karenn missa fujimatsu biodanza: o caminho para a atração e a

Transcrição

karenn missa fujimatsu biodanza: o caminho para a atração e a
KARENN MISSA FUJIMATSU
BIODANZA: O CAMINHO PARA A ATRAÇÃO E A PERCEPÇÃO DOS
MOVIMENTOS DA SINCRONICIDADE NA DANÇA DA VIDA
Monografia de titulação no Curso de Formação de Facilitador de Biodanza, ministrada pela Escola de
Biodanza de Curitiba –Sistema Rolando Toro, filiada à Internacional Biocentric Foundation.
Curitiba
2007
Agradeço, todos os dias da minha Vida,
de coração para coração,
à Mamãe OLGA TIEKO SATO FUJIMATSU
e ao Papai ATSUSHI FUJIMATSU,
que permitiram a minha concepção
e criação para esta Vida...
E, assim, torna-se possível
o cumprimento da missão de Vida originária,
ao qual me incumbi e me prontifiquei,
bem antes de eu nascer para esta Vida...
“Desde menina, quando deixava pender a mão sobre a beirada da cama,
outra mão afetuosa segurava a sua, e ela se sentia tranqüilizada, por mais ansiosa
que estivesse. Muitas vezes, quando sua mão acidentalmente pendia para fora da
cama e o toque da outra mão a surpreendia, ela inclinava num reflexo a cabeça para
trás, e isso punha fim ao contato.
Ela sempre sabia quando procurar a outra mão a fim de sentir-se
tranqüilizada. Naturalmente, não havia forma física alguma em torno ou embaixo da
cama.
Ao crescer, a mão a acompanhou. Casou-se, mas nunca falou ao marido
a respeito desta experiência, por achá-la infantil.
Quando ficou grávida do primeiro filho, a mão desapareceu. Ela sentiu
falta de sua companhia afetuosa e familiar. Não havia outra mão que segurasse a sua
daquela mesma maneira cheia de amor.
O bebê nasceu, uma linda menina. Pouco depois do nascimento, estava
deitada na cama com a filha, quando esta lhe segurou a mão. Um forte e súbito
reconhecimento daquele antigo toque inundou-lhe a mente e o corpo.
O seu protetor retornara. Ela chorou de felicidade, sentindo uma grande
onda de amor e uma conexão que sabia existir muito além do mundo físico.”
(BRIAN L. WEISS, “Só o amor é real: uma história de almas gêmeas que
voltam a se unir”).
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Agradeço, todos os dias da minha Vida,
de coração para coração,
a todos os encontros atemporais
nas minhas caminhadas adimensionais,
multidimensionais,
nada lineares...
Caminhadas nesta Vida,
além desta Vida...
Caminhadas nesta dimensão,
além desta dimensão...
Caminhadas nesta “realidade ilusória”,
além desta “realidade ilusória”,
em outras realidades paralelas...
“Gosto de imaginar que a relação entre almas é algo semelhante a uma
grande árvore frondosa. As folhas que ocupam o ramo em que estamos nos são
íntimas. Podemos até trocar experiências, experiências espirituais, umas com as
outras. Temos também relações intensas e íntimas com as que ocupam o ramo
vizinho ao nosso. Pertencemos à mesma árvore e ao mesmo tronco. Nós nos
conhecemos.
Existem muitas outras árvores nesta bela floresta, todas ligadas entre si
através do sistema de raízes do solo. Ainda que possa haver uma folha em uma
árvore distante que pareça bem diferente de nós e muito remota, somos ligados a
essa folha, ligados a todas as folhas.
Você provavelmente conheceu outras almas em pontos mais distantes da
árvore a que pertencia em vidas anteriores. Essas almas podem ter mantido muitas
relações diferentes com você. Essas interrelações podem ter sido extremamente
breves. Mas até mesmo um encontro de trinta minutos pode tê-lo ajudado a elas, ou
a ambos, como costuma acontecer. Uma dessas almas pode ter sido o mendigo na
estrada, de quem você se apiedou, permitindo-se estender sua compaixão a um outro
ser humano, e permitindo a essa alma aprender que é possível receber amor e ajuda.
Você e o mendigo podem nunca mais ter-se encontrado naquela existência, e no
entanto você e ele fazem parte do mesmo drama. A duração dessas reuniões varia –
cinco minutos, uma hora, um dia, um mês, uma década ou mais. As relações entre
almas não são medidas em termos de tempo, e sim em termo de lições aprendidas.
(BRIAN L. WEISS, “Só o amor é real: uma história de almas gêmeas que
voltam a se unir”).
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“GRANDE ESPÍRITO
Oh! Grande Espírito, que criou tudo antes e que reside em cada objeto, em cada
pessoa e em todos os lugares, nós acreditamos em Ti. Nós Te invocamos dos mais distantes
lugares para nossa presente consciência.
Oh! Grande Espírito do Norte, que dá asas às águas do ar e rola a grossa
tempestade de neve antes de Ti. Tu, que cobres a Terra com um brilhante tapete de cristal,
principalmente onde a profunda tranqüilidade de cada som é maravilhosa. Tempera-nos com a
força para permanecermos como parte da nevasca; sim, faça-nos agradecidos pela beleza que
flui e se aprofunda sobre a quente Terra em seu despertar.
Oh! Grande Espírito do Leste, a Terra do Sol Nascente. Tu que seguras em Tua
mão direita os anos de nossas vidas e em Tua mão esquerda as oportunidades de cada dia.
Sustenta-nos para que não esqueçamos nossas oportunidades, nem percamos em preguiça as
esperanças de cada dia e as esperanças de todos os anos.
Oh! Grande Espírito do Sul, cujo quente hálito de compaixão derrete o gelo que
circunda nossos corações, cuja fragrância fala de distantes dias de primaveras e verões,
dissolve nossos medos, transmuta nossas aversões, acenda nosso amor em chamas de verdade
e existentes realidades. Ensina-nos que aquele que é forte é também gentil; que aquele que é
sábio tempera justiça com piedade; e aquele que é um verdadeiro guerreiro combina coragem
com compaixão.
Oh! Grande Espírito do Oeste, a Terra do Sol poente, com Tuas elevadas e livres
montanhas, profundas e extensas pradarias, abençoa-nos com a sabedoria da paz que segue a
contenção e a liberdade de quem vive como túnica flutuante nas asas da vida bem disciplinada. Ensina-nos que o fim é melhor que o começo e que o por do sol não glorifica nada
em vão.
Oh! Grande Espírito dos Céus, em dias de infinito azul e misturado às infindáveis
estrelas da noite de cada estação, lembra-nos o quanto és imenso e bonito e majestoso além
de todo o nosso conhecimento ou saber, mas que também não estás tão longe de nós, quanto
o mais alto de nossas cabeças ou o mais baixo de nossos olhos.
Oh! Grande Espírito da Mãe Terra sob nossos pés; Mestra dos metais;
Germinadora das sementes e Celeiro de ocultos recursos da Terra, ajuda-nos a dar graças
incessantemente pela Tua presente generosidade.
Oh! Grande Espírito de nossas almas, que ardes há tempos em nosso corações e
em nossas profundas aspirações, fala-nos agora e sempre de tudo que precisamos saber sobre
a grandeza e bondade de Teus presentes para a vida, para sermos orgulhosos do inestimável
privilégio de viver.”
(NOEL KNOCKWOOD, B.A. ELDER, 1996).
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SUMÁRIO
Agradecimentos................................................................................................................2
I. A minha própria história mostra: “Nada é por acaso... Tudo tem razão e sentido de
ser...”.................................................................................................................................6
II. O biopropósito da biomonografia..............................................................................16
III. Sincronicidade: a origem e a terminologia..............................................................17
IV. Sincronicidade: as características.............................................................................18
V. Sincronicidade: as concepções psíquica e cosmológica.............................................19
VI. Sincronicidade: a extensão do self (o si-mesmo) e a inter-relação com os arquétipos
e o inconsciente coletivo................................................................................................21
VII. Sincronicidade: a origem do conhecimento absoluto na filosofia chinesa do
Tao..................................................................................................................................33
VIII. Sincronicidade: o sincrodestino, a mente local e a mente não-local.....................37
IX. Sincronicidade: a física quântica e a ressonância mórfica........................................39
X. Biodanza: o caminho para a atração e a percepção dos movimentos de
sincronicidade na Dança da Vida....................................................................................47
XI. Biodanza: o genial e grande criador.........................................................................48
XII. Biodanza: a sincronicidade na “Dança da Vida”......................................................48
XIII. Biodanza: a sincronicidade presente na proposta de conexão com a Vida e o
Universo..........................................................................................................................54
XIV. Biodanza: a identidade no caminho da integração atrai as sincronicidades..........55
XV. Biodanza: a presença da sincronicidade nas relações humanas, como espelhos das
identidades.....................................................................................................................61
XVI. Biodanza: a sincronicidade presente na transmutação de energia dos encontros
corporais.........................................................................................................................64
XVII. Biodanza: as sincronicidades no poema “Todos somos uno”................................70
XVIII. Biodanza: as sincronicidades marcam presença no inconsciente vital e na
saúde...............................................................................................................................73
XIX. Biodanza: os movimentos de fluidez favorecem as sincronicidades......................79
XX. Biodanza: somos de arte inacabada e em constante processo de sincronicidade com
o Cosmos.........................................................................................................................80
XXI. Anexo: “Sincronicidade muito além da mera coincidência”...................................84
XXII. Biobibliografia.......................................................................................................88
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I. A minha própria história mostra: “Nada é por acaso... Tudo tem razão e
sentido de ser...”
“É errado, portanto, censurar um romance que é fascinante por suas
misteriosas coincidências (...) mas é certo censurar o homem que é cego a essas
coincidências em sua vida diária. Pois sendo assim, ele priva sua vida de uma nova
dimensão de beleza.” (MILAN KUNDERA, “A insustentável leveza do ser”).
Eu sou KARENN MISSA FUJIMATSU. Faço questão de honrar o
meu nome completo porque acredito que é poderoso mantra de atração. Em cada nome
foram colocadas as melhores intenções dos meus pais e dizem, de forma sincrônica,
quem eu sou na essência, como se fosse guia de memória do Universo sobre a minha
missão de Vida... Por isso, aos meus pais, sou muito grata por permitirem a minha
concepção e criação para esta Vida... Assim, torna-se possível o cumprimento da missão
de Vida originária, ao qual me incumbi e me prontifiquei, bem antes de eu nascer para
esta Vida...
KARENN é o meu nome que simboliza a minha parte feminina
(“yin”). Digo isso porque foi a minha Mamãe quem me deu este marcante nome. Ela
achou lindo por ser diferente e forte pela sonoridade. Para ser mais autêntico, ela criou
mais um "n" ao final.
Descobri num site, há alguns anos, que "Karen é diminutivo de
Catarina, nome grego, que significa pura e casta. Toda Karen é a mais desenvolta e alegre do seu
grupo social. Está sempre à frente de todas as iniciativas comunitárias, paciente, uma excelente
confidente. E se o amor não vêm a ela, ela vai em busca." Intuitivamente, a minha Mamãe
escolheu o nome certo para mim! Assim, ninguém duvida de quem eu sou na essência...
MISSA (com acento grave no "a") é o meu nome japonês.
Simboliza o meu lado masculino (“yang”) porque foi o meu Papai quem me deu. Diferente
da minha Mamãe, ele estudou a simbologia do meu nome. Quando eu era bem pequena,
disse a ele que não gostava muito desse nome. Eu disse triste e chorando muito que eu
era alvo de chacotas na escola, pois era chamada de: “Karenn foi pra missa e depois fugiu
pro mato...”. Então, ele me disse rindo e sorrindo que MISSA quer dizer “linda” e só uma
criança especial poderia ter este nome raro. A partir deste dia, comecei a gostar mais do
meu nome e do meu Papai...
Ele também estudou a numerologia dos "kanjis" (ideogramas
japoneses) que integram o meu nome MISSA, com o propósito de me trazer equilíbrio,
integração e sorte nesta vida. Ao escolher os "kanjis" do meu nome, ele quis que eu fosse
bela por inteiro, dentro e fora. Corajosa, forte e presente. Atraída pelos desafios e em
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busca do caminho espiritual. Nem preciso dizer que o meu Papai também acertou! Vem
como complemento exato e perfeito ao meu primeiro nome!
FUJIMATSU é a minha identidade de ligação com a natureza
trazida de geração a geração pelos meus ancestrais samurais. FUJI é o famoso e milenar
“Monte Fuji”, um dos símbolos mais conhecidos do Japão pelo mundo. MATSU é o
pinheiro, a árvore de imensa espiritualidade. A montanha e o pinheiro no meu nome de
família conectam-me aos quatro elementos da natureza: a água, o ar, o fogo e a terra.
Isso mesmo! A montanha é terra em grandes proporções com muito magma seu interior,
ou seja, o fogo que alimenta e aquece para crescer em direção ao céu, junto com as
estrelas, a lua e o sol. E, em plena altitude e sensação de vôo no ar, acumula neve em
seu cume, água em macios flocos trazendo em seu branco a beleza de ser vista.
Na mesma vibração da montanha, o pinheiro também está
conectado aos quatro elementos. Muito bem enraizado na terra, em contato com o seu
fogo interno, nasce a sua força de Vida para crescer bem frondoso. E a seiva, com toda a
fluidez da água, alimenta o todo do pinheiro circulando da raiz, pelo tronco, pelos galhos
até as folhas e as flores, que dançam no ar entrelaçadas expandindo a sua beleza de ser
e em busca da revelação dos grandes mistérios que habitam o Universo, da mesma
maneira como acontece com a mágica montanha. Eu sou assim, desde muitas gerações.
Certa vez, a minha bioamiga TEREZA BONAT sonhou que o nosso bioamigo ALCEU
VENÂNCIO JR. disse a ela que eu estava indo morar nas montanhas e florestas.
Intuitivamente, depois de vivenciarmos juntas a vivência de cantar o nome, ela acertou a
simbologia do meu sobrenome e o verdadeiro desejo da minha essência: habitar em mim
mesma e em total conexão com a natureza, em unidade interconectada ao todo...
“Não existem acasos. Você está aqui com o propósito pelo qual optou
antes de entrar para o mundo das partículas e da forma.” (WAYNER W. DYER, “A
força invisível”).
Então, o meu nome completo KARENN MISSA FUJIMATSU justifica
a minha identidade. E, assim, desde do momento que eu fui concebida para esta Vida, na
minha própria essência de “ser”, sou muito alegre, amorosa, comunicativa, cooperativa,
criativa, curiosa, forte, justa, perceptiva, sensível e sonhadora. E, de forma sincrônica, o
meu mapa astral – Sol em Capricórnio, ascendente em Libra, Lua em Áries, Vênus em Sagitário,
Saturno em Leão, a cauda do dragão em Escorpião e muitos outros detalhes que eu não me
recordo –, diz tudo ao meu respeito em sintonia com o meu nome completo.
As fortes influências do elemento fogo no meu nome completo e
no meu mapa astral ressonam na minha maneira de ser, vibrando na mesma freqüência
do meu kin no calendário maia, baseado nas trezes luas e conhecido como “o sincronário
da paz”. No calendário da lua, sou “Kin 240, Sol Rítmico Amarelo. Organizo com o fim de
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iluminar. Equilibrando a vida. Selo a matriz do fogo universal. Com o tom rítmico da igualdade. Eu
sou guiado pelo meu próprio poder duplicado. Sinto como o fogo universal me abraça e fico em
paz e harmonizado.”
Contudo, nem tudo na minha história pessoal são flores. Confesso
isso porque, com o decorrer da minha estadia nesta dimensão de partículas e formas,
parte da minha essência passou a ficar sufocada. Devido às questões culturais de priorizar
o intelecto, cresci desintegrada com o sentir e com o meu “ser” verdadeiro. Assim,
carente de amor e afeto, eu me tornei integrante do moderno exército de adultos
ansiosos, deprimidos, encouraçados, estressados e mecanizados.
Aos 25 anos, em plena “crise de um quarto de vida”, fazendo
psicoterapia verbal, tomei consciência de que o meu coração e a minha alma estavam
adoecendo. Estava me sentindo muito infeliz com todas as minhas relações: comigo
mesma, com a minha família, com os meus namoros, com o meu profissional, com os
meus estudos e, enfim, com a “Vida” toda que levava...
E, também, na mesma época, o meu corpo deu sinais de
enrijecimento. Por causa da tensão corporal, o meu pescoço e a minha coluna cervical
“travaram” e comecei a ter fortes dores de cabeça e nas costas. Descobri, então, uma
escoliose na minha coluna vertebral. Depois de muita fisioterapia e reeducação postural
global (RPG), as dores amenizaram...
Entretanto, dissociada e impotente para movimentar o que a
minha consciência e o meu corpo sinalizaram, cheguei ao “fundo do poço” no alcoolismo.
Num processo de auto-destruição, quase beirando à loucura, pensei e até tentei acabar
com a minha própria e valiosa Vida.
“Verdade significa experiência. (...) A verdade desperta. E o homem
precisa despertar, não precisa de tranqüilizantes que o coloquem num sono profundo.
Mas por séculos o homem tem se viciado em álcool, em outras substâncias tóxicas,
em drogas psicodélicas. (...) Todas essas substâncias tóxicas (...), ou seja lá o que
mais, são meras tentativas de evitar a verdade. E evitar a verdade é continuar na
amargura.
(...) Podemos ter uma vida absolutamente feliz, mais isso só será
possível se abandonarmos as mentiras e buscarmos a verdade. E o primeiro requisito
para a busca da verdade é não ter idéias preconcebidas. Siga na absoluta ignorância,
sem saber de nada.” (OSHO, “Meditações para noite”).
Recentemente, descobri que eu estava repetindo um padrão
familiar e, culturalmente, muito comum em pessoas de origem nipônica. O meu papai
numa conversa bem franca comigo confessou que, na mesma idade, ele também estava
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desiludido com tudo e também quase cometeu a mesma besteira. “Gracias a la Vida...”,
como canta MERCEDES SOSA! Nada de trágico aconteceu conosco! O sopro de Vida que
habita dentro de nós é muito mais forte em dizer “sim” à Vida!
Então, nesse momento de profunda angústia e escuridão dentro
de mim mesma, surgiu a grande luminosidade no final do túnel sombrio e o grande
portão se abriu: a Biodanza, trazida até mim pela sincronicidade!!!
Num lindo sábado de inverno ensolarado – até hoje ainda me
lembro, era 03 de agosto de 2002 –, depois de muito relutar para ficar dormindo apática na
minha cama, trancafiada no meu quarto, a minha tia HIROKO SATO – moramos juntas há
mais oito anos e temos um forte laço de amizade e cumplicidade – e a nossa bioamiga SÔNIA
MARIA MIOTTO me levaram praticamente “guinchada” e “na marra” ao almoço de
aniversário da querida MARIA ERNESTINA ALZAMORA, bioamiga da minha tia dos tempos
de estudante e que me conhece desde pequenina.
Eu me lembro como se fosse hoje: logo depois que cheguei ao
apartamento da MARIA ERNESTINA ALZAMORA, eu me apaixonei pelos seus convidados.
Fiquei atraída e encantada pela alegria de viver no brilho intenso dos olhares e nas faces
sorridentes de cada um. Comunicativa da maneira que sou, sem timidez, cheguei-lhes
perguntando: “Qual é o segredo de tanta alegria e jovialidade?!” Todos me responderam
com grande entusiasmo: “Biodanza!!!”.
Todos os convidados, menos nós três, faziam parte do biogrupo
regular de Biodanza do ANTONIO PÚPERI e MARCO ANTONIO LAFFITTE. Como o
biogrupo deles era “fechado”, naquela época, eu não podia me integrar a eles. Porém, de
forma sincrônica, a nossa bioamiga SÔNIA MARIA MIOTTO também estava fazendo
Biodanza, há alguns meses, e me convidou para a aula aberta do biogrupo do ALCEU
VENÂNCIO JR. e da GIOVANA HARTKOPF, logo na primeira segunda-feira seguinte ao
aniversário, pois, naquele tempo, era ainda “aberto” para iniciantes. Tudo foi se
encaixando direitinho... Quanta sincronicidade!
Na data da aula aberta, era uma noite tempestuosa com muitos
raios e trovões. Mesmo assim, a minha curiosidade em descobrir o que era a tão falada
Biodanza foi bem mais forte. A curiosidade era tanta que fez me movimentar e sair de
casa.
A brava tempestade, para mim, é bem simbólica porque era
exatamente a fase momentânea que eu estava passando. E, quando resolvi enfrentá-la e
ir à aula aberta de Biodanza, fui bem acolhida na minha chegada ao biogrupo pelo abraço
confortante da GIOVANA HARTKOPF.
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A empatia pela GIOVANA HARTKOPF surgiu, desde o primeiro
momento, e recebi o delicioso abraço como se fosse o valioso presente pela coragem de
enfrentar o bravo temporal, que acabou parando, sincronicamente, quando a aula
começou, uma forma da Vida me dizer que estava chegando ao fim a fase difícil e
sombria.
É importante compartilhar que foi decisiva a recepção afetiva e
calorosa dos meus facilitadores ALCEU VENÂNCIO JR. e GIOVANA HARTKOPF – hoje são
meus amados e grandes bioamigos –, para eu querer permanecer no biogrupo formando
vínculos com os integrantes, pelos quais senti empatia, logo à primeira vista, e hoje sinto
grande amizade, infinito amor e eterna gratidão por cada um que eu encontrei pelo meu
caminho.
Durante a minha primeira aula, de movimento em movimento, em
cada vivência, senti instantaneamente a minha intuição me dizendo que a Biodanza era o
que eu estava procurando (“a minha praia”) e a possibilidade de vivenciar “A Carícia
Essencial”, de ROBERTO SHINYASHIKI, livro que tinha adorado ler e, depois, soube que o
autor é facilitador de Biodanza.
Na roda final, eu me emocionei na profundidade das minhas
lágrimas, que rolavam de meus olhos, e verbalizei a minha felicidade pela descoberta do
“meu sentir feliz de verdade”. Nesse momento histórico da minha Vida, fica bem claro que
a minha cauda do dragão em Escorpião apresenta como o meu desafio de Vida: vivenciar
de forma mais plena e profunda as qualidades da água em toda sua entrega e fluidez.
Assim, ao superar a tempestade, eu me conectei com o verdadeiro
sentir e comecei a me movimentar, passo a passo, em busca de atitudes amorosas e
prazerosas de Vida, crescimento em outras dimensões, energia vital, expressão dos meus
sentimentos e dos meus potenciais genéticos, feminilidade, integração da minha
identidade, luminosidade interior, maior contato com a natureza, mudanças na visão de
Vida, plenitude de motivações e sentidos à Vida, sensualidade e transformações
significativas na minha própria Vida.
Nessa evolução, desde o início da minha caminhada como
biodançante, eu percebo as sincronicidades entre as vivências de Biodanza com a minha
Vida, muito bem interligadas e interrelacionadas como se fossem caleidoscópios, folhas
cheias de nervuras, flores em pétalas, mandalas, teias de aranha ou como tantas outras
belezas naturais que se criam e existem neste mundo esperando para serem observadas.
“Hoje mais e mais estamos convencidos de que nada pode ser reduzido a
uma única causa (monocausalidade) ou a um único fator. Pois nada é linear e simples.
Tudo é complexo e vem urdido de inter-retrorelações e de redes de inclusões. Por isso
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precisamos articular aquelas várias pilastras. Elas sustentam uma ponte que poderá
levar-nos a soluções mais integradoras. Pois todas elas trazem alguma luz e
comunicam alguma verdade. Sabedoria é ver cada porção dentro de um todo
articulado qual bela figura de mosaico composta de milhares de pastilhas e
deslumbrante bordado feito de mil fios coloridos.” (LEONARDO BOFF, “Saber cuidar:
ética do humano – compaixão pela terra”).
Desde então, há cinco anos, a Biodanza é e está presente na
minha Vida. Começou como uma paixão, mas, depois de dois anos, transformou-se em
amor pleno e verdadeiro, no momento que decidi fazer o curso de formação de facilitador
de Biodanza, em razão do convite da minha grande e querida bioamiga MARGARETE
PEREIRA BOSA, como processo pessoal de aprofundamento intensivo e transformador de
todas as minhas relações, principalmente, da minha família.
Marcada a minha entrevista para o curso de formação com a
NÉLIDA CATALINA PÉREZ, a nossa mui amada Diretora da Escola de Biodanza de Curitiba
– Sistema Rolando Toro, eu acabei me atrasando por causa do forte temporal que
resolveu despencar repentinamente. De novo, a tempestade com muitos raios e trovões,
plena de simbologia, trazendo-me a excelente notícia de grandes transformações! Penso
que, mais simbólico ainda, é ter esquecido o guarda-chuva na sala da entrevista e ter ido
embora tomando chuva de tanta felicidade! Segundo o meu bioamigo ALCEU VENÂNCIO
JR., com relação a esta passagem da minha Vida: “Desta vez, talvez você estivesse preparada
para encarar as tempestades da vida de outra forma, abrindo-se e dançando com as emoções,
como propõe a Biodanza... “
Na rápida entrevista, expressei com toda minha clareza o meu
desejo de curar e de transformar as relações, que durante a minha formação tornou-se
realidade. Houve saltos quânticos em minha Vida. Eu estou e sou muito feliz! Como
reflexo da minha felicidade, todas as minhas relações são ecológicas e nutritivas! A minha
família está e é também feliz! Todos do nosso círculo de convivência, em ressonância e de
forma sutil, estão se tornando mais felizes!
“O cuidado como modo-de-ser perpassa toda existência humana e possui
ressonâncias em diversas atitudes importantes. Através dele as dimensões de céu
(transcendência) e as dimensões de terra (imanência) buscam seu equilíbrio e coexistência. Realiza-se também no reino dos seres vivos, pois toda vida precisa de
cuidado, caso contrário adoece e morre. (...)
(...) essas ressonâncias, entre outras, são eco do cuidado essencial.
Trata-se de vozes diferentes cantando a mesma cantilena. É o amor, a justa medida,
a ternura, a carícia, a cordialidade, a convivialidade e a compaixão que garantem a
humanidade dos seres humanos. Através desses modos-de-ser, os humanos
continuamente realizam sua autopoiese, vale dizer, sua autoconstrução histórica.
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Simultaneamente constroem a Terra e preservam as tribos da Terra com suas
culturas, seus valores, seus sonhos e suas tradições espirituais.” (LEONARDO BOFF,
“Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”).
O grande salto quântico na minha Vida começou a acontecer, a
partir de então... As vivências de Biodanza se aprofundaram e, por conseqüência, os
“insights” também se tornaram mais consistentes, freqüentes e significativos... As
grandes sacadas vinham, logo após as vivências; e, como num “click” ou “passe de
mágica”, eu conseguia relacioná-las com a minha Vida...
Posso dizer que a vivência mais transformadora para mim, desde
que eu comecei a fazer Biodanza, é “o caminhar pela Vida”. Foi o meu primeiro desafio de
Projeto Minotauro, dado pela Diretora NÉLIDA CATALINA PÉREZ. A partir desta vivência,
tomei consciência do “meu caminhar pela Vida”. É uma simples vivência com grande
poder transformador. É um movimento humano simples com grandiosa significância.
Acredito que é uma das vivências mais importantes da Biodanza.
Passado um mês, na maratona de “Biodanza: Ars Magna”, o didata
ORLANDO ROCHA percebeu a forma como eu caminhava, de um jeito meio bailarina, na
ponta dos pés; e me mostrou com paciência que os calcanhares tocam por primeiro o
chão e, depois, as plantas e os dedos dos pés, em sincronia com os braços, dando maior
confiança e estabilidade na caminhada.
Dessa maneira, aos poucos, eu “aterrei” e comecei a sentir mais a
estabilidade e o ritmo visceral da terra. De bailarina e sonhadora, passei a ser guerreira e
curandeira de mim mesma... A partir da força da terra, ao pisá-la, descobri a força que
habita em mim mesma... Ao mesmo tempo, percebi que a minha forma de caminhar no
dia-a-dia mudou... E também muita coisa mudou, como reflexo desta pequena e sutil
mudança de padrão! Comecei a sentir maior confiança em mim mesma e no fluxo da
Vida. As paranóias, os medos e as neuroses foram se dissolvendo... Na verdade, há muita
entrega e presença nesta vivência, quando se abre o rosto com olhares e sorrisos,
soltando os braços, o pescoço e os quadris em movimentos segmentares. Um misto de
movimentos sinuosos de entrega da serpente à terra com a força e a presença da tigresa.
O verdadeiro equilíbrio entre o “yin” (feminino) e o “yang” (masculino).
Esta vivência básica de Biodanza trabalhou em mim, como
unidade, de forma bem “amarrada” todas as linhas de vivência e várias categorias de
movimentos: a) a agilidade (a capacidade de direcionar o movimento e de mudar
rapidamente sem perder a coordenação); b) o controle voluntário (“o corpo como
unidade”); c) a coordenação (a sintonia e a sincronização dos movimentos como ocorre no
Universo e na dança cósmica); d) o equilíbrio (a paz interior); e) a eutonia (a
comunicação e a comunhão com o outro); f) a eurritmia (a integração); g) a
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expressividade (a tradução corporal do mundo interior com intencionalidade e
intensidade); h) a fluidez no caminhar (os movimentos contínuos e o contínuo fluxo de
energia ajudam a manter o equilíbrio); i) a leveza (a plenitude); j) a potência (“ímpeto
vital”, ou seja, “o impulso para realizar propósitos” ); l) a resistência (a auto-regulação); m) o
ritmo (cada passo é sentir os calcanhares, as plantas e os dedos dos pés se conectarem
com a Terra, sentir pertencente e vinculado ao Universo e sentir a batida do coração em
sincronia e sintonia com o Universo); e n) o sinergismo (a vontade de agir, de avançar
cada vez mais e de seguir no movimento da Vida). E, diante de tudo isso, aconteceu a
minha transformação...
Assim, ao perceber de forma evidente o grande poder curativo e
transformador da Biodanza em mim mesma e na minha própria história de Vida, como
prova real da proposta de ROLANDO TORO ARANEDA, eu me conectei com os propósitos
de ser facilitadora de Biodanza para expandir esse poderoso método vivencial aos quatro
cantos do Planeta Terra e torná-lo biocêntrico, como proposta de Vida.
“Aja como se o que você quer que se manifeste na vida já fosse uma
realidade.” (WAYNE W. DYER, “ A força invisível”).
Por isso, de forma amorosa e sutil, passei a transmitir a essência
biocêntrica no meu quotidiano às pessoas com quem eu convivo. Dessa forma, vieram até
mim muitos simbolismos noticiando que eu estava seguindo o rumo certo...
Desde que eu comecei a minha formação no curso de Direito,
tenho a plena consciência da minha forte ligação com a justiça. Pensava que a minha
vocação era ser magistrada. Tanto que, depois de formada, estudei cinco anos para
prestar concurso para essa carreira, achando que esse era o único caminho para eu
cumprir a minha missão de Vida.
Ainda bem que ampliei o foco da minha lente fotográfica! Hoje
percebo que a justiça é uma virtude praticada no dia-a-dia, independentemente de ser
magistrado ou não.
Somos justos, quando sentimos a voz que habita dentro do nosso
coração dizendo: “Seja feliz! Vá em busca do caminho da felicidade!” E é isso aí! A minha
missão de Vida de justiça está ligada à cura e à educação biocêntrica. É indicar às
pessoas o caminho da cura e da transformação, a partir da própria força interior. É
ensiná-las, de forma sutil, a serem justas consigo mesmas nas próprias escolhas de Vida;
a se relacionarem melhor com os outros e com o mundo; e a decidirem por si mesmas a
buscarem a própria felicidade.
13
Dessa forma, acredito muito que as pessoas se atariam menos em
nós e os desatariam sozinhos dos novelos da Vida, sem complicar e sem a necessidade de
levar os casos para o juiz ou outra terceira pessoa para decidir por eles.
"A natureza vista como um todo não impõe prescrições. Aponta para
tendências e regularidades que podem ir em várias direções. Cabe ao ser humano
desenvolver uma sensibilidade tal que lhe permita captar essas tendências e tomar
suas decisões. A natureza não o dispensa de decidir e de exercer a sua liberdade. Só
então ele se mostra um ser ético.” (LEONARDO BOFF, “Saber cuidar: ética do humano
– compaixão pela terra”).
Posso dizer tudo isso sobre justiça do fundo do meu coração,
como experiência própria de Vida. A melhor justiça aplicada em minha própria Vida foi no
momento que eu incentivei os meus pais a serem felizes. Em razão de todas as
circunstâncias anti-vida, nocivas e tóxicas que eles viviam, a convivência entre eles estava
ficando cada dia mais insuportável e eles estavam muitos doentes e infelizes.
Com toda certeza, é a minha melhor sentença em toda a minha
Vida. Apesar da dor de vê-los se separando, eu me senti aliviada, quando eu os libertei
dizendo: “Sejam felizes! É isso que eu quero do fundo do meu coração! Mesmo
separados, vocês continuam sendo os meus pais...” Depois de lhes dizer o que o meu
coração estava apertando há muitos anos de Vida, abracei-os com o meu abraço mais
forte, intenso, profundo e verdadeiro, bem no estilo do abraço da Biodanza...
Na harmonia e na paz do diálogo biocêntrico, cada um tomou o
seu rumo e, conforme o meu desejo, eles estão e são mais felizes! Eu estou e sou mais
feliz por eles estarem e serem mais felizes! E eles me vendo assim feliz, são e estão mais
felizes! É a ressonância da felicidade!
“(...) Não basta o saber racional, nem a vontade obediente de identificar
regularidades, dispensando a criatividade humana e o exercício da liberdade, próprias
do ser humano. Importa desenvolver uma atitude atenta de escuta, um sentimento
profundo de identificação com a natureza, com suas mudanças e estabilidades. O ser
humano precisa sentir-se natureza. Quanto mais mergulha nela, mais sente quando
deve mudar e quando deve conservar em sua vida e em suas relações.” (LEONARDO
BOFF, “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”).
Também, por meio da Biodanza e das relações de amizades
luminosas, nutritivas e sinceras, outros portões de cura se abriram: o contato com as
Danças Circulares, a Homeopatia, a Terapia de Vidas Passadas, o Reiki, o Xamanismo, o
Universo como um todo... E nos movimentos de ampliação das percepções e de expansão
14
da consciência, mais portões ainda continuam se abrindo com luminosidade para a minha
integração...
Às vezes, fico imaginando, se eu não tivesse ido ao aniversário da
MARIA ERNESTINA ALZAMORA... A Vida, com certeza, abriria para mim novo portão para
eu adentrar e conhecer a Biodanza... O meu encontro com a Biodanza, de qualquer
forma, já estava “escrito nas estrelas”!!! Por isso, posso até dizer que o meu próprio
nome completo atraiu a Biodanza para a minha Vida!!! E, agora, então, dá para entender
melhor o porquê da introdução com a simbologia detalhada do meu nome!!! O encontro
inevitável movido pela sincronicidade simplesmente aconteceu!!!
"Voltar a uma inocência alerta não exige tanto esforço, como o de mover
um monte de tijolos de um lugar para outro, mas, sim, que fiquemos parados o
tempo suficiente para que o espírito nos encontre. Diz se que tudo que procuramos
também está a nossa procura; que, se ficarmos bem quietos, o que procuramos nos
encontrará. Ele está esperando por nós há muito tempo. Depois que ele aparecer, não
devemos fugir. Descansemos. Vejamos o que acontece em seguida.” (CLARISSA
PINKOLA ESTÉS, “Mulheres que correm com os lobos”).
Diante do forte simbolismo dessa mensagem, percebo e sinto no
meu coração, cada vez mais forte, com imensa amorosidade e gratidão, que a minha
entrada triunfal na Biodanza, em 05 de agosto de 2002, no biogrupo regular do ALCEU
VENÂNCIO JR. e da GIOVANA HARTKOPF, é uma obra do movimento sincronístico da
Vida e do Universo!!!
Nada é por acaso mesmo... Agora, depois de muitas vivências, no
final do curso de formação como facilitadora de Biodanza, estou compartilhando, sem
nenhuma vergonha, o resumo da ópera da minha Vida.
Apesar de algumas pedras encontradas pelo caminho, eu também
tenho orgulho delas, porque foram elas que contribuíram para mim com lindas lições para
fortalecer a minha força interior e o meu ímpeto de Vida. Assim, revelando ao mundo a
minha auto-biografia, concretizo o meu sonho de infância de ser escritora...
Confesso que o meu entusiasmo pelo tema “Biodanza: o caminho
para a atração e a percepção dos movimentos da sincronicidade na Dança da Vida” é
fruto das minhas vivências de grande intensidade e profundidade na Biodanza, que
despertaram o meu “olhar” interior e exterior para a cura e a transformação, com a
simplicidade de eu me permitir e me entregar com fluidez à sabedoria organizadora do
Universo.
15
“E depois de termos construído um altar para a Luz invisível, poderemos
sobre elas colocar as pequenas luzes para as quais os nossos olhos foram feitos.” (T.
S. ELIOT).
Dessa maneira, percebo e vivencio com tamanha clareza a
presença diária e marcante das sincronicidades; e a beleza na ordem das conexões em
tudo e em todos que envolvem a Teia da Vida, com a visão expansiva da unidade. Por
essa razão, desde os primeiros estudos e pesquisas, ao relacionar as minhas vivências
pessoais dentro e fora da Biodanza, o processo da minha biomonografia está sendo para
mim a prazerosa vivência de descobertas multidimensionais.
“Neste universo pleno de propósito não existe nada como sorte ou acaso.
Além de todas as coisas estarem conectadas a tudo o que existe, ninguém está
excluído da Origem universal, que se chama intenção.” (WAYNE W. DYER, “A força
invisível).
II. O biopropósito da biomonografia
“Ser criativo significa confiar em seu próprio propósito e adotar uma
atitude de intenção resoluta em seus pensamentos e em suas atividades todos os
dias.” (WAYNE W. DYER, “A força invisível”).
Dentro da intenção da própria Biodanza de valorizar o potencial
criativo e o conteúdo teórico, a biomonografia tem a impressão frente e verso em papel
reciclado seguindo a onda biocêntrica e ecológica e a redação mais livre e solta, sem se
enquadrar aos padrões e às regras ditadas pela ABNT.
Da mesma maneira que eu honro o meu nome completo como se
fosse um mantra de poder, eu também honro o nome completo de todos os criadores
citados na biomonografia. E, por isso, não estranhem! Pode soar repetitivo, mas os
criadores merecem ser honrados pelo talento ao serem chamados pelo nome completo.
Ainda, mesmo que desconheça quem seja o criador da ilustração da capa, quero também
honrá-lo muito...
“O talento é uma característica da força criativa que permite que toda
criação material ganhe forma. É uma expressão do divino.” (WAYNE W. DYER, “A
força invisível”).
Por questões didáticas, abordaremos com profundidade a visão da
teoria da sincronicidade desenvolvida por CARL GUSTAV JUNG, inovadora para sua época,
amarrando-a a outras desenvolvidas também por ele: o self (o si-mesmo), os arquétipos e
o inconsciente coletivo.
16
Nessa abordagem, apesar de aparentar falta de criatividade,
transcreveremos alguns de seus escritos, a fim de conservar e compreender a essência da
genialidade junguiana na sua pureza original. Ainda, destacaremos autores mais
contemporâneos a respeito desse princípio psíquico-cosmológico desenvolvido pelo
psicólogo suíço e relacionar com temas atuais.
Depois disso, demonstraremos a importância e a relação das
teorias desenvolvidas por CARL GUSTAV JUNG e, em especial, a da sincronicidade, com a
Biodanza, sistema vivencial desenvolvido por ROLANDO TORO ARANEDA.
Assim, num encadeamento teórico, observaremos a Biodanza,
como instrumento e método de atração e percepção dos movimentos sincronísticos na
Dança da Vida, a partir da expressão dos potenciais genéticos (vitalidade, sexualidade,
criatividade, afetividade e transcendência) e a integração expressiva da identidade.
Esse enfoque importa, como a chave-mestre, para o processo
evolutivo e transformativo de cada um e em todas as relações envolvidas, inclusive se
considerar a minha caminhada histórica, como modelo de referência.
Observo a sincronicidade em ação e em movimento, a partir da
minha própria história de Vida. Vivenciamos histórias plenas de simbologias no nosso diaa-dia. No processo de integração da identidade, quando olhamos as simbologias na sua
plenitude, como um todo, único e inseparável, desatamos os nossos nós internos e
externos. E, assim, dançamos a Dança da Vida, com mais coragem, fluidez e prazer em
viver. Por isso, logo no início da minha formação como facilitadora em Biodanza, surgiu o
imenso biopropósito de escrever esta biomonografia.
III. Sincronicidade: a origem e a terminologia
CARL GUSTAV JUNG, cientista, psicólogo e metafísico suíço,
desenvolveu a teoria da sincronicidade, inspirado na teoria da relatividade de ALBERT
EINSTEIN.
De acordo com uma carta de CARL GUSTAV JUNG a CARL SEELIG,
escritor e jornalista suíço, que escreveu uma biografia sobre ALBERT EINSTEIN:
“Foi Einstein quem primeiro me levou a pensar sobre uma possível
relatividade tanto do tempo quanto do espaço, a sua condicionalidade psíquica. Mais
de trinta anos depois, esse estímulo propiciou o meu relacionamento com o físico
Professor W. Pauli, e a elaboração da minha tese sobre sincronicidade psíquica.”
1
1
.
in: MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 179.
17
CARL GUSTAV JUNG realizou vários estudos e pesquisas, dentre
eles um experimento com a astrologia como método empírico, a fim de comparar,
demonstrar e oferecer uma visão mais global de cada indivíduo e as conexões acausais;
e, ainda, de maneira genial, relacionou a sincronicidade com outras teorias de sua
autoria: o self (o si-mesmo2), os arquétipos3 e o inconsciente coletivo4.
Ele próprio explica na sua obra “Sincronicidade: um princípio de
conexões acausais” (2005) a gênese da terminologia sincronicidade:
“(...) Escolhi este termo, porque a aparição simultânea de dois
acontecimentos, ligados pela significação, mas sem ligação causal, me pareceu um
critério decisivo. Emprego, pois, aqui o conceito geral de sincronicidade, no sentido
especial de coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal
mas com o mesmo conteúdo significativo, em contraste com “sincronismo” cujo
significado é apenas o de ocorrência simultânea de dois fenômenos.
A sincronicidade, portanto, significa em primeiro lugar, a simultaneidade
de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como
paralelos significativos de um estado subjetivo momentâneo e, em certas
circunstâncias, também vice-versa. (...)”
5
“(...) Em vez de simultaneidade poderíamos usar também o conceito de
coincidência significativa de dois ou mais acontecimentos, em que se trata de algo
6
mais do que uma probabilidade de acasos. (...)” .
CHARLENE BELITZ e MEG LUNDSTROM, em “O poder do fluxo:
formas práticas de transformar sua vida com coincidências significativas” (2000),
afirmaram que CARL GUSTAV JUNG definiu: “Sincronicidade é a conjunção de eventos internos
e externos de uma forma que não pode ser explicada por causa e efeito e que é significativa para
7
o observador.” .
IV. Sincronicidade: as características
2
“O centro, fonte de todas as imagens arquetípicas e de todas as tendências psíquicas inatas para a aquisição
de estrutura, ordem e integração”. (MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 206).
3
“Um padrão potencial inato de imaginação, pensamento ou comportamento que pode ser encontrado entre
seres humanos em todos os tempos e lugares.” (MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 205)
4
“O inconsciente coletivo nutre-se da memória da espécie. Ele examina os arquétipos que são comuns a toda
a humanidade. Seu objetivo é a revelação do Self por meio do processo de individuação.” (ROLANDO TORO,
“Biodanza”, 2005, p. 56).
5
p. 19.
6
p. 84.
7
p. 27.
18
ROBERT
H.
HOPCKE,
quando
analisou
várias
histórias
sincronísticas em “Sincronicidade ou por que nada é por acaso” (1999), concluiu pela
existência de quatro principais características na sincronicidade, acrescentando mais uma
às três características delineadas pelo estudioso CARL GUSTAV JUNG:
“Mesmo que a sincronicidade seja uma idéia que existe desde a origem
da cultura humana, a contribuição de Jung foi sua observação de que a confluência
especial de acontecimentos, para a qual ele empregou o termo “sincronicidade”,
quase sempre tem três características distintas, às quais minhas próprias experiências
e pesquisas me levaram a acrescentar mais uma. (...)
Primeiro, estes acontecimentos são ligados pela casualidade, em vez de
ligados através de uma corrente de causa e efeito que um indivíduo pode distinguir
como intencional ou deliberada de sua parte. Segundo, esses acontecimentos são
sempre acompanhados de uma profunda experiência emocional, geralmente na
hora do acontecimento em si, porém nem sempre. Terceiro, o conteúdo de uma
experiência sincronística, o que o acontecimento é realmente, é sempre de natureza
simbólica, e quase sempre percebi, em relação ao quarto aspecto especificamente,
que essas coincidências ocorrem em momentos de importantes transições em
nossas vidas. Um evento sincronístico geralmente se torna um momento de virada na
8
história de nossas vidas.” .
Importante destacar que as características presentes na definição
de sincronicidade proposta por CARL GUSTAV JUNG – causalidade, profunda experiência
emocional, natureza simbólica – mais a de ROBERT H. HOPCKE – momento de importante
transição na Vida –, demonstram, sem sombra de dúvida, consoante o meu relato vivencial
contado na introdução desta biomonografia, que o meu encontro com a Biodanza é meu
exemplo histórico e verídico de movimento de plena sincronicidade na Dança da Vida, o
que me motivou a amar e me apaixonar perdidamente pelo tema sincronicidade, além da
Biodanza. E, por isso, eu concluo com muito humor que é possível manter aceso em
nossas Vidas mais de um amor ao mesmo tempo e em sincronicidade...
V. Sincronicidade: as concepções psíquica e cosmológica
CARL GUSTAV JUNG, nos seus estudos sobre sincronicidade,
desenvolveu duas concepções: a estrita (psíquica) e a mais ampla (cósmica).
Consoante consta no livro “JUNG: o mapa da alma” (1998), de
MURRAY STEIN, a concepção estrita (visão psíquica), já mencionada nos dois tópicos
anteriores, relaciona a psique e o mundo objetivo.
8
p. 33.
19
Nesse ponto de vista, define-se como “a ocorrência simultânea de um
estado psíquico com um ou vários acontecimentos externos que se apresentam como paralelos
significativos do estado subjetivo momentâneo”
9
; e “a coincidência significativa entre um evento
psíquico, como um sonho ou pensamento, e um evento no mundo não-psíquico”
10
.
Acrescentou também que “Por “simultânea” entende ele que um
determinado evento ocorreu no âmbito do mesmo quadro temporal, dentro de horas ou dias mas
não necessariamente no mesmo momento. Há simplesmente a “coincidência no tempo” de dois
acontecimentos, um psíquico e um físico. Do lado psíquico, pode ser uma imagem onírica, ou um
pensamento, ou uma intuição.”
11
.
A concepção mais ampla (visão na cosmologia 12 ) relaciona a
sincronicidade com a “organização acausal” no mundo. Na mesma obra, MURRAY STEIN
destacou:
““Nesta categoria se incluem todos os ‘atos de criação’, fatores a priori
tais como, por exemplo, as propriedades dos números inteiros, as descontinuidades
da física moderna, etc. Por conseqüência, teríamos de incluir no círculo de nosso
conceito ampliado certos fenômenos constantes e experimentalmente reproduzíveis, o
que não parece estar de acordo com a natureza dos fenômenos compreendidos no
conceito de sincronicidade em sentido estrito.” Do ponto de vista do princípio geral da
sincronicidade, a nossa experiência humana de organização acausal, através do fator
psicóide e da transgressividade do arquétipo, constitui um caso especial de
ordenamento muito mais amplo no universo.
Com este quadro cosmológico, dou um retoque final no mapa da alma
traçado por Jung. Suas explorações da psique e suas fronteiras levaram-no para
territórios normalmente ocupados por cosmólogos, filósofos e teólogos. O seu mapa
da alma deve, entretanto, ser colocado no contexto dessa perspectiva mais ampla,
pois é esta que fornece o mais extenso alcance de sua penetrante e unificada visão.
Nós, seres humanos, ensina ele, temos um papel especial a desempenhar no
universo. A nossa consciência é capaz de refletir os cosmos e de introduzi-lo no
espelho da consciência. Podemos chegar à conclusão de que vivemos num universo
que pode ser melhor descrito usando quatro princípios: energia indestrutível, contínuo
espaço-tempo, causalidade e sincronicidade. (...)
A psique humana e a nossa psicologia pessoal participam da maneira
mais profunda na ordem desse universo por intermédio do nível psicóide do
9
p. 187.
p.194.
11
p. 187.
12
“”Estudo da evolução, da estrutura geral e da natureza do universo como um todo.” (RALPH ABRAHAM,
TERENCE MCKENNA e RUPERT SHELDRAKE, “Caos, criatividade e o retorno ao sagrado”, 1992, p. 219).
10
20
inconsciente. Mediante o processo de psiquização, configurações de ordem no
universo tornam-se acessíveis à consciência e podem, finalmente, ser entendidas e
integradas. Cada pessoa pode testemunhar o Criador e as obras criativas desde
dentro, por assim dizer, prestando atenção à imagem e à sincronicidade. Pois o
arquétipo é não só o modelo da psique, mas também reflete a real estrutura básica
do universo. “Como em cima, assim embaixo”, falaram os sábios antigos. “Como
dentro, assim fora”, responde o moderno explorador da alma, Carl Gustav Jung.”
13
.
Para compreensão dessas concepções, aprofundaremos mais
ainda nas teorias de CARL GUSTAV JUNG.
VI. Sincronicidade: a extensão do self (o si-mesmo) e a inter-relação com os
arquétipos e o inconsciente coletivo
CARL GUSTAV JUNG, como cientista metafísico, quando formulou
a teoria da sincronicidade, uniu a matéria (o corpo) e o espírito (a alma); e o tempo e a
eternidade. Assim, a sincronicidade é a extensão da teoria do self (o si-mesmo) à
cosmologia, tendo em vista a conexão, a ordem e a unidade entre tudo o que existe.
Nesse aspecto, MURRAY STEIN, quando apresentou de maneira
simplificada as teorias junguianas na obra “JUNG: o mapa da alma” (1998), comentou
que:
“(...) Essa obra sobre sincronicidade acrescenta à teoria psicológica de
Jung a noção de que existe um alto grau de continuidade entre a psique e o mundo,
de tal modo que imagens psíquicas (as quais incluem também os núcleos de
pensamentos científicos abstratos, como o de Kepler) podem revelar também
verdades sobre a realidade no espelho refletor da consciência humana. A psique não é
algo que começa e termina somente em seres humanos e em isolamento do cosmo.
Há uma dimensão na qual a psique e o mundo interagem intimamente e se refletem
reciprocamente. Esta é a tese de Jung. (...)”
14
.
“(...) A teoria da sincronicidade ajusta-se à visão de Jung do si-mesmo
como uma característica de radical transcendência sobre a consciência e a psique
como um todo, e desafia as linhas de fronteira comumente traçadas para separar as
faculdades de psicologia, física, biologia, filosofia e espiritualidade. Supõe-se
tradicionalmente que a psicologia se limita ao que ocorre na mente humana; mas com
a sua teoria do si-mesmo e da sincronicidade, a psicologia analítica de Jung desafiou
essa segmentação arbitrária. Quando estudantes perguntaram certa vez a Jung onde
termina o si-mesmo e quais são as suas fronteiras, sua resposta foi que não tem fim,
13
14
p. 194-195.
p. 178.
21
é ilimitado. Para se entender o que ele quis dizer com esse comentário, tem que se
levar em conta que ele estava considerando as implicações da sincronicidade para a
teoria do si-mesmo. (...)”
15
.
No sentido de compreendermos melhor a teoria da sincronicidade,
vale a pena adentrar na do self (o si-mesmo). MURRAY STEIN na mesma obra clareou
esta teoria, interligando ao mesmo tempo com a dos arquétipos. Em razão de sua clareza
e até mesmo para que não se perca a verdadeira essência do pensamento junguiano, o
texto merece ser transcrito, a seguir:
“(...) Para Jung, o si-mesmo é transcendente, o que significa que não é
definido pelo domínio psíquico nem está contido nele, mas situa-se, pelo contrário,
além dele e, num importante sentido, define-o. É este ponto sobre a transcendência
do si-mesmo que torna a teoria de Jung diferente da de outros teóricos do si-mesmo,
como Kohut. Para Jung, o si-mesmo não se refere, paradoxalmente, a si mesmo. É
mais do que a subjetividade da pessoa, e sua essência situa-se além do domínio
subjetivo. O si-mesmo forma a base para o que no sujeito existe de comum com o
mundo, com as estruturas do Ser. No si-mesmo, sujeito e objeto, o ego e o outro,
juntam-se num campo comum de estrutura e energia. (...)”
16
.
“(...) “O si-mesmo está completamente além dos limites da esfera
pessoal e, quando se manifesta, se é que isso ocorre, é tão-somente sob a forma de
um mitologema religioso; os seus símbolos oscilam entre o máximo e mínimo. (...)
quem quiser realizar essa difícil proeza não só intelectualmente mas também como
valor de sentimento, deverá defrontar-se, para o que der e vier, com o animus ou
com a anima; a fim alcançar uma união superior, uma coniunctio oppositorum
[unificação dos opostos]. Este é um pré-requisito indispensável para se chegar à
integridade.” Neste ponto do texto, Jung introduz o termo “integridade”, que é
equivalente a si-mesmo. Em termos práticos, a integridade resulta quando o simesmo é realizado na consciência. De fato, isso não é completamente realizável, uma
vez que as polaridades e os opostos que residem no si-mesmo estão gerando cada
vez mais material novo a integrar. Não obstante, exercitar e praticar a integridade
numa base regular é o método próprio do si-mesmo, a versão de Jung de viver em
Tao. “Embora a integridade não pareça, à primeira vista, mais do que uma noção
abstrata (como a anima e o animus), trata-se, porém, de uma noção empírica, na
medida em que é antecipada pela psique por símbolos espontâneos ou autônomos.
São esses os símbolos da quaternidade ou das mandalas, que afloram não somente
nos sonhos do homem moderno, que os ignora, como também aparecem amplamente
difundidos em monumentos históricos de muitos povos e épocas.
15
16
p. 180.
p. 138.
22
Os símbolos do si-mesmo determinam o enfoque de Ain. Tal como Jung
os concebe, eles são ubíquos e autoctônicos (isto é, inatos e espontâneos), e são
fornecidos à psique a partir do arquétipo per se, passando pela região psicóide
arquetípica. O si-mesmo, uma entidade não-psicológica transcendente, atua sobre o
sistema psíquico para produzir símbolos de integridade, freqüentemente como
imagens de quaternidade ou mandalas (quadrados e círculos). “O seu significado
como símbolos da unidade e da totalidade é corroborado no plano da história e
também no plano da psicologia empírica. O que à primeira vista parece uma noção
abstrata representa, na realidade, algo que existe e pode ser conhecido por
experiência, que demonstra espontaneamente sua presença apriorística. A integridade
constitui,
portanto,
um
fator
objetivo
que
se
defronta
com
o
sujeito
independentemente dele.”
(...) Jung passa então a descrever uma hierarquia de agências o interior
da psique. Assim como a anima ou o animus ocupam “uma posição hierarquicamente
superior à sombra, assim também a integridade reclama uma posição e um valor
superiores ao da Sizígia [anima∕animus]”. No nível que se lhe segue de imediato está
a sombra e, acima desta, anima∕animus – a Sizígia – representa uma autoridade e um
poder superiores. Presidindo a todo o governo psíquico está o si-mesmo, a autoridade
suprema e o mais alto valor: “unidade e totalidade situam-se no ponto supremo da
escala de valores objetivos porque os seus símbolos já não podem ser distinguidos da
imago Dei”. Sustenta Jung que cada um de nós traz dentro de si a imagem de Deus
– o cunho o si-mesmo. Ostentamos a marca do arquétipo: typos significa um cunho
impresso numa moeda, e arche significa a matriz ou espécime original. Assim, cada
indivíduo humano é portador de uma impressão do arquétipo do si-mesmo. Este é
inato e dado.
Uma vez que cada um de nós está cunhado com a imago Dei por
virtude de ser humano, também estamos em contato com a “unidade e totalidade que
se situa no ponto supremo da escala de valores objetivos”. Sempre que necessário,
esse conhecimento intuitivo pode acudir em nossa ajuda: “Mostra-nos a experiência
que as mandalas individuais são símbolos de ordem, sendo essa a razão por que
ocorrem nos pacientes sobretudo em épocas de desorientação ou reorientação
psíquicas.” Quando as pessoas desenham espontaneamente ou sonham a respeito de
mandalas, isso sugere ao terapeuta que existe uma crise psicológica na consciência. O
aparecimento de símbolos do si-mesmo significa que a psique necessita ser unificada.
Essa foi a experiência do próprio Jung. Durante o seu período de maior desorientação,
ele começou a desenhar espontaneamente mandalas. O si-mesmo gera símbolos
compensatórios de integração quando o sistema psíquico corre o perigo de
fragmentar. Esse é o ponto que intervém o arquétipo do si-mesmo num esforço para
unificá-lo.
23
O surgimento dos símbolos de unidade e dos movimentos de integração
no sistema psíquico são geralmente marcas da ação do arquétipo do si-mesmo. A
tarefa do si-mesmo parece ser a de manter o sistema psíquico unido e em equilíbrio.
A sua meta é a unidade. Essa unidade não é estática mas dinâmica (...) . O sistema
psíquico é unificado na medida em que se torna mais equilibrado, correlacionado e
integrado. A influência do si-mesmo sobre a psique como um todo é refletida pela
influência do ego sobre a consciência. À semelhança do si-mesmo, o ego também
exerce uma função centralizadora, ordenadora e unificadora, e o seu objetivo é, tanto
quanto possível, equilibrar e integrar funções, dada a existência dos complexos e das
defesas. (...) ocupei-me do ego como o centro da consciência e o lócus da vontade.
Possui a capacidade para dizer “eu” e “eu sou”, ou “eu penso”, ou “eu quero”. Num
outro estágio, torna-se uma entidade psíquica consciente de si mesma e capaz de
dizer não só “eu sou” mas “eu sei que eu sou”. Pode ser o caso, embora não
possamos estar certos disso, de que o si-mesmo também sabe que é. Possui o
arquétipo percepção de si mesmo? Sabe que é? Jung descobriu o que pensou ser uma
espécie de consciência nos arquétipos. Quando imagens arquetípicas invadem o ego,
por exemplo, e se apossam dele, têm uma voz, uma identidade, um ponto de vista,
um conjunto de valores. Mas existirá a percepção de si mesmo dentro da própria
unidade arquetípica? Um mito aponta fortemente para tal percepção. Quando Moisés
se encontrou frente a frente com Deus na sarça ardente e perguntou “Quem és?”, a
voz arquetípica respondeu: “Eu sou quem sou.” Seja o que for que isso signifique do
ponto de vista teológico, parece demonstrar a existência de uma consciência que
reflete sobre si mesma no arquétipo.”
17
.
“É óbvio, pelos escritos de Jung, que unidade e totalidade eram os seus
valores supremos, e que o si-mesmo formou o seu mito pessoal. Mas é um mito que
ele procurou fundamentar em provas e em teoria. Mais corretamente, a teoria do simesmo – o conceito de que existe um centro transcendente que governa a psique do
lado de fora dela própria e circunscreve a sua integridade – foi um meio que Jung
usou para explicar fenômenos psicológicos básicos, como o surgimento espontâneo de
círculos ou mandalas, o funcionamento auto-regulador da psique no que lê chamou
“compensação”, o desenvolvimento progressivo da consciência ao longo da vida no
que chamou de “individuação”, e a existência de numerosas polaridades evidentes na
vida psicológica que formam estruturas coerentes e geram energia. Jung tem sido
criticado por alguns teólogos conservadores por transformar o si-mesmo num conceito
de Deus e depois cultuá-lo no santuário que ele próprio criou. Ele provavelmente
contestaria tal acusação afirmando que, como cientista empírico, estava simplesmente
observando fatos e tentando justificar a existência deles e suas relações mútuas. Para
ele, o conceito de si-mesmo oferecia a melhor explicação que era possível oferecer
para um dos mistérios centrais da psique – sua criatividade aparentemente milagrosa,
sua dinâmica centralizadora e suas estruturas profundas de ordem e coesão.
17
p. 143-144.
24
O sistema psíquico como um todo consiste em muitas partes.
Pensamentos e imagens arquetípicas situam-se num pólo do espectro, as
representações de pulsões e instintos no outro extremo, e entre os dois encontra-se
uma vasta quantidade de material pessoal, como memórias esquecidas e
relembradas, e todos os complexos. O fator que ordena todo esse sistema e o
mantém unido e coeso é um agente invisível chamado si-mesmo. Este é o que cria os
equilíbrios entre os vários outros fatores e os ata numa unidade funcional. Em suma,
o si-mesmo é o centro e cabe-lhe a tarefa de unificar as peças. Mas faz isso a uma
distância considerável, como o sol influenciando as órbitas dos planetas. A sua
essência situa-se além das fronteiras da psique. É psicóide e estende-se a regiões
para além da experiência e do conhecimento humanos. Nesse sentido, Jung diria que
18
o si-mesmo é infinito. (...)” .
Dessa maneira, conclui-se pela transcedentalidade do self (o simesmo), pois há a busca da integridade do self (o si-mesmo), como expressão e
revelação do arquétipo, por meio do processo de individuação, em que o psíquico se
desenvolve em direção ao conhecimento consciente de totalidade 19 . E, para que isso
ocorra, o inconsciente20 é penetrado pela emoção.
Nesse processo em que se deflagra forte estímulo emocional
(subjetivo), as teorias do self (si-mesmo), do inconsciente coletivo, arquétipos e da
sincronicidade se inter-relacionam. Aliás, nesse aspecto de conteúdo afetivo-emocional,
CARL GUSTAV JUNG fundamentou com genialidade e sabedoria em “Sincronicidade: um
princípio de conexões acausais” (2005) que:
“Os arquétipos são fatores formais responsáveis pela organização dos
processos psíquicos inconscientes: são os patterns of behaviour [padrões de
comportamento]. Ao mesmo tempo, os arquétipos têm uma “carga específica”:
desenvolvem efeitos numinosos que se expressam como afetos. O afeto produz um
abaissement de niveau mental [baixa de nível mental] parcial, porque, justamente na
mesma medida em que eleva um determinado conteúdo a um grau supranormal de
luminosidade, retira também tal quantidade de energia de outros conteúdos possíveis
da consciência, a ponto que estes se tornam obscuros e inconscientes. Em
conseqüência da restrição da consciência provocada pelo afeto, verifica-se uma
diminuição do sentido de orientação, correspondente à duração do efeito, que, por
18
p. 152.
“O sentido emergente de complexidade e integridade psíquica que se desenvolve no transcurso de uma
vida inteira.” (MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 206).
20
“A porção da psique situada fora do conhecimento consciente. Os conteúdos do inconsciente são
constituídos por memórias recalcadas e por material, como pensamentos, imagens e emoções, que nunca
oram conscientes. O inconsciente está dividido em inconsciente pessoal, o qual contém os complexos, e o
inconsciente coletivo, que aloja as imagens arquetípicas e os grupos de instintos.” (MURRAY STEIN, “JUNG: o
mapa da alma”, 1998, p. 205).
19
25
seu lado, proporciona ao inconsciente uma oportunidade favorável de penetrar
sutilmente no espaço que foi deixado vazio. Verificamos, quase de maneira regular,
que conteúdos inesperados ou comumente inibidos e inconscientes irrompem e
encontram expressão no afeto. Tais conteúdos são, muitas vezes, de natureza inferior
ou primitiva e, assim, revelam sua origem arquetípica. Como mostrarei mais adiante,
certos fenômenos de simultaneidade ou de sincronicidade parecem estar ligados aos
arquétipos em determinadas circunstâncias. Esta é a razão pela qual eu menciono os
arquétipos aqui. (...)
(...) O problema da sincronicidade me tem ocupado há muito tempo,
sobretudo a partir de meados dos anos vinte, quando, ao investigar os fenômenos do
inconsciente coletivo, deparava-me constantemente com conexões que eu não podia
simplesmente explicar como sendo grupos ou “séries” de acasos. Tratava-se, antes,
de “coincidências” de tal modo ligadas significativamente entre si, que seu
concomitante “casual” representa um grau de improbabilidade que seria preciso
exprimir mediante um número astronômico. Para exemplificar, citarei um caso
extraído de minhas próprias observações: No momento crítico do tratamento de uma
jovem paciente minha teve um sonho no qual recebia um escaravelho de ouro de
presente. Enquanto ela me contava o sonho, eu estava sentado de costas para a
janela fechada. De repente escutei um ruído por trás de mim, como se alguma coisa
batesse de leve na janela. Voltei-me e vi um inseto alado se debatendo do lado de
fora contra a vidraça da janela. Abri a janela e apanhei o inseto em pleno vôo. Era a
analogia mais próxima de um escaravelho de ouro que é impossível encontrar em
nossas latitudes, um escarabeídeo da espécie Cetonia aurata, o “besouro-rosa
comum”. Contrariando seus próprios hábitos, ele se sentiu evidentemente compelido a
entrar numa sala escura naquele dado momento. Devo dizer, desde logo, que nada de
semelhante jamais me acontecera até então, nem me aconteceu depois, e o sonho de
minha paciente permaneceu como um caso único em toda a minha experiência.”
21
.
(...) Os casos de coincidências significativas, que devemos distinguir
dos grupos casuais, parecem repousar sobre fundamentos arquetípicos. Pelo menos
os casos de minha experiência – e são em grande número – apresentam esta
característica. (...) Daí se conclui que o fator emocional desempenha um papel
importante no experimento. A afetividade, porém, repousa grandemente nos instintos
cujo aspecto formal é justamente o arquétipo.”
22
.
“Em todos os estes casos e em outros semelhantes parece que há um
conhecimento a priori, inexplicável causalmente e incognoscível na época em apreço.
O fenômeno de sincronicidade é constituído, portanto, de dois fatores 1) Uma
imagem inconsciente alcança a consciência de maneira direta (literalmente)
21
22
p. 15-16.
p. 18.
26
ou indireta (simbolizada ou sugerida) sob a forma de sonho, associação ou
premonição 2) Uma situação objetiva coincide com este conteúdo. Tanto uma
coisa como a outra podem, por assim dizer, causar admiração. De que modo surgem
a imagem inconsciente e a coincidência? Entendo muito bem que as pessoas prefiram
duvidar da realidade de tais coisas. (...)
No que se refere ao papel que os afetos desempenham no aparecimento
de acontecimentos sincronísticos, eu gostaria de lembrar que isto não é uma idéia
nova, mas já era conhecida de Avicena e de Alberto Magno. A respeito da magia
escreve Alberto Magno: “Descobri uma exposição muito instrutiva (sobre a magia) no
livro sexto dos Naturalia de Avicena, exposição segundo a qual habita na alma
humana um certo poder (virtus) capaz de mudar a natureza das coisas e de
subordinar a ela outras coisas, particularmente quando ela se acha arrebatada num
grande excesso de amor ou de ódio (quando ipsa fertur in magnum amoris
excessum aut odii aut alicuius talium). Portanto, quando a alma de uma pessoa
cai num grande excesso de alguma paixão, pode-se provar experimentalmente que
ele (o excesso) liga (magicamente) as coisas e as modifica no sentido em que ele
quiser (fertur in grandem excessum alicuius passionis invenitur experimento
manifesto quod ipse ligat re set alterat ad idem quod desiderat et diu non
credidi illud) e eu não acreditei (!) nisto por muito tempo, mas depois que li livros
sobre a nigromancia, ou outros do mesmo gênero sobre os signos (imaginum) e a
magia, descobri que a emocionalidade (affectio) da alma humana constitui
(realmente) a causa principal de todas as coisas, seja porque, em virtude de sua
grande emoção modifica seu corpo e outras coisas no sentido em que quiser, seja
porque as outras coisas inferiores estão sujeitas a ela, por causa de sua dignidade,
seja ainda porque a hora adequada ou a situação astrológica ou uma outra força
correm paralelas com este afeto que ultrapassa todos os limites, e (em conseqüência)
acreditamos que aquilo que esta força opera é produzido também pela alma (cum
tali affectione exterminata concurrat hora conveiens aut ordo coelestis aut
alia virtus, quae quodvis faciet, illud reputavimus tunc animam acere)...
Quem quiser conhecer o segredo de como fazer e desfazer estas coisas, deve saber
que qualquer pessoa pode influenciar magicamente qualquer coisa, quando cai em um
grande excesso... e deve fazer isto justamente na hora em que o excesso o acomete,
e operar com aquelas coisas que a alma lhe prescreve. A alma se acha, com efeito,
tão desejosa daquela coisa que ela gostaria de realizar, que escolhe espontaneamente
a hora astrológica melhor e mais significativa que rege também as coisas que
concordam melhor com o objeto de que se ocupa. Assim é a alma que deseja uma
coisa mais intensamente, que a torna as coisas mais eficientes e mais semelhantes
àquilo que surge... Semelhante a este é o modo de produção em tudo que a alma
deseja intensamente. Isto é, tudo que a alma faz, com este fim em vista, tem a força
propulsora e a eficácia para aquilo que a alma deseja”, etc.
27
Este texto nos mostra claramente que se considerava o acontecimento
sincronístico (mágico) como dependente do afeto. Naturalmente, Alberto Magno, em
conformidade com o espírito da época, explica isto postulando uma faculdade mágica
para a alma, sem levar em linha de conta que o progresso psíquico é tão “organizado”
quanto a imagem coincidente que antecipa o processo físico exterior. A imagem
coincidente provém do inconsciente e por isto pertence àquelas cogitationes quae
sunt a nobis independentes e que, na opinião de Arnold Geulincx, foram
inspirados por Deus e não brotam de nosso próprio pensamento. A concepção de
Goethe a respeito dos acontecimentos sincronísticos é também “mágica”. Eis o que
ele diz nas conversações com Eckermann: “Todos nós temos certas forças elétricas e
magnéticas dentro de nós e exercemos o poder de atração e repulsão, dependendo
do contacto que tivermos com algo afim ou dessemelhante”.
23
.
“Em face da influência niveladora do método estatístico sobre a
determinação quantitativa de sincronicidade, devemos nos perguntar como Rhine
conseguiu, apesar de tudo, obter resultados positivos. Eu ousaria afirmar que ele
jamais alcançaria os resultados obtidos, se tivesse realizado suas
experiências com um único sujeito, ou mesmo com uns poucos. Ele sempre
precisou de renovado interesse, isto é, precisou de uma emoção com seu
característico abaissement mental, que confere uma certa predominância ao
inconsciente. Somente deste modo o espaço e o tempo podem ser relativizados até
certo ponto, reduzindo-se, assim, ao mesmo tempo, também a possibilidade de um
processo causal. O resultado é, então, uma espécie de creatio ex nihilo [criação a
partir do nada], um ato de criação que não pode ser explicado casualmente. Os
procedimentos mânticos devem essencialmente sua eficácia à mesma conexão com a
emocionalidade: tocando em uma predisposição inconsciente do sujeito, eles
estimulam o seu interesse, sua curiosidade, sua expectativa e seus temores e,
conseqüentemente, suscitam uma predominância correspondente do inconsciente. As
potências ativas (numinosas) do inconsciente são os arquétipos. Na grande maioria
dos fenômenos espontâneos de sincronicidade que eu tive ocasião de observar e
analisar percebia-se facilmente que havia uma ligação direta com um arquétipo. Este,
em si, é um fator psicóide irrepreensível do inconsciente coletivo. Este último não
pode ser localizado, porque, em princípio, ou se acha todo inteiro em cada indivíduo
ou é o mesmo em toda parte. Nunca podemos dizer com certeza se o que parece
acontecer no inconsciente coletivo de um indivíduo em particular não acontece
também nos outros indivíduos ou organismos ou coisas ou situações. Na mesma hora,
por exemplo, em que a visão de um incêndio em Estocolmo surgiu na consciência de
Swedenborg, um fogo verdadeiro irrompia furiosamente naquela cidade, sem que
houvesse qualquer conexão demonstrável ou imaginável entre os dois. Não pretendo,
contudo, provar que haja uma conexão arquetípica neste caso, mas gostaria de
lembrar que a biografia de Swedenbog contém certos fatos que lançam uma luz
23
p. 25-26.
28
notável sobre seu estado psíquico. Devemos admitir que havia uma baixa do limiar de
sua consciência que lhe dava acesso ao “conhecimento absoluto”. O incêndio de
Estocolmo ardia, em certo sentido, também dentro dele. Para a psique inconsciente, o
espaço e o tempo parecem relativos, isto é, o conhecimento se acha em uma espécie
de contínuo espaço-tempo no qual o espaço já não é mais espaço e o tempo já não é
mais tempo. Se, portanto, o inconsciente desenvolve e mantém um certo potencial
em direção à consciência, há a possibilidade de se perceber e “conhecer”
acontecimentos paralelos. (...)
(...) Se – como tudo parece indicar – não se pode explicar casualmente a
coincidência ou “conexão cruzada” significativa de certos acontecimentos, então o
princípio de ligação consiste na equivalência de sentidos dos acontecimentos
paralelos; em outras palavras: o seu tertium comparationis é o sentido. Estamos
tão acostumados a considerar o “sentido” como um processo ou um conteúdo
psíquico, que relutamos em admitir que ele possa existir também fora de nossa
psique. Entretanto, estamos convencidos, pelo menos, de que sabemos o suficiente a
respeito da psique, para negar a ela, e muito menos ainda à consciência, qualquer
poder mágico. Se, portanto, sustentamos a hipótese de que um só e mesmo
significado (transcedental) pode manifestar-se simultaneamente na psique
humana e na ordem de um acontecimento externo e independente, entramos
em conflito com os pontos de vista científicos e epistemológicos habituais. Devemos
recordar-nos constantemente da validade meramente estatística das leis da natureza
e do efeito do método estatístico que elimina todos os acontecimentos incomuns, para
prestarmos ouvidos a tal hipótese. A grande dificuldade está em que nos faltam
totalmente os meios científicos para provar a existência de um sentido objetivo que
não seja, ao mesmo tempo, um produto da psique. Mas, temos de admitir semelhante
ponto de vista, para não recairmos na causalidade mágica, e postular para a psique
um poder que ultrapassa de muito os limites de sua esfera empírica. Neste caso, para
não renunciar à causalidade, seria preciso admitir que o inconsciente de Swedenborg
representou o incêndio de Estocolmo ou, inversamente, que o acontecimento objetivo
produziu (de forma porém inconcebível) as imagens correspondentes no cérebro de
Swedenborg. Em ambos os casos, porém deparamo-nos mais uma vez com a questão
irrespondida da transmissão dos fatos acima discutida. Naturalmente é o sentimento
subjetivo que nos dirá qual das hipóteses parece ter mais sentido. A tradição também
pouco nos ajudará a escolher entre o sentido transcedental e a causalidade mágica,
porque, de um lado, o primitivo sempre explicou a sincronicidade mágica, ao passo
que, do outro lado, o pensamento filosófico sempre admitiu, até o século XVIII, uma
correspondência secreta ou conexão significativa entre os acontecimentos naturais.
Prefiro a segunda hipótese, porque ela não entra em choque, como a primeira, com o
conceito empírico de causalidade, mas pode ser considerada como princípio sui
generis. Isto, na verdade, nos obriga, não a corrigir os princípios da explicação
natural, até agora professados, mas a aumentar o seu número, o que só se justifica
29
por razões muito sérias. Acredito, porém, que as indicações dadas no que acabo de
expor constituem um argumento que requer uma reflexão cuidadosa. Entre todas as
ciências, a Psicologia é a única que não pode permitir-se, a longo prazo, o luxo de
ignorar as experiências anteriores. Estas coisas são por demais importantes para a
compreensão do inconsciente, independentemente das suas implicações filosóficas”
24
.
Nesses escritos, CARL GUSTAV JUNG fluiu e viajou deliciosamente
e deles podemos resumir: a sincronicidade habita dentro de cada um de nós e o Universo
é o espelho refletor de nós mesmos em toda a sua imensidão.
Ainda, no que tange ao simbolismo, MURRAY STEIN, em “JUNG: o
mapa da alma” (1998), esclareceu a transgressividade dos arquétipos, como a ligação
entre as teorias dos arquétipos e da sincronicidade:
“(...) A tese de Jung sustenta que a resposta à questão do significado
requer mais do que a mera descrição da seqüência causal de eventos que culminam
no evento em questão. Argumenta ele que a sincronicidade deve ser levada em conta
para se chegar a uma resposta à questão do significado. Do lado psicológico psicóide
das coisas, cumpre investigar os padrões arquetípicos que são evidentes numa
situação constelada, pois eles fornecerão os parâmetros necessários para abordar a
questão da sincronicidade e a profunda significação estrutural. A respeito do
surgimento da bomba atômica no palco da história mundial, por exemplo, a
exploração do seu significado teria de incluir o fator de constelação da Segunda
Guerra Mundial e a polarização de opostos que a guerra gerou de um modo tão
violento. Ter-se-ia de incluir também a análise de sonhos com a bomba atômica na
humanidade contemporânea. O que é que a bomba atômica acrescenta à constelação
humana unilateral acerca das estruturas do Ser?
A fim de relacionar a teoria dos arquétipos com os eventos sincronísticos
que transgridem as fronteiras do mundo psíquico, Jung viu-se forçado a ampliar a sua
noção da natureza não-psíquica do arquétipo. Por um lado, é psíquico e psicológico,
uma vez que é experimentado dentro da psique na forma de imagens e idéias. Por
outro lado, é irrepresentável em si mesmo e sua essência está fora da psique. Jung
apresenta a idéia da propriedade de transgressividade do arquétipo. “Embora estejam
associados a processos causais ou ‘portados’ por eles, [os arquétipos] estão,
entretanto, ultrapassando continuamente os seus próprios limites, procedimento este
a que eu daria o nome de transgressividade porque os arquétipos não se encontram
de maneira certa e exclusiva na esfera psíquica, mas podem ocorrer também em
circunstâncias não-psíquicas (equivalência de processo físico externo com um
processo psíquico).” O arquétipo transgride as fronteiras da psique e da causalidade,
24
p. 51-53.
30
embora seja “portado” por
ambas.
Jung tem
o propósito de
atribuir
à
transgressividade o significado de que as configurações que ocorrem na psique estão
relacionadas com eventos e padrões situados fora da psique. A característica comum
a ambos os domínios é o arquétipo. No caso da bomba atômica, o arquétipo do simesmo é revelado na história dentro e fora da psique pelo evento de sua explosão, na
e através do contexto histórico mundial em que surgiu, por milhões (minha
conjectura, embora tenham sido efetuadas algumas pesquisas a tal respeito) de
sonhos em que figurou a bomba.
Essa idéia da transgressividade do arquétipo desenvolve-se em duas
direções. Em primeiro lugar, como estive expondo, afirma existir uma significação
objetiva subjacente nas coincidências que ocorrem na psique e no mundo, e nos
impressionam como intuitivamente significativas. Por outro lado, cria a possibilidade
de que exista significado onde intuitivamente não o enxergamos, quando, por
exemplo, ocorrem acidentes que nos impressionam como meramente devidos ao puro
acaso. Em ambos os casos, esse tipo de significação vai além de (transgride) a cadeia
de causalidade linear. O nosso nascimento numa determinada família é unicamente
devido ao acaso e causalidade, ou pode haver também um significado? Ou
suponhamos que a psique está organizada e estruturada não só causalmente, como é
o pensamento dominante na psicologia do desenvolvimento, mas também de modo
sincronístico. Isso significaria que o desenvolvimento da personalidade tem lugar por
momentos de significativa coincidência (sincronicidade), assim como uma seqüência
epigenética pré-ordenada de etapas. Subentenderia também que os grupos de
instintos e os arquétipos ser uniram e foram ativados de modo tanto causal quanto
sincronístico (significativo). Um instinto como a sexualidade, por exemplo, poderia ser
ativado não só em virtude de uma cadeia causal de eventos em seqüência (fatores
genéticos, fixações psicológicas ou experiências infantis), mas também porque um
campo arquetípico está constelado num determinado momento e um encontro
ocasional com uma pessoa converte-se num relacionamento para a vida inteira. Nesse
momento, algo do mundo psicóide torna-se visível e consciente (sizígia, o par animusanima). A imagem constelada do arquétipo não cria o evento, mas a correspondência
entre a preparação psicológica interior (a qual pode ser totalmente inconsciente nesse
momento) e o aparecimento exterior de uma pessoa, de forma inesperada e
imprevisível, é sincronística. Por que acontecem tais conexões parece ser um mistério
se refletirmos unicamente em termos de causalidade, mas se introduzirmos o fator
sincronístico e a dimensão de significação, estaremos muito mais perto de uma
resposta mais completa e satisfatória. Num universo aleatório, essa coincidência de
necessidade e oportunidade, ou de desejo e satisfação, seria impossível ou, pelo
menos, estatisticamente improvável. Esses mistérios inesquecíveis que estão
consubstanciados em eventos sincronísticos transformam as pessoas. As vidas
encaminham-se em novas direções, e a contemplação do que está por detrás de
eventos sincronísticos leva a consciência para profundos, talvez até definitivos níveis
31
de realidade. Quando um campo arquetípico é constelado e a configuração emerge
sincronisticamente no interior da psique e no mundo não-psíquico objetivo, tem-se a
experiência do ser em Tao. E o que fica acessível à consciência através de tais
experiências é fundamental, uma visão de quanto os homens são capazes de discernir
da realidade suprema. Ingressar no mundo arquetípico de eventos sincronísticos gera
a sensação de se estar vivendo na vontade de Deus.”
25
.
Cumpre aqui também ressaltar as lições de CARL GUSTAV JUNG
transmitidas de forma bem clara e simples pelas palavras de ROBERT H. HOPCKE no livro
“Sincronicidade ou por que nada é por acaso” (1999):
“A noção de Jung do arquétipo (...) é definida como uma forma típica de
captação, um padrão de percepção e entendimento psicológico comum a todos os
seres humanos. Uma dessas formas de percepção, e talvez uma das mais importantes
identificadas por Jung, é o arquétipo da totalidade, a habilidade de perceber a
unidade fundamental entre as partes dispersas de nossa experiência. Como vimos nas
várias experiências sincronísticas contadas até agora, a percepção de totalidade
nesses incidentes não vem do nosso ego, nosso sentido consciente de nós mesmos,
mas sim da forma como o significado reúne tudo o que somos, partes de nossa
experiência que não percebíamos, potenciais que possuímos mas que estavam
adormecidos ou não-desenvolvidos, elementos de nossa personalidade que não
sabíamos que existiam.
Por essa razão, Jung chamou o arquétipo da totalidade de Eu, pois na
verdade a experiência desse arquétipo é muita parecida com a de uma personalidade
supra-ordinária, a totalidade de nós mesmos trazida para dentro de uma estrutura
coerente, como numa história onde todas as coisas têm seu lugar e significado. De
acordo com Jung, esse tipo de experiência, na qual um acontecimento ativa nossa
capacidade arquetípica de perceber a totalidade, é responsável pela maneira pela qual
nosso ego percebe que o significado desses eventos vem de fora, de uma fonte
externa, de um princípio objetivo da ordem do universo. Quando percebemos essa
totalidade, não sentimos como se nós, nossos egos, nossos eus diários, fôssemos os
autores do significado, mas como se houvesse um autor, um Eu com E maiúsculo,
cujo plano para nossas vidas parece maravilhoso e compreensível em sua estrutura e
coerência.
Esse arquétipo de totalidade é responsável pelo que Jung chamou de
imagem de Deus na psique humana. Seu termo, imagem de Deus, em vez de Deus, é
uma observação designada não para negar a possibilidade de um Deus objetivo nem
para denegrir as crenças ou experiências daqueles que se sentem capazes de fazer
essas afirmações sobre realidade definitivas. São meramente para observar as
25
p. 192-194.
32
qualidades particulares na experiência humana que permitem a alguns de nós
perceber a ação de Deus em nossas vidas, e para outros, que não acreditam em
Deus, entenderem por que a imagem de Deus é tão poderosa, universal e importante,
pois, como disse Voltaire: “Se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo.”
Nossa capacidade de perceber a totalidade, o arquétipo do Eu, é
portanto o autor de nossas histórias, os meios pelos quais os acontecimentos do
acaso são ligados através de seus significados objetivos. Para aqueles de nós para
quem Deus é a primeira causa em toda corrente de causalidade, cujo resultado é o
universo, como para Tomás de Aquino, não existem acidentes, pois Deus é o autor de
todas as nossas histórias. Para outros de nós, cuja fé num princípio objetivo de ordem
no universo não é tão certa, cuja noção do papel de Deus em nossas vidas diárias não
está clara, ou cuja crença em um Deus objetivo não exclui um interesse no que
acontece com os humanos que nos permite perceber e conhecer Deus, a noção de
Jung do Eu representa uma forma não-teleológica de falar e entender essas
coincidências significativas.
Através do princípio psicológico da sincronicidade, o valor é colocado em
nossas realidades subjetivas, um valor que não é permitido por nenhuma outra
religião nem pelo ponto de vista científico relativo à realidade objetiva. Dentro da
idéia de que nossa capacidade humana inata de perceber a totalidade conta para o
significado que experimentamos nos acontecimentos do acaso, Jung nos deu uma
maneira de falar das transformações que atravessamos através das coincidências de
nossas vidas e os mitos que ela nos revelam sobre quem somos mais
profundamente.”
26
Assim, demonstrada a inter-relação das teorias do self (o simesmo), arquétipos, consciente coletivo e sincronicidade, observamos a coerência e a
coesão das idéias de CARL GUSTAV JUNG. E, por não serem teorias isoladas, percebemos
a visão da unidade em tudo que existe, com mais credibilidade e fé, construindo a
verdadeira ponte entre a ciência e a religião. Assim, sem sombra de dúvida, CARL
GUSTAV JUNG construiu muito bem esta ponte com firmes alicerces.
VII. Sincronicidade: a origem do conhecimento absoluto na filosofia chinesa do
Tao
CARL GUSTAV JUNG estudou a filosofia chinesa do Tao, um dos
mais antigos conceitos filosóficos conhecidos. Os jesuítas traduziram o Tao como “Deus” e
R. WILHELM como “Sentido”.
26
p. 210-212.
33
O I-ching, método para apreender a percepção intuitiva de um
detalhe como parte de um todo, numa situação de globalidade, tem origem na filosofia do
Tao. O resultado casual e natural do oráculo corresponde sincronisticamente ao estado
psíquico (fator interno ou subjetivo) e à situação física em que se apresenta no mundo
(fator externo ou objetivo).
Vale também destacar que outros métodos de percepção, como
astrologia – CARL GUSTAV JUNG experimentou a astrologia para fundamentar a sua teoria –,
búzios, runas, tarô, etc., contam para seus efeitos com o mesmo mecanismo de
sincronicidade revelado no I-ching. E, por este motivo, na introdução mencionei que o
meu “mapa das estrelas” fala muito a meu respeito.
Sob o enfoque da filosofia taoísta, CARL GUSTAV JUNG filosofou
com referência ao princípio da expressão criativa da essência de tudo, da existência, de
todo o movimento, de toda a Vida, de toda a consciência, de coerência, de harmonia
(unidade na própria diversidade), do conhecimento absoluto e da relação do corpo e
alma. Diante de tanta beleza, poesia e sabedoria transcendental, vale a pena a
transcrição de parte da sua tese contida em “Sincronicidade: um princípio de conexões
acausais” (2005), a seguir:
“A realidade, opina Wilhelm, é conceitualmente cognoscível porque,
segundo a concepção chinesa, há uma “racionalidade” latente em todas as coisas.
Esta é a idéia fundamental que se acha na base da coincidência significativa: esta é
possível, porque os dois lados possuem o mesmo sentido. Onde o sentido prevalece,
aí resulta a ordem:
O Sentido [Tao] é a simplicidade suprema sem nome.
Se os príncipes e os reis pudessem conservá-lo,
Todas as coisas seriam os seus comensais.
O povo viveria em harmonia, sem precisar de leis e ordens.
O Tao não opera,
E, no entanto, todas as coisas são feitas por ele.
Ele é impassível,
E, no entanto, sabe planejar.
A rede do céu é tão grande, tão grande,
De grandes malhas, mas não deixa escapar nada (cap. 73).
(...) “um estado em que a existência das coisas ainda não havia
começado. Este era o limite extremo além do qual não era mais possível avançar. A
suposição imediata era a de que, embora existissem as coisas, contudo, elas ainda
não tinham começado a ser separadas. A suposição seguinte era de que, embora
tivessem sido separadas em certo sentido, contudo, a afirmação e a negação ainda
34
não haviam começado. Quando surgiu a afirmação e a negação, o Sentido [Tao]
desapareceu. Quando o sentido desapareceu, houve uma vinculação unilateral. A
audição exterior não deve penetrar além do ouvido; o intelecto não deve procurar
levar uma existência separada; assim a alma pode tornar-se vazia e absorver o
mundo inteiro. E o Sentido [Tao] é que enche este vazio. Quem não tem
entendimento, diz Ch’uang-Tse, use de sua visão interior, de seu ouvido interior para
penetrar no coração das coisas, e não precisará de conhecimento intelectual”. Isto é,
evidentemente, uma alusão ao conhecimento absoluto do inconsciente, e à presença
do microcosmos de acontecimentos macrocósmicos.”
27
.
“(...) A ordem universal das coisas segundo a vontade de Deus é uma
concepção que não atribui senão um lugar moderno á causalidade. Da mesma forma
que as diversas partes de um organismo vivo atuam simultaneamente, numa
harmonia recíproca e significativa, assim também os acontecimentos do mundo se
acham mutuamente numa relação significativa, que não pode ser deduzida da
causalidade imanente. (...)”
28
.
“(...) Agrippa sugere, com isto, que há um “conhecimento” ou “idéia”,
inata nos organismo vivos, idéia esta à qual Hans Driesch recorreu também em nossa
época. Quer queiramos quer não, encontramo-nos nesta mesma situação de
embaraço, assim que refletimos seriamente sobre os processos teológicos da Biologia
ou investigamos mais acuradamente a função compensadora do inconsciente, ou
procuramos mesmo explicar o fenômeno da sincronicidade. As chamadas causas finais
– torçamo-las tanto quanto quisermos – postulam uma precognição de alguma
espécie. Não é, certamente, um conhecimento possa estar ligado ao eu, e, portanto,
não é um conhecimento consciente como conhecemos, mas um conhecimento
inconsciente subsistente em si mesmo, e que eu preferiria chamar de conhecimento
absoluto. Não é uma cognição no sentido próprio mas, como disse excelentemente
Leibniz, uma percepção que consiste – ou, mais cautelosamente, parece consistir –
em simulacra (imagens) desprovidos de sujeito. Presumivelmente esses simulacra
postulados são equivalentes aos meus arquétipos, que podemos encontrar como
fatores formais nos produtos da fantasia. Expressa em linguagem moderna, a idéia de
microcosmo que contém “as imagens de todas as criaturas”, seria o inconsciente
coletivo. Por spiritus mundi, o ligamentum animae et corporis, a quinta
essentia, que ele tem em comum com os alquimistas, provavelmente Agrippa
subentende o inconsciente. Este espírito que “penetra todas as coisas”, isto é, dá
forma a todas as coisas, seria segundo ele, a alma do mundo: “Est itaque anima
mundi, vita quaedam única omnia replens, omnia perfundens, omnia
collignas et connectens, ut unam reddat totius muni machinam...” (“Existe,
portanto, a alma do mundo, uma espécie de vida única que enche todas as coisas,
27
28
p. 56-57.
p. 59.
35
penetra todas as coisas, liga e mantém unidas todas as coisas, fazendo com que a
máquina do mundo inteiro seja uma só...”). Por isto, aquelas coisas, nas quais este
espírito é particularmente poderoso, têm uma tendência a “gerar outras semelhantes
a si”, ou, em outras palavras: têm a tendência a produzir correspondências ou
coincidências significativas, (...)”
29
.
(...) “Deus é o criador da ordem. Assim ele compara a alma e o corpo a
dois relógios sincronizados. (...) Não somente o homem, portanto, é um microcosmo
que encerra a totalidade em si, como também – guardadas as devidas proporções –
qualquer inteléquia ou mônada. Qualquer “substância simples” tem conexões “que
expressam todas as outras”. “Por isto, ela é o espelho vivo e eterno do universo”. “A
alma obedece às suas próprias leis e o corpo também às suas; eles se ajustam entre
si graças á harmonia preestabelecida entre todas as substâncias, porque elas são
representações de um só e mesmo universo. Isto exprime a idéia de que o homem é
um microcosmo. As almas em geral, diz Leibniz, são espelhos ou imagens vivas do
universo das coisas criadas... Ele as distingue, de um lado, dos espíritos que são
“imagens da divindade” e “capazes de conhecer o sistema do universo e imitar uma
parte dele através de modelos arquitetônicos, porque cada espírito é, por assim dizer,
pequena divindade dentro de seu domínio”; e, do outro, dos corpos que agem “de
acordo com as leis das causas eficientes ou dos movimentos”, ao passo que as almas
agem “de acordo com as leis das causas finais, através dos apetites, dos fins e dos
meios. Na mônada ou na alma ocorrem mudanças cuja causa é o “apetite”. O estado
mutável que envolve e representa uma pluralidade na unidade ou substância simples
nada mais é do que aquilo a que chamamos de percepção”, diz Leibniz. A
“percepção” é o estado interior da mônada que representa as coisas exteriores” e
deve ser distinguido da apreensão consciente, porque a percepção é consciente.”
(...)
30
.
“(...) A sincronicidade possui certas qualidades que podem ajudar-nos a
esclarecer o problema corpo-alma. É sobretudo o fato da ordem sem causa, ou
melhor, do ordenamento significativo que poderia lançar alguma luz sobre o
paralelismo psicofísico. O “conhecimento absoluto”, que é característico dos
fenômenos sincronísticos, conhecimento não transmitido através dos órgãos do
sentido, serve de base à hipótese do significado subsistente em si mesmo, ou exprime
sua existência. Esta forma de existência só pode ser transcedental porque, como
no-lo mostra o conhecimento de acontecimentos futuros ou espacialmente distantes,
se situa em um espaço psiquicamente relativo e num tempo correspondente, isto é,
em um contínuo espaço-tempo irrepresentável. (...)” 31.
29
30
31
p. 60-62.
p. 65-66.
p. 71.
36
Portanto, CARL GUSTAV JUNG, na condição de metafísico, inovou
de maneira profética posicionando-se com amplitude bem avançada ao seu tempo e
lançou moderno paradigma científico ao criar a teoria da sincronicidade, na visão
psíquico-cosmológica. Desse modo, expandiu o princípio de ordem, além do âmbito da
psique, abrangendo-o para o cosmo no aspecto de totalidade e unicidade.
No mesmo entendimento da filosofia taoísta, fonte de inspiração
de CARL GUSTAV JUNG para a teoria da sincronicidade, os cientistas modernos comentam
sobre a teoria do “um”. O “um” é integridade, concentra todas as potencialidades do ser e
é a fonte manifestada de qualquer número e do Universo. Por isso, dizem que os números
primos são reflexos da unidade porque possuem qualidades próprias e da unidade.
Diante dessa teoria, concluem que o Universo está contido na
unidade, como padrão de medida. Os átomos, as células, as pessoas, os grupos, a
humanidade como um todo, o Planeta Terra, os planetas, as estrelas, as galáxias e os
sistemas solares que compõem o Universo, são sistemas que espelham a unidade na sua
globalidade.
FRANÇOIS-XAVIER CABOCHE citou que “O um não é apenas o ser,
para além de qualquer contingência, para além (ou aquém) do espaço-tempo e da história, ele é a
referência de todo o ser...”
32
.
Diante dessa exposição aprofundada, conclui-se que CARL
GUSTAV JUNG com as suas teses metafísicas é também um dos precursores de temas
atuais: energia, física quântica, lei universal da atração, reiki, ressonância mórfica, teoria
do um, etc...
VIII. Sincronicidade: o sincrodestino, a mente local e a mente não-local
DEEPAK CHOPRA, médico e guru indiano, na sua obra “A
realização espontânea do desejo: como utilizar o poder infinito da coincidência” (2003)
denominou de sincrodestino, a mesma sincronicidade de CARL GUSTAV JUNG, em toda a
sua essência. Vejamos:
“(...) Quando em sua vida você dá valor às coincidências e ao significado
delas, entra em contato com o campo fundamental de possibilidades infinitas. É aí que
a magia tem início. Trata-se de um estado que chamo de sincrodestino, no qual
torna-se possível alcançar a realização espontânea de todos os nossos desejos. O
sincrodestino requer que você tenha acesso a um lugar profundo dentro de si, ao
mesmo tempo que desperta para a complexa dança de coincidências no mundo físico.
Ele exige que você compreenda a natureza profunda das coisas, que reconheça o
32
Esta citação não tem fonte conhecida porque recebi via e-mail.
37
manancial de inteligência que cria interminavelmente nosso universo, mas que tenha
a intenção de perseguir as oportunidades específicas de mudança quando elas
surgirem. (...)”
33
.
“(...) No entanto, perceber a rede de coincidências na nossa vida é
apenas o primeiro estágio que nos permite entender e viver o sincrodestino. O
próximo estágio envolve desenvolver a percepção consciente das coincidências
enquanto elas estão acontecendo. É fácil percebê-las em retrospecto, mas, se você
conseguir detectar as coincidências no momento em que elas ocorrerem, estará em
uma posição melhor para aproveitar as oportunidades que elas possam estar
apresentando. Além disso, a percepção consciente se traduz em energia. Quanto mais
atenção você der às coincidências, mais provável é que elas apareçam, o que significa
que você começa a ter cada vez mais acesso às mensagens que lhe estão sendo
enviadas a respeito do caminho e da direção de sua vida.
O estágio final de viver o sincrodestino ocorre quando nos tornamos
plenamente conscientes da correlação existente entre todas as coisas, a maneira
como cada uma afeta a seguinte, como todas estão “em sincronia”, o que significa
atuar em uníssono, como um só. Imagine um cardume de peixes nadando em uma
direção e, de repente, todos mudam de direção. Não existe nenhum líder dando
orientações. Os peixes não pensam: “O peixe à minha frente virou à esquerda, de
modo que devo fazer o mesmo.” Tudo acontece simultaneamente. A coreografia
dessa sincronia é realizada por uma inteligência poderosa e onipresente que jaz no
coração da natureza, manifestando-se em cada um de nós através do que chamamos
alma.
Quando aprendemos a viver a partir do nível da alma, muitas coisas
acontecem. Tomamos consciência dos padrões refinados e ritmos sincrônicos que
governam a vida. Compreendemos os grandes períodos de memória e experiência que
nos moldaram e nos tornaram as pessoas que somos hoje. O medo e a ansiedade
desaparecem quando observamos maravilhados a evolução do mundo. Notamos a
rede de coincidências que nos cerca e percebemos que até mesmo os menores
eventos encerram um significado. Descobrimos que, ao aplicar a atenção e a intenção
a essas coincidências, podemos criar resultados específicos na nossa vida. Nós nos
relacionamos com todos e com tudo no universo, e reconhecemos o espírito que nos
une. Moldamos conscientemente nosso destino e fazemos com que ele assuma as
expressões ilimitadamente criativas que deveriam ser, e, ao fazer isso, vivemos
nossos sonhos mais profundos e nos aproximamos cada vez mais da iluminação.
Este é o segredo do sincrodestino. (...)”
33
34
34
.
p. 16.
p. 20-21.
38
Na mesma obra, ao introduzir ao sincrodestino, o escritor indiano
tratou da mente local e da mente não-local. No sincretismo, é a visão psíquico-cósmica da
sincronicidade de CARL GUSTAV JUNG. Para fins de comparação, vale ser transcrita a
definição de mente local e não-local de DEEPAK CHOPRA:
“(...) A diferença entre a mente local e não-local é a diferença entre o
ordinário e o extraordinário. A mente local é pessoal e individual para cada um de
nós. Ela sustenta o ego, o “eu auto-definido que vaga pelo mundo como escravo dos
nossos hábitos condicionados. Em virtude da sua própria natureza, a mente local nos
separa do restante da criação. Ela estabelece limites densos e artificiais que muitos de
nós nos sentimos compelidos a defender, mesmo quando isso quer dizer nos
desligarmos dos significados mais profundos e das conexões mais jubilosas que têm
lugar quando nos sentimos parte do universal. A mente local é laboriosa, exaustiva e
racional, desprovida de qualquer sentimento de fantasia ou criatividade. Ela exige
atenção e aprovação constantes, tendo portanto propensão para sentir medo,
desapontamento e dor.
A mente não-local, por outro lado, é pura alma ou espírito, conhecida
como consciência universal. Ela opera fora dos limites normais do espaço e do tempo,
sendo a grande força organizadora e unificadora do universo cuja amplitude e
duração são infinitas. Devido à sua natureza, a mente não-local conecta todas as
coisas porque é todas as coisas. Ela não requer nenhuma atenção, energia ou
aprovação; é completa em si mesma, atraindo portanto o amor e a aceitação. É
iminentemente criativa, o manancial de onde emana toda a criação. Ela nos permite
usar a imaginação além dos limites do que a mente local enxerga como “possível”, ter
pensamentos inovadores e acreditar em milagres. (...)”
35
.
No final das contas, CARL GUSTAV JUNG e DEEPAK CHOPRA
criaram terminologias diferentes para tratar do mesmo assunto dentro de toda a sua
essência.
IX. Sincronicidade: a física quântica e a ressonância mórfica
DEEPAK CHOPRA no mesmo livro relacionou o sincrodestino com a
energia e a física quântica:
“No nível quântico, as várias porções de campos de energia que vibram
em freqüências diferentes que percebemos como objetos sólidos fazem parte de um
campo de energia coletivo. Se fôssemos capazes de distinguir tudo o que está
acontecendo no nível quântico, veríamos que somos parte de uma grande “sopa de
35
p. 76.
39
energia” e que tudo – cada um de nós e todos os objetos na esfera física – é apenas
um agrupamento de energia que flutua nessa sopa. Em qualquer momento
considerado, nosso campo de energia entrará em contato com os campos de energia
de todas as outras pessoas e os afetará, e cada um de nós responde de alguma
maneira a essa experiência. Somos todos expressões dessa energia e informações
conjuntas. Às vezes podemos efetivamente sentir essa conexão. A sensação é em
geral muito sutil, mas de vez em quando ela se torna mais tangível. Quase todos já
tivemos a experiência de entrar em uma sala e sentir “uma tensão tão densa a ponto
de quase conseguir cortá-la com uma faca”, ou de estar em uma igreja ou santuário e
sermos envolvidos por uma sensação de paz. (...)”
36
.
A física quântica tornou-se mais conhecida, depois do lançamento
do livro “Anjos e Demônios”, em que o escritor DAN BROWN introduziu o romance fictício
falando sobre o binômio “matéria-energia”.
Na mesma época, também foi lançado o documentário “Quem
somos nós” (“What the bleep do we know!?”), dos diretores WILLIAM AMTZ, BETSY
CHASSE E MARK VICENTE, no qual trataram das descobertas científicas recentes, dos
questionamentos existenciais humanos, dos mistérios cósmicos e, em especial, da
capacidade criadora da nossa realidade
37
. Neste filme, a personagem fictícia Amanda
entra em contato com os princípios da física quântica e, então, muda o enfoque sobre a
Vida, desabrochando para a possibilidade criadora do mundo exterior com afirmações e
emoções positivas.
MASARU EMOTO, cientista japonês, demonstrou no livro “A
mensagem de água” com fotos de moléculas de água congeladas como as emoções e os
pensamentos influenciam cada molécula de água. Esse tema também é abordado no filme
citado acima. No texto “Como a água reflete os nossos sentimentos?”
38
, há os seguintes
comentários:
“(...) Com o trabalho do Sr. Emoto ficamos munidos de evidência efetiva
de que as energias vibracionais humanas, pensamentos, palavras, idéias e músicas,
afetam a estrutura molecular da água. A mesma água que compreende setenta por
cento de um corpo humano maduro e cobre a mesma proporção do nosso planeta. A
água é a fonte de toda a vida neste planeta e qualidade e integridade são vitalmente
importantes a todas as formas de vida. O corpo é como uma esponja e está composto
de trilhões de câmaras chamadas células que comportam líquido. A qualidade de
nossa vida está diretamente ligada à qualidade de nossa água.
36
p. 29.
“Tudo pode ser como você imagina”,
http://www.bonsfluidos.com.br.
38
“Como
a
água
reflete
os
http://eeme.celd.org.br/medicina_cristais.php.
37
artigo
nossos
da
Revista
Bons
Fluidos,
sentimentos?”,
artigo
Editora
Abril:
no
site:
40
A água é uma substância muito maleável. Sua forma física adapta-se
facilmente ao que o ambiente contém. Mas a aparência física não é a única coisa que
muda, sua estrutura molecular também muda. A energia ou as vibrações do ambiente
mudarão a forma molecular da água. Neste sentido a água tem, não somente a
habilidade de refletir visualmente o ambiente, mas também reflete molecularmente
este ambiente.
O
trabalho
extraordinário
de
Masaru
Emoto
é
uma
revelação
surpreendente, e é uma ferramenta poderosa que pode mudar nossas percepções de
nós mesmos e do mundo em que vivemos, sempre. Nós temos evidências profundas
de que podemos curar positivamente e podemos transformar a nós mesmos e aos
nosso planeta pelos pensamentos que nós escolhemos pensar e as maneiras como
colocamos estes pensamentos em ação. (...)”.
No mesmo sentido de que “O Universo é o eco das nossas ações e
pensamentos”, o documentário e o livro best-seller “O Segredo” falam da Lei Universal da
Atração, ou seja, “o semelhante atrai o seu semelhante”. Nesta linha, foram lançados outros
livros de sucesso que podemos encontrar em abundância nas prateleiras das livrarias.
Ainda, tratando mais sobre as leis quânticas, o Reiki é técnica de
energização com imposição de mãos redescoberta pelo monge japonês MIKAO USUI e
tem fundamento na física quântica. A seguir, transcrevo os ensinamentos do MESTRE
JOHNNY DE’ CARLI no livro “Reiki Universal”, acerca do funcionamento do Reiki:
“(...) A energia precede a matéria, assim, como emoções e pensamentos
precedem a ação. (...) A técnica Reiki utiliza-se de energia plena, da qual todo o
universo é constituído; é essa energia original de tudo e de todos seres que captamos
e veiculamos após a iniciação (sintonização) e ativação dos centros energéticos
(Chacras).
Após sintonizados, passamos a ser canais desta energia cósmica, e
podemos direcioná-las apoiando as mãos sobre a zona afetada, as quais emitem
vibrações que diluem os nós prejudiciais. Dessa forma, passamos efetivamente a
intervir na matéria, em outros campos de energia e na consciência, levando um
estado natural de bem-estar, plenitude, harmonia e equilíbrio.
O Reiki cura ao passar pela parte afetada de nosso campo energético,
elevando nosso nível vibratório dentro e fora do nosso corpo físico, onde sentimentos
e pensamentos estão alojados na forma de nódulos energéticos que funcionam como
barreiras do nosso fluxo normal de energia vital; muitos são os que convivem com
essas barreiras ao longo de toda uma vida, minimizando a qualidade da vida.
41
Em uma sessão de Reiki, a quantidade de energia recebida pelo paciente
é determinada pelo próprio paciente, uma vez que o terapeuta reikiano apenas
direciona a energia e, o provedor – o Cosmos – doa ilimitadamente. (...)”
Vale também acrescentar os ensinamentos de RODRIGO ROMO,
que desenvolveu o “Reiki OMROM”, linha reikiana ligada às hierarquias de luz e aos
Mestres da Fraternidade Branca:
“(...) Cada um de nós aqui na Terra e no Universo é uma extensão do
criador e tem a responsabilidade de se reintegrar consciencialmente ao criador e a
toda energia harmônica do universo. A Cura e a canalização são formas de
sintonização com seres angelicais e entidades de diversos níveis e realidades, que tem
a função de nos reconectar, com a nossa verdadeira essência interna, que se perdeu
da nossa realidade, devido às inúmeras encarnações no mundo da ilusão, seguindo
assim os hologramas da MATRIX da dualidade na qual temos nos perdido e enganado.
As doenças são um holograma real que se cristaliza dentro de nossas
células, devido ao efeito negativo criado por nós mesmos, ao nos afastarmos da nossa
verdadeira essência divina, que é o amor e fraternidade universal. (...)
(...) O Reiki exige de nós uma mudança de consciência, para que
possamos ter uma maior capacidade de canalização das energias sutis, que existem
ao nosso redor e nas outras realidades suprafísicas, que existem além da nossa
realidade material. (...)
Se analisarmos com maior detalhe o universo e as diferentes linhas de
tempo e espaço, verificaremos, que cada momento do fluxo do universo, possui um
micro universo independente, mas que, ao mesmo tempo, é totalmente conectado
aos outros, permitindo assim a malha cósmica e a troca de informações e de energia,
utilizando assim o princípio quântico a atual atomística e teorema das supercordas e
outras teorias quânticas atualizadas.
Nos reikianos, estamos trabalhando com uma energia específica de
outros planos paralelos, que inicialmente estavam apenas em nossa imaginação, o
que no momento torna-se realidades. Pois sabemos pelas estatísticas, que o Reiki,
acupuntura, Shiatsu e outras técnicas, foram aprovadas pelo conselho mundial de
medicina, pela sua eficácia e alto índice de recuperação dos pacientes. Algo que
inicialmente pela medicina ocidental, foi negado por séculos, está retomando volume
e importância, pois a interação do ser humano com a natureza e com o próprio ser
humano, necessita de uma nova linha de raciocínio e interação simbiótica. A linha de
água de um ser é algo totalmente inovador, mas fundamental para o desenvolvimento
42
de um trabalho de harmonização, removendo assim os dogmas e os problemas de
fundo emocional, que normalmente carregamos do nosso próprio seio familiar e
social. Portanto, o próprio reikiano quando assume uma nova conduta de energia e
percepção, passa a se modificar e trabalhar com outra energia pessoal, pois ele
modifica a sua postura com o universo e com as pessoas no dia a dia.
No (...) livro O Universo dentro de uma casca de nós, do escritor e físico
Stephen Hawking, temos uma explicação para realidades paralelas, como se uma
estivesse dentro da outra. O mesmo ocorre com o nosso organismo, a nossa realidade
material externa, é composta de milhares de outras realidades subjetivas do micro
organismo e macro organismo que possuímos, que nem sequer percebemos na
íntegra. Somos produto de um conjunto de reações químicas e energéticas, que
desconhecemos, assim como o restante do universo.
Dessa forma estamos todos interligados com outros pontos de energia,
sem que com isso tenhamos uma consciência plena do que está ocorrendo. Dentro do
reiki OMROM, ocorre isso, pois damos início a uma sessão de reiki terapêutico, e
iniciamos um trabalho de realidades paralelas, entrando no campo de energia de
realidades do subconsciente da pessoa na maca, que nem sequer sabe do que ela
possui guardado, e intuitivamente, damos início a leitura psíquica do que nos vem a
mente. (...)”
39
Muito antes da ampla abertura da consciência que estamos
vivenciando nos dias de hoje, FRITJOF CAPRA já falava em física quântica, desde a
década de 70, quando escreveu o livro “O Tao da Física: um paralelo entre a Física
Moderna e o Misticismo Oriental”. Nesta obra, relatou o início de seus estudos, a partir da
sua vivência mística oriental, ou seja, do mesmo ponto de partida que CARL GUSTAV
JUNG:
“Há cinco anos experimentei algo de muito belo, que me levou a
percorrer o caminho que acabaria por resultar neste livro. Eu estava sentado numa
praia ao cair de tarde de verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao
mesmo tempo o ritmo de minha própria respiração. Nesse momento, subitamente,
apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se me afigurava como
se participasse de uma gigantesca dança cósmica. Como físico, eu sabia que a areia,
as rochas, a água e o ar ao meu redor eram feitos de moléculas e átomos em
vibração e que tais moléculas e átomos, por seu turno, consistiam em partículas que
interagiam entre si através da criação e da destruição de outras partículas. Sabia,
igualmente, que a atmosfera da Terra era permanentemente bombardeada por
chuvas de “raios cósmicos”, partículas de alta energia e que sofriam múltiplas colisões
à medida que penetravam na atmosfera. Tudo isso me era familiar em razão de
39
Texto extraído da apostila de iniciação no nível II do Reiki OMROM escrita por RODRIGO ROMO.
43
minha pesquisa em Física de alta energia; até aquele momento, porém, tudo isso me
chegara apenas por gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Sentado na praia,
senti que minhas experiências anteriores adquiriam vida. Assim, “vi” cascatas de
energia cósmica, provenientes do espaço exterior, cascatas nas quais, em pulsações
rítmicas, partículas eram criadas e destruídas. “Vi os átomos dos elementos – bem
como aqueles pertencentes a meu próprio corpo – participarem desta dança cósmica
de energia. Senti o seu ritmo e “ouvi” o seu som. Nesse momento compreendi que se
tratava de Dança de Shiva, o Deus dos dançarinos, adorado pelos hindus.”
40
Na mesma obra, FRITJOF CAPRA tratou do valor simbólico dado
pelo observador ao objeto observado. E, dessa interação tríade, observamos a presença
constante da sincronicidade, abordado no ponto de vista da física quântica. Vejamos:
“A teoria quântica acabara de pôr abaixo os conceitos clássicos de
objetos sólidos e de leis da natureza estritamente deterministas. No nível subatômico,
os objetos materiais sólidos da Física clássica dissolvem-se em padrões de
probabilidade semelhantes a ondas; esses padrões, em última instância, não
representam probabilidades de coisas mas, sim, probabilidades de interconexões.
Uma análise cuidadosa do processo de observação na Física atômica tem
demonstrado que as partículas subatômicas não possuem significado enquanto
entidades isoladas, somente podendo ser compreendidas como interconexões entre a
preparação de um experimento e sua posterior medição. A teoria quântica revela,
assim, uma unidade básica no universo. Mostra-nos que não podemos decompor o
mundo em unidades menores dotadas de existência independente. À medida que
penetramos na matéria, a natureza não nos mostra quaisquer “blocos básicos de
construção” isolados. Ao contrário, surge perante nós como uma complicada teia de
relações entre as diversas partes do todo. Essas relações sempre incluem o
observador, de maneira essencial. O observador humano constitui o elo final na
cadeia de processo de observação, e as propriedades de qualquer objeto atômico só
podem ser compreendidas em termos de interação do objeto com o observador. Em
outras palavras, o ideal clássico de uma descrição objetiva da natureza perde sua
validade. A partição cartesiana entre o eu e o mundo, entre o observador e o
observado, não pode ser efetuada quando lidamos com a matéria atômica. Na Física
atômica, jamais podemos falar sobre a natureza sem falar, ao mesmo tempo, sobre
nós mesmos.”
41
Ainda, segundo os ensinamentos do físico nuclear indiano AMIT
GOSWAMI, existe a ponte entre a ciência e a religião; e caminhamos no sentido de que
Deus é objeto de ciência e não apenas de religião. Neste aspecto, em entrevista no
programa “Roda Viva” da TV Cultura, em 21.09.2005, afirmou que:
40
41
FRITJOF CAPRA, “O Tao da Física: um paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental”, p. 13.
p. 58.
44
“(...) a revolução que a Física Quântica trouxe, com três conceitos
revolucionários,
movimento
descontínuo,
interconectividade
não-localizada
e,
finalmente, somando-se ao conceito de causalidade ascendente da ciência newtoniana
normal, o conceito de causalidade descendente, a consciência escolhendo entre as
possibilidades, o evento real. Esses são os três conceitos revolucionários. Então, se
houver
causalidade
descendente,
se
pudermos
identificar
essa
causalidade
descendente como algo que está acima da visão materialista do mundo, então Deus
tem um ponto de entrada. Agora sabemos como Deus, se quiser, a consciência,
interage com o mundo: através da escolha das possibilidades quânticas. (...)”
42
Na mesma entrevista, o cientista indiano AMIT GOSWAMI declarou
ser grande seguidor de CARL GUSTAV JUNG, quando tratou sobre a possibilidade da
evolução dos arquétipos:
“(...) Acho que Jung foi dos precursores da integração que está
ocorrendo agora. Nos meus primeiros textos, eu citava muito a afirmação de Jung de
que, um dia, a Física Nuclear e a Psicologia se unirão. E acho que Jung ficaria
satisfeito com esta conversa e, em geral, com a integração da Física e da Psicologia
transpessoal que vemos hoje. Isto posto, acredito no conceito de arquétipo de Jung, e
acho que o modo como Jung o apresentou, e Platão o apresentou, de que são
aspectos eternos da consciência, contextos eternos da consciência... a consciência
tem um corpo contextual no qual os arquétipos são definidos e, então, eles governam
o movimento do nosso pensamento. Acho que é um conceito muito poderoso. Mas, ao
mesmo tempo, na Física Quântica, existe a idéia de que todos os corpos de
consciência, tudo o que pertence á consciência, inconsciência, são possibilidades. E
por causa disso, por tudo ser possibilidade, surge a questão: alguém pode ir além de
arquétipos fixos e considerar arquétipos evolucionistas? Não se pode descartar o que
Rupert tenta dizer. Houve uma idéia semelhante, de Brian Josephson, um físico que
publicou um trabalho na Physical Review Lettres, revista de grande prestígio, dizendo
que as leis da Física podem estar evoluindo. Da mesma forma, outras pessoas,
cientistas muito sérios, sugeriram que, talvez, forças gravitacionais mudem com o
tempo. Essa idéia de arquétipos fixos é uma idéia muito importante. Eu a apóio
totalmente. Mas também vejo que na Física Quântica há espaço para a evolução dos
arquétipos. Não devemos descartar totalmente idéias que dizem que arquétipos
evoluíram. Ainda seremos capazes de determinar isso experimentalmente. (...)”
43
No mesmo aspecto proposto pela física quântica, RUPERT
SHELDRAKE, biólogo, bioquímico e filósofo, criou a teoria da ressonância mórfica,
42
Texto extraído da transcrição completa da entrevista concedida pelo físico AMIT GOSWAMI ao programa
“Roda Vida” da TV Cultura.
43
Texto extraído da transcrição completa da entrevista concedida pelo físico AMIT GOSWAMI ao programa
“Roda Vida” da TV Cultura.
45
conhecida como a teoria do centésimo macaco: “Influência de estruturas de atividades
anteriores sobre estruturas de atividades semelhantes subseqüentes, organizadas por campos
mórficos. De acordo com a hipótese da causação formativa, a ressonância mórfica envolve a
transmissão de influências formativas através do tempo e do espaço, ou ao longo deles, sem que
ocorra diminuição devido a distância ou ao lapso de tempo.”
44
Essas influências organizadas por campos mórficos estendem-se
no espaço-tempo e moldam os padrões de comportamento de todos os sistemas do
mundo, dos níveis materiais ao cósmico.
O campo mórfico é o “campo no interior e em volta de um sistema
auto-organizador, e que organiza a sua estrutura e o seu padrão de atividade característico. De
acordo com a hipótese da causação formativa, os campos mórficos contêm uma memória inerente,
transmitida de sistemas semelhantes anteriores por meio de ressonância mórfica, e tendem a se
tornar cada vez mais habituais. Os campos mórficos incluem os campos morfogenético,
comportamental, social, cultural e mental. Quanto maior for o grau de similaridade, tanto maior
será a influência da ressonância mórfica. Em geral, os sistemas ser parecem mais estreitamente
consigo mesmos no passado e estão sujeitos à auto-ressonância com seus próprios estados
passados.”
45
Dessa maneira, os campos mórficos promovem canais de
comunicação à distância, o que acaba explicando a telepatia, como fenômeno normal,
bem comum em pessoas conhecidas. Nas atividades cerebrais, eles estendem-se muito
além do nosso cérebro por meio das intenções. Nesse aspecto, portanto, cada um é
responsável pela sua imaginação e qualquer ação influencia os outros a repetirem.
Sobre a ressonância mórfica, vale frisarmos o comentário no artigo
“Ciência e Espiritualidade: em busca do Universo Real” 46:
“(...) Sheldrake defende a idéia da existência de sistemas autoorganizadores, em todos os níveis de complexibilidade, incluindo moléculas, cristais,
células, tecidos, organismos e sociedades de organismos. Para ele, a partir do
surgimento de um determinado padrão de organização, seja em níveis físico-químicos,
biológicos, ou mesmo comportamentais dentro de sociedades de organismos vivos,
estes padrões tendem a ser repetidos através da chamada" ressonância mórfica", uma
espécie de memória preservada que passa a interferir e gerir os fenômenos inclusive
em níveis cósmicos.
44
RALPH ABRAHAM, TERENCE MCKENNA e RUPERT SHELDRAKE, “Caos, criatividade e o retorno ao sagrado”,
1992, p. 222.
45
RALPH ABRAHAM, TERENCE MCKENNA e RUPERT SHELDRAKE, “Caos, criatividade e o retorno ao sagrado”,
1992, p. 218-219.
46
“Ciência e Espiritualidade: em busca do Universo Real”, artigo da Revista Vimana:
http://www.ippb.org.br/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=3905.
46
Este cientista apresenta uma série de exemplos que parecem confirmar
suas idéias. Entre eles podemos citar o fato bem conhecido nos meios acadêmicos
relativo às dificuldades encontradas inicialmente nas tentativas de se criar novos
compostos, substâncias, mas que, a partir do primeiro sucesso, pesquisadores em
partes diferentes do planeta conseguem cristalizar o "novo elemento" com facilidade.
Sheldrake chegou mesmo a perceber que determinados padrões de comportamento
de sociedades de insetos e animais desenvolvidos em determinado momento
histórico, passam a ser duplicados por outros grupos similares, também em partes
distintas do planeta sem que haja qualquer forma de contato físico entre tais grupos.
O próprio instinto dos animais passa a ter uma explicação, e não apenas uma
denominação. A chamada memória genética não explica casos deste tipo e,
certamente, a explicação é algo mais transcendente e relacionada à própria natureza
da vida e do Universo.
Todas as tentativas feitas em vários momentos de nossa história de
separar o homem do Universo, como se este último fosse algo criado para ele, dentro
de conceituações supostamente científicas, carecem evidentemente de uma base de
realidade, por mais que esta realidade cada vez mais possa nos parecer um sonho,
algo que ainda nos escapa. No Universo real mostrado pela física quântica, "mais
místico" que qualquer visão idealizada pelos visionários e religiosos, um simples
observador altera e interfere em leis matemáticas e estatísticas. Neste Universo
"irreal", os sinais de um "espírito inteligente" e de uma consciência que a tudo
permeia estão por toda parte. Para alguns físicos, as partículas elementares, antes de
serem objetos definidos, são na realidade o resultado, sempre provisório de
interações incessantes entre "campos" imateriais. (...)”
Diante de todo esse contexto cosmológico, quântico e unitário,
concluímos que as sincronicidades acontecem de forma plena e diária porque nós as
atraímos. As sincronicidades são espelhos fiéis de nós mesmos relacionados com os
outros e com toda a imensidão do mundo e do Universo.
X. Biodanza: o caminho para a atração e a percepção dos movimentos de
sincronicidade na Dança da Vida
E, sob esse mesmo enfoque, mencionado acima, a Biodanza é
método vivencial de atração e percepção dos movimentos de sincronicidade na Dança da
Vida.
Os movimentos suaves, harmoniosos e rítmicos nas vivências de
Biodanza promovem processo de integração da identidade, permitindo a transformação,
de forma flexível e fluida, dos padrões comportamentais e a reprogramação em direção
positiva de pensamentos e sentimentos.
47
Na sutileza dos movimentos vivenciais de Biodanza e no decorrer
do caminho da Vida, são diluídos os esquemas negativos impostos pela cultura e pela
sociedade; e, então, são substituídos pelos biocêntricos, ou seja, em conexão com a
sacralidade da Vida, levando ao caminho da cura.
A partir do bem-estar existencial consigo mesmo, há melhora em
todas as relações pessoais e em todos os ambientes, com qualidade de Vida e, em
especial, com a sensação de conexão plena com a natureza e de pertencer ao Universo.
Assim, a seguir, veremos em detalhes todo esse mecanismo.
XI. Biodanza: o genial e grande criador
ROLANDO TORO ARANEDA, antropólogo, psicólogo, poeta e pintor
chileno, nasceu em 1924. Na condição de membro docente do Centro de Antropologia
Médica na Escola de Medicina da Universidade do Chile e das disciplinas de Psicologia da
Arte e da Expressão no Instituto de Estética da Pontifícia Universidade Católica do Chile,
em 1964, iniciou os estudos e as pesquisas e, assim, desenvolveu o Sistema da Biodanza,
acreditando na força transformadora da dança e da música.
No movimento de expansão da Biodanza, as Américas, a Europa e
a Ásia já se deliciam com as ações benéficas da Biodanza. ROLANDO TORO ARANEDA,
aos oitenta e tantos anos, é a prova viva da qualidade da Biodanza, como sistema
vivencial. É um exemplo de jovialidade e vitalidade. Santa Biodanza! Santo elixir da Vida!
Falando na Biodanza como elixir e fonte da Vida, confesso neste
momento que ROLANDO TORO ARANEDA está presente nas minhas orações diárias de
agradecimento, por ter criado de forma genial a Biodanza, o sistema vivencial que me
desabrochou com plenitude para a Vida!
XII. Biodanza: a sincronicidade na “Dança da Vida”
O prefixo "bio" (do grego bíos) significa “Vida” e, segundo
ROLANDO TORO ARANEDA, “o sentido primordial da palavra "dança" é “movimento natural”,
ligado às emoções e pleno de significado”
47
,
cuja acepção é de origem francesa. Assim, dessa
elaboração semântica, surgiu a metáfora: "Biodanza, a Dança da Vida". Segundo o criador
da Biodanza, a Biodanza aproxima-se do conceito proposto pelo dançarino ROGER
GARAUDY. No livro "Dançar a Vida" (1980), ROGER GARAUDY propôs “a dança como modo
de viver”:
“(...) A dança é um modo de existir.
47
“Biodanza”, 2005, p. 33.
48
Não é apenas jogo, mas celebração, participação e não espetáculo, a
dança está presa à magia e à religião, ao trabalho e à festa, ao amor e à morte. Os
homens dançaram todos os momentos solenes de sua existência: a guerra e a paz, o
casamento e os funerais, a semeadura e a colheita.
Dançar é vivenciar e exprimir, com o máximo de intensidade, a relação
do homem com a natureza, com a sociedade, com o futuro e com seus deuses.
Identificar-se, pela dança, com o movimento e as forças da natureza,
para captá-los, imitando-os, continua sendo uma necessidade primordial da vida
quando a fixação ao solo e o início da agricultura tornam o conhecimento dos ritmos
da natureza uma necessidade vital.
A dança é então um modo total de viver o mundo: e, a um só tempo,
conhecimento, arte e religião.
Ela nos revela que o sagrado é também carnal e que o corpo pode
ensinar o que um espírito que se quer desencarnado não conhece: a beleza e a
grandeza do ato quando o homem não está separado de si mesmo, mas inteiramente
presente no que faz.
(...) A dança, como toda arte, é comunicação do êxtase. É uma
pedagogia do entusiasmo, no sentido original da palavra: sentimento da presença de
Deus e participação no ser de Deus.
Dançar a vida não seria, antes de tudo, tomar a consciência de que não
apenas a vida, mas o universo, é uma dança, e sentir-se penetrado e fecundando por
esse fluxo do movimento, do ritmo, do todo?”
ROLANDO TORO ARANEDA comentou no livro “Biodanza” (2005)
que “A dança, assim como canto e o grito, é uma das condições inatas do ser humano. O primeiro
conhecimento do mundo, anterior à palavra, é aquele que chega a cada um de nós por meio do
movimento. Num sentido original, a dança surge das profundezas do interior do ser humano: é
movimento de vida, de intimidade; é impulso de união à espécie.”
48
.
Ainda, “A humanidade, em seu processo de mudança até a civilização,
parece ter escolhido a linha evolutiva da “linguagem-pensamento” em detrimento da linha
“movimento-vivência”. Nossa civilização poderia ser descrita, por este ponto de vista, como uma
supertécnica de “linguagem-pensamento”, como uma progressiva deterioração das funções
48
“Biodanza”, 2005, p. 13.
49
motoras, e uma inibição patológica das vivências. Não obstante, a antiga e originária condição
dançante do ser humano permanece ali, latente, à espera de um clima favorável.”
Nesse
seguimento,
ROLANDO
TORO
49
ARANEDA
falou
da
transformação do dançarino em dança e da formação da unidade “dançarino-dança”:
“Quando o dançarino põe em ação seus movimentos, ajustando as
necessidades expressivas, estéticas ou de representação, está assumindo o comando
de uma série de funções vinculadas à identidade.
Entre
elas
podemos
mencionar:
os
movimentos
voluntários,
o
deslocamento dentro do espaço, a semântica expressiva em relação a certos códigos
gestuais, a busca consciente de alguns efeitos e a coordenação dos diversos
movimentos em função da temática, a coordenação auditivo-sonora e visual-motora, a
localização ao redor de outras figuras referenciais e relacionais, a introdução
espontânea de elementos de fantasia etc. O dançarino põe em ação toda sua
capacidade de jogo, equilíbrio, coordenação e expressão.
Ao longo da história da dança estabeleceu-se o forte propósito de formar
bons dançarinos, que fossem capazes de alcançar, por meio do exercício e da
aprendizagem, altos níveis de otimização na destreza e na beleza dos movimentos.
Existe, não obstante, uma possibilidade totalmente oposta, que consiste
em transformar o dançarino em dança. Este caminho foi ocasionalmente descoberto
nas cerimônias pertencentes às religiões arcaicas, em certas danças místicas, de
êxtase e em alguns estados induzidos por ácido lisérgico, mescalina ou psicolocibina.
Nestes casos, não é necessária a música, posto que o tônus e a
harmonia do biossistema entram em conexão imediata com a harmonia cósmica.
Nestes casos o indivíduo não dança uma determinada música, mas ingressa num
estado vivencial em que ele é a própria música.
A música dança o indivíduo e então não há indivíduo, mas dança. A
identidade se dissolve numa espécie de matriz do universo que está em movimento
orgânico, em que cada elemento é parte da dança maior. A dança cósmica consiste
na interação viva de todas as forças presentes.
Para conseguir o estado de transe necessário que permita ao dançarino
chegar a “ser dança”, é necessário partir da quase imobilidade, de um estado de
tônus “aberto” aos impulsos proprioceptivos espontâneos. Um estado incondicional e
49
“Biodanza”, 2005, p. 15.
50
receptivo, livre de todo propósito. Nestas condições, o indivíduo “permite” que a
música se infiltre em seu organismo e induza o estado cenestésico.
Ser a dança constitui uma experiência em que, no fundo, sintoniza-se o
biossistema humano com o biossistema cósmico. Esta é a mais poderosa fonte de
renovação e energização.”
50
Falando em transformação do dançarino em dança, vale também
comentar sobre os gestos arquetípicos ou eternos, inspirados nas teorias junguianas dos
arquétipos e do inconsciente coletivo e denominados por ROLANDO TORO ARANEDA de
posições geratrizes:
“Dos primórdios da história até nossos dias o homem realizou alguns
gestos a que denominei “eternos”. São gestos arquetípicos que aparecem nos baixorelevos, nas esculturas e nas pinturas de todas as épocas e expressam, por exemplo,
adoração, sentimento de maternidade, de intimidade, ou se referem a atividades
arcaicas ligadas à natureza, como a agricultura.
Rudolf Von Laban sustenta que os movimentos da dança são os
movimentos da vida.
Etienne Decroux selecionou vinte e duas posições de base que geram os
movimentos da arte mímica clássica. Também na Biodanza selecionei vinte e dois
gestos arquetípicos cuja combinação permite criar danças espontâneas da grande
riqueza e profundidade humana.
Eles pertencem ao inconsciente coletivo, descrito por C. G. Jung, e
constituem verdadeiras matrizes expressivas. São, de fato, o resultado de uma longa
pesquisa minha sobre o repertório gestual de diversas culturas: hindu, egípcia e
greco-romana; selecionei aqueles que considerei altamente evoluídos, capazes de
induzir vivências profundas e transcendentes.
(...) Chamei estes gestos arquetípicos de “Posições geratrizes de dança”,
visto que deles podem derivar danças específicas. Cada uma dessas posições tem um
significado psicológico profundo. Diferentemente da dança expressiva, que é uma
combinação de movimentos organizados pela emoção pessoal do bailarino, a que
surge da combinação de “Posições geratrizes” possui uma dimensão mais universal e
alude à grandeza do homem.
A realização de cada “Posição geratriz” dura aproximadamente um
minuto. Em seguida sugere-se aos participantes que realizem uma dança espontânea,
50
“Biodanza”, 2005, p. 28-29.
51
incluindo variações pessoais. A combinação de três ou mais “Posições geratrizes”
podem dar vida a danças de uma extraordinária beleza e força expressiva.”
51
ROLANDO TORO ARANEDA, ao estudar as danças, concluiu que as
danças são cósmicas, pois o dançarino na dança ressona a energia do Cosmos:
“Desde a origem dos tempos, a dança teve um significado sagrado, como
se o movimento corporal, criando formas que em si mesmas têm um sentido,
despertasse no dançarino uma ressonância com o cosmo. Como se os movimentos
corporais, fluindo de um manancial desconhecido, ativassem a consciência da
totalidade.
Nas danças sagradas o fenômeno do movimento deu-se sempre como
um inefável trabalho de integração ao cosmo, e, nos povos de religiões concretas, a
dança se deu como uma via de conjuro, como celebração e homenagem aos deuses e
como forma de oração.
A dança de Shiva é uma representação do processo cósmico infinito e
criação e destruição. Um dançarino solitário, no círculo de fogo das constelações,
realiza os movimentos que criam e destroem o universo mediante formas místicas que
deslocam os padrões cósmicos de tempo, espaço e matéria. A dança vem sendo,
assim, um conjunto dramático de movimentos que têm um poder de mutação, de
transformação da realidade.
A dança cósmica é sempre um ato complexo de separação e união. Na
Gênese judaico-cristã, Jeová separa os céus da terra. Na cosmogonia egípcia, o Vento
separa os irmãos Céu e Terra. Juntamente com a separação, estas divindades
cosmogônicas povoam os espaços sagrados com estrelas, plantas, animais, e criam o
homem.
A concepção mítica propõe, sempre, o ato da criação do mundo a partir
de um Demiurgo solitário que une e separa, que cria e destrói, que dá vida e dá
morte. Na cosmogonia grega, Eros e Tânatos.
Trato de imaginar se das danças profanas de celebração e regozijo, se as
danças de amor, as danças dionísicas, bacanais e lupercais não poderiam ser
representadas pelo Par Cósmico no abraço fecundante. Na visão solipsista do
Demiurgo Solitário, criador do universo, estaria magnificada uma forma de viver a
experiência criadora, a vida centrada no “eu”, enquanto nas danças de amor – a meu
modo de ver, não menos sagradas – estaria a imagem paradigmática de uma visão
criativa diferente, baseada na dualidade, na harmonia dos opostos, no “nós”.
51
“Biodanza”, 2005, p. 141-142.
52
Parece uma falácia intelectual dos historiadores das religiões a separação
entre danças sagradas e profanas.
A criação como união do par originário tem, para nosso conhecimento e
visão de Biodanzantes, uma vitalidade, uma magnificência e um esplendor
respaldados pela visão cotidiana da dualidade fecundante.
O tantrismo, com suas representações escultóricas do amor nas paredes
dos templos, é, a nosso ver, a linha mais importante de sabedoria, alheia às
produções onipotentes do solipsismo oriental.
O curso da energia cósmica caminha para o amor em um processo de
evolução em que os frutos do amor não podem ser destruídos, ou seja, a energia
cósmica caminha em círculo, no qual os frutos do amor são eternamente destruídos,
para serem gerados de novo.
Qual é a dinâmica cósmica: a evolução ou revolução? A dança da
evolução tem forma de espiral, é uma ascenção sobre planos de energia. A dança da
revolução tem ciclos fechados e sem esperanças (revolução significa “girar sobre um
eixo”). Na Biodanza nos interessa a evolução, o desenvolvimento infinito.
A criação é um ato solitário ou um ato de amor? A criação parece dar-se
em um jogo oscilante: danças solitárias de integração ao universo, de participação
cósmica; e danças de amor, geradoras de energia evolutiva.
As danças do Congo, sob o ritmo do tambor, conduzem os dançarinos ao
estado de êxtase. Para eles a dança não constitui um fim (como acontece com nossa
dança clássica ocidental), mas um trânsito para ajudar o corpo a alcançar uma
comunicação superior, um estado, uma força. Com movimentos e massagens
aplicadas, ao som da música sobre o corpo da pessoa doente, procura-se livrá-lo da
enfermidade. Outras danças destinam-se a estimular as tarefas de semear e colher.
(...)
Diversas dimensões adquiriu a necessidade de dançar, o princípio natural
a vida:

as danças religiosas geram a vivência de estar em contato com
as forças da natureza. Incluem danças rituais, orgias e cerimônias de caráter
simbólico;

as danças artísticas são geradas na atividade criativa e na busca
de formas estéticas eternas;
53

as danças populares procuram resgatar o vínculo original da
espécie, o erotismo e a alegria de viver.
Todas as dimensões da dança despertam no ser humano a ressonância
com a vida. As danças são os pensamentos do universo incorporados à existência humana.”
52
A dança é uma das formas mais antigas do homem se conectar
com as forças da natureza. É o modo de ser no mundo. É o movimento ritmado do
coração e da respiração. É o movimento natural do homem. É o movimento de harmonia
com a música. É a expressão da unidade do homem com o Universo. É a ressonância
cósmica. É da sabedoria organizadora do Universo, que surgem os movimentos de
sincronicidade. Dessa maneira, é mais do que perceptível as sincronicidades na “Dança da
Vida”.
Assim, as interligações e construções de ROLANDO TORO
ARANEDA sobre a dança, a transformação do dançarino em dança, os gestos eternos (as
posições geratrizes) e a dança cósmica – como contribuições preciosas para a Biodanza, na
qualidade de sistema vivencial –, têm fortes laços e pontes com as teorias construídas por
CARL GUSTAV JUNG a respeito da transcedentalidade do self (o si-mesmo), dos
arquétipos e a visão psico-cosmológica da sincronicidade53.
XIII. Biodanza: a sincronicidade presente na proposta de conexão com a Vida e
o Universo
ROLANDO TORO ARANEDA, o criador das teorias da inteligência
afetiva, do princípio biocêntrico e do inconsciente vital, expressou no seu livro claramente
a proposta da Biodanza de cura por meio da inteligência afetiva e de relações afetivas; e
de restauração humana no sentido de se conectar com a Vida e com o Universo, como
totalidade cósmica, a seguir:
“A base conceitual da Biodanza provém de uma meditação sobre a vida;
do desejo de renascermos de nossos gestos despedaçados, de nossa vazia e estéril
estrutura de repressão; provém, com certeza, da nostalgia do amor.
A deformidade do espírito ocidental culminou, no século que passou, com
os maiores atentados que a história conhece contra a vida humana. A patologia do
Eu, caracterizada pela cisão entre a natureza e cultura, com uma valorização
excessiva da cultura em detrimento da natureza, e do predomínio exacerbado da
razão sobre o instinto, foi reforçada até um limite nunca antes alcançado. Esta
52
53
“Biodanza”, 2005, p. 25-28.
Ver os tópicos V, VI e VII.
54
patologia é sustentada pelas instituições estatais e pela ideologias políticas e
educativas; é consentida por muitos dos intelectuais e pensadores de nossa época.
A Biodanza é, por isso, uma ampla transgressão dos valores culturais
contemporâneos, das imposições de alienação da sociedade de consumo e das
ideologias totalitárias. Propõe-se a restaurar no ser humano o vínculo original com a
espécie como totalidade biológica, e com o universo como totalidade cósmica.
Somos por demais solitários em meio a um caos coletivista. É uma
maneira de ser ausente, mesmo com toda nossa presença. No ato de não olhar, de
não escutar, e não tocar o outro, despojamo-nos sutilmente de sua identidade;
estamos com o outro, mas o ignoramos. Esta desqualificação, consciente ou
inconsciente, encerra a patologia do Eu. Celebrar a presença do outro, exaltá-la no
encanto essencial do encontro é, talvez, a única possibilidade saudável. A Biodanza
participa, assim, de uma visão diferente. Propõe a procura de um novo modo de viver,
despertando nossa sensibilidade adormecida.
Para viver melhor precisamos de um sentimento de intimidade, de união
agradável e de beleza estimulante. Nesta necessidade natural se baseiam os objetivos
da Biodanza.”
54
.
Dentro de todo esse contexto de resgate ao primordial, existe
forte harmonia e sincretismo 55 entre a Biodanza como sistema vivencial e a teoria da
sincronicidade de CARL GUSTAV JUNG, tendo em vista a transcedentalidade do self (o simesmo) e a visão psico-cosmológica da sincronicidade, já abordadas na profundidade56.
E, a medida em que avançamos nos estudos, intensificamos mais ainda essa conclusão,
além de que ambas têm a mesma origem, a filosofia chinesa taoísta.
XIV. Biodanza: a identidade no caminho da integração atrai as sincronicidades
Ao som de música adequada, capaz de indução de vivências, as
pessoas são convidadas a se mover no seu ritmo. Cada um dança dentro dos limites
possíveis para aquele momento em contato com a emoção. Os movimentos corporais e a
música, durante as vivências, surtem fortes efeitos sobre a identidade, os processos de
integração afetiva, a reabilitação existencial e os estados de consciência.
A música penetra pelo corpo, enquanto ocorre a mediunidade
musical, as pessoas resgatam em cada um a sua própria dança, a sua própria maneira de
54
p. 13.
“Tentativa de fundir elementos aparentemente discordantes provindos de diferentes sistemas de filosofia e
de religião” (RALPH ABRAHAM, TERENCE MCKENNA e RUPERT SHELDRAKE, “Caos, criatividade e o retorno ao
sagrado”, 1992, p. 222).
56
Ver os tópicos V, VI e VII.
55
55
ser, como entidade única e como centro de percepção do mundo, tomando consciência da
identidade; e a sua maneira de se conectar com o sentir o próprio corpo e com a energia
envolvente do momento.
ROLANDO TORO ARANEDA comentou que a Biodanza é “(...) meio
para criar ressonâncias internas que “animem” musicalmente nossa vida cotidiana.” Acrescentou
que “as emoções têm formas musicais, espaços sonoros, partículas de amor” e “escutando dentro
de nós mesmos, vivemos todas as formas musicais (...).”
57
Ainda, “somos um puro instrumento
de vinculação: o ritmo nos une ao Universo, a nossa genitalidade, a todo o que é origem; a
melodia elabora nossa comunidade amorosa e a harmonia nos brinda a intimidade e a
transcendência.”
58
Dessa maneira, inspirada nas origens mais primitivas da música e
da dança, a Biodanza desenvolve de forma vivencial as potencialidades genéticas do ser
humano para a integração da identidade: a vitalidade, a afetividade, a criatividade, a
sexualidade e a transcendência.
A partir dos potenciais genéticos humanos, ROLANDO TORO
ARANEDA criou as cinco linhas de vivência e relacionou os seus efeitos:

vitalidade: alegria de viver, auto-regulação dos circuitos
cárdio-respiratórios, bem-estar, energia para enfrentar o mundo, harmonia biológica,
homeostase, ímpeto vital, potencial de equilíbrio, neuroendócrinos imunológicos, saúde e
SIALH (Sistema Integrado Adaptativo Límbico Hipotalâmico);

sexualidade: capacidade de sentir os desejos e os
prazeres sexuais, dissolução das couraças defensivas, fecundação, identidade sexual,
integração afetivo-erótica, motivação, reorganização da libido infantil, reprodução e
vínculo sexual;

criatividade: capacidade de renovação aplicada à própria
Vida, construção, emprego da criatividade em cada ato de Vida, imaginação, impulso de
inovação e expressão, renovação no estilo de Vida (reabilitação existencial), instinto
exploratório migratório e capacidades artísticos;

afetividade: aceitação da diversidade humana, altruísmo,
ajuste corporal, amor, amizade, capacidade de cuidar e de dar proteção, comunicação,
condutas de contatos, desenvolvimento da inteligência afetiva, elaboração de emoções,
empatia, encontro de “feed back”, humanização, integração afetiva e biológica,
reparentalização, retribalização e solidariedade;
57
58
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. III, p. 458.
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. III, p. 459.
56

transcendência: capacidade de ir além do eu e de
identificar com a unidade cósmica, capacidade de experimentar a expansão da
consciência, consciência ética, experiência de intase-êxtase, hierofania (manifestação do
divino), implosão amorosa, ligação com a natureza, percepção ampliada, regressão e
sentimento de pertencer ao Universo.
Por meio das vivências em Biodanza, as cinco linhas são
desenvolvidas, facilitando o contato com a identidade e os desejos mais profundos, livre
das máscaras e dos papéis culturais.
Nesse processo de expressão das potencialidades genéticas e
integração da identidade, as vivências devolvem ao corpo a sua unidade. Os potencias se
integram em reciprocidade e aumentam a sua potência de coordenar-se entre sim. Assim,
a plenitude existencial é alcançada por meio de sucessivos processos de integração.
Integra-se o pensar, o sentir e o agir, com o resgate da autoestima, da auto-confiança e da capacidade de contornar obstáculos na Vida com maior
flexibilidade, fluidez e entrega.
Cada um passa a conhecer seus próprios talentos e virtudes e dos
outros também. São eliminados os medos provocados pela sociedade, como o de se
expressar, colocar limites, explicitar seus desejos, olhar nos olhos do outro, aproximar-se,
dentre tantos outros...
Ainda, ocorre a indução de novas formas de comunicação, a
modificação de comportamentos para uma melhor ecologia humana (relações nutritivas e
não-tóxicas), a expansão da consciência (consciência cósmica e ética) e a percepção
ampliada (extraordinária vivência de estar vivo).
Acontece também a percepção de que não somos seres isolados.
Percebemos, então, que estamos acompanhados na mesma busca e no mesmo caminho:
de viver de forma mais afetiva, amorosa, solidária e em comunhão com a Vida e o
Universo. Portanto, ROLANDO TORO ARANEDA tratou a Biodanza como método
pedagógico-vivencial para a reeducação afetiva:
“A afetividade no homem moderno é com freqüência gravemente
perturbada. Já na infância é possível verificar dificuldades nas relações, sobretudo no
que diz respeito à capacidade de estabelecer ligações afetivas com as outras pessoas,
e se observam, também, expressões precoces de violência e de destrutividade. Este
fenômeno tem repercussões em todos os níveis da sociedade: há violência na família,
na escola, na cidade, na política; há violência bélica, sustentada por armamentos cada
57
vez mais sofisticados. Apesar de os prodigiosos avanços tecnológicos terem
melhorado notavelmente a qualidade de vida de grande parte da humanidade, esta se
mostra, sob o aspecto afetivo, numa condição de aridez e de esterilidade na qual o
amor é o grande ausente.
A Biodanza considera um objetivo essencial estimular a afetividade no ser
humano, mediante sua aplicação no campo da educação desde os primeiros anos de
vida.”
59
Ainda, ROLANDO TORO ARANEDA, quando diz que “A Identidade se
manifesta não somente a nível celular e visceral mas a nível psicológico-existencial”, concordou
com a teoria do “self” (o si-mesmo) de CARL GUSTAV JUNG60. Contudo, numa crítica,
comentou: “O conceito de “processo de individuação”, de Jung, e a busca do Self através do
labirinto de opções existenciais, possui a profundidade da concepção genética mas padece de certa
tendência solipsista.”
Ademais, as ações e os efeitos da Biodanza descritas por
ROLANDO TORO ARANEDA sobre a identidade, em sete dimensões, da biológica à
cósmica, abarca a visão psico-cosmológica da sincronicidade de CARL GUSTAV JUNG61. De
forma esquematizada, vejamos:

biológica: a) ações: diálogo imunológico,
erotismo,
indução da alegria e prazer cinestésico; e b) efeitos: bem-estar (inconsciente vital),
elevação do humor endógeno (vitalidade) e renovação celular.

fisiológica:
a)
ações:
auto-regulação,
diálogo
neuroendócrino, diminuição dos centros visuais e verbais, inibição da função repressora
do córtex e transe; e b) efeitos: inconsciente vital, regulação dos sistemas
neurovegetativo, neuroendócrino, imunológico, sistema-integrador-adaptativo-límbicohipotalâmico (SIALH) e homeostático, restauração de padrões de resposta fisiológica,
vitalidade.

instintiva: a) ações: permissividade, integração motora,
estimulação e regulação das polaridades; e b) efeitos: valoração e expansão dos
instintos, vitalidade e sexualidade.

psicológica: a) ações: contato,
carícias, encontros,
integração do corpo e da mente, gozo de viver, reeducação afetiva, regressão,
renascimento e saúde; e b) efeitos: afetividade, comunicação, criatividade existencial,
59
60
61
“Biodanza”, 2005, p. 35.
Ver o tópico VI.
Ver os tópicos V, VI e VII.
58
elevação da auto-estima, empatia, identificação, percepção ampliada, qualidade de Vida,
regulação
das
emoções,
sentimentos,
renascimento,
reabilitação
existencial,
reparentalização e vivências.

social: a) ações: ações em grupo, contatos, diálogos
silenciosos, reeducação afetiva e rituais de vínculo; e b) efeitos: afetividade,
comunicação, consciência social e ética, criatividade, ecológica humana, empatia,
evolução no processo sócio-cultural e inconsciente coletivo.

planetária: a) ações: ações nas redes de conexões,
arquétipos, cerimônias, integração à natureza, transe e transvaloração cultural; e b)
efeitos: consciência ética, ecologia humana, expansão da consciência, inconsciente
coletivo, reculturação planetária e transcendência.

cósmica: a) ações: diálogo silencioso, fusão, movimento
vivencial com a natureza e transe; e b) efeitos: expansão da consciência, ética,
inconsciente vital e transcendência.
ROLANDO TORO descreveu os critérios para avaliação da
62
identidade saudável :

ausência de agressão gratuita;

autodeterminação do limite de contato;

capacidade para estabelecer um limite às agressões

capacidade

capacidade de intimidade;

consciência ética;

estabilidade frente às dificuldades;

ausência de autoritarismo;

alto nível de vitalidade;

capacidade criativa;

ausência de espírito competitivo;

percepção de si mesmo como criatura portadora de um

percepção do semelhante como único, diverso e portador

motricidade caracterizada pelo equilíbrio, vigor e sinergia;

resposta em “feed-back” com a realidade; e

vivência de consistência.
externas;
de
fuga
frente
a
uma
força
superior
(sobrevivência);
valor intrínseco;
de um valor intrínseco;
62
Apostila de “Identidade e Integração” e o livro “Biodanza”, 2005, p. 103.
59
No que toca também à identidade saudável, argumentou: “A
vivência de constituir uma criatura única, em ressonância e intimidade com tudo o que é vivo, é
característica anímica da Identidade sã. A identidade saudável vai sempre unida a uma percepção
corporal, de limites claros, com tendência à autonomia. A percepção corporal e a percepção dos
objetos mantêm coerência e unidade. ” 63
Ao contrário da identidade saudável, na identidade patológica,
existe a dificuldade de se perceber e vivenciar a si mesmo, e afirmou, então, o criador da
Biodanza:
“O processo de Identidade de si mesmo, do próximo e dos objetos não é
estático, mas essencialmente dinâmico e transitivo. Poderíamos dizer que existe uma
sincronicidade perfeita entre as transformações da Identidade do sujeito e a
identificação do mundo.
Isto sucede também com o mundo percebido. A realidade é a mesma, há
uma constante nela, uma espécie de estrutura superestável e, sem dúvida, ela se
modifica qualitativa e quantitativamente a cada momento.”
64
De identidade patológica a saudável, “Na Biodanza, o processo de
integração se realiza mediante a estimulação da função primordial de conexão ávida, a qual
permite a qualquer indivíduo encaminhar-se, com uma força seletiva, às formas de ação que
reforçam seu desenvolvimento e o integram a si mesmo, à espécie e ao cosmo”
65
.
Na monografia “Biodança: um encontro de ser para ser” (1999),
GIOVANA HARTKOPF sintetizou com suas palavras os ensinamentos de ROLANDO TORO
ARANEDA66, quando defendeu a importância da Biodanza na estruturação da identidade,
com base nos três níveis de integração, conforme o seguinte texto:
“(...) a biodança é uma proposta das mais completas, na busca do
reforço da identidade, e a partir daí se abram os caminhos para o outro. (...)
Didaticamente, pode se dizer que o processo se dá em três níveis:

conexão consigo mesmo – em que se está em profunda
intimidade e recolhimento, e que se sente a desmedida felicidade de ser o continente
da própria identidade. Pode-se chegar a um grau tão intenso de conexão, em que se
alcança o estado de intasis – “felicidade suprema durante a qual se intensifica a
consciência de estar vivo e de ser único (Toro, 1981, pg 2). A biodança busca a
63
64
65
66
Apostila de “Identidade e Integração”.
Apostila de “Identidade e Integração”.
“Biodanza”, 2005, p. 94.
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. I, p. 30-31.
60
reaprendizagem da intimidade, da auto-aceitação incondicional, da percepção de si e
de su força interior.

conexão com o semelhante – na qual os olhares se conectam.
Quando olhamos alguém dessa maneira, saímos do nosso esconderijo e revelamos o
nosso interior, podemos ser vulneráveis, estamos numa mesma sintonia, não existe
medo, a vida está inteira ali, naquele instante encantador, nos entregamos num
abraço emocionado, pleno de sentido, no qual as duas identidades forma uma
identidade maior.

conexão com o universo – dessa identidade maior, surge o
terceiro estado, a presença de uma energia nova; a fusão com a totalidade, o
abandono à pulsação originária da vida, é o movimento em que se alcança o êxtase –
“a vivência de ser vida palpitante num universo pleno e sem limites” (Toro, 1981, pg
02).
Entretanto, este processo não ocorre de forma estanque e separada. É
uma pulsação constante e dialética, um ir e vir entre o indivíduo, a espécie e o
universo. Na vivência não existe a precedência de um em relação ao outro.
Em toda esta vivência acontece a fundamental conexão com o prazer, e
que compõem todos os momentos de encontro.”
67
Analisando os aspectos sobre a identidade patológica, a identidade
saudável e a integração da identidade, a Biodanza, como sistema vivencial, concorda com
a abordagem da teoria da sincronicidade na visão psico-cosmológica de CARL GUSTAV
JUNG 68 , em que coincidem eventos subjetivos (psíquicos) e objetivos (físicos), em
movimentos coerentes e expansivos vindos de dentro para fora, em três níveis (consigo
mesmo, com os outros e com o Universo), mas, ao mesmo tempo, como unidade.
XV. Biodanza: a presença da sincronicidade nas relações humanas, como
espelhos das identidades
Os instrumentos da Biodanza são: a teoria, a música, as
cerimônias, as celebrações, os rituais de vínculo, os relatos, as vivências, as entrevistas, o
transe integrador – a indução de vivências – e os diálogos silenciosos – os encontros, os
contatos, as carícias, os abraços, a presença do grupo, as palavras, as consignas e a percepção
com os todos os sentidos, além dos cinco mais conhecidos (a audição, o olfato, o paladar, o tato e
a visão).
Esses instrumentos operam de forma interconectada. Contudo,
para que ocorra a estimulação de emoções e vivências, válvulas geradoras de
67
68
p. 16-17.
Ver os tópicos V, VI e VII.
61
sincronicidades 69 , segundo a teoria de CARL GUSTAV JUNG, num processo contínuo e
progressivo, são muito importantes as interações com outras pessoas e as situações de
encontro, como mecanismo de projeção do outro em si.
O homem é um ser relacional. Por isso, na Biodanza, é essencial o
grupo para que ocorra o processo de crescimento e de troca. Segundo ROLANDO TORO,
“A identidade se manifesta na presença do outro” e “O amor a si mesmo e o amor aos outros não
são sucessivos, mas simultâneos”
70
. Dessa maneira, não existe Biodanza individual.
Ainda, “Dançar em grupos, descobrindo, progressivamente, os rituais de
aproximação, permite a integração da Identidade. (...) A vivência de estar vivo está afetada
constantemente pelo humor corporal e pelos estímulos externos. Mas sua gênese é visceral.”
71
Portanto, “Biodanza é um sistema que abarca a totalidade da vida
humana e posa um modelo teórico de grande coerência; por esta razão, tem destacado os
dinamismos de maior relevância, considerando sempre cada um dos elos modifica os restantes.”
72
A identidade integra-se e renova-se nos atos permanentes de
comunhão com o outro. A abertura do coração e do peito, a aproximação, as carícias, os
contatos, o corpo como fonte de prazer, a fluidez, a entrega, os espaços, a intimidade
afetiva, os limites e a permissão para deixar ser absorvido são formas de ser na relação
com os outros e de ser no mundo.
Desse modo, na alteridade e na diversidade, são ativados os dois
grandes pólos (a identidade e a regressão) entre os quais se recicla o processo de
integração da identidade. Ocorre a perda da consciência de si mesmo ou da identidade
por meio do transe para a outra polaridade, a regressão. Na verdade, os fenômenos
transe e regressão são produzidos de forma simultânea.
Nas regressões integrativas, reparadoras e saudáveis, há o
abandono de si ao indiferenciado e o retorno ao primordial, a partir do qual surgem os
sinais arcaicos e as mensagens cósmicas. Cada ser sente o divino que habita em seu
interior em completa conexão com a identidade maior e a totalidade. No retorno do
transe, a identidade integra-se e alcança o estado de consciência cósmica e a ampla
percepção.
Conforme ROLANDO TORO ARANEDA, “a vivência de regressão na
Biodanza acontece por meio da indução de estados de transe integrador profundo. O estudo
fenomenológico preciso dos estados de transe e regressão durante a sessão de Biodanza mostra
69
70
71
72
Ver o tópico VI.
Apostilas “Identidade e Integração” e “Mecanismos de Ação da Biodanza”.
Apostila “Identidade e Integração”.
Apostila “Mecanismos de Ação da Biodanza”.
62
que tal vivência é muito diferente da dissociação; ao contrário, o indivíduo abandona sua
identidade de modo a integrar uma grande unidade que, neste caso, é o grupo. O sentimento de
plenitude e de beleza interior, a clareza do senso de realidade e a vivência de conexão autêntica
com os outros, que o indivíduo experimenta após sair do transe regressivo, são manifestações que
a maior parte dos terapeutas classifica como de “boa saúde”.
73
Nesse contexto, a respeito das relações humanas, como caminho
para a percepção das sincronicidades, DEEPAK CHOPRA no livro “A realização espontânea
do desejo: como utilizar o poder infinito da coincidência” (2003), quando citou o sutra “tat
tvam asi”, ou seja,“vejo o outro em mim e eu nos outros”, escreveu:
“Compreender como funcionam os relacionamentos humanos é uma das
chaves mais importantes do sincrodestino. (...)
(...) Somos espelhos para os outros e precisamos aprender a nos ver no
reflexo das outras pessoas. Isso se chama o espelho do relacionamento. Através dele
descubro o meu eu não-local. Por esse motivo, alimentar os relacionamentos é a
atividade mais importante na minha vida. Quando olho ao meu redor, tudo que vejo é
uma expressão de mim mesmo.
Por conseguinte, o relacionamento é uma ferramenta para a evolução
espiritual, com a meta suprema de atingir a consciência unitária. Somos todos
inevitavelmente parte da mesma consciência universal, mas os grandes avanços
acontecem quando começamos a reconhecer essa conexão na vida do dia-a-dia.
O relacionamento é uma das formas mais eficazes de entrar em contato
com a consciência unitária, porque sempre estamos nos relacionando. Pense na rede
de relacionamentos que você tem a qualquer momento: pais, filhos, amigos, colegas
de trabalho, parceiros românticos. Todos são, no fundo, experiências espirituais.
Quando você está apaixonado, por exemplo, romântica e profundamente apaixonado,
tem uma sensação de eternidade. Você está, nesse momento, em paz com a
incerteza. Você se sente ao mesmo tempo maravilhoso e vulnerável, íntimo e exposto.
Você está se modificando, se transformando, porém sem se perturbar; tem uma
sensação de assombro e admiração. Trata-se de uma experiência espiritual.
Por meio do espelho do relacionamento – de todos os relacionamentos –
descobrimos estados expandidos de consciência. Tanto aqueles que amamos quanto
aqueles por quem sentimos aversão são espelhos de nós mesmos. Por quem nos
sentimos atraídos? Por pessoas que possuem as mesmas características que temos,
porém mais acentuadas. Desejamos a companhia delas porque, subconscientemente,
73
“Biodanza”, 2005, p. 117.
63
sentimos que por meio desse contato talvez possamos expressar também, com mais
intensidade, essas características. (...)
(...)
Ao
reconhecer
que
podemos
nos
ver
nos
outros,
cada
relacionamento torna-se uma ferramenta para a evolução da nossa consciência e, à
medida que ela evolui, vivenciamos estado expandidos de consciência. É nesses
estados, quando chegamos à esfera não-local, que podemos experimentar o
sincrodestino.
Na próxima vez em que se sentir atraído por alguém, pergunte a si
mesmo o que o atraiu. Foi a beleza, a graciosidade, a elegância, a influência, o poder
ou a inteligência? Seja qual for a qualidade, esteja certo de que também está
florescendo em você. Preste atenção a esses sentimentos e poderá iniciar o processo
de se tornar mais plenamente você mesmo.”
74
.
Dessa maneira, ao sentir todas as relações humanas, como
espelhos da nossa identidade, ocorrem a expansão da consciência cósmica e as
sincronicidades são amplamente percebidas.
XVI. Biodanza: a sincronicidade presente na transmutação de energia dos
encontros corporais
Percebe-se a presença da sincronicidade na troca de energia
durante os encontros corporais, inclusive nos abraços, porque, em cada encontro, duas
identidades diferentes e juntas tornam-se uma identidade maior e única.
Por meio dos abraços, somos capazes de estabelecer vínculos
afetivos, de nos aproximarmos do outro num ato recíproco de darmos e recebermos
afeto, de conectarmos conosco e com o próximo num encontro espiritual e corporal.
O abraço é uma forma de expandirmos a consciência de
pertencermos a uma “Irmandade Universal”, de percebermos ao outro com a abertura do
peito e do coração e de alcançarmos o transe de fusão recíproca de identidades em uma
outra maior. Por isso, ROLANDO TORO ARANEDA sustentou a respeito da inteligência
afetiva humana, pois, a partir de momentos de plena afetividade e amorosidade, existe a
plena conexão da mente ao Universo.
A emoção do abraço acolhedor e aconchegante é incomparável,
curativo para o físico, para o coração e para a alma. Para que tudo isso ocorra, há a
necessidade de uma atitude permissiva e um sincero desejo de acolher e receber o outro.
74
p. 136-138.
64
No abraço, a energia afetiva de cada um se multiplica em forma
exponencial e há a troca de qualidade e de intensidade da energia inicial. “Cada pessoa
descobre, na sua capacidade de abraçar, seu nível de humanização, seu grau de evolução afetiva.”
Dessa maneira, ROLANDO TORO ARANEDA descreveu o abraço e
o encontro, como modelos naturais de movimento:
“Freqüentemente, quando nos saudamos, damo-nos cordialmente a mão,
dizemo-nos “até logo”, trocamos até mesmo um beijo natural, mas, salvo em algumas
poucas ocasiões (despedidas, aniversários, festas de passagem de ano...), raramente
nos abraçamos.
A emoção ligada a este gesto têm uma qualidade insubstituível, que vem
do ato de sustentar o outro em toda a sua “humanidade”. O abraço tem um
significado mais religioso que sexual; compreende a fraternidade, a comunhão
generosa, e é um meio supremo de perceber o outro, não como um estranho, mas
como nosso “semelhante”.
É mais fácil abraçar uma pessoa que se estima e se ama, do que alguém
com quem não se tem intimidade. No entanto, o encontro do Rei Salomão com a
rainha Sabá começou com um abraço solidário e emotivo; São Francisco de Assis
manifestou aos leprosos, com este gesto, seu compartilhamento afetivo. Toda pessoa
descobre em sua capacidade de abraçar seu nível de “humanização”, o grau de
evolução de seus sentimentos.
Na Biodanza, o abraço é um momento de encontro de si mesmo com o
outro. O exercício definido como “Encontro” tem o caráter de um “costume social”;
isso implica uma aprendizagem dos comportamentos de aproximação, comunicação e
contato. É necessário distinguir entre os encontros formais habituais e os encontros
rituais realizados na Biodanza, combinados com uma música adequada à estimulação
da expressividade e dentro de um grupo afetivamente integrado. As relações pessoais
que acontecem na vida cotidiana podem ainda ser aperfeiçoadas graças a esta
situação de encontro ritual.
O exercício do “Encontro” é feito em pares. As duas pessoas se
aproximam progressivamente, olhando-se nos olhos, a fim de se abraçarem, e depois
de um momento se despedem delicadamente. A comunicação afetiva acontece
gradualmente por meio de sinais não-verbais de aceitação e receptividade,
transmitidos pelo olhar, pelo sorriso e pelo gesto receptivo.
A condição essencial deste exercício é a regra da reciprocidade dos
gestos. Se uma das duas pessoas envolvidas expressa uma intencionalidade afetiva
65
forte, enquanto a outra se mostra retraída, é necessário procurar uma forma de
encontro que não envolva nenhum tipo de imposição. A regra da reciprocidade implica
tanto o respeito e a sensibilidade no encontro com o outro, quanto a capacidade de
expressar com clareza os próprios limites, de modo a não dar margem à prevaricação.
O exercício consiste em uma dupla experiência existencial: a interação
afetiva com o outro por um lado facilita e intensifica a percepção de si mesmo, e por
outro estimula o respeito pela pessoa que se tem diante de si. É possível que dois
desconhecidos, realizando o “Encontro” em uma sessão de Biodanza, “despertem”
para uma experiência nova em que o “estranho” se transforme em um “semelhante”.
Tal exercício estimula, ainda, uma forma indiferenciada de afetividade que tenderá,
depois, na vida cotidiana, a atenuar comportamentos discriminatórios e preconceitos.”
75
Sobre a identidade e o vínculo, ROLANDO TORO ARANEDA
comentou: “A vinculação com o mundo significa, portanto, perder e ganhar a Identidade. Ser ou
deixar de ser. Só assim se organiza e reorganiza a relação com a realidade. O “encontro” é a
transubstanciação de Identidades diferentes”. A identidade, portanto, é estável e, ao mesmo
tempo, dinâmica. É o que em mim permanecer, apesar das mudanças.”
Ainda,
ROLANDO TORO
destacou
76
sobre
a
ocorrência de
transmutação de energia no encontro corporal e assim, com magia, descreveu com
detalhadas nuances os princípios do encontro corporal:
“Quando duas pessoas se aproximam, se olham nos olhos, sorriem ou se
abraçam, se estabelece entre elas um campo de ressonância, que desencadeia
sempre algum tipo de resposta mais profunda. A aproximação de outra pessoa produz
uma troca no tônus muscular (Ajuriaguerra) e se produzem modificações na taxa
hormonal que entra na corrente sanguínea, nos processos enzimáticos, nos níveis de
vigilância, na percepção, para dizer numa só palavra, provoca mudanças na totalidade
do organismo. A aproximação de duas pessoas não é um fenômeno pueril. É uma
espécie muito particular de emprego de energia cósmica. Este primeiro momento se
denomina em Biodanza “sintonização” e tem uma relação com muitos conceitos
abordados pela psicologia moderna. Por exemplo, “empatia” (Lips), “Dialógo
Psicotônico” (Ajuriaguerra), “Eutonia” (Gerda Alexander), “Afinidade” (Rolando Toro).
A aproximação de duas pessoas é um fenômeno transcendente. Como
dizia Antonin Artaud:
75
76
“Biodanza”, 2005, p. 140-141.
Apostila de “Identidade e Integração”.
66
“É algo misterioso e fatal essa união de dois magnetismos
nervosos.”
No momento do encontro se produzem distintos graus de intensidade de
atração, vacilações, rejeição. O primeiro momento do encontro corporal é a
sintonização com o outro. O longo processo que vai desde o encontro até a fusão
total com o outro se inicia com a sintonização, emitindo uma série de sinais através
do sorriso, do olhar, do gesto e da aproximação.
É importante estabelecer que a finalidade última do encontro é a fusão,
quer dizer: “entrar em transe” com outro e fundir duas identidades em uma só. Fundir
a identidade individual na identidade do par. Através da fusão no orgasmo o casal
humano se transforma em par cósmico ingressando na totalidade. A fusão é o
“Maituna” do ioga tântrico. Em Biodança não basta a comunicação, nem nos interessa
o orgasmo como alívio de tensão. A experiência suprema é as fusão. O enfoque
convencional da sexologia, criou uma espécie de obssessão de orgasmo. (...) Esta
obssessão de orgasmo é a maior fonte de frustração e insatisfação dos pares, que por
suposto, perderam o sentido do que é um encontro humano profundo e encantador.
Por que duas pessoas estão nuas num leito? Se tem como finalidade
nesse momento o orgasmo, cada um lutará para obter do encontro “seu orgasmo” o
mais cedo possível. Se pelo contrário, a finalidade nesse momento é desfrutar de uma
profunda intimidade plena de confiança, enriquecendo as carícias, identificando-se um
com
o
outro,
intensificando
os
contatos
em
si
mesmo,
abandonando-se
incondicionalmente ao outro, trocando carícias que excitam e desencadeiam correntes
sutis de prazer, chegam ao orgasmo em meio aos beijos e carícias. Mas o orgasmo é
apenas um momento a mais do encontro. O momento em que se dissolve o limite
corporal, se funde as identidades e se ingressa numa totalidade maior.
A primeira noção então do encontro corporal é compreender que sua
finalidade é a fusão; que tanto a comunicação como o orgasmo são aspectos de um
processo muito mais amplo. (...)”
77
No mesmo contexto, GIOVANA HARTKOPF na tese “Biodança: um
encontro de ser para ser” (1999) mencionou os escritos de ROLANDO TORO ARANEDA78,
ao detalhar com maior didática os princípios do encontro corporal:
“(...) O encontro corporal tem como principal função a fusão, essa
entendida como experiência suprema. Para se chegar à fusão com o outro, a
77
78
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. III, p. 579-580.
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. III, p. 579-582.
67
Biodança propõe uma preparação emocional e corporal, formada por doze princípios,
relacionados a danças e exercícios de contato:
1. Sintonia, ou magnetismo inicial – os olhos se encontram, se
atraem, não há como fugi, o magnetismo é irresistível, os corpos vibram numa mesma
sintonia (ex.: danças de aproximação e encontro).
2. Iniciativa recíproca – os corpos falam a mesma linguagem, mãos
quente e amorosas, que tocam e acariciam movidas pelo mesmo impulso (ex.:
acaricimento recíproco de rosto, de cabelo...).
3. Sincronicidade – os espaços a serem preenchidos, nos levam a
viajar pelo corpo do outro com muita suavidade, num tempo que é eterno (ex.:
dançar ocupando os espaços vazios).
4. Fluidez – nossos braços são asas, levantamos vôo, compartilhamos
da mesma liberdade (ex.: séries de fluidez, danças em pares ou em grupo etc).
5. Diálogo Psicotônico – os corpos conversam, pulsam num mesmo
tônus, movimentam-se com sensibilidade e harmonia, ocupam o mesmo espaço (ex.
Dança eutônica, etc).
6. Eurritmia – os ritmos se encontram numa pulsação comum (ex.:
jogos de samba, dança do trabalho etc).
7. Reciprocidade – somos um, somos dois, somos todos; as emoções
deslizam de um corpo a outro em íntima correspondência (ex.: rodas de comunicação,
de contato e giratória, dança do amor).
8. Integração – encontramos a nossa inteireza, todo o corpo está ali, a
mente, o coração, a barriga e a pélvis. E quando inteiros a fusão é completa.
9. Diversificação – neste momento sentimos a nossa singularidade em
consonância com a singularidade do outro (ex.: dança de contato mínimo).
10.
Compressão-Descompressão – os corpos se aproximam e de
distanciam em mútua correspondência, em alguns instantes somos mais suaves e
frouxos em outro mais estreitos e tonificados (ex.: de mãos ou de abraços).
11.
Incondicionalidade – o outro é sempre novo, não existem
condições anteriores, somos um novo ser a cada encontro (ex.: dança eurrítmica).”
79
Dentro dessa questão, na visão da física quântica, DEEPAK
CHOPRA no livro “A realização espontânea do desejo: como utilizar o poder infinito da
coincidência” (2003) comentou sobre a troca de energia nas relações:
“(...) Os campos de energia (e nuvens de elétrons) se encontram,
pequenas partes se fundem e depois vocês se separam. Embora você se perceba
como inteiro, você perdeu um pouco da sua energia para o objeto e recebeu em troca
um pouco da energia dede. Trocamos informações e energia com tudo o que
encontramos e podemos sair desse encontro um pouco modificados. Desse modo,
79
p. 24-25.
68
também podemos perceber que estamos conectados a tudo o mais no mundo físico.
Compartilhamos constantemente partes dos nossos campos de energia, de modo que
todos nós, nesse nível quântico, no nível de nossa mente e nosso “eu”, estamos
conectados. Estamos todos relacionados uns com os outros.
(...) Na realidade, todos vibramos para dentro e para fora da existência o
tempo
todo.
Se
pudéssemos
aperfeiçoar
nossos
sentidos,
conseguiríamos
efetivamente descortinar os intervalos na nossa existência. Estamos aqui, a seguir não
estamos mais aqui e depois estamos aqui de novo. A sensação de continuidade é
sustentada apenas pela nossa memória.”
80
.
A respeito da energia dos encontros e do processo de integração
da identidade nos encontros na Biodanza, SANCLAIR LEMOS sintetizou de maneira bem
clara e didática este mecanismo de ação no artigo “As linhas de vivência” (2005), a
seguir:
“(...) Quando nos encontramos com uma pessoa e logo em seguida com
outra, levamos a qualidade do primeiro encontro para nosso encontro seguinte.
Somos aí a integração de todas as pessoas com as quais nos encontramos e podemos
levar toda essa riqueza a cada pessoa com a qual nos encontramos – na sessão de
Biodanza ou fora dela.
Envolvendo esse turbilhão de energia que é a expressão das linhas de
vivência, existe uma pulsação polarizada de expressão do ser, ou melhor dizer, da
expressão das linhas de vivência como energia de vida. Essa pulsação se dá de acordo
com a polaridade de expansão e recolhimento.
Em sua polaridade de expansão nos sentimos como um “centro de
percepção” do mundo. Somos o que somos e nos movemos na realidade
diferenciados do mundo, com os limites corporais nítidos, temos aí a “consciência
intensificada” de sermos nós próprios, o sistema biológico, através da estimulação do
sistema nervoso autônomo-simpático, encontra-se pronto para ação, seja ela o
trabalho, a luta ou a fuga.
Essa pulsação de expansão e recolhimento, ou yin-yang como
denominara os taoístas chineses, parece ser a maneira de expressão do universo, a
alternância das polaridades complementares. Logo podemos, por um ato da vontade
ou da consciência penetrarmos em um estado que chamamos de regressão, nos
sentido de retornar à origem ou à essência. Nessa polaridade sentimos parte de um
todo, nosso limite corporal não é tão nítido, o organismo (pelo estimulo do sistema
nervoso autônomo parassimpático) volta-se para estados de reparação dos tecidos e
80
p. 30-31.
69
órgãos e de nutrição. Essa vivência pode aprofundar-se até a percepção da unidade e
a fusão que pode ser uma vivência de percepção sensível de se próprio, com o outro
ou o êxtase com a beleza e a força da natureza. Somos então seres que existem
nessa polaridade, em determinado momento somos o que somos – diferenciados do
mundo, em outro momento somos o que somos unidos, diluídos, fusionados parte do
todo ou da unidade, somos o mundo. (...)
(...) Somos parte da grande harmonia cósmica e é o movimento que
conduz e organiza nosso existir como seres humanos. Se vivermos com tal integridade
(inteireza), nossos movimentos se tornam parte da grande dança cósmica, nosso
cotidiano se transforma em expressão arquetípica e a vida uma eterna possibilidade
de aprendizagem, de vivência e de enriquecimento da consciência.
Aqui, nesse momento, sentimos e recobramos o sabor e o êxtase de
viver.””
81
.
Portanto, a integração da identidade proporcionada na troca de
energia e a formação de uma identidade maior em cada encontro corporal justificam a
coerência entre a Biodanza, na condição de método vivencial, com o princípio da
sincronicidade82, inspirado na filosofia taoísta e na teoria do “um”. Entre a relação “um” e
“outro”, existe a busca da unidade, porque a individualidade (o egoísmo) vira a essência
(o altruísmo), no movimento expansivo da identidade interior para o exterior. Assim, o
Universo é a imagem espelhada da trama das criaturas originadas do “um”.
XVII. Biodanza: as sincronicidades no poema “Todos somos uno”
ROLANDO TORO ARANEDA, sábio poeta, inspirado na arte e no
êxtase da Vida, escreveu o poema “Todos somos uno”:
“A força que nos conduz
é a mesma que incendeia o sol
que anima os mares
e faz florescer as cerejeiras.
A força que nos move
é a mesma que agita as sementes
com sua mensagem imemorial de vida.
A dança gera o destino
sob as mesmas leis que vinculam
a flor e a brisa.
81
Artigo da Revista Pensamento Biocêntrico (http://www.pensamentobiocentrico.com.br), n.° 3, abril∕junho
de 2005, p. 18-20.
82
Ver tópico VII.
70
Sob o girassol de harmonia
todos somos um.”
83
Nesse poema, ROLANDO TORO ARANEDA soube poetizar com
toda a sua criatividade a visão das teorias do inconsciente vital, da inteligência afetiva e
do princípio biocêntrico, as bases fundamentais da Biodanza, como sistema vivencial. Na
realidade, essas teorias estão perfeitamente interconectadas porque buscam a conexão
com a Vida e o Universo, como unidade.
Este poema assemelha-se com a Oração do Grande Espírito, na
linha do Xamanismo, que introduz a biomonografia. As tradições xamânicas honram todas
as relações. E, segundo a tradição dos índios lakotas, eles vibram, ao final de cada rezo,
na energia do “Aha! Metakuya Oyasin!”, quando dizem este mantra, que significa “por
todas as nossas relações”.
Na simplicidade do poema, o criador filosofou o que acontece na
Vida: a harmonia e a sincronicidade dos acontecimentos da natureza... Descreveu a
beleza de cada detalhe, como parte de algo maior, supremo e universal. Demonstrou a
conexão e a união de tudo o que existe na natureza e na universalidade cósmica, da qual
o homem pertence como unidade.
Tudo na Vida está interconectado. O Universo é o resultado da
ligação de tudo que existe na Vida. “O homem não é o centro do Universo sem a Vida. (...)
Pela ótica biocêntrica nos permite penetrar no mundo de forças e acontecimentos que não
pertencem ao homem sem a vida universal”
84
.
Diante disso, “Se somos parte de um universo vivo, participamos da
inteligência cósmica que gera a vida e ela está vinculada à capacidade de amor. A inteligência
afetiva é a capacidade de resolver problemas da vida com a vida. (...) As expressões máximas da
inteligência humana são o amor e a amizade. O amor é uma interação sutil entre identidades que
pugnam por alcançar uma só identidade com o outro. É um impulso de fusão com os outros. O
amor não é um estado momentâneo senão um “processo” que envolve a existência. (...) a
capacidade afetivo-motora de estabelecer conexões com a vida e relacionar a identidade pessoal
com a identidade do Universo”.
85
ROLANDO TORO ARANEDA sustentou que o princípio biocêntrico
“tem como referência imediata a vida, e se inspira nas leis universais que conservam os sistemas
vivos e que tornam possível sua evolução”. 86
83
84
85
86
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
Apostila “Inteligência Afetiva: A Unidade da Mente com o Universo”.
“Biodanza”, 2005, p. 51.
71
Comentou também que a Biodanza, como método vivencial, “parte
do fato inquestionável da existência da vida “aqui e agora” para interrogar-se sobre a origem do
cosmo.”
87
Ainda, neste aspecto, ROLANDO TORO ARANEDA diz: “Na teoria da Biodanza,
redefini o conceito de vivência como a experiência vivida como grande intensidade por um
indivíduo no momento presente, que envolve a cenestesia, as funções viscerais e emocionais. A
vivência confere à experiência subjetiva a palpitante qualidade existencial de viver o “aqui e
agora”. Defini as características essenciais da vivência e estruturei uma metodologia precisa para
induzir vivências voltadas à integração e ao desenvolvimento humano mediante a estimulação da
função arcaica de conexão com a vida, já que a vivência é a expressão psíquica imediata desta
função.”
88
Como exemplo prático do “aqui e agora” vivenciado além do
espaço terapêutico da Biodanza, vale a pena citar uma passagem de BRIAN L. WEISS,
escritor e médico psiquiatra americano sobre terapias de vidas passadas, no livro “Só o
amor é real: uma história de almas gêmeas que voltam a se unir” (1996):
“O vietnamita Thich Nhat Hanh, monge budista e filósofo, nos ensina a
saborear uma boa xícara de chá. Temos de estar completamente conscientes para
sentir prazer com o chá. Somente na consciência do momento presente as nossas
mãos podem sentir o agradável calor da xícara. Somente no presente podemos sentir
o aroma e a doçura, apreciar o requinte do sabor. Se estivermos ruminando acerca do
passado, a experiência de saborear a xícara de chá nos fugirá completamente.
Quando olharmos a xícara, o chá já acabou.
A vida é assim. Se não estivermos inteiramente no momento presente,
olharemos em nossa volta e ele terá passado. Teremos deixados de sentir o contato,
o aroma, o requinte e a beleza da vida. Esta parecerá estar nos deixando para trás.
O passado terminou. Devemos aprender com ele e deixá-lo ir. O futuro
ainda não chegou. Devemos fazer planos, mas não perder tempo em preocupar-nos
com ele. De nada vale preocupar-nos. Quando paramos de ruminar a respeito do que
já aconteceu, quando paramos de preocupar-nos com o que talvez nunca aconteça,
então estaremos vivendo o presente e começaremos a sentir a alegria de viver.”
89
.
Voltando ao tema princípio biocêntrico, ROLANDO TORO ARANEDA
enfatizou que “O princípio biocêntrico coloca seu interesse em um universo compreendido como
um sistema vivo. O reino da vida abrange muito mais que os vegetais, os animais e o homem.
Tudo o que existe, dos neutrinos ao quasar, da pedra ao pensamento mais sutil, faz parte deste
87
88
89
“Biodanza”, 2005, p. 51.
“Biodanza”, 2005, p. 30.
p. 53-54.
72
sistema vivo prodigioso. Segundo o princípio biocêntrico, o universo existe porque existe a vida, e
não o contrário.”
90
Ademais, “A vida não é conseqüência dos processos atômicos e
químicos, mas da estrutura guia da construção do universo. As relações de transformação matériaenergia são os estados de integração da vida. A evolução do universo é, na realidade, a evolução
da vida.”
91
“O princípio biocêntrico é, portanto, um ponto de partida para estruturar
as novas percepções e as novas ciências do futuro relativas à existência; atribuição de prioridade
ao ser vivo; consideração do determinismo como ilusório; abandono progressivo do pensamento
linear em favor da sincronicidade e da ressonância dos acontecimentos; desqualificação das
filosofias que buscam uma verdade única, pois dentro de cada verdade se esconde outra. (...)”
92
Por fim, diante dessa exposição teórica sobre a inteligência afetiva
e o princípio biocêntrico, concluímos que a Biodanza, como metodologia vivencial, está
bem alicerçada nestes princípios e, com toda certeza, favorece os movimentos de
sincronicidade. Além disso, são plenamente coerentes entre si e concordam com o foco
cosmológico e visionário de CARL GUSTAV JUNG93 e a física quântica94.
XVIII. Biodanza: as sincronicidades marcam presença no inconsciente vital e
na saúde
ROLANDO TORO ARANEDA comentou que formulou o conceito de
inconsciente vital, a partir do “comportamento coerente e, de certo modo, intencional das
células e dos tecidos”, além dos órgãos, a fim de obedecer a “tendência global à conservação
presente nos seres vivos”
95
.
Justificou que “Os progressos da biologia celular evidenciaram a
existência de um comportamento autônomo das células e dos tecidos verificado, por exemplo, nos
mecanismos biológicos responsáveis pelas diversas formas e comunicação celular, tanto no interior
da célula como entre as células, na plasticidade estrutural da cromatina, no desenvolvimento do
embrião e ns células tumorais. As células possuem uma forma de memória, manifestam afinidade
repúdio, solidariedade entre si, e se valem de múltiplas formas de comunicação.”
96
“O inconsciente vital se expressa pelo humor endógeno (euforia e
depressão), pelo bem-estar cenestésico, pelo estado geral de saúde, pelas reações de
90
91
92
93
94
95
96
“Biodanza”, 2005, p. 51.
“Biodanza”, 2005, p. 51.
“Biodanza”, 2005, p. 51.
Ver os tópicos V, VI e VII.
Ver os tópicos VIII e IX.
“Biodanza”, 2005, p. 53.
“Biodanza”, 2005, p. 53.
73
imunossupressão frente às perdas, pelas reações alérgicas e pela capacidade de cicatrização dos
tecidos. As vias de acesso ao inconsciente vital são: a alimentação; as brincadeiras, o bom-humor
e as risadas; as carícias e o erotismo; a ligação com a natureza; os banhos de mar; os banhos de
lama; a massagem; as vivências da Biodanza em geral e, particularmente, as de regressão
mediante o transe na água, induzido no ambiente da Biodanza aquática.”
97
Ainda, “O conceito de inconsciente vital permite compreender com
profundidade o princípio biocêntrico, como “tendência cósmica que gera vida.“
98
.”O inconsciente
vital está em sintonia com a essência viva do Universo; quando a sintonia é perturbada, inicia-se a
doença. O ato de cura será compreendido, assim, como um movimento destinado a recuperar essa
“sintonia vital” com o universo.”
99
Portanto, a partir do inconsciente vital, destacamos a importância
da Biodanza como instrumento vivencial de cura e de saúde, com a finalidade de
recuperar a sincronicidades e a sintonia com a Vida e o Universo.
Segundo ROLANDO TORO ARANEDA, “Se Biodanza nos conduz à arte
de viver, convida-nos à grande dança cósmica, seus recursos são também universais: ritmo e
harmonia musical, movimento orgânico, criação e encontro amoroso. Biodanza é a Ars Magna, a
Arte Suprema, que nos conduz à saúde, como expressão da ordem cósmica.”
100
A Biodanza é fator de saúde, como expressão da ordem cósmica
e, por conseqüência, das sincronicidades, porque:

atua sobre a parte sã:
Na opinião de ROLANDO TORO, “A Biodanza trabalha com a parte sã
dos participantes, com seus esboços de criatividade com seus restos de entusiasmo, com sua
oprimida necessidade de amor, com sua oculta capacidade expressiva, com sua sinceridade. A
Biodanza está movida por uma espécie de “vontade de luz para iluminar a insistente escuridão”
(Artaud).”
101

é ato íntimo de curar:
Nesse ponto, em sincretismo com o xamanismo, comentou
ROLANDO TORO ARANEDA:
97
“Biodanza”, 2005, p. 57.
Apostila “Inconsciente Vital e Princípio Biocêntrico”.
99
“Biodanza”, 2005, p. 53.
100
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
101
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
98
74
“Somente partindo da imagem integral do homem, podemos conceber a
enfermidade como um processo da totalidade e a cura como um ato que requer a
mais profunda intimidade, para o qual é necessário que terapeuta e enfermo sejam
profundamente comprometidos. (...) Devemos encontrar inspiração na medicina
xamânica para compreender a natureza deste compromisso, que é um compromisso
com a vida. O xamã utiliza suas condições mediúnicas, a partir de estados de transe e
regressão, que lhe permitem uma compreensão do enfermo. Neste estado de
percepção aumentada, há um diagnóstico e descobre a natureza e a origem do mal.
(...)”
102
A Biodanza, igual ao xamanismo, amplia o estado de percepção.
Ela possui uma visão afetiva e humanitária e estabelece “o circuito ecológico interhumano
que fomenta vida e saúde”.
103
ROLANDO TORO ARANEDA cita: “Antonin Artaud, comentando a visão
do cosmos pelos índios mexicanos, relata que, para eles, a vida é uma lareira sussurrante, um fogo
que ressoa; e a ressonância do viver alcança todos os graus do diapasão. Nesta visão se revela o
sentimento de calor e de harmonia musical.”

104
tem uma visão integral do homem:
A Biodanza baseia-se na medicina ecológica. ROLANDO TORO
estudou que:
“Qualquer enfermidade (...) provém de um desequilíbrio da totalidade do
organismo. (...) O organismo humano, instalado no mundo, em interrelação com seus
semelhantes, está sujeito a extraordinárias trocas. A imagem do homem nas ciências
humanas contemporâneas abarca sua totalidade. Esta imagem integral permite
evidenciar circuitos de retroalimentação muito sutis que jamais poderia visualizar-se
através de um modelo atomizado. A imagem de totalidade entrega, por outra parte, a
dimensão evolutiva de um ser em processo de desenvolvimento.”

105
é uma terapia para “enfermos de civilização”:
A Biodanza com todos os seus mecanismos de ação (a dança, a
música orgânica, os encontros, etc), resgata a verdadeira essência do homem, porque
busca a saúde, ou seja, acessar o inconsciente vital (alegria de viver, humor
endógeno, bem-estar cenestésico, prazer, etc ).
102
103
104
105
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
“Biodanza”, 2005, p. 37.
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
75
Ainda, num processo de crescimento e de troca, renova com
melhor qualidade os estilos de Vida, para evitar e tratar as enfermidades psicossomáticas,
originárias dos conflitos emocionais e decorrentes do “processo de civilização, que parece ir
paralelo com o de aniquilamento da vida”
106
.
Ainda, “Segundo Novalis, o poeta místico alemão que anunciou a
possibilidade de uma “sociologia musical”, o homem possui potencialmente todas as harmonias e
ressonâncias do universo, mas no mundo moderno vive oprimido pelo esquema rígido; perdeu a
harmonia, é um ser angustiado. Resgatar o “homem musical” que jaz em cada um de nós poderia
ser o projeto para o futuro.”
107
Baseado em intensas e profundas pesquisas, ROLANDO TORO
ARANEDA conclui que:
“A proposta da Biodanza é atuar, através de exercícios específicos que
deflagram emoções integrativas, para favorecer a auto-regulação orgânica. (...)
Biodanza
atua
sobre
o
Sistema
Integrador-Adaptativo-Límbico-
Hipotalâmico.
No âmbito psicológico modifica o estilo de vida e cria novas motivações
para viver.
Do ponto de vista biológico, Biodanza é uma técnica de integração
interorgânica. Isto significa que a prática de Biodanza integra o organismo em todos
os níveis: emocional, neurológico, endócrino e imunológico. Por esta razão tem efeitos
curativos e de reabilitação nos mais diversos quadros clínicos. (...)
A expansão da identidade gera saúde, alegria de viver e novas formas de
comunicação afetiva e erotismo. (...)
O Programa de Biodanza para Enfermidade Psicomáticas inclui:
-
Exercícios de expressão de emoções reprimidas (raiva, medo,
-
Auto-regulação neurovegetativa;
-
Mobilização e desbloqueio da energia erógena;
-
Exercícios de contato e carícias;
-
Reforçamento da auto-estima e confiança em si mesmo;
-
Eliminação de impulsos auto-destrutivos inconscientes.”
sofrimento);
106
107
108
108
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
“Biodanza”, 2005, p. 37-38.
Apostila “Biodanza: Ars Magna”.
76
LÓPES IBOR, psiquiatra especializado em Medicina Psicossomática
(“Influencia Del Animo em los Mecanismos Reguladores”), afirmou: “Diga-me como vives
que te direi que doença terás”. ORTEGA Y GASSET, grande filósofo espanhol, criador da
doutrina racio-vitalismo e um dos mais profundos investigadores dos problemas do
homem e da sociedade, afirmou: “Primeiro, e antes de mais nada, sejamos um bom animal”.
A partir dessas afirmações de LÓPES IBOR e ORTEGA Y GASSET,
que se completam, ROLANDO TORO ARANEDA109 inspirou-se nos estudos para a Biodanza
se tornar poderoso método pedagógico-vivencial de “estilos de viver”. Tais afirmativas
completam-se e integram-se, de maneira coerente, porque ser um bom animal é
respeitar, seguir e não reprimir os próprios instintos naturais, que são impulsos,
comportamentos e movimentos inatos e hereditários, que se deflagram frente a situações
específicas (nutrição, reprodução, etc.), com a finalidade de preservar a espécie e se
manter vivo. Qualquer animal, inclusive o homem, adoece, quando nega e não expressa
os seus próprios instintos.
Na realidade, o instinto é a força que nos move. É a fonte da
emoção que nos faz agir na realidade para conservar e nutrir a existência, a inteligência e
a razão. Nós nos movimentamos com a inteligência e com os instintos. O mundo é
eternamente cambiante, em movimento e em transformação. E, por isso, temos os
instintos com as mesmas características, para que o animal sobreviva, diante das
múltiplas possibilidades de circunstâncias oferecidas pelo mundo. Dessa forma, o animal
tem a necessidade de se movimentar, com a inteligência e com os instintos, para
permanecer vivo e satisfazer suas necessidades básicas e nutrir a própria Vida.
No processo de civilização, as diversas culturas e sociedades
tendem a reprimir os instintos, o que afronta a ordem original da natureza. E por não
seguir um estilo original e natural de Vida, o corpo (“soma”) adoece, originando-se,
então, as doenças psicossomáticas. Quanto maior o nível de repressão dos instintos, as
chances de adoecer aumentam.
Diante disso, ROLANDO TORO ARANEDA também defendeu a
Biodanza, como o reaprendizado das funções originais da Vida:
“Tal reaprendizado consiste na sensibilização dos instintos básicos, que
constituem uma expressão da programação biológica. O instinto é uma conduta inata,
hereditária, que não requer aprendizado e que se manifesta diante de estímulos
específicos. Sua finalidade biológica é a adaptação ao ambiente, indispensável à
sobrevivência da espécie, comum a todos os seres vivos. Existe uma tendência
cultural de associar o instinto à irracionalidade; não obstante, a função instintiva
109
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. I, p. 136.
77
revela um tipo de sabedoria biológica da espécie que tem a sua própria lógica. Muitos
instintos têm os seus opostos complementares (por exemplo, a fome tem como
oposto complementar a saciedade). Essa bipolaridade dos instintos é, na realidade,
uma expressão da lógica da vida, que permite resolver problemas de adaptação em
uma escala bastante ampla. A força do impulso instintivo diminui à medida que ele se
satisfaz. A auto-regulação dos instintos tem uma base orgânica constituída por uma
infra-estrutura neuroendócrina de notável precisão: por esta razão a liberação dos
instintos não representa um perigo; ao contrário, resgatar no próprio estilo de vida
uma coerência com esses impulsos inatos é um modo natural de responder
harmoniosamente às necessidades orgânicas e, assim, manter a saúde.
Os instintos representam a natureza em nós, e sensibilizar-se a eles
significa restabelecer a ligação entre natureza e cultura.
(...) “Reconciliar-se com os genitores internos”, “retornar à origem”,
“recuperar a criança livre”, “conectar-se com a energia cósmica”, “restaurar a função
do orgasmo” são algumas das propostas da moderna intuição em psicoterapia. Tal
semântica implica o reconhecimento da importância do primordial e da idéia de que a
saúde esteja vinculada à fonte original da vida.
À parte os eufemismos, creio que deveríamos retomar o significado do
instinto e restabelecer seu valor psicoterapêutico, antropológico e educativo. Existe
um tipo de medo generalizado quanto a esse propósito e uma postura hostil diante de
qualquer manifestação do primitivo. Minha proposta tem a finalidade de resgatar
nossa “selva interior”: considero que seja necessário ver as manifestações instintivas
de uma perspectiva de exaltação da vida e da graça natural dela derivada.”
110
Na Biodanza, há a reaprendizagem dos padrões originais e do
estilo natural de Vida, em favor da saúde corporal, emocional, espiritual e mental (bemestar geral), porque faz “acessar o inconsciente vital”, que fica evidente na alegria e no
prazer. A natureza mostra a estratégia perfeita: “tudo que faz bem, dá prazer”.
A Biodanza, na verdade, aumenta a unidade e regular a
homeostase, ou seja, permite ao corpo funcione de maneira adequada. Os equilíbrios
naturais os ritmos internos, a percepção dessa unidade e a integração dos processos
homeostáticos deflagram um processo integrador evolutivo.
Assim, quando o organismo é integrado, ele se insere nesse
movimento maior e não é mais ele que se move. Ele ressoa em harmonia com o
movimento maior evolutivo. Então, o ser humano, independentemente, está condenado a
110
“Biodanza”, 2005, p. 35-36.
78
evoluir na mesma sintonia, ou seja, em sincronicidade, de acordo com a teoria de CARL
GUSTAV JUNG.
Em função do inconsciente vital e do princípio biocêntrico, a
Biodanza busca a cura e o estado geral de saúde. De modo ressonante, as
sincronicidades são perceptíveis, em razão da sintonia com a Vida e o Universo. Por isso,
ROLANDO TORO ARANEDA diz que “Biodanza é uma Arte Magna (“Ars Magna”)”.
XIX. Biodanza: os movimentos de fluidez favorecem as sincronicidades
ROLANDO TORO ARANEDA, ao estudar as categorias dos
movimentos humanos, descreveu os movimentos fluidos como a harmonização da energia
de nós mesmos com o todo universal e, portanto, conclui-se que a entrega e a fluidez
atraem os movimentos de sincronicidade:
“O movimento fluido é contínuo e se desenvolve como ondas em
constantes transformações. Propicia a integração motora e vivencial (Metodologia do
Êxtase).
Trata-se de buscar um equilíbrio dinâmico, uma harmonia pulsante. O
movimento fluido é sem detenções, diante de um obstáculo, adapta-se a isso e segue.
Fluir é a capacidade de permitir o fluxo contínuo da energia. (...) Um dos
efeitos importantes os exercícios de fluidez é a desaceleração e a harmonia orgânica.
A Fluidez é uma categoria de movimento contrária à rigidez. São
aspectos vinculados à Fluidez, facilmente observáveis nas danças a dois ou em grupo:
-
a complementaridade (...).
-
a sincronicidade (...).
-
a reciprocidade (...).”
111
"(...) Os movimentos de Fluidez comprometem todo o corpo em um
processo de deslizamento sensível no espaço, de modo que se produza uma conexão
táctil com o ar.
Os exercícios de Fluidez têm certas semelhanças com os movimentos do
Tai Chi Chuan, mas diferem completamente em seus objetivos, em sua gênese
límbico-hipotalâmica e em seus efeitos vivencias.
(...) Estimular a vivência de integração ao universo. Por esta razão, a
Fluidez é considerada o caminho principal para alcançar o estado de êxtase.
111
Apostila “Movimento Humano”.
79
(...) As pessoas que possuem Fluidez no comportamento evitam
facilmente os obstáculos. As pessoas rígidas, ao contrário, chocam-se contra eles e
vivem com um inútil gasto de energia.
A Fluidez tem uma função muito importante no ajustamento corporal
recíproco durante o ato amoroso, pois intensifica a sensação de formar um só corpo
com o companheiro.
A Fluidez eleva a qualidade das relações humanas nos aspectos
intelectual, afetivo e sexual; aumenta a flexibilidade na comunicação e a disposição de
encontrar uma solução para os conflitos quando se apresentam.
(...) A Fluidez é uma categoria universal do movimento que pode ser
observada na Natureza: os rios, o vento, o movimento de muitos animais como o da
serpente, do tigre e dos peixes.
A Fluidez é uma característica do elemento água que, alquimicamente,
representa a dissolução dos sólidos e cujo equivalente psicológico é o poder de
encontrar uma “solução” para os conflitos. A água dissolve quimicamente o sal,
originando uma solução. As pessoas que simbolicamente têm muita água como
componente caracterológico, ou seja, que têm Fluidez, possuem maior capacidade
para resolver os problemas.”
112
Por isso, as danças fluidas e melódicas na Biodanza favorecem a
desaceleração, a desprogramação, a harmonia orgânica, a conexão com o elemento água,
o prazer, a sabedoria e os movimentos contínuos. A entrega e a fluidez são características
relacionadas com a transformação contínua e a integração entre as dualidades yin
(“passivo, feminino, receptivo e levemente relaxado”
tenso”
114
113
) e yang (“ativo, masculino, penetrante e
) proposta pela filosofia oriental taoísta que inspirou CARL GUSTAV JUNG na
teoria da sincronicidade115.
ROLANDO
TORO
ARANEDA
concluiu,
ao
tratar
sobre
a
transmutação da energia por movimentos de fluidez, que: “Permitir o fluxo da energia
cósmica através dos movimentos corporais é conseguir a perfeita colocação do homem no
universo, fazendo parte da circulação infinita da energia.”
112
113
114
115
116
116
Apostila “Elenco Oficial de Exercícios, Músicas e Consignas de Biodanza”.
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. II, p. 250.
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. II, p. 250.
Ver tópico VII.
“Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. II, p. 250.
80
XX. Biodanza: somos de arte inacabada e em constante processo de
sincronicidade com o Cosmos
O Princípio Biocêntrico é o paradigma filosófico fundamental da
Biodanza. Surge de uma proposta anterior à cultura e se nutre da sabedoria biocósmica,
geradora dos processos viventes. Significa que todo o Universo, inclusive os seres
humanos, estão organizados em função da Vida, a fim de resgatar a sacralidade da Vida.
O processo da Biodanza é contínuo e progressivo, com respaldo no
Princípio Biocêntrico. Permite-se o crescimento de cada um no seu próprio ritmo e o
estímulo a fazer o que lhe é possível, sem criar resistências e/ou acelerações ao processo.
Isso porque, na verdade, a Vida está fluindo o tempo inteiro, não está pronta... Pode-se
dizer que é infinita...
“A arte da vida consiste em fazer da vida uma grande obra de arte.”
(MAHATMA GHANDI).
Como a Vida, as obras de arte apresentam o mesmo processo de
continuidade e progressividade, pois resultam do expressivo ato de viver, de sentir a Vida,
de se conectar com o que está vivo, de criar a Vida e de permanecer viva. Ela nasce da
percepção intensa dos sentimentos do artista com a Vida. A expressão das emoções
felizes ou desagradáveis do artista confere à obra de arte as qualidades e as ressonâncias
da Vida.
Portanto, a partir do próprio paradigma da Biodanza, concluo que
a minha biomonografia “Biodanza: o caminho para a atração e a percepção dos
movimentos da sincronicidade na Dança da Vida” é uma obra de arte inacabada e em
constante processo de evolução. Mesmo porque, nos dias de hoje, está ocorrendo uma
ampla abertura da consciência na criação de pontes sustentáveis entre a ciência e a
religião. A cada dia, surge uma nova revelação do Grande Mistério a ser acrescentada na
minha biomonografia.
Vivenciei a plena inspiração ao escrever esta biomonografia no
final do outono. As idéias se desprendiam de minha cabeça, da mesma maneira que as
folhas se soltam dos galhos das árvores. Durante esses momentos, os meus dedos eram
guiados pela inspiração divina. Sentia-me em perfeita sintonia com o meu desejo e com o
Universo, o que facilitou a minha criatividade e o meu talento nato para escrever.
“Os seus impulsos criativos são reais, vitais, valiosos e anseiam pela
expressão. O fato de você conseguir concebê-los é a prova disso.” (WAYNER W.
DYER, “A força invisível”).
81
Contudo, confesso que, na ansiedade de buscar a perfeição na
minha biomonografia, vivenciei o bloqueio da minha inspiração, antes de concluir esta
obra, no início do inverno. Esta estação do ano é conhecida por ser o momento de
fortalecimento interior e de superação para que o fogo interno permaneça aceso, sem se
sentir abalado pelo frio intenso que habita fora. E, para isso, nesse período, há maior
recolhimento, o que leva, então, a ir além das profundezas interiores acessando o que
está oculto e imperceptível em outros momentos...
Posso dizer que a minha crise com a biomonografia foi bem
providencial e sincrônica. Vivenciei a auto-exigência, o perfeccionismo e os medos mais
profundos, como se fosse desafio de Projeto Minotauro...
“Faz parte da vida que, mais cedo ou mais tarde, enfrentemos uma crise
devastadora envolvendo nós mesmos ou alguém que amamos (...). Pode ser aquilo
que mais tememos. Pode fazer o nosso mundo em pedaços e acabar com a forma
como vivíamos nossa vida quotidiana. (...)
Essas
rupturas
criam
uma
oportunidade
extraordinária
para
a
transformação. Elas nos colocam em contato com nosso verdadeiro self, nossa
essência. Nossa antiga máscara cai e ficamos receptivos e vulneráveis. Podemos
alcançar partes de nós mesmos que nunca vivenciamos antes, e permitir que os
outros também se aproximem de nós. Somos levados a voltar nossa atenção ao que
está oculto; investigamos intensivamente a existência de um poder superior e o
propósito de nossa existência. A sincronicidade vem à tona, proporcionando-nos
tranqüilidade e orientação. Descobrimos a força e a perseverança existentes em nós e
elaboramos novas interpretações da vida, novas crenças e uma nova realidade.”
(CHARLENE BELITZ E MEG LUDSTROM, “O Poder do Fluxo – Formas Práticas de
Transformar Sua Vida com Coincidências Significativas”).
Ainda bem que o inverno acaba com as flores imensamente
coloridas da primavera! Por obra da sincronicidade, estou escrevendo a conclusão,
durante e após forte temporal com muito vento, no primeiro dia da primavera totalmente
conectada e encantada com a beleza existente na simplicidade do que já existe como
minha biomonografia ao som dos primeiros cantos dos passarinhos do dia, como se
tivesse ouvindo a vitória na melodia rítmica da música “A Primavera” de Vivaldi!
Ai, ai... E essa tempestade que me persegue nos momentos mais
transitórios e marcantes da minha Vida... Com certeza, é o recado do Universo de que eu
preciso vivenciar mais a entrega e a fluidez da água bem presente na Biodanza, como
sistema vivencial!
“Sinais
sinais dos ventos
82
mostrando que o tempo
é o momento...
tempestade
queima como vulcão
para renovação do bom tempo.
o sol brilha
no céu azul dourado
como as ágaus que queimam caladas
no oceano sonoro
do universo pacífico da emoção.”
(Poema de GILMAR CHIAPETTI, do Grupo Epopéia).
O mais engraçado e sincrônico é isso tudo ter acontecido às
vésperas da maratona de Projeto Minotauro. Nem preciso dizer que, depois de ter
passado o inverno tenebroso, acabou sendo o mais tranqüilo Minotauro que já enfrentei
em minha Vida. Descobri a grande força que habita dentro das minhas próprias
entranhas... Descobri o potencial criador e visceral que estava oculto e que, então, foi
revelado ao mundo e ao Universo... Como se fosse o parto de um bebê para a Vida... É
esta a mesma força criadora que dá a luz as sincronicidades!
“Nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados. Nosso
medo mais profundo é que sejamos poderosos demais. É nossa sabedoria, não nossa
ignorância, o que mais nos apavora. Perguntamo-nos: “Quem sou eu para ser
brilhante, belo, talentoso, fabuloso?” Na verdade, por que você não seria? Você é um
filho de Deus. Seu medo não serve ao mundo. Não há nada de iluminado em se
diminuir para que outras pessoas não se sintam inseguras perto de você. Nascemos
para expressar a glória de Deus que há em nós.
Ela não está em apenas alguns de nós; está em todas as pessoas.
E quando deixamos que nossa luz brilhe, inconscientemente permitimos
que outras pessoas façam o mesmo. Quando nos libertamos de nosso medo, nossa
presença automaticamente liberta as outras pessoas.” (NELSON MANDELA, citado por
CHARLENE BELITZ E MEG LUDSTROM no livro “O Poder do Fluxo – Formas Práticas
de Transformar Sua Vida com Coincidências Significativas”).
Fica bem claro que a minha mudança de atitude perante a Vida,
depois de anos de Biodanza, colabora para que eu me torne mais confiante em mim
mesma e no fluxo da Vida. Assim, eu me torno mais receptiva a todos os acontecimentos,
o que aumenta a minha percepção dos movimentos sincrônicos do Universo e da Vida.
Sinto, cada vez mais, a sincronicidade presente. Cada dia que passa, percebo que o
Universo, a Vida e eu estamos na mesma sintonia e sincronia. Tenho muito mais
consciência disso com o meu viver.
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“Tudo e todos na sua história pessoal tinham que estar ali naquele exato
momento. Qual é a prova disso: Eles estavam aí! Isso é tudo o que você precisa
saber.” (WAYNER W. DYER, “A força invisível”).
Na verdade, a Biodanza, como sistema vivencial, trouxe-me muita
sabedoria sobre “VIVER A SINCRONICIDADE”! E viva a “BIODANZA: O CAMINHO PARA A
ATRAÇÃO E A PERCEPÇÃO DOS MOVIMENTOS DA SINCRONICIDADE NA DANÇA DA
VIDA”!!!
“Eventos sincronísticos, (...), em sua natureza acidental nos impõem uma
outra verdade sobre nossas vidas, uma verdade que muitos de nós têm o hábito de
ignorar: que o sentido de nossas vidas, a trama da história da nossa vida, não é
escrita simplesmente pelo que sabemos de nós mesmos mas vem de um ponto muito
mais profundo, da nossa capacidade humana inata de experimentar a totalidade
vivendo uma vida simbólica. (...)
(...) Se trouxermos a atitude simbólica pra dentro de nossas vidas,
pesquisando o significado do que nos aconteceu e, portanto, permitindo que nossa
capacidade de tirar uma noção de totalidade do acaso e diferenciar os eventos de
nossas vidas, então, (...) não importa o que acontece na trama, qual o cenário, quem
sejam os personagens, maiores ou menores, nós veremos que, na verdade, não
existem
acidentes
nas
histórias
de
nossas
vidas.”
(ROBERT
H.
HOPCKE,
“Sincronicidade ou por que nada é por acaso”).
XXI. Anexo: “Sincronicidade muito além da mera coincidência”117
Sabe aquela impressão de que tudo está ligado? Pois está mesmo.
A teoria da sincronicidade não explica cientificamente as coincidências nem pretende
controlar” o acaso. Mas nos ajuda a interpretá-las e a confiar mais na vida, acreditando
que ela nos enviará a experiência certa na hora certa.
por Déborah de Paula Souza | ilustração Suppa
Um dia, logo depois de seu filho ganhar um golfinho de pelúcia,
você liga a TV e assiste a um programa sobre esses animais. Na manhã seguinte, uma
amiga lhe mostra as fotos da viagem de férias e... lá estão eles novamente! O que
significa isso? Aparentemente, nada. Mas, antes que você esqueça o assunto, vale a pena
conhecer as teorias do psiquiatra e analista suíço Carl Gustav Jung. Em seu livro
SINCRONICIDADE (VOZES), ele formulou o “princípio de conexões acausais”, que regem
as “coincidências significativas”. Elas acontecem quando um conteúdo inesperado – direta
ou indiretamente ligado a um acontecimento objetivo – coincide com um determinado
117
Anexo à biomonografia este artigo “Sincronicidade muito além da coincidência!”, da Revista Claudia
(www.claudia.abril.com.br), porque foi a partir da leitura deste texto que confirmei as minhas sensações
sobre as sincronicidades da Vida e iniciei os meus estudos sobre sincronicidade e as relações com a Biodanza.
84
estado psíquico. Diferentemente das coincidências comuns, às quais não atribuímos
nenhum sentido, as “significativas” podem servir de material terapêutico – tanto quanto
os sonhos. No caso dos golfinhos, a pessoa deve investigar o que o animal representa
para ela. Está associado à ternura, por exemplo, ou evoca medo da água? “Não há um
sentido intrínseco, quem dá significado às coincidências somos nós”, explica a analista
Rosely Gomes. Seja qual for a associação de cada um, a chave para compreender a
sincronicidade é conectar os eventos externos com os internos – aí você poderá ter
insights sobre essas questões, aumentar a autopercepção e potencializar a capacidade de
tomar (boas) decisões.
Conexão invisível
A designer Mary Figueiredo Arantes, de Belo Horizonte, já se
acostumou com as coincidências que marcam sua vida sem parar e nas quais ela presta
muita atenção. Dia desses acordei pensando em um amigo, o estilista Ronaldo Fraga, e
nas bonecas lindas que há tempos ele havia me mostrado – o detalhe é que elas são
cegas, um de seus olhos bordados não abre. No fim da tarde, Ronaldo me ligou. Ele
queria me perguntar o nome de um grupo de músicos que pretendia contratar para um
desfile – acredite se quiser, esses artistas são cegos, a trupe se chama Forró no Escuro.
“Para Mary, a sincronia é uma espécie de conexão invisível entre amigos, fazendo com
que estejam sempre se amparando.
Jung não tinha dúvidas de que a afetividade estabelece as
condições psíquicas necessárias para que coincidências possam ocorrer – porém nunca é
certo que elas ocorrerão. “Não pergunte os porquês da coincidência, mas tente ficar
atenta às possíveis conseqüências”, sugere Rosely. A não ser que você seja uma
estudiosa de física quântica (sim, vários cientistas especulam sobre outras leis que regem
o universo e que desafiam nosso raciocínio linear), simplesmente aproveite as idéias e
sentimentos despertados nessas ocasiões para viver melhor. Só não vale preestabelecer
significados para os acontecimentos. Por exemplo: determino que, se a porta bater, devo
ir à festa e, se não bater, não devo ir. Isso não é sincronicidade. É pura superstição ou
medo de assumir a responsabilidade por uma decisão. “Em casos mais graves, quando
esse comportamento vira regra, pode ser um sintoma de TOC – transtorno obsessivocompulsivo”, alerta Rosely.
Quando pensamos numa coisa boa e ela acontece, é gostoso
imaginar que temos poderes misteriosos. Mas, vamos admitir, nossos desejos não se
materializam por força do nosso pensamento tanto quanto gostaríamos. Nós não temos o
controle nem precisamos ter – essa é a lição da sincronicidade, que afirma que há uma
ordem subjacente aos fatos e que o horizonte se amplia à medida que aceitamos a
existência do inesperado e do nonsense, com sua dose de surpresa e risco. No livro O
Poder do Fluxo – Formas Práticas de Transformar Sua Vida com Coincidências
Significativas (Rocco), Charlene Belitz e Meg Ludstrom apostam na seguinte idéia:
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“Embora a sincronicidade não possa ser criada nem planejada, quando você vive no fluxo
pode ter certeza de que ela surgirá”. As duas explicam que o fluxo da vida é natural e
contínuo, totalmente independente da consciência que temos dele – flui como água, mas
pode ser bloqueado por sentimentos como raiva, medo, desconfiança e mania de controle.
“Porém, quando nos tornamos receptivos ao mundo, dispostos e confiantes, nós o
vivenciamos como satisfação e as sincronicidades surgem a todo momento.” Dessa forma,
se você precisa do endereço de alguém, de repente, sem procurar, encontra um velho
papelzinho, que salta da gaveta, trazendo a informação desejada. Ou, ao pensar no seu
amado que está viajando, surpreende-se com um cartão-postal embaixo da porta.
Supercatólica, a designer Mary vê nessas situações um dedo da providência divina. É
assim que ela entende, por exemplo, uma série de encontros inexplicáveis que marcaram
o começo de uma amizade fora do comum. Todo final de ano, Mary organiza um bazar
beneficente já famoso em Belo Horizonte. Um dia, no salão de beleza, foi abordada por
uma mulher: “Você é a Mary, do Bazarte?” Conversa vai, conversa vem, essa senhora
contou que iria para a Itália e assistiria a uma bênção especial do papa. O coração de
Mary disparou – ela se lembrou de uma pessoa de sua família que estava gravemente
doente, precisando da proteção divina. “Helena leu meus pensamentos e me perguntou
se eu gostaria que ela fizesse um pedido em minha intenção. Eu pedi pela saúde desse
parente, que logo depois melhorou. Passaram-se meses e esbarrei de novo com Helena
no shopping. Fiquei feliz e surpresa – ainda mais quando ela me levou até o
estacionamento, revelando que tinha um presente para mim em seu carro!” Depois de
alguns encontros – nunca marcados, mas todos marcantes –, Mary propôs a Helena que
fossem “madrinhas de oração”. Cada vez que uma pensasse na outra, rezaria por ela.
“Em um dia complicado, Helena inesperadamente me telefonou perguntando: ‘Hoje de
manhã você precisou muito de mim, não foi?’ Então, entendi que havia escolhido a
madrinha certa.” Meses mais tarde, em plena busca de fornecedores de comida para seu
bazar beneficente, Mary veio a saber que Helena era sócia de uma grande cadeia de
supermercados. “Não é incrível? Ela passou a contribuir todos os anos com o bazar,
anonimamente, enquanto outras empresas o fazem em troca de publicidade.”
A sincronicidade está na base de todos os oráculos, como
astrologia, tarô, búzios... Eles demonstram o princípio na prática: no meio de centenas de
possibilidades, você chega exatamente à resposta que se encaixa como uma luva no seu
caso. Jung cita especialmente o I-Ching, o Livro das Mutações – obra-prima da cultura
chinesa. Ao consultá-lo, você pensa numa questão e joga três moedas (ou varetas) – a
posição em que elas caírem a levará ao texto que contém a solução do problema. As
metáforas, baseadas nas forças da natureza, como o trovão, a terra ou o lago, costumam
ser certeiras. Segundo Roberto Otsu, estudioso do assunto, os sábios chineses não têm
dúvida sobre a interligação de todas as coisas. O I-Ching contém a complexidade humana,
revelando situações e probabilidades que já existem, mas das quais não temos
consciência. “No jogo, é a pergunta que movimenta o oráculo e, na vida, é a necessidade
e o desejo que desencadeiam as coincidências”, afirma Otsu. Ele acredita que os
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encontros importantes – um grande amor, um amigo querido, um contato profissional
decisivo – respondem aos nossos anseios mais profundos, geralmente inconscientes. “Na
visão taoísta, tudo precisa crescer e chegar ao máximo de si mesmo – os eventos de
nossa vida, mesmo os dolorosos, colaboram para o nosso florescimento, pois essa é a lei
da natureza.” É ela que comanda também a astrologia, um dos oráculos mais populares.
Jogo do destino
O astrólogo José Maria Gomes Neto lembra que a palavra
“horóscopo” deriva do grego hora skopeo, que significa “eu vejo a hora”. Cada momento
tem uma qualidade e tudo que nasce ou surge nele incorpora tal qualidade – essa é a
base do mapa astral, que possibilita a visão dos fatos do passado, presente e futuro. “É
importante destacar, porém, que o que virá pela frente nunca é fechado”, diz o
especialista. “Os astros apontam uma direção, mas não determinam. O homem é um
sistema aberto, em constante interação com o cosmos.” No livro que está preparando – A
Astrologia e a Experiência da Sincronicidade –, José Maria relata casos curiosos, entre
eles o de duas clientes, com parceiros vasectomizados, que queriam engravidar. Ambas
fizeram inseminação no período sugerido pelo astrólogo e ficaram grávidas. Ele calculou
as “datas sincrônicas”, indicando a época favorável para que o desejo delas se realizasse.
Como o I-Ching, a astrologia nos ajuda a reconectar com a natureza, a confiar no rumo
dos acontecimentos e a agir em sintonia com o que está a nossa volta e dentro de nós.
Deixe tudo fluir
Se você quer se abrir para os bons encontros e as coincidências
significativas,deve se comprometer com algumas atitudes,conforme ensina o livro O Poder
do Fluxo (Rocco).
COMPROMISSO COM VOCÊ MESMA - Cuide bem do corpo e da
alma,nunca se abandone. Seja fiel aos seus princípios e tenha coragem de correr riscos
que envolvam o crescimento. Tudo isso aumenta a vitalidade e a certeza de que estamos
ligadas a todas as formas de vida do planeta.
COMPROMISSO COM AS PESSOAS - Tente encará-las como
professoras, aprenda por meio da experiência, da partilha e da sinergia – qualquer que
seja a lição. Lembre-se de que elas revelam aspectos de nós mesmas – o laço da
humanidade nos une. Evite julgamentos e expectativas.
COMPROMISSO COMO TODO - Há um bom motivo para tudo o
que acontece. Deixe que suas atitudes sejam orientadas por essa compreensão e faça
sempre o seu melhor, mesmo que o resultado seja incerto. Essa atitude gera disciplina,
determinação e força para superar obstáculos.
Sete Leis da Sincronicidade para começar a ver a Mágica da Vida
1.
Meu espírito é um campo de possibilidades infinitas que
conecta tudo o mais. Esta frase resume a totalidade do que estou expondo. Se você
esquecer tudo o mais, lembre-se apenas disso.
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2.
Meu diálogo interno reflete meu poder interno. O dialógo
interno das pessoas auto-realizadas pode ser descrito assim: é imune a críticas; não tem
apego aos resultados; não tem interesse em obter poder sobre os outros; não tem medo.
Isso porque o ponto de referência é interno, não externo.
3.
Minhas intenções tem poder infinito de organização. Se
minha intenção vem do nível do silêncio, do espírito, ela traz em si os mecanismos para
se concretizar.
4.
Relacionamentos são a coisa mais importante na minha
vida. E alimentar os relacionamentos é tudo o que importa. As relações são cármicas e
quem nós amamos ou odiamos é o espelho de nós mesmos: queremos mais daquelas
qualidades que vemos em quem amamos e menos daquelas que identificamos em quem
odiamos.
5.
Eu sei como atravessar turbulências emocionais. Para
chegar ao espírito é preciso ter sobriedade. Não dá para nutrir sentimentos como
hostilidade, ciúme, medo, culpa, depressão. Essas são emoções tóxicas. Importante: onde
há prazer, há a semente da dor, e vice-versa. O segredo é o movimento: não ficar preso
na dor, nem no prazer (que então vira vício). Não se deve reprimir ou evitar a dor, mas
tomar responsabilidade sobre ela.
6.
Eu abraço o feminino e o masculino em mim. Esta é a
dança cósmica, acontecendo no meu próprio eu. A energia masculina: poder, conquista,
decisão. A energia feminina: beleza, intuição, cuidado, afeto, sabedoria. Num nível mais
profundo, a energia masculina cria, destrói, renova. A energia feminina é puro silêncio,
pura intenção, pura sabedoria.
7.
Estou alerta para a conspirações das improbabilidades.
Tudo o que me acontece de diferente na vida é cármico. É, portanto, um sinal de que
posso aprender alguma coisa com aquela experiência. Em toda adversidade há a semente
da oportunidade.
XXII. Biobibliografia
AMIT GOSWAMI. “A ponte entre a ciência e a religião”, entrevista no programa Roda Vida
da TV Cultura.
BRIAN L. WEISS. “Só o amor é real”, 15ª ed., Sextante, 1996.
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transformar sua vida com coincidências significativas”, Rocco, Rio de Janeiro, 2000.
DEEPAK CHOPRA. “A realização espontânea do desejo: como utiliza o poder infinito da
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FRITJOF CAPRA. “O Tao da Física: um paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo
Oriental”, Cultrix, São Paulo, 1983.
GIOVANA HARTKOPF, “Biodança: um encontro de ser para ser”, Curitiba, 1999.
88
LEONARDO BOFF. “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”, Vozes,
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MESTRE JOHNNY DE’ CARLI, “Reiki Universal”.
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retorno ao sagrado”, Cultrix/Pensamento, São Paulo, 1992.
ROBERT H. HOPCKE. “Sincronicidade ou por que nada é por acaso”, Nova Era, Rio de
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RODRIGO ROMO. “Reiki OMROM: nível II” (apostila).
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Biodanza” (apostila).
ROLANDO TORO ARANEDA. “Identidade e integração” (apostila).
ROLANDO TORO ARANEDA. “inconsciente vital e princípio biocêntrico” (apostila).
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“Tudo
pode
ser
como
você
imagina”,
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89