A Liahona de junho de 2007

Transcrição

A Liahona de junho de 2007
A IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS • JUNHO DE 2007
MATÉRIA DA CAPA:
Mulheres
do Novo
Testamento,
p. 26
Perder a Copa
do Mundo, p. 37
Cuidado com os
Maka-Fekes,
p. A2
A LIAHONA, JUNHO DE 2007
P A R A O S A D U LT O S
2
8
13
25
26
30
38
41
44
Mensagem da Primeira Presidência: Conflito Sem Fim, Vitória Garantida
Presidente Gordon B. Hinckley
Um Firme Alicerce Num Mundo Incerto Adam C. Olson
Lições do Novo Testamento: Gratidão pela Expiação
Élder Wolfgang H. Paul
Mensagem das Professoras Visitantes: Tornar-se um Instrumento nas
Mãos de Deus Permanecendo Firmes e Inabaláveis
“Porque Muito Amou”: Mulheres do Novo Testamento
Apoiar Seu Bispo Joseph Staples
Ela Fez de Nós uma Família Raquel M. Garcia-Rebutar
Vozes da Igreja
Ele Não Queria Tocar no Livro Hermenegildo I. Cruz
O Carro Laranja Elwin C. Robison
Oito Irmãos Japoneses Tadashi Kina
TREINAMENTO MUNDIAL DE
LIDERANÇA: ENSINAR E APRENDER
50
56
74
Princípios do Ensino e do Aprendizado
Presidente Boyd K. Packer e
Élder L. Tom Perry
Ensinar e Aprender na Igreja
Élder Jeffrey R. Holland
Exemplos de Grandes Professores
Presidente Thomas S. Monson
Worldwide Leadership
Training Meeting
Teaching and Learning
FEBRUARY 10, 2007
LIVING WATER, BY SIMON DEWEY, COURTESY OF ALTUS FINE ART, AMERICAN FORK, UTAH
Junho de 2007 Vol. 60 Nº. 6
A LIAHONA 00786 059
Publicação oficial em português d’A Igreja de Jesus Cristo
dos Santos dos Últimos Dias
A Primeira Presidência: Gordon B. Hinckley,
Thomas S. Monson, James E. Faust
Quórum dos Doze: Boyd K. Packer, L. Tom Perry,
Russell M. Nelson, Dallin H. Oaks, M. Russell Ballard,
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Jeffrey R. Holland, Henry B. Eyring, Dieter F. Uchtdorf,
David A. Bednar
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Gerald N. Lund, W. Douglas Shumway
Diretor Gerente: David L. Frischknecht
Diretor Editorial: Victor D. Cave
Editor Sênior: Larry Hiller
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A. Edwards, LaRene Porter Gaunt, Carrie Kasten, Melissa
Merrill, Michael R. Morris, Sally J. Odekirk, Judith M. Paller,
Vivian Paulsen, Richard M. Romney, Jennifer Rose, Don L.
Searle, Janet Thomas, Paul VanDenBerghe, Julie Wardell,
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A Liahona:
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Tradução: Edson Lopes
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“A Liahona”, um termo do Livro de Mórmon que significa
“bússola” ou “orientador”, é publicada em albanês,
alemão, armênio, bislama, búlgaro, cambojano, cebuano,
chinês, coreano, croata, dinamarquês, esloveno, espanhol,
estoniano, fijiano, finlandês, francês, grego, haitiano, hindi,
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tcheco, télugo, tonganês, ucraniano, urdu e vietnamita.
(A periodicidade varia de uma língua para outra.)
The proceedings of this worldwide leadership training meeting are
also available at www.lds.org.
THE CHURCH OF JESUS CHRIST OF LATTER-DAY SAINTS
IDÉIAS PARA A NOITE FAMILIAR
As idéias a seguir podem ser
usadas tanto na sala de
aula quanto para o
ensino no lar.
“Colocar Luz em Sua
p. 16: Peça a um membro da família que cubra
a cabeça com uma
caixa ou um cesto.
Peça à pessoa que descreva o que
vê. Pergunte como essa experiência
se assemelha à escuridão espiritual.
Selecione exemplos do artigo para
ensinar o que nos dá luz espiritual.
“Apoiar Seu Bispo”, p. 30:
Peça aos membros da família que
Vida”,
escrevam desafios que enfrentam
ou podem vir a enfrentar. Determine quem são as pessoas mais
adequadas para ajudar nesses desafios. (As respostas
podem incluir os pais, os
mestres familiares ou
professoras visitantes,
o bispo). Leia a seção
“Aliviar Seu Fardo”, e analise os
papéis desempenhados pelo bispo.
Discuta maneiras pelas quais a
família pode apoiar melhor o bispo.
Planeje uma atividade familiar para
fazer algo de bom para seu bispo
ou presidente de ramo.
A2 Maka-Fekes Mortais
PA R A O S J O V E N S
16
22
34
37
Colocar Luz em Sua Vida Presidente James E. Faust
Perguntas e Respostas: Voltei para a Igreja e Estou
Tentando Começar uma Nova Vida Depois de Ter
Cometido Alguns Erros, mas Tenho Medo de Cair de
Novo. Como Posso Vencer Esse Medo?
Futebol ou Missão? Alexandre Machado
Vasconcelos
Perder a Copa do Mundo Suzana Alves de Melo
48 Pôster: Escolha
O AMIGO:
PA R A A S
CRIANÇAS
A2
A4
A6
A8
A10
A12
A16
Vinde ao Profeta Escutar:
Maka-Fekes Mortais
Presidente Thomas S. Monson
Tempo de Compartilhar: Lembrar
Elizabeth Ricks
Da Vida do Presidente Spencer W. Kimball:
O Poder do Exemplo
Para os Amiguinhos: Lembrar-se de Jesus Cristo
Durante o Sacramento
De um Amigo para Outro: Bondade
Élder Won Yong Ko
Escape Milagroso do Perigo Myra Hawke Dyck
Página para Colorir
A10 Bondade
NA CAPA
Primeira capa: Porque Muito Amou, de Jeffrey Hein.
Última capa: Disse-Lhe Jesus: “Maria”, de William
Whitaker.
CAPA DE O AMIGO
Ilustração: Chris Hawkes.
Ao procurar o anel do CTR escondido
nesta edição, pense em como você pode
guardar seus convênios batismais.
37 Perder a Copa do Mundo
TÓPICOS DESTA EDIÇÃO
“Perder a Copa do Mundo”,
p. 37: Ao ler a história, peça aos
membros da família que citem
maneiras pelas quais Fabiana foi
um bom exemplo. Como atividade,
jogue uma bola para vários membros da família. Quando apanharem
a bola, peça que contem como
podem ser um exemplo positivo
para as pessoas.
“Ela Fez de Nós uma Família”,
p. 38: Discuta e avalie as últimas
reuniões de noite familiar. Examine
as seis coisas que a família da autora
fez para tornar suas noites familiares um sucesso. Crie um gráfico
para acompanhar as tarefas da noite
familiar e decida em família os
temas das próximas reuniões de
noite familiar.
“Maka-Fekes Mortais”, p. A2:
Descreva um maka-feke e faça
uma lista de algumas tentações
que Satanás usa para incitar as
pessoas a fazer coisas erradas.
Peça aos membros da família
que desenhem exemplos desses
modernos maka-fekes. Procure
escrituras que ilustrem como
evitar e vencer essas tentações.
Discuta como dizer não para as
coisas ruins.
A = O Amigo
Livro de Mórmon, 41
Apoiar, 30
Luz, 16
Arbítrio, 48
Medo, 22
Bem e mal, 2
Mulheres, 26
Bispos, 30
Novo Testamento, 26
Bondade, A10
Obediência, 25
Castidade, 16
Oposição, 2, 22
Compromisso, 2
Oração, A12
Cura, 13
Presidentes de ramo, 30
Dízimo, 42
Primária, A4, A10
Ensinar, 1
Professoras visitantes, 25
Ensino familiar, 7
Reunião de noite familiar,
Exemplo, 37, 44, A6
1, 38
Expiação, 13, 16
Sacramento, A8
Fé, 8, 16
Serviço, 30, 44, A10
Firmeza, 25, 44
Tentação, A2
Gratidão, 13
Testemunho, 8, 44
Jesus Cristo, 2, 8, 13, 26,
Trabalho missionário, 16,
34, 41, 44
A4, A8, A16
Kimball, Spencer W., A6
A LIAHONA JUNHO DE 2007
1
Os egípcios perseguindo
MENSAGEM DA PRIMEIRA PRESIDÊNCIA
Conflito
Sem Fim,
Vitória
Garantida
PRESIDENTE GORDON B. HINCKLEY
Estamos engajados
numa grande batalha eterna que afeta
a própria alma dos
filhos e filhas de
Deus.
Uma Batalha Contínua
Essa guerra, tão amarga, tão intensa, nunca cessou. Trata-se da
guerra entre a verdade e o erro, entre o arbítrio e a compulsão, entre
2
CRUZANDO O MAR VERMELHO (GUACHE SOBRE PAPEL) © LOOK AND LEARN/THE BRIDGEMAN ART LIBRARY, REPRODUÇÃO PROIBIDA
Q
uase dez décadas já se passaram desde o meu nascimento e,
durante grande parte desse tempo, houve guerra entre os
homens nesta ou naquela parte da Terra. Ninguém pode avaliar
o terrível sofrimento que essas guerras causaram no mundo inteiro.
Milhões de vidas foram perdidas. Os terríveis ferimentos de guerra deixaram corpos mutilados e mentes destruídas. Famílias foram deixadas
sem pais e mães. Em muitas ocasiões, os jovens recrutados para lutar
morreram, e os que sobreviveram enredaram a própria essência de sua
natureza num ódio que jamais será apagado. O tesouro de nações foi
desperdiçado e jamais será recuperado.
A devastação da guerra parece extremamente desnecessária, bem
como o terrível desperdício de vidas humanas e recursos das nações.
Perguntamo-nos se essa maneira terrível e destrutiva de lidar com as
discórdias entre os filhos e filhas de Deus nunca irá cessar.
Mas há outra guerra que vem sendo travada desde que o mundo foi
criado e provavelmente continuará por muito tempo. É uma guerra
que se estende além de questões de território ou soberania nacional.
João, o Revelador, falou dessa guerra:
“E houve batalha no céu; Miguel e os seus anjos batalhavam contra
o dragão, e batalhavam o dragão e os seus anjos;
Mas não prevaleceram, nem mais o seu lugar se achou nos céus.
E foi precipitado o grande dragão, a antiga serpente, chamada o
Diabo, e Satanás, que engana todo o mundo; ele foi precipitado na
terra, e os seus anjos foram lançados com ele” (Apocalipse 12:7–9).
os filhos de Israel
A LIAHONA JUNHO DE 2007
3
os seguidores de Cristo e os que O negaram. Seus inimigos vêm usando todo tipo de estratagema nesse conflito.
Mentiram e enganaram. Empregaram dinheiro e riquezas.
Confundiram a mente das pessoas. Assassinaram, destruíram e envolveram-se em todo tipo de atos malignos para
prejudicar o trabalho de Cristo.
O assassinato teve início na Terra quando Caim matou
Abel. O Velho Testamento está repleto de relatos de episódios dessa mesma batalha eterna.
Ela manifestou-se nas infames acusações contra o
Homem da Galiléia, o Cristo, que curou os enfermos,
que inspirou o coração dos homens e lhes deu esperança: Ele, que lhes ensinou o evangelho da paz. Seus
inimigos, movidos por aquele poder maligno, prenderam-No, torturaram-No, pregaram-No na cruz e ridicularizaram-No. Mas pelo poder de Sua divindade, Ele venceu
a morte infligida por Seus inimigos e, por meio de Seu
sacrifício, proporcionou a todos os homens a salvação
da morte.
Essa guerra eterna prosseguiu durante a decadência da
4
Fundação de uma nação
obra que Ele iniciou, na corrupção que a contaminou, quando as trevas cobriram a Terra e a
escuridão cegou os povos (ver Isaías 60:2).
Mas as forças de Deus não podiam ser vencidas. A Luz de Cristo tocou o coração de um
homem aqui e outro ali, e muitas coisas boas
aconteceram, apesar da grande opressão e do
sofrimento.
Houve uma época de renascimento, com
lutas pela liberdade — lutas travadas a preço
de muito sangue e sacrifício. O Espírito de
Deus inspirou homens a fundar uma nação
em que a liberdade de adoração, a liberdade de
expressão e a liberdade de arbítrio fossem protegidas. Seguiu-se então o início da dispensação da plenitude dos tempos, com a visita de Deus, o Pai
Eterno, à Terra, e de Seu Filho Amado, o Senhor Jesus
Cristo ressuscitado. A esse glorioso evento seguiram-se
visitas de anjos que restauraram antigas chaves e o
sacerdócio.
Mas a guerra não havia terminado. Ela ganhou renovado ímpeto e foi redirecionada. Houve desprezo.
Houve perseguições. Houve expulsões de um lugar
para outro. Houve o assassinato do jovem profeta de
Deus e seu querido irmão, há 163 anos, que se completam neste mês.
Os santos dos últimos dias fugiram de seus lares confortáveis, suas fazendas, seus campos, suas lojas, seu belo
templo construído com imenso sacrifício. Foram para os
vales das montanhas, sendo que milhares morreram pelo
caminho. Foram para o tipo de lugar que o Presidente
Joseph Smith instruíra os Doze a encontrar, “de onde o
diabo não nos possa expulsar.”1
Mas o adversário nunca deixou de agir. Na conferência
de outubro de 1896, o Presidente Wilford Woodruff
CRISTO, O CONSOLADOR, DE CARL HEINRICH BLOCH, REPRODUÇÃO PROIBIDA; ASSINANDO A DECLARAÇÃO DE INDEPENDÊNCIA, DE JOHN TRUMBULL, CORTESIA DA
BIBLIOTECA DO CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS, DIVISÃO DE IMPRESSOS E FOTOGRAFIA, COLEÇÃO THEODOR HORYDOZAK; O BOSQUE SAGRADO, DE GREG
OLSEN, REPRODUÇÃO PROIBIDA; MARTÍRIO DE JOSEPH E HYRUM, DE GARY SMITH; PARTINDO DE NAUVOO, DE GLEN HOPKINSON, REPRODUÇÃO PROIBIDA
A Ressurreição de Jesus Cristo
A Primeira Visão
O Martírio de Joseph e Hyrum Smith
Os santos dos últimos dias partindo de Nauvoo
questões são mais importantes. Em outras, são apenas
(1807–1898), então idoso, ergueu-se no Tabernáculo da
pequenas discórdias locais. Mas todas fazem parte de
Praça do Templo e disse:
um padrão.
“Há dois poderes na Terra e no meio de
A oposição foi sentida nos esforços incessanseus habitantes: o poder de Deus e o poder
ssa guerra,
do diabo. Em nossa história, tivemos algumas
tão amarga, tes de muitos, tanto dentro quanto fora da
experiências peculiares. Sempre que Deus
tão intensa, Igreja, para destruir, menosprezar e ridicularizar a fé, prestar falso testemunho, tentar,
teve um povo na Terra, não importa em qual
nunca cessou.
época, Lúcifer, o filho da manhã, e milhões
Trata-se da guerra seduzir e induzir nosso povo a práticas não
de espíritos decaídos que foram expulsos
entre a verdade e o condizentes com os ensinamentos e padrões
desta obra de Deus.
do céu vêm lutando contra Deus, contra
erro, entre o arbíA guerra prossegue tal como era no princíCristo, contra a obra de Deus e contra o
trio e a compulsão,
povo de Deus. E eles não bateram em retientre os seguidores pio. Talvez não com a mesma intensidade, e
por isso sou grato. Mas os princípios em quesrada em nossa época e geração. Sempre que
de Cristo e os que
tão são os mesmos. As vítimas de hoje são tão
o Senhor estendeu a mão para realizar qualO negaram.
preciosas quanto as que caíram no passado. É
quer obra, esses poderes se empenharam
2
uma batalha contínua. Os homens do sacerdópara impedi-lo.”
cio, juntamente com as filhas de Deus que são
O Presidente Woodruff sabia do que
nossas companheiras e aliadas, fazem parte do
falava. Ele acabara de passar por aqueles
exército do Senhor. Precisamos permanecer
dias difíceis e perigosos em que o governo
unidos. Um exército desorganizado não será vitorioso. É
dos Estados Unidos se voltara contra o nosso povo,
essencial que marchemos juntos em união. Não pode
determinado a destruir esta Igreja como organização.
haver divisão entre nós, se esperamos a vitória. Não pode
A despeito das dificuldades daqueles dias, os santos não
haver deslealdade, se esperamos união. Não podemos ser
desistiram. Prosseguiram com fé. Depositaram sua conimpuros, se quisermos a ajuda do Todo-Poderoso.
fiança no Todo-Poderoso, e Ele lhes revelou o caminho
Os rapazes do sacerdócio, os diáconos, mestres e sacera seguir. Com fé, aceitaram aquela revelação e foram
dotes, receberam com seu ofício do sacerdócio o dever
obedientes.
de pregar o evangelho, ensinar a verdade, encorajar os fracos a ser fortes e “convidar todos a virem a Cristo” (D&C
O Padrão do Conflito
20:59). As moças da Igreja têm a responsabilidade igualMas esse não foi o fim da guerra. Ela amenizou um
mente importante de ser obedientes aos mandamentos
pouco, e somos gratos por isso. Não obstante, o adversáde Deus e de servir de exemplo de fé e virtude.
rio da verdade continuou com sua luta.
Nenhum filho ou filha de nosso Pai Celestial pode perA despeito da força atual da Igreja, parece que estamos
mitir-se
usar coisas que enfraqueçam a mente, o corpo ou
constantemente sob ataque de um grupo ou outro. Mas
o espírito eterno. Isso inclui drogas, bebidas alcoólicas,
continuamos em frente. Precisamos prosseguir. Seguimos
fumo e pornografia. Vocês não podem envolver-se em
adiante e continuaremos a fazê-lo. Em certas ocasiões, as
E
A LIAHONA JUNHO DE 2007
5
Serviço no sacerdócio
Trabalho missionário
Adoração no templo
dizendo: “Se eu me sentisse próximo do Pai Celestial,
atividades imorais. Não podem fazer essas coisas e ser
guerreiros valiosos na causa do Senhor, na grande e eterna provavelmente Ele exigiria algum compromisso da minha
parte, e não me sinto pronto para isso”.
batalha que continua a ser travada pelas almas
Pensem nisso: um homem que tomou sobre
dos filhos de nosso Pai.
ão estamos
si o nome do Senhor no batismo, um homem
Os homens desta Igreja não podem ser
perdendo.
que renovou seus convênios com o Senhor nas
infiéis ou desleais à esposa, à família e a suas
Estamos
reuniões sacramentais, um homem que aceitou
responsabilidades do sacerdócio, se quiserem
ganhando.
o sacerdócio de Deus, mas ainda assim dizia
ser valentes na tarefa de levar adiante a obra
Continuaremos a
que caso se achegasse ao Pai Celestial, algum
do Senhor, nessa grande batalha em prol da
ganhar se formos
verdade e salvação. Não podem ser desonestos fiéis e verdadeiros. compromisso poderia ser exigido dele, e não
estava pronto para isso.
e inescrupulosos nas questões materiais, sem
Podemos fazê-lo.
Nesta obra é preciso haver compromisso.
macular sua armadura. As mulheres da Igreja,
Precisamos fazê-lo.
sejam elas esposas, mães ou irmãs que não
Vamos fazê-lo. Não É preciso haver devoção. Estamos engajados
numa grande batalha eterna que afeta a próencontraram um companheiro, não podem
há nada que o
pria alma dos filhos e filhas de Deus. Não
ser infiéis ou desleais a seus convênios e bênSenhor nos tenha
estamos perdendo. Estamos ganhando.
çãos, mas devem servir como baluarte no
pedido que não
reino, como delas é esperado.
possamos cumprir, Continuaremos a ganhar se formos fiéis e
verdadeiros. Podemos fazê-lo. Precisamos
Em nossas reuniões, ocasionalmente cantase tivermos fé.
fazê-lo. Vamos fazê-lo. Não há nada que o
mos um antigo hino:
Senhor nos tenha pedido que não possamos
cumprir, se tivermos fé.
Quem segue ao Senhor?
Penso nos filhos de Israel, quando fugiram
Hoje iremos ver.
do Egito e acamparam às margens do Mar Vermelho.
Clamemos sem temor
Olhando para trás, viram o Faraó e seus exércitos cheQuem segue ao Senhor?
gando para destruí-los. O medo afligiu-lhes o coração.
A guerra é real
Com os exércitos atrás deles e o mar diante deles, clamaO príncipe do mal
ram aterrorizados.
Combate com furor
“Moisés, porém, disse ao povo: Não temais; estai quieQuem segue ao Senhor? 3
tos, e vede o livramento do Senhor, que hoje vos fará;
porque aos egípcios, que hoje vistes, nunca mais os torChamado ao Compromisso
nareis a ver.
Há alguns anos, um amigo contou-me uma conversa
O Senhor pelejará por vós, e vós vos calareis.
que teve com outro membro da Igreja. Meu amigo pergunEntão disse o Senhor a Moisés: (...) Dize aos filhos de
tou se aquele seu conhecido se sentia próximo do Pai
Israel que marchem” (Êxodo 14:13–15; grifo do autor).
Celestial. O homem respondeu que não. Por que não?
O mar se abriu, e os filhos de Israel marcharam para
Ele disse: “Francamente, porque não quero”. Prosseguiu
6
FOTOGRAFIAS: JUAN CARLOS SANTOYO, STEVE BUNDERSON, MATTHEW REIER E CRAIG DIMOND, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
N
Noite familiar
“Porque Deus não nos deu o espírito de temor, mas
de fortaleza, e de amor, e de moderação. Portanto,
não te envergonhes do testemunho de nosso Senhor”
(II Timóteo 1:7–8). ■
sua salvação. Os egípcios os seguiram para sua própria
destruição.
Não teremos também fé para seguir adiante? Ele, que é
nosso líder eterno, o Senhor Jesus Cristo, desafiou-nos nas
palavras da revelação, dizendo:
“Portanto alegrai-vos e rejubilai-vos e cingi os lombos e
tomai sobre vós toda a minha armadura, para que possais
resistir no dia mau. (...)
Estai, pois, firmes, tendo cingidos os lombos com a verdade, tendo vestida a couraça da retidão e calçados os pés
com a preparação do evangelho da paz, o qual, para vos
confiar, enviei meus anjos;
Tomando o escudo da fé com o qual podereis apagar
todos os dardos inflamados dos iníquos;
E tomai o capacete da salvação e a espada de meu
Espírito, (...) e sede fiéis até que eu venha e sereis arrebatados, para que onde eu estiver estejais vós também”
(D&C 27:15–18).
Um Futuro Brilhante
A guerra continua. Ela é travada no mundo inteiro
por questões relacionadas ao arbítrio e à compulsão. É
travada por um exército de missionários por questões
relacionadas à verdade e ao erro. É travada em nossa
própria vida, diariamente, em nosso lar, no trabalho, na
escola; é travada por questões que envolvem amor e respeito, lealdade e fidelidade, obediência e integridade.
Todos estamos envolvidos nela — crianças, jovens ou
adultos — todos. Estamos ganhando, e o futuro nunca
pareceu mais brilhante.
Que Deus nos abençoe na obra que está tão claramente traçada à nossa frente. Sejamos fiéis. Sejamos
valentes. Tenhamos a coragem de ser leais à confiança
que Deus depositou em cada um de nós. Sejamos
destemidos. Citando as palavras de Paulo a Timóteo:
NOTAS
1. History of the Church, volume 6, p. 222.
2. Ensinamentos dos Presidentes da Igreja: Wilford Woodruff, 2004,
p. 224.
3. “Quem Segue ao Senhor”, Hinos, n.o 150.
I D É I A S PA R A O S
MESTRES FAMILIARES
Depois de se preparar em espírito de oração, compartilhe
esta mensagem, utilizando um método que incentive a participação daqueles a quem você estiver ensinando. Seguemse alguns exemplos.
1. Use o artigo para estudar a história da guerra entre o
bem e o mal que vem sendo travada desde antes da Criação
do mundo. Explique-lhes que a Luz de Cristo representa esperança num mundo tenebroso. Leia a seção “Um Futuro
Brilhante”. Sugira coisas que podemos fazer para vencer a
guerra entre o bem e o mal.
2. Escreva as palavras de II Timóteo 1:7–8 em um cartão
para cada membro da família. Convide os membros da família a escrever no verso do cartão a meta pessoal de ser um
discípulo mais dedicado de Jesus Cristo. Peça aos membros
da família que colem o cartão num lugar em que o vejam
todos os dias.
3. Leve um hinário ao visitar cada família. Convide os
membros da família a usar o índice para procurar um hino
que inspire o compromisso. Escolha um hino e cante-o ou
leia a letra em voz alta. Compare essa letra com trechos do
discurso do Presidente Hinckley. Conclua analisando o chamado ao compromisso do Presidente Hinckley e seu testemunho a respeito de um futuro brilhante para aqueles que
servem fielmente ao lado do Senhor.
A LIAHONA JUNHO DE 2007
7
UM FIRME
ALICERCE
NUM MUNDO INCERTO
Mas ele não permite que sua fé nas coisas
que sabe serem verdadeiras seja abalada
pelas coisas que não conhece.
A DA M C . O L S O N
N
a manhã de 1º de novembro
de 1755, um enorme terremoto
arrasou vários bairros de Lisboa,
Portugal, desencadeando um tsunami devastador com ondas de 5 a 10 metros de altura que
devastou a cidade portuária, dando início a um
incêndio que se prolongou por mais de três
dias. O desastre matou milhares de pessoas.
Mas o terremoto devastador abalou
muito mais que apenas edifícios. Como a
catástrofe ocorreu quando os cristãos estavam reunidos para comemorar um importante feriado religioso, o Dia de Todos os
Santos, ela também abalou a fé dos crentes
de todo o continente.
Esse abalo espiritual pode ocorrer tão inesperadamente na vida quanto uma atividade
sísmica, tendo o potencial de causar tantos
danos quanto um terremoto.
8
“Freqüentemente enfrentamos coisas que
podem abalar nossa fé”, diz Patrícia Moreira,
membro da Estaca Lisboa Portugal, que disse
ter enfrentado muitas dessas coisas nesses
vinte anos, desde que se filiou sozinha à
Igreja. “Podem ser perguntas de não-membros, ataques de pessoas que se opõem à
Igreja ou até coisas que simplesmente não
compreendemos.”
Quando perguntas que parecem não ter
respostas causam atritos na linha divisória
entre o mundo e o evangelho, o terremoto
resultante pode causar vítimas, abalando a
fé daqueles que têm alicerces fracos.
Que Firme Alicerce
Na tectônica espiritual, não é nossa proximidade do epicentro
que determina
FOTOGRAFIAS: ADAM C. OLSON, EXCETO QUANDO INDICADO; FOTOGRAFIA DE ROCHAS © GETTY IMAGES
Revistas da Igreja
“Freqüentemente
enfrentamos coisas
que podem abalar
nossa fé (...) [Nesses
momentos] nosso
alicerce faz toda a
diferença.”
— Patricia Moreira, no
Castelo São Jorge, que
foi restaurado sobre seus
alicerces originais depois
do terremoto de Lisboa
em 1755.
A LIAHONA JUNHO DE 2007
9
O DIA EM
QUE SEREMOS
PROVADOS
“O que precisaremos no dia
em que formos provados é
de preparação espiritual; é
ter desenvolvido tal fé em
Jesus Cristo que consigamos passar na prova
da vida da qual depende tudo o que nos
aguarda na eternidade. (...) Precisaremos
desenvolver e cultivar a fé em Jesus Cristo
muito antes que Satanás nos ataque, como
certamente fará, com as dúvidas, com os
apelos aos nossos desejos carnais e com as
vozes mentirosas que chamam o bem de mal
e dizem que não existe pecado. Essas tempestades espirituais já estão sobre nós.
Podemos ter certeza de que elas ficarão piores antes que o Salvador volte.”
Cristo muito antes que Satanás
os efeitos do terremoto em nosso
nos ataque”1, disse o Élder
testemunho, mas, sim, nossa proximidade de Deus.
Henry B. Eyring, do Quórum
“Nosso alicerce é Jesus Cristo e Seu
dos Doze Apóstolos.
evangelho” (ver Lucas 6:47–48), diz a
irmã Moreira em uma conversa sobre
Edificar sobre a Rocha
esse assunto com alguns de seus amiComo fazemos de Cristo o
gos adultos solteiros da estaca.
nosso alicerce?
“Não temos alicerce sem Ele”,
O Élder Eyring ensinou:
acrescenta Darryl Nequetela, um
“Estamos seguros na rocha que é
converso de pouco mais de um ano
o Salvador quando nos submetede Igreja. “Alguns alicerces são framos a Ele em fé, correspondendo
cos, mas o Dele é seguro e verdaà orientação do Santo Espírito
deiro” (ver Helamã 5:12).
de guardar os mandamentos por
Nenhum dilúvio de dúvidas,
tempo suficiente e com fé para
Élder Henry B. Eyring, do Quórum dos Doze
Apóstolos, “Preparação Espiritual: Começar
nenhum incêndio filosófico, nenhum
que o poder da Expiação modifiCedo e Ser Constante”, A Liahona, novembro
de 2005, pp. 37–38.
terremoto de incredulidade de qualque nosso coração. Quando, por
quer magnitude pode destruir a
meio dessa experiência, tornamorocha de nosso Redentor, a Principal
nos como uma criança em nossa
Pedra de Esquina, nosso verdadeiro
capacidade de amar e obedecer,
alicerce, Jesus Cristo.
estamos no alicerce seguro”.2
“Sei que estou seguro quando ediÉ preciso fé. É preciso obefico sobre o alicerce Dele”, diz o irmão Nequetela.
diência e arrependimento. E é preciso tempo.
“Precisamos nutrir nossa fé orando diariamente, estudando diariamente as escrituras, servindo em nossos chaQuando o Abalo Começa
mados, guardando os mandamentos e fazendo o melhor
Esses santos dos últimos dias conhecem bem os terrepossível para tornar-nos pessoas melhores”, diz a irmã
motos provocados por Satanás.
Moreira, cuja mãe e irmã se filiaram à Igreja desde que ela
No trabalho, Francisco Lopes (que se casou recentecomeçou a edificar sobre a rocha. “Creio que precisamos
mente) estava sujeito a freqüentes tremores espirituais.
“Algumas pessoas com quem eu trabalhava eram descrentes seguir o conselho do Presidente Monson de encher
nossa mente com a verdade, encher nosso
em relação às minhas crenças e me criticavam por acreditar
coração de amor e encher nossa vida de
nessas coisas”, diz ele. “Freqüentemente me questionavam,
usando conceitos científicos que pareciam estar em conflito serviço.”3
com nossa fé.”
“Podemos preparar-nos
O irmão Lopes relembra debates a respeito da evolupara as provações
ção, DNA e outras coisas. “Fizeram de tudo para convencer-me de que a Igreja era falsa”, diz ele, referindo-se a
perguntas para as quais ele tinha poucas respostas. “Tive
de confiar no meu testemunho de Deus e de Seu evangelho. Sinto-me grato por esse alicerce.”
Mas como o irmão Lopes pôde testificar, depois que
o chão começa a tremer, é muito tarde para começar a
preparar-nos.
“Precisaremos desenvolver e cultivar a fé em Jesus
10
procurando conhecer o Senhor e saber como Ele ajuda
Seus filhos [ver 1 Néfi 2:12]. As escrituras nos ajudam
nisso”, diz o irmão Nequetela. “Desenvolvemos nossa fé
trilhando o caminho da retidão.”
Como Encontrar Respostas para Perguntas Difíceis
Às vezes, como no caso do irmão Lopes, os membros
se vêem diante de perguntas para as quais não têm respostas. Mas ele não permite que sua fé nas coisas que
sabe serem verdadeiras seja abalada pelas coisas que
não conhece.
“Há coisas que ainda não sei. Mas não questiono essas
coisas porque sei que no devido tempo Deus revelará o
que preciso saber”, diz o irmão Lopes, “não no meu tempo
ou na hora que eu quiser, mas quando Ele achar que isso
deva ser revelado”.
O que podemos fazer quando nos vemos diante de uma
pergunta difícil que não parece ter resposta?
“A maioria das respostas está nas escrituras”, diz o
irmão Lopes, que foi questionado não apenas por amigos
e colegas de trabalho mas também pelos pais, por sua
decisão de filiar-se à Igreja aos 14 anos de idade. “Mas
para descobrir e compreender essas respostas, dependemos da revelação pessoal. Também posso procurar meus
líderes da Igreja ou perguntar diretamente a Deus. Sintome grato pelo Espírito Santo e por ter um Pai Celestial
que me ama.”
Paciência na Revelação
Se a busca da resposta por meio da oração, leitura das
escrituras e estudo das palavras de nossos líderes não for
frutífera, temos que esperar (ver D&C 101:16).
“Estamos aqui para
andar pela fé, mas
esquecemos que (...)
fé não é ter um
perfeito conhecimento
de todas as coisas. E
nossa fé precisa ser
provada.”
— Darryl Nequetela,
contemplando partes
de Lisboa que foram
reconstruídas após o
terremoto.
A LIAHONA JUNHO DE 2007
11
“Há coisas que ainda
não sei. Mas não
questiono essas
coisas porque sei que
no devido tempo
“Procuro ser paciente”, diz o irmão Nequetela, que saiu
de Angola em 2000 para estudar em Portugal. “Embora
não tenhamos uma resposta, o Espírito Santo nos consola dizendo que devemos ser pacientes, que Deus concede linha sobre linha, preceito sobre preceito, e que
devemos aceitar o firme decreto de um Deus justo. Ele
sabe o que é melhor para nós, e revelará tudo no Seu
devido tempo.”
A paciência na revelação é a história da Restauração. A
Igreja foi restaurada sobre o alicerce original: o evangelho
de Jesus Cristo. Mas isso não ocorreu de uma vez. De
acordo com o Profeta Joseph Smith, as respostas para as
dúvidas a respeito do evangelho vieram “linha sobre linha,
preceito sobre preceito; um pouco aqui, um pouco ali;
dando-nos consolação pela proclamação do que está para
vir, confirmando nossa esperança!” (D&C 128:21) e continuarão a fazê-lo.
“Cremos em tudo o que Deus revelou, em tudo o que
Ele revela agora, e cremos que Ele ainda revelará muitas
coisas grandiosas e importantes relativas ao Reino de
Deus” (Regras de Fé 1:9).
Restauração Moderna
Bem acima da moderna Lisboa, o irmão Nequetela olha
para a cidade, do alto das ameias do Castelo São Jorge, e
pensa no trabalho de restauração que foi realizado desde
o desastre de 1755.
A cidade reconstruída está novamente florescente; o
castelo, que havia ficado severamente danificado pelo
terremoto, foi reconstruído usando-se o alicerce
que escapou da destruição. E por meio da
Restauração do evangelho, as pessoas
estão aprendendo como e onde alicerçar
uma fé que permaneça firme, a despeito
da origem dos abalos. ■
NOTAS
1. “Preparação Espiritual:
Começar Cedo e Ser
Constante”, A Liahona,
novembro de 2005, p. 38.
2. “Como uma Criança”,
A Liahona, maio de 2006,
p. 15.
3. Ver Thomas S. Monson,
“A Fórmula do Sucessso”,
A Liahona, agosto de
1995, p. 7.
12
Deus revelará o que
preciso saber.”
— Francisco Lopes,
em frente ao Castelo
São Jorge, que se ergue
sobre a moderna Lisboa.
LIÇÕES DO
Gratidão
Expiação
NOVO TESTAMENTO
pela
É L D E R W O L F G A N G H . PA U L
Dos Setenta
CRISTO NO GETSÊMANI
Q
uase no fim de Seu ministério terreno, o Salvador foi com Seus discípulos ao Monte das Oliveiras no
Jardim do Getsêmani.
Lemos em Lucas, no Novo Testamento:
“E, saindo, foi, como costumava, para o
Monte das Oliveiras; e também os seus discípulos o seguiram.
E quando chegou àquele lugar, disse-lhes:
Orai, para que não entreis em tentação.
E apartou-se deles cerca de um tiro de
pedra; e, pondo-se de joelhos, orava,
Dizendo: Pai, se queres, passa de mim este
cálice; todavia não se faça a minha vontade,
mas a tua.
E apareceu-lhe um anjo do céu, que o
fortalecia.
E, posto em agonia, orava mais intensamente. E o seu suor tornou-se em grandes gotas de sangue, que corriam até
ao chão” (Lucas 22:39–44).
Foi ali que o Salvador pagou o
preço por todos os sofrimentos,
pecados e transgressões de todo ser
humano que viveu ou que ainda
viverá. Ele bebeu a taça
amarga e sofreu para
que todos os que se
arrependessem
não precisassem sofrer.
Depois
desses momentos terríveis, Ele foi levado ao
Gólgota e pregado a uma cruz, que foi outra
tortura brutal e dolorosa pela qual teve de
passar para levar a efeito a Expiação por toda
a humanidade.
Nenhum ser humano pode imaginar o que
o Salvador realmente sofreu quando tomou
sobre Si esse pesado fardo. Em uma revelação
dada por meio do Profeta Joseph Smith em
março de 1830, temos um vislumbre desse
sofrimento quando o Salvador declarou:
“Pois eis que eu, Deus, sofri essas coisas
por todos, para que não precisem sofrer caso
se arrependam;
Mas se não se arrependerem, terão que
sofrer assim como eu sofri;
Sofrimento que fez com que
eu, Deus, o mais grandioso de
todos, tremesse de dor e sangrasse por todos os poros;
e sofresse, tanto no corpo
como no espírito — e
desejasse não ter de beber
a amarga taça e recuar —
Todavia, glória seja para
o Pai; eu bebi e terminei
meus preparativos para
os filhos dos homens”
(D&C 19:16–19).
No final, somente
por meio da Expiação
é que nossa vida pode
Se compreendêssemos o grande amor
que o Salvador teve
por nós quando
expiou nossos pecados, sempre O amaríamos, seríamos
gratos a Ele e guardaríamos Seus
mandamentos.
A LIAHONA JUNHO DE 2007 13
14
para mim só havia um meio de ser curado.
Confessar para minha esposa e filhos o que eu tinha
feito foi a coisa mais difícil que já fiz na vida. Depois disso,
prosseguindo no caminho do arrependimento, confessar
para meu bispo e presidente de estaca não foi tão difícil.
Por fim, senti-me aliviado do fardo que tinha colocado
sobre meus ombros. Senti-me aliviado com a excomunhão
e o que decorreria disso.
Que alegria senti quando recebi a permissão de ser
À ESQUERDA: NÃO SE FAÇA A MINHA VONTADE, MAS A TUA, DE HARRY ANDERSON, CORTESIA DA IGREJA ADVENTISTA DO SÉTIMO DIA, REPRODUÇÃO PROIBIDA; À DIREITA: ILUSTRAÇÃO: ROBERT O. SKEMP, CORTESIA DO MUSEU DE HISTÓRIA E ARTE DA IGREJA; NO JARDIM DO GETSÊMANI, DE ROBERT T. BARRETT
ser curada. Um membro descreveu seus sentimentos
ao passar pelo processo do arrependimento e descobriu o
poder de cura da Expiação: “O período entre a transgressão e a confissão foi terrível. Eu vivia constantemente atormentado com a consciência das coisas terríveis que tinha
feito. Estava num estado de profunda escuridão, depressivo e indiferente, a princípio desesperançado e torturado
por temores, mas sem nunca duvidar da veracidade do
evangelho e do poder salvador da Expiação. Eu sabia que
batizado e pude novamente ter o Espírito
Santo comigo. Por fim, a promessa da
Expiação foi cumprida da maneira mais clara
e bela, quando minhas bênçãos foram restauradas novamente.
Ao longo dos anos, minha esposa e eu
sentimos que a Expiação proporciona alívio
e cura, não apenas para o pecador, mas além
disso, ela tem o poder de curar e restaurar a
vítima também. Disso testifico com profunda
gratidão”.
Se compreendêssemos o grande amor que
o Salvador teve por nós quando expiou nossos pecados, sempre O amaríamos, seríamos
gratos a Ele e guardaríamos Seus mandamentos.
Como declarou o Presidente Joseph
Fielding Smith (1876–1972): “Um dos maiores
pecados, tanto em magnitude quanto em
extensão (...) é o pecado da ingratidão.
Quando violamos um mandamento, por menor e insignificante
que nos pareça, demonstramos
ingratidão para com nosso
Redentor. É impossível compreendermos a extensão
de Seu sofrimento ao
tomar sobre Si o
fardo dos pecados do
mundo inteiro, um castigo tão severo que, segundo nos
foi ensinado, fez verter sangue de
cada um dos poros de Seu corpo, e
isso antes de Ele ser levado para a
cruz. A dor física causada pelos
cravos pregados em Suas mãos e
pés não foi o maior de Seus
sofrimentos, por mais torturante que tenha sido. O
maior sofrimento foi a
angústia espiritual e
mental causada pelo fardo de nossas
transgressões que Ele tomou sobre Si.
Se compreendêssemos a extensão desse
sofrimento e de Seu sofrimento na cruz,
sem dúvida nenhum de nós se tornaria
deliberadamente culpado de pecado. Não
cederíamos às tentações, à satisfação de apetites e desejos ímpios, e Satanás não teria lugar
em nosso coração. Portanto, sempre que
pecamos, demonstramos nossa ingratidão e
desprezo pelo sofrimento do Filho de Deus,
graças a Quem e por meio de Quem ressuscitaremos dos mortos e viveremos para sempre.
Se realmente compreendêssemos e pudéssemos sentir, o mínimo que fosse, o amor e a
benevolente disposição demonstrada por
Jesus Cristo em sofrer por nossos pecados,
estaríamos dispostos a nos arrepender de
todas as nossas transgressões e a servi-Lo”.1
A Expiação do Salvador é o maior evento
da história. O Presidente Gordon B.
Hinckley declarou: “Nenhum outro ato
em toda a história da humanidade
compara-se ao Dele. Nada pode
igualá-Lo. Foi um gesto
de misericórdia totalmente abnegado e de
um amor infinito
a todo gênero
humano, um ato
sem paralelo algum”.2
Sejamos sempre gratos por essa dádiva
maravilhosa, a Expiação
do Filho de Deus, nosso
Salvador e Redentor. ■
A
Expiação do
Salvador é o
maior evento
da história. No final,
somente por meio
da Expiação é que
nossa vida pode ser
curada.
NOTAS
1. The Restoration of All Things
(A Restauração de Todas as
Coisas), 1945, p. 199.
2. “Na Mais Gloriosa das Épocas”, A Liahona, janeiro de
2000, p. 87.
A LIAHONA JUNHO DE 2007 15
COLOCAR LUZ
EM SUA VIDA
P R E S I D E N T E J A M E S E . FA U S T
A PRIMEIRA VISÃO, DE GARY L. KAPP, REPRODUÇÃO PROIBIDA; À DIREITA: FOTOGRAFIA DO PRESIDENTE FAUST: BUSATH PHOTOGRAPHY; FOTOGRAFIA DE VELA: CRAIG DIMOND
Segundo Conselheiro na Primeira Presidência
M
uitos de vocês questionam sua
identidade. Alguns perguntam
o que o futuro lhes reserva. O
mundo exibe tentações sedutoras. É desnorteador. Alguns de vocês podem sentirse não apenas inseguros sobre o rumo a
seguir, como também podem questionar o
real valor que têm. Quero assegurar-lhes
que acredito de todo o coração que vocês
são uma geração escolhida.
Falarei sobre como sair das trevas para a
luz. Miquéias disse: “Se [eu] morar nas trevas,
o Senhor será a minha luz” (Miquéias 7:8).
Como Recebemos Luz
Recebemos luz do Senhor. Isso pode
acontecer quando estudamos as escrituras
e “nossos olhos [se abrem] e [ilumina-se]
nosso entendimento” (D&C 76:12). O estudo
diário das escrituras acende a luz de nossa
percepção espiritual e abre nosso entendimento para mais conhecimento. Procuro ler
as escrituras no final de cada dia. Isso me
proporciona uma paz extraordinária. Durmo
melhor fazendo isso.
Recebemos luz espiritual quando assistimos à reunião sacramental. O sacramento
que tomamos e a inspiração do serviço de
adoração semanal recarregam nossas bateriais espirituais.
Recebemos luz espiritual quando
aceitamos um chamado. Somos mais abençoados ao servir na Igreja do que as pessoas
a quem servimos.
Recebemos luz espiritual quando pagamos
o dízimo, para que as janelas do céu possam
abrir-se sobre nós (ver Malaquias 3:10).
Recebemos luz espiritual quando cantamos hinos. Cantar hinos nos fortalece e nos
une espiritualmente.
Recebemos luz espiritual quando oramos. Quando era um jovem adolescente, o
Profeta Joseph Smith leu: “Se algum de vós
tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que
a todos dá liberalmente” (Tiago 1:5).
Recomendo que leiam o relato da Primeira
Visão, que aconteceu quando ele decidiu que
procuraria receber sabedoria de Deus. Ele
escreveu: “Quando a luz pousou sobre mim
(...)” O que ele viu? Viu o Pai e o Filho. No
final da visão, ele disse: “Quando a luz se retirou, eu estava sem forças” (Joseph Smith —
História 1:17, 20).
Obviamente, não esperamos receber uma
visita celestial, mas temos o direito de receber iluminação espiritual e intelectual se buscarmos primeiramente “o reino de Deus, e a
sua justiça” (Mateus 6:33).
Não esperamos receber uma visita celestial, mas temos o
direito de receber iluminação espiritual e
intelectual se buscarmos primeiramente
“o reino de Deus, e
a sua justiça”.
Qual É o Enfoque de Nossa Fé?
Parte do ato de sairmos para a luz
depende do enfoque de nossa fé. Será que
A LIAHONA JUNHO DE 2007
17
18
vemos isso como repressão ou como libertação? À medida que amadurecem, os jovens
sentem novas capacidades, novas paixões e
novas ambições. Contudo é-lhes é dito que
algumas dessas coisas precisam ser restringidas. Dominar nossas paixões ou aceitar as
devidas restrições são coisas necessárias para
nosso crescimento e progresso pessoais.
Como disse Alma: “Faze também com que
todas as tuas paixões sejam dominadas, para
que te enchas de amor” (Alma 38:12).
Há poucos anos, um programa transmitido para todo o país mostrou criminosos na
prisão que estavam domando cavalos selvagens. Ao fazer amizade com os cavalos, os
prisioneiros aprenderam a ter paciência, a
controlar suas emoções, a respeitar os outros
e a valorizar o trabalho dentro de um sistema. Ao observar como os cavalos aprendiam a obedecer a seus comandos, deram-se
conta de como poderiam ter evitado os terríveis erros que os puseram na prisão.
Em nossa sociedade moderna, muitos
livros, revistas, televisão e filmes mostram
a intimidade sexual fora dos laços do matrimônio como algo socialmente aceitável,
e até desejável. Alguns jovens, enganados
por esse argumento, perguntam: “Por que
isso está errado? Nós nos amamos!” O Élder
Jeffrey R. Holland, do Quórum dos Doze
Apóstolos, respondeu a essa pergunta da
seguinte maneira:
“No que tange à intimidade humana,
vocês precisam esperar! Devem esperar até
poderem doar tudo. E só poderão fazê-lo
quando legal e legitimamente casados.
Conceder ilicitamente o que não é seu (lembrem-se de que ‘não sois de vós mesmos’
[ver I Coríntios 6:19]) e dar apenas parte
sem poder entregar-se inteiramente é uma
roleta russa emocional. Se insistirem em
buscar a satisfação física sem a aprovação
do céu, correrão o terrível risco de sofrer
um dano espiritual e físico que poderá prejudicar tanto o seu anseio por intimidade física
quanto sua capacidade de mais tarde se
entregar devotadamente, de todo coração,
a um amor verdadeiro. (...) No dia de seu
casamento, a melhor dádiva que vocês
podem oferecer a sua companheira ou companheiro eterno é o melhor de vocês mesmos — uma pessoa limpa, pura e digna de
receber em troca essa mesma pureza.”1
A Fé Nos Carrega para Fora das Trevas
Nossa fé não é um conjunto de crenças e
práticas demasiadamente difíceis de seguir.
Todos que saem das trevas descobrem que
sua fé os carrega. A fé não é pesada; a fé
eleva e nos dá asas para transpormos situações difíceis. Como Isaías prometeu: “Mas os
que esperam no Senhor renovarão as forças,
subirão com asas como
águias; correrão, e não
se cansarão; caminharão, e não se fatigarão”
(Isaías 40:31).
Sair das trevas para a
luz liberta-nos do lado
sombrio de nossa alma,
que resulta do medo,
desânimo e pecado.
Podemos reconhecer uma pessoa que saiu
das trevas para a luz por seu semblante e atitude. O Salvador disse muito bem: “Eu vim
para que tenham vida, e a tenham com abundância” (João 10:10).
Desde 11 de setembro de 2001, temonos preocupado com outra forma de
escuridão: a influência de terroristas e
seqüestradores. Vocês estão crescendo num
mundo diferente daquele no qual eu cresci.
Por muitos anos viajei de avião sem precisar
que minha bagagem fosse revistada ou que
FOTOGRAFIA DE ÁGUIA © COMSTOCK; À DIREITA: FOTOGRAFIA: MATTHEW REIER, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
S
er chamado
para servir
como missionário da Igreja não é
um direito, mas, sim,
um privilégio. O trabalho missionário é
muito alegre, mas
não se trata de diversão e jogos; é trabalho árduo.
eu tivesse de passar por detectores de metais.
Meus queridos jovens amigos, nem todos os seus inimigos são terroristas e seqüestradores. Alguns estão no
meio de seus colegas — talvez até entre aqueles que
vocês consideram seus amigos — aqueles que os encorajam a libertar-se das restrições e a experimentar drogas,
bebidas alcóolicas ou intimidades com alguém do sexo
oposto — ou até do mesmo sexo. Estão entre os críticos,
os dissidentes, os descrentes — todos aqueles que nos
mantêm em trevas e procuram impedir-nos de encontrar
a luz em nossa jornada eterna. Outros terroristas espirituais incluem aqueles que vendem pornografia, pessoas
sem princípios. Essas pessoas estão nas trevas, carecem
de fé e não estão dispostas a buscar uma fonte mais elevada do que elas próprias para encontrar soluções para
dúvidas e problemas. Algumas são tão egoístas e têm um
conceito tão pobre de si mesmas e uma fé tão fraca que
não conseguem conceber a possibilidade de se obter luz
e conhecimento por qualquer outro meio.
Tornar-se Defensores da Fé
Todos precisamos tornar-nos defensores da fé. Ao
defender nossa fé, saímos das trevas e nos movemos para
a luz. Vocês, jovens, partilham da responsabilidade de proclamar a verdade do evangelho restaurado. Só conseguirão ser eficazes nisso se procurarem fazer o certo em sua
vida pessoal. Para isso, precisarão de uma compreensão
e um testemunho das doutrinas básicas da Igreja. Esses
princípios fundamentais de nossa fé são, primeiro, que
Jesus é o Cristo, o Filho de Deus, e o Redentor do mundo,
segundo, que Deus, o Pai, e Seu Filho Jesus Cristo realmente apareceram ao Profeta Joseph Smith, restaurando
a plenitude do evangelho e a Igreja verdadeira.
Depois disso vêm os propósitos da Igreja: Primeiro,
preparar seus membros para uma vida perfeita. “Sede vós
pois perfeitos, como é perfeito o vosso Pai que está nos
céus” (Mateus 5:48). Segundo, incentivar e encorajar seus
membros a se tornar um grupo de santos, unidos pela fé e
obras. Terceiro, proclamar a mensagem da verdade restaurada ao mundo. Quarto, salvar nossos mortos.
Pode ser que vocês estejam-se preparando para servir
como missionários de tempo integral. Ser chamado para
servir como missionário da Igreja não é um direito, mas,
sim, um privilégio. O trabalho missionário é muito alegre,
mas não se trata de diversão e jogos; é trabalho árduo. A
advertência do Senhor aos missionários está na seção 4 de
A LIAHONA JUNHO DE 2007
19
Aceitar a Expiação
Há poucos anos, quando o Élder Merrill J. Bateman, da
Presidência dos Setenta, estava no Japão, os missionários
o apresentaram a um jovem irmão japonês que acabara
de filiar-se à Igreja. Ele tivera uma formação não cristã.
Quando conheceu os missionários, ficou interessado na
mensagem deles, mas não conseguia compreender ou
sentir a necessidade de um Salvador, e não tinha um testemunho do evangelho. Certo dia, os missionários decidiram mostrar-lhe um filme sobre a Expiação. O jovem viu
20
o filme, mas ainda assim não recebeu um testemunho.
“Na manhã seguinte, ele foi para seu trabalho.
Trabalhava em uma óptica fazendo óculos. (...) Uma
mulher idosa entrou na loja. Ele lembrou-se de que ela já
viera poucas semanas antes. Tinha quebrado os óculos.
Precisava de óculos novos. Em sua visita anterior, não
tivera dinheiro suficiente e tinha ido embora para economizar mais dinheiro para comprar seus óculos novos.
Quando veio naquele dia, mostrou os óculos para ele
novamente e o dinheiro que tinha. Ele se deu conta de
que ela ainda não tinha o suficiente. Então, um pensamento lhe veio à mente: Tenho um pouco de dinheiro
comigo. Não preciso contar para ela. Posso completar
a diferença. Então, ele disse à mulher que o dinheiro era
suficiente, pegou os óculos dela [e] marcou um dia para
que ela voltasse, quando ele tivesse terminado de fazer
os óculos. (...)
Ela voltou depois. Ele tinha os óculos prontos. Entregou
os óculos para ela, e quando ela os colocou [exclamou]:
‘(...) Estou vendo. Estou vendo’. Depois, começou a chorar. Naquele momento, uma sensação de ardor começou a
crescer dentro dele, enchendo-lhe o peito. Ele disse: ‘(...)
Compreendi. Compreendi’. Ele então começou a chorar.
Ó MEU PAI, DE SIMON DEWEY, CORTESIA DE ALTUS FINE ART, AMERICAN FORK, UTAH, REPRODUÇÃO PROIBIDA; À DIREITA: FOTOGRAFIA: CHRISTINA SMITH, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
Doutrina e Convênios: “Ó vós que embarcais no serviço
de Deus, vede que o sirvais de todo o coração, poder,
mente e força, para que vos apresenteis sem culpa perante
Deus no último dia” (versículo 2).
Todo trabalho missionário pressupõe dignidade pessoal. O Senhor disse: “Sede limpos, vós que portais os
vasos do Senhor” (D&C 38:42). Alguns de vocês são dignos, mas por causa de problemas de saúde talvez não
sejam capazes de suportar os rigores do proselitismo no
campo missionário. Vocês podem encontrar oportunidades alternativas de serviço que lhes serão uma grande
bênção.
Correu para fora da loja,
procurando os missionários. Quando os encontrou, ele disse: ‘Estou
vendo! Meus olhos
foram abertos! Sei que
Jesus é o Filho de Deus.
Sei que a pedra foi rolada
do sepulcro e que,
naquela gloriosa manhã de Páscoa, Ele ressuscitou dos mortos. Ele pode completar o
que estiver faltando em minha vida, quando
eu não conseguir’.”2
Todos podemos ver pela luz da inspiração, que é o Espírito Santo. Ele iluminará
nosso caminho para sairmos da escuridão
e das dificuldades. A maneira mais segura
de sair das trevas para a luz é por meio da
comunicação com nosso Pai Celestial, pelo
processo conhecido como revelação divina.
O Presidente Wilford Woodruff (1807–1898)
declarou: “Sempre que o Senhor teve um
povo na Terra que Ele reconhecia como tal,
esse povo foi guiado por revelação”.3 A inspiração de Deus está ao alcance de todos os
que forem dignos e buscarem a orientação
divina do Santo Espírito. Isso é particularmente verdadeiro para aqueles que receberam o dom do Espírito Santo.
A Revelação Continua
Aqueles que desejam sair das trevas
para a luz precisam certificar-se de estar em
harmonia com a inspiração e revelação provenientes de nossos profetas, videntes e
reveladores. Amós nos disse: “Certamente o
Senhor Deus não fará coisa alguma, sem ter
revelado o seu segredo aos seus servos, os
profetas” (Amós 3:7). Os profetas sintonizaram ao longo dos séculos a estação celestial,
com a responsabilidade de retransmitir a
palavra do Senhor às pessoas.
Jovens: a melhor maneira de estar em sintonia com o Salvador é apoiar Seu profeta
vivo na Terra, o Presidente da Igreja.
Se não seguirmos realmente o profeta vivo,
seja ele quem for, estaremos nos arriscando
a morrer espiritualmente.
Posso testificar que esse processo de
revelação contínua ocorre muito freqüentemente na Igreja. Acontece diariamente. Isso
é necessário para que a Igreja cumpra sua
missão. Sem ela, fracassaríamos. A Igreja precisa constantemente da orientação de seu
dirigente, o Senhor e Salvador Jesus Cristo.
A revelação contínua não será e não pode
ser forçada por pressões externas de pessoas
e eventos. Não se trata da assim chamada
“revelação de progresso social”. Não se origina dos profetas; ela vem de Deus. A Igreja
é governada pelo profeta sob a inspiração,
orientação e direção do Senhor.
Minha crença e convicção na veracidade
divina da Igreja, já as tenho há muito tempo
— tanto quanto consigo lembrar. Esse testemunho se tornou mais forte com o passar
dos anos. O conhecimento seguro da veracidade desse evangelho me veio antes de
eu ter sido chamado para o santo apostolado e foi reconfirmado muitas vezes desde
essa época. Testifico-lhes, jovens, que o
evangelho contém as respostas para os
desafios e problemas da vida. É o caminho
seguro para a felicidade e o cumprimento
da promessa do Salvador de “paz neste
mundo e vida eterna no mundo vindouro”
(D&C 59:23). ■
Q
uando o
dono da
óptica entregou os óculos para
a mulher, ela exclamou: “Estou vendo.
Estou vendo”. Naquele
momento, uma sensação de ardor começou
a crescer dentro
dele, enchendo-lhe
o peito. Ele disse:
“Compreendi.
Compreendi. (...)
Meus olhos foram
abertos! Sei que Jesus
é o Filho de Deus.
(...) Ele pode completar o que estiver
faltando em minha
vida, quando eu não
conseguir”.
Extraído de um discurso proferido em um serão do
Sistema Educacional da Igreja, realizado em 8 de
setembro de 2002.
NOTAS
1. Pureza Pessoal, A Liahona, outubro de 2000, p. 42.
2. “Stretching the Cords of the Tent” (Esticar as Cordas
da Tenda), Ensign, maio de 1994, pp. 65–66.
3. The Discourses of Wilford Woodruff (Discursos
de Wilford Woodruff), sel. G. Homer Durham,
1946, p. 138.
A LIAHONA JUNHO DE 2007
21
Perguntas e
Respostas
“Voltei para a Igreja e estou tentando começar uma nova vida
depois de ter cometido alguns erros, mas tenho medo de cair de novo.
Como posso vencer esse medo?”
A LIAHONA
V
ocê não está sozinho nesse desafio.
Todos cometemos erros e todos
podemos cair, se não tomarmos
cuidado. Você pode encontrar algumas respostas para sua dúvida em 1 Néfi 8, uma
descrição da visão de Leí. Eis algumas coisas
que Leí viu e que podem ajudá-lo:
Ele viu pessoas se esforçando para manter-se no caminho estreito e apertado, ou
seja, tentando ser fiéis. Mas algumas delas
“se extraviaram (...) e perderam-se” (versículo 23). Algumas chegaram à árvore da
vida mas então “ficaram [envergonhadas],
por causa dos que zombavam [delas], e
desviaram-se por caminhos proibidos e
perderam-se” (versículo 28). Outras tiveram
sucesso. “[Avançaram], continuamente agarradas à barra de ferro, até que chegaram;
e prostraram-se e comeram do fruto da
árvore” (versículo 30). O fruto da árvore
representa o amor de Deus: as bênçãos da
Expiação de Jesus Cristo.
Observe o que elas fizeram para ter
sucesso. Se você fizer essas coisas, poderá
vencer seu medo de cair novamente.
22
Para vencer seu medo
de cair, “prossiga com
firmeza” no caminho
estreito e apertado.
Obedeça à palavra de
Deus, que se encontra
nas escrituras e nos
ensinamentos dos
profetas modernos.
Adore a Deus, procure
sentir Seu amor e
arrependa-se para que
o Salvador possa
fortalecê-lo.
Não dê atenção às
pessoas que zombam
de você por tentar
fazer o que é certo.
1. Prosseguir com firmeza. Néfi explicou:
“Deveis, pois, prosseguir com firmeza
em Cristo, tendo um perfeito esplendor
de esperança e amor a Deus e a todos
os homens. Portanto, se assim prosseguirdes, banqueteando-vos com a palavra
de Cristo, e perseverardes até o fim, eis
que assim diz o Pai: Tereis vida eterna”
(2 Néfi 31:20).
2. Agarrar-se à barra de ferro. Néfi disse
que a barra de ferro é a “palavra de Deus; e
todos os que dessem ouvidos à palavra de
Deus e a ela se apegassem, jamais pereceriam; nem as tentações nem os ardentes
dardos do adversário poderiam dominá-los
até a cegueira, para levá-los à destruição”
(1 Néfi 15:24).
3. Comer do fruto da árvore. Comer
do fruto da árvore significa sentir o amor de
Deus em sua vida. Você pode orar para sentir
esse amor e pode arrepender-se, permitindo
que a Expiação abençoe sua vida.
4. Não dar atenção aos que zombam de
você por fazer o que é certo. No sonho de
Leí, aqueles que se importaram com as pessoas que zombavam no grande e espaçoso
FOTOGRAFIA: CRAIG DIMOND, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
edifício acabaram caindo. O edifício
representa o orgulho e as crenças do
mundo. Como o edifício não tinha
alicerces, “ele caiu e sua queda foi
muito grande” (1 Néfi 11:36). O
orgulho do mundo é temporário;
fazer o que é certo vai abençoá-lo
para sempre.
Essas quatro coisas vão ajudá-lo a
edificar sobre o alicerce do evangelho
de Jesus Cristo, “que é um alicerce
seguro; e se os homens edificarem
sobre esse alicerce, não cairão”
(Helamã 5:12).
LEITORES
no Senhor para que iluminasse o meu
Há três anos eu estava fora
caminho. Hoje tenho paz no coração. Se
da Igreja. Senti tristeza no
você sentir tristeza pelos seus pecados e
coração por causa de meus
erros, leia 2 Néfi 4:17–35.
erros e decidi voltar para a
Élder John Sanchez, 21,
Igreja. Tinha medo de errar
Missão Peru Piura
outra vez, por isso decidi ajoelhar-me e
fazer o que não não fazia havia muito
Somos tentados e comete-
tempo: orar ao nosso Pai Celestial. Pedi-
mos erros todos os dias,
Lhe que me ajudasse a sobrepujar as ten-
mesmo que estejamos na
tações para que o mal não tivesse lugar
Igreja. Mas o importante é
em meu coração, porque ele destruía a
nos arrependermos sincera-
minha paz e entristecia a minha alma.
mente das coisas que fizemos e nos esfor-
Depositei minha confiança
çarmos constantemente contra a tentação
A LIAHONA JUNHO DE 2007
23
e, acima de tudo, sermos dignos e orarmos cons-
ao templo e de todas as atividades que puder,
tantemente e pedirmos a nosso Pai Celestial que
para que sinta o Espírito o máximo possível. Seria
nos ajude, porque Ele nunca se esquece de nós.
também sensato procurar o conselho de seu bispo
Se quisermos realmente mudar, Ele nos ajudará
e de seus pais.
porque nos ama imensamente.
Denise E., 18, Rancagua, Chile
Quando você sentir medo, ore, jejue
e principalmente estude as escrituras. A palavra do Senhor está nelas,
e as respostas para suas dúvidas
também. Lembre-se de que o
Senhor não nos dá nenhum mandamento sem
antes preparar o caminho para que possamos
cumpri-lo. E Ele nos ama tanto que nos perdoa
quando nos arrependemos.
Ana A., 16, Falcón, Venezuela
Em primeiro lugar, precisamos compreender que o Pai Celestial nos
ama, mesmo que tenhamos caído.
O mais importante é levantar-nos
e continuar tentando. Em segundo
lugar, compreendermos que o desânimo é uma
ferramenta de Satanás para impedir-nos de
alcançar a verdadeira felicidade que só pode ser
encontrada no evangelho de Jesus Cristo. Um dos
truques do diabo é manter nossa atenção concentrada nos pecados ou erros do passado e no medo
de que voltem a acontecer no futuro. Essa linha
O
poder de
seus convênios é maior
do que o poder da
tentação. Não deixm
que o temor de transgressões passadas
enfraqueça sua
determinação de
arrepender-se delas
e de abandoná-las.
Lembrem-se! Deus
prometeu livrá-los
‘da mão daquele
que [o] odiava, e
[remi-lo] da mão
do inimigo’ (Salmos
106:10)”.
“
Élder Jeffrey R. Holland,
do Quórum dos Doze
Apóstolos, “O Que Eu
Gostaria Que Todo
Membro Novo Soubesse —
e Que Todo Membro
Antigo Lembrasse”,
A Liahona, outubro
de 2006, p. 14.
Jaclyn B., 17, Kansas, USA
Sei como você se sente. Voltei para a Igreja, e
agora estou participando ativamente de todas
as atividades da Igreja, inclusive do trabalho
missionário. Uma das lições que aprendi foi ter
uma fé inabalável em Jesus Cristo. Se tivermos fé
Nele, ela nos ajudará a ser fortes. Sei que Jesus
Cristo é nosso único alicerce seguro, como lemos
em Helamã 5:12.
Cheenee L., 17, Bulacan, Filipinas
Nosso Pai Celestial nos ama e nos compreende.
Ele sabe que não somos perfeitos e que estamos
sujeitos a cair. Sei que meu Pai Celestial me ama e
me dá forças para prosseguir, por meio das escrituras, oração e jejum. Quando caímos, temos sempre que nos erguer.
Celeste S., 20, Oslo, Noruega
As respostas são auxílios e pontos de vista, e não
declarações de doutrina da Igreja.
PRÓXIMA PERGUNTA
“Posso experimentar bebidas alcoólicas e cigarro
uma única vez para saber por mim mesmo como
de raciocínio só nos impede de seguir adiante e
são essas coisas? Nunca mais farei de novo. Qual
de melhorar nossa vida. Por fim, eis uma citação
é o problema de experimentar só uma vez?”
que devemos adotar como lema: “Não deixe que
o medo de perder o impeça de entrar no jogo”.
ENVIE SUA RESPOSTA, com seu nome completo,
Somos filhos do Pai Celestial, e com a ajuda Dele,
data de nascimento, ala e estaca (ou ramo e dis-
vamos ter sucesso.
trito) e uma fotografia (com a permissão por
Chad C., 20, Utah, USA
escrito de seus pais para que a foto seja publicada) para:
Em suas orações pessoais, expresse todos os seus
Questions & Answers 7/07
temores de que possa vir a cair. Leia as escrituras
50 E. North Temple St., Rm. 2420
diariamente para adquirir conhecimento do evan-
Salt Lake City, UT 84150-3220, USA
gelho e sentir o Espírito. Assista a todas as reuniões da Igreja, participe de todas as caravanas
24
Ou e-mail: [email protected]
Responda até 15 de julho de 2007. ■
MENSAGEM DAS PROFESSORAS VISITANTES
Tornar-se um Instrumento nas
Mãos de Deus Permanecendo
Firmes e Inabaláveis
Selecione em espírito
de oração e leia as
escrituras e ensinamentos desta mensagem que
atendam às necessidades das irmãs
que você for visitar. Compartilhe suas
experiências e seu testemunho.
Convide as irmãs que você estiver
ensinando a fazer o mesmo.
O Que Significa Ser Firme e
Inabalável?
é a coragem de progredir.
[Aqueles] que possuem essa
qualidade divina continuam
em frente; não se permitem ficar parados. Não são
simplesmente criaturas movidas por seu próprio poder e
sabedoria; são instrumentos de
uma lei mais alta e de um propósito divino” (Ensinamentos dos
Presidentes da Igreja: Joseph F.
Smith, 1998, pp. 107–108).
BORDA © ARTBEATS; FOTOGRAFIAS: CRAIG DIMOND, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
Presidente Gordon B. Hinckley:
“É tremendamente importante que as
mulheres da Igreja sejam firmes e inabaláveis em relação ao que é correto
e adequado no plano do Senhor.
(...) Devem começar por sua própria
casa. [Vocês] precisam [ensinar essas
coisas] nas salas de aula. Precisam
[defender essas coisas] em sua comunidade” (“Permanecer Firmes e
Inamovíveis”, Reunião Mundial de
Treinamento de Liderança, janeiro
de 2004, p. 20).
Presidente Joseph F. Smith
“Depois de termos feito
tudo o que podíamos pela causa da
verdade e suportado o mal que os
homens nos infligiram (...) ainda é
nosso dever permanecer firmes. Não
podemos desistir; não podemos descansar. (...) Permanecer firmes diante
de uma oposição avassaladora,
depois de fazer todo o possível, essa é a coragem da
fé. A coragem da fé
(1838–1918):
Como o Senhor
Pode Usar-Me
Se Eu Permanecer
Firme e Inabalável?
D&C 84:106:
“E se houver algum
homem entre vós
de Espírito forte,
que tome consigo aquele que for
fraco, (...) a fim de também se tornar
forte.”
Anne C. Pingree, Segunda
Conselheira na Presidência Geral da
“O Senhor
explicou que aqueles que [fossem]
‘recebidos pelo batismo na sua igreja’
seriam, em parte, os que estivessem
‘dispostos a tomar sobre si o nome
de Jesus Cristo, tendo o firme
propósito de servi-lo até o
fim (...)’. Isso significa permanecer ‘firmes e
inamovíveis, sobejando sempre em
Sociedade de Socorro:
boas obras’ a cada dia de nossa vida.
(...) [Ser-nos-á] pedido que façamos
tudo o que pudermos, e em alguns
casos até mais do que sabemos fazer”
(“Crescer no Senhor”, A Liahona,
maio de 2006, p. 74–75, 76).
Élder Richard G. Scott,
do Quórum dos Doze
“Nem de
longe você pode
imaginar o que a
decisão de ser inabalavelmente obediente ao Senhor
lhe permitirá realizar
na vida. Sua serena e
inflexível determinação
de ter uma vida digna
lhe proporcionará inspiração e poder que estão
além de sua capacidade
atual de compreender.
(...) Você pode qualificar-se por meio desse
poder divino a ser um instrumento nas mãos de Deus para
realizar o que não poderia
fazer sozinho” (“Making the
Right Decisions”, Ensign, maio de
1991, pp. 34–35).
Apóstolos:
Presidente James E. Faust, Segundo
Conselheiro na Primeira Presidência:
“Cumprimento cada uma por suas
obras diárias de retidão. Muito embora
apenas umas poucas pessoas conheçam suas obras, elas estão registradas
no livro da vida do Cordeiro, que um
dia será aberto para testemunhar seu
serviço dedicado, sua devoção e suas
ações como ‘instrumentos nas mãos
de Deus, para realizar esta grande
obra’ [Alma 26:3]” (“Instrumentos nas
Mãos de Deus, A Liahona, novembro
de 2005, p. 114). ■
A LIAHONA JUNHO DE 2007
25
“Porque Muito Amou”
(Lucas 7:47)
© LIZ LEMON SWINDLE, FOUNDATION ARTS, REPRODUÇÃO PROIBIDA
CORTESIA DE ALTUS FINE ART, AMERICAN FORK, UTAH, REPRODUÇÃO PROIBIDA
Mulheres do Novo Testamento
Acima: Ela Dará à Luz um Filho,
de Liz Lemon Swindle. “Eis que a virgem
Acima à direita: Água Viva, de Simon
Dewey. “Jesus respondeu, e disse-lhe: Se
[Maria] conceberá, e dará à luz um filho,
E chamá-lo-ão pelo nome de Emanuel,
que traduzido é: Deus conosco” (Mateus
1:23; ver vv. 18–25).
tu conheceras o dom de Deus, e quem é
o que te diz: Dá-me de beber, tu lhe pedirias, e ele te daria água viva” (João 4:10;
ver vv. 6–30).
26
CORTESIA DO MUSEU DE HISTÓRIA E ARTE DA IGREJA
À esquerda: Paz, Não Como o Mundo a
Dá, de Michael T. Malm. “Então o reino
Acima: Maria Ouviu Sua Palavra,
de Walter Rane. “E respondendo Jesus,
Acima: Deixando Tudo, de Elspeth
Young. Priscila e seu marido, Áquila,
dos céus será semelhante a dez virgens
que, tomando as suas lâmpadas, saíram
ao encontro do esposo. (...)
As [virgens] prudentes levaram azeite
em suas lâmpadas” (Mateus 25:1, 4; ver
vv. 1–13).
disse-lhe: Marta, Marta, estás ansiosa e
afadigada com muitas coisas,
Mas uma só é necessária; e Maria escolheu a boa parte, a qual não lhe será
tirada” (Lucas 10:41–42; ver vv. 38–42).
eram judeus exilados que moravam em
Corinto, Grécia. O Apóstolo Paulo ficou
na casa deles durante sua segunda viagem missionária. Como muitos outros
crentes da época do Novo Testamento,
Áquila e Priscila deixaram tudo o que
tinham pela causa do evangelho. Aqui
Priscila pensa em deixar Corinto e ir para
Éfeso (ver Atos 18:1–3, 18–19; Romanos
16:1–3).
A LIAHONA JUNHO DE 2007
27
Acima: A Boa Parte, de Elspeth Young.
Os irmãos Maria, Marta e Lázaro, de
Betânia, eram todos discípulos devotados
do Salvador. Em certa ocasião, “Marta (...)
recebeu [Cristo] em sua casa.
E tinha esta uma irmã chamada Maria,
a qual, assentando-se também aos pés de
Jesus, ouvia a sua palavra” (Lucas 10:38–39).
A esse respeito, Cristo disse: “Maria
escolheu a boa parte, a qual não lhe será
tirada” (Lucas 10:42).
28
Acima à direita: Discipulado,
de Elspeth Young. “E havia em Jope uma
discípula chamada Tabita, que traduzido
se diz Dorcas. Esta estava cheia de boas
obras e esmolas que fazia” (Atos 9:36;
ver vv. 36–43).
© LIZ LEMON SWINDLE, FOUNDATION ARTS, REPRODUÇÃO PROIBIDA
CORTESIA DE ALTUS FINE ART, AMERICAN FORK, UTAH, REPRODUÇÃO PROIBIDA
À esquerda: Detalhe de A Moeda da
Viúva, de Liz Lemon Swindle. “E viu
Acima à esquerda: Por Que Buscais
o Vivente Entre os Mortos? de Jan Astle.
Acima: Detalhe de Toque de Fé,
de Simon Dewey. “E eis que uma mulher
também uma pobre viúva lançar ali duas
pequenas moedas.
E disse: Em verdade vos digo que
lançou mais do que todos, esta pobre
viúva” (Lucas 21:2–3; ver vv. 1–4).
“E no primeiro dia da semana, bem cedo
pela manhã, foram elas [Maria Madalena
e outras mulheres] ao sepulcro, (...)
E acharam a pedra revolvida do
sepulcro. (...)
(...) Eis que pararam junto delas dois
homens, com vestes resplandecentes [e]
(...) eles lhes disseram: Por que buscais o vivente entre os mortos?
Não está aqui, mas ressuscitou”
(Lucas 24:1–2, 4–6; ver vv. 1–13).
que havia já doze anos padecia de um
fluxo de sangue, chegando por detrás
dele, tocou a orla de sua roupa:
Porque dizia consigo: Se eu tãosomente tocar a sua roupa, ficarei sã”
(Mateus 9:20–21; ver vv. 18–22). ■
A LIAHONA JUNHO DE 2007
29
Apoiar
Seu Bispo
J O S E P H S TA P L E S
M
cumprimentou na porta. Ele sorriu para mim e disse:
eu primeiro encontro com um bispo santo
“Olá, você deve ser o Joe. Sou o Bispo Maxwell. Entre,
dos últimos dias ocorreu antes de eu ser
por favor”. Quando entramos em seu pequeno escritório,
membro da Igreja. Eu tinha 17 anos e estava
fiquei tentando justificar tudo aquilo em minha mente. “A
enfrentando a confusão, a dúvida e o estresse que muitos estudantes do último ano do curso médio enfrentam. casa de um bispo não devia ser um pouco diferente?” perguntei a mim mesmo. “Ele não devia estar
Numa manhã de sábado, eu estava reclavestindo uma toga formal ou algo assim?”
mando das minhas aflições com meu
uão
abençoaNos 45 minutos que se seguiram,
melhor amigo. Embora ele tivesse boas
dos
somos
conheci um homem compassivo, que
intenções, não me deu muitas respostas.
pelo Senhor
se interessou sinceramente por minhas
Mas me ofereceu algo que se tornou uma
ter-nos
proporciodificuldades; um homem inspirado, dissugestão muito valiosa. “Às vezes, quando
nado bispos amoroposto a despender parte de seu precioso
não sei o que fazer”, disse ele, “converso
sos,
dedicados
e
tempo numa manhã de sábado para ajucom meu bispo.”
prestativos para
dar alguém, uma pessoa qualquer, fosse
“Seu bispo? Quem é ele?” perguntei.
pastorear
as
famílias
ela da sua religião ou não, a tomar deci“Ele é o líder da minha ala”, respondeu
de nossa ala.
sões e tirar conclusões.
meu amigo.
Podemos
ajudá-los
Mais de 25 anos se passaram desde
Reconheço hoje que a pergunta que
com nosso apoio e
aquela reunião. Não me lembro de
fiz em seguida foi uma clara inspiração do
ações positivas.
nenhum dos conselhos específicos que o
Espírito, mas na época foi a pergunta mais
bispo me deu naquela manhã, mas ainda
estranha que eu poderia imaginar que um
recordo nitidamente a admirável clareza
rapaz de 17 anos como eu teria feito. “Acha
e o fardo aliviado que senti ao sair de sua casa. Só depois
que ele falaria comigo?” perguntei.
de muitos anos é que eu me dei conta de que aquela
Meu amigo disse que ligaria para o seu bispo e depois
me ligaria em seguida. Rapidamente marcamos um horário conversa tinha sido uma das primeiras vezes em que eu
sentira o Espírito.
naquela manhã, na casa do bispo.
Filiei-me à Igreja naquele ano. Meu amigo Bill, que me
Não sabia o que esperar. Quando parei em frente
havia encaminhado ao Bispo Maxwell, foi quem me batida modesta casa térrea, fiquei um pouco surpreso por
zou. O Bispo Maxwell estava no batismo. Mais tarde, servi
ela ser tão normal — com bicicletas na entrada, um graem uma missão, casei-me com uma bela moça no templo,
mado bem aparado. Fiquei ainda mais surpreso com o
com o Bispo Maxwell servindo de testemunha, e hoje
homem que vestia uma bela camisa esporte e que me
Q
30
FOTOGRAFIA: MATTHEW REIER, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
estou criando cinco filhos maravilhosos.
O Élder L. Tom Perry, do Quórum dos Doze
Apóstolos, prometeu que “se apoiarmos nossos bispos, aprendermos a preocupar-nos com
seu bem-estar e orarmos para que eles tenham
sucesso em tudo que tiverem de fazer, nossa
vida será abençoada sob a liderança deles, e
teremos a oportunidade de seguir sua orientação inspirada ao liderarem as alas da Igreja”.1
Cheguei à conclusão de que podemos
fazer certas coisas para cumprir a responsabilidade que temos de apoiar nosso bispo (ou
presidente de ramo). As seis sugestões a
seguir nos dão uma orientação para o cumprimento desse objetivo.
Respeitar o Tempo que Ele Passa com
a Família
Seu bispo geralmente deixará de lado
qualquer atividade em que estiver envolvido
para ajudar um membro necessitado de sua
ala. Ele conhece sua responsabilidade como
pastor do rebanho e trabalha arduamente
para cumprir essa mordomia sagrada. Ele
rapidamente se acostuma ao fato de estar
o tempo todo sendo chamado para cuidar
de várias coisas ao mesmo tempo.
Seu bispo também é um marido e, na
maioria das vezes, um pai, e freqüentemente
um pai com filhos que ainda estão sendo criados e precisam de sua orientação e atenção.
Ao procurarmos a orientação de nosso bispo,
precisamos ter consideração e estar cientes
do tempo que ele passa com a família, cumprindo suas responsabilidades como provedor de seu lar. Embora jamais devamos
hesitar em chamar o bispo quando realmente
precisarmos de sua ajuda, ainda assim devemos perguntar-nos: “Isso pode esperar?” Ou
“Há outra pessoa, como, por exemplo, o mestre familiar, que poderia ajudar-me de igual
modo?” Evidentemente, as questões de dignidade somente devem ser discutidas com o
bispo ou presidente de ramo.
A
o procurarmos a orientação de
nosso bispo, precisamos ter consideração e estar cientes
do tempo que ele
passa com a família,
cumprindo suas
responsabilidades
como provedor de
seu lar.
A LIAHONA JUNHO DE 2007
31
S
e os mestres
familiares e
professoras
visitantes cuidarem
devidamente de suas
famílias indicadas, o
bispo poderá concentrar-se nas atividades que somente ele
pode desempenhar.
Falando aos bispos e outros líderes da
Igreja com respeito aos fardos especiais que
eles carregam, o Élder Jeffrey R. Holland,
do Quórum dos Doze Apóstolos, declarou:
“Testifico a respeito do lar, da família e do
casamento, as possessões humanas mais
preciosas de nossa vida. Testifico sobre a
necessidade de protegê-las e preservá-las
enquanto encontramos tempo e maneiras
de servir fielmente na Igreja”.2
O bispo sempre estará ativamente engajado
na obra do Senhor. Isso inclui o tempo que ele
dedica a seu chamado eterno de marido e pai.
Se planejarmos com consideração, podemos
ser um grande apoio, ajudando o bispo a
administrar seu fardo pesado e trabalhoso.
Aliviar Seu Fardo
Existem algumas responsabilidades que o
bispo não pode delegar. Elas incluem as ações
disciplinares formais da Igreja, o acerto do
dízimo, a concessão de ajuda de bem-estar
e as confissões de membros da ala arrependidos. Além dessas responsabilidades, porém,
há muitas que podem ser devidamente
32
delegadas a outros para aliviar o fardo do
bispo, como: cuidar dos membros necessitados da ala, planejar atividades sociais e ajudar nos problemas de desemprego.
Se os mestres familiares e professoras visitantes cuidarem devidamente das famílias
que lhes forem confiadas, e se os líderes de
grupo e os presidentes de quórum e de auxiliares liderarem em retidão, o bispo poderá
concentrar-se nas atividades que somente ele
pode desempenhar. Se quisermos apoiar o
bispo e aliviar seu fardo, sejamos diligentes
no cumprimento das responsabilidades que
nos foram atribuídas.
Respeitar o Ofício
Alguns bispos novos encontram dificuldades para fazer a transição de sua condição de
membro comum da ala para a de líder da
ala. Eles se dão conta de que na maioria dos
casos há outros igualmente qualificados para
servir. Mesmo que tenham recebido a confirmação de que o Senhor os escolheu para
aquela atribuição, a aceitação do manto pode
ser tão desconfortável para eles quanto foi a
doação da armadura do rei para Davi, antes de sua batalha
contra Golias.
O ofício de bispo é um chamado sagrado que o Senhor
confia a uma certa pessoa por cada ala, em um período
determinado. Podemos ajudá-lo demonstrando respeito
pelo ofício. Devemos chamá-lo de “Bispo”, em vez de
usar seu primeiro nome, uma gíria ou um título informal.
Mostrem respeito na maneira como o tratam e o estarão
ajudando a assumir melhor o manto real que o Senhor
colocou sobre ele.
Maxwell durante esse tempo. Sua influência em minha vida
será eterna.
Quão abençoados somos pelo Senhor ter-nos proporcionado bispos amorosos, dedicados e prestativos para
pastorear as famílias de nossa ala. O chamado deles é
muito desafiador, e seu fardo pode ser pesado às vezes,
mas temos a grande oportunidade de apoiá-los com nossas ações positivas e auxílio. ■
NOTAS
1. “For a Bishop Must Be Blameless”, Ensign, novembro de 1982, p. 32.
2. “Chamados a Servir”, A Liahona, novembro de 2002, p. 38.
Orar por Ele
As escrituras ensinam: “As esmolas de vossas orações
subiram aos ouvidos do Senhor” (D&C 88:2). Se orarmos
por nosso bispo, o Senhor realmente nos ouvirá. E quando
oramos por nosso bispo na oração familiar, ensinamos a
nossos filhos princípios importantes como a fé, a obediência
e a confiança. Muitos bispos prestaram testemunho da força
que receberam pelas orações dos membros de sua ala.
Aceitar Seus Desafios e Seguir Seus Conselhos
O bispo é um representante do Senhor Jesus Cristo. Ele
pode desafiar-nos. Pode pedir que sirvamos em cargos que
talvez não consideremos fáceis de aceitar. Ele pode pedirnos que nos desdobremos em nossos esforços e ofertas.
Para nosso benefício, para benefício dele e como meio de
edificar o reino do Senhor aqui na Terra, devemos seguir
os conselhos do bispo e aceitar e magnificar os chamados
que ele ou seus conselheiros nos derem.
ALIVIE O FARDO
DE SEU BISPO
“Todos (...) prestam contas a um
bispo ou presidente de ramo. Os
fardos que carregam são tremendos
e eu convido todo membro da Igreja
a fazer todo o possível para aliviar
o fardo sob o qual nossos bispos e presidentes de
ramo trabalham.
Precisamos orar por eles. Eles precisam de ajuda
ao carregarem cargas tão pesadas. Podemos apoiá-los
mais e depender menos deles. Podemos auxiliá-los de
todas as maneiras possíveis. Podemos agradecer a eles
por tudo o que fazem por nós.”
Presidente Gordon B. Hinckley, “Os Pastores de Israel”,
A Liahona, novembro de 2003, p. 60.
Apoiar e Não Julgar
Os bispos, como todos nós, são humanos. Cada um
deles tem pontos fortes diferentes e estilos de liderança
diferentes. Como membros, não devemos comparar um
bispo com outro, mas saber que o bispo está fazendo o
melhor que pode para cumprir o que o Senhor espera
que ele faça. Devemos reconhecer seu trabalho, não julgálo, e devemos tomar a firme decisão de não criticar nem
nos envolver em maledicências e intrigas.
Há poucos anos, fui chamado como bispo. Nos anos em
que servi nesse cargo, senti algumas das maiores alegrias
que já conheci — a alegria de entrevistar crianças de oito
anos de idade entusiasmadas para o batismo e confirmação, de trabalhar com rapazes e moças que se preparavam
para servir em uma missão e de ensinar a respeito das grandes bênçãos do templo para casais que se preparavam para
o casamento eterno. Pensei muitas e muitas vezes no Bispo
H Á U M L I M I T E PA R A O
QUE BISPO PODE FAZER
“Em todo o mundo nada há que se
assemelhe ao ofício de bispo n'A Igreja
de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos
Dias. Com exceção dos pais, o bispo
tem a melhor oportunidade de ensinar
e criar condições para que sejam ensinadas as coisas
que são mais importantes. (...) Mas devemos ter o cuidado de não tomar indevidamente seu tempo. Os bispos tembém têm seus limites. O bispado precisa ter
tempo para dedicar à sua profissão a sua própria
família”.
Presidente Boyd K. Packer, Presidente Interino do Quórum dos Doze
Apóstolos, “O Bispo e Seus Conselheiros”, A Liahona, julho de 1999,
pp. 71, 73.
Futebol ou
A L E X A N D R E M A C H A D O VA S C O N C E LO S
34
FOTOGRAFIAS: CORTESIA DA FAMÍLIA QUEIROZ
C
omo outros futuros missionários, Lohran Saldanha
Queiroz tinha que decidir se iria servir em uma missão ou não. Mas além de decidir se iria deixar a
escola, o trabalho, a família e os amigos por dois anos,
Lohran tinha outra escolha difícil: servir em uma missão
ou ter a oportunidade de jogar futebol profissionalmente no Brasil?
Lohran, um membro da Ala Barra da Tijuca,
Estaca Rio de Janeiro Brasil Jacarepaguá,
tinha o futebol no sangue. Seu pai,
Milton, é conhecido em todo o Brasil
simplesmente como Tita. Ele jogou
profissionalmente em cinco países, conquistou muitos títulos,
foi considerado o melhor
jogador do estado e jogou
na seleção nacional.
Tita percebeu bem
cedo o talento do
filho. “Cresci tendo
uma bola de futebol sempre por
perto”, relembra Lohran.
“Meu pai sempre
me incentivou. Comecei
a acompanhá-lo em seus
treinos quando tinha três ou
quatro anos, e desde essa época
sempre estive cercado de jogadores
profissionais.”
O treinamento formal começou para
Lohran aos 6 anos, no México, onde seu pai
estava jogando futebol na época. Aos doze anos,
de volta ao Brasil, ele estava jogando em competições de elite. Quando tinha 17 anos, Lohran jogava na
Missão?
liga juvenil — o caminho mais rápido para o recrutamento
profissional. Lohran parecia destinado a se tornar um astro
do futebol. Mas seu aniversário de 18 anos se aproximava
rapidamente, e ele começou a pensar mais seriamente no
trabalho missionário.
Lohran explica seu dilema: “Eu queria ser jogador de futebol, mas também queria ser um
missionário. Espera-se que o jogador
passe diretamente do time júnior
para o futebol profissional. Parar de
jogar por dois anos e depois esperar ser contratado aos 21 é algo
quase impensável”.
Aos 17 anos, Lohran
tomou algumas decisões
que o levaram ao que ele
chama de início de sua
conversão. Ele estabeleceu a meta de ler o
Livro de Mórmon diariamente, jejuar e
orar. Passou a assistir à Mutual, a
serões e outras
atividades da
Igreja com
Páginas anteriores:
Lohran trocou seu
uniforme de futebol
pela camisa branca
e gravata de missionário. Abaixo: Lohran
mostrou seu talento
para o esporte bem
cedo na vida. No
alto à direita e
abaixo: Lohran
com seu pai e com
o time de seu pai.
mais freqüência. E quando começou a trabalhar regularmente com os missionários, descobriu um amor pelas pessoas que visitava e
pelas quais orava. Ele queria que elas tivessem as bênçãos do evangelho. Seu desejo de
servir em uma missão começou a crescer.
Mas quando seria melhor para ele servir? E o
que aconteceria à sua carreira no futebol
após uma interrupção de dois anos?
Lohran procurou saber a vontade de Deus
por meio de jejum e oração. Naquela mesma
semana, viu a edição mais recente da revista
New Era em sua casa e começou a folheá-la.
Sentiu-se atraído pelo artigo “Sonhos no
Gelo”, sobre o patinador Chris Obzansky,
que interrompeu uma promissora carreira
na patinação para servir em uma missão aos
19 anos, perdendo a oportunidade de competir nas Olimpíadas de Inverno de 2006.
Um trecho em particular chamou a atenção de Lohran: Quando Chris estava na reunião sacramental ouvindo seu presidente dos
Rapazes falar de seu próprio chamado para a
missão, o Espírito disse a Chris: “Você precisa
servir em uma missão quando fizer 19 anos,
ou terá uma vida muito difícil”. Chris disse:
“A mensagem foi tão clara que eu realmente
me virei para ver se havia alguém ali. O sentimento voltou dez vezes mais forte, e eu
soube que tinha de ir para a missão”.1
Lohran sorri. “Quando li aquilo, senti que
tinha sido escrito para mim. Dezenove anos é
a idade determinada pelo
Senhor. Deime conta de
que era a resposta de que
eu precisava, e
foi como um grande peso
tirado de minhas costas.” A hora de Lohran
servir em uma missão tinha chegado. Ele conversou com seu bispo, fez os preparativos
necessários e nunca olhou para trás. “Nem
sequer foi difícil tomar a decisão de deixar o
futebol de lado”, disse ele, “porque eu sabia
que era o momento certo de fazer aquilo”.
Lohran serviu na capital de seu país, na
Missão Brasil Brasília. Era conhecido como o
“Élder Feliz” por causa de seu entusiasmo
contagiante. “Sinto-me excepcionalmente
feliz por servir às pessoas, compartilhando
com elas o que sei ser verdadeiro”, disse ele.
“É muito gratificante ver as pessoas mudarem
sua vida depois de aprenderem o evangelho”.
No entanto, como todos os missionários,
ele teve suas dificuldades. “Evidentemente,
a vida missionária não é só diversão”, disse
ele. “Há dificuldades, momentos de fraqueza
e solidão, mas tudo isso é quase nada comparado aos tesouros de uma missão. São anos
que jamais esquecerei e que sempre estarão
em minha mente e, mais importante, no meu
coração”.
Há poucos meses, ele terminou de servir
uma missão bem-sucedida. Agora que está em
casa, ele entrou em um time de futebol no Rio
de Janeiro e acredita que aparecerão outras
chances para ele continuar sua carreira no
futebol. Com fé, ele disse: “Estou agora esperando aparecerem as oportunidades com que
o nosso Pai Celestial me abençoará”. ■
NOTA
1. Citado por Shanna Ghaznavi, A Liahona, janeiro de
2004, p. 46; New Era, janeiro de 2004, p. 22
36
PERDER A
COPA DO MUNDO
S U Z A N A A LV E S D E M E LO
ILLUSTRAÇÃO: DANIEL LEWIS
H
á um esporte que todos amam no Brasil: o futebol. E não há evento mais importante no futebol
do que a Copa do Mundo. Portanto, quando
Fabiana Silva, membro da Ala Brasil, Estaca Vitória
da Conquista Brasil, ganhou um concurso e teve a
chance de viajar para assistir à Copa do Mundo de 1998
na França, ela ficou muito entusiasmada! Mas ela não
tinha idéia de que isso se tornaria uma oportunidade
missionária.
Os outros vencedores do concurso não puderam
deixar de notar os padrões de Fabiana ao assistir a
vários jogos de futebol, quando o Brasil se aproximava da
final contra a França. Eles respeitavam seu modo recatado de vestir, sua atitude positiva e sua linguagem
pura. Esse respeito se transformou em descrença,
porém, quando ela lhes disse que não assistiria
ao jogo porque seria realizado no domingo.
Apesar das pressões e até da ridicularização
do grupo, Fabiana ficou firme. No domingo,
ela ficou lendo escrituras em seu quarto de hotel, porque
não sabia onde encontrar uma capela local. O Brasil perdeu; e o grupo voltou para casa.
Poucas semanas depois, Fabiana ficou surpresa ao
receber uma carta de Fábio Fan, outro vencedor do
concurso, que morava no outro lado do país. Ele disse
que havia ficado impressionado com os padrões dela e
que estava pesquisando a Igreja. Mais tarde, ele enviou
outra carta: tinha sido batizado. Fábio então ajudou a
levar outros membros de sua família para a Igreja e
serviu em uma missão.
Fabiana também serviu em uma missão, em
Campinas, Brasil, para a qual estava bem preparada
porque já tinha aprendido que a sua “ferramenta
mais eficaz [eram] as boas qualidades de [sua]
própria vida”.1 ■
NOTA
1. Gordon B. Hinckley, “Encontrem as Ovelhas e Apascentemnas”, A Liahona, julho de 1999, p. 121.
Seis maneiras pelas quais tornamos
nossas reuniões de noite familiar
mais significativas.
R A Q U E L M . G A R C I A - R E B U TA R
S
ei por experiência própria que não há problema tão
grande que uma família firmemente alicerçada nos
princípios do evangelho não possa suportar ou vencer. Foi com essa visão que meu marido e eu viemos a
conhecer a vigorosa influência positiva das reuniões
de noite familiar bemsucedidas. Ao nos
esforçarmos para fazer
de cada noite familiar
uma experiência agradável e significativa,
estamos firmando um
alicerce para a edificação de um lar feliz.
Aproximadamente um ano depois que meu marido e
eu nos casamos, as três filhas de meu irmão caçula vieram
morar conosco. A irmã caçula de meu marido e uma amiga
minha também pediram para morar conosco por algum
tempo, e como não tínhamos filhos, acolhemos todas em
nossa casa. De repente, não éramos mais só um casal; éramos uma grande família.
Antes dessa época, meu marido e eu não levávamos
muito a sério as reuniões de noite familiar porque éramos
só nós dois, mas com a ampliação da família, decidimos
implementar fielmente o programa em nosso lar.
Desde a nossa primeira noite familiar juntos, as segundasfeiras nunca mais foram as mesmas, nem a nossa vida será a
mesma, por causa das coisas maravilhosas que aconteceram.
Nosso lar, que geralmente era bem quieto, começou a ficar
cheio de música. As crianças que não sabiam ler começaram
a aprender e desenvolveram amor pela leitura. As que eram
tímidas e hesitantes em aceitar tarefas desenvolveram confiança e ficaram ávidas para contribuir, chegando até a se oferecer para fazer apresentações especiais. Havia entusiasmo
durante a semana inteira, todos falando do que tínhamos
feito na noite da segunda-feira anterior e o que faríamos na
próxima. O entusiasmo aumentava à medida que a segundafeira se aproximava e os membros da família se empenhavam
nos preparativos para suas “grandes surpresas”.
A expectativa de uma noite familiar emocionante até se
tornou motivação para todos fazerem as tarefas domésticas
que lhes eram atribuídas. Cada noite familiar nos fez ver coisas novas e descobrir coisas que enriqueceram nossa vida.
Seguem-se algumas idéias que nos ajudaram a tornar
nossas reuniões de noite familiar bem-sucedidas e eficazes:
À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: DANILO SOLETA, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS; À DIREITA: FOTOGRAFIAS: EMILY LEISHMAN E JOHN LUKE; O SENHOR JESUS CRISTO, DE DEL PARSON
Ela Fez de
Nós uma
Família
007
2
E
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JUNHO QUA QUI SEX
TER
EG
DOM S
4
10
11
17
24
1
Realizamos
conselhos de família
periódicos para decidir os
temas da semana e concordamos em manter
um calendário trimestral.
Envolva todos. Cada pessoa tinha uma
tarefa, desde planejar os temas e atividades, escolher lições, até ser o líder da noite
familiar da semana. Os tímidos e hesitantes
recebiam um incentivo e ajuda especiais para
garantir que conseguissem cumprir com
sucesso as tarefas atribuídas e ajudá-los a
reconhecer o valor de sua contribuição para a
noite familiar.
Planeje.
2
3
Crie um programa estruturado, porém
4
Atender às necessidades e aos interes-
flexível. Tínhamos um caderno no qual
anotávamos nossos temas da semana e o
que acontecia em cada noite familiar.
Isso nos ajudava a lembrar as lições,
jogos, atividades e temas que já tínhamos feito e facilitava o acompanhamento
das tarefas anteriores. Era responsabilidade da pessoa que dirigia anunciar o
tema da outra semana e cuidar para que
as tarefas da noite familiar seguinte fossem
atribuídas e anotadas no caderno. Essa pessoa também lembrava a todos quais eram
suas respectivas funções na próxima noite
familiar.
ses dos membros da família. Os temas,
lições, atividades e até os jogos eram cuidadosamente escolhidos para atender às necessidades específicas da família e manter o
interesse durante toda a reunião. Todos os
18
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2
1
5
3
SAB
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7
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9
6
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13
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27
elementos eram cuidadosamente relacionados entre si para reforçar os
objetivos da noite. A princípio, meu marido e
eu cuidávamos para que todas as atividades
estivessem relacionadas ao tema e objetivo,
mas em pouco tempo até o mais novo membro da família entendeu como fazer isso.
Por exemplo: Depois de uma lição intitulada “Demonstrar Gratidão pela Família”, a
pessoa que dirigia pediu-nos que sentássemos
em círculo e ouvíssemos palavras bondosas
de gratidão expressas por todos. Então, formamos duplas e fizemos uma lista dos benefícios
que teríamos ao aprender a sentir gratidão e apreço uns pelos
outros.
21
28
22
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23
30
5
Seja constante e
Talvez um
dos maiores fatores
para o sucesso de nossas noites familiares tenha
sido a constância em realizá-las e a inclusão de todos. Sempre expressávamos nossa
disposição de ajudar qualquer pessoa a qualquer momento. Durante a semana, procurávamos ver se alguém precisava de ajuda e
saber como poderíamos ajudá-lo. Se houvesse recomendações ou solicitações que
tivéssemos concordado em colocar em prática nos dias seguintes, procurávamos ajudar
colando lembretes nas paredes e elaborando
listas de verificação.
Use os recursos disponíveis. Tínhamos
materiais, manuais de referência e outros
recursos disponíveis em nossa biblioteca da
família, tais como Noite Familiar - Livro de
Recursos (código 31106 059) e outros
manuais da Igreja, livros de jogos,
livros de sugestões, as escrituras e as revistas da Igreja.
Também tínhamos um
estoque de
diversos
E
nvolva todos
em todas as
funções da
noite familiar, desde
o planejamento até
a direção.
6
40
materiais de
escritório para todos
usarem nas atividades.
Meu marido e eu também
descobrimos que a noite familiar é uma ferramenta eficaz
para abordar questões familiares sem intimidação. Não havia
repreensões, acusações, reclamações ou ridicularizações. Era um momento
de expressar amor, desenvolver talentos,
incutir valores, edificar a confiança, aumentar o conhecimento e ensinar princípios
eternos. Pelo esforço contínuo e conjunto
em realizar as noites familiares, nossa família
foi abençoada.
Minhas sobrinhas voltaram para o pai,
minha cunhada foi morar sozinha e minha
amiga agora mora numa casa de estudantes
perto da escola que freqüenta. Voltamos a ser
apenas um casal novamente. Mas ainda estamos realizando noites familiares significativas
e muito divertidas. Às vezes convidamos
outras famílias para participar conosco e às
vezes desfrutamos o prazer de apenas nos
conhecer um pouco melhor, resolver
juntos os nossos problemas e
expressar nossa gratidão um
pelo outro. Nossos temas e atividades continuam a ser simples,
procurando atender a nossas
necessidades.
Não temos dúvida de que a reunião de noite familiar é um programa
inspirado. Cada noite familiar significativa é um tijolinho a ser acrescentado em nossa fortaleza contra
as forças que procuram
destruir as famílias felizes e bem-sucedidas. ■
ACIMA À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: DANILO SOLETO, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELO; OUTRAS FOTOGRAFIAS: CHRISTINA SMITH
dedicado.
VOZES DA IGREJA
Ele Não Queria Tocar no Livro
Hermenegildo I. Cruz
N
a última área da minha missão, em Molo, Iloilo, nas
Filipinas, orei com fervor para
que antes de ser desobrigado eu conseguisse batizar e confirmar uma família. Meu companheiro e eu oramos,
certo dia, para que fôssemos conduzidos a uma pessoa sincera de coração,
alguém que estivesse preparado para
aceitar o evangelho. Fomos inspirados
a bater na porta de uma casa com
uma cerca de bambu. Um homem
desceu as escadas, abriu a porta para
nós e convidou-nos a entrar.
Ao fazermos amizade com ele,
descobrimos que era advogado.
Ele fazia muitas perguntas que
às vezes
não
conseguíamos responder, e quando
falava, era com tamanha eloqüência a
ponto de desanimar qualquer missionário. Ele se tornou um pesquisador
difícil. Apresentamos para ele o Livro
de Mórmon, mas ele disse: “A Bíblia
por si só é suficiente”. Ele não queria
ler ou sequer tocar no Livro de
Mórmon, como se sua mão fosse
queimar, se o fizesse.
Certo dia, um assistente do presidente da missão foi trabalhar com o
Élder Alcos, meu companheiro júnior.
Eles foram falar com aquele homem
e, depois disso, o assistente nos disse
com franqueza: “Não acho que aquele
homem esteja preparado para aceitar
o evangelho”. Ponderei suas
palavras, mas tive um doce,
sereno e tranqüilizador sentimento ao relembrar nossa
oração pedindo ao Pai
Celestial que nos guiasse
a pessoas que estivessem
prontas para aceitar o evangelho. Eu sabia que nossa
oração tinha sido respondida. Senti
que havia algo que precisávamos
compartilhar com aquele homem.
Simplesmente não sabíamos o que
era nem como fazê-lo. Mas não
desistimos dele.
Lentamente seu coração começou
a mudar, e ele aprendeu a amar o programa de reuniões de noite familiar
que apresentamos para ele. Com o
passar dos dias, senti-me desanimado
e achei que não conseguiríamos batizar e confirmar aquela família antes
de eu terminar a missão. Faltavam
apenas alguns dias para minha desobrigação. Um dia, eu lhe disse com
tristeza: “Irmão Garcia, acho que fracassei em minha missão”.
Ele disse: “Não, Élder Cruz, você
não fracassou. Desenvolvemos uma
amizade”. Fiquei muito feliz com o
que ele disse em
seguida: “Não
ILUSTRAÇÕES: GREGG THORKELSON
Q
uando
mostramos
o Livro
de Mórmon para
nosso pesquisador,
ele disse: “A
Bíblia por si só
é suficiente”.
se preocupe. Iremos para sua igreja
no domingo”.
Ele e sua família realmente foram à
Igreja, e os membros os receberam
calorosamente. Vi lágrimas nos olhos
dele quando ouvia as palavras inspiradoras proferidas na reunião sacramental. Ele voltou para casa feliz e
inspirado naquele dia. Eu sabia que o
coração dele tinha sido tocado.
Quando chegou o momento certo
e sentimos que ele estava preparado,
nós o desafiamos a ser batizado e
confirmado. Ele aceitou o desafio.
Também o desafiamos a jejuar e orar
e a ler o Livro de Mórmon. Meu companheiro e eu jejuamos por ele e sua
família.
Meu último domingo no campo
missionário foi no dia 4 de maio de
1986. Era reunião de jejum e testemunhos, e prestei meu sincero testemunho para as pessoas que havia
aprendido a amar. Depois que prestei
testemunho, vi aquele advogado,
que a princípio não tinha sido muito
receptivo à nossa mensagem, erguerse e caminhar até o púlpito, tendo
em mãos o Livro de Mórmon. Estava
tremendo e havia lágrimas em seus
olhos quando ele ergueu o Livro de
Mórmon e disse, chorando: “Irmãos e
irmãs, eu sei que o Livro de Mórmon
é verdadeiro”. Ficamos imensamente
felizes ao ouvir esse testemunho.
Naquela tarde, muitos membros
da ala assistiram ao batismo da família
Garcia.
Depois que fui desobrigado da
missão, correspondia-me regularmente com o irmão Garcia. Ele me
contou com alegria, quando se tornou
presidente da Escola Dominical. Mais
tarde, foi chamado como bispo. Viajou
muitas horas de barco para assistir ao
42
meu casamento no Templo Manila
Filipinas. Por fim, foi chamado para
servir como presidente de estaca e
conselheiro na presidência da Missão
Filipinas Bacolod.
Ele foi um instrumento na
conversão de muitas pessoas ao evangelho restaurado. O homem que agira
como se sua mão fosse queimar, se
tocasse no Livro de Mórmon, tornouse uma grande testemunha da divindade e veracidade daquele livro. ■
O Carro Laranja
Elwin C. Robison
L
ogo que nos casamos, minha
esposa e eu freqüentávamos
a faculdade no nordeste dos
Estados Unidos, onde os invernos
são muito frios e geralmente se joga
muito sal nas estradas para derreter
o gelo. Após vários invernos, nosso
carro velho começou a enferrujar,
chegando até a abrir um buraco no
piso do lado do banco de passageiro.
Com otimismo, compramos algumas
folhas de alumínio e rebites de pressão, e ligamos para meus pais para
saber se poderíamos visitá-los naquele
fim de semana e trabalhar no carro.
Chegamos tarde, na noite de sextafeira, e meu pai e eu acordamos cedo
no sábado para trabalhar no piso
do carro. Retiramos os tapetes de
borracha e começamos a procurar,
pelo som de metal, um lugar no qual
pudéssemos prender as folhas de alumínio. Não encontramos nada além de
metal corroído. Olhamos um para o
outro em silêncio, colocamos os tapetes de volta e fomos tomar o desjejum.
Depois de viajar lenta e cuidadosamente por cinco horas, de volta a
nosso apartamento, o telefone estava
tocando quando entramos. Minha
mãe decidira que “precisava” de um
carro novo e queria saber se gostaríamos de ficar com o antigo carro dela.
Meu pai advertiu que o carro já tinha
três anos de uso e muita quilometragem. Minha mãe então brincou
dizendo que não podia estar tão ruim
assim. Ele tinha sido dirigido por uma
dizimista integral. Rimos, e depois de
desligar o telefone, dançamos pelo
apartamento para comemorar aquele
maná que nos havia caído do céu.
O carro laranja era maravilhoso.
Tinha quatro portas, ar-condicionado
e nenhum buraco de ferrugem.
Com ele, terminamos a pós-graduação e conseguimos nosso primeiro
emprego. Mas após seis anos de uso
e mais 129.000 km, ele passou a ser o
carro feio com que eu ia para o trabalho. A pintura laranja brilhante estava
manchada pela exposição ao sol, o arcondicionado já não funcionava e a
janela do lado do motorista não abria,
e minha mãe estava novamente querendo comprar um carro novo (dessa
vez porque realmente precisava). O
valor de revenda de seu antigo carro
era tão baixo que meus pais decidiram dá-lo para nós.
Em meio ao prazer de ter um
carro mais novo, ficamos pensando
no que faríamos com o carro laranja.
Sim, ele era feio, mas o motor funcionava bem. Podíamos conseguir
alguns dólares vendendo-o para o
ferro-velho, mas ambos sentimos
que devíamos procurar alguém para
quem pudéssemos dá-lo.
Na manhã do
domingo, fomos à
sala do secretário da ala
perguntar se ele precisava
de um carro. Ele tinha vários adolescentes na família. Ele sorriu e disse
não, obrigado; não precisava de
outro carro. No canto da sala,
porém, havia um membro
escrevendo algo. Ele ergueu
a cabeça quando mencionamos um automóvel, por
isso descrevi para ele a longa lista das
coisas que não funcionavam
no carro. Mas assegureilhe que os pneus eram
rocuramos
bons, o motor era confiáalguém
vel e que não podia ser tão
para quem
ruim assim, já que sempre
pudéssemos dar o
tinha sido dirigido por um
nosso carro velho,
dizimista integral.
mal sabendo que
Ele e a esposa tinham
o Senhor o usaria
só um carro, e ele trabapara cumprir Suas
escasso, e
lhava à noite enquanto ela
promessas.
com o nascimento de
trabalhava de dia. Ele já
seu primeiro filho, as
havia recusado algumas
despesas cresceram mais
oportunidades melhores
rapidamente do que sua
de emprego porque precirenda. Acabaram atrasaria de um carro e a esposa, de
sando o pagamento do dízimo e senoutro. Um segundo carro permitiria
tiram-se muito mal por isso. A cada
que o casal aumentasse sua renda, e
mês que se passava, eles se sentiam
lhe daria mais possibilidades de propior, mas não viam saída para seu
gresso no trabalho. Assim sendo,
dilema. Ficaram seis meses sem pagar
demos o carro laranja para ele.
o dízimo, oraram a respeito e sentiIsso teria ficado apenas como uma
ram que tinham que acertar sua situalembrança agradável, se não fosse
ção com o Senhor. Naquela manhã de
pela conversa que tivemos três meses
domingo, quando entrei na sala do
depois. Aquele membro da ala e sua
secretário, ele estava preenchendo
esposa quiseram que soubéssemos
seu cheque de dízimo, perguntandomais a respeito da situação em que
se como faria para saldar suas obrigaestavam quando lhes demos o carro.
ções financeiras no mês seguinte.
Como freqüentemente acontece
A princípio fiquei sem jeito por
com os jovens casais, o dinheiro era
causa da piada que eu tinha feito
P
sobre o carro ter sido dirigido por
um dizimista integral. Mas ao refletir
sobre a situação, fiquei maravilhado
de ver como o Senhor cumpre Suas
promessas quando cumprimos as
nossas. A tinta nem sequer tinha
secado no cheque dele quando a
solução para seu dilema entrou pela
porta, sem se dar conta disso.
Lembrei-me muitas vezes do
exemplo de fé daquele jovem casal.
Sinto-me reconfortado por saber
que, se demonstrarmos fé, alguém,
em alguma parte, pode estar no
lugar certo e no momento certo
para ajudar-nos a resolver nossos
dilemas. Quão grato sou por ter um
Pai Celestial que nos conhece tão
bem que pode abençoar-nos antes
mesmo de termos acabado de
demonstrar nossa fé. ■
A LIAHONA JUNHO DE 2007
43
8
A irmã Haru Kina com seus oito filhos
em 1962. À direita: A irmã Kina com
o marido, Gen-ei, com seis de
seus filhos.
44
Irmãos
Japoneses
TA DA S H I K I N A
M
FOTOGRAFIAS: TAKUJI OKADA E CORTESIA DA FAMÍLIA KINA
eus pais tiveram nove filhos: oito
filhos e uma filha. A única menina
morreu quando pequena na
Segunda Guerra Mundial, durante a batalha
de Okinawa. Depois da guerra, meu pai abriu
uma bem-sucedida oficina mecânica de automóveis em Nago, que fica na parte norte da
ilha principal de Okinawa. Em 1954, quando
meu irmão caçula tinha dois anos e meu
irmão mais velho, dezessete, nosso pai morreu, e minha mãe ficou viúva aos 40 anos de
idade. Ela não conseguia aceitar a morte de
nosso pai. Às vezes, em sua dor, ela teve vontade de segui-lo, mas tinha oito meninos que
não podia abandonar.
Até aquela época, minha mãe, Haru,
dependera totalmente de nosso pai para
seu sustento. Mas quando ele morreu, ela
foi obrigada a trabalhar. Tentou esquecer sua
tristeza trabalhando e depois voltando para
casa e cuidando dos filhos. Esforçou-se arduamente para criar oito filhos travessos sozinha.
Quando tive idade suficiente para compreender, dei-me conta de que nunca via quando
minha mãe se levantava ou quando ia dormir.
Ensinem Meus Filhos a Respeito de Deus
Dez anos depois da morte de meu pai,
como se tivesse sido guiada pelo Espírito,
minha mãe saiu de Nago, apesar da oposição
de amigos e parentes, e mudou-se para Naha,
a capital de Okinawa. Poucos anos depois,
em 1967, os missionários bateram em nossa
porta. Naquela época, nossa casa era isolada e
ficava cercada por campos de cana-de-açúcar
e um cemitério. A estrada que ia dar na casa
estava em más condições, e poucas pessoas
batiam em nossa porta. Os missionários
eram o Élder Jackson e o Élder Fuchigami,
um nipo-americano de segunda geração nascido no Havaí. Os missionários perguntaram:
“Podemos falar com vocês a respeito de
Deus”? Minha mãe estava preocupada com
a educação dos filhos e achou que poderíamos aprender algo de bom com os missionários, por isso convidou os élderes a entrar e
disse: “Por favor, ensinem meus filhos a respeito de Deus”.
Minha mãe sentiu paz ao aprender o evangelho. Ficou impressionada ao saber que os
missionários pagavam sua própria missão e
pelo Élder Jackson estar servindo em uma
missão, embora tivesse perdido os pais em
um acidente automobilístico quando era mais
jovem e tivesse lutado muito para sobreviver
com uma irmã mais velha. Ao ouvir os missionários, minha mãe derramou lágrimas pela
primeira vez, desde a morte de meu pai. Ela
sentiu o amor do Senhor e o Espírito por
meio das palestras. Ela soube que aquela era
a Igreja que nossa família vinha procurando.
Para dar o exemplo para os filhos, minha
mãe foi batizada primeiro. Sentiu-se tocada
com a mensagem dos missionários e seu
modo amoroso e bondoso de agir. Começou
a pensar que a melhor educação que poderia
dar aos filhos seria fazer
com que aprendessem o
evangelho e se tornassem
missionários. Minha mãe
Graças à fé
que minha
mãe teve na
mensagem dos
missionários,
o evangelho
está abençoando nossa
família e muitas outras pessoas em todo
o Japão.
Abaixo, da esquerda
para a direita: Élder
Fuchigami, um dos missionários que ensinou o
evangelho para a irmã
Kina. A irmã Kina, aos
85 anos de idade. A
irmã Kina com seu filho
Toshimitsu e seu neto no
Templo de Laie Havaí,
em 1970.
disse aos missionários: “Há oito rapazes em
nossa família. Por favor, venham à nossa casa
e ensinem o evangelho a eles. Quando todos
estiverem convertidos, haverá mais oito portadores do sacerdócio na Igreja. E eles poderão ser missionários no futuro”.
Este monumento em
Mabuni, Okinawa,
Servir Missão
relaciona o nome das
A maioria de meus irmãos e eu fomos
influenciados por minha mãe e nos filiamos
à Igreja, um após o outro. À medida que freqüentávamos a Igreja, nossa vida mudava graças ao evangelho e à ajuda que nos foi dada
pelos irmãos e irmãs da Igreja. Tornamo-nos
melhores filhos e irmãos. Começamos a ajudar mais uns aos outros e a sentir alegria na
vida. Quatro de nós pregamos o evangelho
como missionários em várias partes do Japão.
Quando um de meus irmãos mais velhos, que
havia se mudado de Okinawa, viu como um de
meus irmãos mais novos que estava servindo
em uma missão havia mudado, ele disse: “Nem
acredito que esse seja meu irmão caçula, que
costumava ser tão rebelde”. Depois, por iniciativa própria, ele procurou a Igreja e pouco
depois foi batizado e confirmado.
vítimas da batalha de
Okinawa. Tadashi Kina
aponta para o nome
de sua irmã, Fumiko,
que morreu aos dois
anos de idade. Abaixo:
O missionário Tadashi
Kina (à direita) em um
batismo. Abaixo à
direita: O filho caçula
da família Kina,
Akira, em sua missão,
em 1972.
Antes de ser batizado, aos 27 anos de
idade, outro de meus irmãos mais velhos não
tinha idéia de como viver. Estava cheio de
problemas, bebia muito e participava de festas. Dava muito desgosto para a família e para
as pessoas a seu redor. Quando aquele meu
irmão aprendeu a respeito do propósito da
vida por meio do evangelho, ele foi batizado
e confirmado e, por fim, casou-se na Igreja
com uma mulher maravilhosa. Encontrou
alegria na vida e começou a sentir que havia
propósito em estar vivo. Compartilhou o
evangelho com amigos e foi uma boa influência para muitas pessoas. Meus irmãos que
estavam na missão mal puderam acreditar
quando ouviram falar que aquele irmão
tinha-se filiado à Igreja.
Como missionários, meus irmãos e eu
recebemos ajuda de nossos presidentes de
missão e companheiros, bem como de membros da Igreja e do Senhor. Trabalhamos
arduamente e, com a ajuda do Espírito, conseguimos batizar e confirmar muitas pessoas.
Entre esses conversos, um está servindo
agora como presidente de estaca, alguns
são sumos conselheiros e outros são bispos.
Aquelas famílias foram seladas no templo,
e seus filhos estão agora servindo como
missionários. Por meio do serviço que
pudemos oferecer, as sementes do
evangelho foram plantadas por
A irmã Kina (centro) sentada, rodeada por familiares em
uma reunião de família, em 2002.
todo o Japão e estão começando a florescer. O sonho
de minha mãe de que seus filhos fossem missionários
se tornou realidade.
Edificar o Reino
Servindo em nossos chamados, meus irmãos e eu crescemos espiritualmente. Cada irmão que se filiou à Igreja
foi selado no templo e está agora criando uma família feliz.
Minha mãe foi selada no Templo de Laie Havaí a meu pai,
à minha irmã e aos filhos que foram convertidos. Ela pôde
reconhecer a plenitude do evangelho restaurado de Jesus
Cristo ao receber as bênçãos do templo. Mais tarde, visitou
os parentes, buscando diligentemente informações que a
ajudariam em seu trabalho de história da família. Minha
mãe serviu na Sociedade de Socorro, no programa das
Moças e como professora do seminário.
A família Kina agora inclui noras, netos e bisnetos, num
total de 66 membros da família. Desses, 51 são membros
da Igreja, e 10 são missionários que retornaram do campo.
Os netos e bisnetos continuarão indo para a missão
quando chegarem à idade certa. Sentimos que esse é o
dever daqueles que receberam as bênçãos do evangelho.
Os membros da família Kina serviram ou estão servindo nos seguintes chamados: dois na presidência da
estaca (ou presidência de distrito), três como sumos conselheiros, sete em bispados (ou presidências de ramo),
quatro como líderes de grupo de sumos sacerdotes, oito
em presidências de quórum de élderes, seis como líderes de missão e sete em presidências da Sociedade de
Socorro. Sentimo-nos abençoados por termos tido essa
oportunidades de servir ao próximo.
Testemunho de Minha Mãe
Minha mãe adquiriu um forte testemunho ao observar a
vida dos filhos mudar para melhor graças ao evangelho de
Jesus Cristo. Ela teve o desejo de compartilhar o evangelho
com seus entes queridos. Apresentou os missionários a
amigos e parentes e freqüentemente realizava reuniões
familiares em casa. Por meio dessas coisas, ela foi um instrumento para trazer muitas pessoas para a Igreja, inclusive 50 parentes seus.
Minha mãe, que hoje tem 90 anos, certa vez prestou
o seguinte testemunho: “Como mãe, eu me sacrificaria
com alegria para que meus filhos pudessem voltar à presença do Pai Celestial. Como uma mãe poderia deixar um
filho amado para trás e ainda assim se apresentar ao Pai
Celestial? Minha missão mais importante aqui na Terra,
como mãe, é devolver ao Pai Celestial os filhos que Dele
recebi”.
Nós, os filhos, já estamos em idade de ter filhos e netos
e podemos compreender e valorizar o testemunho de
nossa mãe.
O evangelho é verdadeiro, e a verdade muda as pessoas. Por meio do evangelho, conhecemos o amor e a
misericórdia de Deus. Fizemos muitos amigos entre os
maravilhosos irmãos e irmãs da Igreja e somos gratos pelas
mudanças que sentimos em nossa vida graças ao exemplo
deles. Prosseguiremos como instrumentos nas mãos de
Deus aqui em Okinawa e pregaremos o evangelho restaurado, construiremos igrejas e templos e ajudaremos a estabelecer Sião. ■
A LIAHONA JUNHO DE 2007
47
PÔSTER
NOSSA
ESCOLHA
48
ESCOLHA
FOTOGRAFIA: DAVID TIPLING © GETTY IMAGES
Ter idéias para o Pôster é uma
das coisas mais desafiadoras e
recompensadoras que fazemos
nas revistas da Igreja.
Essa é uma experiência que queríamos compartilhar com nossos
leitores. Por isso, no ano passado,
escolhemos uma gravura que poderia ter diversos significados e convidamos vocês a enviarem suas idéias.
E vocês realmente aceitaram o
convite! Centenas de respostas do
mundo inteiro chegaram pelo correio e por e-mail. Freqüentemente,
idéias semelhantes com quase as
mesmas palavras chegavam no
mesmo dia, provenientes de diferentes continentes, deixando bem evidente que não poderíamos escolher
uma única resposta vencedora.
Cerca de meia dúzia de temas apareceram muitas e muitas vezes:
• Não dê as costas (à sua família,
a seus amigos, à Igreja).
• Siga o profeta.
• Ouse ficar sozinho.
• Arrependa-se — dê meia-volta
e siga na direção certa.
• Escolha o certo.
• Compartilhe o evangelho com
outras pessoas.
No final, descobrimos que a maioria de suas respostas tinha a ver com
O BEM E O MAL SÃO PÓLOS OPOSTOS.
(Ver 2 Néfi 2:27.)
fazer escolhas certas. Portanto, foi
isso que nós escolhemos.
E o vencedor foi: Todos os que
participaram. Vocês tiveram que
ponderar e comunicar-se uns com
os outros e com o Espírito para
identificar e compartilhar princípios
verdadeiros. Era essa a experiência
que queríamos compartilhar com
vocês. ■
Treinamento Mundial
de Liderança
Ensinar e Aprender
A ÁGUA VIVA, DE SIMON DEWEY, CORTESIA DE ALTUS FINE ART, AMERICAN FORK, UTAH
10 DE FEVEREIRO DE 2007
A íntegra dos procedimentos desse treinamento mundial de liderança
encontra-se disponível também no site www.lds.org.
A IGREJA DE JESUS CRISTO DOS SANTOS DOS ÚLTIMOS DIAS
Princípios
do Ensino e
do Aprendizado
P R E S I D E N T E B OY D K . PA C K E R
Presidente Interino do Quórum dos Doze Apóstolos
como deve ser dada uma aula.
Qualquer um dos Doze poderia
fazer essa demonstração de maneira
eficaz. Cada um deles teria uma abordagem diferente. Não existe somente
um método que funcione para todos
os professores ou situações. O
Espírito é essencial para nos guiar em
nossa própria preparação, experiência, personalidade, conhecimento e
testemunho em cada situação específica de ensino.
É L D E R L . TO M P E R R Y
Do Quórum dos Doze Apóstolos
Presidente Packer: O nosso tema
é ensinar e aprender o evangelho
de Jesus Cristo, tanto na sala de aula
quanto no lar. Todos nós, líderes, professores, missionários e pais temos
um desafio que nos foi dado pelo
Senhor de, durante a vida inteira, ensinar e aprender as doutrinas do evangelho como nos foram reveladas.
O Élder L. Tom Perry e eu iniciaremos com uma breve conversa sobre
os princípios que formam o ensino
50
eficaz. Minha tarefa é relatar algumas
experiências pessoais que me ensinaram muito acerca do ensino e do
aprendizado. Se vocês observarem
e ouvirem atentamente, perceberão
que, para ser um bom professor,
vocês também devem ter o desejo
de aprender.
Logo após a nossa conversa, o
Élder Jeffrey R. Holland nos ensinará
como nos preparar para ensinar. Ele
então se juntará a um grupo de alunos
numa sala de aula para demonstrar
Os líderes têm a responsabilidade
de ensinar, seja nas reuniões de conselho, nas entrevistas ou durante os
serviços de adoração. Também têm a
responsabilidade de assegurar-se de
que o aperfeiçoamento didático e o
aprendizado eficaz do evangelho estejam sempre presentes na vida dos
membros.
Para tanto, a Primeira Presidência
escreveu a carta datada de 17 de
novembro de 2006, extinguindo o
cargo de coordenador de aperfeiçoamento didático da ala e da estaca.
Acompanha essa carta uma lista de
“Responsabilidades dos Líderes pelo
Aperfeiçoamento Didático”. Estamos
confiantes de que, com os princípios
ensinados nesta transmissão e as
sugestões e recursos especificados na
carta, os líderes do sacerdócio e das
auxiliares vão reunir-se em conselho
para melhorar a qualidade do ensino
e do aprendizado do evangelho. Não
será necessário realizar reuniões especiais para o aperfeiçoamento didático
além das realizadas em seus conselhos e entrevistas de tempos em tempos, de acordo com a necessidade.
À DIREITA: FOTOGRAFIA: MATTHEW REIER, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
Ensinar e Aprender
As Responsabilidades dos Líderes
As apresentações deste treinamento
mundial de liderança podem ajudá-lo a
ser um professor melhor e um aluno
melhor. Para identificar e aplicar as idéias
dessas apresentações, leia a informação
contida nos quadros amarelos colocados
ao lado do início de cada apresentação.
Talvez queira também assinalar as escrituras e as frases mais importantes e
registrar as inspirações que receber.
Leia os comentários iniciais do Presidente
Packer. Identifique idéias que possam
ajudá-lo a ser um melhor professor e
melhor aluno.
Pondere sobre as perguntas a seguir
e anote as idéias e sentimentos que
lhe ocorrerem: O que devo fazer para
assegurar-me de ter o Espírito em meu
ensino, tanto no lar quanto na Igreja?
Em sua opinião, o que acha que torna
o Presidente Packer um aluno eficaz?
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 51
Disposição para Aprender
Presidente, você
escreveu um livro intitulado Teach Ye
Diligently [Ensinai Diligentemente].
Toda posição na Igreja exige um professor eficaz. É nosso chamado mais
importante. Poderíamos conversar
por alguns minutos a respeito do
ensino diligente como requisito em
nossos vários chamados da Igreja?
Presidente Packer: Fui nomeado
supervisor do seminário, sem conhecer nada, e fui incumbido, contratado
e pago para, essencialmente, visitar
áreas onde a Igreja estava estabelecida e dizer aos professores do seminário como ensinar e o que faziam de
errado. E isso era muito embaraçoso,
pois eu entrava em uma classe, via os
professores fazerem algo e tinha de
corrigi-los, sabendo que eu fazia a
mesma coisa toda vez que ensinava.
E eu sabia o que era ser corrigido.
O Élder Lee e o Élder Romney
estavam sempre ensinando e eles,
Élder Perry:
52
de certo modo, faziam um esforço
extra para dizer-me ou ensinar-me
algumas coisas. Acho que a razão de
fazê-lo — não tenho certeza de que
alguma vez me viram ocupando esta
posição ou chamado — era que eu
tinha uma virtude: eu queria aprender
e não ficava ofendido. E se você não se
ofende e se quer aprender, o Senhor
vai continuar a ensiná-lo, em certos
momentos, coisas que realmente você
não sabia que queria aprender.
Aqueles dois grandes professores
ensinaram-me. Quando às vezes
encontrava o irmão Romney, ele
dizia: “Garoto, quero dizer-lhe algo”.
Eu sabia o que vinha pelo caminho.
Ele ia dizer-me que eu estava fazendo
o que não deveria, e eu sempre agradecia a ele.
Aprendi cedo que existe grande
valor em se aprender com a experiência das pessoas mais velhas. Tive
um presidente de estaca certa vez,
que dizia: “Sempre procurei estar na
presença de grandes pessoas”. Ele
vivia em uma pequena cidade, em
Idaho. Mas dizia: “Se vinha algum
orador até a cidade ou se havia algo
especial, eu sempre tentava estar lá
porque eu podia aprender”.
Sempre gostei de me relacionar
com pessoas mais velhas (bom, agora
sou um deles). Mas lembro-me de
que, no Quórum dos Doze, LeGrand
Richards não caminhava tão rápido
como as demais Autoridades Gerais
e eu sempre o esperava, abria-lhe a
porta e voltava para o edifício com
ele. Certo dia, uma das Autoridades
Gerais disse: “Você é tão bom, por
tomar conta do irmão Richards”. E eu
pensei: “Você não conhece a minha
razão egoísta”, pois quando caminhávamos de volta para o prédio, eu simplesmente escutava o que ele tinha
a dizer. E eu sabia que ele conseguia
se lembrar de Wilford Woodruff, e
ouvia enquanto ele falava. O ensino
individual tem grande influência.
Geralmente o ensino individual é o
que acontece quando você é corrigido.
Este é outro princípio do ensino —
levantem-se cedo (ver D&C 88:124)
— mas a parte fácil disso, ou a parte
difícil, é a de voltar para a cama e
então ponderar pela manhã, quando
a mente está serena. É aí que surgem
idéias para o ensino.
Não sei quantas vezes, recebia uma
À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: MATTHEW REIER, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS; À DIREITA: FOTOGRAFIA: MATTHEW REIER
Oramos para que este treinamento
possa ajudá-los a serem melhores
professores e alunos do evangelho
de Jesus Cristo.
tarefa e não tinha a mínima idéia do
que fazer. Ontem, participei de uma
reunião com as Autoridades Gerais.
Eu sabia que seria o primeiro a falar
e pensei “O que direi?” E eu estava
confiante de que saberia o que dizer,
e sempre sabia.
O Uso das Escrituras
Élder Perry: Qual é a importância
de utilizar as escrituras no ensino?
Presidente Packer: Sempre contei
com as escrituras. O melhor exemplo
de ensino e como ensinar, o melhor
modelo para ensinar métodos, a despeito do tópico, que é o evangelho,
é o Senhor e Seus ensinamentos. É
por isso que não gosto de ir ao púlpito nem ficar diante de uma classe
sem minhas escrituras nas mãos.
Tenho-as aqui comigo hoje.
Élder Perry: Presidente, você carrega essas escrituras sempre com
você. Toda vez que o encontro, está
com elas. Você nos contou a história
de uma ocasião em que elas ficaram
molhadas e que isso apenas o ajudou,
porque você conseguiu abri-las com
mais facilidade.
Presidente Packer: Bem, eu estava
estudando no gramado e me chamaram, e eu deixei as escrituras abertas
sobre uma mesinha e esqueci que
as deixara lá, como todos os velhos
fazem, e o sistema automático de irrigação ligou. Ao sair pela manhã pensei: “Oh, minhas escrituras que eu
marcara durante 50 anos estão perdidas!” Mas percebi que as folhas apenas ficaram separadas. Acho que se
tivesse que conseguir novas escrituras agora, eu as colocaria na
chuva antes de usá-las.
Élder Perry: As pessoas sempre
conversam conosco a respeito das
escrituras e de como algumas delas
são difíceis de serem lidas. Como
você consegue torná-las vivas em
seu ensino?
Presidente Packer: Continue a
ler. Lembro-me de quando decidi
que leria o Livro de Mórmon. Eu era
adolescente; abri-o e li: “Eu, Néfi,
tendo nascido de bons pais” (1 Néfi
1:1). Continuei a ler e estava aprendendo coisas novas. Estava interessante, e eu prossegui até os capítulos
de Isaías e a linguagem dos profetas
do Velho Testamento. Então, meses
mais tarde decidi novamente começar
a ler o Livro de Mórmon. “Eu, Néfi,
tendo nascido de bons pais”, mas toda
vez que fazia isso e me deparava com
os capítulos de Isaías, imaginava por
que estariam lá. Finalmente decidi que
eu os leria, de algum modo. Então
quando era adolescente, eu apenas lia
as palavras, não as entendia, mas
virava as páginas e prosseguia na leitura. Quando cheguei ao livro de
Alma, li com a maior facilidade.
Então é preciso determinação para
ler tudo. E não apenas dar uma lida
por cima, mas ler do início até o fim
— o Livro de Mórmon, o Novo
Testamento, Doutrina e
Convênios e Pérola
de Grande Valor. E durante anos
adquiri o hábito de ler as escrituras
durante o verão, quando tínhamos
algum tempo livre para refrescar a
memória.
Orar pelo Dom de Ensinar
Élder Perry: Que conselho daria
aos novos conversos antes de receberem seu primeiro chamado como
professores?
Presidente Packer: Diria a eles que
são capazes de fazê-lo. Todo mundo
consegue ensinar. Eu os aconselharia
a orar pelo dom de ensino. Você sabe,
o Livro de Mórmon fala sobre dons e
delineia vários deles, entre os quais o
de ensinar o evangelho pelo Espírito
(ver Morôni 10:8–10). Quando li isso
anos atrás, pensei: “Esse é um dom
que eu quero, ser capaz de ensinar
pelo Espírito”. Descobri lendo as
escrituras que você precisa pedir para
recebê-lo — pedi, e recebereis —
então eu diria a essas pessoas que
continuassem a pedir e a buscar, “e
encontrareis” (ver Mateus 7:7; 3 Néfi
27:29), e que o dom precisa ser merecido, mas ele virá.
Buscar o Espírito
Élder Perry: O que os professores
devem fazer para assegurar-se de ter
o Espírito ao ensinarem?
Presidente Packer: Você tem de
viver dignamente e tem de pedir
ajuda. E você pode pedir ajuda se for
pai ou mãe. E depois, tem de guardar os mandamentos e orar constante e incessantemente pela
capacidade e pela inspiração para
saber o que fazer, e quando fazê-lo. E
o Senhor não o desapontará: “Não
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 53
54
era razoavelmente severo, mas sempre
no nível de entendimento deles.
O ensino é um chamado sagrado,
um chamado consagrado. O que acho
que diria aos professores é que eles
nunca ensinam sozinhos. Eles não precisam estar sozinhos. O Senhor prometeu isso nas escrituras. Em Alma,
onde o Senhor concedeu a toda nação
e em toda língua professores (ver Alma
29:8) há aquela declaração: “Ensinai
diligentemente e minha graça acompanhar-vos-á” (D&C 88:78).
Não sei como ensinar o evangelho
sem oração constante. Você pode
fazer uma oração em voz alta, mas
também pode ter uma oração no
pensamento. Muitas vezes quando
ensino um grupo ou uma classe, eu
oro em silêncio. “Como ajudá-los a
compreender?” E não sei como fazêlo, a menos que tenha esse poder ao
meu alcance.
A Responsabilidade de Ensinar
Élder Perry: O ensino
é essencial em todas as
atividades da Igreja. Quem tem a responsabilidade de se preparar para
ensinar?
Presidente Packer: Todo mundo
é professor — o líder é um professor;
o seguidor é um professor; o conselheiro é um professor; os pais são
professores — então temos a responsabilidade de ensinar por conta própria, de aprender os princípios do
ensino. O Senhor estabeleceu Sua
Igreja para que todos façamos tudo
na Igreja. Há uma declaração em
Doutrina e Convênios que diz “que
todo homem, porém, fale em nome
de Deus, o Senhor, (...) o Salvador do
mundo” (D&C 1:20). Quão abençoados somos por termos um sacerdócio
leigo, como é chamado, para que
todos os homens tenham o sacerdócio, para que todas as mulheres estejam qualificadas para cargos na Igreja,
e todos nós seremos pais. Portanto, o
ensino é a essência de tudo o que
fazemos.
Élder Perry: Você mencionou o
ensino em casa. Qual é a diferença
entre o ensino na Igreja e o ensino no
lar? Existe alguma grande diferença?
Presidente Packer: Em casa ele
é mais pessoal, melhor, mais fácil e
menos formal, e os pais ensinam pelo
exemplo. Os pais também ensinam
outras coisas meio difíceis aos
filhos, quando eles perguntam
“por que” e tudo o que você
pode responder é “porque
sim”, pois você não sabe o
porquê, sabe apenas que não
é a coisa correta a se fazer. E
ensiná-los sobre obediência para que
saibam e entendam. E em casa existe
aquele forte elo de amor entre pais e
À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: CRAIG DIMOND, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS; À DIREITA: FOTOGRAFIA: JED A. CLARK, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
vos deixarei órfãos; voltarei para vós”
(João 14:18); “Tudo quanto pedires
com fé, acreditando que receberás”
ser-lhe-á dado (Enos 1:15). Depois,
o acréscimo de uma escritura: se for
bom para você (ver Morôni 7:26).
O evangelho é muito prático.
Talvez você seja uma pessoa mais
velha que pensa ter terminado seu
ministério, ou talvez um jovem que
tem medo de tudo, ou uma mãe que
está muito atarefada com os filhos,
ou um pai que está preocupado, mas
você é capaz de ensinar e pode orar
e pode ser guiado. E você o fará.
Você será abençoado pelo Senhor,
prometo-lhe isso.
Quando o Senhor ensinava,
sempre lidava com coisas que Seus
ouvintes conheciam. Por exemplo:
“O reino dos céus é semelhante a
uma rede” (Mateus 13:47) — não é
realmente uma rede, é semelhante a
ela; e então Ele explicava o por quê;
e “o reino dos céus é semelhante ao
homem, negociante, que busca boas
pérolas” (Mateus 13:45). Quando
ensinou a parábola do semeador (ver
Mateus 13:3–8) — e essa era uma
coisa que dizia respeito a eles — não
é apenas possível, mas muito provável que, um mês depois de ter ensinado a parábola do semeador
(e falado sobre sementes atiradas em
uma terra cheia de pedras e numa
boa terra), um daqueles que o ouvira
estaria plantando e, ao ver as sementes em sua mão, recordaria a lição.
Se você utilizar parábolas, histórias e ilustrações, elas estarão vivas
quando os alunos não estiverem
na classe. E Seu método era notavelmente simples. Em certas ocasiões Ele
Você tem de viver dignamente e tem de pedir ajuda. E você pode pedir ajuda se for pai ou mãe—marido e mulher podem
conversar um com o outro. E então você tem que guardar os mandamentos e orar constante e incessantemente pela
capacidade e pela inspiração para saber o que fazer e quando fazê-lo.
filhos que fará com que você não
desista até que isso lhes seja ensinado.
Ensinar pelo Espírito
Élder Perry: Presidente, como você
consegue fazer com que o Espírito na
sala de aula vá do professor para os
alunos de tal maneira que seja uma
experiência significativa para eles?
Presidente Packer: Primeiro, eles
precisam saber que você os ama, que
quer ensiná-los, e aí você precisa comunicar-se no mesmo nível deles. Não
podemos falar sobre coisas acima de
seu entendimento — mesmo no evangelho — sobre assuntos com os quais
eles não se identificam. Não foi assim
que o Senhor fez. O Senhor caminhou
com eles e conversou com eles sobre
o cotidiano, e Seus ensinamentos estavam sempre no mesmo nível deles.
Se temos algo a ensinar-lhes, eles
realmente querem aprender. Os adolescentes — especialmente os adolescentes — querem aprender. Eles
têm sede de conhecimento.
Muitos professores acham que
têm que preparar palavra por palavra
o que vão dizer. Sim e não. Essa preparação inclui deixar a apresentação
flexível o bastante para envolver os
alunos, para fazer com que façam perguntas e participem. Você precisa deixar espaço para a inspiração.
Temos no Espírito Santo um ponto
de inspiração para a nossa memória.
Caso tenhamos um desafio quanto a
algo que será ensinado e pensamos
em quem somos e no que fazemos,
sempre haverá uma pequena experiência vivida, algum lugar conhecido
ou algo que vimos, que podemos
incluir na lição. E as escrituras são
parte de tudo isso. Elas não são apenas um livro que lemos de vez em
quando para considerar as normas e
regulamentos da Igreja.
Grande parte do ensino na Igreja
que é feito com rigidez, é como se
fosse um sermão. Não reagimos muito
bem a sermões em salas de aula. Nós o
fazemos na reunião sacramental e nas
conferências, mas o ensino pode ter
duas mãos de direção, para que possa
haver perguntas. Você pode facilmente
incentivar perguntas em uma classe.
Suponha que estivesse ensinando
sobre o martírio do Profeta Joseph
Smith. Eis aqui você, um professor de
história da Igreja que estudou tudo, e
você sabe que foi em 27 de junho de
1844, às 17h, na cadeia de Carthage,
que o Profeta foi assassinado. Se perguntar a eles a hora do dia e onde, e
outras coisas sobre a ocasião em que
o Profeta foi morto, nenhum deles
saberá. Você não sabia antes de ler o
manual. Mas você pode dizer: “O que
o levou a isso? O que vocês acham
que o levou àquilo?” No minuto que
disser: “o que vocês acham”, eles
terão algo a dizer. Eles podem contribuir, até mesmo os alunos que forem
mais envergonhados terão algo a
dizer. Dessa maneira, há uma forma
de lidar com as perguntas e de monitorar e administrar a classe. Responda
às perguntas. Sinta-se à vontade para
fazer perguntas durante a aula.
Você não pode dar algo que não
tenha conseguido, da mesma forma
que não pode retornar de um lugar
para onde não foi. Por isso, você precisa do Espírito. ■
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 55
Ensinar e
Aprender
na Igreja
ÉLDER JEFFREY R. HOLLAND
Do Quórum dos Doze Apóstolos
À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: JOHN LUKE, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
Alta Prioridade
Agradecemos ao Presidente Packer
e ao Élder Perry por esse alicerce inspirado para o nosso assunto de hoje,
e aguardamos ansiosos pela mensagem de encerramento que será dada
pelo Presidente Monson, ao final de
nossa reunião.
Uma prova da alta prioridade que
as Autoridades Gerais presidentes
dão ao tema “ensino e aprendizado”
é a de que estamos dedicando toda a
transmissão mundial do treinamento
de liderança deste ano e esse assunto.
Talvez a razão para isso seja óbvia.
Todos nós entendemos que o sucesso
da mensagem do evangelho depende
de seu ensino, de sua compreensão
e, depois, de vivermos de tal maneira
que sua promessa de felicidade e salvação possa ser alcançada.
Por essa razão, a grande e última
responsabilidade que Jesus deu a Seus
discípulos, pouco antes de Sua ascensão ao céu, foi:
“Portanto ide, fazei discípulos de
todas as nações, batizando-os em
nome do Pai, e do Filho, e do Espírito
Santo;
Ensinando-os a guardar todas as
coisas que eu vos tenho mandado;
e eis que estou convosco todos os
dias, até a consumação dos séculos”
(Mateus 28:19–20, grifo do autor).
O que o Salvador enfatiza nessa
passagem é que, embora haja muito
que fazer para viver o evangelho — e
temos de fazer muita coisa para vivêlo — nada disso pode ser conseguido
até que nos tenham ensinado essas
verdades e que tenhamos aprendido
a agir de acordo com o evangelho. Já
há vários anos, o Presidente Hinckley
vem nos aconselhando a manter
nosso povo próximo à Igreja, especialmente os jovens e os recémconversos. Ele disse que todos nós
precisamos de um amigo, de uma responsabilidade e de sermos nutridos
“pela boa palavra de Deus” (Morôni
6:4; ver também Gordon B. Hinckley,
A Liahona, julho de 1997, p. 53; ou
Ensign, maio de 1997, p. 47).
As instruções inspiradas recebidas
em casa e na Igreja ajudam a fornecer
esse elemento crucial de sermos
nutridos pela boa palavra de Deus. E a
oportunidade de magnificar esse chamado existe em toda parte — pais,
mães, irmãos, amigos, missionários,
líderes e professores do sacerdócio e
das auxiliares, instrutores nas salas de
aula, inclusive nossos maravilhosos
professores do seminário e instituto
que estão conosco hoje. Bem, a lista
não tem fim. De fato, nesta Igreja, é
Selecione algumas idéias da apresentação do Élder Holland que você possa
aplicar como aluno ou como professor.
O debate conduzido pelo Élder Holland
centrou-se em cinco princípios. Estudeos e depois faça um planejamento
tendo em mente as formas pelas quais
você pode ensinar esses princípios a
outra pessoa.
O que o Élder Holland demonstrou
a respeito de aprender e ensinar, em
acréscimo ao que já conversamos?
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 57
virtualmente impossível encontrar
alguém que não seja professor.
O Presidente Packer enfatizou isso
em sua conversa com o Élder Perry.
Ele disse e eu cito: “Todos são professores — o líder, o seguidor, o pai ou
a mãe, o conselheiro”. Não é de se
admirar que o Apóstolo Paulo dissesse em seus escritos: “E a uns pôs
Deus na igreja, primeiramente apóstolos, em segundo lugar profetas,
em terceiro doutores [professores]”,
depois disso viriam as amplas bênçãos dos milagres, dons espirituais e
manifestações celestiais (I Coríntios
12:28).
Ao enfatizar a natureza divina de
quem era chamado como instrutor,
um jovem Apóstolo chamado David O.
McKay disse na conferência geral de
1916: “Não existe maior responsabilidade dada a um homem [ou a uma
mulher] do que a de ser professor
ou professora dos filhos de Deus”
(Conference Report, outubro de
1916, p. 57). Isso ainda é verdadeiro.
Foi dessa citação que escolhemos o
título de nosso maravilhoso recurso e
manual para os professores na Igreja:
Ensino, Não Há Maior Chamado.
Naquele lindo e reverenciado hino da
Primária, “Sou Um Filho de Deus”, as
crianças cantam o seguinte pedido
aos pais e professores:
“Ensinai-me, ajudai-me
As leis de Deus guardar
Para que um dia eu vá
Com Ele habitar.”
(Hinos, nº 193)
Essa é nossa tarefa em comum
nesta Igreja. Essa é
a responsabilidade que compartilhamos.
Somos todos filhos de Deus e precisamos ensinar uns aos outros, precisamos ajudar uns aos outros a “as leis
de Deus guardar”. E é isso o que tentaremos fazer hoje.
Preparar-se para Ensinar
Vocês podem ver que, com este
material espalhado aqui na mesa,
estou tentando preparar uma aula.
Reconhecem essas coisas? São para a
aula de hoje — uma aula para todos
vocês. Preparar-se para qualquer aula
é um trabalho árduo, e exige tempo.
Quanto a isso, quero incentivá-los a
que comecem a imaginar e a planejar
antecipadamente qualquer aula que
precisem dar.
Por exemplo, se eu fosse ensinar
uma aula no domingo, eu a leria e
começaria a orar a respeito dela no
domingo anterior. Isso me dá uma
semana inteira para orar, buscar inspiração, pensar, ler e procurar aplicações para a vida real que trarão
As instruções inspiradas recebidas em
casa e na Igreja ajudam a fornecer
esse elemento crucial de
sermos nutridos pela
boa palavra de Deus.
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MAIS À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: ROBERT CASEY; À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: STEVE BUNDERSON; TODAS COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
Então parem de se preocupar com
isso. É melhor falar de umas poucas
idéias e ter uma boa discussão — e
um bom aprendizado — do que correr para tentar ensinar cada palavra
do manual. Neste material que está
aqui, já tenho de três a quatro vezes
mais do que o conteúdo que provavelmente conseguiria dizer ou compartilhar com vocês hoje, durante o
tempo designado de uma hora de
aula. Portanto, assim como vocês,
tive que escolher e selecionar. Vou
reservar alguns itens para outro dia.
Uma atmosfera calma é absolutamente essencial se querem ter o
Espírito do Senhor presente em sua
classe. Nunca se esqueçam disso.
Muitos de nós correm e deixam para
trás o Espírito do Senhor, tentando
vencer o relógio em uma corrida
absolutamente desnecessária.
Demonstração de Como Ensinar
No alto, acima: o Élder Jeffrey R. Holland se prepara para a demonstração
didática apresentada como parte do treinamento mundial de liderança. Acima:
alguns membros da Igreja da área de Salt Lake City foram convidados para
formar uma classe para essa demonstração. Alguns comentários adicionais
feitos por eles encontram-se em quadros nas páginas a seguir.
vitalidade à minha mensagem. Você
não só acabará de preparar a aula
com muita antecedência, mas também ficará surpreso ao descobrir
quantas coisas lhe ocorrem durante
a semana, o quanto Deus lhe dá, coisas que poderá utilizar ao terminar
sua preparação.
Falando sobre preparação, quero
também incentivá-los a evitar uma tentação que quase todo professor da
Igreja enfrenta; pelo menos eu já tive
essa experiência. É a tentação de
cobrir material demais, a tentação de
colocar em uma hora mais coisas do
que é possível, ou de dar coisas demais
aos alunos, mais do que eles conseguirão reter! Lembrem-se de duas coisas
quanto a isso: primeiro, nós ensinamos às pessoas, e não o assunto em si;
segundo, todo o planejamento de aula
que eu tiver conterá inevitavelmente
mais coisas do que será possível abordar no tempo da aula.
Bem, voltemos àquela discussão
maravilhosa entre o Presidente
Packer e o Élder Perry para encontrar
alguns dos pontos-chave para o
sucesso nessa grande tarefa de ensinar e aprender. Para tanto, vamos
entrar em uma sala de aula aqui na
sede da Igreja onde vamos interagir
da mesma forma que esperamos que
vocês o façam em sua sala de aula,
onde quer que ela esteja localizada. A
interação não é ensaiada, é espontânea, do mesmo modo que ocorre em
sua sala de aula. O professor fez o
melhor que pôde para preparar a
aula e orou — garanto que fiz isso —
da mesma forma que os alunos.
Agora, depois da oração de abertura
em nossa aula, vamos confiar no
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 59
Se pedirmos, receberemos, e se
batermos, será aberto. Podemos
fazer isso.
60
que somente vocês perceberão. E
pode não ter nada a ver com o que
estivermos dizendo. Mas é assim que
o Espírito age. Estejam abertos aos
sussurros referentes a como podem
ensinar. E lembrem-se: vocês conseguem ensinar! São capazes de
fazê-lo!
Todos São Capazes de Ensinar
O Élder Perry fez uma pergunta ao
Presidente Packer durante a conversa:
“O que você diria a um novo professor? Caso alguém tenha acabado de
receber esse chamado, o que o aconselharia a fazer para ter a coragem de
aceitar o chamado, desempenhá-lo e apreciá-lo?”
Irmão Charles W. Dahlquist II:
Você consegue.
Élder Holland: Você consegue.
Todos são capazes de ensinar. E é isso
que o Presidente Packer disse quando
respondeu a essa pergunta do Irmão
Perry.
Ele se referiu às escrituras que prometem que vocês conseguem fazê-lo.
Essa é a garantia extra quando utilizamos algumas escrituras. Lembram-se
de alguma?
Élder Jay E. Jensen: Morôni 10:17.
Élder Holland: Morôni 10:17, o
último capítulo do Livro de Mórmon,
uma grande declaração sobre dons.
Quer lê-la, irmão Jensen?
Élder Jensen: “E todos esses
dons são dados pelo Espírito de
Cristo; e são dados a cada homem
individualmente.”
Élder Holland: Isso é maravilhoso.
Élder Jensen: Ninguém é excluído.
Élder Holland: Ninguém é deixado
de fora. E, às vezes, acho que pensamos que significa: “Todos menos
eu, todo mundo consegue ensinar,
menos eu, ou todos podem ser líderes, menos eu”. Bom, esse não é o
caso. Esses dons são para todos. E
uma pequena advertência quanto a
isso, enquanto estamos no assunto.
Irmão Jensen, leia as duas primeiras
linhas do versículo oito.
Élder Jensen: “E novamente vos
exorto, meus irmãos, a não negardes
os dons de Deus, pois eles são muitos; e eles vêm do mesmo Deus (...)”
(Morôni 10:8).
Élder Holland: Acho que temos
uma tendência a “negar”. De certa
forma, nos escondemos. Quando um
chamado é feito, ou temos que
FOTOGRAFIA: BRYANT LIVINGSTON, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELO
Espírito do Senhor para guiar-nos
em nossa experiência didática.
Bem-vindos à aula. Esta deve
ser uma sala de aula média, más o
menos. Alguns de vocês terão mais
alunos, outros, menos, mas os princípios de ensino serão essencialmente
os mesmos, seja qual for o tamanho
da classe. Temos aqui quinze pessoas
absolutamente perfeitas e lindas, e
a décima sexta pessoa é cada um de
vocês, que assiste a esta transmissão
mundial.
Atentem para novas idéias, coisas
“Quando eu era
membro do Ramo
Colonia Suiza,
Uruguay, meu primeiro chamado foi
o de presidente na
Primária, e eu tinha apenas treze
anos. Eu era a presidente e também
a professora. Lembro-me de ter sido
designada e de receber um manual,
juntamente com a designação de
ensinar às crianças as aulas e o
evangelho. Abri o manual e não
sabia o que fazer, não sabia dar
a aula. Então orei. Disse: ‘Pai
Celestial, preciso ensinar às crianças no próximo sábado. Vais me
ajudar?’ Eu recebi a influência do
Espírito e aprendi a ensinar, porque
o Espírito me ensinou.”
Irmã Delia Rochon
enfrentar uma sala de aula — que é
uma experiência relativamente aterrorizante para qualquer um — acho que
há algo dentro de nós que diz: “Não
vou conseguir fazer isso, e vou dizer
'não'. Vou negar que eu possa receber
o dom; vou negar que tenha o dom.
De certa forma, vou negar a autenticidade do chamado”. De certa maneira,
suponho que é isso que estejamos
fazendo. E o que Morôni diz aqui é
que não devemos negar: “Vos exorto
a não negardes os dons de Deus, pois
eles são muitos”.
“Pedi, e Dar-se-vos-á”
Estou pensando em algo que o
próprio Salvador disse diretamente
a Seus discípulos no Novo Testamento,
e me disseram que é a a promessa e
a declaração que mais se repete nas
escrituras. Alguém disse que algumas
variações dessa promessa aparecem
umas cem vezes nas escrituras. Mas
se ela aparecesse uma ou duas vezes,
acho que poderíamos adotá-la uma
ou duas vezes, mas se alguma coisa
é repetida 20, 40 ou 80 vezes, obviamente tem grande significado para
o Senhor.
Alguém faz idéia de que promessa
estamos falando?
Irmã Vicki F. Matsumori: Eu diria
que é a escritura que diz algo sobre
pedir, bater, e você receberá.
Élder Holland: Isso mesmo! Irmã
Matsumori, já que nos levou a isto,
poderia ler Mateus 7:7? Faz parte do
Sermão da Montanha e é um dos muitos lugares onde encontramos essa
promessa.
Irmã Matsumori: “Pedi, e dar-sevos-á. Buscai, e encontrareis; batei,
e abrir-se-vos-á.”
Élder Holland: Obrigado. Adoro a
objetividade, a clareza, a certeza dessa
promessa. Se pedirmos, receberemos,
e se batermos, será aberto. Podemos
fazer isso.
Agora estamos começando a acumular idéias. Vou pedir à irmã Kathy
Hughes, da Presidência Geral da
Sociedade de Socorro, que escreva
no quadro para nós, hoje. Creio que
temos um tema para desenvolver
aqui, dado a nós pelo Presidente
Packer em sua conversa com o Élder
Perry, que seria: “O Dom de Ensinar”
Pode anotar isso no quadro como
título para nós, irmã Hughes?
Vamos relacionar algumas citações
para nos lembrar a respeito de como
buscar o dom de ensinar. E aquela
que a irmã Matsumori acabou de ler
deve ser a número 1: “pedir, buscar e
bater espiritualmente”, talvez o requisito mais fundamental para um professor ao buscar esse dom que Deus
nos prometeu.
Élder W. Rolfe Kerr: Acho que é
muito importante incluir a parte que
conclui a citação e talvez mantê-la
sempre à vista, diante de nós. O que
resulta do pedido é que nós recebemos. O que resulta da procura é que
encontramos. Batemos, e se nos abre.
Élder Holland: Vamos colocar isso
no quadro, irmã Hughes, que vamos
receber. Existe uma promessa nisso.
Irmão Orin Howell: Além disso,
gosto de Lucas 12:12, onde diz:
“Porque na mesma hora vos ensinará
o Espírito Santo o que vos convenha
falar”.
Élder Holland: Isso começa a abrir
um mundo totalmente novo porque
estamos sempre dizendo isso aos missionários. Falamos milhares de vezes a
eles que devem abrir a boca, e que se
estiverem preparados e tiverem feito
o melhor possível, Deus os inspirará
quanto ao que deverão dizer, quando
precisarem. Essa é uma idéia ampla,
maravilhosa e totalmente nova, sobre
pedir e receber a uma hora determinada. É um versículo fantástico, Orin.
Irmã Tamu Smith: Acredito que,
às vezes, quando me sinto diante de
situações extremas, sendo um membro converso à Igreja e sendo convidado a dar uma aula em uma classe
onde as pessoas descendem dos pioneiros, o Espírito toca você para que
diga algo que não havia pensado em
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 61
dizer. Em Êxodo 4:12 lemos: “Vai,
pois, agora, e eu serei com a tua
boca e te ensinarei o que hás de
falar”. Acho que se deixarmos o
Espírito nos inspirar a falar essas coisas, mesmo sabendo que não temos
todas as respostas, precisamos deixar
que o Pai Celestial faça Seu trabalho,
e fale por nosso intermédio.
Élder Holland: Que versículo maravilhoso. Em todos esses anos de reflexão quanto a esse assunto, não me
lembro de ter ouvido esse versículo
ser utilizado antes; então, muito obrigado mesmo, irmã Smith. E o contexto
aí, naturalmente, é a tarefa dificílima
que teve Moisés de ajudar os filhos de
Israel a se libertarem dos problemas da
vida. Isso é o que todos nós enfrentamos. É um versículo fantástico que diz:
“Não se preocupe, você o receberá”.
Grato por essa referência.
Bom, guardem na mente essas citações ao ensinarem sobre o assunto.
Vocês podem utilizar essas ou muitas,
muitas outras.
Usar as escrituras para ensinar
Muitos de
nós, quando somos chamados para
ensinar, ficamos assustados com a
amplitude da designação e sentimonos inadequados e despreparados.
Mas sabe, se dermos o melhor de nós
no estudo do material que recebermos, se lermos as escrituras, e simplesmente confiarmos no Espírito,
seremos auxiliados no processo.
Acho que, algumas vezes, sentimonos pressionados porque não sabemos o suficiente.
Élder Holland: Com certeza! E
todos nos sentimos assim! Todo
Élder Steven E. Snow:
62
professor já se sentiu assim, alguma
vez. E acho que é justo dizer, acho
que todos nós aqui representamos o
esforço coletivo da Igreja de colocar
bons materiais didáticos nas mãos
das pessoas. Realmente temos bons
materiais curriculares. Temos bons
manuais de lições e eles não ensinam
por si próprios, mas podemos ter certeza de que não estamos sozinhos e
de que não temos de reinventar a
roda. Temos recursos extraordinários
e vamos falar a respeito deles hoje.
Isso nos ajudará a não nos sentirmos
tão pressionados.
Quando o Presidente Packer conversou com o Élder Perry, disse:
“Sempre confiei nas [espaço em
branco]", quer esteja ao púlpito ou à
frente de uma classe. Ele disse que
não gostava de ir a nenhum lugar
sem elas. Do que ele estava falando?
Irmã Julie B. Beck: Das escrituras.
Élder Holland: Das escrituras. Das
escrituras, sem dúvida. Pode colocar
o número 2, irmã Hughes: “Usar as
escrituras para ensinar”.
Não creio que possamos exagerar
o valor ou superestimar a importância
delas em nosso papel de ensinar na
Igreja. Obviamente, as escrituras, a
própria essência do evangelho, são as
coisas que fomos chamados a ensinar,
seja na Primária, seja em qualquer de
nossos grupos de adultos, em todos
os grupos de adolescentes, em casa
ou na Igreja. Lembro-me de algo
importantíssimo que foi dito em Alma
31. Há um versículo muito citado que
fala sobre isso e que eu considero um
dos mais marcantes já escritos nas
escrituras.
Alma havia empreendido uma
missão muito, mas muito séria, uma
missão muito difícil, a missão entre
os zoramitas, e ele tinha acabado de
ter o seu confronto com Corior. Ele
descobre o que funciona e o que não
funciona para ele nesse desafio de
ensinar e de testificar.
Irmão Wada, pode ler Alma 31:5?
Irmão Takashi Wada: “Ora, como
a pregação da palavra exercia uma
grande influência sobre o povo,
levando-o a praticar o que era justo
— sim, surtia um efeito mais poderoso sobre a mente do povo do que
a espada ou qualquer outra coisa
que lhe houvesse acontecido —
Alma, portanto, pensou que seria
aconselhável pôr à prova a virtude
“Jamais esquecerei
aquela manhã de
domingo. Estávamos
em Athi River, no
Quênia, e um rapaz
levantou-se e fez um
discurso durante a reunião sacramental usando somente as escrituras. Foi um discurso vigoroso. Ele
devia ter uns quinze anos, não devia
ter mais que isso. Eu sorria, pensando: ‘Céus, eu gostaria que todos
ouvissem esse rapazinho prestar testemunho e falar de Cristo, e pregar
sobre Cristo’.”
Irmã Kathleen H. Hughes
À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: BUSATH PHOTOGRAPHY; À DIREITA: FOTOGRAFIA: ATTHEW REIER, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
As escrituras, a própria essência do evangelho, são as coisas que fomos chamados a ensinar.
da palavra de Deus” (Alma 31:5).
Élder Holland: Muito obrigado. De
algum modo, com o passar dos anos,
essa escritura passou a ser, para mim,
uma das favoritas. Todos nós temos
versículos para os quais nos voltamos
constantemente, e eu tenho me voltado para este: “Como a pregação
da palavra” — o poder da palavra —
“exercia uma grande influência sobre
o povo, levando-o a praticar o que
era justo”, ela “surtia um efeito mais
poderoso sobre a mente do povo do
que a espada,” e eles conheciam o
poder da espada neste livro e na vida,
“ou qualquer outra coisa,” todos os
outros campos de batalha, conflitos e
desafios. “Alma, portanto, pensou que
seria aconselhável pôr à prova a virtude da palavra de Deus”.
Um sinônimo de virtude é poder.
Quando a mulher tocou a barra das
vestes de Cristo, na cena do Novo
Testamento, Ele disse: “De mim saiu
virtude” (Lucas 8:46). O original do
Novo Testamento em grego para isso
é: “De mim saiu poder”.
Então Alma está dizendo que devemos tentar exercer o poder da palavra
de Deus, uma vez que ela tem um
efeito tão poderoso.
Irmão Wada: Creio que todos
vêm à Igreja para aprender algo e para
serem nutridos. Há uma frase, em
Jacó 2:8, que diz: “E suponho que eles
tenham vindo aqui para ouvir a agradável palavra de Deus, sim, a palavra
[de Deus] que cura a alma ferida”. É
gratificante quando, logo após dar
uma aula, alguém chega e diz — “Era
exatamente isso o que eu queria ouvir.
Eu precisava disso.”
Élder Holland: Essa é a grande
questão — obrigado, irmão Wada,
porque as pessoas vão à Igreja em
busca de uma experiência espiritual.
É por isso que elas vão. Nós vamos à
Igreja e nos reunimos em salas como
esta para ouvir a palavra do Senhor,
ouvir declarações, ouvir o Espírito,
testemunhos e convicções. Quando
estamos com problemas, quando precisamos ser curados, as coisas que o
mundo oferece não são suficientes.
Vamos à Igreja para sermos curados
pela palavra de Deus.
Irmã Matsumori: Para a maioria
das professoras da Primária, ensinar
a palavra de Deus às crianças é um
grande desafio. As crianças não lêem,
não têm as próprias escrituras, não
estão familiarizadas com elas, se a
família não lhes der uma base. Pode
ser algo bem difícil.
Élder Holland: Boa observação.
Temos aqui uma experiente professora da Primária que nos chama a
atenção para o fato de que teremos
em nossas classes crianças em diferentes estágios de desenvolvimento
e que devemos ajudá-las a crescer e
desenvolver-se da forma correta.
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 63
Irmã Julie B. Beck
64
Bem lembrado, irmã Matsumori.
Irmão Dahlquist: Acontece o
mesmo com os rapazes e as moças;
para que eles entendam as escrituras,
eles devem, como Néfi disse, ser
capazes de aplicá-las. Precisam
relacioná-las a eles.
Élder Holland: Precisam aplicá-las
à sua vida (ver 1 Néfi 19:23).
Irmão Dahlquist: Precisam tornar
vivas as escrituras.
Élder Holland: Sim, estamos
falando de várias experiências aqui,
algumas que temos em casa, no seminário ou no instituto. Estamos falando
de algo que realmente precisa crescer
com o passar do tempo no coração
de nossos rapazes e de nossas moças.
Não sejamos impacientes: pode levar
algum tempo para que isso aconteça.
Élder Jensen: Até aqui, acho que
nossa discussão se concentrou nas
quatro obras-padrão. Mas há outras
escrituras.
Élder Holland: Sim. Gostaria de
dizer alguma coisa sobre os profetas
vivos?
Élder Jensen: Temos manuais realmente muito bons e temos revistas e
histórias. Não é formidável?
Élder Holland: Temos realmente
um excelente material, sem contar o
grande número de transmissões via
satélite de discursos dos profetas
vivos feitos em conferências gerais e
as publicações que circulam na Igreja.
Temos um material riquíssimo da
palavra de Deus a nosso dispor, e
devemos usá-lo.
Irmã Kathleen H. Hughes: Mas isso
me faz pensar numa pergunta. Muitas
vezes vemos, como salientou o Élder
Oaks em outro discurso que ele fez,
que existe um vago reconhecimento
de que o manual existe, e acabamos
ensinando o que está na nossa cabeça.
Por que fazemos isso? Como podemos
ajudar nossos irmãos e irmãs a entender que os livros e manuais estão aí
para nossa edificação?
Élder Holland: Sim. Esse é um
bom lembrete. Tem a ver com o
comentário do Élder Jensen. Com
base nos excelentes comentários que
vocês fizeram e na inspiração que me
deram a respeito do poder da palavra,
da cura, da ajuda e da luz que ela traz,
isso me faz lembrar de uma história
que o Presidente Packer contou no
Quórum dos Doze, alguns anos atrás.
Falou sobre um rigoroso inverno em
Utah em que havia muita neve, o que
obrigou os cervos a descerem até a
parte mais baixa de alguns vales.
Alguns ficaram presos em cercas e caíram em armadilhas porque saíram de
seu habitat, e algumas entidades
bem-intencionadas, perfeitamente
capazes e responsáveis, tentaram alimentar esses cervos e ajudá-los a
sobreviver àquele inverno. Trouxeram
feno e o despejaram em todo o lugar,
pois era o melhor que podiam fazer
naquelas circunstâncias. Mais tarde,
um imenso número desses animais
foi encontrado morto. As pessoas
que cuidaram desses cervos disseram
depois que o estômago deles estava
cheio de feno, mas assim mesmo eles
morreram de fome. Foram alimentados, mas não foram nutridos.
E todos os professores precisam
lembrar-se de que temos que “nutrir
com a boa palavra de Deus”. E também podemos ser alimentados —
essa pode ser a parte divertida do
À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: BUSATH PHOTOGRAPHY; À DIREITA: FOTOGRAFIA: STEVE BUNDERSON, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELO
“Certa vez, eu conversava com uma
netinha de seis
anos de idade,
e ela me disse:
‘Quero aprender
a estudar usando as escrituras’.
Então pensei: ‘Ora, mas ela só
tem seis anos. Será que conseguirá extrair algo significativo
das escrituras?’ E eu lhe disse:
‘Vamos ler 1 Néfi, capítulo 1 e,
se você ler alguma coisa e compreendê-la, ou se ela tiver algum
significado para você, sublinhe.
E se quiser dizer qualquer coisa
sobre o que leu, escreva.’ Então
começamos no primeiro versículo: ‘Eu, Néfi, tendo nascido de
bons pais’ (1 Néfi 1:1) e ela parou,
dizendo: ‘Eu tenho bons pais’.
Ela estava aprendendo desde
a leitura da primeira linha.
Sublinhou o que tinha lido e
disse: ‘Vou terminar o Livro de
Mórmon antes do meu batismo’.
‘Há dias’, comentou ela, ‘em que
não entendo nada’. Mas, para
ela, foi uma experiência marcante ler o primeiro versículo
do Livro de Mórmon, na primeira
vez que tentou fazê-lo.”
“Às vezes, quando
estamos ensinando,
tentamos trabalhar
com o Espírito, ensinar com o Espírito,
usar as escrituras.
Mas para mim, em minha experiência, parece que quem faz a conexão
do que estamos ensinando e a
necessidade dos alunos é o Espírito.
Por essa razão, sempre tem um
aluno que se aproxima de mim e
diz: ‘Obrigado, por você ter dito
isso e aquilo’, e eu penso: ‘Eu disse
mesmo isso? Quando?’ Pergunto-me
se o que aquela pessoa ouviu não
foi a voz do Senhor, e só o que eu fiz
foi criar, por meio das escrituras e
do Espírito, o ambiente no qual o
aluno recebeu a mensagem de que
necessitava.”
Irmã Delia Rochon
Seremos ensinados do alto. Somos
instrumentos, somos ferramentas.
É a nossa língua e são nossos lábios,
mas o professor está lá em cima.
processo — mas o significado de
ensinar é nutrir, tendo por base a
palavra de Deus.
Ensinar pelo Espírito
Irmã Hughes, poderia colocar o
número três no quadro? "Ensinar pelo
Espírito e com o Espírito".
O Espírito do Senhor é o verdadeiro professor, e é por isso que eu
disse, um minuto atrás: “Ouçam”.
Ouçam com o coração. Ouçam com
a alma, e vocês poderão ter sentimentos, ouvir sussurros que não têm
nada a ver com o que estão dizendo.
Pode ser algo muito pessoal,
alguma coisa em
casa, algo relacionado ao seu lar,
ao seu casamento ou a um
dos filhos, mas
isso é o Espírito,
e Ele é o verdadeiro professor.
Há um trecho em D&C 43:16 que
diz que seremos ensinados do alto.
Somos instrumentos, somos ferramentas. É a nossa língua e são nossos
lábios, mas o professor está lá em
cima.
Também é uma didática muito eficaz fazer com que as pessoas da classe
se conheçam, conheçam um pouco
mais uns a respeito dos outros. Vamos
fazer isso por um minuto com Orin
Howell.
Orin, quando você se filiou à Igreja?
Irmão Howell: Entrei para a Igreja
em junho de 1996.
Élder Holland: Em que lugar você
se filiou à Igreja, irmão Howell?
Irmão Howell: Na Bósnia.
Élder Holland: O que você estava
fazendo na Bósnia, irmão Howell?
Irmão Howell: Naquela época, eu
estava no exército.
Élder Holland: E onde, exatamente, na Bósnia, você foi batizado?
Irmão Howell: Fui batizado em
Tuzla, num velho bar russo que foi
transformado em capela. Levaram para
lá a lataria da parte de cima de um tanque de guerra e a viraram ao contrário,
para ser usada como pia batismal.
Élder Holland: Este era um maravilhoso jovem no exército, que foi
tocado pela vida de outros santos dos
últimos dias que também estavam no
exército, e que recebeu um testemunho do evangelho e quis ser batizado.
Então, na capela adaptada onde eles
se reuniam na época da guerra, o
capô de um tanque de guerra foi
removido, virado ao contrário para
formar uma estrutura em forma de
bacia, e foi cheia de água. E o Orin
encheu a bacia de água e foi batizado.
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 65
“Nossa final reafirmação encontra-se na honesta
inspiração do
Senhor: a inspiração de que você é
o instrumento do Senhor, de que
esta classe é Dele, de que esta é
a Sua Igreja, este é o Seu povo.
Depois, responder honestamente
a esse Espírito. Falando de uma
maneira geral, o currículo nos
fornece uma moldura, um
esquema, nosso curso e direção
durante os meses do ano. Mas
em um momento determinado,
somos muito menos professores
do que supomos, nas mãos do
Senhor, se não estivermos dispostos a deixar de lado as coisas
que preparamos e atender a
uma inspiração que o Senhor
nos envia. Devemos dizer:
‘Agora é o momento. Este é o
momento do aprendizado.’
Os que são pais deparam-se
com essa situação a todo
momento. Eles precisam aproveitar o momento do aprendizado
porque talvez não haja outro.
Devemos nos preparar da melhor
forma possível e confiar em que o
Senhor nos conduzirá a algumas
oportunidades inesperadas em
determinadas aulas. Devemos
estar preparados para ir aonde
Ele nos quiser levar.”
Élder Jeffrey R. Holland
66
Orin, quem fez sua confirmação de
membro da Igreja nesse local?
Irmão Howell: Foi você, Élder
Holland.
Élder Holland: Tive o grande privilégio de, no verão de 1996, confirmar
Orin Howell membro da Igreja em
Tuzla, Bósnia, em meio à guerra, onde
de certa forma lutávamos para sobreviver. Este maravilhoso jovem é hoje
sumo sacerdote, servindo fielmente
à Igreja aqui no vale de Salt Lake. É
um membro muito distinto em nossa
classe hoje. Obrigado, Orin, por essa
pequena biografia. Isso permite que
os membros da classe se conheçam
um pouco melhor.
Vou pedir ao irmão Howell que
desenvolva conosco o tema “Ensinar
pelo Espírito”. Abram na seção 50,
onde encontramos uma seqüência
de versículos que usamos regular e
insistentemente com os missionários.
Mas deveríamos usar da mesma forma
para todos nós. Irmão Howell, poderia ler para nós D&C 50:13?
Irmão Howell: “Portanto eu,
o Senhor, faço-vos esta pergunta:
Para quê fostes ordenados?”
Élder Holland: Somente para
mudar um pouco a ênfase e ampliar
o sentido aqui, vamos substituir a
palavra ordenado por chamado.
Ordenado é uma palavra usada na linguagem do sacerdócio, e vamos falar
do chamado generalizado de ensinar.
Então, “Portanto eu, o Senhor, façovos esta pergunta: Para quê fostes
[chamados]?”
Agora, irmão Howell, leia a resposta do Senhor no versículo 14.
Irmão Howell: “Para pregar meu
evangelho pelo Espírito, sim, o
Consolador que foi enviado para
ensinar a verdade”.
Élder Holland: Trata-se de uma
declaração escriturística para salientar
o que estamos tentando desenvolver
e já mencionamos aqui, ou seja, que o
verdadeiro professor é o Espírito. Eu
não sou o professor, e vocês não são
os professores. Todos nós devemos
O Élder Richard G. Scott disse aos professores de seminário e instituto que “o
uso do arbítrio por um aluno autoriza
o Espírito Santo a instruir. Isso ajuda o
aluno a reter sua mensagem.”
ser receptáculos do Espírito Santo e
da orientação do céu, pois Ele é o
professor. Devemos "pregar [o] evangelho que foi enviado para ensinar a
verdade.”
Agora, um aviso: E se tentássemos
ensinar de outra forma? O que aconteceria se tentássemos ensinar sem o
À ESQUERDA: FOTOGRAFIA: ROBERT CASEY, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
Espírito ou não déssemos atenção ou
não fôssemos receptivos a Ele? Como
o Senhor julga essa forma de ensinar?
Irmã McKee, gostaria de ler o
versículo 18?
Irmã Maritza McKee: “E se for de
alguma outra forma, não é de Deus.”
Élder Holland: Leia só mais uma
vez. Essa parte é tão importante!
Irmã McKee: “E se for de alguma
outra forma, não é de Deus.”
Irmã Beck: Isso então significa que,
se eu me sento para estudar meus
livros e manuais, faço um esboço,
faço um plano de aula, não posso
ensinar o que preparei? Eu me preparei, mas tenho que estar pronta para
deixar de lado o que preparei e ser
guiada pelo Espírito?
Élder Holland: Alguém gostaria de
comentar algo sobre essa pergunta,
antes que eu dê a minha resposta? É
uma boa pergunta.
Élder Dahlquist: Não é que o
Espírito sussurre quando você está
lá na frente e não está usando suas
anotações. Acho que o Espírito pode
sussurrar coisas a partir da preparação que você fez e enquanto alinhava
as idéias. É como nas conferências
gerais. As conferências gerais tocam
nossa vida de maneira espetacular,
mas os oradores se preparam muito.
Élder Holland: Muito bem, há mais
algum comentário sobre isso? Que
parte cabe ao professor, e que parte
cabe ao Espírito?
Irmã Beck: Eu me preparei. Fiz um
esboço. Então, se alguém da minha
classe tiver tido uma semana difícil,
isso pode mudar toda a dinâmica da
aula. Ajude-me a entender como eu
faço para identificar o momento em
que ocorre a mistura da minha preparação com a orientação espiritual,
para dizer o que vem ao meu coração,
numa determinada hora, ou usar uma
escritura diferente?
Élder Holland: Essa é uma excelente pergunta, e todo professor terá
essa dúvida.
Élder Kerr: Eu acho que a chave
para isso — além dessa preparação e
dessa coletânea de informações — é
não ficar presos ao esboço, mas deixar que ele seja apenas o pano de
fundo e ficar abertos à inspiração.
Élder Holland: Não seria justo
chegar à sala de aula e dizer “Eu
não me preparei, mas o Espírito vai
nos guiar.” Por outro lado, o outro
extremo seria ficar tão preso ao que
foi preparado, a ponto de não conseguir perceber a inspiração que recebemos no decorrer da aula.
Acho que a irmã Beck está nos conduzindo a uma combinação dessas
duas coisas. Nós nos preparamos, mas
ficamos abertos mas devemos ficar
abertos ao Espírito e ter liberdade de
nos mover precisamente para onde
devemos ir, naquela hora determinada, no momento dessa inspiração.
Élder Snow: Precisamos entender
que cada membro dessa classe, ao ir
para casa, pode ter captado a inspiração do Espírito de uma maneira ligeiramente diferente durante a aula,
e por isso é tão importante que o
Espírito esteja presente. Mas quantos
de nós já não ouvimos o professor
dizer, no meio de um debate maravilhoso: “A discussão está muito boa,
mas eu preciso terminar a aula”.
Élder Holland: Sim, todos já ouvimos isso.
Élder Snow: E, às vezes, perdemos
oportunidades ao fazer isso.
Élder Holland: É verdade. Essa é
uma realidade com a qual temos que
aprender a lidar, e nós mesmos temos
de ser sensíveis à inspiração para agir
certo naquele momento e não desperdiçar a oportunidade.
“Presenciei um
exemplo maravilhoso enquanto
ensinava ao lado de
dois missionários.
Eles estavam ministrando a quinta palestra. O missionário que era alemão detinha o
idioma, pois já estava na missão
há vários meses. O outro tinha acabado de chegar, e essa era a primeira vez que participava do
ensino da quinta palestra.
Fiquei observando. O primeiro
estava confiante, era um bom missionário. Ensinava com segurança.
O outro precisava confiar no plano
de aula do companheiro. Mas
enquanto eu estava ali sentado e
observava aqueles dois jovens, o
Espírito desceu sobre ambos. O
mesmo ocorre com professores que
se encontram em diferentes níveis
de didática: o Espírito pode sussurrar seja qual for o nosso nível, se
fizermos a nossa parte. Foi uma
experiência maravilhosa.”
Irmão Charles W. Dahlquist II
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 67
Irmã Hughes: Sempre achei essa
questão muito interessante e meio
confusa para mim. Como saberemos,
ou como um professor saberá que
está ensinando com o Espírito? Eu
não sei. Não tenho certeza, quando
vou dar uma aula, de estar sempre
segura quanto a isso.
Élder Holland: Alguém tem uma
resposta para isso? Como o professor
pode ter a certeza de que está ensinando pelo Espírito? Que evidências
devemos buscar para comprovar isso,
ou simplesmente devemos aceitar
tudo com base na fé e na esperança
de que essas coisas acontecem de
fato, apesar de nem sempre estarmos
seguros quanto a isso?
Élder Jensen: Eu me faço a mesma
pergunta. E me pergunto se a resposta não estaria, pelo menos para
mim, em D&C 50:21–22:
“Então como é que não podeis
compreender e saber que aquele que
recebe a palavra pelo Espírito da verdade recebe-a como é pregada pelo
Espírito da verdade?
Portanto aquele que prega e
aquele que recebe se compreendem
um ao outro e ambos são edificados e
juntos se regozijam.”
Élder Holland: Talvez um pouco de
alegria, Kathy. Talvez, se em seu coração você sentir um pouco de alegria,
isso seja um indício.
Élder Jensen: Será que o professor
deve ficar lá na frente, como orador,
passando informações sem pedir a
participação dos outros? Tenho uma
pequena citação que carrego junto
às minhas escrituras e que está relacionada a esse versículo, e acho que
gosto mais dela agora que estamos
68
falando sobre o assunto. O Élder
Scott disse, em uma reunião de treinamento do SEI: “Assegure-se de que
haja muita participação dos alunos,
porque o uso do arbítrio por um
aluno autoriza o Espírito Santo a instruir. Isso ajuda o aluno a reter sua
mensagem. Quando o aluno verbaliza
verdades, estas são confirmadas em
sua alma e fortalecem seu testemunho pessoal” (Richard G. Scott, To
Understand and Live Truth [Para
Entender e Viver a Verdade], proferido aos professores de religião do
SEI em 4 de fevereiro de 2005, p. 3).
Élder Holland: Maravilhoso. Isso
me faz lembrar de um pensamento
do Élder Marion G. Romney, que disse
certa vez: “Sempre sei quando falo
sob a influência do Espírito Santo,
porque sempre aprendo algo que eu
não sabia.” Ele é o professor e, de
repente, está dizendo ou pensando
coisas que não tinha pensando antes,
ou, se pensou, elas vêm com muito
mais força e clareza à mente. Essa
pode ser uma outra indicação de que
estamos ensinando pelo Espírito.
Em muitos casos, não saberemos.
Faremos tudo o que pudermos, mas
esperamos que centenas de coisas
estejam acontecendo no coração
das pessoas, ou venham a acontecer,
devido a esta ou outras experiências
na Igreja, mas talvez jamais saibamos.
Talvez faça parte do chamado
divino de um professor ser um instrumento, ir em frente e confiar no
fato de estarmos sendo o mais espirituais e dedicados que podemos ser.
Então, o milagre da revelação pessoal
prosseguirá continuamente. Essa
idéia me agrada muito, com relação
“Creio que podemos
afirmar com segurança que não seremos bem-sucedidos
se, ao final de 40
minutos, um aluno
sair pela porta e dizer: ‘Puxa,
não foi legal?’ Se a aula termina
quando o aluno caminha para
fora da sala, creio que falhamos
no mais importante significado do
ensino, o significado contínuo do
ensino. Nossa instrução precisa ser
tão provocativa, tão doce espiritualmente, tão nova e interessante,
que os alunos digam para si mesmos: ‘Isso me tocou tanto que vou
pensar sobre isso esta tarde e amanhã, e nas próximas semanas e no
próximo mês.’ Nesse sentido, nossa
aula assumirá vida própria,
trazendo novas reflexões.
Existe um perigo real nos desempenhos na sala de aula que parecem tão bem preparados ou tão
fascinantes, que as pessoas sentemse entretidas durante 45 minutos,
e dizem: ‘Nossa, mal posso esperar
para voltar na próxima semana e
repetir a dose’ e não têm nenhum
outro pensamento durante a
semana, ou no mês, a respeito da
substância da doutrina que lhes
foi ensinada”.
Élder Jeffrey R. Holland
ao ensino em si, e ao fato de ser
professor.
A Responsabilidade pelo
Aprendizado
Item 4: “Ajudar o aluno a assumir a
responsabilidade pelo aprendizado.”
À DIREITA: FOTOGRAFIA: MATTHEW REIER, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS
O que vocês fazem quando têm
uma classe pouco entusiasmada,
onde nada acontece — e alguém
parece falar por linguagem corporal:
“Duvido que você consiga me ensinar.
Vou me afundar nesta cadeira, sentar
de cabeça baixa, olhando para os
meus pés. Quando eu olhar para
você, vai ser com o rosto carrancudo”.
Talvez nem sempre seja tão ruim, mas
já tive classes assim. Provavelmente
todos nós já estivemos em situações
em que parece que as pessoas não
vieram preparadas para aprender.
Como podemos ajudar essas pessoas?
Irmã Beck: Às vezes procuro elaborar minhas perguntas, mas isso parece
ser o que já dissemos: quanto mais
perguntas conseguimos que os alunos
façam sobre algo, mais eles se envolverão com o aprendizado.
Isso me faz lembrar de Joseph
Smith, quando ele leu uma passagem
nas escrituras em Tiago e vieram-lhe
perguntas à mente, e ele disse: “Como
vou saber? Será que algum dia vou
saber? Se eu não tentar descobrir,
nunca saberei.” Quando ele falou com
Deus, sua atitude era de aprendizado.
Mas, para mim, isso é um desafio para
o professor — não só em relação às
perguntas que eu faço aos alunos,
mas ao que está acontecendo e que
os ajuda a fazer perguntas para que
o Espírito Santo os ensine.
Élder Holland: Um dos livros de
que mais gosto na Igreja foi escrito por
um profissional, meu amigo de longa
data da BYU, Dennis Rasmussen, intitulado A Pergunta do Senhor. É um
exemplo de como o Senhor sempre
ensina com uma pergunta. Desde o
início, com Adão, o Senhor perguntou:
“Onde estás?” (Gênesis 3:9). Ele sabe
exatamente onde Adão está. Ele quer
saber se Adão sabe onde Adão está.
É por isso que Ele faz a pergunta.
“Adão, onde estás?” E assim por diante.
“Não sabeis que me convém tratar dos
negócios de meu Pai?” (Lucas 2:49) A
vida inteira do Salvador foi edificada
com ensinamentos, fazendo perguntas. Muitas revelações — não sei quantas, porque não contei — mas, muitas,
muitas revelações contidas em
Doutrina e Convênios vieram em resposta a uma pergunta que o Profeta ou
os Irmãos fizeram ao Senhor.
Irmã Matsumori: Tenho me debatido um pouco com esse tópico em
relação às crianças, voltando ao que
o Presidente Packer disse, que ele
queria aprender. Mas para ser franca,
acho que se trata de um conceito
avançado pensar que o aluno vai
assumir a responsabilidade pelo
aprendizado, especialmente em se tratando de crianças pequenas. Como
uma professora da Primária vai conseguir isso?
Élder Holland: Esse é um ponto
importante. O que vocês fariam se
tivessem que enfrentar algo assim
como professores? Vocês têm de dar a
sua aula. A propósito, esse é o item 4,
pois todos nós concordamos que se
trata de um conceito mais maduro,
mais avançado. Mas é um conceito
sobre o qual provavelmente ainda não
falamos o suficiente. Portanto, vamos
falar a respeito da questão levantada
pela irmã Matsumori. Uma criança,
um aluno de seminário, um professor
de 14–15 anos, ou uma Menina-Moça,
às vezes, não está muito interessada,
ou age como se não estivesse.
Provavelmente esteja um pouco
Quanto mais perguntas conseguimos que os alunos façam sobre algo, mais eles se
envolverão com o aprendizado.
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 69
70
conseguirmos fazer com que seja
compreendida uma idéia, um princípio, algo puro e significativo, como
aquilo que o irmão Wada ainda sentiu
na semana seguinte, já valeu a pena a
experiência na sala de aula. Com toda
a certeza. Não duvidem disso.
Élder Kerr: Acho que o que ela acabou de dizer me abriu os olhos. O
que pode haver de mais emocionante, no ambiente da sala de aula,
além do fato de as crianças ou os
adultos estarem fazendo perguntas?
Élder Holland: Alguém quer
responder?
Élder Kerr: Eles estão refletindo.
Élder Holland: Como vocês agiriam numa situação em que o aluno
ainda não está participando, e está
tudo por sua conta?
Élder Bruce Miller: Será que devemos ir em frente com a aula, ou devemos parar e fazer algo que convide
o Espírito, mesmo já tendo cantado
um hino, feito uma oração e dado um
pensamento? Se o Espírito ainda não
estiver lá, em vez de prosseguir com
a aula, devemos parar e dizer: “Está
bem. Como conseguir a presença do
Espírito aqui?”
Élder Holland: Alguém quer responder a essa pergunta?
Élder Snow: Acho que é um processo de longo prazo. Não acontece
na primeira aula. Acho que às vezes
você tem que dar o melhor de si,
então haverá um momento em que
acaba acontecendo, em que o Espírito
vai estar lá e todos contribuíram com
sua participação na aula. Então, você
pára e diz: “Vocês estão vendo o
que está acontecendo agora? Estão
notando a diferença?”
Élder Jeffrey R. Holland
Élder Holland: Agora há pouco, a
irmã Hughes disse: “Como saber que
o Espírito está presente?” De certa
forma, é isso o que o irmão Miller
quer saber — com uma classe apática
como essa, como eu sei como estou
me saindo? No fundo, talvez a questão
para você e para os alunos seja saber
como você se sente. Você sente que
o Senhor está com você, que Ele o
ama, que você está fazendo o melhor
que pode, que o Senhor ama os alunos? Se pelo menos tivermos bons
sentimentos pelo evangelho, se nos
amarmos uns aos outros, acho que já
é um bom começo. E se esses alunos
se mostram desinteressados, talvez
não seja a hora de ensiná-los, mas
você pode mostrar seu amor por eles.
E se você os amar hoje, talvez possa
ensiná-los amanhã.
Acho que isso está totalmente
dentro do nosso alcance. Nada disso
depende deles. Podemos amá-los
incondicionalmente, e acontecerão
milagres, o tipo de milagres sobre os
quais estamos falando.
Se eu, o professor, quiser que
vocês, os alunos, façam perguntas,
À DIREITA: O SENHOR JESUS CRISTO, DE DEL PARSON; FOTOGRAFIA: MATTHEW REIER, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS; TACIMA, À DIREITA: FOTOGRAFIA: BRY COX
interessada, mas não quer que você
saiba, e age como se não estivesse.
Como lidamos com isso? O que
fariam para ajudá-las?
Irmão Wada: Às vezes, o aprendizado não ocorre propriamente dentro
da sala de aula. Às vezes, acontece
fora. Quando eu estava conhecendo
a Igreja, os missionários me ensinavam algo e, uma semana depois, pensava sobre o que eles me ensinaram,
e dizia: “Isso é o que é!” Então, não
devemos supor que o aprendizado
exato de alguma coisa tenha de acontecer naquele dado momento.
Élder Holland: Boa observação.
Tenho certeza de que isso foi obra
do Espírito do Senhor, agindo sobre
você depois de uma semana, ou pelo
tempo que se fez necessário.
Esse é o caso clássico de um pesquisador na Igreja. Queremos que o
Espírito aja sobre ele durante horas e
dias, depois que os missionários saem
de sua casa, até que eles voltem para
a próxima palestra.
Irmã Naomi Wada: Às vezes, as
crianças têm tantas, tantas perguntas,
e eu preparei tantos exemplos, experiências ou auxílios visuais e acabo
não utilizando todos. Às vezes ocupome respondendo às perguntas. Se
isso acontecer, tudo bem? Tento simplificar a aula e, se eu me concentrar
num único tópico e conseguir ensinálo, pelo menos as crianças vão se
sentir bem.
Élder Holland: Bom. Você conseguiu expressar melhor o que eu disse
no início. Não tentem fazer demais.
Com uma criança da Primária, —
bom, talvez com qualquer criança,
até com qualquer um de nós — se
“Tenha paciência e,
acima de tudo, não
perca o Espírito.
Não podemos, em
hipótese alguma,
sentir-nos ofendidos, irados ou decepcionados por
ter-nos esforçado tanto em nossa
aula e os alunos não nos terem
acompanhado. Nós simplesmente
devemos ser pacientes e amá-los.
Há muito mais acontecendo em seu
coração do que podemos supor.”
devo primeiro incentivar um pouco,
como tentamos fazer aqui hoje. Posso
fazer uma pergunta que depois terá
vida própria e, então, tudo o que precisarei fazer é dirigir o debate para
conseguir a participação dos alunos.
Permitem-me fazer uma pausa para
um comentário editorial? Um professor pode saber que o irmão Merrill
falou sobre um determinado assunto
numa conferência e dizer: “Ótimo,
vou à biblioteca de materiais de recursos, pegarei esse vídeo e vou mostrar
o Élder Merrill falando sobre esse
assunto.”
Se fizerem isso, ótimo. Devemos
fazê-lo de tempos em tempos. Mas
os auxílios visuais são apenas isso:
auxílios. Eles não substituem a aula.
Devem ser usados como o tempero
que você coloca na comida, algo para
dar sabor, para acentuar, dar um
toque, enriquecer. Um mapa, uma
gravura, ou videoclipe ou uma palaMeu pedido a todos vocês é de que
não usem auxílios visuais demais. Usem
esses auxílios quando forem necessários.
vra-chave, escrita na lousa, pode significar a diferença entre uma boa aula e
uma aula ótima. Mas ninguém quer
comer um prato feito só de temperos,
não é? Por isso, meu pedido a todos
vocês é de que não usem auxílios
visuais demais. Eles não substituem o
professor, não substituem o material
do curso, tampouco substituem o
Espírito do Senhor. Usem esses auxílios quando forem necessários.
Irmã Wada: Às vezes, pode haver
uma criança que é muito, muito
bagunceira na classe da Primária,
então tento imaginar aquela criança
vestida de branco e sendo um espírito de Deus. A idéia principal é que
somos todos filhos de Deus, e aquela
inteligência, mesmo sendo pequena
em formato, veio aqui para esta Terra
para aprender algo, e há uma razão
para que ela esteja aqui. Ajuda muito
pensar dessa forma.
Élder Holland: Obrigado, muito
obrigado. Esse comentário foi muito
especial.
Irmão Howell: O que estou percebendo é que, às vezes, o professor é
“Eu freqüentava o
seminário diário
e sentia que meu
professor realmente assumira a
responsabilidade
de nos ensinar. Ele presumia que
captávamos a mensagem que nos
enviava. Às vezes, chegávamos
ainda vestidos de pijamas; em
outras, trazíamos travesseiros
e cobertores; em outras, ainda,
as garotas pintavam as unhas
enquanto o ouviam, mas fomos
abençoados com um professor de
seminário que presumia que estávamos ouvindo o que ele dizia.
Não participávamos muito com
a fala, mas não havia um dia de
seminário sequer em que eu não
prestasse atenção e ouvisse com
os ouvidos — e com o coração —
ao que ele nos dizia.
Creio que, como professores,
se fizermos todo o necessário, se
fizermos a nossa parte e o Espírito
estiver presente, podemos presumir que os alunos estarão assumindo a responsabilidade de
ouvir.”
Irmã Tamu Smith
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 71
o aluno e o aluno é o professor.
Élder Holland: Quase sempre o
professor sai ganhando mais que a
classe. Essa é uma das alegrias do
ensino.
Testificar
Vamos encerrar. Número 5, uma
palavra: “Testificar”.
Gostaria de terminar da maneira
que todo o professor deve encerrar
sua aula, na Igreja e em casa, ou seja,
prestando testemunho.
Faz anos que gosto da história que
o Presidente Packer contou sobre o
professor que William E. Berrett teve
na escola dominical quando era
menino. Chamaram um senhor idoso,
dinamarquês, para ser o professor da
classe de meninos desordeiros. Ele
não parecia muito adequado para o
cargo. Não sabia inglês muito bem e
tinha um sotaque dinamarquês muito
forte, era muito mais velho e tinha
mãos de agricultor. Para todos os efeitos, não parecia ter sido uma escolha
muito boa. Mas o irmão William E.
Berrett costumava dizer — e esta é a
parte que o irmão Presidente Packer
cita — que esse homem, de algum
modo conseguiu ensiná-los: que apesar de todas as barreiras e todas as
limitações, esse homem tocou o coração daqueles jovens bagunceiros de
15 anos e mudou a vida deles. E o testemunho do irmão Berrett era este:
“Nós podíamos aquecer as mãos no
calor de sua fé.”
Todo aluno merece pelo menos
isso. Talvez nossa aula não seja a mais
elaborada; podemos não ser extraordinariamente hábeis com auxílios
audiovisuais (embora possamos usar
72
qualquer um que saibamos usar).
Mas podemos compartilhar com cada
aluno o calor de nossa fé, e as mãos
deles se aquecerão nesse calor.
Tenho ficado profundamente desapontado, com o passar dos anos, com
aulas maravilhosas, dadas por professores leais e talentosos que, de
alguma forma, no final da aula dizem:
“Bom, bateu o sinal. Irmão Jones,
pode fazer a última oração?” E
encerra a aula. Nem fecharam os
livros. Nenhum contato olho a olho,
nem por um minuto. O professor não
parou para ver o efeito da aula. Onde
estamos? E para onde vamos? O que
o Senhor quer que façamos? Em
alguns casos — talvez esteja sendo
injusto e exagerando um pouco, mas
é para salientar algo — nem mesmo
é feita uma única referência ao que se
espera que a aula signifique para o
aluno, ou para o professor. Saio da
sala pensando: “Como será que ele se
sentiu? O que será que ela pensou a
esse respeito, ou o que a aula deveria
ter significado para mim?” Tanto trabalho para estudar uma doutrina, ou
um princípio, conseguir um mapa, algum videoclipe para os alunos, mas
nenhuma palavra de testemunho pessoal sobre o que aquela doutrina ou
princípio significa para o professor,
aquele que deveria nos guiar, nos
conduzir e caminhar ao nosso lado.
Como o Presidente Reuben Clark
Jr. disse uma vez: “Jamais tornemos
nossa fé difícil de se perceber.” Posso
repetir? “Jamais tornemos nossa fé
difícil de se perceber.” Nunca
semeiem a dúvida. Evitem dar vazão
à vaidade e ao orgulho. Não tentem
impressionar todo mundo com o seu
brilhantismo. Impressionem os alunos, mostrando quão brilhante é o
evangelho. Não se preocupem com
o local onde estão as tribos perdidas
ou os Três Nefitas. Preocupe-se um
pouco mais com onde está o seu
aluno, o que se passa no coração
dele, na sua alma, com a fome e, às
vezes, com a quase desesperadora
necessidade espiritual do nosso
povo. Ensinem-nos. Acima de tudo,
prestem testemunho a eles. Amem
seus alunos. Prestem testemunho
do mais profundo da alma. Será a
coisa mais importante que dirão a
eles durante a aula toda, e isso pode
salvar a vida espiritual de alguém.
Diga que você “[fala] com a energia de [sua] alma” (Alma 5:43). Adoro
essa frase. Quero testificar com a
energia de minha alma. Se nos sentirmos inclinados, poderíamos perguntar à congregação o que Alma
perguntou, isto é, “Não supondes
que eu próprio saiba dessas coisas?”
Ele continua: “Eis que vos testifico
que sei que estas coisas de que falei
são verdadeiras (...). Digo-vos que sei
por mim mesmo que tudo quanto
vos [disse] (...) é verdadeiro” (Alma
5:45, 48).
Eu sei que Deus vive e que Ele
nos ama. Sei que Jesus é o Cristo,
o Filho do Deus vivo, o Salvador e
Redentor do mundo. Sei que esta é
a Sua Igreja, e sei que o ensino é
muito importante.
Por isso, sei que os céus nos ajudarão se ensinarmos como foi descrito aqui. E isso não é tudo; é
apenas o começo. Bem-vindos à
busca pelo dom de ensinar. Mas, se
procurarmos esse dom e orarmos
por ele, se pedirmos, se buscarmos
e batermos espiritualmente, se ensinarmos usando as escrituras, se
ensinarmos pelo Espírito e com o
Espírito, se ajudarmos o aluno a
assumir a responsabilidade pelo
aprendizado e se testificarmos sobre
as verdades que ensinamos, Deus
confirmará em nosso coração e no
coração dos alunos a mensagem do
evangelho de Jesus Cristo.
Irmãos e irmãs, quer estejam próximos ou distantes, ao alcance da mão
ou em algum ponto do globo terrestre, o evangelho de Jesus Cristo significa tudo para mim. Significa tudo
para mim. É minha vida inteira. É
minha esperança e minha segurança,
e minha busca pela salvação. É tudo o
que eu desejo para meus filhos e para
os filhos deles.
E eu sei que o que sinto pelo evangelho é por causa de vocês, pois pessoas como vocês ensinaram pessoas
como eu. Em algum lugar, nas
pequenas classes da Primária, nas primeiras noites familiares, no quórum
dos diáconos, na missão, e em todos
os outros lugares, alguém como
vocês ensinou alguém como eu. E eu
ainda não sou tudo o que quero ser.
Não sou tudo o que eu devo ser, mas
seja o que for que eu serei, sempre
deverei isso a bons professores,
começando por meus amados pais
e todas as boas pessoas que tocaram
minha vida ao longo do caminho,
incluindo os conselhos e quóruns
extraordinários dos quais faço parte,
onde posso ser ensinado pela
Primeira Presidência, pelo Quórum
dos Doze e outras Autoridades
Gerais, e por maravilhosos líderes
das auxiliares como todos vocês.
Presto um testemunho de amor.
Eu sei que Deus nos ama. Sei disso,
em parte por amar vocês e por amar
a experiência didática. Oro para que
ensinemos ainda melhor. Em nome
de Jesus Cristo. Amém. ■
O Dom de Ensinar
1. Pedir, buscar, e bater
espiritualmente.
2. Ensinar usando as escrituras.
3. Ensinar por meio do Espírito
e com o Espírito.
4. Ajudar os alunos a assumir
a responsabilidade por aprender.
5. Testificar.
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 73
P R E S I D E N T E T H O M A S S. M O N S O N
Primeiro Conselheiro na Primeira Presidência
Cada um Tem Sua História
O
uvimos alguns dos melhores
professores da Igreja, que
nos deram maravilhosas
explicações sobre muitos
elementos e princípios do bom
ensino.
Conforme mencionado, todos
somos de certa forma professores
e temos o dever de ensinar com o
máximo de nossa capacidade.
Gostaria de compartilhar com
vocês alguns exemplos de pessoas
que conheci e que tocaram minha
vida e me ensinaram lições importantes e inesquecíveis.
74
Estive pensando em uma de nossas
Autoridades Gerais eméritas, o Élder
Marion D. Hanks, que foi um excelente professor no seminário, instituto e na Igreja, de modo geral. Ele
utilizava muitos métodos de ensino
diferentes.
Em certa ocasião, o Élder Hanks
visitou uma missão e entrevistou
todos os missionários que trabalhavam nessa determinada área. Eu
estava cumprindo uma designação
em uma área adjacente e fui para o
aeroporto de carro com o Élder
Hanks e o presidente da missão.
O Élder Hanks disse ao presidente
da missão que tinha sido um privilégio entrevistar cada um dos missionários. Disse que se sentira inspirado a
perguntar a uma missionária: “Conteme a respeito de sua missão e de
como se sente por ter sido chamada
como missionária”.
Ela contou que seu humilde
pai, que era agricultor, com toda a
boa vontade, tinha se sacrificado
muito para o Senhor e Seu reino.
Ele já estava sustentando dois
filhos na missão quando, certo dia,
chamou-a para conversar sobre o
Ao ler as experiências contidas no discurso do Presidente Monson, quais os
sentimentos que lhe ocorrem a respeito
de aprender e ensinar? Que experiências
você já teve como aluno, ou como professor, similares aos exemplos desses
relatos?
De que maneira cada experiência relatada
pelo Presidente Monson ilustra as qualidades do modo de ensinar do Salvador? Ore
e pondere sobre o que você pode fazer
para seguir o exemplo deixado por Ele.
FOTOGRAFIA: BUSATH PHOTOGRAPHY; DETALHE DE CRISTO E O JOVEM RICO, DE HEINRICH HOFMANN, CORTESIA DA C. HARRISON CONROY CO.
Exemplos
de Grandes
Professores
não-declarado desejo dela de servir
como missionária, e explicou-lhe
como o Senhor o havia preparado
para ajudá-la.
Ele tinha ido ao campo para conversar com o Senhor e dizer que não
tinha mais posses materiais para vender, sacrificar ou usar como garantia
para um empréstimo. Precisava saber
como poderia ajudar a filha a ser missionária. Sentiu-se inspirado, então, a
plantar cebolas, mas achou que tinha
entendido mal. Era improvável que
as cebolas crescessem bem naquele
clima, não havia outros plantando
cebolas, e ele não tinha experiência
em cultivá-las.
Depois de argumentar com o
Senhor por algum tempo, sentiu-se
novamente inspirado a plantar cebolas. Então, fez um empréstimo bancário, comprou sementes, plantou,
cuidou da plantação e orou.
Os elementos foram amenos,
e a plantação de cebolas prosperou.
Ele vendeu a colheita, pagou a dívida
com o banco, com o governo
e com o Senhor e colocou o
de nossa professora para a mão necessitada de um pai aflito.
restante numa conta no nome da
filha — o suficiente para sustentá-la
durante a missão dela.
O Élder Hanks disse ao presidente da missão: “Nunca me esquecerei daquela história, nem daquele
momento, nem das lágrimas nos
olhos dela, nem do som de sua
voz ou do sentimento que tive
quando ela disse: ‘Irmão Hanks,
não tenho como não acreditar
em um Pai Celestial amoroso que
conhece minhas necessidades e
que me ajudará de acordo com Sua
sabedoria, se eu for suficientemente
humilde’.”
O Élder Hanks estava ensinando
uma lição muito importante: cada
criança em cada sala de aula, cada
moça ou rapaz, cada aluno do seminário ou instituto, cada adulto da
classe de Doutrina do Evangelho,
cada missionário — sim, cada um
de nós — tem uma história a ser
contada. Ouvir é um elemento essencial tanto no ensino quanto no
aprendizado.
76
“Mais Bem-Aventurada Coisa É Dar
do que Receber”
Quando eu era menino, tive a
experiência pessoal de sentir a
influência de uma professora muito
eficaz e inspirada, que nos ouvia e nos
amava. Seu nome era Lucy Gertsch.
Em nossa classe da Escola Dominical,
ela nos ensinou a respeito da criação
do mundo, da queda de Adão e do
sacrifício expiatório de Jesus. Trouxe
para a nossa sala de aula, como convidados de honra: Moisés, Josué, Pedro,
Tomé, Paulo e, claro, Cristo. Embora
não os víssemos, aprendemos a amálos, honrá-los e imitá-los.
Nunca seu ensino foi tão dinâmico
nem teve maior influência eterna do
que o de certa manhã de domingo,
quando ela tristemente anunciou o
falecimento da mãe de um colega de
classe. Havíamos sentido a falta do
Billy naquela manhã, mas não sabíamos o motivo de sua ausência.
A lição abordava o tema: “Mais
bem-aventurada coisa é dar do que
receber” (Atos 20:35). No meio da
aula, a professora fechou o manual e
abriu-nos os olhos, ouvidos e coração
para a glória de Deus. Ela perguntou:
“Quanto temos em dinheiro no nosso
fundo para festas da turma?”
Estávamos na época da Grande
Depressão, e nossa resposta orgulhosa foi: “Quatro dólares e setenta
e cinco centavos”.
Então, sempre muito gentil, ela
sugeriu: “A família do Billy está passando por momentos difíceis e dolorosos. O que vocês acham de
visitarmos a família nesta manhã e
doarmos para eles o nosso fundo?”
Sempre me lembrarei daquele
pequeno grupo caminhando os três
quarteirões da cidade, entrando na
casa do Billy e cumprimentando-o,
bem como o seu irmão, as irmãs e o
pai. A ausência da mãe era muito visível. Sempre me serão preciosas as
lágrimas que brilharam nos olhos de
todos quando o envelope contendo
nosso precioso fundo para festas passou da mão delicada de nossa professora para a mão necessitada de um
pai aflito.
Voltamos para a capela quase
pulando de alegria. Sentimos o
FOTOGRAFIA: CHRISTINA SMITH
O envelope contendo nosso precioso fundo para festas passou da mão delicada
coração mais leve do que nunca;
nossa alegria era mais plena, e nossa
compreensão, mais profunda. Uma
professora inspirada por Deus havia
ensinado a seus alunos uma lição
eterna de verdade divina. “Mais
bem-aventurada coisa é dar do
que receber.”
Bem poderíamos parafrasear as
palavras dos discípulos no caminho
de Emaús: “Porventura não ardia em
nós o nosso coração quando (...) [ela]
nos abria as escrituras?” (Lucas 24:32)
Lucy Gertsch conhecia cada um de
seus alunos. Nunca deixava de ligar
para os que faltavam no domingo ou
que simplesmente não apareciam.
Sabíamos que ela se importava
conosco. Nenhum de nós jamais se
esqueceu dela nem das lições que
ensinou.
Muitos, muitos anos depois,
quando Lucy estava quase no fim da
vida, fui visitá-la. Lembramos aqueles
dias, tão distantes no passado, em
que ela havia sido nossa professora.
Falamos de cada membro de nossa
classe e então conversamos sobre o
que cada um estava fazendo. Seu amor
e carinho abrangiam uma vida inteira.
As Regras de Fé
Outra professora inspirada em
minha vida foi Erma Bollwinkel, membro da junta da Primária de nossa
estaca. Ela salientava constantemente a
importância de aprendermos as Regras
de Fé. Na verdade, não podíamos nos
formar na Primária enquanto não recitássemos diante dela todas as Regras
de Fé — um desafio para aqueles
meninos travessos, mas perseveramos
e conseguimos. Por toda a vida, como
resultado disso, sempre fui capaz de
recitar as Regras de Fé.
Durante muitos anos, como membro do Quórum dos Doze Apóstolos,
tive a responsabilidade de cuidar da
Alemanha Oriental, também conhecida como República Democrática
Alemã. Nesse encargo, meu conhecimento das Regras de Fé foi muito útil.
Em cada visita, ao longo dos 20 anos
em que supervisionei aquela área,
sempre lembrei a nossos membros
daquela área a décima segunda Regra
de Fé: “Cremos na submissão a reis,
presidentes, governantes e magistrados; na obediência, honra e manutenção da lei”.
Nossas reuniões atrás da assim chamada Cortina de Ferro sempre eram
monitoradas pelo governo comunista
local. No início da década de 1980,
quando procurávamos obter a aprovação dos líderes do governo para
construir um templo ali e, mais tarde,
quando pedimos permissão para que
os rapazes e moças da área servissem
em missões no mundo inteiro e para
que outros fossem ao país deles para
servir em uma missão, eles ouviram
e disseram: “Élder Monson, temos
observado vocês por vinte anos, e
vimos que podemos confiar em vocês
e em sua Igreja porque sabemos que
vocês ensinam seus membros a obedecerem às leis de nosso país”.
Quero contar outro exemplo
da importância de se aprender as
Regras de Fé. Há quarenta e cinco
anos, trabalhei com um homem
chamado Sharman Hummel numa
gráfica em Salt Lake City. Certa vez,
dei-lhe carona do trabalho para casa
e perguntei como obtivera seu
testemunho do evangelho.
Ele respondeu: “É interessante,
Tom, que você me tenha feito essa
pergunta, porque nesta mesma
semana, minha mulher, meus filhos
e eu iremos ao Templo de Manti para
ser selados para toda a eternidade”.
Ele continuou seu relato, dizendo:
“Morávamos no leste dos Estados
Unidos. Eu estava viajando de ônibus
para San Francisco para abrir uma
nova gráfica e depois mandar chamar
minha mulher e meus filhos. A viagem
de ônibus desde a Cidade de Nova
York até Salt Lake City transcorreu
sem incidentes. Mas em Salt Lake City,
uma garotinha entrou no ônibus —
uma menina da Primária — e sentouse a meu lado. Ela estava indo para
Reno, Nevada, visitar a tia. Enquanto
seguíamos para o oeste, vi um cartaz:
‘Visite a Escola Dominical mórmon
nesta semana’.
Eu disse para a menina: ‘Acho que
há muitos mórmons em Utah, não é?’
Ela respondeu: ‘Sim, senhor’.
Então perguntei: ‘Você é mórmon?’
Ela respondeu: ‘Sim, senhor’.”
Sharman Hummell então perguntou: “No que os mórmons acreditam?” E aquela menina recitou a
primeira Regra de Fé, e falou a respeito dela. Continuando, ela recitou a
segunda Regra de Fé e comentou a
respeito dela. Depois, disse a terceira, e a quarta, e a quinta, e a sexta,
e todas as Regras de Fé, e falou a respeito delas. Sabia todas de cor na
seqüência exata.
Sharman Hummel disse: “Quando
chegamos a Reno e deixamos aquela
menina com a tia, eu estava profundamente impressionado”.
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 77
Ele disse: “Durante todo o caminho
até San Francisco, pensei: ‘O que será
que faz aquela menininha conhecer
sua doutrina tão bem?’ Quando chegamos a San Francisco, a primeira coisa
que fiz, disse Sharman, foi procurar
nas páginas amarelas A Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias.
Liguei para o presidente da missão, e
ele enviou dois missionários para o
lugar em que eu estava hospedado.
Tornei-me membro da Igreja, e minha
mulher também, e todos os nossos
filhos se tornaram membros, em parte
por causa de uma menina da Primária
que sabia as Regras de Fé”.
Penso nas palavras do Apóstolo
Paulo: “Porque não me envergonho do
evangelho de Cristo, pois é o poder de
Deus para salvação” (Romanos 1:16).
Há apenas três meses, a família
Hummell veio para Salt Lake City para
o casamento da filha, Marianne. Eles
vieram ao meu escritório, e tivemos
uma maravilhosa conversa. Todas as 6
filhas tinham vindo, juntamente com
4 genros e 12 netos. Toda a família
permaneceu ativa na Igreja. Cada uma
das filhas freqüentava o templo. São
incontáveis os que foram levados ao
conhecimento do evangelho pelos
membros daquela família — tudo isso
por causa de uma criança pequena
que aprendeu as Regras de Fé e teve a
capacidade e a coragem de proclamar
a verdade para alguém que estava
procurando a luz do evangelho.
“Estai Sempre Preparados”
Adoro as palavras do Senhor
que se encontram na seção 88 de
Doutrina e Convênios: “E dou-vos um
mandamento de que vos ensineis a
78
doutrina do reino uns aos outros.
Ensinai diligentemente e minha graça
acompanhar-vos-á” (D&C 88:77–78).
Há muitos anos, quando viajava
de avião para uma incumbência no
sul da Califórnia, uma bela moça sentou-se na poltrona ao meu lado. Ela
começou a ler um livro. Por curiosidade, dei uma olhada no título: Uma
Obra Maravilhosa e um Assombro.
Eu lhe disse: Você deve ser
mórmon”.
Ela respondeu: “Oh, não. Por que
pergunta?”
Respondi: “Bem, você está lendo
um livro escrito por um membro
muito importante de A Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias”.
Ela disse: “É verdade? Uma amiga
me deu o livro, mas não sei muito
a respeito dele. Mas ele despertou
minha curiosidade”.
Então, pensei: “Será que devo
prosseguir e dizer mais a respeito
da Igreja?” E as palavras do Apóstolo
Pedro me vieram à mente: “Estai sempre preparados para responder (...)
a qualquer que vos pedir a razão da
esperança que há em vós” (I Pedro
3:15). Decidi que era o momento de
prestar meu testemunho.
Disse a ela que tivera o privilégio
de auxiliar o Élder Richards na publicação de Uma Obra Maravilhosa e
um Assombro. Contei-lhe algumas
coisas a respeito daquele grande
homem. Disse que muitos milhares
aceitaram a verdade depois de ler o
que ele havia escrito.
Então, tive o privilégio, durante
todo o caminho até Los Angeles, de
responder às perguntas que ela quis
fazer a respeito da Igreja: perguntas
inteligentes provenientes de um coração que buscava a verdade. Perguntei
se poderia tomar providências para
que duas missionárias a visitassem.
Perguntei se ela gostaria de assistir
às reuniões em nosso ramo em San
Francisco, onde ela morava. As respostas foram afirmativas.
Ao voltar para casa, escrevi para o
presidente Irven G. Derrick, da Estaca
San Francisco e passei essas informações para ele. Imaginem minha alegria,
alguns meses depois, quando recebi
um telefonema do presidente Derrick,
dizendo: “Élder Monson, estou ligando
a respeito de Yvonne Ramirez, uma
aeromoça que estava de licença, a
jovem que se sentou a seu lado num
vôo para Los Angeles, a moça para
quem você disse que não fora por
coincidência que você se sentara ao
lado dela, quando ela estava lendo
Uma Obra Maravilhosa e um
Assombro, naquele vôo. Irmão
Monson, ela acaba de se tornar o mais
novo membro de A Igreja de Jesus
Cristo dos Santos dos Últimos Dias. Ela
gostaria de falar com você e expressar
sua gratidão”. Evidentemente, fiquei
muitíssimo feliz. Adorei aquele
telefonema.
O Exemplo do Presidente McKay
Um exemplo de mestre no ensino
foi o Presidente David O. McKay, que
me chamou para ser membro do
Quórum dos Doze Apóstolos. Ele
ensinava com amor e sensibilidade.
Sua vida era a síntese do que ensinava.
Seu coração era bondoso, seu modo
de agir era muito afável. Ele era um
professor da verdade que seguia o
padrão do Salvador.
O jantar de domingo sempre me parecia um pouco melhor depois que eu voltava
daquela tarefa.
Observei essa característica muito
antes de me tornar Autoridade Geral,
quando entrei no escritório dele para
examinar algumas provas de impressão de um livro que estávamos publicando. Naquela ocasião, vi uma
pintura na parede e disse: “Presidente
McKay, que pintura linda. É a casa de
sua infância em Huntsville, Utah?”
Ele recostou-se na poltrona, deu
sua risadinha característica e disse:
“Deixe-me contar algo a respeito
dessa pintura. Uma bondosa mulher
veio visitar-me num dia de outono e
presenteou-me com essa bela pintura,
emoldurada e pronta para ser colocada na parede. Ela disse: ‘Presidente
McKay, passei boa parte do verão pintando este quadro de sua antiga
casa’.” Ele disse que aceitou o presente e agradeceu muito.
Em seguida, ele me disse: “Sabe,
irmão Monson”, prosseguiu ele,
“aquela querida irmã pintou a casa
errada. Ela pintou a casa do vizinho!
Não tive coragem de dizer a ela que
havia pintado a casa errada”.
Mas então, ele fez o seguinte
comentário, e eis uma lição vital para
todos nós. Ele disse: “Na verdade,
irmão Monson, ela pintou a casa
certa para mim, porque quando eu
era menino, costumava me deitar na
cama que ficava na varanda da frente
da minha antiga casa, e a vista que eu
tinha através da porta de tela era exatamente daquela casa que ela pintou.
Ela realmente pintou a casa certa
para mim!”
Lições sobre Servir ao Próximo
Algumas das melhores lições que
aprendemos na vida vêm de nossos
pais. Os meus me ensinaram lições
preciosas enquanto eu crescia.
Freqüentemente aquelas lições
tinham a ver com o serviço ao próximo. Tenho muitas lembranças
da minha infância. Aguardar ansiosamente o jantar de domingo é uma
delas. Quando nós, as crianças,saíamos finalmente do estágio de quase
morrer de fome e sentávamos, ansiosas, à mesa, com o aroma do rosbife
enchendo a sala, minha mãe me
dizia: “Tommy, antes de começarmos
a comer, leve este prato para o velho
Bob, no fim da rua, e volte correndo”.
Nunca entendi por que não podíamos comer primeiro e depois entregar o prato de comida para ele.
Nunca questionei em voz alta, mas
sempre ia correndo até a casa dele e
esperava ansioso, enquanto o idoso
Bob caminhava lentamente até a
porta. Então, eu lhe entregava o
prato de comida. Ele me devolvia o
prato do domingo anterior, imaculadamente limpo, e me oferecia 10 centavos pelo meu trabalho.
Minha resposta era sempre a
mesma: “Não posso aceitar o dinheiro.
Minha mãe me daria uma surra”.
Ele, então, passava a mão enrugada
em meus cabelos loiros e dizia: “Meu
menino, você tem uma mãe maravilhosa. Diga-lhe obrigado por mim”.
Lembro também que o jantar de
domingo sempre me parecia um
pouco melhor depois que eu voltava
daquela tarefa.
O pai da minha mãe, o vovô
Thomas Condie, também me ensinou
A L I A H O N A JUNHO DE 2007 79
minha vida e me ensinaram.
Repito que todos nós somos professores. Devemos lembrar-nos sempre de que ensinamos não apenas
com palavras, mas também pelo que
somos e pela vida que levamos.
O Exemplo Perfeito
uma grande lição que envolvia
aquele mesmo velho Bob, que
entrou em nossa vida de uma forma
interessante. Ele era viúvo e tinha
aproximadamente oitenta anos,
quando a casa que alugava precisou
ser demolida. Ouvi-o contar seu problema para meu avô quando nós
três estávamos sentados no velho
balanço da varanda do meu avô.
Com a voz entrecortada, ele disse a
meu avô: “Sr. Condie, não sei o que
fazer. Não tenho família. Não tenho
para onde ir. Tenho pouco dinheiro”.
Fiquei me perguntando o que o meu
avô responderia.
Continuamos a balançar. Então,
meu avô pôs a mão no bolso e tirou
dali a velha carteira de couro da
qual, em resposta a meus pedidos
incessantes, muitas vezes ele havia
tirado uma moeda ou mais para
que eu comprasse um doce especial.
Dessa vez ele tirou dali uma chave e
a entregou para o velho Bob.
Com carinho, ele disse: “Bob, aqui
está a chave da casa que eu tenho
aqui ao lado. Pegue-a. Mude suas coisas para lá. Fique o tempo que quiser. Não haverá aluguel, e ninguém
mais vai tirar você de sua casa”.
80
Os olhos do velho Bob se encheram de lágrimas, que correram pelo
rosto dele e desapareceram em sua
longa barba branca. Os olhos de
meu avô também estavam úmidos.
Eu não disse nada, mas naquele dia
meu avô me pareceu muito mais
alto. Tinha orgulho de ter recebido o
nome dele. Embora eu fosse só um
menino, aquela lição teve uma vigorosa influência em minha vida.
Essas são apenas algumas lições
que aprendi das pessoas que tocaram
FOTOGRAFIA: DETALHE DE O CRISTO
Meu avô pôs a mão no bolso e tirou dali uma chave e a entregou para o velho Bob.
Ao ensinar as pessoas, sigamos o
exemplo do mestre perfeito, nosso
Senhor e Salvador Jesus Cristo. Ele
deixou Suas pegadas nas areias da
praia, mas deixou Seus princípios
didáticos gravados no coração e na
vida de todos a quem Ele ensinou. Ele
instruiu os discípulos de Sua época —
e dirige a nós as mesmas palavras:
“Vinde após mim” (João 21:22).
Prossigamos no espírito da resposta obediente, para que seja dito
de cada um de nós o mesmo que foi
dito do Redentor: “És Mestre vindo
de Deus” (João 3:2). Que assim seja,
é minha oração, em nome de Jesus
Cristo. Amém. ■
PA R A A S C R I A N Ç A S • A I G R E J A D E J E S U S C R I S TO D O S S A N TO S D O S Ú LT I M O S D I A S • J U N H O D E 2 0 0 7
OAmigo
VINDE AO
PROFETA ESCUTAR
MAKA-FEKES
MORTAIS
P R E S I D E N T E T H O M A S S. M O N S O N
Constantemente encontramos diante de
nós o maka-feke da imoralidade e da pornografia. A seguir menciono o maka-feke das
á muitos anos, ao cumprir uma
drogas, incluindo nelas as bebidas alcoólicas.
designação nas lindas ilhas de
Existem inúmeros outros maka-fekes que
Tonga, tive o privilégio de visitar
o maligno coloca diante de nós para desviaruma escola da Igreja, a Escola Secundária
nos do caminho da retidão. Há maka-fekes
Liahona. Ao entrar em uma sala de aula,
ardilosamente disfarçados e posicionados
notei que as crianças davam bastante atenO Presidente Monson
com astúcia, incitando-nos a pegá-los e a
ção ao instrutor. Ele segurava nas mãos uma
nos adverte quanto
perder aquilo que mais desejamos. Não se
isca de pesca de aparência estranha, feita
às atraentes armadideixem enganar. Nosso Pai Celestial nos deu
com uma pedra redonda e grandes conchas.
lhas que podem
a capacidade de pensar e amar. Temos o
Descobri que em tonganês aquela armadilha
destruir-nos.
poder de resistir à tentação.
se chamava maka-feke, que significa “armaParem e orem. Escutem a voz mansa e
dilha para polvo”.
suave que fala às profundezas de nossa alma. Ao fazer
O professor explicou que os pescadores tonganeses
isso, afastamo-nos da destruição e da morte e encontradeslizam vagarosamente por um arrecife, remando suamos felicidade e vida eterna. ●
vemente a canoa com uma das mãos e balançando o
maka-feke do lado oposto, com a outra mão. O polvo
Extraído de um discurso da conferência geral de abril de 2006.
sai rapidamente de sua toca rochosa e tenta capturar a
isca, confundindo-a com uma preciosa refeição. O polvo
agarra-a com tamanha força e é tão determinado o seu
COISAS EM QUE PENSAR
instinto de não desistir da valiosa presa, que os pescado1. Por que o polvo agarra o maka-feke? Por que não o
res podem jogá-lo direto para dentro da canoa.
larga mais? Como isso se relaciona com nossas próprias
Foi fácil para o professor explicar aos jovens ansiosos
escolhas?
e de olhos arregalados que o maligno — o próprio
2. Como podemos reconhecer os maka-fekes de Satanás?
Satanás — confecciona o que se pode chamar de seus
3. Além dos maka-fekes da imoralidade, pornografia e
próprios maka-fekes, iscas com as quais atrai pessoas
drogas, quais são algumas outras coisas com que temos
incautas.
de tomar cuidado?
Hoje estamos circundados pelos maka-fekes com os
quais Satanás planeja nos seduzir e atrair. Uma vez agarrados, tais maka-fekes são difíceis demais — e algumas
vezes quase impossíveis — de serem largados.
Primeiro Conselheiro na Primeira Presidência
A2
FOTOGRAFIA: CHRISTINA SMITH; ILUSTRAÇÃO: CHRIS HAWKES
H
LEMBRAR
LEMBRAR
Nota: Se não quiser remover páginas da
revista, essa atividade pode ser copiada ou
impressa a partir do website www.lds.org.
Para inglês, clique em “Gospel Library”.
Para outros idiomas, clique no “Languages”.
A4
TEMPO DE
COMPARTILHAR
Lembrar
“Aquele que não nascer da água e do Espírito, não
Atividade
pode entrar no reino de Deus” (João 3:5).
Cole a página A4 em cartolina e recorte as gravuras.
Coloque-as com a face para baixo. Vire duas gravuras. Se
elas combinarem, coloque-as numa pilha e jogue novamente. Se não combinarem, coloque-as de volta e deixe a
pessoa seguinte virar duas gravuras. Tente lembrar-se de
onde está cada gravura. Continue jogando até que todas
as gravuras e a palavra lembrar tenham sido combinadas.
ELIZABETH RICKS
Qual é a palavra que você acha mais importante no dicionário? O Presidente Spencer W.
Kimball (1895–1985) disse que talvez a palavra mais importante seja lembrar. Disse que a maior
necessidade que temos é a de lembrar (ver “Circles
of Exaltation”, discurso para os educadores religiosos,
Universidade Brigham Young, 28 de junho de 1968,
p. 8).
O profeta Helamã do Livro de Mórmon sabia como
era importante lembrar. Ele rogou a seus filhos Néfi e
Leí que se lembrassem de guardar os mandamentos
de Deus. Pediu-lhes que se lembrassem dos grandes
homens cujos nomes eles haviam recebido. Pediu-lhes
que se lembrassem das palavras dos profetas. Acima
de tudo, pediu-lhes que se lembrassem de que Jesus
Cristo viria redimir o mundo. Helamã disse: “Meus
filhos, lembrai-vos, lembrai-vos de que é sobre a rocha
de nosso Redentor, que é Cristo, o Filho de Deus, que
deveis construir os vossos alicerces” (Helamã 5:12; ver
também vv. 5–9).
Néfi e Leí lembraram-se dos ensinamentos do pai.
Foram homens valentes que cumpriram os mandamentos de Deus durante toda a vida.
Vamos à reunião sacramental todos os domingos
para tomar o sacramento. É nesse momento que lembramos nossos convênios batismais. Quando o sacerdote abençoa o sacramento, nós o ouvimos dizer:
“Recordá-lo sempre e guardar os mandamentos”
(D&C 20:77; grifo da autora).
Sua fé crescerá quando fizerem seus convênios batismais. Depois de vocês terem sido batizados e confirmados, é preciso que guardem esses convênios durante
toda a vida. Sua fé continuará a crescer, se vocês se lembrarem de Jesus Cristo.
ILUSTRAÇÕES: DILLEEN MARSH
§
Idéias para o Tempo de Compartilhar
1. Escreva cada uma das palavras de João 3:5 em tiras de
papel e distribua os papéis para as crianças. Peça às crianças
que leiam as palavras em qualquer ordem, então pergunte
do que a escritura está falando. Explique-lhes que certas palavras-chave como água, Espírito e entrar podem ajudá-las.
Quando as crianças conseguirem acertar que a escritura
fala do batismo, dê-lhes a referência da escritura e ajude-as
a colocar as palavras na ordem certa. Repita a escritura
várias vezes em conjunto. Com uma semana de antecedência, convide várias crianças a fazer um breve relato do que
significa o nome delas ou por que os pais escolheram esse
nome. Depois dos relatos, pergunte às crianças o que significa
tomar sobre nós o nome de Cristo. Realize um debate sobre
tomar sobre si o nome de Cristo. Esteja preparado com exemplos, como o fato de que os missionários têm o nome de Jesus
Cristo em suas plaquetas porque são representantes Dele.
2. Separe a Primária em dois grupos. Peça ao primeiro
grupo que encontre uma escritura que diga quem é o terceiro membro da Trindade. Peça ao segundo grupo que
encontre uma escritura que diga qual é o quarto princípio e
ordenança do evangelho. Se precisarem de uma pista, lembreos de que as Regras de Fé fazem parte da Pérola de Grande
Valor. Revise a primeira e a quarta regra de fé. Diga às crianças que é difícil explicar exatamente como é sentir o Espírito.
Peça a uma criança mais velha que leia João 14:26. Diga às
crianças que prestem atenção em outro nome do Espírito
Santo (o Consolador). Indique maneiras pelas quais o Espírito
Santo é o Consolador. ●
O AMIGO JUNHO DE 2007
A5
DA VIDA DO PRESIDENTE SPENCER W. KIMBALL
O Poder do Exemplo
Quando decidiu servir em
uma missão, Spencer mudouse para uma fazenda de gado
leiteiro, durante o verão, para
trabalhar e juntar dinheiro.
O trabalho é
árduo. As mãos sangram.
Mas não me nego a fazer
meu trabalho!
Na fazenda, Spencer fez amizade com um missionário que retornara do campo. Em suas longas caminhadas pelos montes do Arizona, eles
conversavam sobre o trabalho missionário e
temas do evangelho.
Nem todos na cidade gostavam dos membros da Igreja.
Você
está bem?
Temos muito
pelo que agradecer.
Vamos nos ajoelhar e
agradecer ao
Senhor.
Aqui?
Você
pode orar em
qualquer lugar.
A6
ILUSTRAÇÕES: SAL VELLUTO E EUGENIO MATTOZZI
Dois trabalhadores
da fazenda me atacaram.
Que bom que você
me achou!
Mas Spencer e seus amigos tinham conquistado o respeito de muitos — inclusive de
seu patrão, que fumava charutos.
Quando Spencer partiu para a missão, seu
patrão deu uma festa. Todos os empregados
compareceram. Spencer deixou uma boa
impressão para todos.
Os mórmons me
parecem ser pessoas decentes.
Não admitimos criadores de
encrenca aqui.
Vocês
dois estão
despedidos.
Queremos
que fique com este
relógio de ouro.
Estou muito
emocionado por vocês
terem me dado um presente
tão valioso e útil.
Essas experiências prepararam
Spencer W. Kimball para ser um
bom missionário.
Adaptado de Edward L. Kimball e Andrew E. Kimball Jr., Spencer W. Kimball, 1977, pp. 68–71; Francis
M. Gibbons, Spencer W. Kimball: Resolute Disciple, Prophet of God, 1995, pp. 41–43; e Ensinamentos
dos Presidentes da Igreja: Spencer W. Kimball, 2006, p. xix.
O AMIGO JUNHO DE 2007
A7
Lembre-se de
JESUS CRISTO
DURANTE O SACRAMENTO
Nota: Se não quiser remover páginas da revista,
essa atividade pode ser copiada ou impressa a
partir do website www.lds.org. Para inglês, clique
em “Gospel Library”. Para outros idiomas, clique
no “Languages”.
LAUREL ROHLFING
H
á muitas maneiras pelas quais podemos lembrarnos reverentemente de Jesus Cristo, especialmente durante a distribuição do sacramento.
Podemos lembrar como Ele sofreu por nossos pecados
e como Ele morreu e ressuscitou. Podemos lembrar
Sua vida e ensinamentos. Podemos pensar em como
A8
tornar-nos semelhantes a Ele. Podemos lembrar coisas
que fizemos de errado e pedir perdão. E podemos lembrar as muitas bênçãos que Ele nos deu. Jesus disse: “Se
vos lembrardes sempre de mim, tereis o meu Espírito
convosco” (3 Néfi 18:11). O sacramento é uma grande
bênção em nossa vida.
PARA OS
AMIGUINHOS
Instruções
Cole os dois círculos em cartolina e recorte.
Coloque o círculo com o recorte em forma de cunha
em cima do outro círculo. Prenda os dois círculos
no centro com um colchete. Gire o círculo de cima
Jesus sofreu por
me
u
s
pe
c
a
d
o
s.
se Pai
eu
eo
guarde
u
e
e
qu
r
e
entos.
u
m
a
q
d
us s man
s
Je eu
S
Jes
us
.
im
uscitou para que
s ress
e
Jesu a viver novamente u
.
poss
À ESQUERDA: DETALHE DE CRISTO VISITA AS AMÉRICAS, DE JOHN SCOTT; À DIREITA, EM SENTIDO HORÁRIO: FOTOGRAFIAS: MATTHEW REIER, COM A UTILIZAÇÃO DE MODELOS;
A CRUCIFICAÇÃO, DE HARRY ANDERSON; ILUSTRAÇÃO: PAUL MANN; A RESSURREIÇÃO, DE HARRY ANDERSON
Jesu
sm
orr
eu
po
r
m
oarão
d
r
e
ep
m
al nder.
i
t
les repe
e
C ar
e
m
para poder ver cada gravura. Pense no que ela representa. Você também pode usar os círculos de gravuras
em um discurso da Primária ou em uma lição da reunião familiar. ●
O AMIGO JUNHO DE 2007
A9
DE UM AMIGO
PARA OUTRO
Bondade
Q
Extraído de uma
entrevista com o
Élder Won Yong Ko,
dos Setenta, que
atualmente está
servindo na Área
Ásia Norte; por
Melvin Leavitt,
Revistas da Igreja
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dos membros daquele ramo. Não quero
jamais ser uma pedra de tropeço para
alguém que esteja filiando-se à Igreja.
Depois de meu batismo, comecei a ajudar a limpar a capela e os jardins todos os
sábados. Ninguém me pediu que fizesse
isso. Fiz porque senti que era uma grande
honra. Quando fui ordenado diácono,
aprendi que uma de minhas responsabilidades era limpar a capela. Continuei fazendo
FOTOGRAFIA: CORTESIA DA FAMÍLIA KO; ILUSTRAÇÃO: BRITTA PETERSON
“A Bondade Por Mim Começará” (Músicas
para Crianças, p. 83).
uando eu era aluno do curso
médio, com 16 anos, em Seul,
Coréia, um colega santo dos últimos dias me convidou para uma atividade
do ramo. Fiquei impressionado por tantas
pessoas me cumprimentarem como se eu
fosse um velho amigo. Pensei: “Que igreja
maravilhosa deve ser esta para ter membros tão bondosos!”
Voltei no domingo e novamente fui
cumprimentado calorosamente. Também
fui apresentado aos missionários e logo
eles começaram a me ensinar o evangelho.
Dois meses depois, fui batizado e confirmado. Ainda não tinha uma profunda compreensão do evangelho, mas senti-me bem
a respeito dos princípios que havia aprendido. Gostei particularmente do plano
de salvação e da doutrina do progresso
eterno. Senti-me reconfortado por saber
que se eu fizesse tudo o que pudesse por
mim mesmo, o Salvador faria o restante.
Mas foi realmente o carinho dos membros
que me levou à conversão.
Desde essa época, tenho procurado ser
bondoso para com todos que conheço.
Quero passar adiante a bondade que recebi
isso, e ainda era um prazer. Mas de certo modo tinha
sido mais recompensador quando ninguém esperava
isso de mim.
Portanto, crianças, cumpram sempre seus deveres.
Mas não hesitem em fazer mais do que lhes pedem.
Vocês terão grande alegria nesse tipo de serviço.
Embora eu não tenha freqüentado a Primária
quando criança, aprendi que grande bênção ela é
quando tive meus próprios filhos. Certa vez, nossa
família mudou-se para uma casa nova no centro de
Seul. Depois de mudar-nos, descobrimos que havia
alguns locais de entretenimento muito ruins na vizinhança. Minha esposa e eu ficamos preocupados,
sem saber como isso poderia afetar nossos filhos.
Certo dia, ouvimos nossa filha e seu irmão caçula
conversando no banco traseiro do carro. “Quando
você for para a escola, pode ser que alguns amigos
perguntem por que você está morando numa vizinhança tão ruim”, disse nossa filha. “Mas não se
preocupe. Na Primária aprendemos a viver o evangelho de Jesus Cristo. Enquanto estivermos seguindo
os ensinamentos de Jesus, estaremos seguros.”
Meu filho respondeu: “Sim, não importa onde moramos, se escolhermos fazer o que é certo”.
Eles estavam conversando entre si, e não conosco.
Enquanto ouvia, senti imensa gratidão pelas maravilhosas professoras da Primária que eles tinham. Minha
filha e meu filho cresceram e se tornaram fiéis santos
dos últimos dias.. Portanto, aproveitem bem a
Primária, e façam as coisas que suas professoras ensinam. Vocês serão pessoas melhores e estarão mais
seguros se
fizerem isso. ●
O A M I G O JUNHO DE 2007 A11
“É pela fé que os milagres são realizados” (Morôni 7:37).
Escape Milagroso do
PERIGO
M Y R A H AW K E DYC K
E
ra uma tarde ensolarada de primavera, uma
semana depois de meu aniversário de oito anos:
um dia perfeito para um passeio de bicicleta.
Minha irmã Marla, nossa amiga Lisa e eu fomos até uma
pequena estrada que fazia parte da fazenda de gado da
minha família, na Colúmbia Britânica, Canadá. O cume
das montanhas brilhava refletindo o sol em seus picos
cobertos de neve. Meu peito encheu-se de entusiasmo
enquanto eu pedalava.
Fazia apenas duas semanas que eu tinha aprendido
a andar de bicicleta, por isso ainda estava um pouco
insegura. A primeira parte da estrada era de terra,
aplainada pela passagem periódica de tratores e carroções de feno. À medida que a estrada se estendia por
verdes campos de alfafa, começamos a pedalar mais
depressa. Senti-me forte e livre, cortando a brisa fresca
das montanhas.
Surgiu, então, uma bifurcação na estrada. Poderíamos
continuar em frente acompanhando o campo, ou fazer
a curva e pegar a estrada que acompanhava o riacho,
junto ao sopé da montanha. Decidimos seguir pelo
caminho mais arriscado.
Marla e eu já tínhamos passado por aquela estrada
muitas vezes com a nossa família, mas essa era a primeira vez que eu andava de bicicleta por ali. Fiquei um
pouco nervosa quando minha bicicleta sacudiu ao atravessar um mata-burro, que era uma ponte de tábuas
espaçadas sobre uma vala para evitar a passagem do
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gado. Pedalei forte para acompanhar Marla e Lisa. A luz
do sol atravessava os majestosos pinheiros, criando um
padrão alegre e brilhante de sombras e luz no caminho
esburacado.
À medida que a estrada foi se enchendo de pedras,
fui ficando cada vez mais nervosa. Estava com dificuldade para equilibrar-me. Fiquei com medo de que as
pedras furassem os pneus da bicicleta.
“Acho melhor voltarmos”, disse eu.
“Por quê?” perguntou Marla. “Está com medo?”
Nunca admitiria para minha irmã mais velha que eu
estava com medo. “Não. Só não quero acabar com um
pneu furado.”
“Bem, pode voltar, se quiser, mas nós vamos em
frente”, disse ela.
“Até logo”, disse eu, ao virar minha bicicleta para
o outro lado.
“Encontraremos você em casa”, disse Marla.
“Provavelmente não iremos muito longe.”
Comecei a voltar para casa, sozinha. Os padrões na
estrada já não pareciam tão alegres, então. De repente,
percebi alguns barulhos estranhos vindos da floresta
escura. Mas sabendo que o conforto de casa estava
perto, continuei pedalando. Estava quase chegando ao
mata-burro quando senti que havia alguém atrás de
mim. “Marla e Lisa devem ter decidido voltar para casa
também”, imaginei com alívio. “Agora não terei que
voltar para casa sozinha.” Passei a perna por cima da
ILUSTRAÇÕES: NATALIE MALAN
Inspirado numa história verídica
O AMIGO JUNHO DE 2007
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bicicleta, parei e virei-me para ver onde elas estavam.
Não vi Marla e Lisa em lugar algum, mas bem na minha
direção vinha se aproximando um urso preto!
Fiquei paralisada. Minha bicicleta caiu no chão,
fazendo barulho. Todos os conselhos que eu já tinha
ouvido a respeito de ursos me
passaram rapidamente pela
mente. Não corra, senão ele
vai persegui-la. Você nunca
conseguirá correr mais que um urso. Comecei a caminhar lentamente para trás.
Faça barulho para assustar o urso. Grite ou bata
uma pedra na outra. Olhei em volta no chão a meus
pés. Não havia pedra alguma, só terra. Bati palmas o
mais forte que pude. Mas não consegui gritar. Senti
um aperto na garganta. O urso continuou andando
na minha direção.
Ore. Durante toda a minha vida, eu havia sido
ensinada a orar. Minha professora da Escola Dominical
tinha até perguntado o que faríamos se víssemos um
urso, e ela enfatizou a oração. Eu tinha sido ensinada a
orar com a cabeça baixa e os olhos fechados, mas isso
seria impossível naquele momento. Mantive os olhos
fitos no urso e orei em silêncio: “Pai Celestial, por favor,
me ajude! Por favor, salve-me desse urso! Por favor,
ajude-me a saber o que fazer”.
Orando e batendo palmas, caminhei lentamente para
trás até o mata-burro. Se uma vaca não conseguia cruzálo, talvez um urso também tivesse dificuldade. Podia ser
que ele tropeçasse, dando-me a chance de correr para
casa! Pisei cuidadosamente nas madeiras bem espaçadas.
O urso rosnou e babou. Fiquei observando o animal
seguir-me com facilidade e cruzar o mata-burro. Então,
ele ergueu-se nas patas traseiras. Fiquei ali parada, horrorizada, enquanto o urso vinha rosnando na minha direção, com as patas estendidas. Parou na minha frente,
bem mais alto que eu, e vi seus dentes afiados e úmidos.
De repente, o urso tentou acertar minha cabeça! Gritei,
quando suas grandes garras curvas se prenderam no
meu cabelo e me jogaram no chão. Levantei-me de um
salto. O urso, que voltara a ficar de quatro, mordeu a
parte interna da minha coxa e me puxou para baixo.
Começou, então, a me arrastar pela estrada.
Nessa altura, Marla e Lisa haviam me encontrado.
Marla tentou distrair o urso, mas de nada adiantou.
Em alguns segundos, o urso me arrastou pela estrada
de terra até o sopé da montanha. Sem dúvida teria me
puxado para dentro dos arbustos cerrados, mas de
repente, minha calça rasgou ao meio, de lado a lado,
até na cintura de elástico. Por milagre, os dentes do
urso não me feriram a pele. Ergui-me de um salto.
“Corra!” disse uma voz, em minha mente.
Corri na direção de Marla e Lisa, deixando o urso
com minha calça na boca. Sem calça e só com um
sapato no pé, corri mais rápido que uma atleta olímpica. Passei na frente de Marla e Lisa, que também estavam correndo. Entramos pelos arbustos e corremos
até o riacho. As sarças espinhosas arranharam-me as
pernas, mas não diminuí a velocidade.
Sem parar para olhar para trás, atravessei uma cerca
de arame farpado e pulei para dentro do riacho. Perdi o
outro sapato, que ficou preso sob uma tora. Quase em
casa, corri pelo riacho e atravessei correndo o curral das
“Como resultado dos muitos milagres
ocorridos em nossa vida, devemos
ser mais humildes, mais gratos, mais
bondosos e mais crentes.”
Presidente Howard W. Hunter
(1907–1995), “The God That Doest
Wonders”, Ensign, maio de 1989, p. 17.
vacas. Espremi o corpo por uma cerca, subi correndo
os degraus da varanda e entrei pela porta da frente.
Meus pais me bombardearam com perguntas
quando me viram sem os sapatos e a calça, coberta
de arranhões.
“O que aconteceu?” exclamou minha mãe.
“Onde está a sua calça?” perguntou meu pai. “Como
foi que você ficou com todos esses arranhões?”
Ainda morrendo de medo, não consegui recuperar
o fôlego. Gaguejando, engasgando e chorando, finalmente consegui dizer: “Eu... ah... um... um... urso!”
Marla e Lisa chegaram correndo à varanda, e Marla
contou à minha mãe e ao meu pai o que ela tinha visto.
Eles tentaram me acalmar. Minha mãe ajudou-me a
tomar um banho quente.
Mais tarde, naquela noite, limpa e salva, conversamos sobre aquele acontecimento terrível. As palmas
das minhas mãos estavam azuis de tantos hematomas
por tê-las batido tão forte, e minhas pernas estavam
cobertas de arranhões causados pelos arbustos, mas eu
não tinha nenhuma marca do urso. As garras dele passaram raspando por minha cabeça e seus dentes agarraram minha perna, mas sem machucarem a pele. Se as
garras do urso tivessem passado um pouco mais perto
da minha cabeça, ou se os dentes dele tivessem mordido minha coxa, eu poderia ter-me ferido gravemente
e não teria conseguido fugir correndo.
Sei que o Pai Celestial ouviu minhas orações
naquele dia, e sei que ouvi a voz do Espírito Santo
me dizendo para correr. O Pai Celestial me abençoou
com um milagre. ●
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PÁGINA PARA COLORIR
ILUSTRAÇÃO BASEADA EM JOÃO BATIZANDO JESUS, DE HARRY ANDERSON
Sigo Jesus Cristo com fé quando eu faço
e cumpro meu convênio batismal.
“Na verdade te digo que aquele que não
nascer da água e do Espírito, não pode entrar
no reino de Deus” (João 3:5).
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REPRODUÇÃO PROIBIDA
Ana, a Profetisa, de Elspeth Young
Ana, uma viúva e profetisa da tribo de Aser, tinha 84 anos na época do nascimento de Cristo,
Ela “não se afastava do templo, servindo a Deus em jejuns e orações, de noite e de dia” (Lucas 2:37).
Foi ela que saudou o menino Jesus em Sua apresentação no templo.
O
Novo Testamento fala de muitas mulheres que
conheceram e seguiram o Salvador, inclusive
Maria Madalena, a quem o Salvador primeiro
apareceu após Sua Ressurreição (acima), e também de
uma mulher (primeira capa) que “começou a regar-lhe os
pés com lágrimas, e enxugava-lhos com os cabelos da sua
cabeça”. A respeito dessa mulher, o Salvador disse: “Seus
muitos pecados lhe são perdoados, porque muito amou”
(Lucas 7:38, 47). Ver “Porque Muito Amou: Mulheres do
Novo Testamento”, p. 26.

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