Andy DiPaolo, da Universidade de Stanford, explica como

Transcrição

Andy DiPaolo, da Universidade de Stanford, explica como
Escola virtual, e ensino real
Andy DiPaolo, da Universidade de Stanford, explica
como funcionam os cursos à distância e o que é preciso
saber antes de se optar pelo ensino virtual
Por Dalen Jacomino – Revista Você s.a. Dezembro 2001
e não pode frequentar uma escola, por falta de tempo, dinheiro, ou por estar longe dos centros de
ensino, ele leva a sala de aulas, os colegas, os professores, a biblioteca e o laboratório ate si. Esta é,
há mais de 15 anos, a missão do americano Andy DiPaolo. Ou seja, desenvolver programas de
cursos à distância que podem ser frequentados por estudantes em todo o mundo. Actualmente,
DiPaolo ocupa o cargo de director executivo do Centro de Desenvolvimento Profissional e de
director assistente da Faculdade de Engenharia da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos.
Sob a sua coordenação, Stanford foi a primeira universidade a oferecer cursos utilizando vídeo pela
internet, em 1995. Três anos depois, a escola foi de novo pioneira ao disponibilizar um curso on-line
completo de mestrado em Engenharia. Hoje, a Universidade oferece já mais de 200 cursos à
distância para profissionais da indústria e gestores. DiPaolo construiu a sua carreira com o objectivo de aplicar a
tecnologia ao ensino. Foi director dos serviços de media e professor na Universidade de Boston e professor de
Tecnologia Educacional na Universidade de Totedo. Antes de assumir a direcção do Centro de
Desenvolvimento Profissional, em 1988, era o responsável pelos serviços de educação da Universidade de
Boston. Além do trabalho nas universidades, esteve seMLpre próximo do mundo das organizações. Desenvolveu trabalhos de consultoria para a Hewlett-Packard, a Sun MicroSystems, a Sony e a Deutsche
Telekom. Várias vezes galardoado pela sua visão e empenho ao~serviço do ensino à distância, o trabalho de
DiPaolo foi decisivo para que as fronteiras físicas entre países deixassem de ser determinantes no acesso à
aprendizagem. No Canadá, no Quénia ou em Portugal, o importante é que agora o mercado oferece um leque
bastante diversificado de cursos à distância e muitos deles podem realmente facilitar a sua vida.
Nesta entrevista, DiPaolo explica as tendências nesta área e o que você tem que fazer para ser bem-sucedido
enquanto aluno virtual.
S
—
Os cursos à distância podem ser realmente uma boa opção de ensino?
Hoje os profissionais não têm tempo para estudar como gostariam. Estão sempre ocupados. Em Silicon
Valley, por exemplo, as pessoas trabalham entre 40 a 50 horas por semana. Sabem que precisam de ir
àescola, mas nunca conseguem. O que precisam, na realidade, é que a escola vá até elas estejam onde
estiverem. Portanto, é preciso desenvolver sistemas educacionais que satisfaçam a necessidade desses profissionais. Daí a importância dos cursos à distância, que só existem porque houve uma grande evolução
tecnológica.
—
Em que circunstâncias é que o ensino à distância é mais eficiente do que o tradicional?
Um sistema não é melhor do que o outro. São estruturas diferentes, que podem ser eficientes dependendo de
cada situação. Se o profissional tem a oportunidade de ir até Stanford para frequentar um curso, deve fazê-lo
sem pensar duas vezes. Nada substitui a experiência de estar num ambiente universitário, compartilhando o
dia-a-dia com colegas, professores e toda a comunidade. Estar na universidade faz com que as pessoas criem
um sentido de colaboração em relação à disciplina. Mas nem todos o podem fazer e, nesse caso, a educação
à distância é um facilitador. Hoje
temos profissionais da HP, Jntel, Yahoo!, Silicon Graphics e Cisco que estudam sem ir à universidade.
—
As pessoas estão preparadas para este novo sistema?
Não, não estão. Mas precisam de entender que aprender desta forma é uma experiência diferente.
Naturalmente, é preciso ter programas de treino específicos, porque as pessoas reagem de maneira diferente.
Na internet, não há interacção face a face, linguagem corporal, emoção na voz. O aluno interage de forma
diferente com o professor. Por outro lado, pela internet todos têm que participar nas aulas. Ninguém se pode
isolar num canto da sala virtual. Neste novo ambiente, existem novas possibilidades de os alunos
envolverem-se nas aulas.
Quantas pessoas frequentam cursos pela internet hoje em dia? Quais são as
perspectivas para os próximos anos?
Há um estudo feito, em 1999, pelo Departamento de Educação dos Estados Unidos que diz que 79% das
faculdades e universidade americanas iriam iniciar ou aumentar as suas actividades educacionais on-line
naquele ano. Para ter uma ideia, há 3600 faculdades nos Estados Unidos. É fácil imaginar o tamanho desse
movimento. I~ão é brincadeira.
Como é que são os cursos on-Iine em Stanford?
Em Stanford estamos a trabalhar com projectos de educação à distância há mais de 30 anos. No início, utilizávamos as tecnologias mais tradicionais, como a televisão e o vídeo. Agora, é tudo mais fácil. Todos os
anos temos cerca de 5 mil alunos que usam o sistema de educação à distância. Mas ainda oferecemos ensino
on-line só para cursos de Engenharia, Ciências da Computação e Gestão da Tecnologia. Ainda não dispomos
desses programas para os cursos de humanísticas e negócios. No futuro, estas outras áreas também deverão
ser abrangidas pela educação virtual. A área de tecnologia é muito importante dentro da universidade porque
estamos em pleno Silicon Valley. E, portanto, atendemos muitos profissionais do sector.
Como é que o ensino à distância, via web, está a mudar o comportamento das pessoas
na hora de aprender um determinado assunto?
O que toda esta inovação faz é realmente focar o processo de aprendizagem no conteúdo em si, e não na
forma como esse mesmo conteúdo é transmitido. E a partir dessa constatação é possível desenvolver inúmeros modelos de transmissão de conhecimento utilizando som, televisão e metodologias diferentes, como
simulações, jogos e treinos.
Muitos especialistas acreditam que nada irá substituir o ensino tradicional, ou seja, a
sala de aulas com alunos, quadro e professor de carne e osso. Também pensa assim?
Primeiro é preciso entender que a maior parte dos programas de educação à distância oferecido nos Estados
Unidos não é para os alunos que querem fazer uma licenciatura. A maioria deles é dirigida a alunos de pós-graduação e de programas de MBA. Em Stanford, não recomendamos cursos à distância para licenciaturas.
Acredito que os estudantes de 18 a 22 anos devem ir até ao campus. Essa experiência é muito importante.
Mas outras universidades do mercado certamente vão aceitar alunos para cursos de licenciatura. Só que para
isso funcionar elas devem criar um programa especial. Épreciso bons orientadores e uma parte dos estudos
deve ser feita no sistema tradicional. Há outro aspecto importante. Muitas pessoas não têm nível superior
nem condições para ir à escola provavelmente têm uma família e trabalham o dia inteiro. Para esse grupo
de profissionais a educação à distância é ideal.
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Qual o perfil do estudante virtual?
São, em geral, profissionais que trabalham muito, altamente motivados e têm uma necessidade específica. A
maioria usa os estudos para dar suporte ao desenvolvimento da carreira.
Os
alunos do ensino à distância são, em geral, profissionais
que trabalham muito, altamente motivados
Qual deve ser a atitude do estudante para tirar o máximo de proveito deste sistema de
ensino?
É preciso ser um aprendiz activo, porque estará sempre a interagir. O outro pressuposto é saber usar a
tecnologia. Se não souber, não conseguirá fazer nada. O terceiro: precisa de fazer parte de uma comunidade
virtual. Muitas pessoas dizem ter de estar cara a cara com o professor para absorver o conteúdo. Neste caso,
terão de se adaptar a uma outra forma de comunicaçao.
As universidades de tijolo e cimento já consagradas no ensino tradicional são
também as melhores no ensino àdistância?
Hoje as pessoas tendem a escolher os cursos em função do nome da universidade. Instituições como a
Universidade de Stanford ou a Universidade de Illinois já conquistaram o respeito do mercado com o ensino
tradicional. Portanto, tendem a atrair mais a atenção com os seus programas de ensino à distância. No
entanto, existe um grupo de escolas independentes que são muito sérias. Uma delas é a Universidade de
Phoenix. É uma escola privada, inaugurada há cerca de sete anos e que tem hoje cerca de 80 mil estudantes.
Que cuidados o estudante deve ter para escolher a melhor escola virtual?
Ele tem que ter a certeza de que a escola tem reputação, tem um nome respeitado em relação ao programa
que oferece. A segunda coisa é verificar se o sistema de comunicação, ou melhor, a tecnologia para
viabilizar o projecto, é realmente eficiente, fácil de usar, se facilita a vida do utilizador em vez de complicála. Outra coisa a fazer é certificar-se de que a escola tem realmente uma boa estrutura de atendimento aos
seus clientes, os estudantes. Se há um problema técnico, por exemplo, tem de haver alguém para o resolver.
O aluno tem de estar seguro de que o suporte da operação é eficiente. E mais:
ter certeza de que a escola oferece acesso às fontes de aprendizagem~ como bibliotecas e laboratórios. De
qualquer forma, ela deverá dizer ao interessado que tipo de experiências ele terá com as outras pessoas e
como será o relacionamento dos estudantes antes de fechar o negócio. É interessante verificar as estatísticas
sobre retenção de estudantes nestes cursos. Pergunte, por exemplo, se pode assitir a um curso antes de decidir. Faça um test-drive.
Na hora da contratação, o diploma de uma escola de
o de uma escola virtual?
cimento e tijolo é tão valorizado quanto
Vou responder com o exemplo da própria Stanford: o seu programa de distance learning é o mesmo
desenvolvido para os alunos do ensino tradicional. Em Stanford, não há distinção entre os dois programas.
Mas em outras escolas isso não acontece. É preciso ter muito cuidado na hora de escolher a escola e o
programa.
Acredita que a possibilidade de acesso a cursos à distância democratiza o mercado de
trabalho, já que pessoas que antes não tinham condições de deixar o emprego para
estudar podem assim melhorar o seu conhecimento por esta via?
Sim. O ensino à distância pode democratizar a educação. Acho que essa é realmente a grande vantagem
deste sistema educativo.
As empresas também estão a aderir ao on-Iine para desenvolver programas de
aprendizagem para os seus funcionários. Esses programas funcionam?
Há um forte interesse por parte de muitas empresas em oferecer cursos à distância para os seus funcionários.
E isso é bom porque facilita a vida de todos da empresa, que não precisa de dispensar o funcionário para
fazer um curso fora durante alguns dias, semanas ou meses, e do funcionário, que pode continuar com os
seus projectos na empresa enquanto estuda. Companhias como a Oracle e a Cisco estão já a colocar os
funcionários em sistemas de ensino on-line. •
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