Cartilha Mutirões 01 - Cáritas Diocesana de Almenara
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Cartilha Mutirões 01 - Cáritas Diocesana de Almenara
Cartilha Informativa Produção rural com princípios na agroecologia Projeto Produção rural com princípios na agroecologia Jequi nhonha, abril de 2014 Realização: Projeto Patrocínio: Expediente DIRETORIA DA CÁRITAS DIOCESANA DE ALMENARA: DIRETOR PRESIDENTE: Jorge Rodrigues Pereira DIRETOR VICE-PRESIDENTE: Adão Pereira dos Santos DIRETOR TESOUREIRO(A): Jacinta Ribeiro Aguiar DIRETOR VICE-TESOUREIRO(A): Celia Vier DIRETOR SECRETÁRIO(A): Ilma Cris na Rodrigues Moura DIRETOR VICE-SECRETÁRIO(A): Doraílde da Silva Matos CONSELHO FISCAL: Reginaldo Antônio de Matos e Sheila Ferraz Samasceno SUPLENTES: Aurita da Silva Oliveira Rocha, Certruída Catharina Maria Van de Vem e Hugo Maria Van Sthkelenburg COLEGIADA TÉCNICA DA CÁRITAS DIOCESANA DE ALMENARA: REPRESENTAÇÃO DO PROGRAMA DE PROMOÇÃO DO DESENV. SUSTENT. E SOLID. NO SEMIÁRIDO GARANTINDO A CIDADANIA E DIREITOS HUMANOS: Anita de Cássia Santos REPRESENTAÇÃO DO PROGRAMA UMA TERRA E DUAS ÁGUAS: Decanor N. dos Santos REPRESENTAÇÃO DO PROGRAMA MUTIRÕES DA TERRA: Vladimir Dayer L. B. Moreira REPRESENTAÇÃO DO PROGRAMA UM MILHÃO DE CISTERNAS: José Limeira dos Anjos REPRESENTAÇÃO DA EQUIPE DE COMUNICAÇÃO: Geovane Assis da Rocha SUPLENTE: Vanessa Ayres EQUIPE TÉCNICA DO PROJETO MUTIRÕES DA TERRA: COORDENADOR: Vladimir Dayer Lopes de Barros Moreira TÉCNICA DE CAMPO: Patrícia Andrade Freitas COMUNICADOR POPULAR: Geovane Assis da Rocha GERENTE ADMINISTRATIVA: Fabiana Gil de Souza Ficha Técnica 2014 Cáritas Diocesana de Almenara DESIGN/FOTOS DA CAPA: Geovane Assis da Rocha ILUSTRAÇÃO DA CAPA E CONTRA CAPA: Gildásio Jardim FOTOS DA CONTRA CAPA: João Roberto Ripper 1ª edição – 1ª impressão TIRAGEM: 3.000 exemplares Esta Car lha Informa va é parte integrante do Projeto “Sistemas Agroecológicos e Comercialização Solidária para Promoção da Segurança Alimentar e Geração de Trabalho e Renda em Áreas Quilombola e de Reforma Agrária no Baixo Vale do Jequi nhonha – Minas Gerais”, nome fantasia “Mu rões da Terra”, patrocinado na Petrobras. Uma parte deste material conta com a adaptação da Circular Técnica 119 "Manejo de pragas em hortaliças durante a transição agroecológica" da Embrapa. AUTOR(ES): Geovane Assis da Rocha, Patrícia Andrade Freitas, Vladimir Dayer L. B. Moreira e Fabiana Gil de Souza PESQUISA: Vladimir Dayer Lopes de Barros Moreira e Geovane Assis da Rocha REVISÃO FINAL: Patrícia Andrade Freitas e Vladimir Dayer Lopes de Barros Moreira ORGANIZAÇÃO GERAL, FOTOGRAFIA E DIGITALIZAÇÃO: Geovane Assis da Rocha EDIÇÃO DO(S) AUTOR(ES): Jequi nhonha / MG / Brasil Fone: 55 - 33 - 3741-1447 mu [email protected] / caritasbaixojequi [email protected] ‘’(...) o acampamento virou noite O rubro na terra foi ngido O pavor de rostos sofridos Na lona preta o luto presente, Com homens e mulheres valentes Erguendo um grito de guerra: Tombaram cinco sem terra, Mas nos seguimos em frente!’’ Pedro Munhoz, ‘Tombaram Cinco Sem-Terras, mas nós Seguiremos em Frente’ Agradecimentos . A Cáritas Diocesana de Almenara, através da equipe de elaboração desta Car lha Informa va, agradece primeiramente as famílias das comunidades Paraguai e Terra Prome da de Felisburgo/MG pelo ânimo, carinho e ensinamentos passados de forma tão humana, além de toda recepção que a equipe do Mu rões da Terra recebeu nestas localidades. Agradecemos também a todos/as que confiaram em nossas ideias e esforços, principalmente aos nossos parceiros e ao patrocinador, pelo apoio na realização das a vidades que propiciaram a confecção desta Car lha Informa va "Produção Agroecológica". Agradecemos também a diretoria e todos/as agentes que constroem a Cáritas, esta grande família que nos apóia e auxilia nos momentos de dúvidas e esclarecimentos, bem como em todas a vidades e descontrações que temos em Jequi nhonha. Sumário APRESENTAÇÃO pág. 09 UM POUCO DA NOSSA HISTÓRIA pág. 10 MUTIRÕES DA TERRA pág. 11 O QUE É AGROECOLOGIA pág. 12 A PRODUÇÃO AGROECOLÓGICA pág. 13 1 - MANEJO ECOLÓGICO DE INSETOS 1.1 RECONHECIMENTO DOS INSETOS INDESEJADOS 1.2 INIMIGOS NATURAIS, O QUE SÃO? 1.3 MONITORANDO OS INSETOS NAS CULTURAS 1.4 MÉTODOS DE CONTROLE MANEJO AMBIENTAL CONTROLE POR COMPORTAMENTO CONTROLE UTILIZANDO INIMIGOS NATURAIS PRODUTOS ALTERNATIVOS pág. 14 pág. 14 pág. 15 pág. 16 pág. 17 pág. 18 pág. 19 pág. 19 pág. 19 2- IDENTIFICAÇÃO DOS INSETOS FORMIGA CORTADEIRA INSETOS SUGADORES LAGARTAS VAQUINHAS GRILOS E PAQUINHAS ÁCAROS pág. 20 pág. 20 pág. 22 pág. 24 pág. 25 pág. 26 pág. 27 3 - RECEITAS ALTERNATIVAS 3.1 CALDA DE FARINHA DE TRIGO 3.2 EXTRATO DE PIMENTA DO REINO, ALHO E SABÃO pág. 28 pág. 28 pág. 28 Apresentação A produção de alimentos saudáveis, em quan dade adequada para suprir as necessidades humanas, tem demandado a prá ca de uma agricultura sustentável, que possibilite a interação entre os seres humanos e o meio ambiente. A valorização da biodiversidade, o es mulo à produção diversificada, prá cas ecologicamente adequadas e questões como gênero e cultura mostram as caracterís cas da Agroecologia. Nesse sen do, esta Car lha Informa va “Produção Agroecológica” traz informações acerca dos fundamentos e prá cas agroecológicas, abordando os principais desafios que o agricultor e a agricultora enfrentarão no processo da produção orgânica, sendo então um subsídio para produção de alimentos saudáveis preservando o seu espaço de vida e trabalho. 09 Um pouco da nossa história A Cáritas Diocesana de Almenara é uma organização que foi fundada em agosto de 1983 e nasceu com a missão de lutar pela promoção da vida e em defesa da jus ça e da solidariedade em uma das regiões de maior desigualdade e exclusão social do país, o Baixo Vale do Jequi nhonha. É uma en dade membro da Rede Cáritas Brasileira, organismo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), e compõem a Rede Cáritas Internacional. Desde sua fundação a ins tuição tem priorizado atuar junto às populações do campo, potencializando as inicia vas locais e a par lha/construção de conhecimentos inovadores, com vistas ao Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário. As linha de atuação são a Economia Popular Solidária, Gênero, Mobilização Social, Comunicação Popular, Convivência com o Semiárido, Agroecologia, Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional, através de ações e trabalhos importantes que marcam nossa caminhada. A Cáritas atua na perspec va da Solidariedade Libertadora, promovendo a organização social e comunitária, mobilização e lutas por direitos historicamente negados ao povo do campo e da cidade. Nestes 30 anos atuamos com os 17 municípios que compõem o Baixo Vale do Jequi nhonha, Diocese de Almenara, nos municípios de Almenara, Bandeira, Divisópolis, Felisburgo, Fronteira dos Vales, Jacinto, Jequi nhonha, Joaíma, Jordânia, Mata Verde, Monte Formoso, Palmópolis, Rio do Prado, Rubim, Salto da Divisa, Santa Maria do Salto e Santo Antônio do Jacinto. 10 Mutirões da Terra O projeto “Mu rões da Terra” tem por obje vo melhorar a qualidade de vida de famílias camponesas de Felisburgo/M G a par r da promoção da soberania alimentar, ampliação da produção agroecológica e do fortalecimento do acesso a mercados locais. Para isso irá trabalhar com estruturas produ vas que envolverão o cul vo de hortas orgânicas e a criação de abelhas e aves com cada uma das 105 famílias das comunidades rurais do Terra Prome da, área de reforma agrária do MST, e a comunidade quilombola do Paraguai. O projeto iniciou suas a vidades em agosto de 2013, e tem como princípios norteadores a Agroecologia, a Economia Popular Solidária, a Comunicação Popular e a Soberania Alimentar e Nutricional. Também tem um foco no fortalecimento dos meios de comercialização já adotados pelas famílias que estão par cipando do projeto, como a feira livre que ocorre semanalmente na cidade, e o fornecimento dos alimentos produzidos para escolas via PNAE, programa que garante que pelo menos 30% dos produtos adquiridos na merenda escolar sejam oriundos da agricultura familiar. Nas a vidades há também a previsão da construção de uma Fabriqueta de Ração Comunitária, a implantação de um Campo Comunitário de Sementes Crioulas e a adequação à legislação sanitária vigente das Casas de Mel já existente nas comunidades. O Mu rões da Terra contribuirá também com as discussões sobre o des no adequado de resíduos, incen vando a redução da produção de lixo, reaproveitamento e reciclagem. Com muita animação e um espírito cole vo, a Cáritas conta com novos/as Agentes Cáritas para desenvolvimento destes trabalhos, sendo Fabiana Gil (Gerente Administra va), Geovane Rocha (Comunicador Popular) e Vladimir Dayer e Patrícia Andrade (Técnicos de Campo). O Mu rões da Terra tem patrocínio da Petrobras. 11 O que é Agroecologia Agroecologia é um modo de produzir alimentos, conviver e viver com a natureza, respeitando os valores regionais culturais, sociais e de gênero em que vivemos. A Agroecologia é uma ideia ligada a produção agrícola com bases ecológicas e se refere ao ambiente natural e a toda e qualquer forma de produção no campo. Entretanto, a Agroecologia tem uma ação que vai muito além da produção rural, ela tem um caráter humano, pois é uma área de conhecimento social e cultural com um foco nas necessidades humanas e na orientação para uma agricultura sustentável. Nesse sen do, ela consegue unir as ideias da sustentabilidade ecológica (manutenção ou melhoria da qualidade dos recursos naturais e das vidas de insetos e outros animais presentes), sustentabilidade econômica (geração de renda, de trabalho e acesso aos mercados locais), sustentabilidade social (inclusão das populações empobrecidas a processos de emancipação social e segurança alimentar), sustentabilidade cultural (respeito às culturas tradicionais), sustentabilidade polí ca (organização para a mudança e par cipação nas decisões) e sustentabilidade é ca (valores morais). A Agroecologia é também uma ciência, pois vem se aprimorando através do estudo de tecnologias e métodos para a produção ecológica nos sistemas agrícolas. Ela também desenvolve pesquisas de caráter sociológicas que se sustentam e se complementam a par r do conhecimento das populações tradicionais. Portanto, Agroecologia pode ser entendida como uma proposta de transformação social, tanto no que se refere às relações internas da sociedade como às relações entre o ser humano e a natureza. 12 O Perigo dos Agrotóxicos O Brasil é o líder de consumo de agrotóxicos no mundo. O uso excessivo de veneno está diretamente relacionado à atual polí ca agrícola do país, adotada desde a década de 1960. Com o avanço do agronegócio, cresce um modelo de produção que concentra a terra e u liza altas quan dades de venenos para garan r a produção em escala industrial. O campo passou por uma “modernização” que es mulou o aumento da produção, no entanto de forma extremamente dependente do uso dos pacotes agroquímicos (adubos, sementes “melhoradas” e venenos). Todo mercado que produz os venenos está concentrado em apenas seis grandes empresas transnacionais, que controlam mais de 80% do mercado dos venenos. São elas: Monsanto; Syngenta; Bayer; Dupont; DowAgrosciens e Basf. Nesse quadro, os agrotóxicos já ocupam o quarto lugar no ranking de intoxicações. Ficam atrás apenas dos medicamentos, acidentes com animais peçonhentos e produtos de limpeza. O uso de agrotóxicos está deixando de ser uma questão relacionada especificamente à produção agrícola e se transformando em um problema de saúde pública e preservação da natureza. Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e Pela Vida A Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida tem o obje vo de sensibilizar a população brasileira para os riscos que os agrotóxicos representam, e a par r daí tomar medidas para frear seu uso no Brasil. Hoje já existem provas concretas dos males causados pelos agrotóxicos tanto para quem o u liza na plantação, quanto para quem o consome em alimentos contaminados. Ao mesmo tempo, milhares de agricultores pelo Brasil já adotam a agroecologia e produzem alimentos saudáveis com produ vidade suficiente para alimentar a população. A Campanha Contra os Agrotóxicos e Pela Vida luta por um outro modelo de desenvolvimento agrário. Por uma agricultura que valoriza a agroecologia ao invés dos agrotóxicos e transgênicos, que acredita no campesinato e não no agronegócio, que considera a vida mais importante do que o lucro das empresas. 13 1- Manejo Ecológico de Insetos O Manejo Ecológico de Insetos Indesejados consiste na adoção de prá cas para controlar os insetos que estão causando danos na lavoura, trabalhando de forma agroecológica. Este Manejo Ecológico busca evitar o ataque de insetos aplicando o princípio da prevenção, recuperação da fer lidade natural do solo e do fortalecimento das plantas por meio da volta do equilíbrio ecológico no sistema agrícola. Isto pode ser alcançado pela diversificação de plantas no sistema de forma planejada, além do uso racional do solo nas áreas cul vadas. E a implementação deste Manejo depende de ações simples: 1) reconhecer os insetos indesejados e os danos sofridos pelas plantas; 2)reconhecer os inimigos naturais destes insetos indesejados; 3) vistoriar periodicamente a cultura plantada; 4) selecionar e adotar os métodos de controle. 1.1- Reconhecimento dos Insetos Indesejados A grande maioria dos insetos presentes nas hortaliças não causam qualquer prejuízo na cultura, não devendo ser, portanto, considerada como "praga". No entanto existem espécies que encontramos com muita frequência nas plantas, e estas acabam causando prejuízos. Estes insetos são chamados de pragas-chave e exigem maior atenção do agricultor e da agricultora. Outras espécies raramente causam prejuízos, sendo consideradas como secundárias ou ocasionais. A maior ou menor importância de cada inseto varia de acordo com a região e a época de cul vo. O reconhecimento dos principais insetos da cultura e os danos que eles causam auxiliará na seleção e adoção de medidas que favoreçam as populações dos seus inimigos naturais e/ou que gerem condições ambientais desfavoráveis ao inseto em questão. 14 1.2- Inimigos Naturais. O que são? Inimigos naturais são insetos que se alimentam de outros insetos que causam prejuízos nas culturas, ou seja, são insetos que se alimentam das "pragas". Os inimigos naturais podem ser diferenciados pela forma como atacam os insetos que não são desejados, podendo ser conhecidos como predadores, as joaninhas e vespas, por exemplo, que se alimentam de inúmeros outros insetos. Os parasitóides que em sua maioria são vespas pequenas que se desenvolvem no interior ou sobre o corpo da praga. E além destes agentes, existem os microorganismos como fungos, bactérias, vírus e nematóides que ocasionam doenças e matam as pragas, quando estas alcançam grandes populações no cul vo. Podemos pegar de exemplo as seguintes pragas-chaves que são comba das por Inimigos Naturais: Abóbora, abobrinha, melancia e pepino – mosca-branca (Bemisia tabaci, bió po B), pulgão (Aphis gossypii), tripes (Thrips tabaci, T. palmi e Frankliniella spp.) e brocas-das-cucurbitáceas (Diaphania ni dalis e D. hyalinata). Alho e cebola – tripes (T. tabaci) no campo; ácaro-do-cochamento-do-alho (Aceria tulipae) e traças-do-alho (Cadra cautela, Ephes a elutella e Plodia interpunctella) no armazenamento. Batata – vaquinha ou larva alfinete (Diabro ca spp.), pulgões (Myzus persicae, Macrosiphum euphorbiae, A. gossypii e Aulacorthum solani) e mosca-branca (B. tabaci, bió po B). Couve e repolho – pulgões (Brevicoryne brassicae, M. persicae, Lipaphis erysimi), traça-das-brássicas (Plutella xylostella), curuquerê (Ascia monuste), lagarta mede-palmo (Trichoplusia ni) e mosca-branca (B. tabaci, bió po B). Morangueiro – ácaro rajado (Tetranychus ur cae). Tomateiro – mosca-branca (B. tabaci, bió po B), tripes (T. tabaci, T. palmi e Frankliniella schultzei), traça-do-tomateiro (Tuta absoluta) e broca-pequena-dofruto (Neoleucinodes elegantalis). 15 1.3- Monitorando os Insetos nas Culturas Monitorar os insetos que estão atacando as plantas que estamos cul vando consiste em se determinar a quan dade de insetos presentes em um determinado espaço, por exemplo quantos insetos estão em um metro quadrado, ou os danos que os insetos estão causando nas plantas por meio de amostragens. Esta prá ca é indispensável para que o agricultor e a agricultora saiba quando e como agir quando a sua cultura está tendo um ataque de insetos. São realizadas inspeções em diferentes órgãos das plantas (folhas, ramos e frutos) ou empregamse armadilhas atra vas (contendo cor específica ou atraente alimentar) conforme o comportamento do inseto alvo a ser controlado. 16 1.4- Métodos de Controle No Manejo Ecológico para o controle de insetos indesejados é necessário constantemente iden ficar o que está causando um desequilíbrio no sistema agrícola e assim o que ocasiona o ataque dos insetos nas plantas. Tratar as causas de desequilíbrio no sistema é uma Ação Preven va, forma mais eficiente do que tratar os sintomas, Ação Te r a p ê u c a , q u e s e m a n i fe sta m c o m o s u r to s populacionais dos insetos que não são desejados, popularmente conhecidos como "pragas". E para realizar esta Ação Preven va, é importante sabermos as caracterís cas da paisagem e das plantas que, cul vadas de forma agroecológica, promovem diretamente a redução dos insetos que atacam as plantas e garantem a conservação e o aumento dos inimigos naturais. Somente em casos de desequilíbrios no ambiente extremos e surtos populacionais das "pragas" que são adotadas medidas complementares de controle (terapêu cas ou cura vas). Estas ações podem ser o controle biológico aplicado, armadilhas para coletar os insetos, iscas atra vas e diversos produtos, tais como caldas fitoprotetoras. Em razão da complexidade dos sistemas agrícolas orgânicos, o momento para adotar alguma medida complementar de controle não pode ser determinado exclusivamente com base em um só parâmetro, como a quan dade de insetos atacando as plantas, por exemplo. Por outro lado, isto vai depender do quanto o inseto vai causar de perda e o que vai refle r no quanto o agricultor e a agricultora consideram como prejuízo. Isto tudo deve ser avaliado, considerando que mesmo se algum inseto es ver atacando alguma cultura, este ataque pode ser rápido e não causar tantos prejuízos, pois muitas vezes eles tem uma mortalidade causada pelo ambiente (clima e inimigos naturais). Cada caso precisa ser analisado cautelosamente, e sempre que possível, com a presença de alguém com experiência em avaliar a saúde das plantas e produção agrícola. 17 ...manejo ambiental O sistema agrícola pode ser trabalhado para se tornar desfavorável às "pragas". Isso pode ser alcançado através de medidas que reduzam as chances de localização e colonização das plantas, além de promover a dispersão dos indivíduos e afetar a reprodução e a sobrevivência dos insetos indesejados, assim como o favorecimento do controle biológico natural. Assim, recomenda-se a adoção planejada e preven va das seguintes medidas: – Adotar o consórcio de plantas. A consorciação pode ser feita com alternância de canteiros, por exemplo, de alface, beterraba, brássicas (repolho, couve-flor ou couve-comum) cenoura e cheiro verde ou por faixas com linhas de cul vo, como de tomateiro e coentro, feijão-vagem e milho, pimentão e feijão-guandu e sorgo; – Preservar a vegetação natural ao redor da paisagem agrícola; – Implantar barreiras vivas, como quebra-vento ou faixa de vegetação, em volta da horta para isolamento das áreas de cul vo circunvizinhas; – Estabelecer uma rotação de culturas. Entre as faixas de cul vo também deve-se prever o plan o alternado de adubos verdes ou de gramíneas (sorgo e milho) com diferentes famílias de hortaliças; – Não realizar novos plan os de hortaliças ao lado de áreas mais velhas. Quando não for possível o plan o em uma só etapa, recomenda-se fazer o segundo plan o com menos de 30 dias; – Eliminar plantas espontâneas de cul vos anteriores ( gueras), antes do novo plan o daquela hortaliça no mesmo local; – Usar armadilhas adesivas ou bandejas com água, de coloração amarela ou azul para captura de insetos sugadores dentro da área cul vada; – Re rar folhas infestadas ou efetuar a catação manual e esmagamento de ovos e lagartas. Também remover das plantas as flores e frutos atacados por insetos, além de eliminar plantas com viroses; 18 ...controle por comportamento Algumas espécies de insetos que causam danos as plantas, como pulgões, moscas-brancas e mosca-minadora, são atraídos pela cor amarela. Assim, folhas ou placas desta cor com algum adesivo podem ser colocadas, preferencialmente, nas bordas da cultura para capturar insetos em movimento de uma cultura para outra. Também pode-se u lizar plantas iscas ou plantas repelentes nas bordas da área. ...controle utilizando inimigos naturais O uso dos inimigos naturais para combater as ‘pragas’ é conhecido como Controle Biológico e se baseia na regulação natural das populações de insetos e ácaros que se alimentam de plantas. Assim, a pessoa pode rar proveito deste fato favorecendo os inimigos naturais já existentes no ambiente rural, por meio de prá cas como o uso de barreiras vivas e plantas repelentes contra insetos indesejados; manutenção de plantas que produzem flores na bordadura do cul vo, visto que estas fornecem alimento complementar, refúgio e local de reprodução para predadores e parasitóides dos insetos indesejados; manutenção do solo recoberto por vegetação ou de cobertura morta; plan o direto ou cul vo mínimo; consórcios entre culturas; preservação das matas na vas próximas à cultura e uso de produtos alterna vos de baixo impacto sobre inimigos naturais. ...produtos alternativos Uma opção importante para auxiliar no manejo destes insetos indesejados é o uso de produtos alterna vos ao invés de agrotóxicos. 19 2- Identificação de Insetos Nesta parte serão descritos os principais grupos de insetos que atacam as hortaliças e as principais medidas de controle específicas a serem adotadas. Formigas Cortadeiras Identificação Estas formigas também são conhecidas como saúvas ou quenquéns e estão entre os mais importantes insetos que causam danos na agricultura. São insetos com organização social, que vivem em ninhos subterrâneos (os famosos formigueiros). Cortam folhas, hastes e flores e transportam estas estruturas vegetais para o interior da colônia, onde são u lizadas como substrato para cul vo de um fungo, do qual as formigas se alimentam. São facilmente iden ficadas pela presença de três ou quatro pares de espinhos nas costas, na região logo após a cabeça. Elas são mais a vas à noite e nas horas de temperatura mais amena do dia. As injúrias causadas pelas formigas cortadeiras são facilmente reconhecidas, como o corte nas folhas, em formato de meia-lua ou arco e a desfolha completa da planta atacada. Inspeção do ataque Procurar pela ataques picos nas folhas e flores e verificar a presença de plantas mortas cortadas à altura do solo. 20 Controle Barreiras – canais de terra ou canaletas de cimento, cheios de água e gotas de detergente neutro, circundando os canteiros de mudas do viveiro; latas de óleo ou garrafas descartáveis do po “pet”, sem fundo e tampa ou gargalo, colocadas circundando os caules, sendo levemente enterradas no solo e untadas com graxa na parte externa. Planta repelente – cul vo permanente de batata-doce (Ipomoea batatas) ao redor da horta ou entre canteiros. A batata-doce é pouco preferida pelas formigas cortadeiras, pois o látex que escorre da rama quando a mesma é atacada pela formiga cortadeira causa repelência a ela Planta com ação inse cida – cul vo de gergelim (Sesamum indicum) ao redor da horta. Embora o gergelim seja atacado pelas formigas cortadeiras, substâncias químicas presentes neste vegetal afetam nega vamente a vida das saúvas e reduzem o tamanho do formigueiro. Cinzas – as cinzas de madeira, ob das peneirando-se o fundo do fogão a lenha, atuam como repelente destes insetos; devem ser misturadas com água e aplicadas sobre as plantas ao final da tarde. Pão com Vinagre – um pedaço de pão velho encharcado de vinagre é tóxico ao fungo que as formigas cul vam e comem. Ao colocar um pão com vinagre do lado do caminho feito pelas formigas, elas estarão totalmente eliminadas em poucos dias. 21 Insetos Sugadores Identificação Os insetos sugadores, conhecidos como pulgões, moscas-brancas, cochonilhas, percevejos, tripes e cigarrinhas, estão entre os insetos mais importantes das hortaliças. São insetos pequenos, possuem formato e cores variadas, podem ter asas ou não e vivem em grandes populações (colônias) na parte inferior das folhas, em brotações e nas flores. Sugam a seiva das plantas tornando-as menos vigorosas e produ vas. Os pulgões, as moscas-brancas e as cochonilhas também secretam um líquido açucarado que favorece a formação de uma película preta sobre as folhas e frutos, popularmente conhecida como fumagina. Isto reduz a fotossíntese da planta e deprecia o alimento (folha ou fruto) devido ao péssimo aspecto. Inspeção do ataque Para pulgões e cochonilhas – observar os brotos e a face inferior das folhas é uma forma eficiente de perceber a presença de pulgões e cochonilhas. O ataque dos pulgões deixam as folhas irrugadas e com algumas teias finas. Já as cochonilhas também irrugam as folhas, mas não deixam teias, porém são facilmente iden ficadas na parte inferior da folha por pontos brancos, que são as carapaças que as recobrem. Para moscas-brancas – inspecionar a face inferior das folhas novas na busca de insetos adultos. Também pode-se realizar o monitoramento destes insetos com armadilhas adesivas amarelas ou bandejas a exemplo do proposto para os pulgões. 22 Controle Armadilhas adesivas – instalação, em diferentes pontos do cul vo, de placas ou garrafas plás cas descartáveis do po “pet” e de pedaços de tábuas pintadas de amarelo, para atração de pulgões e moscas-brancas ou de azul para atração de tripes. Estas armadilhas atra vas devem ser reves das com uma camada de cola ou graxa para retenção dos insetos. Plantas repelentes – cul vo em volta da horta ou dentro do canteiro, em fileiras ou em covas alternadas de coentro (C. sa vum), tagetes ou cravo-de-defunto (Tagetes sp.), hortelã (Mentha spp.), calêndula (Calendula officinalis), mastruz (Chenopodium ambrosioides), artemisia (Artemisia sp.) e arruda (Ruta graveolens). Estas plantas liberam voláteis que repelem os insetos sugadores adultos, mantendo-os afastados das hortaliças. Catação manual – re rada de folhas infestadas, seguida de esmagamento. Calda de farinha de trigo e água – quando pulverizada sobre as plantas mata os insetos por asfixia. Com o passar do tempo a calda seca ao sol, formando uma camada branca de pó que cobrirá os insetos e pela ação do vento esta película é grada vamente removida das folhas junto com os insetos. Inse cidas alterna vos – pulverização de extrato de pimenta, alho e sabão neutro (ação repelente); uso de óleo vegetal de soja ou algodão para cozinha, misturado em água e sabão dissolvido ou detergente neutro; pulverização de produtos comerciais à base de óleo de sementes de nim (Azadirachta indica). 23 Lagartas Identificação Existem mariposas e borboletas que, durante a sua fase jovem, ou seja, na forma de lagartas, se alimentam de folhas e podem perfurar talos, flores e frutos ainda jovens. Estas lagartas podem apresentar coloração branco-amarelada, esverdeada ou amarronzada. Inspeção do ataque Verificar a desfolha, a presença de lagartas nas folhas e os sintomas de furos nos frutos pequenos. Controle Plantas repelentes – cul vo em volta da horta ou dentro do canteiro, em fileiras ou em covas alternadas de coentro (C. sa vum), tagetes ou cravo-de-defunto (Tagetes sp.), hortelã (Mentha spp.), calêndula (Calendula officinalis), mastruz (Chenopodium ambrosioides), artemisia (Artemisia sp.) e arruda (Ruta graveolens). Estas plantas liberam voláteis que repelem os insetos sugadores adultos, mantendo-os afastados das hortaliças. Ensacamento de frutos – garante proteção mecânica, impedindo o acesso da praga aos frutos. Pode ser feito u lizando-se sacos plás cos com pequenos furos para ven lação ou sacos de papel parafinado. Outras medidas – catação manual de lagartas, de folhas infestadas e de frutos atacados e caídos no solo; inse cidas alterna vos à base de óleo de nim ou calda de farinha de trigo e água, conforme recomendado no controle de insetos sugadores. 24 Grilos e Paquinhas Identificação São insetos com 2,5 a 3,0 cm de comprimento, de coloração amarelada ou pardo-escura, que durante o dia se abrigam em ambientes escuros e úmidos, sob pedras e restos de plantas. Se alimentam de folhas e hastes novas, de tubérculos e raízes. Inspeção do ataque Procurar pelas folhas e talos cortados, ou mesmo verificar a presença de plantas mortas cortadas à altura do solo. Controle Armadilhas – instalação, em diferentes pontos da horta, de copos plás cos, latas de óleo ou garrafas descartáveis do po “pet” contendo água e gotas de detergente neutro, os quais devem ser enterrados no solo. Semanalmente os insetos mortos devem ser re rados e trocada a água do recipiente. A eficiência do controle depende da infestação e do número de armadilhas instaladas dentro da área cul vada. 25 Vaquinhas Identificação São insetos pequenos, cujos adultos se caracterizam por apresentar o primeiro par de asas rígidas como um escudo, de cores variadas, com manchas amarelas, pretas ou acinzentadas . Estes besouros se alimentam de folhas, hastes e flores. Inspeção do ataque Procurar os ataques picos, as perfurações arredondadas nas folhas e flores ou pelos adultos. Controle Plantas repelentes – cul vo de coentro, hortelã e arruda. Iscas para adultos – confeccionadas a par r de pedaços de raízes ou frutos de plantas conhecidas como “tajujá” [Cayaponia tayuya; Ceratosanthes hilariana; Cayaponia mar ana] ou de cabaça verde (Lagenaria vulgaris), as quais possuem substâncias atra vas (cucurbitacinas) às vaquinhas. Estas iscas são previamente colocadas dentro de bacia contendo água e sabão neutro e quando saturadas de besouros procede-se sua imersão na água com auxílio de uma vara, o que ocasiona a morte dos insetos por afogamento. 26 Ácaros Identificação Os ácaros são pequenos aracnídeos, com menos de 1 mm de comprimento, que raspam a super cie das folhas e frutos das hortaliças e sugando o que a seiva das plantas. O ataque destas pragas ocasiona o amarelecimento ou prateamento das folhas, manchas escurecidas nos os caules e ramos, em forma de bronzeamento e deformação dos frutos. Inspeção do ataque Procurar pelos sintomas, ou seja, amarelecimento ou prateamento das folhas, presença de teia (ácaros tetraniquídeos), bronzeamento nos caules e ramos e deformação dos frutos. Controle Similar ao realizado para os insetos sugadores. 27 3- Receitas Alternativas 3.1 Calda de Farinha de Trigo Material - 20 gramas de farinha de trigo; - 1 litro de água. Preparo - Colocar a farinha de trigo na água, aos poucos e lentamente em recipiente. Agitando fortemente para diluir a farinha na água, de forma a diminuir os "grupos" formados pela farinha; - Coar a calda; - Pulverizar nas plantas. 3.2 Extrato de Pimenta-do-Reino, Alho e Sabão Material – 100 gramas de pimenta do reino moída; – 100 gramas de alho; – 50 gramas de sabão neutro; – 2 litros de álcool; – 2 litros de água. Preparo - Colocar 100 gramas de pimenta do reino moída e 1 litro de álcool em um recipiente de vidro com tampa. Deixar em repouso por uma semana; - Triturar 100 gramas de alho, misturar em 1 litro de álcool e colocar em um recipiente de vidro com tampa. Deixar em repouso durante 7 dias; - Dissolver 50 gramas de sabão neutro em 1 litro de água quente, no dia em que for usar a calda; - No dia em que a calda for aplicada nas plantas, deve-se coar os extratos e depois colocar 20 ml do extrato de pimenta do reino, 10 ml do extrato de alho e 100 ml da solução de sabão neutro em um pulverizador, completando o volume com água para 1 litro. É necessário coar os ingredientes para evitar entupimento do bico do aplicador. 28 Patrocínio: