Julho / A gosto 2009

Transcrição

Julho / A gosto 2009
Julho / Agosto 2009
N: 10
Julho 2009
Quimpostor
Vou-vos dizer a verdade:
já não me apetece mentir.
Alguém tem o número do
Lavoisier?
Ele tem Facebook?
Precisava de falar com ele.
Tenho vindo a perceber que começar
de novo pode ser tão difícil como continuar. Começar de novo é cada mais difícil
porque cada vez mais vamos sentindo que
não há tempo para perder. Mas há. Todo o
tempo é para perder. Acho mesmo que é
a única maneira de ganhar. Parece que só
entendemos a ideia de paciência quando
passamos a olhar para ela como um luxo,
quando percebemos que sempre devíamos
ter sido pacientes. Aprendemos a esperar
quando já não temos tanto tempo para o
fazer.
Não existe começar de novo, existe
começar outra vez. Mesmo que queiras,
nunca viajas sem bagagem. Somos todos
preciosos, porque somos todos passaportes
palimpsestos – por baixo do carimbo de
onde estamos estará sempre o carimbo
de onde viemos e assim sucessivamente.
Novos são os destinos. O viajante é todas
a viagens que fez e que vão condicionar
todas as outras viagens futuras, ao futuro.
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N: 10
Quim Albergaria
O importante é a viagem, porque todas as
viagens são de voltar a casa, seja lá onde
isso for, o que isso for, seja lá quem isso
seja.
Pela costa da Califórnia os putos
têm usado o Google Earth para procurar
piscinas vazias ou abandonadas, para
andar de skate. Mesmo entediados não
desistem, dão um passo para trás, ou
para cima, para verem a Califórnia toda e
escolherem o próximo passo, como se a
fronteira ainda existisse. É isso que tenho
de fazer também, olhar de cima para o que
tenho dito e ver o que ainda não disse, o
que ficou por dizer e talvez, neste momento
a mais importante das perspectivas, para
ver o que já disse. Esta piscina da mentira
está cheia, não acho que tenha mais para
dizer sobre a treta. Aqui já me sinto preso
e repetido. Já chega, vou-me apontar à
fronteira, vou para a praia.
Complicar é simples. Deixares-te ir
em desverdades e não-mentiras é tão fácil
como engolires pirolitos nos quebra-cocos
do Meco. Complicar é simples. Ergueres
biombos e máscaras que são garantes
de segurança para falares de longe,
constroem um sítio afastado de chatices.
Agora mostrares-te sem roupa e, como a
Gabriela, dizeres que és assim, isso aí, é
um sítio vulnerável. E ser vulnerável é de
ser vulnerável é de homem, é
eloquente e muito mais próximo
de uma verdade qualquer.
acho que depois de isto tudo
cheguei à conclusão que
procurava – a mentira não rende.
homem, é eloquente e muito mais próximo
de uma verdade qualquer. É aí que me
apetece estar, apetece-me é ir por aí.
O mentiroso já não precisa de mentir,
porque quer acreditar nele próprio.
Pensem nisto como um obituário
em vida, como um testamento de um
desprovido sem nada a perder, como uma
nota de suicídio de quem decidiu viver um
pouco mais. Hoje e aqui, leiam a morte do
Quimpostor.
Inventei o Quimpostor para me proteger. Proteger-me do pouco cuidado que
tenho a pensar e da velocidade com
que me saía da boca aquilo que penso;
proteger-me dos olhos inteligentes que me
lêem; proteger-me da libertinagem do que
digo; proteger-me a mim de mim. Enquanto
achava que vos entretinha, bocados
importantes meus apareciam à minha e à
vossa frente. Precisava de um escudo, de
um preservativo. Mas eu não quero foder,
eu quero fazer amor.
Enquanto conversava aqui convosco
punha uma caraça. Por cima dos parágrafos
que escrevi todos estes meses encabeçava
o “vou-vos dizer a verdade: eu minto.” Este
truque corrompeu o que durante todos
estes meses se foi tornando mais exposto,
vulnerável, honesto. Enquanto me fui
mostrando cada vez mais, tinha sempre
ali um alçapão, uma fuga pronta a usar, a
dizer que o que se seguia podia muito bem
ser mentira. Como podiam vocês confiar
naquilo que vos dizia quando eu próprio
não confiava? Comecei a sentir que não
estava a ser justo convosco, porque não
estava a ser justo comigo. Quis emocionar-vos, quis saber de mim e fiz figas.
Falei-vos do que inventamos para
sobreviver e das tretas que nos entremeiam,
ao mesmo tempo que pedia para nos
aproximarmos e para nos deixarmos de
tangas. Disse-vos que me sentia sozinho
porque percebia que esta solidão é partilhada por todos. Mas disse tudo isso
através de uma das maiores responsáveis
do nosso afastamento uns dos outros – a
mentira. Por isso já chega de Quimpostor.
Não quero esta distância entre mim e o que
digo, não quero esta distância entre nós.
Eu sei que a escrevi sexy, eu sei que
a escrevi utilitária, eu sei que a escrevi
divertida e sofisticada, mas acho que
depois de isto tudo cheguei à conclusão
que procurava – a mentira não rende.
Aprendi e transformei-me, olhei para
mim e vi-me. Agora vou de férias, vou
começar outra vez. Vou simplificar.
Obrigado,
Quim Albergaria
1000 Caracteres
Ilustração: Quim Albergaria
— por p.p. —
“ ... o que sabemos empobrece ou apaga
o deslumbramento que a beleza do mundo
devia exercer sobre nós...”, leio na parede
da entrada da exposição*, enquanto tento
explicar - O pai saiu porque estava sempre
a discutir com a mãe, percebes ?
A formalidade não lhe agradou muito. Prefere as respostas. Posso ir à casa nova?
A ânsia de saber está na sua natureza,
percebo isso. Lentamente o seu espírito
curioso começa a desvendar os segredos
dos adultos. Não quer saber todos. Entende
que isso não lhe dá prazer. O que já lhe
cria embates violentos com a ordem das
coisas, com a necessidade de organizar
a sua vida, os seus momentos com os
momentos dos adultos. Por ela, comia
quando lhe desse a fome, bebia quando
lhe desse a sede e adormeceria quando os
próprios brinquedos ficassem cansados.
Está curiosa, imagina já um novo quarto
com brinquedos novos. Mas o que eu
acho que realmente a seduz é ter espaços
dela. Reservados. Seus. Fará parte do seu
esquema de segurança. A sua realidade é
falsamente simples. Mas ela transforma-a
na mais fascinante das fantasias. E toma
posse do seu lugar no mundo todos os
dias. Ela sabe que eles lá estão e sabe que
não quer deixar de se deslumbrar. Até dá
para rir com o desplante.
*frase de Gérard Castelo Lopes, numa exposição
do mesmo em 2004.
Cpt. Luvlace
MAGDA
Expander
Quinta 02
Quinta 02
Quinta 02
Julho 2009
página: 03
Fado marialva com
óculos escuros
e after-hours
Julho 2009
Hugo Gonçalves
Querida Lisboa,
A verdade, pelo menos
agora, é que me pareceste,
durante muito tempo,
aquelas mulheres com
quem não sabemos se nos
apetece ir para a cama e
casar no dia seguinte ou
bater com a porta uma
e outra vez até que não
voltamos mais.
Talvez sinta esta inquietação porque
nos abandonámos há alguns anos. Tu estavas certamente cansada das minhas críticas e das minhas ameaças de emigração.
Eu, de malas feitas, apanhei o avião um dia
depois do Natal, seguro de que não eras
mais que uma cidade que repetia infinitamente o mês de Dezembro, enrolada numa
película de chuva e povoada por pessoas
de fazenda, com roupas estioladas – cria-
frescos de sesta e beijos na boca. Gosto
do teu coração, armazenado junto ao rio e
com ruas estreitas. Mas fica a saber que
não me interessam as tuas cirurgias plásticas fracassadas, o lego com excesso de
peças do Parque das Nações, a geometria
certinha de Telheiras, os seus móveis Ikea,
os jovens casais, os dois lugares na garagem, a menina dos olhos da classe média
com curso superior.
O que não quer dizer que eu não queira que trates melhor de ti. Por exemplo,
devias estar menos confiante na decadência das fachadas dos prédios como atributo para atrair turistas. Devias sugerir aos
utentes dos transportes públicos que usassem gel de duche, desodorizante e respeito
pelo espaço pessoal de terceiros. Devias
sugerir que os teus habitantes dissessem
bom dia, que sorrissem uns para os outros,
que passassem menos tempo na sala da
televisão e mais tempo na rua. Diz-lhes
para começarem conversas com estranhos
e oferecerem aos indígenas a mesma sim-
Gosto do momento em que a
porta do táxi se fecha e já se pode
ouvir a música da pista de dança
turas nómadas que viajam todos os dias
entre uma máquina de fotocópias a ranger
dos parafusos e um apartamento de três
assoalhadas ao fim de duas horas de trânsito.
Mas agora, anos depois, regressei,
aluguei uma casa com os sinos de uma
igreja como banda sonora e começo a
descobrir que não ficaste quieta, de socas
e bata, apoiando as mamas no parapeito,
olhando a vida dos outros na rua e tendo
como única companhia o canário que apita
dentro de uma gaiola. Em todo este tempo,
deixámos de ser crianças envergonhadas,
num recreio, que usam um pontapé nas
canelas como artimanha de sedução. Estamos mais elaborados nos gestos e na eloquência. Bebemos gin com pepino. Conhecemos restaurantes secretos em outras
cidades. Temos amigos estrangeiros. Mas
estamos também mais directos ao assunto, mais crus, afinal, com esta idade, não
andamos aqui para enganar ninguém.
E é por isso que te digo que gosto outra vez de ti sempre que faz calor e me apareces nas alças dos vestidos das mulheres
bonitas que escalam o Chiado, passeando
sacos de lojas enquanto caminham para
mojitos nalgum terraço ou para lençóis
patia com que prestam informações a turistas perdidos. Não te armes em moderna
apenas porque usas a bijutaria de prédios
espelhados e balcões bancários. Cuida melhor das pessoas que aqui vivem. Não sejas
tão desconfiada. Dança com mais frequência e deixa as janelas de casa abertas.
Melhora o teu jogo de cintura. Disponibiliza-te. Deixa que o meu braço se encoste na
base das tuas costas e que os meus dedos
se amarrem na tua cintura.
Gosto de ti ao fim da manhã quando,
na minha rua a pique, entre roupa estendida e nuvens frenéticas de pombos, aparece o rio ao fundo, garantindo-me que não
morrerei de calor e que haverá sempre um
barco que possa usar em caso de fuga.
Passo pelo barbeiro indiano e pelos seus
filhos que já trocaram o cricket de rua pela
peladinha futebolística no passeio de calçada. Velhas de roupão e cabelo de almofada comentam, numa ombreira para pessoas tão pequenas, problemas na espinha
e a detenção de um neto que usa brincos,
boné e dois tubos de escape. Gosto de ti
quando cruzo a Praça da Figueira, espelhado na montra do Mundo das Malhas,
desviando-me dos convites das prostitutas
diurnas e da coragem física dos rapazes do
skate, manobras que me rasam o corpo,
a insolência cocktail molotov das letras vermelhas, pós-eleições, pintadas a spray na
base do cavalo de D. João I: “64 %, ganhámos outra vez.”
Nos últimos meses, tenho vivido todos os dias contigo. Temos casas separadas, é verdade, e nenhum compromisso
que tenha exigido a presença de um notário. Mesmo assim, escrevo-te porque estou
estes dias numa cidade fora de fronteiras e
quero assegurar-te de que não me escapei
outra vez. Quero dizer que sim, que gosto de ti, que sou entusiasta das tuas ruas,
onde roço ombros com vendedores de
haxe, turistas de esplanada e romenos que
tocam Sinatra num acordeão. Quero dizer-te que percebo o deslumbramento dos fotógrafos com a tua luz e dos Erasmus com
o experimentalismo a céu aberto. Quero
confessar-te que me emociono com o som
de uma ventoinha, dos talheres a tocar nos
pratos, do sotaque brasileiro a cantar na
rádio sempre que passo junto a um rés-do-chão com a porta aberta.
Gosto das tuas meninas betas com
tapetes de ioga debaixo do braço e óculos
escuros que lhes cobrem metade da cara,
gosto dos cibercafés com paquistaneses
que espreitam pornografia no ecrã, gosto
dos folhados de salsicha nas pastelarias,
das festas ao final da tarde, em casas com
pátios, baldes de gelo e crianças despenteadas. Gosto de pensar (embora seja mentira) que Lisboa tem praia. Gosto do apito
dos eléctricos que parece a campainha de
uma bicicleta. Gosto do momento em que
a porta do táxi se fecha e já se pode ouvir
a música da pista de dança. Gosto de chegar a casa de manhã. Gosto dos domingos,
quando a ressaca é macia e um mergulho
basta para nos ressuscitar, e nas ruas não
se passa nada, a não ser o barulho distante
de uma motorizada e a máquina de café do
único sítio aberto. Gosto que sejas toda Verão e bolas-de-berlim e carreirinhas. Gosto
que gostes de cama a meio do dia. Gosto
que tenhas agora muito mais possibilidades, que sejas mais confiante, que chegues
a pedir o número de telefone a alguém que
conheceste esta noite. Gosto de ti. Gosto
de ti, pelo menos enquanto houver sol.
Gosto que tenhas agora muito mais possibilidades,
que sejas mais confiante, que chegues a pedir
o número de telefone a alguém que conheceste
esta noite.
Leonaldo
de Almeida
Sexta 03
Magda
Quinta 02
Alan Braxe
Quinta 16
Matthew Dear
Sexta 17
Carl Craig
Sexta 31
Pinkboy
DJ Vibe
Sexta 03
Sexta 03
N: 10
DEMO
André e. Teodósio
Não percas mais tempo, futuro Supernova™.
Dirige-te calmamente a qualquer um dos bares
do LUX com este texto e usa estes passwords
de engate. Entrarás directamente no reino da
Megalopsychia!
Engata...
1) alguém que às quatro da manhã
começa a dar sinais de sono:
(pinta um bigode à Houdini no WC e
andando de costas faz-te surgir no
‘destino’) Estava aqui a pensar... se
não deveríamos sair da estética do
aparecimento (lógica que estruturou
toda a Arte nos últimos 2 000
anos) e entrar numa de estética de
desaparecimento!
2) alguém que se destaca por estar
a reflectir sobre problemas da
contemporaneidade:
(arranja mentos e, mãos-largas, compra
uma garrafa de coca-cola no bar) Eu sei
o que estás a pensar. E tens razão.
A economia europeia, e a mundial
claro, atingiu os seus limites. Precisa
de mais. Precisa de expansão. E há
um nome para isso: Descobri Mentos
(na Coca-Cola). Vai ser uma época
explosiva. Tipo champagne mas
na versão ciência-inútil que é tão
característica da minha geração rasca.
Vamos para a varanda?
3) alguém que dança o set do Dj Dexter
alucinantemente:
(pede um bloody mary com duas palhinhas;
de seguida coloca-as simetricamente
debaixo do lábio superior como se fosses
um drácula e vai oferecer a bebida) Porque
acreditar não é íntimo mas social é que
te ofereço o legado de Bloody Mary.
Posso vampirizar este instante e um
pouco da sua energia Madame Tudor?
(E... ATACA!)
4) alguém que foi desdenhado, ou alguém
de quem gostas há muito tempo e nunca
tiveste coragem de falar:
(tira este jornal do Lux debaixo do braço
e instala-te realmente em frente da outra
pessoa: frente-a-frente, olhos-nos-olhos,
jornal-no-sovaco) Eu sou o 1 tu és o 2.
Juntos faremos aparecer o 3.
1 - Podes fazer um intervalo para um
FUQ? E segundo o texto que me foi
dado tu deverias perguntar o que é um
FUQ.
2 – O que é um FUQ?
1 – É um Frequently Unanswered
Question. E qual é a tua questão?
2 – Segundo texto que me foi dado eu
deveria perguntar: – O que é o First
Person Shooter (FPS)?
1 – Os FPS são aquele tipo de jogos
em que os protagonistas estão de
costas voltadas para o público e os
maus enfrentam-nos de frente. (Um
bocado ao contrário da vida, não é? em
que normalmente vemos de frente os
amigos e os inimigos pelas costas.)
2 – UAU. Obrigado pela amizade.
Vamos a mais um FUQ?
1 – Não nos vamos precipitar. Anda,
vamos beber um copo. Eu ofereço.
Yen Sung convida
Mr Cheeks
Sábado 04
Julho 2009
página: 04
Filologia Livre
da Pop do meu
poluído imaginário
Filologia Livre da Pop
do meu poluído imaginário
sr. peppas
arquivista de generalidades
Aviso
Esta coluna dedica-se à análise de grandes
letras da história da pop, desrespeitando
deliberadamente quaisquer direitos (ou
intenções) do autor.
THE END,
JIM MORRISON,
1967
As coisas começaram como tudo começa. Uma pequena mensagem em stencil
escrita na parede de pedra do lado interior
do logradouro da minha sub-cave à Lapa.
Reparei nela durante vários dias até me dar
conta que não deveria estar ali, o que considerei como um nítido sinal da diminuição
das minhas capacidades, um doce e adormecido embalar da perspicácia.
E isso era quase tão preocupante
como a imagem que surgia, agora evidente, aos meus olhos tanto no seu significado como na sua forma. Era uma espécie
de imagem de Cristo, semelhante à do sudário mas feita na pedra. Em vez de Cristo
representado, estava eu no seu lugar, com
coroa e tudo.
Fui mais uma vez traído pela minha
própria soberba.
O facto de ter interrompido o afastamento dos grandes palcos mundiais da desencriptação para partilhar convosco neste
jornal as minhas pequenas análises sobre
a verdadeira verdade das grandes letras da
pop, colocou de novo o foco de atenção
sobre o perigo que representa alguém com
os conhecimentos e a vontade de desmistificar as grandes construções mitológicas
da actualidade.
Daí à alusão a um sr. peppas mártir,
na forma de stencil urbano foi apenas um
pulo por cima do meu muro.
Sei quem eles são, mas não vou dizer o seu nome. Primeiro, porque vocês
ficariam a sabê-lo e obviamente passariam
também a ser alvos preferenciais da fúria
asséptica dos mestres mundiais da ilusão.
Segundo, porque não se deve dar nome ao
mal, para que ele não se sinta em casa.
Terceiro, porque no fim deste artigo
vocês irão esquecer-me para sempre, pois
encriptei neste texto um desmemoriador.
Portanto, na verdade isto não será uma
despedida dado que vocês nunca se lembrarão de alguma vez me ter lido.
Aliás, encontro-me na fase avançada
de limpeza de todo e qualquer vestígio da
minha existência. A exemplo do Jim também eu quero limpar o futuro de todas as
referências do passado. Vou também eu
matar tudo o que tenho e que já não é meu.
O que sobrar fará o resto do caminho.
Esta minha escolha para esta minha
“despedida” é um texto de esperança. Era
o que Jim teria querido, sei isso de fonte
segura.
Que o seu FIM fosse para sempre entendido como uma espécie de manual de
instruções e de princípios para uma serena
libertação do espírito.
A sua verdadeira intenção era o lançar de um desafio existencialista à condição humana como forma de estímulo ao
progresso intelectual e social. Como tudo
o que os artistas fazem, a sua verdadeira
intenção nunca foi percebida nem pelas
elites, nem pelas massas que encararam
o texto como encaram as alucinações de
um qualquer drogado com problemas edipianos.
Na verdade, o que Jim deixou como
legado é um manual de instruções para
enfrentar o fim e fazer o melhor desse momento. É uma espécie de Manual de Auto-Ajuda dos Últimos Minutos, regras simples
que se transformam num manifesto de hedonismo extremo que achei por bem partilhar convosco nesta época de depressão
com o intuito de vos preparar para tudo o
que possa acontecer num futuro onde eu
já não vou estar.
This is the end, beautiful friend
This is the end, my only friend
The end of our elaborate plans
The end of everything that stands
The end
No safety or surprise
The end
I’ll never look into your eyes again
Vais perceber quando o fim começar.
Vês uma luz que te impele a segui-la sem
sequer saberes o caminho. Como vai estar
sol, leva óculos escuros.
Can you picture what will be
So limitless and free
Desperately in need of some strangers
hand
In a desperate land
Não esperes o fim perto de casa, porque se
perde o efeito surpresa.
Lost in a Roman wilderness of pain
And all the children are insane
All the children are insane
Waiting for the summer rain
There’s danger on the edge of town
Ride the king’s highway
Weird scenes inside the goldmine
Ride the highway West baby
N: 10
O fim é apenas uma forma de mudar de
caminho.
The ancient lake baby
The snake is long
Seven miles
Ride the snake
O fim é longe e cheio de curvas. Leva
Vomidrine. Ácidos são um bom substituto.
He’s old
And his skin is cold
The west is the best
The west is the best
Get here and we’ll do the rest
The blue bus is calling us
The blue bus is calling us
Driver, where you taking us?
O caminho para o fim é mais perto pelo
ocidente. Partindo daqui é seguir o Sol
durante o dia até à noite. Depois apanhar
o autocarro azul. Não dá para confiar no
condutor, portanto vai atento ao caminho.
The killer awoke before dawn
He put his boots on
He took a face from the ancient gallery
And he walked on down the hall
O fim é uma espécie de baile de máscaras
com rigoroso dress code. Não deixam
entrar pierrots nem damas antigas.
He went into the room where his sister
lived
And then he paid a visit to his brother
And then he walked on down the hall
And he came to a door
And he looked inside
Father?
Yes son
I want to kill you
Mother, I want to... ... ...
O fim é um assunto privado, por isso deixa
a família em casa nem que tenhas de te
chatear com eles.
Come on, baby, take a chance with us
Come on, baby, take a chance with us
Come on, baby, take a chance with us
And meet me at the back of the blue bus
A parte mais divertida do fim são os inícios
que acontecem pelo caminho.
This is the end, beautiful friend
This is the end, my only friend
The end
It hurts to set you free
But you’ll never follow me
The end of laughter and soft lies
The end of nights we tried to die
Julho 2009
Começou
a silly season
Sound Bites por Joaquim A. Rocha
Há dias, ao desligar o telefone, depois
de uma conversa com uma amiga minha,
disse para mim próprio: pronto, começou
a silly season!
Eu sabia que o mês de Agosto ainda
vinha longe, mas o calor e as mudanças
climatéricas têm efeitos estranhos nas ca-
Portanto, uma vez que os indicadores
tradicionais deixaram de funcionar, a questão que se põe é: como se determina o início da silly season? Será que alguém sabe?
Decidi colocar a questão no Facebook, mas como ninguém me respondeu
nos primeiros 5 minutos, fiquei sem saber
página: 05
Em meados de Maio, e quando o tempo o permite, temos os Silly Weekends at
MecoTM. É um fenómeno curioso porque
“lisboa” foge toda da cidade, para se encontrar nua a 50 km de distância. Talvez
menos. Mas eu confesso que há coisas que
prefiro não ver. A sério. Juro!
Em finais de Julho, princípios de Agosto, temos a Silly Week of Zambujeira TM.
Praia, marisco e pó, muito pó, e um bom
festival de música. Noutros tempos era a
verdadeira época tonta do ano, com muita gente verdadeiramente tonta, mas com
pinta, à mistura. Hoje é uma espécie de versão freak da Costa de Caparica e já não há
marisco. Comeram-no todo. Dantes ainda
havia lá um gajo que ia à pesca. Mas agora
Uma vez que os indicadores tradicionais deixaram
de funcionar, a questão que se coloca é:
como se determina o início da silly season?
Será que alguém sabe?
beças das pessoas, e actualmente a silly
season parece durar o ano todo.
Antigamente a “época tonta” estava
reservada à segunda metade do Verão,
altura do ano em que deputados e governantes iam a banhos, e os jornais sérios,
porque ficavam sem notícias, se dedicavam à caça do fait-divers. Mas hoje, estes
critérios deixaram de ter utilidade: os dias
de calor são em Fevereiro, os deputados
parecem estar sempre de férias, e os
jornais não fazem outra coisa senão relatar faits-divers o ano todo. O meu cavalo
faz acupunctura ou Fazer xixi no chuveiro
faz bem ao planeta ou Se o seu cão fosse
apanhado pedrado, você continuava amigo
dele?, são agora exemplos de notícias de
todos os dias. E não estou a inventar. Fui
agora mesmo buscá-los à net a um site de
um jornal de referência.
se era por desconhecimento ou por estarem todos na praia, e eu ser o único silly
agarrado ao computador aos 30°C de um
dia feriado.
A verdade é que “temporadas tontas”
há muitas. São como os chapéus: há em
vários tamanhos e para todos os gostos.
Este ano, por exemplo, vai ser especial.
Com três eleições à porta é difícil que a
“sillyce” não aumente exponencialmente.
Mas num ano normal a temporada
abre em Fevereiro, com a Silly Week of
Lisbon TM. Esta “época tonta” caracteriza-se
por uma anormal subida das temperaturas,
fenómeno que leva as pessoas a quererem
ir todas viver para o Brasil vender artesanato na praia. Geralmente voltam apaixonadas por um argentino, sentimento que
passa com o regresso das chuvas e do
tempo frio.
“A silly season é quando um silly
man quiser”, disse o Valdemar.
já não vai. Só pesca homens. E faz muito
bem. Já não consegue comer percebes.
A seguir temos Agosto, o mês tonto
por excelência. Em Portugal temos uma
vantagem. Fica tudo concentrado no Algarve. O que até nem é mau, porque permite
ao resto do país respirar de alívio. Como
máximo da sandice há a destacar as Silly
Cone White Parties TM, embora o fenómeno
também possa acontecer num pavilhão
qualquer em Lisboa. As pessoas vestem-se
todas de branco e abanam freneticamente o silicone ao som do Carlos Paião, da
Maria Armanda (a que viu um sapo), dos
Xutos (antigos), das Doce ou do “Tarzan
Boy”. Também pode acontecer vir um DJ
holandês qualquer passar techno chunga
e euro-trance.
Depois temos a silly season da rentrée
política, que este ano promete ser para lá
do nunca visto. Mesmo assim, acho difícil
que alguém consiga bater o Chão da Lagoa. Mas não vamos falar sobre isso.
O ano termina com a Silly Christmas
Week TM, que não é uma semana mas o mês
todo de Dezembro. Porém a parte que eu
mais gosto é a semana anterior à do Natal,
altura em que as pessoas se desdobram
em vários jantares de empresa e oferecem
prendas (geralmente sex toys) a amigos
pseudo-secretos.
Como podem ver por esta pequena
amostra, silly seasons é o que não falta. E
não é só cá que acontece, no estrangeiro
também. Mas no estrangeiro é sempre melhor.
Entretanto, e como continuava sem
saber o que determina o início da época
aturdida, voltei a consultar o Facebook.
Uma pessoa tinha gostado da pergunta,
outra tinha respondido. É a vantagem de
se trabalhar online. “A silly season é quando um silly man quiser”, disse o Valdemar.
Ora, por mim pode começar já.
This is the end
Partilha com os outros o caminho para
o fim. Não vás com pressa, vai parando,
experimenta coisas novas.
Ride the snake
Ride the snake
To the lake
To the lake
aminhamaodireita.blogspot.com
No fim do caminho para o fim, o teu amigo
deve estar já num estado deplorável.
Chama um táxi, manda-o para casa e
continua o teu caminho na direcção da luz
até te sentires devidamente esclarecido.
História das
palavras trocada
por miúdos
Por Bacharel Paiva Boléo
Aviso – o arrazoado que se segue é pouco católico e não possui qualquer costela
criacionista.
No princípio era o verbo copular, isto para
quem tirou medicina, ou o fazer (amor),
se foi com paixão, ou o coitar, se foi por
pena, ou o pinar, se foi em pleno Verão, ou
o mocar, se foi num Alfa Romeo Spider ou
o transar se houve samba envolvido. Mas
também poderia ter sido o fornicar, o micar, o facturar, o trambicar, o polinizar, o
quilhar, o pilar ou o pinocar, as variações
são tantas quanto as posições. Palavra
convidada – “pinocada”. Meninos e meninas, os verbos estão lançados, vamos
agora dar os substantivos possíveis. Dizer
simplesmente “dar uma” não nomeia, é
batota e preguiçoso. “Dar uma trepa”
leva-nos por caminhos demasiado verticais
e ainda por cima o amor gosta de algemas,
não de mosquetões. “Dar uma cambalhota” soa demasiado gimno-desportivo. “Dar
uma trancada” será seguramente perigoso para qualquer ponta, especialmente as
soltas. “Dar uma foda” é tão brejeiro que
só funciona se houver dinheiro ou estivadores envolvidos. E, por último, os pobres
coitados que quiserem “dar um penachado” vão parecer amantes de ornitologia
com estranhos desejos inter-espécies.
Resta-nos assim, por exibição e exclusão
das partes, “dar uma pinocada”, expressão mais simpática, cómica e amena que
as suas congéneres, tão descomplexada e
inconsequente como um one-night stand,
mais original do que “ir para a cama com”
e menos infantil do que um “truca-truca”.
Na dúvida, melhor que dizer é insinuar e, se
todos os actos tiverem a cobertura certa
de romantismo e crème, não será necessário medir as palavras e sim os corpos.
Mas de onde vem então esta fecunda palavra? Talvez de pino, que entre outras coisas
é uma haste de madeira que todos os jogadores de bowling querem deitar abaixo. Em
castelhano pino é “de pé”, em português
é pau e acresce ainda que em bom-tom:
“é pau, é pedra, é o fim do caminho”. E o
fim do caminho é sempre atingir algo, de
preferência em uníssono com alguém (coito em latim é “ir com”). Existe ainda uma
outra teoria, pintada de fresco, que professa: pinocada vem de Pinóquio, o boneco de
pau que ganha vida própria, tal como o seu
fálico e mentiroso apêndice. Do boneco ao
acto, tudo por um nariz. E acrescento ainda, gratuitamente, que, quando dois cães
pinam e não se conseguem separar, a tal
infortúnio se chama pina colada.
Tudo isto poderá parecer ficcionado e ridículo, mas então o que me dizem do advogado do mundo real, Coito Pita de seu
nome, madeirense, que um dia decidiu
abrir sociedade com um outro advogado?
Sabem como se chama o sócio? Tranquada
Gomes. Está provado: o absurdo faz todo o
sentido, tal como dizer “vamos dar uma
pinocada?” E depois dar muito mais.
dexter & Henriq
dexter
Yen Sung
Pinkboy
Sábado 04
Quinta 09
Quinta 09
Sexta 10
N: 10
Julho 2009
página: 06
Entre amigos
Isilda Sanches
Philipp Jung é metade de M.A.N.D.Y.. Rui Vargas é dos
nossos, confiamos nele como em ninguém. Partilham o
gosto pela música e por nos fazer dançar mas também
são amigos. Juntos, na Cama de Casal prometem uma
noite inesquecível
Foi um encontro estranho, porque tecnologicamente assistido, sem verdadeiro cara
a cara. Mas, em poucos segundos, transformou-se numa conversa entre amigos,
comigo como agente provocador. Philipp,
em Berlim, tinha acabado de almoçar (peixe, estava bom, disse) com Patrick Bodmer,
o outro M.A.N.D.Y., e DJ T e preparava-se
para um dia normal no escritório da Get
Physical, entre demos, papéis e estratégias
para o futuro. Rui Vargas também estava no
início de um dia de trabalho, tinha de preparar o programa e de fazer as coisas que
os DJs (de pista e de rádio) fazem. O tempo era pouco, as perguntas telegráficas. A
conversa foi pelo telefone, mas não houve
barreiras de comunicação, Rui e Philipp
conhecem-se bem, são amigos, partilham
gostos, experiências, fazem piadas. Têm
uma óbvia cumplicidade. Vê-los num back
to back é mais do que uma oportunidade
para uma grande noite, é quase partilhar a
intimidade e amizade que desenvolveram a
partir dos discos, mas para além deles. Vai
ser uma noite para recordar.
Como se conheceram?
Philipp – Acho que foi há uns anos quan-
do tocámos no Lux pela primeira vez. Deve
ter sido há uns 4 anos e foi amor à primeira
vista.
Rui – (voz rouca) Na verdade acho que foi
numa tarde quente, o sol brilhava, soprava
um vento quente de oeste e tu... entraste
no estúdio! (risos) Conhecemo-nos no estúdio da Oxigénio no tempo do “Lux Sagres
FM”. Nesse momento a minha vida mudou.
(risos)
Descobriram logo que tinham coisas em
comum para além da música?
P – Acho que sim e isso desenvolveu-se
Há razões para isso?
R – Nada. Quer dizer, eu sinto o mesmo,
P – Quero lá saber!
nunca sabemos o que vai acontecer...
Rui, e tu? A cidade, o carro...?
R – Por acaso, não sei se tens carro...
P – Tenho! Acabei de comprar um Chevy
Esta pergunta não estava nos planos,
mas de repente parece fazer sentido. De
que signo são?
P – Sagitário.
R – Virgem.
Acho que combinam. Soa a noite para
recordar. Que disco têm a certeza que
o outro vai passar e com que disco vão
responder-lhe?
R – O Philipp vai passar o “Lets Gets Phy-
nos almoços e jantares em que falamos sobre a vida e as mulheres e... a vida. Acho
que essa é uma base muito melhor para
uma amizade do que falar apenas de música, até porque gostamos de passar tempo
juntos fora dos clubes. Mas também gostamos de mostrar discos um ao outro, claro.
R – Somos uns ordinary joes.
sical” da Olivia Newton John.
P – hummmm...
R – E eu vou responder com o “Fame” da
Irene Cara... (risos)
P – Se tu passares a Irene Cara eu passo o
“Flashdance”! (gargalhadas)
Três coisas que definem o Rui Vargas?
P – Hum...
R – É aqui que eu saio.
Se em vez de um DJ set esta noite fosse
um jogo, seria um jogo de quê? Futebol,
playstation...?
R – Eu diria de luta na lama.
P – (gargalhada) Que pervertido! Humm,
Nada disso, depois dirás três coisas sobre o Philipp.
P – ... É bonito...
R – Espera, tu dizes uma e eu digo outra!
não sei se concordo com esta... deixa ver...
talvez... talvez sim... sim! (gargalhadas) Claro! Podemos fazê-lo lá em cima no terraço,
num pequeno interlúdio entre pôr discos!
Ok.
P – O Rui é bonito.
R – O Philipp é apaixonado.
P – Fuck, eu queria dizer isso... Tem muito
E qual seria a banda sonora perfeita para
isso?
P – “Highway to Hell” dos AC/DC (risos)
bom gosto. Nota-se no apartamento e na
comida que pede quando jantamos fora.
R– (risos) O Philipp é um dos gajos mais
divertidos que eu conheço. Tem um sentido de humor incrível.
E por último...
P – O Rui aguenta bem a festa. Tem muita
resistência.
R – Posso dizer o mesmo de ti! (risos)
Isso quer dizer que vai ser uma noite
para recordar?
P – É sempre! Estou sempre ansioso e
com um pouco de medo.
N: 10
ou “Stairway to Heaven” dos Led Zeppelin.
Depende de quem ganhar.
R – Perfeito! (risos)
Há alguma coisa que cobicem um no outro... material ou espiritual... Discos, a
cidade em que vivem...
P – Por acaso ainda não conheço bem a
colecção de discos do Rui, porque temos
aproveitado sempre para fazer e falar de
outras coisas além de música. Se calhar é
uma coisa que podemos fazer desta vez...
(silêncio) Com esta conversa as pessoas
vão pensar que somos gay (gargalhadas)
R – Isso seria o fim da tua reputação como
Last International Playboy! (gargalhadas)
de 1965!
R – Uau! Eu cobiço isso! (risos)
Qual seria o teu carro de sonho, Rui?
R - Um Mustang ou um Porsche Boxster
P – Pois, um Porsche de menina... (garga-
lhadas)
Num mundo paralelo, como se imaginam um ao outro?
P – Humm... o Rui talvez fosse o Hugh
Hefner? (gargalhadas) A sério, ele é um cavalheiro, tenta levar as coisas calmamente
e ter uma vida boa...
R – Eu imagino o Philipp como D’Artagnan.
(gargalhadas)
O que seriam se não fossem DJs?
P – Não sei... quando era puto gostava
muito de desporto, por isso talvez fizesse
qualquer coisa nessa área ou então trabalharia com música, trabalhei em editoras
durante muito tempo. Talvez não produzisse ou fosse DJ, mas vejo-me a trabalhar do
outro lado, de quem edita discos.
R – Eu imagino-me sempre a trabalhar
com música, mas nunca do lado da indústria ou de quem faz música. Sinto-me mais
confortável como fã e acho que, mesmo
num mundo paralelo, trabalharia com música e gostaria de a mostrar aos outros.
Um história especial que tenham partilhado?
P – Há muitas!
R – A próxima!
P – Sim, a próxima será a melhor!
Um disco que andem a passar muito?
P – “D.I.S.” de DJ T
R – “Caedmon Loop”, Anthea & Celler
Philipp Jung
(M.A.N.D.Y.)
&
Rui Vargas
Sexta 24
Tiago
& DJ Al
(Slight Delay)
Leonaldo de Almeida
& Zé Pedro Moura
Rui Vargas &
Zé Salvador
Sexta 10
Sábado 11
Sábado 11
Julho 2009
página: 07
A importância de ser:
Matthew Dear
Carl Craig
PeterMan
A música electrónica de dança não tem parado de
mudar. Essa mudança decorre de alterações nos rumos
estéticos e nos géneros, reflecte a simbiose com a brutal
e imparável evolução tecnológica, abraça outras artes
e pretende cada vez mais encenar-se em palco como
um espectáculo completo. Mathew Dear/Audion e Will
Calcutt trazem “Hecatomb” ao Lux.
Quem leu o jornal de Junho, terá reparado que na página três, se antecipavam alguns dos convidados deste mês.
Ao alto, de lado naquela página, na companhia da Magda, do DJ Vibe, das quintas
D.I.S.C.O.Texas, da Cama de Casal e do
Carl Craig, podia ler-se “Dia 17: Matthew
Dear/Audion”. Podemos desde já começar
por editar uma errata e informar que, onde
se lia “Dia 17: Matthew Dear/Audion”,
deveria ler-se: “Dia 17: Matthew Dear/
/Audion/False/Jabberjaw”. Não se pode
falar de Matthew Dear esquecendo parte
dos seus alter-egos. É necessário conhecer
as diferentes cores deste camaleão para
lhe dar todo o valor.
Matthew Dear tem desde logo uma
característica pouco vulgar nos produtores
e DJs de música de dança: é tão aclamado no meio electrónico dos clubes, como
nos palcos onde apresenta essa espécie
de electro-pop cinza e romântico do último
e muito elogiado disco “Asa Breed”, mais
a série de remisturas que lhe sucederam.
Só isso justifica que os elogios se estendam da imprensa de música de dança,
à imprensa mais arty ou tipicamente rock,
casos da Wire e da Rolling Stone. “Asa
Breed” colocou Matthew Dear numa ponta desse território com fronteiras cada vez
menos definidas que é a música electrónica, ao lado de Louderbach (de Gibby Miller
e Troy Pierce, com disco recente editado
pela M_nus) e fazendo lembrar nomes
como Coil e Death in June, por mais insólito que isso possa parecer à primeira vista
(ou audição).
Se as edições de Matthew Dear em
nome próprio para a Ghostly International
podem representar o extremo mais soft da
sua produção, no extremo oposto poderemos encontrar as edições de False para a
Plus 8 e para a M_nus. Aqueles que já tiveram oportunidade de ouvir o CD “2007”
sabem que, apesar de a contracapa referir cerca de quinze músicas, na realidade
estamos perante uma viagem imparável
que eventualmente só tem comparação
no “DE9 | Transitions” de Richie Hawtin,
em que se torna quase indiferente a possibilidade de distinguir cada tema, uma vez
que o resultado final é não só mais, mas
também diferente do que a soma das suas
partes.
Para os mais centrados na pista de
dança, será porventura Audion o nome
que desperta mais sorrisos. Como Audion,
Matthew Dear tem explorado um lado do
techno mais cru, maquinal e provocador,
clara e exclusivamente electrónico, apresentando temas que o consagraram como
um nome incontornável na produção dos
últimos anos. “The Pong”, “Your Place or
Mine”, “Kisses”, ou “Mouth to Mouth” ga-
nharam uma notoriedade pouco vulgar
face ao anonimato de tantos temas que
ouvimos sem conseguir identificar.
É enquanto Audion que Matthew Dear
se apresentará de novo no Lux. Não se
trata de uma estreia, nos últimos anos foram várias as vezes que pudemos assistir
aos seus lives (quem teve a sorte de estar
presente, sabe como esta música só tem a
ganhar sendo ouvida ao vivo e num sistema de som a sério!), mas também não será
apenas mais um live act.
Não estragaremos a surpresa se levantarmos um pouco o véu e vos dermos
as várias boas razões para todos repetirmos a experiência e voltarmos a recebê-lo
na nossa cabine: O ano de 2009 tem programada a edição de quatro EPs e de uma
série de edições exclusivamente digitais.
Ou seja, é garantido que este live não será
apenas revisão da matéria dada, mas, muito pelo contrário será para quem o ouvir
um saborear de músicas inéditas a par de
temas que são já clássicos do techno deste
milénio.
Como se esta promessa não fosse, só por si, suficientemente tentadora,
o live act será acompanhado de um trabalho de vídeo desenvolvido propositadamente para a tournée em curso por Will Calcutt,
Eno Henze e Andreas Fischer. O trabalho
gráfico do primeiro tem acompanhado
a generalidade das edições de Audion. Sejam capas de 12’’ e CD (“Suckfish”), seja
na ilustração para as edições digitais de
“I Am the Car” e “Look at the Moon” (as
primeiras duas da tal série de edições programadas para 2009), reflectindo o tom
hipnótico e singular da música de Audion
e remetendo para a Op Art de Bridget Riley
e Victor Vasarely, reforçando e fechando
o círculo de um conceito que não se esgota
no som que sai das colunas. O resultado da
colaboração entre Matthew Dear enquanto
Audion e Will Calcutt, Eno Henze e Andreas
Fischer é um espectáculo audiovisual com
o nome de “Hecatomb”, que estreou no
fim-de-semana do Sónar, em Barcelona. O
Lux vai estar assim entre os primeiros clubes onde será apresentado “Hecatomb”,
estando garantido que, no próximo dia 17,
seremos surpreendidos pelos novos sons
e pelas imagens inclassificáveis que fazem
parte daquele que promete ser um dos live
acts incontornáveis deste Verão.
Audion
Sexta 17
Isilda Sanches
É um dos históricos do techno mas a sua marca estendese muito para lá dele. Carl Craig, C2, volta ao Lux para
mostrar de onde vem tanta admiração e respeito.
Há 3 coisas que associo a Carl
Craig sem ter de pensar em techno:
o drum’n’bass, porque quando a cena
começou se dizia que o “Bug In the Bassbin”
(1992) tocado a 45 rotações era a faixa
perfeita de jungle; O ter tocado o “Crazy In
Love” da Beyoncé quando veio ao Lux no
Verão de 2003 e o entusiasmo de Yen Sung
a contar a história; Os LCD Soundsystem
a tocar o “Throw” de Paperclip People ao
vivo, com o James Murphy em transe a
tocar percussão. Muitas outras coisas
podem ser ditas sobre um dos produtores
mais importantes do techno de Detroit,
mas estas dão uma ideia da importância
de Carl Craig para lá desse universo. E se
tocar o “Crazy in Love” no ano em que saiu
não parecer nada de especial, pense-se
em quantos estariam à espera de ver um
produtor e DJ associado à música de dança
mais esclarecida ceder à tentação fácil da
canção pop. Mas, hei!, este homem é capaz
de remisturar Cesária Évora, Goldfrapp,
Delia Gonzalez & Gavin Russom ou Junior
Boys e soar sempre incrível. Surpreender
está na sua natureza, por isso ninguém
realmente estranha nada vindo dele, nem o
facto de remisturar compositores clássicos
como Ravel e Mussorgksy. “Recomposed”,
a operação de reconstrução levada a cabo
com Moritz Von Oswald sob a chancela
da respeitável Deutsche Grammophon é a
mais recente prova de ousadia e iluminação
estética de C2. Afinal, quem se atreve a
mexer no “Bolero” de Ravel?
Agora o techno. A importância de
Carl Craig não é espartilhada por rótulos
nem pelas fronteiras de uma cidade,
mas ele é um dos grandes de Detroit, a
cidade da Motown e dos automóveis, que
a santíssima trindade Juan Atkins, Derrick
May, Kevin Saunderson transformou em
sede do techno na primeira metade dos
anos 80. Os pioneiros do techno, com
quem Craig aprendeu as bases, eram
visionários, influenciados em igual medida
pelos Kraftwerk, por Alvin Toffler e pelos
comics e séries de televisão futuristas tipo
“Star Trek”. A inspiração perfeita para criar a
banda sonora do futuro, um imaginário que
esticava a cronologia até ao ponto em que
se tornava credível viajar no espaço-tempo
ou entrar em simbiose homem-máquina.
E na pista de dança, com a propulsão
robótica a sacudir corpo e cabeça, podia-se de facto viajar no espaço-tempo e tudo
o resto, até mesmo um humano julgar-se
máquina.
Aparentemente C2 foi “apanhado”
pela onda techno no início da adolescência,
via rádio, quando ouviu os primeiros discos
de Cybotron, ou Juan Atkins. Mas são várias
as entrevistas em que confessa ter-se
convertido à electrónica através de discos
como “PopCorn” (o disco das pipocas,
lembram-se? Instrumental electrónico
de 1972, um dos hits mais improváveis
da década de 70) ou “Switched on Bach”
(um disco de Walter-mais-tarde-Wendy-Carlos lançado em 1968 com versões de
Bach tocadas em sintetizador Moog, outro
ovni completo que foi um enorme sucesso
comercial). Estas foram as raízes. Pelo
meio, e antes de chegarmos ao momento
actual em que Carl Craig faz parte da
aristocracia musical, para não dizer da
realeza (foi nomeado para um Grammy,
não ganhou mas isso até lhe fica bem),
também houve a influência do electro funk,
de George Clinton e de Prince, dos B-52’s,
dos Cure, dos Art Of Noise e a preparação
académica na área da electrónica, com
teoria e tudo. Isto e ainda o interesse pelas
particularidades do som e das máquinas,
o génio, a técnica e o carisma e tudo se
explica.
Aos 40 anos, C2 é um dos DJs
e produtores mais respeitados da música de
dança, tem um crédito enorme no universo
do jazz, dirige a Planet E, programou
e programa festivais de música electrónica
e, basicamente, é admirado e respeitado
por todos, porque é bom e merece.
Pertence a um grupo restrito de estetas
aventureiros cuja visão persiste como
motor de uma música de dança cerebral
e emotiva, física e espiritual que satisfaz
o corpo, alimenta o sonho e pode ser até
pretexto para conversas eventualmente
eruditas, românticas ou económicas sobre
o techno e sobre Detroit, o seu passado,
presente e futuro, mas sem nunca deixar
de ser todas as outras coisas que não se
pensam nem teorizam, mas que se podem
sentir intensamente numa pista de dança.
Carl Craig é uma figura mítica, é um
privilégio vê-lo tocar.
(Investiguem ainda Paperclip People,
69, Innerzone Orchestra, tudo peças
do mesmo puzzle e ouçam “Sessions”,
o disco duplo que assinou o ano passado
para a Studio K7. Um manifesto com o
essencial do que faz com que Carl Craig
seja GRANDE!).
Carl Craig
Sexta 31
Tiago
Alan Braxe
Quinta 16
Quinta 16
N: 10
Julho 2009
página: 08
Capítulo anterior: Após várias investidas da Carina, Zé Miguel tem uma
recaída e volta a dormir com ela. / Continua a dar-se com a Adriana e o
Pedro, com quem planeia ir ao Sónar, em Barcelona. / Mas não é o único: a
Tânia, a Carina e a amiga, o Nuno Paz e o poeta, cada um por si, tencionam
ir ao Sónar. / Depois de uma noite no Lux, reencontra o poeta na varanda.
um livro e ela queria muito ver; outros não
se calavam com os Orbital. Zé Miguel, descansado com o soninho da tarde, queria
ver tudo. Tinha sede. Na falta de cerveja,
bebeu da garrafa que a Adriana trazia à cinta, “Ai! Não bebas tudo, Zé Miguel!!”
Foi andando atrás das manas suas anfitriãs. Era um longo caminho até à Fever
Ray. Pelo meio, começou a sentir um calor
interno e os músculos a relaxar. Bocejou.
— Ahahah! Estás outra vez com sono? Isso
não é sono, não! Ahahahah!
Zé Miguel riu muito. Tinha mesmo muita
vontade de rir. Sentia uns cúmulos de felicidade alternados com uma calma que o
deixava absorto, de olhar perdido.
— Anda! Vai começar!
Tum tum tum tum tum When I grow up,
I want to be a forester Tum tum tum tum
tum Run through the moss on high heels
That’s what I’ll do, throwing out boomerang Tum tum tum tum tum Waiting for it to
come back to me Tum tum tum tum tum
A Fever Ray era gira. Zé Miguel foi andando
até se aproximar do palco. Passou pela Tânia, mas não conseguiu percebê-la – a voz
e a cara confundiam-se com a da cantora.
Perdeu a noção do tempo e do espaço.
A certa altura, deu consigo noutra sala,
enorme, onde lhe parecia que já tinha estado. Perguntou para o lado, em português,
quem estava a tocar. “Una leyenda: Orbital!!! Mira las pantallas!” Olhou os ecrãs,
esquecido de dançar. Acendeu um cigarro.
O sabor acre e agradável, o fumo lento fizeram-no descer à terra. Julgou ver a Carina
e o Kaló na zona do bar, muito abraçados.
Gostou do que viu. Resolveu ir ver o que se
passava nas outras salas. Precisava de ar
livre, de céu por cima de si.
Após o que lhe pareceu uma viagem infindável, chegou à sala do fundo. Amanhecia.
As caras tornavam-se mais nítidas. A multidão ululava ao som de Carl Craig. Apeteceu-lhe finalmente o sabor da cerveja. Furou até ao bar, agora com um passo mais
decidido, como se tivesse acordado de um
sonho. Mas a luz da aurora provocou-lhe
um refluxo. E começou a ouvir um acorde
de órgão familiar, de uma música antiga
que a mãe tinha lá em casa, We skipped
a light fandango Turned cartwheels across
the floor I was feeling kind of seasick, But
the crowd called out for more. Voltou-se
para o palco, à espera de ver os Procol
Harum. Eram mesmo eles! A música falava do moleiro que contava a sua história,
e do quarto que zumbia enquanto o tecto
fugia, e das dezasseis virgens vestais que
partiam para a costa. Eram mesmo eles!!
Xinobi
Rocket
Yen Sung
Quinta 16
Quinta 16
Sexta 17
O Outro
Folhetim de Maria Antónia Oliveira & António Néu
“Illusion is
the first of all
pleasures.”
— Então, onde é que se meteram? Já estou
na porta 10!
— Mas, ó Zé Miguel, ainda faltam duas horas, man, vou sair agora de casa!
— Ainda estás em casa?! Olha que perdemos o avião!
— Espera aí no bar, vai bebendo uma cervejinha...
Zé Miguel desligou, descontente com a demora do Pedro e da Adriana. Conformado,
e com medo de parecer parolo (nunca tinha apanhado um avião), dirigiu-se ao bar
próximo. A meio da segunda imperial, ouviu um sotaque brasileiro:
— Oi minino!!! Que é que cê está fazendo
aqui? Zé Miguel, não é mesmo?
A um primeiro olhar, não reconheceu a
cara sorridente e tumefacta que se chegava a ele. Sim, era mesmo ela! A Suely do
Finalmente! Sorriu-lhe, um tanto embaraçado de a encontrar ali, de dia, com as
maçãs do rosto a rebentar, de inchadas, e
as longas pernas metidas nuns leggings de
licra preta, muito discreta.
— Olá. Vou para Barcelona, para o Sónar.
Sabes, o festival...
— Cê vai em Barcelona? Então vamos junto!
Ai minino, cê sabe que eu agora vou tentar
minha sorte em Barcelona! Aqui já não tava
dando não. Tenho uma amiga lá, a Rancia
de Jordânia... ela me propôs fazer um
showzinho na Discoteca Metro. Cê conhece? Todo o mundo conhece! É super-chique! E estão precisando lá de uma Cármen
Miranda! O Tico-Tico tá Tá outra vez aqui O
Tico-Tico tá comendo meu fubá O Tico-Tico
tem, tem que se alimentar Que vá comer
umas minhocas no pomar! Ahahahah, vai
ser a maior gozação! Cê tem de ir ver, minino, vai amar!
Estupefacto, Zé Miguel olhava para ela, a
fazer passos de dança miúdos em frente
dele, enquanto cantava. O barman, que
era brasileiro, piscava-lhe o olho e batia o
ritmo com o shaker.
— Eh lá! Isto parece o Morocco Club! – Era
a Adriana que chegava, curiosa e de olho
brilhante.
Quando finalmente se apeou do autocarro
na Praça da Catalunha e desceu as Ramblas, Zé Miguel ainda cantarolava O Tico-Tico ti O Tico-Tico tá, sob o olhar enternecido
da Adriana, que tinha feito amizade instantânea com a Suely no avião – “Ai, esta tua
amiga é o máximo! Onde se conheceram?
Zé Miguel, tu és uma fonte de surpresas!...”
Zé Miguel ficou contente.
Julho 2009
me que estavam todos “de patas arriba!!!”,
e que os Buraka davam “ganas de bailar!”
Fiquei orgulhoso, disse-lhe que era português. Deu-me um beijo.
Às cinco da manhã, fui ver o Agoria. Tinha
combinado com a Tânia. Ela afinal veio, e
o Bernardo foi para o Fusion e chatearam-se por causa disso. Encontrei-a ao pé do
bar, com a Jimmy. Estavam as duas deslumbrantes, devia ser por estarem sem os
homens. Fizeram-me uma grande festa e
deram-me a beber duma garrafa de água
que sabia pessimamente. Fomos lá para
a frente. Mas aquilo depois complicou-se.
Não sei se foi da moca, se do cheiro dos
cabelos ruivos dela, comecei a sentir-me
muito próximo e muito cúmplice com ela.
A certa altura, já estávamos aos linguados
– e sabiam tão bem! A Jimmy, ao lado a
dançar, ria. Se pudesse, também lhe tinha
dado uns beijos... elas pareciam tão disponíveis. O problema foi que, quando voltei
da casa de banho (que era longe como a
merda), elas já não estavam no mesmo sítio. Ou então fui eu que não consegui atinar
com o sítio onde tínhamos estado. Aquilo é
tão grande! Bem, tive de voltar sozinho, no
autocarro, em pé toda a viagem, com uma
data de bifes a praguejar e a cair para cima
de mim. Agora estamos à espera da Adriana e do Pedro para irmos outra vez para lá,
todos, com a Catarina e Luísa. Eu precisava
de dormir mais um bocadito, mas pronto.
Zé Miguel fechou o moleskine, zonzo do esforço da escrita, e intimidado pela entrada
da Adriana na sala.
— Então, chavalo, esse diário de viagem,
está a fluir?
— Ai, Adriana, isto de escrever dá muito
trabalho!
— Pois, é para veres! Pensas que é a mesma coisa que pôr discos?
Lá foram, arrastando-se pelas ruazinhas do
Raval até começarem a ouvir a batida. Zé
Miguel começava a sentir-se um barcelonês – já tomava a dianteira e indicava o caminho e falava espanhol no café (“un café
suelo, por favor!”), todo ufano e à vontade,
sentindo-se em casa, planeando muito abstractamente instalar-se naquela cidade:
Eh pá! E agora como é que eu vou voltar
para Lisboa? Fixe, fixe, era vir viver para
aqui! Mas como? Estudar som? E a minha
mãe, como é que eu a convenço? E o pai,
o pai? Fuck... fuck. Tenho a impressão de
que a Adriana me surripiou o moleskine...
quando eu fui à cozinha fazer café, e voltei, já não estava lá em cima da mesa...
deve querer ler o que eu escrevi... e utilizar na crónica dela para o jornal do Lux?!
Eheheheh....
Vaguearam pelo recinto durante o resto da
tarde. Zé Miguel descobriu um cantinho na
relva sintética, onde várias pessoas dormitavam, dispostas em tetris. Deitou-se também, e passou pelas brasas, embalado pelo
som do showcase da Ed Banger. Acordou
com os suaves pontapés do Nuno Paz:
— Então vieste para aqui dormir?! És mesmo totó! Vamos, puto! Está na hora de ir
para a Fira ver os Animal Collective!
Estava a começar o concerto quando o já
extenso grupo de portugueses chegou. O
Nuno Paz era amigo do Panda Bear, que
vivia em Lisboa, e eles sentiam-se quase
como se fossem aplaudir portugueses.
Mas o grupo desagregou-se ao fim de meia
hora: uns queriam a Fever Ray; a Adriana
falava de um Rob da Bank que tinha escrito
(o capítulo anterior pode ser lido em blog.luxfragil.com)
Capítulo IX
N: 10
Barcelona, segundo dia:
Comprei um moleskine. A Adriana disse
para eu fazer uma espécie de caderno
de viagem, e ir escrevendo o que se passasse. Ela disse que era provável que me
esquecesse do que ia viver, e também que
eu fizesse sempre um esforço para ir registando.
Barcelona, terceiro dia:
Hoje fomos à Fundação Miró ver uma exposição sobre arte e poesia, dum gajo qualquer misturado com o Miró. Depois descemos pelas escadas rolantes até à Praça
de Espanha. Ao fim da tarde, fomos beber
cervejinhas à esplanada do Born (acho que
é assim que se escreve). Esta cidade é brutal! Agora estou a escrever sentado numa
mesa dum bar arte-nova ao pé das Ramblas, o London Bar. É só cromos à minha
volta! Parece que o Pedro quer ir ao Moog,
que é mesmo aqui ao lado. Dizem que
é um clássico! Lá vamos! Amanhã começa
o Sónar! Já fomos buscar os bilhetes!
Barcelona, quarto dia:
Isto excede as minhas mais loucas expectativas! Gostei de tudo!!! Vamos lá a ver se
consigo escrever isto na forma que a Adriana me aconselhou:
1. Almoço no Quim de la Boqueria, no mercado a meio das Ramblas. A Adriana é que
encomendava e tratava de tudo – aquela
mulher sabe muito!
2. Demos uma volta pelo Raval, fomos à
livraria da Adriana e a uma outra onde o
Pedro nos levou, só de design! Até fiquei
outra vez com vontade de ser designer!
3. Mal entrei no Sónar, passou-me logo a
vontade! Que ambiente! Que gente linda! E
todos tão simpáticos! Aquela sensação de
estar ali à entrada, com o baixo a bombar
ao longe, à nossa espera! E o live do Luomo
à tarde no palco principal! Uau!
Acabei por me perder da Adriana e do Pedro uma grande parte da tarde, mas voltávamos sempre a encontrar-nos. E eu na
maior! Eles andavam um bocado fora (não
sei o que tinham andado a tomar...), mas
eu não me perdi. Apanhei uma grande
moca com uma coisa líquida que a Adriana
me deu, e dancei descalço no Sónar Dôme.
Conheci umas bifas de Brighton muito fixes. Não conhecia ninguém que estava a
tocar, mas era tudo muito bom. Tinha o
folheto com a programação, mas não conseguia focar! Amanhã vou tentar ser mais
atento. A Adriana diz que o que eu gostei
foi de um tal Mulatu Astatke, da Etiópia. E
vi o Nuno Paz, com o Nexter! Não saíam
do Sónar Village, a mamarem tudo duma
editora chamada Ghostly International!
Mas aquilo era muito melancólico, o Sónar
Dôme é que estava bom! Hoje à noite há
James Holden no Loft, mas é preciso pagar
e já vi no Lux. Vou ficar a descansar, que
amanhã é todo o dia. Fartei-me de andar,
perdi-me e não conseguia dar com a casa
da Catarina! Perguntei a uns polícias, mas
eles não falavam inglês. Andei três horas
às voltas, numas ruas cheias de árabes e
putas, e sem saldo no telemóvel! Acho que
foi por ali que prenderam uns gajos da Al-Qaeda... E de repente estava mesmo aqui
ao lado! Foi cá um alívio! Bem me dizia o
Pedro para eu comprar um mapa.
Barcelona, quinto dia:
São 10 horas da noite, e estou num restaurante no Raval à espera do poeta. Está cá
numas conferências de poesia, e combinámos ir ver a Grace Jones juntos – já desde
aquela noite no Lux...
Hoje consegui perceber melhor o que andava a ouvir. Quase não saí do Village, que
é o palco maior ao ar livre. Está-se lá tão
bem sentado na relva a beber cervejas!
São um bocado caras. E bebem-se muitas,
com este calor! Comprei um leque, um
abanico, como eles dizem. Cá os homens
também usam.
Comecei por ir ao Dôme. Estavam os
Muhsinah, uns ingleses em concerto a tocar soul. E não é que dou de caras com a
Carina!!! Eu nem queria acreditar! Depois
de tudo o que lhe disse em Lisboa! Lá estava com a amiguinha a dançar o soul e a
abanar o rabinho. Disse que lhe ia buscar
umas cervejas e pirei-me. Livra! Com isto,
não voltei ao Dôme.
No Village, era o showcase da BBC Radio.
Bem, vi uma banda inglesa fantástica, os
La Roux, com uma miúda linda a cantar
estilo anos 80! A seguir, foi Bass Clef, que
é dubstep com metais. A ver se vou conseguindo apontar estes nomes, para depois
poder dizer ao pessoal lá em Lisboa... Mas
é muito difícil, porque é tudo tão frenético,
e tanta coisa a acontecer ao mesmo tempo! A certa altura, apareceram o Nuno Paz
e o Nexter que iam ver o Micachu and The
Shapes. Fui com eles para uma cave que eu
nem tinha ainda dado conta que existia!
Hoje à noite é o James Murphy! E o Buraka!
E o Erol Alkan! Conheço mais gente na programação da noite.
Barcelona, sexto dia:
Acabei de acordar e ainda estou com as
pernas a doer, de tanto dançar e andar.
Aquilo, à noite, é tudo enorme! Mas é a
maior loucura! Está tudo completamente
fora, e a divertirem-se que nem danados! E
os espanhóis são loucos! Fartei-me de falar
com desconhecidos, todos com uma grande onda e simpáticos. Os catalães adoram
os portugueses! Encontrei um galego na
casa de banho que era fã do Zeca Afonso!
E agora tinha descoberto a electrónica!
Eu já não tenho bem a noção do que vi primeiro e depois, e a que horas foi. Sei que
a Grace Jones deu um espectáculo extraordinário. O poeta embasbacava para ela,
de língua de fora, e ia dizendo que ela está
um bocado diferente. Aquele poeta não
tem cura: só queria ouvir o “Libertango”,
e falar-me do Piazzolla e de Buenos Aires!
No meio daquela multidão, vi a cabeça da
Suely, lá mais à frente. Devia estar com as
amigas travestis espanholas, se calhar a
preparar um número Grace Jones...
O James Murphy, como de costume, arrasou. É claro que fui ver os Buraka! Deixaram o público doido. Um espanhol, que
dançava furiosamente ao meu lado disse-
página: 09
FIM
sindicato.biz/o_outro
www.luxfragil.com
Matthew Dear
(AUDION)
Sexta 17
N: 10
Julho 2009
página: 10
Oráculo 07/09
Os homens são de curta memória, e às
vezes tanto melhor para eles. Mas os
deuses não. O Oráculo deixa-te aqui
uma versão da História dos teus últimos meses, com uns pozinhos para
o futuro.
Para além do habitual Signo Solar, lê
também os do teu Ascendente e, se
possível, da tua Lua, e depois faz a síntese. Assim terás um filme mais completo, porque se leres só o teu Signo
talvez não te espelhe assim tanto. Podes saber estes dados astrológicos em
www.astro.com, e depois volta cá. Recebe a tua história com um espírito
aberto, e vais ver que és o teu próprio
motivo de inspiração!
E agora, continuemos viagem. Hasta
siempre, porque a vida é mesmo para
diante.
1680 = 16+08 Ø = 24+ Ø = 02+04+ Ø
= 06 + Ø
Desde que este jornal nasceu muito
aconteceu no mundo. Mas isso não te
interessa muito, pois não? Sê honesto,
em 99% do tempo o que interessa mesmo é a tua vida. E está certo. É sobre
ela que podes agir e assim influenciar
o curso das coisas. Não há mais nada
a fazer.
Para além da famigerada crise, eu,
o Oráculo, defino estes 11 meses – ou
seja, desde que existo para ti – como
um tempo em que soou a palavra de ordem: “Foca-te em estar bem, come rain
or come shine.” E é para continuar...
a mensagem, claro, a tal da crise não
desculpa nada, quando muito intensifica
a importância desta chave existencial.
Já os antigos chineses diziam: “Está sol,
que bom, está chuva, que bom”. Falo do
poder da Apreciação, que não tem nada
que ver com conformismo. Toda a gente
sabe que atrai o que teme e o que ama.
Com a luta, o cepticismo, a hipercrítica
e a má onda atrai o que não gosta, com
a apreciação, o empenho, o entusiasmo
e a boa onda atrai o que gosta. Pois,
não sugiro que aprecies o que não gostas, mas sim que desvies o foco para
o que valorizas.
É verdade que para algumas pessoas
tem havido matéria difícil a trabalhar,
02+09+20+20+21+06+07+17+18+18+
21 = 159 = 15+9 = 24 = 2+4 = 06
Quando se conta a história de uma
lenda, todos os dramas se transformam em aventuras. As peripécias pelo
mundo fora, os amores e desamores,
os conflitos e as vitórias, enfim, todo
o filme do herói é contado através de
um filtro de... Apreciação, lá está. Porque se ele não se tivesse exposto à vida,
não haveria nada para contar. Esse herói és tu, e diz lá que não foi um ciclo
e peras! Pois o meu desejo é que tenhas
feito um balanço, renovado atitudes
e objectivos, e assumido novas escolhas, especialmente no que toca a afectos, prazeres e talentos. Não porque
não sejas desde sempre um herói de
Zé Pedro Moura
Rui Vargas
Sexta 17
Sábado 18
situações que fazem desejar mudar de
filme... o que, na verdade, também pode
ser bom. Quer dizer, realizando o que
não queres, descobres o que queres,
e desejas isso com muita intensidade,
não é? Depois, é “só” concentrares-te
nisso mesmo, e não na revolta ou medo
face ao que te agride ou desagrada. Mas
isto só é válido para o que depende de
ti, nada de querer mudar os outros. Ah,
e é importante não dar ouvidos à “realidade” que nos contam por aí, a vida
tem mil versões, e tu podes escolher
a tua, não é crime. Os outros até podem
não gostar, mas isso será o filme deles,
certo? É melhor assumir a nossa vida
do que ir na manada, acredita... Talvez
no futuro nos cruzemos e te possa dar
mais umas dicas que facilitem tudo
isto...
Portanto, assume que és capaz de atrair
o que queres, e trabalha para isso. Confia na tua intuição e age em conformidade. Cabe-te só seleccionar as emoções e os pensamentos que escolhes
alimentar, dia a dia, hora a hora, minuto
a minuto, para todo o sempre. Ah, e claro que a fé ajuda muito, e mesmo que
seja só uma fezada, acreditar faz milagres. That’s all. E assim vais criando
a tua versão do paraíso... Because life is
supposed to be fun : ). Bem hajas.
A HISTÓRIA DE CARNEIRO
21 Março a 20 Abril
valor, mas porque estes últimos tempos
propunham uma certa... actualização,
para ser soft. Portanto, gostava de saber que estás com relações gratificantes ou então só e bem acompanhado,
que vives num ambiente porreiro, que
trabalhas no que gostas, e que a tua
energia Fogo é aplicada num entusiasmo continuado e construtivo e não desperdiçada em zangas e reactividades
tontas. E ainda, suponho que já estejas
a tratar do teu novo projecto de vida,
that’s good, daqui a uns tempos terás
mais uma odisseia para contar, e será
magnânima nas suas descobertas. Por
ora, e talvez ainda defronte de algumas
encruzilhadas, escolhe a cada instante
o que sentes ser o melhor para ti, dispõe-te a aprender algo de novo, deixa
que as ideias tomem forma, e trabalha
intensamente, mas de uma forma discreta. Ah, e não te esqueças de sorrir
todos os dias com a visão do teu mundo novo.
coragem e determinação. Os teus famosos voos picados-planados-rasantes
estiveram na ordem do dia, e saíste-te
bem! Agora, talvez estejas a ler isto e a
pensar: “hã? hum, foi? não me lembro...
ah, não foi assim tanto... ou então não
dei por isso...”. Pois é, sei que falo com
um ser mais veloz que o vento, mas
acredita que é verdade, viveste voos
gloriosos, e faz bem à alma lembrá-los,
dá consistência, e és mais bonito como
águia do que como borboleta tonta : ).
Avizinha--se, também para ti, um novo
projecto de vida... será? Ok, então vai
por mim: Vira introspectivo este mês e
deixa que ele se desenvolva por dentro, trabalha nisso, dá tempo a ti mesmo para o descobrires no teu íntimo,
para que se revele a melhor forma de
o pores em prática... Põe a tua águia
a trabalhar, usa a inteligência, espera
pelas instruções do teu ser interior, e
intui a melhor forma de projectar mais
um voo magistral.
A HISTÓRIA DE TOURO
A HISTÓRIA DE CARANGUEJO
21 Abril a 20 Maio
21 Junho a 21 Julho
21+19+17+08+11+07+10+03+11+11+1
7 = 135 = 13+5 = 18
É caso para dizer: Vou contar
a história da deusa de quatro patas
com uma estrela na testa. Digo “deusa”
porque todo este tempo girou à volta
de uma certa energia feminina. Até
quando tiveste de fazer face a um ou
outro imprevisto, o fizeste como uma
inteligência Yang, mas com uma sensibilidade Yin. Até quando uma potencial
fricçãozita se apresentou a soubeste
resolver a bem, gerindo pontes de entendimento. É verdade que às vezes
precisaste de meter a mão na massa
e arrumar a casa, quem sabe até mudar
de casa, ou mudar a casa de sítio, ou
reforçar os pilares da casa – whatever,
you know what I mean – mas tudo isto
se passou tão bem, tão com q.b. de inspiração e com “os tomates tão no sítio”
para uma deusa! Existe muita beleza,
força e maturidade nesta tua história
recente, podes estar orgulhosa do que
fizeste, sentiste e criaste. A não ser
que te tenhas teimosamente quedado
no mesmo sítio... mas não acredito : ).
Portanto, aqui vai um novo desafio, que
na verdade é a mensagem deste mês
mas que dura por muito teeeemmmmpppppooooo: está na hora de assumir
o teu power e conquistar o mundo. Seguramente e a quatro patas, sensualmente como sempre, Olimpo com ela!
E mais não digo.
A HISTÓRIA DE GÉMEOS
21 Maio a 20 Junho
03+19+06+22+03+16+20+22+18+01+
04 = 134 = 13+4 = 17
Penso na imagem da tua história
recente, e só vejo mesmo é um par de
asas douradas, tipo a versão amplificada das asas nos pés do deus Mercúrio!
Eia, que vertigem! Felizmente tiveste a
orientação da tua boa Estrela durante
este tempo todo, porque foi cá uma
volta! Eram só ideias a voar, amarras
a largar, projectos a criar, riscos a assumir, escolhas a fazer, enfim, tudo!
Ok, e também tiveste umas coisas
a limpar, mas pronto, até reagiste com
04+22+22+20+21+08+11+16+20+10+
22 = 176 = 17+6 = 23 = 2+3 = 05
Deals, deals, deals! Tivemos muitas coisas a tratar, muita roda a girar,
não foi? E então, qual é a imagem que
fica desta tua história? A da avestruz
ou a da crisálida? Estou a brincar, claro
que deve ser a da crisálida. Ao longo de
todo este tempo, três vezes te disse:
“Descondiciona-te do passado, descondiciona-te do passado, descondicionate do passado”. Fizeste-o? Sei que sim,
ou pelo menos estás bem lançado, porque te vejo com umas bases bem mais
sólidas, e com maior estabilidade emocional, right? É bom, esse era um dos
desafios. As relações com as mulheres
também estiveram muito presentes, ah,
as damas!, às vezes dão água pela barba, né? Mas também descobriste que
podem ser as tuas maiores cúmplices,
desde que ninguém se arme em filho,
filha, mãe ou pai um do outro, certo?
Dependências é que não dá mesmo,
verdade? Então estamos bem. E ainda
havia o abrir mão de coisas ou pessoas que estavam de pedra e cal na tua
vida, mas que já não te correspondiam
assim tanto, não era? Quase te consigo ver a ir buscar coragem sabe-se lá
onde e a tomares esta ou aquela atitude nesse sentido! E estás de parabéns,
não era fácil... mas já passou! Portanto,
considerando que este teu filme épico
de maturidade e desprendimento está
terminado, passa agora à próxima fase:
Usa a tua nova estrutura e trabalha no
que quiseres, de preferência projectos
conjuntos, mas inspirados por ti. É que
parece que o teu novo desafio é ser líder mas estabelecendo acordos, laços
e uniões com os que te rodeiam. Afinal,
és o “afectivo” do Zodíaco, e a bem dizer, com muita honra!
A HISTÓRIA DE LEÃO
22 Julho a 22 Agosto
14+07+22+13+20+16+11+07+21+17+2
1 = 169 = 16+9 = 25 = 2+5 = 07
Sabes aquelas histórias dos reinos
mágicos, que duram eternidades? Que
coisa, até faz confusão, parece que en-
N: 10
goliram a poção do sucesso, chega a
ser irritante! Pois palavras para quê?
Eu sei que os teus ciclos de vida não
são sempre assim, mas a tua história
neste período em que te acompanho
parece feita de propósito para dizer ao
mundo: Olhai, eu sou feliz, magnânimo,
e abençoado! Ok, também há a versão
dos Leões mais discretos, mas que nem
por isso tiveram um período pior. Vá lá,
sei que até gostas de um pouco de dramatismo, mas admite que és o último a
poder queixar-se do que quer que seja.
E é bom mostrares isso ao mundo, é
uma forma de inspirares os outros, desde que não o faças com soberba. Claro
que também tiveste umas coisitas a resolver, ora bolas, mas está tudo bem,
não é? É que não tenho mesmo muito
mais para te dizer... Dá graças por esta
fase maravilhosa, que aliás encerra o
fim de um ciclo e o início de um novo,
e... Nada a temer porque... Bom, para
este mês sai-te a lâmina de Tarot chamada Temperança... queres o quê? Eh
pá, vai de férias!
A HISTÓRIA DE VIRGEM
23 Agosto a 22 Setembro
10+05+02+19+14+22+04+02+19+17+
03 = 117 = 11+7 = 18
Ele há as virgens-virgens e as virgens-loucas. E com o teu Signo passa-se o mesmo, tipo os Virginianos certinhos e os disparados... ou uma mistura
dos dois, como tu : )... E assim é bem,
traz bons resultados, pelo menos a
tua história assim o diz. Tem sido um
tempo de descoberta, de fazer muitas
coisas, nada de agitações de fundo,
mas um ciclo muito activo, com um
grãozinho na engrenagem no início da
Primavera mas já passou, enfim, tem
sido um tempo gratificante e frutuoso.
A tua força e solidez tem dado conta
de eventuais reactividades emocionais,
tens sabido ouvir os teus instintos e
inspirações, tens dado asas ao teu imaginário e criado coisas relevantes! All
you, what else?! Já sei que achas sempre que pode ser melhor, mas esquece
essa parte e aceita o que te digo: tem
sido bom, porra! E não mandes agora
a toalha ao chão, ok? Poderia acontecer teres a tentação de mudar o que
está bem, e por enquanto seria um
disparate. Valoriza o que é, o que está,
o resultado deste tempo, e para já...
fica quieto... por dentro... e por fora.
Qualquer precipitação seria como uma
nota falsa na sinfonia, so cool down. E
se por acaso sentires cócegas nos pés,
dá uma de virgem-louca e diverte-te, sê
leve, descomprometido, e por enquanto não mudes de direcção. Be wise, and
have fun.
A HISTÓRIA DE BALANÇA
23 Setembro a 22 Outubro
04+01+18+10+10+04+04+21+15+04+1
1 = 102 = 10+2 = 12
Uau, a Beldade do Zodíaco transformou-se em CEO, isso é que tem sido
trabalhar, bolas!
E, tal como um bom CEO, a história deste últimos tempos tem sido a de
trabalhar em duas frentes: no lado prático e executivo da vida, e na manutenção do equilíbrio interno, sim, porque
Julho 2009
houve aí umas provocaçõeszitas, umas
despedidazitas, e saíste-te mesmo bem
a equilibrar os pratos da balança! Eu diria que esta história fala da sabedoria
em gerir algumas frustrações e ao mesmo tempo pôr a andar um barco novo,
e relativamente grande... para o qual
contribuíste com todo o teu ser, boa!
E a saga continua, lots of work, and “no
news, good news”! Bendita capacidade
de harmonizar opostos dentro do espírito livre que te assiste! Que assim sejas para todo o sempre, e muitas obras
por ti falarão. Tenho dito.
A HISTÓRIA DE ESCORPIÃO
23 Outubro a 21 Novembro
09+06+08+04+15+11+06+16+12+22+1
3 = 122 = 12+2 = 14
Eis a história do próprio do Alquimista, em plena glória transmutativa ou
mergulhado em ácidos de enxofre, dependendo do seu grau evolutivo. Quero
crer que, se me estás a ler, é porque
o famoso lado negro dos Escorpiões
já foi à vida, que não és refém de esquemas, jogos de poder, e entranhas
reviradas, que não te fazes de vítima
nem de carrasco, enfim, que és aquele que transformou o chumbo em ouro.
E assim sendo, és o maior exemplo
para todos os mortais: aquele que, face
ao que quer que seja, transmuta a dor,
transmuta a raiva, transmuta até o seu
próprio Ego, e assim renasce como a
Fénix resplandecente. É esta a história
dos teus últimos tempos, e não conheço ninguém melhor do que tu a alterar
finais, a levar tudo até ao limite e a
sair por cima, iluminado, infinitamente sábio e bom, porque, mais do que
ninguém, conhece a fundo a condição
humana. Se viveste esta versão da tua
história és uma referência de coragem
e inspiração, e soubeste pôr em prática
o famoso princípio: Aceitar o que não
podes mudar, ter a coragem de mudar o
que podes, e a sabedoria para discernir
uma coisa da outra. Atravessando tempestades, desgostos, e cataclismos,
descobriste as leis que regem a Vida,
descobriste uma nova centelha em ti,
redescobriste o teu valor, e decidiste
que a vida é bela, que nasceste para
ser feliz, que o teu trabalho é afinareste com essa intenção, enfim, descobris-te a Pedra Filosofal. E este mês, só te
resta mesmo limpar o laboratório do alquimista, deitar fora o que já não presta, e guardar bem os tesouros criados.
Depois, será hora de seguir viagem, no
teu novo rumo a caminho do Sol.
A HISTÓRIA DE SAGITÁRIO
22 Novembro a 21 Dezembro
10+22+22+11+14+10+19+16+13+01+0
2 = 140 = 14 + Ø = 14
O Novo Visionário, eis a metáfora
perfeita da tua história de Setembro
para cá. Que é para continuar, e aperfeiçoar. Tiveste tantas e boas razões
para te sentires feliz! Mas foi obra assumir uma nova visão de ti próprio e do
mundo à tua volta, não foi? Coisas que
agora te fazem sorrir... A certa altura,
e porque bradavas aos sete ventos que
abafavas, foi como se tivesses ido parar
a um local desconhecido, e tu, a olhar à
volta a ver se reconhecias os teus que-
página: 11
ridos alvos, as tuas setas preferidas, o
teu arco de estimação... e népia. É que
de facto aliviaste peso e deixaste umas
malas atrás, portanto... Tiveste mesmo
de manter o foco quando tinhas mil
razões para te dispersares, decidiste
renovar as tuas antigas motivações e
descobrir outras novas, volta e meia lá
te vinha a tentação de te precipitares
mas controlavas-te sabiamente, de te
impores com a última verdade do planeta mas lá te punhas em causa com
a possível humildade, enfim, a verdade
é que acredito que conseguiste fazer
tudo isto e transformares-te em algo
mais vasto, mais abrangente e ao mesmo tempo mais selectivo, resumindo,
de ser o ousado, e agora mais sábio,
Arqueiro que nasceste para ser! Mas
neste mês, attention!, é para manter a
cabeça fria, lidar bem com eventuais
imprevistos (pois, já cá faltava!), não
esquecer de ouvir os outros, manter o
foco, nada de desatinos, e avançar para
a última etapa desta tua quinquagésima nona aventura. Ah, valoriza a abençoada carta da Temperança que tem
estado ao teu lado, que sorte! Deve ser
porque mereces : ).
A HISTÓRIA DE CAPRICÓRNIO
22 Dezembro a 20 Janeiro
08+21+03+10+15+12+19+10+16+18+1
0 = 142 = 14+2 = 16
A Travessia do Deserto é uma certa
fase de um tradicional percurso iniciático. Um teste à sabedoria, humildade,
coragem, plasticidade, e fé do candidato. E é a história dos teus últimos meses. Uma história eventualmente difícil,
mas também nobre, rica, e reveladora,
se estiveres para aí virado. É que há os
Capricornianos-rocha e os Capricornianos-bode. Ambos têm os seus talentos,
mas às vezes os primeiros tendem a
virar velhos do Restelo, enquanto os
segundos usam as pedras do caminho para subir mais alto, lembras-te?
Mas de facto não existem assim duas
tipologias, são só dois arquétipos diferentes que reflectem usos diversos da
mesma energia. E quero acreditar que
tenhas optado por ser cabra, quero dizer, bode... espero : ). Ou seja: Aceita
lá que o céu que talvez te tenha caído
em cima da cabeça te trouxe, de facto,
novas oportunidades; Aceita lá que às
vezes é bom ser chocalhado para arejar as raízes; Aceita lá que tudo isto
te serviu para algo fundamental nesta
fase da tua história: Descobrir um novo
sentido para a tua vida. E até tiveste, e
tens, N bálsamos à mão, não ignores os
frascos. Aproximas-te de um novo equilíbrio e, para quem sabe o que significa, de um novo estádio evolutivo. Bem
ajas... sim, do verbo Agir.
A HISTÓRIA DE AQUÁRIO
21 Janeiro a 19 Fevereiro
pernas abertas, dentro de uma estrela
de cinco pontas, que por sua vez está
dentro de um círculo? Sim, o Pentagrama da Humanidade. Esse és tu, foi este
o teu ciclo, esta a tua procura. Não, não
é nada esotérico, é mesmo muito claro
e essencial: Este teu ciclo de 11 meses
foi a história de quem decidiu arranjar
forma de viver a vida à sua maneira.
Será? Quero crer que sim. E continua.
É que se não o fizesses, algo morreria
em ti, e como Aquariano não te aguentarias por muito tempo. Claro que isso
implica muitas voltas, mas é mesmo
assim, e tu felizmente não és do tipo
lamechas. Sabes bem que pudeste,
e podes, contar com os teus parceiros mais fiéis: a Clareza, a Confiança,
a Franqueza, o Amor Próprio e o Humanismo. E mais: Confessa que sentiste
sempre uma estrelinha a brilhar dentro
de ti, verdade? Pois cá para mim, ela
está, e estará, tão, tão, tão presente
que até se confunde contigo : ).
A HISTÓRIA DE PEIXES
20 Fevereiro a 20 Março
15+20+07+07+21+19+12+03+17+18+0
9 = 148 0 14+8 = 22
A história do oceano é plena de
possibilidades, e confunde-se com a
tua. Curioso é que, ao contrário dos
outros Signos, tu tens dois ciclos bem
marcados na tua história dos últimos
meses. Até Abril/Maio tratou-se de
descobrires uma nova dimensão do teu
ser, de assumir talentos, revelações,
libertações, opções, e de decidir ir
avante com o melhor de ti... O mesmo
é dizer, como tantas vezes te repeti:
“Põe o teu Ferrari a trabalhar, já!”; De
lá para cá, entraste num outro filme, do
qual vale a pena falar. É que, se não
tivesses posto o Ferrari a trabalhar estarias a mergulhar de cabeça no fundo
do oceano, afogando-te em energias e
capacidades não vividas, e que teriam
de sair por algum lado, tipo escape, e
com resultados estupidamente chatos... Digo estupidamente, porque esta
seria uma opção impensável para um
ser inteligente como tu. Portanto, a
única opção vital, e desejo que tenha
sido esta que tomaste, foi a de sair da
casca, de tirar a tal bomba da garagem
e iniciar uma viagem fantástica, refrescante, inovadora, enfim, partires com
tudo, e sem medo, rumo a um futuro
brilhante. Claro que tamanha empreitada tem sempre desafios, e é aí que te
encontras, espero eu – a lidar de um
modo construtivo, maduro, e livre, com
os riscos de quem aceita que a Vida é
Agora, e não depois, não mais tarde,
não nunca mais... A estar atento para
que padrões de comportamento antigos não boicotem a bendita viagem...
Ah, e a saber que uma vida nova requer
sempre uma nova atitude, certo?... Pois
é, tu sabes...
17+13+17+09+27+02+11+19+08+04+1
9 = 136 = 13+6 = 19
Ser, e ser, e voltar a ser, eis a
questão. A parte do “não ser” já não
entra neste filme. A tua demanda foi
afirmares-te, de novo, como Tu próprio.
Esta foi a tua grande história. Estás a
ver aquela imagem do Leonardo da Vinci, que é um homem com os braços e as
Pinkboy &
Pan Sorbe
Philipp Jung (M.A.N.D.Y.)
& Rui Vargas
Quinta 23
Sexta 24
N: 10
MD5
Miss Dove dá-nos cinco daquelas
para deixar o indicador dorido de
tanto clicar, apontar ou passar páginas.
— Jorge Colombo e a revista New Yorker
Já muitos links se colocaram por todo o
lado, mas os desenhos que Jorge Colombo
faz com o seu iphone e com a aplicação
“Brushes” merecem também esta menção
impressa em papel. Colombo é o autor de
uma recente capa da revista New Yorker
– o desenho foi feito durante uma hora,
em pé, perto do Madame Tussaud’s Wax
Museum, em Times Square. A colaboração
com a conceituada revista alargou-se,
e agora, JC faz um desenho por semana
para a newyorker.com
jorgecolombo.com
— How Books Got Their Titles
Gary Dexter é um jornalista e autor que
investiga as vidas e as obras de grandes
escritores. Uma das suas obsessões
são as histórias por trás dos títulos de
grandes obras-primas. Que outros nomes
teve “Guerra e Paz” de Tolstoi, que “The
Medium is the Massage” foi uma gralha na
capa que Marshall McLuhan acabou por
deixar passar com agrado. O seu blog tem
mais de cem entradas.
garydexter.blogspot.com
— “All That Glitters”
A bola de espelhos como presságio. Este
texto de Jennifer Allen na revista Frieze de
Maio de 2009 estabelece uma teoria – a
“mirror ball” como objecto que contém,
de forma “mais concisa e global”, a teoria
de Guy Debord da “sociedade do espectáculo”. Do “culto da celebridade à imagem
digital”. Allen diz que já lá estava tudo e
que em vez de olhar para uma determinada área de John Travolta, devia era ter-se
fixado na bola de espelhos, o verdadeiro
centro. Para concordar, descartar ou
aproveitar.
frieze.com/issue/article/all_that_glitters
— Polaroid
Em Fevereiro de 2008, a Polaroid anunciou
o fim da produção da película instantânea.
Supostamente durante este ano os stocks
existentes vão findar. Mas aqui e ali proliferam fotógrafos que utilizam a polaroid
(por exemplo para captar músicos) como
complemento “retro-mas-hip” à fotografia
digital. E deve dar um trabalhão, mas
fazem scan e colocam em blogs como
Gorilla vs. Bear ou Slap You in Public.
É o último sprint antes do fim?
gorillavsbear.blogspot.com
slapyouinpublic.com
Julho 2009
página: 12
Uma canção que
gostaria de ter escrito
Borrachos
ou Passarinhos (Valença do Minho)
Tó Trips
João Peste
ooh
wow
ooh
I feel bad, and I’ve felt worse
I’m a creep, yeah, I’m a jerk
I, I wish you could swim
Like the dolphins
Like dolphins can swim
Though nothing,
Nothing will keep us together
We can beat them
Forever and ever
Oh, we can be Heroes
Just for one day
Come on
Touch me, I’m sick
wow
I won’t live long, and I’m full of rot
Gonna give you - girl - everything I got
Touch me, I’m sick, yeah
Touch me, I’m sick
Come on baby, now come with me
If you don’t come
You’ll die alone
wow
ooh
I’m diseased, I don’t mind
I’ll make you love me ‘till the day you die
Come on
Touch me, I’m sick
ahhh
Fuck me, I’m sick
Come on baby, now come with me
If you don’t come
You’ll die alone
“Touch Me I’m Sick”, Mudhoney, 1988
Diogo Potes
Father, father, come see what I’ve built
Made civilization out of the Nile silt,
Built your monuments out of my brother’s
bones, Exalted your words in flesh-bound
tomes
www.shibumi.org/eoti.htm
missdove.blogspot.com
Papa, papa, come and watch me play
The whole world before me I laid to waste
Built Jerusalem out of these hidden
worlds, But I won’t share it with the other
boys and girls
More embarrassed than I’d hope to admit,
The living embodiment of perfect.
A reversed Oedipal complex based on
power and not on the sex.
Daddy, daddy, are you proud of me?
I did it all for you because of what I believe
The sins of he father carried out by the
son From Cain and Abel until the last living
life is done
Again we stand slack-jawed As our fates
are moved by the hand of God
A God is what we see as we stare into his
Papal eyes.
“Son the Father”, Fucked Up, 2008
DJ Al
Quinta 30
I, I can remember
Standing
By the wall
And the guns
Shot above our heads
And we kissed
As though nothing could fall
And the shame
Was on the other side
Oh, we can beat them
Forever and ever
Then we can be Heroes
Just for one day
We can be Heroes (X3)
Just for one day
We can be Heroes
We’re nothing
And nothing will help us
Maybe we’re lying
Then you better not stay
But we could be safer
Just for one day
Julho 2009
página: 13
As cabeças
de Amadeo
João Paulo Cotrim
Para a calda:
5 dl de vinho verde branco
1 casca de limão
1 pau de canela
250 g de açúcar
Bate-se muito bem o pão ralado, o açúcar,
a canela e os ovos, um a um, pois a
quantidade depende do tamanho dos
ovos e também o grau de absorção do
pão. Frita-se a massa obtida em óleo bem
quente com a ajuda de duas colheres.
À medida que se fritam, vão-se deitando
os borrachos num tacho que se encontra
sobre o lume e onde está a ferver uma
calda feita com o vinho, a casca de limão,
o pau de canela e o açúcar.
Os borrachos são servidos quentes ou
mornos dentro da calda
You’re talking 45 turns just as fast as you
can, yeah, I know it gets tired, but it’s better when we pretend.
It comes apart, the way it does in bad films.
Except in parts, when the moral kicks in.
Though when we’re running out of the drugs
and the conversation’s winding away.
I wouldn’t trade one stupid decision
for another five years of lies.
You drop the first ten years just as fast as
you can, and the next ten people who are
trying to be polite.
When you’re blowing eighty-five days in the
middle of France, Yeah, I know it gets tired
only where are your friends tonight?
Sabe a madrugada ventosa e terra
húmida, a passeio sob os carvalhos e a galope de cavalo, Amadeo (1887-1918) sabe
a “A” maiúsculo com um “e” encolhido a
querer acrescentar e mais e ainda e depois
e além disso. Segundo as leis da gravidade, devia o “e” descer pelas encostas do
“A”, mas sobe a galope para ver o horizonte
limpo e frio mal nasça o sol. Amadeo, “pintor avançado” ou “bizarro colorista”, sabe
a começos, sabe de olhares primeiros e
soube descobrir cores alegres e sinistras.
Amadeo sabe bem.
Quando ainda não sabia reconhecer
os nomes recortei de um jornal a minúscula reprodução da tela “Galgos”, da qual, por
não saber de nomes, desconhecia a celebridade. Durante anos conservei por perto,
em paredes e cadernos, aquele fragmento
amarelado onde vibravam cores por adivinhar: o contraste preto e branco da atenção dos cães, a maquilhagem mascarada
das lebres suspensas, as subtilezas das
montanhas, um laranja a prometer luz, as
massas do céu num verde que talvez seja
azul a romper. Não sei agora quando a cor
me atingiu, mas lembro-me de ter passado
não há muito uma pequena vida face a face
com a cena a dois palmos do chão vencendo o peso e a circunstância. Fui interrompido pelo segurança do museu. Desconheço
o que me atraiu na imagem do velho jornal, mas posso inventar: foi a suspensão.
Nada há de mais prometedor, e portanto
adolescente, que esse exacto momento
em que o olho se concentra num ponto, os
músculos se retêm para nos manter suspensos, prestes a, uma vez marcados com
as tatuagens do combate, nos atirarmos
que a vida é toda para diante. Os galgos
e as lebres, caçador e presa, estão ambos
hipnotizados pelo momento adolescente
da partida. Nunca uma cena parada teve
tanto movimento, eis a verdadeira natureza
morta. Amadeo sabe a pontos de partida
e a vida pintou-o como adolescente, no
instante em que se erguia para se atirar.
Será a morte um segurança de museu?
Sou livre de pensar que os galgos preto-e-branco e as lebres riscadas começam
a vislumbrar naquele instante a paisagem
de rostos e cabeças e máscaras com que
o pintor ilustrou a madrugada do século
XX. E lhe adivinhou o corpo do dia, os massacres da manhã como as violências da
tarde e os horrores da noite, que o século
de Amadeo foi de guerras e holocaustos,
foi de morte e terror. Não pintou cenas
dessas, mas no seu território, que era o do
indivíduo, há reflexos do que viria a ser o
futuro todo. Por isso a sua cabeça leva por
título vanguarda.
Sei de outra tela que leva um título
longo começado por promontório cabeça
índigo onde mora a perplexidade dos sentidos desfazendo-se sobre o ruído colorido
das coisas e dos números e das cores. As
orelhas são buracos de segurar para abanar, de pendurar nos muros das cidades
com que revestimos os cafés. As bocas
fazem, uma após outra, aquele oh! redondo e fatal do destino. Não gritam, pois isso
está reservado para os olhos, berlindes
que rodam sobre si e cruzam latitudes e
longitudes, caindo nos degraus do inferno,
subindo ao farol do céu. Estamos rodeados
de lugares-tempestade e isso revela-se
nas cabeças. Esta é litoral, ali outra que se
chama oceano e os nomes têm peso ainda que seja sem título. Esferas de mundos
perdidos, tecidos bordados dos cinco continentes, as cabeças soltaram-se e andam
a rebolar pelos sítios recolhendo terras e
ares e fogos. Ardem em verde soturno de
velha de lenço que se inclina para mirar o
chão que não mexe. Somos feitos de restos
de cor, de fragmentos de luz, de algodões
de sombra e isso vê-se tão bem nas cabeças. Tanto risco e traço, tanta força e fraqueza. Moram casas nos rostos, mas nelas
desembocam ruas e os quartos são praças
com janelas para o chão e portas no tecto de cair para cima. Possuímos as mais
distintas e sanguíneas geometrias, as mais
díspares texturas, os mais loucos motivos,
triângulos e rectângulos de pano de pele
crestado pelo sol dos pinhais, tecido pela
água e pelo trigo, pelas mãos dos salgueiros dançando. São bulas de medicamento
onde se misturam contra-indicações com
composição e posologia, estamos para
aqui decompostos em cicatrizes e rugas e
esgares que devem ser tomadas de hora a
hora para curarmos o mal do século que
ainda é nosso apesar de ter pertencido
a A, fosse de Almada ou Amadeo. Afinal,
galgos e lebres subimos ao promontório do
A para melhor nos desfazermos. Atirando-nos para diante?
Amadeo, “pintor avançado” ou “bizarro
colorista”, sabe a começos, sabe de olhares
primeiros e soube descobrir cores alegres
e sinistras. Amadeo sabe bem.
“Heroes”, David Bowie, 1977
It’s hard enough being born in the first
place, Who would ever want to be born
again? It’s taken this long just to get to
this place, So what’s the point in ever
being born again?
savepolaroid.com
— The End of the Internet
Há mais, mas esta é um verdadeiro
clássico, se alguma vez se pode chamar
“clássico” a uma página da internet. Toda
a gente já veio aqui parar e provavelmente
já há muitos anos, perdão, computadores
atrás. O fim é o princípio e blá blá blá... já
sabemos. Este é para aqueles que ainda
acham que estar ao computador é não
ter vida e que quem está muito tempo em
frente ao ecrã não vê a luz do dia nem lê
livros. Pois deve ser.
I, I will be king
And you,
You will be queen
Though nothing
Will drive them away
We can be Heroes
Just for one day
We can be us
Just for one day
250 g de pão ralado
50 g de açúcar
1 colher de chá de canela
5 a 6 ovos
óleo para fritar
N: 10
Magazino, José
Belo & João Maria
Quinta 30
Lúcia Azevedo
That’s how it starts.
We go back to your house.
We check the charts,
And start to figure it out.
And if it’s crowded, all the better,
because we know we’re gonna be up late.
But if you’re worried about the weather
then you picked the wrong place to stay.
That’s how it starts.
And so it starts.
You switch the engine on.
We set controls for the heart of the sun,
one of the ways we show our age.
And if the sun comes up, if the sun comes
up, if the sun comes up and I still don’t
wanna stagger home.
Then it’s the memory of our betters that
are keeping us on our feet.
You spent the first five years trying to get
with the plan, and the next five years trying
to be with your friends again.
And to tell the truth.
Oh, this could be the last time.
So here we go, like a sail’s force into the night
Nº 10 / Julho 2009
And if I made a fool, if I made a fool, if I made
a fool on the road, there’s always this.
And if I’m sewn into submission,
I can still come home to this.
Sede: Av. Infante D. Henrique, Armazém A,
Cais da Pedra a Sta. Apolónia,
1950 – 376 Lisboa
T. 218820890 / F. 218820899
blog.luxfragil.com
luxfragil.com / [email protected]
And with a face like a dad and a laughable
stand, you can sleep on the plane or review
what you said.
When you’re drunk and the kids leave impossible tasks you think over and over,
“hey, I’m finally dead.”
Oh, if the trip and the plan come apart in
your hand, you look contorted on yourself
your ridiculous prop.
You forgot what you meant when you read
what you said, and you always knew you
were tired, but then, where are your friends
tonight?
Where are your friends tonight? (X2)
If I could see all my friends tonight (X4)
Direcção: Manuel
Reis
Textos de: Anamar, André Teodósio,
Fernando Fernandes, Hugo Gonçalves,
Isilda Sanches, João Paulo Cotrim,
Joaquim António Rocha, Maria Antónia
Oliveira e António Néu, Pedro Pires,
Pedro Rodrigues, Quim Albergaria,
Ricardo Henriques e Susana Pomba.
Editados por:
Pedro Fradique e Fernando
Nunes.
Design gráfico: Diogo Potes — Alva
Design Studio
Capa: Pedro Cabrita Reis
Revisão: Marta Martins
Impressão: M2
Tiragem média: 7 000 ex.
“All My Friends”, LCD Soundsystem,
2007
Carl Craig
Sexta 31
Rui Vargas & Rui
Murka
Sábado 1
N: 10
Julho 2009
página: 14
Ler, outra coisa
Susana Pomba
Da esquerda para a direita e em contínuo, de cima para baixo. Página a página, entre
as mãos. Costumava ser assim, mas hoje com a proliferação de novos suportes de
leitura, o acto de ler tem cada vez menos um princípio, meio e fim. Não há tempo para
contemplações. É preciso velocidade. O título e esta “intro” estão garantidos...
Estas primeiras linhas também, quase de certeza. Acontece muitas vezes ir
facilmente por aqui fora e ler mais uma
ou duas linhas de texto, seguido, de forma
contínua. É o princípio, está bem no topo
da página, abaixo dos headers. Depois, se
calhar, dou uma olhadela no lado esquerdo
da coluna, primeiras palavras, aqui e ali, e
leio mais um bocadinho na horizontal, porque até me interessa. Se não andei com o
rato antes, faço-o agora e os meus olhos
fazem uma vertical, pela esquerda, pelo
resto do conteúdo. “Marcam-se” palavras,
que é como quem diz, lêem-se palavras
soltas do texto que nos parecem chave e
pequenos conjuntos de palavras para obter
um bocadinho mais de sentido. É preciso
ser rápido e eficiente.
Ah, já percebi, isto deve ser... Há mais,
espera, tem um vídeo, quanto tempo tem?
Agora não. E a foto dele, então é este gajo.
Estes links têm ar de serem bons, pronto é
só para o site oficial. Que chatice estes gifs
animados e pop-ups, adeus. Ui, espera lá,
isto interessa-me. E pronto, já não estamos
nesta página, abrimos outra tab, retomamos a “leitura”. Ler a totalidade de uma página digital, quanto mais se contiver muito
texto, quase nunca acontece.
Comecei a notar que a forma errática
como lia páginas na internet não podia já
ser assim tão aleatória. Alguma parte desta prática deve ser um sistema. De tab em
tab, passo os olhos rapidamente percebendo o conteúdo apresentado – seja texto,
imagem, vídeo, som, tudo. Faço refresh,
abro, clico, salvo, recolho informação para
o desktop. Tenho medo de perder coisas
e deixo as janelas abertas muito tempo
(dias), ou semanalmente vou fazendo bookmarks arrastando para as diversas pastas
na barra do browser. Para mais tarde lá
ir ler com muita atenção. Isto já para não
falar das múltiplas vezes que saio para ir
espreitar outros softwares de utilidade extrema, como, a título de exemplo, o Itunes,
que serve para trocar-esta-música-que-me-
está-a-irritar-e-agora-o-que-é-que-eu-voupôr? Pois. Mas isto sou eu, porque cada
um tem as suas manias.
Mas o que realmente me preocupa é
a falta de concentração. Tenho inveja, sem
medidas, e vergonha nenhuma de o dizer,
das pessoas que depreendo terem altíssimo poder de concentração – pessoas que
lêem um livro de mais de 300 páginas por
semana, no mínimo. Por mais que faça regime intensivo entre metro, tempos de espera, horas de almoço, ou ao deitar, nunca
consigo atingir essa meta. Da mesma maneira que não consigo ler um texto importante sem fazer save para PDF, e imprimir
em papel, utilizando os dois lados da folha,
para não me sentir muito mal (e eco-friendly o suficiente). E de usar uma caneta e
me recostar no sofá “muito concentrada” a
ler umas miseráveis folhas A4 com os seus
cerca de 20 000 mil caracteres. E claro, o
gesto simples que envolve um braço e uma
mão que pegam num comando preto que
está ali ao lado e que serve para desligar
o aparelho, requer a força de vontade de
uma irmã fechada num convento, ou de um
prisioneiro a manter a sua sanidade entre
quatro paredes. É muito mais fácil ir fazer
“show 11 new posts” no Facebook ou responder a um sonzinho minúsculo que dá sinal de que temos, claro, de responder a um
amigo. E se for uma coisa importante?
Será que esta falta de atenção não é
a mesma que tinha aos 16 anos, por tantas
razões diferentes? Será que as mais de 12
horas (não sei se é uma média, contei com
os dedos das mãos) que passo ao computador num dia de trabalho normal estão a
fazer alguma coisa ao meu cérebro?
Pedi ajuda a um professor, um especialista na matéria. Usar o Google (já não
falo da Wikipédia que é veneno) e o twitter, desculpem, não é fazer corta-mato, é
embrulharmo-nos num sem número de horas de cliques e, logo, de um sem número
de páginas que abrimos e que nos levam a
outras, que já não têm nada que ver com o
intuito original. Mas do que é que eu estava
mesmo à procura? Neste caso, parece-me
não haver nada como a old school, literalmente. Perguntar a um professor entendido que nos dá capítulos específicos de
livros e meia dúzia de links certeiros. São
estes que temos de ler, são estes que nos
levam aos sítios certos na continuação do
estudo. Toca a imprimir e a fechar, com vigor, os aparelhos circundantes.
Foi num desses textos que vi a referência a um estudo chamado “F-Shape Pattern for Reading Web Content”. Realizado a
232 utilizadores em centenas de páginas,
o estudo concluiu que na generalidade as
cobaias liam em forma de F (“F for fast”, dizem eles) ao longo da página, às vezes em
E, mas quase nenhum lia de forma exaustiva o conteúdo.
Senti-me culpada ao ler este estudo,
é exactamente isso que faço todos os dias,
foi exactamente isso que descrevi no início deste texto, foi exactamente isso que
James Bowman, o autor de “Is Stupid
Making Us Google?” declarou que iria acontecer, logo que acabou de descrever no seu
texto o estudo “F-Shape Pattern”, como eu
fiz agora. Aconteceu-vos o mesmo?
Este texto de Bowman é uma resposta
a um outro, que, pelo seu título apelativo,
causou, pelo que me apercebi, uma certa
polémica nos circuitos mais dedicados
a estas matérias. “Is Google Making Us
Stupid?” de Nicholas Carr, é um texto que
descreve as preocupações do autor no que
diz respeito ao que a internet está a fazer
aos nossos cérebros, e como hoje em dia,
ler um livro, no sentido tradicional – o que
Carr chama de “deep reading” – parece
cada vez mais uma impossibilidade. Ao
longo da prosa o pânico aumenta consideravelmente. Segundo Carr, até para os
“literary types” (seus amigos) ler de forma
“profunda” se tornou difícil.
A discussão continua de link em link.
Colocam-se inúmeros problemas: mas não
tínhamos já levantado a questão da leitura
N: 10
aquando do aparecimento da televisão? E
não estamos agora a ler muito mais (mensagens de texto, internet, ...) do que nos
anos 70 e 80?
Na verdade, e é claro, esta será uma
outra maneira de ler. Os sinais circundam-nos. Os jornais discutem a sua existência
em papel, arranjam maneiras de facilitar,
resumindo o conteúdo numa frase, para
aqueles que nem folheiam tudo (“article
skimmers”), entre muitas outras reformulações neste momento a ser experimentadas. Os jornais em papel estão em árdua
competição com as suas próprias páginas
web, ou com outras melhores, e cada vez
mais parecidos com elas.
E ao mesmo tempo, a comunidade literária discute avidamente o fim do livro,
“como o conhecemos”, com o aparecimento de gadgets como o Kindle ou o Sony
Reader, que contêm centenas de clássicos
logo na compra, sendo depois possível adquirir, com um clique no próprio objecto,
qualquer outro novo e apetecível sucesso
do momento (os aparelhos são comprados
mas ainda não se sabe se são muito utilizados para ler...). Este é um “fim” que nunca
antes assim tinha sido anunciado – se pensarmos bem, o objecto livro existe, basicamente desta maneira, tinta sobre papel +
capa, desde a sua invenção...
Mas quando a tag line do site americano “The Daily Beast”, editado por Tina Brown (ex-Vanity Fair, ex-New Yorker, ex-Talk)
é “read this skip that”, alguma coisa está
realmente a acontecer.
Longe de mim dissertar sobre os males da internet, sou viciada, dependente,
quero ver tudo, saber, guardar, aprender,
e já me surpreendo a ver conferências de
uma hora sobre a nova sensação da Google que ainda só está em fase de test-drive.
E acordar o rato e afastar o screensaver é
mesmo, agora com alguma vergonha de
admiti-lo, a primeira coisa que faço quando
me levanto da cama, muitas vezes mesmo
antes de qualquer outra necessidade básica. E revelo este pedaço de informação não
porque precise de o exorcizar, mas porque
acredito que não sou, de todo, a única.
E se calhar é por aqui que temos de
começar a pensar, e estar muito atentos.
E dito isto pergunto-me: alguém percorreu
estes caracteres todos sem fazer skimming,
sem interrupções longas ou sem saltar largos bocados de texto?
Julho 2009
página: 15
A última página?
Bem contadas devem ser mais de cento e cinquenta
páginas onde couberam muitas dezenas de milhares
de caracteres (e múltiplos caracteres). Mas nem sequer
é uma questão de quantidade. Se tudo aconteceu nos
últimos meses, eis a pausa auto contemplativa antes da
metamorfose.
Na última página do primeiro número,
num texto com o título “A primeira página”,
tentávamos explicar a inexistência do Estatuto Editorial da praxe na publicação que
então nascia (todos os itálicos neste texto são citações dessa “primeira página”).
Remetia-se quem então o procurasse para
a capa. Aí, do “lado direito do cabeçalho”,
numa frase com cinco palavras, estava tudo
dito. Citando uma entrevista do “inimitável
e visionário Amadeo”, anunciávamos e assumíamos que “a nossa vida é toda para
diante”. É nisso que acreditamos, com a
mesma fúria, dez números e cento e vinte e quatro páginas depois. Mas o número
10 fecha um ciclo e, só por isso, apetece
abrandar um instante para olhar para trás
por cima do ombro e recapitular – sem vaidade mas com gozo e orgulho – parte do
que foi impresso nos últimos dez meses.
Foi em Outubro (depois de um número
0 feito de excertos de dezanove edições de
Blah Blah Blah e de um convite para uma
festa) que, para marcar dez anos de Lux, se
transformaram os flyers mutantes, feitos
fanzine, feitos revista, num jornal: este, o
jornal Lux Frágil, mesmo que, internamente, se continue a optar pelo termo pasquim
(adicionando-lhe amiúde o termo anarca).
Na altura, tal como agora, não sabíamos
nada excepto duas ou três coisas muito
simples e sinceras. Afinal, o que é, pode,
ou deve ser o jornal de uma discoteca-barsala-de-espectáculos-acrescentem-o-quequiserem? Ainda não sabemos, nem queremos saber. Queremos fazer. E fazemos.
Para falar de música, de músicos, de DJs,
de noite, de dança. De coisas de agora e
de coisas de sempre. Coisas parvas e coisas sérias. Mentiras e verdades. Ficção e
realidade, prosa e poesia, à mistura com
algumas sugestões de tempero, existencial
ou culinário, regado de questões, retóricas
ou sentidas.
É muito mais simples do que parece.
Apenas procurámos pessoas que escrevessem textos que tivéssemos vontade de ler.
Textos que nos dessem gozo, porque nos
divertiam ou nos surpreendiam, nos faziam
pensar, nos inquietavam e, às vezes, até
nos comoviam. Ou nos despertavam e estimulavam a curiosidade para coisas novas
que valem a pena e merecem atenção. Sobretudo quando envolvem música que nos
faz mexer, com pés e cabeça. Aliás, essa é
a melhor parte disto tudo: as pessoas. As
que escreveram a partir do nosso desafio e
as que leram. Porque afinal — e foi mesmo
bom percebê-lo — existiam pessoas com
vontade de ler aquilo que tínhamos para
publicar. Pessoas que, tal como nós, estavam e estão à procura. Procurando mais
a intensidade do que a unanimidade. Admitimos que, num tempo de links infinitos
para leituras fugazes em cadência zapping
(há um texto sobre isto na página ao lado),
conseguir a captar a atenção (e manter o
interesse) com textos longos e duas cores,
nos deixou bem dispostos.
Não levarão por isso a mal se gastar alguns caracteres com aqueles que
connosco conspiraram mês a mês. Uma
conspiração meio esquizofrénica, meio
abstracta, feita de vontades e escritas bem
distintas mesmo se atravessadas por qualquer coisa comum e inominável. Pessoas
talentosas e generosas (e, consta, mal
pagas) que partilharam uma (vaga) ideia
e lhe deram forma. Nós, editores-pescadores (e perdoe-se a falta de melhor imagem), limitámo-nos a lançar as redes e a
gerir prosa e páginas de peixe graúdo, da
mais alta frescura e qualidade, que para
lá saltou; à mistura com vários tesouros e
algumas criaturas insólitas. Os verdadeiros
responsáveis pela qualidade da faina têm
nomes (e heterónimos) que queremos repetir: Ana Garcia Martins, Anamar, André
Teodósio, Artur Soares da Silva, Catarina
Portas, Fernando Fernandes, Fernando
Pinto do Amaral, Hugo Gonçalves, Isilda
Sanches, João Botelho, João Paulo Cotrim,
João Tordo, Joaquim António Rocha, José
Belo, José Maria Vieira Mendes, Maria Antónia Oliveira & António Néu, Mário Lopes,
Nelson Guerreiro, Pedro Gomes, Pedro Pires (aka sr. peppas), Pedro Rodrigues (aka
Peterman), Quim Albergaria (aka Quimpostor), Ricardo Henriques (aka Bacharel Paiva
Boléo), Rui Vargas, Susana Pomba (aka
Miss Dove), Tiago Manaia, Vítor Belanciano, Zé Moura e Zé Pedro Moura. Uns mais
assíduos, outros menos. A todos o Conselho Editorial estará eternamente grato. Já
agora, e só para quem nunca passou os
olhos pela ficha técnica, não saem daqui
sem saber que há uma dose extra de gratidão para quem, connosco, mês a mês,
desenhou e paginou o jornal (o Diogo Potes) e quem não só reviu e corrigiu como,
tantas vezes, co-editou os textos (a Marta
Martins).
Começou, e pretendia ser, um jornal
só com letras. Até com “letras de canções”,
escolhidas por pessoas de quem gostamos
(e a quem também agradecemos). Mesmo
assim, lá para meio do caminho, apareceu
a imagem. Primeiro na capa — por isso,
obrigado também à Ana Jotta, ao Vasco
Araújo, ao Pedro Barateiro, à Ana Vidigal
e ao Pedro Cabrita Reis — depois lá den-
Tiago & Kaos
Rui Vargas
Sexta 14 — AGOSTO 09
Sábado 15 — AGOSTO 09
Pinkboy &
Pan Sorbe
Rui Vargas &
Zé Pedro Moura
Sexta 21 — AGOSTO 09
Sábado22 — AGOSTO 09
tro. Foi sendo feito de maneira egoísta no
sentido em que, como atrás se referiu, só
queríamos coisas que nos dissessem algo.
Mas também foi feito em regime comunitário, ao acolher ideias, opiniões, críticas,
contactos e contributos vários de pessoas
que prezamos, mesmo aquelas que não
conhecemos bem; todos importantes, nem
todos fáceis de explicar agora.
Acima de tudo, foi sendo feito e distribuído, como bem comum. Para, tal como
o Lux, ser fruído e partilhado. E para ser
lido: na varanda ou na fila para o bengaleiro, na ressaca do dia seguinte ou a meio da
semana de trabalho, na casa de banho ou
no café, no táxi de madrugada ou no metro
ao fim do dia. E as pessoas leram. E comentaram, criticaram, elogiaram, falaram,
estranharam, reagiram. E levaram todos os
que existiam. Por isso, e para poder sair de
Lisboa e de Portugal, passou a (e permanece em) versão blog (blog.luxfragil.com). Já
agora, saibam que também se pode folhear
online (em www.luxfragil.com) numa (bonita) aplicação feita de propósito pelo Patrick
Goor (também responsável pelo layout do
blog).
Todos, mas todos os nomeados, ajudaram a tornar real um jornal convictamente urgente mesmo se necessariamente efémero. Decretamos hibernação editorial antes do número capicua pela mesma razão
evocada no debute de “A primeira página”:
a de estarmos “condenados a viver o futuro. Sentindo, questionando e saboreando o
presente — e celebrando o passado — mas
com absoluta e genuína vontade de entrar
no que está a diante”, permanecendo agarrados à mesmas certezas simples e sinceras: vale a pena acreditar na inteligência,
vale a pena cultivar a descoberta. É isso
que torna tão essencial o tempo que está
para a frente. Como é? O que vem a seguir?
Está ali. A seguir a isto. Lá iremos. Venham
connosco.
Conselho Editorial
Residencial
Rui Vargas
AROUND THE HOUSE
Segunda-feira:
Burt Bacharach
“The Best Of ...” (A&M)
Terça-feira:
Ella Fitzgerald
“The Cole Porter
Songbook” (Verve)
Quarta-feira:
Vários
“Inflight Entertainment”
(Deram)
Quinta-feira:
The B-52’s
“The B-52’s”
DJ Vibe
Yen Sung
Sexta 07 — AGOSTO 09
Sábado 08 — AGOSTO 09
Sexta-feira:
Vários
“Pulp Fiction”
Music From The Motion
Picture (MCA)
Sábado:
Greg Wilson
“Credit To The Edit
Volume One”
Leonaldo de
Almeida
Sexta 14 — AGOSTO 09
7 discos para a lida da casa *
Domingo:
Vários
“Mellow Mellow” (Harmless)
* usar com moderação
dexter & Henriq
Sexta 28 — AGOSTO 09
Pedro Cabrita Reis — 23 Junho 2009