9766 - Revista PróteseNews
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Sistema CAD/CAM – substituindo o processo da cera perdida na prática clínica com maior precisão, resistência e menor custo CAD/CAM system – replacing the traditional wax processing system in the clinical practice with greater precision, resistance and reduced costs PROTESE NEWS NEWS 2014;11) 2014;1(1) 22 PROTESE José Cícero Dinato1 Thiago Revillion Dinato2 Fábio Sá Carneiro Sczepanik3 Relato de Caso Clínico | Caderno Científico RESUMO Os sistemas CAD/CAM estão cada dia mais presentes na prática clínica do cirurgião-dentista, seja na confecção de protótipos rápidos, guias cirúrgicos, ou na confecção de próteses sobre dentes e implantes. Atualmente, é possível confeccionar desde o provisório até a prótese final através dos sistemas CAD/CAM (computer aided design e computer aided manufacturing) que, em livre tradução, significam “desenho guiado por computador” e “fabricação guiada por computador”. O objetivo deste trabalho foi apresentar seis casos clínicos realizados com o sistema CAD/CAM na confecção de reabilitações dentárias, utilizando-se diferentes materiais: zircônia, dissilicato de lítio, cerâmica feldspática, titânio, cobalto-cromo e polímeros para próteses temporárias. Unitermos – CAD/CAM; Implantes dentários; Prótese dentária fixada por implante; Prótese dentária; Porcelana dentária. ABSTRACT The CAD/CAM systems are becoming more common in the dentist’s daily clinical practice, both in the manufacturing of fast prototypes and surgical templates as well as in tooth/ implant supported prostheses. Nowadays it is possible to make from the temporary crowns to the final prosthesis through CAD/CAM systems (computer aided design e computer aided manufacturing). The aim of this study is to present six clinical reports done with CAD/CAM technology in oral rehabilitation using six different materials: zirconia, lithium disilicate, feldspathic ceramic, titanium, cobalt-chromium and polymers temporary crowns. Key words – CAD/CAM; Dental implants; Dental prosthesis; Implant supported; Dental porcelain. 1 Doutor em Implantodontia – UFSC; Mestre em Prótese Dentária – Unesp/SJC. 2 Especialista em Implantodontia – Instituto Brånemark/Bauru; Mestrando em Prótese Dentária – PUC/RS. 3 Graduado em Odontologia – UFRGS; Mestrando em Prótese Dentária – PUC/RS. Recebido em abr/2014 – Aprovado em abr/2014 Introdução As reabilitações protéticas na Odontologia sofreram mudanças radicais nos últimos anos, seja pelas técnicas inovadoras ou pela evolução dos equipamentos e materiais. Os implantes osseointegrados contribuíram de forma incontestável nesta dinâmica evolutiva, devolvendo ao paciente a raiz perdida ou ausente do dente através de um parafuso de titânio¹. Associadas a essa mudança, várias outras transformações também ocorreram, as indústrias passaram a desenvolver novos materiais e equipamentos, os profissionais se capacitaram em diferentes técnicas, condições que contribuíram para melhorar a qualidade e o resultado das reabilitações. Uma das grandes mudanças neste processo, sem dúvida, foi a substituição do processo da cera perdida na confecção de próteses dentárias pelos sistemas CAD/CAM (computer aided design e computer aided manufacturing) que, em livre tradução, significam “desenho guiado por computador” e “fabricação guiada por computador”. De forma simplificada, podemos dizer que o sistema CAD pode ser dividido em procedimentos intraoral e de laboratório, e é um sistema composto por um escâner que faz a varredura das estruturas a serem copiadas, seja em boca ou em modelos de gesso, e um computador com um software que irá receber estes dados, gerando uma imagem tridimensional das estruturas escaneadas. Além disso, o software permite que o operador do sistema – seja o cirurgião-dentista ou um técnico em prótese dentária – faça o desenho virtual dos elementos necessários à reabilitação protética, reconfigurando forma e função com extrema acuidade e precisão. A partir deste desenho-guia é possível evoluir-se para o projeto virtual final de coroas totais, inlays, onlays, facetas, pilares personalizados, pontes fixas, copings e infraestruturas de pontes, entre outros². O sistema CAD também pode ser aplicado à Ortodontia, permitindo o planejamento virtual de tratamentos ortodônticos. O sistema CAM irá produzir, através de uma fresadora e da impressão digital em 3D sobre diferentes materiais, a reabilitação desejada. Portanto, o sistema CAD/CAM interliga escâner, software e fresadora para os objetivos finais de reabilitação do paciente³. O objetivo deste trabalho foi apresentar seis casos clínicos realizados com o sistema CAD/CAM na confecção de reabilitações dentárias, utilizando diferentes materiais: zircônia, dissilicato de lítio, cerâmica feldspática, titânio, cobalto-cromo e polímeros para próteses temporárias. É importante salientar que cada material a ser utilizado exige um processo de fabricação próprio, envolvendo materiais e equipamentos específicos. Para confeccionar trabalhos em dissilicato de lítio é necessário um forno especial para cristalizar o material após a usinagem do bloco. Os blocos de zircônia devem ser sinterizados em forno próprio para o sistema após a usinagem. Os trabalhos usinados em cerâmica feldspática necessitam apenas do polimento ou glazeio para serem finalizados, e os blocos de polímeros para confecção de coroas ou pontes fixas provisórias necessitam apenas de acabamento e polimento. As reabilitações metalocerâmicas em cobalto-cromo e as metaloplásticas em titânio seguem os padrões habituais de preparo do metal após usinagem, comparadas às estruturas fundidas. PROTESENEWS 2014;1(1) 23 Dinato JC | Dinato TR | Sczepanik FSC Caso clínico 1 Paciente do sexo masculino, 34 anos, perdeu o incisivo central superior esquerdo e fraturou os outros três incisivos em um acidente automobilístico, em 2012. Procurou a Clínica Dinato de Odontologia após exodontia do 21 e insucesso na colocação de um implante e enxerto com biomaterial na região (Figura 1). Após 120 dias do procedimento reparador anterior, foi realizada a colocação de um implante Drive (Neodent) com superfície Aqua de 4,3 x 13 mm na região, cirurgia reconstrutiva com osso autógeno Bio-Oss e Bio-Gide (Geistlich Pharma do Brasil), e sutura por primeira intenção (Figura 2). Para que o paciente aguardasse o período de cicatrização com uma reabilitação estética temporária, foi realizada uma prótese parcial fixa provisória utilizando o sistema CAD/CAM. Após moldagem com silicone leve sobre os preparos e silicone regular em moldeira individual, modelos de trabalho foram confeccionados utilizando gesso Elite Rock (Zhermack). Após escaneamento do modelo, foi realizado o projeto virtual da prótese com dois retentores e um pôntico (Figura 3). Um bloco de polímero Vita CAD-Temp multiColor (VITA System – Wilcos) foi usinado em aproximadamente 29 minutos (Figura 4) e, após ajustes clínicos, acabamento, caracterização e polimento, foi feita a cimentação provisória (Figura 5) – (TPDs Simone Mello e Sérgio Sá Carneiro). Figura 3 – Projeto virtual da prótese parcial fixa temporária. Figura 1 – Aspecto clínico inicial apresentando grande perda de estrutura. Figura 2 – Reconstrução alveolar com osso autógeno Bio-Oss e Bio-Gide. Figura 4 – Usinagem do bloco de polímero. Figura 5 – Prótese fixa cimentada provisoriamente. 24 PROTESENEWS 2014;1(1) Relato de Caso Clínico | Caderno Científico Caso clínico 2 Paciente do sexo feminino, 55 anos, apresentava várias restaurações e facetas de resina composta nos dentes anteriores da maxila, e queixava-se de problemas estéticos (Figura 6). Após exame clínico e radiográfico, modelos de estudo e enceramento diagnóstico, foi planejada a reabilitação estética com facetas laminadas de cerâmica feldspática. A quantidade de desgaste no preparo do dente depende da espessura requerida pelo material restaurador e anatomia final planejada4 (Figura 7). O projeto virtual foi realizado em programa computadorizado e as facetas usinadas em blocos de cerâmica feldspática (Vitablocks RealLife – Vita System – Wilcos). As facetas, diferente das coroas e copings, devem ser usinadas individualmente em cada bloco (Figura 8). Depois de fresadas, as facetas são maquiadas e coladas ou cimentadas através de sistema adesivo (Figura 9). As cerâmicas fedspáticas são ácidossensíveis, devendo receber tratamento de superfície com ácido fluorídrico (8-10%) durante um a dois minutos, lavagem por um minuto em banho ultrassônico e aplicação do silano. O dente preparado deve ser condicionado com ácido fosfórico a 37%, inicialmente em esmalte durante 15-30 segundos e, a seguir, na dentina durante 15 segundos no máximo. A finalidade do trata- Figura 7 – Preparo para faceta cerâmica dos incisivos superiores e canino direito. Figura 10 – Harmonia estética final. mento ácido é aumentar a permeabilidade do cimento, facilitando seu contato com a superfície cerâmica e dente, aumentando assim a resistência do material. O material utilizado na cimentação adesiva foi o Variolink Veneer (Ivoclar Vivadent), e a realização do procedimento obedeceu às normas do fabricante do material. As cerâmicas feldspáticas estão indicadas para confecção de inlays, onlays e facetas, e apresentam uma resistência flexural de aproximadamente 154 MPa (TPD Ivete De Nadal), Figuras 10 e 11. Figura 6 – Avaliação clínica inicial. Figura 8 – Posicionamento virtual da faceta no bloco de cerâmica feldspática. Figura 9 – Maquiagem, caracterizações e glazeio da faceta. Figura 11 – Vista incisal da reabilitação anterior. PROTESENEWS 2014;1(1) 25 Dinato JC | Dinato TR | Sczepanik FSC Caso clínico 3 Paciente do sexo feminino, 44 anos, apresentou-se com queixa de dor no primeiro molar inferior direito e fratura da cerâmica no segundo molar adjacente (Figura 12). Após avaliação clínica e radiográfica, foram planejadas a remoção da restauração de resina composta e a confecção de uma restauração indireta (onlay) no elemento 46, bem como a substituição da coroa metalocerâmica por uma coroa total livre de metal no 47, ambos com dissilicato de lítio (IPS e.max CAD – Ivoclar Vivadent). Após definição do desenho e projeto virtual, foi realizada a usinagem dos blocos com diferentes transluscências, de acordo com o substrato de cada dente (Figuras 13 e 14). Para o primeiro molar foi utilizado um bloco de alta translucidez (HT), pela grande quantidade de dente remanescente. Também foi usado um bloco de média opacidade (MO) para minimizar esteticamente a presença de núcleo metálico no segundo molar (Figuras 15 e 16). As cerâmicas de dissilicato de lítio são ácidossensíveis, devendo receber tratamento de superfície com ácido fluorídrico (8-10%) durante 20 a 30 segundos, lavagem por um minuto em banho ultrassônico e aplicação do silano. O material utilizado na cimentação adesiva foi o Variolink Veneer (Ivoclar Vivadent), e a técnica obedeceu às normas do fabricante do material. O IPS e.max CAD é um bloco de cerâmica de dissilicato de lítio e foi criado para fabricar restaurações estéticas e resistentes em dentes unitários, como facetas, inlays, onlays e coroas totais, utilizando a tecnologia CAD/CAM. A cerâmica é usinada em um estado intermediário de dureza, o qual exibe uma coloração azulada. Neste estado, é possível ajustar o material manualmente ou fazer desgastes de maneira rápida e fácil, o que permite checar a adaptação. A seguir, o material é cristalizado a aproximadamente 850°C/1.562°F (20-30 minutos). Neste processo, o IPS e.max CAD adquire a resistência final de 360 MPa e as propriedades estéticas desejadas para o dente, como tom, translucidez e refletividade (TPD Simone Mello). 26 PROTESENEWS 2014;1(1) Figura 12 – Aspecto clínico inicial. Figura 13 – Delimitação virtual do limite cervical. Figura 14 – Projeto virtual da forma e contorno da coroa cerâmica. Figura 15 – Coroa total e onlay, usinadas em dissilicato de lítio. Figura 16 – Coroa total e onlay, cimentadas com sistema adesivo. Relato de Caso Clínico | Caderno Científico Caso clínico 4 Paciente do sexo feminino, 63 anos, procurou tratamento para solucionar problemas estéticos devido à presença de diferentes materiais reabilitadores na região de segundo pré-molar direito a segundo pré-molar esquerdo (Figura 17). Após avaliação clínica, radiográfica e enceramento diagnóstico, foi definido o plano de tratamento para a arcada superior. O planejamento previsto incluiu a realização de uma faceta de dissilicato de lítio no segundo pré-molar direito, coroa cerâmica sobre coping de zircônia no primeiro pré-molar direito, endodontia, núcleo metálico de ouro e coroa cerâmica sobre coping de zircônia no canino e incisivo lateral, ambos direitos, além de pilar de zircônia com cerâmica aplicada e prótese aparafusada no incisivo central esquerdo, coroa cerâmica sobre coping de zircônia no incisivo central esquerdo com manutenção da endodontia e núcleo metálico, coroa cerâmica sobre coping de zircônia no incisivo lateral esquerdo, faceta de dissilicato de lítio no canino esquerdo e coroas cerâmicas aplicadas sobre copings de zircônia nos pré-molares esquerdos. Os preparos coronários devem respeitar a técnica de usinagem, ou seja, superfícies lisas e ângulos arredondados, para facilitar o escaneamento e a fresagem dos blocos, realizada com brocas diamantadas. É extremamente importante mentalizar o mecanismo de desgaste dos blocos no momento do preparo dos dentes, para permitir uma adequada confecção e adaptação das estruturas clinicamente (Figuras 18 e 19). Figura17– Aspecto clínico inicial apresentando diversos materiais restauradores. Os blocos de zircônia (VITA In-Ceran YZ) foram utilizados para usinagem dos copings, e a cerâmica Vita VM9 foi utilizada para o recobrimento estratificado. É importante salientar a necessidade de levar os blocos ao forno de sinterização após a usinagem e antes da aplicação da porcelana. As cerâmicas à base de zircônia e ítrio são ácidos resistentes, devendo receber apenas limpeza com álcool no momento da cimentação. O material utilizado na cimentação adesiva foi Relyx U200 (3M ESPE), e a técnica obedeceu às normas do fabricante do material. A saúde gengival define a qualidade da adaptação das próteses fixas, e a manutenção periódica influencia diretamente na longevidade dos trabalhos (Figura 20) – (TPD Simone Mello). Figura 18 – Preparos coronários para coroas totais e facetas. Figura 20 – Harmonia estética final das próteses fixas sobre dentes e implante. Figura 19 – Cimentação temporária dos copings de zircônia para moldagem de transferência e das facetas. PROTESENEWS 2014;1(1) 27 Dinato JC | Dinato TR | Sczepanik FSC Caso clínico 5 Paciente do sexo masculino, 68 anos, apresentou-se com queixa relacionada à dificuldade em utilizar prótese parcial removível na arcada inferior. Foram realizados exames clínico, radiográfico e tomográfico, além da confecção de modelos de estudo e montagem em articulador semiajustável, para definir diagnóstico e plano de tratamento. Devido à proximidade do canal alveolar na região posterior e a recusa por parte do paciente de qualquer tipo de enxerto ósseo na região, o planejamento foi uma reabilitação total fixa sobre os dentes remanescentes, com dois elementos suspensos posteriores de cada lado. Foram realizadas endodontias, núcleos metálicos em liga de ouro em todos os retentores, exceto o primeiro pré-molar direito, que já apresentava esse procedimento (Figura 21). Os preparos coronários foram realizados, prevendo a confecção da estrutura metálica pelo processo de usinagem. Após moldagem com silicone por adição leve sobre os preparos, e regular em moldeira individual (Elite H-D Zhermack), foi vazado gesso especial (Elite Rock – Zhermack) para confecção do modelo de trabalho. A matriz da estrutura metálica foi confeccionada em resina e cera, em seguida foi levada ao escâner NeoShape (Neodent – Curitiba) – Figura 22 – para varredura da estrutura e posterior visualização no programa Dental Design (3Shape A/S), Figura 23. A estrutura foi fresada em liga de cobalto-cromo na central de usinagem da Neodent. Após a prova do metal, foi realizado um novo registro interoclusal com resina acrílica, orientado por um dispositivo de interferência oclusal (jig) em chumbo (Figura 24). Foi feita uma moldagem de transferência do metal com silicone leve e pesado (Elite H-D Zhermack), confecção de novo modelo de trabalho, remontagem no articulador semiajustável, preparo do metal e aplicação da cerâmica Vita Master (Vita System – Wilcos), Figura 25. Depois da prova e caracterização final da porcelana, a base metálica é jateada com óxido de alumínio e lavada abundantemente com jato de vapor (AQVA VAP – Key). Os dentes são limpos utilizando pedra-pomes e escova de Robson (Figura 26), e a cimentação final foi realizada com Relyx Luting Cement (3M ESPE), podendo ser utilizados cimentos convencionais ou adesivos (Figura 27) – (TPDs Simone Mello e Sérgio Sá Carneiro). Figura 21 – Preparos coronários para reabilitação total fixa metalocerâmica. Figura 22 – Matriz da estrutura metálica em resina e cera posicionada no escâner. Figura 23 – Projeto virtual da estrutura metálica em 3D. 28 PROTESENEWS 2014;1(1) Relato de Caso Clínico | Caderno Científico Figura 24 – Prova do metal (CoCr) e registro interoclusal. Figura 25 – Moldagem de transferência da estrutura metálica com silicone leve e pesado. Figura 26 – Limpeza dos preparos com pedra-pomes e escova de Robson antes da cimentação final. Figura 27 – Aspecto clínico final da reabilitação fixa metalocerâmica. PROTESENEWS 2014;1(1) 29 Dinato JC | Dinato TR | Sczepanik FSC Caso clínico Figura 28 – Condição clinica inicial. Figura 29 – Implantes Drive colocados imediatamente após exodontia. Figura 30 – Projeto virtual da estrutura metálica. 30 PROTESENEWS 2014;1(1) 6 Paciente do sexo feminino, 75 anos, apresentou-se com queixa de dor nos dentes e na mucosa alveolar da arcada inferior, pelo uso prolongado de uma prótese parcial removível. Foram realizados exames clínico, radiográfico e tomográfico, além da confecção de modelos de estudo e montagem em articulador semiajustável para definir diagnóstico e plano de tratamento. A paciente recebeu três opções de tratamento e optou pela extração dos dentes remanescentes da mandíbula, com a imediata colocação de quatro implantes Drive (Neodent) nas regiões de incisivos laterais e segundos pré-molares, incluindo a utilização de uma prótese total fixa temporária sobre os implantes por um período de três a quatro meses (Figuras 28 e 29). Passado o período de cicatrização óssea e gengival, foi realizada uma moldagem de transferência dos minipilares cônicos (Neodent) com moldeira aberta. Os modelos foram montados em articulador semiajustável e a montagem de dentes foi realizada sobre os pilares. Depois de definida a posição e a forma final dos dentes, a matriz da estrutura metálica foi confeccionada através da redução da estrutura aprovada anteriormente. A matriz em resina é escaneada e transferida para o programa computadorizado Dental Design, onde pôde ser trabalhada virtualmente em 3D (Figura 30). As imagens são enviadas através da internet para a central de usinagem da Neodent, onde a estrutura foi fresada em titânio. A prova da estrutura usinada apresenta alto nível de adaptação, superior às estruturas fundidas em ouro e posteriormente soldadas. Para realizar o recobrimento estético, a estrutura de titânio foi jateada com Rocatec (3M ESPE), recebeu uma camada de opaco e foi revestida com Sinfony (3M ESPE), que é um compósito microhíbrido fotopolimerizável de elevada resistência mecânica (Figuras 33 e 34) – (TPDs Simone Mello e Sérgio Sá Carneiro). Relato de Caso Clínico | Caderno Científico Figura 31 – Prova clínica da estrutura de titânio (lado direito). Figura 32 – Prova clínica da estrutura de titânio (lado esquerdo). Figura 33 – Reabilitação final superior e inferior. Figura 34 – Aspecto radiográfico final. Observar adaptação precisa da estrutura de titânio fresada. PROTESENEWS 2014;1(1) 31 Dinato JC | Dinato TR | Sczepanik FSC Discussão A retenção micromecânica de coroas totais em dissilicato de lítio se dá através de dois fatores: tratamento de superfície com ácido hidrofluorídrico (7-10%) e agente de silanização, aplicados previamente à cimentação com cimentos à base de resina. Em contato com a superfície da cerâmica, o ácido expõe a sua estrutura cristalina, tornando-a rugosa com retenções micromecânicas e aumentando sua energia superficial, possibilitando uma cimentação adesiva8. 32 PROTESENEWS 2014;1(1) Através da tecnologia CAD/CAM, é possível confeccionar provisórios em resina de alta densidade. Em casos de reabilitação complexas e/ou com restabelecimento da dimensão vertical de oclusão, cumpre um papel importante devido às propriedades físicas superiores, quando comparado com provisórios confeccionados manualmente em consultório/laboratório, em termos de resistência à fratura. Além disso, a resina de alta densidade pode ser usinada em espessura de até 0,3 mm, com pequeno risco de fratura ou falha nas margens do provisório. Dessa maneira, pode ser utilizada em mock-ups ou em preparos minimantes invasivos. Os polímeros de alta densidade também apresentam melhores características, do ponto de vista estrutural, tendo maior homogeneidade e estabilidade de cor e zero contração, podendo permanecer em função por períodos de 18 a 24 meses5. Estudo comparando a resistência à fratura de coroas totais em dissilicato de lítio confeccionadas através da tecnologia CAD/CAM versus coroas totais com infraestrutura em zircônia e cerâmica aplicada relatou maior susceptibilidade à delaminação (chipping) nos corpos-de-prova com cerâmica aplicada manualmente. Por apresentarem maior espessura cerâmica e mínimas falhas entre as camadas de porcelana, as coroas totais em dissilicato de lítio possuem maior resistência à fratura (2576 ± 206 N), em comparação com as coroas de cerâmica aplicada sobre copings de zircônia (1195 ± 221 N), além de terem menor custo e maior rapidez para sua confecção6. Em um trabalho avaliando a resistência à fratura de onlays em dissilicato de lítio fresadas versus prensadas em primeiros molares superiores, com diferentes tipos de cimentação (cimento resinoso autoadesivo versus cimento resinoso tradicional), não houve diferença clinicamente relevante entre os fatores estudados, sugerindo que a facilidade e o tempo reduzido de confecção das restaurações favoreçam a utilização das peças fresadas a partir da técnica CAD/CAM7. A retenção micromecânica de coroas totais em dissilicato de lítio se dá através de dois fatores: tratamento de superfície com ácido hidrofluorídrico (710%) e agente de silanização, aplicados previamente à cimentação com cimentos à base de resina. Em contato com a superfície da cerâmica, o ácido expõe a sua estrutura cristalina, tornando-a rugosa com retenções micromecânicas e aumentando sua energia superficial, possibilitando uma cimentação adesiva8. Em um estudo in vitro avaliando a relação entre tempo de aplicação de ácido hidrofluorídrico, rugosidade e resistência flexural das cerâmicas à base de dissilicato de lítio, foram feitos testes com zero, 20, 60, 120 e 180 segundos de aplicação do ácido. Os autores concluíram que quanto maior o tempo de exposição ao ácido, maior será a rugosidade superficial, mas menor será a resistência flexural da cerâmica. Portanto, a aplicação de ácido hidrofluorídrico por 20 segundos como tempo limite (como recomendado pelos fabricantes) é indicada para aumento da união adesiva e menor perda de resistência flexural8. Um estudo comparativo entre coroas totais em zircônia versus zircônia + dissilicato de lítio aplicado manualmente avaliou resistência à fratura e desadaptação marginal. Foram usinados 20 corpos-de-prova para ambos os grupos, e dez dentes naturais foram utilizados como controle. As coroas totais em zircônia fraturaram com carga média de 2202,19 ± 276,97 N, com desadaptação marginal de 89,26 µm, e as coroas com infraestrutura em zircônia e aplicação de dissilicato de lítio apresentaram fratura em 2074,74 ± 347,30 N e gap marginal de 88,84 µm9. Um estudo avaliando a força adesiva de cimentos resinosos à superfície de Caderno Científico zircônia comparou três tratamentos de superfície diferentes: abrasão com jato de Al2O3 a 110 µm (A) e jato com partículas de 30 µm (B) ou 110 µm (C) Six. O grupo que apresentou maior força de adesão foi o grupo (B), com 18,5 ± 4,7 MPa, quando comparado com o grupo Al2O3 (12,7 ± 2,6 MPa)10. O processo de usinagem de estruturas em zircônia pode ser realizado de duas maneiras: fresagem de blocos pré-sinterizados ou totalmente sinterizados, sendo que os diferentes parâmetros de sinterização podem influenciar nas características finais das peças11-12. Em uma revisão sistemática da literatura, avaliando a adaptação marginal de próteses fixas em zircônia, não houve diferença estatisticamente significativa entre as infraestruturas usinadas em sua forma sinterizada versus pré-sinterizada. Além disso, a usinagem de peças já sinterizadas torna-se difícil em regiões mais finas dos copings13. O processo de sinterização tem efeitos no conteúdo cristalino da zircônia e pode afetar a translucência e a resistência flexural. Em um estudo in vitro avaliando o tempo de sinterização e sua relação com a resistência flexural, autores definiram que a partir de 1.300°C inicia-se um aumento no tamanho dos cristais de zircônia. Porém, os maiores níveis de resistência foram atingidos com temperatura final de sinterização entre 1400°C e 1550°C (1119,3 – 1256,7 MPa). O grupo com menor resistência à fratura foi o de 1700°C (585,6 ± 251 MPa)12. Em termos de resistência à fratura de coroas com infraestrutura em zircônia, um estudo comparativo avaliou qual a carga máxima aplicada para ocasionar a fratura da peça. Foram confeccionados 45 copings em zircônia e divididos em três grupos: aplicação manual de cerâmica (1); aplicação de cerâmica pelo processo de prensagem (2); e usinagem de coroa total em dissilicato de lítio para ser sinterizada ao casquete (3). Os resultados apresentaram melhores índices de resistência à fratura para o grupo 3 (6262,67 ± 227,42 N). Os grupos 1 e 2 apresentaram valores de 3700,39 ± 1238,72 N e 3523,73 ± 1181,11 N, respectivamente, não havendo diferença estatisticamente significativa14. A adaptação marginal das infraestruturas de pontes fixas em zircônia foi avaliada em uma revisão sistemática da literatura, contendo 15 artigos de 115 previamente selecionados. Após análise dos trabalhos, publicados até o ano de 2010, as peças confeccionadas através da tecnologia CAD/CAM mostraram adaptação marginal e encaixe interno mais precisos, quando comparados com a técnica tradicional de fundição ou apenas tecnologia CAM14. Um estudo comparativo entre infraestruturas de protocolo inferior confeccionadas pela tecnologia CAD/CAM e usinadas em titânio versus infraestruturas confeccionadas pela técnica tradicional comparou a desadaptação volumétrica entre ambos os grupos. Em modelo de mandíbula, foram instalados cinco implantes e realizada a moldagem pela técnica tradicional. Foram confeccionados dez modelos (cinco para escaneamento e cinco para enceramento). Através de escaneamento, foi realizada a avaliação da desadaptação das barras metálicas. Houve diferença de 1,8 mm³ em média, favorecendo o grupo CAD/CAM, havendo diferença estatisticamente significativa no nível de desadaptação volumétrica entre a confecção de barras através da tecnologia CAD/CAM e a tradicional técnica da cera perdida15. Em um estudo prospectivo com acompanhamento de três anos, foi avaliada a taxa de sobrevivência, os índices gengivais e de placa bacteriana, e as principais complicações de próteses parciais fixas confeccionadas através da tecnologia CAD/CAM, usinadas em titânio e cobertas por porcelana de baixa fusão. Todos os 31 casos foram cimentados com cimento de fosfato de zinco e o acompanhamento se deu em 12, 24 e 36 meses. A principal complicação foi fratura da porcelana de cobertura, e não houve fratura nas infraestruturas. A taxa de sobrevivência dessas próteses foi de 96,8%16. Em um estudo in vitro, autores17 compararam a adaptação marginal e o peso de estruturas fresadas em titânio e em cobalto-cromo, com a técnica convencional fundida em ouro. As estruturas de ouro foram as mais pesadas (33,41 g), seguidas das de cobalto-cromo (18,12 g) e das de titânio (8,7 g), que foram quatro vezes mais leves que as de ouro. Em relação à adaptação marginal, as estruturas fresadas (Ti e CoCr - 26 µm) tiveram uma adaptação muito superior às fundidas em ouro (261 µm), mesmo após a solda das mesmas (49 µm). Os autores concluíram que a adaptação passiva absoluta é inatingível, tendo as estruturas fresadas uma melhor adaptação. Conclusão Os sistemas CAD/CAM têm conquistado grande credibilidade como tecnologias auxiliares importantes na confecção de reabilitações protéticas que buscam precisão na adaptação e resistência mecânica dos materiais. Sem prescindir da perícia e experiência dos profissionais, bem como dos necessários cuidados nas etapas de anamnese, exames clínicos e radiográficos, diagnóstico e planejamento, esta tecnologia acrescenta praticidade e rapidez para a resolução de variados desafios na reabilitação de pacientes com perdas ou ausências dentárias. Sistemas resultantes de diferentes avanços nas áreas da Odontologia, informática (hardware e software), transmissão de dados, bioengenharia, engenharia de materiais, entre outras, os sistemas CAD/CAM, se adequadamente utilizados, tornam-se valiosos aliados para o cirurgião-dentista. O processo da cera perdida, empregado na confecção de estruturas metálicas para próteses sobre dentes e implantes, tende a diminuir drasticamente nos próximos anos. PROTESENEWS 2014;1(1) 33 Dinato JC | Dinato TR | Sczepanik FSC Entre os benefícios previstos dos sistemas CAD/CAM, podemos citar que as estruturas monolíticas apresentam vantagens, quando comparadas às estruturas estratificadas em relação aos problemas de delaminação. Além disso, as estruturas metálicas usinadas apresentam um elevado nível de adaptação e mantêm, de forma desejável, as propriedades físico-químicas dos metais, devido à ausência de fundição e soldagem. Embora o valor do investimento inicial necessário para a aquisição dos equipamentos seja elevado, este custo tende a se diluir com o acréscimo gradual do número de casos realizados e experiência adquirida. Assim, os trabalhos resultantes, se comparados com próteses tradicionais executadas por laboratórios confiáveis e de qualidade, poderão ter um custo comparativamente igual ou menor, especialmente se levarmos em conta que o custo real do trabalho e o valor percebido pelo paciente estarão sempre associados à qualidade do resultado final, incluindo tempo de execução e número de etapas previstas. É fato que, por diferentes razões, nem todas as clínicas odontológicas e laboratórios protéticos estão habilitados a operar com estes sistemas, assim como nem todas as pessoas que Referências 1. Dinato JC, Dinato TR, Mello S. Relato de caso clínico – Sistema NeoShape/Neodent. Suplemento PróteseNews vol. 1 ImplantNews 2013;10(2):18-9. 2. Dinato JC. Noções de prótese sobre implante. São Paulo: Artes Médicas, 2014. 3. Dinato JC, Fuzo A. CAD/CAM: uma visão atual. Suplemento PróteseNews vol 1 ImplantNews 2013;10(2):6-10. 4. Bottino MA. Percepção. Facetas Laminadas de Cerâmica. 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Marginal-internal adaptation and fracture resistance of CAD/CAM crown restorations. Dental Materials Journal 2013;32(1):42-7. 34 PROTESENEWS 2014;1(1) necessitam de reabilitações dentárias possuem condições de se beneficiar destas tecnologias. Porém, é importante que, aos poucos, estes sistemas possam ser considerados como opções especialmente úteis, viáveis e muito valiosas na Odontologia contemporânea. Nota de esclarecimento Nós, os autores deste trabalho, não recebemos apoio financeiro para pesquisa dado por organizações que possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho. Nós, ou os membros de nossas famílias, não recebemos honorários de consultoria ou fomos pagos como avaliadores por organizações que possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho, não possuímos ações ou investimentos em organizações que também possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho. Não recebemos honorários de apresentações vindos de organizações que com fins lucrativos possam ter ganho ou perda com a publicação deste trabalho, não estamos empregados pela entidade comercial que patrocinou o estudo e também não possuímos patentes ou royalties, nem trabalhamos como testemunha especializada, ou realizamos atividades para uma entidade com interesse financeiro nesta área. Endereço para correspondência José Cícero Dinato Rua Furriel Luiz Antonio Vargas, 250 – Conj. 1.501 – Bela Vista 90470-130 – Porto Alegre – RS Tel.: (51) 3333-2717 [email protected] 10. Valandro LF, Della Bona A, Bottino MA, Neisser MP. The effect of ceramic surface treatment on bonding to densely sintered alumina ceramic. journal Prosthet Dent 2005;93:253-9. 11. Fischer J, Stawarczyk B. Compatibility of machined Ce-TZP/Al2O3 nanocomposite and a veneering ceramic. Dental Materials 2007;23:1500-5. 12. Stawarczyk B, Özcan M, Hallmann L, Ender A, Meh L, Hämmerlet CHF. 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