Mercados para a literatura brasileira - Centro de Línguas
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Mercados para a literatura brasileira - Centro de Línguas
·Biblioteca Nacional de Portugal- Catalogação �a Publicação COLÓQUIO mTERNACIONAL "LUGARES. DA LUSÓFONIA", Faro, 2009 . Lugares da lusofonia : actas Ido Encontro Internacional "Lugares da Lusófonia" ; org. Petar Petrov. - (Extra-co1ecção) ISBN 978-972-772-970-8 . Índice 1- DIMITROV, Petar Petrov,.1948CDU 821.134.3 81l.l34.3 •·••�1U<'aIlçals nos estudos de ciências humanas e desafios concretos 061.3 vertebrar a Lusofonia: docência, investigação e política cultura!....... 9 J. Torres Feijó C:ornUlnitarisIrlo literário-cultural e a globalização: p aíses de lingua portuguesa . .............. .................................................. 29 >Ilenjamln Abdala Júnior . FlordinandDenis, leitor de Camões ., ..............................45 .......................... .R,'gir.laZilberman Título: Lugares da Lusofonia. Actas do Encontro Internacional Camões - protagonista de um romance Húngaro Décimonónico ............ 61 <I'I""'''' Pál Organização: Petar Petrov Edição: Edições Colibri Capa: Dept." Gráfico da Colibri Depósito legal D.· 306 503/10 Lisboa, Outubro de 20 I O História de uma Paixão ............................................................................ 73 Cristina Robalo Cordeiro o grande segredo da literatura ............ ,.................................................... 79 Teresa Cerdeira Obra publicada com o apoio da FCT - Fundação para a Ciência e a Tencologia Fantástico e Onírico el)l Urbano Tavares Rodrigues: o caso de Filipa Nesse Dia.: . ................... Ana Alexandra Seabra de Carvalho ..................................... . ......... :.85 XVI: . em Roma no século cisco de Sá de MIranda Fran de s ando lhalp i ' gue V 'iortu A figura do pastor na poesia de Eugéuio de Andrade ............. ......... João Min�oto Marques Mercados para a literatura brasileira ............................................ , . M Carmen Villarino Pardo .. . ".. ..> . o Realismo mágico-maravilhoso de Mia Couto ............................ ....... Petar Petrov Neologia semântica: aspectos culturais e sociais de um novo termo Sebastião Silva Filho o Lugar dos provérbios na lnsofonia ........................................... : Helena Rebelo dos outros" . . ............... . 1 .. . 199 ................................................................................................ 207 ...... Ladislau III de Varna - um rei polaco refugiado na Ilha da Madeira (século XV). Mistério do Cavaleiro de Santa Catarina em pinceladas históricas Anna Kalewska . ... . ..... . . . ...........·.············· ........ . .............. ····················· . .... .. 237 .. 253 ········· 263 ...................... 279 s secas, do livro ao filme ,re'pr,es<mtaç<;es e o real: Vida ... .. ............ matográficos nos discursos literários e cine .. ... ..... Presenças da língua portuguesa na produção científica na Internet Raquel Bello Vázquez . ,rnrl,O José Paulo Pereira Acerca de algum vocabulário do Arquipélago da Madeira .............. 229 ............... ugal dos Estrangeirados dos Estrangeiros e o Port de Carvalho .' Firmino de A�drade . Mia Couto - a escrita e o outro da língua.............................................. Lucília Chacota fonia �. gI'O e inspiração da Luso de desterro, relU lves H.nr;,C/"," Ribeiro Gonça .. ..................... 291 Mercados para a literatura brasileira M. Carmen Villarino Pardo Grupo GaI.bra-Universidade de Santiago de Compostela Em 1977, no meio de manifestos pedindo o fim da ditadura, a revista É (5/1 0/77) publica a mauchete: "Todos amam Gabriel. Mas há } outras, além dela. Nossa literatura começa a se mostrar ao mundo" . Essa ideia aparece na altura do I Encontro cOm a Literatura Bra Isto sileira que tem lugar em São Paulo, em Setembro de 77, justamente um ano depois de Carmen Balcells ter iostalado a filial da agência dela no Rio de Janeiro e de o Governo do Rio Grande do Sul e a Prefeitura de Porto Alegre terem organizado os Encontros Cultur 76 e Cu/tur 77. A dimensão que este encontro de São Paulo adquiria era a de abrir uma janela para a literatura brasileira no exterior. A iniciativa deveu-se à Câmara Brasileira do Livro - CBL - (presidida por Mário Fittipaldi), sob o patrocínio da Secretaria de Cultura, Ciência e Tecnologia do Estado e da Secretaria Municipal de Cultura. O objectivo era mostrar aos editores estrangeiros convidados (procedentes da Alemanha, EUA - vieram menos do que os esperados -, Uruguai, México, Itália, França, Espanha - estas duas delegações foram as mais numerosas -...) as propostas especí ficas dos textos brasileiros que podiam ter projecção no mercado interna·· cional. Segundo a escritora Edla Van Steen (um dos membros da comissão organizadora, de que também fazia parte Lygia Fagundes Telles), era a primeira vez na história da literatura brasileira que os escritores se reu niam "num esforço comum para romper a barreira que os separa do mUfl- 1 Artigo de Maria da Paz Rodrigues e Paulo Moreira Leite. . 115 Lugares da Lusofonia Mercados para a literatura brasileira do Bra do exterior e apresentar todo o trabalho que aqui se faz" (Jornal claro, os bastante parecia objectivo o s brasileiro os .para Se . sil, 27/9/77) saber bem sem ados, desorient Brasil ao chegaram ros estrangei editores e qüais eram as intenções do Encçmtro. VinhaD? para ouvi� . f?ram-se em lnsIstIam que Jovens emborá com vários manuscritos de escritores ou menos mais contratos "cortejá-los" para que os conhecessem, com a entes prontos entre escritores jã consolidados2, com acordos com os � sent no es el por do assin� manifesto um .tdo de literários presentes, e com . , , s e pedIrem o brasIleIro Is intelectua dos situação a com se solidarizarem os .autores hispanoamericanos de lingua espanhola, que despertaram o interesse do mercado europeu e dos Estados Unidos)' na tentativa de alte I14 fim da censura. 3 . . Um dos editores presentes, o da espanhola Alfaguara - JaIme Sah nas -, resume bem, através das suas impressões, os resultados do Encon tro. Segundo ele, o erro foi que, "desgraçadamente, esperavam-nos como salvadores messiânicos da literatura brasileira: procuravam a gente com manuscritos, enfiavam papéis, fotografias, pela porta do apartamento. Isso reflete uma confusão total" (Folha de S. Paulo, 30/9/77). Estes editores. estrangeiros ficaram impressionados com tantos s nomes, com as polémicas que se levantaram sobre outros participant� que deviam lã estar, e nem puderam .dar a esperada atençao aos depOI _ mentos dos escritores, críticos e professores presentes4. Inconscientemente, os nacionais tinhanl a esperança de que se pro duzisse um boom literârio exportãvel (como sucedera uns anos antes com home� procurado - por de Murilo Rubião, que se converteu , no ress escrItor um Sou ido. �s�ltado há pouco, todos: "fiquei meio surpreend para ser estava tão habituado a ser um escritor secreto. Se eu espereI trmta anos Paulo, S. de Folha ( é?" não editado não era agora que ia correr, e E também Nélida Piiion, uma autora que, segundo pubhcam os Jornais no obra sua a mais ,divulgar para revistas, já não precisava deste encontro Isto E, estrangeiro (O Estado de S. Paulo, 2 Especialmente 1/10/7?). . 29/9/77; 3 4 5/10/77). Clarice Esta editora já publicara em espanhol obras de Guimarães Rosa, de Tebas do Lispector e Osman Lins; e em -publica a tradução espanhola meu coração. de Nélida Pifion. 1978 Autran Entre eles: Clarice Líspector. Nélida Pifion. Otto Lara Rezende, Torres, Antônio Filho. Adonías Fonseca. Rubem Callado Antônio Dourado Maria Ignácio e Loyola Brandã , Gerardo de Mello Mourão, José Lo,.uzeiro, Ang�lo, Ivan Telles, Fagundes Lygía Gullar, Ferreira Barroso, Alice hterárla de Novaes Coelho (que destacou a importância mundial da prqdução pas�av� ,o que por momento bom· do (falou Lucas Fábio autoria feminina), hterana produção da conto brasileirO), Leo Gilson Ribeiro (referiu a situação d brasileira), etc. � �eny rar un1 quadro negativo, pois nem o mercado interno nem o extemo6 eram, "ao naturaI, receptivos à produção literária brasileira" (CremilCla . Medina, "Escritores na conquista do grande mercado", O Estado de S Paulo, 4/9/77). Alguns convencidos, como o crítico Leo Gilson Ribeiro, não acei tavam "que os editores estrangeiros venham aqui qetrás de um 'baú de exóticos', do tipo de Gabriel Garcia Mârquez" ("Uma criação ilhada que o mundo não pode desconhecer", O Estado de S. Paulo, 4/9/77). E, no final do encontro, houve matérias do tipo deste título de Cícero Sandroni, "Vinte autores nacionais serão traduzidos no exterior. Valeu a pena?" (Jornal do Brasil, 8/1 0/77); ou exemplos como o do editor da revista mexicana El Cuento, Edmundo Valadés, que vinha publicando uma média de três autores brasileiros por número nos últimos dois anos, que comentou: "Com o Encontro estou mais interessado nos brasileiros ainda. Jã levo contos de Rubem Fonseca, Murilo Rubião e Nélida Pifion" ("Fim da maratona dos escritores. Otimismo", Folha de S. Paulo, 1 / 10/77). Afinal de contas, os mesmos nomes, aqueles que jã tinham um percurso consolidado. Apesar da distância temporal, as queixas continuam sendo parecidas neste início do sécnlo XXI, ainda que, na opinião da editora Luciana Villas-Boas, da Record - um dos grupos editoriais com maior peso no sistema Iiterârio brasileiro actual - cada vez haja mais leitores para a literatura brasileira no Brasil (2008)". Apesar de os dados da pesquisa Retratos da leitura no Brasil- feita pelo Ibope para o InstitUto Pró-Livro (pesquisa pnblicada no livro do 5 · Nélida Pmon foi talvez a única escritora que tentou siste atizar as principais causas da "defasagem dos brasileiros em relação aos latino-americanos" (O Estado de S. Paulo, e falou "sobre os motivos que levaram a cultura brasileira a ser ignorada por outros países. (...)" ("Depois da briga, novo rumo", Folha de S. Paulo, � 2/10/77) 975, 28/9/77). . 6 Em ] Assis Brasil ("América Latina: a literatura do exflio", Escrita i, ano 1, pp. queixara-se do desequilíbrio entre o número de textos hispanoamericanos traduzidos no Brasil e os textos brasileiros "exportados" 12-13) para o resto da América Latina; sem falar de outros mercados. como o dos Estados Unidos e o europeu. 7 ln I Encontro Internacional de Pesquisadores Estrangeiros em Literatura Brasileira. Conexões, Itaú Cultural, São Paulo, 16-19/12/2008. Mercadós para a, literatura brasi leira ' de S�o mesmo nome, com a parceria da Imprensa Oficial do Estado respons aqueles para s �vels melhore os Paulo, 2008) - não serem ainda reltera em aparece tema o (e como os objectiv por inStituições qu� visam ão d� um daã oCB;siÕes) 'a construção de um país leitor' - ou 'a construç mter mercado o 11), Brasil leitor', p. 10 - 'por uma nação de leitores', p. período No sectores. nalguns no parece ter-se consolidado, pelo menos es de entre 1998-2002 verifica-se que continua o incremento de publicaçõ editoras as entre imento desaparec e criação de taxa textos e uma elevada . (Lindoso, 2004: 103). . Trabalhos como este Retratos da leitura no Brasil estudam a situa ção da leitura no país e, em boa medida, avaliam medidas políticas inter nas (sobretudo derivadas da Lei do Livro de 2003). Continua havendo problemas e, na opinião de F. Lindoso, verifica-se como pontos frágeis da indústria editorial brasileira actual que, os problemas de distribuição em um país de dimensões continen tais não foram resolvidos; a sociedade brasileira nunca teve um movimento que incorporasse as bibliotecas como elemento funda mental de sua organização, como houve em outros países; algumas das dificuldades e contradições de indústrias editoriais maiores já se instalam no Brasil sem que problemas fundamentais tenham si do resolvidos. (2004: 107) De entre as tendências que se consolidaram nos finais do século XX e nos primeiros três anos do presente século no mercado editorial brasilei. ro, Lindoso indica: I) o processo de concentração empresarial e o aumento da participa ção de empresas estrangeiras (a consolidação do grupo Record como o maior grupo editorial de obras gerais8; grupos como o americano Thomson - em livros técnico-científicos e de informação empresarial - e i17 2) a organização de pequenas editoras, sobretudo na área de livros ger��s e. infanto-juvenis� numa associação para desenvolver estratégias . comuns de marketing (Liga Brasileira de Editoras ...: Libre); �)'a importância crescente dos chamados 'sistemas' ("�pos empre� . sanaIS que desenvolvem projetos integrais ,de administração, metodolo gia, treinamento e fornecimento de materiais didáticos para escolas parti culares" - Lindoso, 2004: 101). A radiografia que Retralos da leitura no Brasil (2008) mostra esta belece perfis de leitores, significado da leitura para eles, influenciadores de leitura, frequências, preferências e motivações dos consumidores (incluídos génetos. e escritores brasileiros, assim como livros mais 'importantes' para os leitores - mostrando-se a Bíblia como o primeiro e mais marcante) ... Um dos dados refere-se à leitura de livros em outros idiomas, sendo que 87% dos leitores declaram não ler noutra lingua e, dos restantes 13%, 95% (8 milhões) lêem em inglês, 5% (4,9 milhões) lêem em espanhol e 1% em francês e italiano (sendo esta a quarta lingua). Não aparecem nesse estudo dados relativos a fenómenos como as Bienais do Livro (e não apenas do Rio de Janeiro e de São Paulo) e das diferentes feiras literárias que proliferam no país a partir do sucesso da Flip (Feira Literária Iritemacional de Paraty, iniciada em 2003) - os cha mados, de modo coloquial, "filhotes da Flip" - e, com maior dimensão histórica e tradição, da Feira do Livro de Passo Fundo. Esse tipo dy.-�squisas mostra aspectos do mercado interno brasilei ro, como é es �ct�\rel, dados, em parte, de m.ercados internos para o. mercado editoriàl1Jrasileiro, mas não temos ainda esrudos que analisem os resultados das políticas de investimento na indústria editorial brasileira no exterior. Esses dados mostrariam um perfil dos outros mercados e das motivações, preferências� etc.� dos consumidores de literatura brasileira os grupos espanhóis Santillana - na área de livros didácticos - e Planeta no exterior. estratégias); agentes e infonnantes, tentaremos ver, como esboço de uma pesquisa que colecções de livros de banca de jornal, que ganham espaço, defmindo Se um projecto como este precisar de uma rede muito complexa de pretendemos posteriormente ampliar, quais poderiam ser os traços desse retrato da presença (não da leitura, neste caso) da literatura brasileira no exterior, três décadas depois daquela mostra da Feira de São Paulo em 1977. 8 "Comprou a Civilização Brasileira e a Bertrand Brasil, que tinha também o selo Difel reativado, e, posterionnente, a José Olympio. Além disso, passou a desenvolver novos selos, com atenção para segmentos especificos do mercado editorial - Nova Era, na linha dos esotéricos, e Rosa dos Tempos, para o público feminino" (Lindoso, 2004: 97). Em sintonia com esse tipo de eventos, encontramos - há alguns anos - as iniciativas privadas de agentes literários, entre eles o norte-o -americano Thomas Colchie e o da agência de Carmen Balcells, instalada no Brasil em 1976, e cujo slogan na Feira de Frànkfurt desse mesmo ano foi "Conheça a literatura brasileira", que contribuíram para. uma presença de detenninados produtores literários nos mercados europeus e 118 Lugares da Lusofonia Mercados para a literatura brasileira norte-americanos nos inícios da década de 1980, ainda que sem muita continuidade� ' . Combinadas com essas medidas empresariais aparecem iniciativas posteriores de órgãos públicos, sobretudo a partir da Feira de Frankfurt em 1994 - em que o Brasil foi país convidado de honra -, onde encontramos destacadas presenças da produção literária brasileira como produtos culturais que n,presentam o pais. O sucesso mediático desse tipo de propostas é indiscutível, mas, por vezes, o efeito,_é o de um comprimido que evita uma noite de insónia e não o de uma oportunidade que provoque outros efeitos secundários posi tivos ou, pelo menos, :visíveis. e que vise as causas e o processo que está por detrás. Se autoridades brasileiras vinculadas à Câmara Brasileira do Livro (CBL), ao Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL), ao Ministério da Cultura ou ao Ministério de Relações Exteriores decidem que se trata de um investimento para mostrar apenas a presença e não . para investir em outras acções que desta derive1'l1, estarã<? - em minha opinião - rentabilizando pouco a hipótese de converter um bem cultural, como podem ser os produtos literários, em ferramentas activas que cha mem a atenção para a indústria do livro, que consigam exportar um pro duto que, não sendo o sabonete de cupuaçu, concorre com muitos outros produtos 'nacionais' em fóruns e feiras desse tipo e que fomentem também uma série de ideias sobre o Brasil. Da Feira de Frankfurt, por exemplo, saiu, na Alemanha, uma extensa . e pormenorizada bibliografia da literatura brasileira nunca antes traduzida para alemão. Uma iniciativa útil na opinião de tradutores como Bertold Zilly. Na Alemanha, como indicou em Outubro de 2006 a falecida e conhecida agente literária Ray-Güde Mertin, em 1994, quando o Brasil foi país-tema da Feira de Frankfurt, ain da conseguimos realizar um número considerável de lançamentos, mas posteriormente o interesse caiu. É uma situação estreitamente ligada ao mercado editorial, que também mudou muito. [. ·l, (http://www.dwworld.deldw/article/O.2144.2191 152.OO.html). 119 pifion e Paulo Coelho), no Salão· do Livro de Paris em 1998, na Feria Internacional dei Libro de Guadalajára em 2001 , na 14.' edição da Feria Internacional deI Libra de la Habana em 2005. A literatura brasileira mereceu igualmente honras especiais de convidada no Ano do Brasil na França em 2005 e em eventos como a Copa da Cultura na Alemanha 2006, a 27.' Feria Internacional dei Libro de Santiago (Chile) em 2007 e, no ano de 2009, a XII Feria Internacional dei Libro de Santo Domingo . (República Dominicana). Para além desses destaques, a participação do sector editorial brasi leiro neste tipo de feiras internacionais (sobretudo do hemisfério norte), é cada vez maior. De facto, na última feira de Frankfurt (60.' edição), em Outubro de 2008, para além de polémicas sobre a chegada atrasada dos li vros ao stand ou da presença ou não do ministro interino da Cultura na quela altura - Juca Ferreira - na homenagem ao escritor Paulo Coelho, por ter atingido os 100 milhões de livros vendidos', o facto foi que 43 editoras brasileiras estavam presentes na Feira, com o ,maior stand nunca antes ocupado e Gom 6400 livros para expor (1800 títulos), neste evento organizado pela Câmara Brasileira do Livro. Esta Feira foi a primeira para algumas das editoras beneficiadas pelo acordo entre a Agência brasileira de promoção de exportações e investi mentos (Apex) e a Câmara Brasileira do Livro para "promover a expor tação de direitos autorais'\ com o objectivo, segundo o director executivo da CBL (Eduardo Mendes), de que "o Brasil passe a ex ortar mais a sua � literatura" (Scul1ly, 1 711 0/08). O convénio, Brazil Rights 0, vai investir ao longo de dois anos 1,5 milhões de reais na preparação de editoras brasi leiras para vender direitos autorais para o mercado mundial (algumas delas já participaram de seminários nesta linha e por isso já foram a Frankfurt em 2008). A editora Cosac Naify é um dos exemplos: apresen tou um catálogo de 43 títulos que mostram a diversidade da editora e, ao mesmo tempo, exibiu a sua produção no stand da sua distribuidora . Isto depois de, durante os anos 80 e nos inícios da década seguinte, se terem publicado, na opinião dela, 'um grande número de escritores brasi leiros na Alemanha' . A Frankfurt 94 seguiu-se uma presença da literatura brasileira como convidada de honra em Liber 9 7 - em Madrid - e Liber 98 - em Barce lona (com destaque, sobretudo, para a obra de Clarice Lispector e a presença, entre outros, de Zira1do, Cony, Lygia Fagundes Telles, Nélida 9 Para além de receber um Livro Guinness dos Recordes Mundiais especial pelo seu romance O Alquimista, como o mais,traduzido no mundo. 10 "Mais de 6 mil livros deveria� ter chegado antes de segunda, mas fica,am retidos em Madrid, segundo a Câmara Brasileira do Livro. De 43 editoras, 19 man?aram a literatura através de um convênio entre o CBL, Sindicato NaclOnal de Editores do Livro e Governo Federal"":" essa ação foi divulgada como a �primeira grande ação do convênio para a difusão do livro brasil�iro no mercado internacional" (Fabíola Scul1y, www.oglobo.com. 17/1012008). Mercados para a literatura brasileira Lugares da Lusofonia 120 . europeia (a catalã Gustavo Gili), com destaque para os livros de arquitec l tura e design l. A Rocco, para citar outro caso, fechou negócio com edito ras portuguesas para a edição de livros de Adriana Lisboa e Thalita Re bouças e vendeu, para o mercado espanhol e francês, a obra de Adriana Lunardi. Como sabemos, a essas feiras, os expositores acorrem mais para comprar direitos de autores internacionais do que para vender os daqueles que publicam. Vão à procura de títulos que se convertam em sucessos de -vendas no Brasil, e esse ainda é o seu principal objectivo e negócio: com prar e não vender. Para mudar em parte essa situação e incrementar a venda de títulos para O exterior, o direCtor executivo da Nova Fronteira, Mauro Palermo que. também ia comprar, e em menor medida vender -, reclama uma maior participação do governo, sobretudo através de "subsídios para a tradução e a promoção de seus livros e escritores no exterior. O Brasil não faz isso : o que dificulta a proliferação dos autores brasileiros fora do Brasii' . (Carneiro, 2008). O escritor Milton Hatoum, com livros traduzidos nos Estados Uni dos e na Europa, numa entrevista recente .no portal do Itaú Cultural recla ma �am?ém uma intervenção parecida. Apesar de extenso, parece-nos eluCltadlvo um trecho da entrevista: - O português é um idioma que atrapalha a inserção internacional de um autor? - Sim. Porque é uma língua pouco conhecida, falada e estudada. Há poucos departamentos de português nas universidades america nas, por exemplo. algumas capitais da Europa e nos Estados Unidos, para divulgar a . literatúra clássica brasileira e o trabalho de autores contemporâ neos. Isso já começa a ser feito em algumas cidades"Algumas em baixa4as já estão fazendo isso12. (www.itaucultura1.org.br. "Por uma política da língua", 12/12/2008): EsseS ínvestimentos em tradução das obras brasileiras para outras línguas é um assunto que está em cima da mesa neste tipo de encontros e 'eventos . de modo constante, como aconteceu também no encontro recente Conexões-Mapeamento da literatura brasileira no Exterior, organizado em Dezembro de 2008 pelo Itaú Cultural. A presença de críticos literários, de éditores, de tradutores e de professores de literatura brasileira no exterior mostrou que é preciso uma política continuada para manter a presença da literatura brasileira e que o crescimento de núcleos de estudo do português, em países como a Argentina, está favorecendo uma ampliação do mercado editorial brasileiro neste país. De facto, nas palavras de Bernardo Gurbanov, vice-presidente da Câmara Brasileira do Livro em 2006, a pro pósito da participação da CBL na Feria dei Libro de Buenos Aires o mercado de obras brasileiras traduzidas para o espanhol está crescendo, o que favorece a oportunidade de negócios aos profis sionais. O apoio da Embaixada, o aumento de bolsas para autores de nosso país, além do crescimento de aulas de literatura brasileira nos cursos de Letras, são alguns dos motivos para este panorama (www.cbl.org.br/content.php?recid=371 6&type=N. significativo. 08/112009) É a visão oficial de um dos agentes responsáveis por essas políticas culturais. - E você acredita que esse cenário pode mudar em pouco tempo? - Só se houver um investimento em uma política da língua. Uma política cultural que contemple a literatura brasileira. A Espanha tem o Instituto Cervantes, que conta com uma presença muito forte no mundo todo; Portugal tem o Instituto Camões... E eu já falei certa vez que o Brasil merece um Instituto Machado de Assis em O mercado argentino, através de editoras de Buenos Aires foi histo n: brasileira ocamente - e continua sendo - uma boa entrada da literatu em espanhol. Cuba, através do Prémio para a literatura brasileira 'Casa de las Américas', foi também um espaço legitimador no exterior para a pro dução literária brasileira. Mas é o mercado mexicano e a Feria Interna cional 11 . ' Em palavras de CassIano Elek Machado director editorial da Cosac Naify \\pr� t� nd�mo� comprar algo, e queremos t ntar vender, mas a nossa pr�sença maIS mstltuclonal. Elaboramos um folheto em inglês com 40 páginas no qual apresentatJ?-0s al�as dezenas de títulos", diz Machado. \IA intenção é de mon�trar mternaclOnalmente a �orça e variedàde do nosso catálogo e a quahdade gráfica dos nossos hvros" (htttp://www l.folha.uol.com.br/folha/ publifolhafult1 003 7u321364.shtml) � 121· é dei Libro de Guadalajara, criada em 1987, um dos melhores espa - se não o melhor - para a divulgação de determinados produtos edi ,t,)tJlUS brasíleir os. "O México, (... ), é um tradicional mercado comprador didáticos brasileiros", afirma a presidente da CBL, Rosely Bos- \?'�tl;,�:,,:�: :,fO' i escritor residente em Stanford, Yale, Berkeley, na França e na 122 Lugares da Lusofonia Mercados para a literatura brasileira �hini. A Feira abre portas para o mercado mexic.ano, m�s também, e CO� Feitas ou Salões do Livro. São os casos até agora mais conhecidos. e as di �âmicas mais habituais, juntamente com a presença esporádica em . eventos, como os indicados e, mais recentemente, em convénios específi� CDS p aia·o �ector13. Assim, temos, até agora, a sensação de que as autori dades governamentais responsáveis ainda não se aperceberam da impor tãncia de uma acção cultural continuada no exterior e da rentabilidade mo já se vem indicando nas diferentes participações do Brasil nesta feira, "é-'um centro de referência e de aquisições para bibliotecas norte-america nas e canádianas, mnitas delas situadas em áreas de forte presença hispâ nica e lusófona", afirma R. Boschini (http://www.revistafator.com.br/ ver noticia.php?not=60625). Em 2008 também se incentivou a participa çã; de mais editoras brasileiras através do convénio da Apex com a CBL (980 títulos, 1750 exemplares). Em 2001, o director geral da Global Editora, Luiz Alves Junior des tacava já a participação do SNEL e da CBL em feiras de livros como uma das actividades importantes do ano e afirmava: "O Brasil já sabe vender aço e frango e está aprendendo a vender uma imagem editorial, o que é muito bom" (www.snel.org.br). A pergunta poderia ser se hoje existe já uma marca que se detecte a nível internacional como 'made in Brazil' para a literatura brasileira - do mesmo modo que existe para outros produtos culturais como a música ou, mais recentemente, o cinema - ou, como parecem indicar alguns editores, funciona mais o nome concreto de um escritor ou escritora e não tanto a origem colectiva. Na opinião, por exemplo, da editora francesa, Anne ,"'<h cc ••' ,!� ,c';;" acções recentes como as da Apex mostram, e que as declarações do ( interino) de Cultura na inauguração, da última feira de t, Alfredo Manevy, parecem � no mínimo teoricamente - apontar i������ <; ,� < ., caminhos e para o avanço de propostas de 'venda do Brasil no ,Ytiér;,nr'. Segundo Clelia Araújo "O mercado editorial precisa aproveitar t,,;:.= espaços de conexão de venda, de licenciamento de direitos autorais, que isso possa gerar divisas e receit8:s para o Brasil" ("Feira do Livro Frankfurt", 17110/2008). Ela insiste nesse lado económico derivado de "')':i!i:ç,õe,. de planificação cultural através do mercado editorial, ao indicar: O Brasil na Feira é uma importante ferramenta para a soberania do país, para a língua portuguesa, para a valorização dos autores brasi leiros e também para ampliar o acesso à leitura, no Brasil e no - Marie Métailié (responsável pelas Éditions Métailié): 'o livro pratica mundo. (C. Araujo, 17/10/2008). 2008), referindo-se às preferências do mercado francês em relação a Leituras políticas das políticas do mercado editorial... mente existe só se o escritor pode falar, pode se mostrar' (Itaú Cultural, textos de autores brasileiros jovens, autores que 'se possam mostrar em 123 entrevistas para a mídia ou em encontros' . Com um mercado editorial brasileiro dinâmico e, cada vez mais assumido como uma, parte importante da indústria cultural brasileira, che gava no mês de Novembro de 2008 a Madrid a iniciativa Projeto Talento Brasil para promover três dos sectores mais pujantes da indústria cultural 'ÀÍlJORllvl, Galano (org.) (2008). Retratos da leitura no Brasil. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo. do Brasil: o audiovisual (cinema independente, cinema publicitário e for matos televisivos), o musical e O editorial. (http://br.noticias.yahoo.coml sI11112008/40/entretenimento-projeto-talento-brasil, 2/12/2008). A mostra, organizada' pela Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil), tinha como objectivo, na opi nião do coordenador da Unidade de Imagem e Acesso a Mercados da Apex-Brasil, Juarez Leal, "posicionar a 'marca Brasil' em nível mundial" (ibidem). Em nossa opinião, esta é das poucas vezes em que o Brasil, se p�si� ciona deste modo no exterior, em relação ao mercado editorial. Em geral, conhecemos iniciativas que nos levam a encontrar escritores participando em programas como visitantes através de Embaixadas, Fundações, Uni versidades, Associações de escritores, etc. e, sobretudo, em eventos como ex:emplo é a recente participação de praticamente vinte editoras brasileiras dos eventos internacionais mais importantes dedicado s ao sector de livros ,;Inf:mtis e juveIÚs: a Feira do Livro para Crianças de Bolonha (Itália). Na com o apoio do convénio Brazilian Publishers, assinado entre e a CBL, a participação brasileira na Feira de Bolonha . . . . ganhou VISIbIlIdade: um stand com o dobro de superfíc ie do da edição anterior, de um projeto de comunicação visual mais moderno e atraente. Ao todo, \8."<1i:1 0fllS brasileiras irão apresentar um catãlogo com mais de titulas, exemplares" (www.revistafator.com.br/ver_noticia. 2009, �:��:�;o 6i2).132 0 1000 124 Lugares da Lusofonia ARAÚ�O, Clelia (17/10/2008). "Feira do Livro de Frankfurt" . . http://www.cultura.gov.br/site/2008/10117/feira-do-livro-de-frankfurt '2/ (último acesso, 23/03/2009). BRASIL, Assis (1975). "América Latina: a literatura do exílio", Escrita 1, pp. 12-13. CARNEIRO, Júlia (20110/2008). "Feira do Livro de Frankfurt termina com recorde de público". http://www.dw-world.de/dw/article/ 0,,3727600,00.html (último acesso, 14/03/2009). Folha de S. Paulo (28/9/77). "Depois da briga, novo rumo". Folha de S. Paulo (1110/77). "Fim da maratona dos escritores. Otimismo". I;IATOUM, Milton {12/1272008). "Por' uma politica www.itaucultural.org.br. ltimo acesso: 14/03/2009). (Ú da lingua", LINDOSO, Felipe (2004). O Brasil pode ser um país de leitores? Política para a cultura/Política para o livro. 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