HOMENAGEM DE ISMAR KAUFMAN, EM NOME DOS

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HOMENAGEM DE ISMAR KAUFMAN, EM NOME DOS
HOMENAGEM DE ISMAR KAUFMAN, EM NOME DOS
ESTUDANTES, AOS 30 ANOS DO CENTRO DE
INFORMÁTICA DA UFPE
Antes de mais nada, agradeço a honra de participar dessa cerimônia
falando como um dos milhares de estudantes que gozaram da
experiência de estudar neste Centro de Informática ou no
departamento que o antecedeu. Tive o privilégio de ser aluno de
graduação entre 84 e 88 e de pós-graduação de 90 a 92. Ainda
convivi diariamente muitos anos nesta escola, seja como
pesquisador, gerente do CESAR ou substituindo professores na
graduação e na extensão. E sempre acompanhei o que aqui se passou
com interesse.
Espectador por tantos anos e humilde colaborador do espantoso
crescimento da instituição, alegro-me agora falando – em nome de
tantos – da admiração que temos pelo Centro de Informática.
Brevemente, então, tentarei explicar porque acredito que se
estabeleceu na casa uma espiral vitoriosa de liderança, visão
compartilhada de futuro, credibilidade, confiança e colaboração
entusiasmada.
2004 Ismar Neumann Kaufman
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Michael Porter, um dos principais pensadores da estratégia nos
nossos tempos, nos ensina que o desafio de desenvolver ou
restabelecer uma estratégia clara depende de liderança. Com tantas
forças trabalhando contra as escolhas e compromissos na
organização, um arcabouço intelectual claro para guiar a estratégia é
um contrapeso necessário. Além disso, líderes fortes decididos a
carregar a responsabilidade pelas escolhas são essenciais.
Em muitas empresas, a liderança degenerou em orquestrar a
melhoria operacional e fazer negócios. Mas o papel do líder é bem
mais amplo e importante.
Porter continua afirmando que o foco da liderança é na estratégia:
definindo e comunicando posições únicas, assumindo compromissos
e criando atividades que se ajustam. O líder é a fonte da disciplina
que decide a que mudanças e demandas de mercado a organização
deve responder. O líder evita que a organização se distraia daquilo
que a faz distinta.
Sempre há pressões para flexibilizar posições e copiar rivais. Porém,
dizer o que não se fará pode ser tão importante quanto as escolhas
do que deve ser feito. O líder decide a que clientes e demandas não
satisfazer. Um dos papéis fundamentais do líder é comunicar
claramente essas decisões para que todos entendam a estratégia e
possam operar no cotidiano em consonância com ela.
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Desconfio que Porter pensou no Centro de Informática quando
propôs o modelo. Escolhas claras e bem comunicadas sempre
sobraram a nós, estudantes.
Que revolta havia quando um colega não conseguia “blocar” em um
turno seu horário escolar de forma a iniciar suas atividades
profissionais desde o primeiro ou segundo ano! E a resposta do
coordenador do curso era que o horário estava disperso de propósito,
exatamente para evitar a dispersão prematura do aluno. E que diziam
os professores das reclamações dos gerentes de informática locais
que os recém formados conheciam as inexistentes redes locais de
computadores, mas não sabiam operar o software mais comum de
teleprocessamento? Ou Smalltalk em vez de Cobol.
Por que recusar-se há mais de 20 anos a contratar professores sem
doutorado? Por que inovar nas relações com empresas em vez dos
tradicionais contratos personalistas?
As lideranças tratavam de sinalizar claramente o posicionamento
estratégico da instituição. Tratavam de afirmar a que não serviriam,
para fortalecer e enfatizar a que se propunham.
O CIn compartilha e sempre compartilhou uma visão de futuro com
seus alunos e com toda a sociedade. Arbitrária ou inferida, intuída
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ou cientificamente construída, a clareza na comunicação da visão
compartilhada do futuro cumpre o papel da liderança porque alinha
suas próprias forças e convoca na sociedade o apoio necessário ao
ousado empreendimento. Entendendo o que a liderança propõe,
aliados que concordem engrossam as fileiras. E os inimigos e
resistentes que sobram, nunca estão lá por mal-entendido.
Um outro estudioso de estratégia chamado Geoffrey Moore, quem
melhor explicou a vida dos empreendimentos tecnológicos, ensina
que pessoas não são como legos. Nós não podemos nos reconfigurar
prontamente, nem ficamos satisfeitos quando nos reconfiguram por
imposição. Nossas organizações não funcionam efetivamente
quando são continuamente redirecionadas. E no entanto, isso é
exatamente o que o sucesso em um mercado de hipercrescimento
sustentável exige.
O Centro de Informática está metido em um tal mercado. Nos
últimos 30 anos, o profissional de informática passou de engenheiro
frustrado a personagem comum na televisão. Basta contar o
crescimento dos cursos na área de TI em outras faculdades para
entender que o CIn esteve no olho de um furacão, nos termos de
Geoffrey Moore. Ele explica que para liderar e gerenciar neste
contexto é preciso criar uma camada de estabilidade subjacente à
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toda mudança. O segredo está na construção de relações de
confiança, que é um desafio profissional tanto quanto nas relações
afetivas e familiares. O autor lembra que em última análise,
confiança depende de poder. Este, num estranho paradoxo, cresce
quando bem distribuído.
Confiança e descentralização andam lado a lado.
Parece então óbvio porque os líderes do CIn procuram sempre
incorporar novos nomes à liderança. Mais óbvio ainda é que a ética
e honestidade de propósitos tenham sido princípios tão fundamentais
em tantos administradores da escola. O respeito pessoal que os
líderes angariaram na sociedade e na universidade permitiu o
crescimento da instituição e espalhou ainda mais a visão de futuro.
Esse convite aberto a participar da construção desse centro
acadêmico não ficou sem resposta. Apresentando-se francamente
como um elemento transformador da realidade sócio-econômica do
Estado e do País, o Centro ofereceu àqueles que acreditaram na sua
mensagem os instrumentos para colaborar. Empresas, profissionais e
políticos aderiram ao esforço porque entenderam a que vem a
instituição e também porque o mecanismo de participação estava
disponível.
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O entusiasmo dos alunos foi um fator relevante nessa mobilização
em cada período. Enquanto organizavam as entidades estudantis,
empresa júnior, empreendimentos incubados, eventos e
movimentação, os estudantes davam à sociedade a sua manifestação
de aprovação aos caminhos tomados pelas lideranças do Centro. E
também motivaram as próprias lideranças a profundar os caminhos
trilhados e a corrigir rumos, nos inevitáveis erros de percurso.
Em resumo, acredito que foi a combinação de ética, entusiasmo,
inconformismo e – acima de tudo – visão estratégica que fez do
Centro de Informática este sucesso que merece ser comemorado.
Junto com outros profissionais, dirijo uma empresa de software.
Participo ativamente das associações empresariais como Assespro,
SoftexRecife e Sindicato. Escuto freqüentemente a opinião do setor
sobre o CIn. É lá que valido este raciocínio.
Como ex-aluno, profissional de informática, cidadão pernambucano
e como contribuinte, registro aqui a pública admiração e gratidão da
sociedade ao Centro de Informática da UFPE. Vamos em frente
crescer mais 30 anos!
Obrigado pela atenção.
2004 Ismar Neumann Kaufman
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