guiné equatorial - Beija-Flor

Transcrição

guiné equatorial - Beija-Flor
RICARDO DA FONSECA E HILTON ABI-RIHAN
É fácil entender porque o Carnaval Carioca é
considerado o maior espetáculo popular a céu
aberto do planeta.
Brilhos, Cores, Ritmos, Emoção e Arte são
componentes que podem ser vistos a olho nu e
sentidos por todo e qualquer cidadão presente na
Sapucaí. Ou mesmo pelos que assistem o Desfile
das Escolas de Samba pela televisão.
Essa condição de ser um espetáculo de simples
compreensão, o torna um evento para todos,
já que não é necessário nenhum tipo de
conhecimento ou formação cultural preliminar
para usufruir dessa festa. Não há nenhum
segredo, nada oculto. Nem aos simples, nem aos
doutos. Nem aos gringos, nem aos brasileiros.
Mas um aspecto que permanece, inicialmente,
oculto e que deve ser sempre revelado, é como se
dá a participação do povo, também, nos bastidores
- na preparação desse espetáculo único.
Uma legião de trabalhadores (povo) não
economiza esforços, nem profissionalismo ou
paixão, e ano após ano prepara para todos nós
(povo) um cardápio mágico e inesquecível de
fantasias, alegorias e sambas que derramarão
na Marquês de Sapucaí muito brilho e emoção.
Nós, da revista Beija-Flor de Nilópolis, mais
uma vez nos sentimos orgulhosos de poder
desvendar alguns desses segredos e apresentar
aos nossos leitores, artistas dos mais variados
naipes que formam a alma desse espetáculo
popular chamado Carnaval.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
ANIZIO ABRÃO DAVID
Nesse ano, a cidade do Rio de Janeiro completa 450 anos. Assim como qualquer aniversário,
a data é um símbolo que esconde algo mais
importante e essencial: as histórias que foram
construídas nesses anos de existência.
Nesse sentido, os 450 anos da cidade do Rio
de Janeiro carregam uma força muito grande,
porque essa capital sempre protagonizou importantes acontecimentos. Episódios que tornaram essa cidade, para mim, a mais importante capital do Brasil e a fizeram o símbolo
maior do turismo, da hospitalidade e da alegria
do brasileiro.
Nesse repositório de arte, cultura e belezas naturais únicas, temos um povo alegre e de alto
astral, que não discrimina por origem, cor, raça,
situação financeira ou crença. De braços abertos, recebemos todos que aqui chegam.
Todas essas peculiaridades fazem do Rio de Janeiro a cidade que mais recebe turistas estrangeiros em férias no Brasil, e tenho certeza de
que o Beija-Flor de Nilópolis e as demais escolas
de samba, pelo papel que exercem na realização
do Carnaval Carioca, são importantes elementos
na construção dessa imagem que a cidade maravilhosa possui.
Por isso, tenho um orgulho bom de saber que
a cada Carnaval, a cada Desfile das Escolas de
Samba, estamos levando para o mundo e para
os que visitam a nossa cidade, uma mensagem
de alegria e hospitalidade, mostrando a todos o
que há de melhor no nosso povo.
Somos um importante cartão-postal do Rio de
Janeiro e tenho muita confiança de que o desfile do Beija-Flor de Nilópolis será, mais uma
vez, um inesquecível espetáculo de cores, sons
e alegria, representando, também, um criativo
abre-alas para as diversas festas que serão realizadas durante esse ano em comemoração aos
450 anos dessa cidade acolhedora.
Nossos componentes já estão preparados. Foi
um ano de muito trabalho e dedicação e, agora, iremos entrar na Marquês de Sapucaí com o
orgulho e a garra de quem bate forte no peito
e grita “Eu sou Beija-Flor” para fazermos mais
um animado desfile, falando da África - esse
continente amigo que tanto contribuiu para a
formação da identidade do brasileiro.
Desejo a todos, um Carnaval de muita alegria
e que as boas lembranças permaneçam como
meio de tornar cada um mais alegre e feliz.
Aos componentes da agremiação, meu carinho e
meus votos de um excelente desfile.
Fevereiro 2015
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FARID ABRÃO
Está chegando a hora, meus amigos e minhas
amigas, de nosso coração bater mais forte quando pisarmos na Avenida Marquês de Sapucaí
para mostrar a garra, a força, a abnegação e a
cabeça erguida de uma escola amada e respeitada nos quatro cantos do planeta. Essa é a minha
mensagem inicial para todos aqueles que amam
a Deusa da Passarela e acreditam sempre no brilhante Carnaval da Beija-Flor de Nilópolis. Mas,
como Presidente Executivo Administrativo de
nossa Agremiação, não posso deixar de destacar
que nossa escola vai muito além do Carnaval e
do entretenimento, sendo um exemplo a ser seguido pela seriedade e competência também no
campo social através de seus diversos cursos e
oficinas mudando a realidade de muitas famílias carentes de nossa região.
Nesse ano a Beija-Flor escolheu versar sobre o
continente africano, com enfoque para a Guiné Equatorial. Desde o início se pôde perceber
a alegria da comunidade na recepção do enredo que se traduziu em belíssimos sambas e com
uma final acirrada.
Toda a equipe de Carnaval cuidou minuciosamente de cada detalhe do enredo, falando sobre
a beleza e as riquezas naturais e culturais daquele país, de forma que o Carnaval a ser apresentado será altamente impactante.
Temos que pontuar ainda sobre as conquistas
realizadas nesse período de gestão, sendo a
maior delas a reforma de toda a quadra, além
da obra realizada para a criação de um segundo pavimento de camarotes, ambas conseguidas
através do empenho do Vice-Presidente Executivo Ricardo Abrão e toda a equipe.
Destaco ainda o amor incondicional pela Beija-Flor de Nilópolis de nosso querido Presidente
de Honra Anizio Abrahão David, sempre dedicado e atento às causas da escola e que desenvolve um trabalho inquestionável não só para
a escola mas para o Carnaval do Rio de uma
maneira geral, o que muito nos orgulha.
Quero encerrar deixando nossa mensagem de
paz e de união não só nessa grande festa em
que todos os povos se reúnem no Rio de Janeiro para celebrar a alegria de viver,
como também em todos os dias do
ano de 2015. E a Beija-Flor convida a todos para assistir a mágica do
Carnaval acontecer na Marquês de
Sapucaí, através de muito samba no pé
e respeito às raízes africanas que ajudaram
a construir esse chão abençoado por Deus e
que tanto amamos.
Um beijo no coração de todos.
Fevereiro 2015
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TEXTO de agradecimento do Excelentissimo Sr. Embaixador da República
da Guiné Equatorial no Brasil, Dr. Benigno Pedro Matute Tang.
“Esta maravilhosa homenagem à República
da
Guiné
Equatorial
preparada
pela
Beija-Flor de Nilópolis com o apoio do
nosso governo, de nossa população e das
empresas brasileiras que trabalham hoje
no nosso país, simboliza o estreitamento
cada vez maior das relações de amizade
e cooperação sincera entre estas duas
nações irmãs.
Esperamos que na estória deste samba, nas
representações alegóricas, nas fantasias,
na dança e em diversos detalhes deste
carnaval da Beija-Flor, o mundo reconheça
a proximidade da cultura brasileira com
a cultura guineu-equatoriana e que fique
marcado para sempre no coração de nossos
povos que as nossas histórias andam
juntas e que os nossos caminhos
muitas vezes são os mesmos.”
Dr. Benigno Pedro Matute Tang
Embaixador da República da Guiné Equatorial
no Brasil
UM GRIÔ CONTA A HISTÓRIA
Um Olhar Sobre a África e o Despontar da Guiné Equatorial
Caminhemos Sobre a Trilha de Nossa Felicidade
Vem na batida do tambor
Voltar na memória de um Griô
Fala cansada, mãos calejadas
Ouça menino Beija-Flor
Ceiba, árvore da vida
Raízes na verde imensidão
Na crença de tribos antigas
Força incorporada nesse chão
O invasor singrou o mar,
Partiu em busca de riquezas
E encontrou nesse lugar
‘Novas Índias’, outras realezas
Destino trocado, tratado se faz
Marejam os olhos dos ancestrais
Negro canta, negro clama, liberdade!
Sinfonia das marés, saudade...
Um africano rei que não perdeu a fé
Era meu irmão, filho da Guiné!
Formosa divina ilha testemunha dos grilhões
Eu vi a escravidão erguer nações
Mas a negritude se congraça
A chama da igualdade não se apaga
Olha a morena na roda e vem sambar
Na ginga do Balelé, cores no ar
Dessa mistura eu faço carnaval
Canta Guiné Equatorial!
Criança, levanta a cabeça e vai embora
O mar que trouxe a dor riqueza aflora
Tem uma família agora
Quem beija essa flor não chora
Sou negro na raça, no sangue e na cor
Um guerreiro Beija-Flor
Oh! Minha deusa soberana
Resgata sua alma africana
Autores: J. Velloso, Samir Trindade, Jr. Beija-Flor, Marquinhos Beija-Flor, Gilberto Oliveira,
Elson Ramires, Dílson Marimba e Silvio Romai.
Participação Especial: Junior Trindade e Ribeirinho.
REPRODUÇÃO EM DUAS CORES DA OBRA “UNIÃO DO POVO”,
DO ARTISTA PLÁSTICO LEANDRO MBOMIO.
Esse é o ano da África na Beija-Flor de Nilópolis.
Resgatando a afinidade que tem com o tema,
a agremiação decidiu que nesse Carnaval o enredo será mais precisamente, Guiné Equatorial.
Apresentando o enredo “Um griô conta a história: um olhar sobre a África e o despontar da
Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de
nossa felicidade”, a escola se prepara para mais
um grande desfile, alimentada pela expectativa
de que sua apresentação envolva o público presente à Marquês de Sapucaí e sensibilize o olhar
atendo dos jurados, para que esses atribuam à
escola uma pontuação justa.
Além da motivação com um enredo que costuma
dar bons resultados para a agremiação (como
no título de 2007, com “Áfricas, do berço real
à corte brasiliana”) e do desejo de ser ainda
melhor que nos últimos anos, Laíla, diretor de
harmonia e de Carnaval da agremiação, destaca outros pontos importantes para atender essa
expectativa de bons resultados no Carnaval deste ano: “Eu nunca estive tão bem. Estou feliz
fazendo esse carnaval. Durante uns seis anos tivemos pequenos conflitos internos, que de uma
maneira ou de outra, influenciaram no trabalho desenvolvido pela escola. Mas isso acabou.
Há tempos não tínhamos um Carnaval fluindo
tão bem. Todos estão dentro de suas respectivas funções e está tudo fluindo bem. Durante
todo o ano passado, os trabalhos sempre esti-
veram adiantados para esse desfile. Estamos em
busca de forra. O resultado do ano passado não
agradou a escola. Sempre que ganhamos um
carnaval, surgem vozes críticas insinuando que
não merecíamos o título, porque faltou algo no
nosso desfile, ou que não fomos tão bons, etc.
Mas quando outras escolas ganham faltando
muito mais do que algo, ninguém fala nada. É
um silêncio vergonhoso. Sabemos que essa nossa aparente audácia em saber o quanto somos
grande, desperta a inveja e a antipatia de alguns. Mas não posso fazer nada: nós somos vitoriosos. Não aceitamos derrota. Para mim quem
aceita derrota é covarde. Nós somos vitoriosos.
A escola está mordida! Os componentes estão
puxando lá do fundo de si toda a garra e amor
que tem pela Beija-Flor de Nilópolis para ajudar
a desenvolver na Sapucaí um dos maiores desfiles da escola”, afirma o comandante.
Laíla explica os porquês da escolha desse enredo
tão festejado em Nilópolis: “Após o Carnaval de
2014, o qual temos certeza de que a Beija-Flor
foi julgada de maneira parcial, decidimos que
precisávamos de um Carnaval mais impactante,
que trouxesse de volta os grandes desfiles da
nossa escola. De acordo com uma pesquisa que
a Comissão de Carnaval realizou, chegamos à
conclusão de que o tema ‘África’ era o caminho.
Mas tínhamos que ver como colocaríamos esse
enredo em prática. Especialmente porque muiFevereiro 2015
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tas escolas já falaram sobre esse tema - inclusive nós -, e precisaríamos nos manter mais uma
vez na vanguarda, no que se refere ao desenvolvimento de um enredo. Outro item importante
que precisaríamos definir estava relacionado
aos custos. Quem acompanha a realidade de um
espetáculo de Carnaval no Grupo Especial sabe
que os recursos que as escolas dispõem são insuficientes, frente às despesas. Colocar uma escola na avenida é um custo muito grande. Por
isso, a busca de um patrocinador é fundamental. Em 2013, a Beija-Flor realizou um show na
Guiné Equatorial, que foi muito bem recebido
pelo público e pelos organizadores, que gostaram muito do que apresentamos. Esse contato
com o país foi importante, porque o governo
de lá, sabendo que estávamos buscando patrocinadores, manifestou interesse em estar com
a Beija-Flor nesse carnaval. Os representantes
da Guiné Equatorial nos procuraram e depois de
algumas negociações fechamos a parceria, com
a proposta de fazermos um Carnaval abordando
África e falando sobre o país deles - sua cultura
e seus atrativos. Tem estado tudo muito afinado
e estamos todos muito otimistas em relação ao
que apresentaremos na Avenida”.
O bom clima instaurado na Deusa da Passarela
destacado por Laíla, contagia a todos. Victor Santos, membro da comissão de Carnaval da escola,
conta que nunca esteve tão feliz na Beija-Flor.
Ele, que anos atrás se aventurou no Carnaval de
São Paulo (e obteve grandes resultados), lembra
que só voltou para Nilópolis porque sentia falta da atmosfera agradável da agremiação: “Eu
olhava de São Paulo e, apesar de estar dando
certo lá, eu via a Beija-Flor e falava: ‘essa escola
é tão grande, tão maravilhosa. Por que eu estou aqui? Por que eu não estou lá, contribuindo
com a Beija-Flor e com seu Anizio, que tanto me
ajudou? Agora que aprendi tanto, por que não
estou apoiando a escola que faz parte de mim
e que eu sou parte dela?’ Quando decidi voltar,
pedi para seu Anizio, ele aceitou. Ele me disse
para falar com o Laíla. O Laíla também gostou
da ideia, achou que era uma boa, mas não me
botou na Comissão de Carnaval inicialmente. Fiquei um ano como figurinista, depois voltei para
a Comissão. Estou muito feliz desde essa volta.
As pessoas daqui são maravilhosas” conta.
O diretor de Harmonia e de Carnaval da agremiação
nilopolitana, Laíla, e a Comissão de Carnaval, formada
por André Cezari, Cláudio Russo, Bianca Behrends, Fran
Sérgio, Victor Santos e Ubiratan Silva.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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África e Carnaval é um casamento que frequentemente acontece nas escolas de samba. Devido
à história do samba não poderia ser diferente.
Entretanto, falar desse continente não é tarefa fácil e exige muito da criatividade dos carnavalescos, justamente por ser algo que já foi
abordado tantas vezes. Fran Sérgio, membro
da Comissão de Carnaval, tem a solução para
essa questão: “A África é muito grande. Nós já
falamos de África, mas não foi sobre a Guiné
Equatorial. Tem muita coisa para ser dita ainda sobre a África. Esse país que vamos falar é
um país do litoral, os povos de lá cresceram às
margens do mar, dos rios. A capital é uma ilha.
É muito verde. Florestas densas. Vamos explorar
essa questão da natureza, das cores, do passado
da África, mas vamos também falar do progresso pelo qual esse país passa, o desenvolvimento
que eles estão vivendo. Tem muitas riquezas naturais, como o petróleo e o diamante. É um povo
que tem muito contato com outros povos. É um
povo dançante. Estamos trazendo isso para o
nosso carnaval. Os ritmos, as cores. E encerraremos o desfile com esse casamento Brasil-Guiné
Equatorial.”
Esse mosaico mais intenso de cores também exige
uma dedicação a mais. André Cezari, membro da
Comissão de Carnaval, sabe bem como agir diante de tal desafio: “A criatividade tem que aflorar
ainda mais por conta dessa questão das cores.
Precisamos de mais criatividade, mais formas,
para que as coisas fiquem atreladas e com qualidade: as alas, os carros, as formas. Tudo isso em
um formato mais colorido exige mais cuidado na
hora de colocarmos em prática e estamos tendo
esse cuidado com nosso trabalho, que é sempre
feito com muita dedicação. Trabalhar na Beija-Flor é como jogar na Seleção Brasileira, temos
que fazer o melhor sempre, temos uma comunidade que faz uma torcida apaixonada”, explica.
Bianca Behrends, pesquisadora da Comissão de
Carnaval, foi, ao lado de Fran Sérgio, à Guiné
Equatorial buscar informações para a construção do enredo. O que mais marcou Bianca foi
um ponto que fará esse Carnaval diferente dos
outros que já falaram sobre o continente: “A
Guiné Equatorial é uma África muito colorida,
litorânea, isso foi o mais forte que senti nessa
viagem. Os parques, as ilhas, as praias é tudo
muito bonito lá. É uma região de tonalidades
vivas e um país que busca um desenvolvimento,
isso é o mais simbólico que trouxemos de lá”,
sublinha a pesquisadora.
Sempre ligado às inovações tecnológicas, Ubiratan Silva, outro
integrante da Comissão de Carnaval, revela qual será a grande
invenção da escola que pôs na
avenida um moderno carro interativo no Carnaval de 2014:
“A principio não teremos nada
tão tecnológico, como no ano
passado, um carro, por exemplo. Até porque não tem nenhuma ligação do enredo
com tecnologia. Botar tecnologia de graça não seria
válido. Mas estamos usando 3D na concepção dos
carros e fantasias. A tecnologia mesmo virá na luz,
fumaça, e de outros elementos que estamos desenvolvendo para impactar o público quando passarmos
pela avenida.” destaca.
Novo soldado
A já vitoriosa Comissão de Carnaval da Beija-Flor ganhou mais um membro. Cláudio Russo, que fazia parte da ala de compositores da
escola, agora dá sua contribuição, ao lado de
Bianca, na área de pesquisa. Cláudio, que é
formado em história e especializado em África, explica como foi sua entrada na comissão: “Entrei para essa equipe em 2014. Como
compositor, disputei sambas enredos durante
onze anos, dos quais me saí vencedor em cinco. Desses que ganhei, três foram campeões
na avenida - inclusive o de 2007 que falou
das muitas Áfricas. Eu escrevia sobre carnaval no website do Sidney Rezende e no ano
do enredo do cavalo manga-larga, eu fiz um
texto sobre esse carnaval da Beija-Flor. O Laíla gostou do texto, acrescentou na sinopse
da escola e tivemos um primeiro contato. Eu
cheguei a manifestar algum interesse, sobre
escrever mais, além das letras dos sambas. Aí,
então, em 2014 ele me chamou para integrar
a equipe da Comissão de Carnaval. Não entrei
no lugar de ninguém, vim para somar. Não
tenho pretensão de ser mais do que eu estou
sendo. Estou bem feliz com essa nova função” conta Cláudio, que adotou o “sobrenome” Russo em memória aos tempos de garoto, quando era apelidado assim por ser loiro.
Fevereiro 2015
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No Carnaval de 2015, a Beija-Flor decidiu voltar ao continente mãe da humanidade e falar
de África. Mais precisamente da Guiné Equatorial com o enredo “Um Griô Conta a História:
Um olhar sobre a África e o despontar da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre a trilha de
nossa felicidade”.
Um olhar sob um continente africano colorido, pulsante e promissor é a grande aposta da
escola de Nilópolis neste carnaval. A África, rica em diversidade como o Brasil, sempre renderá excelentes carnavais e esse elo também é um alvo da Deusa da Passarela para o desfile
deste ano.
A ideia é promover o encontro das bandeiras de duas nações fraternas, num majestoso festejo popular, onde a língua portuguesa é apenas mais um elemento de afinidade, objetivando
consagrar o enlace cultural entre o Brasil e a Guiné Equatorial, brindando os ideais de unidade, liberdade, paz e justiça.
Um griô conta a história:
um olhar sobre a África e o despontar
da Guiné Equatorial. Caminhemos sobre
a trilha de nossa felicidade”
“A Árvore da Vida e
a Floresta Equatorial Africana”
DESFILE 2015
SETOR 01
Refúgio Místico
Ala: Comissão de Frente
Responsável: Marcelo Misailidis
Componentes: 15
Essência Africana
Ala: 1º Casal MS & PB
Responsável: Selmynha SorrisoZ & Claudinho
Componentes: 2
Ouça Menino Beija-Flor
Ala: Crianças
Responsável: Luciana Araújo & Luci Ribeiro
Componentes: 80
Descrição: Grupo de crianças Beija-Flor, que
formam a plateia atenta à narrativa de um
Griô, um ancião, senhor do passado, um da-
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
queles sábios que guardam, de pai para filho, a história viva do continente africano e
de seu povo.
Meninos e meninas, com os olhos fixos no
velho homem, não deixam passar um detalhe sequer, e o contador de histórias, em um
tom tranquilo, porém com a voz firme, abre
o livro da memória, e narra, com riqueza de
detalhes, através de eloquente linguagem
oral, a rica história do continente africano
e sua gente.
Tripé - “Um Griô Conta a História”
Ala: Madrinha da Escola
Responsável: Cláudia Raia
Componentes: 1
Descrição:
www.beija-flor.com.br
Fevereiro 2015
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Voltar na Memória de um
Griô
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Valéria Brito
Componentes: 80
Descrição: O termo griô é uma corruptela da
palavra “creole”, ou seja, crioulo, a língua
geral dos negros na diáspora africana. A expressão tem origem nos músicos, poetas e
comunicadores sociais, mestres e mediadores da transmissão oral; verdadeiras bibliotecas vivas, guardiões e contadores de todas
as histórias, saberes e fazeres de um povo.
As memórias do griô estão repletas de força
e energia nativa, e ainda hoje, esses sábios
vivem em muitos lugares da África, salvaguardando a memória das comunidades, das
regiões e do país, e transformando a oralidade em patrimônio imaterial e cultural de
um povo.
Alegoria 01 – Abre-Alas
Ao avistar o continente africano, o deslumbramento é inevitável. A magnitude,
a imponência dos diversos tons daquela imensidão verde, causam um efeito
quase hipnótico.
Ceiba, a majestosa Árvore da Vida, é
presença abundante na Floresta Equatorial (e também o maior símbolo da
Guiné Equatorial, a ponto de ser representada em seu escudo nacional).
Trata-se de um árvore de grande porte,
podendo chegar até 70 m de altura, e
cujo o tronco é muito característico, o
que possibilita a árvore ser reconhecida
facilmente. Sua copa não é excessivamente frondosa, e apresenta folhas jovens, que vão caindo durante a estação
seca.
A Ceiba tem inúmeras aplicações terapêuticas, e suas folhas e sementes são
utilizadas pelos nativos desde tempos
imemoriais, daí a afirmativa de que as raízes das árvores se confundem, se misturam, se mesclam com as origens de nossos
antepassados, e com todo o legado por eles
deixado.
A paisagem da Floresta Equatorial “respirando” mais parece uma miragem: toda
aquela biodiversidade, a natureza em sua
mais perfeita forma, farta, intocada, enigmática, revelando abundantes cachoeiras em
meio à exuberante vegetação... Ao observar
todo esse esplendor diante de nossos olhos,
é impossível não admirar a potência da selva
africana e a importância da Árvore da Vida.
Força incorporada nesse chão, a crença de
tribos antigas e a tradição dos povos ancestrais mostram-se através dos detalhes, presentes nos marfins, nas esculturas, nas máscaras, nos totens e nas carrancas, cada qual
contendo características típicas de tribos e
povos primitivos distintos, que habitaram e
ainda habitam esse território tão surpreendente quanto misterioso.
Chefe de Alegoria: Cristiano Bara
Compositores: Samir Trindade, Junior Trindade, Adilson Brandão & Diogo Rosa
Março 2014
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O universo místico por traz de uma tribo
imaginária da região da Guiné Equatorial
será a proposta temática para a Comissão de
Frente deste ano. Essa tribo nativa, mesmo
ficcional, baseia-se em fatos antropológicos
reais da cultura daquela região, que carrega
consigo o misterioso universo de suas crenças, que atribuem às mascaras, a capacidade
de encarnar as energias de seus antepassados, imortalizando e revivendo uma força
que nunca apaga.
Esta obra, que é uma livre criação, baseia-se
na original arte africana, de esculpir máscaras que imprimem características e crenças de
povos primitivos até o período pós-colonial,
onde acreditavam que deuses, antepassados
e guerreiros se manifestavam através destas
máscaras, as quais guardavam a energia vital e
possibilitavam a comunicação com os espíritos
de seus ancestrais, que os protegiam como escudos contra o mal e os invasores.
Muito à vontade para trabalhar com a temática africana, Marcelo Misailidis declara que
esse tema e o Carnaval estão totalmente interligados, e que muitos não percebem isso:
“A pergunta é: ‘por que quando fazemos
Carnaval nos distanciamos da África?’ O Carnaval é afro em tudo, na música, na dança.
Quando se fala em África, se aproxima mais
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
de festa. O complicado é fazer o contrário,
falar, por exemplo, de um país que não tem
muita relação com essa festa. Quando se fala
em África se tem um encaixe perfeito. E falar
de África é como falar de Brasil, não faltam
temas. Falar de África é falar de Brasil, pela
relação que esses países têm”.
À frente de uma comissão que passou por
uma recente reformulação, Marcelo, que
conta com uma equipe de 15 componentes,
garante que está tão focado no trabalho que
nenhuma mudança externa pode impedir
ainda mais progresso.
Ele lembra a boa média de notas que a Beija-Flor obteve no desfile de 2014 e que consolidou o trabalho que realiza. Marcelo conta
que isso se deve, também, a força que vem
dos bastidores: “O trabalho da Comissão de
Frente começa do zero. Eu sempre trabalho
com ineditismo. E isso exige que o Laíla e
a diretoria da Beija-Flor confiem no meu
trabalho e me dêem carta branca, inclusive atendendo as necessidades técnicas e de
equipamento para desenvolver o meu trabalho e retirar de todo esse esforço o melhor
resultado possível. Por estar tendo todo esse
apoio deles é que o trabalho está fluindo
bem. E tenho certeza que o público vai reconhecer todo esse esforço lá na Avenida.”
www.beija-flor.com.br
emmbaumm
Wl adimir Morell
reça entrei na
“Por incrível que pa de Wladimir
se
Beija-Flor”. Essa fra
o
demonstra
Morellemmbaumm
ao
urinista tem
sentimento que o fig
agremiação de
estar trabalhando na e meados do
desd
Nilópolis. Na escola
foi o responsável
ir
ano passado, Wladim
ntasias da Deusa
por desenhar as fa
o carnaval deste
da Passarela para
pondera e diz
ano. No entanto, ele
sozinho: “Fico até
que não se trabalha
essa coisa de me
meio relutante com
a. Eu faço o que
chamarem de figurinist me pede. Me
al
a Comissão de Carnav
e desenhei. Fiz
ar
pediram para desenh
, mas tive ajuda
todo o chão da escola es de carro e
chef
de muita gente, dos
ão de Carnaval, por
do pessoal da Comiss
comissão estavam
exemplo. Os meninos da
s e quando eles
desenhando os carro
lho me auxiliaram
acabaram esse traba
asias de destaque”.
nos desenhos das fant
à Beija-Flor se deu
A “incrível” chegada
e expectativas: “Há
através de amizades
lor se destaca por
muito tempo a Beija-F
iação maravilhosa.
ter uma equipe de cr
do por título. Estar
Sempre estão brigan
maioria das pessoas
aqui é a vontade da
rnaval. Eu cheguei
que trabalha com ca
s trabalhos com o
aqui porque eu fiz un
Sérgio, ambos da
Cristiano Bara e o Fran
s projetos paralelos.
Beija-Flor, para outro
u a mostrar meus
O Fran me encorajo
íla. Mostrei mas
desenhos para o La mostrar mesmo,
no
achando que ia ficar só
fosse gostar e me
não esperava que ele
isso. E me escolheu
chamar. Mas ele fez
isso disse que por
para essa função. Por
trei na Beija-Flor.”
incrível que pareça en
Fevereiro 2015
23
Feliz com o envolvimento de seus filhos no Carnaval e otimista
para o Desfile da Beija-Flor, Fabíola David concedeu uma
entrevista à revista, na qual brinda os leitores com sua simpatia.
RBF — Na entrevista que nos concedeu para a
edição 2014 da revista, você declarou que não
tinha noção de como era importante desfilar no
Abre-Alas e que diversas razões a levaram a voltar aos desfiles de carnaval. Como se sentiu na
avenida? Alguma emoção especial pelo regresso? Algum preparativo especial, seja em termos
de indumentária seja em termos de preparo físico ou emocional?
Fabíola David - Foi muito gostoso retornar à
avenida, sentir toda aquela energia maravilhosa... Energia contagiante que me faz um bem
incrível, renova as minhas energias e me faz ter
cada vez mais certeza da importância dessa festa para mim e para o público. Uma festa essencial, também, para a cultura brasileira. Em relação ao meu preparo para o desfile, procuro estar
sempre em forma, cuidando com muita atenção
da minha saúde física, mental e espiritual - e
isso durante todo o ano.
RBF — Alguma emoção diferente, pelo fato de
sua filha Micaela ter desfilado como destaque
do Abre-Alas pela primeira vez e ao seu lado?
Como se sentiu vendo seus filhos participando
com dedicação ao desfile da Beija-Flor? E o Anizio? Como ele se sentiu, considerando que ele
dedicou boa parte dos seus esforços para ajudar
a fazer o Carnaval carioca a ser o que é hoje?
Fabíola David - Ter minha princesa junto a mim
no abre-alas foi fantástico. Foi um desfile emocionante. Tanto o Gabriel quanto a Micaela são
apaixonados pela Beija-Flor e pelo Carnaval carioca como um todo. Eles vibram e participam
intensamente. E isso me deixa muito feliz. E ao
Anizio também. Ele fica em êxtase com essa dedicação e esse amor que eles têm com a nossa
amada Beija-Flor.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
RBF — Teve um significado maior, emprestar a
sua graça e simpatia a um desfile que homenageou um querido amigo seu e do Anizio? Houve
alguma situação agradável ou gratificante que
gostaria de dividir com nossos leitores?
Fabíola David - Homenagear esse grande mestre
da TV brasileira foi muito importante e significativo para nós, não só pelo que ele representa
para a televisão brasileira, mas principalmente
pelo grande amigo que ele é para nós. Amigo de
todas as horas e um apaixonado pelo carnaval.
Um momento marcante do desfile foi vê-lo de
Charlie Chaplin ao lado da nossa Rainha Raíssa,
à frente da nossa maravilhosa bateria. Dedicação e amor total a essa grande festa.
RBF — O que espera para o desfile da Beija-Flor
desse ano?
Fabíola David - Pelo que tenho acompanhado
nos ensaios, no barracão e na quadra, tenho certeza de que faremos mais um belíssimo desfile,
cheio de brilho, cor, garra e emoção. Essa é a
“cara” da Beija-Flor. E todos os anos a diretoria,
a Comissão de Carnaval e todos os componentes
trabalham duro para chegar na Avenida e mostrarem para o público do que é feita a Beija-Flor
de Nilópolis: garra, amor, emoção e muito samba na voz e no pé. Por isso, acredito muito que
conquistaremos o campeonato de 2015.
RBF — Gostaria de deixar alguma mensagem
para os leitores da revista?
Fabíola David - Que nossa garra jamais esmoreça, que nosso amor jamais se arrefeça, que
nossa luz jamais se apague para que todas as
vezes que pisarmos naquela avenida possamos
emanar toda a nossa alegria, toda a nossa força
e toda a nossa competência!
Avante Família Beija-Flor!!!
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O Abre-Alas da Beija-Flor de Nilópolis:
Fabíola David, Micaela David, Marina David
e Sophia Raia Celulari.
“África – O Berço
Negro do Mundo
– Tradições e
Realeza, a Cultura
de um Povo”
SETOR 02
Guerreiros Africanos
Ala: Comunidade
Responsável: Edson Reis
Componentes: 100
Descrição: A África primitiva, berço da humanidade, guardava um número sem fim de
tribos e etnias, onde a guerra era quase que
habitual. Guerreiros africanos defendiam
seus domínios, suas terras e sua gente,
utilizando lanças e escudos, e dominando a arte de se camuflar em
meio ao verde da Floresta Equatorial.
Ancestrais
Ala: Comunidade
Responsável: Cláudio Armani
Componentes: 80
Descrição: Os nossos antepassados africanos, aqueles
que pertenceram à gerações anteriores e, ao
longo da vida, acumularam conhecimento,
saberes e experiência de vida. É essa vivência
dos mais antigos que os tornou exímios conselheiros, servindo de referência para seus
descendentes e fazendo com que se trate,
com o devido reconhecimento e profundo
respeito, todo esse valioso e sábio legado
deixado pelos ancestrais.
O Mistério das Máscaras
Ala: Comunidade
Responsável: Cláudio Armani
Componentes: 80
Descrição: A máscara é um acessório utilizado para cobrir o rosto ou parte dele, podendo
ser utilizada com propósitos lúdicos, religiosos ou artísticos. Pode esconder a identidade
de uma pessoa, ser usada enquanto adereço
de decoração, disfarce, símbolo de identificação, representação de espíritos da
natureza, deuses, animais, antepassados e seres sobrenaturais. Cercada de mistério, é um objeto
que desperta a curiosidade das
pessoas, sendo que muitas
tribos africanas fazem uso
de máscaras em rituais
diversos e em cerimônias de passagem entre
a vida e a morte.
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Ritos Tradicionais
Ala: Comunidade
Responsável: Humberto Martins & Georgina
Martins
Componentes: 80
Descrição: Por rito entende-se a ordem prescrita das cerimônias que se praticam numa
religião, seita ou culto. Nas religiões ou ritos
tradicionais africanos, bastante comuns entre
as tribos antigas e seus descendentes, não há
registros, textos escritos ou livros sagrados, os
preceitos se baseiam estritamente na tradição oral, onde os ensinamentos e os hábitos
de fé são passados de geração para geração,
resguardando a maneira de vivenciar a religiosidade, o que se dá através de histórias,
provérbios, danças, músicas e festas.
Muitos africanos acreditam em espíritos da
natureza (daí a religião tradicional africana
ser muitas vezes chamada também de religião
animista), e procuram viver em profunda harmonia com todo o universo, consoante as leis
morais, considerando-se que, para eles, moral
e religião são praticamente a mesma coisa.
Marfins
Ala: Comunidade
Responsável: Luciana Castro & Luiz PS
Componentes: 80
Descrição: O marfim é uma substância dura,
resistente e branca, que forma as presas dos
elefantes (e de outros animais); em especial,
quando é removido cruelmente do animal
e trabalhado em obras de arte. Em função
de seu alto valor comercial, as obras, colares, enfeites, artesanatos e outros objetos
de marfim são muito apreciados, e deveras
característicos da África. Todavia, a caça de
elefantes na África dobrou na última década, e o comércio ilegal de marfim triplicou
no mesmo período, o que representa uma
grave ameaça para esses mamíferos. Por isso
mesmo, atualmente, por se tratar de uma espécie protegida, a comercialização de marfins está totalmente proibida.
Alma Africana
Ala: Baianas
Responsável: Luisinho Cabulosos
Componentes: 80
Descrição: Dotada de beleza exuberante e de
uma riqueza cultural admirável, a África foi
um foco de humanização de grande importância para o estudo da origem e da evolução do Homem, daí ser considerada o berço
real da humanidade. A suntuosidade da Mãe
África revela-se na supremacia de seu povo
guerreiro, bem como na força incorporada
nesse chão.
28
Revista Beija-Flor de Nilópolis
GEDALVA MOURA SILVINO
a baiana de primeira idade
“É maravilhoso! Você passa na avenida e
não sente o peso da fantasia nem da idade!”, diz Gedalva com viva paixão. Quatro
saias, arames e tubos de PVC para sustentar
o volume de tecido e manter a armação rodada da saia da baiana — a mais tradicional
ala de uma escola de samba — acaba sempre sendo um fardo para carregar durante
80 minutos de desfile nos 700 metros da
Passarela do Samba. “A fantasia das baianas até são mais leves agora. E isso ajuda”,
comenta. O desfile é longo, mas ela encara o desafio com muita disposição, alegria
estampada no rosto, sorriso entremeando
os compassos e versos do samba-enredo,
que ela sabe cantar, como diziam os mais
antigos, “de cor e salteado”.
Gedalva Moura Silvina é a mais avançada em idade, quem sabe também em
animação, das componentes da Ala das
Baianas da Beija-Flor, tem 83 anos,
sendo os últimos 13 dedicados aos
ensaios e à costura — em seu ateliê
doméstico ela confecciona fantasias
para a ala da bateria da escola.
Gedalva conta que seu ingresso na
Beija-Flor deve-se a um convite para
sair na Ala Damas. Já para a ala das
Baianas, o ingresso obedeceu à regras da escola. Fez inscrição e foi
convocada no ano seguinte. “Foi uma
alegria só! Desde quando a escola
começou a desfilar aqui em Nilópolis, há mais de 50 anos, eu assistia e
alimentava o sonho de um dia participar dela”. Gedalva afirma que
sempre gostou de Carnaval, mas o
trabalho e a família eram prioridade e lhe ocupavam em tempo integral. Só agora aposentada, como
técnica de enfermagem, mesmo
fazendo suas costuras e cuidando da mãe, que completou 100
anos em outubro, ela consegue
dedicar-se aos ensaios e até participar de eventos para os quais
as baianas são escaladas. “Atualmente eu me divirto e vivo mais
a vida”, acrescenta.
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Feiticeiros
Ala: Comunidade
Responsável: Marco Gomes
Componentes: 80
Descrição: Os feiticeiros africanos sempre tiveram uma íntima relação com os elementos naturais, a magia e a cura, ocupando posições de
destaque em suas tribos, geralmente ligadas à
evocação da ancestralidade, à experiência de
conhecimentos místicos, feitiçarias e ao domínio de tradições e encantamentos; por esses
motivos, muitos feiticeiros foram e ainda hoje
são bastante temidos e respeitados.
Na Crença de Tribos Antigas
Ala: Comunidade
Responsável: Rosângela Simões
Componentes: 80
Descrição: Com a tez escura como o ébano,
nativos e guerreiros de tribos primitivas,
guardiões dos costumes e dos ritos tradicionais, preservam as informações, as práticas,
as histórias e os costumes de seu povo, que
são registrados através da oralidade, na memória e nos corações dos homens
Negra Raça
Ala: Comunidade
Responsável: Cláudio Armani
Componentes: 80
Descrição: Negra da cor da noite, primitiva
matriz da espécie humana, a mais espoliada
das raças. Expropriada de seus valores, de sua
gente, e que jamais se esqueceu de sua cultura. Ah! Raça negra... Do expressivo sorriso no
rosto, do pano da costa, do ritmo nas mãos,
da ginga nos pés; berço dos nossos ancestrais,
mão-de-obra formadora do mundo moderno.
Majestade Negra
Ala: Destaque de Chão
Presidente: Elaine Lima
Componentes: 1
Descrição: A Majestade Negra e sua nobreza
conduzem o fio da História africana, que não
está registrada só nos livros, mas está viva
principalmente na memória das comunidades
e de seu povo; salientando a importância de se
reverenciar os costumes, a força e a imponência tão intrínsecos ao continente, e que ver-
dadeiramente fundamentam toda a herança
cultural deixada pelos negros ancestrais.
Cortejo Real
Ala: Comunidade
Presidente: Elaine Lima
Componentes: 12
Descrição: Cortejo real da Majestade Negra,
nobreza que conduz o fio da História africana, que não está registrada só nos livros,
mas está viva principalmente na memória
das comunidades e de seu povo; salientando a importância de se reverenciar os costumes, a força e a imponência tão intrínsecos
ao continente, e que verdadeiramente fundamentam toda a herança cultural deixada
pelos negros ancestrais.
Alegoria 02
Mãe África, o berço da humanidade. Terra
natal de um povo guerreiro, detentor de uma
história fascinante, e guardião fiel de suas
origens, suas crenças e identidade cultural.
Seus filhos – adultos e crianças de pele negra como o ébano – zelam e salvaguardam
os mais diversos símbolos característicos das
tradições africanas, tais como totens, máscaras, carrancas, esculturas, búzios, presas e
peças de marfim... Além de técnicas específicas, como a taipa, técnica construtiva que
em uma de suas principais variações, utiliza
o bambu e o barro como matéria-prima, por
exemplo, além de muitas outras, que usam
como base argila, cascalho e palha.
A Majestade Negra e sua nobreza conduzem
o fio da História africana, que não está registrada só nos livros, mas está viva principalmente na memória das comunidades e de seu
povo; salientando a importância de se reverenciar os costumes, a força e a imponência
tão intrínsecos ao continente, e que verdadeiramente fundamentam toda a herança cultural deixada pelos negros ancestrais.
Somente (re)conhecendo a África, é possível
então celebrá-la, exaltando a identidade, a
raça, o sangue e a cor de uma negritude que
se congraça.
Chefe de Alegoria: Thiago
Compositores: Adilson Dr., Paulinho Beija-Flor, Jair Sapateiro & Silvio Romai
Fevereiro 2015
29
“Rota para as
Índias – O Caminho
das Especiarias
e a Descoberta
de um Novo
Território”
SETOR 03
Pimenta-do-Reino
Ala: Dos Cem
Presidente: Terezinha Simões
Componentes: 40
Ala: Amar é Viver
Presidente: Terezinha Alves
Componentes: 40
Descrição: A pimenta-do-reino é uma
planta trepadeira originária da Índia,
e é a mais importante especiaria comercializada mundialmente, usada
em larga escala como condimento,
e também nas indústrias de carnes
e conservas.
Canela
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Vitor Zanella &
Guisela Duarte
Componentes: 80
Descrição: Originária da Ásia,
a canela é uma das especiarias
mais antigas do mundo, possuindo qualidades terapêuticas
e nutricionais. O conhecido condimento, obtido da parte interna
da casca do tronco da caneleira,
alcançou valores inimagináveis no
período das grandes navegações,
sendo considerado um item a ser
presenteado à monarcas e outros
dignitários.
Outras Realezas
Ala: 2º Casal de MS & PB
Presidente: David Sabiá & Fernanda Love
Componentes: 2
Descrição: As preciosas especiarias deviam
ser tesouros guardados por reis e realezas,
temperos especiais, coloridos de beleza no
imaginário europeu. Mas na rota das Índias,
outros elementos surgiram, e a nobreza africana trouxe aos olhos do invasor, um novo
continente. A representação de um cortejo
africano, na dança e no ritmo, nas cores e
nos tecidos tribais, revela ao mundo a magia
e riqueza da Costa da Guiné.
Ala: 3º Casal de MS & PB
Presidente: Yurii Hallss & Emanuelle Martins
Componentes: 2
Descrição: As preciosas especiarias deviam
ser tesouros guardados por reis e realezas,
temperos especiais, coloridos de beleza no
imaginário europeu. Mas na rota das Índias,
outros elementos surgiram, e a nobreza africana trouxe aos olhos do invasor, um novo
continente. A representação de um cortejo
africano, na dança e no ritmo, nas cores e
nos tecidos tribais, revela ao mundo a magia
e riqueza da Costa da Guiné.
Ala: 4º Casal de MS & PB
Presidente: Hugo César & Naninha Fidellys
Componentes: 2
Descrição: As preciosas especiarias deviam
ser tesouros guardados por reis e realezas,
temperos especiais, coloridos de beleza no
imaginário europeu. Mas na rota das Índias,
outros elementos surgiram, e a nobreza africana trouxe aos olhos do invasor, um novo
continente. A representação de um cortejo
africano, na dança e no ritmo, nas cores e
nos tecidos tribais, revela ao mundo a magia
e riqueza da Costa da Guiné.
Cravo-da-Índia
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Alessandra Oliveira
Componentes: 80
Descrição: O cravo-da-índia ou cravinho (da
Índia) é uma especiaria muito valorizada, a
ponto de, antigamente, um quilo de cravo
ser equivalente à sete gramas de ouro. Desde a Antiguidade, a flor do craveiro é usada
na culinária como tempero, e também na fabricação de medicamentos, razão pela qual
o cravo é uma das mercadorias, dentre as
especiarias da Índia, que motivaram inúmeras viagens de navegadores europeus para o
continente asiático.
Ervas
Ala: Dá Mais Vida
Presidente: Ana Mascarenhas
Componentes: 40
Ala: Borboletas
Presidente: Néa Noccioli
Componentes: 40
Descrição: Ervas ou plantas herbáceas é o
nome genérico de todas as plantas, anuais
ou vivazes, que possuem caule tenro e não
lenhoso, e que secam depois da frutificação.
Geralmente cultivadas em hortas, as ervas
aromáticas, além de largamente utilizadas
na culinária, como tempero e na conservação
de alimentos, são especiarias utilizadas na
farmácia, na preparação de óleos, unguentos, cosméticos, incensos e medicamentos.
Companhia Holandesa das
Índias Ocidentais
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Wanderson Bilchez & Marcelo
Oliveira
Componentes: 80
Descrição: A empresa holandesa criada para
estabelecer o comércio das especiarias chega
no território onde hoje é a Guiné Equatorial e, não obstante, a possessão portuguesa
estabelece na ilha de Bioko um entreposto,
centralizando ali, temporariamente, o tráfico de escravos do Golfo de Guiné. A Companhia, que em seu auge possuiu milhares
de funcionários, buscou em aventureiros
34
Revista Beija-Flor de Nilópolis
sedentos por riquezas, soldados para a sua
defesa estratégica.
Novas Índias
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Claudio Armani
Componentes: 70
Descrição: No meio do caminho para as Índias, havia um continente... A imaginação
dos navegantes, no meio do oceano, criou
inúmeras expectativas de encontrar especiarias e riquezas. Mas a tão sonhada joia
da Coroa, era na verdade, as “novas Índias,
outras realezas”... Esta mistura, do imaginário e com o mundo real, é traduzida no encontro do brilho peculiar do Oriente com os
elementos da natureza africana.
Alegoria 03
Desde a Idade Media, as chamadas especiarias eram demasiadamente valorizadas. Produtos de origem vegetal, cujo aroma e sabor são bem acentuados, além de utilizados
como temperos e conservantes na culinária,
e também como aromatizantes, eram usados
ainda na preparação de óleos, unguentos,
cosméticos, incensos, soluções medicinais e
até mesmo perfumes e afrodisíacos.
Foi à caminho das Índias, que os europeus
singraram o mar em busca dessas valiosas
especiarias, e descobriram um novo território, ao se deparar com o continente africano.
Por serem difíceis de se obter, as especiarias
eram extremamente caras, e usadas até mesmo como moeda, sendo consideradas riquezas da época.
Compradas e utilizadas secas, possuem grande durabilidade, e são bastante resistentes
ao mofo e às pragas, permitindo longos períodos de estocagem, o que tornou possível
e próspero o seu comércio; suportando por
meses, e até mesmo por anos, as travessias
feitas por mar ou por terra, sem perder suas
propriedades fundamentais e suas qualidades aromáticas e medicinais. Para atender a
tamanha demanda, a Companhia Holandesa
das Índias permitiu que se ampliasse o comércio entre o Ocidente e o Oriente, através
de diversas rotas.
O elefante, animal caraterístico tanto da Índia
quanto da África (ressaltando que tratam-se
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de espécies diferentes), com suas magníficas
presas de marfim, e o colorido vivo e cítrico
usado na máscara, na ornamentação e nos
minaretes, simbolizam parte do que há em
comum entre ambas as culturas.
Chefe de Alegoria: Rodrigo
Compositores: J. Velloso, Dilson
Marimba, Ribeirinho & Jota Erre BF
Fevereiro 2015
35
“As Investidas
Europeias em
Terras da Guiné”
SETOR 04
Domínio Françês
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Claudio Armani
Componentes: 80
Descrição: A expansão marítima francesa
teve início tardio, se comparado aos países
ibéricos; por isso, navegando em mares do
Senhor da Guiné, primeiro Senhor de Corisco, logo estabeleceu profundas relações
comerciais com Portugal. Das ilhas da Guiné
Equatorial, negros traficados, algo como dezenas de milhares, foram levados ao domínio
francês.
Coroa Inglesa
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Claudio Armani
Componentes: 80
Descrição: Muito antes de a Inglaterra ser
uma potência dos oceanos, seus navios já
frequentavam o Golfo da Guiné. Relações
surgiram a partir dos primeiros contatos,
principalmente com os portugueses, que
converteram as ilhas de Bioko (Formosa),
Ano Bom e Corisco em postos avançados do
tráfico negreiro de toda região. Através da
empresa da escravidão, a Coroa Inglesa encontrou traços e tons de terra tipicamente
africanos.
Cobiça Européia
Ala: Musa das Passistas
Presidente: Charlene Costa
Componentes: 1
Encontro de Culturas Espanha e Àfrica
Ala: Passistas
Diretor de Desfile: Aline Solva, Valéria Maria &
Rosana Cristina
36
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Componentes: 100
Descrição: Espanha e África, a união dos traços clássicos europeus com a beleza das nuances e matizes particularmente africanas,
foi provocada pelo encontro dessas culturas
tão distintas, de forças tão singulares: uma
buscava os tons da liberdade, enquanto outra conquistava através da opressão.
Canta Guiné Equatorial
Ala: Intérprete
Presidente: Neguinho da Beija-Flor
Componentes: 1
Formosa
Ala: Rainha de Bateria
Presidente: Raíssa Oliveira
Componentes: 1
Colonizador Espanhol
Ala: Bateria
Presidente: Mestres Rodney Ferreira & Plínio de
Moraes
Componentes: 280
Descrição: A rivalidade entre Espanha e Portugal chega a um bom termo e é amenizada
quando as partes resolvem se entender através do Tratado de Santo Ildefonso. Destino
trocado, tratado se faz, e aquelas terras da
Costa Guiné, com suas ilhas promissoras,
passaram ao domínio espanhol. Rufam os
tambores do invasor, e surge um novo colonizador, relação que permanece até a independência da Guiné Equatorial.
A Supremacia Portuguesa
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: André Messias, Vanda Mercedes & Jonathan Maciel
Componentes: 80
Descrição: Ao explorar o Golfo da Guiné,
Portugal, na busca pelo caminho das Índias,
coloca a Formosa Bioko nos mapas europeus.
D. João II de Portugal, proclamado Senhor
da Guiné, junto com os portugueses, inicia
a colonização das ilhas de Bioko, Annobom e
Corisco, convertendo-as posteriormente em
importantes postos destinados ao tráfico de
escravos.
www.beija-flor.com.br
trumentos de astronomia aplicada em navegação, como a esfera armilar, que consta
de um modelo reduzido do cosmos, foram de
grande preciosismo na época.
Diferentes povos demonstraram interesse
em explorar, colonizar e extrair as
riquezas das terras africanas recém-descobertas, localizadas
na Costa da
Guiné,
destacando-se
prin-
Holanda
A Bandeira da
Ambição
Ala: Vamos Nessa
Presidente: Antônio Rodrigues
Componentes: 40
Ala: 1001 Noites
Presidente: Luiz Figueira
Componentes: 40
Descrição: Os holandeses construíram uma
relação íntima com o mar e, por muito
tempo, conseguiram romper o bloqueio de
Portugal e Espanha. Nas águas do Golfo da
Guiné, a bandeira infame da Casa de Orange
navegou e negociou, trazendo dor ao povo
negro e marejando os olhos dos ancestrais.
Alegoria 04
No auge das grandes navegações, sereias e
outros mistérios do mar povoavam o imaginário dos marinheiros e navegantes, e ins-
cipalmente
as
investidas
europeias, onde
marcaram
presença
portugueses,
holandeses,
espanhóis e ingleses.
D. João II, rei de
Po r t u gal, proclama-se
Senhor
da Guiné, e o primeiro
Senhor de Corisco,
título
real com o qual
passou
a ser, de fato, o
senhorio
dessa
região.
Ao
apontar
para o continente africano e
explorar o Golfo da Guiné – berço da herança cultural deixada pelos medievais reinos
tribais africanos – Portugal colocou a então
chamada Formosa nos mapas europeus, e
iniciou a colonização das ilhas de Bioko, Annobón e Corisco; posteriormente convertidas
em postos destinados ao tráfico de escravos.
A Coroa de Portugal e uma cruz de malta
vista de cima, ressaltam a importância das
investidas lusitanas em terras da Guiné, enquanto a arquitetura europeia, misturada à
um trono e detalhes tipicamente africanos,
como esculturas, marfins e ornatos de palha e bambu, retratam, simultaneamente,
as particularidades e a mistura das culturas
africana e europeia.
Chefe de Alegoria: Roger Madruga
Compositores: Marcão Mangaratiba, Gilberto Oliveira, Glyvaldo & Marquinho Beija-Flor
Fevereiro 2015
37
“A Escravidão
Ergueu Nações”
SETOR 05
Tradição Benga
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Cátia Sant´Ana & Sérgio Maciel
Componentes: 80
Descrição: Os Benga formam o principal grupo étnico da família dos Ndowé. Originários
da ilha de Corisco e seus arredores, mantiveram por muito tempo um estreito contato
com os colonizadores e comerciantes, provocando uma grande mestiçagem, e adquirindo privilégios e regalias na sociedade local.
Povo Bubi
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Ivone Pinheiro & Leandro
Figueiredo
Componentes: 80
Descrição: O povo Bubi é a população originária da ilha de Bioko. Falam três dialetos
diferentes da mesma língua, o bubi,e conservam muitas de suas práticas religiosas tradicionais, algumas realizadas em lugares sagrados, tais como cavernas e lagunas, que são
considerados moradas de seres superiores.
A Sociedade dos Annobones
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Simone Sant´Ana
Componentes: 80
Descrição: A sociedade annobonesa, por sua
peculiar formação e secular isolamento, possui alguns costumes sensivelmente diferentes aos dos outros grupos guineanos, como
por exemplo, se organizar por grupos de idade. São estes grupos que organizam um dos
bailes mais divertidos da tradição guineana,
el daj.
Os Annobones formam uma comunidade pequena, em que todos os membros se conhecem pelos sobrenomes de origem espanhola,
e conservam elementos culturais próprios de
grande valor ilustrado nos cultos ancestrais,
como também em sua variante do catolicismo.
38
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Etnia Fang
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Osvaldo Luiz
Componentes: 80
Descrição: Os Fang constituem um dos povos mais numerosos da África Central, e é a
população majoritária da Guiné Equatorial,
procedente do interior da região continental.
No século XIX, tinham merecida reputação
de grandes guerreiros. Usavam numerosos
colares, braceletes e tornozeleiras, e ainda
se adornavam com um cordel que unia os
lóbulos de suas orelhas através do septo nasal. Os Fang possuem rica tradição literária,
e conservam numerosas crenças tradicionais
relacionadas à magia.
Cultura Kombe
Ala: Damas
Francinete Souza, Shirleise Colins, Elizabeth Barcelos e Ricardo Carvalho
Componentes: 80
Descrição: Originários da região costeira situada ao norte de todo território, os Kombe formam mais um grupo de raiz Ndowé.
Até hoje conservam suas vilas tradicionais, e
fazem das danças típicas, elementos para a
iniciação infantil e a preservação da ancestralidade.
O Clã Bisio
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Cosme Araújo
Componentes: 80
Descrição: Os Bisio falam a língua kwasio, e
sua dança mais típica, mais característica, é
a nzanga, que se pode bailar nas celebrações
familiares. Muitos clãs Bisio estão emparentados com clãs Fang e Ndowé, e encontram-se situados nos bairros de Lea e Bomudi de
Bata.
Filhos da Guiné
Ala: Destaques Chão
Presidente: Cássio Dias & Jaqueline Faria
Componentes: 2
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Alegoria 05
É impossível falar de África e não mencionar
o tráfico negreiro. Milhões de escravos, de
todas as idades, foram embarcados na costa africana com destino ao Novo Mundo. Da
África, com os olhos marejados, vieram quase
metade de nossos antepassados. Misturados,
reis e rainhas, súditos e nobreza fizeram a
travessia do então chamado Mar Tenebroso.
Na sinfonia das marés, as condições mais
adversas e todo o tipo de maldade: amargurados, frustrados, humilhados, desacreditados e clamando por liberdade, os negros
viviam sem esperança por dias melhores, e
acorrentados à grilhões e às saudosas lembranças da terra natal.
Em meio à barris, bebidas, sacos de mantimento, cordas, caçambas e diversos materiais, e tratados igualmente como mercadorias, os escravos terminaram por se dispersar
do convés do navio para o mundo, e assim, a
escravidão ergueu nações.
Os braços fortes e as mãos escravas dessa
gente de pele enegrecida, foram a mão-de-obra essencial para a construção de grandes obras e importantes civilizações. Mas
povo africano não perdeu a fé: os corpos dos
negros foram escravizados, mas suas mentes e seus espíritos se mantiveram livres, da
mesma forma que seus preceitos religiosos
foram resguardados na sua mais pura essência.
Devotos das denominadas religiões tradicionais e dos ritos de magia, preservaram suas
crenças, seus cultos e seus rituais, mantendo
vivo o respeito aos ancestrais e a força da fé
que alimenta a alma africana.
Chefe de Alegoria: Túlio
Compositores: Pelé, Alencar, Carlinho Mala
& Jorginho Moreira
Fevereiro 2015
39
“Guiné Equatorial
– A Ascensão de
uma Nação”
SETOR 06
Solo Fértil
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Rosimary Maia & Cláudia Lúcia
Componentes: 80
Descrição: Na iminência de completar meio
século, a Guiné Equatorial é uma região de
solo fértil. A terra, generosa, produz gêneros agrícolas diversos: cana-de-açúcar, café,
cacau, banana, abacaxi, abóbora, milho,
mandioca e algodão, são apenas alguns dos
produtos que engrandecem a agricultura e
brotam desse chão.
Cacau - O Alimento dos
Deuses
Ala: Signus
Presidente: Débora Rosa
Componentes: 40
Ala: Jovem Flu
Presidente: Sérgio Aiub
Componentes: 40
Descrição: O cacau, principal matéria-prima
do chocolate, é uma amêndoa do fruto do
cacaueiro. A palavra deriva do termo Kakaw,
e significa “o alimento dos deuses”. Os primeiros dados sobre as plantações de cacau
na Guiné Equatorial datam de 1850, quando
foram introduzidas sementes na Ilha de São
Tomé, e posteriormente o cultivo se estendeu
também à zona continental do país, fazendo
com que a Guiné Equatorial seja, atualmente,
uma grande produtora do apreciado fruto.
Um Mar de Fartura
Ala: Jovens
Diretor de Desfile: Patrícia Lima & Patrícia Bento
Componentes: 80
Descrição: A pesca é a extração de organismos aquáticos, praticada com diferentes finalidades, dentre elas a alimentação, recreação e ornamentação. Faz parte das culturas
40
Revista Beija-Flor de Nilópolis
humanas, não só como fonte de alimento de
extraordinário valor nutritivo, mas também
como modo de vida, fornecendo identidade
a inúmeras comunidades. Na Guiné Equatorial, a pesca ou extração de peixes e frutos
do mar contribui de sobremaneira para a
agricultura e economia do país.
O Prisma dos Diamantes
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Carlos Dantas & Norma Pereira
Componentes: 80
Descrição: Abundantes no solo fértil da
Guiné Equatorial, os diamantes são pedras
preciosas formadas de carbono puro, cujo o
brilho é derivado de seu elevadíssimo índice
de refracção; sendo que a incidência de raios
ultravioletas produz luminescência com cores variadas, originando nuances nas colorações azul, rosa, amarela e/ou verde. Cristal
comercializado como gema preciosa, possui
alto valor agregado, sendo os diamentes coloridos naturalmente os mais raros.
Petróleo - A Riqueza que do
Mar Aflora
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Jorge André
Componentes: 80
Descrição: O petróleo, chamado “ouro negro”, que movimenta a economia mundial,
traz à Guiné Equatorial a riqueza necessária
para se erguer enquanto potência do continente africano. O mar que trouxe a dor riqueza aflora, e cabe ressaltar que nesse país,
a exploração do petróleo ocorre de modo a
respeitar o meio ambiente.
Herança Cultural
Ala: Amigos do Rei
Presidente: Presidência
Componentes: 100
Descrição: Quem conhece sua gente e sua
história, começa a perceber como é rica a cultura de seu povo. “Levanta a cabeça e vai embora”, e que com este ensinamento, homens e
mulheres sintam-se orgulhosos do legado, do
brilho, dos traços e das cores da África.
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Riqueza Natural
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Léo Mídia
Componentes: 80
Descrição: A beleza natural e cheia de encantos da Guiné Equatorial é um verdadeiro
caso à parte: há, nos diversos tons de verde
da floresta, matizes de beleza sem fim, onde
a harmonia entre o brilho e as cores da natureza, fazem do local um paraíso abençoado, em total sintonia com o despertar desta
jovem nação.
Alegoria 06
A República da Guiné Equatorial é um pequeno país em extensão, situado na África
Central, compreendendo uma região insular
(Malabo) e uma região continental (Bata), as
quais encontram-se divididas em sete províncias (Annobón, Bioko Norte, Bioko Sur,
Centro Sur, Kié-Ntem, Litoral e Welw-Nzas).
Como informações básicas a respeito da Guiné
Equatorial, é pertinente mencionar que sua capital é Malabo, o regime político é uma república presidencialista, a moeda oficial é o Franco
Cfa., e o espanhol, o francês e o português são
os idiomas oficias do país, que conquistou sua
independência no dia 12 de outubro de 1968.
Na iminência de completar meio século, a
Guiné Equatorial é uma região de solo fértil. A
terra, generosa, produz gêneros agrícolas diversos: cana-de-açúcar, café, cacau, banana,
abacaxi, abóbora, milho, mandioca e algodão,
são apenas alguns dos produtos que engrandecem a agricultura e brotam desse chão!
Artesanatos e esculturas feitas em madeira de ébano são deveras características do
local, e atividades como a pesca, a extração de madeira e de minérios abundantes
– como pedras preciosas e diamantes, além
da riqueza que aflora com a imprescindível
descoberta do petróleo, e o conseguinte fomento do chamado “ouro negro”, mudaram
o curso do país, salientando que toda a extração ocorre sempre com demonstrações de
zelo e respeito ao meio ambiente.
Chefe de Alegoria: Márcia
Compositores: Picolé, Walney Rocha, Wanderley Novidade & Ramires
Fevereiro 2015
41
“O Enlace
Cultural Entre o
Brasil e a Guiné
Equatorial”
SETOR 07
Unidade
Ala: Cabulosos
Presidente: Luizinho Cabuloso
Componentes: 40
Ala: É Nessa Que Eu Vou
Presidente: Hélio Malveira
Componentes: 40
Descrição: Unidade é uniformidade, conformidade, identidade, concórdia de vontades,
união. O desejo de construir uma nação, promovendo a unidade nacional e agrupando a
população numa mesma diretriz, é um dos
lemas da Guiné Equatorial, considerado tão
relevante, está explícito na bandeira do país.
Língua Portuguesa - Um Elo
com o Brasil
Ala: Tom & Jerry
Presidente: Rogério Coutinho
Componentes: 40
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Marcos Ferreira e Iara Mariano
Componentes: 80
Descrição: A paz, mundialmente representada
pelo pombo e pela cor branca, é um estado de
calma ou tranquilidade; é a ausência de perturbação, de agitação; a quietação dos ânimos,
onde prevalece a paciência, a boa harmonia, o
sossego e a tranquilidade. Também significa a
ausência de violência, guerras e dissensões e,
nesse sentdido, a paz dentro da Guiné Equatorial e entre nações fraternas é um objetivo
de vida, um lema assumido majoritariamente
por sua gente pacífica e amiga, e igualmente
estampado na bandeira nacional.
Ala: Tudo Por Amor
Presidente: Élcio Chaves
Componentes: 40
Descrição: A Língua Portuguesa, também
chamada de “língua de Camões”, é uma das
línguas oficiais de diversas organizações, inclusive da União Africana. Com aproximadamente 280 milhões de falantes, o português
é a 5ª língua mais falada no mundo, a 3ª
mais falada no hemisfério ocidental e a mais
falada no hemisfério sul da Terra.
Durante a Era dos Descobrimentos, marinheiros portugueses levaram o seu idioma
para lugares distantes. A exploração foi seguida por tentativas de colonizar novas terras para o Império Português e, como resultado, o português dispersou-se pelo mundo.
Brasil e Portugal são os dois únicos países
cuja língua primária é o português. Entretanto, o idioma é também largamente utilizado
como língua franca nas antigas colônias portuguesas de vários países, sendo reconhecida
hoje como uma das línguas oficiais da Guiné
Equatorial, elemento que nos aproxima ainda
mais do país e de nossos irmãos nascidos lá.
Justiça
Na Batida do Tambor
Paz
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Carlos Rodrigues & Diego
Pereira
Componentes: 80
Descrição: A justiça é uma das quatro virtudes
cardinais (junto com a prudência, a fortaleza e
42
a temperança) e, segundo a doutrina da Igreja
Católica, consiste “na constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido”. Conceito abstrato, se refere a um estado ideal de
interação social, onde há um equilíbrio razoável e imparcial entre os interesses, riquezas e
oportunidades entre as partes envolvidas. Essa
busca pela igualdade entre os cidadãos e pelo
respeito aos direitos de terceiros é latente na
Guiné Equatorial, e este lema nacional mostra-se registrado na bandeira do país.
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Ala: Comunidade
Diretor de Desfile: Mariza dos Santos
Componentes: 80
Descrição: África berço dos ritmos que fazem
o mundo se mexer e balançar. Guiné Equatorial, lar e morada de tantas tribos, senhora
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da ginga e da malemolência, empresta o som
dos seus tambores e a magia de seu povo aos
guerreiros Beija-Flor, num voo que convida a
morena a entrar na roda e vir sambar.
Senhora Sabedoria
Ala: Velha Guarda
Diretor de Desfile: Débora Rosa
Componentes: 72
Descrição: A Velha-Guarda é o grupo dos
componentes mais antigos de uma Escola
de Samba, conhecido por cantar e dançar
o samba, demonstrando seu amor, respeito
e devoção ao pavilhão da Agremiação e ao
carnaval. Memória viva do maior espetáculo
à céu aberto da Terra, a Velha Guarda é a
guardiã da história, do saber, da tradição, do
gingado e da musicalidade de diversos carnavais, encerrando o desfile com chave de
ouro na festa do povo e para o povo.
Alegoria 07
Sem a África, o Brasil não existiria. E quanto não existe de herança africana no Brasil?
Quantos antepassados, nossos irmãos, filhos
da região que hoje é o território Guiné Equatorial, não desembarcaram por aqui?
De braços dados, lado a lado, a união de duas
nações fraternas, e a promoção do encontro
de suas bandeiras num majestoso festejo popular: o verde, amarelo, azul e branco, cores
do Brasil, e o verde, branco, vermelho e azul,
vibrantes na bandeira da Guiné Equatorial.
Em comum, a força e a garra da raça negra,
a musicalidade, o ritmo, o colorido e o gosto
por celebrações, além da própria língua portuguesa, que hoje é, reconhecidamente, mais
um elemento de afinidade, entre tantos outros,
que aproximam ainda mais os dois países.
Duas réplicas consideradas essenciais nesse
contexto mostram-se devidamente retratadas:
um importante monumento erguido na Praça
da Independência, em Malabo, capital do país,
em homenagem à Ceiba, maior símbolo da
Guiné Equatorial; e uma escultura feita por um
artista local, chamado Leandro Mbonio Nsué,
uma obra em Fang, “Elat-meyong”, que significa “união de tribos”, dada pelo Presidente da
República Teodoro Obiang Nguema Mbasogo,
à Luiz Inácio Lula da Silva, então Presidente do
Brasil, como demonstração da relação de admiração, afeto e cordialidade estabelecida entre ambas as nações.
Clamando por liberdade, e tendo como inspiração os ideais de fraternidade, unidade, paz
e justiça, lemas da Guiné Equatorial, vamos
caminhar sobre a trilha de nossa felicidade,
conforme está escrito no hino do país fraterno, e resgatar a nossa alma africana, ao cantar, na Marquês de Sapucaí, o despontar da
Guiné Equatorial, consagrando o enlace cultural com o Brasil e fazendo, dessa mistura,
um grande carnaval! Canta Guiné Equatorial!
Chefe de Alegoria: Dionísio
Compositores: Sidney de Pilares, Carlinho
Amanhã & Pereirão
Fevereiro 2015
43
MADALENA SILVA REIS
O tempo não se move à compaixão. Chegar
à terceira idade, fazendo o que se sabe, quer
e pode, é ‘dar uma banana’ para a implacabilidade do tempo. E chegar à Velha Guarda da Beija-Flor foi para dona Madalena
a consagração de uma existência de lutas
e incertezas. Certeza ela tinha apenas uma
desde a juventude: a realização do “desejo
de desfilar nessa linda escola”. Era a BeijaFlor, claro! Antes, fez estágio em outras escolas até que um Beija-Flor lhe ensinou o
caminho da quadra de Nilópolis. É recebida
por Laila e Márcio – Gente finíssima! – nas
alas da comunidade. Dona Madalena sempre
cumprindo o ritual: frequência nos ensaios e
samba no pé e no gogó.
Há dois anos, dona Madalena ingressou na
Galeria Velha Guarda. Agora está ótimo, festeja. Até chegar aí, Madalena Silva Reis teve
que sair da terra natal, Miracema, no noroeste do estado, vir para o Rio e aqui começar
uma vida nova aos 20 anos. Enquanto trabalhava, estudava Enfermagem, profissão que
exerceu na Cruz Vermelha, no Hospital do
Fundão e da Aeronáutica. Era vida árdua. E
a jovem Madalena tinha suas atenções concentradas na profissão, depois no marido,
Melésio José dos Reis, e logo,
no filho, Almir.
Etapa vencida,
mas as preocupações sempre
estarão presentes na existência
de quem tem família. Depois das
dificuldades e do
trabalho sempre
vem a pausa, o lazer e a aposentadoria. Agora esta ótimo! É hora de curtir
o Cordão da Bola
Preta e as obrigações
como componente
da Galeria da Velha
Guarda da Beija-Flor
de Nilópolis.
44
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
Fevereiro
2015
Março 2014
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GUINÉ EQUATORIAL
texto produzido pela Embaixada da Guiné Equatorial no brasil
A República da Guiné Equatorial está localizada no Golfo da Guiné e está organizado em
duas divisões regionais: Região Continental e na Região Insular.
A Região Continental delimitada a norte pelos Camarões, a leste e sul pelo Gabão e a oeste
pelo Golfo da Guiné. Também pertencem a esta área Corisco Island. A capital continental é a
cidade de Bata. A Região Insular inclui a ilha de Bioko, onde a capital da ilha e capital oficial
do país é Malabo.
A ILHA BIOKO
Conhecida como a “formosa” Bioco, esta ilha
acolhe em suas terras à cadeia vulcânica que
nasce no Monte Camerúm e chega até Annobon. Seu solo é escarpado e cheio de caldeiras, lagos e vulcões inativos. A vegetação
do território é tão extensa que chega até a
beira do mar, constituindo um dos mais formosos lugares do Golfo de Guiné.
O visitante encontrará maravilhosas praias
de areia branca a seis quilômetros da cidade
de Malabo. É possível, também, realizar excursões desde a costa à selva interior, acampar em locais apropriados com prévio registro junto à polícia. A segunda cidade na ilha
de Luba, à uma hora de Malabo, indo de táxi,
não conta com especiais atrativos, mas tem
alguns desertos singulares e praias virgens
nos arredores. Uma vista impressionante se
observa desde o Moca.
africano de imitação neo gótica na Praça da
Independência, o Centro Cultural Hispânico
Guineano, onde se realizam as principais atividades artísticas do país, o Centro Cultural
Francês que também é uma casa dedicada
a atividades culturais. Na periferia da cidade é que se desenvolve a vida noturna com
inúmeros bares abertos, clubes noturnos e,
durante o dia, mercados multicoloridos. A
peculiaridade de ter de um lado (norte) o
oceano e do outro (sul) as montanhas chama
a atenção pela beleza natural.
MALABO
Uma cidade pequena, com clara influência
europeia, especialmente hispânica, é a cidade mais visitada e sedutora para o turista.
Está lotada
de formosos edifícios
coloniais da
época
inglesa, quando se chamava Port
Clarence e
dos tempos
de domínio
espanhol,
quando era
Santa Isabel. Possui a
única igreja de todo o
continente
AS SELVAS DA REGIÃO OCIDENTAL
Rio Muni é a região continental de Guiné
Equatorial que se estende até as fronteiras
com Camarões e Gabão. É uma terra de belíssimas praias e selvas exuberantes. No interior encontra-se uma das zonas florestais
mais inexploradas do continente africano, de
vital importância para a investigação zoológica e botânica.
ILHAS ELOBEY
As duas ilhas, Grande e Chico Elobey, são
destinos encantadores. A grande Elobey possui alguns moradores muito acolhedores. Já
Chico Elobey é deserta e mantém as ruínas
da antiga capital que são interessantíssimas
de se ver.
BATA
É uma cidade cheia de charme e movimento,
com feiras, mercados e diversos bares, restaurantes e hotéis. Junto à Praça do Relógio,
no centro da cidade, o mercado central se
estende até o bairro de Comandachina, um
dos mais concorridos da cidade. O principal
interesse são praias próximas, consideradas
as mais bonitas do mundo. É uma costa que
oferece grandes extensões de praia virgem
adornadas de belos palmeirais. Desde Bata
pode-se realizar excursões à selva.
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O PARQUE NATURAL
DE MONTE ALEN
Situado na parte norte
da cadeia montanhosa
de Niefang. O conjunto
da paisagem está conformado por uma série
de serras que se elevam
até as rochas cristalinas
ao leste da bacia do Rio
Uolo. Nessa zona encontram-se grandes concentrações de flora e fauna
selvagem. Um formoso
espetáculo natural.
A ZONA DOS MONTES
MITRA
É um área limitada pelo Rio
Cogue e o Rio Mitong. Em
seus arredores pode-se observar os montes de Atom,
Mabumu-Won, Mintong,
Mitong, Mitono, Mitra e
Mianye. Dentro da zona
existem ainda grandes concentrações de fauna e está
comprovada a existência do gorila da costa e
o chimpanzé, assim como, diversas espécies de
primatas, mamíferos, aves e répteis.
A ZONA DO RIO NTEM
Esta região inclui o estuário do Rio Ntem (o
campo) e seu leito, desde a desembocadura
no mar pelo oeste, até a confluência como
o Rio Mbuva pelo leste. As zonas de mangues e pastos costeiros são ricas em fauna
marinha, selva e pântanos. Aqui quase não
existem assentamentos humanos.
NSOC-AURENAM
É a parte oriental do sistema central que
nasce em Gabão. Ali se elevam os pontos
mais altos dos montes Nsoc, Serra Mbula,
monte Yagam e monte Nsama, que rodeiam
a população de Nsoc. Sua grande riqueza
biológica representa um grande potencial
científico. O maciço florestal de Nsoc joga
importante papel no controle dos afluentes
dos rios e é um regulador do clima da região.
COMO CHEGAR
A Guiné Equatorial possui três grandes aeroportos: um na ilha de Bioko (Malabo) e dois
no continente (Bata e Mongomeyen). Seis
empresas aéreas operam nacional e internacionalmente, e em conexão direta com diversos aeroportos internacionais, o turista tem
diversas opções de vôo para o país.
ONDE FICAR
Sofitel Malabo Sipopo Le Golf
Sofitel Malabo President Palace
Hotel Hilton Bisila
Hotel Mango Suites
Hotel Mongomo
Hotel Ibis Malabo
Hotel Ibis Bata
Hotel Bahia
Fevereiro 2015
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JOSÉ MARIA BEIJA-FLOR
Por conta da pouca atenção das Instituições - e Na obra são reproduzidos sambas da agremiade muita gente boa - com documentos e gra- ção nilopolitana compostos por ícones da escovações históricas, um importante acervo rela- la, como Osório Lima, Cabana, Wilson Bombeiro
cionado ao mundo do samba vem se perdendo e Walter de Oliveira. São alguns sambas exalgradualmente. Sou jornalista e sambista e faço tação, outros sambas enredos, e todos com as
essa afirmação porque é a realidade que vejo nos letras impressas na contra-capa.
encontros que participo do mundo do samba, do O mais interessante é que o LP que encontrei em
qual faço parte. Essa falta de atenção, aliada à La Paz é a versão internacional do mesmo LP lannecessidade de resgatarmos, preservarmos e di- çado aqui no Brasil, apenas com a diferença que
vulgarmos o samba e a sua história é que me o internacional teve um acabamento melhor, em
incentivou à dedicar parte do meu tempo indo formato de álbum. Explico porque: Quando a Beiem busca de relíquias do samba e do carnaval. ja-Flor ganhou repercussão internacional, a direÉ atrás desses verdadeiros tesouros que eu sigo. toria da escola decidiu que deveria ser produzido
Recentemente, estive em La Paz, Bolívia, e durante uma garimpada por
discos e documentos raros, me deparei com um vinil histórico cujo título é “História do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor”. O LP
(Long Play) foi lançado pela extinta
gravadora Chantecler em junho de
1976, três meses depois de a agremiação de Nilópolis ganhar seu primeiro Carnaval concorrendo no que
hoje é chamado de Grupo Especial.
Esse disco é de suma importância
para a história do samba e do Carnaval e, mais ainda, para a Beija-Flor de Nilópolis pois ele é mais
um pedaço de um grande mosaiRegistro da viagem que fiz à La Paz, onde adquiri essa obra de raro
co que compõe o nosso samba e o
valor para todos nós, amantes do samba e do carnaval.
nosso Carnaval.
48
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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um LP bilingue, para atender futuras demandas
internacionais da escola. Foi isso que Anizio
me disse, quando o encontrei e comentei que
tinha adquirido esse LP em uma de minhas
viagens. Anizio acrescentou, ainda, que ele e
Nelsinho, seu irmão, decidiram pelo formato em álbum porque queriam que na parte
interna do álbum fossem colocadas informações que o ouvinte estrangeiro provavelmente não conhecia, como a história resumida
da escola (escrita pelo pesquisador de samba
Sérgio Cabral) e outras informações relacionadas à Beija-Flor de Nilópolis, como a relação
de Alas que mais se destacaram, a relação dos
presidentes, dos títulos conquistados, as colocações nos desfiles de 1954 até 1976 (com os
respectivos enredos e seus autores) e a relação
da diretoria campeã em 1976.
Não tenho dúvida nenhuma de que essas informações são valiosíssimas, porque são um registro oficial dos fatos da época.
Termino essa conversa extraindo parte do texto
do pesquisador Sérgio Cabral que consta no LP
e que diz assim: “A soma do talento dos sambistas de Nilópolis com a criatividade de Joãozinho
Trinta e a disposição dos irmãos Nelson e Aniz
Abrão David deu em mais uma grande escola de
samba para o nosso carnaval.”
Alguém tem dúvida disso?
aNÚNCIO PIRAQUÊ
Fevereiro 2015
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MIRO LOPES
O conceito de todos participarem da criação e
produção de um trabalho, mantendo-se no anonimato, cada vez mais longe do seu “um quarto
de hora de celebridade”, como queria Lima Barreto para sua vocação de pássaro cantor, e um
só receber loas e assinar a autoria do farto material produzido em alegorias, fantasias, enfim
em tudo que uma escola apresenta como visual
no desfile, foi por terra, mar e ar quando Luís
Fernando ‘Laíla’ Ribeiro do Carmo, diretor de
Carnaval, criou uma comissão de carnavalescos
- atualmente formada por Fran Sérgio, Ubiratan
(Bira), Victor, André, Bianca e Cláudio Russo –
para produzir o que a escola, daquela data em
diante, apresentaria na Passarela do Samba Professor Darcy Ribeiro.
Isso foi em 1998. Somaram-se campeonatos. A
regra é não mexer em time que está ganhando.
Entretanto, pode-se mexer na forma desse time
voltar à cena. Principalmente para manter o pique. Uma novidade acontece este ano. Laíla resolveu agregar valor ao talento anônimo dos artistas plásticos, artesãos, figurinistas, aderecistas,
cenógrafos e iluminadores, que têm mais do que
a competência de executar um projeto de cria50
Revista Beija-Flor de Nilópolis
ção idealizado pela comissão. Profissionais que,
além de executar ideias, podem acrescentar algo
de novo a elas, sem demérito do autor. Eles fazem
a diferença na reprodução dos protótipos e na
finalização das alegorias e dos figurinos. E esse
potencial, Laíla coloca na construção do Carnaval
2015. Consiste especificamente na efetiva participação desses artífices dos detalhes também na
criação das alegorias e fantasias.
Parece que Laíla atirou a flecha da paixão pela
arte e pelo Carnaval no coração de cada um: Cristiano Bara, Thiago Medeiros, Rodrigo Pacheco,
Roger Madruga, Túlio Pontes, Márcia Medeiros
e Dionísio Mora. Motivados pela oportunidade
que lhes aguçou a criatividade e, inspirados pelo
enredo, elaborado pela Comissão de Carnaval,
eles foram à luta. A cada um desses construtores coube a criação e produção dos adereços, a
decoração e a finalização dos carros. Mais ainda,
cada um deles criou fantasias para várias alas e
foi responsável pela confecção delas. Os protótipos, devidamente supervisionados e aprovados
pela comissão de Carnaval, foram o sinal aberto
essa nova fase: todos por todos.
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Ateliê de alegorias e fantasias
Os barracões instalados na Cidade do Samba
foram denominados Fábricas da Carnaval. Abrigam todo o complexo que uma fábrica exige: da
administração às seções de produção. No quarto
andar do barracão da Beija-Flor funcionam as
seções de escultura, espuma, empastelamento,
isopor, costura e, ocupando metade da área, o
ateliê, subdividido em sete, cada um correspondendo um a carro que contará a história de “Um
Griô Conta a História: Um Olhar Sobre a África e
o Despontar da Guiné Equatorial”.
controle da feitura
das fantasias das alas
para as quais cada
chefe de seção criou
o figurino.
Na distribuição de
trabalho, Bara ficou
com a incumbência de
preparar o carro Abre
-Alas e reproduzir às
fantasias dos componentes desse primeiro
carro, das alas Crianças, Agricultura (setor
1), Guerreiros Africanos , Ritos, Damas e
Ancestrais (setor 2),
além dos figurinos
que levam sua ‘grife’:
Baianas (setor 2), Damas, as dos três casais
de mestre-sala, porta
-bandeira e de alguns destaques. Para elaboração das fantasias, além da pesquisa in loco, Bara
recorreu aos livros, mais especificamente sobre
pinturas (rosto e corpo) e máscaras africanas.
“Para criar e fazer adereços e fantasias é exigido
do artesão muita habilidade, inspiração e paixão
pelo Carnaval. São centenas de peças cheias de
minúcias e detalhes significativos. A fantasia das
baianas tem 180.000 triângulos pequeníssimos
para serem aplicados, um a um, num tecido “adesivado”, com padrões coloridos “bem no estilo do
que vi o povo guineense usar”, informa
Bara.
CRISTIANO BARA
Primeira alegoria
Abre-alas
A Árvore da Vida e a Floresta
Equatorial Africana
Cristiano Claúdio Gonçalves, artisticamente Cristiano Bara, é assistente do
carnavalesco Fran Sérgio
e responsável pelo ateliê e
suas seções (cada uma correspondente a um setor do
enredo) e, consequentemente, supervisor da decoração
e acabamento das alegorias
confiadas a cada uma delas.
E dentro do novo conceito,
Bara também responde pelo
Fevereiro 2015
51
Há quatro anos na Beija-Flor, Bara trabalha no
ramo há mais de 20. Na
União da Ilha foi assistente do carnavalesco Milton
Cunha, e titular do cargo
na Inocentes de Belford
Roxo. Paralelamente manteve um ateliê de fantasias
para o Carnaval em Zurique/Suíça. “Fiquei dez anos
produzindo guarda-roupa
para espetáculos de samba. Eu ficava indo e voltando; dois, três meses lá
e cá. O maior período que
fiquei morando lá foi um
ano”, conta. Seu ateliê no
Rio, fora do período atende a demanda de eventos,
especialmente shows e teatro.
São áreas que ensejam a criatividade e consequentemente o
bom-gosto. “Fazer coisas bonitas transforma as pessoas e as
tornam melhores. Eu gosto de
fazer isso. Essa é na essência o
meu trabalho”, conclui.
Equipe: Carlos Alberto Duarte, Antônio
Silva, Cleiton Melo, Wesley Rosa, Douglas da Silva, Patrick Gomes, Lucas Neves,
Pablo Diego dos Santos, Wesley de Oliveira, Guilherme Ferreira, Daniel Monteiro,
Ângelo Ferreira, Leandro Ferreira, Danilo
Matos, Marlon Souza, Carlos Alberto Cordeiro, Victor Martins, Diego Leite, Leonardo
de Oliveira, Marcos Vinicius Açucena, Dirnei Goia, Jefferson Santana, Cleyton Fraga, Daian Almeida e Melissa
Guedes.
THIAGO MEDEIROS
Segunda alegoria
África - o berço negro do mundo - tradições e realeza, a cultura de um povo
Thiago Vinicius de Medeiros é o chefe do setor
2, a quem cabe a responsabilidade pela criação
dos detalhes especiais que darão ao seu carro
aquele algo mais em beleza, através da centenas
de enfeites, e em acabamento com a decoração
da alegoria. E, ainda, como os seus outros colegas artesãos, Thiago subscreve a concepção das
fantasias do seu setor que vestem as alas Tribos,
Feiticeiros, Ritos, Ancestrais, Máscara e Marfins,
52
Revista Beija-Flor de Nilópolis
que nos reportam à ancestralidade
africana, tão pujante e ainda remanescente em
alguns países, e muito especialmente na Guiné
Equatorial. Somente os figurinos de Marfins estão sendo reproduzidos pela equipe de Thiago.
A familiaridade de Thiago com a arte carnavalesca é materna: aderecista da São Clemente,
sua mãe, Márcia, o levou para conhecer o ofício,
durante as férias escolares; nas férias seguintes,
então na Vila Isabel, cada vez mais deslumbrado
por esse mundo encantado, Thiago aproveitou
a oportunidade para se tornar prático do ofício,
que desempenha, hoje, com a competência de
um profissional. Credita essa aptidão ao encontro da prática com uma vocação então adormecida.
Em 2008, Rodrigo Pacheco o trouxe para a Beija-Flor. Estreando em função que lhe permite
mostrar o que prática e vocação podem produwww.beija-flor.com.br
zir, Thiago se diz gratificado pelo diretor Laíla ter ROGER MADRUGA
aberto uma porta por onde a criatividade de to- Quarta alegoria
dos possa fluir e ser apreciada”.
As Investidas Europeias em Terras da Guiné
Equipe: Allan Pytter, Eduardo (Tereza), Marcos Paulo, Ra- No mundo do samba só o conhecem como Roger;
fael e Gabriel Carlos
na pia batismal, ele se chama Rogério Madruga
Mangueira, a quem coube tratar dos bons feitos,
em adornos e fantasias, do quarto carro. Reprodução de peças e decoração da alegoria e criaRODRIGO PACHECO
ção das fantasias para as alas França, C Espanha,
Terceira alegoria
Bateria , Passistas e Abertura mais fantasias dos
Rota para as Índias - O Caminho das Especiarias e A
componentes da abertura do carro abre-alas, dos
Descoberta de um Novo Território
Rodrigo Pacheco é responsável pelo terceiro car- quais sua equipe composta por vinte artesãos só
ro. Os adereços de decoração e as fantasias dos não irá confeccionar as fantasias de, Portugal,
componentes do carro e das alas Cia. das Índias, Holanda, Inglaterra entregue aos responsáveis
Cravo da Índia, Páprica e Índia (ala formada por pelas alas por quem elas serão representadas.
belas mulheres à frente do Abre-Alas) foram “África é um tema que passou na avenida ‘n’
concebidas por ele. Deu autenticidade às peças vezes. Sendo que cada vez que a Beija-Flor faz
através de uma diligente pesquisa e um traba- um tema afro, ela coloca a alma dela dentro do
desfile. E Você tenta sempre buscar o lado de
lho feito com esmero por sua equipe.
Rodrigo é marinheiro de longas viagens pelo uma África que ainda não se tenha mostrado.
mundo do Carnaval, no qual ingressou aos 17 Desta fez vamos mostrar uma África ‘pra cima’,
anos. Aficionado pelos desfiles, Rodrigo ima- que está se renovando. Vi um país que está resginava seus próprios enredos e como eles de- surgindo em cores, em sorrisos, depois de um
veriam ser exibidos ao público. Um deles foi o longo tempo de guerra civil; isto está trazendo
passaporte para disputar vaga numa escola de para o desfile como uma renovação. A fé que o
samba real. Expôs suas ideias para o carnava- povo guinéo-equatoriano está tendo no futuro”
lesco Alexandre Louzada, que aprovou sua cria- explica Roger.
tividade e convidou para trabalhar com ele. Lar- “Este ano, o diretor de Carnaval nos propôs criar
gou o emprego no Hospital da UFRJ (Fundão) e fantasias sem figurinos. Então nós criamos albuscou aperfeiçoar-se na arte da decoração de guma coisa que nos remetesse ao continente
carros, criação e reprodução de enfeites e fanta- africano. Eu caminhei pelo lado do primitivismo;
sias, em sua passagem por outras agremiações. fui em busca do mais puro que eu conseguia
Veio para a Beija-Flor, atendendo a convocação imaginar de África”, destade Louzada para preparar o desfile de “Áfricas, ca Roger.
do berço real à corte brasiliana”, bicampeão em 2007. “Um
Carnaval inesquecível pra
mim. Foi marcante porque
minha estreia foi coroada
com a vitória da escola. Foi
duplamente emocionante”
festeja Rodrigo. E repete:
“a Beija-Flor é a mais estruturada e mais organizada de
todas as escolas”.
Equipe: Suzana Cristina, Caique
Flausino, Felipe, Jhonatenan Gabriel,
Maicon Santos e Simone Costa.
Fevereiro 2015
53
Rádio Técnico e Radiologia.
“Gosto muito da área da saúde e também porque é bom
ter um diploma”, afirma.
Equipe: Evelin, Vitor Henrique,
Erick David, Giovane Vilanova, Lucas Souza, Thayná Neves, Vinicius
Ribeiro.
MÁRCIA DE MEDEIROS
Equipe: Vennicius Sllovick, Zezé Albuk, Doria Marcia,
Thaiana Silva, Rafael Ribeiro, Julianiy Rodrigues, Luisa
Helena, Diego Josivaldo, Carolina Carol, Jorge Jr., Gilcimar
DT, Pablo PB, Michele Azevedo, Aldvia Adiola, Alex Nega,
Claudia Binha, Léo Midia, Rodrigo Azevedo, Cida Baiana e
Mário Brachnonis.
TÚLIO PONTES
Quinta alegoria
A Escravidão ergueu Nações
Na equipe de Túlio Neves Pontes sete artesãos
se revezam nas tarefas de produzir os adereços
– para decorar o carro Navio Negreiro – e os enfeites que irão dar às fantasias o garbo que os
figurinos que uma escola soberana pede.
Túlio trabalha com o carnavalesco Fran Sérgio
há sete anos fazendo fantasias para componentes de carros. Oficialmente veio para o barracão
em 2011, quando “fui premiado com o cargo de
coordenador de carro”, regojiza-se.
Pontes ressalta a gratidão que tem pela escola
“que me acolheu de braços abertos”. Especialmente este ano, também agradece a oportunidade que Laíla “nos deu de expor nosso lado
artístico, apresentando nossas ideias. As coisas
estão sendo diferentes. É um novo desafio. A
Beija-Flor é uma escola grandiosa e, cada ano,
os desafios aumentam mais e mais. Isso é muito
legal.”
Túlio é o autor das fantasias de Anabones zebrada, Benga, Fang, Bubi, Raça Negra e Exportação de escravo.
Professor do ensino básico, profissão que exerceu por pouco tempo, atualmente, Túlio cursa
54
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Sexta alegoria
Guiné Equatorial - A Ascensão
de uma Nação
Márcia Regina de Medeiros, carinhosamente tratada
como “Mãe” pela equipe, é a
encarregada da decoração do
sexto carro e das fantasias
dos seus componentes e as da Ala Diamantes.
Marcia também fez os protótipos da ala Riquezas naturais, Pesca, Petróleo e Amigos do Rei.
Márcia vai dar o toque final à alegoria, com pequenas peças, feitas com esmero e perfeição,
para ornamentar o carro. Condição nada exagerada para quem “gosta de luxo” e trabalhou
como designer de joias. E tem Joãozinho Trinta
como seu inspirador.
Este ano, juntou a oportunidade de criar adereços e figurinos com o prazer de fazer o que ela
mais gosta. Uma novidade para Marcia é trabalhar num carro que têm uma predominância
rústicas, mas em Carnaval, “tudo acaba evoluindo para uma coisa mais luxuosa” afirma. Outro
desafio para Márcia é que antes os aderecista
tinham que seguir o traço da alegoria e fantasias segundo desenho da comissão. Este ano,
cada carro e fantasias seguirão o feitio sugerido
(e aprovado) por cada encarregado. E isto mais
do que uma novidade, é um novo desafio.
Equipe:Junior Fernandes, Marco Aurélio, SanThiago, Ângelo Máximo e Luis Cláudio
DIONÍSIO MORA
Sétima alegoria
O Enlace Cultural Entre o Brasil e a Guiné Equatorial
Responsável pelo carro que encerrará a passagem da “Rainha da Passarela” pelo Sambódromo
em 2015, Dionísio Arsênio Mora entrou para o
universo da samba e do Carnaval por força das
circunstâncias: ex-capoeirista, uma lesão tirou
o “jogador” da roda. Foi também a capoeira que
o inseriu no universo dos figurinos. Designado
www.beija-flor.com.br
para tomar conta do guarda-roupa dos espetáculos dos quais participou excursionando pela
Europa na década de 1990, Mora tinha que garantir mais do que o bom estado de cada figurino e isso lhe permitiu se descobrir na nova arte.
Em “Um Griô conta a história:...”, Dionísio colaborou com sugestões preciosas para os figurinos
das fantasias para as alas Unidade, Paz, Justiça,
Língua Portuguesa e Ritmo. Orgulha-se de elas
terem sido acatadas pela comissão de Carnaval.
Dessas as fantasias, Paz e Ritmo foram reproduzidas por sua equipe.
Paranaense de Foz de Iguaçu, casado com Michelle e pai de Mateus e Kauã, Dionísio chegou
ao barracão com a cara e a coragem. Pediu um
emprego e ganhou uma profissão. Começou trabalhando com metais, sob a orientação de Carlos “Shangai” Fernandes, no Carnaval bi-campeão de 2004: “Manôa, Manaus – Amazônia
Terra Santa...”. Ano a ano foi ampliando e complementando seu aprendizado com outras tarefas, indispensáveis à atual função. Mora diz que
estar na Beija-Flor “é uma realização completa.
Une trabalho e prazer”.
Equipe: Gustavo Abreu, Alexandre Medeiros, Thiago
Suzy, Felipe Barcelos, Thays Hoffman, Alcir Gonçalves, Priscila Inácio e Juliana Oliveira.
Outros ateliês
Cristiano Bara com sua equipe também
reproduziram os figurinos das alas Ritos
e Ancestrais (setor 2) e da ala Pesca
(fantasias criadas por Márcia, para o setor
6). Beth Franques do ateliê de Nilópolis
fez as fantasias Feiticeiros e Máscaras (do
setor 2); o ateliê de Leline (Lili) Pessoa
confeccionou as fantasias da ala Griô
(também setor 2). O carnavalesco FranSérgio fez as fantasias Páprica e Cravo das
Índias (alas do setor 3); Simone Santana fez
as vestes da ala Benga (criada pelo Túlio),
Cláudia Binha as da ala Portugal (criadas
por Roger) e Vânia Moreno reproduziu os
protótipos de Túlio (Bubi, Fang e Exportação
de escravos), de Roger (Inglaterra) e os
de Márcia (Petróleo, Riquezas naturais
e Amigos do Rei). Dirney Góia (Gaúcho)
reproduziu o protótipo Justiça, desenhado
por Dionísio, e João Calheiros, o modelo
Raças Negra, concebido por Túlio. No total
são 34 protótipos transformados em 3.702
fantasias - não incluindo os de destaques
de carro, que são feitas por seus próprios
figurinistas e as do primeiro casal de portabandeira e mestre-sala, Selminha Sorriso e
Claudinho.
Fevereiro 2015
55
RICARDO DA FONSECA
Desde a oficialização dos ensaios técnicos, em 2004,
a Beija-Flor já conquistou quatro carnavais, sendo a
escola com o maior número de títulos desse período.
Uma frase atribuída a Charlie Chaplin diz que a
vida não permite ensaios. Em contrapartida, o
Carnaval precisa de testes antes do desfile. Essa
necessidade pôde ser melhor atendida quando
as escolas de samba do Rio de Janeiro passaram
a utilizar o sambódromo para os aclamados ensaios técnicos, no início dos anos 2000.
Embora seja uma ideia da qual as escolas de
samba não abrem mão, o ensaio técnico é algo
relativamente novo. Esses “treinos no campo de
jogo” começaram oficialmente em 2004 e tiveram seu embrião três anos antes. Desde então
se tornaram essenciais para todo o processo que
envolve o carnaval.
“Elmo José dos Santos, que presidia a Mangueira em 2001, queria testar a escola na avenida
antes do desfile daquele carnaval. Então houve
pela primeira vez o ensaio técnico e foi acontecendo até 2004, quando virou algo oficial. Nesses anos iniciais ainda não era um acontecimento que fazia parte do calendário oficial, ainda
não seguia todas as regras do desfile, era algo
um pouco esporádico também, nem todas as
escolas participavam” conta Fernando Araújo,
assessor cultural da Liesa, entidade responsável
pela organização do Desfile de Carnaval das Escolas de Samba do Grupo Especial.
56
Revista Beija-Flor de Nilópolis
De acordo com Fernando, os ensaios técnicos
são fundamentais para que o Carnaval seja cada
vez mais o maior show da terra: “O Carnaval
vem ganhando ao longo dos tempos proporções
enormes, sendo o único espetáculo popular no
mundo que não era ensaiado em seu palco principal. Com a criação dos décimos na pontuação,
por exemplo, a disputa ficou ainda mais acirrada, fazendo com que qualquer detalhe decidisse
o resultado final. Por isso, sob o ponto de vista
das agremiações, realizar ensaios na Marquês de
Sapucaí se fazia necessário para refinar o que
fosse preciso para o desfile oficial sair sem nenhum erro” disse.
Para as escolas, desfilar no palco antes do show
é mesmo um grande negócio. É consenso entre
as agremiações que usar o sambódromo para
essa espécie de verificação final, podendo usufruir das luzes do local e da presença do público,
é fundamental para alcançar bons resultados na
avenida.
Segundo o diretor de Carnaval da Beija-Flor de
Nilópolis, “Desde que se tornaram uma opção
oficial da Liesa e da Riotur para as escolas de
samba, os ensaios técnicos colaboraram muito
para que a Beija-Flor alcançasse rendimentos
cada vez melhores: nesses anos, vencemos com
www.beija-flor.com.br
muita qualidade quatro carnavais
(2004, 2005, 2007 e 2008), e somos
a escola de samba com o maior número de títulos de campeã desse período”, declara Laíla.
Anízio Abrão David, presidente de
honra da Beija-Flor, faz coro com Laíla,
e vai mais além: “Os ensaios técnicos
acabaram atendendo duas finalidades
distintas: deram às escolas de samba e
seus componentes, inclusive carnavalescos, diretores de harmonia e bateria, melhores condições de se prepararem para o Desfile de
Carnaval, já que no ensaio técnico podem observar melhor - e no local da disputa do título a evolução da escola e, assim, corrigir e realizar
ajustes que entendam necessários, inclusive na
cronometragem de passagem pela avenida. Outro resultado positivo dos ensaios técnicos foi
que eles deram ao público e ao turista presente
na cidade uma nova opção de entretenimento
dentro do universo do carnaval. E a prova de que
a ideia foi muito bem aceita pelo público é que
ele tem marcado presença em todos os ensaios
técnicos de todas as agremiações” afirma.
Bom para as escolas, bom para o público. Agora, turistas que chegam ao Rio de Janeiro no
fim do ano já festejam os quatro dias de folia
algumas semanas antes. Além disso, por serem
gratuitos, os ensaios técnicos colocam nas arquibancadas pessoas que não têm condições de
pagar para ver as agremiações durante o desfile
oficial. A funcionária pública Camila Machado,
de 36 anos, acompanha os ensaios técnicos des-
de 2005: “Os ensaios são
uma festa. Tenho a impressão que as pessoas se divertem mais acompanhando os ensaios
que nos desfiles oficiais. Não sei se é por causa do público ou se por causa do clima menos
tenso que as escolas apresentam nos ensaios.
Nesses testes, as escolas estão mais ‘livres’, por
isso acho que flui melhor” destaca.
Para o Carnaval deste ano, os ensaios técnicos
começaram no dia 20 de dezembro de 2014 e
terminaram no dia 1º de fevereiro, quando todas
as escolas tiveram a oportunidade de levar ao
público, na Sapucaí, um pouco do espetáculo de
cores e movimentos que as credenciarão para a
disputa do título de campeã de 2015.
A Beija-Flor de Nilópolis realizou seu ensaio
no dia 25 de Janeiro, em pleno Domingo, sob
os olhares atentos e afetuosos de um público
que sabe que a agremiação nilopolitana vai
entrar com garra e beleza nessa disputa. Mais
uma vez, os ensaios técnicos foram um sucesso para as escolas de samba e para o público.
No Carnaval do Rio de Janeiro até o esboço é
arte final.
Fevereiro 2015
57
VICENTE DATTOLI
Rio, 450 anos. Estamos, em 2015, festejando os
450 anos de fundação do Rio de Janeiro.
Impossível imaginar a cidade de São Sebastião
do Rio de Janeiro sem Carnaval, não é mesmo?
Mais difícil ainda é imaginá-la sem os desfiles
de Escolas de Samba, sem o Sambódromo, sem
a alegria e criatividade de nossos foliões e artistas. São coisas que estão intimamente ligadas. Rio de Janeiro, sol, praia, alegria, futebol,
Carnaval e, claro, desfiles das Escolas de Samba.
Neste último item, vamos ser sinceros, alguém
consegue pensar em uma noite de apresentações
sem Mangueira, Portela ou Salgueiro? E sem a
Beija-Flor – de Nilópolis? Não dá, não é mesmo?
E não pensem que este pensamento é recente, não.
Em 1965, quando o Rio de Janeiro festejou seus
400 anos, a Beija-Flor, de Nilópolis, já desfilava na
Cidade Maravilhosa. Como havia a exigência de
que para participar dos desfiles na cidade a sede
da agremiação deveria ser aqui... A Beija-Flor, de
Nilópolis, tinha oficialmente sua sede administrativa no Rio de Janeiro. Legalmente não havia, então, qualquer tipo de impedimento.
E lá vinha o pássaro azul-e-branco da Baixada
Fluminense brilhar nas passarelas cariocas.
Em 1965 a Beija-Flor, de Nilópolis, apresentou-
-se no desfile da Praça XI com o enredo “Lei do
Ventre Livre”, de Cabana. Ficou em terceiro lugar no então III Grupo, atrás de Unidos de São
Carlos (a atual Estácio de Sá) e Unidos do Jardim
(que já enrolou bandeira).
A partir daí a Escola foi subindo, crescendo, consolidando sua marca até se tornar a maior campeã do Sambódromo – desde sua inauguração,
em 1984, a Beija-Flor, de Nilópolis, conquistou
nada menos do que sete títulos (1998, com “Pará
– O mundo místico dos Caruanas nas águas do
Patu-anu”; 2003, com “O povo conta a sua história: Saco vazio não para em pé – A mão que faz
a guerra, faz a paz”; 2004, com “Manôa, Manaus,
Amazônia, Terra Santa... Que alimenta o corpo,
equilibra a alma e transmite a paz”; 2005, com
“O vento corta as terras dos Pampas. Em nome
do Pai, do Filho e do Espírito Guarani. Sete povos
na fé e na dor... Sete missões de amor”; 2007,
com “Áfricas: do Berço Real à Corte Brasiliana”;
2008, com “Macapaba: Equinócio Solar, Viagens
Fantásticas no Meio do Mundo”; e 2011, com “A
Simplicidade de um Rei”), sem contar os anteriores à criação da Passarela do Samba. Será que dá
mesmo para pensar no Carnaval do Rio de Janeiro
sem a presença da Beija-Flor, de Nilópolis?
(*) Na realidade, o primeiro registro de um desfile da Beija-Flor, de Nilópolis, no Carnaval carioca é bem mais antigo do que sua participação nas apresentações do IV Centenário. A azul-e-branco da Baixada Fluminense estreou no Rio de Janeiro em 1954, quando
desfilou e venceu o então Campeonato da AESB e CBES, na Praça XI, com o enredo “O caçador de esmeraldas”, também de Cabana,
superando a então vice-campeã Caprichosos de Pilares – o Grupo Especial da época disputava o chamado Supercampeonato, na
Presidente Vargas, e o título ficou com a Estação Primeira de Mangueira. Outra curiosidade: aquele desfile começou dia 28 de fevereiro, ou seja, a Beija-Flor, de Nilópolis, estreou no Carnaval carioca justamente no dia do aniversário da cidade, 1º de março. Dá
para pensar no Carnaval do Rio de Janeiro sem a Beija-Flor, de Nilópolis?
58
Revista Beija-Flor de Nilópolis
www.beija-flor.com.br
FELIPE LUCENA
Há quem defenda que o momento mais
emocionante de um desfile de uma escola de
samba é o “esquenta”. Opiniões e exageros à
parte é nessa hora que normalmente os sambas
exaltação das agremiações são entoados e de
fato é ali que a comunidade mostra sua força
antes de pisar definitivamente na avenida.
Quando, no final dos anos 1920, as escolas de
samba se organizaram como agremiações, o
sentimento de rivalidade e paixão que já existia
nas disputas anteriores de blocos, ranchos
e cordões se avolumou. Com isso, letras que
exaltavam o amor às escolas de samba passaram
a fazer um sentido maior para as pessoas que
estavam envolvidas nesses ambientes.
Essa ideia se esticou pelas décadas e se mantém
firme até hoje em dia. É comum notar nas
quadras e barracões, torcedores das agremiações
do Carnaval cantando seus hinos (os sambas de
exaltação) como se estivessem em um estádio
de futebol assistindo a uma final diante do
maior rival.
60
Revista Beija-Flor de Nilópolis
A nomenclatura “samba exaltação” surgiu em
1939. No entanto, a ideia de sambas que faziam
menções honrosas a algo já existia desde o início
da década de 1930, quando Getúlio Vargas se
tornou presidente da República. Nesse período,
os compositores passaram a escrever letras que
exaltavam o Brasil e o governo. Também em
1939, Vargas criou o Departamento de Imprensa
e Propaganda (DIP). Até então, o samba era
voltado à malandragem. A partir daí, o governo
investiu no uso da música como veículo de sua
ideologia, principalmente de entusiasmo ao
trabalho, chegando a distribuir verba para as
escolas de samba para que abordassem temas
de cunho patriótico em seus desfiles.
Um dos maiores representantes desse gênero
foi o compositor Ary Barroso, que fez, em 1939,
“Aquarela do Brasil”, considerado o primeiro
samba exaltação da história. Ary chegou a ser
acusado de ter aceitado uma encomenda de
Getúlio Vargas, devido a grande coincidência
do conteúdo da música com o contexto vivido
www.beija-flor.com.br
no momento. Barroso, que em meados dos anos
1940 chegou a ser eleito vereador do Rio de
Janeiro pela UDN (União Democrática Nacional),
que na época era oposição ao PTB de Vargas,
se defendia dessa argumentação alegando que
foi pura coincidência, que não escreveu nada a
mando de ninguém.
De todos os sambas e marchinhas ufanistas,
uma canção se destacou. A escola de samba
Deixa Falar, conhecida como a primeira do
Brasil, desfilou em 1932 - ano que marcou o
início do Carnaval com disputa de título entre
as agremiações - com o enredo “A Primavera e a
Revolução de Outubro”, uma clara homenagem
a chegada de Vargas ao poder dois anos antes.
Do samba que exaltava o país para o samba
que exalta as escolas foi um caminho reto. O
historiador Claudio Russo, um dos pesquisadores
da Comissão de Carnaval da Beija-Flor, diz como
se deu esse processo: “Precisar exatamente a
época e qual escola de samba começou é uma
tarefa um tanto quanto difícil, mas podemos
dizer que por muito tempo o samba exaltação
foi uma prática extremamente utilizada pelos
compositores das escolas. Temos para posteridade
grandes sambas como as composições de
Candeia, Chico Santana e Paulinho da Viola,
na Portela; Silas de Oliveira e Mano Décio, na
Império Serrano, que nos deixaram tantas obras
magnificas. Na Academia do Salgueiro, Geraldo
Babão e Djalma cantarolavam seus sambas com
a beleza de um Sabiá - desculpe o trocadilho. Na
Estação Primeira, Cartola afirmava:
‘Muito velho, pobre velho
vem subindo a ladeira com bengala na mão
é o velho, velho Estácio
Vem visitar a Mangueira’...
Isto nas quatro grandes escolas do passado.
Se for me estender um pouco mais, em verde
e branco ecoa a Rainha de Ramos, a Mocidade!
Mas tenho certeza que a Beija-Flor está muito
bem representada com ‘A Deusa da Passarela’,
do Neguinho”.
Claudio ainda pontua que é preciso que haja
uma mobilização para que diversos subgêneros
do samba não se tornem apenas uma saudosa
lembrança. “Acredito que a escola de samba
deve ter muito mais que apenas o concurso de
samba-enredo. Poderíamos semear este solo
tão fértil de valores e talentos com festivais de
sambas de quadra, de terreiro e principalmente
sambas de exaltação nas tardes de sábado ou
domingo, para que assim possamos fortificar
e preservar as raízes do samba, o amor ao
pavilhão e a história para as novas gerações”,
disse o historiador.
Monarco, um dos maiores nomes da história do
samba e do carnaval, afirma com veemência a
importância que o samba exaltação tem para
uma escola: “É mais importante que o sambaenredo. É um samba que sai do coração. O samba
Fevereiro 2015
61
enredo é encomendando, vem de fora. O samba
exaltação vem de dentro. Óbvio que os dois são
importantes, o de enredo e o de exaltação. Mas
o de exaltação tem esse algo a mais, essa coisa
de reforçar o amor à escola de samba. O samba
exaltação é uma coisa que não deve morrer”
conta ele, que está na ala dos compositores da
Portela desde 1950.
Outro baluarte do carnaval, Nelson Sargento,
depois de frisar que os sambas exaltação são
extremamente necessários para a manutenção
da alma da festa, apontou seus prediletos:
“Gosto dos que o Silas de Oliveira fez para a
Império. Os do Salgueiro são ótimos. A BeijaFlor tem uns muito bonitos também”.
O samba exaltação é o refrão que levanta o
bloco. Anizio Abrão David, presidente de honra
da Beija-Flor, uma agremiação oriunda de uma
comunidade que praticamente respira carnaval,
sabe bem do peso dessas composições: “A gente
nota que quando esses sambas são tocados,
vez, ele, que faleceu anos atrás, declarou que
lamentava o fato de os sambas exaltação não
terem mais tanta força quanto já tiveram em
outros carnavais e apontou suas letras favoritas
desse estilo: “A Deusa da Passarela”, de Neguinho
da Beija-Flor e “Eu sou de Nilópolis”, escrita por
Osório Lima, um aclamado compositor.
Quando se fala em samba exaltação e em BeijaFlor, inevitavelmente se pensa em Neguinho e “A
Deusa da Passarela”. O interprete e compositor da
Azul e Branco de Nilópolis lembra como foi fazer
essa canção: “Eu estava esperando uma ligação
na casa da dona Iolanda, onde o Joãozinho Trinta
também morava. Era um domingo, em 1979. Aí o
Joãozinho me perguntou o que eu achava de ele
fazer um concurso para que criassem sambas que
exaltassem a Beija-Flor. Eu elogiei a ideia. Logo
em seguida, ele saiu, foi na rua resolver algum
assunto rápido. E isso ficou na minha cabeça.
Na mesma hora escrevi a letra de ‘A Deusa da
A Deusa da Passarela
r
Compositor: Neguinho Da Beija-flo
É ela,
Maravilhosa e soberana,
De fato nilopolitana.
Enamorada deste meu país
É ela,
A deusa da passarela
Razão do meu cantar feliz.
É ela,
Um festival de prata em plena pista,
É o sorriso alegre do sambista,
Ao ecoar do som de um tambor...ôô
Beija-flor minha escola,
Minha vida, meu amor
as pessoas se sentem ainda mais próximas da
escola. É algo que emociona todo mundo. É o
coração da festa”.
Bira Puxador, um dos mais antigos intérpretes
da Beija-Flor, era conhecido por saber cantar
todos os sambas da escola de Nilópolis. Certa
62
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Passarela’. Quando ele voltou, mostrei para ele.
Ele ficou emocionado demais e muito surpreso
por eu ter feito a letra tão depressa. Então, ele
me disse que não precisava mais de concurso
nenhum, que o que ele queria era exatamente o
que eu havia acabado de escrever”.
www.beija-flor.com.br
O assessor jurídico da Liesa, Ubiratan Guedes,
também é um entusiasta dessa modalidade de
samba. Ele reforça a atmosfera que cerca essas
composições: “O samba exaltação é aquilo que
para a escola é o equivalente ao hino do time
de futebol. É um hino que funciona como um
chamado geral, que desperta a emoção da
comunidade, que busca no interior de cada
componente a força para se fazer um grande
carnaval, ultrapassando, muitas vezes, limitações
da agremiação. O “esquenta”, que realmente
esquenta a emoção das pessoas, é fundamental.
Se eu pudesse escolher entre um samba de anos
anteriores ou um samba de exaltação, eu sempre
escolheria o samba exaltação, de esquenta,
porque esse mexe com a sensibilidade mesmo.
Todo mundo canta, todo mundo participa e a
comunidade se inspira, fica mais energizada
para desfilar” enfatiza o advogado.
Eu sou de Nilópolis
Compositor: Osório de Lima
Vem um e diz
Que é da Mangueira
Outro diz, que é do Estácio de Sá
Finalmente todos querem
Exaltar o seu lugar
Eu sou de Nilópolis
Terra que tem gente bamba
E tem macumba e tem samba
Nilópolis terra de magia
Quem é de Nilópolis é a mesma coisa que ser
da Bahia
Em Nilópolis tem Sol
Jogo bom, que é futebol
Terra de gente de raça
Temos parque e cinemas
Lindas louras e morenas
Desfilando em nossas praças
E além de tudo isso
Tem nego bom no feitiço
E no samba professor
É de lá a escola de samba Beija-Flor
a fazer um curso,
marido me incentivou
computador”.
fiz e passei a ilustrar no gráfico em uma
r
O trabalho de designe
suas peculiaridades.
escola de samba tem
como as coisas
Adriane Lins explica enredo já está
o
funcionam: “Quando
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go imag s e vídeos
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na escola no ano 19 tigo barracão.
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Já com uma certa baga i seu predileto:
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fazendo alguns projet a como se deu
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la
co
es
da
ra
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papel, nesse tempo
Fevereiro 2015
63
ADRIANA BUARQUE
“Imaginar um Brasil sem Carnaval seria como imaginar uma noite
sem lua ou um arroz sem feijão”.
Roberto da Matta
Não adianta. Goste ou não, queira ou não, todo
ano o Brasil para no carnaval, às vezes até um
pouco antes do dia marcado pelo calendário e
na quarta-feira de cinzas o retorno à rotina é
sempre difícil e moroso. Há um reinventar da
ordem, dos dias, da própria rotina e do fazer.
Os estudiosos do carnaval, desta celebração caracterizada pelas cores, pela alegria, pela descontração, mas também pelos excessos, e pela
libertinagem, avaliam que em outros países esta
festa tem um caráter local, já no Brasil é uma
festa de caráter nacional. É sim, Brasil e Carnaval são intrínsecos e inerentes. Como diz o
antropólogo Roberto da Matta, respeitado estudioso sobre o samba e Carnaval, “Há planos para
acabar com tudo no Brasil, menos para proibir
o carnaval”. O Carnaval em sua continuidade representa um caráter permanentemente nacional. Alguém é capaz de imaginar o Brasil sem
carnaval?
64
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Muitos estudiosos remetem as origens do Carnaval aos cultos pagãos gregos, percebidos nas
figuras mascaradas no rito ao Deus do vinho,
Dionísio, com fantasias e alegorias representadas nos próprios vasos decorativos. Daí a origem
da palavra carnaval: carne levare, que quer dizer
“abandonar a carne”, nos remetendo ao significado da orgia como um rito, ou seja, o Carnaval
tem sempre um caráter ritualístico.
O fato é que os estudiosos das festas e dos rituais avaliam o abandono provisório das rotinas
em dois tipos: celebrações da ordem, as chamadas solenidades, e celebrações da desordem,
tais como os bailes, festas e folias. As primeiras marcam o sério e o sagrado, onde o riso é
proibido, como as procissões ligadas à Igreja ou
as paradas militares, ligadas ao governo, e as
segundas, sendo o Carnaval um representante,
declaradamente populares, deflagram a inclusão
dos mais pobres e o uso de máscaras e fantasias.
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Nas primeiras foi observado o uso do uniforme,
além da fala e reza como meio de comunicação, já as celebrações da desordem, salientou-se
como modo de comunicação a dança e canto.
Portanto, as celebrações da ordem reforçam a
autoridade e a diferença entre as pessoas. Já as
da desordem, com seu caráter carnavalesco no
amplo sentido da palavra, trazem à tona a união
entre os diferentes, com uma marca inclusiva
entre as pessoas e tendo como elo a presença
crucial da música com o corpo bailando e o riso,
permitido e vangloriado, sendo capaz de dissolver quaisquer barreiras.
Por falar no quesito corpo, repara-se que nas
solenidades as mãos e o hemisfério superior do
corpo são evidenciados, já nas folias o hemisfério inferior do corpo, a linha abaixo da cintura
que mantém destaque.
Um ponto antropológico e psicológico importante é que todo movimento de ordem é seguido
por uma desordem e toda desordem por uma ordem e, por isso, muitos casamentos e formaturas, após o rito das formalidades, terminam em
grandes bebedeiras e festanças, o carne levare, o
“abandonar a carne”, assim como nosso Carnaval
é limitado na quarta feira de cinzas, marcando o
início da Quaresma, o tempo do suplício de Cristo. Como somos seres sociais necessitamos tanto
da ordem estabelecida, da rotina do trabalho, assim como a suspensão desta no descontrole da
festa, que na verdade baseia-se o próprio sentido da festa.
Entretanto Da Matta observa em seu artigo “O
que diz o carnaval?” que na própria festa, no
seu brincar, há outro sentido do fazer e este fazer nos traz um aprofundamento da vida social.
No nosso Carnaval um homem se metamorfoseia em mulher, outro em palhaço e outros passam horas tocando um instrumento na bateria
de uma escola. No celebrar do Carnaval cria-se
outra possibilidade de fazer e de ação. Com as
fantasias e a música, marcadamente na presença de um samba, histórias possíveis e impossíveis são contadas e recontadas. Da Matta
passou muito tempo pensando sobre como nosso Carnaval reflete o Brasil e desenvolveu seu
pensamento justamente nesta possibilidade de
se passar pelo o que não se é, na criação de uma
mentira em celebração e riso, aonde o corpo do
cidadão pobre também vem à cena, em sua beleza singular e harmonia.
O Carnaval passa a celebrar em estado puro nossa própria brasilidade e toda nossa sensualidade
com excessos e sem consequências diretas permitindo até inversões hierárquicas, marcando
com força o lugar especial do Carnaval brasileiro.
Contam uma história de um australiano que em
seu primeiro Carnaval no Brasil escreveu a um
amigo em Sidney: “Caro John, largue sua mulher
e compre uma passagem para o Rio sem volta.”
E mesmo que se fale e acuse o Carnaval de já ter
sido dominado pela mídia, há sempre algo a
ser criado, visto, por exemplo, a volta dos
blocos e Carnaval de rua com toda a força.
Por isso, o antropólogo cita o nosso Carnaval
como possibilidade de desconstrução do social,
além do que, a ‘obrigação’ do divertir-se é algo
sedutor e fantástico para todos.
Para quem quer se aprofundar no assunto deixo
aqui a indicação de dois livros deste mesmo autor: “Universo do carnaval: imagens e reflexões”,
pela editora Pinakotheke e “Carnavais, malandros e heróis”, pela editora Rocco, nos quais o
antropólogo desenvolve com maestria e profundidade o nosso samba e Carnaval como expoentes máximos de nossa brasilidade.
No primeiro livro, Da Matta, através de fotos e
imagens, decorre sobre a nossa sociedade produtora do carnaval, assim como o significado do
Carnaval como cultura popular dentro da mesma sociedade. Já no segundo, há uma análise
mais profunda na qual o escritor faz uma interpretação do Brasil, complexa e diversificada,
assim como são os seus rituais. Ele ainda escreve
sobre as relações de poder inseridas neste contexto, a distinção entre o espaço privado e público, a casa e a rua, além de mostrar o Carnaval
como dono da capacidade de deslocar eixos hierárquicos e organizacionais de nossa sociedade.
O escritor aponta um retrato de ‘o que é o Brasil’
e ‘como é o Brasil’, através da estrutura de nosso
carnaval.
Para quem se sente mais íntimo das artes audiovisuais deixo aqui uma pequena lista de filmes que possuem a temática do Carnaval ou
acontecem neste cenário.
O primeiro da lista é “Alô, Alô, Carnaval”, uma
comédia musical brasileira, dirigida por Adhemar Gonzaga e lançada no Brasil em 1936. Dos
filmes de Carmen Miranda foi o único que sobreviveu ao tempo. O filme exibe a montagem
de uma revista teatral intitulada ‘Banana da
Terra’ e se dispõe a mostrar para o público os
grandes cantores da fase de ouro da rádio brasileira. A seguir indicamos ‘Orfeu do carnaval’,
uma coprodução Brasil, Itália e França, história
inspirada na mitologia grega, no amor de Orfeu
e Eurídice e baseada na peça teatral ‘Orfeu da
Conceição’ de Vinícius de Moraes. O filme estreou em 1960 e levou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Em 1999 Cacá Diegues fez uma
releitura com o seu ‘Orfeu’, o drama de amor
passado nos quatro dias de carnaval. A música
foi composta por Caetano Veloso.
Entra em nossa lista também “Isto é Noel”, de
Rogério Sganzerla, de 1990, um documentário
sobre Noel Rosa, em que se desenrola à nos66
Revista Beija-Flor de Nilópolis
sa frente, além do cancioneiro interpretado por
João Gilberto e Gal Costa, filmagens de carnaval, gravações de rádio e a vida dramática da
personagem.
Outro rico documentário é “O samba”, produção
suíça e alemã, do diretor Georges Gachot que
mostra através da figura central, o cantor Martinho da Vila, que o samba não é só um estilo
musical, mas também uma linguagem e estilo
de vida. O filme estreou no ano de 2014.
Fecho nossa pequena lista com “Trinta”, a biografia do carnavalesco Joãozinho Trinta, desde os anos 60 até os tempos mais atuais. A
produção do filme data de 2012 e tem como
intérprete de Joãozinho o ator Matheus Nachtergaele.
Assim como o samba, o Carnaval funciona bem
nas telas, pois já traz em si este caráter ‘teatral’
no sentido de reinventar uma realidade, como já
vimos anteriormente.
Através da quebra da rotina, da máscara e da
alegoria, podemos por uns dias ser outro, outra
pessoa num outro mundo, sem consequências
diretas, onde a liberdade do riso e do prazer se
faz imperar. Como diz a música: “Não me leve a
mal / Hoje é carnaval.”
E mesmo que ainda seja uma festa inserida em
nossa economia e mercado, seus mais profundos
gestos revelam a possibilidade de desmontar um
sistema social e escolher outra personalidade
para si, lendo o mundo através de outro ponto
de vista, na qual certamente a resposta aos prazeres imediatos e a glorificação da vida, corpo e
sensualidade são prementes. É isto: Carnaval é
vida!
E lembro-me novamente da conhecida marchinha: “Quanto riso, oh, quanta alegria! / Mais de
mil palhaços no salão”.
Aproveite a possibilidade de ser feliz aqui e agora, sem vergonha. E termino com as palavras de
Gonzaguinha em seu notório samba:
“Viver e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar,
A beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor e será
Mas isso não importa que eu repita:
É bonita, é bonita e é bonita!”
Celebre a vida, minha gente, afinal é carnaval.
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Imaginação
o capital que move as escolas de samba
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho - Boni
A sobrevida do desfile das escolas de samba é produto da teimosia dos dirigentes e da imaginação dos carnavalescos e diretores
de Carnaval. Os governantes e os promotores públicos, sempre
diligentes, não entenderam ainda alguns princípios básicos da
maior festa popular do Brasil. O primeiro deles é que Carnaval é
cultura, e não turismo ou diversão. E cultura na mais profunda
acepção do termo. Os enredos são objeto de pesquisa e estudos
profundos. Os projetos envolvem centenas de pessoas na sua
criação. Artistas e artesãos criam e produzem carros, esculturas, figurinos e adereços, tudo com o mais fino acabamento. As
escolas de samba expõem, anualmente, obras de arte inéditas
para a maior plateia do mundo, numa galeria de arte a céu
aberto. Não se tem notícia de divulgação cultural tão intensa
e tão imediata e de contato tão próximo entre a criação e os
espectadores. O segundo ponto é que governantes e promotores desconhecem o quanto custa e quanto dá trabalho produzir
arte. O terceiro é que estamos falando de arte genuinamente
brasileira. Não é raro depararmos com financiamentos oficiais
e contratações milionárias de artistas estrangeiros cujo valor
artístico não chega aos pés do nosso Carnaval.
A situação de dificuldade em que vivem as escolas remete seus
diretores à busca pelos ENREDOS PATROCINADOS. Diretores de
Carnaval e carnavalescos se viram para transformar um comercial
em história “palatável” e disfarçar o anúncio em enredo. Eu tenho certeza de que isso vai arruinar o Carnaval e há muito venho
batendo nessa tecla. Conheço o Carnaval antes e depois da LIESA.
Se não fossem os patronos e a perfeita organização da LIESA, os
desfiles já teriam acabado há muito tempo ou teriam virado blocos de sujo. Pois que os governantes e o Ministério Público parem
de colocar dúvidas sobre o destino das verbas michas e pobres
destinadas às escolas de samba. São insignificantes diante dos
custos reais. E além do mais a grana chega tarde. As verbas só
chegam no último momento, quando o dinheiro para produzir o
espetáculo já foi gasto, tomado emprestado, usando créditos ou
tirado do caixa das escolas que têm de onde tirar. Os patronos
coçam o bolso e põem a grana deles para arder. Enquanto isso, o
Carnaval rende milhões para os cofres públicos. As autoridades
que descubram métodos de controle – os mais rígidos possíveis –
e não se limitem a dar subvenção ou ajuda às escolas de samba.
Que contratem a preço justo os serviços delas. Paguem o que vale
esse “show” maravilhoso, sem igual no mundo.
Contratem as escolas de samba através da LIESA para que se
possa produzir e entregar de verdade o MAIOR ESPETÁCULO DA
TERRA. A LIESA entregará um produto da mais alta qualidade.
Coisa profissional. Eu sou fiador.
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Aqui não tem moleza não!
Nos ensaios da 5ª feira, a comunidade se prepara para levar para a
Marquês de Sapucaí um desfile à altura da agremiação nilopolitana.
É Sorriso, Suor e Alegria, dando o ritmo de um Carnaval campeão!
FELIPE FERREIRA
Todos já ouvimos falar que as escolas de samba são a maior expressão da cultura popular do
mundo e - é claro - nós, que de alguma forma
nos envolvemos com elas, nos enchemos de orgulho com esta afirmação. Mas o conceito de
“cultura popular” pode ser bastante diferente de
uma pessoa para a outra. A maioria considera
que cultura popular é sinônimo de “cultura folclórica”, ou seja, algo que é produzido pelo povo.
A grande dificuldade reside em se saber exatamente o que entendemos como povo.
Para muito, esta é uma forma de se referir à
parte mais desassistida da população, geralmente com pouca ou nenhuma instrução, que
não frequentou faculdades e nem outros espaços de educação formal. Um jeito bastante preconceituoso e elitista de se ver o outro, como
se povo fosse sinônimo de ignorante ou pobre.
É claro que esta visão não mais se sustenta no
mundo contemporâneo, no qual estas categorizações estão cada vez mais misturadas.
A cultura popular, longe de estar restrita a algum grupo específico, é algo que se difunde por
toda a sociedade. Alguma coisa é popular quando é produzida ou consumida pela população de
um determinado lugar, ou seja, por boa parte de
suas diferentes camadas sociais.
70
Revista Beija-Flor de Nilópolis
Explico tudo isso para destacar que o caráter popular das escolas de samba está na variedade de
seus componentes, de seus diretores e de seus
criadores, gente vinda dos mais diversos lugares, com as mais diferentes formações, reunindo
saberes vindos não só de experiências pessoais
e tradições, mas também aqueles adquiridos nas
universidades e academias. É esta mistura que
faz com que as escolas de samba sejam verdadeira e orgulhosamente populares.
Uma consequência importante disso é a que as
escolas podem deixar de ser vistas como elementos que estão a reboque da cultura para se
afirmarem como verdadeiras pontas de lança da
contemporaneidade. O melhor exemplo é a inserção dos desfiles dentro do panorama artístico. Longe de “copiarem” o que se faz na Arte
da atualidade, as escolas se apresentam como
verdadeiros “caldeirões” de experimentação,
antecipando tendências e apontando caminhos
para os artistas institucionalizados valorizados
pelo mercado.
A utilização e a experimentação de novos materiais, a incorporação de técnicas, a reinvenção
de performances, a constante atualização das
danças e ritmos, tudo isto faz parte do processo
de criação de uma escola de samba. Seu desfile
pode, desse modo, ser comparado a uma verdawww.beija-flor.com.br
deira exposição coletiva de Arte na qual cada
elemento é uma obra. Escultores, pintores de
arte, marceneiros, ferreiros, iluminadores, aderecistas, chapeleiros, coreógrafos, passistas e
casais de mestre-sala e porta-bandeira são os
artistas que “expõem” seus “trabalhos” ou realizam suas performances no grande “salão” que
é o Sambódromo. Aos carnavalescos – que definem o tema e a maneira como ele se organiza no
espaço expositivo (a passarela) – caberia o papel
de grandes organizadores da exposição, ou seja,
de curadores, papel que modernamente se aproxima cada vez mais daquele do artista.
Cabe a nós, espectadores e admiradores desta
arte popular no seu sentido mais amplo, compreendermos seu caráter eminentemente brasileiro e carioca. Uma arte nossa, com a ginga e a
cor do samba.
____________
Felipe Ferreira é jornalista, coordenador do Centro de Referência do Carnaval (Rio de Janeiro), professor do Instituto de Artes
e do Programa de Pós-graduação em Artes da Uerj e autor de
diversos livros sobre carnaval, entre eles “Escritos carnavalescos”, “Inventando carnavais” e “O livro de ouro do Carnaval
brasileiro”.
“O Desfile da Beija-Flor de Nilópolis é sempre
um acontecimento especial. É nessa hora que
a nação nilopolitana mostra ao mundo o que
tem a oferecer em força, criatividade e paixão sentimentos que movem o mundo e que forjam
vencedores.
Tenho muito orgulho de pertencer à família
Beija-Flor, e tenho buscado nas minhas ações
profissionais e do cotidiano, ser digno dessa
tribo vencedora.
Boa sorte, nação nilopolitana!”
Ricardo Abrão
Fevereiro 2015
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FELIPE LUCENA
Rio de Janeiro e Carnaval se confundem e se
completam. A relação da Cidade Maravilhosa
com esta festa popular vai muito além do que
se imagina. Os dias de folia não estão só atrelados ao turismo, mas também a economia, ao
urbanismo, a estrutura social, e até a história da
cidade que já foi capital do Brasil. Nesses 450
anos do Rio, o parabéns deveria ser cantado em
ritmo de samba-enredo. Ou em marchinha.
O Carnaval é uma data que norteia o presente e
o futuro dos cariocas. É comum se pensar viagens
e outros planos para depois da festa popular.
“Quando o Carnaval acabar começo a dieta e arrumo uma namorada”. No entanto, pouco se fala
sobre a constante presença dessa festa em fatos
históricos que marcaram a Cidade Maravilhosa.
No ano de 1840, a alta sociedade carioca começou a realizar bailes de Carnaval no Rio de Janeiro.
Inspirados nas festas que aconteciam na Europa,
os encontros eram regados a muita bebida, comida e ritmos tipicamente europeus, como a valsa
e a quadrilha. Enquanto isso, nas ruas da cidade,
milhares de foliões brincavam o entrudo - festa
portuguesa em que pessoas fantasiadas dançam e
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
jogam limões de cheiro, farinha ou água uns nos
outros. Nesse período, a família real vivia no Rio
de Janeiro, e a desigualdade social, a escravidão e
outras mazelas ainda eram extremamente presentes na cidade. O Carnaval começava a reverter essa
opressora realidade, pois muitos nobres iam para a
rua festejar com o povo.
Os primeiros registros de blocos carnavalescos
licenciados pela polícia no Rio de Janeiro datam
o ano de 1889. Isso se deu um ano após a abolição da escravatura. Muitos historiadores apontam os blocos de rua como um sinal de liberdade. Nesse caso, tudo foi bastante simbólico,
porque os negros recém-libertos foram às ruas
para festejar com as pessoas que compunham
esses eventos pela cidade do Rio de Janeiro. “É
necessário lembrar que o carnaval, para uma
parte dos cariocas, sempre teve a dimensão de
ser um tempo de subversão da cidadania roubada. Inventamos na rua a cidade negada nos
gabinetes poderosos, sobretudo no contexto de
transição entre o trabalho escravo e o trabalho livre, nos últimos anos da monarquia e nos
primeiros da república, quando a festa ganhou
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contornos populares mais contundentes e uma
parte significativa dela passou a ser um canal de
expressão de descendentes de escravos. A partir
daí a festa confunde-se com a própria história
da cidade, como é até os dias atuais” pontua o
historiador Luiz Antonio Simas.
No final dos anos 1920 e no começo da década
de 1930, as escolas de samba começaram a se organizar como agremiações, deixando para trás o
passado, quando se pareciam mais com os blocos
de Carnaval de hoje em dia. Esse período coincidiu com a chegada de Getúlio Vargas ao poder.
Getúlio, já estabelecido no Palácio do Catete, no
Rio de Janeiro, – antiga sede do governo federal
– buscou na Itália de Benito Mussolini a inspiração para a nossa festa. Nessa época, a folia italiana era mais organizada, com pessoas marchando
em linha reta, instrumentos que faziam parte da
cultura nacional, músicas que edificavam o país
e notas de zero a dez no final das apresentações.
Vargas, que buscava uma imagem mais próxima da cultura
popular, abraçou
a ideia do italiano e tudo isso
ganhou uma pitada de Brasil.
Em 1935, o governo brasileiro
passou
ajudar
financeiramente
para que as escolas tivessem mais
recursos na hora
de desfilar. Dois
anos depois, foi
instituído que os
sambas-enredos
deveriam homenagear a história
do país. Com algumas mudanças, muitos dos elementos incorporados ao Carnaval na Era Vargas
estão presentes atualmente: “O Estado varguista
buscava disciplinar as manifestações das camadas populares, com o objetivo de controlá-las. Os
negros, por sua vez, buscavam trilhar caminhos
de aceitação social. As escolas de samba surgiram como resultados dessa realidade, em que o
interesse regulador do Estado vai ao encontro do
desejo de aceitação das camadas populares. Dessa tensão e dessas intenções as escolas de samba
se cristalizam como agremiações típicas do Car-
naval carioca” informa, Luiz Antonio, que atualmente é consultor da área de Carnaval do Museu
da Imagem e do Som (MIS) do Rio de Janeiro.
Além da história da cidade, o Carnaval está embrenhado na vida das pessoas que residem no
Rio de Janeiro. No ponto de vista antropológico
é possível dizer que o Carnaval ajuda a formar
a personalidade coletiva do povo carioca. Há
quem defenda que quem nasce no Rio de Janeiro nasce livre de preconceitos e dono de um
espírito solidário, com facilidade para se relacionar com pessoas das mais variadas condições
econômicas, raças, crenças ou cultura.
O antropólogo Roberto da Matta, reforça esse
ponto e frisa que o assunto renderia um livro:
“O Carnaval é uma festa nacional que contribui
muito para a formação do carioca, do brasileiro.
É uma festa importantíssima para o processo de
crescimento desse povo. O povo brasileiro e o
Carnaval seguem crescendo juntos”
Um dos pontos dessa roupagem que a festa popular proporciona ao povo carioca é a questão
dos conflitos socioeconômicos. Durante os dias
de folia, enquanto os blocos e escolas de samba
passam, as pessoas de todas as classes sociais
se misturam. “O Carnaval é a festa das classes
economicamente menos favorecidas, para usar
esse termo que não é bom. Ele tem uma moldura
francesa, vinda dos bailes de máscaras, mas no
Brasil é uma festa popular. Do povo mesmo. Um
senhor, nos anos 1970, acho que na Mangueira, quando eu estava colhendo um material de
Fevereiro 2015
73
pesquisa sobre o carnaval, me disse: ‘O Carnaval
é uma festa que ajuda a nos tirar da tristeza.
Que nos dá alegria depois de um ano de sofrimento’. O Carnaval é uma transformação. Uma
inversão. As celebridades, que as pessoas assistem o ano todo, ficam nos camarotes assistindo
essas pessoas desfilarem. O Carnaval é de todo
mundo, todos participam. Por isso essa paixão”
comenta Roberto, que emenda em seguida: “O
Carnaval continua sendo um enigma: um grupo
de pessoas que sofre ano inteiro, por uma série
de motivos, realizar uma festa tão grandiosa é
algo fantástico. Supõem que o povo brasileiro é
desorganizado, mas durante o Carnaval conseguimos fazer uma festa extremamente organizada, capaz de encantar o mundo tudo. Encantar, inclusive, pessoas de países que funcionam
melhor que o nosso.”
integrado à economia capitalista global. Refletindo esta nova realidade, o Carnaval carioca irá
buscar, nos modelos parisienses, uma expressão
que reflita os ideais burgueses de refinamento
e integração com o mundo. Mas as novas ruas
e praças do Rio de Janeiro, feitas para o flanar
burguês, irão acolher, e mesmo impulsionar, um
novo carnaval, de cunho popular, que se impõe.
Os bailes, as mascaradas e os desfiles de alegorias da burguesia irão, no período carnavalesco,
dividir as ruas do centro carioca com os cordões,
os blocos, os cucumbis e os ranchos de acento
eminentemente popular. Esta verdadeira batalha pelo domínio das ruas da região central do
Rio de Janeiro e as mútuas influências sofridas
por estes diferentes “carnavais” irão propiciar
o surgimento de uma forma nova e singular de
Carnaval que, em alguns anos, definiu interna-
Mexe na história, mexe na vida dos cariocas e
mexe na paisagem da Cidade Maravilhosa. O
Carnaval não para. De acordo com o estudo “Rio
de Janeiro, 1850-1930: A Cidade e seu Carnaval”, do pesquisador Luiz Felipe Ferreira, o Rio
sofreu profundas alterações físicas catapultadas pelo carnaval. E vice e versa: “As modificações sofridas pelo Carnaval carioca durante a
segunda metade do século XIX e início do século XX estão estreitamente relacionadas com
as transformações urbanas pelas quais passou o
centro da cidade no período. De 1850 a 1930, o
Rio de Janeiro deixa de ser uma acanhada cidade de feições coloniais para refletir, em seu espaço urbano, sua condição de capital de um país
cionalmente não somente a cidade do Rio de
Janeiro, mas também todo o país.”
Provavelmente, se essa relação entre as ruas do
Rio de Janeiro e o Carnaval não fosse tão intensa, hoje em dia, ao andar pelo Centro da cidade,
caminharíamos por um lugar com uma paisagem urbana bem diferente da atual.
Economicamente o Carnaval do Rio de Janeiro
é um sucesso. Dentro e fora da Sapucaí. Segundo dados do estudo “A Economia Criativa do
Carnaval”, de Luiz Carlos Prestes Filho, no ano
de 2000, a festa gerou receita de R$ 416,1 milhões, atraindo uma média de 310 mil turistas.
No ano de 2006, com a mesma média de 310
mil turistas, o Carnaval movimentou R$ 665 mi-
74
Revista Beija-Flor de Nilópolis
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lhões. Em 2012, o Carnaval atraiu para o Rio de
Janeiro 850 mil turistas, gerando o movimento
de R$ 1.100 bilhão. Os números só aumentam.
No Sambódromo, a arrecadação de bilheteria
regularmente atinge R$ 63 milhões em apenas
dois dias, com a venda de 70 mil ingressos para
o desfile das escolas de samba do grupo especial. Nesta última década os dias de folia geraram todos os anos 264,5 mil postos de trabalho,
para a execução de 470,3 mil tarefas. No ano
de 2014, a Associação Brasileira dos Shoppings previu a contratação de 260 mil trabalhadores temporários para o Natal. O Carnaval gera
mais empregos que o Natal. Considerando que
o desemprego é um temor para qualquer sistema econômico, o Carnaval ganha ainda mais
importância no real cenário carioca.
Um desses empregos que ganham destaque durante o Carnaval é o de bordadeira. Uma profissão que em uma parte do ano passa despercebida ganha holofotes quando a festa popular se
aproxima. As bordadeiras de Barra Mansa, sul
do estado do Rio de Janeiro, sabem bem disso. O
grupo de mais ou menos 40 pessoas recebe um
número acima da média de trabalho encomendado pelas escolas de samba do Rio. Esses pedidos começam a chegar a partir de agosto, ou
seja, mais de seis meses antes da folia começar.
Em média, essas pessoas ganham cerca de um
salário mínimo por mês para bordar fantasias
e bandeiras das escolas - a única renda certa
no ano, já que como bordadores e bordadeiras
dependem das cada vez mais escassas encomendas. Eduardo Marques, de 23 anos, que é bordador de Carnaval há dez anos, tem nesse trabalho uma possibilidade de ganhar “um extra”.
Dinheiro que usa para pagar o curso de direito
que está fazendo.
“Nós recebemos pela nossa mão de obra. Eu tenho emprego fixo, mas que me ajuda bastante
com meus estudos. Para muitas pessoas que fazem esse trabalho, muitas vezes, é o único dinheiro que recebem. Muita gente precisa mesmo
disso, porque não é mais tão comum contratarem bordadeira ou bordador. O trabalho para o
Carnaval aumenta sempre. A cada ano tem mais
Fevereiro 2015
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coisa para fazer. Esse ano estamos fazendo bordados em geral para diversas escolas de samba
do Rio de Janeiro. Já fizemos para a Beija-Flor,
também” diz Eduardo que aprendeu a bordar
com a irmã mais velha e a tia, quando ele ainda
era um adolescente.
Cristiano Bara, chefe de alegoria e chefe de ateliê da Beija-Flor, coordena diretamente 29 funcionários. Ele destaca que além de contar com
os serviços de profissionais externos - como no
caso das bordadeiras de Barra Mansa -, a escola
de Nilópolis também aumenta o contingente de
trabalhadores para a área de costura no auge do
processo de criação no barracão. Processo que é
fundamental para a vida de muita gente: “Têm
pessoas que trabalham comigo há 12 anos. A
maioria delas só trabalha no carnaval. Eu mesmo só trabalho no carnaval. Muitas famílias são
sustentadas só com o que se ganha nos meses de
trabalho em que se dá o carnaval” disse Cristiano.
Uma grande escola de carnaval, no auge dos trabalhos, emprega cerca de 300 pessoas. A economia gira quando uma
escola de samba compra materiais
para construir um carro alegórico.
Um turista que deixa sua cidade, ou
país, e se hospeda em um hotel para
acompanhar os desfiles ou participar
dos blocos, também participa do processo desse giro econômico. Quando
um vendedor ambulante reforça seu
estoque para suportar a elevação na
demanda, quando grandes empresas
montam camarotes na avenida para
receber seus convidados e quando
outros setores da sociedade se envolvem nos quatro dias de folia nota-se
a cadeia produtiva do carnaval, que
alavanca esse verdadeiro fenômeno
econômico.
Carlos Lessa, ex-presidente do BNDS
(Banco Nacional do Desenvolvimento
Social) ressalta a força econômica do
carnaval, mas faz uma ressalva quanto à elitização da festa: “Há anúncios
na Alemanha para vender lugar nas
alas do Carnaval carioca. Isso modificou a festa, pois aumentou as cores
e diminui o balanço. Muita gente que
pode pagar não sabe dançar. Para suprir isso, as
fantasias estão cada vez mais enfeitadas e coloridas. O povão, de modo geral, está ficando de
fora das grandes escolas de samba. Com isso,
eles vão migrando para escolas menores ou para
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
os blocos de rua. Os desfiles das grandes escolas geram mais dinheiro que os blocos. Mas os
blocos colocaram de volta o povo na festa. No
ponto de vista econômico, os blocos de rua não
são tão fortes. Nem tão organizados. A Beija-Flor
faz com que Nilópolis, um município carente, que
vive a atmosfera de uma grande escola, mas isso
não é mais tão comum nas grandes agremiações.
No entanto, no sentindo econômico, as escolas
grandes ainda são importantes para o povo, principalmente devido à geração de empregos”, diz
o economista, que fundou o bloco carnavalesco
“Minerva Assanhada”.
Apesar de haver alguma discordância, para muitos analistas o carnaval é a data comemorativa
mais lucrativa do Brasil, superando - além do
Natal - a Páscoa, o Dia das Mães, dos Pais, das
Crianças e o Réveillon.
Como era de se esperar, no período de folia, a demanda por serviços de turismo cresce vertiginosamente. De acordo com o Ministério do Turismo,
o Carnaval 2013 gerou 6,2 milhões de viagens
dentro do país, alcançando uma movimentação
financeira de R$ 5,7 bilhões, algo em torno de
2,5% a 3% do faturamento previsto para o setor
naquele ano. Só o Rio de Janeiro recebeu 900 mil
turistas, brasileiros ou estrangeiros.
Um levantamento feito pela Riotur em parceria
com a secretaria de Desenvolvimento Econômico
do Estado aponta que em 2014, o Carnaval movimentou cerca de R$ 2,270 bilhões, dos quais
aproximadamente R$ 1,790 bilhão foram provenientes do turismo. O restante foi oriundo dos
investimentos das escolas de samba, eventos
paralelos, decoração e organização de blocos de
rua. Em 2014 foram 920 mil turistas no Rio de
Janeiro. A expectativa para 2015 é de que todos
esses números subam ainda mais.
Embora o sucesso turístico do Carnaval seja evidente, o Ministério do Turismo tem planos ainda
mais ambiciosos. Em 2013 foi realizada em Brasília uma reunião para discutir formas de fazer
com que o Carnaval se torne um produto turístico capaz de encantar turistas e gerar emprego e
renda durante todo o ano para as comunidades
envolvidas com a festa.
Nesse ano em que a cidade do Rio de Janeiro
comemora 450 verões, a festa mais popular do
planeta não pode ficar fora dessa folia. O desejo
é sempre que a Cidade Maravilhosa siga evoluindo e que o Carnaval acompanhe esse bloco.
Afinal, sempre há o que melhorar e essa dupla
antiga de farra sabe bem como se adaptar e superar as adversidades do caminho.
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RICARDO DA FONSECA
Nunca é demais falar de boas iniciativas que visam o crescimento
das pessoas. Se nunca é demais falar, pôr em prática esse tipo de
ação é ainda mais importante. E é isso que a Beija-Flor faz em Nilópolis. Com todo o apoio e interesse de seu patrono, Anizio Abrão
David, a Deusa da Passarela executa todos os dias ações sociais
que modificam para melhor a vida de muitas pessoas deste município da Baixada Fluminense.
CRECHE JULIA ABRÃO
Cerca de 170 crianças de seis meses a seis anos estão matriculadas
(gratuitamente) atualmente na Creche Julia Abrão David. São 20
funcionários – entre professoras, babás, porteiros e cozinheiras – que
conhecem todas as crianças pelo nome. O serviço prestado por essa
creche age diretamente para o crescimento da cidade de Nilópolis,
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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pois, uma vez que os pais sabem que os filhos
estão sendo bem tratados, trabalham com mais
tranquilidade e produzem mais e melhor em
seus respectivos empregos. Somente famílias
com renda abaixo de três salários mínimos podem matricular crianças na instituição.
Carinho é o que não falta na Creche Julia Abrão
David, que foi fundada em 1980, como Creche
Beija-Flor, mas que mudou de nome para homenagear a mãe do patrono da escola de samba
de Nilópolis. As crianças, que ficam o dia inteiro
no local, têm alimentação, banho, hora de estudar, de brincar e até para descansar. “Quando a
criança chega aqui pela manhã, nós damos um
banho, independentemente de ter tomado banho em casa. Colocamos um uniforme nela e
ela vai para as atividades do
dia-dia. Aí, elas aprendem
e interagem com as outras
crianças” conta Maria de
Lourdes, diretora da creche e
do Educandário Abrão David.
Caminhar pelas dependências da creche é esbar-
rar em alegria. Os pequenos estão sempre sorrindo, dispostos a dar carinho e afeto, como se
estivessem retribuindo tudo o que recebem ao
longo do ano, todos os dias. E haja pique para
acompanhar o ritmo da criançada. Pique que as
pessoas que trabalham na creche, têm de sobra.
A chefe da cozinha, Maria Lucia Ferreira, e sua
assistente, Adriana da Costa, trabalham com um
sorriso no rosto enquanto prearam o almoço das
crianças da creche e do Educandário. Elas cozinham para as 170 crianças da creche e para as
740 do Educandário sem perder a simpatia e o
bom humor: “Somos nós duas para esse
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monte de criança, mas não tem problema, nem
dificuldade. Fazemos com amor sempre” sorri
Maria Lucia enquanto mexe uma panela enorme
de feijão.
“Eu gosto daqui. A gente brinca, estuda, descansa e se diverte” diz o pequeno Gabriel, de
cinco anos, deitado depois do almoço.
EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID
Fundando em 1987 com o intuito de dar continuidade ao trabalho da Creche, o Educandário Abrão David vem cumprindo esse papel com
êxito. Atualmente são 740 alunos que têm entre
sete e dezesseis anos e estudam até o nono ano
do ensino fundamental, sem pagar mensalidade
e recebendo um ensino de muita qualidade. Maria de Lourdes
aponta muitos diferencias do educandário em relação ao
ensino dado nos colégios públicos de Nilópolis, mas um é mais
simbólico: “Aqui no
educandário não tem
aprovação automática. O aluno só passa
se souber a matéria”
afirma Maria.
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Para o aluno aprender é preciso ter bons professores e isso há no Educandário. Esse é o caso
de Rosemary Vianna, que é muito querida pelos alunos, o que não é uma exclusividade dela:
“Gosto da professora Rose e de todas as outras.
Estudar aqui é muito legal” conta Bruna.
O ensino do Educandário é de fato muito bom.
A instituição atrai pais de alunos de outros municípios da Baixada Fluminense. Por questão
de espaço não é possível matricular todos, porém, Maria de Lourdes revela que às vezes abre
umas exceções: “Muitas vezes vem o pai, a mãe,
a criança e todos pedem, até choram, para estudar aqui. Aí, mesmo com as turmas formadas,
eu, quando posso, ajudo. Não resisto e ajudo”
pontua.
O Educandário é referência de ensino. Como
a Revista da Beija-Flor mostrou na edição de
2014, muitos alunos formados na instituição
hoje são pessoas bem sucedidas no mercado
de trabalho. Contadores, engenheiros químicos,
professores e outras profissionais de áreas de
extrema importância para a sociedade, fizeram
o ensino fundamental no Educandário Abrão
David e agradecem por isso.
CAC
Para completar o trabalho feito na creche e no
educandário, o Centro de Atendimento Comunitário Nelson Abrão David, conhecido como CAC,
foi fundado por Anizio Abrão David e seu Irmão
Nelson em 1991. O CAC oferece diversos cursos profissionalizantes para jovens e adultos de
Nilópolis e adjacências. Em parceria com o Sesi,
cursos de informática, guia turístico, matemática, técnicas de redação entre outros foram realizados pelo CAC em Nilópolis, colocando jovens
mais preparados no mercado de trabalho.
passistas, mestre-sala e porta-bandeira mirins.
Crianças e jovens de Nilópolis são os principais
beneficiados por esse trabalho.
JIU-JITSU
Alunos matriculados: 100.
As aulas acontecem desde: 2000.
Resumo: coordenado pelo professor Elan Santiago o projeto que tem como principal meta
ajudar as crianças de Nilópolis e adjacências a
praticar esportes já obteve expressivos resultados. Em 2009, a equipe de jiu-jitsu da Beija-Flor disputou os campeonatos brasileiro e o
estadual, além da competição organizada pelo
atleta Raphael Abi-Rihan. No brasileiro, a equipe da Beija-Flor foi representada por 24 atletas,
que conquistaram sete medalhas de ouro, doze
de prata e uma de bronze, conquistando o 3º
lugar por equipe. No campeonato estadual, 26
atletas nossos participaram levando para casa
nove medalhas de ouro, três de prata e três de
bronze, conquistando o 3º lugar por equipe. Na
PROJETO SONHO DE UM
BEIJA-FLOR
Outra atividade realizada pela
Beija-Flor de Nilópolis é o projeto
Sonho de um Beija-Flor. A iniciativa consiste em aulas de diversas modalidades esportivas como:
Jiu-Jitsu, futebol, natação e dança. Além dos ensinamentos de
samba passados para a bateria,
81
competição organizada pelo Raphael, filho do
nosso amigo Hilton Abi-Rihan, conquistamos
doze medalhas de ouro, oito de prata e cinco de
bronze, com a participação de 38 atletas.
Novidades: a farmácia de manipulação Analítica doou quimonos para as crianças que participam do projeto. Recentemente, o lutador
Toquinho visitou os treinos e fez a alegria da
criançada.
BALÉ
Alunos matriculados: 100
As aulas acontecem desde:
2001
Resumo: Ghislaine Cavalcanti, coreógrafa profissional,
coordena o “Aprendendo com
o balé”, que inclui as aulas de
balé clássico, jazz e sapateado. Alunos, que têm entre 5 e
17 anos, aprendem um pouco
mais sobre a história da dança e com a prática adquirem
disciplina e concentração.
Novidades: como de costume, os alunos do projeto são
frequentemente convidados
para participar de importantes festivais de dança, como o
tradicional evento que acontece todos os anos em Joinville, Santa Catarina.
GINÁSTICA
Alunos matriculados: 280
As aulas acontecem desde: 2003
Resumo: o programa Vivabem é um projeto que
orienta atividades físicas, recreativas e culturais
para adultos e idosos, possui nove anos de existência em Nilópolis, sendo criado e orientado
pela professora de educação física Mari Tania
Bedin. Contando sempre com o apoio da família
Abrão David, o projeto passou desde janeiro de
2013, a realizar suas atividades físicas na quadra da Beija-Flor de Nilópolis.
Novidades: além das atividades físicas e recreativas, os eventos culturais também fazem parte do programa Vivabem, como comemoração
dos aniversariantes do mês, passeios, bingo em
homenagem as mães, festas juninas internas e
externas, baile dos anos 60,70,80 e confraternizações em geral.
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Projeto Zico 10
Polo Beija Flor de Nilópolis
Alunos matriculados: 100.
As aulas acontecem desde: março de 2014.
Resumo: em parceria com o projeto Zico 10, a
Beija-Flor de Nilópolis promove desde o início
de 2014 atividades esportivas para crianças e
adultos com deficiências intelectuais. De todos
os núcleos do Zico 10, esse é o único voltado
para pessoas com deficiências. Nas dependên-
cias da Deusa da Passarela, eles podem treinar
futsal e natação, além de competirem em outras
modalidades esportivas. Júnior Barata e Thatiane Barboza coordenam os trabalhos.
Novidades: durante o funcionamento do projeto, duas competições já foram disputadas: a primeira do Joabeni, organizada pela APAE de Nova
Iguaçu, no qual seis medalhas de ouro e quatro
de prata foram conquistadas. Além da OLIMPEDE, uma competição realizada na cidade de Volta Redonda. Nessa disputa, os atletas viajam e
ficam hospedados na cidade por três dias. Para
essa competição, uma delegação de 25 alunos
foi levada, com a supervisão de seis professores.
Quatro medalhas de
ouro, quatro de prata e quatro de bronze
foram conquistadas,
nas modalidades de
arremesso de peso,
corrida de 100 metros, caminhada de 25
metros, lançamento
de pelota e salto em
distância.
CRECHE JÚLIA ABRÃO DAVID
Rua Mário Valadares, 20
Bairro de Novo Horizonte, Nilópolis
Turmas:
Berçário - dos seis meses aos três anos de idade
Jardim I - três e quatro anos de idade
Jardim II - quatro a seis anos de idade
EDUCANDÁRIO ABRÃO DAVID
Equipe:
Nutricionistas e Professoras
Cozinheiras e Auxiliares de cozinha
Faxineiras e lavadeiras
Atendentes e auxiliar de serviços gerais
Motorista e vigias
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
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“O projeto Zico 10 é voltado à dar oportunidades às crianças que, por conta de limitações
financeiras, não têm chance de praticar esportes.
A intenção principal não é formar jogadores de futebol e sim, cidadãos.
Quem forma jogadores são os clubes.
Obvio que podem surgir talentos nesses projetos, o Brasil é um celeiro de craques. Mas
o nosso foco principal é o social, a cidadania. Isso é o que mais nos interessa nessas
iniciativas.
Sobre o projeto Zico 10 na Beija-Flor que é voltado para pessoas com deficiências
intelectuais, nós temos uma equipe que analisa as localidades para entrarmos com os
projetos. Não adianta realizarmos uma iniciativa dessas em um local sem estrutura e
sem profissionais qualificados para essa função. Precisamos de uma infraestrutura
organizada, e foi o que encontramos aqui. A Beija-Flor junto com a equipe que montamos
está realizando esse trabalho maravilhoso que ajuda muita gente e vem obtendo grandes
resultados.
O sentimento que fica é sempre o de satisfação e felicidade por ver que as iniciativas
geram bons frutos.”
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“Mas renova-se a esperança, nova aurora a
cada dia. E há que se cuidar do broto pra que
a vida nos dê flor e fruto”.
Milton Nascimento
Os versos de Milton de Nascimento, da canção
Coração de Estudante, poderiam ser ritmados
com muito sentido pela atual bateria da Beija-Flor. Isso porque cerca de 70% dos membros da
“Trovão Azul” são crianças, adolescentes e jovens de Nilópolis. Garotada oriunda do projeto
social Sonho de um Beija-Flor.
Mestre Rodney, que ao lado de Mestre Plínio coordena as atividades da bateria da agremiação,
explica como se deu essa renovação: “Começamos em 2010. Plínio e eu assumimos os trabalhos e o Laíla, que idealizou essa nova filosofia
de investir na prata da casa, nos pediu para que
iniciássemos esse processo de incluir a garotada da comunidade. Muita gente falava que em
Nilópolis não havia ritmistas. Estamos provando
que temos — muito bons. Através do projeto Sonho de um Beija-Flor, colocamos a bateria mirim
para funcionar melhor e os garotos já passaram
a tocar nos carnavais seguintes a implantação
dessa nova política. Foi uma mudança em curto
prazo que deu e vem dando muito certo”.
Se no futebol reclama-se da falta de amor à
camisa, no Carnaval o sentimento é outro. “A
molecada que chegou para a bateria toca com
muita vontade. Faz com prazer. Isso só pode gerar bons resultados. Eles dão tudo pela escola”
fala com entusiasmo Mestre Rodney.
No carnaval, cada bateria de escola de samba
tem um apelido e muitas delas características
próprias. A da Azul e Branco de Nilópolis, co88
Revista Beija-Flor de Nilópolis
nhecida como Trovão Azul, carrega uma chuva
de adjetivos pontuados por Rodney: “Com todo
respeito às outras escolas, mas a bateria da Beija-Flor causa um impacto diferente. Essa qualidade cresceu muito com essas novas medidas
implantadas, como a chegada dos garotos novos. Todo mundo conhece a bateria da Beija-Flor
quando ela entra na avenida. Temos uma afinação especial, um equilíbrio, uma organização. É
a cara da escola”.
Laíla, diretor de harmonia e de Carnaval da
agremiação, frequentemente elogia a Trovão
Azul: “Eu tenho uma bateria formada há menos
de cinco anos e só com molecada da comunidade. Os moleques são fantásticos. Tocam demais.
Saíram no enredo do Roberto, foram campeões,
e em 2013, com o Mangalarga Marchador, sustentaram o vice-campeonato. Tocam com amor.
Parecem que vão comer o instrumento” disse
com entusiasmo.
Projeto sonho de um Beija-Flor
É cuidando do broto que a agremiação de Nilópolis colhe flores e frutos.
Essa preocupação com o futuro da escola, do Carnaval e da comunidade, é que motiva a Beija-Flor
a realizar esse trabalho de base com as crianças
e jovens da região. O projeto Sonho de um Beija-Flor conta com atividades de bateria, passista,
mestre-sala e porta-bandeira mirins, tem a parwww.beija-flor.com.br
ticipação de cerca de 220 jovens e crianças, com
resultados muito positivos.
Selminha Sorriso, que coordena com Claudinho o
projeto para desenvolvimento de passistas, mestre-sala e porta-bandeira, aponta que além do
aprendizado para o mundo do samba, os jovens e
crianças da Beija-Flor saem do projeto mais bem
preparados para encarar o cada vez mais competitivo “mundo real”. “Eles aprendem a interagir,
a dividir, aprendem a viver em comunidade, ou
seja, em sociedade. Aprendem a ter disciplina,
respeitar hierarquia, respeitar as pessoas, qualquer pessoa”.
Claudinho vai mais longe e diz que as iniciativas
do projeto fazem com que as crianças apontem
seus olhares para um futuro melhor. Segundo
o Mestre-Sala: “Temos um futuro longo de comunidade, graças a esse tipo de iniciativa. O
trabalho já nos rendeu e continuará rendendo
grandes frutos. Não somente para a agremiação, mas para as crianças, porque adquirem uma
capacitação que será útil a elas também no futuro” frisou.
O Carnaval não para na avenida ou nos blocos
de rua. Ele se faz presente nas rodas de samba e
nos encontros informais entre amigos ao longo
dos 365 dias do ano, atuando como um instrumento que leva alegria e diversão ao povo de
todas as camadas sociais e econômicas.
Pensar, então, em oferecer ao povo - dessa e das
próximas gerações - um espetáculo artístico tão
rico e animado, significa investir no despertar
e aprimoramento de habilidades muitas vezes
adormecidas em jovens e crianças das comunidades que têm o samba correndo em suas veias.
Como diz o cancioneiro, “E há que se cuidar do
broto pra que a vida nos dê flor e fruto”.
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Luiz Antônio Gouveia
O tema da Economia Criativa vem chamando a
atenção de empreendedores, governos e pesquisadores em todo o mundo devido aos altos índices
de crescimento que os setores criativos têm apresentado nos últimos vinte anos quando comparados aos índices de crescimento de outros setores
econômicos.
Além disso, tem-se observado que a renda média
gerada pelos negócios da Economia Criativa se
eleva acima da renda média de outros segmentos
econômicos, e os governos de diversos países têm
estimulado atividades econômicas criativas com
objetivo de promover a inclusão social e econômica em cidades e regiões mais pobres.
Mas o que vem a ser de fato esta tal de “Economia Criativa”? Existem diferentes entendimentos
a respeito do tema. Em sentido amplo, a economia
criativa é, predominantemente, a economia do intangível, do simbólico. Ela se alimenta do talento e da criatividade do ser humano para produzir
bens e serviços de alto valor agregado. Do ponto
de vista de políticas públicas, no Brasil a Economia
Criativa compreende os setores cujas atividades
produtivas têm como processo principal um ato
criativo gerador de um produto – bem ou serviço
– cuja dimensão simbólica é determinante do seu
90
Revista Beija-Flor de Nilópolis
valor, resultando em produção de riqueza cultural,
econômica e social para o país.
Assim, a Economia Criativa trata da produção e do
consumo de bens e serviços das mais variadas expressões artísticas – música, teatro, cinema, dança,
artes plásticas, literatura etc. – e de atividades de
conteúdo cultural como o design, os jogos eletrônicos, a moda, a arquitetura e as festas populares.
E em se tratando de diversidade cultural nosso
país é de uma riqueza sem igual. Do artesanato
marajoara às danças folclóricas do sul, a multiplicidade de cores, texturas, sons e sabores faz da
cultura brasileira uma experiência exuberante em
todos os sentidos. No entanto, uma manifestação
cultural em especial liga o brasileiro de norte a sul:
o carnaval.
Para além de patrimônio da cultura nacional, o
Carnaval pode ser compreendido também como
uma atividade criativa que movimenta grandes
volumes de recursos financeiros, gera ocupação e
renda e promove a exportação da nossa música,
da nossa dança, do nosso cinema e até de produtos de outros setores, como vestuário, calçados e
acessórios.
Dentre todos os carnavais de norte a sul do Brasil,
o do Rio de Janeiro é o mais expressivo, seja do
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ponto de vista de popularidade,
audiência (local e internacional)
ou econômico.
De fato, os números decorrentes
da economia do Carnaval carioca
são impressionantes. De acordo
com estimativas da Riotur e da
Secretaria de Desenvolvimento
Econômico do Estado do Rio de
Janeiro, em 2014 o Carnaval carioca movimentou cerca de US$
950 milhões (o equivalente a R$
2,47 bilhões pelo câmbio atual). Deste montante,
US$ 750 milhões foram gerados pelas atividades
turísticas, e o restante referiu-se aos investimentos em escolas de samba, eventos paralelos, decoração e organização de blocos de rua. Os festejos
mominos de 2014 atraíram quase 1 milhão de
turistas à capital fluminense e geraram 250 mil
novos postos de trabalho.
O núcleo desta economia reúne as atividades econômicas relacionadas aos desfiles das escolas de
samba do grupo especial e dos grupos A, B, C, D
e E. As escolas de samba do grupo especial, por
exemplo, têm orçamentos que variam de US$
3,5 milhões a US$ 7 milhões. Entretanto, a cadeia
produtiva do Carnaval inclui diversas outras atividades econômicas, desde a produção e comercialização de matérias-primas para fantasias, adereços
e carros alegóricos até a prestação de serviços de
iluminação, sonorização, segurança, limpeza, alimentação e transporte durante os desfiles. Acrescente-se, também, os negócios de produção e difusão fonográfica (gravação e radiodifusão de CDs
de sambas-enredos) e de transmissão televisiva
dos desfiles de carnaval.
Observam-se, no entanto, algumas fragilidades na
cadeia produtiva do carnaval. As ocupações geradas, por exemplo são, em grande parte, informais e
de curto prazo – em torno de 4 meses. Mesmo nas
atividades que se beneficiam de forma indireta do
carnaval, relacionadas ao turismo e ao entretenimento, as ocupações informais representam mais
de 40% do total, com exceção do segmento de
transportes. Por outro lado, o acesso a recursos
financeiros para investimento e capital de giro é
restrito e de alto custo. E a gestão e a força de trabalho dos empreendimentos carnavalescos ainda
carecem de melhor qualificação.
Para além destas limitações, o grande desafio que
se impõe ao fortalecimento da cadeia produtiva
do Carnaval no Rio de Janeiro é o de diminuir o
efeito sazonalidade e gerar negócios rentáveis ao
longo do ano. E o primeiro passo em direção a isto
é tornar o espetáculo do Carnaval uma indústria
criativa de fato.
Uma estratégia possível seria estabelecer uma parceria muito estreita entre os agentes econômicos
diretamente relacionados à atividade carnavalesca – as escolas de samba – e grandes operadoras
internacionais de turismo com o objetivo de gerar
um fluxo contínuo de turistas estrangeiros dispostos a viver a “experiência do carnaval” – em qualquer época do ano e ainda que em escala reduzida
– na cidade ícone dessa manifestação cultural.
Obviamente, tornar o espetáculo do Carnaval uma
indústria criativa de fato requer um conjunto de
iniciativas fundamentais de responsabilidade tanto
do Estado quanto da iniciativa privada, tais como:
melhorar o nível de profissionalização da gestão e
dos trabalhadores das atividades econômicas que
compõem o núcleo da cadeia produtiva; atrair investimentos públicos e privados em infraestrutura
necessária às atividades carnavalescas; promover
a inovação tecnológica e, ao mesmo tempo, garantir a preservação das raízes culturais do carnaval;
viabilizar o acesso dos empreendimentos carnavalescos a linhas de crédito subsidiadas; dentre outras medidas.
Enfim, é sabido que o Carnaval e as atividades culturais relacionadas ao samba geram efeitos multiplicadores muito mais amplos do que aqueles diretamente relacionados à produção e organização
do evento anual. Portanto, considerar o espetáculo
carnavalesco como uma indústria criativa de padrão mundial pode ser a estratégia de mais curto prazo para realizar todo o potencial econômico
que esta manifestação cultural possui.
___________
Luiz Antônio Gouveia é economista e mestre em Administração. É, ainda, analista de planejamento do IBGE. Entre 2011 e
2014, ocupou o cargo de Diretor na Secretaria da Economia
Criativa do Ministério da Cultura. Atualmente, ocupa o cargo
de Assessor de Gestão Estratégica na Secretaria Executiva do
Ministério da Cultura.
Fevereiro 2015
91
PAULO SENISE
“Faça seriamente as coisas frívolas,
alegremente as coisas sérias”.
Montesquieu
filósofo francês do século XVII.
Parodiando o ditado popular (farinha do mesmo
saco) poderíamos perguntar: o Carnaval e o Turismo são confete do mesmo saco?
Resposta: sim.
Porque ambos são atividades socioeconômicas
das quais participam o estado e a iniciativa privada, voltadas para o lazer em movimento e para
a vertigem de interromper o dia-a-dia e “olhar
pelo buraco da fechadura” um outro mundo.
Um e outro, a seu modo, contribuem para o
crescimento da sociedade porque ensinam, divertem, repartem emprego e renda, tanto individualmente quanto para as empresas de pequeno
e grande porte que os apoiam, bem como para
toda a cadeia produtiva da mídia.
No Carnaval, sobretudo o do Rio, este outro
mundo começa a ser produzido um ano antes,
pelo menos, com a escolha do samba-enredo,
a pedra de sustentação da parada de rua, hoje
exibida no asfalto da Sapucaí.
Seguem-se as escolhas das alegorias, da bateria,
da Comissão de Frente, das fantasias, Porta-Bandeira, Mestre-Sala e passistas; uma mistura de
componentes, custos e timing, cuja boa administração vai determinar o sucesso e a premiação na
quarta e quinta-feira seguintes ao desfile.
92
Revista Beija-Flor de Nilópolis
No entanto, como diria Caetano Veloso, “ou
não”. Porque contrariamente ao turismo, o desfile é altamente competitivo, e seu sucesso não
depende unicamente de se seguir uma receita
pronta. Há fatores que fogem do controle administrativo e o imprevisível pode ser determinante.
Desde os seus barracões até a divulgação antecipada do seu hino, tudo é julgado e comparado
com as outras agremiações.
No Turismo nem tanto; a competição não é um
duelo: é uma escala de qualidade e bons serviços.
A palavra turismo deriva de “fazer um tour” e o
registro de sua primeira iniciativa coordenada
remonta à Inglaterra do século XIX. Surgiu como
parceria entre uma política de estado - com o
objetivo de proporcionar aos jovens aristocratas
a vivência de outros lugares e países que eles
só conheciam pelos livros - e a talvez pioneira
agência de turismo inglesa, a Vagons-lit Cook
que, obviamente, oferecia transporte por trem,
fundada por Thomas Cook & Sons.
Hoje, o turismo movimenta milhares de pessoas se deslocando individualmente, em pequenos
grupos, ou em caravanas gigantes como acontece nos cruzeiros marítimos, em congressos e sewww.beija-flor.com.br
minários de empresas, em busca de sol ou neve,
luz ou sombra, diversão ou quietude.
O turismo tem no carnaval seu grande aliado como gerador de demanda com importante
impacto econômico no setor. Ao revelar para o
mundo episódios da rica história do Brasil, esse
majestoso espetáculo, considerado o maior show
a céu aberto, desperta curiosidade e fascínio nas
pessoas de toda parte que nos visitam e querem ver de perto o que é tão bem narrado pelas
agremiações.
E nesses dias brilham igualmente a capital e o
interior do Estado do Rio de Janeiro. A Beija-Flor, jóia de Nilópolis, na Baixada Fluminense,
é o exemplo perfeito.
Destaca-se, ainda, a importância dos meios de
comunicação tanto para o carnaval quanto para
o turismo. Já no início do século XIX os principais jornais do país, notadamente o Jornal
do Brasil abriam espaço para a verdadeira
batalha travada entre o antigo Entrudo e o
desfile das Sociedades Carnavalescas. O JB,
por exemplo, dedicava a partir de novembro uma seção para descrever as músicas
que iriam estourar nas rádios, com comentaristas cada vez mais especializados. As
revistas de maior tiragem, como O Cruzeiro
e, depois, a Manchete, davam primeira página e numeroso “miolo” a cores.
Na primeira década do século XX, surgiram
os desfiles de fantasia dentro dos salões dos
melhores hotéis e clubes, com concursos
com presença expressiva da imprensa e a
eleição da Rainha do Carnaval de cada ano.
Depois, já na década de 1950, a explosão
da popularidade do Carnaval “vazou“ para
novos espaços de apresentações carnavalescas. Quadras de ensaio, blocos de rua e finalmente chegando à avenida! E a partir da década
de 1970, a televisão globalizou o tema Carnaval:
entrevistas, descrições das fantasias e temas-enredo e, por fim, o espetáculo de cor, ritmo,
energia e plástica dos corpos.
Os últimos tempos, já com a presença da internet e das mídias sociais são conhecidos e não
carecem de comentários – “uma imagem vale
mais do que mil palavras”.
Por tudo isso, é muito bem-vinda a revista
“Beija-Flor de Nilópolis - Uma Escola de Vida”
- que este ano completa 14 edições de vitorioso
e ininterrupto sucesso como intérprete de um
projeto interativo de comunicação, em prol do
carnaval e do turismo, que nasce antes e se
estende bem além do Carnaval.
E conforme afirmam os seus editores Ricardo
Da Fonseca e Hilton Abi-Rihan, “todo esse apoio
nos envaidece e enche de orgulho, porque evidencia que a proposta de focar na valorização
do samba carioca e da agremiação nilopolitana e no espetáculo de cores e sons realizado na
cidade do Rio de Janeiro, como mais uma demonstração de excelência e VOCAÇÃO TURÍSTICA da região, estão dando resultados”.
E concluem: “essa é a política que nos norteia fazer uma publicação não descartável.”
Em tempos de constantes mudanças não é pouco sobreviver 14 anos. E, provavelmente, uma
das receitas dessa longevidade é o equilíbrio
editorial, calibrando o conteúdo jornalístico, a
riqueza das imagens e os depoimentos pertinentes.
E atrás de tudo isso está sempre a Agremiação,
que além de sua função precípua de provedora
de uma Escola de Samba, desenvolve um interessante lado social através dos serviços de Creche, do Educandário e do CAC, um exemplo para
as demais agremiações.
Que a marca da Beija-Flor tão presente na Revista brilhe como sempre iluminando a avenida.
___________
Paulo Senise é graduado em Hotelaria e Turismo pela Faculdade de Turismo Centro Unificado Profissional no Rio de Janeiro
com especialização em Gestão de Investimento e Financiamento em Hotelaria pela Universidade de Cornell – Distrito de
Ithaca, Nova Iorque, EUA.
Fevereiro 2015
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MIRO LOPES
ALUISiO MACHADO
VILMA NASCIMENTO
“Chega como eu cheguei, pisa como eu pisei, no
chão que me consagrou”, com essa reverência
estampada na camiseta, o compositor e sambista
Aluísio Machado recebe amigos, fãs e público, em
seu Império Serrano, onde aos 14 anos, chegou,
pisou, desfilou, começou como compositor e
se consagrou. Com 75 anos, Aluísio não para.
Constantemente na ponte-aérea, é presença
especial no Sambokas Bar, Traço de União e outros
redutos paulistas do gênero. Ano passado, a ViraLata produziu o documentário “O famoso Aluísio
Machado”. É o Cidadão Samba 2015, promoção do
jornal Extra (RJ), eleito por dezenas de milhares de
internautas. Dia três de abril, quando aniversaria,
o sambista lançará um novo CD e uma biografia:
“Aluisio Machado, sambista fato, rebelde por
direito” escrita por Luís Carlos Leitão.
Integrante da ala dos compositores do Império
Serrano, Aluísio se transformou num dos baluartes do
samba e do carnaval. Audacioso, criativo e inspirado
na onomatopeia da batida do samba-enredo, Aluisio
Machado compôs, com Beto Sem Braço, o samba
para o enredo Candelária, Praça XV e Marquês de
‘Sapecaí’, que deu o primeiro lugar do Grupo 1A ao
Império Serrano em 1982. Não era um samba fácil
e, mesmo assim, fez sucesso e ganhou o “Estandarte
de Ouro”. Além desse, outros estandartes dourados
foram brilhar na sua galeria.
Ao longo de 15 anos, Vilma Nascimento deu
autenticidade à lenda de ser o que todos até hoje
afirmam: a melhor porta-bandeira de todos os tempos.
Outras existiram? Outras virão? Provavelmente.
Mas “Cisne da passarela” só há uma. Vilma é única.
Foram 12 títulos defendendo o pavilhão da Águia no
Carnaval carioca, após o que, entregou a bandeira
para Irene e passou a destaque da Portela. Detentora
de cinco Estandartes de Ouro, um como personalidade
(1990) e o último em 82 quando a União na Ilha
homenageou a Águia, Vilma voltou a mostrar sua
arte, no asfalto, com o eterno parceiro Benício, num
bailado encantador e de estilo inigualável.
Lenda que se preza, vai mais fundo no tempo:
com apenas 16 anos, Vilma já pontificava na noite
carioca, no palco da boate Nitgh and Day, colorindo
o espetáculo “Esta vida é um Carnaval” de Carlos
Machado, apresentando a bandeira da Portela. O
presidente Natal foi tirar satisfação, se encantou
com o que viu e perguntou: “Quer ser porta-bandeira
da Portela?” A jovem declinou do convite porque
defendia o pavilhão da Unidos de Vaz Lobo.
Se lenda precisa de um final feliz, o destino
providenciou: paquerada por um estudante de
Engenharia, que pegou literalmente andando o bonde
em que linda morena retornava para casa, logo, Vilma
e Natal se viram novamente frente a frente, quando
Mazinho (Osmar José Nascimento), filho mais velho
do patrono da Águia de Madureira, apresentou a
namorada ao pai. Este não perdeu tempo: “Agora,
rebelde por direito
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
O cisne da passarela
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você já pode ser a porta-bandeira da Portela”.
Em 1956, Vilma Nascimento começa a riscar no
asfalto um período de glórias na escola. E como
cisne, a porta-bandeira fez da Portela o lago azul
que passou na sua vida e se deixou levar pela magia
do seu bailado. O que faz a verdadeira lenda, senão
superar a imaginação?
ATAULPHO ALVES JR
Samba com “Mais amor”
Se há uma afirmação sacramentada pela
hereditariedade e pelo comprovado talento a que
Ataulpho Alves Jr. faz jus esta é “O herdeiro sou
eu”. Fato era, virou música e sucesso. A distinção de
herdeiro de Ataulfo Alves, com quem trabalhou nos
anos 60, ele recebeu como uma graça do saudoso
pai, em vida, quando lhe entregou o tradicional lenço
branco – marca registrada – com um pedido: Toma
o lenço meu filho e vai defender o que é nosso, de
geração a geração.
Com esse aval e mais 50 anos de carreira e sucessos
dedicados à MPB, Ataulpho Alves Jr. se apresenta
regularmente na gafieira Terra da Garoa, em São
Paulo, com o show renovado pelas composições do
novo CD “Mais Amor”, que acaba de sair do forno.
No seu canto sem fronteiras, Ataulfo Jr. faz uma
retrospectiva de seus sucessos, e também lembra os
mestres Cartola, Monsueto, Nelson
Cavaquinho, Adoniran Barbosa, Noel
Rosa, Ismael Silva, Zé Ketty, Billy
Blanco e obviamente Ataulfo Alves.
No seu incansável compromisso
assumido com pai, conta nas escolas
a história dos nossos grandes
compositores da MPB e ilustra com
músicas dos homenageados. É também para o público
escolar o projeto “Chorando e Valseando na Escolas”,
contando a história chorões, com valsas e chorinhos
apresentadas pelo quinteto Ataulpho. Em abril, o
sambista leva seu samba a Manaus, onde faz show
de 16 a 25; e a partir de dois de maio faz o circuito
mineiro: Miraí, terra do Ataulfo pai, Cataguases,
Leopoldina e Tebas.
TIBÉRIO GASPAR
arte e requinte
Tibério Gaspar, poeta, compositor, radialista, diretor
e produtor musical, compôs cerca de 300 músicas. A
primeira foi “Caminhada”, em parceria com Antonio
Adolfo em 1967. Em novembro passado, lançou seu
novo CD no Programa do Jô. Ao mesmo tempo Tibério
Gaspar se apresenta regularmente por todo o Brasil
com seu trabalho na música.
Além da fértil e talentosa parceria com Adolfo, que
resultou em inquestionáveis sucessos como “Sá Marina”,
“Juliana”, “Teletema”, “Companheiro” e outras. Tibério
tem entre os principais parceiros, os músicos Durval
Ferreira, Nonato Buzar, Erlon Chaves e muitos outros.
No Brasil, suas canções ganharam voz e gravações de
Wilson Simonal, Elis Regina, Tim Maia, Erasmo Carlos e
tantos outros nomes. No exterior, foram gravadas por
ninguém menos do que Stevie Wonder.
Fevereiro 2015
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Em 2005 representou o Brasil no Festival Internacional
de Viña del Mar com sua música “Matilde” interpretada
por Cristina Conrado. Depois Tibério Gaspar escreveu
onze músicas em parceria com Antônio Adolfo
compondo o CD Destiny lançado pela gravadora
inglesa Far Out por toda Europa e Japão.
Entre 2007 e 2008 apresentou o programa “No ar com
Tibério Gaspar”, na rádio Roquete Pinto. Foi também
Gestor Cultural da Ilha de Paquetá pelo período de
dois anos. De 2011 a 2013 trabalhou na Representação
Regional do Ministério da Cultura RJ/ES. Neste ano,
foi eleito membro da Academia de Artes, Ciências e
Letras da Ilha de Paquetá para ocupar a cadeira do
poeta Orestes Barbosa.
Quilombo, do Instituto de Pesquisa de Cultura Negra
e do Centro Cultural Pequena África.
“Hilton Abi-Rihan me levou para o rádio. Credenciou
a mim, Jorge Coutinho e Manuel Alves para cobrir o
Carnaval para Continental. Depois, fui para a Roquete
Pinto, onde conheci Nelsinho então presidente da
Beija-Flor. Ele e Anizio queriam uma Beija-Flor cada
vez mais forte. Quando Anízio assumiu disse: ‘Vou fazer
da Beija-Flor uma grande escola’. E fez. Logo depois,
o mesmo Abi-Rihan me levou para a Nacional-Rio,
onde estou há 35 anos, agora com o Papo do Confete”
disse Rubem Confete com bastante gratidão.
Rubem integrou as alas de Compositores da Império
da Tijuca e Imperatriz Leopoldinense. Foi autor
do enredo “Uma certa negra
fulô” para a Camisa Verde e
Branco, vencedora da Carnaval
paulista de 1973. A deficiência
visual o tirou da passarela e
Rubem desfilou pela última
vez, como “Dom Obá II, o Rei
dos Esfarrapados, o Príncipe do
Povo”, em 2000, pela Mangueira.
É casado com a jornalista Zélia
Confete.
JORGINHO DO IMPÉRIO
Alegre, sorrindo e cantando
Jorginho do Império dispensaria apresentação, não
RUBEM CONFETE
Dom Obá II, o Príncipe do Povo
Quem é Confete? É contrassenso alguém do mundo
“sambístico”, carnavalesco e jornalístico carioca não
saber quem é Rubem Confete. Sabei-lo, pois, Rubem
Confete é a enciclopédia do samba e do carnaval.
Jornalista, radialista, compositor, africanista, mestresala e técnico em fotogravura, Confete completa 50
anos em todas as artes que exerceu. Ele rememora:
“Comecei no Unidos da Dona Clara, que tinha a Vilma
Nascimento. Eu estava com 16 anos e já compunha
meus sambas. Depois no Paz e Amor, aprendi com seu
Gaudino esse lance de mestre-sala. Ia aos bailes e
gafieiras fazer exibições. Xangô e Sinhozinho viram
e me levaram para a Mangueira. O samba tinha
muita força, mas era discriminado. Isso me levou
para o jornalismo porque, mal comparando, eu sofria
a mesma angústia que o Paulo Portela. Fui escrever
na Tribuna de Imprensa, depois no Lampião - do
novelista Aguinaldo Silva”. A mesma angústia que
o fez um dos fundadores e também mestre-sala do
Grêmio Recreativo de Artes Negras e Escola de Samba
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
fosse no mínimo desrespeito à história do samba,
excluir sua filiação paterna: Mano Décio da Viola. Para
o filho é orgulho que se manifesta em cada show e
disco que faz. O pai, consagrado autor de sambas que
são verdadeiras maravilhas, tem presença obrigatória
no repertório de Jorginho. Há três anos, o sambista
vem se apresentando no Cariocando - novo templo
carioca da MPB. Agora, Jorginho está ultimando o
lançamento do novo CD/Dvd “Alegre, sorrindo e
cantando” – título de um samba inédito de tio Hélio
e Monarco. Ambos produzidos por Mauro Diniz e
gravados no Parque Madureira. Alegre, sorrindo e
cantando vem coroar uma carreira com mais de vinte
LPs, além de dezenas de CDs, e centenas de shows
em todo o Brasil e outros países, como Hong Kong,
Argentina, França e Japão.
Emocionado com a inclusão do seu nome, como
Expressão do Samba, Jorginho do Império enfatiza
sua admiração pela Beija-Flor de Nilópolis e, em
especial, seu respeito ao Anizio. E acrescenta: “Papai
tinha uma verdadeira adoração pelo Anizio. Eu vibro
com carisma e a humildade dele. Na hora que Anizio
aparece na Marquês de Sapucaí, o povo o aplaude
entusiasmadamente. E ele merece!”.
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MARCOS
SACRAMENTO
swing DA NOVA GERAÇÃO
O niteroiense Marcos
Sacramento estreou como
cantor da banda Cão Sem
Dono, nos anos 1980. Como
integrante desse grupo de
pop/rock, ele já mostrava
ser um artista plural. O
primeiro álbum dessa
banda trazia uma releitura
de “Sinal Fechado”, canção
de Paulinho da Viola.
Nesses mais de 30 anos de
estrada, o desprendimento
com rótulos e padrões se
tornou uma constante na
carreira de Marcos.
O cantor e compositor
revelou
que
precisou
trilhar outros caminhos
para perceber que o queria
mesmo era fazer música:
“Sempre gostei de música,
desde criança, sempre
gostei de cantar. Quando
menino, meu pai comprou
uma televisão e me lembro
de uma programação muito
musical na TV brasileira em
meados dos anos 1960.
Eu ficava vidrado olhando
aqueles artistas todos
tocando e cantando na
tela. Gostava de música
como ouvinte. Aí, no fim da
adolescência veio a decisão
de ser músico. Nessa época,
conheci umas pessoas de
Niterói que faziam teatro
e entrei nesse grupo. Nós
fazíamos teatro amador no
diretório da UFF. Eu fui me
enquadrando no grupo cada vez mais como cantor. As
pessoas desse grupo se interessavam pelos estudos
do teatro e eu gostava mesmo era de cantar. A partir
daí começou a despertar em mim um desejo real de
viver daquilo. Viver de cantar. Então fui cantar em
um coral no Rio de Janeiro, na Associação de Canto
e Coral. Fiquei dois ou três anos cantando por lá.
Na sequência, comecei a fazer pequenos trabalhos,
cantar em festivais de menor porte e não parei mais”.
Marcos Sacramento tem dez discos solos, o último foi
lançado em 2012, com participação do violonista Zé
Paulo Becker. Além desses trabalhos, ele já marcou
presença em discos de diversos artistas dos mais
variados gêneros musicais. Definir Marcos Sacramento
simplesmente por um estilo é deixar de ver vários lados
do artista. Sacramento é hoje um intérprete capaz
de encaixar em um mesmo roteiro gênios históricos
como Noel Rosa e Cartola com contemporâneos como
Luis Capucho e Luiz Acofra.
Fevereiro 2015
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A Ortobom é uma importante incentivadora do Carnaval
Carioca e da cultura nacional. Empresa 100% brasileira,
tivemos a satisfação de conhecer melhor o seu funcionamento,
que reforça a certeza de que com dedicação e perseverança
podemos promover grandes realizações.
RBF — Após se consolidar no ramo metalúrgico,
a empresa, a partir da compra de blocos de espuma, entrou no segmento de confecção de colchões, que harmoniosamente se casavam com
as camas que fabricavam. Como se deu essa
mudança? Como o mercado consumidor respondeu a esse novo posicionamento?
Reinam Ribeiro — Na verdade tudo ocorreu com
muita naturalidade, os produtos principais eram
os de metalurgia, os colchões eram produzidos
e vendidos como produto complementar das
camas. Com o passar do tempo os lojistas que
eram nossos clientes, passaram a demandar
mais pelos colchões. Com o tempo, o colchão foi
ganhando espaço e os produtos de metalurgia
perdendo. Neste período, o consumidor não nos
identificava como uma marca forte, não éramos percebidos como empresa de colchão ou de
metalurgia, simplesmente colocávamos nossos
itens nos pontos de venda e os consumidores os
adquiriam.
RBF — Quando a Ortobom deixou de ser uma
indústria de transformação (compra de espumas) para ser uma indústria de base (produzir
suas próprias espumas)? O que motivou essa
mudança?
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Revista Beija-Flor de Nilópolis
Reinam Ribeiro — Em 1976 passamos a produzir nossa própria espuma, em 2000 passamos
a produzir nossos próprios molejos, em 2005
passamos a produzir nosso próprio tecido, em
2006 nossas fibras acrílicas, em 2013 passamos a produzir nossas próprias embalagens. O
que motivou todas essas mudanças foi ter um
padrão de qualidade - produzindo os próprios
insumos você não fica sujeito a mudanças de filosofia de fornecedores. É possível garantir uma
melhor qualidade porque você tem total domínio sobre toda cadeia de produção.
RBF — A Ortobom é líder em colchões e um dos
motivos dessa liderança é a definição de um posicionamento de vanguarda, em termos de Brasil. Fale um pouco sobre esse posicionamento.
Onde ele tem levado a Ortobom? Vocês tiveram
como referência posicionamentos de empresas
do mesmo segmento no exterior?
Reinam Ribeiro — Acreditamos que esta percepção de vanguarda é produto do planejamento e
da pesquisa, que foram desenvolvidas e implantadas nestes últimos 45 anos. A definição de um
posicionamento de marketing para dar “norte”
foi fundamental. A Ortobom é uma empresa que
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se reinventa todos os anos, não é estática, estamos sempre pesquisando e seguindo as tendências de mercado. Esta velocidade de adaptação,
nos permite atender as demandas do mercado,
o que faz de nós uma empresa competitiva e
conectada com nossos clientes.
RBFN — Detalhe as estratégias e ações relacionadas à sustentabilidade e à responsabilidade
social executadas pela Ortobom? Qual o resultado para o usuário final?
Reinam Ribeiro — Ser sustentável e ter responsabilidade social é uma filosofia empresarial.
Não se é sustentável ou se tem responsabilidade
social para se vender mais, ou produzir melhor.
Buscamos ser desta forma porque acreditamos
que todos devem estar engajados neste propósito, pois ele é o futuro, e estar distante dele
é sucumbir, é falecer. Simplesmente buscamos
ser assim. O resultado para o consumidor é se
identificar ou não, é admirar ou não, é aprovar
ou não, é dizer para si mesmo: eu quero um produto desta empresa, ou não?
RBFN — A Ortobom tem como prioridade a utilização de matéria-prima de primeira qualidade e
alta tecnologia. É possível dar exemplos dessas
escolhas? Qual o resultado para o usuário final?
Reinam Ribeiro — Também estamos falando de
filosofia empresarial, a partir do momento em
que a Direção da empresa se propõe a produzir somente com
matéria prima de
primeira qualidade, utilizando maquinário de última geração e alta
tecnológica. Além
disso, possuímos
pessoal altamente
qualificado, o re-
sultado desta equação será sempre os melhores
produtos. São os melhores produtos do mercado que nos consagram como a melhor e maior
empresa no segmento, ou seja, causa e efeito. O
resultado é o reconhecimento.
RBFN — Qual o peso do conhecimento médico na
criação dos produtos Ortobom? Muitos estudos
são feitos para que um colchão da Ortobom seja
criado? Qual o resultado para o usuário final?
Reinam Ribeiro — Este trabalho é constante e
possuímos parcerias com médicos ortopedistas
e especialistas do sono. Eles nos auxiliam com
suas experiências e conhecimento, e nós, desenvolvemos produtos e soluções que possam vir a
melhorar a vida dos brasileiros. O retorno que
recebemos das pessoas é a credibilidade, a segurança, a satisfação e o reconhecimento, uma
vez que o produto responde a altura ou supera
as expectativas.
RBFN — Quais os planos futuros da Ortobom?
Reinam Ribeiro — Se manter alerta, rápida e
atual. Qualificar cada dia mais nosso material
humano e saber que se manter evoluindo é a
única garantia de futuro.
RBFN — Gostaria de deixar uma mensagem aos
leitores da revista Beija-Flor de NiIópolis.
Reinam Ribeiro — Se você já é nosso cliente:
agradecer sua confiança e dizer que trabalhamos incansavelmente
para você ter o melhor descanso. E para
você que ainda não é
nosso cliente, gostaria de convidá-lo a vir
conhecer nossos produtos e a empresa, tenho certeza que você
não irá se arrepender.
Fevereiro 2015
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HILTON ABI-RIHAN
A Liesa é responsável por organizar o evento que é o principal cartão-postal da cidade
do Rio de Janeiro. Para realizar um espetáculo desse porte e com um nível de eficiência
como o que tem alcançado, a equipe da Liesa não abre mão do profissionalismo nas suas
ações - incondicionalmente. Assim, com seriedade e respeito ao público, nós, brasileiros,
continuamos a ter o maior espetáculo popular a céu aberto do mundo.
RBF - O Carnaval é uma festa nacional de repercussão mundial e, por isso, exige um enorme
grau de observação por parte dos seus organizadores, especialmente no sentido de identificar os
procedimentos que precisam ser substituídos ou
ajustados. É por isso, que todos os anos, o público espera mudanças para o Carnaval que chega.
Quais novidades podemos esperar para 2015?
Jorge Castanheira - Nós fizemos uma reavaliação
geral do carnaval. Tanto do Grupo Especial, como
da LIERJ. Fizemos uma reunião com as agremiações e ouvimos reclamações, sugestões e fizemos
uma análise, um estudo em relação a manual de
desfile, em relação ao corpo de jurados, o tamanho das escolas, o número de alegorias e chegamos a conclusão de que precisávamos alterar
o horário dos desfiles. Esse ano vamos iniciar o
desfile às 21h30, e não às 21h. Outra mudança
é que o limite máximo de alegorias será sete e
três de tripés por escola. Apenas uma alegoria
poderá ter acoplagem. O tempo de desfile continua 82 minutos, mas com essas mudanças, haverá uma clara melhoria no desenvolvimento das
escolas na Avenida, especialmente pelo tamanho
da escola. Queremos que a cadência do samba
seja mais tranquila e não tão acelerada. Para que
as coisas tenham uma dinâmica mais agradável e
com uma fluidez de desfile mais regular para as
pessoas brincarem mais na avenida.
Não tenho dúvidas de que as escolas passarão
de forma mais solta, e irão interagir com o pú100
Revista Beija-Flor de Nilópolis
blico com maior qualidade. Com isso o desfile e
o público ganham muito.
RBF - Os organizadores do Desfile das Escolas
de Samba decidiram, também, retirar o quesito
“Conjunto” do julgamento nesse carnaval. O que
motivou essa mudança?
Jorge Castanheira - As escolas fizeram uma avaliação dos quesitos e concluíram que o quesito
“conjunto” fala um pouco de cada um dos demais quesitos, então foi decido que esse ano não
haverá esse julgamento. Os outros nove quesitos serão julgados separadamente. A queda do
quesito “conjunto” já havia acontecido, se não
me engano, em 1997. Depois, as escolas pediram
para que ele voltasse, em 2000. Se esse ano a
fórmula der certo, a gente mantém assim. Se não,
junto com as escolas e o plenário, decidiremos
outra coisa. Nosso objetivo é tornar o Desfile das
Escolas de Samba melhor a cada ano.
RBF - Ainda sobre essas modificações que a Liesa vem realizando em favor do espetáculo, esse
ano teremos novos jurados analisando os quesitos das escolas. Fale um pouco mais sobre essa
mudança.
Jorge Castanheira - A mudança se dá por uma
necessidade de renovação. É preciso novos olhares, a festa muda muito, quem analisa tem que
ter uma outra visão também. Depois de uma
avaliação geral do Desfile de 2014 vimos que
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era a hora dessa mudança, com a chegada de
novos olhares. Sempre no intuito de aprimorar.
Dos 40 julgadores, quatro saíram naturalmente por conta da exclusão do quesito “conjunto”.
Outros saíram por motivo de saúde. A mudança
foi em torno de 21 jurados. Tem um câmbio entre os jurados do Grupo de Acesso e do Grupo
Especial também. Ninguém iria se dedicar tanto
a um evento se não fosse sério. É uma competição democrática. Feita com muito suor e amor.
O trabalho dos jurados é sério. Estamos cientes de que reclamações sempre irão acontecer, o
que trabalhamos é para que a festa seja sempre
a melhor possível. Até porque a cada ano que
passa a disputa fica ainda mais acirrada pela
qualidade das escolas. O que a Liga puder fazer para que o Carnaval continue sendo o maior
show da terra, nós faremos. E faremos isso em
parceria com as escolas e o poder público.
RBF - Qual o critério para a escolha dos jurados?
Jorge Castanheira - O Carnaval é uma ópera popular. Tem os cantores que são os puxadores,
tem a bateria que é a orquestra etc. A diferença
é que é a céu aberto. E dinâmica. A gente tenta
buscar pessoas ligadas às áreas que os julgadores irão julgar. Um músico ou maestro para julgar a bateria, um arquiteto para julgar alegoria,
pessoas especializadas para julgar fantasia e por
aí vai. A ideia é essa e é o que a Liesa busca e
estará fazendo nesse carnaval.
RBF - Muito já foi feito em favor do espetáculo
do Carnaval. Ainda há muito a ser feito?
Jorge Castanheira - O sambódromo tem 30 anos.
Recentemente, ele sofreu adaptações. Porém, o
monta e desmonta não nos permite corrigir certas coisas. Por exemplo, queremos cadeiras numeradas nas arquibancadas. Mas é difícil controlar isso em um local tão grande, com degraus
tão largos e extensos. Temos algumas limitações
técnicas e outras de ordem financeira. No entanto, fazemos certas coisas. Por exemplo, ar-condicionado tem em praticamente todos os
camarotes. Aos poucos estamos fazendo, não
tanto quanto nós queremos, mas estamos fazendo alterações que beneficiam todos que vão
assistir os desfiles na avenida.
RBF - Gostaria de deixar algum recado para o
leitor e o amante de carnaval?
Jorge Castanheira - Eu falo do ponto de vista
de quem participa do Carnaval diretamente. O
Carnaval ganhou muito. Esse entrosamento com
o setor público tem dado bons resultados. Trabalhar com o carnaval, com a festa, exige muita
seriedade. É uma força de trabalho coletiva de
um público que dispõe a receber os artistas do
Carnaval que fazem uma obra magistral. O legado que a Liesa tenta passar é o de planejamento
e respeito por todos.
Fevereiro 2015
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Recorte de imagens
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Agradecimentos
Bianca Behrends, Carlos Alberto Vizeu, Carlos Lessa,
Felipe Ferreira, Jorge Castanheira, Laíla, Luiz Antônio
Gouveia, Luiz Antônio Simas, Maria Catta-Preta, Paulo
Senise, Roberto da Matta, Ubiratan Guedes, Ubiratan
Silva e Vicente Dattoli.
Vice-Presidente de Patrimônio – Jorge da Cunha Velloso
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Diretor de Patrimônio – Aroldo Carlos da Silva
Diretor de Patrimônio – Norivelto Guimarães de Oliveira
Revisão de Texto
Leonardo Legey
Fotografia
André Telles, Felipe Lucena, Fernanda Aguiar, Henrique
Matos, Humberto Souza, Leonardo Legey, Marcello de
Faria e Ricardo Da Fonseca.
Esclarecimento
A escolha e seleção das fotografias que ilustram
a edição 2015 da revista Beija-Flor de Nilópolis uma escola de vida, seguem critérios estritamente
artísticos e jornalísticos (transmissão de uma
determinada mensagem), ainda que de modo subjetivo,
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A revista Beija-Flor de Nilópolis - uma escola de vida, ISSN 1678-3611, é uma
publicação oficial do Grêmio Recreativo Escola de Samba Beija-Flor de Nilópolis e
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É permitida a reprodução parcial ou total das matérias, desde que citada a fonte.
Fevereiro de 2015 - Tiragem: 60 mil exemplares
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Diretor Social e Recreativo – Marco Antonio França
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