análise de uma nova técnica de resta

Transcrição

análise de uma nova técnica de resta
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Museologia e Conservação e Restauro
Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Culturais Móveis
Decorações em Relevos à Pastiglio:
Análise de uma Nova Técnica de Restauro
Veronica Coffy Bilhalba dos Santos
Pelotas, 2011
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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS
Instituto de Ciências Humanas
Departamento de Museologia e Conservação e Restauro
Bacharelado em Conservação e Restauro de Bens Móveis
Decorações em Relevos à Pastiglio:
Análise de uma Nova Técnica de Restauro
Veronica Coffy Bilhalba dos Santos
Trabalho acadêmico apresentado ao
Curso Conservação e Restauro de
Bens
Culturais
Móveis
da
Universidade Federal de Pelotas,
como requisito parcial à obtenção do
título de Bacharel em Conservação e
Restauro de Bens Culturais Móveis.
Pelotas, 2011
3
Banca Examinadora:
____________________________________________
Prof. Drª. Margarete Regina Freitas Gonçalves (UFPel)
____________________________________________
Prof. Dr. Pedro Luís Machado Sanches (UFPel/Orientador)
4
Dedico este trabalho as mulheres de minha família,
por me ensinarem a amar a Arte e a artesania.
5
Agradecimentos
Em primeiro lugar, agradeço à Deus pela vida e pelas capacidades que me
deu.
À Universidade Federal de Pelotas que, na figura de seus docentes
pesquisadores da área patrimonial tiveram a visão de implantar o primeiro curso de
Conservação e Restauro de Bens Móveis no Rio Grande do Sul, da qual tive a honra e
oportunidade de fazer parte.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Pedro Luís Machado Sanches, por ser grande
exemplo de sabedoria e profissionalismo na pesquisa acadêmica, pelo incentivo nas
reflexões desta pesquisa, pela compreensão do meu potencial e limites no
aprendizado, pela convivência agradável a mente e ao coração.
Ao Programa de Educação Tutorial (PET) pelo aprendizado nas áreas de
pesquisa, ensino e extensão, mas principalmente pela convivência com os integrantes
do Grupo PET-Conservação e Restauro. Em especial, e com toda admiração possível,
agradeço a tutora - Profª. Drª. Francisca Michelon – por ser exemplo de administração
de tantas responsabilidades com dedicação e carisma, pela capacidade de reconhecer
o potencial particular de cada integrante deste grupo com tão sábia articulação, pela
doutrina da ética e das capacidades lógicas e práticas de um pesquisador.
A todo o corpo docente pelo aporte teórico e prático na área da Conservação
e Restauro. Em especial, ao Prof. Ms. Roberto Heiden e Profª. Ms. Andréa Bachetinni
por assumirem as problemáticas de um curso em implantação com determinação e
coragem. Ao Prof. Dr. Jaime Mujica Sallés pela amizade, respeito e pelo esforço em
articular a interdisciplinaridade com a Arqueologia, do que, sem dúvida, levo um
aprendizado precioso.
A todos os servidores que, de uma maneira ou de outra, ofereceram as
condições para o bom andamento do curso. Particularmente, agradeço a
conservadora Kelly Scolari pelo incansável auxílio nas disciplinas práticas e por aquela
conversa informal que resultou neste projeto.
Agradeço a minha turma, que formou um conjunto discente vivo e motivado
ao crescimento no aprendizado. Foi “huuum looouxu” conhecê-los o que, sem dúvida,
me fez uma pessoa melhor. Em especial, agradeço àqueles que conviveram comigo
de maneira mais próxima e que corroboraram com impressões críticas sobre o objeto
desta pesquisa (em ordem alfabética): Eduardo, Fabiana, Fábio, Karen, Mara e
Ricardo. Obrigada pelas discussões intelectuais acaloradas, pela troca de impressões,
pela oportunidade de tê-los como amigos pessoais, pela compreensão nas horas
difíceis e pelas alegrias nos dias de festa. Agradeço também a duas colegas do 5º
6
semestre - Claudia Lacerda da Fontoura e Flávia da Silva Faro – por também
contribuírem nas reflexões desta pesquisa.
Aos meus pais e meus irmãos pelo incentivo e vibração das minhas
conquistas. Devo a vocês minha personalidade e, por isso, se enfrentei o desafio
desta graduação, foi porque me ensinaram a ter determinação e coragem para me
reinventar a cada minuto.
Ao meu marido e filhos, que me incentivaram a ingressar na faculdade e me
apoiaram de sobremaneira nas responsabilidades que assumi nesta caminhada.
Obrigada pela generosidade com que abriram mão da esposa e mãe para receber a
estudante dedicada. Obrigada pelo respeito e pela compreensão nos momentos de
exílio que possibilitaram as pesquisas de cada trabalho acadêmico e mais
intensamente neste último semestre. Obrigada por este amor incondicional que nos
une e que me renova toda manhã.
Enfim, obrigada pela participação de todos nesta grande história! Desejo bons
frutos e novas conquistas no futuro para todos.
7
“Se aceitarmos a idéia de que um problema nunca
se apresenta do mesmo modo no tempo e no
espaço, é justamente o gênio criativo que criará a
tecnologia apropriada, as idéias, os caminhos da
libertação do homem naquilo que depende da
ciência, da técnica ou da arte”.
(Eduardo Yázigi , Dep. de Geografia-USP)
8
RESUMO
SANTOS, Veronica Coffy Bilhalba dos. Decorações em relevos em pastiglio:
análise de uma nova técnica de restauro. 2011. 111 pgs. Monografia (Graduação) –
Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro da Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas, RS.
O presente trabalho apresenta a análise de uma técnica alternativa para a intervenção
restauradora em relevos decorativos em pastiglio (empaste de adesivo de gesso e
aditivos) expostos a alta umidade relativa, visando simplificar o método de
consolidação atendendo os pressupostos éticos da profissão. Embasada na
composição das pastas convencionais da literatura prática da Conservação e na
artesania popular (la porcelana fría), a técnica alternativa é composta por uma
substância à base de PVA e gesso sotille, na qual aplica-se radiação eletromagnética
não-ionizante (microondas doméstico) para manipular o consolidante por desidratação
tornando-o uma massa densa, flexível e favorável para aplicação pontual. O produto
obtido foi denominado pastiglio polivinílico. No trabalho explica-se a problemática das
pastas convencionais e o preparo da nova formulação. O novo material e os
convencionais foram comparados através de ensaios práticos – análise por
amostragem e aplicação – onde se demonstra que o pastiglio polivinílico cumpre os
propósitos
de
consolidação,
oferecendo
melhores
resultados
estéticos,
de
reversibilidade e aproveitamento com menores riscos ao objeto, ao conservador e ao
meio ambiente.
Palavras-chave: Pastiglio. Arte Decorativa. Relevo Ornamental. Método alternativo de
Restauro. Consolidação de Relevos.
9
ABSTRACT
SANTOS, Veronica Coffy Bilhalba dos. Decorações em relevos em pastiglio:
análise de uma nova técnica de restauro. 2011. 111 pgs. Monografia (Graduação) –
Curso de Bacharelado em Conservação e Restauro da Universidade Federal de
Pelotas, Pelotas, RS.
This work advocates an alternative technique for intervention in decorative reliefs in
pastiglio (mix of adhesive plaster and additives) exposed to high relative humidity, to
simplify the consolidation serving the ethical premises of the profession. It takes a
basis the conventional paste of the practical literature of Conservation to compose a
substance based on sotille PVA/plaster, and adopts the process of preparation coming
from the folk crafts – of the cold porcelain. It is applied to non-ionizing electromagnetic
radiation (domestic microwave) to manipulate the consolidant by dehydration, making it
denser (mass), flexible and favorable to point application. It explains the problematic of
the conventional paste and the preparation of a new formula, which is called pastiglio
polivinilico. The new and the conventional material were compared through practical
tests – analysis by sampling and application – were is demonstrated that pastiglio
polivinilico carries out the purposes of consolidation, offering better esthetical results, of
reversibility and utilization, and a lower risk to the object, to the conservator and the
environment.
Keywords: Pastiglio. Decorative art. Ornamental Relief. Alternative Restore Method.
Relief Consolidation.
10
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Moldura da pintura “Barão dos Três Serros”. .............................................................. 21
Figura 2: Detalhe do relevo da fig. 1 - risco de desmantelamento do ornamento. ..................... 22
Figura 3: Moldura da pintura “Baronesa de Arroio”..................................................................... 22
Figura 4: Detalhe do relevo da fig. 3 - danos de risco de desmantelamento do ornamento. ..... 23
Figura 5: Detalhe da fig. 1 - aparência da estrutura do relevo e sua patologia. ......................... 23
Figura 6: Detalhe da fig. 1 – padrão decorativo do relevo. ......................................................... 23
Figura 7: Relevo ornamental pré-moldado de gravura. .............................................................. 25
Figura 8: Detalhe da figuração do relevo da fig. 7. ..................................................................... 25
Figura 9: Relevo ornamental pré-moldado de composição desconhecida. ................................ 25
Figura 10: Detalhe da figuração do relevo da fig. 9. ................................................................... 26
Figura 11: Relevos da moldura da 6ª estação da Via-Sacra: Veronica enxuga o rosto de Cristo.
..................................................................................................................................................... 26
Figura 12: Moldura da foto pintura Retrato do Conselheiro Maciel. ........................................... 27
Figura 13: Detalhe do ornamento da moldura da fig. 12. ........................................................... 27
Figura 14: Acabamento diferenciado escondendo as junções dos vértices. .............................. 27
Figura 15: Relevo em pastiglio - aparência ao microscópio eletrônico de varredura (MEV). ..... 35
Figura 16: Desenho esquemático da estratigrafia do pastiglio - folha de ouro e pastiglio. ........ 35
Figura 17: Degradação do pastiglio - perda. ............................................................................... 36
Figura 18: Degradação do pastiglio - trincas. ............................................................................. 36
Figura 19: Degradação do pastiglio - trincas na pintura, craquelês, faltas e despreendimentos.
..................................................................................................................................................... 36
Figura 20: Degradação do pastiglio - depressões por desgaste, trincas e perdas. .................... 37
Figura 21: Detalhe de moldura da pintura Barão de São Luiz - nivelamento produzido com
estuque rápido. ............................................................................................................................ 39
Figura 22: Molde produzido com alginato. .................................................................................. 40
Figura 23: Averiguação do tamanho da lacuna para o correto corte do elemento reproduzido. 40
Figura 24: Preparação dos elementos reproduzidos – abrasão das laterais. ............................ 40
Figura 25: Detalhe da moldura da fotopintura de Francisco Alves Ribas – diversos pontos a
completar nos seus ornamentos. ................................................................................................ 40
Figura 26: Produção artenal de gesso sotille - massa gessosa posta à decantar em recipiente
plástico de 4l................................................................................................................................ 43
Figura 27: Produção artesanal de gesso sotille - escoamento da água de decantação por
coagem em peneira e voil. .......................................................................................................... 44
Figura 28: Apresentação final das substâncias das misturas pilotos. ........................................ 48
Figura 29: Mistura PVA/sotille úmido. ......................................................................................... 50
Figura 30: Espectro eletromagnético. ......................................................................................... 51
Figura 31: Estado plástico insuficiente – aderência ao refratário. .............................................. 53
Figura 32: Estado plástico ideal – fácil desprendimento do refratário. ....................................... 53
Figura 33: Homogeneidade por sova. ......................................................................................... 53
Figura 34: Demonstração da flexibilidade e elasticidade do produto. ........................................ 53
Figura 35: Preparação do teste de queima. ................................................................................ 54
Figura 36: Desidratação de 2min e retirada da amostra nº 1. .................................................... 54
Figura 37: Desidratação de 4min e retirada da amostra nº 2. .................................................... 54
Figura 38: Desidratação de 6min e retirada da amostra nº 3. .................................................... 54
Figura 39: Desidratação de 8min e retirada da amostra nº 4. .................................................... 54
Figura 40: Desidratação de 10min e retirada da amostra nº 5. .................................................. 54
Figura 41: Desidratação de 12min e retirada da amostra nº 6. .................................................. 54
Figura 42: Desidratação de 14min e retirada da amostra nº 7. .................................................. 54
Figura 43: Corpo de amostras do teste de queima – lado superior. ........................................... 54
Figura 44: Corpo de amostras do teste de queima – lado inferior. ............................................. 54
Figura 45: Reidratação da substância ressecada. ...................................................................... 56
Figura 46: Absorção da água pela mistura. ................................................................................ 56
Figura 47: Homogeneização. ...................................................................................................... 56
Figura 48: Homogeneização. ...................................................................................................... 56
Figura 49: Retorno das propriedades plásticas e adesivas. ....................................................... 56
Figura 50: Pastiglio polivinílico – pasta inicial. ............................................................................ 59
11
Figura 51: Pastiglio polivinílico – desidratação no microondas. ................................................. 59
Figura 52: Pastiglio polivinílico – pontofinal. ............................................................................... 59
Figura 53: Pastiglio polivinílico – sova. ....................................................................................... 59
Figura 54: Pastiglio polivinílico – massa final. ............................................................................. 59
Figura 55: Pastiglio polivinílico – embalagem plástica. ............................................................... 59
Figuras 56: Homogeneização de sólidos: gesso sotille seco e pigmento marrom. .................... 61
Figura 57: Homogeneização de sólidos: gesso sotille seco e purpurina. ................................... 61
Figura 58: Amostras produzidas com a mistura gelatina/sotille.................................................. 62
Figura 59: Amostras gelatina/sotille ainda nos moldes. .............................................................. 62
Figura 60: Desmoldagem amostras de gelatina/sotille – 7 dias. ................................................ 62
Figura 61: Amostras gesso gelatina/sotille embaladas. .............................................................. 64
Figura 62: Porosidade interna das amostras gelatina/sotille. ..................................................... 65
Figura 63: Porosidade interna das amostras gelatina/sotille e pigmento marrom. ..................... 65
Figura 64: Porosidade interna das amostras gelatina/sotille e purpurina. .................................. 65
Figura 65: Comportamento das amostras S1 e S2 após 14 dias embaladas. ........................... 66
Figura 66: Amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo ainda nos moldes................................... 67
Figura 67: Desenforme do corpo de amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo – 7 dias. ......... 67
Figura 68: Amostras PVA Lineco/gesso vivo ainda nos moldes................................................. 67
Figura 69: Desenforme do corpo de amostras PVA Lineco/gesso vivo – 7 dias. ....................... 67
Figura 70: Amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo embaladas. ............................................ 67
Figura 71: Amostras PVA Lineco/gesso vivo embaladas. .......................................................... 67
Figura 72: Porosidade das amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo. ..................................... 70
Figura 73: Porosidade das amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo e pigmento marrom. ..... 70
Figura 74: Porosidade das amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo e purpurina. .................. 70
Figura 75: Porosidade das amostras PVA Lineco/gesso vivo. ................................................... 70
Figura 76: Porosidade das amostras PVA Lineco/gesso vivo e pigmento marrom. ................... 70
Figura 77: Porosidade das amostras PVA Lineco/gesso vivo e purpurina. ................................ 70
Figura 78: Demonstração da aplicação do pastiglio polivinílico nos moldes – porção marrom. 71
Figura 79: pressão para preencher o molde com pastiglio polivinílico – porção dourada. ......... 71
Figura 80: Molde preenchido completamente com pastiglio polivinílico – porção dourada. ...... 71
Figura 81: Amostras de pastiglio polivinílico criados com PVA Cascorez Extra/sotille ainda nos
moldes. ........................................................................................................................................ 71
Figura 82: Moldes separados da estrutura do pastiglio polivinílico PVA Cascorez Extra/sotille. 71
Figura 83: Estruturas de pastiglio polivinílico criados com PVA Cascorez Extra/sotille separadas
dos moldes. ................................................................................................................................. 71
Figura 84: Amostras de pastiglio polivinílico criados com PVA Lineco/sotille ainda nos moldes.
..................................................................................................................................................... 71
Figura 85: Moldes e estruturas de pastiglio polivinílico criados com Lineco/sotille separados. . 71
Figura 86: Amostras de pastiglio polivinílico criadas com Cascorez Extra/sotille embaladas. ... 73
Figura 87: Amostras de pastiglio polivinílico criadas com Lineco/sotille embaladas. ................. 73
Figura 88: Flexibilidade e resistência da amostra de pastiglio polivinílico (Cascorez/sotille) após
7 dias. .......................................................................................................................................... 75
Figura 89: Amostra de pastiglio polivinílico marrom (Cascorez/sotille) – propriedades análogas
a fig.88. ........................................................................................................................................ 75
Figura 90: Amostra de pastiglio polivinílico dourado (Cascorez/sotille) – propriedades análogas
a fig.88. ........................................................................................................................................ 75
Figura 91: Amostras de pastiglio polivinílico (Lineco/sotille) – propriedades análogas a fig.88.75
Figura 92: Amostras de pastiglio polivinílico marrom (Lineco/sotille) – propriedades análogas a
fig.88. ........................................................................................................................................... 75
Figura 93: Amostras de pastiglio polivinílico dourado (Lineco/sotille) – propriedades análogas a
fig.88. ........................................................................................................................................... 75
Figura 94: Moldura-teste, 37,5cm X 42cm X 5cm, séc.XX. ........................................................ 76
Figura 95: Detalhe da fig. 94 – padrão decorativo do relevo. ..................................................... 77
Figura 96: Comparação - pastiglio da moldura-teste e pasta de gesso tradicional. ................... 78
Figura 97: Comparação - pastiglio da moldura-teste e estuque rápido. ..................................... 78
Figura 98: Comparação – pastiglio da moldura-teste e pastiglio polivinílico (massa básica). ... 79
Figura 99: Testes de aplicação do estuque rápido e do pastiglio polivinílico – desenho
esquemático. Fonte: Autora, 01/10/2011. ................................................................................... 80
Figura 100: amostra do lado C da fig. 94 – lado frontal. ............................................................. 81
Figura 101: Verso da fig.100. ...................................................................................................... 81
12
Figura 102: amostra do lado D da fig.94 – lado frontal. .............................................................. 81
Figura 103: Verso da fig.102. ...................................................................................................... 81
Figura 104: Resíduos do preenchimento da amostra C com estuque rápido. ........................... 83
Figura 105: Ausência de resíduos no preenchimento da amostra D com pastiglio polivinílico. . 83
Figura 106: Resultados da reintegração das amostras C e D. ................................................... 83
Figura 107: Verso da fig.106 – exposição da penetrabilidade dos consolidantes. ..................... 84
Figura 108: Reintegração com pastiglio polivinílico preto – método manual. ............................. 85
Figura 109: Hidratação da superfície indicada pela fig.108 com compressa aquosa. ............... 85
Figura 110: Remoção de parte do preenchimento da fig. 108 com auxílio da espátula............. 85
Figura 111: Destaque de parte do preenchimento da fig. 108.................................................... 85
Figura 112: Remoção total do preenchimento indicado pela fig. 108. ........................................ 85
Figura 113: Reintegração com pastiglio polivinílico branco – método manual. .......................... 85
Figura 114: Destaque de parte do preenchimento da fig. 113.................................................... 85
Figura 115: Resultado final da remoção da superfície indicada pela fig. 113. ........................... 85
Figura 116: Aplicação de pastiglio polivinílico branco nos craquelês – execução pontual......... 87
Figura 117: Aplicação do rolete de pastiglio polivinílico preto. ................................................... 88
Figura 118: Moldagem por pressão - preenchimento do local indicado pela fig. 117. ............... 88
Figura 119: Forma imediata após o destaque do molde. ........................................................... 88
Figura 120: Exposição da forma produzida e o molde de silicone. ............................................ 88
Figura 121: Configuração de moldagem por pressão de maior extensão – pastiglio polivinílico
branco. ......................................................................................................................................... 88
Figura 122: Configuração de moldagem por pressão de maior extensão – pastiglio polivinílico
dourado. ...................................................................................................................................... 88
Figura 123: Limpeza dos resíduos da aplicação de pastiglio polivinílico branco com swab úmido
em água....................................................................................................................................... 88
Figura 124: Sujeira e descartes da reintegração com o estuque rápido. ................................... 89
Figura 125: Grandes extensões a preencher com estuque rápido - lado D da moldura. ........... 89
Figura 126: Fixação do elemento formado com camada extra de estuque rápido. .................... 89
Figura 127: Remoção do excesso de estuque rápido com espátula metálica. .......................... 89
Figura 128: Materiais e equipamentos requisitados para a reintegração com estuque rápido lado D da moldura. ...................................................................................................................... 90
Figura 129: Resíduos do estuque de gesso. .............................................................................. 91
Figura 130: Estuque de gesso - formação de relevos de textura irregular (bolhas e rejuntes dos
elementos). .................................................................................................................................. 93
Figura 131: Depressão da reintegração com pastiglio polivinílico preto (ao centro) – visão
lateral externa da moldura. .......................................................................................................... 94
Figura 132: Elevação da reintegração com estuque de gesso (extremidades) – visão lateral
externa da moldura. .................................................................................................................... 94
Figura 133: Pastiglio polivinílico preto - reintegração pictórica de pouco detalhamento. ........... 95
Figura 134: Resultado final do trabalho de consolidação da moldura-teste. .............................. 95
Figura 135: Corte longitudinal no lado C da moldura – amostra C1. .......................................... 96
Figura 136: Corte longitudinal no lado D da moldura – amostra C2. .......................................... 96
13
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Avaliação das proporções da mistura PVA / sotille seco. ........................................... 48
Tabela 2: Identificação das pastas de gelatina/sotille. ................................................................ 63
Tabela 3: Aparência e comportamento das pastas de gelatina/sotille........................................ 63
Tabela 4: Penetrabilidade das pastas e comportamento das amostras gelatina/sotille. ............ 63
Tabela 5: Aparência das amostras gelatina/sotille após a secagem. ......................................... 63
Tabela 6: Variações percebidas nas amostras de gelatina/sotille. ............................................. 63
Tabela 7 - Identificação das pastas de estuque rápido. ............................................................. 68
Tabela 8 - Aparência e comportamento das pastas de estuque rápido. .................................... 68
Tabela 9 – Penetrabilidade das pastas e comportamento das amostras de estuque rápido. .... 68
Tabela 10 - Aparência das amostras de estuque rápido após secagem. ................................... 68
Tabela 11 – Variações percebidas nas amostras de estuque rápido. ........................................ 69
Tabela 12: Identificação das massas de pastiglio polivinílico. .................................................... 72
Tabela 13: Aparência e comportamento das massas de pastiglio polivinílico. ........................... 72
Tabela 14: Penetrabilidade e comportamento das massas de pastiglio polivinílico. .................. 72
Tabela 15: Aparência das amostras de pastiglio polivinílico após a secagem. .......................... 72
Tabela 16: Variações percebidas nas amostras de pastiglio polivinílico. ................................... 73
Tabela 17: Peso e dimensões das amostras da fig.94. .............................................................. 81
14
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
Acetato de Polivinilo - PVA
Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores - ABRACOR
Universidade Federal de Pelotas - UFPel
Universidade Federal de Pernambuco – UFPE
Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ
Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS
15
SUMÁRIO
RESUMO ...................................................................................................................... 8
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 16
CAPÍTULO 1 – MOTIVAÇÃO DE ESTUDO ............................................................... 20
1.1
1.2
Restauro de obras do acervo pelotense ......................................................... 20
As Inquietações Acadêmicas ......................................................................... 29
CAPÍTULO 2 – ARTE DECORATIVA EM PASTIGLIO .............................................. 31
2.1
2.2
2.3
2.4
2.5
Historiografia da técnica e provável composição ........................................... 31
Estratigrafia do pastiglio ................................................................................. 33
Degradação do pastiglio ................................................................................ 35
Estabilização do pastiglio ............................................................................... 37
Materiais utilizados nas pastas de preenchimento convencionais .................. 40
CAPÍTULO 3 – O PASTIGLIO POLIVINÍLICO ........................................................... 46
3.1 Definição da quantidade dos ingredientes...................................................... 47
3.2 Estudo do efeito da radiação por ondas eletromagnéticas oriundas de um
forno de microondas ................................................................................................ 50
3.3 A receita final ................................................................................................. 57
CAPÍTULO 4 – PASTAS CONVENCIONAIS E PASTIGLIO POLIVINÍLICO: ANÁLISE
COMPARATIVA DE AMOSTRAS A PARTIR DE APLICAÇÃO EM MOLDURA DO
SÉC. XX ..................................................................................................................... 60
4.1 Amostragem produzida através do método pasta de gesso ........................... 61
4.2 Resultados da análise das amostras de pasta de gesso ................................ 64
4.3 Amostragem produzida através do método estuque rápido............................ 66
4.4 Resultados da análise das amostras de estuque rápido ................................ 69
4.5 Amostragem produzida através do pastiglio polivinílico ................................. 70
4.6 Resultados da análise das amostras de pastiglio polivinílico.......................... 73
4.7 Moldura do séc. XX: análise comparativa dos consolidantes estuque rápido e
pastiglio polivinílico .................................................................................................. 75
CONCLUSÃO............................................................................................................. 98
REFERÊNCIAS ........................................................................................................ 102
APÊNDICES ............................................................................................................. 104
ANEXOS .................................................................................................................. 109
16
INTRODUÇÃO
O tema central deste estudo está ancorado na discussão que aborda a difícil
sustentabilidade das intervenções do restauro no Brasil. A contemporaneidade do
tema se confirma em sua recorrência em fóruns de discussão das áreas da
Conservação-Restauração,
da
Gestão
Patrimonial1
e
por
estar
diretamente
relacionado com os preceitos éticos da profissão.
A questão parece se apresentar mais objetivamente entre o início e meados
do séc.XX, tendo como marcos as publicações O culto moderno aos monumentos
(RIEGL, 1903, apud MUÑOZ-VIÑAS, 2004) e a Teoria da Restauração (BRANDI,
2004, apud MUÑOZ-VIÑAS, 2004). Segundo MUÑOZ-VIÑAS (2004), as teorias
clássicas estabeleceram os preceitos e princípios2 da Restauração moderna, lhes
circunscrevendo em valores históricos e artísticos, que acabaram por desencadear
reflexões acerca das necessidades e responsabilidades da atividade do conservadorrestaurador. Ao final do milênio, os pesquisadores da área defenderam a investigação
científica da materialidade dos objetos e da degradação como único meio de alcançar
soluções seguras dentro da corrente brandiana. A abordagem, entretanto, assumiu
uma postura exagerada e complexa ao restringir a práxis do restaurador a uma
mínima intervenção de poucas opções de materiais e técnicas. Ultimamente, a
Restauração Científica é alvo de críticas que questionam os reais resultados que
oferece e a amplitude atinge, uma vez que a proposta multidisciplinar é de alto custo,
não sendo aplicável na maioria dos casos em que é imprescindível.
MUÑOZ VIÑAS (2004) fundamenta estas críticas e organiza a ideologia
mundial vigente, que estava dispersa no pensamento de inúmeros profissionais
ligados à área patrimonial. Para este autor, a justificativa de uma restauração é
subjetiva e, mesmo que os princípios brandianos permaneçam importantes estão
relativizados no conceito de sustentabilidade3. Por isto, segundo o mesmo autor, a
1
Eventos organizados principalmente pelas Associações de Classe e Órgãos Governamentais. A
Associação Brasileira de Conservadores e Restauradores (ABRACOR) disponibiliza os anais dos seus
congressos pelo site: http://www.abracor.com.br/novosite/
2
Publicados em BRANDI (2004). São: compatibilidade e reversibilidade de materiais e a distinguibilidade
da intervenção.
3
O argumento não deve ser confundido com banalização, mas estimular a reflexão sobre as questões
orçamentárias que envolvem os temas de conservação e restauro (espaço, infra-estrutura, materiais,
equipamentos, por exemplo), prazos diferenciados para todas as atividades desenvolvidas (considerando
as mais variadas tipologias de bens) e/ou problemas de qualificação no quadro funcional. No termo
sustentabilidade está também subentendida a responsabilidade dos agentes envolvidos com a guarda
patrimonial, no sentido de que devem refletir sobre as influências das ações de hoje nos valores
patrimoniais futuros.
17
restauração do séc. XXI se centra na qualificação sujeito4, em oposição à prática do
séc. XX que impunha o restabelecimento do objeto como única preocupação.
No Brasil, a discussão foi intensificada após o surgimento das Políticas
Públicas de Preservação Patrimonial, que desconsideraram a difícil sustentabilidade
do Restauro Científico. A legislação do tema estabeleceu uma problemática à
atividade da restauração que ainda persiste: as preferências estéticas da atualidade
avalizaram o restabelecimento estrutural dos objetos, enquanto as insuficiências da
guarda institucional brasileira5 não foram solucionadas, o que não garante
procedimentos seguros a longo prazo. Visando limitar práticas empíricas, o Código de
Ética Profissional6 propôs a pesquisa em procedimentos pautados por respeito à
originalidade, sustentabilidade e biossegurança.
Estas reflexões foram fomentadas no curso de Bacharelado em Conservação
e Restauro de Bens Culturais Móveis da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e
favoreceram a construção de uma postura crítica entre os discentes. As inquietações
avançaram para o campo metodológico quando as características climáticas da região
de Pelotas puseram a prova o tradicionalismo da literatura prática. Neste quesito, entre
tantos questionamentos acerca do intervencionismo, o mais reincidente nas práticas
acadêmicas foi: como proporcionar longevidade aos procedimentos pré-indicados de
uma limitada e rara bibliografia?
Em resposta a esta questão, foi ato recorrente a adaptação das fórmulas
descritas, em respeito à originalidade de cada objeto e de seu estado de conservação.
A ação é lícita: refere-se ao bom senso e criatividade do sujeito – capacidades que
são atualmente buscadas no perfil do restaurador (KÜLL, 2009). Entretanto, a opção
nem sempre se alia a todos os preceitos éticos, sendo esta incongruência sensível em
um dos exercícios mais habituais nas classes práticas: no método de estabilização7 de
lacunas em ornamentação aplicada à base de gesso – o pastiglio8. Esta manifestação
artística tem composição variada, mas no Brasil não existem pesquisas detalhadas a
seu respeito, já que geralmente a atenção maior é direcionada para o douramento e
capa pictórica superficial.
4
Na capacidade de eleger dentre tantas opções possíveis de procedimentos de restauro aqueles mais
seguros para o próprio agente e que, ajustados aos recursos orçamentários disponíveis, também
satisfaçam de uma maneira mais ampla o ideologismo preservacionista da comunidade patrimonial. O
restabelecimento do objeto deve ser desenvolvido sem muita alteração material e simbólica.
5
Principalmente de verbas, infra-estrutura, pessoal qualificado e de fiscalização (FRONER, 1995).
6
Disponível em: <http://www.aber.org.br/pdfs/Codigo_de_etica_v2.pdf>, acessado em 08/08/2011.
7
Envolve importantes passos: fixação de partes soltas por adesivo, preenchimento de gretas profundas,
nivelamento da estrutura e recomposição de partes faltantes.
8
O termo pastiglio parece ser de origem italiana. Os relevos em pastiglio foram originados no séc. XII e, a
partir de então são recorrentes na Arte Decorativa Aplicada. Geralmente, servem de base de douramento
e policromia de peças de alto valor cultural, tais como retábulos e imaginária sacra (LÓPEZ, 2009).
18
O único tratamento de estabilização dos pastiglio previsto pela literatura da
Conservação que se teve acesso - de mínima intervenção - considera um tipo de
estuque clássico composto de gesso apagado e adesivo orgânico natural - método
oriundo das artes mecânicas renascentistas e que foi reproduzido pelos artistas do
período colonial brasileiro (MEDEIROS, 1999). A substância não garante a
estabilidade9 da intervenção a longo prazo para adornos à pastiglio de composição
complexa e/ou expostos em climas úmidos e instáveis. Em vista disso, durante
algumas práticas acadêmicas foi comum o emprego do estuque rápido - preparado
composto de gesso vivo e PVA, fácil, instantâneo e que sugere maior resistência a
instabilidade climática de Pelotas. As vantagens do estuque rápido, porém, não
coibiram as críticas da classe acadêmica do qual se fez parte, principalmente pelo
comportamento inconveniente do material, que complica o desenvolvimento do
trabalho e não garante de todo a estética da intervenção.
Em vista disso, se propôs uma nova adaptação, buscando conformidade com
todos os pontos reflexivos estudados (teóricos e práticos). A solução proposta foi
simples: sugeriu-se estudar uma associação das receitas convencionais10, compondo
uma fórmula cuja consistência fosse manipulada por desidratação (ao contrário das
receitas admitidas hoje, que ajustam a plasticidade pelo acréscimo de sólidos à
solução adesiva). Desejava-se compor um material mais plástico, adesivo e flexível,
que estabilizasse os pastigli modernos expostos em ambiente adverso com facilidades
na aplicação e acabamento, melhores resultados estéticos e menores riscos. Sem
referências bibliográficas para o intento, o processo foi buscado na artesania popular –
na técnica de la porcelana fría11 - trazendo para a cozinha da restauração, de forma
inédita, o forno de microondas doméstico. O equipamento possibilitou compor uma
massa mais densa, sem causar prejuízo às propriedades consolidantes da mistura.
Em nova apresentação, a substância passou a ser denominada pastiglio polivinílico12,
do qual neste momento se apresenta como método alternativo para estabilização e
reintegração de pastigli. O fabrico alternativo e simples, que reúne práticas populares,
facilidades tecnológicas de nossa era e os fundamentos teórico-práticos, serve de
exemplo e estímulo para que a pesquisa da área se desenvolva de modo criativo e
9
Pelo colóide orgânico da mistura, que é frágil e suscetível a biodegradação (SCICOLONE, 2002).
Cumprindo o requisito de ser produtos aceitos pela bibliografia da Conservação e similaridade de
composição das receitas convencionais: gesso sotille, da receita clássica, e PVA, do estuque rápido.
11
A porcelana fria (ou biscuit) é uma massa plástica de modelagem, cujos ingredientes são: amido, PVA,
vaselina e ácido acético. A mistura é submetida ao cozimento controlado em microondas doméstico. O
conhecimento da técnica se adquiriu em meados da década de 1990, tendo sido fonte de sustento e
pesquisa por mais de 10 anos.
12
Batismo da idealizadora do método - Veronica Coffy Bilhalba dos Santos.
10
19
sem ônus orçamentário, atendendo as necessidades técnicas e os pressupostos
éticos da profissão de restaurador.
Após refletir sobre a literatura multidisciplinar que fundamentou a necessidade
desta nova fórmula e avalizou o método de preparo, se propôs um ensaio analítico,
para expor as propriedades do novo material em comparação às substâncias
convencionais; e outro experimental, para demonstrar as vantagens do produto – em
relação ao estuque rápido - na aplicação sobre uma moldura em pastiglio (peça nãoinstitucional com danos de diversos níveis). As particularidades de cada receita,
propriedades das substâncias preparadas e o comportamento das estruturas após a
secagem foram destacadas, registradas13 e puderam ser analisadas nas suas
vantagens e desvantagens. O estudo se desenvolveu com uma mínima infra-estrutura,
simulando o futuro trabalho profissional, onde, provavelmente, não se terão
disponíveis o espaço e os recursos existentes no laboratório de conservação. O
objetivo é destacar que o pastilho polivinílico cumpre a função a que se destina e
fornece evidências de seus benefícios com o mínimo de infra-estrutura e aparelhagem.
O presente trabalho se estrutura em quatro capítulos: no primeiro, apresentase o relevo à pastiglio que motivou este estudo; no segundo, a revisão bibliográfica
sobre a técnica de ornamentação, sua degradação e os métodos convencionais de
estabilização, expondo suas inconveniências; no terceiro, empenha-se em explicar a
idealização e a preparação do novo consolidante, bem como se apresenta os testes
preliminares que avalizaram sua praticidade e eficácia; no quarto, compara-se a pasta
tradicional, o estuque rápido e o pastiglio polivinílico, refletindo sobre o comportamento
das substâncias antes e depois de sua secagem, assim como também se demonstra a
aplicação da nova massa de consolidação e do estuque rápido, comparando seus
resultados práticos e estéticos. Como conclusão, avalia-se o trabalho desenvolvido e
se comenta o experimento prático, enfatizando as vantagens do pastiglio polivinílico na
estabilização de relevos à pastiglio.
13
Através de fotografias e planilhas.
20
CAPÍTULO 1 – MOTIVAÇÃO DE ESTUDO
A motivação deste trabalho foi pautada no interesse em obter soluções
adequadas para o restauro de obras existentes nos museus de Pelotas e também pela
inquietude acadêmica gerada no decorrer do curso de Conservação e Restauro de
Bens Movéis.
1.1 Restauro de obras do acervo pelotense
De acordo com Estrella Arcos Von Haartman (1992), as soluções de
restauração não são universais, mas definidas pela originalidade do objeto e seu
ambiente de exposição, principalmente quando os artefatos são carentes de
informação. A metodologia sugerida pela autora explora uma reflexão ampla que
envolve a pesquisa histórica e a análise da materialidade do objeto, além da
compreensão do espaço em que este se encontra e/ou estará após a intervenção para
elencar técnicas de trabalho seguras e eficazes de restauração.
Este raciocínio investigativo foi aplicado neste trabalho para encontrar um
meio adequado para estabilizar os relevos ornamentais de duas molduras de técnica
desconhecida, pertencentes ao acervo mobiliário do Museu Municipal Parque da
Baronesa14, Pelotas/RS. Como se pode observar nas figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6 o estágio
avançado de degradação das peças15 determinava um prognóstico intervencionista,
para devolver sua função estética em complementação de uma obra visual (JUSTICIA,
2008).
As figuras 5 e 6 apresentam em detalhe a descrição da aparência física do
relevo e da patologia na moldura da figura 1, partindo de uma análise organoléptica16.
Descrição: aplicação sobre a base de preparação da madeira, supostamente
produzida por pré-moldagem e composta de uma estrutura de cor amarelada, rígida,
lisa, de pouca porosidade, que se assemelha ao acabamento polido da cerâmica. A
patologia, de uma maneira geral, compromete a estabilidade e estética da decoração:
14
O Museu Municipal Parque da Baronesa está localizado no centro urbano de Pelotas/RS e foi
inaugurado em 1982. A sede institucional é um prédio histórico, doado ao município em 1978 e tombado
pelo Patrimônio Histórico Municipal em 1985. O acervo contém peças das coleções de pinturas, têxteis,
mobiliário, objetos decorativos e utilitários que doados pela família Antunes Maciel, de Adail Bento Costa,
pela Sra. Antonia Sampaio e pela comunidade, representando costumes do século XIX e XX. Informações
disponíveis em: Fonte: http://www.museudabaronesa.com.br/, disponível em 01/04/2011.
15
Peças com informações genéricas na ficha institucional. Os exemplares eram muito semelhantes e
foram restauradas no primeiro semestre de 2011, dentro da disciplina prática de Restauro de Pinturas II,
ministrada pela Profª. Ms. Andréa Lacerda Bachetinni, envolvendo quatro discentes: Consulelo Vaz Robe,
Karen Valleda Caldas, Ricardo Jaekel dos Santos e Veronica Coffy Bilhalba dos Santos.
16
Análise que utiliza como instrumentos os cinco sentidos. Neste caso, a análise requisitou a
visão e o tato para definir as características do relevo em estudo.
21
repintura geral17, craquelês de estágio avançado, desprendimento de partes e lacunas
de pequenas e médias dimensões. As características apresentadas sugerem uma
composição
ção complexa, de substrato adesivo, cujo envelhecimento prejudicou a coesão
dos materiais compositivos. A espessura varia de 0,5cm X 1,5cm e se desenvolve em
favor do padrão decorativo da flor-de-liz
flor
e pequenas perólas.
Figura 1:: Moldura da pintura “Barão dos Três Serros”.
Serros” Relevo ornamental pré-moldado,
pré
repintura sobre douramento (76,5cmX67cm
76,5cmX67cm); séc. XX. Localização: Museu Municipal Parque da
Baronesa, Pelotas/RS. Fonte: Autora, 21/04/2011.
17
Acima de uma camada que provavelmente era douramento original.
22
Figura 2: Detalhe do relevo da fig. 1 - risco de desmantelamento do ornamento. Fonte: Autora,
21/04/2011.
Figura 3:: Moldura da pintura “Baronesa
“
de Arroio”. Relevo ornamental pré-mol
moldado, repintura
sobre douramento (67X78cm); séc. XX. Localização: Museu
u Municipal Parque da Baronesa,
Pelotas/RS. Fonte: Karen Caldas, 2011.
23
Figura 4: Detalhe do relevo da fig. 3 - danos
anos de risco de desmantelamento do ornamento.
Fonte: Karen Caldas, 2011.
Figura 5: Detalhe da fig. 1 - aparência da estrutura do relevo e sua patologia. Fonte: Autora, 21/04/2011.
Figura 6: Detalhe da fig. 1 – padrão decorativo do relevo. Fonte: Autora, 21/04/2011.
24
A análise do relevo indicou que os métodos de estabilização já conhecidos –
à base de gesso e solução adesiva - não sustentariam a intervenção a longo tempo
por falta de compatibilidade física e pela instabilidade da região de Pelotas, que
apresenta-se com “clima subtropical úmido, sem estação seca, temperatura média
anual de 17,5ºC, precipitação pluvial de 1,395mm e índice de umidade relativa do ar
médio de 80%, podendo chegar a 85%” (TAVARES, 2006). Desta forma, considerando
o evidente risco de desmantelamento daqueles relevos, precisava-se idealizar um
projeto de restauro alternativo, especialmente desenvolvido para o caso em questão.
Aproveitou-se a supervisão do Profª. Ms. Andréa L. Bachetinni e a reflexão conjunta
com os colegas para avaliar as peculiaridades do trabalho em gesso concorrendo com
o restauro de outras tipologias de objetos, sobretudo em condições modestas18.
Esforçava-se, portanto, em buscar as exigências técnicas e os preceitos éticos de uma
maneira mais interpessoal, sem riscos de alavancar apenas opiniões particulares.
Para estender a discussão e iniciar a pesquisa historiográfica do objeto, se
fez a visitação a alguns acervos públicos municipais a procura de peças semelhantes.
A intenção era perceber o valor simbólico das peças em questão, dentro do contexto
municipal. As figuras de 7 a 14 expõem parte do escopo encontrado que visualmente
se aproximam com a patologia e aparência descritas para as molduras do Museu da
Baronesa. Foi possível perceber que algumas figurações artísticas se repetiam de
algum modo, tal como demonstram as figuras de 8 a 13; outras, porém, destacavamse na originalidade e cuidado no acabamento, como as figuras de 11 a 14. Além disto,
dois outros pontos importantes se destacaram: i) muitos dos exemplares
acompanhavam obras datadas entre o final do século XIX e início do XX; ii) a
ornamentação replicada sugeria uma produção semi-industrial19.
18
Na ocasião do estágio obrigatório (março-setembro de 2011), que cumpriu-se junto a mesmo Museu, foi
possível perceber que, mesmo com toda a visão preservacionista da gestão atual – ao encargo de
Annelise Montone – e o esforço de colegas e professores da área da Museologia (ZITZKE, 2010), haviam
certas desarmonias com a ideologia vigente da restauração, tal como, por exemplo, carência de espaço
próprio para intervenções de restauro e falta de exaustores. Outras molduras que seriam restauradas in
loco durante o período de estágio obrigatório. O trabalho de restauração se desenvolveria no mesmo
espaço destinado à conservação e documentação (escritório), fazendo com que as demandas de trabalho
se auto-influenciassem negativamente. Futuramente, em ateliê próprio, várias deliberações serão
desenvolvidas concomitantemente em espaço bem restrito e é possível prever restaurações de diversos
níveis de dificuldades, onde, certamente, haverá paralisação do trabalho em estágios distintos e que a
suspensão do pó de gesso pode contaminar. Na prática disciplinar, a estabilização de relevos decorativos
concorria com o restauro de pinturas sobre tela.
19
A maioria das molduras analisadas permite considerar que os pastigli foram desenvolvidos
primeiramente nas ripas, que posteriormente seriam cortadas por marceneiros ou lojas especializadas em
confeccionar molduras.
25
Figura 7: Relevo ornamental pré-moldado
pré moldado de gravura. Similaridade de constituição com o
relevo da fig.1; pátina sobre douramento; séc. XX. Figura 8:: Detalhe da figuração do relevo da
fig. 7. Sinalização indica semelhança com a fig. 13.
13 Localização:: Acervo da Biblioteca Pública
Municipal de Pelotas/RS. Fonte: Autora, 25/05/2011.
Figura 9:: Relevo ornamental pré-moldado
pré moldado de composição desconhecida. Similaridade de
constituição
tituição com o relevo da fig.1; pátina sobre douramento; séc. XIX. Fonte: Autora, 25/05/2011.
26
Figura 10: Detalhe da figuração do relevo da fig. 9. Localização:: Acervo da Biblioteca Pública
Municipal de Pelotas/RS. Fonte: Autora, 25/05/2011.
Figura 11:: Relevos da moldura da 6ª estação da Via-Sacra:
Via Sacra: Veronica enxuga o rosto de Cristo.
Representa um conjunto de 12 molduras idênticas com relevos de composição similar aos da
fig. 1; douramento mate; séc. XIX.
XIX As sinalizações indicam acabamentos diferenciados em
localizações estratégicas. Localização: Catedral de São Francisco de Paula. Fonte: Autora,
26/05/2011.
27
Figura 12: Moldura da foto pintura Retrato do Conselheiro Maciel. Relevo ornamental prémoldado, constituição similar ao relevo da fig.1; 91cmX81cm; repintura sobre pátina e
douramento; séc. XX. Figura 13: Detalhe do ornamento da moldura da fig. 12. A sinalização
indica semelhança com o adorno da fig. 8. Figura 14: Acabamento diferenciado escondendo as
junções dos vértices. Localização: Acervo do Museu Municipal Parque da Baronesa. Fonte:
Autora, 07/05/2011.
Segundo os historiadores Mario Osório Magalhães (1993) e Heloísa
Assumpção Nascimento (1993), a cultura artística pelotense se consolida no início do
séc. XX, quando os lucros da produção saladeril ainda sustentavam as viagens à
Europa e a importação de “mobiliário e objetos de adorno doméstico da mais refinada
arte, bem como telas e estatuetas de artistas de renome” (NASCIMENTO, 1993). Com
esta informação, pode-se supor que os exemplares pertencentes ao acervo do Museu
Municipal Parque da Baronesa são remascentes da depressão que se instala no
município durante a Segunda Guerra Mundial, quando o mobiliário artístico luxuoso
28
importado foi posto à venda20. Por outro lado, pelo caráter simplório do objeto, ele
pode também ser reflexo de um aprendizado desenvolvido na Escola Technico
Profissional de Pelotas durante o período da década de 1930-194021 e, por isto
mesmo tem certa relevância dentro de um contexto municipal, uma vez que a
educação tecnicista teve um lugar de destaque no Brasil do séc. XX22.
Os exemplares usados como estudo – as duas molduras do Museu da
Baronesa - e o locus que abriga as peças puseram à prova o tradicionalismo da
literatura prática, na medida em que não havia conhecimento da técnica construtiva do
relevo e tampouco se comporia dados científicos à tempo do planejamento do
trabalho23. Percebeu-se que o método de estabilização de relevos ornamentais estava
calcado em práticas do séc. XVIII, sugerindo um tratado genérico que desconsiderava
técnicas artísticas evoluídas e recentes. Além disto, a rara bibliografia prática não
propõe alternativas para regiões de climas instáveis, os quais a cidade de Pelotas
apresenta.
Geralmente, esta característica climática particular já justifica recursos mais
intrusivos (SCICOLONE, 2002), senão impõe adaptações das receitas de intervenção,
na tentativa de proporcionar longevidade aos métodos de restauração24. Tais
dificuldades também poderiam justificar uma postura inoperante25, mas tomaram corpo
em raciocínio investigativo na procura de uma solução pontual, apropriada para os
relevos pelotenses e estável na alta umidade relativa da cidade. A atitude se
estabelece como uma experiência que interessa compartilhar e registrar neste
momento, na medida em faz uma reflexão que reúne pontos relativos à ideologia
vigente, à prática, à ética e a realidade deste núcleo urbano e do acervo que lhe
identifica.
20
Refere-se a menções de leilões públicos no jornal A Opinião Pública dos anos de 1944 e 1945.
Documentação levantada pela autora em pesquisa arquivística referente aos Projetos de Pesquisa
Fingimento em Estuque - A imitação de pedras e de motivos ornamentais nos acabamentos do casario
histórico de Pelotas/RS-Brasil – orientação do Dr. Pedro Luís Machado Sanches – e Estuques Lustrados
com Fingimento de Pedras e Ornatos no Casario Histórico de Pelotas: Levantamento Sistemático e
análise preliminar – orientação da Ms. Daniele B. da Fonseca.
21
Desde 1917 o município se articulava para fundar sua Escola de Artes e Officios, tendo um objetivo
assistencialista a classes mais pobres, entretanto as aulas iniciaram somente em 1930, quando a
Intendência Municipal assume a instituição. Os cursos ensinavam os ofícios de: Madeira, Metal, Artes
Construtivas e Decorativas, Trabalho de couro e Eletro-Chimica. O Instituto Profissional Técnico funcionou
até a década de 1940, quando o prédio foi destruído por ocasião de um sinistro. Disponível em
<http://www.ifsul.edu.br/site/ >, acessado em 20/10/2011.
22
Instruía os ofícios necessários para a indústria ao mesmo tempo em que padronizava o gosto dos
indivíduos para responder ao consumo industrial (LIMA, 2001).
23
Não havia previsão de quando, como ou se as análises científicas aconteceriam.
24
Há pesquisas que comprovam que durabilidade eterna da intervenção é ingenuidade, mas se tenta
padronizar o senso dos profissionais na busca de métodos mais estáveis a longo prazo, instruindo uma
série de noções provenientes da Química, Física e Biologia (MUÑOZ-VIÑAS, 2004, p. 107-115).
25
Procedimentos extremos, instáveis a curto prazo e que causem suspeitas em compatibilidade química e
física não se justificam e, neste caso, se defende a inoperância (SHÄFER, 2006).
29
1.2 As Inquietações Acadêmicas
Visando uma restauração de maior longevidade aos relevos (à base de
gesso) de objetos decorativos danificados e sujeitos ao clima pelotense, foi instruído
nas classes práticas do Curso de Conservação e Restauro/UFPel o uso do estuque
rápido na recomposição dos ornamentos. O preparado é simples, fácil e instantâneo,
composto apenas de gesso vivo e mistura aquosa de PVA. Na prática, entretanto, os
argumentos de simples composição e preparação, estabilidade e instantaneidade do
estuque rápido não convenceram a maioria dos discentes da classe de Conservação e
Restauro que ingressou em 2008 na UFPel. O fato da plasticidade da mistura se
ajustar com o controle de gesso vivo torna o procedimento complexo: no estado semilíquido a substância não mantém estabilidade para aplicação manual (escorre e
avança além da lacuna); no estado pastoso, reage rápido e inviabiliza correções
manuais.
O método de acréscimo de sólidos agiliza as fases de transição da matéria,
característica que exige um conhecimento do tempo de precipitação26 do produto para
poder calcular a quantidade do preparado e não haver desperdício de material27. Nos
estados líquido ou pastoso é quase obrigatório uma pré-moldagem de elementos para
reproduzir com fidelidade a configuração original, mas impõe a posterior subtração de
material para haver ajuste à lacuna e nivelação da superfície. Mesmo que este
trabalho seja cuidadoso, nem sempre alcançam as expectativas estéticas: uma
provável abrasão local pode danificar o original, e o material subtraído em excesso
implica no reinício do trabalho para correção.
Além destas reflexões de caráter prático e estético, outros questionamentos
tiveram lugar quando se estuda os materiais empregados nos métodos de
restauração, assunto também amplamente abordado e discutido em aulas práticas e
teóricas28. À respeito do uso do estuque rápido na recomposição de relevos
decorativos, faz-se necessário observar o seguinte:
a)
O uso de gesso vivo implica em inúmeras misturas para grandes
completamentos, sendo que a indefinição da medida de solutos além de prejudicar a
26
Formação de um sólido por reação química.
Em geral, o estuque rápido exibe plasticidade durante 10min e, após esse tempo, não pode ser
reaproveitado. Neste caso, os resíduos serão descartados, nem sempre com o tratamento adequado
apregoado para produtos químicos, já que culturalmente ainda há um desconhecimento do prejuízo que
causa ao meio-ambiente.
28
Química Aplicada a Conservação e Restauro, na época disciplina ministrada pelo Prof. Rodrigo Torres;
Materiais e Técnicas de Conservação, Conservação I e II, Conservação e Restauro de Pinturas I e II,
disciplinas ministradas pela Ms. Andréa Bachettini, Métodos de restauração I e II, disciplinas ministradas
pela Ms. Daniele Fonseca.
27
30
uniformidade da intervenção provoca suspeitas: resulta em diversos níveis de
porosidade, que a curto prazo poderia danificar a própria intervenção (pulverização,
craquelês, trincas, solturas, etc.).
b)
A pasta de gesso é uma massa com alta concentração de sólidos e
pouco adesivo, ao contrário do substrato deste estudo29, e por isto não existe
compatibilidade física entre o material original e aquele utilizado na intervenção.
Lembra-se: Quando há instabilidade climática, as diferenças químicas e físicas entre
os materiais não só danificam a intervenção como potencializam os danos ao original
(PASCUAL, 2002).
c)
Considerando a responsabilidade profissional e social do restaurador,
cita-se ainda que o trabalho com gesso vivo provoca resíduos e descartes que, em
uma ação massiva polui o meio ambiente. Além disso, o pó de gesso é volátil e tem
fácil aderência às superfícies, característica que causa bastante sujeira e complica
demandas simultâneas e/ou distintas de trabalho, principalmente em locais sem
exaustores e ventilação30.
29
Que provavelmente contém óleos e ceras para auxiliar na plasticidade e densidade do preparado.
Lembrando que geralmente o restaurador se ocupa de diversas tipologias de bens ao mesmo tempo,
que não raro se encontram em níveis diferentes de trabalho e que podem ser contaminadas pelo pós de
gesso em suspensão.
30
31
CAPÍTULO 2 – ARTE DECORATIVA EM PASTIGLIO
2.1 Historiografia da técnica e provável composição
Com vagas informações sobre o objeto e sem pontos que levassem a
identificação da técnica, restava seguir como pista principal a arte do douramento
sobre madeira, na intenção de encontrar a nomenclatura da arte decorativa em
questão, refletindo também sobre a patologia para escolher um método seguro de
intervenção. Necessário ressaltar que, como sugere a descrição citada na seção 1.1
evidentemente, a composição do relevo não era à base de gesso/água e, se ali,
naquela mistura, o gesso estava presente, havia também aditivos de coloração. Por
outro lado, a cor da substância deixava em suspenso a presença de gesso crè31, ao
invés de gesso comum.
Inicialmente, procurou-se referências na literatura brasileira da Conservação,
onde se encontrou apenas uma menção de relevos de características aproximadas
(MEDEIROS, 1999)32. A descrição considera peças importantes do Barroco Nacional
(séc.XVIII) e trata o relevo como um tema secundário, haja vista que o foco principal
daquele estudo era a estabilização da policromia e da folha de ouro:
O pastiglio é a utilização do relevo na formação de desenhos
decorativos. Sua aplicação pode ser encontrada em várias áreas,
sendo mais comum na decoração dos barrados das vestimentas. Esse
relevo é realizado no nível da base de preparação: após o nivelamento
do gesso fino, esse mesmo gesso é aplicado de forma mais líquida,
nas áreas em que se quer formar um relevo. (MEDEIROS, 1999, p.
48-49)
Dando credibilidade a pista do verbete pastiglio33, seguiu-se a pesquisa nesta
direção junto à bibliografia espanhola – particularmente ligada à arte do douramento
policromado. A busca de referências que abordassem o tema mais profundamente
teve o objetivo elucidar a origem e a evolução da técnica, e informações de possíveis
composições e patologia, talvez encontrando uma solução intervencionista aplicável
nas circunstâncias de trabalho ao qual se estava sujeito. Nenhuma fonte forneceu
31
95% de carbonato de cálcio.
Logo depois, se fez uma busca na internet pelo nome da pesquisadora para acessar sua tese de
mestrado Tecnologia de acabamento de douramento em esculturas em madeira policromada no período
barroco e rococó em minas Gerais: estudo de um grupo de técnicas (MEDEIROS, 1999).
33
Conforme a informação fornecida pela historiadora Profª. Dra. Myriam Andrade Ribeiro de Oliveira
(UFRJ), referência no estudo da escultura religiosa do período colonial brasileiro e consultora do IPHAN,
em palestras no Instituto de Artes/UFRGS (OLIVEIRA, 2011): na História da Arte Brasileira, os pastigli
podem estar presentes nos estilismos a partir do Barroco (do que se inclui peças da arte missioneira e o
mobiliário artístico), por importação de artefatos europeus ou pelo aprendizado das técnicas artísticas.
32
32
descritivo físico dos relevos em pastiglio e, deste modo, a atribuição da técnica fica por
conta da produção e da patologia.
Segundo a especialista em Conservação e Restauração e Doutora em Belas
Artes, Ainhoa Rodríguez López (2009)34, existem poucos estudos sobre a evolução
das manifestações decorativas desenvolvidas a partir de empastes35, o que causa
certa confusão na nomenclatura de técnicas ornamentais distintas. A autora afirma
que a origem do pastiglio está ligada a substituição dos aditamentos em placas de
ouro sobre as representações artísticas medievais (séc.VIII-X) como alternativa para
imitar o efeito luxuoso do metal através de uma produção fácil e de baixo custo (entre
o séc. XI ou XII)36. Ela ainda revela que o pastiglio tem simples e básica composição37;
surge entre uma série de empastes servem ao decorativismo38, motivo pelo qual o
verbete passou a definir muitas das estruturas sobrepostas às representações que
recebem o douramento. Logo, é reconhecido entre os artistas pelo seu caráter
plástico, vincula-se à pintura e é difundido pela Europa (séc. XIII-XV)39. Em descrição:
[...]un tipo de relieve realizado por adición y creado a mano alzada con
un material en estado líquido o semi-líquido que se aplica sobre la
preparación de la obra de diferentes formas; con pincel, con una
manga a presión provista de uma abertura especialmente dispuesta, o
con la mano modelando primero los motivos a mano alzada y
aplicándolos a continuación. La sustancia que se usa para crear el
relieve es auto-adhesiva, lo que explica que se aplique antes de que
seque. Esta propiedad se debe a que el material aglutinante de la
misma no sólo funciona como tal si no también como adhesivo,
uniendo el relieve al substrato sobre el que se aplica. (LÓPEZ, 2009,
p.92-93)
LÓPEZ (2009) ainda indica que o referencial mais antigo conhecido hoje é a
fórmula renascentista descrita em CENNINI (1988), cujo preparado básico é um
composto de gesso fino40 e cola animal41, sendo opcional o acréscimo de pigmentos
34
A pesquisadora que objetiva caracterizar e propor técnica de reintegração dos brocados aplicados –
técnica de fingimento têxtil, geralmente existentes nas vestimentas das esculturas policromadas, do qual
há a indicação de ser uma técnica avançada de decoração artística derivada do pastiglio.
35
Considerando suportes diversos e diferentes produções do relevo, a bibiliografia internacional pode
reconhecer o pastiglio como: pastillage, relieve en yeso, barbotina, brocado de tres altos, pastiglio, opera
di mazzonaria, pastillaje, relieve en estuco, yesería, appliqué relief, plasterrelief y free-hand relief
decoration.
36
A substituição dos apliques metálicos parece explicar por que o estudo do pastiglio acompanha a
evolução da arte do douramento.
37
Basicamente é composto por um agregado mineral (gesso, carbonato de cálcio, pó de mármore, etc.) e
um agregante proteínico orgânico natural (cola animal, clara de ovo, etc.).
38
Em uma análise rápida são semelhantes com pastas de composição lipídica e fibrosa. Esta
manifestação artística surge após o aditamento de papel recortado e antes de pastas fibrosas, tal como o
papel modelado, por exemplo. As diferenças estão em detalhes: acréscimo ou alteração de substâncias
base, pelo método da construção do relevo e o douramento final.
39
Nordeste da França e oeste da Alemanha, sendo possíveis de aparecer em murais, afrescos, pintura
sobre madeira e esculturas (LÓPEZ, 2009).
40
Sulfato de cálcio diidratado moído, também conhecido como gesso apagado ou gesso sotille.
33
para dar cor à mistura42. Todavia, a pesquisa desta especialista traz uma informação
mais interessante: que a composição dos relevos ornamentais tende a ser mais
complexa em períodos artísticos mais recentes. Podem aparecer, por exemplo,
produtos lipídicos (ceras e resinas naturais) e orgânicos diversos (amido, fibras e
pigmento) em conjunto com a pasta básica, que eram adicionados propositalmente
pelo artista visando alcançar determinadas propriedades, tal como plasticidade ou
resistência43. Deve-se considerar, porém, que a disponibilidade dos produtos varia de
região para região, fator que provavelmente também influencia a variabilidade do
preparado. A descrição deste aperfeiçoamento, que considera empastes resinosos e
oléicos, reforça a credibilidade que as molduras do Museu da Baronesa seriam mesmo
um tipo de pastiglio mais complexo, um pouco distinto da técnica primitiva que LÓPEZ
(2009) e MEDEIROS (1999) centram suas pesquisas.
Na ocasião em que a prática da disciplina de restauro de Pinturas II se iniciou,
reservaram-se amostras das molduras das obras em estudo do Museu da Baronesa
para a análise do material e que só ao fim da intervenção se teve oportunidade de
levar adiante. Os apêndices 1 a 4 representam o Exame de Termoluminescência e
Fluorescência de Raios X por Dispersão de Energia, ao qual uma das amostras foi
submetida44. A medição da matriz de pastiglio apresentou certa variedade de
elementos químicos, porém, não há presença de enxofre (S). A maior incidência é de
potássio (K) e cálcio (Ca) e, neste caso, o resultado sugere um preparado de
complexa composição produzido com carbonato de cálcio (CaCO) ao invés de gesso
(CaSO4) (VASCONCELOS, 2011).
2.2 Estratigrafia do pastiglio
Para o estudo da conservação da policromia, a dissociação da estratigrafia da
pintura é inconcebível: existe uma relação de interdependência química e física entre
as camadas estratigráficas (PASCUAL, 2002). Neste caso, conforme a autora, o
suporte, a base de preparação da pintura, a pintura e a proteção final podem propiciar
sustentação para camada que lhe é posterior e proteção para camada anterior, mas se
41
Proteína animal (SCICOLONE, 2002).
Informa-se detalhadamente o processo de preparação artesanal de todos ingredientes e da moldagem
dos relevos ornamentais sobre o suporte madeira nos capítulos CIX, CXVI, CXVII, CXIX, p. 149 -158.
MEDEIROS (1999) também tem como referência Cennino Cenninni.
43
Em reflexão: é possível que o pastiglio tenha originado o papier-collè, papier-machè, paste di sale e
porcelana fria, todas técnicas recorrentes na artesania popular.
44
Por ocasião do estágio obrigatório de uma colega discente – Mara Lúcia Carret de Vasconcelos –
dentro do Grupo de Dosimetria e Instrumentação/Departamento de Energia Nuclear- Universidade
Federal de Pernambuco (UFPE), Recife, PE.
42
34
danificados influenciam na degradação das mesmas. Por esta razão, à guisa de
compreensão complementar, a seguir se expõe informações básicas a esse respeito:
a) Madeira: material orgânico, de anatomia heterogênica e característica
anisotrópica45. É relativamente resistente se tratado previamente e monitorado
freqüentemente, mas em condições impróprias é suscetível a biodegradação e
a alterações físicas. Em alta fragilidade pode influenciar na degradação do
relevo e da policromia. As espécies de madeira mais utilizadas na arte
brasileira foram: o cedro e o pinho-de-riga (BRAGA, 2003).
b) Base de preparação: Reúne as camadas de encolagem (adesivo), imprimação
(mineral/adesivo), ornamentação em pastiglio (mineral/adesivo) e bolo
armênio46 (argila/adesivo- opcional). Em geral, na mesma obra, os produtos
utilizados são idênticos, apenas combinados em proporções distintas. A
encolagem tem a função de selar o suporte; a imprimação propicia lisura,
uniformidade, aderência e elasticidade; o relevo, volumetria e texturas
variadas; e o bolo armênio é preparação para folha de ouro. A resistência desta
camada depende da qualidade dos materiais e dos preparados (PASCUAL,
2002).
c) Douramento: pode ser mate (sem pintura) ou com pintura (monocromática ou
policromática). Dependendo da época e do objeto, pode ser desenvolvido
através de fixação de folhas de ouro ou pó de ouro (MEDEIROS, 1999, p.65). A
folha de ouro pode ser unida ao relevo posteriormente ou ao enformar (LÓPEZ,
2009)47.
d) Pintura: Em geral policromática, cuja tinta mais comum é a têmpera; se produz
em favor do fingimento têxtil e em complemento à textura do relevo
(MEDEIROS, 1999).
e) Capa de proteção: podem ser clara de ovo, cola animal, cola vegetal, goma
laca, óleos vegetais e preparados orgânicos diversos (MEDEIROS, 1999).
As figuras 16 e 17 e a tabela 1 representam as camadas de um relevo em
pastiglio descolado do suporte, parte que pode ser aproveitada para análise
organoléptica e demais exames científicos, tal como de microscopia ótica.
45
Característica que influencia que a madeira sofra alteração física distinta em diversas direções
(MENDES, 2005, p.362-363).
46
Camada que se revela opcional em objetos mais rústicos.
47
Lembra-se que em períodos mais recentes é possível encontrar purpurina como douramento final.
35
Figura 15: Relevo em pastiglio - aparência ao microscópio eletrônico de varredura (MEV).
Amostra destacada do halo da obra San Jerónimo, pintura sobre madeira, Renascimento.
Fonte: LÓPEZ, 2009, p.134.
Legenda da figura 17
estratigrafia do pastiglio:
–
Folha de ouro.
Pastiglio.
Face de fixação ao suporte.
Figura 16: Desenho esquemático da estratigrafia
do pastiglio - folha de ouro e pastiglio. Esquema
embasado na figura 15. Fonte: Autora, 2011.
2.3 Degradação do pastiglio
O conceito de deterioração pode ter dois eixos de percepção: um objetivo,
que é a deterioração natural dos materiais (envelhecimento); e outro subjetivo, a
opinião do expert que julga o risco desta alteração física (MUÑOZ VIÑAS, 2010). Os
efeitos de envelhecimento nos materiais podem ser desde uma simples alteração das
cores originais até o desmantelamento total do objeto, compreendendo que os danos
maiores ocorrem por uma exposição em ambiente impróprio e/ou manipulação
incorreta (PASCUAL, 2002).
36
Por ser um substrato adesivo, o pastiglio envelhecido e sem cuidados
apresenta perda de coesão da estrutura (fragilidade), dano que se multiplica em
variações ambientais abruptas e atinge todas as camadas estratigráficas (PASCUAL,
2002). A mecânica diferenciada dos materiais empregados age como forças de tensão
de direções diversas, comprometendo a estabilidade e a estética do objeto ao causar
desprendimentos (fig. 19 e 20), trincas (fig. 18 e 19), depressões (fig.19 e 20) e
craquelês (fig. 18 e 19), lacunas na pintura (fig. 19 e 20).
Figura 17: Degradação do pastiglio - perda. Detalhe da fig. 11. Fonte: Autora, 26/05/2011.
Figura 18: Degradação do pastiglio - trincas. Detalhe da fig. 7. Fonte: Autora, 25/05/2011.
Figura 19: Degradação do pastiglio - trincas na pintura, craquelês, faltas e despreendimentos.
Detalhe da fig. 1. Fonte: Autora, 21/04/2011.
37
Figura 20: Degradação do pastiglio - depressões por desgaste, trincas e perdas. Detalhe da fig.
9. Autora, 25/05/2011.
2.4 Estabilização do pastiglio
Para todas as tipologias de objetos, a metodologia de intervenção segue
passos pré-determinados: análise do objeto, higienização superficial, limpeza química,
estabilização (consolidação, nivelamento e preenchimento), reintegração pictórica e
acabamento (PASCUAL, 2002). Segundo a mesma autora, em situações críticas, a
estabilização de partes soltas - ou que podem vir a se soltar e se perder - é prioritária.
Deste modo, a patologia que o pastiglio geralmente apresenta faz com que a fase de
estabilização prevaleça sobre a limpeza.
A busca de referências antigas para alicerçar as reflexões metodológicas
(CALVO, 2011) encontrou apenas uma referência de mínima intervenção (CENNINI,
1988) na rara bibliografia que aborda a técnica de reintegração dos pastigli - LÓPEZ
(2009), ALONSO-MARTINÉZ (1997) e MEDEIROS (1999). Percebe-se que a escolha
da substância consolidante foi feita em função de técnicas ornamentais de elaboração
primitiva, com um cuidado que privilegia obras de períodos artísticos de alta
valorização. O composto simples se revela de mínima toxicologia, mas de preparo
prévio complexo e demorado, devido a produção artesanal dos materiais.
Naturalmente, hoje se encontram produtos semelhantes e confiáveis, que agilizam e
simplificam relativamente o preparo do produto.
A receita tradicional da pasta de gesso (CENNINI,1988, CCXVII, p. 156)
prescrevia:
38
a)
Preparo prévio: produção do gesso sotille48 (5 dias) e hidratação da cola
animal (ou gelatina) em água em temperatura ambiente (V/V – 1:4, tempo de
descanso - 24h).
b)
Preparo prévio para aplicação: aquecer o colóide em banho-maria e
diluir porções de gesso sottile em um vasilhame com um mínimo de água na
temperatura ambiente49. Adiciona-se o gesso à cola e, se houver intenção de
pigmentar a mistura, acrescenta-se argila até atingir o tom desejado. Não há
informação de proporção dos reagentes.
c)
Misturar os ingredientes completamente e manter o material aquecido
durante a aplicação.
Entretanto, como já foi dito, esta substância não pode ser aproveitada para os
relevos das molduras deste estudo, não só porque a mistura clássica não exibe
longevidade, mas a composição dos ornamentos é complexa. Em vista disto, o
estuque rápido é um método alternativo aceitável, embora não se tenha encontrado
publicações profissionais que lhe mencionem50. O preparado é conhecido como um
revestimento decorativo vantajoso:
Le emulsione di acetato di polivinile costituiscono une deu più
importanti prodotti capaci di migliorare le proprietà naturali del gesso
transformandolo in um materiale di elevata resistenza, elasticitá,
durata, impermeabilitá e di spiccato potere isolante térmico ed
acústico. (TURCO, 1990, p.94-95)
A proporção da mistura preparada nas práticas acadêmicas do curso de
Conservação e Restauro UFPel51 foi: “gesso misturado a PVA neutro e água
deionizada (1:1)” (MACALOSSI, 2010, p. 3). A fórmula tem preparação e aplicação
instantânea, e se procede da seguinte maneira:
a)
Preparo prévio: dissolve-se o PVA neutro em água na temperatura
ambiente (V/V - 1:1).
b)
Preparo para aplicação: o gesso vivo é acrescentado à solução até que
se deduza que a mistura assumirá determinada plasticidade por certo tempo.
48
A receita de Cennini é acompanhada de nota acerca da produção artesanal do gesso sotille, feito
através da hiper-hidratação do gesso industrial em quatro dias. O preparo está detalhado na seção
1.5.1.1 – estudo dos materiais - item b – gesso sotille.
49
Para proceder com a mistura sem haver trituração.
50
Ressalta-se que nas publicações da ABRACOR que se teve acesso (1994, 1998, 1996, e 2009) nunca
se menciona a mistura gesso + solução aquosa PVA, e também quando se menciona gesso raramente se
informa a qualidade do gesso empregado, principalmente em relação a um estado à reagir ou apagado.
51
Métodos de Restauração I e II, ministrada pela Ms. Daniele Fonseca; Conservação e Restauro de
Pinturas I e II, ministrada pela Ms. Andréa Bachettini.
39
Misturam-se os produtos completamente e se aplica a substância sobre a superfície
que se deseja cobrir ou preencher.
A consistência de ambos preparados – pasta tradicional e estuque rápido - é
controlada pela adição de gesso (sotille ou vivo), que concede certa versatilidade à
substância: dependendo da intenção pode ser uma mistura mais fluida ou mais
consistente. Um estado cremoso serve para o nivelamento de craquelês superficiais,
conforme demonstra a figura 21; o estado pastoso é indicado para preenchimentos
mais profundos e maiores ou pré-moldagem, como pode ser observado nas figuras 22
a 25. Para a substância alcançar o estado de massa é necessário uma alta
concentração de sólidos, o que influencia para que perca coesão e ganhe textura.
Neste caso, a estrutura final pode apresentar pulverização e pouca aderência. O
tempo e a estabilidade influenciam para prosseguir o trabalho - para a desmoldagem,
por exemplo. Os pré-moldados são ajustados à forma da lacuna, aditados ao suporte
por adesivo e suas extremidades recebem camada extra de pasta gesso/cola (para
unir os elementos) que serão, por sua vez, esculpidas e/ou lixadas.
Figura 21: Detalhe de moldura da pintura Barão de São Luiz - nivelamento produzido com
estuque rápido. Exemplar similar às fig. 1 e 3, intervenções anteriores e repintura sob
douramento; séc. XX. Localização: Museu municipal Parque da Baronesa. Fotografia: Luciane
Pacífico, 2011.
40
Figura 22: Molde produzido com alginato. Figura 23: Averiguação do tamanho da lacuna para o
correto corte do elemento reproduzido. Figura 24: Preparação dos elementos reproduzidos –
abrasão das laterais. Figura 25: Detalhe da moldura da fotopintura de Francisco Alves Ribas –
diversos pontos a completar nos seus ornamentos. Trabalho de estabilização de relevos
ornamentais de composição desconhecida; 81cm x 94cm. Localização: Museu Municipal
Parque da Baronesa. Fotografias: Andressa Burguez, 2011.
2.5 Materiais utilizados nas pastas de preenchimento à base de gesso
a) Gesso
A literatura da conservação se refere ao material através dos seguintes
verbetes: sulfato de cálcio hemidratado52, hemidrato de gesso, hemidrato cálcico,
gesso-de-paris, gesso vivo e gesso grosso.
Conforme BALTAR (2005), o gesso é produzido através da calcinação da
gipsita53. Na calcinação se obtém diferentes tipos de gesso: anidrita54, gesso alfa
(cristais menores, uniformes e homogêneos) e o gesso beta (cristais maiores, amorfos
e heterogêneos). A resistência mecânica das estruturas de gesso depende da
52
Composto cristalino, cuja fórmula química é Ca2SO4 0,5H2O.
Mineral basicamente composto de sulfato de cálcio diidratado (Ca2SO4 2H2O); considerada pura
quando contém 79% de sulfato de cálcio e 21% de água de cristalização. Conforme BALTAR (2005), o
alabastro é a variedade maciça e transparente da gipsita, cuja estrutura é microgranular. A desidratação
térmica é controlada: o minério perde parte da água de composição, e após o resfriamento é triturado
para que seus cristais se soltem.
54
Forma anidra (CaSO4), altamente instável e ávido por água.
53
41
qualidade55 e granulometria56 do hemidrato. Na reidratação do produto, a reação57 de
precipitação58 é relativamente rápida, mantendo certa plasticidade por algum tempo.
Conforme TURCO (1990), o tempo di gemito (pega inicial) é de até 5min59 e o di
presa, 10 min, sendo que se conclui em algumas horas60.
Para uma boa resistência da estrutura final é importante observar a
homogeneidade da mistura, a quantidade e temperatura de água de absorção, onde: o
excesso de água implica em alta porosidade e tendência a pulverização; a
insuficiência de água impede alguns cristais de reagir, podendo causar fissuras e
quebras; a água quente retarda a pega e prejudica a coesão dos cristais. Ao secar, a
estrutura exibe pouca retração; o corpo é poroso, por isso altamente higroscópico61;
possui estabilidade volumétrica nas variações climáticas moderadas62, mas pode
causar oxidação de componentes ferrosos que mantém contato. O hemidrato deve ser
armazenado em local seco e em embalagem bem fechada. Não é aconselhável
misturar gessos de épocas e marcas diferentes.
No que diz respeito a biossegurança, é importante salientar que o gesso não
é um produto neutro, como normalmente se propaga. CICHINELLI (2007) lembra que
manipulação do gesso deve ser feita em local aberto e bem ventilado, exigindo o uso
de equipamentos de proteção individual, tais como, luvas, óculos e máscaras, que
evitam a reação alérgica pelo contato com pele ou por inalação. A reação a agentes
insalubres no trabalho depende do limite de tolerância do indivíduo, do tempo de
exposição e do grau de descuido com as medidas de segurança.
Há também discussões acerca da poluição do meio-ambiente. Segundo
MUNHOZ (2006):
55
Por exemplo: o gesso comum é de menor resistência mecânica e contém aditivos químicos na
composição (aceleradores ou retardadores de pega, retentores de água, plastificantes que diminuem a
tensão superficial das moléculas, etc.); o ortodôntico tipo IV, tem alta resistência mecânica, pureza e
granulometria fina; e assim por diante.
56
O gesso alfa é mais solúvel e precisa de pouca água para reagir, característisticas que conferem rápida
reação e a tendência de formar estruturas mais resistentes; o beta é menos solúvel, precisa de mais
tempo e água para cristalizar, formando estruturas de menor resistência.
57
Exotérmica, libera calor.
58
A molécula de hemidrato reage com a molécula de água mais próxima, os cristais incham e se
aproximam. Após a reação o hemidratado volta a forma original (diidrato). A reação de precipitação está
relacionada com o ciclo de expansão dos cristais de gesso, e que, no geral, demora quatro horas
(TURCO, 1990).
59
Fase que as moléculas de gesso procuram se ligar com as de água.
60
O intervalo entre 5-10min os cristais começam a inchar e se aproximar. Após a secagem de 4h, se a
proporção de gesso e água estiverem corretos, não haverá mais moléculas a reagir e a estrutura final se
mantém inalterada.
61
A umidade fica retida nos poros, mas não interfere na ligação entre as moléculas.
62
Entretanto, a estrutura pode ser danificada por estresses físicos causados por sucessivas expansões e
contrações.
42
“A disposição de gesso em aterros sanitários não é pratica
recomendada, exceto quando enclausurado e sem contato com a
matéria orgânica e água. Isso porque o gesso em contato com
umidade e condições anaeróbicas, com baixo pH, e sob ação de
bactérias redutoras de sulfatos, condições presentes em muitos
aterros sanitários e lixões, pode formar gás sulfídrico(H2S), que possui
odor característico de ovo podre, tóxico e inflamável.” (MUNHOZ,
2006, p. 5 - 6)
Para os ensaios experimentais desenvolvidos no capítulo 4 desta monografia
se escolheu um hemidrato de primeira qualidade: gesso ortodôntico, tipo pedra, nº IV –
marca Asfer63. No estuque rápido, o material foi utilizado do modo convencional e,
para preparar as pastas de gesso e as massas em experimentação, serviu de matéria
prima para produzir artesanalmente o gesso sotille.
b) Gesso sotille
Também pode ser utilizada a seguinte nomenclatura: diidrato de gesso em
pó, sulfato de cálcio diidratado em pó, gesso apagado, gesso morto e gesso fino. O
produto pode estar à venda em lojas de materiais agrícolas64, informado como um
produto químico de grande pureza.
O processo clássico artesanal utilizava o alabastro gessoso como matéria
prima que, após uma hidratação de 30 dias seria seco em temperatura ambiente e
triturado (CENNINI, 1988, cap. CXVI, p. 155-156). Entretanto, em nota de rodapé, o
texto informa uma hiper-hidratação do gesso industrial (vivo) feita em quatro dias65,
com sucessivas substituições de água. No quinto dia, o produto é coado em um pano
para escoar toda a água excedente. Depois, o material é dividido em partes para
facilitar a secagem em temperatura ambiente e, por último é reservado para posterior
utilização. Não está informada a qualidade de gesso, mas possivelmente seja o tipo
alfa, calcinado (gesso de estucador).
É importante compreender o que acontece na hiper-hidratação: o sulfato de
cálcio semi-hidratado (gesso vivo) reage totalmente e se transforma em sulfato de
cálcio didratado, sem haver precipitação do produto. O resultado é um material
quimicamente inerte em soluções aquosas e de pH neutro. CALVO (1997, p. 239)
descreve o gesso sotille como um material de granulometria uniforme e fina, a
depender da peneiragem que sofrer.
63
Não foi encontrada a ficha técnica do produto.
Ficha técnica disponível em <www.mineracholino.com.ar/sites/default/files/GESSO%20AGRÍCOLA.pdf>,
acessado em 12/09/2011.
65
Suspeita-se que a demora na hiper-hidratação seja a garantia que realmente se impeça a precipitação
de todos os cristais de hemidrato e purificação de um produto com aditivos. material.
64
43
Considerando o estudo no subtítulo 2.5, item a, não é necessário 4 dias para
hiper-hidratação e, uma vez que se utilizou o gesso ortodôntico, se diminuiu o tempo
do molho para no máximo 24hs. Deste modo, para os ensaios experimentais, o sotille
foi produzido da seguinte maneira: diluiu-se 250g de gesso vivo em 4l de água
(aproximadamente 6% de hemidrato), como demonstra a figura 26. O pó foi despejado
e misturado completamente ao líquido e esta solução foi agitada em intervalos
regulares (2min) para facilitar a reação de todas as partículas e impedir a deposição
dos sólidos no fundo do vasilhame. Após 10min, deixou-se a mistura descansar, onde
se percebeu a total decantação da água (após 3h). Repetiu-se o processo de
homogeneização mais uma vez e se esperou uma nova decantação (após 3h). No dia
seguinte, coou-se o produto em voil (encorpado, trama fina), forçando todo o
escoamento de água possível, conforme demonstra a figura 27. O produto teve um
peso final de 850g, que foi dividido em duas partes equivalentes (425g): metade foi
desidratada no forno de microondas (secagem) para posterior utilização nas pastas
convencionais; a outra permaneceu úmida para compor a mistura experimental. O
sotille seco apresentou um peso de 340g.
Figura 26: Produção artenal de gesso sotille - massa gessosa posta à decantar em recipiente
plástico de 4l. Fonte: Autora, 11/07/2011, às 14hs45min.
44
Figura 27: Produção artesanal de gesso sotille - escoamento da água de decantação por
coagem em peneira e voil. Fonte: Autora, 12/07/2011, às 11.00hs.
Não se encontrou referências que reflitam sobre a biossegurança deste
material, contudo, pelo menos antes da hiper-hidratação, recomenda-se o uso de
equipamentos de segurança para manuseio. Após o preparo, não existe a suspensão
do pó e quase não há perda de material, por isso não há maiores preocupações com
inalação e diminui significativamente os riscos de poluição ambiental. Por outro lado, o
diidrato pode causar alergias na pele, do que permanece imprescindível o uso de
luvas para seu manuseio.
c) Cola animal
Embora seja comum, não há quase informações sobre as especificações
técnicas da cola animal. Enfatiza-se a possível substituição deste produto por gelatina,
que é um produto muito semelhante, porém mais puro (BURGI, 1990, p. 27). Deve-se
evitar a fervura para que o composto não perca sua função adesiva (ALONSOMARTINÉZ, 1997, p. 68 -71). Em princípio, cola animal e gelatina não são prejudiciais
à saúde, pois são adesivos orgânicos naturais, de origem animal, formado
basicamente por substâncias protéicas. Como tal, não são produtos estáveis em
variações climáticas, por serem frágeis e suscetíveis à biodegradação (SCICOLONE,
2002, p.175-176). Atualmente, a cola animal é comercializada em lojas especializadas
em produtos de conservação e restauro, na forma de grânulos ou pastilhas e em
diversas cores (amarelo ao marrom).
Cola animal e gelatinas são produtos que precisam de hidratação prévia (V/V
- 1:4), mistura que ao descansar forma uma massa gelatinosa e robusta, que solubiliza
45
pelo aquecimento (controlado - banho-maria). Entretanto, é imprescindível o cálculo de
aproveitamento do material que, uma vez hidratado e hidrolizado, deve ser total e
rapidamente aproveitado.
Para os ensaios experimentais, utilizou-se um produto comestível, sem sabor,
incolor, da marca Royal, que após ser hidratado apresentou um peso de 125g e um
pH=7,5.
d) Emulsão aquosa de acetato de polivinilo (PVA)
Também podem ser usados os seguintes termos: poliacetato de vinila,
poliacetato de vinil, acetato de polivinil.
O aspecto do produto é viscoco, de cor branca leitosa. Conforme
SCICOLONE (2002, p. 213-215) e BURGI (1990, p.3), o produto quimicamente isolado
é um homopolímero de vinil acetato. A transição vítrea é muito próxima a temperatura
ambiente e, quando seca, forma uma película rígida e transparente de baixo índice de
refração, alto poder adesivo e de coesão, resistência ao envelhecimento natural,
estabilidade perante a luz e a umidade relativa do ar. Porém, é solúvel em água, do
que perde resistência em situações de alta umidade66.
Para os ensaios experimentais, foram considerados os produtos PVA Linecoproduto importado67 e PVA Extra Cascorez, marca Henkel68. Basicamente, a única
diferença percebida é que o produto popular é mais viscoso (em torno de 40-60% de
sólidos). Não se encontrou informações da concentração de sólidos do PVA Lineco.
No estuque rápido, ambos adesivos foram diluídos em água (V/V – 1:1); nas massas
experimentais os mesmos foram utilizados puros. A medição do pH, confirmou que os
produtos apresentaram respectivamente pH=7 e pH=5.
66
Destaca-se que a indústria nacional de polímeros se desenvolveu após 1970. Informação disponível no
artigo Aspectos Históricos de Ciência e Tecnologia dos Polímeros no Brasil, publicado na revista
eletrônica: Polímeros: Ciência e Tecnologia, 1998, Disponível em <www.scielo.br/pdf/po/v8n4/8286.pdf>,
acessado em 26/09/2011.
67
Não foi encontrada a ficha técnica do produto.
68
Ficha técnica disponível em: <www.aphox.com.br/fispq/FISPQ%20-%20Cascorez.pdf>, acessado em
30/09/2011.
46
CAPÍTULO 3 – O PASTIGLIO POLIVINÍLICO
Não foi difícil perceber que as críticas ao estuque rápido se resumiam em
apenas um fator principal: a rápida reação do gesso vivo (agregado). Com relação ao
uso do PVA (agregante), não havia nenhum questionamento, uma vez que as
condições ambientais locais legitimavam sua aplicação. Deste modo, a busca por um
novo método partiu da troca do agregado, mantendo o mesmo agregante. Nesta
questão, considerou-se que alguns empastes populares de modelagem mais lenta papier-collè, papier-machè, paste di sale e la porcelana fría – poderiam auxiliar no
passo inicial.
Dentre as pastas de artesania popular, la porcelana fría69 apresenta uma
substância extremamente plástica70, de ótimas vantagens71 e de boa estabilidade, que
sugeria possibilidades artísticas bem semelhantes com os relevos em pastiglio. A
substância da porcelana fria tem fácil preparo: os ingredientes72 são apenas
misturados e desidratados no forno de microondas para atingir um ponto ideal de
consistência73. Por outro lado, os ingredientes da fórmula não são reconhecidos pela
Conservação como produtos muito confiáveis, principalmente o PVA, por que exibe pH
ácido (em torno de 4,5 – 5,0), e o amido, porque é suscetível à biodegradação74.
Deste modo, além de servir de ideal de plasticidade a atingir, a porcelana fria
contribuiria somente com o processo de desidratação eletromagnética, que se
69
No Brasil, a porcelana fria ou biscuit se disseminou entre na déc. de 1990 através da venda de revistas
de periodicidade quinzenal ou mensal, que estimularam este tipo de artesania como fonte de renda para
inúmeras pessoas por todo o país. Os periódicos ainda existem e ensinam o preparo da massa básica e o
passo-a-passo da modelagem, dentre os quais as revistas Porcelana Fria, Arte em Biscuit e Artes
Decorativas em Biscuit são as mais conhecidas e de maior sucesso. Geralmente há menções sobre a
origem da técnica, ligando-a com a história do papel machê ou da pasta de sal; explica-se que houve
substituição de ingredientes para promover maior plasticidade e durabilidade à substância, possibilitando
que os objetos decorativos com ela produzidos exibissem a aparência semelhante com a da porcelana
francesa. Disponível em: <www.modugno.com.br/Hist_Biscuit.html>, acessado em 27/09/2011.
70
Maleabilidade, estabilidade da forma, possibilidade de correção, acabamento liso e uniforme.
71
Cita-se: o agregante é o PVA popular, não adere à mão, controle da plasticidade, ótima adesão, se
desenvolve sem sujeira, o material exibe durabilidade de 6 meses (úmido e embalado em plástico), pouca
perda, possibilidade de coloração, de combinação de cores, solubilidade em água.
72
Amido de milho (agregado – 500g), PVA Extra (agregante – 500g), vaselina líquida (auxilia na
flexibilidade e elasticidade da substância – 1col) e vinagre branco ou ácido acético (atua como
conservante do material – 1col de sopa para o vinagre/ 1col de chá ácido acético).
73
Estado anterior ao limite de solubilidade - uma massa flexível. Caso não se alcance ou se ultrapasse o
estado desejado, pode haver retratabilidade do material.
74
O amido e o ácido acético estão previstos em BURGI (1990, p.7 e p.63); a vaselina é um óleo mineral
(mistura de hidrocarbonetos alifáticos obtidos do petróleo), não é tóxico (de uso cosmético e medicinal),
mas
poderia
ser
substituído
ou
suprimido,
se
fosse
o
caso.
Disponível
em:
<www.mapric.com.br/anexos/boletim262_14112007_184829.pdf>, acessado em 27/09/2011. É preciso
admitir que o PVA Extra é usado regularmente em muitas obturações na madeira e reintegrações em
gesso, não somente por falta de informação como argumenta MARTINS (1996), mas principalmente por
que o PVA neutro é importado, caro e comercializado em poucas lojas no Brasil, motivos pelo qual o
produto é reservado para peças de maior valor.
47
revelava prático, econômico e perfeitamente viável para compor a substância
consolidante desejada.
Embora a receita de CENNINI (1988) não seja tema do presente capítulo, foi
por ela que se iniciou as experimentações75. Cita-se três motivos principais para esta
decisão:
1º) as referências nacionais não descrevem a estrutura que corresponde aos
pastigli produzidos no período colonial e tampouco explicam a evolução desta arte no
Brasil, sugerindo a leitores menos curiosos que a pasta básica destes relevos tem uma
única apresentação;
2º) a produção da substância arremata parte do conteúdo estudado no
capítulo 2 e colabora para uma análise visual da arte em pastiglio, além de permitir
distinguir relevos de composição simples e complexa76;
3º) dentro do parâmetro de mínima intervenção, a pasta tradicional poderia
ser recomendada para composições complexas, mas, já que não era possível utilizá-la
aqui em Pelotas, pelo menos serviria de subsídio para a nova composição.
De fato, este estudo foi fundamental porque indicou o agregado perfeito para
ser combinado com a emulsão PVA neutro – o gesso sotille.
Com estes dois produtos que, antes de tudo, são reconhecidos pela
bibliografia de orientação por sua estabilidade, a mistura se mostrava perfeitamente
qualificada para compor a substância consolidante ideal. Por outro lado, para que a
nova combinação se aproximasse em vantagens com a massa da porcelana fria, seria
preciso estudar uma combinação de reagentes que permitisse a desidratação
eletromagnética e sugerisse um bom aproveitamento do material.
Faz parte do capítulo 3, o estudo da teoria da radiação por microondas e
testes experimentais que determinaram a proporção dos reagentes, simplificaram a
fórmula e expuseram as vantagens do material.
3.1 Definição da quantidade dos ingredientes
A partir destas considerações iniciais e do estudo dos materiais (subtítulo 2.5,
itens b e d) desenvolveu-se o processo experimental. Primeiramente, produziu-se
75
A análise na pasta de gesso convencional é conteúdo tratado no capítulo 4.
Tal como aqueles percebidos no acervo pelotense que, certamente apresentam materiais lipídicos em
grande concentração.
76
48
misturas pilotos - PVA (popular77) e sotille (seco) - e em três concentrações distintas
de agregado (menor proporção, proporção equivalente e maior proporção), tendo
como referencial o peso final de 60g:
A.
50g PVA + 10g sotille seco
B.
30g PVA + 30g sotille seco
C.
10g PVA + 50g sotille seco
Necessário dizer que estas misturas não foram aplicadas e nem levadas à
secagem, pois nesta fase interessava apenas aferir as propriedades básicas de
homogeneidade, plasticidade, elasticidade e aderência das substâncias, escolhendo
as combinações que poderiam ser levadas à desidratação. A escolha foi feita em
função dos resultados apresentados pela tabela 1, sendo que as propriedades físicas
foram avaliadas pelos termos insatisfatório (I), satisfatório (S) e plenamente satisfatório
(P); a aderência à mão e a necessidade de desidratação, apenas com resposta
positiva (S) e negativa (N).
Mistura
A
B
C
Homogeneidade Plasticidade
Elasticidade
Aderência Desidratação
P
I
I
S
S
P
I
I
S
S
I
S
I
S
N
Tabela 1: Avaliação das proporções da mistura PVA / sotille seco.
Figura 28: Apresentação final das substâncias das misturas pilotos. Fonte: Autora, 13/07/2011.
77
Preferiu-se manter os testes preliminares com o PVA popular para reservar o produto importado para
testes definitivos.
49
As apresentações finais das misturas A, B e C podem ser observadas na
figura 28. Avaliando os resultados, se pode concluir que:
A mistura C não necessitava de desidratação, pois já estava uma alta
concentração de solutos. Embora apresentasse uma boa plasticidade, não era elástica
e ainda aderia à mão, sendo que a correção de uma desvantagem implicaria no
prejuízo da outra. Observou-se também que a mistura apresentava muitos grânulos,
deficiência que parecia estar mais relacionada com a secagem forçada do gesso
sotille e a sua peneiragem. Mesmo apresentando um bom estado plástico, a
substância não facilitaria uma moldagem manual com resultados satisfatórios.
As misturas A e B permitiriam a desidratação por radiação e sugeriam
resultados semelhantes à porcelana fria. Foi calculado um tempo de 1min para esta
desidratação, com intervalos de 20s para homogeneização do produto. Após finalizar o
processo a mistura A foi considerada insatisfatória, pois havia perdido muita massa (g)
e ainda apresentava aderência à mão. Por sua vez, a mistura B alcançou o estado
plástico ideal para aplicação manual, perdendo menos massa (g).
As misturas A e B também apresentaram grânulos - ainda que poucos - o que
parecia comprovar que o gesso sotille seco prejudicava mesmo a homogeneidade
para o preparo da nova substância em estudo. Avaliou-se também que, com a
desidratação no forno de microondas, a secagem prévia do mesmo material era
desnecessária e só implicava mais tempo.
Após refletir sobre os resultados, definiu-se que a melhor mistura era aquela
onde a proporção de materiais era equivalente, mas para atingir uma boa
homogeneidade deveria se utilizar o sotille úmido na mistura. Neste caso, seria preciso
calcular o teor de sólidos deste ingrediente – cálculo que é extremamente necessário
para definir o peso ideal do produto na substância. Deste modo, buscou-se a pesagem
feita no capítulo 2, seção 2.5, item b, e calculou-se o peso da seguinte maneira:
microondas
Sotille seco: ½ = 425g
→
340g
425g=100%
340g= X
X= 340.100/425= 80% de sólidos
50
O gesso sotille úmido78 é uma solução aquosa que contém 80% de sólidos.
Com este resultado, e ao definir o peso da substância final, é possível determinar o
peso correto do ingrediente. Por exemplo: em uma mistura de peso final 60g, seria
desejado 30g sotille seco, mas no estado úmido a 20% em água, o peso do produto é
ligeiramente maior.
Cálculo:
60g de mistura= 30g de emulsão PVA + 30g de gesso sotille seco
30g =100%
X= 20%
X= 30 . 20/100=6
P= 30g (gesso)+ 6g (água)= 36g de gesso sotille úmido
Portanto, para uma mistura de 60g, deverá ser utilizada 30g de PVA + 36g de
gesso sotille em água (20%). A figura 29 apresenta a mistura produzida nesta
proporção, onde se pode observar o resultado da homogeneidade da mistura.
Figura 29: Mistura PVA/sotille úmido. Fonte: Autora, 14/07/2011.
3.2 Estudo do efeito da radiação por ondas eletromagnéticas oriundas de um
forno de microondas
O estudo dos efeitos do forno de microondas sobre à matéria, parte da
definição e classificação da energia que o aparelho emite. Segundo o professor de
78
É bom que se lembre: o gesso sotille úmido irá ter concentrações distintas de água a cada vez que se
prepara. Em todos os testes deste estudo o material esteve na concentração aquosa à 20%.
51
engenharia nuclear Dr. Alwin Wilhelm Elbern (s/d), da Escola de Engenharia da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, as microondas são um tipo de energia
transmitida por ondas eletromagnéticas classificadas como radiação não-ionizante. A
energia produzida pelo aparelho tem efeito térmico, mas não possui capacidade de
emitir fótons79. O autor frisa que a radiação emitida pelo forno de microondas cessa
tão logo o aparelho se desligue, e não permanece na matéria manipulada.
O estudo da radiação eletromagnética permite representar o espectro
eletromagnético por meio do gráfico. Na figura 30 pode-se observar que as
microondas estão entre os raios infravermelhos e as ondas de rádio, permitindo
deduzir que o comprimento da onda produzido é longo e, por isso, incide em uma
baixa freqüência sobre a matéria.
Figura 30: Espectro eletromagnético. Disponível em:<biomedicaltopics.net/radiacoes-parte-1tipos-de-radiacao-radiacao-ionizante/>, acessado em 29/09/2011
Conforme o exposto acima, em teoria80, as ondas emitidas pelos fornos
domésticos provocam apenas energia calorífera, cujo princípio é vibração molecular
transmitida por condução81. Nos alimentos, por exemplo, as ondas penetram
superficialmente (em torno de 2 a 4cm) fazendo vibrar as moléculas de água, gordura
79
Informações coletadas no artigo Radiações não-ionizantes: conceitos, riscos e normas. Disponível em:
<http://www.prorad.com.br/cursos/Cursos/rni.pdf>, acessado em 01/11/2011.
80
A observação pretende lembrar as informações do Prof. Alwin W. Elbern sobre a fuga de radiação do
forno de microondas em certas circunstâncias, do qual o ser humano pode estar exposto de alguma
maneira.
81
Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/microondas.asp>, acessado em
29/09/2011.
52
e açúcar, aquecendo-as. O calor superficial é levado às moléculas mais internas
através de choques progressivos e sucessivos, acabando por envolver todo o material.
A partir disto, pode-se concluir que em substâncias aquosas há apenas perda de peso,
pela evaporação da água de constituição. No entanto, sabe-se que pelo uso habitual
do aparelho quando toda a água evapora por tempo exagerado de exposição à
radiação inicia a queima dos materiais sólidos.
Para o presente estudo, estimar o tempo no qual a substância PVA/sotille
úmido será submetida à desidratação por radiação é um estudo complementar de
relevância, ainda que não possa ser determinado exatamente. Por inexperiência ou
descuido, o ponto ideal pode não ser atingido ou ultrapassar exageradamente, a ponto
de haver coloração por queima, rigidez exagerada e perda da capacidade adesiva do
material, prejuízos que significariam um descarte do preparado. Não havendo estes
prejuízos, o material permite reaproveitamento.
Para definir o tempo necessário de desidratação e o resultado exposição
exagerada à radiação, foram feitos os seguintes testes em uma mistura PVA/sotille
úmido de peso inicial de 110g:
a)
Determinação do tempo de exposição à radiação
A mistura foi submetida à desidratação de 2min, com interrupções regulares
de 30s para monitoração e homogeneização do material. Ao fim deste tempo, o
material ainda apresentava certa aderência ao refratário, apresentando um estado
plástico insuficiente, que pode ser conferido na figura 31. Retomou-se a desidratação
por mais 30s. No final deste tempo, o material atingiu o ponto ideal, desprendendo-se
facilmente do refratário, como representa a figura 32. Ao ser pesado, confirmou-se a
perda de 30g de água por evaporação e um tempo ideal de 2.30min, com intervalos
regulares para homogeneização. Com este teste compreendeu-se que, na verdade, o
preparo da massa básica provoca a evaporação de parte da água82, deixando certa
quantidade de líquido entre o sulfato de cálcio diidratado e poliacetato de vinil, que é o
que confere plasticidade à substância.
A mistura foi então homogeneizada por sova83 e se averiguou as suas
vantagens plásticas de flexibilidade e elasticidade, como pode ser observado pelas
figuras 33 e 34. Logo após, a massa foi preparada para o próximo teste.
82
Presente de maneira variável tanto no sotille úmido, quanto na emulsão PVA.
A massa recém saída da desidratação apresenta uma aparência texturizada e precisa de amalgamento
para alcançar a homogeneidade ideal. Este processo deve se iniciar tão logo a mão suporte uma
temperatura que ainda está elevada, mas que não representa perigo de queimaduras. Sugere-se que a
sova se desenvolva sobre uma superfície fria, lisa e antiaderente, tal como mármore ou vidro.
83
53
Figura 31: Estado plástico insuficiente – aderência ao refratário. Figura 32: Estado plástico ideal
– fácil desprendimento do refratário. Figura 33: Homogeneidade por sova. Figura 34:
Demonstração da flexibilidade e elasticidade do produto. Fotografias: Autora, 15/07/2011.
b)
Determinação do tempo inicial de queima
A massa produzida anteriormente foi dividida em 9 porções de 10g, que foram
dispostas lado a lado em um prato refratário para exposição à radiação de um modo
mais ou menos contínuo, conforme demonstra a figura 35. Planejou-se que a cada
intervalo de 2min as porções seriam retiradas para que sofressem averiguações.
Neste teste, percebeu-se que a mistura apresenta fases distintas que passam por um
ressecamento superficial, perda de plasticidade, rigidez total e queima. De modo
sucinto, se pode dizer que: em 2min as amostras incharam, perderam peso e
acinzentaram, mas apresentaram o interior flexível (fig. 36); em 4min surgiram bolhas,
ondulações, rachaduras, houve perda de peso e a estrutura apresenta maior rigidez
interna (fig. 37); em 6min surgiu um leve amarelecimento no lado inferior da estrutura,
que já estava completamente rígida e exibia um leve odor de queima (fig. 38); em 8min
o lado inferior apresentava um tom ocre, havia muita fumaça e forte odor de queimado
(fig. 39); de 10-14min a fumaça e o dor se intensificaram e a cor da queima modificou
54
do marrom ou negro (fig. 41 a 43). Não se considerou necessário prosseguir com o
teste além dos 14min.
Figura 35: Preparação do teste de queima.Figura 36: Desidratação de 2min e retirada da
amostra nº 1.Figura 37: Desidratação de 4min e retirada da amostra nº 2.Figura 38:
Desidratação de 6min e retirada da amostra nº 3. Figura 39: Desidratação de 8min e retirada da
amostra nº 4.Figura 40: Desidratação de 10min e retirada da amostra nº 5. Figura 41:
Desidratação de 12min e retirada da amostra nº 6. Figura 42: Desidratação de 14min e retirada
da amostra nº 7.Figura 43: Corpo de amostras do teste de queima – lado superior. Figura 44:
Corpo de amostras do teste de queima – lado inferior. Fonte: Autora, 15/07/2011.
55
Conforme se pode observar nas figuras 43 e 44, a queima da massa só inicia
após 6min, tempo que diminui significativamente se houver uma exposição contínua à
radiação, especialmente provocada quando não se recorre à programação do
equipamento. É possível prever que o tempo está relacionado principalmente com a
água de constituição da mistura (presente de maneira variável tanto no sotille úmido,
quanto na emulsão PVA), mas também com a quantidade de massa total de matéria a
ser desidratada, bem como a potência e freqüência do aparelho de microondas. Por
isto, não é possível determinar o tempo exatamente. A solução é interromper o
processo em intervalos regulares, onde se faz a homogeneização da massa e
averiguação da aderência ao refratário e à mão.
c)
Reaproveitamento da massa por reidratação
Considerando que pode haver um ressecamento superficial do material,
planejou-se uma demonstração do reaproveitamento do produto. Utilizou-se a fração
número 1 do teste anterior, que apresentava ressecamento superficial, perda de peso,
plasticidade e adesividade, mas não havia sofrido queima. Conforme pode ser
observado na figura 45, a porção foi posta em um vasilhame refratário, reidratada com
um pouco de água e reaquecida no forno de microondas em potência alta por 30s para
facilitar a absorção do líquido (fig. 46). Com isso, o ressecamento superficial cedeu
(fig. 46); a substância pôde ser novamente homogeneizada (fig. 47 e 48), o poder
adesivo foi reativado e a substância retomou as propriedades plásticas originais (fig.
49).
Portanto,
conclui-se
também
que
a
nova
massa
possui
propriedade
termodinâmica.
Em outra circunstância, quando o produto sofre leve ressecamento por
demora de ser embalado, por exemplo, só é necessário uma reidratação e
amalgamento da substância, pois o próprio ato de amassar por entre as mãos aquece
o produto e lhe devolve suas propriedades plásticas originais.
Como última e mais importante consideração, frisa-se que a retratabilidade do
material deve ser buscada uma ou duas vezes, no máximo, pois o ressecamento e a
reidratação imediatos são sinais de contração e de dilatação da matéria. Os efeitos, já
citados, causam estresses físicos no qual as qualidades dos substratos adesivos são
alteradas, prejuízo que pode ser potencializado por temperaturas elevadas e/ou
instáveis (PASCUAL, 2002).
56
Figura 45: Reidratação da substância ressecada. Figura 46: Absorção da água pela mistura.
Figura 47: Homogeneização. Figura 48: Homogeneização. Figura 49: Retorno das
propriedades plásticas e adesivas. Fotografias: Autora, 15/07/2011.
d)
Pigmentação,
combinações
de
cores,
modelagem
e
breves
considerações sobre o material seco
Para testar a tonalização das substâncias na cor marrom foi utilizado 3g de
um composto a base de óxido de ferro84; para coloração dourada, foi utilizado 3g de
84
Disponível em: <www.sherwin-williams.com.br/imagens/produto/fispq/xadrez_marrom.pdf>,
acesso em 05/09/2011.
57
purpurina extrafina, no tom ouro rico. Foram feitos dois testes: no primeiro
acrescentaram-se os pigmentos na mistura prévia, antes de sua desidratação no forno
de microondas; no segundo, após a desidratação da mistura branca básica. Em
ambas as situações a homogeneidade é completa, porém o processo mais rápido e
fácil é aquele em que se acrescenta o pigmento à mistura, antes desta ir à
desidratação. A combinação de massas coloridas é possível, bastando amalgamar as
substâncias completamente.
A modelagem é semelhante à massa da porcelana fria, massa de modelar
infantil e argila, de ótimas vantagens para modelagem manual ou por moldes85. O
material modelado apresenta ótima estabilidade e a secagem se inicia tão logo haja
exposição ao ar, porém, há maior resistência superficial após 1h. Após a secagem,
percebeu-se que as misturas brancas apresentavam um tom acinzentado; as massas
coloridas, o tom ligeiramente acentuado.
e)
Teste de aferição do pH
O teste de aferição do pH foi feito através de fitas de medição. Utilizaram-se
as massas frias já produzidas (mistura básica, marrom e dourada), que estavam
embaladas úmidas e se repetiu a aferição quando em estruturas pilotos que já tinham
secado completamente. Em todas as situações o material não apresentava acidez
(pH=7).
3.3 A receita final
As figuras 50 a 55 representam as fases mais importantes da preparação da
massa PVA/sotille no forno de microondas doméstico. Em resumo, a receita final pode
ser descrita pelos seguintes passos:
1º.
Preparo prévio: produção do gesso sotille (24h), escoando toda a água
excedente e desprezando a secagem do produto.
2º.
Proporção da mistura: emulsão PVA emulsão + 80% sotille em água
(P/P – 1:1). Acaso se intencione uma massa colorida é nesta fase em que se
85
A fôrma não pode ser muito flexível: se for de silicone não há necessidade de untar o positivo; se for de
gesso, o positivo deve ser isolado com cera incolor.
58
acrescenta o pigmento86. Após a pesagem os ingredientes devem ser completamente
misturados em um vasilhame de vidro refratário.
3º.
Desidratação no forno de microondas: calcular o tempo baseando-se
que para uma mistura de 100g é necessária uma desidratação de 2.30min em
potência alta, com intervalos regulares de tempo (30s) para homogeneização e
verificação do material. Para uma mistura de menor peso, se precisará de menos
tempo; mais pesada, mais tempo. Esta fase se encerra quando a substância exibe
uma aparência texturizada e o desprendimento das paredes do vidro.
4º.
Homogeneização final (sova): ao final da desidratação, a mistura e os
resíduos aderidos às laterais podem retirados do refratário, agregados e depositados
sobre uma superfície lisa e fria (mármore ou vidro). Espera-se que o material esfrie um
pouco, para logo se iniciar a sova, e só cessa no momento em que a substância se
apresente completamente fria. O resultado é uma massa lisa, compacta, uniforme,
flexível e elástica, que não adere ao mármore e nem as mãos.
5º.
Acondicionamento: por último, o produto é embalado em saco plástico
de polietileno, cuidando para que o ar do interior do invólucro seja retirado ao máximo.
Para facilitar a diferenciação da matéria produzida daquelas que lhe
originaram – a pasta convencional e o estuque de gesso – considerou-se conveniente
determinar um nome próprio à massa produzida. A denominação busca classificar o
novo material dentro das vantagens plásticas das técnicas de modelagem
pastilhagem, como foram descritas por LÓPEZ (2009) e ALONSO-MARTÍNEZ (1997),
e, também, informar o adesivo que está contido na substância (acetato de polivinil PVA).
Deste modo, o nome pastiglio polivinílico foi pensado em função de sua
indicação e classificação como consolidante, ou seja, para utilização na estabilização
de pastiglios ornamentais, estando compreendido com um composto moderno dentro
da disciplina da Conservação. O batismo foi idealizado pela autora desta monografia Veronica Coffy Bilhalba dos Santos.
86
Considerando que para uma mistura final de 100g é suficiente 3g de pigmento. Após a secagem a
estrutura apresentará coloração intensa.
59
Figura 50: Pastiglio polivinílico – pasta inicial. Figura 51: Pastiglio polivinílico – desidratação no
microondas. Figura 52: Pastiglio polivinílico – pontofinal. Figura 53: Pastiglio polivinílico – sova.
Figura 54: Pastiglio polivinílico – massa final. Figura 55: Pastiglio polivinílico – embalagem
plástica. Fonte: Autora, 15 e 16/07/2011.
60
CAPÍTULO 4 – PASTAS CONVENCIONAIS E PASTIGLIO POLIVINÍLICO: ANÁLISE
COMPARATIVA DE AMOSTRAS A PARTIR DE APLICAÇÃO EM MOLDURA DO
SÉC. XX
Este capítulo se dedica a apresentar os ensaios práticos propostos no plano
de trabalho desta monografia. Divide-se em duas fases: i) a primeira fase expõe as
análises comparativas no corpo de amostras desenvolvidos a partir da pasta de gesso,
estuque rápido e o pastiglio polivinílico; ii) a segunda fase demonstra as diferenças da
aplicação do pastiglio polivinílico e do estuque rápido.
O objetivo primordial é refletir sobre o comportamento dos consolidantes
antes e depois da secagem das misturas, a fim de perceber suas diferenças na
preparação e compreender qual estrutura supriria as necessidades de consolidação
dos pastigli - os que motivaram este estudo - de uma maneira mais fácil, fiel e eficaz.
O corpo de amostras foi desenvolvido da seguinte maneira: primeiramente se
produziu misturas de pasta de gesso e estuque rápido; a seguir, produziu-se massas
de pastiglio polivinílico. Em todos os métodos, foram produzidas misturas com e sem
coloração87, onde os pigmentos óxido de ferro (cor marrom) e purpurina extrafina
(dourado) foram considerados como aditivos de percentual mínimo. As pastas de
gesso foram produzidas com gelatina; o estuque rápido e o pastiglio polivinílico foram
produzidos com PVA popular e de restauração.
Os preparados foram aplicados em moldes idênticos (discos plásticos
flexíveis de 1g e 3cm de diâmetro e 0,5cm de profundidade). Ao todo foram produzidas
15 misturas de 80g e 15 amostras de 12g88: 5 brancas (pasta básica), 5 marrons e 5
douradas, que tiveram seu comportamento monitorado durante a secagem em
intervalos de 6hs, 12hs, 24hs, 48hs, 72hs, 7dias e 30 dias. Foram estabelecidos
alguns parâmetros básicos para a avaliação das propriedades físicas de aplicação,
tais como: penetrabilidade, plasticidade, elasticidade, aderência, aproveitamento,
reidratação, etc. Particularmente, cita-se que a pesagem foi refeita antes e depois da
secagem89 das amostras e o teste de pH90 foi aferição recorrente91 nos adesivos, nas
substâncias consolidantes e nas amostras – nos dois últimos casos se repetindo após
30 dias.
87
Respeitando as particularidades de cada método. Nesta situação cada mistura terá determinada
plasticidade, tempo de secagem, de desmoldagem, etc.
88
Peso com molde preenchido e nivelado pelas suas laterais.
89
Respeitando o tempo necessário para que as amostras apresentassem resistência.
90
Através de fitas de medição.
91
Feito com fitas medidoras de pH.
61
Posteriormente, o estuque de gesso e o pastiglio polivinílico foram aplicados
em uma moldura decorada similar aos objetos do Museu da Baronesa e foram
observados: qualidade de aplicação, riscos e estabilidade; aproveitamento do material;
instrumental necessário; poder adesivo e de retração em gretas profundas e lacunas
de maior dimensão; textura de apresentação; facilidade na remoção para fins de
limpeza e reversibilidade; distinguibilidade da intervenção; reações indesejáveis com
pintura à base d’água (guache e aquarela) e verniz de acabamento à base de Paraloid
B72/xilol.
4.1 Amostragem produzida através do método pasta de gesso
A receita produzida foi a seguinte:
a)
Preparo prévio: produção do gesso sotille92 (24h) e hidratação da
gelatina com água em temperatura ambiente (V/V – 1:4, tempo de descanso - 1h).
b)
Produção da pasta: a gelatina hidratada foi aquecida em banho-maria e
em seguida foi adicionado o sotille isolado - ou misturado aos pigmentos (fig. 56 e 57)
- aos poucos até que se obtivesse uma mistura consistente. A proporção dos
reagentes foi identificada: gelatina hidratada/sotille + pigmento (P/P – 1:3).
O material permaneceu aquecido em banho-maria para aplicação, sendo que
os moldes foram preenchidos com o auxílio de espátulas. Como mostra a figura 58, no
total foram produzidas três substâncias e três amostras: branca nº.1 (S1, A1.1),
marrom nº 2 (S2, A2.1) e dourada nº3 (S3, A3.1).
Figuras 56: Homogeneização de sólidos: gesso sotille seco e pigmento marrom. Figura 57:
Homogeneização de sólidos: gesso sotille seco e purpurina. Fonte: Autora, 23/08/2011.
92
Nesta receita, agilizou-se o processo de secagem do material no microondas doméstico, de modo que
a umidade antecedente não afetasse a resistência mecânica das estruturas finais.
62
Figura 58: Amostras produzidas com a mistura gelatina/sotille. Fonte: Autora, 23/08/2011.
As estruturas já secas foram desenformadas após 7 dias, momento
representado pelas figuras 59 e 60.
Figura 59: Amostras gelatina/sotille ainda nos moldes. Figura 60: Desmoldagem amostras de
gelatina/sotille – 7 dias. Fonte: Autora, 30/08/2011.
As tabelas 2 a 4 representam os dados das pastas preparadas e as tabelas 5
e 6, os dados das amostras após a secagem.
63
Identificação
S
Data
Aglut. /
pH
Hs
Solução
Métodos
Agregado
Proporção
pigmento
pH
Cozimento
Aplicação
não
8
banho-maria
quente
1 23/08/11 10.37 gelatina/7 V/V -1 : 4 sotille seco 1: 3 (20g-60g)
2 23/08/11 11.10 gelatina/7 V/V -1 : 4 sotille seco
1: 3(20g-60g)
marrom (3g)
8
banho-maria
quente
3 23/08/11 11.15 gelatina/7 V/V -1 : 4 sotille seco
1: 3(20g-60g)
dourado (3g)
8
banho-maria
quente
Tabela 2: Identificação das pastas de gelatina/sotille.
Aparência
Comportamento
Cor
Trans.
Bril
Plastic
Elast
branco
não
sim
não
2 suficiente marrom
não
sim
não
sim
3 suficiente
não
sim
semilíquida
semilíquida
semilíquida
Aderência
(mão ou
inst.)
sim
não
sim
S
Homog
1 suficiente
ocre
Aprov.
Ressec.
Reidrat.
enquanto
quente
enquanto
quente
enquanto
quente
corpo
gelatinoso
corpo
gelatinoso
corpo
gelatinoso
Não
indicado
Não
indicado
Não
indicado
Durab
não
não
não
Tabela 3: Aparência e comportamento das pastas de gelatina/sotille.
Penetrabilidade
Secagem
A
0,5 cm
6h
12h
24h
48h
72h
1.1
razoável
não
não
não
não
sim
2.1
3.1
razoável
razoável
não
não
não
não
não
não
razoável
razoável
sim
sim
Tabela 4: Penetrabilidade das pastas e comportamento das amostras gelatina/sotille.
Aparência pós secagem
A
cor
Homog.
Tom
(variação)
1.1
2.1
3.1
branco
marrom pastel
gris pastel
sim
não
não
clareou
clareou
clareou
Transp.
Brilho
Acabamento
Limpeza
não
não
não
não
não
não
bom
bom
bom
fácil
fácil
fácil
Tabela 5: Aparência das amostras gelatina/sotille após a secagem.
Variação proporções
Resistência
A
Lateral
Superficial
Deformação
Peso
Estabilidade
no desenforme
risco
quebra
umidade
abrasão
pH
1.1
2.1
3.1
não
não
não
Sim
Sim
sim
Sim
3g
Não (7 dias)
não
não
não
não
8
Sim
sim
3g
3g
Não (7 dias)
Não (7 dias)
não
não
não
não
não
não
não
não
8
8
Tabela 6: Variações percebidas nas amostras de gelatina/sotille.
Após a secagem as amostras foram embaladas, como demonstra a fig. 61 e
monitoradas a cada semana, durante um mês.
64
Figura 61: Amostras gesso gelatina/sotille embaladas. Fonte: Autora, 30/08/2011.
4.2 Resultados da análise das amostras de pasta de gesso
Em resumo se observou que:
1º.
O método apresentou certa complexidade, em razão da prévia
preparação dos reagentes e pela necessidade de manter a substância aquecida sem
aumentar a temperatura. O processo é comum ao métier do conservador-restaurador,
mas tem complicada logística, pois o equipamento que fornece calor tem estar perto
do objeto de aplicação e a mistura deve ser constantemente monitorada.
2º.
Em todas as substâncias preparadas (com ou sem coloração), o
resultado foi um material homogêneo, não transparente, de certo brilho e fluidez,
consistência semi-líquida e alcalino (pH= 8). A substância teve fácil aplicação a quente
(por espátula) e razoável penetrabilidade, porém quando esfriou perdeu estas
capacidades. O nivelamento foi feito com a espátula, mas não se alcançou um bom
acabamento. A lisura e a limpeza foram possíveis com swabs úmidos, mas
demonstraram danificar a superfície aplicada.
3º.
Ao esfriar, a substância modificou suas propriedades: passando a ser
uma massa gelatinosa, sem características plásticas e adesivas.
4º.
Observou-se que a secagem aconteceu em uma direção horizontal, das
laterais externas para o interior. Deste modo, não foi possível desenformar as
estruturas antes de 72hs, pois a parte central da estrutura não oferecia, até este
momento, uma boa estabilidade física.
5º.
Após a secagem, as amostras apresentaram variação indesejável em
cor, brilho, dimensões e, de um modo extremo, de peso. Nas amostras coloridas
65
aparecerem pontos brancos, revelando que, na verdade, os sólidos e o adesivo não
foram bem misturados. O pH permaneceu no índice 8.
6º.
O desenforme (7 dias) encontrou certa resistência (por adesão ao
molde), por isso a superfície externa foi danificada. O material exibiu baixa resistência
a riscos, quebras, abrasão e umidade. O lixamento não provoca suspensão exagerada
de pó. As fig. 62 a 64 apresentam a fragilidade das amostras já secas, de interior
relativamente poroso93 e que, em geral, tende a pulverizar. A estrutura quebra com
facilidade; o interior é extremamente poroso. Após a secagem os pHs se mantiveram
inalterados.
7º.
Os resíduos do molde foram facilmente removidos com reidratação.
8º.
Após algum tempo embaladas, as substâncias ainda úmidas 1 e 3
apresentaram danos: a branca, mofos superficiais; a dourada, coloração esverdeada zinabre94. Após 14 dias todas essas amostras apresentaram mau cheiro, sendo que,
como mostra a fig. 65, a S1 e S2 também liquidificaram. Por este motivo, todos estes
itens foram descartados.
Figura 62: Porosidade interna das amostras gelatina/sotille. Figura 63: Porosidade interna das
amostras gelatina/sotille e pigmento marrom. Figura 64: Porosidade interna das amostras
gelatina/sotille e purpurina. Fonte: Autora, 30/08/2011.
93
94
Aparência de escamas.
Carbonato de cobre, produto da oxidação metálica do cobre em contato com alta umidade.
66
Figura 65: Comportamento das amostras S1 e S2 após 14 dias embaladas. Fonte: Autora,
13/09/2011.
4.3 Amostragem produzida através do método estuque rápido
Para a correta aferição dos dados, planejou-se uma mistura de solução
aquosa de PVA (50%)/gesso vivo +pigmento (P/P – 1 : 3), sendo que primeiro se
preparou substâncias com o adesivo PVA Cascorez Extra e depois as com PVA
Lineco. Os aditivos de coloração foram misturados primeiramente ao gesso, tal como
foi feito na pasta tradicional (fig. 56 e 57). Os moldes foram preenchidos após iniciar o
tempo de pega com o auxílio de espátula95, somando um total de seis substâncias e
seis amostras, divididas em dois grupos, assim como mostram as figuras 66 e 67:
a)
PVA Cascorez Extra: 1º - massa branca (S10, A10.1), 2º - marrom
(S11, A11.1) e 3º - dourada (S12, A12.1).
b)
PVA Lineco: 4º - massa branca (S13, A13.1), 5º - marrom (S14, A14.1)
e 6º - dourada (S15, A15.1).
As
estruturas já secas
foram
desenformadas
após
12h,
momento
representado pelas figuras de 66 a 69.
Após a secagem, todas as amostras foram embaladas (fig. 70 e 71) e
monitoradas a cada semana, durante um mês. Nenhuma das amostras apresentou
mudança.
95
Intencionando provocar o questionamento sobre aproveitabilidade do material após 4min. Para
reintegrações em grandes dimensões expor esta desvantagem se faz importante, já que no início o
material se apresenta plástico, mas perde esta qualidade logo após iniciar a pega.
67
Figura 66: Amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo ainda nos moldes. Figura 67: Desenforme
do corpo de amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo – 7 dias. Figura 68: Amostras PVA
Lineco/gesso vivo ainda nos moldes. Figura 69: Desenforme do corpo de amostras PVA
Lineco/gesso vivo – 7 dias. Fonte: Autora, 07/09/2011.
Figura 70: Amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo embaladas. Figura 71: Amostras PVA
Lineco/gesso vivo embaladas. Fonte: Autora, 07/09/2011.
As tabelas 7 a 9 representam os dados das substâncias preparadas e as
tabelas 10 e 11 os dados das amostras após a secagem.
68
Identificação
S
Data
Hs
Aglut. / pH
Solução
Métodos
Agregado
10 07/09/11 16.30 Cascorez /5 V/V- 1 : 1
vivo
11 07/09/11 17.30 Cascorez /5 V/V- 1 : 1
vivo
12 07/09/11 17.45 Cascorez /5 V/V- 1 : 1
vivo
13 07/09/11 18.50
Lineco/7
V/V- 1 : 1
vivo
14 07/09/11 19.10
Lineco/7
V/V- 1 : 1
vivo
15 07/09/11 19.25
Lineco/7
V/ V- 1 : 1
vivo
Proporção
pigmento
1:3
(20g-60g)
1:3
(20g-60g)
1:3
(20g-60g)
1:3
(20g-60g)
1:3
(20g-60g)
1:3
(20g-60g)
pH Cozimento Aplicação
não
6
não
frio
marrom (3g)
6
não
frio
dourado (3g)
6
não
frio
não
7
não
frio
marrom (3g)
7
não
frio
dourado (3g)
7
não
frio
Tabela 7 - Identificação das pastas de estuque rápido.
Aparência
Comportamento
Cor
Trans.
Bril.
Plast.
Elast.
Aderência
(mão ou
inst.)
Aprov.
Ressec.
10 suficiente
branco
não
sim
pasta
não
sim
aprox. 8min
gradual
impossivel nenhuma
11 suficiente
marrom
não
sim
pasta
não
sim
aprox. 8min
gradual
impossivel nenhuma
12 suficiente
dourado
não
extra massa
não
sim
aprox. 8min
gradual
impossivel nenhuma
13 suficiente
branco
não
sim
pasta
não
sim
aprox. 8min
gradual
impossivel nenhuma
14 suficiente
marrom
não
sim
pasta
não
sim
aprox. 8min
gradual
impossivel nenhuma
15 suficiente
dourado
não
extra massa
não
sim
aprox. 8min
gradual
impossivel nenhuma
S
Homog.
Reidrat.
Durab.
Tabela 8 - Aparência e comportamento das pastas de estuque rápido.
Penetrabilidade
A
10.1
11.1
12.1
13.1
14.1
15.1
0,5 cm
razoável
razoável
razoável
insuficiente
insuficiente
insuficiente
Secagem
6h
razoável
razoável
sim
razoável
razoável
razoável
12h
sim
sim
X
sim
sim
sim
24h
x
x
X
x
x
x
48h
x
x
X
x
x
x
72h
x
x
X
x
x
x
Tabela 9 – Penetrabilidade das pastas e comportamento das amostras de estuque rápido.
Aparência pós secagem
A
cor
Homog.
Tom (variação)
Transp.
Brilho
Acabamento
Limpeza
10.1
11.1
12.1
13.1
14.1
15.1
branco
marrom
ocre
branco
marrom
ocre
sim
sim
não
sim
sim
não
clareou
clareou
esbranquiçamento
clareou
clareou
esbranquiçamento
não
não
não
não
não
não
não
não
parcial
não
não
parcial
satisfatório
satisfatório
satisfatório
satisfatório
satisfatório
satisfatório
resistente
resistente
resistente
resistente
resistente
resistente
Tabela 10 - Aparência das amostras de estuque rápido após secagem.
69
Variação proporções
Resistência
A
Lateral
Superficial
Deformação
Peso
Estabilidade
no desenforme
risco
10.1
11.1
12.1
13.1
14.1
15.1
mínima
mínima
mínima
mínima
mínima
mínima
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
8g
9g
10g
10g
10g
10g
Não (12hs)
Não (12hs)
Não (12hs)
Não (12hs)
Não (12hs)
Não (12hs)
sim
sim
sim
sim
sim
sim
quebra
não
não
não
não
não
não
umidade
abrasão
pH
sim
sim
sim
sim
sim
sim
não
não
não
não
não
não
6
6
6
7
7
7
Tabela 11 – Variações percebidas nas amostras de estuque rápido.
4.4 Resultados da análise das amostras de estuque rápido
Nas amostras de estuque rápido foi observado que:
1º.
Não houve dificuldades na preparação das substâncias.
2º.
As substâncias preparadas apresentaram uma pasta homogênea, não
transparente e de certo brilho, mas a textura se tornou mais arenosa quando houve o
acréscimo de pigmentos. Os preparados tiveram fácil aplicação a espátula
(temperatura ambiente) e demonstraram ser aderentes, porém não exibiram uma boa
penetrabilidade.
3º.
A reação do gesso foi rápida: iniciou em aproximadamente 4min, em
poucos minutos a apresentação modificou de pasta à massa e em 10min o material
não exibiu mais plasticidade para aplicação. Observou-se que a rápida reação do
gesso prejudicou o nivelamento, a lisura e a limpeza, e só puderam ser tratadas após
a secagem do material. Não houve como reaproveitar a substância.
4º.
A mistura com PVA Cascorez exibiu pH = 6; a com Lineco pH = 7.
5º.
A secagem do material ocorreu em uma direção horizontal, das
extremidades para o interior. Em 6hs seria possível desenformar a estrutura, que
exibia evidente estabilidade, porém se optou por uma desmoldagem após 12hs
apenas para verificar se contrações dimensionais seriam evidentes. As amostras
A10.1, A11.1, A13.1 e A. 14.1 variaram positivamente em cor e brilho; as amostras
A12.1 e A15.1 apresentaram esbranquiçamento; todas as amostras variaram
minimamente em o peso e dimensões laterais. Não houve contrações superficiais e
nem deformações, mesmo após 30 dias.
6º.
O desenforme se apresentou um pouco difícil, por isso a superfície
sofreu pequenas quebras. O material exibiu boa resistência a riscos e umidade; foi
possível o lixamento da estrutura, sendo que esta ação provocou suspensão de pó. A
estrutura apresenta coesão, mas quebra com certa facilidade; tal como apresentam as
70
fig. 72 a 77, o interior se mostrou sempre extremamente poroso. Após a secagem os
pHs se mantiveram inalterados.
7º.
Os resíduos do molde foram removidos com raspagem e, os mais
resistentes, com imersão em água.
Figura 72: Porosidade das amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo. Figura 73: Porosidade
das amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo e pigmento marrom. Figura 74: Porosidade das
amostras PVA Cascorez Extra/gesso vivo e purpurina. Figura 75: Porosidade das amostras
PVA Lineco/gesso vivo. Figura 76: Porosidade das amostras PVA Lineco/gesso vivo e
pigmento marrom. Figura 77: Porosidade das amostras PVA Lineco/gesso vivo e purpurina.
Fonte: Autora, 07/09/2011.
4.5 Amostragem produzida através do pastiglio polivinílico
Este processo foi feito primeiramente com adesivo PVA Cascorez Extra,
depois com PVA Lineco e, posteriormente, foram feitas misturas com aditivos de
coloração marrom e dourado. As amostras foram produzidas manualmente,
modeladas em uma porção redonda e inteiriça (fig. 78), e que posteriormente foram
pressionadas sobre o molde (fig. 79) até preencher toda a estrutura (fig. 80). No final,
seis substâncias e seis amostras foram criadas, e que podem ser divididas em dois
grupos:
c)
PVA Cascorez Extra: 1º - massa branca (S4, A4.1), 2º - marrom (S5,
A5.1) e 3º - dourada (S6, A6.1).
71
d)
PVA Lineco: 4º - massa branca (S7, A7.1), 5º - marrom (S8, A8.1) e 6º -
dourada (S9, A9.1).
As massas úmidas foram mantidas sempre em embalagem fechada. As
estruturas já secas foram desenformadas após 7 dias, momento representado pelas
figuras 81 e 85.
Figura 78: Demonstração da aplicação do pastiglio polivinílico nos moldes – porção marrom.
Figura 79: pressão para preencher o molde com pastiglio polivinílico – porção dourada. Figura
80: Molde preenchido completamente com pastiglio polivinílico – porção dourada. Fonte:
Autora, 08/09/2011.
Figura 81: Amostras de pastiglio polivinílico criados com PVA Cascorez Extra/sotille ainda nos
moldes. Figura 82: Moldes separados da estrutura do pastiglio polivinílico PVA Cascorez
Extra/sotille.Figura 83: Estruturas de pastiglio polivinílico criados com PVA Cascorez
Extra/sotille separadas dos moldes. Figura 84: Amostras de pastiglio polivinílico criados com
PVA Lineco/sotille ainda nos moldes. Figura 85: Moldes e estruturas de pastiglio polivinílico
criados com Lineco/sotille separados. Fonte: Autora, 15/09/2011.
72
As tabelas 12 a 14 representam os dados das substâncias preparadas e as
tabelas 15 e 16, os dados das amostras após a secagem.
Identificação
S
Data
Hs
Aglut. / pH
Métodos
Solução
Agregado
Proporção
pigmento
pH Cozimento Aplicação
4 08/09/11 19.30 Cascorez /5
puro
40g - 48g
não
7
5 08/09/11 19.55 Cascorez /5
puro
40g - 48g
marrom (3g)
7
6 08/09/11 20.20 Cascorez /5
puro
40g - 48g
dourado (3g)
7
7 08/09/11 20.45
Lineco/7
puro
40g - 48g
não
8
8 08/09/11 21.10
Lineco/7
puro
40g - 48g
marrom (3g)
8
9 08/09/11 21.35
Lineco/7
puro
80% sotille
em H2O
80% sotille
em H2O
80% sotille
em H2O
80% sotille
em H2O
80% sotille
em H2O
80% sotille
em H2O
40g - 48g
dourado (3g)
8
micro
2.30min
micro
2.45 min
micro
2.45 min
micro
2.30min
micro
3 min
micro
2.30min
morno/frio
morno/frio
morno/frio
morno
morno
morno
Tabela 12: Identificação das massas de pastiglio polivinílico.
Aparência
S
Homog
Comportamento
Cor
Trans.
Bril
Plastic
Elast
4 suficiente
branco
não
não
massa
sim
5 suficiente
marrom
não
não
massa
sim
6 suficiente
dourado
não
sim
massa
sim
7 suficiente
branco
não
não
massa
sim
8 suficiente
marrom
não
não
massa
sim
9 suficiente
dourado
não
sim
massa
sim
Aderência
(mão ou
inst.)
na luva pouco
na luva pouco
na luva pouco
na luva pouco
na luva pouco
na luva pouco
Aprov.
ótimo
ótimo
ótimo
ótimo
ótimo
ótimo
Ressec.
não
embalado
não
embalado
não
embalado
não
embalado
não
embalado
não
embalado
Reidrat.
Durab
possível
sim
possível
sim
possível
sim
possível
sim
possível
sim
possível
sim
Tabela 13: Aparência e comportamento das massas de pastiglio polivinílico.
Penetrabilidade
Secagem
A
0,5 cm
6h
12h
4.1
5.1
6.1
7.1
8.1
9.1
suficiente
suficiente
suficiente
suficiente
suficiente
suficiente
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
24h
razoável
razoável
razoável
razoável
razoável
razoável
48h
72h
bom
bom
bom
bom
bom
bom
sim
sim
sim
sim
sim
sim
Tabela 14: Penetrabilidade e comportamento das massas de pastiglio polivinílico.
Aparência pós secagem
A
cor
Homog.
Tom
(variação)
Transp.
Brilho
Acabamento
Limpeza
4.1
5.1
6.1
7.1
8.1
9.1
cinza
marrom
dourado
branco
marrom
dourado
sim
sim
sim
sim
sim
sim
escureceu
escureceu
escureceu
escureceu
escureceu
escureceu
não
não
não
não
não
não
não
não
sim
não
não
sim
bom
bom
bom
bom
bom
bom
fácil
fácil
fácil
fácil
fácil
fácil
Tabela 15: Aparência das amostras de pastiglio polivinílico após a secagem.
73
Variação proporções
Resistência
A
Lateral
Superficial
Deformação
Peso
Estabilidade
no desenforme
risco
quebra
umidade
abrasão
pH
4.1
5.1
6.1
7.1
8.1
9.1
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
Sim
não
não
não
não
não
não
7g
7g
7g
8g
7g
7g
Sim (2dias)
Sim (2dias)
Sim (2dias)
Sim (2dias)
Sim (2dias)
Sim (2dias)
não
não
não
não
não
não
sim
sim
sim
sim
sim
sim
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
não
7
7
7
7
7
7
Tabela 16: Variações percebidas nas amostras de pastiglio polivinílico.
As estruturas já secas também foram embaladas (fig. 86 e 87) e monitoradas
a cada semana, durante um mês.
Figura 86: Amostras de pastiglio polivinílico criadas com Cascorez Extra/sotille embaladas.
Figura 87: Amostras de pastiglio polivinílico criadas com Lineco/sotille embaladas. Fonte:
Autora, 15/09/2011.
4.6 Resultados da análise das amostras de pastiglio polivinílico
Nestas amostras se observou que:
1º.
A fórmula exibiu certa complexidade, em razão da preparação do gesso
sotille, da disponibilidade do equipamento e do acerto do ponto ideal de plasticidade.
Para os demais parâmetros (controle de cozimento, pesagem de reagentes, etc.) o
processo acompanha o métier do conservador-restaurador.
2º.
As substâncias preparadas (com ou sem coloração) apresentaram uma
massa homogênea, não transparente e de certo brilho.
3º.
A substância pôde ser aplicada manualmente, mas o material aderiu um
pouco no látex das luvas. Deste modo, a manipulação com luvas requisitou adaptação
74
e limpeza dos resíduos com uma toalha úmida. A moldagem por pressão facilitou uma
ótima penetrabilidade do produto por toda a extensão do molde. A longevidade da
propriedade plástica facilitou a sobreposição de camadas o nivelamento cuidadoso,
que pôde ser corrigido pela subtração ou acréscimo de material; a lisura e limpeza da
superfície foram facilitadas com reidratação, sem prejuízo algum. O ressecamento
superficial e aderência de novas camadas puderam ser tratados com reidratação
superficial mínima.
4º.
As substâncias finais produzidas com PVA Extra apresentaram pH
neutro (pH=7); e as com PVA Lineco, pH alcalino (pH=8).
5º.
Já que o molde apresentava certa flexibilidade, seria possível
desenformar a estrutura antes da secagem do material, mas se optou por uma
desmoldagem após 48hs, a fim de perceber as variações dimensionais sofridas. A
secagem do material ocorreu em uma direção vertical, de fora para dentro, formando
uma película de grossa camada na superfície. Na desmoldagem as amostras
apresentaram o verso levemente úmido, fato provavelmente causado pela
impermeabilidade do molde. Apesar disso, a estrutura apresentou ótima estabilidade
na desmoldagem. Após a secagem, todas as amostras variaram positivamente em cor
e brilho, mas o peso e as dimensões sofreram modificações parciais.
6º.
O desenforme se apresentou fácil (7 dias), pela flexibilidade e
desprendimento que a estrutura apresentava. Todas as amostras exibiram resistência
à penetração e quebra, relativa resistência a riscos e abrasão, porém todas foram
sensíveis a alta umidade96.
Na abrasão não ocorreu a suspensão de pó, ou foi
insignificante, pois não se observou resíduos depositados sobre outras superfícies ou
no chão. A estrutura seca exibiu flexibilidade e não quebrou com facilidade (fig. 88 a
93); o interior é compacto. Após a secagem os pHs se mantiveram inalterados.
7º.
Após 30 dias embaladas as amostras perderam parte da flexibilidade,
superficialmente não apresentaram mudanças na cor, brilho e dimensões.
96
Promovida pelo PVA concentrado em proporção equivalente com o gesso.
75
Figura 88: Flexibilidade e resistência da amostra de pastiglio polivinílico (Cascorez/sotille) após
7 dias. Figura 89: Amostra de pastiglio polivinílico marrom (Cascorez/sotille) – propriedades
análogas a fig.88. Figura 90: Amostra de pastiglio polivinílico dourado (Cascorez/sotille) –
propriedades análogas a fig.88. Figura 91: Amostras de pastiglio polivinílico (Lineco/sotille) –
propriedades análogas a fig.88. Figura 92: Amostras de pastiglio polivinílico marrom
(Lineco/sotille) – propriedades análogas a fig.88. Figura 93: Amostras de pastiglio polivinílico
dourado (Lineco/sotille) – propriedades análogas a fig.88. Fonte: Autora, 15/09/2011.
4.7 Moldura do séc. XX: análise comparativa dos consolidantes estuque rápido
e pastiglio polivinílico
A moldura representada pela figura 94 foi o suporte escolhido para o
comparativo experimental com os consolidantes estuque rápido e pastiglio polivinílico.
A ornamentação é de tipologia e patologia similares às molduras do Museu da
Baronesa. O objeto de aproximadamente 37,5cm X 42cm X 5cm; foi adquirido na loja
GN Sebo97 e não tem associada a nenhuma informação que indicasse sua provável
datação. A figura 95 representa a descrição da aparência física do relevo e sua
patologia, partindo de uma análise organoléptica:
97
Localizada na Pç. 7 de Julho, n° 066 - em frente ao Mercado Público Municipal pela rua XV de
Novembro. Parte deste acervo comercial pode ser visualizado no site: <http://gnsebo.blogspot.com/>,
disponível em: 06/11/2011.
76
Aplicação sobre a base de preparação da madeira, de cor branca. A
espessura do relevo varia de 0,5cm X 2cm, de cor ocre, estrutura compacta e de
aspecto vítreo-cerâmico. Existem dois tipos de decoração que, provavelmente, foram
produzidas por pré-moldagem; o padrão decorativo é floral com linhas orgânicas. A
patologia, de uma maneira geral, compromete a estabilidade e a estética da
decoração: craquelês de estágio avançado, desprendimento de partes e lacunas de
grandes dimensões. As características apresentadas sugerem um substrato adesivo
complexo, cujo envelhecimento prejudicou a coesão dos materiais compositivos.
Sobre o relevo está uma camada de cor vermelha, douramento e pátina intencional
preta (em processo de pulverização).
Figura 94: Moldura-teste, 37,5cm X 42cm X 5cm, séc.XX. Laca, douramento e pátina
intencional sobre pastiglio. Fonte: Autora, 20/09/2011.
77
Figura 95: Detalhe da fig. 94 – padrão decorativo do relevo. Fonte: Autora, 25/09/2011.
Faz-se necessário constar que antes de qualquer teste e aplicação de
consolidantes, o objeto passou por uma higienização superficial, por uma
desinfestação e as partes soltas e frágeis foram consolidadas com uma solução
aquosa de Primal AC6098. Após a secagem completa do adesivo, todas as amostras
foram comparadas ao relevo da moldura-teste, onde se pôde constatar que:
As estruturas produzidas com pasta de gesso tradicional, representadas pelas
amostras A 1.1, A 2.1 e A 3.1 não apresentam aspecto vítreo-cerâmico como a
moldura-teste e, embora estejam bem compactas, a superfície e o interior são macios
e porosos – comparação exemplificada pela figura 96 – que, neste caso, não sugere
estabilidade para a consolidação do objeto em questão.
As estruturas produzidas com estuque de gesso, representadas pelas
amostras do grupo A 10.1, A 11.1, A 12.1, A 13.1, A 14.1 e A 15.1, também diferem do
relevo da moldura-teste. Como exemplifica a figura 97, o estuque de gesso compõe
estruturas extremamente rígidas, de aspecto gessoso e de alta porosidade, que
sugerem incompatibilidade mecânica com o relevo estudado.
As estruturas produzidas com pastiglio polivinílico, representadas pelas
amostras A 4.1, A 5.1, A 6.1, A 7.1, A 8.1 e A 9.1, foram comparadas com o relevo da
98
Primal AC60 + água (1:1), aplicação por injeção e aspersão (24hs de secagem). Para constar: o fixador
resolveu o problema de pulverização da pátina, mas não fixou os relevos soltos. A ação do adesivo não é
objeto de análise nesta monografia e, deverá ser melhor discutido em outra ocasião.
78
moldura-teste, como exemplifica a figura 98.
Neste comparativo, fica claro que o
relevo estudado e o novo material exibem semelhanças, que sugerem maior e melhor
compatibilidade entre as estruturas
Figura 96: Comparação - pastiglio da moldura-teste e pasta de gesso tradicional. Fonte: Autora,
25/09/2011.
Figura 97: Comparação - pastiglio da moldura-teste e estuque rápido. Fonte: Autora,
25/09/2011.
79
Figura 98: Comparação – pastiglio da moldura-teste e pastiglio polivinílico (massa básica).
Fonte: Autora, 25/09/2011.
O desenho esquemático exposto na figura 99 e os dados da tabela 18
representam o plano de trabalho sobre a moldura99, que informa as laterais nas quais
foram aplicados o pastiglio polivinílico e o estuque rápido, os locais onde foram
destacadas amostras do relevo100 e os cortes longitudinais que a moldura sofreu após
o encerramento do trabalho de aplicação dos consolidantes. Informa-se que no plano
inicial seriam retiradas apenas duas amostras de relevo das laterais B e D da moldura,
entretanto, estas partes ficaram muito danificadas quando foram destacadas do
suporte e comprometeriam um dos comparativos de penetrabilidade dos produtos que
se intencionava exibir101. Sendo assim, os primeiros dois elementos foram
descartados. Logo depois, foram separadas com maior sucesso outras duas amostras
das laterais C e D da moldura que foram fixadas sobre um suporte de acrílico
transparente e, conforme demonstram as figuras de 100 a 104, medidas e pesadas
(informações disponíveis na tab.17).
Após os registrar as medidas e os pesos destes elementos, a amostra C
recebeu estuque rápido; a D, pastiglio polivinílico102. O motivo desta demonstração
partiu da observação que a pasta de orientação é mais fluida e, por isto, sugeria o fácil
alcance do consolidante ao suporte. Por outro lado, a massa alternativa apresentara
contrações no seu corpo de amostras e, se na intervenção isso representasse dano ao
relevo original ou prejudicasse a estética, o material poderia estar desqualificado.
As
amostras
foram
novamente
pesadas
depois
da
secagem
dos
consolidantes, para que se tivesse uma idéia geral do peso acrescido sobre o suporte
após a reintegração.
99
Após a higienização e consolidação preliminares.
Cada amostra uma unidade do padrão decorativo.
101
Necessário salientar que este teste só foi possível porque o objeto em questão não faz parte de um
acervo institucional e, neste caso, parecia evidente a rara oportunidade de visualizar a penetrabilidade
dos consolidantes sem grandes recursos.
102
Foram aplicados os produtos que representaram misturas de melhor qualidade nos testes por
amostragem. Também se escolheu a cor branca para melhor visualização da penetrabilidade, sabe-se,
porém, que os aditivos de cor, ainda que utilizados em tão pouca proporção, interferem nas propriedades
do material. Neste caso, uma pasta ou massa colorida vai contrair menos e pesar mais, por conter mais
sólidos na mistura.
100
80
Figura 99: Testes de aplicação do estuque rápido e do pastiglio polivinílico – desenho
esquemático. Fonte: Autora, 01/10/2011.
Legenda da fig. 99: Testes de aplicação do estuque rápido e do pastiglio polivinílico.
A
Pastiglio polivinílico branco
B
Pastiglio polivinílico preto
C
Pastiglio polivinílico dourado
D
Estuque rápido
Amostras retiradas (C e D)
Amostras descartadas
R
Remoção da aplicação (1 – pastiglio polivinílico branco)
R
Remoção da aplicação (2 – pastiglio polivinílico preto)
Produção de molde (amostra D)
C
Corte longitudinal (1 – pastiglio polivinílico dourado)
C
Corte longitudinal (2 – estuque rápido)
81
Figura 100: amostra do lado C da fig. 94 – lado frontal. Figura 101: Verso da fig.100. Figura
102: amostra do lado D da fig.94 – lado frontal. Figura 103: Verso da fig.102. Fonte: Autora,
02/10/2011.
Amostra
C
D
Peso inicial
14g
14g
Peso final
16g
16g
Comprimento
7,5cm
7,7cm
Largura
2,7cm
2,5cm
Altura
0,9cm
0,9cm
Tabela 17: Peso e dimensões das amostras da fig.94.
As amostras C e D apresentam duas diferenças bem salientes. A mais
evidente é o tamanho dos vãos existentes entre as estruturas; a outra se refere à
diferença de 2mm entre o comprimento das partes103, o que à princípio parece
insignificante. Entretanto, em uma situação que é preciso completar uma grande falta,
a repetição do padrão decorativo em tamanhos distintos pode influenciar bastante no
desenvolvimento do trabalho: dificulta a execução do procedimento104 e causa
descartes quando se está trabalhando com o estuque rápido e através do molde da
unidade do ornamento, já que a reintegração comporá uma uniformidade onde não
havia originalmente. Nesta situação, destaca-se uma vantagem na utilização do
pastiglio polivinílico que ainda não tinha sido considerada: a apresentação densa e a
103
O problema parece estar relacionado com a técnica de produção original, onde as causas podem ser:
uma moldagem prévia de grande extensão, seguida de desmoldagem à úmido e translado deste elemento
até o suporte sem apoio; elemento fixado de modo irregular e/ou a secagem diferenciada do próprio
relevo.
104
Refere-se em particular ao acabamento dos vértices da moldura-teste, que parece se interromper em
um mesmo ponto. O preenchimento dos vértices idênticos exige cuidado e cálculo no preenchimento por
toda a extensão das lacunas.
82
letargia na sua secagem facilitariam que pequenas diferenças no comprimento dos
elementos pré-moldados pudessem ser ajustadas por leve alongamento ou
compactação105.
O preparo dos consolidantes seguiu a mesma sistemática empregada na
composição das amostras em disco, assim como o instrumental eleito foi idêntico.
Ressalta-se, porém, que o estuque de gesso foi aplicado na amostra C antes de exibir
a pega inicial, facilitando o preenchimento dos craquelês por escoamento do produto.
Posteriormente, passou a espátula e os dedos para forçar a compactação do
consolidante.
Os resultados expostos a seguir podem ser acompanhados pela observação
das imagens exibidas pelas figuras de 104 a 107. Durante a secagem, o estuque
rápido (amostra C) não apresentou nenhum tipo de contração. Como demonstra a fig.
104, o trabalho de preenchimento de craquelês não causou tanta sujeira, mas o
consolidante muitas vezes não chegou até o suporte, o que pode ser visualizado
através da base transparente de acrílico (fig. 107) onde as amostras foram fixadas. O
estuque rápido se alojou apenas na superfície e não preencheu toda a extensão
longitudinal dos craquelês como deveria. Pelo lado externo, como exemplifica a figura
106, o preenchimento apresentou excessos que avançaram além das lacunas e, logo
depois, apareceu uma coloração branca geral. Explica-se o efeito pela remoção do
consolidante ainda úmido (por fricção com os dedos ou com swabs úmidos em água),
que espalhou o material por partes que não estavam danificadas anteriormente. Tal
excesso é considerado normal e admissível em reintegrações com gesso, mas
prejudica a coloração original provocando um efeito de esbranquiçamento geral e que
influencia na tonalização da superfície para voltar a cor original106. Por outro lado, a
remoção do excesso após a secagem do consolidante seria ainda mais difícil e
causaria mais danos, uma vez que a rigidez da estrutura pode danificar o original e
destacar as partes que penetraram nas gretas.
Na amostra D, aquela onde se aplicou pastiglio polivinílico, o consolidante
não apresentou contração lateral, porém percebeu-se contrações superficiais de 1mm,
principalmente nos craquelês de maior extensão. Levando em consideração o
princípio de fácil distinguibilidade da intervenção, considerou-se o efeito sutil
vantajoso, uma vez que não causa prejuízo à estética ou à estabilidade da
intervenção. Como demonstra a fig. 105, o trabalho de preenchimento não provocou
105
O olho humano não assimila essa correção e a estética da intervenção se aproxima mais com aquela
que se supõe ser a originalmente aplicada.
106
Aguada de tinta reversível de mesma qualidade que será utilizada na reintegração pictórica.
83
sujeira e o consolidante chegou até o suporte sempre que foi possível introduzir a
sonda metálica por entre as gretas (fig. 107). Neste caso, o pastiglio polivinílico sugere
maior estabilidade da intervenção, pois o produto preenche o espaço rejuntando todo
o deslocamento. A figura 106 mostra a aparência externa deste tipo de consolidação:
o preenchimento não apresenta excessos e a intervenção é quase isenta de coloração
branca, vantagens motivadas pela aplicação pontual do consolidante. Quando houve
excesso de aplicação, foi possível remover o produto com swabs levemente úmidos
sem prejudicar a cor original, por que o trabalho de reintegração está localizado
apenas nas lacunas. Embora não se considere um ponto negativo, é preciso dizer que
há grande probabilidade de que a limpeza pontual influencie na contração superficial
do consolidante.
Figura 104: Resíduos do preenchimento da amostra C com estuque rápido. Figura 105:
Ausência de resíduos no preenchimento da amostra D com pastiglio polivinílico. Fonte: Autora,
02/10/2011.
Figura 106: Resultados da reintegração das amostras C e D. Fonte: Autora, 02/10/2011.
84
Figura 107: Verso da fig.106 – exposição da penetrabilidade dos consolidantes. Fonte: Autora,
02/10/2011.
Após a prova de penetrabilidade dos consolidantes, iniciou-se o experimento
de aplicação diretamente na moldura-teste. Pela alta fragilidade que se encontrava o
objeto, optou-se por consolidar primeiro as laterais planejadas para receber o pastiglio
polivinílico (A, B e C), já que os testes anteriores sugeriam que este era o material de
maior compatibilidade com o relevo original. Em cada lateral foi aplicada uma cor de
pastiglio polivinílico, de modo a demonstrar qual a cor facilitaria a futura reintegração
pictórica. As cores escolhidas foram: branca (massa básica), preta107 e dourado108.
Deste modo, o estuque rápido foi aplicado sobre a lateral D, apenas como
demonstrativo das dificuldades práticas que o material apresenta.
Os consolidantes foram aplicados de duas maneiras: diretamente no relevo,
preenchendo pequenas fissuras, craquelês e lacunas de pequena dimensão
(aproximadamente menores que 2cm); nas grandes lacunas, através de modelagem
manual ou por molde (aproximadamente maiores que 2cm).
Abaixo estão relacionadas observações feitas nesta fase:
a) Reversibilidade, limpeza e ajuste das formas
A remoção da aplicação de pastiglio polivinílico foi feita nos setores R1 e R2,
conforme assinalado no plano de trabalho (fig. 99 e tab.18). As aplicações foram
removidas após a total secagem da aplicação, dependendo da extensão do
preenchimento: as pequenas espessuras foram hidratadas pontualmente com
107
Produto e marca idêntica ao utilizado nos testes sobre as amostras em disco: somente a coloração
muda.
108
Buscando acordo com a cor do douramento original, utilizou-se purpurina ouro rico, pó extra fino.
85
swabs109; as maiores, com compressas úmidas embebidas em água110, como
exemplificam as figuras de 108 a 115. Com a hidratação, a rigidez do material cedeu
de modo controlado, podendo ser removido com auxílio de instrumento metálico em
camadas. Nas fissuras e craquelês esta remoção é relativamente rápida; nas grandes
lacunas, mais vagarosa. Aparentemente, a retirada do pastiglio polivinílico não causou
danos e manchas no relevo original, no suporte de madeira e, na base de preparação,
apenas a massa preta manchou levemente a superfície. A remoção do pastiglio
polivinílico não causou suspensão de pó.
O estuque rápido não foi removido, pois o lado D possuía apenas uma
estrutura original e forçar a remoção do preenchimento poderia danificar muito o
registro que restava do ornamento111.
Figura 108: Reintegração com pastiglio polivinílico preto – método manual. Figura 109:
Hidratação da superfície indicada pela fig.108 com compressa aquosa. Figura 110: Remoção
de parte do preenchimento da fig. 108 com auxílio da espátula. Figura 111: Destaque de parte
do preenchimento da fig. 108. Figura 112: Remoção total do preenchimento indicado pela fig.
108. Figura 113: Reintegração com pastiglio polivinílico branco – método manual. Figura 114:
Destaque de parte do preenchimento da fig. 113. Figura 115: Resultado final da remoção da
superfície indicada pela fig. 113. Fonte: Autora, 06 e 07/10/2011.
a)
109
Haste de madeira com extremidade envolvida em algodão hidrófilo.
O processo é relativamente lento.
111
O processo de remoção do estuque rápido é difícil: se desenvolve sempre com risco de danificar o
suporte, o relevo e, além disso, causa bastante sujeira.
110
86
b) Qualidades de aplicação, riscos, estabilidade e instrumental necessário
Na aplicação do pastiglio polivinílico, a maior dificuldade foi o uso de luvas
cirúrgicas, por aderência do látex à massa. O material foi fixado no suporte por
pressão, sem qualquer adesivo extra: em grandes faltas, a superfície da madeira foi
levemente hidratada antes da sobreposição do material consolidante; nas faltas de
pequena espessura a massa aderiu naturalmente. Nas fissuras e craquelês a
intervenção foi pontual, apenas preenchendo a greta, como demonstra a figura 116;
nas pequenas lacunas, a massa polivinílica foi modelada manualmente, contando com
o auxílio de espátula e esculpidor metálicos; nas grandes faltas, primeiramente o
material foi aplicado em rolete sobre toda a lacuna e pressionado, modelando logo
depois as formas e volumes do relevo112 - partes R1 e R2, removidas após 72hs,
assinaladas no plano de trabalho (fig. 99 e tab.18) e exibidas pelas fig. 108 e 113.
Depois, como demonstram as figuras de 117 a 122, o relevo foi produzido novamente
pressionando o molde de silicone sobre o aditamento113, ao invés de ser
confeccionado por pré-moldagem. A idéia surgiu para proporcionar maior aderência de
parte única acrescida, ao mesmo tempo em que excluía a necessidade de uma fixação
de vários elementos por adesivo. Em todas as grandes extensões preenchidas, a
configuração do relevo se manteve inalterada durante o manuseio do suporte e
trabalho de preenchimento. Nas pequenas dimensões, como exemplifica a figura 123,
os poucos resíduos que excederam a necessidade de aplicação foram facilmente
removidos com swab úmido em água, e o esbranquiçamento surgiu mínimo e somente
quando a massa branca foi utilizada. A qualidade descarta a possibilidade de
tonalização geral, pois o efeito desaparecerá quando se aplicar o verniz de
acabamento114.
O lado D de moldura – onde o estuque foi aplicado – não existiam faltas de
pequenas e médias dimensões, somente alguns craquelês e grandes lacunas. Neste
caso, o produto foi aplicado pontualmente nos craquelês e por pré-moldagem nas
grandes lacunas.
112
É necessária a hidratação da superfície para esta técnica de modelagem.
Obviamente, o método de melhores resultados estéticos é o produzido por molde. Através deste
recurso o material adere por completo ao suporte e é possível calcular o acabamento dos vértices. Acaso
surjam erros, é possível destacar o produto ainda úmido e refazer a lacuna, aproveitando o mesmo
material.
114
A leve coloração branca desaparecerá quando se aplicar o verniz de acabamento.
113
87
O trabalho foi de complicada organização, como mostram as figuras de 124 a
128. Os elementos pré-moldados115 foram aditados sobre o suporte por fixação de
camada extra de estuque rápido (fig.126). Foi necessário refazer a mistura inúmeras
vezes para compor os elementos e/ou preencher pequenas espessuras e, nesta
ocasião, muito material foi desperdiçado porque o gesso reagiu rápido116 e por causa
dos ajustes às lacunas117. Como demonstra a figura 127, após a secagem do
consolidante, não houve como remover totalmente os excessos da aplicação - motivo
que causou o esbranquiçamento nas partes originais.
Acha-se impróprio comparar tempo envolvido em cada trabalho, não só pela
diferença de extensão onde cada produto foi aplicado, mas principalmente porque
cada técnica demanda um processo distinto. Prefere-se salientar que a sistemática de
trabalho foi sempre mais fácil quando se utilizou o pastiglio polivinílico118.
Considerando apenas o trabalho de consolidação do relevo, a nova substância
requisita um mínimo de instrumental que, neste momento, contando apenas com
molde flexível a mais. O estuque rápido necessitou constantemente de vasilhame
limpo para refazer a mistura, balança para medir a proporção dos materiais, espátulas
de várias espessuras, molde, objeto firme para corte, aspirador de pó, várias lixas (ou
a Dremel®119) e limpeza constante da mesa de trabalho e dos materiais utilizados –
materiais e equipamentos que exibe a figura 128.
Figura 116: Aplicação de pastiglio polivinílico branco nos craquelês – execução pontual. Fonte:
Autora, 06/10/2011.
115
Para formar o relevo o estuque rápido é aplicado no molde, onde se espera a precipitação total do
produto, se destaca e se aplica ao suporte.
116
Porque muitos elementos podem apresentar superfície irregular e, se há demora na aplicação, não há
adesão do material.
117
Os elementos confeccionados no molde são partidos e lixados. Algumas partes se danificam e são
inutilizadas, o que implica produzir outro elemento para preencher a lacuna. O processo causa sujeira que
complica a organização do trabalho e causa suspensão de pó.
118
Considerando produção do consolidante, organização e infra-estrutura – instrumental, equipamento,
limpeza de equipamentos, etc. – trabalho de correções e acabamento.
119
Equipamento elétrico que auxilia no lixamento pontual dos aditamentos.
88
Figura 117: Aplicação do rolete de pastiglio polivinílico preto. Figura 118: Moldagem por
pressão - preenchimento do local indicado pela fig. 117. Figura 119: Forma imediata após o
destaque do molde. Figura 120: Exposição da forma produzida e o molde de silicone. Figura
121: Configuração de moldagem por pressão de maior extensão – pastiglio polivinílico branco.
Figura 122: Configuração de moldagem por pressão de maior extensão – pastiglio polivinílico
dourado. Fonte: Autora, 06 a 08/10/2011.
Figura 123: Limpeza dos resíduos da aplicação de pastiglio polivinílico branco com swab úmido
em água. Fonte: Autora, 06/10/2011.
89
Figura 124: Sujeira e descartes da reintegração com o estuque rápido. Fonte: Autora,
15/10/2011.
Figura 125: Grandes extensões a preencher com estuque rápido - lado D da moldura. Figura
126: Fixação do elemento formado com camada extra de estuque rápido. Figura 127: Remoção
do excesso de estuque rápido com espátula metálica. Fonte: Autora, 15/10/2011.
90
Figura 128: Materiais e equipamentos requisitados para a reintegração com estuque rápido lado D da moldura. Fonte: Autora, 15/10/2011.
c) Aproveitamento do material
Para o teste de aplicação, foram preparadas 100g de cada cor de pastiglio
polivinílico, totalizando aproximadamente 300g para o preenchimento de 117cm de
extensão. O aproveitamento do produto foi excelente: a quantidade foi suficiente para
as dimensões propostas e para os danos do objeto em questão, no que também se
inclui a reaplicação do produto nos locais onde houve remoção. Quando ocorriam
erros logo depois do preenchimento, foi possível remover o produto sem dificuldade,
remodelando a mesma porção ou então sobrepondo ou retirando pequenas porções
da massa corrigindo a forma pontualmente. Os únicos descartes foram as estruturas
que, conforme o plano de trabalho, se removeu intencionalmente e que resultaram em
um peso total 40g.
No que diz respeito ao estuque rápido, em primeira instância se salienta a
quantidade de misturas produzidas: 9 para preenchimento do molde (40g) e 4 para
fixação e rejunte dos elementos produzidos (30g), totalizando 480g de preparado para
preencher 42cm de extensão. A quantidade de preparado produzida já denuncia que o
aproveitamento do produto não foi bom. Por duas vezes, o elemento que o molde
produziu ficou com muitas bolhas superficiais – partes que se intencionava reservar
para utilização do ajustes nos vértices, mas que ao cortar se danificavam, tendo que
91
produzir elementos a mais. De outra maneira, o que mais causou perdas foi a rápida
reação do produto e, de certa maneira, um preparo calculado a mais. Neste caso, os
resíduos nunca puderam ser reutilizados e, como mostra a figura 129, o descarte total
do estuque rápido pesou 286g.
Figura 129: Resíduos do estuque de gesso. Fonte: Autora, 17/10/2011.
d) Poder adesivo
O modo como o pastiglio polivinílico foi aplicado sobre o suporte satisfez a
adesão do aditamento e, em todas as situações, o material cumpriu a função de
consolidação: fixou partes soltas, uniu laterais de craquelês, principalmente
preenchendo toda a extensão de rupturas até o suporte (1mm - 3mm), preencheu
pequenas depressões e espaços faltantes e completou grandes lacunas. Observou-se
que a propriedade adesiva é mais fácil e rápida logo que se retira o consolidante da
embalagem.
Quando as massas ressecavam superficialmente (por esquecer a
embalagem aberta ou demorar na modelagem), foram hidratadas levemente e
amalgamadas novamente para que a plasticidade e o poder adesivo voltassem ao
estado ideal.
O estuque rápido adere facilmente logo que há a pega inicial do gesso vivo.
Aparentemente o produto cumpre com a função de consolidação, mas provoca
suspeita que a intervenção não se manterá estável por muito tempo, principalmente
92
porque o consolidante em muitas ocasiões não alcança o suporte e as estruturas
produzidas não exibem compatibilidade física com as originais120.
e) Secagem
Neste quesito, é necessário lembrar que a secagem tem relação com a
espessura da reintegração e as características dos consolidantes.
Particularmente, a secagem do pastiglio polivinílico acontece de fora para
dentro, o que motiva que a análise a seguir considere tanto a resistência superficial
das estruturas, quanto a secagem total do consolidante. Em pequenos espaços
(fissuras, craquelês e lacunas inferiores a 2cm) a resistência superficial do pastiglio
polivinílico ocorreu dentro de 30min, onde já não houve mais perigo que ocorrer
marcações indesejáveis por descuido, por exemplo; de 3-4hs o consolidante
apresentava a rigidez superficial ideal. Em lacunas de espessura média a grande
(acima de 2cm de largura) o material apresentou maior resistência após 6h; certa
rigidez após 24hs; e secagem total após 72hs.
Todas as estruturas produzidas com estuque rápido apresentaram resistência
em 10min; a rigidez total foi verificada após 6hs.
f)
Textura de apresentação externa
O pastiglio polivinílico apresenta um acabamento liso e uniforme por toda a
superfície e o lixamento não foi necessário em nenhuma situação, como pôde já
exposto pelas figuras 120, 121 e 122121 .
O estuque rápido, por sua vez, produz elementos de superfície irregular122
(fig. 130), que muitas vezes não podem ser utilizadas ou lixadas. O lixamento também
é necessário após a secagem do rejunte dos elementos aditados, o causa a
suspensão do pó de gesso em demasia.
120
Pode-se prever que as partes sofrerão expansão e contração de modo diferente e, com
isso, se soltarão, podendo implicar em dano aos relevos originais.
121
A figuras estão disponíveis em maior escala nos anexos 1 a 3 deste trabalho.
122
Efeito causado por bolhas formadas na mistura.
93
Figura 130: Estuque de gesso - formação de relevos de textura irregular (bolhas e rejuntes dos
elementos). Fonte: Autora, 15/10/2011.
g) Distinguibilidade da intervenção
O pastiglio polivinílico apresentou três situações em que a distinguibilidade
pode ser prevista: a primeira se refere o aspecto cinzento e leve transparência da
massa básica; a segunda, a forte coloração da pasta pigmentada; a terceira, a leve
contração da estrutura nas espessuras mínimas. Já que normalmente os relevos em
pastiglio não se apresentam saturados em cor, parece evidente que a pasta
pigmentada é a melhor opção, pois torna a reintegração mais prática ainda. Outra
situação em que o consolidante se distingue é a depressão que este forma nos
preenchimentos. Como já dito anteriormente, após a secagem do rejunte nos
craquelês, originais e completamento apresentam uma diferença de altura de 1mm;
nas grandes lacunas, a depressão é um pouco maior - em torno de 3-4mm - como
mostra a figura 131123. Por outro lado, em uma observação de 1m de distância, a
identificação da reintegração e dos originais não é tão fácil, como se poderá perceber
logo a seguir na figura 134. Nesta situação, as partes são diferenciadas somente
quando há grandes diferenças de cores e tons entre o douramento original e a camada
de pintura.
As reintegrações com o estuque rápido ficam mais altas que o original, assim
como pode ser visualizado na figura 132 (4-5mm). O efeito provavelmente causado
pela inexistência de contração na secagem do preparado e a camada extra de
consolidante para fixação dos elementos. Após a reintegração pictórica, se houver
capricho no acabamento e não houver a saliência de partes a diferenciação da
reintegração é mais complicada.
123
Após a reintegração pictórica, dentro de uma observação próxima, original e acréscimos são
distinguidos facilmente, onde o nivelamento rebaixado é sempre a reintegração.
94
Considerando que as depressões e saliências podem ser consideradas
prejudiciais à estética, é preciso dizer que as duas técnicas permitem ajustes
posteriores e, neste caso, se equiparam.
Figura 131: Depressão da reintegração com pastiglio polivinílico preto (ao centro) – visão lateral
externa da moldura. Fonte: Autora, 08/11/2011.
Figura 132: Elevação da reintegração com estuque de gesso (extremidades) – visão lateral
externa da moldura. Fonte: Autora, 08/11/2011.
h) Acabamento com tintas aquosas e verniz de restauração
Em todas as situações houve necessidade de diversas técnicas de pintura:
velaturas para tonalização geral124, pontilismo e hachuras. Quando se utilizou o
pastiglio polivinílico, a reintegração pictórica foi mais complicada nas estruturas
produzidas com massa básica e dourada, em que houve necessidade de diversas
camadas de tinta para que a cor e o tom ideais fossem alcançados. A figura 133
representa o resultado da reintegração pictórica de uma das partes onde foi aplicado
pastiglio polivinílico preto, cujo processo foi de pouco detalhamento e representa maior
praticidade para o acabamento do objeto. Em qualquer coloração, o produto fixou a
tinta guache e não houve reação com a solução de Paraloid B72/xilol125.
Quando se utilizou estuque rápido como consolidante, a reintegração pictórica
foi extensa, produzida por tonalização geral e sucessivas camadas de tinta sobre os
aditamentos. O gesso absorve parte da cobertura, motivo pelo qual é necessário um
maior número de camadas de tinta guache.
A figura 134 apresenta o resultado da reintegração e demonstra que os dois
produtos se equiparam no visual estético a 1m.
124
Quando se utilizou pastiglio polivinílico como consolidante a tonalização foi aplicada somente na
reintegração; no estuque de gesso, por toda a extensão do relevo.
125
Dissolução de sólidos à 5% no solvente. Aplicação por pincelagem.
95
Figura 133: Pastiglio polivinílico preto - reintegração pictórica de pouco detalhamento. Fonte:
Autora, 07/10/2011.
Figura 134: Resultado final do trabalho de consolidação da moldura-teste. Fonte: Autora,
15/11/2011.
96
i)
Observações facilitadas pelo corte longitudinal
Como última análise, completando a visualização da penetrabilidade,
apresentação interna das estruturas formadas e resistência dos produtos, após o
término do tratamento dos relevos, a moldura-teste sofreu dois cortes longitudinais.
Através das amostras C1 e C2, representadas pelas figuras 135 e 136, é possível
perceber que o pastiglio polivinílico penetra na fissura e rejunta as partes antes
separadas, enquanto que o estuque rápido fica somente na superfície. No que diz
respeito à resistência mecânica, a nova massa suportou bem todas as vibrações
motivadas pelo corte, enquanto que o estuque rápido se soltou e destacou o original
em algumas partes. Quanto a apresentação interna, os dois materiais apresentaram
interior compacto - pelo menos no local onde o corte expôs a textura das estruturas.
Entretanto, é bom salientar que o estuque rápido, em outras ocasiões, já se mostrou
Relevo
poroso internamente.
Relevo
Figura 135: Corte longitudinal no lado C da moldura – amostra C1. Fonte: Autora, 17/11/2011.
Figura 136: Corte longitudinal no lado D da moldura – amostra C2. Fonte: Autora, 17/11/2011.
Antes de concluir é necessário lembrar que o pastiglio polivinílico foi aplicado
nas molduras Museu da Baronesa que motivaram este estudo. Considerando a maior
dimensão dos objetos restaurados naquela ocasião, se faz necessário informar que o
trabalho de desenvolvido na classe prática de Restauro de Pintura II foi mais extenso,
97
porém mais simples. Naquele momento não se teve oportunidade de trabalhar com
moldes, pois as molduras institucionais não exibiam faltas de grande extensão. O
restauro em sala de aula foi tema da apresentação no XX Congresso de Iniciação
Científica da UFPel (XX CIC-UFPel), em formato de banner e exposição oral no dia
10/11/2011126. Documenta-se a participação no evento no anexo 4.
Também é necessário informar que a pré-moldagem de elementos com
pastiglio polivinílico já tinha sido testada pelas colegas Fabiana Alfonsin, Claudia
Lacerda da Fontoura e Flávia da Silva Faro no período em que cumpriram seu estágio
obrigatório Museu de Arte no Rio Grande do Sul Ado Malagoli (MARGS), Porto
Alegre/RS. Os apêndices 6 e 7 representam a solução criativa das colegas e outra
facilidade do novo consolidante, que permite a extração de partes isoladas de uma
mesma fôrma. A vantagem permite produzir elementos de forma bem mais complexa
que àquela que este estudo se debruçou, facilitando o preenchimento de lacunas
distintas dentro de um mesmo registro decorativo repetitivo, que em zonas
diferenciadas.
126
Resumo expandido disponível em: <http://ufpel.edu.br/cic/2011/anais/pdf/CH/CH_00551.pdf>
acessado em 13/12/2011.
98
CONCLUSÃO
O trabalho desenvolvido parece ter atingido os objetivos propostos
inicialmente. A simulação do exercício profissional em condições modestas, por
exemplo, cumpriu a função de expor a problemática que se estabelece quando se opta
por uma ação intervencionista.
Partindo de poucas informações institucionais e sem análises científicas para
identificar corretamente os materiais compositivos dos relevos, parece óbvia a
importância do conhecimento geral dos materiais e técnicas artísticas para esboçar o
diagnóstico correto e a intervenção eficaz. Nesta situação, é preciso considerar que
algumas referências com que se dialogou não subsidiaram as reflexões necessárias
como se esperava. Percebeu-se que as pesquisas gaúchas (da História, das Artes
Plásticas, da Conservação) não têm se voltado para o universo artístico que mais nos
representa dentro dos museus – peças do séc. XIX e início do séc. XX, época
neoclássica, portanto - ou pelo menos estas vigoravam nos bancos de dados onde a
busca foi feita. A carência de informações sobre objetos modernos redimensiona as
responsabilidades dos novos restauradores gaúchos, que além de atuarem como
técnicos habilidosos e conscientes da realidade em que o exercício se desenvolve,
devem buscar a pesquisa historiográfica do objeto, das técnicas artísticas, dos
padrões decorativos, etc.
Tomando como exemplo o relevo em pastiglio que motivou este estudo, se
avalia a bibliografia da Conservação Restauração brasileira. No que diz respeito à
consolidação e a estabilização dos ornamentos em pastiglio, e todas as infindáveis e
imprescindíveis questões que envolvem um tratamento focado – sobre a diversificação
dos tratados artísticos e a localização em climas variáveis, por exemplo - há carência
99
de dados reflexivos e apenas uma metodologia reconhecida pela literatura da
Conservação. No universo em que esta pesquisa se centra, não é possível se basear
na manualística que difunde e reedita sistemáticas metodológicas e receituário
fundamentado nas técnicas artísticas anteriores ao séc. XVIII – pelo menos para a
maior parte das coleções. Neste aspecto, percebe-se certa especialidade nas
metodologias recomendadas, que se preocupam tão somente com peças barrocas
localizadas na região sudeste, repetindo diagnósticos, prognósticos e indicações
próprios para climas mais secos.
A inaplicabilidade do receituário indicado justifica e sustenta as estabilizações
e nivelamentos produzidos com estuque rápido na região de Pelotas que, por seu
preparo instantâneo e ágil secagem, parece ser proveitoso à primeira vista. Pode-se
constatar que estas características são, ao mesmo tempo, as maiores desvantagens
do método. Ficou evidente o difícil manejo desta substância que, ao secar
rapidamente, prejudica o acabamento da intervenção. A estrutura rígida que lhe
resulta sugere uma estabilidade de longo prazo que, para o caso estudado, não chega
a ser considerada como uma qualidade. A aparência que a estrutura final apresenta –
a porosidade – difere dos originais analisados, característica que insinua uma
mecânica distinta entre estes materiais. Neste caso, o estuque rápido, deixa dúvida
sobre sua longevidade e parece estar desqualificado.
Os procedimentos que requisitam o uso do hemidrato de gesso se revelam
impróprios dentro nas pequenas instituições, pela realidade que é comum hoje em dia:
falta de equipamentos e de infra-estrutura adequados para o desenvolvimento de um
trabalho sem prejuízo à saúde do conservador. Por outro aspecto, considerando a
responsabilidade social que infere sobre a profissão, é preciso salientar que o estuque
rápido também é, de certa maneira, nocivo: a rapidez da reação do gesso vivo
dificilmente permite o uso de toda a substância preparada que ao ser descartada de
modo incorreto (como é comum) polui o meio ambiente com gases tóxicos, retornando
em dano à saúde de toda a população. Tomando por base esta consciência
apregoada dos tempos de hoje, o método não é recomendável e perde pontos, do que
a corrente da Conservação Preventiva defenderia a inoperância ao invés de seguir
uma atuação desarmônica com as exigências éticas. Contudo, não se pode deixar de
lembrar que há exceções onde o intervencionismo é quase uma imposição, como o
caso dos pastigli acerca dos quais em que este estudo se debruçou, que parecem ser
os relevos mais comuns dentro de nossa região. A patologia do relevo exige
restauração imediata que não pode significar interferência no quotidiano da guarda
100
institucional. Para que isto aconteça, seriam necessários investimentos em espaço,
exaustores, equipamentos, etc.
Na verdade, as peças que motivaram este estudo podem ser fruto de artes
mecânicas menores, que deslocadas do valor histórico e artístico, parecem perder seu
valor patrimonial. Entretanto, não se pode esquecer que as mesmas já estavam
institucionalizadas e, deste modo já configuram em lei estadual e nacional como
objetos de restauração, merecendo maior cuidado nas suas particularidades. Em vista
disso, buscou-se atender suas características e, especialmente, a dos pastigli que lhes
decoravam, sem haver necessidade grande infra-estrutura.
Analisando a pesquisa desenvolvida, que se dedicou a viabilizar uma
alternativa de restauro sustentável dentro dos quesitos ético-profissionais, julga-se ter
alcançado sucesso. Prefere-se ressaltar não o produto inovador, mas a lógica
metodológica que se optou e que parece oferecer resultados satisfatórios para
qualquer outro tipo de intervenção. Destaca-se: buscou-se valorizar as análises
globais, as primeiras impressões e ir ao encontro de dados sobre materiais e técnicas
dos séc. XIX e XX para atender as necessidades do objeto de trabalho; e se
confrontou o conhecimento adquirido na bibliografia e na academia com o empirismo
da artesania popular, para promover recursos alternativos para a prática da
restauração que, sem perder o foco na ética, trouxe evidentes facilidades.
O pastiglio polivinílico se encaixa nas técnicas de mínima intervenção e que
requisitam tratamento pontual. A nova massa promove a versatilidade na modelagem:
o tempo de trabalho pode ser prolongado ao controle do executor, trazendo benefícios
e praticidade no acabamento do trabalho. A aparência da estrutura seca sugere uma
mecânica similar com os pastigli que, no caso analisado, inspira confiança na eficácia
do produto. A propriedade higroscópica do material não chega a ser um ponto
negativo, a não ser em condições de extrema umidade, do qual nenhum material sai
ileso, tampouco os estuques de gesso. Em situações críticas, é provável a perda de
resistência, de fixação, danos por degradação biológica (fungos) por umidade relativa
extrema (baixa ou alta). Por estes motivos, os objetos que receberem o pastiglio
polivinílico devem merecer os cuidados básicos como qualquer outro objeto
restaurado: evitar a luz intensa, o sol e os ambientes encharcados.
Analisando o fabrico da massa, salienta-se que com a nova fórmula do não
há desperdício de material, o que por si só já se revela econômico, anti-tóxico e antipoluente. Utiliza-se a radiação não-ionizante que agiliza as fases da preparação do
consolidante e não modifica as propriedades dos ingredientes sólidos da mistura,
enquanto houver um mínimo de água de constituição, o que ampara esta novidade
101
para outras práticas de ateliê. O fato de empregar um adesivo popular alcançando um
pH neutro permite rechaçar o PVA neutro importando. As dificuldades que podem
proceder do preparado - o acerto do ponto de plasticidade, por exemplo - é uma
questão de aprendizado, cujo esforço que pode ser compensado pelas vantagens que
a massa sugere. É possível perceber, portanto, que o pastiglio polivinílico quebra
paradigmas que desestimulavam à pesquisa e se apresenta como uma técnica ética,
de arranjo simples e perfeitamente viável.
Para finalizar, é preciso esclarecer que esta pesquisa não se propôs a
enfrentar um ensaio de envelhecimento acelerado e, assim não está esclarecido como
o pastiglio polivinílico se comportará a longo prazo. Porém, em princípio, ao se derivar
de uma associação de produtos já empregados nas pastas convencionais, o material
inspira confiança. Mesmo sem esta garantia, julga-se ter cumprido a missão que, de
um modo particular, era a mais importante: discutir de um modo mais pragmático, a
possibilidade da Restauração Sustentável dentro da academia.
102
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104
APÊNDICES
105
Apêndice 1: Medição da matriz em pastiglio de moldura. Fonte: VASCONCELOS, 2011, p.27.
Apêndice 2: Medição da face escura em pastiglio de moldura. Fonte: VASCONCELOS, 2011,
p.27.
106
Apêndice 3: Medição da interface em pastiglio de moldura. Fonte: VASCONCELOS, 2011,
p.27.
Apêndice 4: Radiografia da amostra de pastiglio. Fonte: VASCONCELOS, 2011, p.27.
107
Apêndice 5: Radiografia da amostra de pastiglio, Fonte: VASCONCELOS, 2011, p.45.
Apêndice 6: Produção de elementos isolados a partir um mesmo molde. Fonte: Claudia
Fontoura, 2011
108
Apêndice 7: Destaque do elemento desejado. Fonte: Claudia Fontoura, 2011
109
ANEXOS
110
Anexo 1: Fig. 120 em maior escala. Fonte: Autora, 07/10/2011.
Anexo 2: Fig. 121 em maior escala. Fonte: Autora, 06/10/2011.
111
Anexo 3: Fig. 122 em maior escala. Fonte: Autora, 08/10/2011.
Anexo 4: Banner apresentado no XX Congresso de Iniciação Científica da Universidade
Federal de Pelotas. Fonte: Autora, 2011.

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