CAATINGA Importante recurso forrageiro do Nordeste

Transcrição

CAATINGA Importante recurso forrageiro do Nordeste
UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
DEPARTAMENTO DE ZOOTECNIA
Sistemas de Produção Animal
para o Semi-Árido
Magno J osé Duarte Cândido
Prof. Dep. de Zootecnia/CCA/UFC
Fortaleza, 08 de julho de 201 3
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INTRODUÇÃO
Nordeste brasileiro:
Zonas:
Maranhão
Zona Úmida/
Subúmida
Ceará
Piauí
Litorânea
R. G. do Norte
Paraíba
Pernambuco
Agreste
Região Semi-árida:
Sertão
70% da área do Nordeste
Alagoas
Zona Semi-árida
Bahia
Sergipe
13% da área do Brasil
63% população nordestina
18% população brasileira
Minas Gerais
Sá et al. (2004)
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OBJETIVOS
Discorrer sobre os principais sistemas de produção
animal a serem utilizados no Semi-árido Brasileiro
POTENCIAL DE UTILIZAÇÃO DA ÁREA DO SEMI4
ÁRIDO BRASILEIRO
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QUESTÃO FUNDIÁRIA NO SEMI-ÁRIDO
Área do semi-árido ≈ de 900 mil km2;
18 milhões de habitantes com densidade demográfica de
20 hab/km2
Possui 1.570.511 estabelecimentos rurais, sendo
67,5% com área < 10 ha e 10 ha < 26,0% < 100 ha
Apenas 6,5% possuem área > 100 ha
(IBGE, 1996).
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Qual a área mínima para um sistema de produção ser
economicamente viável no semi-árido?
Não se pode estabelecer uma área mínima padrão;
Região não homogênea;
Diferentes tipos de fitofisionomias;
Diversidade espacial e temporal de paisagens;
Estabelecer uma área padrão seria muito arriscado;
Ex: Semi-árido cearense de modo geral ⇒ 104 ha
Áreas mais secas da região: 200 a 300 ha para manter, em
condições semi-extensivas, um rebanho caprino ou ovino de
corte de 300 matrizes
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DIVERSIDADE DO SEMI-ÁRIDO BRASILEIRO
Solos
Quimicamente adequados
Problemas só com
Baixo teor de P
Baixo teor de MO
Limitações físicas
Rasos
Pedregosos
Declivosos
Baixa capacidade de armazenamento de água
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO PARA O SEMI-ÁRIDO
Sistema silvipastoris:
utilização de culturas árboreas e herbáceas numa mesma área, com fins de
complementaridade, ecológica e/ou econômica
Benefícios da presença das árvores nos sistemas de produção do semi-árido:
Captação de água em maiores profundidades
Captação de nutrientes em maiores profundidades
Árvores leguminosas: fixação simbiótica de N e  absorção de P
Opção de forragem verde na época da seca
Propicia sombra para o rebanho na época da seca princ. (Ex.Juazeiro)
Funcionam como quebra-vento
Funcionaem como cerca-viva
Produção de lenha
Produção de estacas (Ex.: Sabiá)
Produção de frutos (Ex.: cajá)
Produção de sementes e mudas para comercialização
Fontes de néctar e pólen
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO PARA O SEMI-ÁRIDO
Uso de forrageiras adaptadas p/ formar pastos ou enriquecimento
Gramíneas:
Búffel
Urocloa
Gramão
Andropógon
Leguminosas:
Leucena
Cunhã
Guandú
Obs.: melhor na forma de banco de proteína
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ESPÉCIES FORRAGEIRAS ESTRATÉGICAS P/ O SEMI-ÁRIDO
Palma forrageira
Melancia forrageira
Mandioca
Maniçoba
Pornunça
Leucena
Gliricídia
Erva-sal
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO PARA O SEMI-ÁRIDO
FRUTIOVINOCULTURA
Vantagens:
 eficiência no uso da terra
 diversificação da renda
 custo de produção da fruteira
 estacionalidade no fluxo de recursos dentro do sistema
 ou eliminação do custo com controle de plantas herbáceas
 médio e longo prazo no custo com adubação química
 danos ambientais devido ao uso de herbicidas ou à compactação
por máquinas
 incidência pragas e doenças ( material depositado sobre o solo)
 custos com poda da “saia”, devido ao ramoneio dos ovinos
Exemplos:
Coqueiro e cajueiro no Ceará
Mangueira em Petrolina-PE
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO PARA O SEMI-ÁRIDO
FRUTIOVINOCULTURA
Desvantagens:
Danos às fruteiras jovens
 competição por água e nutrientes do solo entre fruteira e pasto
Risco de compactação do solo se a taxa de lotação for excessiva
Objetivo principal: redução de custos na produção das fruteiras.
Não impede a busca de índices mais elevados de produtividade, caso seja
economicamente viável, por meio de:
cultivo de pastos melhorados
suplementação alimentar
Sistema Caatinga-Búffel-Leguminosa (CBL)
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Recria e engorda de bovinos azebuados;
Caatinga: período de dois a quatro meses;
Seca: 8 a 10 meses alimentados com capim-buffel + leguminosa sob lotação
rotativa.
Até meados do período seco: leguminosa sob a forma de feno e/ou silagem.
Área necessária (Petrolina, EMBRAPA-Semi-árido): 120 ha
caatinga = 40,0 ha; capim-búffel = 72,8 ha e leucena = 7,2 ha
Rebanho mínimo de 64 cabeças  chegar a 80 cabeças
CBL  Bovinos e caprinos
Época das águas: bovinos e caprinos  mantidos na caatinga
Época seca: bovinos  removidos para o buffel + suplementação protéica
(feno das águas ou banco de proteína)
caprinos  mantidos na caatinga
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO ANIMAL NO SEMI-ÁRIDO
Sistema CBL (Caatinga-Búffel-Leguminosa)
67%
3%
Leucena
30%
Pasto de capim-búffel
Caatinga
Figura - Vista aérea da área experimental do CBL, EMBRAPA-SEMI-ÁRIDO
(GUIMARÃES FILHO et al.,1995)
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO ANIMAL NO SEMI-ÁRIDO
Sistema CBL (Caatinga-Búffel-Leguminosa)
Índices médios de produtividade em rebanhos azebuados em três
sistemas de produção no Semi-árido
Indicadores
CN +
nativa (CN)
búffel
CBL #
45
60
M atrizes (%)
6
1,5
Bezerros (%)
18
2,5
Peso vivo ao nascer (kg)
23
27
Peso vivo ao desmame (kg)
90
150
Taxa de lotação (ha/UA)
12
1,9
1,8
Desempenho animal (g/cab*dia)
164
320
493
Rendimento animal (kg/ha*ano)
7
75
Taxa de parição (%)
Taxa de mortalidade
#
Caatinga
+ 31% =
2/3 da área total ocupada com capim búffel + leucena (10% da área de búffel)
Fonte: Adaptado de GUIMARÃES FILHO et al. (1995) e GUIMARÃES FILHO e SOARES (1997).
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Sistema de produção fundo de pasto
Características:
Utilização de áreas comunitárias para produção de caprinos e
ovinos;
Modo de ocupação centenária;
Semi-árido baiano;
Conjunto de terras comunais;
Cria-se de forma extensiva e estas terras
comunidade ou terras devolutas;

patrimônio da
Lotes individuais com partes cercadas destinadas
agricultura de subsistência (milho, feijão e mandioca);
à
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21
Figura - Organização do espaço de um Fundo de Pasto. Fonte: http://www.scielo.br/pdf
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Sistema de produção agrossilvipastoril
Desenvolvido na EMBRAPA Caprinos;
Objetivos - fixação da agricultura; adequação do manejo
pastoril; racionalização da extração madeireira e forte
integração destas três atividades;
Para a implantação do SAF Sobral, divide-se a área em três
parcelas: 20% para as atividades agrícolas, 60% para as
atividades pastoris e 20% como reserva florestal.
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Sistema de produção agrossilvipastoril
Preparo da área agrícola: período seco (verão): raleamento, mantendo 200
Árvores/ha. A madeira útil é comercializada e garranchos “enleirados” em
cordões de 0,5 m de largura, distanciados de 3,0 m e perpendiculares ao
declive do terreno.
Chuvas: plantio de milho, sorgo, mandioca, mamona... nas faixas entre os
cordões, e de cada lado destes é estabelecida uma leguminosa forrageira
perene (leucena, gliricídia), para fertilização do solo (adubação verde) e
alimentação dos animais (feno) e, no período seco, banco de proteína.
Área de pecuária: raleamento mantendo 400 árvores/ha. Madeira útil é
comercializada e os garranchos picotados no local. Quando os animais
em produção forem caprinos: rebaixamento
As matrizes: suplementadas com feno de leguminosa (300 g) e rolão de
milho ou panícula de sorgo (300 g). A desmama: 70 dias de idade. O esterco
recolhido no estábulo é aplicado na área agrícola.
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24
Sistema de produção agrossilvipastoril
A parcela de reserva florestal é utilizada sob manejo
silvipastoril para mantença do rebanho, por um período
de 30 dias no início e no fim da época das chuvas.
Nesta área também poderá ser instalado um apiário.
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25
Sistema integrado de produção de leite – Glória
Município de Nossa Senhora da Glória (semi-árido sergipano)
Combina pastagens de capim buffel + leucena + gliricídia +
palma forrageira e outros recursos forrageiros + conservação
destas forragens; área ≈ 24,4 ha;
Subsistemas
Agricultura de sequeiro, constituída dos consórcios de
milho x feijão em cultivo intercalar;
Produção animal, baseado em pastagens cultivadas.
Vantagens do sistema
 produtividade das vacas;
 substancial na aquisição de insumos e produção de
leite a baixo custo.
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Subsistemas
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Agricultura de sequeiro - 11,75 ha cultivando sorgo, algodão e
mamona;
Agricultura com irrigação de salvação - 1,50 ha para cultivo de
milho e feijão;
Produção florestal - 4,13 ha  sabiá, leucena e algaroba;
Pecuária - baseada na exploração da caatinga subdividida nas
espécies bovinos, caprinos e animais de trabalho;
Outras áreas - palma consorciada com algaroba (1,25 ha) e
leucena (5,30 ha) destinadas à suplementação apenas do
rebanho bovino.
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SISTEMA DE PRODUÇÃO SIPRO27
Área: 133,6 ha;
Potencial forrageiro da caatinga quando racionalmente
utilizada;
Crescente oferta de restolhos culturais oriundos dos
projetos de irrigação.
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO ANIMAL NO SEMI-ÁRIDO
Sistema SIPRO - manejo alimentar das diferentes categorias de
caprinos
M
E
S
E
S
J
F
M
A
M
J
J
A
S
O
N
D
Reprodut.
Matr. par.
per. verde
Matr. par.
per. seco
Borregos desm.
p/ venda
Marrãs desm.
p/ reposição
C
A
A
T
I
N
G
A
C
A
A
T
BÚFFEL
I
N
G
A
C
A
A
T
I
N
G
A
C
A
A
T
I
N
G
A
C
A
A
T
I
N
G
A
P
D
D
BÚFFEL
P
A
L
H
A
D
A
S
P
A
L
H
A
D
A
S
P
P
ABÚFFEL
L
SH
OR
AG
O
DG
AR
Ã
SO
Fonte: Adaptado de GUIMARÃES FILHO e VIVALLO (1989).
P
A
L
H
A
D
A
S
$$$
P
A
L
H
A
D
A
S
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO PARA O SEMI-ÁRIDO
Sistema complementar I: criação no pasto natural e terminação em
confinamento
Concepção:
Maximização do uso da Caatinga na época chuvosa na fase de cria por todo o
rebanho
Suplementação do rebanho de matrizes na época da seca pastejando na
Caatinga, ou estabulação ou remoção para áreas de restos de culturas
Confinamento dos borregos para abate no meio da seca ⇒ maior preço de
venda.
Tempo de confinamento < 70 dias
Desempenho: > 200 g/ovino x dia
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SISTEMAS DE PRODUÇÃO PARA O SEMI-ÁRIDO
Sistema complementar II: criação no sequeiro e terminação em
área irrigada
Fase de cria: Senhor do Bonfim/BA
Matrizes: capim-búffel e capim-urocloa + palma e feno na seca
Cordeiros: aleitamento + creep-feeding
Terminação: Petrolina/PE
Pasto irrigado de capim-aruana e capim-tifton 85
Taxa de lotação: 60 ovinos/ha
Desempenho necessário > 100 g/ovino x d
Máximo de 120 dias/lote ⇒ engordar 3 lotes/ano, onde for possível
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POTENCIALIDADES: PASTOS CULTIVADOS IRRIGADOS
Desempenho e produtividade de ovinos pastejando
maximum cv. Tanzânia sob três períodos de descanso
Período de descanso
GMD
Novas folhas/perfilho g/animal x d
Taxa de lotação
(ovinos/ha)
(UA/ha)
Panicum
GMA
(kg PV/ha x ano)
1,5
123,0 B
69 B
7B
3123 A
2,5
93,6 A
74 B
8 AB
2646 AB
3,5
35,9 B
84 A
9A
1691 B
GMD: ganho médio diário;
GMA: ganho médido anual;
Médias na mesma coluna seguidas de letras distintas diferem estatisticamente (P<0,05, Tukey);
Fonte: adaptado de Silva (2004).
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POTENCIALIDADES: PASTOS CULTIVADOS IRRIGADOS
Receita gerada com a engorda de ovinos pastejando Panicum
maximum cv. Tanzânia sob três períodos de descanso
PD
folhas/perf
PI
PF PFJ D12
(kg)
(dias)
1,5
20,0 32,0 29,5
98
2,5
3,5
Lotes/ano
TL
Preço venda Receita
(ovinos/ha) (R$/kg PV) (R$/ha x ano)
3,7
69 B
2,80
37657,14
20,0 32,0 29,5 128
2,9
74 B
2,80
31653,57
20,0 32,0 29,5 334
1,1
84 A
2,80
13628,57
PI: peso vivo inicial;
PF: peso vivo final;
PFJ: peso vivo final após jejum de 14 h;
Fonte: simulação efetuada a partir de resultados obitdos por Silva (2004).
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POTENCIALIDADES: PASTOS CULTIVADOS IRRIGADOS
Ovinos pastejando Panicum maximum cv. Tanzânia sob período de
descanso de 1,5 (esquerda) e de 2,5 (direita) novas folhas/perfilho, ao
final do experimento (SILVA, 2004)
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POTENCIALIDADES: DIVERSIFICAÇÃO DA PRODUÇÃO
Criação de galinhas caipiras
Criação de suínos
Exploração comercial racional de animais silvestres
Produção de mel
Criação de peixes
Agricultura e/horticultura em áreas específicas
Exploração da vegetação com fins ornamentais e/ou medicinais
Exploração florestal: mourões, estacas, varas, lenha, carvão
Intensificação da produção em áreas irrigáveis
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POTENCIALIDADES: AGREGAÇÃO DE VALOR AOS
COPRODUTOS
Comercialização de embutidos
Utilização do pêlo para fazer cerdas de pincéis
Utilização dos chifres e unhas para fazer ornamentos
Utilização do couro para fazer mobílias e instrumentos musicais
POTENCIALIDADES: VALORIZAÇÃO DOS PRODUTOS
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REGIONAIS
Diferencial dos produtos regionais: incorporação de uma identidade
territorial e cultural ligada estreitamente ao ambiente geográfico
onde são produzidos
Obtenção da certificação de Indicação de Procedência (IP) ou de
Denominação de Origem (DO)
Produtos com potencial para obtenção do IP:
“manta de Tauá”
“cordeiro de Morada-Nova”
“cabrito do vale do São Francisco”/PE
“queijo de coalho do Agreste”
“cabrito de Uauá”
“queijo de leite de cabra do Cariri”
“queijo de coalho de Bodocó”
“carne-de-sol do Seridó”/RN
“mel da Serra da Capivara”/BA
“galinha caipira do semi-árido piauiense“
“doce de leite de Afrânio”/PE
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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Ainda se conhece muito pouco sobre o Semi-árido Brasileiro;
Do pouco que se conhece, sabe-se agora, ao contrário do
pensamento anterior, que a caatinga é um ecossistema muito
complexo, não podendo ser recomendada uma única
alternativa de manejo global;
É um ecossistema frágil e, por falta de conhecimento, tem
sido explorado erroneamente, acarretando sua degradação,
desertificação e êxodo;
O desenvolvimento do semi-árido também passa pelo
reordenamento da questão fundiária e da organização dos
produtores;
Alguma modalidade de sistema silvipastoril deverá ser
explorada, nas médias e grandes propriedades;
Os méritos da exploração do Semi-árido devem seguir
critérios econômicos, ecológicos, culturais e sociais;
Deve-se buscar a valorização dos produtos regionais,
produzidos no único ecossistema exclusivamente brasileiro.
Muito Obrigado!
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