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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE CTC – Centro Tecnológico PGMEC – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica PAULO HENRIQUE AZEREDO WALTER FILHO MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DAS FRAÇÕES VOLUMÉTRICAS DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS BASEADO NA ANÁLISE DE FUNÇÕES DE RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA DA TUBULAÇÃO Niterói 2010 PAULO HENRIQUE AZEREDO WALTER FILHO MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DAS FRAÇÕES VOLUMÉTRICAS DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS BASEADO NA ANÁLISE DE FUNÇÕES DE RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA DA TUBULAÇÃO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica. Área de Concentração: Vibrações Mecânicas. Orientador: PROF. ANTONIO LOPES GAMA, D. SC. Niterói 2010 PAULO HENRIQUE AZEREDO WALTER FILHO MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DAS FRAÇÕES VOLUMÉTRICAS DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS BASEADO NA ANÁLISE DE FUNÇÕES DE RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA DA TUBULAÇÃO Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da Universidade Federal Fluminense como requisito parcial para a obtenção do Grau de Mestre em Engenharia Mecânica. Área de Concentração: Vibrações Mecânicas. Aprovada em 05 de outubro de 2010. BANCA EXAMINADORA ___________________________________________________________________________ Prof. Antonio Lopes Gama, D. Sc. – Orientador Universidade Federal Fluminense ___________________________________________________________________________ Prof. Heraldo Silva da Costa Mattos, D.Sc. Universidade Federal Fluminense ___________________________________________________________________________ Prof. Pedro Manuel Calas Lopes Pacheco, D.Sc. Centro Federal de Educação Tecnológica Celso Suckow da Fonseca – RJ Niterói 2010 DEDICATÓRIA Paulo Henrique Azeredo Walter Filho dedica: Aos meus pais, Paulo Walter e Maria Lúcia Walter, pela educação e apoio em todos os momentos; Ao meu irmão, Brunno Walter, pelo companheirismo e cumplicidade ao longo de toda a minha vida; Especialmente a Raqueline Benchimol, além de esposa, melhor amiga e companheira, pela compreensão e apoio incondicional durante o período de conclusão deste trabalho. AGRADECIMENTOS Ao Prof. Dr. Antonio Lopes Gama, pela incomensurável ajuda e confiança que culminou na conclusão desta dissertação. A Guilherme Almeida, pela amizade, e pela ajuda no software Ansys. A Elkin, pela primeira ajuda no software Matlab. A todos os amigos de faculdade, que direta ou indiretamente contribuíram para a conclusão deste trabalho. A PETROBRAS, pelo fornecimento dos primeiros dados que serviram de como ponto de partida para esta dissertação. i RESUMO Um dos procedimentos normalmente utilizados na medição de vazão de escoamentos bifásicos do tipo líquido-gás consiste na combinação de técnicas de medição da fração volumétrica das fases com métodos de medição da velocidade de escoamento. O presente trabalho propõe um novo método para medição de frações volumétricas de escoamentos bifásicos através de análise de vibrações. O procedimento proposto baseia-se nas variações de funções de resposta em freqüência da tubulação causadas por escoamentos bifásicos com diferentes frações volumétricas de líquido e gás. Para determinar as funções de resposta em freqüência excita-se a tubulação com forçamentos randômicos em uma ampla faixa de freqüência, ao mesmo tempo em que sua resposta vibratória é medida. Utilizando uma bancada experimental, onde diferentes condições de escoamento de misturas de ar e água foram produzidas no interior de uma tubulação de acrílico, foram obtidas correlações entre variações da freqüência natural da tubulação e as frações volumétricas de ar e água. Para aumentar a sensibilidade do método foram realizadas análises de vibração em faixas de freqüência mais elevadas, permitindo determinar pequenas variações nas frações volumétricas de ar e água. Palavras-Chave: Escoamento bifásico; Medição de fração de vazio; Vibração de tubulação ii ABSTRACT One of the procedures normally used in a liquid-gas two-phase flow rate measurement consists on combination of void fraction measurement with flow velocity measurement methods. This work proposes a new void fraction measurement method for two-phase flow based on vibration analyses. The procedure proposed is based on variations in pipe frequency response function caused by two-phase flow with different void fractions. In order to determine the frequency response functions, the pipe is excited by a random force in a wide range of frequency applied by an electromagnetic shaker while its vibration response is measured with accelerometers. Using an air-water loop with an acrylic pipe test section, different conditions of two-phase flow were simulated. Correlation between natural frequencies of pipe and the two phase flow void fractions were determined. To improve the sensibility of the proposed method, tests were performed in high frequency range allowing for the detection of small void fractions variations. Keywords: Void fraction measurement; Two-phase flow; Pipe vibration iii LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1.1 – Dados de velocidade de vibração em tubulações de produção de óleo e gás ........ 2 Figura 1.2 – Correlações entre os níveis de vibração da tubulação e a velocidade de mistura .. 3 Figura 2.1 – Morfologia dos diferentes padrões de escoamento em dutos horizontais, respectivamente. Extraído de Paladino, E. E........................................................................... 8 Figura 2.2 – Morfologia dos diferentes padrões de escoamento em dutos verticais ............... 10 Figura 2.3 – Mapa de padrões de escoamento para água e ar em um tubo horizontal de 2,5 cm de diâmetro, operando a 25°C e 1 atm. (Mandhane et al. 1974) ............................................ 11 Figura 2.4 – Mapa de padrões de escoamento para óleo cru e gás natural em tubos horizontais de 5 e 30 cm de diâmetro, operando a 38°C e 68 atm. (Taitel & Dukler 1976) ...................... 12 Figura 2.5 – Mapa de padrões de escoamento para um sistema com água e ar supondo uma tubulação horizontal. (Petalas & Aziz 1998)......................................................................... 12 Figura 2.6 – Mapa de padrões de escoamento para um sistema com óleo e gás supondo uma tubulação horizontal. (Petalas & Aziz 1998)......................................................................... 13 Figura 2.7 – Resultado da simulação do escoamento slug correspondente a 3,22s................. 14 Figura 3.1 – Ilustração esquemática de um sensor wire-mesh ............................................... 20 Figura 3.2 – Forma da interface gás-líquido de escoamento estratificado obtida por (a) sensor wire-mesh e (b) boroscópio .................................................................................................. 22 Figura 3.3 – Relevância dos mecanismos de excitação ......................................................... 24 Figura 4.1 – Esquema do loop de testes do laboratório. ........................................................ 25 Figura 4.2 – Foto da bancada experimental inicial ................................................................ 26 Figura 4.3 – Foto da bancada experimental aprimorada ........................................................ 26 Figura 4.4 – Amortecedor instalado na tubulação de ar próximo a seção de teste .................. 27 Figura 5.1 – Seção de teste e Sistema de Controle, Aquisição e Processamento de Dados .... 29 Figura 5.2 – Shaker excitando tubo na seção de teste ............................................................ 29 Figura 5.3 – Diagrama simplificado de análise do software .................................................. 30 Figura 5.4 – Arranjo montado para experimento com tubo livre-livre ................................... 34 Figura 5.5 – Resultado para o 1º modo de vibração oriundo do teste de impacto para o tubo completamente vazio (CG = 100%) e completamente cheio (CG = 0%), respectivamente. ..... 35 Figura 5.6 – Resultado para o 1º modo de vibração oriundo do teste de impacto para CG = 50%. Nota-se agora a diferença entre as freqüências naturais de vibração no plano vertical (vermelho) e no plano horizontal (azul). ............................................................................... 36 iv Figura 5.7 – Comparação entre o resultado analítico e experimental para o tubo livre-livre .. 36 Figura 5.8 - Malha empregada na modelagem numérica para tubo bi-engastado ................... 38 Figura 5.9 – Condição de contorno em ambas extremidades ................................................. 38 Figura 5.10 – Deformação do tubo bi-engastado no 1º modo (131,00 Hz) ............................ 38 Figura 5.11 – Deformação do tubo bi-engastado no 2º modo (348,60 Hz) ............................ 39 Figura 5.12 – Deformação do tubo bi-engastado no 3º modo (654,89 Hz) ............................ 39 Figura 6.1 – Exemplo de modelagem da água utilizando elementos sólidos .......................... 41 Figura 7.1 – Regimes de escoamento causados pelas condições de escoamento .................... 43 Figura 7.2 - Variação da segunda freqüência natural do tubo de 500 mm de comprimento em função da fração volumétrica de ar. ...................................................................................... 45 Figura 7.3 – Espectros de vibração do tubo de 653 mm submetido à escoamentos com diferentes frações volumétricas de ar. ................................................................................... 45 Figura 7.4 – Variação de freqüência natural do tubo de 653 mm em função da fração volumétrica de ar. ................................................................................................................ 46 Figura 7.5 – Funções de Resposta em Freqüência para V = 3m/s antes de ser tratada............ 47 Figura 7.6 – Funções de Resposta em Freqüência para V = 3m/s depois de tratada ............... 48 Figura 7.7 – Ampliação na região do 3º modo no espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 3m/s depois de tratada ......................................................................... 48 Figura 7.8 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s antes de ser tratada .................................................................................................................................. 49 Figura 7.9 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s depois de tratada ............................................................................................................................................ 49 Figura 7.10 – Ampliação na faixa de freqüência do 3º modo no espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s depois de tratada ..................................................... 49 Figura 7.11 - Variação da freqüência natural do 3º modo de vibração para diferentes frações volumétricas de ar ................................................................................................................ 50 Figura 7.12 - Influência da velocidade de mistura para diferentes frações volumétricas de ar ............................................................................................................................................ 50 Figura 7.13 – Comparação numérico-experimentais ............................................................. 51 Figura 7.14 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 3m/s antes de ser tratada .................................................................................................................................. 52 Figura 7.15 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 3m/s depois de tratada ............................................................................................................................................ 52 v Figura 7.16 – Zoom do 3º modo no espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 3m/s depois de tratada (vertical) ........................................................................................... 53 Figura 7.17 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s antes de ser tratada .................................................................................................................................. 53 Figura 7.18 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s depois de tratada ............................................................................................................................................ 53 Figura 7.19 – Ampliação na faixa de freqüência relativa a 3º freqüência natural da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s depois de tratada ..................................................... 54 Figura 7.20 – Variação do 3º modo de vibração para diferentes frações volumétricas de ar .. 54 Figura 7.21 – Influência da velocidade de mistura para diferentes frações volumétricas de ar ............................................................................................................................................ 55 Figura 7.22 – Comparação numérico-experimentais ............................................................. 55 Figura 7.23 – Comparação dos resultados experimentais vertical e horizontal para diferentes velocidades de mistura ......................................................................................................... 57 Figura 7.24 – Variação do 3º modo de vibração para diferentes frações volumétricas de ar para todas as velocidades de mistura testadas (horizontal) .................................................... 57 Figura 7.25 – Variação do 3º modo de vibração para diferentes frações volumétricas de ar para todas as velocidades de mistura testadas (vertical) ........................................................ 58 vi LISTA DE TABELAS Tabela 2.1 – Propriedades de sistema utilizadas no mapeamento dos regimes de escoamento. (Petalas & Aziz1998) ........................................................................................................... 13 Tabela 5.1 – Dados geométricos e propriedades mecânicas do acrílico utilizado no experimento ......................................................................................................................... 33 Tabela 5.2 – Dados de saída ................................................................................................. 33 Tabela 5.3 – Resultado analítico da equação acima para alguns valores de CG ...................... 34 Tabela 5.4 – Parâmetros (β) para os 3 primeiros modos de vibração ..................................... 37 Tabela 5.5 – Resultados analíticos para tubo bi-engastado .................................................... 37 Tabela 5.6 – Erros relativos entre os resultados analíticos e numéricos ................................. 39 Tabela 6.1 – Propriedades da tubulação utilizadas na simulação numérica............................ 41 Tabela 7.1 – Condições de escoamento utilizadas nos testes. ................................................ 43 Tabela 7.2 – Regimes relativos aos resultados mostrados na figura 7.1 ................................. 47 Tabela 7.3 – Erro relativo do modelo numérico para a vibração no plano horizontal em relação às 3 velocidades de mistura ...................................................................................... 51 Tabela 7.4 – Erro relativo do modelo numérico para a vibração no plano vertical em relação às 3 velocidades de mistura .................................................................................................. 56 vii SUMÁRIO 1. 2. INTRODUÇÃO ......................................................................................................................................... 1 1.1. OBJETIVO PRINCIPAL............................................................................................................................ 1 1.2. MOTIVAÇÃO ...................................................................................................................................... 1 1.3. SÍNTESE DA METODOLOGIA PROPOSTA ..................................................................................................... 4 1.4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO ................................................................................................................ 4 ESCOAMENTOS BIFÁSICOS ...................................................................................................................... 6 2.1. 3. REGIMES DE ESCOAMENTO BIFÁSICO ........................................................................................................ 7 2.1.1. Regimes de escoamento bifásico em dutos horizontais ............................................................... 7 2.1.2. Regimes de escoamento bifásico em dutos verticais ................................................................... 9 2.2. MAPEAMENTO DOS REGIMES DE ESCOAMENTO BIFÁSICOS ...........................................................................10 2.3. MODELAGEM NUMÉRICA DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS ................................................................................14 MEDIDORES DE FRAÇÃO DE VAZIO ........................................................................................................16 3.1. SENSORES CAPACITIVOS .......................................................................................................................17 3.2. TOMOGRAFIA....................................................................................................................................18 3.3. VÁLVULAS DE FECHAMENTO RÁPIDO .......................................................................................................19 3.4. TÉCNICAS VISUAIS ALTERNATIVAS ...........................................................................................................19 3.5. SENSOR WIRE-MESH ...........................................................................................................................20 3.5.1. Princípio de operação do sensor wire-mesh ...............................................................................20 3.6. BOROSCÓPIO ....................................................................................................................................21 3.7. COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE MEDIÇÃO ........................................................................................21 3.8. VIBRAÇÃO INDUZIDA POR ESCOAMENTO ..................................................................................................22 3.8.1. Mecanismos de excitação .........................................................................................................23 4. BANCADA PARA SIMULAÇÃO DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS .................................................................25 5. MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO DE VAZIO BASEADA NA FUNÇÃO DE RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA DA TUBULAÇÃO .........................................................................................................................28 5.1. FUNÇÃO DE RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA ...................................................................................................31 5.2. FREQÜÊNCIAS NATURAIS EM UM TUBO LIVRE-LIVRE PARCIALMENTE CHEIO ........................................................32 5.2.1. Resultado analítico ...................................................................................................................33 5.2.2. Resultado experimental ............................................................................................................34 5.3. FREQÜÊNCIAS NATURAIS EM UM TUBO BI-ENGASTADO ................................................................................37 5.3.1. Resultado analítico ...................................................................................................................37 5.3.2. Resultado numérico ..................................................................................................................37 6. MODELAGEM NUMÉRICA ......................................................................................................................40 7. RESULTADOS DA MEDIÇÃO DE FRAÇÃO DE VAZIO .................................................................................43 viii 7.1. RESULTADOS PRELIMINARES..................................................................................................................44 7.2. RESULTADOS FINAIS ............................................................................................................................46 7.2.1. Vibração no plano horizontal ....................................................................................................47 7.2.2. Vibração no plano vertical.........................................................................................................52 8. CONCLUSÕES .........................................................................................................................................59 9. REFERÊNCIAS .........................................................................................................................................61 1 1. INTRODUÇÃO Escoamentos onde duas fases coexistem em um mesmo fluxo, tais como sólidolíquido e gás-líquido são comuns em muitos processos industriais tais como plantas de produção e transporte de óleo e gás, e indústrias termoelétricas e nucleares. A medição da vazão dos fluidos que compõem um escoamento bifásico do tipo gás-líquido é necessária em muitas situações. É de grande importância, por exemplo, a medição de óleo e gás produzidos em plataformas marítimas não apenas para fins de comercialização destes fluidos, mas também para teste e monitoramento dos poços de petróleo, e gerenciamento de reservas. 1.1. OBJETIVO PRINCIPAL Na medição de vazão de escoamentos bifásicos é comum a associação de diferentes técnicas para determinar as vazões de cada fase, como por exemplo, a utilização de dispositivos que permitam conhecer a velocidade do escoamento em conjunto com medidores de fração volumétrica. É justamente com relação à medição da fração volumétrica que a presente dissertação pretende contribuir, oferecendo um novo método de medição baseado em análise de vibrações de tubulações que tem como principais vantagens o fato de ser uma técnica não intrusiva de fácil implementação. 1.2. MOTIVAÇÃO Duas foram as motivações para a realização deste trabalho. Primeiramente, medições de vibração em tubulações de produção de óleo e gás, instaladas em plantas de processo de plataformas marítimas, mostraram uma forte correlação entre os níveis de vibração da tubulação e as vazões de óleo e gás conforme pode ser observado na figura 1.1 (Gama, A.L. et al, 2006). Em seguida, constatou-se a carência de métodos de medição de fração volumétrica e de vazão de escoamentos bifásicos mais simples e de fácil instalação. Com relação à primeira motivação, estudos adicionais foram realizados no laboratório de Vibrações e 2 Automação da Universidade Federal Fluminense para investigar a relação entre a vibração da tubulação e as vazões volumétricas das fases de escoamentos bifásicos. Utilizando uma bancada para simulação de diferentes condições de escoamento de misturas de ar e água, foram encontradas correlações interessantes entre os níveis de vibração da tubulação e a velocidade de mistura do escoamento conforme mostra, por exemplo, a figura 1.2 (Gama, A.L. et al., 2009). Nesta figura podem ser observadas curvas relacionando os níveis de aceleração da tubulação com a velocidade de mistura para diferentes frações volumétricas de ar. Desta forma, desde que a fração de vazio seja conhecida, podem-se determinar as vazões de cada fase do escoamento. O método proposto nesta dissertação tem como principal objetivo o desenvolvimento de uma nova técnica de medição de vazão de escoamentos bifásicos, cuja patente foi depositada recentemente no INPI (Gama,A.L. et al, 2010). Figura 1.1 – Dados de velocidade de vibração em tubulações de produção de óleo e gás 3 Figura 1.2 – Correlações entre os níveis de vibração da tubulação e a velocidade de mistura Sobre a segunda motivação desta dissertação, apesar dos diversos esforços realizados no desenvolvimento de medidores de fração volumétrica e de medidores de vazão bifásicos e multifásicos para serem utilizados em campo, a medição de vazão após a separação das fases utilizando medidores convencionais ainda é o procedimento utilizado na indústria do petróleo. Isto se deve à maior confiabilidade e às menores incertezas na medição de vazão obtidas com a medição de cada fase separadamente em relação aos métodos que não realizam a separação de fases. Embora os procedimentos de medição com a separação das fases sejam eficientes e confiáveis, estes utilizam sistemas de separação que são caros, pesados e ocupam muito espaço. Estas características são indesejáveis em certas aplicações como plataformas marítimas de produção de petróleo, onde as limitações de peso e espaço são mais importantes, sem falar na redução de custo que é sempre desejável em qualquer aplicação. Outra importante desvantagem deste método é não permitir o conhecimento da vazão em tempo real, ou seja, há uma grande defasagem entre o instante em que ocorre o escoamento bifásico e o momento em que as medições de escoamento são realizadas após a separação das fases. 4 1.3. SÍNTESE DA METODOLOGIA PROPOSTA O método aqui proposto para determinação da fração volumétrica baseia-se nas alterações da função de resposta em freqüência (FRF) da tubulação causadas por escoamentos bifásicos com diferentes frações volumétricas. O procedimento de medição consiste em excitar a tubulação através de atuadores que aplicam forçamentos randômicos em uma ampla faixa de freqüência e medir a resposta vibratória da tubulação com acelerômetros ou outros tipos de transdutores com a finalidade de obter FRFs da tubulação. Estas funções são então analisadas para identificar variações de propriedades do sistema que possam estar relacionadas com as frações volumétricas do escoamento. A principal característica investigada foram as freqüências naturais da tubulação, que sofrem variações conforme a fração de vazio do escoamento. Estas variações foram então correlacionadas com a fração volumétrica do escoamento em um processo de calibração. Aparentemente, o método pode parecer bastante simples, entretanto as freqüências naturais do sistema mudam não somente devido à variação de massa dos fluidos conduzidos, mas também devido à distribuição espacial das fases e de sua interação com a tubulação. Procedimentos de medição e análise foram então adotados para melhorar a confiabilidade e sensibilidade do método proposto. Primeiramente, as FRFs representativas de cada condição de escoamento são obtidas a partir de uma média realizada com um grande número de FRFs. A faixa de freqüência analisada foi ampliada com o objetivo de verificar as variações de freqüência natural de vários modos de vibração. Curvas foram ajustadas às FRFs determinadas experimentalmente utilizando técnicas de identificação de sistemas a partir do software MatlabTM que permitiram uma melhor determinação das freqüências naturais da tubulação. Após a implementação destes procedimentos, foram realizados testes sob diversas condições de escoamento que mostraram que o método desenvolvido pode ser dotado de grande sensibilidade às variações de fração volumétrica. Mesmo sob condições ainda não ideais de implementação da técnica desenvolvida, as incertezas das medições não foram altas, mas uma avaliação mais cuidadosa do método aqui proposto deverá ser realizada. 1.4. ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO O trabalho está dividido de forma a abordar todos os assuntos relevantes ao entendimento do método proposto. No capítulo 2, faz-se uma abordagem aos escoamentos bifásicos em geral, citando inclusive os tipos de mapa existentes e aquele que será usado nesta dissertação. O capítulo 3 trata de medidores de fração de vazio onde se encontram exemplos 5 de como realizar tais medições através de equipamentos específicos os quais se baseiam em diversas propriedades físicas e/ou mecânicas. Já no capítulo 4, tem-se uma descrição completa da bancada experimental de escoamentos bifásicos utilizada para realizar os testes com as condições propostas. No capítulo 5, complementa-se com a explicação do método empregado na determinação da fração de vazio baseado na função de resposta em freqüência da tubulação testada além de apresentar alguns resultados preliminares. O capítulo 6 demonstra uma modelagem numérica do problema que se quer experimentar a fim de ter-se mais um resultado para comparação. Por fim, no capítulo 7 são mostrados todos os gráficos obtidos durante o experimento e eles depois de tratados (sem ruídos) tanto para o plano de vibração horizontal quanto vertical seguido das conclusões finais desta dissertação. 6 2. ESCOAMENTOS BIFÁSICOS Escoamentos bifásicos representam fenômenos bem complicados. Há inúmeros exemplos de escoamentos bifásicos encontrados na prática. Água e vapor escoam juntos em equipamentos de transferência de calor como: aquecedores, sistemas de resfriamento de reatores e sistemas de armazenamento de energia solar. Na indústria de petróleo, o óleo é extraído dos poços juntamente com gás natural. Escoamentos bifásicos também são comuns em muitos processos químicos, tal como na alimentação simultânea de gás e líquido em reatores químicos. Sendo assim, a investigação sobre escoamentos bifásicos em dutos é essencial para várias aplicações industriais que requerem soluções confiáveis para projeto e manutenção. Configurações diferentes da distribuição das fases de gás e líquido dentro da tubulação são classificadas como diferentes regimes de escoamento. A velocidade de mistura V e a fração volumétrica de gás CG são variáveis importantes do escoamento, estas são definidas conforme a seguir: V VL VG CG VG V (2.1) (2.2) onde VL e VG são as velocidades superficiais de líquido e gás, respectivamente, dadas pelas expressões a seguir: VL QG QL e VG A A (2.3) em que QL e QG são as vazões volumétricas de água e ar respectivamente, e A é a área da seção transversal do tubo (Mandhane et al. (1974)). 7 2.1. REGIMES DE ESCOAMENTO BIFÁSICO Para a perfeita análise dos efeitos ocorridos em escoamentos bifásicos, é importante a definição dos regimes de escoamentos bifásicos, devido ao fato de que estes ajudam a entender o porquê deste tipo de escoamento causar vibrações em tubulações. Nos escoamentos bifásicos existem diversas maneiras de como as interfaces entre cada fase se manifestam, estas características mudam dependendo dos fluidos escoados, da vazão com a qual estes estão escoando e a geometria do sistema. 2.1.1. REGIMES DE ESCOAMENTO BIFÁSICO EM DUTOS HORIZONTAIS Em dutos horizontais e inclinados, os padrões de escoamento adotam formas mais complexas do que em dutos verticais devido à assimetria causada pela ação da gravidade que, neste caso, atua de forma transversal ao duto. Os padrões mais comuns por Hubbard, M. B.; Dukler, A. E., (1966) são: Escoamento de Bolhas (Bubbly Flow) (a): Este padrão é considerado dentro da categoria dos chamados “escoamentos dispersos”. Nesta configuração, a fase gasosa se encontra distribuída em bolhas dentro da fase contínua líquida, podendo ser estas bolhas de pequenos diâmetros com forma esférica até diâmetros maiores apresentando formas mais alongadas. Nesta situação, as bolhas tendem a escoar na parte superior do duto no caso de uma fase dispersa menos densa que a contínua. De acordo com que aumentamos a velocidade do escoamento, a fase dispersa tende a ocupar toda a seção do duto, pois os efeitos da dispersão turbulenta tornam-se mais importantes que a gravidade. Escoamento Pistonado (Plug Flow) (b): Quando se aumenta a quantidade de gás no escoamento, as pequenas bolhas tendem a coalescer, formando bolhas de um tamanho da ordem do diâmetro do duto. A parte superior da bolha possui forma esférica e o gás é separado da parede do duto por um filme fino de líquido descendo de forma lenta. Duas bolhas sucessivas são separadas por partes líquidas (slugs) que podem conter bolhas de menor diâmetro em forma dispersa. Novamente, as bolhas tendem a escoar pela metade superior do duto, porém esta condição assimétrica é mantida independente da velocidade do escoamento devido ao maior tamanho das bolhas. Escoamento Estratificado (Stratified Flow) (c): Acontece em velocidades muito baixas de líquido e gás, as duas fases escoam separadas por uma interface suave, sem ondulações. 8 Escoamento Ondulatório (Wavy Flow) (d): Quando aumenta a velocidade do gás no escoamento estratificado, aparecem oscilações na interface, gerando um padrão caótico de escoamento. Quando estas ondas passam a ser maiores e a fração volumétrica de líquido aumenta, se começa a molhar a parede superior do duto gerando grandes bolhas de gás presas entre duas ondas, aparecendo um padrão similar ao pistonado chamado Slug Flow (e), porém com bolhas maiores, já que este padrão se dá com maiores frações volumétricas de gás. Este padrão, não deve ser confundido com o escoamento pistonado em dutos horizontais "Plug". Enquanto no primeiro caso, as grandes bolhas são formadas a partir da coalescência das pequenas, quando é aumentada a vazão de gás num padrão de bolhas, neste caso, as bolhas (ou bolsões) de gás são formadas a partir da instabilidade do filme de líquido. Escoamento Anular (Annular Flow) (f): Aumentando ainda mais a velocidade do gás num escoamento estratificado, ou de forma geral, com baixas frações de líquido, se formará um núcleo de gás com um filme de líquido na periferia do duto formando um anel. Figura 2.1 – Morfologia dos diferentes padrões de escoamento em dutos horizontais, respectivamente. Extraído de Paladino, E. E. 9 2.1.2. REGIMES DE ESCOAMENTO BIFÁSICO EM DUTOS VERTICAIS São descritos a seguir, os padrões mais comumente encontrados em escoamentos de líquido e gás em dutos verticais. Escoamento de Bolhas (Bubbly Flow): É similar ao descrito para escoamentos em dutos horizontais, porém sem ter o efeito assimétrico da gravidade. Escoamento Pistonado: (Slug flow): É similar ao escoamento pistonado em dutos horizontais, porém sem ter o efeito assimétrico da gravidade. Escoamento Agitado (Churn Flow): Acontece quando o escoamento pistonado se instabiliza e as grandes bolhas se quebram dando lugar a um escoamento caótico no centro de duto, deslocando o líquido contra as paredes. Este padrão possui uma característica oscilatória entre escoamento pistonado e anular, por isto é comumente chamado slug-annular flow. Escoamento Anular agitado (Wispy-Annular Flow): Neste padrão o líquido se concentra em uma camada relativamente grossa sobre as paredes com um núcleo de gás contendo uma quantidade considerável de líquido disperso em forma de gotas. Na região do filme de líquido existem bolhas de gás dispersas, ou seja, é uma mistura de um escoamento disperso de gotas no centro e um escoamento disperso de bolhas nas paredes. Escoamento Anular (Annular Flow): Neste padrão, o líquido escoa pelas paredes formando um anel fino e o gás escoa pelo centro do duto. As fases apresentam menor presença da outra fase entranhada. Em alguns casos, o anel de líquido pode-se instabilizar dando lugar à penetração de gotas de líquido no núcleo gasoso, similar ao caso descrito para escoamentos em dutos horizontais. 10 Figura 2.2 – Morfologia dos diferentes padrões de escoamento em dutos verticais 2.2. MAPEAMENTO DOS REGIMES DE ESCOAMENTO BIFÁSICOS A qualificação dos diferentes padrões de escoamento bifásico depende da determinação do campo de velocidades das fases líquida e gasosa. No presente estudo, é de grande importância prática o estabelecimento desses regimes, tanto do ponto de vista do entendimento da dinâmica do fluxo em questão, como também na tentativa de se determinar eventuais padrões críticos de escoamento. A maioria dos trabalhos científicos, em grande parte, experimentais, considera por simplicidade a água e o ar como os fluidos de trabalho, além de supor geometrias relativamente simples para efeito de análise. A figura 2.3, extraída de Mandhane et al. (1974), delimita as regiões de regime estratificado (stratified flow), ondulado (wavy flow), tampão (elongated bubble / plug flow), de golfada (slug flow), de bolhas (bubbly / dispersed flow) e anular (annular / annular-mist flow). Neste caso, consideram-se as velocidades das fases líquida ( U LS ) e gasosa ( U GS ) em um tubo horizontal operando a 1 atm e 25ºC. No entanto, sabe-se que o comportamento desses fluidos difere das misturas de óleo e gás natural a altas pressões. Neste sentido, Taitel & Dukler (1976) foram os primeiros a 11 reportar uma mudança significativa nos padrões de escoamentos bifásicos devido às diferentes propriedades dos fluidos de trabalho. O mapeamento dos regimes de escoamento para óleo e gás natural pode ser visto na figura 2.4, supondo um tubo horizontal operando a 68 atm e 38ºC. A densidade e a viscosidade neste caso são, respectivamente, 0,65 g/cm 3 e 0,5 cP para o óleo e, para o gás natural, 0,05 g/cm3 e 0,015 cP. Em um trabalho mais recente, Petalas & Aziz (1998) mapearam os diferentes regimes de escoamento multifásico em tubulações através de correlações empíricas. Um novo modelo mecanístico-empírico é proposto, válido para diferentes geometrias e fluidos de trabalho. Os diferentes padrões de escoamento para as misturas ar / água e óleo / gás encontrados para tubos horizontais podem ser vistos nas figuras 2.5 e 2.6. Note a presença de mais um padrão de escoamento bifásico nesses gráficos: o regime de transição (froth / churn flow). As velocidades das fases líquida e gasosa são designadas, respectivamente, por VSL e VSG , estando suas unidades em pés/s. A tabela 2.1 mostra as propriedades de sistema consideradas nesses experimentos. Figura 2.3 – Mapa de padrões de escoamento para água e ar em um tubo horizontal de 2,5 cm de diâmetro, operando a 25°C e 1 atm. (Mandhane et al. 1974) 12 Figura 2.4 – Mapa de padrões de escoamento para óleo cru e gás natural em tubos horizontais de 5 e 30 cm de diâmetro, operando a 38°C e 68 atm. (Taitel & Dukler 1976) Figura 2.5 – Mapa de padrões de escoamento para um sistema com água e ar supondo uma tubulação horizontal. (Petalas & Aziz 1998) 13 Figura 2.6 – Mapa de padrões de escoamento para um sistema com óleo e gás supondo uma tubulação horizontal. (Petalas & Aziz 1998) Tabela 2.1 – Propriedades de sistema utilizadas no mapeamento dos regimes de escoamento. (Petalas & Aziz1998) Sistema ar / água Sistema óleo / gás Diâmetro do tubo 2,047 pol 6,180 pol Densidade do gás 0,080 lb/pé3 8,139 lb/pé3 Densidade do líquido 62,40 lb/pé3 52,53 lb/pé3 Viscosidade do gás 0,010 cP 0,018 cP Viscosidade do líquido 1,000 cP 2,757 cP Tensão superficial 72,4 dyn/cm 20,0 dyn/cm Rugosidade do tubo 0,00015 pés 0,010 pés Devido à sua complexidade, o estado da arte em fluxos bifásicos considera o mapeamento dos regimes de escoamento em geometrias relativamente simples. Trabalhos clássicos como os de Taitel & Dukler (1976) e Petalas & Aziz (1998) apresentam os mapas de padrões de escoamento para tubos verticais, horizontais e levemente inclinados. Entretanto, apesar dessas limitações geométricas, o conhecimento das velocidades das fases líquida e 14 gasosa na linha azul pode fornecer indicativos importantes dos possíveis regimes de escoamento presentes nos trechos verticais e horizontais da instalação. Como já fora explicitado, em sistemas de produção e de transporte de óleo e gás, podem ser encontrados diferentes regimes de escoamento dependendo de parâmetros tais como velocidades das fases, fração volumétrica, temperatura e pressão. Do ponto de vista da Engenharia, o regime pistonado ou de golfada é considerado consensualmente como uma condição indesejável para a operação de uma planta devido aos sérios problemas de vibração que o mesmo pode acarretar, com as suas significativas variações de pressão e os grandes esforços produzidos em curvas, reduções e equipamentos. 2.3. MODELAGEM NUMÉRICA DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS A modelagem numérica de escoamentos bifásicos é extremamente difícil de ser feita, principalmente quando se trata de um regime tal qual o slug. A dificuldade encontrada nesse tipo de escoamento está em sua natureza transiente. Para se obter uma solução com qualidade, deve-se ter uma discretização no tempo e no espaço bem pequena o que demanda um tempo computacional enorme. Além disso, a convergência da simulação depende preponderantemente das condições de contorno e condições iniciais impostas ao problema. Figura 2.7 – Resultado da simulação do escoamento slug correspondente a 3,22s O resultado mostrado na figura 2.7 se refere a um momento 3,22s de um escoamento bifásico em regime slug, no entanto, não foi possível obter a “golfada” característica, mesmo impondo uma condição inicial de escoamento desenvolvido para os dois fluidos com 15 equações aplicadas nas fronteiras do domínio. Isto se deve a fato de ser necessário um tempo maior até a convergência do solver, ou seja, seria necessário um tempo maior que 3s para se ter um resultado razoável. Sendo que, só para se ter uma idéia, esse resultado de 3s levou cerca de 12h de tempo de simulação em uma máquina quad-core. A malha empregada no exemplo apresentado foi feita em software específico para geração de malhas. Todo o modelo foi discretizado utilizando apenas um tipo de elemento, hexagonal. Isto representa uma malha de boa qualidade, porém ainda foi insuficiente para se detectar o fenômeno desejado. Devido a essa série de dificuldades, optou-se por não levar adiante essa abordagem do problema nessa dissertação. 16 3. MEDIDORES DE FRAÇÃO DE VAZIO As técnicas de medição de fração de vazio em escoamentos bifásicos de gás-líquido continuam se desenvolvendo gradualmente devido à natureza transiente do escoamento que traz dificuldades na instrumentação e medição. Devido a essa natureza transiente dos escoamentos bifásicos, a maioria das técnicas de análise envolve um conjunto de resultados que é obtido de vários dados na mesma condição de escoamento, ou pela média no tempo de uma única gravação. Algumas das técnicas comuns para a obtenção da medida de fração de vazio incluem os seguintes: atenuação de radiação (raios-γ), sensor de condutância (conductance probe), métodos de capacitância e válvulas de fechamento rápido (quick-closing valves). A seleção de qualquer um desses métodos depende de sua aplicação e se uma medição da média volumétrica ou da fração de vazio local é desejada (Elkow, K. J. and Rezkallah, K. S., 1996). A fração média de vazio, CG, em uma mistura bifásica também pode ser definida como: CG Volume de gás na mistura Total de volume de gás e líquido (3.1) A fração de vazio é necessária para que se calcule a perda de carga do escoamento, pois ela determina parâmetros importantes, tais como densidade média do fluido e velocidade média do escoamento em um local específico da tubulação. Determinar precisamente a densidade média do fluido e velocidade efetiva do escoamento bifásico é difícil, pois ela depende da razão de velocidades, S, que é definida pela razão da velocidade do gás em relação à do líquido (Feenstra, P.A. et al. 2000): S VG VL (3.2) 17 Esses parâmetros também são requeridos pelas análises de vibração induzida por escoamento para prever as forças dos fluidos e o limite da instabilidade fluido-elástica da tubulação sujeita aos escoamentos bifásicos. Essas técnicas experimentais que estão disponíveis para a medição da distribuição de fases em escoamentos bifásicos podem ser divididas em diversas categorias. A mais comumente usada é representada pela medição por pontos. Instrumentos deste tipo normalmente empregam sensores (tip probes) que fornecem informação instantânea da fase, por exemplo, gás ou líquido, no local do sensor. Esses sensores empregam a diferença na condutividade elétrica das duas fases ou a diferença no índice de refração delas. Outro método, que também tira proveito da diferença de propriedades elétricas de líquidos e gases, é baseado em sensores de capacitância ou resistência, similares àqueles utilizados em medições de altura de ondas em tanques de laboratório. Consistem de uma única ou um par de fios fino e paralelos que fornecem informações quantitativas acerca do comprimento da parte molhada desses fios. Entre os vários métodos disponíveis para a medição da fração de vazio em escoamentos de gás-líquido, os não-intrusivos são os mais desejáveis. Os sensores de capacitância foram amplamente pesquisados por Merilo et al. (1977), Masuda et al. (1980), Heerens (1986) entre outros. Entretanto, para estas medições não é incomum estarem na faixa de 0,1 a 10 pF (pico Farad – Farad é a unidade SI de capacitância elétrica). Desse modo, uma proteção apropriada contra a fuga de capacitância e uma boa razão de sinal e ruído são necessárias. Além da obtenção da fração de vazio medida, a análise estatística do sinal pode ser usada para determinar o regime do escoamento associado ao escoamento e suas transições. 3.1. SENSORES CAPACITIVOS Um sensor de capacitância fornece uma maneira não-intrusiva para se medir a fração de vazio. Ele fornece medições da fração de vazio de tempos médios e seu sinal de saída variável no tempo pode ser usado para a identificação dos padrões de escoamento. Desde que a área e distância entre os eletrodos do capacitor sejam constantes, a única contribuição para uma mudança na capacitância é devido a uma mudança nas fases de líquido e gás. A capacitância medida representa a quantidade das fases e a configuração delas dentro do duto para uma vazão pré-determinada. Medições da impedância elétrica são comumente usadas em misturas de água-gás para determinar a fração de vazio. Um fator importante é que quando medições de impedância são 18 usadas, ocorrerá uma variação se a condutividade do líquido mudar. Isto foi observado por Geraets and Borst (1988). Se a temperatura da água, por exemplo, subir de 25ºC para 50ºC, a condutividade duplica enquanto a permissividade cai por aproximadamente 15%. Geraets e Borst (1988) descobriram que a variação pode ser reduzida através da utilização de freqüências altas o suficiente para dar mais destaque ou maior importância à capacitância. Eles usaram um medidor de capacitância Boonton 72BD capaz de detecção de fases operando a freqüências de 1 MHz. Fluidos com uma condutividade específica menores que 0,5 10 2 m 1 foram designados a ter uma precisão de medida dentro de 1,5%. Uma variedade de configurações de eletrodo foi projetada por alguns pesquisadores variando de placa chata, côncava, helicoidal e helicoidal múltipla, em que os eletrodos estavam em contato ou isolados do fluido. Dois sensores de capacitância foram usados por Geraets and Borst (1988) em que um tubo tinha 50mm de diâmetro interno e o outro era 5mm. Os sensores usados eram do tipo helicoidal múltiplo apresentando 2 tiras finas de latão ao redor do tubo fino de acrílico. As tiras de latão foram posicionadas tal que estivessem sempre opostas umas às outras. Um eletrodo de proteção foi usado para minimizar efeitos de borda e fuga de capacitância. A fuga de capacitância é indesejável e pode ocorrer entre fios de circuito, fios e chassis ou componentes e chassis de equipamentos eletrônicos. Geraets e Borst (1988) usaram o sensor para medições de fração de vazio bem como para determinar informações acerca de padrão do escoamento em dutos horizontais. 3.2. TOMOGRAFIA Técnicas que permitem medir a distribuição das fases em toda a seção transversal do tubo são os métodos baseados em tomografia. O termo tomografia refere-se a uma técnica que é capaz de determinar a distribuição de densidades na seção transversal de um objeto. Podemos distinguir dois tipos de tomografia: não-intrusivo e intrusivo. Os métodos nãointrusivos usam uma série de medições de atenuação de radiação, tais como: raios-X, raios-γ, ondas sonoras, ou medidas de impedância entre vários pares de eletrodos colados à superfície da tubulação. Kumar et al. (1995) aplicou um scanner tomográfico computadorizado usando raios-γ para a medição de fração de vazio e sua distribuição em sistemas de escoamento bifásico como leitos fluidizados e colunas de bolhas. A tomografia é um processo de duas etapas. Durante a primeira etapa, os dados que dependem das propriedades médias observadas são coletados, ao passo que durante a segunda etapa a reconstrução da distribuição das propriedades médias é executada. Assim, a reconstrução requer solução de um problema de inversão. Lemonnier e Peytraud (1998) 19 investigaram a precisão da tomografia de impedância, e concluíram que ela tem muita baixa potencialidade como uma técnica precisa de medição da distribuição das frações de vazio em um escoamento bifásico arbitrário. Isto é devido ao fato da tomografia de impedância ser um problema mal-condicionado e ao se preparar um procedimento de um processo de tomografia é requerido o conhecimento quantitativo da sensibilidade da reconstrução para a medição de ruído. A imagem tomográfica usando sensores de capacitância também é possível. Huang et al. (1989) informaram resultados usando oito eletrodos montados na parte externa de um duto isolado. Através da medição da capacitância de diferentes pares de eletrodos, foi possível fazer uma reconstrução de imagem. A capacitância do escoamento bifásico mudava proporcionalmente a uma mudança nas fases dentro da tubulação. A mudança na amplitude do sinal foi então processada por um computador onde um algoritmo foi usado para reproduzir uma imagem da seção transversal. Este método está sendo mais desenvolvido atualmente. 3.3. VÁLVULAS DE FECHAMENTO RÁPIDO Válvulas de fechamento rápido fornecem uma medição de fração de vazio exata e são úteis na calibração ou comparação com outros métodos. Entretanto, não é um sistema prático para determinar a fração de vazio para processos contínuos à medida que ele bloqueia o escoamento. Sob condições adiabáticas, é importante que o fechamento das válvulas seja feito simultaneamente. No entanto, se o título x é crescente, como no caso em que calor é adicionado à mistura bifásica, o tempo de fechamento tem que ser ainda menor. Para esta condição, os erros do experimento são menores se o tempo de fechamento for menor que 1/100 por segundo (Dounan et al., 1985). 3.4. TÉCNICAS VISUAIS ALTERNATIVAS A fronteira nitidamente visível entre as fases e a natureza não-intrusiva tornam as observações visuais e a visualização do escoamento muito popular em estudos de escoamento bifásico. Por exemplo, Angeli e Hewitt (2000) usaram uma técnica de gravação de vídeo com um endoscópio em suas investigações de distribuição de tamanho de gota em escoamentos dispersos de óleo-água em dutos horizontais. 20 3.5. SENSOR WIRE-MESH O primeiro exemplo de técnica de medição abordado usa é um sensor chamado wire- mesh que, aliado ao fornecimento de dados da distribuição de fase instantânea na seção do duto, também permite a medição da velocidade instantânea de propagação da interface. O sensor wire-mesh consiste de duas ou mais camadas de fios paralelos com camadas consecutivas inseridas perpendicularmente em relação aos fios da camada anterior. Eles podem ser vistos como uma tomografia intrusiva que capacita a medição da distribuição da fração de vazio na seção transversal. Sendo um instrumento intrusivo, o sensor wire-mesh é livre de problemas de inversão comuns às tomografias não-intrusivas. Figura 3.1 – Ilustração esquemática de um sensor wire-mesh 3.5.1. PRINCÍPIO DE OPERAÇÃO DO SENSOR WIRE-MESH O sensor com três ou mais camadas de fios paralelos ficam perpendiculares à linha de centro da tubulação. O princípio de operação do sensor wire-mesh é baseado na diferença de condutividade elétrica das duas fases (ar e água). A técnica do sensor wire-mesh tem uma desvantagem ao introduzir uma perturbação ao escoamento que pode afetar a estrutura espacial do escoamento a jusante do sensor. A resolução espacial do sensor pode ser melhorada através do aumento do número de fios. Entretanto, quanto maior esse número de fios maior é a perturbação inserida ao escoamento. A vantagem mais significativa do sensor wire-mesh é sua habilidade em trabalhar em vários regimes de escoamento. Além disso, é quase insensível a mudanças consideráveis de temperatura e sendo assim pode ser usado em estudos de processos de aquecimento. Então, a técnica do wire-mesh pode fornecer dados razoáveis da hidrodinâmica sob condições em que métodos alternativos não podem ser aplicados. 21 3.6. BOROSCÓPIO O segundo método aplicado tem a vantagem da existência de uma fronteira nitidamente visível entre as fases. Este instrumento óptico é baseado em um boroscópio (boroscope) que é conectado a uma câmera de vídeo digital. A iluminação de luz a laser torna possível obter imagens somente na seção transversal iluminada da tubulação. O boroscópio é um tubo rígido preenchido com um arranjo de fibras ópticas e equipado com lentes em ambas extremidades. O ocular do boroscópio é conectado a câmera de vídeo digital. Ele pode ser inserido na parede superior da tubulação por uma pequena abertura que permita a visualização da seção transversal da tubulação que é iluminada pela luz gerada por um laser de argônio e um sistema de lentes e espelhos. Em tal configuração, o boroscópio é essencialmente um instrumento não-intrusivo que praticamente não interfere no escoamento, sendo assim mais vantajoso em relação ao sensor wire-mesh. Como demonstrado por Roitberg et al., a aplicação deste instrumento é, entretanto, complicado e está sujeito a limitações. Sendo o boroscópio um aparelho óptico, ele é limitado a condições de escoamento em que uma única fase exista entre a lente objetiva do boroscópio e a interface, restringindo sua aplicação principalmente a regimes de escoamentos separados. Por esta razão, esta técnica é executada somente em regime de escoamento estratificado. 3.7. COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS DE MEDIÇÃO Medições realizadas pelo sensor wire-mesh e pelo boroscópio em condições idênticas de escoamento fornecem resultados bastante similares. A principal vantagem do sensor wiremesh é a possibilidade de sua aplicação em todos os regimes de escoamento bifásico ao passo que o boroscópio fornece resultados razoáveis desde que exista uma única fase entre sua lente e a interface gás-liquido. O sensor wire-mesh não tem limitações quanto ao material da tubulação enquanto que a aplicação do boroscópio requer uma iluminação externa que só pode ser aplicada a tubos transparentes. Uma vantagem adicional do sensor wire-mesh é sua capacidade em determinar a velocidade de propagação da interface gás-líquido. 22 Figura 3.2 – Forma da interface gás-líquido de escoamento estratificado obtida por (a) sensor wire-mesh e (b) boroscópio 3.8. VIBRAÇÃO INDUZIDA POR ESCOAMENTO Evans et al. (2004) realizou uma investigação experimental sobre medição de vazão baseado na vibração da tubulação induzida pelo escoamento monofásico turbulento e concluiu que há uma forte relação entre o desvio padrão da aceleração do tubo, obtido com acelerômetro instalado na superfície deste, e a vazão. Embora os testes fossem restritos a escoamentos monofásicos, os autores notaram que em escoamentos turbulentos o desvio padrão do sinal do acelerômetro aumentava com a vazão e se dava de forma quadrática. A vibração induzida por escoamento (FIV) em componentes de plantas de processo e energia é uma tecnologia não regulamentada pelos códigos e normas industriais. Para uma grande extensão, FIV é um problema operacional que tem, relativamente, pouco impacto direto na segurança do público. A vibração induzida por escoamento é freqüentemente vista como um caso uma tanto quanto misterioso por engenheiros e ainda está para ser entendido. O escoamento bifásico é encontrado na produção de óleo offshore bem como em plantas de processo envolvendo escoamento bifásico em alguns reatores nucleares. As forças atuantes nas curvas da tubulação ao longo da linha de escoamento precisam ser conhecidas para que se projete uma restrição apropriada para o tubo e este suporte o impacto. Misturas de líquido e gás que podem ser vapor e água tal qual em equipamentos de transferência de calor ou produtos não-miscíveis como em uma produção offshore. Alguns aspectos da excitação da estrutura pelo escoamento bifásico são conhecidos por estarem relacionados com a existência de fases distintas com densidades diferentes. No caso de escoamento interno em sistemas de tubulação, forças de excitação aparecem em elementos que promovem mudança no escoamento como curvas, cotovelos e 23 tês. Muito pouca atenção tem sido dada a esse caso. Geralmente, os problemas causados pela vibração excessiva são trincas por fadiga e danos de corrosão por atrito. Do ponto de vista da vibração induzida pelo escoamento, componentes nucleares são estruturas cilíndricas ou feixes de cilindros sujeitos a escoamento axial ou transversal à seção da tubulação. Um avanço considerável tem sido feito na área de vibração induzida por escoamento desde o início dos anos 70. Mecanismos de excitação de vibração em escoamentos monofásicos (líquido ou gás) são bem entendidos agora. Há muito trabalho a ser feito em escoamentos bifásicos embora alguns estudos bem relevantes têm sido conduzidos desde a metade dos anos 80. Muito progresso tem sido acompanhado na área de acústica e pulsação de pressão em sistemas de tubulação. No momento, é possível fazer algumas previsões de danos de corrosão por atrito devido à vibração o que há 20 anos era um sonho distante. É necessário entender os mecanismos de excitação de vibração induzida pelo escoamento e os mecanismos de amortecimento para todas as situações de escoamento. 3.8.1. MECANISMOS DE EXCITAÇÃO Forças dinâmicas são geradas pelo escoamento do fluido causando vibração. Geralmente, quatro mecanismos de excitação de vibração induzida pelo escoamento são relevantes: instabilidade fluido-elástica, desprendimento de vórtices periódicos, excitação induzida pela turbulência e ressonância acústica. A importância relativa desses mecanismos para situações diferentes de escoamento definida por Pettigrew, M.J., et al (1998), é descrita na figura 3.3. 24 Figura 3.3 – Relevância dos mecanismos de excitação 3.8.1.1. EXCITAÇÃO INDUZIDA PELA TURBULÊNCIA De acordo com a figura 3.3, o mecanismo de excitação de vibrações induzida pela turbulência deve ser considerado para as condições características do estudo a ser realizado durante este trabalho. É importante saber que a excitação de vibrações pode ser induzida pela turbulência. A turbulência pode ser gerada localmente pelo fluido à medida que ele escoa em torno do componente de interesse. Isto é chamado de excitação de campo próximo. Alternativamente, a excitação de campo distante pode ser gerada por componentes na região upstream tal como: bocais, curvas e outros elementos. A excitação induzida pela turbulência gera flutuações de pressão aleatórias ao redor da superfície do componente forçando-os a vibrar. 25 4. BANCADA PARA SIMULAÇÃO DE ESCOAMENTOS BIFÁSICOS Um circuito ar-água foi construído para simular escoamentos bifásicos. A figura 4.1 a seguir apresenta o esquema do circuito de testes, construído no Laboratório de Vibrações e Automação da UFF, utilizado para simulação do escoamento bifásico. O sistema consiste de uma bomba centrífuga com capacidade de vazão de 16 m³/h, um compressor de ar com capacidade de vazão de 30 m³/h, dois rotâmetros para medição das vazões volumétricas de ar, dois rotâmetros para medição das frações volumétricas de água, válvulas manuais para controle das vazões, transdutores de pressão, reservatório de água e separador de mistura. Seção de Teste Figura 4.1 – Esquema do loop de testes do laboratório. A tubulação da seção de testes é de acrílico com diâmetro externo de 31,75 mm (1 ¼”) e interno de 25,4 mm (1”) fixada em uma bancada de aço. Todo o sistema está isolado através de conexões e mangueiras a fim de evitar qualquer influência na seção de teste devido às vibrações da bomba, do compressor e das fixações. 26 Inicialmente, a bancada se apresentava conforme mostra a foto na figura 4.2 e com ela foram feitos os primeiros experimentos e obtidos os primeiros resultados. Figura 4.2 – Foto da bancada experimental inicial Mais tarde, no intuito de melhorar e aprimorar as experiências e conseqüentemente gerar resultados melhores e mais confiáveis, resolveu-se instalar novos apoios para a tubulação, apoios estes mais rígidos e fixados a uma placa de aço. Segue a foto da bancada onde se realizaram os testes finais. Figura 4.3 – Foto da bancada experimental aprimorada Além da melhoria realizada em termos de sujeitação da tubulação na bancada, foi fabricado e instalado um “amortecedor de pulsações”, ou seja, uma tubulação de maior 27 diâmetro foi anexada à tubulação de ar, próxima a seção de teste propriamente dita, para evitar oscilações do flutuador do rotâmetro de ar. Estas oscilações causavam grandes incertezas na medição das vazões volumétricas de ar em determinadas condições de escoamento. Figura 4.4 – Amortecedor instalado na tubulação de ar próximo a seção de teste 28 5. MÉTODO PARA DETERMINAÇÃO DA FRAÇÃO DE VAZIO BASEADA NA FUNÇÃO DE RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA DA TUBULAÇÃO Como já mencionado, o método aqui proposto para determinação da fração volumétrica baseia-se nas alterações da função de resposta em freqüência (FRF) da tubulação causadas por escoamentos bifásicos com diferentes frações volumétricas. O procedimento de medição consiste em excitar a tubulação através de atuadores que aplicam forçamentos randômicos em uma ampla faixa de freqüência e medir a resposta vibratória da tubulação com dois acelerômetros com a finalidade de obter FRFs da tubulação. Estas funções são então analisadas para identificar variações de propriedades do sistema que possam estar relacionadas com as frações volumétricas do escoamento. A principal característica investigada foram as freqüências naturais da tubulação, que sofrem variações conforme a fração de vazio do escoamento. Estas variações foram então correlacionadas com a fração volumétrica do escoamento em um processo de calibração. Os sinais de vibração, obtidos de acelerômetros instalados de forma a medir a vibração do tubo no plano vertical e no plano horizontal foram analisados utilizando um analisador de sinais dinâmicos comercial e um sistema desenvolvido utilizando a plataforma Labview TM. O sistema de controle, aquisição e processamento utilizado no ensaio e na aquisição de dados consiste de dois acelerômetros, um shaker, um condicionador de sinais, um amplificador de sinais, placa de aquisição/geração e software implementado em plataforma LabviewTM. Na figura 5.1, pode-se observar em detalhes a seção de teste que consiste num trecho reto da tubulação, de comprimento “L”, ancorada em dois suportes fixos na bancada. E logo em seguida, na figura 5.2, mostra-se a seção de teste sendo excitada pelo shaker durante experimento. 29 Figura 5.1 – Seção de teste e Sistema de Controle, Aquisição e Processamento de Dados Figura 5.2 – Shaker excitando tubo na seção de teste Procedimentos de medição e análise foram então adotados para melhorar a confiabilidade e sensibilidade do método proposto. Primeiramente, as FRFs representativas de cada condição de escoamento são obtidas a partir de uma média realizada com um grande número de FRFs. A faixa de freqüência analisada foi ampliada com o objetivo de verificar as variações de freqüência natural de vários modos de vibração. Curvas foram ajustadas às FRFs determinadas experimentalmente utilizando técnicas de identificação de sistemas a partir do software Matlab TM que permitiram uma melhor determinação das freqüências naturais da tubulação. Após a implementação destes procedimentos, foram realizados testes sob diversas condições de escoamento que mostraram que o método desenvolvido pode ser dotado de grande sensibilidade às variações de fração volumétrica. 30 O ensaio é realizado da seguinte forma: é simulada uma situação de escoamento bifásico no loop de testes. O sistema de controle faz com que o shaker atue sobre a tubulação excitando-a numa determinada faixa de freqüência. O sinal de vibração resultante da excitação e do escoamento bifásico é adquirido pelo sistema de aquisição. Os sinais de excitação e vibração da tubulação são enviados ao sistema de processamento de dados e através da função de resposta em freqüência o software identifica a freqüência natural do conjunto tubulação e escoamento. No diagrama da figura 5.3, é mostrada a lógica resumida de análise do software desenvolvido. Figura 5.3 – Diagrama simplificado de análise do software Os dados dos sinais dos acelerômetros e do sinal de excitação do shaker são gravados em um computador através do sistema de aquisição. Para cada condição de escoamento bifásico analisada, os sinais de vibração foram adquiridos num período de 100 segundos a uma taxa de amostragem de 4096 pontos/segundo. Como se trata de medições experimentais, a repetibilidade é um fator primordial e por isso esse procedimento foi realizado três vezes para uma mesma condição de escoamento a fim de extrair médias, verificar sua repetibilidade e verificar a influência de fatores externos no momento da medição. Cada teste foi pósprocessado separadamente no software MatlabTM e em seguida, tomou-se a média entre os três valores medidos oriundos dos testes realizados e com estes valores foram gerados os gráficos de Freqüência versus Fração de vazio (CG). Durante o pós-processamento no MatlabTM, os dados no domínio da freqüência representam medições de variáveis de input e output no sistema que são gravadas e armazenadas no domínio da freqüência. Os sinais no domínio da freqüência são transformadas de Fourier dos sinais correspondentes no domínio do tempo. Dados do domínio da freqüência também podem representar a resposta em freqüência do sistema, representado por uma lista de valores de resposta complexos no intervalo de 31 freqüência dado. A função de resposta em freqüência mostra a relação entre a saída (output), medida no sistema, e a entrada (input) aplicada ao sistema. No caso de sistema massa-mola-amortecedor, pode-se obter os dados da resposta em freqüência através da utilização de uma entrada (excitação) senoidal de força e medindo o ganho correspondente na amplitude e fase da resposta, dentro do intervalo de freqüências da entrada. No Matlab TM, existem 3 métodos para se fazer o tratamento do espectro e do manual do software tem-se as seguintes definições para cada método: SPA (Blackman-Tukey): É o método clássico de análise espectral. Estima a resposta em freqüência com resolução fixa na freqüência usando uma análise espectral. Estima também a resposta em freqüência (com incerteza) e espectro de ruído de dados no domínio da freqüência. ETFE (Empirical Transfer Function Estimate): De forma resumida, é a razão entre o output da transformada de Fourier pelo input. Estima funções de transferência empíricas e periodogramas. SPAFDR (SPectral Analysis with Frequency Dependent Resolution): estima a transformada de Fourier do input e output. Resultados de inputs e outputs com a transformada de input são suavizados nas regiões locais de freqüência, cuja análise espectral tem resolução em função da freqüência. Foi utilizado o método SPA onde se entrou com o vetor de freqüência e uma resolução de 1024 já que foram obtidos 1024 pontos durante o ensaio. Isso significa que picos e detalhes que difiram de 0,001 serão percebidos. 5.1. FUNÇÃO DE RESPOSTA EM FREQÜÊNCIA Em muitas situações o sinal de entrada de um sistema dinâmico é de natureza periódica. A força exercida em estruturas marítimas pelas ondas do oceano ou vibrações mecânicas exercidas em um motor devido ao balanceamento inadequado do rotor ou da carga acoplada ao eixo do mesmo são exemplos de sinais de natureza periódica, que em muitos casos apresentam formas de onda muito semelhantes à senóides. Além disso, sinais periódicos, independente de sua natureza, podem ser representados pela soma infinita de harmônicas senoidais. Desta forma, o conhecimento do comportamento do sistema a um sinal de entrada senoidal constitui a base para determinação da resposta do sistema para uma larga classe de entradas periódicas. 32 O método da resposta em freqüência de um sistema é definido como a resposta em regime permanente do sistema quando considerada uma entrada do tipo senoidal. O sinal senoidal constitui o único sinal de entrada e, para um sistema linear, todos os sinais intermediários bem como a saída deste sistema em regime permanente também serão senóides. Tais sinais diferem daquele considerado na entrada somente em amplitude e fase. Ou seja, a função de transferência de um sistema linear é a relação das respostas de freqüência da saída e da entrada. A relação de amplitude e fase pode ser extraída da função de transferência. A função de transferência ajuda a compreender a relação entre a entrada e a saída de uma rede linear. As representações gráficas das funções amplitude e fase da resposta em freqüência, em escala logarítmica, designam-se por diagramas de Bode de amplitude e de fase. Nestes diagramas de amplitude são geralmente apresentados com o eixo das freqüências (horizontal) em escala logarítmica para abranger num mesmo gráfico uma escala ampla de freqüências. A análise da resposta em freqüência é realizada pelo estudo da variação com a freqüência do quociente entre dois fatores, em amplitude e fase. A função de transferência é representada no domínio da freqüência e é denotada pela transformada de Fourier H(jω), onde (jω) denota a presença de uma função dependente da freqüência, onde ω = 2πf. A transformada de Fourier mostrando a função de transferência entre a entrada e saída é dada pela equação abaixo (Nunes, A.P., 2009). H ( j ) Vsaída ( j ) Ventrada ( j ) (5.1) Quando uma função de transferência é reduzida a sua forma mais simples, gera uma relação de dois polinômios. As características principais, por exemplo, a ressonância, de uma função de transferência ocorre nas raízes dos polinômios. As raízes do numerador são chamadas “zero” e as raízes do denominador são os “pólos”. Os zeros produzem um aumento no ganho, quando os pólos causarem a atenuação. 5.2. FREQÜÊNCIAS NATURAIS EM UM TUBO LIVRE-LIVRE PARCIALMENTE CHEIO A título de iniciarem-se os estudos da freqüência natural de tubulações parcialmente cheias, foi realizado experimento fora da bancada de escoamentos bifásicos para obtenção de resultados preliminares. Os dados geométricos, propriedades mecânicas do material e parâmetros para a solução do problema estão apresentados na tabela 5.1 a seguir: 33 Tabela 5.1 – Dados geométricos e propriedades mecânicas do acrílico utilizado no experimento Diâmetro externo 31,75 mm Diâmetro interno 25,4 mm Comprimento (L) 970 mm Densidade específica (ρ) Módulo de Elasticidade (E) 5.2.1. 1200 kg/m3 4,0 GPa RESULTADO ANALÍTICO Para tubos parcialmente cheios de líquido e que possuam seção transversal uniforme bem como o produto de rigidez EI, utilizou-se a equação (5.2) para vibração transversal de vigas, para fins de comparação com os resultados experimentais. EI 4v 2v m 0 x 4 t 2 (5.2) Na equação (5.2) m é a massa da tubulação somada a massa do líquido por unidade de comprimento e v o deslocamento do tubo na direção transversal. Os resultados aqui apresentados dizem respeito àquele relativo a um tubo livre-livre no qual foi aplicado a equação para determinação da freqüência natural levando-se em consideração a massa adicional de água. As freqüências naturais podem ser obtidas através da equação (5.3): f 2 E.I A (5.3) onde: acrílico . Aacrílico água . Aágua .(1 CG ) A (5.4) De posse desses dados, é necessário fazer cálculos preliminares das áreas, momento de inércia (I) e β que depende do comprimento do tubo a ser estudado e suas condições de contorno. O resultado desses cálculos é mostrado a seguir: Tabela 5.2 – Dados de saída Aacrílico (m2) 2,850E-04 Aágua (m2) 5,067E-04 I (m4) 2,945E-08 34 Com CG variando de 0 a 1, temos os seguintes valores: Tabela 5.3 – Resultado analítico da equação acima para alguns valores de CG 5.2.2. CG (%) Freqüência (Hz) 0 73,2117 50 55,1279 100 46,0520 RESULTADO EXPERIMENTAL Foi realizado teste de impacto para o tubo livre-livre com comprimento L = 970 mm. A fim de conseguir-se a condição livre-livre, a tubulação foi suspensa por fios de nylon (figura 5.3) posicionados próximos dos nós do primeiro modo natural de vibração. Figura 5.4 – Arranjo montado para experimento com tubo livre-livre A figura 5.4 mostra a freqüência natural do primeiro modo de vibração tanto no plano horizontal (azul) como no plano vertical (vermelho) para os casos do tubo completamente cheio e vazio. Nota-se neste caso que as freqüências naturais nos dois planos coincidem para o caso do tubo completamente vazio e se aproximam bastante para o caso completamente cheio. 35 Figura 5.5 – Resultado para o 1º modo de vibração oriundo do teste de impacto para o tubo completamente vazio (CG = 100%) e completamente cheio (C G = 0%), respectivamente. Apresentam-se agora na figura 5.5 os resultados do teste de impacto para o tubo parcialmente cheio (CG = 50%). Nota-se agora a diferença entre as freqüências naturais de vibração no plano vertical (vermelho) e no plano horizontal (azul). Percebe-se que o valor da primeira freqüência natural no plano vertical é inferior ao da freqüência natural no plano horizontal. Isto se deve ao menor acoplamento do líquido com o tubo quando este oscila no plano horizontal. Este experimento, embora simples, requer uma modelagem analítica ou numérica bastante complexa. Foram realizados testes adicionais de impacto para as demais frações volumétricas. Os resultados obtidos experimentalmente para as freqüências naturais no plano vertical e horizontal podem ser observados na figura 5.6, onde também é feita uma comparação com as freqüências naturais calculadas através das equações (5.3) e (5.4). Nota-se que há uma excelente concordância de resultados experimentais e analíticos para as freqüências naturais de vibração no plano vertical devido ao grande acoplamento do fluido com o tubo nesta direção. Deve-se ressaltar que os testes de impacto produziram oscilações de pequena amplitude. 36 Figura 5.6 – Resultado para o 1º modo de vibração oriundo do teste de impacto para CG = 50%. Nota-se agora a diferença entre as freqüências naturais de vibração no plano vertical (vermelho) e no plano horizontal (azul). Figura 5.7 – Comparação entre o resultado analítico e experimental para o tubo livre-livre Além disso, pode-se estabelecer o maior erro relativo (1,19%) entre os dois resultados aplicando a fórmula: 37 erro relativo | analítico exp erimental | analítico (5.5) Sendo 1,19% o maior erro percentual (CG = 90%) com relação aos resultados analíticos e experimentais no plano vertical. 5.3. FREQÜÊNCIAS NATURAIS EM UM TUBO BI-ENGASTADO A seguir são apresentados resultados analíticos e numéricos para um tubo bi-engastado completamente vazio. Esta condição de contorno será utilizada nos experimentos. 5.3.1. RESULTADO ANALÍTICO Tabela 5.4 – Parâmetros (β) para os 3 primeiros modos de vibração Parâmetros 1º modo 2º modo 3º modo βL (m) 4,73 7,8532 10,9956 β (m-1) 7,243 12,026 16,839 Feito isto, pode-se calcular os 3 primeiros modos de freqüência natural do tubo biengastado. f 2 E .I A (5.6) Logo, Tabela 5.5 – Resultados analíticos para tubo bi-engastado Resultados 1º modo 2º modo 3º modo Freqüência (Hz) 129,661 357,422 700,690 5.3.2. RESULTADO NUMÉRICO Foi modelado um tubo com elementos sólidos e realizado uma análise modal para o cálculo das freqüências naturais. Malha: 26519 nós (mapeada na parede do tubo) Tamanho do elemento: 4 mm 38 Figura 5.8 - Malha empregada na modelagem numérica para tubo bi-engastado Condição de contorno: fixo em ambas as extremidades Figura 5.9 – Condição de contorno em ambas extremidades Figura 5.10 – Deformação do tubo bi-engastado no 1º modo (131,00 Hz) 39 Figura 5.11 – Deformação do tubo bi-engastado no 2º modo (348,60 Hz) Figura 5.12 – Deformação do tubo bi-engastado no 3º modo (654,89 Hz) Comparando os dois resultados, analítico e numérico, pode-se estabelecer o erro relativo do modelo empregado pela seguinte fórmula: Tabela 5.6 – Erros relativos entre os resultados analíticos e numéricos Erro relativo (%) 1º modo 2º modo 3º modo 1,03 2,47 6,54 Supondo o erro acima aceitável, pode-se dizer que o modelo está adequado no que diz respeito à parte sólida. 40 6. MODELAGEM NUMÉRICA Análises modais em elementos finitos através do pacote comercial AnsysTM também foram realizadas para verificar a sensibilidade da freqüência natural da tubulação à variação de massa. As análises foram feitas para um tubo contendo água confinada. Para estudos completos de vibração de estruturas interagindo com fluidos, engenheiros obrigatoriamente devem modelar mecanismos de acoplamento entre a estrutura e o fluido. O software AnsysTM tem grande capacidade para realizar esse tipo de análise entre estrutura e fluido. Os modelos estão se tornando cada vez mais realistas e a interação fluido-estrutura (FSI) continua a ser um dos maiores segmentos de simulação. A presença de um fluido pode mudar significativamente as características de vibração de uma estrutura. Para determinar até que ponto vai este efeito, engenheiros têm que modelar todas as dinâmicas relevantes, especialmente o acoplamento fluido-estrutura que representa a interação entre os dois domínios. Modelos baseados no elemento AnsysTM fluid30 devem, portanto, levar em conta fatores, tais como massa, rigidez e amortecimento, que o fluido adiciona ao sistema como um todo. Como uma alternativa a esses tipos de análises FSI de estruturas “preenchidas”, engenheiros podem querer considerar uma abordagem baseada no uso do elemento fluid30 disponível no software. Estes elementos têm sua origem em aplicações acústicas, normalmente são utilizados para simulação da propagação do som. Suas capacidades elastoacústica e hidro-elástica, entretanto são muito úteis na solução de problemas FSI onde tenha vibração através do fornecimento do acoplamento simples no domínio fluido-estrutura em um intervalo de vibração no qual: O fluido é quiescente ou pelo menos moderadamente devagar; Amplitudes de vibração pequenas (teoria linear); 41 A influência da viscosidade do fluido é desprezível assumindo-o como gás ideal. Outra vantagem do uso de elementos acústicos é a habilidade destes em resolver as flutuações para fluido-pressão. A fim de capturar os efeitos do fluido contido na análise modal preferiu-se modificar as propriedades físicas do elemento sólido estrutural solid186 a usar o elemento fluid30 para modelar a água. Isto se deve ao fato de este tipo de modelagem tratar o fluido como gás ideal e se tratando de um gás, tem-se que todo o domínio deve estar preenchido o que não é o caso já que o tema desta dissertação propõe-se exatamente em abordar estruturas parcialmente cheias. Utilizaram-se as recomendações da própria AnsysTM para alteração das propriedades do elemento sólido estrutural solid186 a fim de modelá-lo como água. ANSYS have suggested to use the water bulk modulus as elasticity properties (E) Water density. The poison number () should be closed to 0.5, but not exactly 0.5. It is necessary to adopt a very small shear stiffness. This value is about 100psi, suggested by ANSYS developers. If the steps above are followed, any ordinary structural element can replace FLUID80 in order to capture the effect of a contained fluid in a modal analysis. The problems with FLUID80 are: 1. It is not supported anymore 2. It is required HEXA mesh with first order elements . 3. Contact must be avoided. This way, we believe the alternative procedure is more convenient for you. Figura 6.1 – Exemplo de modelagem da água utilizando elementos sólidos As propriedades do tubo de acrílico utilizadas nas simulações estão na tabela 6.1. Estas simulações têm como objetivo determinar as condições a serem empregadas nos testes experimentais e verificar as variações das freqüências naturais do tubo causadas por diferentes frações volumétricas. Tabela 6.1 – Propriedades da tubulação utilizadas na simulação numérica Comprimento L (mm) 653 Módulo de Elasticidade (GPa) 2,8 Densidade (kg/m³) 1200 Coeficiente de poisson () 0,35 42 Verificou-se nas análises numéricas que uma maior sensibilidade às variações do conteúdo de água no tubo pode ser obtida em freqüências mais elevadas (3º modo), em que as mudanças no conteúdo de água produzem maiores variações nas freqüências naturais do tubo. Sendo assim, no próximo capítulo, faz-se então uma comparação entre os resultados experimentais e da análise em elementos finitos (FEM). 43 7. RESULTADOS DA MEDIÇÃO DE FRAÇÃO DE VAZIO Na figura 7.1 e na tabela 7.1 podem ser vistos, respectivamente, os regimes e as condições de escoamento bifásico realizados nos testes. Figura 7.1 – Regimes de escoamento causados pelas condições de escoamento As condições de escoamento utilizadas nos testes empregando um circuito de água e ar são mostradas na tabela 7.1. As vazões volumétricas de ar variam na faixa de 0.53 a 16.8 m3/h e as vazões volumétricas de água na faixa de 0.18 a 9.90 m3/h. Velocidade Fração Velocidade Fração Superficial de Volumétrica Superficial de Volumétrica Mistura de Ar Mistura de Ar V (m/s) CG (%) V (m/s) CG (%) Número Número Tabela 7.1 – Condições de escoamento utilizadas nos testes. 44 7.1. 1 3 20 23 2 70 2 4 20 24 3 70 3 1 30 25 4 70 4 2 30 26 5 70 5 3 30 27 6 70 6 4 30 28 7 70 7 2 40 29 8 70 8 3 40 30 1 80 9 4 40 31 2 80 10 5 40 32 3 80 11 2 50 33 4 80 12 3 50 34 5 80 13 4 50 35 6 80 14 5 50 36 7 80 15 6 50 37 1 90 16 1 60 38 2 90 17 2 60 39 3 90 18 3 60 40 4 90 19 4 60 41 5 90 20 5 60 42 6 90 21 6 60 43 2 95 22 1 70 RESULTADOS PRELIMINARES Os primeiros testes foram realizados na bancada antiga (figura 4 - artigo COBEM 2009) onde se testou um tubo reto de 500 mm de comprimento na posição horizontal e engastado nas extremidades. O tubo foi excitado por um forçamento randômico na faixa de freqüência compreendida entre 0 e 1000 Hz, aplicado por um excitador eletromagnético. As funções de resposta em freqüência do tubo foram obtidas através do coletor de dados para diferentes condições de escoamento em que as frações volumétricas de ar CG variaram de 0 a 100%, ou seja, as condições de escoamento monofásico de ar e água também foram utilizadas. Nestes testes, foi empregada uma mesma velocidade de mistura V. Os resultados mostraram que as variações na segunda freqüência natural do tubo permitiam obter uma melhor correlação com as frações volumétricas. A figura abaixo apresenta uma comparação entre os valores obtidos nos experimentos e nas simulações numéricas. Os resultados mostram uma boa concordância entre os resultados numéricos e experimentais apesar do modelo simplificado utilizado nas simulações. Nota-se também uma grande variação de freqüência em função das mudanças no conteúdo do tubo, possibilitando a detecção de pequenas variações de fração volumétrica. 45 Figura 7.2 - Variação da segunda freqüência natural do tubo de 500 mm de comprimento em função da fração volumétrica de ar. Já na bancada modificada, incluindo estrutura e suportes mais rígidos, levantou-se o espectro mostrado abaixo para a tubulação bi-engastada com comprimento de 653 mm. Figura 7.3 – Espectros de vibração do tubo de 653 mm submetido à escoamentos com diferentes frações volumétricas de ar. 46 Assim como foi feito para a tubulação da bancada antiga, com o tubo de comprimento igual a 500 mm, obtiveram-se os dados da freqüência natural de acordo com a fração volumétrica para a bancada melhorada utilizando uma seção de 653 mm de comprimento. 850 Freqüência Natural (Hz) 800 750 700 650 600 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Fração Volumétrica - CG (%) Figura 7.4 – Variação de freqüência natural do tubo de 653 mm em função da fração volumétrica de ar. 7.2. RESULTADOS FINAIS A partir desse momento, todos os resultados apresentados foram obtidos utilizando o analisador de sinais dinâmicos comercial e um sistema desenvolvido utilizando a plataforma LabviewTM. Além disso, constam apenas os resultados para as seguintes velocidades de mistura: V = 3m/s e V = 4m/s. Isso se deve ao fato de eles cobrirem praticamente todo o domínio da freqüência (CG = 20% a 90%) e a variação da freqüência natural estar bastante evidente para as diversas frações de vazio. Como já dito anteriormente, após obter os resultados com o sistema desenvolvido descrito, fez-se um pós-processamento desses dados com o MatlabTM fazendo uso de ferramenta disponível em seu Toolbox exatamente para análises espectrais a fim de ajustar as curvas e eliminar o ruído existente oriundo do experimento. A seguir, é mostrada a tabela 5.2 com os regimes de escoamento dos experimentos para cada fração de vazio (CG) para as velocidades de mistura de 3 e 4 m/s. É sempre bom comparar valores correspondentes a um mesmo regime de escoamento, pois como já foi 47 explicado, a distribuição das fases é de vital importância na variação da freqüência natural do sistema. Tabela 7.2 – Regimes relativos aos resultados mostrados na figura 7.1 CG (%) V = 3m/s V = 4m/s 20 bolhas pistonado 30 pistonado bolhas 40 bolhas pistonado 50 bolhas pistonado 60 bolhas pistonado 70 bolhas pistonado 80 bolhas pistonado 90 bolhas pistonado A seguir são apresentadas as figuras 7.5 e 7.6 com as funções de resposta em freqüência antes de depois de tratamento dos dados no plano horizontal da tubulação para a velocidade de mistura V = 3m/s. Vale ressaltar que depois do pós-processamento no MatlabTM, o pico correspondente ao 1º modo de vibração não fica bem caracterizado. Cada função de resposta em freqüência, relativa a cada uma das condições de escoamento mostradas na tabela 7.1, foi obtida a partir de uma média realizada com 100 funções de resposta em freqüência durante um período de 100 segundos. 7.2.1. VIBRAÇÃO NO PLANO HORIZONTAL Figura 7.5 – Funções de Resposta em Freqüência para V = 3m/s antes de ser tratada 48 Figura 7.6 – Funções de Resposta em Freqüência para V = 3m/s depois de tratada A variação da terceira freqüência natural foi escolhida baseada na análise do espectro de freqüência de vibração do tubo obtida para diferentes frações volumétricas. Foi observado que o pico no espectro de freqüência correspondente ao terceiro modo de vibração pode ser detectado mais claramente do que a variação de freqüência para o primeiro e segundo modos naturais. Com isso, os resultados apresentados serão sempre relativos a esse modo de vibração. A figura 7.7 mostra em detalhes essa variação de freqüências desse modo para cada valor de fração de vazio (CG). Figura 7.7 – Ampliação na região do 3º modo no espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 3m/s depois de tratada O mesmo trabalho foi realizado para a velocidade de mistura de V = 4m/s ainda relativo à vibração do tubo no plano horizontal como vem a seguir. 49 Figura 7.8 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s antes de ser tratada Figura 7.9 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s depois de tratada Figura 7.10 – Ampliação na faixa de freqüência do 3º modo no espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s depois de tratada 50 Logo a seguir é mostrado o gráfico com a relação entre os valores de pico dos espectros acima correspondentes a cada fração de vazio e para as velocidades de mistura de 3 e 4 m/s. Figura 7.11 - Variação da freqüência natural do 3º modo de vibração para diferentes frações volumétricas de ar No gráfico apresentado na figura 7.12 é mostrada a influência da velocidade de mistura para as frações volumétricas de ar testadas. Portanto, observa-se que a velocidade de mistura praticamente não influencia a freqüência natural da tubulação. Figura 7.12 - Influência da velocidade de mistura para diferentes frações volumétricas de ar 51 Na figura 7.13 apresenta-se uma comparação entre os resultados numéricos e experimentais para as freqüências naturais de vibração no plano horizontal em função da fração volumétrica. Considerando que o modelo numérico apresentado não contempla o escoamento do fluido, ou seja, este é modelado como fluido confinado e tendo em vista que o maior erro é de 5,7% pode-se dizer que este é aceitável devido às aproximações impostas. Figura 7.13 – Comparação numérico-experimentais Tabela 7.3 – Erro relativo do modelo numérico para a vibração no plano horizontal em relação às 3 velocidades de mistura CG (%) 20 30 40 50 60 70 80 90 Erro relativo (%) V=2 V=3 V=4 0,8% 1,9% 0,5% 1,2% 1,5% 1,6% 1,6% 1,6% 2,1% 2,1% 0,7% 0,0% 3,0% 1,4% 3,3% 4,4% 2,3% 4,0% 2,1% 2,7% 5,7% 5,7% 7,9% 52 7.2.2. VIBRAÇÃO NO PLANO VERTICAL A partir de agora, são mostrados os resultados para a vibração no plano vertical da tubulação para as mesmas velocidades de mistura anteriores. Conforme se pode observar nas figuras 7.14 a 7.16, mais uma vez fica evidenciado que o melhor resultado é o do 3º modo de vibração já que claramente há um padrão de aumento das freqüências naturais do sistema com o aumento da fração de vazio. Figura 7.14 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 3m/s antes de ser tratada Figura 7.15 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 3m/s depois de tratada 53 Figura 7.16 – Zoom do 3º modo no espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 3m/s depois de tratada (vertical) Também neste caso, também foram analisadas as funções de resposta em freqüência para V = 4m/s, mostradas nas figuras 7.17 a 7.19. Figura 7.17 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s antes de ser tratada Figura 7.18 – Espectro da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s depois de tratada 54 Figura 7.19 – Ampliação na faixa de freqüência relativa a 3º freqüência natural da Função de Resposta em Freqüência para V = 4m/s depois de tratada Com base na variação da terceira freqüência natural do tubo no plano vertical observada em detalhe na figura 7.19, obteve-se o gráfico mostrado na figura 7.20. Figura 7.20 – Variação do 3º modo de vibração para diferentes frações volumétricas de ar Na figura 7.21 é mostrada a influência da velocidade de mistura para as frações volumétricas de ar testadas para a vibração no plano vertical. Observa-se que a velocidade de mistura influencia pouco a freqüência natural da tubulação, porém em comparação a vibração no plano horizontal, esta influência é bem maior. 55 Figura 7.21 – Influência da velocidade de mistura para diferentes frações volumétricas de ar A figura 7.22 apresenta uma comparação entre os resultados numéricos e experimentais. Figura 7.22 – Comparação numérico-experimentais 56 Para a vibração no plano vertical, o maior erro relativo observado é de 6,7%, valor este que não compromete a validade do modelo empregado haja vista as simplificações empregadas e já mencionadas. Tabela 7.4 – Erro relativo do modelo numérico para a vibração no plano vertical em relação às 3 velocidades de mistura CG (%) 20 30 40 50 60 70 80 90 Erro relativo (%) V=2 V=3 V=4 0,2% 0,6% 0,1% 2,0% 3,7% 1,2% 2,1% 3,2% 0,1% 0,3% 1,4% 3,6% 0,9% 0,9% 4,8% 3,7% 3,7% 5,8% 6,7% 5,8% 4,9% 0,8% 1,0% A figura 7.23 mostra uma comparação entre as variações da terceira freqüência natural de vibração do tubo no plano vertical e horizontal em função da fração volumétrica de ar para diferentes velocidades de mistura. Pode-se constatar que as freqüências naturais no plano horizontal são superiores às freqüências naturais no plano vertical. Este comportamento está coerente com o observado nos testes realizados com o tubo com fluido confinado na condição livre-livre. Nota-se também que as diferenças entre os resultados das freqüências naturais de vibração do tubo tanto no plano vertical como no plano horizontal não sofrem grandes variações para as velocidades de mistura apresentadas. Os resultados apresentados na figura 7.23 permitem concluir também que o método proposto apresenta boa sensibilidade às variações de fração volumétrica do escoamento bifásico. 57 Figura 7.23 – Comparação dos resultados experimentais vertical e horizontal para diferentes velocidades de mistura Como dito no início deste capítulo, somente os foram apresentados os resultados para as velocidades de mistura V = 3m/s e V = 4m/s. Isso não quer dizer que não foram feitos experimentos considerando outras velocidades de mistura. Portanto, a seguir são mostrados gráficos onde são contempladas todas as velocidades de misturas testadas tanto para a vibração no plano horizontal como no plano vertical. Figura 7.24 – Variação do 3º modo de vibração para diferentes frações volumétricas de ar para todas as velocidades de mistura testadas (horizontal) 58 Figura 7.25 – Variação do 3º modo de vibração para diferentes frações volumétricas de ar para todas as velocidades de mistura testadas (vertical) 59 8. CONCLUSÕES Um novo método para determinação da fração volumétrica de escoamentos bifásicos do tipo gás-líquido baseado na análise de funções de resposta em freqüência da tubulação foi apresentado e avaliado experimentalmente. Com relação aos resultados apresentados, pode-se dizer que estes estão fisicamente coerentes e de acordo com o esperado. Primeiramente, as freqüências naturais de vibração de um tubo na posição horizontal parcialmente cheio com água confinada foram comparadas com resultados analíticos obtidos a partir da equação para vibração transversal de vigas. Os resultados experimentais mostraram uma diferença entre as freqüências naturais de vibração no plano vertical e no plano horizontal devido aos diferentes graus de acoplamento do fluido com o tubo. Sobre os resultados numéricos, pode-se dizer que se obteve uma boa aproximação visto que as análises de elementos finitos foram bastante simplificadas pelo fato de não se modelar o escoamento dos fluidos (ar-água) nem a interação do fluido com o tubo. Quanto à metodologia proposta para a determinação da fração volumétrica de escoamentos bifásicos, verificou-se que o método pode apresentar grande sensibilidade às variações de fração volumétrica do escoamento. A posição horizontal do tubo foi preferida, pois nesta condição há um maior acoplamento do fluido com o tubo devido ao campo gravitacional. O mesmo não ocorre para certos regimes de escoamento na direção vertical. Embora testes adicionais devam ser realizados com condições de escoamento mais abrangentes, os resultados mostraram que a técnica proposta pode ser aplicada para diferentes velocidades de mistura, apesar das diferentes distribuições espaciais das fases dos regimes de escoamento. Quanto aos resultados experimentais, após ser realizado o pós-processamento dos dados no software Matlab TM, onde foi possível fazer o tratamento dos dados e livrá-los dos 60 ruídos, estes podem ser considerados muito bons. O comportamento das curvas foi conforme o esperado, podendo notar um deslocamento entre as curvas o que caracteriza a diferença (maior ou menor) entre as freqüências naturais da tubulação para cada fração volumétrica experimentada. Outro fator importante é a influência da velocidade de mistura na freqüência natural no plano horizontal e vertical. Observa-se que a velocidade de mistura influencia pouco a freqüência natural da tubulação, porém em comparação a vibração no plano horizontal esta influência é bem maior. Com isso, conclui-se que o método pode ser aproveitado em tubulações já existentes com o intuito de fazer as medições de fração volumétrica de ar e água em tempo real durante o escoamento. É importante ressaltar que ainda existe muito a se aprimorar neste método, pois este foi realizado apenas para os fluidos ar e água. Sabendo que atualmente a grande indústria de petróleo tem o interesse de realizar essas medições, porém com os fluidos de trabalho: óleo e gás, devem-se realizar estudos a fim de obter correlações com estes fluidos. Além disso, sabese que normalmente as tubulações industriais são feitas de aço: aço carbono, aço inoxidável, entre outros, materiais que não foram utilizados neste trabalho, mas que facilmente podem ser testados na bancada de testes. 61 9. REFERÊNCIAS Beck, M. S., Green, R. G., Thorn, R., “Non-intrusive measurement of solids mass flow in pneumatic conveying”, Journal Physics E: Science Instrument 20, 1987. Chan, K.T., and Zhang, J.Z., Free vibration of a cantilever tube partially filled with liquid. Journal of Sound and Vibration (1995) 182(2), 185–190. Costa, L. 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