material particulado
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Série Cadernos de Referência Ambiental v. 14 Informações gerais e ecotoxicológicas de material particulado Paulo Eduardo de Toledo Salgado, Doutor Apoio: Salvador 2002 Material Particulado Série Cadernos de Referência Ambiental, v. 14 Informações gerais e ecotoxicológicas de material particulado Copyright 2002 Centro de Recursos Ambientais - CRA Todos os direitos reservados e protegidos pela Lei 5988 de 14/12/73. Nenhuma parte deste livro poderá ser reproduzida ou transmitida sem autorização prévia por escrito da Editora, sejam quais forem os meios empregados: eletrônicos, mecânicos, fotográficos, gravações ou quaisquer outros. GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA OTTO ALENCAR SECRETARIA DO PLANEJAMENTO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA JOSÉ FRANCISCO DE CARVALHO NETO CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS - CRA FAUSTO AZEVEDO Catalogação na Fonte do Departamento Nacional do Livro CENTRO DE RECURSOS AMBIENTAIS - CRA Rua São Francisco, 1 - Monte Serrat 42425-060 - Salvador - BA - Brasil Tel.: (0**71) 310-1400 - Fax: (0**71) 314-1414 [email protected] / www.cra.ba.gov.br 2 Material Particulado SOBRE O AUTOR Paulo Eduardo de Toledo Salgado Farmacêutico-Bioquímico pela Faculdade de Ciências Farmacêutica da Universidade São Paulo – FCF-USP-SP. Mestre em Análises Toxicológicas pela FCF-USP-SP. Doutor em Toxicologia - FCF-USP-SP. Livre-docente e Titular pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas Universidade Estadual Paulista UNESPAraraquara. Pós-Doutorado na Fondazione Clinica del LavoroPavia-Itália. Consultor Temporário da OPAS. Ex-Diretor da Faculdade de Ciências Farmacêuticas -UNESP-Araraquara. Professor aposentado da FCF-UNESP-Araraquara. Agradecimentos Profa. Dra. Hérida Regina Nunes Marona – F.C.F. – UNESP Sra. Maria Irani Coito – Bibliotecário Sr. Moacir Flávio Gomes – Auxiliar de Biblioteca 3 Material Particulado PRODUÇÃO DE MONOGRAFIA InterTox www.intertox.com.br [email protected] COORDENAÇÃO TÉCNICA Alice A. M. Chasin COORDENAÇÃO ADMINISTRATIVA Moysés Chasin TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO Marcus E. M. da Matta PRODUÇÃO DE Editorial COORDENAÇÃO EDITORIAL E PROJETO GRÁFICO Ricardo Baroud REVISÃO DE TEXTOS Helena Guimarães EDITORAÇÃO ELETRÔNICA Patrícia Chastinet PRODUÇÃO Artística CONCEPÇÃO, COORDENAÇÃO E CAPA Magaly Nunesmaia CAPA E ILUSTRAÇÕES Antonello L’Abbate 4 Material Particulado 5 Índice 1. Introdução .............................................................................................................................. 9 2. Propriedades físicas e químicas dos materiais particulados e principais componentes químicos ........................................................................................................................................ 12 2.1. ..........................................................................................................Propriedades físicas e químicas .................................................................................................................................................................................. 12 2.2. ....................................................................... Principais componentes químicos do material particulado .................................................................................................................................................................................. 16 3. Fontes de emissão ................................................................................................................ 21 3.1. .......................................................... Fontes antropogênicas e naturais/Partículas primárias e secundárias .................................................................................................................................................................................. 21 3.2. ............................................................................................. Aerossóis secundários orgânicos (SOAs) .................................................................................................................................................................................. 25 3.2.1. Generalidades ....................................................................................................................................... 25 3.2.2. Fontes naturais e antropogênicas de SOAs ........................................................................................... 27 3.3. ................................................................................. Concentrações ambientais de material particulado .................................................................................................................................................................................. 27 4. Transporte, distribuição e transformação no meio ambiente ............................................... 29 4.1. ................................................................................................................ Ar, água, sedimento e solo .................................................................................................................................................................................. 29 4.2. ................................................................................... Formação de aerossol secundário orgânico no ar .................................................................................................................................................................................. 32 5. 4.2.1. Oxidação de ROGs ............................................................................................................................... 33 4.2.2. Partição gás/partícula de SVOCs .......................................................................................................... 35 4.2.3. Efeitos da umidade relativa e da temperatura na formação de SOA ..................................................... 37 Exposição humana a material particulado e seus constituintes ........................................... 42 5.1. .................................................................................................................. Aspectos toxicocinéticos .................................................................................................................................................................................. 42 5.2. ................................................................................................................ Aspectos toxicodinâmicos .................................................................................................................................................................................. 45 5.2.1. Respostas inflamatórias nas vias respiratórias ...................................................................................... 46 5.2.2. Inflamação sistêmica e outras respostas vasculares .............................................................................. 47 Material Particulado 6 5.3. ............................................................................................................................... Efeitos à saúde .................................................................................................................................................................................. 49 5.3.1. 6. Efeitos agudos ...................................................................................................................................... 51 5.3.1.1. Estudos de mortalidade ................................................................................................................. 51 5.3.1.2. Estudos de morbidade ................................................................................................................... 52 5.3.2. Efeitos a longo prazo ............................................................................................................................ 56 5.3.3. Efeitos em crianças ............................................................................................................................... 58 5.3.4. Efeitos à saúde (sulfatos) ...................................................................................................................... 61 Avalição de riscos à saúde humana e ao meio ambiente ..................................................... 63 6.1. ................................................................................................................................ Saúde humana .................................................................................................................................................................................. 63 6.1.1. Exposição ambiental ............................................................................................................................. 63 6.1.2. Exposição Ocupacional ........................................................................................................................ 69 6.2. .............................................................................................................................. Meio Ambiente .................................................................................................................................................................................. 76 6.2.1. Vegetais ................................................................................................................................................ 76 6.2.2. Materiais ............................................................................................................................................... 79 6.2.3. Visibilidade e radiação solar ................................................................................................................. 81 6.3. ......................................................................................................................... Acidentes relatados .................................................................................................................................................................................. 82 6.4. ..............................................................................................................Estudos realizados no Brasil .................................................................................................................................................................................. 83 7. Metodologia analítica .......................................................................................................... 89 8. Gestão .................................................................................................................................. 90 8.1. .......................................................................................................Modelos e identificação de fontes .................................................................................................................................................................................. 90 8.2. ..................................................................... Prevenção e controle da poluição pelo material particulado .................................................................................................................................................................................. 92 9. Conclusões e recomendações (legislação) ........................................................................... 92 10. Referências Bibliográficas ................................................................................................... 98 Material Particulado 7 Lista de Tabelas TABELA 01 - Estimativa agregada de emissões de PM10 e PM2,5 na Europa (1990) por categorias de fontes. ..... 24 TABELA 02 - Níveis europeus de PM10 no inverno de 1993-94, em g/m3.......................................................... 28 TABELA 03 - Concentrações de partículas finas (g/m3) na Amécia Latina ......................................................... 28 TABELA 04 - Reatividade de ROGs com espécies oxidantes no ar urbano. ........................................................... 33 TABELA 05 - Mortes registradas em Londres por grupos etários. .......................................................................... 59 TABELA 06 – Resumo de estimativas de riscos relativos para uso de broncodilatadores, tosse, sintomas respiratórios nas vias inferiores, pico de fluxo respiratório, admissões hospitalares (respiratórias), mortalidade diária, associadas com um aumento de concentração média diária de 10gm-3 de PM10 ou PM2,5. ......................... 64 TABELA 7 - Resumo de efeitos estimados para exposições a longo prazo para PM (morbidade e mortalidade), associados com aumentos de 10 g/m3 nas médias das concentrações anuais de PM10 e PM2,5. .............................. 64 TABELA 08 – Resumo de estudos que relacionam a mortalidade diária às flutuações diárias de PM 10, através do risco relativo para 10g/m3...................................................................................................................................... 65 TABELA 09 - Resumo das relações entre mortalidade total e flutuações diárias de PM 2,5 e riscos relativos estimados para 10g/m3 ........................................................................................................................................... 66 TABELA 10 - Potências relativas para algumas misturas. ....................................................................................... 68 TABELA 11 - Unidade de risco estimada para vários hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. ............................ 68 TABELA 12 - Inalável ............................................................................................................................................. 72 TABELA 13 – Torácica ........................................................................................................................................... 72 TABELA 14 – Respirável ........................................................................................................................................ 73 TABELA 15 - Valores adotados pela ACGIH de TLV-TWA e STEL, notações e efeito(s) crítico(s) baseados para definir o TLV. ........................................................................................................................................................... 73 TABELA 16 - Níveis médios e desvios padrões de poluentes atmosféricos em São Paulo durante período de exposição de 6 meses. ............................................................................................................................................... 84 TABELA 17 - Padrões de referência e guias para concentração média de particulados no ambiente. ..................... 96 TABELA 18 - Padrões de PM .................................................................................................................................. 97 TABELA 19 - Padrões nacionais de qualidade do ar para partículas totais em suspensão, fumaça e partículas inaláveis. ................................................................................................................................................................... 97 TABELA 20 - Critérios para episódios agudos para partículas totais em suspensão, S0 2 x PTS e fumaça. ............. 97 Material Particulado 8 Lista de Figuras Figura 01 - Distribuição de partículas finas pelo tamanho e frações coletadas por amostradores tamanho – seletivos. ................................................................................................................................................................... 14 Figura 2 – Distribuição típica de três tamanhos de partículas no ar urbano e como definições diferentes do tamanho relacionam-se com estas frequencias. ........................................................................................................ 14 Figura 03 - Variação mensal de material particulado na Universidade Politécnica de Hong Kong (média mensal). .................................................................................................................................................................................. 16 Figura 04 - Modelo esquemático do ciclo urbano do material particulado ............................................................... 21 Figura 05 - Porcentagem de contribuição de vários componentes no cálculo das concentrações de partículas inorgânicas secundárias em regiões da Europa. ........................................................................................................ 23 Figura 06 - Processos que afetam as concentrações do material particulado ........................................................... 24 Figura 07 - esquema de formação de aerossóis orgânicos secundários. ................................................................... 26 Figura 08 - Curvas típicas da definição de frações de partículas respiráveis, torácicas e inaváveis. ........................ 38 Figura 09 - Proporção de câncer pulmonar atribuída à exposição ao radônio .......................................................... 39 Figura 10 - Valores de FAC para fontes selecionadas de VOC ................................................................................ 40 Figura 11 - Contribuição de setores de fontes individuais na emissão total de SOA ............................................... 41 Figura 12 - Curvas típicas da definição de frações de partículas respiráveis, torácicas e inaváveis. ........................ 43 Figura 13 - Como o material particulado pode afetar as vias respiratórias e o sistema cardiovascular (HRV = variabilidade da taxa cardíaca; ECG = eletrocardiograma). ..................................................................................... 46 Figura 14 - ................................................................................................................................................................ 50 Figura 15 - Porcentagem de aumento da mortalidade diária em função da concentração de PM. ............................ 54 Figura 16 - Porcentagem de alterações de parâmetros relacionados à saúde ............................................................ 54 Figura 17 - Porcentual de alterações nas admissões hospitalares atribuídas ao PM 10, PM2,5 e sulfatos. ................... 56 Figura 18 - Proporção de câncer pulmonar atribuída à exposição ao radônio .......................................................... 68 Figura 19 - Riscos relativos de mobilidade e mortalidade para poluentes em São Paulo. ........................................ 88 Figura 20 - Estrutura do modelo fonte – receptor de partículas frias........................................................................ 91 Material Particulado 9 Material Particulado 1. Introdução No século XVII, na Suécia, havia uma legislação ambiental que proibia cortes de vegetais e posterior queimadas com a finalidade de "limpar a terra" para o cultivo. Aqueles que desrespeitavam a lei eram rigorosamente penalizados, banidos para o Novo Mundo (ZAKRZEWSKI, 1991). No século XX, tivemos um crescimento significativo dos meios de produção, que apresentaram, entre outras características, um acentuado comprometimento com o desequilíbrio do planeta. O uso cada vez maior de fontes móveis de poluição tem resultado no aumento da demanda de combustíveis fósseis. A crescente industrialização dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, com a implantação de pólos industriais, associados ao aumento das populações e a exagerada concentração urbana, determinaram o agravamento, cada vez maior, da qualidade do ar. Os episódios do Vale de Meuse (Bélgica) em 1930, de Donora (EUA) em 1948 e de Londres (Inglaterra) em 1952, evidenciaram fatos que demonstraram que a poluição do ar era o agente causador de mortes. (SHRENK et al., 1949; WHO, 1992; EIH, 2002). Análises criteriosas dos dados compilados durante os episódios permitiu estabelecer associações entre elevados níveis de poluentes e mortalidade e morbidade humanas. A emissão de partículas totais em suspensão (TSP) e, consequentemente, os níveis ambientais de material particulado, especialmente em áreas industrializadas e em grandes centros urbanos têm diminuído substancialmente em países e regiões que implementaram programas voltados ao controle da poluição do ar. Era de se esperar que estes programas de medições preveniriam os efeitos à saúde associados às partículas. Todavia, desde os anos 80, os estudos Material Particulado 10 epidemiológicos publicados relatam associações entre mortalidade e morbidade e níveis ambientais de partículas do tipo fino (KOCH, 2000). A composição e o comportamento das partículas aerodispersas estão relacionadOs aos gases ambientais. O aerossol é definido como uma suspensão de partículas sólidas ou líquidas no ar, e incluem ambas as partículas e todos os componentes da fase vapor ou gás do ar. Entretanto, o termo aerossol é, geralmente, usado para se referir unicamente às partículas em suspensão. As partículas, ainda, podem ser sólidas ou líquidas, ou a mistura de ambas. O material particulado pode ser primário e secundário. O primeiro é composto por materiais emitidos diretamente na atmosfera (poeiras carregadas pelo vento, sais marinhos, poeiras de rodovias, partículas geradas mecanicamente e por combustão). A concentração de partículas primárias depende de sua taxa de emissão, transporte e dispersão, bem como taxa de remoção da atmosfera. As secundárias são formadas por vapores condensados pela reação química envolvendo precursores da fase gasosa ou de outros processos (USEPA, 1996). Os precursores de formação secundária podem resultar na formação de novas partículas ou a adição de novas partículas às previamente existentes. A origem pode antropogênica ou natural. As antropogênicas resultam da atividade humana, e, quanto à origem, podem ser fixas ou móveis; enquanto que as naturais são as carregadas pelos ventos sem a interferência do homem. O material particulado (PM) encontrado na atmosfera é uma mistura de materiais orgânicos, inorgânicos e biológicos, com composição que pode variar significativamente, dependendo da localização da fonte de emissão. Os dados epidemiológicos evidenciam os efeitos provocados pelos materiais particulados, a curto e longo prazo, em níveis ambientais próximos aos padrões estabelecidos. As observações epidemiológicas levam a uma série de hipóteses para explicar os atributos físicos e químicos do PM, biologicamente plausíveis, que explicam a associação entre efeitos e PM. Entre elas incluem-se as hipóteses que propõem que os PMs são associados aos metais, substâncias orgânicas, acidez, distribuição pelo tamanho (focalizando a bioatividade das partículas ultrafinas de PM), atividade oxidante do PM ou reatividade, potencialidade tóxica ou alergênica (COSTA, 2001). Material Particulado 11 Vários estudos realizados na América Latina procuram avaliar os efeitos provocados pelo material particulado sobre a saúde da população, especialmente das grandes cidades. Estes incluem estudos de mortalidade e morbidade, entre crianças e adultos, e têm sido conduzidos no Brasil, Chile e México (WHO, 2000a). Ao se dar destaque ao Brasil, entre os vários estudos, menciona-se àqueles com crianças (SALDIVA et al., 1994; LIN et al., 1999; BENICIO et al., 2000), idosos (SALDIVA et al., 1995; MARTINS et al., 2002), experimentais (BÖM et al., 1989; SALDIVA et al., 1992; SATO et al., 1995) e mortalidade intra-uterina (PEREIRA et al., 1998). A queima da cana de açucar, prática primitiva ainda utilizada em várias regiões do país, é um dos sérios problemas de poluição ambiental. que necessita ser definitivamente equacionado. ARBEX et al. (2000) demonstraram significativa associação entre a quantidade de material particulado depositado na cidade de Araraquara (São Paulo) e visitas hospitalares por pacientes com necessidade de inalações respiratórias. Com a Portaria nº 0231, de 27/04/76 (SANTOS, 199-), e, posteriormente, com a Resolução nº 005 de 15 de junho de 1989 (CONAMA) foi instituído o PRONAR – Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar, um dos instrumentos básicos de gestão ambiental no país (BRASIL, 1989). A Resolução CONAMA nº 003, de 28 de junho de 1990 estabelece os padrões de qualidade do ar previstos no PRONAR (BRASIL, 1990). A qualidade do ar, dentro da questão ambiental, evidencia-se como um problema de saúde pública, que exige a adoção de medidas que possam efetivamente proteger a população. A adoção de programas como o PROCONVE (Programa Nacional de Controle de Poluição do Ar por Veículos Automotores) e o PRONACOP (Programa Nacional de Controle da Poluição Industrial) têm como objetivo reduzir a emissão de poluentes no ar (BRASIL, 1999a). O efeitos deletérios provocados pela poluição do ar, especialmente do material particulado para a saúde do homem, e efeitos sobre o meio ambiente, com conseqüências no clima e na visibilidade, alertam para que o problema não seja negligenciado e que programas que visem a melhoria da qualidade do ar sejam implantados em diferentes regiões do país. "A convivência dos seres vivos, em especial a do homem, com a poluição do ar tem trazido conseqüências sérias para a saúde. Os efeitos dessa exposição têm sido marcantes e plurais quanto à abrangência" (BRAGA et al., 2002). Material Particulado 12 2. Propriedades físicas e químicas dos materiais particulados e principais componentes químicos 2.1. Propriedades físicas e químicas A poluição particulada do ar é uma mistura de partículas sólidas, líquidas ou sólidas e líquidas suspensas no ar. É representada por uma mistura de substâncias orgânicas e inorgânicas. Estas partículas suspensas variam em tamanho, forma, composição e origem. As partículas e líquidas constituem juntas às sólidas, os aerossóis. As propriedades aerodinâmicas das partículas estão associadas à composição química, origem, transporte e remoção do ar, e à deposição no trato respiratório (WHO, 2000a). O diâmetro aerodinâmico depende da densidade da partícula, e corresponde ao tamanho de uma esfera de densidade de 1 gcm-3, com as mesmas características aerodinâmicas. As partículas com o mesmo tamanho e forma, mas diferentes densidades possuem diferentes diâmetros aerodinâmicos (FIERRO, 2000; WHO, 2000a). Ao se descrever a distribuição das partículas no ar, além da concentração de massa, devese informar a distribuição do tamanho das partículas (WORLD BANK GROUP, 1998). Os níveis ambientais de concentração de massa são medidos em microgramas por metro cúbico (µg m -3) e os atributos de tamanho são, geralmente, medidos em diâmetro aerodinâmico. O termo "partículas totais em suspensão" (TSP) implica na utilização de procedimentos gravimétricos para determinar a concentração de matéria particulada suspensa (SPM) (PANYACOSIT, 2000). As TSPs incluem partículas de vários tamanhos, e parte delas suficientemente grandes para não serem introduzidas no trato respiratório humano. Por esta razão, não é um bom indicador da relação exposição – saúde (WORLD BANK GROUP, 1998). A maior parte da literatura faz menção ao material particulado e utiliza os termos PM 10, PM2,5, partículas grosseiras, finas e ultrafinas. O limite superior para TSP é de 45 µm em diâmetro nos Estados Unidos, e até 160 µm na Europa (WORLD BANK GROUP, 1998). Amostragens e padrões definidos para TSP foram usados nos Estados Unidos até 1987. Vários países do Leste e Europa Central, América Latina e Ásia realizam a monitorização e possuem padrões definidos para as medições de TSP. Material Particulado 13 Com a evolução das metodologias para a análise de dados, e o desenvolvimento de equipamentos mais sofisticados, as atenções têm sido direcionadas, nos últimos anos, às partículas finas. Alguns países como o Brasil, Japão e Filipinas passaram a adotar o PM10. As partículas que são, em geral, inferiores a 10 µm de diâmetro, são as mais relevantes em termos de efeitos à saúde humana, e são referidas como partículas inaláveis (PANYACOSIT, 2000). A Environmental Protection Agency (EPA) e outras agências regulamentam o controle ambiental utilizando PM2,5 e PM10, e se referem, respectivamente, às partículas com diâmetros aerodinâmicos de 2,5 µm e 10 µm (HEI Perspectives, 2002). As partículas encontradas no ar apresentam tamanho que variam amplamente desde aproximadamente 0,005 até 100 µm de diâmetro aerodinâmico, ou seja, do tamanho de apenas alguns átomos até a espessura do fio de cabelo humano (HEI Perspectives, 2002). Partículas com diâmetro de 10 µm ou menos são denominadas PM10, e consistem de uma fração "fina" (partículas com diâmetro 2,5µm ou menos) e de uma fração "grosseira" (partículas com diâmetro entre 2,5 e 10 µm). As partículas com diâmetro inferior a 2,5µm são chamadas PM2,5, e são hábeis em penetrar nas regiões mais profundas do trato respiratório, do que as partículas "grosseiras". Cerca de 1% do PM10 é respirável (pode penetrar até áreas pulmonares em que ocorre as trocas gasosas), enquanto que 80% do PM2,5 é respirável (Figura 01) (USEPA, 1996). Material Particulado 14 Figura 01 - Distribuição de partículas finas pelo tamanho e frações coletadas por amostradores tamanho – seletivos. Fonte: USEPA, 1996 Hivol (High Volume); WRAC ( Wide Range Aerosol Classifier); TSP (Partículas totais em Suspensão) Outros pesquisadores têm definido categorias levando-se em consideração o tamanho das partículas de diferentes maneiras. A Figura 02 mostra que a distribuição das partículas medidas no ar urbano engloba três tipos principais, baseados no diâmetro aerodinâmico: o "tipo núcleo" (menores de cerca de 0,1 µm), "tipo acumulação" (aproximadamente entre 0,1 e 1 µm) e "tipo grosseiro" (maiores de 1 µm). Outras definições destas partículas em estudos sobre efeitos e regulamentações se referem, também, às "partículas ultrafinas", inferiores a cerca de 0,1 µm de diâmetro aerodinâmico, correspondendo em tamanho às partículas do "tipo núcleo"; e às "partículas finas", inferiores a 1 µm de diâmetro aerodinâmico, contendo todas as partículas dos tipos núcleo e acumulação (HEI Perspectives, 2002). Figura 02 – Distribuição típica de três tamanhos de partículas no ar urbano e como definições diferentes do tamanho relacionam-se com estas frequencias. Material Particulado 15 A "fumaça preta" ou "negro de fumo" (BS) diz respeito às partículas que contêm pelo menos, 50% de partículas respiráveis, menores de 4,5 µm em diâmetro aerodinâmico, amostradas pelo método "British Smokeshade" (WORLD BANK GROUP, 1998a). As medições de BS são utilizadas na Grã Bretanha e em outros lugares da Europa. As partículas ultrafinas não permanecem longos períodos na atmosfera. Elas estão presentes em número muito elevado e, para um volume fixo, possuem uma área total maior que as partículas grandes. CHAN & KWOK (2001) pesquisaram ,de junho de 1998 a maio de 1999, a variação sazonal de material particulado numa região próxima à rodovia, na Universidade Politécnica de Hong Kong. Foram analisadas as variações mensais de partículas totais em suspensão (TSP), partículas respiráveis em suspensão (PM10), particulado fino (PM2,5) e material particulado grosseiro entre PM10 e PM2,5 (PMc) (Figura 03). Observa-se que as concentrações de TSP, PM10 e PMc apresentaram a tendência de se elevarem a partir do verão, atingindo o pico em fevereiro, no inverno. Material Particulado 16 Figura 03 - Variação mensal de material particulado na Universidade Politécnica de Hong Kong (média mensal). Fonte: CHAN & KWOK, 2001 A composição química do material particulado é determinada após análise das amostras coletadas, e a complexidade do material depende da origem das fontes de emissão, da diversidade das fontes antropogênicas e naturais, e das condições meteorológicas na região considerada. 2.2. Principais componentes químicos do material particulado As amostras de ar de áreas urbanas de todo o planeta apresentam, tipicamente, os mesmos principais componentes, embora com consideráveis diferenças quanto às proporções, de acordo com a localização da amostragem. Os principais componentes são os seguintes: Sulfato: O sulfato atmosférico pode ser um constituinte primário ou secundário. O sulfato de amônio, bissulfato de amônio e ácido sulfúrico são as formas mais comuns de sulfatos do material particulado atmosférico. Estes compostos são hidrossolúveis e residem quase que exclusivamente na fração PM2,5. Derivam, predominantemente, da oxidação de dióxido de enxofre por processo caracterizado pela lentidão. Por este motivo, os gradientes espaciais de sulfato, numa escala de dezena de milhas, são esperados como sendo muito pequenos (BURTON et al., 1996), acima de centenas de milhas eles podem ser significantes, e em áreas continentais, elevados (QUARG, 1996). Material Particulado 17 Nitrato: É formado, principalmente, pela oxidação do dióxido de nitrogênio atmosférico (HARRISON & JIN, 2000). O nitrato de amônio é o nitrato particulado mais abundante, resultante do equilíbrio reversível gás-partícula, entre o gás amônio e o gás ácido nítrico, e partículas de nitrato de amônio (HARRISON & MSIBI, 1994). O nitrato de sódio é encontrado no PM2,5 e frações grosseiras próximo às costas marinhas (USEPA, 1999). Amônio: O sulfato de amônio, bissulfato de amônio e nitrato de amônio são os principais compostos contendo amônio. Quando são produzidos inicialmente na atmosfera, o sulfato e o nitrato estão sob as formas de ácidos sulfúrico e nítrico. Eles são neutralizados, progressivamente, pela amônia existente na atmosfera, formando sais de amônio (HARRISON & KITTO, 1992). Na maior parte das áreas urbanas, o íon amônio excede significativamente o íon hidrogênio, que é liberado nos processos de neutralização (HARRISON & YIN, 2000). A amônia (NH3) é um gás básico primário presente na atmosfera. As fontes mais significativas de NH3 incluem os resíduos de animais, após a amonificação de húmus emitidos pelo solo, e as perdas de NH3 pelos fertilizantes do solo. Carbono orgânico e carbono inorgânico: O carbono elementar está presente junto com o carbono orgânico, e a discriminação da partícula elementar da partícula orgânica depende da metodologia analítica utilizada nos procedimentos de identificação e quantificação. O carbono elementar particulado é um traçador das partículas derivadas dos processos de combustão, enquanto que os aerossóis, derivados do solo e do mar, possuem quantidades negligentes, e o material geológico contêm abundâncias variáveis de carbono elementar (USEPA, 1999). Os processos de combustão, especialmente aqueles observados nas vias de tráfego, emitem partículas de fuligem que contêm carbono na forma de um núcleo sólido de carbono elementar preto. Estes núcleos, muitas vezes, possuem uma superfície de revestimento constituída de compostos orgânicos semi-voláteis, condensados após a emissão de gases pelos escapamentos dos veículos (AMANN & SIEGLA, 1982). Posteriormente, o carbono orgânico pode ser incorporado às partículas, como resultado de processos fotoquímicos que ocorrem na atmosfera, produzindo compostos de carbono pouco voláteis (BOWMAN et al., 1997). A presença de hidrocarbonetos poliaromáticos no ambiente está associada às fontes naturais (incêndios, atividade vulcânica, biossínteses, carvão mineral, etc.) e às fontes Material Particulado 18 antropogênicas (uso energéticos de combustíveis fósseis, queima de resíduos, dispersões de óleos minerais, etc.). As principais matrizes em que os HPAs estão presentes são as seguintes: - emissões provenientes de sistemas de aquecimento alimentados com combustíveis fósseis; lenha ou gás, de sistemas de queima de resíduos, de centrais elétricas, etc.; - fumos derivados de qualquer tipo de material de combustão de material orgânico incluindo o fumo de tabaco; - cinzas e materiais provenientes de erupções vulcânicas; - resíduos sólidos de combustões e materiais provenientes de incêndio, sistemas de queimas de resíduos, centrais elétricas, etc.; - descargas dos meios de transporte (automóveis, motocicletas, trens, aviões, navios, máquinas operatrizes, etc.) alimentadas com derivados dos óleos minerais; - carvão vegetal e mineral; - petróleo e seus derivados; - betume; - alimentos cozidos ou assados na brasa ou lenha; - solo contaminado. A fotodecomposição dos HPAs na presença do ar dá origem a diversos compostos, havendo interferências pela presença de O3, NOx, HNO3, SO2, SO3 e H2SO4. (SCIARRA, M., 2000). Cloreto de sódio: Os aerossóis marinhos representam importantes fontes de cloreto, mesmo em regiões situadas centenas de milhas da costa. São produzidos, também, durante os meses de inverno nas estradas de países frios, após a aplicação de materiais descongelantes. Os cloretos penetram as partículas atmosféricas como resultado da neutralização dos vapores de ácido clorídrico pela amônia, que é emitida pelos processos de incineração e pelas usinas elétricas (HARRISON & YIN, 2000). O cloreto de sódio na forma úmida, geralmente, está presente na fração das partículas grossas, e é classificado como material geológico. Quando a água ou gotículas de névoas contêm cloreto de sódio evaporado, muitos dos núcleos "secos" das partículas são menores de 2,5 µm de diâmetro. Partículas que contenham originalmente cloreto de sódio podem ser neutralizadas pelo ácido nítrico ou sulfúrico, e o cloreto será retirado e substituído por quantidade equivalente de nitrato ou sulfato. O cloreto de sódio pode constituir mais de 50% do PM10 e 30% do PM2,5, em locais como na Califórnia (Estados Unidos), em níveis de 5 a 10 vezes superiores àqueles usualmente encontrados no interior do país (USEPA, 1999). Material Particulado 19 Materiais geológicos: As poeiras e os minerais provenientes de rochas, carregados pelo vento, apresentam diversas composições que refletem a localização geológica, os processos industriais da área e as condições das superfícies destes locais. Estes materiais, geralmente, são constituídos de 5 a 15% de PM2,5, podendo chegar de 30 a 40%, como pode ser constatado na área central da Califórnia (EUA) nos meses de verão (USEPA, 1999). As concentrações são dependentes do clima, como fator determinante dos processos de suspensão destes materiais na atmosfera, favorecidos pelas condições de secura das superfícies e pela presença de vento. Estas partículas são constituídas, principalmente, por partículas grossas (HARRISON et al., 1997). Material biológico: Alguns estudos têm caracterizado, separadamente, os materiais de origem biológica que incluem desde organismos pequenos como as bactérias, assim como, esporos, pólens e fragmentos celulósicos de vegetais (MATTHIAS-MASER & JAENICKE, 1994). Geralmente, a constituição é de material grosseiro em tamanho, e a maioria dos estudos caracteriza-os como carbono orgânico, e não separadamente como material biológico. Metais: É reconhecido que alguns metais como o chumbo, cádmio e mercúrio são extremamente tóxicos em doses que possam ser compatíveis aos efeitos provocados por estes agentes químicos. Porém, nas exposições urbanas por material particulado, em países desenvolvidos, provavelmente, as concentrações encontradas sejam insuficientes para provocar efeitos tóxicos através dos mecanismos tóxicos clássicos (HARRISON, R. M.; YIN, J., 2000). GILMOUR et al. (1996) sugerem que metais de transição e, particularmente, o ferro, possam estar relacionados a efeitos tóxicos, através de mecanismos não clássicos, como na contribuição para a produção de radicais hidroxilas da reação de Fenton. Metais como o arsênico, cobre, níquel, vanádio, ferro, zinco, cromo, cobalto, magnésio, titânio, além de outros têm sido analisados no ar de ambientes urbanos (DE MIGUEL et al., 1999; DIOCIAIUTI et al., 2001). HARRISON & YIN (2000) afirmaram que, nos países desenvolvidos, as concentrações de metais na atmosfera de muitas cidades têm declinado em resposta aos procedimentos de controle da poluição. Com exceção ao chumbo, cuja fonte principal de poluição urbana são os veículos, os outros elementos se originam predominantemente, naqueles países, de fontes industriais, e a distribuição espacial é menos uniforme. Material Particulado 20 DE MIGUEL (1994) apresenta um modelo geoquímico para o ambiente urbano, em que multielementos são usados para caracterizar a circulação de elementos de traços no material particulado (aerossol atmosférico, poeiras e solo urbano). No modelo foram caracterizados três tipos de material particulado: partículas suspensas (frações < 2,5µm e 2,5-10µm), partículas depositadas ou poeiras (fração < 100µm) e partículas do solo (fração < 100µm) (Figura 04). Material Particulado 21 Figura 04 - Modelo esquemático do ciclo urbano do material particulado Fonte: DE MIGUEL et al., 1999 3. Fontes de emissão 3.1. Fontes antropogênicas e naturais/Partículas primárias e secundárias As partículas lançadas na atmosfera podem ser classificadas em primárias e secundárias. As partículas primárias são emitidas diretamente pela fonte de emissão, dispersadas na atmosfera sem transformações químicas. As partículas secundárias são emitidas, inicialmente, como poluentes gasosos, como, por exemplo, o SO2 e NOx, e reagem quimicamente na atmosfera formando partículas (DERISIO, 1992; KOCH, 2000). Algumas partículas são emitidas por fontes naturais, como aquelas evaporadas do mar sob a forma de spray, pólens, poeiras e vulcões ou outras erupções geotérmicas (WORLD BANK GROUP, 1998). Material Particulado 22 Os materiais particulados provenientes de fontes naturais tendem a ser do tipo grosseiro. Quase todas as partículas finas são geradas como produto de processos de combustão, incluindo a queima de combustíveis fósseis para geração de vapor, aquecimento e preparo doméstico de alimentos, queimadas agrícolas, queima de combustíveis pelos veículos e em vários processos industriais. Indústrias e processos que produzem grande quantidade de poeiras, como na produção de cimento, mineração, pedreiras e moagem de farinhas, tendem a gerar partículas maiores de 1 µm e a maioria, geralmente, é superior a 2,5 µm. Nas áreas frias e temperadas do planeta, a queima de carvão no âmbito doméstico tem sido um dos maiores contribuintes de material particulado em centros urbanos. Nas regiões próximas às áreas de tráfego, as emissões veiculares representam importantes fontes de partículas em suspensão. Alguns processos agro-industriais e tráfego em rodovias são fontes antropogênicas adicionais, responsáveis em grande parte pelas emissões de partículas grosseiras (WORLD BANK GROUP, 1998; WHO, 1999). Os componentes orgânicos secundários como o sulfato de amônio e nitrato de amônio, contribuem substancialmente para os níveis observados de PM10. Geralmente, a quantidade contribuída varia de 30 a 50% nas áreas rurais; enquanto que na Holanda esta proporção é de cerca de 25%(HEITZENBERG et al., 1998). Na Europa uma parte substancial das emissões antropogênicas é constituída por partículas produzidas pela queima de combustíveis sólidos ("fly ash"), e por partículas inorgânicas emitidas durante a fabricação de ferro e aço, produção de cimento e por uma variedade de indústrias (BERDOWSKI et al., 1997). No Norte e Leste Europeu, regiões que não são significativamente influenciadas pelos processos industriais locais, as partículas primárias de aerossóis inorgânicos são responsáveis por 5 a 10% do total de massa particulada. Como resultado de controles mais eficientes, as concentrações de cálcio e de outros componentes inorgânicos primários têm diminuído substancialmente nas últimas décadas (HEDIN et al., 1994; HEITZENBERG et al., 1998). As concentrações máximas de partículas inorgânicas secundárias estimadas pelo programa europeu EMEP (Cooperative Programme for Monitoring and Evaluation of the Longrang Transmission of Air Pollutants in Europe) foram de 30 µgm-3, obtidas na Bélgica e Holanda. A concentração média anual da maioria das áreas centrais da Europa variou de 10 a 15 µgm-3. Os Material Particulado 23 componentes dominantes, como pode ser observado na (Figura 05), são o nitrato e sulfato particulados, com diferentes contribuições através do continente europeu (WHO, 1999). Figura 05 - Porcentagem de contribuição de vários componentes no cálculo das concentrações de partículas inorgânicas secundárias em regiões da Europa. Fonte: WHO, 1999 As emissões antropogênicas incluem a fuligem e outros materiais não queimados durante os processos de combustão. O carbono elementar, sob a forma de pequenas esferas (< 0,02 µm), é uma parte distinta do aerossol atmosférico, mas a sua contribuição à massa de aerossol é, geralmente, pequena nas áreas rurais. Associados a estas partículas, estão hidrocarbonetos aromáticos e heterocíclicos de alto peso molecular. Partículas são removidas da atmosfera por deposição seca, a partir do ar contaminado, e por deposição úmida, durante a precipitação. As frações mais grosseiras (>2,5µm) são, também, sujeitas à precipitação gravitacional (WHO, 1999). Os hidrocarbonetos aromáticos podem facilmente ser quantificados, e são responsáveis por menos de 10% das emissões de material particulado dos processos de combustão (WHO, 1999). A razão entre o material particulado orgânico e o carbono elementar da queima de diesel é, geralmente, de 0,8 a 1. A razão é maior para outras fontes de produtos originados da combustão incompleta, como da madeira e queima de carvão em pequenos aquecedores, lareiras e fogões (WHO, 1999). Como está esquematizado na Figura 06 alguns materiais particulados encontrados no ar são gerados diretamente por emissões primárias de partículas, e outros são partículas secundárias, Material Particulado 24 formadas pelas reações químicas na atmosfera. Entre estes incluem-se o SO4, NO3 e NH4. Existem, também, os compostos orgânicos semi-voláteis, que se aderem às superfícies das partículas. Figura 06 - Processos que afetam as concentrações do material particulado Fonte: WHO, 1999 As emissões antropogênicas na Europa, excluindo os países da União Soviética, foram em 1990, de 5100 e 2900 Ktons para, respectivamente, PM10 e PM2,5 (Tabela 01.). Os processos estacionários de combustão emissores de PM10 e PM2,5, contribuíram com cerca de 55% do total emitido, enquanto que os processos industriais e meios de transporte contribuíram com 14-19% do total (WHO, 1999). TABELA 01 - Estimativa agregada de emissões de PM10 e PM2,5 na Europa (1990) por categorias de fontes. Categorias de fontes PM10 PM 2,5 (kton/ano) (kton/ano) Combustão estacionária (total) 2800 1600 Geração de energia 1500 910 Combustão industrial 610 280 Fontes menores de combustão 720 360 Transporte (total) 840 560 Material Particulado Transporte rodoviário Transporte não rodoviário Processos de emissões (totais) Armazenamento e manipulação Processos de produção Agricultura Plantas processadoras de resíduos TOTAL 790 45 940 29 910 440 100 5100 25 520 38 570 0,5 570 200 70 2900 Fonte: WHO, 1999 3.2. Aerossóis secundários orgânicos (SOAs) 3.2.1. Generalidades Os aerossóis atmosféricos são partículas líquidas ou sólidas presentes no ar atmosférico. As partículas aerodispersas originam-se de fontes naturais e antropogênicas, e apresentam grande intervalo de tamanho, desde poucos nanometros até vários micrômetros de diâmetro. Eles são constituídos por muitos compostos químicos, sendo que o sulfato, amônio, nitrato e espécies orgânicas são as maiores frações (HEINTZENBERG et al., 1989). A matéria particulada é reconhecida como um sério problema de poluição, em razão dos efeitos adversos à saúde. Os mecanismos exatos pelos quais os aerossóis causam danos à saúde humana não são bem conhecidos, porém as evidências epidemiológicas mostram uma clara relação entre concentração de partículas no ambiente e aumento de morbidade, isto é, o número de pessoas doentes ou casos de doenças em relação a uma população específica, e também de mortalidade (PANYACOSIT, 2000). Este fato levou à conscientização de que a redução da poluição pelos materiais particulados é de grande importância para a saúde da população. Uma considerável fração do aerossol atmosférico (10-60%) consiste de compostos orgânicos (SEINFELD & PANDIS, 1998). Enquanto que os aerossóis inorgânicos são relativamente bem investigados, os processos de formação e a composição da fração orgânica não é tão bem conhecida. Uma das razões é que a fração orgânica é composta por centenas de espécies individuais que são difíceis de serem caracterizadas com a atual metodologia analítica. Especialmente o aerossol secundários orgânico (SOA), formado pela oxidação de carbono orgânico volátil (VOC) na atmosfera, não é muito bem compreendido. Todavia, como mais de Material Particulado 26 70% da matéria orgânica pode ser secundária na origem sob condições de smog, o SOA não deveria ser negligenciado como um contribuidor da poluição antropogênica. O controle efetivo e a redução do SOA requer o conhecimento dos gases precursores, da formação e das propriedades das espécies orgânicas secundárias. Este conhecimento pode ser usado para incorporar o SOA nos modelos de qualidade de ar e nos modelos de avaliação integrada para encontrar estratégias de redução de custo efetivo. A Figura 07 esquematiza, apesar de muitos detalhes serem desconhecidos, a formação de SOA. Os gases precursores de VOC são oxidados na atmosfera, principalmente, pelo O3, NO3 e OH. O processo de oxidação adiciona grupos funcionais às moléculas de gás orgânico, e, consequentemente, diminui a pressão de vapor deles. Este processo resulta, parcialmente, em gases que são novamente voláteis e não contribui para a formação de aerossol (DUSEK, 2000). Figura 07 - esquema de formação de aerossóis orgânicos secundários. Fonte: DUSEK, 2000 Outra parcela dos produtos de reação podem, todavia, ser semi-volátil e se condensar para formar partículas de aerossol, se as condições são favoráveis(DUSEK, 2000). Material Particulado 27 Os materiais orgânicos primário e secundário não podem ser distinguidos, atualmente, por método analítico. São necessárias informações adicionais para se estimar a contribuição relativa de compostos orgânicos primário e secundário aos aerossóis do ambiente. 3.2.2. Fontes naturais e antropogênicas de SOAs Os modelos de poluição do ar e os programas de redução exigem o conhecimento das fontes naturais e antropogênicas. Este conhecimento é fundamental para o estudo dos SOAs, mesmo se os precursores VOCs possam ser classificados como de origem natural ou antropogênica, pois a formação de SOA requer, também, a presença de agentes oxidantes, como OH e O3, que nas regiões poluídas são, geralmente, originados por fontes antropogênicas. A formação de SOA, a partir de VOCs, naturais indica que pode ocorrer oxidação pelo ozônio de origem antropogênica. Foi estimado que a produção de SOA aumentou do período pré-industrial, de 17-28 Tg/ano, para 61-71 Tg/ano, no presente, em razão do aumento das fontes antropogênicas de ozônio (KANADIOU et al., 2000). Esta estimativa é conservadora, pois leva em consideração somente a oxidação de VOCs naturais pelo ozônio, e não pelo OH e NO3, que fazem parte da fase gasosa. 3.3. Concentrações ambientais de material particulado Atualmente as quantificações de PM10 são muito mais comuns que as medições de PM2,5. No Reino Unido, desde 1995 o PM10 é monitorado em 16 localidades, e em mais alguns outros locais desde 1998. Na Suécia e Holanda, o PM10 é monitorado há vários anos em várias localidades. Na Alemanha, o Estado de Baden-Württemberg monitora o PM10 em quatro locais e o PM2,5 em um local, desde 1996/67 (SIEGEL, 1998) Quando o estudo PEACE foi implementado na Europa, os níveis de PM10 foram avaliados em doze localidades urbanas, além de controles, em vários países europeus, durante o inverno de 1993-94 (Tabela 02). A concentração média observada neste período foi entre 11 e 99 µgm-3. Os menores valores foram encontrados na Escandinavia, com concentrações de PM10 entre 10 e 20 µgm-3. Na Alemanha e Holanda as concentrações foram entre 33 e 52 µgm-3. Na Europa Central (República Checa, Polônia e Hungria) foram encontrados valores acima de 74 µgm -3. Nos países do sul da Europa foram observadas concentrações médias entre 50 e 99 µgm-3 (KOCH, 2000). Material Particulado 28 TABELA 02 - Níveis europeus de PM10 no inverno de 1993-94, em g/m3 País/Localidade Região urbana Região controle Suécia (Sul) 22,9 16,2 Suécia (Umea) 13,4 11,5 Finlândia (Kuopio) 17,7 13 Noruega (oslo) 19,3 11,2 Holanda (Amsterdã) 45,3 44,4 Alemanha (Berlim) 52,3 43 Alemanha (Leste) 40,3 32,9 Rep.Checa (Teplice) 74 32 Rep.Checa (Praga) 52,7 49,6 Polônia (Katowice) 68,7 73,8 Polônia (Krakow) 60,1 56,1 Hungria 60,9 52,1 Itália (Pisa) 61,8 69,5 Grécia (Atenas) 98,8 50 Fonte: KOCH, 2000 Na Tabela 03 estão compilados valores encontrados por vários autores na América Latina (Brasil, México, Chile). TABELA 03 - Concentrações de partículas finas (g/m3) na Amécia Latina Localidades Ano TSP PM10 Cidade do México Santiago do Chile Cidade do México São Paulo 100 São Paulo São Paulo São Paulo 199698 São Paulo 199192 Fonte: KOCH mod, 2000 36/29 33 (estação 23 (estação seca) úmida) Salazar et al., 1992 61 20-100 (1992) 66,9272 199091 Fonte 34 96 70-150 (1981) São Paulo PM2,5 66 1989- 210 90 1989 São Paulo PM10-2,5 82,38 (DP=38,82) 65 (DP=27 15-193 59,9 22,8(DP=26,3) 186,3 65,04 14,8(DP=27,28) 192,80 Rojas et al., 1990 Veja et al., 1997 37,5 Andrade et al., 1993 Kretzschmar, 1994 Sato et al., 1995 Saldiva et al., 1994 Lin et al., 1999 Martins et al., 2002 Pereira et al., 1998 Chan et al. (1997) investigaram os níveis e fontes de material particulado aerodispersos (PM10 e PM2,5) em Brisbane (Austrália). A concentração média de PM10 em cinco locais foi de 27 Material Particulado 29 µgm-3. Em um dos locais, os valores de PM2,5 e PM10-2,5 quantificados foram, respectivamente, 7,3 µgm-3. e 10,4 µgm-3. Em Sapporo no Japão, durante 18 meses (1987-1988) foi investigada a composição do PM10 e sua variação sazonal. As concentrações eram cerca de 25 µgm-3. O carbono orgânico de emissões diretas e de formação secundária contribuiu para cerca de 17% do PM10, e o carbono elementar emitido principalmente pelos veículos e aquecedores domésticos, em cerca de 4%. O SO4= foi cerca de 16% do PM10 (KANEYASU et al., 1995). Na Arábia Saudita (Riad), EL- SHOKOBOKSHY et al. (1990) relataram que as concentrações médias de PM2,5 e PM15-2,5 nos meses de março-maio de 1988 foram, respectivamente, de 379 µgm-3 e 275 µgm-3. Nos Estados Unidos, desde a última metade dos anos 80, localidades urbanas têm sido intensamente monitoradas. A USEPA (1996) reviu extensivamente o estado da arte das monitorizações de PM10 e PM2,5 e suas composições químicas. Entre 1988 e 1994 foi observado um decréscimo substancial das concentrações de PM10 (20-24%) em locais urbanos. Estes decréscimos foram mais pronunciados em regiões do oeste americano (23-27%), que no noroeste (18-19%) e em regiões industrializadas do meio oeste (12-19%). As razões entre PM2,5 e PM10 nos centros urbanos foram geralmente de 0,55-0,6. No verão, o perfil sazonal de PM10 apresentou um pico nas regiões urbanas e não urbanas, e ele foi geralmente associado aos picos de PM2,5. As médias diárias das concentrações de PM10 em áreas urbanas foi entre 10-60 µgm-3. Os níveis de base, excluindo todas as fontes antropogênicas para PM10 e PM2,5 foram, respectivamente, de 411 µgm-3 e 1-5 µgm-3 (USEPA, 1996). 4. Transporte, distribuição e transformação no meio ambiente 4.1. Ar, água, sedimento e solo A deposição de material particulado nos vegetais não é bem conhecida, entretanto, sabe-se que tanto as partículas finas, como as grosseiras podem afetá-los. A deposição atmosférica de partículas no ecossistema ocorre pelos processos úmido e seco, através das vias: 1) precipitação de chuva e neve; 2) fog, gotículas de nuvens e intercepção de névoas (denominada deposição "oculta" e; 3) deposição seca. A deposição úmida é resultante da incorporação das partículas atmosféricas e gases no interior das gotículas das nuvens, e sua, subseqüente, precipitação como chuva ou neve. Material Particulado 30 As folhas retêm líquidos e PM solubilizados de acordo com as propriedades da superfície de exposição, aspereza e umidade. As condições de umidade e a temperatura durante a deposição úmida influencia significativamente a extensão dos efeitos biológicos. A concentração de materiais suspensos e dissolvidos é maior no início da precipitação e declina com a sua duração (HANSEN et al. 1994). A precipitação da chuva, ao se manter durante um determinado período de tempo, remove a maior parte do material acumulado pela deposição seca na superfície foliar, reduzindo os efeitos diretos, e promovendo a combinação de injúrias relacionadas às substâncias químicas associadas ao material depositado pela via úmida (LOVETT, 1994). A chuva intensa poderá contribuir substancialmente com a penetração do material particulado através da superfície do solo (via solo), entretanto, ela é menos efetiva como sendo a fonte de material particulado que irá provocar injúrias na superfície foliar. As precipitações de menor intensidade, em contraste, podem ser de grande significância para causar efeitos diretos, resultantes da deposição foliar. A concentração final do PM que permanece em contato com a superfície foliar, poderá ser maior, em razão da curta duração da precipitação e da limitada remoção atmosférica. Além do mais, tais eventos poderão hidratar as partículas depositadas via seca, sem removê-las, e assim, facilitar as suas captações foliares. Esta combinação de deposição seca nas folhas e, subseqüente, remoção úmida, altera os efeitos provocados pelos materiais particulados, via solo. A deposição seca das partículas nas plantas e nos solos é um processo muito mais lento que a deposição úmida ou oculta, mas ela atua quase continuamente e afeta todas as superfícies expostas. As partículas menores, 0,2 a 2 µm, não são prontamente depositadas a seco e tendem a viajar longas distâncias na atmosfera, até sua eventual deposição, possivelmente incorporada à precipitação. As partículas maiores, da ordem de > 5µm de diâmetro são depositadas a seco, por sedimentação gravitacional e impactação inercial. A deposição seca é geralmente significativa, e, em alguns casos, ela é a porção predominante do total depositado no ecossistema (LOVETT, 1994). Material Particulado 31 O vegetal recebe deposição de poeiras secas, incrustação de carbono elementar, névoas de graxa, camadas ácidas de piche e partículas secundárias heterogêneas formadas a partir de precursores gasosos. A deposição de partículas é um processo complexo, pouco caracterizado e controlado primariamente pela estabilidade atmosférica, pelas micro e macro superfícies ásperas, pelo diâmetro das partículas e pelas características das superfícies (HOSKER & LINDBERG, 1982). Os poluentes gasosos podem ser dissolvidos nas gotas de água que estão suspensas no ar e nas existentes nas nuvens. É difícil medir e prever a deposição de gotículas de nuvens e fog em diversas partes dos vegetais e em outras superfícies. Sabe-se que grandes concentrações de poluentes como o NO3-, SO4= e substâncias orgânicas podem ser encontradas com maior freqüência em gotas menores do fog, do que em gotas maiores. A deposição de água das nuvens ácidas (chuva ácida) tem sido associada com o declínio de florestas em áreas industrializadas do mundo (ANDERSON et al., 1999). As nuvens podem conter grandes concentrações de ácidos e de outros íons dissolvidos, dependendo das trajetórias realizadas anteriormente. Os quatro íons mais prevalecentes encontrados em amostras de água de nuvens, em ordem decrescente de concentração foram sulfato, hidrogênio, amônio e nitrato. A acidez da água das nuvens é tipicamente de 2 a 20 vezes mais ácida do que água da chuva. Isto pode aumentar em mais de 50% a deposição de poluentes, e, conseqüentemente, a exposição pelos vegetais em solos de locais mais elevados, quando comparados com a deposição pela chuva e a deposição seca. As injúrias às florestas têm sido atribuídas ao aumento da lixiviação de cátions e aminoácidos, aumentando a deposição de nitrogênio e a toxicidade do alumínio, resultantes da deposição ácida e do efeito combinado da precipitação ácida, fog ácido, oxidantes e metais pesados (ANDERSON et al., 1999). A deposição seca de PM é mais efetiva para partículas grosseiras, incluindo material geológico primário e elementos como Fe e Mn. A deposição úmida é mais efetiva para partículas finas de origem atmosférica (secundárias) e elementos como Cd, Cr, Pb, Ni e V (REISINGER, 1990). A relativa magnitude dos diferentes modos de deposição varia com o tipo de deposição do ecossistema, localização, elevação e carga química da atmosfera. Material Particulado 32 LINDBERG & LOVETT (1985) pesquisaram a deposição seca em folhas e superfícies inertes das partes altas de árvores de florestas decídua. As taxas médias de deposição seca (µgmh ) nas folhas foram, respectivamente, de 48 11 para o SO4=; 5,7 1,6 para o NO3-; 15 2 2 -1 para o Ca2+ e 5,6 2,6 para o K+. A velocidade média de deposição nas superfícies inertes variaram de 0,13 0,2 para o SO4= a 1,2 0,1 para o Ca2+. Os dados de distribuição da deposição de material particulado nas superfícies das copas podem oferecer informações úteis dos processos de deposição que auxiliarão na interpretação de medidas micrometereológicas. LINDBERG et al. (1982) observaram que a razão entre o fluxo de deposição úmida e seca sobre a vegetação variou de 0,1 para o Mn, 0,8 para o Pb, 3 a 4 para o Cd e Zn. As interações entre as partículas de metais depositados nas superfície de folhas secas e a, subseqüente, precipitação ácida pode resultar em concentrações consideravelmente elevada de metais nas folhas, comparadas àquelas durante a chuva. SMITH (1973) constatou que durante uma única estação de crescimento, a seiva do bordo removeu, respectivamente, 820, 5800, 60 e 140 mg de Ni, Pb, Cd e Cr. Observou, também, que a deposição era maior em áreas próximas às rodovias, comparadas com as áreas mais distantes. A partição de compostos orgânicos entre as partículas atmosféricas e a correspondente fase gasosa depende da temperatura ambiental, das propriedades dos compostos e da superfície da partícula disponível para a sorção. Este processo tem influência decisiva no transporte, deposição e degradação durante o tempo de permanência destes compostos na atmosfera. As propriedades das partículas dependem de seu tamanho, que definem a distribuição das partículas com as substâncias ligadas e a sua penetração no ecossistema via deposição seca e úmida (KAUPP & McLACHLAN, 1999). Os autores observaram que as partículas grosseiras contribuem, principalmente, para a deposição seca, enquanto que, ao contrário, a deposição úmida de dibenzo p-dioxinas policloradas / dibenzofuranos (PCDD/Fs) e hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (PAH) é dominada pelas partículas finas. Os compostos PCDD/Fs e PAH foram associados com partículas de diâmetros < 1,35 µm. 4.2. Formação de aerossol secundário orgânico no ar O SOA é um produto da oxidação atmosférica de gases orgânicos reativos (ROG). Os ROGs são emitidos por muitas fontes antropogênicas e naturais, como a queima de combustíveis fósseis e madeira, queima de biomassa, uso de solventes, emissões pelos vegetais e oceanos Material Particulado 33 (JACOBSON et al., 2000). Os ROGs atmosféricos comuns incluem os alcanos, alcenos, aromáticos e fenóis. A formação de aerossol secundário orgânico envolve duas etapas cruciais, primeiramente, o precursor orgânico volátil ROGs tem que ser oxidado para formar o carbono orgânico semivolátil (SVOC). A distinção entre gases voláteis e semi-voláteis é arbitrária, usualmente as espécies com pressão de saturação de vapor abaixo de determinados limites de pressão (por exemplo, 10-1 ou 30 mmHg) são chamados semi-voláteis (TURPIN et al., 2000). Subseqüentemente tem-se a partição dos compostos orgânicos semi-voláteis à fase aerossol. Devido a estes dois processos (fases) há dois critérios para a formação substancial de aerossol: 1) a oxidação dos precursores ROG tem que ser rápida, e 2) existência de suficiente SVOC com baixa pressão de saturação de vapor. Se os gases precursores são oxidados muito lentamente ou se os produtos de reação tiverem elevada pressão de vapor, não haverá formação de aerossol. Portanto, a formação de aerossol pode ter "reatividade limitada" ou "volatilidade limitada" (GROSJEAN & SEINFELD, 1989). 4.2.1. Oxidação de ROGs - Oxidação na fase gasosa Como primeira condição para a produção substancial de aerossol, os precursores ROGs têm que possuírem elevada reatividade para com as espécies mais oxidantes, presentes na atmosfera. Existem o ozônio, o radical hidroxila (OH) que é produzido pela fotólise do ozônio durante o dia e o radical nitrato (NO3), que é ativo durante a noite. A maior parte dos alifáticos saturados (alcanos e cicloalcanos), alifáticos oxigenados (por exemplo, álcoois e ésteres) e aromáticos não são muito reativos e somente vulneráveis ao ataque do radical OH, a espécie oxidante mais agressiva. Somente ROGs que tenham uma dupla ligação são suficientemente reativos para serem oxidados pelo ozônio e NO3. Os alcenos, cicloalcenos, dienos e ROGs naturais como os terpenos e estireno podem reagir com todos as três espécies oxidantes (DUSEK, 2000. A reatividade das principais classes de ROGs com as espécies oxidantes está resumida na Tabela 04. TABELA 04 - Reatividade de ROGs com espécies oxidantes no ar urbano. Ozônio Radical OH Radical NO3 Processo de remoção com Material Particulado <10-23 Alcanos, cicloalcanos Alifáticos oxigenados Aromáticos Alcenos, cicloalcenos, outras olefinas 0,3 - 8 x 10-11 2,2 x 10 -21 0,2 - 6 x 10 -11 10-17 1,4 x 10 34 OH -16 OH 0,1 - 6 x 10 OH 6 x 10 10 -18 -15 -11 -17 -11 2 x 10 1,5 x 10 0,8 12 x 10 6 x 10 3 x 10 OH, O3, NO3 -21 -11 -17 Unidades: cm3 molécula -1 S-1 à 289o K Fonte: DUSEK, 2000 Geralmente a oxidação de ROGs produz compostos oxigenados simples e multifuncionais, tais como os ácidos carboxílicos, ácidos dicarboxílicos, álcoois e carbonilas. A adição de grupos funcionais faz com que as moléculas se tornem mais pesadas e polares, e isto diminui a pressão de vapor do gás orgânico. A maioria dos aldeídos, éteres alcoólicos e ácidos monocarboxílicos são muito voláteis para formarem partículas. Eles são, principalmente, produtos intermediários de reações, que são, posteriormente, oxidados a espécies semi-voláteis (PUN et al., 2000). Alguns destes produtos finais de oxidação têm pressão de vapor suficientemente baixa para serem encontrados na fase particulada. Este produtos finais são, geralmente, altamente oxidados (HOLES et al., 1997), e propõem-se em incluir ácidos dicarboxílicos, polióis, aminoácidos e outros compostos multifuncionais (SAXENA & HILDEMANN, 1996). Alguns destes compostos têm sido identificados no aerossol formado em capelas de smog durante estudos experimentais (FORSTNER et al., 1997; HOLES et al., 1997), assim como na atmosfera ambiental (BLANDO et al., 1998; LIMBECK ; PUXBAUM, 1999). Os produtos de reação de precursores atmosféricos com baixo número de carbono (alcanos C2-C7, alcenos C2-C6, isopreno e benzeno) são geralmente muito leves para terem baixa pressão de vapor para a condensação. Estes precursores gasosos não são esperados como contribuidores na formação de aerossol atmosférico. No presente, as vias de oxidação individuais de ROGs que levam aos produtos de reação na fase de partículas são muito especulativas. A principal razão é que somente uma fração dos produtos de reação, resultantes da oxidação de cada precursor ROG pode ser identificado pela metodologia analítica disponível. - oxidação na fase líquida É possível que pelo menos parte das fases de oxidação de VOCs envolvidas na formação de SOA ocorra nas gotículas de névoa ou fog. A produção da fase líquida de aerossol orgânico secundário requererá os seguintes processos: a) dissolução de gases precursores voláteis solúveis nas gotas de água e a subseqüente oxidação na fase líquida para formar substâncias orgânicas semi-voláteis. A partir da evaporação das gotas, uma parcela do material semi-volátil pode Material Particulado 35 permanecer na fase de partículas. Este caminho alternativo de produção de SOA recebeu a atenção recentemente na literatura (DUSEK, 2000). Imediatamente após a emissão muitos dos gases precursores antropogênicos são insolúveis na água, e eles se tornam mais hidrossolúveis após serem oxidados na fase gasosa. Estes intermediários, produtos hidrossolúveis da oxidação de VOC poderão se dissolverem nas gotículas de névoas ou fog, e fazerem parte da composição química da fase líquida. São, na maioria das vezes, ácidos monocarboxílicos, aldeídos, álcoois, acetonas e peróxidos orgânicos. Esta produção de VOCs hidrossolúveis, provavelmente, é alterada nos espaços intersticiais das névoas e fog, porque estes espaços estão enriquecidos de agentes oxidantes. Os produtos formados na fase de partículas, a partir dos processos que ocorrem nas névoas e fogs são, provavelmente, ácidos carboxílicos (por exemplo, ácidos dicarboxílicos, oxo-ácidos), glioxal, ésteres e compostos organossulfurados (BLANDO et al., 2000). A oxidação da fase líquida pode ser uma possível via na produção de SOA, em razão de se encontrar freqüentemente na água de névoas e fogs ácidos monocarboxílicos, aldeídos, álcoois (BLANDO et al., 2000; FACCHINI et al., 1999). 4.2.2. Partição gás/partícula de SVOCs Uma vez que as espécies orgânicas semi-voláteis (SVOCs) são produzidas pela oxidação de VOCs, elas formam partículas de aerossol orgânico secundário. Há vários possíveis mecanismos através dos quais os gases orgânicos semi-voláteis são distribuídos entre as fases gasosas e de partículas. Discutiremos a seguir, os mais importantes: - Condensação Condensação é o simples mecanismo de conversão gás à partícula, pois não envolve a interação do gás condensado com a já existente fase aerossol. A quantidade de SVOC particionada à fase aerossol depende somente das propriedades dos gases condensados. As espécies de SVOC que não interagem com cada aerossol existente ou com outro componente gasoso são condensadas pela nucleação homomolecular. Dois ou mais compostos orgânicos podem, também, ser condensados por nucleação heteromolecular para formar uma solução de múltiplos componentes (DUSEK, 2000). Desde que muitos compostos orgânicos secundários são hidrossolúveis (SAXENA & HILDEMANN, 1996), a nucleação binária de compostos orgânicos com vapor de água pode ser possível, mas pouco é conhecido sobre este processo. Material Particulado 36 - Absorção e adsorção A conversão de gás à partícula por absorção e adsorção envolve a interação de SVOC com as partículas pré existentes de aerossol. Estes mecanismos de partição gás/partícula são mais complicados que a condensação, pois eles dependem não somente das propriedades dos SVOCs condensados, mas também, das propriedades das partículas que atuam como sítios de sorção. A efetividade da partição de espécies semi-voláteis i à fase partícula pode ser expressa pelo chamado coeficiente de partição Ki. Ele é definido como a razão entre a concentração de i na fase aerossol (Cae,i) e a concentração de i na fase gás (Cg,i): Ki= Cae,i / Cg,i A adsorção é a partição do gás à superfície da partícula. Se as partículas inorgânicas estão presentes na atmosfera, moléculas de gás podem fixarem-se às superfícies das partículas e poros. Isto ocorre com concentrações de fase gasosa muito menores àquelas necessárias para a condensação homomolecular. A adsorção transfere uma fração do vapor orgânico à fase de partículas quando a fase gás está ainda saturada. O equilíbrio da adsorção é determinado por interações Van der Waals, ou em alguns casos ácido-base, de moléculas adsorvidas pelas superfícies das partículas (DUSEK, 2000). Absorção é a partição do gás para o corpo da fase partícula. Se as partículas orgânicas estão sempre presentes na atmosfera, por exemplo, material orgânico primário, os vapores orgânicos podem se dissolver no aerossol orgânico pré-existentes (DUSEK, 2000). Existem grandes evidências que a conversão gás à partícula na atmosfera do ambiente é dominada pelos processos de sorção, em relação ao de condensação. ODUM et al. (1996, 1997a,1997b) observaram em experimentos realizados em câmaras de smog que o aerossol formado depende da concentração da massa do aerossol orgânico produzido. Se a condensação é o principal processo de conversão gás à partícula nos experimentos, o aerossol formado será independente da massa de aerossol na câmara. É difícil determinar se a absorção ou a adsorção é o mecanismo de conversão gás à partícula na atmosfera ambiental. Resultados sugerem que pelo menos no aerossol urbano, a absorção é mais importante que a adsorção. ODUM et al. (1996) propuseram que a adsorção somente desempenha um papel relevante, até que uma monocamada de material orgânico seja formada no aerossol inorgânico adsorvido. Então, os vapores orgânicos podem começar a se dissolverem na nova camada orgânica, recentemente formada, e o processo de sorção será Material Particulado 37 dominado pela absorção. A produção de aerossol será reduzida se a partição de SVOCs às partículas de sulfato de amônio ocorrerem antes da partição ao aerossol orgânico (LIANG et al., 1997). A razão para esta redução da produção de aerossol pode ser atribuída ao fato de que a partição ao sulfato de amônio é causada pela adsorção, enquanto que a partição ao aerossol orgânico é provocado pela absorção. 4.2.3. Efeitos da umidade relativa e da temperatura na formação de SOA A oxidação de ROGs é mais eficiente com o aumento de temperatura; mas o coeficiente de partição, isto é, a fração de produtos de reação na fase aerossol, diminui com a elevação da temperatura (DUSEK, 2000). Isto ocorre porque todo o processo de conversão gás à partícula depende inversamente da pressão de vapor do SVOC considerado. Conforme demonstrado por STRADER et al. (1999), na Figura 08, a linha tracejada evidencia o aumento dos produtos de reação oxidados em função da temperatura. A linha pontilhada evidencia a diminuição da fração dos produtos de reação que são encontrados na fase particulada. A concentração total de SOA, observada nas linhas sólidas, alcança o máximo quando a temperatura atinge cerca de 17ºC. Material Particulado 38 Figura 08 - Curvas típicas da definição de frações de partículas respiráveis, torácicas e inaváveis. Fonte: The U.K. Department of the Environment, 1993 Existem evidências de que a mudança da umidade relativa pode alterar as vias de oxidação da fase gasosa de ROGs. TOBIAS et al. (2000) encontraram diferentes produtos de reação no aerossol formado por ozonólise do 1-tetradeceno em condições de baixa e de alta umidade relativa. Pouco é conhecido sobre os efeitos da umidade relativa nas características químicas da fase gasosa. A adsorção de SVOCs nas superfícies de partículas sólidas diminui com o aumento da umidade relativa, porque as moléculas orgânicas de gás têm que competirem com os mesmos sítios de sorção e como conseqüência da elevação do número de moléculas de água. Somente quando a umidade relativa é muito alta e o filme de água completa a cobertura é que a adsorção de SVOCs pela superfície da partícula começa a se elevar (DUSEK, 2000). Alterações da umidade relativa podem provocar efeitos drásticos na absorção de SVOCs no ambiente do aerossol. Muitos dos ambientes que contêm aerossóis possuem substâncias higroscópicas e formam gotículas de solução em condições de umidade relativa elevada. Material Particulado 39 O coeficiente de atividade para a dissolução de SVOC em aerossol orgânico seco pode diferir substancialmente do coeficiente de atividade do mesmo SVOC na água (GOSS & SCHWARZENBACH, 1998). O coeficiente fracional de aerossol (FAC) é uma aproximação grosseira para parametrar o potencial de formação de aerossóis. Ele sumariza os aspectos químicos da fase gás e a conversão gás/partícula em uma constante e proporciona uma estimativa grosseira do percentual do precursor VOC que se tornará aerossol. Os FACs podem fornecer uma base que pode ser utilizada para se comparar potenciais de formação de aerossóis a partir de diferentes gases precursores e fontes de VOC. Isto significa que eles podem fornecer estimativas grosseiras se, sob condições ambientais idênticas, uma fonte de emissão produzirá mais SOA por VOC emitido que outra (GROSJEAN & SEINFELD, 1989). A Figura 09 apresenta valores de FAC selecionados para diferentes espécies de VOC. Os compostos aromáticos têm potencial de formação de aerossóis relativamente elevados, comparados aos compostos alifáticos. O o-xileno tem maior potencial de formação de aerossol que o p- ou m-xileno (GROSJEAN & SEINFELD, 1989). Figura 09 - Valores de FAC para VOCs Fonte: GROSJEAN & SEINFELD, 1989 As emissões de diesel são supostas em conter elevadas frações de alcanos de elevado peso molecular, o que elevaria os valores de FAC. Material Particulado 40 O potencial de formação de aerossol de gasolina por veículos com e sem catalisadores é quase idêntica, o que leva à conclusão que a instalação de catalisadores nos veículos não influencia a formação de SOAs produzidos pelos veículos que utilizam gasolina. A instalação de catalisador, todavia, reduz consideravelmente a emissão de VOC não metanos, em favor de metanos, que não formam aerossol (HEWITT, 1999). Na Figura 10 observa-se a representação gráfica de valores de FAC para diferentes fontes de VOC. Figura 10 - Valores de FAC para fontes selecionadas de VOC Fonte: Dusek, 2000 A formação de aerossol secundário orgânico contribui significativamente para a concentração de massa de aerossóis. Tem sido estimado que em episódios de smog, como os de Los Angeles (EUA), que a massa orgânica de aerossol de origem secundária corresponda a mais de 70% do total. As elevadas concentrações de SOA em situações de ocorrência de smog em centros urbanos sugerem que os SOAs não podem ser negligenciados como poluentes atmosféricos (DUSEK, 2000). A Figura 11 apresenta estimativas das mais importantes fontes de emissão que contribuem para o total de SOA, e elas estão propostas para FAC mínimo e FAC máximo. Material Particulado 41 Figura 11 - Contribuição de setores de fontes individuais na emissão total de SOA Fonte: DUSEK, 2000 Nota-se que os solventes utilizados na fabricação de tintas e nos processos de impressão fazem com que estas fontes sejam consideradas importantes, como emissoras de precursores para a formação de SOA (DUSEK, 2000). Deve-se enfatizar que todas as medidas que possam reduzir os níveis de ozônio reduzirão a produção de SOA, em razão da diminuição de produtos resultantes da fotólise do ozônio (KANAKIDOU et al., 2000). Material Particulado 42 5. Exposição humana a material particulado e seus constituintes 5.1. Aspectos toxicocinéticos O termo deposição na área da Toxicologia que estuda o processo de inalação se refere à remoção das partículas inaladas e que estão presentes no ar inspirado. A depuração ou "clearance" de material do trato respiratório se refere à remoção subseqüente à deposição. Considera-se que as partículas possam se depositar no trato respiratório por mecanismos que são: impactação inercial, sedimentação, difusão, precipitação eletrostática e intercepção (LIPPMANN et al., 1980). A deposição de partículas inaladas no trato respiratório depende, principalmente, das vias do trato e do tamanho aerodinâmico das partículas. Partículas grandes (> 10µm) são depositadas preferencialmente na parte extratorácica (acima da laringe), e as partículas de 5-10 µm de diâmetro aerodinâmico são depositadas nas grandes vias condutoras de ar. Partículas entre ~2,5 µm e 5 µm são depositadas nas menores vias condutoras de ar, nas proximidades dos bronquíolos, durante a respiração nasal normal. Havendo respiração pela boca, as regiões de deposição mudam significativamente, observando-se a redução da deposição extratorácica, com mudanças nas deposições traqueobrônquica e pulmonar. A proporção de ar inalado pela respiração bucal, em relação à nasal, aumenta com o exercício e com a fala (CAMNER & BAKKE, 1980). Durante a respiração bucal as partículas finas (< 2,5µm de diâmetro aerodinâmico) são depositadas, primariamente, na região pulmonar. Entre cerca de 3 µm e 5 µm ocorrem significativas deposições nas regiões pulmonares e traqueobrônquica; e as grandes partículas, de cerca de 7 µm a 15 µm, a deposição torácica é predominantemente (WHO, 2000a). A Figura 12 ilustra as frações de partículas respiráveis, torácicas e inaláveis. As partículas que são menores que 10 µm de diâmetro aerodinâmico são referidas como sendo respiráveis. Material Particulado 43 Figura 12 - Curvas típicas da definição de frações de partículas respiráveis, torácicas e inaláveis. Fonte: THE U.K. DEPARTMENT OF THE ENVIRONMENT, 1993 A deposição de partículas nos pulmões é influenciada pelas características das partículas, anatomia do trato respiratório, volume tidal (volume respiratório normal, cerca de 500 mL) e via respiratória (SCHLESINGER, 1985). Entre as mais importantes características das partículas citamos o tamanho, forma, carga elétrica, densidade e higroscopicidade. A deposição de partículas é influenciada, também, pelo tamanho dos pulmões, ramificações secundárias da via respiratória, diâmetros e comprimentos das vias, freqüência, profundidade e taxa de fluxo respiratório. O tamanho da partícula é, geralmente, caracterizado pelo diâmetro aerodinâmico, ou seja, o diâmetro de uma partícula esférica com densidade unitária e a mesma velocidade (SCHLESINGER, 1985). Como existem grandes diferenças entre espécies, torna-se difícil fazer extrapolações de experimentos com animais para os humanos. Existem diferenças entre as vias respiratórias, tanto de uma mesma espécie, como entre espécies. Nos humanos parece que as diferenças existentes com relação às vias respiratórias e os níveis de deposição total de partículas de vários diâmetros aerodinâmicos Material Particulado 44 são pequenas, mas nos ratos as diferenças poderão ser duas ou mais vezes (MARTONEN et al., 1992). Nos humanos é maior a fração de partículas que penetra na região superior do trato respiratório e se deposita nos pulmões, que nos ratos. Nos humanos a deposição total pulmonar de partículas é cerca de 60% para as partículas com diâmetro aerodinâmico < 0,1 µm, e se eleva para cerca de 80% para as partículas de 5 µm. A deposição de partículas de 1-3 µm tem sido relatada como sendo de 20% para adultos em repouso, aumentando para 30 a 40% durante exercícios, com valores menores, entre 10 e 20% para crianças com idade entre 5 e 15 anos (BECQUIMIN et al., 1991). Uma importante observação é que as partículas grandes (> 2 µm de diâmetro aerodinâmico) não são depositadas uniformemente nas vias respiratórias, mas são depositadas significativamente nas bifurcações das vias e diretamente em outras superfícies por onde passa a corrente de fluxo de ar com elevada velocidade. Estudos indicam que as partículas menores que penetram profundamente nos pulmões, tendem a se depositarem, preferencialmente, próximas às bifurcações das vias. A maior parte das partículas depositadas nos pulmões são removidas através de vários mecanismo de depuração. As partículas insolúveis depositadas nas vias ciliadas são removidas, geralmente, do trato respiratório pela atividade mucociliar nas 24-48 horas após a deposição (SCHLESINGER, 1990). A depuração de partículas depositadas na região alveolar pode ocorrer pela ação de macrófagos alveolares ou por mecanismos alternativos. A captação pelos macrófagos de partículas depositadas é rápida, porém, a remoção dos macrófagos dos pulmões leva algumas semanas. A depuração de partículas insolúveis depositadas na região pulmonar tem meias-vidas que levam semanas, meses ou mesmo anos. Dados experimentais evidenciaram, em ratos, que a retenção de partículas insolúveis ultrafinas (diâmetro de cerca de 20 nm) é muito maior que para partículas finas com diâmetro de cerca de 250 nm, possivelmente, em razão do melhor acesso destas partículas ultrafinas ao interstício pulmonar (FERIN et al., 1992). Os mecanismos de depuração podem ser afetados por toxicantes inalados, fazendo com que a depuração ocorra por longos períodos, em razão da interferência de partículas inaladas ou de co-poluentes como o ozônio. Material Particulado 45 As taxas de depuração obtidas com cães e humanos são comparáveis, enquanto que as obtidas com ratos são muito mais rápidas, consequentemente a retenção nos humanos será por mais tempo que nos ratos (SNIPES et al., 1989). A deposição de partículas em animais de experimentação com obstrução mediana induzida das vias respiratórias, assim como em humanos com função pulmonar diminuída, em fumantes assintomáticos ou com bronquite leve, com espirometria normal, demonstrou estar aumentada (KIM et al., 1989). Estas observações parecem colocar os indivíduos com obstruções preexistentes sob risco aumentado, em relação aos efeitos adversos provocados pela inalação de material particulado. 5.2. Aspectos toxicodinâmicos Nos últimos anos pesquisadores têm procurado identificar mecanismos biológicos que sejam plausíveis para explicar as associações observadas entre as exposições ambientais por material particulado e os efeitos à saúde. Ainda não está estabelecida a seqüência de eventos que ocorrem após a deposição de partículas nas vias respiratórias. Os eventos recentemente estudados estão relacionados à indução da inflamação sistêmica e outras respostas vasculares; e às alterações do controle neural da função cardíaca. A figura 13 resume os caminhos pelos quais a deposição de partículas nas vias respiratórias pode induzir os efeitos nas vias respiratórias e no organismo, como no sistema cardiovascular. Material Particulado 46 Figura 13 - Como o material particulado pode afetar as vias respiratórias e o sistema cardiovascular (HRV = variabilidade da taxa cardíaca; ECG = eletrocardiograma). Fonte: HEI Perspectives, 2002 5.2.1. Respostas inflamatórias nas vias respiratórias Estudos controlados de exposições humanas indicam que diferentes tipos de partículas podem induzir uma resposta inflamatória na via respiratória, no sítio em que as partículas primeiro se depositam (GHIO et al., 2000; SALVI et al., 1999; SALVI et al., 2000). Foi observado a ocorrência do aumento do número de leucócitos, como também dos níveis de citocinas e quemocinas, associadas à resposta inflamatória. Respostas à inflamação Material Particulado 47 alérgica incluem aumento da produção de imunoglobulina E (IgE), inflamação bronquial eosinófila, hipersuscetibilidade das vias respiratórias e aumento de NO no ar exalado (USEPA, 2002). Experimentos com animais e in vitro têm mostrado que metais e componentes orgânicos do material particulado podem induzir citocinas inflamatórias e formação de cinocinas, como resultado final de estresse oxidativo, via celular. Estas vias geram o que é conhecido como espécies de oxigênio reativo (ROS), incluindo radicais livres, peróxido de hidrogênio e superóxido (DONALDSON et al., 1997; NEL et al., 2001). A indução da resposta inflamatória por material particulado na via respiratória pode provocar danos não somente na camada de células epiteliais da superfície dos tecidos, mas também, em outras células, como nos macrófagos. Verificou-se que expondo macrófagos às partículas finas e ultrafinas obteve-se uma diminuição da capacidade fagocitária (RENWICK, A et al., 2001). As células nervosas das vias respiratórias podem contribuirem para a inflamação, sintetizando neurotransmissores (BARNES, 2001). Nesta "inflamação neurogênica", os neurotransmissores podem afetar muitos tipos de leucócitos nos pulmões, assim como, células epiteliais e da musculatura lisa. As citocinas inflamatórias sintetizadas pelos leucócitos podem, também, afetar as células nervosas. Uma das possíveis conseqüências dos danos causados pelos materiais particulados nas vias respiratórias é que o indivíduo pode se tornar mais suscetível às infecções respiratórias, uma vez exposto aos vírus ou bactérias (GILMOUR et al., 2001). Uma segunda possível conseqüência é a diminuição da função respiratória, em pessoas que tenham sofrido danos nas vias respiratórias devido à asma ou à bronquite. Como resultado, o que se observa é que os sintomas da asma, por exemplo, são exacerbados. 5.2.2. Inflamação sistêmica e outras respostas vasculares Estudos recentes têm sugerido que a exposição às partículas resultam em efeitos inflamatórios sistêmicos após horas da exposição. Não está claro se a resposta sistêmica é conseqüência da resposta inflamatória da via respiratória, devido ao fato de alguns estudos evidenciarem pouca ou nenhuma resposta inflamatória após exposições aos materiais particulados. Alguns estudos indicam que as partículas por si só, partículas ultrafinas em Material Particulado 48 particular, ou componentes que possam ser liberados ou dissolvidos das partículas, se moveriam através da corrente sangüínea e alcançariam outros tecidos (NEMMAR et al., 2001; 2002). O aumento do número de neutrófilos, após a exposição aos materiais particulados, tem sido um marcador de inflamação sistêmica (GORDON et al., 1998; SALVI et al., 1999). O aumento de produção pela medula óssea de neutrófilos imaturos tem sido, também, relatado (TERASHIMA et al., 1997; SUWA et al., 2002). Estudos epidemiológicos tem descrito associações entre exposição ao PM e outros fatores vasculares; inclusive, estudos de exposições controladas relatam, também, sobre estes efeitos nos níveis de fatores vasculares (PETERS et al., 1997; SALVI et al., 1999; SEATON et al., 1999; PEKKANEN et al., 2000; IBALD-MULLI et al., 2001; SCHAWARTZ, 2001). Estes fatores incluem o fibrinogênio, viscosidade plasmática, número de plaquetas, proteína c-reativa, níveis de endotelina e pressão sangüínea. Alguns dos fatores mencionados, como o fibrinogênio, proteína c-reativa e pressão sangüínea, são independentemente associados com aumento do risco de doenças cardiovasculares, que podem afetar a suscetibilidade aos efeitos agudos do material particulado. As alterações de parâmetros vasculares que ocorrem após exposições ao material particulado, sugerem que estas exposições podem provocar elevação dos níveis de fibrinogênio, e em seguida aumentar a viscosidade plasmática e a habilidade do sangue coagular-se. Isto pode resultar no aumento da tendência de formação de coágulos e trombos (agregação de plaquetas e/ou outros componentes sangüíneos, causando obstrução vascular). Os efeitos destes fenômenos nos indivíduos sadios não está claro, e é provável que a indução de coágulos e trombos em pessoas com danos cardíacos ou no sistema vascular, possam ter conseqüências mais sérias. Indivíduos com aterosclerose podem estar sob risco. A aterosclerose é caracterizada pelo engrossamento e endurecimento das artérias, nas quais as placas (depósitos de colesterol e outras gorduras, mais fibrinogênio, células inflamatórias e fatores) estreitam as artérias e diminuem o fluxo de sangue arterial. Na aterosclerose as funções das células endoteliais, células que revestem os vasos sangüíneos, são também prejudicadas. Tem-se como resultado a produção adicional de mediadores que promovem a vasoconstrição, o estreitamento dos vasos sangüíneos. Se um trombo se formar na superfície das placas, ou se ocorrer hemorragia nas placas, a artéria toda poderá se tornar bloqueada. Se isto ocorrer na artéria coronariana, o suplemento de oxigênio para o músculo cardíaco será diminuído. Nestas condições, a isquemia do miocárdio, pode levar a danos cardíacos e arritmias, distúrbios do batimento rítmico do coração. As arritmias, como a fibrilação ventricular, podem ter sérias conseqüências e potencialmente fatais, pois, elas podem Material Particulado 49 levar ao ataque cardíaco (infarto do miocárdio). Além das alterações vasculares que resultam em arritmias, as arritmias podem ser desenvolvidas, também, como conseqüência de alterações no controle neural da função cardíaca (HEI Perspectives, 2002). Muitos estudos com humanos e com outras espécies associam exposições a PM com alterações da função cardíaca, incluindo indução de arritmias e aumento da incidência de infarto do miocárdio (WATKINSON et al., 1998; CAMPEN et al., 2000; PETERS et al., 2000; CAMPEN et al., 2001; IBALDI-MULLI et al., 2001; PETERS et al., 2001). Recentes estudos indicam que a exposição ao PM pode, também, afetar o controle neural da função cardíaca. Eles indicam que a exposição ao PM pelos indivíduos idosos e por aqueles que tenham doença cardíaca está associada com a diminuição da variabilidade da taxa cardíaca (LIAO et al., 1999; POPE et al., 1999; GOLD et al., 2000). A variabilidade da taxa cardíaca reflete o balanço entre dois mecanismos opostos do sistema nervoso autônomo de controle do coração, os nervos simpático e parassimpático (a estimulação dos nervos simpáticos aumenta a taxa cardíaca; a estimulação dos nervos parassimpáticos diminuem a taxa cardíaca). Ainda que a redução da variabilidade da taxa cardíaca possa ser associada com o agravamento de doenças cardíacas previamente existentes, a significância clínica em indivíduos saudáveis é desconhecida. 5.3. Efeitos à saúde A avaliação dos efeitos à saúde provocados pelo material particulado é considerada um desafio à ciência. As razões que determinam as dificuldades em se estabelecer esta variação estão relacionadas ao amplo intervalo de tamanho e composição química dos aerossóis, mudanças nas condições climáticas, localização e pelo fato de coexistirem com outros numerosos poluentes atmosféricos. Estes problemas dificultam a avaliação da exposição e levam à incerteza de se definir a fração da mistura que seja relevante para a saúde. Estudos epidemiológicos, baseados na observação e análise estatística da relação entre a saúde da população e níveis de poluentes no ar ambiental são as fontes primárias de informações concernentes aos impactos provocados à saúde pelas partículas (WHO, 1999). A figura 14 apresenta um resumo dos relevantes aspectos focalizados pelos estudos epidemiológicos relacionando as partículas aerodispersas, a população e os efeitos provocados em razão das exposições ambientais. Material Particulado 50 Figura 14 - Resumo dos relevantes aspectos focalizados pelos estudos epidemiológicos relacionando as partículas aerodispersas, a população e os efeitos provocados em razão das exposições ambientais. Fonte: WHO, 1999 A reprodução de ambientes experimentais, fechados, para ambientes naturais é difícil e limita a obtenção de informações sobre os efeitos em exposições controladas de humanos ou animais. É bem estabelecido que a penetração de partículas transportadas pelo ar no trato respiratório depende do tamanho da partícula. A maior parte das partículas maiores de 10 µm de diâmetro aerodinâmico, e 60-80% das partículas de 5-10 µm são retidas na região da nasofaringe. A penetração profunda destas partículas depende das vias respiratórias (nasal/bucal), nível de atividade e idade. As partículas ultrafinas penetram e se depositam nos pulmões por difusão. O tempo de retenção de partículas insolúveis é longo para as partículas menores. A retenção de partículas no sistema respiratório depende, também, das características do hospedeiro, como doenças preexistentes da via respiratória, e não somente das propriedades físicas das partículas (WHO, 1999; WORLD BANK GROUP, 1998). Material Particulado 51 Além disto, os efeitos estão relacionados à duração da exposição e à suscetibilidade individual. Associações entre efeitos adversos à saúde e exposições a material particulado têm sido estabelecidas de forma mais acentuada em razão da repetibilidade destes estudos. A plausibilidade biológica é reforçada pela observação de uma série de efeitos cardiopulmonares, assim como pelo fato de que os efeitos não cardiopulmonares não serem, tipicamente, associados com a poluição por material (PANYACOSIT, 2000). Os estudos epidemiológicos são classificados em agudos e crônicos. Os estudos epidemiológicos agudos se baseiam em alterações a curto prazo da poluição do ar, através do tempo, como fonte de variabilidade da exposição, relacionando-a com as alterações verificadas na saúde da população estudada, e que são associadas ao material particulado. Os estudos crônicos utilizam dados observados em situações de poluição a longo prazo, geralmente por períodos de um ano ou mais, e que tendem a ser, por natureza, de corte transversal (PANYACOSIT, 2000). É difícil estabelecer comparações dos resultados observados entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento, em razão do menor número de estudos realizados nos países em desenvolvimento, de diferenças no tipo de efeito estudado, das medições realizadas do material particulado (TSP, PM10 ou PM2,5) e do tipo de estudo (agudo ou crônico). 5.3.1. Efeitos agudos A maioria dos estudos sobre os efeitos à saúde provocados por material particulado são estudos de exposições agudas. Estes estudos englobam os de mortalidade prematura, tanto geral, como específicos em relação à doença causadora, e associados com a exposição às partículas, e os estudos de morbidade associados com a mesma exposição. 5.3.1.1. Estudos de mortalidade Os estudos de mortalidade mais comuns referem-se à mortalidade total, mortalidade respiratória, mortalidade cardiovascular, mortalidade por doença pulmonar obstrutiva crônica e doença cardiopulmonar. Historicamente, a associação entre PM10 e mortalidade tem sido manifestada em muitos episódios de poluição do ar, como aqueles que ocorreram na Bélgica (1930), Pensilvânia (1948), Material Particulado 52 Londres (1952), Nova York (1953) e Londres (1962), quando o número de mortes atribuídas à poluição do ar foi, respectivamente, de 63, 20, 4.000, 200 e 700 (FIERRO, 2000). Outros estudos de mortalidade que não são comumente pesquisados, mas que se revestem de grande importância são os de mortalidade respiratória de crianças e mortalidade intrauterina (PEREIRA et al., 1998; PANYACOSIT, 2000; THURSTON, 2000;). Estudo de mortalidade diária associada à poluição, especificamente à PM10, foi realizado por POPE et al. (1992) em no Vale deUtah (EUA), no período de abril de 1985 a dezembro de 1989. Uma fresadora de aço instalada no local era a principal fonte de material particulado, destacando-se que as concentrações de O3, SO2 e NO2 eram baixas. As mortalidades total, respiratória e cardiovascular foram relacionadas à concentração média de PM10 no 5º dia. As concentrações médias nas 24 horas alcançaram níveis de até 365 µgm-3, sendo que as médias das concentrações no 5º dia chegaram até 297 µgm-3, no período observado. A análise tabular e o gráfico sugeriram que os efeitos sobre a mortalidade poderiam ser observados com níveis < 100 µgm-3. O aumento estimado de mortalidade diária total foi de 16% para cada elevação de 100 µgm-3 nos 5 dias. Quando se expressou pela média de PM10 nas 24 horas, o aumento da mortalidade foi de 13% para a elevação de 100 µgm-3. DOCKERY & BRUNEKREEF (1996) analisaram a mortalidade diária em Saint. Louis (EUA), e em regiões próximas de Kingston, Harriman, TN. Durante o período de observação, setembro de 1985 a agosto de 1986, a média dos níveis de PM10 nas 24 horas variou de 1 a 97 µgm-3 em Saint. Louis, e de 4 a 67 µgm-3 em Kingston/Harriman. Mesmo para estes baixos níveis, a relação entre PM10 e mortalidade foi estatisticamente significativa em Saint. Louis. Em Kingston/Harriman, o coeficiente estimado não foi significativo, mas de similar magnitude. Componentes do ar poluído, como SO2, NO2 e O3, foram avaliados e nenhum deles foi significativamente associado com a mortalidade. A relação foi maior com PM10 do que com PM2,5, que foi por sua vez, superior à relação com sulfato, e este maior que a relação com o H+. O efeito estimado na mortalidade total foi de um aumento de 16% para cada elevação de 100 µgm -3 nas concentrações médias de PM10 nas 24 horas do dia anterior, e uma elevação de 17-23% para cada aumento de 100 µgm-3na concentração média de PM2,5 nas 24 horas, também do dia anterior. 5.3.1.2. Estudos de morbidade Material Particulado 53 As significativas associações entre mortalidade aguda e poluição particulada provocaram interesses em outros possíveis efeitos à saúde causados pela poluição do ar. Estudos conduzidos na China, sob o ponto de vista de morbidade, evidenciaram associações entre níveis elevados de matéria particulada e aumento diário de admissões hospitalares, visitas com finalidades não cirúrgicas, elevando a associação de 1,5 a 2,0 vezes mais para as visitas hospitalares em áreas especializadas da medicina, como as pediátricas e medicina interna (XU et al., 1995). Estudos realizados em Bangkok por CHESTNUT et al. (1998) confirmaram as associações entre admissões hospitalares diárias, admissões hospitalares com sintomas respiratórios e cardiovasculares e material particulado. Estudos conduzidos no Reino Unido por ATKINSON et al. (1999) evidenciaram associações entre as admissões hospitalares (emergências), doenças respiratórias e cardiovasculares, e com PM10. Outro estudo conduzido em Seattle (EUA), demonstrou existência de associação entre aumento de visitas hospitalares de emergência por indivíduos asmáticos e PM10 (SCHWARTZ et al., 1993). O PM10 foi associado com o aumento de admissões hospitalares de idosos com doença pulmonar obstrutiva crônica, asma, infecções na região inferior do trato respiratório, bronquite e pneumonia (ATKINSON et al., 1999; BURNETT et al., 1997; SCHWARTZ, 1993). BURNETT et al. (1999) observaram que aumentos de 10 µgm-3 de PM10 e PM2,5 eram associados, respectivamente, com elevações de 1,9% e 3,3% nas admissões hospitalares por problemas respiratórios e cardíacos. As associações foram maiores entre PM2,5 e doenças cardíacas (DOCKERY et al., 1992; DOCKERY et al., 1993; BURNETT et al., 1999; LIAO et al., 1999). Um consenso preliminar entre muitos pesquisadores é que, em baixas concentrações, a relação entre material particulado e efeitos à saúde é de natureza linear, enquanto que em níveis mais elevados de PM10, aproximadamente acima de 200µgm-3, a relação se torna mais curvilínea, com inclinação menos acentuada para aquelas concentrações que sejam mais elevadas (ROMIEU et al., 1996). A WHO não tem estabelecido guias para PM, porém, preferencialmente, tem desenvolvido curvas exposição-resposta, com a finalidade de orientar decisões e elaborar programas (Figuras 15, 16 e 17). As curvas mostram a relação entre o percentual de alguns efeitos e concentrações de PM. O percentual de alteração está relacionado ao risco para os efeitos Material Particulado 54 à saúde (PANYACOSIT, 2000). As figuras podem ser usadas com cuidado para se fazer estimativas de quantos indivíduos possam ser afetados, durante um pequeno período de tempo, em razão do aumento dos níveis de PM, para uma população de tamanho definido e com características de mortalidade e morbidade. Há necessidade de se tomar cuidados em razão de variações haverem sido observadas em resultados obtidos por estudos associando alguns efeitos (WHO, 2000a). Figura 15 - Porcentagem de aumento da mortalidade diária em função da concentração de PM. Fonte: WHO, 2000a Figura 16 - Porcentagem de alterações de parâmetros relacionados à saúde Fonte: WHO, 2000a Material Particulado 55 Material Particulado 56 Figura 17 - Porcentual de alterações nas admissões hospitalares atribuídas ao PM10, PM2,5 e sulfatos. Fonte: WHO, 2000a 5.3.2. Efeitos a longo prazo Existem relativamente poucos estudos conduzidos com o objetivo de verificar os efeitos causados à saúde humana, como resultado das exposições ao material particulado. Os estudos encontraram robusta associação entre mortalidade e matéria particulada, e também, maiores níveis de mortalidade em cidades com elevados níveis médios de material particulado (DOCKERY et al., 1993; POPE et al., 1995). DOCKERY et al. (1993) realizaram estudo com mais de 8.000 indivíduos adultos, em cidades americanas, com variáveis níveis de poluição, por um período de 14 a 16 anos, entre 1974 e 1991. Uma relação significativa entre exposição às partículas finas e sobrevivência foi encontrada, após ajuste pela idade, sexo, hábito de fumar, educação, exposição ocupacional e índice de massa corpórea. POPE et al. (1995) analisaram os dados obtidos em estudo conduzido pela American Cancer Society desde 1980. Os dados foram obtidos em 151 áreas metropolitanas americanas, durante 8 anos, com o acompanhamento de cerca de 500.000 indivíduos. Após ajuste para a idade, sexo, raça, fumante passivo e ativo, exposição ocupacional, educação, índice de massa corpórea e ingestão de álcool, foi observada uma significativa associação entre poluição do ar por partículas finas e sobrevivência. Material Particulado 57 DOCKERY et al. (1993) relataram um ajuste na taxa de mortalidade de 1,26 para as cidades mais poluídas, comparadas às menos poluídas. POPE et al. (1995) e DOCKERY et al. (1993) relataram que uma elevação de 10 µgm-3, nas exposições a longo prazo para PM10, estava associada com 4,2% de alteração na mortalidade anual levando-se em consideração todas as causas. O que é mais surpreendente, com relação aos achados nestes estudos, é o fato de que eles derivam muito mais estimativas de risco, do que os estudos diários de série temporal, em razão, provavelmente, da inclusão de ambos os efeitos, os agudos e os crônicos. Os estudos de exposições crônicas são, em geral, muito mais sujeitos a fatores de confundimento, tais como situação sócio-econômica, hábito de fumar e outros que possam ser mais difíceis de serem identificados. Nos países em desenvolvimento, os pesquisadores têm procurado verificar a associação entre material particulado e câncer, especialmente o câncer pulmonar, em exposições a longo prazo aos produtos de combustão do carvão. Na China, onde o uso do carvão é grande no preparo de alimentos e em aquecedores, a incidência de câncer nos pulmões é elevada nos homens e nas mulheres. Isto é significativo, levando-se em consideração que a prevalência de fumantes entre os homens, na época do estudo, era cerca de 40%, e menos de 0,1% nas mulheres (MUMFORD et al., 1987). LUO et al. (1996), ao conduzirem estudos com a população de Fuzhou (China), verificaram que era significante como fator de risco, a utilização de fogões em ambientes internos. Verificou-se que a mortalidade, devido ao câncer pulmonar, era maior em casas de regiões que utilizavam, principalmente, o tipo de carvão que emitia mais fumaça, em oposição aos que usavam carvão que liberava pouca fumaça (MUMFORD et al., 1987). A utilização de combustíveis de biomassa para cozinhar tem sido considerada como sendo um possível fator de risco para o câncer da nasofaringe (SMITH, 1993; ZHANG & SMITH, 1996). As emissões deste tipo apresentam compostos carcinogênicos, e neste sentido ZHANG & SMITH (1996) ao analisarem emissões encontraram carcinógenos como o benzeno, 1,3butadieno, estireno e xileno. A combinação combustível/fogão foi pesquisada por SMITH (1993), em Manila, tendo encontrado 60 hidrocarbonetos emitidos pelos fogões. Material Particulado 5.3.3. 58 Efeitos em crianças Evidências epidemiológicas indicam que atualmente, o material particulado e/ou exposições ao sulfato estão associados com efeitos adversos à saúde de crianças (THURSTON, 2000). Entre os efeitos adversos observados em situações de contaminação ambiental, envolvendo material particulado e/ou sulfato, destaca-se para: a) Exposições a curto prazo - redução da função pulmonar; - aumento dos sintomas respiratórios em crianças asmáticas e não asmáticas; - aumento do número de visitas médicas (pneumologistas); - aumento do número de visitas (emergências) e admissões hospitalares; - aumento da mortalidade, e - especialmente, aumento da morbidade. b) Exposições a longo prazo - redução da função pulmonar; - aumento dos sintomas respiratórios; - aumento da mortalidade infantil; - redução do crescimento intrauterino e, - aumento do número de partos prematuros. Muitos estudos apresentam resultados que se revestem de grande interesse, e evidenciam que os riscos são mais elevados para os grupos de neonatos (< 1mes) e pós-neonatos (1-12 meses) (THURSTON, 2000). Os fatores biológicos e físicos relacionados à exposição, e que aumentam os riscos para as crianças expostas ao material particulado e sulfatos, incluem: - alta concentração de PM nas exposições, resultantes da maior atividade das crianças; - grandes doses de material particulado em razão da elevação das taxas de ventilação; - grandes doses de partículas ultrafinas entre crianças de 14-18 anos de idade; Material Particulado 59 - aumento das doses de PM para crianças, calculadas por quilo de peso corpóreo e superfície pulmonar; - condições do sistema de defesa das crianças que estão em desenvolvimento e, portanto, com menor atividade que o sistema dos adultos; - elevada prevalência de crianças com asma, comparada a outros grupos de idade; - elevado número de crianças são mais suscetíveis por razões de pobreza, do que outros grupos etários, e - as interações gás-partícula e partícula-alérgeno, potencialmente fazem com que os padrões individuais de poluição não sejam totalmente protetores de populações suscetíveis, como as crianças. Estas razões recomendam por si só que os futuros estudos com material particulado devam enfocar: - o aperfeiçoamento quanto à identificação das características específicas do PM (por exemplo, ultrafinas, acidez, composição elementar, etc), que possam contribuir nos estudos sobre os efeitos provocados e na quantificação dos seus papéis quanto à toxicidade do PM considerado; - investigações adicionais para verificar se as exposições agudas com duração inferior a um dia (por exemplo, durante no máximo 1 hora diária), ou as longas exposições, com duração de vários dias (por exemplo, médias de PM de 2 ou mais dias) têm importância para a saúde, e sejam superiores àquelas obtidas através de medições de picos nas 24 horas; - investigações adicionais sobre a interações partícula-gás e partícula-alérgeno; - utilização de metodologias experimentais e epidemiológicas para a condução de pesquisas sobre os efeitos a curto e a longo prazo às crianças, e, em especial, durante os primeiros anos de vida. BATES (1995) destacou que os estudos de poluição do ar estavam associados a uma ampla variedade de efeitos sobre a saúde humana, principalmente de idosos e crianças. Quando se analisa a tabela 05, observa-se que as crianças com idade inferior a 1 ano (neonatal, 0-1 mês; pós-neonatal, 1-12 meses) experimentaram os maiores índices de mortalidade que as crianças mais velhas ou adolescentes, durante o episódio histórico de Londres, em 1952. TABELA 05 - Mortes registradas em Londres por grupos etários. Material Particulado Semana anterior ao episódio Semana após o episódio <1m 16 28 1-12 m 12 26 Razão antes/depois do episódio 1,75 2,17 m = mês; a = ano Fonte: BATES adap, 1995 in THURSTON, 2000. 1-14a 10 13 15-44a 61 99 45-64a 237 652 65-74a 254 717 +75a 335 949 1,3 1,62 2,75 2,82 2,83 60 Atualmente, ZANOBETTI et al.(2000), demonstraram que entre os adultos, aqueles com infecções respiratórias anteriores ou concomitantes com os episódios de exposição são especialmente afetados. Isto evidencia que este possa ser, também, um fator que coloca as crianças sob grande risco de serem afetadas pela poluição do ar. DELFINO et al.(1998), em estudo realizado na Califórnia (EUA), relataram aumento da intensidade dos efeitos provocados por exposições a PM10, em períodos de 1 hora e 8 horas, indicando serem estas medições melhores que aquelas verificadas para PM10, com média para as 24 horas. Ficou evidenciada a necessidade de padrões de PM aplicáveis em situações de exposições agudas (picos), por períodos de poucas horas. Ainda não são compreendidos os mecanismos através dos quais elevadas exposições a PM, durante longos períodos, possam ser associados ao aumento de risco para o aparecimento de sintomas respiratórios ou diminuição de função respiratória em crianças, porém, acredita-se que sejam análogos aos efeitos cumulativos do hábito de fumar ou da fumaça ambiental do fumo (passivo) no sistema respiratório humano (THURSTON, 2000). Exposições a longo prazo ao PM, envolvendo crianças em idade escolar, e associações com efeitos adversos no trato respiratório foram documentados, entre outros, por DOCKERY et al. (1996), RAIZENNE et al.(1996) e PETERS et al. (1999a, 1999b). Estudos indicam positivas e, freqüentemente, significativas associações entre exposições aos materiais particulados e visitas médicas ou admissões hospitalares por crianças. Algumas das associações entre PM e efeitos à saúde, não foram significativas quando foram incluídos no modelo poluentes gasosos, como O3, SO2, NO2 e CO. Estes achados podem ser resultantes de artefato estatístico de intercorrelação de poluentes, causando aumento do coeficiente do erro padrão, assim como é possível sugerir que a mistura de co-poluentes, coletivamente, possa desempenhar um papel sobre os efeitos do material particulado sobre as crianças (DELFINO et al., 1997; MEDINA et al., 1997; SUNYER et. al., 1997; ANDERSON et. al., 1998; ATKINSON et al., 1999; WONG et al., 1999). Material Particulado 61 NAUENBERG & BASU (1999) e GWYNN & THURSTON (2000) verificaram que os efeitos provocados pela poluição do ar, em crianças, foram mais severos quando a pobreza era associada à população estudada, indicando, portanto, que ela representa um fator de risco adicional. Pesquisadores demonstraram a associação existente entre a mortalidade infantil e as exposições agudas ao material particulado. LOOMIS et al. (1999) relataram as associações para o PM2,5 na Cidade do México, e CROPPER et al. (1997) às exposições por crianças em idade escolar às TSP, em Nova Delhi (Índia). BOBAK & LEON (1992) ao estudarem a mortalidade de neonatos e pós-neonatos na República Checa, encontraram associação significativa entre a mortalidade do pós-neonato e PM10, mesmo após considerar outros poluentes. A mortalidade respiratória pós-neonatal mostrou associação, altamente significativa, para todos os poluentes, mas somente o PM10 permaneceu significativo em regressões simultâneas. 5.3.4. Efeitos à saúde (sulfatos) As características das partículas responsáveis pelos efeitos à saúde associados ao material particulado, ainda não são bem conhecidos. Todavia, as injúrias pulmonares têm sido postuladas como sendo mediadas pelas partículas ultrafinas, agentes biológicos (por exemplo, endotoxinas), aerossóis ácidos, fração orgânica do PM e pela geração de oxidantes catalisada por metais de transição presentes nas partículas. Enquanto significativas associações são, as vezes, relatadas entre partículas totais em suspensão e efeitos à saúde, em grandes populações, os graus de associação em estudos compararam vários índices (OZKAYNAK & THURSTON, 1987; DOCKERY et al., 1993; THURSTON et al., 1994), como os seguintes: TSP < PM10 < PM2,5 < SO4= Cada índice medido é uma subsérie daquele a sua esquerda, significando que o SO4= ou alguma da mistura estritamente associada a ela, seja um provável fator causal dos efeitos relatados. O íon sulfato por si só é um improvável fator causal, se ele estiver no estado neutralizado. Ele está presente nos fluidos corpóreos em elevadas concentrações, e estudos com inalações Material Particulado 62 controladas em humanos e animais de laboratório, utilizando sais de sulfato em pH neutro ou próximo do neutro, como o sulfato de amônio, mesmo em elevadas concentrações, não produziram nenhum dos efeitos relatados em estudos epidemiológicos (SCHLESINGER, 1989; SCHLESINGER et al., 1990). Estes estudos controlados demonstraram que os aerossóis contêm ácidos fortes, como o ácido sulfúrico e, em menor quantidade, o bissulfato de amônio, que produzem alterações funcionais e estruturais em indivíduos saudáveis, consistentes com aquelas observadas em estudos epidemiológicos. A hipótese provável é que o H+ seja o fator causal, responsável pelos efeitos à saúde, e que entre as medições de índices de MP, o SO4= seja o melhor indicador de H+ (LIPPMANN & THURSTON, 1996). BURNETT et al. (1994) relataram o número de emergências ou admissões diárias em razão de problemas respiratórios, em hospitais de Ontário, durante 1983 a 1988, além dos níveis de ozônio e sulfatos, nas vizinhanças de cada hospital. Os autores especificaram que o SO2 e o NO2 fracamente se correlacionaram com o SO4=(r 0,3), indicando que estes poluentes, provavelmente, seriam motivos de conclusões errôneas. Após ajustar os dados de admissões para os modelos sazonais, efeitos em dias da semana e efeitos individuais, associações positivas e estatisticamente significativas foram encontradas entre admissões hospitalares e, ozônio e sulfato, no período de 0 a 3 dias anteriores. Estudos sobre os efeitos de exposições crônicas ao H+ na saúde respiratória de crianças e na função pulmonar são consistentes. Análises sobre as taxas de prevalência de bronquite, relatadas por estudos em cidades, indicaram estarem mais associadas com as concentrações médias de H+, do que com o PM (SPEIZER, 1989). O possível mecanismo através do qual os sulfatos ácidos possam aumentar a toxicidade do PM, estaria relacionado com interferências que possam alterar os efeitos de sais solúveis de metais e de intermediários reativos do oxigênio. O PM e especialmente, os aerossóis de processos de combustão, contêm metais de transição como o Fe, Cu, Ni, V e Co que são mais facilmente solubilizados em pH baixo. Estes metais são capazes de catalisar a redução de um elétron do oxigênio molecular, necessário para gerar espécies reativas de oxigênio (por exemplo, via reação de Fenton, catalisada pelo Fe). Além do Fe, vários compostos de V têm demonstrado serem capazes de elevarem os níveis de mRNA para citocinas selecionadas em células BAL e de induzirem inflamação pulmonar (PIERCE et al., 1996). Material Particulado 63 A maioria das avaliações foram realizadas por estudos em que as partículas no ar foram mensuradas como PM10. Atualmente, um número significativo de informações passam a ser discutidas enfatizando os materiais particulados finos (PM2,5), e eles evidenciam que estas partículas são melhores preditores de efeitos à saúde que o PM10. Evidencia-se que constituintes de PM2,5, como os sulfatos e partículas fortemente ácidas são as vezes, melhores preditores que o PM2,5(WHO, 2000c). 6. Avalição de riscos à saúde humana e ao meio ambiente 6.1. Saúde humana 6.1.1. Exposição ambiental Os aspectos que regulam a avaliação de risco na gestão da poluição do ar incluem as considerações sobre a identificação dos efeitos provocados pelo poluente, o estabelecimento das relações exposição-resposta, a avaliação da exposição e as características quantitativas do risco. No caso do material particulado fino e ultrafino e dos compostos carcinogênicos, em que não há o conhecimento sobre os limiares para que se observe os efeitos sobre a saúde, a seleção de um padrão de qualidade do ar requer que o regulador determine um risco aceitável para a população. (WHO, 2000a). A unidade de risco é definida como o tempo de vida adicional para o risco de câncer em uma população hipotética em que todos os indivíduos estão expostos continuamente, desde o nascimento, ao longo de sua vida, a uma concentração de 1 µgm-3do agente presente no ar respirado (WHO, 1987). A aceitabilidade do risco e, portanto, dos padrões selecionados, depende da incidência esperada e da severidade dos efeitos em potencial, além do tamanho da população de risco, da percepção dos riscos relatados e do grau de incertezas científicas de que os efeitos ocorrerão em um determinado nível específico de ar poluído. A aceitabilidade do risco pode variar de país para país em razão das normas sociais, do grau de adversidade e percepção do risco pela população em razão das influências de vários depositários. Os efeitos à saúde humana têm sido pesquisados em estudos epidemiológicos de exposições a longo e a curto prazo. Os primeiros estudos foram realizados em episódios de elevada poluição, como, por exemplo, em Londres, 1952; e mais recentemente, são analisadas as variações diárias dos níveis de poluição com as mudanças de indicadores de saúde, como a Material Particulado 64 incidência de sintomas, admissões hospitalares e mortalidade diária. A Tabela 06 ilustra um trabalho de meta análise, sob a revisão da WHO (2000b), em que se determinou a magnitude da associação de vários indicadores de saúde com as concentrações de PM10 e PM2,5. Alguns dos indicadores apresentaram considerável variação na magnitude dos efeitos entre populações, possivelmente refletindo a influência de características físicas ou químicas da mistura de partículas, ou, ainda, à variação de suscetibilidade das populações. TABELA 06 – Resumo de estimativas de riscos relativos para uso de broncodilatadores, tosse, sintomas respiratórios nas vias inferiores, pico de fluxo respiratório, admissões hospitalares (respiratórias), mortalidade diária, associadas com um aumento de concentração média diária de 10gm-3 de PM10 ou PM2,5. Parâmetro Risco Relativo (I.C 95%) PM2,5 PM10 Uso de brancodilatador 1,0305 (1,0201-1,041) Tosse 1,0356 (1,0197-1,0518) Sintomas respiratórios (vias inferiores) 1,0324 (1,0185-1,0464) Pico de fluxo respiratório -13% (-17% - 0,09%) Admissões hospitalares (resp.) 1,008 (1,0048-1,01112) Mortalidade 1,015 (1,011-1,019) 1,0074 (1,0062-1,0086) Fonte: WHO, 2000b. Estudo conduzido em 24 cidades do Canadá e nos Estados Unidos com crianças em idade escolar, indicaram um aumento na prevalência de sintomas de bronquite e níveis diminuídos da função pulmonar, em crianças residentes em cidades como elevados níveis de PM10 e PM2,5, sulfatos e partículas fortemente ácidas (H+). Estudo realizado na Suíça indicou que a função pulmonar de adultos foi também relacionada aos níveis médios de PM10, a longo prazo, em regiões residenciais. Um resumo destes estudos está apresentado na Tabela 07, compilado pela WHO (2000b). TABELA 7 - Resumo de efeitos estimados para exposições a longo prazo para PM (morbidade e mortalidade), associados com aumentos de 10 g/m3 nas médias das concentrações anuais de PM10 e PM2,5. Parâmetro Risco Relativo (C.I. 95%) PM2,5 PM10 Mortalidade 1,14 (1,04; 1,24) 1,10 (1,03; 1,18) Mortalidade 1,07 (1,04; 1,11) na Bronquite 1,34 (0,94; 1,99) 1,29 (0,96; 1,83) % de alteração do FEV1 Função pulmonar (crianças) -1,93% (-3,1% -0,6%) -1,2% (-2,7%; -0,1%) Função pulmonar (adultos) na -1,0% n a FEV1 = Volume expiratório forçado no 1º segundo de expiração Fonte: WHO, 2000b. Material Particulado 65 Em Birmingham, Alabama (EUA), no período de 1985-1988, foi estudada a relação entre PM10 e mortalidade diária (SCHWARTZ, 1993). A média de PM10 foi de 48 µgm-3 e o maior valor nas 24 horas chegou a atingir 163 µgm-3. A mortalidade diária aumentou com a elevação das concentrações de PM10. Os riscos relativos para doenças crônicas pulmonares e mortes por problemas cardiovasculares foram tanto quanto elevados que para as mortes associadas a outras causas. As relações permaneceram mesmo que os valores de PM10 > 150 µgm-3 fossem excluídos. Não foram relatadas informações sobre outros agentes poluidores. O risco relativo para a mortalidade total foi de um aumento de 11% para cada elevação de 100 µgm-3 na concentração de PM10, obtida nos 3 dias anteriores. Os dados publicados não permitiram estimar o efeito expresso para a concentração média nas 24 horas. Nos países desenvolvidos, associações entre PM e mortalidade variaram de 0,5 % a 1,6 % para cada aumento de 10 µgm-3 do PM10, com aumento médio de 1% (OSTRO et al., 1996). No Brasil, a mortalidade intrauterina e a mortalidade respiratória, segundo observações de PEREIRA et al. (1998) e de SALDIVA et al. (1994) não foram associadas unicamente ao PM. Os resultados de SALDIVA et al. (1994) indicaram a possibilidade do NOx haver aumentado a suscetibilidade às infecções respiratórias e à mortalidade respiratória da população exposta. Os autores encontraram significativa associação entre mortalidade intruterina e todos os poluentes juntos (PM10, NO2, SO2 e CO). A tabela 08 mostra os riscos relativos associados com os aumentos de 10 µgm-3 para o material particulado (PM10). Como os resultados indicam a maioria dos estudos demonstraram elevação significativa da mortalidade com o aumento diário das concentrações de PM10, com uma estimativa em comum de 1,0074 ou 0,74% de aumento (limite de confiança de 95% de 1,00621,0086), associados com os aumentos de 10 µgm-3 do PM10. O tempo em que estes efeitos foram observados não foi o mesmo em todos os estudos, mas geralmente, estes efeitos eram associados com a exposição no dia da morte, ou poucos dias até o evento. O teste de heterogeneidade (Q), apenas alcançou significância estatística, com a maior estimativa em St. Louis e com a menor estimativa em Colônia (Alemanha), sendo responsáveis por mais de 50% da heterogenidade. TABELA 08 – Resumo de estudos que relacionam a mortalidade diária às flutuações diárias de PM10, através do risco relativo para 10g/m3 Localização Risco relativo Limite de confiança: 95% Utah Valley 1,015 1,009 - 1,021 St. Louis 1,015 0,999 - 1,029 Kingston Harriman 1,016 0,987 - 1,046 Material Particulado Birmingham Los Angeles Chicago Amsterdam Boston Knoxville St. Louis Steubenville Madison Topeka Santiago Lyon Cologne Sao Paolo Estimativa (reunida) Teste de heterogeneidade (Q) Valor P de Q 1,010 1,005 1,006 1,006 1,012 1,009 1,006 1,009 1,007 0,995 1,008 1,002 1,003 1,012 1,0074 29,04 0,01 < P < 0,025 66 1,002 - 1,018 1,000 - 1,010 1,001 - 1,010 0,999-1,014 1,007 - 1,017 1,001 - 1,018 1,001 - 1,010 1,001 - 1,016 0,996 - 1,107 0,980 - 1,009 1,006 - 1,010 0,994 - 1,010 1,000 - 1,006 1,007 - 1,017 1,0062 - 1,0086 Fonte: WHO, 2002c Um estudo prospectivo sobre os efeitos à saúde provocados pela poluição atmosférica, conduzido em seis diferentes comunidades americanas, levantou a questão se a massa de partículas finas (PM2,5) é um melhor preditor de mortalidade que a massa particulada grosseira (PM10) (SCHWARTZ et al., 1996). Os resultados indicaram que a mortalidade era fortemente associada com PM2,5, e não com as partículas grosseiras. Em razão da alta correlação entre PM2,5 e PM10, a mortalidade foi também associada com PM10, e os resultados sugeriram que as associações entre PM10 e mortalidade observadas em outros estudos, podem ser devidas aos efeitos das partículas finas, e não das partículas grossas. A tabela 09 ilustra o resumo destas análises, em que o risco relativo estimado para as seis cidades juntas foi de 1,015 (limite de confiança 95% de 1,011-1,019) para cada aumento de 10 µm-3 de PM2,5. TABELA 09 - Resumo das relações entre mortalidade total e flutuações diárias de PM2,5 e riscos relativos estimados para 10g/m3 Localização Risco Relativo Limites de Confiança: 95% Boston 1,022 1,015 - 1,029 Knoxville 1,014 1,002 - 1,026 St. Louis 1,011 1,004 - 1,017 Steubenville 1,01 0,999 - 1,021 Portage 1,012 0,997 - 1,028 Topeka 1,008 0,980 - 1,036 Fonte: WHO, 2000c Os riscos de câncer são baseados nas potencialidades de ocorrência de câncer, e desta forma, os compostos com maiores potencialidades tendem a dominar. Por isso, os riscos de Material Particulado 67 câncer pelo xileno e estireno foram negligentes, quando comparados com os do benzeno e 1,3butadieno. Os riscos de câncer que dependem da quantidade de emissões e tipo de combinação combustível/fogão usados foram maiores para o 1,3-butadieno, seguidos pela combinação benzeno e madeira, carvão e para os fogões à querozene (ZHANG & SMITH, 1996). O radônio tem sido associado com a ocorrência de câncer, especialmente em trabalhadores, e estudo conduzido por PERSHAGEN et al. (1994) demonstrou existir linearidade entre o aumento de câncer pulmonar e elevação das exposições ao radônio (figura 18). Material Particulado 68 Figura 18 - Proporção de câncer pulmonar atribuída à exposição ao radônio Fonte: WHO, 2000a Uma vez estabelecida a unidade de risco para a ação carcinogênica do benzo (a) pireno, como sendo de 8,7 x 10-2 e concentração média no ar de (1 – 10) x 10-3µgm-3, foi possível calcular potências relativas de misturas ( Tabela 10) e unidades de risco (Tabela 11) para vários hidrocarbonetos poliaromáticos (WHO, 2000a). TABELA 10 - Potências relativas para algumas misturas. Misturas Potência relativa da mistura Emissões de petróleo 0,736 Piche 0,145 Carvão (sem fumaça) 0,368 Carvão fumegante 1,026 Fumaça de madeira 0,759 Fonte: WHO, 2000a TABELA 11 - Unidade de risco estimada para vários hidrocarbonetos policíclicos aromáticos. Composto Intervalo de potência relativa Unidade de Risco (mg/m3) (comparada ao BaP) Antantreno 0,28 - 0,32 (2,4 -2,8) x 10-2 Benz[a]antraceno 0,014 - 0,145 (1,2 - 13) x 10-4 Benzo[a]pireno 1 8,7 x 10-2 Material Particulado Benzo[b]fluoranteno Benzo[j]fluoranteno Benzo[k]fluoranteno Criseno Ciclopental[cd]pireno Dibenzo[a,e]pireno Dibenz[a,c]antraceno Dibenz[a,h]antraceno Dibenzo[a,l]pireno Dibenzo[a,e]fluoranteno Dibenzo[a,h]pireno Dibenzo[a,i]pireno Fluoranteno Indeno[1,2,3, -cd]pireno 0,1 - 0,141 0,045 - 0,1 0,01 - 0,1 0,001 - 0,1 0,012 - 0,1 1 0,1 0,89 - 5 100 1 1 - 1.2 0,1 0,001 - 0,01 0,067 - 0,232 69 (0,87 - 1,2) x 10-2 (0,4 - 0,87) x 10-2 (8,7 -87) x 10-4 (8,7 - 870) x 10-5 (1 - 8,7) x 10-3 8,7 x 10-2 8,7 x 10-3 (7,7 - 43,5) x 10-2 8,7 x 10-0 8,7 x 10-2 (8,7 - 10,4) x 10-2 8,7 x 10-3 (8,7 - 87) x 10-5 (5,8 -20,2) x 10-3 BaP = Benzo[a]pireno Fonte: WHO, 2000a 6.1.2. Exposição Ocupacional O material particulado para exercer efeitos sobre a saúde deve primeiramente ser depositado na pele ou no trato respiratório. As partículas que penetram no sistema orgânico devem passar por septos e por aproximadamente 16 bifurcações, antes de alcançar o espaço morto dos bronquíolos e alvéolos, onde ocorrem as trocas gasosas (STANCEY, 1993). Sob o ponto de vista toxicológico existem três importantes regiões de deposição de material particulado: - todo o trato respiratório, onde a fração inalável é depositada; - os pulmões ou a região de troca gasosa, onde a fração respirável é depositada; e - a região traqueobrônquica, onde a fração torácica é depositada. O trabalhador, ao exercer, suas atividades profissionais, poderá ser exposto aos mais variados tipos de material particulado, dependendo das características da fonte de exposição. Os efeitos locais e/ou sistêmicos são relacionados à composição do material particulado. SANTOS Jr. et al. (2002) classificaram o material particulado inalável associado com riscos à saúde dos trabalhadores e descreveram ,sucintamente, as suas principais propriedades, usos, exposição ocupacional e aspectos toxicológicos. A referida classificação contempla: - alumínio e seus compostos; Material Particulado 70 - asbesto (actinolita); - asbesto (amosita); - asbesto (antofilita); - asbesto (crisotila); - asbessto (crocidolita); - asbesto (tremolita); - berílio metálico e seus compostos; - carbeto de silício (carborundum); - carvão mineral e outros materiais carbonáceos; - cimento Portland; - diatomita (terra de diatomácea); - fibras sintéticas artificiais; - fumos metálicos; - grafite; - granito, mármore e quatzito; - hidrocarbonetos policíclicos aromátaicos; - negro de fumo (carbon black); - poeiras de alta densidade radiológica (bário); - poeiras de alta densidade radiológica (estanho); - poeiras de alta densidade radiológica (ferro); - poeiras de alta densidade radiológica (titânio); - poeiras orgânicas em atividades agrícolas ou agro-indústrias; - poeiras orgânicas em atividades industriais; - poeiras orgânicas no contato profissional com animais; - poeiras orgânicas em edifícios e outros ambientes de trabalho com sistemas de ar condicionado e de umidificação do ar; Material Particulado 71 - sílica (quartzo); - sílicatos (caolim); - silicatos (mica); e - silicatos (talco). STANCEY (1993) , diferentemente, classificou as poeiras baseando-se na combinação das regiões em que elas se depositam nos pulmões e dos locais em que exercem os efeitos prejudiciais à saúde do trabalhador. Apesar dos múltiplos efeitos que os agentes tóxicos possam exercer, a classificação procura individualizá-los. A classificação baseia-se em três grupos fundamentais: - poeiras que têm efeitos toxicológicos localizados nos pulmões; - poeiras que têm efeitos toxicológicos fora do trato respiratório; e - poeiras com efeitos toxicológicos mínimos ou negligentes. A American Conference of Governmental Industrial Hygienists (ACGIH) propõe como guia ou recomendação no controle dos riscos potenciais à saúde causados pelas substâncias químicas os limites de exposição. Devemos lembrar que eles não devem ser usados, entre outras situações, para a avaliação ou controle de poluição atmosférica pela população. Os TLVs (THRESHOLD LIMIT VALUE) para o material particulado sólido e líquido são expressos em termos de particulado total, exceto nos casos em que se usam os termos particulado respirável, torácico ou inalável. O risco potencial para as partículas em suspensão no ambiente de trabalho depende do tamanho da partícula, bem como da concentração de massa. A ACGIH procura definir a fração do tamanho de cada substância que esteja associada ao seu efeito sobre a saúde, e caracteriza a concentração de massa desta fração de tamanho, que deveria representar o limite de exposição. Os TLVs são estabelecidos por seleção de tamanho e estão classificados em três modalidades: Material Particulado 72 1) TLVs para Massa de Particulado Inalável (MPI-TLVs), para aqueles materiais que oferecem risco quando depositados em qualquer lugar do trato respiratório; 2) TLVs para Massa de Particulado de Penetração Torácica (MPT-TLVs), para aqueles materiais que oferecem riscos quando depositados em qualquer lugar das vias aéreas dos pulmões e na região de troca de gases; 3) TLVs para Massa de Particulado Respirável (MPR-TLVs) para aqueles materiais que oferecem risco quando depositados na região de troca de gases. As três frações de massa particulada são definidas quantitativamente por equações (ACGIH, 2002); e as eficiências de coletas representativas de alguns tamanhos de partículas em cada fração de massa podem ser observados nas Tabelas 12,13 e 14. TABELA 12 - Inalável Diâmetro Aerodinâmico da Partícula (m) 0 1 2 5 10 20 30 40 50 100 Massa de Particulado Inalável (MPI) (%) 100 97 94 87 77 65 58 54,5 52,5 50 Fonte - ACGIH, 2002 TABELA 13 – Torácica Diâmetro Aerodinâmico da Partícula (m) 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 Massa de Particulado de Penetração Torácica (MPT) (%) 100 94 89 80,5 67 50 35 23 15 9,5 6 Material Particulado 25 73 2 Fonte: ACGIH, 2002 TABELA 14 – Respirável Diâmetro Aerodinâmico da Partícula (m) 0 1 2 3 4 5 6 7 8 10 Massa de Particulado Respirável (MPR) (%) 100 97 91 94 50 30 17 9 5 1 Fonte: ACGIH, 2002 Existem substâncias que ainda não foram definidos os seus efeitos tóxicos específicos, e elas eram denominadas "partículas incômodas". Essas partículas não são biologicamente inertes, e em altas concentrações, têm sido associadas à proteinose alveolar, ocasionalmente fatal. Em baixas concentrações, elas podem inibir a eliminação de partículas tóxicas dos pulmões por diminuírem a mobilidade dos macrófagos. A ACGIH recomenda o uso do termo "particulado não classificado de outra maneira (PNOS)". Estes particulados devem ter menos de 1% de sílica livre cristalizada e não devem conter asbesto. Para eles foram estabelecidos e incluídos na lista principal de limites de exposição, TLV-TWA (Threshold Limit Value – Time Weighted Average) de 10 mgm-3 para particulado inalável total e TLV-TWA de 3 mgm-3 para particulado respirável. A tabela 15 apresenta uma relação de substâncias com os limites de exposição TLV-TWA propostos pela ACGIH, assim como os valores TLV-STEL (Threshold Limit Value – Short-Term Exposure Limit), anotações pertinentes e o(s) efeito(s) críticos(s) que justificaram o estabelecimento dos limites. TABELA 15 - Valores adotados pela ACGIH de TLV-TWA e STEL, notações e efeito(s) crítico(s) baseados para definir o TLV. SUBSTÂNCIA Alcatrão de hulha, produtos voláteis como aerossóis em benzeno Algodão Alumínio e compostos como Al TWA 0,2 mg/m3 0,2 mg/m3 (g) STEL NOTAÇÕES EFEITO(S) CRÍTICO(S) (Base do TLV) A1 Câncer Pulmões; Bissinose Material Particulado Poeiras metálicas Poeiras pirofóricas Fumos de solda Alumina (Al2O3) Amido 10 mg/m3 Irritação 3 5 mg/m Pulmões 3 5 mg/m B2 Irritação 10 mg/m3(E) A4 Irritação A4 Pulmões; Dermatite 3 10 mg/m Antimônio Sb e compostos, como Sb 0,5 mg/m3 0,1f/cc3(F) A1 Pulmões, Irritação; Efeitos cardiovasculares Pneumoconiose; Câncer pulmões Asbestose; Câncer 0,5 mg/m3(I) A4 Irritação Sb2O3 Asbestos, todas as formas Asfalto (betume), fumo, como aerossol solúvel em benzeno Bário, sulfato Berílio e compostos como Be Cálcio carbonato silicato, sintético Caolim A2 10 mg/m3 (0,002mg/m3) (0,01 mg/m3) A1 10 mg/m3(E) Irritação 10 mg/m3(E) 3(E,R) 2 mg/m 3 Pneumoconiose (baritose) Câncer (pulmões); Berilose 3 Irritação A4 Pneumoconiose A4 Irritação Caprolactama, particulado (1 mg/m ) Carvão, poeiras antracito 0,4 mg/m3® A4 Fibrose Pulmonar; Função Pulmonar betuminoso 0,9 mg/m3(R) A4 Fibrose Pulmonar; Função Pulmonar Cimento Portland 10 mg/m3(E) Irritação; Dermatite Cobre fumos 0,2 mg/m3 Irritação; GI; Febre dos Fumos Metálicos 1 mg/m3 Irritação; GI; Febre dos Fumos Metálicos 2 mg/m3 Estanhose 2 mg/m3 Estanhose poeiras e névoas, como Cu Estanho metal óxido e inorgânicos Esteatite 3(E) Pneumoconiose 3 (E,R) Pneumoconiose 6 mg/m 3 mg/m Farinhas, poeiras (3 mg/m ) A4 3(I) 0,5 mg/m Asma, Função Pulmonar; Bronquite 74 Material Particulado 5 mg/m3 A4 Pneumoconiose Fibras sintéticas vítreas fibras de vidro (filamento contínuo) fibras de vidro (filamento contínuo) fibras de lã (vidro) fibras de lã (rocha) fibras de lã (escória) fibras de vidro (finalidades especiais) fibras de cerâmica refratária 1 f/cc(F) 5 mg/m3(I) 1 f/cc(F) 1 f/cc(F) 1 f/cc(F) 1 f/cc(F) 0,2 f/cc(F) A4 A4 A3 A3 A3 A3 A2 Grafite (todas as formas, exceto fibras) 2 mg/m3(R) Irritação Irritação Irritação; Pulmões Irritação; Pulmões Irritação; Pulmões Irritação; Pulmões Fibrose Pulmonar; Câncer Pneumoconiose Grãos, poeiras (cevada, aveia, trigo) 4 mg/m3(E) Madeiras, poeiras madeiras duras (1 mg/m3) madeiras mole (5 mg/m3) Ferro. Óxido, poeira e fumos Irritação; Branquite; Função Pulmonar A1 (10 mg/m3) Câncer, Irritação; Mucoestase; Dermatite Irritação; Dermatite; Pulmão Magnésio (fumos de óxido) 10 mg/m3 Magnesita 10 m/m3(E) Mica 3 mg/m3(R) Negro de fumo (carbon black) 3,5 mg/m3 A4 Pulmões 1,5 mg/m3(I) A5 compostos insolúveis inorgânicos 0,2 mg/m3(I) A1 Pneumoconiose; Dermatite Câncer; Pulmões, Irritação; Dermatite subsulfetos 0,1 mg/m3(I) A1 Níquel, como Ni elementar Particulados (insolúveis) não especificados de outra maneira Sílica, amorfa terra diatomácea (não calcinada) Irritação; Febre dos fumos metálicos Irritação; Pneunoconiose Pneunoconiose Câncer; Pulmões; Irritação; Dermatite (10 mg/m3(E,I)) (Pulmões) (3 mg/m3(E,R)) (Pulmões) 10 mg/m3 (E,I) Irritação; pneunoconiose 3 mg/m3(E,R) sílica precipitada e sílica gel sílica, fumos 10 mg/m3 Irritação 3(R) 2 mg/m Irritação; Febre sílica, fundida 0,1 mg/m3(R) Fibrose pulmonar Sílica, cristalina cristobalita 0,05 mg/m3(R) Fibrose pulmonar; Silicose Fibrose pulmonar; Silicose; Função pulmonar; Câncer quartzo 0,05 mg/m3(R) A2 75 Material Particulado tridimita 0,05 mg/m3(R) trípoli, como quartzo 0,1 mg/m3(R) Silício, carbeto Talco fibras que não contenham asbesto fibras que contenham asbesto Titânio, dióxido Vanádio, pentóxido, poeiras e fumos Fibrose pulmonar; Silicose Fibrose pulmonar (10 mg/m3(E)) (A4) Pulmões 2 mg/m3(E,R) usar TLV do asbesto 10 mg/m3 A4 A1 Pulmões Asbestose; Câncer A4 Pulmões A4 Irritação; Pulmões 3(R) 0,05 mg/m 3 Vegetais, névoas de óleos 10 mg/m Zinco, óxido (fumos) (5 mg/m3) (poeiras) (10 mg/m3) 76 Pulmões (10 mg/m3) (Pulmões; febre do fumo metálico) (Pulmões) ( ) = propostas de mudanças (ACGIH) (E) = valor para material particulado que não contenha asbesto e < 1% de sílica cristalina (F) = fibras respiráveis: comprimento > 5m; razão de aspecto 3,1 (G) = tipo de amostrador especificado pela ACGIH (I) = fração inalável (K) = não deverá exceder 2 mg/m3 de particulado respirável (R) = fração respirável A1 = confirmado carcinógeno em humanos A2 = suspeita carcinógeno em humanos A3 = confirmado carcinógeno em animais com relevância desconhecida aos humanos A4 = não classificado como carcinógeno em humanos A5 = não suspeito como carcinógeno em humanos B2 = fumos de solda - particulado total (não especificado de outra maneira) ACGIH = American Conference of Governmental Industrial Hygienists TLV = Valores Limites de Exposição TWA = Média ponderada no tempo de 8 horas STEL = Limite de exposição de curta duração Fonte: ACGIH adap, 2002 6.2. Meio Ambiente 6.2.1. Vegetais As partículas transferidas da atmosfera para as superfícies foliares, ramos ou córtex por longos períodos, serão captadas pelas superfícies ou serão removidas das plantas e ressuspensas na atmosfera, lavadas pela água das chuvas ou lançadas ao solo. Os efeitos exercidos serão físicos ou químicos. Geralmente as partículas grossas exercem efeitos físicos, enquanto que as finas efeitos físicos e químicos. Os efeitos provocados por partículas inertes podem resultar em elevação da radiação recebida, aumento da temperatura da folha e bloqueio dos estômatos. A formação de crostas reduz a fotossíntese e a produção de carboidratos, necessários ao crescimento normal, induzem a queda prematura das folhas, inibe o crescimento de novos tecidos e reduzem o armazenamento de amido. A poeira pode diminuir a fotossíntese, respiração e transpiração, e facilitar a penetração de poluentes fitotóxicos, causando injúrias e diminuindo a Material Particulado 77 produtividade do vegetal. A permeabilidade das folhas à amônia se eleva com o aumento das concentrações de poeira e diminuição do tamanho das partículas (FARMER, 1993). A composição química do material particulado é que define o seu potencial de toxicidade, produzindo injúrias nas plantas. As poeiras de cimento, devido à hidratação, liberam hidróxido de cálcio, que pode penetrar na epiderme e alcançar o mesófilo. As partículas finas foram produzidas, geralmente, por condensação da fase de vapor e pelas reações químicas de precursores gasosos existentes na atmosfera. Os precursores mais comuns são os óxidos de nitrogênio e de enxofre, gases orgânicos voláteis, metais volatilizados e condensados e produtos de combustão incompleta. CAPE (1993) verificou experimentalmente, em mudas e árvores jovens, lesões visíveis, em pH 3, após precipitação ácida. Efeitos significativos nas estruturas das folhas foram observados em pH 3,5. Os efeitos do SO2 isoladamente e em combinação com componentes do PM (Cd, Zn, Fe, Cu, Pb, e Mn) obtidos em sacos de filtro, após captação do ar de uma fundição de zinco, foram pesquisados por MARCHWINSKA & KUCHARKI (1987). Os efeitos combinados aumentaram o efeito do SO2 em reduzir a produção de feijão, e, apesar de lesar as folhas, produziram pouco efeito em cenouras e raízes de salsa, exceto nas exposições a longo prazo. Os poluentes orgânicos persistentes são encontrados na biota de áreas remotas, o que evidencia que estas substâncias são transportadas na atmosfera. A vegetação tem sido usada como meio para caracterizar concentrações atmosféricas de poluentes lipofílicos. O acúmulo de substâncias orgânicas lipofílicas da ordem de traços nas plantas é atribuída à captação da atmosfera. A captação pelas raízes e translocação à planta é insignificante para substâncias com coeficiente de partição superior a 3,0. As partes verdes dos vegetais são cobertas por uma camada de cera, cuja função é proteger os vegetais de dessecação. Esta camada epicuticular de cera é constituída por ésteres de longas cadeias, poliésteres e parafinas, que acumula compostos lipofílicos (KYLLIN et al., 1994). Os autores constataram concentrações elevadas de PCBs (bifenilas policloradas) em pinheiros da região central e norte da Europa (47 ngg-1 de cera), comparados com outros sítios pesquisados (4-7 ngg-1 de cera). ROGGE et al. (1993a) ao pesquisarem amostras de poeiras de rodovias e partículas produzidas pelo desgaste de revestimentos de freios e fragmentos de pneus, identificaram mais de Material Particulado 78 100 compostos orgânicos, incluindo-se n-alcanos, ácidos n-alcanóicos, ácidos benzóicos, benzaldeídos, éteres glicol polialquilenos, éteres, PAH, oxi-PAH, esteranos, hopanos, resinas naturais e outras classes de compostos. Mais de 80% da superfície da Terra é coberta por vegetação, que possui uma área que é de 6 a14 vezes a área da terra que ela cobre. A cutícula dos vegetais, rica em lipídios, representa uma extensa área importante para o ciclo global e distribuição de poluentes orgânicos persistentes (POPs). OCKENDEN et al. (1998) verificaram que os coeficientes de partição planta/ar indicavam favorecer o acúmulo de PCBs na vegetação em baixas temperaturas, e para os congêneres altamente clorados. Os autores observaram, também, diferenças no acúmulo entre espécies, comparando H. physodes (maior concentração), com P. sylvestris. Os compostos orgânicos semi-voláteis (SOCs) podem se depositar nas plantas por mecanismos que dependem das propriedades físicas e químicas dos compostos. Os mecanismos de deposição básicos são três: deposição gasosa, deposição de partículas-ligadas (seca e úmida) e deposição úmida de substâncias químicas dissolvidas; sendo esta última negligente para os SOCs, em razão de suas características hidrofóbicas (MCLACHLAN, 1999). Segundo o autor, a fugacidade de substâncias químicas persistentes, moderadamente hidrofóbica e moderadamente não volátil, como as bifenilas policloradas permanece relativamente constante na cadeia alimentar agrícola, e do ar aos produtos alimentícios animais. Os compostos são efetivamente bioconcentrados nas plantas, e uma pequena biomagnificação ocorre nos bovinos. ROGGE et al. (1994b) verificaram ao analisarem folhas de vegetais urbanos que nalcanos de elevado peso molecular (C27-C33), com uma predominância dos hidrocarbonetos com número ímpar de carbonos, são adequados marcadores de deposição de material particulado da atmosfera urbana. Verificaram, também, que as folhas verdes, assim como as mortas apresentaram similares concentrações de n-alcanos. Foram identificados e quantificados constituintes orgânicos, como n-alcanos, ácidos n-alcanóicos e n-alcenóicos, n-alcanóis, nalcanais, terpenóides e traços de PAH (hidrocarbonetos policíclicos aromáticos). SIMONICH & HITES (1994) evidenciaram a importância da vegetação na remoção dos HPAs atmosféricos. Segundo este estudo 48 18 % dos HPAs aerodispersos são transferidos da atmosfera ao solo e, posteriormente, à vegetação. Material Particulado 79 As análises realizadas por LIKENS et al. (1996) sugerem que os ecossistemas das florestas são muito mais suscetíveis à contínua introdução de ácidos fortes do que o esperado, baseando-se unicamente nas tendências biogeoquímicas do enxofre. A poluição pode diretamente exercer seus efeitos sobre as plantas e animais, causando perdas da biodiversidade, pela destruição ou alteração dos habitats. A deposição ácida e a poluição do ar causam o declínio de florestas, sedimentos e nutrientes matam organismos em cursos d'água; e há indicações de que o estresse provocado pelos poluentes nas plantas, torna-as mais suscetíveis a danos provocados por insetos e outros patógenos (NEBEL & WRIGHT, 1998). Os sintomas de danos visíveis sobre as folhas de vegetais, atribuídos à poluição do ar, podem ser considerados em três categorias gerais: colapso do tecido foliar, clorose ou outras alterações da cor natural das folhas e alterações no crescimento e na produção de plantas importantes para a agricultura e floricultura. (DERISIO, 1992). 6.2.2. Materiais Os metais sofrem corrosão na ausência de exposição aos poluentes, através de uma série de interações físicas, químicas e biológicas, envolvendo a umidade, temperatura, oxigênio e vários tipos de agentes biológicos. A exposição aos poluentes pode acelerar os processos de corrosão, a partir de interações complexas com a superfície metálica e com o filme de corrosão do metal. A corrosão atmosférica da maioria dos metais, ocorre através do processo eletroquímico de difusão controlada. Segundo HAYNIE (1980) para que a reação eletroquímica ocorra, deverá existir uma força eletromotiva entre pontos, na superfície do metal; um mecanismo para a transferência de carga entre os condutores eletrônicos; e uma via de condução entre o cátodo e o ânodo dos centros de reação. A taxa de corrosão é dependente, ainda, da taxa de deposição e da natureza do poluente, da variabilidade das reações eletroquímicas da influência do filme de corrosão protetor do metal, dos efeitos dos poluentes ligados com a quantidade de umidade presentes, da presença e concentração de outros eletrólitos na superfície, e da orientação da superfície metálica (ZHANG et al., 1993; PITCHFORD & MCMURRY, 1994). Material Particulado 80 BUTLIN et al. (1992) demonstraram que a corrosão do aço leve e do aço galvanizado era dependente de SO2. Verificaram que a corrosão das amostras de aço eram mais dependentes da concentração de SO2 a longo prazo, e que os óxidos de nitrogênio pouco afetavam o processo. Na ausência de revestimentos metálicos ou de proteção orgânica o aço é suscetível à corrosão quando exposto ao SO2. A corrosão da maioria dos metais ferrosos (ferro, aço e ligas de aço) é aumentada com a elevação das exposições ao SO2 e com sua taxa de deposição. Observou-se que o sulfato de cálcio foi formado em superfícies de pinturas através da reação do cálcio das poeiras com o ácido sulfúrico existente na chuva ou no sereno. Os danos durante o acabamento das pinturas são maiores a medida que haja aumento dos dias de exposição (WOLFF et al., 1990). A poluição atmosférica danifica os edifícios, monumentos e construções, ficando evidente que as pedras de calcário, mármore e cimento carbonatado são os mais suscetíveis. Os danos dos materiais inorgânicos ocorrem, inicialmente, com o desgaste da superfície, e têm como fatores principais, a umidade e a presença de sais. Muitos pesquisadores acreditam que o mecanismo de danos pela poluição do ar, envolve a formação de sais das reações com a pedra e, subseqüente, dissolução destas superfícies pela umidade do ar e lavagem pela água da chuva. NIELSEN (1979) relatou que o desgaste de edifícios porosos contendo cal é caracterizado pelo acúmulo de sulfato de cálcio diidratado na região próxima das superfícies Acredita-se que o efeito dos poluentes atmosféricos na taxa de desgaste seja controlado, predominantemente, pela permeabilidade das pedras e pelo teor de umidade. A migração da umidade serve, primariamente, como meio de transporte. O dióxido de enxofre, após ser sorbido, é translocado internamente, enquanto é oxidado a sulfato. Os componentes de reação são lixiviados, sendo que os mais solúveis vão para o interior e os menos solúveis à superfície, formando uma crosta na superfície. SCHUSTER et al. (1994) determinaram a contribuição relativa das deposições úmida e seca em acelerar os danos aos mármores. Estimaram que de 10 a 50% do cálcio lavado na superfície do mármore, durante tempestades eram provenientes da dissolução da gipsita, formada pela reação do SO2 durante os períodos de seca. Pesquisadores expuseram amostras de mármore de Carrara e Georgia por períodos de 6, 12 ou 20 meses, sob condições normais atmosféricas. Protegidos pela chuva, os pesquisadores relataram que o SO2 é mais reativo com o cálcio do mármore, sob condições de elevado NO2. O Material Particulado 81 mármore de Carrara era mais reativo ao SO2, que o da Georgia, possivelmente em razão da maior compactividade do mármore da Georgia (YERRAPRAGADA et. al., 1994). Segundo SABBIONI et al. (1996) a mais freqüente alteração sofrida pelos materiais calcáreos utilizados na construção de edifícios é a sulfatação, que provoca a formação de crostas pretas. As crostas pretas são áreas de acumulação de produtos de reações químicas entre as pedras e a deposição atmosférica. As partículas carbonáceas emitidas durante a combustão de matéria fóssil (petróleo e carvão) têm sido encontradas nas superfícies das pedras que apresentam as camadas escuras de deposição, juntamente com dois componentes básicos das pátinas, a gipsita e a calcita residual e/ou reprecipitada. As partículas carbonáceas desempenham um importante papel no processo de deterioração, e são consideradas responsáveis pelo escurecimento da pátina, afetando a aparência dos monumentos. Sugere-se, inclusive, que as partículas carbonáceas catalisam o processo de oxidação do SO2 nas superfícies das pedras. Amostras de pedras e argamassas, características de construções antigas e modernas, foram expostas em Milão (Itália) e Ancona, por períodos de 6, 12 e 24 meses. Após as exposições, observou-se que a sulfatação também ocorria nas argamassas, produzindo um composto intermediário, o sulfito de cálcio. Nas amostras expostas em Milão foram encontrados sulfato e sulfito, nitrato e nitrito, típicos de deposição atmosférica urbana, em elevadas quantidades, enquanto que o cloreto, típico nas regiões vizinhas ao mar, foi encontrado nas amostras expostas em Ancona (Itália) (ZAPPIA et al., 1998). 6.2.3. Visibilidade e radiação solar A visibilidade está associada à transparência da atmosfera à luz visível, à sua claridade e à fidelidade da cor da atmosfera. A visibilidade pode estar alterada, e esta alteração é perceptível pela visão humana. Os danos à visibilidade podem ser atribuídos a uma simples fonte de emissão ou a pequeno grupo de fontes; ou ainda, a muitas fontes situadas em ampla região geográfica. As alterações na visibilidade são associadas à presença de partículas em suspensão no ar, incluindo partículas de 0,1 a 1,0 µm de tamanho, aerossóis químicos e umidade relativa. As partículas aumentam de tamanho e volume, com o aumento da umidade relativa, em razão da capacidade das partículas em absorverem água. Material Particulado 82 Os danos na visibilidade estão associados, principalmente, com aerossóis de sulfato, partículas de nitrato, aerossóis orgânicos, fuligem, poeiras em suspensão e carbono orgânico (USEPA, 1966). O efeito do material particulado sobre a radiação solar provoca uma elevação da quantidade de radiação absorvida, difusa através do espaço e sujeita a outros efeitos óticos (KONDRATIEV, 1969). A radiação de ondas curtas é consideravelmente modificada quando atravessa a atmosfera poluída, sendo reduzida de 10 a 20% em cidades industrializadas e de 2 a 10% em cidades em que a poluição fotoquímica atmosférica é devido, principalmente, às emissões veiculares. A redução depende da variação sazonal das concentrações dos poluentes e da inclinação do sol (OKE, 1987). Os poluentes filtram, preferencialmente, as ondas curtas; e da região do UV de 40 a 90% são perdidos por absorção e difusão na atmosfera, reduzindo o processo de fotossíntese dos vegetais, a produção de vitamina D e ácido tânico (OKE, 1987). PRÉNDEZ et al. (1995) verificaram que existe uma relação entre partículas totais em suspensão e radiação solar em sítios urbanos, mas não em áreas suburbanas, mesmo considerando os valores médios mensais. A radiação efetivamente diminui com o aumento da poluição, especialmente do material particulado. 6.3. Acidentes relatados Episódios alarmantes que refletiam as condições comprometidas do ar, produzindo conseqüências danosas para a vida da população, chamaram a atenção de cidadãos comuns e de pesquisadores especializados na área do meio ambiente. No Vale de Meuse (Bélgica), em 1930, ocorreu 60 mortes, após a região experimentar alterações climáticas que motivaram a permanência de poluentes na atmosfera, após serem emitidos, principalmente, por indústrias metalúrgicas, de cerâmica, vidro, cimento e produção de ácido sulfúrico (EIH, 2002). Em 1948, na cidade de Donora (Pensilvânia, EUA), um episódio de inversão térmica impediu que os poluentes emitidos pelas indústrias locais fossem dispersados, e como conseqüência dos elevados níveis dos contaminantes, verificou-se a ocorrência de 20 mortes. (SHRENK et al., 1949). Material Particulado 83 Caso semelhante de inversão térmica deu-se em Londres (Inglaterra), em 1952. O episódio permitiu que poluentes industriais e domésticos, principalmente de aquecedores, ficassem retidos durante três dias, sobre a cidade. A população na época, que era de 8,25 milhões de habitantes, apresentou um aumento de mortalidade, com a ocorrência de 3.500-4.000 mortes. As concentrações de negro de fumo excederam 1.600 µg.m-3, e de dióxido de enxofre, 700 ppb (WHO, 1992). As experiências anteriores, nos episódios de Meuse e de Donora, como eram ocorrências em cidades menores e com um número de mortes inferior, foram pouco úteis na época, com o que havia ocorrido em grande escala em Londres (1952). O Environmental Institute of Houston (2002) da University of Houston-Clear Lake faz menção a vários outros episódios com ocorrência de mortes associadas à poluição. Entre eles mencionamos aqueles associadas ao smog ou inversão térmica: - Londres (1950), com 1.000 mortes; - Poza Rica, México (1950), com 20 mortes; - Londres (1955), com 1.000 acima do normal; - Nova Iorque (1963), inversão, com 405 mortes; e - Nova Iorque (1966), inversão, com 168 mortes. 6.4. Estudos realizados no Brasil No final da década de oitenta, BÖHM et al. (1989), realizaram pesquisas com o objetivo de verificarem os efeitos biológicos provocados pela poluição do ar, nas cidades de São Paulo e Cubatão (SP), utilizando os ratos como indicadores biológicos .Os ratos foram expostos por um período de 6 meses em Cubatão (n = 10) e São Paulo (n = 9), tendo como controle grupo de ratos expostos em Ubatuba (n = 10), considerada uma cidade sem as características de poluição como São Paulo e Cubatão. A poluição de São Paulo era causada por diferentes fontes, sendo as principais as indústrias e os veículos automotores; enquanto que em Cubatão as indústrias eram as principais fontes de emissão. Em Cubatão a poluição era, principalmente, representada por material particulado, e que variou de maneira menos acentuado que em São Paulo, durante o período de 6 meses de pesquisa. Material Particulado 84 Os animais de Cubatão apresentaram lesões nas vias aéreas superiores e distal, enquanto que os ratos expostos em São Paulo mostraram alterações nas vias aéreas superiores, com maior intensidade que as observações realizadas em Cubatão. As lesões nas vias aéreas superiores, hiperplasias epiteliais e hipersecreção de muco pelos ratos de São Paulo, sugeriram a presença de poluentes altamente solúveis e com penetração profunda. SALDIVA et al. (1992) realizaram pesquisa complementar, utilizando um maior número de ratos e verificando com maiores detalhes as alterações estruturais e funcionais verificadas anteriormente. Os ratos foram submetidos à exposição ambiental, por 6 meses, em São Paulo (n = 69) e em Atibaia (n = 56), que em razão das condições ambientais, foi considerada controle. Os níveis médios e desvios–padrões dos poluentes O3, CO, SO2 e particulados, durante os 6 meses estão apresentados na tabela 16. TABELA 16 - Níveis médios e desvios padrões de poluentes atmosféricos em São Paulo durante período de exposição de 6 meses. CO O3 SO2 particulados Média Desvio padrão (ppm) (ppb) (µgm-3) (µgm-3) 1,25 0,295 11,08 2,65 29,05 5,43 35,18 6,02 Fonte: SALDIVA et al., 1992 Os ratos expostos desenvolveram hiperplasia celular secretória nas vias respiratórias, com alterações ultraestruturais ciliares e muco mais rígido, mudanças estas que provocaram prejuízos na depuração mucociliar. Foi constatado, também, uma maior resistência nasal e presença de células inflamatórias, nos ratos expostos. Os autores concluíram que os resultados observados sugeriram que as condições de saúde da população residente naquele ambiente, principalmente as pessoas em condições sócioeconômicas desfavoráveis, poderiam ser afetadas, elevando a morbidade e, talvez, a mortalidade por doenças respiratórias. Extratos orgânicos de amostras que apresentaram níveis mais elevados de partículas totais em suspensão, coletadas nas cidades de São Paulo e Cubatão foram utilizados em testes de mutagenicidade, empregando-se S. typhimurium TA 98 e TA100. A mutagenicidade foi detectada nas amostras coletadas em São Paulo, e em grau superior, às amostras coletadas em Cubatão. Foi observado, também, variação sazonal, com níveis mais elevados em São Paulo, na primavera, e Material Particulado 85 no verão em Cubatão. A resposta mutagênica foi maior no período de junho a novembro. A área industrial de Cubatão tinha como maiores fontes de partículas totais em suspensão, sulfato de amônio, cimento e poeiras de rua, enquanto que em São Paulo, a poluição era influenciada, principalmente, pelas emissões veiculares (SATO et al., 1995). Em cidades e regiões poluídas é fundamental a identificação de áreas e grupos populacionais mais vulneráveis à poluição ambiental. Acrescenta-se a necessidade de se estudar a dispersão atmosférica dos poluentes e a distribuição da população segundo diferentes padrões de condições materiais de vida (PEITER & TOBAR, 1998). As emissões antropogênicas representam significativas fontes de poluição, principalmente em áreas vizinhas a estas atividades. QUITERIO et al. (2001) com o objetivo de avaliar o grau de contaminação do ambiente, determinaram os níveis de chumbo, utilizando como indicadores a poeira doméstica e o ar atmosférico, em região próxima a uma empresa reformadora de baterias, situada na zona norte da cidade de Rio de Janeiro (RJ). Na área externa à empresa, amostras foram coletadas em seis pontos localizados em aproximadamente 25 e 500 metros da reformadora. O limite para Pb no ar de 1,4 µgm-3 foi excedido em 50% das amostras coletadas, variando de 0,03 a 183,3 µgm-3. As coletas nas dependências internas e externas das residências foram realizadas em seis pontos de quatorze residências, localizadas a, aproximadamente, 25 e 500 metros da reformadora. O limite de 1.500 µgm-2 foi excedido em 44% das amostras, com valores de 2,2 a 54338,9 µgm-2. Estudos associando poluição do ar e mortalidade devido às doenças respiratórias em crianças, com idade inferior a 5 anos, no de período de maio de 1990 a abril de 1991, foram realizados em São Paulo por SALDIVA et al. (1994). A concentração média e desvio padrão de PM10 (µgm-3), no período pesquisado, obtidos através de registros realizados pela CETESB (SP) foram, respectivamente, de 82,38 e 38,82. Os autores observaram que os poluentes do ar (CO, NOx, O3, SO2 e PM10) apresentaram, com exceção ao O3, significativo grau de interdependência. Entretanto, a associação entre poluente e mortalidade respiratória foi constatada, apenas, para o NOx (P = 0,025). As fontes de poluição de São Paulo têm nas emissões veiculares a principal origem, e de acordo com a CESTEB (1991), 73% do SO2 e 89% do NOx eram liberados pelos veículos. O NOx está presente nas emissões dos motores a diesel, etanol e gasolina, enquanto que o SO2 não é detectado nas emissões de motores a álcool. Material Particulado 86 No mesmo período do estudo anterior, SALDIVA et al. (1995) pesquisaram a relação entre mortalidade diária de idosos (> 65 anos) e poluição atmosférica na área metropolitana de São Paulo. A concentração média e desvio padrão de PM10 durante o período de estudo foram de 82 38,8 µgm-3. Observou-se uma associação significativa entre mortalidade diária e partículas inaláveis. Apesar do inverno ser considerado um prognosticador de mortalidade, a associação de mortalidade com PM10 sugeriu não ter o inverno como fator de interferência. Além do mais, a associação foi observada em todas as estações do ano, e maior no verão. Destaca-se que a associação entre mortalidade e poluição foi verificada, também, para os poluentes NO x, SO2 e CO. Na cidade de São Paulo, desenvolveu-se estudo com o objetivo de estabelecer possível associação entre poluição do ar e mortalidade intrauterina. Verificou-se uma forte associação entre o poluente NO2 (p < 0,01), e menor para o SO2 e CO, e não significativas ao PM10 e O3. A partir de índice que combinava os três poluentes (NO2, SO2 e CO) constatou-se que a associação era significativa (p < 0,01).Os autores concluíram que se a associação fosse verdadeira, os fetos com risco iminente de morte poderiam representar alvos preferenciais às injúrias dos poluentes do ar, especialmente se fosse considerado o pequeno intervalo de tempo entre o aumento da poluição e a morte, não mais de 5 dias (PEREIRA et al., 1998). No período de maio de 1991 a abril de 1993, o Instituto da Criança da Universidade de São Paulo, recebeu no serviço de emergência cerca de 180 casos diários, sendo 30% representados por doenças respiratórias. Os pesquisadores (LIN et al., 1999) classificaram as visitas hospitalares, classificando-as em três categorias: doença respiratória das vias aéreas superiores, doença respiratória das vias inferiores e aquelas com características de respiração asmática (chiado). A partir de registros diários das concentrações dos poluentes do ar, compilados pela CETESB (Companhia Estadual de Tecnologia e Saneamento Básico, São Paulo) para o NO2, SO2, CO, O3 e PM10, além de informações referentes à umidade e à temperatura, os autores procuraram associar as observações clínicas com os parâmetros ambientais. Após estudos detalhados observou-se significativa associação entre aumento das visitas de emergência por problemas respiratórios e poluição do ar. A associação mais robusta verificou-se com PM10 e a menor com o O3. Os autores concluíram que haviam indicações que algumas doenças respiratórias poderiam ser induzidas ou exarcebadas pela poluição do ar. O número de atendimentos de idosos (> 65 anos), entre 1º de maio de 1996 e 30 de setembro de 1998, motivado pela pneumonia e gripe dos pacientes, se correlacionou positiva e Material Particulado 87 significativamente com o SO2, CO e PM10, sendo que o PM10 foi o parâmetro mais fortemente correlacionado aos demais (MARTINS et al., 2002). Estudo de avaliação de partículas totais em suspensão e metais (Cd, Co, Cu, Pb, Ni, Mn, Cr, Fe e Mg) foi realizado no período de maio de 1997 a maio de 1998, nos municípios de Charqueadas e Sapucaia do Sul, próximos a Porto Alegre, RS. As amostras coletadas a cada 6 dias, em Sapucaia do Sul, por um período de 24 horas, apresentaram concentrações que ultrapassaram os níveis de partículas totais em suspensão para o padrão primário (240 µgm-3) em 9 medições, e concentração máxima que se aproximou de 700 µgm-3 (quase 3 vezes o padrão primário). Em Charqueadas, os níveis de partículas totais em suspensão ultrapassaram o padrão primário em 4 ocasiões, atingindo concentração de até 300 µgm-3. Os níveis foram superiores nos períodos de outono/inverno e decresceram acentuadamente nos períodos de primavera/verão. Quanto aos metais, foram verificadas concentrações elevadas de Fe no ambiente, principalmente em Charqueadas, sugerindo influência da Siderúrgica Aços Finos Piratini. Os demais elementos Mn, Mg, Cu, Cr e Ni foram provavelmente, segundo os autores, originados da siderúrgica local e da usina termoelétrica. Em Sapucaia do Sul, os níveis de Fe foram também mais elevados que os demais, e, provavelmente, influenciados pela Siderúrgica Riograndense e, principalmente, pelos veículos que circulam na rodovia federal BR-116 (CARVALHO & JABLONSKI, 2000). ANDRÉ et al. (2000) apresentaram compilação de trabalhos desenvolvidos pelo Laboratório de Poluição Atmosférica Experimental (LPAE) de São Paulo, Brasil, com o objetivo de ilustrar os riscos relativos à morbidade e mortalidade da cidade de São Paulo (Figura 19). Material Particulado 88 Figura 19 - Riscos relativos de mobilidade e mortalidade para poluentes em São Paulo. Fonte: ANDRÉ et al., 2000 O Brasil, em razão da crise de petróleo na década de 70 e por não ser auto-suficiente, desenvolveu projeto de produção de álcool a partir da cana de açucar, como substituto da gasolina. O álcool passou a ser adicionado à gasolina em percentual de 22%; e seu consumo teve aumento adicional em razão da produção de veículos que utilizam o etanol como combustível (ARBEX et al., 2000). Apesar das emissões dos veículos que utilizam o álcool como combustível serem consideradas menos tóxicas, os problemas causados pelos poluentes liberados no ambiente durante a queima da cana de açúcar, na fase da colheita, não estão devidamente esclarecidos. ARBEX et al. (2000) desenvolveram pesquisa na cidade de Araraquara (São Paulo), região com várias usinas canavieiras com o objetivo de verificarem possível associação entre as visitas hospitalares e as queimadas da cana de açúcar. No período de 1º de junho a 31 de agosto de 1995 foram compilados os números de visitas diárias realizadas por pacientes que tinham necessidade de terapia inalatória em um dos grandes hospitais da cidade. A quantidade de partículas depositadas foram mensuradas diariamente e os valores associados com as visitas hospitalares. Os resultados evidenciaram correlação significativa entre o número de visitas e os pesos dos sedimentos (r=0,36, p0,01). O risco relativo associado com o aumento de 10 mg de peso do sedimento foi de 1,09 (1,00-1,19). O quartil com sedimentos de 17,1-32,3 mg apresentou significativa associação com a terapia inalatória, exibindo risco relativo de 1,20 (1,03-1,39). Material Particulado 89 No Brasil, a cidade de São Paulo foi o primeiro centro urbano do país a contar com estimativas confiáveis sobre a freqüência e a distribuição social de doenças respiratórias na infância (BENICIO et al., 2000). Os pesquisadores estimaram a prevalência e a distribuição social da doença respiratória na infância, usando como base dados compilados na cidade de São Paulo, em 1984/85 e em 1995/96. Houve entre os inquéritos aumentos expressivos da prevalência instantânea da doença respiratória alta (de 22,2% para 38,8%) e da doença respiratória baixa sem e com chiado, respectivamente, de 60% para 10% e de 0,8% para 2,8%. Nos vários extratos sociais o aumento foi generalizado para doença alta e para doença baixa sem chiado. Nos estratos de renda baixa e intermediária, observou-se um aumento da doença baixa com chiado; e aumento intenso no extrato de menor renda. Os autores concluíram que o aumento das doenças respiratórias em São Paulo não pôde ser justificado unicamente através das análises estudadas, e que a deterioração da qualidade do ar da cidade poderia ser considerado um importante fator. 7. Metodologia analítica Apesar das partículas grosseiras serem as causadoras de incômodos e, visivelmente, provocarem sujeiras nas áreas em que são depositadas, as frações das partículas finas, como a PM2,5 têm merecido atenção pela capacidade de alcançarem as regiões mais profundas das vias respiratórias. Deve-se ter em mente que a monitorização do material particulado é fundamentalmente diferente das quantificações de poluentes gasosos, e, geralmente, os métodos utilizados são menos precisos. Hoje, tem-se disponível uma ampla variedade de amostradores e de metodologias de quantificação. Entre estas metodologias, destaca-se a microbalança de elemento oscilante, a análise por raio , amostradores gravimétricos de pequeno e grande volumes, sistemas de medição óticos indiretos, contadores de partículas e de dispersão de luz. Deve-se levar em conta que o sistema de amostragem afeta de maneira significativa o processo de quantificação e, neste sentido, as válvulas de entrada deverão ser planejadas de forma apropriada (dinamicamente) para que se possa quantificar adequadamente as amostras fracionadas. Os amostradores ativos, como os gravimétricos, coletam o material particulado em um filtro, sob o fluxo de grandes volumes (cerca de 100 m-3h) ou de pequenos volumes (cerca de 1 Material Particulado 90 m-3h). O peso do material particulado depositado no filtro é usado para se calcular a concentração de massa média nas 24 horas. Com relação aos analisadores automáticos existem uma série de instrumentos disponíveis comercialmente, sendo que o sistema de dispersão de luz é mais recente e tem sido testado nos últimos anos. Operadores experientes e companhias de medições indicam que as quantificações com diferentes instrumentos não são sempre equivalentes ou comparáveis (WHO, 2000b). 8. Gestão 8.1. Modelos e identificação de fontes Duas propostas têm sido usadas para os modelos de partículas finas: modelos de receptores e modelos de dispersão. Os modelos de receptores necessitam de informações detalhadas sobre a composição das partículas do ambiente e das fontes de emissão. Geralmente, não são usadas informações sobre as condições metereológicas e a distribuição espacial das fontes. Utilizando-se de análise estatística multivariada, as características das partículas do ambiente e das fontes são comparadas, investigando-se a contribuição destas fontes. Nos Estados Unidos, os modelos receptores têm sido extensivamente aplicados em estudos de PM10. Como os modelos receptores aceitam que o fracionamento e os processos de transformação não são relevantes durante o transporte, a espécime de poluente não muda durante o transporte e a dispersão; e a formação de partículas secundárias é difícil de ser introduzida ou de ser levada em consideração (KOCH, 2000). Estes aspectos contribuem para as restrições quanto ao uso de modelos receptores para as partículas ultrafinas, e mesmo para o PM2,5. A introdução de informações sobre as trajetórias do vento e a distribuição espacial das fontes de emissão, podem auxiliar nesta questão. A figura 20 oferece uma visão geral da relação fonte-exposição do modelo para as partículas finas. Material Particulado 91 Figura 20 - Estrutura do modelo fonte – receptor de partículas frias. Fonte: KOCH, 2000 O modelo de dispersão exige informações detalhadas sobre a distribuição espacial e temporal, além de dados metereológicos. A validação do modelo exige, inclusive, dados sobre os níveis ambientais. Duas classes distintas de modelos dispersão são propostas: os modelos episódicos e os modelos de longo prazo (SEIGNEUR et al., 1997). Os modelos episódicos têm tratamento detalhado de reações químicas, e cobrem um período de poucos dias, enquanto que os modelos de longo prazo introduzem detalhamento químico simplificado, porém, cobrindo longos períodos. Os modelos de dispersão englobam a formação secundária de partículas finas, porém, com variáveis extensões, incluindo-se, geralmente, a formação secundária de sulfato. A formação secundária de nitrato e de aerossol orgânico secundário tem sido introduzida em muitos modelos de dispersão. Ainda, com relação a outros aspectos, destaca-se que existem modelos locais e regionais (KOCH, 2000). A obtenção de inventários de emissão é a primeira e fundamental fase para se ter um amplo conhecimento das fontes de partículas finas e as suas contribuições. Estas atividades têm sido intensamente realizadas nos Estados Unidos. Na Europa, existem inventários formulados não só pelos países, mas também, por localidades específicas. Na América Latina, Ásia e África não são preparados inventários de emissão de partículas finas (KOCH, 2000). Material Particulado 92 Deve-se destacar que permanece, ainda, obscuro se os resultados obtidos nestas medições, possam ser extrapolados para outros países e continentes, e mesmo se as medições realizadas recentemente, refletem uma situação atual. 8.2. Prevenção e controle da poluição pelo material particulado As emissões de material particulado podem ser minimizadas pela tomada de decisões que dizem respeito à prevenção e pela adoção de medidas de controle. A prevenção da poluição envolve várias abordagens que podem ser relacionadas como: gerenciamento das atividades produtivas, escolha do tipo de combustível a ser utilizado e utilização de tecnologias e processos adequados (WORLD BANK GROUP, 1998b). As medidas de gerenciamento dizem respeito à melhoria de projetos e de processos industriais, operações, manutenção adequada, administração interna e outras práticas de gerenciamento que tenham, também, como objetivo a prevenção da poluição. A escolha de combustíveis limpos resultarão em diminuição de emissões de partículas atmosféricas. Combustíveis que emitem teores menores de cinzas, conseqüentemente, emitirão menores concentrações de particulados. O controle da emissão diz respeito à adoção de tecnologias que visem a remoção de particulados, antes de serem emitidos na atmosfera, e elas estão disponíveis com diferentes características físicas e econômicas. Entre os equipamentos encontram-se os separadores inerciais ou de colisão (ciclones), precipitadores eletrostáticos, filtros e coletores de poeiras e depuradores úmidos (WHO, 2000a). A seleção do equipamento de controle de emissões de material particulado é influenciada por fatores ambientais, econômicos e de ordem técnica (engenharia). Neste último, destacam-se as características do projeto e a performance do sistema de controle, da corrente de gás e as características físicas e propriedades químicas do material particulado. 9. Conclusões e recomendações (legislação) Informações mais recentes indicam que o PM2,5 é um preditor de efeitos à saúde, melhor que o PM10. Evidências indicam que os constituintes de PM2,5, como os sulfatos e partículas com forte acidez são, as vezes, melhores preditores dos efeitos à saúde que o PM2,5. Material Particulado 93 Como os efeitos na mortalidade, admissões hospitalares, por problemas respiratórios e cardiovasculares e de outras variáveis, têm sido observadas com níveis de PM abaixo de 100µgm3 . Não se deve, ainda, recomendar valores guias para concentrações médias de curta duração. Estudos a longo prazo de exposições por material particulado sugerem que existem associações entre as exposições e a redução da sobrevivência, e redução da expectativa de vida na ordem de 1-2 anos. Recentes estudos têm demonstrado que a prevalência de sintomas de bronquite em crianças, e a redução da função pulmonar em crianças e adultos são associadas com o material particulado aerodisperso. Estes efeitos têm sido observados com níveis médios anuais abaixo de 20 µgm-3 (como PM2,5) ou 30 µgm-3 (como PM10). Os mecanismos toxicológicos do impacto das partículas sobre a saúde não foram, até agora, estabelecidos, apesar da existência de hipóteses plausíveis. No Brasil No Brasil, os atos regulamentadores de poluição atmosférica vêm sendo instituídos a partir de 1976, com uma regulamentação feita através da Portaria Nº0231 de 27/04/76 do Ministério do Interior que previa o estabelecimento de novos padrões de qualidade do ar, quando houvesse informação científica a respeito (SANTOS, 199-). A Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) nº005 de 15 de junho de 1989, instituiu o Programa Nacional de Controle da Qualidade do Ar – PRONAR, como um dos instrumentos básicos da gestão ambiental para proteção à saúde e ao bem-estar das populações e melhoria da qualidade de vida. O objetivo era permitir o desenvolvimento econômico e social do país de forma ambientalmente segura, pela limitação dos níveis de emissão de poluentes por fontes de poluição atmosférica (BRASIL, 1989). A Resolução CONAMA Nº003, de 28 de junho de 1990, estabelece os padrões de qualidade do ar. São as concentrações de poluentes atmosféricos que, ultrapassados, poderão afetar a saúde, a segurança e o bem-estar da população, bem como ocasionar danos à flora e à fauna, aos materiais e ao meio ambiente em geral. A resolução estabelece os Padrões Primários de Qualidade do Ar (que são as concentrações de poluentes que, ultrapassados, poderão afetar a Material Particulado 94 saúde da população) e os Padrões Secundários (que são as concentrações de poluentes abaixo das quais se prevê o mínimo efeito adverso sobre o bem- estar da população) (BRASIL, 1990). Em 1986 foi criado o Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE, instituído pela Resolução CONAMA No 18/86 (BRASIL, 1986) e pela Lei Nº 8.723, de outubro de 1993 (BRASIL, 1993). O programa tem como meta principal reduzir a poluição atmosférica através do estabelecimento de limites de emissão veicular (BRASIL, 1999a). O Programa de Inspeção Veicular – PIV, adotado de acordo com as normas estabelecidas pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA), através do Plano de Controle da Poluição de Veículos em Uso (PCPV), instituído pelas Resoluções Nº 18, de 13 de dezembro de 1995 e Nº 256, de 30 de junho de 1999, contribui significativamente para a diminuição da emissão de poluentes no ar. A Resolução Nº 256 exige para o licenciamento de veículos automotores nos municípios abrangidos pelo PCPV, a implantação do Programa de Inspeção e Manutenção de Veículos em Uso (BRASIL, 1999b) No Exterior Os guias de referência mais freqüentemente usados para concentrações ambientais de material particulado são aqueles da Organização Mundial de Saúde (OMS), União Européia (UE) e United States Environmental Protection Agency (USEPA). Estes guias são baseados em evidências clínicas, toxicológicas e epidemiológicas, e foram estabelecidos aceitando-se o princípio de que existe um limiar de concentração sob o qual nenhum efeito adverso à saúde humana pode ser detectado, ajustado por uma margem arbitrária de fator de segurança, para que seja permitido tolerar incertezas em extrapolações do animal para o homem e de pequenos grupos humanos para grandes populações (DOCKERYS et al., 1993). Os guias da OMS são baseados unicamente em considerações de saúde, já os padrões da UE e USEPA, também, refletem a praticabilidade tecnológica dos padrões. O principal objetivo dos guias e padrões de qualidade do ar é a proteção da saúde humana. Como as partículas finas são as mais prováveis de causarem efeitos adversos à saúde do que as partículas grosseiras, os guias e padrões referentes às concentrações de partículas finas são preferidos àqueles que se referem às partículas totais em suspensão (TSP), que inclui as concentrações das partículas grosseiras (WORLD BANK GROUP, 1998). Material Particulado 95 Os estudos científicos apresentam amplas evidências da existência de relações entre exposições a curto e longo prazo aos materiais particulados, e efeitos à saúde humana (mortalidade e morbidade). Todavia, os mecanismos das relações dose-resposta não são, ainda, completamente conhecidos. De acordo com a WHO (1987), não existe nível limiar seguro abaixo do qual não ocorram danos à saúde. Os implementadores de programas devem considerar o risco aceitável, preferivelmente do que tentar encontrar a segurança absoluta ao estabelecerem os padrões de concentração ambiental para o material particulado. Além do mais, os guias ambientais poderão se tornar uma parte efetiva do sistema de gerenciamento ambiental, somente se as suas implementações forem praticáveis e o esforço para que outros instrumentos de ação garantam a sua realização. Considerações deverão, então, serem dadas para haja praticabilidade técnica e os custos permitam a efetivação do programa. Outra dificuldade é que as partículas transportadas pelo ar, raramente, são homogêneas. Elas variam grandemente em tamanho, forma e as composições químicas são determinadas pela fonte e localização das emissões. Os efeitos combinados e as interações das substâncias existentes no material particulado não foram, ainda, estabelecidos, exceto para o SO2, e acreditase que elas sejam significativas, principalmente nas exposições a longo prazo. Um outro aspecto a ser considerado é que as técnicas de quantificação e a confiabilidade das mesmas podem variar entre regiões e países. Além do mais, outros fatores como a dieta, estilo de vida e condições físicas dos indivíduos, influenciam os efeitos das exposições aos materiais particulados sobre a saúde (WORLD BANK GROUP, 1998). Os países deverão estabelecer padrões ambientais para partículas totais, PM10 ou ambos, levando em consideração: a) os benefícios à saúde humana em reduzir as exposições pelo material particulado; b) os níveis de concentração que possam ser realizáveis pelas medidas de prevenção e controle da poluição; e c) os custos envolvidos em estabelecer padrões. Ao adotarem novos padrões de qualidade para o ar ambiental, os países deverão fixar fases apropriadas, durante as quais os distritos ou municípios que não alcançarem os novos padrões sejam assistidos para que possam obter os padrões desejáveis. Material Particulado 96 Havendo grandes diferenças entre os custos e os benefícios em estabelecer padrões de qualidade do ar, seria apropriado estabelecê-los em áreas específicas, analisando-se caso a caso, até que haja possibilidade e justificativas para expandi-los. Na tabela 17 são apresentados os padrões de referência e guias para a concentração média de particulados no ambiente, adotados pela União Européia, USEPA e WHO (WORLD BANK GROUP, 1998). TABELA 17 - Padrões de referência e guias para concentração média de particulados no ambiente. Padrões ou guias Longo prazo (anual) Curto prazo (24h) PM10 BS TSP PM10 BS TSP a b c Valores limites (EU) 80 150 250 300d Valores guias (EU) 40-60a 100-150e f g Padrões primários e 50 150 secundários (USEPA) Guias (WHO)h 40-60 60-90 100-150 150-230 g Guias WHO pra a Europa 50 70i 125 120 a = mediana do valor médio diário b = média aritmética do valor médio diário c = média aritmética do valor médio diário d = percentil 95 de todas os valores da média diária ao longo do ano e = valor médio diário f = média aritmética g = valor guia para exposição combinada ao SO2 e partículas Fonte: WORLD BANK GROUP, 1998 A USEPA estabeleceu limites desde 1971, conhecidos como "National Ambient Air Quality Standards" (NAAQS), para as concentrações médias diárias e anuais. Desde 1997, dois tamanhos de partículas foram regulamentados: PM10 e PM2,5. O PM2,5 é uma subsérie do PM10, porém, é regulamentado separadamente para assegurar que as menores partículas, que têm menos massa, mas que provavelmente sejam mais tóxicas, sejam adequadamente controladas. Os padrões americanos estabelecidos em 1997, ou padrões fixados ou propostos separadamente pelo Estado da Califórnia (EUA) e os similares "valores limites" fixados pela Comissão Européia para as nações membros estão apresentados na tabela 18 .Estas agências têm fixados padrões diários ou anuais. A EPA, por exemplo, estabeleceu o padrão anual que é adotado quando a média de 3 anos, das concentrações médias de PM, medidas pelos monitores na comunidade for menor ou igual ao número indicado. O padrão diário é fixado quando a média de 3 anos do percentil 98% ou 99% das concentrações de PM nas 24 horas, para cada monitor da comunidade for inferior ou igual ao número indicado. Material Particulado TABELA 18 - Padrões de PM Período USEPA USEPAa Califórnia Califórnia União Européiac União Européiac diário anual diário anual diário anual PM10 (g/m3) 150 50 50 20 50 20 97 PM2,5 (g/m3) 65 15 SDb 12 NF NF a = sob revisão b = em 2002 c = a ser fixado em 2010 (a ser revisto em 2003) SD = sob discussão NF = não fixado Fonte: HEI Perspectives, 2002 Padrões de PM, medidos das mais diferentes maneiras, têm sido estabelecidos no Japão, China, Índia, Brasil e outros países. A tabela 19 apresenta os padrões nacionais de qualidade do ar para partículas totais em suspensão, fumaça e partículas inaláveis. Os padrões de qualidade foram definidos, também, para outros poluentes como o SO2, CO, O3 e NO2. TABELA 19 - Padrões nacionais de qualidade do ar para partículas totais em suspensão, fumaça e partículas inaláveis. Poluentes Tempo de Padrão Padrão secundário 3 amostragem primário g/m g/m3 Partículas totais em suspensão MGAa 80 60 24 horasb 240 150 Fumaça MAAc 60 40 b 24 horas 150 100 Partículas inaláveis MAAc 50 50 b 24 horas 150 150 a: média geométrica anual b: não deve ser excedido mais de uma vez ao ano c: média aritmética anual Fonte: CONAMA, 1990 A resolução, ainda, estabelece os níveis de atenção, alerta e emergência para episódios críticos de poluição do ar, lembrando-se que além de partículas e fumaças, constam valores para o SO2, CO, O3 e NO2 (Tabela 20). As providências a serem tomadas a partir da ocorrência dos níveis de atenção e alerta têm como objetivo evitar que seja atingido o nível de emergência. TABELA 20 - Critérios para episódios agudos para partículas totais em suspensão, S02 x PTS e fumaça. Material Particulado Parâmetro Partículas totais em suspensão (PTS), g/m3, 24hs S02 x PTS Fumaça (g/m3), 24hs Atenção 375 Níveis Alerta 625 98 Emergência 875 65000 261000 393000 250 420 500 Fonte: CONAMA, 1990 As mudanças globais relativas ao meio ambiente são causadas pela atividade humana e seus efeito nos sistemas globais são inadvertidas, além de deliberadas. Os efeitos são expressos em diferentes formas, por todo o planeta, e as mudanças são progressivas, com poucas evidências que a taxa de mudanças diminuirá em futuro previsível. As mudanças ocorrem rapidamente, e muitas das alterações que têm um grande impacto sobre a humanidade são cumulativas e, provavelmente, irreversíveis, além de um certo limiar. 10. Referências Bibliográficas [ACGIH] AMERICAN CONFERENCE OF GOVERNMENTAL INDUSTRIAL HYGIENISTS. Threshold limit values for chemical substances and physical agents & biological exposure indices. Cincinnati, 2002. 187p. AMANN, C. A., SIEGLA, D. C. 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