prevenção e controle de pêndulos em trailers
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prevenção e controle de pêndulos em trailers
PREVENÇÃO E CONTROLE DE PÊNDULOS EM TRAILERS O objetivo deste texto é divulgar conhecimentos embasados na prática dos trailistas do passado, mostrando o que é o fenômeno pêndulo, suas causas, como se desenvolve, quando ocorre, e quais os procedimentos necessários à prevenção e controle do mais relevante problema enfrentado por todos que se aventuram nas estradas, rebocando um trailer em busca de lazer. Que o diga quem já sofreu a horrível experiência de ser surpreendido por um pêndulo, e teve a sorte de escapar ileso... ou não. Rebocar um trailer não é a mesma coisa que dirigir um veículo qualquer, onde, com a prática adquirida, costumamos agir instintivamente nas atitudes necessárias. Trata-se de uma combinação de veículos que requer ações diferenciadas de manejo e comportamento no tráfego, exigindo dos condutores conhecimentos e habilidades específicas, que não fazem parte dos currículos de nenhum curso de formação de condutores. Nem mesmo os de habilitação à categoria “E”, descabidamente obrigatória aos condutores de trailers. É notório o desconhecimento do assunto por todos os seguimentos do setor, desde os que reivindicam a mudança da lei, até as próprias autoridades de trânsito. O Código de Trânsito Brasileiro classifica os trailers na espécie 11semirreboques e reboques. Os semirreboques, conhecidos como quinta roda, em razão das suas características, com sistemas de engates e freios exclusivos, não sofrem o fenônemo. Trataremos apenas dos que se enquadram como reboques, considerando-os com todos os componentes mecânicos em perfeitas condições de manutenção e funcionamento, fundamentais na prevenção e controle de pêndulo. CONCEITO BÁSICO ▬ TODO E QUALQUER VEÍCULO SOBRE RODAS, QUANDO REBOCADO, TENDE A UMA VELOCIDADE MAIOR DO QUE A DO VEÍCULO REBOCADOR NAS DESACELERAÇÕES. Considerando o conceito básico, o funcionamento do sistema de engate tipo bola munheca, o sistema de freios inercial, acionado por retração de bequilha, e o fator velocidade, podemos afirmar que durante o deslocamento do conjunto trailer - veículo rebocador, há uma transferência alternada de pontos de esforço no engate, entre o alojamento da munheca e a bola: ─ nas acelerações, o esforço é exercido NA superfície ANTERIOR do alojamento da munheca PELA BOLA; ─ nas desacelerações o esforço é exercido PELA superfície POSTERIOR do alojamento da munheca SOBRE A BOLA: ─ é naquele pequeno ponto de contato no engate, entre a superfície posterior do alojamento da munheca e a bola, onde se origina o movimento oscilatório horizontal do trailer que caracteriza o fenômeno denominado pêndulo. Com a perda do regime de tração ocorrido com a transferência de pontos de esforço no engate, em consequência de desaceleração; a resistência do amortecedor da bequilha, que em função da velocidade retarda, ou impede, a retração do sistema não acionando o freio do trailer em tempo útil, surge o movimento oscilatório horizontal, resultante da força exercida pela munheca sobre a bola: ─ único obstáculo a barrar a velocidade do trailer que, nesta situação, tende a ser maior do que a do veículo rebocador. Sabendo-se que em baixas velocidades o sistema de freios atua eficientemente com desaceleração, como por exemplo, declives acentuados onde, principalmente os modelos -1- maiores, estando com os seus componentes mecânicos em perfeitas condições de manutenção e funcionamento, travam o conjunto sem frenagem, apenas com desaceleração, deduz-se que: ─ se o sistema de freios inercial, acionado por retração de bequilha, realmente atuasse da forma como foi planejado, respondendo sucessivamente à desaceleração em qualquer velocidade, eliminando a tendência do veículo rebocado ter velocidade maior do que o veículo rebocador, trailers não sofreriam o fenômeno pêndulo. Sendo assim, depreende-se que o fenômeno é consequência de deficiência mecânica do sistema de freios acionado por retração de bequilha, em função da velocidade. Mais precisamente: em razão da velocidade, a resistência do amortecedor da bequilha retarda ou impede a retração do sistema, deixando as rodas do trailer livres. ▬ Desta forma, a prática recomenda que para prevenir ocorrências de pêndulos, estando o trailer alinhado com o veículo rebocador, sempre que for necessário desacelerar deve-se brecar o suficiente para forçar (ajudar) a retração da bequilha, compensando a deficiência mecânica do sistema. Pêndulos normalmente ocorrem em retas planas ou com declives suaves. Inicia-se quase que imperceptivelmente, na sua primeira fase, aumentando a oscilação horizontal gradativamente até se fazer sentir no veículo rebocador. A partir deste ponto, já na segunda fase, a evolução torna-se mais rápida: a cada mudança de sentido da oscilação as rodas tendem a perder o solo alternada e lateralmente; a oscilação vertical surge combinada com a horizontal a cada mudança de sentido, tornando o tombamento iminente; as rodas elevam-se cada vez mais do solo a cada mudança de sentido, até tornar a inclinação irreversível, o que caracteriza a terceira fase, e o consequente tombamento do conjunto. ▬ Vale ressaltar que em altas velocidades, o veículo rebocado apresenta o fenômeno denominado flutuação e passa a exercer esforço sobre a bola mesmo com acelerações estabilizadas, e a consequente perda do regime de tração. Constitui-se no pior quadro possível, no qual é certa a ocorrência de pêndulos que já se iniciam violentos, evoluindo rapidamente para a terceira fase. É de difícil correção, exigindo habilidade do condutor, e capacidade de aceleração do veículo rebocador para retomar o regime de tração, o que normalmente não se tem suficientemente em altas velocidades. Com o que foi visto até aqui, o conceito básico, a transferência de pontos de esforço no engate, o funcionamento do sistema de freios acionado por retração de bequilha, a influência dos fatores velocidade, aceleração e desaceleração, conclui-se que: em regime de tração, com a bola exercendo esforço na superfície anterior do alojamento da munheca, em velocidade adequada, consequentemente sem flutuação, não haverá ocorrência de pêndulo. E sendo assim, é certo que: para corrigir eventual ocorrência de pêndulo e estabilizar o trailer, é necessário mudar o ponto de esforço no engate para retomar o regime de tração, através de aceleração. ▬ É daí que vem o princípio, que em caso de ocorrência de pêndulo, deve-se acelerar até estabilizar, e então, com o trailer alinhado, brecar adequadamente para reduzir a velocidade. ▬ Iniciado o pêndulo, qualquer tentativa de redução de velocidade ou troca de marcha, tende a agravar o evento. Se pêndulos decorrem da conjugação dos fatores engate, freios acionados por retração de bequilha e velocidade, e as experiências realizadas até o momento não encontraram solução que corrija a atuação dos fatores engates e freios no fenômeno, a alternativa possível é “administrar”, digamos assim, o fator velocidade. Muitos a temem. Outros encontram nela a emoção. A estes o slogan da PRF: ─ ”A velocidade que emociona é a mesma que mata”. Temê-la não é sinônimo de prudência como muitos creem. Sem velocidade não há deslocamento, portanto há que se enfrentá-la -2- com conhecimento, coragem, prudência e respeito, sem temê-la. Do ponto de vista da sua influência na ocorrência de pêndulos, devemos considerá-la em três fases distintas, que variam em função das características de cada conjunto tais como: marca; modelo; potência de motor; eficiência de frenagem e peso na bequilha (a prática demonstrou que os mais leves de bequilha, independente do comprimento ou peso total, tendem a pendular com menos velocidade): ─ VELOCIDADE MÁXIMA DE SEGURANÇA: Até este nível de velocidade tudo funciona corretamente e com presteza. O regime de tração do engate é mantido com acelerações estabilizadas, e a retração da bequilha responde satisfatóriamente acionando o freio do trailer a qualquer desaceleração. É a velocidade indicada em tráfego intenso, curvas e declives. Não há risco de pêndulo ─ VELOCIDADE DE CRUZEIRO: Nesta faixa de velocidade a bequilha já não retrai satisfatoriamente em desacelerações, ocasiões em que a munheca passa a exercer esforço sobre a bola com as rodas do trailer livres, tornando iminente a ocorrência de pêndulos, mas, o engate ainda responde com presteza e mantém o regime de tração com acelerações estabilizadas. É conveniente observar, que nesta faixa de velocidade consegue-se facilmente prevenir ou corrigir eventuais ocorrências de pêndulos. É a velocidade indicada em rodovias com baixa intensidade de tráfego. O risco de pêndulo é iminente, mas facilmente prevenido ou corrigido. ─ VELOCIDADE MÍNIMA DE ALTO RISCO: (ou mínima de alta velocidade) A partir deste ponto, acima da velocidade máxima de cruzeiro, tudo funciona mal. Inclusive o condutor que já perdeu o bom senso; o trailer passa a sofrer o efeito flutuação; a munheca exerce esforço constante sobre a bola mesmo com aceleração estabilizada; o engate perde completamente o regime de tração; nesta situação o pêndulo tende a ocorrer até mesmo sem desaceleração, e já se inicia de forma violenta. É a situação mais difícil de corrigir exigindo muita habilidade, controle emocional, rapidez e capacidade de aceleração do motor para retomar o regime de tração e estabilizar, que se não for suficiente o evento certamente terminará em tragédia. Costuma ocorrer em trechos de estradas longos, desertos, monótonos, e aparentemente seguros, onde sempre há tendência de “esticar mais um pouquinho para ganhar tempo”, ou então “aproveitar os lançantes para ganhar velocidade nas subidas”. ▬ Os valores absolutos em km/h dos limites de velocidade de entrada em pêndulo, variam de acordo com as características de cada conjunto. ▬ Conheça os seus limites e evite as flutuações, que certamente terminarão em tragédias. Vários fatores contribuem para a redução dos limites de velocidade de entrada em pêndulo. Os principais são: AJUSTAGEM BOLA/MUNHECA: No comércio encontram-se engates com bolas que variam entre 48 a 50 mm de diâmetro. Embora a castanha tenda a ajustar-se a pequenas variações, é importante observar que a munheca foi projetada para bolas com 50 mm, já considerando a folga mínima necessária ao funcionamento. Sempre que for preciso trocar engates ou bolas, certifique-se da medida correta. ─ ALINHAMENTO DE BEQUILHA: A munheca deve estar rigorosamente alinhada com o centro da largura da carroceria do trailer. É comum acontecer o desalinhamento nos modelos maiores e mais pesados. Pode ser provocado por pancadas da bola na munheca, em manobras para engate. Deve ser observado periódicamente e é de fácil correção. ─ CONVERGÊNCIA E CAMBAGEM DE RODAS: As rodas são montadas em gabaritos na fábrica, não admitem regulagem e dificilmente saem do padrão, mas, os modelos fabricados pela Turiscar a partir de 1990, -3- conhecidos como “frente nova”, sobretudo os maiores e mais pesados, apresentam alterações de convergência e cambagem motivados pela aplicação de tubos guia dos braços de rodas com teor de carbono fora da especificação recomendada. Nos modelos a partir do Vila Rica Luxo o problema se agrava, chegando mesmo a acontecer fissuras na junção do braço com o tubo guia. Possuí um Vila Rica Residence 1992 e só consegui resolver o problema através da Sinostrailer, com a ajuda do Sr Pedro, engenheiro da empresa que fabricava as plataformas para a Turiscar até o ano de 1990. Antes da troca dos tubos guia a velocidade de entrada em pêndulo deste trailer não chegava a 60 km/h. Com o restabelecimento do gabarito aproximou-se aos 90 km/h. ─ PRESSÃO DOS PNEUS: Normalmente a pressão dos pneus recomendada nos manuais de fábrica, sobretudo nos modelos maiores e mais pesados, não é suficiente para um bom desempenho. Muito se falava sobre o assunto no passado e cada um usava uma pressão acima da recomendada aleatoriamente. No meu caso usava 33 libras na Vila Rica Residence 92, que pesava cerca de 3.300kg em ordem de marcha, a mesma calibragem que usava no Rubí 87 considerando o mesmo tipo de pneu. Na troca de um pneu danificado, pedi para calibrar todos com 33 libras. Retomada a viagem, o trailer que iniciava pêndulos em torno dos 85 a 90 km/h, passou a aceitar velocidades maiores, que segui testando com euforia, até alcançar 120 km/h com segurança. No dia seguinte constatei que estavam com 48 libras de pressão. A partir desta descoberta acidental fui reduzindo a calibragem, e cheguei a 42 libras de pressão com margem de segurança. Além do desaparecimento dos pêndulos que eram frequentes, reduziram-se consideravelmente os contratempos com pneus. É bom lembrar que pressões excessivas provocam afrouxamentos e rachaduras no equipamento. ─ PESO NA BEQUILHA: Os trailers fabricados no Brasil saiam de fábrica com pesos de bequilha diferenciados, de acordo com o modelo, independente do peso bruto. O que determina o peso de bequilha de cada modelo é a disposição dos móveis e equipamentos em seu interior. Como exemplo podemos citar os modelos da Turiscar, Rubí 590, com 5,90 m de comprimento por 2,20m de largura com peso de bequilha em torno de 160 kg, e o Diamante 660, com 6,60m de comprimento por 2,20 de largura, portanto mais 70 cm de comprimento, com peso de bequilha em torno de 80 kg, a metade do Rubí. Os pesos do exemplo são aproximados, mas ainda é possível encontrar tabelas da Turiscar com os pesos totais e de bequilha, que mostram os valores exatos de cada modelo. A prática demonstrou, e é fácilmente comprovável, que quanto menor o peso na bequilha, maior a tendência a pêndulos e flutuações e, consequentemente quanto maior o peso na bequilha, considerando o limite da capacidade de carga no eixo trazeiro do veículo rebocador, mais seguro e estável será o conjunto. O modelo Rubí do exemplo, considerado unanimemente o mais seguro e estável de todos os modelos que se enquadram na categoria reboque, é o que tem o maior peso relativo de bequilha. Portanto a distribuição da carga deve ser feita de modo a não aliviar a bequilha, principalmente nos modelos em que o quarto é trazeiro, onde se tem mais espaço disponível para bagagem nos armários aéreos e a tulha sob a cama. Em qualquer modelo de trailer, para um melhor desempenho, o maior peso deve ser sempre dianteiro. Pêndulos não acontecem de repente em velocidade de cruzeiro. Pela observação do comportamento do trailer através dos espelhos retrovisores auxiliares, principalmente nos momentos de desacelerações quando é iminente surgir o fenômeno, percebe-se perfeitamente o início do pêndulo antes que ele envolva o veículo rebocador. Nesta fase é muito fácil corrigi-lo aumentando suavemente a aceleração e continuar na mesma velocidade, ou não, de acordo com as condições da rodovia, sempre observando pelos retrovisores. Havendo recorrência, acelere o suficiente até estabilizar (em velocidades de cruzeiro e na primeira fase do pêndulo a estabilização é rápida), com o trailer alinhado, -4- tire o pé do acelerador rapidamente e breque o suficiente para que a resistência do amortecedor da bequilha seja vencida e o freio do trailer acionado, e reduza para uma velocidade adequada. ▬ O ideal é perceber e dominar o pêndulo na fase inicial, mas, se perder a oportunidade ou em caso de surpresa, com a oscilação já envolvendo o veículo rebocador, a alternativa segura é: controle o pânico; acelere forte até estabilizar; com a certeza do trailer alinhado com o veículo rebocador, tire o pé do acelerador rapidamente e breque o suficiente para que a bequilha acione o freio do trailer; reduza a velocidade, e boa viagem. Conhecimentos teóricos bem fundamentados são importantes, mas, basicamente ilustrativos e não suficientes às atitudes e ações necessárias à prevenção e correção de eventuais pêndulos. Considerando as variáveis de cada equipamento, o condutor só estará apto a atuar se conhecer as características e o comportamento do seu conjunto, quando submetido às condições ideais à ocorrência de pêndulos. Também é fundamental o controle emocional necessário a evitar o pânico, que se constitui no maior agravante no momento de agir (até mesmo os mais experientes tendem a algum pânico quando são surpreendidos). É importante realizar treinamentos, em locais apropriados, inicialmente com simulações sem a ocorrência de pêndulos; determinar limites de velocidades; estabelecer distâncias apropriadas a eventuais correções; praticar intensidades de acelerações e frenagens, que devem ser firmes, precisas, na medida certa e sem exageros, evitando arrancadas desnecessárias e arrastos perigosos formadores de “eles”, de tal forma que adquira habilidade e confiança até que possa provocar pêndulos e dominá-los com segurança. Não é complicado lidar com pêndulos. É claro que exige conhecimentos, habilidades e controle emocional, mas, nada que não se possa adquirir com facilidade, e evitar ficar a mercê da sorte. ▬ Não espere acontecer.... Prepare-se e enfrente-os com habilidade e segurança quando for necessário. ▬ Aos que acreditam que com prudência jamais sofrerão pêndulos, cuidado: prudência sempre é necessário, mas nunca suficiente. Uma simples desaceleração recomendada pela prudência, feita inadequadamente, pode provocar um pêndulo de sérias consequências. CONSIDERAÇÕES DIVERSAS A fabricação de trailers no Brasil viveu um curto período de atividades. Cerca de três décadas praticamente sem nenhuma evolução tecnológica. Nos Estados Unidos e na Europa, as indústrias do setor continuam em plena atividade produzindo equipamentos cada vez mais modernos e sofisticados. Em recente viagem pela Europa tive oportunidade de observar nas estradas, feiras de veículos de recreação e campings que frequentei, os trailers que lá são fabricados. Utilizam materiais extremamente leves, como aglomerados de madeira; peças plásticas moldadas para revestimentos externos, acabamentos, boxes e armários; perfis metálicos que estruturam as plataformas e lanças com bitolas bem dimensionadas, muito mais leves do que as nossas; e componentes mecânicos modernos e mais eficientes. Trailers com comprimento aproximado aos nossos Diamantes, ou KC 640, utilizam apenas um eixo, e são, na sua maioria, rebocados por automóveis. As manobras que habitualmente fazemos para posicionar equipamentos nos campings, lá são feitas com o trailer desengatado, através de controle remoto que movimenta o equipamento em todas as direções. ▬Portanto, é evidente que teorias, hipóteses, conceitos técnicos e procedimentos de manuseio e condução aplicados naqueles equipamentos, não podem ser aplicados aos nossos, produzidos com tecnologia da década de 60. -5- O sistema de suspensão adotado nos trailers brasileiros, com eixos fixos no chassi, braços de rodas independentes de ação apenas longitudinal, e barras de torção alojadas no interior dos eixos, absorvem eficientemente as imperfeições do solo, garantindo estabilidade na carroceria, com oscilação transversal praticamente nula. A eficiência do sistema dispensa a necessidade de molas espirais ou helicoidais, permitindo um mínimo de espaço entre as rodas e a carroceria. ▬ A hipótese de oscilação vertical, que caracterizaria o “pêndulo do relógio”, não se aplica em trailers que utilizam suspensões com eixos fixos, braços de rodas de ação longitudinal, e barras de torção independentes. Tal hipótese seria possível em equipamentos com eixos flutuantes, que utilizam sistemas de molas espirais ou helicoidais. A discussão sobre o tipo, peso, tração, etc., do veículo rebocador é importante. É claro que é ideal um veículo adequado, preferencialmente com tração trazeira, capacidade de carga e potência de motor compatível com o trailer. Porém, quaisquer que sejam as características do veículo rebocador, adequadas ou não, pêndulos ocorrerão sempre pelo mesmo motivo: ─ perda do regime de tração no engate por desaceleração, frenagem inadequada ou flutuação.. ▬ O diferencial do veículo rebocador está relacionado às consequências e não a ocorrência do evento. Ou seja: pêndulo é um fenômeno gerado exclusivamente pelo, e no, veículo rebocado. Fatores como cruzamentos com outros veículos e ultrapassagens, podem ser discutidos como agravantes nunca determinantes. Veículos em deslocamento geram turbulências em torno de si que variam de intensidade de acordo com a velocidade e suas características de volume. Quando cruzamos com outros veículos, ultrapassamos ou somos ultrapassados, a “confrontação”, digamos assim, das turbulências geradas pelos veículos envolvidos, o oposto e o nosso próprio, produzem efeitos sucessivos de repulsão e atração entre os mesmos. Tais efeitos provocam leves oscilações horizontais no trailer, que não têm continuidade com o término do evento. Porém, se combinadas com perda do regime de tração, ou tentativas de compensação através de correções de direção, tais oscilações agravam-se tornando o risco de colisão lateral iminente, ou, dependendo da velocidade no momento, transformarse em pêndulo pela perda do regime de tração, e não “ventos” produzidos pelo veículo oposto. Desacelerações ou frenagens para redução de velocidade nestas ocasiões, não são recomendadas. Se necessárias, a exemplo de curvas, devem ser feitas sempre antes, nunca durante o evento. ▬ Cruzamentos com outros veículos e ultrapassagens devem ser feitas com a maior distância lateral possível, direção firme, e aceleração adequada para garantir o regime de tração. Nestas condições não haverá pêndulos. Apenas leves e rápidas oscilações no trailer e algumas instabilidades no veículo rebocador, sem maiores consequências. Ventos fortes, constantes ou em lufadas, comprovadamente podem causar acidentes com perda de direção, colisões e até mesmo tombamentos, mas nunca provocar pêndulos. Aqueles que já tiveram oportunidade de conduzir trailers em regiões de ventos fortes, constantes ou em lufadas, por exemplo, na Patagônia Argentina, onde a velocidade normal dos ventos é sempre acima dos 25 km/h, chegando a ultrapassar os 80 km/h com freqüência, são testemunhas que ventos não produzem pêndulos. ▬ A prática demonstra que ventos fortes, constantes ou em lufadas, vindos de qualquer direção, não produzem oscilações horizontais no trailer que possam ser caracterizadas como pêndulo. LEMBRETES -6- ▬ Todo condutor rebocando trailer, por mais experiente que seja, é uma vítima de pêndulos em potencial ▬ Conheça os seus limites de velocidade e evite as flutuações. As consequências são desastrosas e já fez muitas vítimas. ▬ Mantenha observação constante do comportamento do trailer pelos retrovisores, principalmente nas desacelerações, e evite surpresas. ▬ Sempre que for necessário desacelerar “ajude” a retração da bequilha com uma leve frenagem. A prática lhe mostrará a intensidade adequada. ▬ Se for surpreendido por um pêndulo, jamais reduza a velocidade: acelere o suficiente para estabilizar, e então, somente com a certeza do trailer alinhado com o veículo rebocador, execute a frenagem adequadamente, sem exagero, evitando arrastos desnecessários e a consequente formação do “ele”. ▬ Nunca descuide das velocidades e distâncias adequadas para manter o regime de tração no engate em curvas, ao cruzar com outros veículos, ao ultrapassar e ao ser ultrapassado. ▬ Em declives longos observe a marcha e a velocidade em que a bequilha aciona o freio do trailer espontaneamente; aumente a aceleração o suficiente para liberar a bequilha e manter a tração no engate de acordo com o traçado da rodovia. Desta forma o freio do trailer atuará adequadamente com desacelerações. Se o declive for muito acentuado, e a descompressão da bequilha não responder a aceleração adequada à situação, mantendo o freio do trailer acionado, não insista: ─ pare; trave a bequilha; e desça apenas com o freio do veículo rebocador, em velocidade conveniente. ▬ Mantenha os componentes mecânicos do seu trailer em perfeitas condições de manutenção e funcionamento. Períodos prolongados de inatividade causam anomalias que comprometem o desempenho necessário ao deslocamento e a prevenção e controle de pêndulos. Concluindo: foi através de muitos quilômetros rodados, cruzamentos, ultrapassagens, enfrentamento de ventos, e muitos pêndulos sofridos, corrigidos... ou não, que os pioneiros formadores de escola no trailismo brasileiro, chegaram aos conhecimentos e procedimentos aqui expostos. A mim, que tive o privilégio de conviver e aprender com muitos deles, e praticar com sucesso nas minhas inesquecíveis aventuras como trailista, coube apenas escrever e incluir alguns exemplos ilustrativos. A prática demonstrou ao longo do tempo, que estes conhecimentos e procedimentos, são eficientes e necessários à condução segura e prazerosa de trailers. FONTES: ─ MEU GRANDE E SAUDOSO AMIGO E “GURU” ENEU: homem de hábitos simples, atitudes humildes, mas, com notável sabedoria, a quem devo muito mais do que simples conhecimentos sobre trailers; ─ MUITAS “PROSAS” COM TRAILISTAS DA “ANTIGA”; ─ “ALTOS PAPOS” COM A GALERA DA SINOSTRAILER; ─ MUITOS KM RODADOS E ALGUMAS NOITES DE INSÔNIA A BORDO DE UM RUBÍ 87 E UM VILA RICA RESIDENCE 92. TEXTO ESCRITO POR IVO RAMIRO TROVIZO - [email protected] -7-
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