José Estorniolo Filho

Transcrição

José Estorniolo Filho
JOSÉ ESTORNIOLO FILHO
Orientação: Profª Drª JOHANNA W. SMIT
A REPRESENTAÇÃO DA IMAGEM:
indexação por conceito e por conteúdo
USP - ECA - CBD
SÃO PAULO
2004
A REPRESENTAÇÃO DA IMAGEM:
indexação por conceito e por conteúdo
JOSÉ ESTORNIOLO FILHO
Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) apresentado
ao Departamento de Biblioteconomia e Documentação
da Escola de Comunicações e Artes da USP, para
obtenção
do
grau
de
Biblioteconomia
Orientação: Profª Drª JOHANNA W. SMIT
SÃO PAULO
2004
Bacharel
em
BANCA EXAMINADORA
Monografia apresentada ao Departamento de Biblioteconomia e Documentação da
Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, para obtenção do grau
de Bacharel em Biblioteconomia.
____________________________________________
_
Johanna W. Smit - Orientadora
____________________________________________
_
Maria de Fátima Gonçalves Moreira Tálamo
____________________________________________
_
Cássia Denise Gonçalves
São Paulo, 28 de Janeiro de 2005.
Afinal o que é a fotografia?
A possibilidade de parar o tempo, retendo para sempre uma
imagem que jamais se repetirá?
Um processo capaz de gravar e reproduzir com perfeição imagens
de tudo que nos cerca?
Um documento histórico, prova irrefutável de uma verdade
qualquer?
A possibilidade mágica de preservar a fisionomia, o jeito e até
mesmo um pouquinho da alma de alguém de quem gostamos?
Ou apenas uma ilusão? Uma ilusão de ótica que engana nossos
olhos e nosso cérebro com uma porção de manchas sobre o papel,
deixando a sensação tão viva de que estamos diante da própria
realidade retratada?
Fotografia é tudo isso e mais um monte de coisas também.
Cláudio A. Kubrusly
ESTORNIOLO FILHO, José. A representação da imagem: indexação por
conceito e por conteúdo. São Paulo, 2004. Monografia (Trabalho de
Conclusão de Curso) – Departamento de Biblioteconomia e Documentação,
Escola de Comunicações e Artes, Universidade de São Paulo.
Resumo
Investigação na literatura da representação da imagem fixa considerando as
duas técnicas de indexação praticadas atualmente: a indexação por conceito
e indexação por conteúdo da imagem. Aborda também o uso dos elementos
da expressão fotográfica como informações a serem considerados como
termos de indexação pela sua relevância na busca e recuperação de
imagens.
Palavras-Chave
Imagem Fotográfica – Representação – Imagem – Conteúdo Informacional –
Expressão Fotográfica – Análise Documentária – Fotografia – Indexação –
Indexação por conceito – Indexação por conteúdo
ÍNDICE
LISTA DE QUADROS
LISTA DE FOTOS
CRÉDITO DAS FOTOS
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 1
1.1 Objetivos................................................................................................................ 3
1.2 Metodologia............................................................................................................4
1.2.1 Considerações sobre a bibliografia.............................................................. 5
2 A FOTOGRAFIA COMO DOCUMENTO....................................................................... 6
2.1 A fotografia e sua inserção na sociedade............................................................. 6
2.2 O referente da imagem.......................................................................................... 9
3 A REPRESENTAÇÃO DOCUMENTÁRIA DA IMAGEM............................................. 12
3.1 Análise da imagem fotográfica............................................................................ 13
3.2 A imagem fotográfica como documento.............................................................. 20
4 INDEXAÇÃO POR CONCEITO.................................................................................. 23
4.1 Níveis de análise.................................................................................................. 23
4.2 Categorias de descrição da imagem................................................................... 27
4.3 A organização da descrição da imagem............................................................. 29
4.3.1 Vocabulário controlado.............................................................................. 30
4.3.2 Linguagem natural..................................................................................... 32
5 A EXPRESSÃO FOTOGRÁFICA................................................................................ 34
5.1 A expressão fotográfica como
elemento de especificidade de uma imagem...................................................... 34
5.2 Elementos de expressão fotográfica................................................................... 40
5.3 Tratamento documentário da expressão fotográfica........................................... 57
6 INDEXAÇÃO POR CONTEÚDO................................................................................. 58
6.1 Atributos da imagem para indexação.................................................................. 64
6.2 Softwares............................................................................................................. 66
6.3 Áreas de aplicação.............................................................................................. 67
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................................ 70
BIBLIOGRAFIA........................................................................................................... 73
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Estratégias comunicacionais........................................................................ 16
Quadro 2 – Níveis de análise de imagens....................................................................... 25
Quadro 3 – Categorias de descrição de imagens........................................................... 27
Quadro 4 – Método de indexação de imagens................................................................28
Quadro 5 – Elementos de expressão fotográfica:
Moreiro González e Robledano Arillo......................................................40-41
Quadro 6 – Elementos de expressão fotográfica:
Oliveira......................................................................................................... 45
Quadro 7 – Elementos de expressão fotográfica:
Smit......................................................................................................... 46-47
Quadro 8 – Elementos de expressão fotográfica:
proposta.................................................................................................. 50-51
LISTA DE FOTOS
Foto 1 – Mulher, primeiro plano, cores ........................................................................... 37
Foto 2 – Mulher, plano geral, preto e branco.................................................................. 37
Foto 3 – Retrato, mulher, preto e branco........................................................................ 37
Foto 4 – Retrato, mulher, preto e branco, alto-contraste................................................ 37
Foto 5 – Iluminação frontal e difusa.................................................................................38
Foto 6 – Iluminação direcionada aos olhos..................................................................... 38
Foto 7 – Iluminação dura, de baixo para cima.................................................................38
Foto 8 – Primeiro plano....................................................................................................42
Foto 9 – Primeiro plano....................................................................................................42
Foto 10 – Plano geral com um só indivíduo.................................................................... 42
Foto 11 – Plano geral.......................................................................................................43
Foto 12 – Tomada ampla.................................................................................................43
Foto 13 – Câmera baixa.................................................................................................. 43
Foto 14 – Câmera baixa.................................................................................................. 43
Foto 15 – Plano oblíquo................................................................................................... 44
Foto 16 – Plano oblíquo................................................................................................... 44
Foto 17 – Profundidade de campo.................................................................................. 51
Foto 18 – Achatamento da imagem.................................................................................52
Foto 19 – Alto-contraste.................................................................................................. 52
Foto 20 – Estroboscopia.................................................................................................. 52
Foto 21 – Fotomontagem................................................................................................ 52
Foto 22 – Múltipla exposição........................................................................................... 52
Foto 23 – Distorção da imagem.......................................................................................53
Foto 24 – Distorção da imagem.......................................................................................53
Foto 25 – Macro-objetiva................................................................................................. 53
Foto 26 – Macro-objetiva................................................................................................. 53
Foto 27 – Correção de perspectiva................................................................................. 54
Foto 28 – Filtro estrela..................................................................................................... 54
Foto 29 – Rede de difração............................................................................................. 54
Foto 30 – Foco suave...................................................................................................... 54
Foto 31 – Foco suave...................................................................................................... 55
Foto 32 – Posterização.................................................................................................... 55
Foto 33 – Textura.............................................................................................................55
Foto 34 – Textura.............................................................................................................55
Foto 35 – Movimento....................................................................................................... 56
Foto 36 – Movimento....................................................................................................... 56
Foto 37 – Movimento....................................................................................................... 56
Foto 38 – Exposição longa.............................................................................................. 56
Foto 39 – Exposição longa.............................................................................................. 56
CRÉDITO DAS FOTOS
Fotos 1; 2; 3; 4; 16; 20; 22; 24; 28; 33; 34; 38 – <http://www.stockphotos.com.br/>
(códigos: PE-226-0216; C013-00322; PE-224-029 - alterada; PE-224-029 - alterada;
PL18602;
S6084;
32017;
DSI
1097-TI;
N-2016;
SL0407 - alterada;
FEM.103.001.601 - alterada; 1427705).
Foto 5 – <http://www.bobwilkins.tv/3d2.htm>.
Foto 6 – <http://mapage.noos.fr/euromonsters/britmonsters/clee.html>,
cena
do
filme
“Dracula prince of darkness”.
Foto 7 – <http://www.hammerfilms.com/vaults/filmography/hammer_a_z.html>, cena do
filme “Dracula prince of darkness”.
Fotos 8 a 14 –VERGER (p. 18; p. 250; p. 145; p. 182; p. 71; p. 233; p. 283).
Foto 15 – COWIE (p. 170), cena do filme “The trial”.
Foto 17 – HEDGECOE (p. 25).
Foto 18 – <http://www.corbis.com/> (código BH 001768).
Fotos 19; 21; 25; 26; 27; 29; 30; 31; 32; 35; 36; 37; 39 – EASTMAN KODAK COMPANY
(p. 284, Robert Kretzer; p. 241, Jerry N. Uelsmann; p. 189, Donald Maggio; p. 190, Alvin
Long; p. 111, Joseph F. O’Connell III; p. 133, John Murphy; p. 160, Charles Micaud; p.
132, Gary Whelpley; p. 283, Rodney Perry; p. 178, James Dennis; p. 180, Guy
Samoyault; p. 181, Andrew Greene; p. 243, David Muench).
Foto 23 – <http://www1.folha.uol.com.br/folha/especial/2003/saopaulo450/galleria.shtml>
(Mônica Vendramini).
1 INTRODUÇÃO
A fotografia sempre provocou fascínio, e desde o seu surgimento o homem
acumulou imagens, primeiramente no círculo familiar, e na medida que o
processo foi se popularizando, alcançou todos os setores da sociedade. A
memória da humanidade passou também a ser guardada pela imagem
(MOREIRO GONZÁLEZ e ROBLEDANO ARILLO, p. 12) – a fotografia era
concebida como testemunho da verdade.
Coleções de imagens sempre foram motivo de interesse, mas eram recursos
pouco acessíveis pela pouca ou nenhuma forma de tratamento dos documentos
e pelas limitações de duplicação e disseminação (RASMUSSEIN, p. 169). A
resolução dos problemas físicos da duplicação, pela tecnologia da imagem digital,
e da disseminação, incrementada pelos CD-ROMs e internet, acarretou a
ampliação do número de usuários de imagens, agravando o problema do
tratamento e recuperação das coleções e tornando mais urgente resolver os
problemas inerentes ao acesso lógico ao conteúdo informacional da imagem.
A imagem apresenta cada dia mais importância como meio de expressão em
nossa sociedade, e por esse motivo o patrimônio gráfico tem aumentado
continuamente. Vivemos em uma sociedade cada vez mais voltada à criação e ao
uso de imagens – o consumo de imagens tornou-se uma atividade corriqueira,
abrangendo diversas áreas: cultural, educacional, científica, comercial etc.
Kubrusly (p. 19) cita Marshall McLuhan em Understanding media1 considerando o
surgimento do processo fotográfico como o passo decisivo da transição da era do
Homem Tipográfico para a era do Homem Gráfico.
Fatores como o constante aumento de produção, a grande variedade de
suportes, a demanda cada vez mais especializada e diversificada, e a
1
Editado no Brasil com o título “Os meios de comunicação como extensões do homem”.
1
necessidade de intercâmbio com outras coleções para satisfazer a essa demanda
implicam uma crescente dificuldade no armazenamento e na recuperação dessas
imagens, justificando a existência de uma análise documentária com alto grau de
qualidade.
Como até muito recentemente a memória da humanidade havia sido dominada
por representações textuais, este foi o meio preferido para a orientação e o
tratamento dados às atividades e aos serviços profissionais da informação. O
acesso a documentos textuais tem sido objeto de estudo há muito tempo,
enquanto que são bastante recentes os estudos significativos do problema do
acesso aos documentos visuais. A preocupação com a indexação e a
recuperação de imagens baseada em conceitos (assuntos) teve início nos anos
70 (ENSER, 2000, p. 199), e somente nos anos 90 os profissionais da informação
lançaram mão da tecnologia da informática para a indexação efetuada por
programas de computador, baseada na análise dos atributos intrínsecos da
imagem2, estabelecendo um novo paradigma na indexação e recuperação de
imagens.
Mesmo sendo a fotografia inclassificável, como concluiu Barthes (p. 12-13), é
papel do profissional da informação traduzir a variada presença de signos
representados, nem sempre explicitamente, em uma imagem, com o objetivo de
tornar acessíveis os documentos de uma coleção. Essa representação
documentária é feita pelos processos de catalogação e indexação do documento.
A questão da indexação e recuperação de imagens tem atraído a atenção de
novos interessados, tanto os preocupados com o conteúdo informacional das
imagens, quanto os interessados em desenvolver formas automatizadas de
descrição e acesso às imagens. O grande desafio é representar a imagem com
finalidade documental, propiciando a sua recuperação apropriada em resposta a
uma demanda cada vez mais especializada do usuário.
O enfoque do trabalho será na indexação e recuperação da imagem fixa,
abordando as técnicas de indexação baseada nos conceitos da imagem e a
indexação baseada no conteúdo da imagem, respectivamente concept-based
Atributos intrínsecos ou atributos inerentes são as características visuais de uma imagem que
podem ser calculadas e representadas matematicamente pelas técnicas de processamento de
imagens.
2
2
indexing e content-based indexing, os termos mais utilizados na literatura de
língua inglesa.
A técnica de indexação baseada em conceitos é aquela em que as imagens e os
objetos representados são identificados e descritos (indexados) em termos do
que eles são e do que eles representam. De maneira geral é um processo
executado por um profissional documentalista. Já a técnica de indexação
baseada no conteúdo considera alguns aspectos da imagem, tais como a cor, a
forma, a textura. Esses aspectos relevantes são mais eficazmente identificados e
extraídos do documento por meio de programas de computadores.
O trabalho apresentará um panorama do que a Ciência da Informação tem
produzido para o tratamento de imagens, considerando a indexação e o acesso
por conceitos e por conteúdo.
1.1 Objetivos
Analisar a representação da imagem fixa para fins documentais e seu uso,
estudando os tipos de indexação praticados atualmente – por conceito e por
conteúdo. Para tanto, serão investigados na literatura conceitos referentes às
seguintes áreas de estudo:
­
indexação baseada em conceitos – concept-based indexing;
­
expressão fotográfica: elementos técnicos utilizados na produção da imagem
e que auxiliam o indexador na sua descrição;
­
indexação baseada no conteúdo da imagem – content-based indexing.
3
1.2 Metodologia
Os objetivos propostos serão alcançados por meio de investigação na literatura
que trata da análise documentária da informação fotográfica. As fontes da
pesquisa para obtenção de um corpus que foi utilizado para a elaboração do
trabalho foram:
­
Acervo da Biblioteca da ECA
­
Base de Dados LISA – Library and Information Science Abstracts
­
Base de Dados Web of Science
­
Internet3 (google: <http://www.google.com.br/>; vivissimo: <http://www.vivissimo.com/>)
­
Indicações da orientadora
As principais expressões de busca utilizadas nas pesquisas (termos isolados e
termos combinados) foram:
­
Fotografia – Photography - Still images
­
Indexação - Indexing
­
Imagem - Image
­
Concept-based indexing
­
Content-based indexing
­
User needs
­
User study
Tomou-se o cuidado de verificar a procedência dos artigos recuperados. Foram considerados
somente os documentos publicados por universidades, ou de autores já conhecidos.
3
4
1.2.1 Considerações sobre a bibliografia
É importante salientar que na bibliografia levantada, a grande maioria dos
documentos produzidos por profissionais da informação que tratam da
representação documentária da imagem fotográfica é escrita por autores
estrangeiros e publicada em revistas internacionais, principalmente americanas.
Por aqui, a exceção é a Profª Johanna Smit, com vários artigos que abordam o
tema.
Percebe-se também que em relação à indexação por conceito a bibliografia está
consolidada com os autores da área de documentação. Para a indexação por
conteúdo há uma fase com várias publicações escritas por profissionais da área
de documentação – com a utilização de conceitos da área de informática, e uma
outra fase, mais atual, de autoria dos profissionais da área da informática, que
utilizam conceitos da área de documentação.
Sabe-se da existência de várias instituições que mantêm acervo de material
fotográfico no Brasil, mas são raros, na literatura nacional, trabalhos que
discutam ou mesmo divulguem o tratamento dado a esse material, e nem mesmo
qualquer estudo do tipo de usuário que necessita e usa imagens fixas. Essa
prática é comum aos profissionais americanos que publicam relatos sobre os
seus arquivos fotográficos.
Percebeu-se também que a análise documentária da informação fotográfica
ainda é uma área em desenvolvimento, em evolução, com muitos conceitos ainda
não sedimentados, e que apesar de encontrarmos alguns autores clássicos4, que
estão presentes em quase todas as bibliografias, não existe ainda uma
consistência nos conceitos usados.
Sara Shatford é referência em quase todos os documentos que abordam a indexação por
conceitos. Mais recentemente encontramos John P. Eakins, Peter Enser, Margaret Graham e Edie
Rasmussen, entre outros.
4
5
2 A FOTOGRAFIA COMO DOCUMENTO
Antes de tratar especificamente da representação da imagem, abrangendo a
indexação por conceito e a indexação por conteúdo, será feito um breve relato da
história da fotografia e suas relações com a sociedade, mostrando suas primeiras
utilizações como fontes de informação. Vamos observar que a produção de
imagens sempre esteve relacionada com a sua posterior recuperação, seja uma
foto familiar para ser mostrada aos parentes e amigos, seja fotos publicitárias,
científicas ou de documentação em geral. Também será apresentado um
componente, sempre presente na imagem, fundamental para o tratamento
documentário iconográfico – o referente.
2.1 A fotografia e sua inserção na sociedade
A fotografia surgiu no século XIX como conseqüência inevitável do fascínio do
homem diante das imagens da câmera escura. Sua criação é uma síntese de
várias observações e inventos em momentos distintos.
A câmara escura é um artefato bastante simples, que consiste em um
compartimento estanque à luz, com um orifício de um lado e a parede à sua
frente pintada de branco. Quando um objeto é posto diante do orifício, do lado de
fora do compartimento, a sua imagem é projetada invertida sobre a parede
branca. Esse princípio ótico já era conhecido na China no século V a.C., mas
historiadores apontam o filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.) como o
responsável pelos primeiros comentários esquemáticos desse dispositivo.
No século XVI é introduzido o uso de uma lente no orifício do compartimento para
melhorar o brilho e a claridade da imagem; em meados do século XVII foi
projetada uma câmera escura menor e com um espelho interno para refletir a
imagem em uma tela translúcida.
6
O uso da câmara escura foi muito difundido, através dos séculos, para observar
eclipses solares; e desde o século XIV ela já era utilizada como auxílio ao
desenho e à pintura.
O fascínio provocado pela câmara escura era a perfeição da imagem
representada sobre uma superfície plana, iludindo os olhos com uma perfeita
perspectiva e pela abundância de detalhes. A idéia de aprisionar, em um suporte,
as imagens da câmara escura era geral, e é por isso que a fotografia foi
inventada por várias pessoas, quase ao mesmo tempo e em diferentes lugares,
inclusive no Brasil, por Hércules Florence (KUBRUSLY, p. 23-24). A utilização de
uma câmara escura, associada aos processos de obtenção de superfícies
sensíveis à luz e de fixação das imagens gravadas nessas superfícies, são as
bases do processo fotográfico.
No princípio a fixação das imagens em uma superfície era apenas temporária. O
primeiro processo fotográfico que de fato resolveu o problema de se fixar a
imagem em um suporte foi desenvolvido por Daguerre. Esse processo,
denominado daguerreotipia, consiste na obtenção de imagens fotográficas por
ação do vapor de iodo sobre uma placa de prata sensibilizadora; após vários
minutos de exposição sob luz forte, revela-se a imagem, que é então fixada com
hipossulfito de sódio.
À técnica de Daguerre seguiram-se outras descobertas relacionadas à impressão
de imagens pela ação da luz, com destaque para a produção de cópias sobre
papel, e a produção de uma imagem latente (calótipo) que, transformada em
negativo, gerava um protótipo passível de reprodução. Essas técnicas não foram
aceitas comercialmente, a princípio, por razões de qualidade técnica da imagem.
O daguerreótipo manteve sua primazia até por volta de 1850, perdendo, a partir
daí, terreno para a fotografia sobre papel que, com o uso de novas técnicas5,
tornou-se capaz de satisfazer à crescente disseminação de consumo imagens.
Com essas técnicas, o tempo de exposição variava entre vinte segundos e um
minuto para as paisagens e motivos arquitetônicos, e entre dois e vinte segundos
para retratos (FABRIS, p. 16).
Em 1851 é divulgado o processo do colódio úmido, que permite obter um negativo de qualidade,
mais nítido que o calótipo e igualmente reprodutível, e tão nítido quanto a imagem daguerriotípica.
5
7
Os aperfeiçoamentos nesse processo levaram ao desenvolvimento da película de
rolo de George Eastman e à invenção da câmera fotográfica portátil em 1895.
Fabris (p. 17) identifica três etapas na relação da fotografia com a sociedade: a
primeira estende-se de 1839 aos anos 50, quando o interesse pela fotografia se
restringia a um pequeno número de pessoas, devido ao seu alto custo; um
segundo momento que corresponde à disseminação do cartão de visita
fotográfico – carte de visite photographique – colocando ao alcance de muitos o
que era somente acessível a poucos, graças ao barateamento dos produtos e
pelo modismo, conferindo à fotografia uma dimensão industrial; e a última etapa,
por volta de 1880, que corresponde ao momento da massificação, quando a
fotografia se torna um fenômeno comercial, conquistando vários tipos de mídia.
A massificação da imagem é um processo crescente até hoje, atestado pelo seu
uso cada vez mais diversificado, e pela evolução dos equipamentos – em 1993 é
lançada no mercado a câmera fotográfica digital.
Se no início a fotografia se prestava principalmente para os retratos, aos poucos
ela saiu do círculo familiar, permeando outros espaços e adquirindo usos menos
estéticos – revela-se o poder informativo da imagem fotográfica.
Fabris (p. 23) observa que a fotografia ganha destaque no terreno publicitário, no
campo científico e na documentação em geral. Como instrumento de
propaganda, a fotografia é usada em reportagens militares (Guerra da Criméia e
Guerra Civil norte-americana). Na área judiciária, a suposta fidelidade da
fotografia induz à adoção da fotografia criminal e do fotorretrato; este último
passa a ser uma imposição legal como instrumento de identificação no início do
século XX.
Os fotógrafos, além de retratarem a sociedade e suas realizações, começam a se
interessar pela captação de paisagens exóticas, distantes dos grandes centros
europeus. De acordo com Fabris (p. 29) os primeiros temas dessas fotografias se
concentram nos lugares e símbolos da imaginação: Terra Santa, Egito, pirâmides,
o cenário das Cruzadas, ruínas greco-romanas. A princípio os fotógrafos não
buscavam lugares desconhecidos, mas sim “reconhecer os lugares existentes,
como visões imaginárias, nas fantasias inconscientes das massas”; mais tarde é
8
que se multiplicaram as expedições fotográficas em busca de novos registros.
Dos registros de monumentos e paisagens com objetivos informativo e
documental, “passa-se à documentação de usos e costumes diferentes dos
ocidentais,
de
territórios,
de
caminhos,
com
um
intuito
francamente
propagandista, no qual a fotografia torna-se aliada da expansão imperialista”,
como afirma Fabris (p. 32) 6.
O cartão postal ilustrado, surgido por volta de 1875, foi um importante aliado na
difusão da imagem fotográfica em seu momento de massificação, colocando ao
alcance
do público um “verdadeiro inventário do mundo”, abrangendo
monumentos, paisagens, usos e costumes, profissões, instantâneos de eventos
importantes, celebridades, imagens picantes etc. (FABRIS, p. 33).
2.2 O referente da imagem
A questão do referente é um fator essencial na compreensão da imagem
fotográfica e conseqüentemente em sua representação. Barthes (p. 121)
considera que a fotografia passou a existir a partir do momento em que uma
circunstância científica (a descoberta da sensibilidade dos sais de prata à luz)
permitiu captar e imprimir os raios luminosos emitidos por um objeto iluminado, e
que a foto é literalmente uma emanação do referente. Um referente com uma
presença constante, mas que não se confunde com a imagem, pois esta não é
igual ao objeto enfocado, porque este foi selecionado – a fotografia expõe uma
imagem determinada pelo ângulo de visão escolhido, pelo enquadramento, pela
redução da tridimensionalidade do objeto a uma imagem bidimensional; isola um
ponto preciso do espaço-tempo e é puramente visual, excluindo qualquer outra
sensação. Uma imagem será uma testemunha da existência do referente, mas
isso não faz supor que ela se pareça com ele.
Como exemplos, a autora (p. 32-33) cita a “conquista pacífica” do Oriente Médio, propiciada pela
fotografia, que registra pontualmente espaços, cidades e vilarejos vazios, sem nenhuma presença
humana (efeito causado, inicialmente, pelos longos tempos de exposição das primeiras fotografias,
e mais tarde propositalmente): as imagens de um mundo vazio serviam de justificativa aos planos
expansionistas europeus; e, em contrapartida, os registros, na China, de cenas de tortura, de
execuções públicas e de consumo de drogas, e fotos de caminhos fluviais, povoações e recursos
humanos e minerais inexplorados: essa visão de uma terra bárbara e atrasada fornecia um
argumento de que essa terra mereceria um novo destino.
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Para a análise de uma imagem é importante perceber e compreender que o
referente imagético tem uma dimensão diferente do referente textual (aquele com
o qual os documentalistas têm maior familiaridade). Barthes (p. 114-115) diz que
o referente da fotografia não é o mesmo que o dos outros sistemas de
representação; e ele chama de referente fotográfico, não a coisa facultativamente
real a que remete uma imagem ou um signo, mas a coisa necessariamente real
que foi colocada diante da objetiva, sem a qual não haveria fotografia.
Shatford (p. 45) estabelece um importante ponto de vista em relação à distinção
entre imagem e texto para a representação documentária. Ela observa que, como
tentamos classificar as palavras usadas para descrever os assuntos das imagens,
é relevante tentar determinar e definir algumas diferenças que existem entre
significado em imagens e significado em linguagem, a fim de descobrir alguns
efeitos que estas diferenças poderão ter na análise de assuntos de imagens; e
que a teoria dos significados em linguagem (a teoria referencial) parece
particularmente útil para esclarecer esta diferença entre palavras e imagens. As
palavras têm sentido e referência, e estas duas não mantêm uma correlação:
uma palavra com um sentido pode possuir vários referentes – o sentido de uma
palavra determina o conjunto de seus referentes potenciais. Na fotografia o
processo é o contrário: são os referentes que determinam o sentido da imagem.
Como o sentido de uma palavra pode ser associado a várias imagens, então uma
imagem é associada a diferentes possíveis sentidos. Na análise dos assuntos de
uma imagem tenta-se determinar os possíveis sentidos desses referentes
presentes na imagem. Uma imagem será, quase sempre, um referente para
palavras que descrevem o tema que a imagem representa: “Ponte Hercílio Luz”.
Além disso, uma imagem poderá apontar para um referente genérico, ou mesmo
abstrato: “ponte” ou “arquitetura”.
Ainda sobre a aderência do referente na imagem, Shatford (p. 51) observa que
uma imagem é DE um objeto real de uma maneira que um texto, formado por
palavras, não pode ser; e afirma que embora palavras e imagens possam ser
substituídas por objetos, as palavras são representadas por convenção, enquanto
as imagens são representadas por projeção. As palavras em um texto descrevem
um objeto porque uma convenção determinou a essas palavras certos
10
significados, enquanto a representatividade da imagem é uma projeção do
próprio objeto.
11
3 A REPRESENTAÇÃO DOCUMENTÁRIA DA IMAGEM
A Análise Documentária (AD) é definida como “um conjunto de procedimentos
efetuados com o fim de expressar o conteúdo de documentos, sob formas
destinadas a facilitar a recuperação da informação” (CUNHA, p. 40).
Smit (1996, p. 29) esclarece que a “representação da imagem fotográfica não
pode ser pensada a partir de uma transposição automática dos procedimentos de
Análise Documentária desenvolvidos para o texto, por duas razões primordiais: o
estatuto da imagem distingue-a do texto; a utilização da imagem fotográfica não
se baliza unicamente por seu conteúdo informacional, mas também por sua
expressão fotográfica”. Necessidades e técnicas mais recentes apontam diversas
áreas da documentação fotográfica que utilizam alguns atributos intrínsecos da
imagem para a sua representação, tais como a cor, a textura, a forma etc.
A autora sustenta que a análise da imagem fotográfica, por esta possuir estatuto
diverso de um texto, pressupõe uma metodologia que presuma um entendimento
de sua essência, daquilo que a caracteriza, das razões pelas quais é produzida,
e, sobretudo, das condições em que será utilizada (SMIT, 1996, p. 29).
Como a imagem assume um papel cada vez mais importante como meio de
expressão em nossa sociedade, o profissional documentalista deve considerar a
imagem fotográfica como documento, como informação a ser tratada e
recuperada.
Imagens estão presentes no mundo cultural (exposições de fotos, indústria
cinematográfica, identificação e difusão de objetos de museu...); no mundo
científico (visualização de processos, estudos climáticos, medições e localizações
geográficas e arqueológicas, observações e diagnósticos médicos, identificações
legais...); os processos educacionais se apóiam cada vez mais na imagem.
12
Existem arquivos de imagens em instituições públicas, em empresas privadas,
nas universidades, nos museus. Para a organização dessas informações, com o
propósito de torná-las acessíveis aos seus usuários, são necessárias as técnicas
documentárias – no caso a representação da imagem – que vão garantir o
aproveitamento eficaz da informação.
Como ressaltam Moreiro González e Robledano Arillo (p. 14), a representação do
conteúdo informacional das imagens não pode ser executada com uma única
interpretação, um único sentido, uma vez que elas apresentam significação em
diferentes níveis e momentos: a função do documentalista consiste em identificar
e fazer recuperar os documentos e até fragmentos deles, pensando na
multidisciplinaridade das imagens.
3.1 Análise da imagem fotográfica
Philippe Dubois traça um percurso histórico das diversas posições defendidas no
decorrer da história pelos críticos e teóricos da fotografia considerando o princípio
da realidade, que é uma característica bastante marcante da imagem fotográfica.
O autor ajusta a percepção da imagem ao seu uso, utilizando a teoria dos signos
de Charles S. Peirce. De modo geral, esse percurso se articula em três
momentos:
-
a fotografia como espelho do real, ou o discurso da mimese;
-
a fotografia como transformação do real, ou o discurso do código e da
desconstrução;
-
a fotografia como traço do real, ou o discurso do índice e da referência.
13
No primeiro momento, no início do século XIX, era bastante comum a concepção
de que a fotografia era a imitação mais perfeita da realidade. O efeito de
realidade ligado à imagem fotográfica foi a princípio atribuído à semelhança
existente entre a foto e seu referente. Essa capacidade mimética procede de sua
própria natureza técnica, que permite fazer surgir uma imagem segundo as leis
da ótica e da química, sem a intervenção direta de um artista. Nesse período a
imagem se opõe à obra de arte, produto do talento do artista.
Dubois (p. 29-30) ressalta que a fotografia surge como uma técnica, e aponta a
fotografia como um simples instrumento de uma memória documental do real e,
em contrapartida, a arte como criação imaginária. À fotografia cabe a função
documental, utilizada principalmente nos retratos e nas tarefas de caráter
científico.
Pode-se associar esse momento da imagem fotográfica – a fotografia como
reprodução mimética do real – ao conceito peirceano de ícone, a representação
por semelhança.
O final do século XIX apresenta uma reação contra esse iIusionismo do espelho
fotográfico, demonstrando que a imagem fotográfica não é um espelho neutro,
mas um instrumento de transposição, de análise, de interpretação e até de
transformação do real, e portanto, culturalmente codificada. Alguns fotógrafos
contrariaram a tradição da representação do real com o propósito de tornar a
fotografia uma arte, e disso decorreu o que foi chamado de pictorialismo, e
passaram a tratar a foto exatamente como uma pintura, manipulando a imagem
de todas as maneiras.
Como destaca Dubois (p. 37), contra o discurso da mimese e da transparência da
imagem fotográfica, começam a surgir as primeiras idéias sobre a desconstrução
da imagem; e a partir dos anos 1950 encontramos as principais linhas de
pensamento que divulgam esse ponto de vista, como a divulgação de estudos da
psicologia da percepção, de estudos sobre o uso antropológico da fotografia e
pela postura ideológica de algumas publicações da área de cinema. Resulta que
a foto é codificada sob todos os pontos de vista: técnico, cultural, sociológico,
estético etc.
14
A principal conseqüência da desconstrução dos códigos da imagem fotográfica
reflete na questão do realismo, ocorrendo o deslocamento de sua fundamentação
na realidade para uma fundamentação na própria mensagem – a foto vai se
tornar reveladora da verdade interior.
Essa segunda fase, da fotografia como transformação do real pode ser associada
ao conceito peirciano do símbolo, que é a representação por convenção geral.
Finalmente surge uma nova concepção, que se distingue das duas precedentes
principalmente pelo fato da imagem ser dotada de um valor particular,
determinado por seu referente – um traço de um real (DUBOIS, p. 45). Temos de
volta a questão do realismo, mas agora referencial, sem a obsessão do
analogismo mimético – a imagem torna-se inseparável de sua experiência
referencial, do ato que a cria.
Aqui cabe o conceito peirceano de índice – representação do signo como um
referente – que caracteriza a fotografia como traço de um real. Roland Barthes
enfatiza a questão do referente como elemento de aderência, de presença
constante em uma foto.
Dubois (p. 50) esclarece que Peirce, mais do que se fixar apenas na referência,
no fato que, para que haja foto, é necessário que o objeto mostrado tenha estado
ali num determinado momento do tempo, vai abrir caminho, por meio de suas
considerações sobre o índice, a uma verdadeira análise da condição da imagem
fotográfica. O ponto de partida é a natureza técnica do processo fotográfico, o
traço registrado em uma imagem, que por mais essencial que seja, marca apenas
um momento no conjunto do processo fotográfico – o antes e o depois desse
momento são marcados por gestos culturais, que dependem inteiramente de
escolhas e de decisões humanas (a escolha do sujeito, do tipo de aparelho, da
película, do tempo de exposição, do enquadramento, do ângulo de visão etc.).
Enquanto Philippe Dubois faz a análise da imagem fotográfica apoiada no seu
uso, Schaeffer trabalha essa análise considerando a sua gênese, levando-se em
conta que a imagem fotográfica é sempre constituída da combinação de três
dimensões: o representamen – algo que, sob certo aspecto ou de algum modo,
representa alguma coisa para alguém; o interpretante – signo criado (equivalente
15
ou melhorado) a partir do representamen; e o objeto – é a coisa representada
pelo signo7. Schaeffer monta um quadro considerando essas três dimensões e
associa-as com os conceitos de Temporalidade, Espacialidade, Entidade, Estado
de fato, Índice e Ícone.
OBJETO
INTERPRETANTE
Entidades
Estados
de fato
R
E
P
R
E
S
E
N
T
A
M
E
N
Temporalidade (+)
Espacialidade (+)
Espacialidade (-)
Temporalidade (-)
Traço
Descrição
Índice (+)
Ícone (-)
Protocolo de experiência
Testemunho
Recordação
Ícone (+)
Apresentação
Índice (-)
Rememoração
Quadro 1 – Estratégias comunicacionais
Mostração
(Fonte: SCHAEFFER, p.
66)
A combinação dessas variáveis resulta em oito estratégias comunicacionais:
-
Traço [Temporalidade x Entidade x Índice]: é o que institui a imagem no
momento da tomada da impressão, tematizando entidades. Funciona como
procedimento de descoberta ou como procedimento de confirmação
(SCHAEFFER, p. 117).
-
Protocolo de experiência [Temporalidade x Estado de fato x Índice]: é
caracterizado como interações entre entidades e funciona como prova no
domínio de categorias das relações espaço-temporais nas quais essas
entidades estão envolvidas (SCHAEFFER, p. 118).
-
Descrição [Espacialidade x Entidade x Índice]: aqui a imagem não funciona
como prova ou testemunho da existência de uma entidade, nem como
protocolo de um acontecimento, mas como grafo das modalidades do “estaraqui” de um objeto cuja existência é pressuposta (SCHAEFFER, p. 118).
7
Os conceitos de representamen, interpretante e representamen forma obtidos em PEIRCE, p. 94.
16
-
Testemunho [Espacialidade x Estado de fato x Índice]: define-se pela inserção
da imagem em uma narração que se diz verídica (SCHAEFFER, p. 125).
-
Recordação [Temporalidade x Entidade x Ícone]: funciona como estratégia
reflexiva, isto é, de auto-afeição do receptor – a identificação indicial é, em
geral, garantida por antecipação (SCHAEFFER, p. 120).
-
Rememoração [Temporalidade x Estado de fato x Ícone]: essa estratégia vai
além do ato reflexivo da recordação, ela é mais indagadora e menos
melancólica – ela reflete “o que aconteceu” e não “o que se vê”
(SCHAEFFER, p. 120).
-
Apresentação [Espacialidade x Entidade x Ícone]: institui a imagem como
manifestação de entidades apreendidas como efeito de conjunto; com as
finalidades de ilustração – funcionando como coadjuvante da mensagem
verbal, e de apresentação autônoma – a imagem propõe-se como
manifestação do objeto em sua plenitude (SCHAEFFER, p. 121-122).
-
Mostração [Espacialidade x Estado de fato x Ícone]: estratégia que privilegia o
acontecimento, a ação – ela escolhe um momento decisivo para exprimir o
significado universal de um fato; são imagens impregnadas de elementos
icônicos estereotipados e que provocam impacto (SCHAEFFER, p. 134).
Pensando na diversidade de usos de imagens fotográficas, as estratégias
propostas por Schaeffer para a recepção dessas imagens permitem distinguir os
objetivos que devem caracterizar os acervos fotográficos e orientar a sua
representação documentária de maneira a atender às demandas de seus
usuários.
Ao tratar da adequação das estratégias comunicacionais aos objetivos dos
arquivos fotográficos Smit (1998, p. 16-17) diz que:
­
Traço e Protocolo de experiência: caracterizam os acervos de fotografias
científicas ou arquivos ligados a instituições que usam a fotografia de maneira
extremamente normatizada, como os arquivos médicos, policiais etc.
17
­
Descrição e Testemunho: a maior parte dos acervos armazena imagens tendo
em vista o seu poder de descrição ou testemunho, configurando um dos
objetivos mais freqüentes dos acervos fotográficos institucionais.
­
Recordação e Rememoração: não podem ser incluídos na política de nenhum
arquivo institucional porque pressupõem um receptor particular, mas estão
presentes nos arquivos pessoais.
­
Apresentação e Mostração: a relevância do aspecto icônico da imagem pode
se justificar em alguns acervos ligados a instituições que têm na própria
fotografia o seu eixo de ação (museus ou escolas de fotografia).
Smit (1998, p. 18) enfatiza que “as estratégias da Descrição e do Testemunho
são o objetivo principal da maior parte dos arquivos fotográficos, excetuados os
científicos e os artísticos, e que os procedimentos de análise documentária
propostos referem-se às informações que são estocadas em função de seu
potencial de testemunho, podendo, ou não, apresentar uma dimensão estética ou
terem sido geradas de acordo com normas pré-estabelecidas, caso das imagens
estocadas para documentar o patrimônio histórico e artístico de países ou
instituições”.
Boris Kossoy também aborda a representação da imagem de acordo com a sua
criação. Tendo como preocupação a fotografia como documento histórico, o autor
identifica os componentes estruturais de uma fotografia, isto é, os seus
elementos constitutivos e suas coordenadas de situação: o assunto que é objeto
do registro, a tecnologia que viabiliza tecnicamente esse registro e o fotógrafo,
o autor que, motivado por razões de ordem pessoal e/ou profissional, a idealiza e
elabora por meio de um complexo processo cultural/estético/técnico (a expressão
fotográfica); sendo que tal ação ocorre num lugar definido e numa determinada
época – espaço e tempo (KOSSOY, 2002, p. 25-26). Então:
Assunto + Tecnologia + Fotógrafo = Fotografia
elementos constitutivos
produto final
Espaço e Tempo
coordenadas de situação
18
A imagem fotográfica contém o registro de um dado fragmentado e selecionado
do real – o assunto (recorte espacial) congelado no determinado momento de sua
ocorrência (interrupção temporal). Sob esse aspecto, Kossoy (2002, p. 29) nos
diz que essa relação fragmentação/congelamento é um dos alicerces sobre o
qual se ergue o sistema de representação fotográfica. É evidente que essa
relação pode ser manipulada pelo fotógrafo, no ato da tomada da foto, em função
de sua experiência pessoal e amparado nos recursos tecnológicos.
Ao referir-se à representação da imagem como documento, Kossoy (2002, p. 31)
observa que a fotografia é considerada, antes de mais nada, como uma
representação a partir do real; mas que em função da materialidade do registro,
no qual se tem gravado o vestígio de algo que se passou na realidade concreta,
em dado espaço e tempo, é tomada, também, como um documento do real. Esse
pensamento corrobora o conceito de fotografia-índice de Dubois e da aderência
do referente à imagem.
Kossoy (2002, p. 36-38) apresenta os conceitos de primeira e segunda realidades
para a compreensão do documento fotográfico e sua representação. A primeira
realidade é o próprio passado, é a realidade do assunto e diz respeito à história
particular desse assunto, independentemente de seu contexto no momento do
seu registro e também de sua representação. A imagem fotográfica é, por um
único momento, parte da primeira realidade: é o instante em que ela é gerada – o
momento em que o referente “adere” à imagem, é o índice fotográfico.
A segunda realidade é a realidade do assunto representado, contido nos limites
bidimensionais da imagem fotográfica, selecionado no espaço e no tempo - é a
realidade fotográfica do documento. Para o autor, esse assunto representado
configura o conteúdo explícito da imagem fotográfica.
A fotografia envolve uma transposição de realidades: da realidade visual do
assunto selecionado em um contexto (primeira realidade), para a realidade da
representação (imagem fotográfica: segunda realidade). A realidade da fotografia
encontra-se nas diversas interpretações, nas diferentes “leituras” que cada
receptor fará em um dado momento.
19
3.2 A imagem fotográfica como documento
A imagem fotográfica possui uma natureza polissêmica, permitindo sempre uma
leitura plural, que depende de quem a examina. Um receptor já tem suas próprias
imagens mentais preconcebidas sobre determinados assuntos (os referentes),
que vão funcionar como filtros ideológicos, culturais, morais ou éticos na leitura
de uma determinada imagem.
Representar uma imagem com finalidades documentais é trabalho bastante
complexo e requer um tratamento específico, bastante diferenciado do tratamento
documentário de um texto. Deve-se levar em conta as inúmeras possibilidades de
sua utilização pelos mais diferentes tipos de usuários, pois uma mesma imagem
pode ser usada em diferentes contextos e por diferentes tipos de usuários.
Smit (1996, p. 29-30) conclui que o conceito da fotografia-índice é promissor
para a documentação, determinando os parâmetros do tratamento documentário
da imagem fotográfica e sua representação, pelas seguintes razões:
­
preserva a polissemia da imagem, rejeitando-a com símbolo. Uma
interpretação única acarretaria o direcionamento ou determinaria a sua leitura,
limitando a sua utilização;
­
afirma a existência de um documento, com o referente presente, mas que
não se confunde com este, como o proposto pelo conceito da imagem-ícone.
O conceito de fotografia-índice permite isolar o referente (o objeto fotografado),
mas sem desprezá-lo, e também perceber que a imagem gerada representa este
objeto, mas sem se confundir com ele – a imagem fotográfica pode ser entendida
como um documento que representa “algo”. A presença do referente e a clareza
sobre a relatividade cultural de sua leitura e, de sua utilização pelo usuário final,
são os parâmetros básicos que devem conduzir o trabalho documentário com a
imagem (SMIT, 1996, p. 30).
A fotografia abrange, de maneira geral, o registro fotográfico de temas de
qualquer natureza captados do real. Vale lembrar que toda imagem é uma
emanação de um referente, e mesmo que a imagem nos mostre uma abstração,
20
sabe-se que, de alguma forma, essa representação partiu de algo real. Em tese
todas as imagens se prestam à documentação, tanto a fotografia representativa,
quanto a fotografia autoral ou abstrata.
De maneira geral, no momento da tomada de uma imagem existe um propósito
específico no registro de algum assunto ou alguma finalidade determinada, e em
função disso surgiu o hábito de se separar ou dividir a fotodocumentação por
classes ou categorias de documentos (KOSSOY, 2002, p. 51). Essas
classificações, segundo o autor, são de pouca utilidade porque as imagens
permitem leituras sob diferentes abordagens, de acordo com a formação ou
interesse pessoal dos diferentes usuários. Uma única imagem reúne uma série
de elementos icônicos que fornecem informações para diferentes áreas do
conhecimento: a fotografia sempre propicia análises e interpretações múltiplas e
multidisciplinares.
O profissional da informação também deve estar atento às imagens que
passaram por um processo de pós-produção, ou seja, aquelas cuja produção não
se finaliza com a concretização da imagem pelo processo de criação do fotógrafo.
É muito comum que as imagens, principalmente as que serão veiculadas pelos
meios de comunicação, sofram algum processo de editoração – é o que se
denomina pós-produção, isto é, quando a imagem é objeto de uma série de
alterações. Dentre tantas manipulações nas imagens, podemos citar como
exemplo a alteração de forma (os “cortes” em seu formato original); a alteração
na coloração; alteração de seus significados em função do título, legenda ou
textos que a acompanham. O problema se agrava com a digitalização e a
utilização de softwares, aumentando a facilidade de maquiar imagens, tais como
retoques, aumento e diminuição de contrastes, eliminação ou introdução de
elementos, alteração de tonalidades, aplicação de texturas entre tantos outros
artifícios. É necessário ter cautela com a imagem utilizada em veículos de
informação, pois esta é sempre objeto de algum tipo de tratamento com a
intenção de direcionar a leitura dos receptores – tudo que o documentalista deve
evitar. Essa cautela deve ser direcionada para o tratamento que implica algum
tipo de mudança de contexto na imagem, principalmente o ideológico; é claro que
a maquiagem que não altera substancialmente o sentido da imagem, não deve
ser considerada.
21
Desenvolver um método de indexação para imagens requer a identificação das
características que podem ser usadas para descrever uma imagem e que
satisfaçam as necessidades dos usuários. Para a representação das imagens, a
literatura da área apresenta atualmente duas técnicas de indexação: a indexação
baseada nos conceitos da imagem, e a indexação baseada no conteúdo da
imagem.
22
4 INDEXAÇÃO POR CONCEITO
Existe uma crescente necessidade de gerenciar e recuperar imagens em várias
áreas e instituições: científica, industrial, militar, bibliotecas, museus, hospitais
etc. Uma das características desejáveis para o usuário, é identificar em uma
coleção – por meio de pesquisa pelo seu conteúdo informacional – aquela
imagem específica que corresponda ao pretendido: descrever uma imagem é
fundamental para o sucesso de sua recuperação.
Na indexação por conceito a decisão na escolha dos conceitos e do nível de
análise pelos quais uma imagem será indexada é atribuição do profissional
documentalista ou de uma política de indexação do acervo. Esse tipo de
indexação tem sido basicamente uma função humana (documentalista) porque,
exceto
em
domínios
muito
específicos,
tem
sido
difícil
consegui-lo
automaticamente.
4.1 Níveis de análise
A análise da imagem fotográfica demanda procedimentos específicos, não
podendo ser praticada nela o mesmo tratamento dado aos documentos textuais.
A presença do referente na fotografia é um fator essencial na sua compreensão e
conseqüentemente em sua representação. Considerando o caráter específico da
fotografia, Erwin Panofsky8 desenvolveu uma metodologia para o seu estudo, e
estabeleceu três níveis para a análise das imagens, com a finalidade de
descrever a informação iconográfica:
8
Citado em Rasmussen (p. 173); Shatford (p. 43); Smit (1996, p. 30; 1998, p. 28).
23
­
Nível pré-iconográfico: descrição dos objetos e das ações que estão
representados
na
imagem,
baseada
em
conhecimento
que
permite
reconhecer esses objetos e ações.
­
Nível iconográfico: envolve uma interpretação dos objetos e ações presentes
na imagem, e é baseada no conhecimento adquirido da familiaridade com os
hábitos e tradições culturais.
­
Nível iconológico: implica o esclarecimento do significado intrínseco do
conteúdo da imagem, ou os seus valores simbólicos.
Kossoy (2002, p. 57-60) sugere que a fotografia esconde dentro de si uma trama,
um mistério, e propõe uma investigação da imagem (seja enquanto documento
para investigação histórica, objeto de recordação ou elemento de ficção)
sustentada pela análise e interpretação: a análise iconográfica e a interpretação
iconológica.
Na análise iconográfica, o autor aponta duas linhas de análise multidisciplinares
para a decodificação de informações explícitas e implícitas no documento
fotográfico:
­
a reconstituição do processo que originou a fotografia, determinando-se assim
seus elementos constitutivos – assunto, fotógrafo, tecnologia, lugar e época.
­
um inventário de informações codificadas na imagem fotográfica, ou seja, os
detalhes icônicos que a compõem.
Essas informações revelam dados que dizem respeito à sua concretização
documental e aos detalhes icônicos nele gravados e buscam decodificar a
realidade exterior da representação fotográfica, a sua face visível, o que o autor
chama de segunda realidade do documento.
Para a interpretação iconológica, lembrando que o documento fotográfico é
uma representação a partir do real, o registro de um aspecto selecionado do real,
com um referente organizado cultural, técnica e esteticamente, o autor sugere
dois caminhos básicos para a compreensão:
24
­
o resgate da história do próprio assunto, seja no momento em que foi
registrado ou independentemente da mesma representação.
­
interpretar o processo de criação que resultou na imagem.
A interpretação iconológica busca decifrar a realidade interior da representação
fotográfica, seu significado, a sua primeira realidade, além da verdade
iconográfica.
No contexto da documentação, considerando que a realidade da fotografia
encontra-se em múltiplas interpretações decorrentes da presença de um
referente, devemos pensar a questão da interpretação dessas imagens para fins
de tratamento e recuperação da informação. Para Smit (1996, p. 31) a análise
iconológica não seria pertinente ao universo documentário, porque seu objetivo
se encontra fora da imagem.
Moreiro González e Robledano Arillo (p. 14-15) propõem, para a análise
documentária de conteúdo informacional de imagens três níveis de análise:
Identificadora, Descritiva e Interpretativa.
Função
Nível e Categoria
Descrição
Exemplos
Identificadora
Biográfico
Informações sobre a imagem
Autor, data de criação,
como documento
tamanho, cor, título, técnica
empregada, local...
Conteúdo estrutural
Descritiva
Objetos significativos e sua
Tipos de objetos, composição,
relação física na imagem
posição e tamanhos relativos...
Conteúdo de
Classificação genérica da
Tipo de imagem: retrato,
conjunto
imagem
paisagem, documentário...
Precisão dos objetos
Identificação de cada objeto
Nome próprio e detalhe de cada
pessoa e de cada objeto
Interpretativa
Interpretação da
Disposição do conjunto
imagem em conjunto
Palavra ou frase que resume a
imagem: feliz, horrível...
Interpretação dos
Disposição dos objetos
Alguém triunfante, alguém
objetos
individuais
derrotado...
Quadro 2 – Níveis de análise de imagens
(Fonte: MOREIRO GONZÁLEZ e ROBLEDANO ARILLO, p.15)
25
Para o tratamento da fotografia, Moreiro González e Robledano Arillo (p. 47-55)
propõem a descrição e a interpretação da imagem: “a leitura do que se vê” e “a
leitura do que se interpreta”.
A descrição (a leitura do que se vê) é a representação das características
temáticas da imagem, traduzindo os significados das coisas e representando-as
pela sua aparência. Os autores especificam três níveis de significação: o que é
evidente (descrição pré-iconográfica); o que é contextual (análise iconográfica) e
o que é intrínseca e simbolicamente explicativo (interpretação iconográfica) – que
correspondem, basicamente, aos dois primeiros níveis enunciados por Panofsky
(pré-iconográfico e iconográfico).
Para a interpretação (a leitura do que se interpreta) os autores destacam a
influência do referencial pessoal do documentalista, que pode associar ao
símbolo icônico um significado distante da relação código-mensagem; e
observam que essa intervenção pessoal deve ser evitada quando da análise de
documentos científicos, mas estimulada e condicionada nas aplicações
informativas e especialmente nas publicitárias.
Imagens de diferentes tipos ou de diferentes áreas têm suas próprias
características, que são diferentes uma das outras. Shatford Layne (p. 583-585)
afirma que essas características podem ser categorizadas e generalizadas; e que
é útil pensar nestas características (atributos), usadas para proporcionar o acesso
a essas imagens, no contexto de quatro categorias: atributos biográficos9 – que
compreendem a autoria, a data e o local de produção da imagem, o título (dado
pelo autor ou atribuído pela instituição); atributos temáticos – classificáveis em
quatro facetas: tempo, espaço, atividades/eventos e objetos; atributos ilustrativos
– que envolvem a forma física da imagem; e atributos de relacionamentos – que
envolvem as ligações lógicas com outras imagens ou textos.
Para a análise de uma imagem, Sara Shatford (p. 42) também se apropria da
teoria de Panofsky e, partindo da distinção de que o nível pré-iconográfico é
composto pela conjunção de um significado factual com um significado
expressivo (PANOFSKY, citado por SMIT, 1996, p. 31), estabelece os
correspondentes “a imagem é de que?” – DE e “a imagem é sobre o que?” –
9
São atributos objetivos e para algumas imagens são desconhecidos ou sem importância.
26
SOBRE, isto é, seus significados objetivo e subjetivo. Shatford (p. 47) afirma
também, que a imagem é, ao mesmo tempo, genérica e específica; e que,
idealmente, toda imagem deveria ser representada, tanto ao nível préiconográfico (genérico) quanto iconográfico (específico), uma vez que o usuário
poderá procurá-la, considerando qualquer um desses aspectos. Para Shatford (p.
45), nos dois primeiros níveis de análise propostos por Panofsky, é possível
descrever a imagem distinguindo os dois aspectos: DE e SOBRE. No nível préiconográfico o ponto de vista DE é a descrição genérica dos objetos e eventos; e
o SOBRE é a descrição do “espírito predominante” de uma imagem. No nível
iconográfico o DE corresponde aos nomes específicos das pessoas, lugares,
objetos e ações e eventos; enquanto que o SOBRE é uma identificação de seres
míticos sem realidade concreta comprovada, de significados simbólicos e de
conceitos abstratos. Os termos DE descrevem pessoas, locais, objetos, situações
e ações que têm manifestação física; enquanto os termos SOBRE compreendem
aqueles que descrevem emoções (amor, tristeza) e conceitos/idéias (verdade,
honra).
4.2 Categorias de descrição da imagem
Como informa Smit (1996, p. 32), as categorias para descrição de imagens –
QUEM, ONDE, QUANDO, COMO/O QUE – são amplamente utilizadas como
parâmetros para análises de textos, inclusive a documentária; e já foram usadas
por Ginette Bléry no desenvolvimento de uma proposta de representação do
conteúdo de imagens, apresentada no quadro abaixo.
Categorias
Representação do conteúdo das imagens
QUEM
Identificação do objeto: seres vivos, artefatos, construções, acidentes naturais etc.
ONDE
Localização da imagem no “espaço”: espaço geográfico ou espaço da imagem.
QUANDO
Localização da imagem no “tempo”: tempo cronológico ou momento da imagem
COMO/O QUE
Descrição de atitudes ou detalhes relacionados ao objeto, quando este é um ser vivo.
Quadro 3 – Categorias de descrição de imagens
(Fonte: SMIT, 1996, p.32)
Fundamentada na teoria de Panofsky, Shatford (p. 48-54) propõe um método de
indexação para a descrição de imagens. As diferentes categorias para a
indexação dos assuntos respondem às questões QUEM?, ONDE?, QUANDO?,
27
COMO/O QUE? Cada uma dessas categorias é subdividida segundo os pontos
de vista do DE genérico, DE específico e SOBRE, e analisados das categorias. É
interessante reproduzir o quadro-resumo elaborado por Smit que exemplifica esta
proposta.
Categoria
QUEM
Definição geral
DE genérico
DE específico
SOBRE
Animado e inanimado,
Esta imagem é de
De quem,
Os seres ou objetos
objetos e seres
quem? De que seres?
especificamente se
funcionam como símbolos
trata?
de outros seres ou
concretos
objetos? Representam a
manifestação de uma
abstração?
ONDE
Exemplo
Ponte
Ponte das Bandeiras
Urbanização
Onde está a imagem no
Tipos de lugares
Nomes de lugares
O lugar simboliza um
espaço?
geográficos,
geográficos,
lugar diferente ou mítico?
arquitetônicos ou
arquitetônicos ou
O lugar representa a
cosmográficos
cosmográficos
manifestação de um
pensamento abstrato?
Exemplo
Selva
Amazonas
Paraíso (supõe um
contexto que permita esta
interpretação)
Exemplo
Perfil de cidade
Paris
Monte Olimpo (como o
exemplo anterior)
QUANDO
Tempo linear ou cíclico,
Tempo cíclico
Tempo linear
Raramente utilizado.
datas e períodos
Representa o tempo a
específicos, tempos
manifestação de uma
recorrentes
idéia abstrata ou símbolo?
Exemplo
Primavera
1996
Esperança, fertilidade,
juventude
O QUE
O que os objetos e
Eventos
Que idéias abstratas (ou
seres estão fazendo?
Ações, eventos
individualmente
emoções) estas ações
Ações, eventos,
nomeados
podem simbolizar?
emoções
Exemplo
Morte
Pietá
Dor (emoção)
Exemplo
Jogo de futebol (ação)
Copa do Mundo
Esporte
1994
Quadro 4 – Método de indexação de imagens
(Fonte: SMIT, 1996, p. 33)
28
Convém observar que nem sempre é possível identificar, em uma imagem, todas
as categorias propostas. Smit (1996, p. 33) informa que a determinação do
SOBRE nem sempre pode ser garantida pelas informações contidas no DE
genérico e/ou específico, mas pode ser produzida pela combinação de elementos
distintos.
4.3 A organização da descrição da imagem
A interpretação da imagem, na indexação por conceitos, pode ser feita em vários
níveis de análise, e para a descrição dessa imagem dispomos de várias
categorias. A descrição dos assuntos deve ser organizada para que as imagens
possam ser recuperadas de maneira simples, segura e eficaz pelos usuários.
Atualmente, a grande maioria dos sistemas que comportam a representação
documentária de imagens baseadas em seus conceitos já é automatizada,
agilizando os processos do tratamento técnico e de busca.
Serão mostradas, a seguir, as maneiras como essa imagem poderão ser
representadas10, lembrando que a escolha da forma de representação deverá ser
feita em função da coleção de imagens e do tipo de usuário desse acervo. O
essencial é o estabelecimento de acesso aos documentos, objetivando sua
recuperação.
Indexar imagens pela atribuição textual de termos é um processo que pode ser
efetuado tanto pelo uso da linguagem natural (título, legenda ou texto) como pelo
auxílio de um vocabulário controlado (tesauro ou sistema classificatório). É
comum o uso combinado desses dois sistemas, com a finalidade de manter a
consistência do acervo no momento da recuperação da informação, pelo uso de
um vocabulário controlado, e também de usar a linguagem natural, para numa
busca, recuperar imagens por critérios ou termos não previstos pelo sistema de
classificação. Por esta razão, por exemplo, costuma-se incluir a legenda na
descrição da imagem.
4.3.1 Vocabulário controlado
O assunto será tratado de maneira superficial porque, embora importante no contexto da
indexação por conceito, não é o objeto de discussão do trabalho.
10
29
Sabe-se que a dificuldade de indexar os conteúdos das imagens deve-se à
grande quantidade de informações que elas podem conter, e ao alto nível de
abstração e de subjetividade de seus componentes. Um outro fator importante
que deve ser considerado é a mudança de linguagem ao se fazer a indexação
baseada nos conceitos presentes na imagem – da linguagem visual para a
linguagem textual.
Assim como nos documentos textuais, nos documentos iconográficos é mais
conveniente fazer a representação de seus conteúdos informacionais com o
estabelecimento e o uso de linguagens controladas, proporcionando assim maior
consistência nos dados armazenados e conseqüentemente uma recuperação
mais eficaz.
Um vocabulário controlado é mais que uma simples lista de termos, pois
apresenta uma estrutura com controle de sinônimos, distinção de homógrafos, e
conexões entre termos hierárquicos e associativos. Existem diversos tipos de
vocabulários e com diferentes graus de hierarquização dos termos.
De acordo com Graham (2001, p. 23-24), são três os principais tipos de
vocabulário controlado: listas de cabeçalhos de assuntos, tesauros e sistemas de
classificação. A maioria das bibliotecas e arquivos utiliza sistemas desenvolvidos
por eles mesmos para a descrição do conteúdo informacional das imagens.
Encontramos na bibliografia11 vários exemplos de Vocabulários Controlados
desenvolvidos para o uso em coleções específicas, que embora não resolvam
satisfatoriamente o problema de indexação para a grande maioria das coleções
por terem sido concebidos para as áreas de história da arte e arquitetura, são de
grande utilidade para a consulta e referência na indexação de imagens:
­
ICONCLASS: sistema de classificação para a área de artes, organizado pela
University of Leiden. Possui mais de 28.000 definições de objetos, pessoas,
eventos, situações e idéias abstratas para a indexação iconográfica.
Disponível on-line: <http://www.iconclass.nl/>.
Enser (1995, p. 149-150); Chen e Rasmussen (p. 296); Graham (2001, p. 23); Moreiro González
e Robledano Arillo (p. 78-81); Rasmussen (p. 180). Os endereços dos vocabulários disponíveis na
internet foram acessados em 02.01.2005. O ICONCLASS não está disponível na integra,mas é
possível visualizar partes do vocabulário.
11
30
­
TGM1 (Thesaurus for Graphic Materials - Subject Terms): elaborado pela
Prints & Photographs Division of the Library of Congress, é derivado da
Library of Congress Subject Headings, não oferecendo arranjos facetado e
hierárquico. Foi construído como fonte de termos para a indexação de
materiais gráficos (pintura, fotografia, desenhos, caricaturas, cartazes e
desenhos
interessado
arquitetônicos);
em
coleções
sendo,
portanto,
gerais
de
destinado
imagens.
a
um
público
Disponível
on-line:
<http://www.loc.gov/rr/print/tgm1>.
­
TGM2 (Thesaurus for Graphic Materials - Genre and Physical Characteristic
Terms): também elaborado pela Library of Congress, com as mesmas
propostas de utilização. Disponível on-line: <http://www.loc.gov/rr/print/tgm2>.
­
AAT - Art & Architecture Thesaurus: tesauro mantido pelo Getty Research
Institute12, que contém aproximadamente 125.000 termos sobre arte e
arquitetura. É indicado para um público de pesquisadores especializados em
arte e arquitetura. Disponível on-line:
<http://www.getty.edu/research/conducting_research/vocabularies/aat/>
­
TGN - Thesaurus Of Geographic Names: tesauro também mantido pelo
Instituto Getty que oferece uma classificação hierárquica de cerca de 900.000
identificadores
geográficos
de
todo
o
mundo.
Disponível
on-line:
<http://www.getty.edu/research/conducting_research/vocabularies/tgn/>
­
ULAN - Union List of Artist Names: mais um tesauro mantido pelo Getty, que
contém nomes de criadores artísticos de todos os tempos e países. Disponível
on-line:
<http://www.getty.edu/research/conducting_research/vocabularies/ulan/>.
­
Gibbs-Smith: sistema de classificação hierárquico baseado em apenas quatro
grandes categorias - Retrato, Topográfico, Contemporâneo e Histórico. Inclui
objetos e atividades iconográficos; e foi desenvolvido para atender os
pesquisadores dos periódicos do Grupo Hulton.
12
Segundo Moreiro González e Robledano Arillo (p. 78) o Instituto Getty é a organização que mais
tem trabalhado, recentemente, na questão das linguagens controladas destinadas à indexação de
documentos artísticos e culturais.
31
­
MDA
Archaeological
objects
thesaurus:
desenvolvido
pelo
Museum
Documentation Association (MDA), English Heritage e a Royal Commission on
the Historical Monuments of England.
­
Thésaurus du Service des Archives Photographiques (Ministério Francês de
Cultura): empregado para indexar os monumentos arquitetônicos, as
esculturas, as pinturas e outros objetos artísticos do patrimônio francês.
­
Thèsaurus
d’ICONOS:
desenvolvido
pelo
serviço
Iconográfico
de
Documentação da França, engloba os aspectos relativos à vida política,
cultural, científica e social.
­
RAMEAU: listagem de cabeçalhos de assuntos (gerada da lista da Biblioteca
Nacional da França) que permite indexar todo tipo de imagem; inclui
identificadores de pessoas, lugares e datas.
4.3.2 Linguagem natural
A representação dos conceitos de uma imagem pode também ser feita pelo uso
da linguagem natural. A diferença essencial entre a indexação em linguagem
natural e por vocabulário controlado é que no primeiro caso não existe controle
dos termos na entrada dos dados. Por essa razão a proposta é defendida por
aqueles que sustentam que os assuntos das imagens não se comportam de
acordo com nenhuma estrutura imposta, e que o vocabulário para descrever
esses assuntos não pode ser pré-fixado. Uma deficiência no uso da linguagem é
que existem diferenças significativas (mesmo em áreas altamente especializadas)
entre a linguagem de descrição do profissional e a da pessoa que procura pela
informação.
A indexação em linguagem natural pode ser feita pela utilização de um título, de
legenda, pela escolha de palavras-chave ou por texto livre:
­
Título: de maneira geral, as coleções de material visual são indexadas em um
nível superficial; e muito freqüentemente, em especial no caso de coleções de
32
slides, os títulos fornecem o único identificador do conteúdo informacional
(ENSER, 1995, p. 152).
­
Legenda: pequeno texto, geralmente descritivo ou explicativo, que acompanha
a imagem; são provavelmente, de acordo com Rasmussen (p. 181), as formas
mais comuns de descrição de imagens, mas oferecem um resumo de
qualidade muito variável e transmitem, mais do que em qualquer outro tipo de
indexação, a interpretação particular do conteúdo informacional da imagem ou
do contexto na qual a imagem foi produzida ou utilizada. Vários tipos de
coleções podem adotar as legendas para representar suas imagens, como os
arquivos de imprensa.
­
Palavras-chave: uma alternativa em relação às estruturas rígidas de um
vocabulário controlado é o uso de palavras-chave, ou seja, de palavras que
descrevem o assunto de uma imagem, mas não contemplam o controle dos
termos. Por variadas razões, é cada vez mais freqüente as instituições
desenvolverem listas de palavras-chave para a indexação de suas coleções
voltadas para seus interesses e de seus usuários.
­
Descrição por texto livre: a ampliação na capacidade de armazenamento dos
computadores e sua alta velocidade de processamento comportam o
armazenamento de grande quantidade de texto para a descrição e
representação iconográfica; e esse texto pode fornecer informações de
grande utilidade na consulta e recuperação da imagem. De acordo com
Rasmussen (p. 180), muitos autores recomendam o uso do texto livre em
detrimento da indexação por termos de um vocabulário controlado, embora a
descrição pelo texto livre possa apresentar problemas de recuperação em
função da complexidade e ambigüidade da linguagem.
33
5 A EXPRESSÃO FOTOGRÁFICA
O capítulo anterior tratou da representação da imagem pela adoção de termos
que simbolizam seu conteúdo informacional. Serão apresentados agora
elementos que os particularizam e podem até introduzir alguns conceitos novos
para a imagem – são os elementos de expressão fotográfica.
5.1 A expressão fotográfica como elemento de especificidade de uma
imagem
Além dos documentos fotográficos apresentarem um conteúdo informacional, ou
seja, “alguma coisa” que foi fotografada e que aparece na imagem, esse “alguma
coisa” foi fotografado de uma determinada maneira – a linguagem utilizada pelos
fotógrafos para registrar e representar um objeto – que Smit (1997, p. 3) chama
de expressão fotográfica13.
Ginette Bléry (citada por SMIT, 1996, p. 32) já havia sugerido, em sua proposta
de representação do conteúdo de imagens, uma outra acepção para a categoria
COMO (descrição de atitudes ou detalhes), relacionando-a às técnicas
empregadas para gerar a fotografia.
Smit (1996, p. 34; 1997, p. 9-11; 1998, p. 43-49) recomenda a justaposição da
expressão fotográfica ao conteúdo informacional da imagem para melhorar a sua
representação documentária e otimizar a sua recuperação. Moreiro González e
Robledano Arillo (p. 27) observam que a representação textual da expressão
fotográfica é útil para melhorar a precisão na recuperação de imagens.
Também encontrado na literatura com os nomes de “Forma fotográfica” e “Código técnico
fotográfico”.
13
34
Jörgensen (1996) realizou, em 1995, um estudo do uso de imagens no qual um
grupo de 82 usuários descreveu os atributos que eles reconheciam em imagens
com diferentes contextos. Análises estatísticas desses dados resultaram em doze
classes conceituais de atributos da imagem e uma dessas classes corresponde
ao uso da expressão fotográfica, com 7,2% de ocorrência. Essa mesma pesquisa
foi refeita com um grupo de 48 usuários, e suas descrições classificadas segundo
as doze classes da primeira pesquisa; a ocorrência de atributos de expressão
fotográfica correspondeu agora a 3,8%.
Em Jörgensen (1999) são utilizadas essas mesmas doze classes conceituais de
atributos da imagem para a análise de ocorrência dos termos referentes a essas
classes nos Thesaurus for Graphic Materials I: Subject Terms (TGM I), Art &
Architecture Thesaurus (AAT) e Thesaurus Iconographique: System Descriptif de
Representations (TI). Em todos esses sistemas de classificação foram
encontrados termos relacionados aos elementos de expressão fotográfica.
Outros estudos encontrados no levantamento bibliográfico (ARMITAGE e
ENSER;
ENSER, 1995;
GRAHAM, 1999;
GREISDORF
e
O’CONNOR),
preocupados com o uso das imagens e as formas de busca (pessoas, objetos,
locais, ações, conceitos abstratos etc) não abordam, especificamente, a
expressão fotográfica, mas relacionam conceitos abstratos bastante procurados –
como poder, orgulho, solidão – que podem ser obtidas pelo uso de alguns tipos
de técnica fotográficas, como será explicado adiante.
Além do encontrado na literatura, pode-se verificar a importância do uso dos
elementos de expressão fotográfica na prática da busca de imagens. Diversos
bancos de imagens disponíveis na internet14 apresentam pelo menos algum tipo
de recurso de expressão fotográfica para o refinamento da busca, na interface de
pesquisa ou como termos indexados. Os recursos mais recorrentes são a
Orientação (horizontal ou vertical), Cor (preto e branco ou colorida), o
Enquadramento (close, plano geral etc.), Ponto de vista (baixo ou alto) e Efeitos
especiais.
14
Foram examinados grande parte dos bancos de imagens citados nos endereços a seguir:
<http://www.sobresites.com/design/imagens.htm> e <http://www.portaldafoto.com.br/bancos.html>.
35
Oliveira (p. 17) aponta dois exemplos que confirmam a utilidade da expressão
fotográfica para usuários de imagens. Um deles foi uma pesquisa para a
construção de um vocabulário controlado para a indexação de mais de 100.000
imagens da agência de imagens Stock Photos Produções, que analisou formas
de busca de imagens solicitadas por usuários; o resultado apontou uma grande
procura de imagens com a solicitação da forma expressiva, ou seja, close,
panorâmica, vista submarina, luz noturna, entre outros recursos. O outro exemplo
foi a realização da Oficina de Tratamento da Informação Iconográfica, em junho
de 2000, com o objetivo de criar descritores que representassem o conteúdo de
um grupo de imagens. Também foram apontados alguns elementos de expressão
fotográfica importantes e significativos para a indexação de imagens, e tais
recursos
foram
considerados,
pelos
participantes,
como
características
específicas do documento iconográfico.
Para demonstrar o impacto do uso dos elementos de expressão fotográfica na
indexação da imagem no momento de sua recuperação simulamos a
necessidade de uma imagem específica: uma árvore vista de baixo. A pesquisa
ÁRVORE + CÂMERA BAIXA foi feita em três grandes bancos de imagens que
trabalham com vários recursos relacionados à expressão fotográfica: Stock
Photos, Tonystone e Corbis15. Obteve-se o seguinte resultado, respectivamente:
607, 341 e 638 registros. Caso não fosse utilizado o ponto de vista na indexação
das imagens teríamos o seguinte resultado: 8.887, 4.013 e 1.000 registros16.
É importante ressaltar que a expressão fotográfica está presente na linguagem
das imagens, e que deve ser incorporada, sistematicamente, ao processo da
análise documentária com a finalidade de auxiliar a recuperação da informação
iconográfica.
No âmbito documental, de acordo com Smit (1996, p.34), a imagem fotográfica é
constituída pelo conteúdo informacional e sua expressão fotográfica, contidas em
um suporte.
A expressão fotográfica é um elemento que auxilia na descrição do conteúdo
informacional da imagem – na indexação por conceito – e que vai outorgar a essa
15
<http://www.stockphotos.com.br/>, <http://www.tonystone.com/> e <http://www.corbis.com/>.
16
O banco de imagens Corbis apresenta no máximo 1.000 registros recuperados para a busca.
36
descrição uma especificidade enquanto informação. Um mesmo objeto pode ser
mostrado de diferentes maneiras; teremos para esse objeto o mesmo conteúdo
informacional, mas a expressão fotográfica usada no momento da tomada da
imagem – a forma adotada para expressar o que se quer transmitir pela imagem
– vai conferir a cada uma das imagens um caráter específico que será decisivo
para o usuário no momento da busca. Essa especificidade funciona como um
filtro de busca – o usuário pode querer uma imagem na qual a expressão
fotográfica seja um elemento presente, ou pode querer um determinado tipo de
imagem, mas sem um determinado elemento de expressão fotográfica. O registro
de uma mulher em primeiro plano e em cores (Foto 1) não é o mesmo que um
registro em plano geral e em preto e branco (Foto 2). O usuário pode querer a
foto de um rosto de mulher, em preto e branco, que apresente a fisionomia do
modelo (Foto 3), excluindo todas as imagens em alto-contraste (Foto 4).
Foto 1
Foto 2
Foto 3
Foto 4
A expressão fotográfica poderá, em alguns casos, resultar num efeito visual que
será passível de ser interpretado como um conceito abstrato. Iluminar uma
37
pessoa em primeiro plano de formas diferentes poderá fazer com que o retratado
assuma diferentes aspectos. Por exemplo, as fotos 5, 6 e 7 são da mesma
pessoa, o ator Christopher Lee, enquadrado em primeiro plano, mas com
diferentes tipos de iluminação. Na foto 5 foi usada uma iluminação frontal e
difusa, sem contrastes intensos e que suaviza o modelo; aqui dificilmente
poderíamos atribuir algum conceito abstrato marcante. Na foto 6 usou-se uma
iluminação direcionada aos olhos; aqui sim poderíamos, mais facilmente, atribuir
à imagem conceitos como homem pensativo, homem misterioso ou homem triste.
Na foto 7 foi usada iluminação dura, provavelmente uma única fonte de luz, de
baixo para cima, proporcionando contraste de luz e sombra e causando grande
efeito dramático na imagem; aqui os efeitos são mais extremos porque essa
iluminação altera substancialmente o rosto do modelo. Neste caso podem ser
atribuídos os conceitos como medo, ameaça, homem assustador ou mesmo o
contrário: homem assustado. A um mesmo conteúdo informacional (a pessoa)
podemos associar os vários conceitos citados.
Foto 5
Foto 6
Foto 7
A expressão fotográfica, para a representação da imagem, é o resultado das
técnicas utilizadas pelo fotógrafo durante a tomada da imagem ou durante o
processo de revelação e cópia, retoque digital ou mecânico, conforme o caso,
que produzirão os resultados gráficos da imagem considerados mais relevantes
para sua recuperação (MOREIRO GONZÁLEZ e ROBLEDANO ARILLO, p. 2526).
38
Os principais recursos técnicos que podem ser utilizados na fase de tomada da
imagem são: a escolha do ponto de vista, o ângulo da tomada, o enquadramento,
o controle da profundidade de campo, a cor da película, a iluminação, a
sensibilidade do filme, a exposição da imagem (abertura do obturador e tempo de
exposição), a escolha da objetiva e do filtro.
Durante a revelação e cópia podem ser incorporados processos por meio dos
quais se modificam parte dos recursos selecionados na fase anterior, tais como:
alteração do contraste das cores, correção tonal, viragens de coloração,
manipulação
da
imagem
(fotomontagem,
múltiplas
exposições),
cortes
(reenquadramento). No caso da fotografia eletrônica, Moreiro González e
Robledano Arillo (p. 27) apontam que os processos posteriores à tomada da
imagem são realizados pelo uso de ferramentas de edição de imagens digitais.
Alguns desses recursos sequer são perceptíveis em uma imagem: sensibilidade
do filme; o uso dos filtros UV, skylight, polarizador, correção de cor; o uso da
objetiva 50 mm. Por outro lado, recursos como a câmera alta ou baixa, objetiva
grande-angular, close e filtro cross são geralmente visíveis para o documentalista
treinado, e associá-los à análise documentária da imagem vai depender da
pertinência destes ao propósito do acervo. Smit (1998, p. 44) ao referir-se ao
tema observa que a escolha dos elementos de expressão fotográfica a serem
incorporados à análise documentária é um “processo que deve ser realizado de
um ponto de vista exclusivamente pragmático, diferenciando efeitos de forma
fotográfica transparentes ao usuário e os recursos formais empregados pelo
fotógrafo, editor ou laboratorista, mas não transparentes ao usuário”.
A utilização da expressão fotográfica como informação na indexação é útil para
melhorar a precisão na recuperação de imagens, não tendo a finalidade de
substituir a visualização das imagens durante a recuperação, mas agilizar este
processo. Permite uma pré-seleção mais refinada de imagens que possam
satisfazer às necessidades específicas, preservando o usuário de visualizações
desnecessárias.
39
5.2 Elementos de expressão fotográfica
Serão resumidas, abaixo, as três propostas de organização e análise dos
elementos de expressão fotográfica encontradas no levantamento bibliográfico
para este trabalho, de autoria de Moreiro González e Robledano Arillo; Oliveira;
Smit. A seguir serão feitos alguns comentários sobre essas propostas e
apresentada uma quarta proposta.
Moreiro González e Robledano Arillo apresentam os seguintes elementos de
expressão fotográfica que podem ser usados pelos documentalistas, dependendo
da visibilidade na imagem e da pertinência ao acervo:
CÓDIGOS FOTOGRÁFICOS
VARIÁVEIS
Ótica utilizada
Teleobjetiva
Emprego de objetivas, filtros e
outros recursos que possam
modificar os lugares captados
Grande-angular
Macro ou microfotografia
Endoscopia
Panorâmica
Olho de peixe
Filtros
Prisma
Luz
Natural – de dia / de noite
O tom de luz e seu reflexo
qualificam expressivamente a
imagem, sendo um recurso
significativo para a sua linguagem.
Luz dura – com iluminação mecânica / luz natural
Efeito americano – iluminação difusa, luz tonal
que dilui as sombras / luz viva
Contraluz – destaque de perfis e silhuetas
Luz lateral, luz zenital, luz baixa
Sobre ou subexposição
Radiações
Elétrons ou partículas
Tempo de exposição
Instantânea
Estroboscópica
Subexposição
Expressão de movimento
40
Posição do objeto no espaço
Vista frontal
Vista de costas
Vista de perfil
Vista de três quartos – dianteiros ou traseiros
Ângulo de visão e eixo de tomada Ângulo médio
da foto
Ângulo plongée17
Ângulo contraplongée18
Ângulo disperso
Em submersão19
Fotografia aérea – vertical ou oblíqua
Fotografia espacial
Valores de enquadramento
Grande plano geral: representa grandes cenários
Situação do objeto no espaço;
marcam a amplitude do espaço que
ocupam as figuras representadas
na imagem e determinam os tipos
de plano.
Plano geral – plano inteiro ou de conjunto: o
personagem apresenta três quartos ou mais da
altura da moldura, sempre havendo algum
espaço
Plano de união: apresenta o corpo inteiro sem
nenhum espaço, nem abaixo e nem acima
Plano três quartos – plano americano: o marco
inferior situa-se na altura dos joelhos do
personagem
Meio plano: o marco inferior do quadro pode
cortar desde a cintura até o peito
Primeiro plano: ombros e cabeça
Plano detalhe – close: um detalhe do
personagem
Quadro 5 – Elementos de expressão fotográfica
(Fonte: MOREIRO GONZÁLEZ e ROBLEDANO ARILLO p. 28-40)20
Os mesmos autores (p. 40-42) observam que o emprego de alguns dos
elementos da expressão fotográfica nem sempre produzem o mesmo efeito, e
destacam vários usos de elementos espaciais (enquadramento e ângulo de
tomada da foto) que podem resultar em interpretações. Alguns dos usos estão
reproduzidos abaixo:
17
Tomada de vista de cima para baixo, ou câmera alta.
18
Tomada de vista de baixo para cima, ou câmera baixa.
19
Foto subaquática ou submarina.
Alguns elementos foram suprimidos da lista original, por serem considerados dados pertinentes à
descrição física do documento: Superfície sensível (suporte, formato, apresentação da imagem);
Qualidade técnica (projeção, impressão e ampliação).
20
41
­
o primeiro plano pode supor a revelação da intimidade do personagem, uma
revelação de seu estado de ânimo (Fotos 8 e 9).
Foto 8
­
Foto 9
o plano geral com um só indivíduo sugere, normalmente, solidão e isolamento
(Foto 10).
Foto 10
42
­
o plano geral ou as tomadas amplas diluem os personagens no ambiente ou
cenário: retiram o destaque dos indivíduos e o dão ao coletivo (Fotos 11 e 12).
Foto 11
­
Foto 12
o plano contraplongée exalta o representado, adquirindo potência, força e
grandiosidade (Fotos 13 e 14); pode conotar, também, prepotência e antipatia.
Foto 13
­
Foto 14
um plano oblíquo (composição na qual as referências universais – horizontal e
vertical – são alteradas) sugere, normalmente, estranheza e inquietude
(Fotos 15 e 16).
43
Foto 16
Foto 15
Os autores (p. 42-45) destacam que as cores dos objetos são também
transmissoras de mensagens, apresentando diversas associações entre as cores
e seus possíveis significados. A cor pode simbolizar estados de espírito, fatos,
situações, crenças e inclusive situações; e essas associações são determinadas
dentro de culturas específicas, podendo assumir valores contraditórios em
culturas diferentes e mesmo em uma mesma cultura, dependendo do contexto.
No mundo ocidental o luto é simbolizado pela cor negra, enquanto os hindus e
japoneses o fazem com a branca.
Outro trabalho interessante sobre os elementos de expressão fotográfica é o TCC
de Oliveira (p. 18-41), que desenvolve uma categorização dos recursos de
obtenção e composição da imagem tendo como referência as categorias
apontadas por Smit (1998), que serão discutidas mais adiante.
As
categorias
sugeridas
por
Oliveira
compreendem
algumas
técnicas
relacionadas à utilização de objetivas especiais, filtros, tempo de exposição,
luminosidade, enquadramento, posição da câmera, entre outros processos, que
influenciarão no resultado da composição da imagem. O trabalho apresenta a
definição para cada categoria21 de expressão fotográfica sugerida, e um exemplo
As definições transcritas foram extraídas, segundo Oliveira (p. 18), dos trabalhos de Michael
Busselle, Richard Ehrlich e Leighton D. Gage & Cláudio Meyer. As definições marcadas com um (*)
foram alteradas porque não as considerei apropriadas.
21
44
de imagem com a análise do conteúdo informacional do documento e sua
dimensão expressiva.
CATEGORIAS
Enquadramento
fotográfico
Posição da câmara
FORMA FOTOGRÁFICA
DEFINIÇÃO
Plano de conjunto
Abrange uma grande área,
cheia de detalhes, onde são
mostrados todos os elementos
da cena (pessoas, objetos ou
componentes arquitetônicos)
Plano médio
Corpo humano enquadrado da
cintura para cima, destacando
a figura humana
Detalhe
Abrange uma área, pedaço
específico de uma figura
Close
Mostra apenas os ombros e a
cabeça das figuras em foco
Panorâmica
Apresenta um ângulo de visão
bastante amplo, normalmente
usado para paisagens (*)
Fish eye
Objetiva grande-angular com
distância focal de 7,5 mm, que
registra num ângulo de 180
graus (*)
Câmera baixa
Câmera alta
Vista aérea
Vista submarina
Vista de satélite
Vista microscópica
Efeitos especiais
Estroboscopia
Decomposição do movimento
pela técnica de múltipla
exposição, com o uso de flash
sincronizado
Fotomontagem
Combinação de duas ou mais
imagens obtidas em
momentos distintos em uma
única foto
Longa exposição
Movimento
Desfocado
Luminosidade
Luz noturna
Contra-luz
Quadro 6 – Elementos de expressão fotográfica
(Fonte: OLIVEIRA, p. 19-41)
45
Smit (1998) apresenta também uma lista de elementos de expressão fotográfica,
enriquecida com comentários práticos que são de grande utilidade para os
documentalistas.
CATEGORIA
VARIÁVEIS
COMENTÁRIOS
Imagem
Efeitos especiais:
estroboscopia, alto-contraste
etc.
Os efeitos especiais, desde que
visíveis, são obrigatoriamente
indexados
Ótica
Utilização de objetivas
especiais (fish-eye, grandeangular, teleobjetiva etc.)
A utilização de objetivas nem sempre é
perceptível: somente deformações
evidentes devem ser descritas
Utilização de filtros especiais
(infravermelho, ultravioleta
etc.)
A utilização de filtros, embora
freqüente para controlar efeitos de luz
ou cor, é raramente transparente para
o usuário: somente nestes casos deve
ser descrito
Pose
A pose é cada vez menos praticada
atualmente. Até 1950, em função dos
equipamentos fotográficos existentes,
a pose era obrigatória
Longa exposição
A longa exposição, pela qual o
obturador fica aberto um tempo
considerável é sempre visível, uma vez
que usado para retratar o movimento
(luzes dos carros em fotos noturnas,
movimentos de dança ou estrelas etc.)
Fotografia instantânea
Se mencionada, enquanto suporte,
quando de descreve o sistema
Polaroid, de resto a menção à
fotografia instantânea não faz mais
sentido para os acervos fotográficos
atuais
Luz noturna
A luz noturna é sempre visível e
sempre deve ser mencionada, tendo
em vista que altera as cores e a
sensação de volume
Contraluz
A contraluz, desde que muito forte,
pode ser mencionada, mas não o é
obrigatoriamente
Iluminação artificial
Vide comentário relacionado à
contraluz
Luz diurna
Normalmente não mencionada,
considerando-se esta a luz padrão
Tempo de
exposição
Luminosidade
46
Enquadramento
e posição da
câmera
Enquadramento de objetos em Informação indispensável
relação ao espaço ou
abordagem do próprio espaço:
vista geral, parcial,
panorâmica, vista de interior ou
exterior
Enquadramento de pessoas:
plano geral, plano médio,
americano, close, detalhe,
perfil, frente, costas, 3/4
De acordo com o perfil do arquivo,
informação considerada essencial ou
inútil. Caso a visualização das imagens
possa ser assegurada, a relação
custo/benefício desta indexação é
discutível
Posição da câmera: câmera
alta, câmera baixa, vista aérea,
submarina, subterrânea, de
microscópio eletrônico etc.
Excetuada a informação sobre câmera
alta e baixa, muitas vezes dispensável,
os demais dados, desde que
existentes, devem ser mencionados:
neste tópico constata-se unanimidade
na bibliografia
Quadro 7 – Elementos de expressão fotográfica
(Fonte: SMIT, 1998, p. 45-47)
Percebe-se, nesta proposta, uma preocupação com a utilização prática dos
elementos de expressão fotográfica, na qual a incorporação da forma fotográfica
à análise documentária da fotografia presume a escolha das categorias que
sejam realmente operacionais, ou pertinentes aos propósitos do acervo
fotográfico. Smit (1998, p. 44) diz que esse processo seletivo deve ser realizado
considerando-se exclusivamente o ponto de vista prático, distinguindo os efeitos
que são visíveis aos usuários e documentalistas das técnicas empregadas pelo
fotógrafo, mas que não são perceptíveis aos leigos.
Podemos perceber que as três categorizações propostas (Moreiro González e
Robledano Arillo, Oliveira e Smit) apresentam basicamente os mesmos
elementos; as diferenças residem no nome atribuído às categorias, na
nomenclatura das variáveis (ângulo e posição da câmera), na aglutinação ou
separação de algumas dessas categorias e nas variáveis (as técnicas
fotográficas) presentes em cada categoria.
A proposta de Moreiro González e Robledano Arillo é a que apresenta o maior
número de categorias e de técnicas fotográficas que podem ser utilizadas para a
concepção de uma imagem, demonstrando uma preocupação maior em detalhar
essas técnicas do que apresentar um panorama da expressão fotográfica que
seja prático para o indexador – enfatizando mais a técnica empregada do que o
47
resultado obtido na imagem. Um exemplo para demonstrar esse meu ponto de
vista é a inclusão da “Subexposição” nas categorias “Tempo de exposição” e
“Luz” – corretas nos dois casos, pois a exposição fotográfica é uma combinação
da quantidade de luz (abertura do obturador) e o tempo de exposição.
A relação de elementos de expressão fotográfica de Oliveira é mais prática para a
compreensão por um indexador de imagens, pois é baseada na proposta de Smit,
e destaca os efeitos mais “visíveis” em uma imagem: o enquadramento, a
posição da câmera e a luminosidade. Falha ao apresentar definições incorretas
de alguns dos elementos como “panorâmica”, “fish-eye”, “longa exposição” e
“desfocado”; é um pouco infeliz ao incluir o uso da objetiva “fish-eye” na categoria
“Enquadramento Fotográfico”; e se equivoca ao separar, na categoria “Efeitos
Especiais”, o “movimento” e o “desfocado”. Para englobar esses dois últimos, que
são difíceis de serem distinguidos22, prefiro o termo “Expressão de movimento”
usado por Moreiro González e Robledano Arillo.
Alguns efeitos são mais visíveis, mais fáceis de serem percebidos pelo indexador.
Nos
trabalhos
aqui
mostrados,
a
presença
desses
elementos
–
o
Enquadramento, a Posição da Câmera e a Luminosidade – é unanimidade, mas
encontramos algumas diferenças nos conceitos referentes aos tipos de
enquadramento, principalmente nas definições de “Grande plano” “Close”,
“Detalhe” e “Plano detalhe”. Embora sejam expressões bastante usuais,
principalmente para imagens em movimento, esses conceitos ainda não estão
claramente definidos, e a instituição responsável por um acervo de imagens deve
especificar os termos a serem usados e com qual significação.
Como foi destacado anteriormente, o mais importante em relação aos elementos
de expressão fotográfica, para fins documentais, é o seu resultado em uma
imagem e não a técnica empregada para produzi-los. É apresentado abaixo um
quadro contendo alguns efeitos que podem ser observados e a técnica que pode
causar o efeito – uso de objetivas, de filtros, do tempo de exposição e de algumas
Como exemplo de “Movimento” Oliveira (p. 37) apresenta uma imagem de dois ciclistas, sendo
que a pista e suas demarcações estão focadas e os ciclistas estão com suas imagens levemente
borradas, dando a idéia de deslocamento. O exemplo da forma fotográfica “Desfocado” (p. 38)
apresenta a imagem de uma mulher (borrada) tendo ao fundo um muro de pedras e galhos de
árvores (ambos focados); e essa imagem pode ser entendida como a de uma mulher dançando ou
virando-se rapidamente, ou seja, também um efeito de movimento. O efeito visual é muito
semelhante.
22
48
técnicas de processamento da imagem. Considero importante que o indexador
tenha um conhecimento básico sobre esses efeitos para não cometer enganos
grosseiros ao indexar uma imagem, pois algumas técnicas geram efeitos
parecidos.
Os efeitos que serão apresentados são, em sua grande maioria, aqueles cujas
denominações não estão claramente identificadas com a técnica que os produz, e
por isso mais difíceis de serem conceituados com um termo para indexação.
Foram
excluídos
os
efeitos
relacionados
ao
uso
dos
elementos
de
Enquadramento, Posição da câmera, Posição do objeto fotografado e alguns
tipos de Iluminação, por serem os de entendimento mais comum na literatura
sobre o tema.
A idéia principal do quadro é apresentar a questão do uso da expressão
fotográfica destacando os efeitos apresentados na imagem e não a técnica
utilizada. Para o documentalista o essencial é a percepção, o reconhecimento de
que a imagem apresenta algo – os efeitos visíveis – que seguramente a distingue
de uma imagem “normal” e que esse algo poderá ser interessante no momento
da recuperação das imagens, como característica desejada ou como elemento a
ser desprezado. As fotos às quais os efeitos remetem têm o propósito de melhor
ilustrar os efeitos descritos.
É tarefa da área da documentação da informação encontrar os termos que
possam associar e transmitir esses conceitos aos usuários. Esta proposta não
apresenta a solução para o problema dos termos a serem utilizados na
representação dos efeitos provocados pelos elementos de expressão fotográfica.
Isto seria objeto de um próximo estudo.
EFEITO
Imagem sem profundidade de campo: fundos e primeiros
planos desfocados - Foto 17.
TÉCNICA
Teleobjetiva23
Achatamento da imagem, isto é, elementos que estão Teleobjetiva
distantes aparentam estar mais próximos uns dos outros:
mudança de perspectiva - Foto 18.
A redução da profundidade de campo também pode ser obtida com outros tipos de objetivas,
pelo controle da abertura do obturador; mas com as teleobjetivas esse efeito é bem mais evidente.
23
49
Imagem apresenta somente tons de preto e de branco, sem
as gradações de cinza - Foto 19.
Alto-contraste
Imagem apresenta várias vezes o mesmo motivo, todos com Estroboscopia
a mesma nitidez, mostrando uma seqüência de um
movimento (trajetória de um deslocamento) - Foto 20.
Imagem formada pela composição de dois ou mais Fotomontagem
elementos cuja combinação não pareça natural – a imagem
parece irreal, estranha. Ex: a imagem de um olho, cuja íris é
um CD; uma imagem que apresenta três vezes o rosto de
uma mesma pessoa; uma planta cuja flor é uma mulher;
Múltipla exposição
mais de um motivo no mesmo plano e com tamanhos
desproporcionais (uma casa e um homem do mesmo
tamanho) - Fotos 21 e 22.
Distorção nos motivos fotografados – um objeto ou uma Grande-angular
pessoa pode aparecer mais compridos, mais altos, mais
largos ou mais abaulados do que são ou objetos
sabidamente de linhas retas (poste, parede etc) que
aparece curvado na imagem - Fotos 23 e 24.
Pequenos objetos (flores, insetos, moedas, selos etc.) Objetiva macro
quase que em tamanho natural e sem distorções. Se não for
um motivo plano (flor, inseto), somente uma parte ficará Filtro close-up
focada - Fotos 25 e 26.
Correção no efeito de perspectiva em fotos de prédios, Objetiva de controle de
evitando que os seus lados fiquem convergentes no alto - perspectiva
Foto 27.
Transformação de pontos de luz em estrelas - Foto 28.
Filtro cross ou de estrela
Pontos brilhantes de luz decompostos em faixas nas cores
do espectro - Foto 29.
Rede de difração
Foco suave (usado principalmente em rostos e paisagens):
cria uma imagem levemente embaçada - Fotos 30 e 31.
Filtro difusor
Imagem com alguns tons separados
(geralmente três ou quatro) - Foto 32.
e
uniformes Separação de tons ou
Posterização
Imagem semelhante a uma pintura a óleo - Fotos 33 e 34.
Texturas ou Retículas de
ampliação
Imagem levemente borrada, que passa a impressão de Tempo de exposição
ação, de movimento – motivo principal borrado e fundo longo24
nítido ou reconhecível; motivo principal relativamente nítido
Fotógrafo acompanha o
contra um fundo borrado - Fotos 37, 38 e 39.
motivo com a câmera
durante da exposição
O tempo de exposição vai depender da velocidade com que o objeto se desloca
(aproximadamente 1/125 s para carros e 1/30 s para pessoas).
24
50
Imagem com borrado contínuo – acompanhamento da Longa exposição25
trajetória de um objeto por um grande período de tempo
(lua, estrela etc.) ou vários objetos que têm a mesma
trajetória (carros em uma avenida, água de uma cachoeira
etc.) - Fotos 40 e 41.
Quadro 8 – Elementos de expressão fotográfica: proposta
É importante mencionar que a maioria desses efeitos pode ser obtida,
atualmente, com um editor de imagens, reforçando que para a indexação de
imagens é realmente o efeito que interessa e não a técnica utilizada.
Foto 17 – Profundidade de campo: à esquerda sem profundidade de
campo, e à direita com profundidade de campo.
Uma distinção que pode ser feita entre os dois efeitos com imagens borradas (resultado de um
longo tempo de exposição e que passam a sensação de movimento) é o tempo que o obturador da
câmera fica aberto: para a longa exposição o tempo é tão grande que a câmera necessita de um
apoio (um tripé) para os elementos fixos não ficarem tremidos; no outro caso o tempo de
exposição é suficiente para captar o movimento, mas insuficiente para deixar tremido algum
elemento que esteja imóvel.
25
51
Foto 18 – Achatamento da imagem
Foto 19 – Alto-contraste: acima uma
imagem normal, e abaixo em alto-contraste
Foto 21 - Fotomontagem
Foto 20 - Estroboscopia
Foto 22 – Múltipla exposição (provável)
52
Foto 23 – Distorção da imagem
Foto 24 – Distorção da imagem
Foto 25 – Macro-objetiva
Foto 26 – Macro-objetiva
53
Foto 27 – Correção de perspectiva: à esquerda sem a correção, e à direita
com a perspectiva corrigida.
Foto 28 – Filtro estrela
Foto 29 – Rede de difração
Foto 30 – Foco suave
54
Foto 31 – Foco suave
Foto 32 – Posterização
Foto 33 – Textura
Foto 34 – Textura
55
Foto 35 – Movimento
Foto 36- Movimento
Foto 37 – Movimento
Foto 38 – Exposição longa
Foto 39 – Exposição longa
56
5.3 Tratamento documentário da expressão fotográfica
Na representação documentária de uma imagem, a expressão fotográfica é um
elemento importante na descrição de seu conteúdo informacional para a sua
recuperação, e que deve ser destacada somente quando interferir efetiva e
visivelmente na imagem. O emprego de alguns desses tipos de elementos
também pode fundamentar um conceito abstrato na análise iconográfica.
A utilização dos elementos de expressão fotográfica na representação da imagem
deve também estar relacionada com o acervo e o tipo de usuário desse acervo.
Embora a fotografia tenha a característica de ser multidisciplinar, alguns efeitos
só serão úteis para um público especializado: detectar o uso da objetiva de
controle de perspectiva na foto de um edifício não faz diferença para a grande
maioria dos usuários, mas é importante para um público especializado em
arquitetura (arquitetos e publicações de arquitetura).
É importante que o documentalista conheça as principais técnicas que geram a
expressão fotográfica, mas o essencial é identificar o efeito provocado – o
resultado na imagem. Para efeito de construção de um Vocabulário Controlado
para a indexação da expressão fotográfica, acredito ser mais interessante que os
termos a serem empregados tenham mais relações semânticas com o resultado
(que deve ser aparente na imagem) do que com a técnica que gerou esse
resultado.
Pensando na representação documentária e na indexação dos elementos de
expressão fotográfica sob a perspectiva de priorizar os seus efeitos aparentes em
uma imagem, é necessária a criação de termos que possam descrever esses
efeitos. Alguns termos coincidirão com as técnicas utilizadas – termos já
consagrados no âmbito das imagens em movimento, como as técnicas de
enquadramento (plano geral, plano médio, americano, close, detalhe etc),
luminosidade (contraluz, luz noturna etc.) e ponto de vista (câmera alta, câmera
baixa etc.). Existe uma grande lacuna de terminologia na área da documentação
para descrever imagens, expressando o seu conteúdo informacional, de maneira
a facilitar a recuperação da informação. Encontrar uma resposta para esse
problema é um grande desafio.
57
6 INDEXAÇÃO POR CONTEÚDO
Os dois itens anteriores tratam da representação da imagem pela indexação por
conceitos, ou seja, a indexação na qual os termos são atribuídos pelo indexador,
seja em linguagem natural ou baseado em linguagem controlada. Foi mostrado
que, a essa indexação atributiva – a identificação dos conceitos implícitos e
explícitos envolvidos no documento – é conveniente associar a expressão
fotográfica utilizada no ato do registro da imagem, quando ela for visível (para o
indexador e usuário) e puder influenciar na utilização da imagem, agregando a
essa descrição uma especificidade enquanto informação. Este item vai
apresentar uma outra técnica, desenvolvida mais recentemente: a indexação por
conteúdo26.
Indexar os conceitos associados a uma imagem tem algumas limitações. Como a
indexação por conceito é basicamente feita de forma manual, é uma operação
bastante trabalhosa e de custo bastante elevado. Outro fator importante a ser
considerado na indexação por conceitos é a dificuldade em se obter uma
consistência efetiva nos dados de uma coleção, devido à própria polissemia das
imagens, ao repertório cultural do indexador e à subjetividade que envolve a
operação. Deve ser considerada, também, a necessidade de pessoas
especializadas, ou pelo menos bem treinadas, para se alcançar um tratamento de
coleções de imagens com o menor número de imprecisões possível.
Rasmussen (p. 182) aponta uma outra limitação na indexação por conceito: a
dificuldade em antecipar, no momento da indexação, como uma imagem poderá
ser utilizada, podendo, desta maneira, não serem supridas as informações no
momento de uma consulta.
Também denominada “indexação derivativa”, “indexação visual automática” ou simplesmente
“processamento de imagens”.
26
58
Um aspecto negativo na indexação por conceito mencionado por Graham (2001,
p. 24-25) é que a indexação de imagens similares pode variar, principalmente se
feita em momentos distintos; o próprio vocabulário muda e evolui junto com sua
área de conhecimento. Outro fator desfavorável apontado pela autora é que o
ponto de vista do indexador pode ser diferente da perspectiva do usuário, que
pode ser um especialista na área pesquisada.
Graham também observa que os usuários nem sempre são capazes de
expressar adequadamente suas necessidades de informação, ou seja, formular
uma adequada expressão de busca, porque ou não sabem exatamente o que
estão procurando, ou não compreendem como usar o catálogo disponível. Outras
limitações assinaladas pela autora na indexação por conceito em uma grande
coleção de imagens abrangem: erros de digitação nos termos (pelo indexador e
pelo pesquisador), a deficiência na estrutura de gerenciamento de dados para
superar os efeitos de descrições imprecisas, uso de tesauro não apropriado para
a coleção, e imagens do início da formação da coleção com nenhum ou com
poucos dados descritivos.
A produção de imagens cada vez maior, provocando grande aumento nas
coleções existentes e o número crescente de novas áreas que passaram a utilizar
imagens, principalmente as digitalizadas, são outros fatores que também devem
ser levados em conta no caso da indexação por conceito. Para Eakins e Graham
o processo de digitalização de imagens não faz com que a coleção seja
gerenciada mais facilmente; eles lembram que a catalogação e a indexação são
ainda necessárias para uma busca eficaz – a diferença apontada pelos autores é
que boa parte da informação desejada poderá ser, potencialmente, derivada, por
processo automatizado, das próprias imagens.
Considerando todos esses aspectos e tendo em vista o rápido desenvolvimento
na tecnologia dos recursos visuais e o advento da internet como o mais popular
meio de difusão e acesso da informação imagética, a identificação automatizada
das características de uma imagem a ser indexada parece ser a solução ideal
(RASMUSSEN, p. 183). Na comunidade científica existe um crescente interesse
em indexar e recuperar imagens usando técnicas computadorizadas, e para o
aperfeiçoamento dessa técnica – a indexação por conteúdo – têm sido realizadas
59
muitas pesquisas com graus variados de êxito, dependendo do nível de
interpretação e das características desejadas (RASMUSSSEN, p. 183).
Estudos referentes às publicações sobre a indexação por conteúdo27 (CHU,
p. 1012) apontam a existência de seis subgrupos de pesquisa neste campo:
­
pesquisas que relacionam como a informação imagética é processada pelo
cérebro humano (4%).
­
pesquisas relacionadas ao campo da Óptica28 (4%).
­
pesquisas na indexação e recuperação baseadas em características visuais
da imagem, como a forma e a cor (24%).
­
pesquisas que incorporam diferentes tipos de informação imagética, incluindo
os atributos intrínsecos da imagem e também informações textuais e
semânticas com finalidades de indexação e recuperação (34%).
­
pesquisas que tratam a imagem como objetos (14%).
­
pesquisas que estudam imagens como Símbolo ou Ícone (20%).
Ainda segundo CHU (p. 1017), em 1974 foi feita a primeira publicação29 sobre
indexação e recuperação de imagens, e o número de publicações não teve um
crescimento significativo até 1996, o ano em que a Web, como plataforma
multimídia, começou a desempenhar um papel importante em nossa sociedade.
Nos anos de 1996 a 1999 foram publicados mais de 120 documentos em cada
um dos anos, enquanto que entre 1974 e 1990 a média era de 5 documentos
(com picos de 10 itens em 1984 e 24 itens em 1985), e entre 1991 e 1995 a
média de documentos publicados foi de 50 itens. Essa tendência indica o
crescente interesse pela indexação e recuperação de imagens acompanhando o
avanço dos recursos tecnológicos.
27
Baseados em 100 documentos obtidos da Web of Science.
28
Parte da Física que estuda as leis relativas às radiações luminosas.
29
Publicações que constam no índice de citações do ISI - Institute for Scientific Information.
60
Buscar uma imagem desejada em uma coleção envolve a descrição de tipos de
objetos, cenas específicas ou mesmo algo que represente um sentimento ou
sensação. Ao se referirem às características das expressões de busca das
imagens, Eakins e Graham dizem que potencialmente as imagens têm muitos
tipos de atributos que podem ser usados na recuperação, tais como:
­
a presença de uma combinação específica de atributos de cor, textura ou
forma (bolas vermelhas, estrelas amarelas).
­
a presença ou a combinação de tipos específicos de objetos (cadeiras ao
redor de uma mesa, árvores e bancos).
­
a descrição de um tipo específico de evento (jogo de futebol, casamento).
­
a presença de personalidades, locais ou eventos identificados (a posse do
presidente Lula, a rainha Elizabeth saudando a multidão).
­
emoções subjetivas associadas à imagem (felicidade, medo).
Esses tipos de necessidade estão listados em ordem crescente de nível de
abstração, e cada um deles vai se tornando mais difícil de ser adequadamente
respondido por um sistema que adota o processo de indexação e recuperação
automatizadas. Tendo como base as formulações de busca acima, Eakins e
Graham classificaram as propriedades da imagem analisadas na indexação por
conteúdo em três níveis crescentes de complexidade:
­
nível 1: que compreende a indexação e recuperação pelos atributos primários
como a cor, forma, textura e posição espacial dos elementos da imagem.
­
nível 2: compreendendo a indexação e recuperação pelos atributos derivados
(ou lógicos) da imagem, como a identidade dos objetos mostrados.
­
nível 3: que compreende a indexação e recuperação pelos atributos abstratos,
como os significados das cenas representadas.
Segundo Eakins e Graham são ainda raras as pesquisas envolvendo o nível 3
para a representação imagética pela indexação por conteúdo. Um exemplo
61
apontado pelos autores é a tentativa de usar o sentido subjetivo das cores, na
qual a presença predominante de uma cor ou alguma combinação específica de
cores possibilita a recuperação de imagens que evocam alguma intenção
particular. Esse tipo de indexação ainda não teve sua eficácia comprovada.
Em relação ao nível 2, de acordo como os mesmos autores, já existem alguns
estudos mais concretos e promissores. O primeiro sistema que contemplava esse
tipo de representação era destinado a interpretar e recuperar desenhos de
objetos elaborados com traços (linhas) dentro de um domínio muito limitado.
Recentes pesquisas têm se concentrado na resolução de dois problemas: o
reconhecimento do cenário de ação da imagem, útil na busca e na identificação
de objetos presentes na imagem; e o reconhecimento de objetos. Já existem
softwares capazes de reconhecer, em uma imagem, corpos humanos, árvores,
animais etc.
Atualmente a grande maioria dos estudos da técnica da indexação por conteúdo
está relacionada ao primeiro nível, adotando um principio totalmente diferente da
indexação por conceito: a indexação e recuperação de imagens de uma coleção
são feitas pela comparação de atributos automaticamente extraídos das imagens,
usando como parâmetro de comparação medidas matemáticas de cor, textura ou
forma. Enquanto a indexação por conceito usa, para a representação da imagem,
principalmente os atributos temáticos, a técnica de indexação por conteúdo tem
empregado com eficácia, até o presente momento, os atributos primários, que
são as características inerentes da imagem.
Enquanto na indexação por conceitos a decisão na escolha dos atributos a serem
considerados para a representação da imagem é um dos principais problemas do
profissional da informação, na indexação baseada no conteúdo da imagem esses
aspectos são escolhidos pela capacidade do programa em extrair as informações
pelo processamento da imagem, e de fazer a combinação entre o atributo e o
campo de ação da imagem (por exemplo, forma e logotipos; textura e imagens de
radiologia). Cabe ao documentalista, nesta técnica de indexação, determinar e
nomear os atributos para que o programa possa recuperar as imagens com os
padrões solicitados.
62
”A
indexação
por
conteúdo
é
um
sistema
baseado
na
representação automática de atributos visuais intrínsecos das
imagens (texturas, qualidades de cor, figuras obtidas a partir da
identificação de contornos, estruturas de composição etc.) e na
recuperação a partir dos mesmos atributos. Para a recuperação,
empregam-se índices visuais, que representam matematicamente
a totalidade ou parte dos atributos identificados anteriormente nas
imagens previamente digitalizadas” (MOREIRO GONZÁLEZ e
ROBLEDANO ARILLO, p. 83-84).
A técnica de indexação por conteúdo é ainda, de acordo com Graham (p. 25)
muito limitada, embora o seu potencial futuro seja enorme; e tem tido, por
enquanto, um impacto muito pequeno na maioria das coleções de imagens. Por
ser aplicada somente em imagens digitalizadas, é ainda utilizada somente em
algumas áreas altamente especializadas.
A proposta da indexação por conteúdo aborda o processamento automatizado de
todas as propriedades da imagem, mas tem trabalhado basicamente somente
com os atributos primários como a cor, a textura e a forma, devido à incapacidade
tecnológica dos computadores, até o momento, em desempenhar a análise
descritiva e interpretativa de imagens. De acordo com CHU (p. 1018) algumas
pesquisas de indexação por conteúdo estão tentando incorporar informações
textuais e semânticas aos atributos visuais da imagem, significando um promissor
início da integração entre as duas técnicas de indexação.
É interessante comentar uma das conclusões do estudo do comportamento de
usuários de imagens efetuado por Greisdorf e O’Connor (p.18). Um grupo de
usuários foi convidado a analisar algumas imagens para identificação dos seus
atributos, num primeiro momento a partir de uma lista pré-estabelecida e
posteriormente de forma espontânea. Os atributos primários (cor, forma e textura)
somente foram escolhidos para representar uma imagem quando os usuários
selecionaram os termos da lista imposta. Quando os usuários usaram seus
próprios termos na descrição, esses atributos não foram usados. Os termos
espontâneos associados à ação e ao movimento também não foram usados de
maneira significativa, embora tenham sido escolhidos da lista imposta. Os termos
63
predominantes na descrição de imagens foram os associados ao objeto, ao local
e aos sentimentos e emoções.
6.1 Atributos da imagem para indexação
Os principais focos da indexação por conteúdo são a maneira de extração dos
atributos das imagens e a avaliação da medida de similaridade entre esses
atributos. Será feita uma breve apresentação30 dos atributos que até o momento
têm apresentado resultados satisfatórios na indexação e recuperação das
informações contidas em imagens. YANG (p. 256) observa, em resumo, que os
atributos cromáticos e de textura mostram melhores resultados em coleções de
imagens genéricas, não especializadas, enquanto os atributos de forma são mais
eficazes em imagens criadas por gráficos de computador (informações
representadas graficamente por computador) e os atributos de estrutura (arranjo,
disposição) funcionam melhor com objetos construídos pelo homem, como
edifícios e pontes.
▪ Cor. Existem diversos métodos para a indexação e recuperação de imagens
baseados na similaridade das cores, a maior parte com o mesmo princípio. A
imagem é submetida a uma análise na qual é obtido o seu histograma de
cor31, indicando a proporção de pixels de cada cor contida na imagem. Este
histograma de cor é então armazenado em uma base de dados. No momento
da busca o usuário pode especificar a proporção desejada de cada cor ou
apresentar um exemplo de imagem da qual é calculado o histograma de cor
para a busca; por um processo de associação são recuperadas imagens cujos
histogramas de cor equiparam-se ao da consulta (pode ser definido um índice
de proximidade desejado).
▪ Textura. Embora o conceito de textura de uma imagem seja de difícil
compreensão, pode-se descrevê-la como a característica de distribuição das
cores e de suas intensidades em uma superfície, identificada como padrões
visuais com propriedades de homogeneidade. Em fotos de uma zebra e de
Baseada em Eakins e Graham; Enser (2000, p. 202-203); Rasmussen (p. 184); Yang (p. 256257).
30
31
Determina a distribuição das cores em uma imagem, região ou objeto.
64
um dálmata podemos obter histogramas de cor bastante próximos, mas
diferentes padrões de textura.
As propriedades de textura mais significativas consideradas para a indexação e
recuperação são a direcionalidade ou a aleatoriedade de sua distribuição, o
contraste e a rugosidade. Várias técnicas têm sido usadas para mensurar as
semelhanças de textura, e a mais comum baseia-se na comparação entre os
desejados com os das imagens da coleção. A consulta por textura pode ser
formulada pela seleção de exemplos de texturas desejadas em uma paleta, ou
fornecendo um exemplo de imagem; o sistema, então, recupera as imagens com
valores de textura próximos ao valor solicitado. Neste caso pode-se também
definir um índice de proximidade entre essas medidas.
▪ Forma. A forma pode ser definida em termos de limites (o perímetro externo
de uma figura) ou de regiões (o conjunto da área de cobertura de uma figura);
é, ao contrário da textura, um conceito mais bem definido e mais facilmente
compreensível. A capacidade de recuperação pela forma dos objetos talvez
seja o requisito mais evidente, dentre os atributos primários, na indexação e
recuperação por conteúdo.
Pelo processo são computadas as características de forma para cada objeto
identificado na imagem; a expressão de busca é formulada por meio de um grupo
dessas características desejadas, e são recuperadas, por comparação, as
imagens cujas características mais se aproximam das solicitadas.
Sérios problemas ainda são encontrados na indexação e recuperação pelo
atributo de forma, como a dificuldade na dissociação entre o primeiro e o segundo
plano da imagem e a dificuldade em mensurar o percentual de similaridade entre
o valor de busca e os valores das imagens do acervo, pelas discrepâncias de
rotação, translação, escala e ocultamento de parte do objeto – todos restringindo
uma recuperação eficaz.
▪ Estrutura espacial. Possibilita ao usuário efetuar uma busca, especificando
as relações espaciais entre dois ou mais objetos desejados em uma imagem.
Geralmente é permitido indicar o direcionamento dessas relações, como o de
proximidade ou sobreposição entre os objetos, ou quando um objeto deve
estar contido em um outro.
65
▪ Texto. Foram criados sistemas que detectam, extraem e reconhecem textos
presentes em uma imagem. Os textos podem ser parte importante da
imagem, transmitindo uma informação que pode ser conveniente recuperar,
como um letreiro, uma inscrição, o título ou a manchete de um jornal, o título
de um livro.
6.2 Softwares
Devido às dificuldades no reconhecimento automatizado dos objetos, as
informações extraídas de uma imagem, pelo uso da indexação por conteúdo,
correspondem ainda ao primeiro nível das propriedades da imagem, ou seja, os
atributos primários como a cor, forma, textura, estrutura e suas combinações.
Serão apontados, abaixo, os principais softwares citados na bibliografia sobre a
indexação por conteúdo (EAKINS e GRAHAM; RASMUSSEN, p. 185-187; YANG,
p. 255-256), não sendo finalidade deste item discorrer sobre detalhes técnicos
desses sistemas.
Apesar das deficiências da tecnologia de indexação e recuperação por conteúdo,
já existem alguns sistemas distribuídos comercialmente. O mais conhecido deles
é QBIC – Query By Image Content. É um sistema desenvolvido pela IBM que
proporciona a recuperação de imagens por qualquer combinação de cor, textura
ou forma, como também a opção de indexação e recuperação por palavraschave. O sistema extrai e armazena os atributos de cada imagem acrescentada
ao banco de dados; e a consulta pode ser formulada pela seleção, em uma
paleta, dos atributos desejados ou especificando um exemplo de imagem, ou
fornecendo um esboço da forma.
Outros sistemas comerciais com funcionalidades similares são o Virage e o
Excalibur. Suas aplicações mais conhecidas são a utilização como buscadores,
respectivamente no AltaVista’s Photo Finder e no Yahoo! Image Surfer,
possibilitando a recuperação por conteúdo de imagens na WorldWideWeb.
Além desses sistemas comerciais, um grande número de sistemas experimentais
também tem sido desenvolvido, principalmente por instituições acadêmicas, a fim
66
de
demonstrar
a
viabilidade
dessas
novas
técnicas.
Esses
sistemas
experimentais pesquisam a implementação da indexação e recuperação das
imagens por conteúdo, considerando também os atributos lógicos da imagem (a
identidade dos objetos mostrados) e os atributos abstratos. Os mais conhecidos
são o Photobook, desenvolvido pelo Instituo Tecnológico do Massachusetts; o
NATRA, desenvolvido pela Universidade da Califórnia; o Visual SEEk, da
Universidade de Columbia; o Cypress, projeto da Universidade de Berkley; o
MARS (Multimedia Analysis and Retrieval System), projeto da Universidade de
Illinois; Surfimage, projeto francês desenvolvido pelo Institut National de
Recherche en informatique et en automatique.
6.3 Áreas de aplicação
Existe atualmente um grande número de possibilidades de aplicação prática da
indexação e recuperação por conteúdo, a maioria delas ainda restritas a coleções
específicas de imagens, principalmente nas áreas científica e comercial. Outra
aplicação dessa técnica de indexação tem sido em acervos gerais muito grandes,
onde seria impraticável fazer uma boa representação pela indexação por
conceito.
Serão destacadas, em seguida, as áreas e aplicações que têm apresentado os
melhores resultados no uso da técnica de indexação e recuperação por conteúdo,
de acordo com Eakins e Graham:
▪ Policial. Usado para reconhecimento e identificação de um suspeito pela
comparação de suas características com as da coleção de fotos de
criminosos, impressões digitais, pegadas etc.
▪ Militar. Reconhecimento de aeronaves em telas de radar, identificação de
alvos por imagens de satélite e fornecimento de orientações para projéteis
teleguiados são alguns exemplos.
▪ Propriedade intelectual. Usado na verificação da pré-existência de conteúdo
gráfico (símbolo) de uma nova marca no momento do registro. A proteção dos
direitos autorais sobre uma imagem é também, potencialmente, uma
67
importante área de aplicação. Defender os direitos autorais quando as
imagens podem ser facilmente transmitidas e copiadas pela internet é uma
tarefa com crescente dificuldade. Estão em avançados estágios de
desenvolvimento protótipos de sistemas, baseados nas técnicas de indexação
por conteúdo, para a identificação de cópias ilegais de imagens da Web.
▪ Engenharia e arquitetura. Tanto os projetos de engenharia como os de
arquitetura compartilham um grande número de aspectos em comum, como
modelos em duas ou três dimensões e a necessidade de apresentar diversas
soluções para um problema do cliente entre tantas outras. A técnica é usada
na pesquisa de projetos anteriores que são, de alguma maneira, similares, e
que possam ser adequados ao problema atual.
▪ Jornalismo e publicidade. Tanto os jornais quanto as agências de
publicidade mantêm arquivos de fotografias para ilustrar seus artigos ou peças
publicitárias;
geralmente
arquivos
muito
grandes
e
de
manutenção
extremamente dispendiosa, se indexados pelo uso de palavras-chave. Esta
área de aplicação é provavelmente uma das pioneiras no uso da tecnologia da
indexação por conceito, e no início acreditava-se que essa técnica
solucionaria os problemas da indexação e recuperação das imagens desses
arquivos, eliminando-se, ou reduzindo-se substancialmente a necessidade de
indexação por palavras-chave. Essa premissa inicial não se realizou, e
atualmente algumas agências usam um sistema híbrido de indexação, aliando
as duas técnicas.
▪ Medicina. A crescente dependência da medicina moderna nas técnicas de
diagnóstico como a radiologia e a tomografia computadorizada tem resultado
em uma explosão do número e da importância dessas imagens arquivadas
em hospitais e consultórios. Embora a principal utilidade de um sistema de
imagens para a área médica ainda seja a recuperação de imagens relativas a
um determinado paciente, o uso de técnicas de indexação e recuperação por
conteúdo tem sido incrementado no auxílio do diagnóstico pela identificação
de casos similares.
▪ Sistemas de informação geográfica e cartográfica. O interesse na análise
de imagens de satélite tem permeado múltiplas áreas de interesse além da
68
militar;
geógrafos,
agricultores
e
ambientalistas,
entre
outros,
usam
amplamente essas imagens tanto em pesquisas, quanto para finalidades
práticas.
▪ Pesquisa na Web. A Web tem se tornado uma fonte indispensável de
informação e entretenimento, com crescente necessidade de efetiva
localização tanto de documentos textuais quanto de imagens. Os mecanismos
de busca textual aperfeiçoaram-se com a expansão do uso da Web, mas a
dificuldade ainda existente na localização precisa de imagens indica a
necessidade de ferramentas poderosas e específicas para esse tipo de busca.
Têm sido apresentados alguns sistemas experimentais que usam agentes
remotos para indexar e procurar imagens, as quais podem ser pesquisadas
por palavras-chave ou por similaridade de conteúdo; esses sistemas
proporcionam facilidade no refinamento da resposta obtida. Como já foi
mencionado anteriormente, dois mecanismos de busca na Web oferecem a
busca de imagens pela técnica de indexação e recuperação por conteúdo,
Yahoo! Image Surfer e AltaVista’s Photo Finder – esses sistemas oferecem
uma gama mais limitada de recursos do que os sistemas experimentais
mencionados anteriormente, mas oferecem aos usuários um método opcional
de localização das imagens desejadas.
69
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aspecto fundamental para que se possa fazer uma boa representação
documentária da imagem objetivando sua recuperação, que é a finalidade do
tratamento documentário de qualquer tipo de informação, é o reconhecimento de
que indexar imagens é diferente de indexar documentos textuais.
A principal questão na representação de imagens é a determinação de um
conjunto de características que possa proporcionar uma boa performance na
indexação para uma adequada recuperação. Trabalhar com imagens implica
trabalhar com mais detalhes e principalmente, com informações menos
evidentes, além de demandar conhecimento das necessidades dos usuários e de
suas estratégias de busca.
Encontramos na literatura as técnicas de indexação por conceito e indexação por
conteúdo, ambas com o mesmo objetivo: a recuperação da informação imagética.
Verificamos que essas técnicas se prestam, até o momento, para usos e tipos de
acervos diferentes. Percebemos também que uma tendência apontada por
diversos dos autores que trabalham com o assunto, tanto os da área de
documentação quanto os da área de computação, é o uso combinado dessas
técnicas. Dessa forma a indexação é feita pela atribuição de termos e pela
derivação automatizada das características inerentes à imagem, como a cor, a
forma, a textura ou algumas outras que estão sendo pesquisadas.
A indexação por conteúdo tira a responsabilidade da representação da imagem
do documentalista, pois ela é executada de maneira automatizada. A
incumbência do profissional da informação seria a escolha do software mais
adequado à coleção e ao público, além da introdução, no programa, dos
parâmetros para a comparação com as imagens. Ainda está um pouco distante a
utilização em massa desse tipo de indexação, principalmente no Brasil; e essa
70
técnica de indexação ainda é restrita a coleções bastante especializadas e com
volume de imagens relativamente pequeno.
Nas pesquisas relacionadas a esses sistemas de indexação e recuperação podese notar a presença de duas preocupações fundamentais: a rapidez e a
eficiência. Esses elementos seriam capazes de suprir uma demanda cada vez
maior por imagens, e é com este objetivo que os sistemas vêm evoluindo e
técnicas têm sido desenvolvidas para melhor integrarem as características visuais
das imagens.
Até o momento existe uma grande lacuna entre a habilidade computacional em
analisar imagens pelas suas características (cor, textura, forma) e a inabilidade
em
analisá-las
num
nível semântico
(objetos,
pessoas,
cenas,
ações,
sentimentos, emoções etc.). O avanço na tecnologia de recursos visuais talvez
um dia preencha esta lacuna melhorando os sistemas já existentes ou criando
novas abordagens.
A questão da indexação por conceito é a que está mais próxima de nossa
realidade. A adoção dessa técnica de indexação requer cuidados especiais na
manutenção da consistência da coleção, como pessoal bem treinado, a
familiarização com o público, o uso rigoroso de controle vocabular, o
estabelecimento de política de nível de indexação, o desenvolvimento de
recursos para orientar o indexador e os usuários nos vários aspectos dos
assuntos e a avaliação de resultados.
Na decisão do nível de análise e categorias de descrição da imagem, a primeira
ponderação é a natureza e o uso da coleção – a adequação da representação da
coleção ao seu público. Coleções destinadas a um uso específico devem ser
indexadas de acordo com os assuntos de interesse; e no caso de coleções
genéricas, deve ser considerado o assunto principal da imagem, que não é tão
simples de ser identificado.
Respeitando a natureza e o uso da coleção, a representação da imagem
presume a identificação das categorias QUEM, ONDE, QUANDO e O QUE,
relacionadas aos níveis DE genérico, DE específico e SOBRE.
71
Outro aspecto importante na indexação por conceito seria a valorização do uso
dos elementos de expressão fotográfica na indexação de imagens, incluindo aos
termos de assunto os conceitos relacionados aos efeitos produzidos no momento
da geração da imagem ou durante o processo de revelação e cópia.
Considero a expressão fotográfica um importante elemento de busca e de
filtragem. Se desejo encontrar, em uma coleção de imagens, uma árvore vista de
baixo posso formular a seguinte expressão de busca: [ÁRVORE e CÂMERA
BAIXA], recuperando somente esse tipo de imagem e eliminando todos os outros
tipos de árvores. Se desejar a imagem do rosto de uma mulher, mas quero que
os traços dela estejam nítidos, ou seja, não quero imagens obtidas em contra-luz,
a expressão de busca poderia ser: [RETRATO e MULHER menos CONTRA-LUZ
menos ALTO-CONTRASTE], eliminando todos os retratos de mulheres feitos
contra a luz ou produzidos em alto-contraste – um menor número de imagens
recuperadas facilita a seleção daquela idealizada. Além do menor tempo
despendido na seleção, a recuperação de um menor número de imagens
também ajuda na preservação do acervo por evitar o manuseio desnecessário,
quando se trata de coleções com imagens em suporte papel.
Fazendo uma comparação entre as duas técnicas, a indexação por conceito pode
controlar
e
manipular
várias
propriedades
da
imagem,
identificando
e
descrevendo as imagens e objetos nela contidos em termos que simbolizam o
que são e o que representam. Por outro lado, alguns atributos primários, como a
forma de uma escultura, a impressão digital ou a aparência de uma doença em
uma ultra-sonografia, podem ser mais facilmente identificados pela indexação por
conteúdo; e talvez fosse uma tarefa impraticável a recuperação pela descrição
textual. Cada uma das técnicas de indexação tem o seu espaço de aplicação e
sua potencialidade na indexação e recuperação de imagens.
A conjunção das duas técnicas de indexação deverá, num futuro, fazer parte da
pesquisa e aplicação prática nas áreas da Ciência da Informação e Computação.
72
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