enterite necrótica em frangos de corte
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enterite necrótica em frangos de corte
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE MINAS GERAIS Instituto de Ciências Biológicas e da Saúde Departamento de Medicina Veterinária Curso de Medicina Veterinária em Betim Felipe Fonseca Pavão Filipe Inácio Galvão Luciano Veneroso Haddad ENTERITE NECRÓTICA EM FRANGOS DE CORTE E MATRIZES PESADAS (REVISÃO BIBLIOGRÁFICA) Betim, 2013. Felipe Fonseca Pavão Filipe Inácio Galvão Luciano Veneroso Haddad ENTERITE NECRÓTICA EM FRANGOS DE CORTE E MATRIZES PESADAS (REVISÃO BIBLIOGRÁFICA) Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, obtenção como do requisito título de parcial para Bacharel Medicina Veterinária. Orientadora: Josiane Tavares de Abreu Betim, 2013. em Felipe Fonseca Pavão Filipe Inácio Galvão Luciano Veneroso Haddad ENTERITE NECRÓTICA EM FRANGOS DE CORTE E MATRIZES PESADAS (REVISÃO BIBLIOGRÁFICA) Monografia apresentada ao Curso de Medicina Veterinária em Betim da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, obtenção como do requisito título de parcial Bacharel em Medicina Veterinária. ____________________________________________ Josiane Tavares de Abreu (Orientadora) – PUC Minas ____________________________________________ Francilane Rodrigues Gomes – Rivelli ____________________________________________ André Luiz Costa Machado – Granja Brasília Betim, 05 de junho de 2013. para AGRADECIMENTOS Primeiramente gostaríamos de agradecer a Deus, pois graças a Ele estamos aqui hoje. Agradecemos aos nossos pais e aos nossos amigos que de uma maneira ou outra contribuíram para a conclusão deste trabalho. Ao apoio e imensa colaboração para a construção deste trabalho do Leandro Diniz. A Professora Josiane Tavares de Abreu, pela orientação, aprendizado, paciência e apoio em todos os momentos necessários. Ao André e a Francilane, pela gentileza e tempo dedicado a nossa apresentação. A empresa Pif Paf por nos ter recebido de portas abertas. A todos que contribuíram para a realização deste trabalho, fica expresso aqui a nossa gratidão. “O ser humano sem Deus não pode compreender a si mesmo; como, também, não poderá realizar-se sem Deus”. (João Paulo II) RESUMO Nos últimos anos, a avicultura brasileira tem se destacado no mercado nacional e se torna cada vez mais presente no mercado internacional. O Brasil e hoje o terceiro maior produtor mundial de carne de frango e o primeiro exportador, sendo essa a carne mais consumida em todo território nacional, sendo o consumo per capita de 47,5 kg/hab./ano. A manutenção da saúde intestinal das aves ainda é desafio e a definição de parâmetros para a sua monitoria constante, sendo considerada enteropatia importante a enterite necrótica, causada pelo Clostridium perfringens. O Clostridium perfringens é capaz de produzir inúmeras toxinas que variam em função do grau de toxicidade e letalidade. As principais toxinas produzidas por essas bactérias são a alfa, beta, épsilon e iota. A enterite necrótica possui maior prevalência na criação intensiva de frangos de corte devido à alta densidade de criação e demais fatores predisponentes sendo a idade mais acometida entre 2 a 4 semanas, com taxa de mortalidade diária que pode ser superior a 1% da produção e curso clínico que pode perdurar por duas semana. A enfermidade é caracterizada por lesões ulcerativas e necrosantes na mucosa do intestino delgado e eventualmente cecos até cloaca, com debilidade do animal aparecendo de forma súbita e geralmente associada à imunossupressão, o que provoca morte rápida com elevada prevalência. Em casos de campo, o C. perfrigens pode ser isolado a partir do conteúdo intestinal, sendo recomendada a associacao dos achados laboratoriais aos clínicos- epidemiológicos, além de lesões microscópicas. O controle e tratamento dependem de um diagnóstico preciso, incluindo a resistência a antimicrobianos e a definição de quais fatores predisponentes e /ou agravantes estão presentes naquela situação específica. Palavras-chave: Clostridiose; Clostridium perfringens; doenças entéricas; frangos de corte; trato gastrointestinal. ABSTRACT In recent years, the Brazilian poultry industry has excelled in the national market and becomes increasingly present in the international market. Nowadays, Brazil is the third biggest chicken meat producer and the number one exporter, considering that chicken is the most consumed meat in the national territory, being the per capita consume of 47,5 kg/hab/year. The maintenance of the chicken’s intestinal health is still a challenge and the bases definition for its constant controlling, being considered enteropathies, important to the necrotic enteritis, caused by the Clostridium perfringens. Clostridium perfringens is able to produce several toxins which vary depending on the degree of toxicity and lethality. The major toxins produced by these bacterias are: alpha, beta, epsilon and iota. The necrotic enteritis has higher prevalence in intensive chicken raising due to a concentrated population and more genetics factors, being the most common to happen at the aged 2-4 weeks with daily mortality rate that can exceed 1% of the population and clinical course that may last for two weeks. The disease is characterized by ulcerative lesions and necrotizing at the mucosa, and eventually cecum until the cloaca, and the debility of the animal appearing suddenly and usually associated with immunosuppression, which causes rapid death with high prevalence. In field cases, the C. perfrigens can be isolated from the intestinal contents, being recommended the association to the laboratory signs to the clinical epidemiological, besides the microscopic damages. The treatment and control depend of a precise diagnostics, including the resistance to antimicrobials and the definition of the pre disposal factors and/or the aggravating factor that are present on that specific situation. Keywords: Clostridial disease; Clostridium perfringens; entericdiseases; broiler gastrointestinal tract. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 – Foto dos órgãos do trato gastrointestinal de aves....................... 15 FIGURA 2 – Esquema representativo da microbiota do trato gastro- intestinal de frangos de corte saudáveis próximo ao abate (em torno de 40-45 dias de idade)................................................................................................................ 23 FIGURA 3 – Foto por microscopia óptica (1000x de aumento) da bactéria Clostridium perfringens por meio de coloração por Gram em lâminas de impressão de mucosa intestinal de perus inoculado pela bactéria com 18 dias de idade............................................................................................................ 32 FIGURA 4 – Foto apresentando lesões da mucosa intestinal (jejuno/íleo) de frangos de corte com 27 dias de idade Causadas por Clostridium perfringens........................................................................................................ 36 FIGURA 5 – Foto de intestino delgado de frangos de corte com 27 dias de idade com parede delgada e aspecto distendido devido a proliferação de Clostridium perfringens..................................................................................... 37 FIGURA 6 – Foto de fígado de frangos de corte com 27 dias de idade com alterações macroscópicas como a presença de fibrina sobre o mesma além de coloração mais escura e presença de áreas esbranquiçadas decorrentes da infecção por Clostridium perfringens................................................................ 37 FIGURA 7 – Lesões necróticas após a inoculação das alças intestinais com a cepa 61 durante 10 h, tipicamente disponíveis como necrose das pontas das vilosidades e tecido com uma abundância de células mortas e material de fibrina como no lúmen no qual grandes aglomerados de bactérias estão presentes. (A) C. perfringens, como as bactérias, (B), vilosidades (C) linha de demarcação, e (D) de detritos celulares e de material semelhante à fibrina................................................................................................................ 39 LISTA DE QUADROS QUADRO 1 – Segmentos do trato gastroIntestinal das galinhas e suas principais funções fisiológicas........................................................................... 16 QUADRO 2 – Composição da microbiota intestinal no conteúdo de diferentes partes do TGI de frangos, determinando a quantidade do microrganismo presente............................................................................................................ 22 QUADRO 3 – Diversidade e prevalência de espécies bacterianas de isolados obtidos de intestino delgado e cecos de frangos com idade variando de 3 a 49 dias................................................................................................................... 22 QUADRO 4 – Composição microbiana do trato gastrointestinal de frangos de corte saudáveis de acordo com o tempo de vida (em dias)............................. 24 QUADRO 5 – Principais toxinas produzidas por Clostridium perfringens e doenças associadas a cada tipo toxigênico em animais domésticos............... 33 QUADRO 6 – Resumo da concentração inibitória mínima (MIC) de vários agentes para C. perfringens isolados de frangos e perus e doses de promotores de crescimento usados na alimentação de aves........................... 42 QUADRO 7 – Distribuição da concentração inibitória mínima (MIC) para Clostridium perfringens e sua classificação isolados de 55 amostras intestinais de frangos de corte abatidos em um abatedouro em Patos de Minas, Minas Gerais, Brasil.................................................................................................... 43 QUADRO 8 – Desempenho zootécnico de frangos de corte Hybro com 21 dias de idade alimentados com diferentes aditivos na fase inicial de crescimento....................................................................................................... 44 QUADRO 9 – Aditivos antimicrobianos com uso autorizado na alimentação de frangos de corte................................................................................................ 47 Quadro 10 – Subprograma de monitoramento de controle de resíduos e contaminantes em carnes em aves – PNCRB/2013......................................... 48 LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS α – Alfa β – Beta AGP – (Antibiotics Growth Promoters) Antibióticos Promotores de Crescimento CA – Conversão Alimentar CV – Coeficiente de Variação EMEA – (European Medicines Agency) Agência de Medicina Européia ENA – Enterite Necrótica Aviária GALT – (Gut Associated Lymphoid Tissue)Tecido Linfóide Associado ao Intestino m² – metro quadrado MALT – (Mucosa Associated Lymphoid Tissue) Tecido Linfóide Associado à Mucosa MAPA – Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento MIC – (Minimum Inhibitory Concentration) Concentração Inibitória Mínima SPF– (Specific Pathogen Free) Livre de Patógenos Específicos µm– Micrômetro DGGE – (Denaturing Gradient Gel Electrophoresis) Eletroforese em Gel com Gradiente Desnaturante pH – Potencial Hidrogeniônico SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA.............................................................. 12 1. 1. Objetivos................................................................................................. 14 1.1.1. Objetivo Geral....................................................................................... 14 1.1.2 Objetivos Específicos........................................................................... 14 2. REFERENCIAL TEÓRICO......................................................................... 15 2.1. Morfologia do trato gastrointestinal de aves: aspectos anatômicos e fisiológicos................................................................................................... 15 2.2. A microbiota intestinal das aves e seu equilíbrio................................. 20 2.3. Imunidade de mucosas........................................................................... 25 2.4 Fatores predisponentes a clostridiose................................................... 27 2.4.1. Fatores Imunes..................................................................................... 27 2.4.2. Fatores nutricionais............................................................................. 28 2.4.3 Fatores ambientais................................................................................ 29 2.4.4. Coccidiose............................................................................................ 29 2.5. Enterite Necrótica.................................................................................... 31 2.5.1. O Agente etiológico.............................................................................. 31 2.5.2. Epidemiologia....................................................................................... 34 2.5.3. Patogenia.............................................................................................. 35 2.5.4 A doença em frangos de corte............................................................. 36 2.5.5. Diagnóstico........................................................................................... 38 2.5.6. Tratamento e Controle......................................................................... 39 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS......................................................................... 49 4. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS............................................................ 50 12 1. INTRODUÇÃO E JUSTIFICATIVA Nos últimos anos, a avicultura brasileira tem se destacado no mercado nacional e tornando-se cada vez mais presente também no internacional. Entre todos os produtos exportados, o frango ocupa lugar de destaque, estando entre os 10 primeiros na pauta de exportação (MAPA, 2013 b). A avicultura brasileira exerce grande papel na agropecuária nacional, que alavanca o mercado desde a produção de grãos até as exportações mundiais de carne. O país é hoje o terceiro maior produtor mundial de carne de frango e o primeiro exportador, sendo essa a carne mais consumida em todo território nacional sendo o consumo per capita de 47,5 kg/hab./ano. Segundo o Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento (MAPA), a taxa de crescimento da produção em carne de frango deve alcançar 4,22% anualmente nas exportações e com expansão prevista no mercado interno em 5,62% ao ano, o que manterá o Brasil como principal exportador nos próximos anos (MAPA, 2013 b). Os principais fatores para esse sucesso são baixo custo de produção e a busca contínua no atendimento as exigências de diferentes mercados, incluindo a sanidade dos lotes e dos produtos oriundos dos mesmos. Para disso a avicultura tem investido em tecnologias para aperfeiçoamento do manejo, melhorando, genética, ambiência, melhorias na nutrição, abate, diversidade de produtos e também nos programas de controle sanitário. Porém, a manutenção da saúde intestinal das aves ainda é um desafio e a definição dos parâmetros para a sua monitoria uma constante (MENDES; NAAS; MARCARI, 2004). A saúde gastrointestinal em aves se refere à existência de equilíbrio dinâmico entre a mucosa intestinal e o conteúdo luminal suficiente para atingir as metas esperadas de desempenho zootécnico (ganho de peso e conversão alimentar), e que dependem da manutenção da integridade do trato gastrintestinal (TGI), ou seja, da preservação de suas características estruturais, anatômicas e funcionais dentro do limite conhecido como normal para o tipo de criação e para determinada fase do seu ciclo de vida (SILVA, 2010). 13 Dentre as enteropatias que podem comprometer essa integridade intestinal destaca-se a enterite necrótica, causada pelo Clostridium perfringens tipo A e/ou C (SANTOS; MOREIRA; DIAS, 2008). Esta enfermidade é considerada de suma importância no cenário da avicultura nacional e mundial sendo responsável por perdas econômicas consideráveis na produção. Acomete principalmente frangos de corte (PARISH, 1961), mas também perus (GAZDZINSKI e JULIAN, 1992), gansos, (WOBESER e RAINNIE,1987) e avestruzes (KWON; LEE; MO, 2004). Sluis (2000) estimou que nos Estados Unidos o custo decorrente da enterite necrótica, por ave, chegou a US$ 0,05, o que pode representar prejuízo de até 33% na produção. Este prejuízo foi estimado por gastos com medicamentos, com ração por aumento da conversão alimentar, à redução do peso vivo e por aumento no número de carcaças condenadas durante o abate devido a colangio-hepatite, além do aumento na mortalidade. Fatores e/ou enfermidades imunossupressoras também aumentam a susceptibilidade das aves. Nestas situações o C. perfringens libera grande quantidade de toxinas que lesam a mucosa intestinal e o fígado, causando grandes prejuízos ao sistema de produção. A doença é de evolução rápida e muitas vezes apresenta-se de modo agudo, ocasionando aumento de mortalidade do lote, sem apresentar sinais específicos, podendo ser clínica ou subclínica (SILVA et al., 2008). A clostridiose pode ser controlada ou prevenida pela redução da exposição ao risco de fatores como a coccidiose e a dietas desbalanceadas e/ou com maior inclusão de alguns tipos de ingredientes. Alterações na composição do alimento, tais como, a remoção a partir da dieta de alimentos de difícil digestão que prolongam a fermentação intestinal e o uso de antibióticos promotores de crescimento na ração para frangos tem sido medidas comuns (COOPER e SONGER, 2009; SCHURING e GILS, 2001).No entanto, medidas de higienerelacionadas ao alojamentodosalimentos dos frangos devem ajudar amanter a infecção a níveisbaixos,já que medidas de controle limpeza e higiene de instalações mostraramforte similaridade comaquelas tomadas nocontexto do controle de Salmonella (SCHURING e GILS, 2001). 14 Portanto, devido à grande importância da clostridiose na produção de frangos de corte e a exigência cada vez maior de mercados externos em relação a resíduos de antibióticos na alimentação destes animais, justificam-se mais estudos e pesquisas para a prevenção e tratamento destas doenças intestinais, sendo o objetivo deste estudo revisar sobre os mesmos. 1. 1. OBJETIVOS 1.1.1. Objetivo Geral Revisão bibliográfica dos últimos 20 anos no Brasil e no mundo sobre as clostridioses e seus efeitos na produção de frangos de corte. 1.1.2. Objetivos Específicos Pesquisar em artigos científicos, livros e periódicos; as principais fontes de infecção do C. perfringens; como se dá a resposta imunológica; as diferentes formas de apresentação clínica e anatomopatológicas da doença; como é feito o diagnóstico, controle e tratamento, quais são as interações com outras doenças e os impactos causados no campo e abatedouro. 2. REFERENCIAL TEÓRICO 15 2.1. Morfologia do trato gastrointestinal de aves: aspectos anatômicos e fisiológicos O TGI das aves é constituído por bico, boca, faringe, esôfago, papo, próventrIculo, moela, intestino delgado, intestino grosso, cloaca e as glândulas anexas ao TGI, que são o fígado e o pâncreas (FIGURA 1). Estes órgãos são responsáveis pela apreensão, deglutição, digestão e absorção dos alimentos, e eliminação do conteúdo fecal (LANA, 2010). No Quadro 1 estão presentes as principais funções desempenhadas de cada segmento do TGI. Figura 1 – Foto dos órgãos do trato gastroIntestinal de aves Jejuno Ileo Cecos Fonte: KENTUCKY POULTRY FEDERATION, 2009. Quadro 1 – Segmentos do trato gastroIntestinal das galinhas e suas principais funções fisiológicas 16 Segmento Função Bico Esôfago apreensão e seleção de alimentos e hierarquia. condução do alimento até o pró-ventrículo Papo Pró-Ventrículo Moela Intestino Delgado Ceco Cólon/Reto Cloaca armazenamento, lubrificação e digestão do alimento digestão química do alimento por secreção de pepsina e ácido clorídrico trituração e mistura do alimento às secreções digestivas absorção de nutrientes armazenamento de material fecal absorção de água e eletrólitos eliminação de fezes e urina Fonte: Adaptado de LANA, 2010; GOMES et al. 2001. A cavidade bucal é formada pelo bico, palato, língua, coana e infundíbulo. Com a ausência de dentição, o bico fica responsável pela apreensão do alimento e a moela pela trituração do mesmo (LANA, 2010).Para que ocorra a deglutição do alimento, é preciso que a ave movimente a cabeça para frente. Isso faz com que o alimento de desloque no sentido caudal, seguindo para o papo por movimentos peristálticos. As aves não são capazes de succionar a água, e para promover a sua ingestão é necessário que a ave olhe para cima para que a água seja deglutida por gravidade (SWENSON e REECE, 1996).As aves possuem glândulas salivares, sendo elas: glândulas maxilares, submandibular e lingual. Estas glândulas secretam muco com o objetivo de lubrificar a cavidade oral e umedecer o alimento. É difícil ocorrer digestão química na cavidade oral. Jerrett E Goodge (1973) examinaram histologicamente glândulas de pardal, frangos e perus para avaliar a atividade amilolítica por ensaio bioquímico. Estes autores constataram que as glândulas de pardal demonstraram atividade aminolítica, enquanto que os de frangos e perus não apresentaram atividade significativa. As aves possuem um esôfago longo e que apresenta uma dilatação capaz de armazenar, lubrificar e digerir o alimento conhecido como papo ou inglúvio (LANA, 2010). O papo também possui células secretoras de muco, porém, Matur e Çötelioğlu (2002) investigando a atividade da α-amilase em tecido do papo e o seu conteúdo em frangos de corte da linhagem ISA-5, comprovaram que a atividade amilolítica no papo é muito importante para a digestão do amido, porém a atividade enzimática observada era originária de 17 outra fonte externa ao papo. Estes autores avaliaram a atividade da α-amilase oriundas do pâncreas e do plasma. Esta amilase pode ter sido originada da saliva deglutida com o alimento ou de bactérias presentes no papo, porém a digestão enzimática é mínima. Segundo Swenson e Reece (1996), as células da mucosa do papo podem absorver moléculas de baixo peso molecular como álcool e ácido lático. Do esôfago o alimento é conduzido até o pró-ventrículo, onde ocorrerá a digestão química do alimento.Este órgão é composto por 2 tipos de glândulas: glândulas mucosas simples e glândulas submucosas compostas. A primeira é responsável pela produção de muco e a segunda pela secreção, além do muco, de ácido clorídrico e pepsinogênio. Segundo Swenson e Reece (1996),o pH do conteúdo do pró-ventrículo varia de 0,5 a 2,5 e as aves secretam cerca de 8,8 mL/kg./hora do peso corporal. Crévieu-Gabrielet al. (1999) compararam o grau de proteólise das pepsinas de frangos e de suíno com o objetivo de descobrir se a pepsina suína poderia ser usada para simular hidrólise gástrica em frangos. O perfil de atividade do pH para pepsinas suína e de frangos foram avaliados para 3 substratos (hemoglobina, ervilha e trigo) por hidrólise in vitro.Para hemoglobina, o pH ideal para ação da pepsina em frangos foi entre 2,5 a 3. Para ervilha e trigo, o pH ideal foi de 1,5. Estes dados demonstram que a pepsina desempenha sua ação fisiológica em pH mais alto em frangos quando comparada com a pepsina suína, o que não justificaria a substituição entre elas. Para estes autores o pH do pró-ventrículo de frangos varia de 1,5 a 3,5, divergindo com o citado por Swenson e Reece (1996). Do pró-ventrículo o alimento passa para a moela, que conforme supramencionado tem função de triturar e misturar o alimento às secreções digestivas. Este órgão é composto por dois pares musculares denominados de músculos intermediários e laterais. Internamente, este órgão possui uma mucosa resistente e abrasiva capaz de se proteger de efeitos decorrentes de enzimas do pró-ventrículo e da pressão exercida no órgão por materiais duros (SISSON, 2000). Gabella (1985) estudou a organização muscular deste órgão por microscopia óptica e eletrônica e evidenciou a disposição circular e concêntrica da musculatura. Segundo estes autores os miócitos se assemelham aos miócitos intestinais e os tendões são muito compactados assemelhando-se a tendões de músculos esqueléticos. E continuam 18 descrevendo que as células musculares se aproximam do tendão desenvolvendo invaginações longitudinais da membrana celular. Não há produção de enzimas digestivas neste órgão, portanto, não ocorre digestão química. Segundo Swenson e Reece (1996), partículas como pedriscos e areias são ingeridas frequentemente com os alimentos das aves e auxiliam na trituração do alimento, porque sem as mesmas, o alimento ficará retido por mais tempo na moela. Estes autores citam que a moela contrai com a frequência de 1 contração a cada 3 minutos e durante 30 segundos. Da moela o alimento passa para o intestino delgado, que é constituído de duodeno, jejuno e íleo, cuja principal função é a absorção de nutrientes. O duodeno apresenta formato de “U” que envolve o pâncreas. Apresenta uma série de vilosidades que no epitélio intestinal permite o aumento da superfície de absorção. Segundo Swenson e Reece (1996), no duodeno também são encontrados as inserções dos ductos pancreáticos e biliares. O epitélio intestinal serve como barreira dinâmica que regula a absorção de nutrientes e água, excluindo potenciais agentes patogênicos, porém o mesmo sistema também funciona como principal via de entrada de microrganismos. Não existe distinção histológica entre jejuno e íleo, sendo o divertículo de Meckel usado para divisão entre esses dois órgãos. A digestão química de proteínas e carboidratos ocorre na mucosa duodenal pela ação de enzimas pancreáticas como tripsina, quimiotripsina, elastase, carboxipeptidase, entre outras. As aves são capazes de absorver apenas monômeros de carboidratos, pois conforme constatado por Marsmanet al. (1997), através de experimento com processamento térmico de farelo de soja (tostagem ou extrusão) para avaliação da digestibilidade de nutrientes, que as enzimas digestivas secretadas pelas aves possuem ação limitada no auxílio da digestão durante o tempo de trânsito de alimento no TGI. Este autor demonstrou que o farelo extrusado melhorou a conversão alimentar e a digestibilidade ileal de monossacarídeos. Kadhim et al. (2011) avaliaram as atividades enzimáticas do pâncreas de digestão alimentar em duas raças diferentes de aves (Red Jungle Fowl e Frango de corte Comercial) com diferentes índices de crescimento. Estes autores não encontraram diferença significativa entre as raças para a atividade enzimática de amilase, porém para quimiotripsina há um ligeiro aumento da atividade com o passar da idade da ave, sendo que o Frango de Corte Comercial apresentou 19 maior atividade enzimática por vota dos 10 dias de idade em todos os segmentos do intestino delgado. Na junção entre o intestino delgado e intestino grosso são encontrados os cecos, cuja função é o armazenamento de material fecal. Segundo Swenson e Reece (1996), os cecos possuem a capacidade de transportar monossacarídeos e aminoácidos contra o gradiente de concentração, além de ocorrer a digestão microbiana da celulose. Estes autores citam que a microbiota cecal é capaz de sintetizar vitamina do complexo B, porém não são absorvidas pelas aves. Majeed et al. (2009) estudaram a morfologia e histologia do ceco de frangos de corte com 6 meses de idade, dividindo o ceco em 3 regiões distintas (proximal, médio e distal), sendo que o comprimento mediano do ceco em torno de 13,14 cm. O ceco direito apresenta comprimento maior quando comparado com o ceco esquerdo (9% maior na região distal). Histologicamente foram observadas quatro camadas da parede cecal (mucosa, submucosa, muscular e serosa) sendo que a mucosa apresentava muitas vilosidades e dobras, especialmente para parte proximal. O intestino grosso é responsável por receber resíduos do intestino delgado e realizar a absorção de água e eletrólitos. Este órgão é relativamente curto, não é possível delimitar colón e reto, e se estende até a cloaca que é um órgão comum ao sistema urinário, reprodutor e digestivo, cuja função é eliminar fezes e urina (LANA, 2010). O fígado e o pâncreas são glândulas anexas ao TGI e suas secreções são liberadas no duodeno, as aves possuem vesícula biliar. O fígado apresenta coloração marrom esverdeada e é dividido em lóbulos interligados por veiase artérias e é localizado ao redor do coração. O pâncreas se localiza na alça duodenal e é constituído por três lóbulos (SISSON, 2000). 2.2. A microbiota intestinal das aves e seu equilíbrio PIRES (2008) descreveu que a microbiota intestinal das aves é composta por diferentes microrganismos como bactérias, tanto Gram positivas 20 como Gram negativas, protozoários ciliados e flagelados, fungos e bacteriófagos. A composição da microbiota intestinal era importante para este autor, pois, a partir da obtenção do mesmo por coleta de amostras fecais de aves adultas, sabidamente saudáveis de linhagem de corte e poedeira, com posterior processamento (suspensão em caldo nutriente e incubação à 37ºC durante 24 horas). A solução contendo tal microbiota seria inoculada, por via esofágica, em pintos da linhagem Cobb de 1 dia de idade para avaliar os efeitos que tal administração faria sobre os parâmetros hematológicos e de desenvolvimento e integridade na mucosa intestinal durante a primeira semana de vida destas aves. A composição da microbiota intestinal encontrada por Pires (2008) é semelhante à relatada por Gedek (1986), porém este afirma ser difícil estimar a composição exata da mesma, mas estima-se que aproximadamente 400 espécies possam estar em equilíbrio entre si e com a ave hospedeira. Deste total, estima-se que sua maior proporção, cerca de 90%, seja constituída por bactérias dos gêneros Lactobacillus e Bifidobacterium, que podem ser encontrados associados ao epitélio ou livre na luz intestinal (MAIORKA, 2004). O restante inclui bactérias consideradas nocivas ao hospedeiro, sendo elas: Escherichia coli e Clostridium spp. (GEDEK ,1986). A composição da microbiota intestinal varia ao longo do TGI (Figura 2). Gabrielet al. (2006) relataram que em frangos, os principais locais de atividade bacteriana é no ceco, e em menor extensão no intestino delgado. A maioria destas bactérias são Gram-positivas e anaeróbios facultativos e estão presentes no íleo, enquanto que nos cecos, são encontrados, em sua maioria, anaeróbios estritos (Quadro 2 e 3). O duodeno possui condições desfavoráveis ao desenvolvimento da microbiota devido à presença de inúmeras enzimas, pressão elevada de oxigênio, presença de compostos antimicrobianos como, por exemplo, sais biliares, e movimentos de refluxos para a moela (GABRIEL et al., 2006). No íleo, por apresentar ambiente com uma menor pressão de oxigênio e menor concentração de enzimas e sais biliares, é colonizado principalmente poranaeróbios facultativos como os Lactobacillus, Enterococcus e coliforme. Zaniniet al. (2012) caracterizaram as espécies de Lactobacillus spp. isoladas do íleo de 400 frangos de corte tratados ou não com antimicrobianos por métodos bioquímicos (API 50® CHL) e por PCR Multiplex. As espécies 21 isoladas por estes autores foram: L. acidophilus, L.fermentum, L. plantarum, L. delbrueckiissp. delbrueckii e Lactococcuslactis spp. lactis. No ceco, devido ao trânsito de conteúdo intestinal mais lento, há facilidade no desenvolvimento bacteriano, sendo este órgão colonizado principalmente por anaeróbios estritos, porém anaeróbios facultativos também estão presentes. Amit-Romach et al. (2008) isolaram principalmente Lactobacillus e Bifidobacterium em cecos de aves de diferentes idades (4, 14 e 25 dias de idade) através da utilização da técnica de PCR para o gene 16S ribossomal a partir de DNA bacteriano extraído de amostras de conteúdo cecal. Nobre et al.(2005) avaliando conteúdo cecal de frango de corte caipira com 80 dias de idade e produzidos em galpão convencional e piquetes com abrigos, por bacteriologia e provas bioquímicas, isolaram e identificaram as seguintes espécies bacterianas: Citrobacterspp, Shigella sonnei, Bacillus spp.,Salmonella typhi, Proteus vulgaris, Klebsiella spp., Pseudomonas spp., Escherichia coli e Enterobacter agglomerans. A microbiota intestinal é composta por ampla diversidade de bactérias. Apajalahti; Kettunen; Graham, (2004) encontraram 640 espécies diferentes e 140 gêneros bacterianos distintos de isolados do TGI de amostras de origem aviária, porém enfatizaram que proporções maiores de espécies bacterianas (acredita-se que cerca de 90%) ainda não foram estudadas e descritas. QUADRO 2 – Composição da microbiota intestinal no conteúdo de diferentes partes do TGI de frangos, determinando a quantidade do microrganismo presente Microrganismo Contagem viável (Log10 UFC/g de conteúdo) Intestino 1* Intestino 3 Intestino 5 Intestino 7 Ceco Lactobacillus 8,0 8,2 8,2 8,6 8,7 Streptococcus 4,0 4,0 3,7 4,2 6,7 Escherichia coli 2,0 1,7 1,7 2,7 5,6 22 Leveduras 1,7 n 1,7 n 2,0 Clostridium welchii n** N N n 1,7 Bacteroides N N N n 8,7 * Intestino dividido em 7 porções, sendo avaliado apenas 4. ** n = não foi possível realizar a contagem. Fonte: SMITH, 1965. QUADRO 3 - Diversidade e prevalência de espécies bacterianas de isolados obtidos de intestino delgado e cecos de frangos com idade variando de 3 a 49 dias Microrganismos % da espécie bacteriana encontrada no segmento intestinal Jejuno + Ileo Ceco Lactobacillaceae 68,7 8,2 Clostridiaceae 10,8 65,6 Bacillaceae 0,7 1,4 Staphylococcaceae 1,0 0 Streptococcaceae 6,6 0,7 Enterococcaceae 6,4 1,0 Fusobacteriaceae 0,7 13,9 Bifidobacteriacea 0,2 0 Proteobacteria 2,3 2,8 Flavobacteriaceae 0 0,2 Bacteroidaceae 0,6 5,0 Fonte: LU et al., 2003. FIGURA 2 - Esquema representativo da microbiota do trato gastrointestinal de frangos de corte saudáveis próximo ao abate (em torno de 40-45 dias de idade). 23 Fonte: HOERR, 2001. Além do tipo de criação, intensivo ou extensivo, a composição da microbiota intestinal também pode variar em relação à idade da ave (Quadro 4). Após a eclosão, o TGI da ave está imaturo, e não é capaz de apresentar resposta imune eficiente contra a entrada de patógenos por ingestão da ração e/ou microrganismos presentes na cama do galpão. Da mesma forma, após a eclosão, a microbiota gastrointestinal não está totalmente estabelecida, fazendo com que a ave se torne susceptível à invasão por patógenos (LAN et al., 2005). Amit-Romach; Sklan; Uni, (2008) detectaram um número relativamente maior de Salmonellasp., Campylobacterspp., Escherichia.colie Clostridium sp. em frangos na 1ª semana em comparação com aves de 14 dias de idade. Nestas aves, o maior aumento da população bacteriana ocorreu principalmente no ceco, devido ao aumento progressivo de Lactobacillus e Bifidobacterium durante o período que se estende do 4º ao 14º dia de vida. A complexidade da microbiota intestinal aumenta com o avançar da idade, existindo fatores específicos que exercem influência no estabelecimento da microbiota dominante no hospedeiro, como por exemplo, equilíbrios entre os constituintes da microbiota intestinal, estresse, pH, uso de antibióticos, probióticos, promotores de crescimento, radiação, alteração do peristaltismo do trato gastrointestinal e mudança da dieta. QUADRO 4 - Composição microbiana do trato gastrointestinal de frangos de corte saudáveis de acordo com o tempo de vida (em dias). 24 Grupo Lactobacillus spp. Clostridiaceae Bacillus Staphylococcus Streptococcus Enterococcus Bifidobacter α-Proteobacteria β-Proteobacteria ε-Proteobacteria δ-Proteobacteria Bacteroides 3d 60 17 2 2 3 1 5 5 2 - 7d 64 1 18 16 1 - 14d 64 7 17 13 - 21d 66 9 3 3 3 3 28d 88 7 1 3 - 49d 70 19 4 2 1 Fonte: Lee, 2002. O uso de probiótico pode influenciar na composição da microbiota intestinal das aves. Jin et al. (1997)indicaram em sua revisão, sobre o modo de ação dos probióticos, que a administração deste seria eficaz como coadjuvante da manutenção do equilíbrio da microbiota das aves, por indução da acidificação do TGI, o que consequentemente, impossibilita o crescimento de microrganismos patogênicos. Estes autores incluem também que esta administração induziria a produção de enzimas que auxiliariam na digestão do alimento. Soares et al., (2008)avaliaram o efeito da suplementação em frango de corte com probiótico sobre a microbiota do ceco. Nos dias 1, 7, 12, 18, 23 e 28 dias de idade das aves, as mesmas foram eutanasiadas e realizadas contagens de enterobactérias, lactobacilos e clostrídios a partir do conteúdo cecal. Houve redução no número de enterobactérias quando se compara o grupo tratado com o probiótico com o grupo controle. Estes autores sugerem que esta redução seja indício da exclusão competitiva realizada pelas bactérias lácticas, presente no probiótico utilizado. O mesmo resultado não foi obtido para a população de clostrídios. Porém, Lima et al. (2003) através que experimentação com 360 pintos da linhagem Hubbard suplementada com probiótico, onde foram coletadas aos 14, 28 e 42 dias de idade, pâncreas, duodeno e jejuno/íleo para avaliação da influência do mesmo sobre a indução da produção de enzimas digestivas, comprovaram que a adição do probiótico não teve efeito significativo sobre a atividade enzimática. Fatores estressantes exercem influência sobre a microbiota intestinal das aves. Burkholderet al. (2008) avaliaram a influência de fatores estressantes 25 em frangos de corte, como período de jejum (24 horas) e exposição a altas temperaturas (30ºC), sobre a microbiota intestinal. O experimento foi conduzido com a obtenção de amostras íleo-cecais das aves submetidas a tais fatores, para avaliação da morfologia intestinal e análise da microbiota coletada por eletroforese em gel com gradiente desnaturante (DGGE). Este autor comprovou que tais fatores estressantes tornaram as aves susceptíveis a patógenos oportunistas, como, por exemplo, Salmonella enterica subespécie entérica sorovar Enteritidis, testada por eles. Outro fator importante no equilíbrio da microbiota é o pH. Soares et al. (2008) demonstraram que a redução do pH no conteúdo do inglúvio é considerada importante por representar ambiente desfavorável à sobrevivência e multiplicação de bactérias patogênicas como a do gênero Salmonella e outras enterobactérias, que necessitam de pH entre 6 a 8 para multiplicarem. Furlan; Macari; Luchetti, (2004) cita durante o 5° Simpósio Técnico de Incubação, Matrizes de Corte e Nutrição que as variações supracitadas da composição da microbiota intestinal pode ser benéfica ou maléfica para o hospedeiro, dependendo da natureza e da quantidade de microrganismos presentes no TGI. Como benefícios da variação da microbiota foram citados a inibição do crescimento de bactérias patogênicas, estímulos do sistema imunológico, síntese de vitaminas e melhor digestão. Por outro lado, foram citados como efeitos maléficos: diarréia, distúrbios na digestão e absorção de nutrientes. 2.3. Imunidade de mucosas Para evitar a infecção por ingestão de microrganismos, as aves possuem fatores específicos (sistema imune adquirido) e não específicos (sistema imune inato) associados ao TGI (BEAL et al. 2006). Os fatores específicos do hospedeiro são mediados por linfócitos e suas secreções, tais como anticorpos e citocinas. Os fatores não específicos incluem barreiras físicas, que são representadas pela própria estrutura do TGI, presença de muco, a motilidade permanente, o pH e as enzimas. O sistema complemento também está incluso nos fatores não específicos como também, lisozimas, sais biliares e competição por microrganismos comensais (YUN; LILLEHOJ; 26 LILLEHOJ, 2000), além das células fagocíticas e demais envolvidas no processo inflamatório agudo. Galha; Bondan; Lallo, (2008) relatam fatores que influenciam na imunidade de frangos de corte e favorecem o estabelecimento de coccidiose neste hospedeiro, sendo a imunidade celular a principal forma desenvolvida nas aves, mediada principalmente por células T, que residentes no GALT. O tecido linfóide encontrado ao longo do TGI é dividido em MALT e GALT. O tecido linfóide associado à mucosa, também denominado de MALT é encontrado em diversos locais, como no TGI, trato respiratório e na cabeça (HAYASHI, 2011). As superfícies mucosas são as principais áreas de contato do organismo dos animais com os agentes presentes no meio ambiente externo. A presença do alimento no intestino favorece a maturação e diferenciação dos enterócitos, acelerando sua capacidade de digestão e absorção, pela flora bacteriana presente que estimula a migração e a diferenciação de células dos órgãos primários do sistema imunológico para os sítios linfocitários presentes no trato gastrintestinal (GALT) (BAR-SHIRA e FRIEDMAN, 2005). O tecido linfóide associado ao intestino (GALT) das aves é responsável pelas respostas inflamatórias locais. Seu desenvolvimento ocorre logo nos primeiros dias de vida, paralelamente ao amadurecimento do sistema gastrintestinal do pintinho (BAR-SHIRA e FRIEDMAN, 2005). Hayashi (2011) demonstrou que aves eclodidas precocemente e que permanecem mais tempo dentro do nascedouro podem estar com o GALT desenvolvido antes mesmo da abertura padrão das máquinas. Esse sistema inclui nódulos de agregados linfóides, como tonsilas cecais, Divertículo de Meckel, Placas de Peyer, e a tonsila esofágica, descrita por Olah et al. (2003). Através de ovos SPF da linhagem White Leghorn, Olah et al. (2003), demonstrou que a tonsila esofágica é um local alternativo de diferenciação de células B e possui importante função de produção de anticorpos e mediação celular. As Placas de Peyer são áreas densas com acúmulo linfóide, localizadas em várias porções do trato gastrointestinal, principalmente na junção ileocecal. Já o Divertículo de Meckel, resquício do ligamento da gema com o intestino delgado, é um tecido linfóide especializado que contém células B e macrófagos (KOGUT, 2000). 27 Todos estes sítios são compostos em sua grande maioria por linfócitos T (CD4+ e CD8+) e linfócitos B precursores de IgA, onde possuem importante papel de reconhecimento e processamento imunogênico geral e inespecífico. Pois pelo estímulo imunológico da mucosa, ocorre produção de anticorpos tipo IgA, que bloqueiam os receptores e reduzem o número de bactérias patogênicas na luz intestinal. Além disso, produzem ativação de macrófagos e proliferação de células T (FURLAN; MACARI; LUCHETTI, 2004).Através de ovos SPF da linhagem White Leghorn, Olah et al. (2003), demonstraram que a tonsila cecal é um local alternativo de diferenciação de células B e possui importante função de produção de anticorpos e mediação celular. 2.4. Fatores predisponentes a clostridiose Para o desenvolvimento da clostridiose, alguns fatores predisponentes são determinantes, pois existe uma gama de situações intimamente ligadas à casuística desta patologia. Os principais aspectos visualizados na rotina da produção de frangos de corte e matrizes pesadas estão relacionados principalmente as questões que provoquem alterações no sistema imune das aves, nutrição, ocorrência de coccidiose, além de questões menos específicas tais como a presença de insetos, qualidade de cama e densidade populacional (SANTOS; CONCEIÇÃO; GIL-TURNES, 2008). 2.4.1. Fatores relacionados ao sistema imune O trato intestinal possui um sistema de defesa contra bactérias oportunistas, o qual envolve o sistema imunológico e a ação de bactérias antagonistas. Porém, se houver desequilíbrio desse sistema, as aves ficam suscetíveis a patógenos (SCHOCKEN-ITURRINO; VITTORI; BERALDO-MASSOLI, 2009). Indivíduos imunossuprimidos têm maior predisposição a clostridiose uma vez que o C. Perfringens é um patógeno oportunista presente no intestino das aves e no ambiente, inclusive na água. Este agente coloniza o intestino da ave nos primeiros dias de vida e causa doença principalmente em animais de duas a cinco semanas de idade. Nessa fase da vida, o sistema imunológico das aves 28 ainda está em formação o que acaba favorecendo a ocorrência da doença (FIORENTIN, 2006; SARTORI et al. 2006). 2.4.2. Fatores nutricionais A contaminação das rações bem como a água de beber com C. perfringens são fontes importantes para a disseminação do patógeno no plantel, o que acarreta em diminuição na eficiência alimentar e problemas de ordem sanitária culminando no desenvolvimento de doenças além de consideráveis perdas econômicas e prejuízos na produção (JAENISCH, 2003). Tendo em vista o prolongado tempo de sobrevivência de alguns microorganismos patogênicos na água e o grande número de aves que têm acesso à mesma fonte de água, a transmissão hídrica assume um fundamental papel na epidemiologia de várias enfermidades aviárias (GAMA, 2005). Ingredientes da ração também foram relacionados à doença, assim como descritos por Kaldhusdal e Skjerve (1996), o milho atuou como fator de proteção e cevada e trigo, como fatores de risco para a doença. Observações semelhantes foram feitas no estudo de Annett et al. (2002) e Cooper e Songer (2009), que comprovaram in vitro que as concentrações da bactéria em meio tioglicolato contendo sobrenadantes não digeridos de cevada e trigo foram maiores que com milho, sugerindo que a enterite necrótica em aves alimentadas com rações à base de cevada é 6 a 10 vezes maior do que aves alimentadas com dieta a base de milho, sendo que a mortalidade é de 2 a 3 vezes superior, e o trigo estimularia a multiplicação do C. perfringens no trato gastrintestinal das aves. Rações fareladas ou mesmo peletizadas com alto índice de pequenas partículas, também estão relacionadas ao aumento da enfermidade (COOPER e SONGER, 2009). As altas freqüências e contagens de C. perfringens verificadas nas rações e nas águas podemestar associadas à falta de higiene geral na manipulação e armazenamento dos mesmos. Sugere-se o monitoramento periódico da presença de C. perfringens nestas fontes, com a finalidade de evitar esse patógeno, tendo em vista que o mesmo pode causar grandes prejuízos na produção avícola (SCHOCKEN-ITURRINO; VITTORI; BERALDOMASSOLI, 2009). 29 2.4.3. Fatores ambientais Fatores ambientais, tais como qualidade da cama, densidade populacional e local de criação, têm grande importância na multiplicação da bactéria e, conseqüentemente, são considerados fatores de risco para a clostridiose (OMEIRA et al. 2006). No trabalho de Craven et al. (2001), o agente foi isolado de paredes de aviários, ventiladores, comedouros, bebedouros, armadilhas para insetos e botas de operadores, com maior freqüência na primavera e no verão, demonstrando que a estrutura do aviário e seus equipamentos, assim como o incubatório, podem ser fontes de infecção de C. perfringens para aves. Insetos também seriam veículos do agente como reportado no estudo de Dhillon et al. (2004), que descreveram um surto de enterite necrótica aviária (ENA) em galinhas poedeiras de uma granja recémconstruída. O estudo constatou a presença de moscas no conteúdo do papo dos animais mortos e nos comedouros e isolaram C. perfringens de macerados de moscas capturadas nos galpões afetados. Esses autores sugeriram que o surto foi consequência da ingestão do C. perfringens presente nas moscas ou suas secreções, considerando esses insetos vetores mecânicos na transmissão da bactéria. Já o estudo de VITTORI et al. (2007), demonstrou que 100% de 40 amostras de besouros adultos Alphitobius diaperinus, (Cascudinho) capturados em granjas avícolas industriais de Descalvado e Sertãozinho, SP, continham C. perfringens, sugerindo que o inseto pode ser um vetor potencial na transmissão do agente. 2.4.4. Coccidiose As eimerioses apresentam caráter endêmico nas granjas avícolas. Os protozoários do gênero Eimeria, também conhecidos como coccídeos, uma das principais parasitose na avicultura, tanto industrial, como rural ou peri-urbana, podem levar à graves prejuízos econômicos e principalmente devido a episódios de diarréia e mortes em animais jovens. O parasito causador possui distribuição cosmopolita e pode causar alta morbidade e mortalidade em frangos de corte (WILLIAMS, 1998). São intracelulares e atacam as células do 30 epitélio intestinal, existindo várias espécies, que se diferenciam pela localização no intestino (JOYNER, 1969; LEVINE, 1998). As espécies são Eimeria acervulina, E. tenella, E. necatrix, E. brunetti, E. maxima, E. mitis, E. mivati encontradas de forma prevalente em aves comerciais ou não (LUCHESE et al., 2007). As aves se infectam com as espécies de Eimeria quando ingerem água, ração ou cama do aviário contaminadas com oocistos esporulados, esses oocistos podem ser carreados pelo vento, em partículas secas de dejetos contaminados, permanecendo ativos no ambiente por muitos meses, em condições ideais de temperatura e umidade (COMES et al., 1996; LOWENTHAL et al, 2004). A densidade de criação elevada, característica da criação industrial de frangos de corte, favorece a ingestão de maior quantidade de oocistos infectantes. Essa parasitose pode apresentar-se como doença grave, principalmente em frangos de corte jovens e em crescimento (duas a seis semanas de idade), levando a mortalidade e redução do desempenho zootécnico (WOODS et al., 2000 ; GRAAT et al., 2001). Em aves expostas a episódios de coccidíase ou até mesmo de coccidiose sem mortalidade, a imunidade se desenvolve e confere proteção contra futuros episódios de doença que possam ser causados pela mesma espécie de Eimeria. No entanto, níveis baixos de infecção podem ser suficientes para comprometer ganho de peso, conversão alimentar e pigmentação, além de favorecer a ocorrência de infecções bacterianas secundárias intestinais (BARTA, 2002). A coccidiose tem sido considerada como importante fator predisponente da enterite necrótica aviária (VAN IMMERSEEL et al. 2004 ; AL SHEIKHLY ; AL SAIEG, 1980). O trabalho de COLLIER et al., (2008) considera a hipótese de que infecções por coccídios predispõem o desenvolvimento de enterite, através de uma indução local de resposta inflamatória mediada por células T que aumentam a produção de muco intestinal. Esta condição estaria relacionada com alterações na composição da microbiota do íleo e favoreceria o desenvolvimento de bactérias mucolíticas como o C. perfringens, além disso, existe uma relação da sensibilidade das células produtoras de Goblet, produtoras de muco, às injúrias inflamatórias e o impacto desta resposta na produção de muco sobre a população microbiana do intestino. 31 A medida de controle mais comum destas infecções, é a utilização de compostos químicos, que são desinfetantes, coccidicidas e coccidiostáticos sendo muito eficientes em granjas comerciais. Estes medicamentos são administrados desde o primeiro dia de vida das aves até sete dias antes do abate, respeitando o período de carência dos compostos no organismo animal (LUCHESE et al., 2007). 2.5. Enterite Necrótica 2.5.1. O agente etiológico Parish (1961) determinou que a enterite necrótica em frangos era causada pela bactéria Clostridium perfringens, sendo, esta enfermidade, considerada a doença entérica mais agressiva para as aves. Quinn et al. (2005) e Hirsh e Zee (2003) caracterizam a bactéria Clostridium perfringens como bastonete anaeróbio, Gram positivo, formadora de esporo ovalsubterminal, encapsulada, imóvel, catalase negativa e oxidase negativa. Bactérias do gênero Clostridium são saprófitas encontradas no solo, na água ou sedimentos marinhos e possuem potencial de oxi-redução baixa. Os mesmos autores citam que bactérias deste gênero constituem parte da microbiota intestinal normal das aves.LANCINI (2011) através da realização de impressão da mucosa intestinal do jejuno de perus necropsiados, após desafio experimental com a bactéria Clostridium perfringens, evidenciou as características morfológicas da bactéria, sendo estas visualizadas na Figura 3. FIGURA 3 – Foto por microscopia óptica (1000x de aumento) da bactéria Clostridium perfringens por meio de coloração por Gram em lâminas de impressão de mucosa intestinal de perus inoculado pela bactéria com 18 dias de idade. 32 Fonte: LANCINI, 2011. O Clostridium perfringens é capaz de produzir inúmeras toxinas que variam em função do grau de toxicidade e letalidade. As principais toxinas produzidas por esta bactéria são: alfa, beta, épsilon e iota (PETIT, 1999). No Quadro 5 estão apresentadas as principais toxinas produzidas por Clostridium perfringens e as doenças associadas a cada tipo toxigênico da bactéria, conforme revisado por SONGER (1997). QUADRO 5 - Principais toxinas produzidas por Clostridium perfringens e doenças associadas a cada tipo toxigênico em animais domésticos. Tipo toxigênico A Toxinas B α, β, ε Α Doença associada a Clostridium perfringens Enterite necrótica em aves e leitões, Enterite em equinos e Enterotoxemia em cordeiros Desinteria e enterite crônica em cordeiros 33 C D E α, β Enterites necrótica e hemorrágica em leitões, cordeiros, bezerros, caprinos e potros. Enterite necrótica em aves. α, ε Enterotoxemia em ovinos α, ι Enterotoxemia em bezerros, cordeiros e coelhos Fonte: SONGER, 1997. Gomes (2007) determinou a ocorrência de diferentes tipos toxigênicos de Clostridium perfringens na microbiota intestinal de frango de corte oriundo de aviários de Pará de Minas - MG, por PCR Multiplex, e obteve que o tipo toxigênico A foi a mais prevalente com 60,8% dos isolados positivos, seguido do tipo C (32,2 % dos isolados). Das toxinas envolvidas na enterite necrótica, a α parece ser a mais importante, e desempenha ação biológica de hidrolisar a lecitina em fosforilcolina e diglicerídeo (GOMES, 2007). Justin et al. (2002) identificaram, sequenciariam e caracterizaram bioquimicamente a toxina α oriunda de amostras aviárias, descrevendo que esta toxina é responsável pela hidrólise de membranas celulares, podendo, dependendo do tecido atingido, promover hemólise, necrose, aumento da permeabilidade vascular e agregação plaquetária. A outra toxina envolvida no desencadeamento da enterite necrótica por Clostridium perfringens do tipo C é a β toxina. Yoo et al. (1997), através da técnica de PCR Multiplex, tipificou toxinas de amostras de origem aviária, suína e bovina e obteve amplificação dos genes de toxina β para 2 das 14 amostras de origem suína. Das 9 amostras de origem aviária e 28 de origem bovina, somente genes da α toxina foram amplificadas. Os autores sugerem que a β toxina possa atuar como uma citolisina, formando poros na membrana celular e, consequentemente, promovendo necrose do epitélio intestinal em aves com enterite necrótica. 2.5.2. Epidemiologia A enterite necrótica causada pela bactéria Clostridium perfringens tipo A e/ou C é uma doença de suma importância no cenário da avicultura nacional e mundial sendo responsável por perdas econômicas consideráveis na produção. Acomete principalmente frangos de corte (PARISH, 1961), perus, gansos, 34 sendo este relatado em surtos de animais doentes nos lagos canadenses nos anos de 1983 a 1985 por Wobeser e Rainnie (1987) e avestruzes, relatado em surtos na Coréia por Kwon; Lee; Mo (2004), no ano de 2000, em fazenda de produção onde a mortalidade das aves ocorria entre 31 a 39 dias de idade. Ficken e Wages (1997) relatam que a enterite necrótica possui maior prevalência na criação intensiva de frangos de corte devido à alta densidade populacional e que possui maior incidência em aves quando as mesmas possuem idade entre 2 a 4 semanas, com taxa de mortalidade diária que pode ser superior a 1% da produção e curso clínico que pode durar uma semana. Podendo acometer comumente aves mais velhas. Engstrom et al. (2003) avaliaram isolados de Clostridium perfringens oriundos de frangos saudáveis e doentes de diferentes regiões da Suécia para determinar a presença de genes para produção de toxinas por PCR, e citou que os locais onde ocorreram os surtos de enterite necrótica, a doença manifestou com curso clínico de uma semana e que ela pode se apresentar como doença aguda e/ou subclínica. As duas formas da doença apresentaram alta taxa de mortalidade. Opengart (2008) relata que a maior incidência de surtos de enterite necrótica é decorrente de ingestão de alimento ou lixo contaminados com a bactéria pelos frangos de corte. Porém também relata que moscas domésticas podem atuar como vetores mecânicos na transmissão da doença. A transmissão também pode ocorrer das incubadoras para a criação de frango de corte, sendo o agente etiológico isolado em casca de ovos, penungem do criatório e na caixa de transporte do pintinho. A transmissão vertical tem sido confirmada em fazendas de cruzamento comercial para o incubatório e unidade de processamento. Devido a um maior controle pelo programa de biosseguridade e esquema de vacinação, as matrizes apresentam uma menor incidência da doença. A vacinação é feita com toxóides à base de Clostridium perfringens tipo A e C, apresentando efeitos satisfatórios no controle da enterite necrótica. Sendo que os pintinhos originados dessa matriz já apresentam altos níveis de IgG específica, conferindo proteção contra a ação das toxinas produzidas pelo 35 Clostridium perfringens. Demostrando que as aves originadas com essa imunização tem apresentado menor suscetibilidade e severidade a enterite necrótica clínica e subclínica. (SCHOCKEN-ITURRINO; ISHI; VITTORI, 2009). 2.5.3. Patogenia Embora C. perfringens seja um habitante natural do trato intestinal de aves sadias, pode provocar surtos de enterite necrótica especialmente em lotes de frangos de corte e perus. Ocorre tanto na forma aguda, através de manifestações de enterite necrótica, normalmente entre idades que variam entre duas e quatro semanas, causando elevada mortalidade, ou também na forma subclínica com a presença de necrose focal no intestino, associada à colangiohepatite ou necrose fibrinóide no fígado. A manifestação aguda é causada pela ação de toxinas produzidas quando, em condições favoráveis, há rápida multiplicação de C. perfringens A e C no intestino delgado, e podendo se manifestar nas formas clínica e subclínca (SCHOCKEN-ITURRINO; ISHI; VITTORI, 2000; JOHANSSON et al. 2004; VAN IMMERSEEL et al., 2004; THOMPSON et al. 2006). As lesões características da ENA são produzidas principalmente pela toxina α, sendo considerado o principal fator de patogenicidade da bactéria (WILLIAMS, 2005; DAHIYA et al. 2006; KEYBURN et al. 2006; THOMPSON et al. 2006). Esta toxina destrói a membrana celular de enterócitos (Figura 4) devido a sua propriedade de fosfolipase C, sendo uma metalofosfolipase que possui dois domínios, o C-terminal, que penetra na membrana celular sendo responsável pela fixação da proteína na célula, e o N-terminal, que desempenha a função enzimática propriamente dita e hidrolisa os fosfolipídios das membranas celulares separando as porções polares e apolares, formando di-acil-glicerol e ácido fosfatídico, provocando a lise da membrana celular (STERNE e BATTY, 1975; SAKURAI; NAGAHAMA; ODA, 2004). Hofshagen e Stenwig (1992) demonstraram que C. perfringens isolados de casos de ENA produziram títulos maiores de toxina α que cepas isoladas de animais sadios, reforçando o conceito de que esta toxina é um dos principais fatores de patogenicidade na ENA. 36 FIGURA 4 – Foto apresentando lesões da mucosa intestinal (jejuno/íleo) de frangos de corte com 27 dias de idade Causadas por Clostridium perfringens. Fonte: DINIZ, L. D. Z. (Arquivo pessoal), 2013. 2.5.4. A doença em frangos de corte As exotoxinas do C. perfringens causam lesões gastrintestinais e alcançam a circulação sanguínea, causando lesões no fígado (Figura 6) e em outros órgãos. O exame necroscópico indica enterite necrótica e hemorrágica com lesões ulcerativas no intestino delgado, gastrite e distenção gástrica, icterícia, hemoglobinúria, nefrose e necrose hepática (SCHOCKEN-ITURRINO; ISHI; VITTORI, 2000). Nas lesões macroscópicas por C. perfringens, o segmento do intestino delgado apresenta-se fino, friável e distendido devido à formação de gases (Figura 5) sendo a camada de muco muitas vezes amarelo esverdeada, com sangramentos raros. As lesões são encontradas principalmente nas porções do jejuno e íleo (SCHURING e GILS, 2001; COOPER e SONGER, 2009). FIGURA 5 – Foto de intestino delgado de frangos de corte com 27 dias de idade com parede delgada e aspecto distendido devido a proliferação de Clostridium perfringens. 37 Fonte: DINIZ, L. D. Z. (Arquivo pessoal), 2013. FIGURA 6 – Foto de fígado de frangos de corte com 27 dias de idade com alterações macroscópicas como a presença de fibrina sobre o mesma além de coloração mais escura e presença de áreas esbranquiçadas decorrentes da infecção por Clostridium perfringens. Fonte: DINIZ, L. D. Z. (Arquivo pessoal), 2013. 2.5.5. Diagnóstico Em casos de campo, C.perfrigens pode ser isolado rapidamente a partir do conteúdo intestinal, raspado da parede intestinal ou nódulos hemorrágicos 38 linfáticos através de incubação anaeróbia durante a noite a 37° C em placas de ágar sangue (BARNES, 2008). A técnica de PCR múltipla vem sendo amplamante utilizada, GOMES et al. (2008) analisaram 250 amostras de conteúdo lumenal de íleo e jejuno, e observou que o C. perfringens toxigênico mais encontrado em Enterites Necróticas é o tipo A e o tipo C. A análise microscópica etestes bacteriológicospara isolar o clostrídio de amostras do intestino podem ser usados para diferenciá-lo de outras doenças que podem apresentar sintomas semelhantes a enteritenecrótica, como uma infecção por Eimeria brunetti (BARNES, 2008). Na utilização da histopatologia como diagnóstico, Timbermont et al. (2009), observaram em seu experimento com cepas de C. perfringens isoladas da microbiota normal do intestino frangos saudáveis, e de intestino de frangos de corte com lesões necróticas de intestino, como atrofia das vilosidades e embotamento, necrose de ponta de vilosidade, infiltração de heterófilo e formação de linha de demarcação (Figura 7). Há casos em que a enterite necrótica e a coccidiose ocorremsimultaneamente, sendo a coccidiose um dos fatorespredisponentes para a enterite necrótica, sendo assim é necessário um diagnóstico apurado (BARNES, 2008). FIGURA 7 - Lesões necróticas após a inoculação das alças intestinais com a cepa 61 durante 10 h, tipicamente disponíveis como necrose das pontas das vilosidades e tecido com uma abundância de células mortas e material de fibrina como no lúmen no qual grandes aglomerados de bactérias estão presentes. (A) C. perfringens, como as bactérias, (B), 39 vilosidades (C) linha de demarcação, e (D) de detritos celulares e de material semelhante à fibrina. FONTE: TIMBERMONT et al., 2009. 2.5.6. Tratamento e controle A enterite necrótica pode ser tratada eficazmente com o uso de vários antibióticos, sendo recomendável o tratamento simultâneo contra a coccidiose (SCHURING; GILS, 2001). A EN pode ser controlada ou prevenida pela redução da exposição ao risco fatores como a coccidiose e dietas inadequadas (COOPER; SONGER, 2009). Os resultados de Corrêa et al., 2003, já indicavam a possibilidade de substituição do antibiótico Bacitracina de Zinco como promotor de crescimento por próbioticos, porém ressaltava que as condições sanitárias e de manejo observadas em criações comerciais não eram as mesmas das experimentais. Porém, devido ao aumento da resistência bacteriana pelo uso indiscriminado de antibióticos, Schouten; Voss; Hoogkamp-Korstanje, (1999) em seu estudo com 4.208 cepas de Enterococus in vitro, comprovou que a multirresistência bacteriana não é incomum, assim faz-se a necessidade de 40 utilzação de antibióticos cada vez mais eficientes e que não causem resistência cruzada. Desta forma, a União Européia baniu desde 2006 o uso de antibióticos como promotores de crescimento nas rações animais, sendo a Enterite Necrótica Aviária uma das doenças mais afetadas por essa medida já que é problema frequente em vários países (WATKINS et al., 1997). Em estudos feitos pela Agência Europeia de Medicina (EMEA), foram observadas apenas transmissão de resistência bacteriana in vitro por avilamicina, não havendo evidências de transferência da resistência in vivo. O que diminui os riscos de reservatório humano de resistência ao antibiótico, além do que não existem evidências que os resíduos de avilamicina são susceptíveis de constituir um risco mutagénico significativo para os consumidores. (EMEA/CVMP, 2007). A inclusão de microorganismos desejáveis (probióticos) na dieta permite o rápido desenvolvimento de bactérias benéficas no trato digestório do hospedeiro por exclusão competitiva, e a sua atuação como antagonista direto melhora o desempenho das aves. A utilização dos probióticos após a proibição do uso de antibióticos é a vantagem mais importante destes, já que eles não deixam resíduos e nem exercem resistência bacteriana (GRAÑA, 2006). Alkhalf; Alhaj; Al-Homidan (2010), relataram que houve aumento significativo do ganho de peso diário na 3º, 4º, 5º, 6º, semanas de idade. Além disso, o peso médio diário foi maior 0-4 e 0-6 semanas, onde as foram aves alimentadas com o probiótico (1 g e 0,8 g / kg ração), apresentando também maiores ganhos de peso diários do que o grupo controle. Watkins et al. (1997) analisou in-vitro 26 cepas de C. perfringens em frangos e 22 cepas em perus, e observaram que as cepas não foram inibidas por altas concentrações de bacitracina e lincomicina, embora a falta de sensibilidade contra lincomicina foi semelhante para ambos os isolados de frango e de peru (Quadro 6). Os C. perfringens isolados e analisados por Martel et al. (2004) foram altamente suscetíveis aos antibióticos ionóforos. Também foi evidenciado no experimento realizado por Santos; Conceição; Gilturnes, (2008), que C. perfringens isolado e examinado foi altamente suscetível aos antibióticos ionóforos, narasina e monensina, penicilina e avilamicina (Quadro 7). 41 Em um estudo feito por Wellenreiter et al. (2000) nos Estados Unidos e no Canadá com 80 aves, a avilamicina e a amoxicilina também mostraram boa atividade. Porém, a avilamicina em carcaças de mesma idade mostrou efeito maior como antiobiótico, ao invés do efeito em rendimento de carcaças Composto MIC50 ª (mg/L) Frango MIC90 ª Variação (mg/L) de dose/ alimento (ppm) 0,5 2,5-20 b (cr MIC50 ª (mg/L) Peru MIC90 ª (mg/L) 0,25 0,25 Variação de dose/ alimento (ppm) 2,5-20 b Avilamicina 0,5 Avoparcina 0,13 0,13 5-40 b 0,25 0,25 NA c Bacitracina d 254 >256 4,5-5,5 8 16 4,5-5,5 Lincomicina 64 >256 2,2-4,5 16 >256 NA Monensina 1 1 100-121 1 1 60-100 Narasina 0,25 0,5 60-80 0,25 0,25 NA Penicilina 0,13 0,25 2,8-55 0,06 0,06 2,8-55 Tilmicosina Tilosina 2 2 4 2 NA 4,5-55 2 2 2 2 NA NA Virginiamicina 2 16 5,5-22 2 2 11-22 e esc im ent o fisi oló gic o). 42 a Indica a concentração em que o crescimento foi inibido em 50% e 90% das estirpes. b Não aprovado nos Estados Unidos, mas as doses listados são usados fora dos Estados Unidos. c NA = Dosagem não aprovado. d Bacitracina metil dissilicato tem dosagem terapêutica de 110-220 ppm para auxiliar no controle da enterite necrótica em frangos. e Virginiamicina tem uma dosagem terapêutica de 22 ppm para a prevenção da enterite necrótica em frangos. Fonte: Watkins et al., 1997. concentração inibitória mínima (MIC) de vários agentes para C. perfringens isolados de frangos e perus e doses de promotores de crescimento usados na alimentação de aves QU AD RO 6Re su mo da 43 44 GRAÑA (2006) conduziu um experimento 880 pintos de corte, machos Ross, no período entre 1 a 42 dias de idade, utilizando probióticos na ração. Ele percebeu que não houve efeito significativo no ganho de peso, consumo de ração e CA. Dessa maneira, concluiu que o probiótico testado poderia ser adicionado na ração dos frangos de corte em substituição ao antibiótico. Santos et al. (2004), avaliaram o efeito de aditivos beneficiadores de crescimento sobre o desempenho e morfologia intestinal de frangos de corte de 1 a 21 dias de idade em 1.680 pintos de corte Hybro. Ele descreveu que o desempenho aos 21 dias não foi afetado pelos aditivos, no entanto os machos apresentaram maior ganho de peso, consumo de ração e eficiência alimentar (Quadro 8). O sexo e o desempenho influenciaram na altura de vilosidades, sendo que os machos apresentaram valores superiores. QUADRO 8 – Desempenho zootécnico de frangos de corte Hybro com 21 dias de idade alimentados com diferentes aditivos na fase inicial de crescimento. Consumo de Ganho de CA ração (g) peso (g) Dieta basal 1054 787 1.33 Antibiótico 1067 796 1.34 Bio-Mos 1073 808 1.32 FOS 1023 766 1.33 Ácido fumárico 1051 783 1.34 Cogumelo desid. 1037 775 1.32 Probiótico 1009 739 1.36 Macho 1070 a 804 a 1.32 b Fêmeas 1020 b 755 b 1.35 a Média Geral 1045 779 1.33 CV (%) 4.44 5.20 2.51 Médias seguidas por letras diferentes na coluna diferem entre si (P<0,05). Fonte: SANTOS et al., 2004. 45 Em um comparativo relacionando a utilização de probióticos e promotores de crescimento na dieta das aves, Zuanon et al. (1998), utilizou 720 pintos Hubbard de um dia, os antibióticos usados como promotores de crescimento apresentaram maior estímulo no crescimento das aves, na fase inicial. Sugerindo que a utilização de promotores de crescimento é dispensável, na criação de frangos de corte, porém deve-se ressaltar que muitas vezes as condições sanitárias e de manejo observadas em criações comerciais não são as mesmas das condições experimentais. A adição do antibiótico e do probiótico, na mesma ração, não influenciaram o desempenho das aves. O uso do probiótico na fase final, em substituição ao antibiótico, não influenciou no desempenho das aves. Não houve diferenças significativas no desempenho dos frangos que receberam os promotores de crescimento, em relação aos alimentados com a ração basal (ZUANON et al. 1998). Outro experimento feito com 672 pintos de corte (Avian Farms) com um dia de vida, O uso de antibiótico e de probiótico aumentaram o ganho de peso das aves no período de 1 a 21 dias da idade, sendo que as aves tratadas com antibióticoapresentaram a melhor eficiência alimentar (BORATTO et al. 2004). Já Loddi et al. (2000), utilizaram dois mil e quatrocentos pintos de corte (Ross) de um dia, para avaliar desempenho, rendimento e a qualidade de carcaça. Foi comprovado que o uso de probiótico não propiciou melhorias nos resultados de desempenho, excetuando-se o rendimento de carcaça, no momento em que o probiótico foi associado ao antibiótico. A suplementação somente do probiótico determinou diminuição dos índices de desempenho (peso, ganho de peso e consumo de ração) (LODDI et al. 2000). Há também a possibilidade de utilização dos ácidos orgânicos adicionados na dieta. A utilidade dos ácidos orgânicos compreeende a sanitização de carcaças, preservação de grãos e melhoria no desempenho animal devido aos efeitos digestivos, controladores da microbiota intestinal e efeitos metabólicos. Os ácidos atuam diminuindo o pH intracelular e podem causar alteração na permeabilidade da membrana com o bloqueio do substrato do sistema de transporte de elétrons, onde o principal efeito da redução da microbiota se dá no papo e cecos. Sendo que a redução do pH ocorre principalmente até o divertículo de Meckel (BELLAVER e SCHEUERMANN, 2004). 46 Estudos feitos por Maiorka et al. (2004) em dietas pré-iniciais de frangos de corte, evidenciaram que a mistura de ácidos orgânicos utilizados no presente estudo melhorou a conversão alimentar das aves na presença ou ausência de promotores de crescimento na dieta, mas não afetou a morfologia da mucosa intestinal. Além do que, o desempenho das aves jovens alimentadas com diferentes níveis de energia na dieta não foi afetado (MAIORKA et al. 2004). Outros estudos feitos por Bassan et al. (2008), em 150 aves Cobb de um dia de vida, comprovaram que os ácidos orgânicos testados não causaram dano ao organismo das aves, considerando que não provocaram sinais clínicos. Os ácidos testados também contribuíram no controle da infecção (BASSAN et al. 2008). Porém, para o sucesso na utilização destes ácidos orgânicos, alguns cuidados devem ser tomados. Devido às características anatomo-fisiológicas das aves a estratégia de uso dos ácidos orgânicos deve incluir todo o período de produção dos frangos. Há que se considerar também a adaptação de bactérias aos ácidos após longos períodos de utilização (BELLAVER e SCHEUERMANN, 2004). Toledo et al. (2007), conduziram experimento com 320 pintos de corte de um dia, COBB 500, em que foram testados tratamentos por óleos fitoterápicos. Estes são óleos voláteis extraídos de produtos vegetais, como o orégano (carvacrol), canela (cinamaldeído), eucalipto (cineol), Artemísia (artemisinina) e trevo (trifolina). Vários componentes dos óleos essenciais possuem amplo espectro de propriedades antimicrobianas, e inibem o crescimento de leveduras, fungos e bactérias. Acredita-se que o principal mecanismo de ação dos componentes é a sua capacidade de aumentar à permeabilidade da parede celular da bactéria e/ou a desativação enzimática das células. De maneira geral, os resultados obtidos comprovaram que devido às condições ambientais em que foi realizado este experimento, que os produtos utilizados não apresentaram efeito positivo ou negativo sobre o desempenho dos animais, sugerindo a necessidade de se avaliar as condições higiênicas e sanitárias do ambiente criatório antes de se recomendar o uso ou não destes promotores de crescimento. E, a inclusão de Avilamicina e ou de Aviance na ração não altera o desempenho de aves de corte, mas melhora a taxa de viabilidade criatória. 47 No Brasil, autoriza-se a utilização de Avilamicina, Bacitracina de Zinco, Bacitracina metileno Disalicato, Sulfato de Colistina, Clorexidina, Enramicina, Espiramicina, Flavomicina, Halquinol, Lincomicina, Tilosina e Virginamicina como aditivo antimicrobiano na alimentação das aves (Quadro 9) (MAPA, 2013). Porém, não foi estabelecido pela INSTRUÇÃO NORMATIVA Nº17, DE 29 MAIO DE 2013 (Quadro 10), a quantidade de avilamicina residual que pode ser encontrada no frango de corte (MAPA, 2013). Assim, conclui-se que a avilamicina é um dos antimicrobianos mais seguros para ser utilizado como tratamento e controle da Enterite Necrótica nas produções de frango de corte. QUADRO 9 – Aditivos antimicrobianos com uso autorizado na alimentação de frangos de corte. Antimicrobiano Avilamicina Teor em ppm (g/ton de ração) 2,5 a 10 Bacitracina de Zinco 4 a 55 Bacitracina metileno Disalicato 4 a 55 Sulfato de Colistina 2 a 10 Clorexidina 20 Enramicina 5 a 10 Espiramicina 5 Flavomicina 1a2 Halquinol 15 a 30 Lincomicina 2,2 a 4,4 4 a 55 Tilosina 5,5 a 16,5 Virginamicina Fonte: Adaptado de MAPA, 2013. Grupo Analito Lincomicina Tecidos Limites de referência em Aves (µm/Kg) 500 48 Antimicrobianos Eritromicina Tilosina Neomicina Estreptomicina Espectinomicina Dihidroestreptomicina Kanamicina Apramicina Gentamicina Tobramicina Higromicina Tilmicosina Amicacina Clindamicina Ampicilina Cefazolina Oxacilina Penicilina G Penicilina V Clortetraciclina Tetraciclina Oxitetraciclina Doxicilina Clortetraciclina Tetraciclina Oxitetraciclina Doxicilina Florfenicol Cloranfenicol Tianfenicol Carbadox Sulfaclorpiridazina Sulfadoxina Sulfamerazina Sulfadiazina Sulfametoxazol Sulfatiazol Sulfametazina Sulfaquinoxalina Sulfadimetoxina Nitrofurazona Furazolidona Furaltadona Nitrofurantoina Ácido Oxolínico Acido Nalidixico Flumequina Enrofloxacina (g) Ciprofloxacina (g) Sarafloxacina Difloxacino Danofloxacina Espiramicina Muscular 100 100 10000 1000 5000 1000 2500 1000 500 500 500 600 500 200 50 50 300 50 25 Soma igual a 1200 600 -----0,30 --- Hepático Soma igual a 100 Renal Muscular Muscular Muscular 1 1 1 1 100 20 500 Soma igual a 100 Muscular Muscular 20 300 200 -- QUADRO 10 – Subprograma de monitoramento de controle de resíduos e contaminantes em carnes em aves – PNCRB/2013. Fonte: Adaptado de MAPA, 2013. 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS 49 O C. perfringens é uma bactéria pertencente ao TGI normal das aves, e por isso se deve tomar cuidados com higiene dos alimentos, constituintes da ração e doenças concomitantes que possam causar desequilíbrio e consequentemente o crescimento exagerado de Clostridios patológicos no intestino levando a Enterite Necrótica. A Enterite Necrótica causa grandes prejuízos ao produtor, já que afeta a absorção de nutrientes pelo intestino do frango, causando queda no ganho de peso e elevação da conversão alimentar. O diagnóstico para a Enterite Necrótica no campo é de certa forma fácil, porém deve-se levar em consideração a semelhança das lesões com outras doenças distintas. O tratamento mais indicado é com a utilização da Avilamicina, dado ao fato de não ser utilizado em tratamentos humanos e assim não haver riscos de resistência bacteriana ao antibiótico. A melhor maneira de evitar a Enterite Necrótica é a prevenção, quanto menos desafios impostos à essas aves ao longo de sua vida, menor as chances do desequilíbrio da flora intestinal causar uma doença mais grave. 4. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 50 AL SHEIKHLY, F.; AL SAIEG, A. Role of Coccidian in the occurrence of necrotic enteritis of chickens. Avian Diseases. v.24, n.2, p.324-333, 1980. ALKHALF, A.; ALHAJ, M.; AL-HOMIDAN, I. Influence of probiotic supplementation on blood parameters and growth performance in broiler chickens. Saudi Journalof Biological Sciences. n. 17, p. 219-225. 2010. AMIT-ROMACH, E.; SKLAN, D.; UNI, Z. Microflora Ecology of the Chicken Intestine Using 16S Ribosomal DNA Primers. Poultry Science, Champaign, v.83, n. 7, p. 1093-1098, 2008. ANNETT, C. B.; VISTE, J. R.; CHIRINO-TREJO M. et al. Necrotic enteritis: effect of barley, wheat and corn diets on proliferation of Clostridium perfringens type A. Avian Pathology.v.31, p.599-602, 2002. 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