fisioterapia em evidência
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fisioterapia em evidência
issn 2178-1672 volume 2, Número 2, julho/AGOSTO 2011 Revist a FISIOTERAPIA EM EVIDÊNCIA Número 2, dezembro 2010 f a c u l d a d e muito além do ensino ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 1 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 2, julho/agosto 2011 Revista Informações básicas A Revista Fisioterapia em Evidência, ISSN 2178-1672, é uma publicação semestral do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Publicada desde 2010, adota o processo de revisão por especialistas (peer review), sendo cada artigo publicado após a aceitação dos revisores, mantidos no anonimato. Os conceitos e opiniões emitidos nos artigos são de inteira responsabilidade de seus autores. A submissão de artigos pressupõe que, com exceção dos resumos ampliados, não tenham sido publicados anteriormente nem submetidos a outra publicação. O título abreviado da revista é Fisioter. Evid., forma que deve ser usada em bibliografias, notas de rodapé, referências e legendas bibliográficas. A revista encontra-se gratuitamente disponível no site da Faculdade Dom Bosco. Missão Publicar artigos originais de pesquisa cujo objetivo básico se refere ao campo de atuação profissional da fisioterapia e da reabilitação. Ficha catalográfica Revista Fisioterapia em Evidência/Faculdade Dom Bosco. vol. 2, n. 2 (2011). Curitiba: FDB, 2010 Semestral Sumários em inglês e português ISSN 2178-1672 1. Fisioterapia – Periódicos. I. Faculdade Dom Bosco. CDD 615.82 CDU 615.8 2 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 3, julho/agosto 2011 Revista Editores responsáveis Silvia Regina Valderramas (doutora) [email protected] Salete do Rocio Cavassin Brandalize (mestre) [email protected] Conselho editorial Anna Raquel Silveira Gomes Universidade Federal do Paraná – Curitiba-PR – Brasil Ariani Cavazzani Szkudlarek (doutora) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Cassio Preis (mestre) Faculdade Dom Bosco e PUCPR – Curitiba-PR – Brasil Claudia Chaguri de Oliveira Pellenz (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Cristiane Gonçalves Ribas (mestre) Faculdade Dom Bosco e PUCPR – Curitiba-PR – Brasil Cristiane Regina Gruber (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Francisco Ernesto H. Zanardini (mestre) Faculdade Dom Bosco, Uniandrade e Faculdade Espírita – Curitiba-PR – Brasil Gilda Maria Grasse Luck (doutora) Faculdade Dom Bosco e Facel – Curitiba-PR – Brasil Isabel Cristina Bini (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Marcelo Kryczyk (doutor) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Marcia Maria Kulczycki (mestre) Faculdade Dom Bosco – Curitiba-PR – Brasil Sandra Mara Meireles Adolph (doutora) Universidade Federal de São Paulo – São Paulo-SP – Brasil Editoração eletrônica Comunicação Dom Bosco - [email protected] INFORMAÇÕES PARA PUBLICAÇÃO DE ARTIGOS Todo o material a ser publicado deve ser submetido online por meio do site: www.fisioterapia.com.br/revista ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 3 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 4, julho/agosto 2011 Revista Sumário Editorial............................................................................................. 5 Artigo 1 ............................................................................................. 6 Atuação da fisioterapia na síndrome do assoalho pélvico – vulvodínia e vaginismo – uma revisão da literatura Physiotherapy in pelvic floor syndrome – vulvodynia and vaginismus – a literature review Artigo 2 ........................................................................................... 19 Treinamento de força da musculatura inspiratória com o uso de carga linear pressórica – Threshold®, em pacientes idosos institucionalizados: estudo controlado randomizado Training Muscle Strength using linear load pressor – Threshold® in institutionalized elderly patients: randomized controlled trial Artigo 3 ........................................................................................... 30 Treinamento somatossensorial da planta dos pés para melhora do equilíbrio em idosos institucionalizados Somatosensory training of the plant of foot for improvement of balance in institutionalized elderly Artigo 4 ........................................................................................... 38 Estudo comparativo entre dois programas de fortalecimento para músculos do complexo do joelho em jogadores de futebol de categoria amadora de Colombo – fortalecimento muscular em jogadores de futebol Comparative study of two programs for strengthening muscles of complex knee in soccer players of the amateur category Colombo city – muscle strengthening in soccer players Artigo 5 ........................................................................................... 51 Análise dos fatores de risco para hipertensão arterial em adolescentes de escola pública comparada com escola particular de Curitiba Analysis of the factors of risk for arterial hypertension in adolescents of compared public school with private school of Curitiba Normas para apresentação de artigos ........................................ 59 4 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, p. 5, julho/agosto 2011 Revista Editorial P esquisa-se não só por curiosidade, mas principalmente para ajudar outras pessoas. Centenas de artigos são publicados a cada hora na área de saúde. Não se espera que todos os fisioterapeutas sejam pesquisadores, mas que 100% deles sejam leitores assíduos dos resultados de pesquisas científicas. A pesquisa em fisioterapia tem evoluído muito nos últimos anos. Apesar de ser objeto de estudo relativamente novo, já colhemos os frutos dos resultados de pesquisas brilhantes na área. Essa edição da Revista Fisioterapia em Evidência traz cinco trabalhos de extrema relevância. A saúde da mulher, assunto muito atual na fisioterapia, está retratada em estudo sobre vulvodínia e vaginismo, que podem alterar a saúde física, mental, emocional e social da mulher. Chamando atenção para a grande demanda de pacientes idosos que teremos em breve no Brasil, a revista traz dois estudos sobre essa população. A fisioterapia desportiva, também em alta pelos eventos esportivos dos próximos anos em nosso país, é contemplada nessa edição por meio de artigo sobre futebol, de extrema importância científica. Finalizando o número, a revista apresenta estudo sobre hipertensão, o grande mal silencioso da vida moderna. A qualidade dos estudos científicos deve ser observada com atenção, pois mudam-se vidas a partir de resultados e conclusões publicadas. A Revista Fisioterapia em Evidência leva isso muito a sério. Sandra M. M. Adolph. Editora responsável Professora do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 5 Artigo 1 Atuação da fisioterapia na síndrome do assoalho pélvico – vulvodínia e vaginismo – uma revisão da literatura Physiotherapy in pelvic floor syndrome – vulvodynia and vaginismus – a literature review Raciele Ivandra Guarda Korelo1 Cristiane Regina Gruber2 Amanda dos Santos Nagata3 Edlaine Y. Kuhnen, Eduardo Dutra3 Elys Fernanda N. dos Santos3 Marielli D. Xavier3 Poliane D. de Oliveira3 Tamara Antochecen3 1. Fisioterapeuta, mestre em Tecnologia em Saúde pela PUCPR e docente da Faculdade Dom Bosco e da Faculdade Evangélica do Paraná. 2. Fisioterapeuta, mestre em Engenharia Elétrica e Informática Industrial pela UTFPR e docente da Faculdade Dom Bosco e da Unibrasil. 3. Acadêmicos do 4º período de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. Endereço para correspondência: Raciele Ivandra Guarda Korelo Faculdade Dom Bosco. Rua Paulo Martins, 332. CEP: 80710-010. Curitiba, PR, Brasil. E-mail: [email protected] RESUMO A hiperatividade do assoalho pélvico ocorre por diversos fatores. Ela pode estar diretamente relacionada com o vaginismo e a vulvodínia, disfunções que afetam a saúde física, mental, emocional e social da mulher. Este estudo teve como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre a atuação da fisioterapia na síndrome da hiperatividade do assoalho pélvico, especificamente o vaginismo e a vulvodínia. Foram consultadas as bases de dados Medline, Lilacs e Scielo, com os seguintes descritores: 6 assoalho pélvico, vaginismo, vulvodínia e períneo, sempre associados à fisiopatologia e/ou reabilitação, publicados no período de 2002 a 2010. Foram selecionados somente artigos que pudessem ser obtidos na íntegra e relacionados à atuação do fisioterapeuta na patologia, resultando em nove publicações analisadas, todas de revisão bibliográfica. Observou-se que todos os autores indicam o tratamento fisioterapêutico como intervenção primária no tratamento da patologia, do qual se destacam diversas técnicas e recursos fisioterapêuticos, entre eles a cinesioterapia, as técnicas manipulativas, a termoterapia, a eletroestimulação e o biofeedback eletromiográfico, além de correções da biomecânica. Entretanto, é notória a escassez de estudos clínicos randomizados para comprovação dos recursos utilizados e para a definição de um protocolo de tratamento adequado. Palavras-chave: assoalho pélvico, vaginismo, vulvodínia, períneo, fisioterapia. ABSTRACT Hyperactivity of the pelvic floor occurs due to many factors, which may be directly related to vaginismus and vulvodynia, disorders that affect the physical, mental, emotional and social woman. This study aimed to conduct a literature review on the role of physiotherapy in the syndrome of hyperactivity of the pelvic floor, specifically vaginismus and vulvodynia. We consulted the Medline, Lilacs and Scielo with the following keywords: pelvic floor, vaginismus, vulvodynia and perineum, always associated with the pathophysiology and/or rehabilitation, published between 2002 to 2010. We selected only articles that could be obtained in full and related to the role of a physiotherapist in the pathology, resulting in nine refereed publications, all of a literature review. It was observed that all authors indicate physical therapy as primary intervention in the treatment of disease, which stand out various physiotherapeutic técncicas and resources, among them the exercise, the manipulative techniques, thermotherapy, electrical stimulation, electromyographic biofeedback plus Corrections biomechanics. However, the scarcity of randomized ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 clinical trials to prove the resources used and to define an appropriate treatment protocol. Keywords: pelvic floor, vaginismus, vulvodynia, perineum, phisiotherapy. Introdução Segundo Henscher (2007), a hiperatividade da musculatura do assoalho pélvico (MAP) pode ser ocasionada por diversos fatores, que decorrem desde hábitos físicos inadequados como adiar ou reter a micção e a evacuação cronicamente e/ou exagerar no treinamento de força, sobrecarregando a MAP a traumas emocionais por incesto, estupro ou abuso sexual. A autora relata que a contração reflexa da MAP se faz inerente a essa musculatura e consiste em resposta de defesa e manutenção fisiológica do organismo. Complementa que várias disfunções são ocasionadas por essa síndrome, desde sexuais e fisiológicas, como instabilidade do músculo detrusor da bexiga, cistite intersticial, fissuras anais e coccidinia, até disfunções osteomusculares de cunho maldefinido. Tanto a vulvodínia como o vaginismo são descritos como disfunção sexual e consistem em síndrome que causa impactos significantes na saúde física e na qualidade de vida da mulher. (SÁNCHEZ e CHALELA, 2007; PRENDERGAST, RUMMER e KOTARINOS, 2008; AVEIRO, GARCIA e DRIUSSO, 2009). Vulvodínia consiste em uma dor crônica na região vulvar que pode ser dividida em dor vulvar associada à doença específica, dor localizada ou dor generalizada. (LEIBOWITCH, STAUGHTON, NEILL et al., 1998; ÂNGULO e CHALELA, 2006; ARNOLD, BACHMANN, KELLY et al., 2006; SÁNCHEZ e CHALELA, 2007; PRENDERGAST, RUMMER e KOTARINOS, 2008; KANDEEL, 2008; RICCI, 2010). Em 2003, a Associação Americana de Fisioterapia concluiu que pode estar relacionada com problemas musculoesqueléticos, causas neurológicas ou disfunções miofasciais, com ou sem incontinência urinária (STEPHESON e O’CONNOR, 2004). Já o vaginismo é descrito como uma contração ou espasmo involuntário dos músculos do terço inferior da vagina. (BROSENS, TERRASA e ASTOLFI, 2009; PINHEIRO, 2009). Essas duas síndromes, de causa orgânica ou psicogênica, fazem com que a penetração do pênis se torne impossível e o toque na região seja extremamente doloroso (PINHEIRO, 2009). Estima-se que a prevalência das duas patologias é de aproximadamente 16% (ARNOLD, BACHMANN e KELLY et al., 2006; RICCI, 2010). Sánchez e Chalela (2007) acrescentam que a probabilidade de ocorrência é igual entre mulheres brancas e negras, entretanto, levando em consideração as latino-americanas, essa porcentagem passa para 80%. Kandeel (2008) propõe que aproximadamente uma em cada seis mulheres pode sofrer de vulvodínia em algum momento de sua vida. Cerca de 20% das consultas ginecológicas são devidas ao vaginismo (BROSENS, TERRASA e ASTOLFI, 2009). Mulheres que apresentam vulvodínia sentem dor crônica, queimação e até mesmo prurido, que podem ser provocados pela relação sexual ou não. (SÁNCHEZ e CHALELA, 2007; KANDEEL, 2008; RICCI, 2010). No vaginismo, a mulher sente dor no momento da penetração, ou antes, e podem ocorrer reações como náusea, sudorese, falta de ar e aumento da frequência cardíaca devido ao medo do espasmo muscular involuntário e tensão. A dor pode resultar em problemas psicológicos como medo da dor, ansiedade, depressão, baixa autoestima, cefaleia tensional, tristeza e distúrbios do sono. (BROSENS, TERRASA e ASTOLFI, 2009; PINHEIRO, 2009). De acordo com RICCI (2010), a vulvodínia é diagnosticada pelos critérios de Friedrich: 1) dor severa ao tocar o vestíbulo ou na tentativa de penetração vaginal; 2) sensibilidade local à pressão da região vestibulovulvar; 3) diferentes graus de eritema local (SÁNCHEZ e CHALELA, 2007; EDGARDH e ABDELNOOR, 2007). Já Brosens, Terrasa e Astolfi (2009) descrevem que o diagnóstico do vaginismo é realizado por meio de exame físico, verificando-se alterações anatômicas, causas ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 7 Artigo 1 infecciosas, lubrificação inadequada, entre outros. Devido ao espasmo muscular presente em tal patologia, torna-se dificultosa a realização do exame (toque vaginal e papanicolau). Vários tratamentos são propostos para vulvodínia e vaginismo, sendo que não se devem limitar à região ginecológica, mas serem multidisciplinares e individualizados, levando-se em consideração os múltiplos fatores etiológicos envolvidos. O tratamento pode incluir desde técnicas cirúrgicas (última opção de tratamento, utilizada em caso de insucesso terapêutico conservador), uso de medicamentos (anestésicos, antidepressivos, anticonvulsivantes, injeções botulínicas, cremes tópicos, entre outros), terapia cognitivo-comportamental (hipnoterapia e acupuntura) e terapias físicas, incluindo a fisioterapia (MARIANI, 2002; BARACAT E LIMA, 2005; GRAZIOTIN E GIOVANNINI, 2005; ETIENNE E WAITMAN, 2006; DROUIN, DAMANT E TURCOTTE, 2008, NEUBERN, 2009). O tratamento fisioterapêutico é indicado como intervenção primária, e aborda técnicas manipulativas, exercícios para o assoalho pélvico, estimulação elétrica, termoterapia, biorretroalimentação, mobilizações neurais e estruturais, além de correções da biomecânica. (PRENDERGAST, RUMMER e KOTARINOS, 2008; AVIEIRO, GARCIA e DRIUSSO, 2009). 8 Apesar de ser indicação de intervenção primária, a atuação da fisioterapia na hiperatividade do assoalho pélvico ainda é pouco explorada em estudos clínicos, devido à complexidade da patologia, referente a inúmeras causas etiológicas e fatores biomecânicos associados. Portanto, faz-se necessário o estudo dos recursos e técnicas empregados por fisioterapeutas para esclarecimentos de quais técnicas devem ser utilizadas na terapêutica, bem como seus mecanismos de atuação e quando indicá-las. tratamento da hiperatividade do assoalho pélvico. Resultados Foram selecionados nove artigos, por descrevem alguma forma de atuação da fisioterapia como recurso no tratamento do vaginismo e/ou vulvodínia, os quais poderão ser verificados na tabela 1. É possível constatar que todos os artigos eram de revisão bibliográfica, não sendo encontrado nenhum estudo clínico. Baseado nessas premissas, este estudo teve por objetivo elucidar, como forma de tratamento, a atuação da fisioterapia na síndrome da hiperatividade do MAP, restringindo-se à vulvodínia e ao vaginismo. Materiais e métodos Trata-se de uma pesquisa de revisão de literatura realizada nas bases de dados Medline, Lilacs e Scielo. Os descritores utilizados para a pesquisa foram assoalho pélvico, vaginismo, vulvodínia e períneo, sempre associados à fisiopatologia e/ou reabilitação, publicados em inglês, português ou espanhol, durante os anos de 2002 a setembro de 2010. Foram selecionados e incluídos nesta revisão apenas estudos obtidos na íntegra que discorressem sobre a atuação da fisioterapia e/ou de seus recursos e técnicas para o ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 TABELA 1 – Dados gerais dos artigos selecionados Ref. Objetivo Metodologia Resultados Considerações 2* Descrever as principais alternativas fisioterapêuticas que visam minimizar as disfunções sexuais da mulher. Revisão bibliográfica Os métodos fisioterapêuticos baseiam-se na contração voluntária da MAP para reeducá-la e aumentar seu tônus. Os recursos utilizados foram: cones vaginais, exercícios de Kegel, biofeedback, eletroestimulação, trabalho manual e orientações domiciliares. A fisioterapia, associada a outras opções terapêuticas, pode auxiliar no restabelecimento de uma vida sexual saudável. Entretanto, são necessárias mais pesquisas, principalmente estudos clínicos, que elucidem a eficácia dessa forma de terapia. 3* Avaliar a efetividade de tratamentos fisioterapêuticos propostos para o vaginismo. Revisão bibliográfica de estudos clínicos que abordassem opções de tratamento fisioterapêuticos. Apenas três estudos foram incluídos e utilizavam terapia cognitiva comportamental associada à estimulação elétrica funcional com biofeedback; dessensibilização por dilatadores de silicone; e a terapia sexual proposta por Masters & Johnson (1970), modificada por Kaplan (1974). Os autores afirmam que os estudos são de baixa qualidade metodológica e não fornecem evidências consistentes de intervenção clínica no vaginismo. Portanto, há necessidade de outros estudos clínicos randomizados para a comprovação de resultados. 12* Verificar a taxa de sucesso no tratamento do vaginismo, e os fatores que influenciam essa taxa, por meio da utilização da terapia sexual de Masters & Johnson (1970), modificada por Kaplan (1974). Estudo clínico com 120 casais, realizando terapia sexual (exercícios de Kegel, dilatação vaginal, relaxamento da MAP, aconselhamento e aplicação local de xilocaína, analgésicos orais e relaxantes musculares antes da penetração). 93,3% dos casais tiveram penetração vaginal satisfatória depois do tratamento e com três meses de seguimento; 83,3% também relataram orgasmos. Um ano após a terapia, 63,3% das mulheres estavam grávidas ou tiveram o primeiro filho. Devido à alta taxa de sucesso, os autores encorajam as mulheres com vaginismo a realizar a terapia proposta no estudo. 14* Apontar os recursos mais utilizados para o tratamento clínico conservador da vestibulite vulvar. Revisão bibliográfica Os procedimentos mais populares encontrados foram cinesioterapia para treinamento da MAP, antidepressivos, tratamento psicológico comportamental, uso de Interferon e modificação da dieta. O tratamento deve, primeiramente, abordar o uso de antidepressivos e o treinamento da MAP. A terapia psicológica deve ser complemento de qualquer opção de tratamento. 17* Estudar o vaginismo, abordar sua etiologia e alguns dos métodos terapêuticos. Revisão bibliográfica O tratamento do vaginismo pode ser realizado por diversos profissionais (fisioterapeutas, médicos e psicólogos), utilizando abordagens específicas. Destaca como tratamento fisioterapêutico a cinesioterapia, o biofeedback e o uso de dilatadores vaginais. 19* Relatar o manejo da fisioterapia no tratamento da vulvodínia. Revisão bibliográfica O fisioterapeuta pode utilizar da cinesioterapia, da terapia manual (toque bidigital e massagem), além de técnicas manuais para desativação de trigger points. A fisioterapia é essencial para a evolução do quadro da paciente, devido ao componente musculoesquelético estar presente. 20* Citar aspectos gerais e opções de tratamento para vulvodínia. Revisão bibliográfica O tratamento pode envolver cremes tópicos, antidepressivos, dieta, cinesioterapia, psicoterapia e até cirurgias. A fisioterapia pode utilizar a eletroestimulação com biofeedback, a eletroanalgesia e até mesmo a acupuntura. O tratamento deve ser multidisciplinar, sendo que a eletroestimulação é um dos recursos que têm causado boa evolução. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 9 Artigo 1 21* Revisar a literatura acerca da dor vulvar para determinar sua abordagem terapêutica. Revisão bibliográfica 22* Determinar a eficácia de um protocolo de tratamento em mulheres com vaginismo, utilizando estimulação elétrica funcional (FES) e biofeedback associado à terapia cognitivo-comportamental sexual (SCBT) Estudo clínico com doze mulheres diagnosticadas com vaginismo, realizando relaxamento semanal com FES-biofeedback até que se tornasse tolerável à manipulação vaginal para realizar a SCBT em oito estágios de dessensibilização vaginal por oito semanas. Por ser uma patologia multifatorial, o tratamento inicialmente é clínico (multidisciplinar), e o último recurso deve ser cirúrgico. Todos os casais puderam atingir coito vaginal satisfatório. O autor sugere um protocolo terapêutico para vulvodínia, sendo a fisioterapia a etapa quatro do protocolo, incluindo a terapia física e o biofeedback, com taxas de melhora de 60%. FES e biofeedback associados à SCBT podem ser eficazes para incrementar o sucesso terapêutico de mulheres com vaginismo. Fonte: elaborada pelos autores, 2010. *Autores numerados de acordo com as referências Os recursos fisioterapêuticos mais utilizados apontados pelos artigos podem ser visualizados na tabela 2. Tabela 2- Modalidades terapêuticas abordadas pelos autores Modalidades terapêuticas 2* 3* 12* 14* 17* 19* 20* 21* 22* - X X X X - X X - - X X - X - - X - X X X X - X X X - X X X X X X X X X X - X - X X X X - - - X X X - X X X - - X - X - X X - X X X X - X - X X X X X X - X - X - - - X X - X - - - Clínica Farmacoterapia (antidepressivos, anticonvulsivantes e hormonais) Injeções de toxina botulínica Infiltrações locais de anestésicos Cirúrgico Fisioterapêutica Exercícios Terapia manual Cones vaginais Dessensibilização associada ao uso de dilatadores Estimulação elétrica Termoterapia Biofeedback Acupuntura Psicológica Terapia cognitiva Comportamental (TCC) Hipnoterapia Psicanálise Gestalt - Terapia X Fonte: elaborada pelos autores, 2010. *Autores numerados de acordo com as referências Discussão De acordo com estudo realizado no Brasil por Abdo, Oliveira, Moreira e Fittipaldi (2004) apud Aveiro, Garcia e Driusso (2009), a vulvodínia e/ou vaginismo afetam as mulheres 10 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 significativamente, chegando a uma prevalência de 49% de uma amostra de 1.219 sujeitos. Tais disfunções sexuais levam à depreciação da qualidade de vida da mulher, de seu cônjuge e de todo o meio que a cerca. Apesar da alta prevalência encontrada, ainda é escassa a produção bibliográfica acerca dos recursos e técnicas terapêuticas para o tratamento da hiperatividade do assoalho pélvico, principalmente estudos clínicos de qualidade, controlados e randomizados, que comprovem a eficácia do tratamento fisioterapêutico na patologia. Isso se deve à complexidade de sua etiologia e às diversas causas biomecânicas associadas, além do fato de se tratar de área recente de atuação do profissional. Entretanto, evidências sugerem, conforme Prendergast, Rummer e Kotarinos (2008), que o tratamento fisioterapêutico em mulheres com vulvodínia deve objetivar devolver a funcionalidade dos tecidos envolvidos para o sucesso terapêutico, para a redução ou eliminação do quadro álgico e restabelecimento da função sexual. A seguir, apresentam-se técnicas e recursos fisioterapêuticos encontrados na literatura, demonstrando sua aplicabilidade, justificativa e possível efetividade. Cinesioterapia A terapia por meio de exercícios físicos, com ou sem o uso de recursos auxiliares, é indicada para as mulheres com o diagnóstico de hiperatividade do assoalho pélvico. Objetiva-se o controle da MAP, promovendo voluntariamente o relaxamento quando necessário. Os exercícios baseiam-se na contração e no relaxamento da musculatura, dando ênfase a este, que é difícil de ser obtido nas pacientes devido à hiperatividade muscular. A primeira etapa para a prática consiste na busca da percepção local, ou seja, perceber a existência da contração da MAP. Para isso, posiciona-se adequadamente a paciente em decúbito dorsal, com membros inferiores fletidos e apoiados na maca. Solicita-se então que a paciente coloque seus dedos sob o centro tendíneo do períneo e realize uma contração seguida de um relaxamento do mesmo. Esse exercício pode ser realizado em diversas posições, dependendo das dificuldades encontradas na avaliação, como a presença de sinergismos musculares ou “contrações parasitas” que impeçam a contração isolada da MAP. O correto posicionamento da paciente deve buscar o isolamento da ação muscular do períneo, mantendo-o em posição de alongamento para melhorar a percepção da região. No caso de sinergismo de adutores de quadril, deve-se adotar a posição de abdução de quadril para a realização do exercício (HENSCHER, 2007). Os exercícios de percepção local podem ser auxiliados por um espelho, que melhora a visualização do movimento, pela bola terapêutica ou por uma almofada pélvica, que melhora a noção corporal, e pelo fisioterapeuta, associando-os à respiração. Alguns autores sugerem associar o exercício com o uso de sondas ou cones vaginais, entretanto não deve ser a primeira opção se a causa for de cunho psicológico, pois tendo em vista a impossibilidade de penetração do recurso pelo quadro álgico, sua utilização pode retardar o processo de melhora e/ou cura. Outros autores também indicam, para a percepção local, a interrupção do fluxo urinário (POLDEN E MANTLE, 2000) no momento da micção, o que só deve ser realizado uma única vez pela paciente, pois pode ser motivo de infecção urinária por volume residual. Após a mulher dominar o movimento promovido pela MAP sem o uso demasiado de sinergismos musculares, é indicada uma sequência de exercícios locais, denominados exercícios de Kegel, que envolvem contração rápida, lenta e/ou isométrica/ sustentada, respeitando intervalos de tempo de acordo o objetivo do tratamento. Exercícios relacionados à mobilização pélvica e de tronco também devem ser associados com os exercícios de Kegel para potencializar os resultados. O fisioterapeuta pode utilizar de diversas técnicas ou métodos para o tratamento, como os exercícios hipopressivos, de pilates ou isostretching. Entretanto, deve ter discernimento ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 11 Artigo 1 para sua escolha de acordo com os achados do exame físico e priorizar a fase de relaxamento muscular para não buscar feedback negativo, agravando o quadro. Dilatadores vaginais Na técnica de dilatação gradual, são inseridos dilatadores de silicone ou de material emborrachado lubrificados no canal vaginal como sondas que podem ser insufladas (exemplo é o epi-no: recurso utilizado por mulheres grávidas que consiste em uma sonda que pode ser insuflada gradativamente, objetivando-se aumentar a elasticidade do períneo). Inicialmente, os dilatadores devem ser pequenos; seu tamanho deve ser aumentado gradativamente, à medida que a tolerância da paciente o permita. A técnica de dilatação pode também ser praticada em casa, usando os dedos em vez dos dilatadores (MERCK SHARP e DOHME 2007 apud PINHEIRO, 2009). No momento em que os dilatadores estão inseridos na vagina, exercícios de fortalecimento da MAP podem ser realizados. Dessa forma, de acordo com Pinheiro (2009), a utilização da técnica nos casos de vaginismo pode contribuir para melhora do quadro, diminuindo a sensibilidade à penetração e favorecendo a percepção da MAP pela mulher, o que lhe possibilita seu controle e relaxamento. Apesar desta afirmativa, apenas três estudos foram encontrados citando o uso 12 de dilatadores vaginais como opção de tratamento (PRENDERGAST, RUMMER, KOTARINOS, 2008; AVEIRO, GARCIA, DRIUSSO, 2009; PINHEIRO, 2009), e os mesmos não forneceram evidências consistentes de intervenção no vaginismo. Críticas podem ser feitas a: 1) que pacientes podem se beneficiar com o recurso tendo em vista a presença de hipertonia associada e etiologia de cunho psicológico que pode levar à recusa e à sensação de agressão pelo seu uso; 2) qual o momento ideal para ser utilizado no protocolo de reabilitação para que não provoque algia; 3) qual deve ser a quantidade de ar a ser insuflada; e ainda 4) como proceder com o tempo, duração e frequência de utilização. Essas dúvidas ainda precisam ser objeto de estudos futuros. Terapia manual Constituída por um conjunto de procedimentos com finalidade terapêutica ou preventiva, no qual é aplicado toque ou manobra manual sobre os tecidos musculares, ósseos, conjuntivos e nervosos. Geralmente é mais utilizada no alívio de tensões (mobilização de pontos gatilhos), restrição de mobilidade, desvios mecânicos ou bloqueios funcionais. No caso do vaginismo e da vulvodínia, podem ser indicados procedimentos manuais com o intuito de desativar os pontos gatilhos, mas não devem ser a primeira opção de tratamento, pois as mulheres que possuem essas patologias referem muita dor ao toque. O mais indicado seria utilizá-los após outro procedimento, com o princípio de alívio da dor e a retirada de tensão muscular, que são as principais causas dos sintomas, como a eletroanalgesia. Segundo Prendergast, Rummer e Kotarinos (2008), o fisioterapeuta deve observar a existência de pontos gatilhos e se eles estão contribuindo para seus sintomas. Os músculos identificados como principais causadores de dor nos tecidos da vagina ou vulvar, por possuírem maior número de pontos gatilhos, são isquiocavernoso, bulboesponjoso e elevador do ânus. Após a localização dos pontos gatilhos, existem técnicas a serem seguidas para sua respectiva desativação, dentre elas a de compressão isquêmica, pela qual o fisioterapeuta pressiona manualmente o ponto de dor por 60 a 90 segundos ou até sentir a “liberação” dele. Liberações miofasciais, mobilização neural e massagem local também podem ser indicadas, entretanto a literatura a respeito do tratamento da hiperatividade do assoalho pélvico com o uso da terapia manual é escassa e sem especificações, devendo ser objeto de futuros estudos clínico. Vale ressaltar que, da mesma forma que o uso dos dilatadores vaginais são contestados no tratamento do vaginismo associado ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 à hipertonia e causas psicológicas, a massagem em U invertido na vagina para dessensibização do assoalho pélvico também o é, pois pode ser motivo de não aceitação do tratamento e piora do quadro. Biofeedback/ biorretroalimentação Para Antoniolil e Simões (2010), o biofeedback consiste em um método de reeducação que tem efeito modulatório sobre o sistema nervoso central (SNC) por meio da utilização de uma retroalimentação externa como meio de aprendizado. Esse método é realizado com a aplicação de eletrodos acoplados na musculatura do assoalho pélvico e musculatura sinergista (glúteo máximo, adutores e abdominais), que captam sinais de atividade mioelétrica, e por meio de comandos verbais dados pelo fisioterapeuta ou visuais/ sonoros oferecidos pelo equipamento, orientará os músculos do assoalho pélvico a realizar sua função excluindo a contração sinergista. O objetivo desse tratamento é ajudar as pacientes a desenvolver maior percepção e controle voluntário (contração/ relaxamento) dos músculos do assoalho pélvico. Sua contribuição consiste também em garantir a aquisição rápida, precisa, segura da participação da paciente em sua reeducação. O treinamento do controle voluntário eficiente da função do assoalho pélvico é capaz de reestabilizar os circuitos neuronais e aperfeiçoar a função dos alvos periféricos. Pinheiro (2009) complementa que o biofeedback tem como natureza a abordagem que o fisioterapeuta usa para gerar a conscientização corporal e funcional do corpo de suas pacientes. Nesse caso, como meio para alcançar tais objetivos, os profissionais utilizam de estímulos táteis, visuais, auditivos ou elétricos (perineômetro, toque digital ou cones vaginais). Então o biofeedback geralmente é um aparelho que faz a medição, avalia e trata as disfunções neuromusculares. É um eficiente recurso na reabilitação dos músculos do assoalho pélvico, devido ao fato de monitorar o tônus em repouso, a força e a sustentação, entre outros padrões de atividade mioelétrica, mostrando-se efetivo na percepção da paciente, que consequentemente verifica melhora nas contrações voluntárias dessa musculatura, e por fim favorece também o treino de relaxamento. Conforme apresentado na tabela 2, a maioria dos estudos cita a utilização do biofeedback como forma de tratamento para a hiperatividade do assoalho pélvico. Em um dos estudos, realizado por Sánchez e Chalela (2007), sugere-se que o biofeedback pode reduzir a dor nos casos de vulvodínia e/ou vaginismo, com taxa de melhora em torno de 60%. Aparelhos mais sofisticados que não utilizam sondas vaginais, somente eletrodos de superfície, podem ser indicados como abordagem inicial de tratamento, pois dessa forma a paciente poderá visualizar a avaliação da tensão muscular (luzes coloridas ou parar) e, assim, controlar o desenvolvimento (contrações) voluntário. Entretanto, mais estudos devem ser realizados para definir os padrões para sua utilização. Outro estudo associa o biofeedback com a eletroestimulação. Segundo Ricci (2010), a associação dos dois recursos é uma forma de tratamento eficaz para vulvodínia e/ou vaginismo, pois a eletroestimulação pode aumentar a percepção corporal da mulher e ensiná-la a relaxar voluntariamente a MAP. Essa característica torna-se mais importante quando, além do vaginismo, por exemplo, existir a associação de hipertonia e fatores psicossociais. Estimulação elétrica Segundo Kitchen (2003), trata-se da utilização de correntes elétricas para fortalecimento e reeducação muscular, redução de edema, alívio da dor e reparo de feridas. Quando se trata de vulvodínia e/ou vaginismo a literatura não é clara no que se diz respeito à utilização da eletroterapia em seu tratamento. Essa forma de terapia pode ser utilizada de duas formas diferentes: 1) a eletroestimulação busca a contração muscular da MAP evocada eletricamente ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 13 Artigo 1 para o alcance posterior do relaxamento. Os parâmetros elétricos geralmente utilizados são os de fortalecimento, entretanto variam muito entre os autores: transmissão da corrente em trens de pulso, forma de onda bifásica, frequência entre 10 a 50 Hz, duração de pulso entre 200 a 500 microssegundos, intensidade em nível motor, trens de pulso com o tempo de repouso de no mínimo duas vezes o tempo da contração. 2) a eletroanalgesia busca a redução de impulsos elétricos intrínsecos hiperativados no caso de hipertonia, que serão evocados por impulsos elétricos externos sob o nervo pudendo. Os parâmetros elétricos sugeridos consistem na transmissão de corrente sem trens de pulso ou convencional, forma de onda bifásica e simétrica, frequências entre 50 a 100 Hz, breve duração de pulso entre 40 a 75 microssegundos, intensidade variando entre sensorial e motor. Os estímulos elétricos podem ser transmitidos por eletrodos de superfície ou por sondas vaginais ou anais. Antoniolil e Simões (2010) afirmam que a eletroestimulação deve ser considerada eficaz para proporcionar a conscientização do assoalho pélvico e reforço muscular, sendo que sua vantagem é não apresentar efeitos colaterais se comparado ao tratamento medicamentoso, apesar de algumas pacientes relatarem algum tipo de desconforto e irritação local. Ricci (2010) afirma que alguns estudos demonstram 14 a eficácia da eletroanalgesia no tratamento da patologia em questão por reduzir a dor da paciente e o espasmo local, considerando o método como seguro e eficaz. Termoterapia Segundo Kitchen (2003), trata-se da utilização da temperatura nos tecidos corporais e em estímulos à termorregulação corporal, gerando benefícios terapêuticos como a analgesia. Diversos estudos elucidam a ação da temperatura nos quadros álgicos e portanto pode ser utilizada no tratamento da vulvodínia e/ou vaginismo. Para Prendergast, Rummer e Kotarinos (2008), a termoterapia deve ser a opção para pacientes que apresentam dificuldade em tolerar a terapia manual e/ou toque, devido à dor presente. Os mesmos sugerem que o programa de tratamento pode ser modificado incluindo-se a massagem com gelo (crioterapia). Já outros autores citam a utilização da termoterapia como uma das opções para o tratamento da hiperatividade, entretanto, sem definir os padrões de utilização como tempo, duração, frequência e intensidade (AVEIRO, GARCIA e DRIUSSO, 2009). Acupuntura Segundo (SINTAN, 2006), acupuntura é o conjunto de conhecimentos teórico-empíricos da medicina chinesa tradicional que visa à terapia e à cura das doenças por meio da aplicação de agulhas e moxas, além de outras técnicas. De acordo com a medicina chinesa, a acupuntura visa à normalização dos órgãos doentes por meio de um suporte funcional que exerce um efeito terapêutico. A acupuntura é uma técnica segura e prática que exige bom nível técnico do terapeuta. Como desvantagem, verificam-se o medo dos pacientes em relação à agulha e o longo período de tratamento. Angulo e Chalela (2006) apenas citam a acupuntura como forma de tratamento para vulvodínia e/ou vaginismo, sem informações específicas no que se refere a tal técnica. Entretanto, Ricci (2010) afirma que a acupuntura tem sido utilizada para o controle da dor crônica em várias síndromes, inclusive para o tratamento da vulvodínia e/ou vaginismo, citando um estudo publicado em 1999, em que a técnica foi utilizada semanalmente em doze pacientes, mostrando que apenas pacientes (25% da amostra) não apresentaram efeito algum, em sete (58,3% da amostra) houve diminuição da intensidade da dor, fazendo com que se sentissem melhor, e em duas (16,7% da amostra) houve erradicação da dor. Esses são considerados bons resultados, o que incentiva os pesquisadores a realizar novos estudos referentes a esse recurso de maneira mais abrangente para definir se a acupuntura deve ser mais um dos recursos utilizados para a terapêutica de dor crônica, em que se ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 1 enquadra a vulvodínia e/ou o vaginismo. CONCLUSÃO Vários tratamentos são propostos para a vulvodínia e o vaginismo envolvendo uma equipe multidisciplinar, sendo o tratamento fisioterapêutico indicado como intervenção primária. A fisioterapia envolve a aplicação de cinesioterapia, técnicas manipulativas, estimulação elétrica, termoterapia, biofeedback, acupuntura, além de correções da biomecânica. Entretanto, a efetividade das técnicas/recursos ainda não está elucidada e comprovada por estudos clínicos, demonstrando que sua aplicabilidade ainda se baseia em observações empíricas clínicas e subjetivas, portanto, não se pode afirmar de forma completa os benefícios relatados pelos diversos autores em seus artigos. Dessa forma, conclui-se que diante de um problema com alta prevalência na população de mulheres e a escassez de literatura acerca do assunto, recomenda-se que pesquisas sejam realizadas para definição de um protocolo de tratamento individualizado e aceito perante a comunidade científica, além de evidenciar a necessidade da especialização dos profissionais que atuam na área da fisioterapia em uroginecologia. REFERÊNCIAS 1. ANGULO, I. C.; CHALELA, J. G. Síndrome Disestésico Cutáneo: vulvodinia y síndrome de boca quemante. Una aproximación diagnóstica Y terapéutica. Revista MED, 2006, v. 10, n. 1, p. 88-97. 2. ANTONIOLI, R. S.; SIMÕES, D. 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Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 Treinamento de força da musculatura inspiratória com o uso de carga linear pressórica – Threshold®, em pacientes idosos institucionalizados: estudo controlado randomizado Training Muscle Strength using linear load pressor – Threshold® in institutionalized elderly patients: randomized controlled trial Aldinéia Maria de Moraes Callegarini1 Angélica Ferreira dos Santos2 Bárbara Carlins Czuika3 Elaine Maria dos Santos4 Valéria Cabral Neves Luszczynsk5 1. Graduanda da Faculdade Dom Bosco [email protected] 2. Graduanda da Faculdade Dom Bosco [email protected] 3. Graduanda da Faculdade Dom Bosco [email protected] 4. Graduanda da Faculdade Dom Bosco [email protected] 5. Professora mestre da Faculdade Dom Bosco [email protected] RESUMO Objetivos: verificar se o treinamento muscular inspiratório auxilia no ganho da pressão inspiratória máxima (PImáx) em idosos institucionalizados. Métodos: A pesquisa foi intervencional, experimental, qualiquantitativa. A mostra foi constituída por quatorze gerontes de duas casas de repouso de Curitiba, PR, divididos de forma randomizada, em grupo experimental – GE (n = 8, média de idade 74,25 anos) e grupo controle – GC (n = 6, média de idade 80,83). Os grupos foram submetidos à avaliação da PImáx e PEmáx por meio da manovacuometria, também sendo aplicado o questionário de qualidade de vida SF-36. O treinamento de intervenção no GE constituiu exercícios de padrão ventilatório em grupo e treino utilizando o Threshold® por vinte minutos, com sete séries de fortalecimento (dois minutos cada) e intervalo de um minuto entre as séries, durante duas semanas, três vezes na semana. A carga de trabalho do Threshold® foi instalada gradualmente (30% da PImáx na primeira semana e 40% da PImáx na segunda semana). O GC realizou apenas os exercícios de padrão ventilatório em grupo. Resultados: Houve diferença significativa no domínio da capacidade funcional, avaliado pelo questionário de qualidade de vida SF-36, observado no GE, bem como a melhora da PImáx em ambos os grupos, porém sem significância estatística. Conclusão: Observa-se que o treinamento muscular utilizando o Threshold® realizado com os idosos interfere no aumento da PImáx e consequentemente proporciona melhor qualidade de vida. Palavras-chave: força muscular respiratória, carga linear prossórica, treino muscular respiratório, idosos intitucionalizados e qualidade de vida. ABSTRACT Objectives: aim of this study was to determine whether inspiratory muscle training helps to gain the maximum inspiratory pressure (MIP) in institutionalized elderly. Methods: The study was interventional, experimental, qualitative and quantitative. The show consisted of 14 Geronte two nursing homes in Curitiba, PR, randomly divided in experimental group – EG (n = 8 mean age 74.25 years) and GC – control group (n = 6 average age 80.83). The groups were assessed for MIP and MEP through the manometer, which also applied the quality of life questionnaire SF-36. The training intervention consisted GE ventilatory pattern exercises and group training using the Threshold® for 20 minutes, with seven sets of strengthening (2 minutes each) and 1 minute between sets for two weeks, three times a week . The workload of the Threshold® was installed gradually (30% of MIP in the first week and 40% of MIP in the second week). The GC has only held the exercises in groups of ventilatory pattern. Results: There were significant differences in ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 17 Artigo 2 physical functioning domain, assessed by the Quality of Life Questionnaire SF-36, observed in the GE, as well as the improvement in MIP in both groups, but without statistical significance. Conclusion: It is noted that the muscle training using the Threshold® performed interferes with the elderly for the increase MIP and therefore provides a better quality of life. Keywords: respiratory muscle strength, linear load pressure, respiratory muscle training, institutionalized elderly and quality of life. Introdução Um conjunto de estudos epidemiológicos indica que a função pulmonar prejudicada, especialmente a diminuição nas taxas de fluxo expiratório, é responsável por taxas altas de mortalidade, tanto por problemas pulmonares quanto cardíacos, causas principais de óbito em homens e mulheres. No caso do idoso, esses aspectos adquirem tal importância que, muitas vezes, a medida da função respiratória é sugerida como fator de qualidade de vida (REBELATTO; MORELLI, 2007). A manovacuometria é um método de avaliação que permite quantificar de forma não invasiva, rápida, simples e segura a força dos músculos respiratórios. A pressão inspiratória máxima (PImáx) indica a força dos músculos inspiratórios, e a pressão expiratória máxima (PEmáx), a força dos músculos expiratórios. São graduados 18 em centímetros de água. O Threshold® teve sua validade testada nos estudos de Johnson e Gosselink apud Britto, Brant e Parreira (2009), sendo muito utilizado no treinamento da musculatura respiratória (BRITTO; BRANT; PARREIRA, 2009). Sendo assim, o objetivo do presente estudo foi verificar se o treinamento muscular inspiratório auxilia no ganho da pressão inspiratória máxima (PImáx) em idosos institucionalizados. Metodologia Trata-se de um estudo intervencional, experimental, qualiquantitativo. Ele teve abordagem intervencional, por se tratar de uma ação fisioterapêutica em idosos institucionalizados. Quantitativa, pois foram avaliadas as medidas da pressão inspiratória máxima e da pressão expiratória máxima desses indivíduos por meio de manovacuometria, bem como qualitativa, pois se aplicou um questionário de qualidade de vida. Cálculo amostral Para o cálculo do tamanho da amostra, foi usada a variável “manovacuômetro” (parâmetro principal do estudo). Foi considerado o nível de significância de 5%, o poder do teste de 70% e a variância do teste igual a 5 cm. Para se detectarem diferenças significativas de 5 cm, o número da amostra foi de quatorze indivíduos (Altman, 1991). Tipo de amostra A amostra desta pesquisa foi probabilística, do tipo aleatório estratificada, que segundo Gil (2002, p.122) é aquela em que ocorre a seleção de uma amostra de cada subgrupo da população pesquisada. População e participantes Foram incluídos idosos com idade acima de 60 anos, de ambos os sexos, moradores das instituições Asilo Santa Clara e Casa de Repouso Sant’ Felicy, da cidade de Curitiba, que compreendessem e executassem os comandos ensinados, concordassem em assinar o termo de consentimento livre esclarecido e com disponibilidade para a realização dos atendimentos. Foram excluídos idosos hospitalizados, traqueostomizados, sob uso de oxigenioterapia ou suporte ventilatório. Além disso, foram excluídos indivíduos com hipertensão arterial não tratada e/ou com risco de hemorragia (aneurisma de aorta), infarto agudo do miocárdio e angina instável recente, pneumotórax, fístulas pulmonares, hérnias abdominais, cirurgia torácica ou abdominal recente e problemas agudos de ouvido médio. Foram excluídos também pacientes com quadro febril e álgico não tratável, imunossupressão severa, bem como aqueles sob tratamento fisioterapêutico e/ou submetidos à reabilitação pulmonar nos últimos três meses e que não preencheram ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 os critérios de inclusão. Procedimentos Os idosos foram randomizados, de acordo com os métodos de inclusão e exclusão, sendo assim apresentado o termo de Consentimento Livre Esclarecido, segundo a resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, que esclarece o estudo, assim como seus objetivos, riscos e benefícios da técnica utilizada. Após a assinatura do termo de Consentimento Livre Esclarecido, foram selecionados dezoito idosos da terceira idade, dos quais foram excluídos três por não adesão ao tratamento e um por entrar em óbito no decorrer da pesquisa. Finalizou-se a pesquisa com quatorze participantes. Os idosos foram divididos em dois grupos de forma randomizada, sendo um grupo experimental (GE, n = 8) e um grupo controle (GC, n = 6). Os atendimentos foram realizados em uma sala reservada no local onde os idosos residem, Asilo Santa Clara ou Casa de Repouso Sant’ Felicy. Os idosos passaram por uma avaliação respiratória fisioterapêutica contendo dados pessoais, escala de Borg, SpO2, PEmáx e PIMax. Também responderam ao questionário de qualidade de vida validado (SF-36) no primeiro e no último dia de tratamento. Os idosos foram submetidos a uma avaliação de força muscular respiratória por meio do manovacuômetro. O bocal utilizado para o aparelho foi adaptado para este estudo contendo uma mangueira de silicone de 20 cm de comprimento e um adaptador de metal. Conforme relata Nagakawa e Barbabé (2006), quando utilizados bocais circulares obtêm-se valores significativamente maiores e são indicados para idosos, pois estes possuem dificuldade para realizar preensão labial adequada ao redor do bocal, o que facilita o escape de ar durante a manobra. A pressão inspiratória máxima (PImáx) foi avaliada com o idoso na posição sentada, estando o tronco em ângulo de 90° com as coxas. O indivíduo expirou até alcançar seu volume residual, conectou-se imediatamente à peça bucal e com o nariz ocluído por clipe nasal, efetuou esforço inspiratório máximo. O teste foi realizado três vezes, com pausa de um minuto, sendo utilizado o valor de PImáx maior. Estando o indivíduo na mesma posição, foi avaliada também a pressão expiratória máxima (PEmáx); conectando-se a peça bucal com o nariz ocluído por clipe nasal, o idoso efetuou inspiração máxima três vezes, com pausa de um minuto entre cada uma, obtendo-se o valor máximo. O GE realizou treinamento muscular respiratório utilizando o Threshold® por vinte minutos, com sete séries de fortalecimento (dois minutos cada) e intervalo de um minuto entre as séries, durante duas semanas, três vezes por semana. Também realizou os exercícios respiratórios a seguir em grupo três vezes por semana, por duas semanas. Exercício respiratório com inspiração máxima sustentada 1º passo: paciente sentado em cadeira com encosto, MMII a 90° e pés apoiados no chão; 2º passo: o paciente enche o pulmão de ar, puxando-o pelo nariz o máximo possível e de forma lenta, o máximo que conseguir; 3º passo: sustenta por cerca de três a dez segundos; 4º passo: solta o ar normalmente, sem esforço, pela boca. Exercício respiratório, frenolabial 1º passo: paciente sentado em cadeira com encosto, MMII a 90° e pés apoiados no chão; 2º passo: o paciente enche o pulmão de ar, puxando-o pelo nariz; 3º passo: solta o ar pela boca contra a resistência dos lábios franzidos ou fechamento dos dentes; 4º passo: o tempo pode ser longo ou curto, conforme a capacidade de cada paciente. Exercício de expiração forçada 1º passo: paciente sentado em cadeira com encosto, MMII a 90° e pés apoiados no chão; 2º passo: o paciente puxa pouco ar, lentamente, pelo nariz; ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 19 Artigo 2 O GC fez apenas exercícios respiratórios em grupo, orientados e realizados juntamente às pesquisadoras três vezes por semana, por duas semanas. Análise estatística Foi utilizada estatística descritiva com média e desviopadrão para SpO2, PImáx, PEmáx, escala de Borg e em todos os domínios do questionário de qualidade de vida. Para a análise das variáveis respostas, foi utilizado na análise intragrupos e intergrupos o teste ANOVA one way. Adotouse o nível de p < 0,05 para significância estatística. Para avaliação dos resultados foram utilizados o programa Excel e software Minitab 15. Resultados Grupo experimental Dos 29 idosos moradores da casa de repouso Saint’ Felicy, quatro (14%) foram incluídos no grupo experimental. De todos os moradores desta casa, apenas dez (34%) preenchiam os critérios de inclusão. Destes, três gerontes não aderiram ao tratamento por motivos individuais e um entrou em óbito por infarto fulminante. No Asilo Santo Clara, dos 26 moradores, quatro (15%) foram incluídos no grupo experimental. Foram excluídos do estudo 18 idosos por não preencherem os critérios de inclusão e, em sua maioria, não compreenderem os comandos ensinados. 20 No total, o grupo experimental foi composto por oito idosos (14%); seis (75%) do gênero feminino e dois (25%) do masculino, sendo a média de idade desse grupo 74,25 anos. O grupo experimental apresentou melhora na pressão inspiratória máxima (PImáx), de modo que inicialmente era –67,50 ± 42,68 cm H2O e após treinamento foi para –97,50 ± 31,05 cmH2O. No entanto, não houve significância estatística (p > 0,05). Análise da pressão inspiratória máxima no grupo experimental Boxplot of PImáx (cmH2O) – GC 140 PImáx (cmH2O) – GC 3º passo: solta todo o ar possível, forçadamente, pela boca. 120 100 80 60 40 20 Avaliação Fase Reavaliação Fonte: Dados da pesquisa. Houve melhora também em dois domínios do questionário de qualidade de vida SF-36: capacidade funcional e aspectos sociais. Porém, não houve significância estatística. A escala de Borg não obteve alteração na reavaliação quando comparada à avaliação, observando-se que esse treinamento não influenciou na melhora da dispneia. Grupo controle Constituíram o grupo controle dois idosos (7%) da casa de repouso Saint’ Felicy e quatro (15%) do Asilo Santa Clara, sendo finalizado com o total de seis indivíduos (11%). Destes, cinco (83%) eram do gênero feminino e um (17%) do masculino, com idade média de 80,83 anos. O grupo controle apresentou aumento na PImáx e saturação de pulso (SpO2) quando comparado com a avaliação. A PImáx passou de –50,00 ± 20,00 para –54,67 ± 20,46, e a SpO2 foi de 0,9100 ± 0,07348 para 0,9350 ± 0,03937, porém não houve significância estatística (p > 0,05). ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 Análise da PImáx no grupo controle Boxplot of PImáx (cmH2O) – GC PImáx (cmH2O) – GC 80 70 60 50 40 30 20 10 Avaliação Fase Reavaliação Fonte: Dados da pesquisa. Em relação ao questionário de qualidade de vida SF-36, os domínios estado geral de saúde, vitalidade e saúde mental melhoraram quando comparados à avaliação, no entanto sem significância estatística (p > 0,05). Grupo controle e grupo experimental A média de idade dos dois grupos foi de 77,07 anos. Com relação ao meio de locomoção dos idosos, no grupo experimental um indivíduo (12%) era cadeirante, quatro (50%) deambulavam e três (38%) usavam órteses. No grupo controle, um indivíduo (17%) era cadeirante, dois (33%) deambulavam e três (50%) usavam órteses. A tabela a seguir mostra a média e o desvio-padrão da avaliação e reavaliação dos grupos experimental e controle, nos quesitos SpO2, PImáx e PEmáx, podendo também serem observados os níveis de significância intragrupos e intergrupos. Estatística descritiva da SpO2, PImáx e PEmáx entre grupo controle e grupo experimental Critérios Grupo controle Grupo experimental Avaliados n = 6 n = 8 AV RE P Intra AV RE P Intra Grupos Grupos P Inter Grupos SpO2 PImáx PEmáx 0,435 Média DP Média DP Média DP 0,9100 (0,07348) -50,00 (20,00) 51,67 (31,25) 0,9350 0,479 (0,03937) -54,67 0,698 (20,46) 51,67 1 (29,94) 0,95500 (0,02673) -67,50 (42,68) 70,00 (35,46) 0,95375 0,934 (0,03249) -97,50 0,130 (31,05) 70,00 1 (26,19) 0,174 1 AV= Avaliação; RE= Reavaliação; DP= Desvio-Padrão; GE= Grupo Controle; GC= Grupo Experimental; SpO2= Saturação de Oxigênio; PImáx= Pressão Inspiratória Máxima; PEmáx= Pressão Expiratória Máxima; n= número da amostra. Fonte: Dados da pesquisa. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 21 Artigo 2 As médias e desvio-padrão dos domínios do questionário de qualidade de vida SF-36 estão apresentados na tabela a seguir, bem como os níveis de significância intragrupo e intergrupos. Estatística descritiva do questionário de qualidade de vida SF-36 entre grupo controle e grupo experimental Critérios Grupo controle Grupo experimental Avaliados n = 6 n = 8 AV RE P Intra AV RE P Intra Grupos Grupos P Inter Grupos CP AF DOR EGS VIT AS LAE SM 0,91 *0,053 0,398 0,122 0,972 0,115 0,833 0,077 0,766 0,223 0,445 0,289 0,392 0,775 0,944 0,382 Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP Média DP 46,67 (28,58) 58,33 (40,82) 86,33 (14,990) 45 (25,42) 55,83 (29,90) 64,58 (33,93) 72,22 (25,10) 64,67 (21,97) 38,33 0,604 (25,23) 33,33 0,33 (43,78) 63 0,096 (27,24) 50,5 0,748 (31,97) 58,33 0,872 (22,06) 58,33 0,766 (36,80) 49,99 0,282 (40,82) 69,33 0,732 (23,82) 30 (30,59) 62,5 (44,32) 63 (42,47) 42,25 (27,53) 58,13 (22,51) 62,50 (37,20) 66,67 (39,83) 59,00 (27,69) 31,87 (34,12) 43,75 (41,73) 62,25 (41,97) 39,25 (28,34) 54,38 (26,65) 76,56 (34,35) 50,00 (35,63) 58,00 (27,96) AV= Avaliação; RE= Reavaliação; DP= Desvio-Padrão; GE= Grupo Controle; GC= Grupo Experimental; CP= Capacidade Funcional; AF= Aspecto Físico; DOR= Dor; EGS= Estado Geral Saúde; VIT= Vitalidade; AS= Aspectos Sociais; LAE= Limitação por Aspectos Emocionais; SM= Saúde Mental; n= número da amostra; *=p<0,005 (significância estatística). Fonte: Dados da pesquisa. Ambos os grupos aumentaram os valores da PImáx, porém sem significância estatística. O grupo experimental apresentou aumento da PImáx (–67,50 ± 42,68 cm H2O para –97,50 ± 31,05 cm H2O), e o grupo controle (–50,00 ± 20,00 cmH2O para –54,67 ± 20,46 cmH2O). O grupo experimental obteve aumento maior do que do grupo controle devido ao fortalecimento dos músculos inspiratórios utilizando o Threshold®. Comparação da PImáx entre o grupo controle e grupo experimental Boxplot of PI (cmH2O) 80 PI (cmH2O) 60 40 20 0 -20 -40 Grupo Controle Tipo de Grupo Grupo Experimental Fonte: Dados da pesquisa. 22 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 O domínio capacidade funcional do questionário SF-36 apresentou melhora significativa (p < 0,05) no grupo experimental quando comparado ao grupo controle, sendo observado no gráfico a seguir. Comparação da capacidade funcional entre o grupo controle e o grupo experimental Boxplot of Capacidade Funcional 20 Capacidade Funcional 10 0 -10 -20 -30 Controle Tipo Grupo Experimental Fonte: Dados da pesquisa. O fortalecimento dos músculos inspiratórios causou melhora no domínio aspectos sociais do SF-36. No início do estudo, os grupos controle e experimental apresentaram valores de aspectos sociais próximos (64,58 ± 33,93 e 62,5 ± 37,20 respectivamente). Com o fortalecimento dos músculos inspiratórios realizado somente pelo grupo experimental, os aspectos sociais do grupo controle diminuíram para 58,33 ± 36,80, enquanto no grupo experimental aumentou para 76,56 ± 34,35, entretanto não houve significância estatística (p > 0,05). A variável PEmáx em ambos os grupos não obteve alteração, mantendo-se o mesmo resultado apresentado na avaliação, lembrando que o estudo envolvia o treinamento da musculatura inspiratória. Discussão O objetivo do presente estudo foi verificar se o treinamento muscular utilizando o Threshold® é eficiente para a melhora da função respiratória e da qualidade de vida em idosos institucionalizados. Diversos estudos comprovam a eficácia do fortalecimento muscular respiratório realizado com carga linear pressórica, indicando aumento no valor da pressão inspiratória máxima em indivíduos submetidos a esse treinamento (RIBEIRO et al., 2007; FONSECA et al., 2010) A seguir estão relacionados estudos que comparam os diferentes itens explorados por esta pesquisa, o que gera discussões sobre a intervenção da fisioterapia respiratória em idosos institucionalizados, principalmente no que diz respeito à melhora da qualidade de vida. Função respiratória O estudo de Neder e colaboradores em 1999 buscou estabelecer valores de referência de PImáx e PEmáx para a população brasileira. Esse estudo avaliou 100 indivíduos não fumantes (50 homens e 50 mulheres), de 20 a 80 anos. Os valores mostraram-se influenciados por gênero, idade e variáveis antropométricas. Segundo estudo sobre revisão bibliográfica realizado por Maior e Alves em 2003, o treinamento de força possui etapas distintas. No início do treinamento, ocorrem adaptações neurais essenciais para os ganhos de força, mas sem o devido aumento da massa muscular. As adaptações, de acordo com relatos de estudos, ocorrem durante o período de quatro a oito semanas (O’BRYANT, BYRD e STONE, 1988; in HICKSON, HIDAKA e FOSTER,1994). Deve-se enfatizar que o treinamento de força progressivo é essencialmente necessário para que se desenvolvam melhorias na sincronização das unidades motoras, consequentemente, melhor ativação dos motoneurônios (CARROLL, RIEK e CARLSON, 2001). Com base ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 23 Artigo 2 no estudo descrito, o não ganho de força significativa na musculatura diafragmática realizado na presente pesquisa pode ser justificado pelo curto período de intervenção realizado, de duas semanas. Enright et al. (2004) realizaram estudo com uma amostra de 29 indivíduos com idade média de 22,0 ± 4,2 anos, sendo dezesseis homens. O programa de tratamento teve duração de oito semanas de treinamento muscular inspiratório em pacientes com fibrose cística, que foram divididos em três grupos: grupo 1 (G1, n = 9), com intensidade de 80% de esforço máximo, grupo 2 (G2, n = 10), com intensidade de 20% de esforço máximo, e grupo 3 (G3, n = 10), como controle, sem realizar carga alguma. Após o treinamento, houve aumento significativo (p < 0,05) em pressão inspiratória máxima (PImáx), pressão inspiratória máxima sustentada (SPImáx), capacidade vital (CV) e capacidade pulmonar total (CPT) do G1 em relação ao G3. O G2 apresentou melhora significativa (p < 0,05) somente na PImáx e SPImáx referente ao G3. O G3 não apresentou melhora em nenhum item avaliado. O G1, quando comparado ao G2, não apresentou diferença significativa. No que diz respeito à carga linear pressórica, a literatura relata que o treinamento muscular específico tem sido descrito como capaz de aumentar a função muscular inspiratória, quando a intensidade é monitorada e excede 30% da PImáx, podendo ser gradualmente 24 aumentada de 60 a 70% da PImáx. Descreve ainda que os resultados desse treinamento, quando realizado de três a sete vezes por semana, com duração de dez a trinta minutos e intensidade de 30 a 70% da PImáx, geralmente são observados entre cinco e doze semanas. Em comparação a esse estudo, houve diferença nas cargas aplicadas, sendo utilizada uma carga menor no grupo experimental, sendo 30 e 40% na primeira e segunda semana, respectivamente, apresentando melhora na PImáx em ambos os grupos. O aumento da PImáx no grupo controle pode ser devido à reeducação respiratória. No grupo experimental justifica-se o maior aumento da PImáx devido ao treinamento com o Threshold®. No entanto, o tempo de treinamento foi inferior ao realizado na maioria dos estudos semelhantes a esse e que obtiveram resultados satisfatórios, podendo-se justificar o fato desse estudo não apresentar uma diferença significativa (p > 0,05). Simões, Auad e Wilkins (2009) realizaram um estudo com 56 idosas institucionalizadas, divididas em três subgrupos de acordo com a idade: 60-69 anos (n = 20); 70-79 anos (n = 18) e 80-89 anos (n = 18). As medidas de pressão máxima coletadas foram comparadas com os valores previstos utilizando a fórmula de Neder et al. (1999). Seu estudo relata que não foram encontradas diferenças significativas quanto às pressões inspiratória e expiratória máxima (PImáx, p = 0,07 e PEmáx, p = 0,31), e menores valores significativamente (p = 0,001) para os três subgrupos foram encontrados para as pressões respiratórias máxima em relação aos previstos. Relatam Simões, Auad e Wilkins (2009) que as pressões respiratórias apresentaram correlação negativa moderada com a idade e moderada correlação positiva com o índice de massa corporal. Houve forte correlação positiva em relação ao peso e correlação positiva moderada com a altura em relação à pressão expiratória máxima e forte correlação em relação à pressão. Concluíram os autores com esse estudo que a força muscular respiratória é marcantemente reduzida em idosos institucionalizados com idades de 60 a 89 anos, e que existe relação entre características antropométricas e os níveis de força dos músculos respiratórios. Ribeiro et al. (2007) fizeram um estudo com dezenove pacientes com doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), sendo estes divididos aleatoriamente em dois grupos: grupo de reeducação respiratória (RR) e grupo de treinamento muscular inspiratório (TMI) + RR. Ambos foram submetidos a uma avaliação antes e após o programa de reabilitação pulmonar. A força muscular foi avaliada por meio de manovacuometria, verificando-se a PImáx e PEmáx. O protocolo de treinamento realizado pelos autores teve ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 duração de seis semanas, três vezes por semana. O grupo RR realizou trinta minutos de exercícios em esteira ergométrica, oito minutos de treinamento para MMSS com halteres e quinze minutos de reeducação respiratória. O grupo TMI + RR realizou os mesmos exercícios do grupo RR mais o treinamento com Threshold®, obtendo melhora significativa (p < 0,05) da PImáx nos dois grupos (de –61 ± 18 para –78 ± 20 cm H2O no grupo RR; de –63 ± 14 para –90 ± 12 cm H2O no grupo TMI + RR). Comparando os resultados desse estudo com o de nossa pesquisa, encontraram-se semelhaças, visto que ambos os grupos apresentaram aumento na PImáx (de 67,50 ± 42,68 cm H2O para 97,50 ± 31,05 cm H2O no grupo experimental e de 50,00 ± 20,00 cm H2O para 54,67 ± 20,46 cm H2O no grupo controle), sendo esse aumento maior no grupo que realizou treino com o Threshold®. Um estudo realizado por Vecchia e participantes em 2005 descreve que a literatura reflete sobre os instrumentos utilizados para a análise da qualidade de vida de modo geral, e diz que estes não se adaptam para os idosos. As prováveis explicações para esse ocorrido devem-se à abordagem unidimensional e/ou porque os idosos que se autodenominam com boa qualidade de vida não as teriam segundo a interpretação de um instrumento específico, no nosso caso o SF-36, o que pode explicar os domínios do questionário de qualidade de vida que não obtiveram melhora com o aumento da PImáx. Luiz e Oliveira, em 2008, verificaram em seu estudo descritivo a força muscular respiratória em idosos institucionalizados de Foz do Iguaçu. A amostra foi formada por vinte indivíduos com idade média de 70,5 anos, sendo sete mulheres (35%) e treze homens (65%). Os idosos são moradores da Associação de Amparo aos Idosos “Lar dos Velhinhos Antônio Ayres de Aguirra”. Os grupos foram divididos por gênero. Nos participantes do sexo feminino, somente na PEmáx (46 cm H2O) houve significância estatística; já nos indivíduos do sexo masculino notou-se significância nos critérios PImáx (–69,1 cm H2O) e PEmáx (62,1 cm H2O). Os resultados encontrados, comparados ao do presente estudo, não obtiveram similaridade, visto que não era objetivo principal da pesquisa a análise da PEmáx nos indivíduos estudados e a amostra de idosos do sexo masculino (n = 3) era inferior à do sexo feminino (n = 11). O estudo, porém, demonstrou aumento da PImáx em ambos os grupos, sendo no grupo controle de –50,00 cm H2O para –54,67 cm H2O e no grupo experimental –67,50 cm H2O para –97,50 cm H2O, porém esses resultados não obtiveram significância estatística. Fonseca et al. (2010) estudaram o impacto na autonomia funcional de idosos que participaram de programas de treinamento muscular respiratório. O estudo foi realizado com 42 idosos institucionalizados, divididos, aleatoriamente, em três grupos: grupo Threshold®, grupo Voldyne® e grupo controle. Todos foram tratados com o mesmo protocolo de exercícios respiratórios. Ao grupo Threshold® foi associado protocolo de exercícios com treino muscular com equipamento Threshold®; ao grupo Voldyne®, foi associado ao protocolo o equipamento Voldyne®; e o grupo controle realizou apenas o protocolo de exercícios respiratórios. Sendo assim, o grupo Threshold®, quando comparado pré e pós intervenção, apresentou diferença significativa (p < 0,05) para todos os testes. No grupo Threshold® os resultados foram favoráveis quando comparados (pré e pós) em relação aos de forma satisfatória. A melhora da autonomia funcional do grupo Threshold® do estudo de Fonseca e colaboradores mostra similaridade ao presente estudo, já que este apresentou melhora significativa (p < 0,05) na capacidade funcional. Qualidade de vida Pacheco e colaboradores (2005) realizaram estudo comparativo sobre qualidade de vida e performance motora em dezoito idosos, sendo o grupo treinado (GT) composto por cinco idosos do gênero masculino e quatro do feminino, que praticavam exercícios físicos três vezes por semana com tempo de ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 25 Artigo 2 treinamento maior ou igual a um ano. Os resultados para o sexo masculino no grupo treinado apresentaram significância estatística para os domínios capacidade funcional, aspectos físicos e dor do questionário SF-36 quando comparados aos idosos sedentários. Em relação ao sexo feminino no grupo treinado, houve significância nos domínios capacidade funcional, dor e estado geral de saúde. Observando os resultados do estudo de Pacheco e participantes comparados a este, houve similaridade no domínio capacidade funcional, e divergência quando comparados aos outros domínios que obtiveram significância estatística, visto que neste estudo foram analisados indivíduos não praticantes de atividade física; salientam Resende, Rassi e Viana (2008) que a atividade física aprimora a qualidade de vida. Função respiratória e qualidade de vida Segundo estudo descritivo de Souza (2003), cujo objetivo era avaliar a capacidade funcional de indivíduos da terceira idade em diferentes populações, os indivíduos foram avaliados em um único dia, sendo realizados exame físico, espirometria, manovacuometria e teste de caminhada de seis minutos. A amostra foi composta por dez alunos da universidade da experiência e dez internos do Asilo de Tubarão, com idade entre 57 e 77 anos. De acordo com Carvalho, 26 Filho e Papaléo (1994), os idosos institucionalizados apresentam diminuição na qualidade de vida devido à falta de atividade física, além do fator psicológico de estarem asilados e, consequentemente, diminuição da funcionalidade. Comparado ao estudo descrito de Souza (2003), o presente estudo mostra no grupo experimental significância na capacidade funcional (p = 0,053), avaliada pelo questionário de qualidade de vida SF-36. O que é justificado pelo treinamento da musculatura respiratória com carga linear pressórica ao qual foi submetido o grupo experimental. A literatura relata que a musculatura da respiração enfraquece com o progredir da idade. Isso ocorre devido ao enfraquecimento dos músculos esqueléticos somado ao enrijecimento da parede torácica, resultando na redução das pressões máximas inspiratórias e expiratórias com um grau de dificuldade maior para executar a dinâmica respiratória (CARVALHO; LEME, 2002). Em 2003 um estudo realizado por Souza avaliou a PImáx e PEmáx através da manovacuometria, sendo apresentados valores menores das pressões respiratórias máximas (PImáx –57cm H2O e PEmáx 70 cm H2O) nos idosos do Asilo de Tubarão quando comparados aos idosos da Universidade da Experiência (PImáx –72 cm H2O e PEmáx 97 cm H2O). Verificados os dados da reavaliação do estudo, observam-se valores iguais da PEmáx e diferença quando comparada a PImáx, que na presente pesquisa apresentou aumento, sendo justificado pelo treinamento realizado utilizando o Threshold® . No estudo comparativo de Cader et al. (2006), foi avaliada a PImáx através da manovacuometria e a qualidade de vida através do questionário (WHOQOL-100). Eles tiveram uma amostra de 24 voluntárias, as quais foram divididas em três grupos: sedentárias (n = 8, média de idade 69 ± 2,06), idosas asiladas (n = 8, média de idade 80,38±2,93) e idosas praticantes de hidroginástica (n = 8, média de 65,63 ± 2,43). Quando comparados os grupos de hidroginástica e asiladas, houve significância estatística nas variáveis PImáx, domínio psicológico, domínio das relações sociais, domínio do ambiente e domínio da espiritualidade; e em comparação com o grupo de sedentárias, nas variáveis domínio físico, domínio das relações sociais e domínio do ambiente. Embora os questionários utilizados sejam diferentes, verificou-se em nossa pesquisa, realizada pelo questionário de qualidade de vida SF-36, que o domínio aspectos sociais, relacionado com o aumento da PImáx, obteve melhora, e apresentou significância estatística o domínio capacidade funcional. Não se observaram valores relevantes nos demais domínios. Os resultados em relação à ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 PImáx com a qualidade de vida nos gerontes estudados demonstram que, quanto maior sua PImáx, melhor poderá ser sua condição física para obter melhor qualidade de vida. Em relação ao treinamento com carga linear pressórica e atividade física mencionada por Cader et al. (2006), observa-se a importância de ambas para o aumento da PImáx e consequentemente a melhora da qualidade de vida. Salientam Rodriguez e Diogo (2000) que a atividade física e movimentação são funções vitais e essenciais para o homem, pois mantêm a mobilidade e a força muscular. Relata a literatura que o comportamento sedentário que caracteriza a população idosa exacerba os prejuízos no sistema estrutural e fisiológico frente ao envelhecimento, os quais podem ser observados no estudo realizado por Cader et al. em 2006, que observaram autonomia funcional fraca em todos os testes do questionário (WHOQOL-100), fora o DOM-6 (espiritualidade). Esse resultado mostrou-se similiar ao da pesquisa, pois também apresentou apenas um domínio com dados significativos. Segundo a classificação de Vale (2005), os idosos asilados apresentam nível fraco de autonomia funcional. Hebert (1997), Andersen et al. (2004) e Guimarães et al. (2004) ainda acrescentam que tal dependência funcional repercute em piora na qualidade de vida. Limitação da pesquisa O reduzido número da amostra tornou-se fator limitante para o presente estudo, devido ao não preenchimento dos critérios de inclusão dos moradores das instituições participantes, sendo a maior causa da exclusão a cognição diminuída. Além disso, o período de aplicação do treinamento com carga linear pressórica foi de duas semanas. Autores relatam que a maioria dos estudos científicos utiliza treinamento entre cinco a doze semanas para obtenção de melhores resultados. O fator psicológico apresentou influência negativa nas respostas do questionário de qualidade de vida SF-36, pois os pacientes esperavam em algum momento retornar ao convívio familiar. Foi observado, no momento da aplicação do questionário, a expectativa de que os familiares voltariam para levá-los para casa, o que não ocorreu. Outra limitação do estudo foi a heterogeneidade dos grupos em relação à idade, ocasionando diferentes respostas nos itens avaliados. Foi verificada sem cálculo estatístico a heterogeneidade em quesitos como idoso ativo/dependente e em relação ao sexo. CONCLUSÃO diafragmática no grupo experimental e parcialmente satisfatória quanto à melhora da qualidade de vida; talvez isso se dê devido à sua ampla definição e subjetividade. Embora o grupo experimental tenha apresentado melhora na pressão inspiratória máxima em relação ao grupo controle, não foi observado melhora em todos os domínios do questionário de qualidade de vida SF-36, tendo significância apenas no domínio capacidade funcional. No entanto, o treinamento diafragmático em idosos institucionalizados se mostrou importante para compor um programa de reabilitação pulmonar, visto que a fraqueza muscular é próprio da senescência, e associada pouca mobilidade, favorece o aparecimento de doenças respiratórias e cronicodegenerativas e, consequentemente, perda da qualidade de vida. Vale salientar a necessidade de mais estudos com número de amostra maior e a aplicação de um questionário de qualidade de vida próprio para idosos. Sugere-se um período de doze semanas para aplicação do treinamento com carga linear pressórica partindo de uma carga de 30%, podendo ser graduada de 60 a 70% da PImáx, o que relatam os autores Brito; Brat e Parreira (2009). Após análise dos resultados, verificou-se que o treinamento com carga linear pressórica utilizando o Threshold® obteve resultado favorável quanto ao ganho de força da musculatura ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 27 Artigo 2 REFERÊNCIAS 1. ALTMAN D. G. Pratical statistics for medical research. London: Chapman and Hall, 1991. 2. ANDERSEN, C. K. et al. Ability to perform activities of daily living is the main factor affecting quality of life in patients with dementia. Health and Quality of Life Outcomes, v. 2, 2004, p. 52. 3. BRITTO, R. R.; BRANT, T. C. S.; PARREIRA, V. F. Recursos manuais e instrumentais em fisioterapia respiratória. São Paulo: Manole, 2009. 4. CADER, S. et al. Comparação da PImáx e da qualidade de vida entre idosas sedentárias, asiladas e praticantes de hidroginástica. Fitness & Performance Journal, Rio de Janeiro, v. 5, n. 2, jan. 2006, p. 101-108. 5. CARROLL, T. J.; RIEK, S.; CARLSON, R. G. 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Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 2 20. RODRIGUEZ, R. A. P.; DIOGO, M. J. D. Como cuidar dos idosos. 2 ed. Campinas: Papirus, 2000. 21. SIMÕES, R. P.; AUAD, M. A.; DIONÍSIO, J.; Prevalence of reduced respiratory muscle strength in institutionalized elderly people. Medical Journal, São Paulo, v. 2, n. 2, maio 2009, p. 78-83. 22. SOUZA, K. P. Estudo comparativo sobre a capacidade respiratória entre idosos institucionalizados no asilo de Tubarão e alunos da Universidade da Experiência através de uma avaliação funcional pulmonar. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade do Sul de Santa Catarina, 2003. 23. VALE, R. G. S.; ARAGÃO, J. C. B; DANTAS, E. H. M.; A flexibilidade na autonomia funcional de idosos independentes. Fitness e Performance, v. 2, n. 1, 2003, p. 23-29. 24. VECCHIA, R. D.; RUIZ, T.; BOCCHI, S. C. M.; CORRENTE, J. E.Qualidade de vida na terceira idade: conceito subjetivo. 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Graduanda da Faculdade Dom Bosco [email protected] RESUMO Introdução: As alterações decorrentes do envelhecimento alteram a percepção cutânea-plantar, o que interfere no equilíbrio do indivíduo idoso e consequentemente em sua qualidade de vida. O objetivo do presente estudo é avaliar a melhora do equilíbrio e da qualidade de vida de idosos institucionalizados após serem submetidos a um programa de treinamento somatossensorial plantar. Material e método: avaliou-se o equilíbrio e a qualidade de vida de oito indivíduos idosos (77,63 ± 9,2 anos) residentes de uma instituição asilar situada na cidade de Curitiba por meio da escala de equilíbrio de Berg (EEB) 30 e questionário de qualidade de vida SF-36, 24 horas antes e 24 horas após a aplicação do protocolo de treinamento somatossensorial plantar, o qual foi aplicado durante o período de três meses com frequência de três atendimentos semanais, com duração de 45 minutos. Resultados: Houve melhora do equilíbrio conforme os resultados obtidos pela escala de equilíbrio de Berg de 40 (±7,33) para 48 (±2,94), assim p = 0,016, sendo este menor que o p-valor adotado para o presente estudo (p < 0,05). Com relação à qualidade de vida, houve melhora significativa nos itens limitação por aspectos físicos (sendo a média antes = 7,14 ± 18,9 e depois 85,71 ± 24,4), p-valor = 0,016, e limitação por aspectos emocionais (sendo média antes = 0 e depois 61,9 ± 40,5), p-valor = 0,016, abordados pelo questionário de qualidade de vida SF-36. Para os outros itens, os resultados não tiveram significância estatística. Conclusão: A intervenção aplicada promoveu a melhora do equilíbrio e de alguns aspectos de qualidade de vida dos indivíduos da pesquisa. Palavras-chave: idoso, equilíbrio, somatossensorial. ABSTRACT Introduction: The changes associated with aging skin alter perception-plant, which interferes with the balance of older and therefore in their quality of life. The purpose of this study is to evaluate the improvement of balance and quality of life of elderly institutionalized after undergoing a training program somatosensory plant. Material and methods: We evaluated the balance and quality of life of 8 (eight) elderly subjects (77.63 ± 9.2 years) residents of a nursing home located in Curitiba by Berg Balance Scale (BBS) and Quality of Life Questionnaire SF-36 24 hours before and 24 hours after application of somatosensory training protocol was applied to plant during the 3 (three) months at a rate of three (3) weekly visits lasting 45 minutes. Results: There was improvement of balance according to the results obtained by the Berg Balance Scale 40 (± 7.33) to 48 (± 2.94) so p = 0.016 which is smaller than the p-value adopted ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 for this study (p <0.05), with respect to quality of life significantly improved the items, physical aspects limitation (with a mean before = 18.9 ± 7.14 and after 85.71 ± 24.4) p-value = 0.016, and Emotional Aspects of Limitation (average before being = 0, then 61.9 ± 40.5) p-value = 0.016, addressed by the Quality of Life Questionnaire SF-36 for the other items the results were not significant statistics. Conclusion: The applied intervention promoted the improvement of balance and some aspects of quality of life of research subjects. Keywords: elderly, balance, somatosensory. Introdução Segundo o IBGE, devido ao avanço da ciência e pesquisas na área de geriatria e gerontologia, a pirâmide demográfica vem se invertendo na maioria dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, ou seja, a quantidade de idosos cresce, enquanto o índice de natalidade diminui (IBGE, 2009). Nos últimos anos, o Brasil vem apresentando um novo padrão demográfico que se caracteriza pela redução da taxa de crescimento populacional e por transformações profundas na composição de sua estrutura etária, com significativo aumento do contingente de idosos (KAUFFMAN, 2001). Os desafios trazidos pelo envelhecimento da população têm diversas dimensões e dificuldades, mas nada é mais justo do que garantir ao idoso a sua integração na comunidade. Envelhecer é um processo normal, inevitável e irreversível. Portanto, não deve ser tratado apenas com soluções médicas, e sim multidisciplinares. O aumento da expectativa de vida da população leva os profissionais de todas as áreas do conhecimento a se preocuparem com avanços que possam servir e ajudar essa grande parte da população (KAUFFMAN, 2001). Um dos grandes problemas evidenciados na população idosa é a deficiência do equilíbrio, que predispõe o idoso a riscos eminentes de quedas, reclusão social e perda de independência. Nessa problemática, os idosos institucionalizados constituem, quase sempre, um grupo privado de seus projetos enquanto indivíduos, pois se encontram afastados da família, da casa, dos amigos, das relações nas quais sua história de vida foi construída. Pode-se associar a essa exclusão social as marcas e sequelas de doenças e quedas, motivos principais de sua internação, inclusive nas instituições de longa permanência. Um dos motivos da institucionalização de idosos são os agravamentos decorrentes das quedas, as quais em alguns casos podem levar o indivíduo idoso a óbito (KAUFFMAN, 2001). A diminuição da sensação da posição articular e da sensação cutânea plantar pode estar associada ao aumento no risco de quedas em idosos. Segundo Ramos (2003), as informações somatossensoriais provêm de receptores de toque e de posição localizados na pele (mecanoreceptores), nos músculos (fuso muscular e órgão tendinoso de Golgi), tendões, ligamentos, articulações e órgãos internos. Esses receptores são sensíveis à deformação mecânica na superfície do corpo, estimulando a sensação de toque, e distorções físicas como alongamento e flexão, fornecendo a posição do corpo no espaço, a direção e a intensidade do movimento. De acordo com Meyer et al. apud Mochizuki e Amadio (2006), as informações sensoriais da região plantar têm importância moderada para a manutenção da postura ereta, entretanto, o impacto da perda sensorial plantar pode ser aumentado caso haja outro déficit proprioceptivo associado, o que é uma situação muito comum na população idosa. O presente estudo pretende avaliar se há melhora do equilíbrio do idoso institucionalizado após treinamento somatossensorial da planta dos pés, o qual será mensurado pelo questionário de qualidade de vida SF-36 e a escala de Berg. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 31 Artigo 3 Metodologia Trata-se de um estudo clínico experimental, qualitativo e quantitativo, aprovado pelo comitê de ética e pesquisa da instituição de ensino Faculdade Dom Bosco. Participaram da pesquisa oito residentes da casa de repouso San’t Felicy, de ambos os sexos. Os sujeitos avaliados na pesquisa apresentaram idade média de 77,63 anos, com desvio-padrão de 9,2 anos. A maior idade registrada foi de 97 anos, enquanto a menor foi de 68 anos. Ainda com relação à população, trata-se de 62,5% de idosos do sexo feminino e 37,5% do sexo masculino. Foram incluídos na pesquisa indivíduos com idade igual ou superior a 60 anos, residentes da Casa de Repouso Sant’ Felicy, que apresentavam déficit de equilíbrio leve e concordaram com o Termo de Livre Consentimento. Os residentes da instituição foram avaliados por meio da escala de Berg para equilíbrio e questionário de qualidade de vida SF-36, ambos aplicados individualmente. A avaliação foi realizada 24 horas antes do início da aplicação do tratamento e refeita 24 horas após o término do programa. Os voluntários foram divididos em dois grupos de quatro indivíduos, os quais foram submetidos ao mesmo protocolo de tratamento. Tal divisão foi realizada apenas para que os participantes pudessem ser monitorados 32 individualmente pelos pesquisadores, minimizando dessa maneira riscos inerentes ao protocolo de tratamento estudado. Ambos os grupos foram submetidos ao mesmo protocolo de tratamento. O programa de treinamento somatossensorial plantar foi aplicado com frequência de três atendimentos semanais com duração de 45 minutos cada, no período vespertino pelo período de três meses. Os participantes aderiram ao programa de tratamento de forma voluntária com consentimento livre esclarecido, por meio de documento devidamente preenchido e assinado pelo idoso ou seu responsável de direito. O protocolo de atendimento foi realizado conforme descrito a seguir. - Dez minutos de aquecimento e alongamento muscular, compostos por exercícios gerais como caminhada rápida, jogar bolas com os pés e com as mãos, exercícios de dissociação de cinturas em pé e em decúbito dorsal; exercícios de alongamento dos grupos musculares flexores, extensores, adutores do quadril e flexores e extensores do joelho, flexores plantares e paravertebrais, realizados em decúbito dorsal e em pé; sensorial da superfície plantar, nos quais realizaram caminhadas para frente e para trás, para os lados, com os olhos abertos e fechados sobre diferentes tipos de superfície, texturas e densidades, como isopor, colchonete, colchão casca de ovo, flutuador de piscina, almofadas com diferentes espessuras. Todos os exercícios foram realizados com o paciente sem calçado. Também foram solicitados a transpor obstáculos como bastões, cordas, entre outros. Os voluntários receberam comando para caminhar ora lentamente, ora rapidamente. - Foram realizadas também atividades sobre cama elástica, balancim, disco de gel e bola suíça para propriocepção. - Por fim, foram realizados cinco minutos de relaxamento muscular, com exercícios de respiração associados a movimentos ativos lentos das articulações dos MMSS e MMII. Resultados A seguir, são apresentadas as tabelas com os dados descritivos, média e desvio-padrão (entre parênteses) das variáveis coletadas. - Trinta minutos de exercício de estimulação proprioceptiva plantar, composto por atividades que combinam estimulação ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 Tabela 1 - Medidas de tendência e dispersão das variáveis ordinais Variável Média Escala de Berg SF-36 – Vitalidade SF-36 – Aspectos sociais p-valor(1) 48,57 2,94 0,016 68,57 15,47 67,14 9,51 0,871 7,14 18,9 85,71 24,4 0,016 49,86 23,72 46,86 8,17 > 0,055 48,14 6,12 51,71 4,54 0,1403 51,43 11,8 51,43 7,48 1,000 50 10,21 53,57 9,45 > 0,055 0 48,57 0,00 2,76 61,9 49,71 40,5 3,9 0,016 0,6314 SF-36 – Limitação por aspectos emocionais SF-36 – Saúde mental Depois Média DP 7,33 SF-36 – Dor SF-36 – Estado geral de saúde DP 40 SF-36 – Capacidade funcional SF-36 – Limitação por aspectos físicos Antes Fonte: Pesquisa de campo. (1) Comparação das variáveis antes e depois do tratamento referentes aos Testes de Walsh ou T de Student. Pontos da Escala de Berg / Raw Scale Gráfico 1 - Médias antes e depois do tratamento 100 90 85,71 80 70 60 50 61,90 68,57 48,57 49,86 51,71 51,57 53,57 49,71 48,14 51,43 50,00 48,57 40 30 20 10 0 40,00 67,14 46,86 7,14 0,00 1 23 45 67 89 Antes Depois As variáveis escala de Berg, limitação por aspectos físicos e limitação por aspectos emocionais apresentaram, considerando um nível de significância de 5%, diferenças estatisticamente significativas após a aplicação do tratamento. Segue detalhamento das conclusões a respeito das diferenças médias dessas variáveis. A respeito da variável escala de Berg, os pacientes submetidos ao tratamento apresentaram, em média, aumento estaticamente significante, considerando um nível de significância igual a 5%, de 8,57 pontos na escala de Berg após o tratamento. O tratamento também foi estatisticamente significativo em relação à qualidade de vida, no que diz respeito às limitações por aspectos tanto físicos quanto emocionais. No quesito físico, observa-se aumento estaticamente significante, em média, de 78,57 pontos após o tratamento. Já no quesito emocional, observa-se aumento ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 33 Artigo 3 estaticamente significante, em média, de 61,9 pontos após o tratamento; em ambos os quesitos foi considerado nível de significância igual a 5%. Já as variáveis dor e aspectos sociais não apresentaram diferenças significativas, ou seja, não rejeita-se H0, pois não há evidências estatísticas de que os valores desses testes tenham se alterado após a aplicação do tratamento, considerando um nível de 5% de significância. Discussão De acordo com Chiu (apud BRETAN; PINHEIRO; CORRENTE, 2010), o escore de 45 pontos permite separar indivíduos propensos ou não à queda. No presente estudo houve aumento na média dos escores da escala de equilíbrio de Berg de 40 com desvio-padrão de 7,33; pré-intervenção para 48,57 com desvio-padrão de 2,94; pós-intervenção somatossensorial plantar, que conforme o teste de Walsh demonstra significância. Estudos anteriores já haviam demonstrado melhora no equilíbrio do idoso após intervenções proprioceptivas, como é o caso de Carvalho et al. (2010), em que se concluiu, por meio de biofotogrametria computadorizada, a diminuição de oscilações laterais de indivíduos idosos após treinamento proprioceptivo. Por meio de avaliação baropodométrica, observou-se que após a estimulação somatossensorial plantar 34 em idosos ocorreu aumento significante da área de contato da superfície plantar na posição bipodal, o que torna o indivíduo menos propenso a queda (ALFIERI, 2008). O presente estudo foi aplicado em idosos institucionalizados com o objetivo de contribuir para as pesquisas nesse segmento, uma vez que se encontram poucos estudos retratando essa “fatia” da população. O idoso institucionalizado, em geral, dispõe de poucas atividades físicas, o que pode agravar o ciclo envelhecimento, perda de capacidade funcional e sedentarismo, como citam Menezes e Bachion (2007). A atividade física tem influência positiva na melhora da estabilidade postural e na marcha do idoso, o que pode reduzir as quedas nesta faixa etária da população (MESSIER apud PEDRINELLI; GARCEZ LEME; NOBRE, 2009). Portanto, devem existir programas de atenção à saúde do idoso que visem à melhora das capacidades motoras, alcançando de igual forma melhora dos aspectos psicossociais (MENEZES; BACHION, 2007). De acordo com Nunes, Medeiros e Alchieri (2010), idosos moradores de ILP (instituição de longa permanência) encontram-se em condições de vulnerabilidade por estarem submetidos a situações de abandono, solidão falta de afetividade e de independência para suas atividades diárias, o que pode afetar sua qualidade de vida. O conceito de qualidade de vida adotado pela OMS (Organização Mundial de Saúde) é “a percepção do indivíduo de sua posição na vida, no contexto da cultura e sistema de valores nos quais vive e em relação aos seus objetivos, padrões e preocupações”. A qualidade de vida pode ser indicada pela capacidade que o idoso tem de desempenhar as atividades básicas da vida diária de modo que seja independente (STREIT MINCATO; FREITAS, 2007). A perda da autonomia do idoso pode proporcionar um declínio da qualidade de vida dele e de seus familiares. No estudo realizado por Ganança et al. (2004), verificou-se que indivíduos idosos com déficit sensorial, que interfere no equilíbrio, apresentam prejuízo na qualidade de vida em relação aos aspectos físicos, funcionais e emocionas. Com o objetivo de mensurar a qualidade de vida dos indivíduos do presente estudo, foi aplicado o questionário SF-36 antes e após a intervenção somatossensorial. Conforme os resultados estatísticos, apenas duas das oito variáveis apresentaram melhora significativa, sendo elas: limitação por aspectos físicos e limitação por aspectos emocionais, as quais apresentaram, em média, aumento de 78,57 e 61,9 pontos respectivamente. O item limitação por aspectos físicos apresentava, antes da intervenção, em média 7,14 pontos com desvio-padrão ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 3 de 18,9; após a intervenção somatossensorial, a média passou a 85,71 com desvio-padrão de 24,4. Essa melhora não significa que a incapacidade física foi totalmente extinta, e sim, ganho de aptidão muscular, no qual um dos itens abordados é o equilíbrio (OKUMA apud COSTA; DUARTE, 2002). Com o ganho de aptidão física, o indivíduo torna-se mais apto e seguro à realização de suas tarefas cotidianas, ocasionando benefício ao aspecto psicoemocional, principalmente na sua autoimagem, e naturalmente o resgate da sua autoconfiança (COSTA; DUARTE, 2002). Já no quesito limitação por aspectos emocionais, na avaliação anterior à intervenção, a média dos escores era 0 com desvio-padrão de 0; após o treinamento somatossensorial plantar aplicado neste estudo, a média dos escores passou a 61,9 com desvio-padrão de 40,5. De acordo com Costa e Duarte (2002), o componente aspecto emocional na SF-36 tem como objetivo avaliar o quanto as alterações emocionais podem interferir na realização de atividades da vida diária de um indivíduo. A limitação por aspecto emocional apresenta grande significância na vida dos indivíduos avaliados, uma vez que a média dos escores aumentou 61,9 % após a intervenção somatossensorial. A atividade física sistemática exerce ação positiva no aspecto psicológico dos indivíduos, proporcionando-lhes nova postura com relação à sua autoimagem, autopercepção e autoestima, dando-lhes mais segurança para suas atividades de vida diária (BRITTO apud COSTA; DUARTE, 2002). Com relação aos itens capacidade funcional, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais e saúde mental, investigados pelo questionário de qualidade de vida SF-36, os resultados não foram significativos. Isso era esperado pelos pesquisadores, uma vez que se trata de indivíduos moradores de instituição de longa permanência. Em estudo realizado por Mincato e Freitas (2007), verificou-se que o nível de qualidade de vida e da capacidade funcional de idosos institucionalizados é menor do que dos indivíduos residentes na comunidade. Isso provavelmente se deve ao fato de os indivíduos institucionalizados terem diminuição das suas atividades rotineiras, devido à escassa estimulação. Conforme Nunes, Medeiros e Alchieri (2010), os idosos institucionalizados apresentam sua capacidade funcional diminuída, pois são indivíduos passivos, sem atividades ocupacionais, tornando-se sem iniciativa. No item dor, analisado no estudo, não houve melhora significativa. De acordo com Andrade, Pereira e Souza (2006), a alta prevalência de dor no indivíduo idoso está associada a desordens crônico-degenerativas, além de poder estar associada a imagens negativas, tais como sofrimento prolongado e transtornos psiquiátricos. Nos aspectos sociais, de acordo com Havighurst apud Siqueira (2002), o declínio em atividades físicas e mentais associado à velhice é fator determinante do retraimento social do idoso. De acordo com os dados estatísticos apontados nesta pesquisa, não houve aumento significativo nesse item, porém deve-se levar em consideração o contexto dos indivíduos, uma vez que se encontram institucionalizados e, como já mencionado, na maioria das vezes recebem pouco estímulo. No que se refere à saúde mental, pesquisas apontam que indivíduos fisicamente ativos são menos propensos a doenças mentais que os não praticantes de atividade física (BENEDETTI et al., 2008). Isso também foi evidenciado por Borges, Benedetti e Mazo (2008) em seu estudo envolvendo idosos usuários dos centros de saúde de Florianópolis, onde indivíduos que frequentaram assiduamente um programa de atividade física proposto tiveram redução de déficits cognitivos, e os que não participaram assiduamente não apresentaram resultados significativos após a intervenção. No estudo não houve alteração significativa na saúde mental dos indivíduos avaliados, porém houve ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 35 Artigo 3 aumento na média dos escores de 48,57 para 49,71. Estudos realizados com a população idosa após intervenção no equilíbrio vêm demonstrando melhora na qualidade de vida dessa população, como demonstra Peres e Silveira (2010) em estudo envolvendo reabilitação vestibular para melhora do equilíbrio e qualidade de vida de indivíduos idosos, que apresentou, por meio de mensurações estatísticas, melhora significativa na qualidade de vida dos indivíduos submetidos à reabilitação vestibular, quando comparados a um grupo controle. De acordo com Paschoal (2002), os idosos tornam-se, com a velhice, particularmente suscetíveis ao uso acrítico de medidas de qualidade de vida. Além disso, têm dificuldade de trabalhar conceitos de probabilidade e tomar decisão, o que afeta a confiabilidade dos questionários que envolvem qualidade de vida. CONCLUSÃO O resultado deste estudo leva-nos a concluir que a realização de um programa bem estruturado de treinamento somatossensorial plantar em idosos residentes de instituições de longa permanência pode contribuir para melhora do equilíbrio e diminuição dos riscos de quedas nessa população. realizados com esse enfoque, principalmente utilizando um número maior de participantes e comparando os resultados com um grupo controle. REFERÊNCIAS 1. ALFIERI, F. M. Distribuição da pressão plantar em idosos após intervenção proprioceptiva. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano, Florianópolis, v. 10, n. 2, abr./ jun. 2008, p. 137-42. Disponível em: <http://bases.bireme. br/cgibin/wxislind.exe/iah/ online/?IsisScript=iah/iah. xis&src= google&base=LILACS &lang=p&nextAction=lnk&exp rSearch=485081&indexSearch= ID>. Acesso em: 24 mar. 2010. 2. ANDRADE, F. A.; PEREIRA, L. V.; SOUZA, F. A. C. F. Mensuração da dor no idoso. 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[email protected] ³ Acadêmico do curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco. [email protected] 4 Fisioterapeuta graduado pela PUCPR, professor da Faculdade Dom Bosco e da PUCPR, responsável pelo Centro de Dinamometria Isocinética e pelo Centro de Baropodometria da PUCPR. Especialista em Fisioterapia Ortopédica e Traumatológica pela CBES. Mestre em Tecnologia em Saúde pela PUCPR. [email protected] Resumo O objetivo deste estudo foi comparar dois programas de fortalecimento muscular para quadríceps e isquiotibiais, analisando força muscular, hipertrofia e amplitude de movimento articular. Foram selecionados 24 indivíduos, jogadores de futebol, maiores de dezoito anos, em treinamento de, no mínimo, três meses. Eles foram divididos aleatoriamente em três grupos, sendo grupo supersérie (n = 8), série intervalada (n = 8) e grupo 38 controle (n = 8). Na avaliação e reavaliação foram realizados a perimetria de coxa e perna, goniometria de quadril e joelho e teste RM estimado pela equação proposta por Brzycki. Os atendimentos foram realizados duas vezes por semana, durante oito semanas, num total de dezesseis encontros. A análise dos dados foi realizada utilizando o teste Anova, teste de KruskalWallis, teste de comparações múltiplas de Tukey e o teste não paramétrico de Walsh, considerando nível de significância igual a 5% (p = 0,05). Não houve diferença significativa entre os grupos em relação à força muscular de quadríceps e isquiotibiais, contudo, os grupos supersérie e série intervalada mostraram diferença significativa no teste de RM para quadríceps após o treinamento. Não houve diferença significativa entre os grupos em relação à perimetria e goniometria. Os grupos série intervalada e controle tiveram aumentos significativos na perimetria de perna direita, e o grupo controle teve aumento significativo na perna esquerda. Houve aumento significativo de amplitude de movimento nos grupos supersérie e controle em algumas medidas. Concluímos que não há diferença entre os dois programas de fortalecimento e que são necessários novos estudos comparando as duas técnicas. Palavras-chave: músculo quadríceps, músculo isquiotibiais, força muscular, técnicas de exercício e de movimento, fisioterapia, futebol. Abstract The aim of this study was to compare two programs for muscle strengthening quadriceps and hamstring, analyzing muscle strength, hypertrophy, and joint range of motion. We selected 24 individuals, soccer players, over 18 years in training at least 3 months. These were divided randomly into three groups, with group super-series (n = 8), serial intervals (n = 8) and control group (n = 8). In the evaluation and review were conducted in girth of the thigh and leg, hip and knee goniometry and MR test calculated by the equation ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 proposed by Brzycki. The meetings were held twice a week for 8 weeks for a total of 16 meetings. Data analysis was performed using ANOVA, Kruskal-Wallis test, for multiple comparisons Tukey test and nonparametric Walsh, considering a significance level of 5% (p = 0.05). There was no significant difference between groups in relation to muscle strength of quadriceps and hamstring, however, the super-series and series intervals groups showed significant differences in MR test for quadriceps after training. There was no significant difference between groups in terms of girth and goniometry. The series intervals and control groups had significant increases in the perimeter of the right leg and the control group had a significant increase in the left leg. There were significant increases range of motion in the super-series and control groups in some measures. We conclude that there is no difference between the two building programs and that further studies comparing the two techniques. Keywords: quadriceps muscle, hamstring muscle, muscle strength, exercise techniques and moving, physiotherapy, soccer. Introdução Segundo Keller et al. (1987) apud Fonseca et al. (2007), o futebol é responsável por 50 a 60% de todas as lesões nos esportes. Fonseca et al. (2007) dizem que as lesões associadas ao futebol podem acometer diversas articulações do corpo. Magalhães et al. (2001) afirma que no futebol os grupos musculares quadríceps e isquiotibiais suportam diversas habilidades motoras. Esses grupos musculares desempenham, igualmente, importante papel na estabilidade do joelho e na prevenção de lesões. Silva (2001) afirma que o futebol apresenta características que devem ser estudadas para melhorar o rendimento atlético, e tem sido dada grande importância à condição física específica. Além disso, a manutenção de trabalho físico utilizando pesos parece ser de grande relevância, pois possibilita a manutenção do tônus muscular e da estabilidade de músculos e articulações. Fleck e Kraemer (2006) afirmam que a prescrição de exercícios de treinamento de força pode ser dirigida de modo a aumentar a força e melhorar a função do tecido, a fim de que ele resista melhor à lesão e se recupere quando lesionado. Segundo Hamill e Knutzen (1999), é muito comum em medicina esportiva avaliar a força isocinética dos grupos quadríceps e isquiotibiais. Segundo os autores, uma relação aceitável tem sido que geralmente os isquiotibiais têm a metade da força do quadríceps. Entretanto, Terreri, Greve e Amatuzzi (2001) dizem que a relação entre o pico de torque dos flexores/ extensores é por volta de 60%. Segundo Aagaard et al. (2000) apud Magalhães (2001), a razão entre o torque máximo dos isquiotibiais no modo excêntrico e o torque máximo do quadríceps no modo concêntrico parece ser mais específica do padrão de movimentos de flexão e extensão realizados em torno da articulação do joelho em determinadas ações motoras comoo remate do futebolista. Foss e Keteyian (2000) definem força muscular como a força ou tensão que um grupo muscular consegue exercer contra uma resistência em esforço máximo. Hall (2005) complementa afirmando que, mais especificamente, força muscular é a capacidade de determinado grupo muscular gerar torque em uma articulação específica. Segundo Nascimento (2007), dentre os principais testes indiretos empregados para avaliação da força muscular, destacam-se os de uma repetição máxima (1RM) e de repetições múltiplas (6-10 RM). O teste de 1RM pode ser influenciado por inúmeros fatores, uma vez que exige do avaliado grande concentração e conhecimento prévio da técnica de execução. Além disso, a execução de esforços com carga máxima pode acarretar elevado estresse muscular, ósseo e ligamentar, desencadeando modificações metabólicas importantes. Pereira e Comes (2003) afirmam que as relações entre testes de força máxima e testes submáximos têm sido investigadas com o intuito de predizer a força ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 39 Artigo 4 máxima sem que o indivíduo tenha que ser submetido a um teste de carga máxima, evitando possíveis riscos de lesão. Nascimento (2007) diz que a validade de equações preditivas para a obtenção de valores de 1RM por meio de testes submáximo tem atraído o interesse de muitos pesquisadores. O modelo proposto por Brzycki é o seguinte: 1RM = 100* carga / (102,78 – 2,78* repetições). Segundo Fleck e Kraemer (2006), o treinamento de força tornou-se uma das formas mais populares de exercícios para melhorar a aptidão física de um indivíduo e para condicionamento de atletas. Foss e Keteyian (2000) afirmam que o objetivo de um programa de exercícios para fortalecimento consiste em fazer com que as fibras musculares menores adquiram o tamanho das maiores. Só raramente a hipertrofia das fibras até então menores ultrapassa a área em corte transversal das maiores já existentes. A hipertrofia relaciona-se com o número e tamanho das miofibrilas por fibra muscular; aumento na quantidade total de proteínas contráteis; aumento na densidade capilar por fibra; aumento nas quantidades e na força dos tecidos conjuntivos, tendinosos e ligamentares. Segundo Wilmore e Costill (2001), podem ocorrer dois tipos de hipertrofia: transitória e crônica. A hipertrofia transitória é o aumento de volume do músculo que ocorre durante uma sessão 40 de exercício simples. Ela é decorrente principalmente do acúmulo de líquido (edema) nos espaços intersticial e intracelular do músculo, originário do plasma sanguíneo. A hipertrofia transitória dura curto período de tempo. O líquido retorna ao sangue algumas horas após o exercício. A hipertrofia crônica refere-se ao aumento do tamanho muscular que ocorre com o treinamento de força de longa duração. Ela reflete as alterações estruturais reais do músculo como resultado de aumento do número de fibras musculares ou o tamanho das fibras existentes. Segundo Ghorayeb e Barros (1999), a grande proliferação de tecido conjuntivo que acompanha a hipertrofia aumenta a elasticidade do músculo esquelético. Segundo o autor, exercícios com pesos forçam os limites das amplitudes das articulações, o que em conjunto com a proliferação de tecido conjuntivo explica os efeitos estimulantes desses exercícios sobre a flexibilidade. Segundo Allsen, Harrison e Vance (2001), o sistema de séries é o tipo mais popular de treinamento de força. Segundo Fox (1991), o treinamento intervalado é uma série de turnos repetidos de exercícios alternados com períodos de descanso. Segundo o autor, existem muitas vantagens para o sistema de treinamento intervalado, entre elas: controle preciso da solicitação, abordagem sistemática diária, o que nos permite observar o progresso com mais facilidade e aprimoramento mais rápido do potencial energético. Segundo Fleck e Kraemer (2006), essa técnica envolve a utilização de carga próxima à máxima (1RM) em múltiplas repetições. Brooks (2000) diz que a supersérie permite que um ou mais grupos musculares se recuperem enquanto os opostos trabalham. Segundo Fleck e Kraemer (2006), a supersérie usa várias séries e dois exercícios para grupos musculares agonistas e antagonistas de uma parte do corpo. Tipicamente envolve séries de oito a dez repetições com pouco ou nenhum intervalo entre as séries e os exercícios. Trata-se de um método que resulta em hipertrofia muscular, devido aos curtos períodos entre as séries e os exercícios, sendo que a consideração de ácido láctico sanguíneo aumenta substancialmente. Objetivo O objetivo deste estudo foi comparar dois programas de fortalecimento muscular para quadríceps e isquiotibiais utilizando a supersérie e a série intervalada, verificando se ocorre aumento de força do músculo esquelético após o período de tratamento, comparando amplitudes de movimento e verificando se ocorre aumento de volume da área transversal da musculatura de coxa e perna após o período de tratamento. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 Procedimentos / materiais / métodos Vinte e quatro homens saudáveis participaram voluntariamente deste estudo. Como critérios iniciais de inclusão, os participantes deveriam ser jogadores de futebol com idade acima de dezoito anos, do sexo masculino, saudáveis, que estivessem treinando regularmente há no mínimo três meses, ou estivessem fazendo outras atividades físicas regularmente. Eles não poderiam apresentar lesões osteomioarticulares de membros inferiores, fazer uso de medicamentos, serem asmáticos, cardiopatas ou pós-cirúrgicos de membros inferiores. Os indivíduos, após serem previamente esclarecidos sobre os propósitos da investigação e os procedimentos aos quais seriam submetidos, assinaram um termo de consentimento livre e esclarecido. Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade Dom Bosco, de acordo com as normas da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde sobre pesquisa envolvendo seres humanos. O estudo foi realizado no período de julho a setembro de 2010, na cidade de Colombo-PR. A avaliação dos atletas constou de dados pessoais como nome, idade, peso e altura. Para avaliação física foi feita a goniometria de quadril e joelho, perimetria de membro inferior, avaliação de força muscular pela técnica de RM estimada pela equação de Brzycki. Antecedendo a avaliação de RM estimado, os sujeitos realizaram aquecimento orgânico geral por cinco minutos em cicloergômetro da marca Figura® a 30 km/h, livre de carga, e realizaram aquecimento específico com carga subjetiva segundo esforço empenhado pela escala de Borg conforme Mendonça e Pereira (2007), sendo este classificado como fraco e repetido cinco vezes. Então, após um minuto, executaram o teste de RM estimado. Os sujeitos foram separados aleatoriamente em três grupos semelhantes (oito em cada um), sendo um deles grupo controle. Os atletas foram divididos em grupos conforme ordem de chegada para a avaliação, ou seja, cada indivíduo que chegava ao local de avaliação entrava em um dos grupos; quando um entrava no grupo A, por exemplo, o próximo entrava do grupo B, e assim sucessivamente, sem que os avaliadores estivessem cientes de nenhum dado do indivíduo. Dois grupos realizaram exercícios com 75% da carga calculada, sendo que o grupo A realizou exercícios de supersérie, e o grupo B, exercícios intervalados. Os exercícios foram realizados duas vezes por semana, num período de oito semanas. No primeiro dia de cada semana foi realizada a técnica de RM estimado. Após o término das oito semanas de aplicação dos programas de fortalecimento, foi realizada uma reavaliação conforme os padrões da avaliação. Antecedendo o treinamento, foram repetidos os procedimentos de aquecimento orgânico geral e específico. O primeiro grupo (A) realizou um programa de treinamento com quatro séries, cada uma composta por oito contrações em extensão de joelho seguidas de oito contrações em flexão de joelho, sem intervalo entre elas. Foi realizado um intervalo de três minutos ao final de cada série. O segundo grupo (B) realizou um programa de treinamento com quatro séries de oito repetições em extensão de joelho, com intervalo de três minutos entre cada série. Após término das quatro séries, foram realizadas novas quatro séries de oito repetições em flexão de joelho, também com intervalo de três minutos entre elas. O terceiro grupo foi o controle, que realizou apenas avaliação inicial e final. Após o trabalho de fortalecimento, os grupos realizaram exercício de caminhada por 10 minutos ao redor do campo, para resfriamento. Na avaliação e reavaliação, primeiramente se realizou a perimetria da coxa, onde foi utilizada fita métrica da marca FisioBras® com medida proximal e distal. Foram marcados, na coxa dos voluntários, dois pontos a 30 cm (coxa 1 direita e coxa 1 esquerda) e 10 cm (coxa 2 direita e coxa 2 esquerda) respectivamente, acima da borda superior da patela. Realizou-se ainda a perimetria da circunferência da perna ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 41 Artigo 4 no ponto a 10 cm abaixo da borda inferior da patela. Foi realizada a goniometria da flexão e extensão de quadril e flexão do joelho segundo Marques (2003) e utilizou-se um goniômetro grande da marca Carci®. Para a flexão do quadril, o indivíduo ficou em decúbito dorsal; para a extensão de quadril, em decúbito ventral; para a flexão do joelho, em decúbito dorsal. O fortalecimento de quadríceps e de isquiotibiais foram executados utilizando uma cadeira extensora da marca Athletic Way® modelo 2001. O fortalecimento de quadríceps foi realizado com o indivíduo sentado, conforme Carnaval (2001). O fortalecimento de isquiotibiais foi executado conforme Grisogono (2000), adaptado para a cadeira extensora, com o indivíduo em posição ortostática. O índice de massa corporal foi calculado pela fórmula IMC = peso/(altura)². Para análise dos dados, utilizou-se o software R versão 2.11.1. Os dados quantitativos foram descritos por meio das médias e medianas, além do desvio-padrão. Para análise dos dados foram utilizados os testes de Shapiro-Wilk, de Bartlett e paramétrico Anova para averiguar a diferença entre os treinamentos, teste não paramétrico KruskalWallis, teste de comparações múltiplas de Tukey e teste não paramétrico de Walsh. Para todos, foi considerado nível de significância igual a 5% (p ≤ 0,05). 42 Resultados Na tabela 1 mostram-se os dados descritivos das variáveis iniciais coletadas nos grupo A, B, e controle. Os grupos apresentaram homogeneidade em todas as variáveis de idade, peso, altura e IMC. Tabela 1. Medidas de tendência e dispersão das variáveis básicas dos grupos Variável Medida Média Idade IMC p-valor 23,5 23,63 18 22,5 22 0,07886 4,23 4,24 5,42 73,88 70,75 76,13 73,5 72,5 75 0,5266 Desvio-padrão 9,4 9,45 9,31 Média 1,8 1,77 1,76 Mediana 1,81 1,81 1,78 0,6197 Desvio-padrão 0,06 0,11 0,04 Média 22,7 22,48 24,38 Mediana 22,5 21,7 23,55 0,1742 Desvio-padrão 1,71 2,11 2,61 Mediana Média Altura Grupo B Grupo Controle 19,75 Desvio-padrão Peso Grupo A Mediana A tabela 2 mostra os dados do teste de RM estimados nos músculos quadríceps, isquiotibiais direito e esquerdo, na avaliação e reavaliação nos grupos A, B e controle. O gráfico 1 mostra as médias do teste de força muscular para quadríceps na avaliação e reavaliação nos três grupos. No teste de 1RM estimada para quadríceps, as diferenças médias, tanto para o grupo A quanto para o grupo B, foram significantes, resultado que não foi observado no grupo controle. Não houve diferença entre os grupos A e B após os atendimentos de fortalecimento. Nos resultados do teste de 1RM estimada para isquiotibiais direito e isquiotibiais esquerdo, não houve diferença entre reavaliação e a avaliação em nenhum grupo. Após o período de treinamento, não houve diferença significativa entre os grupos, tanto para grupo muscular direito quanto para grupo muscular esquerdo. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 Tabela 2. 1RM estimada nos músculos quadríceps, isquiotibiais direito e esquerdo Grupo A Variável Medida Média Quadríceps Isquiotibiais esquerdo Reavaliação p-valor Intragrupo Avaliação Reavaliação 26,4 32 Grupo controle p-valor Intragrupo Avaliação Reavaliação 20,27 20,27 P-valor intergrupos p-valor Intragrupo AxB AxC BxC 26,4 28,29 Mediana 34,67 38,58 0,0040 24 24 0,0080 21,6 21,6 >0,05 0,8122 0,8122 0,8122 Desvio-padrão 25,72 27,7 20,9 26,67 24,83 25,72 14,4 15,43 14,4 18,67 12,86 12,90 Mediana 20,57 22,34 0,3390 12 14,89 0,3390 12,86 12,90 0,3390 0,1672 0,1672 0,1672 Desvio-padrão 11,26 14,89 13,93 18 14,4 14,5 Média 13,31 15,57 12,43 15,54 13,18 13,08 Mediana 12,86 14,64 0,2448 11,98 15,08 0,2448 12,52 12,47 0,2448 0,2590 0,2590 0,2590 2,8 3,38 1,66 2,73 3,1 3,01 Média Isquiotibiais direito Avaliação Grupo B Desvio-padrão Gráfico 1. Médias do teste de 1RM para quadríceps 35,0 30,0 25,0 32,0 26,4 28,3 26,4 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0 FONTE: Dados do estudo. Elaborado pelos autores (2010). Os gráficos 2 e 3 mostram as médias do teste de força muscular para isquiotibiais direito e esquerdo na avaliação e reavaliação nos três grupos. Na tabela 3 mostram-se dados relacionados à perimetria na avaliação e reavaliação, nos três grupos. Na medida de coxa 1 direita, coxa 1 esquerda, coxa 2 direita e coxa 2 esquerda, não houve diferença entre reavaliação e avaliação em nenhum grupo. Na medida de coxa 1 direita, o grupo controle obteve maior aumento de massa muscular do que o grupo B, após o treinamento. Em relação à perna direita, as diferenças médias entre avaliação e reavaliação, tanto para o grupo B quanto para o grupo controle, foram significantes, resultado que não foi observado no grupo A. Em relação à medida de perna esquerda, somente a diferença média do grupo controle foi significante, resultado que não foi observado nos grupos A e B. Não houve diferença entre os grupos após o período de treinamento tanto para a perna direita quanto para a perna esquerda. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 43 Artigo 4 Gráfico 2. Médias do teste de 1RM para isquiotibiais direito 20,000 18,6 18,000 16,000 15,4 14,4 14,000 14,4 12,9 12,8 12,000 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0,000 A B C isquiotibiais direito reavaliação isquiotibiais direito avaliação FONTE: Dados do estudo. Elaborado pelos autores (2010). Gráfico 3. Médias do teste de 1RM para isquiotibiais esquerdo 18,000 15,5 16,000 15,5 13,3 14,000 13,1 12,4 12,000 13,1 10,000 8,000 6,000 4,000 2,000 0,000 A B C isquiotibiais esquerdo reavaliação isquiotibiais esquerdo avaliação FONTE: Dados do estudo. Elaborado pelos autores (2010). Tabela 3. Medidas relacionadas à perimetria Grupo A Variável Medida Média 44 Avaliação Reavaliação 53,09 53,59 Coxa 1 direita Mediana 52,4 52,85 Desvio-padrão 2,62 2,58 Média 52,49 52,65 Coxa 1 esquerda Mediana 52,75 53 Desvio-padrão 3,53 3,41 Média 45,03 45,29 Coxa 2 direita Mediana 45,15 45,6 Desvio-padrão 3,28 3,36 Coxa 2 esquerda Média 43,79 44,43 Mediana 43,05 43,55 Desvio-padrão 3,76 3,9 Perna direita 37,15 37,4 Mediana 37,5 37,5 Desvio-padrão 4,33 4,55 Perna esquerda 35,99 36,38 Mediana 35,5 36,5 Desvio-padrão 5,08 4,9 Média Média Grupo B p-valor Intragrupo 0,9916 0.0794 0.2896 Avaliação Reavaliação 52,19 52,49 51,25 51,5 3,59 3,27 50,73 51,4 52,4 52,75 5,61 5,93 46,5 47,23 45,5 46,75 2,88 0,6089 >0,05 >0,05 0,0093 0.0794 0.2896 2,83 44,93 44,8 44,6 44,9 4,42 4,5 36,61 37,08 36,2 36,65 3,59 Grupo C p-valor Intragrupo 0,6089 0,0270 36,03 34 34,8 3,86 3,72 >0,05 Reavaliação 55,43 55,69 54,85 55,45 3,06 2,95 54,35 54,99 54,4 54,55 3,23 3,26 45,5 45,95 45,5 45,75 3,12 3,45 36 Avaliação P-valor intergrupos p-valor Intragrupo AxB AxC BxC 0,4921 0,1132 0,0073 0,9800 0,9800 0,9800 0.9774 0.9774 0.9774 0,0093 0.0794 0.2896 2,95 45,11 45,76 45,1 45,25 2,79 2,88 37,36 37,63 36,95 37 1,85 1,91 37,13 37,3 37,25 37,15 1,88 1,89 0,6089 0,9461 0,9461 0,9461 0,0270 0,8842 0,8842 0,8842 0,0270 0,8241 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 0,8241 0,8241 Artigo 4 Na tabela 4 mostram-se dados descritivos das variáveis relacionadas à goniometria na avaliação e reavaliação nos três grupos. As diferenças médias, tanto para o grupo A quanto para o grupo controle, foram significantes, resultado que não foi observado no grupo B. Em relação à flexão do quadril esquerdo, somente a diferença média do grupo controle foi significante, resultado que não foi observado nos grupos A e B. Nas medidas de extensão de quadril direito, extensão de quadril esquerdo, flexão de joelho direito e flexão de joelho esquerdo, não houve diferença estatística entre reavaliação e avaliação em nenhum grupo. Na angulação de extensão de quadril direito e esquerdo, o grupo controle obteve maior aumento de amplitude de movimento do que o grupo B. Em relação à medida de flexão de quadril direito, flexão de quadril esquerdo, flexão de joelho direito e flexão de joelho esquerdo não houve diferença significativa entre os grupos após o período de treinamento. A medida de extensão de joelhos não foi realizada por ser o retorno do movimento de flexão de joelhos. Tabela 4. Medidas relacionadas à goniometria Grupo A Variável Flexão quadril direito Flexão quadril esquerdo Extensão quadril direito Extensão quadril esquerdo Flexão joelho direito Flexão joelho esquerdo Medida Média Mediana Desvio-padrão Média Mediana Desvio-padrão Média Avaliação Reavaliação Grupo B p-valor Intragrupo Avaliação Reavaliação Grupo controle p-valor Intragrupo Avaliação Reavaliação 114,13 115,5 120,13 120,25 115,5 117,13 115 117,5 0,027 120 120 > 0,05 115,5 117,5 12,44 12,08 3,6 3,62 116,13 116,38 119,38 121,38 120 120 > 0,05 120 120 10,86 10,17 1,77 3,16 P-valor intergrupos p-valor Intragrupo 0,027 3,93 3,56 116,38 119,25 > 0,05 116 120 5,01 4,71 8,5 9,38 9,38 7,38 7,75 8,5 0,9123 9,5 9,5 0,9123 7 7,5 1,07 1,51 0,74 0,74 1,6 1,67 Média 8,5 8,5 9,63 9,13 7,63 7,88 Mediana 8,5 8,5 10 9,5 0,7052 7,5 8 Desvio-padrão 1,2 1,51 0,74 0,99 1,77 1,64 Média 0,7052 116,25 116,88 116,88 117,25 Mediana 115 115 > 0,05 115 116,5 Desvio-padrão 6,41 4,85 2,59 2,38 Média 119,13 > 0,05 BxC 0,3422 0,3422 0,3422 0,3184 0,3184 9 Desvio-padrão AxC 0,008 0,3184 8,5 Mediana AxB 0,9123 0,7052 0,1259 0,1414 0,1557 0,3313 0,3014 0,3014 0,8428 0,8428 0,8428 0,0008 0,0051 119,75 119 120 3,4 4,17 119,75 120,38 119,75 120,5 120 121 Mediana 120 120 > 0,05 120 120 > 0,05 120 120,5 Desvio-padrão 4,68 3,93 1,16 0,93 3,82 3,07 > 0,05 0,3014 > 0,05 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 45 Artigo 4 Discussão Na base de dados utilizada pelos autores do presente estudo não foram encontradas pesquisas com relevância científica comparando os dois tipos de séries realizadas, mas Higbie et al. (1996), Silva (2001), Mjølsnes et al. (2004) e Kaminski et al. (1998) demonstraram, por meio de estudos, que o treinamento de força semelhante ao que foi executado no presente trabalho traz resultados de relevância para o desempenho esportivo. Os resultados do presente estudo sugerem que o período de oito semanas de treinamento concêntrico parece ser suficiente para promover modificações significantes na força muscular no músculo quadríceps, comparado a um grupo controle, não havendo diferença entre o treinamento de supersérie e o treinamento intervalado. Higbie et al. (1996) verificaram os efeitos do treinamento isocinético sobre a força muscular de quadríceps em 54 mulheres durante dez semanas. O torque máximo nos grupos de treinamento aumentou significativamente. Silva (2001) comparou o efeito do treinamento físico muscular com pesos, realizando exercícios de maneira contínua e intermitente para quadríceps em vinte jogadores de futebol e após doze semanas de treinamento houve aumentos significativos na força muscular. Não houve diferença significativa na força muscular de isquiotibiais após o período 46 de treinamento no estudo presente. Entretanto, Mjølsnes et al. (2004) compararam os efeitos de um treinamento de dez semanas com dois exercícios diferentes: um exercício tradicional de isquiotibiais e um exercício excêntrico, na força muscular de 21 jogadores de futebol. No grupo de treinamento excêntrico houve aumento no torque excêntrico dos isquiotibiais e aumento na força isométrica dos isquiotibiais. Kaminski et al. (1998) compararam os ganhos de força dos músculos isquiotibiais na forma concêntrica e excêntrica em 27 indivíduos saudáveis do sexo masculino durante seis semanas. Os sujeitos foram divididos em três grupos de treinamento: excêntrico, concêntrico e controle. Os grupos de treinamento obtiveram aumento na força e o grupo controle não demonstrou qualquer alteração. Em relação à área transversal da musculatura de coxa, apenas uma medida de perimetria (coxa 1 direita) teve aumento significativo no grupo controle, em comparação com o grupo B. O presente estudo mostrou que na população participante não ocorreu aumento de volume da musculatura de coxa de maneira geral. Em contrapartida, Higbie et al. (1996), no estudo já citado na presente pesquisa, mostraram que o treinamento de força pode levar a aumento da área transversal muscular de quadríceps. Em seu estudo, imagens de ressonância magnética da coxa direita em sete níveis foram obtidas para avaliar a área de secção transversal de quadríceps. As medidas foram repetidas após dez semanas de treinamento. O aumento na área de secção transversal do quadríceps para o grupo de treinamento excêntrico e para o grupo de treinamento concêntrico variou significativamente. Narici et al. (1996) analisaram a área transversal do músculo quadríceps em sete homens saudáveis durante seis meses de musculação e, após o treinamento, a área transversal do quadríceps aumentou significativamente. Os resultados desses estudos comprovam que um programa de treinamento com pesos é eficaz para a hipertrofia muscular, ao contrário do que nosso estudo demonstrou. Na medida de perna direita os grupos B e controle mostraram aumento significativo na área transversal da musculatura. O grupo controle mostrou aumento significativo na perimetria de perna esquerda. Segundo Rasch (1991) e Dangelo e Fattini (2007), o músculo gastrocnêmio é um sinergista do movimento de flexão de joelho, realizado no treinamento de isquiotibiais no grupo B, o que pode justificar o aumento de perimetria de perna direita. O aumento significativo no grupo controle também pode ser justificado pelo fato de que alguns atletas realizavam treinamento de força além do utilizado no estudo, e entre esses podem estar os indivíduos do grupo ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 4 controle, já que os atletas foram divididos de maneira aleatória entre os grupos. Farthing e Chilibeck (2003) verificaram os efeitos do treinamento excêntrico e concêntrico na hipertrofia muscular em 24 voluntários, por oito semanas. Em geral, o treinamento excêntrico resultou em maior hipertrofia do que o treinamento concêntrico. Bucci et al. (2005) afirma que o exercício intenso do músculo esquelético resulta em hipertrofia muscular. Entretanto, em nosso estudo, não houve aumento significativo de massa muscular em região de coxa ou perna, mesmo com o aumento de força de quadríceps, fato que pode ser justificado pelo aprimoramento da capacidade de recrutamento de unidades motoras para contração; segundo Ghorayeb e Barros (1999), tal efeito de treinamento de coordenação neuromuscular justifica o aumento de força na ausência de hipertrofia muscular. Wilmore e Costill (2001) afirmam que os aumentos iniciais da força voluntária, ou produção de força máxima, estão associados principalmente às adaptações neurais que acarretam aumento da ativação voluntária do músculo. O ganho de força da musculatura extensora de joelho também pode ser justificado pelo aumento do limiar do órgão tendinoso de Golgi, que segundo Ugrinowitsch e Barbanti (1998), é responsável pela detecção do grau de tensão muscular, e suas respostas reflexas causam o relaxamento do músculo. Segundo Wilmore e Costill (2001), os órgãos tendinosos de Golgi podem ser necessários para impedir que os músculos exerçam mais força do que os ossos e o tecido conjuntivo podem suportar. O treinamento pode reduzir gradualmente ou neutralizar esses impulsos inibidores, permitindo ao músculo atingir níveis maiores de força. Isso também pode explicar o aumento de força na ausência de hipertrofia. O presente estudo mostrou que um programa de treinamento com pesos pode contribuir para a manutenção da flexibilidade em diferentes articulações, o que é confirmado por Thrash e Kelly (1987) apud Fleck e Kraemer (2006). Os resultados da presente pesquisa mostraram que em alguns movimentos houve aumento significativo da amplitude de movimento no grupo controle. O treinamento realizado em campo supervisionado pelo preparador físico do clube era executado levando em consideração a posição dos atletas e a necessidade de cada uma. Nosso estudo não levou em consideração a posição dos atletas, então o aumento da amplitude de movimento no grupo controle pode ser justificado pelo fato de que um número elevado de atletas deste grupo realizava treino específico, e este pode ter influenciado o aumento da amplitude de quadril. Carvalho e Cabri (2007) apud Weber et al. (2010) e Tourny-Chollet et al. (2000) apud Weber et al. (2010) mostraram valores de pico de torque significativamente maiores para os atacantes em comparação aos jogadores de meio-campo. Ambos os estudos justificaram essa diferença com o treino dos atacantes, realizado principalmente com movimentos técnicos de sprints curtos, saltos e chutes. Os resultados do presente estudo vêm ao encontro dos achados de Cyrino et al. (2004), que analisaram o comportamento da flexibilidade de diferentes articulações após dez semanas de treinamento com pesos em dezesseis homens sedentários e aumento significante na flexibilidade foram encontrados em cinco articulações. Em estudo semelhante, Gonçalves et al. (2007) analisaram o efeito de oito semanas de treinamento com pesos sobre a flexibilidade em dezenove idosos. Seus resultados sugerem que o treinamento com pesos pode contribuir para a manutenção ou mesmo aumento da flexibilidade em diferentes articulações. Vale et al. (2004) verificaram os efeitos do treinamento resistido na flexibilidade de 22 idosas, que foram submetidas a um treinamento de dezesseis semanas, em vários exercícios para membros superiores e inferiores, e os resultados foram significativos na força máxima e na flexibilidade. Como limitações do nosso estudo, citam-se o número pequeno da amostra e a falta de pesquisas científicas ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 47 Artigo 4 comparando os dois tipos de série de fortalecimento utilizados. O método e os pontos de referência usados para realizar as medidas de perimetria (borda superior e inferior da patela) não são completamente confiáveis, pois a patela é um osso móvel que pode ser deslocado quando ocorre encurtamento e/ou alongamento muscular e tal fato pode ter ocorrido no presente estudo, já que o mesmo teve duração de oito semanas. Kapandji (2000) afirma que a patela realiza deslocamentos sobre o fêmur e sobre a tíbia nos movimentos de flexão e extensão. Outro fator a ser considerado em estudos futuros é a relação da temperatura do ambiente com o desempenho do atleta no treinamento de força muscular. A presente pesquisa foi realizada em período no qual a temperatura ambiental encontrava-se baixa. Segundo Foss e Keteyian (2000), se houver isolamento insuficiente contra o frio no local de treinamento, são afetadas tanto a capacidade de desenvolver força muscular quanto a de realizar movimentos coordenados. CONCLUSÃO Concluímos que não há diferença entre os protocolos de fortalecimento utilizando a supersérie e a série intervalada, contudo, pode-se afirmar que os programas de fortalecimento muscular são eficientes para aumento de força em músculo quadríceps, quando comparados a um grupo controle. Os 48 programas de fortalecimento muscular são eficazes para a manutenção da área transversal da musculatura de coxa e perna e para a manutenção da amplitude de movimento em quadril e joelho, sendo que não há diferença na utilização das duas técnicas. Não se pode afirmar que as técnicas utilizadas são eficientes para aumento de volume de musculatura de coxa e perna e para aumento da amplitude de movimento em quadril nos movimentos de flexão e extensão e joelho no movimento de flexão. Acredita-se que os resultados obtidos podem ser atribuídos, em parte, ao pequeno número da amostra e que há necessidade de mais estudos científicos comparando as técnicas de fortalecimento utilizadas na presente pesquisa, objetivando verificar se ocorre aumento de força, hipertrofia muscular e aumento de amplitude de movimento nos segmentos envolvidos. REFERÊNCIAS 1. AAGAARD, P.; SIMONSEN, E. B.; ANDERSEN, J. L.; MAGNUSSON, S. P.; BOJSEN-MØLLER, F.; DYHRE-POULSEN, P. Antagonist muscle coactivation during knee extension. Scandinavian Journal of Medicine & Science in Sports. n. 10, 2000, p. 58-67. 2. ALLSEN, P. E.; HARRISON, J. M.; VANCE, B. Exercício e qualidade de vida: uma abordagem personalizada. 6. ed. São Paulo: Manole, 2001. 3. BROOKS, D. 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Fisioterapeuta, doutora, professora de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco e Faculdade Evangélica do Paraná. [email protected] 3. Fisioterapeuta, Mestre, professora de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco e Faculdade Evangélica do Paraná. [email protected] RESUMO Atualmente há uma preocupação com o diagnóstico e o tratamento da hipertensão arterial na infância, assim como a identificação dos fatores de risco cardiovasculares. Os objetivos deste estudo foram determinar a prevalência de hipertensão arterial em adolescentes de escola pública comparados com os de escola particular de Curitiba e analisar os possíveis fatores de risco envolvidos nesta amostra. Foram incluídos no estudo 221 escolares com média de idade de 13,3 ± 1,55 anos, sendo 111 de escola pública e 110 de escola particular. Os escolares responderam a um questionário sobre fatores de risco e posteriormente foram submetidos à pesagem e medida das estaturas para cálculo do índice de massa corpórea, análise de bioimpedância e aferição da pressão arterial. A prevalência de hipertensão foi de 21,62% em escolares de ensino público e de 10% em escolares de ensino particular. Entre os fatores de risco estudados, a renda per capita baixa esteve associada a hipertensão arterial (p < 0,01), provavelmente devido ao difícil acesso das pessoas mais pobres à saúde, alimentação adequada e por elas estarem mais sujeitas a situações de estresse. Palavra-chave: hipertensão infantil, obesidade infantil, renda per capita e escolares. ABSTRACT Currently it has a concern in the diagnosis and the treatment of the arterial hypertension and the identification of the cardiovascular factors of risk in infancy. The objectives of this study were: to analyze prevalence of arterial hypertension in adolescents of compared public school with private school of Curitiba and analyzed the factors of risk in this sample The 221 pertaining to school with average of age of 13,3± 1,55 years had been enclosed in the study , being 111 of public school and 110 of private school. The pertaining to school had answered a questionnaire on risk factors pupils had been after submitted to the weighting and measure of its statures for the calculation of the index of corporal mass, analysis of bioimpedância and the gauging of the arterial pressure. The prevalence of hypertension was of 21,62% in pertaining to school of public education and 10% in pertaining to school of private education. Among the risk factors studied, the per capita income was associated with hypertension (p < 0.01), probably due to difficult access to health, adequate food and be more subject to stress. Keywords: infantile hypertension, infantile obesity, per capita income and pertaining to school. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 51 Artigo 5 Introdução A hipertensão é um dos principais agravos à saúde no Brasil. Eleva o custo médicosocial, principalmente pelas suas complicações, como as doenças cerebrovasculares, cardiovasculares, além da insuficiência cardíaca e da insuficiência renal crônica. Estudos epidemiológicos de hipertensão arterial na infância têm sido fonte importante de subsídios, fornecendo indícios consistentes de que a hipertensão arterial sistêmica do adulto começa na infância. Diversos estudos longitudinais demonstram que a criança com níveis de pressão arterial mais elevados, mesmo dentro de limites considerados normais, tende a uma evolução do problema ao longo da vida, mantendo pressão arterial mais elevada que das demais crianças e apresentando maior probabilidade de se tornar um adulto hipertenso. Todos esses estudos longitudinais têm em comum correlação forte entre hipertensão arterial e relação peso/altura elevada, isto é, a hipertensão arterial está associada a sobrepeso e obesidade. A prevenção primária da elevação da pressão arterial pode ocorrer por meio de mudanças de estilo de vida, que incluam controle do peso, da ingestão excessiva de álcool e sal, do hábito de fumar e da prática de atividade física. Levandose em conta que o aumento da massa corporal está fortemente associado 52 à elevação da pressão arterial, apresentando altas prevalências, tanto nos países ricos como naqueles menos desenvolvidos, podemos considerar o excesso de peso como o determinante da ocorrência de hipertensão arterial que pode ser prevenido. O período entre sete e nove anos de idade é provavelmente o mais favorável para introdução de estratégias de prevenção, pois nessa idade a obesidade é considerada um fator preditivo da ocorrência dessa patologia na idade adulta. A adoção de medidas de prevenção primária em indivíduos jovens é hoje reconhecida como de grande importância para o cenário das doenças cardiovasculares. O sexo, a idade e algumas variáveis socioeconômicas são potenciais confundidos da relação entre massa corporal e pressão arterial, pois essas variáveis estão associadas à massa corporal. Logo, se faz necessária a estimativa ajustada da relação entre massa corporal e pressão arterial, para se conhecer sua importância relativa como determinante da hipertensão arterial em uma população específica. A ingestão de sal é fortemente influenciada pelo nível socioeconômico e pode, parcialmente, explicar a alta prevalência de hipertensão arterial nas classes socioeconômicas mais baixas. Diversos estudos demonstram a importância da obesidade no desenvolvimento dos fatores de risco cardiovasculares. A distribuição central da adiposidade corporal destaca-se especialmente como fator importante no desenvolvimento da hipertensão arterial. Há evidências de que a hipertrofia cardíaca seja um fator de risco para várias doenças cardiovasculares. O custo social da hipertensão arterial continua elevado demais em termos de sofrimento e morte por doenças cardiovasculares, e de recursos financeiros despendidos pela população para seu tratamento. Estudos nacionais e internacionais têm encontrado valores de prevalência com ampla variação – de 1,2 a 13%. Diferenças metodológicas, número de medidas utilizadas e critérios de referência diferentes são as principais causas dessa variabilidade. A maioria dos estudos em populações jovens enfatiza a participação do desenvolvimento físico no determinismo dos níveis pressóricos. O peso e o índice de massa corpórea são as variáveis que apresentam mais forte correlação com a pressão arterial nessa faixa etária, notadamente com a pressão arterial sistólica. Em estudos realizados com funcionários do Complexo Hospital das Clínicas de São Paulo, houve prevalência de 26%, principalmente em ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência Artigo 5 funcionários de ocupação diferente de médico e enfermagem. Os grupos de maior risco foram homens, de cor negra, baixa renda familiar e obesos. Como há suspeita de hipertensão do avental branco em crianças e adolescentes, é indicada a monitorização ambulatorial da pressão arterial. Também se recomenda a avaliação e acompanhamento de hipertensão primária e secundária ou de doenças com risco associado de hipertensão arterial, como diabetes mellitus, pielonefrite crônica, insuficiência renal crônica e doença policística autossômica dominante, porque apresentam maior correlação com o desenvolvimento de lesões de órgãos-alvo que a medida da pressão arterial no consultório. Em contrapartida, a monitorização residencial da pressão arterial em crianças e adolescentes tem sido pouco estudada, o que limita seu uso clínico. Embora seja fonte suplementar de informação, não deve ser usada para tomada de decisão nessa população. Os objetivos deste estudo foram determinar a prevalência de hipertensão arterial em adolescentes de uma escola pública comparados com os de uma escola particular de Curitiba e analisar os possíveis fatores de risco (sexo, obesidade, atividade física, hereditariedade e renda per capita) para hipertensão arterial. Materiais e métodos Foi realizado um estudo transversal na Escola Estadual Professor Teobaldo Leonardo Hetemberg e no Colégio Pirâmide do Saber. O pré-projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Sociedade Evangélica Beneficente de Curitiba, de acordo com as normas estabelecidas pela Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde. Foram incluídos no estudo escolares de ambos os sexos, com idade entre 10 e 18 anos, e que obtiveram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais ou responsáveis. Foram excluídos do estudo escolares que não possuíam idade entre 10 e 18 anos e não obtiveram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais ou responsáveis. Inicialmente foram realizadas orientações em sala de aula sobre o que é hipertensão arterial, suas causas, consequências e prevenção. Após explanação, os alunos responderam a um questionário para avaliar a presença de fatores de risco para hipertensão arterial, como realização de atividade física, história de doenças na família, condições nutricionais e socioeconômicas. Após responder ao questionário, os alunos foram submetidos à pesagem e medida de suas estaturas para cálculo do índice de massa corpórea, análise de bioimpedância e aferição da pressão arterial. A pesagem foi realizada com uma balança Glicomed. A estatura foi obtida com uma fita métrica fixada em parede sem rodapé, estando o adolescente em posição ortostática (com os calcanhares unidos e descalços). Os dados antropométricos dos adolescentes foram agrupados nos índices de massa corporal e avaliados seguindo a tabela da Organização Mundial da Saúde, que classifica o ponto de corte para a classificação do IMC utilizando a variável do IMC pela idade da seguinte maneira: baixo peso menor ou igual ao percentil 5; normalidade maior que o percentil 5 e menor que o percentil 85; sobrepeso maior ou igual ao percentil 85 e menor que o percentil 95; obesidade maior ou igual ao percentil 95. A impedância corporal foi efetuada com o aparelho Body Fat Monitor Omron BF 302, e avaliada seguindo a tabela de porcentagem de massa corporal do Internacional Journal of Obesity. A pressão arterial sistólica (PAS) e a diastólica (PAD) foram aferidas com esfigmomanômetro pré-calibrado Missouri e estetoscópios BD. Os escolares ficaram sentados e com o antebraço apoiado a 90o sobre uma mesa. A aferição da pressão arterial foi realizada três vezes, com intervalo mínimo de cinco minutos a cada aferição. Como parâmetros para a ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 53 Artigo 5 avaliação foram utilizados os valores da tabela de valores de pressão arterial referentes aos percentis 90 e 95 de pressão arterial para crianças de 1 a 17 anos de idade, de acordo com o percentil da estatura: pressão arterial normal (sistólica e/ou diastólica) abaixo do percentil 90, pressão arterial normal limítrofe com percentil entre 90 e 95 e hipertensão arterial igual ou acima do percentil 95 . Os dados foram digitados e analisados através da utilização do programa estatístico Statistical Package for the Social Sciences (SPSS) software, versão 16.0 para Windows. Os dados foram submetidos ao teste Shapiro-Wilk para verificar a normalidade. A análise estatística descritiva (média, desvio-padrão) foi utilizada para a caracterização demográfica e antropométrica das crianças avaliadas. Para as correlações foi utilizado o teste de correlação de Pearson. O nível de significância estatística adotado foi de p < 0,05. Resultados Participaram do estudo 221 escolares com média de idade de 13,3±1,55 anos, variando entre 10 e 17 anos de idade, sendo 111 de escola pública e 110 de escola particular, de ambos os sexos. A prevalência de hipertensão nessa amostra foi de 21,62% em escolares de ensino público (62,5% do sexo masculino e 37,5% do sexo 54 feminino) e de 10% em escolares de ensino particular (63,64% do sexo masculino e 36,36% do sexo feminino). Figura 1. Prevalência de hipertensos 70% 60% 50% 40% 30% 20% 10% 0% Geral Sexo masculino Escola pública Sexo feminino Escola particular Em relação aos fatores de risco estudados, o estudo demonstrou que 2,7% dos escolares de ensino público e 7,27% dos escolares de ensino particular não realizam atividade física. Em relação a alimentos gordurosos, 78,38% dos escolares do ensino público e 60,91% dos escolares de ensino particular o consomem. Quanto à ingestão de bebida alcoólica, 25,23% dos adolescentes do ensino público e 13,64% do ensino particular responderam que a consomem. Os índices de escolares que são tabagistas chegam a 6,31% no ensino público e 0,91% no ensino particular. A prevalência de pais de alunos que possuem hipertensão arterial é de 18,18% na escola de ensino particular e 25,23% na de ensino público. A prevalência de parentes mais próximos que possuem hipertensão é de 14,41% nos adolescente de ensino público e 24,55% nos de ensino particular. Figura 2. Fatores de risco para hipertensão arterial Fumante Consome bebida alcoólica Consome comidas ricas em gordura Parentes mais próximos possuem HAS Pais possuem HAS Não realiza atividade física 0% 10% 20% 30% Escola pública 40% 50% 60% 70% 80% Escola particular ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 90% Artigo 5 Em relação à prevalência de obesidade e sobrepeso nas populações avaliadas, foram encontrados 0,9% de sobrepeso e 9,01% de obesidade em alunos de ensino público e 2,73% de sobrepeso e 12,73% de obesidade em alunos de ensino particular. Gráfico 3. Prevalência de obesidade e sobrepeso em escolares 14% 12% 10% 8% 6% 4% 2% 0% Sobrepeso Obesidade A média da renda per capita dos alunos de ensino público é de 0,85 salários; dos alunos de ensino particular é de 3,65 salários. Figura 4. Renda per capita média dos escolares 4,0 3,5 3,0 2,5 2,0 1,5 1,0 0,5 0 Escola pública Escola particular Correlacionando os fatores de risco aos escolares que apresentaram hipertensão, obtivemos uma correlação entre hipertensão e o sexo masculino (p < 0,02), renda per capita < 3 salários (p < 0,01) e entre 3 e 5,99 salários (p < 0,01). Discussão O número exato de indivíduos adultos hipertensos em nosso país não é conhecido. Diversos estudos nacionais e internacionais realizados apresentam prevalência de hipertensão arterial variando entre 14% a 47,9%. De acordo com estudos nacionais e internacionais realizados, a prevalência de hipertensão arterial em crianças e adolescentes varia de 1% a 25%. Este estudo apresentou prevalência de hipertensão arterial de 21,62% em estudantes de escola pública, sendo 62,5% do sexo masculino e 37,5% do sexo feminino. Na população de adolescentes de escola particular, apresentou prevalência de hipertensão arterial de 10%, sendo 63,64% do sexo masculino e 36,36% do sexo feminino. Com relação ao sexo, no Brasil as taxas de hipertensão são sempre superiores no sexo feminino. Nos EUA, nas primeiras idades, as taxas se entrelaçam e somente a partir de 45 anos as taxas masculinas superam as femininas. As mulheres são relativamente protegidas de eventos cardiovasculares antes da menopausa. Entretanto, estudos clínicos de longo prazo têm demonstrado que as mulheres não diferem dos homens quanto à resposta pressórica anti-hipertensiva e ao prognóstico. Em diversos estudos relatam que não existe associação entre hipertensão e sexo, resultados que diferem do nosso, onde demonstramos uma associação entre hipertensão e o sexo masculino. Hipertensão arterial e obesidade são condições frequentemente associadas, em especial, à obesidade centrípeta, fazendo parte de uma síndrome metabólica caracterizada pela presença de resistência periférica à insulina e hiperinsulinemia. A prevalência de obesidade em nossa amostra foi de 9,01% ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 55 Artigo 5 no ensino público e 12,73% no ensino particular. Porém não encontramos associação entre obesidade e hipertensão. A prevalência de obesidade em diversos estudos é de 6,7% a 36% em crianças. Um estudo em Florianópolis encontrou prevalência de 13,4% em ensino particular e 6,5% em ensino público em crianças de 7 a 10 anos. A hipertensão arterial e o grau de atividade física têm relação inversa: o exercício físico regular reduz a pressão arterial1. Assim sendo, caminhada, ciclismo, natação e corrida, realizados numa intensidade entre 50% e 70% (leve/moderada) da frequência cardíaca de reserva, ou entre 50% ou 70% do consumo máximo de oxigênio, com duração de 30 a 45 minutos de três a cinco vezes por semana, reduzem a pressão arterial de indivíduos hipertensos. CONCLUSÃO O aumento da pressão arterial com a idade não representa um comportamento fisiológico normal. A prevenção desse aumento constitui o meio mais eficiente de combater a hipertensão arterial, evitando-se as dificuldades e o elevado custo social de seu tratamento e de suas complicações. As medidas preventivas baseiam-se na identificação dos grupos de maior risco e nas modificações do estilo de vida. No estudo realizado, 22,86% dos escolares que apresentaram hipertensão têm pais com hipertensão diagnosticada e 11,76% têm parentes próximos com hipertensão diagnosticada. Atualmente, com a globalização, modernização e avanços culturais, é importante dar atenção especial à presença de fatores de risco na infância e na adolescência, tais como história familiar, estresse psicológico, obesidade, erros dietéticos, tabagismo, etilismo e sedentarismo. A hipertensão arterial correlacionada à renda per capita apresentou em alguns trabalhos prevalência de hipertensão variando de 16,82% a 26,20%3,9. No estudo realizado, a renda per capita foi calculada com base no salário mínimo vigente, com isso foram encontrados os seguintes valores: Dados de prevalência de hipertensão confirmam os resultados de outros estudos que mostram a importância da hipertensão no desenvolvimento de complicações cardiovasculares, como acidente vascular encefálico, insuficiência cardíaca e renal e cardiopatia isquêmica. Em relação à prática de atividade física, 94,74% realizavam exercícios. 56 Em relação à renda per capita, nossos resultados demonstraram uma clara associação entre baixa renda e hipertensão arterial, provavelmente por essa população não ter acesso fácil à saúde, alimentação adequada e por estar mais sujeita a situações de estresse. Com isso, há uma preocupação em demonstrar esses dados e orientar essa população sobre a hipertensão: os riscos, as complicações e como preveni-la. Os resultados deste estudo demonstram elevada prevalência de hipertensão arterial em adolescentes de escola pública, e forte associação entre hipertensão arterial e sexo masculino e baixa renda per capita. REFERÊNCIAS 1. II Diretriz para Uso da Monitorização Residencial da Pressão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. v. 85, s. II, julho 2005, p. 14-18. 2. IV Diretriz para Uso da Monitorização Ambulatorial da Pressão Arterial. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. v. 85, s. II, julho 2005, p. 7-13. 3. 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Sim Não Se sim, qual(is)?_________________________________________________ Nutricional Sim Não Você consome comidas salgads (com sal adicional)? Você consome comidas ricas em gordura (frituras)? Sim Não Sim Você consome bebida alcoólica? Não Se sim, com que frequência?______X/semana Você fuma? Sim Não Se sim, com que frequência?______X/semana. _____cigarros/dia. Quantas refeições diárias? _____X ao dia. Quais alimentos mais frequentes na sua alimentação? Lanches Salgados/bolachas Frutas Carnes Vegetais /legumes Massas Outros______________________________________________________ Socioeconômico Quantas pessoas trabalham em sua casa?________pessoas Quantas pessoas vivem em sua casa?________pessoas Qual a renda familiar?______salários. Como é seu relacionamento com seus familiares? Bom Ruim Muito ruim Ótimo Se ruim ou muito ruim, qual o motivo?________________________________ Ficha de avaliação (Por favor, não responda) Pressão sistólica_______ Altura______cm Pressão diastólica______ Peso______Kg Homem < 10% < 10% - 19% < 20% - 24% < 25% - 30% < 30% Mulher < 20% < 20% - 29% < 30% - 34% < 35% - 40% < 40% Raça:____________ Muito obrigado. 58 ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência NORMAS PARA APRESENTAÇÃO DE ARTIGOS A revista Fisioterapia em Evidência, editada pelo curso de Fisioterapia da Faculdade Dom Bosco, publica artigos originais e de revisão, relatos de caso, editoriais e cartas ao editor. Originais que não estiverem de acordo com as normas desse gênero serão devolvidos aos autores para adequação, antes de ter o conteúdo examinado. Os que se enquadrarem serão submetidos à apreciação de dois editores, garantindo-se o anonimato de autores e editores. Dependendo dos pareceres recebidos, os autores poderão ser solicitados a fazer ajustes, ainda sujeitos à aprovação. Uma vez aceito, o texto será submetido à edição, podendo haver novamente solicitação de ajustes formais. Responsabilidade e ética O conteúdo e as opiniões expressas são de inteira responsabilidade dos autores. Artigos de pesquisa envolvendo sujeitos humanos devem indicar expressa aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos da instituição responsável. Pesquisas referentes a animais precisam da aprovação do Comitê de Ética em Pesquisa com Animais. Formato e conteúdo Os textos deverão ser digitados em Word 972003, em tamanho A4, com espaçamento de linhas duplo e fonte 12 tipo Times New Roman. Exige-se o formato ABNT em todo o texto. Página de rosto – deve conter: a) título do trabalho e sua versão para o inglês; b) nome completo dos autores com indicação da titulação acadêmica e inserção institucional, nome do departamento, curso ou laboratório dessa instituição, acompanhado de endereço completo, incluindo cidade, estado e país; c) título condensado (máximo de 50 caracteres) – running title; d) endereços eletrônico e postal do autor principal; e) indicação de órgão financiador de parte ou todo do projeto de estudo, se for o caso. Resumo – deve permitir visão panorâmica do trabalho, conter no máximo 250 palavras e versão em inglês. Para os artigos originais, o resumo deve ser estruturado em objetivos, métodos, resultados e conclusões. Unitermos ou palavras-chave – máximo de seis, relacionados após o resumo e o sumário. Como guia, consulte descritores em ciências da saúde (http://decs.bvs.br). Estrutura do texto • Editoriais – a convite do editor, sob tema específico, devem conter no máximo duas mil palavras. • Artigos originais – devem conter estruturalmente as partes introdução, objetivos, métodos, resultados, discussão e conclusão. São contribuições destinadas a divulgar resultados de pesquisa original inédita, passíveis de ser replicadas e/ou generalizadas. Devem atender aos princípios de objetividade e clareza da questão norteadora, conter o máximo de cinco mil palavras; tabelas e figuras não podem exceder a sete. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 59 • Relato de caso – com a mesma estrutura dos artigos originais – no máximo mil e quinhentas palavras e três tabelas. Recomenda-se não citar iniciais do paciente. • Artigos de revisão – compreende avaliações críticas e ordenadas da literatura sobre determinado assunto, devendo conter objetivo (por que a revisão da literatura foi realizada, indicando se ela enfatiza algum fator em especial), fonte de dados (critérios de seleção de artigos e métodos de extração e avaliação da qualidade das informações), síntese dos dados (principais resultados quantitativos e/ou qualitativos da pesquisa) e conclusões (com as respectivas aplicações). Incluem-se os procedimentos adotados e a delimitação do tema. A extensão limita-se a três mil palavras. • Cartas ao editor – comentários, discussões e críticas a artigos publicados recentemente nesta revista, relatos de pesquisas originais ou achados científicos significativos. Extensão limítrofe de mil palavras. Referências As referências devem seguir o modelo da Associação Brasileira de Normas e Técnicas (ABNT). Veja exemplos: DAHER, S.; MATTAR, R.; SASS, N. Doença hipertensiva específica da gravidez: aspectos imunológicos. In: Sass N, Camano L, Moron AF, editores. Hipertensão arterial e nefropatias na gravidez. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2006. p. 45-56. BLIDDAL, H.; HELLESEN, C.; DITLEVSEN, P.; ASSELBERGHS, J.; LYAGER, L. Soft-laser therapy of rheumatoid arthritis. Scand. J. Rheumatol. 1987. 16(4):225-8. 60 HERZOG NETO, G.; CURI, R. L. N. Características anatômicas das vias lacrimais excretoras nos bloqueios funcionais ou síndrome de Milder. Rev. Bras. Oftalmol. [periódico eletrônico]. 2003 [citado 2006 jul. 22];62(1):[cerca de 5 p.]. Disponível em: <www.sboportal.org.br>. FREIRE, M. Exercícios aeróbicos e lombalgia [dissertação]. São Paulo: Disciplina de Reumatologia, Universidade Federal de São Paulo, Unifesp, 2000. SACCO, I.C.N.; COSTA, P.H.L.; DENADAI, R.C.; AMADIO, A.C. Avaliação biomecânica de parâmetros antropométricos e dinâmicos durante a marcha em crianças obesas. In: VII Congresso Brasileiro de Biomecânica, Campinas, 28-30 maio 1997. Anais. Campinas: Editora Unicamp, 1997. p. 447-52. Agradecimentos Quando pertinentes, dirigidos a pessoas ou instituições que contribuíram para a elaboração do trabalho, são apresentados ao final das referências. Apresentação eletrônica da versão final Após comunicação do aceite ao artigo, o autor deverá proceder a eventuais ajustes sugeridos pelos editores, no prazo de cinco semanas. Com a versão final editada, o editor poderá solicitar novos ajustes e esclarecimentos. Neste caso, o prazo será de duas semanas. Enviar artigos para [email protected]. ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência ISSN 2178-1672 Fisioter. Evid., Curitiba, v. 2, n. 2, julho/agosto 2011 | Revista Fisioterapia em Evidência 61
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