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EDITOR: Alexandre Botão
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SUBEDITORA: Cida Barbosa
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DUNGA EXCLUSIVO
Em entrevista ao Correio, em Brasília,
o treinador fala dos planos para
reconstruir a Seleção Brasileira.
Gustavo Moreno/CB/D.A Press
Brasília, domingo, 3 de agosto de 2014
Título olímpico de Joaquim Cruz, nos 800m rasos dos Jogos de Los Angeles, completa três décadas nesta semana, enquanto o
atletismo brasileiro vive longa seca de medalhas na pista. Em série especial, o Correio discute o futuro da modalidade no país
BRILHO SEM
LEGADO
GUSTAVO MARCONDES
LORRANE MELO
As únicas glórias da modalidade nos últimos 10
anos vieram do campo, com os ouros de Maurren
Maggi, no salto em distância, nos Jogos de Pequim2008; e de Fabiana Murer, no salto em altura, no
Mundial de Daegu-2011. Em provas de corrida, o
bronze de Vanderlei Cordeiro de Lima na maratona
das Olimpíadas de Atenas-2004 foi o último resultado memorável. Desde então, foram cinco mundiais
e duas olimpíadas sem pódios (ver quadro abaixo).
Há 33 anos vivendo nos Estados Unidos, Joaquim
Cruz se ressente da falta de um projeto que o traga de
volta ao país.“Sempre pensei em retornar, mas, até este
momento, não houve a oportunidade”, diz, com ar de
lamentação.Nosúltimosanos,oComitêOlímpicoBrasileiro negociou com o campeão olímpico, mas não
chegou a um acordo. “Continuo ajudando a Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt) e com os projetos
do meu instituto”, afirma, sobre o Instituto Joaquim
Cruz, em Brasília, que trabalha com jovens carentes.
As três décadas que separam o ouro de Los Angeles de hoje não diminuíram o desejo de Joaquim
mudar a vida dos mais pobres no Brasil. “É até engraçada essa data. A gente que trabalha com o esporte nem vê o tempo passar. Não presta a atenção
nos anos. Me surpreendi quando disseram que (a
medalha) ia fazer 30 anos.”
Inspirado pelo aniversário de uma das maiores
conquistas do esporte nacional, o Correio publica,
até a próxima quarta-feira, uma série de reportagens
sobre os caminhos do atletismo brasileiro. Dos tempos em que Joaquim começou, nas surradas pistas
de Brasília, aos projetos que tentam elevar a modalidade a outro patamar no país.
dia 6 de agosto de 1984 entrou para a história
do atletismo brasileiro como a primeira — e
até agora a única — vez que um atleta do país
conquistou a medalha de ouro em uma prova de pista dos Jogos Olímpicos. Há 30 anos, que serão completados na próxima quarta-feira, o brasiliense Joaquim Cruz, movido a passadas largas e elegantes, disparou rumo à vitória na final dos 800m rasos
no Estádio Olímpico de Los Angeles, o Memorial Coliseum. O feito daquele garoto de 21 anos, nascido em
Taguatinga, em 1963, porém, de pouco serviu para
consolidar um legado para o esporte do país, e o atletismo nacional chega às Olimpíadas do Rio em um
dos momentos mais questionados de sua história.
“Não temos base nenhuma no Brasil”, lamenta
Joaquim Cruz, em conversa com o Correio por telefone, de San Diego, nos Estados Unidos, onde vive
com a família e trabalha como treinador da equipe
paralímpica norte-americana. “Se pegássemos 25%
do dinheiro que investimos nos atletas de alto rendimento e colocássemos na base, os resultados seriam
bem diferentes”, insiste o ex-atleta, medalha de prata na mesma prova em Seul, 1988.
Os resultados minguaram à medida que o ouro
de Joaquim ficou para trás. Se nos primeiros 15 anos
seguintes ao título em Los Angeles, uma talentosa
geração de velocistas (Robson Caetano, André Domingos, Claudinei Quirino) e meio-fundistas (Zequinha Barbosa) conseguiram resultados importantes em olimpíadas e mundiais, o atletismo brasileiro
de pista passou a aparecer cada vez menos nos qua» Leia mais sobre Joaquim Cruz na página 2
dros de medalhas das competições mais recentes.
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O
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2 • Superesportes • Brasília, domingo, 3 de agosto de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE
SERENIDADE
DE VETERANO
Nem o nervosismo do
treinador Luiz Alberto nem o
congestionamento de Los
Angeles. Nada abalou o jovem
de 21 anos nos momentos que
antecederam a final dos 800m
rasos, que ele recorda ao
Correio passo a passo
Arquivo/CB/D.A Press
em Los Angeles, o meio-fundista
tinha uma rotina, como ele mesmo descreve, “quase militar”. Alisol começava a se pôr no mentava-se apenas o necessário,
Los Angeles Memorial dava uma caminhada leve e desColiseum, completa- cansava praticamente todo o resmente tomado, quando tante do tempo. Gostava de ficar
os oito corredores se posiciona- sozinho, concentrando-se.
Nas preliminares, o planejaram para a largada da final dos
800m rasos. Apesar de ser o se- mento não poderia ter dado megundo atleta mais jovem daquela lhores resultados. Joaquim havia
prova, Joaquim Cruz, aos 21 anos passado como o mais rápido ene quatro meses, demonstrava cal- tre todos os concorrentes, incluma nos momentos que antece- sive vendo amigos como Agberto
deram o tiro. Não o abalava o fato Guimarães e Zequinha Barbosa
de ser considerado o favorito, ficando pelo caminho antes da fimesmo ao lado do recordista nal. Na semifinal, Cruz venceu
mundial e medalhista olímpico sua bateria com o tempo de
Sebastian Coe. Quando os corre- 1min43s82. Havia sido o único a
dores alinharam, foi Cruz que a correr abaixo do 1min44s.
Na ida para o Memorial Colitransmissão oficial da tevê norteamericana focalizou. Menos de seum, outro empecilho que podedois minutos depois, ele seria ria ter desconcentrado um atleta
consagrado o primeiro brasileiro comum. Mas não Joaquim Cruz.
“Aquele dia, não lembro por que,
campeão olímpico na pista.
tinha um trânsiA tranquilito pesado em
dade podia surLos Angeles, enpreender quem
tre a vila olímpinão conhecia o
ca e o estádio.
jovem garoto
Cheguei a me
brasileiro, mas
questionar se ia
não aqueles
dar tempo de
que conviviam
chegar. O Luiz
com Joaquim.
Tempo de Joaquim Cruz na final.
(AlbertoGuima“Ele era muito
Ele quebrou o recorde olímpico
rães) ficou defocado. Tinha
da prova, que só seria batido em
sesperado. Mas,
um talento
Atlanta-1996, quando o
no fim, aproveienorme, mas
norueguês Vebjorn Rodal foi
tei para tirar
chegou aonde
dois centésimos mais rápido
uma soneca no
chegou porque
ônibus”, brinca
treinava com
o campeão.
muita seriedaO aquecimento foi realizado
de”, recorda o treinador Luiz Alberto de Oliveira, que descobriu na pista auxiliar ao Estádio OlímCruz nas pistas do Sesi de Tagua- pico. Ali, Joaquim começou a sentinga e seguiu ao lado do atleta até tir o clima da final. Era o mesmo
o fim da carreira.“Ele não era mui- local em que ele tinha trabalhado
to de conversa, de festa. Gostava em todos os outros dias de olimpíadas. Estava sozinho. Sentia-se
de ficar na dele.”
O poder de concentração de em casa. Deu uma volta completa
Joaquim Cruz era tamanho que pela pista e só então tomou o
nem mesmo a final olímpica lhe transporte para o local da prova.
“Quando entrei no estádio,
tirava o sono. “Dormi muito bem
na noite anterior (à prova)”, re- com aquele público todo, e vi
lembra o campeão, em conversa meus adversários, me veio um jacom o Correio. “Levantei cedo e to de emoção no corpo. Eu havia
tentei seguir a mesma rotina dos conseguido controlar a energia
dias anteriores. Mas aí o Luiz Al- para o momento certo”, analisa,
berto me chamou para andar a 30 anos depois, o ex-atleta. “Senti
seu lado, e aquela pareceu a ca- meu corpo muito bem. Estava
minhada mais longa da minha vi- superconfiante.” O dia era mesda”, ri Joaquim. “Acho que ele es- mo especial para Joaquim Cruz,
tava nervoso, mas eu queria pou- que fez parecer fácil cruzar a lipar energia para prova. Fiquei nha de chegada com ampla vantagem sobre os rivais e, de queum pouco ansioso”, confessa.
No dia a dia da vila olímpica bra, bater o recorde olímpico.
GUSTAVO MARCONDES
LORRANE MELO
A volta
com a
bandeira
O
A confiança no título olímpico
era tamanha que Joaquim Cruz
planejou ter uma bandeira do
Brasil em mão para exibi-la aos
torcedores em Los Angeles. A
ideia veio quando ele soube que
o síndico do prédio onde morava
estaria presente na final dos
800m. “Perguntei a ele onde estaria sentado e lhe entreguei a bandeira”, explica o ex-corredor.
A volta olímpica com a bandeira do Brasil em mãos — hoje
exposta no Instituto Joaquim
Cruz, em Brasília — é uma das
imagens mais marcantes do país
em Jogos Olímpicos em todos os
tempos. Foi, inclusive, precursora das famosas voltas de Ayton
Senna com o símbolo nacional.
“Eu queria dividir aquele momento com todos os brasileiros”,
recorda Joaquim.
A conquista do ouro em Los
Angeles foi histórica também por
ter sido o primeiro título olímpico do país transmitido ao vivo na
televisão brasileira. No Hino Nacional, o campeão manteve o
semblante sério e o olhar fixo na
bandeira hasteada. Apenas um
leve sorrido no canto dos lábios
denunciava a alegria de representar tão bem o país.
1min43s
Eu queria dividir
aquele momento
com todos os
brasileiros”
Joaquim Cruz deu a volta olímpica com a bandeira que havia entregado ao síndico do prédio onde morava
“Ficha
só caiu
em Seul”
Oitocentos metros para a glória
A pedido do Correio, Joaquim Cruz
relembrou como foi a prova que deu
a histórica medalha de ouro na pista
nos Jogos de Los Angeles.
Arquivo/UPI Photo
Largada
“Percebi que o (norte-americano) Earl
Jones estava logo atrás de mim, em
terceiro, então me movimentei para o
lado para ter uma posição mais
confortável (Joaquim chega a mexer
os braços para se livrar da pressão de
Jones). Dessa forma, passei a ter a
sensação de não ter ninguém à
minha frente, de liderar a prova, o
que me deixou mais tranquilo.”
400m
“Ao fim da primeira volta,
o ritmo estava forte (Koech
passou a linha em primeiro,
com o tempo de 51,07s, com Joaquim
em segundo), mas me sentia muito
bem. Eu tinha usado o Koech como
‘coelho’ e sabia que era a hora de
apertar o passo para os últimos 300m.”
O sorriso tímido marcou a presença no pódio no Memorial Coliseum
Arquivo/CB/D.A Press
“Eu sabia que o queniano Edwin
Koech (que largava na raia 8) forçaria
o ritmo. Nas semifinais,
ele já havia imprimido um ritmo forte
demais nos primeiros 400m. Então
me preocupei em não ficar para trás
no início e em pegar a posição logo
atrás dele”.
200m
600m
Os últimos 200m foram o momento
de maior pressão. Acelerei o ritmo
para passar o queniano. Ao mesmo
tempo, minha preocupação era
vigiar o (britânico) Sebastian Coe,
que eu sabia que tentaria chegar
forte na reta final (Coe terminaria a
prova em segundo).”
Chegada
Nos últimos 80m (Joaquim entrou
na última curva à frente dos rivais
e disparou rumo ao ouro), senti um
Joaquim Cruz,
sobre a volta com a bandeira
arrepio e uma emoção enorme no
corpo. Eu não conseguia nem ver a
separação das raias. Senti como se
o público, que começou a fazer
muito barulho, estivesse ao meu
lado, bem próximo. No fim, em vez
de cansaço, só senti emoção ao
cruzar a linha.
Assista à prova
completa no
df.superesportes.com.br
No dia seguinte à conquista da
medalha de ouro, Joaquim Cruz se
surpreendeu ao ver a família sendo entrevistada em uma reportagem na televisão. “Ali, comecei a
entender o feito que havia conseguido”, afirma o medalhista olímpico. “Eu era um ‘performer’, não
costumava prestar atenção a nada
do que acontecia a meu redor. Por
isso, acho que estranhei quando
passei a ser reconhecido na rua.”
Nos meses e anos seguintes,
Joaquim Cruz viu que a fama repentina pós-ouro não seria passageira. Ele conta que, certa vez, foi
seguido na Alemanha por um fã
que queria provar a um amigo que
aquele era o campeão olímpico.
“Mas acho que a ficha só caiu
mesmo em Seul, nas Olimpíadas
de 1988”, acredita Cruz.“Depois de
deixar a imigração na Coreia, saí
com a delegação brasileira pelo
desembarque. Aí vi um grupo
grande de jovens tirando fotos na
minha direção. Até olhei para trás,
procurando saber quem eles fotografavam,masnãohavianinguém.
Era eu mesmo o foco de atenção.”
amanha: o começo de
» Leia
Joaquim Cruz em Brasília.
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6 • Superesportes • Brasília, segunda-feira, 4 de agosto de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE
Mesmo após 33 anos morando nos Estados Unidos, o campeão olímpico reforça a importância da infância nas ruas de Taguatinga
para a formação como atleta. Na segunda reportagem da série especial do Correio, conheça a trajetória do ídolo na cidade
MOLDADO NO
CHÃO DO CERRADO
Carlos Vieira/CB/D.A Press
Memórias
eternas
GUSTAVO MARCONDES
LORRANE MELO
oaquim Cruz não disfarça
a nostalgia quando fala da
infância nas ruas de Taguatinga. “Nunca esqueci e
nem quero esquecer a minha
origem”, afirma, com bastante
seriedade na voz, quando perguntado sobre a importância da
cidade em sua formação como
atleta. Primeiro e único brasileiro campeão olímpico em uma
prova de pista no atletismo — título que completa 30 anos nesta
semana —, o medalhista de ouro
nos Jogos de 1984 revive até os
mínimos detalhes das brincadeiras de criança, nos anos 1970,
para explicar como se tornou um
fenômeno do esporte mundial.
Vindo de um país sem tradição no atletismo de pista, ele saiu
do anonimato para, em pouco
mais de um ciclo olímpico, vencer os 800m rasos em Los Angeles. “Minha infância foi muito importante no processo que me tornou um campeão. Desde antes
da escola, nas ruas, nos campos
de terrão que nós mesmo construíamos”, recorda Joaquim Cruz.
“Tímido”, lembra a irmã Elita,
Joaquim pulava de galho em galho “igual ao Tarzan” na mata do
Parque Ecólogico Lago do Cortado — atrás da casa da QNJ 47, onde morou até mudar para os Estados Unidos, alguns anos depois
—, moldando caráter e corpo de
atleta. “Passei muitos anos caminhando quilômetros pelo cerrado”, orgulha-se o campeão.
Em 1974, quando entrou na
escola, encontrou a estrutura esportiva do Sesi de Taguatinga. Por
ser o mais novo dos seis filhos de
dona Lídia de Carvalho Cruz, Joaquim foi, naturalmente, um dos
mais protegidos. E, até os 14 anos,
precisava que alguém o acompanhasse aos treinos. Mas o atletismo viria um pouco mais tarde. O
começo foi no basquete.
J
Dona Lídia (E) com a filha Elita e as lembranças de Joaquim na casa da família em Taguatinga: a dimensão do feito do filho caçula ainda causa surpresa
Givaldo Barbosa/CB/D.A Press - 19/10/84
Em 1984, Joaquim com a irmã e a
mãe, após a conquista do ouro
A decisão
14
ANOS
Sucesso
Idade com que
Joaquim Cruz teve a
primeira experiência
com o atletismo, nos
Jogos Escolares
Brasileiros de 1977
Nos dois anos seguintes, o brasiliense de Taguatinga conquistou
uma série de vitórias, que culminaram no recorde mundial juvenil
no Troféu Brasil de Atletismo de
1981, no Rio de Janeiro. A marca
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Luiz Alberto de Oliveira foi
quem insistiu para que Joaquim
investisse na pista. “No começo,
ele gostava mais do basquete,
por causa dos amigos, do jogo
coletivo”, relembra o técnico que,
pouco depois, o treinaria nos Estados Unidos. “Mas, depois, viu
que teria mais chances de representar o Brasil por meio do atletismo”, explica.
Mas a decisão foi sofrida para
Joaquim. A primeira experiência
com o atletismo, nos Jogos Escolares Brasileiros (JEBs) de 1977,
foi traumática. Apesar de ter ficado em terceiro nos 1.500m, terminou a prova sentindo muitas
dores pelo cansaço físico. “Nunca
mais quero saber disso”, disse o
garoto de 14 anos ao treinador.
“Ele fugia da corrida. Por fazer
muito esforço, achava que ia morrer toda vez que acabava a prova”,
conta Elita — que coleciona troféus de provas de corrida de rua —,
rindo do irmão, que se escondeu
por uma semana do treinador.
O que convenceu Joaquim a
dedicar-se às corridas foi o gosto
pela vitória. Em 1978, ganhou
duas provas do Brasileiro de Menores. O resultado o levou ao SulAmericano, em que ele conquistou três ouros: 400m, 800m e
4x400m. “Ele queria muito representar o Brasil. E poder ouvir o
Hino Nacional três vezes na mesma competição mexeu com ele”,
explica o ex-atleta Ricardo Vidal,
diretor do Instituto Joaquim
Cruz, em Brasília.
lhe rendeu o convite para estudar
e treinar na cidade de Provo, nos
Estados Unidos. Em 1983, iria para a Universidade do Oregon consolidar-se como um dos melhores meio-fundistas do mundo.
Os Estados Unidos aperfeiçoariam a máquina de correr que havia sido moldada em terra candanga.“Quando cheguei lá, tinha a explosão dos tempos de basquete e a
resistência de tanto correr pelas
ruas de terra. Eles até se surpreenderam”, recorda Joaquim. Hoje,
aos 51 anos, ele mantém o mesmo
corpo esguio de 1984, quando tinha 21 e desfilava sem camisa pelo
Oregon — um dos momentos, inclusive, estampa em foto a sala da
nova casa da família Cruz em Brasília, ainda emTaguatinga.
Treinador da equipe paralímpica norte-americana, o ex-atleta
corre durante os tempos livres
em San Diego, onde vive, e tenta,
vez ou outra, colocar algum parente na raia. “Mas agora a gente
tem essa infeliz da internet”, comenta a mãe, dona Lídia, que depois de criar seis filhos e 13 netos
encontra barreiras na educação
dos 18 bisnetos e três tataranetos.
“Criança, hoje, não brinca na rua.
Passa o dia com os botões. É por
isso que a gente não tem outro
Joaquim Cruz”, teoriza.
Criança, hoje,
não brinca na
rua. Passa o dia
com os botões.
É por isso que
a gente não
tem outro
Joaquim Cruz”
Dona Lídia, mãe de Joaquim
“Passei
muitos anos
caminhando
quilômetros
pelo cerrado”
Os três retratos pequenos no
lado esquerdo da geladeira ajudaram a detectar os primeiros sintomas. O filho caçula, figura predominante nas fotos, estava ficando
apagado para Dona Lídia. Era como se a imagem estivesse distante, mais longe que esse tanto de
terra que separa Taguatinga de
San Diego, na Califórnia. Aos 80
anos, a mãe de Joaquim Cruz está
ficando cega, e os médicos descartam mais uma cirurgia para corrigir o problema da visão.
As principais imagens do filho
famoso, no entanto, seguem vivas na cabeça de cabelos brancos. O casamento; a chegada a
Brasília, vinda de Corrente (PI),
na madrugada fria de 3 de maio
de 1960 para acompanhar o marido, Joaquim Cruz, que havia
vindo construir a capital; a morte
do companheiro por enfarto em
1981; e aquele 6 de agosto de
1984, quando uma dezena de jornalistas lotaram o apartamento
onde morava, na QNL, para assistir ao outro Joaquim ganhar uma
medalha de ouro para o Brasil.
Sim, o outro. Porque “o marido
que era o verdadeiro”, conta, ainda sem dimensionar e entender,
depois de tanto tempo, o tamanho do feito do caçula. Era difícil
acreditar que o “Quina”, como é
chamado na família, era o responsável por aquele clamor todo.
“Foram quatro anos de muito
trabalho”, lembra a mãe, que deixou o filho mudar para os Estados
Unidos meses depois da morte do
pai. “Eu sabia que, se estivesse vivo, ele deixaria. Sentia o maior
orgulho do filho”, recorda Dona Lídia, sem arrependimentos.
Nem mesmo de estar longe do
filho. Foi duas vezes aos EUA,
mas não gostou do país onde Joaquim tem a vida feita. Achou as
pessoas geladas, assim como
aquela madrugada de maio.
Agora, aos 80 anos, ela não tem
tempo para se acostumar a novos
ambientes. Pouco sai de casa.
Apoiada no braço da filha Elita,
tenta caminhar diariamente por
um trajeto desenhado por Joaquim, da porta de casa até o Pistão
Norte. Não chega a um quilômetro.Masnãoimporta.“Sãoosmeus
800 metros rasos.”
Joaquim Cruz
amanhã: os caminhos
» Leia
do atletismo brasileiro depois
do ouro de Joaquim Cruz.
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6 • Superesportes • Brasília, terça-feira, 5 de agosto de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE
Joaquim Cruz, em Brasília, no
ano passado, com jovens de
seu instituto na cidade: “Falta
investimento nas escolas”
FOCO
DEVE
SER NA
BASE
rinta anos depois do
maior feito do atletismo
de pista do Brasil, a medalha de ouro de Joaquim Cruz nos Jogos de Los Angeles-1984, o país praticamente
não evoluiu na forma como descobre os talentos. Até hoje, o esporte depende de fenômenos
isolados para conseguir resultados expressivos na modalidade.
Foi assim com o meio-fundista
brasiliense, há três décadas, foi
assim com a saltadora Fabiana
Murer, campeã mundial em
2011. Apesar de indícios de mudança no ar — com maior estrutura de pistas, equipamentos
e competições —, não há um
sistema em funcionamento pleno que permita a revelação dos
atletas desde a base.
A iniciação esportiva na escola é apontada por quem trabalha na área como o passo fundamental para o Brasil ter um
atletismo realmente forte. E os
projetos de evolução nesse sentido ainda engatinham no país
(leia ao lado). “Hoje, está pior
do que na minha época. Nos
anos 1970, a educação física
era, ao menos, em um turno separado. Agora, nem isso. Não há
oportunidade de desenvolvimento esportivo”, analisa um
Joaquim Cruz indignado.
A opinião dele é compartilhada por outros ex-atletas, treinadores e dirigentes. “Os atletas
ainda são descobertos da mesma
forma que ocorreu com o Joaquim ou comigo: um treinador
T
percebe o talento e consegue estimular o desenvolvimento. Imagina quantos campeões são perdidos dessa forma”, questiona o
tricampeão pan-americano Hudson de Souza.
O caminho ideal apontado
pelos especialistas é claro: o primeiro passo é o país ter uma
grande base de estudantes do
ensino básico que pratiquem
esporte; os professores de educação física devem ser capacitados a reconhecer bons desempenhos, por meio das competições estudantis, além de receberem uma boa remuneração; na
adolescência, os mais talentosos são encaminhados a clubes
ou projetos comunitários específicos da modalidades; e, só então, após uma ampla preparação, os atletas devem tornar-se
profissionais.
“Não é milagre, não é segredo. Um clube tem, no máximo,
100 atletas. Enquanto isso, há
milhões de talentos desperdiçados anualmente. Não existe
educação física obrigatória nas
escolas nem as condições
ideais para treinamento”, critica Roberto Gesta, que presidiu
a Confederação Brasileira de
Atletismo por 25 anos (19872013), período em que o Brasil
não conseguiu repetir o feito
de Joaquim Cruz na pista.
Governo tem programa recém-criado
O atraso do investimento na
base é tão grande que o governo
federal só concretizou um projeto que estimula o esporte no ensino fundamental e médio no
ano passado. Em maio de 2013,
em ação conjunta dos ministérios do Esporte, da Defesa e da
Educação, foi lançado o programa Atleta na Escola, que pretende estabelecer um calendário fixo
de competições para estudantes
de 12 a 17 anos.
O atletismo é uma das modalidades contempladas, ao lado
do judô e do vôlei. Neste ano, 44
mil escolas se inscreveram no
programa, no qual a participação é por adesão voluntária. O
projeto foi criado por causa das
Olimpíadas do Rio, mas só dará
resultado, se bem efetuado, em
outros Jogos.
“O atletismo é o principal foco
para o desenvolvimento do esporte no país”, afirma Ricardo
Leyser, secretário de Alto Rendimento do Ministério do Esporte.
“É a modalidade mais tradicional, a que dá mais medalhas.” A
pasta ainda implementa 168 centros de iniciação ao esporte (CIE),
com minipistas de atletismo, para serem utilizadas pelos alunos
do Atleta na Escola. A promessa é
terminá-las até 2016.
O ex-atleta Edgar Martins de
Olivera, hoje trabalhando no
Centro Nacional de Treinamento
da CBAt, aponta outro problema
grave na base. “Não há professores capacitados para gerir os estudantes. Eles são mal pagos, têm
que ter vários empregos e acabam com pouco tempo para se
dedicar ao alunos”, observa. “A
carência de estrutura e profissionais é tão grande país que o país
demorará, no mínimo, dois ciclos
olímpicos para colhermos frutos
desses projetos.”
Ídolo em falta
Arquivo/CB/D.A Press
A falta de uma referência no
esporte também é considerada
um empecilho para o
desenvolvimento do atletismo
no Brasil. Joaquim Cruz foi essa
pessoa nos anos 1980 e 1990,
quando o Brasil conquistou
resultados expressivos, como as
medalhas olímpicas de Robson
Caetano (1988) e dos
revezamentos 4x 100m (1996 e
2000) e os pódios em Mundiais
de atletas como Zequinha
Barbosa (1987 e 1991) e
Claudinei Quirino (1997 e 1999).
“Joaquim foi um marco para o
atletismo brasileiro”, elogia o
companheiro Zequinha Barbosa
(ffoto, E). “Quando ele despontou,
estávamos órfãos de um ídolo,
depois do acidente de carro que
deixou João do Pulo (medalhista
de bronze no salto em distância
em Motreal-1976 e Moscou1980) sem uma perna. Joaquim
pegou o bastão e foi um
exemplo para todos nós.”
amanhã: Conheça os
» Leia
projetos para o futuro do
esporte no país e as
esperanças do Rio-2016
Quatro perguntas para
DAVID RUDISHA — Queniano, atual campeão e recordista olímpico dos 800m rasos, a prova de Joaquim Cruz
Você conheceu Joaquim Cruz ?
É um ídolo?
Eu o conheci em 2011, em Daegu. Fiquei muito feliz . Ele era um
grande atleta, e a raça dele ao
conquistar a medalha de ouro
nos Jogos de 1984, depois de correr as eliminatórias em quatro
dias seguidos é impressionante.
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GUSTAVO MARCONDES
LORRANE MELO
Edilson Rodrigues/CB/D.A Press - 25/4/13
Na terceira reportagem da série do Correio,
treinadores e ex-corredores apontam a
carência de projetos esportivos na escola
como a principal razão da falta de uma
equipe forte no atletismo brasileiro
Por que o Quênia consegue tanto
sucesso no atletismo?
Correr é esporte simples. No
meu país, você não precisa nem de
tênisparacomeçar.Todososmeninos da vila começaram assim, inclusive eu. No Quênia, tenho a
oportunidade de relaxar. Não existe pressão. Correr é natural.
O que é necessário para formar um
campeão olímpico?
Há muitas maneiras de chegar
ao topo. Os treinamento que Cruz,
Coe, Kipketer e eu tive são diferentes. Mas todos precisaram de talento, claro, e, em seguida, a quantidade certa de treinamento, concentração, foco e consistência.
Seupaifoimedalhistaem1968.Isso
ajudouoseuinícionoatletismo?
Em alguns aspectos, sim, porque eu ouvia o meu pai falar e, para um menino, era fácil pensar “eu
posso fazer isso também”. No começo, você tem uma confiança a
mais. Então, você progride, tem
sucesso e precisa se manter.
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6 • Superesportes • Brasília, quarta-feira, 6 de agosto de 2014 • CORREIO BRAZILIENSE
Mudanças no atletismo brasileiro estão na
fase inicial de implementação e devem demorar
a mostrar resultados. Para os Jogos do Rio, em
2016, há pouca expectativa de medalhas
CORRIDA
PARA O FUTURO
Carlos Vieira/CB/D.A Press
6
GUSTAVO MARCONDES
LORRANE MELO
o m p l e t a m -se hoje 30
anos da medalha de ouro
de Joaquim Cruz nos
800m rasos das Olimpíadas de 1984, em Los Angeles. Um
feito histórico, nunca repetido
em provas de pista, que escancara o atraso do Brasil na formação
de atletas no principal esporte
olímpico, o atletismo. Daqui a
dois anos, o país recebe os Jogos
em casa, no Rio de Janeiro, e a esperança de que esse longo jejum
acabe é praticamente nula.
Na última reportagem da série
sobre a conquista do meio-fundista nascido em Taguatinga, o
Correio mostra que o país passa
por mudanças na forma como se
trabalha o atletismo, mas que as
ações são incipientes. Tanto o governo federal, principalmente por
meio do Ministério do Esporte,
quanto a Confederação Brasileira
de Atletismo (CBAt) começaram,
recentemente, projetos que visam
dar mais estrutura ao esporte. Essas iniciativas, contudo, vieram na
esteira da preparação para o
Rio-2016. Ou seja, levarão tempo
para dar resultados efetivos.
“Não será nesta geração (2016)
que teremos medalhistas produzidos pelo trabalho que está sendo realizado”, opina Robson Caetano, bronze olímpico em Seul1988 e em Atlanta-1996. Para o
ex-atleta, as provas individuais de
pista, como a de Joaquim Cruz,
devem levar ainda mais tempo
para ter atletas entre os melhores
do mundo. “Havia falta de interesse em trabalhar esse tipo de
corredor. São muito detalhes, e
não houve renovação (depois da
geração vencedora dos anos 1980
e 1990)”, analisa.
A CBAt evita até falar em medalhas nos Jogos do Rio-2016,
traçando como meta a obtenção
de 12 finais. Em Londres-2012, o
país deixou as Olimpíadas sem
conquistas e com apenas três finais — só uma em provas de pista
(revezamento 4x100m feminino),
não incluindo a maratona e a
marcha atlética.
No Mundial de Moscou, no
ano passado, mais um fiasco. Foram seis finais e nenhum pódio.
Na prova em que o país teve
chance real de medalha, o revezamento feminino 4 x100m, as
brasileiras deixaram o bastão
cair na última passagem. A maratona e o decatlo, que não têm
finais, garantiram bons resultados, mas sem pódio.
C
Em 2016, o revezamento feminino e a maratona são praticamente as únicas opções de conquista na pista para o atletismo
brasileiro. Outras esperanças são
concentradas nas provas de campo, como Fabiana Murer (salto
com vara), Mauro Vinícius (salto
em distância) e Fábio Gomes (salto com vara). Nenhum deles, porém, chegará como favorito.
Presidente da CBAt por 25
anos, de 1977 a 2013, Roberto
Gesta defende sua gestão, apesar
de ter visto o número de brasileiros medalhistas minguarem ao
longo dos anos. “Nesse período,
construímos centros de treinamento, trouxemos treinadores
estrangeiros e nenhum atleta que
conseguiu índice deixou de viajar
para o exterior”, argumenta.
Com um orçamento de R$ 30
milhões por ano, José Antonio
Fernandes assumiu em 2013 com
Projeto
alimenta
sonhos
Crianças e adolescentes correm na pista de barro do Instituto Joaquim Cruz, no Recanto das Emas: projeto, de 11 anos, começou com doação de tênis
Hoje, temos 650
técnicos de
atletismo.
Precisamos
de 5 mil”
Antonio Carlos Gomes,
superintendente de alto
rendimento da CBAt
Não adianta
cobrar tudo
agora (em
2016), botar
pressão”
Robson Caetano,
ex-atleta, medalhista olímpico
o discurso de profissionalização
da gestão, mas o novo projeto
apenas se inicia. Entre os objetivos principais estão a formação
de um banco de dados nacional
informatizado, com atualização
dos resultados por professores; a
criação de núcleos de desenvolvimento, para receber os atletas
promissores; e a formação de treinadores. “Hoje, temos 650 técnicos de atletismo. Precisamos de
5 mil”, alerta Antonio Carlos Gomes, superintendente de alto rendimento da CBAt. “Podemos contar com resultados disso em 2020,
2024. Para 2016, seria ilusão.”
O projeto do Ministério do Esporte para a modalidade é a Rede
Nacional de Atletismo, estabelecido por lei federal de 2011, com
orçamento de R$ 918,4 milhões.
Nele, está prevista a construção
de 53 pistas oficiais em 22 estados e no Distrito Federal, além de
168 centros de iniciação no esporte, com minipistas. Apenas 14
dessas estruturas estão finalizadas. “A lógica é que o resultado
apareça em dois ou três ciclos
olímpicos”, avalia Ricardo Leyser,
secretário de Alto Rendimento do
Ministério do Esporte.
Promessas
As principais apostas brasileiras do
atletismo não estão na pista. Assim
como nos últimos anos, o país tem
tido resultados mais consistentes no
campo entre os mais jovens, com
nomes como Izabela Silva, campeã
mundial júnior do lançamento de
disco neste ano; Matheus Sá, bronze
no salto triplo na mesma
competição; e Wagner Domingos,
que, com a marca de 74,12m no
Íbero-americano, pode sonhar em
disputar uma final olímpica no
lançamento do martelo. Confira as
esperanças na pista:
4x100m Feminino
Favorita no Mundial do ano
passado, em Moscou, a equipe (ffoto)
deixou o bastão cair quando estava
em segundo lugar na reta final da
decisão. Ainda assim, mostrou a
força do país na prova.
100m rasos - Ana Cláudia Lemos
A velocista de 25 anos correu no
Eles não correm mais com os
pés diretamente na poeira, ainda
que o Clube dos descalSOS — assim mesmo, como um pedido de
socorro no fim — seja o nome
que eles carregam nas inscrições.
Mas continuam treinando no
barro por não haver outra opção.
Uma pista de medidas oficiais e
piso sintético faria muita diferença nas passadas abertas de cada
um dos 120 jovens atendidos pelo Instituto Joaquim Cruz (IJC).
A pegada, que marca o terreno
mas logo é apagada pelas outras
que vêm atrás, faz a poeira subir e
logo colore a camiseta branca do
ICJ de um vermelho que arde os
olhos — não por causa da cor. E,
misturada aos abraços de mãos
ainda mais sujas, deixa a humildade do DNA e as três letras da sigla
que carregam no peito ainda mais
camufladas. É que as condições
ruins são ainda melhores do que
as de 40 anos atrás, quando Joaquim Cruz era “abandonado”, de
carro, pelo então técnico Luiz Alberto de Oliveira na Floresta Nacional e precisava voltar a pé para
casa, na QNJ 47 de Taguatinga.
O sonho do campeão olímpico
de ajudar os jovens de Brasília começou há 11 anos, quando começou a trazer tênis usados (seminovos, na verdade) dos Estados Unidos para presentear garotos treinados por Evaristo Neto, na Quadra 105 do Recanto das Emas. Hoje, o projeto acode uma centena
de jovens de 12 a 17 anos, também
em Ceilândia e Águas Lindas (GO).
Procura alta
Jorge Silva/Reuters - 28/10/11
CMYK
Jogos do Rio
Número de finais que
o atletismo brasileiro
conseguiu no último
Mundial, em 2013, em
Moscou, sem
nenhuma medalha
Íbero-americano, depois de nove
meses afastada por lesão, com a
medalha de ouro e tempo de 11s13,
novo recorde da competição e 31ª
melhor marca do ano.
Thiago André
O atleta de 19 anos terminou os 800m e
os 1.500m no Mundial Júnior em quarto
lugar e pode dar sequência à tradição
do país em provas de meio-fundo.
Diariamente, eles vão até os
locais de treino para uma espécie
de garimpo, que começou com
convocações nas escolas, mas
que hoje quase “se esconde”, pois
precisaria de mais apoio para
atender toda a demanda. O aporte de uma fornecedora de materiais esportivos e de um banco
permite ajudar apenas 120 pessoas, enquanto as inscrições não
param de chegar.
“Nem todo mundo aqui vai ser
campeão, mas vai aprender que,
do lado de cá, do esporte, é melhor”, explica Evaristo, que construía casa de pau a pique para viver até convencer as pessoas da
comunidade de correrem no terreno baldio. “Perdi as contas de
quantos animais eu enterrei
aqui”, conta, lembrando que tentava dar um fim mais digno aos
cachorros mortos jogados na
área abandonada. Cemitério de
onde, recentemente, saíram quatro atletas para a Seleção Brasileira de Atletismo e recordes.

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