Beatriz Finkielsztejn Sistemas Modulares Têxteis - NIMA - PUC-Rio

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Beatriz Finkielsztejn Sistemas Modulares Têxteis - NIMA - PUC-Rio
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Beatriz Finkielsztejn
Sistemas Modulares Têxteis como
aproveitamento de fibras naturais
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA
Uma alternativa sustentável em Arquitetura & Design
Dissertação de Mestrado
Dissertação apresentada como requisito parcial
para obtenção do título de Mestre pelo Programa
de Pós-Graduação em Artes da PUC-Rio.
Orientador: Prof. José Luiz Mendes Ripper
Rio de Janeiro
Agosto de 2006
Beatriz Finkielsztejn
Sistemas Modulares Têxteis como aproveitamento de
fibras naturais
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA
Uma alternativa sustentável em Arquitetura & Design
Dissertação apresentada como requisito parcial para
obtenção do título de Mestre pelo Programa de PósGraduação em Artes da PUC-Rio. Aprovada pela
Comissão Examinadora abaixo assinada.
________________________________________
Prof. Dr. José Luiz Mendes Ripper
Presidente/ Orientador - PUC-Rio
________________________________________
Prof. Dr. Armando Martins de Barros
Membro - UFF
________________________________________
Prof. Dr. Luis Eustáquio Moreira
Membro - UFMG
________________________________________
Prof. Dr. Paulo Fernando Carneiro de Andrade
Coordenador Setorial do Centro de
Teologia e Ciências Humanas - PUC-Rio
Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2006
Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução
total ou parcial do trabalho sem autorização da
Universidade, da autora e do orientador.
Beatriz Finkielsztejn
Graduou-se em Desenho Industrial (ESDI-UERJ) em
1986. Graduou-se em Design Têxtil (SHENKAR, Israel)
em 1993. Pós-graduou-se em Gestão em Design Têxtil e
do Vestuário (SENAI-CETIQT), nível de especialização
em 1999.
Ficha Catalográfica
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA
Finkielsztejn, Beatriz
Sistemas
modulares
têxteis
como
aproveitamento de fibras naturais: uma alternativa
sustentável em arquitetura & design / Beatriz
Finkielsztejn ; orientador: José Luiz Mendes Ripper. –
2006.
172 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Artes e Design)–
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio
de Janeiro, 2006.
Inclui bibliografia
1. Artes – Teses. 2. Sistemas modulares
têxteis. 3. Fibras naturais. 4. Tecnologias artesanais
têxteis. 5. Sustentabilidade. 6. Natureza. 7. Impactos. 8.
Arquitetura têxtil. I. Ripper, José Luiz Mendes. II.
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
Departamento de Artes e Design. III. Título.
CDD: 700
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À Nícolas, Rosali, David (In Memorian), e Dedé,
por tudo...
Agradecimentos
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Ao meu orientador, José Luiz Mendes Ripper, pela oportunidade,
compreensão e, principalmente, pela sensibilidade e percepção
humanista que tanto me ensinaram.
Ao Projeto Coco Verde, O Casulo Feliz, Companhia Têxtil de
Castanhal, Natural Fashion, EMBRAPA, Maria Izabel B. Miranda,
Viviane G. Ribas e Fernanda Giannasi, pelos esclarecimentos e
importantes contribuições, sem os quais este trabalho não poderia ter
sido realizado.
À minha mãe e irmã, pelo apoio incondicional.
À equipe do LILD, pelo entusiasmo contagiante e parceria.
A todos os professores do mestrado, pelas contribuições que tornaram
esta dissertação uma realidade.
Aos amigos Helga, Lygia e Marcelo Fonseca, por me acompanharem
nesta caminhada.
A todos os amigos e familiares, pela paciência, compreensão e carinho,
sem dúvida imensuráveis.
Resumo
Finkielsztejn, Beatriz; Ripper, José Luiz Mendes (Orientador). Sistemas
Modulares Têxteis como aproveitamento de fibras naturais: uma
alternativa sustentável em Arquitetura & Design. Rio de Janeiro,
2006. 172p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Artes, Pontifícia
Universidade Católica do Rio de Janeiro.
O aproveitamento sustentável de fibras naturais na construção de
membranas estruturais arquitetônicas constitui a questão principal desta
dissertação. A conjugação entre os Sistemas Modulares Têxteis e o estudo das
interações entre as fibras naturais, tecnologias e o meio permite incorporar
técnicas artesanais têxteis e parâmetros ambientais de sustentabilidade às
estratégias de concepção e confecção de objetos de Arquitetura & Design.
Impactos ambientais e sociais percebidos, tecnologias artesanais e industriais de
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aproveitamento de fibras naturais e suas relações com o meio físico e social, e
as estratégias aprendidas na Natureza e reproduzidas através de experiências em
Arquitetura & Design, são aqui investigados. A metodologia experimental com
a realização de protótipos permitiu elaborar os princípios que fundamentaram
as bases dos Sistemas Modulares Têxteis. As investigações realizadas
contribuem para o aperfeiçoamento e adequação de tecnologias artesanais
têxteis e fibras naturais disponíveis e pouco padronizadas, adaptando-as a
diversos contextos através dos Sistemas Modulares Têxteis.
Palavras-chave
Artes; Sistemas Modulares Têxteis; Fibras Naturais; Tecnologias
artesanais têxteis; Sustentabilidade; Natureza; Impactos; Arquitetura Têxtil.
Abstract
Finkielsztejn, Beatriz; Ripper, José Luiz Mendes (Advisor). Textile
Modular Systems as natural fibers’ use - a sustainable alternative in
Architecture & Design. Rio de Janeiro, 2006. 172p. Msc. DissertationDepartamento de Artes & Design, Pontifícia Universidade Católica do
Rio de Janeiro.
The natural fibers’ sustainable use in architectonic structural membranes’
construction is the main question of this dissertation. The association between
the Textile Modular Systems and the inter-actions’ studies between natural
fibers, technologies, and environment, aloud to incorporate into conception and
manufacturing
strategies
of
Architecture
&
Design
objects’,
textile
craftsmanship technologies and sustainable environment parameters. Social and
environment footprints perceived, industrial and craftsmanship technologies of
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natural fibers uses, their relations to the social and material environment, and
the strategies learned from Nature and reproduced through experiences in
Architecture & Design, are investigated here. The consumation of the
Experimental Methodology through prototypes aloud to elaborates the
principles that conceived the basis of the Textile Modular Systems. The
investigations accomplished contribute to improve and adequate the textile
craftsmanship technologies and the available non-patterned natural fibers,
adapting them to several contexts through the Textile Modular Systems.
Keywords
Arts; Textile Modular Systems; Natural Fibers; Textile Craftsmanship
Technologies; Sustainability; Nature; Footprints; Textile Architecture.
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Sumário
Lista de Figuras e Ilustrações
Apresentação
9
18
Introdução
Estrutura do trabalho
21
24
1. Um Panorama dos impactos percebidos:
desperdícios da inadequação
1.1. Se tudo é construído, nada é construído
1.2. Conhecimentos em extinção
1.2.1. Quando o natural é mito
1.3. Arquitetura & Design e suas relações com a questão ambiental
25
28
35
44
52
2. Tecnologias de aproveitamento de fibras naturais: uma arqueologia
de "conhecimentos em extinção"
2.1. Inter-relações entre a "Sociedade da Palha" e as
"Sociedades Complexas"
2.2. Fibras naturais e tecnologias "(in)sustentáveis"
2.3. Fibras naturais: matéria e tecnologias
2.3.1. Cascas de árvore, "tapa", papel e feltro
2.3.2. Compósitos e Laminação
2.3.3. Fiação e cordoaria
2.3.4. Tecelagem e cestaria
57
59
68
76
81
87
91
97
3. Natureza, Arquitetura & Design
3.1. Exemplos Naturais
3.1.1. Invertebrados produtores de seda
3.1.2. Os vários "modos de tecer"
3.1.3. Utilização de fibras, papel e adobe
3.1.4. A natureza que produz cabos
3.2. Sistemas Modulares Têxteis: um "modo de fazer "
Arquitetura & Design"
3.2.1. Estudo de caso: princípios e protótipos experimentais
3.2.2. Conclusão dos experimentos
102
111
113
116
123
127
4. Considerações Finais
5. Referências Bibliográficas
6. Referências Eletrônicas
7. Anexos
142
146
153
157
129
131
138
Lista de Figuras e Ilustrações
Figura 1- Objetos e fragmentos plásticos encontrados no interior de um filhote de albatroz.
(http://www.hawaiianatolls.org/research/June2006/albatross_death.php) Foto: Claire Johnson/ NOAA.
Figura 2- Objetos e fragmentos plásticos encontrados no interior de um filhote de albatroz.
(http://www.mindfully.org/Plastic/Ocean/Albatross-Plastic-Ingestion1997.htm).
Figura 3 –Impactos ambientais percebidos: entulhos marinhos têm afetado mais de 86% das espécies de
tartarugas marinhas por ingestão, fome, sufocamento, infecção e estrangulamento.
(http://www.aventuranobrasilcostal.com.br/abc/ex_det.asp?id=44), e
(http://www.plasticdebris.org/bibliography.html). Foto: Auburn Zoo.
Figura 4 – “Pellets” de plásticos fotodegradados são ingeridos por diversas espécies.
(http://www.algalita.org/initiatives.html#forever).
Figura 5 – Ilhas hawaianas: 60 toneladas de redes e entulhos recolhidas por mergulhadores.
(http://www.mindfully.org/Plastic/Ocean/Honolulu-Cleanup22nov02.htm). Foto: National Marine Fisheries
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Service.
Figura 6 – Espécies ameaçadas por redes de pesca e entulhos.
(http://myfwc.com/mrrp/photogallery/entanglement.htm)
Figura 7 – Impactos ambientais e sociais percebidos: crianças recolhem resíduos no
Porto da Baía de Manila, Filipinas. (http://marine-litter.gpa.unep.org/courtesy.htm).
Figura 8 – Impactos ambientais percebidos: danos à fauna.
(http://myfwc.com/mrrp/images2/team/turtleflipper_turtletime.JPG).
Figura 9 – Lídia, índia guarani, adapta a falta de pigmentos naturais através da utilização de anilina
industrializada na confecção de artefatos. Paratimirim. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 10 - Utilização de anilina industrializada. Paratimirim. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 11 - O quintal: o local onde Lídia realiza o tingimento das fibras para cestaria.
Paratimirim. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 12 – Impactos sociais percebidos: acidentes na máquina de desfibramento do sisal, a “periquita”.
Atualmente já é possível encontrar adaptações nestas máquinas, evitando acidentes.
(http://users.skydome.net/egphotos/SI024.htm). Foto: Emílio Gomes.
Figura 13 – Impactos sociais percebidos: trabalho infantil na produção de sisal.
(http://www.tvcultura.com.br/caminhos/11sisal/sisal2.htm). Foto: Valdir Rodrigues.
Figura 14 – Fibras de amianto ao microscópio eletrônico. http://www.abrea.com.br/02amianto.htm).
Figura 15 – D. Madalena ensina cestaria à sua comunidade a seu próprio “modo”.
RIBAS e RIBAS, 1983/84: 32.
Figura 16 – Ilha de totora amarela. A totora amarela é uma espécie de junco, esponjosa e mais apropriada à
confecção da casas e barcos que a totora verde. Lago Titicaca, Bolívia/ Peru.
(http://www.arqueologiamericana.com.br/titicaca/diario/diario_02.htm).
Figura 17 – A fibra de totora amarela é parte integrante das comunidades do lago Titicaca. Um barco de
totora amarela pode chegar a durar cerca de 1 ano na água. Foto: Claúdia e João.
(http://www.cwb.matrix.com.br/sensus/Bolivia-Peru.htm).
Figura 18 – A totora amarela é mais apropriada à confecção da casas e barcos que a totora verde.
(http://www.arqueologiamericana.com.br/titicaca/diario/diario_02.htm).
Figura 19 – Prensas de mandioca. Paraty. RIBAS e RIBAS: 1883/84: 30.
Figura 20 – Tipiti kayapó, o tipiti de torção, possui a forma de saco de palha entrançada. Há tribos que
utilizam esteiras planas para prensa manual. Foto:FERNANDES: 1964: 27.
10
Figura 21– – Tipiti-ceira, antes do uso. No caso das ceiras portuguesas, são trançadas de forma circular
para a extração do azeite. Foto: FERNANDES: 1964: 23.
Figura 22– Tipiti-ceira, após o uso. FERNANDES: 1964: 23.
Figura 23– Tipiti-cilíndrico, antes e durante o uso.O tipiti dos tupinambás e de outras tribos tupis-guaranis
têm forma cilíndrica. Foto: FERNANDES: 1964: 15.
Figura 24 – Energia humana empregada por intermédio de alavanca. FERNANDES, 1964: 10.
Figura 25 – Colheita do capim-dourado (TO). Foto: Rui Faquini.
(http://www.faquini.com.br/catalogos/agronegocio/pages/0409_0230_p.htm).
Figura 26– Capim-dourado, família da sempre-viva. (http://www.brasiloeste.com.br/fotos_galerias/248.jpg)
Foto: Fernando Zarur.
Figura 27 – Artesanato feito com capim-dourado, planta nativa do cerrado.
Foto de Tharson Lopes. (http://www.rfi.fr/actubr/images/068/tocantins_vasos220.jpg).
Figura 28 – Coleção Mãe da Mata utiliza a fibra de tururi de forma sustentável na moda. Foto: Viviane
Gaspar Ribas e Maria Izabel B. Miranda (arquivo pessoal).
Figura 29 – Fibra de Tururi.
(http://www.illustratedgarden.org/mobot/rarebooks/page.asp?relation=QK495F21M34182350V2&identifier=0
378).
Figura 30 – Algodão Giza, vista longitudinal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:89.
Figura 31 – Algodão Giza, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:89.
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Figura 32 – Cânhamo, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:88.
Figura 33 – Juta, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:88.
Figura 34 – Sisal, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:91.
Figura 35 – Linho, vista transversal, 1440 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:87.
Figura 36 – Lã churra (Portugal), vista longitudinal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO,
1986:81.
Figura 37 – Lã Churra (Portugal), seção transversal, 640 ampliações. Notar a grande medula. ARAÚJO e
MELO E CASTRO, 1986:81.
Figura 38 – Seda, vista longitudinal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:85.
Figura 39 – Seda, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:85.
Figura 40 – Preparação para obtenção da fibra de bananeira. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 41 – Desfibramento de fibra de bananeira. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 42 – Palha de fibra de bananeira. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 43 – Devastação: buriti queimado.
(http://www.eco.tur.br/ecoguias/jalapao/fotos/problemas/buritiqueimado.jpg).
Figura 44 – Destruição de campo úmido: solo compactado.
(http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.eco.tur.br/ecoguias/jalapao/fotos/problemas/soloco
mpactado.jpg).
Figura 45 – Indígena desfibrando buriti para confecção de artefatos. RIBEIRO, 1988:Prancha V.
Figura 46 – Indígena fiando buriti. RIBEIRO, 1988:Prancha V.
Figura 47 – Confecção de papel artesanal. A polpa de fibras em suspensão em meio líqüido secam ao ar
livre, Magdi, Nepal. THACKERAY, 1997: 7.
Figura 48 – Método oriental, utilizando esteiras de bambu e posterior prensagem. THACKERAY, 1997: 14.
Figura 49 – Vespas polistes: mastigação de madeira para a produção de ninhos de “papel’. Observações de
Ferchault induziram à produção de papel a partir da polpa de madeira. Foto:
(http://www.hiltonpond.org/ThisWeek040708.html). Bill Hilton Jr.
Figura 50 – Hymenoptera Vespidae. Ninho para abrigar a prole e seda para vedar as células de matéria
semelhante ao papel. Foto: Elmar Billig.
(http://www.hornissenschutz.de/drbillig2/wespstad.jpg).
Figura 51 – Ninho de Polistes annularis. Notar os ovos nas células. Foto: Bill Hilton Jr.
(http://www.hiltonpond.org/ThisWeek040708.html).
11
Figura 52 – Máquina Fourdrinier (1905). Cópia (1905) em atividade do protótipo (1803) construído pelos
irmãos Fourdrinier. THACKERAY, 1997: 10.
Figura 53 – Estrutura da fibra de lã. EVERS, 1987: 8.
Figura 54 – Reciclagem de papel em escala. THACKERAY, 1997: 23.
Figura 55 – Material laminado: lâminas empilhadas dispostas em direções diferentes. HORROCKS e
ANAND, 2000:268.
Figura 56 – Vale da Ribeira: utilização de resíduos da bananicultura na confecção de fios e palha para
artefatos. Na região também são confeccionados painéis laminados com resíduos de fibras de bananeira.
Foto: Izabel Leão. (http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2000/jusp514/manchet/rep_res/rep_int/especial1.html).
Figura 57 – Desenho de um laminador, Leonardo Da Vinci. ZÖLLNER e NATHAN, 2005:184.
Figura 58 – Fusos indígenas. RIBEIRO, 1988: Prancha V.
Figura 59 – Fiando com fuso. LEROI-GOURHAN, 1984:187.
Figura 60 – Fusos diversos. BROWN, 2002: 228.
Figura 61 – Aperfeiçoamento do fuso por Leonardo Da Vinci. BROWN, 2002:233.
Figura 62 – Aperfeiçoamento do fuso, por Jürgen. BROWN, 2002: 233.
Figura 63 – Cabo de massa. FONSECA, 1960: 311.
Figura 64 – Cabo com três cordas de torção “S”. RIBEIRO, 1988: 104.
Figura 65 – Aparelho de manivela com diferentes manípulos: três controlam a torção e um, a rotação.
LEROI-GOURHAN, 1984: 190.
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Figura 66 – Tear de tranças ocas. LEROI-GOURHAN, 1984: 191.
Figura 67 – Seqüência para confecção de cadarço. SAHASHI, 1988: 59.
Figura 68 – Seqüência para confecção de cadarço. SAHASHI, 1988: 61.
Figura 69 – Seqüência para confecção de cadarço. SAHASHI, 1988: 61.
Figura 70 – Seqüência para confecção de cadarço. SAHASHI, 1988: 61.
Figura 71 – Roda para fabricação de cordas. LEROI-GOURHAN, 1984:189.
Figura 72 – “Warp-twining”: hastes torcidas. EMERY, 1994:197.
Figura 73 – Hastes torcidas: três elementos atuam como hastes: cada um dos elementos que compõem as
hastes sobrepõe os montantes em progressão. EMERY, 1994:199.
Figura 74 – Cestaria de hastes cordadas (torcidas): mantém os montantes rígidos a distâncias constantes
ou reúne montantes flexíveis; as hastes são torcidas e bem espaçadas. LEROI-GOURHAN, 1984:201.
Figura 75 – Espiral de camadas sobrepostas. Duas camadas cruzadas sem entrelaçamento, mas sim
sobrepostas, são reunidas por um terceiro elemento. LEROI-GOURHAN, 1984:198.
Figura 76 – Cestaria de haste espiralada: elemento móvel roda em espiral sobre os elementos fixos. LEROIGOURHAN, 1984:198.
Figura 77 – Espiral de hastes cordadas. LEROI-GOURHAN, 1984:201.
Figura 78 – Espiral de hastes tecidas. LEROI-GOURHAN, 1984:201.
Figura 79 – Técnica de acoplamento (linking). EMERY, 1994:53. O acoplamento forma uma conexão
elástica por meio de fio contínuo de extensão ilimitada e um tear (dispositivo de sustentação). Definição de
RIBEIRO (1988:89-90).
Figura 80 – Construção de rede indígena por acoplamento. RIBEIRO, 1988:100.
Figura 81 – Bordado nas mangas de vestuário encontrado em Skrydstrup na Borum Eshöj. Detalhe. Idade
do Bronze. Fotos: Museu Nacional, Copenhagen. BOUCHER (1987:21).
Figura 82 – O artesanato da renda localiza-se nas proximidades costeiras e ribeirinhas.
SANTANA, 2002: 144.
Figura 83 – Rendeira confecciona telas que serão utilizadas na pesca. FUNARTE (1986:72).
Figura 84 – Artesã utiliza navete na confecção de rede ou malha para renda filé.
FUNARTE (1986:42).
Figura 85 – Renda de bilro: marcação dos desenhos. SANTANA, 2002: 166.
Figura 86 – Renda de bilro: marcação dos desenhos. SANTANA, 2002: 167.
Figura 87 – Labirinto de Beribéri. SANTANA, 2002: 154.
Figura 88 – Labirinto de Beribéri. SANTANA, 2002: 155.
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Figura 89 – Renda tenerife: tecimento radial com fixação em pinos.
A renda tenerife, semelhante à renda nhanduti, aparentemente foi originada nas Ilhas Canárias. Pinos são
inseridos em um bloco de madeira, raios são construídos e tecidos posteriormente com o auxílio de uma
agulha. LACEMAKING CENTRAL. (http://www.lace.lacefairy.com/).
Figura 90 – “Polka Spider”: grande similaridade à renda nhanduti (ñanduti) e à renda tenerife.
LACEMAKING CENTRAL. (http://www.lace.lacefairy.com/).
Figura 91 – “Em los prados”, Bad Soden Del Taurus, 1990-1993. Vista do pátio. Hundertwasser. RESTANY,
2003:52.
Figura 92 – “As cinco peles” de Hundertwasser. RESTANY, 2003:15.
Figura 93 – Centro Twrmal de Blumau, 1993-1997. RESTANY, 2003:54.
Figura 94 – Casa Hundertwasser, Viena, 1983-1986. RESTANY, 2003:47.
Figura 95 – “Kellum's grip”. Cordas de arame trançadas. Modelo semelhante ao tipiti.
(http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm).
Figura 96 – Diagonal Double Cross, 1971. Bambu preto e corda de nylon. 51.5 X 51.5 X 2 cm.
(http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm).
Figura 97 – “Circlespheres” e suas matrizes de estruturas espaciais: aqui os espaços entre os círculos são
polígonos côncavos: triângulos, quadrados, pentágonos ou hexágonos. Kenneth Snelson.
(http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm).
Figura 98 – Membranas estruturais de células endotélicas humanas. As conexões dos filamentos
encontrados nas estruturas triangulares assemelham-se a domus geodésicos, um exemplo de tensegrety.
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(http://spaceresearch.nasa.gov/general_info/19jun_cytoskeletons.html).
Figura 99 – Domus, Buckminster Füller. http://bfi.org/node/433.
Figura 100 – Domus de cartão, Buckminster Füller. (http://bfi.org/node/234).
Figura 101 – Instituto Leichtbau, Frei Otto. Stuttgart, Alemanha, 1967-1993. BAHAMÓN, 2004:11.
Figura 102 – Laboratório de Investigação, projeto de Samyn and Partners. Laboratório de investigação de
indústria química. Forma da estrutura têxtil ovalada, em um só volume, com membrana translúcida e
espelho d'água circundante por razões de segurança. Venafro, Itália, 1999. BAHAMÓN, 2004:26.
Figura 103 – Tenda tuaregue. Mastros externos formam pórtico e libertam o espaço interno. Niamey.
BAHAMÓN, 2004:17.
Figura 104 – Tenda beduína: sistema estrutural com mastros de madeira interiores e cabos atados a
pesadas rochas em função dos fortes ventos. Jerusalém/ Jericó, Israel. BAHAMÓN, 2004:33.
Figura 105 – Elementos de vedação da fachada de arranha-céu em Osaka, Japão. Painéis pré-fabricados
compostos por membranas e infra-estruturas triangulares. Arquiteto: Keizo Sataka. Cliente: Morique
Building Co. SCHOCK, 1997:69.
Figura 106 – Exemplos de Design Geodésico na Natureza. Synergetics 203.09. FÜLLER, 1982:25.
Figura 107 – Vespa polistes: seda para fechamento das células dos ninhos.
Figura 108 – Formigas tecelãs: formam pontes, subindo umas sobre as outras.
(http://super.canard.wc.free.fr/fourmiliere/images/Especes/Oecophylla/apercu/tiss1.jpg).
Figura 109 – Formigas tecelãs: pressionam suas larvas como bisnagas, expelindo a “seda” como adesivo.
(http://www.museum.vic.gov.au/bugs/images/resources/MN014730_554.jpg).
Figura 110 – Lesmas Limax maximus: corda de muco no primeiro estágio do acasalamento.
(http://www.buglife.org.uk/images/photos-per-page/bbc_undergrowth/bbc_invasion_of_the_land/limaxmaximus-2-(c)-Dragisa.jpg).
Figura 111 – Glândula produtora de seda em aranha. Produção de fio por aranha. DE VASCONCELOS
(2000:159).
Figura 112 – Fiandeira em equipamento industrial têxtil. Produção de fio pela indústria têxtil. DE
VASCONCELOS (2000:159).
Figura 113 – Arachnocampa luminosa: seda com gotículas adesivas.
(http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.photography.org.nz/gallery/natex/natHist_silverPrint
2.jpg&imgrefurl=http://www.photography.org.nz/natex.htm&h=201&w=283&sz=49&hl=ptBR&start=4&tbnid=_NbSZBXkP0BNM:&tbnh=78&tbnw=110&prev=/images%3Fq%3DArachnocampa%2Bluminosa%26ndsp%3D20
%26svnum%3D10%26hl%3Dpt-BR%26lr%3D%26sa%3DN).
13
Figura 114 – Arachnocampa luminosa: centenas de fios luminosos formam cortinas.
(http://www.bamjam.net/NewZealand/images/waitomo01.jpg).
Figura 115 – Arachnocampa luminosa: momento da captura de uma presa.
(http://www.glowworm.co.nz/gallery/images/sm-photo11.jpg).
Figura 116 – Armadilha de aranha-de-alçapão.
(http://www.usq.edu.au/spider/info/images/LycosidTrapdoor.jpg).
Figura 117 – Nephila: teia orbital.
Nephila senegalensis. Foto: Samuel Zschokke.
(http://www.conservation.unibas.ch/team/zschokke/pics/nephilaweb.gif).
Figura 118 – Hyptiotes paradoxous: teia triangular.
Foto: Samuel Zschokke. (http://www.conservation.unibas.ch/team/zschokke/index.html).
Figura 119 – Teia retangular da aranha Deinopis subrufa. Foto:
(http://www.geocities.com/brisbane_weavers/images/Deinop1.jpg).
Figura 120 – Lycosa sp. O ninho construído para abrigar os ovos é carregado no dorso.
(http://www.naturefg.com/images/c-animals/lycosa1.jpg). Foto: Dragiša Savić.
Figura 121 – Aranha boleadeira: fio resistente com gotícula pegajosa.
(http://www.scb.org.br/inspiracao/naturezaviva/imagens/23-1-b-aranhacara-de-ogro.jpg).
Figura 122 – Confecção de covo. RIBAS e RIBAS, 1983/84: 26.
Figura 123 – Capa de chuva de fibras. LEROI-GOURHAN, 1984:173.
Figura 124 – Balde de fibras. LEROI-GOURHAN, 1984:90.
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Figura 125 – Cruzamento de filamentos com identificação de eixos em movimento de hélice. Kenneth
Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm).
Figura 126 – Tela. Kenneth Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm).
Figura 127 – Semelhança entre trançado hexagonal reticular (RIBEIRO, 1988:67), quadriculado de três
elementos (LEROI-GOURHAN, 1984:198 e 200) e cestaria de três direções, “three-way weave” , Kenneth
Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm).
Figura 128 – Relação entre conexões tensegrety e cestaria. Kenneth Snelson.
(http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm).
Figura 129 – Bola de rattan em cestaria, com células de contornos triangulares, pentagonais e hexagonais,
Tailândia. Kenneth Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm).
Figura 130 – Ninho de formiga carpinteira com larva e pupa (Camponotus spp.). Constroem seus ninhos
escavando túneis em orifícios preexistentes na madeira. Foto: Terry Thormin.
(http://www.royalalbertamuseum.ca/natural/insects/bugsfaq/pics/img0002.jpg).
Figura 131 – Formiga carpinteira: local do ninho. Semelhante às construções vernáculas. Foto: R. Werner,
USDA Forest Service. (http://www.forestryimages.org/images/384x256/0805067.jpg).
Figura 132 – Notar a posição do ovo na célula.
(http://www.ivyhall.district96.k12.il.us/4th/kkhp/1insects/bugpix/3waspsmlNVel.JPEG).
Figura 133 – Eumenes. – Ninho de vespa poteira. Foto: Lynette Schimming.
(http://bugguide.net/images/raw/2R0H6RLHGRRH0R9L0RELFLOZ5RTL0ZOL6RVL4RDL0ZRHMZTLGRSH
7RELQZVL4RRHQZQHSZTLSZAL.jpg).
Figura 134 – Ponte suspensa de cipó. (http://www.cotedivoire.org.br/img/yacouba1.jpg).
Figura 135 – Cipó: crescimento em movimento helicoidal, em busca de luz.
(http://natureproducts.net/Forest_Products/Cutflowers/Liana%201.jpg).
Figura 136 – Crescimento em torno de suporte: garantia de sustentação.
(http://www.treemail.nl/kronendak/visscher/assets/photographs/photo%20lianas%20L/yana-ayahuasca1.jpg).
Figura 137 – Corda natural de liana, à esquerda, e corda artificial confeccionada pelo homem, à direita:
grande semelhança. Foto: Hingston, R.W.G. Major/NGS Image Collection. DE VASCONCELOS (2000:283).
Figura 138 – Cabo de arame descochado, mostrando a madre de linho. FONSECA, 1960:333.
Figura 139 – Cipós como vias de acesso para a fauna. (http://www.ecologia.info/best-coati.jpg).
Figura 140 – Estudos de superfície mínima. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
14
Figura 141 – Investigações preliminares. Materiais em infra-estrutura pentagonal. Modelo experimental.
Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 142 – Investigações preliminares. Tecimentos em infra-estrutura pentagonal. Modelo experimental.
Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 143 – Tecimento de rede pantográfica em bastidor retangular. Modelo experimental. Foto: Beatriz
Finkielsztejn.
Figura 144 – Investigação da disposição de feixes de fibras de juta: as fibras de juta são naturalmente
organizadas. Aqui , os feixes de fibras são dispostos lado a lado. Modelo experimental. Foto: Beatriz
Finkielsztejn.
Figura 145 – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado.
Utilização de técnicas de confecção da renda nhanduti. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 146 – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado.
Utilização de técnicas de confecção da renda nhanduti. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 147 – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado:
detalhe. Utilização de técnicas de confecção da renda nhanduti. Modelo experimental. Foto: Beatriz
Finkielsztejn.
Figura 148 – Preparação para confecção de manta com camadas sobrepostas. Investigações para
construção de cone planificado e disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela).
Utilização de técnica de bordado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
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Figura 149 – Arremate. Inserção dos fios cortados da área central da tela. Utilização de técnica de bordado.
Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Modelo
experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 150 – Detalhe do arremate. Fios inseridos na trama da tela. Investigação da disposição e fixação dos
feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de técnica de bordado. Modelo experimental.
Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 151 – Disposição radial de feixes de fibras para fixação dos feixes subseqüentes.
Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de
técnica de bordado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 152 – Manta bordada: reforço nos pontos submetidos a maiores esforços.
Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de
técnica de bordado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 153 – Manta bordada: feixes de fibras em vez de fios torcidos. Investigação da disposição e fixação
dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de técnica de bordado. Modelo
experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 154 – Nova seqüência: investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido
de juta (tela). Modelagem bordada de superfície cônica – Modelo de concepção e detalhe. LILD. Fotos:
Beatriz Finkielsztejn.
Figura 155 – Nova seqüência: simplificação dos procedimentos, reforço das linhas de resistência da forma e
menor acúmulo de matéria em pontos desnecessários. Investigação da disposição e fixação dos feixes de
fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Modelagem bordada de superfície cônica – Modelo de concepção e
detalhe. LILD. Fotos: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 156 – Nova seqüência: investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido
de juta (tela). Modelagem bordada de superfície cônica – Modelo de concepção e detalhe. LILD. Fotos:
Beatriz Finkielsztejn.
Figura 157 – Nova seqüência: bordado acompanha as linhas de resistência da forma.Investigação da
disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Modelagem bordada de
superfície cônica – Modelo de concepção e detalhe. LILD. Fotos: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 158 – Verificação das deformações de uma rede de trama ortogonal em superfície esférica - Modelo
experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 159 – Disposição de pontos de fixação para as redes de trama ortogonal. Modelo experimental.
LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
15
Figura 160 – Sobreposição de redes de trama ortogonal. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz
Finkielsztejn.
Figura 161 – Investigação de seqüências de tecimento sobre tear triangular. Modelo experimental. LILD.
Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 162 – Investigação de seqüências de tecimento sobre tear triangular: disposição aleatória de fios.
Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 163 – Investigação da elasticidade de malha pantográfica. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz
Finkielsztejn.
Figura 164 – Disposição do urdimento em função das linhas de resistência da forma. Modelo experimental.
LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 165 – Detalhe de manta com disposição aleatória dos fios. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz
Finkielsztejn.
Figura 166 – Módulos triangulares acoplados: utilização de tear triangular. Modelo experimental realizado
pelos alunos de graduação do Departamento de Artes e Design durante monitoria da autora. Foto: Beatriz
Finkielsztejn.
Figura 167 – Urdimentos de rede indígena. RIBEIRO, 1988:110.
Figura 168 – Filtro de sonhos, mandala de cura de origem nativa norte-americana: o filtro dos sonhos faz
parte da medicina xamânica. (http://www.fotopt.net/foto.asp?foto=90518&primeira=&tema=1&tipo=autor&id=3270&num=3).
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Figura 169 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu tensegrety.
Escala real. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 170 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu tensegrety. Escala real. LILD. Foto:
Beatriz Finkielsztejn.
Figura 171 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Escala real.
LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Escala real. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 172 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Trama
construída a partir de “filtro de sonhos” para a transmissão de esforços aos elementos da estrutura
tensegrety. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 173 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Verificação da
trama construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama formada por domus geodésico tensegrety .
Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 174 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Verificação da
trama construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama formada por domus tensegrety geodésico.
Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 175 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Verificação da
trama construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama formada por domus tensegrety geodésico.
Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 176 – “Filtro de sonhos” aplicados à Arquitetura & Design. Disposição de flutuadores sob rede
confeccionada a partir de “filtro de sonhos” para construções em meio fluido. LILD. Foto: Beatriz
Finkielsztejn.
Figura 177– Relação dimensional “homem-tear” para aplicação dos Sistemas Modulares Têxteis em objetos
arquitetônicos. As dimensões dos teares variam em função de sua aplicação, assim como as relações
durante o processo de confecção (ambiente, equipamentos e meios). Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 178 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu tensegrety construído no LILD. Escala
real. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 179 – Oscar Hidalgo-Lópes. Foto: Beatriz Finkielsztejn.
Figura 180 – Domus: tecnologia em bambu desenvolvida na Índia gerou o Taj-Mahal. HIDALGO-LÓPES,
2003:415.
Figura 181 – Domus: tecnologia em bambu desenvolvida na Índia gerou o Taj-Mahal. HIDALGO-LÓPES,
2003:415.
16
Figura 182 – Cúpula em templo em Pagan, Birmânia. HIDALGO-LÓPES, 2003:297.
Figura 183 – Ponte suspensa, Himalaia. HIDALGO-LÓPES, 2003:457.
Figura 184 - Maior ponte suspensa construída com bambu: 240m de cabos de bambu sobre o rio Minchiang em Kwan Hsien County, China. HIDALGO-LÓPES, 2003:461.
Figura 185 – Museum of Simple Technology, Ana University campus, madras, India. HIDALGO-LÓPES,
2003:318.
Figura 186 - Bamboo, The gift of the gods. HIDALGO-LÓPES, 2003.
Figura 187 - Programa de habitação, Equador. HIDALGO-LÓPES, 2003:266.
Figura 188 – Antes do projeto, os tanques de armazenamento de água localizavam-se na frente das casas.
Posteriormente foram colocados embaixo das pias do banheiro e cozinha, do lado externo das casas.
HIDALGO-LÓPES, 2003:265-266.
Figura 189 – Antes do projeto, os tanques de armazenamento de água localizavam-se na frente das casas.
Posteriormente foram colocados embaixo das pias do banheiro e cozinha, do lado externo das casas.
HIDALGO-LÓPES, 2003:265-266.
Figura 190 – Andaime de bambu em Hong Kong, equivalente ao 78° andar do Central Plaza. HIDALGOLÓPES, 2003:292.
Figura 191 – Por séculos o ofício de erigir andaimes foi passado de geração a geração. Fitas de bambu
são utilizadas nas amarrações dos bambus. HIDALGO-LÓPES, 2003:293.
Figura 192 – Por séculos o ofício de erigir andaimes foi passado de geração a geração. Fitas de bambu
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são utilizadas nas amarrações dos bambus. HIDALGO-LÓPES, 2003:293.
Ilustração 1 – Ambiente ecológico classificado por níveis verticais. Desenho: Beatriz Finkielsztejn baseado
em POSEY, 1987:19-21.
Ilustração 2 – Estudo de entrelaçamento: desenho esquemático de cone para realização de modelos.
Desenho: Beatriz Finkielsztejn.
Ilustração 3 – Estudo de entrelaçamento: disposição dos feixes de fibras de forma contínua. Desenho:
Beatriz Finkielsztejn.
Ilustração 4 – Estudo de entrelaçamento: feixes de fibras acompanham as linhas de resistência da forma.
Desenho: Beatriz Finkielsztejn.
Ilustração 5 – Estudo de entrelaçamento em infra-estrutura espiralada. Desenho: Beatriz Finkielsztejn.
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“O conhecimento do conhecimento obriga.
Obriga-nos a assumir uma atitude de permanente
vigília contra a tentação da certeza, a reconhecer que
nossas certezas não são provas da verdade, como se o
mundo que cada um vê fosse o mundo e não um mundo
que construímos juntamente com os outros. Ele nos
obriga porque ao saber que sabemos não podemos
negar que sabemos (...). Em geral, ignoramos ou
fingimos desconhecer isso, para evitar a
responsabilidade que nos cabe em todos os nossos atos
cotidianos, já que todos estes - sem exceção contribuem para formar o mundo em que existimos e
que validamos precisamente por meio deles, num
processo que configura o nosso porvir. Cegos diante
dessa transcendência de nossos atos, pretendemos que
o mundo tenha um devir independente de nós, que
justifique nossa irresponsabilidade por eles.
Confundimos a imagem que buscamos projetar, o papel
que representamos, com o ser que verdadeiramente
construímos no nosso viver cotidiano.”
MATURANA e VARELA, A árvore do conhecimento,
2004:267-271.
Apresentação
A
necessidade
revestimentos
de
conceber
arquitetônicos
para
coberturas
as
e
habitações
desenvolvidas no LILD, Laboratório de Investigação de
Living Design, do Departamento de Artes e Design da PUCRJ, motivou esta pesquisa.
O
LILD
investiga
processos
de
baixo
impacto
ambiental e social, e a viabilidade econômica de materiais
como bambu, fibras naturais e barro cru, e emprega
fundamentalmente metodologia experimental através da
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realização de protótipos e trabalho em equipe. As pesquisas
de campo permitem obter informações sobre tecnologias
regionais, matérias-primas e interações entre o Homem e o
Meio Ambiente.
Investigações para habitações realizadas no LILD, que
seguem os princípios de sistemas estruturais de construção
tensegrety,
demandam
a
utilização
de
membranas
estruturais arquitetônicas mais adequadas aos projetos do
que as encontradas no mercado.
As experiências do LILD instigaram meu interesse
acerca de superfícies e estruturas têxteis, assim como
acerca de tecnologias relacionadas a fibras naturais. A
experiência do LILD e minha própria experiência em
indústrias têxteis conjugaram-se diante da possibilidade de
investigação de coberturas e revestimentos que utilizassem
fibras naturais disponíveis de forma sustentável, com o
intuito da preservação do meio ambiente e da saúde dos
indivíduos.
Assim,
como
aproveitar
sustentavelmente
fibras
naturais na construção de membranas arquitetônicas
constitui a questão principal desta dissertação.
19
As
membranas
estruturais
arquitetônicas
industrializadas geralmente utilizadas em coberturas de
construções apresentam alguns inconvenientes para os
projetos desenvolvidos no LILD. A padronização do material,
a distância entre fornecedor e local das habitações,
geralmente construídas em áreas rurais de difícil acesso, e o
uso de matérias-primas não renováveis e substâncias
tóxicas na composição das membranas, inviabilizam a
sustentabilidade desses projetos, que buscam utilizar
matérias-primas disponíveis na região, mão-de-obra local,
com baixo impacto ambiental.
A utilização de fibras naturais em projetos de
Arquitetura & Design visando à redução dos impactos ao
meio físico e social tem ocorrido. No entanto, o estudo das
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interações em todas as etapas do projeto se faz necessário,
de forma a evitar a inadequação na escolha da matériaprima, atender às limitações ao uso de matérias-primas não
renováveis e renováveis, à redução de gastos energéticos
nas diversas etapas do processo produtivo, à necessidade
de evitar o despejo de substâncias tóxicas no meio
ambiente, e à adequação das técnicas empregadas.
Assim, o foco desta dissertação encontra-se nas
interações
que
viabilizam
a
sustentabilidade
do
aproveitamento de fibras naturais, da concepção e da
elaboração de objetos de Arquitetura & Design. No decorrer
dos estudos e experimentos sobre as interações entre as
fibras naturais, tecnologias e meio, foi percebida a
possibilidade de conceber um sistema que viabiliza a
sustentabilidade no aproveitamento de fibras naturais na
confecção de objetos de Arquitetura & Design em diversos
contextos, regiões, em conformidade com a disponibilidade
das fibras locais.
Os Sistemas Modulares Têxteis não se limitam à
aplicação em coberturas e revestimentos e podem ser
utilizados em outros elementos de Arquitetura & Design.
Empregam técnicas artesanais têxteis em função dos
conhecimentos tradicionais e fibras naturais da região,
20
valorizando a mão-de-obra local e permitindo a construção
de objetos de forma sustentável, sem desperdícios de
matéria-prima, já que são confeccionados sob medida, com
redução de gastos energéticos e vias de acesso.
O estudo das interações entre as fibras naturais,
tecnologias e o meio, associado aos Sistemas Modulares
Têxteis, contribui para o conhecimento humano por
incorporar às estratégias de concepção e de confecção de
objetos de Arquitetura & Design, técnicas artesanais têxteis,
algumas em vias de extinção, e parâmetros ambientais de
sustentabilidade.
Os
Sistemas
Modulares
Têxteis
apresentam-se, assim, como uma alternativa sustentável
para Arquitetura & Design.
Tal como nos Sistemas Modulares Têxteis, a estrutura
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desta dissertação permite a leitura em módulos, nos quais a
integridade de cada capítulo proporciona percepções
diversas sobre as interações estudadas, conforme a
ordenação de leitura escolhida.
Esta dissertação não se propõe inventariar fibras
naturais
ou
tecnologias
têxteis,
trabalho
realizado
exaustivamente por autores de relevância, mas sim elucidar
questões
tecnologias
fundamentais
artesanais
sobre
e
as
interações
matérias-primas
entre
pouco
padronizadas na concepção de objetos de Arquitetura &
Design, bem como despertar interesse e estabelecer
compromisso quanto a interferências na natureza.
21
Introdução
Verificar
as
interações
que
viabilizam
a
sustentabilidade do aproveitamento de fibras naturais na
construção
de
membranas
estruturais
arquitetônicas
constitui o objetivo primeiro desta dissertação. Levantar
informações sobre as interações, assim como identificá-las e
compará-las, constituem desdobramentos inevitáveis desse
objetivo.
Com
o
intuito
de
materializar
coberturas
e
revestimentos arquitetônicos para construções estruturais
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tensegrety, conceberam-se os Sistemas Modulares Têxteis.
Partindo-se
do
pressuposto
de
que
estes
sistemas
viabilizariam sustentavelmente a construção de membranas
arquitetônicas
que
aproveitam
fibras
naturais,
foram
levantadas informações sobre as relações entre matériaprima, meio ambiente e tecnologias. Desta forma, foi
possível elaborar os procedimentos necessários para a
implementação dos Sistemas Modulares Têxteis.
Os
impactos
ambientais
e
sociais
percebidos,
provocados pelos processos de produção de artefatos e
posteriormente pelos descartes gerados, conduziram a
pesquisa ao levantamento das interações relativas à
poluição e descarte de resíduos, ao consumo de produtos e
obtenção de recursos naturais, e às relações entre
comunidades tradicionais e biodiversidade.
A produção e consumo de produtos industrializados
em escala e suas relações com a degradação ambiental e
social são, então, confrontados com modelos sustentáveis
de desenvolvimento, e principalmente com a necessidade
de inclusão de parâmetros ambientais na concepção de
produtos. Aqui, são abordadas as relações entre meio e o
homem, as interferências inadequadas sobre ecossistemas
22
e comunidades tradicionais ameaçando-os de extinção, e a
perda de conhecimentos fundamentais para a preservação
da biodiversidade, de técnicas e do manejo de fibras
naturais.
Tecnologias industriais e artesanais de aproveitamento
de fibras naturais são investigadas na intenção de viabilizar
alternativas
de
Arquitetura
&
Design
sustentáveis.
Interações e confrontos entre comunidades tradicionais e
biodiversidade são levantados, e estratégias aprendidas na
Natureza são reproduzidas através de experiências em
Arquitetura & Design. Este conjunto de interações contribui
para o aperfeiçoamento e adequação dos procedimentos de
aproveitamento das fibras naturais.
A
metodologia
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experimental.
desenvolvidos
utilizada
nesta
dissertação
é
Os Sistemas Modulares Têxteis foram
como
instrumentos
de
verificação
das
interações que viabilizam a construção de membranas
arquitetônicas, empregando em seu processo tecnologias
artesanais têxteis que utilizam fibras e fios naturais, e
princípios de sustentabilidade. A realização de protótipos
experimentais
permitiu
investigar
a
aplicação
dessas
tecnologias, o comportamento das fibras naturais em
relação ao meio e o funcionamento do sistema.
O termo Arquitetura & Design é empregado aqui como
uma união em função das afinidades e relações nos campos
de atuação, não pelas diferenças1. Arquitetura & Design
(Espaço & Superfície), atividades projetuais inseridas na
concepção e desenvolvimento de projetos e objetos tornamse elementos inseparáveis quando aplicados aos Sistemas
Modulares Têxteis: a confecção de módulos para a
articulação de espaços (ambientes), e a articulação de
superfícies (espaços preenchidos por matéria) para a
1
BEZERRA, 2004: Introdução. Em sua dissertação de mestrado o
autor refere-se às interações encontradas entre Arquitetura e Design.
23
confecção de módulos. Arquitetura & Design interagem aqui
2
como um “compósito” de campos de atuação.
A Arquitetura Têxtil é utilizada em construções de
rápida montagem e desmontagem, e de fácil transporte. É
inserida neste contexto devido principalmente à confecção
de membranas para as coberturas dos Sistemas Modulares
Têxteis, e à leveza requerida.
É nas estratégias observadas na natureza e no
intercâmbio entre as tecnologias que os Sistemas Modulares
Têxteis se fundamentam: disponibilidade de recursos,
integração entre o meio ambiente e o homem, e,
principalmente, adequação. A concepção dos Sistemas
Modulares Têxteis interage, assim, com parâmetros de
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Arquitetura & Design sustentáveis.
2
(Ver Capítulo 2.3.2).“Os materiais compósitos são formados pela
conjugação de dois ou mais materiais que mantêm individualmente suas
propriedades anteriores à união”.
24
Estrutura do trabalho
O primeiro capítulo apresenta um panorama dos
impactos ambientais e sociais gerados pela inadequação
dos modelos de produção e suas relações com os hábitos
de
consumo
das
sociedades
industrializadas.
São
evidenciados fatores que contribuem para a redução do
bem-estar físico e social em diversas esferas da sociedade,
aspectos
que
ameaçam
comunidades
tradicionais
e
ecossistemas, e o comprometimento da Arquitetura &
Design com a produção industrializada em escala.
O segundo capítulo enfatiza aspectos tecnológicos de
aproveitamento de fibras naturais, suas relações com o ciclo
de vida do sistema-produto, com a confecção de artefatos
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nas sociedades tradicionais (“sociedade da palha”) e
industrializadas (“sociedades complexas”), parâmetros de
sustentabilidade
e
identificam-se
as
ameaças
aos
conhecimentos “tradicionais herdados”.
O terceiro capítulo evidencia a importância dos
Exemplos Naturais como fonte de conhecimentos de
estratégias, e como são reproduzidos e incorporados
através de experiências, valorizando a preservação do meio
ambiente e o bem-estar social. Aqui, demonstra-se como a
Natureza que fia, tece e constrói interfere nos “modos de
conceber e fazer” Arquitetura & Design. No desfecho deste
capítulo, os Sistemas Modulares Têxteis são apresentados
por meio de estudo de caso. O trabalho experimental
realizado através de protótipos é demonstrado, assim como
a concepção, as características do sistema, os materiais e
os procedimentos experimentais, a investigação de teares,
as técnicas e a organização das fibras e mantas, o
funcionamento e os procedimentos necessários para a
implantação desses sistemas. Na conclusão da dissertação,
destaca-se a importância das estratégias encontradas na
Natureza para o campo de Arquitetura & Design como
modelos de adequação: a Natureza é um sistema dinâmico
e, à medida que a “copiamos”, a compreendemos.
25
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1
Um panorama dos impactos percebidos:
desperdícios da inadequação
Figura 1 – Resíduos encontrados no interior de um Albatroz.
O aumento do consumo de artefatos produzidos em
escala a partir da Revolução Industrial gerou o descarte de
imensas quantidades de resíduos no meio ambiente,
resultando em severos impactos ambientais e sociais1
(Figuras 1 e 2), alguns deles percebidos, outros, não.
1
FORTY, 1986:63.
26
Figura 2 – Análise de resíduos encontrados no interior de um
Albatroz.
Objetos concebidos e elaborados para o consumo
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direcionado e segmentado2 tornam-se acessíveis e refletem
a importância e o interesse por projetos de Arquitetura &
Design na sociedade industrial. A busca por novos materiais
por parte dos estabelecimentos industriais incrementa ainda
mais os impactos, interferindo nos ecossistemas, reduzindo
a biodiversidade biológica e levando à extinção inúmeras
espécies
da
fauna
e
flora,
assim
como
diversas
comunidades tradicionais que subsistem dos recursos
obtidos na natureza. Detentoras de conhecimentos sobre os
mecanismos de funcionamento do meio ambiente, essas
comunidades tornam-se foco de interesse e exploração,
evidenciando-se a fragilidade e a dependência decorrentes
da perda da fonte de recursos e identidade.
Percebemos parcialmente os impactos gerados. A
complexidade da biodiversidade e suas inter-relações com o
homem, com as tecnologias, com os materiais utilizados
sem prévia investigação adequada, e o desconhecimento e
falta de mecanismos de medição são alguns dos motivos
pelos quais somos incapazes de perceber diversos impactos
já instaurados, ou prever os que estão por vir.
Arquitetura & Design, comprometidos e submetidos
aos padrões comerciais e de faturamento do sistema
2
CARDOSO [DENIS], 1996:59-72.
27
produtivo em escala, atuam ainda aquém do potencial
necessário para o estabelecimento da sustentabilidade,
dando seus primeiros passos na utilização de matériasprimas,
tecnologias
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comunidades.
regionais,
e
na
interação
com
28
1.1.
Se tudo é construído, nada é construído
Figura 3 – Estrangulamento: tartaruga marinha sofre com os
despejos de resíduos no meio ambiente.
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Fragmentos da cultura material
As viagens de pesquisa da AMRF,3 Algalita Marine
Research
Foundation,
têm
registrado
impressionantes
quantidades de resíduos acumuladas na região de “Gyro”4,
muitas vezes à deriva por mais de doze anos. Fragmentos
de polímeros, por vezes em dimensões moleculares, são
ingeridos por vários organismos, ou formam extensas
correntes de entulhos entrelaçados com até uma milha de
comprimento (Figuras 3, 5, 6 e 8).
Esses fragmentos de objetos compostos por plásticos
chegam a essa região no centro do Oceano Pacífico,
provocando impactos devastadores na cadeia alimentar e
conseqüentemente desordens hormonais nos seres vivos
relacionadas
às
atividades
cerebrais
e
reprodutoras,
sinalizando uma tendência à extinção de espécies.
Isso
ocorre porque os polímeros de plásticos absorvem óleos
tóxicos5 que não se dissolvem na água do mar, e os
3
MOORE, 2002, 1-4.
Região no centro do Oceano com alta pressão subtropical, que
provoca uma corrente oceânica conhecida no meio científico como
corrente central do Norte Pacífico ou “giro” subtropical. Este lento
rodamoinho e a uniformidade climática da região permitem o acúmulo de
enormes quantidades de resíduos provenientes de qualquer ponto do
círculo norte do Oceano Pacífico.
5
DDT, PCBs e nonofenóis.
4
29
“pellets”6 de plástico acumulam até um milhão de vezes o
nível dessas substâncias encontradas na água. Nessa área,
a proporção de plástico encontrada é seis vezes maior do
que a de plâncton7 (Figura 4).
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Figura 5 – “Pellets”
fotodegradados.
Figura 6 – Redes de pesca e
entulhos ameaçam diversas
espécies.
Figura 4 – Mergulhadores recolhem 60 toneladas de entulhos em
ilhas hawaianas.
Os fragmentos de plásticos dispersos na região de
Gyro, fruto de objetos consumidos, utilizados ou não, são os
“insumos”
transformados
inadequadamente.
em
resíduos
Representam
a
e
própria
descartados
sociedade
industrial: os “fragmentos do desperdício” da cultura material
(Figura 7).
6
MATO, 2001:318-324. “Pellets” (plastic pellets; nurdle) são
pequenos grânulos de plásticos pré-produzidos, a forma manufaturada
pela qual os plásticos são transportados para manufatura final.
7
Os artigos Synthetic Sea: Plastic in the Ocean; Get Plastic Out Of
Your Diet; Is Biodegradable Plastic an Oxymoron Just as Recyclable
Plastic?; e Plastic Resin Pellets as a Transport Medium for Toxic
Chemicals in the Marine Environment; How Green are Plastics? abordam
respectivamente impactos ambientais e partículas de plástico dispersas
na região de Gyro; o plástico ingerido pelo homem através de recipientes
plásticos; biodegradabilidade e reciclagem dos plásticos; plásticos como
transporte de substâncias tóxicas no ambiente aquático e uma crítica
sobre a biodegradabilidade dos plásticos.
Figura 7 – Crianças recolhem
resíduos em Porto de Manila,
Filipinas.
30
Matéria-prima, energia, mão-de-obra e transporte.
Concepção e projeto para produção. Necessidade ou desejo
de consumo. Os objetos fazem parte de nossas vidas e são
dispersos não apenas na região de “Gyro”, mas em todas as
etapas do ciclo de vida do produto. Objetos e fragmentos, Figura 8 – Tartaruga marinha
compostos não apenas por plásticos, mas por inúmeros tem seu membro arrancado por
resíduos descartados em seu
materiais, são dispersos e descartados em grandes habitat.
quantidades no meio ambiente durante o processamento, o
transporte, o uso e o seu acondicionamento.
Desconfortável consumismo do conforto
Conforto é uma noção moderna que surge após a
Revolução Industrial.
Derivada das palavras confort (em
inglês), confort (francês), e confortare (com-fortis, latim),
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significa “força”, derivando “alívio de dor e fadiga”. A
utilização
foi
ampliada,
significando
“apoio”,
e
hoje
determina certa “quantidade de satisfação”. Passa a
significar “tolerável”, “suficiente”,8 e o refinamento da
linguagem é uma tentativa de suprir uma necessidade
específica.
Na Idade Média, por exemplo, a idéia de conforto, lar e
família não existiam. Os pobres moravam muito mal, em
cômodos muito pequenos. Os moradores das cidades, no
entanto, usufruíam a prosperidade medieval.
O burguês não vivia em um castelo fortificado, em um
mosteiro, ou em um casebre: vivia em uma casa. A casa,
para o burguês do séc. XIV, era a casa e também o local de
trabalho. Eram pouco mobiliadas e, geralmente, tinham um
só grande cômodo para habitar. Lá se fazia tudo. Móveis
medievais eram dobráveis e portáteis.
Na Idade Média havia grandeza, mas não havia
conforto, ou melhor, não havia a noção de conforto objetiva
e consciente, e, assim, não se sentia falta dele. Segundo
MALDONADO, o primeiro registro desta noção como
“comodidade doméstica” é do século XVIII.9
8
9
MALDONADO, 1998:248-256.
RYBCZYNSKI, 2002:35.
31
A retribuição do trabalho em dinheiro permite a um
indivíduo a aquisição de produtos que satisfaçam suas
necessidades pessoais. Legitima-se a importância social e
cultural dos artefatos em uma sociedade de consumo e sua
respectiva
inserção
na
vida
moderna.
Muitas
das
necessidades do homem são satisfeitas pelo uso de objetos,
mas nem todas. A idéia de qualidade de vida não pode ser
aplicada da mesma forma em contextos muito diversos.
Onde a sobrevivência é prioridade, conforto tende à
transformação da realidade, suprindo as necessidades
relacionadas à fome, violência e doença. No entanto, em
outros contextos, a noção de conforto pode abranger
tranqüilidade e humanidade. O processo de modernização
contribui quantitativa e qualitativamente para o aumento de
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serviços que produzem conforto.
A noção de conforto está diretamente ligada à idéia de
suprimento de necessidades10, que são resultantes da
sensação de uma deficiência que se quer sanar, podendo
ser múltiplas e variadas11.
controle social.
Também está relacionada ao
Restaura física e psicologicamente as
energias consumidas no ambiente externo e hostil, como
uma função compensatória. Enfatiza o senso de prazer da
vida privada.
Conforto é o estilo de vida, o novo modelo de vida
proposto pela burguesia, fundamentado em objetos e
materialidade. Representa12 modelos artificiais de perfeição
e bem-estar, através dos quais se adquire também a idéia
contida no objeto: adquire-se o significado representado e
não somente o artefato físico. A idéia, não palpável, não
pode ser efetivamente apropriada, somente o objeto físico
pode sê-lo.
Esta representação integrada à sociedade
moderna expressa um “pertencimento” (identidade) e
instrumento de socialização, seja através do vestuário, de
automóveis ou de objetos de decoração, e nos leva a pensar
10
MALDONADO, 1998:248-256.
LÖBACH, 2001: 26.
12
MALDONADO, 1998:248-256.
11
32
em que medida um artefato “conforta” de fato, se o que é
adquirido
“representa”
uma
idéia
não
“palpável”
ou
“apropriável”.
É nos diferenciais simbólicos inseridos no objeto que a
competitividade hoje se fundamenta. Através do consumo,
busca-se a satisfação de desejos não saciados, partindo-se
de um objeto a outro. Soma-se a isso uma estratégia do
industrialismo, a obsolescência planejada13, em que a vida
útil de um produto é planejada: o objeto é reposto em
determinado espaço de tempo, resultando em novo
consumo,
que
substitui
o
artefato
anterior,
então
considerado obsoleto, ainda que haja condições técnicas
para que o produto “sobreviva” por mais tempo.
Com o desenvolvimento dos plásticos, matéria-prima
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mais barata, os artefatos tornaram-se acessíveis a todas as
camadas da sociedade. Mobiliários, vestuário e objetos
diversos deixaram de ser um “sonho de consumo”.
Na
indústria têxtil, por exemplo, fibras sintéticas substituíram as
naturais, como algodão, linho, cânhamo e seda.
A ideologia do conforto, com objetos “úteis” e de
“tecnologia”, configuram comportamentos e articulam a vida,
na tentativa de justificar o modelo material da cultura
doméstica14. O conforto representa e legitima as diferenças
econômicas e sociais, “aculturando” e transferindo valores
de cima para baixo.
“Apenas 1,7 bilhão dos atuais 6,3 bilhões de pessoas que
habitam o planeta têm hoje condições de consumir além das
necessidades básicas. Ainda assim, a demanda por
matéria-prima e energia cresce, precipitando o mundo na
direção de um impasse civilizatório: ou a sociedade de
consumo enfrenta o desafio da sustentabilidade ou teremos
cada vez menos água doce e limpa, menos florestas, menos
solos férteis, menos espaço para a monumental produção
de lixo e outros efeitos colaterais desse modelo suicida de
desenvolvimento”. (TRIGUEIRO, 2005:22).
Assim, percebemos a gravidade na qual se encontra o
modelo atual de desenvolvimento cujo consumo de objetos
13
14
QUEIROZ, 2003: 27.
MALDONADO, 1998:252.
33
está
diretamente
relacionado
à
sociedade
industrial,
gerando impactos e ameaçando o meio ambiente, a fonte de
obtenção dos próprios recursos para a produção desses
bens materiais. O consumo de objetos é o próprio sentido
da sociedade industrial calcada da produção em escala de
bens de produção e na manutenção da produtividade.
Arqueologia do Lixo
Em reportagem ao jornal de Goiânia “O Popular”,15 de
12 de agosto de 2002, o jornalista Almiro Marcos apresentou
as dificuldades da prefeitura local em recolher os resíduos
de fibra de coco acumulados, resultantes do aumento do
consumo de água de coco nos últimos anos. A fibra de coco,
embora seja uma matéria biodegradável, leva em média
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doze anos para se decompor, tornando-se uma questão
séria se considerarmos que sete milhões de cocos são
consumidos por ano em Goiânia. Peso e volume são
descartados, aumentando a demanda por aterros sanitários,
ações preventivas contra o Aedes aegypti, o mosquito da
dengue, e provocando inundações.
No Rio de Janeiro são descartadas cerca de 400t/dia
de coco. Iniciativas para o aproveitamento dessa fibra já
existem16, mas a ineficiência da coleta no Rio de Janeiro
obriga os produtores a importar a fibra da Bahia. Phillipe
Mayer, através do Projeto Coco Verde, transforma a fibra de
coco em produtos voltados para o paisagismo, substituindo
assim o xaxim, cuja extração e comercialização foram
proibidas desde 2001.17
A decomposição da matéria orgânica depende das
condições de exposição às bactérias responsáveis por sua
digestão. A forma pela qual os resíduos são descartados
influi
diretamente
no
tempo
de
sua
decomposição.
Pesquisadores realizam, através da chamada “Arqueologia
15
MARCOS, 2002:3.
GHAVAMI, 1995. O autor é um dos pioneiros no uso de fibra de
coco na construção civil.
17
PROJETO COCO VERDE; TRIGUEIRO,2005:60-63; e entrevista
concedida à Rádio CBN em 29nov2003.
16
34
do lixo”, a análise do tempo de decomposição do lixo, a
partir de amostras retiradas de enormes buracos abertos em
lixões.18
O aproveitamento de resíduos mostra-se como uma
alternativa para aliviar a sobrecarga nos aterros sanitários e,
simultaneamente, motiva pesquisas de tecnologias para o
desenvolvimento de produtos sustentáveis de Arquitetura &
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Design19.
18
Idem. Nos EUA, os pesquisadores puderam ler com facilidade as
páginas de jornal, intactas por quase 50 anos, sob as camadas de
plásticos onde não há água e luz, encontradas durante prospecções.
19
A aplicação de fibras naturais como matéria-prima tem sido
realizada em substituição às antigas telhas de amianto, cancerígenas e
proibidas por legislação. Indústrias automobilísticas fazem uso da fibra de
coco em seus produtos.
35
1.2.
Conhecimentos em extinção
“(...) como formas expressivas da cultura de um povo e
elementos de sistemas de comunicação, o sistema de
objetos e as artes são produtos de uma história: remetemse às tradições identificadas pelo grupo como suas marcas
distintivas, específicas de sua identidade; falam dos modos
de viver e de pensar compartilhados no momento da
confecção do produto material ou artístico ou da vivência da
dramaturgia dos rituais, indicando uma situação no
presente; em suas inovações, no esmero de sua produção e
no uso que dela faz, indicam as relações entre o indivíduo e
o patrimônio cultural do grupo a que pertence e apontam
para canais de comunicação com o exterior e para projetos
futuros”. (VIDAL e SILVA, 1995:371)
Interações entre biodiversidade e conhecimentos
tradicionais
A devastação causada a partir da colonização
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européia e posteriormente em decorrência da exploração
predatória dos ciclos econômicos, de atividades agropastoris
e pólos silviculturais, da industrialização, urbanização e
extração madeireira, deixa marcas no bioma20 e ameaça as
comunidades tradicionais que dele subsistem.
Oitocentos anos serão necessários para finalizar a
contabilidade de toda a biodiversidade brasileira21 e
considerando-se o ritmo de devastação e de identificação de
espécies atuais, muitas já estarão extintas. A destruição é
mais veloz que a reposição natural das espécies e, mesmo
com a existência de algumas unidades de conservação,
muitos dos ecossistemas estão fragmentados devido ao
desmatamento, afetando a capacidade de manter a
biodiversidade e o fornecimento de recursos. Desde 2000,
seis milhões de hectares de florestas primárias foram
destruídos a cada ano, principalmente pela conversão de
áreas para a agricultura22.
20
SOS Mata Atlântica
LEWINSOHN, Thomas. Avaliação do conhecimento da
biodiversidade brasileira.Apud AZEVEDO, 2006:32. Jornal O Globo, 22
mar.2006.
22
A introdução de espécies exóticas em ecossistemas devido à
intensificação do comércio causa verdadeiro desequilíbrio nas regiões em
que chegam. Sem os predadores naturais e com presas em abundância,
proliferam. O desaparecimento de espécies também é causado pela
21
36
Da Mata Atlântica nativa restam hoje apenas 7,3% da
área original, superior a 1,3 milhão de km², onde vivem
setenta por cento da população brasileira. A Mata Atlântica
protege e regula os mananciais hídricos, controla o clima,
preserva o patrimônio histórico e comunidades, e abriga a
maior biodiversidade do planeta. Nela habitam diversas
comunidades indígenas, caiçaras, ribeirinhas e quilombolas,
que constituem a genuína identidade cultural do Brasil e que
Figura 9 – Índia guarani
confecciona artefato
utilizando fibras naturais e
anilina industrializada.
sempre empregaram sistemas de apropriação de recursos
naturais de baixo impacto ambiental, incorporados aos seus
modos de vida.
Para as comunidades tradicionais, a extinção ou perda
do controle sobre esses conhecimentos significa a própria
extinção de sua sociedade (Figuras 9, 10 e 11). A
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quilombola, por exemplo, vive da cultura de subsistência,
segue a sazonalidade agrícola ou extrativista, e apresenta
Figura 10 – A anilina
industrializada substitui
pigmentos naturais para o
tingimento de fibras.
formas de uso e ocupação da terra baseadas em laços de
parentesco e vizinhança, em que o uso comum é
predominante. Os povos indígenas, por sua vez, possuem
grande riqueza de conhecimentos relativos à natureza,
sobre o modo como os aspectos do universo se interrelacionam e que são parte do “patrimônio herdado e
compartilhado pela comunidade”.23
Para Leroi-Gourhan, a memória étnica é o conjunto de
“conhecimentos práticos, técnicos, do saber profissional, e a
conservação desses segredos atua nas células sociais da
etnia”, enquanto a “memória técnica” é a do fazer, ou seja,
técnicas passadas de pai para filho.24 Segundo Castro, nas
sociedades indígenas, a relação entre o homem e a
natureza é de reciprocidade, entre sujeitos, em que o saber
técnico está imerso em um saber simbólico, enquanto para a
consangüinidade e a incapacidade de locomoção por campos abertos e
fragmentados.
23
CASTRO, 1995: 116-117.
24
LEROI-GOURHAN, apud LE GOFF,1986:14-16. Segundo LE
GOFF, a memória coletiva nas sociedades sem escrita talvez tenha
surgido pela vontade de manter viva uma memória mais criativa que
repetitiva, da transmissão de conhecimentos “secretos”. Este autor ao
referir-se à memória étnica, utiliza o termo à memória coletiva dos povos
Figura 11 – O tingimento
das fibras é realizado no
quintal da casa.
37
modernidade ocidental, a produção de bens subordina a
matéria aos propósitos humanos.
As sociedades indígenas do Brasil, segundo RIBEIRO,
representariam a “civilização da palha”, que possui múltiplas
formas e técnicas de entrançamento, a mais diversificada
das categorias artesanais indígenas.25 RIBEIRO26 aponta
que a escassez de matérias-primas e a venda de objetos
rituais podem interferir no sistema interno de significação
dos objetos na “sociedade da palha”.27
Esse conjunto de conhecimentos tradicionais está
sendo ameaçado sob vários aspectos: o conhecimento
científico e tecnológico se sobrepõe ao conhecimento
tradicional em vez de trabalhar em parcerias; a biopirataria,
nociva sob o ponto de vista ambiental, ético e econômico;28
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e a própria
extinção das populações tradicionais, que
impede a perpetuação e a transmissão do conhecimento
através das gerações.
Hidalgo-Lópes
mostra-nos
como
tecnologias
tradicionais simples operam em larga escala, quando
exemplifica as construções de andaimes com até setenta e
cinco pisos, confeccionados por meio de amarrações de
bambus. Essa tecnologia, passada de pai para filho, é parte
integrante da cultura e da economia chinesa.29
Os conhecimentos tradicionais, por vezes ameaçados
pelas severas alterações dos ecossistemas, pela perda da
biodiversidade e pelos sistemas de produção industrial
podem
mesclar-se
e
incorporar
características
de
sem escrita, enquanto Leroi-Gourhan aplica o termo a todas as
sociedades humanas.
25
VIDAL e SILVA, 1995:391 e RIBEIRO, A Itália e o Brasil
Indígena, 15p.
26
RIBEIRO, O artesão tradicional e seu papel na sociedade
contemporânea, 23-24p.
27
VELTHEM, Lúcia van, 1992:391. Os cestos cargueiros
expressam a organização social entre os munduruku, enquanto para os
wayanas, tecer é uma maneira de contar histórias e de pensar o sentido
da vida.
28
Fonte: http://www.clickarvore.com.br/?page=conteudo&sec=etno
Acesso em 30nov2005.
29
HIDALGO-LÓPES, 2003:292-293. Ver também em Anexos,
entrevista em que o autor relata sua experiência na Ásia, onde viveu por
dezoito anos.
38
tecnologias externas, o que ocorre geralmente em função de
maior rentabilidade.
Etnobiologia e sustentabilidade
Etnobiologia30 é o estudo dos conhecimentos e
conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a
respeito da biologia, do papel da natureza sobre os sistemas
de crenças e adaptações do homem a determinados
ambientes, das inter-relações nas diferentes culturas entre
os
mundos
compreensão
natural,
simbólico
cultural
etnoconhecimento
entre
engloba
a
e
social.
culturas
sabedoria
Busca
distintas.
popular,
a
O
o
conhecimento adquirido sobre o ritmo da natureza, o ciclo
de reprodução dos animais, o uso de plantas medicinais e o
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manejo de determinadas espécies da fauna e flora para uso
na habitação e alimentação. No Brasil, etnoconhecimento
está enraizado em toda a sociedade, relacionado com a
própria formação do povo brasileiro, em que quilombolas,
caiçaras e indígenas são alguns dos expressivos detentores
de
conhecimentos
sobre
os
recursos
naturais.31
A
etnobiologia é um instrumento de mediação, compreensão e
respeito entre diferentes culturas.32
O uso sustentável dos recursos naturais, assim como
a preservação dos conhecimentos tradicionais e locais, são
a forma de garantir a qualidade ambiental e preservar a
biodiversidade. Deste modo, faz-se necessário conhecer
melhor as inter-relações entre a biodiversidade e a
diversidade
cultural
brasileira.
Segundo
RIBEIRO,
a
etnobiologia pode divergir da ciência ocidental, já que na
etnobiologia algumas crenças demonstram seu papel como
mecanismos sociais para o consumo de alimentos ou para a
manutenção do equilíbrio ecológico.33 O pensamento
indígena
30
também
diverge
do
pensamento
científico
POSEY, 1987:15-16.
Fonte: http://www.clickarvore.com.br/?page=conteudo&sec=etno
Acesso em 30nov2005
32
POSEY, 1987:21-24.
33
POSEY, 1987:16.
31
39
ocidental, ao perceber os ecossistemas tropicais como
zonas ecológicas extremamente variadas.34 O sistema de
lavoura indígena, por exemplo, interage preservando a
diversidade genética, e é mais complexo do que aquele
desenvolvido no ocidente.35
“O desenvolvimento agrícola do ocidente pautou-se pela
eliminação da complexidade, mediante a imposição de um
número limitado e controlado de monoculturas específicas,
altamente rentáveis. No curso desse processo, operou-se a
destruição sumária do meio ambiente local. No caso da
Amazônia, se levarmos em conta o ritmo de
deflorestamento,
sua
recuperação
será
irreversível”.(Meggers 1971; Denevan 1981;Myers 1981)36
A
etnobotânica
como
ciência
que
estuda
o
conhecimento gerado pelas populações humanas a partir da
sua interação com as plantas pode estabelecer bases para
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novas alternativas de uso dos recursos genéticos.37
Segundo POSEY, o conhecimento indígena referente a
produtos de coleta justifica sua inclusão em programas de
desenvolvimento, mas não devem ser esquecidos os
benefícios para esses grupos sociais.38 A partir da coleta de
plantas obtêm-se recursos para a confecção de casas,
óleos,
ceras,
combustível,
ungüentos,
ferramentas,
ornamentos, perfumes, lenha, pigmentos, tinturas, gomas,
resinas, fibras e produtos medicinais, e, dos insetos, obtêmse resinas, cera, mel e pólen.
Os índios e caboclos classificam seu ambiente
ecológico por níveis verticais (Ilustração 1), ou seja, por
subdivisões dos níveis terrestre/arbóreo39, intermediário40, e
34
POSEY, 1987:17-19.
POSEY, 1987:17. Os kayapó buscam instalar suas aldeias em
localidades onde possam fornecer uma diversidade máxima de espécies,
onde cada ecozona é um sistema integrado de interações entre plantas,
animais, solos e o homem.
36
Apud. POSEY, 1987:21.
37
FUNDAÇÃO DALMO GIACOMETTI.
38
POSEY, 1987:19-20.
39
Da superfície do solo às copas das árvores, onde se encontram
as tocas de animais e grandes raízes e tuberosas; comunidades vegetal/
animal associadas a zonas de raízes superficiais; árvores menores,
arbustos; pássaros e mamíferos; florestas maduras com mamíferos
arbóreos e grandes aves; e finalmente florestas de terra firme, onde são
explorados os “produtos úteis”.
35
40
aquáticos.41 Essas subdivisões demonstram a complexidade
de informações e conhecimentos sobre as relações
ecológicas dos índios/ caboclos e seu meio42, e a
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distribuição dos recursos naturais.
Ilustração 1 – Classificação do ambiente ecológico em níveis verticais.
O curauá, Ananas lucidus, parente silvestre do
abacaxi, produz fruto pequeno com pouco suco, porém com
muita fibra. Suas folhas foram bastante utilizadas por essas
comunidades na confecção de linhas e redes para pesca,
barbantes,
cordoaria
e
redes
para
dormir,
devido
principalmente à grande resistência de suas fibras. O curauá
foi domesticado pelos índios, mas com a aculturação
indígena e a incorporação das fibras sintéticas, seu cultivo
foi abandonado quase chegando à extinção. FORD-LLOYD
40
São os “corredores de transição” ou “níveis sucessivos de caça”,
entre os níveis terrestre/ arbóreo e os aquáticos, onde se encontram
animais em movimento.
41
Do espelho d’água ao leito do rio ou lago, onde se encontram
insetos, peixes, cobras d’água, enguias e arraias, répteis e plantas
aquáticas.
42
POSEY, 1987:18-19.
41
& JACKSON (1986) explicam que a domesticação das
plantas é o resultado da inteligência humana em conduzir o
processo evolutivo dirigido ao habitat que o homem criou.43
Conhecimentos tradicionais, biopirataria e poder
GRAY nos mostra que para os grupos hegemônicos,
os
conhecimentos
e
tecnologias
tradicionais
são
instrumentos de poder e argumentação através do discurso
sobre “estratégias conservacionistas” que sustentam a
“assimilação controlada”, já que para as comunidades
tradicionais uma identidade coesa representa um obstáculo
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para o exercício do poder de forma plena.44
“Preocupadas com o declínio das culturas tradicionais e dos
sistemas de manejo de reservas biológicas”, a estratégia
proposta visa a “proteger a terra e os modelos de
desenvolvimento que maximizem as habilidades das
culturas tradicionais de escolherem a natureza e o ritmo de
sua integração na cultura dominante”.45
Percebe-se, assim, que a estratégia proposta parte do
pressuposto de que as culturas tradicionais serão integradas
à cultura dominante, cabendo àquelas escolherem apenas
“como”, e não a decisão de serem ou não incorporadas à
cultura dominante.
A sofisticação da comercialização de recursos naturais
através
das
inovações
da
biotecnologia
coloca
as
informações genéticas dos seres vivos como matéria-prima
fundamental para o desenvolvimento de novos produtos,
despertando grande interesse nas indústrias farmacêuticas,
químicas,
43
alimentícias
e
agrícolas.
As
populações
Apud FERREIRA; BUSTAMANTE. Durante o processo de
domesticação, as plantas cultivadas diferentemente dos sistemas naturais
tornam-se dependentes do ser humano para sua reprodução e
desenvolvimento.
44
SANTOS: 1995:122. Segundo SANTOS, “a legislação não
garante a inscrição dos direitos intelectuais nacionais, nem concretiza a
Convenção da Biodiversidade relacionada às sociedades de
ecossistemas, reproduzindo a espoliação, predação, apropriação e
monopólio de recursos materiais e imateriais (conhecimento tradicional)”.
45
GRAY, 1995:120. A memória é vulnerável aos instrumentos
institucionais vigentes, sujeita a manipulações, evidentes no documento
“Dádiva para o Futuro”(Gift to the Future, 1990), da WRI(Instituto de
Recursos Mundiais) e IUCN(União Internacional para Conservação da
Natureza e dos Recursos Naturais), poderosas organizações para a
“defesa dos interesses dos povos da biosfera”.
42
tradicionais que detêm conhecimentos sobre os usos de
recursos naturais para alimentação, combate natural de
pragas, benzimentos, rituais, entre outros, aceleram a
eficiência
no
reconhecimento
das
propriedades
e
identificação desses recursos, e representam elementos
catalisadores
para
a
rentabilidade
das
indústrias
biotecnológicas.46
A
biopirataria
movimenta
bilhões
de
dólares
anualmente, e a regulamentação do acesso aos recursos
genéticos(RGs) e aos conhecimentos tradicionais(CTs),
encontram-se hoje nas principais pautas de discussões
internacionais sobre biodiversidade e biossegurança. A 8ª
Conferência das Partes (COP 8) da Convenção sobre
Diversidade Biológica (CDB)47, e a 3ª Reunião das Partes do
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Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP 3),
discutiram temas como a biodiversidade e organismos
transgênicos,
respectivamente.
Dois
blocos
opostos
formaram-se em torno das controvérsias: os países em
desenvolvimento, ricos em diversidade biológica e, em
alguns casos, populações tradicionais, incluindo o Brasil, e,
do outro, países industrializados, com recursos financeiros e
tecnológicos.
As sementes “Terminator”, geradas a partir de plantas
estéreis, submetem comunidades indígenas à dependência
financeira
do
monopólio48
das
grandes
empresas
46
Cupuaçu, seringueira, açaí, e outros, são alguns exemplos de
recursos patenteados por outros países. Ainda no fim do século XIX,
sementes da seringueira foram contrabandeadas por ingleses para o
Sudeste Asiático, região onde estão hoje os maiores produtores mundiais.
Fontes:
http://www.amazonlink.org/biopirataria/index.htm Acesso em
2abr2006.
47
A COP 8 e a MOP 3 integram a Convenção sobre Diversidade
Biológica da Organização das Nações Unidas, um acordo global que
segue três eixos: a conservação da biodiversidade; seu uso sustentável; e
a repartição justa e eqüitativa dos benefícios resultantes do acesso aos
recursos genéticos e conhecimentos tradicionais.
48
Entrevista do representante indígena Lorenzo Muellas
Hurtado ao ISA. As sementes desenvolvidas por milhares de anos
de inovações e experiências por comunidades indígenas são a
fonte de subsistência e elo com o mundo espiritual. Fonte:
http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2214
27mar2006
Acesso
em
43
multinacionais de transgênicos
49
e à perda de um valor
simbólico de fundamental importância à sua existência.50
Assim, o que é percebido no plano internacional são
dois extremos: uma lenta tentativa de promover a repartição
justa e eqüitativa dos benefícios gerados pelo acesso a
recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais51, a
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permanência da tendência à biopirataria.
49
Cerca de cinco mil argentinos estão sofrendo com doenças
causadas pela contaminação do glifosato, herbicida utilizado no cultivo da
soja transgênica Roundup Ready. Em um único bairro rural de Córdoba
há mais de 300 casos de câncer. Além de doentes, os moradores estão
49
perdendo suas terras.” (Sofia Gatica, apud Bruno Weis)
50
No Paraguai, a plantação de soja transgênica cresce 250 mil
hectares por ano, obrigando 90 mil pequenos agricultores paraguaios a se
retirarem de suas casas e a se mudarem para favelas em cidades
maiores para dar lugar à soja transgênica. ISA, Bruno Weis. Fonte:
http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2207.
Acesso
em
27mar2006
51
referência. Segundo Daniel Munduruku, diretor-presidente da
Inbrapi, as discussões envolvem conceitos e paradigmas mentais que não
fazem parte do universo epistemológico, nem das relações indígenas com
a natureza e dentro do próprio grupo. Para um povo indígena,
“propriedade”, “bioprospecção”, “patentes”, “marcas”, “direitos conexos”
não pertencem às suas relações e, assim, estão fora das mentes dos
44
1.2.1.
Quando o natural é mito
Padrões comerciais e impactos percebidos
Encontramos o aproveitamento de fibras naturais na
confecção de artefatos das mais diversas civilizações, em
diversos momentos e pontos geográficos. Inicialmente
usadas para atender a necessidades de uso, passaram a
atender a interesses de intercâmbio comercial. Os impactos
socioeconômicos e ambientais acompanharam, e ainda
acompanham, o aproveitamento das fibras naturais, muitas
vezes percebidos após a implementação da tecnologia, ou
sequer
percebidos
pela
falta
de
instrumentos
e
conhecimentos para identificá-los. À medida que os
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interesses
comerciais
se
transformam,
com
fibras
substituindo outras e mercados sobrepondo-se a outros, os
padrões de identificação, classificação e qualidade moldamse, adaptando-se em função de novos critérios. A partir da
Revolução Industrial, as fibras de algodão substituem a lã e
o linho, alcançando lugar de destaque até a primeira década
do século XX, quando então cedem espaço ao avanço de
fibras artificiais e sintéticas52. As fibras de algodão, naturais
e próprias para fiação, são obtidas a partir dos pêlos53 que
crescem nos grãos das sementes e são utilizadas como
fibras têxteis há mais de sete mil anos.54
A
maioria
das
espécies
primitivas
de
algodão
55
apresenta fibras coloridas , principalmente na tonalidade
marrom.
Como
os
algodões
coloridos
têm
genes
dominantes, se não houvesse interferência humana, todos
os algodões seriam coloridos.56 O algodão nativo era
cultivado pelos povos do Rio Grande, no Novo México, até o
detentores
do
saber.
Cristiane
Fontes.
Fonte:
http://www.socioambiental.org/esp/tradibio/ Acesso em 02abr2006.
52
WYROBISZ, 1986:57.
53
ERHART [e outros], 1975-1976:12, vol.2.
54
ARAÚJO, e MELO E CASTRO, 1986:48-49, vol.1.
55
O algodão colorido já era conhecido pelos incas em 4.500 AC,
bem como por outros povos antigos das Américas, África e Austrália.
56
Ver Anexo 5.2: e-mail Napoleão Beltrão.
45
centro do Chile.57 No entanto, sua utilização limitava-se ao
artesanato por apresentar fibras fracas e pouco uniformes.
O algodão atende a quase 45% do vestuário da
humanidade, aproximadamente vinte e um milhões de
toneladas, com cerca de 34 milhões de hectares plantados
anualmente.58
Hoje comprometido com a mecanização, o cultivo do
algodão incorpora técnicas que atendem à explosão do
consumo e ao maior rendimento possível. A monocultura
especializada e intensiva59, fragilizada pelo esgotamento do
solo e pela pouca diversidade de espécies, utiliza cada vez
mais quantidades cada vez maiores de substâncias tóxicas,
com o objetivo de rentabilidade. São utilizadas grandes
quantidades de agrotóxicos60 durante o cultivo, produtos
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químicos no “desfolhamento” da planta para coleta da fibra e
grandes quantidades de substâncias tóxicas no processo de
beneficiamento dos tecidos, ou seja, durante o alvejamento,
tingimento e estamparia. A cotonicultura está entre as
culturas ambientalmente mais devastadoras61, o que tem
provocado o enrijecimento das legislações, pressionando
indústrias a substituírem seus processos convencionais de
produção
por
processos
ambientalmente
favoráveis,
incorporando, por exemplo, tratamento de efluentes. Além
disso, os altos custos de produção a tornaram restrita a
empresários
profissionais
e
altamente
técnicos
com
capacidade financeira para investir, expressando-se como
instrumento de poder e manipulação.62
57
SAUER, 1987:82.
Ver Anexo 5.2: e-mail Napoleão Beltrão.
59
HAUSSMANN, 1987:101-103.
60
Suscetível a treze pragas, o algodão sofre seleção sofisticada de
espécies para atender aos padrões comerciais rígidos, necessitando
agrotóxicos cada vez mais fortes, e tornando a cultura mais frágil e
dispendiosa.
61
LIMA, 1995: 3.
62
FREIRE, Galeria de Inventores Brasileiros.
58
46
No Brasil 63 a monocultura do sisal (Agave sisalana) 64
não é uma atividade agrícola sustentável65 no semi-árido, e
sua cultura deve ser consorciada com outros cultivos. Além
disso, o emprego de trabalho infantil, o alto índice de
acidentes, ocasionando membros mutilados devido à
rusticidade das ferramentas de corte, a máquinas de
desfibramento e à fadiga dos operários são comuns neste
universo (Figuras 12 e 13).
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Figura 12 – O emprego de
trabalho infantil é comum
na monocultura de sisal.
Figura 13 - Inúmeros acidentes são provocados pela máquina de
desfibramento “periquita”.
63
Atualmente o Brasil é o maior produtor da fibra contribuindo com
44% da produção mundial de sisal.
64
ERHART [e outros], 1975-1976:36-37, vol.2. As fibras obtidas a
partir das folhas são resistentes, permitindo desenvolver produtos
confeccionados anteriormente a partir do cânhamo.
65
O manejo adequado do sisal poderia evitar 40% de perdas na
produtividade da planta, já que a doença Bothrioplodia ( “apodrecimento
do caule”) pode ser disseminada através de facas contaminadas.
47
A Embrapa implantou diversos projetos de inclusão66
social, através da realização do diagnóstico socioeconômico
das comunidades, restabelecendo a cadeia produtiva do
sisal em sua plenitude, com nova concepção de cultivo67,
com o uso da mucilagem de sisal peneirada na alimentação
de caprinos, ovinos e bovinos.
A utilização de fibras naturais como matéria-prima
para os mais diversos segmentos, seja em maior ou menor
escala, não tem relação direta com sustentabilidade. As
fibras naturais, embora sejam matérias-primas renováveis,
demandam investigação como qualquer outra matéria-prima,
em todas as etapas de produção do objeto confeccionado.
Problema de saúde pública
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Uma fibra que tem sido considerada problema de
saúde publica é o amianto, também conhecida como
asbesto68, fibra mineral natural sedosa que provém de
rochas com estrutura fibrosa e com múltiplos usos na
indústria (Figura 14). Suas propriedades69 tornaram-no
matéria-prima de grande importância a partir da Revolução
Industrial, utilizada então em máquinas a vapor. Conhecido
e utilizado desde a Antigüidade como reforço de utensílios
cerâmicos, é usado atualmente70 na fabricação de telhas,
caixas d'água, guarnições de freios (lonas e pastilhas) e
revestimentos de discos de embreagem, vestimentas
especiais, materiais plásticos reforçados, termoplásticos,
massas, tintas e pisos vinílicos.
66
A confecção de peças artesanais diversas agregou valor e renda
aos produtos de sisal, gerando empregos, organização em relação aos
aspectos das relações humanas, e promovendo a comercialização dos
produtos. Máquinas de desfibramento automático foram idealizadas e
estão sendo implantadas em algumas regiões.
67
Sistemas de consórcio com culturas alimentares e forrageiras,
agregadas à pecuária local.
68
Amianthus, palavra de origem latina que significa sem mácula ou
incorruptível, e Asbestos, de origem grega, significa incombustível.
69
É resistente ao fogo, a produtos químicos, a microorganismos,
mecânica, ao desgaste e à abrasão, durável e flexível, com boa
capacidade de filtragem e isolação elétrica e acústica, e com boa
afinidade com outros materiais.
70
ABREA. História do Amianto. Cerca de 90% do seu uso
encontra-se na indústria de cimento-amianto ou fibrocimento, 5 a 8% em
Figura 14 – Fibras de
amianto ao microscópio
eletrônico.
48
A poeira do amianto provoca inúmeras doenças71 e ele
permanece
disperso
no
ar,
contaminando
ambientes
internos e externos, atingindo o meio ambiente devido
principalmente ao difícil descarte e destruição inviável
através
das
tecnologias
conhecidas
atualmente.
Os
problemas sociais gerados pelas doenças provocadas pela
exposição ao amianto já são percebidos, mas possivelmente
outros serão conhecidos no futuro72. O Brasil defende o “uso
controlado” do amianto crisotila, mas, segundo relatório
realizado pelo INSERM (Instituto Nacional de Saúde e
Pesquisa Médica), órgão governamental francês, “não há
diferentes nocividades do amianto”, e “sob todas as formas
e tipos o amianto é cancerígeno”.73 O amianto, proibido nos
países de origem das empresas, é fornecido pelos países do
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terceiro mundo74, seguindo a “política do duplo-padrão”.75
Segundo Fernanda GIANNASI, fundadora da ABREA,
o amianto tem sido substituído, conforme a disponibilidade
de matérias-primas no mercado e em função de suas
aplicações,76
mas
como
ainda
restam
minerações
clandestinas de amianto anfibólio não fiscalizadas pelo
DNPM,
não
é
possível
garantir
a
inexistência
de
contaminações.
Cabe ressaltar que a substituição do amianto por
outras matérias-primas deve ser vista com cautela para que
não se reproduza o mesmo sistema, com impactos
materiais de fricção (autopeças), 3% em indústrias têxteis e menos de 2%
em químicas/plásticas, já tendo sido utilizado em brinquedos e giz escolar.
71
ABREA. Amianto ou asbesto. Obstrução da capacidade
respiratória, cânceres gastrointestinais, asbestose (doença crônica
pulmonar de origem ocupacional) e mesotelioma (tumor maligno raro, que
pode atingir tanto a pleura como o peritônio, e tem um período de latência
em torno de 30 anos).
72
A alta rotatividade de funcionários é uma estratégia empresarial,
e apenas um dos reflexos do grande período de latência dessas doenças.
GIA - Grupo Interinstitucional do Asbesto nas indústrias de fibrocimento
do Estado de São Paulo.
73
ABREA. História do Amianto.
74
O Brasil possui a maior mina de amianto da América Latina
(Minaçu -GO), e está entre os cinco maiores produtores de amianto do
mundo, com produção média de 200.000 toneladas/ano.
75
ABREA. Amianto ou asbesto. Double-standard: a produção e
comercialização de produtos proibidos nos países desenvolvidos são
liberadas para os países em desenvolvimento.
76
Ver Anexo 5.3: “substitutos para o amianto”.
49
percebidos apenas futuramente, substituindo-se um material
“indestrutível” por outro “que não se destrua”.77
Bioplásticos, biodegradáveis e nanofibras
Soja, milho e palha de milho, bagaço de cana e bambu
são hoje aproveitados como matéria-prima para plásticos,
biodegradáveis ou não, em fibras têxteis e nanofibras. As
novas tecnologias que as empregam como matérias-primas
renováveis estão ainda envoltas em incertezas, tais como a
destinação dos resíduos gerados, impactos produzidos
durante
o
processamento,
e
se
adotam
parâmetros
sustentáveis. Os materiais produzidos pela nanotecnologia
estão entre os que geram maior polêmica, tanto pelos
processos quanto pelo descarte de seus resíduos. Com as
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novas tecnologias, novos sistemas são elaborados, alguns
ainda pouco conhecidos.
O PLA (ácido poliláctico)78, derivado da dextrose do
milho; o PHA (polyhydroxyalkanoato)79 e o PHB (polímero
biodegradável e biocompatível), derivados da cana-deaçúcar; e o PEBD80 (plástico comum com aditivo) são
apenas alguns exemplos do que vem sendo desenvolvido,
não apenas no setor têxtil, mas também em diversos
segmentos.
Embora obtidos a partir de fontes renováveis, e alguns
com propriedades biodegradáveis, os bioplásticos podem
emitir gases metano e dióxido de carbono em sua síntese e
utilizar grandes quantidades de combustíveis fósseis.
77
ABREA. “Entre as causas da invisibilidade do amianto estão”.
O PLA, biodegradável, utiliza bactérias que extraem da dextrose
do milho, o ácido poliláctico. Este processo consome mais energia e emite
maior quantidade de gases do que a produção de plásticos petroquímicos.
79
O PHA utiliza a bacteria Ralstonia eutropha que converte o
açúcar da cana-de-açúcar em grânulos de plástico. Requer uma etapa
química para síntese do plástico, e é mais custoso que o os plásticos
convencionais, necessitando 300% mais energia do que a produção de
PE. Pode ser obtido a partir da síntese do plástico durante o crescimento
da cana-de-açúcar, produzindo plástico diretamente na planta e
eliminando o processo de fermentação.
80
REVISTA PLÁSTICO INDUSTRIAL. Japoneses produzem CDs a
partir do milho. Com o aditivo acrescentado na fase de pré-mistura (na
extrusora) do processo do PEBD, o polietileno de baixa densidade tornase mais suscetível ao ataque dos microorganismos responsáveis por sua
degradação.
78
50
GOETTLICH levanta a questão segundo a qual os plásticos
biodegradáveis estimulam o consumismo, não havendo, em
contrapartida, a devida atenção a questões relacionadas à
sustentabilidade.
Por
serem
utilizadas
espécies
geneticamente modificadas, e por serem monoculturas, são
utilizadas maiores quantidades de pesticidas do que nas
plantações convencionais. Além disso, as extensas áreas
em que são cultivadas carecem de diversidade de espécies,
há redução na produção, desarticulação dos pequenos
produtores81, o que deixa a “biodegradabilidade apenas
como um admirável conceito”.
Segundo GERNGROSS e SLATER, o PLA é o único
bioplástico com aparente potencial competitivo: 80% de
cada kg de açúcar são transformados em produto plástico.
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Apontam que a transformação da fonte de energia para
biomassa, e não a utilização de plantas na transformação de
plásticos, seria o primeiro benefício desse processo: a
queima de biomassa compensaria a energia adicional
necessária. Segundo os teóricos, as emissões seriam
absorvidas pelo plantio na estação seguinte. No entanto,
seria necessária a construção de nova infra-estrutura para
geração de energia. No Brasil, a Biocycle produz o PHB82,
que é obtido a partir da síntese da cana-de-açúcar, extração
e purificação do polímero com solventes naturais.
A nanotecnologia tem avançado no aproveitamento de
fibras em diversos segmentos, tais como o têxtil, da indústria
de papel e de construção. Nos EUA, a indústria de papel
tem realizado modificações genéticas do pinho de loblolly,
matéria-prima
da
polpa
celulósica83.
Embora
essa
“programação” das células não seja transferida às gerações
seguintes da planta, há dúvidas sobre questões de
81
GOETTLICH, 2003.
Segundo GAZZONI, a solução integrada do processo torna este
processo competitivo: cada 3 quilos de açúcar produz cerca de 1 quilo de
plástico. A biomassa obtida a partir do bagaço de cana fornece a energia
necessária para o processo.
83
O DNA sintético é injetado em células vivas (estas são atiradas
contra as nanofibras de carbono com o DNA, que é injetado nas células
durante o processo).
82
51
biossegurança.84 Estudos demonstraram que as nanofibras
de carbono possuem formas similares às fibras de amianto e
provocam inflamações nos pulmões mais severas que as da
silicose. Percebemos, assim, que a nova tecnologia está
envolta por incertezas e ainda não garantem segurança
ambiental, saúde ou sustentabilidade. A sustentabilidade
desses processos deve estar integrada em todo o seu ciclo,
seja nos benefícios sociais,85 na geração de compensações
para absorção de gases emitidos quando necessário; e ao
evitar a competição entre áreas de produção de plásticos e
produção
de
alimentos.
As
tecnologias
devem
ser
investigadas antes de incorporadas e implementadas,
verificando-se detalhadamente as interações, as novas
ameaças à saúde dos indivíduos e às diversas espécies, e
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ao sistema de forma integral.
84
Questões como a ingestão das nanofibras como alimento,
impactos ambientais caso penetrem em células de outros organismos
expressando-se como proteínas, seu descarte e decomposição no solo, e
sua utilização como instrumento de dependência e manipulação
econômica.
85
GERNGROSS e SLATER, 2000.
52
1.3.
Arquitetura & Design e suas relações
com a questão ambiental
Arquitetura & Design estão comprometidos com a
concepção e o planejamento de objetos, produção em
escala nas sociedades industriais, demanda do mercado e
com a capacidade produtiva do estabelecimento industrial86.
Desta forma, o produto, fruto do projeto87 de um plano
padronizado que determina diversos processos da mesma
natureza, submete-se ao cumprimento88 de metas de
produtividade predeterminadas pela dimensão da infraestrutura desse sistema. Caso não haja escoamento da
produção, a resultante será um sistema ocioso.
Ironicamente, seguindo a logística dos modelos
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produtivos
atuais,
percebemos
que,
naqueles
mais
“enxutos”, nos quais “praticamente não há perdas, pois tudo
é
aproveitamento”,
as
perdas
reaproveitadas
são
o
aproveitamento de um desperdício planejado. Sabe-se que,
na indústria têxtil, por exemplo, as ourelas de tecidos
produzidos na tecelagem são previsíveis e geradas pelo
próprio
equipamento
construído
inadequadamente.
O
“desperdício”89 incorporado ao processo – cujo significado
original da palavra é “fios, que não servindo para tecelagem,
se empregam na limpeza de máquinas; estopa” – demonstra
sua relação com o destino previsível. O desperdício ocorre
no processo de fiação, de estamparia, tingimento ou de
confecção, e os prejuízos são embutidos no preço final para
o consumidor. Ainda que a comercialização venha a cobrir
os custos, não há dúvida de que neles estão embutidos
todos
os
insumos
do
processo:
matérias-primas
manufaturadas, mão-de-obra, transporte e energia.
Assim “atendem-se” às demandas do mercado. As
aparas, resíduos de uma logística cronometrada, são
doadas ou comercializadas, muitas vezes alimentando novo
86
BEZERRA, 2004:Introdução.
MICHAELIS, 1998:1706.
88
LÖBACH, 2001:11-40.
87
53
nicho de mercado, fundamentando um discurso sobre os
benefícios sociais, promovidos a cooperativas e geração de
renda para os menos privilegiados. O que não quer dizer
que não seja louvável ou não gere de fato impactos
profundos e positivos na realidade de inúmeros indivíduos.
O que não se deve, no entanto, é perder o foco do que
significam: os resíduos não são apenas aparas, são
insumos de TODAS as etapas que constituem o processo e
não se transformaram em produto. A obtenção de matériasprimas não renováveis é extremamente custosa para que
sua utilização final seja a produção de artefatos de limpeza
e estofos. As renováveis também demandam tempo para
sua renovação na natureza. Além de não consumidos com o
valor agregado previsto, não atenderam às supostas
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necessidades que motivaram o desenvolvimento desses
artefatos.
Enquanto persistir a produção desses resíduos, os
caminhos sociais encontrados pelas cooperativas para a
geração de renda extra serão, ainda que paliativos, uma
alternativa.
A produção em escala é uma necessidade, tanto para
quem produz quanto para quem utiliza os artefatos. Para
quem
utiliza,
a
princípio,
bastaria
o
necessário.
A
necessidade do “novo pelo novo” é artificial, criada como
símbolo de “status”
90
e está, como vimos anteriormente,
condicionada às demandas da burguesia e à noção de
conforto. Assim, o sistema relacionado à produção em
escala cria artifícios para o consumo do excedente91, ou
seja, daquilo que vai além do natural, do conveniente, do
necessário, estimulando e provocando uma necessidade
artificial, para garantir o pleno funcionamento de sua
capacidade produtiva.
89
MICHAELIS, 1998:700.
LÖBACH, 2001:91-106.
91
MICHAELIS, 1998:917. Excedente: que excede ou sobeja.
Diferença para mais; excesso; sobra. Exceder: Ir além de; ultrapassar(em
valor, peso, extensão, talento,virtude, etc.). Ir além do que é natural, justo
ou conveniente; cometer excesso. Fatigar-se até o excesso.
90
54
Uma indústria, ao se estruturar em função de certa
capacidade produtiva, supostamente em função de um
mercado, irá inevitavelmente investir para que suas
máquinas produzam a capacidade de forma integral. Utiliza
artifícios para o escoamento de seus produtos, estimulando
o
consumo
e
aplicando
estratégias
tais
como
a
obsolescência planejada,92 em que o produto se torna
obsoleto artificialmente, embora ainda possa exercer suas
funções.
O que foi consumido a partir de uma necessidade
artificial, ou seja, consumido desnecessariamente, é então
percebido como inútil e, como tal, descartado.
Agora, ao analisarmos o conteúdo das partículas de
polímeros encontradas no plâncton da região de Gyro, os
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resíduos
descartados
conhecimentos
anteriormente,
em
aterros
tradicionais
podemos
em
perceber
sanitários
extinção
o
e
os
citados
significado
das
toneladas de matéria descartadas e suas relações com
Arquitetura & Design. TODOS os insumos estão contidos e
outros ainda serão disponibilizados, com o objetivo de evitar
novos impactos e reverter os que já se instalaram.
Arquitetura & Design, comprometidos com os modelos
produtivos
apresentados,
articulam-se
com
diversas
disciplinas durante a concepção, na seleção de matériasprimas, na obtenção e disseminação de informações,
perpetuando o próprio sistema.
Utilizam-se também de
conhecimentos tradicionais encontrados na arquitetura
nômade e de artefatos de sociedades tradicionais em
diversas partes do mundo, e incorporam novos materiais, o
desenvolvimento tecnológico93, interagindo com profissionais
que atuam em diversas áreas da ciência e do conhecimento.
As habitações nômades e a vernacular, por exemplo,
estão intimamente relacionadas ao contexto socioeconômico
do grupo à qual pertencem e à paisagem circundante.94 Na
92
QUEIROZ, 2003: 27, e MACZAK, 1986: 134.
BAHAMÓN, 2004:7-8.
94
RIPPER & FINKIELSZTEJN, 2005:1-2.
93
55
tecnologia artesanal têxtil, a efetiva transmissão dos
conhecimentos sobre a natureza, sobre a matéria e do saber
técnico sofre interrupção pela extinção do idioma, por
aculturação ou extinção do próprio grupo.
Assim, com o avanço da industrialização e da
mecanização e a conseqüente divisão do trabalho e
fragmentação dos conhecimentos tradicionais, inviabiliza-se
o fluxo de informações sobre a diversidade biológica, a
cultura e tecnologia desses grupos, fundamentais para a
compreensão e elaboração de projetos sustentáveis e que
respeitem todas as etapas do “Ciclo de Vida do SistemaProduto”.95 Segundo VIDAL e SILVA, todas as etapas desse
sistema
são
relacionando-se
imprescindíveis
como
e
aglutinante
indissociáveis,
na
inter-
elaboração
de
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA
projetos: nascimento, vida e morte do produto.
“A divisão de trabalho é uma das principais diferenças entre
artesanato e trabalho mecanizado. A conexão entre estas
diversas disciplinas é fundamental para que não se perca a
proposta original de enriquecimento da vida humana”.
(BUCHANAM, 1998:3- 4)
O designer não é autônomo e não trabalha de forma
isolada.96 É co-autor, ao interagir com diversos campos do
conhecimento e pela visão do conjunto, podendo assumir
atividades relacionadas à articulação das diversas funções
dos produtos. Inserido no sistema produtivo atual de escala,
que considera a busca por novos materiais à necessidade
de aumento da produção, mais que pelo desconforto gerado
pelos impactos ambientais, o designer utiliza “critérios” de
faturamento, em vez de investigar a geração de efeitos
sobre o usuário, deixando de lado o sentido de satisfazer as
necessidades do homem, das sociedades de hoje e futuras.
Neste contexto, assume a função de incentivador de
vendas,97 ou “esteticista de produto”.
Neste paradoxo, o sistema exerce sobre Arquitetura &
Design duas forças contrárias: por um lado, a manutenção
95
MANZINI E VEZZOLI, 2002.
KRIPPENDORFF, 1998:156-184.
97
LÖBACH, 2001:193.
96
56
constante da produção e, por outro, as variáveis dinâmicas
relacionadas ao Homem e ao Meio. Em um extremo, o
produto como instrumento de intercâmbio comercial e, no
outro,
como
instrumento
de
troca
simbólica
e
de
significados98.
“Design é muitas vezes visto somente como concepção e
planejamento de produtos de aplicação comercial ao invés
de ser percebido como uma fonte para a colaboração
interdisciplinar, renovando com novas propostas a
concepção e o planejamento de produtos. Seria então a
capacidade de compartilhar diferentes perspectivas e novos
pensamentos interagindo na direção de interesses e
inquietações sobre problemas comuns.” BUCHANAN, 1998: xxii.
Arquitetura & Design articulam-se nesse sistema,
aproveitando os resíduos que já foram desperdiçados, na
tentativa de manter padrões comerciais ideais. O “modo
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sustentável”, junto às comunidades, utilizando tecnologias e
matérias-primas disponíveis e afins com a região trabalhada
é, na maioria das vezes, esquecido.
Assim, os atuais modelos de produção em escala, por
sua estrutura artificial e dimensões grandiosas, são
insustentáveis, já que não acompanham a agilidade das
variáveis dinâmicas das quais dependem.
98
BUCHANAM, 1998:xix.
57
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2
Tecnologias de aproveitamento de
fibras naturais: uma arqueologia de
“conhecimentos em extinção”
“...como formas expressivas da cultura de um povo e
elementos de sistemas de comunicação, o sistema de
objetos e as artes são produtos de uma história: remetemse às tradições identificadas pelo grupo como suas marcas
distintivas, específicas de sua identidade; falam dos modos
de viver e de pensar compartilhados no momento da
confecção do produto material ou artístico ou da vivência da
dramaturgia dos rituais, indicando uma situação no
presente; em suas inovações, no esmero de sua produção e
no uso que dela faz, indicam as relações entre o indivíduo e
o patrimônio cultural do grupo a que pertence e apontam
para canais de comunicação com o exterior e para projetos
futuros”. (VIDAL e SILVA, p.371)
Segundo DANTAS (2004:204), o homem adapta-se ao
meio,
acumulando
gradativamente
informações
e
experiências, articulando gestos técnicos e pensamento.
Desenvolve instrumentos e tecnologias, elaborando grande
diversidade formal simples e complexa, em função do
contexto.
”Uma das características do homem é a capacidade de
transformar matérias-primas disponíveis na natureza e
superar a carência de instrumentos biológicos de que
dispõem outras espécies predatórias. As técnicas consistem
de cadeias operacionais destinadas a fornecer um
produto...” (DANTAS, 2004: 204).
As tecnologias que utilizam fibras naturais revelam
conhecimentos, significados e relações que unem os grupos
sociais, nos quais a extinção desses conhecimentos
compromete a identidade e a própria existência desses
grupos e daqueles com os quais se inter-relacionam.
Através da investigação de tecnologias regionais,
identificam-se os recursos, tais como mão-de-obra, matériaprima e recursos econômicos, concretizando a cultura
58
material sustentada na relação Homem-Técnica-Objeto,1 a
matéria-prima para projetos de ordem teórica ou prática.
Novos materiais e tecnologias são desenvolvidos a
partir dos conhecimentos tradicionais, na intenção de
adequar e adaptar “modos de fazer tradicional” à indústria, e
incorporar “modos de viabilizar” o sustento de inúmeras
comunidades
à
produção
de
pequena
escala.
O
reconhecimento dos limites de renovação ambiental e a
utilização
de
técnicas
adequadas
e
matérias-primas
disponíveis somam-se aos novos critérios e novos modelos,
tornando os procedimentos adotados mais favoráveis e
menos danosos, ambiental e socialmente.
Produtos que incorporam parâmetros ambientais estão
inseridos no campo do Design Sustentável
2
e são
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desenvolvidos tendo em vista a redução de matéria-prima,
recursos, água, impactos e o aproveitamento de resíduos,
orientando-se desde a obtenção da matéria-prima, o
processamento até seu descarte final.
1
CERQUEIRA, 1994:69.
Design sustentável: também são encontrados os termos “Design
ecológico” e “Ecodesign”.
2
59
2.1.
Inter-relações entre a “Sociedade da Palha” e as
“Sociedades Complexas”
“—D. Madalena, que tipo de artesanato a Sra. faz?
—Esse tipo de trabalho de taquaruçu mesmo. Eu faço
cesto, faço peneira, faço balaio e tapiti.
— Com quem a Sra. aprendeu a fazer?
—Sozinha, desmanchando um velho para fazer um novo.
—Na sua família ninguém trabalhava com palha?
—Bom, eu fui aprender com o tio Eugênio, que era tio do
meu marido, mas ele era muito bruto. Ele disse assim:
“Você não quer aprender? Então panha essa palha aí e faz”.
Ele não soube me ensinar; aí eu fui aprender sozinha”.
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D. Madalena Alves da Conceição (Figura 15) ensinou a
todos os seus filhos e iniciou diversas pessoas nos cursos
em Campinho, onde vive, e na cidade. Sua filha, Adilsa da
Conceição Martins, é cesteira como a mãe e vê seu trabalho
como uma profissão.3
(RIBAS E RIBAS, 1983/84:28-33)
Tecendo tecnologias a partir de necessidades
As interações entre a “Sociedade da Palha”4 e as
“sociedades
complexas”5,
por
meio
das
tecnologias
utilizadas no aproveitamento de fibras naturais e na
arquitetura têxtil, vão além da elaboração cuidadosa de
artefatos e aperfeiçoamento nos processos de fabricação.
Expressam a intimidade entre as sociedades tradicionais e
seu meio através de “saberes”, passados de pai para filho:
conhecimentos adquiridos e acumulados através do tempo,
traços de sua cultura. Expressam também a fragilidade de
seu acervo cultural ameaçado pela massificação, pela
padronização dos costumes e pelo avanço de valores de
consumo das sociedades industrializadas, nas quais custo,
produção em massa e “estratégias conservacionistas”6
tornam-se instrumentos de poder e dependência econômica.
3
RIBAS E RIBAS, 1983/84:28-33. Parte integrante da entrevista
realizada por Marcos Caetano Ribas e Rachel Joffily Ribas com D.
Madalena Alves da Conceição, em Paraty, 1983/84.
4
BERTA RIBEIRO, 1980: 5.
5
GILBERTO VELHO, 1999:97-105. VELHO utiliza o termo
“sociedades complexas” para referir-se às sociedades individualistas
ocidentais modernas e “sociedades tradicionais” para aquelas cujos
sistemas são hierarquizantes, holistas, mais fechados, em que o indivíduo
é englobado pelo clã, linhagem ou tribo.
6
GRAY, 1995:112-121. Segundo o autor, os “povos de
ecossistemas” não são priorizados na agenda das organizações
Figura 1 – D. Madalena
Alves da Conceição é
cesteira e transmite seus
conhecimentos aos
habitantes da região em que
vive.
60
As antigas técnicas7 de confecção de artefatos que
utilizam fibras naturais indicam, não somente a urgência na
documentação deste acervo cultural, como também a
potencialidade de emprego dessas tecnologias de forma
mais
adequada.
Segundo
GRAY,
a
perda
desses
conhecimentos e tradições, e a degradação do meio
ambiente do qual subsistem, levam à perda da identidade, e
até mesmo ao etnocídio cultural8.
RIBEIRO qualifica a cultura dos índios do Brasil como
“uma civilização vegetal, perfeitamente adequada a seu
meio ambiente”, que fez uso primordialmente de materiais
de origem vegetal.9 Os artefatos indígenas refletem a forma
com que esse grupo subsiste e estão estreitamente
relacionados com a disponibilidade das matérias-primas e
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sazonalidade econômica.
Através da tecnologia, ou seja, os “modos de fazer”, os
grupos sociais relacionam-se com o meio externo e interno.
Interagem com o meio ambiente, grupos sociais e dentro de
seu próprio grupo. Segundo VIDAL e SILVA10, ao serem
submetidas à influência externa de outras culturas, as
sociedades sofrem mudanças ou inovação. As interferências
religiosas, técnicas, sociais ou decorativas podem influenciar
conservacionistas, e as “estratégias conservacionistas” são utilizadas
como propaganda em vez de proporcionar efetiva conservação da
biodiversidade.
7
GILBERTO VELHO, 1999:97-105. Estas tecnologias apresentamse neste trabalho como instrumentos arqueológicos de construção da
memória de “conhecimentos em extinção”, conhecimentos que, segundo
VELHO, são de fundamental importância tanto para as “sociedades
tradicionais” quanto para as “sociedades complexas”. Aqui, as habitações
nômades e a vernacular são “lugares de memória” da arquitetura têxtil e
de projetos de design de interiores, preservando e transmitindo, através
dos objetos, conhecimentos sobre a tecnologia.
8
GRAY, 1995:111.
9
RIBEIRO,1980:5. Algumas das matérias-primas utilizadas em
suas casas, canoas e artefatos foram madeiras, embiras, cipós, palhas,
fibras, resinas, vernizes, óleos, nozes, corcubitáceas.
10
VIDAL e SILVA, 1995:371-372. Os ”modos de fazer” e os
costumes levam a revoluções tecnológicas, em que cada civilização tem
seu caminho próprio ou assimila tecnologias. As condições de fabricação
são os recursos naturais e materiais disponíveis, organização do trabalho
para sua execução, aprendizado e refinamento das técnicas,
conhecimentos sobre o meio natural e os meios e processos de
transmissão desse saber dentro do grupo social onde é produzido, etc. As
condições de uso estão relacionadas ao momento e cenários da vida
social e aos fins, tais como os distintivos sociais de gênero, classe e
geração. Os significados simbólicos correspondem aos pragmáticos,
rituais, míticos e cosmológicos.
61
e gerar “novos modos de fazer” e novos costumes conforme
o contexto. As tecnologias determinam as condições de
fabricação, de uso, finalidades, significados simbólicos e
circunstanciais que, segundo os autores, são fundamentais
para a compreensão e conhecimento de um objeto (utilitário,
ritual, decorativo, ferramenta ou ornamento). São partes
integrantes de um sistema, imprescindíveis e indissociáveis,
inter-relacionando-se como aglutinante na elaboração de um
projeto. Assim, para que se possa atuar em um determinado
grupo, torna-se necessário investigá-las.
A técnica evolui, permite o entrosamento do homem
com o ambiente, interage posteriormente na formação étnica
e cultural, e grupos com afinidades de conhecimentos,
experiências, técnicas, costumes e comportamentos formam
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as civilizações (Figuras 16, 17 e 18).
Figura 3 – Ilha de totora amarela. Lago Titicaca, Bolívia/ Peru.
Segundo CERQUEIRA, o homem não pode existir sem
a integração com seu meio ambiente11: o Homo Faber
conscientiza-se de sua ação sobre a natureza e controla o
meio ambiente através de atos, em que o ato útil, ou seja, o
utensílio, através da técnica, é de fundamental importância
nesse contexto.
11
CERQUEIRA, 1994:64-66.
Figura 2 – A totora amarela
é parte integrante da
comunidade do lago
Titicaca.
62
“artefatos e explicações sobre a solução de problemas
foram a gênese do patrimônio cultural, transmitido via tradição oral
e enriquecido através das tradições. Mas nenhuma invenção ou
técnica pode ser criada a partir de nada. Não existe mudança nem
aperfeiçoamento dos modos de agir sem a transformação dos
meios de que se dispõem. A origem da cultura material está na
capacidade de observar o entorno e as soluções encontradas por
outras espécies animais para problemas similares, bem como a
capacidade de se relacionar ao procurar novas soluções”...”A
espécie humana apenas observa, copia e inova sobre o que já
existe”. PESSIS, 2004:204-205.
Figura 4 – Totora amarela:
O primeiro recurso elaborado pelo homem para obter mais apropriada para
abrigo foi o tecido12 e raras são as civilizações que não confecção de casas e barcos.
desenvolveram algum tipo de trançado em fibra natural13. A
fragilidade do material com relação à sua preservação ao
tempo deixou menos vestígios acerca do surgimento da
cestaria do que os deixados pela cerâmica, por exemplo.
As técnicas de trançados foram indispensáveis aos
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grupos
indígenas
seminômades
do
Brasil,
devido
principalmente à leveza dos artefatos, aos significados, e
por representarem, com grande variedade de detalhamento,
a identidade étnica do grupo.14
Segundo RIBEIRO, para
esses grupos, esta é “a mais importante técnica de
manufatura, que utiliza a mão desarmada, ou os dedos em
atividade prênsil”, tendo alcançado alto grau de elaboração
de seus trançados, ampla distribuição geográfica, grande
variedade formal, técnicas, usos e efeitos decorativos.
Além
do
trançado,
o
índio
brasileiro
também
transformou fibras em fio e tecidos, cultivando o algodão,
fiando e tecendo também folhas de palmáceas e bromélias,
torcendo a fibra sobre a coxa em movimento de vai-vem, ou
empregando o fuso, no caso dos flocos de algodão, em
movimentos de rotação.
Em regiões da América do Sul, as matérias-primas
utilizadas para a construção de habitações indígenas são
pouco diversas, sendo os meios de adaptação, ecológicos,
12
BAHAMÓN, 2004:7-9.
CERQUEIRA,1994:68. A cestaria origina objetos para a
preservação de alimentos e fácil transporte, possui flexibilidade e leveza,
atendendo às necessidades de locomoção de grupos nômades.
14
RIBEIRO, 1983: 15. As características estéticas e de produção
da cestaria vão além de informações técnicas: expressam a identidade
sócio-cultural do grupo.
13
63
sociais e religiosos os diferenciais, ricos em detalhamento
percebidos em suas unidades habitacionais, construções
temporárias ou rituais.15 Através das habitações, preservam
conhecimentos sobre suas relações com o meio físico e
social.
A construção arquitetônica têxtil associada às culturas
nômades e inicialmente expressa através de tendas, e a
arquitetura
vernacular,
construção
de
autores
desconhecidos, servem hoje de base para projetos de
arquitetos modernos, que incorporam os novos materiais e o
desenvolvimento tecnológico.16 As tendas e as habitações
nômades são construídas a partir de conhecimentos
herdados e transmitidos às novas gerações, com formas
geométricas simples (plantas quadradas ou circulares),
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facilitando a manipulação por qualquer membro do grupo
social.
Este
tipo
de
arquitetura
sofre
constantes
transformações em conseqüência de sua reutilização ao
longo do tempo17 e está intimamente relacionada ao
contexto socioeconômico do grupo ao qual pertencem, à
paisagem circundante, aos aspectos de leveza e transporte,
aos elementos naturais e à fácil montagem e desmontagem.
HIDALGO-LÓPES, em sua entrevista, narra ter vivido,
durante a infância, em uma casa feita de bambu, e sua
memória individual revela saberes técnicos tradicionais e
coletivos. Alguns desses saberes foram percebidos ainda
quando criança, outros apreendidos no decorrer de sua vida
profissional, quando impulsionado pela curiosidade e
questionamento frente aos preconceitos e “verdades” do
meio acadêmico enquanto estudante. Busca, em outras
culturas, o conhecimento tradicional que responderia a
muitas de suas investigações.18
15
VIDAL e SILVA, 1995:391.
BAHAMÓN, 2004:7-9.
17
Idem.
18
Anexos. Entrevista de HIDALGO-LÓPES. Percebe-se a
importância dos saberes técnicos tradicionais nos projetos de construção
coletiva de habitações de HIDALGO-LÓPES, assim como o
entrelaçamento entre sua biografia a partir da memória individual e da
memória coletiva daqueles grupos (“memória verdadeira”) e, ainda, uma
analogia com as “antigas artes da memória”, no sentido da aprendizagem
16
64
Fibras naturais e os “modos de fazer”
“Atualmente quando nos referimos aos estudos
tecnológicos, deparamo-nos logo com as denominadas
tecnologias de ponta, isto é, os novos materiais e seus
processamentos. Contudo, há que se destacar também as
técnicas mais simples, aquelas geradas no próprio meio e que
estão ao alcance de uma parcela significativa da população e
principalmente
não
criam
dependências
econômicas.”
(CERQUEIRA, 1994:63).
A pesquisa de RIBAS e RIBAS documenta alguns
processos de confecção de artefatos na região de Paraty,
Figura 5 – Em Paraty, o tipiti
investiga os objetos, a maneira de fazê-los, as matérias- de forma cilíndrica é
primas, as ferramentas utilizadas e, principalmente, quem os semelhante ao encontrado
em Portugal para a extração
faz. A pesquisa revela também a reconstituição do “modo de de azeite de oliva.
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fazer próprio”, em que uma das entrevistadas desmancha
um tipiti19, aprende a confeccioná-lo e transmite esse
conhecimento aos seus filhos e à comunidade.20 Em Paraty,
o tipiti tem a forma de cesto cilíndrico (Figura 19),
semelhante ao encontrado em Portugal na extração do
azeite de oliva, e foi incorporado ao fabrico da mandioca
com o objetivo de incrementar a produtividade através de
sistemas mais rentáveis.21 É utilizado para extrair o líquido
da mandioca, e é encontrado também na forma de tubo
cilindro, trançada a partir de talos arumã, embiras, taquara
ou fitas de bambu.22 Quando tensionado se alonga,
diminuindo seu diâmetro, funcionando como uma prensa
que
separa
a
parte
sólida
da
líquida.23
Segundo
visceral, daquelas feitas “de coeur”, ou seja, “do coração” (antigas artes
da memória), em que a experiência individual é uma ferramenta
pedagógica importante.
19
Typiity, de origem nheengatu, vem de typii, (apertado,
espremido), e ti, (líquido).
20
RIBAS e RIBAS, 1983/84:5. Entrevista realizada por Marcos
Caetano Ribas e Rachel Joffily Ribas com D. Madalena Alves da
Conceição, em Paraty, 1983/84.
21
FERNANDES, 1964:20-24. O autor relaciona as ceiras
portuguesas com os tipitis indígenas, evidenciando a mescla cultural
ocorrida através das tecnologias, cujo objetivo é o maior rendimento
econômico.
22
Idem.
23
FERNANDES, 1964:6-8; 13-14. A mandioca já era cultivada em
vastas áreas antes da chegada dos portugueses, e foi um produto de
fundamental importância para a economia nacional muito além das
65
FERNANDES, esses trançados poderiam ser classificados
como tipiti cilíndrico (Figura 23), tipiti kayapó (Figura 20) e
tipiti-ceira (Figuras 21 e 22).24
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Figura 6 - Tipiti kayapó.
Figura 7 – Tipiti-ceira após o uso.
Figura 9 – Tipiticeira antes do
uso.
A energia empregada na compressão da massa de
mandioca se altera em função da tecnologia que passa de
tração ou estiramento para prensagem. A força muscular
humana braçal inicialmente utilizada é substituída pela
“árvore motora” em que o movimento de uma alavanca
(Figura
24),
e
posteriormente
das
prensas
lagares,
culminaram na criação de grandes fábricas.25
necessidades alimentares, e sua carência originaria a “crise da
mandioca”.
24
Idem, 1964:9.
25
Idem, 1964:16-17.
Figura 8 – Tipiti-cilíndrico
antes e durante o uso.
66
Figura 10 – Sistema de alavanca substitui a força muscular braçal.
A tecnologia de confecção de tipitis e ceiras é o
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resultado de sofisticada conjugação de fibras naturais pelo
homem, não utilizando molas ou motores.26
O interesse pelo artesanato que emprega fibras
naturais tem motivado parcerias e associações entre
instituições e comunidades, cuja finalidade é a elaboração
de projetos de inclusão social e geração de renda extra para
a população. Peças artesanais confeccionadas com capim-
Figura 11 – Colheita do
dourado (Syngonanthus sp), família da sempre-viva (Figura capim-dourado.
26), foram adequadas à produção por intermédio do Sebrae,
que implantou um projeto de design na comunidade de
Mumbuca (TO), atendendo ao mercado consumidor. São
produzidos objetos de decoração, moda e mobiliário.
A
matéria-prima,
de
cor
metálica
dourada
e Figura 12 – O capim-dourado
extremamente brilhante, é encontrada somente na região do pertence à família da sempreviva.
Jalapão (TO). Os impactos gerados pelas queimadas para a
obtenção das fibras, associados ao aumento da produção
de peças, ameaçam de remoção a comunidade da região
(Figuras 25 e 27).27 Percebe-se, neste caso, que, embora a
tecnologia
utilizada
seja
acessível
e
regional,
os
procedimentos aplicados desconsideram os limites de
26
REVISTA NOSSO PARÁ.
A super-exploração do capim-dourado ameaça esta fibra de
extinção, assim como à palmeira de Buriti da qual se extrai o fio para a
costura das peças de artesanato.
27
67
renovação ambiental e de manejo28. A demanda externa por
produtos artesanais confeccionados por esta comunidade é
maior que a disponibilidade da matéria-prima, e o resultado,
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inverso ao proposto inicialmente.29
Figura 13 – Artesanato confeccionado com capim-dourado.
28
A fibra de capim-dourado não é cultivada, brotando em áreas
com maior umidade, em locais próximos àqueles onde é encontrado o
buriti.
29
ROTA BRASIL OESTE e AGÊNCIA BRASIL.
68
2.2.
Fibras naturais e tecnologias “(in)sustentáveis”
Os modelos de desenvolvimento atuais não têm
demonstrado eficiência nas questões ambientais e sociais,
já que geram impactos à medida que buscam geração de
riquezas e conforto.
Segundo MANO30, “se a economia
mundial crescer em torno de 3% ao ano, valor já atingido,
em 2050 os recursos naturais estarão esgotados”.
Os acidentes ambientais ocorridos a partir de meados
do século XX, assim como os sinais de esgotamento de
recursos naturais, alertaram sobre a necessidade de novas
formas de pensar tecnologias e processos de produção, em
que biodiversidade, ecossistemas e recursos energéticos
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fossem preservados, e tecnologias que utilizassem fontes de
energia renováveis fossem desenvolvidas.
“Um processo de mudança em que a exploração de
recursos, as opções de investimento, a orientação do
desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional
ocorram em harmonia e fortaleçam a satisfação das
necessidades e aspirações humanas no presente, sem
descuidar das gerações futuras” (Comissão Brundtland,
Nova York, 1987).
O desenvolvimento sustentável conjuga tecnologia,
meio ambiente e justiça social. Conjuga estratégias de
tecnologias limpas com melhor desempenho socioambiental.
Neste tripé, também Arquitetura & Design buscam o
equilíbrio no contexto da sustentabilidade e passam a adotar
esses princípios, incorporando-os ao sistema-produto. Aqui,
atributos
ambientais
31
concepção
são
inseridos
no
processo
de
em que todas as etapas do “ciclo de vida do
produto” são consideradas ao se projetar o artefato.
Segundo MANZINI e VEZZOLI, o ciclo de vida do produto é
o “nascimento, vida e morte” do produto, e o produto, um
sistema32 que contém um conjunto de atividades e
30
MANO et al, 2005:97.
Apud. QUEIROZ, 2003:79.
32
MANZINI E VEZZOLI,( parte II, cap. 1 e 2.). Neste contexto, o
design passa a enfatizar o “sistema-produto” como uma só unidade, e não
mais o “produto” de forma isolada.
31
69
processos, fluxos de matéria, energia e emissões. Para os
autores, as etapas de processos se agrupam basicamente
em pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte.
33
Nas últimas três décadas as questões ambientais
tornaram-se evidentes: a década de 70 foi marcada pela
explosão do consumismo, dos descartáveis, e pelas
questões relativas ao lixo gerado. Nos anos 80, novas
técnicas de reciclagem foram desenvolvidas em função dos
altos custos com aterros sanitários e pela dificuldade de
degradação de materiais poliméricos, e, na década de 90,
valorizou-se a preservação ambiental.34 Assim, as variáveis
interagem de forma dinâmica na direção da ecoeficiência.
Fibras naturais e o ciclo de vida do sistemaPUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA
produto
A utilização de uma fibra de origem natural não
significa necessariamente a garantia da preservação do
meio ambiente, e sua aplicação deve ser investigada
verificando-se
sua
adequação.
Deve-se
conceber
a
substituição da matéria-prima por renováveis inserida no
ciclo de vida do sistema-produto, e não isoladamente. Além
disso, sua disponibilidade e integração das tecnologias
envolvidas com o meio ambiente, considerando-se as
particularidades geográficas e culturais de cada região, são
questões
fundamentais
na
elaboração
de
produtos
sustentáveis que utilizam essas fibras. Este conjunto de
aspectos permite considerarmos as ações relevantes para a
efetiva redução de impactos ambientais e sociais.
No caso das fibras naturais, o ciclo de vida engloba
etapas específicas: o manejo (obtenção de fibras), que pode
ser feito através de extração, cultivo, produção in vitro, a
partir de resíduos sólidos urbanos ou da agroindústria; o
acondicionamento (em locais adequados para cada etapa,
33
O Design Sustentável incorpora parâmetros ambientais em seus
produtos, tendo em vista a redução de matéria-prima, recursos, água,
impactos, aproveitamento de resíduos, orientando-se desde a obtenção
da matéria-prima, do processamento até seu descarte final.
34
SILVA, 1998:727-730.
70
arejados e secos para impedir a disseminação de fungos); o
processamento das fibras (desfibramento ou tosquia, e
transformação da matéria em fios, cordas, palhas, etc.);
lavagem e secagem (no caso de fibras animais, também é
realizada
antes
da
tosquia);
limpeza,
classificação,
enfardamento; distribuição a fornecedores, indústrias e
instituições que irão confeccionar os artefatos; confecção
dos artefatos (em função da escala, pode ser artesanal,
industrial ou semi-industrial); distribuição e marketing
(venda); uso do artefato e descarte.
Os impactos ambientais e sociais podem ocorrer em
todas as etapas do ciclo de vida do sistema-produto em
decorrência
de
“modos
de
fazer”
inadequados
que
desconsiderem a unidade do sistema. Todo o processo de
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obtenção de fibras naturais requer não apenas cuidados de
limpeza dos equipamentos e acondicionamento do material,
mas
também
cuidados
relacionados
à
renovação
e
reprodução da espécie. A obtenção através de extrativismo,
por exemplo, exige conhecimentos específicos sobre cada
fibra, já que cada uma possui seu ritmo de renovação na
natureza e interage com outras espécies vegetais e animais.
Além disso, muitas têm funções diversas e fundamentais
para o equilíbrio do solo e mananciais hídricos. O cultivo e a
produção de mudas in vitro podem ser realizados em
pequena ou maior escala, e a utilização de resíduos sólidos
urbanos e da agroindústria evita que matérias-primas não
renováveis sejam utilizadas em seu lugar. Há iniciativas de
produção através de sistemas orgânicos, tanto no campo
das fibras vegetais como animais, nos quais são utilizados
ferormônios
nas
plantações
ou
nos
medicamentos
homeopáticos, na produção pecuária. O tingimento com uso
de corantes naturais também tem sido utilizado.35
O desfibramento das fibras e a confecção de artefatos,
em função da escala, podem utilizar processos manuais,
35
FELIZ.
ETNO BOTANY COLOURS, ETNO BRASIL e O CASULO
71
semi-industriais ou industriais. Procedimentos mecânicos,
químicos e naturais (onde não são utilizadas substâncias
químicas) são encontrados. A energia utilizada deve ser
investigada, buscando-se maior eficiência com redução
quantitativa e melhoria da qualidade, evitando-se emissões
de gases e substâncias tóxicas no meio ambiente. Ainda
que sejam empregadas as mais avançadas tecnologias de
tratamento de efluentes e manejo das plantações sem
utilização de substâncias tóxicas, é fundamental reduzir-se o
custo
energético,
com
o
mínimo
de
material
e
aperfeiçoamento das técnicas e processos limpos.
A utilização de matérias-primas regionais, próximas
aos locais de beneficiamento, assim como de fornecedores,
indústrias de manufatura e dos pontos de venda, evita o
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desgaste das vias de acesso e transporte, e reduz o
consumo de combustíveis.
O uso e o descarte do objeto produzido também
devem
ser
investigados:
a
durabilidade,
a
energia
consumida durante o uso, e a forma e local onde serão
descartados.
Ainda que sejam biodegradáveis, as fibras naturais
necessitam de condições para tal, caso contrário, seu
descarte também poderá gerar novos impactos. Se o
produto for de grande durabilidade, mas demandar maior
consumo
de
energia,
novas
alternativas
devem
ser
investigadas, e deve-se mesmo reconsiderar a possibilidade
de novo conceito.
Os processos produtivos que geram desperdícios
sociais, ambientais e econômicos apontam para a urgência,
não apenas de uma nova configuração do fazer técnico e
das atividades projetuais como Arquitetura & Design, mas
principalmente de novas formas de conceber, produzir,
consumir e pensar “conforto” e “valores”. Para que seja
sustentável, o sistema deve incorporar a própria dinâmica
das variáreis com as quais interage, de forma a garantir a
sobrevivência das gerações futuras.
72
"Cerca de 3 milhões de toneladas de agrotóxicos
anualmente são despejados no planeta, contaminando o
solo e a água, os animais e os vegetais.
Conseqüentemente, toda a contaminação e os efeitos
residuais se voltam contra o ser humano. " (PLANETA
ORGÂNICO)
A organicidade de um produto confeccionado a partir
de fibras naturais refere-se ao sistema de cultivo no caso de
fibras vegetais, e ao sistema de manejo, no caso de fibras
animais. O cultivo de espécies, sem a utilização de
agrotóxicos e em ambiente previamente descontaminado, é
sujeito a testes rigorosos, e obedece ao processo de
certificação, que é realizada em cada fazenda, submetida a
regras rígidas de uma agência certificadora de caráter e
respeitabilidade internacional, como o IBD - Instituto
Biodinâmico (SP).
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O sistema de produção orgânico
não permite a
utilização de pesticidas, “desfolhantes”, adubos químicos,
inseticidas,
herbicidas,
maturadores,
reguladores
de
crescimento e outros produtos químicos artificiais. As pragas
são combatidas com bioinseticidas à base de bactérias e
fungos, e utiliza métodos em que o clima e o manejo da
cultura, com base no zoneamento e época de plantio
adequado, evitam o ataque de pragas. O manejo sanitário
da pecuária orgânica segue medidas preventivas que
preservam
a
saúde
do
animal,
tornando-os
menos
suscetíveis a doenças.
A implantação dos métodos de cultivo orgânico é
relativamente recente e data da década de 90. São ainda
custosos, e sua complexidade exige organização e sincronia
dos produtores nas estratégias de prevenção às pragas. 36
A produção de fibra e de tecidos orgânicos ainda é
limitada, e o controle nas indústrias é complexo, não
havendo, ainda, padrões homogêneos para a verificação
36
EMBRAPA ALGODÃO. O sistema orgânico demanda a
uniformização da época de plantio, uso de sementes selecionadas de
cultivares precoces, catação de botões florais nos primeiros 30 dias após
o início do florescimento, boa condução técnica da cultura, erradicação ou
poda da cultura ao fim da safra, utilização de "tubos mata-bicudo" no 1º
ano da safra, atraindo os insetos adultos que serão mortos fora da lavoura
em deixar resíduos na fibra do algodão.
73
dos processos de descaroçamento, fiação e tecelagem, o
que pode comprometer a credibilidade das empresas
certificadas e abrir caminho para que outras comercializem
produtos convencionais como se fossem orgânicos. Outra
questão é a que envolve o tingimento do algodão,
dificultando sua certificação, cujos desperdícios podem
chegar a 50% de perdas dos corantes empregados, além do
uso de substâncias tóxicas na fixação da cor de corantes
naturais37.
Neste contexto, além da elaboração de padrões de
certificação orgânica para todo o processo de manufatura e
informações honestas ao consumidor, a articulação das
questões ambientais com as questões econômicas, sociais
e culturais constitui um dos principais desafios da produção
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orgânica.
Sustentabilidade percebida
Podemos
encontrar
o
aproveitamento
de
fibras
naturais substituindo matérias-primas não renováveis nos
mais
diversos
segmentos,
através
da
utilização
de
tecnologias artesanais junto a comunidades tradicionais, ou
através de tecnologias industriais resultantes de pesquisas
privadas
e
governamentais,
empregando
mão-de-obra
regional. Na indústria, alguns segmentos se destacam,
como o setor automobilístico, de vestuário, mobiliário,
eletroeletrônico, e da construção civil.
A fibra de curauá (Ananás erectifolius), obtida a partir
da folha, foi redomesticada e recebeu incentivos para o
plantio em escala comercial.38 Tem sido empregada como
matéria-prima para revestimentos internos dos veículos39 e,
quando conjugada à casca do coco (Coccos nucifera) e à
resina da acácia negra (Acacia mearnsii De Wild), é utilizada
na produção de telhas em substituição às de amianto. Esta
fibra pode substituir a fibra de vidro em plásticos reforçados
37
PLANETA ORGÂNICO.
FERREIRA e BUSTAMANTE.
39
Idem.
38
74
e ser utilizada em artefatos para a indústria da construção
civil, como caixas d’água e piscina. A micropropagação de
mudas selecionadas uniformes e sem espinhos facilita o
manejo, o corte e possibilita aumentar a densidade da
plantação, e seu cultivo em consórcio com coqueiros
estabiliza o ecossistema das plantações, realizadas por
pequenos produtores.
A produção artesanal da fibra de caroá (Neoglaziovia
variegata)40, apresenta-se como uma alternativa sustentável
para as comunidades da região de Caroalina (PE), que
fornecia a fibra para as indústrias locais até a década de 60,
quando então cedeu espaço à produção de sisal.41 A fibra
de coco, aproveitada na indústria e no artesanato, atinge
hoje importância econômica e ambiental através da
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confecção dos mais diversos produtos.42 Segundo SILVA, a
obtenção da fibra de coco através de reciclagem reduz a
poluição e gera empregos, tornando-se uma prática
ambientalmente sustentável, e quando obtida através de
cultivo, não pode comprometer os gêneros de primeira
necessidade43.
A coleção Mãe da Mata elaborada por MIRANDA E
RIBAS, utiliza a fibra de tururi44 na Moda, viabilizando
economicamente e de forma sustentável os recursos
naturais renováveis e disponíveis da Ilha do Maruim (PA).
As folhas da palmeira são empregadas em telhados e
paredes de habitações locais, e a fofóia, fibra que envolve o
cacho de frutas, é aproveitada na coleção. Esta fibra, após
amaciamento através de um extrato obtido a partir de casca
de banana e álcool, é utilizada na confecção de luminárias,
acessórios de moda, material de papelaria e vestuário.
40
PLANTAS DO NORDESTE; DE ALBUQUERQUE et all. e
Projeto Mulheres na Produção Artesanal.
41
PATRIOTA,
42
SILVA, 1998:731.
43
SILVA, 1998:734.
44
Tururi é o nome popular do ubucuzeiro, também conhecido
como buçu, bussu, ubuçu. Nome científico: Manicaria saccifera Gaertn,
família Plamaceae, subfamília Ceroxylinae, tribo areciini e subtribo
iriaetelhna.
Figura 14 – A coleção Mãe
da Mata utiliza a fibra de
tururi na confecção de suas
peças.
75
“E é nessa perspectiva que o desenvolvimento sustentável
se torna uma solução adequada, uma vez que buscará
novas oportunidades econômicas. Mas, para tanto deve, no
valor dos recursos naturais, ser incluído o valor econômico
total, os valores morais, os culturais, os espirituais, os éticos
presentes no meio ambiente, o que desencoraja o
desperdício, e dá suporte para um melhor manejo e uso
desses recursos” (MIRANDA e RIBAS, 2003:2)
Uma parceria45 entre o meio empresarial e o
acadêmico viabilizou o aproveitamento sustentável da juta
(Corchorus
capsularis
L)
na
moda,
através
do
desenvolvimento do Ecovogt, um tecido fino, amaciado com
cera de cupuaçu e fixação de cores realizada à base de
açaí, e com maciez adequada ao vestuário. Viabilizou-se a
sustentabilidade econômica, social e ambiental do produto
por meio de investigações e intervenções no processamento
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e comercialização, adaptando teares à titulação dos fios e
ao desenvolvimento de dez tonalidades de corante. A juta,
encontrada em regiões de clima úmido e tropical, é muito
utilizada
em
sacaria,
embalagens
e
cordoaria,
principalmente pelos atributos como higroscopia, robustez e
resistência, e mostrou-se vantajosa para o emprego em
tecidos, pela fácil decomposição e tingimento46. O manejo
não requer a utilização de fertilizantes ou agrotóxicos, o
processamento não despeja resíduos no ambiente, e o
produto, de alto valor agregado, tem preços competitivos e
garante
o
emprego
de
centenas
de
indivíduos
de
comunidades amazônicas. 47
45
COMPANHIA TÊXTIL DE CASTANHAL. Parceria formada entre
a Companhia Têxtil de Castanhal(AM), segunda maior produtora de juta
do mundo, o estilista Caio Von Vogt, e a Iesbec (Incubadora de Empresas
de Base Tecnológica de São Bernardo do Campo)
46
Idem. A decomposição da juta ao ser descartada se faz em dois
anos, enquanto o algodão se decompõe em dez, e o poliéster em cem
anos. O tingimento natural na juta é mais eficiente que no algodão,
resultando em cores mais intensas e com maior brilho.
47
Idem. Estilista lança em São Paulo tecido ecologicamente
correto. A parceria também recebeu apoio da Unifei, Centro Universitário
da Faculdade de Engenharia Industrial (SP), que desenvolveu todo o
processo tecnológico do Ecovogt.
Figura 15 – Fibra de tururi.
76
2.3.
Fibras naturais: matéria e tecnologias
Fibras
“Fibra têxtil” é a unidade da matéria com propriedades
adequadas à transformação em fio. Flexibilidade, finura e
elevada proporção entre comprimento e espessura a torna
apta às aplicações têxteis (Figuras 28 a 37).
“Fibras
naturais”
são
matérias-primas
fibrosas
encontradas na natureza, que podem ser de origem animal,
Figura 16 – Fibra de
algodão Giza.
vegetal ou mineral. As de origem animal são obtidas a partir
de secreção glandular ou pêlos de animais. As vegetais, a
partir de sementes, caules (talos, chamadas fibras moles)48,
folhas (chamadas fibras duras), frutos e até mesmo de
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raízes. As minerais, a partir de rochas com estrutura fibrosa.
A expressão “fibras naturais” passou a ser utilizada somente
Figura 17 – Fibra de
algodão Giza.
no século XX, quando o homem se torna capaz de produzir
fibras que não se encontram na natureza, surgindo assim a
necessidade de diferenciá-las: “fibras não-naturais” é a
denominação considerada mais adequada como tradução
ao termo “man-made-fibre”, substituindo o termo “fibras
químicas”, já que todas as fibras são de natureza química49.
Figura 18 – Fibra de
cânhamo.
A lã, por exemplo, é uma fibra natural com grande
complexidade em sua estrutura química.
As fibras, contínuas (filamentos) e descontínuas
diferenciam-se pelo comprimento: as primeiras possuem
comprimento muito elevado em relação ao seu diâmetro,
Figura 19 – Fibra de juta.
podendo ser cortadas em fibras curtas para fiação ou outras
aplicações, enquanto as últimas, possuem comprimento de
até alguns centímetros. O único filamento natural conhecido
é a seda natural. As fibras e os filamentos são as matériasprimas que compõem os tecidos.
Outra Classificação Geral das Fibras Têxteis, um
pouco mais detalhada, pode ser utilizada: fibras têxteis
animais, vegetais, minerais, artificiais, sintéticas orgânicas
48
49
ERHART, [e outros], 1975-1976:41, vol II.
ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:1-13, vol I.
Figura 20 - Fibra de sisal.
77
ou inorgânicas, e metálicas.
50
termo
para
“sólidos
flexíveis”
Leroi-Gourhan51 utiliza o
matérias-primas
de
flexibilidade permanente, o que permite juntá-las por
entrelaçamento mútuo e assegura a coesão das placas
(casca de árvores, couro, tecidos reunidos por “artilhos”) ou
elementos alongados(lamelas, fibras e fios). Todos, com
Figura 21 – Fibra de linho.
exceção dos fios metálicos, têm origem vegetal ou animal.
Os “não-tecidos”52 são “tecidos cuja estrutura é obtida
por processos mecânicos (fricção), químicos (adesão) e/ ou
térmicos (coesão), ou ainda por combinações destes para
se obter uma estrutura plana, flexível e porosa, constituída
por um véu ou manta de fibras ou filamentos dispostos em
Figura 22 – Fibra de lã
Churra.
múltiplas direções”. Este termo é bastante utilizado na
indústria têxtil.
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Cabe ressaltar aqui que o foco desta dissertação se
encontra
no
aproveitamento
de
fibras
naturais,
não
necessariamente ou exclusivamente voltadas à fiação, mas
sim à possibilidade de conjugá-las na elaboração de
alternativas. Aqui, a ênfase está nas fibras animais, vegetais
Figura 23 – Fibra de lã
Churra.
e minerais, e quando necessárias, algumas associações a
outros grupos de fibras serão realizadas. Assim, conjugamse os significados dos termos utilizados na classificação
geral de fibras têxteis, dos “sólidos flexíveis” utilizados por
Leroi-Gourhan, e dos “não-tecidos”.
Figura 24 – Fibra de seda.
Algumas particularidades das fibras vegetais
As fibras vegetais possuem algumas particularidades.
Suas
fibras
são
naturalmente
interconectadas
por
aglutinantes, formando uma infra-estrutura de sustentação.
Estas fibras são flexíveis, possuem grande resistência à
abrasão e podem resistir melhor ao calor e à luz que a
maioria das fibras sintéticas. Algumas podem resistir
também ao ambiente marinho.
Todas as fibras naturais
biodegradam sob a ação de microorganismos, uma
50
Idem.
LEROI-GOURHAN, O Homem e a matéria, 1987:171, vol. II.
52
SCHMIDT, 1999:111, vol. I.
51
Figura 25 – Fibra de seda.
78
vantagem
em
certas
situações.53
Conforme
sua
consistência, as fibras naturais podem tornar-se rígidas,
maleáveis após secas, ou mantêm sua consistência rígida
como antes de serem cortadas. A fibra de bananeira, por
exemplo, perde sua maleabilidade e pode partir-se após
seca, devendo ser trabalhada úmida (Figuras 40, 41 e 42).
Sua natureza lignocelulósica (compostos de carbono)
Figura 26 – Obtenção de
fibra de bananeira.
atrai fungos e bactérias, que se proliferam em condições de
umidade e calor. Desta forma, o acondicionamento da
matéria-prima deve ser realizado em local limpo, arejado,
iluminado, livre de umidade e calor.54 Após a colheita do
cacho, a bananeira produtora não voltará a dar frutos. O
Figura 27 – Desfibramento
pseudocaule (tronco) geralmente descartado por acumular de fibra de bananeira.
fungos prejudiciais ao cultivo, é cortado, gerando espaço
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para novos brotos da planta. A partir dos resíduos de
matéria vegetal (folhas, pseudocaule e engaço), obtêm-se
palha, fibras e fios, que podem ser aproveitados em
tecelagem, cestaria e trançados, além de confecção de
papéis artesanais especiais empregados na confecção de
divisórias
de
ambientes,
revestimentos
de
paredes,
luminárias e cartonagem. A espécie, variedade, tratos
culturais e condições climáticas da região onde o material
fibroso é encontrado podem interferir nas cores, porte e Figura 28 – Palha de fibra
de bananeira.
rendimento do material.55
A proximidade do local de obtenção da fibra com o
local de beneficiamento, confecção e uso, além de reduzir
custos energéticos, é benéfica por evitar esforços de
adaptação da matéria e facilitar a reposição de material em
casos de manutenção do objeto. Algumas fibras, matérias
pouco
processadas
padronizadas,
obtidas
possuem
na
natureza
sensibilidade
a
e
não
mudanças
climáticas. Gramíneas, como bambu, sapê, e as palhas das
palmáceas, por exemplo, tornam-se quebradiças em climas
áridos. Palmeiras, bromélias e plantas rasteiras, como cipós
53
HORROCKS e ANAND, 2000:376.
GARAVELLO [e outros], 1998:755, vol. II.
55
GARAVELLO [e outros], 1998:752, vol. II.
54
79
fornecem fibras muito utilizadas por grupos indígenas na
confecção de cordas, fios e tecidos. Das palmeiras, utilizamse também as folhas para revestimento e preenchimento de
tetos e paredes.
O buriti (Mauritia flexuosa)56, encontrado em áreas
brejosas ou permanentemente inundadas, está intimamente
relacionado à água, o que o coloca como importante espécie
para a recuperação ciliar e de fundamental importância para
o ecossistema, propiciando abrigo e alimento para inúmeras
espécies da fauna. As raízes transfixantes dessa palmeira
arrebentam
as
camadas
inferiores
do
solo,
o
que
provavelmente facilita a emergência de água.
Para os grupos indígenas, a árvore de buriti é sagrada
e significa "a árvore que emite líquidos" ou "a árvore da
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vida", propiciando a confecção de artefatos, habitação e
alimentação. Os pecíolos das folhas fornecem material leve
e macio, utilizado em artesanato; sua madeira é aproveitada
na construção; suas folhas, em esteiras, peneiras, móbiles e
cobertura de telhados; seus talos são usados para a
fabricação de móveis domésticos, como mesas, cadeiras,
camas e esculturas; e suas fibras são utilizadas para tecer
redes de dormir (Figuras 43 a 46).57
Figura 30 – Solo compactado.
56
LORENZI [e outros], 2004:184. Ocorrência e habitat Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Pará, Piauí, São Paulo Minas
Gerais e Tocantins, em solos alagados, igapós, beira de rios e de
igarapés, onde formam grandes concentrações.
Figura 29 – Buriti queimado.
80
Para obter o fio utilizado na costura de artesanato, é
preciso abater um buriti inteiro, o que o ameaça de extinção,
e por isso sua derrubada hoje é proibida.
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Figura 31 – Desfibramento de buriti par confecção de artefatos.
Figura 32 – Indígena fiando buriti.
57
idem.
81
2.3.1.
Cascas de árvores, “tapa”, papel e feltro
As cascas flexíveis foram utilizadas pela maioria dos
povos
pré-artesanais,
que
não
possuíam
olaria
e
58
tecelagem , e por outros povos em diversas partes do
mundo
como
técnicas
complementares.
Os
grupos
indígenas sul-americanos obtêm tecidos de entrecasca e
líber a partir de diversas espécies de plantas.59 O uso da
casca amolecida, cozida ou não, assemelha-se muitas
vezes à técnica de “tapa” e tecidos de fibras. Cascas de
grande
superfície
foram
utilizadas
em
botes
e
em
”recipientes suficientemente estanques para o transporte de
líquidos”.60 Cascas cortadas em tiras eram utilizadas em
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tecelagem, torcidas em cordoaria, e utilizadas em baldes,
caixas, sandálias, capas de chuva, cestaria, e para embalar
alimentos.
Embora haja distância histórico-geográfica entre as
técnicas de papel, tapa e feltro, as duas primeiras são mais
próximas tecnicamente, devido às matérias e técnicas
empregadas inicialmente. Na técnica de tapa, casca de
ramos e raízes da amoreira arrancadas em tiras, molhadas,
desembaraçadas
por
raspagem
ou
cozimento,
são
sobrepostas em camadas de tiras, colocadas lado a lado, e
após descansarem enquanto os aglutinantes da seiva
consolidam a massa, são marteladas ainda úmidas.
Diversas operações são comuns entre a tapa e o papel, no
entanto, na primeira, as fibras mais grossas são sobrepostas
em camadas com direções constantes, enquanto, no papel,
as fibras são curtas e dispostas aleatoriamente.61
O aproveitamento de fibras para a confecção de
painéis flexíveis através de feltragem de pêlos de animais e
fibras vegetais, o papiro (Cyperus papyrus), obtido através
da técnica de “tapa”, e o pergaminho, através de peles de
58
LEROI-GOURHAN, 1984:172.
RIBEIRO, 1987:38.
60
LEROI-GOURHAN, 1984:172-193.
61
LEROI-GOURHAN, 1984:174-176.
59
82
animais (carneiro, bezerros ou cabras), precederam a
difusão mundial do papel, e as duas últimas são as matérias
mais conhecidas.
Técnicas antigas de confecção de papel ainda são
utilizadas, mas sofreram adaptações, impulsionadas pela
disseminação da imprensa, e com a produção em escala
após a Revolução Industrial. A pasta composta por fibras
cozidas era distribuída e martelada sobre uma fôrma de
madeira com fundo de tecido, semelhante aos bastidores
com fundo de tela que são utilizados atualmente na
confecção de papel artesanal. A água escorre através do
tecido e a pasta, quando seca, dá origem a uma folha de
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papel (Figura 47).
Figura 33 – Confecção de papel artesanal.
Em diversas regiões, fragmentos têxteis substituíram
as fibras, em decorrência do aumento da demanda por
fibras como líber, nem sempre disponíveis para a produção
necessária. As fibras eram utilizadas em função de sua
disponibilidade, e o aumento da demanda de papel também
motivou a busca por outras fibras e por aperfeiçoamento
técnico. Fôrmas de juncos e revestimento com pasta de
amido permitiram aos árabes desenvolver papéis mais finos
e adequados à escrita. Papéis encerados, com variedade de
83
revestimentos e tingimentos, foram desenvolvidos pelos
chineses, que utilizaram, dentre as diversas fibras, o bambu
cozido em meio alcalino (lixiviação). Utilizaram também
tramas de bambus em substituição ao fundo de tecido das
fôrmas, acelerando o processo de produção, ao liberar a
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folha de papel para secagem fora da fôrma (Figura 48).
Figura 34 – Utilização de esteiras de bambu para prensagem das
fibras na confecção de papel artesanal.
O uso de madeira como matéria-prima para a
produção de papel surge a partir de 1719, quando o
naturalista René Antoine Ferchault de Réaumur observou
que vespas produziam seus ninhos mastigando madeira e
gerando um material semelhante ao papel (Figuras 49 a
51).62
62
Vespas polistes: o material produzido por estas vespas induziu,
posteriormente, pesquisadores a desenvolverem os compensados.
84
Figura 35 – Vespas polistes
Figura 36 – Ninho para abrigar a prole e seda para vedar as
células.
Figura 37 – Ninho de Polistes
O uso de madeira para a produção de papel passa a annularis.
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atender à demanda decorrente da Revolução Industrial, ou
seja, uma produção em escala com preços acessíveis. O
aperfeiçoamento das técnicas de manejo durante o século
XX permitiu reduzir o ciclo de crescimento das árvores, os
custos de produção da madeira, aumentar a produtividade
por área cultivada e conseqüentemente, reduzir os custos
de transporte. O Brasil produz hoje eucalipto com ciclo de
crescimento de sete anos63 e há iniciativas de emprego de
espécies de bambu64 na produção em escala de papéis para
embalagens e cartões.
Foram utilizadas, no decorrer da evolução das
técnicas de confecção de papel, fibras de cânhamo
trituradas e revestidas por camadas delgadas de cálcio,
alumínio e sílica, moinhos de trapos de algodão e linho para
utilização das fibras, máquinas para a fabricação de papel
contínuo (Figura 52), pasta celulósica e substâncias
químicas para o branqueamento e beneficiamento do
produto.65
63
ARACRUZ CELULOSE. Espécies de árvores para a fabricação
de papel em escala possuem ciclo de crescimento em torno de oitenta
anos (coníferas do litoral dos EUA). Hoje são utilizadas espécies com
cerca de quinze anos (choupo preto, EUA).
64
ITAPAGÉ S.A. O bambu, uma gramínea, é utilizado pela
Indústria Itapagé para a produção de papéis, cartões e embalagens.
65
ROBINSON: 1999:17-18.
85
O papel substituiu os suportes para a escrita, tais
como folhas de palmáceas, ossos, conchas e tecidos de
seda. Foi impulsionado pela imprensa, e hoje está inserido
na vida contemporânea da sociedade de consumo, sendo
encontrado em descartáveis, embalagens diversas, em
produtos de higiene e de escritório. Embora haja iniciativas Figura 38 – Máquina Fourdrinier.
que reduzam os impactos ambientais gerados pelo consumo
do papel, este vem acompanhado pelo consumo de
extensas
áreas
florestais
nativas,
pelo
despejo
de
substâncias químicas tóxicas nos mananciais hídricos, e
pelo consumo de energia e geração de lixo.
O feltro, assim como o papel, é muito utilizado em
indústrias para a confecção de tapetes e revestimentos de
mobiliário. É conhecido desde o período Neolítico e utilizado
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em cobertura de tendas de habitações dos povos nômades
de origem turco-mongol da estepe asiática. Hoje é possível
realizar uma feltragem controlada, dentro das especificações
exigidas pelo mercado e de acordo com o processo de
produção em escala e aplicações do produto, como na
confecção de têxteis para o setor automobilístico.
Apenas a lã possui naturalmente a propriedade de
feltragem, um encolhimento irreversível através de agitação
mecânica, lubrificante (água, sabão ou detergente) e
temperatura. A maioria das teorias indica que as escamas
direcionadas, existentes nas fibras de lã, são os principais
fatores para a ocorrência da feltragem, mas não são os
únicos (Figura 53). Os tecidos e malhas submetidos ao
processo de feltragem perdem comprimento e largura,
ganham espessura e sofrem alteração na aparência
superficial. O feltro pode ser mais ou menos rústico em
função da parte e do animal da qual a lã é obtida.66
A indústria hoje realiza a reciclagem em escala e
desenvolve mantas semelhantes ao feltro, empregando
fibras sintéticas e outros processos, buscando incorporar os
atributos fornecidos pelas fibras naturais (Figura 54).
66
ERHART, [e outros], 1975-1976:66, vol. II.
Figura 39 – Estrutura da fibra de lã.
86
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Figura 40 – Reciclagem de papel em escala.
87
2.3.2.
Compósitos & Laminação
Os
materiais
compósitos
são
formados
pela
conjugação de dois ou mais materiais, que mantêm
individualmente suas propriedades anteriores à união
(Figura 55), e têm sido utilizados pelo homem há milhares
de anos. Fibras naturais foram agregadas à argila, cozida ou
não, e empregadas na construção como preenchimento de
paredes e na confecção de tijolos. A partir de 1960, fibras
metálicas e de vidro são agregadas ao concreto, mas os
impactos ambientais e econômicos gerados motivaram o
retorno ao uso de fibras naturais, principalmente as de
origem vegetal. Fibras de coco, curauá, sisal, bambu, juta e
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cânhamo67 são algumas das fibras utilizadas nos compósitos
reforçados, agora aplicados em outros segmentos, tais
como o automobilístico, geotêxtil e de mobiliário.
“A maioria dos materiais compósitos feitos pelo homem é
composto por dois materiais: um material reforçado chamado fibra
e um material base chamada matriz, na qual a fibra é embebida.
Exemplos de materiais compósitos são concreto reforçado com
aço ou bambu, e epóxi reforçado com fibras de bambu.”
HIDALGO-LÓPES, 2003:163
Segundo HIDALGO-LÓPES, os materiais compósitos
são encontrados sob três formas: compósitos fibrosos (fibras
de um material em uma matriz de outro); compósitos
granulados (partículas de um material e matriz de outro) e
compósitos laminados (lâminas de um mesmo material ou
diferentes,
particulados).
inclusive
de
compósitos
fibrosos
ou
68
O uso de materiais compósitos proporciona algumas
vantagens em relação ao uso de materiais convencionais,
tais como leveza, maior resistência a impactos e corrosão,
maior durabilidade e dureza, e propriedades térmicas. A
resistência e dureza dos materiais compósitos fibrosos são
geralmente maiores do que as do mesmo material em
volume, já que a disposição naturalmente organizada dos
67
HORROCKS e ANAND, 2000:372-406; e BRESCANSIN, 2002:1.
Figura 41 – Material laminado.
88
feixes
de
fibras
naturais
interfere
nas
propriedades
mecânicas.
Os materiais laminados são aqueles formados por
camadas ou reduzidos a lâminas (Figura 55). Na indústria
têxtil, um material laminado é “a estrutura obtida pela
colagem de dois tecidos diferentes ou pela simples
aplicação de um impermeabilizante químico a um tecido
qualquer”.69
Em um material laminado, um conjunto de lâminas é
“empilhado” de modo que cada uma possa ser disposta em
direção diferente ou não, com a finalidade de se alcançar
determinada resistência. As lâminas são geralmente coladas
com o mesmo material utilizado na matriz.70
Resíduos
produzidos
pela
agroindústria
da
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bananicultura do Vale da Ribeira (SP/PR) são aproveitados
na produção de painéis laminados, compostos de folhas de
papel confeccionadas a partir de fibras de bananeira71 e
tecnologia tradicional, e posteriormente prensadas com
resina de mamona (Ricinus communis L.).72 Esse material
apresenta-se como uma alternativa sustentável para as
comunidades da região, cujo potencial de produção é de
335.000m² por ano.73 Resistente a intempéries e aos raios
UVB e UVA, é composto por matéria-prima natural,
renovável e reciclável, e sua utilização possibilita a redução
do consumo de madeira (Figura 56).
A pupunha (Bactris gasipaes) é uma palmeira nativa
da região Amazônica, domesticada há milhares de anos,
mas sua exploração pelo agronegócio é recente, e seu
68
HIDALGO-LÓPES, 2003:163.
SCHMIDT, 1999:90, vol. I.
70
HIDALGO-LÓPEZ, 2003:163. Os laminados de bambu são
folhas de material compósito formadas por fibras, matriz, agentes ligantes,
e enchimentos. As fibras podem ser contínuas ou não, tecidas em uma só
direção, em duas direções ou de forma aleatória. São muito utilizados na
confecção de painéis e revestimentos para a construção de habitações
(Figura 54 e 55).
71
Diversas bananeiras do gênero Musa têm sido utilizadas para
estes fins.
72
ESDI. O projeto Bananaplac, desenvolvido por alunos e exalunos da ESDI, foi apresentado na Conferência sobre Diversidade
Biológica.
73
Cada dois cachos equivalem a dois pseudocaules, fornecendo 1
m2/ 2mm.
69
Figura 42 – Utilização de
resíduos provenientes da
bananicultura no Vale da
Ribeira.
89
cultivo se apresenta como uma alternativa à exploração
extrativa
desse
produto
alimentício.
A
produção
de
sementes demanda um manejo periódico e seletivo das
matrizes, que produzem sombra indesejável sobre o solo. A
produção de compensados de pupunha a partir dessas
matrizes fornece matéria-prima para a indústria moveleira
através de tecnologia simples e sem emissão de poluentes,
e representa a contenção do desmatamento através do
aproveitamento
de
um
subproduto.
Além
disso,
os
compensados de pupunha são resistentes e impermeáveis.
No Brasil são produzidas anualmente trinta e dois
milhões de toneladas de bagaço de cana-de-açúcar, das
quais 70% são utilizadas como energia, e o restante é
descartado74. A tecnologia de confecção de chapas
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aglomeradas para uso na fabricação de móveis, divisórias e
embalagens foi desenvolvida e patenteada pelo Ibama
(Laboratório de Produtos Florestais-LPF) e torna público o
acesso ao processamento. Neste processo, retira-se a parte
não fibrosa do bagaço (miolo da cana-de-açúcar), tritura-se
e mistura-se o bagaço a um tipo de cola, formando um
composto resistente que é posteriormente prensado.
O bagaço de cana-de-açúcar (Saccarum Officinarum),
resíduo da produção de álcool combustível, pode ser
transformado em fibras para a produção de materiais
compostos reforçados com fibras naturais, tais como
plástico e cimento, substituindo a fibra de vidro em alguns
casos, e substituindo outras fibras naturais mais caras,
como sisal, juta e curauá, segundo Carlos Augusto Báccaro,
gerente
administrativo
da
Edra.75
São
também
confeccionados produtos para a indústria automobilística a
partir de termoplásticos e de materiais compostos com fibras
de bagaço de cana-de-açúcar, assim como um tipo especial
74
9,3 milhões de toneladas de bagaço de cana-de-açúcar
apodrecem ou são queimadas nos pátios das empresas.
75
A Edra Eco Sistemas elaborou o projeto da fábrica de fibras
secas a partir do bagaço da cana-de-açúcar, em Ipeúna (SP), com
capacidade de produção de 3.000 toneladas por ano, ou seja, 12
toneladas e meia por dia.
90
de cano para transportar líquidos, que mistura a fibra e a
resina biológica.
Um composto de fibras de sisal impregnadas com
resina
epóxi
tem
sido
utilizado
na
restauração
e
conservação de prédios históricos tombados, reduzindo o
custo e impactos ambientais, ao substituir a fibra de vidro e
fibra de carbono76 empregadas para esse fim. O Brasil é o
segundo maior produtor de sisal do mundo, e a Bahia, onde
a conservação de prédios históricos tombados é de
fundamental importância, produz 90% da fibra77. Este
composto, além das propriedades mecânicas adequadas
para reforçar estruturas de madeira, gera empregos e
contém um componente orgânico.
Assim, o aproveitamento de fibras naturais na
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confecção de compósitos e laminados nos mais diversos
contextos,
pode
ambientalmente
viabilizar
diversas
econômica,
iniciativas
na
social
e
direção
da
sustentabilidade.
Figura 43 – Laminador. Desenho de Leonardo Da Vinci.
76
O sisal custa nove vezes menos do que a fibra de vidro e 1.399
vezes menos do que a de carbono
77
As áreas produtoras, em geral, são regiões de baixo IDH (Índice
de Desenvolvimento Humano).
91
2.3.3.
Fiação & Cordoaria
As fibras naturais podem ser aproveitadas em seu
estado
natural,
sem
preparação
prévia
ou
após
desfibramento (amolecimento ou fricção), para serem
torcidas em fios e cordas. O rolamento das fibras é realizado
entre os dedos, entre as palmas das mãos, entre a palma e
a coxa, através de fusos e rodas de fiar e, posteriormente,
Figura 44 – Fusos Indígenas.
no estágio industrializado, através de caneleiras mecânicas
(Figuras 58 e 59).
Segundo LEROI-GOURHAN, o fuso é hoje um
elemento universal. Embora não se possa precisar a data de
seu
aparecimento,
foram
difundidos
em
torno
do
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Mediterrâneo, com o surgimento da olaria, cerca de 5000
A.C.78. As origens da roda de fiar também são pouco
precisas, entre os séculos XII e XV, envoltas em hipóteses
sobre a troca material entre Oriente e Ocidente, e cópias e
representações de viajantes e comerciantes.79
Com a invenção do fuso, obtêm-se as três operações
de fiação: estiragem, torcedura e enrolamento. A estiragem
Figura 45 – Fiando com
fuso.
arrasta alguns filamentos de fibras, que são torcidos através
do fuso, formando o fio, que é posteriormente enrolado
quando o comprimento alcançado dificulta o trabalho.
As duas principais formas encontradas para rodar o
fuso são: através do fuso que pende livremente na ponta do
fio, com rotação regular e lenta, ou do fuso com haste,
lançado com velocidade sobre o fundo de uma tigela ou
diretamente na terra, afrouxando até cessar, e finalizando
com o enrolamento do fio em torno da haste (Figura 60).
Segundo LEROI-GOURHAN, não há aperfeiçoamento
progressivo entre o fuso e a roda de fiar e, embora teorias
admitam que a roda de fiar chinesa seja a evolução do fuso,
a incorporação de correia, volante e manivela permanece
uma incógnita.
Figura 46 – Fusos diversos.
78
LEROI-GOURHAN, 1984:182-187. Pesos de fuso foram
encontrados em toda a região.
79
Idem.
92
“É pois, entre o estádio fuso e o estádio roda de fiar, forçoso
admitir um salto brutal que em biologia se chamaria mutação e
que, no caso da tecnologia, é a invenção...É inteligência que
coincide com o próprio sentido de uma tendência. No caso
presente, sendo a propriedade necessária do fuso o movimento
contínuo, podemos exprimir o futuro do fuso por: tendência para
um aparelho de movimento contínuo consistindo a invenção em
criar um objeto imprevisível que realize esse futuro... entre os dois
objetos80 tem lugar uma invenção, ou seja, um ato voluntário de
criação.” (LEROI-GOURHAN, 1984:184) – (Figuras 61 e 62).
Figura 47 – Aperfeiçoamento
do fuso. Leonardo Da Vinci.
Leroi-Gourhan continua:
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“existindo a tendência permanente para torcer um fio de
forma mais rápida e cômoda, surge uma série de homens que
inventa objetos sucessivamente mais complexos para satisfazer o
desejo que os anima. Estas invenções são feitas à custa de
elementos preexistentes, por uma série de associações geniais,
mas onde nada sai do nada. Num meio que possui já numerosas
aplicações mecânicas da roda, é natural que o fuso e a roda se
fundam para produzir a roda de fiar, mas é o meio e não a
tendência que fornece aqui os elementos preexistentes.”
(LEROI-GOURHAN, 1984:184)
Figura 48 – Aperfeiçoamento do
fuso. Jürgen.
A junção de fios
A junção de fios pode ser realizada por operações de
retorcimento,
entrançamento
ou
através
de
81
retorcimento produz cordões ou fios cochados
Segundo FONSECA,
82
nós.
O
(Figura 71).
no cabo, os fios são chamados
“carreta” e, quando em certo número são torcidos no sentido
Figura 49 – Cabo de massa.
contrário aos fios, formam os cordões. Três ou quatro
cordões, torcidos juntos em sentido inverso ao destes
cordões, formam um cabo, também chamado cabo de
massa (Figuras 63, 64 e 65).
Segundo LEROI-GOURHAN83, o entrançamento de
três fios é universal e é aplicado tanto para fios finos quanto
para cordames, e o entrançamento de fios múltiplos permite
a confecção de verdadeiras tecelagens achatadas ou ocas,
utilizadas em galões e correias (Figura 66 a 70). No
artesanato e na confecção de artefatos indígenas, o
entrançamento de palhas, costuradas então posteriormente,
é muito comum. O camalote (Eichhornia crassipes Mart.),
80
A roda de fiar e o fuso.
FONSECA, 1960:311. “Cochar” é a ação de torcer vários
elementos em um cabo.
82
Idem. Serão sempre três ou quatro cordões, seja qual for a bitola
(diâmetro) do cabo.
81
Figura 50 – Cabo de três
cordas.
93
uma planta aquática abundante na região de Albuquerque
(MS), era utilizada pelos índios guatós na confecção de
esteiras e atualmente é aproveitada pela comunidade não
indígena na confecção de artesanato. Os pecíolos das
folhas são trançados após secagem e costurados com fios
Figura 51 – Aparelho de
manivela.
de algodão ou nylon.84
A junção de fios por entrançamento é mais comum
que o retorcimento, e a junção de fios através de nós é tão
comum que inviabilizaria uma tentativa de esgotamento do
assunto. No entanto, os “nós de marinheiro” representam de
forma extensa inúmeras possibilidades de unir fios através
de nós. A classificação por especialidades, segundo LEROIGOURHAN, permite perceber que as formas mais simples
são comuns entre os nós de marinheiros, tecelões,
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correeiros, cesteiros e de costura, e a confecção de redes é
uma aplicação dos nós.
União de superfícies
A costura une duas superfícies através de uma série
de perfurações pelas quais transpassam um fio (não
aquelas unidas por presilhas), formando pontos. A costura é
empregada no vestuário, na união de tábuas e lâminas em
machados, sempre que são perfurados e transpassados fios
ou cordões. Os pontos, além de unir superfícies, são
empregados
ornamentação,
para
a
através
realização
da
de
acabamentos
introdução
perfurações em intervalos regulares.
dos
fios
e
nas
A indústria segue
normas internacionais de classificação para pontos e
costura. 85
Segundo LEROI-GOURHAN, a partir das inúmeras
agulhas de grande precisão encontradas em cavernas do
homem da Idade da Rena e da costura cuidadosa que
realizava, pressupõe-se a confecção de um vestuário
complexo para proteger-se do clima rigoroso, em vez de
83
LEROI-GOURHAN, 1984:190-191.
BORTOLOTTO e GUARIM NETO, 2005:4. Esta planta é
conhecida também pelo nome “gigoga”.
85
ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:858.
84
Figura 52 – Tear de tranças
ocas.
94
somente cobrirem-se com peles. Objetos e instrumentos de
corte e perfuração são indispensáveis para unir duas peças
flexíveis através de costura: para as medidas, lâminas de
osso, não implicando obrigatoriamente na confecção de
moldes; para o corte, lâminas e trinchetes que serviam para
talhar couro e tecidos, que ainda são encontrados entre os
grupos artesanais, além de tenazes e tesouras86 de eixo.
Foram utilizados também sovelas, agulhas de entalhes,
agulhas de canal e agulhas de buraco, assim como o dedal,
Figura 53 – Seqüência para
confecção de cadarço.
por vezes substituídos por peles mas não indispensáveis, e
alfinetes, como meio temporário para unir duas peças
flexíveis87.
A importância dos fios e cordas
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Quando se investigam fios e cordas, percebe-se a
importância de alguns campos e de algumas fibras naturais
em particular. Segundo FONSECA88, na construção naval, a
confecção de cordas exige o emprego de matérias-primas
com propriedades específicas, que suportem as ações
Figura 54 - Seqüência para
confecção de cadarço.
mecânicas e do tempo, estando a obtenção da fibra
submetida à sua disponibilidade regional e de mercado.
Dentre as fibras naturais, a manilha (Musa textilis)89 é
a fibra natural mais empregada na confecção de cabos de
bordo, por ser pouco sensível à umidade, possuir alguma
flutuabilidade e ser forte e flexível, mas, por deteriorar-se
rapidamente, deve ser enxugada após o uso. O sisal é
empregado em cordões, barbantes e na manufatura de
madres90 para cabos de arame. Utilizada como substituta da
manilha por ser mais barata é, no entanto, mais sensível ao
86
LEROI-GOURHAN, 1984:192-193. O autor acredita que as
tesouras são de origem ocidental e foram incorporadas pelo Oriente.
87
LEROI-GOURHAN, 1984:192-195. Alfinetes de espinhos e
alfinetes com minúsculos guizos eram utilizados. Agulha mais rudimentar:
espinho terminal da piteira, obtendo-se simultaneamente o fio.
88
FONSECA, 1960: 307-311.
89
A manilha é semelhante à bananeira e conhecida como
“bananeira selvagem”. A fibra para cabos de bordo é obtida a partir do
caule. Esta fibra possui óleos que a torna pouco sensível à ação da água
salgada.
90
A “madre” é o núcleo ou miolo de cabos.
Figura 55 - Seqüência para
confecção de cadarço.
Figura 56 - Seqüência para
confecção de cadarço.
95
tempo e mais áspera91. A fibra do coqueiro para esse fim é
obtida a partir do caule e possui certa flutuabilidade. O cabo
confeccionado é mais resistente à água e menos à ruptura
que o confeccionado a partir da manilha.
O cânhamo (Cannabis sativa) fornece cabos de
grande resistência e, quando molhados, são bastante
flexíveis, mas como a fibra absorve umidade com facilidade,
recebe tratamento com alcatrão vegetal92 para que não se
deteriore sob a ação do tempo. Sua aplicação se dá em
cabos finos, fios e linhas. O linho (linum usitatissimum) para
confecção de cabos navais pode ser utilizado a partir da
casca em torno do caule e é mais leve e menos resistente
que o cânhamo. A piaçava possui flutuabilidade, é 20%
menos resistente que a fibra de cânhamo e, devido à rigidez
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de suas fibras, as cordas são confeccionadas através de
trançados, manualmente. O algodão, no caso de cabos
navais, é utilizado na confecção de cabos finos, para coser
ou para adornos, em que não há demanda por muita
resistência.
Encontramos na Arquitetura Têxtil o emprego de
cabos no tracionamento e acabamento das bordas de
coberturas tensionadas, que, segundo ELIAS93, também são
chamadas tensoestruturas. As coberturas de membranas
tensionadas são utilizadas na construção de abrigos
temporários e de curta duração, abrigos desmontáveis,
construções permanentes de grande porte e sombreamento,
e proteção de grandes espaços abertos ao ar livre. A forma
pela qual os cabos são confeccionados e a disposição dos
fios que os compõem interferem em suas propriedades, já
que as camadas (urdidura e trama) que compõem as
91
FONSECA, 1960: 308-309. Ao colocar-se fios de manilha e de
sisal imersos em água salgada por dois dias, as fibras de manilha
mantêm-se íntegras, enquanto as fibras de sisal desintegram-se.
92
FONSECA, 1960:309. O alcatrão vegetal é obtido a partir do
pinheiro, preservando a fibra da umidade, mas reduz sua flexibilidade e a
enfraquece.
93
ELIAS, 2002:59-71. Encontramos três categorias de
tensoestruturas: estruturas tensionadas de membrana, estruturas
tensionadas de malha e estruturas pneumáticas.
96
membranas são tensionadas e tecidas cada uma em direção
diferente.
Na indústria, o processo de fiação engloba a limpeza
ou depuração das fibras (homogenização e abertura da
matéria-prima), preparação (regularização e redução da
massa por unidade de comprimento) e fiação (coesão da
massa fibrosa linear. As características físicas das matérias
têxteis com vistas à sua utilização no processo de fiação
industrial são finura (título), comprimento, resistência,
elasticidade,
flexibilidade
ou
maleabilidade,
pureza,
capacidade de deslizamento ou atrito interfibras.94Para
atender às demandas de mercado e às normas de
comercialização,
as
indústrias
aprofundam-se
nas
investigações dessas propriedades e organizam-se em
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associações de grande complexidade.
Figura 57 – Roda para fabricação de cordas.
94
ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:148-149.
97
2.3.4.
Tecelagem & Cestaria
As
técnicas
de
tecelagem
e
cestaria
estão
estreitamente relacionadas, independentemente de suas
características
empregadas.
formais,
de
uso
e
EMERY
não
faça
das
matérias
95
Embora
para
sentido
uma
demarcação entre cestaria e tecelagem, a natureza do
material empregado interfere de diversas maneiras na
própria natureza e no uso do tecido, e quando elementos
pouco ou não flexíveis são utilizados, a natureza dos tecidos
será necessariamente diferente daqueles compostos por
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elementos maleáveis.
Figura 58 – “Warp-twining”:
hastes torcidas.
“Cestaria de um modo geral compreende tecidos que,
devido à inflexibilidade de alguns ou todos os elementos que os
compõem, possuem pouca ou nenhuma maleabilidade. Em
tecidos não há propriamente elementos rígidos e inflexíveis devido
em parte à maneira pela qual os elementos flexíveis são
manipulados, o que não mudaria o status de uma cestaria para
tecido”. (EMERY, 1994:210)
Segundo a autora, é possível perceber certa “unidade”
Figura 59 – Hastes torcidas.
entre as técnicas de tecelagem e cestaria, havendo muito
mais relações do que diferenças e, como são conjuntos de
tecidos que se “sobrepõem em inúmeras áreas (...), nenhum
dos dois grupos pode ser estudado ou compreendido sem
referir-se ao outro” 96. Para a autora, é no produto, mais que
na construção, que cestaria e tecelagem se diferenciam. A
Figura 60 – Hastes cordadas
(torcidas).
execução manual em contraste com o uso de invenções,
preparação dos elementos (fiação e torção), tamanho,
flexibilidade, forma e qualidade do produto final são alguns
dos critérios utilizados na diferenciação entre cestaria e
tecelagem.
“Esta unidade encontra-se na procura dos meios de reunir
fibras que a natureza oferece de forma independente; a única
solução consiste em entrecruzá-las, fornecendo as variações que
se manifestam no modo de fazer os primeiros elementos de
classificação”. (LEROI-GOURHAN, 1984:197).
95
96
LEROI-GOURHAN, 1984:192-197.
EMERY, 1994:208-210.
Figura 61 – Espiral
camadas sobrepostas.
de
98
Para EMERY, pode ser utilizado um critério ou vários,
mas nenhum é aplicado a todos, e raramente sua estrutura
é indicada como base de diferenciação.
Segundo LEROI-GOURHAN, a principal diferença
entre cestaria97 e tecelagem é ser a primeira executada com
matéria-prima semi-rígida (palha ou talas de palmáceas,
gramíneas), prescindindo de tear. A técnica de tecelagem Figura 62 – Cestaria de haste
exige o uso do tear, para a tensão dos fios a serem
espiralada.
entramados. Na distinção entre cestaria e tecelagem, a
matéria-prima exerce importância determinante.
As técnicas empregadas nas estruturas de cestaria e
tecelagem são semelhantes e utilizam elementos fortes ou
finos, que podem ser dispostos em camadas sobrepostas,
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ou entrelaçadas. A técnica de camadas sobrepostas é muito
empregada na construção de habitações, formada por duas
Figura 63 – Espiral de hastes
camadas não entrecruzadas, unidas por uma terceira cordadas.
camada, ou mesmo elementos de amarração isolados
(Figura 75). A técnica de camadas entrelaçadas através do
cruzamento de duas séries de elementos, a urdidura98 que é
fixa ao tear, e a trama disposta em ângulos retos em relação
à urdidura (“um sobre e um sob”) geram um padrão simples
quadricular (Figura 78). A complexidade de padrões é obtida
a partir das variações de entrelaçamento entre urdidura e
trama (respectivamente “montante” e “haste” no caso de
elementos fortes), conforme a disposição da quantidade de
elementos
“sobre
e
sob”,
formando
desenhos
em
ziguezague, em “V” (chevron) consecutivos, losangos,
quadrados,
gregas,
meandros,
figuras
zoomorfas,
antropomorfas e outros.
97
RIBEIRO, 1983:16. A Itália e o Brasil Indígena: o indígena
brasileiro associa a fiação das fibras ao uso do tear para confeccionar
tecidos enquanto para os trançados, executam os artefatos com matériasprimas semi-rígidas como palha ou talas de palmáceas sem o uso do tear.
A autora utiliza também o termo tramado para referir-se a cestaria.
98
LEROI-GOURHAN, 1984:197. A urdidura (“urdimento” ou “teia”)
costuma ser mais resistentes que a trama em função das tensões
exercidas sobre ela. Quando são utilizados elementos fortes, os
elementos da urdidura são chamados de “montantes”, e os que formam a
trama são chamados de “hastes” ou “ripas”.
Figura 64 – Espiral de
hastes tecidas.
99
Também as maneiras pelas quais os elementos
móveis (trama, hastes) entrelaçam os elementos fixos
(urdidura, montantes) interferem no padrão formado, e
podem ser espiraladas, entretorcidas ou entretecidas
(Figuras 72 a 77).99 Segundo LEROI-GOURHAN, não há
como determinar qual o tipo de tear utilizado através do
Figura 65 – Técnica de
acoplamento.
tecido, embora os teares modernos da indústria européia
sejam considerados exceções:
“...cada tipo de tear não corresponde a um tipo de tecido e
a priori não se pode determinar a natureza do tear através do
exame do tecido(...)num simples Castilho, apenas com o trabalho
dos dedos, ou em qualquer tear, juntando à mecânica o auxílio da
mão, se podem fabricar quase todas as texturas”. (LEROIGOURHAN, 1984:204)
Encontramos nas mais diversas sociedades, sejam
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elas tradicionais ou industrializadas, inúmeras formas de
Figura 66 – Construção
de rede indígena por
acoplamento.
teares, a utilização dos mais diversos calibres de fios,
misturas de fibras, e a aplicação de cores através de grande
variedade de técnicas de tingimento e estamparia (Figuras
79 e 80). As técnicas de tecelagem, transmitidas através das
gerações em sociedades tradicionais, permitiram muitas
vezes que estas sobrevivessem, desenvolvessem intenso
comércio de seus produtos, e até mesmo marcarem
presença nos rumos da história, motivando os homens
através das grandes navegações. Hoje, nas sociedades
industrializadas, teares circulares que produzem malhas
para o setor de vestuário e automobilístico, e mesmo teares
sofisticados que produzem membranas para coberturas de
estádios esportivos, motivam os homens na direção de
novos mercados.
“Onde há rede, há renda”
Técnicas de bordado já eram conhecidas durante a
Pré-História (Figura 81)100. As origens do artesanato da
99
Quando os elementos fixos circundam os elementos fixos, os
entrelaçamentos são chamados espiralados; quando são torcidos aos
pares em torno dos elementos fixos, são chamados “torcidos” ou
“cordados”; e quando transpassam os elementos fixos, sem torção, são
chamados tecidos, “entramados” ou “entretecidos”.
100
BOUCHER, 1987:21.
Figura 67 – Bordado: Idade
do Bronze.
100
renda no Brasil são difíceis de determinar entre lendas e
mitos, mas sem dúvida a colonização portuguesa exerceu
forte influência no desenvolvimento da técnica. A presença
portuguesa estabeleceu-se através dos ciclos econômicos,
trazendo
o
conhecimento
sobre
padrões
e
técnicas
européias de bordado e renda. Novos modelos foram Figura 68 – O artesanato da
renda
localiza-se
nas
costeiras
e
desenvolvidos no Brasil, e transmitidos como tradição proximidades
ribeirinhas.
familiar através de gerações.
O artesanato da renda está estreitamente relacionado
à atividade de subsistência pesqueira e vinculado à
presença
da
mulher,
fixando-se
inicialmente
nas
proximidades costeiras e, posteriormente, nas ribeirinhas
(Figura 82). Este artesanato, fonte de renda extra para
muitas famílias, perde aos poucos espaço para outras
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atividades sazonais e, posteriormente, para indústria, que Figura
passa a absorver as rendeiras como operárias em
69
–
Rendeira
confecciona telas para pesca.
tecelagens ou outros setores industriais, oferecendo retorno
econômico imediato.101
Utilizam-se nós para a confecção de redes e rendas, e
são muitos os “modos” de confeccioná-las (Figuras 83 e 84).
Faz-se a renda de bilro a partir de um “molde” riscado
e marcado com alfinetes102: são cruzadas linhas presas a Figura
bilros103 acompanhando o desenho (Figuras 85 e 86).
Figura 71 – Renda de bilro.
101
FUNARTE, 1965: 9-16.
São também utilizados espinhos.
103
Os bilros, peças de madeira com uma bola ou fuso em sua
extremidade, são instrumentos com cerca de 15cm, onde se fixam as
linhas ou fios.
102
70
–
Artesã
utiliza
navete.
Figura 72 – Renda de bilro.
101
Os bordados, ornamentos realizados através da
aplicação de retalhos diversos costurados sobre um fundo
(bordado de aplicação), ou através de pontos costurados
diretamente sobre tecido, utilizando-se agulhas e linhas
coloridas
(bordado
de
fios),
podem
ser
realizados
manualmente ou através de máquinas específicas e são
empregados em peças de vestuário ou para o lar. É possível
aplicar miçangas e outros materiais sobre o tecido.
O
delicado
bordado
“boa-noite”
é
realizado Figura 73 - Labirinto de Beribéri.
desfiando-se o tecido em algumas áreas, que são esticadas
em um bastidor e, posteriormente, através de linha e agulha,
constrói-se o bordado unindo os fios que restaram. A
cambraia é muito utilizada para esse fim. A renda “labirinto”
ou "crivo" é realizada a partir de um desenho riscado sobre
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um tecido (geralmente o linho), desfiado com auxílio de uma
lâmina, e bordado com uma agulha fina. Utilizam-se também
um bastidor e tesoura (figuras 87 e 88). Para a confecção do
bordado “vagonite”, espaços desfiados dos tecidos são
preenchidos por ponto cheio. Os desenhos realizados com
Figura 74 - Labirinto de Beribéri.
bordado em “ponto de cruz” são confeccionados com
agulhas e linhas coloridas, sempre com pontos em formato
de cruz. O cânhamo e o linho são muito utilizados como
base. O bordado redendê utiliza tesoura, linhas, agulha e
bastidor, unindo retalhos de tecidos nas formas de
quadrados, losangos ou triângulos, por meio de barras. A
renda nhanduti, ou tenerife,104 muito difundida nos países Figura 75 – Renda tenerife.
latino-americanos através da colonização espanhola,
alcançou o Brasil provavelmente através do Paraguai e hoje
está ameaçada de extinção. Uma almofada ou bastidor é
utilizado como suporte, sobre o qual é construída uma trama
radial através de pontos e nós, formando desenhos que
remetem ao mundo vegetal, animal e domésticos. A palavra
“nhanduti” em guarani, significa “teia de aranha”, forma
relacionada à estrutura formada durante a confecção deste
tipo de renda (Figuras 89 e 90).
104
LACEMAKING CENTRAL e NHANDUTI DE ATIBAIA.
Figura 76 – “Polka Spider”.
102
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3
Natureza, Arquitetura & Design
Figura 1 – Vista de pátio, por Hundertwasser.
“A tecnologia desenvolvida pelo homem é imensamente
amadora se comparada à elegância da renovação da
invenção não-humana. O Homem não reconhece de forma
espontânea, nenhuma tecnologia a não ser a sua, assim
fala das demais como algo que indiferentemente chama
natureza”. (FÜLLER, 1982:17).
Aprendemos
na
natureza,
ao
observarmos
as
estratégias de sobrevivência das espécies, como se
alimentam, se abrigam, se reproduzem. Aprendemos nos
reinos animal e vegetal, nos ambientes terrestre e aquático,
em climas árido, tropical, temperado e polar.
À medida que minúsculas câmeras eletrônicas são
desenvolvidas, observamos de forma mais precisa o
comportamento de espécies de invertebrados, por exemplo.1
1
ATTENBOROUGH, Pequenos Monstros 1, A Invasão da Terra,
Editora Abril, 2006. BBC-2005.
103
Observamos como se organizam em colônias para garantir
a preservação da espécie e como reagem quando se
percebem
ameaçadas.
Observamos
também
como
produzem substâncias em forma de fios e como tecem suas
teias para capturarem suas presas e construírem seus
ninhos e suas tocas.
Aprendemos e reproduzimos aquilo que vimos e
adequamos
às
nossas
necessidades.
Aprendemos
e
reproduzimos fios, cabos e membranas, entrelaçamos e
agregamos
Aprendemos
matéria,
sobre
artesanal
estruturas
ou
industrialmente.2
biotêxteis3,
estruturas
encontradas na natureza que incorporamos às técnicas de
fiar, tecer e construir têxteis, e estruturas desenvolvidas pelo
homem, semelhantes, em sua organização, às formas
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“biológicas”, então incorporadas a outras técnicas.
No campo da Arquitetura & Design, a partir de
soluções e adaptações ao meio, desenvolvidas por outras
espécies, “copiamos” a natureza ao adequarmos “idéias”,
reproduzindo e ajustando-as através de investigações para
o desenvolvimento de artefatos, abrigos, materiais e
estratégias.4
“O que chamamos de “projeto” (design), em seu sentido
mais amplo, é a moldagem dos fluxos de energia e de
materiais feita em vista dos fins humanos. O projeto
ecológico é um processo no qual nossos objetivos humanos
são cuidadosamente inseridos na grande rede de padrões e
fluxos do mundo natural. Os princípios do projeto ecológico
refletem os princípios de organização que a natureza
desenvolveu para sustentar a teia da vida. A prática do
desenho industrial nesse contexto exige uma mudança
fundamental da nossa atitude em relação à natureza. Nas
palavras de Janine Benyus, escritora de divulgação
científica, o projeto ecológico, “dá início a uma era baseada
não no que podemos extrair da natureza, mas no que
podemos aprender com ela”.5 (CAPRA, 2002:241).
Assim, a partir de “exemplos naturais”, podemos
encontrar experiências realizadas em Arquitetura & Design,
2
RIPPER E FINKIELSZTEJN, 2005:3-4. Referências aos estudos
de DE VASCONCELOS sobre ninhos de pássaros.
3
Idem.
4
DE VASCONCELOS, 2000:158-284.
104
nos “modos de fazer e conceber” que acompanham os
princípios e estratégias da natureza.
“Pele - Roupa - Casa - Identidade - Terra”
Hundertwasser (1928-2000), o “médico da arquitetura”,
atuou em completa sintonia com os princípios da natureza.
Em 1953, sintetiza sua visão de mundo através da pintura
de uma espiral6, onde “Cinco Peles” representariam a
interação por osmose de níveis de consciência sucessivos e
concêntricos, relacionando indivíduo com seu meio: a
Epiderme7, a Roupa; a Casa; a Identidade e a Terra. Através
da “Casa de Hundertwasser”, passa de crítico idealista à Figura 2 – As cinco peles”,
ação prática, convertendo-se em construtor, e declara sua
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vocação de “médico da arquitetura” (Figuras 91 a 94).
Figura 3 – Centro Trwmal de Blumau, por Hundertwasser.
5
CAPRA, 2002: 241. O autor faz referência ao livro Capitalismo
Natural (Natural Capitalism), publicado pela Editora Cultrix, São Paulo,
2000, de Janine Benyus.
6
A partir deste momento Hundertwasser representa, através de
espirais, seus pensamentos e suas teorias.
7
RESTANY, 2003. As “Cinco Peles” correspondem
respectivamente a: primeira pele: zona membranosa mais próxima do
indivíduo; segunda pele: seu “passaporte social” e reflexões sobre sua
roupa, status social, e denúncia à padronização da moda; terceira pele:
através da qual aborda a espiritualidade da matéria ao término de seu
ciclo biológico e o direito “a fachada”; quarta pele: identidade e suas
relações com o meio; e quinta pele: o mundo, a ecologia e a humanidade.
por Hundertwasser.
105
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“(...)Me nego a construir casas que possam danificar a
natureza e as pessoas.
(...)Somos simples hóspedes da natureza e deveríamos
conseqüentemente nos comportar.
(...)Um bom edifício deve conseguir unir as coisas: a
harmonia com a natureza e a harmonia com a criação
humana individual.”
RAND, Harry, Hundertwasser, 2003:38-39. GUARDERIA Projeto Arquitetônico de Hundertwasser para FrancfortHedderheim. Viena, 14 de maio e 1987.
Figura 4 – Casa Hundertwasser, Viena.
“(...) A natureza deve crescer livremente onde caem a chuva
e a neve; o que está branco no inverno deve ser verde no
verão.
Todos os elementos horizontais que se encontram abaixo
do céu pertencem à natureza. Nas estradas e nos telhados
devem-se plantar árvores.
(...) A gente entenderá por fim a frase: a linha reta é atéia”.
RAND, Harry, Hundertwasser, 2003:146-147.Manifesto: “Tu
derecho a la ventana. Tu deber hacia el árbol.” Düsseldorf,
27 de fevereiro,1972.
106
“Qual a natureza da estrutura? Qual a estrutura da
natureza?”8
Kennet Snelson, durante seus estudos na escola de
arte Black Mountain College (CN, EUA), em 1948,
interessou-se pelas idéias relativas a tensão e compressão
de seu professor Richard Buckminster Füller. Começou a
realizar experimentos através dos quais explora o espaço
tridimensionalmente,
com
particular
interesse
em
movimento, desenvolvendo um método de construção que
agrega elementos modulares em que utiliza cabos como
linhas de tensão para equilibrar os elementos no lugar.
Richard Buckminster Füller efetuou algumas alterações
neste princípio, aplicou-o às construções de domus
geodésico que vinha realizando e nomeou-o tensegrety
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(“tensão e integridade”).
Figura
Grip”.
5
–
“Kellum’s
Os maiores interesses de Kennet Snelson diziam
respeito ao modo como a matéria é construída e a como
articular espaço. Dedicou-se a investigar as propriedades
físicas das estruturas, buscando tornar o espaço palpável
através dos limites em que o sólido está contido.
“Não
estava interessado em escultura, mas sim em estruturas”
(Figura 95, 96 e 97).
Figura 7 – “Circlespheres”.
8
Kenneth Snelson dedicou sua vida artística a responder a estas
duas perguntas.
Figura 6 – “Diagonal Double
Cross”.
107
Sua investigação sobre as forças físicas em nível
macroscópico,
que
resultou
no
tensegrety,
foi
posteriormente direcionada às forças físicas em nível
atômico. Os modelos desenvolvidos por Kenneth Snelson
levaram cientistas a avançar nas pesquisas sobre o
comportamento celular. Segundo INGBER9, as membranas
celulares possuem tensegrety e são formadas por cadeias
protéicas, densas ou ocas, comportando-se como cabos e
hastes, e formando estruturas estáveis, porém flexíveis
(Figura 98). Equilibram compressão e tensão, e suportam
forças sem se romper. As membranas celulares tornaram-se
objeto de interesse da NASA, pois reagem à gravidade, já
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que peso proporciona tensão e compressão.
Figura 8 – Membranas estruturais de células endotélicas humanas.
“Synergetics”
O comprometimento de Richard Buckminster Füller
com a preservação do planeta levou-o a realizar
experimentos que permitissem identificar e distribuir os
recursos da Terra de forma justa, e proporcionassem
melhora da qualidade de vida a todas as sociedades.
O entendimento sobre a natureza e a tecnologia, no
sentido mais profundo, foi possível através de suas
9
BIOTENSEGRETY e INGBER, 1998:48.
Figura 9 – Domus,
Buckminster Füller.
108
investigações, permitindo o avanço de sistemas modulares e
estruturais eficientes, assim como de construções infláveis.
Parte desses princípios está reunida em “Synergetics”, em
que aborda geometria, pensamento e Universo (Figuras 99,
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100 e 106).
Figura 10 – Domus de cartão, Buckminster Füller.
Arquitetura Têxtil
Frei Otto dedicou-se a investigações no campo da
Arquitetura Têxtil, desenvolvendo tensoestruturas, e é um
dos pioneiros na compatibilização ambiental e preservação
de recursos naturais. Em seu treinamento de engenheiro de
aviação, realizou experimentos e investigações acerca de
tendas
para
abrigos
posteriormente
de
avanços
emergência,
pioneiros
promovendo
em
coberturas,
matemática estrutural e engenharia civil. A partir de 1972,
pesquisa estruturas biológicas, tais como malhas estruturais
de conchas (Figura 101).
A Arquitetura Têxtil utiliza a membrana como principal
material
para
suas
estruturas
e
coberturas.
Essas
membranas, constituídas por um tecido ou malha de fibras
podem
receber
tratamentos
para
otimizar
suas
performances físicas e mecânicas, e permitem cobrir
grandes
vãos
relativamente
com
baixo
rapidez
em
de
montagem
comparação
às
e
custo
construções
convencionais (Figura 102). As membranas tensionadas são
Figura 11 – Instituto Leichtbau.
109
leves e relativamente finas, proporcionam ambientes com
iluminação transparente ou translúcida e diversidade de
formas de superfícies curvas.
Figura 12 – Laboratório de investigação, Venafro, Itália.
A Arquitetura Têxtil cujas origens estão associadas às
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tendas de grupos sociais nômades, é utilizada em
construções de rápida montagem e desmontagem, e de
transporte fácil (Figuras 103 e 104). É inserida neste
contexto devido principalmente à confecção de membranas
para as coberturas dos Sistemas Modulares Têxteis e à
Figura 13 – Tenda tuaregue.
leveza requerida. Na Arquitetura Têxtil, as coberturas
tensionadas são constituídas por membranas que cumprem
as funções estruturais e de vedação. As membranas
10
tensionadas
são formadas por mantas, cabos, elementos
de suporte, ancoragem e fundação, e são classificadas Figura 15 – Tenda beduína.
basicamente como estruturas tensionadas de membrana,
que
agem
como
estruturas
e
vedações;
estruturas
tensionadas de malha, que atuam de forma independente
dos elementos de cobertura, e estruturas pneumáticas, que
são sustentadas pela pressão do ar (Figura 105).
As tendas nômades e yurts, cujas origens nos
remetem a quarenta mil anos e a materiais como ossos,
peles, e diversos elementos naturais, estão estreitamente
relacionadas ao contexto socioeconômico do grupo e aos
recursos e condições climáticas encontradas na região. O Figura 14 – Elementos de
vedação de fachada, Osaka,
caráter
10
geralmente
provisório
dessas
habitações
é Japão.
METÁLICA. São também chamadas estruturas tensionadas, ou
tensoestruturas.
110
evidenciado através dos elementos construtivos de fácil
transporte e rapidez na construção, características que se
refletem nas primeiras manifestações da Arquitetura Têxtil e
objetos a ela relacionados. Hoje já é possível considerarmos
uma Arquitetura Têxtil de caráter permanente11.
Podemos perceber interfaces e fluxo de informação
entre
diversas
áreas
da
ciência,
ao
investigarmos
experiências em Arquitetura & Design, que seguem critérios
e princípios da natureza e bem estar do homem, permitindo,
assim, melhor compreensão sobre diversos sistemas.
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"Em todas as escalas da natureza, encontramos sistemas
vivos alojados dentro de outros sistemas vivos - redes
dentro de redes. Os limites entre esses sistemas não são
limites de separação, mas limites de identidade. Todos os
sistemas vivos comunicam-se uns com os outros e
partilham seus recursos, transpondo seus limites”.
Princípios da Ecologia - Redes. (CAPRA, 2002:239)
Figura 16 – Exemplos de Design Geodésico na natureza.
11
Arquitetura Têxtil de caráter permanente manifesta-se através da
construção de estádios esportivos, aeroportos e coberturas em
edificações em grandes centros urbanos.
111
3.1.
Exemplos Naturais
“(...)Humanos têm assim desenvolvido um parque industrial
complexo que é somente a magnitude de um jardim de
infância se comparado à complexidade do sucesso biológico
de nosso planeta Terra. No contexto da complexidade de
integridade de design, o Universo é tecnologia. (FÜLLER,
1982:17)
Aprendemos
sobre
acampamentos
temporários12
quando observamos os morcegos albinos, conhecidos como
“morcegos-fazedores-de-cabanas”.13 Cortam as nervuras
laterais de folha, que se curva para baixo, formando uma
“cabana” impermeável à água. Embaixo da “cabana”, a luz
translúcida, esverdeada devido à cor da folha, camufla os
pequenos morcegos albinos que se abrigam, imperceptíveis
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a predadores. Aprendemos também sobre tensegrety
quando observamos larvas que trabalham em mutirão na
construção de “cabanas” tecidas com fios de seda,
formando membranas fixas aos galhos de árvores. À medida
que a população aumenta, adicionam andares à sua
construção14.
As formigas compõem a mais numerosa espécie
encontrada e se agrupam em colônias, nunca vivendo de
forma isolada.15 Da mesma forma, podemos encontrar
espécies de minúsculas aranhas que também trabalham em
“cooperativa”. Em “mutirão”, constroem imensas teias sobre
as copas das árvores, a quinze ou mesmo vinte metros do
chão e agem em conjunto na captura da presa, centenas de
vezes mais pesada que elas.
Excretam cola de suas
fiandeiras, imobilizando e injetando veneno nas juntas da
vítima. Aqui, o trabalho em equipe é crucial.
Percebemos o uso econômico de material e de
energia ao observarmos as vespas sociais em atividade na
construção do enxu. A cada alvéolo, seis vespas se
agrupam para a sua confecção, já que um número maior
12
1996.
13
14
ATTENBOROUGH, os Desafios da Vida, Construção do Lar,
Idem.
Idem.
112
produziria alvéolos excessivamente grandes para seu
tamanho, e um número menor resultaria em alvéolos
menores que seu tamanho. O resultado desse trabalho em
sociedade é a construção de alvéolos hexagonais com
regularidade e preenchimento dos espaços do enxu16.
O aproveitamento de matérias-primas descartadas por
outras espécies, o “reuso” de carcaças de outros animais
mortos e da própria seda ou adesivo como alimento, após
utilização na captura de presas, é um dos Princípios da
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Ecologia.
“Todos os organismos vivos, para permanecerem vivos, têm
de alimentar-se de fluxos contínuos de matéria e energia
tiradas do ambiente em que vivem; e todos os organismos
vivos produzem resíduos continuamente. Entretanto, um
ecossistema, considerado em seu todo, não gera resíduo
nenhum, pois os resíduos de uma espécie são alimentos de
outra. Assim, a matéria circula continuamente dentro da teia
da vida”.
Princípios da Ecologia – Ciclos. (CAPRA, 2002:239)
15
16
VASCONCELOS, 2000:193.
VASCONCELOS, 2000:188.
113
3.1.1.
Invertebrados produtores de seda
“Apesar de nossa engenhosidade, ainda não conseguimos
inventar nada tão resistente, tão leve ou elástico quanto a
seda”. (ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza,
2006).
Segundo ATTENBOROUGH, na história evolucionária,
os animais da relva desenvolvem a “seda” há mais de Figura 17 – Vespa polistes.
trezentos milhões de anos, e inicialmente a utilizavam sob a
forma de adesivo. Mais resistente que um fio de ferro com o
mesmo diâmetro, é elástica e pode ser esticada até mais de
duas vezes o seu comprimento.
Devido ao interesse comercial por seu fio, o bicho da
seda é a mais conhecida espécie animal produtora de
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“seda”, mas não é a única. Outros invertebrados são
também produtores de “seda” para sua sobrevivência.
A larva da mariposa Bombix Mori, conhecida como
bicho da seda, produz um filamento com o qual constrói seu
casulo para proteger-se durante a metamorfose, quando
então se transforma em borboleta17. Essa substância, um fio
finíssimo produzido a partir de proteínas,18 é expelida
através de movimentos circulares com a cabeça e com a
parte dianteira do corpo. Em diversos casos, o material
utilizado na construção do casulo serve como primeiro
alimento para os rebentos invertebrados.
As larvas das vespas Polistes (Figura 107), por
exemplo, produzem uma membrana que é tecida somente
para o fechamento das células de seus ninhos, onde se
enclausuram até se transformarem em insetos alados. As
vespas Cortesia introduzem seus ovos em uma lagarta, que
morre durante a eclosão dos ovos da vespa. As larvas
dessas vespas produzem uma seda, que se solidifica
formando a crisálida embaixo da casca vazia da lagarta.19
17
VASCONCELOS, 2000:195-198. Inserir fotos.
VASCONCELOS, 2000:200. Esta proteína é composta por
glicina, alanina e serina, é muito resistente e se cristaliza parcialmente
enquanto é retirada da glândula. O casulo consome até quatro
quilômetros de fio.
19
ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006.
18
114
Também
as
aranhas
possuem
glândulas
que
produzem fios, compostos por cadeias de aminoácidos e
com propriedades específicas para determinadas funções.
Os fios podem ser mais grossos e resistentes, permitindo
que a aranha caminhe sobre as teias, e orientando-a através
da vibração produzida pelo toque da presa na teia. Os fios
podem ser mais finos e pegajosos para capturar presas, ou
próprios para acondicionar e proteger os ovos.
Para alguns invertebrados, a estratégia continua
sendo a utilização da “cola”, que precedeu a “seda”. O
onicóforo não produz seda, mas, através de dois bicos
localizados abaixo de seus tentáculos, esguicham dois jatos Figura 18 – Formigas tecelãs.
de cola sobre sua caça, que se embaraça à medida que se
debate, e a imobiliza com suas presas. Posteriormente, o
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onicóforo engole a cola e devora o alimento.20
As larvas produzidas pelas formigas tecelãs21 são
utilizadas somente para costura e colagem de folhas que
formarão seus ninhos, e não para captura de alimento ou
Figura 19 – Formigas tecelãs.
desenvolvimento de novos indivíduos. Enquanto algumas
formigas formam “pontes” (Figura 108), subindo umas sobre
as outras e puxando as bordas de folhas, outras pressionam
as larvas como “bisnagas”, que expelem o fio de “seda” para
colar as extremidades das folhas (Figura 109).
As lesmas Limax maximus produzem uma corda de
muco
pela
qual
deslizam
e
iniciam
o
estágio
de
acasalamento penduradas em um galho e suspensas no ar
(Figura 110).22 Já a Ceraeochrysa cubana23 pendura seus
ovos, um a um, em caules de plantas. Produz gotículas de
seda pegajosa em glândulas localizadas em seu abdome,
sob a forma líquida, que se solidifica à medida que a
substância é expelida.24 Suspenso no ar, cada ovo possui
seu próprio fio finíssimo, e não é percebido por predadores, Figura 20 – Lesmas Limax
maximus.
20
ATTENBOROUGH, A Invasão da Terra, 2006.
VASCONCELOS, 2000:195-196).
22
ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006.
23
ATTENBOROUGH, Construção do lar, 2005.
24
ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006. A seda
líquida cristaliza-se enquanto é expelida.
21
115
mesmo que estejam a alguns milímetros de distância. São
produzidos cerca de trinta ovos diariamente, que eclodem
após três dias.
Em 166525, o sábio inglês Hook indagou sobre a
possibilidade de reproduzir um fio artificialmente, tal como o
Figura 21 – Glândula
bicho da seda. Nos séculos que se seguiram, patentes e produtora de seda em
experimentos utilizando celulose abriram caminho para os
aranha.
primeiros resultados práticos em 1889: os primeiros tecidos
compostos por nitrosseda artificial também utilizada como
filamento incandescente em lâmpadas, e o processo de
produção de viscose em 1892, transformando a celulose em
um líquido viscoso para fiação.
Figura 22 – fiandeira em
Assim, a indústria têxtil reproduz, em suas unidades equipamento industrial
de produção, o processo de “fiação” encontrado na têxtil.
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natureza. Os filamentos contínuos são confeccionados em
equipamentos que muito se assemelham às glândulas
encontradas em aranhas, através das quais produzem
filamentos muito finos reunidos em feixes (Figuras 111 e
112). Tratamentos de texturização26 de filamentos podem
tornar os fios produzidos pelo homem mais volumosos,
extensíveis e elásticos.
A observação e percepção das estratégias fornecidas
pela natureza tornam-se cada vez mais viáveis pelo
desenvolvimento de equipamentos e novos instrumentos de
medição. Assim, através de investigações constantes, a
indústria aperfeiçoa os processos e as composições de
matérias-primas empregadas.
25
26
ERHART, 1975-1976:8-9, vol. III.
ERHART, 1975-1976:33-34, vol. III.
116
3.1.2.
Os vários “modos de tecer”
São
inúmeras
as
“estratégias”
utilizadas
por
invertebrados na confecção de teias, e estão relacionadas à
captura de alimento, à reprodução da espécie e à proteção
de ninhos a intempéries e contra espécies invasoras. O
louva-deus, as baratas e as aranhas, por exemplo, protegem
Figura 23 – Arachnocampa
as ootecas com fios de seda.27 Outros tecem seus abrigos luminosa.
agregando gravetos aos fios de seda pegajosos e ainda
úmidos.
A caverna de Wautoma,28 Nova Zelândia, abriga uma
das mais intrigantes estratégias utilizadas por invertebrados
produtores de seda. Cada larva da Arachnocampa luminosa
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(Figuras 113, 114 e 115), para capturar suas presas, emite
uma luz azulada em uma de suas extremidades, produzida
por
substâncias
químicas
fosforescentes
em
um
compartimento localizado ao lado de seus intestinos.
Figura 24 – Arachnocampa
luminosa.
Figura 25 – Arachnocampa luminosa.
O tubo de muco transparente pendurado, no qual está
inserida a larva, é fixo ao teto da caverna através da seda
produzida por glândulas localizadas na boca da larva, na
outra extremidade. As larvas fixam os fios de seda à rocha
27
28
VASCONCELOS, 2000:198-201.
ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006.
117
e, rodeadas por uma rede de fios, direcionam-se ao teto, de
onde deixam pender nova seda. À medida que produz o
filamento, que pode alcançar até um metro de comprimento,
regurgita gotículas de “cola”.
O
conjunto
centenas29
de
de
fios
luminosos
pendurados no teto da caverna forma cortinas de filamentos
transparentes, pontilhados por luzes cintilantes, atraindo
suas
presas,
que
se
debatem
em
meio
aos
fios
perpendiculares e à cola dos fios pendentes. A larva, ao
capturar sua presa, “apaga a luz” e acompanha os fios até a
presa, devorando-a e comendo o fio de seda.
A Antipluria urichi, o “fiandeiro”, constrói mantos de
seda
30
em forma de “tendas”, impermeáveis à água e a
odores, revestindo as árvores de florestas em Trinidad e
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Tobago. Essas membranas finíssimas formam galerias e as
protegem de predadores que caminham sobre essa
membrana. A impermeabilidade à água das mantas
construídas pela Antipluria urichi a obriga a produzir
pequenos orifícios para que possam beber a água
acumulada
sobre
a
superfície
do
material,
que
é
rapidamente reconstituído. A seda não é produzida em suas
bocas ou abdome, mas sim em glândulas localizadas em
suas pernas dianteiras, que possuem cerca de cento e
cinqüenta minúsculos ejetores de seda e formam um
finíssimo tecido sedoso.
Esses mantos possuem características importantes
para a investigação de membranas na Arquitetura Têxtil: são
extremamente leves, resistentes, impermeáveis à água e ao
odor, mas não ao ar, suportam peso, permitindo que
indivíduos dessa espécie caminhem na galeria formada
pelas membranas, assim como da espécie predadora
caminhem sobre a membrana, e cobrem grandes extensões.
Segundo ATTENBOROUGH31, as armadilhas são
provavelmente as primeiras formas nas quais as aranhas
29
A concentração de larvas pode chegar a centenas por m².
ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006.
31
ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006.
30
118
empregaram
a
seda.
As
aranhas-de-alçapão
tecem
filamentos do lado externo (Figura 116), ligados a um
colarinho de seda em torno de um buraco. Cada uma das
patas da aranha, em contato com essa construção, obtém
informações quando uma presa se move do lado externo,
vibrando ou movendo os filamentos. Com extrema rapidez,
captura a presa, abrindo o alçapão e levando-a para dentro
do buraco.
As teias orbiculares são mais recentes e mais
sofisticadas na utilização da seda (Figura 117). Há aranhas
Figura 27 – Armadilha de
que podem tecer uma teia orbicular diferente em até uma aranha-de-alçapão.
hora, a cada noite. Essa estrutura complexa pode
compreender até sessenta metros de seda32 e até três mil
interseções. Para construí-la, a aranha produz um filamento
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de seda que, levado pela brisa, atinge uma superfície sobre
a qual se adere, formando uma ponte. A aranha atravessa o
filamento, trazendo uma seda mais resistente, amarrando-a
na extremidade, e substituindo o filamento da ponte. Produz
um eixo que pende do centro dessa ponte, de onde partirão
os fios radiais e resistentes, que suportarão os demais fios,
que serão tecidos em espirais. A primeira espiral, espaçada Figura 26 – Nephila: teia
e temporária, servirá de andaime para as construções
subseqüentes, mais resistentes, mais densas e menos
espaçadas.
À medida que tece, reveste uniformemente os fios com
um adesivo, mas, ao terminar a seção, arranha com a pata,
formando linhas de gotículas. Ao término, come o fio que
serviu de andaime.33O adesivo, além de colar a presa, evita
que a teia se deforme ou se parta, já que as gotículas
preservam o excedente de filamento, formado com a
raspagem da pata da aranha e que, no instante do impacto,
se estica e logo retorna ao interior das gotículas. Ao detectar
de onde partiram os movimentos sobre a teia, caminha até
seu alimento, aprisiona-o e o envolve com uma manta de
seda.
32
33
Idem. Podem conter até seis variedades de seda diferentes.
ATTENBOROUGH, Construção do Lar, Editora Abril, 1991.
orbital.
119
As teias construídas pelas aranhas Nephila são muito
resistentes,
com
capacidade
de
capturar
pequenos
pássaros, e podem alcançar vários metros. No entanto, a
grande dimensão de suas teias não permite que controlem a
ocorrência de “pequenos furtos”, realizados por outras
espécies em pontos mais distantes da teia. 34
Outras formas de teias produzidas por aranhas podem
ser encontradas. A teia triangular é uma modificação da teia Figura 28 – Hyptiotes
orbicular, como se esta fosse cortada. A teia da aranha
paradosous: teia triangular.
Hyptiotes paradoxus é triangular (Figura 118) e, para que
seja eficiente, deve estar bem tensionada. A Hyptiotes
aguarda sua presa que, ao atingir sua teia, é embaraçada e
embrulhada rapidamente por um fio previamente enrolado e
guardado em seu dorso. A aranha Deinopis subrufa constrói
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Figura 30 – Teia retangular
uma trama de fios em forma de retângulo, que segura nas da aranha Deinopis subrufa.
pernas para agilmente capturar e embrulhar a presa (Figura
119). Essa “rede” é construída a partir de multifilamentos de
seda, que desfia, deixando-a felpuda, sem a necessidade de
adesivo.35O ninho da Lycosa sp é construído para abrigar
seus ovos e é carregado em seu dorso (Figura 120).
Figura 29 – Lycosa sp.
A Latrodectus hasselti, a viúva-negra, constrói em três
dimensões, entre duas superfícies planas. Desce através de
um fio até o chão onde o fixa e, junto a este, gruda um
34
35
Idem.
ATTENBOROUGH, Construção do Lar, 1991.
120
segundo fio de reforço fazendo o caminho de volta e
esticando-o. A viúva-negra realiza este processo dezenas
de vezes, resultando em inúmeros fios pegajosos esticados
verticalmente entre as duas superfícies, que, ao toque de
cada caça, suspendem uma a uma, cabendo à aranha
apenas puxar o fio com o alimento. 36
A
aranha
boleadeira
(Figura
121)
produz
primeiramente um filamento reforçado onde permanecerá
aguardando sua presa para, posteriormente, produzir um fio
resistente, com uma gota pegajosa na extremidade, que
utilizará
como
uma
boleadeira.
Produz
também
um
ferormônio diferente para cada espécie que pretende atrair,
capturando
e
embrulhando
seu
alimento
para
Figura 31 – Aranha boleadeira.
posteriormente usufruir.37
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A Pardosa nigriceps não tece teia, mas utiliza a seda
como um fio de segurança que contém também informações
para o acasalamento.
A
larva
da
mariposa
Neureclipsis
bimaculata,
“caddis”, produz uma armadilha em forma de funil, cujas
bordas são fixas a galhos submersos38. Essa estratégia é
utilizada por pescadores que constroem “puçás”, redes em
forma
de
funil,
para
capturar
alimento.
O
homem
provavelmente desenvolveu diversas estratégias de caça e Figura 32 – Confecção de
pesca observando os “modos” pelos quais insetos produzem covo.
e tecem suas teias. Assim, o homem utiliza armadilhas,
redes, construídas a partir de fibras trançadas e fios
entrelaçados, e sistemas de captura bastante semelhantes
aos encontrados na natureza (Figura 122).
Segundo LEROI-GOURHAN, a forma pela qual são
confeccionados alguns artefatos de fibras naturais e
técnicas de cestaria permite a contenção de líquidos. As
estruturas construídas são utilizadas na produção de capas
de chuva, botes, baldes e abrigos, não havendo, assim,
necessidade de impermeabilização (Figuras 123 e 124).
Figura 33 – Capa de chuva
de fibras.
36
Idem.
Idem.
38
DE VASCONCELOS, 2000:198.
37
121
“(...) A utilização normal destas matérias é o fabrico de
recipientes cilíndricos ou cúbicos de juntas quase
suficientemente estanques para permitirem o transporte de
líquidos. (...) A casca de bétula da Sibéria tanto serve para
fazer baldes e caixas como sandálias de tiras tecidas (...)As
fibras que recobrem o tronco das palmeiras, cosidas em
placas, servem em todo o Extremo Oriente para fabricar
capas de chuva (...).39
(LEROI-GOURHAN, 1984: 172-173. Evolução e técnicas; O
Homem e a matéria I).
Kenneth Snelson, na intenção de encontrar respostas
às suas indagações sobre “como as coisas se conectam”, Figura 34 – Balde de fibras.
realizou experimentos relacionados à tecelagem e a
considera “mãe
do
tensegrety”. Segundo
SNELSON,
existem basicamente duas estruturas de tecelagem, sendo
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as demais variações (Figura 125 a 129):
“Quando dois objetos se cruzam, dois eixos são criados
acompanhando as diagonais: um possui movimento
helicoidal para a direita em sentido horário, e outro possui
movimento helicoidal para a esquerda, em sentido antihorário. Isto, juntamente ao magnetismo com suas
polaridades norte e sul, elétrons e prótons, tem-se as
origens da binaridade. Esta dualidade que ocorre a cada
cruzamento ensina a primeira lição sobre estruturas da
natureza. O fenômeno “helicoidal” tem papel vital em
determinar como as coisas se conectam” KENNETH
SNELSON, acesso em 30mai2006.
Assim,
aprendemos
como
a
natureza
tece
Figura 35 – Cruzamento de
filamentos: eixos em
movimento de hélice.
e
reproduzimos redes, tecidos e membranas, construímos
estruturas e nos organizamos em Sistemas de redes.
“As trocas de energia e de recursos materiais num
ecossistema são sustentadas por uma cooperação
generalizada. A vida não tomou conta do planeta pela
violência, mas pela cooperação, pela formação de parcerias
e pela organização em redes”.
Princípios da ecologia – alianças (Parcerias). (CAPRA,
2002:239)
Figura 36 – Tela.
Construímos membranas, o principal material utilizado
na "Arquitetura Têxtil", com o objetivo de aplicá-las como
coberturas e estruturas. As malhas ou tecidos utilizados
39
LEROI-GOURHAN, 1984:172-173. Referências à utilização de
cascas de plantas.
Figura 37 – Diversos autores
referem-se a estruturas
semelhantes.
122
estruturalmente são geralmente compostas por malhas
ortogonais de fios, variando tanto na espessura do tecido,
quanto no título40 do fio e na quantidade destes por cm².
As membranas tensionadas recebem uma estrutura de
sustentação organizada sob forma de reticulados espaciais,
garantindo eficiência estrutural; as hastes de sustentação
são leves e muito resistentes, geralmente com seção
transversal tubular.
As mantas tramadas obtiveram atenção especial por
parte
das
indústrias
que
a
produzem.
Durante
o
processamento, as mantas tramadas, que geralmente
recebem tração diferenciada em cada sentido41 de fibras
(urdidura e trama), podem ser pré-tracionadas nos dois
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sentidos42 antes de receber a camada de revestimento.
Figura 39 – Bola de rattan em cestaria.
40
SCHMIDT, Glossário:94. vol. II.Grandeza que expressa
densidade linear de têxteis lineares, como fibras, filamentos e fios.
Relaciona massa a um determinado comprimento (título direto) ou
comprimento a uma determinada massa (título indireto).
41
Anisotropia.
42
Isotropia
Figura 38 – Relação entre
conexões tensegrety e cestaria.
123
3.1.3.
A utilização de fibras, papel e adobe
Podemos perceber que os materiais para a construção
de ninhos e tocas são encontrados nas proximidades de
suas construções, e que estes abrigos estão geralmente
localizados de forma protegida, em função do período de
hibernação.
Encontramos fibras vegetais, ramos finos de plantas,
folhas secas, grãos de areia e argila na composição do
material utilizado para a construção de seus ninhos.
Encontramos polpa de papel produzida por invertebrados,
como vespas, formigas e cupins, na composição de seus
abrigos. Secreções produzidas por formigas são utilizadas
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como aglutinantes. As formigas Lasius fuliginosus produzem
papel, embora tenham sido as vespas as primeiras espécies
observadas
sob
este
aspecto.
Enquanto
as
vespas
mastigam e trituram a madeira, que é misturada à saliva
gerando um material moldável (Figura 132), há formigas que
“criam um rebanho” de afídeos e coccídeos, que fornecem o
“material de construção” pegajoso, concentrado em açúcar.
Figura 40 – Ninho de formiga carpinteira.
124
Há formigas que selecionam uma árvore ou madeira
com alguma cavidade, e cortam a matéria seguindo o
caminho das fibras, de modo a preservar ao máximo a parte
mais resistente. A madeira esculpida pelas “formigas
carpinteiras”
(Camponotus
spp.)
assemelha-se
às
construções vernáculas encontradas em diversas partes do
mundo (Figuras 130 e 131).
As vespas sociais (Vespidae) também constroem
abrigos leves, precisos, e com isolamento térmico muito
eficiente devido aos alvéolos hexagonais de paredes
extremamente finas. Suas colônias são construídas somente
para abrigar os ovos e a criação de novos indivíduos, já que
não habitam estes locais. Constroem “lajes” que servem de
suporte circundando seus abrigos pendurados em um ramo
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horizontal de árvore.
Figura 42 – Lasius fuliginosus: notar a posição do ovo na célula.
A vespa Trypoxylon fabricator, conhecida como
“vespa-tubo-de-órgão”,
constrói
ninhos
de
barro
com
paredes finas como papel, que não se retraem nem racham
quando secam, provavelmente devido ao aglutinante contido
em sua saliva, proporcionando às suas construções
resistência e impermeabilidade à água. Em função da
madeira ingerida, a cor de suas colônias pode variar.
Figura 41 – Local do ninho de
formiga carpinteira.
125
As construções das casas de barro em forma de pote
das vespas solitárias do gênero Eumenes (vespas-poteiras)
são supostamente os modelos que ensinaram aos índios
americanos a confecção de suas jarras cerâmicas (Figura
133). Essas vespas, após selecionarem o local43 para
construção, preparam uma bola de argila e saliva,
transformam-na em fitas, que são dispostas em círculo e
modelam o gargalo. Finalizam com o fechamento do gargalo Figura 43 – Ninho de vespa
poteira.
com uma bola de argila, após abastecer o ninho com
lagartas, já que este foi confeccionando somente para
acondicionar sua prole.44
Assim
como
nas
construções
de
vespas,
os
cupinzeiros alcançaram excelentes “soluções arquitetônicas”
para as questões de circulação de ar, ventilação e umidade,
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através da elaboração e disposição de galerias internas. Os
cupinzeiros são mais fortes que os formigueiros, e a
composição da matéria utilizada em suas construções tem
sido objeto de pesquisa para impermeabilizantes.
Podemos encontrar soluções extraordinárias nas
construções de ninhos de pássaros, não apenas devido aos
materiais utilizados, como também através das estratégias
de confecção dessas construções aparentemente frágeis.
Utilizam gravetos, fibras, flores, penas, barbantes, peles e
pêlos de animais e teias de aranha que, em alguns casos,
podem servir como adesivo devido ao visgo, além de
elementos encontrados nos lixos urbanos e na própria
saliva, como aglutinante45.
Os
ninhos
construídos
por
pássaros
podem
surpreender pela sofisticação de seus nós elaborados,
trançados, e compósitos de fibras com solo cru. Utilizam,
como ferramentas, o bico para furar e tecer, as asas para
alisar o barro, a língua para rolar bolas de argila na boca, e
43
O local pode ser uma folha, uma casca de árvore, ou o teto de
uma casa.
44
DE VASCONCELOS, 2000:191-192. Anestesiam as lagartas que
servirão de alimento quando os ovos eclodirem. Os mesmos
procedimentos são realizados pelas “vespas-cavadoras” (família
Sphecidae, ordem Hymenoptera. “asas de membrana”).
45
DE VASCONCELOS, 2000:84.
126
as pernas para firmar o material e se firmarem no galho. A
conjugação de diversos materiais para a formação de
compósitos é bastante encontrada.
“Na natureza, podemos perceber que todos os materiais
biológicos são compósitos, sem exceção. Exemplos
encontrados de compósitos naturais incluem madeira, em
que a matriz de lignina é reforçada com fibras celulósicas, e
ossos, em que a matriz composta por minerais é reforçada
com fibras colágenas. Desde a Antigüidade, encontramos
exemplos de compósitos feitos pelo homem, como adobes
reforçados com palha para evitar a quebra da argila, e o uso
de colmos de bambu no reforço de adobe e lama em
paredes no Peru e China”. (HIDALGO-LÓPES, 2003:163).
O beija-flor ermitão, por exemplo, utiliza fios de seda
para aderir, à folha ou teto, a construção de seu ninho. O
pássaro alfaiate (Orthotomus sutorius)46 utiliza seu bico
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como agulha para furar folhas verdes e costurá-las com
fibras vegetais, torcendo as fibras de algodão quando
curtas, ou utilizando pedaços de fios de teias. A costura das
folhas é finalizada com um nó firme e não aparente, que
protege seu ninho.
O pássaro tecelão macho constrói seu ninho a partir
de um primeiro nó, o mais importante, que deve ser firme.
Posteriormente, constrói um aro, não muito grande para que
não entrem predadores, nem pequeno demais, a ponto de
impedir sua entrada no ninho. Utiliza fibras ainda verdes
retiradas das proximidades e lamina-as no próprio local de
obtenção. São necessárias mais de mil tiras para a
construção de seu ninho. Esse pássaro, caso não consiga
atrair uma fêmea a partir de sua construção, irá desmanchála e construir outra em seu lugar.
46
É conhecido popularmente como serra-serra, tício, pineu e
veludinho.
127
3.1.4.
A Natureza que produz cabos
A natureza ensina-nos a confeccionar cabos e cordas,
e aprendemos com elas ao observar como é “torcida” uma
corda natural de liana. As trepadeiras herbáceas e lenhosas,
estas últimas também conhecidas como lianas e cipós, não
possuem troncos e necessitam de estrutura que lhes dê
suporte,
crescendo
verticalmente
ou,
horizontalmente,
quando caem no chão. Seu crescimento em busca de luz e
apoio
direciona-as
em
movimento
helicoidal
e
de
Figura 44 – Ponte suspensa
de cipó.
alongamento, enroscando-se e encurvando-se em função do
suporte encontrado. O enrolamento de cipós e trepadeiras
em torno de um suporte garante a fixação da planta, através
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do atrito (Figura 135). Segundo DE VASCONCELOS47, “a
natureza é capaz de encontrar o ângulo correto de ascensão
para evitar o escorregamento”.
As lianas regeneram-se através de sementes ou
brotos de raízes e caules caídos de outros indivíduos.
Segundo CALQUIST48, possuem tecidos moles abundantes
(parênquima)
no
xilema,
proporcionando
Figura 45 – Crescimento
grande helicoidal.
flexibilidade, e vasos de grandes diâmetros, aumentando
sua capacidade hidráulica de forma a abastecer grandes
áreas de folhas (massa foliar).
O cipó é uma planta também muito resistente a
microorganismos,
não
havendo
necessidade
de
tratamentos, apenas necessitando de limpeza adequada e
secagem ao ar livre. A coleta do cipó49 é legalmente
permitida, exceto em áreas preservadas, e deve ser
realizada ainda verde cortando-se as partes mais finas, sem
atingir a soca. São consideradas como “pragas” no setor da
indústria madeireira e entre os silvicultores devido ao seu Figura 46 – Crescimento
rápido crescimento (Figura 136).
47
DE VASCONCELOS47, 2000:281-283.
ECOLOGIA.INFO. Ecologia das Trepadeiras. Apud PUTZ.
49
PORTAL DO ARTESÀO. Guia Prático do Artesão.
48
em torno de suporte
garante sustentação.
128
Foi possível a confecção de cabos finos e resistentes,
torcidos
e
posteriormente
trançados
em
inúmeras
seqüências, e de cordas de cipós, com tecnologia
relativamente simples, a partir da grande resistência dessas
fibras vegetais. Para a confecção de artefatos, deve ser
trabalhado ainda verde caso contrário, perde a flexibilidade,
devendo ser deixado de molho em água para seu
amolecimento (Figuras 134, 137 e 138).
Na Arquitetura Têxtil, os cabos são utilizados no
tracionamento e acabamento das mantas, e variam em
Figura 47 – Corda natural
de liana (esq.) e corda
artificial confeccionada
pelo homem (dir.)
função do processo de fabricação e disposição dos fios,
arames ou cordas que os compõem, geralmente enrolados
em espiral em torno de um fio ou conjunto de fios centrais.
São elementos flexíveis, que suportam trações e esforços
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de grandes toneladas, e as camadas que os constituem são
Figura 48 – Cabo de arame
dispostas cada uma em um sentido. Os cabos podem ser descochado.
dispostos de forma ajustável ou fixos nas extremidades.
Algumas trepadeiras proporcionam néctar e pólen para
insetos, aves e morcegos, servindo também como vias de
locomoção entre as copas de árvores para animais arbóreos
(Figura 139).
O aumento das concentrações de dióxido de carbono Figura 49 – Cipós como
na atmosfera devido à ação humana está mudando a vias de acesso para a
composição dos ecossistemas: os cipós se beneficiam mais
do que outras espécies, sufocando árvores e reduzindo a
capacidade das florestas de absorver gases que provocam o
efeito estufa.
"O ecossistema é conectado. Você muda uma parte e
outras partes provavelmente mudarão também. É um
exemplo de como não podemos prever como o mundo
responderá às mudanças que estamos causando".
FOLHA ONLINE, PHILLIPS. Crescimento anormal de cipós
pode afetar o ecossistema.
fauna.
129
3.2.
Sistemas Modulares Têxteis:
um “modo de fazer” Arquitetura & Design
Pesquisa no LILD
O LILD tem-se caracterizado pelo trabalho de
pesquisa experimental de estruturas de bambu associadas
ao barro cru. Estudos mais recentes no laboratório têm
incorporado também outros materiais que começam a
ressurgir, como fibras naturais e impermeabilizantes e
resinas à base de óleos vegetais, conjugando diversas
tecnologias empregadas geralmente em materiais têxteis.
Conceitos
inovadores
de
sistemas
construtivos,
princípios de economia da engenharia estrutural, interações
e mesclas de materiais acompanham e determinam as
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investigações e construções experimentais do LILD. Assim,
são também investigadas a redução dos impactos das
ações humanas, questões relativas às trocas energéticas, e
estratégias encontradas na natureza.
Os Sistemas Modulares Têxteis foram desenvolvidos
visando a atender à necessidade de obter vedações e
coberturas para habitações, de acordo com os projetos de
estruturas
arquitetônicas
em
desenvolvimento
no
laboratório, utilizando técnicas acessíveis e matérias-primas
disponíveis.
Um “modo de fazer” Arquitetura & Design
A
urgência
por
estratégias
e
processos
mais
adequados ao ciclo de vida do sistema-produto impulsionou
esta dissertação na direção da sustentabilidade, das
tecnologias artesanais têxteis, e de conhecimentos regionais
passados de geração a geração.
Investigações
sobre
alternativas
de
design
sustentáveis e sobre tecnologias artesanais têxteis, tais
como nhanduti, bordados, rendas, tecelagem e cestaria,
utilizadas em artefatos de comunidades tradicionais, e o
intercâmbio com a equipe do LILD, forneceram os
instrumentos
e
as
condições
favoráveis
para
o
130
desenvolvimento do Sistema Modular Têxtil. A partir das
interações pesquisadas, protótipos experimentais foram
realizados
em
laboratório,
permitindo
conjugar
fibras
naturais à forma do objeto, associá-las e adequá-las à
construção de membranas tensionadas. Este sistema foi
desenvolvido com base nas propriedades das fibras
naturais, nas tecnologias e objetos de Arquitetura & Design
que empregam essas fibras e, principalmente, nas interrelações das fibras com o meio físico e social.
Os Sistemas Modulares Têxteis apresentam-se como
um “modo de fazer design” sustentável, possibilitando a
utilização
de
tecnologias
regionais,
matérias-primas
renováveis locais, e economia de energia e vias de
transportes, na construção de membranas estruturais
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arquitetônicas.
Sistemas Modulares Têxteis
Os Sistemas Modulares Têxteis são estratégias de
construção de membranas estruturais flexíveis que utilizam
técnicas artesanais têxteis, técnicas de modelagem e
princípios da Arquitetura Têxtil como meio de realização.
Tal como na modelagem de vestuário, a membrana
“veste” a habitação: a cobertura é dimensionada, e “moldes”
são realizados acompanhando as deformações do tecido. O
posicionamento do urdimento e trama nos planos da
modelagem da cobertura influi nas deformações causadas
pelo tensionamento da membrana. A disposição das fibras,
e
o
desenho
da
trama
influem
decisivamente
na
50
performance mecânica da membrana .
Assim, a forma do artefato determina a modelagem e
indica a própria forma do tear, ou seja, do bastidor que atua
como infra-estrutura para o “molde”: uma estrutura de apoio
à
construção
da
membrana.
Os
elementos
têxteis
sustentados pelo bastidor são trançados e dispostos no tear,
que pode ser modular integrado à estrutura do objeto, ou
50
RIPPER e FINKIELSZTEJN, 2005:3.
131
acoplado posteriormente. Sem cortes de tecidos, o material
têxtil é pré-modelado e pode ser pré-modulado.
Objetivos dos experimentos
Os experimentos foram realizados com o objetivo
principal de elaborar seqüências de procedimentos que
permitissem a construção de moldes e módulos para o
desenvolvimento de membranas estruturais arquitetônicas.
A questão “como construir coberturas e revestimentos para
habitações a partir de fibras naturais” permeou todo o
processo de concepção e elaboração dos protótipos
experimentais, tendo em vista conjugar matérias-primas,
técnicas (“modos de fazer”) e equipamentos:
1.
Levantar e verificar meios de disposição das fibras
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naturais nas membranas.
2.
Articular técnicas artesanais têxteis e seqüências de
procedimentos para a construção dessas membranas.
3.
Fixar as membranas e fios aos “módulos-moldes”
(elaboração de teares/ infra-estrutura).
132
3.2.1.
Estudo de caso
Princípios e protótipos experimentais
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Ilustração 1 – Estudo de entrelaçamento para modelo experimental.
Princípios do sistema
Princípios que conceberam as bases dos Sistemas
Modulares Têxteis foram elaborados a partir da realização
de protótipos experimentais em laboratório.
Cada molde possui sua própria infra-estrutura de apoio
à manta, que atua como um tear51. A forma do artefato
determina a forma do tear, que pode ser tridimensional
Figura 50 – Estudos de
superfície mínima.
(Figura 140), ou a forma planificada do objeto tridimensional.
Assim, o tear é construído sob medida em função da forma
ou da estrutura do objeto, podendo atuar como elemento
modular.
Neste sistema, as membranas ou mantas que
compõem as coberturas das construções são obtidas a
partir de fibras tecidas ou entrelaçadas diretamente em
Figura 51 – Modelo
experimental:materiais em
infra-estrutura pentagonal.
moldes. Seqüências de estruturas flexíveis são construídas,
fixas
e
dispostas
sobre
a
infra-estrutura
rígida
de
sustentação (Figuras 141 e 142), formando um “compósito
de estruturas flexíveis”: as membranas trançadas e/ ou
tecidas podem ser maleáveis ou rígidas (Figura 143), com
51
Estes teares têm função semelhante às de caixilhos, bastidores
que apóiam os fios para o tecimento.
Figura 52 – Modelo
experimental: tecimentos em
infra-estrutura pentagonal.
133
utilização aparente, recobertas por solo cru ou outros
materiais.
A matéria-prima das membranas ou mantas é
selecionada conforme a disponibilidade regional de fibras
naturais. É obtida a partir de plantas através de uma série
operações, como laminação e desfibramento, torcidas em
processos
de
fiação,
reunidas
em
mantas
com
procedimentos semelhantes à confecção de papel, ou
Figura 53 – Modelo experimental:
tecimento de rede pantográfica em
bastidor retangular.
dispostas em feixes de fibras ou fios. As mantas, ou feixes
de fibras e fios podem ser resinados, formando materiais
compósitos (Figura 144).
Materiais e procedimento experimental
Foram realizadas investigações associando matériasPUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA
primas, disposição de fibras trançadas e organizadas,
Figura 54 – Modelo experimental:
disposição dos feixes de fibras de
juta.
modulação de teares, e aspectos formais, dimensionais e
estruturais através de técnicas artesanais têxteis.
As
investigações
conduziram
à
elaboração
de
“compósitos flexíveis” através da modelagem de mantas e
membranas, acompanhando a forma do objeto e suas linhas
de resistência (Figuras 161 a 166).
Com o objetivo de investigar o funcionamento do
Sistema, foram realizados protótipos experimentais para a
Figura 55 – Investigação de
tecimento radial em bastidor
circular para construção de cone
planificado.
construção de um cone simulando a cobertura de uma
habitação. Utilizaram-se bastidores circulares, empregandose o princípio de modelagem planificada da forma
tridimensional do objeto (Figuras 145, 146 e 147). Modelos
experimentais preliminares foram realizados como etapas do
processo seqüencial de investigação e concepção do
Sistema Modular Têxtil, verificando-se o comportamento dos
materiais, processos e tecnologias empregadas:
1.
Figura 56 – Investigação de
tecimento radial em bastidor circular
para construção de cone planificado.
A juta foi utilizada como matéria-prima para a
confecção de um cone planificado, devido à disposição
organizada de suas fibras.
2.
Telas de juta foram fixas aos bastidores, simulando
uma estrutura flexível de suporte para as fibras na
formação da manta (Figuras 148 a 156).
Figura 57 - – Investigação de
tecimento radial em bastidor
circular para construção de cone
planificado.
134
3.
A técnica de bordado permitiu a primeira fixação e
disposição de fibras radialmente, acompanhando as
linhas de resistência da forma cônica da cobertura
(Figuras
158
a
160),
tornando
a
membrana
extremamente resistente. Fixação de três círculos
concêntricos através de bordado, servindo de pontos
de fixação para os feixes radiais de fibras. Fixação
Figura 58 – Utilização de
técnica de bordado.
através de bordado da primeira seqüência de linhas
radiais de preenchimento, seguida posteriormente por
nova seqüência de linhas radiais, ocupando os
espaços vazios resultantes da fixação das linhas de
resistência da forma. Arremate com sobreposição de
fibras
nas
extremidades
e
pontos
que
serão
Figura 59 – Arremate.
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submetidos aos maiores esforços.
Investigação e articulação de tecnologias
1.
Utilização de tecnologias artesanais têxteis, tais como
nhanduti, bordado e tapeçaria (Figuras 167 e 168).
2.
Interação da rede com nós de pescador com a forma
radial da renda nhanduti, permitindo a realização de
uma série de estudos sobre a disposição de
Figura 60 – Detalhe do arremate.
flutuadores para as construções em meio fluido.
(Trabalho realizado pela equipe do LILD com o
emprego de técnicas utilizadas para a construção de
“filtro de sonhos” – Figura 168).52
Investigação de disposição das fibras e mantas
1.
Verificação de potencialidade de técnicas e simulação
de materiais diversos para confecção de mantas.
2.
Figura 61 – Técnica de
bordado.
Experimentos relacionados à tridimensionalidade e
camadas de tramas sobrepostas em deslocamento:
uma superfície esférica triangular feita com redes de
algodão sobrepostas, fixadas em seu perímetro como
na renda de bilro, utilizada para investigar “modos de
estruturar” as cascas de barro cru.
52
Filtro de sonhos, mandala de cura de origem nativa norteamericana: o filtro dos sonhos faz parte da medicina xamânica.
Figura 62 – Manta bordada.
135
3.
Fibras conjugadas entre si e com outras matérias
como bambu, barro cru e resina de mamona.
Investigação de teares
1.
Construção de redes pantográficas para investigação
Figura 63 – Manta bordada.
de elasticidade da trama (Figura 163).
2.
Dimensão dos teares: relação homem-objeto (Figura
177).
3.
Fibras contínuas de juta bordadas sobre uma tela
também em juta, fixada sobre um bastidor, modela a
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estrutura da cobertura esférica de uma habitação.
Figura 64 – Modelo de concepção e
detalhe.
Figura 65 – Modelo de concepção e
detalhe.
Figura 68 - Bordado acompanha linhas de resistência da forma.
Figura 67 – Modelo de concepção e
detalhe.
Figura 69 – Disposição de
pontos de fixação.
Figura 66 – Verificação das deformações de uma rede de trama
ortogonal em superfície esférica.
Figura 70 – Sobreposição de
redes de trama ortogonal.
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136
Ilustração 2 – Disposição dos feixes de fibras e forma contínua.
Figura 72 – Tecimento sobre
tear triangular.
Figura 73 – Tecimento sobre
tear triangular.
Figura 71 – Elasticidade de
malha pantográfica.
Figura 74 – Disposição do
urdimento em função das
linhas de resistência da forma.
Figura 75 – Manta com
disposição aleatória dos fios:
detalhe.
Figura 76 – Módulos
triangulares acoplados:
utilização de tear triangular.
137
Figura 78 – Urdimentos de
rede indígena.
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Ilustração 4 – Feixes de fibras acompanham as linhas de
resistência da forma.
Figura 77 –Filtro de sonhos.
Ilustração 3 – entrelaçamento
em infra-estrutura espiralada.
138
3.2.2.
Conclusão dos experimentos
Características do Sistema
O Sistema Modular Têxtil mostra-se como uma
alternativa
vantajosa
em
determinadas
situações
de
produção, já que pode substituir a utilização de tecidos
industrializados em bobinas e de fibras torcidas e fiadas.
O tecido é construído seguindo o perímetro do molde,
em vez de cortado a partir de bobinas padronizadas com
dimensões predeterminadas. Evitam-se as aparas, com Figura 79 – Rede para cobertura de
domus geodésico de bambu
utilização da matéria-prima de forma integral, minimizando- tensegrety.
se costuras das partes e viabilizando-se a confecção de
tecidos tridimensionais, como se faz em suéteres e em
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lingeries
industrializadas
atualmente.
Assim,
não
há
desperdícios de matéria-prima, já que o material têxtil é prémodelado, pré-modulado e arrematado em sua forma exata,
sem a necessidade de cortes.
Figura 80 – Rede para cobertura de
Pode-se evitar a etapa da fiação com a utilização de domus geodésico de bambu
fibras ou feixes de fibras dispostas de forma organizada. Os tensegrety.
feixes de fibras, quando dispostos de acordo com as linhas
estruturais determinadas pelo cálculo estrutural, aumentam
a resistência do objeto em função da construção do tecido.
A utilização de fibras naturais não fiadas, não torcidas e
pouco processadas, além de simplificar o processo, facilita
a penetração do barro cru nos feixes de fibras. Em
situações em que seja necessária a utilização de fios, a
Figura 81 – Rede construída a
direção e características dos fios (titulação, composição) partir de “filtro de sonhos” sobre
podem ser predeterminadas conforme especificações do trama de bambu tensegrety.
projeto.
A tecnologia empregada é simples, acessível e exige
poucos recursos, sem desperdícios com relação à energia
empregada
especializada.
e
sem
necessidade
de
mão-de-obra
139
Conclusão dos Experimentos
Os Sistemas Modulares Têxteis desenvolvidos no
LILD para a confecção de vedações de coberturas para
habitações apropriam-se de tecnologias artesanais têxteis,
adaptando-as
também
a
ao
outros
processo
objetos,
experimental.
devido
Aplicam-se
principalmente
à
possibilidade de modelagem e modulagem, ao princípio de Figura 82 - Rede construída a
partir de “filtro de sonhos” sobre
utilização de tecnologias acessíveis e ao uso de materiais trama de bambu tensegrety.
disponíveis.
No LILD, os experimentos foram realizados em
bastidores utilizados para bordar, podendo-se usar o bambu
como infra-estrutura (Figuras 169 a 171). Fibras, como sisal,
juta, cipó, de bananeira e de coco podem ser utilizadas na
confecção da manta. Aqui foram utilizadas técnicas de
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bordado, podendo ser empregadas outras tecnologias Figura 83 - Rede construída a
partir de “filtro de sonhos” sobre
têxteis, associadas ou não, tais como cestaria, tecelagem, trama de bambu tensegrety.
nhanduti, croché, conforme as demandas do objeto e a
tradição artesanal encontrada na região.
As técnicas de “sopapo”53 aplicadas às mantas dos
módulos formam vedações constituídas de fibras e barro,
adequadas a coberturas e revestimentos. A umidade da
fibra deve ser considerada, já que, quando ressecada, tornase quebradiça e pouco maleável.
Figura 84 - Rede construída a
O trabalho pode ser executado por vários indivíduos partir de “filtro de sonhos” sobre
simultaneamente, cada um com um tear, ou por um único trama de bambu tensegrety.
indivíduo, no mesmo bastidor, bastando para isso retirar o
tecido confeccionado e repetir o processo quantas vezes
necessárias.
A partir das interações levantadas durante a pesquisa,
o emprego dos Sistemas Modulares Têxteis em Arquitetura
& Design demanda a verificação caso a caso de sua Figura 85 - Rede construída a
aplicação e contexto, ou seja, em função de sua utilização partir de “filtro de sonhos” sobre
trama de bambu tensegrety.
no ambiente ou em objetos.
53
Técnica de aplicação do barro cru muito utilizada no passado
rural brasileiro.
140
Os Sistemas Modulares Têxteis são perfeitamente
adequados
às
construções
de
domus
tensegrety
desenvolvidos no LILD, podendo ser utilizados a partir de
módulos móveis acoplados à construção, ou construídos
diretamente sobre a infra-estrutura de bambu dos domus,
acompanhando assim as variações formais estruturais
desse tipo de construção (Figuras 172 a 178).
Os protótipos experimentais realizados permitiram a
elaboração de princípios que fundamentam os Sistemas
Modulares Têxteis.
Desdobramentos futuros
As
membranas
compostas
por
fibras
naturais,
construídas a partir dos Sistemas Modulares Têxteis, devem
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ser investigadas conforme as características e exigências
específicas do objeto ou projeto a ser projetado.
Para fins de implantação do sistema em projetos
futuros de Arquitetura & Design, as interferências causadas
pelas ações do tempo, esforços mecânicos e adaptações
das fibras e tecnologias artesanais têxteis de cada região
devem ser investigadas caso a caso.
O manejo e beneficiamento das fibras utilizadas, e o
processamento das fibras e dos objetos devem ser
cautelosamente verificadas para que não haja interferências
na saúde dos indivíduos ou no funcionamento do objeto. A
degradação causada pelo uso de agrotóxicos, ou o uso
excessivo de uma fibra, sem respeitar os limites de
recomposição natural do meio, invalida a proposta inicial
desse sistema.
Assim, cabe também verificar se uma mesma amostra
utilizada em situações diferentes proporciona resultados
diferentes ou não.
Ensaios específicos em função da aplicação do objeto
são importantes: permeabilidade seletiva (ar, água, raios
UV), impermeabilização (aplicação de impermeabilizantes à
base de mamona, por exemplo), testes de resistência
Figura 86 – “Filtro de sonhos”
aplicados à Arquitetura &
Design.
141
mecânica, a fungos, à erosão, ventos, deformações e
durabilidade, alteração de odores e coloração.
A realização de um diagnóstico socioeconômico da
região
se
faz
necessária,
respeitando
as
tradições
tecnológicas do grupo social, considerando-se também a
obtenção racional da fibra. Evita-se, assim, a degradação
Figura 87 – Relação dimensional
ambiental e social, preservam-se vias de acesso, garantindo “homem-tear” para aplicação dos
Sistemas Modulares Têxteis
objetos arquitetônicos.
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a disponibilidade das fibras.
Figura 88 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu tensegrety construída no LILD.
em
142
4
Considerações Finais
"Ao que me parece, se há um ser supremo então Ele
escolheu a evolução orgânica como um meio de trazer
à existência o mundo natural... o que não me parece
de forma alguma blasfêmia”.
ATTENBOROUGH
No processo de elaboração de projetos de Arquitetura
& Design que utilizam fibras naturais, percebemos algumas
conseqüências
possíveis
do
uso
inadequado
do
conhecimento, da matéria e das tecnologias, assim como a
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importância das experiências, dos “modos de fazer” e
daqueles que “fazem” na elaboração de diretrizes para
realizá-los. Neste processo, além do manejo, obtenção da
matéria-prima, tecnologias e levantamento dos impactos
ambientais e sociais percebidos, as perguntas “como” e
“para quem” devem ser continuamente revistas, já que o
processo é dinâmico, assim como a própria natureza
(humana ou não). Desta forma, estão nas interações, as
linhas
conectoras
do
sistema,
tecendo
através
do
conhecimento uma rede de variáveis em permanente
movimento.
A natureza, orgânica e dinâmica, readapta-se às
perturbações que lhe causamos. Enquanto classificamos e
ordenamos a natureza, ela se transforma e existe,
independentemente de nossas tentativas de enquadrá-la em
novos compartimentos classificatórios. Mas, ao observarmos
e reproduzirmos suas estratégias, a compreendemos, ao
menos, um pouco mais.
Oitocentos anos serão necessários para classificarmos
toda
a
biodiversidade
brasileira.
Até
lá,
muitas
oportunidades de conhecermos estratégias da natureza
terão desaparecido com a extinção de inúmeras espécies...
oportunidades para avançarmos na compreensão de seus
143
mecanismos e no comprometimento com a elaboração de
“diversidade de estratégias sustentáveis”.
A concepção dos Sistemas Modulares Têxteis é
apenas
uma,
possíveis.
dentre
Através
articulam-se
a
das
“diversidade”
interações
conhecimentos
sobre
de
alternativas
desses
Sistemas,
tecnologias
entre
sociedades e campos da ciência, economizam-se recursos
materiais,
energéticos
e
vias
de
acesso,
além
de
viabilizarem-se novos “modos de fazer” Arquitetura &
Design. Os Sistemas Modulares Têxteis viabilizam a
sustentabilidade de construção de membranas estruturais
arquitetônicas que aproveitam fibras naturais, por comportar
em si diversidade de alternativas. A conjugação de
elementos modulares a partir de tecnologias artesanais
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têxteis,
demonstradas
através
de
algumas
técnicas
existentes, revela que o leque de possibilidades de
desdobramentos é vasto e diverso, já que cada grupo social
possui seus próprios ”modos de tecer, bordar, e rendar”.
A infra-estrutura rígida dos módulos desse sistema
pode ser agregada a outros com formas variadas, em
sucessivas conexões seqüenciais. O tecido que constitui a
base da membrana é uma estrutura flexível e pode ser
construído a partir de técnicas de renda filé, renda labirinto,
renda rendendê, ou mesmo croché, formando uma rede
semelhante às de pescador. Podem acompanhar as linhas
de resistência da forma e serem construídas a partir de
técnicas de nhanduti, ou mesmo a partir dos “filtros de
sonhos”, um artefato utilizado por índios americanos para
afastar os “maus sonhos” das crianças.
Também as fibras naturais empregadas podem
interferir na natureza e no comportamento dos módulos, em
função de suas propriedades físicas, tais como resistência,
impermeabilidade, flexibilidade, durabilidade, facilidade de
obtenção, processamento e resistência a microorganismos e
raios solares. Encontramos não apenas diversidade de
fibras, mas também similaridades, possibilitando adaptações
e adequações tecnológicas em regiões diferentes que
144
possuam espécies afins. Entendem-se como adaptações
possíveis as referências aos grupos de gramíneas, de
palmáceas ou de bromeliáceas, ou mesmo quando de
gêneros diferentes de uma mesma espécie. Esse mesmo
pensamento estende-se aos grupos sociais, que podem
incorporar outros procedimentos aos seus processos
tecnológicos.
As soluções contidas em projetos de Arquitetura Têxtil
para coberturas, revestimentos e membranas utilizadas em
estádios esportivos e aeroportos, embora sejam de custo
relativamente baixo se comparadas às utilizadas em
construções convencionais, nem sempre são adequadas às
construções rurais, pois são inviáveis economicamente. São
muito
sofisticadas
e
não
atendem
às
necessidades
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imediatas ou de manejo, de comunidades isoladas. Neste
caso, as membranas construídas a partir dos Sistemas
Modulares Têxteis são mais adequadas, pois utilizam
matérias-primas encontradas na região, sem a necessidade
de importação de tecidos industrializados, utilizam mão de
obra local não especializada, e sua tecnologia é simples,
sem a necessidade de grandes investimentos.
Compósitos a partir de redes e mantas construídas
sob medida, e na medida das necessidades, possuem
potencialmente mais chances de eficiência e facilidade para
adaptações, o que não seria possível em unidades
produtivas em escala, cujas mudanças em linha de
produção são mais complexas e lentas devido às dimensões
e ao comprometimento com a produção em escala. No
entanto, deve-se lembrar que quando incorporamos novos
materiais a um processo, seus impactos nem sempre são
conhecidos ou percebidos e poderão levar muitos anos até
se revelarem.
Os sistemas Modulares Têxteis devem seguir os
parâmetros ambientais de manejo, não utilizar substâncias
tóxicas durante o ciclo de vida do sistema-produto, e
acompanhar a reposição natural do ambiente, e a
distribuição justa de recursos. Nem mesmo as alternativas
145
sustentáveis são iniciativas que possam caminhar de forma
isolada. Mudanças profundas nos hábitos de consumo são
cruciais para se evitar os desperdícios e a produção de
resíduos, viabilizando um sistema mais eficiente.
Assim,
quando
observarmos
a
natureza
para
reproduzi-la, a ênfase nas estratégias, mais que em sua
materialidade, mostra-se como o principal instrumento de
adequação dos sistemas. “Copiar a natureza” significa
permitir às gerações futuras nos reconhecerem pelas
estratégias, e não pelos resíduos das “sociedades do
desperdício”.
Pretende-se, com esta dissertação e com a concepção
dos Sistemas Modulares Têxteis, despertar o interesse de
pesquisadores, profissionais e estudantes em estratégias
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encontradas na natureza, como fonte de conhecimento para
a elaboração de novos “modos de fazer e conceber”
Arquitetura & Design. Pretende-se também motivá-los na
busca por outros conhecimentos, diversos dos que estamos
habituados, sobre tecnologias e culturas tradicionais,
fundamentais nas interações humanas.
Assim, Arquitetura & Design, quando inseridos no
contexto da sustentabilidade, agregam o valor de não
deixarem “marcas”. Agora “sabendo que sabemos”, assim
como os impactos, as alternativas possíveis nem sempre
são
percebidas.
Tecer
novas
interações
e
conjugar
estratégias apresentam-se como os grandes desafios por
“novos modos de fazer e conceber” Arquitetura & Design.
146
5
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157
7.1.
Anexo
Entrevista: Oscar Hidalgo-Lópes
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA
Entrevista a Oscar Hidalgo-Lópes, por Beatriz Finkielsztejn,
em 22 de junho de 2005, LILD, Laboratório de Living Design,
PUC-RJ, Rio de Janeiro, Brasil (Figura 179).
O Sr. atua com arquitetura, certo? Qual a sua formação
profissional, e quando e como começou o seu interesse
pelo bambu?
Bem, primeiro eu me formei pela Universidad Nacional de
Colombia como arquiteto, em Bogotá, na Colômbia, e...
Quando meu interesse pelo bambu começou? Desde que
era criança praticamente, e... Eu nasci em uma casa de
bambu, porque os povoados e as cidades no Estado de
Caldas, na Colômbia, onde eu nasci, eram, em sua
totalidade, de bambu. Mas é um bambu que você pode ver
no livro. É uma moradia que era revestida exteriormente
com um morteiro de cimento. Então hoje em dia não se sabe
se esta é de tijolo ou de bambu? Então nesta região onde eu
nasci, os pobre lhes davam um acabamento muito regular à
casa, e as famílias ricas sempre ofereciam muitos empregos
com os acabamentos...E...As portas e as janelas tinham uns
acabamentos especiais, muitos feitos em madeira! Então
assim se diferenciavam as classes...As classes baixas...
Mas ambas usavam o bambu na construção...Não sei se me
entende. Bem...Um dia..e...Comecei. Quando eu fui à
Universidade. Digo, antes de chegar à Universidade. Na
Colômbia havia uma rejeição a tudo que fosse bambu.
Então quando eu ingressei na Universidade, me recordo que
fizeram um trabalho para fazer uma casa. Então eu lhe
perguntei. Uma casa...Que cada um deveria desenhar uma
casa...e...Quando eu perguntei ao professor se poderia
desenhar uma casa de bambu, ele me disse: “você está
louco?! Como passa na sua cabeça dizer-me semelhante
bestialidade? Você veio aqui para aprender a construir com
concreto e com tijolos! Nem madeira, nem bambu admitimos
aqui.” Isto era o que havia como certo na Universidade.
Em que ano?
Isso foi no ano 1959... Que comecei a estudar na
Universidade. Quase que não podia nem falar de bambu e
se...e...como arquiteto e... Bem, mas quando eu saí da
Universidade meu interesse era continuar estudando a
Guadua, como se chama na Colômbia, mas eu não sabia
que a Guadua era um bambu porque não havia estudos
sobre ele.
Então um dia, eu era professor já da
Universidade, e...E um dia recebi de um amigo uma cartilha
Figura 1 – Oscar HidalgoLópes.
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA
158
que dizia “o bambu como material de construção” e nesta
cartilha encontrei que o bambu da Colômbia era o melhor
bambu que existia na América e dizia: “o melhor bambu”.
Então, nesse dia, abriram-se as portas para estudar bambu,
que era a Guadua que eu não sabia que era um bambu, e
eu pensava que era uma árvore. E são duas coisas
completamente diferentes, como vou dizer mais adiante.
Então, como não havia nada aqui, de estudos sobre o
bambu, decidi ir-me ao Japão e às Filipinas. Mas primeiro eu
não tinha dinheiro. Pois então construí dois edifícios para
bancos em Bogotá, na Colômbia e... Ganhei alguns
centavos...E, com isso, eu fui para os Estados Unidos
primeiro. E aí decidi dedicar-me a trabalhar com uma
companhia que me deu a oportunidade de trabalhar,...Uma
companhia chamada Bechtel, em Nova York, como um
desenhista de décima categoria, porque não havia nem o
décimo. Quer dizer, do mais baixo. E aí, nesta companhia,
comecei a ascender de posto: desde o mais baixo até que
cheguei a designer da companhia. Então fui transferido para
Washington para desenhar plantas nucleares. Então fui ao
Japão e encontrei então um PARAÍSO de informação. Estive
no Japão, na Universidade de Tóquio e nas Filipinas, no
Instituto de Bambu. Essas experiências me ajudaram muito
nos estudos que estava fazendo, e lá encontrei uma
quantidade de aplicações com materiais, de acabamentos,
em construção, em compensados e...tudo o que se pode
fazer com bambu. Então regressei com toda a informação
que tinha à Colômbia, e me dediquei a escrever um livro
explicando o que era o bambu. Que a Guadua era um
bambu e não uma árvore, como se acreditava na Colômbia.
Então toda a informação que eu recolhera coloquei no livro
e...Depois, quando se publicou o livro vieram os comentários
dos engenheiros florestais contra mim, dizendo: “como pode
um arquiteto, que não era especialista em madeira nem
nada, dizer que a Guadua era um bambu, sendo que a
Guadua era madeira!” Se pode imaginar a ignorância que
havia nas escolas de silvicultura. Então foram brigas
constantes. Na Universidade me dediquei a estudar e fazer
estudos das propriedades mecânicas da Guadua, e já se
puseram a descobrir que a Guadua é um material
extraordinário. Bem, esta foi a forma com que eu dei meu
primeiro passo nesta coisa de bambu.
Além da atividade em arquitetura, o Sr. exerce também
outra atividade? Poderia descrever essa atividade, qual
a formação necessária, quais são as limitações
técnicas, e equipamentos que você precisa usar e
conhecer?
Veja, quando eu comecei a estudar as propriedades físicas
e mecânicas do bambu, somente uma atividade me ajudou a
realizar alguns estudos, porque ninguém estava interessado
em fazer estudos originais sobre a Guadua. Então me
dediquei a trabalhar, como te dizia, a estudar as
propriedades mecânicas e encontrar uma resistência... A
Guadua tem uma resistência tremenda...Em alguns casos,
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159
chega a ser um pouco superior à do aço, como demonstram
as investigações realizadas por Yeh em Taiwan, em 1995,
que deu uma resistência máxima do feixe vascular de
aproximadamente 13.700 kg. Quando se trata da fibra, a
fibra do bambu tem uma resistência tremenda, algumas
maiores que o aço. Na Guadua temos uns feixes vasculares,
onde estão os condutores... e estão todos os feixes
vasculares rodeados de fibras. Da área que existem fibras
depende a resistência do bambu. Isto pode-se ver
ampliando , em uma fotografia, e pode-se determinar se o
bambu tem grande resistência por exemplo à tração, à
compressão ou para outros propósitos. Bem, o problema
que tive foi que muitas poucas entidades me ajudaram
nisso. “Quem quer estudar a Guadua?” Eu era como um
louco. “Um louco de começar a trabalhar com um material
de pobres!” É, mas você não sabe o que temos. Bem, assim
começou a coisa...e fui estudar na Ásia e...E lá fui
complementando as coisas e fazendo mais investigações.
Sai de lá, da Universidade já completei como uns 18 anos e
saí...E montei uma fábrica...Uma oficina! Fábrica soa como
um Rockefeler, uma oficina de desenvolver as técnicas na
Colômbia de bambu laminado, com extraordinária
resistência...e que se pode fazer qualquer coisa: curvas, ou
o que for. E aí comecei a descobrir o potencial
extraordinário, tanto assim que agora vim ao Brasil...a
convencer pessoas para começar a trabalhar em laminados
em estruturas e na fabricação de móveis de bambu.
O Sr. também tem uma experiência acadêmica. Poderia
nos falar um pouco desta sua experiência?
Sim. Estive na Universidade. Estive... Primeiro eu fundei um
Centro de Investigação que se chamava CIBAM, Centro de
Investigação de Bambu, na Universidade. Até os
desenhistas eu tinha que pagar do meu bolso porque a
Universidade não tinha como pagar. Então o salário ia todo
pagar as pessoas que me ajudavam e aí foi onde fiz estudos
sobre laminados e... Diversos estudos que agora quero
desenvolver. Depois, saí da Universidade porque não podia
resistir, pois...Porque pagava a todo mundo porque a
Universidade não tinha como. Então venho aqui, fazer o que
gosto, neste país com gente muito querida, muito
amáveis...E tenho apoio de muita gente aqui e aí venho a
dar conferências aqui, e fui ao Centro de bambu de Maceió,
que lamentavelmente já se acabou também por falta de...
Que aspectos de sua vida influenciaram na condução da
pesquisa sobre bambu?
O fato de que na Colômbia ninguém tinha nenhuma idéia do
que era o bambu. Sempre foi um material usado geralmente
por gente muito pobre para construir suas habitações, tanto
na Colômbia quanto no Equador. A diferença das habitações
do Equador e da Colômbia é que nós, na Colômbia...e...os
antigos, os camponeses, há muitos anos desenvolveram
com o bambu, curiosamente, as melhores técnicas de
construção que hoje existem no mundo no campo da
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160
habitação. Porque no campo da engenharia, foram os
chineses, porque construíram pontes suspensas com mais
de 100 metros de vão com cabos...de bambu...Que tinham
até 30 cm de diâmetro. Então, (abre a página 297 de seu
livro Bamboo the gift of the gods...) os hindus, se é assim
que podemos chamá-los, da Índia, foram os que
desenvolveram as técnicas de utilizar o bambu nas
construções de domus (Figura 180 a 182). Os famosos
domus da Índia foram inicialmente desenvolvidos pelas
castas mais pobres, que eram os “chudras”, e não lhes
permitiam usar outro material diferente do bambu para
construir suas habitações, já que as castas mais altas
usavam a pedra, as castas intermediárias usavam a
madeira, e os “chudras”, que eram as castas mais baixas,
somente podiam usar o bambu. Eles desenvolveram todas
as técnicas de construção, as melhores técnicas de
construção do mundo, de todo o mundo. Por exemplo, a ...a
estrutura do Taj-Mahal, a forma, foi desenvolvida por eles
em bambu, e estas formas depois foram construídas em
madeira, e finalmente em pedra como o Taj-Mahal. Todas
estas coisas foram as que me empurraram a estudar o
bambu, em todos os sentidos: as propriedades físicas e
fazendo experimentos.
O Sr. poderia citar alguns projetos que mais o
surpreenderam e descrevê-los?
Sim! Precisamente! O que te dizia agora. Na Índia os
“chudras” foram os que desenvolveram todas as tecnologias
para construir seus domus como tem... domus feitos
inicialmente de bambu, mas depois fizeram em madeira e
pedras, que foram uma estrutura
extraordinária
desenvolvidas pelos “chudras”. Estas e as pontes
suspensas chinesas foram as que mais me surpreenderam
(Figuras 183 e 184).
Com relação a estes cabos, poderia falar um pouco mais
sobre estes cabos, na China?
Os cabos, em bambu...a parede do bambu possui três
zonas, poderíamos falar de terços, um terço interior, que é a
zona mais macia que é atacada pelos insetos; a mediana,
agora , a exterior é a zona de maior resistência que há, que
é a zona que eu disse que há fibras... fibras e algumas
dessas fibras têm uma resistência maior que o aço. Nesta
zona externa está a maior resistência do bambu, e na zona
central está a intermediária, entre a de maior resistência e a
de menor resistência. As do centro e as de fora são as que
mais se usam para construir estruturas porque são as zonas
mais densas, de maior quantidade de fibras e,
conseqüentemente, de maior resistência à tração. Então,
essas coisas foram as que mais haviam me impressionado
até hoje.
Figura 2 – Domus: tecnologia em
bambu desenvolvida na Índia
gerou o Taj-Mahal.
Figura 3 – Domus: tecnologia em
bambu desenvolvida na Índia
gerou o Taj-Mahal.
Figura 4 – Cúpula em templo
Pagan, Birmânia.
161
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Quais as dificuldades e os facilitadores que os
profissionais que utilizam o bambu encontram ao
desenvolverem seus projetos?
A maior dificuldade que existe para os profissionais que
querem fazer seus projetos é o desconhecimento que se
tem do material, que é o que dizia agora. As pessoas
ignoram que a parte externa do bambu é a mais resistente,
a parte intermediária é o ponto médio de resistência, e a
parte interna é a de menor resistência e então eles não
sabem como utilizar o bambu realmente. É...Este é mais que
tudo, o problema que tem. Por outro lado, há países, por
exemplo, a Colômbia, que têm a maior quantidade de
bambu que existe nos países latino-americanos; porque já
estamos cuidando, está proibido cortá-lo; e então já estão
dando-se conta que é um material excelente, já está se
exportando inclusive para a Alemanha, exportando da
Colômbia para Universidades que fazem investigações...E à
medida que isto tudo vai se conhecendo, seguramente que
vai gerar novas indústrias. E este é meu propósito em Brasil,
fazer uma indústria de bambu laminado.
Qual a metodologia adotada pelo Sr. e quais as
prioridades para realizar projetos com bambu?
Primeiro de tudo, é importante conhecer o material. O
material. É o que acabo de dizer, compreende três zonas:
de maior resistência, resistência intermediária e de menor
resistência. Isto é muito importante: conhecer toda a
fisiologia e anatomia do bambu. É muito importante saber,
por exemplo, que o bambu atinge sua maior resistência
quando tem três anos de vida. Uma mata de bambu
dura...tem uma durabilidade aproximada...um colmo de
bambu, perdão, tem uma durabilidade aproximada de dez
anos... Depois dos dez anos. Dez anos ou menos, pode ser
seis anos dependendo da espécie. Depois dos dez anos, o
bambu seca na mata e morre. Isso é muito diferente...
Ah...Quero esclarecer uma coisa, que quando se fala do
bambu, se fala da durabilidade do colmo na mata, que é de
10 anos, mas se os cortam e os tratam, contra fungos e
insetos... Na Colômbia há habitações que têm cento e trinta
anos de idade, feitas com bambu, feitas de bambu que
estão em perfeitas condições. O que eu quero explicar é que
uma vez que se cortam já depois que se tenham três anos
de idade, o qual muita gente deve desconhecer, o bambu
tem uma grande durabilidade. Mas se os cortam antes dos
três anos de idade, são mais facilmente atacados pelos
insetos, então quando utilizam colmos com menos de três
anos de idade, estão debilitados. Por outro lado se conhece
a resistência do bambu. Se eu pergunto: num colmo, ou
seja, num talo de bambu...Qual é a zona de maior
resistência para compressão? Pois sim, a parte inferior do
colmo há maior diâmetro que a parte de cima e do
intermédio, e vás a dizer que é a parte de baixo quando é a
parte de cima, mais delgada, a mais resistente à tração, por
exemplo. Então tudo depende da forma como se usa o
bambu, se é para colunas ou para vigas, tem que saber
Figura 5 – Ponte suspensa,
Himalaia.
Figura 6 – Maior ponte suspensa
construída, China.
Figura 7 – Museum of Simple
Technology.
Figura 8 –Bamboo, The git
ofthe gods.
162
também que parte do bambu é utilizável e para qual
propósito.
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Que fontes de consulta o Sr. acha importantes para
respaldar a atividade do arquiteto que utilize o bambu?
É uma pena dizer, mas existem muito poucos livros sobre
bambu que podem ser consultados. Desde 1985 mais ou
menos, há novas fontes de informações de bambu por
investigações que vêm sendo realizadas na Alemanha, nos
Estados Unidos, e os antigos livros não servem para nada.
Agora, eu escrevi o último livro, me dá pena dizer-te, mas
vou fazer uma propaganda (ri) “Bamboo-The gift of the gods”
(Figura 186), Bambu, o presente dos deuses, é um livro no
qual gastei 19 anos, e tem a maior informação que pode
existir sobre bambu, que eu conheço. E obrigado pela
oportunidade de fazer uma propaganda de meu livro..(rsrs).
Se o Sr. tivesse a função de montar o programa de um
curso voltado para a formação de profissionais em
projeto de arquitetura ou design com bambu, que
disciplinas, na sua opinião, seriam essenciais a serem
ministradas para formar um bom profissional nesta área,
e quais as diretrizes para melhor se relacionarem com
as comunidades?
Quando se pensa em montar um programa, ou um curso
para a formação de profissionais, ... e é muito importante,
por exemplo, para um arquiteto ou para um engenheiro...que
estão dedicados à construção,... Seria mais fácil com eles
falar das propriedades físicas e mecânicas porque posso
mostrar... Por exemplo, um curso de desenhar construção
me colocaria a começar por ensinar quais são as
propriedades físicas e mecânicas para se colocar colunas,
para fazer vigas...E... Seria o ideal entre os arquitetos e
engenheiros, pois aí já entendem o geral, por exemplo,
porque as coisas...As coisas estão relacionadas ao material.
Por outro lado, quando um está na Faculdade de
Arquitetura, pelo menos no meu caso, nós conhecemos
tratamentos sobre madeiras, que muitas vezes se aplicam
ao bambu... No bambu. Há tratamentos especiais que são
de vácuo e à pressão e para substituir a seiva interna com o
produto que se vai utilizar para...Para...Tratá-lo. Então
somente se requer que tenham algum conhecimento de
arquitetura e, sobretudo em construção, e como se faz a
construção... Que tecnologias vão-se empregar quando vai
se construir em zonas de montanhas, por exemplo? Que
tecnologias utilizar para amarrar as estruturas em zonas
onde existem tufões e furacões? E quero, por exemplo,
mostrar uma coisa muito importante: não conheço nos
muitos anos que eu venho estudando o bambu, que já faz
como uns 50 anos, uma casa de bambu que não tenha
suportado um terremoto. Todas são especiais pela forma do
bambu...São muito... Se fazem estruturas de bambu muito
firmes, muito adaptáveis ao problema dos terremotos, aos
movimentos sísmicos. Se, caíram casas, por exemplo, em
terremotos, em Armênia, na Colômbia, é porque foram
Figura 9 – Programa de
habitação, Equador.
Figura 10 – Programa
de habitação, Equador.
Figura 11 - – Programa
de habitação, Equador.
Figura 12 – Andaime de
bambu, Hong-Kong:: 78º
andar.
163
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empurradas por habitações de tijolos e concreto que se
partem no momento do terremoto e empurram as
construções de bambu. Mas não conheço, eu, uma casa até
agora de bambu, que tenha caído em um terremoto.
O Sr. poderia nos falar um pouco de arquitetura popular
que utiliza o bambu e fibras naturais?
(Abre a página 266 seu livro “Bamboo. The gift of the gods”)
(Figuras 187 a 189). É...A experiência que tenho em
arquitetura popular tem sido no Equador, sobretudo onde
estive trabalhando em umas “ordenaciones”, em um
programa de habitações no qual se me permitiu escolher a
gente que poderia trabalhar, digo, a fazer parte deste
programa que consistia em construir e... Doze casas, fazer
uma experiência na construção de doze habitações de
bambu, para a gente mais pobre. Inicialmente eu. Isso foi
em Guaiaquil, no Equador, que está na costa. Inicialmente
as pessoas mais pobres que encontrava eram as lavadeiras,
as que lavam roupa, e... a idéia era construir estas casas.
Que elas me ajudariam a construir com seus filhos...Estas
habitações, as 12 habitações e colocar uma zona de
lavanderia em todo o centro da área onde iria fazer isto,... E,
a água que eu iria utilizar era do solo, então para isso
desenvolvi uns moinhos de vento de bambu, que deram
bons resultados, mas posteriormente, deram bom resultado
posteriormente, mas não nesta oportunidade. Porque
experimentamos, fizemos um buraco em uma área em que
faríamos as habitações. Saía água salgada e não se pode
lavar com água salgada! Então tive a necessidade de trocar
as lavadeiras por outras pessoas, pelas pessoas mais
pobres que existem: são os que chamamos de sapateiros
“remendones”, que não fazem sapatos, mas que os
consertam, se é que me entende... Então, estes sapateiros
eram doze famílias e iam aprender a fazer esta casa por
“autoconstrução”, é dizer que eles colaboravam na
construção destas habitações. E neste tipo de trabalho é
essencial construir casas pré-fabricadas porque isso facilita
muito mais a construção de habitações porque os sapateiros
não sabem colocar um tijolo. Claro que sabem, mas a
maioria não tem nem idéia do que quer dizer colocar um
tijolo e muito menos de fazer uma parede. Mas com bambu
a coisa é muito mais fácil pelas tecnologias desenvolvidas
em Colômbia que foram desenvolvidos pelos camponeses,
que permitia construir casas com até cinco pisos todas feitas
de bambu, sobretudo em terrenos muito inclinados. Então
eu desenvolvi, em Equador, um sistema de pré-fabricação
de habitações utilizando somente madeira nas construções.
Das guias de construção das paredes, por exemplo, das
paredes e dos tetos, e em geral, em todas as etapas das
habitações sempre com as mesmas dimensões o que
facilitava muito mais ainda. Estes sapateiros realmente, para
mim, tinham outro problema, mais grave. Que eu tinha...Que
teria que solucionar que era o problema da água. Porque em
todas as áreas do Equador em que vivia, nesta época esta
gente pobre, não havia água. Eles compravam a água para
Figura 13 – Fitas de bambu
são utilizadas nas amarrações
dos andaimes de bambu.
Figura 14 – Fitas de bambu
são utilizadas nas amarrações
dos andaimes de bambu.
164
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encher os tanques de armazenamento. Uma vez cheios
estes tanques custavam... Vinte...Sucres... Com os tanques
metálicos cheios. Então o que eu fiz foi...Ah...Estes tanques
estavam...Fora das casas...Quando ia um carro era um
problema passar entre estes tanques e, sobretudo onde
havia ruas sem saída, pois as pessoas que viviam no interior
e nas partes sem saída... Colocavam os tanques nas
esquinas e então se complicava mais porque aumentava-se
o número de tanques. Então eu fiz um desenho de umas
casas colocando os tanques embaixo das mesas das
cozinhas, que também serviam para...e... Para o banheiro
para tirarem água diretamente dos tanques para banharemse ou para lavar as panelas ou para utilizar em outro
propósito... Isso foi o que desenvolvi no Equador e hoje me
sinto muito satisfeito por eles. Lamentavelmente para o
projeto, não pude construir, por exemplo, uma zona central
que era onde eu havia solicitado fazer grandes máquinas
para que eles aprendessem já a trabalhar, a fabricar sapatos
porque eles eram sapateiros “remendones”. Foi um êxito
realmente. Deu uma boa escola!
As imagens de andaimes de bambu na China, em seu
livro “Bamboo-The gift of the gods” são surpreendentes.
Como conciliar manejo, qualificação, limitações
tecnológicas e herança cultural, quando se utiliza o
bambu na produção em escala?
É...me está falando da construção dos andaimes na
China...Neste momento as zonas onde se faz maior uso do
bambu é na China. As zonas que fazem maior uso de
bambu são na construção de andaimes e se me recordo a
espécie mais usada para este propósito é a textillis e... o
lugar onde mais se utiliza é Hong Kong. O edifício mais alto
que já foi feito com bambu, utilizado como andaimes, é de
78 andares, construídos totalmente com bambu (Figuras
190 a 192). Hoje em dia se tem substituído o bambu, por
andaimes de aço, mas apesar disso, o bambu segue sendo
muito utilizado para este propósito porque facilita, é muito
fácil. O baixo custo destes andaimes também. A
construção... São construídos por famílias tradicionais que
têm este negócio e que têm uma agilidade extraordinária
como podem ver nos desenhos e nas fotografias destes
andaimes. Estes andaimes e com eles, eu se me recordo
bem,...o bambu é textilis, a espécie que mais se encontra ao
redor de Hong Kong, onde mais se utiliza com este
propósito. Este pode, por exemplo. Na Colômbia se gosta
muito dos andaimes de bambu e o bambu se utiliza como
“hois”, não sei como se diz, como grandes caixas de bambu
e madeira dentro das lajes de concreto para tirar-lhes o
peso, o que torna a laje também mais econômica. Estas
caixas grandes de bambu têm logicamente uma altura
menor que da laje...e ...Estas caixas grandes são de 20 cm
de altura por 40 cm de largura e ao comprimento das vigas
pequenas...Como explicar isto em ...estes são uma beleza
de andaime.(..mostra o livro....). Uma outra coisa mais
importante dos andaimes é que, anteriormente ou até uns
165
cinco anos, o material utilizado para fazer, para amarrar os
andaimes, e andaimes de até 75 cinco pisos de altura, é
uma altura bem respeitável, eram cintas de bambu tomadas
da parte externa do bambu que é a mais resistente. E...
como dizia, muitas destas fibras da parte externa são mais
resistentes que o aço. Então eles confiam muito nisto. Hoje
em dia estão usando o poliestireno, cintas de poliestireno
para as amarrações que dão mais confiança na...Atualmente
na... Construção destes andaimes. Estes, como disse
anteriormente, são famosos em Hong Kong...E talvez o mais
espetacular que se pode ver...E eles têm uma grande
diversidade de tipos de andaimes para diversos usos na
construção...E...
Este bambu é todo encontrado em torno de Hong Kong?
Sim.
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Há um replantio?
Na área periférica de Hong Kong havia grandes extensões
de bambu...Claro que agora naturalmente já é da China
novamente e há uma grande disponibilidade para se
conseguir o bambu...
O que seria necessário para que, no Brasil, a utilização
do bambu associada a outras fibras naturais alcançasse
importância semelhante à do bambu na China e na
Índia?
O problema do Brasil é que há TANTA madeira que
ninguém se interessa pelo bambu e isso é uma coisa muito
importante: saber com relação às fibras de bambu, que
espécie, ou quais são as espécies de bambu que existem no
Brasil que são as mais apropriadas para a produção de
fibras. Na Índia, por exemplo, estão fazendo camisas com
fibras de bambu e outros tecidos de fibras de bambu, mas
aqui não foi feito até agora, pois não há investigações ao
respeito, mas é possível utilizar o bambu para a fabricação
de fibras, que é o que mais importa... Ah! Quero fazer uma
advertência: o Brasil tem a maior espécie da América. Isto é,
o Guadua brasileiro. Pertence ao gênero Guadua e eu lhe
pus Guadua brasileira porque não se sabe se foi identificada
esta espécie...Esta espécie existia...É...Já te explico. Uma
vez estava trabalhando com as Nações Unidas em um
projeto de habitações na Costa Rica e, quando cheguei,
encontrei uma espécie de 18 ou 20 cm de diâmetro, e eu
fiquei surpreendido porque era a espécie do gênero Guadua
maior que já havia visto. Então eu perguntei aos
engenheiros florestais “se era o gênero Guadua angustifólia.
Sim, isto é Guadua angustifolia, se chama Guadua
angustifolia. Quem plantou isto? De quem nasceu a idéia?
Sim, senhor, foi o dono de uma fazenda. Da fazenda
Bremen, no Estado de Siquirres, pelo senhor Manoel Rojas
Quiroz. Então fui buscar este senhor da fazenda Bremen e
lhe disse: me disseram que o senhor plantou esta espécie.
De onde o senhor a trouxe? Pois então ele me disse: eu
trouxe do Hotel Quitandinha, em Petrópolis... O Hotel estava
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166
rodeado de grandes espécies... Espécies que tinham 20
metros de altura. É uma espécie, como acabo de dizer, de
18 cm de diâmetro, entre 18 e 20, uma espécie maior da
América e pertence ao gênero Guadua”. Então eu vim ao
Brasil. Depois, tive que vir ao Brasil, e fui a Petrópolis,
precisamente fui com os professores Ripper e Gawhami.
Com os professores Ripper e Gawhami a buscar esta
espécie em Petrópolis que rodeava o Hotel Quitandinha... O
problema é que...Este hotel, quando nós chegamos,
digamos que sessenta anos depois, havia sido transformado
em um Hotel de uma bela arquitetura alemã, havia sido
transformado em apartamentos. Já haviam tombado
TODOS os bambus para fazer urbanização aí, e o bambu
desapareceu. Desapareceu desta área e não os pudemos
encontrar. Dizem que há bambus nas áreas, que existem
matas desta espécie..., Mas não as conheci. O importante é
que uma amiga, Celina... Que vive em Mauá e já foi à Costa
Rica e trouxe esta espécie e já está cultivando em sua
fazenda... Então ela tem muito mérito, em que se está
recuperando esta espécie no Brasil. Mas é uma espécie
nativa do Brasil e tem uma grande... grande possibilidade
econômica para a produção de fibras, para a produção de
compensados, para a produção de aglomerados de bambu
e eu espero que as pessoas se interessem pelo cultivo
desta, seja trazendo-a da Costa Rica ou solicitando-a para a
Celina...Que tem agora uma plantação de bambu. Obrigado
pela propaganda...rsrs.
Muito obrigada...
Foi um prazer...
167
7.2
E-mail_Napoleão Esberard de Macêdo
Beltrão
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Mensagem eletrônica: enviada em 10fev2005 às 8:12h.
Enviada por Napoleão Esberad de Macêdo Beltrão,
pesquisador da EMBRAPA Algodão, em resposta às
indagações da autora a respeito do algodão convencional,
algodão colorido, algodão orgânico e algodão orgânico
colorido.
Prezados senhores e senhora: De início nossas
desculpas pelo atraso na resposta. Tivemos problemas
pessoais e viagens a serviço que nos tomaram muito tempo.
No
tocante
à
primeira
pergunta,
esclarecemos
que atualmente existem mais de 50 espécies de algodão
descritas
e
classificadas
(em
latim,
aceitas
internacionalmente), das quais 4 são cultivadas, quais sejam
Gossypium hirsutum, G. barbadense, L. G. arboreum e G.
herbaceum, sendo que mais de 95% da fibra de algodão
que veste a humanidade vem da espécie G. hirsutum, raça
latifolium. Dentro de cada espécie cultivada têm-se centenas
de cultivares ou variedades que diferem entre si, dentro de
uma mesma espécie de pelo menos um gene. Estimamos
que existam mais de 3000 cultivares ou variedades de
algodão no mundo atual. (O algodão responde por quase 45
% da vestidura da humanidade, e é cultivado
comercialmente em mais de 60 países dos mais de 200
atuais do mundo, que consome por ano cerca de 21 milhões
de toneladas de pluma de algodão, que tem na sua
constituição cerca de 95 % de celulose, polímero de glicose,
ou seja, a fibra do algodão é a energia do sol cristalizada .
Atualmente são plantados por ano cerca de 34 milhões de
hectares com algodão). Desta forma, tipos como jatobá ,
BRS peroba , BRS Camaçari , Acala del Cerro , etc são, na
realidade, cultivares dentro de uma espécie , no caso G.
hirsutum. Os algodões coloridos existentes no mundo são
de mais de 37 espécies, porém cultivadas somente nas
espécies G. hirsutum, caso do BRS Verde e BRS 200
Marrom, G. hirsutum , raça marie galante , são exploradas
comercialmente. Nas diversas espécies de algodão
existentes no mundo, algumas não têm fibras, outras tem,
porém sem torções e, assim, não formam o fio, outras têm
fibras muito curtas, grossas e sem resistência e, assim, não
fiáveis, e outros tipos. A organicidade é referente ao sistema
de cultivo, e tanto o algodão de fibra branca, que é recessiva
(genes recessivos, o que mostra que se o homem não
tivesse interferido na natureza, todos os algodões teriam
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168
fibra colorida, cujos genes são dominantes) quanto nos
produtores de fibra de cor (marrom, vermelho, verde,
azulada,etc) podemos ter algodão produzido organicamente,
sem
agrotóxicos
e
em
ambiente
previamente
descontaminado, sujeito a testes rigorosos, dentro do
processo denominado e Certificação. A certificação é feita
em cada fazenda que passa a ser orgânica, tendo regras
rígidas a serem seguidas e em geral é realizada por uma
entidade de caráter e respeitabilidade internacional , caso do
IBD ( Instituto Biodinâmico) aqui no Brasil, Estado de São
Paulo, sede oficial. Os da EMBRAPA, de cor telha e
avermelhada, BRS Safira e BRS Rubi, ainda serão lançados
neste ano de 2005 e são tambem da espécie G. hirsutum L.
, mudando o gene que fornece a cor da fibra e obtidos por
processos convencionais , sem o uso da biotecnologia , com
o uso de genes de outros organismos , inseridos no genoma
do algodão , que possivelmente será o caso do algodão de
fibra de cor azul , no futuro próximo. Os nomes BRS Verde e
BRS 200 Marrom são oficiais e a sigla BRS significa Brasil
Sementes. No mundo, o algodão colorido está sendo
produzido muito pouco, sendo um pequeno nicho de
mercado, porém com grande potencial , destacando-se o
TEXAS nos USA , Israel , Peru ( algodão denominado de
Tanguis , da espécie G. barbadense e de fibra de baixa
resistência e, aqui no Brasil , entre outros , poucos que
cultivam algodões de fibra de cor comercialmente ). Aqui no
Brasil temos uma pequena produção de algodão orgânico
no Estado do Ceará, Municipio de Tauá e colorido
convencional , sem ser orgânico , aqui no Estado da
Paraíba, que tem a maior área plantada com algodão
colorido no mundo, cerca de 5.000 hectares na atual safra ,
sendo a maior parte, mais de 95% com a BRS 200 Marrom.
Como falamos anteriormente, a diferença entre o
algodão colorido convencional e orgânico, é o sistema de
produção, sendo que no orgânico não se pode usar nem se
quer sementes deslintadas com ácido sulfúrico ou clorídico ,
nem produtos químicos como pesticidas convencionais
orgânicos, nem maturadores, nem reguladores de
crescimento e outros produtos manufaturados . Nesta caso,
as pragas são combatidas com bioinseticiadas à base de
bactérias e fungos, e uso de outros métodos, como o
ecológico, em que o clima e o manejo da cultura , com base
no zoneamento (plantar nas áreas recomendadas pela
pesquisa) e na época de plantio uniforme e cedo , para fugir
do ataque das pragas (Cada praga tem seu nível de dano e
de controle, como o bicudo, que é de 10% , quantificado via
amostragem no campo, de botões florais atacados pelo
inseto em tela, o que corresponde a cerca de 2000 bicudos
adultos por hectare de terra). Na manufatura não tem
distinção, pois o orgânico fornece, depois do
descaroçamento (processo de separação das sementes das
fibras do algodão) do processamento de fios e tecidos
orgânicos,
sem
redíduos
de
produtos
químicos
manufaturados e o algodão sem ser orgânico, é
naturalmente colorido, porém não orgânico. Para ser
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169
orgânico ele deve ser certificado e ter o selo de
reconhecimento internacional, fornecido por uma agência de
certificação. A capacidade produtiva dos produtores, desde
que se tenha mercado garantido e organização na produção
é grande, pois somente a Paraíba, que é um dos menores
Estados do Nordeste, com somente 52.400 km quadrados,
tem mais de 250.000 hectares zoneados onde se pode
cultivar algodões de fibra de cor. Sim, há estudos sobre a
fibra, antes do lançamento de cada cultivar, envolvendo
vários parâmetros, tais como resistência à lavagem com
soluções àcidas e básicas, ou seja, passa por uma
avaliação industrial no processo de fiação e tecelagem , com
títulos de fios. Na parte química, são avaliados nas malhas
testes de solidez, de cor, estabilidade dimensional da malha
(encolhimento), resistência do tecido ao pilling e outros
testes. O algodão BRS 200 Marrom que vem do algodão
mocó do Nordeste, via seleção dentro das populações
existentes, tendo fibra de elevada resistência (a maior do
mundo em termos de algodão de fibra de cor) foi avaliado
em indústrias modernas e com novos processos de fiação,
tipo cabo aberto (Open End) e suportou rotações sem partir,
acima de 120.00 RPM. Sim, temos outros produtos feitos à
base de fibra de algodão colorido, tais como redes, broches,
brincos, chaveiros, etc. (...) A olho nu, não há diferenças
entre algodões de fibra coloridas orgânico e não orgânico e
vários prêmios foram recebidos pela Embrapa e seus
pesquisadores sobre o algodão colorido que já saiu até em
revistas internacionais, como a News. Aqui na Paraíba, o
cultivo comercial do algodão colorido BRS 200 Marrom, que
foi a primeira cultivar fibra de cor do Brasil, lançada no final
do ano 2000, teve a interferência do Estado, e os produtores
tiveram a produção com garantia de compra e preço quase
100% a mais do que o preço do algodão branco. Na
atualidade a diferença caiu, para 30 a 40% a mais do que o
branco, sendo que tanto este Estado como os demais do
Nordeste já têm o zoneamento para estes tipos de algodões.
Qualquer dúvida ou informação complementar, estamos à
sua disposição.
Atenciosamente ,
Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão
Pesquisador da Embrapa Algodão
Indagações da autora a Napoleão Esberard de Macêdo
Beltrão
1.Nome científico
Algodão:
Foram
encontrados diversos
nomes
indicados como melhoramentos a partir de algodoeiros
Gossypium...a dúvida seria se os BRS Jatobá são algodões
convencionais.
Algodão orgânico: CNPA Precoce 1 e CNPA 7H,
CNPA 7MH e CNPA SM...Há outros? estes são os
encontrados comercialmente?
170
Algodão colorido: BRS 200(marrom); BRS Verde(é
este o nome científico correto?); creme(nome científico?);
vermelho telha(nome científico?)
Algodão orgânico colorido:(são os mesmos nomes
científicos do algodão colorido?): BRS 200(marrom); BRS
Verde(?); creme(?); vermelho telha(?).
2.Localização Geográfica:
Qual a distribuição geográfica dos produtores de
algodão convencional; algodão orgânico; algodão orgânico
colorido e o algodão colorido?
Qual a capacidade produtiva de cada um deles?(Há
algum mapa de distribuição geográfica?)
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3.Processos:
Quais as diferenças e semelhanças no processo de
cultivo e de manufatura de produtos de algodão colorido
e algodão orgânico colorido?
No caso de algodão orgânico e algodão orgânico
colorido, os processos são os mesmos?
4.Propriedades físicas:
Há estudos oficiais quanto às propriedades físicas e
químicas dos produtos e das fibras de algodão orgânico e
algodão orgânico colorido?
5.Segmentos de aplicação:
Além de Moda, Mobiliário e Interiores, estas fibras são
encontradas em outros segmentos?
Há calçados e acessórios?
6.Características estéticas
Como os produtores e técnicos descrevem o odor, a
textura táctil e textura visual do algodão colorido, algodão
orgânico e colorido e algodão orgânico?
Ha diferenças entre eles e o algodão convencional? É
possível identificá-las a olho nu?
7.Divulgação
Há fotos para divulgação? em arquivos digitais(caso
positivo, indicar fonte e fotógrafo).
8.Questões
Quais as maiores dificuldades e facilidades que os
produtores encontram neste nicho de mercado? E que tipo
de dificuldades e facilidades os diferenciam do produtor de
algodão convencional? Financiamentos do governo?
subsídios?
9.Prêmios:
Que formas
recebido(prêmios?)
de
reconhecimento
têm
171
7.3.
Substitutos para o amianto
Mensagem eletrônica: enviada em 10abr2005, às 20:49h.
Enviada por Fernanda Giannasi, fundadora da ABREA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS EXPOSTOS AO
AMIANTO, em resposta às questões da autora referentes
aos substitutos para o amianto.
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Prezada Bia
(...)Respondendo suas questões:
•
Quais as matérias-primas que hoje substituem o
amianto?
•
São várias disponíveis no mercado, dependendo de
cada um dos seus usos. Citando apenas os maiores
utilizadores do amianto, para você ter uma idéia: no
setor de fibrocimento(telhas e caixas d´água) estão
sendo utilizadas desde fibras vegetais, a celulose
pura e fibras sintéticas como o PVA e o polipropileno;
na indústria automotiva que era o segundo maior
utilizador do amianto, a substituição inclui fibras de
vidro, wollastonita, fibras metálicas, aramidas, entre
elas...
•
Especificamente na fabricação de telhas, quais os
substitutos? Há utilização de outras fibras naturais
para sua substituição?
Já mencionados acima........existem fabricantes como a
ONDULINE que utiliza mistura com fibras vegetais mais um
ligante betuminoso e a Brasilit usa a celulose purificada
misturada com fibra sintética....
•
No caso de giz de cera, ainda é utilizado o amianto?
Há outros artefatos infantis que utilizam o amianto?
Não temos mais estas informações no Brasil, pode até ser,
porque existem ainda minerações clandestinas de amianto
anfibólio não fiscalizadas pelo DNPM...recentemente
fiscalizei uma destas que fabricava cosméticos...não
podemos afirmar categoricamente que não haja
contaminações nestes produtos mencionados por
você...mas nos preocupam sobremaneira estes crayons que
vêm da China que está se constituindo junto com a Rússia
num dos maiores produtores de amianto...Outros brinquedos
com amianto que temos ainda encontrado são as coberturas
de casinhas de boneca de play-grounds e outros
equipamentos conjugados de balanços, escorregadores, etc.
172
•
Quais os fornecedores dos artefatos citados acima
que já utilizam outras matérias-primas em vez do
amianto?
A partir do momento que os fabricantes deixam de usar
amianto, não são mais obrigados por lei a fazerem
comunicações, mas posso te afiançar que fabricantes de
casas de boneca têm coberturas com telhados sem
amianto...é uma questão de escolha do
cliente...infelizmente, enquanto o amianto não for proibido
no Brasil, corremos estes riscos...E é esta nossa luta
diária...
Leia em Época desta semana no caderno negócios à Página
12 a quantas anda esta briga para banir o amianto....
(...)Qualquer dúvida adicional, não hesite em nos contatar
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Atenciosamente,
Fernanda Giannasi

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