pequenos grandes nomes

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pequenos grandes nomes
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Matéria de capa
ESTADO DE MINAS
Sexta-feira, 17 de abril de 2015
ESTADO DE MINAS
Sexta-feira, 17 de abril de 2015
A BATIDA PERFEITA DE
PARCERIA
LUMINOSA
D2 E EMICIDA
WASHINGTON POSSATO/DIVULGAÇÃO
Dois grandes MCs
se encontram hoje
à noite em BH para
cantar sucessos e
colocar o público
para dançar
N
o ritmo do rap, Rio de Janeiro e São Paulo se encontram em Belo Horizonte, hoje à noite, no Espaço Even. Representando a Cidade Maravilhosa, Marcelo D2,
levando seu rap misturado com samba. Da capital paulista, Leandro Roque
de Oliveira, ou melhor, Emicida. O encontro dos dois MCs é o primeiro na capital mineira e promete não ficar em
expectativas. “Já dividimos o palco outras vezes, não gosto de adiantar nada,
mas é quase certo aprontarmos alguma por aí”, conta D2.
Celebrando 20 anos de carreira, Marcelo D2 tem no currículo três discos
gravados e um ao vivo com o Planet
Hemp, além de seis álbuns solo. Em Eu
tiro é onda, de 1998, o rapper deu os
primeiros passos na mistura do samba
com rap, que ficou consagrada no álbum À procura da batida perfeita
(2003). O processo inspirou Meu samba é assim (2006), que conta com parcerias com Zeca Pagodinho e Arlindo
Cruz, e o disco A arte do barulho (2008).
Em 2010, D2 lançou um álbum regravando Bezerra da Silva, de quem não
esconde uma grande admiração.
Já em Nada pode me parar, lançado
em 2013, Marcelo Maldonado Peixoto
inovou e, deixando o samba um pouco
de lado, investiu novamente no rap,
com faixas em tons jazzy, que lembra
RAFAEL KENT/DIVULGAÇÃO
PEQUENOS
GRANDES NOMES
o rap dos anos 1990, do De La Soul, e de
contemporâneos como Madlib, com a
participação da voz suave do soul de
Aloe Blacc, e batidas mais pesadas do
trap, uma delas inclusive produzida pelo filho Stephan. “Esse meu disco é um
agradecimento meu ao hip-hop, ritmo
que me ajudou a me apaixonar por cinema, dança, arte em geral. Nada pode
me parar veio dos versos do Thaíde e DJ
Hum que, em 1993, rabisquei na parede do meu quarto: Eu já cai no chão/ Só
que me levantei/ Eu faço meu sistema/
Eu dito a minha lei/ Nada pode me parar”, pontua Marcelo.
Atualmente, o músico está trabalhando no projeto Matuto, onde – ao la-
do de Hélio Bentes, do Ponto de Equilíbrio –, pretende experimentar as interseções entre o mundo do hip-hop e o
do reggae. “Gravando os 15 clipes do último disco eu tive muitas ideias, até
chegar no projeto, que agora está se
transformando em um coletivo que
tem beatmaker, artista plástico, fotógrafo”, explica. De um EP, o projeto se
transformou numa empreitada, que
vai virar a criação de um curta-metragem e um livro em quadrinhos. “É a
história de um rapaz que quer sair de
um buraco negro que ele está vivendo
e que gosta de arte”, completa.
A batida perfeita o carioca já achou,
mas a procura não para. “Todo mundo
Marcelo D2 é carioca e,
ao longo da carreira,
misturou rap ao samba
e fez outros arranjos
me pergunta sempre: ‘E aí, D2, já achou
a batida perfeita?’. Mas eu penso que a
procura é muito mais importante do
que o encontro. Eu continuo procurando coisas novas, coisas que me fazem
amar o que eu faço. Essa ideia de procurar coisas novas é muito importante
para mim, e é o que me mantém jovem”, ele diz. Quase cinquentão, D2
mostra que está mais do que pronto
para mais 50 anos de carreira.
É notório que São Paulo é a capital
nacional do rap. E, aos poucos, cavando entre os batidões do funk miami
bass, o Rio de Janeiro vem encontrando seu espaço, inspirado por batidas
do rap de J-Dilla, Talib Kweli e Mos
Def, representado por uma geração
de revelações para suceder a grandes
nomes como D2, Black Alien, Shawlin,
Marechal e De Leve. Com um clipe
com milhões de visualizações, elogios
de Emicida e parceria com Projota, Filipe Ret, de 28 anos, é um dos representantes do rap carioca que tem
chamado a atenção. Depois de fazer
barulho com seu primeiro disco, Vivaz, de 2012, Ret está nos estúdios finalizando seu novo disco, que será
lançado pelo selo do próprio rapper.
Ele se apresenta hoje, a partir das 23h,
na boate naSala.
Outro que luta por um espaço é
Stephan. Marcelo D2 viu seu filho, como cantou em Loadeando, desenvolver e evoluir. “Eu vi um show da Start
(banda do filho) e foi maravilhoso.
Mesmo que não vá pra frente como
banda, os três têm sucesso para o solo”, derrete-se o carioca. Aos 23 anos, o
primogênito do rapper se mostra independente e com um disco que
aponta que veio para ficar. Ao lado dos
amigos Faruck e Shock, Sain, nome artístico de Stephan Peixoto, formam o
Start Rap, que lançou disco no início
deste mês e que vai ser apresentado
pela primeira vez na capital amanhã,
na Mansão Pampulha.
Depois de lançar CD
independente, Leandro
Roque de Oliveira, o
Emicida, criou um selo com
o irmão e já colocou mais
três discos no mercado
>> MARCELO D2 E EMICIDA
Espaço Even, Rua Vereador Antônio
Zandona, 245, Jardinópolis, BH,
(31) 3364-7575. Hoje, 22h. R$ 60
(vendas na Urby Store (Rua
Fernandes Tourinho, 126, Savassi);
Caráter (Rua Fernandes Tourinho,
363, Savassi). 18 anos.
>> FILIPE RET
Hoje, a partir das 23h, na Boate
naSala (Ponteio Lar Shopping,120,
Santa Lúcia). Informações pelo
telefone (31) 3286-4705
>> BANDA START – FIESTA LOCA
Mansão Pampulha. Amanhã,
a partir das 21h.
Ingressos a partir de R$ 40.
“O Emicida trouxe coisas novas para o rap. É um cara que eu
admiro muito.” É assim que o colega de palco na noite, Marcelo D2,
descreve Leandro Roque de Oliveira, o Emicida. Há cinco anos, o
paulistano lançava Para quem
mordeu cachorro por comida...
Até que eu cheguei longe, seu primeiro EP, lançado pelo selo Laboratório Fantasma, do próprio rapper. Em O glorioso retorno de
quem nunca esteve aqui, de 2013,
Emicida retoma alguns pontos
abordados nos dois últimos álbuns, relembrando suas origens.
“Tem a ver com o fato de serem as
minhas verdades. E as minhas
verdades são as mesmas sempre.
A minha preocupação é sempre a
de não me tornar repetitivo, meu
esforço é o de não ficar dizendo a
mesma coisa de uma maneira desinteressante”, conta.
Prestes a embarcar mais uma
vez para a Europa em turnê, Emicida lançou recentemente uma
música em parceria com o rapper
francês Féfé, que se apresentou
no Brasil em 2014. “Ele me levou
para um rolê pelas quebradas de
Paris, lugares que não são pontos
turísticos, e isso nos inspirou. A
música é um salve a todas as quebradas do mundo, seja em Paris,
seja na Zona Norte de SP, onde gravamos o clipe”, explica o rapper.
Emicida, que já andou pelo mundo, chega à sua quinta turnê europeia, onde vai passar por Portugal,
Inglaterra, França e Alemanha. “A
cada ano que eu vou, sinto os
shows melhores. Talvez seja também consequência de eu ficar cada vez mais habituado, à vontade
mesmo. Isso de você conseguir se
fazer entender com a barreira do
idioma é desafiador, mas ao mesmo tempo especial, tudo ocorre
pela troca de energia. A cada ano
que passa vejo que o público é
formado cada vez mais por europeus, não são só brasileiros. É
uma experiência sempre interessante”, pontua.
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