DESASTRES NATURAIS E IMAGENS DE RADAR: NOVAS

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DESASTRES NATURAIS E IMAGENS DE RADAR: NOVAS
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DESASTRES NATURAIS E IMAGENS DE RADAR: NOVAS TECNOLOGIAS
A SERVIÇO DE ÁREAS AFETADAS – O CASO DE GASPAR, SC
Rogério Ribeiro MARINHO
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto
Caixa Postal 515 - 12201-970 - São José dos Campos - SP
[email protected]
Waldir Renato PARADELLA
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Divisão de Sensoriamento Remoto
Av. dos Astronautas, 1.758 Jd. Granja - 12227-010 São José dos Campos - SP
[email protected]
André Augusto GAVLAK
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
Programa de Pós-Graduação em Sensoriamento Remoto
Caixa Postal 515 - 12201-970 - São José dos Campos - SP
[email protected]
Resumo
Este artigo apresenta um exemplo do uso integrado de imagens de radar orbital e
sistemas de informações geográficas para o mapeamento de áreas inundadas. O caso das
inundações de 2008 ocorridas sobre o Vale do Itajaí, SC é discutido sob a ótica de
atendimento emergencial de áreas afetadas. Com as imagens de radar foi possível
estimar a dimensão espacial e temporal das manchas de inundação e tipo de uso e
cobertura do solo afetado. Por meio das considerações aqui apresentadas, espera-se que
este trabalho possa disseminar esta nova tecnologia de obtenção de informação espacial
e auxiliar tomadores de decisão.
Palavras-chave: Monitoramento de Desastre, Sensoriamento Remoto,
Geoprocessamento
Abstract
Natural disasters and images of Radar: new technologies in the service of affected
areas - the case of Gaspar, SC
This article presents an example of the integrated use of orbital radar imagery and
geographic information systems for mapping of flooded areas. The case of the floods of
2008 occurred in the Vale do Itajaí, SC is discussed from the viewpoint of emergency
assistance to affected areas. With the radar images it was possible to estimate the spatial
and temporal dimension of patches of flood and type of land use and land cover
affected. By means of the considerations presented here, it is expected that this work
will disseminate the new technology of obtaining spatial information and assist decision
makers.
Key words: Disaster Monitoring, Remote Sensing, Geoprocessing
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INTRODUÇÃO
O mapeamento de áreas afetadas por desastres naturais é uma das principais atividades
na avaliação de danos sobre a infra-estrutura e população afetada. A utilização de
geotecnologias para análise espacial como imagens de sensoriamento remoto e sistemas
de informações geográficas (SIG) fornecem informações para avaliação de riscos,
tomada de decisões, permite identificar áreas vulneráveis e o entendimento de causas e
conseqüências destes eventos (GILLESPIE et al., 2007; JOYCE et al., 2009; TRALLI et
al., 2005).
No Brasil, inundações e deslizamentos de terra são os desastres naturais com maior
número de ocorrência segundo o EM-DAT (2010). Porém, o país está sujeito a outros
riscos relacionados as adversidades da atmosfera (tempestades, vendavais, secas) e
geologia (subsidências, erosão solos, queda de blocos) com ampla distribuição pelo
território brasileiro (PFALTZGRAFF et al., 2008).
Desastres naturais recentes como os ocorrido nas regiões nordeste (Alagoas), Sudeste
(Rio de Janeiro) e Sul (Santa Catarina), tem chamado a atenção pela intensidade dos
impactos ocasionados sobre a população. Segundo dados da Secretaria Nacional de
Defesa Civil, foram notificados 1356 desastres entre os anos de 2007 e 2008, sendo que
os municípios da região Sul concentram 31% dos desastres notificados (SEDEC, 2010).
Neste contexto, este trabalho tem como objetivo demonstrar a utilização de imagens de
radar como ferramenta para análise de áreas afetadas pelas inundações de 2008 sobre o
Vale do Itajaí, Santa Catarina. Espera-se deste modo, contribuir na difusão desta nova
ferramenta que pode ser utilizada para o planejamento e estudo de espaços atingidos por
desastres naturais.
DESASTRES NATURAIS: CONCEITOS E CARACTERÍSTICAS
A ocorrência de eventos extremos relacionados a dinâmica da Terra, como tempestades,
chuvas intensas, inundações, deslizamentos de terra, terremotos entre outros, tem como
principal efeito a alteração brusca de determinado ambiente. Estes eventos ocorrem em
diferentes lugares, intensidade e épocas ao redor do planeta, considerados como
importantes fatores de transformação da superfície terrestre.
Quando estes eventos possuem a capacidade de impacto sobre uma sociedade ou sua
infra-estrutura, são considerados desastres naturais (ALCÁNTARA-AYALA, 2002).
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Este termo muitas vezes é associado a diferentes processos quando sua gênese, oriundos
principalmente de atividades atmosféricas, hidrológicas, geológicas e biológicas.
A ocorrência de desastres naturais, dependendo da sua magnitude, pode resultar em
grandes perdas econômicas e sociais. Dados observados no EM-DAT (Emergency
Events Database) para o período de 1990 a 2008 registram cerca de 7 mil desastres
naturais ao redor do mundo causando cerca de 1,9 milhões de mortos (EM-DAT, 2010).
O continente asiático concentrou 38% destes eventos registrados e no continente
americano ocorreram 24% dos desastres registrados.
Inundações, tempestades, terremotos, movimentos de massa e vulcões são os desastres
naturais de maior ocorrência relacionados a dinâmica interna e externa da terra. Na
América do Sul há maior ocorrência de desastres naturais do tipo inundações seguidos
por movimentos de massa e terremotos.
Em muitos casos, fatores como localização geográfica e
desenvolvimento
socioeconômico têm grande influência no impacto ocasionado por eventos extremos. O
primeiro está relacionado à configuração geológica, geomorfológica e climática, uma
vez que muitos países situam-se em zonas afetadas por atividades sísmicas tempestades
tropicais e inundações de rios. O segundo fator está ligado ao desenvolvimento histórico
de cada região, onde muitas vezes o processo de ocupação de regiões de risco se deve a
falta de recursos da população, levando estes a ocuparem as áreas de risco
(ALCÁNTARA-AYALA, 2002).
Segundo Castro (2003), inundações podem ser definidas como um transbordamento do
nível d’água de rios, lagos ou açudes. Em função da evolução temporal são classificadas
como inundações graduais ou inundações bruscas. As inundações graduais ocorrem
quando o nível d’água eleva-se de forma lenta e previsível, seguindo intervalos
regulares. Inundações bruscas são oriundas de chuvas intensas e concentradas,
ocorrendo elevação rápida do nível d’água. A principal diferença entre esses dois tipos
de inundação está no desequilíbrio entre a velocidade de elevação do nível d’água e o
tempo de duração.
Além de precipitações pluviométricas intensas e concentradas, inundações podem ter
como outros fatores causadores o assoreamento de rios que causa a elevação do leito,
saturação do lençol freático, rompimento de barragens, drenagem deficiente de terrenos
ou barramento de leito de rios ocasionado por movimentos de massa.
Os principais efeitos adversos da ocorrência de uma inundação de grande magnitude é a
devastação de plantações e pastagens em áreas agrícolas. Quando áreas urbanas são
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atingidas por inundações, há impactos significativos principalmente sobre a população,
que em muitos casos são desalojadas, e ocasiona danos na infraestrutura de transportes,
comunicação, energia elétrica e saneamento básico.
GEOTECNOLOGIAS E DESASTRES NATURAIS
Atualmente existe um grande conjunto de técnicas e ferramentas computacionais para o
tratamento da informação espacial, sendo este conjunto composto principalmente pelos
Sistemas de Informações Geográficas (SIG), o imagens de Sensoriamento Remoto e o
Sistema de Posicionamento Global (GPS). Este conjunto de recursos técnico
disponibilizado na forma de softwares e equipamentos possibilita a coleta,
armazenamento e análise de grande quantidade de dados e com isso produz informações
de forma rápida, fato muito importante no atendimento de áreas afetadas por desastres
naturais. Segundo Marcelino (2008), o uso das geotecnologias pode ser aplicado na
prevenção, preparação, em ações de resposta e na reconstrução de área atingidas.
Um SIG permite a integração de dados geográficos coletados em diferentes períodos e
escalas, possibilitando armazenagem, manipulação e análise e representação da
informação geográfica. Estes dados podem ser obtidos com o auxilio de um GPS que
fornece as coordenadas dando com isso a dimensão espacial a um determinado dado.
O sensoriamento remoto por meio de imagens de satélite é uma das informações de
maior importância que as geotecnologias podem fornecer atualmente. Uma vez que este
tipo de dado permite extrair informações sobre grandes áreas, em pouco tempo e em
alguns casos com reduzido custo financeiro. Atualmente existem diversos sistemas de
sensoriamento remoto, operando sob diferentes configurações quanto ao principio de
funcionamento (óptico ou radar), resoluções espaciais e temporais.
SISTEMAS DE IMAGEAMENTO RADAR
Radares de Abertura Sintética (SAR - Sinthetic Aperture Radar) são sistemas de
imageamento que operam na faixa das microondas do espectro eletromagnético, são
sensores ativos (geram sua própria energia), com princípios e instrumentos diferentes
dos sistemas de sensoriamento remoto óptico. Seu desenvolvimento iniciou na década
de 1950 a partir dos avanços dos radares de abertura real.
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Sensores SAR possuem grande capacidade de coletar dados em condições atmosféricas
adversas e podem adquirir imagens tanto de dia como de noite, pois independem de
iluminação solar, mostrando-se assim uma valiosa ferramenta para análise de áreas
afetadas por desastres naturais relacionados a eventos atmosféricos extremos, como
inundações.
A utilização de imagens SAR como ferramenta de coleta de dados remotos aumentou
consideravelmente a partir da década de 1990, principalmente em ambientes tropicais.
Muitas são as aplicações já consolidadas que utiliza imagens SAR, com exemplos em
agricultura, cartografia, vegetação, geologia, uso da terra e hidrologia, tanto por
sensores orbitais ou aerotransportados. Particularmente, radares são muitos úteis para
estudos hidrológicos devido à sensibilidade de detecção da umidade e na possibilidade
do sinal transpor nuvens e em alguns casos o dossel de florestas (HESS et al., 1990;
HALL, 1996).
A partir do ano 2000, um elevado número de satélites orbitais tem mudado o modo de
avaliação e previsão de desastres. Estes sensores possuem capacidade de quantificar
fenômenos associados a movimentos da superfície terrestre como movimentos de
massas e terremotos ou a fenômenos como inundações, tsunamis e tempestades
(Gillespie et al. 2007). Atualmente encontra-se em operação sistemas orbitais com
sensores
SAR
abordo
das
seguintes
missões,
ENVISAT/ASAR,
ERS-2,
ALOS/PALSAR, RADARSAT-2, TerraSAR-X e COSMO-SkyMed.
Muitos estudos têm demonstrado que sensores SAR oferecem melhores resultados para
detectar inundações quando comparados com sensores ópticos como nos trabalhos de
Costa et al., (2002); Townsend e Walsh, (1998) e Tralli et al., (2005). Estes estudos
focam principalmente a detecção de áreas afetadas por inundação.
A identificação e o mapeamento de corpos de água como canais de drenagens, áreas
úmidas, inundações e lagos, são facilmente destacados em imagens de radar, devido ao
elevado contraste de respostas entre superfícies de água e áreas emersas. Este contraste
pode ser entendido pela menor resposta de corpos d’água em relação a outros alvos na
imagem. No processo de interpretação de imagens SAR, tom e texturas são as duas
principais propriedades analisadas no sistema visual humano, neste sentido corpos
d’água aparecem em tonalidade preta com textura lisa conforme exemplo da figura 1.
Nesta figura podemos observar em A o canal principal do rio Itajaí-açu e uma mancha
de inundação próxima a cidade de Gaspar-SC detectada pelo sensor RADARSAT-2
obtida durante as inundações de 2008. Em B é apresentada uma imagem do sensor
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Landsat TM5 para mesma área, obtida em 01 de fevereiro de 2009, posterior as
inundações.
FIGURA 01. (A) Imagem do sensor RADARSAT-2 e (B) Imagem do sensor TM
Landsat 5.
VALE DO ITAJAÍ: SEU ESPAÇO E O DESASTRE DE 2008
O histórico de ocupação da região data de 1850 quando o alemão Hermann Bruno Otto
Blumenau fundou uma colônia com dezessete imigrantes nas margens do rio Itajaí-açu,
sendo que a sede da colônia estava localiza onde hoje é a cidade de Blumenau. A forma
de ocupação da região foi condicionada principalmente pela presença de uma planície
fluvial cercado por serras (BUNGE, 2009). A colonização avançou seguindo o curso
dos rios e os primeiros lotes eram estreitos e compridos, muitas vezes ocupando áreas
de inundação do rio e partes de encostas. Relatos de inundações no vale do Itajaí
remontam desde o século XIX, registrado nos primeiro assentamento urbanos da região.
Ao longo destes 160 anos de ocupação, ocorreram mais de 60 cheias acima dos 10
metros, demonstrando uma longa convivência da população com este ambiente propício
a ser tomado por água.
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Durante os meses de novembro e dezembro de 2008 o Estado de Santa Catarina foi
afetado por um evento atmosférico de grande proporção, que ocasionou uma elevada
quantidade de chuva na região leste do Estado, principalmente nas regiões litorâneas e
no Vale do Itajaí. Durante o período de outubro e novembro de 2008 foi registrado cerca
de 1.100 mm de precipitação acumulada, esta chuva quase constante neste período
provocou entre os dias 20 e 25 de novembro grandes inundações, como pode ser
observado na figura 2. Este forte volume de água sobre a região saturou o solo das
encostas, que deslizaram, resultando em conseqüências trágicas principalmente nas
cidades localizadas no Vale do Itajaí.
FIGURA 2. Inundações de 2008 sobre o Vale do Itajaí. Fotos: (A) Rogério R. Ribeiro e
(B) Luiz A. Bressani.
Segundo a Defesa Civil de Santa Catarina, até o dia 30 de novembro de 2008 havia
78.707 pessoas desalojadas e desabrigadas e até o dia 31 de dezembro foram registrados
135 óbitos, sendo 117 de habitantes do vale do Itajaí. Serviços básicos como
fornecimento de água, energia elétrica e transporte sofreram grandes impactos, o que
levou 14 municípios a decretar estado de calamidade pública e 63 municípios ficaram
em estado de emergência. Como uma resposta na forma de política pública, o governo
do Estado de Santa Catarina instituiu o Grupo Técnico Científico. Este grupo
corresponde a um órgão multi-institucional e multidisciplinar que tem como missão a
avaliação e identificação das causas, efeitos e adoção de medidas preventivas às
catástrofes naturais em Santa Catarina.
Atualmente a região do vale do Itajaí possui aproximadamente 900 mil habitantes, tendo
sua economia voltada para a agricultura (arroz, banana, pastagem), indústria têxtil,
turismo, importações e exportações no porto de Itajaí.
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A área deste estudo está localizada no Estado de Santa Catarina, na região do médio
curso do rio Itajaí-Açu, próximo das cidades de Blumenau e Gaspar (Figura 3). O rio
Itajaí-Açu corresponde ao maior curso d’água do Estado, sendo formado pelo encontro
dos rios Itajaí do Oeste e Itajaí do Sul e com sua foz no oceano Atlântico.
A geomorfologia do vale corresponde a uma planície cercada por Serras com elevações
de aproximadamente 800 metros acima do nível do mar. O regime climático da região é
subtropical, com verão quente, bastante úmido e com grande quantidade de chuvas. A
atual cobertura vegetal corresponde a apenas 7% de sua cobertura original, resultado
principalmente pela extração de madeira e ocupações desordenadas. Devido a sua
compartimentação geomorfológica, esta região possui forte influência na ocorrência de
desastres naturais como inundações e deslizamento de terras devido presença de
encostas muito íngremes e côncavas. Atualmente há grande atividade agrícola
(rizicultura, banana, etc.) nas áreas mais planas ao longo do rio.
FIGURA 03. Localização da Área em Estudo.
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MATERIAIS E MÉTODOS
Para a realização deste trabalho foram utilizadas imagens dos satélites ENVISAT
(sensor ASAR) e RADARSAT-2 obtidas durante as inundações no vale do Itajaí em
2008. Uma imagem do satélite ALOS (sensor PALSAR), coletada antes da inundação,
foi utilizada para identificar os principais corpos d’água antes do desastre. As principais
características das imagens estão resumidas nas tabelas 1 e 2, onde observamos que
estas possuem diferentes comprimentos de onda (banda), resolução espacial, geometrias
de visada e incidência, porém todas de polarização HH. Cartas topográficas na escala
1:50.000 (EPAGRI, 2004) foram utilizadas para extração das informações planimétrica
(vias de acesso e hidrografia) e altimétrica (DEM para ortorretificação). Como exemplo,
neste trabalho foi utilizado os dados do Levantamento da Cobertura Vegetal Nativa do
Bioma Mata Atlântica (IESB, 2007) para identificar os principais tipos uso e cobertura
do solo afetado pelas inundações.
TABELA 01. Características Gerais dos sensores SAR
SENSORES
CARACTERISTICA
ENVISAT/ASAR
ALOS/PALSAR
RADARSAT2
DATA LANÇAMENTO
21/03/2002
24/01/2006
14/15/2007
ESA
JAXA
MDA/CSA
C
L
C
800
690
798
35 dias
46 dias
24 dias
AGENCIA
BANDA
ALTITUDE (km)
PERIODO DE
REVISITA
TABELA 02. Características Gerais das imagens SAR utilizadas
SENSOR
MODO
DATA
RESOLUÇÃO INCIDÊNCIA
VISADA
FBD
15/09/2008
20 metros
34°
Ascendente
ALOS/PALSAR
IMP
27/11/2008
30 metros
33°
Descendente
ENVISAT/ASAR
STANDARD
Descendente
RADARSAT2
30/11/2008
25 metros
38°
5
O desenvolvimento das atividades realizadas neste trabalho seguiu o fluxo apresentado
na figura 4, sendo cada etapa descrita a seguir.
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FIGURA 04. Fluxograma das etapas desenvolvidas.
Para extração das áreas inundadas, as imagens SAR foram submetidas a duas etapas:
pré-processamento e classificação digital. O pré-processamento correspondeu às
atividades de correção geométrica das imagens por meio de ortorretificação e correção
radiométrica, utilizando filtro de redução do ruído speckle. Para a classificação digital
das imagens foi utilizada a abordagem não supervisionada por meio do método
ISODATA onde foram definidas duas classes para os resultados, água e não água. Os
resultados da classificação das imagens SAR foram vetorizados e integrados com dados
de uso e cobertura em um sistema de informações geográficas. Esta integração
possibilitou extrair informações como a distribuição espacial da mancha de inundação
detectada pelos sensores e estimação da área e tipo de cobertura afetada pelas
inundações. O processamento digital das imagens SAR foi realizado através do pacote
PCI Geomatics 10.3 e a integração dos dados espaciais e representação cartográfica por
meio do software ArcGis 9.2
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Cenário Pré-desastre
Para análise de desastres naturais, inicialmente deve-se dispor de informações sobre o
contexto da área afetada. Deste modo, dados como vias de acesso, tipo de uso e
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cobertura do solo, principais canais de drenagens e informações topográficas são as
principais fontes de dados utilizados para uma visualização inicial do ambiente afetado
e as áreas que devem ter atenção especial em situações de crise. Neste sentido a figura 5
demonstra qual era a configuração do espaço antes do desastre.
Podemos observar na figura 5 que, ao longo do curso do rio Itajaí-açu, os principais
tipos de uso do solo consistem em áreas urbanas e utilizadas para a agropecuária.
FIGURA 05. Informações sobre uso e cobertura do solo da área em estudo.
A imagem do sensor ALOS/PALSAR possibilitou o mapeamento de plantações de arroz
que é cultivado pelo método de irrigação. Este tipo de cultivo é caracterizado pelo uso
de extensas áreas ocupadas ao longo da planície do rio Itajaí-açu e que precisa do
manejo de recursos hídricos, pela necessidade de estar coberto por uma lâmina de água
durante um período do ciclo agrícola desta cultura. Esta informação é considerada de
grande importância para uma posterior avaliação das possíveis causas das inundações. O
cultivo de arroz irrigado detectado por este sensor, corresponde a uma área de
aproximada de 2.269,99 hectares, cerca de 9,7% da área destinada para a agropecuária.
A tabela 3 apresenta as medidas de área, de acordo com o tipo de uso ou cobertura do
solo para a região em estudo.
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TABELA 03. Dimensão da área ocupada pelos diferentes tipos de uso e cobertura.
TIPO DE USOCOBERTURA
Área Urbana
Agropecuária
Florestas
TOTAL
ÁREA
(ha)
4.487,92
23.396,31
32.405,75
60.289,99
(%)
7,44
38,81
53,75
100
Cenário Pós-desastre
Entre o período da aquisição da imagem ALOS/PALSAR, em 15 de setembro de 2008,
e até o dia da aquisição da imagem RADARSAT-2, 30 de novembro de 2008, choveu
sobre a região aproximadamente 1430 mm, de acordo com dados observados pela
estação pluviométrica de Blumenau. Somente nos dias 23 e 24 de novembro houve
cerca de 490 mm de precipitação, esta grande quantidade de precipitação sobre a região
resultou em diversas manchas de inundação ao longo da planície do rio Itajaí-açu, que
foram detectadas pelos sensores ASAR no dia 27 e RADARSAT-2 no dia 30 de
novembro, conforme apresentado na figura 6.
FIGURA 06. Área inundadas detectada pelos sensores ASAR e RADARSAT-2.
Podemos notar claramente que a localização das manchas de inundação está muito
relacionada à proximidade de áreas de cultivo de arroz irrigado. Foi possível separar o
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que é inundação oriunda dos desastres e das áreas de cultivo de arroz irrigado que se
encontravam alagadas.
De acordo com a classificação das imagens SAR, a área total inundada foi de 1.828,68
ha. Deste total havia no dia 27 um total de 1.380,85 ha detectada pelo sensor ASAR. Já
o sensor RADARSAT-2 detectou no dia 30 uma área inundada de 1.248,15 ha. Esta
diferença pode estar relacionada a dinâmica da grande mancha de inundação a leste da
área urbana de Gaspar, em que se concentra inicialmente próximo a margem do rio
Itajaí-açu e posteriormente, na imagem do dia 30, expande-se para sul. Com estes
resultados é possível ter uma idéia de que locais possuíam solo saturado, áreas onde a
água permaneceu sobre a superfície entre o tempo de observação dos dois sensores.
De posse dos dados expostos anteriormente nas figuras 5 e 6 e na tabelas 3, pode-se
então apresentar um diagnóstico das áreas afetadas pelas inundações, sintetizada na
tabela 4.
TABELA 04. Dimensão da área inundada sobre os diferentes tipos de uso e cobertura.
TIPO DE USOCOBERTURA
Área Urbana
Agropecuária
Florestas
TOTAL
ÁREA
INUNDADA (ha)
7,04
1.708,98
112,66
1.828,68
(%)
0,38
93,45
6,16
100
Conforme apresentado na tabela 5, mais de 90% das áreas inundadas possuem uso
agrícola ou para pecuária. Este tipo de informação pode auxiliar na estimativa de perdas
econômicas e sociais ocasionado por desastre natural.
Além destes resultados aqui apresentados, existem diversas possibilidades para extração
de informações que possam servir não apenas para planejamento das áreas atingidas,
mas também para a gestão do espaço. Porém reforçamos aqui a idéia de Jensen (2009),
sobre a necessidade da disposição de um banco de dados pré-desastre, composto
principalmente de informações como imagens de alta resolução espacial, dados
atualizados sobre o uso e cobertura do solo e cartas topográficas na escala de 1.50.000
ou maior.
CONCLUSÕES
O exemplo aqui apresentado não esgotou as possibilidades de derivar outros dados e
informações espaciais que possam auxiliar tomadores de decisão. Foi exposta a
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existência de uma elevada disponibilidade de dados de satélites orbitais para gestão de
crises oriundas de desastres naturais.
É destacado aqui o uso de imagens de radar pela possibilidade deste tipo de dado
adquirir imagens sob condições atmosféricas adversas, com intensa cobertura de
nuvens, onde o uso de sensores ópticos em órbita ou aerotransportado é limitado.
Neste trabalho, o uso integrado de sensores oriundos de diferentes missões (Européia,
Japonesa e Canadense) mostrou-se eficiente para avaliação do espaço antes e após os
desastres, resultando em um sinergismo das imagens adquiridas e os dados auxiliares.
A partir dos resultados desta área de estudo, podemos supor que, dado um evento futuro
desta magnitude, áreas adjacentes de ambiente com configuração espacial semelhante
(uso e cobertura do solo, meio físico) estão vulneráveis a inundações. Esta constatação
pode vir a auxiliar futuras decisões quanto à elaboração ou alterações de planos de
zoneamento para a região.
AGRADECIMENTOS
Os autores agradecem a JAXA, ESA e MDA/GSI pelo fornecimento das imagens
ALOS/PALSAR, ENVISAT/ASAR e RADARSAT2 respectivamente, ao CNPq e
CAPES pelos recursos oferecidos na forma de bolsas de estudos para o primeiro e
terceiro autor.
REFERÊNCIAS
ALCÁNTARA-AYALA, I. Geomorphology, natural hazards, vulnerability and
prevention of natural disasters in developing countries. Geomorphology, v. 47, n. 2-4,
p. 107–124, Out. 2002.
BUNGE, Fundação. Conhecer para sustentar: um novo olhar sobre o Vale do Itajaí.
São Paulo: Fundação Bunge, 2009.
CASTRO, Antônio Luiz Coimbra de. Manual de Desastres – Volume I: Desastres
Naturais. Brasília: Secretária Nacional de Defesa Civil, 2003.
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mapping of aquatic vegetation during the hydrological cycle of the Amazon floodplain
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1401 -1426, 2002.
EM-DAT. International Disaster Database. Disponivel em: <http://www.em-dat.net/>.
Acessado em 15 fev. 2010.
I Congresso Brasileiro de Organização do Espaço e
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