Beatriz Finkielsztejn Sistemas Modulares Têxteis - NIMA - PUC-Rio
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Beatriz Finkielsztejn Sistemas Modulares Têxteis - NIMA - PUC-Rio
A-PDF Merger DEMO : Purchase from www.A-PDF.com to remove the watermark Beatriz Finkielsztejn Sistemas Modulares Têxteis como aproveitamento de fibras naturais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Uma alternativa sustentável em Arquitetura & Design Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Artes da PUC-Rio. Orientador: Prof. José Luiz Mendes Ripper Rio de Janeiro Agosto de 2006 Beatriz Finkielsztejn Sistemas Modulares Têxteis como aproveitamento de fibras naturais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Uma alternativa sustentável em Arquitetura & Design Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre pelo Programa de PósGraduação em Artes da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada. ________________________________________ Prof. Dr. José Luiz Mendes Ripper Presidente/ Orientador - PUC-Rio ________________________________________ Prof. Dr. Armando Martins de Barros Membro - UFF ________________________________________ Prof. Dr. Luis Eustáquio Moreira Membro - UFMG ________________________________________ Prof. Dr. Paulo Fernando Carneiro de Andrade Coordenador Setorial do Centro de Teologia e Ciências Humanas - PUC-Rio Rio de Janeiro, 18 de agosto de 2006 Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da Universidade, da autora e do orientador. Beatriz Finkielsztejn Graduou-se em Desenho Industrial (ESDI-UERJ) em 1986. Graduou-se em Design Têxtil (SHENKAR, Israel) em 1993. Pós-graduou-se em Gestão em Design Têxtil e do Vestuário (SENAI-CETIQT), nível de especialização em 1999. Ficha Catalográfica PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Finkielsztejn, Beatriz Sistemas modulares têxteis como aproveitamento de fibras naturais: uma alternativa sustentável em arquitetura & design / Beatriz Finkielsztejn ; orientador: José Luiz Mendes Ripper. – 2006. 172 f. : il. ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Artes e Design)– Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006. Inclui bibliografia 1. Artes – Teses. 2. Sistemas modulares têxteis. 3. Fibras naturais. 4. Tecnologias artesanais têxteis. 5. Sustentabilidade. 6. Natureza. 7. Impactos. 8. Arquitetura têxtil. I. Ripper, José Luiz Mendes. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Artes e Design. III. Título. CDD: 700 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA À Nícolas, Rosali, David (In Memorian), e Dedé, por tudo... Agradecimentos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Ao meu orientador, José Luiz Mendes Ripper, pela oportunidade, compreensão e, principalmente, pela sensibilidade e percepção humanista que tanto me ensinaram. Ao Projeto Coco Verde, O Casulo Feliz, Companhia Têxtil de Castanhal, Natural Fashion, EMBRAPA, Maria Izabel B. Miranda, Viviane G. Ribas e Fernanda Giannasi, pelos esclarecimentos e importantes contribuições, sem os quais este trabalho não poderia ter sido realizado. À minha mãe e irmã, pelo apoio incondicional. À equipe do LILD, pelo entusiasmo contagiante e parceria. A todos os professores do mestrado, pelas contribuições que tornaram esta dissertação uma realidade. Aos amigos Helga, Lygia e Marcelo Fonseca, por me acompanharem nesta caminhada. A todos os amigos e familiares, pela paciência, compreensão e carinho, sem dúvida imensuráveis. Resumo Finkielsztejn, Beatriz; Ripper, José Luiz Mendes (Orientador). Sistemas Modulares Têxteis como aproveitamento de fibras naturais: uma alternativa sustentável em Arquitetura & Design. Rio de Janeiro, 2006. 172p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Artes, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. O aproveitamento sustentável de fibras naturais na construção de membranas estruturais arquitetônicas constitui a questão principal desta dissertação. A conjugação entre os Sistemas Modulares Têxteis e o estudo das interações entre as fibras naturais, tecnologias e o meio permite incorporar técnicas artesanais têxteis e parâmetros ambientais de sustentabilidade às estratégias de concepção e confecção de objetos de Arquitetura & Design. Impactos ambientais e sociais percebidos, tecnologias artesanais e industriais de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA aproveitamento de fibras naturais e suas relações com o meio físico e social, e as estratégias aprendidas na Natureza e reproduzidas através de experiências em Arquitetura & Design, são aqui investigados. A metodologia experimental com a realização de protótipos permitiu elaborar os princípios que fundamentaram as bases dos Sistemas Modulares Têxteis. As investigações realizadas contribuem para o aperfeiçoamento e adequação de tecnologias artesanais têxteis e fibras naturais disponíveis e pouco padronizadas, adaptando-as a diversos contextos através dos Sistemas Modulares Têxteis. Palavras-chave Artes; Sistemas Modulares Têxteis; Fibras Naturais; Tecnologias artesanais têxteis; Sustentabilidade; Natureza; Impactos; Arquitetura Têxtil. Abstract Finkielsztejn, Beatriz; Ripper, José Luiz Mendes (Advisor). Textile Modular Systems as natural fibers’ use - a sustainable alternative in Architecture & Design. Rio de Janeiro, 2006. 172p. Msc. DissertationDepartamento de Artes & Design, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. The natural fibers’ sustainable use in architectonic structural membranes’ construction is the main question of this dissertation. The association between the Textile Modular Systems and the inter-actions’ studies between natural fibers, technologies, and environment, aloud to incorporate into conception and manufacturing strategies of Architecture & Design objects’, textile craftsmanship technologies and sustainable environment parameters. Social and environment footprints perceived, industrial and craftsmanship technologies of PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA natural fibers uses, their relations to the social and material environment, and the strategies learned from Nature and reproduced through experiences in Architecture & Design, are investigated here. The consumation of the Experimental Methodology through prototypes aloud to elaborates the principles that conceived the basis of the Textile Modular Systems. The investigations accomplished contribute to improve and adequate the textile craftsmanship technologies and the available non-patterned natural fibers, adapting them to several contexts through the Textile Modular Systems. Keywords Arts; Textile Modular Systems; Natural Fibers; Textile Craftsmanship Technologies; Sustainability; Nature; Footprints; Textile Architecture. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Sumário Lista de Figuras e Ilustrações Apresentação 9 18 Introdução Estrutura do trabalho 21 24 1. Um Panorama dos impactos percebidos: desperdícios da inadequação 1.1. Se tudo é construído, nada é construído 1.2. Conhecimentos em extinção 1.2.1. Quando o natural é mito 1.3. Arquitetura & Design e suas relações com a questão ambiental 25 28 35 44 52 2. Tecnologias de aproveitamento de fibras naturais: uma arqueologia de "conhecimentos em extinção" 2.1. Inter-relações entre a "Sociedade da Palha" e as "Sociedades Complexas" 2.2. Fibras naturais e tecnologias "(in)sustentáveis" 2.3. Fibras naturais: matéria e tecnologias 2.3.1. Cascas de árvore, "tapa", papel e feltro 2.3.2. Compósitos e Laminação 2.3.3. Fiação e cordoaria 2.3.4. Tecelagem e cestaria 57 59 68 76 81 87 91 97 3. Natureza, Arquitetura & Design 3.1. Exemplos Naturais 3.1.1. Invertebrados produtores de seda 3.1.2. Os vários "modos de tecer" 3.1.3. Utilização de fibras, papel e adobe 3.1.4. A natureza que produz cabos 3.2. Sistemas Modulares Têxteis: um "modo de fazer " Arquitetura & Design" 3.2.1. Estudo de caso: princípios e protótipos experimentais 3.2.2. Conclusão dos experimentos 102 111 113 116 123 127 4. Considerações Finais 5. Referências Bibliográficas 6. Referências Eletrônicas 7. Anexos 142 146 153 157 129 131 138 Lista de Figuras e Ilustrações Figura 1- Objetos e fragmentos plásticos encontrados no interior de um filhote de albatroz. (http://www.hawaiianatolls.org/research/June2006/albatross_death.php) Foto: Claire Johnson/ NOAA. Figura 2- Objetos e fragmentos plásticos encontrados no interior de um filhote de albatroz. (http://www.mindfully.org/Plastic/Ocean/Albatross-Plastic-Ingestion1997.htm). Figura 3 –Impactos ambientais percebidos: entulhos marinhos têm afetado mais de 86% das espécies de tartarugas marinhas por ingestão, fome, sufocamento, infecção e estrangulamento. (http://www.aventuranobrasilcostal.com.br/abc/ex_det.asp?id=44), e (http://www.plasticdebris.org/bibliography.html). Foto: Auburn Zoo. Figura 4 – “Pellets” de plásticos fotodegradados são ingeridos por diversas espécies. (http://www.algalita.org/initiatives.html#forever). Figura 5 – Ilhas hawaianas: 60 toneladas de redes e entulhos recolhidas por mergulhadores. (http://www.mindfully.org/Plastic/Ocean/Honolulu-Cleanup22nov02.htm). Foto: National Marine Fisheries PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Service. Figura 6 – Espécies ameaçadas por redes de pesca e entulhos. (http://myfwc.com/mrrp/photogallery/entanglement.htm) Figura 7 – Impactos ambientais e sociais percebidos: crianças recolhem resíduos no Porto da Baía de Manila, Filipinas. (http://marine-litter.gpa.unep.org/courtesy.htm). Figura 8 – Impactos ambientais percebidos: danos à fauna. (http://myfwc.com/mrrp/images2/team/turtleflipper_turtletime.JPG). Figura 9 – Lídia, índia guarani, adapta a falta de pigmentos naturais através da utilização de anilina industrializada na confecção de artefatos. Paratimirim. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 10 - Utilização de anilina industrializada. Paratimirim. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 11 - O quintal: o local onde Lídia realiza o tingimento das fibras para cestaria. Paratimirim. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 12 – Impactos sociais percebidos: acidentes na máquina de desfibramento do sisal, a “periquita”. Atualmente já é possível encontrar adaptações nestas máquinas, evitando acidentes. (http://users.skydome.net/egphotos/SI024.htm). Foto: Emílio Gomes. Figura 13 – Impactos sociais percebidos: trabalho infantil na produção de sisal. (http://www.tvcultura.com.br/caminhos/11sisal/sisal2.htm). Foto: Valdir Rodrigues. Figura 14 – Fibras de amianto ao microscópio eletrônico. http://www.abrea.com.br/02amianto.htm). Figura 15 – D. Madalena ensina cestaria à sua comunidade a seu próprio “modo”. RIBAS e RIBAS, 1983/84: 32. Figura 16 – Ilha de totora amarela. A totora amarela é uma espécie de junco, esponjosa e mais apropriada à confecção da casas e barcos que a totora verde. Lago Titicaca, Bolívia/ Peru. (http://www.arqueologiamericana.com.br/titicaca/diario/diario_02.htm). Figura 17 – A fibra de totora amarela é parte integrante das comunidades do lago Titicaca. Um barco de totora amarela pode chegar a durar cerca de 1 ano na água. Foto: Claúdia e João. (http://www.cwb.matrix.com.br/sensus/Bolivia-Peru.htm). Figura 18 – A totora amarela é mais apropriada à confecção da casas e barcos que a totora verde. (http://www.arqueologiamericana.com.br/titicaca/diario/diario_02.htm). Figura 19 – Prensas de mandioca. Paraty. RIBAS e RIBAS: 1883/84: 30. Figura 20 – Tipiti kayapó, o tipiti de torção, possui a forma de saco de palha entrançada. Há tribos que utilizam esteiras planas para prensa manual. Foto:FERNANDES: 1964: 27. 10 Figura 21– – Tipiti-ceira, antes do uso. No caso das ceiras portuguesas, são trançadas de forma circular para a extração do azeite. Foto: FERNANDES: 1964: 23. Figura 22– Tipiti-ceira, após o uso. FERNANDES: 1964: 23. Figura 23– Tipiti-cilíndrico, antes e durante o uso.O tipiti dos tupinambás e de outras tribos tupis-guaranis têm forma cilíndrica. Foto: FERNANDES: 1964: 15. Figura 24 – Energia humana empregada por intermédio de alavanca. FERNANDES, 1964: 10. Figura 25 – Colheita do capim-dourado (TO). Foto: Rui Faquini. (http://www.faquini.com.br/catalogos/agronegocio/pages/0409_0230_p.htm). Figura 26– Capim-dourado, família da sempre-viva. (http://www.brasiloeste.com.br/fotos_galerias/248.jpg) Foto: Fernando Zarur. Figura 27 – Artesanato feito com capim-dourado, planta nativa do cerrado. Foto de Tharson Lopes. (http://www.rfi.fr/actubr/images/068/tocantins_vasos220.jpg). Figura 28 – Coleção Mãe da Mata utiliza a fibra de tururi de forma sustentável na moda. Foto: Viviane Gaspar Ribas e Maria Izabel B. Miranda (arquivo pessoal). Figura 29 – Fibra de Tururi. (http://www.illustratedgarden.org/mobot/rarebooks/page.asp?relation=QK495F21M34182350V2&identifier=0 378). Figura 30 – Algodão Giza, vista longitudinal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:89. Figura 31 – Algodão Giza, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:89. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 32 – Cânhamo, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:88. Figura 33 – Juta, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:88. Figura 34 – Sisal, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:91. Figura 35 – Linho, vista transversal, 1440 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:87. Figura 36 – Lã churra (Portugal), vista longitudinal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:81. Figura 37 – Lã Churra (Portugal), seção transversal, 640 ampliações. Notar a grande medula. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:81. Figura 38 – Seda, vista longitudinal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:85. Figura 39 – Seda, seção transversal, 640 ampliações. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:85. Figura 40 – Preparação para obtenção da fibra de bananeira. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 41 – Desfibramento de fibra de bananeira. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 42 – Palha de fibra de bananeira. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 43 – Devastação: buriti queimado. (http://www.eco.tur.br/ecoguias/jalapao/fotos/problemas/buritiqueimado.jpg). Figura 44 – Destruição de campo úmido: solo compactado. (http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.eco.tur.br/ecoguias/jalapao/fotos/problemas/soloco mpactado.jpg). Figura 45 – Indígena desfibrando buriti para confecção de artefatos. RIBEIRO, 1988:Prancha V. Figura 46 – Indígena fiando buriti. RIBEIRO, 1988:Prancha V. Figura 47 – Confecção de papel artesanal. A polpa de fibras em suspensão em meio líqüido secam ao ar livre, Magdi, Nepal. THACKERAY, 1997: 7. Figura 48 – Método oriental, utilizando esteiras de bambu e posterior prensagem. THACKERAY, 1997: 14. Figura 49 – Vespas polistes: mastigação de madeira para a produção de ninhos de “papel’. Observações de Ferchault induziram à produção de papel a partir da polpa de madeira. Foto: (http://www.hiltonpond.org/ThisWeek040708.html). Bill Hilton Jr. Figura 50 – Hymenoptera Vespidae. Ninho para abrigar a prole e seda para vedar as células de matéria semelhante ao papel. Foto: Elmar Billig. (http://www.hornissenschutz.de/drbillig2/wespstad.jpg). Figura 51 – Ninho de Polistes annularis. Notar os ovos nas células. Foto: Bill Hilton Jr. (http://www.hiltonpond.org/ThisWeek040708.html). 11 Figura 52 – Máquina Fourdrinier (1905). Cópia (1905) em atividade do protótipo (1803) construído pelos irmãos Fourdrinier. THACKERAY, 1997: 10. Figura 53 – Estrutura da fibra de lã. EVERS, 1987: 8. Figura 54 – Reciclagem de papel em escala. THACKERAY, 1997: 23. Figura 55 – Material laminado: lâminas empilhadas dispostas em direções diferentes. HORROCKS e ANAND, 2000:268. Figura 56 – Vale da Ribeira: utilização de resíduos da bananicultura na confecção de fios e palha para artefatos. Na região também são confeccionados painéis laminados com resíduos de fibras de bananeira. Foto: Izabel Leão. (http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2000/jusp514/manchet/rep_res/rep_int/especial1.html). Figura 57 – Desenho de um laminador, Leonardo Da Vinci. ZÖLLNER e NATHAN, 2005:184. Figura 58 – Fusos indígenas. RIBEIRO, 1988: Prancha V. Figura 59 – Fiando com fuso. LEROI-GOURHAN, 1984:187. Figura 60 – Fusos diversos. BROWN, 2002: 228. Figura 61 – Aperfeiçoamento do fuso por Leonardo Da Vinci. BROWN, 2002:233. Figura 62 – Aperfeiçoamento do fuso, por Jürgen. BROWN, 2002: 233. Figura 63 – Cabo de massa. FONSECA, 1960: 311. Figura 64 – Cabo com três cordas de torção “S”. RIBEIRO, 1988: 104. Figura 65 – Aparelho de manivela com diferentes manípulos: três controlam a torção e um, a rotação. LEROI-GOURHAN, 1984: 190. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 66 – Tear de tranças ocas. LEROI-GOURHAN, 1984: 191. Figura 67 – Seqüência para confecção de cadarço. SAHASHI, 1988: 59. Figura 68 – Seqüência para confecção de cadarço. SAHASHI, 1988: 61. Figura 69 – Seqüência para confecção de cadarço. SAHASHI, 1988: 61. Figura 70 – Seqüência para confecção de cadarço. SAHASHI, 1988: 61. Figura 71 – Roda para fabricação de cordas. LEROI-GOURHAN, 1984:189. Figura 72 – “Warp-twining”: hastes torcidas. EMERY, 1994:197. Figura 73 – Hastes torcidas: três elementos atuam como hastes: cada um dos elementos que compõem as hastes sobrepõe os montantes em progressão. EMERY, 1994:199. Figura 74 – Cestaria de hastes cordadas (torcidas): mantém os montantes rígidos a distâncias constantes ou reúne montantes flexíveis; as hastes são torcidas e bem espaçadas. LEROI-GOURHAN, 1984:201. Figura 75 – Espiral de camadas sobrepostas. Duas camadas cruzadas sem entrelaçamento, mas sim sobrepostas, são reunidas por um terceiro elemento. LEROI-GOURHAN, 1984:198. Figura 76 – Cestaria de haste espiralada: elemento móvel roda em espiral sobre os elementos fixos. LEROIGOURHAN, 1984:198. Figura 77 – Espiral de hastes cordadas. LEROI-GOURHAN, 1984:201. Figura 78 – Espiral de hastes tecidas. LEROI-GOURHAN, 1984:201. Figura 79 – Técnica de acoplamento (linking). EMERY, 1994:53. O acoplamento forma uma conexão elástica por meio de fio contínuo de extensão ilimitada e um tear (dispositivo de sustentação). Definição de RIBEIRO (1988:89-90). Figura 80 – Construção de rede indígena por acoplamento. RIBEIRO, 1988:100. Figura 81 – Bordado nas mangas de vestuário encontrado em Skrydstrup na Borum Eshöj. Detalhe. Idade do Bronze. Fotos: Museu Nacional, Copenhagen. BOUCHER (1987:21). Figura 82 – O artesanato da renda localiza-se nas proximidades costeiras e ribeirinhas. SANTANA, 2002: 144. Figura 83 – Rendeira confecciona telas que serão utilizadas na pesca. FUNARTE (1986:72). Figura 84 – Artesã utiliza navete na confecção de rede ou malha para renda filé. FUNARTE (1986:42). Figura 85 – Renda de bilro: marcação dos desenhos. SANTANA, 2002: 166. Figura 86 – Renda de bilro: marcação dos desenhos. SANTANA, 2002: 167. Figura 87 – Labirinto de Beribéri. SANTANA, 2002: 154. Figura 88 – Labirinto de Beribéri. SANTANA, 2002: 155. 12 Figura 89 – Renda tenerife: tecimento radial com fixação em pinos. A renda tenerife, semelhante à renda nhanduti, aparentemente foi originada nas Ilhas Canárias. Pinos são inseridos em um bloco de madeira, raios são construídos e tecidos posteriormente com o auxílio de uma agulha. LACEMAKING CENTRAL. (http://www.lace.lacefairy.com/). Figura 90 – “Polka Spider”: grande similaridade à renda nhanduti (ñanduti) e à renda tenerife. LACEMAKING CENTRAL. (http://www.lace.lacefairy.com/). Figura 91 – “Em los prados”, Bad Soden Del Taurus, 1990-1993. Vista do pátio. Hundertwasser. RESTANY, 2003:52. Figura 92 – “As cinco peles” de Hundertwasser. RESTANY, 2003:15. Figura 93 – Centro Twrmal de Blumau, 1993-1997. RESTANY, 2003:54. Figura 94 – Casa Hundertwasser, Viena, 1983-1986. RESTANY, 2003:47. Figura 95 – “Kellum's grip”. Cordas de arame trançadas. Modelo semelhante ao tipiti. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm). Figura 96 – Diagonal Double Cross, 1971. Bambu preto e corda de nylon. 51.5 X 51.5 X 2 cm. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm). Figura 97 – “Circlespheres” e suas matrizes de estruturas espaciais: aqui os espaços entre os círculos são polígonos côncavos: triângulos, quadrados, pentágonos ou hexágonos. Kenneth Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm). Figura 98 – Membranas estruturais de células endotélicas humanas. As conexões dos filamentos encontrados nas estruturas triangulares assemelham-se a domus geodésicos, um exemplo de tensegrety. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA (http://spaceresearch.nasa.gov/general_info/19jun_cytoskeletons.html). Figura 99 – Domus, Buckminster Füller. http://bfi.org/node/433. Figura 100 – Domus de cartão, Buckminster Füller. (http://bfi.org/node/234). Figura 101 – Instituto Leichtbau, Frei Otto. Stuttgart, Alemanha, 1967-1993. BAHAMÓN, 2004:11. Figura 102 – Laboratório de Investigação, projeto de Samyn and Partners. Laboratório de investigação de indústria química. Forma da estrutura têxtil ovalada, em um só volume, com membrana translúcida e espelho d'água circundante por razões de segurança. Venafro, Itália, 1999. BAHAMÓN, 2004:26. Figura 103 – Tenda tuaregue. Mastros externos formam pórtico e libertam o espaço interno. Niamey. BAHAMÓN, 2004:17. Figura 104 – Tenda beduína: sistema estrutural com mastros de madeira interiores e cabos atados a pesadas rochas em função dos fortes ventos. Jerusalém/ Jericó, Israel. BAHAMÓN, 2004:33. Figura 105 – Elementos de vedação da fachada de arranha-céu em Osaka, Japão. Painéis pré-fabricados compostos por membranas e infra-estruturas triangulares. Arquiteto: Keizo Sataka. Cliente: Morique Building Co. SCHOCK, 1997:69. Figura 106 – Exemplos de Design Geodésico na Natureza. Synergetics 203.09. FÜLLER, 1982:25. Figura 107 – Vespa polistes: seda para fechamento das células dos ninhos. Figura 108 – Formigas tecelãs: formam pontes, subindo umas sobre as outras. (http://super.canard.wc.free.fr/fourmiliere/images/Especes/Oecophylla/apercu/tiss1.jpg). Figura 109 – Formigas tecelãs: pressionam suas larvas como bisnagas, expelindo a “seda” como adesivo. (http://www.museum.vic.gov.au/bugs/images/resources/MN014730_554.jpg). Figura 110 – Lesmas Limax maximus: corda de muco no primeiro estágio do acasalamento. (http://www.buglife.org.uk/images/photos-per-page/bbc_undergrowth/bbc_invasion_of_the_land/limaxmaximus-2-(c)-Dragisa.jpg). Figura 111 – Glândula produtora de seda em aranha. Produção de fio por aranha. DE VASCONCELOS (2000:159). Figura 112 – Fiandeira em equipamento industrial têxtil. Produção de fio pela indústria têxtil. DE VASCONCELOS (2000:159). Figura 113 – Arachnocampa luminosa: seda com gotículas adesivas. (http://images.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.photography.org.nz/gallery/natex/natHist_silverPrint 2.jpg&imgrefurl=http://www.photography.org.nz/natex.htm&h=201&w=283&sz=49&hl=ptBR&start=4&tbnid=_NbSZBXkP0BNM:&tbnh=78&tbnw=110&prev=/images%3Fq%3DArachnocampa%2Bluminosa%26ndsp%3D20 %26svnum%3D10%26hl%3Dpt-BR%26lr%3D%26sa%3DN). 13 Figura 114 – Arachnocampa luminosa: centenas de fios luminosos formam cortinas. (http://www.bamjam.net/NewZealand/images/waitomo01.jpg). Figura 115 – Arachnocampa luminosa: momento da captura de uma presa. (http://www.glowworm.co.nz/gallery/images/sm-photo11.jpg). Figura 116 – Armadilha de aranha-de-alçapão. (http://www.usq.edu.au/spider/info/images/LycosidTrapdoor.jpg). Figura 117 – Nephila: teia orbital. Nephila senegalensis. Foto: Samuel Zschokke. (http://www.conservation.unibas.ch/team/zschokke/pics/nephilaweb.gif). Figura 118 – Hyptiotes paradoxous: teia triangular. Foto: Samuel Zschokke. (http://www.conservation.unibas.ch/team/zschokke/index.html). Figura 119 – Teia retangular da aranha Deinopis subrufa. Foto: (http://www.geocities.com/brisbane_weavers/images/Deinop1.jpg). Figura 120 – Lycosa sp. O ninho construído para abrigar os ovos é carregado no dorso. (http://www.naturefg.com/images/c-animals/lycosa1.jpg). Foto: Dragiša Savić. Figura 121 – Aranha boleadeira: fio resistente com gotícula pegajosa. (http://www.scb.org.br/inspiracao/naturezaviva/imagens/23-1-b-aranhacara-de-ogro.jpg). Figura 122 – Confecção de covo. RIBAS e RIBAS, 1983/84: 26. Figura 123 – Capa de chuva de fibras. LEROI-GOURHAN, 1984:173. Figura 124 – Balde de fibras. LEROI-GOURHAN, 1984:90. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 125 – Cruzamento de filamentos com identificação de eixos em movimento de hélice. Kenneth Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm). Figura 126 – Tela. Kenneth Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm). Figura 127 – Semelhança entre trançado hexagonal reticular (RIBEIRO, 1988:67), quadriculado de três elementos (LEROI-GOURHAN, 1984:198 e 200) e cestaria de três direções, “three-way weave” , Kenneth Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm). Figura 128 – Relação entre conexões tensegrety e cestaria. Kenneth Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm). Figura 129 – Bola de rattan em cestaria, com células de contornos triangulares, pentagonais e hexagonais, Tailândia. Kenneth Snelson. (http://www.kennethsnelson.net/icons/struc.htm). Figura 130 – Ninho de formiga carpinteira com larva e pupa (Camponotus spp.). Constroem seus ninhos escavando túneis em orifícios preexistentes na madeira. Foto: Terry Thormin. (http://www.royalalbertamuseum.ca/natural/insects/bugsfaq/pics/img0002.jpg). Figura 131 – Formiga carpinteira: local do ninho. Semelhante às construções vernáculas. Foto: R. Werner, USDA Forest Service. (http://www.forestryimages.org/images/384x256/0805067.jpg). Figura 132 – Notar a posição do ovo na célula. (http://www.ivyhall.district96.k12.il.us/4th/kkhp/1insects/bugpix/3waspsmlNVel.JPEG). Figura 133 – Eumenes. – Ninho de vespa poteira. Foto: Lynette Schimming. (http://bugguide.net/images/raw/2R0H6RLHGRRH0R9L0RELFLOZ5RTL0ZOL6RVL4RDL0ZRHMZTLGRSH 7RELQZVL4RRHQZQHSZTLSZAL.jpg). Figura 134 – Ponte suspensa de cipó. (http://www.cotedivoire.org.br/img/yacouba1.jpg). Figura 135 – Cipó: crescimento em movimento helicoidal, em busca de luz. (http://natureproducts.net/Forest_Products/Cutflowers/Liana%201.jpg). Figura 136 – Crescimento em torno de suporte: garantia de sustentação. (http://www.treemail.nl/kronendak/visscher/assets/photographs/photo%20lianas%20L/yana-ayahuasca1.jpg). Figura 137 – Corda natural de liana, à esquerda, e corda artificial confeccionada pelo homem, à direita: grande semelhança. Foto: Hingston, R.W.G. Major/NGS Image Collection. DE VASCONCELOS (2000:283). Figura 138 – Cabo de arame descochado, mostrando a madre de linho. FONSECA, 1960:333. Figura 139 – Cipós como vias de acesso para a fauna. (http://www.ecologia.info/best-coati.jpg). Figura 140 – Estudos de superfície mínima. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. 14 Figura 141 – Investigações preliminares. Materiais em infra-estrutura pentagonal. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 142 – Investigações preliminares. Tecimentos em infra-estrutura pentagonal. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 143 – Tecimento de rede pantográfica em bastidor retangular. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 144 – Investigação da disposição de feixes de fibras de juta: as fibras de juta são naturalmente organizadas. Aqui , os feixes de fibras são dispostos lado a lado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 145 – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado. Utilização de técnicas de confecção da renda nhanduti. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 146 – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado. Utilização de técnicas de confecção da renda nhanduti. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 147 – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado: detalhe. Utilização de técnicas de confecção da renda nhanduti. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 148 – Preparação para confecção de manta com camadas sobrepostas. Investigações para construção de cone planificado e disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de técnica de bordado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 149 – Arremate. Inserção dos fios cortados da área central da tela. Utilização de técnica de bordado. Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 150 – Detalhe do arremate. Fios inseridos na trama da tela. Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de técnica de bordado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 151 – Disposição radial de feixes de fibras para fixação dos feixes subseqüentes. Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de técnica de bordado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 152 – Manta bordada: reforço nos pontos submetidos a maiores esforços. Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de técnica de bordado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 153 – Manta bordada: feixes de fibras em vez de fios torcidos. Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Utilização de técnica de bordado. Modelo experimental. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 154 – Nova seqüência: investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Modelagem bordada de superfície cônica – Modelo de concepção e detalhe. LILD. Fotos: Beatriz Finkielsztejn. Figura 155 – Nova seqüência: simplificação dos procedimentos, reforço das linhas de resistência da forma e menor acúmulo de matéria em pontos desnecessários. Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Modelagem bordada de superfície cônica – Modelo de concepção e detalhe. LILD. Fotos: Beatriz Finkielsztejn. Figura 156 – Nova seqüência: investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Modelagem bordada de superfície cônica – Modelo de concepção e detalhe. LILD. Fotos: Beatriz Finkielsztejn. Figura 157 – Nova seqüência: bordado acompanha as linhas de resistência da forma.Investigação da disposição e fixação dos feixes de fibras de juta sobre tecido de juta (tela). Modelagem bordada de superfície cônica – Modelo de concepção e detalhe. LILD. Fotos: Beatriz Finkielsztejn. Figura 158 – Verificação das deformações de uma rede de trama ortogonal em superfície esférica - Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 159 – Disposição de pontos de fixação para as redes de trama ortogonal. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. 15 Figura 160 – Sobreposição de redes de trama ortogonal. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 161 – Investigação de seqüências de tecimento sobre tear triangular. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 162 – Investigação de seqüências de tecimento sobre tear triangular: disposição aleatória de fios. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 163 – Investigação da elasticidade de malha pantográfica. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 164 – Disposição do urdimento em função das linhas de resistência da forma. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 165 – Detalhe de manta com disposição aleatória dos fios. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 166 – Módulos triangulares acoplados: utilização de tear triangular. Modelo experimental realizado pelos alunos de graduação do Departamento de Artes e Design durante monitoria da autora. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 167 – Urdimentos de rede indígena. RIBEIRO, 1988:110. Figura 168 – Filtro de sonhos, mandala de cura de origem nativa norte-americana: o filtro dos sonhos faz parte da medicina xamânica. (http://www.fotopt.net/foto.asp?foto=90518&primeira=&tema=1&tipo=autor&id=3270&num=3). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 169 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu tensegrety. Escala real. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 170 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu tensegrety. Escala real. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 171 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Escala real. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Escala real. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 172 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Trama construída a partir de “filtro de sonhos” para a transmissão de esforços aos elementos da estrutura tensegrety. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 173 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Verificação da trama construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama formada por domus geodésico tensegrety . Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 174 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Verificação da trama construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama formada por domus tensegrety geodésico. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 175 – Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. Verificação da trama construída a partir de “filtro de sonhos” sobre trama formada por domus tensegrety geodésico. Modelo experimental. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 176 – “Filtro de sonhos” aplicados à Arquitetura & Design. Disposição de flutuadores sob rede confeccionada a partir de “filtro de sonhos” para construções em meio fluido. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 177– Relação dimensional “homem-tear” para aplicação dos Sistemas Modulares Têxteis em objetos arquitetônicos. As dimensões dos teares variam em função de sua aplicação, assim como as relações durante o processo de confecção (ambiente, equipamentos e meios). Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 178 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu tensegrety construído no LILD. Escala real. LILD. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 179 – Oscar Hidalgo-Lópes. Foto: Beatriz Finkielsztejn. Figura 180 – Domus: tecnologia em bambu desenvolvida na Índia gerou o Taj-Mahal. HIDALGO-LÓPES, 2003:415. Figura 181 – Domus: tecnologia em bambu desenvolvida na Índia gerou o Taj-Mahal. HIDALGO-LÓPES, 2003:415. 16 Figura 182 – Cúpula em templo em Pagan, Birmânia. HIDALGO-LÓPES, 2003:297. Figura 183 – Ponte suspensa, Himalaia. HIDALGO-LÓPES, 2003:457. Figura 184 - Maior ponte suspensa construída com bambu: 240m de cabos de bambu sobre o rio Minchiang em Kwan Hsien County, China. HIDALGO-LÓPES, 2003:461. Figura 185 – Museum of Simple Technology, Ana University campus, madras, India. HIDALGO-LÓPES, 2003:318. Figura 186 - Bamboo, The gift of the gods. HIDALGO-LÓPES, 2003. Figura 187 - Programa de habitação, Equador. HIDALGO-LÓPES, 2003:266. Figura 188 – Antes do projeto, os tanques de armazenamento de água localizavam-se na frente das casas. Posteriormente foram colocados embaixo das pias do banheiro e cozinha, do lado externo das casas. HIDALGO-LÓPES, 2003:265-266. Figura 189 – Antes do projeto, os tanques de armazenamento de água localizavam-se na frente das casas. Posteriormente foram colocados embaixo das pias do banheiro e cozinha, do lado externo das casas. HIDALGO-LÓPES, 2003:265-266. Figura 190 – Andaime de bambu em Hong Kong, equivalente ao 78° andar do Central Plaza. HIDALGOLÓPES, 2003:292. Figura 191 – Por séculos o ofício de erigir andaimes foi passado de geração a geração. Fitas de bambu são utilizadas nas amarrações dos bambus. HIDALGO-LÓPES, 2003:293. Figura 192 – Por séculos o ofício de erigir andaimes foi passado de geração a geração. Fitas de bambu PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA são utilizadas nas amarrações dos bambus. HIDALGO-LÓPES, 2003:293. Ilustração 1 – Ambiente ecológico classificado por níveis verticais. Desenho: Beatriz Finkielsztejn baseado em POSEY, 1987:19-21. Ilustração 2 – Estudo de entrelaçamento: desenho esquemático de cone para realização de modelos. Desenho: Beatriz Finkielsztejn. Ilustração 3 – Estudo de entrelaçamento: disposição dos feixes de fibras de forma contínua. Desenho: Beatriz Finkielsztejn. Ilustração 4 – Estudo de entrelaçamento: feixes de fibras acompanham as linhas de resistência da forma. Desenho: Beatriz Finkielsztejn. Ilustração 5 – Estudo de entrelaçamento em infra-estrutura espiralada. Desenho: Beatriz Finkielsztejn. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA “O conhecimento do conhecimento obriga. Obriga-nos a assumir uma atitude de permanente vigília contra a tentação da certeza, a reconhecer que nossas certezas não são provas da verdade, como se o mundo que cada um vê fosse o mundo e não um mundo que construímos juntamente com os outros. Ele nos obriga porque ao saber que sabemos não podemos negar que sabemos (...). Em geral, ignoramos ou fingimos desconhecer isso, para evitar a responsabilidade que nos cabe em todos os nossos atos cotidianos, já que todos estes - sem exceção contribuem para formar o mundo em que existimos e que validamos precisamente por meio deles, num processo que configura o nosso porvir. Cegos diante dessa transcendência de nossos atos, pretendemos que o mundo tenha um devir independente de nós, que justifique nossa irresponsabilidade por eles. Confundimos a imagem que buscamos projetar, o papel que representamos, com o ser que verdadeiramente construímos no nosso viver cotidiano.” MATURANA e VARELA, A árvore do conhecimento, 2004:267-271. Apresentação A necessidade revestimentos de conceber arquitetônicos para coberturas as e habitações desenvolvidas no LILD, Laboratório de Investigação de Living Design, do Departamento de Artes e Design da PUCRJ, motivou esta pesquisa. O LILD investiga processos de baixo impacto ambiental e social, e a viabilidade econômica de materiais como bambu, fibras naturais e barro cru, e emprega fundamentalmente metodologia experimental através da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA realização de protótipos e trabalho em equipe. As pesquisas de campo permitem obter informações sobre tecnologias regionais, matérias-primas e interações entre o Homem e o Meio Ambiente. Investigações para habitações realizadas no LILD, que seguem os princípios de sistemas estruturais de construção tensegrety, demandam a utilização de membranas estruturais arquitetônicas mais adequadas aos projetos do que as encontradas no mercado. As experiências do LILD instigaram meu interesse acerca de superfícies e estruturas têxteis, assim como acerca de tecnologias relacionadas a fibras naturais. A experiência do LILD e minha própria experiência em indústrias têxteis conjugaram-se diante da possibilidade de investigação de coberturas e revestimentos que utilizassem fibras naturais disponíveis de forma sustentável, com o intuito da preservação do meio ambiente e da saúde dos indivíduos. Assim, como aproveitar sustentavelmente fibras naturais na construção de membranas arquitetônicas constitui a questão principal desta dissertação. 19 As membranas estruturais arquitetônicas industrializadas geralmente utilizadas em coberturas de construções apresentam alguns inconvenientes para os projetos desenvolvidos no LILD. A padronização do material, a distância entre fornecedor e local das habitações, geralmente construídas em áreas rurais de difícil acesso, e o uso de matérias-primas não renováveis e substâncias tóxicas na composição das membranas, inviabilizam a sustentabilidade desses projetos, que buscam utilizar matérias-primas disponíveis na região, mão-de-obra local, com baixo impacto ambiental. A utilização de fibras naturais em projetos de Arquitetura & Design visando à redução dos impactos ao meio físico e social tem ocorrido. No entanto, o estudo das PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA interações em todas as etapas do projeto se faz necessário, de forma a evitar a inadequação na escolha da matériaprima, atender às limitações ao uso de matérias-primas não renováveis e renováveis, à redução de gastos energéticos nas diversas etapas do processo produtivo, à necessidade de evitar o despejo de substâncias tóxicas no meio ambiente, e à adequação das técnicas empregadas. Assim, o foco desta dissertação encontra-se nas interações que viabilizam a sustentabilidade do aproveitamento de fibras naturais, da concepção e da elaboração de objetos de Arquitetura & Design. No decorrer dos estudos e experimentos sobre as interações entre as fibras naturais, tecnologias e meio, foi percebida a possibilidade de conceber um sistema que viabiliza a sustentabilidade no aproveitamento de fibras naturais na confecção de objetos de Arquitetura & Design em diversos contextos, regiões, em conformidade com a disponibilidade das fibras locais. Os Sistemas Modulares Têxteis não se limitam à aplicação em coberturas e revestimentos e podem ser utilizados em outros elementos de Arquitetura & Design. Empregam técnicas artesanais têxteis em função dos conhecimentos tradicionais e fibras naturais da região, 20 valorizando a mão-de-obra local e permitindo a construção de objetos de forma sustentável, sem desperdícios de matéria-prima, já que são confeccionados sob medida, com redução de gastos energéticos e vias de acesso. O estudo das interações entre as fibras naturais, tecnologias e o meio, associado aos Sistemas Modulares Têxteis, contribui para o conhecimento humano por incorporar às estratégias de concepção e de confecção de objetos de Arquitetura & Design, técnicas artesanais têxteis, algumas em vias de extinção, e parâmetros ambientais de sustentabilidade. Os Sistemas Modulares Têxteis apresentam-se, assim, como uma alternativa sustentável para Arquitetura & Design. Tal como nos Sistemas Modulares Têxteis, a estrutura PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA desta dissertação permite a leitura em módulos, nos quais a integridade de cada capítulo proporciona percepções diversas sobre as interações estudadas, conforme a ordenação de leitura escolhida. Esta dissertação não se propõe inventariar fibras naturais ou tecnologias têxteis, trabalho realizado exaustivamente por autores de relevância, mas sim elucidar questões tecnologias fundamentais artesanais sobre e as interações matérias-primas entre pouco padronizadas na concepção de objetos de Arquitetura & Design, bem como despertar interesse e estabelecer compromisso quanto a interferências na natureza. 21 Introdução Verificar as interações que viabilizam a sustentabilidade do aproveitamento de fibras naturais na construção de membranas estruturais arquitetônicas constitui o objetivo primeiro desta dissertação. Levantar informações sobre as interações, assim como identificá-las e compará-las, constituem desdobramentos inevitáveis desse objetivo. Com o intuito de materializar coberturas e revestimentos arquitetônicos para construções estruturais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA tensegrety, conceberam-se os Sistemas Modulares Têxteis. Partindo-se do pressuposto de que estes sistemas viabilizariam sustentavelmente a construção de membranas arquitetônicas que aproveitam fibras naturais, foram levantadas informações sobre as relações entre matériaprima, meio ambiente e tecnologias. Desta forma, foi possível elaborar os procedimentos necessários para a implementação dos Sistemas Modulares Têxteis. Os impactos ambientais e sociais percebidos, provocados pelos processos de produção de artefatos e posteriormente pelos descartes gerados, conduziram a pesquisa ao levantamento das interações relativas à poluição e descarte de resíduos, ao consumo de produtos e obtenção de recursos naturais, e às relações entre comunidades tradicionais e biodiversidade. A produção e consumo de produtos industrializados em escala e suas relações com a degradação ambiental e social são, então, confrontados com modelos sustentáveis de desenvolvimento, e principalmente com a necessidade de inclusão de parâmetros ambientais na concepção de produtos. Aqui, são abordadas as relações entre meio e o homem, as interferências inadequadas sobre ecossistemas 22 e comunidades tradicionais ameaçando-os de extinção, e a perda de conhecimentos fundamentais para a preservação da biodiversidade, de técnicas e do manejo de fibras naturais. Tecnologias industriais e artesanais de aproveitamento de fibras naturais são investigadas na intenção de viabilizar alternativas de Arquitetura & Design sustentáveis. Interações e confrontos entre comunidades tradicionais e biodiversidade são levantados, e estratégias aprendidas na Natureza são reproduzidas através de experiências em Arquitetura & Design. Este conjunto de interações contribui para o aperfeiçoamento e adequação dos procedimentos de aproveitamento das fibras naturais. A metodologia PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA experimental. desenvolvidos utilizada nesta dissertação é Os Sistemas Modulares Têxteis foram como instrumentos de verificação das interações que viabilizam a construção de membranas arquitetônicas, empregando em seu processo tecnologias artesanais têxteis que utilizam fibras e fios naturais, e princípios de sustentabilidade. A realização de protótipos experimentais permitiu investigar a aplicação dessas tecnologias, o comportamento das fibras naturais em relação ao meio e o funcionamento do sistema. O termo Arquitetura & Design é empregado aqui como uma união em função das afinidades e relações nos campos de atuação, não pelas diferenças1. Arquitetura & Design (Espaço & Superfície), atividades projetuais inseridas na concepção e desenvolvimento de projetos e objetos tornamse elementos inseparáveis quando aplicados aos Sistemas Modulares Têxteis: a confecção de módulos para a articulação de espaços (ambientes), e a articulação de superfícies (espaços preenchidos por matéria) para a 1 BEZERRA, 2004: Introdução. Em sua dissertação de mestrado o autor refere-se às interações encontradas entre Arquitetura e Design. 23 confecção de módulos. Arquitetura & Design interagem aqui 2 como um “compósito” de campos de atuação. A Arquitetura Têxtil é utilizada em construções de rápida montagem e desmontagem, e de fácil transporte. É inserida neste contexto devido principalmente à confecção de membranas para as coberturas dos Sistemas Modulares Têxteis, e à leveza requerida. É nas estratégias observadas na natureza e no intercâmbio entre as tecnologias que os Sistemas Modulares Têxteis se fundamentam: disponibilidade de recursos, integração entre o meio ambiente e o homem, e, principalmente, adequação. A concepção dos Sistemas Modulares Têxteis interage, assim, com parâmetros de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Arquitetura & Design sustentáveis. 2 (Ver Capítulo 2.3.2).“Os materiais compósitos são formados pela conjugação de dois ou mais materiais que mantêm individualmente suas propriedades anteriores à união”. 24 Estrutura do trabalho O primeiro capítulo apresenta um panorama dos impactos ambientais e sociais gerados pela inadequação dos modelos de produção e suas relações com os hábitos de consumo das sociedades industrializadas. São evidenciados fatores que contribuem para a redução do bem-estar físico e social em diversas esferas da sociedade, aspectos que ameaçam comunidades tradicionais e ecossistemas, e o comprometimento da Arquitetura & Design com a produção industrializada em escala. O segundo capítulo enfatiza aspectos tecnológicos de aproveitamento de fibras naturais, suas relações com o ciclo de vida do sistema-produto, com a confecção de artefatos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA nas sociedades tradicionais (“sociedade da palha”) e industrializadas (“sociedades complexas”), parâmetros de sustentabilidade e identificam-se as ameaças aos conhecimentos “tradicionais herdados”. O terceiro capítulo evidencia a importância dos Exemplos Naturais como fonte de conhecimentos de estratégias, e como são reproduzidos e incorporados através de experiências, valorizando a preservação do meio ambiente e o bem-estar social. Aqui, demonstra-se como a Natureza que fia, tece e constrói interfere nos “modos de conceber e fazer” Arquitetura & Design. No desfecho deste capítulo, os Sistemas Modulares Têxteis são apresentados por meio de estudo de caso. O trabalho experimental realizado através de protótipos é demonstrado, assim como a concepção, as características do sistema, os materiais e os procedimentos experimentais, a investigação de teares, as técnicas e a organização das fibras e mantas, o funcionamento e os procedimentos necessários para a implantação desses sistemas. Na conclusão da dissertação, destaca-se a importância das estratégias encontradas na Natureza para o campo de Arquitetura & Design como modelos de adequação: a Natureza é um sistema dinâmico e, à medida que a “copiamos”, a compreendemos. 25 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 1 Um panorama dos impactos percebidos: desperdícios da inadequação Figura 1 – Resíduos encontrados no interior de um Albatroz. O aumento do consumo de artefatos produzidos em escala a partir da Revolução Industrial gerou o descarte de imensas quantidades de resíduos no meio ambiente, resultando em severos impactos ambientais e sociais1 (Figuras 1 e 2), alguns deles percebidos, outros, não. 1 FORTY, 1986:63. 26 Figura 2 – Análise de resíduos encontrados no interior de um Albatroz. Objetos concebidos e elaborados para o consumo PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA direcionado e segmentado2 tornam-se acessíveis e refletem a importância e o interesse por projetos de Arquitetura & Design na sociedade industrial. A busca por novos materiais por parte dos estabelecimentos industriais incrementa ainda mais os impactos, interferindo nos ecossistemas, reduzindo a biodiversidade biológica e levando à extinção inúmeras espécies da fauna e flora, assim como diversas comunidades tradicionais que subsistem dos recursos obtidos na natureza. Detentoras de conhecimentos sobre os mecanismos de funcionamento do meio ambiente, essas comunidades tornam-se foco de interesse e exploração, evidenciando-se a fragilidade e a dependência decorrentes da perda da fonte de recursos e identidade. Percebemos parcialmente os impactos gerados. A complexidade da biodiversidade e suas inter-relações com o homem, com as tecnologias, com os materiais utilizados sem prévia investigação adequada, e o desconhecimento e falta de mecanismos de medição são alguns dos motivos pelos quais somos incapazes de perceber diversos impactos já instaurados, ou prever os que estão por vir. Arquitetura & Design, comprometidos e submetidos aos padrões comerciais e de faturamento do sistema 2 CARDOSO [DENIS], 1996:59-72. 27 produtivo em escala, atuam ainda aquém do potencial necessário para o estabelecimento da sustentabilidade, dando seus primeiros passos na utilização de matériasprimas, tecnologias PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA comunidades. regionais, e na interação com 28 1.1. Se tudo é construído, nada é construído Figura 3 – Estrangulamento: tartaruga marinha sofre com os despejos de resíduos no meio ambiente. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Fragmentos da cultura material As viagens de pesquisa da AMRF,3 Algalita Marine Research Foundation, têm registrado impressionantes quantidades de resíduos acumuladas na região de “Gyro”4, muitas vezes à deriva por mais de doze anos. Fragmentos de polímeros, por vezes em dimensões moleculares, são ingeridos por vários organismos, ou formam extensas correntes de entulhos entrelaçados com até uma milha de comprimento (Figuras 3, 5, 6 e 8). Esses fragmentos de objetos compostos por plásticos chegam a essa região no centro do Oceano Pacífico, provocando impactos devastadores na cadeia alimentar e conseqüentemente desordens hormonais nos seres vivos relacionadas às atividades cerebrais e reprodutoras, sinalizando uma tendência à extinção de espécies. Isso ocorre porque os polímeros de plásticos absorvem óleos tóxicos5 que não se dissolvem na água do mar, e os 3 MOORE, 2002, 1-4. Região no centro do Oceano com alta pressão subtropical, que provoca uma corrente oceânica conhecida no meio científico como corrente central do Norte Pacífico ou “giro” subtropical. Este lento rodamoinho e a uniformidade climática da região permitem o acúmulo de enormes quantidades de resíduos provenientes de qualquer ponto do círculo norte do Oceano Pacífico. 5 DDT, PCBs e nonofenóis. 4 29 “pellets”6 de plástico acumulam até um milhão de vezes o nível dessas substâncias encontradas na água. Nessa área, a proporção de plástico encontrada é seis vezes maior do que a de plâncton7 (Figura 4). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 5 – “Pellets” fotodegradados. Figura 6 – Redes de pesca e entulhos ameaçam diversas espécies. Figura 4 – Mergulhadores recolhem 60 toneladas de entulhos em ilhas hawaianas. Os fragmentos de plásticos dispersos na região de Gyro, fruto de objetos consumidos, utilizados ou não, são os “insumos” transformados inadequadamente. em resíduos Representam a e própria descartados sociedade industrial: os “fragmentos do desperdício” da cultura material (Figura 7). 6 MATO, 2001:318-324. “Pellets” (plastic pellets; nurdle) são pequenos grânulos de plásticos pré-produzidos, a forma manufaturada pela qual os plásticos são transportados para manufatura final. 7 Os artigos Synthetic Sea: Plastic in the Ocean; Get Plastic Out Of Your Diet; Is Biodegradable Plastic an Oxymoron Just as Recyclable Plastic?; e Plastic Resin Pellets as a Transport Medium for Toxic Chemicals in the Marine Environment; How Green are Plastics? abordam respectivamente impactos ambientais e partículas de plástico dispersas na região de Gyro; o plástico ingerido pelo homem através de recipientes plásticos; biodegradabilidade e reciclagem dos plásticos; plásticos como transporte de substâncias tóxicas no ambiente aquático e uma crítica sobre a biodegradabilidade dos plásticos. Figura 7 – Crianças recolhem resíduos em Porto de Manila, Filipinas. 30 Matéria-prima, energia, mão-de-obra e transporte. Concepção e projeto para produção. Necessidade ou desejo de consumo. Os objetos fazem parte de nossas vidas e são dispersos não apenas na região de “Gyro”, mas em todas as etapas do ciclo de vida do produto. Objetos e fragmentos, Figura 8 – Tartaruga marinha compostos não apenas por plásticos, mas por inúmeros tem seu membro arrancado por resíduos descartados em seu materiais, são dispersos e descartados em grandes habitat. quantidades no meio ambiente durante o processamento, o transporte, o uso e o seu acondicionamento. Desconfortável consumismo do conforto Conforto é uma noção moderna que surge após a Revolução Industrial. Derivada das palavras confort (em inglês), confort (francês), e confortare (com-fortis, latim), PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA significa “força”, derivando “alívio de dor e fadiga”. A utilização foi ampliada, significando “apoio”, e hoje determina certa “quantidade de satisfação”. Passa a significar “tolerável”, “suficiente”,8 e o refinamento da linguagem é uma tentativa de suprir uma necessidade específica. Na Idade Média, por exemplo, a idéia de conforto, lar e família não existiam. Os pobres moravam muito mal, em cômodos muito pequenos. Os moradores das cidades, no entanto, usufruíam a prosperidade medieval. O burguês não vivia em um castelo fortificado, em um mosteiro, ou em um casebre: vivia em uma casa. A casa, para o burguês do séc. XIV, era a casa e também o local de trabalho. Eram pouco mobiliadas e, geralmente, tinham um só grande cômodo para habitar. Lá se fazia tudo. Móveis medievais eram dobráveis e portáteis. Na Idade Média havia grandeza, mas não havia conforto, ou melhor, não havia a noção de conforto objetiva e consciente, e, assim, não se sentia falta dele. Segundo MALDONADO, o primeiro registro desta noção como “comodidade doméstica” é do século XVIII.9 8 9 MALDONADO, 1998:248-256. RYBCZYNSKI, 2002:35. 31 A retribuição do trabalho em dinheiro permite a um indivíduo a aquisição de produtos que satisfaçam suas necessidades pessoais. Legitima-se a importância social e cultural dos artefatos em uma sociedade de consumo e sua respectiva inserção na vida moderna. Muitas das necessidades do homem são satisfeitas pelo uso de objetos, mas nem todas. A idéia de qualidade de vida não pode ser aplicada da mesma forma em contextos muito diversos. Onde a sobrevivência é prioridade, conforto tende à transformação da realidade, suprindo as necessidades relacionadas à fome, violência e doença. No entanto, em outros contextos, a noção de conforto pode abranger tranqüilidade e humanidade. O processo de modernização contribui quantitativa e qualitativamente para o aumento de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA serviços que produzem conforto. A noção de conforto está diretamente ligada à idéia de suprimento de necessidades10, que são resultantes da sensação de uma deficiência que se quer sanar, podendo ser múltiplas e variadas11. controle social. Também está relacionada ao Restaura física e psicologicamente as energias consumidas no ambiente externo e hostil, como uma função compensatória. Enfatiza o senso de prazer da vida privada. Conforto é o estilo de vida, o novo modelo de vida proposto pela burguesia, fundamentado em objetos e materialidade. Representa12 modelos artificiais de perfeição e bem-estar, através dos quais se adquire também a idéia contida no objeto: adquire-se o significado representado e não somente o artefato físico. A idéia, não palpável, não pode ser efetivamente apropriada, somente o objeto físico pode sê-lo. Esta representação integrada à sociedade moderna expressa um “pertencimento” (identidade) e instrumento de socialização, seja através do vestuário, de automóveis ou de objetos de decoração, e nos leva a pensar 10 MALDONADO, 1998:248-256. LÖBACH, 2001: 26. 12 MALDONADO, 1998:248-256. 11 32 em que medida um artefato “conforta” de fato, se o que é adquirido “representa” uma idéia não “palpável” ou “apropriável”. É nos diferenciais simbólicos inseridos no objeto que a competitividade hoje se fundamenta. Através do consumo, busca-se a satisfação de desejos não saciados, partindo-se de um objeto a outro. Soma-se a isso uma estratégia do industrialismo, a obsolescência planejada13, em que a vida útil de um produto é planejada: o objeto é reposto em determinado espaço de tempo, resultando em novo consumo, que substitui o artefato anterior, então considerado obsoleto, ainda que haja condições técnicas para que o produto “sobreviva” por mais tempo. Com o desenvolvimento dos plásticos, matéria-prima PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA mais barata, os artefatos tornaram-se acessíveis a todas as camadas da sociedade. Mobiliários, vestuário e objetos diversos deixaram de ser um “sonho de consumo”. Na indústria têxtil, por exemplo, fibras sintéticas substituíram as naturais, como algodão, linho, cânhamo e seda. A ideologia do conforto, com objetos “úteis” e de “tecnologia”, configuram comportamentos e articulam a vida, na tentativa de justificar o modelo material da cultura doméstica14. O conforto representa e legitima as diferenças econômicas e sociais, “aculturando” e transferindo valores de cima para baixo. “Apenas 1,7 bilhão dos atuais 6,3 bilhões de pessoas que habitam o planeta têm hoje condições de consumir além das necessidades básicas. Ainda assim, a demanda por matéria-prima e energia cresce, precipitando o mundo na direção de um impasse civilizatório: ou a sociedade de consumo enfrenta o desafio da sustentabilidade ou teremos cada vez menos água doce e limpa, menos florestas, menos solos férteis, menos espaço para a monumental produção de lixo e outros efeitos colaterais desse modelo suicida de desenvolvimento”. (TRIGUEIRO, 2005:22). Assim, percebemos a gravidade na qual se encontra o modelo atual de desenvolvimento cujo consumo de objetos 13 14 QUEIROZ, 2003: 27. MALDONADO, 1998:252. 33 está diretamente relacionado à sociedade industrial, gerando impactos e ameaçando o meio ambiente, a fonte de obtenção dos próprios recursos para a produção desses bens materiais. O consumo de objetos é o próprio sentido da sociedade industrial calcada da produção em escala de bens de produção e na manutenção da produtividade. Arqueologia do Lixo Em reportagem ao jornal de Goiânia “O Popular”,15 de 12 de agosto de 2002, o jornalista Almiro Marcos apresentou as dificuldades da prefeitura local em recolher os resíduos de fibra de coco acumulados, resultantes do aumento do consumo de água de coco nos últimos anos. A fibra de coco, embora seja uma matéria biodegradável, leva em média PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA doze anos para se decompor, tornando-se uma questão séria se considerarmos que sete milhões de cocos são consumidos por ano em Goiânia. Peso e volume são descartados, aumentando a demanda por aterros sanitários, ações preventivas contra o Aedes aegypti, o mosquito da dengue, e provocando inundações. No Rio de Janeiro são descartadas cerca de 400t/dia de coco. Iniciativas para o aproveitamento dessa fibra já existem16, mas a ineficiência da coleta no Rio de Janeiro obriga os produtores a importar a fibra da Bahia. Phillipe Mayer, através do Projeto Coco Verde, transforma a fibra de coco em produtos voltados para o paisagismo, substituindo assim o xaxim, cuja extração e comercialização foram proibidas desde 2001.17 A decomposição da matéria orgânica depende das condições de exposição às bactérias responsáveis por sua digestão. A forma pela qual os resíduos são descartados influi diretamente no tempo de sua decomposição. Pesquisadores realizam, através da chamada “Arqueologia 15 MARCOS, 2002:3. GHAVAMI, 1995. O autor é um dos pioneiros no uso de fibra de coco na construção civil. 17 PROJETO COCO VERDE; TRIGUEIRO,2005:60-63; e entrevista concedida à Rádio CBN em 29nov2003. 16 34 do lixo”, a análise do tempo de decomposição do lixo, a partir de amostras retiradas de enormes buracos abertos em lixões.18 O aproveitamento de resíduos mostra-se como uma alternativa para aliviar a sobrecarga nos aterros sanitários e, simultaneamente, motiva pesquisas de tecnologias para o desenvolvimento de produtos sustentáveis de Arquitetura & PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Design19. 18 Idem. Nos EUA, os pesquisadores puderam ler com facilidade as páginas de jornal, intactas por quase 50 anos, sob as camadas de plásticos onde não há água e luz, encontradas durante prospecções. 19 A aplicação de fibras naturais como matéria-prima tem sido realizada em substituição às antigas telhas de amianto, cancerígenas e proibidas por legislação. Indústrias automobilísticas fazem uso da fibra de coco em seus produtos. 35 1.2. Conhecimentos em extinção “(...) como formas expressivas da cultura de um povo e elementos de sistemas de comunicação, o sistema de objetos e as artes são produtos de uma história: remetemse às tradições identificadas pelo grupo como suas marcas distintivas, específicas de sua identidade; falam dos modos de viver e de pensar compartilhados no momento da confecção do produto material ou artístico ou da vivência da dramaturgia dos rituais, indicando uma situação no presente; em suas inovações, no esmero de sua produção e no uso que dela faz, indicam as relações entre o indivíduo e o patrimônio cultural do grupo a que pertence e apontam para canais de comunicação com o exterior e para projetos futuros”. (VIDAL e SILVA, 1995:371) Interações entre biodiversidade e conhecimentos tradicionais A devastação causada a partir da colonização PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA européia e posteriormente em decorrência da exploração predatória dos ciclos econômicos, de atividades agropastoris e pólos silviculturais, da industrialização, urbanização e extração madeireira, deixa marcas no bioma20 e ameaça as comunidades tradicionais que dele subsistem. Oitocentos anos serão necessários para finalizar a contabilidade de toda a biodiversidade brasileira21 e considerando-se o ritmo de devastação e de identificação de espécies atuais, muitas já estarão extintas. A destruição é mais veloz que a reposição natural das espécies e, mesmo com a existência de algumas unidades de conservação, muitos dos ecossistemas estão fragmentados devido ao desmatamento, afetando a capacidade de manter a biodiversidade e o fornecimento de recursos. Desde 2000, seis milhões de hectares de florestas primárias foram destruídos a cada ano, principalmente pela conversão de áreas para a agricultura22. 20 SOS Mata Atlântica LEWINSOHN, Thomas. Avaliação do conhecimento da biodiversidade brasileira.Apud AZEVEDO, 2006:32. Jornal O Globo, 22 mar.2006. 22 A introdução de espécies exóticas em ecossistemas devido à intensificação do comércio causa verdadeiro desequilíbrio nas regiões em que chegam. Sem os predadores naturais e com presas em abundância, proliferam. O desaparecimento de espécies também é causado pela 21 36 Da Mata Atlântica nativa restam hoje apenas 7,3% da área original, superior a 1,3 milhão de km², onde vivem setenta por cento da população brasileira. A Mata Atlântica protege e regula os mananciais hídricos, controla o clima, preserva o patrimônio histórico e comunidades, e abriga a maior biodiversidade do planeta. Nela habitam diversas comunidades indígenas, caiçaras, ribeirinhas e quilombolas, que constituem a genuína identidade cultural do Brasil e que Figura 9 – Índia guarani confecciona artefato utilizando fibras naturais e anilina industrializada. sempre empregaram sistemas de apropriação de recursos naturais de baixo impacto ambiental, incorporados aos seus modos de vida. Para as comunidades tradicionais, a extinção ou perda do controle sobre esses conhecimentos significa a própria extinção de sua sociedade (Figuras 9, 10 e 11). A PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA quilombola, por exemplo, vive da cultura de subsistência, segue a sazonalidade agrícola ou extrativista, e apresenta Figura 10 – A anilina industrializada substitui pigmentos naturais para o tingimento de fibras. formas de uso e ocupação da terra baseadas em laços de parentesco e vizinhança, em que o uso comum é predominante. Os povos indígenas, por sua vez, possuem grande riqueza de conhecimentos relativos à natureza, sobre o modo como os aspectos do universo se interrelacionam e que são parte do “patrimônio herdado e compartilhado pela comunidade”.23 Para Leroi-Gourhan, a memória étnica é o conjunto de “conhecimentos práticos, técnicos, do saber profissional, e a conservação desses segredos atua nas células sociais da etnia”, enquanto a “memória técnica” é a do fazer, ou seja, técnicas passadas de pai para filho.24 Segundo Castro, nas sociedades indígenas, a relação entre o homem e a natureza é de reciprocidade, entre sujeitos, em que o saber técnico está imerso em um saber simbólico, enquanto para a consangüinidade e a incapacidade de locomoção por campos abertos e fragmentados. 23 CASTRO, 1995: 116-117. 24 LEROI-GOURHAN, apud LE GOFF,1986:14-16. Segundo LE GOFF, a memória coletiva nas sociedades sem escrita talvez tenha surgido pela vontade de manter viva uma memória mais criativa que repetitiva, da transmissão de conhecimentos “secretos”. Este autor ao referir-se à memória étnica, utiliza o termo à memória coletiva dos povos Figura 11 – O tingimento das fibras é realizado no quintal da casa. 37 modernidade ocidental, a produção de bens subordina a matéria aos propósitos humanos. As sociedades indígenas do Brasil, segundo RIBEIRO, representariam a “civilização da palha”, que possui múltiplas formas e técnicas de entrançamento, a mais diversificada das categorias artesanais indígenas.25 RIBEIRO26 aponta que a escassez de matérias-primas e a venda de objetos rituais podem interferir no sistema interno de significação dos objetos na “sociedade da palha”.27 Esse conjunto de conhecimentos tradicionais está sendo ameaçado sob vários aspectos: o conhecimento científico e tecnológico se sobrepõe ao conhecimento tradicional em vez de trabalhar em parcerias; a biopirataria, nociva sob o ponto de vista ambiental, ético e econômico;28 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA e a própria extinção das populações tradicionais, que impede a perpetuação e a transmissão do conhecimento através das gerações. Hidalgo-Lópes mostra-nos como tecnologias tradicionais simples operam em larga escala, quando exemplifica as construções de andaimes com até setenta e cinco pisos, confeccionados por meio de amarrações de bambus. Essa tecnologia, passada de pai para filho, é parte integrante da cultura e da economia chinesa.29 Os conhecimentos tradicionais, por vezes ameaçados pelas severas alterações dos ecossistemas, pela perda da biodiversidade e pelos sistemas de produção industrial podem mesclar-se e incorporar características de sem escrita, enquanto Leroi-Gourhan aplica o termo a todas as sociedades humanas. 25 VIDAL e SILVA, 1995:391 e RIBEIRO, A Itália e o Brasil Indígena, 15p. 26 RIBEIRO, O artesão tradicional e seu papel na sociedade contemporânea, 23-24p. 27 VELTHEM, Lúcia van, 1992:391. Os cestos cargueiros expressam a organização social entre os munduruku, enquanto para os wayanas, tecer é uma maneira de contar histórias e de pensar o sentido da vida. 28 Fonte: http://www.clickarvore.com.br/?page=conteudo&sec=etno Acesso em 30nov2005. 29 HIDALGO-LÓPES, 2003:292-293. Ver também em Anexos, entrevista em que o autor relata sua experiência na Ásia, onde viveu por dezoito anos. 38 tecnologias externas, o que ocorre geralmente em função de maior rentabilidade. Etnobiologia e sustentabilidade Etnobiologia30 é o estudo dos conhecimentos e conceituações desenvolvidas por qualquer sociedade a respeito da biologia, do papel da natureza sobre os sistemas de crenças e adaptações do homem a determinados ambientes, das inter-relações nas diferentes culturas entre os mundos compreensão natural, simbólico cultural etnoconhecimento entre engloba a e social. culturas sabedoria Busca distintas. popular, a O o conhecimento adquirido sobre o ritmo da natureza, o ciclo de reprodução dos animais, o uso de plantas medicinais e o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA manejo de determinadas espécies da fauna e flora para uso na habitação e alimentação. No Brasil, etnoconhecimento está enraizado em toda a sociedade, relacionado com a própria formação do povo brasileiro, em que quilombolas, caiçaras e indígenas são alguns dos expressivos detentores de conhecimentos sobre os recursos naturais.31 A etnobiologia é um instrumento de mediação, compreensão e respeito entre diferentes culturas.32 O uso sustentável dos recursos naturais, assim como a preservação dos conhecimentos tradicionais e locais, são a forma de garantir a qualidade ambiental e preservar a biodiversidade. Deste modo, faz-se necessário conhecer melhor as inter-relações entre a biodiversidade e a diversidade cultural brasileira. Segundo RIBEIRO, a etnobiologia pode divergir da ciência ocidental, já que na etnobiologia algumas crenças demonstram seu papel como mecanismos sociais para o consumo de alimentos ou para a manutenção do equilíbrio ecológico.33 O pensamento indígena 30 também diverge do pensamento científico POSEY, 1987:15-16. Fonte: http://www.clickarvore.com.br/?page=conteudo&sec=etno Acesso em 30nov2005 32 POSEY, 1987:21-24. 33 POSEY, 1987:16. 31 39 ocidental, ao perceber os ecossistemas tropicais como zonas ecológicas extremamente variadas.34 O sistema de lavoura indígena, por exemplo, interage preservando a diversidade genética, e é mais complexo do que aquele desenvolvido no ocidente.35 “O desenvolvimento agrícola do ocidente pautou-se pela eliminação da complexidade, mediante a imposição de um número limitado e controlado de monoculturas específicas, altamente rentáveis. No curso desse processo, operou-se a destruição sumária do meio ambiente local. No caso da Amazônia, se levarmos em conta o ritmo de deflorestamento, sua recuperação será irreversível”.(Meggers 1971; Denevan 1981;Myers 1981)36 A etnobotânica como ciência que estuda o conhecimento gerado pelas populações humanas a partir da sua interação com as plantas pode estabelecer bases para PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA novas alternativas de uso dos recursos genéticos.37 Segundo POSEY, o conhecimento indígena referente a produtos de coleta justifica sua inclusão em programas de desenvolvimento, mas não devem ser esquecidos os benefícios para esses grupos sociais.38 A partir da coleta de plantas obtêm-se recursos para a confecção de casas, óleos, ceras, combustível, ungüentos, ferramentas, ornamentos, perfumes, lenha, pigmentos, tinturas, gomas, resinas, fibras e produtos medicinais, e, dos insetos, obtêmse resinas, cera, mel e pólen. Os índios e caboclos classificam seu ambiente ecológico por níveis verticais (Ilustração 1), ou seja, por subdivisões dos níveis terrestre/arbóreo39, intermediário40, e 34 POSEY, 1987:17-19. POSEY, 1987:17. Os kayapó buscam instalar suas aldeias em localidades onde possam fornecer uma diversidade máxima de espécies, onde cada ecozona é um sistema integrado de interações entre plantas, animais, solos e o homem. 36 Apud. POSEY, 1987:21. 37 FUNDAÇÃO DALMO GIACOMETTI. 38 POSEY, 1987:19-20. 39 Da superfície do solo às copas das árvores, onde se encontram as tocas de animais e grandes raízes e tuberosas; comunidades vegetal/ animal associadas a zonas de raízes superficiais; árvores menores, arbustos; pássaros e mamíferos; florestas maduras com mamíferos arbóreos e grandes aves; e finalmente florestas de terra firme, onde são explorados os “produtos úteis”. 35 40 aquáticos.41 Essas subdivisões demonstram a complexidade de informações e conhecimentos sobre as relações ecológicas dos índios/ caboclos e seu meio42, e a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA distribuição dos recursos naturais. Ilustração 1 – Classificação do ambiente ecológico em níveis verticais. O curauá, Ananas lucidus, parente silvestre do abacaxi, produz fruto pequeno com pouco suco, porém com muita fibra. Suas folhas foram bastante utilizadas por essas comunidades na confecção de linhas e redes para pesca, barbantes, cordoaria e redes para dormir, devido principalmente à grande resistência de suas fibras. O curauá foi domesticado pelos índios, mas com a aculturação indígena e a incorporação das fibras sintéticas, seu cultivo foi abandonado quase chegando à extinção. FORD-LLOYD 40 São os “corredores de transição” ou “níveis sucessivos de caça”, entre os níveis terrestre/ arbóreo e os aquáticos, onde se encontram animais em movimento. 41 Do espelho d’água ao leito do rio ou lago, onde se encontram insetos, peixes, cobras d’água, enguias e arraias, répteis e plantas aquáticas. 42 POSEY, 1987:18-19. 41 & JACKSON (1986) explicam que a domesticação das plantas é o resultado da inteligência humana em conduzir o processo evolutivo dirigido ao habitat que o homem criou.43 Conhecimentos tradicionais, biopirataria e poder GRAY nos mostra que para os grupos hegemônicos, os conhecimentos e tecnologias tradicionais são instrumentos de poder e argumentação através do discurso sobre “estratégias conservacionistas” que sustentam a “assimilação controlada”, já que para as comunidades tradicionais uma identidade coesa representa um obstáculo PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA para o exercício do poder de forma plena.44 “Preocupadas com o declínio das culturas tradicionais e dos sistemas de manejo de reservas biológicas”, a estratégia proposta visa a “proteger a terra e os modelos de desenvolvimento que maximizem as habilidades das culturas tradicionais de escolherem a natureza e o ritmo de sua integração na cultura dominante”.45 Percebe-se, assim, que a estratégia proposta parte do pressuposto de que as culturas tradicionais serão integradas à cultura dominante, cabendo àquelas escolherem apenas “como”, e não a decisão de serem ou não incorporadas à cultura dominante. A sofisticação da comercialização de recursos naturais através das inovações da biotecnologia coloca as informações genéticas dos seres vivos como matéria-prima fundamental para o desenvolvimento de novos produtos, despertando grande interesse nas indústrias farmacêuticas, químicas, 43 alimentícias e agrícolas. As populações Apud FERREIRA; BUSTAMANTE. Durante o processo de domesticação, as plantas cultivadas diferentemente dos sistemas naturais tornam-se dependentes do ser humano para sua reprodução e desenvolvimento. 44 SANTOS: 1995:122. Segundo SANTOS, “a legislação não garante a inscrição dos direitos intelectuais nacionais, nem concretiza a Convenção da Biodiversidade relacionada às sociedades de ecossistemas, reproduzindo a espoliação, predação, apropriação e monopólio de recursos materiais e imateriais (conhecimento tradicional)”. 45 GRAY, 1995:120. A memória é vulnerável aos instrumentos institucionais vigentes, sujeita a manipulações, evidentes no documento “Dádiva para o Futuro”(Gift to the Future, 1990), da WRI(Instituto de Recursos Mundiais) e IUCN(União Internacional para Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais), poderosas organizações para a “defesa dos interesses dos povos da biosfera”. 42 tradicionais que detêm conhecimentos sobre os usos de recursos naturais para alimentação, combate natural de pragas, benzimentos, rituais, entre outros, aceleram a eficiência no reconhecimento das propriedades e identificação desses recursos, e representam elementos catalisadores para a rentabilidade das indústrias biotecnológicas.46 A biopirataria movimenta bilhões de dólares anualmente, e a regulamentação do acesso aos recursos genéticos(RGs) e aos conhecimentos tradicionais(CTs), encontram-se hoje nas principais pautas de discussões internacionais sobre biodiversidade e biossegurança. A 8ª Conferência das Partes (COP 8) da Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB)47, e a 3ª Reunião das Partes do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança (MOP 3), discutiram temas como a biodiversidade e organismos transgênicos, respectivamente. Dois blocos opostos formaram-se em torno das controvérsias: os países em desenvolvimento, ricos em diversidade biológica e, em alguns casos, populações tradicionais, incluindo o Brasil, e, do outro, países industrializados, com recursos financeiros e tecnológicos. As sementes “Terminator”, geradas a partir de plantas estéreis, submetem comunidades indígenas à dependência financeira do monopólio48 das grandes empresas 46 Cupuaçu, seringueira, açaí, e outros, são alguns exemplos de recursos patenteados por outros países. Ainda no fim do século XIX, sementes da seringueira foram contrabandeadas por ingleses para o Sudeste Asiático, região onde estão hoje os maiores produtores mundiais. Fontes: http://www.amazonlink.org/biopirataria/index.htm Acesso em 2abr2006. 47 A COP 8 e a MOP 3 integram a Convenção sobre Diversidade Biológica da Organização das Nações Unidas, um acordo global que segue três eixos: a conservação da biodiversidade; seu uso sustentável; e a repartição justa e eqüitativa dos benefícios resultantes do acesso aos recursos genéticos e conhecimentos tradicionais. 48 Entrevista do representante indígena Lorenzo Muellas Hurtado ao ISA. As sementes desenvolvidas por milhares de anos de inovações e experiências por comunidades indígenas são a fonte de subsistência e elo com o mundo espiritual. Fonte: http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2214 27mar2006 Acesso em 43 multinacionais de transgênicos 49 e à perda de um valor simbólico de fundamental importância à sua existência.50 Assim, o que é percebido no plano internacional são dois extremos: uma lenta tentativa de promover a repartição justa e eqüitativa dos benefícios gerados pelo acesso a recursos genéticos e aos conhecimentos tradicionais51, a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA permanência da tendência à biopirataria. 49 Cerca de cinco mil argentinos estão sofrendo com doenças causadas pela contaminação do glifosato, herbicida utilizado no cultivo da soja transgênica Roundup Ready. Em um único bairro rural de Córdoba há mais de 300 casos de câncer. Além de doentes, os moradores estão 49 perdendo suas terras.” (Sofia Gatica, apud Bruno Weis) 50 No Paraguai, a plantação de soja transgênica cresce 250 mil hectares por ano, obrigando 90 mil pequenos agricultores paraguaios a se retirarem de suas casas e a se mudarem para favelas em cidades maiores para dar lugar à soja transgênica. ISA, Bruno Weis. Fonte: http://www.socioambiental.org/nsa/detalhe?id=2207. Acesso em 27mar2006 51 referência. Segundo Daniel Munduruku, diretor-presidente da Inbrapi, as discussões envolvem conceitos e paradigmas mentais que não fazem parte do universo epistemológico, nem das relações indígenas com a natureza e dentro do próprio grupo. Para um povo indígena, “propriedade”, “bioprospecção”, “patentes”, “marcas”, “direitos conexos” não pertencem às suas relações e, assim, estão fora das mentes dos 44 1.2.1. Quando o natural é mito Padrões comerciais e impactos percebidos Encontramos o aproveitamento de fibras naturais na confecção de artefatos das mais diversas civilizações, em diversos momentos e pontos geográficos. Inicialmente usadas para atender a necessidades de uso, passaram a atender a interesses de intercâmbio comercial. Os impactos socioeconômicos e ambientais acompanharam, e ainda acompanham, o aproveitamento das fibras naturais, muitas vezes percebidos após a implementação da tecnologia, ou sequer percebidos pela falta de instrumentos e conhecimentos para identificá-los. À medida que os PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA interesses comerciais se transformam, com fibras substituindo outras e mercados sobrepondo-se a outros, os padrões de identificação, classificação e qualidade moldamse, adaptando-se em função de novos critérios. A partir da Revolução Industrial, as fibras de algodão substituem a lã e o linho, alcançando lugar de destaque até a primeira década do século XX, quando então cedem espaço ao avanço de fibras artificiais e sintéticas52. As fibras de algodão, naturais e próprias para fiação, são obtidas a partir dos pêlos53 que crescem nos grãos das sementes e são utilizadas como fibras têxteis há mais de sete mil anos.54 A maioria das espécies primitivas de algodão 55 apresenta fibras coloridas , principalmente na tonalidade marrom. Como os algodões coloridos têm genes dominantes, se não houvesse interferência humana, todos os algodões seriam coloridos.56 O algodão nativo era cultivado pelos povos do Rio Grande, no Novo México, até o detentores do saber. Cristiane Fontes. Fonte: http://www.socioambiental.org/esp/tradibio/ Acesso em 02abr2006. 52 WYROBISZ, 1986:57. 53 ERHART [e outros], 1975-1976:12, vol.2. 54 ARAÚJO, e MELO E CASTRO, 1986:48-49, vol.1. 55 O algodão colorido já era conhecido pelos incas em 4.500 AC, bem como por outros povos antigos das Américas, África e Austrália. 56 Ver Anexo 5.2: e-mail Napoleão Beltrão. 45 centro do Chile.57 No entanto, sua utilização limitava-se ao artesanato por apresentar fibras fracas e pouco uniformes. O algodão atende a quase 45% do vestuário da humanidade, aproximadamente vinte e um milhões de toneladas, com cerca de 34 milhões de hectares plantados anualmente.58 Hoje comprometido com a mecanização, o cultivo do algodão incorpora técnicas que atendem à explosão do consumo e ao maior rendimento possível. A monocultura especializada e intensiva59, fragilizada pelo esgotamento do solo e pela pouca diversidade de espécies, utiliza cada vez mais quantidades cada vez maiores de substâncias tóxicas, com o objetivo de rentabilidade. São utilizadas grandes quantidades de agrotóxicos60 durante o cultivo, produtos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA químicos no “desfolhamento” da planta para coleta da fibra e grandes quantidades de substâncias tóxicas no processo de beneficiamento dos tecidos, ou seja, durante o alvejamento, tingimento e estamparia. A cotonicultura está entre as culturas ambientalmente mais devastadoras61, o que tem provocado o enrijecimento das legislações, pressionando indústrias a substituírem seus processos convencionais de produção por processos ambientalmente favoráveis, incorporando, por exemplo, tratamento de efluentes. Além disso, os altos custos de produção a tornaram restrita a empresários profissionais e altamente técnicos com capacidade financeira para investir, expressando-se como instrumento de poder e manipulação.62 57 SAUER, 1987:82. Ver Anexo 5.2: e-mail Napoleão Beltrão. 59 HAUSSMANN, 1987:101-103. 60 Suscetível a treze pragas, o algodão sofre seleção sofisticada de espécies para atender aos padrões comerciais rígidos, necessitando agrotóxicos cada vez mais fortes, e tornando a cultura mais frágil e dispendiosa. 61 LIMA, 1995: 3. 62 FREIRE, Galeria de Inventores Brasileiros. 58 46 No Brasil 63 a monocultura do sisal (Agave sisalana) 64 não é uma atividade agrícola sustentável65 no semi-árido, e sua cultura deve ser consorciada com outros cultivos. Além disso, o emprego de trabalho infantil, o alto índice de acidentes, ocasionando membros mutilados devido à rusticidade das ferramentas de corte, a máquinas de desfibramento e à fadiga dos operários são comuns neste universo (Figuras 12 e 13). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 12 – O emprego de trabalho infantil é comum na monocultura de sisal. Figura 13 - Inúmeros acidentes são provocados pela máquina de desfibramento “periquita”. 63 Atualmente o Brasil é o maior produtor da fibra contribuindo com 44% da produção mundial de sisal. 64 ERHART [e outros], 1975-1976:36-37, vol.2. As fibras obtidas a partir das folhas são resistentes, permitindo desenvolver produtos confeccionados anteriormente a partir do cânhamo. 65 O manejo adequado do sisal poderia evitar 40% de perdas na produtividade da planta, já que a doença Bothrioplodia ( “apodrecimento do caule”) pode ser disseminada através de facas contaminadas. 47 A Embrapa implantou diversos projetos de inclusão66 social, através da realização do diagnóstico socioeconômico das comunidades, restabelecendo a cadeia produtiva do sisal em sua plenitude, com nova concepção de cultivo67, com o uso da mucilagem de sisal peneirada na alimentação de caprinos, ovinos e bovinos. A utilização de fibras naturais como matéria-prima para os mais diversos segmentos, seja em maior ou menor escala, não tem relação direta com sustentabilidade. As fibras naturais, embora sejam matérias-primas renováveis, demandam investigação como qualquer outra matéria-prima, em todas as etapas de produção do objeto confeccionado. Problema de saúde pública PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Uma fibra que tem sido considerada problema de saúde publica é o amianto, também conhecida como asbesto68, fibra mineral natural sedosa que provém de rochas com estrutura fibrosa e com múltiplos usos na indústria (Figura 14). Suas propriedades69 tornaram-no matéria-prima de grande importância a partir da Revolução Industrial, utilizada então em máquinas a vapor. Conhecido e utilizado desde a Antigüidade como reforço de utensílios cerâmicos, é usado atualmente70 na fabricação de telhas, caixas d'água, guarnições de freios (lonas e pastilhas) e revestimentos de discos de embreagem, vestimentas especiais, materiais plásticos reforçados, termoplásticos, massas, tintas e pisos vinílicos. 66 A confecção de peças artesanais diversas agregou valor e renda aos produtos de sisal, gerando empregos, organização em relação aos aspectos das relações humanas, e promovendo a comercialização dos produtos. Máquinas de desfibramento automático foram idealizadas e estão sendo implantadas em algumas regiões. 67 Sistemas de consórcio com culturas alimentares e forrageiras, agregadas à pecuária local. 68 Amianthus, palavra de origem latina que significa sem mácula ou incorruptível, e Asbestos, de origem grega, significa incombustível. 69 É resistente ao fogo, a produtos químicos, a microorganismos, mecânica, ao desgaste e à abrasão, durável e flexível, com boa capacidade de filtragem e isolação elétrica e acústica, e com boa afinidade com outros materiais. 70 ABREA. História do Amianto. Cerca de 90% do seu uso encontra-se na indústria de cimento-amianto ou fibrocimento, 5 a 8% em Figura 14 – Fibras de amianto ao microscópio eletrônico. 48 A poeira do amianto provoca inúmeras doenças71 e ele permanece disperso no ar, contaminando ambientes internos e externos, atingindo o meio ambiente devido principalmente ao difícil descarte e destruição inviável através das tecnologias conhecidas atualmente. Os problemas sociais gerados pelas doenças provocadas pela exposição ao amianto já são percebidos, mas possivelmente outros serão conhecidos no futuro72. O Brasil defende o “uso controlado” do amianto crisotila, mas, segundo relatório realizado pelo INSERM (Instituto Nacional de Saúde e Pesquisa Médica), órgão governamental francês, “não há diferentes nocividades do amianto”, e “sob todas as formas e tipos o amianto é cancerígeno”.73 O amianto, proibido nos países de origem das empresas, é fornecido pelos países do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA terceiro mundo74, seguindo a “política do duplo-padrão”.75 Segundo Fernanda GIANNASI, fundadora da ABREA, o amianto tem sido substituído, conforme a disponibilidade de matérias-primas no mercado e em função de suas aplicações,76 mas como ainda restam minerações clandestinas de amianto anfibólio não fiscalizadas pelo DNPM, não é possível garantir a inexistência de contaminações. Cabe ressaltar que a substituição do amianto por outras matérias-primas deve ser vista com cautela para que não se reproduza o mesmo sistema, com impactos materiais de fricção (autopeças), 3% em indústrias têxteis e menos de 2% em químicas/plásticas, já tendo sido utilizado em brinquedos e giz escolar. 71 ABREA. Amianto ou asbesto. Obstrução da capacidade respiratória, cânceres gastrointestinais, asbestose (doença crônica pulmonar de origem ocupacional) e mesotelioma (tumor maligno raro, que pode atingir tanto a pleura como o peritônio, e tem um período de latência em torno de 30 anos). 72 A alta rotatividade de funcionários é uma estratégia empresarial, e apenas um dos reflexos do grande período de latência dessas doenças. GIA - Grupo Interinstitucional do Asbesto nas indústrias de fibrocimento do Estado de São Paulo. 73 ABREA. História do Amianto. 74 O Brasil possui a maior mina de amianto da América Latina (Minaçu -GO), e está entre os cinco maiores produtores de amianto do mundo, com produção média de 200.000 toneladas/ano. 75 ABREA. Amianto ou asbesto. Double-standard: a produção e comercialização de produtos proibidos nos países desenvolvidos são liberadas para os países em desenvolvimento. 76 Ver Anexo 5.3: “substitutos para o amianto”. 49 percebidos apenas futuramente, substituindo-se um material “indestrutível” por outro “que não se destrua”.77 Bioplásticos, biodegradáveis e nanofibras Soja, milho e palha de milho, bagaço de cana e bambu são hoje aproveitados como matéria-prima para plásticos, biodegradáveis ou não, em fibras têxteis e nanofibras. As novas tecnologias que as empregam como matérias-primas renováveis estão ainda envoltas em incertezas, tais como a destinação dos resíduos gerados, impactos produzidos durante o processamento, e se adotam parâmetros sustentáveis. Os materiais produzidos pela nanotecnologia estão entre os que geram maior polêmica, tanto pelos processos quanto pelo descarte de seus resíduos. Com as PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA novas tecnologias, novos sistemas são elaborados, alguns ainda pouco conhecidos. O PLA (ácido poliláctico)78, derivado da dextrose do milho; o PHA (polyhydroxyalkanoato)79 e o PHB (polímero biodegradável e biocompatível), derivados da cana-deaçúcar; e o PEBD80 (plástico comum com aditivo) são apenas alguns exemplos do que vem sendo desenvolvido, não apenas no setor têxtil, mas também em diversos segmentos. Embora obtidos a partir de fontes renováveis, e alguns com propriedades biodegradáveis, os bioplásticos podem emitir gases metano e dióxido de carbono em sua síntese e utilizar grandes quantidades de combustíveis fósseis. 77 ABREA. “Entre as causas da invisibilidade do amianto estão”. O PLA, biodegradável, utiliza bactérias que extraem da dextrose do milho, o ácido poliláctico. Este processo consome mais energia e emite maior quantidade de gases do que a produção de plásticos petroquímicos. 79 O PHA utiliza a bacteria Ralstonia eutropha que converte o açúcar da cana-de-açúcar em grânulos de plástico. Requer uma etapa química para síntese do plástico, e é mais custoso que o os plásticos convencionais, necessitando 300% mais energia do que a produção de PE. Pode ser obtido a partir da síntese do plástico durante o crescimento da cana-de-açúcar, produzindo plástico diretamente na planta e eliminando o processo de fermentação. 80 REVISTA PLÁSTICO INDUSTRIAL. Japoneses produzem CDs a partir do milho. Com o aditivo acrescentado na fase de pré-mistura (na extrusora) do processo do PEBD, o polietileno de baixa densidade tornase mais suscetível ao ataque dos microorganismos responsáveis por sua degradação. 78 50 GOETTLICH levanta a questão segundo a qual os plásticos biodegradáveis estimulam o consumismo, não havendo, em contrapartida, a devida atenção a questões relacionadas à sustentabilidade. Por serem utilizadas espécies geneticamente modificadas, e por serem monoculturas, são utilizadas maiores quantidades de pesticidas do que nas plantações convencionais. Além disso, as extensas áreas em que são cultivadas carecem de diversidade de espécies, há redução na produção, desarticulação dos pequenos produtores81, o que deixa a “biodegradabilidade apenas como um admirável conceito”. Segundo GERNGROSS e SLATER, o PLA é o único bioplástico com aparente potencial competitivo: 80% de cada kg de açúcar são transformados em produto plástico. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Apontam que a transformação da fonte de energia para biomassa, e não a utilização de plantas na transformação de plásticos, seria o primeiro benefício desse processo: a queima de biomassa compensaria a energia adicional necessária. Segundo os teóricos, as emissões seriam absorvidas pelo plantio na estação seguinte. No entanto, seria necessária a construção de nova infra-estrutura para geração de energia. No Brasil, a Biocycle produz o PHB82, que é obtido a partir da síntese da cana-de-açúcar, extração e purificação do polímero com solventes naturais. A nanotecnologia tem avançado no aproveitamento de fibras em diversos segmentos, tais como o têxtil, da indústria de papel e de construção. Nos EUA, a indústria de papel tem realizado modificações genéticas do pinho de loblolly, matéria-prima da polpa celulósica83. Embora essa “programação” das células não seja transferida às gerações seguintes da planta, há dúvidas sobre questões de 81 GOETTLICH, 2003. Segundo GAZZONI, a solução integrada do processo torna este processo competitivo: cada 3 quilos de açúcar produz cerca de 1 quilo de plástico. A biomassa obtida a partir do bagaço de cana fornece a energia necessária para o processo. 83 O DNA sintético é injetado em células vivas (estas são atiradas contra as nanofibras de carbono com o DNA, que é injetado nas células durante o processo). 82 51 biossegurança.84 Estudos demonstraram que as nanofibras de carbono possuem formas similares às fibras de amianto e provocam inflamações nos pulmões mais severas que as da silicose. Percebemos, assim, que a nova tecnologia está envolta por incertezas e ainda não garantem segurança ambiental, saúde ou sustentabilidade. A sustentabilidade desses processos deve estar integrada em todo o seu ciclo, seja nos benefícios sociais,85 na geração de compensações para absorção de gases emitidos quando necessário; e ao evitar a competição entre áreas de produção de plásticos e produção de alimentos. As tecnologias devem ser investigadas antes de incorporadas e implementadas, verificando-se detalhadamente as interações, as novas ameaças à saúde dos indivíduos e às diversas espécies, e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA ao sistema de forma integral. 84 Questões como a ingestão das nanofibras como alimento, impactos ambientais caso penetrem em células de outros organismos expressando-se como proteínas, seu descarte e decomposição no solo, e sua utilização como instrumento de dependência e manipulação econômica. 85 GERNGROSS e SLATER, 2000. 52 1.3. Arquitetura & Design e suas relações com a questão ambiental Arquitetura & Design estão comprometidos com a concepção e o planejamento de objetos, produção em escala nas sociedades industriais, demanda do mercado e com a capacidade produtiva do estabelecimento industrial86. Desta forma, o produto, fruto do projeto87 de um plano padronizado que determina diversos processos da mesma natureza, submete-se ao cumprimento88 de metas de produtividade predeterminadas pela dimensão da infraestrutura desse sistema. Caso não haja escoamento da produção, a resultante será um sistema ocioso. Ironicamente, seguindo a logística dos modelos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA produtivos atuais, percebemos que, naqueles mais “enxutos”, nos quais “praticamente não há perdas, pois tudo é aproveitamento”, as perdas reaproveitadas são o aproveitamento de um desperdício planejado. Sabe-se que, na indústria têxtil, por exemplo, as ourelas de tecidos produzidos na tecelagem são previsíveis e geradas pelo próprio equipamento construído inadequadamente. O “desperdício”89 incorporado ao processo – cujo significado original da palavra é “fios, que não servindo para tecelagem, se empregam na limpeza de máquinas; estopa” – demonstra sua relação com o destino previsível. O desperdício ocorre no processo de fiação, de estamparia, tingimento ou de confecção, e os prejuízos são embutidos no preço final para o consumidor. Ainda que a comercialização venha a cobrir os custos, não há dúvida de que neles estão embutidos todos os insumos do processo: matérias-primas manufaturadas, mão-de-obra, transporte e energia. Assim “atendem-se” às demandas do mercado. As aparas, resíduos de uma logística cronometrada, são doadas ou comercializadas, muitas vezes alimentando novo 86 BEZERRA, 2004:Introdução. MICHAELIS, 1998:1706. 88 LÖBACH, 2001:11-40. 87 53 nicho de mercado, fundamentando um discurso sobre os benefícios sociais, promovidos a cooperativas e geração de renda para os menos privilegiados. O que não quer dizer que não seja louvável ou não gere de fato impactos profundos e positivos na realidade de inúmeros indivíduos. O que não se deve, no entanto, é perder o foco do que significam: os resíduos não são apenas aparas, são insumos de TODAS as etapas que constituem o processo e não se transformaram em produto. A obtenção de matériasprimas não renováveis é extremamente custosa para que sua utilização final seja a produção de artefatos de limpeza e estofos. As renováveis também demandam tempo para sua renovação na natureza. Além de não consumidos com o valor agregado previsto, não atenderam às supostas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA necessidades que motivaram o desenvolvimento desses artefatos. Enquanto persistir a produção desses resíduos, os caminhos sociais encontrados pelas cooperativas para a geração de renda extra serão, ainda que paliativos, uma alternativa. A produção em escala é uma necessidade, tanto para quem produz quanto para quem utiliza os artefatos. Para quem utiliza, a princípio, bastaria o necessário. A necessidade do “novo pelo novo” é artificial, criada como símbolo de “status” 90 e está, como vimos anteriormente, condicionada às demandas da burguesia e à noção de conforto. Assim, o sistema relacionado à produção em escala cria artifícios para o consumo do excedente91, ou seja, daquilo que vai além do natural, do conveniente, do necessário, estimulando e provocando uma necessidade artificial, para garantir o pleno funcionamento de sua capacidade produtiva. 89 MICHAELIS, 1998:700. LÖBACH, 2001:91-106. 91 MICHAELIS, 1998:917. Excedente: que excede ou sobeja. Diferença para mais; excesso; sobra. Exceder: Ir além de; ultrapassar(em valor, peso, extensão, talento,virtude, etc.). Ir além do que é natural, justo ou conveniente; cometer excesso. Fatigar-se até o excesso. 90 54 Uma indústria, ao se estruturar em função de certa capacidade produtiva, supostamente em função de um mercado, irá inevitavelmente investir para que suas máquinas produzam a capacidade de forma integral. Utiliza artifícios para o escoamento de seus produtos, estimulando o consumo e aplicando estratégias tais como a obsolescência planejada,92 em que o produto se torna obsoleto artificialmente, embora ainda possa exercer suas funções. O que foi consumido a partir de uma necessidade artificial, ou seja, consumido desnecessariamente, é então percebido como inútil e, como tal, descartado. Agora, ao analisarmos o conteúdo das partículas de polímeros encontradas no plâncton da região de Gyro, os PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA resíduos descartados conhecimentos anteriormente, em aterros tradicionais podemos em perceber sanitários extinção o e os citados significado das toneladas de matéria descartadas e suas relações com Arquitetura & Design. TODOS os insumos estão contidos e outros ainda serão disponibilizados, com o objetivo de evitar novos impactos e reverter os que já se instalaram. Arquitetura & Design, comprometidos com os modelos produtivos apresentados, articulam-se com diversas disciplinas durante a concepção, na seleção de matériasprimas, na obtenção e disseminação de informações, perpetuando o próprio sistema. Utilizam-se também de conhecimentos tradicionais encontrados na arquitetura nômade e de artefatos de sociedades tradicionais em diversas partes do mundo, e incorporam novos materiais, o desenvolvimento tecnológico93, interagindo com profissionais que atuam em diversas áreas da ciência e do conhecimento. As habitações nômades e a vernacular, por exemplo, estão intimamente relacionadas ao contexto socioeconômico do grupo à qual pertencem e à paisagem circundante.94 Na 92 QUEIROZ, 2003: 27, e MACZAK, 1986: 134. BAHAMÓN, 2004:7-8. 94 RIPPER & FINKIELSZTEJN, 2005:1-2. 93 55 tecnologia artesanal têxtil, a efetiva transmissão dos conhecimentos sobre a natureza, sobre a matéria e do saber técnico sofre interrupção pela extinção do idioma, por aculturação ou extinção do próprio grupo. Assim, com o avanço da industrialização e da mecanização e a conseqüente divisão do trabalho e fragmentação dos conhecimentos tradicionais, inviabiliza-se o fluxo de informações sobre a diversidade biológica, a cultura e tecnologia desses grupos, fundamentais para a compreensão e elaboração de projetos sustentáveis e que respeitem todas as etapas do “Ciclo de Vida do SistemaProduto”.95 Segundo VIDAL e SILVA, todas as etapas desse sistema são relacionando-se imprescindíveis como e aglutinante indissociáveis, na inter- elaboração de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA projetos: nascimento, vida e morte do produto. “A divisão de trabalho é uma das principais diferenças entre artesanato e trabalho mecanizado. A conexão entre estas diversas disciplinas é fundamental para que não se perca a proposta original de enriquecimento da vida humana”. (BUCHANAM, 1998:3- 4) O designer não é autônomo e não trabalha de forma isolada.96 É co-autor, ao interagir com diversos campos do conhecimento e pela visão do conjunto, podendo assumir atividades relacionadas à articulação das diversas funções dos produtos. Inserido no sistema produtivo atual de escala, que considera a busca por novos materiais à necessidade de aumento da produção, mais que pelo desconforto gerado pelos impactos ambientais, o designer utiliza “critérios” de faturamento, em vez de investigar a geração de efeitos sobre o usuário, deixando de lado o sentido de satisfazer as necessidades do homem, das sociedades de hoje e futuras. Neste contexto, assume a função de incentivador de vendas,97 ou “esteticista de produto”. Neste paradoxo, o sistema exerce sobre Arquitetura & Design duas forças contrárias: por um lado, a manutenção 95 MANZINI E VEZZOLI, 2002. KRIPPENDORFF, 1998:156-184. 97 LÖBACH, 2001:193. 96 56 constante da produção e, por outro, as variáveis dinâmicas relacionadas ao Homem e ao Meio. Em um extremo, o produto como instrumento de intercâmbio comercial e, no outro, como instrumento de troca simbólica e de significados98. “Design é muitas vezes visto somente como concepção e planejamento de produtos de aplicação comercial ao invés de ser percebido como uma fonte para a colaboração interdisciplinar, renovando com novas propostas a concepção e o planejamento de produtos. Seria então a capacidade de compartilhar diferentes perspectivas e novos pensamentos interagindo na direção de interesses e inquietações sobre problemas comuns.” BUCHANAN, 1998: xxii. Arquitetura & Design articulam-se nesse sistema, aproveitando os resíduos que já foram desperdiçados, na tentativa de manter padrões comerciais ideais. O “modo PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA sustentável”, junto às comunidades, utilizando tecnologias e matérias-primas disponíveis e afins com a região trabalhada é, na maioria das vezes, esquecido. Assim, os atuais modelos de produção em escala, por sua estrutura artificial e dimensões grandiosas, são insustentáveis, já que não acompanham a agilidade das variáveis dinâmicas das quais dependem. 98 BUCHANAM, 1998:xix. 57 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 2 Tecnologias de aproveitamento de fibras naturais: uma arqueologia de “conhecimentos em extinção” “...como formas expressivas da cultura de um povo e elementos de sistemas de comunicação, o sistema de objetos e as artes são produtos de uma história: remetemse às tradições identificadas pelo grupo como suas marcas distintivas, específicas de sua identidade; falam dos modos de viver e de pensar compartilhados no momento da confecção do produto material ou artístico ou da vivência da dramaturgia dos rituais, indicando uma situação no presente; em suas inovações, no esmero de sua produção e no uso que dela faz, indicam as relações entre o indivíduo e o patrimônio cultural do grupo a que pertence e apontam para canais de comunicação com o exterior e para projetos futuros”. (VIDAL e SILVA, p.371) Segundo DANTAS (2004:204), o homem adapta-se ao meio, acumulando gradativamente informações e experiências, articulando gestos técnicos e pensamento. Desenvolve instrumentos e tecnologias, elaborando grande diversidade formal simples e complexa, em função do contexto. ”Uma das características do homem é a capacidade de transformar matérias-primas disponíveis na natureza e superar a carência de instrumentos biológicos de que dispõem outras espécies predatórias. As técnicas consistem de cadeias operacionais destinadas a fornecer um produto...” (DANTAS, 2004: 204). As tecnologias que utilizam fibras naturais revelam conhecimentos, significados e relações que unem os grupos sociais, nos quais a extinção desses conhecimentos compromete a identidade e a própria existência desses grupos e daqueles com os quais se inter-relacionam. Através da investigação de tecnologias regionais, identificam-se os recursos, tais como mão-de-obra, matériaprima e recursos econômicos, concretizando a cultura 58 material sustentada na relação Homem-Técnica-Objeto,1 a matéria-prima para projetos de ordem teórica ou prática. Novos materiais e tecnologias são desenvolvidos a partir dos conhecimentos tradicionais, na intenção de adequar e adaptar “modos de fazer tradicional” à indústria, e incorporar “modos de viabilizar” o sustento de inúmeras comunidades à produção de pequena escala. O reconhecimento dos limites de renovação ambiental e a utilização de técnicas adequadas e matérias-primas disponíveis somam-se aos novos critérios e novos modelos, tornando os procedimentos adotados mais favoráveis e menos danosos, ambiental e socialmente. Produtos que incorporam parâmetros ambientais estão inseridos no campo do Design Sustentável 2 e são PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA desenvolvidos tendo em vista a redução de matéria-prima, recursos, água, impactos e o aproveitamento de resíduos, orientando-se desde a obtenção da matéria-prima, o processamento até seu descarte final. 1 CERQUEIRA, 1994:69. Design sustentável: também são encontrados os termos “Design ecológico” e “Ecodesign”. 2 59 2.1. Inter-relações entre a “Sociedade da Palha” e as “Sociedades Complexas” “—D. Madalena, que tipo de artesanato a Sra. faz? —Esse tipo de trabalho de taquaruçu mesmo. Eu faço cesto, faço peneira, faço balaio e tapiti. — Com quem a Sra. aprendeu a fazer? —Sozinha, desmanchando um velho para fazer um novo. —Na sua família ninguém trabalhava com palha? —Bom, eu fui aprender com o tio Eugênio, que era tio do meu marido, mas ele era muito bruto. Ele disse assim: “Você não quer aprender? Então panha essa palha aí e faz”. Ele não soube me ensinar; aí eu fui aprender sozinha”. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA D. Madalena Alves da Conceição (Figura 15) ensinou a todos os seus filhos e iniciou diversas pessoas nos cursos em Campinho, onde vive, e na cidade. Sua filha, Adilsa da Conceição Martins, é cesteira como a mãe e vê seu trabalho como uma profissão.3 (RIBAS E RIBAS, 1983/84:28-33) Tecendo tecnologias a partir de necessidades As interações entre a “Sociedade da Palha”4 e as “sociedades complexas”5, por meio das tecnologias utilizadas no aproveitamento de fibras naturais e na arquitetura têxtil, vão além da elaboração cuidadosa de artefatos e aperfeiçoamento nos processos de fabricação. Expressam a intimidade entre as sociedades tradicionais e seu meio através de “saberes”, passados de pai para filho: conhecimentos adquiridos e acumulados através do tempo, traços de sua cultura. Expressam também a fragilidade de seu acervo cultural ameaçado pela massificação, pela padronização dos costumes e pelo avanço de valores de consumo das sociedades industrializadas, nas quais custo, produção em massa e “estratégias conservacionistas”6 tornam-se instrumentos de poder e dependência econômica. 3 RIBAS E RIBAS, 1983/84:28-33. Parte integrante da entrevista realizada por Marcos Caetano Ribas e Rachel Joffily Ribas com D. Madalena Alves da Conceição, em Paraty, 1983/84. 4 BERTA RIBEIRO, 1980: 5. 5 GILBERTO VELHO, 1999:97-105. VELHO utiliza o termo “sociedades complexas” para referir-se às sociedades individualistas ocidentais modernas e “sociedades tradicionais” para aquelas cujos sistemas são hierarquizantes, holistas, mais fechados, em que o indivíduo é englobado pelo clã, linhagem ou tribo. 6 GRAY, 1995:112-121. Segundo o autor, os “povos de ecossistemas” não são priorizados na agenda das organizações Figura 1 – D. Madalena Alves da Conceição é cesteira e transmite seus conhecimentos aos habitantes da região em que vive. 60 As antigas técnicas7 de confecção de artefatos que utilizam fibras naturais indicam, não somente a urgência na documentação deste acervo cultural, como também a potencialidade de emprego dessas tecnologias de forma mais adequada. Segundo GRAY, a perda desses conhecimentos e tradições, e a degradação do meio ambiente do qual subsistem, levam à perda da identidade, e até mesmo ao etnocídio cultural8. RIBEIRO qualifica a cultura dos índios do Brasil como “uma civilização vegetal, perfeitamente adequada a seu meio ambiente”, que fez uso primordialmente de materiais de origem vegetal.9 Os artefatos indígenas refletem a forma com que esse grupo subsiste e estão estreitamente relacionados com a disponibilidade das matérias-primas e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA sazonalidade econômica. Através da tecnologia, ou seja, os “modos de fazer”, os grupos sociais relacionam-se com o meio externo e interno. Interagem com o meio ambiente, grupos sociais e dentro de seu próprio grupo. Segundo VIDAL e SILVA10, ao serem submetidas à influência externa de outras culturas, as sociedades sofrem mudanças ou inovação. As interferências religiosas, técnicas, sociais ou decorativas podem influenciar conservacionistas, e as “estratégias conservacionistas” são utilizadas como propaganda em vez de proporcionar efetiva conservação da biodiversidade. 7 GILBERTO VELHO, 1999:97-105. Estas tecnologias apresentamse neste trabalho como instrumentos arqueológicos de construção da memória de “conhecimentos em extinção”, conhecimentos que, segundo VELHO, são de fundamental importância tanto para as “sociedades tradicionais” quanto para as “sociedades complexas”. Aqui, as habitações nômades e a vernacular são “lugares de memória” da arquitetura têxtil e de projetos de design de interiores, preservando e transmitindo, através dos objetos, conhecimentos sobre a tecnologia. 8 GRAY, 1995:111. 9 RIBEIRO,1980:5. Algumas das matérias-primas utilizadas em suas casas, canoas e artefatos foram madeiras, embiras, cipós, palhas, fibras, resinas, vernizes, óleos, nozes, corcubitáceas. 10 VIDAL e SILVA, 1995:371-372. Os ”modos de fazer” e os costumes levam a revoluções tecnológicas, em que cada civilização tem seu caminho próprio ou assimila tecnologias. As condições de fabricação são os recursos naturais e materiais disponíveis, organização do trabalho para sua execução, aprendizado e refinamento das técnicas, conhecimentos sobre o meio natural e os meios e processos de transmissão desse saber dentro do grupo social onde é produzido, etc. As condições de uso estão relacionadas ao momento e cenários da vida social e aos fins, tais como os distintivos sociais de gênero, classe e geração. Os significados simbólicos correspondem aos pragmáticos, rituais, míticos e cosmológicos. 61 e gerar “novos modos de fazer” e novos costumes conforme o contexto. As tecnologias determinam as condições de fabricação, de uso, finalidades, significados simbólicos e circunstanciais que, segundo os autores, são fundamentais para a compreensão e conhecimento de um objeto (utilitário, ritual, decorativo, ferramenta ou ornamento). São partes integrantes de um sistema, imprescindíveis e indissociáveis, inter-relacionando-se como aglutinante na elaboração de um projeto. Assim, para que se possa atuar em um determinado grupo, torna-se necessário investigá-las. A técnica evolui, permite o entrosamento do homem com o ambiente, interage posteriormente na formação étnica e cultural, e grupos com afinidades de conhecimentos, experiências, técnicas, costumes e comportamentos formam PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA as civilizações (Figuras 16, 17 e 18). Figura 3 – Ilha de totora amarela. Lago Titicaca, Bolívia/ Peru. Segundo CERQUEIRA, o homem não pode existir sem a integração com seu meio ambiente11: o Homo Faber conscientiza-se de sua ação sobre a natureza e controla o meio ambiente através de atos, em que o ato útil, ou seja, o utensílio, através da técnica, é de fundamental importância nesse contexto. 11 CERQUEIRA, 1994:64-66. Figura 2 – A totora amarela é parte integrante da comunidade do lago Titicaca. 62 “artefatos e explicações sobre a solução de problemas foram a gênese do patrimônio cultural, transmitido via tradição oral e enriquecido através das tradições. Mas nenhuma invenção ou técnica pode ser criada a partir de nada. Não existe mudança nem aperfeiçoamento dos modos de agir sem a transformação dos meios de que se dispõem. A origem da cultura material está na capacidade de observar o entorno e as soluções encontradas por outras espécies animais para problemas similares, bem como a capacidade de se relacionar ao procurar novas soluções”...”A espécie humana apenas observa, copia e inova sobre o que já existe”. PESSIS, 2004:204-205. Figura 4 – Totora amarela: O primeiro recurso elaborado pelo homem para obter mais apropriada para abrigo foi o tecido12 e raras são as civilizações que não confecção de casas e barcos. desenvolveram algum tipo de trançado em fibra natural13. A fragilidade do material com relação à sua preservação ao tempo deixou menos vestígios acerca do surgimento da cestaria do que os deixados pela cerâmica, por exemplo. As técnicas de trançados foram indispensáveis aos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA grupos indígenas seminômades do Brasil, devido principalmente à leveza dos artefatos, aos significados, e por representarem, com grande variedade de detalhamento, a identidade étnica do grupo.14 Segundo RIBEIRO, para esses grupos, esta é “a mais importante técnica de manufatura, que utiliza a mão desarmada, ou os dedos em atividade prênsil”, tendo alcançado alto grau de elaboração de seus trançados, ampla distribuição geográfica, grande variedade formal, técnicas, usos e efeitos decorativos. Além do trançado, o índio brasileiro também transformou fibras em fio e tecidos, cultivando o algodão, fiando e tecendo também folhas de palmáceas e bromélias, torcendo a fibra sobre a coxa em movimento de vai-vem, ou empregando o fuso, no caso dos flocos de algodão, em movimentos de rotação. Em regiões da América do Sul, as matérias-primas utilizadas para a construção de habitações indígenas são pouco diversas, sendo os meios de adaptação, ecológicos, 12 BAHAMÓN, 2004:7-9. CERQUEIRA,1994:68. A cestaria origina objetos para a preservação de alimentos e fácil transporte, possui flexibilidade e leveza, atendendo às necessidades de locomoção de grupos nômades. 14 RIBEIRO, 1983: 15. As características estéticas e de produção da cestaria vão além de informações técnicas: expressam a identidade sócio-cultural do grupo. 13 63 sociais e religiosos os diferenciais, ricos em detalhamento percebidos em suas unidades habitacionais, construções temporárias ou rituais.15 Através das habitações, preservam conhecimentos sobre suas relações com o meio físico e social. A construção arquitetônica têxtil associada às culturas nômades e inicialmente expressa através de tendas, e a arquitetura vernacular, construção de autores desconhecidos, servem hoje de base para projetos de arquitetos modernos, que incorporam os novos materiais e o desenvolvimento tecnológico.16 As tendas e as habitações nômades são construídas a partir de conhecimentos herdados e transmitidos às novas gerações, com formas geométricas simples (plantas quadradas ou circulares), PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA facilitando a manipulação por qualquer membro do grupo social. Este tipo de arquitetura sofre constantes transformações em conseqüência de sua reutilização ao longo do tempo17 e está intimamente relacionada ao contexto socioeconômico do grupo ao qual pertencem, à paisagem circundante, aos aspectos de leveza e transporte, aos elementos naturais e à fácil montagem e desmontagem. HIDALGO-LÓPES, em sua entrevista, narra ter vivido, durante a infância, em uma casa feita de bambu, e sua memória individual revela saberes técnicos tradicionais e coletivos. Alguns desses saberes foram percebidos ainda quando criança, outros apreendidos no decorrer de sua vida profissional, quando impulsionado pela curiosidade e questionamento frente aos preconceitos e “verdades” do meio acadêmico enquanto estudante. Busca, em outras culturas, o conhecimento tradicional que responderia a muitas de suas investigações.18 15 VIDAL e SILVA, 1995:391. BAHAMÓN, 2004:7-9. 17 Idem. 18 Anexos. Entrevista de HIDALGO-LÓPES. Percebe-se a importância dos saberes técnicos tradicionais nos projetos de construção coletiva de habitações de HIDALGO-LÓPES, assim como o entrelaçamento entre sua biografia a partir da memória individual e da memória coletiva daqueles grupos (“memória verdadeira”) e, ainda, uma analogia com as “antigas artes da memória”, no sentido da aprendizagem 16 64 Fibras naturais e os “modos de fazer” “Atualmente quando nos referimos aos estudos tecnológicos, deparamo-nos logo com as denominadas tecnologias de ponta, isto é, os novos materiais e seus processamentos. Contudo, há que se destacar também as técnicas mais simples, aquelas geradas no próprio meio e que estão ao alcance de uma parcela significativa da população e principalmente não criam dependências econômicas.” (CERQUEIRA, 1994:63). A pesquisa de RIBAS e RIBAS documenta alguns processos de confecção de artefatos na região de Paraty, Figura 5 – Em Paraty, o tipiti investiga os objetos, a maneira de fazê-los, as matérias- de forma cilíndrica é primas, as ferramentas utilizadas e, principalmente, quem os semelhante ao encontrado em Portugal para a extração faz. A pesquisa revela também a reconstituição do “modo de de azeite de oliva. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA fazer próprio”, em que uma das entrevistadas desmancha um tipiti19, aprende a confeccioná-lo e transmite esse conhecimento aos seus filhos e à comunidade.20 Em Paraty, o tipiti tem a forma de cesto cilíndrico (Figura 19), semelhante ao encontrado em Portugal na extração do azeite de oliva, e foi incorporado ao fabrico da mandioca com o objetivo de incrementar a produtividade através de sistemas mais rentáveis.21 É utilizado para extrair o líquido da mandioca, e é encontrado também na forma de tubo cilindro, trançada a partir de talos arumã, embiras, taquara ou fitas de bambu.22 Quando tensionado se alonga, diminuindo seu diâmetro, funcionando como uma prensa que separa a parte sólida da líquida.23 Segundo visceral, daquelas feitas “de coeur”, ou seja, “do coração” (antigas artes da memória), em que a experiência individual é uma ferramenta pedagógica importante. 19 Typiity, de origem nheengatu, vem de typii, (apertado, espremido), e ti, (líquido). 20 RIBAS e RIBAS, 1983/84:5. Entrevista realizada por Marcos Caetano Ribas e Rachel Joffily Ribas com D. Madalena Alves da Conceição, em Paraty, 1983/84. 21 FERNANDES, 1964:20-24. O autor relaciona as ceiras portuguesas com os tipitis indígenas, evidenciando a mescla cultural ocorrida através das tecnologias, cujo objetivo é o maior rendimento econômico. 22 Idem. 23 FERNANDES, 1964:6-8; 13-14. A mandioca já era cultivada em vastas áreas antes da chegada dos portugueses, e foi um produto de fundamental importância para a economia nacional muito além das 65 FERNANDES, esses trançados poderiam ser classificados como tipiti cilíndrico (Figura 23), tipiti kayapó (Figura 20) e tipiti-ceira (Figuras 21 e 22).24 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 6 - Tipiti kayapó. Figura 7 – Tipiti-ceira após o uso. Figura 9 – Tipiticeira antes do uso. A energia empregada na compressão da massa de mandioca se altera em função da tecnologia que passa de tração ou estiramento para prensagem. A força muscular humana braçal inicialmente utilizada é substituída pela “árvore motora” em que o movimento de uma alavanca (Figura 24), e posteriormente das prensas lagares, culminaram na criação de grandes fábricas.25 necessidades alimentares, e sua carência originaria a “crise da mandioca”. 24 Idem, 1964:9. 25 Idem, 1964:16-17. Figura 8 – Tipiti-cilíndrico antes e durante o uso. 66 Figura 10 – Sistema de alavanca substitui a força muscular braçal. A tecnologia de confecção de tipitis e ceiras é o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA resultado de sofisticada conjugação de fibras naturais pelo homem, não utilizando molas ou motores.26 O interesse pelo artesanato que emprega fibras naturais tem motivado parcerias e associações entre instituições e comunidades, cuja finalidade é a elaboração de projetos de inclusão social e geração de renda extra para a população. Peças artesanais confeccionadas com capim- Figura 11 – Colheita do dourado (Syngonanthus sp), família da sempre-viva (Figura capim-dourado. 26), foram adequadas à produção por intermédio do Sebrae, que implantou um projeto de design na comunidade de Mumbuca (TO), atendendo ao mercado consumidor. São produzidos objetos de decoração, moda e mobiliário. A matéria-prima, de cor metálica dourada e Figura 12 – O capim-dourado extremamente brilhante, é encontrada somente na região do pertence à família da sempreviva. Jalapão (TO). Os impactos gerados pelas queimadas para a obtenção das fibras, associados ao aumento da produção de peças, ameaçam de remoção a comunidade da região (Figuras 25 e 27).27 Percebe-se, neste caso, que, embora a tecnologia utilizada seja acessível e regional, os procedimentos aplicados desconsideram os limites de 26 REVISTA NOSSO PARÁ. A super-exploração do capim-dourado ameaça esta fibra de extinção, assim como à palmeira de Buriti da qual se extrai o fio para a costura das peças de artesanato. 27 67 renovação ambiental e de manejo28. A demanda externa por produtos artesanais confeccionados por esta comunidade é maior que a disponibilidade da matéria-prima, e o resultado, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA inverso ao proposto inicialmente.29 Figura 13 – Artesanato confeccionado com capim-dourado. 28 A fibra de capim-dourado não é cultivada, brotando em áreas com maior umidade, em locais próximos àqueles onde é encontrado o buriti. 29 ROTA BRASIL OESTE e AGÊNCIA BRASIL. 68 2.2. Fibras naturais e tecnologias “(in)sustentáveis” Os modelos de desenvolvimento atuais não têm demonstrado eficiência nas questões ambientais e sociais, já que geram impactos à medida que buscam geração de riquezas e conforto. Segundo MANO30, “se a economia mundial crescer em torno de 3% ao ano, valor já atingido, em 2050 os recursos naturais estarão esgotados”. Os acidentes ambientais ocorridos a partir de meados do século XX, assim como os sinais de esgotamento de recursos naturais, alertaram sobre a necessidade de novas formas de pensar tecnologias e processos de produção, em que biodiversidade, ecossistemas e recursos energéticos PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA fossem preservados, e tecnologias que utilizassem fontes de energia renováveis fossem desenvolvidas. “Um processo de mudança em que a exploração de recursos, as opções de investimento, a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional ocorram em harmonia e fortaleçam a satisfação das necessidades e aspirações humanas no presente, sem descuidar das gerações futuras” (Comissão Brundtland, Nova York, 1987). O desenvolvimento sustentável conjuga tecnologia, meio ambiente e justiça social. Conjuga estratégias de tecnologias limpas com melhor desempenho socioambiental. Neste tripé, também Arquitetura & Design buscam o equilíbrio no contexto da sustentabilidade e passam a adotar esses princípios, incorporando-os ao sistema-produto. Aqui, atributos ambientais 31 concepção são inseridos no processo de em que todas as etapas do “ciclo de vida do produto” são consideradas ao se projetar o artefato. Segundo MANZINI e VEZZOLI, o ciclo de vida do produto é o “nascimento, vida e morte” do produto, e o produto, um sistema32 que contém um conjunto de atividades e 30 MANO et al, 2005:97. Apud. QUEIROZ, 2003:79. 32 MANZINI E VEZZOLI,( parte II, cap. 1 e 2.). Neste contexto, o design passa a enfatizar o “sistema-produto” como uma só unidade, e não mais o “produto” de forma isolada. 31 69 processos, fluxos de matéria, energia e emissões. Para os autores, as etapas de processos se agrupam basicamente em pré-produção, produção, distribuição, uso e descarte. 33 Nas últimas três décadas as questões ambientais tornaram-se evidentes: a década de 70 foi marcada pela explosão do consumismo, dos descartáveis, e pelas questões relativas ao lixo gerado. Nos anos 80, novas técnicas de reciclagem foram desenvolvidas em função dos altos custos com aterros sanitários e pela dificuldade de degradação de materiais poliméricos, e, na década de 90, valorizou-se a preservação ambiental.34 Assim, as variáveis interagem de forma dinâmica na direção da ecoeficiência. Fibras naturais e o ciclo de vida do sistemaPUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA produto A utilização de uma fibra de origem natural não significa necessariamente a garantia da preservação do meio ambiente, e sua aplicação deve ser investigada verificando-se sua adequação. Deve-se conceber a substituição da matéria-prima por renováveis inserida no ciclo de vida do sistema-produto, e não isoladamente. Além disso, sua disponibilidade e integração das tecnologias envolvidas com o meio ambiente, considerando-se as particularidades geográficas e culturais de cada região, são questões fundamentais na elaboração de produtos sustentáveis que utilizam essas fibras. Este conjunto de aspectos permite considerarmos as ações relevantes para a efetiva redução de impactos ambientais e sociais. No caso das fibras naturais, o ciclo de vida engloba etapas específicas: o manejo (obtenção de fibras), que pode ser feito através de extração, cultivo, produção in vitro, a partir de resíduos sólidos urbanos ou da agroindústria; o acondicionamento (em locais adequados para cada etapa, 33 O Design Sustentável incorpora parâmetros ambientais em seus produtos, tendo em vista a redução de matéria-prima, recursos, água, impactos, aproveitamento de resíduos, orientando-se desde a obtenção da matéria-prima, do processamento até seu descarte final. 34 SILVA, 1998:727-730. 70 arejados e secos para impedir a disseminação de fungos); o processamento das fibras (desfibramento ou tosquia, e transformação da matéria em fios, cordas, palhas, etc.); lavagem e secagem (no caso de fibras animais, também é realizada antes da tosquia); limpeza, classificação, enfardamento; distribuição a fornecedores, indústrias e instituições que irão confeccionar os artefatos; confecção dos artefatos (em função da escala, pode ser artesanal, industrial ou semi-industrial); distribuição e marketing (venda); uso do artefato e descarte. Os impactos ambientais e sociais podem ocorrer em todas as etapas do ciclo de vida do sistema-produto em decorrência de “modos de fazer” inadequados que desconsiderem a unidade do sistema. Todo o processo de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA obtenção de fibras naturais requer não apenas cuidados de limpeza dos equipamentos e acondicionamento do material, mas também cuidados relacionados à renovação e reprodução da espécie. A obtenção através de extrativismo, por exemplo, exige conhecimentos específicos sobre cada fibra, já que cada uma possui seu ritmo de renovação na natureza e interage com outras espécies vegetais e animais. Além disso, muitas têm funções diversas e fundamentais para o equilíbrio do solo e mananciais hídricos. O cultivo e a produção de mudas in vitro podem ser realizados em pequena ou maior escala, e a utilização de resíduos sólidos urbanos e da agroindústria evita que matérias-primas não renováveis sejam utilizadas em seu lugar. Há iniciativas de produção através de sistemas orgânicos, tanto no campo das fibras vegetais como animais, nos quais são utilizados ferormônios nas plantações ou nos medicamentos homeopáticos, na produção pecuária. O tingimento com uso de corantes naturais também tem sido utilizado.35 O desfibramento das fibras e a confecção de artefatos, em função da escala, podem utilizar processos manuais, 35 FELIZ. ETNO BOTANY COLOURS, ETNO BRASIL e O CASULO 71 semi-industriais ou industriais. Procedimentos mecânicos, químicos e naturais (onde não são utilizadas substâncias químicas) são encontrados. A energia utilizada deve ser investigada, buscando-se maior eficiência com redução quantitativa e melhoria da qualidade, evitando-se emissões de gases e substâncias tóxicas no meio ambiente. Ainda que sejam empregadas as mais avançadas tecnologias de tratamento de efluentes e manejo das plantações sem utilização de substâncias tóxicas, é fundamental reduzir-se o custo energético, com o mínimo de material e aperfeiçoamento das técnicas e processos limpos. A utilização de matérias-primas regionais, próximas aos locais de beneficiamento, assim como de fornecedores, indústrias de manufatura e dos pontos de venda, evita o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA desgaste das vias de acesso e transporte, e reduz o consumo de combustíveis. O uso e o descarte do objeto produzido também devem ser investigados: a durabilidade, a energia consumida durante o uso, e a forma e local onde serão descartados. Ainda que sejam biodegradáveis, as fibras naturais necessitam de condições para tal, caso contrário, seu descarte também poderá gerar novos impactos. Se o produto for de grande durabilidade, mas demandar maior consumo de energia, novas alternativas devem ser investigadas, e deve-se mesmo reconsiderar a possibilidade de novo conceito. Os processos produtivos que geram desperdícios sociais, ambientais e econômicos apontam para a urgência, não apenas de uma nova configuração do fazer técnico e das atividades projetuais como Arquitetura & Design, mas principalmente de novas formas de conceber, produzir, consumir e pensar “conforto” e “valores”. Para que seja sustentável, o sistema deve incorporar a própria dinâmica das variáreis com as quais interage, de forma a garantir a sobrevivência das gerações futuras. 72 "Cerca de 3 milhões de toneladas de agrotóxicos anualmente são despejados no planeta, contaminando o solo e a água, os animais e os vegetais. Conseqüentemente, toda a contaminação e os efeitos residuais se voltam contra o ser humano. " (PLANETA ORGÂNICO) A organicidade de um produto confeccionado a partir de fibras naturais refere-se ao sistema de cultivo no caso de fibras vegetais, e ao sistema de manejo, no caso de fibras animais. O cultivo de espécies, sem a utilização de agrotóxicos e em ambiente previamente descontaminado, é sujeito a testes rigorosos, e obedece ao processo de certificação, que é realizada em cada fazenda, submetida a regras rígidas de uma agência certificadora de caráter e respeitabilidade internacional, como o IBD - Instituto Biodinâmico (SP). PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA O sistema de produção orgânico não permite a utilização de pesticidas, “desfolhantes”, adubos químicos, inseticidas, herbicidas, maturadores, reguladores de crescimento e outros produtos químicos artificiais. As pragas são combatidas com bioinseticidas à base de bactérias e fungos, e utiliza métodos em que o clima e o manejo da cultura, com base no zoneamento e época de plantio adequado, evitam o ataque de pragas. O manejo sanitário da pecuária orgânica segue medidas preventivas que preservam a saúde do animal, tornando-os menos suscetíveis a doenças. A implantação dos métodos de cultivo orgânico é relativamente recente e data da década de 90. São ainda custosos, e sua complexidade exige organização e sincronia dos produtores nas estratégias de prevenção às pragas. 36 A produção de fibra e de tecidos orgânicos ainda é limitada, e o controle nas indústrias é complexo, não havendo, ainda, padrões homogêneos para a verificação 36 EMBRAPA ALGODÃO. O sistema orgânico demanda a uniformização da época de plantio, uso de sementes selecionadas de cultivares precoces, catação de botões florais nos primeiros 30 dias após o início do florescimento, boa condução técnica da cultura, erradicação ou poda da cultura ao fim da safra, utilização de "tubos mata-bicudo" no 1º ano da safra, atraindo os insetos adultos que serão mortos fora da lavoura em deixar resíduos na fibra do algodão. 73 dos processos de descaroçamento, fiação e tecelagem, o que pode comprometer a credibilidade das empresas certificadas e abrir caminho para que outras comercializem produtos convencionais como se fossem orgânicos. Outra questão é a que envolve o tingimento do algodão, dificultando sua certificação, cujos desperdícios podem chegar a 50% de perdas dos corantes empregados, além do uso de substâncias tóxicas na fixação da cor de corantes naturais37. Neste contexto, além da elaboração de padrões de certificação orgânica para todo o processo de manufatura e informações honestas ao consumidor, a articulação das questões ambientais com as questões econômicas, sociais e culturais constitui um dos principais desafios da produção PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA orgânica. Sustentabilidade percebida Podemos encontrar o aproveitamento de fibras naturais substituindo matérias-primas não renováveis nos mais diversos segmentos, através da utilização de tecnologias artesanais junto a comunidades tradicionais, ou através de tecnologias industriais resultantes de pesquisas privadas e governamentais, empregando mão-de-obra regional. Na indústria, alguns segmentos se destacam, como o setor automobilístico, de vestuário, mobiliário, eletroeletrônico, e da construção civil. A fibra de curauá (Ananás erectifolius), obtida a partir da folha, foi redomesticada e recebeu incentivos para o plantio em escala comercial.38 Tem sido empregada como matéria-prima para revestimentos internos dos veículos39 e, quando conjugada à casca do coco (Coccos nucifera) e à resina da acácia negra (Acacia mearnsii De Wild), é utilizada na produção de telhas em substituição às de amianto. Esta fibra pode substituir a fibra de vidro em plásticos reforçados 37 PLANETA ORGÂNICO. FERREIRA e BUSTAMANTE. 39 Idem. 38 74 e ser utilizada em artefatos para a indústria da construção civil, como caixas d’água e piscina. A micropropagação de mudas selecionadas uniformes e sem espinhos facilita o manejo, o corte e possibilita aumentar a densidade da plantação, e seu cultivo em consórcio com coqueiros estabiliza o ecossistema das plantações, realizadas por pequenos produtores. A produção artesanal da fibra de caroá (Neoglaziovia variegata)40, apresenta-se como uma alternativa sustentável para as comunidades da região de Caroalina (PE), que fornecia a fibra para as indústrias locais até a década de 60, quando então cedeu espaço à produção de sisal.41 A fibra de coco, aproveitada na indústria e no artesanato, atinge hoje importância econômica e ambiental através da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA confecção dos mais diversos produtos.42 Segundo SILVA, a obtenção da fibra de coco através de reciclagem reduz a poluição e gera empregos, tornando-se uma prática ambientalmente sustentável, e quando obtida através de cultivo, não pode comprometer os gêneros de primeira necessidade43. A coleção Mãe da Mata elaborada por MIRANDA E RIBAS, utiliza a fibra de tururi44 na Moda, viabilizando economicamente e de forma sustentável os recursos naturais renováveis e disponíveis da Ilha do Maruim (PA). As folhas da palmeira são empregadas em telhados e paredes de habitações locais, e a fofóia, fibra que envolve o cacho de frutas, é aproveitada na coleção. Esta fibra, após amaciamento através de um extrato obtido a partir de casca de banana e álcool, é utilizada na confecção de luminárias, acessórios de moda, material de papelaria e vestuário. 40 PLANTAS DO NORDESTE; DE ALBUQUERQUE et all. e Projeto Mulheres na Produção Artesanal. 41 PATRIOTA, 42 SILVA, 1998:731. 43 SILVA, 1998:734. 44 Tururi é o nome popular do ubucuzeiro, também conhecido como buçu, bussu, ubuçu. Nome científico: Manicaria saccifera Gaertn, família Plamaceae, subfamília Ceroxylinae, tribo areciini e subtribo iriaetelhna. Figura 14 – A coleção Mãe da Mata utiliza a fibra de tururi na confecção de suas peças. 75 “E é nessa perspectiva que o desenvolvimento sustentável se torna uma solução adequada, uma vez que buscará novas oportunidades econômicas. Mas, para tanto deve, no valor dos recursos naturais, ser incluído o valor econômico total, os valores morais, os culturais, os espirituais, os éticos presentes no meio ambiente, o que desencoraja o desperdício, e dá suporte para um melhor manejo e uso desses recursos” (MIRANDA e RIBAS, 2003:2) Uma parceria45 entre o meio empresarial e o acadêmico viabilizou o aproveitamento sustentável da juta (Corchorus capsularis L) na moda, através do desenvolvimento do Ecovogt, um tecido fino, amaciado com cera de cupuaçu e fixação de cores realizada à base de açaí, e com maciez adequada ao vestuário. Viabilizou-se a sustentabilidade econômica, social e ambiental do produto por meio de investigações e intervenções no processamento PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA e comercialização, adaptando teares à titulação dos fios e ao desenvolvimento de dez tonalidades de corante. A juta, encontrada em regiões de clima úmido e tropical, é muito utilizada em sacaria, embalagens e cordoaria, principalmente pelos atributos como higroscopia, robustez e resistência, e mostrou-se vantajosa para o emprego em tecidos, pela fácil decomposição e tingimento46. O manejo não requer a utilização de fertilizantes ou agrotóxicos, o processamento não despeja resíduos no ambiente, e o produto, de alto valor agregado, tem preços competitivos e garante o emprego de centenas de indivíduos de comunidades amazônicas. 47 45 COMPANHIA TÊXTIL DE CASTANHAL. Parceria formada entre a Companhia Têxtil de Castanhal(AM), segunda maior produtora de juta do mundo, o estilista Caio Von Vogt, e a Iesbec (Incubadora de Empresas de Base Tecnológica de São Bernardo do Campo) 46 Idem. A decomposição da juta ao ser descartada se faz em dois anos, enquanto o algodão se decompõe em dez, e o poliéster em cem anos. O tingimento natural na juta é mais eficiente que no algodão, resultando em cores mais intensas e com maior brilho. 47 Idem. Estilista lança em São Paulo tecido ecologicamente correto. A parceria também recebeu apoio da Unifei, Centro Universitário da Faculdade de Engenharia Industrial (SP), que desenvolveu todo o processo tecnológico do Ecovogt. Figura 15 – Fibra de tururi. 76 2.3. Fibras naturais: matéria e tecnologias Fibras “Fibra têxtil” é a unidade da matéria com propriedades adequadas à transformação em fio. Flexibilidade, finura e elevada proporção entre comprimento e espessura a torna apta às aplicações têxteis (Figuras 28 a 37). “Fibras naturais” são matérias-primas fibrosas encontradas na natureza, que podem ser de origem animal, Figura 16 – Fibra de algodão Giza. vegetal ou mineral. As de origem animal são obtidas a partir de secreção glandular ou pêlos de animais. As vegetais, a partir de sementes, caules (talos, chamadas fibras moles)48, folhas (chamadas fibras duras), frutos e até mesmo de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA raízes. As minerais, a partir de rochas com estrutura fibrosa. A expressão “fibras naturais” passou a ser utilizada somente Figura 17 – Fibra de algodão Giza. no século XX, quando o homem se torna capaz de produzir fibras que não se encontram na natureza, surgindo assim a necessidade de diferenciá-las: “fibras não-naturais” é a denominação considerada mais adequada como tradução ao termo “man-made-fibre”, substituindo o termo “fibras químicas”, já que todas as fibras são de natureza química49. Figura 18 – Fibra de cânhamo. A lã, por exemplo, é uma fibra natural com grande complexidade em sua estrutura química. As fibras, contínuas (filamentos) e descontínuas diferenciam-se pelo comprimento: as primeiras possuem comprimento muito elevado em relação ao seu diâmetro, Figura 19 – Fibra de juta. podendo ser cortadas em fibras curtas para fiação ou outras aplicações, enquanto as últimas, possuem comprimento de até alguns centímetros. O único filamento natural conhecido é a seda natural. As fibras e os filamentos são as matériasprimas que compõem os tecidos. Outra Classificação Geral das Fibras Têxteis, um pouco mais detalhada, pode ser utilizada: fibras têxteis animais, vegetais, minerais, artificiais, sintéticas orgânicas 48 49 ERHART, [e outros], 1975-1976:41, vol II. ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:1-13, vol I. Figura 20 - Fibra de sisal. 77 ou inorgânicas, e metálicas. 50 termo para “sólidos flexíveis” Leroi-Gourhan51 utiliza o matérias-primas de flexibilidade permanente, o que permite juntá-las por entrelaçamento mútuo e assegura a coesão das placas (casca de árvores, couro, tecidos reunidos por “artilhos”) ou elementos alongados(lamelas, fibras e fios). Todos, com Figura 21 – Fibra de linho. exceção dos fios metálicos, têm origem vegetal ou animal. Os “não-tecidos”52 são “tecidos cuja estrutura é obtida por processos mecânicos (fricção), químicos (adesão) e/ ou térmicos (coesão), ou ainda por combinações destes para se obter uma estrutura plana, flexível e porosa, constituída por um véu ou manta de fibras ou filamentos dispostos em Figura 22 – Fibra de lã Churra. múltiplas direções”. Este termo é bastante utilizado na indústria têxtil. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Cabe ressaltar aqui que o foco desta dissertação se encontra no aproveitamento de fibras naturais, não necessariamente ou exclusivamente voltadas à fiação, mas sim à possibilidade de conjugá-las na elaboração de alternativas. Aqui, a ênfase está nas fibras animais, vegetais Figura 23 – Fibra de lã Churra. e minerais, e quando necessárias, algumas associações a outros grupos de fibras serão realizadas. Assim, conjugamse os significados dos termos utilizados na classificação geral de fibras têxteis, dos “sólidos flexíveis” utilizados por Leroi-Gourhan, e dos “não-tecidos”. Figura 24 – Fibra de seda. Algumas particularidades das fibras vegetais As fibras vegetais possuem algumas particularidades. Suas fibras são naturalmente interconectadas por aglutinantes, formando uma infra-estrutura de sustentação. Estas fibras são flexíveis, possuem grande resistência à abrasão e podem resistir melhor ao calor e à luz que a maioria das fibras sintéticas. Algumas podem resistir também ao ambiente marinho. Todas as fibras naturais biodegradam sob a ação de microorganismos, uma 50 Idem. LEROI-GOURHAN, O Homem e a matéria, 1987:171, vol. II. 52 SCHMIDT, 1999:111, vol. I. 51 Figura 25 – Fibra de seda. 78 vantagem em certas situações.53 Conforme sua consistência, as fibras naturais podem tornar-se rígidas, maleáveis após secas, ou mantêm sua consistência rígida como antes de serem cortadas. A fibra de bananeira, por exemplo, perde sua maleabilidade e pode partir-se após seca, devendo ser trabalhada úmida (Figuras 40, 41 e 42). Sua natureza lignocelulósica (compostos de carbono) Figura 26 – Obtenção de fibra de bananeira. atrai fungos e bactérias, que se proliferam em condições de umidade e calor. Desta forma, o acondicionamento da matéria-prima deve ser realizado em local limpo, arejado, iluminado, livre de umidade e calor.54 Após a colheita do cacho, a bananeira produtora não voltará a dar frutos. O Figura 27 – Desfibramento pseudocaule (tronco) geralmente descartado por acumular de fibra de bananeira. fungos prejudiciais ao cultivo, é cortado, gerando espaço PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA para novos brotos da planta. A partir dos resíduos de matéria vegetal (folhas, pseudocaule e engaço), obtêm-se palha, fibras e fios, que podem ser aproveitados em tecelagem, cestaria e trançados, além de confecção de papéis artesanais especiais empregados na confecção de divisórias de ambientes, revestimentos de paredes, luminárias e cartonagem. A espécie, variedade, tratos culturais e condições climáticas da região onde o material fibroso é encontrado podem interferir nas cores, porte e Figura 28 – Palha de fibra de bananeira. rendimento do material.55 A proximidade do local de obtenção da fibra com o local de beneficiamento, confecção e uso, além de reduzir custos energéticos, é benéfica por evitar esforços de adaptação da matéria e facilitar a reposição de material em casos de manutenção do objeto. Algumas fibras, matérias pouco processadas padronizadas, obtidas possuem na natureza sensibilidade a e não mudanças climáticas. Gramíneas, como bambu, sapê, e as palhas das palmáceas, por exemplo, tornam-se quebradiças em climas áridos. Palmeiras, bromélias e plantas rasteiras, como cipós 53 HORROCKS e ANAND, 2000:376. GARAVELLO [e outros], 1998:755, vol. II. 55 GARAVELLO [e outros], 1998:752, vol. II. 54 79 fornecem fibras muito utilizadas por grupos indígenas na confecção de cordas, fios e tecidos. Das palmeiras, utilizamse também as folhas para revestimento e preenchimento de tetos e paredes. O buriti (Mauritia flexuosa)56, encontrado em áreas brejosas ou permanentemente inundadas, está intimamente relacionado à água, o que o coloca como importante espécie para a recuperação ciliar e de fundamental importância para o ecossistema, propiciando abrigo e alimento para inúmeras espécies da fauna. As raízes transfixantes dessa palmeira arrebentam as camadas inferiores do solo, o que provavelmente facilita a emergência de água. Para os grupos indígenas, a árvore de buriti é sagrada e significa "a árvore que emite líquidos" ou "a árvore da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA vida", propiciando a confecção de artefatos, habitação e alimentação. Os pecíolos das folhas fornecem material leve e macio, utilizado em artesanato; sua madeira é aproveitada na construção; suas folhas, em esteiras, peneiras, móbiles e cobertura de telhados; seus talos são usados para a fabricação de móveis domésticos, como mesas, cadeiras, camas e esculturas; e suas fibras são utilizadas para tecer redes de dormir (Figuras 43 a 46).57 Figura 30 – Solo compactado. 56 LORENZI [e outros], 2004:184. Ocorrência e habitat Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Maranhão, Pará, Piauí, São Paulo Minas Gerais e Tocantins, em solos alagados, igapós, beira de rios e de igarapés, onde formam grandes concentrações. Figura 29 – Buriti queimado. 80 Para obter o fio utilizado na costura de artesanato, é preciso abater um buriti inteiro, o que o ameaça de extinção, e por isso sua derrubada hoje é proibida. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 31 – Desfibramento de buriti par confecção de artefatos. Figura 32 – Indígena fiando buriti. 57 idem. 81 2.3.1. Cascas de árvores, “tapa”, papel e feltro As cascas flexíveis foram utilizadas pela maioria dos povos pré-artesanais, que não possuíam olaria e 58 tecelagem , e por outros povos em diversas partes do mundo como técnicas complementares. Os grupos indígenas sul-americanos obtêm tecidos de entrecasca e líber a partir de diversas espécies de plantas.59 O uso da casca amolecida, cozida ou não, assemelha-se muitas vezes à técnica de “tapa” e tecidos de fibras. Cascas de grande superfície foram utilizadas em botes e em ”recipientes suficientemente estanques para o transporte de líquidos”.60 Cascas cortadas em tiras eram utilizadas em PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA tecelagem, torcidas em cordoaria, e utilizadas em baldes, caixas, sandálias, capas de chuva, cestaria, e para embalar alimentos. Embora haja distância histórico-geográfica entre as técnicas de papel, tapa e feltro, as duas primeiras são mais próximas tecnicamente, devido às matérias e técnicas empregadas inicialmente. Na técnica de tapa, casca de ramos e raízes da amoreira arrancadas em tiras, molhadas, desembaraçadas por raspagem ou cozimento, são sobrepostas em camadas de tiras, colocadas lado a lado, e após descansarem enquanto os aglutinantes da seiva consolidam a massa, são marteladas ainda úmidas. Diversas operações são comuns entre a tapa e o papel, no entanto, na primeira, as fibras mais grossas são sobrepostas em camadas com direções constantes, enquanto, no papel, as fibras são curtas e dispostas aleatoriamente.61 O aproveitamento de fibras para a confecção de painéis flexíveis através de feltragem de pêlos de animais e fibras vegetais, o papiro (Cyperus papyrus), obtido através da técnica de “tapa”, e o pergaminho, através de peles de 58 LEROI-GOURHAN, 1984:172. RIBEIRO, 1987:38. 60 LEROI-GOURHAN, 1984:172-193. 61 LEROI-GOURHAN, 1984:174-176. 59 82 animais (carneiro, bezerros ou cabras), precederam a difusão mundial do papel, e as duas últimas são as matérias mais conhecidas. Técnicas antigas de confecção de papel ainda são utilizadas, mas sofreram adaptações, impulsionadas pela disseminação da imprensa, e com a produção em escala após a Revolução Industrial. A pasta composta por fibras cozidas era distribuída e martelada sobre uma fôrma de madeira com fundo de tecido, semelhante aos bastidores com fundo de tela que são utilizados atualmente na confecção de papel artesanal. A água escorre através do tecido e a pasta, quando seca, dá origem a uma folha de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA papel (Figura 47). Figura 33 – Confecção de papel artesanal. Em diversas regiões, fragmentos têxteis substituíram as fibras, em decorrência do aumento da demanda por fibras como líber, nem sempre disponíveis para a produção necessária. As fibras eram utilizadas em função de sua disponibilidade, e o aumento da demanda de papel também motivou a busca por outras fibras e por aperfeiçoamento técnico. Fôrmas de juncos e revestimento com pasta de amido permitiram aos árabes desenvolver papéis mais finos e adequados à escrita. Papéis encerados, com variedade de 83 revestimentos e tingimentos, foram desenvolvidos pelos chineses, que utilizaram, dentre as diversas fibras, o bambu cozido em meio alcalino (lixiviação). Utilizaram também tramas de bambus em substituição ao fundo de tecido das fôrmas, acelerando o processo de produção, ao liberar a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA folha de papel para secagem fora da fôrma (Figura 48). Figura 34 – Utilização de esteiras de bambu para prensagem das fibras na confecção de papel artesanal. O uso de madeira como matéria-prima para a produção de papel surge a partir de 1719, quando o naturalista René Antoine Ferchault de Réaumur observou que vespas produziam seus ninhos mastigando madeira e gerando um material semelhante ao papel (Figuras 49 a 51).62 62 Vespas polistes: o material produzido por estas vespas induziu, posteriormente, pesquisadores a desenvolverem os compensados. 84 Figura 35 – Vespas polistes Figura 36 – Ninho para abrigar a prole e seda para vedar as células. Figura 37 – Ninho de Polistes O uso de madeira para a produção de papel passa a annularis. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA atender à demanda decorrente da Revolução Industrial, ou seja, uma produção em escala com preços acessíveis. O aperfeiçoamento das técnicas de manejo durante o século XX permitiu reduzir o ciclo de crescimento das árvores, os custos de produção da madeira, aumentar a produtividade por área cultivada e conseqüentemente, reduzir os custos de transporte. O Brasil produz hoje eucalipto com ciclo de crescimento de sete anos63 e há iniciativas de emprego de espécies de bambu64 na produção em escala de papéis para embalagens e cartões. Foram utilizadas, no decorrer da evolução das técnicas de confecção de papel, fibras de cânhamo trituradas e revestidas por camadas delgadas de cálcio, alumínio e sílica, moinhos de trapos de algodão e linho para utilização das fibras, máquinas para a fabricação de papel contínuo (Figura 52), pasta celulósica e substâncias químicas para o branqueamento e beneficiamento do produto.65 63 ARACRUZ CELULOSE. Espécies de árvores para a fabricação de papel em escala possuem ciclo de crescimento em torno de oitenta anos (coníferas do litoral dos EUA). Hoje são utilizadas espécies com cerca de quinze anos (choupo preto, EUA). 64 ITAPAGÉ S.A. O bambu, uma gramínea, é utilizado pela Indústria Itapagé para a produção de papéis, cartões e embalagens. 65 ROBINSON: 1999:17-18. 85 O papel substituiu os suportes para a escrita, tais como folhas de palmáceas, ossos, conchas e tecidos de seda. Foi impulsionado pela imprensa, e hoje está inserido na vida contemporânea da sociedade de consumo, sendo encontrado em descartáveis, embalagens diversas, em produtos de higiene e de escritório. Embora haja iniciativas Figura 38 – Máquina Fourdrinier. que reduzam os impactos ambientais gerados pelo consumo do papel, este vem acompanhado pelo consumo de extensas áreas florestais nativas, pelo despejo de substâncias químicas tóxicas nos mananciais hídricos, e pelo consumo de energia e geração de lixo. O feltro, assim como o papel, é muito utilizado em indústrias para a confecção de tapetes e revestimentos de mobiliário. É conhecido desde o período Neolítico e utilizado PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA em cobertura de tendas de habitações dos povos nômades de origem turco-mongol da estepe asiática. Hoje é possível realizar uma feltragem controlada, dentro das especificações exigidas pelo mercado e de acordo com o processo de produção em escala e aplicações do produto, como na confecção de têxteis para o setor automobilístico. Apenas a lã possui naturalmente a propriedade de feltragem, um encolhimento irreversível através de agitação mecânica, lubrificante (água, sabão ou detergente) e temperatura. A maioria das teorias indica que as escamas direcionadas, existentes nas fibras de lã, são os principais fatores para a ocorrência da feltragem, mas não são os únicos (Figura 53). Os tecidos e malhas submetidos ao processo de feltragem perdem comprimento e largura, ganham espessura e sofrem alteração na aparência superficial. O feltro pode ser mais ou menos rústico em função da parte e do animal da qual a lã é obtida.66 A indústria hoje realiza a reciclagem em escala e desenvolve mantas semelhantes ao feltro, empregando fibras sintéticas e outros processos, buscando incorporar os atributos fornecidos pelas fibras naturais (Figura 54). 66 ERHART, [e outros], 1975-1976:66, vol. II. Figura 39 – Estrutura da fibra de lã. 86 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 40 – Reciclagem de papel em escala. 87 2.3.2. Compósitos & Laminação Os materiais compósitos são formados pela conjugação de dois ou mais materiais, que mantêm individualmente suas propriedades anteriores à união (Figura 55), e têm sido utilizados pelo homem há milhares de anos. Fibras naturais foram agregadas à argila, cozida ou não, e empregadas na construção como preenchimento de paredes e na confecção de tijolos. A partir de 1960, fibras metálicas e de vidro são agregadas ao concreto, mas os impactos ambientais e econômicos gerados motivaram o retorno ao uso de fibras naturais, principalmente as de origem vegetal. Fibras de coco, curauá, sisal, bambu, juta e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA cânhamo67 são algumas das fibras utilizadas nos compósitos reforçados, agora aplicados em outros segmentos, tais como o automobilístico, geotêxtil e de mobiliário. “A maioria dos materiais compósitos feitos pelo homem é composto por dois materiais: um material reforçado chamado fibra e um material base chamada matriz, na qual a fibra é embebida. Exemplos de materiais compósitos são concreto reforçado com aço ou bambu, e epóxi reforçado com fibras de bambu.” HIDALGO-LÓPES, 2003:163 Segundo HIDALGO-LÓPES, os materiais compósitos são encontrados sob três formas: compósitos fibrosos (fibras de um material em uma matriz de outro); compósitos granulados (partículas de um material e matriz de outro) e compósitos laminados (lâminas de um mesmo material ou diferentes, particulados). inclusive de compósitos fibrosos ou 68 O uso de materiais compósitos proporciona algumas vantagens em relação ao uso de materiais convencionais, tais como leveza, maior resistência a impactos e corrosão, maior durabilidade e dureza, e propriedades térmicas. A resistência e dureza dos materiais compósitos fibrosos são geralmente maiores do que as do mesmo material em volume, já que a disposição naturalmente organizada dos 67 HORROCKS e ANAND, 2000:372-406; e BRESCANSIN, 2002:1. Figura 41 – Material laminado. 88 feixes de fibras naturais interfere nas propriedades mecânicas. Os materiais laminados são aqueles formados por camadas ou reduzidos a lâminas (Figura 55). Na indústria têxtil, um material laminado é “a estrutura obtida pela colagem de dois tecidos diferentes ou pela simples aplicação de um impermeabilizante químico a um tecido qualquer”.69 Em um material laminado, um conjunto de lâminas é “empilhado” de modo que cada uma possa ser disposta em direção diferente ou não, com a finalidade de se alcançar determinada resistência. As lâminas são geralmente coladas com o mesmo material utilizado na matriz.70 Resíduos produzidos pela agroindústria da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA bananicultura do Vale da Ribeira (SP/PR) são aproveitados na produção de painéis laminados, compostos de folhas de papel confeccionadas a partir de fibras de bananeira71 e tecnologia tradicional, e posteriormente prensadas com resina de mamona (Ricinus communis L.).72 Esse material apresenta-se como uma alternativa sustentável para as comunidades da região, cujo potencial de produção é de 335.000m² por ano.73 Resistente a intempéries e aos raios UVB e UVA, é composto por matéria-prima natural, renovável e reciclável, e sua utilização possibilita a redução do consumo de madeira (Figura 56). A pupunha (Bactris gasipaes) é uma palmeira nativa da região Amazônica, domesticada há milhares de anos, mas sua exploração pelo agronegócio é recente, e seu 68 HIDALGO-LÓPES, 2003:163. SCHMIDT, 1999:90, vol. I. 70 HIDALGO-LÓPEZ, 2003:163. Os laminados de bambu são folhas de material compósito formadas por fibras, matriz, agentes ligantes, e enchimentos. As fibras podem ser contínuas ou não, tecidas em uma só direção, em duas direções ou de forma aleatória. São muito utilizados na confecção de painéis e revestimentos para a construção de habitações (Figura 54 e 55). 71 Diversas bananeiras do gênero Musa têm sido utilizadas para estes fins. 72 ESDI. O projeto Bananaplac, desenvolvido por alunos e exalunos da ESDI, foi apresentado na Conferência sobre Diversidade Biológica. 73 Cada dois cachos equivalem a dois pseudocaules, fornecendo 1 m2/ 2mm. 69 Figura 42 – Utilização de resíduos provenientes da bananicultura no Vale da Ribeira. 89 cultivo se apresenta como uma alternativa à exploração extrativa desse produto alimentício. A produção de sementes demanda um manejo periódico e seletivo das matrizes, que produzem sombra indesejável sobre o solo. A produção de compensados de pupunha a partir dessas matrizes fornece matéria-prima para a indústria moveleira através de tecnologia simples e sem emissão de poluentes, e representa a contenção do desmatamento através do aproveitamento de um subproduto. Além disso, os compensados de pupunha são resistentes e impermeáveis. No Brasil são produzidas anualmente trinta e dois milhões de toneladas de bagaço de cana-de-açúcar, das quais 70% são utilizadas como energia, e o restante é descartado74. A tecnologia de confecção de chapas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA aglomeradas para uso na fabricação de móveis, divisórias e embalagens foi desenvolvida e patenteada pelo Ibama (Laboratório de Produtos Florestais-LPF) e torna público o acesso ao processamento. Neste processo, retira-se a parte não fibrosa do bagaço (miolo da cana-de-açúcar), tritura-se e mistura-se o bagaço a um tipo de cola, formando um composto resistente que é posteriormente prensado. O bagaço de cana-de-açúcar (Saccarum Officinarum), resíduo da produção de álcool combustível, pode ser transformado em fibras para a produção de materiais compostos reforçados com fibras naturais, tais como plástico e cimento, substituindo a fibra de vidro em alguns casos, e substituindo outras fibras naturais mais caras, como sisal, juta e curauá, segundo Carlos Augusto Báccaro, gerente administrativo da Edra.75 São também confeccionados produtos para a indústria automobilística a partir de termoplásticos e de materiais compostos com fibras de bagaço de cana-de-açúcar, assim como um tipo especial 74 9,3 milhões de toneladas de bagaço de cana-de-açúcar apodrecem ou são queimadas nos pátios das empresas. 75 A Edra Eco Sistemas elaborou o projeto da fábrica de fibras secas a partir do bagaço da cana-de-açúcar, em Ipeúna (SP), com capacidade de produção de 3.000 toneladas por ano, ou seja, 12 toneladas e meia por dia. 90 de cano para transportar líquidos, que mistura a fibra e a resina biológica. Um composto de fibras de sisal impregnadas com resina epóxi tem sido utilizado na restauração e conservação de prédios históricos tombados, reduzindo o custo e impactos ambientais, ao substituir a fibra de vidro e fibra de carbono76 empregadas para esse fim. O Brasil é o segundo maior produtor de sisal do mundo, e a Bahia, onde a conservação de prédios históricos tombados é de fundamental importância, produz 90% da fibra77. Este composto, além das propriedades mecânicas adequadas para reforçar estruturas de madeira, gera empregos e contém um componente orgânico. Assim, o aproveitamento de fibras naturais na PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA confecção de compósitos e laminados nos mais diversos contextos, pode ambientalmente viabilizar diversas econômica, iniciativas na social e direção da sustentabilidade. Figura 43 – Laminador. Desenho de Leonardo Da Vinci. 76 O sisal custa nove vezes menos do que a fibra de vidro e 1.399 vezes menos do que a de carbono 77 As áreas produtoras, em geral, são regiões de baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). 91 2.3.3. Fiação & Cordoaria As fibras naturais podem ser aproveitadas em seu estado natural, sem preparação prévia ou após desfibramento (amolecimento ou fricção), para serem torcidas em fios e cordas. O rolamento das fibras é realizado entre os dedos, entre as palmas das mãos, entre a palma e a coxa, através de fusos e rodas de fiar e, posteriormente, Figura 44 – Fusos Indígenas. no estágio industrializado, através de caneleiras mecânicas (Figuras 58 e 59). Segundo LEROI-GOURHAN, o fuso é hoje um elemento universal. Embora não se possa precisar a data de seu aparecimento, foram difundidos em torno do PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Mediterrâneo, com o surgimento da olaria, cerca de 5000 A.C.78. As origens da roda de fiar também são pouco precisas, entre os séculos XII e XV, envoltas em hipóteses sobre a troca material entre Oriente e Ocidente, e cópias e representações de viajantes e comerciantes.79 Com a invenção do fuso, obtêm-se as três operações de fiação: estiragem, torcedura e enrolamento. A estiragem Figura 45 – Fiando com fuso. arrasta alguns filamentos de fibras, que são torcidos através do fuso, formando o fio, que é posteriormente enrolado quando o comprimento alcançado dificulta o trabalho. As duas principais formas encontradas para rodar o fuso são: através do fuso que pende livremente na ponta do fio, com rotação regular e lenta, ou do fuso com haste, lançado com velocidade sobre o fundo de uma tigela ou diretamente na terra, afrouxando até cessar, e finalizando com o enrolamento do fio em torno da haste (Figura 60). Segundo LEROI-GOURHAN, não há aperfeiçoamento progressivo entre o fuso e a roda de fiar e, embora teorias admitam que a roda de fiar chinesa seja a evolução do fuso, a incorporação de correia, volante e manivela permanece uma incógnita. Figura 46 – Fusos diversos. 78 LEROI-GOURHAN, 1984:182-187. Pesos de fuso foram encontrados em toda a região. 79 Idem. 92 “É pois, entre o estádio fuso e o estádio roda de fiar, forçoso admitir um salto brutal que em biologia se chamaria mutação e que, no caso da tecnologia, é a invenção...É inteligência que coincide com o próprio sentido de uma tendência. No caso presente, sendo a propriedade necessária do fuso o movimento contínuo, podemos exprimir o futuro do fuso por: tendência para um aparelho de movimento contínuo consistindo a invenção em criar um objeto imprevisível que realize esse futuro... entre os dois objetos80 tem lugar uma invenção, ou seja, um ato voluntário de criação.” (LEROI-GOURHAN, 1984:184) – (Figuras 61 e 62). Figura 47 – Aperfeiçoamento do fuso. Leonardo Da Vinci. Leroi-Gourhan continua: PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA “existindo a tendência permanente para torcer um fio de forma mais rápida e cômoda, surge uma série de homens que inventa objetos sucessivamente mais complexos para satisfazer o desejo que os anima. Estas invenções são feitas à custa de elementos preexistentes, por uma série de associações geniais, mas onde nada sai do nada. Num meio que possui já numerosas aplicações mecânicas da roda, é natural que o fuso e a roda se fundam para produzir a roda de fiar, mas é o meio e não a tendência que fornece aqui os elementos preexistentes.” (LEROI-GOURHAN, 1984:184) Figura 48 – Aperfeiçoamento do fuso. Jürgen. A junção de fios A junção de fios pode ser realizada por operações de retorcimento, entrançamento ou através de 81 retorcimento produz cordões ou fios cochados Segundo FONSECA, 82 nós. O (Figura 71). no cabo, os fios são chamados “carreta” e, quando em certo número são torcidos no sentido Figura 49 – Cabo de massa. contrário aos fios, formam os cordões. Três ou quatro cordões, torcidos juntos em sentido inverso ao destes cordões, formam um cabo, também chamado cabo de massa (Figuras 63, 64 e 65). Segundo LEROI-GOURHAN83, o entrançamento de três fios é universal e é aplicado tanto para fios finos quanto para cordames, e o entrançamento de fios múltiplos permite a confecção de verdadeiras tecelagens achatadas ou ocas, utilizadas em galões e correias (Figura 66 a 70). No artesanato e na confecção de artefatos indígenas, o entrançamento de palhas, costuradas então posteriormente, é muito comum. O camalote (Eichhornia crassipes Mart.), 80 A roda de fiar e o fuso. FONSECA, 1960:311. “Cochar” é a ação de torcer vários elementos em um cabo. 82 Idem. Serão sempre três ou quatro cordões, seja qual for a bitola (diâmetro) do cabo. 81 Figura 50 – Cabo de três cordas. 93 uma planta aquática abundante na região de Albuquerque (MS), era utilizada pelos índios guatós na confecção de esteiras e atualmente é aproveitada pela comunidade não indígena na confecção de artesanato. Os pecíolos das folhas são trançados após secagem e costurados com fios Figura 51 – Aparelho de manivela. de algodão ou nylon.84 A junção de fios por entrançamento é mais comum que o retorcimento, e a junção de fios através de nós é tão comum que inviabilizaria uma tentativa de esgotamento do assunto. No entanto, os “nós de marinheiro” representam de forma extensa inúmeras possibilidades de unir fios através de nós. A classificação por especialidades, segundo LEROIGOURHAN, permite perceber que as formas mais simples são comuns entre os nós de marinheiros, tecelões, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA correeiros, cesteiros e de costura, e a confecção de redes é uma aplicação dos nós. União de superfícies A costura une duas superfícies através de uma série de perfurações pelas quais transpassam um fio (não aquelas unidas por presilhas), formando pontos. A costura é empregada no vestuário, na união de tábuas e lâminas em machados, sempre que são perfurados e transpassados fios ou cordões. Os pontos, além de unir superfícies, são empregados ornamentação, para a através realização da de acabamentos introdução perfurações em intervalos regulares. dos fios e nas A indústria segue normas internacionais de classificação para pontos e costura. 85 Segundo LEROI-GOURHAN, a partir das inúmeras agulhas de grande precisão encontradas em cavernas do homem da Idade da Rena e da costura cuidadosa que realizava, pressupõe-se a confecção de um vestuário complexo para proteger-se do clima rigoroso, em vez de 83 LEROI-GOURHAN, 1984:190-191. BORTOLOTTO e GUARIM NETO, 2005:4. Esta planta é conhecida também pelo nome “gigoga”. 85 ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:858. 84 Figura 52 – Tear de tranças ocas. 94 somente cobrirem-se com peles. Objetos e instrumentos de corte e perfuração são indispensáveis para unir duas peças flexíveis através de costura: para as medidas, lâminas de osso, não implicando obrigatoriamente na confecção de moldes; para o corte, lâminas e trinchetes que serviam para talhar couro e tecidos, que ainda são encontrados entre os grupos artesanais, além de tenazes e tesouras86 de eixo. Foram utilizados também sovelas, agulhas de entalhes, agulhas de canal e agulhas de buraco, assim como o dedal, Figura 53 – Seqüência para confecção de cadarço. por vezes substituídos por peles mas não indispensáveis, e alfinetes, como meio temporário para unir duas peças flexíveis87. A importância dos fios e cordas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Quando se investigam fios e cordas, percebe-se a importância de alguns campos e de algumas fibras naturais em particular. Segundo FONSECA88, na construção naval, a confecção de cordas exige o emprego de matérias-primas com propriedades específicas, que suportem as ações Figura 54 - Seqüência para confecção de cadarço. mecânicas e do tempo, estando a obtenção da fibra submetida à sua disponibilidade regional e de mercado. Dentre as fibras naturais, a manilha (Musa textilis)89 é a fibra natural mais empregada na confecção de cabos de bordo, por ser pouco sensível à umidade, possuir alguma flutuabilidade e ser forte e flexível, mas, por deteriorar-se rapidamente, deve ser enxugada após o uso. O sisal é empregado em cordões, barbantes e na manufatura de madres90 para cabos de arame. Utilizada como substituta da manilha por ser mais barata é, no entanto, mais sensível ao 86 LEROI-GOURHAN, 1984:192-193. O autor acredita que as tesouras são de origem ocidental e foram incorporadas pelo Oriente. 87 LEROI-GOURHAN, 1984:192-195. Alfinetes de espinhos e alfinetes com minúsculos guizos eram utilizados. Agulha mais rudimentar: espinho terminal da piteira, obtendo-se simultaneamente o fio. 88 FONSECA, 1960: 307-311. 89 A manilha é semelhante à bananeira e conhecida como “bananeira selvagem”. A fibra para cabos de bordo é obtida a partir do caule. Esta fibra possui óleos que a torna pouco sensível à ação da água salgada. 90 A “madre” é o núcleo ou miolo de cabos. Figura 55 - Seqüência para confecção de cadarço. Figura 56 - Seqüência para confecção de cadarço. 95 tempo e mais áspera91. A fibra do coqueiro para esse fim é obtida a partir do caule e possui certa flutuabilidade. O cabo confeccionado é mais resistente à água e menos à ruptura que o confeccionado a partir da manilha. O cânhamo (Cannabis sativa) fornece cabos de grande resistência e, quando molhados, são bastante flexíveis, mas como a fibra absorve umidade com facilidade, recebe tratamento com alcatrão vegetal92 para que não se deteriore sob a ação do tempo. Sua aplicação se dá em cabos finos, fios e linhas. O linho (linum usitatissimum) para confecção de cabos navais pode ser utilizado a partir da casca em torno do caule e é mais leve e menos resistente que o cânhamo. A piaçava possui flutuabilidade, é 20% menos resistente que a fibra de cânhamo e, devido à rigidez PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA de suas fibras, as cordas são confeccionadas através de trançados, manualmente. O algodão, no caso de cabos navais, é utilizado na confecção de cabos finos, para coser ou para adornos, em que não há demanda por muita resistência. Encontramos na Arquitetura Têxtil o emprego de cabos no tracionamento e acabamento das bordas de coberturas tensionadas, que, segundo ELIAS93, também são chamadas tensoestruturas. As coberturas de membranas tensionadas são utilizadas na construção de abrigos temporários e de curta duração, abrigos desmontáveis, construções permanentes de grande porte e sombreamento, e proteção de grandes espaços abertos ao ar livre. A forma pela qual os cabos são confeccionados e a disposição dos fios que os compõem interferem em suas propriedades, já que as camadas (urdidura e trama) que compõem as 91 FONSECA, 1960: 308-309. Ao colocar-se fios de manilha e de sisal imersos em água salgada por dois dias, as fibras de manilha mantêm-se íntegras, enquanto as fibras de sisal desintegram-se. 92 FONSECA, 1960:309. O alcatrão vegetal é obtido a partir do pinheiro, preservando a fibra da umidade, mas reduz sua flexibilidade e a enfraquece. 93 ELIAS, 2002:59-71. Encontramos três categorias de tensoestruturas: estruturas tensionadas de membrana, estruturas tensionadas de malha e estruturas pneumáticas. 96 membranas são tensionadas e tecidas cada uma em direção diferente. Na indústria, o processo de fiação engloba a limpeza ou depuração das fibras (homogenização e abertura da matéria-prima), preparação (regularização e redução da massa por unidade de comprimento) e fiação (coesão da massa fibrosa linear. As características físicas das matérias têxteis com vistas à sua utilização no processo de fiação industrial são finura (título), comprimento, resistência, elasticidade, flexibilidade ou maleabilidade, pureza, capacidade de deslizamento ou atrito interfibras.94Para atender às demandas de mercado e às normas de comercialização, as indústrias aprofundam-se nas investigações dessas propriedades e organizam-se em PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA associações de grande complexidade. Figura 57 – Roda para fabricação de cordas. 94 ARAÚJO e MELO E CASTRO, 1986:148-149. 97 2.3.4. Tecelagem & Cestaria As técnicas de tecelagem e cestaria estão estreitamente relacionadas, independentemente de suas características empregadas. formais, de uso e EMERY não faça das matérias 95 Embora para sentido uma demarcação entre cestaria e tecelagem, a natureza do material empregado interfere de diversas maneiras na própria natureza e no uso do tecido, e quando elementos pouco ou não flexíveis são utilizados, a natureza dos tecidos será necessariamente diferente daqueles compostos por PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA elementos maleáveis. Figura 58 – “Warp-twining”: hastes torcidas. “Cestaria de um modo geral compreende tecidos que, devido à inflexibilidade de alguns ou todos os elementos que os compõem, possuem pouca ou nenhuma maleabilidade. Em tecidos não há propriamente elementos rígidos e inflexíveis devido em parte à maneira pela qual os elementos flexíveis são manipulados, o que não mudaria o status de uma cestaria para tecido”. (EMERY, 1994:210) Segundo a autora, é possível perceber certa “unidade” Figura 59 – Hastes torcidas. entre as técnicas de tecelagem e cestaria, havendo muito mais relações do que diferenças e, como são conjuntos de tecidos que se “sobrepõem em inúmeras áreas (...), nenhum dos dois grupos pode ser estudado ou compreendido sem referir-se ao outro” 96. Para a autora, é no produto, mais que na construção, que cestaria e tecelagem se diferenciam. A Figura 60 – Hastes cordadas (torcidas). execução manual em contraste com o uso de invenções, preparação dos elementos (fiação e torção), tamanho, flexibilidade, forma e qualidade do produto final são alguns dos critérios utilizados na diferenciação entre cestaria e tecelagem. “Esta unidade encontra-se na procura dos meios de reunir fibras que a natureza oferece de forma independente; a única solução consiste em entrecruzá-las, fornecendo as variações que se manifestam no modo de fazer os primeiros elementos de classificação”. (LEROI-GOURHAN, 1984:197). 95 96 LEROI-GOURHAN, 1984:192-197. EMERY, 1994:208-210. Figura 61 – Espiral camadas sobrepostas. de 98 Para EMERY, pode ser utilizado um critério ou vários, mas nenhum é aplicado a todos, e raramente sua estrutura é indicada como base de diferenciação. Segundo LEROI-GOURHAN, a principal diferença entre cestaria97 e tecelagem é ser a primeira executada com matéria-prima semi-rígida (palha ou talas de palmáceas, gramíneas), prescindindo de tear. A técnica de tecelagem Figura 62 – Cestaria de haste exige o uso do tear, para a tensão dos fios a serem espiralada. entramados. Na distinção entre cestaria e tecelagem, a matéria-prima exerce importância determinante. As técnicas empregadas nas estruturas de cestaria e tecelagem são semelhantes e utilizam elementos fortes ou finos, que podem ser dispostos em camadas sobrepostas, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA ou entrelaçadas. A técnica de camadas sobrepostas é muito empregada na construção de habitações, formada por duas Figura 63 – Espiral de hastes camadas não entrecruzadas, unidas por uma terceira cordadas. camada, ou mesmo elementos de amarração isolados (Figura 75). A técnica de camadas entrelaçadas através do cruzamento de duas séries de elementos, a urdidura98 que é fixa ao tear, e a trama disposta em ângulos retos em relação à urdidura (“um sobre e um sob”) geram um padrão simples quadricular (Figura 78). A complexidade de padrões é obtida a partir das variações de entrelaçamento entre urdidura e trama (respectivamente “montante” e “haste” no caso de elementos fortes), conforme a disposição da quantidade de elementos “sobre e sob”, formando desenhos em ziguezague, em “V” (chevron) consecutivos, losangos, quadrados, gregas, meandros, figuras zoomorfas, antropomorfas e outros. 97 RIBEIRO, 1983:16. A Itália e o Brasil Indígena: o indígena brasileiro associa a fiação das fibras ao uso do tear para confeccionar tecidos enquanto para os trançados, executam os artefatos com matériasprimas semi-rígidas como palha ou talas de palmáceas sem o uso do tear. A autora utiliza também o termo tramado para referir-se a cestaria. 98 LEROI-GOURHAN, 1984:197. A urdidura (“urdimento” ou “teia”) costuma ser mais resistentes que a trama em função das tensões exercidas sobre ela. Quando são utilizados elementos fortes, os elementos da urdidura são chamados de “montantes”, e os que formam a trama são chamados de “hastes” ou “ripas”. Figura 64 – Espiral de hastes tecidas. 99 Também as maneiras pelas quais os elementos móveis (trama, hastes) entrelaçam os elementos fixos (urdidura, montantes) interferem no padrão formado, e podem ser espiraladas, entretorcidas ou entretecidas (Figuras 72 a 77).99 Segundo LEROI-GOURHAN, não há como determinar qual o tipo de tear utilizado através do Figura 65 – Técnica de acoplamento. tecido, embora os teares modernos da indústria européia sejam considerados exceções: “...cada tipo de tear não corresponde a um tipo de tecido e a priori não se pode determinar a natureza do tear através do exame do tecido(...)num simples Castilho, apenas com o trabalho dos dedos, ou em qualquer tear, juntando à mecânica o auxílio da mão, se podem fabricar quase todas as texturas”. (LEROIGOURHAN, 1984:204) Encontramos nas mais diversas sociedades, sejam PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA elas tradicionais ou industrializadas, inúmeras formas de Figura 66 – Construção de rede indígena por acoplamento. teares, a utilização dos mais diversos calibres de fios, misturas de fibras, e a aplicação de cores através de grande variedade de técnicas de tingimento e estamparia (Figuras 79 e 80). As técnicas de tecelagem, transmitidas através das gerações em sociedades tradicionais, permitiram muitas vezes que estas sobrevivessem, desenvolvessem intenso comércio de seus produtos, e até mesmo marcarem presença nos rumos da história, motivando os homens através das grandes navegações. Hoje, nas sociedades industrializadas, teares circulares que produzem malhas para o setor de vestuário e automobilístico, e mesmo teares sofisticados que produzem membranas para coberturas de estádios esportivos, motivam os homens na direção de novos mercados. “Onde há rede, há renda” Técnicas de bordado já eram conhecidas durante a Pré-História (Figura 81)100. As origens do artesanato da 99 Quando os elementos fixos circundam os elementos fixos, os entrelaçamentos são chamados espiralados; quando são torcidos aos pares em torno dos elementos fixos, são chamados “torcidos” ou “cordados”; e quando transpassam os elementos fixos, sem torção, são chamados tecidos, “entramados” ou “entretecidos”. 100 BOUCHER, 1987:21. Figura 67 – Bordado: Idade do Bronze. 100 renda no Brasil são difíceis de determinar entre lendas e mitos, mas sem dúvida a colonização portuguesa exerceu forte influência no desenvolvimento da técnica. A presença portuguesa estabeleceu-se através dos ciclos econômicos, trazendo o conhecimento sobre padrões e técnicas européias de bordado e renda. Novos modelos foram Figura 68 – O artesanato da renda localiza-se nas costeiras e desenvolvidos no Brasil, e transmitidos como tradição proximidades ribeirinhas. familiar através de gerações. O artesanato da renda está estreitamente relacionado à atividade de subsistência pesqueira e vinculado à presença da mulher, fixando-se inicialmente nas proximidades costeiras e, posteriormente, nas ribeirinhas (Figura 82). Este artesanato, fonte de renda extra para muitas famílias, perde aos poucos espaço para outras PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA atividades sazonais e, posteriormente, para indústria, que Figura passa a absorver as rendeiras como operárias em 69 – Rendeira confecciona telas para pesca. tecelagens ou outros setores industriais, oferecendo retorno econômico imediato.101 Utilizam-se nós para a confecção de redes e rendas, e são muitos os “modos” de confeccioná-las (Figuras 83 e 84). Faz-se a renda de bilro a partir de um “molde” riscado e marcado com alfinetes102: são cruzadas linhas presas a Figura bilros103 acompanhando o desenho (Figuras 85 e 86). Figura 71 – Renda de bilro. 101 FUNARTE, 1965: 9-16. São também utilizados espinhos. 103 Os bilros, peças de madeira com uma bola ou fuso em sua extremidade, são instrumentos com cerca de 15cm, onde se fixam as linhas ou fios. 102 70 – Artesã utiliza navete. Figura 72 – Renda de bilro. 101 Os bordados, ornamentos realizados através da aplicação de retalhos diversos costurados sobre um fundo (bordado de aplicação), ou através de pontos costurados diretamente sobre tecido, utilizando-se agulhas e linhas coloridas (bordado de fios), podem ser realizados manualmente ou através de máquinas específicas e são empregados em peças de vestuário ou para o lar. É possível aplicar miçangas e outros materiais sobre o tecido. O delicado bordado “boa-noite” é realizado Figura 73 - Labirinto de Beribéri. desfiando-se o tecido em algumas áreas, que são esticadas em um bastidor e, posteriormente, através de linha e agulha, constrói-se o bordado unindo os fios que restaram. A cambraia é muito utilizada para esse fim. A renda “labirinto” ou "crivo" é realizada a partir de um desenho riscado sobre PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA um tecido (geralmente o linho), desfiado com auxílio de uma lâmina, e bordado com uma agulha fina. Utilizam-se também um bastidor e tesoura (figuras 87 e 88). Para a confecção do bordado “vagonite”, espaços desfiados dos tecidos são preenchidos por ponto cheio. Os desenhos realizados com Figura 74 - Labirinto de Beribéri. bordado em “ponto de cruz” são confeccionados com agulhas e linhas coloridas, sempre com pontos em formato de cruz. O cânhamo e o linho são muito utilizados como base. O bordado redendê utiliza tesoura, linhas, agulha e bastidor, unindo retalhos de tecidos nas formas de quadrados, losangos ou triângulos, por meio de barras. A renda nhanduti, ou tenerife,104 muito difundida nos países Figura 75 – Renda tenerife. latino-americanos através da colonização espanhola, alcançou o Brasil provavelmente através do Paraguai e hoje está ameaçada de extinção. Uma almofada ou bastidor é utilizado como suporte, sobre o qual é construída uma trama radial através de pontos e nós, formando desenhos que remetem ao mundo vegetal, animal e domésticos. A palavra “nhanduti” em guarani, significa “teia de aranha”, forma relacionada à estrutura formada durante a confecção deste tipo de renda (Figuras 89 e 90). 104 LACEMAKING CENTRAL e NHANDUTI DE ATIBAIA. Figura 76 – “Polka Spider”. 102 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 3 Natureza, Arquitetura & Design Figura 1 – Vista de pátio, por Hundertwasser. “A tecnologia desenvolvida pelo homem é imensamente amadora se comparada à elegância da renovação da invenção não-humana. O Homem não reconhece de forma espontânea, nenhuma tecnologia a não ser a sua, assim fala das demais como algo que indiferentemente chama natureza”. (FÜLLER, 1982:17). Aprendemos na natureza, ao observarmos as estratégias de sobrevivência das espécies, como se alimentam, se abrigam, se reproduzem. Aprendemos nos reinos animal e vegetal, nos ambientes terrestre e aquático, em climas árido, tropical, temperado e polar. À medida que minúsculas câmeras eletrônicas são desenvolvidas, observamos de forma mais precisa o comportamento de espécies de invertebrados, por exemplo.1 1 ATTENBOROUGH, Pequenos Monstros 1, A Invasão da Terra, Editora Abril, 2006. BBC-2005. 103 Observamos como se organizam em colônias para garantir a preservação da espécie e como reagem quando se percebem ameaçadas. Observamos também como produzem substâncias em forma de fios e como tecem suas teias para capturarem suas presas e construírem seus ninhos e suas tocas. Aprendemos e reproduzimos aquilo que vimos e adequamos às nossas necessidades. Aprendemos e reproduzimos fios, cabos e membranas, entrelaçamos e agregamos Aprendemos matéria, sobre artesanal estruturas ou industrialmente.2 biotêxteis3, estruturas encontradas na natureza que incorporamos às técnicas de fiar, tecer e construir têxteis, e estruturas desenvolvidas pelo homem, semelhantes, em sua organização, às formas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA “biológicas”, então incorporadas a outras técnicas. No campo da Arquitetura & Design, a partir de soluções e adaptações ao meio, desenvolvidas por outras espécies, “copiamos” a natureza ao adequarmos “idéias”, reproduzindo e ajustando-as através de investigações para o desenvolvimento de artefatos, abrigos, materiais e estratégias.4 “O que chamamos de “projeto” (design), em seu sentido mais amplo, é a moldagem dos fluxos de energia e de materiais feita em vista dos fins humanos. O projeto ecológico é um processo no qual nossos objetivos humanos são cuidadosamente inseridos na grande rede de padrões e fluxos do mundo natural. Os princípios do projeto ecológico refletem os princípios de organização que a natureza desenvolveu para sustentar a teia da vida. A prática do desenho industrial nesse contexto exige uma mudança fundamental da nossa atitude em relação à natureza. Nas palavras de Janine Benyus, escritora de divulgação científica, o projeto ecológico, “dá início a uma era baseada não no que podemos extrair da natureza, mas no que podemos aprender com ela”.5 (CAPRA, 2002:241). Assim, a partir de “exemplos naturais”, podemos encontrar experiências realizadas em Arquitetura & Design, 2 RIPPER E FINKIELSZTEJN, 2005:3-4. Referências aos estudos de DE VASCONCELOS sobre ninhos de pássaros. 3 Idem. 4 DE VASCONCELOS, 2000:158-284. 104 nos “modos de fazer e conceber” que acompanham os princípios e estratégias da natureza. “Pele - Roupa - Casa - Identidade - Terra” Hundertwasser (1928-2000), o “médico da arquitetura”, atuou em completa sintonia com os princípios da natureza. Em 1953, sintetiza sua visão de mundo através da pintura de uma espiral6, onde “Cinco Peles” representariam a interação por osmose de níveis de consciência sucessivos e concêntricos, relacionando indivíduo com seu meio: a Epiderme7, a Roupa; a Casa; a Identidade e a Terra. Através da “Casa de Hundertwasser”, passa de crítico idealista à Figura 2 – As cinco peles”, ação prática, convertendo-se em construtor, e declara sua PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA vocação de “médico da arquitetura” (Figuras 91 a 94). Figura 3 – Centro Trwmal de Blumau, por Hundertwasser. 5 CAPRA, 2002: 241. O autor faz referência ao livro Capitalismo Natural (Natural Capitalism), publicado pela Editora Cultrix, São Paulo, 2000, de Janine Benyus. 6 A partir deste momento Hundertwasser representa, através de espirais, seus pensamentos e suas teorias. 7 RESTANY, 2003. As “Cinco Peles” correspondem respectivamente a: primeira pele: zona membranosa mais próxima do indivíduo; segunda pele: seu “passaporte social” e reflexões sobre sua roupa, status social, e denúncia à padronização da moda; terceira pele: através da qual aborda a espiritualidade da matéria ao término de seu ciclo biológico e o direito “a fachada”; quarta pele: identidade e suas relações com o meio; e quinta pele: o mundo, a ecologia e a humanidade. por Hundertwasser. 105 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA “(...)Me nego a construir casas que possam danificar a natureza e as pessoas. (...)Somos simples hóspedes da natureza e deveríamos conseqüentemente nos comportar. (...)Um bom edifício deve conseguir unir as coisas: a harmonia com a natureza e a harmonia com a criação humana individual.” RAND, Harry, Hundertwasser, 2003:38-39. GUARDERIA Projeto Arquitetônico de Hundertwasser para FrancfortHedderheim. Viena, 14 de maio e 1987. Figura 4 – Casa Hundertwasser, Viena. “(...) A natureza deve crescer livremente onde caem a chuva e a neve; o que está branco no inverno deve ser verde no verão. Todos os elementos horizontais que se encontram abaixo do céu pertencem à natureza. Nas estradas e nos telhados devem-se plantar árvores. (...) A gente entenderá por fim a frase: a linha reta é atéia”. RAND, Harry, Hundertwasser, 2003:146-147.Manifesto: “Tu derecho a la ventana. Tu deber hacia el árbol.” Düsseldorf, 27 de fevereiro,1972. 106 “Qual a natureza da estrutura? Qual a estrutura da natureza?”8 Kennet Snelson, durante seus estudos na escola de arte Black Mountain College (CN, EUA), em 1948, interessou-se pelas idéias relativas a tensão e compressão de seu professor Richard Buckminster Füller. Começou a realizar experimentos através dos quais explora o espaço tridimensionalmente, com particular interesse em movimento, desenvolvendo um método de construção que agrega elementos modulares em que utiliza cabos como linhas de tensão para equilibrar os elementos no lugar. Richard Buckminster Füller efetuou algumas alterações neste princípio, aplicou-o às construções de domus geodésico que vinha realizando e nomeou-o tensegrety PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA (“tensão e integridade”). Figura Grip”. 5 – “Kellum’s Os maiores interesses de Kennet Snelson diziam respeito ao modo como a matéria é construída e a como articular espaço. Dedicou-se a investigar as propriedades físicas das estruturas, buscando tornar o espaço palpável através dos limites em que o sólido está contido. “Não estava interessado em escultura, mas sim em estruturas” (Figura 95, 96 e 97). Figura 7 – “Circlespheres”. 8 Kenneth Snelson dedicou sua vida artística a responder a estas duas perguntas. Figura 6 – “Diagonal Double Cross”. 107 Sua investigação sobre as forças físicas em nível macroscópico, que resultou no tensegrety, foi posteriormente direcionada às forças físicas em nível atômico. Os modelos desenvolvidos por Kenneth Snelson levaram cientistas a avançar nas pesquisas sobre o comportamento celular. Segundo INGBER9, as membranas celulares possuem tensegrety e são formadas por cadeias protéicas, densas ou ocas, comportando-se como cabos e hastes, e formando estruturas estáveis, porém flexíveis (Figura 98). Equilibram compressão e tensão, e suportam forças sem se romper. As membranas celulares tornaram-se objeto de interesse da NASA, pois reagem à gravidade, já PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA que peso proporciona tensão e compressão. Figura 8 – Membranas estruturais de células endotélicas humanas. “Synergetics” O comprometimento de Richard Buckminster Füller com a preservação do planeta levou-o a realizar experimentos que permitissem identificar e distribuir os recursos da Terra de forma justa, e proporcionassem melhora da qualidade de vida a todas as sociedades. O entendimento sobre a natureza e a tecnologia, no sentido mais profundo, foi possível através de suas 9 BIOTENSEGRETY e INGBER, 1998:48. Figura 9 – Domus, Buckminster Füller. 108 investigações, permitindo o avanço de sistemas modulares e estruturais eficientes, assim como de construções infláveis. Parte desses princípios está reunida em “Synergetics”, em que aborda geometria, pensamento e Universo (Figuras 99, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 100 e 106). Figura 10 – Domus de cartão, Buckminster Füller. Arquitetura Têxtil Frei Otto dedicou-se a investigações no campo da Arquitetura Têxtil, desenvolvendo tensoestruturas, e é um dos pioneiros na compatibilização ambiental e preservação de recursos naturais. Em seu treinamento de engenheiro de aviação, realizou experimentos e investigações acerca de tendas para abrigos posteriormente de avanços emergência, pioneiros promovendo em coberturas, matemática estrutural e engenharia civil. A partir de 1972, pesquisa estruturas biológicas, tais como malhas estruturais de conchas (Figura 101). A Arquitetura Têxtil utiliza a membrana como principal material para suas estruturas e coberturas. Essas membranas, constituídas por um tecido ou malha de fibras podem receber tratamentos para otimizar suas performances físicas e mecânicas, e permitem cobrir grandes vãos relativamente com baixo rapidez em de montagem comparação às e custo construções convencionais (Figura 102). As membranas tensionadas são Figura 11 – Instituto Leichtbau. 109 leves e relativamente finas, proporcionam ambientes com iluminação transparente ou translúcida e diversidade de formas de superfícies curvas. Figura 12 – Laboratório de investigação, Venafro, Itália. A Arquitetura Têxtil cujas origens estão associadas às PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA tendas de grupos sociais nômades, é utilizada em construções de rápida montagem e desmontagem, e de transporte fácil (Figuras 103 e 104). É inserida neste contexto devido principalmente à confecção de membranas para as coberturas dos Sistemas Modulares Têxteis e à Figura 13 – Tenda tuaregue. leveza requerida. Na Arquitetura Têxtil, as coberturas tensionadas são constituídas por membranas que cumprem as funções estruturais e de vedação. As membranas 10 tensionadas são formadas por mantas, cabos, elementos de suporte, ancoragem e fundação, e são classificadas Figura 15 – Tenda beduína. basicamente como estruturas tensionadas de membrana, que agem como estruturas e vedações; estruturas tensionadas de malha, que atuam de forma independente dos elementos de cobertura, e estruturas pneumáticas, que são sustentadas pela pressão do ar (Figura 105). As tendas nômades e yurts, cujas origens nos remetem a quarenta mil anos e a materiais como ossos, peles, e diversos elementos naturais, estão estreitamente relacionadas ao contexto socioeconômico do grupo e aos recursos e condições climáticas encontradas na região. O Figura 14 – Elementos de vedação de fachada, Osaka, caráter 10 geralmente provisório dessas habitações é Japão. METÁLICA. São também chamadas estruturas tensionadas, ou tensoestruturas. 110 evidenciado através dos elementos construtivos de fácil transporte e rapidez na construção, características que se refletem nas primeiras manifestações da Arquitetura Têxtil e objetos a ela relacionados. Hoje já é possível considerarmos uma Arquitetura Têxtil de caráter permanente11. Podemos perceber interfaces e fluxo de informação entre diversas áreas da ciência, ao investigarmos experiências em Arquitetura & Design, que seguem critérios e princípios da natureza e bem estar do homem, permitindo, assim, melhor compreensão sobre diversos sistemas. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA "Em todas as escalas da natureza, encontramos sistemas vivos alojados dentro de outros sistemas vivos - redes dentro de redes. Os limites entre esses sistemas não são limites de separação, mas limites de identidade. Todos os sistemas vivos comunicam-se uns com os outros e partilham seus recursos, transpondo seus limites”. Princípios da Ecologia - Redes. (CAPRA, 2002:239) Figura 16 – Exemplos de Design Geodésico na natureza. 11 Arquitetura Têxtil de caráter permanente manifesta-se através da construção de estádios esportivos, aeroportos e coberturas em edificações em grandes centros urbanos. 111 3.1. Exemplos Naturais “(...)Humanos têm assim desenvolvido um parque industrial complexo que é somente a magnitude de um jardim de infância se comparado à complexidade do sucesso biológico de nosso planeta Terra. No contexto da complexidade de integridade de design, o Universo é tecnologia. (FÜLLER, 1982:17) Aprendemos sobre acampamentos temporários12 quando observamos os morcegos albinos, conhecidos como “morcegos-fazedores-de-cabanas”.13 Cortam as nervuras laterais de folha, que se curva para baixo, formando uma “cabana” impermeável à água. Embaixo da “cabana”, a luz translúcida, esverdeada devido à cor da folha, camufla os pequenos morcegos albinos que se abrigam, imperceptíveis PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA a predadores. Aprendemos também sobre tensegrety quando observamos larvas que trabalham em mutirão na construção de “cabanas” tecidas com fios de seda, formando membranas fixas aos galhos de árvores. À medida que a população aumenta, adicionam andares à sua construção14. As formigas compõem a mais numerosa espécie encontrada e se agrupam em colônias, nunca vivendo de forma isolada.15 Da mesma forma, podemos encontrar espécies de minúsculas aranhas que também trabalham em “cooperativa”. Em “mutirão”, constroem imensas teias sobre as copas das árvores, a quinze ou mesmo vinte metros do chão e agem em conjunto na captura da presa, centenas de vezes mais pesada que elas. Excretam cola de suas fiandeiras, imobilizando e injetando veneno nas juntas da vítima. Aqui, o trabalho em equipe é crucial. Percebemos o uso econômico de material e de energia ao observarmos as vespas sociais em atividade na construção do enxu. A cada alvéolo, seis vespas se agrupam para a sua confecção, já que um número maior 12 1996. 13 14 ATTENBOROUGH, os Desafios da Vida, Construção do Lar, Idem. Idem. 112 produziria alvéolos excessivamente grandes para seu tamanho, e um número menor resultaria em alvéolos menores que seu tamanho. O resultado desse trabalho em sociedade é a construção de alvéolos hexagonais com regularidade e preenchimento dos espaços do enxu16. O aproveitamento de matérias-primas descartadas por outras espécies, o “reuso” de carcaças de outros animais mortos e da própria seda ou adesivo como alimento, após utilização na captura de presas, é um dos Princípios da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Ecologia. “Todos os organismos vivos, para permanecerem vivos, têm de alimentar-se de fluxos contínuos de matéria e energia tiradas do ambiente em que vivem; e todos os organismos vivos produzem resíduos continuamente. Entretanto, um ecossistema, considerado em seu todo, não gera resíduo nenhum, pois os resíduos de uma espécie são alimentos de outra. Assim, a matéria circula continuamente dentro da teia da vida”. Princípios da Ecologia – Ciclos. (CAPRA, 2002:239) 15 16 VASCONCELOS, 2000:193. VASCONCELOS, 2000:188. 113 3.1.1. Invertebrados produtores de seda “Apesar de nossa engenhosidade, ainda não conseguimos inventar nada tão resistente, tão leve ou elástico quanto a seda”. (ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006). Segundo ATTENBOROUGH, na história evolucionária, os animais da relva desenvolvem a “seda” há mais de Figura 17 – Vespa polistes. trezentos milhões de anos, e inicialmente a utilizavam sob a forma de adesivo. Mais resistente que um fio de ferro com o mesmo diâmetro, é elástica e pode ser esticada até mais de duas vezes o seu comprimento. Devido ao interesse comercial por seu fio, o bicho da seda é a mais conhecida espécie animal produtora de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA “seda”, mas não é a única. Outros invertebrados são também produtores de “seda” para sua sobrevivência. A larva da mariposa Bombix Mori, conhecida como bicho da seda, produz um filamento com o qual constrói seu casulo para proteger-se durante a metamorfose, quando então se transforma em borboleta17. Essa substância, um fio finíssimo produzido a partir de proteínas,18 é expelida através de movimentos circulares com a cabeça e com a parte dianteira do corpo. Em diversos casos, o material utilizado na construção do casulo serve como primeiro alimento para os rebentos invertebrados. As larvas das vespas Polistes (Figura 107), por exemplo, produzem uma membrana que é tecida somente para o fechamento das células de seus ninhos, onde se enclausuram até se transformarem em insetos alados. As vespas Cortesia introduzem seus ovos em uma lagarta, que morre durante a eclosão dos ovos da vespa. As larvas dessas vespas produzem uma seda, que se solidifica formando a crisálida embaixo da casca vazia da lagarta.19 17 VASCONCELOS, 2000:195-198. Inserir fotos. VASCONCELOS, 2000:200. Esta proteína é composta por glicina, alanina e serina, é muito resistente e se cristaliza parcialmente enquanto é retirada da glândula. O casulo consome até quatro quilômetros de fio. 19 ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006. 18 114 Também as aranhas possuem glândulas que produzem fios, compostos por cadeias de aminoácidos e com propriedades específicas para determinadas funções. Os fios podem ser mais grossos e resistentes, permitindo que a aranha caminhe sobre as teias, e orientando-a através da vibração produzida pelo toque da presa na teia. Os fios podem ser mais finos e pegajosos para capturar presas, ou próprios para acondicionar e proteger os ovos. Para alguns invertebrados, a estratégia continua sendo a utilização da “cola”, que precedeu a “seda”. O onicóforo não produz seda, mas, através de dois bicos localizados abaixo de seus tentáculos, esguicham dois jatos Figura 18 – Formigas tecelãs. de cola sobre sua caça, que se embaraça à medida que se debate, e a imobiliza com suas presas. Posteriormente, o PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA onicóforo engole a cola e devora o alimento.20 As larvas produzidas pelas formigas tecelãs21 são utilizadas somente para costura e colagem de folhas que formarão seus ninhos, e não para captura de alimento ou Figura 19 – Formigas tecelãs. desenvolvimento de novos indivíduos. Enquanto algumas formigas formam “pontes” (Figura 108), subindo umas sobre as outras e puxando as bordas de folhas, outras pressionam as larvas como “bisnagas”, que expelem o fio de “seda” para colar as extremidades das folhas (Figura 109). As lesmas Limax maximus produzem uma corda de muco pela qual deslizam e iniciam o estágio de acasalamento penduradas em um galho e suspensas no ar (Figura 110).22 Já a Ceraeochrysa cubana23 pendura seus ovos, um a um, em caules de plantas. Produz gotículas de seda pegajosa em glândulas localizadas em seu abdome, sob a forma líquida, que se solidifica à medida que a substância é expelida.24 Suspenso no ar, cada ovo possui seu próprio fio finíssimo, e não é percebido por predadores, Figura 20 – Lesmas Limax maximus. 20 ATTENBOROUGH, A Invasão da Terra, 2006. VASCONCELOS, 2000:195-196). 22 ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006. 23 ATTENBOROUGH, Construção do lar, 2005. 24 ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006. A seda líquida cristaliza-se enquanto é expelida. 21 115 mesmo que estejam a alguns milímetros de distância. São produzidos cerca de trinta ovos diariamente, que eclodem após três dias. Em 166525, o sábio inglês Hook indagou sobre a possibilidade de reproduzir um fio artificialmente, tal como o Figura 21 – Glândula bicho da seda. Nos séculos que se seguiram, patentes e produtora de seda em experimentos utilizando celulose abriram caminho para os aranha. primeiros resultados práticos em 1889: os primeiros tecidos compostos por nitrosseda artificial também utilizada como filamento incandescente em lâmpadas, e o processo de produção de viscose em 1892, transformando a celulose em um líquido viscoso para fiação. Figura 22 – fiandeira em Assim, a indústria têxtil reproduz, em suas unidades equipamento industrial de produção, o processo de “fiação” encontrado na têxtil. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA natureza. Os filamentos contínuos são confeccionados em equipamentos que muito se assemelham às glândulas encontradas em aranhas, através das quais produzem filamentos muito finos reunidos em feixes (Figuras 111 e 112). Tratamentos de texturização26 de filamentos podem tornar os fios produzidos pelo homem mais volumosos, extensíveis e elásticos. A observação e percepção das estratégias fornecidas pela natureza tornam-se cada vez mais viáveis pelo desenvolvimento de equipamentos e novos instrumentos de medição. Assim, através de investigações constantes, a indústria aperfeiçoa os processos e as composições de matérias-primas empregadas. 25 26 ERHART, 1975-1976:8-9, vol. III. ERHART, 1975-1976:33-34, vol. III. 116 3.1.2. Os vários “modos de tecer” São inúmeras as “estratégias” utilizadas por invertebrados na confecção de teias, e estão relacionadas à captura de alimento, à reprodução da espécie e à proteção de ninhos a intempéries e contra espécies invasoras. O louva-deus, as baratas e as aranhas, por exemplo, protegem Figura 23 – Arachnocampa as ootecas com fios de seda.27 Outros tecem seus abrigos luminosa. agregando gravetos aos fios de seda pegajosos e ainda úmidos. A caverna de Wautoma,28 Nova Zelândia, abriga uma das mais intrigantes estratégias utilizadas por invertebrados produtores de seda. Cada larva da Arachnocampa luminosa PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA (Figuras 113, 114 e 115), para capturar suas presas, emite uma luz azulada em uma de suas extremidades, produzida por substâncias químicas fosforescentes em um compartimento localizado ao lado de seus intestinos. Figura 24 – Arachnocampa luminosa. Figura 25 – Arachnocampa luminosa. O tubo de muco transparente pendurado, no qual está inserida a larva, é fixo ao teto da caverna através da seda produzida por glândulas localizadas na boca da larva, na outra extremidade. As larvas fixam os fios de seda à rocha 27 28 VASCONCELOS, 2000:198-201. ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006. 117 e, rodeadas por uma rede de fios, direcionam-se ao teto, de onde deixam pender nova seda. À medida que produz o filamento, que pode alcançar até um metro de comprimento, regurgita gotículas de “cola”. O conjunto centenas29 de de fios luminosos pendurados no teto da caverna forma cortinas de filamentos transparentes, pontilhados por luzes cintilantes, atraindo suas presas, que se debatem em meio aos fios perpendiculares e à cola dos fios pendentes. A larva, ao capturar sua presa, “apaga a luz” e acompanha os fios até a presa, devorando-a e comendo o fio de seda. A Antipluria urichi, o “fiandeiro”, constrói mantos de seda 30 em forma de “tendas”, impermeáveis à água e a odores, revestindo as árvores de florestas em Trinidad e PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Tobago. Essas membranas finíssimas formam galerias e as protegem de predadores que caminham sobre essa membrana. A impermeabilidade à água das mantas construídas pela Antipluria urichi a obriga a produzir pequenos orifícios para que possam beber a água acumulada sobre a superfície do material, que é rapidamente reconstituído. A seda não é produzida em suas bocas ou abdome, mas sim em glândulas localizadas em suas pernas dianteiras, que possuem cerca de cento e cinqüenta minúsculos ejetores de seda e formam um finíssimo tecido sedoso. Esses mantos possuem características importantes para a investigação de membranas na Arquitetura Têxtil: são extremamente leves, resistentes, impermeáveis à água e ao odor, mas não ao ar, suportam peso, permitindo que indivíduos dessa espécie caminhem na galeria formada pelas membranas, assim como da espécie predadora caminhem sobre a membrana, e cobrem grandes extensões. Segundo ATTENBOROUGH31, as armadilhas são provavelmente as primeiras formas nas quais as aranhas 29 A concentração de larvas pode chegar a centenas por m². ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006. 31 ATTENBOROUGH, Os Tecelões da Natureza, 2006. 30 118 empregaram a seda. As aranhas-de-alçapão tecem filamentos do lado externo (Figura 116), ligados a um colarinho de seda em torno de um buraco. Cada uma das patas da aranha, em contato com essa construção, obtém informações quando uma presa se move do lado externo, vibrando ou movendo os filamentos. Com extrema rapidez, captura a presa, abrindo o alçapão e levando-a para dentro do buraco. As teias orbiculares são mais recentes e mais sofisticadas na utilização da seda (Figura 117). Há aranhas Figura 27 – Armadilha de que podem tecer uma teia orbicular diferente em até uma aranha-de-alçapão. hora, a cada noite. Essa estrutura complexa pode compreender até sessenta metros de seda32 e até três mil interseções. Para construí-la, a aranha produz um filamento PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA de seda que, levado pela brisa, atinge uma superfície sobre a qual se adere, formando uma ponte. A aranha atravessa o filamento, trazendo uma seda mais resistente, amarrando-a na extremidade, e substituindo o filamento da ponte. Produz um eixo que pende do centro dessa ponte, de onde partirão os fios radiais e resistentes, que suportarão os demais fios, que serão tecidos em espirais. A primeira espiral, espaçada Figura 26 – Nephila: teia e temporária, servirá de andaime para as construções subseqüentes, mais resistentes, mais densas e menos espaçadas. À medida que tece, reveste uniformemente os fios com um adesivo, mas, ao terminar a seção, arranha com a pata, formando linhas de gotículas. Ao término, come o fio que serviu de andaime.33O adesivo, além de colar a presa, evita que a teia se deforme ou se parta, já que as gotículas preservam o excedente de filamento, formado com a raspagem da pata da aranha e que, no instante do impacto, se estica e logo retorna ao interior das gotículas. Ao detectar de onde partiram os movimentos sobre a teia, caminha até seu alimento, aprisiona-o e o envolve com uma manta de seda. 32 33 Idem. Podem conter até seis variedades de seda diferentes. ATTENBOROUGH, Construção do Lar, Editora Abril, 1991. orbital. 119 As teias construídas pelas aranhas Nephila são muito resistentes, com capacidade de capturar pequenos pássaros, e podem alcançar vários metros. No entanto, a grande dimensão de suas teias não permite que controlem a ocorrência de “pequenos furtos”, realizados por outras espécies em pontos mais distantes da teia. 34 Outras formas de teias produzidas por aranhas podem ser encontradas. A teia triangular é uma modificação da teia Figura 28 – Hyptiotes orbicular, como se esta fosse cortada. A teia da aranha paradosous: teia triangular. Hyptiotes paradoxus é triangular (Figura 118) e, para que seja eficiente, deve estar bem tensionada. A Hyptiotes aguarda sua presa que, ao atingir sua teia, é embaraçada e embrulhada rapidamente por um fio previamente enrolado e guardado em seu dorso. A aranha Deinopis subrufa constrói PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Figura 30 – Teia retangular uma trama de fios em forma de retângulo, que segura nas da aranha Deinopis subrufa. pernas para agilmente capturar e embrulhar a presa (Figura 119). Essa “rede” é construída a partir de multifilamentos de seda, que desfia, deixando-a felpuda, sem a necessidade de adesivo.35O ninho da Lycosa sp é construído para abrigar seus ovos e é carregado em seu dorso (Figura 120). Figura 29 – Lycosa sp. A Latrodectus hasselti, a viúva-negra, constrói em três dimensões, entre duas superfícies planas. Desce através de um fio até o chão onde o fixa e, junto a este, gruda um 34 35 Idem. ATTENBOROUGH, Construção do Lar, 1991. 120 segundo fio de reforço fazendo o caminho de volta e esticando-o. A viúva-negra realiza este processo dezenas de vezes, resultando em inúmeros fios pegajosos esticados verticalmente entre as duas superfícies, que, ao toque de cada caça, suspendem uma a uma, cabendo à aranha apenas puxar o fio com o alimento. 36 A aranha boleadeira (Figura 121) produz primeiramente um filamento reforçado onde permanecerá aguardando sua presa para, posteriormente, produzir um fio resistente, com uma gota pegajosa na extremidade, que utilizará como uma boleadeira. Produz também um ferormônio diferente para cada espécie que pretende atrair, capturando e embrulhando seu alimento para Figura 31 – Aranha boleadeira. posteriormente usufruir.37 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA A Pardosa nigriceps não tece teia, mas utiliza a seda como um fio de segurança que contém também informações para o acasalamento. A larva da mariposa Neureclipsis bimaculata, “caddis”, produz uma armadilha em forma de funil, cujas bordas são fixas a galhos submersos38. Essa estratégia é utilizada por pescadores que constroem “puçás”, redes em forma de funil, para capturar alimento. O homem provavelmente desenvolveu diversas estratégias de caça e Figura 32 – Confecção de pesca observando os “modos” pelos quais insetos produzem covo. e tecem suas teias. Assim, o homem utiliza armadilhas, redes, construídas a partir de fibras trançadas e fios entrelaçados, e sistemas de captura bastante semelhantes aos encontrados na natureza (Figura 122). Segundo LEROI-GOURHAN, a forma pela qual são confeccionados alguns artefatos de fibras naturais e técnicas de cestaria permite a contenção de líquidos. As estruturas construídas são utilizadas na produção de capas de chuva, botes, baldes e abrigos, não havendo, assim, necessidade de impermeabilização (Figuras 123 e 124). Figura 33 – Capa de chuva de fibras. 36 Idem. Idem. 38 DE VASCONCELOS, 2000:198. 37 121 “(...) A utilização normal destas matérias é o fabrico de recipientes cilíndricos ou cúbicos de juntas quase suficientemente estanques para permitirem o transporte de líquidos. (...) A casca de bétula da Sibéria tanto serve para fazer baldes e caixas como sandálias de tiras tecidas (...)As fibras que recobrem o tronco das palmeiras, cosidas em placas, servem em todo o Extremo Oriente para fabricar capas de chuva (...).39 (LEROI-GOURHAN, 1984: 172-173. Evolução e técnicas; O Homem e a matéria I). Kenneth Snelson, na intenção de encontrar respostas às suas indagações sobre “como as coisas se conectam”, Figura 34 – Balde de fibras. realizou experimentos relacionados à tecelagem e a considera “mãe do tensegrety”. Segundo SNELSON, existem basicamente duas estruturas de tecelagem, sendo PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA as demais variações (Figura 125 a 129): “Quando dois objetos se cruzam, dois eixos são criados acompanhando as diagonais: um possui movimento helicoidal para a direita em sentido horário, e outro possui movimento helicoidal para a esquerda, em sentido antihorário. Isto, juntamente ao magnetismo com suas polaridades norte e sul, elétrons e prótons, tem-se as origens da binaridade. Esta dualidade que ocorre a cada cruzamento ensina a primeira lição sobre estruturas da natureza. O fenômeno “helicoidal” tem papel vital em determinar como as coisas se conectam” KENNETH SNELSON, acesso em 30mai2006. Assim, aprendemos como a natureza tece Figura 35 – Cruzamento de filamentos: eixos em movimento de hélice. e reproduzimos redes, tecidos e membranas, construímos estruturas e nos organizamos em Sistemas de redes. “As trocas de energia e de recursos materiais num ecossistema são sustentadas por uma cooperação generalizada. A vida não tomou conta do planeta pela violência, mas pela cooperação, pela formação de parcerias e pela organização em redes”. Princípios da ecologia – alianças (Parcerias). (CAPRA, 2002:239) Figura 36 – Tela. Construímos membranas, o principal material utilizado na "Arquitetura Têxtil", com o objetivo de aplicá-las como coberturas e estruturas. As malhas ou tecidos utilizados 39 LEROI-GOURHAN, 1984:172-173. Referências à utilização de cascas de plantas. Figura 37 – Diversos autores referem-se a estruturas semelhantes. 122 estruturalmente são geralmente compostas por malhas ortogonais de fios, variando tanto na espessura do tecido, quanto no título40 do fio e na quantidade destes por cm². As membranas tensionadas recebem uma estrutura de sustentação organizada sob forma de reticulados espaciais, garantindo eficiência estrutural; as hastes de sustentação são leves e muito resistentes, geralmente com seção transversal tubular. As mantas tramadas obtiveram atenção especial por parte das indústrias que a produzem. Durante o processamento, as mantas tramadas, que geralmente recebem tração diferenciada em cada sentido41 de fibras (urdidura e trama), podem ser pré-tracionadas nos dois PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA sentidos42 antes de receber a camada de revestimento. Figura 39 – Bola de rattan em cestaria. 40 SCHMIDT, Glossário:94. vol. II.Grandeza que expressa densidade linear de têxteis lineares, como fibras, filamentos e fios. Relaciona massa a um determinado comprimento (título direto) ou comprimento a uma determinada massa (título indireto). 41 Anisotropia. 42 Isotropia Figura 38 – Relação entre conexões tensegrety e cestaria. 123 3.1.3. A utilização de fibras, papel e adobe Podemos perceber que os materiais para a construção de ninhos e tocas são encontrados nas proximidades de suas construções, e que estes abrigos estão geralmente localizados de forma protegida, em função do período de hibernação. Encontramos fibras vegetais, ramos finos de plantas, folhas secas, grãos de areia e argila na composição do material utilizado para a construção de seus ninhos. Encontramos polpa de papel produzida por invertebrados, como vespas, formigas e cupins, na composição de seus abrigos. Secreções produzidas por formigas são utilizadas PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA como aglutinantes. As formigas Lasius fuliginosus produzem papel, embora tenham sido as vespas as primeiras espécies observadas sob este aspecto. Enquanto as vespas mastigam e trituram a madeira, que é misturada à saliva gerando um material moldável (Figura 132), há formigas que “criam um rebanho” de afídeos e coccídeos, que fornecem o “material de construção” pegajoso, concentrado em açúcar. Figura 40 – Ninho de formiga carpinteira. 124 Há formigas que selecionam uma árvore ou madeira com alguma cavidade, e cortam a matéria seguindo o caminho das fibras, de modo a preservar ao máximo a parte mais resistente. A madeira esculpida pelas “formigas carpinteiras” (Camponotus spp.) assemelha-se às construções vernáculas encontradas em diversas partes do mundo (Figuras 130 e 131). As vespas sociais (Vespidae) também constroem abrigos leves, precisos, e com isolamento térmico muito eficiente devido aos alvéolos hexagonais de paredes extremamente finas. Suas colônias são construídas somente para abrigar os ovos e a criação de novos indivíduos, já que não habitam estes locais. Constroem “lajes” que servem de suporte circundando seus abrigos pendurados em um ramo PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA horizontal de árvore. Figura 42 – Lasius fuliginosus: notar a posição do ovo na célula. A vespa Trypoxylon fabricator, conhecida como “vespa-tubo-de-órgão”, constrói ninhos de barro com paredes finas como papel, que não se retraem nem racham quando secam, provavelmente devido ao aglutinante contido em sua saliva, proporcionando às suas construções resistência e impermeabilidade à água. Em função da madeira ingerida, a cor de suas colônias pode variar. Figura 41 – Local do ninho de formiga carpinteira. 125 As construções das casas de barro em forma de pote das vespas solitárias do gênero Eumenes (vespas-poteiras) são supostamente os modelos que ensinaram aos índios americanos a confecção de suas jarras cerâmicas (Figura 133). Essas vespas, após selecionarem o local43 para construção, preparam uma bola de argila e saliva, transformam-na em fitas, que são dispostas em círculo e modelam o gargalo. Finalizam com o fechamento do gargalo Figura 43 – Ninho de vespa poteira. com uma bola de argila, após abastecer o ninho com lagartas, já que este foi confeccionando somente para acondicionar sua prole.44 Assim como nas construções de vespas, os cupinzeiros alcançaram excelentes “soluções arquitetônicas” para as questões de circulação de ar, ventilação e umidade, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA através da elaboração e disposição de galerias internas. Os cupinzeiros são mais fortes que os formigueiros, e a composição da matéria utilizada em suas construções tem sido objeto de pesquisa para impermeabilizantes. Podemos encontrar soluções extraordinárias nas construções de ninhos de pássaros, não apenas devido aos materiais utilizados, como também através das estratégias de confecção dessas construções aparentemente frágeis. Utilizam gravetos, fibras, flores, penas, barbantes, peles e pêlos de animais e teias de aranha que, em alguns casos, podem servir como adesivo devido ao visgo, além de elementos encontrados nos lixos urbanos e na própria saliva, como aglutinante45. Os ninhos construídos por pássaros podem surpreender pela sofisticação de seus nós elaborados, trançados, e compósitos de fibras com solo cru. Utilizam, como ferramentas, o bico para furar e tecer, as asas para alisar o barro, a língua para rolar bolas de argila na boca, e 43 O local pode ser uma folha, uma casca de árvore, ou o teto de uma casa. 44 DE VASCONCELOS, 2000:191-192. Anestesiam as lagartas que servirão de alimento quando os ovos eclodirem. Os mesmos procedimentos são realizados pelas “vespas-cavadoras” (família Sphecidae, ordem Hymenoptera. “asas de membrana”). 45 DE VASCONCELOS, 2000:84. 126 as pernas para firmar o material e se firmarem no galho. A conjugação de diversos materiais para a formação de compósitos é bastante encontrada. “Na natureza, podemos perceber que todos os materiais biológicos são compósitos, sem exceção. Exemplos encontrados de compósitos naturais incluem madeira, em que a matriz de lignina é reforçada com fibras celulósicas, e ossos, em que a matriz composta por minerais é reforçada com fibras colágenas. Desde a Antigüidade, encontramos exemplos de compósitos feitos pelo homem, como adobes reforçados com palha para evitar a quebra da argila, e o uso de colmos de bambu no reforço de adobe e lama em paredes no Peru e China”. (HIDALGO-LÓPES, 2003:163). O beija-flor ermitão, por exemplo, utiliza fios de seda para aderir, à folha ou teto, a construção de seu ninho. O pássaro alfaiate (Orthotomus sutorius)46 utiliza seu bico PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA como agulha para furar folhas verdes e costurá-las com fibras vegetais, torcendo as fibras de algodão quando curtas, ou utilizando pedaços de fios de teias. A costura das folhas é finalizada com um nó firme e não aparente, que protege seu ninho. O pássaro tecelão macho constrói seu ninho a partir de um primeiro nó, o mais importante, que deve ser firme. Posteriormente, constrói um aro, não muito grande para que não entrem predadores, nem pequeno demais, a ponto de impedir sua entrada no ninho. Utiliza fibras ainda verdes retiradas das proximidades e lamina-as no próprio local de obtenção. São necessárias mais de mil tiras para a construção de seu ninho. Esse pássaro, caso não consiga atrair uma fêmea a partir de sua construção, irá desmanchála e construir outra em seu lugar. 46 É conhecido popularmente como serra-serra, tício, pineu e veludinho. 127 3.1.4. A Natureza que produz cabos A natureza ensina-nos a confeccionar cabos e cordas, e aprendemos com elas ao observar como é “torcida” uma corda natural de liana. As trepadeiras herbáceas e lenhosas, estas últimas também conhecidas como lianas e cipós, não possuem troncos e necessitam de estrutura que lhes dê suporte, crescendo verticalmente ou, horizontalmente, quando caem no chão. Seu crescimento em busca de luz e apoio direciona-as em movimento helicoidal e de Figura 44 – Ponte suspensa de cipó. alongamento, enroscando-se e encurvando-se em função do suporte encontrado. O enrolamento de cipós e trepadeiras em torno de um suporte garante a fixação da planta, através PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA do atrito (Figura 135). Segundo DE VASCONCELOS47, “a natureza é capaz de encontrar o ângulo correto de ascensão para evitar o escorregamento”. As lianas regeneram-se através de sementes ou brotos de raízes e caules caídos de outros indivíduos. Segundo CALQUIST48, possuem tecidos moles abundantes (parênquima) no xilema, proporcionando Figura 45 – Crescimento grande helicoidal. flexibilidade, e vasos de grandes diâmetros, aumentando sua capacidade hidráulica de forma a abastecer grandes áreas de folhas (massa foliar). O cipó é uma planta também muito resistente a microorganismos, não havendo necessidade de tratamentos, apenas necessitando de limpeza adequada e secagem ao ar livre. A coleta do cipó49 é legalmente permitida, exceto em áreas preservadas, e deve ser realizada ainda verde cortando-se as partes mais finas, sem atingir a soca. São consideradas como “pragas” no setor da indústria madeireira e entre os silvicultores devido ao seu Figura 46 – Crescimento rápido crescimento (Figura 136). 47 DE VASCONCELOS47, 2000:281-283. ECOLOGIA.INFO. Ecologia das Trepadeiras. Apud PUTZ. 49 PORTAL DO ARTESÀO. Guia Prático do Artesão. 48 em torno de suporte garante sustentação. 128 Foi possível a confecção de cabos finos e resistentes, torcidos e posteriormente trançados em inúmeras seqüências, e de cordas de cipós, com tecnologia relativamente simples, a partir da grande resistência dessas fibras vegetais. Para a confecção de artefatos, deve ser trabalhado ainda verde caso contrário, perde a flexibilidade, devendo ser deixado de molho em água para seu amolecimento (Figuras 134, 137 e 138). Na Arquitetura Têxtil, os cabos são utilizados no tracionamento e acabamento das mantas, e variam em Figura 47 – Corda natural de liana (esq.) e corda artificial confeccionada pelo homem (dir.) função do processo de fabricação e disposição dos fios, arames ou cordas que os compõem, geralmente enrolados em espiral em torno de um fio ou conjunto de fios centrais. São elementos flexíveis, que suportam trações e esforços PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA de grandes toneladas, e as camadas que os constituem são Figura 48 – Cabo de arame dispostas cada uma em um sentido. Os cabos podem ser descochado. dispostos de forma ajustável ou fixos nas extremidades. Algumas trepadeiras proporcionam néctar e pólen para insetos, aves e morcegos, servindo também como vias de locomoção entre as copas de árvores para animais arbóreos (Figura 139). O aumento das concentrações de dióxido de carbono Figura 49 – Cipós como na atmosfera devido à ação humana está mudando a vias de acesso para a composição dos ecossistemas: os cipós se beneficiam mais do que outras espécies, sufocando árvores e reduzindo a capacidade das florestas de absorver gases que provocam o efeito estufa. "O ecossistema é conectado. Você muda uma parte e outras partes provavelmente mudarão também. É um exemplo de como não podemos prever como o mundo responderá às mudanças que estamos causando". FOLHA ONLINE, PHILLIPS. Crescimento anormal de cipós pode afetar o ecossistema. fauna. 129 3.2. Sistemas Modulares Têxteis: um “modo de fazer” Arquitetura & Design Pesquisa no LILD O LILD tem-se caracterizado pelo trabalho de pesquisa experimental de estruturas de bambu associadas ao barro cru. Estudos mais recentes no laboratório têm incorporado também outros materiais que começam a ressurgir, como fibras naturais e impermeabilizantes e resinas à base de óleos vegetais, conjugando diversas tecnologias empregadas geralmente em materiais têxteis. Conceitos inovadores de sistemas construtivos, princípios de economia da engenharia estrutural, interações e mesclas de materiais acompanham e determinam as PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA investigações e construções experimentais do LILD. Assim, são também investigadas a redução dos impactos das ações humanas, questões relativas às trocas energéticas, e estratégias encontradas na natureza. Os Sistemas Modulares Têxteis foram desenvolvidos visando a atender à necessidade de obter vedações e coberturas para habitações, de acordo com os projetos de estruturas arquitetônicas em desenvolvimento no laboratório, utilizando técnicas acessíveis e matérias-primas disponíveis. Um “modo de fazer” Arquitetura & Design A urgência por estratégias e processos mais adequados ao ciclo de vida do sistema-produto impulsionou esta dissertação na direção da sustentabilidade, das tecnologias artesanais têxteis, e de conhecimentos regionais passados de geração a geração. Investigações sobre alternativas de design sustentáveis e sobre tecnologias artesanais têxteis, tais como nhanduti, bordados, rendas, tecelagem e cestaria, utilizadas em artefatos de comunidades tradicionais, e o intercâmbio com a equipe do LILD, forneceram os instrumentos e as condições favoráveis para o 130 desenvolvimento do Sistema Modular Têxtil. A partir das interações pesquisadas, protótipos experimentais foram realizados em laboratório, permitindo conjugar fibras naturais à forma do objeto, associá-las e adequá-las à construção de membranas tensionadas. Este sistema foi desenvolvido com base nas propriedades das fibras naturais, nas tecnologias e objetos de Arquitetura & Design que empregam essas fibras e, principalmente, nas interrelações das fibras com o meio físico e social. Os Sistemas Modulares Têxteis apresentam-se como um “modo de fazer design” sustentável, possibilitando a utilização de tecnologias regionais, matérias-primas renováveis locais, e economia de energia e vias de transportes, na construção de membranas estruturais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA arquitetônicas. Sistemas Modulares Têxteis Os Sistemas Modulares Têxteis são estratégias de construção de membranas estruturais flexíveis que utilizam técnicas artesanais têxteis, técnicas de modelagem e princípios da Arquitetura Têxtil como meio de realização. Tal como na modelagem de vestuário, a membrana “veste” a habitação: a cobertura é dimensionada, e “moldes” são realizados acompanhando as deformações do tecido. O posicionamento do urdimento e trama nos planos da modelagem da cobertura influi nas deformações causadas pelo tensionamento da membrana. A disposição das fibras, e o desenho da trama influem decisivamente na 50 performance mecânica da membrana . Assim, a forma do artefato determina a modelagem e indica a própria forma do tear, ou seja, do bastidor que atua como infra-estrutura para o “molde”: uma estrutura de apoio à construção da membrana. Os elementos têxteis sustentados pelo bastidor são trançados e dispostos no tear, que pode ser modular integrado à estrutura do objeto, ou 50 RIPPER e FINKIELSZTEJN, 2005:3. 131 acoplado posteriormente. Sem cortes de tecidos, o material têxtil é pré-modelado e pode ser pré-modulado. Objetivos dos experimentos Os experimentos foram realizados com o objetivo principal de elaborar seqüências de procedimentos que permitissem a construção de moldes e módulos para o desenvolvimento de membranas estruturais arquitetônicas. A questão “como construir coberturas e revestimentos para habitações a partir de fibras naturais” permeou todo o processo de concepção e elaboração dos protótipos experimentais, tendo em vista conjugar matérias-primas, técnicas (“modos de fazer”) e equipamentos: 1. Levantar e verificar meios de disposição das fibras PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA naturais nas membranas. 2. Articular técnicas artesanais têxteis e seqüências de procedimentos para a construção dessas membranas. 3. Fixar as membranas e fios aos “módulos-moldes” (elaboração de teares/ infra-estrutura). 132 3.2.1. Estudo de caso Princípios e protótipos experimentais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Ilustração 1 – Estudo de entrelaçamento para modelo experimental. Princípios do sistema Princípios que conceberam as bases dos Sistemas Modulares Têxteis foram elaborados a partir da realização de protótipos experimentais em laboratório. Cada molde possui sua própria infra-estrutura de apoio à manta, que atua como um tear51. A forma do artefato determina a forma do tear, que pode ser tridimensional Figura 50 – Estudos de superfície mínima. (Figura 140), ou a forma planificada do objeto tridimensional. Assim, o tear é construído sob medida em função da forma ou da estrutura do objeto, podendo atuar como elemento modular. Neste sistema, as membranas ou mantas que compõem as coberturas das construções são obtidas a partir de fibras tecidas ou entrelaçadas diretamente em Figura 51 – Modelo experimental:materiais em infra-estrutura pentagonal. moldes. Seqüências de estruturas flexíveis são construídas, fixas e dispostas sobre a infra-estrutura rígida de sustentação (Figuras 141 e 142), formando um “compósito de estruturas flexíveis”: as membranas trançadas e/ ou tecidas podem ser maleáveis ou rígidas (Figura 143), com 51 Estes teares têm função semelhante às de caixilhos, bastidores que apóiam os fios para o tecimento. Figura 52 – Modelo experimental: tecimentos em infra-estrutura pentagonal. 133 utilização aparente, recobertas por solo cru ou outros materiais. A matéria-prima das membranas ou mantas é selecionada conforme a disponibilidade regional de fibras naturais. É obtida a partir de plantas através de uma série operações, como laminação e desfibramento, torcidas em processos de fiação, reunidas em mantas com procedimentos semelhantes à confecção de papel, ou Figura 53 – Modelo experimental: tecimento de rede pantográfica em bastidor retangular. dispostas em feixes de fibras ou fios. As mantas, ou feixes de fibras e fios podem ser resinados, formando materiais compósitos (Figura 144). Materiais e procedimento experimental Foram realizadas investigações associando matériasPUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA primas, disposição de fibras trançadas e organizadas, Figura 54 – Modelo experimental: disposição dos feixes de fibras de juta. modulação de teares, e aspectos formais, dimensionais e estruturais através de técnicas artesanais têxteis. As investigações conduziram à elaboração de “compósitos flexíveis” através da modelagem de mantas e membranas, acompanhando a forma do objeto e suas linhas de resistência (Figuras 161 a 166). Com o objetivo de investigar o funcionamento do Sistema, foram realizados protótipos experimentais para a Figura 55 – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado. construção de um cone simulando a cobertura de uma habitação. Utilizaram-se bastidores circulares, empregandose o princípio de modelagem planificada da forma tridimensional do objeto (Figuras 145, 146 e 147). Modelos experimentais preliminares foram realizados como etapas do processo seqüencial de investigação e concepção do Sistema Modular Têxtil, verificando-se o comportamento dos materiais, processos e tecnologias empregadas: 1. Figura 56 – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado. A juta foi utilizada como matéria-prima para a confecção de um cone planificado, devido à disposição organizada de suas fibras. 2. Telas de juta foram fixas aos bastidores, simulando uma estrutura flexível de suporte para as fibras na formação da manta (Figuras 148 a 156). Figura 57 - – Investigação de tecimento radial em bastidor circular para construção de cone planificado. 134 3. A técnica de bordado permitiu a primeira fixação e disposição de fibras radialmente, acompanhando as linhas de resistência da forma cônica da cobertura (Figuras 158 a 160), tornando a membrana extremamente resistente. Fixação de três círculos concêntricos através de bordado, servindo de pontos de fixação para os feixes radiais de fibras. Fixação Figura 58 – Utilização de técnica de bordado. através de bordado da primeira seqüência de linhas radiais de preenchimento, seguida posteriormente por nova seqüência de linhas radiais, ocupando os espaços vazios resultantes da fixação das linhas de resistência da forma. Arremate com sobreposição de fibras nas extremidades e pontos que serão Figura 59 – Arremate. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA submetidos aos maiores esforços. Investigação e articulação de tecnologias 1. Utilização de tecnologias artesanais têxteis, tais como nhanduti, bordado e tapeçaria (Figuras 167 e 168). 2. Interação da rede com nós de pescador com a forma radial da renda nhanduti, permitindo a realização de uma série de estudos sobre a disposição de Figura 60 – Detalhe do arremate. flutuadores para as construções em meio fluido. (Trabalho realizado pela equipe do LILD com o emprego de técnicas utilizadas para a construção de “filtro de sonhos” – Figura 168).52 Investigação de disposição das fibras e mantas 1. Verificação de potencialidade de técnicas e simulação de materiais diversos para confecção de mantas. 2. Figura 61 – Técnica de bordado. Experimentos relacionados à tridimensionalidade e camadas de tramas sobrepostas em deslocamento: uma superfície esférica triangular feita com redes de algodão sobrepostas, fixadas em seu perímetro como na renda de bilro, utilizada para investigar “modos de estruturar” as cascas de barro cru. 52 Filtro de sonhos, mandala de cura de origem nativa norteamericana: o filtro dos sonhos faz parte da medicina xamânica. Figura 62 – Manta bordada. 135 3. Fibras conjugadas entre si e com outras matérias como bambu, barro cru e resina de mamona. Investigação de teares 1. Construção de redes pantográficas para investigação Figura 63 – Manta bordada. de elasticidade da trama (Figura 163). 2. Dimensão dos teares: relação homem-objeto (Figura 177). 3. Fibras contínuas de juta bordadas sobre uma tela também em juta, fixada sobre um bastidor, modela a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA estrutura da cobertura esférica de uma habitação. Figura 64 – Modelo de concepção e detalhe. Figura 65 – Modelo de concepção e detalhe. Figura 68 - Bordado acompanha linhas de resistência da forma. Figura 67 – Modelo de concepção e detalhe. Figura 69 – Disposição de pontos de fixação. Figura 66 – Verificação das deformações de uma rede de trama ortogonal em superfície esférica. Figura 70 – Sobreposição de redes de trama ortogonal. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 136 Ilustração 2 – Disposição dos feixes de fibras e forma contínua. Figura 72 – Tecimento sobre tear triangular. Figura 73 – Tecimento sobre tear triangular. Figura 71 – Elasticidade de malha pantográfica. Figura 74 – Disposição do urdimento em função das linhas de resistência da forma. Figura 75 – Manta com disposição aleatória dos fios: detalhe. Figura 76 – Módulos triangulares acoplados: utilização de tear triangular. 137 Figura 78 – Urdimentos de rede indígena. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Ilustração 4 – Feixes de fibras acompanham as linhas de resistência da forma. Figura 77 –Filtro de sonhos. Ilustração 3 – entrelaçamento em infra-estrutura espiralada. 138 3.2.2. Conclusão dos experimentos Características do Sistema O Sistema Modular Têxtil mostra-se como uma alternativa vantajosa em determinadas situações de produção, já que pode substituir a utilização de tecidos industrializados em bobinas e de fibras torcidas e fiadas. O tecido é construído seguindo o perímetro do molde, em vez de cortado a partir de bobinas padronizadas com dimensões predeterminadas. Evitam-se as aparas, com Figura 79 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu utilização da matéria-prima de forma integral, minimizando- tensegrety. se costuras das partes e viabilizando-se a confecção de tecidos tridimensionais, como se faz em suéteres e em PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA lingeries industrializadas atualmente. Assim, não há desperdícios de matéria-prima, já que o material têxtil é prémodelado, pré-modulado e arrematado em sua forma exata, sem a necessidade de cortes. Figura 80 – Rede para cobertura de Pode-se evitar a etapa da fiação com a utilização de domus geodésico de bambu fibras ou feixes de fibras dispostas de forma organizada. Os tensegrety. feixes de fibras, quando dispostos de acordo com as linhas estruturais determinadas pelo cálculo estrutural, aumentam a resistência do objeto em função da construção do tecido. A utilização de fibras naturais não fiadas, não torcidas e pouco processadas, além de simplificar o processo, facilita a penetração do barro cru nos feixes de fibras. Em situações em que seja necessária a utilização de fios, a Figura 81 – Rede construída a direção e características dos fios (titulação, composição) partir de “filtro de sonhos” sobre podem ser predeterminadas conforme especificações do trama de bambu tensegrety. projeto. A tecnologia empregada é simples, acessível e exige poucos recursos, sem desperdícios com relação à energia empregada especializada. e sem necessidade de mão-de-obra 139 Conclusão dos Experimentos Os Sistemas Modulares Têxteis desenvolvidos no LILD para a confecção de vedações de coberturas para habitações apropriam-se de tecnologias artesanais têxteis, adaptando-as também a ao outros processo objetos, experimental. devido Aplicam-se principalmente à possibilidade de modelagem e modulagem, ao princípio de Figura 82 - Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre utilização de tecnologias acessíveis e ao uso de materiais trama de bambu tensegrety. disponíveis. No LILD, os experimentos foram realizados em bastidores utilizados para bordar, podendo-se usar o bambu como infra-estrutura (Figuras 169 a 171). Fibras, como sisal, juta, cipó, de bananeira e de coco podem ser utilizadas na confecção da manta. Aqui foram utilizadas técnicas de PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA bordado, podendo ser empregadas outras tecnologias Figura 83 - Rede construída a partir de “filtro de sonhos” sobre têxteis, associadas ou não, tais como cestaria, tecelagem, trama de bambu tensegrety. nhanduti, croché, conforme as demandas do objeto e a tradição artesanal encontrada na região. As técnicas de “sopapo”53 aplicadas às mantas dos módulos formam vedações constituídas de fibras e barro, adequadas a coberturas e revestimentos. A umidade da fibra deve ser considerada, já que, quando ressecada, tornase quebradiça e pouco maleável. Figura 84 - Rede construída a O trabalho pode ser executado por vários indivíduos partir de “filtro de sonhos” sobre simultaneamente, cada um com um tear, ou por um único trama de bambu tensegrety. indivíduo, no mesmo bastidor, bastando para isso retirar o tecido confeccionado e repetir o processo quantas vezes necessárias. A partir das interações levantadas durante a pesquisa, o emprego dos Sistemas Modulares Têxteis em Arquitetura & Design demanda a verificação caso a caso de sua Figura 85 - Rede construída a aplicação e contexto, ou seja, em função de sua utilização partir de “filtro de sonhos” sobre trama de bambu tensegrety. no ambiente ou em objetos. 53 Técnica de aplicação do barro cru muito utilizada no passado rural brasileiro. 140 Os Sistemas Modulares Têxteis são perfeitamente adequados às construções de domus tensegrety desenvolvidos no LILD, podendo ser utilizados a partir de módulos móveis acoplados à construção, ou construídos diretamente sobre a infra-estrutura de bambu dos domus, acompanhando assim as variações formais estruturais desse tipo de construção (Figuras 172 a 178). Os protótipos experimentais realizados permitiram a elaboração de princípios que fundamentam os Sistemas Modulares Têxteis. Desdobramentos futuros As membranas compostas por fibras naturais, construídas a partir dos Sistemas Modulares Têxteis, devem PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA ser investigadas conforme as características e exigências específicas do objeto ou projeto a ser projetado. Para fins de implantação do sistema em projetos futuros de Arquitetura & Design, as interferências causadas pelas ações do tempo, esforços mecânicos e adaptações das fibras e tecnologias artesanais têxteis de cada região devem ser investigadas caso a caso. O manejo e beneficiamento das fibras utilizadas, e o processamento das fibras e dos objetos devem ser cautelosamente verificadas para que não haja interferências na saúde dos indivíduos ou no funcionamento do objeto. A degradação causada pelo uso de agrotóxicos, ou o uso excessivo de uma fibra, sem respeitar os limites de recomposição natural do meio, invalida a proposta inicial desse sistema. Assim, cabe também verificar se uma mesma amostra utilizada em situações diferentes proporciona resultados diferentes ou não. Ensaios específicos em função da aplicação do objeto são importantes: permeabilidade seletiva (ar, água, raios UV), impermeabilização (aplicação de impermeabilizantes à base de mamona, por exemplo), testes de resistência Figura 86 – “Filtro de sonhos” aplicados à Arquitetura & Design. 141 mecânica, a fungos, à erosão, ventos, deformações e durabilidade, alteração de odores e coloração. A realização de um diagnóstico socioeconômico da região se faz necessária, respeitando as tradições tecnológicas do grupo social, considerando-se também a obtenção racional da fibra. Evita-se, assim, a degradação Figura 87 – Relação dimensional ambiental e social, preservam-se vias de acesso, garantindo “homem-tear” para aplicação dos Sistemas Modulares Têxteis objetos arquitetônicos. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA a disponibilidade das fibras. Figura 88 – Rede para cobertura de domus geodésico de bambu tensegrety construída no LILD. em 142 4 Considerações Finais "Ao que me parece, se há um ser supremo então Ele escolheu a evolução orgânica como um meio de trazer à existência o mundo natural... o que não me parece de forma alguma blasfêmia”. ATTENBOROUGH No processo de elaboração de projetos de Arquitetura & Design que utilizam fibras naturais, percebemos algumas conseqüências possíveis do uso inadequado do conhecimento, da matéria e das tecnologias, assim como a PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA importância das experiências, dos “modos de fazer” e daqueles que “fazem” na elaboração de diretrizes para realizá-los. Neste processo, além do manejo, obtenção da matéria-prima, tecnologias e levantamento dos impactos ambientais e sociais percebidos, as perguntas “como” e “para quem” devem ser continuamente revistas, já que o processo é dinâmico, assim como a própria natureza (humana ou não). Desta forma, estão nas interações, as linhas conectoras do sistema, tecendo através do conhecimento uma rede de variáveis em permanente movimento. A natureza, orgânica e dinâmica, readapta-se às perturbações que lhe causamos. Enquanto classificamos e ordenamos a natureza, ela se transforma e existe, independentemente de nossas tentativas de enquadrá-la em novos compartimentos classificatórios. Mas, ao observarmos e reproduzirmos suas estratégias, a compreendemos, ao menos, um pouco mais. Oitocentos anos serão necessários para classificarmos toda a biodiversidade brasileira. Até lá, muitas oportunidades de conhecermos estratégias da natureza terão desaparecido com a extinção de inúmeras espécies... oportunidades para avançarmos na compreensão de seus 143 mecanismos e no comprometimento com a elaboração de “diversidade de estratégias sustentáveis”. A concepção dos Sistemas Modulares Têxteis é apenas uma, possíveis. dentre Através articulam-se a das “diversidade” interações conhecimentos sobre de alternativas desses Sistemas, tecnologias entre sociedades e campos da ciência, economizam-se recursos materiais, energéticos e vias de acesso, além de viabilizarem-se novos “modos de fazer” Arquitetura & Design. Os Sistemas Modulares Têxteis viabilizam a sustentabilidade de construção de membranas estruturais arquitetônicas que aproveitam fibras naturais, por comportar em si diversidade de alternativas. A conjugação de elementos modulares a partir de tecnologias artesanais PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA têxteis, demonstradas através de algumas técnicas existentes, revela que o leque de possibilidades de desdobramentos é vasto e diverso, já que cada grupo social possui seus próprios ”modos de tecer, bordar, e rendar”. A infra-estrutura rígida dos módulos desse sistema pode ser agregada a outros com formas variadas, em sucessivas conexões seqüenciais. O tecido que constitui a base da membrana é uma estrutura flexível e pode ser construído a partir de técnicas de renda filé, renda labirinto, renda rendendê, ou mesmo croché, formando uma rede semelhante às de pescador. Podem acompanhar as linhas de resistência da forma e serem construídas a partir de técnicas de nhanduti, ou mesmo a partir dos “filtros de sonhos”, um artefato utilizado por índios americanos para afastar os “maus sonhos” das crianças. Também as fibras naturais empregadas podem interferir na natureza e no comportamento dos módulos, em função de suas propriedades físicas, tais como resistência, impermeabilidade, flexibilidade, durabilidade, facilidade de obtenção, processamento e resistência a microorganismos e raios solares. Encontramos não apenas diversidade de fibras, mas também similaridades, possibilitando adaptações e adequações tecnológicas em regiões diferentes que 144 possuam espécies afins. Entendem-se como adaptações possíveis as referências aos grupos de gramíneas, de palmáceas ou de bromeliáceas, ou mesmo quando de gêneros diferentes de uma mesma espécie. Esse mesmo pensamento estende-se aos grupos sociais, que podem incorporar outros procedimentos aos seus processos tecnológicos. As soluções contidas em projetos de Arquitetura Têxtil para coberturas, revestimentos e membranas utilizadas em estádios esportivos e aeroportos, embora sejam de custo relativamente baixo se comparadas às utilizadas em construções convencionais, nem sempre são adequadas às construções rurais, pois são inviáveis economicamente. São muito sofisticadas e não atendem às necessidades PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA imediatas ou de manejo, de comunidades isoladas. Neste caso, as membranas construídas a partir dos Sistemas Modulares Têxteis são mais adequadas, pois utilizam matérias-primas encontradas na região, sem a necessidade de importação de tecidos industrializados, utilizam mão de obra local não especializada, e sua tecnologia é simples, sem a necessidade de grandes investimentos. Compósitos a partir de redes e mantas construídas sob medida, e na medida das necessidades, possuem potencialmente mais chances de eficiência e facilidade para adaptações, o que não seria possível em unidades produtivas em escala, cujas mudanças em linha de produção são mais complexas e lentas devido às dimensões e ao comprometimento com a produção em escala. No entanto, deve-se lembrar que quando incorporamos novos materiais a um processo, seus impactos nem sempre são conhecidos ou percebidos e poderão levar muitos anos até se revelarem. Os sistemas Modulares Têxteis devem seguir os parâmetros ambientais de manejo, não utilizar substâncias tóxicas durante o ciclo de vida do sistema-produto, e acompanhar a reposição natural do ambiente, e a distribuição justa de recursos. Nem mesmo as alternativas 145 sustentáveis são iniciativas que possam caminhar de forma isolada. Mudanças profundas nos hábitos de consumo são cruciais para se evitar os desperdícios e a produção de resíduos, viabilizando um sistema mais eficiente. Assim, quando observarmos a natureza para reproduzi-la, a ênfase nas estratégias, mais que em sua materialidade, mostra-se como o principal instrumento de adequação dos sistemas. “Copiar a natureza” significa permitir às gerações futuras nos reconhecerem pelas estratégias, e não pelos resíduos das “sociedades do desperdício”. Pretende-se, com esta dissertação e com a concepção dos Sistemas Modulares Têxteis, despertar o interesse de pesquisadores, profissionais e estudantes em estratégias PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA encontradas na natureza, como fonte de conhecimento para a elaboração de novos “modos de fazer e conceber” Arquitetura & Design. Pretende-se também motivá-los na busca por outros conhecimentos, diversos dos que estamos habituados, sobre tecnologias e culturas tradicionais, fundamentais nas interações humanas. Assim, Arquitetura & Design, quando inseridos no contexto da sustentabilidade, agregam o valor de não deixarem “marcas”. Agora “sabendo que sabemos”, assim como os impactos, as alternativas possíveis nem sempre são percebidas. Tecer novas interações e conjugar estratégias apresentam-se como os grandes desafios por “novos modos de fazer e conceber” Arquitetura & Design. 146 5 Referências Bibliográficas ARAÚJO, Mário de; MELO E CASTRO, E.M. 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Anexo Entrevista: Oscar Hidalgo-Lópes PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Entrevista a Oscar Hidalgo-Lópes, por Beatriz Finkielsztejn, em 22 de junho de 2005, LILD, Laboratório de Living Design, PUC-RJ, Rio de Janeiro, Brasil (Figura 179). O Sr. atua com arquitetura, certo? Qual a sua formação profissional, e quando e como começou o seu interesse pelo bambu? Bem, primeiro eu me formei pela Universidad Nacional de Colombia como arquiteto, em Bogotá, na Colômbia, e... Quando meu interesse pelo bambu começou? Desde que era criança praticamente, e... Eu nasci em uma casa de bambu, porque os povoados e as cidades no Estado de Caldas, na Colômbia, onde eu nasci, eram, em sua totalidade, de bambu. Mas é um bambu que você pode ver no livro. É uma moradia que era revestida exteriormente com um morteiro de cimento. Então hoje em dia não se sabe se esta é de tijolo ou de bambu? Então nesta região onde eu nasci, os pobre lhes davam um acabamento muito regular à casa, e as famílias ricas sempre ofereciam muitos empregos com os acabamentos...E...As portas e as janelas tinham uns acabamentos especiais, muitos feitos em madeira! Então assim se diferenciavam as classes...As classes baixas... Mas ambas usavam o bambu na construção...Não sei se me entende. Bem...Um dia..e...Comecei. Quando eu fui à Universidade. Digo, antes de chegar à Universidade. Na Colômbia havia uma rejeição a tudo que fosse bambu. Então quando eu ingressei na Universidade, me recordo que fizeram um trabalho para fazer uma casa. Então eu lhe perguntei. Uma casa...Que cada um deveria desenhar uma casa...e...Quando eu perguntei ao professor se poderia desenhar uma casa de bambu, ele me disse: “você está louco?! Como passa na sua cabeça dizer-me semelhante bestialidade? Você veio aqui para aprender a construir com concreto e com tijolos! Nem madeira, nem bambu admitimos aqui.” Isto era o que havia como certo na Universidade. Em que ano? Isso foi no ano 1959... Que comecei a estudar na Universidade. Quase que não podia nem falar de bambu e se...e...como arquiteto e... Bem, mas quando eu saí da Universidade meu interesse era continuar estudando a Guadua, como se chama na Colômbia, mas eu não sabia que a Guadua era um bambu porque não havia estudos sobre ele. Então um dia, eu era professor já da Universidade, e...E um dia recebi de um amigo uma cartilha Figura 1 – Oscar HidalgoLópes. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 158 que dizia “o bambu como material de construção” e nesta cartilha encontrei que o bambu da Colômbia era o melhor bambu que existia na América e dizia: “o melhor bambu”. Então, nesse dia, abriram-se as portas para estudar bambu, que era a Guadua que eu não sabia que era um bambu, e eu pensava que era uma árvore. E são duas coisas completamente diferentes, como vou dizer mais adiante. Então, como não havia nada aqui, de estudos sobre o bambu, decidi ir-me ao Japão e às Filipinas. Mas primeiro eu não tinha dinheiro. Pois então construí dois edifícios para bancos em Bogotá, na Colômbia e... Ganhei alguns centavos...E, com isso, eu fui para os Estados Unidos primeiro. E aí decidi dedicar-me a trabalhar com uma companhia que me deu a oportunidade de trabalhar,...Uma companhia chamada Bechtel, em Nova York, como um desenhista de décima categoria, porque não havia nem o décimo. Quer dizer, do mais baixo. E aí, nesta companhia, comecei a ascender de posto: desde o mais baixo até que cheguei a designer da companhia. Então fui transferido para Washington para desenhar plantas nucleares. Então fui ao Japão e encontrei então um PARAÍSO de informação. Estive no Japão, na Universidade de Tóquio e nas Filipinas, no Instituto de Bambu. Essas experiências me ajudaram muito nos estudos que estava fazendo, e lá encontrei uma quantidade de aplicações com materiais, de acabamentos, em construção, em compensados e...tudo o que se pode fazer com bambu. Então regressei com toda a informação que tinha à Colômbia, e me dediquei a escrever um livro explicando o que era o bambu. Que a Guadua era um bambu e não uma árvore, como se acreditava na Colômbia. Então toda a informação que eu recolhera coloquei no livro e...Depois, quando se publicou o livro vieram os comentários dos engenheiros florestais contra mim, dizendo: “como pode um arquiteto, que não era especialista em madeira nem nada, dizer que a Guadua era um bambu, sendo que a Guadua era madeira!” Se pode imaginar a ignorância que havia nas escolas de silvicultura. Então foram brigas constantes. Na Universidade me dediquei a estudar e fazer estudos das propriedades mecânicas da Guadua, e já se puseram a descobrir que a Guadua é um material extraordinário. Bem, esta foi a forma com que eu dei meu primeiro passo nesta coisa de bambu. Além da atividade em arquitetura, o Sr. exerce também outra atividade? Poderia descrever essa atividade, qual a formação necessária, quais são as limitações técnicas, e equipamentos que você precisa usar e conhecer? Veja, quando eu comecei a estudar as propriedades físicas e mecânicas do bambu, somente uma atividade me ajudou a realizar alguns estudos, porque ninguém estava interessado em fazer estudos originais sobre a Guadua. Então me dediquei a trabalhar, como te dizia, a estudar as propriedades mecânicas e encontrar uma resistência... A Guadua tem uma resistência tremenda...Em alguns casos, PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 159 chega a ser um pouco superior à do aço, como demonstram as investigações realizadas por Yeh em Taiwan, em 1995, que deu uma resistência máxima do feixe vascular de aproximadamente 13.700 kg. Quando se trata da fibra, a fibra do bambu tem uma resistência tremenda, algumas maiores que o aço. Na Guadua temos uns feixes vasculares, onde estão os condutores... e estão todos os feixes vasculares rodeados de fibras. Da área que existem fibras depende a resistência do bambu. Isto pode-se ver ampliando , em uma fotografia, e pode-se determinar se o bambu tem grande resistência por exemplo à tração, à compressão ou para outros propósitos. Bem, o problema que tive foi que muitas poucas entidades me ajudaram nisso. “Quem quer estudar a Guadua?” Eu era como um louco. “Um louco de começar a trabalhar com um material de pobres!” É, mas você não sabe o que temos. Bem, assim começou a coisa...e fui estudar na Ásia e...E lá fui complementando as coisas e fazendo mais investigações. Sai de lá, da Universidade já completei como uns 18 anos e saí...E montei uma fábrica...Uma oficina! Fábrica soa como um Rockefeler, uma oficina de desenvolver as técnicas na Colômbia de bambu laminado, com extraordinária resistência...e que se pode fazer qualquer coisa: curvas, ou o que for. E aí comecei a descobrir o potencial extraordinário, tanto assim que agora vim ao Brasil...a convencer pessoas para começar a trabalhar em laminados em estruturas e na fabricação de móveis de bambu. O Sr. também tem uma experiência acadêmica. Poderia nos falar um pouco desta sua experiência? Sim. Estive na Universidade. Estive... Primeiro eu fundei um Centro de Investigação que se chamava CIBAM, Centro de Investigação de Bambu, na Universidade. Até os desenhistas eu tinha que pagar do meu bolso porque a Universidade não tinha como pagar. Então o salário ia todo pagar as pessoas que me ajudavam e aí foi onde fiz estudos sobre laminados e... Diversos estudos que agora quero desenvolver. Depois, saí da Universidade porque não podia resistir, pois...Porque pagava a todo mundo porque a Universidade não tinha como. Então venho aqui, fazer o que gosto, neste país com gente muito querida, muito amáveis...E tenho apoio de muita gente aqui e aí venho a dar conferências aqui, e fui ao Centro de bambu de Maceió, que lamentavelmente já se acabou também por falta de... Que aspectos de sua vida influenciaram na condução da pesquisa sobre bambu? O fato de que na Colômbia ninguém tinha nenhuma idéia do que era o bambu. Sempre foi um material usado geralmente por gente muito pobre para construir suas habitações, tanto na Colômbia quanto no Equador. A diferença das habitações do Equador e da Colômbia é que nós, na Colômbia...e...os antigos, os camponeses, há muitos anos desenvolveram com o bambu, curiosamente, as melhores técnicas de construção que hoje existem no mundo no campo da PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 160 habitação. Porque no campo da engenharia, foram os chineses, porque construíram pontes suspensas com mais de 100 metros de vão com cabos...de bambu...Que tinham até 30 cm de diâmetro. Então, (abre a página 297 de seu livro Bamboo the gift of the gods...) os hindus, se é assim que podemos chamá-los, da Índia, foram os que desenvolveram as técnicas de utilizar o bambu nas construções de domus (Figura 180 a 182). Os famosos domus da Índia foram inicialmente desenvolvidos pelas castas mais pobres, que eram os “chudras”, e não lhes permitiam usar outro material diferente do bambu para construir suas habitações, já que as castas mais altas usavam a pedra, as castas intermediárias usavam a madeira, e os “chudras”, que eram as castas mais baixas, somente podiam usar o bambu. Eles desenvolveram todas as técnicas de construção, as melhores técnicas de construção do mundo, de todo o mundo. Por exemplo, a ...a estrutura do Taj-Mahal, a forma, foi desenvolvida por eles em bambu, e estas formas depois foram construídas em madeira, e finalmente em pedra como o Taj-Mahal. Todas estas coisas foram as que me empurraram a estudar o bambu, em todos os sentidos: as propriedades físicas e fazendo experimentos. O Sr. poderia citar alguns projetos que mais o surpreenderam e descrevê-los? Sim! Precisamente! O que te dizia agora. Na Índia os “chudras” foram os que desenvolveram todas as tecnologias para construir seus domus como tem... domus feitos inicialmente de bambu, mas depois fizeram em madeira e pedras, que foram uma estrutura extraordinária desenvolvidas pelos “chudras”. Estas e as pontes suspensas chinesas foram as que mais me surpreenderam (Figuras 183 e 184). Com relação a estes cabos, poderia falar um pouco mais sobre estes cabos, na China? Os cabos, em bambu...a parede do bambu possui três zonas, poderíamos falar de terços, um terço interior, que é a zona mais macia que é atacada pelos insetos; a mediana, agora , a exterior é a zona de maior resistência que há, que é a zona que eu disse que há fibras... fibras e algumas dessas fibras têm uma resistência maior que o aço. Nesta zona externa está a maior resistência do bambu, e na zona central está a intermediária, entre a de maior resistência e a de menor resistência. As do centro e as de fora são as que mais se usam para construir estruturas porque são as zonas mais densas, de maior quantidade de fibras e, conseqüentemente, de maior resistência à tração. Então, essas coisas foram as que mais haviam me impressionado até hoje. Figura 2 – Domus: tecnologia em bambu desenvolvida na Índia gerou o Taj-Mahal. Figura 3 – Domus: tecnologia em bambu desenvolvida na Índia gerou o Taj-Mahal. Figura 4 – Cúpula em templo Pagan, Birmânia. 161 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Quais as dificuldades e os facilitadores que os profissionais que utilizam o bambu encontram ao desenvolverem seus projetos? A maior dificuldade que existe para os profissionais que querem fazer seus projetos é o desconhecimento que se tem do material, que é o que dizia agora. As pessoas ignoram que a parte externa do bambu é a mais resistente, a parte intermediária é o ponto médio de resistência, e a parte interna é a de menor resistência e então eles não sabem como utilizar o bambu realmente. É...Este é mais que tudo, o problema que tem. Por outro lado, há países, por exemplo, a Colômbia, que têm a maior quantidade de bambu que existe nos países latino-americanos; porque já estamos cuidando, está proibido cortá-lo; e então já estão dando-se conta que é um material excelente, já está se exportando inclusive para a Alemanha, exportando da Colômbia para Universidades que fazem investigações...E à medida que isto tudo vai se conhecendo, seguramente que vai gerar novas indústrias. E este é meu propósito em Brasil, fazer uma indústria de bambu laminado. Qual a metodologia adotada pelo Sr. e quais as prioridades para realizar projetos com bambu? Primeiro de tudo, é importante conhecer o material. O material. É o que acabo de dizer, compreende três zonas: de maior resistência, resistência intermediária e de menor resistência. Isto é muito importante: conhecer toda a fisiologia e anatomia do bambu. É muito importante saber, por exemplo, que o bambu atinge sua maior resistência quando tem três anos de vida. Uma mata de bambu dura...tem uma durabilidade aproximada...um colmo de bambu, perdão, tem uma durabilidade aproximada de dez anos... Depois dos dez anos. Dez anos ou menos, pode ser seis anos dependendo da espécie. Depois dos dez anos, o bambu seca na mata e morre. Isso é muito diferente... Ah...Quero esclarecer uma coisa, que quando se fala do bambu, se fala da durabilidade do colmo na mata, que é de 10 anos, mas se os cortam e os tratam, contra fungos e insetos... Na Colômbia há habitações que têm cento e trinta anos de idade, feitas com bambu, feitas de bambu que estão em perfeitas condições. O que eu quero explicar é que uma vez que se cortam já depois que se tenham três anos de idade, o qual muita gente deve desconhecer, o bambu tem uma grande durabilidade. Mas se os cortam antes dos três anos de idade, são mais facilmente atacados pelos insetos, então quando utilizam colmos com menos de três anos de idade, estão debilitados. Por outro lado se conhece a resistência do bambu. Se eu pergunto: num colmo, ou seja, num talo de bambu...Qual é a zona de maior resistência para compressão? Pois sim, a parte inferior do colmo há maior diâmetro que a parte de cima e do intermédio, e vás a dizer que é a parte de baixo quando é a parte de cima, mais delgada, a mais resistente à tração, por exemplo. Então tudo depende da forma como se usa o bambu, se é para colunas ou para vigas, tem que saber Figura 5 – Ponte suspensa, Himalaia. Figura 6 – Maior ponte suspensa construída, China. Figura 7 – Museum of Simple Technology. Figura 8 –Bamboo, The git ofthe gods. 162 também que parte do bambu é utilizável e para qual propósito. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Que fontes de consulta o Sr. acha importantes para respaldar a atividade do arquiteto que utilize o bambu? É uma pena dizer, mas existem muito poucos livros sobre bambu que podem ser consultados. Desde 1985 mais ou menos, há novas fontes de informações de bambu por investigações que vêm sendo realizadas na Alemanha, nos Estados Unidos, e os antigos livros não servem para nada. Agora, eu escrevi o último livro, me dá pena dizer-te, mas vou fazer uma propaganda (ri) “Bamboo-The gift of the gods” (Figura 186), Bambu, o presente dos deuses, é um livro no qual gastei 19 anos, e tem a maior informação que pode existir sobre bambu, que eu conheço. E obrigado pela oportunidade de fazer uma propaganda de meu livro..(rsrs). Se o Sr. tivesse a função de montar o programa de um curso voltado para a formação de profissionais em projeto de arquitetura ou design com bambu, que disciplinas, na sua opinião, seriam essenciais a serem ministradas para formar um bom profissional nesta área, e quais as diretrizes para melhor se relacionarem com as comunidades? Quando se pensa em montar um programa, ou um curso para a formação de profissionais, ... e é muito importante, por exemplo, para um arquiteto ou para um engenheiro...que estão dedicados à construção,... Seria mais fácil com eles falar das propriedades físicas e mecânicas porque posso mostrar... Por exemplo, um curso de desenhar construção me colocaria a começar por ensinar quais são as propriedades físicas e mecânicas para se colocar colunas, para fazer vigas...E... Seria o ideal entre os arquitetos e engenheiros, pois aí já entendem o geral, por exemplo, porque as coisas...As coisas estão relacionadas ao material. Por outro lado, quando um está na Faculdade de Arquitetura, pelo menos no meu caso, nós conhecemos tratamentos sobre madeiras, que muitas vezes se aplicam ao bambu... No bambu. Há tratamentos especiais que são de vácuo e à pressão e para substituir a seiva interna com o produto que se vai utilizar para...Para...Tratá-lo. Então somente se requer que tenham algum conhecimento de arquitetura e, sobretudo em construção, e como se faz a construção... Que tecnologias vão-se empregar quando vai se construir em zonas de montanhas, por exemplo? Que tecnologias utilizar para amarrar as estruturas em zonas onde existem tufões e furacões? E quero, por exemplo, mostrar uma coisa muito importante: não conheço nos muitos anos que eu venho estudando o bambu, que já faz como uns 50 anos, uma casa de bambu que não tenha suportado um terremoto. Todas são especiais pela forma do bambu...São muito... Se fazem estruturas de bambu muito firmes, muito adaptáveis ao problema dos terremotos, aos movimentos sísmicos. Se, caíram casas, por exemplo, em terremotos, em Armênia, na Colômbia, é porque foram Figura 9 – Programa de habitação, Equador. Figura 10 – Programa de habitação, Equador. Figura 11 - – Programa de habitação, Equador. Figura 12 – Andaime de bambu, Hong-Kong:: 78º andar. 163 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA empurradas por habitações de tijolos e concreto que se partem no momento do terremoto e empurram as construções de bambu. Mas não conheço, eu, uma casa até agora de bambu, que tenha caído em um terremoto. O Sr. poderia nos falar um pouco de arquitetura popular que utiliza o bambu e fibras naturais? (Abre a página 266 seu livro “Bamboo. The gift of the gods”) (Figuras 187 a 189). É...A experiência que tenho em arquitetura popular tem sido no Equador, sobretudo onde estive trabalhando em umas “ordenaciones”, em um programa de habitações no qual se me permitiu escolher a gente que poderia trabalhar, digo, a fazer parte deste programa que consistia em construir e... Doze casas, fazer uma experiência na construção de doze habitações de bambu, para a gente mais pobre. Inicialmente eu. Isso foi em Guaiaquil, no Equador, que está na costa. Inicialmente as pessoas mais pobres que encontrava eram as lavadeiras, as que lavam roupa, e... a idéia era construir estas casas. Que elas me ajudariam a construir com seus filhos...Estas habitações, as 12 habitações e colocar uma zona de lavanderia em todo o centro da área onde iria fazer isto,... E, a água que eu iria utilizar era do solo, então para isso desenvolvi uns moinhos de vento de bambu, que deram bons resultados, mas posteriormente, deram bom resultado posteriormente, mas não nesta oportunidade. Porque experimentamos, fizemos um buraco em uma área em que faríamos as habitações. Saía água salgada e não se pode lavar com água salgada! Então tive a necessidade de trocar as lavadeiras por outras pessoas, pelas pessoas mais pobres que existem: são os que chamamos de sapateiros “remendones”, que não fazem sapatos, mas que os consertam, se é que me entende... Então, estes sapateiros eram doze famílias e iam aprender a fazer esta casa por “autoconstrução”, é dizer que eles colaboravam na construção destas habitações. E neste tipo de trabalho é essencial construir casas pré-fabricadas porque isso facilita muito mais a construção de habitações porque os sapateiros não sabem colocar um tijolo. Claro que sabem, mas a maioria não tem nem idéia do que quer dizer colocar um tijolo e muito menos de fazer uma parede. Mas com bambu a coisa é muito mais fácil pelas tecnologias desenvolvidas em Colômbia que foram desenvolvidos pelos camponeses, que permitia construir casas com até cinco pisos todas feitas de bambu, sobretudo em terrenos muito inclinados. Então eu desenvolvi, em Equador, um sistema de pré-fabricação de habitações utilizando somente madeira nas construções. Das guias de construção das paredes, por exemplo, das paredes e dos tetos, e em geral, em todas as etapas das habitações sempre com as mesmas dimensões o que facilitava muito mais ainda. Estes sapateiros realmente, para mim, tinham outro problema, mais grave. Que eu tinha...Que teria que solucionar que era o problema da água. Porque em todas as áreas do Equador em que vivia, nesta época esta gente pobre, não havia água. Eles compravam a água para Figura 13 – Fitas de bambu são utilizadas nas amarrações dos andaimes de bambu. Figura 14 – Fitas de bambu são utilizadas nas amarrações dos andaimes de bambu. 164 PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA encher os tanques de armazenamento. Uma vez cheios estes tanques custavam... Vinte...Sucres... Com os tanques metálicos cheios. Então o que eu fiz foi...Ah...Estes tanques estavam...Fora das casas...Quando ia um carro era um problema passar entre estes tanques e, sobretudo onde havia ruas sem saída, pois as pessoas que viviam no interior e nas partes sem saída... Colocavam os tanques nas esquinas e então se complicava mais porque aumentava-se o número de tanques. Então eu fiz um desenho de umas casas colocando os tanques embaixo das mesas das cozinhas, que também serviam para...e... Para o banheiro para tirarem água diretamente dos tanques para banharemse ou para lavar as panelas ou para utilizar em outro propósito... Isso foi o que desenvolvi no Equador e hoje me sinto muito satisfeito por eles. Lamentavelmente para o projeto, não pude construir, por exemplo, uma zona central que era onde eu havia solicitado fazer grandes máquinas para que eles aprendessem já a trabalhar, a fabricar sapatos porque eles eram sapateiros “remendones”. Foi um êxito realmente. Deu uma boa escola! As imagens de andaimes de bambu na China, em seu livro “Bamboo-The gift of the gods” são surpreendentes. Como conciliar manejo, qualificação, limitações tecnológicas e herança cultural, quando se utiliza o bambu na produção em escala? É...me está falando da construção dos andaimes na China...Neste momento as zonas onde se faz maior uso do bambu é na China. As zonas que fazem maior uso de bambu são na construção de andaimes e se me recordo a espécie mais usada para este propósito é a textillis e... o lugar onde mais se utiliza é Hong Kong. O edifício mais alto que já foi feito com bambu, utilizado como andaimes, é de 78 andares, construídos totalmente com bambu (Figuras 190 a 192). Hoje em dia se tem substituído o bambu, por andaimes de aço, mas apesar disso, o bambu segue sendo muito utilizado para este propósito porque facilita, é muito fácil. O baixo custo destes andaimes também. A construção... São construídos por famílias tradicionais que têm este negócio e que têm uma agilidade extraordinária como podem ver nos desenhos e nas fotografias destes andaimes. Estes andaimes e com eles, eu se me recordo bem,...o bambu é textilis, a espécie que mais se encontra ao redor de Hong Kong, onde mais se utiliza com este propósito. Este pode, por exemplo. Na Colômbia se gosta muito dos andaimes de bambu e o bambu se utiliza como “hois”, não sei como se diz, como grandes caixas de bambu e madeira dentro das lajes de concreto para tirar-lhes o peso, o que torna a laje também mais econômica. Estas caixas grandes de bambu têm logicamente uma altura menor que da laje...e ...Estas caixas grandes são de 20 cm de altura por 40 cm de largura e ao comprimento das vigas pequenas...Como explicar isto em ...estes são uma beleza de andaime.(..mostra o livro....). Uma outra coisa mais importante dos andaimes é que, anteriormente ou até uns 165 cinco anos, o material utilizado para fazer, para amarrar os andaimes, e andaimes de até 75 cinco pisos de altura, é uma altura bem respeitável, eram cintas de bambu tomadas da parte externa do bambu que é a mais resistente. E... como dizia, muitas destas fibras da parte externa são mais resistentes que o aço. Então eles confiam muito nisto. Hoje em dia estão usando o poliestireno, cintas de poliestireno para as amarrações que dão mais confiança na...Atualmente na... Construção destes andaimes. Estes, como disse anteriormente, são famosos em Hong Kong...E talvez o mais espetacular que se pode ver...E eles têm uma grande diversidade de tipos de andaimes para diversos usos na construção...E... Este bambu é todo encontrado em torno de Hong Kong? Sim. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Há um replantio? Na área periférica de Hong Kong havia grandes extensões de bambu...Claro que agora naturalmente já é da China novamente e há uma grande disponibilidade para se conseguir o bambu... O que seria necessário para que, no Brasil, a utilização do bambu associada a outras fibras naturais alcançasse importância semelhante à do bambu na China e na Índia? O problema do Brasil é que há TANTA madeira que ninguém se interessa pelo bambu e isso é uma coisa muito importante: saber com relação às fibras de bambu, que espécie, ou quais são as espécies de bambu que existem no Brasil que são as mais apropriadas para a produção de fibras. Na Índia, por exemplo, estão fazendo camisas com fibras de bambu e outros tecidos de fibras de bambu, mas aqui não foi feito até agora, pois não há investigações ao respeito, mas é possível utilizar o bambu para a fabricação de fibras, que é o que mais importa... Ah! Quero fazer uma advertência: o Brasil tem a maior espécie da América. Isto é, o Guadua brasileiro. Pertence ao gênero Guadua e eu lhe pus Guadua brasileira porque não se sabe se foi identificada esta espécie...Esta espécie existia...É...Já te explico. Uma vez estava trabalhando com as Nações Unidas em um projeto de habitações na Costa Rica e, quando cheguei, encontrei uma espécie de 18 ou 20 cm de diâmetro, e eu fiquei surpreendido porque era a espécie do gênero Guadua maior que já havia visto. Então eu perguntei aos engenheiros florestais “se era o gênero Guadua angustifólia. Sim, isto é Guadua angustifolia, se chama Guadua angustifolia. Quem plantou isto? De quem nasceu a idéia? Sim, senhor, foi o dono de uma fazenda. Da fazenda Bremen, no Estado de Siquirres, pelo senhor Manoel Rojas Quiroz. Então fui buscar este senhor da fazenda Bremen e lhe disse: me disseram que o senhor plantou esta espécie. De onde o senhor a trouxe? Pois então ele me disse: eu trouxe do Hotel Quitandinha, em Petrópolis... O Hotel estava PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 166 rodeado de grandes espécies... Espécies que tinham 20 metros de altura. É uma espécie, como acabo de dizer, de 18 cm de diâmetro, entre 18 e 20, uma espécie maior da América e pertence ao gênero Guadua”. Então eu vim ao Brasil. Depois, tive que vir ao Brasil, e fui a Petrópolis, precisamente fui com os professores Ripper e Gawhami. Com os professores Ripper e Gawhami a buscar esta espécie em Petrópolis que rodeava o Hotel Quitandinha... O problema é que...Este hotel, quando nós chegamos, digamos que sessenta anos depois, havia sido transformado em um Hotel de uma bela arquitetura alemã, havia sido transformado em apartamentos. Já haviam tombado TODOS os bambus para fazer urbanização aí, e o bambu desapareceu. Desapareceu desta área e não os pudemos encontrar. Dizem que há bambus nas áreas, que existem matas desta espécie..., Mas não as conheci. O importante é que uma amiga, Celina... Que vive em Mauá e já foi à Costa Rica e trouxe esta espécie e já está cultivando em sua fazenda... Então ela tem muito mérito, em que se está recuperando esta espécie no Brasil. Mas é uma espécie nativa do Brasil e tem uma grande... grande possibilidade econômica para a produção de fibras, para a produção de compensados, para a produção de aglomerados de bambu e eu espero que as pessoas se interessem pelo cultivo desta, seja trazendo-a da Costa Rica ou solicitando-a para a Celina...Que tem agora uma plantação de bambu. Obrigado pela propaganda...rsrs. Muito obrigada... Foi um prazer... 167 7.2 E-mail_Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Mensagem eletrônica: enviada em 10fev2005 às 8:12h. Enviada por Napoleão Esberad de Macêdo Beltrão, pesquisador da EMBRAPA Algodão, em resposta às indagações da autora a respeito do algodão convencional, algodão colorido, algodão orgânico e algodão orgânico colorido. Prezados senhores e senhora: De início nossas desculpas pelo atraso na resposta. Tivemos problemas pessoais e viagens a serviço que nos tomaram muito tempo. No tocante à primeira pergunta, esclarecemos que atualmente existem mais de 50 espécies de algodão descritas e classificadas (em latim, aceitas internacionalmente), das quais 4 são cultivadas, quais sejam Gossypium hirsutum, G. barbadense, L. G. arboreum e G. herbaceum, sendo que mais de 95% da fibra de algodão que veste a humanidade vem da espécie G. hirsutum, raça latifolium. Dentro de cada espécie cultivada têm-se centenas de cultivares ou variedades que diferem entre si, dentro de uma mesma espécie de pelo menos um gene. Estimamos que existam mais de 3000 cultivares ou variedades de algodão no mundo atual. (O algodão responde por quase 45 % da vestidura da humanidade, e é cultivado comercialmente em mais de 60 países dos mais de 200 atuais do mundo, que consome por ano cerca de 21 milhões de toneladas de pluma de algodão, que tem na sua constituição cerca de 95 % de celulose, polímero de glicose, ou seja, a fibra do algodão é a energia do sol cristalizada . Atualmente são plantados por ano cerca de 34 milhões de hectares com algodão). Desta forma, tipos como jatobá , BRS peroba , BRS Camaçari , Acala del Cerro , etc são, na realidade, cultivares dentro de uma espécie , no caso G. hirsutum. Os algodões coloridos existentes no mundo são de mais de 37 espécies, porém cultivadas somente nas espécies G. hirsutum, caso do BRS Verde e BRS 200 Marrom, G. hirsutum , raça marie galante , são exploradas comercialmente. Nas diversas espécies de algodão existentes no mundo, algumas não têm fibras, outras tem, porém sem torções e, assim, não formam o fio, outras têm fibras muito curtas, grossas e sem resistência e, assim, não fiáveis, e outros tipos. A organicidade é referente ao sistema de cultivo, e tanto o algodão de fibra branca, que é recessiva (genes recessivos, o que mostra que se o homem não tivesse interferido na natureza, todos os algodões teriam PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 168 fibra colorida, cujos genes são dominantes) quanto nos produtores de fibra de cor (marrom, vermelho, verde, azulada,etc) podemos ter algodão produzido organicamente, sem agrotóxicos e em ambiente previamente descontaminado, sujeito a testes rigorosos, dentro do processo denominado e Certificação. A certificação é feita em cada fazenda que passa a ser orgânica, tendo regras rígidas a serem seguidas e em geral é realizada por uma entidade de caráter e respeitabilidade internacional , caso do IBD ( Instituto Biodinâmico) aqui no Brasil, Estado de São Paulo, sede oficial. Os da EMBRAPA, de cor telha e avermelhada, BRS Safira e BRS Rubi, ainda serão lançados neste ano de 2005 e são tambem da espécie G. hirsutum L. , mudando o gene que fornece a cor da fibra e obtidos por processos convencionais , sem o uso da biotecnologia , com o uso de genes de outros organismos , inseridos no genoma do algodão , que possivelmente será o caso do algodão de fibra de cor azul , no futuro próximo. Os nomes BRS Verde e BRS 200 Marrom são oficiais e a sigla BRS significa Brasil Sementes. No mundo, o algodão colorido está sendo produzido muito pouco, sendo um pequeno nicho de mercado, porém com grande potencial , destacando-se o TEXAS nos USA , Israel , Peru ( algodão denominado de Tanguis , da espécie G. barbadense e de fibra de baixa resistência e, aqui no Brasil , entre outros , poucos que cultivam algodões de fibra de cor comercialmente ). Aqui no Brasil temos uma pequena produção de algodão orgânico no Estado do Ceará, Municipio de Tauá e colorido convencional , sem ser orgânico , aqui no Estado da Paraíba, que tem a maior área plantada com algodão colorido no mundo, cerca de 5.000 hectares na atual safra , sendo a maior parte, mais de 95% com a BRS 200 Marrom. Como falamos anteriormente, a diferença entre o algodão colorido convencional e orgânico, é o sistema de produção, sendo que no orgânico não se pode usar nem se quer sementes deslintadas com ácido sulfúrico ou clorídico , nem produtos químicos como pesticidas convencionais orgânicos, nem maturadores, nem reguladores de crescimento e outros produtos manufaturados . Nesta caso, as pragas são combatidas com bioinseticiadas à base de bactérias e fungos, e uso de outros métodos, como o ecológico, em que o clima e o manejo da cultura , com base no zoneamento (plantar nas áreas recomendadas pela pesquisa) e na época de plantio uniforme e cedo , para fugir do ataque das pragas (Cada praga tem seu nível de dano e de controle, como o bicudo, que é de 10% , quantificado via amostragem no campo, de botões florais atacados pelo inseto em tela, o que corresponde a cerca de 2000 bicudos adultos por hectare de terra). Na manufatura não tem distinção, pois o orgânico fornece, depois do descaroçamento (processo de separação das sementes das fibras do algodão) do processamento de fios e tecidos orgânicos, sem redíduos de produtos químicos manufaturados e o algodão sem ser orgânico, é naturalmente colorido, porém não orgânico. Para ser PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 169 orgânico ele deve ser certificado e ter o selo de reconhecimento internacional, fornecido por uma agência de certificação. A capacidade produtiva dos produtores, desde que se tenha mercado garantido e organização na produção é grande, pois somente a Paraíba, que é um dos menores Estados do Nordeste, com somente 52.400 km quadrados, tem mais de 250.000 hectares zoneados onde se pode cultivar algodões de fibra de cor. Sim, há estudos sobre a fibra, antes do lançamento de cada cultivar, envolvendo vários parâmetros, tais como resistência à lavagem com soluções àcidas e básicas, ou seja, passa por uma avaliação industrial no processo de fiação e tecelagem , com títulos de fios. Na parte química, são avaliados nas malhas testes de solidez, de cor, estabilidade dimensional da malha (encolhimento), resistência do tecido ao pilling e outros testes. O algodão BRS 200 Marrom que vem do algodão mocó do Nordeste, via seleção dentro das populações existentes, tendo fibra de elevada resistência (a maior do mundo em termos de algodão de fibra de cor) foi avaliado em indústrias modernas e com novos processos de fiação, tipo cabo aberto (Open End) e suportou rotações sem partir, acima de 120.00 RPM. Sim, temos outros produtos feitos à base de fibra de algodão colorido, tais como redes, broches, brincos, chaveiros, etc. (...) A olho nu, não há diferenças entre algodões de fibra coloridas orgânico e não orgânico e vários prêmios foram recebidos pela Embrapa e seus pesquisadores sobre o algodão colorido que já saiu até em revistas internacionais, como a News. Aqui na Paraíba, o cultivo comercial do algodão colorido BRS 200 Marrom, que foi a primeira cultivar fibra de cor do Brasil, lançada no final do ano 2000, teve a interferência do Estado, e os produtores tiveram a produção com garantia de compra e preço quase 100% a mais do que o preço do algodão branco. Na atualidade a diferença caiu, para 30 a 40% a mais do que o branco, sendo que tanto este Estado como os demais do Nordeste já têm o zoneamento para estes tipos de algodões. Qualquer dúvida ou informação complementar, estamos à sua disposição. Atenciosamente , Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão Pesquisador da Embrapa Algodão Indagações da autora a Napoleão Esberard de Macêdo Beltrão 1.Nome científico Algodão: Foram encontrados diversos nomes indicados como melhoramentos a partir de algodoeiros Gossypium...a dúvida seria se os BRS Jatobá são algodões convencionais. Algodão orgânico: CNPA Precoce 1 e CNPA 7H, CNPA 7MH e CNPA SM...Há outros? estes são os encontrados comercialmente? 170 Algodão colorido: BRS 200(marrom); BRS Verde(é este o nome científico correto?); creme(nome científico?); vermelho telha(nome científico?) Algodão orgânico colorido:(são os mesmos nomes científicos do algodão colorido?): BRS 200(marrom); BRS Verde(?); creme(?); vermelho telha(?). 2.Localização Geográfica: Qual a distribuição geográfica dos produtores de algodão convencional; algodão orgânico; algodão orgânico colorido e o algodão colorido? Qual a capacidade produtiva de cada um deles?(Há algum mapa de distribuição geográfica?) PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA 3.Processos: Quais as diferenças e semelhanças no processo de cultivo e de manufatura de produtos de algodão colorido e algodão orgânico colorido? No caso de algodão orgânico e algodão orgânico colorido, os processos são os mesmos? 4.Propriedades físicas: Há estudos oficiais quanto às propriedades físicas e químicas dos produtos e das fibras de algodão orgânico e algodão orgânico colorido? 5.Segmentos de aplicação: Além de Moda, Mobiliário e Interiores, estas fibras são encontradas em outros segmentos? Há calçados e acessórios? 6.Características estéticas Como os produtores e técnicos descrevem o odor, a textura táctil e textura visual do algodão colorido, algodão orgânico e colorido e algodão orgânico? Ha diferenças entre eles e o algodão convencional? É possível identificá-las a olho nu? 7.Divulgação Há fotos para divulgação? em arquivos digitais(caso positivo, indicar fonte e fotógrafo). 8.Questões Quais as maiores dificuldades e facilidades que os produtores encontram neste nicho de mercado? E que tipo de dificuldades e facilidades os diferenciam do produtor de algodão convencional? Financiamentos do governo? subsídios? 9.Prêmios: Que formas recebido(prêmios?) de reconhecimento têm 171 7.3. Substitutos para o amianto Mensagem eletrônica: enviada em 10abr2005, às 20:49h. Enviada por Fernanda Giannasi, fundadora da ABREA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DOS EXPOSTOS AO AMIANTO, em resposta às questões da autora referentes aos substitutos para o amianto. PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Prezada Bia (...)Respondendo suas questões: • Quais as matérias-primas que hoje substituem o amianto? • São várias disponíveis no mercado, dependendo de cada um dos seus usos. Citando apenas os maiores utilizadores do amianto, para você ter uma idéia: no setor de fibrocimento(telhas e caixas d´água) estão sendo utilizadas desde fibras vegetais, a celulose pura e fibras sintéticas como o PVA e o polipropileno; na indústria automotiva que era o segundo maior utilizador do amianto, a substituição inclui fibras de vidro, wollastonita, fibras metálicas, aramidas, entre elas... • Especificamente na fabricação de telhas, quais os substitutos? Há utilização de outras fibras naturais para sua substituição? Já mencionados acima........existem fabricantes como a ONDULINE que utiliza mistura com fibras vegetais mais um ligante betuminoso e a Brasilit usa a celulose purificada misturada com fibra sintética.... • No caso de giz de cera, ainda é utilizado o amianto? Há outros artefatos infantis que utilizam o amianto? Não temos mais estas informações no Brasil, pode até ser, porque existem ainda minerações clandestinas de amianto anfibólio não fiscalizadas pelo DNPM...recentemente fiscalizei uma destas que fabricava cosméticos...não podemos afirmar categoricamente que não haja contaminações nestes produtos mencionados por você...mas nos preocupam sobremaneira estes crayons que vêm da China que está se constituindo junto com a Rússia num dos maiores produtores de amianto...Outros brinquedos com amianto que temos ainda encontrado são as coberturas de casinhas de boneca de play-grounds e outros equipamentos conjugados de balanços, escorregadores, etc. 172 • Quais os fornecedores dos artefatos citados acima que já utilizam outras matérias-primas em vez do amianto? A partir do momento que os fabricantes deixam de usar amianto, não são mais obrigados por lei a fazerem comunicações, mas posso te afiançar que fabricantes de casas de boneca têm coberturas com telhados sem amianto...é uma questão de escolha do cliente...infelizmente, enquanto o amianto não for proibido no Brasil, corremos estes riscos...E é esta nossa luta diária... Leia em Época desta semana no caderno negócios à Página 12 a quantas anda esta briga para banir o amianto.... (...)Qualquer dúvida adicional, não hesite em nos contatar PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0410887/CA Atenciosamente, Fernanda Giannasi