THE WAY I AM (2008)

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THE WAY I AM (2008)
THE WAY I AM (2008)
INTRODUÇÃO | CAP 1
ALL I KNOW, PART 1
EU SABIA QUE QUERIA SER RAPPER POR VOLTA DOS 14 ANOS DE IDADE. Foi nesse
mesmo ano que eu conheci Proof. Foi exatamente como eu descrevi em "Yellow brick Road".
Eu estava a caminho de Osborn Hight, onde Proof estudava, distribuindo uns panfletos para
meu show: "Eu pedi pra ele passar e me checar outro dia, ele olhou pra mim como se eu
tivesse enlouquecido,mexeu com a cabeça dele tipo caras brancos não sabem rimar. Eu soltei
uma rima e rimei aniversário com primeiro lugar e nós dois tínhamos a mesmas rimas que
soavam parecidas. Nós estavam na mesma merda que Big Daddy Kane, onde compus sílabas
soando combinadas daquele dia que nós estávamos só de passagem mas de algum jeito
sabíamos que nos encontraríamos em algum lugar abaixo da linha."
Na Osborn, Proof me procurava no horário do almoço para batalhar e zoar com uns caras de
lá. Nós ganhávamos um dinheiro com isso. Proof dizia: "Aposto 20 dólares no branquelo". Era
a teoria "Homens brancos não podem pular" - ninguém achava que um garoto branco pudesse
ganhar. Proof manda um som batendo na mesa e eu vencia todos aqueles que queriam
batalhar. Isso era constante. Nós chegávamos em casa e dividíamos o dinheiro. Mas ai as
pessoas começaram a se cansar desse jogo, e tivemos que inventar um novo.
Foi ai que comecei a pintar minhas calças jeans e jaquetas. Proof me mataria se soubesse que
eu contei isso para as pessoas, mas o primeiro nome artístico dele era “Maximum”. Então eu
pintei “Maximum” no jeans. Eu levava meus desenhos a serio. Eu dobrava o tecido para a
borda das letras se aderirem melhor, e depois pintava o interior. A tinta para pintura eu roubava
– parecia um cleptomaníaco. Eu vestia uma jaqueta grande cheia de bolsos para que eu
pudesse sair com as tintas.
Meus clientes eram pessoas como o Proof, os caras da vizinhança. Ele me dizia o que as
pessoas queriam e eu falava “Quanto você acha que eu devo cobrar?”, se era $60 eu dava a
Proof $20. Naquela época, isso era muito dinheiro para mim, era meu segundo emprego.
Melhor do que a fábrica em que eu trabalhava, melhor do que fazer sanduíches lavar os pratos
da cozinha, limpar o maquinário e acabar ficando com a minha mão toda machucada.
Logo mais Proof chegou com esse cara que queria “Eazy-E” escrito nas contas de sua jaqueta.
“Eazy-E” com uma arma. Quando eu comecei a pintar não tinha nem ideia do quanto iria
demorar. Mais e mais pessoas começaram a querer as roupas pintadas, e começaram a me
apoiar. Proof dizia ‘Ei o cara quer sua jaqueta do “Eazy-E”. Quando você termina?”. “Eazy”
ficou do tamanho exato da jaqueta cobrindo toda a parte de trás. Toda a arte custou mais ou
menos umas 20 jarras de tinta que roubei.
Proof me ensinou a me erguer como homem. Ele foi o primeiro a me ensinar a lutar. Se você
nunca levou um soco você tem medo porque não sabe o que esperar de uma briga. Proof e eu
fazíamos umas lutas livres de vez em quando. Tinha um cara na Dresden Street que ficava
assistindo a nossa briga. Ele gritava “Vamos lá Marshall levanta! Deixa de ser mulhersinha,
levanta!”. E Proof gritava “fica no chão cara, fica no chão”. Mas eu sempre voltava pra luta. Ate
Proof me nocautear. Eu dizia a ele “Não bate nos meus dentes. Por favor!”
Brigávamos como irmãos, mas nunca tivemos uma briga de verdade. Tínhamos uma ligação
que não podia ser quebrada. Brigávamos pelas coisas mais estúpidas. Uma vez eu deixei de
buscar Proof como havia prometido porque fiquei conversando com uma garota no telefone.
Quando finalmente aparece, Proof disse que não queria mais jogar basquete comigo. Eu joguei
a bola nele e mandei ele entrar no carro. Ele jogou a bola dentro do meu carro, bateu a porta e
saiu com raiva. Ficamos semanas sem nos falar. Era estranho porque nós dois trabalhávamos
no mesmo lugar – Little Caesars. Um dia ele chega e bate na minha bunda com uma toalha. Eu
digo “Filho da puta!” corro pra cima dele e começamos a fazer uma guerra de toalhas. Do nada
somos amigos de novo.
HIP-HOP SE TORNOU MINHA GAROTA, MEU CONFIDENTE, MEU MELHOR AMIGO.
Meu tio Ronnie me introduziu ao hip-hop quando tinha 11 anos. Minha avó só teve ele quando
mais velha, então mesmo ele sendo o meu tio nós tínhamos a mesma idade, e crescemos
juntos quando meninos em Missouri. Ronnie fazia as fitas dele mesmo. Ele vivia em um
estacionamento de trailer e tinha dois rádios com espaço para fitas cassete.Ele usava para a
saída das batidas. Apertava o play - lembro como se fosse ontem - depois apertava rec no
outro aparelho e rimava sobre a batida. "That faggot walking down the street/ He think that he
have a funky beat/ Huh-Huh, look at him, combing his hair/I bet that he don't even change his
underwear/He thinks ge's bad, I think he's sad/But the only reason I am glad/ I am the king of
the funky beat/ I know what's going down". Eu fiz uma cópia e levei para casa, escutei isso
inúmeras vezes. Foi quando eu percebi o que eu queria para mim: Rap. Eu não tinha entrado
no mundo do hip-hop ainda. Eu curtia Michael Jackson e New Edition, sabe, "cool it now". Mas
ainda em "Cool It Now" eles faziam rap no final. Já tinha ouvido rap antes - o primeiro foi "Jam
on It" do Newcleus - na rádio. E Ronnie havia comprado a trilha sonora "Breakin'" com uma
faixa do Ice-t "reckless" nela. Depois que ouvi suas fitas, comecei a pesquisar tudo sobre rap
antigo tipo Mantronix. Eu decorei a letra de "The Message". Tudo estava começando a se
encaixar.
No inicio da 6ª série, três garotos me ensinaram a dançar o break. Eles jogavam um papelão
no chão e começavam a dançar. Nós vivíamos em uns apartamentos do Governo em
Savannah, Missouri, e eu e meus amigos andávamos com peço de papelão para poder dançar
na rua - atraímos algumas garotas que viviam no complexo também. Era demais!
Fiquei um tempo sem ver o Ronnie, porque minha mãr mudou novamente para Detroit. Quando
voltamos a Missouri para visita-los no verão, Ronnie tinha entrado no heavy metal e usava
umas botas de cowboy. Isso me incomodava muito. Eu sabia as letras de LL Cool J "I'm Bad"
de frente e verso. Eu ficava na garagem de Ronnie catando, fazendo um show para os carros
que passavam. Ninguem podia disser que eu não era o LL Cool J!
"Licensed to Ill" do Beastie Boys me influenciou muito. Porque obviamente eles eram meninos
brancos em um mundo de predominância negra. E eles eram muito engraçados. Eu gostava do
Beastie Boys porque eles eram eles mesmos - não estavam fingindo. vários garotos do mundo
inteiro se identificavam com eles. Quando eles apareceram conquistaram o respeito do
uderground. o fato deles serem eles mesmo me ajudou a relaxar e ser eu. Me fez sentir como
se eu pudesse pegar o microfone, subir no palco e agitar milhões. Isso é tudo o que um rapper
quer.
Eu passava muito tempo sozinho, então o hip-hop se tornou minha garota, meu confidente, e
meu melhor amigo. Tinha tanta emoção: LL podia rimar sobre mulheres, e Rakim podia manter
na real de maneira profunda. Boogie Down Productions podia te ensinar umas coisas - o que é
incrível para aqueles que só escutam a música pelo ritmo. Masta Ace sabia como contar uma
história - os pensamentos dele eram super vividos.
Mcs eram pessoas reais que se vestiam como você. Eles usavam Adidas como você. E o hiphop era frio e direto. Eu entendia a linguagem. Era juntar as palavras e falar - o que viesse a
mente - os pensamentos estavam na minha mente, engraçados ou raivosos ou tristes. Me dava
confiança quando as pessoas se identificavam com o que eu escrevia. Me ajudou a falar
melhor com as mulheres. Era o ritmo - como no basquete - me ajudava a expressar
Todos aqueles rappers e grupos eram meus professores e eu era um estudante em tempo
integral do hip-hop. Acho que vocês conseguem visualizar isso no meu trabalho.
A primeira vez que cantei em um clube eu ainda era um adolescente. Eu era muito novo. Foi
uma daquelas coisas que você quer tentar para ver se você se da bem. E eu fui terrível!
Foi em uma festa chamada The Rhythm Kitchen. Eu fui com uns amigos. Sem Proof. Eu estava
tentando ser engraçado, e eu disse algo no rap como "cracker" ou "honky". Por algum motivo
eu achei que a platéia iria achar engraçado brincar com aquilo, grande erro. Acho que consegui
falar umas três palavras a mais quando eles começaram a me vaiar. Foi uma das piores
experiências da minha vida. Eu pensei "porra! Não sou bom nisso". Voltei pra casa com o rabo
entre as pernas.
Demorei muito, depois daquilo para que eu voltasse a enfrentar um público, mas continuava
fazendo rap. Eu fazia composições sempre que podia, mas por causa do equipamento precário
que tinha para compor, se eu fizesse merda, tinha de começar tudo de novo. Então eu tinha
não só que compor a música, como decorá-la para gravar. Naquela época eu estava em um
grupo chamado Bassimint Productions - meu primeiro grupo de rap. Nós levávamos o material
pronto para Lisa Lisa e esse cara chamado DJ Dick - eram famosos em Detroit e tinham um
show chamado "Open Mic" toda sexta-feira à noite. Eles nos deram a primeira oportunidade,
falavam para as pessoas ir conferir nosso trabalho.
Mark Bass ouviu uma faixa chamada "Crackers and Cheese" na rádio e gostou. Ele e seu
irmão Jeff tinham um estúdio, F.B.T (Funky Bass Team). Ele ligou para Lisa Lisa e perguntou
"Quem são esses caras?" nós conversamos com ele na rádio, e acabamos indo ao estúdio
dele, e lá gravamos três faixas demo.
Eu era muito novo. Era o inicio da minha carreira. The Bass Brothers tinham contatos, e eles
tocaram isso para umas pessoas na Elektra Records. A gravadora disse "Eminem soa muito
novo ainda". Minha voz era muito aguda (não como a que estava em "My Name Is", mas eu
chego lá).
Eu comecei a pegar todo o dinheiro extra que tinha e comecei a gravar mais e mais na F.B.T.
Mark Bass escutava as faixas e gostava. Aos poucos ele foi me deixando entrar, e as vezes
podia gravar de graça lá. Ele via que tinha iniciativa. Eu fazia as minhas fitas cassete e lançava
os meus singles. Eu fazia a arte da capa. Quando eu pegava as fitas eu não sabia o que fazer
com elas. Comecei a andar por ai e colocá-las em lojas locais, mas elas não vendiam. Eu acho
que eu vendi umas três copias daquela merda. Quando eu volto e escuto elas hoje, vejo que
eram muito fracas, mas eu achava que elas não eram naquela época.
Quando eu tinha 18 aos, eu estava confuso sobre o rumo que minha vida iria tomar. Eu era
bom no rap, mas não era ótimo. Eu achei que poderia ser melhor no basquete do que era no
rap. Eu seriamente considerei ser jogador. Durante um ano eu treinei sem parar. Basquete era
uma aposta alta, mas o rap também era. Vanilla Ice fez com que fosse quase impossível para
um garoto branco conseguir respeito no rap. Proof e eu queríamos esse sonho. Então
apostamos alto. Deixamos tudo de lado e fomos tentar o ouro.
Proof largou seu emprego no Little Caesars. Ele dizia: "Foda-se isso tudo. Vou fazer hip-hop
em tempo integral". Ele começou a deixar uns dreads crescer e estava no caminho de ser
tornar o melhor do hip-hop em Detroit. Proof só voltaria ao Little Caesars algum tempo depois
para se apresentar com o seu grupo, Five Elements. As vezes cantávamos nossas musicas no
estacionamento, era um momento importante para mim, porque me fazia sentir que eu podia
conseguir. Proof achava meu som melhor que o dele! Ele falava: "Droga eu tenho que voltar ao
estúdio!". Tinha uma competição saudável entre nós dois. Me ajudou a crescer como
compositor e artista. Depois disso ele voltava e tocava mais sons. As batidas deles era
incríveis. Se você escutar aquelas faixas, a rima de Proof é maravilhosa! Ele tinha a Tommy
Boy Record apoiando ele, e estava sempre viajando para Nova York. Todos nós achávamos
que Proof seria o primeiro a conseguir ser famoso.
Por volta de 1992, eu me mudei para o lado leste de Detroit, Novara Street (eu falo dessa rua
em "Mockingbird"). Era uma casa cheia de rapazes. Na época eu tinha uma namorada mas ela
não morava lá comigo. Eu saia do trabalho as 23hrs e sentávamos na varanda e bebíamos 40s
e fazíamos rap um contra o outro ou íamos de freestyle mesmo.
Denaun Porter, conhecido como Kon Artis no D12, ficava lá também. Ele acabou indo trabalhar
lá no Little Caesars com a gente, e eu cedi meu quarto para ele colocar algumas coisas dele lá.
Eu dormia no sofá, não tinha problema com isso. Era uma troca justa porque era ele quem
fazia as minhas batidas. Depois íamos ao estúdio sempre que podíamos.
Denaun também foi morar comigo, Kim e Hailie em Fairport Street quando Hailie era recémnascida. Proof montou um pequeno estúdio no porão. Isso foi no inicio do D12, estávamos
começando a nos reunir, mas ainda nem sabíamos disso. Éramos todos amigos, nos
conhecemos através de Proof. Todos eram muito bons naquela época e fizemos esse pacto,
quem saísse primeiro voltava para o resto de nós.
Rap era um sonho para mim, mas era só o que eu tinha. Porque de boa, o que mais eu iria
fazer da vida? Eu tinha uma filha. Kim e eu sempre estávamos sendo despejados, ou nossa
casa era invadida ou tinha tiroteio próximo. Nos mudamos para a casa dos pais de Kim. Era
suportável. Colocávamos um colchão no chão e falávamos que aquilo era um quarto.
A IMPORTÂNCIA DO HIP-HOP SHOP PARA MIM ERA ENORME
Quando Maurice Maloe abriu o The Hip-hop Shop, aquilo era principalmente uma loja de roupa.
Proof era o apresentador e fazia as batalhas e os concursos de rima. Maurice sempre dava
apoio aos artistas locais. O Hip-Hop Shop era como Apollo - você poderia ser atirado de lá se
não prestasse atenção no que estava fazendo. Era o local onde você poderia ser reconhecido
não só em Detroit mas em todo o mundo. E a platéia não atirava besteira. Se você fazia merda,
eles te tiravam de lá.
Proof era um gênio. Ele planejou tudo uma vez, me disse que haveria uma grande batalha e
que eu deveria ir e chegar lá no final para que eu pudesse entrar mais facilmente pela portaria.
Ele disse "Vá lá, veja se gosta, se não gostar não precisa mais voltar". Foi o que fiz, cheguei lá
20 minutos depois que a batalha acabou. Isso foi em 1995. Eu rimei e tive uma resposta e foi
insano! As pessoas estavam pulando e gritando. Alguns perguntaram "Proof, onde você achou
esse cara?"
Eu comecei a ir toda semana. Coordenava os horários do meu trabalho com a programação do
hip-hop shop. Fui tomando mais confiança, e só depois comecei a batalhar com outros rappers.
Eu era o único branco lá, eu estava sendo reconhecido, finalmente tendo o respeito que
sempre sonhei. Mesmo que fosse em um circulo pequeno - não fazia diferença. Eu finalmente
estava sendo aceito.
Toda semana eu estava lá. Comecei a me viciar pelo "Oohs" e "Ahhs" da platéia. O público
crescia toda vez. Comecei a fazer um nome em Detroit e passei a receber pelos shows que
fazia. Isso foi um grande passo para mim. Comecei a andar mais depois que conheci meu
empresário, Paul Rosenberg em 1995. Proof - é claro - nos apresentou depois que ganhei a
segunda maior competição anual no The Hip-Hop shop. Paul se mudou para Nova York para
se tornar advogado, mas continuávamos mantendo contato. Vez ou outra eu enviava uma
demo para ele. Era o esqueleto do que se tornaria "The Slim Shady EP". Paul ouviu a fita e
achou que era outro nível do que tinha feito em "Infinite" sabe? Ele ficou todo feliz e foi para um
orelhão me ligar em Detroit. Ele estava falando de Manhattan e com as fichas telefônicas
acabando só para perguntar se podia ser meu representante e começar a comercializar o meu
material.
Eu já tinha um empresário na época, mas resolvi ficar com Paul depois que fui a Nova York e vi
os movimentos que ele estava fazendo para mim. Nós estávamos ficando na casa dele em
Astoria no Queens, quando o meu antigo empresário e eu brigamos por causa de um
sanduíche Whopper. Meu empresário estava no Burger King, ele sabia que não tinha dinheiro
algum e nem nada para comer. Puto, eu disse foda-se. Que tipo de empresário é você? Se
você quer representar alguém você tem que acreditar na pessoa. Investir. É uma aposta, é
uma roleta russa.
Depois do hip-hop shop eu comecei a crescer nas batalhas. Em 1997 eu fui para Ohio no
Scribble Jam. Eu cheguei a batalhar com o campeão - Juice. Ele acabou comigo na primeira
batalha e eu acabei com ele na segunda. Deveríamos ir para o tiebreak, mas descobri que o
empresário dele já tinha um esquema por trás. Na última rodada cheguei a soltar algumas
linhas antes de travar. Juice veio com uma rima perfeita que ele havia feito antes - tudo se
encaixava muito perfeitamente cara. Ele dizia algo como "This dude wants to stand here and
act like he can drop lines/I Just walk right past his ass like a stop sign". A platéia ficou louca.
Juice ganhou.
Eu voltei a Detroit depressivo e quebrado. Pouco depois disso comecei a gravar a versão
original de "Rock Bottom" do "Slim Shady LP". Uma faixa séria de triste. Durante essa gravação
eu e Mark Bass descobrimos que o cara que achávamos que iria conseguir um acordo para a
gente no Jive Records era apenas o porteiro, e não tinha força de decisão nenhuma lá. Eu já
estava depressivo e isso acabou comigo. Aquela noite no estúdio foi a primeira vez que
experimentei droga. Eu engoli uma caixa de Tylenol 3s. Eu só pensava em terminar a música,
e que essa seria a última música que eu gravaria. Graças a Deus eu não tive tolerância aos
remédios e acabei vomitando tudo no banheiro.
Na Rap Olympics em LA, eu cheguei as finais. Eu tinha as metáforas na cabeça. A chave do
freestyle é você soltar uma linha que sabe que o povo vai gostar. E vão estar tão ocupados
analisando aquela frase que não vão nem ouvir o resto do que você falar, então você pode
dizer qualquer coisa.
No final eu deveria ir ao palco, rimar frente a frente, cara a cara, homem contra homem. Mas
esse cara chamado Otherwizer, foi para atrás da projeção de vídeo, e ficou na minha direção
contrária. Eu não tinha ninguém na minha frente para acabar. Eu nem me lembro de quais
foram as suas rimas, eu só lembro dele gritando que ele iria me fuder, cortar minha garganta,
me matar. Nem sei se as coisas rimavam. O prêmio era $500 dólares e um Rolex. Nem sei se o
Rolex era real, mas eu precisava do dinheiro, e os 500 eram bem reais.
Fiquei puto que perdi de novo. Porque em Detroit eu era invencível. Quando eu estava saindo
da Rap Olympics, esse cara chamado Dean Geistlinger da Interscope - ele era assistente de
Jimmy Iovine - se aproximou e pediu uma demo minha. Eu estava tão puto que joguei a fita
para ele. Tudo que eu pensava era "O que vou fazer agora? Como volto para casa de mãos
vazias?"
CAP 2
O NASCIMENTO, MORTE (E RESSURREIÇÃO?) DE SLIM SHADY
Eu morava em um lugar de merda na Fairport do lado da 7 Mile quando Proof me ligou. Ele
disse, "Quero reunir os 12 melhores mcs de Detroit e fazer o nosso proprio Wu-Tang Clan". Ele
queria 12 rappers porque queria nomear o grupo de Dirty Dozen.
Mas só conseguimos seis. Mas ai Proof apareceu com a ideia de que cada um de nós teria um
alter-ego. Cada um seria uma outra pessoa, só assim teríamos 12 fortes mcs. Esse é um dos
momentos mais importantes de Proof na minha vida, pois foi dai que surgiu o Slim Shady.
Proof não me ajudou a chegar no nome, mas me ajudou a tornar algo real.
O nome surgiu quando eu estava na privada. Literalmente falando. Eu estava fazendo cocô e o
nome apareceu. Você sabe, pensamos muito quando estamos no banheiro. Sempre que entro
no banheiro levo comigo uma caneta e papel.
Quando pensei no nome Slim Shady, comecei a pensar em um milhão de rimas possíveis para
o nome. Esse foi o ponto decisivo. Eu queria que esse alter-ego fizesse algo alem de chocar as
pessoas do rap. Eu não queria só chocar as pessoas, parte também era um desabafo. Como
se eu estivesse puto com o mundo.
Olhando o inicio da minha carreira hoje, eu me vejo na Tv e penso "Por que eu estava tão
nervoso o tempo todo?". Eu tinha raiva toda hora. Era quase uma piada. Eu praticamente me
sentia como se fosse o Madd Rapper.
Parte disso era que as pessoas passaram a se referir a mim como se eu tivesse surgido de um
estacionamento de trailer. Eu fui junto, porque me identificava com aquilo... Eu digo, eu era
basicamente um lixo branco e pobre. E se fosse assim que eu iria ser rotulado, então vamos
fazer jus a coisa. Eu pensei "foda-se, vou entrar nessa".
Outro conceito que Proof tinha era que todo nós tínhamos que rimar da forma mais doentia e
ridícula. Essa era a ideia original por trás do D12. Tipo o Bizarre que rima sobre transar com pit
bull ou chihuahua, estuprar a avó dele...
Todos desenvolvemos dali nosso próprio estilo. Não imitamos o Bizarre - todos queríamos soar
diferente - mas rimávamos sobre a coisa que mais achávamos chocante. Se uma pessoa
qualquer sentasse e escutasse o que dizíamos ela pensaria "que porra é essa que eles estão
falando?".
Mas eu não queria dizer coisas loucas apenas por dizer. Se fosse fazer, eu tinha que
demonstrar algum talento lírico com isso. Eu queria ser um tipo de acrobata lírico, as sílabas
tinham que se conectar e fazer sentido. Em "Just Don't Give a Fuck" eu digo "Não me julgue
por uma piada, eu não sou um comediante". Logo em seguida eu digo que estuprei o time
feminino de natação.
Eu me lembro da primeira vez que me apresentei como Shady. Eu fiz um show em Detroit em
uma casa chamada The Phat House, por volta dos anos 96 ou 97. Eu me apresentava junto
com Bizarre e Bugz, outro membro do D12. Era só rima, mas rima com aquele tipo de humor
característico de Slim Shady. Eu apresentei "Low, Down, Dirty", "Just dont give a fuck", e talvez
mais outro som.
Slim Shady não era somente uma forma de composição, mas era um poder retrucar com estilo.
Como Shady eu tinha toda uma voz diferente, e foi assim que descobri que essa seria uma
pessoa parte de mim.
Quando eu ouço as músicas hoje eu penso, "por que eu soava assim?" aquele tom agudo de
merda que não tendo ideia da onde saiu aquilo. Talvez tenha vindo da zuação com os caras,
imitando os amigos, e de alguma forma começei a rimar assim. Se você ouvir o primeiro álbum,
"Infinite" e depois ouvir "The Slim Shady EP", você vai perceber os dois estilos completamente
diferentes.
Uma vez que as pessoas ouviam o Shady, eles não queriam o Marshall ou o Eminem mais.
"I've created a monster, because nobody wants to see Marshall no more. They Want Shady. I'm
chopper liver". Eu digo isso em "Without me". Mas eu não sou um aproveitador. Eu sou a
melhor coisa que ja existiu. Vamos exclarecer isso para começo de conversa. [brincando]
Poder rimar como uma pessoa completamente diferente era ótimo. Proof costumava descrever
assim: "Slim shady é o cara que aparece depois de umas doses de Bacardi; Eminem é o mc
que vai ao palco sóbrio e solta suas metáforas. Slim Shady fica bêbado e quer brigar".
Era ótimo ter alguém em quem culpar. "Eu não disse isso, foi o Slim Shady". Essa desculpa
nem sempre funciona no mundo real - na vida real se você vive assim as pessoas vão te
chamar de louco. Rap é uma grande Ilha da Fantasia - é o local onde sempre vou quando as
coisas na vida real ficam muito difíceis.
Eu me lembro de assistir "Animal House" quando criança. Adorava aquilo. A lembrança mais
nitida que tenho era o demônio em um ombro e o anjo no outro. Esse cara ta no quarto com
uma garota desmaiada de bêbada, e o demônio aparece em seu ombro e fica "Fode ela! Fode
ela toda!" E ai aparece o anjo e fica "Tome vergonha! Se você encostar um dedo nessa pobre,
linda e inocente garota...". É esse o tipo de relacionamento entre Eminem e Slim Shady.
Dre entendeu onde eu queria chegar com aquilo. Ele disse "E se fizermos uma música onde eu
sou o bom moço e você o cara mau? Você é o cara doido e doente que fugiu do hospício". No
inicio de carreira eu estava menos exposto, então topava tudo. Essa foi a base do Slim Shady
LP - explorar o mal ouvindo o bom gritar em meu ouvido também.
Quando estávamos fazendo o nosso primeiro álbum juntos, Dre dizia, "Temos o álbum, só falta
a imagem". Mas eu nunca imaginei como o Slim Shady seria. Até que um dia, eu estava sob
efeito de ecstasy, e andando na rua com Royce. Nós entramos em uma farmácia e compramos
um litro de agua oxigenada. Eu tinha engolido duas pílulas de ecstasy - tava doidaço! No dia
seguinte eu tinha esquecido de tudo o que fiz e olhei no espelho. Era tipo, duas da tarde e eu
"Puta merda!!!" eu parecia um gambá - nem tinha ideia do que fiz com aquele litro.
Dai fui para o estúdio com esse cabelo loiro novíssimo e camisa branca - era tudo o que usava
na época - Dre, em silêncio total, olhou para mim intrigado. Depois lembro dele dizer "É isso!
Achamos sua imagem!". Jimmy Iovine veio ao estúdio para ver o que Dre queria e também
entrou na onda dele. "Essa é sua imagem. Essa é a identidade que estávamos procurando
esse tempo todo".
EU NÃO PENSEI QUE DESCOLORIR O CABELO SERIA MEU NOVO LOOK; EU SÓ ESTAVA
SENDO BURRO USANDO DROGAS.
A linha que separa Slim Shady do Eminem é muito fina. Onde termina o Shady e começa o
Eminem? Acho que meus fãs sabem bem diferenciar quem é um do outro.
Ainda há um terceiro ponto: Onde está o Slim Shady, onde entra o Eminem, onde começa o
Marshall? Vamos dizer "Just Dont give a fuck" é Slim Shady. Eminem é "Lose yourself" e
"Mockingbird" é Marshall. Acho que esses são os exemplos mais gritantes que posso dar.
Eu usava o Slim Shady como uma desculpa para soltar a minha raiva, e costumava dizer que
Eminem tinha mais lirismo, letras mais trabalhadas. E Marshall era o cara sincero e sem
brincadeiras. Mas hoje vejo que estão balanceados, não são mais extremos, um não está longe
do outro. Slim, Em e Marshall estão misturados e podem ser vistos nas minha composições de
hoje. Achei um jeito de misturar tudo e te-los todos juntos.
Todos nós temos um Slim Shady dentro de nós. "Guess there's a Slim Shady in all of us. Fuck
it, let's all stand up". Tem momentos em que todos nós somos imbecis e espertalhões. O
segredo é que, os adultos espertos sabem como disfarçar ou reprimir esse cara. Eu estou
melhor nisso hoje.
Eventualmente Slim Shady se tornou uma metáfora da pressão da fama para mim. Por
exemplo na música "when i'm gone" eu digo "Shady made me/But tonight shady's rock-a-bye
baby". E o refrão vai 'Whan I'm gone/Just carry on/Don't mourn/Rejoice every time you hear the
sound of my voice". Basicamente eu estava dizendo, não quero mais essa vida. Eu gosto de ter
o Slim Shady por perto, mas ele se tornou tão famoso que quase destruiu a minha família.
ENTÃO EU MATEI O SLIM SHADY. ELE TEM ESTADO MORTO NOS ÚLTIMOS ANOS. EU
NA MINHA. CRIANDO AS MINHAS FILHAS. VENDO O RAP IR PARA O LIXO.
Minha fama ainda está presente. Essa é a minha realidade, e é um pouco trágico. Não que
esteja procurando pessoas para sentir pena de mim - eu posso chorar sozinho. (Slim sempre
me bate na cabeça e grita CALA A BOCA quando eu choro).
As pessoas se perguntam se vou reviver Shady para o meu próximo álbum. Bem, eu suponho
que enquanto eu exista, o Shady também está aqui.
CAP 3
SUPERNOVA
NINGUÉM OLHARA PARA MIM DUAS VEZES ATÉ QUE ASSINEI COM DRE. Nós iriamos
gravar nesse estúdio chamado Mix Room em Burbank. Tinha um shopping próximo que eu
frequentava e eu era apenas um cara normal.
As coisas ficaram loucas muito rápido - 1999 foi o ano que tudo foi pro ar. Fazíamos tantos
shows na época que parecia que estávamos literalmente nos matando. E bebíamos também.
Eu nunca fui de beber muito, mas quando entrávamos na turnê a coisa ficava louca. As vezes,
em quanto esperávamos para entrar no palco tinha bebida disponível, e começávamos a
beber, e do nada já estávamos no palco fazendo show. Depois disso, saiamos do palco e
bebíamos mais e pra valer. As vezes fazíamos era 2 ou 3 shows por dia. Era trabalho, bebida,
desmaiar, acordar e ir para o próximo show.
Qualquer oportunidade que tínhamos de fazer dinheiro nós aceitávamos. As vezes tudo o que
tinha de fazer era mostrar o meu rosto, e talvez uma ou duas músicas. Cara, eu me lembro de
ganhar $5.000 só por cantar uma música, isso era o mundo para mim na época. Era viciado no
trabalho.
Tudo o que tinha ate então era "My Name Is", tudo era novo para mim. Eu tinha pintado o
cabelo na época e as pessoas se identificavam comigo e passaram a me reconhecer em
qualquer lugar. Eu voltei ao mesmo shopping em Burbank - onde antes ninguém me conhecia e surgiram uma ou outra pessoa pedindo autógrafo.
Aeroportos é onde tinha a maior confusão. Eu voava em linha aéreas tradicionais até o The
Marshall Mathers LP sair. Você só sabe que você está muito famoso quando você esta sentado
na sua poltrona e as pessoas não te deixam em paz, não te deixam dormir.
Depois que fiz o MTV Spring Break em 2000 - Dre e eu cantamos "Forgot About Dre" - eu
estava esperando para pegar o voo para Detroit. Havia duas garotas sentadas na minha frente
no portão do aeroporto. Eu estava dormindo. Eu acordo e descubro que estava babando. As
garotas começam a rir. Uma diz "Posso ver seus polegares?" e eu digo "meu polegar?". Ela
disse "Olhe seus polegares. Eles dobram para trás" Eu nunca tinha reparado nisso; por algum
motivo meus polegares são hiperestendidos a ponta dele vai para trás. Elas estavam
fascinadas com isso, e falavam do vídeo de "My Name Is". A outra disse "Eles são estranhos,
mas também são muito fofos". Ei, eu tenho polegares fofos. Obrigado. Isso é ótimo. Aquilo foi
estranho. Acordar e perceber que aquelas meninas estavam me observando o tempo todo. Eu
não vou dizer que não me senti um pouco lisonjeado. Elas eram inofensivas - bonitas também.
Mas foi um daqueles momentos que me perguntei: Eu sou uma aberração? Será que vou
poder fazer coisas normais de novo como dormir no portão do aeroporto?
Mais tarde em uma das turnês - não me lembro qual - o avião que estávamos esperando deu
problema, e acabamos dormindo no chão do JFK. Era eu, um dos seguranças, Proof, DJ Head,
e mais um pessoal. Essa menina, talvez de 16 ou 17 anos, também estava lá, e ela não sabia o
que fazer. Começou a chorar no telefone falando com a mãe dela. Eu e Proof a ajudamos. Os
pais dela não queriam que ela entrasse nesse avião. As pessoas podem ficar realmente
estranhas quando dá algo errado com o avião - não querem voar nem mesmo sabendo que já
esta concertado. Eu falei ao telefone com o pai dela "Sua garotinha vai ficar bem. Vamos
arrumar um voo com conexão para ela".
Então Proof e eu levamos a garota até o outro portão de embarque, e estava tudo bem. Mas
acho que já estávamos em um nível de fama onde a garota ficou impressionada que nós
fizéssemos algo assim. Ela não parava de nos agradecer, como se estivéssemos fazendo algo
extraordinário. Mas era a coisa mais humana a fazer sabe?
Proof e eu voltamos ao nosso mini acampamento no portão e começamos a soltar piadas,
apenas rindo. E essa garota do exercito estava sentada perto de nós, devia ser instrutora ou
algo assim, vestida com as roupas de camuflagem, coturno e toda aquelas paradas. Ela disse
"Hey imbecil!", eu olhei para Proof e fiquei tipo De Niro em "Motorista de Táxi", "Ela está
falando comigo? Ela está falando comigo? Ela deve estar falando comigo, não tem mais
ninguém aqui".
Proof me deu o olhar mais estranho do mundo tipo, eu acho que ela está falando com você. E
ela continuou: "É você me ouviu seu imbecil. Porque você não cala a porra dessa boca, seu
viadinho?". Eu não sabia nem o que responder. Toda a galera que tava com a gente começou
a rir. Dai a garota se levantou como se ela quisesse brigar comigo. Ela disse, "Eu não dou a
mínima pra quem você é seu filho da puta! Famoso ou não, eu vou acabar com você se você
não calar essa merda de boca agora!".
Eu não sabia se devia ficar com medo ou continuar rindo. Quanto mais eu ria e quanto mais eu
sorria mais ela ficava com raiva. Ela começou a bater na parede. Completamente fora de si.
Cara, eu poderia ficar a vida toda aqui te contando histórias de aeroporto. Parece que quando
você fica famoso as pessoas acham que podem te dizer qualquer coisa. Como se você não
fosse mais real.
Agora, não me entenda errado. Eu me sinto abençoado. Eu viajei a lugares que um garoto
normal de Detroit talvez jamais conheça, comi todo o tipo de comida exótica, passei um tempo
de qualidade com muitas e lindas - algumas não tão bonitas - mulheres. Mas ser famoso é algo
insano, não duvide disso.
Se eu tivesse que escolher um momento eu diria que foi no lançamento de "My Name Is' que
as coisas começaram a ficar loucas. Dre tinha me alertado para a loucura com o The Slim
Shady LP, mas na época eu pensei, "quanto mais loucas as coisas podem ficar?" Eu digo, o
quanto famoso eu posso ficar?
Teve um momento que o álbum estava quase pronto, eu voltei para Detroit para dar um tempo
e ver Kim e Hailie e passar um tempo com elas. Foi quando o Geffen e A&M entraram para a
Interscope, e eu me lembro do Bass Brothers me dizendo que talvez eu deveria voltar porque
eles estavam pensando em me barrar porque o álbum estava muito polêmico. (Eu tive essa
conversa em um telefone público, porque na época eu morava em um trailer).
Havia algumas linhas em "My Name Is e em "Role Model" que Jimmy Iovine não estava muito
feliz, pra fazer a verdade o álbum inteiro estava incomodando os caras. Aparentemente a
Interscope começou a discutir "Será que queremos alguém tão polêmico assim?". Eu entrei no
avião na mesma hora, e Dre e eu tivemos essa reunião com essas pessoas - foi essa reunião
que foi recriada no vídeo de "The Way i Am", onde você me vê preparando para sentar a mesa
com todos e ficando irritado, começando a jogar papeis na cara dos diretores e coisas assim.
Na vida real a cena não foi tão dramática assim, mas eu estava tentando defender o meu ponto
de vista entende? Estávamos sentados com Jimmy nessa mesa e eu estava tipo "Me diga o
que vocês querem que eu mude, porque eu não entendo qual é o problema aqui. Colocamos
um sinal de alerta para os pais da linguagem no cd, eu achei que já estava tudo pronto".
Bom, outro problema com aquele álbum foi uma linha da música "My Name Is", um trecho da
música foi escrita originalmente [pelo que me disseram] por um cara ativista dos homossexuais
que se mudou para África do Sul, e ele não queria deixar a gente usar a linha a não ser que
mudássemos ela: "My English teacher wanted to fuck me in junior high, the only problem was
my English teacher was a guy".
Então mudamos para "My English teacher wanted to fuck me in junior high,thanks a lot, next
semester I'll be 35" mas eu não fiquei feliz com esse negócio. A principio Dre e eu voltamos ao
estúdio para tentar fazer outra música e evitar problemas com esse cara. Mas não
conseguimos, tínhamos tanta certeza que esse seria um hit de sucesso, então fizemos
acontecer. Eu não ganho nada com "My Name Is". Nada. Aquele cara tem todos os direitos da
música. Eu reconheço, e se essa música nunca tivesse sido lançada? Onde eu estaria agora?
Sim, eu acho que um gay ajudou na explosão de Marshall Mathers. Que tal essa agora hein
caras!
Mudar as linhas foi duro. Eu não entendia. Vindo da onde eu vim, essa linha não era nada
comparado ao que os caras falam um para o outro em uma batalha. O que aconteceu com a
liberdade de expressão? Mas parecia ser um preço pequeno a pagar para ajudar a levantar a
minha carreira.
Eu me lembro de quando o Paul me disse que a MTV tinha comprado o vídeo de "My Name IS'.
O primeiro vídeo que nós gravamos foi o "I Just Don't Give a Fuck" - isso foi antes de eu pintar
o cabelo e tudo mais - mas eles não aceitaram o vídeo por razões obvias. Quando Paul me
disse que eles tinham "My Name Is", nós estávamos em um escritório em Nova York, e eles
passaram o vídeo no mesmo dia. Eu vi pela primeira vez, na tv desse escritório, quando nós
voltamos para o apartamento o vídeo estava passando novamente na Tv, era algo difícil de
descrever, eu tinha um sentimento de descrença.
Eu só comecei a ver o quanto as pessoas estavam me levando a sério quando Kurt Loder e a
MTV ficaram sabendo da letra original de My Name Is. Foi ai que os problemas com a
comunidade gay começou. Eu estava tipo "Qual é, isso deveria ser engraçado, é só uma
piada".
Foi um pouco mais difícil de engolir. Eu me lembro de me sentir vencido, tipo, eu tinha que ter
muito cuidado com as coisas que dizia. Cansei de tentar me explicar, então com o The
Marshall Mathers LP e fui para a zona dos "viados". De propósito. Tipo, foda-se.
Ainda naquela época eu não acreditava que era real. Era difícil entender que estava famoso o
suficiente para as pessoas prestarem atenção e levarem o que eu falo a sério. Mas mesmo
com todo o ódio, os meus números de fãs estavam crescendo cada vez mais. Eu acho que
senti realmente o sucesso quando The Marshall Mathers LP atingiu a América central. Vendeu
1.76 milhões na primeira semana.
"The Real Slim shady" foi o maior sucesso, e ai teve o VMA de 2000. eu não consigo descrever
o quanto estava nervoso com aquela performance. Quando eu vi todos aqueles caras vestidos
como eu entrando na Radio City Hall, eu estava tentando me manter calmo, manter a
compostura, mas por pelo menos 30 segundos os nervos tomaram conta. recentemente eu
assisti o DVD daquela apresentação, e é visível o quanto eu estava tenso. Performances ao
vivo são uma coisa engraçada: se você fizer merda, você fez merda na frente de milhões de
pessoas. E você não tem a chance de voltar atrás de concertar. Aquele foi um dos momentos
que pensei; "Ei eu consegui vencer com o rap. Eu sou um rapper grande, fazendo rap em um
evento importante!" Aquela é uma maneira de ir a uma premiação, se você quer saber; entrar
com cem caras de se vestem e se parecem como você, e esperançosamente lutam como você.
Não foi preciso é claro, mas ainda assim.... Eu espero que eles tenham conseguido uma garota
naquela noite. a resposta que recebi depois daquele show foi louca. Eu acho que ajudou as
pessoas a perceberem que eu estava aqui para ficar, e não estava de brincadeira.
Eu nunca fui um fã de shows de premiações.
EU NÃO ENTREI NO RAP POR TROFÉIS. Os troféis que eu queria não estavam esculpidos
na forma de um homenzinho. Eu só queria o respeito entende?
No primeiro ano que foi nomeado ao Grammy eu não fui a cerimônia. Havia essa separação de
categorias entre Melhor Álbum, e Malhor Álbum de Rap, que eu nunca consegui entender. Por
que não apenas Melhor Álbum? Por que separar o rap?Eu acabei ganhando dois Grammys
naquele ano, mas ainda não fazia sentido para mim. Naquela época a fama era ainda algo
novo, e eu pensava "quem vota nisso? Eu não vou nessa merda. Prefiro ir a MTV ou BET e
ganhar um prêmio lá - porque ai vem dos fãs que votam e compram os álbuns". Finalmente eu
fui em 2001, até porque ia ser muito ridículo que continuar ganhando e nunca parecer lá. Tipo,
o quanto idiota eu posso ser? Até a um certo ponto eu tenho que respeitar as pessoas da
industria que me respeitam e o meu trabalho. Hora de crescer Marshall.
Fiz um show do Elton Jhon naquele ano - aquilo foi histórico, bem ali. Ele foi muito legal
comigo; ele entendeu da onde eu vim, e percebeu que não era o homofóbico que as pessoas
falavam que eu era. Elton se colocou na linha de tiro ao se apresentar comigo - em termos de
arriscar aos seus fãs que não gostavam de mim - e eu sempre vou respeitá-lo por isso. Esse
gesto me ajudou muito - me fez controlar o nervoso com relação aos protestos que estavam
tendo na porta querendo que eu desaparecesse para sempre. Ganhei três Grammys naquele
ano - mesmo com toda a polêmica. E eu estou muito AGRADECIDO que nós mudamos de
situação AGORA.
ACREDITE OU NÃO, A IDEIA DE SE APRESENTAR COM ELTON FOI MINHA. EU ESTAVA
PENSANDO QUE AQUILO REALMENTE IRIA CHOCAR AS PESSOAS E TALVEZ JUNTALAS?
Elton e eu somos amigos. Ele se casou com outro cara! Ele é gay! Nós somos amigos! E quem
se importa? Quando ensaiamos para o Grammy conversamos sobre as pessoas que estavam
contra mim. Acho que era difícil para as pessoas entenderem que, para mim, a palavra "viado"
não tem nada a vê com a preferência sexual. É algo como 'idiota' ou 'imbecil'. Quando as
pessoas começaram a se irritar com isso eu comecei a usar com mais frequência só para irritálas mais. Eu não estou em posição para comentar isso, porque não sou gay, mas quem você
escolhe ter um relacionamento e o que você~e faz no quarto isso é problema seu.
TEVE UMA ÉPOCA DE LOUCURA. EU NÃO PODIA IR A LUGAR ALGUM SEM SER
ASSEDIADO.
Eu tentava me lembrar de como era ser um fã, assinava o maior número possível de
autógrafos. Tentava fazer algo diferente em cada autógrafo, mas a medida que foi crescendo
foi difícil manter a originalidade. Depois comecei a escrever coisas como "Fique firme",
"Continue legal", para as mulheres escrevia coisas como, "Continue linda" apesar disso
gostava de assina-los. Tinha hora que ainda me pegava não acreditando que estava fazendo
isso.
Eu achava que com o Marshall Mathers LP tudo tinha chegado ao auge. Na minha mente eu
achava que tinha chegado ao topo. No segundo álbum e no topo. Ok, no terceiro as coisas vão
começar a descer.Mas ai vendi tanto quanto o outro. Não sei nem como descrever isso. Eu
esperava que as coisas começassem a regredir, mas continuou na mesma ou ainda mais
louco.
Eu ganhava as coisas de graça: roupas, bebida, aparelhos, mulheres, hamburgers. Eu sou um
cara normal de Detroit. Mantive esse relacionamento com a minha cidade por muitos anos, sou
leal a isso cara. A estrada pode ter sido muito louca para mim - e foi - mas a minha festa era
mesmo com as substâncias. Quer saber uma coisa engraçada, EU SÓ COMECEI A USAR
DROGAS DEPOIS QUE COMECEI A FAZER RAP SOBRE ELAS.
Quando eu era mais novo, eu bebia 40 depois do trabalho e talvez fumava um cigarro de
maconha. Eu tinha amigos que já tinham tentado uns cogumelos e coisas assim, mas eu não.
Mas quando você está em turnê, é um mundo completamente diferente.
A primeira vez que foi a Amsterdam foi para promover o The Slim Shady LP. Eramos jovens.
Devia ter uns 27 anos. Ir á pela primeira vez foi uma loucura. Parecia que todos usavam drogas
- em todos os lugares. Eu não me conformava em como as pessoas se sentiam tão livres para
isso. Até pensei em nomear o segundo álbum de Amsterdam só por causa daquela viajem.
Depois disso eu sai em turnê falando sobre vicodin, cogumelos, exctasy, e as pessoas jogavam
essas drogas no palco para mim. Onde quer que iriamos as pessoas "E ai cara, ta aqui um
exctasy" ou "Trouxemos os cogumelos". Não acreditava no efeito que as minhas letras tinham
sobre as pessoas, elas achavam que usávamos drogas literalmente, e se eles a levassem para
a gente eles teriam acesso ao backstage. Era insano. Eu nunca tinha andado com Exctasy no
bolso, mas se alguém aparecesse e me oferecesse eu diria, ok beleza entra ai e que comece o
rock n roll.
Uma vez no Texas, Proof e eu levamos cogumelos para um cara que, no dia anterior tinha
levado para a gente. Tínhamos um show as 20 horas e não queríamos deixar para usá-los
tarde de mais porque o efeito dele era muito longo, então usamos por volta do meio dia. Havia
um quintal no hotel e fomos até lá jogar nerf football mas a bola só batia na nossa cara por
causa da baixa percepção. então só estávamos jogando a bola e rindo. Devia ser hilário. Em
algum momento voltamos para o quarto, eu me lembro dele estar em uma cama e eu na outra
e nós pulando que nem criança pequena. Depois desmontamos na cama, olhei para Proof e
disse "seu efeito já ta passando?" ele riu e disse "não, o seu tá?" eu disse "que merda? E
agora o que vamos fazer? Nosso show é daqui a uma hora e meia"... Não tem final para essa
história, desculpe, minha memória falhou. Provavelmente porque era Proof e eu sendo apenas
idiotas.
Como as pessoas sabem, as drogas acabaram sendo um problema para mim depois. Ainda
bem que percebi isso e me redirecionei para a direção certa. Foi burrice ter começado isso em
primeiro lugar. Ser jovem e burro era comigo mesmo. eu tenho boas pessoas perto de mim,
apesar de tudo. Família Shady. Somos muito unidos.
Por razões obvias, eu esqueci muitas coisas pequenas, detalhes da estrada, mas eu nunca vou
esquecer como é estar na frente de um povo agitado. Não existe nada como um show ao vivo.
Nada.
Eu me lembro da primeira vez que esgotaram-se os ingressos. Foi na Tramp's em Nova York
em janeiro de 98. MTV estava lá eu iria fazer um show junto com o Royce. Eu estava no
camarim me vestindo quando Paul entrou e falou que os ingressos tinham se esgotado e que
as pessoas estavam, literalmente se espremendo na porta para tentar entrar. E fiquei "Puta que
pariu!Puta que pariu!". Eu fiquei assim a noite inteira. E tudo que eu pensava é "não acredito
que isso ta acontecendo'. Depois do show a MTV me entrevistou, acho que foi a minha primeira
entrevista.
Em outros shows eu via as pessoas nas filas, dizendo coisas, cantando as letras. Eu olhava
para elas e pensava "Porra, eles sabem a letra melhor do que eu". Quando eu errava eles
concertavam para mim. Louco. Tinha shows onde as pessoas cantavam tão alto que não
conseguíamos rimar por 10 minutos. Eu me lembro de uma vez em Oslo que a plateia foi a
loucura. E eu achei que estava em um sonho e que quando acordar eu iria estar na mesma
merda de sempre.
Sem ofensa aos Estados Unidos, mas a plateia europeia - porque nem sempre estamos lá - é
insana. É como se fosse um momento especial para eles. Cara, eu aprecio isso. Eu cantei uma
vez para mais 70 mil pessoas lá. E quando há tantas pessoas assim é melhor arrumar um fone
no ouvido porque é a única maneira de ouvir alguma coisa.
Uma das minha melhores memórias foi na turnê Slim shady na House os Blues em LA, entre o
primeiro e o segundo show, no backstage eu conheci Dustin Hoffmam e seus filhos. Eu estava
emocionado ao conhecer o Rain Man original. Acho que para impressionar seus filhos ele
pediu para ser a mumía do show. Ele o fez e se revelou para a plateia no final, o povo ficou
doido. Dustin Hoffmam em um show de rap... Honestamente foi um dos melhores shows.
Fazia o que podia para diminuir as tensões raciais. Eu queria juntar as pessoas. Acho que isso
pode ser a melhor contribuição para o hip-hop.
CAP 4
VERY FUNNY, MOTHERFUCKER
MESMO ANTES DE ENTRAR NO RAP, EU JÁ ZOAVA COM AS PESSOAS. Isso foi na época
da escola e ensino médio. Bem, 8ª série e todos aqueles 'maravilhosos' três anos que passei
no 1º ano do ensino médio. Eu tive que escolher entre ser o palhaço da sala ou o rapaz tímido
que sempre apanhava. Então, sempre que tinha a oportunidade, era praticamente garantido
que eu iria ser o palhaço e agir como um idiota. Mas você sabe, nem sempre você tem como
fazer essa escolha.
Quando eu tinha nove anos de idade, esse garoto, que só era um pouco mais velho que eu,
decidiu que iria me bater ate não poder mais no banheiro da escola primária. Ele quase me
matou. Eu falo sobre isso em "Brain Damage", e algumas pessoas acham que eu inventei, mas
não aquilo realmente aconteceu. Meu cérebro sangrava pela minha orelha. Não foi como se eu
ficasse em coma, mas eu meio que desmaiei e acordei só alguns dias mais tarde. E quando eu
finalmente acordei, as minhas primeira palavras foram "Eu posso soletrar elefante". Eu acho
que me sentia como um Ringling Brother.
Então eu tive que rapidamente aprender a responder zoando. E por sorte, zoar as pessoas e
ser zoado meio que te treina pro hip-hop. Parece muito com uma batalha. Você tem que estar
preparado: se você não tiver uma resposta rápida ou se sair algo fraco ou não engraçado, irá
fazer você parecer um imbecil. Muito do melhor hip-hop são os caras em uma batida legal e
umas diss incríveis!
Eu deveria estar agradecido. Talvez se eu nuca tivesse apanhado tanto eu nunca começaria a
responder os outros e talvez nem entraria para o rap. Provavelmente ainda estaria na Gilberts
trabalhando por $5,50 a hora. Digo, eu ainda trabalhava lá quando conheci o Dre.Hailie, na
época era só um bebê, mais ou menos 1 ano de idade. Você sabe quantas horas de trabalho,
como cozinheiro, é necessário para que você consiga comprar uma caixa de fraldas? São 4 ou
5 horas. Então no final das contas, acho que não tenho muito remorso do dano na minha
cabeça.
Acho que ainda existe essa percepção que sou um cara retraído, quieto, e que o palhaço que
faço com a minha música é uma força de vencer a timidez. Mas eu sou um cara normal.
Pergunte a meus vizinhos. Eu ando de bicicleta. Passeio com o cachorro. Aparo a minha
grama. Eu estou lá fora, todos os domingos, falando comigo mesmo, nú, aparando o gramado
com uma serra elétrica.
A imprensa provavelmente tem essa imagem de mim porque nas entrevistas eu não fico
fantasiado, fazendo vozes, e agindo como um palhaço. Mas quem é que vai ainda ter energia
pra fazer piadas quando te perguntam a mesma coisa durante 10 anos?? E ai, quando você
finalmente faz uma piada e começa a brincar, essa é a única parte da entrevista que eles
divulgam. "Toda a manhã eu chupo o pau de um elefante" e no outro dia, na manchete da
revista vai estar lá em letras grandes: "Eminem: chupa pau de elefante!". Isso foi um péssimo
exemplo, porque você sabe, toda a manhã eu chupo o pau de um elefante. Logo depois de
escovar os dentes.
DE QUALQUER FORMA, EU SEMPRE FUI BEM ZOADOR. Quando meu tio Ronnie e eu
crescemos juntos nós costumávamos passar trotes por telefone o tempo todo. Ligávamos um
número qualquer e dizíamos algo como "Aqui é o seu médico. Lamento dizer mas você tem
herpes", ou "Aqui é do corpo de bombeiro. A sua casa está pegado fogo". Você está grávida,
ou você vai morrer, o que seja. Éramos os mais imbecis que podíamos ser, tentávamos manter
a pessoa na linha o maior tempo possível. Não funcionada muito bem. A gente bolava algo
como "Você tem que enfiar o seu punho na sua bunda" e ai eles acabavam desligando.
ENTÃO TROTES É ALGO QUE VENHO FAZENDO HÁ DÉCADAS. A primeira vez que vi o
show "Crank Yankers" eu pensei "Eu tenho que fazer isso". Eu ainda tenho esse humor de um
garoto da 6ª série em mim, e aquele show definitivamente estimulava mais isso. E isso foi um
elogio sincero. Eu acho que a maior parte das pessoas que trabalham no "Crank Yankers", os
produtores e tudo mais, ligam para as pessoas e perguntam se elas querem participar. Mas eu
não. Eu liguei para os "Crank Yankers".
E claro que já tinha feito algumas simulações de trotes em meus álbuns. Eu acho até que
algumas destas ligações foram até mais engraçadas, porque elas fora feitas da minha maneira.
Eu gosto de fazer uns skits assim porque algumas das minhas músicas, bem, são bem
pesadas. Eu não quero gravar 13 ou 14 faixas sempre dessa mesma forma - provavelmente
saio um pouco do roteiro e mato alguém. Também, você não quer encher a cabeça das
pessoas com músicas sempre pesadas e obscuras. As vezes você consegue segurar a
atenção da pessoa por mais tempo se você coloca pequenos skits e introduções para amenizar
a tensão. Jogue um aqui e outro ali e fica engraçado, e quando for a hora de ser sério
novamente as pessoas terão a atenção renovada, totalmente focados em misoginia e drogas e
esquartejamento.
No processo de Encore eu liguei para Paul, que queria que ele ouvisse o som que fiz do cocô
caindo na privada. Porque é isso que espero que minha equipe faça por mim: que eles ouçam
e elogiem o som do meu belo e bem trabalhado cocô. Então eu levei o microfone para o
banheiro e caguei de verdade. Bem, não no microfone né, mas ele estava lá do lado do vaso
para pegar o som. É zuado, mas é provavelmente uma das coisas mais engraçadas que já fiz.
Nojento né?
A maioria das coisas engraçadas que fiz envolve imitar outras pessoas. Eu era um mimico na
escolas. Eu acho que meio que levei isso para a minha música devido aos anos que trabalhei
junto do D12. Muitos dos caras do D12 tem um senso de humor extremo. Se você passa algum
tempo com eles, e ainda não tem esse tipo de humor, eles desenvolvem isso em você. Eles
foram o meu caminho.
Quando estou junto com o D12 estou sempre brincando com alguém, imitando as pessoas e
coisas assim. Na verdade, nós fazemos isso uns com os outros. Para ser honesto, eu faço só
para me distrair um pouco. Quando estou gravando um álbum eu fico no estúdio o tempo todo.
Eu moro lá. E você pode enlouquecer na cabine de gravação. Eu digo porque você é só um
cara em uma sala acolchoada sozinho brincando na bateria por dias sem fim. Então quando eu
saio eu começo a brincar com as pessoas apenas para manter a minha cabeça o lugar. Se
bem que eles não devem ver dessa forma.
Eu faço sotaques quando estou com os caras da Shady. Eu acho que consigo fazer um
sotaque britânico bem engraçado - o que é legal sabe? Provavelmente é o único sotaque que
se pode fazer sem que as pessoas se irritem, porque, você sabe, quem é que briga com a
Inglaterra?
Eu consigo fazer uns sotaques meio que ofensivos. Imito razoavelmente um taxista árabe - eu
dirigi com Kurt Loder por Detroit só fazendo essa voz em uma entrevista em 1999. E é claro
faço o excitado, drogado, homofóbico - ou seja, minha voz normal.
O personagem Ken Kaniff, que eu uso em alguns álbuns e até em alguns shows, também foi
inspirado da vida real. Tem um local em Detroit chamado Caniff Street, e eu me lembro, por
alguma razão, de passar por lá e de tentar juntar palavras que começassem com aquelas
mesmas letras. Por exemplo, um conjunto de palavras com L, tipo: lazy, lackluster, ludicrous...
sabe.
Eu estava fazendo isso, dai veio o Caniff e depois, não sei porque, cheguei a "Ken Kaniff", meu
amigo gay de... bom, eu não tenho ideia de onde ele possa ser. Dai eu disse, "Made a couple
of crank calls collect", porque é isso que eu queria na música "Cum On Everybody". Eu queria
manter o som da palavra K: "Made a couple of crank calls collect [to] Ken Kaniff from
Connecticut, can you accept?". E depois disso ele virou um personagem. Acho que as outras
pessoas pensam em coisas sérias quando estão dirigindo. Eu só fico brincando com o
alfabeto.
Se eu toco em um assunto em uma música que pode ser engraçado, achamos um jeito de faze
um vídeo com isso. Em "My Name Is" lembro de Dre dizendo: "Sabe, seria doido se você se
vestisse de Marilyn Manson". Na época eu nem tinha visto muito vídeos do Manson. Ele não
tinha uma reputação muito boa no meio da América, mas quando eu mencionei ele pensei 'um
minuto, é melhor olhar alguns vídeos dele, porque eu não sei como esse cara age'.Depois que
vi alguns vídeos dele tive uma ideia do que eu queria fazer. A imitação do Marilyn Manson veio
quase que natural com aquelas roupas de vinil e tudo mais. Madona em "Just Lose It" foi o
mesmo: coloque uns peitos e uma peruca e pronto.
Montamos uns vídeos engraçados. Quando estamos no set sempre alguém chega e diz "E se
tentarmos isso?" "E se armássemos a câmera para fazer isso". Em "Without Me" acabei
vestindo de Rap Boy, com uma puta meia entre as minhas pernas. Quando você assiste os
desenhos infantis você percebe o quanto os caras exageram nas partes intimas deles. Eu falei
pro diretor, Joseph Kahn, para ajustar a câmera do carro bem baixa de forma que o
enchimento aparecesse. Ficou tão grande que tive que inclinar um pouco. O mesmo aconteceu
com o Elvis. Eu mal conseguia me mexer direito naquela roupa. Mas eu queria fazer um break,
dai saiu uns pequenos movimentos e tal.
Tenho zuado por tanto tempo que não consigo entender metade das piadas que as vezes
fazem sobre mim. Eu tento não levá-las a sério. Acho que amadureci com os anos. Aprendi
jogar mais limpo. E o mais importante, meu pinto é agora ridiculamente grande. Acho que
cresci uma polegada ou duas. Damas (e cavalheiros) vocês foram avisados.
Nesse momento estou tentando dar um grande passo. Honestamente, enquanto ninguém falar
nenhuma merda das minhas filhas, que eu fortemente acredito que devem estar fora disso
tudo, eu estou de boa. Se tem alguem que pode falar sobre estuprar a minha mãe ou
esquartejar o corpo de Kim, esse alguem sou eu. Nós mantemos esse tipo de coisa dentro da
família.
Se tem uma coisa que gosto de fazer nas minhas músicas é me auto zuar, como em "My name
is". Depois daquela música haters sabiam que não havia nada que eles poderiam dizer para
me atingir. A mesma estratégia usada por Jimmy no fim de 8 Mile.
Eles vão ter que superar isso, e ai quando alguém joga uma piada sobre você, acaba que você
ri deles. A primeira vez que eles me puseram na capa da Mad Magazine - acho que fui capa
umas quatro vezes - eu deixei a coisa passar. No meu ponto de vista, se você saiu na Mad é
porque você venceu. Weird Al também me pegou. Ele fez um vídeo com uma entrevista falsa
sobre mim e colocou na internet. O filho da puta sabe ser engraçado. Quando algo assim
acontece, você só tem que sentar e dizer "ok ele me pegou". Você aprende isso nas batalhas,
uma espécie de espírito esportista. especialmente é verdade para aqueles em que sou
próximo. Tipo Denaun do D12 - Mr. Porter. Estamos trabalhando junto há um tempo, mas
também fomos colegas de quarto por uns anos. Se você divide o quarto com alguém e também
trabalha com ele, a coisa começa. Não tem como segurar. "Denaun seu perna de viado"
porque ele levou um tiro na perna. Na verdade foi Kurniva quem começou esse de perna de
viado; "cala a boca seu perna de viado". E ai eles começaram a zuar com a perna do Denaun e
coisas parecidas.
Fazíamos isso antes de ir ao palco, era um pequeno ritual. Depois de fazer nossa oração,
permanecíamos em círculo e Denaun colocava a perna dele no meio, e dai dávamos as mãos
e começávamos a acenar para a perna dele como se tivéssemos reverenciando.
Esse tipo de brincadeira sempre vai para os dois lados. Todos são vítima, até eu. E o que as
pessoas dizem sobre mim? Que eu sou ótimo, incrível. Que sou um puta gênio. Que tenho o
mais belo, e esculpido cocô. Coisas assim. E eu, ah foda-se.
CAP 5
EIGHT MILE
THE UNDERDOGS WHO WINS
Desde que o Marshall Mathers LP foi lançado eu queria fazer um filme que mostrasse algo
similar a como eu surgi, algo levemente baseado na minha vida. Eu sempre acreditei que
muitos garotos iriam se identificar com a minha história, a história de um azarão.
Nos anos 2000 as pessoas me ofereciam papeis em filmes, me procuravam com ofertas de
filmes e coisas assim. Era algo que eu sabia que queria experimentar um dia, mas queria estar
mais focado na música e fazer filmes depois. Eu me preocupava em fazer um filme: eu achava
que iria afetar a minha produção musical por ter que sair do estúdio - onde eu realmente queria
estar. E também, e se você tira todo esse tempo para fazer um filme e ele falha?
O que manteve o meu interesse é que eu queria fazer algo autêntico, e algo que tivesse um
motivo para ser lançado - eu não queria somente alavancar a minha carreira.
Mas ai Jimmy Iovine arrumou um encontro com esse cara Brian Grazer, que acabou sendo um
dos produtores do filme. Na primeira metade de nossa reunião eu fiquei avaliando o cara. Brian
disse que me viu na MTV - mais especificamente na "EMTV", que foi um especial em que eu
meio que tomei conta da programação. Ele disse que viu algo em mim que o fez querer
trabalhar comigo. Disse que eu tinha um potencial para ser ator. Depois ele começou a
perguntar sobre a minha música e o quanto dela é baseado na minha realidade. Eu podia ver
que ele queria fazer algo real, algo que se comunicaria comigo e com outros garotos por ai
como eu. Então a reunião acabou, e nós decidimos que iríamos escolher um roteirista,
trabalhar algumas idéias e partir dai.
FOI NESSE PERÍODO QUE MINHA VIDA COMEÇOU A FICAR LOUCA.
Quando a primeira versão do script saiu, eu me lembro que foi no período em que minha vida
começou a se complicar. Eu sabia que queria fazer a história. Demorei um pouco para começar
a lê-lo - porque eu odeio ler. Eu digo, se o livro não tem figuras cara, esquece. O único livro
que me lembro ter lido foi do LL Cool J e isso foi quando eu ficava muito tempo no aeroporto.
(Se você é fã do LL, e quer saber mais do lado pessoal dele é um puta livro para se ler). Mas
enfim, uma vez que comecei a ler o script e passei das primeiras três ou quatro páginas, eu
estava fixado nele. Eu liguei para o Paul e disse "Vamos fazer". Proof e eu sentamos junto com
o roteirista, Scott Silver, e contamos para ele uma porrada de histórias loucas. Contamos para
ele como costumávamos batalhar, sobre os clubes, e o script começou a ser montado.
Claro que eu me preocupara com o fato de ter que atuar. Não era a minha praia. Mas o Ice
Cube me deu umas dicas. Ele dizia que todos que faziam rap deveriam ter a chance de atuar.
E não da pra dizer que o que nós falamos no rap é falso, mas repare, se você tem uma música
onde você esta realmente puto,e você esta expondo isso na voz, e por alguma razão você tem
que voltar e refazer o verso você tem que novamente adicionar a agressividade na música.
Tem que se assemelhar ao que já foi gravado, na mesma intensidade. O que é parecido com
atuação em um filme.
Na primeira vez é bem desconfortável. Você não conhece as pessoas que estão atuando com
você e dai do nada você tem que agir como se estivesse puto com algo para o filme. Você
pensa "ficar puto" dai você fica, e tudo bem, mas agora você tem que bater naquele cara e ele
tem que te bater de volta. Antes de começarmos a filmar eu trabalhei com um professor de
artes cênicas por algumas seções. Tudo aconteceu no porão da minha casa. A maneira mais
simples de descrever as minhas aulas de teatro é: eu aprendi a dizer a mesma coisa de várias
maneira diferentes. Simples, mas funciona.
Ao mesmo tempo, muito desse papel era tão parecido comigo que foi quase que natural. Eu
não estou tentando ser egocêntrico, mas eu meio que pensei, posso fazer isso. Não é como se
tivessem me pedindo para ser um policial - sabe algo completamente diferente do que eu sou.
No filme, interpretei um cara chamado Jimmy que cresce em Detroit e quer ser rapper, e tudo
se passa em 1995 - quando eu estava em Detroit tentando ser um rapper. Literalmente me fez
voltar no tempo antes de eu ser famoso.
Por um tempo o script foi nomeado como "Projeto Detroit, sem título". Foi eu quem tive a idéia
de chamar-lo de 8 Mile. O diretor, Curtis Hanson e eu discutimos sobre isso. (discussão
amigável) Ele diz que foi ele quem saiu com o título. Mas eu digo: Curtis sem ofensa tá, mas
você mora em LA e nem sabia o que era a 8 Mile até vir aqui em Detroit e te mostrar o local.
EM DETROIT, 8 MILE É UMA FRONTEIRA ENTRE OS BAIRROS DOS BRANCOS E DOS
NEGROS. Os dois lados da 8 mile eram pobres, mas era uma linha definitiva entre os brancos
e negros. E é dai que o nome do filme vem. Essa barreira que enfrentamos.
O estúdio não queria fazer, mas eu insisti em filmar em Detroit, que é onde eu gravo a maior
parte dos clipes e coisas assim. Se eu puder ajudar de alguma forma a criar empregos lá, eu to
dentro. Detroit já esteve na merda financeira por muito tempo.
Era ótimo estar em casa, mas ainda assim filmar 8 mile foi um desafio. Eu tinha um trailer onde
eu podia passar o tempo com as minhas filhas. Dai quando era hora de eu ir ao set a babá
entrava para cuidar delas. Eu sempre tinha certeza que as meninas tinham um livro de colori,
giz de cera e qualquer coisa que pudesse entretê-las até eu voltar. Uma vez que as meninas
iam embora, eu iria a outro trailer escrever um pouco. Depois ia ao estúdio trailer e gravava
algumas vozes lá - fiquei sentado lá escrevendo "Lose Yourself" e "8 mile", tudo entre as
pausas das filmagens e entre o tempo de ficar com as meninas.
Durante todo aquele tempo, quando não estava ensaiando eu estava escrevendo. Eu tinha
uma caneta nas mãos todo o tempo, ate que eles diziam "ação!" e eu entregava a caneta e o
papel para alguém e ia gravar a cena. Esse filme me levava de volta para o tempo em que eu
não era conhecido, foi bom para o meu ego, eu tive que capturar aquela essência de volta.
AS FILMAGENS DE BATALHA ERAM INTENSAS. FILMÁ-LAS PARECIA QUE REALMENTE
ESTÁVAMOS EM UM CLUBE.
Eu tinha sérios flashbacks. Quando eu costumava ir a estes locais com outros MCs, eu nunca
que pensava sobre a atuação. Mas olhando para trás, as batalhas eram bem visuais. Se você
terminasse dizendo que seu oponente era lixo, talvez você jogaria um saco de lixo na cara
dele. As pessoa utilizam de vários artifícios para dar vida as letras. As batalhas de rap podem
ser bem físicas - balançando os braços para ir com a rima, quando você zoa com a cara do
oponente. É como ser um condutor, e a única orquestra que você esta conduzindo é o seu
traseiro estúpido.
Paul e eu escolhemos as batidas para as batalhas. Eu estava louco para usar o instrumental
do Mobb Deep "Shook Ones pt 2". Aquela era "A música" em 95, então funcionou
perfeitamente para o filme. A música era crucial. Ajudava a manter a autenticidade da coisa. Eu
era capaz de desenvolver a intensidade que usava naquelas batalhas, mas também
demonstrar algum controle que um ator precisa para fazer com que a coisa ficasse acreditável.
Acho que todos acreditaram em mim!
Manter a atuação dramática era o mais difícil. As vezes eu falava "Curtis, eu não falava assim"
e ele dizia 'Você não é você nesse filma. Você é Jimmy Smith Jr". Sim, ta certo, mas era
baseada na minha vida que eu sentia que eu sabia da coisa. Conversávamos sobre o
personagem e eu na terceira pessoa: "Eu não acho que o Jimmy Smith Jr. falaria isso. Não
acho que ele faria isso." E "Marshall definitivamente não falaria isso". Eu pedia a Curtis para
fazer uma fala do modo como eu reagiria, e ele me deixava. No entanto, eu não acho que
usaram isso no filme. Eu percebi que tínhamos que confiar um no outro, Curtis e eu. Ele tinha
que confiar em mim na música e nos raps para o filme, eu tinha que confiar nele na atuação e
na direção. Naquele jogo eu era um aprendiz. Eu estava lá para aprender.
Algumas cenas eram mais fáceis de filmar que outras. A cena de sexo provavelmente durou
um minuto e meio para ser filmada. Não foi engraçado - ficar praticamente nu na frente de
homens e mulheres que você não conhece - mas por sorte eu não tenho problemas em
mostrar minha bunda para o mundo. Eu sou o Dirk Diggler do hip-hop. E tinham cenas que
demoravam anos! As cenas de dirigir a noite eram infinitas. A janela tinha que estar baixa para
a câmera ter um melhor angulo do meu rosto. E eu dirigia sob o vento, no inverno, à noite: não
é legal.
A cena da casa queimando causou polêmica em Detroit. Teve um pessoal protestando. Na
minha época existia uma coisa chamada Devil's Night, que acontecia na noite depois do
Halloween. Basicamente, as crianças saiam para queimar casas abandonadas, que eram
fáceis de encontrar na minha vizinhança. A cidade de Detroit conseguiu controlar um pouco,
mas Devil's Night ainda acontecia na época da filmagem de 8 Mile, então tinha que ter parte no
filme. Aquilo era uma cena que tentava retratar como éramos estúpidos quando jovens e
garotos apenas zoando. Na cena eu acho uma fotografia - prova de que uma família morava
ali. A cena mostra como a pobreza pode ser uma merda, e aponta para a mensagem positiva
do filme: que não importa da onde você veio, do norte ou sul de 8 mile, você consegue sair de
lá se estiver com a mente no lugar certo e agir de acordo. Essa conquista é um dos pontos do
filme.
Tinham umas coisas estranhas em 8 mile também. Eu briguei com unhas e dentes (e venci)
para retirar a cena do cavalo do filme porque não fazia sentido nenhum. Jimmy brigaria com a
mãe dele e leva a irmã dele para a vizinha, dai ele senta e começa a chorar apenas pensando
na vida de merda dele. Mas ai ele vira e - avinha só - vê um cavalo. Tipo um daqueles cavalos
policiais que andam pela cidade e essas merdas. Ele vê esse cavalo em um lote e ele não
sabe por que ele esta ali. Ele vai ate o cavalo e faz carinho nele. Agora, tem algo sobre os
cavalos e o modo como eles movimentam a cabeça deles - eles viram a cabeça meio que do
nada. Curtis me dizia para agarrar as rédeas e alisá-lo. Mas o cavalo não parava de fazer esse
movimento estranho com a cabeça, e eu pensava, esse filho da puta uma hora vai virar essa
cabeça acertar o meu queixo e me nocautear. Cavalos e eu, não nos damos muito bem. Eu
não mexeria com um cavalo. Se um cavalo resolvesse me zoar, eu não responderia.
Definitivamente foi uma mudança estranha - o sucesso, a explosão depois de 8 mile. Antes do
filme sair, eu não estava na defensiva com o sucesso. Claro o garoto branco vendeu alguns
milhões de álbuns, mas tava de boa com aquilo. Mas eu não sabia que a coisa com o filme
cresceria tanto. Você começa a ver os pais levar os filhos pré-adolescentes para o seu show.
Eu pensava "o que esta acontecendo?". Ficou tudo muito doido depois de 8 mile. A Interscope
disse que a minha fã base subiu, havia pessoas de 60 ate a faixa dos 70 anos de idade - o que
não fazia sentido para mim. Quer dizer, então você curte meu som, e o seu avô também?
Era estranho sabe, os novos fãs e de onde eles vinham. A base de fãs sabia qual era a
situação, conheciam a minha história, a minha conexão com ao hip-hop. E todo o resto - se
você gostou do filme e dai você passou a curti a música, ou se você tem 86 anos de idade - eu
queria dizer obrigado. Hailie agradece a vocês. A faculdade dela esta paga.
Como um artista começando, eu nunca pensei em lotar um estádio, tenho certeza que alguns
fãs achavam que eu sonhava com isso. Para vocês eu digo, eu ainda amo vocês. Eu sinto que
não fiz música para lotar. Sim fiz algumas mais pop, mas a letra o flow e o comando de batida
sempre foram puro hip-hop. Eu soava como sempre. A única diferença é que havia mais
pessoas me ouvindo e apoiando a minha arte. Eu espero que entendam que não posso
controlar quem gosta da minha música ou de mim.
Mas sério, se eu fizer outro filme, a questão vai ser se serei ou não capaz de fazer um papel
que não tem nada a ver comigo. Quando você pensa em um bom ator, tipo Denzel Washinton,
que provavelmente é o meu artista favorito, você sabe que Denzel foda. Seja fazendo um papel
de gangster ou policial, você até esquece que esta vendo um filme. O desafio para mim é
apresentar esse tipo de seriedade que em expert como Denzel faz. Ele é uma inspiração. Se
eu for fazer algo, quero ser bom nisso. Preciso ser competitivo. Respeitado.
CAP 6
ANGER MANAGEMENT
EU SEMPRE TIVE PROBLEMAS COM O MEU TEMPERAMENTO. Quando eu olho para trás e
me vejo naqueles anos em que tudo estava acontecendo, eu acho que talvez no começo eu
tenha sido um pouco, sabe, agressivo de mais e barulhento de mais. era como se eu tivesse
uma voz e eu quisesse ser ouvido. "Não se meta comigo", ao ponto das pessoas começarem a
questionar talvez, "por que esse cara é sempre tão nervoso? Ele sob o crack? Ele ta
drogado?". Eu olho para traz e vejo as entrevistas antigas e ainda me pergunto, por que eu era
tão agitado?
Eu passei por uma fase no passado que eu estava exibindo armas fora do estúdio e você sabe,
apontando armas para uns filhos da puta, mirando na cara de alguém, sem perceber que eu
poderia ir para prisão por causa dessa merda.
No passado quando eu morava na Hayes Street, diferentes pessoas costumavam vir e bater na
minha porta o tempo todo. O primeiro álbum tinha sido 4x platina. Finalmente eu tinha algum
dinheiro. Eu me lembro de pensar: "Eu tenho uma casa, posso relaxar". Era a primeira vez na
vida que tinha uma casa que podia chamar de minha e ninguém seria capaz de me tirar de lá.
Do outro lado da rua tinha um trailer park. Então você já sabe. Às vezes as crianças sentavam
e esperavam até eu sair de casa.
Outras vezes eles nem esperavam eu sai. Eles vinham e batiam na porta. A campainha não
parava de tocar. Eu estava começando a enlouquecer. Assim que eu abria a porta da frente os
flashes das câmeras começavam. Eles começavam a gritar. Eu estava ficando doido. Em uma
das vezes coloquei uma pistola no rosto de um dos garotos. Estava descarregada, mas ainda
assim. Era a coisa certa a fazer? Porra, não! Mas meu temperamento estava fora do controle.
Graças a Deus eu tinha controle suficiente para não fazer algo trágico. Eu tinha que mudar dali
antes que eu acabasse machucando alguém.
A primeira arma que tive foi comprada legalmente. Quero dizer, eu não tinha a licença do porte
ou da posse, mas a arma era legal. ESSA PEQUENA PEÇA DE METAL ME METEU EM UMA
PUTA CONFUSÃO, como a confusão que aconteceu no estacionamento. Você já deve ter
ouvido falar - eu, a arma, um cara que tava com Kim, e um estacionamento com carros e muita
gente.
Hey, vocês tem de reconhecer que eu sou um homem com estratégia. verdade seja dita, elas
não são as melhores do mundo, mas há um pensamento em cada movimento meu. Então, eu
vi um episodio de "Cops" que se passava em Michigan, certo? O episodio dizia que em
Michigan você recebe uma pena de até um ano para cada bala se você não tiver o porte da
arma. A minha lógica super idiota na época era de nunca ter mais de três balas na arma.
Dessa forma, se eu fosse preso, eu não pegaria mais que 3 anos. Eventualmente eu cheguei a
tentar retirar o porte da arma. Quando me perguntaram por que eu precisava de uma arma eu
disse: "Bom, eu já vendi 3 milhões de álbuns..."
Finalmente eles me aprovaram. Tudo que eu tinha de fazer era um curso para aprender a usala, que eu comecei, mas nunca terminei. De qualquer forma, é por isso que jogo toda a culpa
no "Cops".
Então eu fui aquele estacionamento com uma arma e sem balas. Deixe eu te falar uma coisa:
armas são ruins. A coisa toda terminou com eu sendo acusando de ameaçar um cara que
estava beijando a minha mulher com uma arma de fogo. O problema é que, naquele mesmo
fim de semana eu tive uma briga com esse cara que estava trabalhando para uns antigos
inimigos, Insane Clown Posse (ICP). Essa merda não me ajudou nenhum pouco o meu caso,
especialmente porque havia uma arma envolvida ali também. Em um final de semana eu
consegui me envolver em três processos. E eu estava sóbrio! Sem drogas. Só paixão. Milhões
de pessoas alegam crime passional e essa merda toda.
Não é como se eu nunca tivesse tido problemas com a justiça antes. A primeira vez que me
meti em um problema era só Proof e eu mais esse outro cara zoando. As vezes saíamos para
exibir nossas armas - de paintball - e zoar com alguns caras de Detroit. Fazíamos isso toda
sexta a noite.
Isso aconteceu por volta de 1992 - um ótimo ano para o hip-hop - antes de eu consegui um
contrato né. Eu tinha 20 anos. Nesta noite em específica estávamos dirigindo pela cidade
atirando com a arma de paintball do carro. Eu virei na rua errada e acabando perto da Wayne
Capte University, onde encontramos uns garotos brancos andando de skate. Paramos e Proof
foi ate as costas de um cara e atirou por trás da cabeça dele, umas três vezes: pow! pow! pow!
Proof saiu rindo. Cara, em curta distância essa bala dói pra caralho! Sabe o que estou
dizendo? Mas esse garoto reagiu como se estivesse sob o efeito de acido ou algo assim. Ele
nem se mexeu, ele nem tentou cobrir a cabeça, continuou na dele e voltou pro skate. Foi cena
digna de "Alem da imaginação" sabe. E no momento seguinte havia sirenes tocando e cinco
policiais correndo.
Um policial em especial acabou comigo. Ele me jogou com a cara no chão e me algemou. Um
outro policial agarrou os meus brincos e falou "Gosta de usar brincos uhn você é viado? Hein
seu branquelo?" Eu usava uns aros pequenos e ele arrancou. Um outro fez Proof comer
grama, literalmente, pegou a grama e jogou na boca dele. Em um momento uma policial falou
"tem pessoas com câmeras aqui agora. Cara como eu queria que alguém tivesse gravado
aquilo. Proof e eu fomos colocados na mesma viatura - melhor dizendo, fomos jogados. Nós
dois fomos algemados. E eu disse a ele, "Droga eles te foderam hein?" e ele disse "Me
foderam? olha pra você!" Eles não quiseram tirar foto para nos fichar por causa da
nossa aparência Afinal de contas, até machucaram as minhas costelas eles conseguiram!
Minha mãe sempre adorou uma ação judicial então ela tirou fotos das minhas costelas. Doía
pra caralho!
Acabamos ficando na cadeia em Detroit, uma daquelas infestada e superlotadas. Lá nós
descobrimos que acabamos aceitando uma pessoa com os tiros de tinta, e bem no pinto do
cara. Acertamos as bolas de alguém com uma arma de paintball!! O cara queria prestar queixa,
e os policiais diziam que era crime de lesão corporal - podíamos pegar 5 anos! Sentamos com
o delegado e ele: "Vocês podem pagar por um advogado?", estávamos fodidos! Pensava, "puta
merda!lá se vai a minha carreira no rap. Lá se vai tudo!"
Mas ai aconteceu que os caras que tínhamos acertado não apareceram no tribunal, então
tecnicamente nos livramos. Quando sai do tribunal eu me lembro do sentimento tipo: Ahhh Meu
Deus! Obrigado Jesus!
Então sim, eu tenho já um histórico que envolve policiais e tribunais, mas o incidente com a
arma de verdade foi o mais notório. Eu consegui condicional no problema com o ICP. Por
carregar uma pistola sem autorização devida me aleguei culpado, e o juiz me liberou da
ameaça a mão armada. O problema é que eu tive que fazer tratamento para controle de raiva.
Não é muito difícil imaginar da onde saiu o nome da turnê "The Anger Management Tour" já
que eu tinha que ficar frequentando a essas aulas. Supostamente, esse tratamento me deveria
acalmar e me manter longe da prisão. Mas não era lá essas coisas. Eu chegava, conversava
com um carinha lá e voltava pra casa. Não estou dizendo que não ajudou, mas não foi nenhum
tratamento profundo.
O MEU HUMOR MUDA RÁPIDO. Eu sempre fui assim. Quando eu bebia eu podia ficar de bom
humor - carinhoso com todo mundo, achando que tudo é uma maravilha - mas ai alguém ia e
falava alguma merda para mim, e antes de você conseguir registrar não havia nada que meus
seguranças podiam fazer para me impedir de reagir, dar um soco, chutar ou cuspir no cara
algumas vezes antes de me tirarem. A coisa mais simples podia me tirar do sério, tipo a pessoa
olhar meio torto pra mim. E eu não parava até sentir que aquela pessoa se colocou em seu
lugar, que ela aprendeu a sua lição. Depois eu arrependido dizer "Me desculpa" várias vezes.
Eu me sinto um idiota por agir assim. Tipo, porque eu não posso controlar isso?
Todos viram o episódio com o Triumph no VMA certo? Aquilo ali é um exemplo perfeito do que
eu estou falando. Eu estava ali sentado em meu lugar, quando anunciaram que eu havia
ganhado, apresentado por Christina Aguilera. No passado eu disse algumas coisas sobre ela,
Moby disse algumas coisas sobre mim, e eu respondi a ele. Então eu estou sentado, do lado
do Proof,e dai eles trazem o Moby e colocam ele pra sentar duas filas atrás de mim. E eu estou
"que porra ta acontecendo? O que eles estão querendo fazer". Eu estava com Moby atrás de
mim, Christina no palco e dai aparece esse boneco de cachorro na minha frente. Eu estava tão
ocupado com a turnê e fazendo o meu trabalho que não tive tempo de assistir Tv, eu não tinha
ideia de quem era aquele cachorro. Tudo o que eu via era Moby, Christina e esse cara
abaixado colocado esse fantoche no meu rosto, tentando ser engraçado. Eu nem vi o boneco,
sabe? Minha reação natural foi "Tira essa porra do meu rosto. Tira a porcaria da sua mão do
meu rosto". E foi ai que eu meio que pedi o controle. Eu devia ter mantido a minha compostura,
mas em vez disso eu mostrei meu dedo bem na cara do Moby. E na cara dele disse "Vai se
foder".
Quando me disseram que eu ganhei, eu fui até lá em cima e abracei a Christina porque nossa
briga nunca foi lá essas coisas. Eu só estava falando mal dela para me separar daquele grupo
porque eu não queria ser classificado na categoria Pop. Quando eu a abracei achei que estava
sendo maduro ali. Mas no backstage na sala verde, eu pirei. Tinha ali um frigobar com algumas
bebidas, eu perguntei se alguém queria e ninguém quis. Então eu peguei o frigobar e joguei ele
do outro lado da sala contra a parede, basicamente destrui a sala.
Acontece que, no mundo do hip-hop se você fala de alguém é melhor você não encontrar com
essa pessoa, você não sabe o que pode acontecer. Com Moby não é como se eu literalmente
quisesse botar as minhas mãos nele. Mas é que, por toda a minha vida eu fui treinado a reagir
de certa em forma em determinadas situações. Meu instinto era, se alguém fala de você, você
vê essa pessoa, você briga com ela. Mas Moby? Serio? Eu ia brigar com Moby? Eu ia brigar
com um boneco? Eu nãos sei se alguém um dia vai entender isso. Mas foi muita coisa diferente
de uma vez só - Moby, Christina, o boneco... Eu pensava, "Okay, alguém realmente esta
brincando comigo".
Eu deveria ter tratado a situação de forma diferente. Eu verdadeiramente acredito que se eu
estivesse essa situação novamente, com toda a merda daquele boneco, eu agiria diferente. Eu
realmente fico puto com as coisas mais ridículas do mundo. Um boneco.
Esse é o tipo de coisa que acontece que me faz pensar "talvez eu devesse voltar para a terapia
de controle de raiva". Porque obviamente eu não aprendi. ate hoje parte de mim me faz sentir,
"Eminem, em qualquer hora que você bebe você fica violento". Mas ai outra parte de mim fala
"Não, sempre que alguém tenta de foder , é ai que eu fico violento". Mas se estou bêbado e
alguém me fode, a coisa é pior. Tai o motivo porque eu nunca saio.
Eu não me orgulho deste problema. Hoje eu estou melhor do que antes. Estou. Mas eu ainda
sou todo problemático. Eu tenho 35 anos de idade. Sou pai. E uma vez que você atinge a casa
dos 30 supostamente você devia agir como um homem maduro, mas o que isso quer dizer? A
verdade é que muita coisa me deixa no limite. Até hoje. E pode ser a coisa mais simples, como
me perguntarem a mesma pergunta várias vezes, ou um rapper que não esta no meu nível
tentar criar uma briga comigo. É tanta coisa! Deus sabe, 10 anos de carreira e eu não quero
que minhas filhas vejam isso em algum lugar, "olha ele acha que é legal agir assim". Porque eu
não acho legal. A moral dessa história é que não é legal andar por ai com o peito estufado
dizendo; "Olhem pra mim, eu sou um cara durão!"
Mas sabe, quando você cresce como eu - se vigiando e brigando por tudo - te deixa nervoso
fácil. Verdade. É algo que eu já tentei bloquear, mas ai eu penso em quantas escolas eu já
frequentei e toda aquela merda e me faz perceber "não é por menos que eu fique nervoso com
tudo". Era quase como se fosse uma maneira de eu responder àqueles me irritaram a vida toda
- dar o troco a caca bully que implicou comigo, cada pessoa que me fodeu quando eu estava
crescendo. O fado de que a vida de Hailie é tão diferente da minha é a coisa que eu mais me
orgulho de ter conseguido fazer.
Acho que a idade também faz a diferença. Hailie e Alaina estão crescendo, e eu não levo tanta
coisa a sério quando levava antes. Eu ainda tenho um temperamento forte, mas consigo
controlar mais isso agora. Minha família vem em primeiro lugar. Marshall Mathers atrás das
grades não é legal, Eminem atrás das grades é péssimo para os negócios.
Armas e violência sempre estiveram presentes em minha vida - na vida de minha família, na
minha vida social, em todo o lugar. Eu sempre fui fascinado por elas. Eu não digo que eu tirava
onda, dava uma de traficante ou saia matando as pessoas. Mas foi assim que eu fui criado mantenha-se firme e lute - então eu nunca achava que era um problema sabe?
Quando eu tinha 11 anos, morava em Missouri, meu tio me levava para um clube de tiros para
ver. Tinha AK47. E eles descarregavam o cartucho inteiro. Quando eu tinha 7 anos de idade eu
estava carregando a Colt 45 do meu tio Todd - a mesma Colt que eles alegavam que ele matou
um cara no estacionamento de um mercado. Naquela idade, ele já me deixava atirar em latas
de cerveja vazias. Parece doidera, mas é verdade. Qualquer pessoa que tem uma arma pode
lhe dizer, elas te fazem sentir poderoso. Eu estava enfeitiçado. Óbvio, que não me sinto assim
hoje. Eu já perdi muitos amigos, familiares e pessoas que me importo para as armas. Hoje eu
prefiro usar meus punhos. (Brincando).
Eu não era muito próximo do meu tio Todd, mas ele era meu tio. Ele era problemático, mas não
era um cara ruim. Até certo ponto, ele estava lá por mim - parecia mais um irmão mais velho
que eu não conhecia muito bem. Claro, ele não era perfeito, mas ele amava crianças. Ele foi
condenado por matar um cara que supostamente molestava crianças, e cumpriu a sua pena.
Quando ele saiu, alguns anos atrás, ele se matou - atirou na cabeça no dia do meu aniversário.
Foi muito confuso para mim. Sério, ele era um cara bem intencionado, mas não funcionava
bem na sociedade.
Depressão é um problema da família. Meu outro tio Ronnie, se suicidou aos 19 anos e foi um
dos momentos mais difíceis da minha vida. Eu recebi o telefonema na casa de Kim e não
registrei o ocorrido de primeira. Deixei o telefone cair de minhas mãos e caí de joelhos. Não fui
ao funeral - foi em Missouri - porque eu queria me lembrar dele como me lembro hoje. E não
ver ele dentro de uma caixa. Acho que consegui ir no de Proof porque já estava mais velho que
antes. E com todo respeito, a cabeça do Ronnie se foi, e o caixão estava aberto. Eu não
entendia isso. O cara explodiu a cabeça com uma arma - e por que você iria querer ver a
cabeça de alguém aberta assim?
Quando Ronnie tinha 7 anos de idade, ele tocou fogo na casa da minha vó. Quando tinha 11
colocou um hamster no micro-ondas - ele explodiu. Ele sempre fazia essas coisas doidas. Ele
também já estava cansado de apanhar do marido da minha avó. Quando a minha vó era
casada com aquele cara - ele é ex dela agora - eu vi as marcas e já vi ele jogar Ronnie de uma
escada. Acho que todo aquele abuso mexeu com a cabeça dele. Muita gente da minha família
é meio ferrada por causa dos abusos. Se você voltar e ver os abusos que eu sofri não vai ser
surpresa eu ter me tornado quem eu me tornei. Alguém que eu realmente não quero ser.
CAP 7
FAMILY MAN
SER PAI ME FAZ SENTIR PODEROSO de um modo como eu não conhecia antes, e é um tipo
de poder que eu não quero abusar. É um tipo de poder que me ajuda a superar as merdas que
aconteceram na mina infância. É como se eu estivesse reescrevendo a minha história.
Na minha vida eu tenho minha filha Hailie, minha sobrinha Alaina, e uma outra garotinha,
Whitney, que não é minha filha biológica. Todas as minhas três meninas me chamam de
"papai". Eu as amo da mesma forma e todas tem o mesmo tratamento. Por causa do meu
sucesso eu pude proporcionar a elas de forma que minha família nunca pode para mim. É
disso que isto se trata. No rap é como eu obtive controle da minha vida, e como as minhas
meninas vivem. Eu só posso imaginar como as coisas que puder fornecer a elas teria me
ajudado quando mais jovem.
Eu tendo explicar a elas o quanto nós temos sorte de ter coisas simples como passeios de
carro e idas para escola, mas acho que vai levar um tempo até que elas possam entender de
onde eu vim e o que o papai fez por elas. Eu já vi os dois lados dos trilhos, o subúrbio e a
cidade. Tanto faz se era uma comunidade branca, negra ou mista em que eu vivia, eu sempre
era pobre. Sempre. Doação de queijo, farinha, leite em pó - tudo isso. Eu tinha sorte quando
eu conseguia duas roupas do Kmart por ano.
Eu queria que minhas filhas tivessem um local onde elas sentiam que era o lugar delas e se
sentissem protegidas. Por isso que eu digo que minha maior conquista foi ser pai e o porquê eu
sai do jogo por um tempo. Você não pode aparecer uma vez ou outra e se chamar de pai.
Quando eu estava fazendo turnê direto, as turnês de verão eram as minhas favoritas porque eu
podia levar as meninas comigo. Kim ia comigo também e a coisa funcionava. Outras vezes, se
tinha que me afastar delas por um tempo, chegava a um ponto que eu sentia tanta saudade
que acabava voltando. Tirava um dia de folga, pegava meu avião e voava para casa só para
vê-las por um dia, voava de volta no outro dia para continuar a turnê chegando já em cima da
hora.
Eu não faço turnê desde 2005, mas ainda estou trabalhando. Eu disse a uma de minhas filhas:
"Papai tem que trabalhar muito porque ele não quer que você viva a vida que ele teve de viver".
Você tenta explicar isso a uma critica de 12 anos ou 15 anos e elas te respondem de volta:
"Bem, e porque temos de viver assim?", eu não reajo, mas dói ouvir isso. Elas não entendem.
É uma fase que elas estão passando.
Eu quero que elas vão a faculdade. Eu tento passar valores educacionais a elas. Mas é difícil
quando você não completou a escola e seu nível de escolaridade é até a 8ª série. Eu repeti o
1º ano três vezes, e eu tento conversar com elas sobre ir a faculdade?! Tento explicar a elas
que o papai fez uma decisão ruim em largar a escola. Que eu tive sorte. Que eu ganhei na
loteria. Sei que o talento ajuda, mas tem muitas pessoas por ai com talento. Se não fosse por
Dre me dar uma chance e se eu não tivesse pessoas como Proof na minha vida que me
estimulavam, nós estaríamos morando em um trailer em algum lugar.
A PIOR COISA SOBRE A FORMA COMO EU CRESCI ERA O FATO DE EU NUNCA TER UM
VERDADEIRO LAR.
Eu sempre estava mudando de escola, e a mudança afetava o meu interesse educacional. Eu
fui a dois jardins de infância em Missouri. Um era em um estacionamento de trailer, onde cada
trailer era uma classe diferente. Eu nunca esqueço, minha tia avó Edna me levava a escola
quando eu tinha 5 anos e ela tinha uns 60. Todos que ouvem as minhas músicas já conhecem
a história da minha infância. Em "Evil Deeds" eu falo sobre como íamos de casa em casa:
"Father, please forgive me for I know not what I do, I just never got the chance to ever meet
you". Obviamente é um exagero. As letras são uma metáfora de como eu me sentia. Quando
eu digo "Till somebody finally took me in, my great-aunt uncle Edna and Charles". Essa parte é
verdade. Charles era o pai de meu tio, ele lutou na Segunda Guerra, e Edna era esposa dele.
Eles foram minha salvação. Começou quando meus pais se separaram, eu ficava muito tempo
com eles.
A casa deles era o céu para mim, um lugar onde eu podia sentar no chão na frente da TV e
colorir e coisas assim. Tio Charles morreu há uns 15 anos, e Edna mora sozinha. Ela tem 94
anos agora. Ela é orgulhosa cara, ela não aceita nada de mim quando se trata de dinheiro, ela
manda de volta com um cartão dizendo: "Brucie, eu vou chutar o seu traseiro". Converso com
ela regulamente. Ela não quer nada a não ser uma conversa. É um dos motivos que a amo
tanto. O amor dela é verdadeiro.
Não vou mentir. Eu sempre vou ter perguntas sobre eu pai. Mas nesse momento eu decidi que
nunca vou ter as respostas - então foda-se. Que ele se foda. Eu já passei da fase de querer
conhecer o cara. Tem que ser um tipo especial de imbecil para abandonar um filho. Para
manter contato com seus outros parentes - como o tio dele - mas não telefonar para uma
criança que não fez nada de errado. Não há desculpas para um pai fazer o que ele fez. Não me
importo se elas estivessem perdidas no Alaska ou na porra de u deserto, eu acharia as minhas
meninas.
EU TENTEI TER UMA VIDA NORMAL QUANDO CRIANÇA APESAR DE TUDO, MAS ERA
DIFÍCIL.
Eu tentava ser sociável. Me adequar. Tentava mesmo. Mas como eu disse, toda vez que eu
começava a me adaptar, ficar confortável e fazer amigos - BOOM! Mudávamos de novo. Se
você já foi transferido para uma escola nova sabe que merda que é - horrível. Você não
conhece ninguém, então você tem que fazer tudo de novo conhecer as pessoas.
Recentemente eu estava tentando me lembrar de todas as escolas que fui. Eu fiz uma lista
muito longa e acho que ainda não estava completa. Comecei a ficar triste. Achava que quando
eu era reprovado tantas vezes como fui na escola que a coisa era culpa minha. Mas será que
realmente era?
Fazer amigos novos a cada dois meses não é coisa fácil pra uma criança, mas era
especialmente difícil para mim porque eu era muito quieto. Tímido. Eu apanhava, acabava com
o nariz sangrando, as vezes com sangramento pelo ouvido. Este era o Marshall Mathers.
Nunca sociável. Nunca com muitos amigos. O que vai em oposição a imagem que passo com
minha música, como um mc que joga na sua cara todo tipo de opinião e insultos. Este é o
Eminem. A verdade é que eu nunca senti que pertencia em algum lugar.
Mudamos de Waren para o subúrbio de Detroit quando eu tinha uns 14 anos. Morávamos na
casa da minha avó na Timken Street porque não tínhamos onde morar e ela não nos cobrava o
aluguel. Foi ai que terminei indo para a Lincoln nos subúrbios. Eu fiz lá parte da 7ª série e a 8ª
completa. Foi o período mais longo que eu fiquei em uma escola. Eu conheci muitos garotos da
Caldeia e eles se tornaram meus amigos. Havia garotos negros lá também, mas a maioria era
branca ou caldeia, que são cristãos iraquianos que moravam em Detroit. (Aqui está um fato
doido de Detroit: Saddam Hussein ganhou a chave da cidade em 1980. Ele deu uma porrada
de dinheiro a uma igreja Cladeia e ganhou a chave da cidade).
Quando eu comecei o 1º ano nos mudamos para o lado leste de Detroit. E eu não consegui
manter contato com meus amigos da escola, e o colegial é uma das maiores transições da sua
vida. Eu me culpava muito porque, eu poderia ter me matriculado na Osborns, mas não fiz isso.
Quando você cresce assim, sempre se mudando, nunca se ajustando ao local, sofrendo
bulling, você fica com raiva. E assim foi. Especialmente quando você para e pensa sobre isso.
Então é algo que eu tento bloquear.
As vezes minha mãe me dava dinheiro para comprar cigarros para ela. Ela me dava quatro
dólares para dois pacotes de Winston Light 100s, e eu furtava os cigarros e ficava com o
dinheiro para poder comprar lanche na escola. Eu estava la lista de lanches de graça da escola
por causa das ajudas sociais que recebíamos, o que era vergonhoso. A maioria dos meus
amigos também estava la lista de lanches de graça, e eles podem te dizer o quanto é
degradante. O pior era quando havia uma garota linda atrás de você na fila, ou um dos
jogadores de futebol. Eu morria de medo daqueles caras porque eles eram bem maiores que
eu e eles sempre andam em bando. Então você na frente da fila e diz "Eu estou no lanche
gratuito" para a velha que mal consegue enxergar, com os óculos tortos e tudo mais. E você
fala, "Meu nome é Mathers". E a velhota que mal consegue ouvir grita: "OH VOCÊ DISSE QUE
ESTÁ NO LANCHE GRATUITO QUERIDO?" e ela olha pra lista de novo e fala "NÃO... EU
NÃO VEJO VOCÊ AQUI. QUAL SEU NOME MESMO? MATHERS?" Era isso que acontecia
em cada escola que fui. Então nas raras vezes que eu conseguia comprar um lanche eu me
sentia mega orgulhoso.
Cara, quando eu tinha 17, os tempos era difíceis: eu não morava em casa naquela época por
uma série de motivos, então as vezes eu passava um tempo na casa da mãe do Proof e
dormia no sofá. Outras vezes, eu dormia na casa da mãe de Kim. Basicamente era uma
situação onde eu tinha de ficar onde dava. Mas eu sempre arrumava um local, de um jeito ou
de outro.
Foi assim que Hailie nasceu também - Kim e eu sempre estávamos tentando descobrir como
sobreviver até o dia seguinte. Éramos tão jovens e lutávamos feito loucos. Eu trabalhava em
uma fábrica, onde eu limpava o chão, o maquinário que tinha restos de minério coisa que não é
muito boa - tóxico pra caramba. Eu fazia de tudo: jateamento, varria o chão, limpava a cozinha
- tudo o que eu podia fazer para ganhar dinheiro. Qualquer coisa.
Eu fritava hambúrguer e aspirava como nunca se viu. Eu era Mayor McCheese com um braço
robô que era perfeito para esfregar, esfregar e esfregar. Segurar Hailie foi fácil pois meus
braços estavam grandes de tanto trabalho manual. A família de Kim nos ajudou muito, o que foi
ótimo. Eu e Kim ralamos, muito.
Não podíamos viver em um local legal e mal conseguíamos pagar para morar naquelas casas
de merda em que vivíamos, sempre éramos despejados. Eu estava tentando com o rap, ia ao
Hip Hop Shop e toda essa coisa - mal podíamos pagar gasolina para ir trabalhar.
Éramos furtados também, mas começamos a entrar nesse jogo. Quem quer que seja que
estava furtando a nossa casa colocava todas as coisas em um cobertor, e jogava em um beco
e depois voltava para pegar. Então íamos ao beco para pegar nossas coisas de volta. Fomos a
uma casa de penhores uma vez e encontramos nossa TV. Nós tínhamos pego uma caneta e
feito uma pequena marca nela, por isso sabíamos que era a nossa TV. Quando você é furtado
na sua casa por cinco vezes - e o ladrão esta tão confortável com a sua casa que ele até
chega a tirar a jaqueta e esquece em seu sofá e fica de boa pra fazer um sanduíche de
manteiga de amendoim e geleia - você monta um esquema ou outro. Eu dormia no andar de
baixo com Hailie e Kim apenas esperando esse cara aparecer.
Chegamos em casa uma vez e ouvimos o que parecia um exercito de pessoas descendo as
escadas, então corremos para fora. Hailie ainda estava presa no bebê conforto. Eu sentei na
grama sem saber o que fazer. Esse cara sai pela porta lateral, e parecia ter uma chave de
fenda nas mãos então eu o persegui. Mas quando ele virou, vi que ele estava segurando nossa
faca de açougueiro, dai eu corri de volta para casa. A única coisa que consegui achar foi uma
frigideira, então eu peguei. Persegui ele pelo quarteirão, então ele pulou uma cerca e sumiu.
Foi ai que ao invés de ter uma fritadeira em baixo do travesseiro eu peguei uma pistola calibre
25. Nunca peguei o cara.
Uma vez Kim estava tão assustada que ela pegou o bebê e foi para a casa de sua mãe. Eu
estava em Atlanta com Bizzare, e Kim ligou disse que o cara estava roubando a casa pela
quarta vez e que eu precisava voltar imediatamente. Ela morria de medo de ficar sozinha lá, e
não posso culpa-la.
Chegou a um ponto em que eu desisti. Era tão difícil. Natal era a pior época. falo disso em
"Mockingbird": "Mommy wrapped the Christmas presents up and stuck them under the tree,/and
said some of the were from me/'Cause daddy couldn't buy them". Eu nunca me esqueço
daquele Natal. Eu passei a noite inteira chorando. Eu ouço essa música hoje e ainda derramo
uma lágrima. Ou duas. Ou três. Cada palavra naquela música é verdade.
Foi uma daquelas situações onde, eu tenho essa garotinha e sabe, ela é o mundo para mim.
Foi ai que vi que eu tinha de mergulhar fundo. Natal hoje é bem diferente para nós. Obrigado
Jesus. Allah. Buda. Deus. Sinceramente obrigado.
A vida de minhas garotas hoje é bem estável. Elas moram em uma casa (bem duas se contar
com a de Kim), vão a escola e elas tem o amor e o apoio dos dois pais. Kim e eu temos nossas
diferenças, claro, mas estamos bem agora.Não fico muito longe de casa como antes, mas
quando eu tenho que me afastar ela esta ali segurando as pontas - e ela faz um trabalho
incrível. É ótimo que fomos capazes de chegar a um acordo. Essa foi uma fonte de estresse
que eu estou feliz de deixar para trás.
Tenso ensinar as minhas meninas de serem responsáveis e respeitáveis. O mundo delas não é
tudo de graça. Elas tem obrigações a cumprir dentro de casa. E quando ficarem mais velhas
vão arrumar um emprego e aprender o valor do dinheiro. Mas a "rede de segurança" sempre
estará ali é claro - eu sempre irei apoiá-las - mas eu quero ajudá-las a saírem e serem
independentes também. A correrem atrás. Elas são boas meninas, não digo isso porque são
minhas. Crianças serão crianças, sim, as minhas se comportam mal e ficam de castigo de vez
em quando. Elas me mantêm focado. De verdade. Elas me fazem rir como ninguém. Eminem
um pai preocupado e participativo. Não é o que você esperava não é?
Eu as projeto, faço o melhor para protegê-las das coisas ruins que eu fiz ou disse. Whitney é
muito nova ainda para entender a minha tatuagem "Rot In Pieces" então eu nunca fico sem
camisa perto dela. Uma vez, as meninas estavam com um bando de amigos aqui, e no
noticiário das 10 passou algo sobre Eminem insultando um cara. Eu tento mudar o noticiário
para que eles não ouçam mas um deles ouve e pega a noticia. Eles se juntaram ao lado da TV
e eu tentando me justificar "O que o pai fez foi errado. Esse não é o pai"!
As vezes eu me preocupo com o que elas vão pensar das minhas letras quando crescerem.
Não posso protegê-las para sempre. As pessoas dizem que minhas musicas tem palavras de
ódio contra mulheres. A maioria inspirada na minha relação tempestuosa com Kim. Brigávamos
e terminávamos e depois eu escrevia uma musica tipo "foda-se as vadias, eu odeio vocês". E
eu explicava a Kim que era como eu me sentia naquele momento. Ela não brigava muito sobre
eu divulgar o som. as músicas basicamente descreviam a nossa relação, mas eu sempre
aumentava e misturava com a experiência de mais alguém. Kim entendia, mas eu não estava
pensando, droga, minhas filhas vão crescer e vão ouvir isso. Eu percebi rapidamente que as
crianças não são estúpidas. Quando esse dia chegar, direi a minhas filhas que quando o papai
ficava com raiva da mamãe, ele escrevia música, é assim que o pai desabafa.
Esse dia deve chegar logo. Droga, já esta batendo na minha porta. Hailie está na 7ª série
agora. Quando ela quer fazer algo, ela se esforça tanto que consegue fazer. É estranho pois
me faz lembrar de mim. Não quero fama para elas. Temos essa brincadeira em casa: eu digo a
Hailie "Bom, se você quer dançar pode dançar. Mas quando você chegar a certa idade você vai
parar, porque você não vai ser famosa".
Tento manter a privacidade delas o máximo que posso, e acredite é difícil. O nome de Hailie é
o mais visado, mas você conseguiria apontá-la em uma fila de pessoas? Não. ela é um
personagem em minhas musicas. Quando você é famoso, é como se qualquer coisinha que
você fizer vai a público. Eu tento fazer coisas normais com elas, mas pode virar um circo as
vezes. Agora então, com celulares com câmeras e coisas assim eu fico muito paranoico. Tire
quantas fotos quiser de mim, mas não de minhas filhas. Eu quero que elas sejam capazes de
fazer coisas normais.
SENHORAS E SENHORES, EDUCAR CRIANÇAS NÃO É FÁCIL. Não tente fazer isso em
casa sem a supervisão dos pais. Sério, é um desafio educá-las. Eu sou um pai solteiro que
educa com outra mãe solteira, Kim. Somos um bom time hoje e a troca de casas é feita sem
problemas. Se tornou normal para as crianças. Meu papel de pai é mais importante que o meu
papel em 8 Mile ou de rapper. Mas eu nunca me esqueço do microfone, e das rimas, e de falar
besteira. O pai de Hailie ainda é um rapper melhor do que o seu pai.
CAP 8
Eu costumava manter os rascunhos das minhas composições em uma mala. Eu achava que
seria mais fácil de carregar, mas ai ela foi crescendo, crescendo e crescendo. O mais louco de
tudo é que ficou muito pesada e só tinha papel lá. As pessoas perguntavam, "Que porra que
você tem aqui cara? Colocou pedras foi?" E eu dizia, "Não". Quando eles abriam saia aquele
tanto de papel. Tinha anos de peças de composição - talvez dois ou três anos - e isso é muito
para mim. Eu ainda tenho a mala. Eu deixei de lado e foi la que achei esses rascunhos.
Ler os meus rascunhos as vezes fica confuso para mim. Passo aperto pra entender o que é
aquilo, mas quando eu estou realmente trabalhando na música, eu sei exatamente onde está
tudo e o que aquilo significa. Quando eu volto a olhar, anos depois, eu me pergunto, Como eu
sai daqui para ali? Eu vou pular palavras para as pessoas não descobrirem o caminho que
estou seguindo, no caso de minhas composições pararem nas mãos erradas. Isso é para a
proteção de minha composição.
Quando se trata de escrever, as coisas vem até mim. Eu posso estar em qualquer lugar. Se eu
tiver uma ideia, rapidamente trato de escrevê-la, ali naquele momento, ou vou perdê-la.
Eventualmente todas elas acabam em uma música em algum lugar. Dre sempre diz: "Cara
olhem só para esse pequeno traço de galinha cara! Eu nunca vou entender o que está escrito
nem se eu quisesse".
ALL I KNOW PART 2
NA VIDA REAL, RAP É A ÚNICA COISA QUE SEI FAZER BEM. Eu tenho uma fascinação pelo
filme "Rain Man". O título daquela música veio ate mim na cabine - nem tinha sido escrita
ainda. Eu apenas disse: "Rain Man". O que eu queria dizer era que é isso que eu sei fazer; rap.
Eu posso entrar no meu carro e dirigir, mas eu não sei achar os lugares. Eu não sei para onde
é o norte, sul, leste e oeste. Meu senso de direção é horrível. A música fala "I don't know how
else to put it, this is the only thing that I'm good at". E é verdade. Eu sempre esqueço as minhas
chaves, a minha carteira. Quando eu ia a Nova York me apresentar eu entrava no metro e
descia uns 14 quarteirões do local, na direção errada.
Quando eu comecei a trabalhar no Encore, eu me sentia acabado. Algumas das minhas
músicas ja tinham vazado - Bully, Love You More, We as Americans. As músicas caíram na
internet e eu tive que recomeçar do zero. Escolhemos gravar em Orlando porque era verão e
era um bom lugar para as crianças - do Dre e as minhas. eu fui até la com nada, sem nenhuma
ideia. Eu tinha uma linha "You find me offensive/i find you offensive" na minha cabeça e não
tinha ideia da onde ir com isso.
Em Orlando, trabalhamos no estúdio do Lou Pearlman - o que era engraçado já que ele
costumava trabalhar com os Backstreet Boys e N Sync. Dre e eu acabamos escrevendo 16
músicas, mantivemos 11 delas. Sempre que o Dre fazia uma beat eu iria à outra sala e
escrevia com ela. Eu não sei o que tem lá em Orlando - deve ter algo na água. As vezes eu e
Dre passamos por um período de seca, onde ele vai a Detroit trabalhar comigo ou eu vou a LA
trabalhar com ele e a coisa não acontece. Mas em Orlando foi só começar e a coisa voou.
Gravar o Encore me lembrou a minha primeira sessão de estúdio com o Dre em 1998. É
verdade que Dre deve ter ouvido o meu freestyle no Sway e Tech no "Wake-up Show", mas ele
não pensava em produzir comigo até Jimmy Iovine fez ele ouvir a minha fita cassete do The
Slim Shady EP. Quando Dre e eu começamos a trabalhar fizemos "My Name Is" e mais duas
outras faixas no primeiro dia de estúdio. Eu não me lembro de ter dormido muito nas primeiras
semanas do The Slim Shady LP, tudo que eu fazia era escrever. Eu passei a noite inteira
escrevendo algumas partes de My Name is e no outro dia gravamos. Quando acabava Dre
sentava na cadeira e levantava as mãos para cima.. Ele começava a bater palmas e eu
pensava "puta merda! É o Dre que esta reagindo assim a minha música". A primeira vez que
Dre me deixou produzir foi em "The way I am". Eu estava muito feliz. "The way I Am" foi minha
revolta contra a Interscope que me mandava escrever mais uma música pop. originalmente eu
pensei que Who Knew seria o primeiro single do The Marshall Mathers LP. Dre e eu achamos
que o álbum estava pronto. Mas ai a gravadora mandou voltar e escrever de novo. No avião eu
tinha esse som de piano na cabeça e eu queria rimar com ele. Foi assim que acabei rimando
naquele estilo. Tentei uma batida comum e não deu certo, Não fazia sentido. E ai o Dre me
explicou que muito do que eu estava fazendo era a produção da música. Eu ia ao Bass
Brothers e grava as coisas com eles, mas eu não podia toca-la.
Trabalhar com o Dre me ajudou a entender a adrenalina no estúdio. O quanto poderoso
aqueles gadgets e bugingangas podem ser. Quando você sabe o que você quer , as
ferramentas ali são apenas uma extensão do seu cérebro. No estúdio com o Dre eu era uma
esponja absorvendo os truques e as manhas. Eu queria toda a informação que podia tirar dele,
"Dre, posso ter aquela batida velha que você não usa mais?"
Quando você esta no estúdio com o Dre você tem esse senso de história - da história que ele
fez - e te inspira a querer fazer história. Tem tanto que se ponde aprender com aquele homem.
Eu ainda tenho o mesmo sentimento que tinha no inicio quando trabalho com ele. Ele sabe
como maximizar minhas ideias. Ele vê criatividade em mim mesmo quando eu não estou
tentando ser criativo, e ele sabe como me inspirar a ir ao microfone.
Dre me mostrou como fazer coisas com minha voz que não tinha ideia que podia fazer. Ele me
fez gritar no estúdio. Eu me lembro de quando fiz o refrão de Role Model gritando "Don't you
wanna to grow up to be just like me?". Minha garganta ardia. Dre falava "De novo. Faça de
novo" nós atrasamos algumas faixa por conta desse refrão. Se você ouve a "Kim" onde eu
estou gritando, você vê a influencia de "Role Model"
Eu sempre quis fazer as minhas próprias beats. Eu tinha um objetivo de ficar bom o suficiente
para quando a hora chegar de eu não quiser mais fazer rap eu iria me dedicar somente à
produção. Todos sabem que não se pode fazer rap para sempre. Uma vez que eu tiver a
aprovação do Dre, caio dentro. As vezes eu prefiro trabalhar no estúdio como produtor. É
inspirador trabalhar com novos artistas e ver o processo deles. Uma vez que eu já estive no
lugar deles, eu posso ajuda-los quando eles tropeçam. Eu posso olhar em seus olhos, ver onde
eles estão errando, e entendo completamente o que é preciso para fazê-los voltar ao rumo,
seja ajudando a preencher um vazio na composição ou procurando elementos para som junto
às palavas para que elas não sejam supridas por aqueles. Isto é hip-hop: a musica está ali para
ajudar a enfatizar a rima.
Quando estou trabalhado como produtor, com o 50 Cent ou Obie Trice ou Cashis, eu trabalho
de forma diferente com cada um deles. A rotina básica é começar a fazer a beat. Mas há essa
luta como artista, porque havia alguns sons que eu produzi que eu realmente adoraria manter
para mim. Toda vez que entrego algo a um artista tem que ser algo que eu rimaria em cima. Eu
não iria fazer nada para eles que não faria por mim.
A primeira vez que lancei algo ao 50 Cent foi em um club em LA. Eu conversei o tempo todo.
Há uma certa mística e medo sobre o 50. Ele me disse que as vezes quando ele vai em
reuniões com a corporação ele tem que ficar sorrindo para não fazer as pessoas
desconfortáveis. 50 é um político incrível, e quando ele fala, ele é brilhante. Ele é um dos meu
letristas favoritos também. Uma das minhas linhas favoritas dele é em "Hate it or Love it" que
fala "Woke up the next morning , niggas done stole my bike". Isso te leva para dentro da
história. A sua composição faz visualizar o tipo de vida que ele teve.
50 é um perfectionista Somos parecidos nesse sentido. Cada palavra tem que ser perfeita ou
começa a viajem. Mas pelo menos você consegue concertar no estúdio. se você erra em um
show, você esta de frente para uma platéia, e você tem que começar a brincar com isso. Até
hoje, se eu faço um show eu erro uma palavra ou outra em uma linha eu paro e brinco com
isso o resto da noite e no dia seguinte, até que eu faça um show novamente. Sendo um
perfeccionista, não suporto a ideia de errar as palavras.
A minha primeira chance como produtor foi na minha gravadora com o D12. As pessoas
receberam o D12 como um grupo de rap/pop, mas foi porque eu levei eles à essa direção com
singles como "My Band". Se você ouve as letras das primeiras faixas do "D12 World" você verá
que eles não são nenhum pouco pop. Proof costumava rimar as fitas e dizia: "Não pense que
porque fazemos música popular você não será atingido".
Quando eu conheci o Swifty, ele estava no meio de uma briga, bombardeando um carinha. Nós
fizemos uma faixa mais voltada ao pop aqui e ali - se fizéssemos somente álbuns gangster com
um cara branco na frente, não teria dado muito certo. Então eles t'iveram que se adaptar ao
meu estilo. O que aconteceu é que, eu vendi álbuns, e eles queriam vender álbuns. Mas você
ficaria surpreso. Esses caras ainda mantêm o nome deles nas ruas.
As vezes eu me pergunto se já atingi o meu auge liricamente, se serei capaz de ultrapassar
aquilo que já fiz. Consigo ainda melhorar? Mas acontece que, quanto melhor eu fico na
produção, mais eu me desafio. Se eu faço uma beat diferente eu fico intrigado em ver se
consigo fazer algo diferente liricamente.
Sabe que Jay-Z não escreve nada, ele apenas entra na cabine e volta as rimas? timbaland me
contou como é trabalhar com ele. jay entrava na cabine e dizia: "ok, me deixa pensar um
minuto. Ok, pode soltar". Ele fala umas linhas e para. "Ok, me dê mais um minuto. Ok, pode
soltar". Eu não acreditava que isso era possível. Eu achava difícil de acreditar que Jay era
capaz de fazer rimas daquele calibre, que havia alguma forma de ele fazer isso assim do nada.
E ai eu vi nosso artista Cashis fazer o mesmo. É um método bem complicado de fazer as
coisas. Me pergunto como ele consegue fazer isso tão rápido.
As vezes eu entro naquela zona de escrever muito rápido. Gravei muitas músicas ultimamente
onde eu tinha umas linhas na minha cabeça e dai começava a fazer um freestyle. Mas o meu
melhor material é quando eu sento e demoro a compor. Não me pergunte nada. A maioria das
minhas músicas começam com pensamentos aleatórios. Eu tenho uma linha na minha cabeça
e então BOOM! Essa linha cria asas e vira uma música.
Raramente eu consigo sentar com a intenção de escrever uma música e realmente fazê-la.
Mas quando eu tenho uma idea, eu tenho que escrever o primeiro pedaço de papel que eu vejo
ou vou perdê-la. As Vezes eu olho para os meu antigos rascunhos e eu não tenho nem ideia da
onde tirei aquilo. Eu posso escrever uma ideia agora e ela acaba se tornando uma música
daqui há alguns anos. Eu procuro administrar esses esquemas, e eu costumo copiar uns que
eu realmente gosto para outro local. Depois levo o papel para a cabine e faço toda a página.
Alguns rappers, que eu respeito muito, me disseram que eu fui a primeira pessoa que juntou
palavras que não deveriam rimar. Eu mudo a forma de pronuncia-las. Exemplo: "Look at the
store clerk, he is older than George Burns". "Store clerk" e "George Burns" não rimam
tecnicamente. Ou "I laugh at the sight of death as I fall down a flight of steps and land inside a
bed of spiders webs". Essas palavras não rimam, mas se você pronuncia-las da forma correta,
elas rimam. Alguns caras no jogo perceberam isso. Tipo "working ball" e "jerking off" é apenas
"ur" e "aw" entende?
Algumas ideias não vão a lugar nenhum. Eu estava olhando em um rascunho eu e dizia
"criminal individual push". Eu não faço ideia do que seja isso. Provavelmente eu estava
tentando bolar uma rima e o pensamento fugiu na metade. Mas eu sou bastante privado sobre
o que eu vou rimar. Eu não rimaria "throat culture" e "black vulture" porque "throat" e "black"
não rimam. Você consegue rimar "Coat vulture"e "throat culture". Ou "an occult vulture"? "Cult
vulture" "throat culture". Estou apenas brincando sabe.
Minha escrita sofreu depois da morte de Ronnie, eu tinha 19 anos. Fiquei parado por um ano. E
ai quando eu comecei a escrever novamente, a próxima coisa que me deixou em crise
novamente foi Treach de Naughty b Nature. Ele era tão insano que eu considerei largar o
microfone. Ele me apagou com suas habilidades. Treach é um dos mais respeitáveis rappers.
Eu tinha essa vontade de querer ser o melhor na época. E se eu ão pudesse ser O melhor, por
qual objetivo eu rimaria?
Quando eu parei de me preocupar, voltei a trabalhar nisso, a primeira música que escrevi foi
sobre Ronnie. Era chamada de "Troublemaker". Eu rimei como ele. Eu senti que ele foi tratado
como um delinquente por toda a sua vida, então ele não podia fazer outra coisa se não viver
sob a expectativa que as pessoas tinham sobre ele.
Para mim, a musica não é mais o que costumava ser, especialmente depois que 50 cent
apareceu. Agora, com os álbuns vazando online e o declínio das vendas, você começa a se
preocupar, "O que é que estamos fazendo?". Nas disse que o hip-hop está morto. Eu não acho
que está morto. Apenas estagnado. Liricamente, esta definidamente estagnado. Com tanta
coisa que sai hoje em dia, a letra se simplificou.
Música e um trabalho como qualquer outro. As pessoas acham que se você faz música,
automaticamente você esta rico, não é verdade.
A indústria mudou, e eu não tenho ideia para onde está indo. As pessoas sempre vão querer
música - não, elas sempre vão precisar da música. O que significa que sempre haverá espaço
para mim nesse jogo. Seja como rapper ou produtor ou fazendo trilha sonora para filmes.
Independente de ser o rapper favorito de alguem ou não, independente de ter sido
considerando um dos melhores, um dos mais assediados, o que quer que seja, eu sou um dos
rappers que mais fala de coisas pessoais. É por isso que as pessoas se identificam comigo,
porque as pessoas acham que eu me exponho muito. Por isso que pessoas desconhecidas,
como motoristas de taxi, me chamam de "Marshall". e o motivo que me expus tanto assim era
que eu achava que nunca seria famoso. Eu não tinha ideia, a mínima ideia. Se eu tivesse que
fazer tudo de novo, não sei se faria. Apesar disso, fico feliz que minha música reuniu tanta
gente.
Rap me forçou com conviver com as pessoas de modo sociável. Também me forçou a levantar
e gritar verdades nas pessoas. É um sentimento bom. Hip-hop era uma comunidade onde eu
pertencia e não importa que eu seja um cara branco. Hio-hop me fez sentir parte de um time.
Eu sentia que eu não só estava representando pessoas que me apoiavam, mas também
conectando outras. E para mim é disso que se trata o hip-hop. E o que sempre foi.
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