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COTIDIANO OPERÁRIO & COMPLEXO FABRIL: fábrica com vila operária em
Paracambi-RJ
Paulo Fernandes Keller1
RESUMO
Este artigo analisa de forma sucinta a vida cotidiana do operariado têxtil das fábricas
de tecidos da Cidade de Paracambi/RJ, entre o final do século XIX e a primeira
metade do século XX, no momento de “auge” do modelo “fábrica com vila operária”
nessa particular região fluminense.
O artigo busca compreender a vida cotidiana do operariado têxtil dentro do “complexo
fábrica com vila operária” - entendido como um complexo fabril e sociocultural,
desvendando aspectos (particularmente religião e educação) da cultura operária.
Sem dissimular a relação de dominação implícita nesta situação fabril, o trabalho
mostra de que forma tais relações se efetivaram no cotidiano operário. Mas alertando
para o fato de que se as vilas operárias eram propriedade dos industriais, elas também
eram o “lar dos operários”.
ABSTRACT
This paper analyzes briefly the everyday life of the textile workmen of the cloth
factories in the town of Paracambi, State of Rio de Janeiro, during the period of time
between the end of the XIX century and the first half of the XX century, a moment
which was the “height” of the “factories having workmen village” in this particular area
of the State of Rio de Janeiro.
The paper search comprehend the daily life activities of the textile workmen within the
“factory – workmen village complex” - here understood as a factory and socio-cultural
complex - revealing features (mainly religion and education) of the workmen’s culture.
Without disguising the implicit domination relationship
in this factory situation, the
paper shows the way in which such relationships became real in daily life and calls the
attention to the fact that although the workmen’s villages were properties of the industry
owners, they were also the “workmen’s homes”.
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Este trabalho pretende desenvolver de forma sucinta algumas questões referentes à
2
vida cotidiana do operariado nas fábricas de tecidos da cidade de Paracambi, estado
3
do Rio de Janeiro, no período de auge das fábricas com vila operária nessa particular
região fluminense, entre o último quartel do século XIX e a primeira metade do século
XX.
Busco investigar de que forma as partes orgânicas da cotidianidade se cruzam,
4
conforme sugere Heller , no contexto das fábricas com vila operária no sentido de
desvendar aspectos até então não aprofundados do mundo operário. Além da
heterogeneidade da vida cotidiana, Heller afirma que a sua hierarquia não é eterna e
imutável, mas se modifica de modo específico em função das diferentes estruturas
econômico-sociais (1992:18).
Neste sentido, a cotidianidade nas fábricas com vila operária contém uma ordem
hierárquica específica e determinada historicamente pelo modo de produção
capitalista, no qual
a organização
do
trabalho ocupa posição central
na
5
heterogeneidade deste particular mundo do trabalho . A hierarquia da fábrica se
sobrepõe e organiza o mundo da vila operária, dando o sentido de sistema ao conjunto
das relações entre o mundo da fábrica (espaço de produção) e o mundo da vila
operária (espaço de reprodução). Os diversos aspectos do mundo operário que
formam a heterogeneidade das fábricas com vila operária - produção, religiosidade,
formas de consumo, lazer, educação - mantêm entre si formas de intercâmbio,
combinando-se hierarquicamente a partir de suas relações com a estrutura de poder
vigente que tem como sua figura central o diretor da fábrica. Leite Lopes, que estudou
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um caso particular de fábrica com vila operária - o sistema paulista – no estado de
Pernambuco, demonstra a centralização na estrutura de relações subordinando as
demais atividades:
A denominação de “sistema Paulista” (...) aponta para uma estrutura de relações
que se estabelece, no caso da fábrica e da vila operária de Paulista, envolvendo
sob um mesmo controle centralizado a produção fabril, o domínio da moradia e
da cidade, a produção agrícola da retaguarda territorial da fábrica e a circulação
mercantil dos bens de consumo dos operários sob a forma de uma feira
administrada. Além disso, esta estrutura de relações sociais contém a promoção
e administração de atividades médicas, religiosas, recreativas, e também uma
numerosa milícia particular garantindo o “governo local de fato” da companhia
sobre estas múltiplas atividades (1988:21).
Minha investigação concentra-se na forma como o operariado viveu - cotidianamente 6
sua experiência nessa situação fabril. Se a classe operária é definida pela própria
classe (autofazer) quando esta vive sua experiência, só podemos entender a formação
social e cultural do operariado têxtil da cidade de Paracambi a partir da compreensão
de sua experiência histórica vivida no complexo fábrica com vila operária. Assim,
7
procuro investigar o modo de vida e as formas culturais do operariado têxtil desde a
sua inserção no complexo fábrica com vila operária.
Ele consiste:
1º . Em um complexo fabril: como uma forma particular de produção capitalista na qual
as vilas operárias surgem como solução para o problema habitacional da força de
8
trabalho, assim como uma forma de o patronato industrial exercer controle sobre a
classe trabalhadora;
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2º. Em um complexo sociocultural: como uma constelação de traços socioculturais
presentes nas fábricas com vila operária os quais se configuram nos aparatos
institucionais
10
e se intercambiam como expressão das relações sociais que se
estabelecem entre os membros da classe operária e entre a classe operária e o
patronato fabril, seja no espaço da fábrica (organização da produção), seja no espaço
da moradia (vila operária). Estando este último subordinado ao espaço da fábrica na
medida em que esta é a proprietária das casas dos operários, assim como dos
aparatos institucionais. Dessa forma, o operário têxtil, além de ser empregado, é
simultaneamente inquilino do imóvel que pertence à fábrica e usuário da rede de
serviços
11
(armazém, armarinho, posto de saúde, farmácia, escola, clube social,
capela) que funciona dentro do complexo fabril, transformando o que seria uma
simples relação patrão/empregado em um relacionamento complexo.
12
A característica conceitual está na fluidez das relações,
seja entre os agentes
sociais, com o operariado têxtil e o patronato fabril formando uma relação
simultaneamente de trabalho e pessoal (assim como familiar), seja entre os espaços
fabril e doméstico, na medida em que os agentes sociais circulam entre a fábrica e a
vila de acordo com a função específica de cada um deles na ordem hierárquica. Isto
sem esquecer do intercâmbio das relações que fluem entre cada aparato institucional
13
que integra a rede de serviços do espaço doméstico, não havendo um limite rígido
entre ambos.
Com efeito, as fábricas com vila operária tornam-se, a partir dessa perspectiva, um
complexo socioeconômico, cultural e político: a fábrica moderna com o trabalho
assalariado e sua “servidão burguesa”; o paternalismo industrial com formas
específicas de educação (a escola operária), de religiosidade (as capelas com o(a)
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padroeiro(a) dos operários e da fábrica), de consumo (o armarinho, o armazém etc.),
14
de lazer (o clube social, o futebol de várzea).
Sobre a fluidez das relações sociais do complexo, um operário da Fábrica de Tecidos
Maria Cândida relata como foi feito seu pedido de uma casa na vila:
Eram feitos diretamente com o gerente. Era um pedido verbal. Você chegava
perto dele e falava e ele atendia. Naquele tempo, não existia também
“carrancismo”, ele era um gerente que atendia você, tanto faz dentro da fábrica
como no pátio da fábrica, como aqui fora, em qualquer lugar que você
encontrasse com ele, ele atendia.
A vida cotidiana do operariado têxtil das fábricas de tecidos da cidade de Paracambi
(RJ) deve ser abordada através do complexo fábrica com vila operária tanto nas suas
15
formas específicas, em termos de educação nas escolas operárias , de consumo nos
armazéns e nos armarinhos etc., quanto investigando de que forma o operariado se
apropriou desses aparatos institucionais estabelecendo neles relações sociais próprias
dotadas de sentido.
A cotidianidade não constitui parte estanque do complexo fábrica com vila operária,
mas é uma abordagem que desvenda e aprofunda a própria noção de complexo.
Assim, volto a afirmar, a cotidianidade está inter-relacionada com a noção de
complexo, não sendo possível falar em complexo fabril sem investigar o cotidiano
operário e seus múltiplos significados.
As fábricas de tecidos de algodão implantadas na cidade de Paracambi, desde a
segunda metade do século XIX (primeiro a Companhia Têxtil Brasil Industrial, segundo
a Companhia Tecelagem Santa Luisa, que logo depois se transformou na Fábrica de
Tecidos Maria Cândida) podem ser enquadradas no padrão das fábricas com vila
operária. O período de implantação inicia-se no último quartel do século XIX, com o
16
momento de auge
desse tipo de complexo ocorrendo na primeira metade do século
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XX, até que se apresentam os primeiros sinais de declínio
17
desse sistema fabril nas
décadas de 1960/70.
A fábrica de tecidos de algodão da Companhia Têxtil Brasil Industrial foi estabelecida
inicialmente em 1870 na Fazenda Ribeirão dos Macacos junto à estação do mesmo
nome da estrada de Ferro D. Pedro II, cujos estatutos foram aprovados pelo Decreto
18
n.4552, de 23 de julho de 1870.
Segundo Suzigan, a Brasil Industrial foi a primeira
grande (e até o final da década de 1880 a maior) fábrica de tecidos de algodão do
Brasil (1986:134). A Companhia Tecelagem Santa Luísa foi instalada no povoado da
Cascata, Freguesia de S. Pedro e S. Paulo, Município de Itaguahy, em 1891. O
19
objetivo da Santa Luísa era a produção de sacos de aniagem sem costura. A Fábrica
de Tecidos Maria Cândida foi constituída em 03 e 04 de outubro de 1924, tendo seu
estabelecimento fabril no lugar denominado Cascata, em Paracamby, Município de
Itaguahy, onde anteriormente funcionou a Tecelagem Santa Luísa, incorporando os
20
bens e parte da estrutura produtiva da antiga fábrica de juta.
O surgimento dessas fábricas de tecidos se deu em meio a uma economia e a uma
cultura predominantemente agrária, constituindo um fator preponderante para a
formação de um complexo fabril que pudesse atender às necessidades básicas dos
operários, bem como de organização de um aparato institucional de “amparo” e de
enquadramento “físico e moral” dos trabalhadores,21 isto quer dizer que, com o
desenvolvimento de ambas as fábricas houve a necessidade de construir as
chamadas vilas operárias (conhecidas também como plano inglês), bem como as
redes de serviços coletivos que pudessem dar suporte aos operários e a seus
familiares, criando uma forma relativamente autônoma de organização social. No
processo de implantação da Cia. Brasil Industrial esta necessidade foi sentida pelos
diretores ao comentarem a escassez de operários e a disputa das empresas pelo
limitado pessoal disponível:
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(...) quando o operário, como em nosso caso acontece, tem de ser afastado de
sua moradia, para ir trabalhar em paragens destituídas de recursos, sendo que
sobremaneira se agravam as dificuldades.22
A vila operária, com suas casas e sua rede de serviços (capela, escola, armazém,
clube social, farmácia, cemitério, etc.), paradoxalmente, apresentava benefícios
sociais para o operariado têxtil ao mesmo tempo em que era constituída de elementos
legitimadores da dominação do patronato fabril. Contudo, os operários têxteis se
apropriaram destes aparatos institucionais, atribuindo significado e valor às relações e
ao modo de vida que foi construído cotidianamente no interior das capelas, nas salas
de aula das escolas e nas diversas formas de lazer. Comentando a influência do
Metodismo na Classe Operária Inglesa, Thompson (1988b:278) afirma que:
Nenhuma ideologia é inteiramente absorvida por seus partidários: na prática, ela
multiplica-se de diversas maneiras, sob o julgamento dos impulsos e da
experiência. Desta forma a comunidade da classe operária introduziu nas
capelas seus próprios valores de solidariedade, ajuda mútua e boa vizinhança.
No complexo fabril da Companhia Brasil Industrial, o mais importante na região, a
23
capela católica
é dedicada à Nossa Senhora da Conceição construída em
homenagem à padroeira da fábrica e dos seus operários. Estes se apropriarem do
catolicismo participando ativamente da construção da capela, estabelecendo relações
sociais em seu interior e atribuindo significado aos atos religiosos ali oficializados,
instituindo de forma autônoma seu padroeiro, São Jorge, no final da primeira metade
do século XX.
Segundo relato dos primeiros diretores da antiga Companhia, a capela foi construída
no final do século XIX por meio de uma iniciativa conjunta:
Tendo o gerente da fábrica, empregados e operários, promovido uma
subscripção entre si e procurado donativos para construção de uma pequena
capella, a Directoria concedeu a área do terreno necessária, para tão justo fim;
no dia 1º. de novembro foi lançada a pedra fundamental e inaugurada à 6 de
Maio de 1880, sob a invocação de Nossa Senhora da Conceição. 24
No complexo fabril da Companhia Brasil Industrial havia, no mês de dezembro,
festejos anuais dedicados à santa padroeira com o patrocínio da Companhia Têxtil e
com grande participação do operariado local. Este folguedo era o maior da localidade
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que reunia toda a comunidade operária assim como a diretoria da fábrica e seus
convidados. A capela de Nossa Senhora da Conceição foi a primeira igreja local no
meio operário têxtil onde se realizavam os serviços religiosos quando não existia uma
Igreja Matriz na região. A presença católica no meio operário fabril tem marcas
profundas de continuidade com o antigo regime de economia patriarcal, muito bem
enfatizado pelo sociólogo francês Roger Bastide (1975:10):
O capitalista moderno manda rezar missas em sua fábrica do mesmo modo que
o senhor dos tempos coloniais mandava celebrá-las na capela de seu engenho.
O padre eleva a hóstia no meio das engrenagens, das bielas, das grandes rodas
que pararam por um momento, renovando entre operários brasileiros, italianos e
alemães, o gesto antigo do capelão oficiando entre senhores brancos e escravos
negros, perpetuando, em pleno século XX, o catolicismo familial do século XVII
(...).
25
O Dr. Junqueira , um dos diretores da fábrica Brasil Industrial no período de auge do
sistema, era comunicado de todos os detalhes da organização da festa da padroeira;
segundo sua antiga secretária, ele desejava que fosse feito:
(...) tudo pela fábrica, não tinha, não gostava que saísse lista pro operário
assinar, era tudo pela companhia, Ele achava que a padroeira era Nossa
Senhora, que achava que tinha por obrigação fazer uma festa pra ela, isso ouvia
muito ele dizer, não queria lista. A única coisa que ele pedia era uma prenda,
que ele achava que o operário devia dar um voto pra Nossa Senhora, então dar
uma prenda que quiser.
A prática religiosa do operariado têxtil e do patronato fabril e suas relações no
complexo fábrica com vila operária assumem um aspecto ambíguo e contraditório, na
medida em que tanto legitima a ordem estabelecida quanto são apropriadas pelos
operários tornando-se uma expressão de seus sentimentos e de sua cultura. Elas não
podem, desta forma, ser compreendidas como um simples instrumento de imposição
unilateral do patronato. Quando visitei a capela de N.S. da Conceição, durante meu
trabalho de campo no inicio da década de 1990, descobri a presença de uma imagem
26
sacra
de São Jorge, que ficava no interior da Capela perto da escada que conduzia
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ao coral, com uma placa com a seguinte inscrição: Homenagem ao São Jorge,
padroeiro dos operários da Cia. Brasil Industrial, organizada em primeiro de maio de
1945, por Jayme Barboza. Em entrevistas com antigos operários foi-me relatado que a
imagem tinha sido adquirida por um grupo de operários por intermédio da liderança de
Jayme Barboza, conhecido por Seu Dengo, organizador da festa anual do primeiro de
maio, quando se promovia uma procissão dedicada ao popular santo católico. Uma
antiga operária relatou que:
(...) ele fazia a missa dos operários, no dia primeiro de maio, tinha missa na
capela, depois saía à procissão, de manhã cedo,na parte da manhã, depois ele
fazia sorteio, antes dava um santinho a cada um, numerado, e arranjava
prêmios, e quando acabava aquela procissão, aí ia fazer sorteios, a gente ficava
com os santinhos pra ver quem tinha tirado, muita gente tirou muita coisa lá,(...).
Deve ser ressaltado que, apesar de existir uma padroeira oficial dos operários da
fábrica Brasil Industrial, a devoção por eles dedicada a São Jorge no dia Primeiro de
maio foi uma forma peculiar de apropriação da religiosidade católica, assumindo papel
ativo na expressão do seu sentimento e da sua cultura. Se a Festa Anual de Nossa
Senhora da Conceição tinha o patrocínio do patronato fabril e o apoio do operariado
local, a Festa do Primeiro de Maio, com a devoção a São Jorge, nasceu no meio
operariado sem interferência do patronato, através da cooperação e da liderança do
operário Jayme Barboza, um dos primeiros membros da Liga Católica local. É
interessante o fato de que somente em 1955 tenha ocorrido a instituição, pelo Papa
Pio XII, de São José Operário como protetor dos trabalhadores universais, com a
27
finalidade de dar um sentido cristão à festa do trabalho.
Sobre o intercâmbio entre o elemento religioso e o educacional no complexo, o relato
de Dona Francisca Silva, uma antiga operária da Companhia Brasil Industrial,
esclarece a participação das crianças da escola operária na procissão católica:
Ah, quando eu era pequena eu via a procissão, via aquela criançada toda com
aquelas bandeirinhas, com aquelas faixinhas, cantando; Ah meu Deus, que
vontade! Mas era só a criançada do colégio só que saía na procissão. Aí quando
se deu oportunidade eu já entrei na fábrica para poder estudar nesse colégio que
pertencia à fábrica, né? Logo naquele ano que eu entrei teve a festa de São
Sebastião e foi até a festa de São Sebastião, não sei o que que houve que não
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fizeram a festa de São Sebastião em janeiro. Quando foi no fim de fevereiro que
fizeram a festa de São Sebastião, e eu já estava trabalhando, já saí na
procissão, logo no começo, nas missas eu comecei a cantar nas missas (...)28
A procissão católica exercia uma atração sobre a menina operária, levando-a,
simultaneamente,
para
a
escola
operária
e
para
os
rituais
católicos,
e
conseqüentemente para o trabalho fabril. Como afirma Thompson, a classe operária
também vive sua experiência como sentimento. Outro aspecto do intercâmbio entre os
elementos religioso e educacional era o fato de as professoras das escolas operárias
serem simultaneamente catequistas das capelas das fábricas.
29
Apesar da forma sucinta, o presente trabalho procurou mostrar aspectos
da cultura
operária, particularmente do operariado têxtil nas fábricas com vila operária na cidade
de Paracambi. Sem dissimular, contudo, a relação de dominação implícita nesta
situação fabril, que tende a se perpetuar por ser parte fundamental da cultura local. O
trabalho buscou evidenciar de que forma tais relações ambíguas e contraditórias se
efetivaram no cotidiano dos operários, refletindo sobre a conexão e o intercâmbio
entre os aparatos institucionais e para o somatório dos sistemas distintos da
experiência - formas particulares da cultura da fábrica.
O paternalismo industrial presente nas fábricas com vila operária nessa região teve
por base tanto o oferecimento das casas e sua extensa rede de serviços quanto o
sentimento de pertença a uma “grande família” que as relações paternais vigentes
proporcionavam. Mas é preciso enfatizar, os operários têxteis apropriaram-se dos
aparatos institucionais (elementos do complexo fabril) neles colocando seus próprios
sentimentos. Se as fábricas com vila operária eram propriedade dos industriais têxteis,
as vilas eram o lar dos operários. Diferente da Grande Família Paternal, o sentido de
Lar dos Operários implica um espaço onde o operariado e suas famílias construíram,
cotidianamente, relações de amizade e de ajuda mútua, que não se confundiam com o
paternalismo fabril.
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ANEXOS
Foto 1 – Complexo Fabril
Foto 2 - Fábrica
Porto
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Foto 3 – Trabalhadores