20141206 Meia de Rock #55
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20141206 Meia de Rock #55
32 Sábado AÇORIANO ORIENTAL SÁBADO, 6 DE DEZEMBRO DE 2014 DIREITOS RESERVADOS DIREITOS RESERVADOS O terceiro disco de Diabo na Cruz tem o mesmo nome que a banda Diabo na Cruz trazem mais ‘roque popular’ em novo álbum Ao terceiro disco dos Diabo na Cruz ficamos com a certeza absoluta que a banda está entre as melhores da atualidade JOÃO CORDEIRO [email protected] O ‘roque popular’ está de volta! O género musical criado e batizado pelos Diabo na Cruz, e que junta os instrumentos da música tradicional portuguesa às guitarras distorcidas e às batidas do rock é, mais uma vez, o prato forte do novo disco da banda. Desta vez a música eletrónica apanha a boleia e ganha espaço em alguns temas. Bombos tradicionais, paus, ferrinhos ou a já habitual viola braguesa, desfilam ao longo das canções com a mesma dignidade que os instrumentos elétricos. No mesmo tema, tal como acontecia nos discos anteriores, a mesma secção musical pode aparecer duas ou três vezes com roupagens diferentes. Mas não só de instrumentos e de ritmos da música tradicional portuguesa se faz o ‘roque popular’. Tal como Zeca Afonso, também os Diabo na Cruz têm um “Verde Milho”, a diferença é que este é “milho Mosanto”. Dispenso-me de fazer um discurso sobre o consumo alimentar de organismos geneticamente modificados O humor inteligente faz parte das letras e da própria postura da banda (OGM), que tanta polémica têm causado em todo o mundo, nem quero comparar a Monsanto (cuja reputação é, no mínimo, terrível) aos Diabo na Cruz, mas não posso deixar de olhar para esta referência à mutação genética como uma metáfora para aquilo que é a sua sonoridade típica: a alteração genética do rock com a introdução de genes da música popular portuguesa. E a fórmula está de tal forma apurada que parece que os Diabos na Cruz não sabem fazer um disco fraco. Arrisco mesmo a dizer que não sabem fazer uma má canção. Quando, em apenas quatro anos, uma banda tem um bom disco de estreia, passa com distinção no exame complicado que é sempre o segundo álbum, e mantém o nível no terceiro trabalho, isto só quer dizer uma coisa: alcançaram um patamar que está reservado só para aqueles que ficam na história. Não posso deixar de destacar o tema “Vida de Estrada”, o primeiro single do disco foi lançado – de forma inteligente – a tempo de ser banda sonora do Verão passado. Com uma energia impressionante, “Vida de Estrada” é capaz de fazer o espírito mais deprimido sair da cama para ir aproveitar o dia lá fora. É canção para se ouvir a caminho da praia, de uma festa, ou, melhor ainda, numa viagem sem destino. Basta cumprir o que manda o refrão: “Mergulhar mãos no volante, e adiante para qualquer lugar, vidro aberto, rádio alto, no asfalto, sem me apoquentar, saborear o mar e as serras, cobrir-me de pó e geada, roer o osso desta terra, na vida de estrada”. Também se pode ouvir a caminho do trabalho, sempre dá para fugir à realidade por uns minutos. // Cabine de Som R.E.M. Automatic for the people 1992 Gorillaz Gorillaz 2001 Sei que por diversas vezes referi que a década de noventa foi madrasta para a música. Às vezes a minha opinião assume contornos extremistas. Houve (algumas) coisas interessantes nos anos noventa. “Automatic for the people” foi um desses trabalhos. Será o melhor disco dos R.E.M.? Bem, isso daria um artigo completo, e interessante por sinal, até porque esse foi o oitavo disco da banda americana. Mas para quem viveu a sua adolescência nessa malfadada década, não escapou ao impacto de “Drive”, “Everybody Hurts”, “Man on the Moon”, “Ignoreland”, entre outros. É daqueles álbuns que valem pelo seu todo. Mesmo sem amar, também não somos capazes de odiar. É uma obra intemporal, que ajudou a definir uma década e que marcou a viragem de um banda que já leva mais de anos nas costas. LÁZARO RAPOSO Quando, em 1, saiu o álbum de estreia - homónimo - dos Gorillaz, aproveitei e fiz a minha primeira compra atualizada. Longe de ser a “minha cena”, houve qualquer coisa ali que me atraiu. Não era apenas por ser o vocalista dos Blur, até porque a sonoridade é bem diferente. Também não podia ter sido os bonecos, porque não ligava a isso... ou terá sido? Quer dizer, excelentes animações D, extraordinário conceito, mas tudo isso funcionou porque havia grandes músicas por trás. Ao brit pop de Damon Albarn, junta-se o rap de Del tha Funkee, o synth n’ bass de Nakamura, e temos “Re-Hash”, “Double Bass”, “Rock the House”, “1-”, “Slow Country”. É preciso não esquecer a mediática aparição de “Clint Eastwood”, com os gorilas a dançar o thriller no clip. Afinal de contas, os olhos também ouvem. LÁZARO RAPOSO