DESASTRES NATURAIS E IMAGENS DE RADAR: NOVAS
Transcrição
DESASTRES NATURAIS E IMAGENS DE RADAR: NOVAS
4495 DESASTRES NATURAIS E IMAGENS DE RADAR: NOVAS TECNOLOGIAS A SERVIÇO DE ÁREAS AFETADAS – O CASO DE GASPAR, SC Rogério Ribeiro MARINHO Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto Caixa Postal 515 - 12201-970 - São José dos Campos - SP [email protected] Waldir Renato PARADELLA Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Divisão de Sensoriamento Remoto Av. dos Astronautas, 1.758 Jd. Granja - 12227-010 São José dos Campos - SP [email protected] André Augusto GAVLAK Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto Caixa Postal 515 - 12201-970 - São José dos Campos - SP [email protected] Resumo Este artigo apresenta um exemplo do uso integrado de imagens de radar orbital e sistemas de informações geográficas para o mapeamento de áreas inundadas. O caso das inundações de 2008 ocorridas sobre o Vale do Itajaí, SC é discutido sob a ótica de atendimento emergencial de áreas afetadas. Com as imagens de radar foi possível estimar a dimensão espacial e temporal das manchas de inundação e tipo de uso e cobertura do solo afetado. Por meio das considerações aqui apresentadas, espera-se que este trabalho possa disseminar esta nova tecnologia de obtenção de informação espacial e auxiliar tomadores de decisão. Palavras-chave: Monitoramento de Desastre, Sensoriamento Remoto, Geoprocessamento Abstract Natural disasters and images of Radar: new technologies in the service of affected areas - the case of Gaspar, SC This article presents an example of the integrated use of orbital radar imagery and geographic information systems for mapping of flooded areas. The case of the floods of 2008 occurred in the Vale do Itajaí, SC is discussed from the viewpoint of emergency assistance to affected areas. With the radar images it was possible to estimate the spatial and temporal dimension of patches of flood and type of land use and land cover affected. By means of the considerations presented here, it is expected that this work will disseminate the new technology of obtaining spatial information and assist decision makers. Key words: Disaster Monitoring, Remote Sensing, Geoprocessing I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4496 INTRODUÇÃO O mapeamento de áreas afetadas por desastres naturais é uma das principais atividades na avaliação de danos sobre a infra-estrutura e população afetada. A utilização de geotecnologias para análise espacial como imagens de sensoriamento remoto e sistemas de informações geográficas (SIG) fornecem informações para avaliação de riscos, tomada de decisões, permite identificar áreas vulneráveis e o entendimento de causas e conseqüências destes eventos (GILLESPIE et al., 2007; JOYCE et al., 2009; TRALLI et al., 2005). No Brasil, inundações e deslizamentos de terra são os desastres naturais com maior número de ocorrência segundo o EM-DAT (2010). Porém, o país está sujeito a outros riscos relacionados as adversidades da atmosfera (tempestades, vendavais, secas) e geologia (subsidências, erosão solos, queda de blocos) com ampla distribuição pelo território brasileiro (PFALTZGRAFF et al., 2008). Desastres naturais recentes como os ocorrido nas regiões nordeste (Alagoas), Sudeste (Rio de Janeiro) e Sul (Santa Catarina), tem chamado a atenção pela intensidade dos impactos ocasionados sobre a população. Segundo dados da Secretaria Nacional de Defesa Civil, foram notificados 1356 desastres entre os anos de 2007 e 2008, sendo que os municípios da região Sul concentram 31% dos desastres notificados (SEDEC, 2010). Neste contexto, este trabalho tem como objetivo demonstrar a utilização de imagens de radar como ferramenta para análise de áreas afetadas pelas inundações de 2008 sobre o Vale do Itajaí, Santa Catarina. Espera-se deste modo, contribuir na difusão desta nova ferramenta que pode ser utilizada para o planejamento e estudo de espaços atingidos por desastres naturais. DESASTRES NATURAIS: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS A ocorrência de eventos extremos relacionados a dinâmica da Terra, como tempestades, chuvas intensas, inundações, deslizamentos de terra, terremotos entre outros, tem como principal efeito a alteração brusca de determinado ambiente. Estes eventos ocorrem em diferentes lugares, intensidade e épocas ao redor do planeta, considerados como importantes fatores de transformação da superfície terrestre. Quando estes eventos possuem a capacidade de impacto sobre uma sociedade ou sua infra-estrutura, são considerados desastres naturais (ALCÁNTARA-AYALA, 2002). I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4497 Este termo muitas vezes é associado a diferentes processos quando sua gênese, oriundos principalmente de atividades atmosféricas, hidrológicas, geológicas e biológicas. A ocorrência de desastres naturais, dependendo da sua magnitude, pode resultar em grandes perdas econômicas e sociais. Dados observados no EM-DAT (Emergency Events Database) para o período de 1990 a 2008 registram cerca de 7 mil desastres naturais ao redor do mundo causando cerca de 1,9 milhões de mortos (EM-DAT, 2010). O continente asiático concentrou 38% destes eventos registrados e no continente americano ocorreram 24% dos desastres registrados. Inundações, tempestades, terremotos, movimentos de massa e vulcões são os desastres naturais de maior ocorrência relacionados a dinâmica interna e externa da terra. Na América do Sul há maior ocorrência de desastres naturais do tipo inundações seguidos por movimentos de massa e terremotos. Em muitos casos, fatores como localização geográfica e desenvolvimento socioeconômico têm grande influência no impacto ocasionado por eventos extremos. O primeiro está relacionado à configuração geológica, geomorfológica e climática, uma vez que muitos países situam-se em zonas afetadas por atividades sísmicas tempestades tropicais e inundações de rios. O segundo fator está ligado ao desenvolvimento histórico de cada região, onde muitas vezes o processo de ocupação de regiões de risco se deve a falta de recursos da população, levando estes a ocuparem as áreas de risco (ALCÁNTARA-AYALA, 2002). Segundo Castro (2003), inundações podem ser definidas como um transbordamento do nível d’água de rios, lagos ou açudes. Em função da evolução temporal são classificadas como inundações graduais ou inundações bruscas. As inundações graduais ocorrem quando o nível d’água eleva-se de forma lenta e previsível, seguindo intervalos regulares. Inundações bruscas são oriundas de chuvas intensas e concentradas, ocorrendo elevação rápida do nível d’água. A principal diferença entre esses dois tipos de inundação está no desequilíbrio entre a velocidade de elevação do nível d’água e o tempo de duração. Além de precipitações pluviométricas intensas e concentradas, inundações podem ter como outros fatores causadores o assoreamento de rios que causa a elevação do leito, saturação do lençol freático, rompimento de barragens, drenagem deficiente de terrenos ou barramento de leito de rios ocasionado por movimentos de massa. Os principais efeitos adversos da ocorrência de uma inundação de grande magnitude é a devastação de plantações e pastagens em áreas agrícolas. Quando áreas urbanas são I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4498 atingidas por inundações, há impactos significativos principalmente sobre a população, que em muitos casos são desalojadas, e ocasiona danos na infraestrutura de transportes, comunicação, energia elétrica e saneamento básico. GEOTECNOLOGIAS E DESASTRES NATURAIS Atualmente existe um grande conjunto de técnicas e ferramentas computacionais para o tratamento da informação espacial, sendo este conjunto composto principalmente pelos Sistemas de Informações Geográficas (SIG), o imagens de Sensoriamento Remoto e o Sistema de Posicionamento Global (GPS). Este conjunto de recursos técnico disponibilizado na forma de softwares e equipamentos possibilita a coleta, armazenamento e análise de grande quantidade de dados e com isso produz informações de forma rápida, fato muito importante no atendimento de áreas afetadas por desastres naturais. Segundo Marcelino (2008), o uso das geotecnologias pode ser aplicado na prevenção, preparação, em ações de resposta e na reconstrução de área atingidas. Um SIG permite a integração de dados geográficos coletados em diferentes períodos e escalas, possibilitando armazenagem, manipulação e análise e representação da informação geográfica. Estes dados podem ser obtidos com o auxilio de um GPS que fornece as coordenadas dando com isso a dimensão espacial a um determinado dado. O sensoriamento remoto por meio de imagens de satélite é uma das informações de maior importância que as geotecnologias podem fornecer atualmente. Uma vez que este tipo de dado permite extrair informações sobre grandes áreas, em pouco tempo e em alguns casos com reduzido custo financeiro. Atualmente existem diversos sistemas de sensoriamento remoto, operando sob diferentes configurações quanto ao principio de funcionamento (óptico ou radar), resoluções espaciais e temporais. SISTEMAS DE IMAGEAMENTO RADAR Radares de Abertura Sintética (SAR - Sinthetic Aperture Radar) são sistemas de imageamento que operam na faixa das microondas do espectro eletromagnético, são sensores ativos (geram sua própria energia), com princípios e instrumentos diferentes dos sistemas de sensoriamento remoto óptico. Seu desenvolvimento iniciou na década de 1950 a partir dos avanços dos radares de abertura real. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4499 Sensores SAR possuem grande capacidade de coletar dados em condições atmosféricas adversas e podem adquirir imagens tanto de dia como de noite, pois independem de iluminação solar, mostrando-se assim uma valiosa ferramenta para análise de áreas afetadas por desastres naturais relacionados a eventos atmosféricos extremos, como inundações. A utilização de imagens SAR como ferramenta de coleta de dados remotos aumentou consideravelmente a partir da década de 1990, principalmente em ambientes tropicais. Muitas são as aplicações já consolidadas que utiliza imagens SAR, com exemplos em agricultura, cartografia, vegetação, geologia, uso da terra e hidrologia, tanto por sensores orbitais ou aerotransportados. Particularmente, radares são muitos úteis para estudos hidrológicos devido à sensibilidade de detecção da umidade e na possibilidade do sinal transpor nuvens e em alguns casos o dossel de florestas (HESS et al., 1990; HALL, 1996). A partir do ano 2000, um elevado número de satélites orbitais tem mudado o modo de avaliação e previsão de desastres. Estes sensores possuem capacidade de quantificar fenômenos associados a movimentos da superfície terrestre como movimentos de massas e terremotos ou a fenômenos como inundações, tsunamis e tempestades (Gillespie et al. 2007). Atualmente encontra-se em operação sistemas orbitais com sensores SAR abordo das seguintes missões, ENVISAT/ASAR, ERS-2, ALOS/PALSAR, RADARSAT-2, TerraSAR-X e COSMO-SkyMed. Muitos estudos têm demonstrado que sensores SAR oferecem melhores resultados para detectar inundações quando comparados com sensores ópticos como nos trabalhos de Costa et al., (2002); Townsend e Walsh, (1998) e Tralli et al., (2005). Estes estudos focam principalmente a detecção de áreas afetadas por inundação. A identificação e o mapeamento de corpos de água como canais de drenagens, áreas úmidas, inundações e lagos, são facilmente destacados em imagens de radar, devido ao elevado contraste de respostas entre superfícies de água e áreas emersas. Este contraste pode ser entendido pela menor resposta de corpos d’água em relação a outros alvos na imagem. No processo de interpretação de imagens SAR, tom e texturas são as duas principais propriedades analisadas no sistema visual humano, neste sentido corpos d’água aparecem em tonalidade preta com textura lisa conforme exemplo da figura 1. Nesta figura podemos observar em A o canal principal do rio Itajaí-açu e uma mancha de inundação próxima a cidade de Gaspar-SC detectada pelo sensor RADARSAT-2 obtida durante as inundações de 2008. Em B é apresentada uma imagem do sensor I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4500 Landsat TM5 para mesma área, obtida em 01 de fevereiro de 2009, posterior as inundações. FIGURA 01. (A) Imagem do sensor RADARSAT-2 e (B) Imagem do sensor TM Landsat 5. VALE DO ITAJAÍ: SEU ESPAÇO E O DESASTRE DE 2008 O histórico de ocupação da região data de 1850 quando o alemão Hermann Bruno Otto Blumenau fundou uma colônia com dezessete imigrantes nas margens do rio Itajaí-açu, sendo que a sede da colônia estava localiza onde hoje é a cidade de Blumenau. A forma de ocupação da região foi condicionada principalmente pela presença de uma planície fluvial cercado por serras (BUNGE, 2009). A colonização avançou seguindo o curso dos rios e os primeiros lotes eram estreitos e compridos, muitas vezes ocupando áreas de inundação do rio e partes de encostas. Relatos de inundações no vale do Itajaí remontam desde o século XIX, registrado nos primeiro assentamento urbanos da região. Ao longo destes 160 anos de ocupação, ocorreram mais de 60 cheias acima dos 10 metros, demonstrando uma longa convivência da população com este ambiente propício a ser tomado por água. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4501 Durante os meses de novembro e dezembro de 2008 o Estado de Santa Catarina foi afetado por um evento atmosférico de grande proporção, que ocasionou uma elevada quantidade de chuva na região leste do Estado, principalmente nas regiões litorâneas e no Vale do Itajaí. Durante o período de outubro e novembro de 2008 foi registrado cerca de 1.100 mm de precipitação acumulada, esta chuva quase constante neste período provocou entre os dias 20 e 25 de novembro grandes inundações, como pode ser observado na figura 2. Este forte volume de água sobre a região saturou o solo das encostas, que deslizaram, resultando em conseqüências trágicas principalmente nas cidades localizadas no Vale do Itajaí. FIGURA 2. Inundações de 2008 sobre o Vale do Itajaí. Fotos: (A) Rogério R. Ribeiro e (B) Luiz A. Bressani. Segundo a Defesa Civil de Santa Catarina, até o dia 30 de novembro de 2008 havia 78.707 pessoas desalojadas e desabrigadas e até o dia 31 de dezembro foram registrados 135 óbitos, sendo 117 de habitantes do vale do Itajaí. Serviços básicos como fornecimento de água, energia elétrica e transporte sofreram grandes impactos, o que levou 14 municípios a decretar estado de calamidade pública e 63 municípios ficaram em estado de emergência. Como uma resposta na forma de política pública, o governo do Estado de Santa Catarina instituiu o Grupo Técnico Científico. Este grupo corresponde a um órgão multi-institucional e multidisciplinar que tem como missão a avaliação e identificação das causas, efeitos e adoção de medidas preventivas às catástrofes naturais em Santa Catarina. Atualmente a região do vale do Itajaí possui aproximadamente 900 mil habitantes, tendo sua economia voltada para a agricultura (arroz, banana, pastagem), indústria têxtil, turismo, importações e exportações no porto de Itajaí. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4502 A área deste estudo está localizada no Estado de Santa Catarina, na região do médio curso do rio Itajaí-Açu, próximo das cidades de Blumenau e Gaspar (Figura 3). O rio Itajaí-Açu corresponde ao maior curso d’água do Estado, sendo formado pelo encontro dos rios Itajaí do Oeste e Itajaí do Sul e com sua foz no oceano Atlântico. A geomorfologia do vale corresponde a uma planície cercada por Serras com elevações de aproximadamente 800 metros acima do nível do mar. O regime climático da região é subtropical, com verão quente, bastante úmido e com grande quantidade de chuvas. A atual cobertura vegetal corresponde a apenas 7% de sua cobertura original, resultado principalmente pela extração de madeira e ocupações desordenadas. Devido a sua compartimentação geomorfológica, esta região possui forte influência na ocorrência de desastres naturais como inundações e deslizamento de terras devido presença de encostas muito íngremes e côncavas. Atualmente há grande atividade agrícola (rizicultura, banana, etc.) nas áreas mais planas ao longo do rio. FIGURA 03. Localização da Área em Estudo. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4503 MATERIAIS E MÉTODOS Para a realização deste trabalho foram utilizadas imagens dos satélites ENVISAT (sensor ASAR) e RADARSAT-2 obtidas durante as inundações no vale do Itajaí em 2008. Uma imagem do satélite ALOS (sensor PALSAR), coletada antes da inundação, foi utilizada para identificar os principais corpos d’água antes do desastre. As principais características das imagens estão resumidas nas tabelas 1 e 2, onde observamos que estas possuem diferentes comprimentos de onda (banda), resolução espacial, geometrias de visada e incidência, porém todas de polarização HH. Cartas topográficas na escala 1:50.000 (EPAGRI, 2004) foram utilizadas para extração das informações planimétrica (vias de acesso e hidrografia) e altimétrica (DEM para ortorretificação). Como exemplo, neste trabalho foi utilizado os dados do Levantamento da Cobertura Vegetal Nativa do Bioma Mata Atlântica (IESB, 2007) para identificar os principais tipos uso e cobertura do solo afetado pelas inundações. TABELA 01. Características Gerais dos sensores SAR SENSORES CARACTERISTICA ENVISAT/ASAR ALOS/PALSAR RADARSAT2 DATA LANÇAMENTO 21/03/2002 24/01/2006 14/15/2007 ESA JAXA MDA/CSA C L C 800 690 798 35 dias 46 dias 24 dias AGENCIA BANDA ALTITUDE (km) PERIODO DE REVISITA TABELA 02. Características Gerais das imagens SAR utilizadas SENSOR MODO DATA RESOLUÇÃO INCIDÊNCIA VISADA FBD 15/09/2008 20 metros 34° Ascendente ALOS/PALSAR IMP 27/11/2008 30 metros 33° Descendente ENVISAT/ASAR STANDARD Descendente RADARSAT2 30/11/2008 25 metros 38° 5 O desenvolvimento das atividades realizadas neste trabalho seguiu o fluxo apresentado na figura 4, sendo cada etapa descrita a seguir. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4504 FIGURA 04. Fluxograma das etapas desenvolvidas. Para extração das áreas inundadas, as imagens SAR foram submetidas a duas etapas: pré-processamento e classificação digital. O pré-processamento correspondeu às atividades de correção geométrica das imagens por meio de ortorretificação e correção radiométrica, utilizando filtro de redução do ruído speckle. Para a classificação digital das imagens foi utilizada a abordagem não supervisionada por meio do método ISODATA onde foram definidas duas classes para os resultados, água e não água. Os resultados da classificação das imagens SAR foram vetorizados e integrados com dados de uso e cobertura em um sistema de informações geográficas. Esta integração possibilitou extrair informações como a distribuição espacial da mancha de inundação detectada pelos sensores e estimação da área e tipo de cobertura afetada pelas inundações. O processamento digital das imagens SAR foi realizado através do pacote PCI Geomatics 10.3 e a integração dos dados espaciais e representação cartográfica por meio do software ArcGis 9.2 RESULTADOS E DISCUSSÃO Cenário Pré-desastre Para análise de desastres naturais, inicialmente deve-se dispor de informações sobre o contexto da área afetada. Deste modo, dados como vias de acesso, tipo de uso e I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4505 cobertura do solo, principais canais de drenagens e informações topográficas são as principais fontes de dados utilizados para uma visualização inicial do ambiente afetado e as áreas que devem ter atenção especial em situações de crise. Neste sentido a figura 5 demonstra qual era a configuração do espaço antes do desastre. Podemos observar na figura 5 que, ao longo do curso do rio Itajaí-açu, os principais tipos de uso do solo consistem em áreas urbanas e utilizadas para a agropecuária. FIGURA 05. Informações sobre uso e cobertura do solo da área em estudo. A imagem do sensor ALOS/PALSAR possibilitou o mapeamento de plantações de arroz que é cultivado pelo método de irrigação. Este tipo de cultivo é caracterizado pelo uso de extensas áreas ocupadas ao longo da planície do rio Itajaí-açu e que precisa do manejo de recursos hídricos, pela necessidade de estar coberto por uma lâmina de água durante um período do ciclo agrícola desta cultura. Esta informação é considerada de grande importância para uma posterior avaliação das possíveis causas das inundações. O cultivo de arroz irrigado detectado por este sensor, corresponde a uma área de aproximada de 2.269,99 hectares, cerca de 9,7% da área destinada para a agropecuária. A tabela 3 apresenta as medidas de área, de acordo com o tipo de uso ou cobertura do solo para a região em estudo. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4506 TABELA 03. Dimensão da área ocupada pelos diferentes tipos de uso e cobertura. TIPO DE USOCOBERTURA Área Urbana Agropecuária Florestas TOTAL ÁREA (ha) 4.487,92 23.396,31 32.405,75 60.289,99 (%) 7,44 38,81 53,75 100 Cenário Pós-desastre Entre o período da aquisição da imagem ALOS/PALSAR, em 15 de setembro de 2008, e até o dia da aquisição da imagem RADARSAT-2, 30 de novembro de 2008, choveu sobre a região aproximadamente 1430 mm, de acordo com dados observados pela estação pluviométrica de Blumenau. Somente nos dias 23 e 24 de novembro houve cerca de 490 mm de precipitação, esta grande quantidade de precipitação sobre a região resultou em diversas manchas de inundação ao longo da planície do rio Itajaí-açu, que foram detectadas pelos sensores ASAR no dia 27 e RADARSAT-2 no dia 30 de novembro, conforme apresentado na figura 6. FIGURA 06. Área inundadas detectada pelos sensores ASAR e RADARSAT-2. Podemos notar claramente que a localização das manchas de inundação está muito relacionada à proximidade de áreas de cultivo de arroz irrigado. Foi possível separar o I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4507 que é inundação oriunda dos desastres e das áreas de cultivo de arroz irrigado que se encontravam alagadas. De acordo com a classificação das imagens SAR, a área total inundada foi de 1.828,68 ha. Deste total havia no dia 27 um total de 1.380,85 ha detectada pelo sensor ASAR. Já o sensor RADARSAT-2 detectou no dia 30 uma área inundada de 1.248,15 ha. Esta diferença pode estar relacionada a dinâmica da grande mancha de inundação a leste da área urbana de Gaspar, em que se concentra inicialmente próximo a margem do rio Itajaí-açu e posteriormente, na imagem do dia 30, expande-se para sul. Com estes resultados é possível ter uma idéia de que locais possuíam solo saturado, áreas onde a água permaneceu sobre a superfície entre o tempo de observação dos dois sensores. De posse dos dados expostos anteriormente nas figuras 5 e 6 e na tabelas 3, pode-se então apresentar um diagnóstico das áreas afetadas pelas inundações, sintetizada na tabela 4. TABELA 04. Dimensão da área inundada sobre os diferentes tipos de uso e cobertura. TIPO DE USOCOBERTURA Área Urbana Agropecuária Florestas TOTAL ÁREA INUNDADA (ha) 7,04 1.708,98 112,66 1.828,68 (%) 0,38 93,45 6,16 100 Conforme apresentado na tabela 5, mais de 90% das áreas inundadas possuem uso agrícola ou para pecuária. Este tipo de informação pode auxiliar na estimativa de perdas econômicas e sociais ocasionado por desastre natural. Além destes resultados aqui apresentados, existem diversas possibilidades para extração de informações que possam servir não apenas para planejamento das áreas atingidas, mas também para a gestão do espaço. Porém reforçamos aqui a idéia de Jensen (2009), sobre a necessidade da disposição de um banco de dados pré-desastre, composto principalmente de informações como imagens de alta resolução espacial, dados atualizados sobre o uso e cobertura do solo e cartas topográficas na escala de 1.50.000 ou maior. CONCLUSÕES O exemplo aqui apresentado não esgotou as possibilidades de derivar outros dados e informações espaciais que possam auxiliar tomadores de decisão. Foi exposta a I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4508 existência de uma elevada disponibilidade de dados de satélites orbitais para gestão de crises oriundas de desastres naturais. É destacado aqui o uso de imagens de radar pela possibilidade deste tipo de dado adquirir imagens sob condições atmosféricas adversas, com intensa cobertura de nuvens, onde o uso de sensores ópticos em órbita ou aerotransportado é limitado. Neste trabalho, o uso integrado de sensores oriundos de diferentes missões (Européia, Japonesa e Canadense) mostrou-se eficiente para avaliação do espaço antes e após os desastres, resultando em um sinergismo das imagens adquiridas e os dados auxiliares. A partir dos resultados desta área de estudo, podemos supor que, dado um evento futuro desta magnitude, áreas adjacentes de ambiente com configuração espacial semelhante (uso e cobertura do solo, meio físico) estão vulneráveis a inundações. Esta constatação pode vir a auxiliar futuras decisões quanto à elaboração ou alterações de planos de zoneamento para a região. AGRADECIMENTOS Os autores agradecem a JAXA, ESA e MDA/GSI pelo fornecimento das imagens ALOS/PALSAR, ENVISAT/ASAR e RADARSAT2 respectivamente, ao CNPq e CAPES pelos recursos oferecidos na forma de bolsas de estudos para o primeiro e terceiro autor. REFERÊNCIAS ALCÁNTARA-AYALA, I. Geomorphology, natural hazards, vulnerability and prevention of natural disasters in developing countries. Geomorphology, v. 47, n. 2-4, p. 107–124, Out. 2002. BUNGE, Fundação. Conhecer para sustentar: um novo olhar sobre o Vale do Itajaí. São Paulo: Fundação Bunge, 2009. CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Manual de Desastres – Volume I: Desastres Naturais. Brasília: Secretária Nacional de Defesa Civil, 2003. COSTA, M. P.; NIEMANN, O.; NOVO, E.; AHERN, F. Biophysical properties and mapping of aquatic vegetation during the hydrological cycle of the Amazon floodplain using JERS-1 and Radarsat. International Journal of Remote Sensing, v. 23, n. 7, p. 1401 -1426, 2002. EM-DAT. International Disaster Database. Disponivel em: <http://www.em-dat.net/>. Acessado em 15 fev. 2010. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP 4509 EMPRESA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA E EXTENSÃO RURAL DE SANTA CATARINA (EPAGRI ). Mapoteca Topográfica Digital de Santa Catarina. 2004 GILLESPIE, T. W.; CHU, J.; FRANKENBERG, E.; THOMAS, D; Assessment and prediction of natural hazards from satellite imagery. Progress in Physical Geography, v. 31, n. 5, p. 459-70, 2007. HALL, D.K., Remote sensing applications to hydrology: imaging radar. Hydrological Sciences. v, 41 n.4, p.609-624, 1996.HESS et al., 1990; HESS, L.; MELACK, J. M.; SIMONETT, D. S. Radar detection of flooding beneath the forest canopy: A review. International Journal of Remote Sensing, v. 11, p. 1313−1325, 1990. INSTITUTO DE ESTUDOS SOCIOAMBIENTAIS DO SUL DA BAHIA (IESB). Levantamento da cobertura vegetal nativa do bioma da Mata Atlântica – relatório final. Rio de Janeiro: IESB – IGEO/ UFRJ, 2007. JENSEN, J.R. Sensoriamento remoto do ambiente: uma perspectiva em recursos terrestres. Sao Jose dos Campos, SP: Parentese, 2009 JOYCE, K. E.; BELLISS, S. E.; V, S.; MCNEILL, S. J.; GLASSEY, P. J. A review of the status of satellite remote sensing and image processing techniques for mapping natural hazards and disasters. Progress in Physical Geography v. 33, n. 2, p. 183-207, 2009. MARCELINO, Emerson Vieira. Desastres naturais e geotecnologias: conceitos básicos - Caderno Didático nº 1. Santa Maria, RS. INPE, 2008. PFALTZGRAFF, P. A. S.; FERREIRA, R. V.; MANSINI, M. A.; BUENO, R. F.; MIRANDA, Fernanda S. F. RISCOS GEOLÓGICOS. In: SILVA, Cassio Roberto (Org.,) Geodiversidade do Brasil: Conhecer o Passado, para Entender o Presente e Prever o Futuro.. Rio de Janeiro: CPRM, 2008. SEDEC – Secretaria Nacional de Defesa Civil. Desastres Notificados a SEDEC/MI. 2010 TOWNSEND, P. A., WALSH, S. J. Modeling floodplain inundation using an integrated GIS with radar and optical remote sensing. Geomorphology, v. 21, p. 295-312, 1998. TRALLI, D. M.; BLOM, R. G.; ZLOTNICKI, V.; DONNELLAN, A.; EVANS, D. L. Satellite remote sensing of earthquake, volcano, flood, landslide and coastal inundation hazards. ISPRS Journal of Photogrammetry & Remote Sensing v. 59, p.185-198, 2005. I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e X Seminário de Pós-Graduação em Geografia da UNESP Rio Claro ISBN: 978-85-88454-20-0 05 a 07 de outubro de 2010 – Rio Claro/SP