a situação da responsabilidade social corporativa nas

Transcrição

a situação da responsabilidade social corporativa nas
A SITUAÇÃO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA NAS
EMPRESAS GALEGAS E DO NORTE DE PORTUGAL1
Cláudia Maria do Amaral
[email protected],, Universidade de Vigo.
Filiação: Raul Jorge Moura Alves de Sousa
Maria Júlia Monteiro Amaral Alves Sousa
Endereço: Av. Oliveira Martins, 49 B-6º Esq.
4420-230, Gondomar - Portugal
Telefone: 00351964776917
Ana Dopico Parada
[email protected], Universidade de Vigo.
Telefone: 0034678757401
Rocío Rodríguez Daponte
[email protected], Universidade de Vigo.
Telefone: 0034636749748
1
Este trabalho deriva do projecto de investigação entitulado: A empresa galega e do Norte de Portugal e o desafio da Responsabilidade
Social Corporativa. Junta da Galiza (PGDIT05Cs030001PR).
1
ABSTRACT
Nos últimos anos, a empresa converteu-se num agente social, sendo-lhe atribuída uma série de responsabilidades
que vão para além das meramente económicas. Conseguir uma sociedade mais justa e solidária, é património de
todos os cidadãos e organizações, que contribuem decisivamente para uma sociedade sustentável económica,
meio ambiental e socialmente.
A estratégia empresarial do futuro deve assumir um novo desafio na construção de uma sociedade mais justa e
sustentável, melhorando a sua competitividade. É um aspecto ao qual as grandes empresas concedem uma
crescente importância, criando para o efeito departamentos específicos que tratam de estender essa cultura pela
organização.
As empresas Galegas e do Norte de Portugal não permanecem à margem e para poder avaliar o nível em que são
socialmente responsáveis é preciso traduzir os princípios de responsabilidade social corporativa (RSC) em
variáveis medíveis através da construção de standards e indicadores a partir dos quais, após uma auditoria social,
nos permita concluir que a empresa é socialmente responsável.
Tendo em conta a falta de indicadores oficiais no tema da RSC, o objectivo central deste trabalho passa
essencialmente por analisar o panorama da RSC ao nível das empresas Galegas e do Norte de Portugal. Depois
de realizada uma revisão bibliográfica que apresenta o marco conceptual da RSC, apresentam-se dados sobre o
conhecimento deste tema por parte dos seus directivos. O trabalho culmina com uma análise da participação das
empresas galegas e portuguesas, nas iniciativas de monitorização da RSC nacionais e internacionais mais
importantes na actualidade (GRI, SA8000, CSR Europe, e DJSI).
KEY WORDS: Responsabilidade Social Corporativa, Sustentabilidade, Relatórios, Empresas galegas,
Empresas do Norte de Portugal.
PROGRAMA CIENTÍFICO - Painel 1: Empresa
2
1.
INTRODUÇÃO.
Nos últimos anos, vimos assistindo a uma revolução sócio-empresarial sem precedente. Desde os finais dos anos
90 uma gama ampla de códigos de conduta, pactos, directrizes e normas de carácter voluntário, e algumas de
carácter obrigatório, estão a ser emitidas de diferentes organismos públicos ou privados, nacionais e
internacionais. A incorporação dos conceitos de Responsabilidade Social e sustentabilidade na gestão
empresarial, e que são expressados em muitos relatórios elaborados pelas empresas, marca uma nova tendência
que contribui para um melhor desempenho económico, social e ambiental, e consequentemente para um aumento
da sua competitividade e do seu valor.
A corrente a favor de que a empresa como organização desempenha um papel chave na sociedade está assumir
grandes impactos, uma vez que as empresas estão cada vez mais conscientes de que na actual economia de
mercado, a legitimidade para poder operar vem concedida por todos os agentes ou grupos de interesses com os
quais a organização se relaciona (stakeholders).
Esta maior consciência social exige reflectir sobre a melhor maneira de articular um sistema que permita levar à
prática compromissos e obrigações que os diferentes agentes económicos devem assumir na contribuição para o
desenvolvimento sustentável do planeta.
Nesta linha, em especial as empresas Galegas e do Norte de Portugal deveram compreender que a economia
global não é somente um fenómeno comercial ou financeiro, mas que inclui dimensões de transformação social
de maior alcance. Assim, para poder avaliar o nível em que são socialmente responsáveis é preciso traduzir os
princípios de responsabilidade social corporativa em variáveis medíveis através da construção de standards e
indicadores a partir dos quais, após uma auditoria social, nos permita concluir que a empresa é socialmente
responsável.
O objectivo central deste trabalho é analisar o panorama da Responsabilidade Social Corporativa nas empresas
portuguesas e galegas. Depois de uma revisão bibliográfica que apresenta o marco conceptual da RSC,
apresenta-se informação sobre o conhecimento deste tema por parte dos seus directivos. O trabalho finaliza com
uma análise da participação das empresas portuguesas e galegas nas iniciativas de RSC nacionais e
internacionais mais importantes na actualidade.
2.
CONCEITO E DESENVOLVIMENTO DA RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.
As origens da Responsabilidade Social Corporativa ou Empresarial podemos situá-las na década de 50, apesar de
algumas referências sobre o termo serem anteriores aos anos 20. Em particular, é a publicação de Bowen em
1953 a obra que marca o começo da literatura actual da RSC. Neste trabalho o autor delineou uma questão base,
a que hoje em dia ainda não se há dado resposta: “¿em que medida os interesses a longo prazo da empresa
convergem com os da sociedade?. Nesta obra o autor propõe o que podemos tomar como a primeira definição do
término RSC: “as obrigações dos homens de negócios de aplicar políticas, tomar decisões ou seguir linhas de
acção que são desejáveis em termos de objectivos e valores da nossa sociedade” (Bowen, 1953).
Contudo a contribuição mais notável na construção da definição de RSC realiza-se durante a década de 70. Neste
tempo proliferaram várias definições entre as quais se destacam as realizadas por Eilbert y Parker (1973), Eells e
Walton (1974), Fitch (1976) e Carroll (1979).
Tal como relata Carroll (1999), os anos 80 representam uma etapa em que o desenvolvimento do conceito de
RSC não evolui na mesma medida que a década anterior, contudo, gerou-se grandes contributos no terreno da
investigação empírica. Por outro lado, nesta etapa começam a ganhar importância temas relacionados com a RSC
como é o caso da actuação social corporativa, a teoria dos stakeholders, a cidadania corporativa e a a teoria da
ética dos negócios. Destacam-se nesta etapa os trabalhos de Jones (1980), Dalton e Cosier (1982), Drucker
(1984), e Cochran e Wood (1984).
Nos últimos anos a responsabilidade social corporativa ressurgiu e podemos dizer que são dois os factos que
marcaram o ponto de inflexão neste processo. Por um lado, o Pacto Mundial das Nações Unidas no ano 2000,
que assenta em dez princípios que estão englobados em quatro grupos de critérios sobre Direitos Humanos,
Normas Laborais, Meio Ambiente e Corrupção. E, por outro lado, a iniciativa da Comissão Europeia com a
publicação em 2001 do Livro Verde “Fomentar um marco europeu para a responsabilidade social das
empresas”, consequência do acordo realizado no Conselho Europeu de Lisboa no ano 2000.
3
Castillo (2002) afirma que o conceito de responsabilidade social da empresa tem sido pouco e mal definido, daí
ainda não existir uma definição de RSC que possa ser universalmente aceite. Todavia, apesar das discrepâncias
existentes pode-se encontrar um consenso geral sobre as principais características da RSC (Comissão Europeia
2002):
•
a responsabilidade social consiste num comportamento que as empresas adoptam
voluntariamente, para além das suas obrigações jurídicas, por considerar que a longo prazo beneficiará
em seu próprio interesse.
•
a responsabilidade social está intrinsecamente vinculada ao conceito de desenvolvimento
sustentável: as empresas devem integrar nas suas operações as consequências económicas, sociais e
meio ambientais.
•
a RSE não é algo que se possa incluir de forma opcional às principais actividades da empresa,
mas que afecta a sua própria gestão.
O conteúdo da RSC está definido nas áreas de interesse que configuram a responsabilidade da empresa face à
sua envolvência social num determinado contexto. Nesta linha, existe acordo quando se considera a RSC como
um conceito difícil de delimitar porque é essencialmente dinâmico e variável. Por um lado, as responsabilidades
sociais evoluem com o tempo. De facto, nos anos noventa a responsabilidade social tem vindo a estar ligada a
questões como a ética empresarial, a teoria dos grupos de interesse, o comportamento social da empresa e o
conceito de “cidadania empresarial” (Carroll, 1999, p. 292). Mais recentemente, tem-se incorporado temas
como o comércio justo, a cooperação ao desenvolvimento, a luta contra a exclusão social, a promoção do
voluntariado, a conciliação da vida familiar e social, a protecção da infância e juventude ou a contribuição para a
sociedade do conhecimento. (Comissão Europeia, 2001, p.4). E, por outro lado, o conceito da RSC é variável na
medida em que cada envolvente social possui uma série de interesses que transmite à empresa e que variam em
função da situação geográfica, política, económica e social, assim como o tipo de empresa de que se trate, sua
dimensão, sector de actividade, os interesses dos seus stakeholders, etc. (Castillo, 1988; Aguirre, Castillo e Tous,
1999 e Carroll, 1999).
Tudo isso dificultou a aceitação de uma definição, sendo normalmente referenciada a proposta sugerida pela
Comissão Europeia (2001): “a integração voluntária, por parte das empresas, das preocupações sociais meio
ambientais nas suas operações comerciais e nas suas relações com os seus interlocutores”.
Neste contexto, para que as empresas possam integrar a RSC nos seus métodos de gestão torna-se fundamental
assinalar quais são as responsabilidades que uma empresa deve assumir:
• Uma fórmula que tem facilitado a determinação dessas áreas é a adopção do termo “triple bottom line” ou
tripla conta de resultados (Elkington, J, 1997). Este término, que nasceu ligado ao termo de sustentabilidade,
indica agora, no campo da RSC, que a empresa há-de assumir não só responsabilidades económicas, mas
também sociais e meio ambientais.
• Outra proposta aceite na literatura no que respeita à delimitação das responsabilidades é a de Carroll (1991).
O autor divide o conceito de RSC em quatro dimensões, que por ordem de importância, são as seguintes: 1)
responsabilidade económica, 2) responsabilidade legal, 3) responsabilidade ética e 4) responsabilidade
voluntária. A soma de todas elas consubstancia a responsabilidade social corporativa.
• Por sua parte, a CE no Livro Verde estabelece duas grandes dimensões ou níveis de responsabilidades: a
primeira a dimensão interna, referida às práticas responsáveis das empresas que afectam os trabalhadores. A
segunda, a externa, está referida à envolvência local (seja a nível europeu ou mundial), aos sócios comerciais,
fornecedores e consumidores, direitos humanos e aos problemas ecológicos mundiais (Comissão Europeia,
2001).
A análise das responsabilidades sociais das empresas tem levado os académicos a perguntarem-se, ante quem
deve a empresa ser socialmente responsável?. A resposta levou à determinação dos denominados grupos de
interesse ou stakeholders que conformam as relações das empresas (Castillo, 1988; Carroll, 1999; Donalson y
Preston, 1998).
Castillo (1988) apresenta uma sistematização sobre os stakeholders e as responsabilidades da empresa face a
cada um deles. A autora estabelece três tipos de responsabilidades. As primárias, que são imediatas e referem-se
aos participantes ou integrantes da organização: accionistas, direcção e empregados. As secundárias dirigem-se à
envolvente específica e à empresa, isto é: fornecedores, prestadores de fundos, distribuidores, clientes e
consumidores, concorrentes, comunidade local e envolvente físico ou habitat natural da empresa. O terceiro nível
de compromisso estabelece-se com os integrantes da envolvente social geral representado pela Administração,
Comunidade nacional, internacional e futura e a natureza.
4
3.
INICIATIVAS DE APOIO E FOMENTO DA RSC NA GALIZA E NO NORTE DE PORTUGAL.
Nos últimos anos tem-se produzido em Espanha um crescimento notável do número de iniciativas de apoio e de
fomento da RSE por parte das administrações e dos poderes públicos, apesar de não existir um modelo único
nem uma referência normativa do que deveria ser a política pública. Assim, cada país tem focalizado a RSC nos
temas sociais ou meio ambientais mais adequados segundo o seu processo de desenvolvimento do Estado, e em
função da relação existente entre a empresa, o Governo e a sociedade.
Neste sentido, é necessário destacar o apoio por parte do Governo Autónomo da Junta da Galiza, através da
Concelhia da Inovação e Indústria, que a partir de 2006, começou a conceder subsídios tanto a associações e
entidades sem fins lucrativos como a pequenas e médias empresas, para o impulso de actuações de sensibilização
e difusão em matéria de RSC, bem como para a elaboração de relatórios de RSC e de incorporação e certificação
de sistemas de gestão.
Os primeiros subsídios são do ano 2006, no qual 33 empresas acederam a tais ajudas sobretudo para a elaboração
do relatório de sustentabilidade, tendo 23 Associações obtido algum tipo de apoio para o desenvolvimento de
actuações em matéria de RSC. Na convocatória do ano de 2007, parece que a filosofia da administração quer ir
um pouco mais à frente e os subsídios às PME´s têm como objectivo não só a elaboração de relatórios mas
também a implementação e certificação de sistemas de gestão.
Nesta linha, a vice-presidência da Junta apresentou a proposta do Acordo Galego para o Fomento da
Responsabilidade Social na Empresa, que tem como finalidade favorecer a criação de uma cultura de
responsabilidade social nas empresas da Galiza e que coincide com as distintas iniciativas legislativas
encaminhadas a melhorar a situação laboral.
Aceitando este carácter progressivo do desenvolvimento das práticas e políticas de responsabilidade social, o
primeiro dado que interessa destacar é que em Espanha até ao ano 2003 o desenvolvimento da RSE era todavia
muito incipiente e embrionário. Apesar do debate público sobre RSE ter chegado a Espanha alguns anos mais
tarde do que a outros países europeus, depois da cimeira de Lisboa, a partir de 2003 o número de iniciativas
promovidas pelas empresas e pelas mais diversas organizações e instituições tem sido extraordinário. Este
desenvolvimento deu-se sobretudo praticamente na totalidade das Comunidades Autónomas.
Pareceu-nos de extrema importância citar e quantificar o exemplo da realidade espanhola no que respeita ao
apoio do Estado ao nível da implementação de uma cultura de Responsabilidade Social, comparando com a
realidade portuguesa, onde o tecido empresarial e associações não beneficia de qualquer tipo de subsídios ou
apoios por parte do Estado na gestão e implementação da RSC, bem como, na elaboração de relatórios de
sustentabilidade. Todavia, Portugal conta já com inúmeros organismos e entidades (RSE Portugal, Apee, Sair da
Casca, Grace, Oikos, entre outras) que estão cada vez mais cientes do potencial propulsor que o conceito
evidencia.
4.
CONHECIMENTO E IDENTIFICAÇÃO DA RSC NAS EMPRESAS GALEGAS E DO NORTE DE
PORTUGAL.
Esta rubrica da análise orienta-se face ao conhecimento genérico que, em matéria de RSC, têm as empresas da
Comunidade Autónoma galega e do Norte de Portugal. Numa investigação recentemente realizada pela
Universidade de Vigo2 tomou-se em consideração dois aspectos: em primeiro lugar, saber se as empresas
nortenhas e galegas ouviram falar de RSC e, em segundo, os âmbitos com que estas empresas identificam o
termo RSC.
Começando pela primeira pergunta, os dados extraídos do estudo informam que 86,9% das empresas
portuguesas e 86% das empresas galegas inquiridas ouviram falar da RSC, face a 13,1% e 14% respectivamente,
que nunca ouviram falar desse termo. Em relação à segunda pergunta pode-se extrair três grupos de
identificações de acordo com a avaliação dada pelas empresas que responderam ao questionário. Ver gráfico 1.
2
Partindo do censo de empresas da Galiza de Ardan realizou-se o estudo em quatro sectores SIC (Construções e Contratos, SIC 15 a 17;
Fabricantes, SIC 20 a 39; Distribuidores, SIC 50 a 51; Retalhistas, SIC 52 a 58), os quais representam 42% da facturação total e 36 % do
número de empresas. O questionário realizou-se entre abril-junho de 2007 entre as 300 maiores empresas destes sectores, sendo 100
questionários válidos. Partindo da análise das 500 maiores empresas de Portugal referenciadas pela prestigiada revista Exame, realizou-se o
estudo nas empresas do Norte de Portugal em cinco sectores SIC (Construções e Contratos, SIC 15 a 17; Fabricantes, SIC 20 a 39;
Distribuidores, SIC 50 a 51; Retalhistas, SIC 52 a 58 e Serviços, SIC 70 a 89). O questionário realizou-se igualmente entre os meses de
Abril-junho de 2007, entre as 150 maiores empresas destes sectores do Norte de Portugal, sendo 61 questionários válidos.
5
Gráfico 1. Identificação do término Responsabilidade Social Corporativa (RSC), nas empresas do Norte de
Portugal e da Galiza.
ESPAÑA
PORTUGAL
Fonte: Elaboração Própria (a partir do estudo da Universidade de Vigo - 2007)
Em primeiro lugar, do leque de questões que integram a RSC, as empresas do Norte de Portugal e da Galiza
identificam a RSC fundamentalmente com duas acções principais que alcançam as valorizações máximas
superiores a 4 pontos. Trata-se da identificação com o conceito de preocupação por um comportamento
empresarial ético (4, 52 e 4,32, em Portugal e na Galiza respectivamente), e a consideração dos temas meio
ambientais (4, 41 e 4,22 respectivamente no Norte de Portugal e na Galiza).
Num segundo grupo de acções com uma identificação intermédia é o que integra conceitos como o fomento do
bom governo da empresa (4,20 e 3,8 no Norte de Portugal e na Galiza, respectivamente), políticas de fomento
dos direitos humanos (4,18 e 3,9 no Norte de Portugal e na Galiza, respectivamente), avanços no campo das
relações laborais (4,18 e 4.01, no Norte de Portugal e na Galiza, respectivamente), desenvolvimento de planos de
qualidade (4,02 e 3,4 no Norte de Portugal e na Galiza, respectivamente), atenção a critérios responsáveis na
hora de investir (4 e 3,6 no Norte de Portugal e na Galiza, respectivamente), as relações com fornecedores,
clientes e/ou concorrência (3,98 e 3,4 no Norte de Portugal e na Galiza, respectivamente).
E por último, são duas as acções que conformam o grupo daquelas em que se produz um menor grau de
identificação com a RSC, a saber: colaborações e ajudas sem fins lucrativos (3,26 e 3,1 no Norte de Portugal e na
Galiza, respectivamente) e as actividades incentivadas fiscalmente (3,13 e 2,5), pois tal como se pode comprovar
são-lhes atribuídas as avaliações mais baixas.
5.
A RSC NA GALIZA/NORTE PORTUGAL SEGUNDO ACORDOS, STANDARST E GUIAS.
Actualmente o estudo do grau de desenvolvimento e implementação da RSC na Galiza e no Norte de Portugal
enfrenta a dificuldade que deriva da falta de indicadores oficiais de medição, assim como a escassez de dados
fiáveis.
Neste capítulo, trata-se de fazer um resumo e avaliação da participação das empresas galegas e portuguesas no
Pacto Mundial das Nações Unidas, ver as que apresentam relatórios de acordo com o GRI, as que aplicam a
norma SA8000, as que participam na CSE Europe, as que pertencem ao índice bolsista DJSI. Esta análise
finalmente é acompanhada com um estudo referente ao uso do término RSC nas páginas web das principais
corporações galegas e do Norte de Portugal.
6
5.1.-
AS EMPRESAS GALEGAS E DO NORTE DE PORTUGAL NO PACTO DAS
NAÇÕES UNIDAS.
Uma primeira aproximação à realidade empresarial da RSC na Galiza/ Norte de Portugal pode ser feita através
da análise do número de empresas destas regiões que aderiram ao Pacto Mundial das Nações Unidas. Trata-se de
uma iniciativa internacional proposta pelas Nações Unidas em 1999, cujo objectivo é conseguir um compromisso
voluntário das entidades em responsabilidade social, por meio da implementação de Dez Princípios baseados nos
direitos humanos, laborais, meio ambiente e de luta contra a corrupção.
Em Espanha as empresas que aderiram ao Pacto constituem a Associação Espanhola do Pacto Mundial das
Nações Unidas, (ASEPAM), que desde a sua criação/participação tem vindo a assistir a um importante aumento.
Até à data foram mais de trezentas as empresas e organismos espanhóis que se comprometeram a incorporar os
princípios que impulsionam o Pacto Global nas operações diárias das suas empresas bem como nas suas esferas
de influência.
Quanto à participação galega no Pacto há que assinalar que, das 504 entidades espanholas que actualmente
assinaram, 32 dessas entidades são galegas: 21 delas empresas privadas e 11 entidades. Na tabela seguinte
(tabela 1), estão listadas as participantes entre as quais há que aplaudir o papel desenvolvido por algumas
empresas privadas em especial no sector têxtil galego. É o caso de Inditex, que foi a primeira empresa em
Espanha que assinou o Pacto no ano de 2001 e Adolfo Domínguez que se juntou um ano mais tarde. Outro bom
exemplo de liderança é a Caixa Galiza, a primeira entidade financeira em Espanha que se juntou a esta iniciativa
no ano de 2003, seguindo-lhe o bom exemplo a Caixa Nova em Janeiro de 2008. Posteriormente juntaram-se
outras empresas de menor tamanho até chegar a representar actualmente 8% de toda a participação espanhola.
Uma percentagem que se pode considerar insuficiente todavia digna uma vez que supera 5,1% que representa o
PIB galego sobre o espanhol.
7
Tabela 1. Empresas e entidades galegas aderidas ao Pacto Mundial.
EMPRESA
SECTOR
Adolfo Domínguez.
ADSG Atrugal (Asociación de Defensa Sanitario-Ganadera de la
Trucha).
Arce Clima Sistemas y Aplicaciones, S.L.
Asociación Congreso Gallego de la Calidad.
CAIXANOVA - Caixa de Aforros de Vigo, Ourense e Pontevedra
Caixa Galicia.
ANFACO- Asociación Nacional de Fabricantes de Conservas de
Pescados y Mariscos.
CEO- Confederación Empresarial de Ourense.
DEVALAR. Consultoría Europea S.L.
Estratega Consulting Global, S.L.
FEUGA- Fundación Empresa Universidade Galega.
Fundación Nortempo.
Fundación Ronsel.
GADISA- Gallega de Distribuidores de Alimentación, S.A.
Galopín Parques SL
Gares Construcciones
Grupo Baldomero Fariña, S.L
Grupo Qualitynova
Grupo Copo de Inversiones.
Hoberon Desarrollo e Innovación, S.L.
Ideas Posibles, S.L.
Inditex.
INLUDES- Instituto Lucense de Desarrollo Económico.
Mega Software y Comunicaciones S.L. (MEGASYC)
OCA- Obras caminos y asfaltos.
Rodman Polyships, S.A.
Sogama (Sociedade Galega do Medio Ambiente, S.A).
Técnicas Eléctricas y Desarrollo Integral.
Grande empresa. Textil.
Associação empresarial.
PME. Construção e engenharia.
Microempresa.
Serviços financeiros, banca e seguros.
Associação empresarial. Agricultura,
plantações e outros sectores rurais.
Associação empresarial.
Microempresa. Consultoria e auditoria.
Microempresa. Consultoria e auditoria.
Sector terciário. Educação.
Sector terciário.
Sector terciário.
Grande Empresa. Comércio e distribuição.
PME. Construção e engenharia.
Construção e engenharia.
Promoção inmobiliaria
Consultoria e auditoria. Meio ambiente.
Sector terciário. Ramo automóvel.
Microempresa. Telecomunicações y
tecnologias de informação.
Consultoria e auditoria.
Grande Empresa. Têxtil.
Meios de comunicação, cultura e gráficos.
Serviços professionais
Construção e engenharia.
Construção e engenharia.
Sector Público. Meio ambiente.
PME. Construção e engenharia.
Trabajos Auxiliares de Puentes, S.L
Construção e engenharia.
Universidade de La Coruña.
Instituição Educativa.
Universidade de Santiago de Compostela.
Xeracon, S.L.
Instituição Educativa.
Microempresa. Construção e engenharia.
Fonte: http://www.pactomundial.org/ actualizado em Julho de 2008.
Quanto ao contributo português no que diz respeito à assinatura do Pacto Global, das 31 empresas que integram
este quadro de referência, apenas quatro dessas entidades são do Norte de Portugal, é o caso da Sonae SGPS, SA,
que foi a primeira empresa do Norte de Portugal a assinar PG (2004/01/16), seguindo-a de perto o Grupo Bial
que se juntou a este quadro de referência no mês seguinte (2004/02/19), e posteriormente, deu-se a entrada da
Fundação Serralves (2006/12/12) e da Latino Confecções, Lda. (2006/06/05), ETMA - Empresa Tecnica de
Metalurgia, SA (2008/08/20).
5.2.-
EMPRESAS GALEGAS “IN ACCORDANCE” COM O GRI.
A publicação de relatórios de responsabilidade corporativa ou de sustentabilidade converteu-se numa prática
comum entre as empresas espanholas e um importante indicador do notável ritmo de desenvolvimento da RSC
em Espanha. Este relatório é a parte mais visível e sistematizada de um sistema de informação em RSC. Trata-se
de um documento que se torna público e que, através de indicadores qualitativos e quantitativos, mostra o
resultado e o impacto económico, social e meio ambiental da actividade da organização que o realiza num
determinado período de tempo. No caso lusitano, apesar do ritmo de elaboração de relatórios de sustentabilidade
elaborados pelas empresas não acompanhar a dinâmica da realidade espanhola, cada vez mais se assiste a uma
vontade clara das empresas, principalmente as de grande dimensão, em assumirem uma mudança de paradigma
empresarial, apostando assim no desenvolvimento sustentado e da sociedade.
8
A Global Reporting Initiative (GRI) auspiciada pelo programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente
(PNUMA) e a Coalition for Enviromentally Responsable Economies (CERES), nasce com o objectivo de
harmonizar internacionalmente a metodologia de elaboração dos relatórios de sustentabilidade. Uma grande
parte das empresas que elaboram os relatórios de sustentabilidade fazem-no “in accordance” com o GRI3, isto é,
utilizando bem os seus guias na segunda geração (GRI_2002), ou já na terceira (G3).
Na Galiza uma lista de 17 empresas e organismos elaboram os seus relatórios de sustentabilidade utilizando
como suporte o Guia do Global Reporting. Entre elas destacam-se Inditex, Caixa Galiza e a Universidade de
Santiago de Compostela com uma maior antiguidade e, portanto, experiência na elaboração (Ver tabela 2).
Tabela 2. Empresas e organismos galegos e portugueses “in accordance” com GRI.
EMPRESAS NORTE PORTUGAL
EMPRESAS GALEGAS
ATI Sistemas, S.L.
Gaia Gestión Deportiva, S.L.
Caixa Galicia.
Águas do Douro e Paiva SA (1RS)
Barbosa & Almeida (1RS)
Cimpor SA (3RS)
Canteiros de Porriño Reunidos, S.A.
Grupo ACMS.
Estudio Técnico Gallego, S.A.
Granitos Triturados, S.L.
Corticeira Amorim SGPS
Petrogal (2RS).
Sonae Sierra (2RS),
Unicer Bebidas Portugal SGPS (3RS)
Inditex.
Javier de la Cerda & Asociados S.L.
Metro do Porto SA (1RS)
Mota-Engil SGPS SA (1R)
Associação Empresarial de Portugal. Câmara de
Comércio e Indústria.
Laboratorios Asociados Nupel S.L.
Laminados Villapol, S.A.
Maderas Villapol, S.A.
Pintura y Decoración Industrial Del Río, S.L.
Universidade de Santiago de Compostela.
Grupo ENCE
Grupo Tragsa
Unión Fenosa SA
Fonte: Elaboração própria a partir da web. http://www.corporateregister.com/gri/ (Junho 2008).
Portugal conta actualmente com 69 empresas que assinaram o GRI, sendo 10 delas pertencentes ao Norte de
Portugal, como é o caso das Águas do Douro e Paiva SA (1RS); Cimpor SA (3RS); Corticeira Amorim SGPS
SA; Sonae Sierra (2RS), Barbosa & Almeida (1RS), Unicer Bebidas Portugal SGPS (3RS), Petrogal (2RS),
Metro do Porto SA (1RS) e Mota-Engil SGPS SA 11/07 (1R). Mais recentemente, em Maio de 2008, Associação
Empresarial de Portugal - Câmara de Comércio e Indústria, passou também a integrar a listagem de empresas
assinantes do GRI.
No entanto, para conhecer o número efectivo de empresas que desenvolvem actualmente relatórios de RSC, quer
na Galiza quer no Norte de Portugal, haveria que reunir e tomar em consideração todas as empresas que
anualmente publicam os seus relatórios apesar de não conseguirem a certificação ou o acordo de um organismo.
A quantificação destas empresas que desenvolvem esta iniciativa de maneira “não oficial” resulta realmente
complicada.
Segundo os dados obtidos no estudo da Universidade de Vigo anteriormente mencionado, no que respeita ao
facto das empresas da Galiza e do Norte de Portugal desenvolverem ou não relatórios de RSC, os resultados
reflectem que uma grande maioria das empresas Galegas/Norte de Portugal (77% e 68%, respectivamente) não
possuem um relatório de responsabilidade social ou de sustentabilidade, enquanto somente 7% das empresas
galegas e 24 das empresas do Norte de Portugal afirmam positivamente que a possui. O restante (16% na Galiza
3
Segundo GRI, os relatórios 'in accordance' são aqueles que cumprem cinco requisitos obrigatórios de informação, e considera-se como as
de mais alto nível, por serem as mais respeitosas com os standards incluídos nos seus guias.
9
e 8%, no Norte de Portugal) assegura que apesar de não o desenvolver fazem uma referência especial a este
término nos seus relatórios anuais. Por outro lado, quando se lhes pergunta sobre a importância que tem para eles
esta questão, as empresas galegas atribuem uma pontuação de 1,8 pontos como média sobre 3 e as empresas do
Norte de Portugal atribuem 1,9 pontos como média sobre 5, o que indica que os gestores das empresas dos dois
países consideram esta questão pouco pertinente para a gestão das suas empresas.
Neste contexto, pode-se concluir que ano após ano o número de empresas espanholas que apresentam estes
relatórios experimenta um importante aumento graças, em parte, à implementação de ajudas públicas do governo
regional para tal fim4. Não beneficiando de ajudas públicas, no caso português, assiste-se a uma cada vez maior
consciencialização, principalmente das grandes empresas, em fazer da responsabilidade social uma arma
concorrencial e de diferenciação que lhes permite abordar mercados competitivos e lhes permita obter
rentabilidade promovendo para o efeito excelentes relações com todos os seus stakeholders.
5.3.-
IMPLEMENTAÇÃO DA NORMA SA8000.
Outra das iniciativas com carácter internacional para a medição da RSC é a Social Accountability 8000
(SA8000) que reúne um conjunto de princípios e requerimentos básicos para empresas que aspiram ser
socialmente responsáveis. Este organismo elabora uma norma relativa às condições de trabalho e um sistema de
controlo independente do seu cumprimento nas fábricas. A sua norma é uniforme (os requerimentos são de
aplicação universal no que respeita à localização geográfica, sector industrial e tamanho da companhia) e
auditável mediante um sistema de verificação por terceiras partes.
Apesar da norma SA8000 contar já com uma segunda edição, o certo é que existem tão-somente 15 empresas até
ao momento certificadas em Espanha, entre as quais não se encontra nenhuma galega. Não obstante, não se
descarta que algumas empresas galegas utilizem o standard como guia de consulta.
Em Portugal, a Novadelta foi a primeira empresa portuguesa a obter a certificação de responsabilidade social SA
8000, em Dezembro de 2002. Esta empresa tem sido, aliás, reconhecida internacionalmente pelo seu trabalho em
prol da implementação de práticas de sustentabilidade em Timor-Leste, sendo considerada um case-study
internacional no sector dos cafés. Neste momento, algumas empresas prepararam-se para lhe seguir os passos e
alcançar também esta certificação.
Assim, mais recentemente, segundo dados da prestigiada SGS Portugal (Société Générale de Surveillance S.A),
Portugal conta com mais duas empresas certificadas segundo esta norma, designadamente o Grupo Auchan
Portugal, pois é a primeira empresa do sector da distribuição moderna a nível nacional e a segunda a nível
Mundial a obter esta certificação, e a Valnor, que também é a única empresa do sector do ambiente em Portugal
registada no Sistema Comunitário de Eco-Gestão e Auditoria (EMAS), sistema este que trata dos princípios do
desenvolvimento sustentável.
Após uma consulta pública (terminada a 13 de Outubro 2007 e agora publicada), às empresas portuguesas, deuse por concluída a primeira Norma Portuguesa de Responsabilidade Social - NP 4469, que irá ajudar as empresas
portuguesas a construírem mais factores de diferenciação e valor acrescentado.
Este projecto de norma portuguesa foi desenvolvido nos últimos dois anos pela Comissão Técnica 164
(Responsabilidade Social) e surge na sequência de uma recomendação da ISO (International Organization for
Standardization), no sentido de que cada país venha a criar um documento, de acordo com a sua realidade, de
modo a auxiliar as organizações na definição e implementação da responsabilidade social e na adopção de linhas
de orientação tendo em vista uma possível certificação (Apee, 2007).
Esta norma possibilita estabelecer a diferença entre quem realmente faz Responsabilidade Social e quem faz
marketing e relações públicas baseadas em apoio a causas, filantropia ou mecenato. A NP 4469 segue a mesma
metodologia de normas internacionais. Tem um valor próprio pelo que diferencia as empresas portuguesas em
relação a outros países onde este tipo de instrumentos não exista ou seja ignorado. Quando um investidor
estrangeiro pesquisa o nosso mercado, observa o seu quadro legislativo e administrativo e a forma como os
negócios se organizam e realizam.
A certificação permitirá não só uma concreta melhoria dos processos e dos impactos como a declaração pública
das boas práticas. Assim, sendo a confiança um dos elementos centrais de qualquer contrato, a Norma ajudará as
4
Desde o ano 2006 que a Junta da Galiza através da Concelhia da Industria pôs em prática uma linha de subsídios para o desenvolvimento de
relatórios de RSC. Assim, durante o próximo ano espera-se a publicação dos relatórios anuais de quase uma dezena de empresas que
receberam o subsídio para esse fim.
10
Empresas a captarem a confiança dos investidores e clientes, através da garantia emitida pela Entidade
Certificadora. Não é segredo para ninguém que Portugal continua sob suspeita, porque continuam os rumores
sobre más práticas no trabalho, discriminação de género, corrupção, entre outros. A Responsabilidade Social
pode auxiliar a construir uma realidade melhor e a Norma pode auxiliar a evidenciá-la.
Com a certificação do Sistema de Gestão da Responsabilidade Social, as empresas espanholas e portuguesas
prosseguem o seu esforço no sentido da melhoria do seu desempenho, acrescentando às vertentes ambiental, de
qualidade e de segurança, as preocupações com a melhoria do relacionamento organizacional interno através da
promoção das melhores condições para os seus trabalhadores, numa óptica socialmente responsável e promotora
do desenvolvimento sustentável para a região onde se insere.
5.4.-
GALIZA E NORTE DE PORTUGAL NA FUNDAÇÃO CSR EUROPE.
A organização Corporate Social Responsibility Europe (CSR Europe) é uma rede de empresas de âmbito
europeu comprometidas com a RSC. Este organismo fomenta o comportamento socialmente responsável e das
empresas oferecendo instrumentos para a gestão e autoavaliação de resultados de RSC.
Em Espanha, CSR Europe está representada pela Fundação Empresa Sociedade e está formada por empresas
comprometidas a melhorar a sua acção social e a do sector empresarial no seu conjunto. Pretende converter-se
num movimento empresarial que actue como agente de mudança social. Quanto à presença das empresas galegas
na Fundação, esta limita-se ao Grupo Inditex que forma parte como associada e aqui submete os seus relatórios a
auditoria.
Em Portugal, CSR Europe está representada pela Associação RSE Portugal, cuja missão é promover e
disseminar a temática da responsabilidade social das empresas a nível nacional, contribuindo para o
desenvolvimento e competitividade sustentável através da concepção, execução e apoio a programas e projectos
nas áreas educacional, formativa, social, cultural, científica, ambiental, cívica e económica, de âmbito nacional,
internacional e transnacional. Este organismo, em termos de participação da Região Norte, conta com a presença
da Manpower e da Select Vedior.
5.5.-
ÍNDICES BOLSISTAS SOCIALMENTE RESPONSÁVEIS.
Os índices bolsistas como o Dow Jones Sustainability Indexes (DJSI) resultam num importante escaparate da
RSC uma vez que a inclusão no mesmo converteu-se numa questão de prestígio para determinadas empresas. A
pertença a este índice serve como barómetro para medir questões como o bom governo corporativo, a
responsabilidade social e meio ambiental e o desenvolvimento sustentável.
Após a análise dos dados referenciados na página web http://www.sustainability-indexes.com/, actualizados a 30
de junho de 2007, conclui-se que em Espanha são 14 as empresas que pertencem a este índice bolsista: Repsol,
Endesa, Gas Natural, Iberdrola, Banco Santander Central Hispano, Telefónica, Inditex, Ferrovial, Abertis, Iberia,
Indra, Red Eléctrica, Repsol y Unión Fenosa5.
As empresas galegas, uma vez mais se vêm aqui representadas através do Grupo Inditex, Endesa e Unión
FENOSA. Estas últimas apesar de não estarem registadas na Galiza operam fundamentalmente na nossa
Comunidade Autónoma. Por outro lado, em Portugal, a Brisa - Auto Estradas de Portugal é desde 2002 a única
empresa portuguesa que integra o DJSI (Estado Arte Portugal, 2004), facto esse que veio a ser renovado em
2003. Todavia, actualmente, não existe em Portugal nenhuma empresa que pertença a este índice bolsista.
5
Dados actualizados a 30 de junho de 2007 e extraídos de http://www.sustainability-indexes.com/
11
5.6.-
ANÁLISE DAS PÁGINAS WEB DAS MAIORES EMPRESAS GALEGAS E DO
NORTE DE PORTUGAL.
Uma manifestação de que a RSC está a cobrar importância no âmbito empresarial é o facto de que as empresas
estão a incorporar e assumir este termo como fazendo parte da sua filosofia de empresa, da sua missão, do
estabelecimento de objectivos e do desenho das suas estratégias empresariais.
Este facto, está a ganhar consistência através da ferramenta comunicacional por excelência das empresas, a sua
página web. É por isso que neste estudo se realiza uma análise destas páginas, com a finalidade de identificar se
no seu conteúdo as empresas fazem menção expressa à RSC.
O certo é que depois de uma análise das páginas web das 10 maiores empresas em termos de facturação da
Galiza e do Norte de Portugal, concluiu-se que no caso espanhol essas empresas fazem menção explícita à RSC.
No caso português, apenas 4 empresas mencionam explicitamente a RSC, contrariando as restantes 6 que nada
referenciam. Na tabela seguinte apresenta-se a listagem destas empresas.
Tabela 3. Análise das páginas web das maiores empresas da Galiza/Norte Portugal.
Empresas: Galiza
Menciona RSC
en Web
Empresas: Norte de Portugal
Menciona RSC
en Web
1º Ascensores Enor, S.A.
2º Peugeot Citroën
Autom. España, S.A.
3º Begano
Sim
Qimonda Portugal, S.A.
Sim
Mota-Engil, Engenharia e Construção, S.A.
Sim
Sim
Lactogal - Produtos Alimentares, S.A.
Sim
4
Não
Congalsa S.L.
5º Dragados, S.A.
6º Fcc Construcción, S.A.
Sim
Alliance Healthcare, S.A.
Não
Sim
Optimus - Telecomunicações, S.A.
Não
Sim
OCP-Portugal -Produtos Farmacêuticos, S.A.
Não
7º Extrusionados Galicia
S.A
8º Inditex
Sim
Continental Mabor - Indústria de Pneus, S.A.
Não
Sim
Blaupunkt Auto-Radio Portugal, LDA
Não
Sim
Toyota Caetano Portugal, S.A.
Sim
Sim
Sociedade Construções Soares da Costa, S.A.
Sim
9º Fadesa Inmobiliaria,
S.A.
10º Constructora San Jose,
S.A.
Fonte: Elaboração própria a partir das páginas web corporativas. (julho de 2008).
6.
CONCLUSÕES.
A RSC na empresa Galega/Norte Portugal encontra-se numa fase embrionária. A participação da Galiza e do
Norte de Portugal nos indicadores existentes na RSC é anedótica e praticamente limitada a iniciativas das
grandes empresas que se situam no tecido empresarial galego e nortenho como modelos isolados que pouco têm
a ver com os métodos de governo e o compromisso social desenvolvido pelo resto das empresas nesta
Comunidade Autónoma. No entanto, os grandes passos dados por estas empresas dotaram de credibilidade na
Galiza e no Norte de Portugal a filosofia da RSC e conseguiram que, pouco a pouco, se vão somando outras
empresas de menor tamanho as quais representam melhor o tecido industrial destas regiões.
Cada vez são mais as empresas galegas e nortenhas que já utilizam os guias para o desenvolvimento de acções de
RSC e que publicam os seus registos periodicamente. No entanto, são muito menos as que aprofundaram no
estabelecimento de um sistema de gestão auditável que utilize empresas acreditadas para obter a certificação
correspondente.
O facto de não existir um marco normativo definido e estável que permita estandardizar, medir e comparar as
acções de RSC não faz mais do que tornar redutório o interesse das empresas e atrasar a publicação dos seus
resultados sociais à espera de uma simplificação do mesmo.
12
Em contraste, com esta fase incipiente encontramos empresas, que já têm um conhecimento relativamente alto
do término de RSC e apesar de não conhecerem todas as dimensões do tema, conseguem identificá-lo com
alguma das dimensões que abarca. Esta notoriedade deveria ser reforçada através dos poderes públicos mediante
um trabalho de consciencialização, promoção e difusão da RSE.
Todavia, parece-nos importante focalizar neste estudo, o pequeno mas visível desfasamento existente entre a
realidade espanhola e portuguesa, principalmente no que respeita a iniciativas públicas e iniciativas privadas. É
claramente perceptível, que Portugal está um passo atrás no que respeita à RSC, e que muitas vezes a RSC é
apenas um reflexo de uma elite empresarial sensibilizada para a matéria, daí ter-se ainda um longo caminho a
percorrer, precisando para o efeito de um esforço adicional das entidades competentes, no sentido de tornar a
RSC um aspecto distintivo das empresas, uma exigência do mercado e um aspecto vital para a sociedade.
À medida que os poderes públicos colaboram no processo de avanço da RSE e a sociedade avalia a actuação das
empresas, prevê-se que o número de empresas que se aliem a estas iniciativas experimentarão um crescimento
imparável nos próximos anos na Galiza, bem como no Norte de Portugal.
7.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.
Aguirre, A.A.; Castillo, A.M. e Tous, D.(1999). “Administración de organizaciones. fundamentos y
aplicaciones”. Pirámide, Madrid.
Bowen, H.R. (1953). Social Responsabilities of the Businessman. Harper and Row, New York.
Carroll, A. B. (1991). The pyramid of corporate social responsibility: Toward the moral management of
organizational stakeholders. Business Horizons nº 34, pp. 39–48.
Carroll, A.B. (1979). A three-dimensional conceptual model of corporate social performance, Academy of
Management Review, vol. 4, pp. 497-505.
Carroll, A.B. (1999). Corporate social responsibility. Evolution of a definitional construct, Business & Society,
vol. 38, nº 3, pp. 268-295.
Castillo, A.M. (1988). “Aproximación metodológica al contenido de la responsabilidad social de la empresa”.
Cuadernos de Ciencias Económicas y Empresariales. nº 19, junio.
Castillo, A.M. (2002). “El resurgir de la responsabilidad social de la empresa en Europa: el Libro Verde”.
Noticias de la economía pública social y cooperativa. nº 35, pp. 40-45.
Cochran, P. L., e Wood, R. A. (1984). Corporate social responsibility and financial performance. Academy of
Management Journal, 27, 42-56.
Comissão Europeia (2001). “Livro Verde: Fomentar un marco europeu para a responsabilidade social das
empresas”, Bruxelas. Com 2002.
Comissão Europeia (2002). “Comunicação da Comissão relativa à responsabilidade social das empresas: uma
contribuição empresaril ao desenvolvimento sustentável”, Bruxelas. Com 2002.
Dalton, D. R., e Cosier, R. A. (1982, May/June). The four faces of social responsibility. Business Horizons, 1927.
Donalson, T. e Preston, L.E. (1998). The corporation and its stakeholders, Toronto, University of Toronto Press,
pp. 71-80.
Drucker, P.F. (1984). The new meaning of corporate social responsability. California Management Review, 26,
53-63.
Eells, R., e Walton, C. (1974). “Conceptual foundations of business” (3rd ed.). Burr Ridge, IL. Irwin.
Eilbert, H., e Parket, I. R. (1973). The current status of corporate social responsibility. Business Horizons, 16,
5-14.
Elkington, J. (1997). “Cannibals with forks. The Triple Bottom Line of 21st Century Business”, Gabriola, New
Society Publishers.
Fitch, H. G. (1976). Achieving corporate social responsibility. Academy of Management Review, 1, 38-46.
Jones, T. M. (1980). Corporate social responsibility revisited, redefined. California Management Review, 59-67.
Junta de Galiza (2005): “Guia prático de responsabilidade social corporativa e sustentabilidade empresarial para
a Pme galega, Concelhia do Meio Ambiente”.
www.apee.pt, (Outubro, 2007).
13