karenn missa fujimatsu biodanza: o caminho para a atração e a
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karenn missa fujimatsu biodanza: o caminho para a atração e a
KARENN MISSA FUJIMATSU BIODANZA: O CAMINHO PARA A ATRAÇÃO E A PERCEPÇÃO DOS MOVIMENTOS DA SINCRONICIDADE NA DANÇA DA VIDA Monografia de titulação no Curso de Formação de Facilitador de Biodanza, ministrada pela Escola de Biodanza de Curitiba –Sistema Rolando Toro, filiada à Internacional Biocentric Foundation. Curitiba 2007 Agradeço, todos os dias da minha Vida, de coração para coração, à Mamãe OLGA TIEKO SATO FUJIMATSU e ao Papai ATSUSHI FUJIMATSU, que permitiram a minha concepção e criação para esta Vida... E, assim, torna-se possível o cumprimento da missão de Vida originária, ao qual me incumbi e me prontifiquei, bem antes de eu nascer para esta Vida... “Desde menina, quando deixava pender a mão sobre a beirada da cama, outra mão afetuosa segurava a sua, e ela se sentia tranqüilizada, por mais ansiosa que estivesse. Muitas vezes, quando sua mão acidentalmente pendia para fora da cama e o toque da outra mão a surpreendia, ela inclinava num reflexo a cabeça para trás, e isso punha fim ao contato. Ela sempre sabia quando procurar a outra mão a fim de sentir-se tranqüilizada. Naturalmente, não havia forma física alguma em torno ou embaixo da cama. Ao crescer, a mão a acompanhou. Casou-se, mas nunca falou ao marido a respeito desta experiência, por achá-la infantil. Quando ficou grávida do primeiro filho, a mão desapareceu. Ela sentiu falta de sua companhia afetuosa e familiar. Não havia outra mão que segurasse a sua daquela mesma maneira cheia de amor. O bebê nasceu, uma linda menina. Pouco depois do nascimento, estava deitada na cama com a filha, quando esta lhe segurou a mão. Um forte e súbito reconhecimento daquele antigo toque inundou-lhe a mente e o corpo. O seu protetor retornara. Ela chorou de felicidade, sentindo uma grande onda de amor e uma conexão que sabia existir muito além do mundo físico.” (BRIAN L. WEISS, “Só o amor é real: uma história de almas gêmeas que voltam a se unir”). 2 Agradeço, todos os dias da minha Vida, de coração para coração, a todos os encontros atemporais nas minhas caminhadas adimensionais, multidimensionais, nada lineares... Caminhadas nesta Vida, além desta Vida... Caminhadas nesta dimensão, além desta dimensão... Caminhadas nesta “realidade ilusória”, além desta “realidade ilusória”, em outras realidades paralelas... “Gosto de imaginar que a relação entre almas é algo semelhante a uma grande árvore frondosa. As folhas que ocupam o ramo em que estamos nos são íntimas. Podemos até trocar experiências, experiências espirituais, umas com as outras. Temos também relações intensas e íntimas com as que ocupam o ramo vizinho ao nosso. Pertencemos à mesma árvore e ao mesmo tronco. Nós nos conhecemos. Existem muitas outras árvores nesta bela floresta, todas ligadas entre si através do sistema de raízes do solo. Ainda que possa haver uma folha em uma árvore distante que pareça bem diferente de nós e muito remota, somos ligados a essa folha, ligados a todas as folhas. Você provavelmente conheceu outras almas em pontos mais distantes da árvore a que pertencia em vidas anteriores. Essas almas podem ter mantido muitas relações diferentes com você. Essas interrelações podem ter sido extremamente breves. Mas até mesmo um encontro de trinta minutos pode tê-lo ajudado a elas, ou a ambos, como costuma acontecer. Uma dessas almas pode ter sido o mendigo na estrada, de quem você se apiedou, permitindo-se estender sua compaixão a um outro ser humano, e permitindo a essa alma aprender que é possível receber amor e ajuda. Você e o mendigo podem nunca mais ter-se encontrado naquela existência, e no entanto você e ele fazem parte do mesmo drama. A duração dessas reuniões varia – cinco minutos, uma hora, um dia, um mês, uma década ou mais. As relações entre almas não são medidas em termos de tempo, e sim em termo de lições aprendidas. (BRIAN L. WEISS, “Só o amor é real: uma história de almas gêmeas que voltam a se unir”). 3 “GRANDE ESPÍRITO Oh! Grande Espírito, que criou tudo antes e que reside em cada objeto, em cada pessoa e em todos os lugares, nós acreditamos em Ti. Nós Te invocamos dos mais distantes lugares para nossa presente consciência. Oh! Grande Espírito do Norte, que dá asas às águas do ar e rola a grossa tempestade de neve antes de Ti. Tu, que cobres a Terra com um brilhante tapete de cristal, principalmente onde a profunda tranqüilidade de cada som é maravilhosa. Tempera-nos com a força para permanecermos como parte da nevasca; sim, faça-nos agradecidos pela beleza que flui e se aprofunda sobre a quente Terra em seu despertar. Oh! Grande Espírito do Leste, a Terra do Sol Nascente. Tu que seguras em Tua mão direita os anos de nossas vidas e em Tua mão esquerda as oportunidades de cada dia. Sustenta-nos para que não esqueçamos nossas oportunidades, nem percamos em preguiça as esperanças de cada dia e as esperanças de todos os anos. Oh! Grande Espírito do Sul, cujo quente hálito de compaixão derrete o gelo que circunda nossos corações, cuja fragrância fala de distantes dias de primaveras e verões, dissolve nossos medos, transmuta nossas aversões, acenda nosso amor em chamas de verdade e existentes realidades. Ensina-nos que aquele que é forte é também gentil; que aquele que é sábio tempera justiça com piedade; e aquele que é um verdadeiro guerreiro combina coragem com compaixão. Oh! Grande Espírito do Oeste, a Terra do Sol poente, com Tuas elevadas e livres montanhas, profundas e extensas pradarias, abençoa-nos com a sabedoria da paz que segue a contenção e a liberdade de quem vive como túnica flutuante nas asas da vida bem disciplinada. Ensina-nos que o fim é melhor que o começo e que o por do sol não glorifica nada em vão. Oh! Grande Espírito dos Céus, em dias de infinito azul e misturado às infindáveis estrelas da noite de cada estação, lembra-nos o quanto és imenso e bonito e majestoso além de todo o nosso conhecimento ou saber, mas que também não estás tão longe de nós, quanto o mais alto de nossas cabeças ou o mais baixo de nossos olhos. Oh! Grande Espírito da Mãe Terra sob nossos pés; Mestra dos metais; Germinadora das sementes e Celeiro de ocultos recursos da Terra, ajuda-nos a dar graças incessantemente pela Tua presente generosidade. Oh! Grande Espírito de nossas almas, que ardes há tempos em nosso corações e em nossas profundas aspirações, fala-nos agora e sempre de tudo que precisamos saber sobre a grandeza e bondade de Teus presentes para a vida, para sermos orgulhosos do inestimável privilégio de viver.” (NOEL KNOCKWOOD, B.A. ELDER, 1996). 4 SUMÁRIO Agradecimentos................................................................................................................2 I. A minha própria história mostra: “Nada é por acaso... Tudo tem razão e sentido de ser...”.................................................................................................................................6 II. O biopropósito da biomonografia..............................................................................16 III. Sincronicidade: a origem e a terminologia..............................................................17 IV. Sincronicidade: as características.............................................................................18 V. Sincronicidade: as concepções psíquica e cosmológica.............................................19 VI. Sincronicidade: a extensão do self (o si-mesmo) e a inter-relação com os arquétipos e o inconsciente coletivo................................................................................................21 VII. Sincronicidade: a origem do conhecimento absoluto na filosofia chinesa do Tao..................................................................................................................................33 VIII. Sincronicidade: o sincrodestino, a mente local e a mente não-local.....................37 IX. Sincronicidade: a física quântica e a ressonância mórfica........................................39 X. Biodanza: o caminho para a atração e a percepção dos movimentos de sincronicidade na Dança da Vida....................................................................................47 XI. Biodanza: o genial e grande criador.........................................................................48 XII. Biodanza: a sincronicidade na “Dança da Vida”......................................................48 XIII. Biodanza: a sincronicidade presente na proposta de conexão com a Vida e o Universo..........................................................................................................................54 XIV. Biodanza: a identidade no caminho da integração atrai as sincronicidades..........55 XV. Biodanza: a presença da sincronicidade nas relações humanas, como espelhos das identidades.....................................................................................................................61 XVI. Biodanza: a sincronicidade presente na transmutação de energia dos encontros corporais.........................................................................................................................64 XVII. Biodanza: as sincronicidades no poema “Todos somos uno”................................70 XVIII. Biodanza: as sincronicidades marcam presença no inconsciente vital e na saúde...............................................................................................................................73 XIX. Biodanza: os movimentos de fluidez favorecem as sincronicidades......................79 XX. Biodanza: somos de arte inacabada e em constante processo de sincronicidade com o Cosmos.........................................................................................................................80 XXI. Anexo: “Sincronicidade muito além da mera coincidência”...................................84 XXII. Biobibliografia.......................................................................................................88 5 I. A minha própria história mostra: “Nada é por acaso... Tudo tem razão e sentido de ser...” “É errado, portanto, censurar um romance que é fascinante por suas misteriosas coincidências (...) mas é certo censurar o homem que é cego a essas coincidências em sua vida diária. Pois sendo assim, ele priva sua vida de uma nova dimensão de beleza.” (MILAN KUNDERA, “A insustentável leveza do ser”). Eu sou KARENN MISSA FUJIMATSU. Faço questão de honrar o meu nome completo porque acredito que é poderoso mantra de atração. Em cada nome foram colocadas as melhores intenções dos meus pais e dizem, de forma sincrônica, quem eu sou na essência, como se fosse guia de memória do Universo sobre a minha missão de Vida... Por isso, aos meus pais, sou muito grata por permitirem a minha concepção e criação para esta Vida... Assim, torna-se possível o cumprimento da missão de Vida originária, ao qual me incumbi e me prontifiquei, bem antes de eu nascer para esta Vida... KARENN é o meu nome que simboliza a minha parte feminina (“yin”). Digo isso porque foi a minha Mamãe quem me deu este marcante nome. Ela achou lindo por ser diferente e forte pela sonoridade. Para ser mais autêntico, ela criou mais um "n" ao final. Descobri num site, há alguns anos, que "Karen é diminutivo de Catarina, nome grego, que significa pura e casta. Toda Karen é a mais desenvolta e alegre do seu grupo social. Está sempre à frente de todas as iniciativas comunitárias, paciente, uma excelente confidente. E se o amor não vêm a ela, ela vai em busca." Intuitivamente, a minha Mamãe escolheu o nome certo para mim! Assim, ninguém duvida de quem eu sou na essência... MISSA (com acento grave no "a") é o meu nome japonês. Simboliza o meu lado masculino (“yang”) porque foi o meu Papai quem me deu. Diferente da minha Mamãe, ele estudou a simbologia do meu nome. Quando eu era bem pequena, disse a ele que não gostava muito desse nome. Eu disse triste e chorando muito que eu era alvo de chacotas na escola, pois era chamada de: “Karenn foi pra missa e depois fugiu pro mato...”. Então, ele me disse rindo e sorrindo que MISSA quer dizer “linda” e só uma criança especial poderia ter este nome raro. A partir deste dia, comecei a gostar mais do meu nome e do meu Papai... Ele também estudou a numerologia dos "kanjis" (ideogramas japoneses) que integram o meu nome MISSA, com o propósito de me trazer equilíbrio, integração e sorte nesta vida. Ao escolher os "kanjis" do meu nome, ele quis que eu fosse bela por inteiro, dentro e fora. Corajosa, forte e presente. Atraída pelos desafios e em 6 busca do caminho espiritual. Nem preciso dizer que o meu Papai também acertou! Vem como complemento exato e perfeito ao meu primeiro nome! FUJIMATSU é a minha identidade de ligação com a natureza trazida de geração a geração pelos meus ancestrais samurais. FUJI é o famoso e milenar “Monte Fuji”, um dos símbolos mais conhecidos do Japão pelo mundo. MATSU é o pinheiro, a árvore de imensa espiritualidade. A montanha e o pinheiro no meu nome de família conectam-me aos quatro elementos da natureza: a água, o ar, o fogo e a terra. Isso mesmo! A montanha é terra em grandes proporções com muito magma seu interior, ou seja, o fogo que alimenta e aquece para crescer em direção ao céu, junto com as estrelas, a lua e o sol. E, em plena altitude e sensação de vôo no ar, acumula neve em seu cume, água em macios flocos trazendo em seu branco a beleza de ser vista. Na mesma vibração da montanha, o pinheiro também está conectado aos quatro elementos. Muito bem enraizado na terra, em contato com o seu fogo interno, nasce a sua força de Vida para crescer bem frondoso. E a seiva, com toda a fluidez da água, alimenta o todo do pinheiro circulando da raiz, pelo tronco, pelos galhos até as folhas e as flores, que dançam no ar entrelaçadas expandindo a sua beleza de ser e em busca da revelação dos grandes mistérios que habitam o Universo, da mesma maneira como acontece com a mágica montanha. Eu sou assim, desde muitas gerações. Certa vez, a minha bioamiga TEREZA BONAT sonhou que o nosso bioamigo ALCEU VENÂNCIO JR. disse a ela que eu estava indo morar nas montanhas e florestas. Intuitivamente, depois de vivenciarmos juntas a vivência de cantar o nome, ela acertou a simbologia do meu sobrenome e o verdadeiro desejo da minha essência: habitar em mim mesma e em total conexão com a natureza, em unidade interconectada ao todo... “Não existem acasos. Você está aqui com o propósito pelo qual optou antes de entrar para o mundo das partículas e da forma.” (WAYNER W. DYER, “A força invisível”). Então, o meu nome completo KARENN MISSA FUJIMATSU justifica a minha identidade. E, assim, desde do momento que eu fui concebida para esta Vida, na minha própria essência de “ser”, sou muito alegre, amorosa, comunicativa, cooperativa, criativa, curiosa, forte, justa, perceptiva, sensível e sonhadora. E, de forma sincrônica, o meu mapa astral – Sol em Capricórnio, ascendente em Libra, Lua em Áries, Vênus em Sagitário, Saturno em Leão, a cauda do dragão em Escorpião e muitos outros detalhes que eu não me recordo –, diz tudo ao meu respeito em sintonia com o meu nome completo. As fortes influências do elemento fogo no meu nome completo e no meu mapa astral ressonam na minha maneira de ser, vibrando na mesma freqüência do meu kin no calendário maia, baseado nas trezes luas e conhecido como “o sincronário da paz”. No calendário da lua, sou “Kin 240, Sol Rítmico Amarelo. Organizo com o fim de 7 iluminar. Equilibrando a vida. Selo a matriz do fogo universal. Com o tom rítmico da igualdade. Eu sou guiado pelo meu próprio poder duplicado. Sinto como o fogo universal me abraça e fico em paz e harmonizado.” Contudo, nem tudo na minha história pessoal são flores. Confesso isso porque, com o decorrer da minha estadia nesta dimensão de partículas e formas, parte da minha essência passou a ficar sufocada. Devido às questões culturais de priorizar o intelecto, cresci desintegrada com o sentir e com o meu “ser” verdadeiro. Assim, carente de amor e afeto, eu me tornei integrante do moderno exército de adultos ansiosos, deprimidos, encouraçados, estressados e mecanizados. Aos 25 anos, em plena “crise de um quarto de vida”, fazendo psicoterapia verbal, tomei consciência de que o meu coração e a minha alma estavam adoecendo. Estava me sentindo muito infeliz com todas as minhas relações: comigo mesma, com a minha família, com os meus namoros, com o meu profissional, com os meus estudos e, enfim, com a “Vida” toda que levava... E, também, na mesma época, o meu corpo deu sinais de enrijecimento. Por causa da tensão corporal, o meu pescoço e a minha coluna cervical “travaram” e comecei a ter fortes dores de cabeça e nas costas. Descobri, então, uma escoliose na minha coluna vertebral. Depois de muita fisioterapia e reeducação postural global (RPG), as dores amenizaram... Entretanto, dissociada e impotente para movimentar o que a minha consciência e o meu corpo sinalizaram, cheguei ao “fundo do poço” no alcoolismo. Num processo de auto-destruição, quase beirando à loucura, pensei e até tentei acabar com a minha própria e valiosa Vida. “Verdade significa experiência. (...) A verdade desperta. E o homem precisa despertar, não precisa de tranqüilizantes que o coloquem num sono profundo. Mas por séculos o homem tem se viciado em álcool, em outras substâncias tóxicas, em drogas psicodélicas. (...) Todas essas substâncias tóxicas (...), ou seja lá o que mais, são meras tentativas de evitar a verdade. E evitar a verdade é continuar na amargura. (...) Podemos ter uma vida absolutamente feliz, mais isso só será possível se abandonarmos as mentiras e buscarmos a verdade. E o primeiro requisito para a busca da verdade é não ter idéias preconcebidas. Siga na absoluta ignorância, sem saber de nada.” (OSHO, “Meditações para noite”). Recentemente, descobri que eu estava repetindo um padrão familiar e, culturalmente, muito comum em pessoas de origem nipônica. O meu papai numa conversa bem franca comigo confessou que, na mesma idade, ele também estava 8 desiludido com tudo e também quase cometeu a mesma besteira. “Gracias a la Vida...”, como canta MERCEDES SOSA! Nada de trágico aconteceu conosco! O sopro de Vida que habita dentro de nós é muito mais forte em dizer “sim” à Vida! Então, nesse momento de profunda angústia e escuridão dentro de mim mesma, surgiu a grande luminosidade no final do túnel sombrio e o grande portão se abriu: a Biodanza, trazida até mim pela sincronicidade!!! Num lindo sábado de inverno ensolarado – até hoje ainda me lembro, era 03 de agosto de 2002 –, depois de muito relutar para ficar dormindo apática na minha cama, trancafiada no meu quarto, a minha tia HIROKO SATO – moramos juntas há mais oito anos e temos um forte laço de amizade e cumplicidade – e a nossa bioamiga SÔNIA MARIA MIOTTO me levaram praticamente “guinchada” e “na marra” ao almoço de aniversário da querida MARIA ERNESTINA ALZAMORA, bioamiga da minha tia dos tempos de estudante e que me conhece desde pequenina. Eu me lembro como se fosse hoje: logo depois que cheguei ao apartamento da MARIA ERNESTINA ALZAMORA, eu me apaixonei pelos seus convidados. Fiquei atraída e encantada pela alegria de viver no brilho intenso dos olhares e nas faces sorridentes de cada um. Comunicativa da maneira que sou, sem timidez, cheguei-lhes perguntando: “Qual é o segredo de tanta alegria e jovialidade?!” Todos me responderam com grande entusiasmo: “Biodanza!!!”. Todos os convidados, menos nós três, faziam parte do biogrupo regular de Biodanza do ANTONIO PÚPERI e MARCO ANTONIO LAFFITTE. Como o biogrupo deles era “fechado”, naquela época, eu não podia me integrar a eles. Porém, de forma sincrônica, a nossa bioamiga SÔNIA MARIA MIOTTO também estava fazendo Biodanza, há alguns meses, e me convidou para a aula aberta do biogrupo do ALCEU VENÂNCIO JR. e da GIOVANA HARTKOPF, logo na primeira segunda-feira seguinte ao aniversário, pois, naquele tempo, era ainda “aberto” para iniciantes. Tudo foi se encaixando direitinho... Quanta sincronicidade! Na data da aula aberta, era uma noite tempestuosa com muitos raios e trovões. Mesmo assim, a minha curiosidade em descobrir o que era a tão falada Biodanza foi bem mais forte. A curiosidade era tanta que fez me movimentar e sair de casa. A brava tempestade, para mim, é bem simbólica porque era exatamente a fase momentânea que eu estava passando. E, quando resolvi enfrentá-la e ir à aula aberta de Biodanza, fui bem acolhida na minha chegada ao biogrupo pelo abraço confortante da GIOVANA HARTKOPF. 9 A empatia pela GIOVANA HARTKOPF surgiu, desde o primeiro momento, e recebi o delicioso abraço como se fosse o valioso presente pela coragem de enfrentar o bravo temporal, que acabou parando, sincronicamente, quando a aula começou, uma forma da Vida me dizer que estava chegando ao fim a fase difícil e sombria. É importante compartilhar que foi decisiva a recepção afetiva e calorosa dos meus facilitadores ALCEU VENÂNCIO JR. e GIOVANA HARTKOPF – hoje são meus amados e grandes bioamigos –, para eu querer permanecer no biogrupo formando vínculos com os integrantes, pelos quais senti empatia, logo à primeira vista, e hoje sinto grande amizade, infinito amor e eterna gratidão por cada um que eu encontrei pelo meu caminho. Durante a minha primeira aula, de movimento em movimento, em cada vivência, senti instantaneamente a minha intuição me dizendo que a Biodanza era o que eu estava procurando (“a minha praia”) e a possibilidade de vivenciar “A Carícia Essencial”, de ROBERTO SHINYASHIKI, livro que tinha adorado ler e, depois, soube que o autor é facilitador de Biodanza. Na roda final, eu me emocionei na profundidade das minhas lágrimas, que rolavam de meus olhos, e verbalizei a minha felicidade pela descoberta do “meu sentir feliz de verdade”. Nesse momento histórico da minha Vida, fica bem claro que a minha cauda do dragão em Escorpião apresenta como o meu desafio de Vida: vivenciar de forma mais plena e profunda as qualidades da água em toda sua entrega e fluidez. Assim, ao superar a tempestade, eu me conectei com o verdadeiro sentir e comecei a me movimentar, passo a passo, em busca de atitudes amorosas e prazerosas de Vida, crescimento em outras dimensões, energia vital, expressão dos meus sentimentos e dos meus potenciais genéticos, feminilidade, integração da minha identidade, luminosidade interior, maior contato com a natureza, mudanças na visão de Vida, plenitude de motivações e sentidos à Vida, sensualidade e transformações significativas na minha própria Vida. Nessa evolução, desde o início da minha caminhada como biodançante, eu percebo as sincronicidades entre as vivências de Biodanza com a minha Vida, muito bem interligadas e interrelacionadas como se fossem caleidoscópios, folhas cheias de nervuras, flores em pétalas, mandalas, teias de aranha ou como tantas outras belezas naturais que se criam e existem neste mundo esperando para serem observadas. “Hoje mais e mais estamos convencidos de que nada pode ser reduzido a uma única causa (monocausalidade) ou a um único fator. Pois nada é linear e simples. Tudo é complexo e vem urdido de inter-retrorelações e de redes de inclusões. Por isso 10 precisamos articular aquelas várias pilastras. Elas sustentam uma ponte que poderá levar-nos a soluções mais integradoras. Pois todas elas trazem alguma luz e comunicam alguma verdade. Sabedoria é ver cada porção dentro de um todo articulado qual bela figura de mosaico composta de milhares de pastilhas e deslumbrante bordado feito de mil fios coloridos.” (LEONARDO BOFF, “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”). Desde então, há cinco anos, a Biodanza é e está presente na minha Vida. Começou como uma paixão, mas, depois de dois anos, transformou-se em amor pleno e verdadeiro, no momento que decidi fazer o curso de formação de facilitador de Biodanza, em razão do convite da minha grande e querida bioamiga MARGARETE PEREIRA BOSA, como processo pessoal de aprofundamento intensivo e transformador de todas as minhas relações, principalmente, da minha família. Marcada a minha entrevista para o curso de formação com a NÉLIDA CATALINA PÉREZ, a nossa mui amada Diretora da Escola de Biodanza de Curitiba – Sistema Rolando Toro, eu acabei me atrasando por causa do forte temporal que resolveu despencar repentinamente. De novo, a tempestade com muitos raios e trovões, plena de simbologia, trazendo-me a excelente notícia de grandes transformações! Penso que, mais simbólico ainda, é ter esquecido o guarda-chuva na sala da entrevista e ter ido embora tomando chuva de tanta felicidade! Segundo o meu bioamigo ALCEU VENÂNCIO JR., com relação a esta passagem da minha Vida: “Desta vez, talvez você estivesse preparada para encarar as tempestades da vida de outra forma, abrindo-se e dançando com as emoções, como propõe a Biodanza... “ Na rápida entrevista, expressei com toda minha clareza o meu desejo de curar e de transformar as relações, que durante a minha formação tornou-se realidade. Houve saltos quânticos em minha Vida. Eu estou e sou muito feliz! Como reflexo da minha felicidade, todas as minhas relações são ecológicas e nutritivas! A minha família está e é também feliz! Todos do nosso círculo de convivência, em ressonância e de forma sutil, estão se tornando mais felizes! “O cuidado como modo-de-ser perpassa toda existência humana e possui ressonâncias em diversas atitudes importantes. Através dele as dimensões de céu (transcendência) e as dimensões de terra (imanência) buscam seu equilíbrio e coexistência. Realiza-se também no reino dos seres vivos, pois toda vida precisa de cuidado, caso contrário adoece e morre. (...) (...) essas ressonâncias, entre outras, são eco do cuidado essencial. Trata-se de vozes diferentes cantando a mesma cantilena. É o amor, a justa medida, a ternura, a carícia, a cordialidade, a convivialidade e a compaixão que garantem a humanidade dos seres humanos. Através desses modos-de-ser, os humanos continuamente realizam sua autopoiese, vale dizer, sua autoconstrução histórica. 11 Simultaneamente constroem a Terra e preservam as tribos da Terra com suas culturas, seus valores, seus sonhos e suas tradições espirituais.” (LEONARDO BOFF, “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”). O grande salto quântico na minha Vida começou a acontecer, a partir de então... As vivências de Biodanza se aprofundaram e, por conseqüência, os “insights” também se tornaram mais consistentes, freqüentes e significativos... As grandes sacadas vinham, logo após as vivências; e, como num “click” ou “passe de mágica”, eu conseguia relacioná-las com a minha Vida... Posso dizer que a vivência mais transformadora para mim, desde que eu comecei a fazer Biodanza, é “o caminhar pela Vida”. Foi o meu primeiro desafio de Projeto Minotauro, dado pela Diretora NÉLIDA CATALINA PÉREZ. A partir desta vivência, tomei consciência do “meu caminhar pela Vida”. É uma simples vivência com grande poder transformador. É um movimento humano simples com grandiosa significância. Acredito que é uma das vivências mais importantes da Biodanza. Passado um mês, na maratona de “Biodanza: Ars Magna”, o didata ORLANDO ROCHA percebeu a forma como eu caminhava, de um jeito meio bailarina, na ponta dos pés; e me mostrou com paciência que os calcanhares tocam por primeiro o chão e, depois, as plantas e os dedos dos pés, em sincronia com os braços, dando maior confiança e estabilidade na caminhada. Dessa maneira, aos poucos, eu “aterrei” e comecei a sentir mais a estabilidade e o ritmo visceral da terra. De bailarina e sonhadora, passei a ser guerreira e curandeira de mim mesma... A partir da força da terra, ao pisá-la, descobri a força que habita em mim mesma... Ao mesmo tempo, percebi que a minha forma de caminhar no dia-a-dia mudou... E também muita coisa mudou, como reflexo desta pequena e sutil mudança de padrão! Comecei a sentir maior confiança em mim mesma e no fluxo da Vida. As paranóias, os medos e as neuroses foram se dissolvendo... Na verdade, há muita entrega e presença nesta vivência, quando se abre o rosto com olhares e sorrisos, soltando os braços, o pescoço e os quadris em movimentos segmentares. Um misto de movimentos sinuosos de entrega da serpente à terra com a força e a presença da tigresa. O verdadeiro equilíbrio entre o “yin” (feminino) e o “yang” (masculino). Esta vivência básica de Biodanza trabalhou em mim, como unidade, de forma bem “amarrada” todas as linhas de vivência e várias categorias de movimentos: a) a agilidade (a capacidade de direcionar o movimento e de mudar rapidamente sem perder a coordenação); b) o controle voluntário (“o corpo como unidade”); c) a coordenação (a sintonia e a sincronização dos movimentos como ocorre no Universo e na dança cósmica); d) o equilíbrio (a paz interior); e) a eutonia (a comunicação e a comunhão com o outro); f) a eurritmia (a integração); g) a 12 expressividade (a tradução corporal do mundo interior com intencionalidade e intensidade); h) a fluidez no caminhar (os movimentos contínuos e o contínuo fluxo de energia ajudam a manter o equilíbrio); i) a leveza (a plenitude); j) a potência (“ímpeto vital”, ou seja, “o impulso para realizar propósitos” ); l) a resistência (a auto-regulação); m) o ritmo (cada passo é sentir os calcanhares, as plantas e os dedos dos pés se conectarem com a Terra, sentir pertencente e vinculado ao Universo e sentir a batida do coração em sincronia e sintonia com o Universo); e n) o sinergismo (a vontade de agir, de avançar cada vez mais e de seguir no movimento da Vida). E, diante de tudo isso, aconteceu a minha transformação... Assim, ao perceber de forma evidente o grande poder curativo e transformador da Biodanza em mim mesma e na minha própria história de Vida, como prova real da proposta de ROLANDO TORO ARANEDA, eu me conectei com os propósitos de ser facilitadora de Biodanza para expandir esse poderoso método vivencial aos quatro cantos do Planeta Terra e torná-lo biocêntrico, como proposta de Vida. “Aja como se o que você quer que se manifeste na vida já fosse uma realidade.” (WAYNE W. DYER, “ A força invisível”). Por isso, de forma amorosa e sutil, passei a transmitir a essência biocêntrica no meu quotidiano às pessoas com quem eu convivo. Dessa forma, vieram até mim muitos simbolismos noticiando que eu estava seguindo o rumo certo... Desde que eu comecei a minha formação no curso de Direito, tenho a plena consciência da minha forte ligação com a justiça. Pensava que a minha vocação era ser magistrada. Tanto que, depois de formada, estudei cinco anos para prestar concurso para essa carreira, achando que esse era o único caminho para eu cumprir a minha missão de Vida. Ainda bem que ampliei o foco da minha lente fotográfica! Hoje percebo que a justiça é uma virtude praticada no dia-a-dia, independentemente de ser magistrado ou não. Somos justos, quando sentimos a voz que habita dentro do nosso coração dizendo: “Seja feliz! Vá em busca do caminho da felicidade!” E é isso aí! A minha missão de Vida de justiça está ligada à cura e à educação biocêntrica. É indicar às pessoas o caminho da cura e da transformação, a partir da própria força interior. É ensiná-las, de forma sutil, a serem justas consigo mesmas nas próprias escolhas de Vida; a se relacionarem melhor com os outros e com o mundo; e a decidirem por si mesmas a buscarem a própria felicidade. 13 Dessa forma, acredito muito que as pessoas se atariam menos em nós e os desatariam sozinhos dos novelos da Vida, sem complicar e sem a necessidade de levar os casos para o juiz ou outra terceira pessoa para decidir por eles. "A natureza vista como um todo não impõe prescrições. Aponta para tendências e regularidades que podem ir em várias direções. Cabe ao ser humano desenvolver uma sensibilidade tal que lhe permita captar essas tendências e tomar suas decisões. A natureza não o dispensa de decidir e de exercer a sua liberdade. Só então ele se mostra um ser ético.” (LEONARDO BOFF, “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”). Posso dizer tudo isso sobre justiça do fundo do meu coração, como experiência própria de Vida. A melhor justiça aplicada em minha própria Vida foi no momento que eu incentivei os meus pais a serem felizes. Em razão de todas as circunstâncias anti-vida, nocivas e tóxicas que eles viviam, a convivência entre eles estava ficando cada dia mais insuportável e eles estavam muitos doentes e infelizes. Com toda certeza, é a minha melhor sentença em toda a minha Vida. Apesar da dor de vê-los se separando, eu me senti aliviada, quando eu os libertei dizendo: “Sejam felizes! É isso que eu quero do fundo do meu coração! Mesmo separados, vocês continuam sendo os meus pais...” Depois de lhes dizer o que o meu coração estava apertando há muitos anos de Vida, abracei-os com o meu abraço mais forte, intenso, profundo e verdadeiro, bem no estilo do abraço da Biodanza... Na harmonia e na paz do diálogo biocêntrico, cada um tomou o seu rumo e, conforme o meu desejo, eles estão e são mais felizes! Eu estou e sou mais feliz por eles estarem e serem mais felizes! E eles me vendo assim feliz, são e estão mais felizes! É a ressonância da felicidade! “(...) Não basta o saber racional, nem a vontade obediente de identificar regularidades, dispensando a criatividade humana e o exercício da liberdade, próprias do ser humano. Importa desenvolver uma atitude atenta de escuta, um sentimento profundo de identificação com a natureza, com suas mudanças e estabilidades. O ser humano precisa sentir-se natureza. Quanto mais mergulha nela, mais sente quando deve mudar e quando deve conservar em sua vida e em suas relações.” (LEONARDO BOFF, “Saber cuidar: ética do humano – compaixão pela terra”). Também, por meio da Biodanza e das relações de amizades luminosas, nutritivas e sinceras, outros portões de cura se abriram: o contato com as Danças Circulares, a Homeopatia, a Terapia de Vidas Passadas, o Reiki, o Xamanismo, o Universo como um todo... E nos movimentos de ampliação das percepções e de expansão 14 da consciência, mais portões ainda continuam se abrindo com luminosidade para a minha integração... Às vezes, fico imaginando, se eu não tivesse ido ao aniversário da MARIA ERNESTINA ALZAMORA... A Vida, com certeza, abriria para mim novo portão para eu adentrar e conhecer a Biodanza... O meu encontro com a Biodanza, de qualquer forma, já estava “escrito nas estrelas”!!! Por isso, posso até dizer que o meu próprio nome completo atraiu a Biodanza para a minha Vida!!! E, agora, então, dá para entender melhor o porquê da introdução com a simbologia detalhada do meu nome!!! O encontro inevitável movido pela sincronicidade simplesmente aconteceu!!! "Voltar a uma inocência alerta não exige tanto esforço, como o de mover um monte de tijolos de um lugar para outro, mas, sim, que fiquemos parados o tempo suficiente para que o espírito nos encontre. Diz se que tudo que procuramos também está a nossa procura; que, se ficarmos bem quietos, o que procuramos nos encontrará. Ele está esperando por nós há muito tempo. Depois que ele aparecer, não devemos fugir. Descansemos. Vejamos o que acontece em seguida.” (CLARISSA PINKOLA ESTÉS, “Mulheres que correm com os lobos”). Diante do forte simbolismo dessa mensagem, percebo e sinto no meu coração, cada vez mais forte, com imensa amorosidade e gratidão, que a minha entrada triunfal na Biodanza, em 05 de agosto de 2002, no biogrupo regular do ALCEU VENÂNCIO JR. e da GIOVANA HARTKOPF, é uma obra do movimento sincronístico da Vida e do Universo!!! Nada é por acaso mesmo... Agora, depois de muitas vivências, no final do curso de formação como facilitadora de Biodanza, estou compartilhando, sem nenhuma vergonha, o resumo da ópera da minha Vida. Apesar de algumas pedras encontradas pelo caminho, eu também tenho orgulho delas, porque foram elas que contribuíram para mim com lindas lições para fortalecer a minha força interior e o meu ímpeto de Vida. Assim, revelando ao mundo a minha auto-biografia, concretizo o meu sonho de infância de ser escritora... Confesso que o meu entusiasmo pelo tema “Biodanza: o caminho para a atração e a percepção dos movimentos da sincronicidade na Dança da Vida” é fruto das minhas vivências de grande intensidade e profundidade na Biodanza, que despertaram o meu “olhar” interior e exterior para a cura e a transformação, com a simplicidade de eu me permitir e me entregar com fluidez à sabedoria organizadora do Universo. 15 “E depois de termos construído um altar para a Luz invisível, poderemos sobre elas colocar as pequenas luzes para as quais os nossos olhos foram feitos.” (T. S. ELIOT). Dessa maneira, percebo e vivencio com tamanha clareza a presença diária e marcante das sincronicidades; e a beleza na ordem das conexões em tudo e em todos que envolvem a Teia da Vida, com a visão expansiva da unidade. Por essa razão, desde os primeiros estudos e pesquisas, ao relacionar as minhas vivências pessoais dentro e fora da Biodanza, o processo da minha biomonografia está sendo para mim a prazerosa vivência de descobertas multidimensionais. “Neste universo pleno de propósito não existe nada como sorte ou acaso. Além de todas as coisas estarem conectadas a tudo o que existe, ninguém está excluído da Origem universal, que se chama intenção.” (WAYNE W. DYER, “A força invisível). II. O biopropósito da biomonografia “Ser criativo significa confiar em seu próprio propósito e adotar uma atitude de intenção resoluta em seus pensamentos e em suas atividades todos os dias.” (WAYNE W. DYER, “A força invisível”). Dentro da intenção da própria Biodanza de valorizar o potencial criativo e o conteúdo teórico, a biomonografia tem a impressão frente e verso em papel reciclado seguindo a onda biocêntrica e ecológica e a redação mais livre e solta, sem se enquadrar aos padrões e às regras ditadas pela ABNT. Da mesma maneira que eu honro o meu nome completo como se fosse um mantra de poder, eu também honro o nome completo de todos os criadores citados na biomonografia. E, por isso, não estranhem! Pode soar repetitivo, mas os criadores merecem ser honrados pelo talento ao serem chamados pelo nome completo. Ainda, mesmo que desconheça quem seja o criador da ilustração da capa, quero também honrá-lo muito... “O talento é uma característica da força criativa que permite que toda criação material ganhe forma. É uma expressão do divino.” (WAYNE W. DYER, “A força invisível”). Por questões didáticas, abordaremos com profundidade a visão da teoria da sincronicidade desenvolvida por CARL GUSTAV JUNG, inovadora para sua época, amarrando-a a outras desenvolvidas também por ele: o self (o si-mesmo), os arquétipos e o inconsciente coletivo. 16 Nessa abordagem, apesar de aparentar falta de criatividade, transcreveremos alguns de seus escritos, a fim de conservar e compreender a essência da genialidade junguiana na sua pureza original. Ainda, destacaremos autores mais contemporâneos a respeito desse princípio psíquico-cosmológico desenvolvido pelo psicólogo suíço e relacionar com temas atuais. Depois disso, demonstraremos a importância e a relação das teorias desenvolvidas por CARL GUSTAV JUNG e, em especial, a da sincronicidade, com a Biodanza, sistema vivencial desenvolvido por ROLANDO TORO ARANEDA. Assim, num encadeamento teórico, observaremos a Biodanza, como instrumento e método de atração e percepção dos movimentos sincronísticos na Dança da Vida, a partir da expressão dos potenciais genéticos (vitalidade, sexualidade, criatividade, afetividade e transcendência) e a integração expressiva da identidade. Esse enfoque importa, como a chave-mestre, para o processo evolutivo e transformativo de cada um e em todas as relações envolvidas, inclusive se considerar a minha caminhada histórica, como modelo de referência. Observo a sincronicidade em ação e em movimento, a partir da minha própria história de Vida. Vivenciamos histórias plenas de simbologias no nosso diaa-dia. No processo de integração da identidade, quando olhamos as simbologias na sua plenitude, como um todo, único e inseparável, desatamos os nossos nós internos e externos. E, assim, dançamos a Dança da Vida, com mais coragem, fluidez e prazer em viver. Por isso, logo no início da minha formação como facilitadora em Biodanza, surgiu o imenso biopropósito de escrever esta biomonografia. III. Sincronicidade: a origem e a terminologia CARL GUSTAV JUNG, cientista, psicólogo e metafísico suíço, desenvolveu a teoria da sincronicidade, inspirado na teoria da relatividade de ALBERT EINSTEIN. De acordo com uma carta de CARL GUSTAV JUNG a CARL SEELIG, escritor e jornalista suíço, que escreveu uma biografia sobre ALBERT EINSTEIN: “Foi Einstein quem primeiro me levou a pensar sobre uma possível relatividade tanto do tempo quanto do espaço, a sua condicionalidade psíquica. Mais de trinta anos depois, esse estímulo propiciou o meu relacionamento com o físico Professor W. Pauli, e a elaboração da minha tese sobre sincronicidade psíquica.” 1 1 . in: MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 179. 17 CARL GUSTAV JUNG realizou vários estudos e pesquisas, dentre eles um experimento com a astrologia como método empírico, a fim de comparar, demonstrar e oferecer uma visão mais global de cada indivíduo e as conexões acausais; e, ainda, de maneira genial, relacionou a sincronicidade com outras teorias de sua autoria: o self (o si-mesmo2), os arquétipos3 e o inconsciente coletivo4. Ele próprio explica na sua obra “Sincronicidade: um princípio de conexões acausais” (2005) a gênese da terminologia sincronicidade: “(...) Escolhi este termo, porque a aparição simultânea de dois acontecimentos, ligados pela significação, mas sem ligação causal, me pareceu um critério decisivo. Emprego, pois, aqui o conceito geral de sincronicidade, no sentido especial de coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo, em contraste com “sincronismo” cujo significado é apenas o de ocorrência simultânea de dois fenômenos. A sincronicidade, portanto, significa em primeiro lugar, a simultaneidade de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos que aparecem como paralelos significativos de um estado subjetivo momentâneo e, em certas circunstâncias, também vice-versa. (...)” 5 “(...) Em vez de simultaneidade poderíamos usar também o conceito de coincidência significativa de dois ou mais acontecimentos, em que se trata de algo 6 mais do que uma probabilidade de acasos. (...)” . CHARLENE BELITZ e MEG LUNDSTROM, em “O poder do fluxo: formas práticas de transformar sua vida com coincidências significativas” (2000), afirmaram que CARL GUSTAV JUNG definiu: “Sincronicidade é a conjunção de eventos internos e externos de uma forma que não pode ser explicada por causa e efeito e que é significativa para 7 o observador.” . IV. Sincronicidade: as características 2 “O centro, fonte de todas as imagens arquetípicas e de todas as tendências psíquicas inatas para a aquisição de estrutura, ordem e integração”. (MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 206). 3 “Um padrão potencial inato de imaginação, pensamento ou comportamento que pode ser encontrado entre seres humanos em todos os tempos e lugares.” (MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 205) 4 “O inconsciente coletivo nutre-se da memória da espécie. Ele examina os arquétipos que são comuns a toda a humanidade. Seu objetivo é a revelação do Self por meio do processo de individuação.” (ROLANDO TORO, “Biodanza”, 2005, p. 56). 5 p. 19. 6 p. 84. 7 p. 27. 18 ROBERT H. HOPCKE, quando analisou várias histórias sincronísticas em “Sincronicidade ou por que nada é por acaso” (1999), concluiu pela existência de quatro principais características na sincronicidade, acrescentando mais uma às três características delineadas pelo estudioso CARL GUSTAV JUNG: “Mesmo que a sincronicidade seja uma idéia que existe desde a origem da cultura humana, a contribuição de Jung foi sua observação de que a confluência especial de acontecimentos, para a qual ele empregou o termo “sincronicidade”, quase sempre tem três características distintas, às quais minhas próprias experiências e pesquisas me levaram a acrescentar mais uma. (...) Primeiro, estes acontecimentos são ligados pela casualidade, em vez de ligados através de uma corrente de causa e efeito que um indivíduo pode distinguir como intencional ou deliberada de sua parte. Segundo, esses acontecimentos são sempre acompanhados de uma profunda experiência emocional, geralmente na hora do acontecimento em si, porém nem sempre. Terceiro, o conteúdo de uma experiência sincronística, o que o acontecimento é realmente, é sempre de natureza simbólica, e quase sempre percebi, em relação ao quarto aspecto especificamente, que essas coincidências ocorrem em momentos de importantes transições em nossas vidas. Um evento sincronístico geralmente se torna um momento de virada na 8 história de nossas vidas.” . Importante destacar que as características presentes na definição de sincronicidade proposta por CARL GUSTAV JUNG – causalidade, profunda experiência emocional, natureza simbólica – mais a de ROBERT H. HOPCKE – momento de importante transição na Vida –, demonstram, sem sombra de dúvida, consoante o meu relato vivencial contado na introdução desta biomonografia, que o meu encontro com a Biodanza é meu exemplo histórico e verídico de movimento de plena sincronicidade na Dança da Vida, o que me motivou a amar e me apaixonar perdidamente pelo tema sincronicidade, além da Biodanza. E, por isso, eu concluo com muito humor que é possível manter aceso em nossas Vidas mais de um amor ao mesmo tempo e em sincronicidade... V. Sincronicidade: as concepções psíquica e cosmológica CARL GUSTAV JUNG, nos seus estudos sobre sincronicidade, desenvolveu duas concepções: a estrita (psíquica) e a mais ampla (cósmica). Consoante consta no livro “JUNG: o mapa da alma” (1998), de MURRAY STEIN, a concepção estrita (visão psíquica), já mencionada nos dois tópicos anteriores, relaciona a psique e o mundo objetivo. 8 p. 33. 19 Nesse ponto de vista, define-se como “a ocorrência simultânea de um estado psíquico com um ou vários acontecimentos externos que se apresentam como paralelos significativos do estado subjetivo momentâneo” 9 ; e “a coincidência significativa entre um evento psíquico, como um sonho ou pensamento, e um evento no mundo não-psíquico” 10 . Acrescentou também que “Por “simultânea” entende ele que um determinado evento ocorreu no âmbito do mesmo quadro temporal, dentro de horas ou dias mas não necessariamente no mesmo momento. Há simplesmente a “coincidência no tempo” de dois acontecimentos, um psíquico e um físico. Do lado psíquico, pode ser uma imagem onírica, ou um pensamento, ou uma intuição.” 11 . A concepção mais ampla (visão na cosmologia 12 ) relaciona a sincronicidade com a “organização acausal” no mundo. Na mesma obra, MURRAY STEIN destacou: ““Nesta categoria se incluem todos os ‘atos de criação’, fatores a priori tais como, por exemplo, as propriedades dos números inteiros, as descontinuidades da física moderna, etc. Por conseqüência, teríamos de incluir no círculo de nosso conceito ampliado certos fenômenos constantes e experimentalmente reproduzíveis, o que não parece estar de acordo com a natureza dos fenômenos compreendidos no conceito de sincronicidade em sentido estrito.” Do ponto de vista do princípio geral da sincronicidade, a nossa experiência humana de organização acausal, através do fator psicóide e da transgressividade do arquétipo, constitui um caso especial de ordenamento muito mais amplo no universo. Com este quadro cosmológico, dou um retoque final no mapa da alma traçado por Jung. Suas explorações da psique e suas fronteiras levaram-no para territórios normalmente ocupados por cosmólogos, filósofos e teólogos. O seu mapa da alma deve, entretanto, ser colocado no contexto dessa perspectiva mais ampla, pois é esta que fornece o mais extenso alcance de sua penetrante e unificada visão. Nós, seres humanos, ensina ele, temos um papel especial a desempenhar no universo. A nossa consciência é capaz de refletir os cosmos e de introduzi-lo no espelho da consciência. Podemos chegar à conclusão de que vivemos num universo que pode ser melhor descrito usando quatro princípios: energia indestrutível, contínuo espaço-tempo, causalidade e sincronicidade. (...) A psique humana e a nossa psicologia pessoal participam da maneira mais profunda na ordem desse universo por intermédio do nível psicóide do 9 p. 187. p.194. 11 p. 187. 12 “”Estudo da evolução, da estrutura geral e da natureza do universo como um todo.” (RALPH ABRAHAM, TERENCE MCKENNA e RUPERT SHELDRAKE, “Caos, criatividade e o retorno ao sagrado”, 1992, p. 219). 10 20 inconsciente. Mediante o processo de psiquização, configurações de ordem no universo tornam-se acessíveis à consciência e podem, finalmente, ser entendidas e integradas. Cada pessoa pode testemunhar o Criador e as obras criativas desde dentro, por assim dizer, prestando atenção à imagem e à sincronicidade. Pois o arquétipo é não só o modelo da psique, mas também reflete a real estrutura básica do universo. “Como em cima, assim embaixo”, falaram os sábios antigos. “Como dentro, assim fora”, responde o moderno explorador da alma, Carl Gustav Jung.” 13 . Para compreensão dessas concepções, aprofundaremos mais ainda nas teorias de CARL GUSTAV JUNG. VI. Sincronicidade: a extensão do self (o si-mesmo) e a inter-relação com os arquétipos e o inconsciente coletivo CARL GUSTAV JUNG, como cientista metafísico, quando formulou a teoria da sincronicidade, uniu a matéria (o corpo) e o espírito (a alma); e o tempo e a eternidade. Assim, a sincronicidade é a extensão da teoria do self (o si-mesmo) à cosmologia, tendo em vista a conexão, a ordem e a unidade entre tudo o que existe. Nesse aspecto, MURRAY STEIN, quando apresentou de maneira simplificada as teorias junguianas na obra “JUNG: o mapa da alma” (1998), comentou que: “(...) Essa obra sobre sincronicidade acrescenta à teoria psicológica de Jung a noção de que existe um alto grau de continuidade entre a psique e o mundo, de tal modo que imagens psíquicas (as quais incluem também os núcleos de pensamentos científicos abstratos, como o de Kepler) podem revelar também verdades sobre a realidade no espelho refletor da consciência humana. A psique não é algo que começa e termina somente em seres humanos e em isolamento do cosmo. Há uma dimensão na qual a psique e o mundo interagem intimamente e se refletem reciprocamente. Esta é a tese de Jung. (...)” 14 . “(...) A teoria da sincronicidade ajusta-se à visão de Jung do si-mesmo como uma característica de radical transcendência sobre a consciência e a psique como um todo, e desafia as linhas de fronteira comumente traçadas para separar as faculdades de psicologia, física, biologia, filosofia e espiritualidade. Supõe-se tradicionalmente que a psicologia se limita ao que ocorre na mente humana; mas com a sua teoria do si-mesmo e da sincronicidade, a psicologia analítica de Jung desafiou essa segmentação arbitrária. Quando estudantes perguntaram certa vez a Jung onde termina o si-mesmo e quais são as suas fronteiras, sua resposta foi que não tem fim, 13 14 p. 194-195. p. 178. 21 é ilimitado. Para se entender o que ele quis dizer com esse comentário, tem que se levar em conta que ele estava considerando as implicações da sincronicidade para a teoria do si-mesmo. (...)” 15 . No sentido de compreendermos melhor a teoria da sincronicidade, vale a pena adentrar na do self (o si-mesmo). MURRAY STEIN na mesma obra clareou esta teoria, interligando ao mesmo tempo com a dos arquétipos. Em razão de sua clareza e até mesmo para que não se perca a verdadeira essência do pensamento junguiano, o texto merece ser transcrito, a seguir: “(...) Para Jung, o si-mesmo é transcendente, o que significa que não é definido pelo domínio psíquico nem está contido nele, mas situa-se, pelo contrário, além dele e, num importante sentido, define-o. É este ponto sobre a transcendência do si-mesmo que torna a teoria de Jung diferente da de outros teóricos do si-mesmo, como Kohut. Para Jung, o si-mesmo não se refere, paradoxalmente, a si mesmo. É mais do que a subjetividade da pessoa, e sua essência situa-se além do domínio subjetivo. O si-mesmo forma a base para o que no sujeito existe de comum com o mundo, com as estruturas do Ser. No si-mesmo, sujeito e objeto, o ego e o outro, juntam-se num campo comum de estrutura e energia. (...)” 16 . “(...) “O si-mesmo está completamente além dos limites da esfera pessoal e, quando se manifesta, se é que isso ocorre, é tão-somente sob a forma de um mitologema religioso; os seus símbolos oscilam entre o máximo e mínimo. (...) quem quiser realizar essa difícil proeza não só intelectualmente mas também como valor de sentimento, deverá defrontar-se, para o que der e vier, com o animus ou com a anima; a fim alcançar uma união superior, uma coniunctio oppositorum [unificação dos opostos]. Este é um pré-requisito indispensável para se chegar à integridade.” Neste ponto do texto, Jung introduz o termo “integridade”, que é equivalente a si-mesmo. Em termos práticos, a integridade resulta quando o simesmo é realizado na consciência. De fato, isso não é completamente realizável, uma vez que as polaridades e os opostos que residem no si-mesmo estão gerando cada vez mais material novo a integrar. Não obstante, exercitar e praticar a integridade numa base regular é o método próprio do si-mesmo, a versão de Jung de viver em Tao. “Embora a integridade não pareça, à primeira vista, mais do que uma noção abstrata (como a anima e o animus), trata-se, porém, de uma noção empírica, na medida em que é antecipada pela psique por símbolos espontâneos ou autônomos. São esses os símbolos da quaternidade ou das mandalas, que afloram não somente nos sonhos do homem moderno, que os ignora, como também aparecem amplamente difundidos em monumentos históricos de muitos povos e épocas. 15 16 p. 180. p. 138. 22 Os símbolos do si-mesmo determinam o enfoque de Ain. Tal como Jung os concebe, eles são ubíquos e autoctônicos (isto é, inatos e espontâneos), e são fornecidos à psique a partir do arquétipo per se, passando pela região psicóide arquetípica. O si-mesmo, uma entidade não-psicológica transcendente, atua sobre o sistema psíquico para produzir símbolos de integridade, freqüentemente como imagens de quaternidade ou mandalas (quadrados e círculos). “O seu significado como símbolos da unidade e da totalidade é corroborado no plano da história e também no plano da psicologia empírica. O que à primeira vista parece uma noção abstrata representa, na realidade, algo que existe e pode ser conhecido por experiência, que demonstra espontaneamente sua presença apriorística. A integridade constitui, portanto, um fator objetivo que se defronta com o sujeito independentemente dele.” (...) Jung passa então a descrever uma hierarquia de agências o interior da psique. Assim como a anima ou o animus ocupam “uma posição hierarquicamente superior à sombra, assim também a integridade reclama uma posição e um valor superiores ao da Sizígia [anima∕animus]”. No nível que se lhe segue de imediato está a sombra e, acima desta, anima∕animus – a Sizígia – representa uma autoridade e um poder superiores. Presidindo a todo o governo psíquico está o si-mesmo, a autoridade suprema e o mais alto valor: “unidade e totalidade situam-se no ponto supremo da escala de valores objetivos porque os seus símbolos já não podem ser distinguidos da imago Dei”. Sustenta Jung que cada um de nós traz dentro de si a imagem de Deus – o cunho o si-mesmo. Ostentamos a marca do arquétipo: typos significa um cunho impresso numa moeda, e arche significa a matriz ou espécime original. Assim, cada indivíduo humano é portador de uma impressão do arquétipo do si-mesmo. Este é inato e dado. Uma vez que cada um de nós está cunhado com a imago Dei por virtude de ser humano, também estamos em contato com a “unidade e totalidade que se situa no ponto supremo da escala de valores objetivos”. Sempre que necessário, esse conhecimento intuitivo pode acudir em nossa ajuda: “Mostra-nos a experiência que as mandalas individuais são símbolos de ordem, sendo essa a razão por que ocorrem nos pacientes sobretudo em épocas de desorientação ou reorientação psíquicas.” Quando as pessoas desenham espontaneamente ou sonham a respeito de mandalas, isso sugere ao terapeuta que existe uma crise psicológica na consciência. O aparecimento de símbolos do si-mesmo significa que a psique necessita ser unificada. Essa foi a experiência do próprio Jung. Durante o seu período de maior desorientação, ele começou a desenhar espontaneamente mandalas. O si-mesmo gera símbolos compensatórios de integração quando o sistema psíquico corre o perigo de fragmentar. Esse é o ponto que intervém o arquétipo do si-mesmo num esforço para unificá-lo. 23 O surgimento dos símbolos de unidade e dos movimentos de integração no sistema psíquico são geralmente marcas da ação do arquétipo do si-mesmo. A tarefa do si-mesmo parece ser a de manter o sistema psíquico unido e em equilíbrio. A sua meta é a unidade. Essa unidade não é estática mas dinâmica (...) . O sistema psíquico é unificado na medida em que se torna mais equilibrado, correlacionado e integrado. A influência do si-mesmo sobre a psique como um todo é refletida pela influência do ego sobre a consciência. À semelhança do si-mesmo, o ego também exerce uma função centralizadora, ordenadora e unificadora, e o seu objetivo é, tanto quanto possível, equilibrar e integrar funções, dada a existência dos complexos e das defesas. (...) ocupei-me do ego como o centro da consciência e o lócus da vontade. Possui a capacidade para dizer “eu” e “eu sou”, ou “eu penso”, ou “eu quero”. Num outro estágio, torna-se uma entidade psíquica consciente de si mesma e capaz de dizer não só “eu sou” mas “eu sei que eu sou”. Pode ser o caso, embora não possamos estar certos disso, de que o si-mesmo também sabe que é. Possui o arquétipo percepção de si mesmo? Sabe que é? Jung descobriu o que pensou ser uma espécie de consciência nos arquétipos. Quando imagens arquetípicas invadem o ego, por exemplo, e se apossam dele, têm uma voz, uma identidade, um ponto de vista, um conjunto de valores. Mas existirá a percepção de si mesmo dentro da própria unidade arquetípica? Um mito aponta fortemente para tal percepção. Quando Moisés se encontrou frente a frente com Deus na sarça ardente e perguntou “Quem és?”, a voz arquetípica respondeu: “Eu sou quem sou.” Seja o que for que isso signifique do ponto de vista teológico, parece demonstrar a existência de uma consciência que reflete sobre si mesma no arquétipo.” 17 . “É óbvio, pelos escritos de Jung, que unidade e totalidade eram os seus valores supremos, e que o si-mesmo formou o seu mito pessoal. Mas é um mito que ele procurou fundamentar em provas e em teoria. Mais corretamente, a teoria do simesmo – o conceito de que existe um centro transcendente que governa a psique do lado de fora dela própria e circunscreve a sua integridade – foi um meio que Jung usou para explicar fenômenos psicológicos básicos, como o surgimento espontâneo de círculos ou mandalas, o funcionamento auto-regulador da psique no que lê chamou “compensação”, o desenvolvimento progressivo da consciência ao longo da vida no que chamou de “individuação”, e a existência de numerosas polaridades evidentes na vida psicológica que formam estruturas coerentes e geram energia. Jung tem sido criticado por alguns teólogos conservadores por transformar o si-mesmo num conceito de Deus e depois cultuá-lo no santuário que ele próprio criou. Ele provavelmente contestaria tal acusação afirmando que, como cientista empírico, estava simplesmente observando fatos e tentando justificar a existência deles e suas relações mútuas. Para ele, o conceito de si-mesmo oferecia a melhor explicação que era possível oferecer para um dos mistérios centrais da psique – sua criatividade aparentemente milagrosa, sua dinâmica centralizadora e suas estruturas profundas de ordem e coesão. 17 p. 143-144. 24 O sistema psíquico como um todo consiste em muitas partes. Pensamentos e imagens arquetípicas situam-se num pólo do espectro, as representações de pulsões e instintos no outro extremo, e entre os dois encontra-se uma vasta quantidade de material pessoal, como memórias esquecidas e relembradas, e todos os complexos. O fator que ordena todo esse sistema e o mantém unido e coeso é um agente invisível chamado si-mesmo. Este é o que cria os equilíbrios entre os vários outros fatores e os ata numa unidade funcional. Em suma, o si-mesmo é o centro e cabe-lhe a tarefa de unificar as peças. Mas faz isso a uma distância considerável, como o sol influenciando as órbitas dos planetas. A sua essência situa-se além das fronteiras da psique. É psicóide e estende-se a regiões para além da experiência e do conhecimento humanos. Nesse sentido, Jung diria que 18 o si-mesmo é infinito. (...)” . Dessa maneira, conclui-se pela transcedentalidade do self (o simesmo), pois há a busca da integridade do self (o si-mesmo), como expressão e revelação do arquétipo, por meio do processo de individuação, em que o psíquico se desenvolve em direção ao conhecimento consciente de totalidade 19 . E, para que isso ocorra, o inconsciente20 é penetrado pela emoção. Nesse processo em que se deflagra forte estímulo emocional (subjetivo), as teorias do self (si-mesmo), do inconsciente coletivo, arquétipos e da sincronicidade se inter-relacionam. Aliás, nesse aspecto de conteúdo afetivo-emocional, CARL GUSTAV JUNG fundamentou com genialidade e sabedoria em “Sincronicidade: um princípio de conexões acausais” (2005) que: “Os arquétipos são fatores formais responsáveis pela organização dos processos psíquicos inconscientes: são os patterns of behaviour [padrões de comportamento]. Ao mesmo tempo, os arquétipos têm uma “carga específica”: desenvolvem efeitos numinosos que se expressam como afetos. O afeto produz um abaissement de niveau mental [baixa de nível mental] parcial, porque, justamente na mesma medida em que eleva um determinado conteúdo a um grau supranormal de luminosidade, retira também tal quantidade de energia de outros conteúdos possíveis da consciência, a ponto que estes se tornam obscuros e inconscientes. Em conseqüência da restrição da consciência provocada pelo afeto, verifica-se uma diminuição do sentido de orientação, correspondente à duração do efeito, que, por 18 p. 152. “O sentido emergente de complexidade e integridade psíquica que se desenvolve no transcurso de uma vida inteira.” (MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 206). 20 “A porção da psique situada fora do conhecimento consciente. Os conteúdos do inconsciente são constituídos por memórias recalcadas e por material, como pensamentos, imagens e emoções, que nunca oram conscientes. O inconsciente está dividido em inconsciente pessoal, o qual contém os complexos, e o inconsciente coletivo, que aloja as imagens arquetípicas e os grupos de instintos.” (MURRAY STEIN, “JUNG: o mapa da alma”, 1998, p. 205). 19 25 seu lado, proporciona ao inconsciente uma oportunidade favorável de penetrar sutilmente no espaço que foi deixado vazio. Verificamos, quase de maneira regular, que conteúdos inesperados ou comumente inibidos e inconscientes irrompem e encontram expressão no afeto. Tais conteúdos são, muitas vezes, de natureza inferior ou primitiva e, assim, revelam sua origem arquetípica. Como mostrarei mais adiante, certos fenômenos de simultaneidade ou de sincronicidade parecem estar ligados aos arquétipos em determinadas circunstâncias. Esta é a razão pela qual eu menciono os arquétipos aqui. (...) (...) O problema da sincronicidade me tem ocupado há muito tempo, sobretudo a partir de meados dos anos vinte, quando, ao investigar os fenômenos do inconsciente coletivo, deparava-me constantemente com conexões que eu não podia simplesmente explicar como sendo grupos ou “séries” de acasos. Tratava-se, antes, de “coincidências” de tal modo ligadas significativamente entre si, que seu concomitante “casual” representa um grau de improbabilidade que seria preciso exprimir mediante um número astronômico. Para exemplificar, citarei um caso extraído de minhas próprias observações: No momento crítico do tratamento de uma jovem paciente minha teve um sonho no qual recebia um escaravelho de ouro de presente. Enquanto ela me contava o sonho, eu estava sentado de costas para a janela fechada. De repente escutei um ruído por trás de mim, como se alguma coisa batesse de leve na janela. Voltei-me e vi um inseto alado se debatendo do lado de fora contra a vidraça da janela. Abri a janela e apanhei o inseto em pleno vôo. Era a analogia mais próxima de um escaravelho de ouro que é impossível encontrar em nossas latitudes, um escarabeídeo da espécie Cetonia aurata, o “besouro-rosa comum”. Contrariando seus próprios hábitos, ele se sentiu evidentemente compelido a entrar numa sala escura naquele dado momento. Devo dizer, desde logo, que nada de semelhante jamais me acontecera até então, nem me aconteceu depois, e o sonho de minha paciente permaneceu como um caso único em toda a minha experiência.” 21 . (...) Os casos de coincidências significativas, que devemos distinguir dos grupos casuais, parecem repousar sobre fundamentos arquetípicos. Pelo menos os casos de minha experiência – e são em grande número – apresentam esta característica. (...) Daí se conclui que o fator emocional desempenha um papel importante no experimento. A afetividade, porém, repousa grandemente nos instintos cujo aspecto formal é justamente o arquétipo.” 22 . “Em todos os estes casos e em outros semelhantes parece que há um conhecimento a priori, inexplicável causalmente e incognoscível na época em apreço. O fenômeno de sincronicidade é constituído, portanto, de dois fatores 1) Uma imagem inconsciente alcança a consciência de maneira direta (literalmente) 21 22 p. 15-16. p. 18. 26 ou indireta (simbolizada ou sugerida) sob a forma de sonho, associação ou premonição 2) Uma situação objetiva coincide com este conteúdo. Tanto uma coisa como a outra podem, por assim dizer, causar admiração. De que modo surgem a imagem inconsciente e a coincidência? Entendo muito bem que as pessoas prefiram duvidar da realidade de tais coisas. (...) No que se refere ao papel que os afetos desempenham no aparecimento de acontecimentos sincronísticos, eu gostaria de lembrar que isto não é uma idéia nova, mas já era conhecida de Avicena e de Alberto Magno. A respeito da magia escreve Alberto Magno: “Descobri uma exposição muito instrutiva (sobre a magia) no livro sexto dos Naturalia de Avicena, exposição segundo a qual habita na alma humana um certo poder (virtus) capaz de mudar a natureza das coisas e de subordinar a ela outras coisas, particularmente quando ela se acha arrebatada num grande excesso de amor ou de ódio (quando ipsa fertur in magnum amoris excessum aut odii aut alicuius talium). Portanto, quando a alma de uma pessoa cai num grande excesso de alguma paixão, pode-se provar experimentalmente que ele (o excesso) liga (magicamente) as coisas e as modifica no sentido em que ele quiser (fertur in grandem excessum alicuius passionis invenitur experimento manifesto quod ipse ligat re set alterat ad idem quod desiderat et diu non credidi illud) e eu não acreditei (!) nisto por muito tempo, mas depois que li livros sobre a nigromancia, ou outros do mesmo gênero sobre os signos (imaginum) e a magia, descobri que a emocionalidade (affectio) da alma humana constitui (realmente) a causa principal de todas as coisas, seja porque, em virtude de sua grande emoção modifica seu corpo e outras coisas no sentido em que quiser, seja porque as outras coisas inferiores estão sujeitas a ela, por causa de sua dignidade, seja ainda porque a hora adequada ou a situação astrológica ou uma outra força correm paralelas com este afeto que ultrapassa todos os limites, e (em conseqüência) acreditamos que aquilo que esta força opera é produzido também pela alma (cum tali affectione exterminata concurrat hora conveiens aut ordo coelestis aut alia virtus, quae quodvis faciet, illud reputavimus tunc animam acere)... Quem quiser conhecer o segredo de como fazer e desfazer estas coisas, deve saber que qualquer pessoa pode influenciar magicamente qualquer coisa, quando cai em um grande excesso... e deve fazer isto justamente na hora em que o excesso o acomete, e operar com aquelas coisas que a alma lhe prescreve. A alma se acha, com efeito, tão desejosa daquela coisa que ela gostaria de realizar, que escolhe espontaneamente a hora astrológica melhor e mais significativa que rege também as coisas que concordam melhor com o objeto de que se ocupa. Assim é a alma que deseja uma coisa mais intensamente, que a torna as coisas mais eficientes e mais semelhantes àquilo que surge... Semelhante a este é o modo de produção em tudo que a alma deseja intensamente. Isto é, tudo que a alma faz, com este fim em vista, tem a força propulsora e a eficácia para aquilo que a alma deseja”, etc. 27 Este texto nos mostra claramente que se considerava o acontecimento sincronístico (mágico) como dependente do afeto. Naturalmente, Alberto Magno, em conformidade com o espírito da época, explica isto postulando uma faculdade mágica para a alma, sem levar em linha de conta que o progresso psíquico é tão “organizado” quanto a imagem coincidente que antecipa o processo físico exterior. A imagem coincidente provém do inconsciente e por isto pertence àquelas cogitationes quae sunt a nobis independentes e que, na opinião de Arnold Geulincx, foram inspirados por Deus e não brotam de nosso próprio pensamento. A concepção de Goethe a respeito dos acontecimentos sincronísticos é também “mágica”. Eis o que ele diz nas conversações com Eckermann: “Todos nós temos certas forças elétricas e magnéticas dentro de nós e exercemos o poder de atração e repulsão, dependendo do contacto que tivermos com algo afim ou dessemelhante”. 23 . “Em face da influência niveladora do método estatístico sobre a determinação quantitativa de sincronicidade, devemos nos perguntar como Rhine conseguiu, apesar de tudo, obter resultados positivos. Eu ousaria afirmar que ele jamais alcançaria os resultados obtidos, se tivesse realizado suas experiências com um único sujeito, ou mesmo com uns poucos. Ele sempre precisou de renovado interesse, isto é, precisou de uma emoção com seu característico abaissement mental, que confere uma certa predominância ao inconsciente. Somente deste modo o espaço e o tempo podem ser relativizados até certo ponto, reduzindo-se, assim, ao mesmo tempo, também a possibilidade de um processo causal. O resultado é, então, uma espécie de creatio ex nihilo [criação a partir do nada], um ato de criação que não pode ser explicado casualmente. Os procedimentos mânticos devem essencialmente sua eficácia à mesma conexão com a emocionalidade: tocando em uma predisposição inconsciente do sujeito, eles estimulam o seu interesse, sua curiosidade, sua expectativa e seus temores e, conseqüentemente, suscitam uma predominância correspondente do inconsciente. As potências ativas (numinosas) do inconsciente são os arquétipos. Na grande maioria dos fenômenos espontâneos de sincronicidade que eu tive ocasião de observar e analisar percebia-se facilmente que havia uma ligação direta com um arquétipo. Este, em si, é um fator psicóide irrepreensível do inconsciente coletivo. Este último não pode ser localizado, porque, em princípio, ou se acha todo inteiro em cada indivíduo ou é o mesmo em toda parte. Nunca podemos dizer com certeza se o que parece acontecer no inconsciente coletivo de um indivíduo em particular não acontece também nos outros indivíduos ou organismos ou coisas ou situações. Na mesma hora, por exemplo, em que a visão de um incêndio em Estocolmo surgiu na consciência de Swedenborg, um fogo verdadeiro irrompia furiosamente naquela cidade, sem que houvesse qualquer conexão demonstrável ou imaginável entre os dois. Não pretendo, contudo, provar que haja uma conexão arquetípica neste caso, mas gostaria de lembrar que a biografia de Swedenbog contém certos fatos que lançam uma luz 23 p. 25-26. 28 notável sobre seu estado psíquico. Devemos admitir que havia uma baixa do limiar de sua consciência que lhe dava acesso ao “conhecimento absoluto”. O incêndio de Estocolmo ardia, em certo sentido, também dentro dele. Para a psique inconsciente, o espaço e o tempo parecem relativos, isto é, o conhecimento se acha em uma espécie de contínuo espaço-tempo no qual o espaço já não é mais espaço e o tempo já não é mais tempo. Se, portanto, o inconsciente desenvolve e mantém um certo potencial em direção à consciência, há a possibilidade de se perceber e “conhecer” acontecimentos paralelos. (...) (...) Se – como tudo parece indicar – não se pode explicar casualmente a coincidência ou “conexão cruzada” significativa de certos acontecimentos, então o princípio de ligação consiste na equivalência de sentidos dos acontecimentos paralelos; em outras palavras: o seu tertium comparationis é o sentido. Estamos tão acostumados a considerar o “sentido” como um processo ou um conteúdo psíquico, que relutamos em admitir que ele possa existir também fora de nossa psique. Entretanto, estamos convencidos, pelo menos, de que sabemos o suficiente a respeito da psique, para negar a ela, e muito menos ainda à consciência, qualquer poder mágico. Se, portanto, sustentamos a hipótese de que um só e mesmo significado (transcedental) pode manifestar-se simultaneamente na psique humana e na ordem de um acontecimento externo e independente, entramos em conflito com os pontos de vista científicos e epistemológicos habituais. Devemos recordar-nos constantemente da validade meramente estatística das leis da natureza e do efeito do método estatístico que elimina todos os acontecimentos incomuns, para prestarmos ouvidos a tal hipótese. A grande dificuldade está em que nos faltam totalmente os meios científicos para provar a existência de um sentido objetivo que não seja, ao mesmo tempo, um produto da psique. Mas, temos de admitir semelhante ponto de vista, para não recairmos na causalidade mágica, e postular para a psique um poder que ultrapassa de muito os limites de sua esfera empírica. Neste caso, para não renunciar à causalidade, seria preciso admitir que o inconsciente de Swedenborg representou o incêndio de Estocolmo ou, inversamente, que o acontecimento objetivo produziu (de forma porém inconcebível) as imagens correspondentes no cérebro de Swedenborg. Em ambos os casos, porém deparamo-nos mais uma vez com a questão irrespondida da transmissão dos fatos acima discutida. Naturalmente é o sentimento subjetivo que nos dirá qual das hipóteses parece ter mais sentido. A tradição também pouco nos ajudará a escolher entre o sentido transcedental e a causalidade mágica, porque, de um lado, o primitivo sempre explicou a sincronicidade mágica, ao passo que, do outro lado, o pensamento filosófico sempre admitiu, até o século XVIII, uma correspondência secreta ou conexão significativa entre os acontecimentos naturais. Prefiro a segunda hipótese, porque ela não entra em choque, como a primeira, com o conceito empírico de causalidade, mas pode ser considerada como princípio sui generis. Isto, na verdade, nos obriga, não a corrigir os princípios da explicação natural, até agora professados, mas a aumentar o seu número, o que só se justifica 29 por razões muito sérias. Acredito, porém, que as indicações dadas no que acabo de expor constituem um argumento que requer uma reflexão cuidadosa. Entre todas as ciências, a Psicologia é a única que não pode permitir-se, a longo prazo, o luxo de ignorar as experiências anteriores. Estas coisas são por demais importantes para a compreensão do inconsciente, independentemente das suas implicações filosóficas” 24 . Nesses escritos, CARL GUSTAV JUNG fluiu e viajou deliciosamente e deles podemos resumir: a sincronicidade habita dentro de cada um de nós e o Universo é o espelho refletor de nós mesmos em toda a sua imensidão. Ainda, no que tange ao simbolismo, MURRAY STEIN, em “JUNG: o mapa da alma” (1998), esclareceu a transgressividade dos arquétipos, como a ligação entre as teorias dos arquétipos e da sincronicidade: “(...) A tese de Jung sustenta que a resposta à questão do significado requer mais do que a mera descrição da seqüência causal de eventos que culminam no evento em questão. Argumenta ele que a sincronicidade deve ser levada em conta para se chegar a uma resposta à questão do significado. Do lado psicológico psicóide das coisas, cumpre investigar os padrões arquetípicos que são evidentes numa situação constelada, pois eles fornecerão os parâmetros necessários para abordar a questão da sincronicidade e a profunda significação estrutural. A respeito do surgimento da bomba atômica no palco da história mundial, por exemplo, a exploração do seu significado teria de incluir o fator de constelação da Segunda Guerra Mundial e a polarização de opostos que a guerra gerou de um modo tão violento. Ter-se-ia de incluir também a análise de sonhos com a bomba atômica na humanidade contemporânea. O que é que a bomba atômica acrescenta à constelação humana unilateral acerca das estruturas do Ser? A fim de relacionar a teoria dos arquétipos com os eventos sincronísticos que transgridem as fronteiras do mundo psíquico, Jung viu-se forçado a ampliar a sua noção da natureza não-psíquica do arquétipo. Por um lado, é psíquico e psicológico, uma vez que é experimentado dentro da psique na forma de imagens e idéias. Por outro lado, é irrepresentável em si mesmo e sua essência está fora da psique. Jung apresenta a idéia da propriedade de transgressividade do arquétipo. “Embora estejam associados a processos causais ou ‘portados’ por eles, [os arquétipos] estão, entretanto, ultrapassando continuamente os seus próprios limites, procedimento este a que eu daria o nome de transgressividade porque os arquétipos não se encontram de maneira certa e exclusiva na esfera psíquica, mas podem ocorrer também em circunstâncias não-psíquicas (equivalência de processo físico externo com um processo psíquico).” O arquétipo transgride as fronteiras da psique e da causalidade, 24 p. 51-53. 30 embora seja “portado” por ambas. Jung tem o propósito de atribuir à transgressividade o significado de que as configurações que ocorrem na psique estão relacionadas com eventos e padrões situados fora da psique. A característica comum a ambos os domínios é o arquétipo. No caso da bomba atômica, o arquétipo do simesmo é revelado na história dentro e fora da psique pelo evento de sua explosão, na e através do contexto histórico mundial em que surgiu, por milhões (minha conjectura, embora tenham sido efetuadas algumas pesquisas a tal respeito) de sonhos em que figurou a bomba. Essa idéia da transgressividade do arquétipo desenvolve-se em duas direções. Em primeiro lugar, como estive expondo, afirma existir uma significação objetiva subjacente nas coincidências que ocorrem na psique e no mundo, e nos impressionam como intuitivamente significativas. Por outro lado, cria a possibilidade de que exista significado onde intuitivamente não o enxergamos, quando, por exemplo, ocorrem acidentes que nos impressionam como meramente devidos ao puro acaso. Em ambos os casos, esse tipo de significação vai além de (transgride) a cadeia de causalidade linear. O nosso nascimento numa determinada família é unicamente devido ao acaso e causalidade, ou pode haver também um significado? Ou suponhamos que a psique está organizada e estruturada não só causalmente, como é o pensamento dominante na psicologia do desenvolvimento, mas também de modo sincronístico. Isso significaria que o desenvolvimento da personalidade tem lugar por momentos de significativa coincidência (sincronicidade), assim como uma seqüência epigenética pré-ordenada de etapas. Subentenderia também que os grupos de instintos e os arquétipos ser uniram e foram ativados de modo tanto causal quanto sincronístico (significativo). Um instinto como a sexualidade, por exemplo, poderia ser ativado não só em virtude de uma cadeia causal de eventos em seqüência (fatores genéticos, fixações psicológicas ou experiências infantis), mas também porque um campo arquetípico está constelado num determinado momento e um encontro ocasional com uma pessoa converte-se num relacionamento para a vida inteira. Nesse momento, algo do mundo psicóide torna-se visível e consciente (sizígia, o par animusanima). A imagem constelada do arquétipo não cria o evento, mas a correspondência entre a preparação psicológica interior (a qual pode ser totalmente inconsciente nesse momento) e o aparecimento exterior de uma pessoa, de forma inesperada e imprevisível, é sincronística. Por que acontecem tais conexões parece ser um mistério se refletirmos unicamente em termos de causalidade, mas se introduzirmos o fator sincronístico e a dimensão de significação, estaremos muito mais perto de uma resposta mais completa e satisfatória. Num universo aleatório, essa coincidência de necessidade e oportunidade, ou de desejo e satisfação, seria impossível ou, pelo menos, estatisticamente improvável. Esses mistérios inesquecíveis que estão consubstanciados em eventos sincronísticos transformam as pessoas. As vidas encaminham-se em novas direções, e a contemplação do que está por detrás de eventos sincronísticos leva a consciência para profundos, talvez até definitivos níveis 31 de realidade. Quando um campo arquetípico é constelado e a configuração emerge sincronisticamente no interior da psique e no mundo não-psíquico objetivo, tem-se a experiência do ser em Tao. E o que fica acessível à consciência através de tais experiências é fundamental, uma visão de quanto os homens são capazes de discernir da realidade suprema. Ingressar no mundo arquetípico de eventos sincronísticos gera a sensação de se estar vivendo na vontade de Deus.” 25 . Cumpre aqui também ressaltar as lições de CARL GUSTAV JUNG transmitidas de forma bem clara e simples pelas palavras de ROBERT H. HOPCKE no livro “Sincronicidade ou por que nada é por acaso” (1999): “A noção de Jung do arquétipo (...) é definida como uma forma típica de captação, um padrão de percepção e entendimento psicológico comum a todos os seres humanos. Uma dessas formas de percepção, e talvez uma das mais importantes identificadas por Jung, é o arquétipo da totalidade, a habilidade de perceber a unidade fundamental entre as partes dispersas de nossa experiência. Como vimos nas várias experiências sincronísticas contadas até agora, a percepção de totalidade nesses incidentes não vem do nosso ego, nosso sentido consciente de nós mesmos, mas sim da forma como o significado reúne tudo o que somos, partes de nossa experiência que não percebíamos, potenciais que possuímos mas que estavam adormecidos ou não-desenvolvidos, elementos de nossa personalidade que não sabíamos que existiam. Por essa razão, Jung chamou o arquétipo da totalidade de Eu, pois na verdade a experiência desse arquétipo é muita parecida com a de uma personalidade supra-ordinária, a totalidade de nós mesmos trazida para dentro de uma estrutura coerente, como numa história onde todas as coisas têm seu lugar e significado. De acordo com Jung, esse tipo de experiência, na qual um acontecimento ativa nossa capacidade arquetípica de perceber a totalidade, é responsável pela maneira pela qual nosso ego percebe que o significado desses eventos vem de fora, de uma fonte externa, de um princípio objetivo da ordem do universo. Quando percebemos essa totalidade, não sentimos como se nós, nossos egos, nossos eus diários, fôssemos os autores do significado, mas como se houvesse um autor, um Eu com E maiúsculo, cujo plano para nossas vidas parece maravilhoso e compreensível em sua estrutura e coerência. Esse arquétipo de totalidade é responsável pelo que Jung chamou de imagem de Deus na psique humana. Seu termo, imagem de Deus, em vez de Deus, é uma observação designada não para negar a possibilidade de um Deus objetivo nem para denegrir as crenças ou experiências daqueles que se sentem capazes de fazer essas afirmações sobre realidade definitivas. São meramente para observar as 25 p. 192-194. 32 qualidades particulares na experiência humana que permitem a alguns de nós perceber a ação de Deus em nossas vidas, e para outros, que não acreditam em Deus, entenderem por que a imagem de Deus é tão poderosa, universal e importante, pois, como disse Voltaire: “Se Deus não existisse, seria necessário inventá-lo.” Nossa capacidade de perceber a totalidade, o arquétipo do Eu, é portanto o autor de nossas histórias, os meios pelos quais os acontecimentos do acaso são ligados através de seus significados objetivos. Para aqueles de nós para quem Deus é a primeira causa em toda corrente de causalidade, cujo resultado é o universo, como para Tomás de Aquino, não existem acidentes, pois Deus é o autor de todas as nossas histórias. Para outros de nós, cuja fé num princípio objetivo de ordem no universo não é tão certa, cuja noção do papel de Deus em nossas vidas diárias não está clara, ou cuja crença em um Deus objetivo não exclui um interesse no que acontece com os humanos que nos permite perceber e conhecer Deus, a noção de Jung do Eu representa uma forma não-teleológica de falar e entender essas coincidências significativas. Através do princípio psicológico da sincronicidade, o valor é colocado em nossas realidades subjetivas, um valor que não é permitido por nenhuma outra religião nem pelo ponto de vista científico relativo à realidade objetiva. Dentro da idéia de que nossa capacidade humana inata de perceber a totalidade conta para o significado que experimentamos nos acontecimentos do acaso, Jung nos deu uma maneira de falar das transformações que atravessamos através das coincidências de nossas vidas e os mitos que ela nos revelam sobre quem somos mais profundamente.” 26 Assim, demonstrada a inter-relação das teorias do self (o simesmo), arquétipos, consciente coletivo e sincronicidade, observamos a coerência e a coesão das idéias de CARL GUSTAV JUNG. E, por não serem teorias isoladas, percebemos a visão da unidade em tudo que existe, com mais credibilidade e fé, construindo a verdadeira ponte entre a ciência e a religião. Assim, sem sombra de dúvida, CARL GUSTAV JUNG construiu muito bem esta ponte com firmes alicerces. VII. Sincronicidade: a origem do conhecimento absoluto na filosofia chinesa do Tao CARL GUSTAV JUNG estudou a filosofia chinesa do Tao, um dos mais antigos conceitos filosóficos conhecidos. Os jesuítas traduziram o Tao como “Deus” e R. WILHELM como “Sentido”. 26 p. 210-212. 33 O I-ching, método para apreender a percepção intuitiva de um detalhe como parte de um todo, numa situação de globalidade, tem origem na filosofia do Tao. O resultado casual e natural do oráculo corresponde sincronisticamente ao estado psíquico (fator interno ou subjetivo) e à situação física em que se apresenta no mundo (fator externo ou objetivo). Vale também destacar que outros métodos de percepção, como astrologia – CARL GUSTAV JUNG experimentou a astrologia para fundamentar a sua teoria –, búzios, runas, tarô, etc., contam para seus efeitos com o mesmo mecanismo de sincronicidade revelado no I-ching. E, por este motivo, na introdução mencionei que o meu “mapa das estrelas” fala muito a meu respeito. Sob o enfoque da filosofia taoísta, CARL GUSTAV JUNG filosofou com referência ao princípio da expressão criativa da essência de tudo, da existência, de todo o movimento, de toda a Vida, de toda a consciência, de coerência, de harmonia (unidade na própria diversidade), do conhecimento absoluto e da relação do corpo e alma. Diante de tanta beleza, poesia e sabedoria transcendental, vale a pena a transcrição de parte da sua tese contida em “Sincronicidade: um princípio de conexões acausais” (2005), a seguir: “A realidade, opina Wilhelm, é conceitualmente cognoscível porque, segundo a concepção chinesa, há uma “racionalidade” latente em todas as coisas. Esta é a idéia fundamental que se acha na base da coincidência significativa: esta é possível, porque os dois lados possuem o mesmo sentido. Onde o sentido prevalece, aí resulta a ordem: O Sentido [Tao] é a simplicidade suprema sem nome. Se os príncipes e os reis pudessem conservá-lo, Todas as coisas seriam os seus comensais. O povo viveria em harmonia, sem precisar de leis e ordens. O Tao não opera, E, no entanto, todas as coisas são feitas por ele. Ele é impassível, E, no entanto, sabe planejar. A rede do céu é tão grande, tão grande, De grandes malhas, mas não deixa escapar nada (cap. 73). (...) “um estado em que a existência das coisas ainda não havia começado. Este era o limite extremo além do qual não era mais possível avançar. A suposição imediata era a de que, embora existissem as coisas, contudo, elas ainda não tinham começado a ser separadas. A suposição seguinte era de que, embora tivessem sido separadas em certo sentido, contudo, a afirmação e a negação ainda 34 não haviam começado. Quando surgiu a afirmação e a negação, o Sentido [Tao] desapareceu. Quando o sentido desapareceu, houve uma vinculação unilateral. A audição exterior não deve penetrar além do ouvido; o intelecto não deve procurar levar uma existência separada; assim a alma pode tornar-se vazia e absorver o mundo inteiro. E o Sentido [Tao] é que enche este vazio. Quem não tem entendimento, diz Ch’uang-Tse, use de sua visão interior, de seu ouvido interior para penetrar no coração das coisas, e não precisará de conhecimento intelectual”. Isto é, evidentemente, uma alusão ao conhecimento absoluto do inconsciente, e à presença do microcosmos de acontecimentos macrocósmicos.” 27 . “(...) A ordem universal das coisas segundo a vontade de Deus é uma concepção que não atribui senão um lugar moderno á causalidade. Da mesma forma que as diversas partes de um organismo vivo atuam simultaneamente, numa harmonia recíproca e significativa, assim também os acontecimentos do mundo se acham mutuamente numa relação significativa, que não pode ser deduzida da causalidade imanente. (...)” 28 . “(...) Agrippa sugere, com isto, que há um “conhecimento” ou “idéia”, inata nos organismo vivos, idéia esta à qual Hans Driesch recorreu também em nossa época. Quer queiramos quer não, encontramo-nos nesta mesma situação de embaraço, assim que refletimos seriamente sobre os processos teológicos da Biologia ou investigamos mais acuradamente a função compensadora do inconsciente, ou procuramos mesmo explicar o fenômeno da sincronicidade. As chamadas causas finais – torçamo-las tanto quanto quisermos – postulam uma precognição de alguma espécie. Não é, certamente, um conhecimento possa estar ligado ao eu, e, portanto, não é um conhecimento consciente como conhecemos, mas um conhecimento inconsciente subsistente em si mesmo, e que eu preferiria chamar de conhecimento absoluto. Não é uma cognição no sentido próprio mas, como disse excelentemente Leibniz, uma percepção que consiste – ou, mais cautelosamente, parece consistir – em simulacra (imagens) desprovidos de sujeito. Presumivelmente esses simulacra postulados são equivalentes aos meus arquétipos, que podemos encontrar como fatores formais nos produtos da fantasia. Expressa em linguagem moderna, a idéia de microcosmo que contém “as imagens de todas as criaturas”, seria o inconsciente coletivo. Por spiritus mundi, o ligamentum animae et corporis, a quinta essentia, que ele tem em comum com os alquimistas, provavelmente Agrippa subentende o inconsciente. Este espírito que “penetra todas as coisas”, isto é, dá forma a todas as coisas, seria segundo ele, a alma do mundo: “Est itaque anima mundi, vita quaedam única omnia replens, omnia perfundens, omnia collignas et connectens, ut unam reddat totius muni machinam...” (“Existe, portanto, a alma do mundo, uma espécie de vida única que enche todas as coisas, 27 28 p. 56-57. p. 59. 35 penetra todas as coisas, liga e mantém unidas todas as coisas, fazendo com que a máquina do mundo inteiro seja uma só...”). Por isto, aquelas coisas, nas quais este espírito é particularmente poderoso, têm uma tendência a “gerar outras semelhantes a si”, ou, em outras palavras: têm a tendência a produzir correspondências ou coincidências significativas, (...)” 29 . (...) “Deus é o criador da ordem. Assim ele compara a alma e o corpo a dois relógios sincronizados. (...) Não somente o homem, portanto, é um microcosmo que encerra a totalidade em si, como também – guardadas as devidas proporções – qualquer inteléquia ou mônada. Qualquer “substância simples” tem conexões “que expressam todas as outras”. “Por isto, ela é o espelho vivo e eterno do universo”. “A alma obedece às suas próprias leis e o corpo também às suas; eles se ajustam entre si graças á harmonia preestabelecida entre todas as substâncias, porque elas são representações de um só e mesmo universo. Isto exprime a idéia de que o homem é um microcosmo. As almas em geral, diz Leibniz, são espelhos ou imagens vivas do universo das coisas criadas... Ele as distingue, de um lado, dos espíritos que são “imagens da divindade” e “capazes de conhecer o sistema do universo e imitar uma parte dele através de modelos arquitetônicos, porque cada espírito é, por assim dizer, pequena divindade dentro de seu domínio”; e, do outro, dos corpos que agem “de acordo com as leis das causas eficientes ou dos movimentos”, ao passo que as almas agem “de acordo com as leis das causas finais, através dos apetites, dos fins e dos meios. Na mônada ou na alma ocorrem mudanças cuja causa é o “apetite”. O estado mutável que envolve e representa uma pluralidade na unidade ou substância simples nada mais é do que aquilo a que chamamos de percepção”, diz Leibniz. A “percepção” é o estado interior da mônada que representa as coisas exteriores” e deve ser distinguido da apreensão consciente, porque a percepção é consciente.” (...) 30 . “(...) A sincronicidade possui certas qualidades que podem ajudar-nos a esclarecer o problema corpo-alma. É sobretudo o fato da ordem sem causa, ou melhor, do ordenamento significativo que poderia lançar alguma luz sobre o paralelismo psicofísico. O “conhecimento absoluto”, que é característico dos fenômenos sincronísticos, conhecimento não transmitido através dos órgãos do sentido, serve de base à hipótese do significado subsistente em si mesmo, ou exprime sua existência. Esta forma de existência só pode ser transcedental porque, como no-lo mostra o conhecimento de acontecimentos futuros ou espacialmente distantes, se situa em um espaço psiquicamente relativo e num tempo correspondente, isto é, em um contínuo espaço-tempo irrepresentável. (...)” 31. 29 30 31 p. 60-62. p. 65-66. p. 71. 36 Portanto, CARL GUSTAV JUNG, na condição de metafísico, inovou de maneira profética posicionando-se com amplitude bem avançada ao seu tempo e lançou moderno paradigma científico ao criar a teoria da sincronicidade, na visão psíquico-cosmológica. Desse modo, expandiu o princípio de ordem, além do âmbito da psique, abrangendo-o para o cosmo no aspecto de totalidade e unicidade. No mesmo entendimento da filosofia taoísta, fonte de inspiração de CARL GUSTAV JUNG para a teoria da sincronicidade, os cientistas modernos comentam sobre a teoria do “um”. O “um” é integridade, concentra todas as potencialidades do ser e é a fonte manifestada de qualquer número e do Universo. Por isso, dizem que os números primos são reflexos da unidade porque possuem qualidades próprias e da unidade. Diante dessa teoria, concluem que o Universo está contido na unidade, como padrão de medida. Os átomos, as células, as pessoas, os grupos, a humanidade como um todo, o Planeta Terra, os planetas, as estrelas, as galáxias e os sistemas solares que compõem o Universo, são sistemas que espelham a unidade na sua globalidade. FRANÇOIS-XAVIER CABOCHE citou que “O um não é apenas o ser, para além de qualquer contingência, para além (ou aquém) do espaço-tempo e da história, ele é a referência de todo o ser...” 32 . Diante dessa exposição aprofundada, conclui-se que CARL GUSTAV JUNG com as suas teses metafísicas é também um dos precursores de temas atuais: energia, física quântica, lei universal da atração, reiki, ressonância mórfica, teoria do um, etc... VIII. Sincronicidade: o sincrodestino, a mente local e a mente não-local DEEPAK CHOPRA, médico e guru indiano, na sua obra “A realização espontânea do desejo: como utilizar o poder infinito da coincidência” (2003) denominou de sincrodestino, a mesma sincronicidade de CARL GUSTAV JUNG, em toda a sua essência. Vejamos: “(...) Quando em sua vida você dá valor às coincidências e ao significado delas, entra em contato com o campo fundamental de possibilidades infinitas. É aí que a magia tem início. Trata-se de um estado que chamo de sincrodestino, no qual torna-se possível alcançar a realização espontânea de todos os nossos desejos. O sincrodestino requer que você tenha acesso a um lugar profundo dentro de si, ao mesmo tempo que desperta para a complexa dança de coincidências no mundo físico. Ele exige que você compreenda a natureza profunda das coisas, que reconheça o 32 Esta citação não tem fonte conhecida porque recebi via e-mail. 37 manancial de inteligência que cria interminavelmente nosso universo, mas que tenha a intenção de perseguir as oportunidades específicas de mudança quando elas surgirem. (...)” 33 . “(...) No entanto, perceber a rede de coincidências na nossa vida é apenas o primeiro estágio que nos permite entender e viver o sincrodestino. O próximo estágio envolve desenvolver a percepção consciente das coincidências enquanto elas estão acontecendo. É fácil percebê-las em retrospecto, mas, se você conseguir detectar as coincidências no momento em que elas ocorrerem, estará em uma posição melhor para aproveitar as oportunidades que elas possam estar apresentando. Além disso, a percepção consciente se traduz em energia. Quanto mais atenção você der às coincidências, mais provável é que elas apareçam, o que significa que você começa a ter cada vez mais acesso às mensagens que lhe estão sendo enviadas a respeito do caminho e da direção de sua vida. O estágio final de viver o sincrodestino ocorre quando nos tornamos plenamente conscientes da correlação existente entre todas as coisas, a maneira como cada uma afeta a seguinte, como todas estão “em sincronia”, o que significa atuar em uníssono, como um só. Imagine um cardume de peixes nadando em uma direção e, de repente, todos mudam de direção. Não existe nenhum líder dando orientações. Os peixes não pensam: “O peixe à minha frente virou à esquerda, de modo que devo fazer o mesmo.” Tudo acontece simultaneamente. A coreografia dessa sincronia é realizada por uma inteligência poderosa e onipresente que jaz no coração da natureza, manifestando-se em cada um de nós através do que chamamos alma. Quando aprendemos a viver a partir do nível da alma, muitas coisas acontecem. Tomamos consciência dos padrões refinados e ritmos sincrônicos que governam a vida. Compreendemos os grandes períodos de memória e experiência que nos moldaram e nos tornaram as pessoas que somos hoje. O medo e a ansiedade desaparecem quando observamos maravilhados a evolução do mundo. Notamos a rede de coincidências que nos cerca e percebemos que até mesmo os menores eventos encerram um significado. Descobrimos que, ao aplicar a atenção e a intenção a essas coincidências, podemos criar resultados específicos na nossa vida. Nós nos relacionamos com todos e com tudo no universo, e reconhecemos o espírito que nos une. Moldamos conscientemente nosso destino e fazemos com que ele assuma as expressões ilimitadamente criativas que deveriam ser, e, ao fazer isso, vivemos nossos sonhos mais profundos e nos aproximamos cada vez mais da iluminação. Este é o segredo do sincrodestino. (...)” 33 34 34 . p. 16. p. 20-21. 38 Na mesma obra, ao introduzir ao sincrodestino, o escritor indiano tratou da mente local e da mente não-local. No sincretismo, é a visão psíquico-cósmica da sincronicidade de CARL GUSTAV JUNG. Para fins de comparação, vale ser transcrita a definição de mente local e não-local de DEEPAK CHOPRA: “(...) A diferença entre a mente local e não-local é a diferença entre o ordinário e o extraordinário. A mente local é pessoal e individual para cada um de nós. Ela sustenta o ego, o “eu auto-definido que vaga pelo mundo como escravo dos nossos hábitos condicionados. Em virtude da sua própria natureza, a mente local nos separa do restante da criação. Ela estabelece limites densos e artificiais que muitos de nós nos sentimos compelidos a defender, mesmo quando isso quer dizer nos desligarmos dos significados mais profundos e das conexões mais jubilosas que têm lugar quando nos sentimos parte do universal. A mente local é laboriosa, exaustiva e racional, desprovida de qualquer sentimento de fantasia ou criatividade. Ela exige atenção e aprovação constantes, tendo portanto propensão para sentir medo, desapontamento e dor. A mente não-local, por outro lado, é pura alma ou espírito, conhecida como consciência universal. Ela opera fora dos limites normais do espaço e do tempo, sendo a grande força organizadora e unificadora do universo cuja amplitude e duração são infinitas. Devido à sua natureza, a mente não-local conecta todas as coisas porque é todas as coisas. Ela não requer nenhuma atenção, energia ou aprovação; é completa em si mesma, atraindo portanto o amor e a aceitação. É iminentemente criativa, o manancial de onde emana toda a criação. Ela nos permite usar a imaginação além dos limites do que a mente local enxerga como “possível”, ter pensamentos inovadores e acreditar em milagres. (...)” 35 . No final das contas, CARL GUSTAV JUNG e DEEPAK CHOPRA criaram terminologias diferentes para tratar do mesmo assunto dentro de toda a sua essência. IX. Sincronicidade: a física quântica e a ressonância mórfica DEEPAK CHOPRA no mesmo livro relacionou o sincrodestino com a energia e a física quântica: “No nível quântico, as várias porções de campos de energia que vibram em freqüências diferentes que percebemos como objetos sólidos fazem parte de um campo de energia coletivo. Se fôssemos capazes de distinguir tudo o que está acontecendo no nível quântico, veríamos que somos parte de uma grande “sopa de 35 p. 76. 39 energia” e que tudo – cada um de nós e todos os objetos na esfera física – é apenas um agrupamento de energia que flutua nessa sopa. Em qualquer momento considerado, nosso campo de energia entrará em contato com os campos de energia de todas as outras pessoas e os afetará, e cada um de nós responde de alguma maneira a essa experiência. Somos todos expressões dessa energia e informações conjuntas. Às vezes podemos efetivamente sentir essa conexão. A sensação é em geral muito sutil, mas de vez em quando ela se torna mais tangível. Quase todos já tivemos a experiência de entrar em uma sala e sentir “uma tensão tão densa a ponto de quase conseguir cortá-la com uma faca”, ou de estar em uma igreja ou santuário e sermos envolvidos por uma sensação de paz. (...)” 36 . A física quântica tornou-se mais conhecida, depois do lançamento do livro “Anjos e Demônios”, em que o escritor DAN BROWN introduziu o romance fictício falando sobre o binômio “matéria-energia”. Na mesma época, também foi lançado o documentário “Quem somos nós” (“What the bleep do we know!?”), dos diretores WILLIAM AMTZ, BETSY CHASSE E MARK VICENTE, no qual trataram das descobertas científicas recentes, dos questionamentos existenciais humanos, dos mistérios cósmicos e, em especial, da capacidade criadora da nossa realidade 37 . Neste filme, a personagem fictícia Amanda entra em contato com os princípios da física quântica e, então, muda o enfoque sobre a Vida, desabrochando para a possibilidade criadora do mundo exterior com afirmações e emoções positivas. MASARU EMOTO, cientista japonês, demonstrou no livro “A mensagem de água” com fotos de moléculas de água congeladas como as emoções e os pensamentos influenciam cada molécula de água. Esse tema também é abordado no filme citado acima. No texto “Como a água reflete os nossos sentimentos?” 38 , há os seguintes comentários: “(...) Com o trabalho do Sr. Emoto ficamos munidos de evidência efetiva de que as energias vibracionais humanas, pensamentos, palavras, idéias e músicas, afetam a estrutura molecular da água. A mesma água que compreende setenta por cento de um corpo humano maduro e cobre a mesma proporção do nosso planeta. A água é a fonte de toda a vida neste planeta e qualidade e integridade são vitalmente importantes a todas as formas de vida. O corpo é como uma esponja e está composto de trilhões de câmaras chamadas células que comportam líquido. A qualidade de nossa vida está diretamente ligada à qualidade de nossa água. 36 p. 29. “Tudo pode ser como você imagina”, http://www.bonsfluidos.com.br. 38 “Como a água reflete os http://eeme.celd.org.br/medicina_cristais.php. 37 artigo nossos da Revista Bons Fluidos, sentimentos?”, artigo Editora Abril: no site: 40 A água é uma substância muito maleável. Sua forma física adapta-se facilmente ao que o ambiente contém. Mas a aparência física não é a única coisa que muda, sua estrutura molecular também muda. A energia ou as vibrações do ambiente mudarão a forma molecular da água. Neste sentido a água tem, não somente a habilidade de refletir visualmente o ambiente, mas também reflete molecularmente este ambiente. O trabalho extraordinário de Masaru Emoto é uma revelação surpreendente, e é uma ferramenta poderosa que pode mudar nossas percepções de nós mesmos e do mundo em que vivemos, sempre. Nós temos evidências profundas de que podemos curar positivamente e podemos transformar a nós mesmos e aos nosso planeta pelos pensamentos que nós escolhemos pensar e as maneiras como colocamos estes pensamentos em ação. (...)”. No mesmo sentido de que “O Universo é o eco das nossas ações e pensamentos”, o documentário e o livro best-seller “O Segredo” falam da Lei Universal da Atração, ou seja, “o semelhante atrai o seu semelhante”. Nesta linha, foram lançados outros livros de sucesso que podemos encontrar em abundância nas prateleiras das livrarias. Ainda, tratando mais sobre as leis quânticas, o Reiki é técnica de energização com imposição de mãos redescoberta pelo monge japonês MIKAO USUI e tem fundamento na física quântica. A seguir, transcrevo os ensinamentos do MESTRE JOHNNY DE’ CARLI no livro “Reiki Universal”, acerca do funcionamento do Reiki: “(...) A energia precede a matéria, assim, como emoções e pensamentos precedem a ação. (...) A técnica Reiki utiliza-se de energia plena, da qual todo o universo é constituído; é essa energia original de tudo e de todos seres que captamos e veiculamos após a iniciação (sintonização) e ativação dos centros energéticos (Chacras). Após sintonizados, passamos a ser canais desta energia cósmica, e podemos direcioná-las apoiando as mãos sobre a zona afetada, as quais emitem vibrações que diluem os nós prejudiciais. Dessa forma, passamos efetivamente a intervir na matéria, em outros campos de energia e na consciência, levando um estado natural de bem-estar, plenitude, harmonia e equilíbrio. O Reiki cura ao passar pela parte afetada de nosso campo energético, elevando nosso nível vibratório dentro e fora do nosso corpo físico, onde sentimentos e pensamentos estão alojados na forma de nódulos energéticos que funcionam como barreiras do nosso fluxo normal de energia vital; muitos são os que convivem com essas barreiras ao longo de toda uma vida, minimizando a qualidade da vida. 41 Em uma sessão de Reiki, a quantidade de energia recebida pelo paciente é determinada pelo próprio paciente, uma vez que o terapeuta reikiano apenas direciona a energia e, o provedor – o Cosmos – doa ilimitadamente. (...)” Vale também acrescentar os ensinamentos de RODRIGO ROMO, que desenvolveu o “Reiki OMROM”, linha reikiana ligada às hierarquias de luz e aos Mestres da Fraternidade Branca: “(...) Cada um de nós aqui na Terra e no Universo é uma extensão do criador e tem a responsabilidade de se reintegrar consciencialmente ao criador e a toda energia harmônica do universo. A Cura e a canalização são formas de sintonização com seres angelicais e entidades de diversos níveis e realidades, que tem a função de nos reconectar, com a nossa verdadeira essência interna, que se perdeu da nossa realidade, devido às inúmeras encarnações no mundo da ilusão, seguindo assim os hologramas da MATRIX da dualidade na qual temos nos perdido e enganado. As doenças são um holograma real que se cristaliza dentro de nossas células, devido ao efeito negativo criado por nós mesmos, ao nos afastarmos da nossa verdadeira essência divina, que é o amor e fraternidade universal. (...) (...) O Reiki exige de nós uma mudança de consciência, para que possamos ter uma maior capacidade de canalização das energias sutis, que existem ao nosso redor e nas outras realidades suprafísicas, que existem além da nossa realidade material. (...) Se analisarmos com maior detalhe o universo e as diferentes linhas de tempo e espaço, verificaremos, que cada momento do fluxo do universo, possui um micro universo independente, mas que, ao mesmo tempo, é totalmente conectado aos outros, permitindo assim a malha cósmica e a troca de informações e de energia, utilizando assim o princípio quântico a atual atomística e teorema das supercordas e outras teorias quânticas atualizadas. Nos reikianos, estamos trabalhando com uma energia específica de outros planos paralelos, que inicialmente estavam apenas em nossa imaginação, o que no momento torna-se realidades. Pois sabemos pelas estatísticas, que o Reiki, acupuntura, Shiatsu e outras técnicas, foram aprovadas pelo conselho mundial de medicina, pela sua eficácia e alto índice de recuperação dos pacientes. Algo que inicialmente pela medicina ocidental, foi negado por séculos, está retomando volume e importância, pois a interação do ser humano com a natureza e com o próprio ser humano, necessita de uma nova linha de raciocínio e interação simbiótica. A linha de água de um ser é algo totalmente inovador, mas fundamental para o desenvolvimento 42 de um trabalho de harmonização, removendo assim os dogmas e os problemas de fundo emocional, que normalmente carregamos do nosso próprio seio familiar e social. Portanto, o próprio reikiano quando assume uma nova conduta de energia e percepção, passa a se modificar e trabalhar com outra energia pessoal, pois ele modifica a sua postura com o universo e com as pessoas no dia a dia. No (...) livro O Universo dentro de uma casca de nós, do escritor e físico Stephen Hawking, temos uma explicação para realidades paralelas, como se uma estivesse dentro da outra. O mesmo ocorre com o nosso organismo, a nossa realidade material externa, é composta de milhares de outras realidades subjetivas do micro organismo e macro organismo que possuímos, que nem sequer percebemos na íntegra. Somos produto de um conjunto de reações químicas e energéticas, que desconhecemos, assim como o restante do universo. Dessa forma estamos todos interligados com outros pontos de energia, sem que com isso tenhamos uma consciência plena do que está ocorrendo. Dentro do reiki OMROM, ocorre isso, pois damos início a uma sessão de reiki terapêutico, e iniciamos um trabalho de realidades paralelas, entrando no campo de energia de realidades do subconsciente da pessoa na maca, que nem sequer sabe do que ela possui guardado, e intuitivamente, damos início a leitura psíquica do que nos vem a mente. (...)” 39 Muito antes da ampla abertura da consciência que estamos vivenciando nos dias de hoje, FRITJOF CAPRA já falava em física quântica, desde a década de 70, quando escreveu o livro “O Tao da Física: um paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental”. Nesta obra, relatou o início de seus estudos, a partir da sua vivência mística oriental, ou seja, do mesmo ponto de partida que CARL GUSTAV JUNG: “Há cinco anos experimentei algo de muito belo, que me levou a percorrer o caminho que acabaria por resultar neste livro. Eu estava sentado numa praia ao cair de tarde de verão, e observava o movimento das ondas, sentindo ao mesmo tempo o ritmo de minha própria respiração. Nesse momento, subitamente, apercebi-me intensamente do ambiente que me cercava: este se me afigurava como se participasse de uma gigantesca dança cósmica. Como físico, eu sabia que a areia, as rochas, a água e o ar ao meu redor eram feitos de moléculas e átomos em vibração e que tais moléculas e átomos, por seu turno, consistiam em partículas que interagiam entre si através da criação e da destruição de outras partículas. Sabia, igualmente, que a atmosfera da Terra era permanentemente bombardeada por chuvas de “raios cósmicos”, partículas de alta energia e que sofriam múltiplas colisões à medida que penetravam na atmosfera. Tudo isso me era familiar em razão de 39 Texto extraído da apostila de iniciação no nível II do Reiki OMROM escrita por RODRIGO ROMO. 43 minha pesquisa em Física de alta energia; até aquele momento, porém, tudo isso me chegara apenas por gráficos, diagramas e teorias matemáticas. Sentado na praia, senti que minhas experiências anteriores adquiriam vida. Assim, “vi” cascatas de energia cósmica, provenientes do espaço exterior, cascatas nas quais, em pulsações rítmicas, partículas eram criadas e destruídas. “Vi os átomos dos elementos – bem como aqueles pertencentes a meu próprio corpo – participarem desta dança cósmica de energia. Senti o seu ritmo e “ouvi” o seu som. Nesse momento compreendi que se tratava de Dança de Shiva, o Deus dos dançarinos, adorado pelos hindus.” 40 Na mesma obra, FRITJOF CAPRA tratou do valor simbólico dado pelo observador ao objeto observado. E, dessa interação tríade, observamos a presença constante da sincronicidade, abordado no ponto de vista da física quântica. Vejamos: “A teoria quântica acabara de pôr abaixo os conceitos clássicos de objetos sólidos e de leis da natureza estritamente deterministas. No nível subatômico, os objetos materiais sólidos da Física clássica dissolvem-se em padrões de probabilidade semelhantes a ondas; esses padrões, em última instância, não representam probabilidades de coisas mas, sim, probabilidades de interconexões. Uma análise cuidadosa do processo de observação na Física atômica tem demonstrado que as partículas subatômicas não possuem significado enquanto entidades isoladas, somente podendo ser compreendidas como interconexões entre a preparação de um experimento e sua posterior medição. A teoria quântica revela, assim, uma unidade básica no universo. Mostra-nos que não podemos decompor o mundo em unidades menores dotadas de existência independente. À medida que penetramos na matéria, a natureza não nos mostra quaisquer “blocos básicos de construção” isolados. Ao contrário, surge perante nós como uma complicada teia de relações entre as diversas partes do todo. Essas relações sempre incluem o observador, de maneira essencial. O observador humano constitui o elo final na cadeia de processo de observação, e as propriedades de qualquer objeto atômico só podem ser compreendidas em termos de interação do objeto com o observador. Em outras palavras, o ideal clássico de uma descrição objetiva da natureza perde sua validade. A partição cartesiana entre o eu e o mundo, entre o observador e o observado, não pode ser efetuada quando lidamos com a matéria atômica. Na Física atômica, jamais podemos falar sobre a natureza sem falar, ao mesmo tempo, sobre nós mesmos.” 41 Ainda, segundo os ensinamentos do físico nuclear indiano AMIT GOSWAMI, existe a ponte entre a ciência e a religião; e caminhamos no sentido de que Deus é objeto de ciência e não apenas de religião. Neste aspecto, em entrevista no programa “Roda Viva” da TV Cultura, em 21.09.2005, afirmou que: 40 41 FRITJOF CAPRA, “O Tao da Física: um paralelo entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental”, p. 13. p. 58. 44 “(...) a revolução que a Física Quântica trouxe, com três conceitos revolucionários, movimento descontínuo, interconectividade não-localizada e, finalmente, somando-se ao conceito de causalidade ascendente da ciência newtoniana normal, o conceito de causalidade descendente, a consciência escolhendo entre as possibilidades, o evento real. Esses são os três conceitos revolucionários. Então, se houver causalidade descendente, se pudermos identificar essa causalidade descendente como algo que está acima da visão materialista do mundo, então Deus tem um ponto de entrada. Agora sabemos como Deus, se quiser, a consciência, interage com o mundo: através da escolha das possibilidades quânticas. (...)” 42 Na mesma entrevista, o cientista indiano AMIT GOSWAMI declarou ser grande seguidor de CARL GUSTAV JUNG, quando tratou sobre a possibilidade da evolução dos arquétipos: “(...) Acho que Jung foi dos precursores da integração que está ocorrendo agora. Nos meus primeiros textos, eu citava muito a afirmação de Jung de que, um dia, a Física Nuclear e a Psicologia se unirão. E acho que Jung ficaria satisfeito com esta conversa e, em geral, com a integração da Física e da Psicologia transpessoal que vemos hoje. Isto posto, acredito no conceito de arquétipo de Jung, e acho que o modo como Jung o apresentou, e Platão o apresentou, de que são aspectos eternos da consciência, contextos eternos da consciência... a consciência tem um corpo contextual no qual os arquétipos são definidos e, então, eles governam o movimento do nosso pensamento. Acho que é um conceito muito poderoso. Mas, ao mesmo tempo, na Física Quântica, existe a idéia de que todos os corpos de consciência, tudo o que pertence á consciência, inconsciência, são possibilidades. E por causa disso, por tudo ser possibilidade, surge a questão: alguém pode ir além de arquétipos fixos e considerar arquétipos evolucionistas? Não se pode descartar o que Rupert tenta dizer. Houve uma idéia semelhante, de Brian Josephson, um físico que publicou um trabalho na Physical Review Lettres, revista de grande prestígio, dizendo que as leis da Física podem estar evoluindo. Da mesma forma, outras pessoas, cientistas muito sérios, sugeriram que, talvez, forças gravitacionais mudem com o tempo. Essa idéia de arquétipos fixos é uma idéia muito importante. Eu a apóio totalmente. Mas também vejo que na Física Quântica há espaço para a evolução dos arquétipos. Não devemos descartar totalmente idéias que dizem que arquétipos evoluíram. Ainda seremos capazes de determinar isso experimentalmente. (...)” 43 No mesmo aspecto proposto pela física quântica, RUPERT SHELDRAKE, biólogo, bioquímico e filósofo, criou a teoria da ressonância mórfica, 42 Texto extraído da transcrição completa da entrevista concedida pelo físico AMIT GOSWAMI ao programa “Roda Vida” da TV Cultura. 43 Texto extraído da transcrição completa da entrevista concedida pelo físico AMIT GOSWAMI ao programa “Roda Vida” da TV Cultura. 45 conhecida como a teoria do centésimo macaco: “Influência de estruturas de atividades anteriores sobre estruturas de atividades semelhantes subseqüentes, organizadas por campos mórficos. De acordo com a hipótese da causação formativa, a ressonância mórfica envolve a transmissão de influências formativas através do tempo e do espaço, ou ao longo deles, sem que ocorra diminuição devido a distância ou ao lapso de tempo.” 44 Essas influências organizadas por campos mórficos estendem-se no espaço-tempo e moldam os padrões de comportamento de todos os sistemas do mundo, dos níveis materiais ao cósmico. O campo mórfico é o “campo no interior e em volta de um sistema auto-organizador, e que organiza a sua estrutura e o seu padrão de atividade característico. De acordo com a hipótese da causação formativa, os campos mórficos contêm uma memória inerente, transmitida de sistemas semelhantes anteriores por meio de ressonância mórfica, e tendem a se tornar cada vez mais habituais. Os campos mórficos incluem os campos morfogenético, comportamental, social, cultural e mental. Quanto maior for o grau de similaridade, tanto maior será a influência da ressonância mórfica. Em geral, os sistemas ser parecem mais estreitamente consigo mesmos no passado e estão sujeitos à auto-ressonância com seus próprios estados passados.” 45 Dessa maneira, os campos mórficos promovem canais de comunicação à distância, o que acaba explicando a telepatia, como fenômeno normal, bem comum em pessoas conhecidas. Nas atividades cerebrais, eles estendem-se muito além do nosso cérebro por meio das intenções. Nesse aspecto, portanto, cada um é responsável pela sua imaginação e qualquer ação influencia os outros a repetirem. Sobre a ressonância mórfica, vale frisarmos o comentário no artigo “Ciência e Espiritualidade: em busca do Universo Real” 46: “(...) Sheldrake defende a idéia da existência de sistemas autoorganizadores, em todos os níveis de complexibilidade, incluindo moléculas, cristais, células, tecidos, organismos e sociedades de organismos. Para ele, a partir do surgimento de um determinado padrão de organização, seja em níveis físico-químicos, biológicos, ou mesmo comportamentais dentro de sociedades de organismos vivos, estes padrões tendem a ser repetidos através da chamada" ressonância mórfica", uma espécie de memória preservada que passa a interferir e gerir os fenômenos inclusive em níveis cósmicos. 44 RALPH ABRAHAM, TERENCE MCKENNA e RUPERT SHELDRAKE, “Caos, criatividade e o retorno ao sagrado”, 1992, p. 222. 45 RALPH ABRAHAM, TERENCE MCKENNA e RUPERT SHELDRAKE, “Caos, criatividade e o retorno ao sagrado”, 1992, p. 218-219. 46 “Ciência e Espiritualidade: em busca do Universo Real”, artigo da Revista Vimana: http://www.ippb.org.br/modules.php?op=modload&name=News&file=article&sid=3905. 46 Este cientista apresenta uma série de exemplos que parecem confirmar suas idéias. Entre eles podemos citar o fato bem conhecido nos meios acadêmicos relativo às dificuldades encontradas inicialmente nas tentativas de se criar novos compostos, substâncias, mas que, a partir do primeiro sucesso, pesquisadores em partes diferentes do planeta conseguem cristalizar o "novo elemento" com facilidade. Sheldrake chegou mesmo a perceber que determinados padrões de comportamento de sociedades de insetos e animais desenvolvidos em determinado momento histórico, passam a ser duplicados por outros grupos similares, também em partes distintas do planeta sem que haja qualquer forma de contato físico entre tais grupos. O próprio instinto dos animais passa a ter uma explicação, e não apenas uma denominação. A chamada memória genética não explica casos deste tipo e, certamente, a explicação é algo mais transcendente e relacionada à própria natureza da vida e do Universo. Todas as tentativas feitas em vários momentos de nossa história de separar o homem do Universo, como se este último fosse algo criado para ele, dentro de conceituações supostamente científicas, carecem evidentemente de uma base de realidade, por mais que esta realidade cada vez mais possa nos parecer um sonho, algo que ainda nos escapa. No Universo real mostrado pela física quântica, "mais místico" que qualquer visão idealizada pelos visionários e religiosos, um simples observador altera e interfere em leis matemáticas e estatísticas. Neste Universo "irreal", os sinais de um "espírito inteligente" e de uma consciência que a tudo permeia estão por toda parte. Para alguns físicos, as partículas elementares, antes de serem objetos definidos, são na realidade o resultado, sempre provisório de interações incessantes entre "campos" imateriais. (...)” Diante de todo esse contexto cosmológico, quântico e unitário, concluímos que as sincronicidades acontecem de forma plena e diária porque nós as atraímos. As sincronicidades são espelhos fiéis de nós mesmos relacionados com os outros e com toda a imensidão do mundo e do Universo. X. Biodanza: o caminho para a atração e a percepção dos movimentos de sincronicidade na Dança da Vida E, sob esse mesmo enfoque, mencionado acima, a Biodanza é método vivencial de atração e percepção dos movimentos de sincronicidade na Dança da Vida. Os movimentos suaves, harmoniosos e rítmicos nas vivências de Biodanza promovem processo de integração da identidade, permitindo a transformação, de forma flexível e fluida, dos padrões comportamentais e a reprogramação em direção positiva de pensamentos e sentimentos. 47 Na sutileza dos movimentos vivenciais de Biodanza e no decorrer do caminho da Vida, são diluídos os esquemas negativos impostos pela cultura e pela sociedade; e, então, são substituídos pelos biocêntricos, ou seja, em conexão com a sacralidade da Vida, levando ao caminho da cura. A partir do bem-estar existencial consigo mesmo, há melhora em todas as relações pessoais e em todos os ambientes, com qualidade de Vida e, em especial, com a sensação de conexão plena com a natureza e de pertencer ao Universo. Assim, a seguir, veremos em detalhes todo esse mecanismo. XI. Biodanza: o genial e grande criador ROLANDO TORO ARANEDA, antropólogo, psicólogo, poeta e pintor chileno, nasceu em 1924. Na condição de membro docente do Centro de Antropologia Médica na Escola de Medicina da Universidade do Chile e das disciplinas de Psicologia da Arte e da Expressão no Instituto de Estética da Pontifícia Universidade Católica do Chile, em 1964, iniciou os estudos e as pesquisas e, assim, desenvolveu o Sistema da Biodanza, acreditando na força transformadora da dança e da música. No movimento de expansão da Biodanza, as Américas, a Europa e a Ásia já se deliciam com as ações benéficas da Biodanza. ROLANDO TORO ARANEDA, aos oitenta e tantos anos, é a prova viva da qualidade da Biodanza, como sistema vivencial. É um exemplo de jovialidade e vitalidade. Santa Biodanza! Santo elixir da Vida! Falando na Biodanza como elixir e fonte da Vida, confesso neste momento que ROLANDO TORO ARANEDA está presente nas minhas orações diárias de agradecimento, por ter criado de forma genial a Biodanza, o sistema vivencial que me desabrochou com plenitude para a Vida! XII. Biodanza: a sincronicidade na “Dança da Vida” O prefixo "bio" (do grego bíos) significa “Vida” e, segundo ROLANDO TORO ARANEDA, “o sentido primordial da palavra "dança" é “movimento natural”, ligado às emoções e pleno de significado” 47 , cuja acepção é de origem francesa. Assim, dessa elaboração semântica, surgiu a metáfora: "Biodanza, a Dança da Vida". Segundo o criador da Biodanza, a Biodanza aproxima-se do conceito proposto pelo dançarino ROGER GARAUDY. No livro "Dançar a Vida" (1980), ROGER GARAUDY propôs “a dança como modo de viver”: “(...) A dança é um modo de existir. 47 “Biodanza”, 2005, p. 33. 48 Não é apenas jogo, mas celebração, participação e não espetáculo, a dança está presa à magia e à religião, ao trabalho e à festa, ao amor e à morte. Os homens dançaram todos os momentos solenes de sua existência: a guerra e a paz, o casamento e os funerais, a semeadura e a colheita. Dançar é vivenciar e exprimir, com o máximo de intensidade, a relação do homem com a natureza, com a sociedade, com o futuro e com seus deuses. Identificar-se, pela dança, com o movimento e as forças da natureza, para captá-los, imitando-os, continua sendo uma necessidade primordial da vida quando a fixação ao solo e o início da agricultura tornam o conhecimento dos ritmos da natureza uma necessidade vital. A dança é então um modo total de viver o mundo: e, a um só tempo, conhecimento, arte e religião. Ela nos revela que o sagrado é também carnal e que o corpo pode ensinar o que um espírito que se quer desencarnado não conhece: a beleza e a grandeza do ato quando o homem não está separado de si mesmo, mas inteiramente presente no que faz. (...) A dança, como toda arte, é comunicação do êxtase. É uma pedagogia do entusiasmo, no sentido original da palavra: sentimento da presença de Deus e participação no ser de Deus. Dançar a vida não seria, antes de tudo, tomar a consciência de que não apenas a vida, mas o universo, é uma dança, e sentir-se penetrado e fecundando por esse fluxo do movimento, do ritmo, do todo?” ROLANDO TORO ARANEDA comentou no livro “Biodanza” (2005) que “A dança, assim como canto e o grito, é uma das condições inatas do ser humano. O primeiro conhecimento do mundo, anterior à palavra, é aquele que chega a cada um de nós por meio do movimento. Num sentido original, a dança surge das profundezas do interior do ser humano: é movimento de vida, de intimidade; é impulso de união à espécie.” 48 . Ainda, “A humanidade, em seu processo de mudança até a civilização, parece ter escolhido a linha evolutiva da “linguagem-pensamento” em detrimento da linha “movimento-vivência”. Nossa civilização poderia ser descrita, por este ponto de vista, como uma supertécnica de “linguagem-pensamento”, como uma progressiva deterioração das funções 48 “Biodanza”, 2005, p. 13. 49 motoras, e uma inibição patológica das vivências. Não obstante, a antiga e originária condição dançante do ser humano permanece ali, latente, à espera de um clima favorável.” Nesse seguimento, ROLANDO TORO 49 ARANEDA falou da transformação do dançarino em dança e da formação da unidade “dançarino-dança”: “Quando o dançarino põe em ação seus movimentos, ajustando as necessidades expressivas, estéticas ou de representação, está assumindo o comando de uma série de funções vinculadas à identidade. Entre elas podemos mencionar: os movimentos voluntários, o deslocamento dentro do espaço, a semântica expressiva em relação a certos códigos gestuais, a busca consciente de alguns efeitos e a coordenação dos diversos movimentos em função da temática, a coordenação auditivo-sonora e visual-motora, a localização ao redor de outras figuras referenciais e relacionais, a introdução espontânea de elementos de fantasia etc. O dançarino põe em ação toda sua capacidade de jogo, equilíbrio, coordenação e expressão. Ao longo da história da dança estabeleceu-se o forte propósito de formar bons dançarinos, que fossem capazes de alcançar, por meio do exercício e da aprendizagem, altos níveis de otimização na destreza e na beleza dos movimentos. Existe, não obstante, uma possibilidade totalmente oposta, que consiste em transformar o dançarino em dança. Este caminho foi ocasionalmente descoberto nas cerimônias pertencentes às religiões arcaicas, em certas danças místicas, de êxtase e em alguns estados induzidos por ácido lisérgico, mescalina ou psicolocibina. Nestes casos, não é necessária a música, posto que o tônus e a harmonia do biossistema entram em conexão imediata com a harmonia cósmica. Nestes casos o indivíduo não dança uma determinada música, mas ingressa num estado vivencial em que ele é a própria música. A música dança o indivíduo e então não há indivíduo, mas dança. A identidade se dissolve numa espécie de matriz do universo que está em movimento orgânico, em que cada elemento é parte da dança maior. A dança cósmica consiste na interação viva de todas as forças presentes. Para conseguir o estado de transe necessário que permita ao dançarino chegar a “ser dança”, é necessário partir da quase imobilidade, de um estado de tônus “aberto” aos impulsos proprioceptivos espontâneos. Um estado incondicional e 49 “Biodanza”, 2005, p. 15. 50 receptivo, livre de todo propósito. Nestas condições, o indivíduo “permite” que a música se infiltre em seu organismo e induza o estado cenestésico. Ser a dança constitui uma experiência em que, no fundo, sintoniza-se o biossistema humano com o biossistema cósmico. Esta é a mais poderosa fonte de renovação e energização.” 50 Falando em transformação do dançarino em dança, vale também comentar sobre os gestos arquetípicos ou eternos, inspirados nas teorias junguianas dos arquétipos e do inconsciente coletivo e denominados por ROLANDO TORO ARANEDA de posições geratrizes: “Dos primórdios da história até nossos dias o homem realizou alguns gestos a que denominei “eternos”. São gestos arquetípicos que aparecem nos baixorelevos, nas esculturas e nas pinturas de todas as épocas e expressam, por exemplo, adoração, sentimento de maternidade, de intimidade, ou se referem a atividades arcaicas ligadas à natureza, como a agricultura. Rudolf Von Laban sustenta que os movimentos da dança são os movimentos da vida. Etienne Decroux selecionou vinte e duas posições de base que geram os movimentos da arte mímica clássica. Também na Biodanza selecionei vinte e dois gestos arquetípicos cuja combinação permite criar danças espontâneas da grande riqueza e profundidade humana. Eles pertencem ao inconsciente coletivo, descrito por C. G. Jung, e constituem verdadeiras matrizes expressivas. São, de fato, o resultado de uma longa pesquisa minha sobre o repertório gestual de diversas culturas: hindu, egípcia e greco-romana; selecionei aqueles que considerei altamente evoluídos, capazes de induzir vivências profundas e transcendentes. (...) Chamei estes gestos arquetípicos de “Posições geratrizes de dança”, visto que deles podem derivar danças específicas. Cada uma dessas posições tem um significado psicológico profundo. Diferentemente da dança expressiva, que é uma combinação de movimentos organizados pela emoção pessoal do bailarino, a que surge da combinação de “Posições geratrizes” possui uma dimensão mais universal e alude à grandeza do homem. A realização de cada “Posição geratriz” dura aproximadamente um minuto. Em seguida sugere-se aos participantes que realizem uma dança espontânea, 50 “Biodanza”, 2005, p. 28-29. 51 incluindo variações pessoais. A combinação de três ou mais “Posições geratrizes” podem dar vida a danças de uma extraordinária beleza e força expressiva.” 51 ROLANDO TORO ARANEDA, ao estudar as danças, concluiu que as danças são cósmicas, pois o dançarino na dança ressona a energia do Cosmos: “Desde a origem dos tempos, a dança teve um significado sagrado, como se o movimento corporal, criando formas que em si mesmas têm um sentido, despertasse no dançarino uma ressonância com o cosmo. Como se os movimentos corporais, fluindo de um manancial desconhecido, ativassem a consciência da totalidade. Nas danças sagradas o fenômeno do movimento deu-se sempre como um inefável trabalho de integração ao cosmo, e, nos povos de religiões concretas, a dança se deu como uma via de conjuro, como celebração e homenagem aos deuses e como forma de oração. A dança de Shiva é uma representação do processo cósmico infinito e criação e destruição. Um dançarino solitário, no círculo de fogo das constelações, realiza os movimentos que criam e destroem o universo mediante formas místicas que deslocam os padrões cósmicos de tempo, espaço e matéria. A dança vem sendo, assim, um conjunto dramático de movimentos que têm um poder de mutação, de transformação da realidade. A dança cósmica é sempre um ato complexo de separação e união. Na Gênese judaico-cristã, Jeová separa os céus da terra. Na cosmogonia egípcia, o Vento separa os irmãos Céu e Terra. Juntamente com a separação, estas divindades cosmogônicas povoam os espaços sagrados com estrelas, plantas, animais, e criam o homem. A concepção mítica propõe, sempre, o ato da criação do mundo a partir de um Demiurgo solitário que une e separa, que cria e destrói, que dá vida e dá morte. Na cosmogonia grega, Eros e Tânatos. Trato de imaginar se das danças profanas de celebração e regozijo, se as danças de amor, as danças dionísicas, bacanais e lupercais não poderiam ser representadas pelo Par Cósmico no abraço fecundante. Na visão solipsista do Demiurgo Solitário, criador do universo, estaria magnificada uma forma de viver a experiência criadora, a vida centrada no “eu”, enquanto nas danças de amor – a meu modo de ver, não menos sagradas – estaria a imagem paradigmática de uma visão criativa diferente, baseada na dualidade, na harmonia dos opostos, no “nós”. 51 “Biodanza”, 2005, p. 141-142. 52 Parece uma falácia intelectual dos historiadores das religiões a separação entre danças sagradas e profanas. A criação como união do par originário tem, para nosso conhecimento e visão de Biodanzantes, uma vitalidade, uma magnificência e um esplendor respaldados pela visão cotidiana da dualidade fecundante. O tantrismo, com suas representações escultóricas do amor nas paredes dos templos, é, a nosso ver, a linha mais importante de sabedoria, alheia às produções onipotentes do solipsismo oriental. O curso da energia cósmica caminha para o amor em um processo de evolução em que os frutos do amor não podem ser destruídos, ou seja, a energia cósmica caminha em círculo, no qual os frutos do amor são eternamente destruídos, para serem gerados de novo. Qual é a dinâmica cósmica: a evolução ou revolução? A dança da evolução tem forma de espiral, é uma ascenção sobre planos de energia. A dança da revolução tem ciclos fechados e sem esperanças (revolução significa “girar sobre um eixo”). Na Biodanza nos interessa a evolução, o desenvolvimento infinito. A criação é um ato solitário ou um ato de amor? A criação parece dar-se em um jogo oscilante: danças solitárias de integração ao universo, de participação cósmica; e danças de amor, geradoras de energia evolutiva. As danças do Congo, sob o ritmo do tambor, conduzem os dançarinos ao estado de êxtase. Para eles a dança não constitui um fim (como acontece com nossa dança clássica ocidental), mas um trânsito para ajudar o corpo a alcançar uma comunicação superior, um estado, uma força. Com movimentos e massagens aplicadas, ao som da música sobre o corpo da pessoa doente, procura-se livrá-lo da enfermidade. Outras danças destinam-se a estimular as tarefas de semear e colher. (...) Diversas dimensões adquiriu a necessidade de dançar, o princípio natural a vida: as danças religiosas geram a vivência de estar em contato com as forças da natureza. Incluem danças rituais, orgias e cerimônias de caráter simbólico; as danças artísticas são geradas na atividade criativa e na busca de formas estéticas eternas; 53 as danças populares procuram resgatar o vínculo original da espécie, o erotismo e a alegria de viver. Todas as dimensões da dança despertam no ser humano a ressonância com a vida. As danças são os pensamentos do universo incorporados à existência humana.” 52 A dança é uma das formas mais antigas do homem se conectar com as forças da natureza. É o modo de ser no mundo. É o movimento ritmado do coração e da respiração. É o movimento natural do homem. É o movimento de harmonia com a música. É a expressão da unidade do homem com o Universo. É a ressonância cósmica. É da sabedoria organizadora do Universo, que surgem os movimentos de sincronicidade. Dessa maneira, é mais do que perceptível as sincronicidades na “Dança da Vida”. Assim, as interligações e construções de ROLANDO TORO ARANEDA sobre a dança, a transformação do dançarino em dança, os gestos eternos (as posições geratrizes) e a dança cósmica – como contribuições preciosas para a Biodanza, na qualidade de sistema vivencial –, têm fortes laços e pontes com as teorias construídas por CARL GUSTAV JUNG a respeito da transcedentalidade do self (o si-mesmo), dos arquétipos e a visão psico-cosmológica da sincronicidade53. XIII. Biodanza: a sincronicidade presente na proposta de conexão com a Vida e o Universo ROLANDO TORO ARANEDA, o criador das teorias da inteligência afetiva, do princípio biocêntrico e do inconsciente vital, expressou no seu livro claramente a proposta da Biodanza de cura por meio da inteligência afetiva e de relações afetivas; e de restauração humana no sentido de se conectar com a Vida e com o Universo, como totalidade cósmica, a seguir: “A base conceitual da Biodanza provém de uma meditação sobre a vida; do desejo de renascermos de nossos gestos despedaçados, de nossa vazia e estéril estrutura de repressão; provém, com certeza, da nostalgia do amor. A deformidade do espírito ocidental culminou, no século que passou, com os maiores atentados que a história conhece contra a vida humana. A patologia do Eu, caracterizada pela cisão entre a natureza e cultura, com uma valorização excessiva da cultura em detrimento da natureza, e do predomínio exacerbado da razão sobre o instinto, foi reforçada até um limite nunca antes alcançado. Esta 52 53 “Biodanza”, 2005, p. 25-28. Ver os tópicos V, VI e VII. 54 patologia é sustentada pelas instituições estatais e pela ideologias políticas e educativas; é consentida por muitos dos intelectuais e pensadores de nossa época. A Biodanza é, por isso, uma ampla transgressão dos valores culturais contemporâneos, das imposições de alienação da sociedade de consumo e das ideologias totalitárias. Propõe-se a restaurar no ser humano o vínculo original com a espécie como totalidade biológica, e com o universo como totalidade cósmica. Somos por demais solitários em meio a um caos coletivista. É uma maneira de ser ausente, mesmo com toda nossa presença. No ato de não olhar, de não escutar, e não tocar o outro, despojamo-nos sutilmente de sua identidade; estamos com o outro, mas o ignoramos. Esta desqualificação, consciente ou inconsciente, encerra a patologia do Eu. Celebrar a presença do outro, exaltá-la no encanto essencial do encontro é, talvez, a única possibilidade saudável. A Biodanza participa, assim, de uma visão diferente. Propõe a procura de um novo modo de viver, despertando nossa sensibilidade adormecida. Para viver melhor precisamos de um sentimento de intimidade, de união agradável e de beleza estimulante. Nesta necessidade natural se baseiam os objetivos da Biodanza.” 54 . Dentro de todo esse contexto de resgate ao primordial, existe forte harmonia e sincretismo 55 entre a Biodanza como sistema vivencial e a teoria da sincronicidade de CARL GUSTAV JUNG, tendo em vista a transcedentalidade do self (o simesmo) e a visão psico-cosmológica da sincronicidade, já abordadas na profundidade56. E, a medida em que avançamos nos estudos, intensificamos mais ainda essa conclusão, além de que ambas têm a mesma origem, a filosofia chinesa taoísta. XIV. Biodanza: a identidade no caminho da integração atrai as sincronicidades Ao som de música adequada, capaz de indução de vivências, as pessoas são convidadas a se mover no seu ritmo. Cada um dança dentro dos limites possíveis para aquele momento em contato com a emoção. Os movimentos corporais e a música, durante as vivências, surtem fortes efeitos sobre a identidade, os processos de integração afetiva, a reabilitação existencial e os estados de consciência. A música penetra pelo corpo, enquanto ocorre a mediunidade musical, as pessoas resgatam em cada um a sua própria dança, a sua própria maneira de 54 p. 13. “Tentativa de fundir elementos aparentemente discordantes provindos de diferentes sistemas de filosofia e de religião” (RALPH ABRAHAM, TERENCE MCKENNA e RUPERT SHELDRAKE, “Caos, criatividade e o retorno ao sagrado”, 1992, p. 222). 56 Ver os tópicos V, VI e VII. 55 55 ser, como entidade única e como centro de percepção do mundo, tomando consciência da identidade; e a sua maneira de se conectar com o sentir o próprio corpo e com a energia envolvente do momento. ROLANDO TORO ARANEDA comentou que a Biodanza é “(...) meio para criar ressonâncias internas que “animem” musicalmente nossa vida cotidiana.” Acrescentou que “as emoções têm formas musicais, espaços sonoros, partículas de amor” e “escutando dentro de nós mesmos, vivemos todas as formas musicais (...).” 57 Ainda, “somos um puro instrumento de vinculação: o ritmo nos une ao Universo, a nossa genitalidade, a todo o que é origem; a melodia elabora nossa comunidade amorosa e a harmonia nos brinda a intimidade e a transcendência.” 58 Dessa maneira, inspirada nas origens mais primitivas da música e da dança, a Biodanza desenvolve de forma vivencial as potencialidades genéticas do ser humano para a integração da identidade: a vitalidade, a afetividade, a criatividade, a sexualidade e a transcendência. A partir dos potenciais genéticos humanos, ROLANDO TORO ARANEDA criou as cinco linhas de vivência e relacionou os seus efeitos: vitalidade: alegria de viver, auto-regulação dos circuitos cárdio-respiratórios, bem-estar, energia para enfrentar o mundo, harmonia biológica, homeostase, ímpeto vital, potencial de equilíbrio, neuroendócrinos imunológicos, saúde e SIALH (Sistema Integrado Adaptativo Límbico Hipotalâmico); sexualidade: capacidade de sentir os desejos e os prazeres sexuais, dissolução das couraças defensivas, fecundação, identidade sexual, integração afetivo-erótica, motivação, reorganização da libido infantil, reprodução e vínculo sexual; criatividade: capacidade de renovação aplicada à própria Vida, construção, emprego da criatividade em cada ato de Vida, imaginação, impulso de inovação e expressão, renovação no estilo de Vida (reabilitação existencial), instinto exploratório migratório e capacidades artísticos; afetividade: aceitação da diversidade humana, altruísmo, ajuste corporal, amor, amizade, capacidade de cuidar e de dar proteção, comunicação, condutas de contatos, desenvolvimento da inteligência afetiva, elaboração de emoções, empatia, encontro de “feed back”, humanização, integração afetiva e biológica, reparentalização, retribalização e solidariedade; 57 58 “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. III, p. 458. “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. III, p. 459. 56 transcendência: capacidade de ir além do eu e de identificar com a unidade cósmica, capacidade de experimentar a expansão da consciência, consciência ética, experiência de intase-êxtase, hierofania (manifestação do divino), implosão amorosa, ligação com a natureza, percepção ampliada, regressão e sentimento de pertencer ao Universo. Por meio das vivências em Biodanza, as cinco linhas são desenvolvidas, facilitando o contato com a identidade e os desejos mais profundos, livre das máscaras e dos papéis culturais. Nesse processo de expressão das potencialidades genéticas e integração da identidade, as vivências devolvem ao corpo a sua unidade. Os potencias se integram em reciprocidade e aumentam a sua potência de coordenar-se entre sim. Assim, a plenitude existencial é alcançada por meio de sucessivos processos de integração. Integra-se o pensar, o sentir e o agir, com o resgate da autoestima, da auto-confiança e da capacidade de contornar obstáculos na Vida com maior flexibilidade, fluidez e entrega. Cada um passa a conhecer seus próprios talentos e virtudes e dos outros também. São eliminados os medos provocados pela sociedade, como o de se expressar, colocar limites, explicitar seus desejos, olhar nos olhos do outro, aproximar-se, dentre tantos outros... Ainda, ocorre a indução de novas formas de comunicação, a modificação de comportamentos para uma melhor ecologia humana (relações nutritivas e não-tóxicas), a expansão da consciência (consciência cósmica e ética) e a percepção ampliada (extraordinária vivência de estar vivo). Acontece também a percepção de que não somos seres isolados. Percebemos, então, que estamos acompanhados na mesma busca e no mesmo caminho: de viver de forma mais afetiva, amorosa, solidária e em comunhão com a Vida e o Universo. Portanto, ROLANDO TORO ARANEDA tratou a Biodanza como método pedagógico-vivencial para a reeducação afetiva: “A afetividade no homem moderno é com freqüência gravemente perturbada. Já na infância é possível verificar dificuldades nas relações, sobretudo no que diz respeito à capacidade de estabelecer ligações afetivas com as outras pessoas, e se observam, também, expressões precoces de violência e de destrutividade. Este fenômeno tem repercussões em todos os níveis da sociedade: há violência na família, na escola, na cidade, na política; há violência bélica, sustentada por armamentos cada 57 vez mais sofisticados. Apesar de os prodigiosos avanços tecnológicos terem melhorado notavelmente a qualidade de vida de grande parte da humanidade, esta se mostra, sob o aspecto afetivo, numa condição de aridez e de esterilidade na qual o amor é o grande ausente. A Biodanza considera um objetivo essencial estimular a afetividade no ser humano, mediante sua aplicação no campo da educação desde os primeiros anos de vida.” 59 Ainda, ROLANDO TORO ARANEDA, quando diz que “A Identidade se manifesta não somente a nível celular e visceral mas a nível psicológico-existencial”, concordou com a teoria do “self” (o si-mesmo) de CARL GUSTAV JUNG60. Contudo, numa crítica, comentou: “O conceito de “processo de individuação”, de Jung, e a busca do Self através do labirinto de opções existenciais, possui a profundidade da concepção genética mas padece de certa tendência solipsista.” Ademais, as ações e os efeitos da Biodanza descritas por ROLANDO TORO ARANEDA sobre a identidade, em sete dimensões, da biológica à cósmica, abarca a visão psico-cosmológica da sincronicidade de CARL GUSTAV JUNG61. De forma esquematizada, vejamos: biológica: a) ações: diálogo imunológico, erotismo, indução da alegria e prazer cinestésico; e b) efeitos: bem-estar (inconsciente vital), elevação do humor endógeno (vitalidade) e renovação celular. fisiológica: a) ações: auto-regulação, diálogo neuroendócrino, diminuição dos centros visuais e verbais, inibição da função repressora do córtex e transe; e b) efeitos: inconsciente vital, regulação dos sistemas neurovegetativo, neuroendócrino, imunológico, sistema-integrador-adaptativo-límbicohipotalâmico (SIALH) e homeostático, restauração de padrões de resposta fisiológica, vitalidade. instintiva: a) ações: permissividade, integração motora, estimulação e regulação das polaridades; e b) efeitos: valoração e expansão dos instintos, vitalidade e sexualidade. psicológica: a) ações: contato, carícias, encontros, integração do corpo e da mente, gozo de viver, reeducação afetiva, regressão, renascimento e saúde; e b) efeitos: afetividade, comunicação, criatividade existencial, 59 60 61 “Biodanza”, 2005, p. 35. Ver o tópico VI. Ver os tópicos V, VI e VII. 58 elevação da auto-estima, empatia, identificação, percepção ampliada, qualidade de Vida, regulação das emoções, sentimentos, renascimento, reabilitação existencial, reparentalização e vivências. social: a) ações: ações em grupo, contatos, diálogos silenciosos, reeducação afetiva e rituais de vínculo; e b) efeitos: afetividade, comunicação, consciência social e ética, criatividade, ecológica humana, empatia, evolução no processo sócio-cultural e inconsciente coletivo. planetária: a) ações: ações nas redes de conexões, arquétipos, cerimônias, integração à natureza, transe e transvaloração cultural; e b) efeitos: consciência ética, ecologia humana, expansão da consciência, inconsciente coletivo, reculturação planetária e transcendência. cósmica: a) ações: diálogo silencioso, fusão, movimento vivencial com a natureza e transe; e b) efeitos: expansão da consciência, ética, inconsciente vital e transcendência. ROLANDO TORO descreveu os critérios para avaliação da 62 identidade saudável : ausência de agressão gratuita; autodeterminação do limite de contato; capacidade para estabelecer um limite às agressões capacidade capacidade de intimidade; consciência ética; estabilidade frente às dificuldades; ausência de autoritarismo; alto nível de vitalidade; capacidade criativa; ausência de espírito competitivo; percepção de si mesmo como criatura portadora de um percepção do semelhante como único, diverso e portador motricidade caracterizada pelo equilíbrio, vigor e sinergia; resposta em “feed-back” com a realidade; e vivência de consistência. externas; de fuga frente a uma força superior (sobrevivência); valor intrínseco; de um valor intrínseco; 62 Apostila de “Identidade e Integração” e o livro “Biodanza”, 2005, p. 103. 59 No que toca também à identidade saudável, argumentou: “A vivência de constituir uma criatura única, em ressonância e intimidade com tudo o que é vivo, é característica anímica da Identidade sã. A identidade saudável vai sempre unida a uma percepção corporal, de limites claros, com tendência à autonomia. A percepção corporal e a percepção dos objetos mantêm coerência e unidade. ” 63 Ao contrário da identidade saudável, na identidade patológica, existe a dificuldade de se perceber e vivenciar a si mesmo, e afirmou, então, o criador da Biodanza: “O processo de Identidade de si mesmo, do próximo e dos objetos não é estático, mas essencialmente dinâmico e transitivo. Poderíamos dizer que existe uma sincronicidade perfeita entre as transformações da Identidade do sujeito e a identificação do mundo. Isto sucede também com o mundo percebido. A realidade é a mesma, há uma constante nela, uma espécie de estrutura superestável e, sem dúvida, ela se modifica qualitativa e quantitativamente a cada momento.” 64 De identidade patológica a saudável, “Na Biodanza, o processo de integração se realiza mediante a estimulação da função primordial de conexão ávida, a qual permite a qualquer indivíduo encaminhar-se, com uma força seletiva, às formas de ação que reforçam seu desenvolvimento e o integram a si mesmo, à espécie e ao cosmo” 65 . Na monografia “Biodança: um encontro de ser para ser” (1999), GIOVANA HARTKOPF sintetizou com suas palavras os ensinamentos de ROLANDO TORO ARANEDA66, quando defendeu a importância da Biodanza na estruturação da identidade, com base nos três níveis de integração, conforme o seguinte texto: “(...) a biodança é uma proposta das mais completas, na busca do reforço da identidade, e a partir daí se abram os caminhos para o outro. (...) Didaticamente, pode se dizer que o processo se dá em três níveis: conexão consigo mesmo – em que se está em profunda intimidade e recolhimento, e que se sente a desmedida felicidade de ser o continente da própria identidade. Pode-se chegar a um grau tão intenso de conexão, em que se alcança o estado de intasis – “felicidade suprema durante a qual se intensifica a consciência de estar vivo e de ser único (Toro, 1981, pg 2). A biodança busca a 63 64 65 66 Apostila de “Identidade e Integração”. Apostila de “Identidade e Integração”. “Biodanza”, 2005, p. 94. “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. I, p. 30-31. 60 reaprendizagem da intimidade, da auto-aceitação incondicional, da percepção de si e de su força interior. conexão com o semelhante – na qual os olhares se conectam. Quando olhamos alguém dessa maneira, saímos do nosso esconderijo e revelamos o nosso interior, podemos ser vulneráveis, estamos numa mesma sintonia, não existe medo, a vida está inteira ali, naquele instante encantador, nos entregamos num abraço emocionado, pleno de sentido, no qual as duas identidades forma uma identidade maior. conexão com o universo – dessa identidade maior, surge o terceiro estado, a presença de uma energia nova; a fusão com a totalidade, o abandono à pulsação originária da vida, é o movimento em que se alcança o êxtase – “a vivência de ser vida palpitante num universo pleno e sem limites” (Toro, 1981, pg 02). Entretanto, este processo não ocorre de forma estanque e separada. É uma pulsação constante e dialética, um ir e vir entre o indivíduo, a espécie e o universo. Na vivência não existe a precedência de um em relação ao outro. Em toda esta vivência acontece a fundamental conexão com o prazer, e que compõem todos os momentos de encontro.” 67 Analisando os aspectos sobre a identidade patológica, a identidade saudável e a integração da identidade, a Biodanza, como sistema vivencial, concorda com a abordagem da teoria da sincronicidade na visão psico-cosmológica de CARL GUSTAV JUNG 68 , em que coincidem eventos subjetivos (psíquicos) e objetivos (físicos), em movimentos coerentes e expansivos vindos de dentro para fora, em três níveis (consigo mesmo, com os outros e com o Universo), mas, ao mesmo tempo, como unidade. XV. Biodanza: a presença da sincronicidade nas relações humanas, como espelhos das identidades Os instrumentos da Biodanza são: a teoria, a música, as cerimônias, as celebrações, os rituais de vínculo, os relatos, as vivências, as entrevistas, o transe integrador – a indução de vivências – e os diálogos silenciosos – os encontros, os contatos, as carícias, os abraços, a presença do grupo, as palavras, as consignas e a percepção com os todos os sentidos, além dos cinco mais conhecidos (a audição, o olfato, o paladar, o tato e a visão). Esses instrumentos operam de forma interconectada. Contudo, para que ocorra a estimulação de emoções e vivências, válvulas geradoras de 67 68 p. 16-17. Ver os tópicos V, VI e VII. 61 sincronicidades 69 , segundo a teoria de CARL GUSTAV JUNG, num processo contínuo e progressivo, são muito importantes as interações com outras pessoas e as situações de encontro, como mecanismo de projeção do outro em si. O homem é um ser relacional. Por isso, na Biodanza, é essencial o grupo para que ocorra o processo de crescimento e de troca. Segundo ROLANDO TORO, “A identidade se manifesta na presença do outro” e “O amor a si mesmo e o amor aos outros não são sucessivos, mas simultâneos” 70 . Dessa maneira, não existe Biodanza individual. Ainda, “Dançar em grupos, descobrindo, progressivamente, os rituais de aproximação, permite a integração da Identidade. (...) A vivência de estar vivo está afetada constantemente pelo humor corporal e pelos estímulos externos. Mas sua gênese é visceral.” 71 Portanto, “Biodanza é um sistema que abarca a totalidade da vida humana e posa um modelo teórico de grande coerência; por esta razão, tem destacado os dinamismos de maior relevância, considerando sempre cada um dos elos modifica os restantes.” 72 A identidade integra-se e renova-se nos atos permanentes de comunhão com o outro. A abertura do coração e do peito, a aproximação, as carícias, os contatos, o corpo como fonte de prazer, a fluidez, a entrega, os espaços, a intimidade afetiva, os limites e a permissão para deixar ser absorvido são formas de ser na relação com os outros e de ser no mundo. Desse modo, na alteridade e na diversidade, são ativados os dois grandes pólos (a identidade e a regressão) entre os quais se recicla o processo de integração da identidade. Ocorre a perda da consciência de si mesmo ou da identidade por meio do transe para a outra polaridade, a regressão. Na verdade, os fenômenos transe e regressão são produzidos de forma simultânea. Nas regressões integrativas, reparadoras e saudáveis, há o abandono de si ao indiferenciado e o retorno ao primordial, a partir do qual surgem os sinais arcaicos e as mensagens cósmicas. Cada ser sente o divino que habita em seu interior em completa conexão com a identidade maior e a totalidade. No retorno do transe, a identidade integra-se e alcança o estado de consciência cósmica e a ampla percepção. Conforme ROLANDO TORO ARANEDA, “a vivência de regressão na Biodanza acontece por meio da indução de estados de transe integrador profundo. O estudo fenomenológico preciso dos estados de transe e regressão durante a sessão de Biodanza mostra 69 70 71 72 Ver o tópico VI. Apostilas “Identidade e Integração” e “Mecanismos de Ação da Biodanza”. Apostila “Identidade e Integração”. Apostila “Mecanismos de Ação da Biodanza”. 62 que tal vivência é muito diferente da dissociação; ao contrário, o indivíduo abandona sua identidade de modo a integrar uma grande unidade que, neste caso, é o grupo. O sentimento de plenitude e de beleza interior, a clareza do senso de realidade e a vivência de conexão autêntica com os outros, que o indivíduo experimenta após sair do transe regressivo, são manifestações que a maior parte dos terapeutas classifica como de “boa saúde”. 73 Nesse contexto, a respeito das relações humanas, como caminho para a percepção das sincronicidades, DEEPAK CHOPRA no livro “A realização espontânea do desejo: como utilizar o poder infinito da coincidência” (2003), quando citou o sutra “tat tvam asi”, ou seja,“vejo o outro em mim e eu nos outros”, escreveu: “Compreender como funcionam os relacionamentos humanos é uma das chaves mais importantes do sincrodestino. (...) (...) Somos espelhos para os outros e precisamos aprender a nos ver no reflexo das outras pessoas. Isso se chama o espelho do relacionamento. Através dele descubro o meu eu não-local. Por esse motivo, alimentar os relacionamentos é a atividade mais importante na minha vida. Quando olho ao meu redor, tudo que vejo é uma expressão de mim mesmo. Por conseguinte, o relacionamento é uma ferramenta para a evolução espiritual, com a meta suprema de atingir a consciência unitária. Somos todos inevitavelmente parte da mesma consciência universal, mas os grandes avanços acontecem quando começamos a reconhecer essa conexão na vida do dia-a-dia. O relacionamento é uma das formas mais eficazes de entrar em contato com a consciência unitária, porque sempre estamos nos relacionando. Pense na rede de relacionamentos que você tem a qualquer momento: pais, filhos, amigos, colegas de trabalho, parceiros românticos. Todos são, no fundo, experiências espirituais. Quando você está apaixonado, por exemplo, romântica e profundamente apaixonado, tem uma sensação de eternidade. Você está, nesse momento, em paz com a incerteza. Você se sente ao mesmo tempo maravilhoso e vulnerável, íntimo e exposto. Você está se modificando, se transformando, porém sem se perturbar; tem uma sensação de assombro e admiração. Trata-se de uma experiência espiritual. Por meio do espelho do relacionamento – de todos os relacionamentos – descobrimos estados expandidos de consciência. Tanto aqueles que amamos quanto aqueles por quem sentimos aversão são espelhos de nós mesmos. Por quem nos sentimos atraídos? Por pessoas que possuem as mesmas características que temos, porém mais acentuadas. Desejamos a companhia delas porque, subconscientemente, 73 “Biodanza”, 2005, p. 117. 63 sentimos que por meio desse contato talvez possamos expressar também, com mais intensidade, essas características. (...) (...) Ao reconhecer que podemos nos ver nos outros, cada relacionamento torna-se uma ferramenta para a evolução da nossa consciência e, à medida que ela evolui, vivenciamos estado expandidos de consciência. É nesses estados, quando chegamos à esfera não-local, que podemos experimentar o sincrodestino. Na próxima vez em que se sentir atraído por alguém, pergunte a si mesmo o que o atraiu. Foi a beleza, a graciosidade, a elegância, a influência, o poder ou a inteligência? Seja qual for a qualidade, esteja certo de que também está florescendo em você. Preste atenção a esses sentimentos e poderá iniciar o processo de se tornar mais plenamente você mesmo.” 74 . Dessa maneira, ao sentir todas as relações humanas, como espelhos da nossa identidade, ocorrem a expansão da consciência cósmica e as sincronicidades são amplamente percebidas. XVI. Biodanza: a sincronicidade presente na transmutação de energia dos encontros corporais Percebe-se a presença da sincronicidade na troca de energia durante os encontros corporais, inclusive nos abraços, porque, em cada encontro, duas identidades diferentes e juntas tornam-se uma identidade maior e única. Por meio dos abraços, somos capazes de estabelecer vínculos afetivos, de nos aproximarmos do outro num ato recíproco de darmos e recebermos afeto, de conectarmos conosco e com o próximo num encontro espiritual e corporal. O abraço é uma forma de expandirmos a consciência de pertencermos a uma “Irmandade Universal”, de percebermos ao outro com a abertura do peito e do coração e de alcançarmos o transe de fusão recíproca de identidades em uma outra maior. Por isso, ROLANDO TORO ARANEDA sustentou a respeito da inteligência afetiva humana, pois, a partir de momentos de plena afetividade e amorosidade, existe a plena conexão da mente ao Universo. A emoção do abraço acolhedor e aconchegante é incomparável, curativo para o físico, para o coração e para a alma. Para que tudo isso ocorra, há a necessidade de uma atitude permissiva e um sincero desejo de acolher e receber o outro. 74 p. 136-138. 64 No abraço, a energia afetiva de cada um se multiplica em forma exponencial e há a troca de qualidade e de intensidade da energia inicial. “Cada pessoa descobre, na sua capacidade de abraçar, seu nível de humanização, seu grau de evolução afetiva.” Dessa maneira, ROLANDO TORO ARANEDA descreveu o abraço e o encontro, como modelos naturais de movimento: “Freqüentemente, quando nos saudamos, damo-nos cordialmente a mão, dizemo-nos “até logo”, trocamos até mesmo um beijo natural, mas, salvo em algumas poucas ocasiões (despedidas, aniversários, festas de passagem de ano...), raramente nos abraçamos. A emoção ligada a este gesto têm uma qualidade insubstituível, que vem do ato de sustentar o outro em toda a sua “humanidade”. O abraço tem um significado mais religioso que sexual; compreende a fraternidade, a comunhão generosa, e é um meio supremo de perceber o outro, não como um estranho, mas como nosso “semelhante”. É mais fácil abraçar uma pessoa que se estima e se ama, do que alguém com quem não se tem intimidade. No entanto, o encontro do Rei Salomão com a rainha Sabá começou com um abraço solidário e emotivo; São Francisco de Assis manifestou aos leprosos, com este gesto, seu compartilhamento afetivo. Toda pessoa descobre em sua capacidade de abraçar seu nível de “humanização”, o grau de evolução de seus sentimentos. Na Biodanza, o abraço é um momento de encontro de si mesmo com o outro. O exercício definido como “Encontro” tem o caráter de um “costume social”; isso implica uma aprendizagem dos comportamentos de aproximação, comunicação e contato. É necessário distinguir entre os encontros formais habituais e os encontros rituais realizados na Biodanza, combinados com uma música adequada à estimulação da expressividade e dentro de um grupo afetivamente integrado. As relações pessoais que acontecem na vida cotidiana podem ainda ser aperfeiçoadas graças a esta situação de encontro ritual. O exercício do “Encontro” é feito em pares. As duas pessoas se aproximam progressivamente, olhando-se nos olhos, a fim de se abraçarem, e depois de um momento se despedem delicadamente. A comunicação afetiva acontece gradualmente por meio de sinais não-verbais de aceitação e receptividade, transmitidos pelo olhar, pelo sorriso e pelo gesto receptivo. A condição essencial deste exercício é a regra da reciprocidade dos gestos. Se uma das duas pessoas envolvidas expressa uma intencionalidade afetiva 65 forte, enquanto a outra se mostra retraída, é necessário procurar uma forma de encontro que não envolva nenhum tipo de imposição. A regra da reciprocidade implica tanto o respeito e a sensibilidade no encontro com o outro, quanto a capacidade de expressar com clareza os próprios limites, de modo a não dar margem à prevaricação. O exercício consiste em uma dupla experiência existencial: a interação afetiva com o outro por um lado facilita e intensifica a percepção de si mesmo, e por outro estimula o respeito pela pessoa que se tem diante de si. É possível que dois desconhecidos, realizando o “Encontro” em uma sessão de Biodanza, “despertem” para uma experiência nova em que o “estranho” se transforme em um “semelhante”. Tal exercício estimula, ainda, uma forma indiferenciada de afetividade que tenderá, depois, na vida cotidiana, a atenuar comportamentos discriminatórios e preconceitos.” 75 Sobre a identidade e o vínculo, ROLANDO TORO ARANEDA comentou: “A vinculação com o mundo significa, portanto, perder e ganhar a Identidade. Ser ou deixar de ser. Só assim se organiza e reorganiza a relação com a realidade. O “encontro” é a transubstanciação de Identidades diferentes”. A identidade, portanto, é estável e, ao mesmo tempo, dinâmica. É o que em mim permanecer, apesar das mudanças.” Ainda, ROLANDO TORO destacou 76 sobre a ocorrência de transmutação de energia no encontro corporal e assim, com magia, descreveu com detalhadas nuances os princípios do encontro corporal: “Quando duas pessoas se aproximam, se olham nos olhos, sorriem ou se abraçam, se estabelece entre elas um campo de ressonância, que desencadeia sempre algum tipo de resposta mais profunda. A aproximação de outra pessoa produz uma troca no tônus muscular (Ajuriaguerra) e se produzem modificações na taxa hormonal que entra na corrente sanguínea, nos processos enzimáticos, nos níveis de vigilância, na percepção, para dizer numa só palavra, provoca mudanças na totalidade do organismo. A aproximação de duas pessoas não é um fenômeno pueril. É uma espécie muito particular de emprego de energia cósmica. Este primeiro momento se denomina em Biodanza “sintonização” e tem uma relação com muitos conceitos abordados pela psicologia moderna. Por exemplo, “empatia” (Lips), “Dialógo Psicotônico” (Ajuriaguerra), “Eutonia” (Gerda Alexander), “Afinidade” (Rolando Toro). A aproximação de duas pessoas é um fenômeno transcendente. Como dizia Antonin Artaud: 75 76 “Biodanza”, 2005, p. 140-141. Apostila de “Identidade e Integração”. 66 “É algo misterioso e fatal essa união de dois magnetismos nervosos.” No momento do encontro se produzem distintos graus de intensidade de atração, vacilações, rejeição. O primeiro momento do encontro corporal é a sintonização com o outro. O longo processo que vai desde o encontro até a fusão total com o outro se inicia com a sintonização, emitindo uma série de sinais através do sorriso, do olhar, do gesto e da aproximação. É importante estabelecer que a finalidade última do encontro é a fusão, quer dizer: “entrar em transe” com outro e fundir duas identidades em uma só. Fundir a identidade individual na identidade do par. Através da fusão no orgasmo o casal humano se transforma em par cósmico ingressando na totalidade. A fusão é o “Maituna” do ioga tântrico. Em Biodança não basta a comunicação, nem nos interessa o orgasmo como alívio de tensão. A experiência suprema é as fusão. O enfoque convencional da sexologia, criou uma espécie de obssessão de orgasmo. (...) Esta obssessão de orgasmo é a maior fonte de frustração e insatisfação dos pares, que por suposto, perderam o sentido do que é um encontro humano profundo e encantador. Por que duas pessoas estão nuas num leito? Se tem como finalidade nesse momento o orgasmo, cada um lutará para obter do encontro “seu orgasmo” o mais cedo possível. Se pelo contrário, a finalidade nesse momento é desfrutar de uma profunda intimidade plena de confiança, enriquecendo as carícias, identificando-se um com o outro, intensificando os contatos em si mesmo, abandonando-se incondicionalmente ao outro, trocando carícias que excitam e desencadeiam correntes sutis de prazer, chegam ao orgasmo em meio aos beijos e carícias. Mas o orgasmo é apenas um momento a mais do encontro. O momento em que se dissolve o limite corporal, se funde as identidades e se ingressa numa totalidade maior. A primeira noção então do encontro corporal é compreender que sua finalidade é a fusão; que tanto a comunicação como o orgasmo são aspectos de um processo muito mais amplo. (...)” 77 No mesmo contexto, GIOVANA HARTKOPF na tese “Biodança: um encontro de ser para ser” (1999) mencionou os escritos de ROLANDO TORO ARANEDA78, ao detalhar com maior didática os princípios do encontro corporal: “(...) O encontro corporal tem como principal função a fusão, essa entendida como experiência suprema. Para se chegar à fusão com o outro, a 77 78 “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. III, p. 579-580. “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. III, p. 579-582. 67 Biodança propõe uma preparação emocional e corporal, formada por doze princípios, relacionados a danças e exercícios de contato: 1. Sintonia, ou magnetismo inicial – os olhos se encontram, se atraem, não há como fugi, o magnetismo é irresistível, os corpos vibram numa mesma sintonia (ex.: danças de aproximação e encontro). 2. Iniciativa recíproca – os corpos falam a mesma linguagem, mãos quente e amorosas, que tocam e acariciam movidas pelo mesmo impulso (ex.: acaricimento recíproco de rosto, de cabelo...). 3. Sincronicidade – os espaços a serem preenchidos, nos levam a viajar pelo corpo do outro com muita suavidade, num tempo que é eterno (ex.: dançar ocupando os espaços vazios). 4. Fluidez – nossos braços são asas, levantamos vôo, compartilhamos da mesma liberdade (ex.: séries de fluidez, danças em pares ou em grupo etc). 5. Diálogo Psicotônico – os corpos conversam, pulsam num mesmo tônus, movimentam-se com sensibilidade e harmonia, ocupam o mesmo espaço (ex. Dança eutônica, etc). 6. Eurritmia – os ritmos se encontram numa pulsação comum (ex.: jogos de samba, dança do trabalho etc). 7. Reciprocidade – somos um, somos dois, somos todos; as emoções deslizam de um corpo a outro em íntima correspondência (ex.: rodas de comunicação, de contato e giratória, dança do amor). 8. Integração – encontramos a nossa inteireza, todo o corpo está ali, a mente, o coração, a barriga e a pélvis. E quando inteiros a fusão é completa. 9. Diversificação – neste momento sentimos a nossa singularidade em consonância com a singularidade do outro (ex.: dança de contato mínimo). 10. Compressão-Descompressão – os corpos se aproximam e de distanciam em mútua correspondência, em alguns instantes somos mais suaves e frouxos em outro mais estreitos e tonificados (ex.: de mãos ou de abraços). 11. Incondicionalidade – o outro é sempre novo, não existem condições anteriores, somos um novo ser a cada encontro (ex.: dança eurrítmica).” 79 Dentro dessa questão, na visão da física quântica, DEEPAK CHOPRA no livro “A realização espontânea do desejo: como utilizar o poder infinito da coincidência” (2003) comentou sobre a troca de energia nas relações: “(...) Os campos de energia (e nuvens de elétrons) se encontram, pequenas partes se fundem e depois vocês se separam. Embora você se perceba como inteiro, você perdeu um pouco da sua energia para o objeto e recebeu em troca um pouco da energia dede. Trocamos informações e energia com tudo o que encontramos e podemos sair desse encontro um pouco modificados. Desse modo, 79 p. 24-25. 68 também podemos perceber que estamos conectados a tudo o mais no mundo físico. Compartilhamos constantemente partes dos nossos campos de energia, de modo que todos nós, nesse nível quântico, no nível de nossa mente e nosso “eu”, estamos conectados. Estamos todos relacionados uns com os outros. (...) Na realidade, todos vibramos para dentro e para fora da existência o tempo todo. Se pudéssemos aperfeiçoar nossos sentidos, conseguiríamos efetivamente descortinar os intervalos na nossa existência. Estamos aqui, a seguir não estamos mais aqui e depois estamos aqui de novo. A sensação de continuidade é sustentada apenas pela nossa memória.” 80 . A respeito da energia dos encontros e do processo de integração da identidade nos encontros na Biodanza, SANCLAIR LEMOS sintetizou de maneira bem clara e didática este mecanismo de ação no artigo “As linhas de vivência” (2005), a seguir: “(...) Quando nos encontramos com uma pessoa e logo em seguida com outra, levamos a qualidade do primeiro encontro para nosso encontro seguinte. Somos aí a integração de todas as pessoas com as quais nos encontramos e podemos levar toda essa riqueza a cada pessoa com a qual nos encontramos – na sessão de Biodanza ou fora dela. Envolvendo esse turbilhão de energia que é a expressão das linhas de vivência, existe uma pulsação polarizada de expressão do ser, ou melhor dizer, da expressão das linhas de vivência como energia de vida. Essa pulsação se dá de acordo com a polaridade de expansão e recolhimento. Em sua polaridade de expansão nos sentimos como um “centro de percepção” do mundo. Somos o que somos e nos movemos na realidade diferenciados do mundo, com os limites corporais nítidos, temos aí a “consciência intensificada” de sermos nós próprios, o sistema biológico, através da estimulação do sistema nervoso autônomo-simpático, encontra-se pronto para ação, seja ela o trabalho, a luta ou a fuga. Essa pulsação de expansão e recolhimento, ou yin-yang como denominara os taoístas chineses, parece ser a maneira de expressão do universo, a alternância das polaridades complementares. Logo podemos, por um ato da vontade ou da consciência penetrarmos em um estado que chamamos de regressão, nos sentido de retornar à origem ou à essência. Nessa polaridade sentimos parte de um todo, nosso limite corporal não é tão nítido, o organismo (pelo estimulo do sistema nervoso autônomo parassimpático) volta-se para estados de reparação dos tecidos e 80 p. 30-31. 69 órgãos e de nutrição. Essa vivência pode aprofundar-se até a percepção da unidade e a fusão que pode ser uma vivência de percepção sensível de se próprio, com o outro ou o êxtase com a beleza e a força da natureza. Somos então seres que existem nessa polaridade, em determinado momento somos o que somos – diferenciados do mundo, em outro momento somos o que somos unidos, diluídos, fusionados parte do todo ou da unidade, somos o mundo. (...) (...) Somos parte da grande harmonia cósmica e é o movimento que conduz e organiza nosso existir como seres humanos. Se vivermos com tal integridade (inteireza), nossos movimentos se tornam parte da grande dança cósmica, nosso cotidiano se transforma em expressão arquetípica e a vida uma eterna possibilidade de aprendizagem, de vivência e de enriquecimento da consciência. Aqui, nesse momento, sentimos e recobramos o sabor e o êxtase de viver.”” 81 . Portanto, a integração da identidade proporcionada na troca de energia e a formação de uma identidade maior em cada encontro corporal justificam a coerência entre a Biodanza, na condição de método vivencial, com o princípio da sincronicidade82, inspirado na filosofia taoísta e na teoria do “um”. Entre a relação “um” e “outro”, existe a busca da unidade, porque a individualidade (o egoísmo) vira a essência (o altruísmo), no movimento expansivo da identidade interior para o exterior. Assim, o Universo é a imagem espelhada da trama das criaturas originadas do “um”. XVII. Biodanza: as sincronicidades no poema “Todos somos uno” ROLANDO TORO ARANEDA, sábio poeta, inspirado na arte e no êxtase da Vida, escreveu o poema “Todos somos uno”: “A força que nos conduz é a mesma que incendeia o sol que anima os mares e faz florescer as cerejeiras. A força que nos move é a mesma que agita as sementes com sua mensagem imemorial de vida. A dança gera o destino sob as mesmas leis que vinculam a flor e a brisa. 81 Artigo da Revista Pensamento Biocêntrico (http://www.pensamentobiocentrico.com.br), n.° 3, abril∕junho de 2005, p. 18-20. 82 Ver tópico VII. 70 Sob o girassol de harmonia todos somos um.” 83 Nesse poema, ROLANDO TORO ARANEDA soube poetizar com toda a sua criatividade a visão das teorias do inconsciente vital, da inteligência afetiva e do princípio biocêntrico, as bases fundamentais da Biodanza, como sistema vivencial. Na realidade, essas teorias estão perfeitamente interconectadas porque buscam a conexão com a Vida e o Universo, como unidade. Este poema assemelha-se com a Oração do Grande Espírito, na linha do Xamanismo, que introduz a biomonografia. As tradições xamânicas honram todas as relações. E, segundo a tradição dos índios lakotas, eles vibram, ao final de cada rezo, na energia do “Aha! Metakuya Oyasin!”, quando dizem este mantra, que significa “por todas as nossas relações”. Na simplicidade do poema, o criador filosofou o que acontece na Vida: a harmonia e a sincronicidade dos acontecimentos da natureza... Descreveu a beleza de cada detalhe, como parte de algo maior, supremo e universal. Demonstrou a conexão e a união de tudo o que existe na natureza e na universalidade cósmica, da qual o homem pertence como unidade. Tudo na Vida está interconectado. O Universo é o resultado da ligação de tudo que existe na Vida. “O homem não é o centro do Universo sem a Vida. (...) Pela ótica biocêntrica nos permite penetrar no mundo de forças e acontecimentos que não pertencem ao homem sem a vida universal” 84 . Diante disso, “Se somos parte de um universo vivo, participamos da inteligência cósmica que gera a vida e ela está vinculada à capacidade de amor. A inteligência afetiva é a capacidade de resolver problemas da vida com a vida. (...) As expressões máximas da inteligência humana são o amor e a amizade. O amor é uma interação sutil entre identidades que pugnam por alcançar uma só identidade com o outro. É um impulso de fusão com os outros. O amor não é um estado momentâneo senão um “processo” que envolve a existência. (...) a capacidade afetivo-motora de estabelecer conexões com a vida e relacionar a identidade pessoal com a identidade do Universo”. 85 ROLANDO TORO ARANEDA sustentou que o princípio biocêntrico “tem como referência imediata a vida, e se inspira nas leis universais que conservam os sistemas vivos e que tornam possível sua evolução”. 86 83 84 85 86 Apostila “Biodanza: Ars Magna”. Apostila “Biodanza: Ars Magna”. Apostila “Inteligência Afetiva: A Unidade da Mente com o Universo”. “Biodanza”, 2005, p. 51. 71 Comentou também que a Biodanza, como método vivencial, “parte do fato inquestionável da existência da vida “aqui e agora” para interrogar-se sobre a origem do cosmo.” 87 Ainda, neste aspecto, ROLANDO TORO ARANEDA diz: “Na teoria da Biodanza, redefini o conceito de vivência como a experiência vivida como grande intensidade por um indivíduo no momento presente, que envolve a cenestesia, as funções viscerais e emocionais. A vivência confere à experiência subjetiva a palpitante qualidade existencial de viver o “aqui e agora”. Defini as características essenciais da vivência e estruturei uma metodologia precisa para induzir vivências voltadas à integração e ao desenvolvimento humano mediante a estimulação da função arcaica de conexão com a vida, já que a vivência é a expressão psíquica imediata desta função.” 88 Como exemplo prático do “aqui e agora” vivenciado além do espaço terapêutico da Biodanza, vale a pena citar uma passagem de BRIAN L. WEISS, escritor e médico psiquiatra americano sobre terapias de vidas passadas, no livro “Só o amor é real: uma história de almas gêmeas que voltam a se unir” (1996): “O vietnamita Thich Nhat Hanh, monge budista e filósofo, nos ensina a saborear uma boa xícara de chá. Temos de estar completamente conscientes para sentir prazer com o chá. Somente na consciência do momento presente as nossas mãos podem sentir o agradável calor da xícara. Somente no presente podemos sentir o aroma e a doçura, apreciar o requinte do sabor. Se estivermos ruminando acerca do passado, a experiência de saborear a xícara de chá nos fugirá completamente. Quando olharmos a xícara, o chá já acabou. A vida é assim. Se não estivermos inteiramente no momento presente, olharemos em nossa volta e ele terá passado. Teremos deixados de sentir o contato, o aroma, o requinte e a beleza da vida. Esta parecerá estar nos deixando para trás. O passado terminou. Devemos aprender com ele e deixá-lo ir. O futuro ainda não chegou. Devemos fazer planos, mas não perder tempo em preocupar-nos com ele. De nada vale preocupar-nos. Quando paramos de ruminar a respeito do que já aconteceu, quando paramos de preocupar-nos com o que talvez nunca aconteça, então estaremos vivendo o presente e começaremos a sentir a alegria de viver.” 89 . Voltando ao tema princípio biocêntrico, ROLANDO TORO ARANEDA enfatizou que “O princípio biocêntrico coloca seu interesse em um universo compreendido como um sistema vivo. O reino da vida abrange muito mais que os vegetais, os animais e o homem. Tudo o que existe, dos neutrinos ao quasar, da pedra ao pensamento mais sutil, faz parte deste 87 88 89 “Biodanza”, 2005, p. 51. “Biodanza”, 2005, p. 30. p. 53-54. 72 sistema vivo prodigioso. Segundo o princípio biocêntrico, o universo existe porque existe a vida, e não o contrário.” 90 Ademais, “A vida não é conseqüência dos processos atômicos e químicos, mas da estrutura guia da construção do universo. As relações de transformação matériaenergia são os estados de integração da vida. A evolução do universo é, na realidade, a evolução da vida.” 91 “O princípio biocêntrico é, portanto, um ponto de partida para estruturar as novas percepções e as novas ciências do futuro relativas à existência; atribuição de prioridade ao ser vivo; consideração do determinismo como ilusório; abandono progressivo do pensamento linear em favor da sincronicidade e da ressonância dos acontecimentos; desqualificação das filosofias que buscam uma verdade única, pois dentro de cada verdade se esconde outra. (...)” 92 Por fim, diante dessa exposição teórica sobre a inteligência afetiva e o princípio biocêntrico, concluímos que a Biodanza, como metodologia vivencial, está bem alicerçada nestes princípios e, com toda certeza, favorece os movimentos de sincronicidade. Além disso, são plenamente coerentes entre si e concordam com o foco cosmológico e visionário de CARL GUSTAV JUNG93 e a física quântica94. XVIII. Biodanza: as sincronicidades marcam presença no inconsciente vital e na saúde ROLANDO TORO ARANEDA comentou que formulou o conceito de inconsciente vital, a partir do “comportamento coerente e, de certo modo, intencional das células e dos tecidos”, além dos órgãos, a fim de obedecer a “tendência global à conservação presente nos seres vivos” 95 . Justificou que “Os progressos da biologia celular evidenciaram a existência de um comportamento autônomo das células e dos tecidos verificado, por exemplo, nos mecanismos biológicos responsáveis pelas diversas formas e comunicação celular, tanto no interior da célula como entre as células, na plasticidade estrutural da cromatina, no desenvolvimento do embrião e ns células tumorais. As células possuem uma forma de memória, manifestam afinidade repúdio, solidariedade entre si, e se valem de múltiplas formas de comunicação.” 96 “O inconsciente vital se expressa pelo humor endógeno (euforia e depressão), pelo bem-estar cenestésico, pelo estado geral de saúde, pelas reações de 90 91 92 93 94 95 96 “Biodanza”, 2005, p. 51. “Biodanza”, 2005, p. 51. “Biodanza”, 2005, p. 51. Ver os tópicos V, VI e VII. Ver os tópicos VIII e IX. “Biodanza”, 2005, p. 53. “Biodanza”, 2005, p. 53. 73 imunossupressão frente às perdas, pelas reações alérgicas e pela capacidade de cicatrização dos tecidos. As vias de acesso ao inconsciente vital são: a alimentação; as brincadeiras, o bom-humor e as risadas; as carícias e o erotismo; a ligação com a natureza; os banhos de mar; os banhos de lama; a massagem; as vivências da Biodanza em geral e, particularmente, as de regressão mediante o transe na água, induzido no ambiente da Biodanza aquática.” 97 Ainda, “O conceito de inconsciente vital permite compreender com profundidade o princípio biocêntrico, como “tendência cósmica que gera vida.“ 98 .”O inconsciente vital está em sintonia com a essência viva do Universo; quando a sintonia é perturbada, inicia-se a doença. O ato de cura será compreendido, assim, como um movimento destinado a recuperar essa “sintonia vital” com o universo.” 99 Portanto, a partir do inconsciente vital, destacamos a importância da Biodanza como instrumento vivencial de cura e de saúde, com a finalidade de recuperar a sincronicidades e a sintonia com a Vida e o Universo. Segundo ROLANDO TORO ARANEDA, “Se Biodanza nos conduz à arte de viver, convida-nos à grande dança cósmica, seus recursos são também universais: ritmo e harmonia musical, movimento orgânico, criação e encontro amoroso. Biodanza é a Ars Magna, a Arte Suprema, que nos conduz à saúde, como expressão da ordem cósmica.” 100 A Biodanza é fator de saúde, como expressão da ordem cósmica e, por conseqüência, das sincronicidades, porque: atua sobre a parte sã: Na opinião de ROLANDO TORO, “A Biodanza trabalha com a parte sã dos participantes, com seus esboços de criatividade com seus restos de entusiasmo, com sua oprimida necessidade de amor, com sua oculta capacidade expressiva, com sua sinceridade. A Biodanza está movida por uma espécie de “vontade de luz para iluminar a insistente escuridão” (Artaud).” 101 é ato íntimo de curar: Nesse ponto, em sincretismo com o xamanismo, comentou ROLANDO TORO ARANEDA: 97 “Biodanza”, 2005, p. 57. Apostila “Inconsciente Vital e Princípio Biocêntrico”. 99 “Biodanza”, 2005, p. 53. 100 Apostila “Biodanza: Ars Magna”. 101 Apostila “Biodanza: Ars Magna”. 98 74 “Somente partindo da imagem integral do homem, podemos conceber a enfermidade como um processo da totalidade e a cura como um ato que requer a mais profunda intimidade, para o qual é necessário que terapeuta e enfermo sejam profundamente comprometidos. (...) Devemos encontrar inspiração na medicina xamânica para compreender a natureza deste compromisso, que é um compromisso com a vida. O xamã utiliza suas condições mediúnicas, a partir de estados de transe e regressão, que lhe permitem uma compreensão do enfermo. Neste estado de percepção aumentada, há um diagnóstico e descobre a natureza e a origem do mal. (...)” 102 A Biodanza, igual ao xamanismo, amplia o estado de percepção. Ela possui uma visão afetiva e humanitária e estabelece “o circuito ecológico interhumano que fomenta vida e saúde”. 103 ROLANDO TORO ARANEDA cita: “Antonin Artaud, comentando a visão do cosmos pelos índios mexicanos, relata que, para eles, a vida é uma lareira sussurrante, um fogo que ressoa; e a ressonância do viver alcança todos os graus do diapasão. Nesta visão se revela o sentimento de calor e de harmonia musical.” 104 tem uma visão integral do homem: A Biodanza baseia-se na medicina ecológica. ROLANDO TORO estudou que: “Qualquer enfermidade (...) provém de um desequilíbrio da totalidade do organismo. (...) O organismo humano, instalado no mundo, em interrelação com seus semelhantes, está sujeito a extraordinárias trocas. A imagem do homem nas ciências humanas contemporâneas abarca sua totalidade. Esta imagem integral permite evidenciar circuitos de retroalimentação muito sutis que jamais poderia visualizar-se através de um modelo atomizado. A imagem de totalidade entrega, por outra parte, a dimensão evolutiva de um ser em processo de desenvolvimento.” 105 é uma terapia para “enfermos de civilização”: A Biodanza com todos os seus mecanismos de ação (a dança, a música orgânica, os encontros, etc), resgata a verdadeira essência do homem, porque busca a saúde, ou seja, acessar o inconsciente vital (alegria de viver, humor endógeno, bem-estar cenestésico, prazer, etc ). 102 103 104 105 Apostila “Biodanza: Ars Magna”. Apostila “Biodanza: Ars Magna”. “Biodanza”, 2005, p. 37. Apostila “Biodanza: Ars Magna”. 75 Ainda, num processo de crescimento e de troca, renova com melhor qualidade os estilos de Vida, para evitar e tratar as enfermidades psicossomáticas, originárias dos conflitos emocionais e decorrentes do “processo de civilização, que parece ir paralelo com o de aniquilamento da vida” 106 . Ainda, “Segundo Novalis, o poeta místico alemão que anunciou a possibilidade de uma “sociologia musical”, o homem possui potencialmente todas as harmonias e ressonâncias do universo, mas no mundo moderno vive oprimido pelo esquema rígido; perdeu a harmonia, é um ser angustiado. Resgatar o “homem musical” que jaz em cada um de nós poderia ser o projeto para o futuro.” 107 Baseado em intensas e profundas pesquisas, ROLANDO TORO ARANEDA conclui que: “A proposta da Biodanza é atuar, através de exercícios específicos que deflagram emoções integrativas, para favorecer a auto-regulação orgânica. (...) Biodanza atua sobre o Sistema Integrador-Adaptativo-Límbico- Hipotalâmico. No âmbito psicológico modifica o estilo de vida e cria novas motivações para viver. Do ponto de vista biológico, Biodanza é uma técnica de integração interorgânica. Isto significa que a prática de Biodanza integra o organismo em todos os níveis: emocional, neurológico, endócrino e imunológico. Por esta razão tem efeitos curativos e de reabilitação nos mais diversos quadros clínicos. (...) A expansão da identidade gera saúde, alegria de viver e novas formas de comunicação afetiva e erotismo. (...) O Programa de Biodanza para Enfermidade Psicomáticas inclui: - Exercícios de expressão de emoções reprimidas (raiva, medo, - Auto-regulação neurovegetativa; - Mobilização e desbloqueio da energia erógena; - Exercícios de contato e carícias; - Reforçamento da auto-estima e confiança em si mesmo; - Eliminação de impulsos auto-destrutivos inconscientes.” sofrimento); 106 107 108 108 Apostila “Biodanza: Ars Magna”. “Biodanza”, 2005, p. 37-38. Apostila “Biodanza: Ars Magna”. 76 LÓPES IBOR, psiquiatra especializado em Medicina Psicossomática (“Influencia Del Animo em los Mecanismos Reguladores”), afirmou: “Diga-me como vives que te direi que doença terás”. ORTEGA Y GASSET, grande filósofo espanhol, criador da doutrina racio-vitalismo e um dos mais profundos investigadores dos problemas do homem e da sociedade, afirmou: “Primeiro, e antes de mais nada, sejamos um bom animal”. A partir dessas afirmações de LÓPES IBOR e ORTEGA Y GASSET, que se completam, ROLANDO TORO ARANEDA109 inspirou-se nos estudos para a Biodanza se tornar poderoso método pedagógico-vivencial de “estilos de viver”. Tais afirmativas completam-se e integram-se, de maneira coerente, porque ser um bom animal é respeitar, seguir e não reprimir os próprios instintos naturais, que são impulsos, comportamentos e movimentos inatos e hereditários, que se deflagram frente a situações específicas (nutrição, reprodução, etc.), com a finalidade de preservar a espécie e se manter vivo. Qualquer animal, inclusive o homem, adoece, quando nega e não expressa os seus próprios instintos. Na realidade, o instinto é a força que nos move. É a fonte da emoção que nos faz agir na realidade para conservar e nutrir a existência, a inteligência e a razão. Nós nos movimentamos com a inteligência e com os instintos. O mundo é eternamente cambiante, em movimento e em transformação. E, por isso, temos os instintos com as mesmas características, para que o animal sobreviva, diante das múltiplas possibilidades de circunstâncias oferecidas pelo mundo. Dessa forma, o animal tem a necessidade de se movimentar, com a inteligência e com os instintos, para permanecer vivo e satisfazer suas necessidades básicas e nutrir a própria Vida. No processo de civilização, as diversas culturas e sociedades tendem a reprimir os instintos, o que afronta a ordem original da natureza. E por não seguir um estilo original e natural de Vida, o corpo (“soma”) adoece, originando-se, então, as doenças psicossomáticas. Quanto maior o nível de repressão dos instintos, as chances de adoecer aumentam. Diante disso, ROLANDO TORO ARANEDA também defendeu a Biodanza, como o reaprendizado das funções originais da Vida: “Tal reaprendizado consiste na sensibilização dos instintos básicos, que constituem uma expressão da programação biológica. O instinto é uma conduta inata, hereditária, que não requer aprendizado e que se manifesta diante de estímulos específicos. Sua finalidade biológica é a adaptação ao ambiente, indispensável à sobrevivência da espécie, comum a todos os seres vivos. Existe uma tendência cultural de associar o instinto à irracionalidade; não obstante, a função instintiva 109 “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. I, p. 136. 77 revela um tipo de sabedoria biológica da espécie que tem a sua própria lógica. Muitos instintos têm os seus opostos complementares (por exemplo, a fome tem como oposto complementar a saciedade). Essa bipolaridade dos instintos é, na realidade, uma expressão da lógica da vida, que permite resolver problemas de adaptação em uma escala bastante ampla. A força do impulso instintivo diminui à medida que ele se satisfaz. A auto-regulação dos instintos tem uma base orgânica constituída por uma infra-estrutura neuroendócrina de notável precisão: por esta razão a liberação dos instintos não representa um perigo; ao contrário, resgatar no próprio estilo de vida uma coerência com esses impulsos inatos é um modo natural de responder harmoniosamente às necessidades orgânicas e, assim, manter a saúde. Os instintos representam a natureza em nós, e sensibilizar-se a eles significa restabelecer a ligação entre natureza e cultura. (...) “Reconciliar-se com os genitores internos”, “retornar à origem”, “recuperar a criança livre”, “conectar-se com a energia cósmica”, “restaurar a função do orgasmo” são algumas das propostas da moderna intuição em psicoterapia. Tal semântica implica o reconhecimento da importância do primordial e da idéia de que a saúde esteja vinculada à fonte original da vida. À parte os eufemismos, creio que deveríamos retomar o significado do instinto e restabelecer seu valor psicoterapêutico, antropológico e educativo. Existe um tipo de medo generalizado quanto a esse propósito e uma postura hostil diante de qualquer manifestação do primitivo. Minha proposta tem a finalidade de resgatar nossa “selva interior”: considero que seja necessário ver as manifestações instintivas de uma perspectiva de exaltação da vida e da graça natural dela derivada.” 110 Na Biodanza, há a reaprendizagem dos padrões originais e do estilo natural de Vida, em favor da saúde corporal, emocional, espiritual e mental (bemestar geral), porque faz “acessar o inconsciente vital”, que fica evidente na alegria e no prazer. A natureza mostra a estratégia perfeita: “tudo que faz bem, dá prazer”. A Biodanza, na verdade, aumenta a unidade e regular a homeostase, ou seja, permite ao corpo funcione de maneira adequada. Os equilíbrios naturais os ritmos internos, a percepção dessa unidade e a integração dos processos homeostáticos deflagram um processo integrador evolutivo. Assim, quando o organismo é integrado, ele se insere nesse movimento maior e não é mais ele que se move. Ele ressoa em harmonia com o movimento maior evolutivo. Então, o ser humano, independentemente, está condenado a 110 “Biodanza”, 2005, p. 35-36. 78 evoluir na mesma sintonia, ou seja, em sincronicidade, de acordo com a teoria de CARL GUSTAV JUNG. Em função do inconsciente vital e do princípio biocêntrico, a Biodanza busca a cura e o estado geral de saúde. De modo ressonante, as sincronicidades são perceptíveis, em razão da sintonia com a Vida e o Universo. Por isso, ROLANDO TORO ARANEDA diz que “Biodanza é uma Arte Magna (“Ars Magna”)”. XIX. Biodanza: os movimentos de fluidez favorecem as sincronicidades ROLANDO TORO ARANEDA, ao estudar as categorias dos movimentos humanos, descreveu os movimentos fluidos como a harmonização da energia de nós mesmos com o todo universal e, portanto, conclui-se que a entrega e a fluidez atraem os movimentos de sincronicidade: “O movimento fluido é contínuo e se desenvolve como ondas em constantes transformações. Propicia a integração motora e vivencial (Metodologia do Êxtase). Trata-se de buscar um equilíbrio dinâmico, uma harmonia pulsante. O movimento fluido é sem detenções, diante de um obstáculo, adapta-se a isso e segue. Fluir é a capacidade de permitir o fluxo contínuo da energia. (...) Um dos efeitos importantes os exercícios de fluidez é a desaceleração e a harmonia orgânica. A Fluidez é uma categoria de movimento contrária à rigidez. São aspectos vinculados à Fluidez, facilmente observáveis nas danças a dois ou em grupo: - a complementaridade (...). - a sincronicidade (...). - a reciprocidade (...).” 111 "(...) Os movimentos de Fluidez comprometem todo o corpo em um processo de deslizamento sensível no espaço, de modo que se produza uma conexão táctil com o ar. Os exercícios de Fluidez têm certas semelhanças com os movimentos do Tai Chi Chuan, mas diferem completamente em seus objetivos, em sua gênese límbico-hipotalâmica e em seus efeitos vivencias. (...) Estimular a vivência de integração ao universo. Por esta razão, a Fluidez é considerada o caminho principal para alcançar o estado de êxtase. 111 Apostila “Movimento Humano”. 79 (...) As pessoas que possuem Fluidez no comportamento evitam facilmente os obstáculos. As pessoas rígidas, ao contrário, chocam-se contra eles e vivem com um inútil gasto de energia. A Fluidez tem uma função muito importante no ajustamento corporal recíproco durante o ato amoroso, pois intensifica a sensação de formar um só corpo com o companheiro. A Fluidez eleva a qualidade das relações humanas nos aspectos intelectual, afetivo e sexual; aumenta a flexibilidade na comunicação e a disposição de encontrar uma solução para os conflitos quando se apresentam. (...) A Fluidez é uma categoria universal do movimento que pode ser observada na Natureza: os rios, o vento, o movimento de muitos animais como o da serpente, do tigre e dos peixes. A Fluidez é uma característica do elemento água que, alquimicamente, representa a dissolução dos sólidos e cujo equivalente psicológico é o poder de encontrar uma “solução” para os conflitos. A água dissolve quimicamente o sal, originando uma solução. As pessoas que simbolicamente têm muita água como componente caracterológico, ou seja, que têm Fluidez, possuem maior capacidade para resolver os problemas.” 112 Por isso, as danças fluidas e melódicas na Biodanza favorecem a desaceleração, a desprogramação, a harmonia orgânica, a conexão com o elemento água, o prazer, a sabedoria e os movimentos contínuos. A entrega e a fluidez são características relacionadas com a transformação contínua e a integração entre as dualidades yin (“passivo, feminino, receptivo e levemente relaxado” tenso” 114 113 ) e yang (“ativo, masculino, penetrante e ) proposta pela filosofia oriental taoísta que inspirou CARL GUSTAV JUNG na teoria da sincronicidade115. ROLANDO TORO ARANEDA concluiu, ao tratar sobre a transmutação da energia por movimentos de fluidez, que: “Permitir o fluxo da energia cósmica através dos movimentos corporais é conseguir a perfeita colocação do homem no universo, fazendo parte da circulação infinita da energia.” 112 113 114 115 116 116 Apostila “Elenco Oficial de Exercícios, Músicas e Consignas de Biodanza”. “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. II, p. 250. “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. II, p. 250. Ver tópico VII. “Teoria da Biodança: Coletânea de Textos”, vol. II, p. 250. 80 XX. Biodanza: somos de arte inacabada e em constante processo de sincronicidade com o Cosmos O Princípio Biocêntrico é o paradigma filosófico fundamental da Biodanza. Surge de uma proposta anterior à cultura e se nutre da sabedoria biocósmica, geradora dos processos viventes. Significa que todo o Universo, inclusive os seres humanos, estão organizados em função da Vida, a fim de resgatar a sacralidade da Vida. O processo da Biodanza é contínuo e progressivo, com respaldo no Princípio Biocêntrico. Permite-se o crescimento de cada um no seu próprio ritmo e o estímulo a fazer o que lhe é possível, sem criar resistências e/ou acelerações ao processo. Isso porque, na verdade, a Vida está fluindo o tempo inteiro, não está pronta... Pode-se dizer que é infinita... “A arte da vida consiste em fazer da vida uma grande obra de arte.” (MAHATMA GHANDI). Como a Vida, as obras de arte apresentam o mesmo processo de continuidade e progressividade, pois resultam do expressivo ato de viver, de sentir a Vida, de se conectar com o que está vivo, de criar a Vida e de permanecer viva. Ela nasce da percepção intensa dos sentimentos do artista com a Vida. A expressão das emoções felizes ou desagradáveis do artista confere à obra de arte as qualidades e as ressonâncias da Vida. Portanto, a partir do próprio paradigma da Biodanza, concluo que a minha biomonografia “Biodanza: o caminho para a atração e a percepção dos movimentos da sincronicidade na Dança da Vida” é uma obra de arte inacabada e em constante processo de evolução. Mesmo porque, nos dias de hoje, está ocorrendo uma ampla abertura da consciência na criação de pontes sustentáveis entre a ciência e a religião. A cada dia, surge uma nova revelação do Grande Mistério a ser acrescentada na minha biomonografia. Vivenciei a plena inspiração ao escrever esta biomonografia no final do outono. As idéias se desprendiam de minha cabeça, da mesma maneira que as folhas se soltam dos galhos das árvores. Durante esses momentos, os meus dedos eram guiados pela inspiração divina. Sentia-me em perfeita sintonia com o meu desejo e com o Universo, o que facilitou a minha criatividade e o meu talento nato para escrever. “Os seus impulsos criativos são reais, vitais, valiosos e anseiam pela expressão. O fato de você conseguir concebê-los é a prova disso.” (WAYNER W. DYER, “A força invisível”). 81 Contudo, confesso que, na ansiedade de buscar a perfeição na minha biomonografia, vivenciei o bloqueio da minha inspiração, antes de concluir esta obra, no início do inverno. Esta estação do ano é conhecida por ser o momento de fortalecimento interior e de superação para que o fogo interno permaneça aceso, sem se sentir abalado pelo frio intenso que habita fora. E, para isso, nesse período, há maior recolhimento, o que leva, então, a ir além das profundezas interiores acessando o que está oculto e imperceptível em outros momentos... Posso dizer que a minha crise com a biomonografia foi bem providencial e sincrônica. Vivenciei a auto-exigência, o perfeccionismo e os medos mais profundos, como se fosse desafio de Projeto Minotauro... “Faz parte da vida que, mais cedo ou mais tarde, enfrentemos uma crise devastadora envolvendo nós mesmos ou alguém que amamos (...). Pode ser aquilo que mais tememos. Pode fazer o nosso mundo em pedaços e acabar com a forma como vivíamos nossa vida quotidiana. (...) Essas rupturas criam uma oportunidade extraordinária para a transformação. Elas nos colocam em contato com nosso verdadeiro self, nossa essência. Nossa antiga máscara cai e ficamos receptivos e vulneráveis. Podemos alcançar partes de nós mesmos que nunca vivenciamos antes, e permitir que os outros também se aproximem de nós. Somos levados a voltar nossa atenção ao que está oculto; investigamos intensivamente a existência de um poder superior e o propósito de nossa existência. A sincronicidade vem à tona, proporcionando-nos tranqüilidade e orientação. Descobrimos a força e a perseverança existentes em nós e elaboramos novas interpretações da vida, novas crenças e uma nova realidade.” (CHARLENE BELITZ E MEG LUDSTROM, “O Poder do Fluxo – Formas Práticas de Transformar Sua Vida com Coincidências Significativas”). Ainda bem que o inverno acaba com as flores imensamente coloridas da primavera! Por obra da sincronicidade, estou escrevendo a conclusão, durante e após forte temporal com muito vento, no primeiro dia da primavera totalmente conectada e encantada com a beleza existente na simplicidade do que já existe como minha biomonografia ao som dos primeiros cantos dos passarinhos do dia, como se tivesse ouvindo a vitória na melodia rítmica da música “A Primavera” de Vivaldi! Ai, ai... E essa tempestade que me persegue nos momentos mais transitórios e marcantes da minha Vida... Com certeza, é o recado do Universo de que eu preciso vivenciar mais a entrega e a fluidez da água bem presente na Biodanza, como sistema vivencial! “Sinais sinais dos ventos 82 mostrando que o tempo é o momento... tempestade queima como vulcão para renovação do bom tempo. o sol brilha no céu azul dourado como as ágaus que queimam caladas no oceano sonoro do universo pacífico da emoção.” (Poema de GILMAR CHIAPETTI, do Grupo Epopéia). O mais engraçado e sincrônico é isso tudo ter acontecido às vésperas da maratona de Projeto Minotauro. Nem preciso dizer que, depois de ter passado o inverno tenebroso, acabou sendo o mais tranqüilo Minotauro que já enfrentei em minha Vida. Descobri a grande força que habita dentro das minhas próprias entranhas... Descobri o potencial criador e visceral que estava oculto e que, então, foi revelado ao mundo e ao Universo... Como se fosse o parto de um bebê para a Vida... É esta a mesma força criadora que dá a luz as sincronicidades! “Nosso medo mais profundo não é que sejamos inadequados. Nosso medo mais profundo é que sejamos poderosos demais. É nossa sabedoria, não nossa ignorância, o que mais nos apavora. Perguntamo-nos: “Quem sou eu para ser brilhante, belo, talentoso, fabuloso?” Na verdade, por que você não seria? Você é um filho de Deus. Seu medo não serve ao mundo. Não há nada de iluminado em se diminuir para que outras pessoas não se sintam inseguras perto de você. Nascemos para expressar a glória de Deus que há em nós. Ela não está em apenas alguns de nós; está em todas as pessoas. E quando deixamos que nossa luz brilhe, inconscientemente permitimos que outras pessoas façam o mesmo. Quando nos libertamos de nosso medo, nossa presença automaticamente liberta as outras pessoas.” (NELSON MANDELA, citado por CHARLENE BELITZ E MEG LUDSTROM no livro “O Poder do Fluxo – Formas Práticas de Transformar Sua Vida com Coincidências Significativas”). Fica bem claro que a minha mudança de atitude perante a Vida, depois de anos de Biodanza, colabora para que eu me torne mais confiante em mim mesma e no fluxo da Vida. Assim, eu me torno mais receptiva a todos os acontecimentos, o que aumenta a minha percepção dos movimentos sincrônicos do Universo e da Vida. Sinto, cada vez mais, a sincronicidade presente. Cada dia que passa, percebo que o Universo, a Vida e eu estamos na mesma sintonia e sincronia. Tenho muito mais consciência disso com o meu viver. 83 “Tudo e todos na sua história pessoal tinham que estar ali naquele exato momento. Qual é a prova disso: Eles estavam aí! Isso é tudo o que você precisa saber.” (WAYNER W. DYER, “A força invisível”). Na verdade, a Biodanza, como sistema vivencial, trouxe-me muita sabedoria sobre “VIVER A SINCRONICIDADE”! E viva a “BIODANZA: O CAMINHO PARA A ATRAÇÃO E A PERCEPÇÃO DOS MOVIMENTOS DA SINCRONICIDADE NA DANÇA DA VIDA”!!! “Eventos sincronísticos, (...), em sua natureza acidental nos impõem uma outra verdade sobre nossas vidas, uma verdade que muitos de nós têm o hábito de ignorar: que o sentido de nossas vidas, a trama da história da nossa vida, não é escrita simplesmente pelo que sabemos de nós mesmos mas vem de um ponto muito mais profundo, da nossa capacidade humana inata de experimentar a totalidade vivendo uma vida simbólica. (...) (...) Se trouxermos a atitude simbólica pra dentro de nossas vidas, pesquisando o significado do que nos aconteceu e, portanto, permitindo que nossa capacidade de tirar uma noção de totalidade do acaso e diferenciar os eventos de nossas vidas, então, (...) não importa o que acontece na trama, qual o cenário, quem sejam os personagens, maiores ou menores, nós veremos que, na verdade, não existem acidentes nas histórias de nossas vidas.” (ROBERT H. HOPCKE, “Sincronicidade ou por que nada é por acaso”). XXI. Anexo: “Sincronicidade muito além da mera coincidência”117 Sabe aquela impressão de que tudo está ligado? Pois está mesmo. A teoria da sincronicidade não explica cientificamente as coincidências nem pretende controlar” o acaso. Mas nos ajuda a interpretá-las e a confiar mais na vida, acreditando que ela nos enviará a experiência certa na hora certa. por Déborah de Paula Souza | ilustração Suppa Um dia, logo depois de seu filho ganhar um golfinho de pelúcia, você liga a TV e assiste a um programa sobre esses animais. Na manhã seguinte, uma amiga lhe mostra as fotos da viagem de férias e... lá estão eles novamente! O que significa isso? Aparentemente, nada. Mas, antes que você esqueça o assunto, vale a pena conhecer as teorias do psiquiatra e analista suíço Carl Gustav Jung. Em seu livro SINCRONICIDADE (VOZES), ele formulou o “princípio de conexões acausais”, que regem as “coincidências significativas”. Elas acontecem quando um conteúdo inesperado – direta ou indiretamente ligado a um acontecimento objetivo – coincide com um determinado 117 Anexo à biomonografia este artigo “Sincronicidade muito além da coincidência!”, da Revista Claudia (www.claudia.abril.com.br), porque foi a partir da leitura deste texto que confirmei as minhas sensações sobre as sincronicidades da Vida e iniciei os meus estudos sobre sincronicidade e as relações com a Biodanza. 84 estado psíquico. Diferentemente das coincidências comuns, às quais não atribuímos nenhum sentido, as “significativas” podem servir de material terapêutico – tanto quanto os sonhos. No caso dos golfinhos, a pessoa deve investigar o que o animal representa para ela. Está associado à ternura, por exemplo, ou evoca medo da água? “Não há um sentido intrínseco, quem dá significado às coincidências somos nós”, explica a analista Rosely Gomes. Seja qual for a associação de cada um, a chave para compreender a sincronicidade é conectar os eventos externos com os internos – aí você poderá ter insights sobre essas questões, aumentar a autopercepção e potencializar a capacidade de tomar (boas) decisões. Conexão invisível A designer Mary Figueiredo Arantes, de Belo Horizonte, já se acostumou com as coincidências que marcam sua vida sem parar e nas quais ela presta muita atenção. Dia desses acordei pensando em um amigo, o estilista Ronaldo Fraga, e nas bonecas lindas que há tempos ele havia me mostrado – o detalhe é que elas são cegas, um de seus olhos bordados não abre. No fim da tarde, Ronaldo me ligou. Ele queria me perguntar o nome de um grupo de músicos que pretendia contratar para um desfile – acredite se quiser, esses artistas são cegos, a trupe se chama Forró no Escuro. “Para Mary, a sincronia é uma espécie de conexão invisível entre amigos, fazendo com que estejam sempre se amparando. Jung não tinha dúvidas de que a afetividade estabelece as condições psíquicas necessárias para que coincidências possam ocorrer – porém nunca é certo que elas ocorrerão. “Não pergunte os porquês da coincidência, mas tente ficar atenta às possíveis conseqüências”, sugere Rosely. A não ser que você seja uma estudiosa de física quântica (sim, vários cientistas especulam sobre outras leis que regem o universo e que desafiam nosso raciocínio linear), simplesmente aproveite as idéias e sentimentos despertados nessas ocasiões para viver melhor. Só não vale preestabelecer significados para os acontecimentos. Por exemplo: determino que, se a porta bater, devo ir à festa e, se não bater, não devo ir. Isso não é sincronicidade. É pura superstição ou medo de assumir a responsabilidade por uma decisão. “Em casos mais graves, quando esse comportamento vira regra, pode ser um sintoma de TOC – transtorno obsessivocompulsivo”, alerta Rosely. Quando pensamos numa coisa boa e ela acontece, é gostoso imaginar que temos poderes misteriosos. Mas, vamos admitir, nossos desejos não se materializam por força do nosso pensamento tanto quanto gostaríamos. Nós não temos o controle nem precisamos ter – essa é a lição da sincronicidade, que afirma que há uma ordem subjacente aos fatos e que o horizonte se amplia à medida que aceitamos a existência do inesperado e do nonsense, com sua dose de surpresa e risco. No livro O Poder do Fluxo – Formas Práticas de Transformar Sua Vida com Coincidências Significativas (Rocco), Charlene Belitz e Meg Ludstrom apostam na seguinte idéia: 85 “Embora a sincronicidade não possa ser criada nem planejada, quando você vive no fluxo pode ter certeza de que ela surgirá”. As duas explicam que o fluxo da vida é natural e contínuo, totalmente independente da consciência que temos dele – flui como água, mas pode ser bloqueado por sentimentos como raiva, medo, desconfiança e mania de controle. “Porém, quando nos tornamos receptivos ao mundo, dispostos e confiantes, nós o vivenciamos como satisfação e as sincronicidades surgem a todo momento.” Dessa forma, se você precisa do endereço de alguém, de repente, sem procurar, encontra um velho papelzinho, que salta da gaveta, trazendo a informação desejada. Ou, ao pensar no seu amado que está viajando, surpreende-se com um cartão-postal embaixo da porta. Supercatólica, a designer Mary vê nessas situações um dedo da providência divina. É assim que ela entende, por exemplo, uma série de encontros inexplicáveis que marcaram o começo de uma amizade fora do comum. Todo final de ano, Mary organiza um bazar beneficente já famoso em Belo Horizonte. Um dia, no salão de beleza, foi abordada por uma mulher: “Você é a Mary, do Bazarte?” Conversa vai, conversa vem, essa senhora contou que iria para a Itália e assistiria a uma bênção especial do papa. O coração de Mary disparou – ela se lembrou de uma pessoa de sua família que estava gravemente doente, precisando da proteção divina. “Helena leu meus pensamentos e me perguntou se eu gostaria que ela fizesse um pedido em minha intenção. Eu pedi pela saúde desse parente, que logo depois melhorou. Passaram-se meses e esbarrei de novo com Helena no shopping. Fiquei feliz e surpresa – ainda mais quando ela me levou até o estacionamento, revelando que tinha um presente para mim em seu carro!” Depois de alguns encontros – nunca marcados, mas todos marcantes –, Mary propôs a Helena que fossem “madrinhas de oração”. Cada vez que uma pensasse na outra, rezaria por ela. “Em um dia complicado, Helena inesperadamente me telefonou perguntando: ‘Hoje de manhã você precisou muito de mim, não foi?’ Então, entendi que havia escolhido a madrinha certa.” Meses mais tarde, em plena busca de fornecedores de comida para seu bazar beneficente, Mary veio a saber que Helena era sócia de uma grande cadeia de supermercados. “Não é incrível? Ela passou a contribuir todos os anos com o bazar, anonimamente, enquanto outras empresas o fazem em troca de publicidade.” A sincronicidade está na base de todos os oráculos, como astrologia, tarô, búzios... Eles demonstram o princípio na prática: no meio de centenas de possibilidades, você chega exatamente à resposta que se encaixa como uma luva no seu caso. Jung cita especialmente o I-Ching, o Livro das Mutações – obra-prima da cultura chinesa. Ao consultá-lo, você pensa numa questão e joga três moedas (ou varetas) – a posição em que elas caírem a levará ao texto que contém a solução do problema. As metáforas, baseadas nas forças da natureza, como o trovão, a terra ou o lago, costumam ser certeiras. Segundo Roberto Otsu, estudioso do assunto, os sábios chineses não têm dúvida sobre a interligação de todas as coisas. O I-Ching contém a complexidade humana, revelando situações e probabilidades que já existem, mas das quais não temos consciência. “No jogo, é a pergunta que movimenta o oráculo e, na vida, é a necessidade e o desejo que desencadeiam as coincidências”, afirma Otsu. Ele acredita que os 86 encontros importantes – um grande amor, um amigo querido, um contato profissional decisivo – respondem aos nossos anseios mais profundos, geralmente inconscientes. “Na visão taoísta, tudo precisa crescer e chegar ao máximo de si mesmo – os eventos de nossa vida, mesmo os dolorosos, colaboram para o nosso florescimento, pois essa é a lei da natureza.” É ela que comanda também a astrologia, um dos oráculos mais populares. Jogo do destino O astrólogo José Maria Gomes Neto lembra que a palavra “horóscopo” deriva do grego hora skopeo, que significa “eu vejo a hora”. Cada momento tem uma qualidade e tudo que nasce ou surge nele incorpora tal qualidade – essa é a base do mapa astral, que possibilita a visão dos fatos do passado, presente e futuro. “É importante destacar, porém, que o que virá pela frente nunca é fechado”, diz o especialista. “Os astros apontam uma direção, mas não determinam. O homem é um sistema aberto, em constante interação com o cosmos.” No livro que está preparando – A Astrologia e a Experiência da Sincronicidade –, José Maria relata casos curiosos, entre eles o de duas clientes, com parceiros vasectomizados, que queriam engravidar. Ambas fizeram inseminação no período sugerido pelo astrólogo e ficaram grávidas. Ele calculou as “datas sincrônicas”, indicando a época favorável para que o desejo delas se realizasse. Como o I-Ching, a astrologia nos ajuda a reconectar com a natureza, a confiar no rumo dos acontecimentos e a agir em sintonia com o que está a nossa volta e dentro de nós. Deixe tudo fluir Se você quer se abrir para os bons encontros e as coincidências significativas,deve se comprometer com algumas atitudes,conforme ensina o livro O Poder do Fluxo (Rocco). COMPROMISSO COM VOCÊ MESMA - Cuide bem do corpo e da alma,nunca se abandone. Seja fiel aos seus princípios e tenha coragem de correr riscos que envolvam o crescimento. Tudo isso aumenta a vitalidade e a certeza de que estamos ligadas a todas as formas de vida do planeta. COMPROMISSO COM AS PESSOAS - Tente encará-las como professoras, aprenda por meio da experiência, da partilha e da sinergia – qualquer que seja a lição. Lembre-se de que elas revelam aspectos de nós mesmas – o laço da humanidade nos une. Evite julgamentos e expectativas. COMPROMISSO COMO TODO - Há um bom motivo para tudo o que acontece. Deixe que suas atitudes sejam orientadas por essa compreensão e faça sempre o seu melhor, mesmo que o resultado seja incerto. Essa atitude gera disciplina, determinação e força para superar obstáculos. Sete Leis da Sincronicidade para começar a ver a Mágica da Vida 1. Meu espírito é um campo de possibilidades infinitas que conecta tudo o mais. Esta frase resume a totalidade do que estou expondo. Se você esquecer tudo o mais, lembre-se apenas disso. 87 2. Meu diálogo interno reflete meu poder interno. O dialógo interno das pessoas auto-realizadas pode ser descrito assim: é imune a críticas; não tem apego aos resultados; não tem interesse em obter poder sobre os outros; não tem medo. Isso porque o ponto de referência é interno, não externo. 3. Minhas intenções tem poder infinito de organização. Se minha intenção vem do nível do silêncio, do espírito, ela traz em si os mecanismos para se concretizar. 4. Relacionamentos são a coisa mais importante na minha vida. E alimentar os relacionamentos é tudo o que importa. As relações são cármicas e quem nós amamos ou odiamos é o espelho de nós mesmos: queremos mais daquelas qualidades que vemos em quem amamos e menos daquelas que identificamos em quem odiamos. 5. Eu sei como atravessar turbulências emocionais. Para chegar ao espírito é preciso ter sobriedade. Não dá para nutrir sentimentos como hostilidade, ciúme, medo, culpa, depressão. Essas são emoções tóxicas. Importante: onde há prazer, há a semente da dor, e vice-versa. O segredo é o movimento: não ficar preso na dor, nem no prazer (que então vira vício). Não se deve reprimir ou evitar a dor, mas tomar responsabilidade sobre ela. 6. Eu abraço o feminino e o masculino em mim. Esta é a dança cósmica, acontecendo no meu próprio eu. A energia masculina: poder, conquista, decisão. A energia feminina: beleza, intuição, cuidado, afeto, sabedoria. Num nível mais profundo, a energia masculina cria, destrói, renova. A energia feminina é puro silêncio, pura intenção, pura sabedoria. 7. Estou alerta para a conspirações das improbabilidades. Tudo o que me acontece de diferente na vida é cármico. É, portanto, um sinal de que posso aprender alguma coisa com aquela experiência. Em toda adversidade há a semente da oportunidade. XXII. Biobibliografia AMIT GOSWAMI. “A ponte entre a ciência e a religião”, entrevista no programa Roda Vida da TV Cultura. BRIAN L. WEISS. “Só o amor é real”, 15ª ed., Sextante, 1996. CARL GUSTAV JUNG. “Sincronicidade”, 13ª ed., Vozes, 2005. 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