Cartilha Mutirões 01 - Cáritas Diocesana de Almenara

Transcrição

Cartilha Mutirões 01 - Cáritas Diocesana de Almenara
Cartilha Informativa
Produção rural com princípios na agroecologia
Projeto
Produção rural com princípios na agroecologia
Jequi nhonha, abril de 2014
Realização:
Projeto
Patrocínio:
Expediente
DIRETORIA DA CÁRITAS DIOCESANA DE ALMENARA:
DIRETOR PRESIDENTE: Jorge Rodrigues Pereira
DIRETOR VICE-PRESIDENTE: Adão Pereira dos Santos
DIRETOR TESOUREIRO(A): Jacinta Ribeiro Aguiar
DIRETOR VICE-TESOUREIRO(A): Celia Vier
DIRETOR SECRETÁRIO(A): Ilma Cris na Rodrigues Moura
DIRETOR VICE-SECRETÁRIO(A): Doraílde da Silva Matos
CONSELHO FISCAL: Reginaldo Antônio de Matos e Sheila Ferraz Samasceno
SUPLENTES: Aurita da Silva Oliveira Rocha, Certruída Catharina Maria Van de Vem e
Hugo Maria Van Sthkelenburg
COLEGIADA TÉCNICA DA CÁRITAS DIOCESANA DE ALMENARA:
REPRESENTAÇÃO DO PROGRAMA DE PROMOÇÃO DO DESENV. SUSTENT. E SOLID. NO
SEMIÁRIDO GARANTINDO A CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS: Anita de Cássia Santos
REPRESENTAÇÃO DO PROGRAMA UMA TERRA E DUAS ÁGUAS: Decanor N. dos Santos
REPRESENTAÇÃO DO PROGRAMA MUTIRÕES DA TERRA: Vladimir Dayer L. B. Moreira
REPRESENTAÇÃO DO PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS: José Limeira dos Anjos
REPRESENTAÇÃO DA EQUIPE DE COMUNICAÇÃO: Geovane Assis da Rocha
SUPLENTE: Vanessa Ayres
EQUIPE TÉCNICA DO PROJETO MUTIRÕES DA TERRA:
COORDENADOR: Vladimir Dayer Lopes de Barros Moreira
TÉCNICA DE CAMPO: Patrícia Andrade Freitas
COMUNICADOR POPULAR: Geovane Assis da Rocha
GERENTE ADMINISTRATIVA: Fabiana Gil de Souza
Ficha Técnica
2014 Cáritas Diocesana de Almenara
DESIGN/FOTOS DA CAPA: Geovane Assis da Rocha
ILUSTRAÇÃO DA CAPA E CONTRA CAPA: Gildásio Jardim
FOTOS DA CONTRA CAPA: João Roberto Ripper
1ª edição – 1ª impressão
TIRAGEM: 3.000 exemplares
Esta Car lha Informa va é parte integrante do Projeto “Sistemas Agroecológicos e
Comercialização Solidária para Promoção da Segurança Alimentar e Geração de Trabalho e
Renda em Áreas Quilombola e de Reforma Agrária no Baixo Vale do Jequi nhonha – Minas
Gerais”, nome fantasia “Mu rões da Terra”, patrocinado na Petrobras. Uma parte deste
material conta com a adaptação da Circular Técnica 119 "Manejo de pragas em hortaliças
durante a transição agroecológica" da Embrapa.
AUTOR(ES): Geovane Assis da Rocha, Patrícia Andrade Freitas, Vladimir Dayer L. B.
Moreira e Fabiana Gil de Souza
PESQUISA: Vladimir Dayer Lopes de Barros Moreira e Geovane Assis da Rocha
REVISÃO FINAL: Patrícia Andrade Freitas e Vladimir Dayer Lopes de Barros Moreira
ORGANIZAÇÃO GERAL, FOTOGRAFIA E DIGITALIZAÇÃO: Geovane Assis da Rocha
EDIÇÃO DO(S) AUTOR(ES):
Jequi nhonha / MG / Brasil
Fone: 55 - 33 - 3741-1447
mu [email protected] / caritasbaixojequi [email protected]
‘’(...) o acampamento virou noite
O rubro na terra foi ngido
O pavor de rostos sofridos
Na lona preta o luto presente,
Com homens e mulheres valentes
Erguendo um grito de guerra:
Tombaram cinco sem terra,
Mas nos seguimos em frente!’’
Pedro Munhoz, ‘Tombaram Cinco Sem-Terras,
mas nós Seguiremos em Frente’
Agradecimentos
.
A Cáritas Diocesana de Almenara, através da equipe de elaboração desta Car lha
Informa va, agradece primeiramente as famílias das comunidades Paraguai e Terra
Prome da de Felisburgo/MG pelo ânimo, carinho e ensinamentos passados de
forma tão humana, além de toda recepção que a equipe do Mu rões da Terra
recebeu nestas localidades.
Agradecemos também a todos/as que confiaram em nossas ideias e esforços,
principalmente aos nossos parceiros e ao patrocinador, pelo apoio na realização
das a vidades que propiciaram a confecção desta Car lha Informa va "Produção
Agroecológica".
Agradecemos também a diretoria e todos/as agentes que constroem a Cáritas, esta
grande família que nos apóia e auxilia nos momentos de dúvidas e esclarecimentos,
bem como em todas a vidades e descontrações que temos em Jequi nhonha.
Sumário
APRESENTAÇÃO
pág. 09
UM POUCO DA NOSSA HISTÓRIA
pág. 10
MUTIRÕES DA TERRA
pág. 11
O QUE É AGROECOLOGIA
pág. 12
A PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA
pág. 13
1 - MANEJO ECOLÓGICO DE INSETOS
1.1 RECONHECIMENTO DOS INSETOS INDESEJADOS
1.2 INIMIGOS NATURAIS, O QUE SÃO?
1.3 MONITORANDO OS INSETOS NAS CULTURAS
1.4 MÉTODOS DE CONTROLE
MANEJO AMBIENTAL
CONTROLE POR COMPORTAMENTO
CONTROLE UTILIZANDO INIMIGOS NATURAIS
PRODUTOS ALTERNATIVOS
pág. 14
pág. 14
pág. 15
pág. 16
pág. 17
pág. 18
pág. 19
pág. 19
pág. 19
2- IDENTIFICAÇÃO DOS INSETOS
FORMIGA CORTADEIRA
INSETOS SUGADORES
LAGARTAS
VAQUINHAS
GRILOS E PAQUINHAS
ÁCAROS
pág. 20
pág. 20
pág. 22
pág. 24
pág. 25
pág. 26
pág. 27
3 - RECEITAS ALTERNATIVAS
3.1 CALDA DE FARINHA DE TRIGO
3.2 EXTRATO DE PIMENTA DO REINO, ALHO E SABÃO
pág. 28
pág. 28
pág. 28
Apresentação
A produção de alimentos saudáveis, em quan dade adequada para suprir as
necessidades humanas, tem demandado a prá ca de uma agricultura sustentável,
que possibilite a interação entre os seres humanos e o meio ambiente.
A valorização da biodiversidade, o es mulo à produção diversificada, prá cas
ecologicamente adequadas e questões como gênero e cultura mostram as
caracterís cas da Agroecologia.
Nesse sen do, esta Car lha Informa va “Produção Agroecológica” traz
informações acerca dos fundamentos e prá cas agroecológicas, abordando os
principais desafios que o agricultor e a agricultora enfrentarão no processo da
produção orgânica, sendo então um subsídio para produção de alimentos
saudáveis preservando o seu espaço de vida e trabalho.
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Um pouco da nossa história
A Cáritas Diocesana de Almenara é uma organização que foi fundada em agosto de
1983 e nasceu com a missão de lutar pela promoção da vida e em defesa da jus ça e
da solidariedade em uma das regiões de maior desigualdade e exclusão social do
país, o Baixo Vale do Jequi nhonha. É uma en dade membro da Rede Cáritas
Brasileira, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e
compõem a Rede Cáritas Internacional.
Desde sua fundação a ins tuição tem
priorizado atuar junto às populações do
campo, potencializando as inicia vas
locais e a par lha/construção de
conhecimentos inovadores, com vistas
ao Desenvolvimento Rural Sustentável e
Solidário. As linha de atuação são a
Economia Popular Solidária, Gênero,
Mobilização Social, Comunicação
Popular, Convivência com o Semiárido,
Agroecologia, Soberania e Segurança
Alimentar e Nutricional, através de ações
e trabalhos importantes que marcam
nossa caminhada.
A Cáritas atua na perspec va da Solidariedade Libertadora, promovendo a
organização social e comunitária, mobilização e lutas por direitos historicamente
negados ao povo do campo e da cidade. Nestes 30 anos atuamos com os 17
municípios que compõem o Baixo Vale do Jequi nhonha, Diocese de Almenara, nos
municípios de Almenara, Bandeira, Divisópolis, Felisburgo, Fronteira dos Vales,
Jacinto, Jequi nhonha, Joaíma, Jordânia, Mata Verde, Monte Formoso, Palmópolis,
Rio do Prado, Rubim, Salto da Divisa, Santa Maria do Salto e Santo Antônio do
Jacinto.
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Mutirões da Terra
O projeto “Mu rões da Terra” tem por obje vo
melhorar a qualidade de vida de famílias
camponesas de Felisburgo/M G a par r da
promoção da soberania alimentar, ampliação da
produção agroecológica e do fortalecimento do
acesso a mercados locais. Para isso irá trabalhar
com estruturas produ vas que envolverão o cul vo
de hortas orgânicas e a criação de abelhas e aves
com cada uma das 105 famílias das comunidades
rurais do Terra Prome da, área de reforma agrária
do MST, e a comunidade quilombola do Paraguai. O
projeto iniciou suas a vidades em agosto de 2013,
e tem como princípios norteadores a Agroecologia,
a Economia Popular Solidária, a Comunicação
Popular e a Soberania Alimentar e Nutricional.
Também tem um foco no fortalecimento dos meios
de comercialização já adotados pelas famílias que
estão par cipando do projeto, como a feira livre que ocorre semanalmente na
cidade, e o fornecimento dos alimentos produzidos para escolas via PNAE,
programa que garante que pelo menos 30% dos produtos adquiridos na merenda
escolar sejam oriundos da agricultura familiar. Nas a vidades há também a
previsão da construção de uma Fabriqueta de Ração Comunitária, a implantação de
um Campo Comunitário de Sementes Crioulas e a adequação à legislação sanitária
vigente das Casas de Mel já existente nas comunidades. O Mu rões da Terra
contribuirá também com as discussões sobre o des no adequado de resíduos,
incen vando a redução da produção de lixo, reaproveitamento e reciclagem.
Com muita animação e um espírito cole vo, a Cáritas conta com novos/as Agentes
Cáritas para desenvolvimento destes trabalhos, sendo Fabiana Gil (Gerente
Administra va), Geovane Rocha (Comunicador Popular) e Vladimir Dayer e Patrícia
Andrade (Técnicos de Campo). O Mu rões da Terra tem patrocínio da Petrobras.
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O que é Agroecologia
Agroecologia é um modo de produzir alimentos, conviver e viver com a natureza,
respeitando os valores regionais culturais, sociais e de gênero em que vivemos.
A Agroecologia é uma ideia ligada a produção agrícola com bases ecológicas e se
refere ao ambiente natural e a toda e qualquer forma
de produção no campo. Entretanto, a Agroecologia
tem uma ação que vai muito além da produção
rural, ela tem um caráter humano, pois é uma
área de conhecimento social e cultural com um
foco nas necessidades humanas e na orientação
para uma agricultura sustentável. Nesse sen do,
ela consegue unir as ideias da sustentabilidade
ecológica (manutenção ou melhoria da qualidade dos recursos naturais e das vidas
de insetos e outros animais presentes), sustentabilidade econômica (geração de
renda, de trabalho e acesso aos mercados locais), sustentabilidade social (inclusão
das populações empobrecidas a processos de emancipação social e segurança
alimentar), sustentabilidade cultural (respeito às culturas tradicionais),
sustentabilidade polí ca (organização para a mudança e par cipação nas decisões)
e sustentabilidade é ca (valores morais).
A Agroecologia é também uma ciência, pois vem se aprimorando através do estudo
de tecnologias e métodos para a produção ecológica nos sistemas agrícolas. Ela
também desenvolve pesquisas de caráter sociológicas que se sustentam e
se complementam a par r do conhecimento das
populações tradicionais. Portanto, Agroecologia
pode ser entendida como uma proposta de
transformação social, tanto no que se refere às
relações internas da sociedade como às
relações entre o ser humano e a natureza.
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O Perigo dos Agrotóxicos
O Brasil é o líder de consumo de agrotóxicos no mundo. O uso excessivo de veneno
está diretamente relacionado à atual polí ca agrícola do país, adotada desde a
década de 1960. Com o avanço do agronegócio, cresce um modelo de produção que
concentra a terra e u liza altas quan dades de venenos para garan r a produção
em escala industrial. O campo passou por uma “modernização” que es mulou o
aumento da produção, no entanto de forma extremamente dependente do uso dos
pacotes agroquímicos (adubos, sementes “melhoradas” e venenos).
Todo mercado que produz os venenos está concentrado em apenas seis grandes
empresas transnacionais, que controlam mais de 80% do mercado dos venenos.
São elas: Monsanto; Syngenta; Bayer; Dupont; DowAgrosciens e Basf. Nesse
quadro, os agrotóxicos já ocupam o quarto lugar no ranking de intoxicações. Ficam
atrás apenas dos medicamentos, acidentes com animais peçonhentos e produtos
de limpeza.
O uso de agrotóxicos está deixando de ser uma questão relacionada
especificamente à produção agrícola e se transformando em um problema de
saúde pública e preservação da natureza.
Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida
A Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida tem o obje vo de sensibilizar a
população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam, e a par r daí
tomar medidas para frear seu uso no Brasil.
Hoje já existem provas concretas dos males causados pelos agrotóxicos tanto para
quem o u liza na plantação, quanto para quem o consome em alimentos
contaminados. Ao mesmo tempo, milhares de agricultores pelo Brasil já adotam a
agroecologia e produzem alimentos saudáveis com produ vidade suficiente para
alimentar a população.
A Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela
Vida luta por um outro modelo de
desenvolvimento agrário. Por uma
agricultura que valoriza a agroecologia ao
invés dos agrotóxicos e transgênicos, que
acredita no campesinato e não no
agronegócio, que considera a vida mais
importante do que o lucro das empresas.
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1-
Manejo Ecológico de Insetos
O Manejo Ecológico de Insetos Indesejados consiste na adoção de prá cas para
controlar os insetos que estão causando danos na lavoura, trabalhando de forma
agroecológica. Este Manejo Ecológico busca evitar o ataque de insetos aplicando o
princípio da prevenção, recuperação da fer lidade natural do solo e do
fortalecimento das plantas por meio da volta do equilíbrio ecológico no sistema
agrícola. Isto pode ser alcançado pela diversificação de plantas no sistema de forma
planejada, além do uso racional do solo nas áreas cul vadas. E a implementação
deste Manejo depende de ações simples:
1) reconhecer os insetos indesejados e os danos
sofridos pelas plantas;
2)reconhecer os inimigos naturais destes
insetos indesejados;
3) vistoriar periodicamente a cultura plantada;
4) selecionar e adotar os métodos de controle.
1.1- Reconhecimento dos Insetos Indesejados
A grande maioria dos insetos presentes nas hortaliças não causam qualquer
prejuízo na cultura, não devendo ser, portanto,
considerada como "praga". No entanto existem
espécies que encontramos com muita frequência nas
plantas, e estas acabam causando prejuízos. Estes
insetos são chamados de pragas-chave e exigem
maior atenção do agricultor e da agricultora. Outras
espécies raramente causam prejuízos, sendo
consideradas como secundárias ou ocasionais. A
maior ou menor importância de cada inseto varia de
acordo com a região e a época de cul vo. O
reconhecimento dos principais insetos da cultura e os
danos que eles causam auxiliará na seleção e adoção
de medidas que favoreçam as populações dos seus
inimigos naturais e/ou que gerem condições ambientais
desfavoráveis ao inseto em questão.
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1.2- Inimigos Naturais. O que são?
Inimigos naturais são insetos que se alimentam de
outros insetos que causam prejuízos nas culturas,
ou seja, são insetos que se alimentam das
"pragas".
Os inimigos naturais podem ser diferenciados pela
forma como atacam os insetos que não são
desejados, podendo ser conhecidos como
predadores, as joaninhas e vespas, por exemplo,
que se alimentam de inúmeros outros insetos. Os
parasitóides que em sua maioria são vespas pequenas que se desenvolvem no
interior ou sobre o corpo da praga. E além destes agentes, existem os microorganismos como fungos, bactérias, vírus e nematóides que ocasionam doenças e
matam as pragas, quando estas alcançam grandes populações no cul vo. Podemos
pegar de exemplo as seguintes pragas-chaves que são comba das por Inimigos
Naturais:
Abóbora, abobrinha, melancia e pepino – mosca-branca (Bemisia tabaci, bió po
B), pulgão (Aphis gossypii), tripes (Thrips tabaci, T. palmi e Frankliniella spp.) e
brocas-das-cucurbitáceas (Diaphania ni dalis e D. hyalinata).
Alho e cebola – tripes (T. tabaci) no campo; ácaro-do-cochamento-do-alho (Aceria
tulipae) e traças-do-alho (Cadra cautela, Ephes a elutella e Plodia interpunctella)
no armazenamento.
Batata – vaquinha ou larva alfinete (Diabro ca spp.), pulgões (Myzus persicae,
Macrosiphum euphorbiae, A. gossypii e Aulacorthum solani) e mosca-branca (B.
tabaci, bió po B).
Couve e repolho – pulgões (Brevicoryne brassicae, M. persicae, Lipaphis
erysimi), traça-das-brássicas (Plutella xylostella), curuquerê (Ascia monuste),
lagarta mede-palmo (Trichoplusia ni) e mosca-branca (B. tabaci, bió po B).
Morangueiro – ácaro rajado (Tetranychus ur cae).
Tomateiro – mosca-branca (B. tabaci, bió po B), tripes (T. tabaci, T. palmi e
Frankliniella schultzei), traça-do-tomateiro (Tuta absoluta) e broca-pequena-dofruto (Neoleucinodes elegantalis).
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1.3- Monitorando os Insetos nas Culturas
Monitorar os insetos que estão atacando as plantas que estamos cul vando
consiste em se determinar a quan dade de insetos presentes em um determinado
espaço, por exemplo quantos insetos estão em um metro quadrado, ou os danos
que os insetos estão causando nas plantas por meio de amostragens.
Esta prá ca é indispensável para que o agricultor e a agricultora saiba quando e
como agir quando a sua cultura está tendo um ataque de insetos. São realizadas
inspeções em diferentes órgãos das plantas (folhas, ramos e frutos) ou empregamse armadilhas atra vas (contendo cor específica ou atraente alimentar) conforme o
comportamento do inseto alvo a ser controlado.
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1.4- Métodos de Controle
No Manejo Ecológico para o controle de insetos indesejados é
necessário constantemente iden ficar o que está causando
um desequilíbrio no sistema agrícola e assim o que ocasiona
o ataque dos insetos nas plantas. Tratar as causas de
desequilíbrio no sistema é uma Ação Preven va, forma
mais eficiente do que tratar os sintomas, Ação
Te r a p ê u c a , q u e s e m a n i fe sta m c o m o s u r to s
populacionais dos insetos que não são desejados,
popularmente conhecidos como "pragas".
E para realizar esta Ação Preven va, é importante sabermos as
caracterís cas da paisagem e das plantas que,
cul vadas de forma agroecológica, promovem diretamente a
redução dos insetos que atacam as plantas e garantem a
conservação e o aumento dos inimigos naturais. Somente
em casos de desequilíbrios no ambiente extremos e surtos
populacionais das "pragas" que são adotadas medidas
complementares de controle (terapêu cas ou cura vas).
Estas ações podem ser o controle biológico aplicado,
armadilhas para coletar os insetos, iscas atra vas e diversos
produtos, tais como caldas fitoprotetoras.
Em razão da complexidade dos sistemas agrícolas orgânicos, o
momento para adotar alguma medida complementar de controle não pode ser
determinado exclusivamente com base em um só parâmetro, como
a
quan dade de insetos atacando as plantas, por exemplo. Por
outro lado, isto vai depender do quanto o inseto vai causar de
perda e o que vai refle r no quanto o agricultor e a agricultora
consideram como prejuízo. Isto tudo deve ser avaliado,
considerando que mesmo se algum inseto es ver atacando
alguma cultura, este ataque pode ser rápido e não causar
tantos prejuízos, pois muitas vezes eles tem uma
mortalidade causada pelo ambiente (clima e inimigos
naturais). Cada caso precisa ser analisado cautelosamente, e
sempre que possível, com a presença de alguém com
experiência em avaliar a saúde das plantas e produção agrícola.
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...manejo ambiental
O sistema agrícola pode ser trabalhado para se tornar desfavorável às "pragas". Isso
pode ser alcançado através de medidas que reduzam as chances de localização e
colonização das plantas, além de promover a dispersão dos indivíduos e afetar a
reprodução e a sobrevivência dos insetos indesejados, assim como o
favorecimento do controle biológico natural. Assim, recomenda-se a adoção
planejada e preven va das seguintes medidas:
– Adotar o consórcio de plantas. A consorciação pode ser feita com alternância de
canteiros, por exemplo, de alface, beterraba, brássicas (repolho, couve-flor ou
couve-comum) cenoura e cheiro verde ou por faixas com linhas de cul vo, como de
tomateiro e coentro, feijão-vagem e milho, pimentão e feijão-guandu e sorgo;
– Preservar a vegetação natural ao redor da
paisagem agrícola;
– Implantar barreiras vivas, como quebra-vento
ou faixa de vegetação, em volta da horta para
isolamento das áreas de cul vo circunvizinhas;
– Estabelecer uma rotação de culturas. Entre as
faixas de cul vo também deve-se prever o
plan o alternado de adubos verdes ou de gramíneas (sorgo e milho) com
diferentes famílias de hortaliças;
– Não realizar novos plan os de hortaliças ao lado de áreas mais velhas. Quando
não for possível o plan o em uma só etapa, recomenda-se fazer o segundo plan o
com menos de 30 dias;
– Eliminar plantas espontâneas de cul vos anteriores ( gueras), antes do novo
plan o daquela hortaliça no mesmo local;
– Usar armadilhas adesivas ou bandejas com água, de coloração amarela ou azul
para captura de insetos sugadores dentro da área cul vada;
– Re rar folhas infestadas ou efetuar a catação manual e esmagamento de ovos e
lagartas. Também remover das plantas as flores e frutos atacados por insetos, além
de eliminar plantas com viroses;
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...controle por comportamento
Algumas espécies de insetos que causam danos as plantas, como
pulgões, moscas-brancas e mosca-minadora, são atraídos pela
cor amarela. Assim, folhas ou placas desta cor com algum
adesivo podem ser colocadas, preferencialmente, nas bordas da
cultura para capturar insetos em movimento de uma cultura
para outra. Também pode-se u lizar plantas iscas ou plantas
repelentes nas bordas da área.
...controle utilizando inimigos naturais
O uso dos inimigos naturais para combater as ‘pragas’ é conhecido como Controle
Biológico e se baseia na regulação natural das
populações de insetos e ácaros que se alimentam de
plantas. Assim, a pessoa pode rar proveito deste
fato favorecendo os inimigos naturais já existentes no
ambiente rural, por meio de prá cas como o uso de
barreiras vivas e plantas repelentes contra insetos
indesejados; manutenção de plantas que produzem
flores na bordadura do cul vo, visto que estas
fornecem alimento complementar, refúgio e local de
reprodução para predadores e parasitóides dos
insetos indesejados; manutenção do solo recoberto por vegetação ou de cobertura
morta; plan o direto ou cul vo mínimo; consórcios entre culturas; preservação das
matas na vas próximas à cultura e uso de produtos alterna vos de baixo impacto
sobre inimigos naturais.
...produtos alternativos
Uma opção importante para auxiliar no manejo destes insetos indesejados é o uso
de produtos alterna vos ao invés de agrotóxicos.
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2-
Identificação de Insetos
Nesta parte serão descritos os principais grupos de insetos que atacam as
hortaliças e as principais medidas de controle específicas a serem adotadas.
Formigas Cortadeiras
Identificação
Estas formigas também são conhecidas como saúvas ou quenquéns e estão entre
os mais importantes insetos que causam danos na agricultura. São insetos com
organização social, que vivem em ninhos subterrâneos (os famosos formigueiros).
Cortam folhas, hastes e flores e transportam estas estruturas vegetais para o
interior da colônia, onde são u lizadas como substrato para cul vo de um fungo, do
qual as formigas se alimentam.
São facilmente iden ficadas pela presença de três ou quatro pares de espinhos nas
costas, na região logo após a cabeça. Elas são mais a vas à noite e nas horas de
temperatura mais amena do dia. As injúrias causadas pelas formigas cortadeiras
são facilmente reconhecidas, como o corte nas folhas, em formato de meia-lua ou
arco e a desfolha completa da planta atacada.
Inspeção do ataque
Procurar pela ataques picos nas folhas e flores e verificar a presença de plantas
mortas cortadas à altura do solo.
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Controle
Barreiras – canais de terra ou canaletas de cimento, cheios de água e gotas de
detergente neutro, circundando os canteiros de mudas do viveiro; latas de óleo ou
garrafas descartáveis do po “pet”, sem fundo e tampa ou gargalo, colocadas
circundando os caules, sendo levemente enterradas no solo e untadas com graxa na
parte externa.
Planta repelente – cul vo permanente de batata-doce (Ipomoea batatas) ao redor
da horta ou entre canteiros. A batata-doce é pouco preferida pelas formigas
cortadeiras, pois o látex que escorre da rama quando a mesma é atacada pela
formiga cortadeira causa repelência a ela
Planta com ação inse cida – cul vo de gergelim (Sesamum indicum) ao redor da
horta. Embora o gergelim seja atacado pelas formigas cortadeiras, substâncias
químicas presentes neste vegetal afetam nega vamente a vida das saúvas e
reduzem o tamanho do formigueiro.
Cinzas – as cinzas de madeira, ob das peneirando-se o fundo do fogão a lenha,
atuam como repelente destes insetos; devem ser misturadas com água e aplicadas
sobre as plantas ao final da tarde.
Pão com Vinagre – um pedaço de pão velho encharcado de vinagre é tóxico ao
fungo que as formigas cul vam e comem. Ao colocar um pão com vinagre do lado
do caminho feito pelas formigas, elas estarão totalmente eliminadas em poucos
dias.
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Insetos Sugadores
Identificação
Os insetos sugadores, conhecidos como pulgões, moscas-brancas, cochonilhas,
percevejos, tripes e cigarrinhas, estão entre os
insetos mais importantes das hortaliças. São insetos
pequenos, possuem formato e cores variadas,
podem ter asas ou não e vivem em grandes
populações (colônias) na parte inferior das folhas,
em brotações e nas flores. Sugam a seiva das plantas
tornando-as menos vigorosas e produ vas. Os
pulgões, as moscas-brancas e as cochonilhas
também secretam um líquido açucarado que
favorece a formação de uma película preta sobre as
folhas e frutos, popularmente conhecida como
fumagina. Isto reduz a fotossíntese da planta e
deprecia o alimento (folha ou fruto) devido ao péssimo aspecto.
Inspeção do ataque
Para pulgões e cochonilhas – observar os brotos e a face inferior das folhas é uma
forma eficiente de perceber a presença de pulgões e cochonilhas. O ataque dos
pulgões deixam as folhas irrugadas e com algumas teias finas. Já as cochonilhas
também irrugam as folhas, mas não deixam teias, porém são facilmente
iden ficadas na parte inferior da folha por pontos brancos, que são as carapaças
que as recobrem.
Para moscas-brancas – inspecionar a face inferior das folhas novas na busca de
insetos adultos. Também pode-se realizar o monitoramento destes insetos com
armadilhas adesivas amarelas ou bandejas a exemplo do proposto para os pulgões.
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Controle
Armadilhas adesivas – instalação, em diferentes pontos do cul vo, de placas ou
garrafas plás cas descartáveis do po “pet” e de pedaços de tábuas pintadas de
amarelo, para atração de pulgões e moscas-brancas ou de azul para atração de
tripes. Estas armadilhas atra vas devem ser reves das com uma camada de cola ou
graxa para retenção dos insetos.
Plantas repelentes – cul vo em volta da horta ou dentro do canteiro, em fileiras ou
em covas alternadas de coentro (C. sa vum), tagetes ou cravo-de-defunto (Tagetes
sp.), hortelã (Mentha spp.), calêndula (Calendula officinalis), mastruz
(Chenopodium ambrosioides), artemisia (Artemisia sp.) e arruda (Ruta graveolens).
Estas plantas liberam voláteis que repelem os insetos sugadores adultos,
mantendo-os afastados das hortaliças.
Catação manual – re rada de folhas infestadas, seguida de esmagamento.
Calda de farinha de trigo e água – quando pulverizada sobre as plantas mata os
insetos por asfixia. Com o passar do tempo a calda seca ao sol, formando uma
camada branca de pó que cobrirá os insetos e pela ação do vento esta película é
grada vamente removida das folhas junto com os insetos.
Inse cidas alterna vos – pulverização de extrato de pimenta, alho e sabão neutro
(ação repelente); uso de óleo vegetal de soja ou algodão para cozinha, misturado
em água e sabão dissolvido ou detergente neutro; pulverização de produtos
comerciais à base de óleo de sementes de nim (Azadirachta indica).
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Lagartas
Identificação
Existem mariposas e borboletas que, durante a sua
fase jovem, ou seja, na forma de lagartas, se
alimentam de folhas e podem perfurar talos, flores e
frutos ainda jovens. Estas lagartas podem apresentar
coloração branco-amarelada, esverdeada ou
amarronzada.
Inspeção do ataque
Verificar a desfolha, a presença de lagartas nas folhas e os sintomas de furos nos
frutos pequenos.
Controle
Plantas repelentes – cul vo em volta da horta ou dentro do canteiro, em fileiras ou
em covas alternadas de coentro (C. sa vum), tagetes ou cravo-de-defunto (Tagetes
sp.), hortelã (Mentha spp.), calêndula (Calendula officinalis), mastruz
(Chenopodium ambrosioides), artemisia (Artemisia sp.) e arruda (Ruta graveolens).
Estas plantas liberam voláteis que repelem os insetos sugadores adultos,
mantendo-os afastados das hortaliças.
Ensacamento de frutos – garante proteção mecânica, impedindo o acesso da praga
aos frutos. Pode ser feito u lizando-se sacos plás cos com pequenos furos para
ven lação ou sacos de papel parafinado.
Outras medidas – catação manual de lagartas, de folhas infestadas e de frutos
atacados e caídos no solo; inse cidas alterna vos à base de óleo de nim ou calda de
farinha de trigo e água, conforme recomendado no controle de insetos sugadores.
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Grilos e Paquinhas
Identificação
São insetos com 2,5 a 3,0 cm de comprimento, de
coloração amarelada ou pardo-escura, que durante
o dia se abrigam em ambientes escuros e úmidos,
sob pedras e restos de plantas. Se alimentam de
folhas e hastes novas, de tubérculos e raízes.
Inspeção do ataque
Procurar pelas folhas e talos cortados, ou mesmo verificar a presença de plantas
mortas cortadas à altura do solo.
Controle
Armadilhas – instalação, em diferentes pontos da horta, de copos plás cos, latas
de óleo ou garrafas descartáveis do po “pet” contendo água e gotas de detergente
neutro, os quais devem ser enterrados no solo. Semanalmente os insetos mortos
devem ser re rados e trocada a água do recipiente. A eficiência do controle
depende da infestação e do número de armadilhas instaladas dentro da área
cul vada.
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Vaquinhas
Identificação
São insetos pequenos, cujos adultos se caracterizam
por apresentar o primeiro par de asas rígidas como
um escudo, de cores variadas, com manchas
amarelas, pretas ou acinzentadas . Estes besouros se
alimentam de folhas, hastes e flores.
Inspeção do ataque
Procurar os ataques picos, as perfurações arredondadas nas folhas e flores ou
pelos adultos.
Controle
Plantas repelentes – cul vo de coentro, hortelã e arruda.
Iscas para adultos – confeccionadas a par r de pedaços de raízes ou frutos de
plantas conhecidas como “tajujá” [Cayaponia tayuya; Ceratosanthes hilariana;
Cayaponia mar ana] ou de cabaça verde (Lagenaria vulgaris), as quais possuem
substâncias atra vas (cucurbitacinas) às vaquinhas. Estas iscas são previamente
colocadas dentro de bacia contendo água e sabão neutro e quando saturadas de
besouros procede-se sua imersão na água com auxílio de uma vara, o que ocasiona
a morte dos insetos por afogamento.
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Ácaros
Identificação
Os ácaros são pequenos aracnídeos, com menos de 1
mm de comprimento, que raspam a super cie das
folhas e frutos das hortaliças e sugando o que a seiva
das plantas. O ataque destas pragas ocasiona o
amarelecimento ou prateamento das folhas,
manchas escurecidas nos os caules e ramos, em
forma de bronzeamento e deformação dos frutos.
Inspeção do ataque
Procurar pelos sintomas, ou seja, amarelecimento ou prateamento das folhas,
presença de teia (ácaros tetraniquídeos), bronzeamento nos caules e ramos e
deformação dos frutos.
Controle
Similar ao realizado para os insetos sugadores.
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3- Receitas Alternativas
3.1 Calda de Farinha de Trigo
Material
- 20 gramas de farinha de trigo;
- 1 litro de água.
Preparo
- Colocar a farinha de trigo na água, aos poucos e lentamente em recipiente.
Agitando fortemente para diluir a farinha na água, de forma a diminuir os
"grupos" formados pela farinha;
- Coar a calda;
- Pulverizar nas plantas.
3.2 Extrato de Pimenta-do-Reino, Alho e Sabão
Material
– 100 gramas de pimenta do reino moída;
– 100 gramas de alho;
– 50 gramas de sabão neutro;
– 2 litros de álcool;
– 2 litros de água.
Preparo
- Colocar 100 gramas de pimenta do reino moída e 1 litro de álcool em um
recipiente de vidro com tampa. Deixar em repouso por uma semana;
- Triturar 100 gramas de alho, misturar em 1 litro de álcool e colocar em um recipiente de
vidro com tampa. Deixar em repouso durante 7 dias;
- Dissolver 50 gramas de sabão neutro em 1 litro de água quente, no dia em que for usar a
calda;
- No dia em que a calda for aplicada nas plantas, deve-se coar os extratos e depois
colocar 20 ml do extrato de pimenta do reino, 10 ml do extrato de alho e 100 ml da solução
de sabão neutro em um pulverizador, completando o volume com água para 1 litro. É
necessário coar os ingredientes para evitar entupimento do bico do aplicador.
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