1Depto de Bioquímica e Biologia molecular, Universidade
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1Depto de Bioquímica e Biologia molecular, Universidade
O EFEITO DE TRATAMENTOS DESNATURANTES SOBRE A ATIVIDADE ANALGÉSICA DE COMPLEXOS GLICOPROTÉICOS DA ALGA MARINHA VERMELHA BRYOTHAMNION SEAFORTHII Ana Lúcia P.Freitas1, Lídia A. Pinto1, Draulio C. Silva1, Fábia K. Andrade1, Samya A. Neves1, Bartolomeu W. souza1 Maria V. Bastos2, Glauce S.B. Viana2. 1 Depto de Bioquímica e Biologia molecular, Universidade Federal do Ceará. 2 Depto de Fisiologia e Farmacologia, Universidade Federal do Ceará. C.P: 6020 e-mail: [email protected] The Effect of Denaturing Treatments on The Analgesic Activity of Carbohydrate-Protein Complex from The Red Marine Alga Bryothamnion Seaforthii A carbohydrate rich (40%) protein fraction F0/60 obtained by saline precipitation from the aqueous extracts and the sulfated carbohydrates (CS) isolated from the marine red alga Bryothamnion seaforthii (Bs) were effective to promote significant analgesic activity in vivo. In order to determine the real active component in those samples they have been submitted to denaturing treatments. Another carbohydrate rich (26,8%) protein fraction (PII-DEAE) of BS was heated at 120oC for 15 minutes while the fraction (CS) was desulfated by treatment with NaOH 1M, 80ºC, and 60min. After treatments the hemagglutinating activity of all samples was completely abolished, but the analgesic activity was not changed. Swiss mice (20g) were used for studying antinociception with BS fractions. In the glacial acetic acid induced abdominal contractions 5 mg F (0/60)/kg IP produced inhibition of writing incidence (89%), CS (20mg/ Kg IP) and PII-DEAE (2mg/Kg IP) produced 96,48 and 87,5 % inhibitions, respectively as compared with appropriate controls. The obtained results allow us to suggest that a carbohydrate-protein complex of B. seaforthii would be responsible for the biological effect studied here. Introdução O uso medicinal de compostos derivados do mar data de um longo tempo. Os livros medicinais dos chineses antigos relatam o uso de algas para o tratamento de abscessos, desordens menstruais e câncer, já os romanos usavam o extrato de um animal marinho para tratar dor de dente. Nos dias de hoje os cientistas estão novamente voltando ao mar à procura de medicamentos1. Vários estudos têm sido feitos sobre as propriedades farmacológicas de diferentes organismos marinhos 2. O extrato de algumas microalgas apresenta efeito significativo no sistema nervoso central (SNC) de camundongos, revelando propriedades tanto antidopaminérgica como anticolinérgica 3,4; contudo, poucos estudos foram desenvolvidos com macroalgas 5. Embora um progresso considerável tenha ocorrido para o conhecimento da distribuição e características bioquímicas de lectinas de algas marinhas, tem-se pouca informação sobre essas proteínas em relação a outras lectinas de plantas 6. Hoje, centenas de lectinas são conhecidas e bem caracterizadas. O conhecimento da diversidade destas proteínas, ligantes de carboidrato com elevada especificidade, é a cada instante ampliado, atraindo sempre mais a atenção de cientistas no mundo inteiro. Muitas funções têm sido propostas para as lectinas, tais como: mitogenicidade, imunossupressão, toxicidade, efeito insulinomimético, proteção contra patógenos e insetos, transporte e armazenamento de carboidratos, reconhecimento celular (dentro da célula, entre células ou entre organismos), proteínas de reserva ou reguladores de crescimento, 7, 8. Por outro lado, os polissacarídeos estão presentes nas algas marinhas como fucoses sulfatadas e como galactanas sulfatadas (agar e carragenanas). O progresso no conhecimento das múltiplas atividades biológicas dos polissacarídeos sulfatados atraiu a atenção para esses compostos conforme demonstrado através dos trabalhos que se seguem: atividade anticoagulante e antitrombótica, atividade antiaterosclerótica, atividade antiproliferativa, atividade antiadesiva, atividade antiangiogenética, atividade antimetastática, atividade antiinflamatória; , inibição do complemento e efeito antiviral9. Experimental Algas As algas marinhas Bryothamnion Kütz, 1843 seaforthii (Turner) KÜTZ; Bryothamnion KÜTZ, 1843 triquetrum (S.G. Gmel.) M. Howe foram coletadas durante marés de sizígia, na praia de Flecheiras, município de Trairí, litoral cearense. As amostras coletadas foram transportadas ao laboratório, em recipiente isotérmico, lavadas em água corrente, livres de epífitas e estocadas a –20°C para posterior utilização. As algas estão catalogadas no herbário Prisco Bezerra da Universidade Federal do Ceará, com os seguintes números de identificação: Bryothamnion seaforthii EAC: 30850; Bryothamnion triquetrum EAC: 31138 Extração de Proteína A alga Bryothamnion seaforthii e foi pesada e reduzida a pó na presença de nitrogênio líquido. Tampão fosfato de sódio 0,02 M, pH 7,0 contendo NaCl 0,15 M foi adicionado à farinha de alga, na proporção de 1:3 (p: v) e a mistura foi deixada em contato por 4 horas a temperatura ambiente, filtrada em tecido fino e centrifugada a 10.000 x g 4 ºC por 30 minutos. O sobrenadante obtido, denominado extrato total, foi então acidificado a pH 1,0 com HCl concentrado, com o intuito de precipitar a maior parte dos pigmentos presentes na alga e, deixado em repouso a 10ºC por 12 horas. Após esse período, o material foi centrifugado a 10.000 x g 4ºC por 30 min, o precipitado (pigmentos) foi descartado e o sobrenadante teve o seu pH ajustado a 7,0 com NaOH 2 N. Após a neutralização, o sobrenadante foi tratado com sulfato de amônio a 60% de saturação, por um tempo de contato de 12 horas. Em seguida, a suspensão foi submetida a uma última centrifugação a 10.000 x g 4ºC por 30 min e o precipitado obtido ressuspenso em água, dialisado para retirada do sal. A fração obtida foi então denominada fração F (0/60). Extração de Carboidrato Sulfatado A alga Bryothamnion seaforthii lavada e livre de epífitas foi cortada em pequenos pedaços, imersa em solução de hipoclorito de sódio a 10 % por 5 minutos, e em seguida lavada exaustivamente com água destilada. O material foi secado em estufa a 35 ºC e colocado em contato com tampão acetato de sódio 100mM pH 6,0 com CYS 5mM, EDTA e papaína 0,4 %, por 24 horas a 60 ºC. O material digerido foi filtrado em tecido fino, tendo sido adicionado, ao sobrenadante obtido, cloreto de cetilpiridina a 10 % (CPC), para que ocorresse a precipitação dos carboidratos sulfatados. Após 48 horas a 25 ºC o material foi centrifugado a 10.000 x g por 20 minutos a 4 ºC para a recuperação do precipitado ( polissacarídeo sulfatado) que foi em seguida, lavado com uma solução de CPC a 0,05% e novamente centrifugado 10.000 x g por 20 minutos a 4 ºC. O precipitado obtido foi dissolvido em 150 mL de uma solução de NaCl 2 M e etanol absoluto (100:15 v/v) com aquecimento ocasional a 60 ºC para facilitar a dissolução. Após esta etapa, um tratamento com etanol absoluto (300 mL) foi realizado para a precipitação dos carboidratos. Decorrido 24 horas o material foi centrifugado (10.000 x g 20 min. 4 ºC) e o precipitado obtido lavado com 600 mL de etanol 80% e centrifugado (10.000 x g, 20 minutos a 4ºC). O novo precipitado foi lavado com 600 mL de etanol absoluto e centrifugado (10.000 x g, 20 minutos a 4 ºC). Em seguida, o precipitado dessa última centrifugação foi lavado com 600 mL de acetona, centrifugado (10.000 x g, 20 minutos a 4 ºC) e o precipitado final foi posto para secar em temperatura ambiente (25 ºC) Espectroscopia de Absorção na Região do Infravermelho. Com as frações de carboidratos sulfatados obtidas, foram realizados espectros na região do infravermelho em Espectrômetro PERKIN ELMER SPECTRUM 100, em pastilha de KBr, na região de 4000 a 400 cm-1. Eletroforese A avaliação do grau de desnaturação das amostras tratadas foi avaliado por eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS e β-mercaptoetanol, segundo o método de LAEMMLI (1970)10. Tratamentos realizados com a Fração Protéica F(0/60) Tratamento Térmico Consistiu no aquecimento da fração F( 0/60) a 120 ºC por 15 min em autoclave. Em seguida, foi realizada a determinação da atividade hemaglutinante e testes de atividade antinociceptiva antes e após esse tratamento da amostra. Tratamento Enzimático Digestibilidade in vitro: A fração F (0/60) foi colocada em contato com uma solução de tripsina em HCl 50 mM e papaína em tampão fosfato 10mM, cisteína 1 mM, EDTA 3 mM, pH 6,0 e, incubados por 12 horas a 60 ºC. Após esse período, a amostra foi submetida a um aquecimento em banho-maria a 100 ºC por 2 min, finalizando a reação. Em seguida foram feitos os testes de determinação da atividade hemaglutinante e de atividade antinociceptiva. Ensaios controles foram realizados com a fração (0/60) antes do tratamento. Tratamento Químico A fração F (0/60) foi tratada com uma solução contendo dodecil-sulfato de sódio (SDS) 0,1 % e βmercaptoetanol (β) 0,1 % e aquecida a 100 ºC, por 2 minutos. Em seguida foram feitos os testes de determinação da atividade hemaglutinante e de atividade antinociceptiva. Ensaios controles foram realizados com a fração (0/60) antes do tratamento. Tratamento do Carboidrato Sulfatado de Bryothamnion seaforthii. Uma solução de carboidrato sulfatado 1 % em NaOH 1 M foi aquecida a 80 ºC por 60 minutos em autoclave. Em seguida, o material foi exaustivamente dialisado contra água, filtrado a vácuo e liofilizado. Teste das Contorções Abdominais Induzidas por Ácido Acético (“Writhing Test”) O modelo das contorções abdominais induzidas pelo ácido acético 0,6 %, foi desenvolvido segundo o método originalmente descrito para ratos por VANDER & MARGOLIN (1956)11 e posteriormente, modificado para camundongos por KOSTER et al. (1959) 12. Nos experimentos foram utilizados camundongos Swiss, fêmeas, pesando entre 20 e 30 g. Os animais foram prétratados com as seguintes amostras de B. seaforthii (BS): carboidrato sulfatado (BS) 20 mg/kg via intraperitoneal; carboidrato sulfatado (BS) tratado com NaOH 1 M aquecido a 80 ºC por 1hora, ( 20 mg/kg via intraperitoneal); F0/60 (BS) tratada com SDS (0,1 %) + β-mercaptoetanol (0,1 %) (5 mg/kg i.p.); F0/60 (BS) aquecida a 120 ºC por 15 minutos (10 mg. kg-1 i.p.); F (0/60) de B. seaforthii tratada com uma solução de tripsina e papaína (5 mg/kg i.p); F0/60 (BS) aquecida a 120º C por 15 min (10 mg/kg i.p.); o grupo controle recebeu água destilada 10 mL/kg i.p (veículo de dissolução de todas as amostras). Decorridos 60 minutos após o tratamento por via oral e 30 minutos após o tratamento por via intraperitoneal, os animais receberam a injeção de ácido acético (10 mL/kg i.p.). A resposta dos animais foi registrada 10 minutos após a administração do ácido acético, quando foi quantificado o número de “Writhings” (contração da musculatura abdominal juntamente com a extensão das patas posteriores) durante 20 minutos. O ácido acético induz dor indiretamente, pois não estimula os receptores nociceptivos peritoneais de forma direta, age liberando substâncias endógenas que excitam as terminações nervosas, ou seja, produz inflamação aguda na área peritoneal 13,14 . Número de contorções (20 min) 35 30 25 20 15 10 * 5 * 0 Controle F 0/60 10 mg/Kg i.p. F 0/60 10 mg/Kg i.p.+ 120ºC Figura 1- Efeito da fração F0/60 de B.seaforthii antes e apos aquecimento a 120º C por 15 min, no teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético. * P < 0,05 Student-Newman-Keuls Method Resultados e Discussão Observamos que Fração protéica e o carboidrato sulfatado de Bryothamnion seaforthii apresentavam atividade analgésica, sendo capazes de inibir o número de contorções abdominais induzidas por ácido acético a 0,6 %. Constatamos ainda que a fração protéica (F 0/60) mostrou uma proporção de 40,83% de carboidrato pelo método do fenol-ácido sulfúrico de DUBOIS et al. (1956) 15 tendo glucose como referência. Devido a essa alta quantidade de açúcares na fração, fez-se necessária a desnaturação das proteínas por diversos métodos (térmico, químico e enzimático) no intuito de esclarecer se o componente ativo presente nestas amostras era de natureza unicamente protéica, glicoprotéica ou se seria um carboidrato. Podemos constatar que a fração F(0/60), após tratamento térmico, perdeu toda a atividade hemaglutinante (99,8 %) com relação à fração F(0/60) não aquecida, revelarando que o tratamento sob elevada temperatura, ao qual foi submetida a amostra testada, provocou a desnaturação das proteínas ( lectinas), o que levou à perda da capacidade de ligação destas às células sanguíneas. Nossos resultados mostram que a fração F (0/60) na dose de 10 mg/kg i.p., aquecida e não aquecida (n.o de contorções igual 1,33 ± 0,65 e 0,17 ± 0,15, respectivamente), apresentou uma inibição das contorções de 95,52% e 99,43%, respectivamente em relação ao grupo controle (29,7 ± 2,93), onde se usou água destilada (Figura 1). Observamos ainda que a fração F (0/60) perdeu sua capacidade hemaglutinante após tratamento enzimático (96,87 %), em relação à fração F(0/60) que apenas foi aquecida por 2 minutos a 100 ºC, mas não recebeu esse tratamento. No que diz respeito à atividade analgésica, o teste das contorções abdominais foi seguido empregando-se quatro grupos distintos de animais que foram tratados como segue: com a fração F(0/60) tratada com tripsina e papaína, como descrito Figura 2- Efeito da fração F0/60 de B.seaforthii antes e após o tratamento com tripsina e papaína, no teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético. * P < 0,05 Student-Newman-Keuls Method 1234567 Figura 3- Eletroforese em gel de poliacrilamida na presença de SDS e β-mercaptoetanol da Fração 0/60 de BS antes e apos tratamento enzimático e térmico. 1 e 7marcadores; 2 e 3 fração F0/60 de BS; 4- fração F0/60 após tratamento enzimático (tripsina e papaína);525 Número de contorções (20 min) acima, com a fração F (0/60) que apenas sofreu aquecimento a 100 ºC por 2 minutos, o controle com água destilada e, um grupo que recebeu apenas uma solução de tripsina e papaína. Apesar da grande perda da atividade hemaglutinante da fração F (0/60) tratada, esta amostra e a F (0/60) nativa, que apenas sofreu aquecimento a 100ºC por 2 minutos (ambas na dose de 5 mg/kg i.p.), apresentaram atividade analgésica semelhantes nos testes das contorções abdominais (4,61 ± 2,04 e 2,44 ± 0,66), respectivamente, com uma porcentagem de inibição das contorções de 90,37 % e 81,81 % respectivamente, em relação ao grupo controle (25,35 ± 3,08). O grupo que recebeu apenas a solução de tripsina e papaína, na dose de 10 mL/kg i.p.(18,57 ± 2,39), mostrou uma porcentagem de inibição das contorções de 26,74 % em relação ao grupo controle, porém este valor não foi estatisticamente significativo (Figura 2). Para evidenciar a desnaturação provocada por eses dois tratamento, um novo experimento consistiu em uma eletroforese em SDS-PAGE c/ β-mercaptoetanol das amostras: fração F (0/60), fração F (0/60) tratada com tripsina e papaína, um controle correspondendo a uma solução contendo apenas tripsina e papaína e, por último, a fração F (0/60) aquecida a 120º C por 15 min. Os resultados obtidos após a revelação com prata, mostra um padrão eletroforético de duas bandas protéicas para a fração F (0/60) não tratada, enquanto a fração F (0/60) tratada com tripsina e papaína, apresentou apenas uma discreta banda (4), que estacionou em posição intermediária, com relação às bandas correspondentes ao fracionamento da fração não tratada (2). Este resultado confirma a hidrólise enzimática das proteínas contidas na fração F(0/60). Quanto ao controle (tripsina + papaína), este não revelou a presença de bandas protéicas (5). A fração F(0/60) aquecida a 120ºC apresentou uma banda única correspondendo à banda de menor massa molecular visualizada para a fração F (0/60) não tratada. Ao que parece a banda protéica de maior massa, mostrou-se mais 20 15 10 * 5 * 0 Controle Número de contorções (20 min) 30 F 0/60 5mg/Kg i.p. F 0/60 5mg/Kg i.p. +SDS+B (0,1%) Solução de tripsina e papaina; 6- Fração 0/60 após tratamento térmico. 25 20 sensível ao calor. Diante destes resultados podemos concluir que ambos tratamentos causaram a desnaturação da fração F (0/60) (Figura 3). Com relação ao tratamento químico, houve perda de 87,5 % da sua atividade hemaglutinante, quando comparada à fração F (0/60) não tratada. A 15 * 10 * 5 0 Controle F 0/60 5mg/Kg i.p. F 0/60 5mg/Kg i.p.+ papaína+ tripsina Papaína + tripsina 10ml/Kg i.p. SDS+B (0,1%) atividade analgésica, no teste das contorções abdominais, foi testada utilizando-se quatro grupos de animais tratados: com a fração F (0/60); sem tratamento químico; com a fração F (0/60) tratada; o controle com água destilada e, um grupo tratado apenas com a solução de dodecilsulfato de sódio (SDS) 0,1 % e βmercaptoetanol (0,1 %). Os resultados demonstraram que as frações F(0/60) tratada e a não tratada de B. seaforthii (na dose de 5 mg/kg i.p.) apresentaram resultados semelhantes quanto à atividade analgésica (2,4 ± 0,67 e 3,44 ± 0, 87) respectivamente, com inibição das contorções abdominais na ordem de 88,99 % e 84,22 % respectivamente, com relação ao grupo controle. O controle com água destilada e o grupo que foi submetido apenas ao tratamento com a solução de SDS e βmercaptoetanol (na dose de 10 mL/kg i.p.), mostrou um número de contorções de 21,8 ± 2,25 e 22,1 ± 3,08 respectivamente, mostrando que somente a solução SDS e β-mercaptoetanol não é capaz de alterar o número de contorções (Figura 4). Quanto ao carboidrato sulfatado de BS, o teor de nitrogênio total, obtido pelo método de MicroKjeldahl foi determinado antes e após tratamento com NaOH 1 M seguido de aquecimento a 80 oC, por 60 min. Verificamos que o carboidrato sulfatado de B. seaforthii apresentou valores de nitrogênio total (Nt) correspondentes a 1,351 % sem tratamento, e 0,49 % após tratamento, mostrando que esse tratamento leva a uma diminuição de 64,03 % no teor de nitrogênio total. O espectro na região do infravermelho do carboidrato sulfatado de B. seaforthii mostra o conteúdo de sulfato, expresso como um grau de substituição (DS), de 0,071 para o carboidrato sulfatado, 0,018 para o carboidrato sulfatado tratado com NaOH 1M e aquecido a 100 ºC por 60 minutos. De acordo com estes resultados, houve uma significativa diminuição do DS do carboidrato sulfatado total após o tratamento com NaOH (73,13 %), com relação à amostra não tratada. Apesar dessa diminuição significativa, a atividade analgésica das amostras ( carboidrato sulfatado nativo e tratado), permaneceu praticamente a mesma. No teste das contorções abdominais, o carboidrato sulfatado tratado e a amostra nativa, nas doses de 20 mg/kg i.p., apresentou uma diminuição das contorções de 96,48 % e 82,58 %, respectivamente, em relação ao grupo controle. Estes resultados demonstraram que um alto grau de sulfatação não parece ser importante para a atividade analgésica, visto que, no teste das contorções abdominais, o grupo tratado não mostrou diferença estatisticamente significativa com o grupo sem tratamento (Tabela 1). Figura 4- Efeito da fração F0/60 de B.seaforthii antes e após tratamento com SDS e β- mercaptoetanol (0,1 %) no teste das contorções abdominais induzidas por ácido acético. * P < 0,05 Student-Newman-Keuls Method Conclusão Os resultados obtidos permitem concluir que o componente responsável pelo efeito analgésico observado, não é de natureza puramente protéica, e sim, um conjugado glico-protéico, que ao sofrer os tratamentos térmico, enzimático e químico conservou sua aplicabilidade biológica. Agradecimentos FUNCAP, CNPq, Capes, Departamento de Bioquímica da UFC Referências Bibliográficas 1.JACK, D. Combing the oceans for new therapeutic agents. The Lancet, vol 352, 5 setembro, 1998. 2. FAULKNER, D. J. 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