"invasão" da américa aos sistemas penais de hoje
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"invasão" da américa aos sistemas penais de hoje
" I DA "INVASÃO" DA AMÉRICA AOS SISTEMAS PENAIS DE HOJE: O DISCURSO DA "INFERIORIDADE" LATINO-AMERICANA .IosF. CAHI-OS MOREm.\ nA Slt\',\ FILlI0 1 SliMÁRIO: I. Introduc;àu. 2. O euroccntnsmo da vj.~l() modema. J, O mundo de Coloml'Xl: o cOllquistador curopeu e o genocidio colnniaJ. 4. O debate de Valladolid : Oartolomé de Las (;353.,\ e a questão da igualdade dos indios. 5. A cultura amerindia e o fim do "quinto sol", 6. A cultura sincrétka da periferia: os vários "roslos" latino-americanos. 7. Os genocídios coloniais e as práticas extenninadoms dos sistemas penais. 8. Conclusão. 9. Referências bibliográficas. \ \ l. 1[1 1 \, , \ ' " ,~'í r" !'1 oJ INTRODUÇÃO A idéia central deste texto surgiu de algumas r('nexões reitas por Eugenio Raú l Zarraroili, cm seu IhTO Em busca da,\' penas 1't!nIiJas. acerca do sistema penal na América Latina. É certo que as mal rizes teóricas utilizadas pelos nossos juristas e operadores do sistema penal provêm do pensamento primelro-mundi sta, inclusive o 1Iúcleo dos apontamentos criticas para a superação de discursos obsoletos nesta ","Ctt. 1\'la s também é certo que só aqui, no mundo periféric\). estes sahl.'n: s adquiriram um caráler cxtrcl1I:ttncnte peculiar e enlel. implicando lima prática de extenllínio em massa e de segregação social em escalas sem precedentes. Na verdade. como assinalou u jurista argclltino. o sistema teórico latino~americ3no na área penal ~ de lUU sincretismo assombroso. que, no funôo, esconde um disCLUSO extremamente racista, de na!urcza psicobiológica e de exclusão, ou, como diria o filósofo argentino Enrique Dussel , de "ocultamento do oulro·'. I Professor e Coordenador de Pe squis.1 do Centro de Ciências Jurídicas da 1 !NISINOS (RS). Mestre em Teoria c Filosofia do O i r ~'i lo pela UFSC. Doutor t:rn Dirrito lia UFPR. Autor dos li\'ro~ : Filosofia Jllrídim da AII<!n'dadf.', Curitiba: Juru:'t, 1(J9~ (" 1I(' nll{ 'n,'U f l l a fi'fo'Õ(ífho ~ niJ'!'ifn Rio d (' 1:l1lc i ro' I I1IllCI1 Jurl', 201),1 It ,,,i: ( Allt ()~ MClRflRA nA ~ll.V i\ r" tiO Para um melhor entendimento dessa situação faz-se necessário ter conheci mento do processo histórico-social que nos conduziu até o presente momcnto, Não se (,5 t.:', aqui abordando a história como uma iJé ia de progresso: milito pelo contrário. o que se intcnta é repisar o ,II ).!tll1lcnlo dc qu e l11u itos a~p('ctos sombrios da modernidade e call1uIl.tdos da história fa lem, na \cldade. parte de um;] idcolo!!i J qlle se id dlalllar tk f'urof·ellfl"i.\lIIo. ('0111 ess e termo. configura-se toda 11 . . . isno hi"'lúr ica qll E' parte dl' tlm;' perspectiva unilateral daqueles povos que t.: lll 14'J2 m;:I!"(..·jJranl ;j cruz c ii espada o que viria a ~er designado de .\l11l'ric.I Latina. Na '1 crd;tdc. no nút:!co da idé ia de progresso exi ste o ~ · I H.: ohl illlclllo de l!1uitos " lIjcito ... da "comunidade (k cnmunicação id ~ al " (Karl O, I\pel). seja pela falácia dcsenvolvimentista, seja na ideologia raci 5t~ qlle, de fprmn ilvassaladnra. p e rpas s:l I)S 1l()S ~OS .i';{l.' 1I1:1 ~ P"lliti\os, Para ('llnlprecntler, pOrti.lllt u , não só a situação dus siskmas peflai s latino -americanus c de suas prtltic3s genocidas, mas também a própria :,it ll~ç30 periférica ou umarginal", como diria Zaftàroni. é imprescindível Ictomar ~ll' marro dr 14()2 para captar corretamente o que se passou 1ll'~tl'S 500 anos, Dcsuc essa época runuou-se um saber antropológico aplicado à pcrifl'ria , Esse saher primcir:lIllCntc adotoll lima rOllp~gcm teológica, o ra cla ss ificando os índios de criaturas "puras" e '·infant is", ora cO llce benuo -o" COlHO b:irb:1fos, pagãos e adoradores do demônio. Aquela época. que precedia o aLlge do mercantilismo, já demonstrava s inais de decadência da própria visão teológica de mundo e trazia as se lllelltes do que \ eio ;] ser chamado de era moderna. Assim, logo dl'jlOi s. o ~ aber antroro!tlgico de inspiração religiosa deu lugar à IIl:ltriz cientiik ista na!lIraIiSln , E, a partir daí. o índio e depois O~ negros , mestiçus e latino-americanos roram atingidos pelo rótulo de :-;(' TC S " naturalmC'Jlte inferi o res", De maneira geral, no período da c f)flqlli~ta _ o índio cra visto C0l110 11111 ser pass ivo. incaral de se tomar ... ujcit(l de sua própria hi stúri.L Esta imagelll permancce até Q~ dias de hoje c cslcm..lc·sc nu ,. Hino-am ericano em geral. Na vCHlad ::. ;J reali~bdc dos latlls co ntradi z e ... sc: en tendimento. recuperando a "história tll\ t<;Í\e l"" du cOll qui sta, () p r()cc~so de rcsi , tência lI1 iliw r L' , principal!Jll'llle , c ultural dtls PU\ 0" afl1cl'ÍlHlios . 1/11 L' <';(' (lh',,'n:~ .Iv ! prlll;~ clllhlC fllúli cn 110 si" tl'1I1:1 .1)(.'n:1 1 ' a tifl~) ' ttt \' 11\ ,I'\(' L' l i ' 11'1111 ·.:tl liI, ... oI th.: ql l t.' 1:l1a l 'lI<.;<.;el, ,'u '<.1,1 , ii I h.' .!;-'<II.;dO d:1 'oU !!:1 lúCL' d.t IlIt ,dCl11id 'HIt.'- I';Hé\ que:--oe.! P~)S': I , IIU lll ,! pcr-; pct.'tiva Iq . . ·,V !i :I!l:1 dl' ttall-"; !I H,dL·lnid ;tdl.'. sl lfH:ral a \ ;;0.;.10 L'UI'II.·l'1l1r;,ta , c .... tirp ar I 11\lt:1 ~'..·Ilql'i,l,l ~k tll"-""', ..,blt.'IIIi.lS pell :J ;s, t·· iit q)r~'q'i !ldh' cl a 1. tPj' lili ( l~·;·j" tll' !:d:'ICi:t·, (k"('Il\\lhi llll.'ll ti ... r ; ~ " t ' (k ,;I.:\·'I.'S hi"I.'l rh::l'" () I .1 d ," 2. O EUROCENTRISI\IO DA VISÃO MODERNA Adotando a visào de Enrique Ousse!. pode-se dizer que o eurnccntrismo é. basicamente, uma visão histórica do mundo que lranslorma u "ser" do "outro" em um "ser" de "si·mcsmo", Nessa visão, ao se faz er a apologia da modernidade, enlendo-se que todos os " avanços" qu e ela representa constituem o resultado de um desenvolvimento natural do próprio ·'ser europeu'·. sem levar cm consideração a existência d:l t\mérka ou da Á friG) - a Ásia é reconhecida como o começo da história , llla s pennanece cm um estado infantil c primiti\'o _2 Incorre-se . portnJlt n. nn f.,hk ia <.h:scll V{) I v i I1ICI1 t iSla. Trata-se de uma posição o l1tológit.'a pela qual se pensa que () dcscl1 ,:,olvimento empreendido pela Europa deverá ser lI11ilincanllcnte ~t.:g.lIid o, E uma c.a legoria filosófica fundamental e não só sociológica ou cconúmica, UE o muvimf'IIl0 1/(!('('sst irio do Ser. para Ilcgcl, SCll tlc.~ I'I ,,( , /J·; menta inevitável." 3 Acaba-se por absorver urna delinição mundial d o que seja a modernidade c de como se chegar até um eslado de pleno runcionaJl1ento de seus principios e idéias. "Modernização (olllologicamente) é exatamonte o processo imitativo de constituição. como a passagem da potência ao ato (um dese nvolvimentismo ontológico), dos mundos co l(lllia i, com respeito ao ser da Europa ( ... ).'" Assim, a Europa cristã moderna tem um prinl.'ípio elll si mes ma, e é sua plena realização. E mais, somente a parte ocidental norte da Europa é considerada por Hegel como o núcleo da hi s tória : "A Alemanha, França. Dinamnrca. os países escandin~!\'os sào o coraçiio 2 Enrique Dussel nos Iraz n. seg uinte ci t.\ção de Hegel : "0 mUJldo se d ivide e m Velho Mundo e Nc'IVo Mundo. O nome Novo MundQ provem do fato dc qu e :1 Améric~ ( .. ,) não foi conhec ida ate há pOIl ~' O pelos europeus. Mas n:10 se acredite que a di~tinção é puramenlc ("(tema , Aqui a di v isão é ess('ncial. ESle mUtldl' é no vo nno s6 relali v:JmC'n lc- m:-es lamhém nb!>olut:Jlllcntc-; II l' com rcspe ih1 a lodos os seus car<ll'IC'rC's próprios, Ihicos c políticos. () mar llt: ilh:1S. que se t:slcndt:: ("nllc a Amé, ica do S ul c a Ásia. re .... ela certn imatuliJ:lde 110 tocante também a sua origem (, .. I, A Nova Holanda também não de h: a dt:' aprc "cn tar características de juventude geogrilflca pois se. partindo d:t'; po "St:~ .. sõcs inglesas. penetramos em seu tcrri túrio. de .. cobrimos en n rol C' S rins que ainda nno abriram seu leit o ( .. . ) Da Am éri ca e de :-;:ell grau de civi li 7:lciio, 1 CSPL'l:i;c !ll lcnt(' no Mé:'tiC(l e Pl' ru , Icml"'; ill f('fIlJ ílt; ÕC~ a n .... pc il n I I ~ >;eH tk"C II\ 0 1ViU1t.'l ll<'. 111!IS l'I'IIU' l11U :1 ndtnl':I i l t t ~'i ' , lll ll.'n t l" 1':l1l il' III :II . qUl' l',!,i l :III,' 1111'111\' 11 lo l'I" q lll' (I I;::pirilll sc a pn) ;o<. i111 i1 (1<.'1:\ ( ... ). ,\ int"l'rilH idJllt: dt"It.'S iml l\ ill",I - l·. cm lud." inteiWIH en le evidentc" (OUSSEL , Ellril.jue . 14t12 : o cncohr!!Ill'll tl"' dI' OU!Tll (a Illi~C'm dlllllilt) da I1wt!c-nlid:-e d{') ( 'on li:l't'm:i:\s de I·f:'l nkt"tlrt. ' 11d. hilll t ' A , ct ;t~ ..: 1\ rl'IrÓp(I!i S: V01t'S, 19l! t. P I t-: t \) ). !SS I : I .. Enrique. 01'. dI. , P 14. IH ",~1 1 I lI,iq\h' l )tI (f '. II Irl nt JfI~(: ( "ltI os MORFlRA ()A ~Il V,\ 1"11110 da Europa", ( Logo, Espanha e Portugal, e conseqüentemente a América Latina e sua "descoberta", nào possuem a menor importância na consti. tuição da modernidade; isto, observa Dussel, é verificável tanto em flegel quanto, cOIltclllpornncamente, em I-Jabennas, No entanto. constata o lilósofo é:JrgentitlO, a sociedade civil contradil,'"ia é ,uperada pelo 1:,13do, cm Hegel. graças il constituição de l'(\lúllia'\ que <lh<.::onC'1ll tal contradição_ "A per(feria da Europa serve <ls~i rll de ('.\I)(I~ (1 /n're para que os pobres, rruto do c:1 rilttlis!11o, possam l ' "-'I n ;lr pwprictários lia s colôtlias."(, De re SIO, ZarhrPlli p:lIlilha da mesma pcrcepçi'in de I)II<.;sel com re la<;ij(l a Il cgd: A ;Ilfcrioridadt, Ui.! lIo:; ..; a região marginal (oi s int(,~tizada 1,;0111 clareza por Ilcg cl na \'crsão germânica do ctnoccntrismu co loniali sta quando. na "lia in terprelação da história. deixou de lado, à medida qu(,' :t~c("rHji<.l () {le;\{, !od:l S as culturas con\'er~cnt(,'s ('10 Ilos'>a rr:gii'ill rllaq.!inal Fnri4UC tJus."el chama a atcnçiio para o rato de que. ao contrário do t..' ntendil11cnlo dL' Ilegcl ou Ilabcnnas, tanto a América Latina quanto a E<.::panha tiveram um parei fllndamental na formação da era modema, i\ descoherta de um "No\'o t>.lundo" possibilitou que" Europa, ou mclho'r, () se u "ego", saísse da imaturidade subjeti\'3 da periferia do 1I1lllHlo mUç'ulmano c se desenvolvesse até tomar-se o centro da história c (J ,\('lI hllr do fI/llndo. c<';fado que simhnlic3mente fi.·' i ;Jlingiuo com a I;l'nra dl' Ilcrnan lllftCZ!ln Mc'(ico, Âté O tinal do séc ulo XV. é1 Europa foi scndo paul ntinamcnte j ... olada pelo'> J1ll1 çUllllanos, istn é, as rotas comcrci:1is terrestres que It:\ avam alê as índias. celltro de co mpra c venda de especiarias -cc.; pccialmcflte a pimenta cm grJos _., estav3fll bloqueadas, Constan tinop la, antigo cen tro comercia l europeu e importantíssimo ponto cstlí1lt~gi('O (por l·~t ; 1I ~Iivídido pelo Meditcrrtll1co, tClldo de 11111 lado a I 1( 01'<1 c lh: outro a Â<.::ia), ha via siun tomada por ~ 1 l'hc l1ll't II cm 1453 I..' "'U nomc passou a ser ' ... tambul. As crll7.ada<\, última tentativa de I CI.," ul'c rar \l d om inio sob re ti "camillho da sed~". fracassaram , Restava d .. "n dll-ir urn;1 rpla 11I;llírill ld qne l'o lltOllla~"c a J\l"ric:l l' :lI ingi ssC' as inc ri :l'" h,h: I"(Ji ,, ;:s lt11I.,'o h"'I... ic o ck Portugal, Ic\ 'ado adiullll:, princip<..Il'II··"IL'. I'C'I 11 t.:llriqlll' ,h.' <'~ ;"'rl'<" (' "C US na\'C'gad(,rc'; :\<':S:!II, n naçào IH SSI I . I II llq U<.' 1,1 01 ,:' I' l·II,',.h '1 111"111' d ll 111111 \ '. 1)1 \<"'; j I.! tl l'l!Ul' /)/' I ii . I' ~: I \! ! .\ I{f 1'\)1. I 11 1!\ 'I1I" ICne! I.'III' I/\C" dO I dL!·d,·· .. 'IIIlI' I 'l· , I:d > I r', Ic;>d I·' ·1 1': 1 1~ ·'1 1I1I1" I. 1'( 1/1/\ p. : I c pcrd:c rk I..:pilil1li\111 ·' "1"',.11(1,,1\·1'1\::1,, Ih',di.!", I \',II(' .. ,Il' inventora da caravela. pOUC(l a pouco, foi fincando os seus padrões pt'la costa africana até que Bartolomeu Dias, "m 16 de agosto de 1488, cm plena tempestade, dobrou o cabo da Boa Esperança e, finalmente, concretizou o sonho de Henrique, o navegador. No entanto. foi só a partir da experiência de Cristóvão Colombo que. efetivamentc, <I Europa apoderou-se de uma nova universalidade, lomou-~e o centro dflllHllld o e passou fi impor o seu "ser" ao "outro", A grande c riti ca que Oussel raz com relação ii concepção da Modernidade Ilão está em negar aquilo que ele chama de " nuch..:o libertário" ou "razão emancipatória" , Illas em UCSIll:1SCanlr a existêll\..'in de uma outra face desse processo de modemização. relaciollaJa com (I exercício cm larga escala de uma violência irracional nas colúll ias, lião apenas lisica, mas cultural. que simplesmente nega a identidade do "outro", seja através de uma postura assimilaciollista, seja :1tl'él\'és da sjmple~ exclusão c eliminaç:io , Tudo isto está SiI11DUli 7l!(JO IlP "mito sacrilicn''', isto é, toda a violência derramada na América Latina era, na verdade, um "beneficio" ou, antes, um "~acl'ificio I1ccess:i rio" , E di:lllll' disso. ('oS índios, negros ou mestiços eram duplamente culpados p(\r "screm inferiores" e por recusarem o "modo civilizado de vida" ou a "salvaçi'io", enquanto os europeus eram "inocentes", pois tud" que fizeram foi visando atingir o melhor. Com relação às concepções tidas como pús-modernas, I)u:-:sclnega a sua proposta de irracionalidade fragmentária, embora acate a critica ii razão dominadora. Com relação ao racionalismo universalist:1 , absorve o seu núcleo racional em<lIH.:ip:,HJor, mas nega n seu "mOI11Cnlo irmciullal do mito sacrifical", i\ proposta do lilósofo é identificada com a busca da trallsmOdel'l1idade. condição em que a razão 00 "outro" é ,l firlllada c este pode cfetivamente fazer parte de uma "situação de nlla idl'al" ou de um :1 "com unidade de COllllll1icaçfi.o idcal". 3. O I\IUNL>O DE COLOI\IIJO: O CONQl1IST;\I)O!l FI IIH)I'EU E O GENOclmo COLONIAL A cxpt.?riê-ncia de Colombo {iJi única até então. pois as 1 1:1H'gaç'0l'~ 30 longo da t.:osta africana eram l'OIllO ir dcsc(,brjnd ~l , na \ ~Ilf;.lll(', (~q~ilo qut.! j,~ s~ sabia, A aventura d; 1492 tloio ro~, rr~)~a\l.:IIlICllll\.~ <1 unlca I..~ xpenenclu de contato com () 'Novo MunJo. [XISlelll n.: aIOs aceI ca da!' aventuras do n"f,;illg Erik, (\ \cnnellw que. p or vol l<.l Cl!) ano 987, t l' ri~l acompanhado a costa do Llbrador c hihernac!o 11 :1 rena NO\;t, J:lIldo-lhe o nome dl! I "ilr/úl/ did, cm I'tulf.,'ih.l de lá ler l.'rH·oll l r ~ H..iu vidcir;l s ~1..'1\'<lgt!ns ,la pnm<l\'(' r:\. " .lI h:l da ol,;orrido cm \ i,!nt!c d ;J~ (.'11111;' ''' \. L:\Pl' d i,'~)t'~ t"'1I1'" :'r ;111, tio: 'i,.'t:nl 'j l'dia . " , ." "" ,,>ln ., Josr (""RoLO" f..'1 0REIRA DA SILVA DA " rNVI\!=;ÃO" DA AM~R1CA AOS SISTf:MAS PENAIS OE HOJE: O OISCUR"Cl . FILIIO ex pansão do, gelos pola res. a ilha acabou ficando inabitável. Assim. as , 1 IgCIl . . para (I oL..·.h· tornara11l ·o.;c raras. O Atlfinticn foi esquecido, ( 11111 a \ iaJ~\.'11I d t, ( 'O llllllho, iniciou -se, cm pro porç;tt''i jamais :lk~IJ1t.;í1d;h, o f.:t)I\LIIO L'lIt n ' d(lj " mUlldos completam ente ui('rcntcs. (kf..llTt: que. dt·"tk (l illÍt:in, n ci\ ilização "descobcna" c toua a ~lsa c ultura It'Ia1l1 dC ' Pl l·!:H!a'i. I) que.:: deli lu g<J r a várias figuras , qlll' fvralll dcsc nvol· i d ~ I S P(ll lJllS,l'I :t ill\ l' IH.;àll, :1 dc ~c(lbe rta, a conquistJ l' a coloni7uç;I11. ,\ li guriI da "i!l \~II1: :in" di 7 Il'spcito. principalmcnte, ao pers("l3gcl1l d I..' ( rlstúvãLI ( oloIJlb". :\ illlrol1ância de analisar a at itude uo grande 11 :1\ cgador l·SI:". d~lIt1c unIras rc.llÕC'i, 110 fato de que da roi eXlle1l1JI1IC,~~e !llI ~ lratif..·a. princ ipalnwlltc COn! relaçào aos índios, ua postura e uropeia c lll lJCC ua ,\méri<.:a . Pam o n3vc!!ado r g~novês, seg undo T7.vetan I \,IUO roV, a emprc-sa de e.xpallsfio da fé cristã c ra o seu interesse principal. \s .. illl. ele \ ia a ohtenção de passiveis riquezas mediante as Ilavegações como lima com.li ,';Jp necessúria para íinanciar novas clUzadas" e . além dls~o. \' is IUlllhrava tarnbl!, m a oportunicJade de inslnlir o Grande Cà lilllPl' rador da C hina) no c ris tianis mo, que. segundo relato de Marco I'úlo. cra o desejo do próprio lendário governante chjn~s. Cc rt a l1lcn! c' (l maior e l1Iais importante exemplll do método de interpretaçào de Co lombo e " que Dussel chama de "a invenção do "· I· asiútico do NOI·ol\ lun do" . Colombo morreu em 1505 plenamente n tl1\ icto de qu e h avi; l . 11(1 Vl..: ld~ldc. chegado 30 continen te :lsi:itico, É pUI isso que (IS habil:lnle~ Ui iginais da A IHt!ricn ~ào ati' hoje dWl11ados d . .· ílldil).\. N a herl1lcllf l!tit'a de Coltllnbo. tud o o qu e e le via na te rra IllIn:-;. plalltas, animai s (' íllú ios - era uma constatação de algo já f..'on llccido : a Ásia, que. cmbora n5 0 houvesse sido L'xpJ01:.Jun pelos euro peu s. já havia sido obj cto do conhecimento e dos e stud?s de Marco Pu lo. Pi errc D ' i\ illy e dos franciscanos. O "outro" n:;o fot descobe/10 çn mo "outro" . lIlas C0l110 " si-mesmo". Co lombo aprcsentou do is tipos de reações, que acabaram se cOll1 plelllent:1I1c!o . perant e O~ indígenas. Ora os co nsiderou CO"l]lO, ll •.tmi ....... i , l o l' . 110 pbno d' V llI O lamhém filho s do ,,' hanlu· de DeliS. •. llgt·l illtlllllllla 1)( I .... lt ll il IIttllltl.:nl(l t'm que :I"silllil~I (,: iollisla; (ln! os lulll0U l'U f!)() iI1IC..·riul'cs, :t "" ; , \ ·(1111:1dl..· Ilte" '(J i impo5ta pcltl ~Ít llplc 'i li SO da 11 0 '" 't 1/ 11111 !ll' l ho tlll Ji~lrill de C'o lmnb,. h ;l~ IiIIlIt· ilu..;,rati\'lI ' 1'~1 ' "LI ' " , k d .·/· mhl" d~' I tll)~ d m :mh.·: t 1'11l11l'II:. \ j ,tgl·lll.l'IC (I , .I "l llh,' I I'·\ ~·l.. {" II ,'H ,IL I1 1" q uI..' C" I'I.·"t 1.·llnllltl:U 1'111" l' '1,'1'1 lIt1. tl llid,hk· ''1 l i~ll.· tll~· 1', It ,1 qu I,' " .. !{ I,· I , P "- ltH. ':I n fIIelHI<: lit'lll'''; ,lthl'.l't , p .I1 , lI l·\' tlll'rL't.· mle, .1 \ ,'nq'n ." I 11., I I II ~I ..... . ltll.' I", .·.... OH 'lUt.· m;UlIll.' ... tl.'i ii \p" , ,~ \ h", l ~ I' Ik"t,'!I\ de \ ,' 1 ., .. " " H ~'lil h '. Ik !lI II' '' I \· , HI "\,· .. ;! \·i" .... acf :"!, I... ;'1 ' \1II\!tlI.,1:1 .I .... Il'ltI ~: \km. tI q tl~' le I \ (1., , ;1.,\1 ' 1,','. 1 ' '' 1 11l ~· l\ 1 dl/ ( lHI" 411l' i"h' lhe .. " \.!l.ld .1\ .1. l' qm.' IlH'Sllh) ",,-,\' I " ." , t j~"" •. ~j, . • ·t,1 " • II ,1,· ... ~· ' ·· .. ·I· '()f\ lH{(l\·. 1 /'.\'1 · t· I · " 1' ''/1'''' ' 1' ' / ' / \1..'1 111 l t1t!ll I O\ d ,--. I (· lI l h : n l .. ;"0\" • , .•• ' \ I ., 't'" I ,,' ,., 1 1 227 autoridade e da violência. Essa segunda posição finnoll -se na relação com os Indios no plano humano. Se eles não quisessem dar as ~ lIa s riqueza s ou se "con verterem", o 4ue s~tvirin para "cngralld~l'\.'r a ohra divina", seria Jlcito c necessá rio forçfl· los a isso. ( '0111 tal r:ldol..'Íllio Ikou justificada a aplicação da escrav idão aos índios, o posterior sistcllla ue enc:omicndas, cm q ue um grupo de índios cra "enco rnend:llfo" ao co lono. podendo tr:loalhar gratuitamente cm suas m ina s e campos. Na \c-rúadc , qualque r lima das duas post uras adllla citac..bs estão bascadas 110 desconhecimenlo dos índios COIllO suj c il 0S. como ··out ro". Pretendeu-se impôr ao índio um "outro se r", ou simplesmente desconsiderá-lo . A pr ll pa g~H;ã() da fé c a escraviza ção: du as f~l ces da me sm a moeda, Porél\l, a viage m de Colombo não foi suficiente para cOlllpletar a primeira noção de Modernidade. Foi necessário que Américo Vespúcio, após s uas viagens . houvesse "descoberto" um "Novo Mundo". Este mundo 1IOVO era a América do Sul. Se a segunda figura enunciadn por Dussel foi a "descoherla" da América enquanto " descoberta" do "outro" (Portugal tomou a dianteira neste processo). a proposição nuclear imediata passou a ser rcr,e,cntad" pela "conquista". O primeiro "conquistador" foi Hernán Cortez. e sua atuaçiio perante os astccas suficientem ente dem o nstrativa de urna época que marcou <l emergência do "homem moderno, ativo, prático. que impõe ~ua jmt;ridualiJtJde violenta a outras pessoas, ao Outro".oJ Cabe aqui fllzer Ullli.l diferenciaçào entre a ocupação dos territórios pO\'oados por comunidades indígenas urbanas c por comunidades de cunh o el11inentemcnte lIgrário e extrati vista: nestas, situadas na região do Caribe. de Santo Domingo a Cub:t. e também no Brasil, houve muito mais m a tan ça e oc upnção desordenada do que um domínio sis temático. Cortez, ao contrário de seus prcdecessores. preocupou-se em compreender os índios. mesmo que fosse só para dominá-los. Nào visou apenas :is riquel.as imediatamente palpáveis. Possuía Ulna c(lnsl'iêllria polhit:a (' hi s túrka de ~ClIS aios. Sua exrH~tli<:iiu. que dal :1 ,k' I~I" . começuu cm busca de informação c lião de ouro, lJlIscalldo 11111 illl ":' rpl'cte. surgiu a folcl 6 rica personagem '"ln M:tlinche" , índia aslcca que, ao adotar oS va lo res esp:'IT1h6is. conseguiu tradu z ir os de sun :-;odcúadc r~lrtl C<.'rtc7 c. alé-m di sso, tOnlOIl-se SlIC.I amante. Ohviamente li " f\.I"lillche" tr:ms lillIl IOI! -SC l'l1I fig ura Silllhúlk:1 do "t'lllrcgllisl1lt''':IO pl\d": l ú'III I ;11. (" aças :i g:lIna de infi.'nnaçôcs adquilidas r dl' conqui";I :!df..11 e:,p:tnllOl. 1i,li-lhe possível a provei tar- se.:' tanto da s dissic..lêncb s II1tern:.Js. vaklHhl 'St' ( I is~o para COI1"l'gllir :,Ii:ldos, ":f\mo da n:ligitlsilblk ;1'Il'r:l . 1( !J 'f ll' I ) \·. ! /\(' LIIl (~/' 1/. " .~ t 4 Il)"-' (\I ~rl!"- \l{) f(l lnAD ASILV'\ rllll o I: sabida e c itada em muitos estudos sobre o tema a identificação de Cortez com a entidade divina de Quetzalcóatl. O comandante espanhol teve lima preocupação constante com a interpretação que os índios f~lrialll de seus gestos. Ass im . num primeiro momento, proibiu seus :-oldauos de roub;jr~m destllcllsuradamente, sem autorização, pois isto poderia gerar 11 111 cntl'lIdiIllCI1(() ilH.Jesejndo por parte do~ ilH.fios. Cortel qUl'ria que (,"l \'isSCIl1 Cültl0 benc \'olcnte, Contudo, (l e ,~cm rl(l mais illl~lrati\ n de- sua preocup:lção co m as aparências foi n "show de sons c 11I71: S" d(l q \l a l ~c utilizou p ~lra con fundir o s rlstee<1 ~, di s Htn.,':JIIlIIJ aios hl!lnall0, c m ,l tOS 'ioh rcl1 atur,li s, (' rrocedi ll ll:llto tiL- ('!JI1i.!"Z traz Maquiavel. Todol'Ov rdcmbra a 1:11110,"'41 frase J o l1orellt illo: "NJo é preciso que um príncipe te nha todas ,1:-> tjll;l li d;ldcs ,) \Ipra ~ ilad;} s . Illa, l' preci<;o que parc\:a tê-Ias", " I Observa-se. ;Iq ui , para utilizar \Vcbcr. lima clara pa~sa g(" m da ética da convicção !"lIa a L~Iit'a da rc -: pul1sahilidat!c , transmodernidade , proposta por Dussel, em que a periferia seria reconhecida em sua especificidade e não "encoberta" como "outro". deveria corresponder a uma situação de igualdade de "poderes", ou iguald"de de "condições comunicat ivas". Questiona ainda Todorov : mas por que toma r leva a destruir? No rvtéxico, ás vésperas da conquista, a população era de apro:'<.illlCJJu mentc 25 milhões; em 1600, de apenas um milhão. "Nenhum dos tznndes massacres do século XX pode comparar-se a est3 hecatombe ," ""J aI resultado foi obtido principn(mente mediante três estratégias ação, O primeiro tipo de açoo dos espanhóis direcionado à destrlliçiio loi o assassinato üireto mediante guerras e massacres, F. n quC' se r ode captar da Ilarração de Las Casas: ue h17ial1l apostas sohn: quem, th: UIIl só golpe de csraJ;1. II.:luh..'l'ia L' abriria um homem rel.1 metade. ali quem, mais habilment e c mai s de stramcnte, dc um só golpe Ihc cortaria a caneça. ou ainda :"ohrt' qU!!111 abriria melhor as cntranhac; ue um homem de um só golpe, Arranca\'am os filhos dos seios da mãe e lhes esfregavam a cabeça cont ra os rochedos enquanto que outros os lançavam à água dos córreg()\ riudo c caçoando, e quando est,wam na água grilavam: 1I100'e-te, COf ]1O de fa!: '.' Outros. m:1is furiosos, passavam l1lã~ s e filhos a fi o de espada ,! " De flHH.l.O geral. 110 IIHmt!n de Maquiavel c de Corte?, o disc urso não ê de te rminauo pel o obje to que descreve, nem pcla conformidade a uma trauiçã o, fila s é construido unicamente em função do objetivo qtle se proCur;1 atin gi!. rr Seguindo o raciocí nio de TmJorov. fonnula-se uma pergunta básica: por que a compreensão sl!perior dos espanhói~ diante dos astecas não oS i1l1pediu, até os ajm..loll. :.l lkstruir a civilização asleca? Poder-se-ia pC' llsar que O!:\ csrallhúis cOllsideraram os índios c sun cultura como indigllos Jc viver. Talllão ocorreu. muito pelo contr{lrio: depreende-se do...; ('''crito" deixad~ )s por ;rt!w,:lcs espanhó is que ck's admiravam cm Illuitos <l"i pectos tal ci\·ili 7.<lç'Jo, U t: onquistacJor apolll<ivu os modos re linado5 dos astecas : "Curtcz fica cm êxtase diante das produções a~ll'c a ~ _ ma s não rCC<'IIIhL'cc seus autores como individualidades humanas equiparávei s a CIC,"I ~ /\ admir<1ção que daí decorreu, ao invé~ de dimi nuir a distância , aumentou-a , C urioso observar que a arte indígena não e'\erce u ncnhum<t inOuência sobre a arte européia do sécu lo XVI. O s espanhúis falaram att: hcm do,r índios, mas nflo falaram ao.\' índios. não re co nhecenJo . por1anlo. a sua condição de sujeitos, a sua :dteridaue. Assim , "se a com preensão não for acompanhada de um rL'c{\llhl'cimcnto pl e no th.\ olllro como sujeito, então essa co mpree ns ão L' fll rl' o ri st:o de ser u ti li zada t:(\ tl1 vislas~, cy,plo ração. 3t' lu mar, o saber ':1 -':1!ho rdillath ) ao pCH!cr" 'c Pode r-se- ia dizGr qUt' ,\ per~ r(' ç riva de '-j;r;;~~;;v, I,,,,,,,,, , ,.." I'"'''' ,ii,' 1llll,', I' 11' I H )OROV, 1/ \ t'Llll ( II' " I P 11 J 1' ~ ldn 1\l:nlll1" I (qltt".;, l(ll)()]H)\', ! /\l't;ul (I!, 111.]1 1,?5 l' q II H'I) \ ! , ,' 1, ,' I ,II ,I . ;1 I Outro relato de Las Caslls di z respeito ao massacre de Caolluo. C'm Cuba. realizado pela tropa de p.infilu Narv(lez. da qlwl era ( apclilo: I~ preciso !'abcr que os cspanhúis, no dia cm que ali chegaram , pa rara lll tk manhã, para O dcsj cj ulIl. !lO I ~ito seco dc um ,·i .!cho que. c,llrL'!,lIlll), ainda co nscrvava algumas pocinhas d' ,igun. e que c.'·;t;]\'a \ ;.' p il'!P dt' pedras de 3molar: O que lhes t.h.'1I ti idé ia dc ufi:lr as c:-.paLl":, , Chegnudo à aldeia astet.,'Ü, os espanhói s resoh'em!11 verifk:lr lidade do atiamento: <l qU;)- Um c!itpanhoL suhitamente, descmbainha a espada (que parec ia ter siJo tomad:.\ peJo diaho l, c imcdiat ilrnetHC os outros cem fa zem o mesmo, e começam a estripar, rasgar e massacrar aquclas ovt:lhas c aqueles cordeiros, homens c mulhen::s, crianças e \clhos, que estava ll1 sentados, tranqUilalTlcnte. olhando espantad(1s para 0" canIlos c para os espanhói s, Num segundo. 1130 restam !itohre\'i\l'll tcs dt: tudos os que ali se cncontraV:JIIl, Entrando então na C:H:t grande. que ficaVill.lO lado. rois isso acontecia dhwte da port:l , ("IS {':"panhl.j, u 101)( IRO\', T/,n~I:IIl , t( Op. L'U .. p, 121.), LA S {'ASAS, Uarhllumé de . OI'I'\'i.\'"IIII" I'e/(/, 'clo da deslnliçao dll~ !m/lm', (I r:u';li <,t) des lrui do : a sangrelll!! lIisl 6r;a <ln C(IIlC\u;stn da América l'.;;p:lf\h~'b II:ld, l k ,:.],f .. ]l;l r!- U\ ~ ('~ I PP1!\1 '\I\'r!~" 1 ,t; 1'1\1,11)(11, r ~~ s 11)'1 I \HI!)<..: "OIU IRA 0,\ SI( \'A ' " HI 1 começaram do mC!'mo jeito a malar a torro e a direito todos os que LIli se encontravllm, lanto que o sangue corria: de toda parte, como 16 <;(' 1;\ (',,''C 111 matado UIII rebanho de vacas. l '1Ila scgunu:J t'slr~lté-gj~ de extermínio foi a escravidão. Assim, alem da IIwt:!l1ça dilcta. O" ílldios tombaram também. c em muito maior 1I11111\,'rl\. "oh;t l'''l.'la\ id:l\ l a que ft)r~m subml'tidos : ,\ S Illulherl· ... j k ín ~1Il1 11(1, granjas executando Ir ~ba lh os hastnnte penosos, LL/l'IHlo llIonles de terra para fabricar o pão QUl' se come; Irabalh o e ..,s~ 4ne COfl"ISll' ertl rc\'olver. levi.ll1tar c anwlll oar a lerra a té qU ~Ilro p;lIl11o . . de altura c U07.1!' rés de quad rad(\; par.:- cC' r13da, 111:1 .... (· 11111 jrahalho c!t: gig:HHc:,.' r(:\iolvc r a Inra dura. lIãn l'olll picareta ... 1I1.'1I1 (tllIl l'lIxada'" In . l S l'Il1l1 p.tu!' ( ... ). De 1l1:Jlh:ira que /II :IriJO l' lIlu lht'r nJo se \ la/ll p~lll t's paço de oito me ses Oll de z ou lil.: um a!lO, l' quando ,ln CJh" ues sl' tempo vinham enclwtmr·sc esta\ am tão cx tt:llu; ,llp,\ c tão fi'anls (h.' fUlllC e de trab:.lIhos, que Ilão tinham de'H:ju ue coahitar: c CO I1l isto a geração ccssava entre l'ics , E :IS t:I ia nçac;; engendrauas lJIorriam porque a!' mães liã o I inhalll lei, \!, pariJ nutri -Ia .. , cm virtl/ue tios lrab"lhos e tia fome que padeçialll ( ... ). O trah:llhll qne lhes aliralll sobre os ombros é cxlrnir ouro; trabalho l'S",l:' para u qllal serialll I1cccss:\rios homens de ferro: poi s t! preciso pl'ffllr:J1' as Illüllt:lllha", ue haixo para ('ima mil vezes, revül\'endo e furando 0'\ rochedos. lavando e limpando o ouro nos I iac hos, onde fic:J1ll co nstanll:1I1l'ntl' na ;·l gua. de tbdas as Inanciras consumindo e <.!14uebr:J nd o () Cl\rpo . E quandn as próprias minas começaram a razcl' ágUíl. cllliin. alClI1 tk Indo~ O~ outros Irahnlh\ls. é preciso tirar ;'lgU:l a br ,IÇO . I' Ioda e Ss a 1'01 11111. J tercei!'3 mnu:diuadc dr ação. menos c(lllscic:ntl', ohviaera a transllIi ssfio de doenças, que exterminou uma quantidade il1co lneIlSllr~\ 'e l de il\di()~. O s cspa nhúis não possuíam a consciência da po:-;sibilidadc de IIllla gu{!rra bacteriológica. mas examinando suas ;1l; (~'C'; fifi" fica dificil ir" :,,... in ;lf que , caso ta l c()n~l'iêll ( i:1 hOIl\'C'ssc . ela I!ll~n te. '.'" ja <:c rta111clltc u s aua . Um dos motivos des"ia atitude por parte dos espanhóis. é claro, foi o th:",cio de l·l1riqllcl..:l'f . 'I ai tlt·sl.·jo Ilada tCIIl de novo. CXCc.:lo O fato de que It)(!IJS (JS outlPS \alo"l' ''; a dc se subordinam, COIlW (lbsl"'V:I Todoro\': ,, ' "',",a hOlllogl.'lIcií':tç:io dos \';l1ol"co; pelo dinheiro ~, UIll falp novo. c :lI l1l1\ci:1 :1 m entalidade mndcl1l:1. igualitarista c econolllicisla,"1 1i Contudo, ,dI!IO\ ILIP d i\ j·...:I'I"·III ·; ' tlll1l~tj\ II p :lI:I a :rli!udc t"P:llltu11;, ' lIH)(IHO\. l /'otllll (1/ r'/ I ' 1 \I! II" 1,\:-; ' I\S \". !I.II; \lhr!l!l· I!.- ; '" ,. /. i ' !, ! (' I Ir, !ll!lI!1 ' f)\ 1 /\ IUI t', I!\: " I~ ttrilo ' como se os espanhóis encontrassem um prazer intrínseco na crueldadc. no fato de exercer poder sobre os outros, na dcmonstraç:1t1 l.k sua capacidade de dar a morte. "19 Segundo o autor de A Conquista da América: a questão do aI/Iro. na verdade. há que se falar em sociedades de sacrif1cio e sociedades de massacre. No caso dos astecas, o sacrific io foi um assassinato religioso. feito em nome da ideologia oficial. :i J is ta e conhecimento de todos, o que cvidcl1Cit\ll a fon;:1 do laço social sohrc O individu0, O massacre. no entanto. foi justamente a explicit3çfio fragilidade dos laços sociais: o de s uso de leis morai~ , ReprC ~clltol1 lima atitude tomada em um lugar distante de leis, de regras, enfi lll o d:1 estrutura soc ial representada pela Illctrórl.lle. 1\ colônia tOIlHlll - SC n lugar d o "t lldo é rl.'rtllitidn". ua Quanto mais longínqu os ( O c s lrangeiros forem os mas sacra do s, melhor: são I,;xtermillados sem remorsos. mais ou meno s u',similados aos animais. A idcllliJade individual do ma ssan:.ldo é. por definição, não pertincnlc (se não, seria um assassinato): nào hã nem tempo ncm curiosidadi! de saber quem se e~t:í ll1atand,' nCSSl' lIlomcnto. 1H Se o assassinato religioso foi um sacrifício, O massac re foi um assassinato ateu, inventado ou reinventa.do pelo!' espanhóis. As li.lguciras da inquisição parecem-se mais COIl1 os sacrificios, Certamenle. os massacres são lima marca registraua da modernidade: "A barbárie dos espnnhúis nada tem de atávico, ou de animal, é hel11 humana c anuncia a chegada dos tempos modcrnos . " ~ 1 Por li m. a quarta figura listada por Dusscl é H da '·colonizaçàu", Simholi 7t1 o começo da domt'~licação, O entender o outro como Si-I!lCSIllO já não é pura e simplesmente lIllla prática guerreira, Illas Sillllll11:1o; prih.is erótica. pedagógica, cultural , politica. econômic3, quer dizer. do domillio dos corpo' pelo mac hismo sexua l. da cultura. de tipo, de trnba lhos. de instituições criadas por uma nova burocracia política " .l.! Assim. "0 mundo da vida cotidiana (Lebe".\'\n~/,) cOllquisladora-(~uropéia cnlntli/:lI:í 1\ mundo da vida do Indio. da índj't. da I\rn(°ric,,".:'.1 TOI>()ROV . T7\'clan. O/to dI .. p, U\I O". dr , p. 140. II TODORO V , TZ.ve lal!. Op. df,. p. 140, ~2 DUSSEL. Enrique /49}: (I encclh rimcnln tio nutro ( :1 <'fi!! clll \!t\ mi({I d:l 1II0tkll1 itlôtJe). (·nnlhênl'ia ... dl' r' :lIIkfm1. '1'1:111 JaillH.' \ . (' 1:1",,'11 l\IIPI't. Ji!'VIl/l·';. 19<)1, p, 50 "M:l,( W l.'hcr n:in ;ln:\~in : 1 <llIt' IH' ArdH\t) ·k l "d l,l =' \k ~~\ dha ~.I~ ('IH;unlr:lIll 60 luill11aço:, Im:11:'> de fiO milllõl' " de pal'~~ ;~l d" ' !>urlll ra· ci.\· l''' panhola rC'rl.!fl·nles:i ,\t1Il'ri C:l I :Itm:l do Sl-l'Uhl X VI a~l XI.\: . ,\ J "I' ,nl1:1 (,,; (I pri 'lll'll1' ESI<t<ln l1Iad('flw I)lIn1(: I :lI ;/;hl,," U),.. dI .. P "t,). " p ps'~r I I'nriqlll' 0/ ,_ ";/, I' "i I 10 ~o TODOROV. Tz\'ctall. -6 DA "INVA Si\O" DA AM(;RlCA AOS SISTE~1AS rF Nr\lS DE HOJF' O DIS( 'llU';;(\ J()I.\I ( MH ()<:; MOREIRA DA SILVA FILHO J)o conquistoõor depreende-se um "ego fálico"." Colonizou-se a ",,;:x lJalid::tdc indígena . Estipulou-se a dupla moral machista: dominação . . f..·xll al da illJia t.: rc.: ... peito pUlamcntc aparente pela mulher européia. I )ai 1l:l "; Cl'U o hastardo tllc ..;l i(.;ll. latino-americano, filho do conquistador \.111\1 <l índ ia l' ° criou lo (I hrall('ü nasc ido no mundo colotlial. A l'H llIlli/:I(;:in do corpo da IIll1lhcr indígena também J3Z parte de lima ~ UII(II; 1 da dOl1lin :II.;;i o do co rpo do homem indio. quc foi e xp lorado 1'llIlc ipa IIl H.:nt(".· 11(\ trabal ho (1II ão -de-ohra gra tuita ou bara! :I ). ao quc se 1 lI' til l !. Ilc<.,;sa !l H':'-illa situ:lI,;:io. a ligura do negro nfricallo . \)~ I1lôllll.' il:l a ~h)fllillar 11It:dlllCtlte o índi o. falavn -sc: ue amor cristão ~', q 11l f..· io Ú \' iult' !lt.:ijj inacjollal. Surgiu um desdobramento da quarta li~l lla tk DlI ~scl. por ele c(lllsiderada. cm função de sua illlrortiinria c " ill!!ul~1I idadf..·, UII I .! t 1llt! ;J ligllla : :1 "conquista espiritual". Ikplli . . de dI ~lll"" no (1 1..'-.;pJÇO (como geografia) (;0I1L/!úsr, ulo\' o s u 1rp"<.,;. dirial tlur:l ~lll (t'nmo geopolítica). era nec essá ri o ag(,lra Clln Ir(ll ;, .. ~l i1l1 :lgill:'ui n a palt ir de uma \lUVa c Olllpn:l'lIsfio rt'lil:~io sa do lll\lIHlp .. 1:1 \ id:l. I k s-: (,. ' modo, o circulo podia se ICt'har c o íl1dio t' i icar n\ll1plt:t:II11 t: \ltl' ;nl't"lrporado ao noVo sistema cstahcl~cido : a ~ 1':1{h' r"id:Hlc IllCI'(ant i I capi tali sta nascente _. !'clld c\ tnd:\\ ia SU<I mllm !rU·{·. a f:lCL' ...·\ pI OI: HI<L do:ninadn. encobcrta .'( N:I \ f..·rdad...:. todo u p r()n,· ';~.{) da conquista teve duas face s da m~"ma mercantili slllo c 1..'\ angdização. ":111 nome ue uma \ ítil11,I inocente, Jesus Cristo. os índios foram \ it i l1lados . Seu~ dcu ses ~lIbstitll ídos por Ulll deus estrangeiro, c uma I :I C i t )I ta I i uaue a li en ígl..'na Ç~)/l fer i li legitimidadc a uma dom i naçiio i njusta l: \ io!cnta . Assim ClIlIlO Jesus. os índio~ foram vitimas, Ill:lS no caso do !!Ialldf..· r;lb ino c seus "(,'gl1idnn..~s ficou "provada" e accit3 sua inocência: ;: cu lpa e ra dos romanos. Jú no caso dos índios. por " se cl1f..·ontrarcm" CIP 11111 c!' túgio de " il1l;lltlridadc cu lpada" /fI fo ram. em parie. "c ulpados" !lHll: d;J : I A t.'''''\.' rt.'!' r ci 1(1 \ '1.'1' LIli :\lE!11l 1':\1J!(l' I 'aulin:l:-. 19~-I. \ II IJ\:SS I' L. Fnr iquc /.Ir<, : 1I1<1lk, l1id,'l k, j 'OIl h'l l 111 P (. '( t"IiI1"o~ de ""(,,.,'lI pirJ f,IIIIIfHlt!/I'I'/I'// n a cl lcohrirncnlO tio tlutw la LI'· ,k 1I.IIIk hlll 'Ind bi llll' ,\ S:1(1 do mil(l da ( ·b .. t,· !I l'l'Il úp(, l b: (1 I irl'!ll \ "/\-". r r/" \.,' ';'/110 \ 1"'.\ ' r-:'PCII" t',~LIIl'U' !) lh..:1 ·I'.u ;\ ";\11! :1 ·!III:tlulid . hk "II ·IlI IHlllid.!<k· t! Illr' III. \ 1'11'('111\1 L "\ . 1' I,. ln" 1!lue ll l 1,,·,11,·, 11ç .. 1.• I 'l'~ i ",h, l·'.1'l· m:i:t1 .. , ·.II,! I I" " ',' 111 ...•... 111:. tI.1 Ilt llllllll rl.t d~· . k 11H! l'.. lat!u til' ulp,I'.d I , \ I'h ':Utl'; :\ t.." (,'ll\,udi, ... ,io :(~ 1..IU-,I~ Pl·la .. qll;\ '" t.'.r:mdc l' 'I. d.' hlll!Ullld (,I...- 1'\.'1'11111.'\ fl'a ... t.:u .... al\1l.!IlI\.· IIL'''''(' \.'''I.It!" ,k i rll.tllllida tk :" FIll . ~'IIj;! I ljn.... ll"H 1 11"l l d,:', ,'111", t;Ul't ;I K:Inl \.· .. !.1 p l· !'glllll.1 lHlI .l1nl·:lIII I 11.1 \fll!.:.1 1"1 \ "il)(' l· ..... I:1 \" 1)" .. I . ud" .. 1 ':1' I,,~ 1111 "'cl'(dl' .\ \ III. 11111 IIIdi!~"ll;1 ri') \ k ',k\, lll! urH Irh ,1t~I' Lil 'II!' .IHIITIl'.III<' (1\ ". 'h. lk\ 1,,'111 "l'r n ,tI .. i\kradll'" II<> .,' \.' .I.I.!\\ d ~' Illl:1IUrid a, I ".11'1·. l' \ ",.1;'11'(0' ... 1011)<111'(,'01" d" ti !,hp!" .11",·1'111'" I'·, "~I , ~· .p"' II I .r:1 ,111 ... . 1111 iJlJ·.I!,!\·,i', III! tH'lld I,k \ "I '( I , . ,., ' 1 I 1 2JJ pelo seu estado "bárbaro" e "pré-humano'·, c os europeus inocentes de qualquer violência que se lhes queira imputar. pois era seu Hde\'cr" civiliznr estes "pagãos", Quando Cortez se deu conta de sua desvantagem numérica perante os indios. percebeu qut: a força guerreira dos seus homens nào poderia mais se apoiar no desejo de nobreza ou de riqueza, Era preci so UI11 princípio ético absoluto, diante do qual oferecer a vida seria um ato com alto teor de significação e impoI1:lncia. E "absoluto" é a paln vra certa para designar a visão catól ica de mund o, principalmcnte na época da Contra-Refom"l. Como assi nala Leonardo Boff, a lógica do cristianismo, no momento cm que insiste na posse da verdade absoluta. abre um enorml" flanco para a cxi"tfncia e :l rróticn da intolcr5nl'Ía . Fa c~ J. verdade absoluta, não cabem dúvidas e indagações da raZà{l ou do coração. Tudo já est:l respondido pela in!'tância suprema C' di\·in<l. Qualquer cxpcriêncü:, ou dado que enlle em atrito C(llll as \L'rdades n'veladas só pode significar UIII equívoco ou um erro. /\ Igrt:,ia d\.! t0tJ1 o monopólio dos meios que abrern o !.:3l1linho para a eternidade.: ( .. ). Por isso. nessa visão, o rOftador da verdade é intoleranle. I)C\'C s..: r intolerante e não tcm oulra opção. Caso contrârio a \ erdauc nào é ilbsoluta . Sú os qUI:! lião possuem a \'erdade podem ser lokrantes. Consentir a dúvida . Permitir a busca . Accit3r ;:l verdade (k 011!roS cam inhos espirituais. O fiel. este é conde nado à intolerância 11 o melhor exemplo dessa lógica absolutista a qual roi referida era o RequerillliellfO, texto elaborado pelo jurista real Palacio Rubis_ el1l 1514. Tal dOCUllll?llto, rezavam as disposições, deveria ser lido à toda comunidade indígena prestes a ser invadida. Primeiramente. ele come";.'3va dizendo que Jesus Cristo é (,) "~:!nl!or supremo" ou "chefe da lillhagem humana". Estabelecido esse ponto de partida, as coisas se encade iam naturallllente: Jesus transmitiu seu poder a São Pedro. que por sua \'ez o transmitiu ao primeiro Papa, e, assim por diante, o poder dos sucessi\'os Papas estava justificado. Ora. como o último Papa conferiu o cOlllinente amerÍt:allO nos espanhóis e parte nos portugueses. estava. (101131110. juri di ·· camclltl' jU...;liticada a posscss:io do rei da t.spanha sobre aquda s 1L"11,1". Aos índios era dada uma (lporlullidatk : caso acataSSl'lll dt.: bOI1l ~r:ldl' a uomin<lt,;iio. os espanhóis lIào lf..'ri'l1l1 o dirdtll de trallsli.'nl\;i- In..; CII1 escmnlS. (·Pllt udo. c:\so sr rl+d~IS"CI1l. "criaJll s('\·cramcnh.' pUllido..: P BOI F. 1. ....\ 'IH'! rdl..l. Inq\lisil.:iil1: Ull1 e"pirill' quI.! ": l 'ntinll,l a e x istir. I' n:I:It' i" I" . E Y t\lI .R le H. Ni(,,{)t:lu. ,\.f/lI/lI,1/ d~H il/<IU i.l'i,I"n'.\. ('p l!ll.!l\l<'1 rios dI,': Fntn..:i'.C(1 I'cib, Tr:Il!. ",1'11; '\ J(lsé lopes d;l Sih' ... 2 . C'c! I{ jn d tO b nC;f\I ' Ril": :1 dt'" ! \'I'lI)I"' : 111 ! .iI ., I '"I\ b ~'<i\, I '1I;\l·,,,id.,.I!· Ih- j1':I·iP.l 1,,'Q I' ln ! I JOSf: CAIO (I"; DA " rN VASÃO" DA AM t:RfCA AOS SISTEMAS I'[NAIS DE fIOJF. O DISCllRS(), MO REIRA DA SILVA nUlO A religião e os costumes indígenas eram vistos como algo demoníaco. Com rclaç-ão a eles. porl..:1.nto, adotava-se o método tábula rasa "SSt'a la Dussel. Isto é , como a religião européia era a única (no caso ~ cat: lica). o que se deveria fazer era pura e simplesmente negar a religião II,dl ena e tudo que a lemb rasse. O dominicano Diego Durán queria até \ igiar os sOllhos dos índios submetidos à sua orientação: "Devem ser illterrpgados 110 cunlessioJlúrio acerca do que sonham: em tudu isso pode h~\cr rcminiscências da<; antigas tradições,,'2~ Assim, quando se falava l' lll conhcccr a religiuo dos índios e ra só para poder melhor c\'itar que os l'oll\'crtidos" fosselll "contalllinauos·'. Esse propósito acabou resulta ndo CIll 11m clCito p e rverso. Ao procurarem se inteirar da visão religiosa uos hab itantes do Novo f\lunuo, figuras como O dominicano Diego Durán c o francisca no Bernardino de Sahagúl1 acabaram por realizar um trabalho ;Intropológico ue cOllsidcrúvcl envergadura. impr.cscinuível para o l'O llhecimcnto aluai daquela s culturas arrasadas, respectivamente: Jlis(on'a de las !rulias dI.! Nuel'a Espana e Isln."i de la tit!rra firme c I li "'oria gen eral de los ( '(JSIH c/t' Sueva Espana . Ubviamcnte, por se Irat:J/'clll de universos culturais ~bsolutamente di\'crsos, a cmpresa de tran smitir ao catecismo uma aparência de rac ionalidade era, no minilllO) extremamente complexa e exigiria uma :-:é rie de pré·di scussücs, para começar. sobre a própria natureza da divindade. que para os europeus era una c para os ameríndios, dual. l 'o l l: Ill , rl~O se podendo ;!rglllHcl1tar ii nltura,29 pa rtin-se para a violência lOOOf{OV. Tl\ c!iJll . .1 ' I ('I1I/1../'lÍllfl .III AnICti{'CI : a quc<; l:h) do pulro, ~ . dWlllili, JCSI!" t list n. 'tI d e qut.' nã u C t)Ic~OIl !õcus (ll'l'adtls naquele primeiro 110)11(,,'111, ma ... (IUt' lui II I1.rll' 1\" ,!U:H10 dai:-: I) nmlle de papa . () <.. J lli lllU é Car l n~ a qU{·U). ~l'In Ic\ar '''_ u ullll '" ~'IU 1..(11I1a, t:hamais pltder osis"il1lo C' monarca do c <; uprCIlI(I dl.' ' 1ldl ' o; r-.la .~,"'c '1I1I1It!11. que II(·CC ...... itl:HIo..· linl! ;1 ti" qll{' /' ,11:1 me j" 7l'l Sl'nl".r l' 11.1" (I I.'Sle C:lrlos é pdm'ire c s.: nh(1r lk lodo o I'Jpa lhe fi7csse no va, ('O IKC'''sn" e dl\:lç;lo g ut"r;I l' lI ~ '1rl'~1I L' ... ll· ~ I L' ino.s? f. !\l' \I linh:" l~l,l,!o. (I Tornou-se um hábito ver em Vitória um defensor dos índios: mas, se interrogarmos O impacto de seu discurso, em vez das inl ~ nções do sujejto, fica claro que seu papel é outro: com o pretexto de um direito interuacional fundado na reciprocidade. fornece. na verdade, ullla hase legal para as gue rrél s de colollizaç50 ..11 4. O DEBATE DE VALLADOLID: BARTOLOMÉ DE LAS CASAS E A QUESTÃO DA IGUALDADE DOS INDlOS Importa priorizar um pouco mais essa famosa d isputa de Valladolid, ocorrida em duas sessões: uma em agosto e setembro de 1550, e olltra em maio de 1551. A congregação que iria avaliar o debate era compo,ta de 14 juizes, entre teólogos, juristas e letrados. Esse memorável embate verbal versou sobre o verdadei ro motivo da conduta implacável dos espanhóis nas Indias: a inferioridade indígena. Tanto O desejo de enriquecer quanto a pulsão de domínio foram razões para a atitude espanhola. Porém, f:l7,-se nccessú rio um terceiro elemento . Uma 1'''p3 é Inais l' k~ . ',' tl 1. . i ... pl ,tk·" .... {] L' príIlL·jpl' de tod\1 I) /Iluml,,'" '! :u nbém lU€' ;,, ),1111" ql'~' d 'l~ ,1 i ... qnl' (· ... ,,'u "!, - !I·:td.] " pa!:!iu ! ~ i hu h l a { ', 'rlo'; v \Iii" aoo;, uutro,. IH ll q W': 11:'10 dai ... o('lllullln I.I / .p , 1', It .1 <l tfillu !!l. 1I~' !11 cu tll l' .11.:11" "h, ie"d'J ;1 d:i-h. d~ 1I1:L1Il.'11;t lIl'lIhlllU: 1 1',,'q l1~' "~o P"f d .. vi ll ' 11 , It 1\ ('!'''l' dL' .I,!! IIIhw'\, l' -:l't\ií.,'{). J!:l\ú't"lIll' 4tll.: ~,: de\ I:ri;l d :lI' '''Il,{,'k 1}I,.'\l~ c ;jqu c k hlllllcm lJuc fi.; I'a l dl' !i.ld"~J S t " , ·r" ~·'1";' \. ;"'(jul'k " ':--11'" (,,, ,. , 'I'! ' 1I't11~': , :1111""11 '\\ 11 <;(" h !li.'~ ,,,h ,,,. !illilhllCI\I C "l' I , ' irracional ou "guerras justas", Houve, portanto. muito mais uma dominação da religião do conquistador sobre o dominado do que uma passagem a um momento superior de consciência religiosa. "No melhor dos casos os índios eram considerados rudes. crianças, imaturos que necessitavam de paciência evangelizadora."JO O senso comum europeu era o critério básico de racionalidade ou humanidade. ao passo que o dos astecas, incas e maias estava cm um grau inferior pelo Jhto de não terem o conhecimento da escrita e dos filósofos I foi-lhes, desde p inicio. negado o reconhecimento de suas tradições orais e escritas, bem como a sua filosofia). estado que só superava o dos índios de ('tdfUrns não urbanas - estes seriam nada ma is que animais selvagens. O argumento de "guerras justas" surgiu de forma célebre no parecer de Francisco de Vitória, teólogo, jurista e professor da Universidade de Salamanca, quando da disputa de Valladolid. em 1550. entre I3m·tnloll1é de Las Casas e Juan Gines de Sepúlveda. Assim, embora desconsiderasse a argumentação de Sepúlveda a favor da infcrioridade dos índios, que se baseava em Aristóteles, considerou lícita a intervenção bélica em nome da proteção dos inocentes diante da tirania de chefes ou leis indigenas que legitimassem o sacrificio humano. ("d. São Paulo ' Martin s FOl1tcs, 1993, p. ~o2 . I}u ~sd no<; Ital. :l baila ii argullll' lIlaçào de Alahualpa. chefe dos incas, penUlle a (,,''(po<;ição do I'ad le Va lve rde, capelão da expedição de Pi7arro. "obre a "e!lõséncia dll cri~lialli<;f1l1l'" "Alé m di ~ h l lHe dis",' ,,'O!iSU fal.1nte quC' lHe P llIJllllldes cinco variks ass inaladtl" qm' devo conhece r. U primeiro é o Deu". Três c Um. que são quatro a quem chamais Criador do Universo, porvenluTa é o mesmo que nós cha mamos Pachacmnac c Viracocha? O segundo e o que diz que é Pai de todos os outros homens . cm quem !I ,dos eles amontoaram seus pceadl's . Ao terceiro 1I1II\.CI"0 2.15 ,. ' 1' , I I . I, I' !! " '~h '" 'I t" ., ' . ' 1" ''; .1 ,, \ ,. dar ri ('al'lll!' que nunca foi SC'llh llf dcsla!\ rt'[~ iõc s nem o lenh(1 vi:<:tn" tUL 'SS EL. Enrrqllc . ! ·IV!; o cncllbrinwJl!ll do (Illlr(l (;\ (lrigC'm do mil() d ... 1 11l1d~rnid ;\lk l Conlcrêl ll'ia:-. de Frnnk furto rI :,,!. J:lillll.' /\. t · la~L· 11. P"lfÚPl)!i~: \ ' f)7~'S, r ') '1.' I 10 DUSSEL. F.lllique . 0t>. di ., p. 63. II TOOPl{OV. T7ve-tan . A ('rmq IIlSf{/ dl/ .' /II Il·' uca : a qU("<;I:l l\ do OUIl t,l. J ... d "'IP P :HIII- hlt!lil!''; FOllte .... ! <) lll . !, 117 8 DA "'NVASt\( r· DA AMÉRICA A(lS S'STF~ 1 AS PENAIS DF II(lJE: O OIS( 'llRo,;t) JI )<..:1 ( . \1'1 fI" MORFlRA DA SI!. \' /I rll i H I prl..'l11i ssa búsic::t para a verificação da destruição: a noção de inferiori~ dade do~ índios. (,;01110 se estivcsscm a meio c3minho. entre oS homcn1 1..' tI, i.llliIlWis . I ai era {l pcn samcnto de Juan Uines de SeplIlvcda t dôOtor {' 11l :,rlc,> e ll'oto!;ia pelo Colcgio de: São Clemente de Bolonha , além de h'l (,: ... llId :\tlo dir c ito L' lilo ... ,dia na Uni versidade de Blllol1ha , O (,;OIH,:ciIH:ilhl L·:--llUiJ O. . O f:llolIl' <"H IrL-:- hura s. durallte as qua is Icu um n.'SWllO de 1 I ,,;'q; i 11:1.. . tiL' St..' 1I Ii \ r(I I Jt"l1/I i( /"( t1(' ~ A Irer , que fora proi hido dI: ci rL·tllar I!tH.. iallJlL'lllL'. d e 1m a litlo \J:J arl}uitetura urhana dus 111ains c a"tc cas, tão ,ldlJlirad,j~ r"L'I{I' cspallhúi <.; ('"o llqtlist<1dorcs cm se us prúprios relat os, di/ \ 'nd\l tjUL' e la 1I :i ~ 1 iIH.l k :l \'a :.l cxistência ue 1I111a t'1\ ilizaçàn. mas til/C Iii, ) ~Ú rcrrc"cl1ta\a um ind it: io de que aqueles índios ('nculltravalll~se !lll!!) gr~ ,ü determinauo lIL- harháric. Para Scpul"t'da. a constatação de lalllÍ\c l dc prilJlili\ iSllltllT:l reforçada pelo modo nito illú iddual de O~ indios t.:S. I:lhck·cc rclIl :-U~l S 1\.' lações IIns com os OUIIOS C com as coisas. !lL'lll (.:(11110 pelo ralo d(,' ,,<1,) I.: rem experiência (k propriedade privada m' lll d l' !l era m;a pe ssoa l i\ kll1 db!'o. corneliam aios pagãns. tais qllai~ o ~at: rilici tl hUlll tlllO c o callibalismo, Baseando-se cm Aristóteles, Sep,'d\ e"" juslifica a úOl1l il1:tção e a desigualdade dos il1dios dizenúo qUl' <..l perreitu d~\ · e domillar sobre o imperfeito, assim t:omo o adulto .;;oble a criança. () IH\llIcl11 sllbre ti mu lher e o clemellte sobre o feroz, " 1odas as d ife:rcllças se rcu lIzem , para Sepúlveda . a algo que não (o LIma diti:n:l1çtl. a s up e ri uridad('f illl\:rioridade. o nem e o l1Ia' ... ·::r" l \ isi'io de Scpúl\·cda. a con{juista. nrl verdade. c UIll alll em:lnci~ palúri o. porque permite 30 hú,.haro sair de sua harl)(írie. E para a I l'alizaç~(l de sse li..'ih1 :ldrnit l.· ~ sc a \·ioléncia irracional L' [I "guerra juSt3": Nfio podclllo", duvidar que lodo~ os 4,lIC andalll \'3gnndo fora da rdigii10 cristi'i L'SIJo e rr:1dos c caminham infali vel me1lte rara o precipício. niio dc\ ClllUS du\ idar cm afastã~los dele por um medo qualqu e r o u mesmo COl1lr .. a sua vo ntade, c. não nlzc'ldo isso. não cum~ primo .. a lL:í da tlalnr t;7:l ncm (l preceilo dc CriSIO " alíl"llloll :d hurcs, é curioso percchc r qu c nesla vi sâo o ... IHl\'O'i ·· ..... !hdcscnvo lvidos .. s[io duphllllL' nle culpá'. L·i ... 1'1imciro. rOI ··SCH.' 1I1 ·' inl eri o res: segund(l, por " darcm moti va· 1.: ;;(1·· ;., aç;"i(l \ ;"kl1l; 1 da ,·11 ,,(/\1;,,;1;1 an n:1l) acalall'!ll CllnL'I; \IlWIlI l' a C0ll10 j;"1 SL' 1"111l/ 11C"i/Jodo/"u 2."' 7 eloqüência do fTei, mas também em face do volume do malerial lido e apresentado pelo frade, composto de sua Apologia. de 253 p:iginas. c de sua Apologética história de las Intlias. com 257 capitulos e quase 800 págin~s! O dominicano bateu de frente contra os arglltnCl1to ~ de Sepúlveda. O dehate foi um divi~(lr de ~lgllns na argumentação oe Las Casas contra a ação espanhola. De falO, percebe-se que a opo:;;içào entre crist:i os c não-cristãos não foi lima oposição de nature za, pois todos pouiam ser cristãos, po r "pertencerem" ao mesmo rehanh o. Assim, n50 há que se falar em desigualdade ontológica, Aqui é importante notar o perigo potencial de se afirmar não à natureza humana dos índios, mas sim a sua natureza cristã. Tanto que Las Casas, c m sua Brevíssima relação da destruição das "Illias , refere--se sempre aos Indios como dotad os naturalmente de virtudes cristãs, se ndo obedientes e pacíficos, Nesse ponto, a percepção de Las Casas não difere muito da percepção de Cololllbo acerca da "g.ellcrosiundc" dos índios, CO Il !'ta l a~s c uma permanente mono toni:J !lOS adjetivos relati vos aos índios da Flórida e aos do Peru. O que se fonnou foi um estado psicológico (bons. pacientes) e nào uma con figuração cultural que pudesse ajudar a comprecnder as di ferenças, Se é incontestável que o preconceito de superioridade ê um obstú..;ulo na via do conhecimento, é necessário tamhém admitir que o prcL:oncC ilo da igualdade é um obstáculo ainda maior. pois consiste em idt.:'llliric:1r. pura c simplesmen te , o outro a se u próprio ideal do t>tt. 11 Las Casas percebeu todos os conOitos cm função da oposição fiel/infiel. A sua originalidade foi alribuir o pólo valorizado .fiel. ao oulro c o desvalorizado. infiel. aos seus compatriotas. O maniqueísmo lascas iano c indiscutível. No enlanto, há de se considerar o fato de que o pólo negativo não era, em sua visão, composlo por todos os espanhóis, mas somente por aqueles que comandavam as encomendas e realizavam as guerras. E. além disso, embora retratasse o índio C00\0 covarde, medrO:o'( l e passiv(l. t'm outros trechos relatava a sua coragem {' a rebcldia ..l~ Uma coisa é certa : Las Casas demonstrou, nesse mOllh!1l1 0 , uma postura L'b ral1lente a~silllibl"i{lllista. rom a dikl'l'l1ça de que qUl.:ri: \ Qll l' " ld.IlIc;1:1 Udtlll; ' " I til . . . '·,1 P ll l1l1 I1 ICi;llIll'rl:p , ILllloltll1ll: de I .as l ·;I ... a .... 1:"(111, 1I,\ua mais ,d" Il !<" I!I I ". illIl 1111<' l i ll l I' , h.! .. r () q!!..; ... c 'l'r ili L'1'1t dL' \ idn n[in ,ú ;', 1!,,)(q~ l)\ 1 /\ ..· 1.111 i '''''''' ,(" .I., I ',!'II" \I ITIIII'; I "l He· . I')": I' 151 1" '';S! I jn //c/II I TOI<U!l,tllid, ltk) 1,]1)' r \",1.-,,0, 1'11: I' ':,. 1.\ I lIltll ',' ,I q lll" ' ,j" "L. nU!I,' 1. cd "':hl ,'m·ob'l!lll'l l1n ,hl 11I 1H\> II " ri t' ..'r!! t!il 1I1llt} d' l ,I J I: \!lkhl il ! 1:ld ,1:1111 1\ ' \ ! t 1't"!I Pl'Il '·'l'lIlis I., f)USSII . EllIiqul.! . OfJ. ('iI. II Ih2 . ,. O s all'';1 " iii il1S de La" Cas;\s l:ullllêm i lf'lllllillll a pa r ciali ll:llk' <ldl t:1I1l1 "..·b(:l .. ;ll· ... Indll "'. I~llt .. n:io ,;nndC' níl\';J :J C' "r,: r;l\ i tl:k~ dllS rwgIH". NL'!.:(l' 1'1111111. Ir:\ li ...' "l' l'l '11,id ...•· raro prilitl·iI\I. 4uc. l'UllU<lIl1l1:l l·~cr:.l\jd:iu ~I ,IS Il l'~n1~ ela alg!} tbd\l. :I di'''; illlh,'!" o.:Otl ~1I1I1jll·~C sob ~cu" o lhoo.:, c. SC!!Um]{l. adlllil :l :1 l'sl'ravidiio Ilel!rll. dis[in ~wt IIq'f t' o qu~ p(lS1Critll1tlCll tt' ('lllhora cm um prime iro IHtlfllt,:rllO o.:k s~ r('lral;r t.' xpl!cil:lI11Cll tC \.' ll :i ll tllilis a d:, do .. indins, C<)Jllmlo , assinalll Tt1dt'r'w. :J Slta posição L'111 ! çl,tl,":itt " T i 'lll' rhl'· eI.tra do q ll t' CiP\! rl'I:J~':t" :,p, ill'I~I'( (l 'I' di . P 1(,-\ ;!''', O: :IJ') DA "lNVAS,\\ rO lM AMtRICA AI)S "" SlTh!I\S I'FN ,\ I~ DE II0Jl o: () DI S(ol1H"11 e sta anexaçiio rosse reita por padres e não por soldados, e que, além dis~o. nunca estaria justificada uma guerra que procurasse "acalmar os f1nimos" dos ínúios par:l que estes pudessem ser evangelizados. Sua argumentação a esse respeito é muito interessante. O poder de Castela c'~ tava fundado na conctssão papal. Isto significava para Las Casas que o poder espiritual linha m ais valor que o temporal. Ou seja, o poder po líti co de Caste la só pl.lUCri 3 ser exercido sobre a América se esta se 1'1h:11l1rtlSSC ,", oh o dOlllínio es piritual da Igreja . Contudo . como deixLÍ dai 1..'111 sua obra f)('/ IÍnico m odo. tal domínio só poueria se dar com o COI!. en so indígena. Isto é. embo ra a postura de Las Casas seja ass il1lil al.,' iollisla, ela partiu de um principio menos encobridor do que i.l \ j" fl o (\" met o dologia lálmlo rusu , reconhecendo o índio como sujeito n:1 m e dida L'f1l que exige a s ua compreensão e aceitJção racional. c não a pt: fl:l S lima submi ssão o Além disso, há que se considerar que, ao pedir IJl Il Ira tamc nlo mais humano para os índios , mesmo so b termos assilll ilac io ni stas, fe z a única coisa que, cm nível imediato. era possível par:J miti gaJ o sorrilll(' nto dos habitantes originais daquelns terras , I ,:u nb t" m nfio se poJe ol vidar qu e a maioria de suns cartas eram dirigidas ao rei, c cSlratcgic i.Ullcnte nào poueria sugerir que este abdil'a ... sc Jc sua s possessõe s além-mar (conselho qlle. mais tarde, irá l'lC li";'Ull Cnl L' pro nunci a r), U,\()U cntão O expediente de que tal domínio f O"'SL' fe ito por padre", c nfio por sf'!dados. O que garanliria aos índios uma proteção cOlltm os s uplícios o Nesse sentido, 13artolomé de Las l"a!':I '\ ê considerauo o prillldrp dclcnsor. na América Lnlill3. do que \ iria a ser cl!al11auo de "uin'itos humanos" o Foi jus talllcntL' cl1f"l\.'lltando os argumentos de Sept"Jlvcda que Las ( 'a sas apresentou uma posição mais inovadora ainda perantc a questão o () hispo de Chiapils intentou tornar tanto O sacrifk:io qlJallto o caniba- lis mo lIIenos estranhos L' 1I1:lis a ecitúveis ao leitur. COI11 relação ao sacrifício, ohservotl 4ue ele está previsto na religião cristã. seja no sULotificio de Isaac, o único filho de Abrrão, seja 110 próprio sacrificio de C ri s too Em seguida, c.: OIn relação ao canibalismo. constatou que era li m a prá lica já ad o tada pelos espanhóis, os quais, quando impelidos I'l:l<I necessidad e. havial11 c.: olllido o rigada de seus compatriotaso ( Ih se rva-se claramenle a fIIudança de entendimento de Bartolorné de I :\'.. C il ~WS qU:llldn este v i"'tllI pro var que o sacriticio hUlllano nrlo só é ,tCL' il ;olvc l por UIi' Õ"':S dI.! lill o l"O IIl O PPI razões de direito o E. ao I~\zer isso, 1'11.:SSUp ôs urn a Ilt.Iya Jdill ;çào do se ntimelll~ r~li!!i o so : o rerspecti\ i "i 1Il 0 , Em "e u rac ioci ni o. :l's ina lo u que cada um ado ra Deus à sua 1lI:II H.';ra o d ~ lilrma quc po<l t.\ L' que oferecer LI vidn, o que hú de mai s 1'1 :l:in,o, é a 1l1ainl' prO\:1 dt.' ~l l ll nr que se pode <I ii !" a I >Cus Logo. ~-I llh!,. l ra \I De us d os íllllill" n:Ill 1( \ss L'''o vcrdadeiru"o :\ '-\ silll era por eles ~('ll" i dc r : ld() o lo: (':-. te dL: \!'" Sl"l' II IH) fltu de partida o Mas n:o' n)lllll'~o e r qUi: o ! , " ,klt-, LO !; t '.er4hd 'il'\ I' qO\ Lh.°', " i!.-'.lIifi l..°;1 J'l' t"t l\ 11 II', '(' ! qu'.' o !ln..;"" o o l.lt) Deus era verdadeiro somente para nós, o que deslocava a universalidade do plano da religião para o da religiosidade. E na religiosidade. afirma Las Casas, os índios são até superiores na devoção. e só os mártires do inicio do cristianismo lhes seriam comparáveis em fervor. A igllaldade já não é admitida em prejuízo da identidade . O bispo de Chiapas abandonou o discurso da teologia e passou" ter um de carátcr antropológico reJigioso. e. nesse contexto, tomou-se um discurso subversivo. pois quem assume um tliscurso sobre a rcligi:1 o dá um passo fundamental em direção ao abandono do próprio di scurso religioso. Com base nessa lógica, roi ainda mais rácil para Las Casa s evidenciar a relatividade do conceito de barbárie." Por Iim, ele sugeriu ao rei da Espanha (1555) que simplesmente desistisse de seus domínios I 36 É cunos" " defesa de Las Casas, que usa o próprio Aristótel es pam 1.:(ll1 lr;1argumentar a Sepúh-cdao O fr ei dominican o acusa o seu opositor de des virtuar u sentido da teoria aristotélica e propõe-se a esclarecer u que deve ser clH cndido p t1r "bárbaro"o partindo d<i obra de Aristóteles, cm particular a Politica, e explic it a ndo Quatro sentidos p"ra a palavra oObarbam" que pudem ser ai cntcndido so Numa primeira acepção, o lermo pode ser tom"do como relativo a uma nallln:n dl' irradonalidade, rerncidade, cnleldade e entendimentu confusoo O tcrcl' in' ..; i ~ ni!i o cado diz respeito a pessoas que em virtude de seus maus costumes Sãll cr ué- is, fero7.e ~ e anti-sociais. não temlo leis nem regrasoO quarto tipo de ,obárba nl"" SC' ri :1 aquele que carece de fé cr istão E, por fim, a cspi:cie que seria aplicada :'lO') índi us, a segunda classincação de Las Casas, l:o loca o falo da b:lrbarie na i ll1rll)s~ i bil id adc de comunicação, seja pela cin'ull"tãnciJ de l'mhate de línguas di versas, -;l:ja por outro motivo qualquero EscreVI! Las Casas, em sua ApflJogi'licao til/C " 1:-. 111 !tli () molh'oo !'cgundo ESlr"lwm, fW livro 14. que m' l!lcgos t!vcram p"rn l"h:\loar til' bárbaros :l outroS povos, porque não prununcia vam bel'l , mas l:01ll 1\lI.11..- 1'.:.I l' defeito!', a língua grega; e desta maneira não h,i homem nc m naçfio ,1!gurnaoq uc não seja h'-Irbaro e bárbltra para os oulros ( '0' )0 Ot!'sle mo<h\. esta!' gent es d:ls indias. que nús estimamos cumo b:\rbarn!i, consideram-nos, tJlIlhl-III, h:irban 1"; , pois não nos entendem e lhe s 5 011105 estranhos: daqui procede UIlI grande c rro em muitos tlc nós seClllarelO, eclt'!' i:'1 sticoo' e relif!iosos. em rdação a csta-; nossa..; indianas nações, que sendo de línguas di\O cr'\as que nào entendcmo" II l' Jl1 pelletra mos, dI..' costumes diferentes. depois de ter perdido suas rerúblicas e ordem qu I..' tinham para viver e governar-se. porque nós fi" colocamos nessa desordem e as apoqucnlumos de tal maneira quc fica ram aniquiladas. os espanhóis que víer:lIll fi eslas tcrrns, !'cjam dc qualquer profis ~ i\o ou qllalidudc, pensam que o ~" st!ld l) de confus:1o C' ahatimenlo cm Que ag<ITa vivem foi !'cmpre nssim porquc ph' ~' ed i n lk sua llatur('13 barbâricll e pplllicil desludcn:Hlno Mas podemo~ .. 1i11l1ar tlUl' d C' . ; , com rela ra70ão, por ver em nos uutros costumcs. t"slimam -nos nuo apl'n a..; n ullt l bárbaflls da :-õegunda espé-cie, 4ue l]UCr di zer estranhos. seu;i o da prillll'i r". i ~ l o êo feroci ssimos, durissirnos, aspérrimos c abomintl veis (000 )0 E assim fi ca ~ l:dlr:l d ll o demonstra do e abertamente conduído, que todas estas gentes de n os sa~ Imlias !'iio b á ru<lh1S sC'cundum quid, porque não tendo e:<erdd\) nt.:1ll eSludo (\;1 "; It- t r a~o oo tinham re inos e govemos. obediência e ~Ilblllis sà(l, c ~ c regiam por lei!' C Ju..;t iça (BRUn, f-!éctur HenmlloBorta/ome l/e L(1.\ Caw$ E' a sil1lulaçii/J dtJ~ I '('II( /d,}.\": eno,,,i(\ ~ nllrC a cúnqui sta hispünica da ,\mé ri ca (":lmpin<l5 0 t fn ic" "lp: S:l" P ;'II !\I: !1UII1 ;!)!l';"'o !Qt)5 0 p . t~~- ! 11l ) 10S(: CAftl ()~ MORf:IRA DA SILVA fll .llC, 240 DA "fNVI\S,\O" 01\ I\Mt::RIC'A AOS SISTE~1I\S PF.NAIC: DE HOII': O Dlsn na América c que, se tivesse de mover uma guerra. a fizesse contra os co nquistadorC5. que não sairiam de lá espontaneamente. Sua postura perspectivista permitiu-lhe ainda modificar outra posição e renunciar a0 dC'scjo de assiJllilar os índios à fé cristã, no que assunliu a via neutra: dc" que dct.:idi ss clJI ele", I11C",1I105 acerca de seu próprio modo de viver. !)u""el ohscn:l que . fia \I: ruade, a tlisputa de Vall:ulolid versa soore de qllt: maneir;"} d evem ser 0'\ índios inclllldos na "coll1l1niJadc de as sulIle ú melhor tJo sc.: nlidu cl1l;:mcipador moderno. Illas ul.! scobre a irra<.: iollalidade encohe rta no milO da culpahilidade do Outro. Por j,, -;o nc.e3 a \ aliuéldc de lodo argumento a favor da legitimação da \'iolê ncia ou guerra inic ial parj cumpelir (\ Outro a fazer partI! da cOf1lfmidl1r!c de (,01111I11i ( artio . ( ... ) O debate está no 11 priori absoluto, da própria c om.liç,i n de ptls sibilidadc da participação racional. Gines de Scpúlvcda admite um momento irracional (a guerra) para iniciar a argumclltação; Barlolorné exige que seja racional desde o início o diálogo com o Outro. ( .. .) Para 8artolomé, deve-se procurar modernizar o índio sem destruir sua alteridade; assumir a Modernidade SC'1I1 IcgitilH:lr seu miltl. , . ,\ Cl' I.Tl lnA ,\MEnINDlA E O FIM DO "QUINTO SOL" f: necessê.Írio que se tenha em mente o momento histúrico c geográlico destes povos antes da chegada dos conquistadores, pois só assim pode-se caminhar no sentido do reconhecimento da nlteridade e da ne g ação do mito sac rifical da Modernidade. Os amclillJios. Ila rctllidadc. não "c.lescobrirJlH" () contiw.=nlc no Illesmo sentido de Américo Vcspúcio, isto é, nào tinham consciéncia d1 to talidade da teTr.J continental, cnnnldo tinham algo muito mais importan· te: ~ IlImumizo('lj() do cOlltiw:ntc. Assim, a conquista já contam com wna c ultura estabelecida, fatu que dicarnC'nte fbi muito relevante pam guiar as a çõc c; cm face dn real iú~d c arneric;U1a e de seu povo. Dus:-oel preocupou-se. com base nos quadt os culturais dos astecas e não na pe-rspecliv8 c urocêntrica, em demonstrar a racionalidade da atitude de Montezuma perante Corte7. A indecisão uaquele devia-se à presença de UIn leque de IlO," ihi lidadl'" tl tle podt.: ria l11 :lthir da chegadn U('S csr:lllll úis: ;, I a r tls s ihilid ,lIk de ql /l..' fo" selll um grupo de seles humanos era 111tlilp 11111'1'1\ :í \;,: 1 d r' "'''' tI:! 1J1..'rlll C' n ê \lli l' íl T\ ; tli \ : 1: f\1 p 111C7 1l1lla )I Quet7.a1 cr~ 11m belo pássaro cujas pCllílS ~ i~'lilk :w;un dh indad c, c )9 dualid:hlt.·. lIS dois prillt.:ipios do uni\'cr"(l . A crença tio "quinto sol" representava o ciclo que se III n~,,\ kll ll " . ltkl _ t 1-, I' n l'l1{;\,lrr illl c m ~, til) nu:n. C_I ,· rtg<' 1J) du mi to d o ·<I ·lk cl·.,.-i,~ .I .. 1 1 11'1.1'111 1 I r:u l .lai I1l1· \ I h ·l·ll 1\' ln\pnli ,, ' 111m: , ·/ V.' l 'OI1 I ! l'r:! a cslavrI viventlo. isto C. I,' la como se fos~e uma quinta era, sendo que cada uma possui .. um sol direrc-Illc - .. açlo dos humanos devia ser no sentido de fwss ibililar :l m;Íxü lI<l C"(h' II';:I " ..' dUf3~3tl dei St,1 sob o qual se vi\'ia. 40 Com rclaçi\o aos sacrificios. comenta LCtlllnrdo 140fT: " /\ III<juisiçà(1 contr:Hli J: ti bom SIi!1l S0 das pessoas. COntO se potlc, cm nome da verdade e aind:l l11ai ~ d ~l ve-rdade religiosa. per!iôeguir, tOl'tUr.lr, matar ';1nto e de fom13 t:ia ubscs:,i\ :I.' Importa enfatizar que. mediante a Inquisição. 3 Igreja hicr:í rquica inlroou7i u os sacriflcios humanos. O auge do sacrificialismo furibundo da Inquisiçtl o mI ~b.; ul {) XVI 11:1 (;uropa c OlTe ~ pondc IIOS sacrificios hum ,mos perpetrados pelo~ 1.:0 Ioni7:1 dores e"'p:'Ulhóis chegados ao Il(l ssn C ontinenle c(\ntra as culluras urigi n,iri" ... dtl... 3slecas. rml ias . incas. chibclms c.: nut rõts C)llallllo t Ie-m:in Corlci': l'<"nctn1t1 c ln 15 1' 1 110 planallt1 de AJ1ahunl' no Méxi n l. havi" no illlpêritl nslel'a 25.:!OO.O{)O h:,htt:lII les . M~' l\tl $ glnbal. I H ·S S I· L. I 2-' 1 não dispunha de elementos para chegar a esta conclusão. pois. se a tivesse. a superioridade numérica dos astecas era um falo que não exigiria maiores preocupações com relaçào aos possíveis invasores: b) portanlo, "racionalmente" . eles só poderiam ser ôcuse ' . Mas quais? Tudo indicava que Cortez era Quctzalcóatl." A representaç.io histórica de QuctzaJcóatl era a de um príncipe do povo tolice" (anterior aos aslec3s) que ha v i~ sido buscado r aro ser o rei de Tuln, mas que acabara sendo expulso. Uma de suas características era o fato de se opor a sacrificios humanos. pois amava muito o seu povo; e, além disso. prometem voltar. Em isto que os astecas poderiam ter toda a razão em temer, pois, além de provir de um povo por eles massacrado, o príncipe era contr:'lrio à sua fonna de viver e, sendo um rei depo~to, poderia querer o lugar de MOOlczuma. Por c~se motivo. o impt:'fauor astcca, num detenninado momento, ofereceu o seu reino a Cortez. que, obviamente, nada entendeu. O rato de o comanuante espanhol censurar os sacrificios astecas já era um grande indício de sua possível identidade. Na realidade, os sacri lícios, segundo a crença asteca, eram uma maneira de se prolongar o "quinto sol";J·oferecidos ao deus Huitzilopochtli, que passara a ser o deus principal, graças à reforma de Tlaeaélel, imperador conquistador que queimou todos os códices dos povos dOlllillallos e os reescrevcu;"'o l" I\II HIJli cac,:ãt'" Pala o fil ll"ofu arg.entino, Bartololllé de I a ~ Casas ~. rn"'(J de fW a!ln ... . CnI 15 1)5 , S':I f(.' s t:Ir:UIl 1,,175.000 pl lf ~ lI l· nn ... thwlu,;a .... "·"' n: ~stl de h nt\i f: lllh.' ~ II n h :llht'- (, ~i.."r.J\( 1 Il .. ~ t\ Ll i;· IlIl.I,:h' i.."11~·1 1I11it·p , 1;I ". llc ",c!» lnll ll1 ;1l, :io c uh nr;ll. 11\15 li"is Ill il1ll' irll:O> ~CClll . l " d .1 l·u l1l1l i.l:l...·;itl -i,I\" ..r", It' ; d;) u nk lll tk 2 5 pnr I . Qu..:m lltC-lcc ia lI1a ;... ~a l rilkios hUHwlln:-õ: l'" n"' h'~·:l";;. qll ~' r37..i:lIll "';Il'n li c iu!' rilu;lis no dl.'ll'" Sol ".11 .1 qUl' !' c mrrc \,(..11:\50;1.' a 1I.1)'; ÇC! I' :h ... im C:lr :I":!·· . • ', it/:o : ':11 '1 l u dt '" :,., 11"\( .... \. 1';\1 :1 ,. 11 0 1\ 0 0;" . ' '' ' ,." (" 1'.11, 1".:; -11" Jl 242 JOS(: CARLOS MOREIRA DA SILVA fiLH O DA "INVASÃO" OA AMÉRICA AOS SISTEMAS PENAIS DE IIOJE, O DISCURSO . c) a lerceira possibilidade era a mais sombria: o príncipe poderia ser a representação do principio divino, um dos rostos de ' Omctéotl. e isto era tenebroso, pois seria o fim do "quinto sol". Partinúo UCS<.;iiS opções, portanto, cra importante. primeiramente. que t\ 1011lcz uma n50 se encon tr asse com os espanhóis, pois 3i tcri", provavel:IIH.'ljIC, de rccollh cl.'cr tulla das <lLJa') ültimas possibilidades. o que seria o seu i~ll illlperador. ria mais aconselhável mandar- lhe..; preselltes e . 10 seu IlIgar de origem. se.ia l·~tc ljual rosse. ouro C0 l110 presente para Corte? c seus homen". I\foIlIC7t11J1<.l estaria longe de incentivar a sua volta para a Europa, CO/ 1l0 ~llgt:nr que \ nl!ilsSCITl Ob\ j~JI1ll~ nte , ao enviar ,\ lJlli c a p()" ... ihilid:Hk pcr:lIJll' a qual 11:10 !\cria 11CCl'S",í, io I.) recurso ;'1 ,> :UIIIJS L'la ~l o.; cglllldil f\1:.ts. antes de ctllpn:elldcr qualquer a,'50 hélica, era II l'ceo.;s41r io ter-se certeza tla não-verificação dessa hipótese. I\)r este IlliJliq) f\1onlczullla ofereceu seu reino a Cortcz fieou de fora poi ...; :Is~ill1 estaria e vitando sorrimentos a seu povo: "M~lltC'zul11a cm \; 110\ (1 ()Llct l alcúatl de sc u1\téxil:o c se imolou por e le"':H Com a recusa tio cOlllantlall tC' espanhol estava descartada a segunda f' Os<.;ibilida(k' , Por0m. a tncL'ira opção pairava no ar como um perigo sup remo, C o ntudo. três ilcontecimentos posteriores iriam provar a ~ I oll tt'zllrna que :1 possibilidade real cm a primeira, Esse~ acontecimentos fÚr:l1ll a chegatla de outra ~sqllndr:l. a de Pânrilo Narvácz, qUl'. lutando contra CortC'7. fiJi derrotada e suas forças anexadas; a matança de Pedro de i\h arado (,uballmro que ficara responsável pcla expedição com a :Illsê ll c ia de ( 'o rtcz c que realizou uma camificina traiçoeira no México); c a \"olla de Currez com () cxén'íto refhrç::uJo. Ao lenta r pelletrar no t-.ll· ... iCiI, ;15 !ün.;as du (:nnql1istador espanhol foram th:rrotadas na "notchc Iri . . . te· . Porélll. ue naJa adiantou. pois a peste que se alastrou no México loi apen.3S o primt'iro sinal da vitória inevitável dos espanhóis. Os astecas interpretaram a cOllquista corno a chegadb do "sexto sol" e a <:ol1seqüenlc morte dos SCHS UClISCS. sua filosofia e de seu IllUIHJO . Torna-sc, portanto, a chegada do "sexto so'" como um marco simbóliL'o do " fim do 1l1llfHlo" tllllcríndio, de sua cosmovisão. Porém. a resis- ue têneia a esta mudança foi maior do que se imagina, embora tenha sido sucedida pela inevitável derrota, quer pela disparidade do desenvolvimento interpretativo dos fatos, quer pela própria tecnologia militar. Assim, eom a percepção da natureza terrena dos invasores, acirrou-se a resistência . O primeiro ato foi o do cacique Caonabo, em Cibao. que. resi stindo ao roubo de suas mulheres pelos homens deixados por Colombo. Inatou-os. No entanto. 10dos os caciques. ~lpcsnr de sua rebeldia. foram sendo vencidos. A resistência maia. por 1150 ln se I! povo articulado num c laro sistema de dominação política. como era o caso dos astecas, prolongou-se quase ate o século XX. Só em grandes impérios. corno o de MontezlIlllu, teve-se a clara visão de que o control e polltico-mi li tu havia sido transferido a outrem, A figura da n_' <.; j s!l-Ili: i:lj foi claramente seguida pela do "fim do mundo", Parece, porém. que Dussel, I10S lextos pesquisados, limitou·sc Illuito à questão negativa da ação indíge na , 011 da não-existência de qualquer aç.ão. no processo da conquista: Preocupado cm atinnar n altcrid:Hle que os povos ameríndios e seus descendentes representanml, <k\'cria ter explicitado melhor a atitude indígena de resistência à conqui sta. Contrariamente a um certo senso comum que se finnou ~wbrc a questão. a resistência ameríndia não ficou limitada ao âmbito militar. Confonllc assinala Héctor Heman Druit , a aculturação dos ameríndios esteve longe de ser considerada bem-sucedida, o que se deu graças a uma prática velada, em que simulavam a todo o instante 11m comportamento que escondia uma outra atitude, ullla atitude protecionista de SII" própria cultura e que deixava entrever a sua rebeldia . E. além disso. a sobrevivrncia não só da cultur3. mas de muitos povos jndígella ~ an massacre da conquista. resulto u. C0l110 afimli1 o professor dli1clJo. l:Jll uma das maiores façanhas da hUl11anidade, Para explic~r esse feito, certamente há que se levar em conta o que se chama úe "história invisível" da conquista da América, "Derrotados militarmente c \ iolclltados pela prática dos invasores. os índios simularam obediência. passividade, servilismo para salvar a peJe e. especialmente, sua cuhum ."" Verifica-se o que Bnlit chama de a "s imulação dos vencidos". ~al.',!!it·: l\ ; ml :\1' d ~'lI" r.! ,II!I"II:1 pa'a ~';lell1 riCC1'> C' fidalgl'>; 11<1 r"'p:lnha" E sobre " ", I '" hi"I 'I'" rntnid"" III' ("' Ildli" dt' rrCIllO (!545·!~~1) , t; tmll,'lll pt1r:lnt:() a I,.,!" " I,'."e, 1:11" . II:i, . ,h / I,"' I "Cl P'I," IInla pal:l\r.1. F'la\ :lm ')cu p :ldo-: l'(\f1l quC's . I ",'" !I\1t,;rr llo..: tI.1 111":111111'.:'" ,III ,,'rtlr"IIHIl"OIll a Rt'I,lI rll:t dt.' I ull'lo" (U{)FI· , I ""lIlId,· l nqu , ... ,(:j , rrr" t· ... pllil" 11"1.' 1.' \1II1rIlU;1 .1 t~'i. i , l" l't l.: li·l(·io ln 1 ~ \1!,HI( I I, " '1', 11 ,,11 \1'/'1' ,II ,i", "I<;III " fl 'I' " l't ' rlll·IlI :lIh .... ,te I r:ult,·j,.l'tll'l'i\:1 IIII! i\l uulp'l' ! !11'~'" ,f.r .... 11.<1 .:. l· tI I ~ I ,' ,k' ./:1111':1" H,'<r II ,,·, 1t'1U1'0 '; It ",;II :\ I Hlld ;ICI\I! "lI\ I'r·Joj,.,k Ik Hra:- i1ia . ! IN I. 11 ~hl III rS<...; 1 1.. 111'111"1' i I I ) ' " ~'lInd'rllrlI' II10 d" "lIlr,' for ', r' l'~'n\ .1\. 11l]{1\ da ,,!, ,lt l]. hd , ' 1 ,,,,I 'J .,,1' ,I. \, ,,dlllll 111<1 I,ti,,, ,' " ! '. 1'.\'11 !' 1 '!I \ 'I"'"~ 2·1:1 A s imulaçüo inscreve-se numn cadeia semântica que ~c inicia COIll rcplcsentaç30 . iFito é, O signo ocupa o lugar do real. e terlllin:l l"nlll ii !'i lllulaçào ('lO que o sigll() rcpn,.'~cllta. cm última ill!-t:1ll c i:t. (IIlI:1 :llIst'lIcia. Enl;'io, fa\;tr tk simulaçi10 l' ralar l:lI11bém \.'(\111 () (Julrll. signdil."<ll :l diferenço", c~ labekl'cr <l di" lillll.: ia ('nln..':I:-; ir n:l!.!'·Il'" :I~ :II':ll:·Pl."ia:-;. 1,1<'; " ig.ll11S (' 0" rd i.' n:nll'''. :l jt I' Bltt II I . ! krl/lr Ilcrnan I'n l ~ I '11 JI'll"l lklo'l!1 0" . , il.)l . (\r ,I ' l' 1·1 1" J~ 244 J(l"(: ('''R I 0'\ MOREIRA DA SILVA Fil 11 0 A , , Isto é. quando os indios vestiam-se como os espanhóis, comungavam , C0l110 eles. portavam-se como eles, falavam a sua língua, na verdade não dava m àquilo o mesmo significado que os conquistadores europeus; a re presen tação dos costumes estrangeiros significava muitas \ C7CS lima nuo:ê ncia, a llllsê ncin da cu ltura dominadora em suas crenças. l ' 4 11l' !'cn'ia p ara "dar cohert ura" ao seu próprio modo tle se r. A. ill1p()rt~i llc ia cm Sl' reco nsti lllir esta "história invisível" encontra-se rfa oj1oI1IJ1lidadl.' Jc Iccuperaç:io, par<! o~ índios, da SU<l <':0ndiçfi o de suje ilos ati\o'\ e centrais. fUl"lll adUlcs ue sua própria hi slúl ia. As rn~lhor(' s fOlltes panl :1 rl"SIilUição de ssa prá tica vclnda c illSlIhl)roi nada uos índi(ls :~30 as crônicas dos conqui stadores , tendo cm vista a raridade das f01ltes iJldígenas. Necessita-se obst:rvar as visões OllS cronistas s ituadus sempre no extremo. "E O caminho entre um extremo re ve la um si lê ncio suscetível de ser preenchido a partir da ;o; ... p~ração en tre o conteúdo dos enunciados e o sentido delcs":.f 4 Assim, quando se surrreende os r<:latos europeus que se queixam, por exemplo, da preguiça e da bebedeira dos índios, pode-se facilmente perceber lima a titude c urna fonl1:l de res istência dos ameríndios. I: interessa nte procurar o bse rvar o perfil psicológico dos indios a"tes e depo is da conqui sta. A imensa diferença que passou a existir e lltre um momento c o utro ~u rprccndeu os próprios cronistas. que não L:ansa\'3m de rlogiar. CfllHO se obsêrvou. a sociedade indígena. a sua L'x l r l'lIl<1 org :uú7aç;io C I igid ...,/. da" regra .. sm.:i.1is. cm qll t.!, indusivc. <l DA " TNVASÀ()" IJA AMf.RICA AOS SI$TFMAS rENAIS Dr: fl()JF : ( ) nrS('llHSt I acabou por proporcionar, juntamente com outros fatores, a atitude simulada dos indios. Isto é, segundo o professor chileno, a simulação verificar-se-;a principalmente no plano subconsciente: . Essa forma de resistência à conquista não foi inteiramente programuda c consciente. pois nuía também do inconsciente o nde se re fu gio u (.) tr:Juma "da destruição. de t<'llmnneira que ela agia, cm rnuil (lS ca",-)s c cin,:ullstâncias, como lim a açfiu ma i!' ins tinliva c e l11otka. I'll ( t.'S5a razi'io, a resi stên cia foi difu sa 11 0 ~c nt i do de que nfio se dcix" va V~ I' de'/ido a sua própria obvicdadc. c foi veiculada como simulaçiin.l'l'IIH' ellcubrimento dnquilo que os illdio..,s tentnram salvar..!/' Como já se anotou, Bartolomé de Las Casas constmiu uma ilJlagelll extremamente negativa dos índios, embora certamente não fosse esla a sua intenção. Contudo, como Bruit chama a atenção. curiosamellte. foi o próprio frei que revelou uma das melhores fontes para se perceber a simulação dos índios, mostrando a existência de uma contradição na construção de suas imagens. Em sua obra, ao mesmo tempo em que os indios eram covardes. resistiam de alguma fonna; ao mesmo tempo c m que apegados à idolatria, eram ~uscetíveis !l aceitação da fé cristã: e. ao mesmo tempo em que eram obedientes, abandonavam o trabalho. Escreve o padre em sua Histvria de las {"dias: Da'; mentiras que os c om o ... conLtt li ... tadnrl's. () silê ncio, que l'ollt illu ava sendo alé agora a Ilwtc a inconfundível dos índ ios, ('ol1fc vc a lIl:lI1ipulaçüu ideológica lia medida em que o discUf'llU do c()nqui~l<ld(lf 'IIÓ podia ter efeito e sentido (}lIt"\ndo refer ido ao d i5-cnr" ll do índio Aquio o re leren te cal1)1I-!'c"~ ~ () silêncio ta III bl'll 1. fia \ b:l0 de f3ruit. é lIIll:! 1ll31lirrstaçào da tlL'o rn:n c ia (\r lIlll traul11a co!L' tiVll. \'crilica uo com o que :;;e chamou '111 :'1'. d ,~o " Ii rI! dn 1l1!111d~)" : !llll'Iílldil!. UIll frauma ;1 ~O:, \I d ol(lr()~o, que I iH 1 111 . I/ lO, II ' I I k!11.ttl /1 '11 (rI/"IIII : dI' / {'\',,\ll \ ", ,1,, (" a t"(l~\(ptl, r .l 111"'1' t j, II 1\'11 1" _I". I qt) '"r" 1_", ' I , I I II ;" II 1!lI< ,I tI;1 I .... \ '1'1 (1\ ( ",, \ tI,\ \l! llOtk:1. ( I' /I "Ül/!'''c/~ ,i .. :""pinT, I I c..I i7 ialll a o~ es panhóis e hoje- diz~l\l . aplacar scu continuo c implacável furor, nào poderiam de mil uutras llngústias e dorL'S e rnaus-tr:.1tosY o nd e escapar - ~c Havia também uma certa e.pcculação pelos índios dos gu>to, e desejos dos conquistadores, Muitos mentiam s"brC' a possível cx i stt~nc ia de ouro cm regiões inóspitas. Foi assim que surgi u a 1 ~IIHUSíl lenda lh.: EI Oorado. Entim, por intennédio desta ação sub-reptícia dos índi os. da sua simulaçào, foi possivel "sabotar" a novfI sociedade que os europeus queriam construir, Obviamente. a ação dos índios não foi o único f~ltor causal do que Bruit chama de a "mclação" drl nova snciedade . Todad:1. certamente é a menos percebida: A <';llcicdadc hispano-indigcna estava cm perigo de nâo \' ingar ({Hnu lima sociedade o rdenada, governável. political1lclI".~ fUIH..Iadi\ IW l'OIl <;L'1\~ n dn. maioria, cnfim .l'{llllp uma SOcil'lbdc crisl:\. lIllIa li'lça do, l 'I 'lIndo ... · 'IIi,"." ,,!," S:i" f':Hll n' ~h I' indio ~ 'Iinda nill) o s lk vas turi ll\1. O ~ \· L';o..:lll\~ ~ c :-:crvidi'io hOI rivl!1 l' n Ll l" t ir:lI1ia com que os ahHl11 l.! ntalll I.! 11lultralal1l. s:;,p as ca us as, l'lI\qul.! dc ou! ra maneira, senão mentindo e fingind o para contcntú-Ios c VIn Il! i:qplL'/ l't ll IIlnilll . . ('<1 "; 1) --; l.o ra '\ ...' vc rallh.'Il ll! l': 1'\t i!!'llb . i,.' o lIaballw rl'prl'sL'IIta,"a um tios prilh:ipai s valores, Após a conquista ter-se lílllladn, os crn lJi s!~l'\ rcla! alll.tl ex is tê ncia de todo ~ (1" vici(\s poss íve is L' irllngilláveis . A primei ra atitude que soou estranha aos espanhóis foi o próprio s ilêncio dos ameríndios, qur r\' itavam ao máximo ter de sr comunicar :!45 BR1 lJI . lllTlnrHcrnan 0/, lif.p , f l) I · I ' !; "HP!'II I! 'l 'l/" lkm :1I1 ('I' , I' i' 1[,- J3 ,1ot;;r' ('MO OS MORF.'RA DA Sfl.VA fllllO DA "INVAS,\,<J" ' nA AMÉRICA AOS SISTFM ·\S I'ENAIS l)f: IIOJF : () D!S{ ·UR"'() estranha. OC lll ta. nào·cntendida.. trabalhava para desajustá-Ia. deturpá-Ia em se us objetivos, e essa força eram os próprios índios submetidos pelas armas, mas não conq uistados nem peJa nova religião. nem pelo saber dus e spanhóis. que na realidade era wn não-saber, pois ignorava a CU!fllr:1 t" ao; I ;li7("'-; dr!, tradições e costulIles dos \'etlcido s. "~ <. OIll0 ~t' \ ( .,,) os indíge nas não abandonaram sua visão politeísta, As normas de co nduta cristã comunicadas pelo ensino, alimentadas pelor preceitos ou impostas por obrigação, não tornaram in teli gíveis as abstrações cristãs sohre a virtude e o pecado. A comunidade dos santos fo i recebida pelos indígenas n:io como uma intcrmedi(trin entre er;í adiantL', ~'~~a açJo subvcrsivt.l uns íl1dios não f{)i por 1. as C<.lsas como uma das causas da iflJirl cllcia da cOflsl itlliç;10 de uma "sociedade tts avessas", de lima socicdanc dl..'ll!rrada c torta em S U~I prúpria raíz . () ti 'anl:i SC3I1U Uelllardino de Sahagún tentou alcI1nr parJ estc perigo, ao pregar a ncccssidaue dc não se destrui r os códices, os livros indíge1Ii.!S, Th _'is. arguIlIcntava. cra necessário ter o en tendimento d(:sta cultura P;Jr<1 CUJllb3tcr a ido latria. Panilharam da mesma opinião o jesuíta José de !\1.:osla e u dOlllinkano Oiego Ourán. Este último. por um momento, chegou 3 crer qu e' us costumes indígenas eram seme1hantes aos c ristfios l~ qUi.'. segundo apregoavam certas teses po!êl1licas. Sfio TOlllús de t~ld {)rC"s. ObSl'f"\i! 1.: 1" C<ls:!,,· Os CIICOIllL'IHkiIOS ~u~ix ; l \'alll-se com freqüL'llda que COIll esse apren dizauo (lS im.lios .\t' fú::.iam hucharéi!i c não queriam trabalhar, e que quando () faziam, H'clamavam direitos e privilégios c uc;;:wa m as ki, p:\I<I illl"crni"ar:r \ ida dos cristãos. l" Por uullU lado, vl'riJil:oll-sc a ex istência de um s incretislllo religioso, isto é, os índios incOlvor~lr;111l muitos dogmas cristi!os, lIIa~ com a difercnça de que o fa Lia/li ti partir de sua visão idolátrica de mundo. . . FI , II t)1 1\"C " um t:s'()r~'o (OIlS<':lclltc úC' comparar os dogmas e aceitar o novo t'll ! IlIdo aqrrilll que c llliqlH:c ia t) <llIt igo"."ct Esse cslün:;o I.'stú c:xpresso 110 CIl It.: lldilllCllto dl' ('har!t·,: (jihSt~l1. cm Sell livro I r).\ a::f(>cl/s "l~j() el Deu~ e o homem, mas l·omo UIll pa n teão tlt' I.ki dad t's antropomórficas , O simholo du crtlcificnçãú foi m:eito, llW :-; ~,1I1 11) uma preocupação exagerada nos detalhes de um ato de sJcrifh:io. O O('u s c ri st50 foi admitido, Ill:l S n,10 como Ullla deidade cxdusi\:1 c oniplltcnle. O céu C O inferno foram reconhecidos, ma s accnru :I IH!() sua.;; propriedades COllcret3s c COIll atrihutos pagiios ( .. )." c\ prl' SS a llll;llfe allotad a Aquino ila, ia lirmado contato COI11 aq uelas civilizações, te ndo ens inado u cristianismo aos índios, Para Tzvetan Todorov, este entendimento do padre dtlJlliniC.'Hlo devia-se à prese?ça do sincretismo cm sua própria visão de mUlldo, pois ha via sido criado no Méxicl'l. BnJit, contudo, atribui tal fbto ú açào simuladora tios índios em face do cristian ismo. Aç,ln tão densa c impcllctrú\·cl que acabo u por levar os espanhó is à cOllciusàü de que, em rCillidnoc, eles não entendiam os índ ios. Não entendiam se us atns c, muiio menos, a lingua. que era composta de diversos dialetos , (Js índios, porém, aprenderam [I Iín[!ua dos cOllquis- ~--t 7 Com relação aos índios da A mérica do Sul , em esrecial os cio Brasil, a recupe ração de sua cultura tornou-se hem ma is ditlcil , pois praticamente todos flS povos indígenas aí localizados transmitiam os seus cOllbccirnentos através da tradição oral. Um dos raros gOlpos indígenas brasiieiros em que se utilizou a lgo além desta lradi,ão foram os Sateré-Mawé, de língua tupi, distribuídos em tri nta po voados no Baixo-Amazonas, onde se encontram até hoje, como reminiscência de urna cultura ancestral, três c.;;xemplares do Poratim, uma cla\·a em forma de remo na qual estilo gravados losangos, desenhos e figuras que representam s imbolicamente um conjunto de mi tos C' hi slórias sobre as origens da tribo. No Brasil, infelizmente, não SUl giraln cronistas indígenas no per iodo colonial , tornando a oralidade a ú"ica fonte da visão dos vencidos . Jimcnez de La Espi1da, ame ri canista espanhol do final do século passado e que Coi dirctor do Arqni,·o Ge ral da s ill dias. cm Sevilha. observou que. para a inl'elicidade brasileira. os portugueses não tiveram UIll Las Casas que desse l)tltm versão do que QC'·Ofr ClI no Brasil : Los portugueses han teu ido la doble fortuna de no tcner UI1 padre de L:1s Cí.lsas y de que los brasilenos hayan hechos suyos, sin discutirlo!', los hechos de aquellos hombres que a lodn costa Ics dieron la opUlt'nlr! y ;lnL'hisima pát r ia.~2 No entanto. o fato de não se possuir fontes escritas para pt::Squisar os índios brasile iros não de\'e ser um impedimento para que s e resgate sua cu ltura, tnrel:1 para qtl:d não se poderú din:cion:lr ::sforços neste e nsaio , II !lel 'r i " ("/)((11 (1/ : ~I IH~t1JI.Jln· h )llk IILlIl (',. ' lI . p !Í>') - l~ O . lH~! I IJ , ! kl'!nrlkltl ; Hl r lI' I II . p 17) !' I '" i BRUIT. fh:'l't(~r Ikmall, op. ( ·rl. . r. ISó. I:, .1(1,,0 R ibam:Jr Bcs!'õa . ., radi\-";lt1 oral (' tlll'llloria indígC'/l;lS: a c:tII(':, do tempo l n: , Jm!'-rica: de.W"o/1!'l"ItI p/ I il/I ·; 'I/{"do _ -l" C(lklquin da t rERI . Hi .. de J:lll ... i" , i'll: l !c\\. Il)9 2, p. I~q . ~:! FRI~lH 10,10 CAR LOS MOREIRA DA SILVA 248 6. FILIIO A CULTURA SINCRÉTlCA DA PERJFERIA: OS V ÁRJOS : "ROSTOS" LATINO-AMERICANOS ' Os a stecas, cm que pese toda a sua índole violenta e dominadora, quando subjugavam uma outra cultura, antes de destruir seus livros, es tuda va m -nos (' o s im.: orpnravam, como se viu no mito de Qllctza!cóatL N50 fo i o que i1co llh:ceu em relação aos europeus com a tradição a ~ tcca . que lhes havia sido oferecida como uma homenagem e . em troca . o povo núhuntl fo i c ha c inado C humilhado culturalme nte . L.: " las cultura s Ilii o ti veram a vantagem da helenista ou ru mana , que ni .. ti alli s m0 tra nu/ll l)1l po r dentro e. sem de struí-Ia s. <1 $ u-ans forllH.l U lia" cultura!\ dOI s cri standades bizantina, çopta. geo rgiana ou arll1êni a. russa ou la ti no-gcrmana desde o séc ul o IV ti . C .. as culturas amerí ndi as 1'\1(:1 11\ tflJlI Cad as r ela raiz , ~ l (I o "scxto sol". pOlia"!,,, ignorou a existência dos outros cinco que o rre ced e r<1l1l, c t1 0 1l XC cm "C U cenlro o capit31. Diz Marx: O cap itul é trabalho llIorto que só se vivifica,:\ maneira do vampiro. ao chupar trabalho vi vo. e que vive tanto mais quanto mais trabalho vi\'o chupar. O d\!s l'obrimento das regiões aurlferas c argentíferas da !\tn ~ ri c a , o e xtermíllio. escravização c soterramenlo nas minas J a porul aç:io abo ri gl·llc. a conquista c o saque d;JS hulias Ocidentais, a trans formação tia África num couto rescrvadCl para a caça comercial dI..' pe lcs ncgras. carac tcrin1JIl os albores d:1 era (do s ex to sol) da p lO dll ç i'i o ca pit :lli <; la 1 Apesar de todos os csfúrços europeus para que a cultura original do co ntine nte americano fosse e ncoherta ou negada, acabou-se gerando um a rica e sillcrética cultura popular. que funnou lia Am('rica LatinJ \úr ios rostus dir('rcllt cs,~ \ Veja- se O perfil de c ada um de les. Em JlI illlciro lugar. o~ índios. Emho ra o s europeus conlrolas'-icm o poder pol ít ico c os " pontos c ha ve"" , O mo do de vida da m a iol i:\ ÚJS pess();]s 1..' la illdíge n a , CO III um lI S(l l'o l11tJlJitúrio da terra e uma vida co mufla l prOlt ria. (1 q uc. rOlllo se \·iu, aa co nseguido graças à s imulação indígena, q uc ba rro u a lo t;!! :l cultnraçà<.'. (") seg undo golpe fatal. na \·crdadc. foi dad pdo Ii bcrali slll(l d o sécu lo XIX, que, querendo impor uma fonna d\...' l' id:Hl:1I1ia ah"t ratn, indi \ idua li "ta e burguesa. finn o ll a propriedade OA "INVASÃO" DA AMtRICA AOS SISTEMAS PENAIS DE HOJF, O DlSClIRS(\... 249 privada no campo e se contrapôs à fonna de vida co munilária. Obvia· mente. tal fato limitou aos índios a possibilidade de vi verem ii SlIa maneira. gerando os problemas atuais das reservas indigenas, principalmente em pafses como O Brasil, cuja população indigena não era derivada de uma cultura urbana, Já no caso dos índios oriundos de sociedades organizadas em cidades, constata-se a presença de um fort e sincretismo cultura l, mas nào de absoluta aculturação. O segundo rosto corresponde às vítimas do que Dussel chama de "segundo holocausto da Modernidade" : os negros. Nunca ha via ocorrido uma experiênc ia de escravização em número tão elevado e de maneira tão $istematicamentc organizada. Da mesma fonna que os índios. a resistência dos escravos também foi contínua. O maio r registro provavelmen!e é o do Quilolllbo dos Palmarcs. momento tão importante na constituição histórica do Brasil. UIll exemplo vivo da resistênc ia negra, durante mais de um século. É intercssantc perceber que desde essa época. quando se ucfe"dou no Brasil um liberalismo que se prestasse fi defesa da estrutura escravista, o direito por aqui (bem como, de uma fonna gl~ r;JI , na América Latina) costumou ser um instrwnento cego ao sofrimento popular, pois procurava hannonizar a existência da violê nc ia irracional com a "Iiherdade" (para dentro obviamcnte), O par. formalmente di ssonante, escravismo-liberalismo, foi . 11 0 \.: a<.; o brasileiro pelo menos, apenas um paradoxo verhal. O seu (.'ollsú rcio só se poria como contradição rcal se se atrihuísse ao segund o tl!rmo. liln..'l"Clli:wlO. um conteúdo pleno e COl1l2"reto. equi\:llcnle ;.\ ideologia burguesa do trabalho livre que se al"irmotl :10 hlll ~() li:, revolução industrial curopé in. ~/\ Os hOlllcns públicos prollullciavalll-se " contra fi ingerência bril nllica no controle dos navios neg.reiros; mcdida que verbcrou como o a""I"" mais diret() qlie se I'oderiafazer ti COllstiwição, à dignidade naci(lnal. à /ronru (' ao.\' direitos j"didt!zwis dos cit!lldi'ios h,.a.\'i1ei,.o..... , ~· Assilll, defendia.sc um liberalismo que fo sse atento. segundo se argu111cntant. às circ,mstàncias e peculiaridades nacionais. Os pro prietários de terras reivindicavam fi sua "liberdade" de trocar. vender e comprar. mesmo que a " mercadoria" fosse os negros africanos, '"'1 was jj-eedolll l o destroyfl'eedom : dialética do liberalh:mo no seu mo mento de cx pans:\o a qualqu er cu st O." 5M P I "~"' II. , I" I1!iquc 14 (J.' " l·'l"·l,hlilllcnfo do oul r n ( a O n~l'lIl li (l milO da IH(llh.' lll1 d :Hh' l f tlll lll('nll\ d\..' ! 1:!1I\..fu f1 . Trad . J"i ll ll' 0\ ( · b<: ~ I1. Pdrúpo l i<:. : 5~ II)(P. P 1·11,. l J!ISS I I . !: 11l 1qUI.' ( )I) ,:1 p IS:! 51 111 '<"';'; 11 I' ~" \ l1!'i·p"· (h fI 8 0S I. Al fredo. /) ja!t' rico da c n la n i::CI((; tJ. 2 cd. SiioPauln: Cia. ti as p. 195 . \0/ 1.·:-', l;;tI I' 1 nosl. Alrredo. O/-,. cit., p. 147 no"!. \ Ifred. , 0 " (·ir , r . ~(l9 I. ctl:l~. !(JtJ 2. J. Dr:: JO"" '. CARlOS MOREIRA DA SILVA Fil 11 0 o Icrcciro rosto desle "povo Wl0 de rostos mú ltiplos", como escreve f)\J~SC'1. é o mestiçu. ou os "' filh os da Malínche"; aqui no Brasil podcrse- ia dizer : os "fi lhos de Iracema", Diferentemente dos índios, negros, asiáticos e europeus. os mestiços não têm urna personalidade cultural e racial definida. Na verdade . são os únicos que em 1992 fi ze ram 500 ,11IOS, Nfio chegaram a se r o prim idos tão viole ntamente quanto os Ilt'grns e ílldios, mas também foram objeto do saber antropológico 1~lcist'l. ue cunho cxcluocntc e de prcciante, sendo vítimas da situação l'~ lrl1tural de depl'lIdêrlcia cu ltural. política c econômica. seja nacional I 1'11 il lt cfllJcilllla l. U quarto rosto, que (oll1pll.'ta O bloco soci:J.1 oprimido lati no-americano pn:'-illdcrt?lldência, é o dos criaI/os ou crioulus, Filh0$ hrancos de CUfOI IL'US /la s ífldias, [("p!escntam uma classe dominada, na Espanha, pelos Ilabs1>urgos e pelos 13urbõcs c, no Brasil, pelos reis de 1'00tugal. O s çrin ulos fiJralll os úni cos que {ivt.~ram uma "consciênc ia feli z" da AmériI..'a, O s índios v iam-na co mo te rra de deuses ancestrais qu e agOrd estavam mortos: os africanos. como lima terra estranha; e oS mestiços, como terra l'l1l que cresceram , porém que cra palco de opressão e humilhações. Esses 'l'Iatro completam o quadro de 11m "bloco social" da I\tné rica L:ltina colonial. um "sujeito histórico'", um "povo oprimido", I ai "bloco social"' tornou-se claro e delimitado mediante as lutas em prol das emanc ipações nacionais no século XIX. A dissolução do laço f.:om a rnetrópole rea lme nte foi uma causa defendiúa por todas as classes e gru pos sociais, Os índios. negros e mestiços. em geral, que co mpunham a parcela paupcl'Í za da do povo, viam lia independênci:Rt ' possib ilidade de melhores condições de vida e de connctização da jllstiça social: a elite oligárquica c burocrática, formada basicamente pejos crioulos, obvinlncnte possu ía interesses bem diversos, No entanto, fiJi e la que liderou c~te~ movimen tos, utili zando ·se do ideal liberal UlIl lO base doutrinária e in spinldora, 1\ partir da cOIl'iolidaçrio do s Estados Nacionais. fo rrn ou ·se um 110\'(1 "h lo(.;o social Jos ' oprillliúos" c surgiram no vos rostos que se j l l .... ':J IH1Sl'W IlJ aoS ~I\ltigos, () qllillfo rosto. pOltall to. é o dos C:'ll1lpOI1CSCS, Índios que ab~llduflaralll a terra, mestiços pobres, fll;Jl11clucos e mulato~, A tê qua se a metade do século XX, a maioria da população latino;nllL'ril' ~II)a esla\'a fi.'cHb n o l'i llllpO, sendo exploradi.l e o primida pelas Idi~'; lIqui;l''; 1l1I:li ';, QllL', t-n!lll! 'l' ..,;t! 1\..' , dnlllillílnlll1 i i p{ \ck ! pnl itko e n""lS ~ IIlÚl llico 1l ~,'''Sl' pCI 0" l'pt:I;'lr;fls, no il1dp, Ci 1!l1t..'\It' de Ilo-;sa Ic vol uçfio illduqri:d :Itras:t ua c <I, (lL' JlJl'ntc. :.urgi / iUll L'llllHl ~L'.\to Tl)sto , Pas,ar:lIl1 ii "!.: r (\prilllidus pela j 'l l)pl i;! cstrutllnl Lapi(,di~ul lh: pcnul'lltc cm qu::.' se illscrl' a (\mc ri ca I :ll il1:1. 1 ai dL.'pl~IH.i(-Jlt:ia lc!l:-rL' -sL.' ;', gcrêncin de UIll L.':Ipi t; J! dL'b il , que I' 111·_ t ; 'l l' \' JIIl!!jl;dln"Hl\' \:d"l :1(1 l' :!pit:TI '\:L'lll,:1! " 11:1..; ll h:t l l" !'olcs L'. DA "IN VASÃO" DA AMt:RICA AOS SISTEMAS PENAIS DE HOJE: O DISCURSO .. , 25 I atualmente, às multinacionais. O capital "periférico", portanto, de ve compensar a transferência de vaJor ao capital ucentral.., Tal " compensacão" , acaba saindo do bolso do trabalhador, mediante o emprego Qarato de sua força de trabalho, que se mantém soo uma contrnpreslação minima devido â, dentre outros fatores, existência de um "exército operário de reserva" que o fraco capital periférico nao pode absorver, Tal "'exército" compõe o setimo rosto: o dos "marginais" ou miseráveis, que, oferecendo o seu trabalho a preços subuma nos, fo rçam a pcrmanêllcÍ;J de uma mão-de-obra explorada e oprimida. Emergindo dessa viagem às raízes do se r latino-ameri cano! pode-se perceber duas coisas básicas. Primeiro. que este povo foi vítima de um processo de modemização que ocultou e oculta a violência praticada contra os seus pares, violência essa justificada por um di scurso antropológico racista e cuja história é preciso ser resgatada para que se tenha noção da existência de um outro " sujeito histórico" que não o europcll~ segundo. que existe uma c ult ura sincrética popular, produto exclusivo das tradições latino-americanas e de sua intcraçào com outras culturas, existe uma pat1icularidade e especificidade que não se reduz às rónllulas das ideologias eurocentristns. O projeto de Enrique Dussel, sintetizado na Filos{?fia da Lihertação, se propõe a rei vindicar o verdadeiro lugar da América Latina no contexto mundial: A Filosofia da Libertação afirma a razão como faculdade capaz de estabelecer um diálogo, um discurso intersubjetivo com a raziio do Outro. corno razão altemativa. Em nosso tempo. como razão que !lega o momento irracional do 'Mito Sacrifical da MocJcrnidadc', para afirmar (subsumido num projeto libertador) o momento emancipador racional da ilustração e da modernidade co mo Transmodern idacle ,~q 7. OS GENOcíDIOS COLONIAIS E AS PRÁTICAS EXTERMINADORAS DOS SISTEMAS PENAIS Quandu se trata da conquista da América, cabe referir-se cOll ti l1l1a ~ mente no genocidio dos povos americanos, tanto tisico quanto cultural. Com o intuito de aprofundar essa noçào, bem como de assinalar o papel que aí desempenharam os sistemas penais tatino-31nericanos. nec('ss{II'jo se faz reali n llar algumas colocações dc Eugenio Za flhroni acerca do a~~llIlto, Crsan: Lombroso e sua obra simbolizam muito bem h.lJO um IK'nsamentocic nti licista. corrc~roll(lent~ riO período neocolonialisf;l. (k l'!Illh o (I ~o OLJSSF L. Enrique , /4 91: (l encohrimento do ('Iutro (a migem do miJO da nlOdC'plidadc), Cml fc rênci:l" de Fr:mkfurt, Tr:td , Jnime A_ CI:t<;en, ['l'!lúr ,)l i~ : \'!\/t'~ !!)U1,r, 17 ,~ -174 j 1 O 252 10St:. CARI .OS MOREIRA DA SfLVA FltltO racista-biologista, que visava justificar a delinqüência e o "primitivismo" dos habitantes das colónias mediante a auferição de woa inferioridade natural e implícita a tais sujeitos. Tal discurso estava na boca de toda a el ite oligárquica latino-americana do perlodo, contudo, sobreveio a sua proibição nos paises centrais em função do nazismo. Como na Segunda Guerra Mundial Hitler praticou na própria Europa, aquil o qu e o apn rtheid c rimin ológico justificava para as regiões ma rginais· es pecialme nte latino - american3~ - , o ltIodelo lombrosiano fo i rá pid (l c , "id a Jos.;lIll1.::: n tc a rquivado ."o Assim, o exercido ou poder periférico já não poderia se mcionalizar os discursos centrais, como vinha sendo feito , Contudo, por falta dc discursos teóricos na perileria, O velho discurso criminológico lombro siano continuou sendo defendido no ambiente acadêmico, o que gerou uma contradição com os órgãos que procuravam um saber alternativo "quele que houvera sido ceJlsurado pelo "centro". Tal contradição gerou uma confusão teórica, um "saber discursivamente contraditório e confuso", ao qual Zurraroni chama de "atitude".· I Observa ainda o penalista argentino que, muitas vezes, esta defasagem teórica procura scr explicada argumentando que se esia em um momento passageiro de subdesenvolvimento, a ser superado com o crescimento rumo ao pa ra~igma central de desenvolvimento. A contradição teórica que e me~e da "atitude" constitui um dos grandes motivos para a deslegi timação do sistema penal na América Latina. A base teórica de nosso si stema penal refere-se a um modelo de c iê ncia penal integrada, em que a ciénciajurídica está ligada à concepção ge ral do homem e da sociedade. Tal modelo é bem sintetizado no que A lcss:lndro Barntta chama de ideologia da "defesa so{'ial", contemporâ~ Ilca à re volução burguesa. O jurista italiano relaciona os princípios que informam tal corpo dc idéias: a) principio da legitimidade (o Estado, enquanto expressão da sociedade, encontra-se legitimado para reprimir a dcl inqüêneia ); bl principio do bem e do mal (o crime é o mal, a ,<>ciedade constituida é o bem); c) principio da culpabilidade (o delito é o resultado de uma postura interi or com alto grau de reprovação, pois é contrário aos " bons" valores e nomlaS da sociedade); d) principio da finalidade ou da prc \'e nção (a pena serv e para prevenir o crime, e não só para retribuí-lo); 01 pri ncípio da igualdade ta lei pe nal se aplic~ igualmente a todos ); I) r1i ncipio do in teresse social c do delito natural (" o núcleo central dos d\.' l ito~ definido ", no, ("(',d igft" pe nai s das nações civil i7r1das representa CUIIl "I %1\ 1_FÁ IH ) NI, 1 ·. \!g~· II \t l R:ud . /,m / ' I/H '(/ da.~ penlls {Jerdido ,l. : :1 pt:'rd ,l de I\!git imi · d .ll le d., Si. . l (' !l);l r e nal. I r' HI. V.mi a 1{ (1 !1t :lIl l1 ('('d ro, ,, l' " '\li r I P P l"'; d :'! CIlIIl'ckã o , P i" ,k h tll'ill' I ~\'\ .111. I' )') ! )l 7~ DA "INVASÃO" DA AMERJCA AOS SISTEMAS PENAIS DE HOJ E, O DISCU RSO ... 25 3 ofensa de interesses fundamentais, de condições essenciais à existêncía de toda a sociedade (... ), apenas uma pequena parte dos delitos representa violação de determinados arranjos polfticos e econômicos, e é punida em função da consolidação destes - delitos artificiais")·' O problema deste conceito de defesa social é que ele é aistóri co e não-contextualizado, e coloca o conceito de crime em um sentido ôntico. Na América Latina, a "esseneialidade" do conceito de crime vem jwltar-se " "essencial idade" da condição "inferior" dos negros, mulatos, mestiços e índios. A ideologia da defesa social. :lO cOlls idcrar a existência de valores ahsolutos, expressão hannônica de UIll todo social. contra os quais se contraporiam ac;; nçõcs criminais, a dclillqiif-ncia. ignora a existência de lima vasta diversidade cultural, fato que é bem mais intenso na América, marcada por Wlla cultura popular sincré-tica. O princípio da culpabilidade expressa bem esta redução realizada pc la ciência penal, pois quando considera detenninada atitude repro vá vel, o faz em função da existência de valores e nonnas totais na socicdade. No Brasil, está bem clara a presença desse principio na refonna de 1984 do Código Penal. Francisco de Assis Toledo, presidente da Comissão que elaborou tal refonnulação, diz que, na reforma dos institutos do Código Penal, "percebe-se, sem muito esforço, a exclusão de aplicação da pena criminal a quem não tenha contribuído censuravelmenle com sua vontade e deliberação para a lesão de bcns jurfdicos penalmente tutelados ( .. .)", [Grifo nosso]63 Prosseguindo, Baratta relata, ponto por ponlo, a desestruturação de que foi objeto a ideologia da defesa social por parte da criminologia critica. Pela limitação do espaço, esse assunto não será tratado aqui, contudo, é mteressante observar a desarticulação feita com relação,3o principio da culpabilidade, mediante a teoria das "subculturas cri~li nais", fato que também é observado por Roberto Dergal/i!' Tal teoria mostra que os comportamentos muitas vezes considerados crimino~o s são, na verdade, expressão de peculiaridades econômicas e culturais de diferentes grupos sociais, e não fruto de uma inferioridade biológica 0U de wn desvio em face de um conceito absoluto de crime. Assim, o direito penal esconde, na realidade, sob a capa de valores gerais preS$\1p0SBARATT A, Alessandro. Criminologia critica e crítica do direito p enal: introd ução à soc iologia jurldico-penal . Trnd. Jua rcz C irin(l dos Santo!'. Ri (l Ól!' Janc ir(l: Rcvan • 1997. p. 41-42. 61 TOL EDO. Francisco de Ass is. Princípios gera is do novo s istema penal b r;J si leirl), ln : O direi/o penal e () 11 ,'l'O Código Penal hrasileiro. Po rto Ak'grc: F3t-o r i~ : Assoc iação do Mi nistério Púb lico dI) Rio Gr:mde do Su l; Esn 1b !' ll p CI iI'I' dl' Mini sté ri o P úhlico do Ri o Grande do Su l, 1 9 ~5, p. 13. 64 BER G ALLJ , Roberto. O b s e r v aci onc s c riti c as a las rc fo rn lll s ren"le ~ trad it:iclI1a lcs. ln : {'oUli('" (",.im ina/" ,."fi"./1111 df'l den' du. /' ('11 1'/ n l '!!I 't,j· I l'mi .;. 6l I I1 X' l' "'''! ~ ~fl i J"1 JOSÉ CAIU OS MOREIRA DA SILVA nLlIO 10<';. a ~c lcção de determinados valores. referentes a determinados bruPO,", 1\ dclicicncia da tcoria das subculturas criminais, assinala l3anHla. está no fato de que ela toma a má distribuição da riqueza e das oportunidades ,",uc iai s , ca ra cterizadora das diferenças valorativas, l~ (\Ill() um d ::d o oh.iC'tivo, nJo inquirindo acerca das causas desta má di . . trihlliç;io. ( 'IH IiO .... 1.: \ t..'ni adiiJ nt c, esta ideia totCllizadora de sociedade 1111 pO SI:t pel o ll1odelo pun itiv o irá facilita r sobre maneira a ação \ L'rticl li za dora 00 "i . . tl'IIJa rl.:l1al. que será fatal para 3 integridade dos 1:1(;(1" COllllt ll it:l ri os c hor;7ol1tai s na sociedade. c. CI11 úllim a in s t;:i n t.:ia. I:h ·i li ulIú o con t ro ll' th: Ilo ~s a região periféli ca. 1.í1f1:ltuni realiza ullla divisão entre três tipos de colonialismo uos Lllla;" SOIllUS \ itim:J <.;: o l'o lon iali::;mo merca nt il (séc ulo XVI). o IIcuCll lolli"l i, mo Oll co lollia lis l11 o industri a l (século XVIII) e o 1L:l"l1pcn lon ia li slllo. Esta ultima categoria corresponde a um contexto at ujl C futuro de lima revolução tecnocientífica. Todos esses três I}\O -, IIlc nto s constituiram. constituem e podem cons.tituir práticas g enocida s. Nos doi~ primeiros casos, trata-se de uma ideologia genocida alimentada pelo discurso da Hinferioridade", seja teológica, ,('ja científica. O terceiro caso ameaça ser ainda mais apoca líptico. O au mento dos avanços tecnológicos nos países centrais tende. alL'lI 1de provocar a redução da s classes operárias no "centro". a colocar (1, pa íse -; periférico s cm ulll a s ituação desesperadora, pois o que lhes 1lt..' l"Illitc pleitear por al g ul11 respe ito no intercâmbio internacional é, hasicamcntr. a mão-dc-<lbn.l harata e a abundância d e a limentos e de tl1atérias-primas. Ambos os e lementos, mais o primeiro do que o se1-!llIlun, tendem a ser s ubstituídos pelos avanços tecnológicos. quadro qlH.: é aglldizado pela s dívidas ex te mas, impedindo U ;lCú1l1ulo úe ca pi ta l pwuutivo. Tlldo isto gera recessão, diminuição de sal~rio c do percentua l o rç:'.II11ent:írio o es tillrldo a obras sociais l' ao combate à miséria. A s princirai s vítimas dessa situação são a maioria menos l:t\"o rec ion do po vo latino-a meri ca no, que tende a crescer cm número, I'laças an re c rude sc imcnto d ...·lllográfico. Não ha \'l'fIllo lIIudifit:;u;Jo uu levl'rsão ua atual tc ndêllci3. (_ .) esta re· ro ra til' q u:tlquc l l.: ulllpctição intctll",c ional. t:Olll UI1\ ;, ropulação j( 1\ C/ll l"(Hl .... i(l c r~l\ c 1111 l'lI II: tk'tcrinl<'IIJa CIII ra7;io d e l'a rcill'ia~ alimelltares c sa nit;-,rias CkIIlClll:lll':-'. C l'lIl euucação dcrir ic·lltc. com lIotóri ~t 111:11 ~jllõll j':I.; ;i(l III 11: 111;\ l"Illln 1110 ... de pllhrl.:/a :th ... olut,l. {·\l1ll II til a gralHk 1,." . 1111,; ;-1, 1 d a 1.:LI · ..... I..· II l lI"l ;·III;1 t ' t.:nl llllll1 si:-.h:tII:t pl·II;1 1 qut' l aw.; a dl l ll;i o d i I l.' pl!:';·;:i l · lllnli ; IIlI V" ; 11111! l· •• I,1 de I'r l· ... l t..: ~l'1)1 \.: nIHlvll .I\: :io'·< IIH\ ~ / :\ I I .\!{( l N!. I,ILl! t.'II'" I{:tu!. "'11 /'1/\1 d 1'/· ti" ~I .1\"IIL11'l·lwl j' <I ci(1.~ pC·fllI .' l't'nJi.!,/, :\ pt:rd ;, tlt' kj.:dtimi· .\1";' I o pç" ,1.1 ( \llll"t'i~' :l!l I l õld \ ,·U I' ;I t~ \ 'llI:'l1Il I' n!rll .... ; t l' l n ' · >I ,. I ' 1 DA "lNVA~ '\O" DA AMÉRICA AOS SISTFMAS rFNI\IS DF. Ut)JF: O DI~('III{S{' .. 2~5 Essa situação daria ao sistema penal a incumbência de conter aproximadamente 800/0 da população da região, formada por uma kgião de miseráveis. Obviamente, essa visão também corresponde a um projeto genocida que. segundo ZaITaroni. devido à sua amplidão. poder;' ser bem mais nefasto que os outros doi s. No caso de não desenvol vcrnlOs a capacidi.lde dI,! Qcelera<.'liu hi"rú,.;co. caidamos. inevitavelmenl e, neste projeto de repúblicas let."lu)·uliglin/ui cas, que reprc sentariam o eqtli va lente t Cl'l wc o!(1nia!i~I;, d ~ l ::-; r l.'l.llíNicQs o!igfÍrqll ;c:as úo I1co co l o niali s l1lo.(~· Zatlaroni considera peç a-chave para evitar a veri li . . . 3çào de sta tccno-apocaliptica-implacávcl realidade a neutralização do s istema penal como instrumento desse no vo colonialismo. Dai se deprecnde a urgênc ia de uma "resposta marginal no contexto da crise de legit imidade do exercicio de poder de nossos sistemas penais".'.' Na primeira fase colonialista, a mercantil, o sistema penal não chegou a ser um instrumento tão centra l de perpetuação do g.enocídio como o foi nos outros dois periodos subseq üentes_ Nessa fa se. os sistemas escravistas realizavam esse papel. No entanto. com o predomínio do trabalho livre-assalariado a partir da revolução industrial. que marca o inícjo do neocolonialismo , os sistemas penais. em especial o aparelho policial. passaram a se r o principal instrumento de cOl1 tro le e de manutenção do sistema instiluído, ou seja, de manutellção do genocídio que tal estrutura reprcse nta. isto sem falar nas própri as práticas de l~u nho genocida empreendidas por esses sistemas. infut111:Jdos por um discurso antropológico racista que intensiti ca a sua atuação destlutiv3 . Tais características são contempbdas contempOfi.lIlCa11lCntc com toda a clareza: confrontos annados; fuzi lamc nto~ sem proct.! SSO (muitas vezes inc\uidos em um confro nto simulado): grupos parapolieiais; torturas; uso abusivo de armamento; violência perpctrada contra os presos; indiferença a doenças contagiosas contraídas pel os presos, que morrem sem tratamento: a atuação da polícia urbana. que "atira primeiro e depois pe rgunta ", no que. muitas vezes seguI.! as orientações dos próprios chcfc~ de segurança etc. Esse quadro piora muito mais em tempos de rcpress:io politic,, _ A violência cotil.Han:1 do sistema pcnal recai sobre os setores mais \·ulneráveis da população, sendo que. lia América latina, a ss ulllc U11l aspctt n étllicll. "COIllP a contriIHli..,: .in do sj~tl' l1la pena l p;lra a l'\tiIH•.'i1o dll índin llU \\ lIítidp predomí nio de negros, Illu!a tps c llll' st iç(lS I".' ntre pn:..::ps l' llH'1 !o:- . " ZAFI-" A RONL Eugenio RmJI. OJl. ( ·/1. p. 122 . tol ZAr! '\RON I. FUl!('nin R:llJl . Or. d i . P 123 . b(o ,,~ 1\11 \U"t\J I . l t'pt.·tlip lhúl ()," " i "' ~ ':; J9 256 JO.t C ARI.OS MOREIRA DA SILVA FILIIO As agências não judiciais do sistema penal atuam mediante uma estrutura disciplinar, urna organização militarizada, fato que no Brasil tomou-se mais palpável com o processo de militarização das polícias neste século ." Assim, a atuação desses órgãos procura esquadrinhar lov a a po puh.lç'iio c ma nte r so bre ela a sua presença onipo tente, um nlhar hierá rq uico, tlue l1 um rrimeiro momento subme te qualquer ind i\'iuualiuade à s ua a utoridade. Essa aut o ridade, ou poder, é I'cc nldescida por vários fatores c xtcnlOS. tais corno a não-ingerência dos órgãos j ud ic ia is em muitas questões - o que se faz por motivos politicas, por tllll ''<.,'(\rpora ti visrno de inérci a", situação em que, visando à manutenção de c~rto \'tatlls , é melhor "' nâo se meter" - , as campanhas de lei e ordem L" o ~arc l dos mei os de pro paganda, que a todo o momento exaltam a at uação po li c ia l c ex ibem , c omo sina l de triunfo sobre a c riminalidade, urn a pilha de <:ada vc rcs. ·' Nossos sistemas pena is reproduzem sua cI iell tela por um processo de scleção e condicionamento criminalizantc que se ori enta, por e stereótipos proporcionados pe los meios de comunioção massa". 70 Conve ne-se o indi viduo em um " suspe ito profissiona l" . Não é preciso dizer quais seriam as camcteMsticas dessas pessoas: has icamente pobres, pretos, mestiços e mulatos. A carga estigmática é tão grande e poderosa que as pessoas que dela são objeto tendem a introj etar o rótulo que lhes é fixado, principalmente quando se trata de pessoas carentes, Seu co ntato com o sistema pena1 acaba gerando a colltinuação do mesmo em outros círculos, o estigma atinge todas as re lações sociais. Como se não bastasse a estigmatização e a violência, ex isle uma espécie de efeito regressivo, observa Zaffaroni , resultante do encarceramento nas prisões, ullla fonna de deterioração do indivíduo, que passa a não agir mai s co mo um adulto, em virtude das condições às q lmis t ~ 1Tl de se adaptar. Onvial11(:nlc C'ssa regressão ncaha telldo como fe ito ulHa maior cficil: l1cia !lU t:lllldiciollurncnto C' na irHl'lljcçiiu do pnpel de " dd illqlicnle. Ta is e feitos ue dctcrioraçãq do indivíduo objeto do sistema penal , assinala Za ffa roni, foram confundidos, pelo paradigma etio lógico. como sendo as "causas do delito" . /\ lém do proc c!õô ~ o de c rirn ina li 7.8ç,ão , exi ste um " processo de po licí7aç rl o·' . AlTlbos recaem sohrc as camadas mais carenl es da população. Cria-se um c stc rcútipo do policiul: " violênc ia j usti ceira. solução dos confl itos sem necess idade de il1tervenção judicial e exccutivamenh: , I!laClti Slll o, scg urílllça, il1di fercll ç':1. fre nle à mort e :llheia, coragem ue fi. ,,' ssc' rC'sp l'ito \ ('1 n< m( a,s I !! 110. N:I Sl'Il Os mllil are,l /lfI r od,·,., Sã·,! Paulo- Ac ull'rlli1.:a, 1')1).1. 7 1\F FARON L F u,!!cnio Ib lJ!, 1: 1II 1'1f 1/ '{l elas P('lI fI,~ perelid'l\ : <l perda de It:gi limi · II Id, ' th"j~t (' n l:1 1'\'11:11 ! 1:1t! \ ,ll li:1 R Oll u ll" l' rdH'~: ll' l\tI1 ir ! 0 r'\'..: d .1 ( n n c ('i .... :ic ~ . , , " DA "INVASÃO" nA AMt!RICA AOS SISTFMAS PEN AI !\ DE HOJ E: o n ISCl IR" o. .. 2:" 7 em limites suicidas ( ... ) ser vivo, esperto e corrupto"." A deterioração desse individuo toma-se óbvia, pois não se espera que alguém possa agir de forma racional e equilibrada com todas estas "virtudes'. Além disso, não hã a menor assistência psicológica e educativa para os policiais depois ou antes de enfrentarem e causarem a morte: «presume-se que o indivíduo deve est:u psicologicamente preparado para tudn isto. porque o contrário seria impróprio do macho que o poli t' izado ueve ser"n Esse estereótipo é alimentado não só pelos meios de comunicação e pela sociedade em geral, mas também está presente nas próprias academias de polícia. A maioria delas não possui, em nenhum momento de seu curriculo, alguma menção a direitos humanos. incenti va -se a postura violenta e combativa dos futuro s policiais. O sistema penal, por gerar continuamente o antagonismo c a co ntradição social, contribui dccisivamente para o enfrnquecimento e a dissolução dos laços comunitários, horizontais, afetivos e plurais. Os processos de deterioração examinados acima colocam como inimigos em potcnf: ial pessoas que pertencem às mesmas camadas sociais e econômicas. Quanto maiores e mais graves forem nossos antagonismos internos. maior será o condicionamento verticalizante transn acionalizado e menores sérão. portanto, os laci de poder capazes de orcrecer alguma résistência ao projeto tccnoco lonialista. Uma sociedade verticali7.ada constitui, obviamente, uma sociedade ide.ll para ser mantida sempre dependente, impedindo-se qualquer tClltati va de aceleracão histórica, enquanto uma sociedade que equi libre relações de verticalidade (autoridade) com rclaç(ícs de horizontalidade (de simpatia ou comunitária) apresenta-se mais resistente 'à dOllliIHH,:50 neo ~ tcenoclll onial. n " c(llIIUllidndc l! Uf1\:1 rorma de resi stê ncia alltkull,)(\i:lIi ~ la, pni s quem se :.!podem úe um plldcr \'l.' 11icalí7:.!do disp ik apenas lk t1Ill d o~ centros de poder. Aliás, esse tipo de orga ni zação já não era bCIll- vinua desde o século XVI. Foi lembrado o fato de que, 110 discurso de G ines de Sepúlveda, por ocasião do debate de Valladolid, em 1550, o fil óso fo acusa u fonna etc vida comunitárin dos (nuios como UIll sina l dr se u " primitivismo" e de sua ·<inferioridade". Também constato u-se que esse tipo de organização~ que perdura no mundo hod ierno entre os indígenas, revelou-se como uma fo rma de resistência à acultu ração d l~ que foram vitimas. Contemporancamente, mantém-se o plano comunitári o e hor izontal ~m um ní vel de margina lização. O espaço p úb lic: o é o --Z A FF ARONI. Eugenio R,út 01'. ri f,. p, J8. 71 N I. Eugenio Raú l. O". cir" -' 1, Z AF FI\\ RO I ,~ I ) l\J1, h l~tC Il !P H:lIIt ' 'rI (-ii í' " I p 140 . I I ~ I I !, " j3 DA "INVASÃO" OA AMtRICA AOS SISTEMAS PENA IS DE flOJE: O DISCURSO. JOst CARLOS MOREIRA DA SILVA FILIIO 258 259 A lu gar da estatística ; a~ rcssoa~ não se reconhecem como pessoa!;, mns sim como núme ros e como aulo ridades. No âmbito dos novOS movimenlos sociais. que passaram a ser caracterizados a partir da década de 70. do século passado. ocorre algo diferente e perigoso (para os controle, c Clllrnis . é cl aro ): as pessoas c ri a m uma identid,1(le comum, em virtud e de sua situação de cxclusfio, e se reconhecem no espaço público C0 ll10 pessoas. com problemas. qualidades e aspirações; tomam-se 74 \' ~ rd a d cir(ls suje itos . com voz própria. H. ('ONCI.1 ISÃO Deparando-se com todos os problemas enfrentados hodiemamentc pela América La tina, pode-se facilmente indagar até que ponto vive-se c m uma "sociedade às avessas", como assinala Las Cas..1.s; ou em tlm3 U " sociedade melada'\ no dizer de Bruit; uma Hsociedade marginal na o bservação Zaffaroni. ou. ainda, como quer Oussel, em lima sociedade na qual ocorre o "ocultamento do outro" . Para se entender melhor o que Bartolomé de Las Casas chama de " soc iedade às avessas". necessário é tratar o pensamento político do frei dominicano. c ujas idéias nesse campo ~uperaram as de seus rontemporâneos. a lém d e anteciparem muitas considerações libertárias da teoria política moderna . O bispo de Chiaras, bem C0l110 os demais pensadores de s ua época, foi influenciado pela corrente filosófica que vai de Aristóteles a Santo Tomás de Aquino. Em um primeiro momento, a teoria aristotélica era malvlsta na E uropa, pois constituía numa ameaça à visão agostiniana de mundo, então dominante. Enquanto para A ristóteles a sociedade civil era uma criação humana direcionada ao pró prio homem, para Santo Agostinho era ape nas uma transição para a vi da eterna. Obviamente. não roram as idé ias de Aristóteles acerca da escravidão que inlluenciaram Las C asas (como se sabe, quem foi influenciado por estac; idéias fo i (iincs de ScplJlveda). A parte do pensamento aristotélico que influenciou o padre dominicano foi aquela q ue dizia respeito à ~lIhllli ssão de touas as coisas ao desenvolvimento da natureza, encamiII balldo-se para a perfeição <,"to lógic3, incluindo-se ai o próprio homem, ' 11!1'. <,l'll dq II!II :\lli rll :1I I'"li ti ,·p . 11'f"ia o q'U prnf!J"es<;' (I p: \ra :1 jll"tiça e ~ , ,~ ~:".: Il"' l l\'t l " d~ \ c r \\ (H. I--. rd ! R . .". 1I10 1Ii" li.' J II"I,.' 11<l Cnr!tl " . 1'lrI~·{If •." II! <I ;",.(,!ic,, : fUfLd íl~ S:It' I':wln : Alf:.J-() l nq! ;!, ll}lM, p . 10 /· 153; ....;( ' I I I A J I I N 1<)1{ . JI''''; I il" .ll ,h' ,te. /'I.l ~\\ iment l )" .. oe iai.; Clm" ~1-'II ,:ja de- Iltl \'\\!> II H.:t1 1o" 11111;1 IUH, l l"I !l IW; t "','11"" ,1,H I , III 'i l, " " i\ HHI!l} A rt IN t ( lI~ " ,I ! I" I <le((lr).!l . 1:' felicidade dependente desse curso natural de todas as coisas. Para Santo Tomás, natural seria aquilo comwn a todos os homens, seria a CSSl:lll' Ül da espécie humana. Nessa idéia Las Ca<;aS baseou o princípio da igua ldade entre todos os seres humanos, sem importar seu grau civilizatório. Além disso, partindo da clássica hie rarqtJia das Icis proposta por Santo TOlllós de Aquino, o rrei entende que a lei natuml seria ditadfl pelo pr(lpriu intelecto hwnano. seda a sua manircstação justa de racionalidade. Tal entendimento seroÍ usado para just ificar a legitimidade das sociedades politicas dos índios, criada a partir da própria vontade justa e reta ra zno dos mesmos. Para Francisco de Vitoria, no entanto, a sociedade seria uma cri:u;flo dn vo ntade divillO, () que p(.~ rt1titia t'Ollsidl'rnr :1 :-;\li,: i ed:II!t, indlgenu como pré-politica. po is não cl."hceia Ueus. O tomismo, no século XVI. fazia parte de wn escolasticislllo não ortodoxo, surgido em virtude da emergência do luteranismo e do pensamento maquiavélico. considerados pela igreja ameaçadores à sua 1110ral. Assim, dizia-se em ,c ontraposição a Lutero. para quem todas as leis vinham diretamen!e de Deus, que uma coisa era a lei dos homens. e outra era a lei divina. Aquela só estaria vinculada a esta por intennédio da lei natural. e não diretamente, como queria Lutero; a partir dessa constatação. para se chegar a tUna idéia de consenso necessário ent re 05 homens era apenas um passo. Tal conclusão foi acatada em parte por Molina. Suárez e Vitoria, componentes da Escola de Salamanca. mas lo i Bartolomé de Las Casas quem desenvolveu esse entendimento às últimas conseqüências, superando o pensamento de seus contemporâneos. afirmando que o domínio espanhol sobre a América não era legitimo, pois não estava apoiado no conSf"IlSO dos índios. Enquanto Vitori fl e Suárez partiam da idéia tomist.. de que o povo, quando elege um soberano, aliena sua soberdOia, Las Casas, partindo de Bartolo de Sassofe rrato, um pensador italiano da baixa idade média. afirma que o povo apena , a delega. que continua sendo o detentor e o titular do poder. Naturalmente, o poder de Castela sobre o «Novo Mundu" c!'ta\õl fundado na concessão papaL Para Las Cosas, isto significt\\·u 1I11-.! (l poder c~piritual era mais valioso e maior que o temporal, e que. antes de esta r fundado no Papa, que era só um representante de DeliS, estava alicerçado no direito natural, em Deus e no povo. Ou seja, o poder politico da Espanha só poderia ser exercido sobre a Américà se esta antes se cncontras<.;c sob o domínio espiritual da Igreja, domíllil\ l'sse que deveria passar so b o consenso indíge na. Afirma Las Casas cm S t\;l Treil1(// !H '( '!JOs icifJlles 111U.I· . illridh 'U ~. : Todo~ os reis c senhores nawr.,is, cidades, comun idade:' l' pm l\S dl' ( ·a.;I,:I:, l'11I H , ' , I' tOtH' lil" í ll din s "ij p nbt i.l!:u l p'; :11C(") lIh cc ('r p <;, r ci ... ~ 260 Jost CARLOS MOREIRA DA SILVA FfL.Ht) DA "INVASÃO" DA AMtRICA A OS SI5TEMA~ PENAIS DE IIOJF: O DISC'lJR<:;n . universais e soberanos senhores e imperadores da forma dita, depois de ler recebido. por sua própria e livre vontade, nossa santa fé e o sacro batismo, e se, antes que o recebam, não o fazem e nem querem razê-Iu. não podem ser punidos por nenhum juiz ou justiça. 7S A lei era essencial ; para Las Casas, deveria identificar-se com a justiça, como defendia Domingo de Soto. Os homens estavam submelidos à lei, mas s6 porque ela era produto da vontade coletiva. Discursa Las Casas no tratado De Regia Potestade: Toda Autoridade püblicó1, rei ou governante , de qualqu er reino {HI co ~ lIlunitlade polflica, por ~ob('rano que seja, nrio tem liocrt.!:u,k "L'1I1 pode r para mandar nos cidauiíos arbitrariamente e ao capricho de sua vontade. senão de acordo com as leis da comunidade política. É assim que as leis deve m ser promulga.das, pam promover o bem-estar de todos os cidadão ~ c nunca em prejuízo do povo. Devem ajustar-se ao interesse público da comunidade, c não ao contrário, a cOlllunidade, às leis. Portanto, ningu ém tem poder para estabelecer coisa alguma que prejudiqUe" o povo. O rei ou governante não manda sobre os súdi~ tos na qualidade de homem, senão como ministro da lei. Assim. não é dominador, mas administrador do povo por meio das leis. Levam o título de reis, porque curnprem as leis em consciência , mandando o que é justo e prbibindo o que é injusto; e, assim, os cidadãos são livres porque nâÓ obedecem a um homem, senão à lei.17 A.lém dis so, contrariílmcnte ao que pensavam muito!\ padres e uou trinadores. para o paure dominicano Q e vangelização, conforme . cxplessa em DeI tínico modo, deveria ser sutH, delicada, compreendida pelos destinal,'u-ios da mensagem, adorada por eles, deveria respeilar o direito natmal dos índios corno pessoas livres e soberanas. !léctor Hern3n I3n.il defende a tese de que Las Casas, partindo da Icoria de lJartolo sobre a plurafidade de autoridades políticas soberanas, defendia uma relação federativa entre Castela e os reinos indigenas, pe la qual ao reino espanhol caberia (I poder centrdl. "las sem outonomia para intervir na jurisdição dos governantes indígenas (estes só deviam pagar um tributu de forma indireta, isto é, ao seu príncipe, que depois prestaria contas à Castela). Tal relação federativa passaria a existir depois de um Tratado. Contudo. nesta idéia de federação permanece uma inconsistência com o futuro perspectivismo religioso de Las Casas, pois o dominio absoluto ainda seria Ja religião cristã, personificada na figura do Papa . Mas sabe-se que para o dominicano cbegar à inovação do pcrspectivi smo tcve de passar por um longo e peno!=Oo processo de desilusões e lutas. I Diante da pouca eficácia da praticidade de suas idéias, que resultou, e nlre outras coisas, na criação de uma legislação de proteção aos índios, como as Leis de Bllrgos, de 1512, e as Leis Novas, de 1542, escreve o bispo de Chiapas cm sua obra Los /eso/'Os dei Peni: Ne nhum rei. senhor, povo ou pessoa privadn ou parlicular de todo aquele mundo das (ndi as, desde o primeiro dia de sua descoberta até o dia de hujc, 30 de agosto de 1562, reconheceu nem aceitou de maneira verdadeira. livre e jurIdica. a nussos inelitos reis da Espanha como senhores e superiores, nem aos delegados, caudilhos ou capitães enviados cm nome do rci , e a obediência que até hoje lhes têm prestado e agora prestam. é c !'cmpre foi involuntá ria e coagida .16 Ressalte-se aqui que uma lei que não contemplasse o bem da comunidade não era consideruda como tal pelo padre dominicllno. No entanto. para Santo Tomás c Franci sco de Vitoria, o rei nfio c~tava obrigado a obedecer a lei. Para Las Casas. o bem comum não era um conceito abstrato, ele o entendia como a necessidade de dividir as tarefas produtivas. incluindo • funcão de governar 3 comunidade. A idéia do bem comum como a finalidade de governo e de convívio social veio, no pensamento Jascasiano, de Remigio de Girolami, pensador do século XI V. Com relação às idéias políticas de Las Casas, di z Bruit: Em Algunos principios, outro dos grandes tr<1tados. o domin icano discute o pacto politico entre governantes e governados. O I'm'O delega a soberania ao rei, para que este governe em função d{l hCIll comum. finalidade que autoriza o governante a ditar leis que podem limitar os direito~ indi viduais, mas nunca os direit os colcti\'os ( ... ). As preocupações de Las Casas com as liberdades públ icll:-: l' ind ividuais, C<lm os 1i.IIHJ::unclll os jurídicos da ~oc i eda d(' Ql1l' "l' pr· gilniz<Jva. C01l1 (} desejo tk Vl'r n.1 Ámêrica IIllla Socil'dadc til' din.:ito I! just iça social, de res peito aos direitos hum:mos, Ç0I1fi!~ur:l :-: ua \'i~fio dos destinos do co ntin en te.'" O poúer espa nho l não era leg it imo. nào estava apoiadu no consenso dus pO\iOS ind íge nas. A obediêlH:ia roi im postâ pela rorÇa , Ilfio havia \ t'r dadciTíllllcntc direito. " , -, BRU I r. Il éclur Ikman . [J(/f'(nlol/lc! de LLl"; Cosas e a .çimu/açc1o dos ~'eltcidos-. l'nsaio sobre a conquic;l<l lmp;i nica d.1 AI11i.!r ica . Camrina s: t Jr ,;çamp: São Paulo: Iluminuras. jQ95. p 102 I',!'t ' !! I l(-lI"l 11" 111111 f ' I" 'r ti 1111 261 17 ~~ BR UIT, l1éclor Bernan. 01'. di .. p. 10 6 ~ I 07. mn ' lf . lliT!Or ll{'rn:m. O" ,il.p 10~ I (lI) . JOSE C'ARLOS MOREIRA DA SILVA FILHO 262 DA: lNV ASÃO" DA AMERlCA AOS SISTEMAS PENAIS DE BOJE, O DlSC'URSO... 263 ; Assim, para Bartolomé de Las Casas, uma verdadeira sociedad<! , constitula-se sobre esses princípios, em que a sobemnia e a dignidade do Indio, enlim. a sua própria conrução de sujeito, eram respeitadas. O frade, ao relatar a destruição das ln ruas, alertava para um perigo que se projetava no futuro: a constituição de uma "sociedade às avessas". No entanto. confonnc cham a a atenção Bruit, ele apenas viu ou qui 5 ver um dos lados da moeda na construção dessa sociedade invertida: a ação dos espanhó is . Não levou em consideração a ação velada dos índios, a "meJação" da nova sociedade. Mas, apesar disso, ao vislumbrar a existência de urna sociedade que não pôde vingar por não estar fundada no consenso dos índios, o dominicano acabou colocando os ameríndios co mo causa central do fracas~o da nova sociedade, fracasso que ficou explíc ito não só na falta de diálogo e entendimento entre índios e europeus, mas també m no mau governo e na corrupção que .tomou conta da colônia, caracteristica anotada por quase todos os cromstas. Tais conceitos de "sociedade às avessas" e "sociedade melada" vêm desembocar tanto na idéia de " ocultamento do outro" , do "ser" latino-americano. de Dusse l, quanto na idéia de "marginal", em Zarraroni ." O penalista argentino enuncia quatro concepções do termo aludido que se complementam, formando urna ideol~gia .de ex~lus~o. "Margi nal", primeiramente, refere-se à nossa localrzaçao perr~érr~a no poder planetário ; depois. di z respeito à relação de dependencta com o poder central; também se reporta à imensa m~io~ia?a pop~lação latino-americana, à margem do poder e vitima da vlolencla do sIStema penal; por fim. indica a configuração cultural de "marginalização", imcrsa em um profundo sincretismo e fabricada pelos processos de colonização. Um dos piores efeitos dessa configuração. observa Zarraroni, é a estigmatização de qualquer pcnsamento contra a maré na região marginal como me io de se evi tar a contaminação e de se ganultir a aprovação dos controles de qualidade das agências centrais. Portanto. a dificil situação gerada por este pensar conlnJ a maré marginal produz. freqüentementc. uma vertigem capaz de leva r os autores de esforços desta natureza a se apegarem a posições completamente nnlagõnicas e negadora~ das NII próprias ha~cs úe se u pcn..,nmcnto mais produtivo. Para o autor de F.m busca das penas perdidas, a garantia de que o IH,,'Il<.;a lllcllto prndulivo nfin <;1.' perca IH1 vt!r1igcm é tl sua fUlldamcnt'H;ão '" 7.;\r~ARüN I . EUl!c!l i\, Raú1. fl/lll/l~('fl da.~ pl'nm perdida,s: a perda d~ lcgit.i rn i(!:Ide do sistl'!lI;! penal. Tr:,tI. V:\1!i~ t~Olll;l1H\ Pt.>dro'íJ c '\,mr I 0lh'~ d:1 (onl'e'r çilo. 1" ,,1 1. 1' 11'.'!!I' R\, ,,·)t l, 11)111 " 11, 1.111(' na pessoa. na vida humana como valor ôntico. Nesse sentido. o próprio Zaffaroni observa o seu distanciamento do pensamento de Foucault, na medida em que configura posição central ao homem, e não o considera um mero produto do poder. despido de sua condição de suje ito pensante. Esse tipo de critica que se faz ao pensamento de Foucault, isto é, de que o poder, na sua concepção. seria uma espécie de "ser etéreo", despersonalizado, dá margem a muitas polémicas. que aqui não se dispõe de espaço para aprofundar. De qualquer fonna, chamando a atenção para a urgente necessidade de neutralização do sistema penal como executo r de práticas genocidas-coloniali stas, bem como propondo um no vo pape l à crimillOlogia, qual seja, o de instrumentalização da decisão po litica de salvar vidas humanas e de diminuir a violência política em nossos países, Za ffaroni fiTl t:a o pé no valor vida e no valor human idade. Com as reflexões presentes neste texto, desejou-se chamar a atenção para a correlação entre: o genocídio tisico e cultural da colonização americana (em sentido afTlplo), tendo-nos detido mais no primeiro pedodo, em virtude do direcionamento que este imprimiu para os pedodos subseqüentes; o sàber antropológico de cunho racista que se implantou no espaço colonial, servindo de fundamento à disciplina da escravidão. e que permanece até hoje. informando a disciplina dos sistemas penais latino-americanos; e. por fim. a prática violellta (' genocida do modelo penal latino-americano. Enfim, como resultado dessas correlações, percebe-se que, enquanto na América Latina persiste a desconsideração pela imensa maio ria da população miserável e oprimida, continuar-se-á sob a vigência de uma sociedade às avessas, em que o "outro" não tem espaço na "comunidnde de comunicação ideal", cm q ue ri alteridade latino-amei icana é encoberta por uma cultura eu rocentrista, nossa herança indígena é ignorada, espezinhada por uma conliguração cultural de marginalização. É importante ter consciência de todos esses processos . po is só assim sr poderá atingir uma Utransmodemidade" um "sétimo sol" em que não mais brilhe o vil metal, mas sim a vida humana. o amor pelo próximo e pelo di"""le. I 9. RF.FERItNCIAS BIBLIOGRÁFICAS A D ORN e), S{~rgit, . Os apn·ntli=t2,\ do podo 'I": (I h~lt'han.·Ii~mH l iherill 11:1 I' (l lhi ~':' lo. ,I-:i leira . Rio t!{! Janeirn; I'u/ e' T('rr~l , 1l)~R . ATTAL!. Jacqlle~. 1492: Os 3c(mtcl'imCIIIOS que marcaram (\ inícitl díll·I '1 1!1l1~ kll\:1. Trad. 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