor Alentejano que enverga o seu gibão como um
rei veste o seu manto de púrpura e lhe fica a ganhar porque é seu e fruto do seu trabalho e
daquilo que cria!!! isso é talvez algo que poucas regiões neste país e por aí fora já tenham
dificuldade de entender...
Mesmo correndo esse risco é isso que pretendemos com esta colectânea de ANEDOTAS ALENTEJO. Mostrar um ALENTEJO ainda próximo da NATUREZA e integrado nos seus
ciclos naturais... Não é redundância. Para resistir ao frio e ao calor a Alentejano usa a mesma
roupa e o mesmo gibão... Para a chuva tempestuosa e para o sol abrasador a mesma construção de paredes de adobe e orientada para nascente...
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UMA ANEDOTA, como exemplo para uma ANÁLISE estrutural
UM ALENTEJANO EM LISBOA com O DINHEIRO DA CORTIÇA...
Um alentejano, que tinha vendido a sua cortiça - naquele ano a campanha até tinha
corrido bem - resolve, um dia, mandar o filho depositar o dinheiro, no banco, a Lisboa.
O filho, depois de ouvir atentamente o mandado do pai, pega num taçalho de pão com
linguiça, deita a golpelha ao ombro, monta-se no seu burro e, ale que se faz tarde, abala a
caminho de Lisboa.
Aquilo a viage foi um atoco, mas correu a modos...
Chegando a Lisboa! Aquilo é que era um esbarrunto... Ia ficando cada vez mais
encegueirado e escaranpantado com oda aquela mexida!!1
Como, para dar conta do mandado, durante a viage, lá mais para o fim, por vezes
tinha passado p’ra diante às lebres, estava capaz ded cuspir n’um empinge.
Deitou a mão à golpelha, acomodou-se ali mesmo naquela relva mesmo à beira do
Marquês de Pombal e vá de lançar a naifa ao taçalho de pão e à linguiça... O Banco tinha
tempo de abocanher a dinherama...
Entrementes, passavam por ali os ardinas a nunciar os jornais...
- Óóóólha o séclo ... - Óóóólha o séclo ... (Olha o Século!!!)
- É u diáááriu de notíííícias... - É u diáááriu de notíííícias... (É o Diário de
Notícias!)
Ouvindo aquele estramelo, o nosso homem arribitou as orelhas, pôs-se de palanque e
cheirando-lhe a esturo, amonta-se muito espedito e toca a ir a escape que isto não está para
moengas... ora essa!
Chega a casa sem mais enleios e pergunta-lhe o pai:
- Atão, filho, já fizeste o avio tã depressa?!!! Estavam os Bancos fechados?!!! No
adregaste a dar cum eles?!!!
- Cal banco, cal quê, mê paie! Atão chega um home a Lisboa, assenta-se na erva a
mastigar um taroco mesmo c’o olho no banco qu’ê ben’o via e vá de mexida... Sem dar barrunto, aparecem ali uns uns girigotos aos saltos ... a gritar. - Ólho cerquem-no... Ólho
cerquem-no... É u dinheiro da cortiça... É u dinheiro da cortiça... ê nem m’enteri lá muto
bem, e ntes que me deitassem as galfárrias... abali... De figos a brebas inda dava uma
espreitadela a ver se me alcançavam... mas aqui ‘stá o dinheirinho, pois qu’inté, aqui é
qu’ele ‘stá bem seguro.
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-Através de uma pequena anedota, , como exemplo, podemos aperceber-nos, através da
LINGUAGEM, dos UNIVERSOS DIFERENTES em que as pessoas se movem...
O riso, aqui, que parecer nascer de uma simples dificuldade auditiva, nasce, bem vistas as coisas, afinal, não só de um vocabulário que não faz parte do MUNDO em que se move, mas a
falta desse vocabulário, ou a sua errada leitura que aqui é audição, que o não deixa perceber, e
o põe em fuga, é, afinal, a falta do OBJECTO - concretamente dos JORNAIS, que provoca a
hilariedade pelo seu desconcerto e inesperado...
- É da experiência comum, que as pessoas, o sujeito receptor, não ouve o que se lhe diz, aquilo que o emissor lhe quer transmitir, mas aquilo que corresponde ao seu universo de compreensão, ou aquilo que tem capacidade para compreender...
Aplicando rapidamente diversos instrumentos operatórios que nos parecem mais adequados
para esta pequena NARRATIVA, desde o levantamento e confronto vocabular à breve aplicação do modelo actancial; às variadas leituras que nos pode permitir uma rápida análise estrutural.
1- Basta uma superficial observação de um breve levantamento e confronto vocabular para
darmos conta de dois UNIVERSOS DIFERENTES: o do campo ALENTEJO e dos MONTES
onde não chegam os jornais, e o da cidade LISBOA, o MUNDO CIVILIZADO onde o pregão
dos jornais faz parte do quotidiano rotineiro.
A falsa interpretação, leitura, audição, é o climax da anedota que nos leva ao riso.
2- Mais uma breve aplicação do modelo actancial e vemos como o sujeito, pai, envia o personagem principal, o filho, para, segundo uma mentalidade que não é deles, colocar o dinheiro
em segurança objectivo a atingir, - num banco!!!, em Lisboa!!! com todos os perigos e demora de uma longa viagem, de burro!!! E eis-nos já perante o desconcerto a provocar a hilariedade, sem sequer precisarmos de esperar pelo desfecho.
Assinalar como adjuvantes: o pai do filho e o filho do pai por se dispor a executar a sua
ordem; detectar como oponentes do filho os ardinas, que não são oponentes, mas representam
os jornais, um universo diferente, simplesmente desconhecido e não necessário para ele, transformam-se por isso mesmo, por não se conhecer, em possíveis oponentes e até ladrões e criminosos!!! Isto, põe ainda em evidência a mentalidade desconfiada de grupos ou multidões ou
povos ou religiões que se desconhecem...
O destinador, como papel de juiz ou esclarecedor, que é provocado pelo espanto do pai pela
rapidez do regresso!!! e perante o espanto nos parece ser o pai que desempenha esse papel de
juíz, é afinal o leitor, ouvinte, como acontece na maioria das anedotas, que dá conta do ridículo, do jogo de ironias, da incompatibilidade entre os dois mundos, duas culturas, mentalidades
diferentes.
O/s destinatário/s - à partida e imediatamente, são o pai e o filho, mas como o pai e o filho nos
são, desde o início, apresentados como alentejanos, ainda por cima com dinheiro da cortiça,
quenuma leitura rápida é um dinheiro fácil, é só deixar passar o tempo e cortar a cortiça!...
Finalmente, OS DESTINADORES verdadeiros ou no pensamento do emissor, enunciador da
anedota, são primeiro os ALENTEJANOS em geral e depois OS NOVOS RICOS ou ricos
sem Cultura ou sem a nossa cultura.
Enfim. a partir daqui um Mundo de leituras que envolveriam desde a Psicologia, à Ciências
Sociais e até a Economia e a Política... Estou a exagerar, propositadamente, para, a partir deste
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exemplo ver como é fundamental o estudo de contos, lendas, anedotas, relatos do quotidiano
para se conhecer a mentalidade e a maneira de ser de um povo, de uma região, e poder intervir de um modo válido no seu desenvolvimento, respeitando a sua identidade e capacidades...
3- Uma análise estrutural como mais complexa e dispondo de outras variáveis para nos permitir uma visão mais global, podendo até englobar as anteriores, pode, por isso, permitir-nos,
uma visão mais completa de todo um mundo de reflexões a que uma pequena anedota nos
pode levar, podendo ensinar-nos muita coisa a aplicar por qualquer pessoa para puro recreio e
divertimento, pode servir de reflexão para professores, pais e educadores, que acham que
explicam tudo muito bem e são de uma indiscutível competência, mas que pode esbarrar e
esbarra com um universo diferente na pessoa dos alunos, filhos educandos... e esta distracção
pode ter consequências desastrosas tanto na verbalização de simples ordens e directivas, como
no processo ensino aprendizagem...
O estudo dos três cenários / sequências, a partida, a estada em Lisboa, a chegada; com as suas
catálises, informantes e indícios (ícones, símbolos), vide cortiça/riqueza - o taçalho de pão
com linguiça/ o sustento suficiente; o burro / meio de transporte eficaz; o Marquês / a grandeza ofuscante..., os ardinas - jornais /a cultura; a casa - o monte / a segurança; o banco / a miragem distante...
Teríamos um mundo para diversos especialistas das mais diversas áreas.
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O ALENTEJANO NA CARRUAGEM (ou autocarro) VAZIA TROCAVA COM QUEM?
Dia de chuva. Um alentejano embarca no comboio, em Beja, que vai para
o Barreiro. Entra numa carruagem completamente vazia e senta-se no lugar
que viu mais a jeito. Além de chover está bastante frio e ele embrulha-se
muito bem na capa larga com gola de boa pele. Continua a chover torrencialmente. Agasalha-se ainda melhor e já quase dorme quando o comboio
parte. Entretanto, mesmo por cima do seu lugar começa a pingar. Dentro
em pouco é uma goteira quase em fio. Aconchega-se ainda melhor na capa
e lá segue as três horas de viagem, meio adormecido pelo rolar e pelo barulho do comboio. Já muito perto do Barreiro, aparece finalmente o revisor
naquela carruagem perdida... – Atão aqui sozinho, homem? - Atão!? - O sê
bilhete?... E o nosso alentejano, serena e lentamente, sem se desencostar,
começa o penoso trabalho de encontrar o bilhete, procurando vagarosamente por tudo quanto é sítio parecido com bolso ou coisa que o valha.
Finalmente encontra-o e mostra-o pacientemente ao revisor emergindo a
custo a mão por entre as dobras da capa completamente encharcada... O
revisor. Trrrac... Trrrrac... – primeiro a obrigação... – Tudo em ordem.
Aqui tem o seu bilhete. Mas ó homem... estive aqui a reparar. Atão não vê
que vai aí todo molhado? - Atão que quer? Até no comboio chove! Pinsei
qu’era só lá no mê monti! - Mas, ó homem, atão não vê que só chove aí
nesse lugar onde se sentou e o resto está tudo vazio! Porque é que não trocou de lugar? - Porqui'é que nu troqui? E trocava com quêm?
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Alentejano no comboio.
Trocava com quêim?
SOLIDÃO
A NECESSIDADE DE
REGATINHAR
DO JOGO
DA COMUNICAÇÃO
O ALENTEJANO QUE VAI À FEIRA
Esta dum alentejano é mesmo verdade que eu conheço as pessoas. Passou-se com o pastor
António Verdasco que era ali de Baleizão e tinha um grande rebanho a meias com o patrão...
bem feitas as contas já era mais dele que do patrão pois ele é que sabia das voltas e das trocas,
e por causa do vivo ali tinha a vida presa sem domingos nem dias de semana nem feriados que
isto os animais são com'a gente e comem todos os dias e são uma carga de trabalhos... eram
dias, semanas, meses a fio lá no monte e pelos campos quase sem ver mais ninguém e sem
poder uma hora de seu... Tamén era demais! e pela feira de Beja, até o patrão já sabia... arranjava um moço por conta e abalava de madrugada cedinho a caminho da feira montado no gerico que tinha lá para os avios... duma vez que tinha uma burra lá para o avio, veio amontado na
burra e, à ilharga, trouxe a cria que ela tinha parido... Ainda não ia por altura das Neves e passou-lhe pela frente o carro dum lavrador ali das redondezas que logo à frente parou com grande barulho de travões... Lembrou-se que o feitor lá da herdade lhe tinha dito que fazia falta lá
um jerico para o pastor deles e para certos trabalhos que andavam sempre enrodilhados... Na
pressa, esperou pacientemente pela chegada do trio... Ora ali estava a solução. Em vez de
andar por aí à procura e ter de ir comprar aos ciganos!... Estava lá agora para essas maçadas!...
O pastor que reparou naquilo abrandou mais o duo... Que diabo quer o lavrador?! anda sempre
tão apressado que nem tem tempo para dar a salvação à gente!!! Será que nos quer levar a
todos três naquele carro tão bonito'!!! Chegam-se á fala e:
- Bons dias, pastor... Ah! é o Ti António Verdasco! Ora quem!... ia dizendo o lavrador a ver se
apressava.
-Bons dias, lavrador. - respondeu o ti António chegando-se e parando.
-Atão o rebanho do patrão, ..a medrar e de boa saúde?
-Lá anda com'ó meu que vai de saúde e lá vai medrando..., sim senhor.
-Ah! o seu também é grande?
-Se o do patrão é grande, o meu também é grande sim senhor.
-Bem. 'Stá bem. Mas eu queria era outra conversa. Tem aí uma bela burra!?
-Tenho sim senhor. É ela que me faz os carregos e hoje é o meu transporte p'rá feira sim
senhor.
-Ora era isso mesmo. Lá o Virgílio precisava lá um assim p'ró pastor lá da herdadee p'ralgum
serviço no monte... era mesmo isso que a gente precisava...
- Ah! mas a burra no se vende que é o mê arrimo e as minhas pernas, lavradore... Inda o burricalho era com'o outro que se me der... inda o vendo lá na feira... vou cá com essa fezada...
-OH! homem, eu compro-lho já. Pra que vai gastar tempo e passadas lá na feira... Quanto é
que vai pedir por ele?... Acertamos aqui as contas e já tem ganho o dia e pode voltar para
trás...
-Ah! isso no sei lavradore... não sei o que estão lá a pedire... mas ê vou começar aí pelos mil...
mil e ...
-Eh! pastor, no se fala mais nisso. Eu dou-lhe já mil e quinhentos e fica o negócio fechado... e
digo ao Virgílio que mande lá por ele... - E nisto ia tirando o dinheiro e abrindo a porta do
carro para o pastor no ter que desmontar... quando esbarrou com uma barreira intransponível...
- Tenha lá paciência, ó lavrador, mas assim no pode seri... Atão inda no regatinhámos nem
nada!!! E ós pois O QUE É QUE EU IA FAZER LÁ NA FEIRA?
(Lá se ia todo o encanto e magia de IR À FEIRA acalentado e amadurecido durante um ano
em que era a única diversão para o pastor sair da sua solidão dos dias todos iguais e sempre
presos... Todo aquele tempo sonhou, inda antes do burrico nascer, que naquele ano ia passar
pela feira amontado na burra mai-lo burrico á ilharga... e aquela gente toda a olhar... passar por
ali por entre a gente e depois descer até à feira do gado e dar a volta com as suas alimárias...
beber-lhe uns copos e comparar os seus com os restantes que enchiam a feira... e ouvir os
comentários... Eles sabem-na toda... eles vão desfazer nos meus e cantar loas aos deles... mas
se fossem bons nos iam a vender o que eles queriam sei eu... e ficar ali a ouvir e falar... que a
falar é que a gente se intende... e depois discutir e regatinhar entre mais dois copos de três... e
quanto é que havia de valer e não havia de valer... e até óspois se lhe desse na telha nem o
vendia nem nada... e à noitinha, todo derreado e feliz, enevoado numa divina bebedeira, lá
voltava a caminho de Baleizão, que isto um dia no são dias e... pró ano há outra feira... e até
pode ser que este ano inda vá á de Castro pró S.Miguel, ou á do Alvito prós Santos! E óspois,
o que é que lá ia fazer?
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Alentejano na feira.
Atão que é que ia
fazer à feira, sem o
burico para regatinhar?
A NECESSIDADE
DO JOGO E DA
COMUNICAÇÃO..
.
O ALENTEJANO E O PRETO (P’los BÊÇOS).
Amonta-se um alentejano no comboio que vai de Beja até ao Barreiro e
logo na sua frente pranta-se um preto. Nem “bom-dia”, nem “salvo seja”...
só se cumprimentam com um rápido olhar como quem diz “Olá”... “Pois
então faça vocemecê muito boa viagem aí muito bem assentado que eu por
aqui também faço tenção de fazer querendo deus, queira...” E lá seguiram...
Pára aqui...Pára acolá... Já lá vai Cuba... Já lá vai Vila Nova da Baronia...
Já passaram a Casa Branca... Aqui mudam os passageiros que se destinam
a Évora e outras direcções... Nem uma palavra... e o alentejano sempre a
olhar, a olhar... ora directamente, ora de soslaio para não dar tanto nas vistas... Chegam enfim ao Barreiro depois de três longas horas de minuciosa
observação... À saída... “Faz favor...” “Faz favor...” “Ora até uma outra
vez...” E, já cada um com o seu saco na mão a caminhar para o seu destino,
dirige-se o alentejano ao preto e pergunta:
- Desculpe lá amigo, mas tenho vindo toda a viagem a observá-lo... Digame lá uma coisa: Você é preto não é?
- Que pergunta meu amigo. Eu sou preto, sim senhor. Então não se vê
logo? Olhe bem para mim.
- Ah sim, já tinha arreparado. Logo me quis parecer, pelos bêços.
O ALENTEJANO EM LISBOA (Dinheiro a pontapés.)
Um compadre já um bocado farto de passar toda a vida ali no monte, resolve-se ir até Lisboa e vai comentando esta ideia com os conhecidos e amigos... Um dia encontra um velho conhecido e este é que o decide mesmo:
Pois faz muito bem o mê compadre... Lá em Lisboa o dinheiro é aos pontapés!!! Lá vai o nosso homem de comboio... Viagem no Domingo para
não perder sequer um dia de trabalho... Sai do comboio no Barreiro e
amonta-se no vapor que passa o Tejo... Mal põe o pé no chão o que havia
de ver... Uma nota de vinte escudos a voar à sua frente... Olha bem, esfrega
os olhos e quando se ia a baixar, dá-lhe um pontapé e comenta: - Ora hoje
no trabalho, que é Domingo.
O Baleizoeiro - e o da bicicleta...
Estavam um compadres à porta dum café em Baleizão a ver quem passa e,
nos entretantos entra na curva lá em cima um ciclista com ar de turidta que
não ali conhecido... Desmonta da bicicleta, encosta a bicicleta à porta do
café... Dá a salvação e entra para tomar uma cervejinha... Paga. Sai. E
quando vai pegar na bicicleta verifica que não tem roda da frente... Aflito
e espantado pergunta aos dois compadres: Então vocês não viram que me
roubaram a roda da bicicleta... Oh, amigo, tenha lá calma e não esteja aí
com suspeições,,, Atão nós no vimos muito bem... Quando você deu a curva lá em cima já na trazia...
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O da Cuba de burro... e o emigrante com o caro de 40 cavalos...
Vai o ti Manel no sê descanso, no fim de um dia de trabalho, amontado no
seu burrico pela estrada fora que vai dar à Cuba... Num repente aparece o
António que ainda o ano passado emigrara para a Alemanha ao volante de
um quarenta cavalos... Bos’tardes, ti Manel... Atão como vai tudo cá pela
nossa terra... Cá vai andando sempre com o sê burrico para diante e p’ra
trás... Olhe bem p’ra isto, homem!!! Um ano de emigra e tenho aqui um
quarenta cavalos!!!... Até mais logo. Logo nos vemos na venda que vou
mostrar esta máquina lá a todo o pessoal... E arranca a toda a velocidade,
deixando o pobre burro espantado e a cuspir a poeira que levantou...
Andando, andando, lá vai adando a ti Manel até que entra na curva antes
da ribeura... Chega à beirinha da ponte e o que houvera de ver... O carro do
António esbarrado no meio da água... Ainda vai a aprar mas compreendendo, de repente, Sauda-o com grande aceno cá de cima: Atão compadre a
dar de beber ó gado!!!
Os da Cuba e o comboio suado... a manta...
Na Cuba, nunca perguntes pela manta a algum habitante desta simpática
terra pois pode ser tomado como ofensa... Consta que no dia da inauguração, quando o comboio ali parou pela primeira vez, entre os foguetes e as
festas com grande multidão a ver os que viajavam... ao verem todo aquele
vapor a sair da máquina... o maquinista aproveitava a pausa para aliviar a
pressão... o Presidente da Junta gritou para os ajudantes: Ei, pessoal, tragam a manta para botar em riba da alimária que está toda suada!!! E lá
foram pressurosos cobria a máquina que refolguegava!!!
Os da Cuba e o comboio que matou metade do rebanho...
Conta um pastor, ali da Cuba, as suas desgraças para o outro pastor... Atão
na quer lá ver o mê compadre... Vinha ali com o rebanho a atravessar a
linha... veio o comboio e matou-me metade do rebanho!!! Isto é que são
uma vidas!!! Eih! compadre no steja aí tão desmorecido por nada... Olhe
que se o bicho viesse de atravessado, inda matava o rebanho todo...
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E se na Cuba não se pode pedir uma manta... em Aguiar não se pode perguntar as horas...
Conta-se que depois das obras demoradas e muito caras da igreja, o povo
de tão simpática terra passou um ror de tempo a ser cerrazinado pelo prior
lá da terra para abrirem mais uma vez os cordões à bolsa... e contribuírem
generosamente para comprar os sinos que tanta falta faziam para completar
aquela bela obra... Os anos passaram... As esmolas lá iam caindo... caindo... Mas de sinos nem notícia... Até que por zangas ou andanças o prior
foi mudado de freguesia... Revolta do povo... protestos ao bispo... grandes
ajuntamentos... Ameaças... Até que um dia chegam à terra uns caixotes
enormes puxados por umas valentes juntas de bois... Ajuntamento geral...
São finalmente os sinos... Aquele prior dum c., sempre sentiu vergonha e
lá nos mandou aquilo que nos pertence... Corre a voz por toda a terra e,
com os homens no campo, as mulheres é que fazem todo o alarido... cada
uma deitando contas à esmola com que a família tinha contribuído... Eu
também lá tenho parte... Ê ‘inda tenho mais que só da nossa parte demos
pelo menos o dobro... Olha, olha... a minha ‘inda é maior que demos
mais... e lá foi correndo a conversa até que o pessoal das juntas dos bois
descarregou a encomenda e lá foi à vida... Logo apareceram as autoridades
e os grados da terra para abrirem os caixotes com todos os devidos cuidados... Salta a tampa dos dois enormes caixotes quase ao mesmo tempo e o
que é que sai de lá? Uma quantidade enorme de grandes e rijos cornos...
Olha, Bia, aqueles mais ramalhudos devem ser a tua parte!!!
Os Alentejanos depois da seca...
O que é que os alentejanos haviam de esperar depois da seca? Ora pois!
Esperam que as vacas dêem leite em pó...
Os Alentejanos e a lâmpada...
Quantos alentejanos são precisos para mudarem uma lâmpada? São precisos cinco... Um para segurar a lâmpada e os quatro para andar com ele à
roda... primeiro para a esquerda até tirar a fundida e depois para a direita
até atarracha a nova...
O Alentejano e a cadeira ao lado da cama...
Porque é que os alentejanos têm sempre uma cadeira ao lado da cama?
Para descansarem logo que se levantam.
O Alentejano que cava sentado.
- Atão compadre, aí sentado a cavar!?
- Atão como houvera de ser! Já experimentei dêtado no dá!!!
O Alentejano à Segunda feira...
Sabem porque é que os alentejanos, à Segunda-feira, saem de casa pela
janela? Porque têm uma semana de trabalho à porta!!!
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O Alentejano que tinha três testículos...
Um dia um alentejano lá se deixa de vergonhas e vai ao médico... Para
espanto de ambos, depois de observar cuidadosamente, o médico anuncia
ao nosso homem... É estranho, mas não será caso de morte, homem!!! Esse
mal que o atormenta é só um caso raro da natureza... Você tem três testículos!!! O nosso homem lá abalou conformado e até um tanto vaidoso por ter
alguma coisa mais que outros... e, sem querer falar muito no assunto, claro,
não ia por aí anunciá-lo aos quatro ventos, mas um dia não se conteve... Ia
no comboio mesmo ao lado de outro compadre e não tinham mais assunto
de conversa... Meio atrevido, meio envergonhado atira para o outro: Atão
no quer lá saber à compadre... atão no é vão aqui nada mais nada menos
que cinco testículos... Que é que se passa compadre? Atão no querem lá
ver que vocemecê só tem um?!!!
O Alentejano e o espelho.
Um alentejano vai a Lisboa e depois de correr tudo o que pode, já quase no
regresso, fica embasbacado em frente de uma montra que tinha um espelho... Olha olha no qurem lá ver!!! Logo a primeira vez que venho a esta
terra e já têm ali a minha fotografia... Entrou e comprou logo aquela preciosidade... Chegou a casa e foi logoi mostrar à mulher... Olha o que eu fui
encontrar em Lisboa à Bia!!! A minha fotografia ali escapachada numa
montra da cidade!!! A mulher olha, olha e não se contém: Olha-me aquele
velhaco! Apanha-se sem mim por um dia e logo arranjou outra, inda por
cima parecida comigo!!! ... e corre a fazer queixas à mãe... At~e no quer lá
ver nha mãe... Aquele desgraçado vai a Lisboa a arranjou logo uma amante... A mãe olha com atenção e comenta: Dêxa, mulher, no te rales que já é
uma velha relha e gasta que no presta p’ra nada...
O (A) Alentejano(a) e o espelho.
Passados largos anos de trabalho e poupanças e de mudanças de herdade
para herdade, lá chegou o dia que o moiral decidiu comprar um guardaroupa com um grande espelho... Monta-se a armário, garnde azafama para
arrumar as roupas... As mulheres da casa fazem desfile para se verem de
alto a baixo... Passa a avó velhinha e comenta: Oh filha, é verdade que
aquela ali sou eu? Olha a figura triste que ando por aí a fazer!!!
(Isto passou-se com a avó Clara que era a mãe da ti Beatriz de S. Matias).
O Alentejano que vem a Lisboa estrear o carro...
O Alentejano que veio a Lisboa por três dias e três noites...
O Alentejano que veio a Lisboa (ou à feira) e trouxe um barrete verde para
não se trocar...
O Alentejano que comprou um rádio com AM e FM ... antes e fora de
Mértola...
O Alentejano interrogado pelo polícia sobre o acidente... Olhe bem senhor
polícia: Vê aquela curva? Vê aquele chaparro? Pois eles não viram.
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O Alentejano e as vacas (ovelhas) ... as brancas... e as pretas...
O Alentejano que sabe ver as horas... que afastava os tomates do burro...
O Alentejano e o prato antigo... já tinha vendido 35 gatos...
O Baleizoeiro - a minha filha casa para abrila (abri-la)...
Os Alentejanos e os caracóis: Bichho irrequieto!
Os Alentejanos e os caracóis: Prefere apanhar azeitonas ou caracóis? Ê cá
prefiro apanhar azeitonas que os caracóis são muito mexidos!
Os Alenteanos e os caracóis: Dois alentejanos dormem encostados a um
chaparro. Dois caracóis estão a dois metros de distância. Passadas três
horas, os alentejanos acordam e os caracóis estão perigosamente a um
metro de distância. Um levanta-se e esmaga-os raivosamente: Ah! bicho
irrequieto que no pode ficar sossegado!
Os Alentejanos - bica na casa de banho... com cheirinho
O Alentejano que vai a Lisboa depositar o dinheiro da cortiça...
O pão alentejano. Qual é a vantagem do pão alentejano? Não dá trabalho
(ao estômago)!
O alentejano e o planeamento familiar. Como é que os alentejanos fazem o
planeamento familiar? Atirando pedras às cegonhas. E os lisboetas? Atiram pedras aos alentejanos.
O alentejano a benzer-se. Obrigado meu deus, (e leva a mão à testa), por
poder encher a barriga (e leva a mão ao peito ou um pouco mais abaixo);
sem ter de mexer este nem este ( e leva sucessivamente a mão aos ombros).
O alentejano e as diferenças. Para um alentejano, qual é a diferença entre
um relógio e um burro? O relógio, quando parte a corda, pára; o burro,
quando parte a corda, foge.
Alentejano pós operatório. Um doente com um cancro no cérebro é internado de urgência e a equipa médica decide que precisa de cortar cerca de
um terço para que o cancro seja erradicado. Por erro de cálculo o paciente
vê-se privado de dois terços!!! Pânico na equipa. Ao acordar o cirurgião
cumprimenta o paciente: Ena! A operação correu bem, você está vivo!!!
Atão na ouvera de’star!!!
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O alentejano pós operatório. Tiraram parte do cérebro a um alentejano para
evitar que a cancro alastrasse. No lugar, para não ficar deformado, os
médicos meteram tripas e trampa que tinham ali à mão. Que é que ficou?
um lisboeta.
O alentejano levanta-se muito cedo. Porquê? Para Ter mais tempo para
descansar.
O alentejano tem sempre uma cadeira ao lado da cama. Porquê. Para descansar logo que se levanta.
O alentejano tem sempre uma cama ao lado da outra. Porquê? Numa é para
dormir com a mulher dele; a outra é para dormir com a sua!!!
O alentejano cava sentado. Porquê? Já expromenti dêtado mas no dá gêto!
O alentejano na América visita um amigo e fala contantemente do seu
monte... Uns tempos depois o amigo americano vem a Portugal e não descansa enquanto não vai visitar o alentejano no seu monte. Com o seu
automóvel, passados dois minutos, têm o monte todo visto. Isto é que é o
seu monte de que você tanto falava lá na América? Lá na América, a
minha herdade, no fim de cinco horas ainda não tinha visto tudo!!! Ê tinha
um desses mas vindi-o!!!
O alentejano e uma folha A4 partida ao meio. O que é? Um puzle.
O alentejano e as alcunhas. Dizem que os alentejanos pôem alcunhas a
todos os de lá da terra e até a quem por lá passa. Ah! sim. Então eu vou de
volta diz o lisboeta. Daí em diante todos conheciam aquele lisboeta. era o
“VOU DE VOLTA”!
Os alentejano e o Cristo-Rei. Dois alentejanos que regressavam de uma
visita a Lisboa passam pelo monumento e dizem: Olha Jaquim a altura disto... a figura que isto metia lá na nossa planície... Metia mesmo vista. Vai
daí, tiraram os casacos e começaram a empurrar. Dois garotos, ali do Pragal, ao verem aquilo, apanharam os casacos e fugiram para roubarem o
dinheiro. Passado um tempo, os alentejanso param para descansar e olham
para trás onde tinham posto os casacos e... Ena compadre o que nós já
andámos! Já nem se vêem os nossos casacos.
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O alentejano “Zé Nabo” vai a Lisboa e verifica que toda a gente o conhece.
Olha, Bia, co dinheiro da colheita deste ano já podemos comprar um carro
e vou experimentá-lo a Lisboa. Vou ali c’o vezinho Blézinho que conhece
aquilo bem. No t’assustes qu’a gente volta! Mal entraram na confusão da
ponte. “Chega p’raí ò seu Nabo...” No Marquês: “Olha-me pr’aquele
Nabo!”... Na Avenida: “Oh seu Nabo, não sabe ir na sua fila!!!...” volta ao
Alentejo e conta à mulher: Vês, fui a lisboa e vi que toda a gente me
conhece... AH! sim? Ê quero lá ir contigo... e foram. Desde a ponte, a
mulher pôde verificar como todos o conheciam até que na Praça de Espanha um trocou o “Seu Nabo” por “Filha da...” Ah! - disse a mulher - o que
no me tinhas dito é que também conheciam a tua mãezinha!
O alentejano compra um carro em Lisboa. Com dinheiro vivo no bolso,
corre tudo o que stand de bons carros e lá se decide por um boca de sapo.
Todo contente, depois de atravessar a ponte pára na primeira zona de descanso e descansa. Passado um pouco, vai entrar e vê o carro todo amochado rentinho ao chão. Ora esta?! Inda nem cheguei à terra e já está o bicho
estragado!!! Puxa do “potátel” e telefona para o standard onde os vendedores rebentam a gargalhada... Eu vou voltar atrás e cantá-las bem cantadas!!!
E... telefona para a família a dizer que já não chegará nesse dia... Nem penses homem... Nem és home nem és nada se não chegas aqui dentro de duas
horas. ‘Stá aqui a aldeia toda à espera e se no apareces é porque é um
pelintra... e porque torna e porque deixa... O homem decide arrancar para a
terra e durante duas horas deu voltas à cabeça... Chega a aldeia. Há foguetes e vivas... Uma roda de povo nas ruas e na praça... o presidente da Junta
está para o cumprimentar... Sai todo impante e antes dos cumprimentos,
bate a porta, e ordena ao carro: “Dête-se”.
Pinguins no Alentejo! Dois lisboetas num duzentos cavalos correm a caminho do Algarve... Às tantas, ouve-se um barulho e diz o condutor: Ena pá
acho que atropelei dois pinguins!!! Ó homem, tu estás doido?!! Não vês
que estamos a atravessar o Alentejo?!!! Eiii! Queres ver que matei duas
freiras!
O alentejano e os veteranos da guerra. Um alentejano confraterniza com
dois veteranos da guerra do Golfo. Olhe aqui compadre: esta é de Kweit
City... E o outro: Esta é de Bagdade City! e o alentejano mostra a sua e:
Apend City!
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O alentejano e os veteranos da guerra. No fim da guerra, aquele alentejano
que até, depois, ficou a trabalhar no Banco lá da terra, na farra da despedida, comprometeu-se com os dois amigos, um americano e um inglês a
beberem um copo, cada um no seu país, para lembraremos bons e os maus
momentos daquela guerra e por terem sobrevivido. Todos os dias, desde há
mais de vinte anos, ali o empregado do café já tinha os três copos de três
perfilados para o nosso compadre veterano... Um dia o empregado fica
alarmado. Contra toda a rotina, o nosso alentejano corre apressado e fazlhe sinais desesperados para que não comece e encher o terceiro copo...
Com a garrafa na mão, boquiaberto, o empregado espera e com o ar mais
triste que conseguiu, interroga: Então?, compadre, lá morreu um dos seus
camaradas?!!! Deixe-me sossegado, homem e deixe ficar só estes dois.
Ontem, depois de sair daqui, fui ao médico e deixei de beber!!!
O alentejano e os antiquários. Um desses coleccionadores de raridades passa no Alentejo e numa aldeia perdida entra numa taberna e vê um gato a
comer num prato de barro que lhe pareceu uma coisa única e que lhe daria
bom dinheiro. Come bem. Paga melhor e ainda com a gorgeta na mão: Já
agora podia oferecer-me ou até dar-me aquele caco onde come o gato.
Sabe, mê senhor, ê até lho dava mas o gatinho que está habituado só a
comer naquele caqueiro! Que se há-de fazer? Lá morria o gatinho. Mas eu
compro-lhe o gato e trato-o muito bem... e vai de oferecer mais e mais...
Negócio fechado, mê senhor. Leve lá o gato que é esse o preço, o prato fica
aí pois com este, já são trinta e cinco gatos que eu vendo a papalvos como
você!
O alentejano que chega a Lisboa desembarcado do vapor que passa o Tejo
sai-se com esta lengalenga:
NO RESSIO, ENFIO
CUM DESIMBARAÇO;
LOGO ME PRANTI
NO TERREIRO DO PAÇO.
FOI ATÃO QUE VI
E QUE PUDE OBSERVÁ-LO
UM HOME DE CHUMBO
EM RIBA DUM CAVALO!
O alentejano repentista visita o rico lá da terra de origem duvidosa e fortuna misteriosa. Vê tudo o que lhe mostram: os grandes corredores, aquelas
luzes todas, os quartos... e finalmente bebem um copo na sala nobre onde
estão pendurados os quadros dos notáveis da família. Chega cá fora e os
companheiros das farras não o largam para saber novas daquela visita tão
insólita. E ele:
DO HOMEM QUE DIZ SER FILHO
TEM O RETRATO NA SALA;
MAS DA PUTA QUE O PARIU
NÃO TEM RETRATO NEM FALA.
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O alentejano e as festas.
ESTRALA A BOMBA
FOGUETE VAI NO AR.
ARREBENTA, FICA TUDO QUEIMADO...
NO HÁ NINGUÉM, QUE BALHE MAIS BEM
C’AS MENINAS DA RIBEIRA DO SADO...
E AS MENINAS DA RIBEIRA DO SADO É QUE Éi
LAVRAM A TERRA C’AS UNHAS DOS PÉiS...
E AS MENINAS DA RIBEIRA DO SADO SAN COM’AS
OVELHAS
TÊM CARRAPATOS ATRÁS DAS ORELHAS!!!
O alentejano pastor e o turista.
Está um pastor no seu descanso a tomar conta do gado e para um turista
para meter conversa. Quantas vacas (ovelhas) é que tem este rebanho? Ora
vo(ce)mecê que está interessado pode botar-se a adivinhar!... Olhe deve
Ter aí umas 434. Ena! mê senhor, é mesmo certo. Nem mais uma nem
menos uma. Como é que adivinhou? Ora foi só contar as patas e dividir
por quatro!!!... Pois muito bem, mas tem de concordar que era mais simples contar os cornos, que estão ao alto e dividir por dois!!!
O alentejano pastor e o turista. Por onde vai esta estrada? Esta estrada não
vai para lado nenhum que a gente precisa dela aqui.
O alentejano pastor e o turista. Ó ti Manel para onde vai esta estrada?
Como é que você sabe que eu me chamo Manel? Basta olhar para a sua
cara e vê-se logo que tem cara de Ti Manel! Pois atão olhe bem para as
trombas da estrada que vê logo par aonde é que ela vai.
O alentejano pastor e o turista. Um casal de alentejanos apascentava calmamente uma vara de porcos. Para render mais a engorda, pegavam nalguns porcos mais pequenos e levantavam-nos até aos ramos dos chaparros
para poderem comer as boletas... Para uma família de turistas que se demora a ver a cena... e o pai de família, passado algum tempo, não se conteve e
sugeriu: - Olhe lá, não era melhor abanar a árvore ou bater as bolotas com
a vara? Caiam no chão e os porcos podiam comer mais e sem tanto trabalho!... - Mulher, ‘stás ouvindo? Estes devem ser ingenheiros!!!
O alentejano pastor e o turista. Estava então um pastor alentejano encostado a um sobreiro e olhar pelo gado... Pára um carro donde sai uma grande
família de estrangeiros... Estão a ver, - diz o pai - esta é a árvore da cortiça
da qual se fazem as famosas rolhas!!! - Mas paizinho, onde é que estão as
rolhas? - e partem. Diz o pastor: - Tal ’stá a moenga, hen!
O alentejano motociclista. Porque é que os alentejanos usam um fato às
listas para andarem de moto? Para se deitarem nas curvas.
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O alentejano num concurso da TV. Num céelebre concurso do Artur Agostinho, depois da selecção apertada resta um alentejano para ganhar o último prémio. Pergunta: - Para ganhar este fabuloso prémio, basta responder
a esta pergunta: Como é que se chama o homem que come outros homens?
Alô, Alô, Vidiguêra, Já ganhi! É paneleiro!!! Artur Agostinho desesperado: - Lamento mas perdeu!
O alentejano e as sobras. No fim de um lauto repasto, sobra uma iguaria
que ninguém quer ou uma bebida! Alguém se sacrifica a aproveitar e
comenta: Se há-de ir p’rós porcos!!!
O alentejano e o limpa pára brisas. Porque é que.no Alentejo, foram proibidos os carros com limpa pára brisas atrás? Porque havia muitos alentejanos que passaram a conduzir de marcha atrás.
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