Revista Frutas e derivados - Edição 04

Transcrição

Revista Frutas e derivados - Edição 04
CAPA
SUMÁRIO
dezembro 2006
PRODUÇÃO: PerformanceCG
FOTO: Banco de Imagens do
Ibraf
14
07
31
ENTREVISTA
07 COOPERATIVISMO DE RESULTADOS
38
Presidente da Cocamar, Luiz Lourenço, fala dos
resultados de uma das mais bem-sucedidas
cooperativas brasileiras.
FRUTAS FRESCAS
14 OPORTUNIDADE DE NEGÓCIO
Setor de refeições coletivas pode gerar bons
negócios para a fruticultura.
SEÇÕES
04 editorial
06 espaço do leitor
10 campo de notícias
Panorama dos principais acontecimentos do trimestre.
MERCADO INTERNACIONAL
19 ALTOS E BAIXOS
Fruticultura tem crescimento menor no ano que
finda e cenário positivo para 2007, mesmo com
barreiras a vencer.
12 no pomar
Lançamentos, dicas, normas e leis do setor.
34 tecnologia
Falta de sintonia entre produção e pesquisa cria gargalos na
fruticultura.
.
41 agenda
Acontecimentos do trimestre.
AGROINDÚSTRIA
31 MARACUJÁ MARAVILHA
A agroindústria ressente-se da baixa oferta de
polpa do maracujá, hoje, de difícil cultivo e
altos custos.
MEIO AMBIENTE
38 A BASE DO POMAR
Conservação do solo é prática ambiental que
favorece a fruticultura.
42 opinião
O toxilogista Flávio Zambrone analisa o cenário dos
resíduos de praguicidas em frutas.
43 especial
Brasil mostra suas frutas e derivados para potenciais mercados
da Polônia e Leste Europeu.
45 artigo técnico
Atemóia apresenta maior crescimento entre as anonáceas e
exige tecnologia para produção.
.
48 campo & cultura
49 produtos e serviços
50 fruta na mesa
Tesouro em cachos.
editorial
DIRETOR PRESIDENTE
Moacyr Saraiva Fernandes
BOM, APESAR DE TUDO
A fruticultura, como toda a agricultura brasileira, enfrentou momentos
difíceis durante o ano que chega ao fim. A conjuntura econômica com
câmbio baixo, as exigências crescentes de compradores internacionais em
relação à rastreabilidade da produção e o clima adverso, entre outros
fatores, contribuíram para a situação. Mesmo assim, o cenário final foi
positivo, com pequeno aumento nas exportações e o mercado interno
absorvendo parte da produção nacional de frutas. Por outro lado, os sucos
de frutas, principalmente de laranja, continuam em destaque na pauta da
balança comercial do agronegócio.
A esperança sempre renasce quando um novo ano se aproxima e o
fruticultor deve aproveitar o momento para pensar em novos rumos, se
organizando em associações e cooperativas. Pequenos e médios
produtores, juntos,ganham força e poder de negociação e podem
aproveitar oportunidades de negócios no setor de refeições coletivas, por
exemplo, onde os sucos também podem crescer. Consumidores pedem
alimentação mais saudável, fornecedores querem frutas com mais sabor
e frescor, transformando este setor em outro espaço para comercialização.
O ano será de muitos desafios para a cultura do maracujá, cuja agroindústria
sofre com pouca oferta da fruta, tendo que importar para suprir a demanda.
Já, a pesquisa precisa aproximar-se mais do homem do campo, numa
integração que favorecerá toda a cadeia frutícola. Esta integração é notória
nas técnicas desenvolvidas para conservação do solo, que mostram
resultados, inclusive no pós-colheita. Nesse caso, é o fruticultor quem
deve estar mais atento aos cuidados ambientais, que se tornam cada dia
mais urgentes, para que o impacto econômico seja menos severo no
futuro e tenhamos qualidade de vida.
Quanto a nós, da equipe da Frutas e Derivados, o desafio para o próximo
ano será estreitar o contato com você, leitor, e continuar levando
informação diferenciada.
Até lá e boas festas!
VICE PRESIDENTE
Aristeu Chaves Filho
TESOUREIRO
José Benedito de Barros
DIRETORES
Carlos Prado (Superintendente Nordeste)
Roland Brandes (Superintendente Sul)
Etélio de Carvalho Prado, Jean Paul Gayet, Paulo Policarpo Mello
Gonçalves, Waldyr S. Promicia.
CONSELHEIROS
Luiz Borges Jr., André Luiz Grabois Gadelha, Américo Tavares, Carla Castro
Salomão, Dirceu Colares, Fernando Brendaglia de Almeida, Francisco
Cipriano de Paula Segundo, James C. Bryon, Sylvio Luiz Honório,
Washington Dias.
COMITÊ TÉCNICO-CIENTÍFICO
Antônio Ambrósio Amaro (Presidente)
Admilson B. Chitarra, Alberto Carlos de Queiroz Pinto, Aldo Malavasi,
Anita Gutierrez, Carlos Ruggiero, Fernando Mendes Pereira, Geraldo
Ferreguetti, Heloísa Helena Barreto de Toledo, José Carlos Fachinello, José
Fernando Durigan, José Luiz Petri, José Rozalvo Andrigueto, Josivan
Barbosa de Menezes, Juliano Aires, Lincoln C. Neves Filho, Luiz Carlos
Donadio, Osvaldo Kiyoshi Yamanishi, Rose Mary Pio, Tales Wanderley Vital.
COMITÊ DE MARKETING
Jean Paul Gayet (Presidente)
Paulo Policarpo Mendes Gonçalves, Pedro Carvalho Burnier, Waldyr S.
Promicia, Elis Simone Ferreira Fernandes, Fabio Nino, James Howard Beeny,
Angela Maria Maciel da Rocha, Sergio Abreu, Rogério de Marchi.
CONSELHO EDITORIAL
Moacyr Saraiva Fernandes
Maurício de Sá Ferraz
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EDIÇÃO
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desde que citados os nomes dos autores, a fonte e a devida data de
publicação.
Frutas e Derivados é uma publicação trimestral do IBRAF - Instituto
Brasileiro de Frutas, distribuída a profissionais ligados ao setor.
ESPAÇO DO LEITOR
“Parabenizo o Ibraf pela brilhante iniciativa, que muito contribuirá para sanar minhas dúvidas e, assim sendo, ajudar minha comunidade. Sou pequeno
produtor rural e acredito que este segmento do agronegócio pode ser o mais
adequado para as atuais conjunturas vividas pela agricultura brasileira.
Waldemar Domingos de Santana Júnior
Itumbiara – GO
“Como professor, pesquisador, autor e
editor de livros de fruticultura, fiquei
entusiasmado ao receber a Revista Frutas e Derivados, um novo alento em publicações especializadas na nossa área
de fruticultura. O setor estava precisando desta boa novidade para informar,
orientar, divulgar e contatar com os especialistas desta pujante área da agricultura brasileira, objeto de uma vida
profissional em dedicação exclusiva.”
Prof. Ivo Manica
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
REPERCUSSÃO
Produtores Negociam Venda de R$ 4 milhões em Frutas para
Hipermercado de Manaus
O resultado da divulgação nacional do setor de fruticultura de Roraima
para outros estados culminou na abertura de novos mercados para o produtor roraimense. Um hipermercado de Manaus (AM) negocia um contrato
anual de R$ 4 milhões na compra de frutas por cerca de quatro anos.
Conforme o coordenador da Câmara Setorial de Fruticultura de Roraima,
Leandro Neves, após a divulgação na maior revista de circulação nacional
na área de fruticultura, onde Roraima é apontado como grande potencial
de produção de frutas, resultou em diversos contatos de empresários do
ramo, interessados em comprar nossas frutas.
Fonte: Jornal Folha de Boa Vista
ESCREVA PARA
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“Quero parabenizá-los pelo conteúdo da
revista. Todas as matérias são excelentes, além de diversificadas.”
Patrícia Regina de Carvalho
Engenheira Agrônoma, ESALQ - USP
“A notícia sobre o AÇAI ODONTOLÓGICO,
publicada na edição de setembro/06, ficou muito boa. A revista é excelente e
o corpo editorial está de parabéns pela
qualidade.”
Pesquisadora Danielle Emmi
Universidade Federal do Pará
“Fiquei feliz ao ler sobre o projeto do
Vale do Rio Branco, em Boa Vista, RR,
(Sonho Real – setembro/06) onde trabalhei com o pioneiro Airton Soligo e
engenheiro agrônomo Manoel Elizeu,
grande mestre e consultor de manga. A
revista tem ótimas reportagens como a
que trata de agregação de valor às frutas. Agora conto com mais estas ricas
informações para aprimorar cada vez
mais os meus conhecimentos.”
Chrislaine Costa Sousa Cruz
Engenheira Agrônoma
LUIZ LOURENÇO
COCAMAR
ENTREVISTA
COOPERATIVISMO
DE RESULTADOS
Marlene Simarelli
Num país com pouca tradição de cooperativismo, a
paranaense Cocamar é um exemplo de sucesso.
Com mais de 40 anos, a cooperativa atua do campo ao produto processado. Diversificação,
profissionalismo e competitividade são marcas da
atuação da cooperativa, que reúne 6.500 pequenos e médios produtores e 2 mil funcionários. Em
relação ao futuro dos cooperados, desenvolve projetos para toda a família, antecipando a questão
sucessória na propriedade e promovendo a fixação
do homem no campo, pela viabilização do pequeno negócio. “É preciso fazer o cooperativismo em
que todos participem efetivamente, sem
paternalismo”, afirma o presidente da Cocamar, Luiz
Lourenço, em entrevista a Frutas e Derivados, quando relata a trajetória da cooperativa.
Luiz Lourenço - A Cocamar foi fundada em 1963,
época em que o cooperativismo surgiu como forma de organizar a produção cafeeira no Paraná.
Com o início da decadência do café, diversificou
seus negócios, entrando no algodão. Em seguida,
entrou para os grãos (trigo, milho e soja), sempre
oferecendo respaldo aos agricultores. Foi a primeira a construir armazéns graneleiros para acondicionamento de grãos no Estado, viabilizando a chegada da soja. Também foi a pioneira na industrialização de produtos agrícolas. Com isso, construiu um
grande parque industrial. Hoje, todos os produtos que
recebe são industrializados. Os produtos para consumo representam 25% do faturamento global da cooperativa, que é de R$ 900 milhões e coloca as marcas
da cooperativa em grande parte do Brasil.
Frutas e Derivados - Como começou a trajetória
da Cocamar?
Frutas e Derivados - Quais foram os principais
obstáculos enfrentados?
7
ENTREVISTA
LUIZ LOURENÇO
Luiz Lourenço - Os obstáculos sempre foram e
serão grandes. Primeiro, porque os agricultores não
tinham cultura voltada ao cooperativismo, o que
demorou anos para se consolidar. No passado,
muitos se associavam apenas para receber vantagens. Hoje, eles praticam o cooperativismo de forma consciente, entendendo que a cooperativa não
é uma empresa, mas uma organização econômica
que pertence a eles. No final dos anos 90, a cooperativa teve que passar por grandes processos de
reestruturação administrativa e financeira. Sem isso,
não sobreviveria. Nos últimos anos, a cooperativa
esteve sujeita às grandes variações climáticas ocorridas na região, que afetaram o recebimento das
safras. Por isso, investimentos na expansão industrial, por exemplo, tiveram que ser adiados.
“Há casos de exploração do produtor
com o uso indevido do nome
cooperativismo.”
Frutas e Derivados - Qual sua filosofia de atuação?
Luiz Lourenço - A Cocamar é formada por 75%
de pequenos e mínis produtores rurais. O foco é
esse: os pequenos, que, agrupados, se fortalecem
para negociações. A atuação está voltada, principalmente, ao desenvolvimento econômico e social das
regiões onde atua. Da mesma forma, o seu foco é o
mercado interno e, por isso, opera os 12 meses do
ano. Há exportação, mas caminha à margem da operação principal, que é o mercado interno.
Frutas e Derivados - Em que áreas atua? Quais
são os principais parceiros?
Luiz Lourenço - Atua no recebimento e industrialização de soja, milho, trigo, canola, girassol, algodão, café e laranja, transformando-os em óleos
vegetais, café torrado e moído, álcool nas formas
gel e doméstico, maioneses, bebidas à base de soja,
fios de algodão, seda e mistos; sucos e néctares de
frutas prontos para beber, creme e condensado de
soja e farinha de trigo. Recentemente, deixou de
atuar com cana-de-açúcar e casulos de seda. No
caso da seda, a questão foi mercadológica. A seda
brasileira é de qualidade, mas concorre com a China e não há como competir com eles. Os parceiros da Cocamar são seus produtores associados.
Na área industrial, tem parceria com a Agrenco
8
Group Brazil, grupo nacional que opera no mercado internacional, prestando serviços de esmagamento de soja. Em 2006, das 780 mil toneladas de
soja esmagadas, 230 mil são para a Agrenco.
Frutas e Derivados - Qual o papel dela junto aos
cooperados?
Luiz Lourenço - A cooperativa participa em todas as etapas da produção: orientação e acompanhamento técnico das lavouras, fornecimento de sementes e insumos em geral, garantia de recebimento
e comercialização das safras, além da industrialização
dos produtos. A cooperativa promove, também, o
envolvimento da família e dos agregados no
cooperativismo: esposas, filhos e empregados, para
potencializar a participação e ter maior embasamento
para participar de decisões. Oferece ainda novas opções para fortalecer a renda das propriedades.
Frutas e Derivados - Também presente na fruticultura, a cooperativa começa a colheita em novas áreas
de laranja. Qual estimativa de produção e faturamento?
Luiz Lourenço - A Cocamar foi pioneira no
Paraná no plantio de pomares comerciais de laranja, nos anos 80. À época existia uma proibição federal para o Estado, em função do cancro cítrico.
Com o apoio da pesquisa do Instituto Agronômico
do Paraná – Iapar – e das autoridades estaduais, a
citricultura viabilizou-se como uma interessante proposta econômica para a região Noroeste
paranaense. Os pomares – com a predominância
das variedades pêra e folha-murcha – se expandem com qualidade e produtividade, graças à adoção de práticas modernas. A cooperativa estimulou
o plantio e investiu na industrialização; faz, desde
1992, suco concentrado e congelado, na fábrica em
Paranavaí, PR, com capacidade instalada para 5 milhões de caixas/ano. Em 2006, o recebimento deverá
ser de 3,1 milhões de caixas, com produção de 12
mil toneladas de suco concentrado e congelado. Do
montante, 100 mil caixas seguem para o comércio in
natura. Cerca de 80% do suco é destinado ao mercado externo – Europa, principalmente. Até 2010
serão cerca de 9,5 mil hectares plantados e em produção, cultivados por cooperados, o que dobrará a
capacidade de esmagamento da fábrica.
Frutas e Derivados - Por que a Cocamar optou
por pomares de laranja?
Luiz Lourenço - Por ser uma cultura perene e
interessante sob o ponto de vista financeiro. A idéia
era viabilizar a citricultura na região de solos arenosos, do Noroeste paranaense.
ENTREVISTA
Frutas e Derivados - Como é a remuneração dos
produtores cooperados de laranja?
Luiz Lourenço - Os produtores recebem pelo
preço médio do ano-safra. Em cada parte da produção entregue, eles recebem um adiantamento,
com acerto do preço feito no final da safra.
Frutas e Derivados - Há planos para pomares
de outras frutas? Quais?
Luiz Lourenço - É objetivo potencializar a atividade industrial, hoje ocupada apenas durante parte do ano, com laranja. Estuda-se a implantação de
projetos de uva, maracujá e abacaxi. Recentemente, houve a implantação do Projeto Tangerina, na região de Cianorte e Altônia, PR. A tangerina foi escolhida pela maior resistência às pragas e pela exigência
de poucos tratos culturais. Apenas produtores com
até um hectare da fruta integram o projeto. A cooperativa garante a compra das tangerinas que o produtor não conseguir comercializar in natura (frutas com
menor qualidade ou quando houver excedente no
mercado, enviando-as para processamento).
Frutas e Derivados - O que representa a fruticultura para a cooperativa?
Luiz Lourenço - Embora importante, a atividade
laranja representa apenas 7% a 8% do faturamento.
Com a entrada dos novos pomares de laranja, o
esmagamento deve dobrar.
Frutas e Derivados - A Cocamar possui programa para fixação do homem no campo e seus filhos?
Luiz Lourenço - A cooperativa tem propostas
voltadas a diversificar os negócios da pequena propriedade e, assim, manter os produtores no campo. A laranja é uma delas. Há ainda o Projeto Tangerina e o cultivo de café em sistema adensado.
Essas culturas, integradas com outras, são fundamentais para a sobrevivência deles. Há programas
para o envolvimento de jovens e esposas de produtores. Existe uma preocupação muito grande com
a questão sucessória na atividade rural, pois nem
todos os proprietários estão preparados para transferir o comando das terras aos filhos. É importante
também que mulheres e filhos participem mais, pois,
em caso de perda do marido, a atividade sobrevive.
Frutas e Derivados - Qual a maior dificuldade e a
maior satisfação para implementar os programas?
Luiz Lourenço - A maior dificuldade ainda é a resistência dos homens em relação às mulheres e aos
filhos. Muitos deles hesitam em dividir as decisões ou
até mesmo em aceitar que participem mais. A maior
LUIZ LOURENÇO
satisfação é ver que, ao contrário do que muitos homens imaginavam, as mulheres e os filhos estão dando conta do recado e se transformando em empresários de sucesso, graças a uma nova mentalidade.
“Quando o pequeno produtor
se conscientizar da importância
e da força para negociação, o
cooperativismo vai se fortalecer.”
Frutas e Derivados - Qual o projeto de futuro da
Cocamar? E em relação à fruticultura?
Luiz Lourenço - A Cocamar pretende se tornar
cada vez mais forte no seu objetivo foco: as culturas de grãos. Mas não pretende se afastar da laranja, devido a sua importância regional. Em 2003,
inaugurou uma fábrica de sucos e néctares de frutas prontos para beber, em Maringá, PR. Produz
sucos e néctares, bem como bebidas à base de soja,
com polpas de pêssego, goiaba, manga, uva, maracujá – trazidas de várias regiões do País e do
Mercosul. Apenas a laranja é produção própria. O
objetivo é que a região produza, aos poucos, essas
frutas e invista na produção da polpa. Potencializará,
também, a fábrica de Paranavaí, que deverá incorporar outras frutas – possivelmente uva, tangerina,
abacaxi e maracujá, que poderão ser incentivadas
entre os cooperados na região.
Frutas e Derivados - As políticas públicas são
favoráveis ao cooperativismo? Por quê?
Luiz Lourenço - As políticas públicas avançaram
nos dois últimos governos, sendo que o governo atual foi importante para o cooperativismo de crédito.
Frutas e Derivados - Por que o cooperativismo
não é forte no Brasil?
Luiz Lourenço - De maneira geral, é um problema cultural. Há casos de exploração do produtor
com o uso indevido do nome cooperativismo. Temos tentado ajudar na recuperação das cooperativas no Nordeste, mas não é fácil. O Rio Grande do
Sul já foi forte, mas perdeu força, pois misturou
política e cooperativismo. No Paraná, o pequeno
produtor se interessa pelo cooperativismo e se sustenta por isso. Quando o pequeno produtor se
conscientizar da importância e da força para negociação, o cooperativismo vai se fortalecer.
9
CAMPO DE NOTÍCIAS
Luciana Pacheco
Programa Muda Hábito
Alimentar de Crianças e
Adolescentes
O programa paulista de educação
alimentar “Prazer de estar bem”,
levado a 285 escolas das redes de
ensino Sesi/Senai, colheu os primeiros frutos, após um ano de
implantação. Dos 230 mil alunos,
24% passaram a consumir mais
que duas frutas por dia – no início do trabalho, apenas 13% tinham esse hábito. Já, o índice de
rejeição ao consumo caiu de 33%
para 14%. A Associação Brasileira das Indústrias de Alimentação
– Abia, o Comitê da Cadeia Produtiva da Alimentação (CAL), da
Fiesp, e o Sesi/Senai-SP, que promoveram o programa, comemoram o aumento de consumo de
frutas entre os alunos da rede
Sesi-SP e Senai-SP, público-alvo
do programa. Edmundo Klotz,
presidente da Abia e coordenador do CAL afirma que “é importante mostrar que o alimento não
faz mal, mas, sim, o excesso dele,
aliado à falta de atividades físicas”.
O programa constatou ainda que
97% dos alunos realizam refeições balanceadas, compostas por
carboidratos, lipídios, proteínas e
sais minerais; um aumento de
10% desde o início dos
trabalhos. Outro ponto positivo
foi o aumento do consumo de
leite. Dos estudantes, 47% passaram a consumir mais que dois
copos da bebida por dia. No início,
apenas 26% tinham esse hábito.
“Prazer de estar bem” foi idealizado para promover a adoção de
práticas regulares de alimentação
saudável e atividade física ao am-
10
biente escolar. Os estudantes participaram de palestras, debates,
concursos, oficinas, além de receberem orientações sobre os
alimentos, suas funções e como
montar cardápios equilibrados.
Os pais também foram envolvidos nas atividades, a fim de
estruturar a alimentação de toda
a família. De acordo com Klotz,
“a intenção é que o programa
‘Prazer de Estar Bem’ se instale
em todo o Brasil”.
Cai Consumo de Frutas
na União Européia
Pesquisa divulgada pela Freshfel
Europe, analisando as tendências
do consumo de frutas frescas e
vegetais, concluiu que o consumo
de frutas frescas e vegetais diminuiu em 2005, em 25 países na
Comunidade Européia. O consumo de frutas caiu 2,2% comparado com 2004 e 0,4% comparado com a média dos últimos
oito anos. Já o consumo de vegetais teve queda de 4,4% ano
após ano e está 3% abaixo da
média dos últimos oito anos. A
pesquisa constatou também que
o consumo de frutas e vegetais
permanece abaixo do mínimo de
400g recomendado pela FAO em
muitos dos estados-membros da
União Européia.
Ital Desenvolve Bala de
Goma com Grande
Concentração de Fruta
Um produto com aspecto e sa-
bor de bala de goma, mas com
características nutricionais de fruta, foi desenvolvido pelo ITAL –
Instituto de Tecnologia de Alimentos –, em pesquisa realizada no Centro de Desenvolvimento de Hortifrutículas –
Fruthotec. O produto, classificado como fruta estruturada, foi
testado com várias frutas, porém
o mamão foi a que se adaptou
melhor ao processo.
O resultado é um alimento semelhante à bala de goma, mas
constituído de 50% de polpa de
fruta, com duração de cerca de
cinco meses em condições ambientes. A fruta estruturada pode
ocupar lugar de destaque na indústria de alimentos por aliar
sabor e aspecto atraente à grande porcentagem de polpa de fruta. “Além disso, é uma alternativa para aproveitar parte da
safra perdida, através da transformação da fruta em polpa estabilizada”, afirma Regina
Kitagawa Grizoto, coordenadora da pesquisa.
A pesquisadora já foi procurada
por empresas interessadas
em fabricar alimento semelhante, pois afirma que o processo
pode ser realizado com outras
frutas. Até o momento o produto ainda não está no mercado, mas deve ser comercializado
logo que uma empresa implante o processo. Nestes casos, o
Fruthotec presta consultoria para
a implantação da tecnologia de
produção da fruta estruturada.
Mais informações no ITAL, pelo
telefone (19) 3743-1757.
BB Lança Programa de
Financiamento para
Fruticultura
Incrementar e melhorar a cadeia
produtiva da fruticultura por
meio de financiamentos aos produtores rurais, cooperativas,
agentes intermediários, supermercados, agroindústrias, empresas exportadoras e processadoras de frutas. Esse é o objetivo do Programa BB Fruticultura, que o Banco do Brasil lançou
em setembro, durante a Frutal
2006, em Fortaleza (CE).A expectativa é desembolsar R$ 3,8
bilhões nos próximos cinco anos
em operações de investimento,
custeio, comercialização e comércio exterior.
No evento, Banco do Brasil e
Instituto Brasileiro de Frutas –
Ibraf -, formalizaram convênio
técnico operacional estabelecendo as condições para a execução do programa BB Fruticultura, com destaque para elevação na utilização das linhas de
crédito existentes para o segmento. Por meio do Programa
BB Fruticultura, o Banco do Brasil coloca à disposição um
portfolio completo de produtos
e serviços para atender às necessidades de todos os agentes da
cadeia agroindustrial. Maiores informações sobre o programa
poderão ser obtidas no site http:/
/www.agronegocios-e.com.br .
Agregação de Valor
Garante Prêmio à Renar
A Renar Maçãs S.A., empresa
produtora e exportadora de
maçãs de Fraiburgo-SC, recebeu
o prêmio FIA na categoria “Desenvolvimento de Produtos Internacionais” pela criação de uma
embalagem especial para o programa de merenda escolar da
Inglaterra. O programa contempla o uso de maçãs de tamanho
menor do que as normalmente
comercializadas na Europa, para
facilitar o consumo da criança.
A embalagem é uma sacola plástica, que mantém a temperatura
e a visibilidade das frutas. A criação aumentou substancialmente
as vendas da Renar para a Europa e, principalmente, para a Inglaterra. De 2004 a 2005, o volume de exportação para a merenda escolar da Inglaterra cresceu 244%, com perspectiva de
aumento para os próximos anos.
Maracujá High-Tech
Sabe o que acontece quando
uma fruta exótica e saborosa
como o maracujá cai nas mãos
de uma dedicada pesquisadora,
especializada na aplicação de alta
tecnologia na criação de novos
produtos? A resposta é, claro, a
criação de uma bebida totalmente livre de conservantes químicos e, melhor ainda, capaz de
durar seis meses nas prateleiras,
sem estragar, nem oferecer riscos à saúde do consumidor. De
quebra, o suco criado pela bioquímica Renata De Marchi se
enquadra na categoria dos alimentos light. “Em princípio, queria desenvolver uma fórmula
com a sacarose, adoçante usado
tradicionalmente neste tipo de
alimento. Mas, com o avanço da
pesquisa, surgiu a oportunidade
de testar três outros tipos de
adoçantes, entre eles a sucralose, que se mostrou o mais eficiente deles”, explica Renata, que
transformou o estudo com a fruta em sua tese de doutorado no
Departamento de Alimentos e
Nutrição da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Além de gostoso, o suco desenvolvido pela nutricionista oferece boa qualidade microbiológica
e físico-química, ou seja, não se
deteriora rapidamente, apesar
de não conter espessantes,
conservantes ou similares. Parte
da pesquisa foi desenvolvida na
Universidade de Oregon, nos Estados Unidos. Durante um ano, a
pesquisadora realizou estudos relacionados a consumo, marketing
e avaliações sensoriais, ou seja,
quando o sabor é posto à prova
por quem consome. Ela também
comparou a aceitação de cada formulação entre consumidores brasileiros e americanos. Entre as descobertas está a boa aceitação dos
sucos adoçados com aspartame
somente quando consumidos imediatamente após o preparo, pois
apresentam alterações significativas
ao paladar durante o período de
estocagem. O trabalho, orientado
pela professora Helena Maria
André Bolini Cardello, está disponível na biblioteca da Unicamp.
Colaboração
Marta Correia Meirelles
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NO POMAR
Marta Correia Meirelles
EMBRAPA/HORTALIÇAS
COCO VERDE
VIRA PÓ E FIBRA
A casca do coco verde poderá ser processada. A Embrapa
Agroindústria Tropical, em parceria com outras instituições,
criou a primeira unidade de beneficiamento da casca de
coco verde, em Fortaleza, CE. A inovação tecnológica
agrega valor à cadeia produtiva e reduz impactos ambientais
negativos provocados pela disposição inadequada do resíduo. “O agronegócio do coco verde, com crescimento estimado em 20% ao ano, possui como um de seus princiSubstrato de coco verde pode ser usado no cultivo de tomate.
pais problemas ambientais a geração de resíduos sólidos.
Estima-se que cerca de dois milhões de toneladas anuais
de cascas são geradas em decorrência do consumo de água de coco verde”, ressalta a pesquisadora Morsyleide de
Freitas Rosa, líder do projeto. A tecnologia consiste em uma seqüência de operações: trituração, que fragmenta a
parte fibrosa do coco verde; prensagem, que extrai o excesso de líquido do produto triturado; e classificação, que
separa as frações em pó e em fibras. Os equipamentos foram desenvolvidos para escala industrial, com processamento
de cerca de 4,5 toneladas de casca por hora. A inovação oferece produtos de fácil inserção no mercado, como o pó
de coco e as fibras. As boas características agronômicas do pó, como substrato agrícola, já foram atestadas no cultivo
de mudas de alface, caju, tomate, pimentão, berinjela, melão, abacaxi ornamental e flores. As fibras são indicadas
para fabricação de vasos, tapetes, mantas, artesanatos e acessórios automotivos. Mais informações com Adriano
Albuquerque Mattos, do Núcleo de Apoio à Transferência de Tecnologia da Embrapa Agroindústria Tropical pelo
telefone (85) 3299-1913 ou e-mail [email protected]
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NOVA OPÇÃO PARA IRRIGAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA
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Agricultores familiares e médios produtores contam com nova alternativa para irrigação – o irrigâmetro. Pesquisadores da
Universidade Federal de Viçosa – UFV –, MG, liderados pelo professor Rubens Alves de Oliveira, do Departamento de
Engenharia Agrícola, desenvolveram o equipamento avaliado como sendo de fácil operação e econômico, com custo estimado
de R$1.590,00. “Além do valor mais em conta, a simplicidade da tecnologia
e a facilidade de operação o tornam competitivos no mercado. O produtor
não precisa efetuar cálculos, ter conhecimento técnico, preencher tabelas ou
adquirir computadores para utilizá-lo”, explica Oliveira. “O irrigâmetro indica o momento e o tempo da irrigação com base em estimativa de
evapotranspiração da cultura. Seu funcionamento consiste na abertura e no
fechamento de algumas válvulas, obedecendo-se a uma seqüência pré-definida”, acrescenta. Resultado para o agricultor: redução de custos, aumento
da produtividade e melhor qualidade dos produtos agrícolas. Também há
benefícios para o ambiente, como a preservação dos recursos hídricos. “Do
ponto de vista social, conseguimos a incorporação do pequeno irrigante no
processo da água”, salienta. Produtores de frutas nos municípios de Visconde do Rio Branco e Ubá, MG, testam o aparelho, que estará à venda a partir
de fevereiro de 2007. Mais informações pelo telefone (31) 3899-2729 ou
Rubens Alves de Oliveira, da Engenharia
e-mail [email protected]/[email protected]..
Agrícola/UFV e o irrigâmetro.
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BANANEIRAS A SALVO
• Limpeza da touceira: deve ser feita manualmente com enxadas ou herbicida nas ruas, mas também pode ser usado o trator.
• Desbaste: mantenha sempre três plantas por touceira na seguinte seqüência: planta-mãe, planta-filha e planta-neta. A
seqüência ou respeito à hierarquia na touceira é o que mantém o vigor e o sincronismo da touceira. Esse procedimento
garante longevidade e a produtividade do pomar.
• Limpeza das folhas e adubação: comece após as primeiras chuvas e repita a cada dois ou três meses até o fim do período
chuvoso. A adubação deve ser feita em semicírculo na frente da planta-neta ou da
planta-filha, a dez centímetros de profundidade. Na ausência de uma análise química do solo, utilize 100 gramas de óxido de magnésio e 250 gramas do adubo 1507-32 (3 ou 4 vezes por ano), mais 15 gramas de sulfato de zinco e 10 gramas de
bórax. Os dois últimos ingredientes podem ser substituídos por 50 gramas de FTE BR
12. Esterco animal também ajuda, assim como retalhar os caules das plantas colhidas e
usá-los como matéria orgânica.
• Pragas: o ataque de sigatoka negra nas folhas ou de outras pragas será menor em
plantas bem cuidadas. A Embrapa dispõe de variedades resistentes à Sigatoka e de
orientações técnicas sobre o controle químico das doenças. Informações estão
disponíveis na Embrapa Semi-Árido ([email protected]), Embrapa Mandioca e Fruticultura ([email protected]) ou ainda pelo telefone (87)
Cuidados no bananal auxiliam no
controle às pragas.
3862-1711, ramal 182.
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NOVAS VARIEDADES DE LARANJA
EMBRAPA MANDIOCA E FRUTICULTURA
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EMBRAPA SEMI-ÁRIDO
No período de dezembro a março, logo no início e após as chuvas comuns nas regiões produtoras, é necessário tomar
providências importantes nos bananais. De acordo com José Egídio Flori, pesquisador da Embrapa Semi-Árido, as principais são:
Diamantina e Sincorá são as novas variedades de citros lançadas pela Embrapa Mandioca e Fruticultura Tropical, em Cruz das
Almas, BA. A tangerineira Diamantina, introduzida com sementes vindas dos Estados Unidos, é um híbrido entre a tangerineira
Clementina (do Mediterrâneo) e o tangor Murcott (híbrido natural de tangerineira com laranjeira doce, surgido na Flórida,
EUA). Os frutos são de tamanho médio, achatado, com casca lisa e aderente. “É uma tangerina excepcional no sabor, no
tamanho e na cor, superando inclusive o material que o Brasil importa do Uruguai”,
ressalta Orlando Sampaio Passos, um dos pesquisadores responsáveis. O aspecto
externo faz dela uma opção para o mercado de fruta fresca, mas pode ser
usada no processamento de suco.
A Sincorá é originária da província chinesa de Sichuan. Com casca ligeiramente rugosa, a fruta doce e com poucas sementes tem vocação para o
mercado in natura, mas também serve para processamento. A laranjeira apresenta porte e folhagem semelhantes à Pera, porém com mais vigor e menor
incidência de caneluras, doença do complexo da tristeza dos citros.
As duas variedades possuem várias características em comum: porte pequeno
a médio, floração principal em setembro (havendo temporãs) e maturação
tardia (colheita a partir de agosto), frutos de coloração externa amarela uniforme e polpa alaranjada intensa. Produzem em torno de 40 toneladas por
hectare, em espaçamento de 6x4 metros. Segundo Passos, “a oferta mais
regular de frutos, ao longo do ano, pode aumentar o potencial de consumo
de citros no País”, considerado muito baixo (2,2 kg de laranja e 1,2 kg de
tangerina por pessoa ao ano). O material de propagação pode ser
disponibilizado via borbulhas ou mudas enxertadas. Informações pelo telefone
(75) 3621-8028 ou e-mail [email protected]..
Nova Tangerina
Diamantina.
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FRUTAS FRESCAS
OPORTUNIDADE
DE NEGÓCIO
O setor de refeições coletivas, presente em indústrias, hotéis, hospitais
e escolas, pode ser uma alternativa ao produtor de frutas para maior
rentabilidade. Mas fornecer para o segmento exige conhecimento do ramo,
produção de qualidade, organização, logística e preços competitivos.
MARCELO DE BREYNE
Marlene Simarelli
14
Não há estatísticas que indiquem a quantidade de frutas necessárias para
suprir o negócio crescente de refeições coletivas no País. Hoje, estima-se
que sejam fornecidas, em média, 7 milhões de refeições por dia pelas 1,5
mil empresas de pequeno, médio e grande porte. Em 2005, foram servidas 6,5 milhões de refeições por dia. Bananas, laranjas, mexericas, caquis,
morangos e abacaxis estão entre as frutas mais consumidas, mas sempre
em sua época. Os dados são da Associação Brasileira de Refeições Coletivas – Aberc. Mas o que é preciso para transformar este potencial numa
oportunidade de negócio? Uma pesquisa sobre o setor de refeições coletivas conduzida pelo Ministério da Integração Nacional, em 2002, ainda
desconhecida da maioria dos produtores, indica a necessidade do conhecimento do setor para ser um fornecedor de frutas. “A pressão dos clientes em busca de qualidade de vida e de alimentos mais saudáveis, leva as
empresas a introduzirem as frutas com maior freqüência em seus cardápios”, afirma Artur Saabor, especialista dos mercados atacadista e varejista
de hortifrutis, da Qualitativa - Soluções em Agronegócio. “Para atender ao
setor é preciso que o produtor ofereça variedade de frutas com qualidade, tenha agilidade na entrega, garantia de fornecimento e preços competitivos”. Saabor foi coordenador da equipe responsável pela
pesquisa na Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica, cuja atividade foi desativada. Desde então atua na iniciativa privada
em assessoria a empresas privadas e governos nas áreas
de pesquisa de mercado, pós-colheita,
comercialização e em capacitação nestas áreas.
“Há cerca de 10 anos, os contratos eram
fechados com um ou dois tipos de saladas e
frutas de sobremesa. Atualmente, os clientes solicitam de 4 até mesmo 8 ou mais
tipos de saladas e frutas durante as refeições. Há, inclusive, alguns contratos
utilizando frutas, legumes e verduras
orgânicos - tudo em busca de uma melhor qualidade de vida”, relata Rodrigo Pacheco Ikedo, engenheiro agrônomo do departamento de Suprimentos de hortifruti da GRSA, empresa líder de refeições coletivas. O diretor superintendente da Aberc,
Antonio Guimarães, assegura que “há espaço para
aumentar o consumo de frutas e sucos de frutas no
segmento de refeições coletivas, mas para isso é
preciso tornar o preço acessível. Hoje o custo médio total de uma refeição é cerca de R$4,00. O custo
da sobremesa tem que se situar em torno de R$
0,20, um valor razoável para pudins, gelatinas, bolos e doces”. Ele lembra que “o PAT - Programa de
Alimentação do Trabalhador - está recomendando
o uso de frutas nas refeições. Quanto aos sucos de
frutas”, segundo ele, “a maioria das empresas usa
refrigerantes; nas demais, o suco é industrializado”.
VANTAGENS NO CARDÁPIO
A GRSA atua em serviços de alimentação no Brasil com sete marcas especializadas, entre elas, a GR
– restaurantes empresariais. As frutas são servidas
em praticamente todas as refeições, no café da
ARQUIVO PESSOAL
Marta Rebessi, nutricionista: “Frutas ocupam pouco espaço, tempo,
trabalho, têm custo reduzido, pode se obter com freqüência e
facilidade, e têm alto valor nutritivo.”
manhã, almoço, jantar, ceia e em alguns coffee breaks. Sazonalidade da
fruta, prato principal servido, facilidade de consumo e custo de aquisição são os critérios usados para a
compra, que a empresa faz de distribuidores, principalmente, e de alguns produtores. “A facilidade de
consumo da banana e da maçã favorece a utilização com maior freqüência”, argumenta
Ikedo. O preço da fruta representa de 15 a 20% da composição de custo das refeições da empresa. Ikedo observa
que há “dificuldades no momento da compra para garantir
o sabor das frutas. Muitas vezes, elas são colhidas antes do
tempo e quando vão para a mesa não apresentam sabor,
resultando em queda de consumo”. As frutas da estação
como caqui, tangerina e morango têm apelo maior de consumo do que as frutas mais tradicionais. “Como a
sazonalidade delas é bem marcada, quando entram no cardápio, notamos elevação do consumo, se comparado com
as mais tradicionais. Isso decorre também da melhor condição do sabor das frutas de estação, pois na época de safra,
elas se apresentam mais saborosas”, ressalta o agrônomo.
15
Rodrigo Ikedo, da GRSA,
dificuldades no momento da compra para
garantir o sabor das frutas.
No restaurante da Louis Dreyfus Commodities
Bioenergia S. A., mais conhecida como Usina
Cresciumal, na cidade de Leme, SP, são servidas 550
refeições ao dia, em sistema de auto-gestão. Coordenado pela nutricionista Marta Rebessi, usa, com
freqüência, banana, laranja (lima ou pêra), tangerina (murcot ou ponkan), melão, melancia, maçã e
mamão; e, esporadicamente, pêssego, pêra, caqui,
abacate, morango, goiaba, manga, uva e jabuticaba. “Em média, usamos dois mil quilos de frutas ao
mês”, relata Marta, que enumera as vantagens das
frutas no restaurante: “ocupam pouco espaço, tempo, trabalho, têm custo reduzido, pode se obter
com freqüência e facilidade. As frutas são mais práticas - mais uma razão para serem mais freqüentes
no cardápio”. Ela acrescenta que, além disso, “são
bem aceitas pela baixa caloria, por serem refrescantes, digestivas e pelo alto valor nutritivo. Diria
que não dá para viver sem frutas”. Marta ressalta ainda
o aproveitamento quase integral, inclusive das cascas,
para o preparo de doces, geléias, chá, bolos etc. A
época, qualidade e o preço são fatores considerados
por ela no momento de elaborar o cardápio e para a
compra feita diretamente na Ceasa mais próxima, à
exceção da banana, fornecida por produtor local.
COMPRAS DIRETAS
De acordo com Antonio Guimarães, da Aberc,
“compras feitas diretamente com o produtor são
raras, pois existe o problema de entrega em várias
unidades da mesma empresa. Para ser um fornecedor direto, o produtor deve ter logística de entrega
e preços acessíveis a este mercado”. “O fruticultor
deve se organizar em cooperativas e associações,
que darão respaldo técnico, operacional e administrativo, e assim proporcionar ganhos de escala, para
competir de forma efetiva e aumentar o poder de
16
barganha”, recomenda
Artur Saabor. Ele frisa que
“é também preciso se preparar para produzir com
qualidade, modernizando
processos, utilizando novas
técnicas no pós-colheita e
tendo agilidade na entrega”.
As vantagens da compra direta do produtor, segundo Ikedo, são a garantia de origem do produto (rastreabilidade), a negociação dos pontos de maturação diferenciada para
atender à demanda da empresa, e maior qualidade, pois o tempo da colheita até o momento de
servir é reduzido. “Mas devido às entregas quase
diárias aos cerca de 600 pontos na Grande São Paulo, a logística se torna muito complexa”, observa e
acrescenta que “para ser fornecedor, o produtor
precisa de boa produção, logística eficiente e, o fundamental, uma boa qualidade de produtos fornecidos. As vantagens do distribuidor”, diz, “são um maior mix de frutas, melhor logística de abastecimento
e maior flexibilidade na captação de produtos na
entressafra”. “O que funciona como um alerta, também, para produtores e suas associações e cooperativas”, reforça Artur Saabor.
Arnaldo Silva, da Ethos Agrocomercial – São
Paulo, SP, atua na distribuição de frutas, legumes e
verduras há 17 anos, com entregas em escolas, hospitais, restaurantes, cozinhas industriais e clubes.
“Encontramos 98% do que precisamos na
Ceagesp”, garante. “Não compramos direto do produtor devido ao volume que não é grande”, justifica
e explica que “não é viável a compra direta do produtor, pois compramos somente a quantidade vendida no dia. Nosso cliente é muito exigente e quer
sempre o melhor produto”.
GRSA
FRUTAS FRESCAS
QUALITATIVA
A PESQUISA
Dicas de Comercialização
Produtor deve oferecer variedade e qualidade de frutas,
agilidade na entrega e garantia de fornecimento - Artur
Saabor, Qualitativa.
A pesquisa conduzida por Artur Saabor e pela Secretaria de Infra-Estrutura Hídrica do Ministério da
Integração Nacional ouviu empresas de pequeno, médio e grande portes do setor de refeições coletivas da
região metropolitana de São Paulo, com prestação
de serviços na Capital e no Interior. Acompanhe os
principais resultados que atingem o fruticultor, e as
sugestões para comercializar, visando o fornecimento
ao setor.
Visão das Empresas
• Querem qualidade, variedade e bons preços ao comprar frutas.
• Precisam de agilidade na entrega, disponibilidade
e garantia de fornecimento de produtos.
• Não estão satisfeitas com qualidade e variedade das
frutas compradas.
• Querem soluções oportunas para o dia-a-dia, que,
hoje, não recebem dos fornecedores.
• O espaço para frutas é crescente, devido à pressão
do mercado por alimentação mais saudável.
• Frutas são valorizadas pelo valor nutricional e harmonia visual dos cardápios.
• Consumidor final está mais exigente quanto a variedade e qualidade do cardápio.
• Jovens influem na preferência por alimentos mais
leves, entre eles, as frutas.
• Profissionais de nutrição têm poucas informações
sobre variedade de frutas.
• Resíduos de agrotóxicos preocupam o setor.
• Abacaxi, banana, caqui, goiaba, laranja, pêra, mamão, maçã, manga, melão, pêssego, tangerina e uva
são as frutas mais consumidas.
• Decidir o que plantar a partir do conhecimento das
empresas de refeições coletivas para alternativas
de negócios mais compensadoras.
• Conhecer nichos de mercado com maior tendência
de crescimento da demanda (pré-processados, orgânicos, etc.).
• Produzir em escala para obter custos de produção
competitivos. Associativismo é a saída para pequenos produtores na hora da negociação.
• Negociar diretamente com o comprador: padrões de
qualidade das frutas, incluindo ponto de maturação
e uniformidade; tipos de embalagem, considerando
volume e a capacidade; e cronograma de entrega da
produção com estabelecimento de datas, locais, horários e quantidades.
• Cumprir prazos, entregando mercadorias com qualidade e exata quantidade negociada – na impossibilidade do cumprimento, negociar quantidade e produto oferecendo uma saída.
• Negociar previamente, considerando as alterações das
cotações anuais e respeitar prazos e preços acordados.
• Ser rigoroso no controle de custos dos transportes,
cujo cálculo deve considerar o local da entrega de
cada pedido para inclusão no custo total.
• Cuidar da produção de forma a evitar resíduos de
agrotóxicos.
• Informar consumidores sobre os produtos hortifrútis
(técnicas de manuseio, origem, época de produção,
processo de cultivo, armazenamento, receitas, valores nutricionais, etc.).
• Utilizar rótulo nas embalagens para diferenciação
do produto, conforme recomendado pelo Ministério
da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.
Fonte: FrutiFatos nº3/2002 - Ministério Da Integração Nacional - Artur Saabor
http://www.integracao.gov.br/infraestruturahidrica/publicacoes/frutifatos.asp17
ABPM
Letícia e Beatriz Ternes Coldebella, 9 anos,
modelos do Projeto Mais Frutas na Escola.
MAÇÃ NA ESCOLA
A cena incomum de crianças estudando e comendo maçãs em aulas de ciências, português e matemática compõe um inédito projeto pedagógico
nas salas de 275 escolas catarinenses. É o “Mais
Frutas na Escola”, desenvolvido entre a Secretaria
da Educação do Estado de Santa Catarina e a ABPM
– Associação Brasileira dos Produtores de Maçã. “De
outubro a dezembro, 60.849 quilos de maçã, das
variedades Fuji ou Gala, calibre 198, foram entregues a 134.038 alunos do ensino fundamental”, relata o presidente da ABPM, Pierre Nicolas Pérès. “A
maçã foi a fruta escolhida para iniciar o projeto,
devido à organização do setor”, ressalta Moisés
Lopes de Albuquerque, coordenador do projeto na
ABPM. “O objetivo é introduzir também outras frutas, como banana, laranja e uva, e assim melhorar
a qualidade da alimentação escolar, ensinar as crianças a degustarem frutas e aprender os seus benefícios nutricionais”, acrescenta Eliane Medeiros, da
Gerência de Nutrição Escolar, setor da secretaria
estadual que coordenou e implantou o projeto.
18
Alunos e professores das escolas envolvidas receberam kits com vídeo e folhetos, orientando sobre os valores nutricionais da fruta e a visão do
setor produtivo. Merendeiras receberam livreto de
receitas à base de maçã, com orientações para manuseio da fruta. Pais dos alunos receberam carta da
Secretaria da Educação informando sobre o projeto. O programa contemplou ainda um concurso de
frases sobre o tema, cujo prêmio aos 15 alunos vencedores foi uma visita à região produtora de maçãs.
“Mais Frutas na Escola” foi inspirado no Programa Nacional Frutas nas Escolas (The National School
Fruit Scheme), da Inglaterra, para escolas de educação infantil. No período de fevereiro a julho, época
de safra e exportação da fruta no Brasil, os
pomicultores brasileiros fornecem grande quantidade
de maçã às escolas britânicas integrantes do programa. Segundo Pérès, “com o projeto, os alunos
catarinenses passaram a ter o mesmo privilégio dos
ingleses. Oxalá, o “Mais Frutas na Escola” seja implantado por outros Estados da Federação!”.
Nem mesmo o câmbio baixo e as barreiras
impostas pelo mercado internacional impediram
o crescimento da fruticultura, mas o Brasil
precisa fazer a lição de casa.
Beth Pereira
19
MERCADO INTERNACIONAL
A estimativa do balanço da fruticultura brasileira
indica um pequeno aumento nas exportações de
2006 para as frutas frescas. Mesmo com uma conjuntura do real valorizado frente ao dólar, a expectativa do setor é fechar o ano com 5% de crescimento em valor e estagnação no volume. Nos dez
primeiros meses deste ano, as exportações de frutas frescas totalizaram US$ 344,7 milhões, 8% acima do valor alcançado no
mesmo período de 2005,
que foi US$ 318,9 milhões.
O volume ficou no patamar
de 617 mil toneladas ante
630 mil toneladas do ano anterior, ou seja, uma pequena queda de 1,9%. Estimativas do setor apontam para
um fechamento de US$ 480
milhões contra US$ 440 milhões em 2005, com o mesmo volume de 830 mil
toneladas do ano anterior. Um dos principais assuntos em pauta, em 2006, foram as barreiras
fitossanitárias impostas, principalmente, pela União
Européia, que está obrigando o setor a encontrar
soluções, sob pena de perder mercados. Algumas
frutas conseguiram repassar a valorização do real
para o preço em dólar, o que refletiu no aumento
do valor recebido por quilo, mas com raras exceções. “No geral, o dólar achatou a rentabilidade do
produtor”, analisa o gerente da Central de Serviços
de Exportação do Ibraf – Instituto Brasileiro de Fru-
tas –, Maurício de Sá Ferraz. Outro gargalo que continua emperrando o desenvolvimento da fruticultura brasileira é o baixo consumo de frutas no Brasil,
em torno de 47 quilos/habitante/ano (dado referente às frutas comercializadas formalmente).
Quanto ao futuro da fruticultura, o cenário depende muito da taxa cambial e de acordos internacionais. “Não se pode esquecer que a Europa vem
trabalhando com barreiras
comerciais disfarçadas em
barreiras fitossanitárias, dificultando e onerando o
custo das exportações brasileiras”, afirma Ferraz.
“Como exemplo, há o embargo imposto pela Europa
aos citrus frescos, cujo argumento é a Pinta Preta, que
não se instalaria naquele continente, devido às condições climáticas”, acrescenta.
Vale lembrar que até 2002 não havia restrições à
entrada de citrus, embora já ocorresse a doença nos
pomares nacionais.
Terceiro maior produtor de frutas do mundo, o
Brasil aumentou suas exportações em mais de
200%, em valor, de 1998 a 2005, passando de US$
120 milhões em 1998 para US$ 440 milhões em
2005. Ferraz considera que “ainda há muito espaço
para o crescimento das exportações, pois o mercado internacional absorve cerca de 50 milhões de
toneladas anuais, conforme dados da FAO”. O Brasil
Mesmo registrando um
desempenho razoável, o
setor deverá acertar o
passo com as exigências
internacionais.
Fonte: SECEX/DATAFRUTA-IBRAF
20
pode oferecer frutas tropicais e temperadas em janelas dos mercados compradores. Na opinião de
Sá Ferraz, o produtor/exportador brasileiro está
cada vez mais consciente e acredita no mercado
internacional, com isso está se superando mesmo
num ano difícil para se manter na atividade. Para
ele, outro fator que tem contribuído para minimizar
a queda nas exportações é o trabalho de marketing
agressivo, realizado nos grandes mercados pelo
Ibraf, em parceria com a Agência de Promoção de
Exportações e Investimentos - Apex Brasil.
DESEMPENHO INDIVIDUAL
Individualmente, ocorreram altos e baixos no
desempenho das exportações de frutas. O mercado foi favorável às exportações de lima ácida taiti,
que deverão crescer. Em 2005, o Brasil exportou
cerca de 44,2 mil toneladas de limão, com
faturamento de US$ 26,3 milhões. Deve fechar este
ano com faturamento de US$ 30 milhões e embarque de 50 mil toneladas. O abacaxi também apresentou bom desempenho e deve fechar o ano com
um crescimento de 20% no volume e no valor. Em
2005 foram embarcadas 19,6 mil toneladas, com
faturamento de US$ 6 milhões.
Com a banana ocorreu uma inversão, com queda de 5% no volume, de janeiro a outubro, e aumento no faturamento, respectivamente, 165,9 mil
toneladas e US$ 32,3 milhões, contra 175,8 mil
toneladas e faturamento de US$ 26,5 milhões, em
2005. Segundo Ferraz, a expectativa para este ano
é que a bananicultura movimente US$ 40 milhões,
o que significa um salto de 20% no valor do ano
passado, que foi US$ 33 milhões e embarques de
200 mil toneladas. Com a entrada de grandes
multinacionais no País, as exportações passaram a
ser feitas em outros mercados, como a Europa, que
paga um maior valor agregado no produto. “A variedade é adequada à exportação. É o produto que
o consumidor quer”, avalia Ferraz. Segundo ele, antes, o Mercosul era o tradicional comprador da banana brasileira.
Um exemplo de retração foi a maçã, cuja produtividade foi comprometida por causa de adversidades climáticas, levando à queda de 42% no volume e de 30% no valor das vendas externas. Os
números fechados em 2006 indicam uma redução
na exportação, de 99 mil toneladas para 57 mil toneladas; e de receita, de US$ 45,7 milhões para
US$ 31,9 milhões. O mamão também vai fechar o
ano com queda de 15% no volume exportado, por
causa das condições climáticas que afetaram a safra.
No ano passado, as exportações de mamão alcançaram 38,7 mil toneladas e faturamento de US$ 30,6
milhões, valor que deve ser mantido neste ano. Já,
o melão deve fechar o ano com cerca de 190 mil
toneladas exportadas e faturamento de US$ 99 milhões, números bem próximos dos alcançados em
2005, quando foram embarcadas 179 mil toneladas, que renderam ao País US$ 91,47 milhões.
RUIM PARA A MANGA,
BOM PARA A UVA
A manga também deve registrar queda em relação a 2005, na faixa de 5% em volume, porque a
safra ficou concentrada nos últimos meses do ano.
Ferraz afirma que a previsão é fechar o ano com o
embarque de 105 mil toneladas e US$ 76 milhões
contra 113,5 mil toneladas e US$ 72,5 milhões.
Quanto à uva, segundo o diretor de Marketing do
Ibraf, Jean-Paul Gayet, nos nove primeiros meses
de 2006 “apenas nove packing houses enviaram a
fruta ao mercado externo em menor quantidade
do que em 2005”. Quanto aos preços da fruta, ele
afirma que se mantiveram bons, na faixa de US$ 6
a US$ 8 para revenda. A uva deve fechar o ano
com US$ 120 milhões e 64 mil toneladas ante 107
milhões e 51 mil toneladas, em 2005.
Na análise de Gayet, o cenário internacional para
a manga parece apontar para uma redução da oferta por todos os fornecedores (não apenas o Brasil),
por causa dos retornos negativos. “Se essa tendência se concretizar, poderemos ter um ano de empate financeiro em 2007”, afirma, acrescentando que
no País não se ganha dinheiro com a manga desde a
valorização do real. Para ele, outra perspectiva que
vem completar o panorama da manga é o endurecimento das normas fitossanitárias para exportação.
“Essa tendência pode tender a eliminar os exportadores não-profissionais, que no caso da manga eram
muitos. São aqueles que destroem mercados por
falta de conhecimento, mandando frutas abaixo do
padrão, em consignação, oferecendo baixa qualidade, preço ainda mais baixo e a sensação de que
21
ARQUIVO PESSOAL
tem excesso de
oferta, o que atrapalha todos os exportadores sérios”,
reclama. “Afastar
os irresponsáveis
do ramo representaria uma grande
vitória e, certamente, um melhor retorno financeiro para todos
Jean-Paul Gayet, Diretor de Marketing do Ibraf,
os sérios.”
aponta cenários opostos para manga e uva.
Para a uva, o
quadro é inverso. “As exportações estão em franco
crescimento”, afirma Gayet, que considera muito
arriscada a escolha do Vale do São Francisco, única
no mundo para produzir uva a 9 graus de latitude
sul. “No momento, está dando certo, mas não sem
custos altíssimos de toda natureza”, diz. “Nenhuma
outra região no mundo produz uvas nessa latitude:
não existia tecnologia de produção, não existiam variedades adaptadas, não existia manejo conhecido.
O trabalho pioneiro foi desenvolvido na década de
80 pelos cooperados da extinta cooperativa paulista
de Cotia”, destaca. Para Gayet, esse desenvolvimento tecnológico ainda não está terminado. “Cada
variedade nova introduzida requer uma adaptação
às nossas condições, uma experimentação de pelo
menos cinco a seis safras para chegar a uma conclusão sobre o manejo mais adequado para aquela variedade. Os produtores mais avançados do Vale do
São Francisco estão com mais de 20 anos de experiência, ou seja, em muitos casos 40 safras, e ainda
declaram ter muito a descobrir”, explana. Gayet ressalta que a grande vantagem em troca desse risco
assumido é ter entre três e seis semanas de mercado absolutamente vazio de uvas brancas sem sementes nos Estados Unidos e na União Européia.
“Isso representa 750 milhões de consumidores, que
ficam somente com as uvas brasileiras entre o fim
de outubro e início de dezembro”. Segundo ele,
como o volume ainda é pequeno, os preços permanecem altos. “Para se ter uma idéia, o consumidor
inglês paga normalmente 1 libra esterlina por 1 libra
peso de uva durante 10 a 11 meses por ano, mas tem
que desembolsar entre 3,49 e 3,98 libras por 1 libra
peso durante nossa campanha”, comemora. “A perspectiva é ver os preços baixarem, de acordo com a lei
da oferta e da demanda, nos próximos 5 anos”, prevê. “Tivemos uma pausa na tendência de baixa, graças
ao interesse recente dos EUA, que permitem, pela
grande capacidade de absorção do mercado deles,
aliviar a pressão da nossa oferta na Europa.”
22
Historicamente, Gayet conta que as exportações
brasileiras de uvas, iniciadas na década de 80, visavam principalmente à União Européia, apenas com
uvas com sementes. Na década de 90, porém, o
Reino Unido começou a exigir uvas sem sementes,
e em 2002, o mercado americano começou também a se interessar, aprovou a qualidade e regularidade da oferta e pedem cada vez mais. Diante
dessa tendência, ele aponta forte demanda para uvas
brancas sem sementes durante aquela janela. “Há,
também, outras janelas para uvas rosadas e negras
entre o fim de novembro e meados de janeiro,
porém, a chuva costuma dificultar a programação
de colheitas nessa época”, salienta. “Existe ainda
espaço para uvas com sementes, brancas e rosadas, para dezembro”, acrescenta. Na visão de
Gayet, existe muita demanda e mercados ainda não
explorados, tanto nos Estados Unidos como na
União Européia, além da Ásia, no caso de uvas de
mesa. “Não devemos, entretanto, esquecer as uvas
para vinho, bem como as atividades iniciantes de
vinificação, que prometem muito”, enfatiza.
FIGO, CENÁRIO PROMISSOR
Mesmo com um cenário de real valorizado, o
figo apresentou um excelente desempenho em
2006, considerando a redução do volume exportado. No acumulado de janeiro a outubro, o Brasil
exportou 482 mil toneladas da fruta, um negócio
de US$ 1,480 milhão, contra as 538 mil toneladas
e apenas US$ 1,258 milhão, obtidos no ano passado. Desde que começaram as exportações de figo
para a Europa, há 20 anos, a Frutland, de São Paulo, SP, tem registrado aumento nos embarques da
fruta ano a ano. “A melhor safra foi a de 2005, um
resultado que se deve repetir este ano”, afirma o
sócio-proprietário da empresa, Américo Tavares.
“Se a produção for suficiente e a fruta tiver alta qualidade, o retorno será muito bom”, afirma, acrescentando que o grande entrave para a exportação do figo
brasileiro é o alto
custo do frete
aéreo. “Com a
saída da Varig
do mercado,
os aviões
utilizados
atualmente
têm
menor capacidade
de carga”,
MERCADO INTERNACIONAL
diz. No começo de novembro, a empresa enviou a
primeira remessa de figos da safra 2006/2007 para
a Europa. A colheita da fruta vai de novembro a
abril, com pico de exportação em dezembro e janeiro, época que acaba a oferta de figo da Turquia,
que domina o mercado europeu. “Esta safra promete. Desde o início de novembro começaram as
consultas de importadores, pois acabou o figo da
Turquia. O caminho foi inverso; a procura começou antes de a gente oferecer.”
A empresa também exporta mamão papaia e
manga, mas em faturamento a liderança é do figo,
cujo mercado está em ascensão para o produto
brasileiro, que tem boa aceitação, até porque ele
chega na Europa em uma época sem a fruta no
mercado. “A safra brasileira entra no momento certo, em uma janela”, diz Tavares, acrescentando que
não dá para competir com o figo da Turquia, cujas
características são especiais, com preço mais
barato, porque o transporte é terrestre, feito em
caminhão frigorífico. “A Turquia tem tradição
e oferece um produto menos aquoso do que o
brasileiro,” observa.
DESEMPENHO DA
CASTANHA DE CAJU
De janeiro a setembro de 2006, o volume de
castanha e caju exportado praticamente foi o mesmo que igual período do ano passado. No entanto,
segundo o diretor-presidente do Sindicaju, Antonio
José de Carvalho, o faturamento caiu 5,43%, em
virtude de queda nos preços internacionais do produto, por causa do câmbio. A expectativa é que os
embarques do quarto trimestre do ano sejam superiores e, assim, reverter a queda e registrar até
um crescimento de 2%. A previsão da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab) é de colheita
recorde de castanha de caju no País, podendo chegar a 300 mil toneladas ou 100 mil toneladas a mais
que a safra anterior.
Para 2007, Carvalho prevê crescimento de 10%
nas exportações, em razão do aumento de oferta
de castanha in natura, graças à previsão de boa safra iniciada em outubro. No entanto, o presidente
do Sindicaju afirma que a rentabilidade do produtor
rural e do exportador da castanha está comprome-
23
MERCADO INTERNACIONAL
tida, em decorrência da valorização do real em relação a outras moedas e ao dólar, das taxas reais de
juros abusivas e dos aumentos consecutivos de impostos, que têm tornado a carga tributária nacional
semelhante à de países mais desenvolvidos, como
Finlândia, Noruega, Dinamarca, entre outros. “Se
esta situação perdurar, toda a cadeia produtiva será
achatada e, possivelmente, teremos uma queda
drástica nas exportações a médio e longo prazos”,
alerta. Segundo a técnica da castanha de caju na
Conab, Débora de Moura, por meio do Programa de
Aquisição de Alimentos, a Conab vai adquirir o quilo
da castanha por R$ 1,10, resultando em maior lucro
para os agricultores familiares. O preço mínimo estipulado pelo governo é de R$ 1,00 o quilo, mas no
Nordeste, maior região produtora de castanha, os
preços variam de R$ 0,93 a R$ 1,10 o quilo.
BOM MOMENTO PARA O AÇAÍ
Embora ainda esteja no meio da safra e, portanto, os números não estão fechados, a diretora-presidente do Sindicato das Indústrias de Frutas e Derivados do Estado do Pará (Sindfrutas), Ana Clara
Rodrigues Boralli Dias, afirma que ocorreu crescimento nas exportações de açaí e outras frutas no
Estado. “O volume embarcado tem crescido ano a
ano, e, em 2006, também, mas o faturamento, não,
porque o dólar está baixo e por causa dos investimentos tecnológicos e da expansão que a indústria
tem feito em suas plantas”, diz. Em 2005, a região
produziu 416 mil toneladas de polpa de açaí, sendo
60% para o mercado nacional, 30% para o local e
10% para as exportações. Os maiores compradores
de polpa de açaí são os Estados Unidos, seguidos da
Europa, do Japão, da Austrália, entre outros.
Tendência aponta ascensão maior
de processados na pauta de
exportações, mas frutas in natura
também crescerão.
Para 2006, a estimativa é de aumento de 20% a
25% no volume. “Serão mais de 550 mil toneladas
de polpa de açaí”, calcula Ana Clara. O que mudou, na comparação com o ano passado, é o crescimento do mercado nacional, entre 65 e 70%; e
também o internacional, que deve passar dos 15%,
enquanto o consumo local caiu para 10%. Ana Clara, que também é diretora-administrativa e sócia
da Rajá Frutas, recebe açaí dos atravessadores e quer
organizar o setor para que o ribeirinho ganhe mais,
24
entregando o produto diretamente para a fábrica.
“Para não afetar o mercado do Pará, região nativa
do açaí, estamos pedindo que os órgãos incentivem o plantio”, afirma, acrescentando que a procura tem afetado o abastecimento do mercado local.
A previsão para 2007 é de aumento da produção e do processamento. Para tanto, as empresas
estão se preparando para atender ao aumento do
consumo interno e das exportações. “Achávamos
que o açaí seria um modismo, mas, ao contrário, a
gosto pela fruta alcançou várias faixas etárias e classes sociais. Hoje, pessoas de todas as classes e de
todas as idades tomam açaí”, afirma Ana Clara. O
principal produto da pauta de exportações de frutas do Pará, porém, é a banana. No ano passado, o
Estado colheu 538 mil toneladas de banana; 267
mil toneladas de abacaxi; 247.600 toneladas de coco
e 214 mil toneladas de laranja. Os números de 2006
não estão fechados, mas segundo Ana Clara, as perspectivas são de crescimento das exportações de frutas em geral, na faixa de 10%, exceto para laranja e
banana. “O melhor cenário, porém, é para o açaí,
com incremento de 15%, tanto que as empresas
estão investindo em pasteurização, para oferecer
um melhor produto no mercado.”
SUCOS, CRESCIMENTO
E DIVERSIFICAÇÃO
O setor de sucos e polpas cresceu 12%, de 2003
a 2005, passando de 1,7 milhão de toneladas para
2 milhões. Na análise do presidente do Ibraf, Moacyr
Saraiva Fernandes, “o maior volume exportado dos
sucos nacionais é conseqüência da abertura de novos mercados, do aumento da competitividade e
do apoio sistemático, a longo prazo, para frutas e
derivados nacionais, feito pela Apex Brasil. “O País
está se tornando um parceiro comercial cada vez
mais importante, sendo
visto mundialmente como
potencial supridor”, observa Fernandes. De acordo com ele, o crescimento médio para o mercado
interno, em 2006, deve
ser de 14% a 15% para
os derivados de maneira
geral. O destaque fica por
conta da água de coco, cujo
crescimento esperado é de
cerca de 20%.
A agência de pesquisas de
mercado européia, Euromonitor, prevê para 2007 a
evolução da demanda mundi-
DE MARCHI
al por sucos com crescimento médio de
8,2% para Ásia e Pacífico; 16,8% para
África e Oriente Médio; 14,8% no Leste
Europeu, que são os principais mercados emergentes da indústria brasileiras.
Para néctares e drinques, Ásia e Pacífico
demandarão 38,6% a mais; Oriente Médio, 51%; Leste Europeu, 47,3%; Europa Ocidental, 21,5%; América do Norte,
15,1%; e América Latina 23,3%. “Essa é
uma oportunidade para o Brasil se consolidar no mercado internacional de forma
efetiva e sustentada”, assegura Fernandes.
A exportação de polpas de frutas tropicais está crescendo ano a ano. “Os exportadores estão procurando sair do lugar comum, da laranja, por exemplo, até porque o
preço dessa fruta subiu bastante”, afirma Rogério
De Marchi, diretor de Exportação e Importação da
De Marchi, de Jundiaí, SP. “O desejo de experimentar novos sabores e o aumento dos preços das polpas e sucos tradicionais têm estimulado os consumidores a procurar outras alternativas.”
O crescimento das exportações é contínuo e a
tendência é a busca por frutas que tenham apelo
nutricional forte, caso da acerola e do açaí, segundo De Marchi. Ele acrescenta que as frutas tropicais
têm bastante procura – abacaxi, acerola e maracujá
são os líderes das exportações –, além de morango,
que é o principal produto para o mercado interno.
Para se ter uma idéia da diversificação, atualmente, a empresa transforma 35 tipos de frutas em polpa, bases de frutas e frutas congeladas. “Qualidade
é o principal apelo de mercado”, afirma Rogério De
Marchi. Ele conta que, para garantir essa condição,
as exigências começam com o cadastramento dos
fornecedores, cujos pomares devem ter produção
controlada, qualidade assegurada, além de
rastreabilidade, da origem da matéria-prima ao produto final. “A indústria tem de cumprir as normas
de HACCP, que é o controle de pontos críticos na
fabricação”, diz. “As exportações têm crescido pouco, na faixa de 5% ao ano. A baixa cotação do dólar
acaba encarecendo nosso produto que fica menos
competitivo do que os concorrentes”, avalia. Para
De Marchi, o maior problema enfrentado pela indústria é o custo de produção associado ao dólar
desvalorizado e à concorrência de outros países em
frutas tropicais, alguns dos quais têm vantagens
em termos de impostos, como os da América Central e da Ásia, que possuem acordos comerciais
mais interessantes e pagam menos impostos na
importação. A De Marchi começou a exportar há
mais de 15 anos, primeiro para os países do
Mercosul e depois para a Europa. Atualmente,
também atende ao mercado asiático
e norte-americano, que é oA
GRmaior
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IDÚST
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RI
em volume exportado.
O mercado para sucos e polpas de
frutas está em ascensão, especialmente para produtos de boa qualidade. A afirmação é de Reginaldo
Vicentin, presidente da Cooperativa
dos Agropecuaristas Solidários
(Coagrosol), de Itápolis, SP, que reúne 100 produtores de laranja, limão, manga e goiaba, orgânicos e
convencionais. O foco do negócio da
cooperativa é a exportação de sucos
e polpas e a venda de frutas no mercado interno. Para 2007, Vicentin vislumbra um cenário muito interessante para suco de laranja e polpa de
manga, com previsão de exportações
de 1.000 toneladas de cada um desses produtos. As expectativas para o
suco de limão e para a polpa de goiaba também são otimistas, segundo
ele. Basicamente, o mercado da
Coagrosol é a União Européia, entretanto a cooperativa também tem
enviado pequenas quantidades de
sucos e polpas para os Estados Unidos. “Temos buscado novos clientes
por meio de feiras”, conta Vicentin,
acrescentando que a demanda por
orgânicos é muito grande, mas a disponibilidade é relativamente pequena. “Embora a participação dos orgânicos ainda seja muito pequena
dentro do mercado global, já respondem por 40% do volume e do
faturamento da Coagrosol”, diz.
Rogério De Marchi:
consumidor quer
experimentar novos
sabores, com apelo
nutricional forte.
25
As frutas (manga, banana, melão e mamão papaia) estão entre os principais produtos
orgânicos brasileiros exportados. No entanto, o setor não dispõe de estatísticas segmentadas, que deve começar a ser feita a partir de 2007. A demanda por frutas orgânicas continua crescendo no mercado internacional, segundo o diretor do Instituto
Biodinâmico (IBD), Alexandre Harkaly. “A procura tem aumentado, novos compradores
surgem e se conseguirmos atender a todos vai ser um crescimento forte”, analisa.
Harkaly acredita que o futuro das exportações de frutas orgânicas depende basicamente
do envolvimento dos produtores e destes aceitarem o desenvolvimento e as pesquisas
sobre a agricultura orgânica.
Harkaly visualiza um cenário de exportações bastante positivo para o País em 2007.
“Atualmente, o Brasil é praticamente o único do mundo com potencial para suprir o
crescimento do mercado”, observa. O presidente do IBD destaca os Estados Unidos e a
Europa como mercados potenciais para as frutas orgânicas brasileiras. “Tanto dos EstaAlexandre Harkaly: há
dos Unidos como da Europa têm vindo compradores, demandando todo tipo de produto”,
demanda para todo tipo de
conta. De acordo com Harkaly, a procura por frutas orgânicas no mercado brasileiro também
produto orgânico.
é crescente. “Lojas e supermercados estão abrindo suas portas para esses produtos”, afirma,
lembrando, porém, que a capacidade de crescimento vai exigir a coordenação de atividades entre órgãos, empresas de
consultoria, pesquisadores e produtores. “A logística, assim como no setor convencional, também é um desafio.”
O Seminário Orgânicos e Sustentabilidade, realizado em setembro, em São Paulo, (SP, mostrou que o setor de orgânicos é
muito promissor para o Brasil. No entanto, para que seu potencial seja aproveitado, o governo precisa adotar medidas
reguladoras. Outro ponto de consenso do evento foi a importância de agregar valor aos orgânicos brasileiros.
26
IBD
O INTERESSANTE NICHO DOS ORGÂNICOS
ABPM
O GARGALO DAS
BARREIRAS
Luiz Borges: plano nacional de controle de
resíduos precisa ser implantado.
O presidente do Conselho do Ibraf e da Comissão de Fruticultura da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Luiz Borges
Júnior, visualiza um cenário razoável para as exportações de
frutas brasileiras, dependendo da oferta, da qualidade do produto e do atendimento às normas internacionais. “O futuro das
exportações para a União Européia esbarra na questão do registro de defensivos, o que poderá atrapalhar o desempenho
da fruticultura”, afirma, acrescentando: “Precisamos desse mercado, senão não teremos onde colocar a produção.”
Desde 2002, o setor tem enfrentado problemas, com a criação,
por parte da União Européia – maior mercado brasileiro –, de uma legislação sobre segurança alimentar.
“Infelizmente, ainda hoje, o governo brasileiro não está estruturado para atender às exigências, os laboratórios não estão credenciados dentro dos padrões internacionais e não há legislação específica sobre
rastreabilidade e segurança alimentar”, detalha.
Segundo o ministro da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Luís Carlos Guedes Pinto, este ano, o Governo Federal liberou R$ 55 milhões para modernização dos laboratórios, o que vai beneficiar a fruticultura.
“As autoridades da União Européia reconheceram a qualidade do plano brasileiro de controle de resíduos,
mas alertaram que precisa ser efetivamente implementado”, comentou o ministro.
Três órgãos são responsáveis pelo registro de agrotóxicos no País: Ibama, Anvisa e Ministério da Agricultura (Mapa). “Não existe uma legislação específica dos três organismos”, afirma Borges Júnior, acrescentando
que apenas a Produção Integrada de Frutas atende às exigências internacionais. Ele lembra que desde 2003
tramita nos três organismos, que fazem parte da Coordenadoria Técnica de Avaliação de Agrotóxicos (CTA),
a criação de uma legislação visando facilitar o registro das chamadas pequenas culturas tropicais. “Já foi
feita consulta pública, cujo prazo foi prorrogado e a expectativa é de que até o fim do ano saia essa
legislação”, afirma. A etapa seguinte à nova legislação, explica, é o registro de produtos que antes deverão
passar por testes de eficiência agronômica na Embrapa para serem validados pela legislação. Se isso não for
feito, as exportações de frutas e sucos vão parar, como já aconteceu com o mel. Fiscais da União Européia,
que proibiram as exportações de mel, em 2005, inspecionaram pomares de maçã e mamão e, segundo
Borges, constataram que o setor privado está bem, mas o governo está mal. “Se o governo brasileiro não
garantir a rastreabilidade, a União Européia vai proibir, primeiro, as exportações de maçã e mamão e,
posteriormente, de todas as outras frutas, além de sucos”, alerta.
Para tentar evitar um colapso no setor, no dia 26 de outubro de 2006, o governo publicou a Instrução
Normativa 58 no “Diário Oficial da União”, tornando obrigatória a adesão ao Sistema de Produção Integrada
de Frutas (PIF) para as empresas que exportam frutas para a Europa. “O grande
problema é que, para haver produção integrada, os agrotóxicos devem estar
registrados no Brasil e não tem produtos registrados para a maioria das
frutas tropicais”, argumenta Borges Júnior. Como forma de resolver
este impasse, o Ministério da Agricultura propôs uma nova normativa
que está sendo analisada pelo setor produtivo por meio da Câmara
Setorial da Fruticultura, visando adequar-se às normas da União Européia para fruticultura. “Os produtores poderão se manifestar e dar
sugestões quanto à nova legislação e a posição deles será levada ao
governo”, afirma Borges, acrescentando que “a legislação é bem ampla
e diz respeito à questão da segurança alimentar. É a rastreabilidade,
que prevê o acompanhamento do produto, da lavoura à mesa, cuidando
para não haver contaminações”.
27
MERCADO INTERNACIONAL
EXPORTAÇÃO
PREMIADA
DIVULGAÇÃO APEX-BRASIL
Projeto de Promoção de Exportação das Frutas Brasileiras e
Derivados agregou valor à commodity, conquistou novos
clientes e gerou aumento de receitas.
Roberto Frey, Renar Maçãs e Moacyr Saraiva Fernandes,
receberam o Prêmio Apex-Brasil.
O Instituto Brasileiro de Frutas – Ibraf – e a
empresa Renar Maçãs receberam o prêmio ApexBrasil de Excelência em Exportação, concedido em
novembro, na categoria “Agregação de Valor nas
Exportações”, pelo caso de sucesso da Renar Maçãs. Design, inovação tecnológica e certificações
técnicas internacionais, entre outros itens, foram considerados na seleção dessa categoria, que premiou a
entidade e a empresa parceira. A Renar desenvolveu
uma embalagem em forma de sacola contendo maçãs
em tamanho menor do que o tradicionalmente
comercializado, para o programa de merenda escolar
da Inglaterra. A iniciativa conseguiu agregar valor e serviço a uma commodity, além de conquistar novos clientes e gerar aumento nas exportações da empresa,
que obteve um crescimento no volume destinado ao
sistema inglês de 244% de 2004 para 2005.
28
O Ibraf foi finalista em mais três categorias, “o
que demonstra a qualidade das ações desenvolvidas
pelo setor”, segundo o presidente do Instituto, Moacyr
Saraiva Fernandes. A primeira foi a categoria “Promoção Comercial Diferenciada” com o projeto Brazilian
Fruit Festival, realizado em redes de varejo internacionais, que permitiu o acesso do empresário brasileiro
a grandes redes no exterior. “Abertura de Novos Mercados” foi outra categoria em que as frutas tiveram
êxito. No período de 2003 a 2005 foram abertos 17
novos destinos para os produtos brasileiros, entre os
quais merecem destaque o case da Atlântica Foods,
com a exportação de sucos e polpas para os países
do Oriente Médio; e da Ruette Spices, com a inserção de tangerinas no mercado Polonês, após ações
de promoção e degustação naquele país. O Ibraf também foi finalista na categoria “Impacto Social” com o
case da ABPEL – Associação Brasileira de Produtores
e Exportadores de Limão -, que com o aumento da
exportação da fruta, cerca de 77% de 2003 a 2006,
gerou 4.428 empregos na região noroeste de São Paulo, além de proporcionar oportunidade de renda para
pequenos produtores da região.
O Prêmio Apex-Brasil de Excelência em Exportação é um reconhecimento da Agência de Promoção de Exportações e Investimentos pelo desempenho das entidades setoriais e empresas vinculadas
ao segmento exportador nacional. “O evento e a
premiação são um incentivo adicional às entidades e
empresas que vêm se destacando quanto ao seu volume exportado, diversificação de produtos, acesso a
canais de comercialização que haviam sido deixados
para trás ou pela conquista de mercados de difícil acesso, entre outras conquistas”, disse Juan Quirós, presidente da Apex-Brasil. Mais de 30 entidades parceiras
se inscreveram no Prêmio, composto de sete cate-
29
MERCADO INTERNACIONAL
gorias e de duas menções honrosas. Entre os ganhadores, além do setor de frutas, estão os setores de
equipamentos médico-hospitalares e odonto-lógicos,
carne, produção de TV, tecnologia da informação, componentes para calçados, plásticos e sisal.
A premiação contou com a presença de diversas personalidades do meio empresarial e econômico, bem como autoridades como o Ministro do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior,
Luiz Fernando Furlan. O Ministro ressaltou a persistência do empresário brasileiro em exportar, mostrando que podemos competir no mercado internacional. “Houve um crescimento de 120% das exportações em 4 anos e ganhamos 30% de market
share”, afirmou Furlan, na ocasião, citando um estudo realizado pela Fundação Getúlio Vargas. O mi-
nistro foi homenageado pela Apex-Brasil com a
premiação “Personalidade de Destaque”.
NOVAS AÇÕES DE PROMOÇÃO
Em 2007, o Ibraf continuará a parceria com a ApexBrasil para promover as frutas brasileiras e seus derivados no mercado internacional. As principais ações
contemplarão apoio e suporte à promoção comercial; promoções em redes de varejo internacionais e
em hotéis; promoções específicas para frutas como
mamão, melão, manga, maçã, citrus, uva e frutas processadas; participação em feiras internacionais como
Fruitlogistica, Gulf Food, Semana Verde de Berlim,
Macfrut e PMA, além da realização do Projeto Comprador e Imagem, que convida compradores e jornalistas internacionais para participar de feiras no Brasil.
ENTIDADES PARCEIRAS QUE CONTRIBUÍRAM COM A CONQUISTA DO PRÊMIO APEX-BRASIL DE EXCELÊNCIA EM EXPORTAÇÃO
30
AGROINDÚSTRIA
MARACUJÁ
MARAVILHA
A cultura do maracujá
profissionalizou-se,
mas passa por desafios
para vencer pragas e
doenças e conseguir
suprir a demanda do
diversificado mercado
da agroindústria.
Marta Correia Meirelles
Sim, o título merece respeito: o Brasil é o maior produtor de
maracujá do mundo. Apesar da honrosa posição, a cultura da
fruta vive um alarmante momento de baixa produção, o que tem
provocado não apenas um aumento no preço do produto in
natura, como também uma diminuição de sua oferta para
processamento industrial. A culpa vai além dos meros ajustes
comerciais que os produtores têm sido obrigados a fazer, de acordo com o agrônomo José Rafael da Silva, vice-presidente do Fundo Passiflora, que apóia a cadeia produtiva do maracujá. O País
vive hoje uma situação anormal de pressão de doenças, em especial do PWV, conhecido popularmente como o vírus do endurecimento dos frutos. “A presença dessa praga nas plantações
tem provocado enormes perdas e dificuldades para o produtor
da fruta”, lastima o especialista.
Para minimizar a questão do consumo interno da fruta, especialmente em sua forma processada, algumas indústrias têm recorrido à importação de concentrados. O que não deixa de reforçar ainda mais a discrepância entre o passado e o presente da
fruta no País.
VAI UM SUQUINHO AÍ?
Há alguns anos, a agroindústria de produção – subdividida
nos segmentos de polpa e de suco integral ou concentrado –
tinha o maracujá como seu carro-chefe na lista de produtos para
exportação e para a demanda interna. Atualmente, no entanto,
diversos fornecedores preferiram diminuir a oferta ou, simplesmente, arrancaram de vez esse item de suas listagens.
Nos bons tempos, o maracujá representava 50% da produção e comercialização da Fruteza, indústria de polpa concentrada e integral de frutas tropicais, localizada em Dracena, SP. Nos
últimos três anos, a produção despencou em quase 95%. “Se
31
AFRUVEC
AGROINDÚSTRIA
em 2004 o maracujá representava 7% da nossa produção, em 2005 alcançou apenas 0,41%”, lamenta
Edilberto Lanzoni, administrador da empresa. Mais
uma vez, a razão da queda livre foi a baixa oferta do
maracujá in natura. “Com produção insuficiente na
região da Alta Paulista para atender à demanda, tivemos de buscar matéria-prima em outros Estados como
por exemplo Mato Grosso e Espírito Santo”, esclarece. Para complicar o cenário, , o ritmo atual de cultivo, muito abaixo da estimativa, derrubou consideravelmente as exportações, apesar do apelo exótico do
maracujá e de outras frutas tropicais no Exterior. Hoje,
os processados de maracujá representam menos de
1% das vendas da Fruteza no mercado externo. A
cada ano, a empresa produz cerca de três milhões de
quilos de polpa e concentrado de fruta e fornece seus
produtos para grandes indústrias de sucos nacionais e
estrangeiras, como Sucos Del Valle, Cocamar e Wow.
BYE, BYE, POLPA
Por sua vez, o gerente de produção de uma tradicional indústria de sucos, instalada na capital de São
Paulo, informou que há um ano a empresa resolveu
suspender a comercialização do suco de maracujá,
exatamente por causa de problemas no fornecimento da polpa. “Nos últimos três anos, a agroindústria
tem sofrido com a falta de matéria-prima e seu preço
chegou às alturas”, afirmou ele, enfático, preferindo
manter o anonimato por razões estratégicas. De acordo com José Rafael, a oferta de suco a valores reduzidos pelo Equador, um dos grandes concorrentes, provocou o exercício de preços muito baixos em 2000,
2001 e parte de 2002 pelos agricultores brasileiros.
Resultado: abandono dos pomares e desânimo dos produtores de maracujá, que desistiram de investir na produção da fruta. De acordo com Rafael, a situação deve
se normalizar dentro de quatro anos, em média. “Isso
se não ocorrer um novo ataque equatoriano ou de outra parte do mundo”, avisa o agrônomo.
DE OLHO NA ECONOMIA
Na explicação de Ângelo Domingos Rossi, presidente do Fundo Passiflora e diretor-presidente da Afruvec
- Associação dos Fruticultores da Região de Vera Cruz –
, SP, com a ocorrência do vírus PWV, o sistema tradicional de plantio ficou comprometido, colocando em risco
sua viabilidade econômica. Que o diga o preço elevado
da fruta destinada ao agronegócio nos últimos anos. “A
indústria sempre se queixou da qualidade da matériaprima, posicionando-se como vítima do mercado onde
o produtor destina à indústria o descarte do consumo in
natura. Isso é explicado pela diferença do valor pago por
esses dois segmentos de mercado, onde, via de regra, o
índice praticado pelo produto in natura é sempre supe32
rior àquele oferecido pela indústria”, enfatiza.
Ângelo Rossi também
se queixa de que a indústria
é refratária a projetos de
integração. “Salvo raras exceções, como a Maguary,
por exemplo, que tem um
Angelo Rossi, diretor-presidente
programa de fomento na reda Afruvec - Associação dos
gião de Araguari, MG, as deFruticultores da Região de
mais indústrias preferem
Vera Cruz.
comprar as frutas quando
disponíveis no mercado por meio de atravessadores,
que fazem contratos de venda e estabelecem uma estratégia de compra diretamente dos produtores na origem, ou seja nas propriedades”, lamenta.
Para José Rafael, mais um problema agrava a situação do produtor. “Falta ao Brasil um eficiente sistema de
informações sobre o que ocorre com a cultura no resto
do mundo. Somos obrigados a nos basear em informações especulativas, com pouca base Técnica”, comenta.
MELHOR PREVENIR
A saga do maracujá na região de Vera Cruz expõe
bem o panorama da cultura no País. Na segunda metade da década de 80, o cultivo da fruta teve marcante
expansão, época em que a cafeicultura atravessava forte crise e os pequenos agricultores buscavam uma alternativa para a diversificação. “As condições de solo
e clima favoráveis à cultura do maracujazeiro foi uma
excelente alternativa ao café. Os custos de produção
eram baixos e a alta produtividade, que, facilmente,
atingia a marca de 40 toneladas por hectare, resultava
numa excelente rentabilidade”, diz Rossi. Outro aspecto
muito importante para o pequeno produtor é que o retorno do investimento se realizava em curtíssimo prazo.
Os plantios de março/abril iniciavam a produção entre o
final de novembro e início de dezembro do mesmo ano
e se estendia até junho/julho do ano seguinte, com venda
de frutas pelo menos três vezes por semana. Na época,
o ciclo de produção do maracujá era de três anos e,
portanto, o custo do plantio se diluía neste período, embora a produtividade fosse um pouco menor no segundo e terceiro anos seguintes à colheita. “Mas o crescimento da produção se deu de forma desordenada. Em
muitos casos, profissionais liberais, donos de pequenas
propriedades de lazer, em busca de uma atividade rentável para manutenção das despesas, transformaram-se
nos chamados agricultores de fim de semana”, esclarece
Rossi. Essa condução pouco adequada da cultura do
maracujá contribuiu, de forma significativa, para o
surgimento e a propagação de doenças, em especial a
mais grave delas, o vírus PWV, que praticamente
inviabiliza a produção nos moldes tradicionais.
CRODA DO BRASIL
Segundo ensina Ângelo Rossi, a produção atual recomenda a adoção do “rouguing”, isto é, o plantio
adensado com cerca de duas mil plantas por hectare e
erradicação daquelas que manifestarem contaminação
pelo PWV até o quarto mês. O ciclo de produção se
tornou anual, com o plantio em agosto e a erradicação
no mês de julho do ano seguinte. Recomenda-se, ainda, a irrigação para minimizar os riscos de perda, em
virtude dos altos custos de produção envolvidos. “As
condições atuais para produzir o maracujá são bem mais
difíceis e exigem, além de investimento, conhecimento de manejo do maracujá, sem o qual os riscos são
altamente potencializados”, ressalta o especialista.
FRUTA DA
BELEZA
PEQUENAS E IMPORTANTES
AFRUVEC
O maracujá é uma cultura que encontra lugar nas pequenas propriedades, com
área média de produção
pouco superior a um hectare por produtor, em função
de algumas características típicas da cultura. “A polinização é feita diariamente de
forma manual na época das
floradas e, em geral, no período da tarde. Dessa forma, a fertilização das flores se
realiza num período bastante curto, exigindo conhecimento das pessoas envolvidas no processo. A colheita
também é trabalhosa e envolve a limpeza das frutas e
sua classificação”, explica Rossi. Por esta razão, raramente se observam grandes extensões de cultivo do
maracujá. E não se pode descartar o risco envolvido
nas grandes culturas.
TRADIÇÃO DE ARAGUARI
Na história da cultura do maracujá, a região do município de Araguari, no Triângulo Mineiro, é considerada uma das únicas no País a permanecer como produtora por mais de 30 anos. O maracujazeiro começou a
ser cultivado ali em 1972. Atualmente, a área é grande
produtora e concentra as principais indústrias
processadoras da fruta. Como parte de um bem-sucedido projeto de terceirização de atividades de uma empresa multinacional do ramo da agroindústria, o agrônomo José Rafael da Silva criou a “Viveiros Flora Brasil”. Trata-se de uma empresa especializada no melhoramento genético de frutas, com prioridade na manutenção da qualidade do maracujazeiro. O principal foco
da empresa sempre foi o de ajudar a indústria a suprir
os agricultores integrados da região de Araguari, com
sementes geneticamente melhoradas e mudas produzidas dentro de rígidos padrões técnicos.
Óleo de maracujá: aproveitamento das
propriedades da fruta na indústria de
cosméticos é recente.
A exploração das propriedades calmantes do maracujá é antiga. Mais recente - e cada vez mais valorizado - é seu uso na promissora indústria da beleza. A
Croda do Brasil, multinacional inglesa instalada em
Campinas, SP, há 25 anos, fabrica especialidades
químicas para os setores cosmético, farmacêutico e
industrial. A Croda desenvolveu e produz, há seis
anos, um extrato oleoso obtido a partir das sementes da fruta. Este derivado foi desenvolvido na unidade paulista, mas é fabricado na Crodamazon, subsidiária da empresa instalada em Manaus, AM. Utilizado pelas indústrias da beleza, o óleo de maracujá
proporciona algumas vantagens em relação aos demais. “Ele é riquíssimo nas cadeias linolênicas, que
correspondem a mais de 70% de sua composição. Isso
faz do produto um excelente emoliente natural, já
que o ácido linolênico é encontrado na própria pele.
Também ajuda a controlar a produção das glândulas
sebáceas, normalizando as peles oleosas”, explica
Vânia Pacchioni, gerente de negócios da empresa.
Segundo ela, são produzidas entre 30 e 50 toneladas
de óleo de maracujá por ano, que acabam nos frascos de cremes, loções, condicionadores capilares, produtos solares e infantis. A pesquisa já catalogou cerca
de 420 espécies da Passifloraceas na natureza. No Brasil, são mais de 150 espécies e em torno de 60 delas
comestíveis. Apenas duas, porém, são aproveitadas comercialmente no País: o amarelo ou azedo ( Passiflora
edulis f. flavicarpa) e o doce (Passiflora alata).
33
TECNOLOGIA
SINTONIA EM
PERIGO
Pesquisa sucateada por falta de recursos, dificuldade de obtenção
de financiamento e pouca difusão do conhecimento científico
atrasam o desenvolvimento de tecnologias para a fruticultura, que
precisa delas para se manter em condições de igualdade no mercado.
Beth Pereira
A dissociação entre a pesquisa e a produção é um
dos gargalos da fruticultura brasileira, o que tem dificultado a difusão de tecnologia no setor. “A deficiência de comunicação entre o meio acadêmico e o setor privado é um dos maiores gargalos para o planejamento da pesquisa e a transferência de tecnologia”,
afirma o presidente da União dos Agronegócios do
Vale do Jaguaribe –Univale –, João Teixeira Júnior, da
Frutacor. Para ele, existe um grande hiato entre estes
dois elos da cadeia da fruticultura.
Teixeira Júnior aponta o sucateamento da pesquisa,
“tanto no nível das universidades como nos centros da
Embrapa e nas empresas de pesquisas estaduais”. Conforme explica, “a falta de recursos financeiros é enorme,
como também a limitação dos recursos humanos e a carência de infra-estrutura, principalmente de laboratórios”.
CONQUISTA DO PRODUTOR
O Rio Grande do Norte é considerado o maior
34
produtor de melão e segundo maior exportador em
valor de frutas frescas do Brasil. Segundo as estatísticas da Secex, a região exporta 110 mil toneladas de
melão. “Toda essa conquista é mérito do produtor. É
feita da porteira para dentro”, argumenta Francisco de
Paula Segundo, presidente do Comitê Executivo de
Fitossanidade do Rio Grande do Norte –Coex –, órgão que congrega os produtores da região. “Importamos tecnologias de irrigação por gotejamento de Israel e da Espanha e adaptamos as variedades frutíferas
de outros locais às nossas condições climáticas”, conta. “Exportamos tecnologia de fertirrigação por
gotejamento para o pólo de fruticultura de Petrolina,
em Pernambuco.”
A região de Mossoró, Baraúna e Açu, importante
pólo de produção de frutas do País, sofre diretamente
com a falta de tecnologia. “Sequer uma unidade da
Embrapa temos aqui”, reclama Segundo. Ele acrescenta que o único órgão de pesquisa do Estado é a
COEX
Dependemos da pesquisa para crescer,
porém, faltam recursos, diz Francisco
Segundo, Coex.
Empresa de Pesquisa do Rio Grande do
Norte – Emparn –,
que enfrenta muita
dificuldade, principalmente por causa
da deficiência de
pessoal. “A Emparn
está ‘capenga’ por
falta de gente para
trabalhar ”, avalia.
“Dependemos da pesquisa para crescer, porém,
faltam recursos.” Ele explica que “o grande apoio
recebido pelos produtores em pesquisa e desenvolvimento de tecnologia para a fruticultura é da
Universidade Federal Rural do Semi Árido – Ufersa
–, que não é um órgão especializado em pesquisa,
mas em ensino. No entanto, acaba suprindo o
papel da pesquisa”.
De acordo com Segundo, as tecnologias relacionadas à sanidade das frutas são fundamentais
para o produtor se manter na atividade. Ele menciona que 80% dos produtores do pólo de fruticultura de Mossoró são agrônomos e vivem da
produção. “Isso tem mantido a região competitiva”, avalia. “A fruticultura garante mais de 80 mil
empregos na região, que é a mais pobre do País,
sendo 28 mil empregos diretos”, ressalta.
Segundo destaca as pesquisas realizadas
pelas empresas de defensivos, mas observa que
elas são voltadas para as suas linhas de produtos.
“O produtor, porém, quer uma pesquisa que
ajude a reduzir o uso de defensivos, o que é
bom para o bolso e para o meio ambiente.”O
presidente da Coex afirma que os maiores
problemas da região são a mosca minadora e a
mosca branca, que causam os maiores prejuízos
para a fruticultura. “Como existem parasitóides, que
podem manter um equilíbrio natural, mandamos
pesquisadores da Ufersa e da Emparn para a Colômbia, para trazer a tecnologia do parasitóide
Digliphus, um predador da mosca minadora, mas
tudo está parado por causa da burocracia do
governo brasileiro. O governo liberou a importação do parasita, mas o documento de liberação
ainda não chegou”, reclama.
No Rio Grande do Norte, ele diz que o maior
problema é sensibilizar os governos para a criação
de um projeto voltado para esse setor. “Enquanto
isso não ocorrer, vamos ter esse gargalo”, enfatiza.
“Temos de ficar alerta, até porque a América Latina toda está concorrendo com o Brasil, com muito mais tecnologia e mais recursos. Se não acordarmos, vamos perder mercado. Isso não é conversa de produtor, isso é realidade.”
FALTAM RECURSOS
Para o pesquisador Rafael Pio, que saiu recentemente do
Centro Apta Frutas, do Instituto Agronômico –IAC – e foi para a
Universidade Estadual do Oeste do Paraná - Unioeste -, um dos
entraves para a pesquisa é a falta de recursos. “Conseguir financiamento está cada dia mais difícil e concorrido”, afirma. “Por
isso, temos buscado mais parcerias com os produtores e estamos
desenvolvendo algumas pesquisas dentro das próprias propriedades, tanto de manejo quanto de melhoramento genético”, conta. De acordo com Pio, vários entraves dificultam o repasse das
tecnologias. Um deles, por parte dos produtores, explica, é falta de maleabilidade na adoção de novas tecnologias geradas nos
campos experimentais. “Os produtores, muitas vezes, alegam
que os ensaios são muito pequenos e a confiabilidade é também
pequena. Sabemos que os ensaios devem ser reduzidos frente
aos custos das parcelas experimentais”, pondera.
Da parte dos pesquisadores, Pio cita como grande entrave o
baixo interesse pelas publicações técnicas, como boletins, manuais práticos e notas técnicas. “Como essas publicações na carreira científica equivalem a poucos pontos e já que somos avaliados pela produção bibliográfica pelas agências financiadoras de
recursos e os artigos científicos publicados em periódicos
35
João Pratagil Pereira de Araújo, da
Embrapa Agroindústria Tropical.
especializados equivalem a maiores pontuações, os
pesquisadores concentram esforços nessas publicações”, justifica. “Os pesquisadores do Centro
Apta Frutas, consideram essa atitude
antiprofissional, uma vez que a proposta de trabalho é a geração de tecnologias para atender às demandas dos produtores, que são o público-alvo
da pesquisa. Temos como obrigação divulgar para
os produtores o que geramos, de forma prática e
técnica”, defende.
“Vários países da América Latina
concorrem com o Brasil, com mais
tecnologia e recursos. Se não
acordarmos, vamos perder mercado.”
Para haver aproximação da demanda de produção e da pesquisa, Pio lembra que são realizados dias de campo ou palestras, “onde procuramos demonstrar as visões gerais do manejo da
cultura em questão e a importância da introdução
de novos cultivares”, explica. “Nesses encontros,
aproveitamos para frisar a importância da utilização de tecnologias, como a poda e o tratamento
de inverno para as fruteiras de clima temperado,
além de apresentar novas tecnologias”, destaca e
acrescenta que os produtores apontam suas necessidades e os pesquisadores levantam as demandas e estabelecem parcerias para a execução dos
ensaios nas próprias propriedades rurais. “Com
isso, aumentamos a confiabilidade dos produtores
frente às novas tecnologias.”
MAIS PREPARADO
Segundo o pesquisador João Pratagil Pereira de
Araújo, geneticista da Embrapa Agroindústria Tropical, em Fortaleza, CE, o Brasil tem uma estrutura de
pesquisa na área tropical “desenvolvida e preparada
para dar as respostas que os produtores necessitam”.
No entanto, o pesquisador da Embrapa afirma que
“o Brasil precisa avançar nos processos de organização das cadeias produtivas da fruticultura para que o
setor atue, de forma integrada e articulada, com um
planejamento estratégico que seja representativo dos
interesses e das necessidades dos participantes da
cadeia produtiva”. Segundo ele, “neste contexto, os
centros de pesquisas devem inovar no processo de
articulação e de organização dessas cadeias produtivas para que se estabeleça um fluxo de informações
sobre as demandas de pesquisas e de informações
36
tecnológicas que essas cadeias desejam
para permanecer
nos mercados atuais
e até conquistar novos mercados”.
Pratagil considera
a tecnologia uma
grande aliada do
produtor. “Ela passa
pela inovação do
produto, do processo, do sistema de produção e
da comercialização”, ressalta e acrescenta que
“por isso as empresas de pesquisa devem estar
sintonizadas com as necessidades dos consumidores e dos produtores, que vão exigir respostas
em tecnologias para que eles possam inserir, de
forma competitiva e sustentada, nos mercados”.
Conforme avalia, a globalização da economia deu
ao País a oportunidade de inserir suas frutas no
mercado internacional, de consumidor mais exigente, que busca qualidade e segurança do alimento. “Com isso, o Brasil passou a competir com
outros países de clima tropical, como Índia e México, por exemplo, que são concorrentes da fruticultura brasileira”, diz.
EXEMPLO DE SUCESSO
Nos anos 90, a Embrapa Agroindustria Tropical desenvolveu um processo de indução da cadeia produtiva do caju com sucesso. “Criamos
tecnologias que permitiram a substituição de copas de cajueiros velhos pelo cajueiro anão precoce; desenvolvemos técnicas de manejo de solo e
da planta e da pós-colheita do caju anão precoce,
que tornou viável o mercado de comercialização
do caju in natura”, lembra, acrescentando que “hoje
várias empresas do Nordeste produzem caju de
mesa in natura e enviam para todo o Brasil”.
Pratagil lembra que, em 2000, o governo criou
a Secretaria de Agricultura Irrigada, que promoveu a agricultura irrigada no Estado. Com esse
impulso, o Ceará, que na época exportava anualmente cerca de US$ 800 mil em frutas, fechou
2005 com exportações de US$ 44 milhões. “Graças ao uso de tecnologias nacionais e internacionais, em cinco a seis anos, os produtores tornaram-se competitivos”, diz. No entanto, ele garante
que “os produtores já sentem a necessidade de
novas tecnologias apropriadas às condições do
semi-árido, como o desenvolvimento de variedades brasileiras de melão, cujos híbridos são comprados de empresas espanholas e americanas. O
mesmo se aplica ao mamão”.
EMBRAPA
TECNOLOGIA
37
MEIO AMBIENTE
A BASE DO
POMAR
Manejar corretamente o solo, preservando suas características,
fertilidade e sustentabilidade, mais do que um cuidado
ambiental, é uma necessidade para o fruticultor, que pode
obter vantagens, inclusive no pós-colheita.
Marlene Simarelli
38
associação de culturas e de coberturas alternativas de inverno”, afirma o pesquisador Pedro Freitas, da
Embrapa Solos, do Rio de Janeiro,
um dos maiores incentivadores do
sistema de plantio direto.
“Quem instala um pomar, que
vai produzir durante 15 a 20
anos, é porque pretende permanecer no local. Em função disso,
o preparo do solo e o plantio com
fins conservacionistas devem ser
prioritários. Entre as práticas,
deve-se priorizar a manutenção
do solo com coberturas vegetais,
utilizando a roçadeira ao invés da
grade; aumentar a saturação por
bases nas profundidades do solo
com maior concentração de
raízes em toda a área de plantio;
alocar o plantio em curvas de nível, com cordões em contorno
Cobertura vegetal com olerícolas, exemplo de conservação
com duas culturas com retorno econômico.
AFONSO PECHE/IAC
A ciência e a prática já comprovaram os benefícios para o meio
ambiente das técnicas de conservação de solo na redução do
assoreamento e no aumento da
vazão dos mananciais; a retenção
da água no solo, a manutenção ou
retomada do equilíbrio da presença de insetos e redução de pragas
e doenças, entre tantos outros. A
Produção Integrada de Frutas – PIF
–, em vigor no País para diversas
culturas, tem como premissas básicas o monitoramento da qualidade
do solo nos aspectos físicos, químicos e biológicos; o controle dos processos de erosão; o manejo das
plantas infestantes com manutenção
da cobertura vegetal para proteção,
etc. “O cuidado com o preparo do
solo para o plantio de mudas de frutíferas, sejam anuais ou perenes, nas
regiões tropicais e subtropicais,
como o Brasil, deve considerar que
muitos dos prejuízos na agricultura,
como baixa produtividade, têm
sido causados pelo preparo inadequado. O preparo, que é considerado o manejo físico do solo, deve
estar associado à utilização de sistemas de rotação, consorciação e
vegetados, terraços e outras práticas conservacionistas mais complexas à medida que a declividade aumenta”, orienta o pesquisador
Laércio Duarte Souza, da Embrapa
Mandioca e Fruticultura Tropical,
Cruz das Almas, BA, que trabalha
com manejo e conservação do solo
e fruteiras. O cultivo em terrenos
inclinados facilita a erosão e requer
medidas de controle, que podem
ser tanto mecânicas (terraceamento, plantio em nível ou em
faixas, etc.) como vegetativas (plantio direto ou preparo mínimo, cobertura do solo, rotação de culturas, etc.). Terrenos planos com
depressões podem favorecer o
acúmulo de água, requerendo
ações de drenagem. “A manutenção da estrutura do solo pelo uso
de métodos conservacionistas de
preparo é um meio, em potencial,
para redução de perdas de água
por erosão e por evaporação; e
para o aumento da infiltração e da
capacidade de armazenamento no
solo”, assegura Pedro Freitas.
MUITA COBERTURA
“O manejo da cobertura vegetal é fundamental para a fruticultura moderna, em áreas tropicais,
onde o solo tem que estar cober-
to sempre, com cobertura morta ou viva,” enfatiza Afonso
Peche, pesquisador do Instituto
Agronômico de Campinas. Ele
relata que “são utilizadas práticas de manejo de plantas de cobertura em pomares de plantas
perenes para diminuir os efeitos
do tráfego localizado, principalmente a compactação na linha do
rodado. Cobertura morta é preconizada para cobrir o solo nos
períodos em que a fruteira está
brotando, florindo e formando o
fruto (chumbinho). Cobertura verde é indicada para cobrir as entrelinhas continuamente”. Peche
acrescenta que “nos períodos em
que a fruteira está descansando ou
“dormindo” é muito interessante
que a planta de cobertura vegete
vigorosamente, pois assim produz
fitomassa e desenvolve bastante o
sistema radicular. Quando a fruteira estiver próxima de “acordar”,
a cobertura deve ser rebaixada
mecanicamente, preparando o espaço para desenvolvimento da
planta cultivada”. Como benefícios da cobertura vegetal no pomar,
o pesquisador elenca a proteção
da superfície contra as chuvas torrenciais, o sol e o vento; o fornecimento de alimento para o com-
EMBRAPA CNPMF
PIF prevê cultivo ambientalmente sustentável como
o mamão consorciado com leguminosas.
39
MEIO AMBIENTE
plexo vivo do solo; a contribuição para manter a biodiversidade local; a contribuição para
o manejo do mato e para a construção do
perfil produtivo do solo, etc.
Em relação às plantas para cobertura, as
leguminosas fixam nitrogênio do ar e, em
virtude do seu sistema radicular profundo e
pivotante, reciclam nutrientes das profundidades maiores para a superfície, explica Laércio
Duarte Souza. “As raízes funcionam como
drenos em solos compactados e adensados,
devido à profundidade alcançada e à lenta decomposição. A parte aérea, com alto teor de
nitrogênio, de rápida decomposição, é boa para
incorporar nutrientes, mas cobre a área por um
período muito breve”, diz. Ele acrescenta que
“as gramíneas têm sistema radicular volumoso
e superficial, com capacidade de agregar e estabilizar as partículas do solo, melhorando estrutura e porosidade. A parte aérea, mais rica
em carbono, resiste mais à decomposição e
mantém o solo protegido por mais tempo”.
ROTAÇÃO DE CULTURAS
A base da conservação do solo para as
fruteiras anuais, como morango, melão e
melancia, é a adequação do local e a rotação de culturas. Afonso Peche explica que
“a adequação passa pela implantação do
terraceamento”, mas lembra que sozinho
não controla a erosão, sendo necessário a
adoção de práticas complementares, como
plantio em nível e cobertura permanente da
superfície. No caso do morango e do melão, normalmente a cobertura é feita com
filme plástico e os canteiros devem, na medida do possível, ser construídos “cortando”
o declive, jogando as águas excedentes em
um canal escoadouro, projetado para o local. A melancia é plantada em área total,
devendo ser sobre cobertura morta ou sobre superfície devidamente preparada, com
coveamento em nível.
Peche ressalta que “a rotação é técnica
antiga, com resultados incontestáveis em culturas perenes, como muitas fruteiras. Ele
sugere, nesses casos, a prática da rotação
através dos plantios intercalares. “Nos estágios iniciais de crescimento é sempre interessante manter a cobertura com auxílio de
culturas econômicas, como milho, girassol,
trigo, aveia e outras gramíneas; e também
de olerícolas, como couve, repolho e outras folhosas”, orienta Peche.
40
Influência no
Pós-Colheita
Pêssegos produzidos em pomares com cobertura vegetal apresentam firmeza de polpa superior aos colhidos em pomar com cultivo tradicional. A
constatação é resultado da pesquisa sobre influência do manejo do solo na conservação e na qualidade pós-colheita de pêssegos, conduzida pelo engenheiro agrônomo Carlos Roberto Martins, professor da PUCRS, em Porto Alegre. A pesquisa estudou
o efeito do manejo do solo, mantido com cobertura
vegetal na linha de plantio, sobre a qualidade póscolheita de pêssegos durante o armazenamento refrigerado. Os tratamentos constaram de frutas colhidas
em pomares com cobertura feita com aveia e sem cobertura, com cultivo tradicional, em três estádios de
maturação. As avaliações de firmeza, acidez (ATT), sólido solúvel total (SST) e coloração foram feitas na
colheita e após 6, 12 e 18 dias de armazenamento,
mais três dias de simulação de comercialização. “Vale
lembrar que, de forma geral, a fruta não melhora a
qualidade, apenas mantém os aspectos determinados
na fase de campo”, afirma o professor.
Segundo Martins, “o equilíbrio dos nutrientes no solo
é fator preponderante na definição da qualidade das
frutas tanto para consumo in natura quanto para
potencializar a armazenagem”. Ele observa que “sistemas de produção com cobertura verde, proporcionam,
ao longo dos anos, reciclagem de nutrientes, recuperação do solo, dos balanços hídrico e nutricional, possibilitando a redução de fertilizantes químicos. As plantas são mais resistentes às enfermidades,
nutricionalmente bem equilibradas; nelas, os macros
e micronutrientes assumem importantes papéis nos
processos bioquímicos e fisiológicos, influenciando as características físicas e químicas das plantas
e frutas. Por isso a utilização de cobertura vegetal
do solo melhora o potencial de armazenamento das
frutas de caroço, contribuindo para a manutenção
da firmeza de polpa, coloração das frutas e características sensoriais tendo uma aceitabilidade comercial e
qualidade geral superior.”
AGENDA
dez
2006
01 e 02 • FESTA DA FRUTA - BAIXO ACARAÚ
Perímetro Irrigado do Baixo Acaraú (Marco/CE)
Info: Cristiane (88) 3664-4080 / (85) 9956-8695
[email protected]
jan
2007
nacionais
06 a 07 • OFICINA DE SEGURANÇA NO TRABALHO RURAL (IAC)
Anfiteatro Otávio Tisseli Filho(Campinas/SP)
Info: Jair Rosas da Silva (19) 3231-5422 ramal 159
[email protected] www.iac.sp.gov.br
fev
2007
jan/fev
2007
19 a 22 • GULFOOD - (Ibraf - Instituto Brasileiro de Frutas)
Dubai World Trade Center - Dubai/Arábia Saudita
Info: Paulo Passos (11) 3223-8766 • [email protected]
www.gulfood.com
20 a 22 • IFE HUNGARY (Montgomery International Limited)
Budapest Sports Arena - Budapest/Hungria
Info: Jemma McLaughlin (44) 0 - 20 7886 3116
[email protected] • www.ifeworldwide.com
mar
2007
07 a 10 • SIFEL - 2006 (Iec - International Exhibition & Conferences)
Agadir Expo - Agadir/ Marrocos
Info: (212)-0-22 47 06 00 • [email protected]
www.iec-marocco.com
11 a 14 • HORTIASIA
Chiang Mai - Exhibition Hall - Chiang/Tailândia
Info: Read Tradex (66) 2686-7299 - EXT. 7239
[email protected] • www.hortiasia.com
15 a 18• BIOFACH NÜREMBERG 2007 (Nürnberg Messe)
Centro Ferial de Nüremberg - Nüremberg Alemanha
Info: 49(0) 9 11. 86 06-49 09 • [email protected]
www.biofach.de
20 a 22 • SIA (Ibraf - Instituto Brasileiro de Frutas)
Pavilhão de Exposições de Versailles - Paris/França
Info: Paulo Passos (11) 3223-8766 • [email protected]
www.salon-agriculture.com
abr
2007
jan
2007
dez
2006
internacionais
07 a 09 • IFE & THE INDIAN MARKET (Multirep Services)
Pragati Maidan Fair Grounds - Nova Delhi/Índia
Info: Andrea Batazzi (39) - 06-3600-5375
[email protected] • www.ifeworldwide.com
19 a 28 • SEMANA VERDE DE BERLIN (Ibraf - Instituto Brasileiro
de Frutas)
Messe Berlin - Berlin/Alemanha
Info: Paulo Passos (11) 3223-8766 • [email protected]
www.gruenewoche.de
08 a 10 • FRUIT LOGISTICA (Ibraf - Instituto Brasileiro de Frutas)
Messe Berlin - Berlin/Alemanha
Info: Camila Gonçalves (11) 3223-8766
[email protected] • www.fruitlogistica.de
09 • CURSO DE HORTICULTURA E FRUTICULTURA ORGÂNICA
(Associação de Agricultura Orgânica - AAO)
Sítio Catavento - Indaiatuba (São Paulo/SP)
Info: Associação de Agricultura Orgânica • AAO (11) 3875-2625
[email protected] www.aao.org.br
26/01 a 20/02 • FENAVINHO 2007 (FESTA NACIONAL DO VINHO)
Parque de Eventos de Bento Gonçalves (Bento Gonçalves/RS)
Info: Paulo Geremia (54) 3451-7500
[email protected] • www.fenavinhobrasil.com.br
18 a 21 • IFOWS (Ferias Alimentarias)
Nova Delhi/Índia • Info: Irene Salazar (54) 114555-0195
[email protected] • www.feriasalimentarias.com
26 a 28 • MACFRUT (Ibraf - Instituto Brasileiro de Frutas)
Cesena Fiera - Cesena/Itália
Info: Paulo Passos (11) 3223-8766 • [email protected]
www.macfrut.com
41
OPINIÃO
RESÍDUOS DE PRAGUICIDAS
EM FRUTAS
O consumo de frutas é extremamente importante numa dieta saudável, pois pode garantir o acesso a minerais, vitaminas e fibras, ajudando a
prevenir doenças e promovendo a
boa saúde. Para garantir o acesso dos
consumidores a alimentos, incluindo as
frutas, com adequado padrão de qualidade nutricional, os órgãos reguladores estabelecem limites máximos de resíduos químicos e de microorganismos
que podem estar presentes no produto final. Estes limites são estabelecidos
com auxílio da comunidade científica,
utilizando criteriosa avaliação de estudos toxicológicos e de dados epidemiológicos. Todo esse processo é
denominado de Segurança Alimentar ou Food Safety.
(IDA), que é o total de resíduos de
um determinado composto, que
pode ser consumido por uma pessoa
durante toda sua vida, sem causar
danos à sua saúde. A comparação dos
LMRs com a IDA é o pilar científico
da avaliação do risco do consumo de
resíduos de praguicidas.
No Brasil, existem alguns programas de análise de resíduos de praguicidas em alimentos, dentre os quais
destacam-se o “PARA”, da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária Anvisa -,, e o Sirah - Sistema de Informações de Resíduos de Agrotó-xicos
em Horticultura -, da Ceagesp, que têm
como objetivo principal a garantia da
qualidade dos alimentos sujeitos ao uso
de praguicidas. Estes programas
- as frutas são lavadas em água corrente, promovendo um efeito abrasivo
que remove os resíduos presentes
na superfície das mesmas;
- faz a remoção da casca, o que também reduz os resíduos, porém esta
ação pode resultar em perda de
nutrientes e fibras;
Outra maneira da população contribuir para reduzir a ingestão é incluir uma variedade de frutas na dieta, de várias fontes, pois assim há a
possibilidade de fornecimento de
uma quantidade maior de diferentes
nutrientes e a redução de uma prová-
Exportação de frutas motiva maior rigor no controle de resíduos.
Dentre os produtos químicos que
podem gerar resíduos nas frutas, destacam-se os praguicidas, sendo conhecida sua ampla utilização na agricultura para garantir qualidade e produtividade. O risco destas substâncias para a saúde humana vai depender da toxicidade destes produtos e
do nível de exposição aos mesmos.
Sendo assim, os praguicidas devem
ser avaliados de forma cautelosa, no
intuito de assegurar os benefícios e
controlar os possíveis riscos.
No Brasil, para que um praguicida
possa ser comercializado, inicialmente ele é avaliado em relação à sua
toxicidade e somente será registrado, se não apresentar efeitos adversos sérios quando da administração a
animais de experimentação. Posteriormente, é estabelecido o Limite Máximo de Resíduo (LMR) para cada cultura onde seu uso é recomendado.
Para cada praguicida é estabelecida
ainda a Ingestão Diária Aceitável
42
quantificam os resíduos, rastreiam a fonte dos problemas e subsidiam ações de
vigilância sanitária.
Se os limites máximos de resíduos forem cumpridos adequadamente, espera-se encontrar quantidades
mínimas dessas substâncias químicas
nas frutas. O panorama atual de resíduos em frutas é mais brando em relação à década passada, principalmente quando se trata de frutas que também são exportadas (manga, melão,
uva, maçã, entre outras). Obrigados
a se adequarem às rígidas regras internacionais de resíduos, os fruticultores aplicam e monitoram mais rigorosamente seus pomares, tomando os mesmos cuidados para produtos de exportação e de venda no mercado interno. O resultado é a maior
segurança alimentar para o consumidor de frutas. Além disso, a população também pode contribuir para reduzir ainda mais a ingestão destes resíduos, quando:
vel exposição excessiva a um único
praguicida. No geral, as avaliações mais
recentes demonstram uma evolução da
qualidade das frutas disponíveis no
mercado brasileiro. O consumo de frutas deve ser estimulado, assim como
os programas de controle de qualidade das mesmas. Entretanto, é preciso
alertar para os riscos da saúde do
aplicador que, por desconhecimento
ou descuido, entra em contato direto
com os praguicidas, prejudicando sua
saúde. Outra questão importante na
hora de aplicar é o cuidado com a contaminação dos recursos naturais, como
água e solo, além da escolha do
praguicida correto, de acordo com as
necessidades agronômica.
Flavio Zambrone
Médico Toxicologista
Diretor-presidente da Planitox
Professor da Universidade Estadual de
Campinas – Unicamp
ESPECIAL
POLÔNIA
EM FOCO
IBRAF
A participação na Polagra-Food é vitrine para ingresso das frutas
nacionais no mercado polonês e nos demais países do Leste Europeu.
A pequena visitante saboreia suco brasileiro oferecido ao público
Negócios realizados na ordem de US$ 140 mil
com expectativa de movimento de mais US$ 8 milhões para os próximos 12 meses são os resultados
da participação das 18 empresas brasileiras dos setores de bebidas, sucos, frutas, balas e bombons, café
e carne na Polagra-Food 2006 em Poznan, Polônia.
A feira polonesa de produtos alimentícios recebeu
40 mil visitantes em sua 23ª edição, em setembro.
Segundo Valeska Oliveira, gerente executiva do Instituto Brasileiro de Frutas – Ibraf, “a Polônia é um
potencial mercado para inserção das frutas brasileiras e seus derivados, sendo uma porta para a abertura de negócios com o Leste Europeu”. A gerente
afirma que “há curiosidade pelas frutas do Brasil e,
também, encanto pelo sabor do suco brasileiro. Contudo”, diz ela, “o desconhecimento das variedades
frutícolas nacionais ainda é muito grande. Por isso,
ações de marketing voltadas ao trader e também ao
consumidor são imprescindíveis para fortalecer a imagem do País como supridor de frutas tropicais, temperadas e processadas.”
A participação na Polagra possibilitou o contato
com aproximadamente 100 compradores internacionais interessados nos produtos brasileiros e o maior conhecimento dos mercados polonês e do lesteeuropeu. Conforme Valeska, “o mercado polonês é
43
IBRAF
ESPECIAL
ainda jovem para as frutas e derivados brasileiros, e tende a
aumentar gradualmente com a entrada daquele país na Comunidade Européia pela elevação do poder aquisitivo dos consumidores”. Durante o evento, foram degustados sucos de manga e goiaba, da empresa Predilecta Alimentos; e caipirinha com
limão, oferecida pela ABPEL – Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Limão.
O pavilhão brasileiro, foi organizado pela Conceito Brasil e
contou com o apoio da Apex-Brasil - Agência de Promoção de
Exportações e Investimentos, que incentiva, desde 2004, os produtos brasileiros na Polagra. Os empresários brasileiros também participaram de seminário sobre o Centro de Distribuição
de Varsóvia da Apex-Brasil, que contou com a presença do Embaixador do Brasil na Polônia, Marcelo Jardim. O Centro foi criado para reduzir a distância entre os exportadores brasileiros e
seus clientes no exterior. Inaugurado em julho de 2006, possui
900m² de espaço para armazenagem, além de escritórios, salas de reunião e showroom.
Pavilhão brasileiro contou com o apoio da Apex-Brasil.
ECONOMIA EMERGENTE
Há 16 anos, a Polônia efetuou uma mudança sistêmica histórica: foram erguidas as bases da economia de mercado e con-
44
solidou-se a importância do setor privado, abrindo suas
portas para o mundo. Ingressou na Organização Mundial
do Comércio - OMC, na Organização Para a Cooperação
e Desenvolvimento Econômico - OCDE, na Organização
para o Tratado do Atlântico Norte - OTAN e na União
Européia, em 2004. Com isso, sua participação e importância na economia mundial têm aumentado nos últimos
anos. O indicador mais sintético ilustrativo desse crescimento é a dinâmica do Produto Interno Bruto, que aumentou 5,4% em 2004. A idéia central da política econômica externa polonesa é o estreitamento dos laços com o
mundo e a integração com a economia mundial. Prevê-se,
no futuro, que as tendências de crescimento da sua economia se manterão, também, graças ao maior consumo e
aos investimentos nacionais.
A Polônia continua a ser um dos receptores principais
de investimentos estrangeiros diretos na Europa Central e
de Leste, devido ao grande e absorvente mercado interno, aos baixos custos de produção e adequada qualificação da força de trabalho. A localização geográfica do país
também é um atrativo, pois favorece o desenvolvimento
de cooperação com os mercados do Leste, como Rússia,
Ucrânia e outros países da Comunidade dos Estados Independentes (CEI). O País pertence à liderança dos produtores mundiais de inúmeras mercadorias industriais, com
destaque para a produção de cobre refinado, enxofre, ácido sulfúrico, carvão de pedra e linhito, bem como de aparelhos de televisão, cimento, aço cru e energia elétrica.
Também é grande produtor mundial de artigos agro-alimentícios, com destaque para centeio, aveia, batatas, beterraba açucareira e suínos, além de cevada, trigo, açúcar,
carne, leite de vaca e ovos de galinha.
ARTIGO TÉCNICO
ANONÁCEAS: DO
BRASIL IMPÉRIO A
IEA
ATEMÓIA
Bahia e São Paulo
são os maiores
produtores das
anonáceas, entre
elas a atemóia, que
apresenta maior
crescimento devido
à incorporação de
tecnologia com
melhor remuneração
para o produtor.
A fruta-do-conde (também chamada ata ou pinha), a mais conhecida das anonáceas brasileiras, foi
introduzida no País em 1626 na
Bahia, pelo conde Miranda, e no Rio
de Janeiro em 1811, a pedido do
rei D. João VI. Atualmente, cinco
espécies da família destacam-se no
mercado nacional: graviola, frutado-conde, cherimóia, fruta-da-condessa e atemóia. Do cruzamento
da ata com a cherimóia surgiu o recente híbrido atemóia, cultura que
está restrita a alguns países tropicais
e subtropicais, por se adaptar melhor às condições intermediárias
entre a cherimóia, fruta de clima
temperado, e a ata, natural de clima tropical. No Brasil, somente a
atemóia apresenta cultivares adaptadas ao clima subtropical, como
Gefner, African Pride, Pink‘s
Mamooth, por exemplo. Pomares
comerciais de atemóia começaram
a produzir nos anos 90, fruto de
pesquisa do Estado de São Paulo a
partir da década de 1950.
A produção nacional de
anonáceas concentra-se nas regiões
Nordeste e Sudeste, com predomínio na Bahia, seguida de
Pernambuco, Rio
Grande do Norte e
Alagoas, com a pinha e
a graviola, e São Paulo
e Minas Gerais, com a atemóia.
TECNOLOGIA
PARA PRODUZIR
Atemóia:
menos
sementes e
mais polpa
Atualmente, o mercado, desfavorável para algumas frutas mais
convencionais, tem estimulado a
procura dos fruticultores paulistas
por mudas selecionadas para o
plantio de atemóia, aquecendo, inclusive, a produção dos viveiros de
mudas. Embora o preço recebido
pelo produtor de atemóia tenha se
reduzido nos últimos tempos, a receita por ele auferida ainda é estimulante. Para o consumidor, essa
retração do preço é bastante positiva, principalmente por ser uma
fruta ainda cara para a renda da
população, em geral.
Em São Paulo, maior produtor,
são nas regiões mais frias que ocorrem a expansão mais acentuada do
seu plantio, como as de Botucatu,
Itapetininga e Sorocaba. Já, nas regiões de Jales e Lins – mais quen45
ARTIGO TÉCNICO
tes e tradicionais no plantio de
anonáceas, principalmente da pinha – não tendo tecnologia tão
bem adaptada para a atemóia, a
produção ainda é incipiente. Os
técnicos, especialistas nesta fruta,
têm insistido num manejo que
atenda às especificidades regionais. Segundo eles, o uso correto da tecnologia é ponto fundamental para a obtenção de qualidade, aumento de produção e
sustentabilidade da atividade local. Tem-se observado que o cultivo da atemóia ainda está restrito a
poucos produtores, os quais vêm
adotando, a contento, as recomendações técnicas de produção.
perdendo espaço para a atemóia
nos últimos anos.
Devido ao interesse dos produtores e da crescente importância da atemóia no mercado
paulista, a partir da safra 2002/03
as estatísticas sobre essa fruta passaram a ser levantadas separadamente das demais anonáceas. Verificou-se que em 2004/05 a produção de atemóia cresceu 39%
em relação a 2002/03, passando
de 455 mil caixas, de 3,7 kg, para
633,1 mil caixas. Segundo os especialistas, a maioria das informações sobre “demais anonáceas”
representa a produção da frutado-conde (pinha), atingindo 11,8
Tecnologia é essencial para obter qualidade,
aumento de produção e sustentabilidade.
Essa preocupação levou à formação, em 2003, da Associação
Brasileira dos Produtores de
Anonáceas (Anonas Brasil). A finalidade maior é orientar os fruticultores atuais e potenciais para a conquista do mercado com qualidade.
A organização desse setor também depende da sistematização de
informações técnicas e de mercado. Nesse sentido, a Secretaria de
Agricultura e Abastecimento, por
meio do Instituto de Economia
Agrícola – IEA - e da
Coordenadoria de Assistência Técnica Integral – Cati -, tem colaborado no levantamento de dados de
produção, área e produtividade.
ESTATÍSTICAS
DO SETOR
As estatísticas sobre anonáceas para o Estado de São Paulo,
obtidas pelo levantamento de
previsão de safra agrícola (IEA/
Cati), mostram que o número de
plantas aumentou quase dez
vezes no período de 1986 a
2005, passando de 37,4 mil para
361,3 mil pés, com a pinha
46
milhões de frutos em 2004/05,
inferior aos 13,4 milhões de frutos de 2002/03, em decorrência
da queda, tanto do número de
pés novos (63%) como dos pés
em produção (15%). De acordo
com técnicos de Jales, maior região produtora, as razões mais
importantes para essa queda relacionam-se aos problemas
fitossanitários, de manejo (principalmente a polinização cruzada),
de desestímulo de mercado frente a outras frutas – em especial à
uva niagara – e até pela substituição da exploração por atemóia.
Em termos da quantidade
produzida de atemóia no Estado,
é ainda bem menor do que a da
pinha, porém com crescente participação no total das anonáceas.
Em 2002/03 essa parcela
correspondia a 16% e em
apenas três anos chegou a 29%,
principalmente devido à produtividade da atemóia, que cresceu
50% nesse período, enquanto
que a das demais anonáceas manteve-se constante. Dados da última safra analisada (2004/05)
também revelam que em São
Paulo existem 8,1 mil pés novos
e 247,6 mil pés em produção de
fruta-do-conde. Para a atemóia,
IEA
Planta de atemóia: Botucatu, Itapetininga
e Sorocaba são maiores produtoras
paulistas de atemóia.
estima-se 34,7 mil pés novos
(16% maior do que em 2002/03)
e 71 mil pés em produção. Na
comercialização das anonáceas
na Ceagesp, São Paulo, Bahia
e Minas Gerais aparecem como
os principais fornecedores. Os
dados apontaram em 2005 o
predomínio da comercialização
da pinha (57%) e da atemóia
(36%), com oferta das frutas durante o ano todo. A maior concentração da fruta-do-conde (pinha) ocorreu nos meses de fevereiro a maio e da atemóia, de
abril a agosto. O mercado da pinha é abastecido principalmente
por Bahia (52%) e São Paulo
(26%) e neste a maior entrada se
dá no 1 o semestre do ano. Já,
para a atemóia, a Ceagesp recebe os maiores volumes de São
Paulo e Minas Gerais, com 47%
e 37%, respectivamente.
Segundo a Ceagesp, em 2001
foram comercializadas 2.494 toneladas de fruta-do-conde (pinha)
e 1.070 toneladas de atemóia, no
valor de R$ 6,7 milhões. Em
2005, o volume de entrada da pinha cresceu 9%
(passando para 2.727 toneladas) e o da atemóia registrou aumento significativo
(61%), atingindo 1.719 toneladas comparativamente
a 2001. Isso mostra as alterações que vêm ocorrendo, tanto na oferta dessa fruta,
antes considerada exótica, como
na demanda, até pela mudança
de hábitos de consumo por se
tratar de uma fruta com menos
sementes, mais polpa, menos
açúcar e bastante saborosa. Em
2005, o preço médio da pinha foi
R$ 14,00 por caixa de 3,7 kg,
sendo que de janeiro a abril de
2006 apontaram média de
R$11,40. No caso da atemóia, os
preços por caixa oscilaram de
R$12,50 a R$ 21,00, de julho a
dezembro de 2005 (início da cotação de preços), atingindo uma
média de R$16,50. Para os quatro primeiros meses de 2006, a
média mensal foi de R$11,70.
Embora a quantidade comerciali-
Fonte: Ceagesp, 2006.
zada de atemóia tenha crescido
significativamente entre 2001 e
2005, seus preços ainda continuam bastante atrativos para os produtores, por conta tanto do tamanho e da qualidade das frutas
colocadas no mercado.
Graças aos avanços da pesquisa e ao uso adequado de
tecnologias, a cultura de atemóia
começa a se firmar no mercado
interno com produção crescente
e com frutas de melhor qualidade. Vislumbra-se um potencial de
demanda, principalmente de frutas in natura e, também, por parte dos produtores, por mecanismos que permitam ampliar o período de safra para a colocação
da fruta no mercado. No entanto, alguns desafios devem ser enfrentados: adaptação de espécies
e variedades aos diversos climas;
adoção de tecnologias de produção; planejamento das práticas
culturais; aprimoramento do uso
de tecnologias de pós-colheita e
adoção de estratégias mercadológicas. Isso traz como resultados
a sustentabilidade do cultivo de
atemóia, frutas com padrão de
qualidade comprova-damente
superior e remuneração mais favorável, com perspectivas também para o mercado externo.
Elizabeth Alves e Nogueira, Nilda Tereza Cardoso de Mello e Denise Viani
Caser
Instituto de Economia Agrícola;
Gabriel Vicente Bittencourt de
Almeida,
Centro de Qualidade em
Horticultura da Ceagesp
47
CAMPO & CULTURA
LIMÃO É SAÚDE - UM GUIA
DE MEDICINA CASEIRA
SÉRIE DE LIVROS DA EMBRAPA INCENTIVA A
AGROINDÚSTRIA FAMILIAR
Um livro de autoria da química e cientista Conceição
Trucom, editado e patrocinado pela ABPEL - Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores de Limão.
Seu propósito é levar à população mais informação e
consciência sobre o elevado
poder terapêutico que a fruta contém, provocando, conseqüentemente, um aumento no consumo de limão.
O uso interno do limão, conforme revela a cientista, é um
estimulante do processo digestivo e de assimilação
(minerali-zante); acalma, refresca, equilibra, fluidifica,
dissolve cristais e tumores, nutre, depura, desinfeta e
fortalece todo o organismo humano. Externamente, o
limão tem muitos usos terapêuticos e cosméticos, porque
trata, limpa, desintoxica, tonifica, clarifica, relaxa e alegra.
A série Agroindústria Familiar
editada pela Embrapa objetiva, por meio de uma linguagem simples e didática,
proporcionar ao pequeno agricultor possibilidades para
agregar valor à sua produção,
levando em consideração
tanto os procedimentos de
processamentos adequados
para garantir a qualidade,
quanto aos aspectos higiênicos e sanitários assegurados
pelas boas práticas de fabricação (BPF).
As publicações podem ser adquiridas direto na Embrapa:
Site: www.sct.embrapa.br/Liv
Telefone: (61) 3340-9999 / 3340-4236
Preço: R$ 15,00 + frete.
Autor (Fotos e Textos): Conceição Trucom
Informações: [email protected] ou pelo telefone (11)
3546-2767
Preço: R$ 25,00
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PATOLOGIA PÓS-COLHEITA: FRUTAS,
OLERÍCOLAS E ORNAMENTAIS TROPICAIS
Essa publicação aborda as
principais doenças ocorridas na
pós-colheita, que comprometem
a qualidade dos produtos,
acarretando depreciação para a
comercialização e o consumo.
O livro tem o objetivo de
levar informações sobre póscolheita de produtos da horticultura tropical e contou com
a participação da comunidade
científica para explanar sobre
tópicos gerais e específicos das principais culturas.
Em cada capítulo são analisadas as doenças, por cultura,
com ilustrações dos sintomas, que facilitam a identificação
de cada patologia. Direcionada a pesquisadores,
professores, estudantes e demais interessados em
diagnose de doenças na pós-colheita, esta obra serve
também de apoio a produtores e empresários da
agroindústria.
Autor (Fotos e Textos): Vários
Páginas: 855
Preço: R$ 245,00
48
Confira a seguir alguns títulos:
POLPA DE FRUTA CONGELADA
○
○
○
○
○
Congelar polpa é um método de conservação que
preserva as características da fruta e permite seu
consumo nos períodos de entressafra. Além disso, esse
processo consiste numa alternativa para a utilização de
frutas, que não atendam ao padrão de comercialização
do produto na forma natural ou cujo preço não seja
compensador. Este manual visa fornecer informações
sobre o método de congelamento ao micro e pequeno
produtor e ao empresário rural.
Autor (Fotos e Textos): Virgínia Martins da Matta, Lourdes
Maria Corrêa Cabral, Murilo Freire Júnior e Ângela Aparecida
Lemos Furtado.
Páginas: 35
AGROINDÚSTRIA FAMILIAR:
MANGA E MELÃO DESIDRATADOS
Apresentado em forma de manual, proporciona o
conhecimento sobre o processamento industrial destas
frutas, visando a redução de custos e o aumento da
produtividade. O manual descreve as duas etapas do
processo de obtenção de manga e melão desidratados,
ou seja, utilizando a desidratação osmótica e a
complementação de secagem em estufa. O objetivo é
for necer orientações técnicas para um melhor
aproveitamento dessas frutas, diminuindo as perdas póscolheita existentes e agregando valor aos produtos.
Autor (Fotos e Textos): Manoel Alves Souza Neto, Raimundo
Wilane de Figueiredo, Andréa da Silva Lima, Janice Ribeiro
Lima e Geraldo Arraes Maia.
Páginas: 36
PRODUTOS E SERVIÇOS
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FRUTA NA MESA
Marta Correia Meirelles
HISTÓRIA E PRODUÇÃO
Desde a antiguidade a uva é uma
das frutas mais apreciadas pela humanidade. Sua origem é o Oriente, de onde
foi levada para a Europa. No Brasil, as
primeiras mudas desembarcaram com
o colonizador Martin Afonso de Sousa,
em 1532. Mas cabe ao cavaleiro-fidalgo português Brás Cubas o título de
viticultor pioneiro. “Fiel às tradições de
seu povo, plantou as primeiras parreiras na Capitania de São Vicente, reconhecida como o berço da viticultura brasileira”, conta José Luiz Hernandes, pesquisador do Centro de Fruticultura do
Instituto Agronômico de Campinas, em
Jundiaí, SP. No século 18 e início do
19, com a descoberta do ouro e os ciclos da cana-de-açúcar e do café, a uva
quase desapareceu. Ressurgiu em 1830,
com a introdução da uva Isabel em São
Paulo e Rio Grande do Sul. “A variedade é ainda a mais cultivada no País. Representa 80% da produção para a indústria de vinhos e sucos nacionais”, diz
Hernandes. No início do século 20, a
produção se desenvolveu de São Paulo
ao Rio Grande do Sul com a chegada
de imigrantes italianos, especialistas no
trato com as videiras. Nos anos 70, o
Brasil viveu uma transformação na viticultura graças à introdução de projetos
de irrigação no Vale do São Francisco.
Segundo Hernandes, em 2005, a área
cultivada era de quase 74 mil hectares,
50
que rendia pouco mais de 1,2 milhão
de toneladas Rio Grande do Sul, São
Paulo e Pernambuco lideraram a produção. Rio Grande do Sul e Santa
Catarina concentram o cultivo da fruta
para agroindústria; Paraná, a variedade
Itália e suas mutações; e São Paulo,
Pernambuco e Bahia, uvas de mesa.
UVA E SAÚDE
A uva é rica em carboidratos e
vitaminas, como tiamina, riboflavina
e vitamina C. Seus minerais são cálcio, fósforo, magnésio, cobre e, em
maior quantidade, potássio. “A fruta
também possui fibras. Oito bagos de
Itália ou Rubi fornecem apenas 50 calorias, o que as tornam importante nas
dietas de emagrecimento”, explica a
nutricionista Lucia Maranha, coordenadora do Curso de Nutrição das Faculdades Integradas Metropolitanas de
Campinas – Metrocamp. Ela também
pode ser empregada no tratamento da
hipertensão. Foi o que comprovou estudo recente realizado por pesquisadores da Central de Medicamentos da
Universidade Estadual do Rio de Janeiro – UERJ –, a partir do extrato
hidroalcoólico obtido da uva Isabel.
Além de flavonóides, que possuem
características antioxidantes, as uvas possuem também resveratrol, que,
comprovadamente, inibe a agregação
das plaquetas e, portanto, a formação
de coágulos arteriais.
PRATOS DELICIOSOS
Descendente da mais tradicional família de produtores da fruta em
Jundiaí, SP, José Roberto Carbonari
cultiva 15 hectares de uvas de mesa
no bairro Traviú, antiga fazenda do
mesmo nome, onde seus antepassados se instalaram, vindos da Itália,
em 1893. Durante a colheita, Maria
Rosa, esposa do produtor, cumpre
o ritual de produzir vinho, vinagre e
geléias com a fruta. Tudo artesanal
e para consumo familiar, como manda a tradição. Outra especialidade
da casa é o bolo de uva.. Anote a
receita: pré-aqueça o forno (200
graus). Unte com manteiga uma assadeira de buraco no meio. Leve 4
claras à batedeira para formar picos
firmes. Reserve. Em outra tigela, junte 1 xícara de manteiga, e 1/2 xícara de açúcar e as 4 gemas e bata
bem. Adicione 2 xícaras de farinha
de trigo, misturada com 1 colher de
sopa de fermento em pó e adicione 1/3 de xícara de leite aos poucos. Bata até obter um creme uniforme. Junte as claras reservadas e
misture com cuidado. Adicione os
bagos de um cacho de uvas Isabel
inteiras, bem lavadas e secas (não
precisa tirar as sementes). Leve ao
forno por cerca de 35 minutos.
Desinforme depois de frio.
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