Transcrição de Entrevista Aberta
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Transcrição de Entrevista Aberta
1 O Circo: a gente viu o mundo que era esse mundo da cultura de Anônimo. (João Carlos Artigos) Transcrição de Entrevista Aberta realizada com o Grupo Teatro de Anônimo, no Encontro Internacional de Palhaços – Anjos do Picadeiro 11: A alegria é a prova dos onze. No IV Seminário de Comicidade, 03 de dezembro de 2013. PRODUÇÃO: TEATRO DE ANÔNIMO REALIZAÇÃO ENTREVISTA: EQUIPE CIRCONTEÚDO Daniel de Carvalho Lopes, Erminia Silva, Giane Daniela Carneiro. Entrevistados: Fábio Freitas, Flávia Berton da Silva, João Carlos Artigos, Maria Angélica Gomes, Regina Oliveira, Shirlei Brito. Transcrição: Iara Cristiane Edição: Equipe Circonteúdo março de 2013 2 Erminia Silva - Entrevistadora – Na realidade, estamos eu e Daniel [de Carvalho Lopes e Giane Daniela Carneiro] fazendo esta entrevista, um convite dos Anjos, mas também em nome do site Circonteúdo, que somos coordenadores, no qual essa entrevista será disponibilizada, bem como no Picadeiro Quente. Desde 1986 que o Teatro de Anônimo existe. É um grupo de uma importância histórica grande, que ao mesmo tempo em que várias pessoas conhecem o Anônimo, de fato não o conhece. Espero que a gente possa falar de várias coisas hoje desse grupo, que individualmente e no coletivo tiveram, tem e terão propostas de diferenciação e distinção de algumas ações junto com outros coletivos, junto com outros artistas, de propostas sociais, políticas, culturais. Então eu já vou começar a fazer algumas perguntas para eles, mas daqui a pouco eu prometo que eu deixo vocês falarem alguma coisa. E perguntas também. Como eu disse, tem muita coisa do Anônimo que muita gente conhece e não conhece. Mas eu acho que, por exemplo, pelo menos os leitores do Circonteúdo (riso) não sabem: quem eram vocês antes do Teatro de Anônimo? Aqui ninguém vai escrever uma tese biográfica, uma biografia de cada um, mas eu acho que o que vocês eram antes e as diversas formas como foram se encontrando, se cruzando, e se construindo possibilitaram essa ideia de Anônimo? Como é que foi essa ideia? Como foi que o grupo surgiu? Quem eram vocês? De que lugares sociais vieram? Como que era a constituição familiar de vocês? E em que lugar estudaram? É claro que eu sei de algumas coisas, eu li o livro do Márcio Libar (risos). 1 Algumas coisas têm referências importantes, do ponto de vista do olhar da história dele, mas nos revelou também muita coisa de vocês, o encontro de vocês e de onde vieram, e que tem muita gente que não sabe. Acho que é fundamental entender, e conhecer sobre isso antes de chegar ao Anônimo propriamente dito. Shirley, você é da ponta, pode ser? 3 Atriz, palhaça e brincante. Integrante do Grupo Teatro de Anônimo desde 1991. Formada pela Escola de Teatro Martins Pena, fez reciclagem na Escola Nacional de Circo, ambas na cidade do Rio de Janeiro. Fez parte da Cooperativa de Artistas e artesãs Abayomi de 1992 à 2005. SHIRLEY – Aqui é ponta, é? (riso) Bom, eu sou SHIRLEI BRITO, filha de Plínio Peixoto de Brito, dono de um boteco e porteiro, já falecido. Minha mãe é manicure e cabelereira, e hoje mãe de santo. Eu estudei sempre em colégio público e sempre quis ser palhaça. Fiz teatro na escola Martins Pena, e conheci o Teatro de Anônimo nessa época, quando eu estava fazendo Escola de Teatro Martins Pena. 2 E aí a Angélica [Maria Angélica Gomes] era da minha turma, e eu precisava aprender a andar de perna de pau. Como já conhecia, já tinha visitado a sede do Anônimo, já tinha visto uma apresentação do espetáculo deles chamado Cura-Tul, um espetáculo de rua; já havia uma paixão pelo grupo. 3 Então, como eu precisava andar de perna de pau, aprender a andar de perna de pau para um espetáculo na Martins Pena, a Angélica falou “Olha, no meu grupo tem perna de pau, tem pessoas que sabem andar, você pode ir para lá treinar, não sei o que”. 4 E eu fui, e aí começou o namoro e uma relação de troca, de amizade. Quando me formei na Martins Pena, recebi o convite: ou dá ou desce? Aí eu dei, e entrei para o grupo. Estou no grupo vai fazer vinte e um anos. JOÃO – Mas não foi para mim. (risos) SHIRLEY – Bem feito, passou a hora e não viu. (risos) ENTREVISTADORA – Shirley, antes de passar para a Angélica, de que lugar do Rio de Janeiro eram as escolas públicas que você estudou? SHIRLEY – Ah! eu sou de Jacarepaguá. É (riso). Pior que foi. Eu nasci ali entre Jacarepaguá e Barra da Tijuca, que hoje é a Tijuquinha, favela Tijuquinha. E depois fui morar em Niterói não, em Itaboraí, fiz o (riso) segundo grau em Niterói, depois morei em Nova Iguaçu, depois voltei para Jacarepaguá, no Anil, e aí depois morei em vários lugares em Santa Teresa, e hoje eu estou aqui no Centro (riso). ENTREVISTADORA – Quando que o teatro entrou na sua vida? SHIRLEY – Bom, o teatro entrou na minha vida desde cedo, eu fazia teatro na escola desde o primário, ginásio. ENTREVISTADORA – Teve essa oferta nas escolas que você frequentava? 4 SHIRLEY – Tinha. Tinha essa oferta, sim. Que era sempre uma coisa bem alternativa, né. Não fazia parte da grade, até porque teve uma época no ginásio que eu tive que brigar porque a metade do ano eu tinha que fazer artes plásticas e a outra metade eu podia fazer teatro, e eu falava assim “Eu não sei desenhar, eu odeio artes plásticas, eu não gosto dessa... eu quero fazer teatro o ano inteiro”. Mas não podia. Tinha que, né, mas sempre teve. E no segundo grau era à parte, fora das aulas, aí eu também tive que brigar com a minha mãe para poder ficar mais tarde na escola fazendo aula de teatro. Mas eu sempre dava um jeito. ENTREVISTADORA – ANGÉLICA. Atriz, palhaça, trapezista, brincante, bailarina afro. Integra o grupo desde sua fundação. É formada pela Escola de Teatro Martins Pena e pela Escola Nacional de Circo, ambas na cidade do Rio de Janeiro, tendo se especializado em números aéreos. ANGÉLICA – MARIA ANGÉLICA GOMES, eu sou filha de pais nordestinos, mamãe paraibana, meu pai alagoano já falecido. E venho de uma família de dez, eles tiveram dez filhos, e eu sou a única mulher. Um maior galerão (riso). (risos) ANGÉLICA – Ele para criar todo mundo trabalhou como carteiro, e de noite trabalhava num boteco. Na época que eu nasci a minha família morava na Providência, aí depois a estrela baixou e a gente melhorou um pouquinho (riso), a gente foi morar em Cascadura (riso), depois Vila da Penha onde fiquei até conhecer essa galera aqui. Nos conhecemos no segundo grau, estudei num colégio bem perto de casa, que era Cecília Meireles, 5 onde ali eu também vivi as primeiras experiências com o teatro, com o esporte, eram duas coisas que sempre ficavam muito fortes e presentes na minha vida. O teatro e o esporte. E no segundo grau eu conheci o Anônimo... quer dizer conheci o Anônimo não, conheci os amigos aqui no colégio de segundo grau, né, o Visconde de Cairu, no Méier.6 Lá eu fazia também handball e o grupo de teatro. Terminamos o segundo grau. Vou dar até uma adiantadinha aqui, a gente terminou o segundo grau e a gente entrou numa pilha “Vamos formar um grupo”, uma pilha até vinda do Márcio [Libar]. ENTREVISTADORA – “A gente”, você, João... ANGÉLICA – Eu, João, Regina. Quer dizer a Regina, meses depois, é porque ela namorava o Márcio então ela seguiu um pouquinho o início do processo e acabou entrando por pressão (riso). Mas, éramos: eu, João, Márcio, aí tinha o Nem. 7 5 JOÃO – O Nem. ANGÉLICA – E o Edvando. Éramos essa galera, que nessa época a gente ensaiava na cobertura do prédio do Edvando... Cobertura é ótimo, né, aquela salinha horrorosa (riso). (risos) A gente montou um espetáculo chamado Anônima, que até foi o que deu origem ao grupo. JOÃO – Ela perguntou de onde vem, essa tua história. ANGÉLICA – É, não, ela perguntou várias coisas (risos), como é que me conheceu, como é que não sei o que, eu estou adiantando um pouquinho. FABINHO – Com essa insistência. ANGÉLICA – Então, então eu acho que é isso né. ENTREVISTADORA – E essa mistura é importante, não tem jeito. ANGÉLICA – É, porque não tem como eu falar de mim sem falar desse pessoalzinho aqui do meu lado. (risos) JOÃO – Acabou? ANGÉLICA – Acabei né. JOÃO – Ah. (gargalhadas) Integrante do grupo Teatro de Anônimo desde sua fundação, em 1986, é ator, palhaço e diretor de produção do Teatro de Anônimo. Licenciado em Artes Cênicas pela UNIRIO, fez curso de reciclagem profissional na Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro. 6 JOÃO – É, JOÃO CARLOS ARTIGOS, eu sou filho de lavadeira e meu pai era ladrilheiro, fui criado no Engenho da Rainha, subúrbio também do Rio de Janeiro. Meus pais se separaram quando eu tinha mais ou menos onze anos. Então, eu fui criado basicamente pela minha mãe, e a minha casa sempre foi muito... minha mãe tem uma característica muito agregadora, sempre cuidou de um monte de gente, então minha casa sempre ficava com as portas abertas, comidas coletivas, era até insuportável às vezes né, porque eu queria comer e tinha que estar com a porta aberta, aí passava um vizinho “Ah! me dá um pedaço desse ovo aí”, essas paradas, era meio ruim isso às vezes, né. É, era... Mas, foi assim. E aí eu queria, como todo garoto suburbano pobre, ser jogador de futebol. Tentei isso não sei até os doze anos de idade, aí minha mãe falou assim “Pô tem que estudar”. Aí consegui uma bolsa no SENAI [Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial] para fazer curso de eletricista. Foi o meu primeiro salário na vida, o meu salário mínimo, e eu estudava lá no SENAI para fazer eletricista e estudava na escola à tarde. Vocês já viram algum jogador de futebol que estuda? (risos) JOÃO – Então aí terminou a minha carreira de jogador de futebol. (risos) ANGÉLICA – E nem virou eletricista (risos). JOÃO – E nem eletricista, exatamente, que hoje tem... ENTREVISTADORA – E nem quebra o galho nisso? (riso). JOÃO – Não, não gosto nem de trocar nem uma lâmpada, tenho trauma, porque essa foi uma das piores fases da minha vida. (risos) JOÃO – Tenho medo de choque. ENTREVISTADORA – Nem lâmpada ele troca, nada? JOÃO – É difícil, é. (risos) JOÃO – Não, porque realmente foi traumatizante, porque eu queria muito ser jogador de futebol, sonhava todos os dias com essa possibilidade. Fui fazer teste em todos os clubes que você possa imaginar, do Palmeirinha de Del Castilho ao Flamengo, onde encerrei minha carreira. Jogando... (gargalhadas) JOÃO – Jogava lá no Cocotá, mas enfim... (riso). E aí, fiz o Visconde de Cairu, que foi uma... Quando falo isso as pessoas acham que estou falando piada, mas acontece o seguinte, quando fui fazer o primeiro ano do segundo grau, na época, fui reprovado pela primeira vez na minha vida, eu nunca tinha nem ficado de recuperação, e aquilo para 7 mim foi um trauma, e foi um trauma fundamental porque mudei de turno, porque eu não tinha coragem de encontrar os colegas, e aí tinha o negócio de um teatro, eu era meio tímido, era feio naquela época também, né. (gargalhadas) JOÃO – E aí eu falei assim “Pô eu vou para o teatro porque é a minha chance de eu tentar pegar alguém, né, arrumar namorada”. ENTREVISTADORA – Que legal. JOÃO – É, porque lá o pessoal fica todo mundo pelado, essas paradas assim. E não é que deu certo? (gargalhadas) JOÃO – E era bem mais tímido enfim. Não era, não era a Flávia, não. Calma, fica tranquila, mas tiveram várias outras antes. ENTREVISTADORA – E também não foi a Shirley, né? JOÃO – E também não foi, a Shirley não existia nessa época. E aí foi assim que eu cheguei para o teatro, eu nunca pensei... eu tinha tido uma outra experiência no final, na oitava série, a professora Leontina, que era de português, o trabalho de final de ano foi escrever uma peça e montá-la. Foi minha primeira experiência, mas mesmo assim era uma coisa ligada ali. Fui o Djavan né, (risos) e era o Djavan, e era o Chacrinha, tinha os cabelinhos pá, rastafári, e tinha sido isso. Mas, não tinha ainda me tocado. E aí chegando na escola, que essa foi uma possibilidade, inclusive tem muito a ver com a discussão que a gente teve anteriormente, quando o Jailson [Silva – Observatório das Favelas (RJ)] 8 fala, que naquele momento a gente era uma geração que é pré projeto social. Não existia o projeto social; o que existia na nossa época era FUNABEM, FEBEM. 9 Era isso. E a escola nos possibilitou essa história, que a Angélica falou do esporte, que era muito forte, o teatro era também. Várias pessoas saíram tanto por esporte (tem vários profissionais aí da nossa geração) e do teatro também, e já tem uma outra geração no Rio de Janeiro que saiu também do Visconde de Cairu, um grupo chamado Padajan, 10que tem um trabalho bem bacana, que já foi aluno de uma professora que foi da nossa geração. Mesmo com essa degradação do ensino, enfim, a gente foi para lá quando a gente fez quinze, vinte anos, e a escola estava já nesse recrudescimento da violência. E isso foi uma coisa fundamental porque a escola nos permitiu esse contato com a arte, e esse contato com o fazer artístico, que não era para nos incluir socialmente. Era somente para a nossa educação dos sentidos, para a gente fluir de outra maneira e enxergar o mundo, enxergar o belo de outras maneiras. É aquilo que você falou né, 11 de ser contra do que deveria ser a cereja do bolo nos editais, como eu também tenho falado que sou contra o projeto social, assim numa maneira radical, não é só para poder criar o choque. Porque essa coisa dos projetos sociais tem sido terríveis, né. Porque você tem formado um monte de pessoas que vão continuar 8 reproduzindo um sistema, que em teoria a gente deveria estar se contrapondo para criar outra realidade, mas enfim, vamos deixar isso para uma próxima mesa do Anjos, né? (risos) JOÃO – Deixa eu acabar de contar a minha história que eu estou quase textualizando. ENTREVISTADORA – Deixo, pois é fundamental essa apresentação da história de vocês e inclusive por encaminhamento, porque pouca gente sabe dessa história anterior, porque eu sou uma geração anterior que não tem esse leque de ofertas, nem de esporte e nem de teatro. E São Paulo também não tem, até a Marta Suplicy. JOÃO – Sim. ENTREVISTADORA – Quando tem os... JOÃO – E a gente pega a raspa do bolo, praticamente, porque depois tem um negócio assim que... ENTREVISTADORA – E depois acabou, tipo assim ela saiu, acabou. JOÃO – É, foi. ENTREVISTADORA – Então essa oferta é um diferencial na questão da educação, por isso que tem que se lutar por políticas nesse sentido, né? É uma oferta diferencial e que para vocês foi o diferencial. Mesmo ir para pegar uma menina, não é isso né? JOÃO – É, já valeu, já consegui mais que isso, né. ENTREVISTADORA – Já valeu, é claro (riso). JOÃO – Mais que pegar uma menina, eu peguei várias, e hoje estou aqui ainda tentando. (risos) JOÃO – Bem. E terminando aqui, um detalhe que eu acho que essa característica suburbana é algo que vai nos influenciar muito até hoje, e aqui Shirley, Angélica, eu, e REGINA, todos os nossos pais morreram pelo álcool. Isso é outro dado, inclusive quando fica discutindo de políticas de... agora o crack, né, oitenta mil pessoas viciadas em crack no Brasil, o que são oitenta mil pessoas comparadas (riso) a esse universo? E do prédio que eu morava também, mas enfim, só falei isso porque eu lembrei. Mas acho que esse é um dado, essa suburbanidade como falava o Jailson [Silva] ali, isso para a gente foi fundamental para a constituição da nossa ética e da nossa estética. ENTREVISTADORA – É claro que eu não vou aprofundar o tema, mas ser filhos de mães é significativo, não dá para trabalhar isso nessa mesa agora, mas isso também, ser suburbano, estar naquele lugar da escola, e ser filhos de mães, criados por mães é fundamental. Flávia. 9 Trabalha desde 1988 com organizações culturais não governamentais, que desenvolvem projetos na área de artes cênicas, patrimônio imaterial. Integra a equipe de gestão e produção do Teatro de Anônimo, desde 1996. É Coordenadora Geral do Encontro Internacional de Palhaços Anjos do Picadeiro da 1ª a 8ª edição, desde 1996. É mestre em Psicossociologia de comunidades e ecologia social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ e cursou o Master of Business Administration - MBA em Gestão Cultural da Universidade Candido Mendes – UCAM (RJ). FLÁVIA – Eu sou FLÁVIA BERTON DA SILVA, filha de Cesar, ele era do norte fluminense, veio para o Rio de Janeiro trabalhar, como todo mundo que é da roça e tentar vir para a cidade. Conheceu minha mãe, novinhos se casaram, e aí depois ele foi embora de novo para a roça e minha mãe ficou com a gente aqui no Rio. A gente é de Padre Miguel, eu sou nascida e criada lá, minha mãe também, minha família toda é de lá, minha avó nasceu em Padre Miguel, então é um bairro que a gente conhece bem. E minha mãe era, dona de casa, mãe da gente, [depois foi professora de inglês quando já estavam grandes] e eu estudei no [Visconde de] Cairu, era longe para caramba. Eu tinha que acordar, sei lá, cinco horas da manhã para chegar no Méier, porque Padre Miguel é longe do Méier. Padre Miguel é longe de tudo (risos). Tinha um trem muito cheio que não dava para entrar, eu não conseguia, e era na época que o pessoal fazia surf de trem ainda, né. Então pegava um ônibus que dava uma volta no Rio de Janeiro, eu tinha que pegar o ônibus das seis. (alguém distante) – 684. Padre Miguel FLÁVIA – Não, 689. (alguém distante) – 689. FLÁVIA – Campo Grande – Méier. (alguém distante) – Que vai para o Méier. FLÁVIA – É. Aí eu pegava esse 689, mas tinha que ser o das seis, porque tinha um que saía de Padre Miguel direto; porque se fosse o de Campo Grande ele passava com gente pulando, e eu não conseguia entrar também, entendeu? Era longe. Mas enfim, conheci mais ou menos as pessoas do Anônimo no [Visconde de] Cairu, porque eu era de uma turma depois da Angélica e da Regina. Não fiz teatro lá no Cairu, porque sempre fui tímida e não queria deixar de ser, eu acho né, sei lá (risos), mas eu... foi assim primeiro... ANGÉLICA – Não queria pegar ninguém. 10 FLÁVIA – É não queria pegar ninguém eu acho, também (gargalhadas), não sei. Mas, uma coisa assim, uma coisa muito forte daquele teatro ali do [Visconde de] Cairu, foi que assim... o primeiro espetáculo de teatro que eu vi na vida foi o do Cairu, porque antes disso o único espetáculo de artes cênicas que eu já tinha visto era o circo que foi lá em Padre Miguel, né. Porque de vez em quando tinha aqueles circos de bairro. Então eu nunca tinha ido a um teatro na vida. E lá foi o primeiro teatro. E o teatro de lá é lindo sabe, ele é todo pequenininho, todo lindo. E aí quando tinha espetáculo eu ia a todas as sessões, entendeu? Eu amava aquilo ali, eu chorava, e eram espetáculos assim bem bregas, né (risos), mas era tão emocionante. Eu achava aquilo tão... (gargalhadas) JOÃO – Não, era não. FLÁVIA – Ah! Era sim, gente (gargalhadas). Agora olhando, né, na época não era, claro que não. Mas, agora olhando assim com frieza, era um negócio breguíssimo (risos). Mas era muito, para a gente era muito emocionante, porque a gente tinha contato com a literatura, com a música. Ah! E eu gostava muito assim, Chico Buarque, Vinicius de Morais, e eles... ANGÉLICA – Tinham as montagens e os musicais. FLÁVIA – É, e eu, como é que era o nome do diretor mesmo? ANGÉLICA – Áureo. 12 FLÁVIA – O Áureo, ele trabalhava sempre esses assuntos, esses cantores, esses compositores, enfim. Da música popular, ele tinha muita música. E aí depois conheci o João através do Nem, o Nem foi da minha turma, e o Nem era do Anônimo já. ENTREVISTADORA – Mas, já chamava Anônimo? Vocês conseguem se lembrar? JOÃO – Não. SHIRLEY – Naquela época já. JOÃO – Naquela época dela[Flávia], sim. ENTREVISTADORA – Sim? Na época dela já? FLÁVIA – Sim, porque era [19]87, tipo um ano depois, e já era Anônimo. Já era Anônimo, já tinha a Arte no Méier. (risos) FLÁVIA – Pô, já era, já tinha evento, já era um negócio... ANGÉLICA – Só para esclarecer, Arte no Méier é um evento que a gente organizou com seis meses de grupo. 11 (risos) ANGÉLICA – Muito mitideza, muito agregadores, a gente sempre foi assim né, tudo é muito pouco. ENTREVISTADORA – Dá para esperar um pouco, porque eu acho que essa organização vai ser ótima. (risos) FLÁVIA – E, aí bom, eu participei do início também, porque o João era do grêmio, no [Visconde de] Cairu. Eu acho que isso também é uma coisa boa de falar, né, porque é uma coisa forte da nossa história. Aí ele era assim o Cairu. Como todos os colégios públicos de segundo grau, não tinha grêmio, deixou de ter grêmio na época da ditadura, e como a gente estava ali naquele momento bem das Diretas Já, a gente viveu muito isso, os estudantes todos indo para a rua, pedindo Diretas, era o governo [Leonel] Brizola que estava entrando no Rio [de Janeiro] e isso para a gente era muito significativo. Era uma abertura, estava começando a sair ali do [João Baptista de Oliveira] Figueiredo, e a gente estava ali naquele governo [José] Sarney, era bem confuso. Não era isso? ENTREVISTADORA – Ano das Diretas. FLÁVIA – Era. E a gente estava ali, e o movimento estudantil começando a se reorganizar. E no [Visconde de] Cairu o João foi o presidente do grêmio com a Cristiane. JOÃO – Com a Cristiane não, com a Cristiane não. FLÁVIA – E eu fui da chapa que substituiu eles, né. Então eu conhecia o João... eu conheci assim, politicamente, primeira vez que eu vi o João foi no alto, falando para a massa de estudantes do Cairu, e eu era uma estudante, e uau! (risos) JOÃO – Eu tive o meu momento Vladimir Palmeira, digamos assim (risos). Porque na verdade não tinha, porque a ditadura tinha acabado com os grêmios né, e aí eu fui o primeiro presidente depois da abertura, né. FLÁVIA – É, porque foi esse processo de reabertura lá do nosso grêmio. JOÃO – E a gente colocou três mil estudantes na rua, quando a greve dos professores contra o governo Brizola, ou melhor, a favor dos professores, até mesmo porque naquela época eu me considerava brizolista. Mas teve essa formação que também foi fundamental, e o teatro na verdade acontece para mim junto com esse envolvimento político. ENTREVISTADORA – Com a formação política. 12 JOÃO – Com a formação política né, são as duas coisas. Aí eu me liberto e aí vou para o teatro, vou passar a viver essa experiência do movimento estudantil. FLÁVIA – Bom, aí isso, eu conheci o pessoal desse jeito. E no Anônimo eu só entrei... agora a Shirley falou vinte anos, eu fiquei meio chocada (risos), porque eu achava que tinha uns quinze, doze assim. SHIRLEY – Não, tem vinte e um. FLÁVIA – É? SHIRLEY – É. FLÁVIA – Tá, então tem vinte e um mais ou menos, porque eu fui fazer faculdade, eu sai do Cairu, fui fazer Psicologia, não fui fazer teatro, só que eu nunca exerci Psicologia, no final eu sabia escrever projeto, sempre fiz essa coisa mais organizativa mesmo, né. SHIRLEY – Exerce sim, ela exerce sim. FLÁVIA – Eu era contraregra, também fui contraregra. ENTREVISTADORA – Existe mil formas de ser psicólogo, né (riso). FLÁVIA – É, bom, chega. (risos). Isso é uma outra questão. ENTREVISTADORA – Não, não, só um minutinho, só um minutinho Flávia, eles interferiram, mas... E aí você tem um conhecimento maior com a turma, nesse momento que você vai para a faculdade? Eu não entendi essa parte. FLÁVIA – Não, aí eu conheci o pessoal, quando eu estava saindo do Cairu estava rolando esse movimento estudantil forte, a gente conseguiu eleger uma chapa que foi a substitutiva lá do grêmio do João, que o João fez parte. E aí eu sai, fui para a faculdade, aí fui para outras coisas, né. Mas, continuei conhecendo a galera e me relacionando, a gente começou a namorar naquela época. JOÃO – Isso, eu sei que é vergonhoso, mas nós começamos a namorar, foi isso que te manteve no grupo. (gargalhadas) FLÁVIA – É, a gente começou a namorar. É. (risos). Eu falei agora (riso). A gente começou a namorar nessa época, então isso também me uniu ao grupo, e aí sempre que tinha alguma tarefa mais assim... que o João, ele fazia produção, ele trabalhava num lugar de produção, e ele fazia a produção do Anônimo, e escrevia as propostas e tudo. A gente é de uma época que não era época nem de lei Rouanet nem de edital, nada disso, era balcão, né. E aí nessa época, para a gente era muito difícil essa coisa do balcão, porque a gente não conhecia ninguém importante, não era filho de ninguém importante, era uma dificuldade. Mas, o João sabia muita coisa porque ele trabalhava na equipe de 13 produção da prefeitura, ele esqueceu de falar isso. E isso foi uma coisa que foi uma escola de produção para ele e para mim, porque eu aprendi muito com ele essas coisas (risos). E aí sempre que tinha que organizar alguma coisa, porque eu estudava na faculdade, eu tinha acesso ao computador da faculdade, então eu ia, digitava as paradas entendeu. Então essa era a minha relação maior com o Anônimo, apesar de eu estar sempre perto assim né. Eu era da [Cooperativa] Abayomi. REGINA – Tinha a coisa da Abayomi também né. FLÁVIA – Ih, é gente. ENTREVISTADORA – O que Regina? REGINA – A Abayomi. FLÁVIA – É muita coisa misturada. É uma história muito misturada. Nós, meninas, éramos da Cooperativa Abayomi também, que é uma cooperativa de mulheres que confeccionavam bonecas de pano. E aí teve um bom período que o Anônimo era meio que associado, cooperativado ou sei lá o que, da Abayomi, grupo irmão, entendeu? 13 REGINA – Teve um tempo que nós éramos Grupo Anônimo de Cultura, então eram outras pessoas. FLÁVIA – De cultura. Então tudo, era artesanato, era capoeira, era percussão, era o teatro. ENTREVISTADORA – Altíssima produção. FLÁVIA – A gente... é, era um negócio assim entendeu. Então eram vários grupos, era um movimento praticamente. Era uma época também do movimento negro, questionando essas coisas do centenário da abolição, então o movimento negro forte, a gente participava de tudo, eu e a Regina, e os negões mandando a gente embora (risos). Então a gente... ENTREVISTADORA – As duas negronas, né? (risos). FLÁVIA – É, a gente sempre foi negona, vocês é que não veem (riso). É né? Mas enfim, era esse tempo, a gente era muito... era um movimento quase, então eu estava ali. ENTREVISTADORA – E tudo isso vai também alimentando o teatro e toda a produção cultural artística que vocês fizeram. Legal. Fabinho. 14 Palhaço e trapezista. Integra o elenco do Teatro de Anônimo desde 2007. Teve sua formação iniciada no curso profissionalizante de ator da CAC- Casa das Artes Cênicas, em 1992, e no curso técnico da Escola Nacional de Circo(RJ). Depois de participar das oficinas “A nobre arte do Palhaço” e “O Ator no picadeiro”, ministradas pelo Anônimo, criou em 1998 o grupo “Valdevinos de Oliveira – Pequeno Teatro Cômico” que fundamentava sua pesquisa na comicidade popular, principalmente no arquétipo do palhaço [não existe mais]. Atualmente está em cena nos espetáculos “Roda Saia Gira a Vida”, “Intermezzo”, “In Conserto”, “Noites de Parangolé” e no número de trapézio “Dentro da Noite”. FABINHO – Boa tarde. Eu sou FÁBIO FREITAS, sou a nova geração do Anônimo. (gargalhadas) SHIRLEY – É bem velha essa geração. FABINHO – Estava esperando esse momento. (risos) FABINHO – Eu sou filho de Mário e de Vera, minha mãe é auxiliar de enfermagem, meu pai é auxiliar administrativo. Eles... É. Eles casaram e aí os filhos os afastaram dos sonhos deles né, enfim acabaram não realizando os desejos deles enfim. (risos). Não, só para fazer um link mais a frente, não é triste, não, é igual passeata. (risos). É só para contar o seguinte, meu pai trabalhava numa empresa que sempre tinha ingresso para circo, todo circo que aparecia na cidade eles tinham uns funcionários ali, cinema, tinha um monte de coisa, mas circo sempre tinha e a gente sempre teve ingresso. Eu sempre fui muito ao circo, acho que eu ia a circo quatro vezes no ano assim né, chegava o circo, a gente via o circo na Praça Onze, a gente estava lá. Eu brincava de circo em casa, fazia os números, ficava imaginando aquelas coisas, aquele universo me encantava muito, eu gostava muito. Eu sempre passava pela Praça da Bandeira, porque a gente morava no Andaraí nessa época e vinha para o Centro para médico, dentista enfim, e a gente passava pela Escola de Circo [Escola Nacional de Circo], e eu perguntava “Mãe, o que é?” minha mãe “É o circo e tal, para ensinar as pessoas a fazerem coisas de circo”, e eu falava para ela “Pô me leva, me matricula e tal”. Mas, enfim, impossível da gente conseguir né, dela conseguir me levar, dentro da realidade que a gente tinha. Aí fui crescendo, essa coisa da escola também foi fundamental para mim. Estudei em duas escolas muito legais, uma era uma escola bem pequenininha, que era meio um projeto assim, tinha uma experiência de não passar de vinte alunos, então foi fundamental também para a gente essa coisa, a possibilidade de ver, acho que uma turma tão grande não é possível né, a gente experimentou muitas coisas, por ser um projeto piloto, então isso foi bom. E aí depois o [Visconde de] Cairu, que aí eu cai naquele mundo, sai de uma escola pequena e cai naquele mundo gigante de cada turma com cinquenta alunos, era uma loucura. É. (alguém distante fala) Olha isso. E aí eu fiquei louco lá, fiquei 15 louco. Pirei mesmo, porque aquilo era um mundo, aquilo.... E aí já comecei a namorar uma menina que saiu do terceiro ano, passou já para a faculdade, eu já não frequentava o Cairu, eu ia para a faculdade e já ia para o Fundão e, enfim. JOÃO – O Fabinho namorou a professora de teatro, porque aí ele foi depois da gente, não foi a Ana? FABINHO – Bom, continuando. (gargalhadas) FABINHO – Continuando. ENTREVISTADORA – Tem um grilo falante aqui. Você não acha? (risos) FABINHO – Então, aí eu conheci uma outra galera também, que era do Cairu, que tinha um grupo chamado Coisas da Gente, 14 que é um grupo também que era influenciado já pelo Anônimo. A Edjane, que era do grupo falava “Cara, o Libar falou que a gente tem que ler não sei o que, falou que a gente tem que ler Stanislaviski, a gente precisa ler Stanislaviski. Tem que ler isso”. Não, chegou uma hora que a gente tinha que ler Artaud (gargalhadas). Eu falei “O que Edjane?” “Temos que ler A, Ar, Artaud” (risos). Enfim, e era assim o negócio. Mas aí esse... E eu tive na verdade, a minha história é muito próxima do Anônimo, por isso, por sempre saber dele já, eu sou também de um tempo depois no Cairu, mas sempre quis saber deles. E depois a gente se encontrou na Escola [Nacional] de Circo, estava eu lá de palhaço, Palhaço Presepada (risos), com uma roupa mega colorida, trash, que tinha um palhaço desenhado nas costas, um palhaço colado no peito terrível, e a Regina e a Angélica chegaram para mim e falaram assim (riso) “A gente vai dar um curso de palhaço, você não quer fazer?” (gargalhadas) FABINHO – Foi a minha salvação. Sério, e eu estaria aí até hoje fazendo.. até hoje animação de festa, se não fosse isso. (risos) FLÁVIA – Com uma peruquinha rosa. FABINHO – É era terrível. Era terrível, terrível. ENTREVISTADORA – Peruquinha rosa? FABINHO – Terrível. E o pior é que os professores da escola toda vez falavam para mim assim “Coloca aquela roupa”. Toda, toda apresentação do circo, toda: “Coloca, vem de palhaço”. Porque era um sucesso, era, imagina... (risos). Espalhafatoso (risos). Enfim, na verdade... aí o Anjos também foi importante para isso, porque no Anjos, eu tive uma relação com o Anônimo de ser técnico né, a gente se aproximou, eu fazia a técnica dos espetáculos, me afastei um pouco, depois voltei no Anjos do Picadeiro, criei 16 um grupo com o Leo e com a Fabiana, o Valdevino de Oliveira, 15 para a gente continuar a pesquisa. (homem distante) – Foi no Anjos? FABINHO – Foi, foi no Anjos do Picadeiro que a gente construiu essa história. MULHER – Nossa, nem eu sabia. MULHER – É. Qual o ano? FABINHO – Vocês não sabem de nada, está vendo que é bom fazer essas coisas, porque a gente mesmo não sabe... ENTREVISTADORA – Eu não disse? Então não é só os leitores do seu Circonteúdo que não conheciam. FABINHO – É, só tem que lembrar. Mas, foi por aqui do Rio, claro né, já tem um tempo. Não, não vou lembrar, agora não, não vou lembrar. Mas enfim, e aí tinha alguma coisa no Anônimo que eu queria experimentar, eu via os espetáculos do grupo e aquilo me encantava, eu falava “Poxa, esse é o tipo de forma que eu gostaria de trabalhar, de ser mais...” Enfim, essa proximidade com o grupo da parte técnica, eu acho que também foi fundamental para eu poder avançar algumas coisas de procedimento técnico né, porque sou da escola de fazer as oficinas, fiz todas as oficinas do grupo, e várias oficinas do Anjos. Mas, o dia-a-dia, como é que você constrói, como é que você vai para a cena o tempo inteiro, como é que você labuta e constrói o teu palhaço. Essa relação próxima nesse período todo, não do tempo, eu falo que eu tenho cinco anos de grupo, mas na verdade eu devo ter dez junto com essa turma, nessas idas e vindas eu acho que deve ter sido, ou mais que isso. MULHER – É, o Almas é de 2004. MULHER – Você não era assistente do Márcio? FABINHO – Pois é, o Almas é de 2004 quando eu fiz, e fiz assistência ao Márcio antes disso, acho que deve ter uma história aí que beira uns quinze anos. Então estou há cinco anos no elenco, mas tem uns quinze já que estou junto. MULHER – É FABINHO – É. (riso) MULHER – Ele acha. FABINHO – É uma geração, a nova geração já tem quarenta. (risos) 17 FABINHO – Mas eu acho que é isso. Enfim. ENTREVISTADORA – Desculpe Fabinho, mas você já terminou? FABINHO – Já, já. ENTREVISTADORA – Tá. Atriz, acrobata aérea e palhaça. Integra o Teatro de Anônimo desde sua fundação desde 1986. Formada pela Escola Nacional de Circo do Rio de Janeiro, no ano de 1994 onde se dedicou mais especificamente aos números aéreos. REGINA – Olá. Eu sou REGINA OLIVEIRA. É engraçado que você vai escutando as histórias e você vai se repetindo né, até mesmo não sendo na mesma história, mas eu sou filha de pais nordestinos, mãe cearense, pai pernambucano se conheceram no Rio, tiveram filhos, um monte, seis. Morávamos no Irajá, uma família muito grande assim, de ainda morar avó, muito divertido, muito bom morar com tanto irmão, tanta gente, tenho uma memória boa desse tempo. Mas, com uma mentalidade muito de subúrbio né, que você tem que crescer para ajudar a família a desenvolver, então você tem que passar para alguma coisa pública, para ser, fazer algum tipo de trabalho assim. Então a arte nunca passava pela minha casa nesse sentido da profissionalização. A minha irmã mais velha, ela cantava super bem porque ela era da igreja, a igreja católica, e tinha vários shows, e que ela fazia show. Quando ela cresceu, quando ela estava adolescente, ela falou para a minha avó “Eu quero ser cantora”, a minha avó falou “Não. Cantora não, cantora é prostituta. Cantora não vai ser.” Aí ela foi estudar, foi fazer outras coisas. Então a arte estava bem nessa relação, na minha família, que não podia. Cresci num bairro que a escola era pequena, tive acesso à dança, teatro, coisa pequena, mas era muito pouco. Era bom, mas era pouco, não era nada também muito especial, de falar era incrível fazer, não eram as professoras que se desdobravam até nos seus horários para poder fazer ensaio de dança, para poder fazer umas coisas assim. Eu adorava, sempre estava. Aí até que eu fui para o [Visconde de] Cairu e também tive esse choque, que nem o Fabinho falou, porque eu era de uma escola muito pequenininha, e cheguei lá e tinha sei lá, três mil pessoas de muitos lugares do Rio de Janeiro inteiro. Quando a gente vai falando cada um era de um bairro, né. E aí você vai ouvindo histórias e vendo pessoas com referências muito diferentes, vê gente até com grana, gente com nenhuma, então misturou tudo. Fiquei um pouco louca no Cairu, assim tipo “Ah”(som de surpresa) fiquei igual o Fabinho, dei uma surtada de pessoa e tudo, pirei o cabeção. Aí comecei a namorar o Márcio no último ano, e como ele tinha feito escola de teatro, já pilhava os amigos de montar um grupo. E eu nada, só via o teatro do Cairu, só via o coral do Cairu, e adorava o coral do Cairu, mas não entrava porque eu falava “Não, muitos CDFs, e eu 18 não vou entrar” então saia do coral. Mas eu queria, mas tinha um pouco de vergonha, nunca chegava no teatro nem no coral. Aí conheci o Márcio, ele falou “Ah eu faço teatro, vou montar um grupo com os meus colegas”, eu já conhecia todos os colegas, eram meus colegas também. E aí eles começaram a montar a peça, e sempre que ia uma atriz para fazer um papel, a atriz ia embora (riso). A atriz ia embora, a atriz ia embora, aí eles já estavam ensaiando há um tempão e faltava a atriz. E aí eu falava “Ai caraca”, e aí todo mundo olhava para a minha cara e eu “Ai”. Eu nunca tinha feito nada, e eles falavam “Olha eu acho que vai ter que ser você”. Eu falava “Pô, mas eu nunca fiz”. “Não a gente te treina, e a gente faz. É, a gente te ensaia”. E aí lembro até hoje do primeiro ensaio, eles fazendo coisas comigo para mim... e aí está bom, eu fiz. E a peça durou o ensaio, a gente fez duas apresentações ou uma, sei lá. Acabou (riso), eu falei “Ah graças a Deus, acabou”. Mas aí aquilo também já tinha me dado um negócio né, eu falei “Pô é legal”. Mas, eu tinha um pouco de medo, não tinha técnica, não sabia nada. E aí ele falou “Não, não é esse tipo de teatro, vamos buscar outro”, e aí a gente foi em busca de outras formas, que acabou entrando na poesia, foi para o teatro de rua e eu fazia exatamente o espetáculo. E eles, não, eles queriam chegar em qualquer lugar e “Vamos furar. Vamos entrar nesses lugares e vamos falar umas coisas”, aí eu falava “Não, isso já não é para mim. O marcado está marcado. ‘Vamos furar’ eu não vou furar, não.” Então eu falava: “Não eu acho que eu não sou disso, não. Eu não vou fazer esse negócio”. Aí fiquei nessa dúvida um tempo, vou fazer não vou fazer. E aí teve uma parada do Anônimo assim, que a gente acabou fazendo muito tempo esse espetáculo, e a gente trabalhava muito, a gente não ganhava nenhum dinheiro. Aquilo foi dando uma crise assim, aí chegou uma hora que todo mundo foi fazer alguma escola, alguma coisa assim, e aí eu fiquei numa dúvida em que escola de arte eu ia fazer. Nem pensei ainda no teatro, mas lembro que eu estava saindo com o Márcio e com o João, acho que a gente estava até indo para a prefeitura, para o trabalho do João, porque lá era também nosso escritório (risos). É (risos). E a gente estava passando ali na Lauro Miller, na estação de trem, e aí eu vi a primeira vez a Escola [Nacional] de Circo. Aí falei para eles “O que é isso?”, porque eu vinha do Irajá e não passava por ali, pela Praça da Bandeira, só pela Leopoldina. E aí eles falaram “Pô é a Escola de Circo”, eu falei “Legal! Quanto é?”, eles “Pô, é de graça.” Eu falei “Eu vou estudar aí”, falei (risos). E no ano seguinte eu estava estudando lá, porque fiquei numa dúvida onde que ia estudar, estava contigo... JOÃO – Ainda davam comida na escola. REGINA – É, ainda davam comida, era sensacional. (risos) ENTREVISTADORA – Além de ser de graça, ainda dava comida. REGINA – É, exatamente. E nessa época eu tinha trabalhado um tempo. Tinha feito uma poupança para poder fazer uma escola de arte, porque não tinha nenhuma, até quando hoje a gente fala “Ah!Vou fazer uma escola de arte” você tem mais, algumas né, até quando eu pensava “Ah! Podia fazer uma escola de dança”. Não tinha. Você tinha que ter tido uma formação anterior e tal. E aí acabou que entrei para o circo assim, e falei “Eu vou estudar então aí”. Aí fui lá, perguntei e abriu inscrição, abriu, eu entrei, e 19 acabei entrando nessa vida assim, não foi nem uma escolha, falar “Ah! Vou fazer...” foi a partir do Anônimo que na verdade a arte veio para a minha vida assim... ENTREVISTADORA – Mas aí depois você volta a fazer parte do grupo. REGINA – Não, todo mundo, a gente dispersou um pouco, tipo a gente foi fazer escolas, mas logo voltou porque o Márcio falou... o Márcio não foi fazer escola. Eu fui para o circo, o João foi para a [Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro] Unirio, a Angélica foi para a Martins Pena, não tinha a Shirley ainda (riso). Éramos nós, né. É, teve essa época então que éramos nós quatro. FLÁVIA – Mais o Wilson. REGINA – E o Wilson. 16 Não, o Wilson só veio depois. É. E aí a gente dispersou tipo cada um foi para uma escola, mas aí depois o Márcio falou “Poxa vamos montar um espetáculo nós três”, aí era eu, Márcio e João fazendo Cura-Tul, a primeira forma. Aí depois desse núcleo pequenininho, todo mundo foi voltando, então na verdade a gente dispersou tipo seis meses, sei lá talvez, mas aí logo voltou para esse projeto e ele nunca mais separou né? FLÁVIA – Nessa época tinha o Nem e depois ele saiu. REGINA – Não, Nem nem estava. Não, nesse primeiro momento não estava. Era eu... JOÃO – Nem estava. REGINA – Nem... Não nesse primeiro momento não estava. O Nem. Shirley – Nem nesse momento nem no meu. REGINA – Então, era eu, João... FLÁVIA – No primeiro não, mas no segundo. REGINA – Ah! No segundo momento faltou ainda o retorno do Nem, teve ainda esse... ENTREVISTADORA – Deixa eu só esclarecer que já estão entrando nessa questão da produção do Anônimo. Angélica, você disse, a Regina também pode falar, vocês todos disseram, mas é que você mencionou de um espetáculo que deu origem ao nome. ANGÉLICA – Ah! Sim. ENTREVISTADORA – É antes disso? Antes dessa dispersão? ANGÉLICA – Ah! Bem antes. Na verdade a gente quando se juntou para formar o grupo, a gente montou esse espetáculo que se chama Anônima, que é um texto do Wilson Saião. 17 REGINA – Esse que eu fiz duas apresentações. 20 ENTREVISTADORA – Wilson? ANGÉLICA – Wilson Saião. Ele tinha ganho um prêmio de dramaturgia, e era um texto que falava justamente... ANGÉLICA – É, o Concurso de [Instituto Nacional de Artes Cênicas] – INACEN 18 que tinha lá naquela época. Vai tempo, né. É. E a gente montou esse espetáculo que falava sobre uma família suburbana do Méier, tinha bem a ver com a nossa realidade do momento. Nós morávamos em bairros diferentes, mas o Méier era o polo de encontro nosso, a gente ensaiava ali, e foi daí que deu origem ao nome do grupo. Anônima, Grupo Anônimo de Teatro. É o nosso nome. Fizemos dois espetáculos, como disse a Regina. Não, a gente montou para fazer a mostra do SESC, a gente fez no Engenho de Dentro, lá a gente conheceu O Poeta me Deixa Dormir, que é um grupo que trabalha com poesia, trabalhava, eles não existem mais, trabalhavam com poesia, e uma forma de trabalhar com poesia com uma dramaturgia bem interessante, era bastante físico. Aquilo tocou a gente. Nesse mesmo período a gente conheceu Os Poetas, que era um movimento bem forte de poesia de poetas marginais. Trabalhavam com poesias na rua, abriam rodas e assim, foi um movimento muito forte dessa época de oitenta e pouquinho. E a gente começou a frequentar as rodas. E a gente achava muito interessante, o que chamava muito atenção era como os caras conseguiam segurar a roda por tanto tempo, e rodas grandes, e só aumentava o número de pessoas assistindo, e eles o tempo todo mandando as poesias, a gente falou “Pô, vamos trabalhar com essas poesias”. E tinha referência do outro grupo, O Poeta me Deixa Dormir, que era uma coisa, ele trabalhava com poesia mais centralizada. A gente com a nossa realidade familiar, cultural, que tinha uma relação, por exemplo, minha família todo final de semana tinha pagode em casa, era só juntar os seis irmãos né, já era um pagode, e eles ainda chamavam os amigos... ali eu aprendi a tocar os instrumentos. Enfim, a gente vem de uma realidade de muitos e que tinha a música, a capoeira também a gente começou a trazer para o grupo, então o nosso treinamento ficava baseado em capoeira, futebol, nossos jogos de toque eram muito pensando em triangulação. A gente trazia as referências que a gente tinha, estudava e lia nos livros de teatro, a gente trazia para as nossas referências culturais. O jongo era para produzir energia para a sala de trabalho. Então a gente... porque que eu estou falando isso hein? (risos) ENTREVISTADORA – Por causa da origem do Anônimo. As várias origens do Anônimo. ANGÉLICA – É, agora baixou a velha (riso). REGINA – Um ano depois, não sei o que, o Márcio tinha muito isso né, ele trazia muito essa coisa, eles praticavam uma coisa, e o Márcio como sempre gostava mais de estudar do que todo mundo, ler (risos), teorizar sobre as coisas, ele vinha com uma coisa assim, com uma notícia. Aí ele leu uma vez um texto de um russo, né? 21 JOÃO – Não, Alessandro Fersen, um polonês. REGINA – Era o que? Polonês. JOÃO – Que tem um livro, Teatro em Suma. O Márcio tem uma capacidade, era a grande genialidade dele, é que ele consegue ler a orelha do livro e falar o livro todo (risos). E aí essa é a diferença. REGINA – É. Ele trazia esse conceito. JOÃO – Mas isso é um talento. ENTREVISTADORA – O Márcio tinha que estar aqui no público. JOÃO – É (riso). Isso é um talento, então na verdade a gente processava essa... E essa era a curiosidade, porque o entendimento se dava coletivamente, a partir de uma prática. Que eu acho que isso é fundamental registrar, e que o Márcio trazia ou qualquer um trazia, o Márcio era o que trazia mais mesmo, mais orelhas. (risos) Né? E... REGINA – Então, mas essa foi ele que trouxe. JOÃO – Alessandro Fersen que é um verbete do Teatro em Suma, e tem lá “teatro de Anônimo”, e é aí que ele vai falar dos futuristas russos, dos teatros produzidos nas feiras, o mamulengo. E ele fala sobre um teatro que prescinde de uma tradição filológica, prescinde de uma tradição da escrita, e que vai se processar coletivamente, e que não importa, o autor tem a origem desse fazer, e ele também vai falar do circo “Quem foi que inventou o circo? Quem inventou o teatro de mamulengo? Quem é essa?” E aquilo ali fala que é um teatro de Anônimo, esse teatro das feiras. Eu falei “Caramba! Nós somos teatro de Anônimo, inclusive o nome do grupo é Grupo Anônimo de Teatro” e a partir, desde então a gente passou a se chamar Teatro de Anônimo, e aí a gente virou um verbete (riso). ENTREVISTADORA – Já era verbete. JOÃO – A gente que não tinha nem ideia (riso) virou um verbetezinho. ENTREVISTADORA – É interessante. Olha, eu estou na primeira pergunta, no primeiro item da primeira pergunta. E a gente já está estourando a hora, mas eu vou ter que fazer pelo menos mais duas. E o público... Vocês estão aí dormindo ou estão acordados? ENTREVISTADORA – Não, eles estão acordados, eu não sei se eles querem fazer perguntas. (respondem distante) – {...} (gargalhadas e aplausos) 22 ENTREVISTADORA – Viu. Esse público que existe e não existe, está acordadíssimo. É interessante, porque quando eu pensei na proposta de vocês fazerem o relato pessoal, é essa ideia mesma que eu já tinha do Anônimo, de alguns momentos que a gente conversava dessa antropofagia que, mesmo sem ter uma elaboração teórica [ou achar que não tem, pois acredito que sempre estão fazendo teoria], é uma característica muito própria da gente brasileira de uma forma geral, essa antropofagia, e principalmente quem se envolve com movimentos culturais e do subúrbio. É interessante porque as fronteiras entre as artes, hoje as chamadas artes, ela não tem sindicato, eu faço teatro, eu faço capoeira, eu faço dança, eu faço música, eu faço bordado, eu faço boneco, eu faço... e eu acho que o Anônimo tem isso. Vários grupos, mas vocês em particular têm essa particularidade, por isso que eu queria recuperar bastante isso. Agora, vocês já entraram de alguma forma, como é que o circo entra nessa história de vocês? Mas, a Regina já relatou, Fabinho já relatou, Shirley de certa forma quando vai aprender a perna de pau. Mas como que o Anônimo decide ir para o circo? E depois eu faço outra pergunta para encerrar esse primeiro momento. REGINA – Na verdade o circo começa, para mim, acho que na verdade eu entrei primeiro para o circo em [19]89, e nisso a galera foi vindo, a Angélica também entrou em seguida, se matriculou, acabou que ela ia entrar comigo em 89, ela acabou indo para a escola de teatro. E aí fiquei sozinha um período e aquilo ali foi meio contaminando, aí a Angélica entrou. E nisso a gente começou a ver que o circo poderia trazer elementos, os tais elementos encantadores, mágicos, que saltavam aos olhos na rua, e principalmente quando você vai trabalhar com o teatro de rua, você junta elementos. E aí a gente começou a querer trazer essas técnicas, as técnicas até que tem mais acesso, tipo a perna de pau foi a primeira coisa, cuspir fogo, coisas do tipo. Depois que já estávamos eu e a Angélica na escola, teve uma abertura da Escola de Circo, foi até um momento muito legal, as aberturas se dando, que tinha uma diretora nova, e que abriu para um grupo de teatro fazer uma reciclagem. ENTREVISTADORA – Era a Omar, né? REGINA – Era a Omar. 19 E ela abriu para um grupo de teatro inteiro, nós éramos um bando, na verdade juntava mais o João, a Shirley e o Márcio, e o Wilson também na época era, já era da escola, o Márcio Brow. 20 E aí acaba que a gente fez um núcleo de trabalho dentro da própria Escola de Circo. Tínhamos aulas especiais com alguns professores, então isso acabou reforçando essa ideia de trupe também né, de trupe de circo. A gente já tinha algumas técnicas, que todo mundo já tinha feito, eu fazia a escola, a Angélica também, e aí entra todo mundo para fortalecer esse aprendizado. Nesse processo também vamos conhecendo pessoas que começaram a falar de palhaço, aí apareceu o Xuxu 21 na nossa vida, apareceu também, o Nem ficou super encantado, e que também fazia parte depois do Anônimo novamente né, o Nem foi e voltou. Aí fez um curso com uma argentina, e aí ele fala “Eu vou fazer e depois eu conto para vocês como é que é, e treino com todo mundo”. Quando ele voltou do curso, falou “Não dá para ensinar” (risos). Eu lembro que eu fiquei com a maior raiva, eu falei “Porra, o cara vai lá para fazer o curso da argentina, aprende lá o negócio, quando é na hora de 23 passar ele diz que não dá para passar. Que negócio é esse?” Aí ficou aquele clima, ele fez um dia ou dois com a gente na Martins Pena, e realmente, era um monte de jovens que você via que vai para onde esse lugar, né? Tem que entrar. E aí foi também assim que a gente foi olhando, vendo, falando “Ah! aquele palhaço é legal. Ah! aquilo, como é que é aquilo?” Então o circo e o palhaço foi entrando acho que... ENTREVISTADORA – É, na sua resposta então você já pega esse gancho da Regina. Eu queria saber como é que o palhaço entra na Escola de Circo na medida em que a gente sabe que há dificuldade, há ausência de cursos de palhaço nas escolas. REGINA – Até porque na escola dizia que não se ensinava palhaço. JOÃO – Exatamente. ENTREVISTADORA – Isso. REGINA – As pessoas... ENTREVISTADORA – Como é que o palhaço ia... REGINA – Na época que eu entrei era “Palhaço não se ensina, palhaço nasce pronto”. Então era... ENTREVISTADORA – É dom, é o dom. REGINA – Dom. é dom, então. ENTREVISTADORA – E pega esse gancho já da Regina para a gente... JOÃO – Tá. E para seguir. Mas eu vou só pegar um pouquinho antes, quando você fala como o circo chega na nossa vida, porque a gente vem dessa história toda, que a gente falou da nossa formação, a gente vai fazer teatro de rua, a gente vai para a rua, e a nossa prática ali, a nossa técnica foi muito influenciada pela onda do teatro antropológico, do treinamento e da antropologia teatral, aquela onda toda. E, ao invés da gente trabalhar com o teatro, fomos buscar na capoeira, no jongo, no futebol. Então tinha na nossa prática essa presença de cultura popular muito forte, e que é como a Sheila [João refere-se à Shirley 22] define, das coisas que estão no nosso quintal né, como aquilo assim “Caramba vamos ver um negócio lá fora? Não, vamos ver aqui o que tem”. E aí a busca desse elemento encantatório, e como tudo no Anônimo, acho que essa junção de técnica e ética, o que vai nos interessar muito é o conceito que está envolvido nessa prática. Sei lá, quando a gente vai falar da capoeira, a gente faz opção pela capoeira angola, porque na capoeira angola tem conceitos que nos servem que vão falar do não confronto, da fluidez, que é uma relação de enamoramento, eu olho no olho do outro. E isso vai nos interessar mais do que dar um golpe de capoeira né, quer dizer, fazer algum movimento desse lugar fantástico. E o circo, desse elemento encantatório que a gente vai, em teoria, buscar, e é quase uma armadilha, eu costumo dizer que caímos numa armadilha, chegamos ali e achamos que íamos aprender a andar de perna de pau, e aí quando chegamos no circo falamos assim: a gente viu o mundo que era esse mundo da 24 cultura de Anônimo. Porque primeiro você está falando de família. A gente tem uma relação familiar intrínseca à nossa prática muito forte né, chega a ser promíscua (risos). Mas e aí vemos isso, que é a formação, onde tem lugar para todos. Nós também nunca nos julgamos tão talentosos assim, pelo menos eu não. E o circo abriga também uma diversidade de possibilidades, você pode não ser o trapezista, mas você pode encontrar um lugar dentro do circo onde você vai ser útil, necessário e fundamental. E a gente vai falar de um tipo de espetáculo-negócio, de um empreendimento familiar que também para nós era fundamental porque sempre estivemos preocupados com a nossa sobrevivência. Porque ninguém nos disse que a gente deveria fazer teatro, muito pelo contrário, todo mundo dizia não, ou vai minha mãe “Ah! vai virar marginal, vai ser maconheiro ou vai ser viado”, enfim. Eu sei que eu não sou maconheiro, né (risos), mas (risos) isso é... bem. Mas aí o circo para a gente vai ser importante por esse conjunto de fatores que eram fantásticos, que significavam uma visão de mundo, uma prática, uma coisa que se configurava ali. E aí o palhaço, e somos um grupo de atores, por mais que o Márcio assumisse esse papel da direção, era um processo que chamávamos de colaborativo onde todo mundo... Nós sempre fomos meio, você falou antropofagista, a gente sempre foi meio Macunaima né, então as coisas... e a dureza do circo nos custava, quando a gente entrou na Escola de Circo: “Ah esses neguinhos aí não vão conseguir mesmo”, ponta de pé, né, a minha envergada é mais ou menos como essa mesa assim né, ta-ta-tum (risos). E era um descrédito total. E aí a gente vai ver, quem era o ator daquele espetáculo? Era o palhaço. Era o palhaço que trazia consigo a visão do ator que a gente também trabalhava lá, que era dessa relação direta, que a gente estava falando, que era poesia popular participativa, era uma galera que trabalhava a arte, o fazer, o fazer cênico enquanto comunicação, eu faço para você. Aí o palhaço vai trazer coisas como a perspectiva de humanidade que talvez a gente não tivesse tão claramente antes, mas essa relação direta de um espetáculo, de um fazer, que é para aquele público, e que eu preciso me comunicar, preciso estabelecer afetos com aquilo ali, e o palhaço que tem tudo isso. E aí isso que era para ser uma pesquisa pontual, de aprender uma técnica, como sei lá, como a capoeira, hoje em dia ninguém mais joga capoeira, o palhaço e o circo tomam conta da gente, a gente é meio abduzido para esse universo, e que não é só linguagem, é uma prática total. E aí o palhaço chega na nossa vida por conta disso, e no começo tinha maior resistência, porque a gente era grupo de pesquisa, né... ENTREVISTADORA – João, então pega nesse gancho, a resistência. Não, continua. Da resistência, da questão do “nós éramos um grupo de pesquisa mas também éramos atores”. JOÃO – É. Isso. ENTREVISTADORA – E qual é o debate ou a tensão que existia? JOÃO – É, existia tensão, é isso que eu estava entrando justamente nisso, que era. “Ah palhaço? Não, eu sou ator, eu faço teatro, não sei o que”, então a gente não tinha essa discussão que... e a gente ficou fazendo circo acho que quase, o nosso primeiro espetáculo de circo a gente já estava se formando na escola, não foi? 25 REGINA – Era. JOÃO – Era isso, então a gente passou quatro anos fazendo circo até montar o primeiro espetáculo. Porque antes era um negócio “A gente não é circo, a gente é teatro de rua, teatro antropológico”, essas merdas né, esses negócios que você vai se inventando para ir dificultando a própria vida. E aí essa chegada com o Xuxu... E aí eu e a Angélica, a vamos falando assim “Cara a gente vai fazer isso, eu não quero saber, dizer se eu sou palhaço, eu quero experimentar esse negócio”. E ainda dava dinheiro (riso). (risos) JOÃO – E aí, e a gente vai e a gente cai... o Anônimo não se assumia como um grupo de circo, não se assumia como um grupo de palhaço. Eu e a Angélica já estávamos ganhando um monte de grana (risos) fazendo animação de festa (risos). Inclusive {...} juntando essa, que é a coisa do empreendimento que eu falei lá do circo, a primeira vez que o Anônimo vai para a Europa, sou eu e a Angélica com o dinheiro da animaçãozinha que a gente fazia. Cajuzinho e Croquete (risos). FABINHO – Cajuzinho Granulado. JOÃO – Granulado, é. FLÁVIA – Tinha sobrenome. JOÃO – É, com nome e sobrenome, que é essa... Mas, enfim. E a gente vai praticar, aí só com o encontro com o Pepe Nunes, 23 que falou “Larga esse negócio, está fazendo o quê, vai ficar esperando o quê? Vocês vão querer fazer, cada vez que vai fazer um espetáculo vai fazer um tratado? Vai querer mudar?” Porque era isso né, a gente ia mudar o teatro nacional, ia mudar enfim, a gente ia fazer a revolução. A gente acreditava nisso àquela época. Bem. E aí o Pepe falou “Vamos viver, esse é o processo. Viva o processo e o resultado será fruto desse processo, não precisa... E aqui no Rio.” E aí o Pepe, na verdade o Pepe vai antes para a Escola de Circo, essa história da Omar... REGINA – [19]93. JOÃO – Ele que consegue fazer essa abertura e aí a escola abre para a reciclagem. ENTREVISTADORA – E o Xuxu entra depois né. JOÃO – Não, o Xuxu antes. ANGÉLICA – O Xuxu vai passando pela {...}. ENTREVISTADORA – É contemporâneo né? JOÃO – É contemporâneo, porque aí o Xuxu já... e a gente se encontrava, tinha vários encontros de palhaço. (alguém distante) – Tinha animação né. 26 JOÃO – É. E a gente fazia isso né, era época da animação que era eu e a Angélica, a gente tinha os encontros, que era a onda do Palhaço Cidadão. Então a gente se encontrava um dia para tomar chá no meio da rua na Cinelândia, no Mercadinho São José. E aí fomos viver essa experiência, aí fizemos um projeto, apresentamos para a Escola de Circo, para a gente fazer reciclagem. E logo depois vai montar o Roda Saia Gira Vida. Que a gente vai para Aldeia de Arcozelo e aí tínhamos um projeto do circo, no Circo Voador, que para mim é um ponto fundamental na história do circo carioca. REGINA – Em [19]92 isso. JOÃO – 92, que foi puxado pelo Geraldinho Miranda, do CIC [- Centro Interativo de Circo], 24 que junta a galera daquele momento, a galera que produzia circo no Rio de Janeiro no Circo, que eram tardes de domingo antes da como chama, Domingueira Voadora, à tarde com oficinas e apresentações. E a gente se preparou muito para apresentar, e a gente estava chegando, a gente vinha da zona norte para encontrar com a galera da zona sul, enfim, tinha toda uma coisa que nos preocupava, nos afligia. E aí a gente, inclusive é quando saímos e vamos montar o que chamamos de Circo de Anônimo, e vamos mais uma vez praticar esse entendimento a partir do fazer. E aí a gente chamava Circo de Anônimo, aí estreamos, fomos fazer a nossa primeira turnê nacional, aí saiu daqui de mala e cuia, as coisas todas, era muito família buscapé (risos), muito, porque as coisas iam todas desembaladas, havia um {...}, a sombrinha, a gente tinha uma sombrinha que não fechava, no final ela estava assim sabe (risos). FLÁVIA – A sombrinha, ela foi roubada de um mendigo. (risos) JOÃO – É. Foi quando... (risos) FLÁVIA – No carnaval. JOÃO – A sombrinha do carnaval, era do desfile do carnaval que a gente reciclou (risos). Né, reaproveitamento. Aí foi quando fomos para Icapuí [CE], que conhecemos Icapuí, foi nossa turnê. E aí depois de um ano de processo a gente faz a transformação no Roda Saia, que era uma coisa que nos inquietava na linguagem ali do circo, que era: então tinha essa história do palhaço e um circo, parecia que eram duas coisas dicotômicas. Então a gente estava brincando, mas tinha uma hora que sei lá, tinha que fazer canastilha e a gente parava na posição, tinha que parar na base para fazer, e o jogo do palhaço acabava todo, e aquilo nos incomodava, eu falei “Como é que manter esse frescor?” e aí nesse momento o Júlio Adrião 25 chega e fala “Porra, legal”, a gente fazia a terceira altura, essas criaturas carregaram eram três no bambu. A gente era jovem, né. ENTREVISTADORA – E o joelho estava inteiro ainda né. JOÃO – E o joelho estava inteiro, a coluna então. E aí ele fala assim “Olha só você tem que fazer a opção... ou é a virtuose, ou o circo ou o palhaço. Vamos fazer...” O que eu hoje chamo de modalidade, que é o trapézio, porque eu acho que o fundamental é a 27 técnica do palhaço, é a técnica do jogo, “Vamos fazer só o que isso permite”. E é por isso que vai resultar no momento em que sei lá, o double trapézio que as meninas fazem. Elas naquele momento, tecnicamente elas podiam fazer muito mais coisas de complexidade técnica da linguagem do trapézio. Mas, aquilo ali fica só o que ainda permite que elas continuem se comunicando com o espectador, continue afetando da maneira com que a gente queria, acredita, enfim. E aí a gente vai (sons) desconstruir tudo só para ficar o que era essencial. Então aí a terceira altura vai embora, porque não dá para fazer a terceira altura jogando {...} (riso) né, carregando outro assim com cento e cinquenta... e aí a gente fala “Faz essa opção”. E aí o Roda Saia toma a forma que tem, era com Rolling Stones o bambu, que hoje é feito com trenzinho caipira. Enfim, mas isso dá a dimensão (riso) do universo que saiu o mesmo trabalho de uma coisa e foi para a outra. E o palhaço é essa leitura, é desse buraquinho que a gente vai enxergar essa construção da cena, a construção da dramaturgia, que é o palhaço que vai determinar mais do que qualquer outra... e elas são trapezistas, enfim, só elas são trapezistas, o resto não é mais nada. Ah! O Fabinho é um ex-trapezista. FABINHO – Eu sou trapezista. ENTREVISTADORA – Trapezista. Eu acho que daqui a pouco nós vamos ter que encerrar e eu vou ficar só na primeira questão. Mas, não tem jeito. Isso vai ter uma segunda etapa de entrevista com vocês, porque tem duas questões importantes nesse processo de vocês que é Lume 26 e Nani 27. Que vai assim, se alguém conseguir resumir aí. REGINA – Olha, eu acho que posso começar com o Lume, porque eu acho que quando o João começa a falar dessa transformação que passa pelo palhaço, acho que o Lume foi fundamental nessa nossa transformação, porque foi um outro olhar que a gente passou a ter a partir do trabalho com o Lume. A gente já jogava, a gente já era palhaço, já estava trabalhando isso desde 92, e já estava com o Roda Saia rodando geral. Já trabalhávamos com o espetáculo, todo mundo de palhaço, e aí foi quando ficamos sabendo do trabalho do Lume, que tinha essa pesquisa, que trabalhava a formação, tinha um curso que era uma imersão, que era ficar dez dias e tal, e a gente ficou sabendo disso. Aí o Márcio me convenceu (riso). ANGÉLICA – Na verdade a gente conheceu o Lume em Campina Grande, né? REGINA – Exato. ANGÉLICA – No festival. REGINA – Na turnê. 28 ANGÉLICA – Na tal turnê que o João comentou aqui. Que aí a gente ficou logo amigos e eles se identificaram com o trabalho e começaram a falar para a gente sobre a experiência deles, ali já bateu a... FLÁVIA – Foi nesse mesmo que a gente viu o Teotônio, 28 né? MULHERES – Foi. REGINA – Aí o Burnier 29 estava vivo na época, e o Ric [Ricardo Puccetti] fez uma demonstração com o Teotônio, e que foi incrível, para mim foi assim, eu nunca tinha visto aquilo, falei “Caraca, como é que alguém pode jogar assim? Como é que alguém pode de palhaço estar tão vivo?” e ele era incrível. Fazia mil besteiras incríveis assim, na hora, se dava nó, aquela figura grande com uma roupa que deixava ele mais comprido, mais estranho ainda. Então era muita informação num pequeno momento né, que era uma demonstração. O Burnier falando um pouco do processo, e o Ric iam vivenciando na hora o que estava vivendo lá, o que estava acontecendo. E aí, nesse momento... Tem alguma coisa que alguém quer completar isso? E aí o Márcio fica sabendo do curso. Até quando eles vão para a Europa, João e a Angélica, acontece o curso do Lume. E aí o Márcio fala “Pô vamos fazer, vamos fazer, vamos fazer” eu falei “Ah não sei, será?” Acaba que a gente vai fazer, e viram um... aí ele falou “Todo mundo tem que fazer, porque depois desse curso a gente não vai ser mais igual, e aí todo mundo do Anônimo tem que fazer para vivenciar essa experiência porque vai ser transformadora”. Então a gente fez em [19]95, e a gente fez no meio de 95, e aí em 96 fez Shirley, Angélica e João. E para mim foi assim um grande marco do nosso trabalho de passar a... compreender o palhaço de uma outra maneira. Para mim foi a partir desse trabalho, que era um palhaço vivo, que saia da relação com a tradição; e, era a investigação a partir de você, esse palhaço que sai da tua história, de você, e que você tem uma relação com o espectador, que é direta, era muita coisa junta. Então acho que isso deu uma bagunçada grande na gente, tanto que isso resultou num processo de pelo menos um ano nós dentro de salas de trabalho vivenciando esse processo, nós íamos todo dia, a gente se encontrava e ficava maluco, buscando formas de chegar àquele resultado, ao que a gente viveu lá. E foi bem difícil porque a gente ainda queria montar um espetáculo desse resultado e não tínhamos um diretor. Então eram os cinco ficando malucos dentro da sala sem ter alguém para direcionar a gente, Acabou que veio essa divisão, a gente acabou depois não fazendo um espetáculo nesse momento. Mas, logo em seguida veio ter o In Concerto e a gente ganhou uma bolsa e foi estudar trapézio em outro lugar (riso), fez outra possibilidade. Rápida. JOÃO – E a experiência com o Nani também veio através do Lume, e acontece um... Outro dia estava até conversando com o Ivan Prado 30 que estava aí, que foi muito amigo do Carlo Colambaione [irmão de Nani], e a gente vai para o Fit BH, 31 e chega lá tem a apresentação do Carlo Colambaione, que era ele e o Alberto [dupla de Carlo]. E a gente tem uma experiência incrível, porque a gente viu um espetáculo de palhaço potentíssimo, era uma hora, uma hora e meia, e o teatro não ficava em silêncio um segundo. Deu dor na barriga de tanto rir, era assim uaaaaaa... não parava de rir. E a 29 gente ficou encantado com aquele trabalho, e a gente ficou amigo, depois também eles foram ver o Roda Saia, e ele falou “Ah! vamos trazer os Flores do Picadeiro” porque isso era tipo 95, era por aí. REGINA – Um pouco mais. JOÃO – E aí... Não, que era logo, foi... Ah! não, ou mais, que foi 98 é. REGINA – É, que você já tinha feito. É. JOÃO – Exatamente. Ok. Isso foi logo depois. E aí a gente ficou amigo. Aí na sequência desse mesmo ano, daqui a pouco eu recebi um telefonema do Ric falando assim “Olha só, conheci um mestre palhaço italiano chamado Nani Colambaione, vocês têm que ir para lá, é incrível, eu acabei de voltar de lá, tem tudo a ver com o trabalho de vocês”, eu falei “Caramba, a gente acabou de conhecer o irmão dele, a gente está querendo também fazer”... Hã? REGINA – [19]98. Isso. JOÃO – Ok. 98. FLÁVIA – Logo depois do primeiro Anjos, né, que a gente estava nessa conversa de palhaço com o Ric sempre, aí ele ligou. JOÃO – Isso. E aí eu falei assim “Não, a gente conheceu o Carlo”, ele falou “Não vocês tem que encontrar com o Nani. Tem que encontrar com o Nani, tem que encontrar com o Nani.” Eu falei: ok. Aí tinha essa coisa meio separada, eu falei “Ué eu vou, eu vou e tal. Ok vou ligar, vou ligar para o Nani né, tenho que conhecer o Nani”. E aí nessa eu comecei a fazer, o Márcio estava fazendo outra coisa, daqui a pouco o Márcio se meteu na minha viagem (risos), e aí a gente foi junto, e foi essa experiência incrível, transformadora para a gente, porque chegamos lá e encontramos com a tradição fazendo um palhaço super potente e de um rigor técnico absurdo, e aí você vai ver todos esses conceitos teatrais que a gente estava falando antes, o Nani trabalhava minuciosamente com isso. ENTREVISTADORA – Na prática, né? JOÃO – Na prática. Na prática, era algo assim absurdamente. REGINA – E sabedoria de passar. JOÃO – E tinha sabedoria de passar. O mestre. E a gente teve e foi, eu estava comentando porque foi um, na verdade foi um cometa que passou na nossa vida, porque a gente, e isso eu estou falando que foi em 96, isso não importa, mas foi tipo, foi setembro... ANGÉLICA – Março, a gente estava indo para Montreal. Não é? 30 JOÃO – Então, não, isso foi lá. Mas assim julho que é o Fit, mais ou menos ali no meio do ano, em setembro mais ou menos o Ric ligou, e em janeiro ou fevereiro a gente estava lá, em dezembro o Nani estava aqui no Anjos do Picadeiro, e ele fica doente, no ano seguinte ele morre. E essa experiência nos marca até hoje de uma maneira profunda, porque essa prática foi tão intensa, que hoje é uma coisa que nos marca e que é nosso já. A gente viveu agora, acabou de ver o processo na remontagem do In Concerto com a entrada do Fabinho e a saída do Márcio, que foi muito emblemático também, foi um grande presente que a gente pôde revisitar essa maneira de fazer palhaçaria, vendo o que realmente importava daquela dramaturgia, o que era o que não podia fazer, e tive a sensação que com o In Concerto a gente fez uma... nós decupamos o In Concerto para fazer assim “O esqueleto do espetáculo é esse”, a gente descobriu ali as nossas abelhas, abelhinhas, nossas {...} clássicas e para deixar o Fabinho tranquilo que falava “Eu não posso fazer isso que o Márcio fazia”, e a gente falava para ele “Olha só, tu vai ter que fazer isso porque isso faz parte da construção do riso. Outra coisa talvez você não faça ou vai fazer do seu jeito, mas isso você tem que fazer”. Não importa, não importa que tenha sido o Márcio, e às vezes nem tinha sido, enfim. Mas, é com esse rigor que o Nani nos ensinou nesse curto período de tempo dessa vivência, e era uma casa-escola, na verdade, o curso que a gente fez com ele foi na casa dele. Então a gente morava e a nossa sala de trabalho era aqui, o quarto era aqui, a casa dele era embaixo, a cozinha onde a gente comia, o trailer do Leris era do lado, então a gente vivia ali, a família. ENTREVISTADORA – É com Nani que vocês têm a sensação de que palhaço se ensina? JOÃO – É. É. Isso nos dá uma compreensão da arte. ANGÉLICA – Mas eu acho que ele já começa com o Lume. Eu acho que o Lume tinha um método que você... ENTREVISTADORA – Anterior. JOÃO – É, é. ANGÉLICA – E que você teria que, com certeza, você fez uma vivência, você teria que entrar naquele processo todo, mas ali existia uma metodologia para você... JOÃO – É eu faço uma diferença fundamental, que para mim eu digo que o Lume não... Porque o Lume era um retiro de iniciação, e inclusive por isso eles pararam de fazer o retiro. Você sai de lá, ia ter uns aqui, sai de lá um monte de palhacinho (som) (risos). Você está falando, você vai descobrir o estado, e eu não estou, isso não é nenhuma... O Ric está aí? Cadê? Não é? Não é por isso que vocês pararam de fazer... E é completamente diferente, você está falando da descoberta de um estado. O Nani estava trabalhando tecnicamente cada tempo daquilo, como se construía, aquilo ali é ensino. Esse processo do Lume não é uma coisa que se ensina. Fazer aquele processo de iniciação, viver aquelas experiências, só eles poderiam fazer aquilo. E ninguém mais vai fazer daquele jeito. Aquilo, eu não sei se vocês fizeram isso, aí o Ric pode dizer se isso 31 foi passado para outras coisas. Hoje eu sou influenciado por essa experiência, a minha oficina tem coisas que estavam lá, e têm coisas também que a gente trabalhou com o {...}e com o Ric agora, tem coisas que eu já uso tá Ric, eu nem falo que é teu. Né? (risos). ENTREVISTADORA – Até porque o Ric também passou pelo Nani, não? JOÃO – Sim. Então por mim, por isso que eu digo que quem me dá essa noção, eu aprendo com o Nani Colombaione, que é de que palhaço se ensina, que ele falava assim “A arte de fazer rir”. Ele não estava falando de iniciação, de estado, que é uma outra coisa, e que foi fundamental para a gente. Foi fundamental para uma transformação da nossa prática, e eu acho que é isso que nos liga ao Ric, que faz o Ric se aproximar da gente, ou o próprio Alberto, o Carlos Alberto, que reconhece no nosso trabalho, reconhecendo o nosso trabalho um valor ali da comunicação enfim, técnico, que poderia se estabelecer um diálogo, apesar de estarmos fazendo coisas distintas dele. Porque o que faz o Ric chegar e falar assim “Vocês tem que conhecer o Nani”? E nós éramos, e somos esses neguinhos suburbanos que saímos daqui e trabalhávamos na rua. O que faz? É alguma coisa que está ali que liga e aí a partir desse dado a gente estabelece essa comunicação. E o Nani, quando termina o trabalho com ele, ele fala, uma das coisas que magistral, e ele era muito rigoroso, aí ele fala... Primeiro que o Márcio fica lá, o Nani vendo a gente apresentando para a família, e aí no final ele, o Nani “Bravo” e aí o Márcio “Ah! você gostou?”, ele “Bravo”. “E aí, e aí, e aí?” “Bravo”. “Ué ué”, falou “O que você quer?” ENTREVISTADORA – E basta (riso). JOÃO – É (riso). Falou “O que você quer mais, quer que eu te dê um beijo?” Imagina o Nani já viu trezentas coisas, e ele fala assim “Ok, vocês realmente são bravos. Foram poucos os palhaços que passaram aqui como vocês. E agora vocês vão lá para o Brasil, e eu sei que vocês vão chegar lá e vão fazer do jeito que quiserem, não é só tudo isso”. E a sabedoria dele, essa sabedoria, e realmente era, porque talvez de alguma maneira ele não enxergasse essa apropriação que tínhamos do trabalho. E isso, uma das cenas eram duas cenas, então... Não sei por que eu estava falando isso, agora me perdi no meio do caminho. ENTREVISTADORA – Tudo bem. É o Nani. Era sobre o Nani na vida de vocês. JOÃO – Era sobre o Nani, era. Porque essa eu acho que tem a ver com a metodologia, com a maneira de trabalhar. ENTREVISTADORA – Das oficinas. JOÃO – Isso. ENTREVISTADORA – E inclusive da forma de ensinar depois. JOÃO – Ensinar depois. Claro. 32 ENTREVISTADORA – De formação de vocês, que não vai dar para entrar nesse assunto que é muito importante, mas infelizmente... Fabinho, eu só queria pegar, como você é a geração nova, sim. Você não passa por esses processos deles, como é que você passa por um processo de formação do seu palhaço? E eu juro que só vai ter mais uma questão, tá. Duas. FABINHO – Eu vou ser breve. (risos) FABINHO – Ainda é para mim assim, é uma constante, não é preocupação, mas assim no processo do trabalho isso está sempre gritando em mim. É muito tempo de diferença né, estão falando aqui de vinte e cinco anos de história, e aí você tem sei lá, está no elenco vai fazer cinco anos, fazendo espetáculos que eles já fazem há anos, há dezessete... enfim, não é fácil. Mesmo. Mas talvez seja isso que o João está falando, que faça diferença. Também perceber a forma de passar, a forma de passar o aprendizado, foi o que possibilitou. Estar no In Concerto, por exemplo, que é um espetáculo todo construído com pequenas gags, com coisa de tempo, que tem ajuste de tempo, que eu sofro até hoje, muitas das vezes eu falo “Ah esse tempo não deu. Esse eu perdi, esse...”, é sempre, tem que estar concentrado né, muito, para isso. Mas o que é muito legal é saber que mesmo aí você pode encontrar a sua forma de fazer e se divertir. Eu só comecei, o In Concerto só começou a acontecer para mim quando eu pude realmente me divertir. Eu estreei no Circ Cric, com o Tortell Poltrona 32 na primeira fila, eu falei “Fodeu não vai dar certo, eu não vou conseguir”. Então era assim, já foi uma pauleira. JOÃO – E terminou o espetáculo, o Tortell falou para ele assim “Bravo”. (risos). FABINHO – É. JOÃO – Aí esse cara tem dificuldade. FABINHO – Não, mas não é isso assim, também existe uma coisa que é uma relação que é com o Anônimo também de muito, enfim é um grupo que sempre me encantou. Eu estava agora dividindo a cena. Mas, saber que você também tem segurança para estar em cena com os companheiros, saber que você não está sendo colocado à prova, não existe uma coisa que está te provando, sabe. É muita generosidade também, porque é isso que o Anônimo fala o tempo inteiro, generosidade também na cena. Principalmente. Então essa tranquilidade eu tive, para estar, o In Concerto é o mais marcante por isso, porque tem essa dificuldade de ser uma coisa criada por eles, era muito o tempo deles, era tudo muito ajustado, e eu sofri um pouco para poder encontrar o meu lugar. Agora enquanto o meu lugar é meu, sabe, aí também é uma coisa que eu acho que encontrei o meu lugar no grupo, ele é meu, ele faz parte da minha vida, essa é a minha história. Já eu, o Nani chega até a mim sabe, o Lume chega até a mim. Encontrar com o Ric agora foi imprescindível para mim, foi maravilhoso poder viver mesmo, sentir e ter as mesmas sensações, passar agora por mim as minhas, como se diz, as minhas referências né, não 33 é só ouvir, agora é vivenciar, experimentar. Enfim eu acho que é isso, eu acho que na verdade assim, a história com o Anônimo, o que o Anônimo tem construído nesse tempo inteiro, eu sou uma das figuras, acho que sou projeto social do Anônimo né. Eu sou. É. (risos) FABINHO – Porque eu estou há tanto tempo junto e aí experimentando do bastidor, vendo coisa de fora, fazendo oficina, experimentando a cena, eu acho que as coisas chegam até mim por outras vias, mas eles falam e parece que é meu, parece que eu tenho propriedade, eu não sei dizer como isso se dá, mas essas falas parecem que são minhas. E eu entendo tudo isso que eles estão falando. Não sei como, mas eu sinto assim. ENTREVISTADORA – Eu sei que eu vou pedir uma coisa impossível, mas vou fazer duas questões problemáticas, mas que tem que ser resumidas. Vocês sabem que historicamente a dificuldade no chamado circo tradicional de você ter mais de um palhaço. A disputa é muito grande. Como é isso, cinco palhaços juntos? (risos) ANGÉLICA – Eu acho que nunca tinha pensado nisso. FABINHO – Nem eu. (risos) JOÃO – Eu nunca tinha pensado sobre isso. REGINA – Eu também não (riso). FLÁVIA – Ah! então é por isso, né? (risos). ENTREVISTADORA – Depois eu faço essa pergunta para o Ric também (risos). (risos) ENTREVISTADORA – Não, mas é porque isso no chamado circo tradicional, até hoje é um caso sério, uma disputa, não se tem dois palhaços. JOÃO – Até ontem eu estava falando isso com o Tortell. ENTREVISTADORA – Muito raro. JOÃO – Eu não sei responder, eu não sei responder isso, não, mas isso não vai me impedir de falar né, que besteira. Ontem eu estava conversando sobre isso, eu estava falando sobre isso com o Tortell e o Chaco 33 à noite, que era essa coisa de no circo não ter mais de um palhaço, sobre tudo. Mas, é um exercício diário, e agora na verdade eu lembrei da experiência de novo do In Concerto, que era... por exemplo, é muito diferente trabalhar com o Márcio e trabalhar com o Fabinho. 34 FABINHO – Eu sou muito mais legal. JOÃO – Isso não resta dúvida, ninguém está duvidando disso. Né, se ele fosse mais legal não era tu que estava sentado aqui. Rararara. Hoje é horrível. FABINHO – É. Era só uma piada, João. JOÃO – Era só uma piada. ANGÉLICA – Acho que está chegando a hora de acabar a entrevista (risos). JOÃO – É (risos). Você viu porque não pode ter vários palhaços. ENTREVISTADORA – Você vê o que significa cinco palhaços na companhia. JOÃO – Mas, que era assim, o trabalho com o Márcio... e aí o Márcio era o Cuti-Cuti, era todo doce né, todo naquela... Mas, de alguma maneira ele se colocava na cena, a nossa relação na cena era uma relação muito mais impositiva do que eu tenho hoje com o FABINHO, e que é muito mais ágil, que é muito menos infantil. Porém, isso para mim foi uma... e isso para mim foi um exercício durante muito tempo de estar com o Márcio na cena, que era essa relação de Branco e Augusto, e aí no final das contas todo mundo saia amando o Cuti-Cuti, e aí eu “Porra espera aí”, e até outro dia o Márcio revelou isso para mim, porque a gente, por exemplo, a gente estava fazendo a cena aqui assim, e aí na hora que o Márcio... eu estava aqui, aí na hora que o Márcio ia fazer a cena ele fazia aqui assim olha, ele ia para a frente. E ele falou que ele fazia isso de propósito. A gente nunca tinha falado isso, e aí ele falou isso, que ele adora me irritar (risos) e fazia isso. Revelou isso agora, recentemente (risos). E com o Fabinho não tem isso. E nessa brincadeira dessa... FABINHO – Eu vou fazer isso. REGINA – O Fabinho te respeita, ele não fica na frente (riso). FABINHO – Não, eu vou fazer isso, eu gostei da ideia, vou começar uma nova provocação agora. (risos) JOÃO – É. REGINA – O João é que fica na frente. JOÃO – E agora... e aí as pessoas seguem, na função de Augusto as pessoas seguem amando o Fabinho, quer dizer o Augusto da dupla, porem como as pessoas amam ele é completamente diferente de que amavam o Márcio. Que era um negócio bebê, aquele negócio, aquela coisinha assim bebê monstro. Mas, o Fabinho é um amor mais adolescente sabe, é outro tipo de relação que as pessoas têm quando no resultado do In Concerto. Mas, mantem ali, a gente tem que lidar com isso. Eu não sei, eu não respondi, não, eu só resolvi falar esse negócio. 35 ENTREVISTADORA – Eu acho que é uma questão também que não precisa ser respondida, mas a gente, eu sempre tenho, como essa questão da história, e essa questão da onde vocês vem do circo também, tem essa disputa, tem essa questão, está dado, e eu acho interessante saber dos grupos. Porque não são muitos grupos que tem cinco palhaços. É pelo menos intrigante. Instigante e provocador. Não perguntar sobre isso não é, é difícil. FABINHO – Eu acho que a cena, a construção da cena é que faz a diferença, talvez, a gente não tem cenas que tem uma coisa tão característica da escada, da construção da... eu não sei, eu penso assim, penso no Roda Saia, penso no In Concerto, eu não tenho tanto uma construção de fazer uma escada para que o outro faça a piada no final. Eu não sei. ENTREVISTADORA – É. A questão também não é querer mostrar um grupo sem problemas, sem tensões e sem disputas. Não é isso. Não é. ANGÉLICA – Acho que uma coisa que o Anônimo... que a gente descobriu também um pouco no percurso, é que assim, teve o Roda Saia, teve o Tomara [que não chova], espetáculos que hoje juntam todos, mas também a gente descobriu uma saída, que eu acho que é para a vida do grupo, uma saída saudável, que é respeitar também um pouco os desejos individuais, acho que foram surgindo os espetáculos menores, acho que dá conta também dessa vaidade, digamos assim, desse lugar de... ENTREVISTADORA – Que não é nem eliminar que ela não existe, mas também de trabalhar de outra forma. ANGÉLICA – Exatamente, eu acho que... ENTREVISTADORA – Na estrutura do chamado tradicional isso não é dado, há uma hierarquia. Ao mesmo tempo em que o João coloca do Márcio, mas há o tempo inteiro uma tensão, boa, pode, porque a tensão pode ser boa, de se produzir algo diferente. Não que isso não leve uma tensão até de mágoa ou de disputa, mas que se pensa “Dá para fazer diferente”. Acho que no grupo de vocês é isso, sem querer mostrar que é cor de rosa, mas que há uma tensão produtiva nesse sentido e não eliminatória. Talvez porque na hora que o Fabinho falou da generosidade, talvez tenha pelo menos isso mais no ar do que outra coisa. Eu vou fazer a última questão que não é só para as meninas responderem. É para os meninos também, e não é uma questão de falar de gênero, mas pensar historicamente na questão de que, de novo no chamado tradicional, nós não temos palhaças. Temos algumas mulheres fazendo, mas não é a prática. E de fato a partir das escolas é que, e dentro de um contexto da moral, do costume diferenciado, começou as mulheres a aprenderem a serem palhaças. Como é isso para vocês, meninas, primeiro, mas também assim, como é que os homens vêem esse trabalho? Como é que é dado a eles? Eu quero que todos respondam por que para mim não é uma questão de gênero, de gueto, de 36 feminismo, mas sim entender que isso tem história. E vocês fazem parte da produção dessa história. SHIRLEY – Bem, eu quando... ENTREVISTADORA – Essa é a última, viu gente. SHIRLEY – Eu quando passava pela Escola Nacional de Circo, eu sempre pensava assim “Poxa eu queria ser palhaça”, eu queria muito mesmo, mas não sabia qual era o caminho, nunca soube, né. Então falei assim “Bom, também quero ser atriz, então vou fazer teatro, esse eu sei o caminho, esse aqui tem a escola de teatro”, e achava que tinha que ter mais idade para entrar para a Escola de Circo. E aí, nem sabia que lá não tinha curso de palhaço, não sabia desse universo, só achava lindo, eu só queria ser palhaça. E aí nesse mundo de teatro eu descobri o curso da Ana Luiza Cardoso, 34 fundadora das Marias da Graça, 35 e eu nunca me preocupei com isso, essa questão de gênero, na questão de ser palhaça, eu queria ser palhaça. E eu, historicamente depois que fui me ligar nisso, assim perceber “É mesmo, a gente não tem, a gente está aqui começando essa história, as Marias e tal”. E depois que eu voltei do curso do Lume também, veio outra questão comigo, porque a minha palhaça, ela não é uma palhaça, ela não é um palhaço, ela é uma mistura... ela sou eu né, que sou meio moleque, sou sapatão, sou essas coisas todas. Então... JOÃO – Ah é? SHIRLEY – Ah! gente, falei. Pronto. (risos) JOÃO – É isso. SHIRLEY – É por isso João (riso). Então assim, eu na verdade ainda ficava assim, e vinham As Marias, aquela coisa de gênero, encontro de mulheres palhaças, cara eu não me preocupava com isso, eu não queria saber muito dessa questão. Eu queria ser palhaça, queria me divertir, eu queria fazer os outros rirem. E só depois que pensando nisso, que os homens não deixavam as mulheres fazerem teatro, não deixavam as mulheres fazerem palhaça, pô isso dava uma raiva (riso). Mas na verdade eu acho que a gente vem conquistando espaço, vem fazendo, vem se divertindo, e dentro do grupo nunca teve nenhum problema com isso né, a gente... JOÃO – A gente te batia. SHIRLEY – É. E a gente apanhava, não tinha problema (riso). Eu sou a anã do grupo né, eu sempre fui a anã do grupo mesmo, eu sempre apanhei. Então (riso). Mas assim, eu nunca me preocupei muito com essa coisa, eu caguei e andei para isso, quero ser palhaça e pronto. ANGÉLICA – Acho que de ficar fazendo parte da Abayomi durante dezoito anos, levantando bandeira nos movimentos, faz também querer se distanciar um pouco desse 37 discurso, né, porque até o ano passado quando teve aqui a mesa, e chegou o momento que era “A mulher tem uma comicidade diferente”, sabe, colocar essa separação mulherhomem, eu até respondi no dia, falei “É claro que tem, mas eu tenho a minha diferente da Shirley (riso), o João tem diferente da do Fabinho” porque afinal se a gente fala, falha e acredita e assume, o palhaço é o que? É o reflexo da humanidade, o palhaço sou eu, a minha palhaça sou eu, então a minha comicidade está em mim, eu vou descobrir isso em mim. É singular a coisa, eu acho mais do que... e falando historicamente, o circo como faz parte do acompanhamento, ele acompanha a história sempre, está sempre ali muitas vezes até à frente. Eu acho que nesse lugar da mulher também. Está se ampliando o número de palhaças? Que ótimo, mas acho que isso está fazendo parte de um todo no mundo né, as mulheres estão tomando... ENTREVISTADORA – Mais ou menos, Angélica, eu fiquei na maior saia justa em Florianópolis naquela mesa lá dos chamados palhaços tradicionais. Que a Ana pergunta “E as palhaças?” [e eles foram unânimes] “Não existe mulher palhaça”. (riso). ANGÉLICA – Os tradicionais falaram? ENTREVISTADORA – Que para eles ainda não existe, eles não escutam. ANGÉLICA – É. É possível, é possível que aqui mesmo em algum circo tradicional também tem esse mesmo discurso. Pois é, eu acho que... ENTREVISTADORA – A maioria, a maioria. Não, não conta. ANGÉLICA – É. ENTREVISTADORA – Não, mas é que eu nem estava perguntando para responder a coisa de gênero necessariamente, que eu acho bom também, que eu acho importante isso. Mas, é que historicamente há uma produção que não existia antes, até por várias razões que não vai caber aqui, mas por várias razões não existia. Palhaço é olho no olho. E no circo tradicional não dava para a mulher fazer isso, senão ela era puta. Então tem todo esse contexto, mas que eu acho interessante um grupo ter três palhaças. JOÃO – A gente já foi até para a Andorra, “Já fui mulher, eu sei” (risos). FLÁVIA – Graças às três mulheres palhaças. ENTREVISTADORA – Então. É. Você quer falar Regina? REGINA – Eu, a gente estava até tendo uma discussão em Brasília, com uma palhaça, com a Ana Flávia, que a gente estava falando exatamente isso. Ela falou que não se sentia querendo fazer parte de um grupo só de mulheres, de mulheres palhaças, e tal. Eu também não, eu não me sinto nessa... sentindo essa necessidade de fazer essa separação e falar desse lugar, mas eu acho importante também ter. Porque eu acho que se existe essa necessidade que se formou, as próprias Marias, que é um grupo só de mulheres, eu acho que é porque já existiu na formação alguma coisa que ela precisa também dizer, também até da própria questão de gênero. Então quando a gente vai até uma mesa 38 tradicional e escuta “Não tem mulher palhaça”, então a gente não está em todos os lugares, não. Então eu acho que ainda é necessário a ampliação do próprio olhar, ampliar o olhar da sociedade, falar que existe, estamos aqui. Eu nunca sofri isso dentro do grupo, nem em nenhum lugar que eu fui trabalhar, falaram “Ah você é palhaça?”. Não. Na verdade é até muito legal, quando eu quero ser discreta, falam “Qual a sua profissão?” eu falo “Eu sou atriz” (riso), aí quando você quer, você fala “Eu sou palhaça” “Palhaça?” aí já virou um... é, eu falo “Ai meu Deus, o que eu falei...” porque já vira uma coisa, então nunca sofri e acho até que fui muito bem recebida no sentido do trabalho, das relações e tudo mais. Mas, acho que é importante, acredito que seja importante, ainda pensando nesses segmentos. ENTREVISTADORA – Fabinho. FABINHO – É, eu fiquei pensando uma coisa, eu passei muito tempo falando “Ah eu sou negro”, eu tinha uma coisa assim “Ah eu sou negro, eu sou negro, que não sei o que”, e aí um dia de terapia eu percebi que eu era branco também (risos). É. O meu pai é negão, minha mãe é branca. E aí eu falei “É, eu não sou só negro”. ANGÉLICA – É sarará, né. FABINHO – É, eu sou sarará, eu sou. Mas, eu sei que tem horas que tenho que ser, e vai ser mais vezes eu vou ser obrigado a ser mais negro do que ser branco. Então isso vai gritar, vou ter que ser mais vezes, às vezes vou ter que ser gay, e eu não frequento e não convivo, não tenho uma prática, e transo com mulher, eu sou tão misturado, que... Mas, às vezes tenho que ser, e nessa hora que eu tiver que ser gay eu vou ser gay. Eu acho que é importante saber quando você tem que ser alguma coisa (risos), e a mulher tem hora que ela vai dizer “Eu sou mulher e eu tenho que ser mulher, e é preciso dizer dessa forma, eu preciso fazer dessa forma”. Agora a questão é como a gente, que estamos em cena, que temos coisas para dizer, que tem coisas que queremos comunicar, e que a sabemos que, pela sedução, conseguimos atingir, não é só um discurso. Provocamos sensação, a nossa informação, mensagem seja lá o que for ela chega por várias... como eu vou fazer para dizer isso? E o que eu quero dizer? Então eu acho que aí sim é essa preocupação não só de homem ou de mulher, mas a gente homem que quer falar disso, que quer falar de algo feminino, essa preocupação a gente tem que ter. Não sei como, mas é porque ela realmente existe hoje. Enfim, eu não sei se eu expliquei, mas... ENTREVISTADORA – Não tem explicação certa. FABINHO – É. REGINA – Eu só queria falar uma coisa. Tem isso tudo, eu acho que é válido e tudo, mas eu já vivi situações tipo, tem uma roda só de palhaços e vai apresentar uma palhaça, e já vivi isso, e aí chega lá, a palhaça que presenta, acaba que ela não se dá bem na roda. Aquilo me dá uma tristeza profunda, eu fico arrasada, eu falo “Puts, única mulher da roda não foi legal”. Então tem um lugar que me toca, né? 39 FABINHO – Não Rê, desculpa, ou então quando a gente vai a um festival de palhaço aí todas as cenas de palhaça que a gente já viu, todas, elas queriam casar. (risos). Todas. Não é possível, não é possível que seja só isso (risos). Não. Aí elas ou entram de noiva ou estão abandonadas, não é possível que seja isso, só isso seja. (risos) ENTREVISTADORA – O tema. FABINHO – É. Aí também tem o outro lado da moeda né, que aí vai fazer um encontro de palhaças mulheres, para que, para falar disso? Porque a cena está dizendo isso, a sua cena está dizendo a sua questão. ENTREVISTADORA – João, depois de você a Flavinha tá. JOÃO – Ah não, pode ser. ENTREVISTADORA – Pode ser. JOÃO – É eu imagino né, vou continuar montando as cenas para poder ver se eu consigo pegar alguém, até hoje. (risos) Eu acho que é isso, a minha resposta começa com essa coisa que o Fabinho falou também, e sou dos movimentos sociais, militei muito em vários, enfim, eu podia ser várias coisas, e hoje acho legítimo, mas acho a maneira mais, sei lá, pouco eficiente de você fazer valer o seu direito, enquanto minoria. Porque acho que é a valorização do ser humano, você vai se colocar e é isso. Porque você pode ser o que quiser. Eu adoro falar agora em determinadas situações porque eu falo assim “Me respeita porque eu sou a cota. Eu posso ser a cota que você quiser. Eu posso escolher várias cotas para você poder me aceitar”. E seria tão lindo se essa discussão fosse pela questão da estética, porque assim, senão a gente vai ter que ter encontro de mulheres enfermeiras, mulheres carpinteiras, mulheres não sei o que. Não, o problema da mulher é o problema da mulher, não é o problema do palhaço. Problema de ter creche num encontro de festival, isso não é problema, sabe. Como é que resolve isso? Como é que eu que viajo com o meu filho resolvo o meu problema disso? Enfim, é que essa discussão seria mais rica. O que caracteriza a comicidade feminina, e diferencia quando a gente está falando que é de cada um? O que diferencia uma coisa da outra? Se a gente for olhar essa platéia aqui olha, a gente vai ter quase 50% de mulheres, e tem um bando de mulheres palhaças aí se reunindo, né. No último encontro de mulheres palhaças foi ótimo, a Vandeca, a Dona Bilica do Cabaré, foi a melhor coisa, assim, tinham vários números ruins naquela noite, muito ruins, e aí é essa a discussão. Será porque que determinados trabalhos não vão para frente, quase não vão, por quê? É uma questão de qualidade, não porque ela é mulher, não é porque é homossexual, inclusive eu vou lançar o primeiro encontro internacional de palhaços GBPL{aqui a sigla é possível que o entrevistado referiu-se a LGPT - Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais e Transgêneros} FABINHO – Essa {...} era da Shirley. (risos) SHIRLEY – É. É. Para. Encontro de palhaços gays ano que vem é o que? 40 JOÃO – É que a gente não vai fazer um Anjos, a gente vai fazer esse para ganhar dinheiro, né. (risos) FABINHO – O segmento mais rico da sociedade. JOÃO - E aí uma... e a Vandeca no alto da sua sabedoria e qualidade, ela desconstruiu, ela saiu quebrando tudo. Porque ela falava disso: “Ah vocês são um bando de mulheres, você está aqui para arrumar casamento né, essas mulheres...” E ela falava, ela ria da própria condição dela, naquele momento ali ela estava sendo palhaça, palhaço, na essência, na veia, até o caroço. E é isso que importa. Não é na hora... Imagina se eu for escolher esse lugar de discussão de problema para levar para a cena para eu fazer. Vai ser ruim. Vai ser ruim porque a arte não é isso. E para mim ponto final, eu sou meio radical nesse sentido. E aí tudo bem, é legítimo. Eu adoro... Deixa para lá, esquece. ENTREVISTADORA – Flavinha. FLÁVIA – Eu não sou palhaça, né. Então é mais difícil. ENTREVISTADORA – Nem eu. FLÁVIA – Mas assim, o que eu acho é isso, que é legítimo até o momento em que está se falando de uma trabalhadora. De arte. De circo. E aí assim, no circo não tem espaço, então as mulheres têm que conquistar o seu espaço, e aí eu acho que é legítimo. Agora para a construção da cena, eu que olho, eu acho que não tem mesmo muita diferença. Eu consigo ver coisas muito tradicionais no que a Shirley faz e ela é mulher. Porque ela consegue (risos) fazer a coisa, não porque ela se torne um homem em cena, não é por isso. Entendeu. (alguém fala) – {...} FLÁVIA - Não, ela é ela. Então eu consigo ver em todas as pessoas, mulheres ou não, elas, quando elas são palhaças ou palhaços. Eu acho que é mais uma coisa mesmo de segmento, e acho importante, porque quando a gente era da Abayomi, a gente tinha uma oficina que ensinávamos a fazer um bebê negro. E aí o pessoal do movimento negro sempre chamava a gente para ir fazer essa oficina nos encontros, encontros de mulheres, encontros de mulheres negras e tal. E eu e a Regina, a gente nunca podia ir a dupla. Nós éramos uma dupla separada, porque nós somos brancas. E aí nós questionávamos um pouco isso: “Porra, a gente queria ir e tal, a gente faz a oficina igual e não sei o que”. E aí teve uma figura do movimento negro, muito legal, que ela veio e falou assim para a gente: “Na verdade a gente entende que vocês fazem a oficina igual. Só que o fato é que a gente está querendo fortalecer uma minoria. E se essa minoria olha para você que é branca e não se identifica, ela pode continuar achando que você está vindo ensinar uma coisa, e não compartilhar.” E eu entendi isso, sabe, porque realmente tem hora que você tem que se identificar. E aí não sei, comecei a entender que precisa ter o fortalecimento de determinadas categorias, de minorias sim, agora eu entendo isso de 41 uma forma muito mais política do que artística. Eu acho que o processo de elaboração, de construção do seu palhaço, ou o que vai utilizar como técnica, eu acho que não tem a ver com gênero. ENTREVISTADORA – Bom, esse tema é um tema que, inclusive, está em vários trabalhos de pesquisa na universidade, eu acho que vale a pena, e vocês já fazem parte de uma entrevista que vai estar em pesquisas universitárias (riso). Mas, de qualquer jeito, se pensa no palhaço como relação, eu não posso pensar numa relação só, unilateral. Ela é relação. Seja com homem, com mulher. Mas, é um debate importante, porque, por exemplo, numa mesa com o Tubinho e o grupo de mulheres que trabalham com o Tubinho, as irmãs, parceiras, tal, o debate delas é que elas querem ser palhaças e ele não deixa. Mas, aí é uma questão de reserva de mercado. (João ri) Ele é “o” palhaço. E elas são as escadas, ou qualquer coisa assim. FLÁVIA – É. Até se a gente for pensar assim, se dentro da tradição também não tem essa coisa, não existe um grupo com seis palhaços, a gente já na nossa geração, já é outro tipo de palhaço, outro tipo de... né. ENTREVISTADORA – É, mas conta nos dedos quanto existe de grupo de cinco palhaços, sendo que a maioria é mulher. Então veja, é diferenciado, tem uma trajetória no mínimo diferenciada, que precisa ser estudada. Certo. Gente, eu tinha várias questões, Ieda também tinha algumas questões que era para gente colocar, sobre o que significa alem dessa questão, não vou... eu vou só apontar, mas não vou dar o microfone mais para vocês. ENTREVISTADORA – É. Uma questão importante é essa questão do grupo enquanto artistas, produtores, empreendedores, ponto de cultura. Quer dizer, tinha muita coisa ainda para ser perguntada. Mas, a segunda parte está um pouco escrito no site de vocês. A primeira parte não está, não. (risos distantes) JOÃO – A gente é ruim nisso. ENTREVISTADORA – A segunda parte, que eles são empreendedores, produtores, ponto de cultura, de alguma forma está tudo lá no site. Eu tenho a cópia do site aqui. Mas a primeira parte eu falei “Gente, o outro Anônimo, essas pessoas não conhecem”, por isso que eu, de certa forma, privilegiei essas, e que ficou só na primeira questão com sete itens. Está certo. (risos) JOÃO – No Anjos 35 a gente termina. ENTREVISTADORA – É. (risos) 42 ENTREVISTADORA – Não, vai ser antes, a ideia da Ieda, que vai dar um trabalho do caramba, porque para eles responderem por escrito... vai ser, você vai suar para conseguir isso. JOÃO – A gente é uma espécie de analfabeto... ENTREVISTADORA – Você consegue, né? [dirigindo-se para Ieda] JOÃO – Um pouco. ENTREVISTADORA – Ela consegue, ela consegue. O chicotinho dela não é fácil. Bom gente, não vou abrir para vocês, sinto muito (riso). (risos) ENTREVISTADORA – Já são sete horas. Seis e cinquenta e quatro no meu. E espero que vocês tenham aproveitado essa condução. Eles acabaram falando muito mais da produção deles enquanto antropófagos que são, e das relações de antropofagia que eles trazem para o trabalho deles. Obrigada gente. (aplausos) FLÁVIA – A gente também agradece (riso) 43 Histórico do grupo Teatro de Anônimo que consta no site do mesmo. O Grupo Fundado em 1986, o Teatro de Anônimo estrutura sua prática através da montagem e apresentação de espetáculos, da qualificação profissional de outros atores sociais, além do aperfeiçoamento de técnicas e modelos autênticos de gestão e administração coletiva, baseada na solidariedade, criatividade e cooperação. O Teatro de Anônimo busca em seu trabalho, realizar uma parceria cidadã com a sociedade civil, extrapolando a idéia de comunidade delimitada por um espaço físico, para alcançar o conceito de comunidade que se liga por um sentimento de pertencimento, necessidade de identidade, de troca no campo do trabalho, do lazer, das afetividades, criando assim, territórios flutuantes que se movimentam de acordo com a necessidade de se manterem vivos e produzindo singularidades e bens materiais. No repertório, 09 espetáculos: Roda Saia Gira Vida (1994), In Conserto (1998), Tomara que Não Chova (2001), Guardados (2002), Homem Bomba (2005), Lar Doce Lar (2006), Noites de Parangolé (2008), Melhor dos Mundos (2010) e Inaptos?...a que se destinam...(2011). Como resultado da pesquisa aérea, possui os números: Caleidoscópio (1998), Dentro da noite (2007) e Donde Estavas (2009), além de outras intervenções para eventos, convenções e festas. Desenvolve oficinas com foco na comicidade e na acrobacia aérea: O Jogo Como Técnica, Assunto de Palhaço, CircoTeatro Atuação, Acrobacia Aérea, Gestão para Autonomia e Produção Cultural. Dentre as diversas formas que o grupo intervém no cenário cultural nacional e internacional, se destaca a realização desde 1996 o Encontro Internacional de Palhaços Anjos do Picadeiro – um evento que figura entre os maiores do gênero no mundo. Em 2010 o grupo tornou-se Ponto de Cultura, responsável pela realização de um programa de oficinas de especialização de cerca de 80 artistas na área de comicidade, acrobacia aérea e gestão. O espaço está a serviço também da experimentação, estudo, troca de conhecimentos e intercâmbios nacionais e internacionais. 1 . Márcio Libar nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 13 de Fevereiro de 1966. Estudou na Escola Nacional de Circo. Participou da fundação do Teatro de Anônimo, é coordenador do projeto Mundo ao Contrário e colaborador no Anjos do Picadeiro. Em 2008, lança seu livro A Nobre Arte do Palhaço. Tem em seu currículo um longa-metragem e quatro curtas, além de prêmios internacionais, como o Especial do Cirque Du Soleil e o Nariz de Prata, ambos em Mônaco e concedidos em 2006. Fazendo arte, ele já percorreu todo o Brasil e outros oito países. Atualmente é Diretor Artístico do Teatro Maria Clara Machado - Planetário da Gávea, onde mantém seu ateliê de criação, além de se dedicar a formação de sistemas livres de gestão artística à exemplo dos projetos Clube Teatro e TV Mobile de Humor. Pesquisa: http://www.spescoladeteatro.org.br/enciclopedia/index.php/M%C3%A1rcio_Libar, em 11.01.2013. 2 . A Escola Técnica Estadual de Teatro Martins Pena é uma instituição pública de ensino médio localizada na cidade do Rio de Janeiro. Fundada em 13 de janeiro de 1908, é considerada a mais antiga escola de teatro da América Latina em atividade. Fundada por Coelho Neto, que a dirigiu por 25 anos e também foi seu primeiro diretor. O Teatro Municipal, o Instituto de Educação, uma sala na Avenida Venezuela e o Teatro João Caetano foram alguns de seus endereços provisórios. Desde 1950, funciona permanentemente no prédio tombado no Patrimônio Histórico Nacional da Rua Vinte de Abril, onde nasceu o barão do Rio Branco. A escola, que teve vários nomes, como Escola Dramática Municipal, Escola Coelho Neto, Escola de Teatro e Cinema, passou a ser chamada de Escola de Teatro Martins Pena, em 1953. Desde a inauguração da escola já fizeram parte do corpo docente: Cecília Meirelles, Viriato Correia, Gustavo Dória, Fernando Pamplona, Junito de Souza Brandão, Aderbal Freire Filho, Alcione Araújo, Paulo José, Edu Lobo, Denise Stocklos. Foi dirigida por Oduvaldo Viana, José Wilker, Anselmo Vasconcellos, Maria Tereza do Amaral e Marília Trindade Barboza, entre outros. Alguns atores que passaram pela instituição: Procópio Ferreira, Sadi Cabral, Tereza Rachel, Almir Cabral Pestana, Carlos Lacerda, Jayme Periard, Denise Fraga, Ilya São Paulo, Carlos Machado da Silva, Joana Fomm, Claudia Jimenez, Maria Ceiça e outros. Pesquisa: http://www.faperj.br/boletim_interna.phtml?obj_id=4115, em 11.01.2013. 3 . “Acho que foi no ano de 1989 que começamos montar o espetáculo. Tinha uma relação direta com as poesias do Zé Cordeiro, as mesmas que montamos o Flash da Cidade, mas era feito de uma maneira mais desconstruida, valorizando imagens. Era um trabalho para rua, direção do Márcio Libar que também atuava e fazia o personagem chamado Fulano de tal, eu fazia três personagens: a fome, o poder e uma velha curandeira. O João era o que ligava a cena, o plano real e o onírico com percussão. Com o retorno do Nem e ANGÉLICA e com a entrada do Wilson Belém todos entraram no Cura-tul. Os personagens que eu fazia foram divididos com a ANGÉLICA- Fome e Wilson - Poder , o João que atuava na percussão sozinho, passou a fazer parte de um coro. ( João, ANGÉLICA e Nem). Com o passar do tempo a Shirley, que era nossa contra regra, também entrou no espetáculo. Nesse momento já estávamos no mundo do circo e o circo foi fazendo parte do espetáculo.” – informações REGINA Oliveira, por e-mail. 4 . “No período dessa referência da Martins Pena e aprendizagem da perna de pau para realização de um espetáculo, este foi O Sumidouro, de Jorge Andrade, e o professor-diretor do mesmo era Sidnei Cruz, no penúltimo semestre de minha formação, minha e da Angelica." – Informações complementares dadas por Shirley, por e-mail de 28.01.2013. 5 . Escola Municipal Cecília Meireles, Rio de Janeiro. Em 2012 completou 40 anos. Pesquisa: http://emcecilia2011.blogspot.com.br/2012/06/bodas-de-rubi-40-anos.html, em 11 de janeiro de 2013. 6 . Em 12 de setembro de 1918, o Conselho Municipal do antigo Distrito Federal tornava oficial e estatal uma Escola Primária que funcionava na Rua Dias da Cruz, desde 1908. Por esse ato, o prefeito ficou autorizado a transformar a Visconde de Cairu em escola profissional, masculina. Tempos depois, a escola passou a funcionar na atual Rua Felipo Cavalcanti. Os cursos profissionalizantes permaneceram até 1954, mantendo-se, a partir de então, apenas o curso ginasial. Em 1958, foi construído o conjunto de prédios em que funciona, atualmente, o colégio. Inauguradas as novas instalações, na Rua Soares 95, Méier, estabeleceu-se, nas antigas dependências do Visconde de Cairu, a Escola Primária Benevenuta Ribeiro. Em dezembro de 1958, por ato da Secretaria de Educação, homologado pelo Ministro da Educação e Cultura, o Ginásio Municipal Visconde de Cairu foi transformado em Colégio Municipal Visconde de Cairu. Após a criação do Estado da Guanabara, recebeu a atual denominação de Colégio Estadual Visconde de Cairu. Em 2013 fará 95 anos. Pesquisa: http://ce.cairu.zip.net/, em 11.01.2013. 7 . “Luís Carlos Nem e Edvando Junior, os dois foram fundadores do Anônimo, fizeram os espetáculos Anônima e Flash da Cidade. Ambos sairam no ano de 1988. O Nem retornou ao grupo talvez em 1990 e ficou até 92, durante esse período entrou no espetáculo Cura-tul.” – informações REGINA Oliveira, por e-mail. 8 . Jailson Silva – Observatório das Favelas (Rio de Janeiro). A referência que João Artigo faz é sobre a participação de Jailson na mesa de debate sob o título “’A alegria é a prova dos nove’: o lugar social e crítico do riso na cultura brasileira”, que fez parte do IV Seminário de comicidade, evento produzido pela organização do Encontro Internacional de Palhaços - Anjos do Picadeiro 11, 2012. Na mesa também participaram: André Bueno (UFRJ) e Erminia Silva (Circonteúdo, historiadora). 9 . A Lei Federal 4.513 de 01/12/1964 criou a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor - FUNABEM - em substituição ao Serviço de Assistência ao Menor - SAM. À FUNABEM competia formular e implantar a Política Nacional do Bem-Estar do Menor em todo o território nacional. A partir daí, criaram-se as Fundações Estaduais do Bem-Estar do Menor, com responsabilidade de observarem a política estabelecida e de executarem, nos Estados, as ações pertinentes a essa política. A Lei Estadual 1.534 de 27/11/1967 autorizou o Poder Executivo a instituir a Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor - FEBEM, vinculada a Secretaria de Estado e Serviço Social, destinada a prestar assistência ao menor, na faixa etária entre zero e 18 anos de idade, no Estado da Guanabara. A FEBEM passou a ter, então, por finalidade: "formular e implantar programas de atendimento a menores em situação irregular, prevenindo-lhes a marginalização e oferecendo-lhes oportunidades de promoção social." Na mesma época foi criada, também, a Fundação Fluminense do Bem-Estar do Menor - FLUBEM, cuja área de abrangência era o antigo Estado do Rio de Janeiro. Pelo Decreto-Lei n.o 42 de 24/03/1975 a FEBEM passou a denominar-se Fundação Estadual de Educação do Menor - FEEM, resultante da fusão da FEBEM e da FLUBEM, quando os Estados da Guanabara e do Rio de Janeiro fundiram-se num único Estado, o atual Estado do Rio de Janeiro, passando a ser, o novo órgão, vinculado à Secretaria de Estado de Educação. Nessa condição, a FEEM passou a gerenciar também o atendimento até então executado pela FLUBEM. No ano de 1983 passou a ser vinculada à Secretaria de Estado de Promoção Social e, posteriormente, em 1987, sua vinculação passou à Secretaria de Estado de Trabalho e Ação Social. A FEEM reporta-se, até então, aos princípios e diretrizes da Política Nacional do Bem-Estar do Menor, formulada e implantada pela FUNABEM. Pesquisa: http://www.fia.rj.gov.br/historia.htm, em 11.01.2013. 10 . ” O grupo é a Troupp Pas D’argant, que também se formou no Visconde de Cairu, ficou conhecido pela montagem do espetáculo Cidade das Donzelas (indicado para o Prêmio Shell), a última montagem chama Holoclownstro. Um dos seus integrantes Orlando [Caldeira], formou-se na última turma da Escola Nacional de Circo. [mais informação] www.troupppasdargent.webnode.com.” – informações João Artigos, por e-mail. 11 . João Artigos faz referência à fala da Entrevistadora – Erminia Silva – na mesa “’A alegria é a prova dos nove’: o lugar social e crítico do riso na cultura brasileira”, que fez parte do IV Seminário de comicidade, evento produzido pela organização do Encontro Internacional de Palhaços - Anjos do Picadeiro 11, 2012, conforme rodapé sobre Jaílson Silva. 12 . Diretor do Visconde de Cairu – informação REGINA, por e-mail. 13 . A palavra abayomi tem origem iorubá, significando aquele que traz felicidade ou alegria. (Abayomi quer dizer encontro precioso: abay=encontro e omi=precioso). O nome serve para meninos e meninas, indistintamente. Não se deve confundir com Abaiomi, também iorubá, de significado diverso. O nome é comum na África, principalmente na África do sul, embora também seja encontrado com frequência até o norte da África, e mais raramente, no Brasil. No Brasil, além de nome próprio, designa bonecas de pano artesanais, muito simples, a partir de sobras de pano reaproveitadas, feitas apenas com nós, sem o uso de cola ou costura e com mínimo uso de ferramentas, de tamanho variando de 2 cm a 1,50 m, sempre negras, representando personagens de circo, da mitologia, orixás, figuras do cotidiano, contos de fada e manifestações folclóricas e culturais. A história das Bonecas Abayomi, começou com Lena Martins, artesã de São Luiz do Maranhão, educadora popular e militante do Movimento de Mulheres Negras, que procurava na arte popular um instrumento de conscientização e sociabilização. Logo, outras mulheres, de várias gerações, vindas de vários movimentos sociais e culturais, aprenderam com ela, juntaram-se e fundaram no Rio de Janeiro a Cooperativa Abayomi, em dezembro de 1988, dando continuidade ao trabalho desde então. A cooperativa estimula as relações de cooperação e generosidade, o fortalecimento da autoestima e reconhecimento da identidade afro-brasileira de negros e descendentes, buscando superar as desigualdades de gênero, integrando a memória cultural brasileira. 14 . O grupo Coisas da Gente “não existe mais. Foi uma experiência com outros alunos do colégio Visconde de Cairu que faziam parte do grupo de teatro do colegio. O grupo Imagem” - Informações Fábio Freitas, por e-mail. 15 . A referência a esse grupo formado por Fábio já está mencionado na pequena biografia do mesmo. Apenas acrescentando informação por e-mail que o grupo era formado por ele, Fábio Freitas, Leonardo Carnevale e Fabiana Poppius. 16 . A seguir serão passadas todas as informações a respeito de Wilson Saião 17 . Wilson Sayão (Wilson Martins Sayão Filho) dramaturgo brasileiro, nascido no Rio de Janeiro em 09.06.1949. Formado em Direito pela Universidade do Estado da Guanabara. Abordando em suas tramas os temores e desejos de pessoas comuns, os textos de Wilson Sayão são crônicas que passeiam pela banalidade do cotidiano com suaves pinceladadas dramáticas. Seu primeiro texto é escrito em 1974, Vamos Aguardar Só Mais essa Aurora, e somente encenado, por Ricardo Petraglia, em 1980. Após vários textos encenados e prêmios, em 1980 escreveu Anônima, encenada por Aderbal Freire Filho, em 1997, quando novamente é premiado com o Shell e Mambembe. Na montagem, Gracindo Júnior interpreta Afonso, motorista de táxi que decide revisar sua vida quando ouve a notícia da morte do seu amigo e poeta Vinicius de Moraes. O texto é construído em três planos narrativos - presente, passado e o plano de onde Afonso narra - e mostra, em diferentes tons dramáticos, a história dessa personagem. Pesquisa: http://www.itaucultural.org.br/aplicexternas/enciclopedia_teatro/index.cfm? fuseaction=personalidades_biografia&cd_verbete=294, pesquisado em 11.01.2013. 18 . O Prêmio MEC -Troféu Mambembe inicialmente, visava contemplar nove categorias: autor, diretor, ator, atriz, figurinista, cenógrafo, produtor e categoria especial referentes a espetáculos das cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo e o mesmo juri desta premiação, fica responsável pela escolha dos melhores espetáculos dessas cidades, para o Prêmio SNT [Serviço Nacional do Teatro]. Em 1978 foram acrescidas as categorias de revelação e de grupo, movimento ou personalidade, passando a onze. Nos dois primeiros anos, a entrega dos prêmios, se alternou entre Rio e São Paulo e as festas foram realizadas em picadeiros. A dos premiados de 1977, no Circo Tihany, no Rio de Janeiro e a dos premiados de 1978, no Circo Romano em São Paulo. Também foi criado a publicação de “O Mambembe” que informava tudo sobre as premiações e que foi editado apenas sete vezes. A partir do terceiro ano (de 1979 a 1981), por falta de verbas para a comemoração, os premiados receberam suas estatuetas e o os cheques em casa. Em 1979, também termina a premiação dos melhores espetáculos para todas as outras cidades, tendo continuidade apenas para Rio e São Paulo. Provavelmente, a premiação a que se refere ANGÉLICA é do início da década de 1980, em particular em 1982, pois nesse ano o prêmio passou a ser competência do Inacen – Instituto Nacional de Artes Cênicas e os indicados são agraciados com a volta da festa de premiação que aconteceu na Escola Nacional do Circo, na Praça da Bandeira, e os cinco melhores espetáculos passam a receber o Prêmio Inacen. Em 1985 acontecem duas festas de premiação e pela primeira vez são realizadas em teatros. Em São Paulo, no Teatro Cultura Artística e no Rio de Janeiro no Teatro Carlos Gomes. Em 1989, mais uma vez o Prêmio para os melhores espetáculos muda de nome, passando a se chamar Prêmio Fundacen, uma vez que a Fundacen – Fundação de Artes Cênicas passa a administrar o prêmio. Em 1990, no Governo Collor, os dois prêmios (Mec/Mambembe e Fundacen) são extintos, juntamente com o desmonte dos órgãos culturais. Em 1993 as premiações voltam, chamando-se Prêmio MINC - Ministério da Cultura / Troféu Mambembe, agora sob a administração da Funarte – Fundação Nacional das Artes, e com apenas cinco categorias (autor, diretor, ator, atriz, especial). Em 1999, novamente por falta de verbas, a história se repete e a escolha dos premiados é suspensa. No começo deste ano, anuncia-se uma premiação a nível nacional. Mas de concreto até o presente momento, não se tem notícia de como será. Caso ainda aconteça, os maiores prejudicados certamente serão os espetáculos que fazem temporada no início do ano. Pesquisa: http://www.cbtij.org.br/arquivo_aberto/premios/premio_mec_minc_mambembe.htm, em 11.01.2013. 19 .Trata-se de Omar Eliott Pint, que foi diretora da Escola Nacional de Circo. “A proposta da formação de uma Escola Nacional de Circo chegou ao Serviço Nacional de Teatro em 1974, quando assumia a direção Orlando Miranda. O projeto Escola iniciava seu desenvolvimento dentro de uma organização pública, mas agora de caráter nacional, através do herdeiro de Franco Olimecha, o também circense Luis Franco Olimecha, seu neto. A criação do então Instituto Nacional de Artes Cênicas por Aloísio Magalhães, em 1981, incorporando as áreas já absorvidas pelo Serviço Nacional de Teatro – teatro, dança, ópera e circo – foi o último passo necessário para a consolidação e a fundação, em maio de 1982, da Escola Nacional de Circo no Rio de Janeiro. (...) Mesmo com vários percalços, a Escola funcionou até 1990, quando Collor tomou posse como Presidente da República e iniciou uma reforma administrativa que, entre outras, teve como alvo também a área da cultura. Diversos professores da tradição circense foram aposentados compulsoriamente, os investimentos foram escassos, não houve nenhum tipo de manutenção do material, a lona apodreceu, e a Escola fechou em seis meses. Somente em agosto de 1991, depois da criação do IBAC, é que ela pôde ser reaberta sob a direção da educadora Omar Elliot Pint, que teve participações no processo de fundação da Escola. Naquele momento, privilegiou-se a indicação para a direção de uma pessoa com experiência como educadora e administradora, diferente da fase anterior, na qual não havia uma separação da direção pedagógica e administrativa da direção artística. O passo seguinte foi a escolha da direção da área artística, para a qual foi nomeado (nomeação pró-forma, pois não estava previsto em estatuto) Abelardo Pinto, um dos mais velhos e experientes professores da escola e oriundo de tradicional família circense.” Pesquisa: http://www.funarte.gov.br/circo/escola-nacional-de-circo-um-historico/ , em 15.01.2013. 20 . “Márcio Brow, era nosso contra regra no espetáculo Cura- tul, com a saída do[Luís Carlos] Nem, ele entrou como ator no espetáculo. Era o mais jovem da trupe, saiu do grupo para trabalhar com o pai” – informações REGINA Oliveira, por e-mail. 21 . Trata-se do artista Luiz Carlos Vasconcelos - O teatro e principalmente o circo sempre foram as grandes paixões de Vasconcelos, que, apesar de ser formado em Letras, estudou artes cênicas na Dinamarca para depois incorporar-se ao grupo teatral Intrépida Trupe. Em 1978, em João Pessoa, criou o personagem que iria acompanhá-lo pela vida afora, o palhaço Xuxu, um palhaço cidadão, nas palavras de seu criador, por ser uma presença constante nas comunidades carentes. Mesmo quando está trabalhando em outros projetos, como filmes e séries de televisão, Vasconcelos sempre arruma hora e lugar para se apresentar vestido e maquiado como Xuxu. 22 . Quando, eu – Erminia Silva – escrevi ao grupo para saber quem era a Sheila, Shirley Brito me enviou um e-mail que, por achar que complementava muito o que estava sendo falado, além de ter gostado, achei importante incorporar aqui: “A Sheila que o João se refere, sou eu Shirley. Eu usava muito e ainda uso esse termo de nosso quintal, porque minha maior escola e faculdade é a minha família, meus amigos e o que está ao redor de minha casa, e quando conheci o Anônimo isso foi um grande fator de atração, pois vi que eles e eu fazíamos parte dessa mesma ‘escola’. O Joca, João,pode ter me chamado de Sheila, pois criamos apelidos internos.” E-mail enviado em 28.01.2013. 23 . Trata-se de: “José Núñez Garcia, que ficou conhecido como Pepe Nuñez, nasceu em Elche, na província de Alicante, na Espanha, em 17 de fevereiro de 1961. Inicia sua carreira em 1985, em seu país de origem, na Companhia de Teatro de Rua Vagalume Teatro, na qual permanece ate 1993.” A partir de 1992, começa a pesquisar a linguagem clown com os mestres Gabriel Chame (Argentina), José Ramón Gimenez (Espanha), Django Edwards (EUA), Ângela de Castro ( Inglaterra/Brasil) e Sue Morrison (Canadá), entre outros. Funda os grupos Teatro Clandestino, El Clan del Clown e Clownados, na Espanha. Membro da ONG Palhaços sem Fronteiras, de 1996 a 2000, participa de expedições em Honduras, El Salvador e Brasil, país de escolhe para morar, radicando-se em Florianópolis, Santa Catarina. Dirige o projeto que resultou no premiado espetáculo “Roda Saia Gira Vida”, com o prestigiado grupo carioca Teatro de Anônimo, e os espetáculos “Lamurio Poético” e “De Malas Prontas”, da companhia catarinense Pé de Vento Teatro, do qual é integrante.” Pesquisa: http://www.spescoladeteatro.org.br/enciclopedia/index.php/Pepe_Nu%C3%B1ez, em 15.01.2013. 24 . O Centro Interativo de Circo, fundado em 1997, tem como principal missão garantir o acesso gratuito à cultura, arte e educação, através de oficinas, palestra, encontros, intercâmbios e espetáculos, como: Encontro de malabares, Rádio comunitária, Informática, Rally Circo, Graffiti e vídeo. Coordenador: Geraldinho Miranda. Pesquisa: http://www.centrointerativodecirco.org.br/index.html, em 15.01.2013. 25 . Julio Adrião nasceu na cidade do Rio de Janeiro, em 1960. Formado pela Casa das Artes de Laranjeiras (CAL), em 1986, inicia sua carreira no teatro de rua. Recém-formado, cria a Cia. do Público, grupo com o qual participa de alguns festivais até ir para Itália, em 1992, onde trabalhou seis anos com o Teatro Potlach e outras companhias. De volta ao Brasil, em 1994, dirige o espetáculo de circo-teatro Roda Saia, Gira Vida, do Teatro de Anônimo, que recebe o Prêmio Mambembe de melhor espetáculo 1995, e a ópera cômica O Elixir de Amor, de Donizetti, na Escola de Música da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), com direção musical de Ernani Aguiar. Integra o trio cômico Cia. do Público desde a sua formação até 2002, quando realizaram Ruzante. Nesta ocasião, cria com Sidnei Cruz e Alessandra Vannucci o grupo Leões de Circo Pequenos Empreendimentos. Em 2005, com o solo narrativo A Descoberta das Américas, de Dario Fo, ganha o Prêmio Shell/RJ de melhor ator. Em 2007, participa da minisSérie "Amazônia", da Rede Globo. No ano seguinte, atua no filme Verônica, de Maurício Farias, e, em 2009, é convidado pela Nat Geo (Inglaterra) para o papel do traficante John, na série "Locked up Abroad – Brazil" (Férias na prisão). Ainda em 2009, participa do longa "Sudoeste", com direção de Eduardo Nunes, no papel de Sebastião. Em 2010, foi o Governador Gelino, em "Tropa de Elite 2" e o Dr. Guido, em "A Quente, a Frio", de Juliana Reis. Em 2011, escreve, em parceria com o ator gaúcho Carlinhos Tabajara, e dirige a farsa "O Casamento de Hermelinda", com o grupo Timbre de Galo, de Passo Fundo, Rio Grande do Sul. Pesquisa: http://www.spescoladeteatro.org.br/enciclopedia/index.php/Julio_Adri%C3%A3o, em 23.01.2013. 26 . LUME – Núcleo Interdisciplinar de Pesquisas Teatrais da Universidade Estadual de Campinas - Unicamp. Burnier funda, em 1985, o LUME, inicialmente Laboratório Unicamp de Movimento e Expressão, em 11 de março do mesmo ano. Ao vincular-se ao Instituto de Artes (IA) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) – onde era professor no Departamento de Artes Cênicas – o grupo encontra condições para desenvolver pesquisas sobre técnicas do ator. As origens do LUME repousam na experiência do seu fundador Luís Otávio Burnier, em seus anos de treinamento como discípulo de Etienne Decroux e em pesquisas com diversos mestres como Eugenio Barba, Philippe Gaulier, Jacques Lecoq, Ives Lebreton, Jerzy Grotowski e de estudos do teatro oriental (Noh, Kabuki e Kathakali). Além das pesquisas entre os membros do grupo, os intercâmbios com outros artistas são uma prática constante do LUME. Esses intercâmbios favorecem o contato com outros modos de fazer e pensar a arte, com a imensa riqueza das diferenças e a compreensão mais clara e precisa do caminho que o grupo vem trilhando desde seu início. O LUME é um coletivo de sete atores que se tornou referência internacional para artistas e pesquisadores no redimensionamento técnico e ético do ofício de ator. Um espaço de multiplicidade de visões que refletem as diferenças, impulsos e sonhos de cada ator. Ao longo de quase 30 anos, tornou-se conhecido em mais de 26 países, tendo atravessado quatro continentes, desenvolvendo parcerias especiais com mestres da cena artística mundial. Criou mais de 20 espetáculos e mantém 14 em repertório, com os quais atinge públicos diversos de maneiras não-convencionais. Com sede em Barão Geraldo, Distrito de Campinas (SP), o grupo difunde sua arte e metodologia por meio de oficinas, demonstrações técnicas, intercâmbios de trabalho, trocas culturais, assessorias, reflexões teóricas e projetos itinerantes, que celebram o teatro como a arte do encontro. Pesquisa: http://www.lumeteatro.com.br/, em 15.01.2013. 27 . “Nani Colombaioni, clown italiano, vivia em Aprilia, Itália e pertencia a uma antiga e das mais tradicionais famílias circences da Europa. Atuou e foi assessor em diversos filmes de Federico Fellini. Formava clowns segundo a tradição da commedia dell'arte e do circo - em verdade também dos artesãos do passado: o aprendiz passava a morar com a família, participando de atividades não só profissionais, mas também do dia-a-dia. Isto permitia a Nani Colombaioni observar melhor a personalidade de seu discípulo (com o seu modo de ser e de se mover no mundo). Esta era aproveitada como base para a iniciação na arte do clown e de sua ética. Ricardo Puccetti, ator pesquisador do Lume, escreveu a respeito em seu artigo "O riso em três tempos", publicado no nº 1 da Revista do Lume. Nani também iniciou em sua prática outros clowns do Brasil: Lily Curcio e Abel Saavedra, do grupo "Seres de Luz" e Márcio Libar e João Carlos Artigos, do "Teatro de Anônimo". Nani Colombaioni faleceu aos 79 anos, em Roma, em 14.04.1999. Esteve no Brasil, apresentando, juntamente com seu filho e neto, espetáculos e fazendo palestras e workshops.” Pesquisa: www.cocen.rei.unicamp.br/revistadigital/index.php/lume/.../165, Revista do Lume – Pág. 9, em 15.01.2013. 28 . Teotônio, nome do palhaço de Ricardo Puccetti – Ator, palhaço, pesquisador, orientador de atores e diretor nascido em Espírito Santo do Pinhal (SP), entrou para o LUME em 1988, ajudando a constituir o grupo enquanto núcleo de pesquisa ao lado de Luís Otávio Burnier e Carlos Simioni. Traduziu para o português, em parceria com Burnier e Simioni, os livros Além das Ilhas Flutuantes e A Arte Secreta do Ator, ambos de Eugenio Barba. É Coordenador Artístico do LUME, membro do Conselho Editorial da Revista do LUME e do Conselho Científico do grupo. 29 . Luís Otávio Burnier – “deixou impressões profundas não somente na história do teatro brasileiro, mas nas pessoas que conviveram e trabalharam com ele. Lembrado pela enorme contribuição à arte de ator – com a criação e o desenvolvimento de técnicas de representação –, Burnier continua sendo assunto em rodas de amigos, parentes e admiradores que contam histórias pontuadas por humor e ousadia. Nascido Luís Otávio Sartori Burnier Pessoa de Mello, na véspera do Natal de 1956, em Campinas (SP), Burnier é o segundo filho de um total de quatro, todos homens. Em 1975, Burnier passou em primeiro lugar no vestibular da Escola de Arte Dramática (EAD) da Escola de Comunicações e Artes (ECA), na Universidade de São Paulo (USP). Como prêmio, ganhou uma bolsa de estudos para o Mime Mouvement Théâtre, de Jacques Lecoq, na França. urante um curso intensivo que foi ministrar na Escola de Artes de Laranjeiras, no Rio de Janeiro, Burnier conheceu Carlos Simioni, um jovem ator premiado em Curitiba, que se mudou para Campinas a fim de participar da fundação do LUME. Em um salão paroquial da Vila Santa Isabel, os dois deram início aos treinamentos desenvolvidos e transmitidos até hoje pelo LUME, como a Dança Pessoal e o Treinamentos Energético e Técnico do Ator. Em 1985, junto de Simioni e da musicista Denise Garcia, Burnier funda oficialmente o LUME, que inicialmente designava Laboratório Unicamp de Movimento e Expressão. O primeiro resultado da pesquisa da Dança Pessoal é o espetáculo “Kelbilim – o Cão da Divindade” (foto acima), solo de Simioni, com direção de Burnier e direção musical de Denise Garcia. Três anos depois, também passa a fazer parte do LUME o ator Ricardo Puccetti.” Pesquisa: http://www.lumeteatro.com.br/interna.php?id=18, em 15.01.2013. 30 . Ivan Prado – “espanhol, ator, palhaço, diretor do Festival Internacional de Palhaços da Galiza” – informações REGINA Oliveira, por e-mail. João Artigos, também por e-mail, complementou: “(...) organizou o Festival Palhaço Rebeldia [Pallasos e Rebeldia], que foi o primeiro festival na faixa de gaza. [mais informações] www.culturactiva.org” 31 . FIT – Festival Internacional de Teatro Palco e Rua de Belo Horizonte. 32 . Jaume Mateu Bullich, catalão, criador do famoso circo espanhol Circ-Crac e dos Palhaços sem Fronteiras. Fundada em 1998, a ONG tinha como objetivo inicial divertir refugiados de guerra. Atualmente, os grupos de Palhaços sem Fronteiras se espalham por vários países e Bullich corre o mundo interpretando o palhaço Tortell Poltrona. 1971-1981 – As primeiras representações do Circ Cric são do ano de 1981. Entre 5 e 18.06.1981, a lona se instalou no Parc de l’Escorxador de Barcelona, e também rodou por muitas cidades e povoados catalãos, mas no ano seguinte, e dada a falta de apoio institucional, ele não poderia atender a exigências materiais pesadas de uma empresa deste tamanho. Cric morreu no ano de 1982, mas a lona do Cric viveu múltiplas vissitudes: giras, festivais, primeiras atuações dos novos formados do circo catalão. A lona do Cric, por exemplo, é a que inaugurou o Festival Internacioal de Pallassos de Cornellá de Llobregaf, Memorial Charlie Rivel, da qual Jaume Mateu é diretor nas suas duas primeiras edições, nos anos de 1984 e 1986. É uma lona que viaja e que acolhe os impensáveis espetáculos, que colabora também em uma das mais acertadas iniciativas de Tortell, a criação em 1993 da Ong Pallassos sense Fronteres. Pesquisa: http://www.circcric.com/ - em 15.01.2013. 33 .” Payaso Chacovachi Buenos Aires/Argentina. Payaso por naturaleza, tercermundista por eleccion. Lo que mas destacado de su 28 años de trayecctoria fueron sus 16 años como payaso de una plaza publica en Buenos Aires (del 87 al 2003 ), con un trabajo absolutamente libre y soberano , inpirado en las nesecidades humanas, generando una ola de artistas callejeros , transformando la cultura popular. Definicion de cultura (segun yo): constubres de los pueblos. www.chacovachi.com” Pesquisa: http://www.circonteudo.com.br/index.php?option=com_content&view=category&id=232:payasochacovachi&Itemid=542, em 15.01.2013. 34 . Ana Luísa Cardoso – atriz, diretora e palhaça, uma das fundadoras do grupo As Marias da Graça. Formada pela CAL em 1984, dedicou-se ao Teatro Infanto- juvenil, colaborando com a criação do MOTIN em 1985 e do Centro Brasileiro de Teatro para a Infância e a Juventude, CBTIJ. Foi trabalhar com Aderbal Freire Filho no Centro de Demolição e Construção do Espetáculo, participando da produção e atuação de montagens como O Tiro que Mudou a História, Tiradentes e outros. Paralelamente criação, produção e execução nos monólogos: Melancolia (1989) e Minotauro em 1990 e Margarita Vai à Luta (2006). Com Alice Viveiros de Castro dirigiu o espetáculo Vida de Artista, produção do circo social Crescer e Viver. Ana Luisa estuda, viaja, participa de encontros, ensina e estimula novos palhaços e atores em projetos sociais, escolas e Universidades com os cursos: Não seja Palhaço por Acaso e O Melodrama. Com sua nova companhia - Cia d'Os Melodramáticos resgata os melodramas de picadeiros e realizou o evento: É "pra" Rir ou "pra" Chorar?. Professora de Comicidade no 5º período do curso da Univer Cidade (RJ). 35 . As Marias da Graça (Rio de Janeiro/RJ) – é um grupo de 4 mulheres: Geni Viegas, Karla Concá, Samantha Anciães e Vera Ribeiro, que trabalham o riso e escolheram a arte da/o palhaça/o para expressar o cotidiano feminino. Em 2003 fundaram As Marias da Graça Associação de Mulheres Palhaças. www.asmariasdagraca.com.br • www.essemontedemulherpalhaca.com.br