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Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil
janeiro/2013
Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente
laboral da construção civil
Anna Sofia Pereira – [email protected]
Master em Arquitetura - IPOG
Resumo
O trabalho em questão faz uma abordagem da atividade dos gesseiros e mostra um estudo
ergonômico realizado num canteiro de obra da cidade de Ipatinga, onde são analisados os
principais problemas posturais relacionados à atividade de revestimento de alvenaria em
gesso. Este tipo de revestimento vem sendo aplicado recentemente na região e por ser uma
atividade que exige muito do trabalhador, surge a necessidade de analisar em que condições
ela vem sendo realizada. A partir dos resultados obtidos sugere-se a adoção de
procedimentos que visam melhorar ou amenizar as condições atuais de trabalho.
Palavras-chave: construção civil; gesseiro; análise ergonômica.
1. Introdução
Segundo dados do IBGE, o setor da construção civil foi responsável por 8,0% do total de
riquezas geradas no país. Este setor específico é bastante conhecido nas estatísticas pelo seu
alto índice de acidentes provocados em grande parte pela falta de controle e pela alta
periculosidade das tarefas. Iida (1990) afirma que a construção civil é um ramo de atividade
que ocupa um grande contingente de mão-de-obra em todo o mundo, principalmente a
semiqualificada. A autora relata que neste setor um dos motivos do elevado índice de
acidentes está relacionado à variedade de tarefas executadas por trabalhadores com pouco ou
nenhum treinamento prévio.
Tais atividades demandam grande esforço físico do trabalhador, por sua rotina de trabalho
pesado e salvo exceções em condições inadequadas sem pausas de trabalho e em condições
mínimas. Iida (1990) ressalta que um dos problemas que ocorrem aos trabalhadores da
construção é que os mesmos subestimam os riscos por desconhecerem os seus verdadeiros
perigos. Como resultado disso pode-se observar o histórico de acidentes na construção civil
segundo estudos do Ministério do Trabalho (fonte MT, 2003), o qual mostra que a maior parte
dos acidentes de trabalho documentado estão concentrados nesta área.
A norma regulamentadora NR 17 faz referência à ergonomia, e esta contribui para minimizar
os erros, promover melhorias nas condições de trabalho e conseqüentemente elevar o nível de
qualidade de vida no trabalho, através da intervenção ergonômica por meio de ações
preventivas e corretivas, onde se observam posturas, esforços físicos e mentais, efeitos dos
horários e turnos de trabalho sobre o organismo humano, a organização do trabalho e os
aspectos ambientais (Fonte: Segurança e medicina do trabalho – lei n° 6.514, de 22 de
dezembro de 1977).
A aplicação do gesso no revestimento interno de alvenarias é uma atividade que se o operário
não for orientado adequadamente pode sofrer comprometimento da sua saúde. O
levantamento e transporte dos sacos de gesso e a execução do revestimento pode acarretar
sérios problemas à coluna vertebral do trabalhador podendo até incapacitá-lo para o trabalho.
A falta de ventilação, a falta de luminosidade, o excesso de umidade e as vibrações são
comuns nos canteiros de obras. A não utilização dos EPI’s (equipamentos de proteção
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individual) como luvas, óculos de proteção, botas, dentre outros ocasionam a maioria dos
acidentes de trabalho nesse setor que são caracterizados por pequenas lesões perfuro-cortantes
e contusões. Estas condições de trabalho comprometem a integridade física dos trabalhadores,
e opõe-se às normas regulamentadoras, NR 6 e 17, no que se refere aos equipamentos de
proteção e às condições ambientais dos postos de trabalho.
Neste estudo foram observados os trabalhadores que executam o revestimento em gesso em
um canteiro de obras da cidade de Ipatinga. O objetivo foi analisar ergonomicamente os
operários em atividade no seu ambiente laboral e avaliar a real situação em que as tarefas
foram realizadas, fundamentando-as na revisão bibliográfica pesquisada.
2. Método
O estudo de caso foi desenvolvido em uma obra vertical de médio porte na cidade de Ipatinga,
como caracteriza a tabela abaixo:
Número de pavimentos
6
Número de apartamentos
20
Área construída
2100m²
Área por pavimento
300m²
Número de funcionários
20
Número de gesseiros
8
Área dos apartamentos
71m²
Tabela 1: Caracterização da obra
Fonte: retirado do projeto executivo do empreendimento
Como pode ser observado na tabela 1, a obra atende ao objeto alvo deste trabalho em realizar
um estudo de caso evidenciando os problemas de um posto de trabalho em um canteiro de
obra específico. É uma obra vertical de médio porte na qual a parte estrutural e alvenaria são
executados por uma construtora e os outros serviços são terceirizados. Em ocasião à coleta de
dados, a obra contava com 20 funcionários de empresas terceirizadas uma vez que a fase em
que ocorria era a de acabamento. Desse quadro de trabalhadores, oito especificamente eram
gesseiros e trabalhavam no revestimento de alvenaria e na execução de forro de gesso.
De acordo com Wisner (1987), uma Análise Ergonômica, também chamada de Parecer
Ergonômico ou Laudo Ergonômico, tem como objetivo averiguar (quantitativa e
qualitativamente) as condições de trabalho de uma determinada tarefa, com a observância dos
vários aspectos a ela relacionados [...]. Esta análise procura mostrar uma situação global da
tarefa, abrangendo, dentre outros fatores: o posto de trabalho, as pressões, a carga cognitiva, a
densidade e a organização do trabalho, o modo operatório, os ritmos e as posturas. Baseada
nessas técnicas de observância, inciou-se a pesquisa descritiva, de campo onde as ferramentas
utilizadas para elaboração foram dados coletados em um questionário (ANEXO 1) aplicado
pelo encarregado da obra com cada trabalhador. O material impresso foi passado para o
encarregado contendo uma ficha de entrevista e um formulário designado a cada gesseiro. De
forma individual, o encarregado aplicou o questionário com cada funcionário com o
acompanhamento da pesquisadora de maneira que ele fazia as perguntas e o próprio escrevia
o que os funcionários respondiam. O trabalho foi fotografado durante execução das
atividades, sendo esse material utilizado para a análise postural do gesseiro, através de check
lists físicos, cognitivos e do meio laboral.
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Para dar suporte ao estudo de caso, foi aplicado um questionário elaborado por Batista et al,
2007, posteriormente feita uma análise para classificação das condições ambientais do Posto
de Trabalho. No caso das variáveis condições ambientais e arranjo físico do Posto de
Trabalho, foram elaboradas escalas de classificação ordenadas, de forma a dar suporte à
avaliação destas variáveis.
As escalas variavam de 0 a 10, representando em ordem crescente a qualidade ambiental e a
organização dos postos de trabalhos estudados. O resultado foi apresentado em gráficos, o que
proporcionou ao estudo de caso correlacionar as atividades, além de serem elaboradas as
médias referentes aos resultados em cada variável. De posse dos dados coletados foram
realizadas as análises de forma a obter as devidas inferências sobre o assunto.
3. Resultados e discussão
Essa pesquisa contou com a participação de 8 gesseiros, todos do gênero masculino, com
idade média de 28 anos. 50% tinham primeiro grau incompleto, 37,5% segundo grau
completo e 12,5 % segundo grau incompleto.
Antes de trabalharem com o revestimento em gesso, 80% atuava na construção civil como
ajudante. O tempo de profissão dos gesseiros variou de dois a dez anos. Para o ingresso na
profissão, não foi realizado nenhum tipo de treinamento prévio ou admissional, a maioria
iniciou na profissão dentro dos canteiros de obras, através da observação de outros colegas de
profissão, adquirindo a prática e também os vícios.
Os operários relataram não conhecer os riscos inerentes a sua profissão, pois as informações a
que tem acesso provêm do próprio meio, dos operários mais antigos, que também não foram
orientados adequadamente a respeito dos métodos para realização de um trabalho seguro, sem
riscos à saúde dos trabalhadores.
A fundamentação dos termos técnicos e informações citadas abaixo sobre a incidencia dos
trabalhos executados erroneamente e suas consequências no corpo humano foram retirados
do site www.ergonet.com.br, saúde e trabalho on line.
Os gesseiros são os responsáveis por descarregarem o gesso e levá-los ao depósito e depois
transportar aos locais onde o gesso será utilizado. 50% sentem dores e essas variam entre
dores lombares, membros superiores (braços e ombros) e membros inferiores (joelhos).
No levantamento e transporte manual dos sacos, o operário realiza um esforço em flexão do
tronco que é maior ou menor segundo a distância da carga ao tronco, e ao peso da carga,
constituindo a causa mais frequente das lombalgias. O saco de gesso pesa em média 40 kg e
pode ser empilhados com até 15 sacos.
Na tarefa de empilhar, puxar ou transportar os sacos pode ocorrer movimentos abruptos
involuntários do tronco, desequilibrando o operário. A contração abrupta e desordenada das
grandes massas musculares do tronco pode originar forças de grande intensidade, que podem
causar lesões nas estruturas da coluna vertebral.
Com a repetição desses movimentos a musculatura das costas é a que mais sofre com o
levantamento de pesos. A estrutura da coluna vertebral é composta de discos superpostos,
ocasionando pouca resistência às forças sofridas por ela em direções contrárias ao seu eixo.
Portanto, na medida do possível, a carga sobre a coluna vertebral deve ser feita no sentido
vertical, evitando-se as cargas com as costas flexionadas. O esforço agudo e excessivo poderá
levar a ruptura de músculos, tendões e luxação das articulações.
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A postura adotada pelos gesseiros durante a realização das tarefas é incorreta, provocando
esforços excessivos na coluna vertebral. A postura mais observada é caracterizada pela
inclinação do tronco à frente com flexão dos membros inferiores.
A lombalgia ou dor na região lombar surge em decorrência de lesões ósseas de ligamento de
discos intervertebrais, ou ainda da musculatura da coluna vertebral. Ela pode surgir de
imediato após um esforço físico excessivo, ou aparecer lentamente com o passar do tempo,
dificultando o reconhecimento de sua relação com o trabalho. A dor é de intensidade variável
podendo nos casos mais graves, incapacitar o indivíduo para o trabalho.
A NR-17(Norma Regulamentadora) diz que todo trabalhador designado para o transporte
manual deve receber treinamento ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho
que deverá utilizar com vistas a salvaguardar sua saúde e prevenir acidentes, bem como só
admite o transporte de cargas, cujo peso não comprometa a saúde e a segurança do
trabalhador.
Sendo assim, para o transporte de cargas, o gesseiro deve receber informações sobre a postura
correta para o levantamento e transporte, entretanto isso não ocorreu no caso em estudo.
A jornada de trabalho também é outro fator importante na avaliação ergonômica do
trabalhador. Neste estudo, foi observado que os operários trabalham em média 8 horas por dia
e 1 hora de almoço com algumas exceções que trabalham 9 horas por dia. Desta forma, o
organismo encontra dificuldade para se recuperar e os esforços excessivos sobre a coluna
vertebral são cada vez mais intensos, fato esse que levou a pesquisadora a sugerir a
implantação da ginástica laboral no início da jornada de trabalho como forma de prevenir
lesões e preparar as articulações e músculos durante toda as atividades. As descrições das
atividades do gesseiro que serão apresentadas abaixo foram retiradas do Manual do aplicador
de gesso, SENAI/DR/PE(2003).
a) Execução de forro
A atividade do gesseiro, na execução do forro de gesso, ocorre na fase de acabamento da
construção ou em casos de reforma que necessite da aplicação deste forro. O pico de trabalho
desse profissional é diurno, existindo, porém casos excepcionais de execução deste serviço
em grandes centros comerciais que exigem o trabalho em horário noturno.
A aplicação de forro de gesso é um processo que exige do operário técnica e movimentação
constante, pois, geralmente, a aplicação é realizada acima do tronco e em estruturas elevadas,
acima do nível do piso, sendo indispensável o conhecimento desse processo de execução, para
evitar lesões decorrentes de esforço repetitivos e/ou posturas inadequadas.
No processo de pré-execução é realizado o planejamento da área a ser assentada, verificando a
quantidade de placas a serem assentadas, a altura do forro em relação à laje (pé-direito) e
detalhes especificados no projeto.
Em seguida, é feita a montagem dos andaimes que podem ser de ferro ou madeira, sendo estes
últimos os mais utilizados. O transporte das placas de gesso para o Posto de Trabalho ocorre
logo após esses procedimentos.
Inicia-se então o processo de execução de assentamento do forro de gesso. É feita a marcação
das alturas e colocação de linhas que definem o nivelamento do forro. Em seguida, os
parafusos são fixados na laje com uso da pistola, os quais servirão de suporte aos arames de
sustentação das placas. No caso de telhados, os arames são amarrados nos caibros ou nas
ripas. Quando necessário, é feito o corte das placas. Nos cantos de parede e encaixe entre as
placas (macho-fêmea) é feita à união com a pasta, composta de sisal, gesso e água, para firmar
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a junção entre as placas. Instalado o forro, o gesseiro inicia a fase do acabamento do forro,
que compreende basicamente a aplicação do emassamento, lixamento e pintura. A aplicação
de roda-tetos também faz parte desta fase.
Após o término do acabamento do forro de gesso, os andaimes são desmontados e é aplicada a
limpeza no local de assentamento. Desse modo, as tarefas dos gesseiros englobam o
levantamento da área a ser assentado o forro de gesso, o transporte das placas, montagem dos
andaimes, demarcação e nivelamento do local de assentamento, colocação da placas,
acabamento, desmontagem dos andaimes e limpeza do local.
b) Execução do revestimento da alvenaria
A execução do revestimento interno em gesso é realizada basicamente na posição de pé.
Entretanto, esta posição não indica o trabalho numa postura correta, normalmente o operário
assume postura inclinada, agachada ou caminha de um lado para o outro realizando suas
tarefas (nivelamento do revestimento).
Esta variação de posturas incorretas implica em esforços na coluna vertebral, a inclinação do
tronco para frente (11º-90º) implica alta carga nos discos e nos músculos, a postura totalmente
inclinada para frente (>90º) implica alta carga nos discos e ligamentos, e por um período
prolongado causa estiramento dos ligamentos e com isso pode diminuir a estabilidade da
coluna, fazendo com que a mesma fique vulnerável para esforços súbitos, esta postura
também causa distúrbios na nutrição dos discos e, portanto, acelera o processo degenerativo
no disco intervertebral.
c) Postura
A postura é a organização relativa das diversas partes do corpo no espaço. Uma postura
desequilibrada, confusa, retorcida sempre indica a existência de problemas de inadaptação ao
trabalho.
As posturas mais comuns são a posição horizontal, a posição sentada e a posição de pé.
Destas, a posição horizontal é a mais indicada para o repouso, por ser a que menos consome
energia. A posição sentada já exige uma atividade muscular de sustentação dos músculos
dorsais e abdominais, consumindo 10% a mais de energia, em relação à posição horizontal.
De pé, a fadiga aparece mais rapidamente, sobretudo se houver pouca movimentação,
exigindo um trabalho estático dos músculos de sustentação. A seguir, alguns exemplos do que
foi falado:
Figura 1: posição incorreta (curvatura do dorso)
Figura 2: posição correta
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Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora
Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora
Figura 3: posição incorreta (curvatura do dorso)
Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora
Figura 4: aplicação do gesso com o ombro em 90º
Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora
A foto 5 mostra a aplicação do gesso na posição limite de 90° em relação ao ombro, porém o
gesseiro chega a trabalhar com os braços na posição acima do limite indicado. Como os
andaimes não são adaptados a altura de cada trabalhador em relação ao pé direito da obra eles
acabam fazendo uma extensão de cervical quando olham para o teto ao colocar o gesso.
d) Processo executivo
O manuseio de cargas tem sido uma das mais freqüentes causas de trauma dos trabalhadores
em função do esforço agudo e excessivo que ele exerce, o que poderá levar à ruptura de
ligamentos, músculos, tendões e luxação das articulações.
Posturas incorretas e traumatismos diretos poderão levar a lesões irreversíveis, articulares,
ósseas, musculares, dores e deformidades da coluna vertebral.
As situações de trabalho, quanto ao levantamento de pesos podem ser classificadas em dois
tipos:
Primeira: refere-se ao levantamento esporádico de cargas e está relacionada com a
capacidade muscular para levantar a carga;
Segunda: é o trabalho repetitivo com levantamento de cargas, neste caso entra o fator de
duração do trabalho e está relacionada coma capacidade energética do trabalhador e a fadiga
física.
Nos revestimentos de alvenaria em gesso, o servente é o operário que mais sofre com os
esforços sobre a coluna vertebral, pois realiza as tarefas de carga e descarga dos caminhões e
transporta os sacos de gesso para o depósito e aos locais de aplicação.
Nesses casos, certos cuidados podem ser tomados no sentido de proteger a coluna de uma
solicitação superior à sua resistência. A recomendação mais usual é a de evitar o uso da
musculatura dorsal no levantamento de cargas. Assim, deve-se usar os músculos da perna
mantendo a coluna reta, numa posição parecida com a dos halterofilistas. E é uma
recomendação produtiva, já que uma pessoa é capaz de levantar 100kg com os músculos da
perna, mas somente 20kg se o dorso estiver com uma curvatura entre 60 e 90 graus. As
figuras abaixo ilustram esses cuidados:
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Figura 5: postura correta para levantamento de cargas
Fonte: ilustração feita pela autora
Figura 7: postura incorreta, peso na coluna
Fonte: ilustração feita pela autora
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Figura 6: posturas incorreta e correta respectivamente
Fonte: ilustração feita pela autora
Figura 8: postura correta, peso nas pernas
Fonte: ilustração feita pela autora
e) Equipamentos e ferramentas
Os equipamentos e ferramentas utilizados pelos gesseiros são o serrote, as trenas de madeira e
metálica, o martelo, a chave de fenda, o alicate, parafusos e buchas, espátulas, arames e
pistola. As ferramentas que o gesseiro utilizam normalmente ficam em cima do andaime,
próximo de onde será utilizado, porem na hora de utiliza-los eles tem que se abaixarem,
normalmente em posições incorretas.
A NR-17 regula que os trabalhos manuais, seja sentado ou em pé, devem proporcionar ao
trabalhador condições de boa postura, visualização e operação, caso que não se constatou na
obra estudada devido à localização das ferramentas, evidenciada anteriormente, serem no
chão. A referida norma aponta que os suportes para disposição de utensílios necessários ao
desenvolvimento da atividade devem atender as características do serviço.
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Figura 9: ferramentas utilizadas pelos gesseiros
Fonte: foto retirada na obra em estudo pela autora
A NR 17 estabelece parâmetros para avaliar as condições ambientais do posto de trabalho e
sua organização. Com base no método utilizado para obter o resultado apresentado, observouse algumas limitações quando da realização deste trabalho, pois seria necessária a utilização
de equipamentos para realizar as aferições necessárias, no entanto esta se deu através da
perceptividade e da escala pré-estabelecida.
Após aplicado o questionário (citado anteriormente) e feito sua análise foram obtidos os
seguintes resultados como mostram os gráficos a seguir:
Gráfico 1: Resultados das condições ambientais na obra
Fonte: gráfico elaborado em cima dos resultados do questionário de Batista et al, 2007
O Gráfico 01 apresenta o resultado das condições ambientais da obra estudada com base na
escala de classificação estabelecida. Com base na escala de classificação elaborada
previamente, verifica-se que, especificamente nas variantes temperatura, e ventilação a obra
atingiu o nível de classificação bom, pois a obra ainda não possuía janelas favorecendo a
circulação de ar. Já na variável iluminação, vibrações e ruído, atingiu o nível de classificação
regular uma vez que a execução estava sendo realizada no interior da edificação e o uso de
pistola ocasiona aos trabalhadores convívio constante com o som emitido por este
equipamento interferindo na qualidade das variáveis mencionadas.
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Elaborando-se uma média da classificação ambiental para a obra com base na escala adotada
de classificação ambiental, tem-se 5,5 estando numa condição regular. Apesar da amostra ser
relativamente pequena para o tema em estudo, constata-se que no caso da unidade autônoma,
as condições ambientais mostraram-se desfavoráveis em relação ao canteiro, requerendo
maiores cuidados quanto ao uso dos equipamentos de segurança.
Gráfico 2: resultados das condições do arranjo físico
Fonte: gráfico elaborado em cima dos resultados do questionário de Batista et al, 2007
O Gráfico 02 apresenta o resultado da disposição física da Obra estudada com base na escala
de classificação estabelecida. Especificamente foram estudadas a localização e disposição das
placas de gesso, ferramentas e equipamento e condições dos andaimes. Constatou-se que a
obra não chegou a atingir o valor de 6 numa classificação global de 0 a 10, o que representa
estado regular de organização. Descrevendo o observado na coleta de dados, verificou-se que
os problemas principais foram a inexistência de suportes e bandejas para acomodação das
ferramentas e equipamentos e placas de gesso, o que faz com que o gesseiro se locomova em
excesso, bem como as alturas inadequadas dos andaimes e sua instalação propriamente dita, o
que pode prejudicar o processo de assentamento e ocasionar problemas físicos nos operários.
f) EPI`S – equipamentos de proteção individual
Dentre os equipamentos listados na tabela abaixo, apenas 75% dos gesseiros os utilizam:
Capacete
Bota
X
Cinto
Óculos
Máscara
Protetor
auricular
Abafador
X
Macacão
Luvas
X
Tabela 2: quadro de equipamentos de proteção individual
Apesar de não ser abordagem específica da NR-17, os equipamentos de segurança são
obrigatórios no exercício de qualquer atividade que apresente riscos ocupacionais. A NR-6,
que regula os Equipamentos de Proteção individual . EPI . conceitua-os como todo dispositivo
ou produto, de uso individual utilizado pelo trabalhador, destinado à proteção de riscos
suscetíveis de ameaçar a segurança e a saúde do trabalhador. A citada norma
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regulamentadora, aponta que cabe a empresa fornecer o EPI adequado ao risco, em perfeito
estado de funcionamento, e que compete ao Serviço Especializado em Engenharia de
Segurança e em Medicina do Trabalho, SESMT, ou à Comissão Interna de Prevenção de
Acidentes, CIPA, nas empresas desobrigadas de manter o SESMT, recomendar ao
empregador o EPI adequado ao risco existente em determinado atividade. Ainda cabe ao
empregador disponibilizar o EPI adequado ao risco de cada atividade, exigir o uso, orientar e
treinar quanto à utilização correta, entre outros (NR-6). O empregado tem a responsabilidade
principalmente de conservar o EPI e utilizá-lo para a finalidade correta (NR-6).
Apesar de falarem que utilizam os equipamentos citados na tabela 2, não foi constatado o
mesmo no ambiente laboral. Os acidentes relacionados ao manejo da espátula e às quedas de
andaimes, afirmados pelos gesseiros entrevistados, decorrem provavelmente, da não
utilização dos equipamentos de segurança necessários.
Figura 10: o gesseiro faz uso apenas de macacão e bota
Fonte: foto Fonte: foto retirada na obra em estudo por Anna Sofia
4. Conclusão
Todos os dados obtidos na presente pesquisa, através de questionário, observações, e fotos,
foram analisados e confrontados, servindo de base para as ações ergonômicas aqui sugeridas,
baseado na portaria MT/OS nº 3.751, de 23 de novembro de 1990, a NR 17. No entanto a
proposta vai além do prescrito na norma e estende-se à ergonomia em seu sentido mais
abrangente.
Para a melhoria das condições de trabalho sugere-se que o local de apoio para colocação de
placas e ferramentas tenha um suporte com bandeja ou carrinho móvel com trava. O
suplemento deve possuir um sistema que permita ajustar a altura de acordo com a necessidade
do gesseiro.
Para garantir maior segurança e estabilidade o uso de cavaletes mais estáveis é indicado,
sendo de metal, para o gesseiro no momento do desenvolvimento das tarefas. O cavalete deve
ser projetado observando as necessidades de largura e comprimento, para os trabalhos em
dupla ou individual. A confecção de um cavalete com dois ou três lances, em alturas
diferenciadas e reguláveis pode minimizar o esforço decorrente da flexão dos joelhos.
Devem ser usadas, luvas que mantenha o tato do gesseiro de forma a não comprometer o
desenvolvimento da tarefa. O uso desta luva é extremamente importante na etapa de
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acabamento final, onde ocorre maior número de cortes na mão do gesseiro, devido ao uso da
espátula.
Os gesseiros devem receber treinamento e conscientização quanto ao uso de EPI´s. Esse
treinamento de conscientização deve ser suficientemente motivador e bastante explicativo,
utilizando-se de imagens de situações de riscos e realísticas e acidentes pela não utilização.
Sugere-se a utilização de um capacete que se compõe concomitamente com a máscara
respiratória, protetor auricular e óculos, deste modo evitaria o não uso de algum desses
equipamentos e, além disso, facilita a retirada espontânea do gesseiro.
Os resultados da pesquisa realizada demonstram que o gesseiros estão realizando suas
atividades de maneira incorreta, adotando posturas inadequadas que posteriormente podem
acarretar sérias lesões à coluna vertebral. Atualmente, os operários já estão sentindo os
primeiros sintomas, que são as dores lombares.
Alguns procedimentos podem ser adotados para reduzir os esforços excessivos sobre a coluna
vertebral, bem como melhorar as condições de trabalho, tais como: treinamentos e palestras
sobre como adotar posturas corretas no levantamento e transporte de materiais (manter a
coluna reta e usar a musculatura das pernas, manter a carga o mais próximo possível do corpo,
procurar manter cargas simétricas usando as duas mãos para evitar a criação de momentos em
torno do corpo) e introduzir pausas durante a jornada de trabalho que permitam equilibrar o
desgaste com a recuperação do organismo.
Durante a atividade, esse equilíbrio é essencial para o organismo humano, a atividade deve ser
organizada de forma a que as pausas sejam possíveis e até estimuladas, podendo até incentivar
a prática de exercícios de relaxamento muscular durante estas pausas; introduzir novas
máquinas e equipamentos que permitam a realização das tarefas com menos esforço físico;
incentivar a preservação da saúde do trabalhador; rever o regime salarial de forma que a
jornada de trabalho não supere o previsto na lei, reduzindo a fadiga e as lesões na coluna
vertebral.
Referências
BATISTA et al. Ergonomia da profissão do gesseiro: o caso de postos de trabalhos na cidade de João Pessoa.
In: II Congresso de Pesquisa e Inovação da Rede Norte Nordeste de Educação Tecnológica, João Pessoa/PB,
2007.
IIDA, Itiro. Ergonomia: Projeto e Produção. São Paulo: Ed. Edgar Bucher Ltda, 1990.
Instituto Brasileiro de geografia e estatísticas. Disponibilidade e acesso: <www.ibge.gov.br>. Acessado em 29 de
junho de 2011.
MANUAIS DE LEGISLAÇÃO ATLAS. Segurança e Medicina do Trabalho. Equipe Atlas: vol.16, 36º
edição, 1997
Ministério do Trabalho e Emprego. Disponibilidade e acesso: <www.mtb.gov.br>. Acesso em 25 de junho de
2011
Segurança e Medicina do Trabalho: Lei nº 6.514, de 22 de Dezembro de 1977. Coleção Manuais de
Legislação Atlas. 61ª ed. São Paulo: Editora Atlas S.A., 2007.
SENAI/DR/PE (2003) - Manual do aplicador de gesso. Recife, DITEC/DET.
Saúde e trabalho on line. Disponibilidade e acesso: <www.ergonet.com.br>. Acessado em 29 junho de 2011.
Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil
janeiro/2013
WISNER, Alain. Por dentro do trabalho: ergonomia: método & técnica. São Paulo: FTD/Oboré, 1987.
ANEXO 1
QUESTIONARIO – ANÁLISE ERGONÔMICA DO AMBIENTE LABORAL
NOME: _____________________________________________________________
IDADE:________________
ALTURA:_______________
TEMPO DE SERVIÇO:
( )2 ANOS
( )5 ANOS
( )10 ANOS ( )___________
GRAU DE ESCOLARIDADE:
( )1O GRAU INCOMPLETO
( ) 1O GRAU COMPLETO
( )2O GRAU INCOMPLETO
( ) 2O GRAU COMPLETO
( )_______________________
TRABALHA QUANTAS HORAS POR DIA? TEM HORAS DE DESCANÇO?
___________________________________________________________________________
UTILIZA EQUIPAMENTO DE SEGURANÇA? QUAIS?
( )SIM
( )NÃO
( )CAPACETE
( )BOTA
( )PROTETOR AURICULAR
( )CINTO
( )ABAFADOR
( )ÓCULOS ( )MÁSCARA
( )MACACÃO
( )LUVA
SENTE ALGUM TIPO DE DOR?
( )SIM
( )NÃO
( )DURANTE A ATIVIDADE
( )DEPOIS DA ATIVIDADE
QUE TIPO DE DOR?
( )LOMBAR ( )TORÁCICA
( )MEMBROS INFERIORES
( )MEMBROS
SUPERIORES
ATRAPALHAR A FAZER O SERVIÇO?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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JÁ SOFREU ALGUM ACIDENTE DE TRABALHO?
( )SIM
( )NÃO
QUAL?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
O QUE ACHA QUE DEVE SER MUDADO PARA MELHORAR O SEU SERVIÇO?
___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
ANEXO 2
PÉSSIMO (0-1): Ambiente totalmente desfavorável, sem possibilidade de permanecer no
ambiente de trabalho.
RUIM (2-3): Ambiente com muitas partes desfavoráveis ao trabalhador (mais de 70%). Caso
permaneça no local de trabalho, terá chances de adquirir danos irreversíveis à saúde.
REGULAR (4-6): Ambiente com diversas partes desfavoráveis ao trabalhador (cerca de
50%). È possível permanecer no local de trabalho, mas com risco de causar danos à saúde em
curto período.
BOM (7-8): Ambiente com poucas partes desfavoráveis ao trabalhador (menos de 30%). È
possível permanecer no local de trabalho, mas os danos à saúde aparecerão no decorrer do
tempo.
ÓTIMO (9-10): Ambiente totalmente favorável ao trabalhador, que não causa nenhum dano à
saúde.
CONDIÇÕES AMBIENTAIS:
VENTILAÇÃO:
( ) PÉSSIMO( )RUIM
( )REGULAR
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TEMPERATURA:
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ILUMINAÇÃO:
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Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil
janeiro/2013
PARTÍCULAS:
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VIBRAÇÕES:
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ARRANJO FÍSICO:
LOCALIZAÇÃO E DISPOSIÇÃO DA PLACAS DE GESSO:
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LOCALIZAÇÃO E DISPOSIÇÃO DAS FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS:
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CONDIÇÕES DOS ANDAIMES:
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ORGANIZAÇÃO DO AMBIENTE LABORAL:
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Fonte: adaptação da autora em cima de um questionário elaborado por Batista et al, 2007
Análise ergonômica da atividade de aplicação do gesso no ambiente laboral da construção civil
janeiro/2013

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