Arqueologia Pública

Transcrição

Arqueologia Pública
Revista
Arqueologia Pública
Publicação Anual
no 1
2006
UNICAMP
NEE / ARQUEOLOGIA PÚBLICA
São Paulo, Brasil
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Editores
Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)
Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)
Comissão Editorial
Lourdes Dominguez (Oficina del Historiador, Havana, Cuba)
Andrés Zarankin (UFMG)
Gilson Rambelli (NEE/UNICAMP)
Nanci Vieira Oliveira (UERJ)
Ana Pinon (Universidad Complutense de Madrid, Espanha)
Pedro Paulo Abreu Funari (NEE/UNICAMP)
Erika Marion Robrahn-González (NEE/UNICAMP)
Charles Orser (Illinois State University, EUA)
Conselho Editorial
Gilson Martins (UFMS)
José Luiz de Morais (MAE/USP)
Peter Ucko (Institute of Archaeology, UCL)
Laurent Olivier (Université de Paris)
Sian Jones (University of Manchester)
Martin Hall (Cape Town University, South Africa)
Bernd Fahmel Bayer (Universidad Nacional Autónoma de México)
Projeto gráfico
José Luiz de Magalhães Castro Neto
2
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
EDITORIAL
Arqueologia Pública é um conceito de recente desenvolvimento, resultado das transformações no âmbito das sociedades e das ciências, nas últimas décadas. Desde o fim da Segunda
Guerra Mundial (1939-1945), as diversas sociedades passaram por transformações profundas,
em particular com a emergência social de grupos como as minorias étnicas e as mulheres. Os
movimentos pelos direitos civis e pela emancipação feminina intensificaram essas tendências e
foram seguidos por múltiplos outros, tais como a luta contra o belicismo, pela liberdade de
opção sexual, pela liberdade política e social, em diferentes países. A década de 1980 viria a
consolidar essas novas realidades, com o questionamento da homogeneidade social e com a
luta pelo respeito e valorização da diversidade ambiental e cultural.
As ciências não deixaram de ser afetadas. A neutralidade da ciência foi questionada, assim
como a objetividade, herdada do positivismo, da pesquisa científica. Os modelos normativos de
interpretação da sociedade foram postos em cheque e a distância da ciência em relação à
sociedade foi criticada. Como resultado, as ciências passaram a interagir, de forma programática
e consciente, com os grupos sociais, visando a políticas públicas. No campo da Arqueologia,
estas mudanças levaram à constituição do Congresso Mundial de Arqueologia, em 1986, e à
interação entre arqueólogos e indígenas e membros das comunidades em geral.
No Brasil, a expressão Arqueologia Pública, surgida em âmbito anglo-saxão, ainda é nova e
pode levar a confusão. De fato, público, em sua origem inglesa, significa “voltada para o público,
para o povo” e nada tem a ver, stricto sensu, com o sentido vernáculo de público como sinônimo
de “estatal”. Ao contrário, o aspecto público da Arqueologia refere-se à atuação com as pessoas,
sejam membros de comunidades indígenas, quilombolas ou locais, sejam estudantes ou professores do ensino fundamental ou médio. A ação do Estado dá-se, de maneira necessária, por
meio da legislação de proteção ambiental e cultural que leva empreendedores – empresas privadas ou públicas – a custearem estudos de impacto ambiental e cultural. Nem sempre tais estudos
visam à ação pública, no sentido mencionado acima, de interação com as pessoas. Do nosso
ponto de vista – e esta revista serve a este propósito – a ciência não deve alhear-se da sociedade,
sob o manto diáfano do empirismo. A Arqueologia Pública, entendida como ação com o povo,
para usarmos uma expressão de Paulo Freire, permite que tenhamos uma ciência aplicada em
benefício das comunidades e segmentos sociais. A nova publicação está aberta a todos.
Pedro Paulo A. Funari
Erika M. Robrahn-González
A publicação deste volume foi possível
graças ao apoio da Companhia de Cimento
Ribeirão Grande (CCRG) que vem realizando
um programa de pesquisa em arqueologia
publica do Programa de Ampliação da Mina
Limeira, município de Ribeirão Grande / SP.
Ficam aqui nossos agradecimentos especiais
ao engenheiro Luiz Carlos Busato, que prontamente acatou a idéia de tornar público os
resultados alcançados pelo trabalho.
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
4
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Sumário
Artigos
7
A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha):
o desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño
19
Arqueologia, publico e comodificação da herança cultural: o caso
da cultura Marajoara
Denise Pahl Schaan
31
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
49
O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem?
Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima
Gilberto da Silva Francisco
63
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de
São Paulo: ações em arqueologia pública ligadas ao Projeto de
Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
Resenhas
123
Envisioning the past. Archaeology and the image.
Ana Maria Mansilla Castaño
125
Appropiated pasts. Indigenous peoples and the colonial culture of
Archaeology.
Ana Maria Mansilla Castaño
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006, pgs. 7-18.
A DIVULGAÇÃO DO PATRIMÔNIO ARQUEOLÓGICO EM CASTILLA
Y LEÓN (ESPANHA):O DESAFIO DOS ESPAÇOS DIVULGATIVOS
Ana Maria Mansilla Castaño*
Resumo: O interesse pelo patrimônio e particularmente pela sua divulgação é um fenômeno global. Na Espanha isto acontece nas últimas décadas. Neste artigo se analisa o caso de uma Comunidade Autônoma, Castilla
y Leon, caracterizada pela riqueza e diversidade do seu patrimônio. O
principal objetivo deste texto é a dimensão discursiva dos diferentes espaços divulgativos, museus, sítios arqueológicos e centros de interpretação, visando a avaliação de suas características e inter-relações. Enfatiza
os pontos fracos e as alternativas teóricas e práticas.
Palavras chave: patrimônio arqueológico – divulgação – Espanha –
Castilla y León
Justificativa e contextualização da
pesquisa
Sob o ponto de vista disciplinar e social
é cada vez mais evidente o crescente
protagonismo da divulgação arqueológica
(Ballart 1997, Ballart e Juan 2001), o que se
vem concretizando no maior número de artigos dedicados ao tema nas revistas
especializadas, na presença em congressos
e cursos de todo tipo, e claro, no significativo número de projetos de pesquisa arqueológica que incluem, de uma forma ou outra,
um apartado específico sobre este tema,
embora não tenha atingido ainda esse
protagonismo na formação universitária. Mas
este contexto não tem vindo acompanhado
de uma pesquisa no mesmo nível. Isto é, na
Espanha em geral a divulgação se tem man-
(*) Escola Oficina de Restauro de Salvador
[email protected]
tido como um campo marcado pela ação mais
do que pela reflexão crítica.
Esta proposta centra-se numa Comunidade Autónoma, Castilla y León, especialmente atrativa por diversas razões: em primeiro lugar, por o significativo número de
sítios arqueológicos visitáveis, de caráter
marcante, alguns deles Patrimônio da Humanidade como Atapuerca (Burgos) ou Las
Médulas (León); em segundo lugar, pela ativa política de divulgação arqueológica que
se vem realizando nela e, em terceiro lugar,
por não ser nenhuma das comunidades históricas, como são Cataluña ou Galicia, cuja
dinâmica neste âmbito tem sido bastante diferente, com uma maior projeção e tradição, em alguns casos.
A Comunidade de Castilla y León pode
ser considerada paradigmática do papel que
tem o patrimônio na sociedade atual, pois
são coincidentes nela muitos dos problemas
e potencialidades que afetam o patrimônio
em sua relação como o turismo, a econo7
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
mia, as políticas, o mercado de trabalho, a
pesquisa e os pesquisadores. Apenas recentemente o patrimônio arqueológico começa
a mergulhar nesta densa rede de relações e
conflitos de interesses. Em resumo, é agora
que começa a adquirir uma maior visibilidade.
A Comunidade Autónoma de Castilla y León
está formada por nove províncias, Ávila, Burgos,
León, Palencia, Salamanca, Segovia, Soria,
Valladolid e Zamora, desde a aprovação do
Estatuto de Autonomia, em 1981 (Figura 1).
Fig. 1 - Mapa de Castilla y León e seu referente
Europeu.
Uma das principais características de
Castilla y León é sua grande extensão geográfica, quase 95.000 Km2 sendo uma das
regiões mais grandes não somente da
Espanha, mas da Europa. Isto em claro contraste com sua escasa população, apenas
2.500.000 habitantes (Valdeón 1996: 36-38).
A isto se acrescenta um forte envelhecimento da população. Embora, haja uma tendência ao equilíbrio frente a décadas anteriores, pois a população não tem descendido
de forma marcante, por causa dos baixos
índices de mortalidade e a menor incidência
da emigração. A isto se acrescentam os efeitos da imigração que acontecem nesta comunidade, como também no resto do país.
Sob o ponto de vista econômico, a relevância da agricultura tradicional está diminuindo frente às pequenas empresas e ao
setor serviços. O turismo, principalmente o
8
turismo cultural, tem um papel protagonista
desde meados da década dos 90. A incorporação de Espanha à Comunidade Européia
tem tido uma grande influência na economia
castellano-leonesa, especialmente no âmbito do patrimônio, através de programas de
financiamento europeu, entre cujos objetivos encontra-se o desenvolvimento de zonas rurais oferecendo ajudas a iniciativas que
contribuam ao aprimoramento social e econômico de zonas desfavorecidas, criando
emprego e promovendo a fixação da população nas ditas áreas.
Levando em consideração a riqueza e
variedade de sítios de Castilla y León, era
possível ter realizado um estudo mais detalhado de algum exemplo significativo. No
entanto, o objetivo era poder oferecer tanto
uma visão de conjunto, quanto a posibilidade
de comparação com outros casos, mais que
incidir na singularidade, no caráter de unicum
de algum destes sítios. Neste sentido, a proposta de análise dos discuros não é um análise de conteúdo stricto sensu, entendido
como o estudo detalhado quantitativo e qualitativo das mensagens a partir do discurso
divulgativo concreto de todos e cada um dos
espaços divulgativos que integram a amostra, ou de algum deles, também não é uma
“receita pronta” de projeto de divulgação do
patrimônio arqueológico.
O objetivo não era esse, não se pretendia conhecer como se divulga um determinado tema, às vezes recorrente, mas
aprofundar o conhecimento sobre as
práticas divulgativas aqui e agora, atendendo ao que se diz, o que se faz e o
que deveria ser feito. Toma-se para isso
os discursos como objeto de estudo, tratados no seu sentido mais amplo, como concepção sobre um campo concreto, neste caso
a divulgação, que articula tanto textos quanto espaços e ações. Dado que a disciplina
arqueológica amplia suas áreas de atuação
e neste sentido a divulgação é uma parte
fundamental, também precisa ser objeto de
pesquisa como os outros temas até agora
prioritários, o que justifica uma pesquisa
deste tipo.
A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño
Ante a falta de um quadro de referência
único se recorreu a elementos procedentes
de diferentes disciplinas. Com efeito, é problemático definir como museológica, arqueológica, turística, sociológica ou antropológica esta pesquisa, mesmo que pela temática,
pelos aspetos que são tratados, pelas experiências prévias inspiradoras e pela metodologia,
responda, de alguma maneira, a todas elas,
embora não seja de forma pura. Optou-se
pela permeabilidade disciplinar que se considerou mais operativa que o bloqueio ante
a falta de uma etiquete adequada. Mesmo
arriscando não reunir stricto sensu as características mais ortodoxas dos estudos-tipo de
tais disciplinas. Era esta a alternativa para
poder realizar uma pesquisa que desse resposta às perguntas feitas: Como se divulga na prática? Houve uma transformação nos discursos, ou são apenas mudanças formais conforme a uma política favorável à divulgação?
Esta pesquisa procurava contribuir ao
avanço do conhecimento na disciplina arqueológica tomando como objeto de reflexão um
âmbito, o da divulgação, o qual no momento
atual não tem atingido o patamar de debate
e o grau de amadurecimento alcançado já
em outros âmbitos. Finalmente, colocar os
discursos como centro de atenção deslocando ao patrimônio arqueológico propriamente, supunha a introdução de um novo olhar,
no qual a comunicação tem uma grande relevância. Entra aqui em jogo a dimensão
pessoal, subjetiva e qualitativa.
Algumas considerações
metodológicas prévias
teórico-
Sob o ponto de vista teórico, embora
seja difícil uma adscripção definitiva, esta
pesquisa não pode se desligar das teorias
pos-processuais, inclusive do que autores
como Hodder (1999: 5) chamam de pos-posprocessuais. Não se pretendia um seguimento estrito de suas idéias. Também não se
pretendia realizar uma pesquisa de profun-
da carga teórica, nem atacar os alicerces da
prática arqueológica processual. Embora, é
claro, que o tipo de temas dos quais se trata, os discursos e a ênfase em determinados
aspectos, como a dimensão social da disciplina enquadram-se nesta linha de pensamento das ciências sociais, não apenas arqueológica. Nela a subjetividade, a relevância da eleição pessoal e o pluralismo têm um
claro protagonismo. Neste sentido, as experiências tanto do âmbito anglo-saxão (Colley
2000, McManamom e Hatton 2000) quanto
da América do Sul (Funari, Neves e Podgorny
1999) têm sido influências marcantes. Um
tema como este e tratado sob este olhar somente era possível neste quadro teórico de
referência.
No que diz respeito à metodologia, a
opção pela etnografia tem sido uma decisão
de caráter operativo. Embora possa se considerar uma aplicação heterodoxa, assumiuse o olhar antropológico (Jociles 1999a: 8) e
as técnicas de pesquisa próprias da etnografia.
No entanto a aplicação destas técnicas, a
análise do discurso (Jociles 2000), as entrevistas (Sanmartín 2000) e a observação participante (Jociles 1999b) são uma versão mais
leve a respeito ao ideal proposto. No caso
concreto dos espaços divulgativos, a coleta
de informação in situ foi completada com a
aplicação das outras técnicas de pesquisa na
abordagem de alguns aspectos da pesquisa
que não são o objeto deste artigo. Como são
os discursos dos agentes da divulgação, entre eles os diretores de museus, empresas
de arqueologia, servidores públicos da área
de arqueologia e pesquisadores, assim como
a analise dos discursos de diferentes tipos
de materiais divulgativos, guias arqueológicos, folders e outros (Mansilla 2005) e dos
discursos do público que visita esses espaços divulgativos. É, pois, uma metodologia
imperfeita, suscetível de aprimoramento que
poderá ser concretizada em próximas pesquisas. Embora não seja a metodologia ótima, tem sido operativa, partindo de experiências diversas, de clara orientação antropológica, que permitiram realizar a análise
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
dos conjuntos discursivos e atingir conclusões válidas.
ANALISE
Segue-se a análise dos discursos dos espaços divulgativos, museus, sítios arqueológicos e aulas arqueológicas. É este o tipo de
discurso que têm uma maior incidência no
público ou uma maior visibilidade. O que se
denominou discurso dos lugares é um conjunto amplo e complexo, formado por uma
amostra que se considerou suficientemente
representativa. Tanto sob o ponto de vista
quantitativo (10 museus, entre os quais estão
inclusos aqueles que têm seções de arqueologia e os estritamente arqueológicos, 36 sítios arqueológicos e 23 aulas arqueológicas),
quanto qualtitativo, ao incluir na amostra os
exemplos mais significativos das diferentes
províncias. No entanto, levando em consideração o caráter dinâmico da divulgação, no
momento de fechar a pesquisa abriram-se e,
com efeito, continuam a ser abertos ao público novos espaços divulgativos que não foram
possíveis incluir na análise. No momento atual há mais de trinta aulas abertas (Val e
Escribano 2004). São estes os espaços
divulgativos mais novos, ubicadas perto dos
sítios arqueológicos, em prédios de arquitetura rural ou prédios da comunidade atualmente fora de uso, sendo seus principais objetivos: 1) complementar, embora não substituir, os museus, 2) servir de explicação, preparar e provocar a visita aos sítios e 3) obter
rentabilidade social e cultural nos lugares onde
a Administração já tinha investido previamente. As aulas arqueológicas se caracterizam por
seu pequeno tamanho, o protagonismo dos
elementos visuais, auditivos e tácteis e a ausência de um acervo próprio, de serviços associados de conservação, documentação e
pesquisa de materiais originais.
Optou-se pela limitação do número das
variáveis, mesmo que o potencial de análise
fosse muito maior, de forma que fosse possível a comparação entre os diferentes espaços. Assim mesmo, isto obrigava a inclusão de algumas variáveis quantitativas. Cada
espaço introduz algumas nuances, mas as
variáveis analisadas foram oito. (Figura 2).
Fig. 2 -Variáveis analisadas nos discursos dos lugares.
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A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño
A relação de alguma destas variáveis
com o discurso divulgativo pode resultar pouco evidente, como é no caso da acessibilidade (Espinosa 2002a, 2002b) ou das infra-estruturas, que podem nos fazer pensar mais
numa simples descrição de que elementos
apresentam os diferentes espaços e quais
faltam. No entanto, entendendo o término
discurso no sensu lato, não estritamente
linguístico, tais variáveis são significativas
pois estão mostrando uma forma de entender a divulgação, da qual desprende-se uma
determinada valorização da experiência e da
relação com o público, neste contexto concreto, ambas pouco valorizadas.
Da análise dos discursos dos museus,
desprendem-se quatro conclusões:
1. As instalações museográficamente
recentes, como as dos Museus de Zamora e
Palencia, supuseram uma mudança formal
com um maior protagonismo do discurso visual, mas sem que tenha acontecido uma
verdadeira transformação do discurso clássico. Este se articula basicamente no entorno de cartazes, vitrines e objetos individualizados. (Figura 3).
2. Sob o ponto de vista das atividades
divulgativas, os museus são mais dinâmicos do que erroneamente se pensa. Com
efeito, é no Museu de Ávila onde se têm realizado algumas das mais interessantes experiências. Ao mesmo tempo, têm um grande potencial neste sentido pelas suas infraestruturas e acessibilidade, apesar das limitações de pessoal.
3. A falta de estudos de público é
uma das grandes carências ainda hoje, tanto nas exposições temporais quanto nas permanentes, indo além dos comentários
emotivos e das referências numéricas que
Fig. 3 - Tipos de discursos expositivos.
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
são tomados como marcadores do sucesso
das exposições (Asensio 1996, Asensio y Pol
2002a, 2002b, 2003, Asensio, Pol, Calderia y
Alteria 1999). Neste sentido, o público tem
um papel secundário.
4. Faltam, assim mesmo, estudos sobre as relações entre as exposições temporais e a exposição permanente, e seu
efeito no público (Kelly 2000), que incidam
nas influências que podem ter sobre elas os
fatores externos. Principalmente naquelas de
maior sucesso como foi o caso de Celtas y
Vettones em Ávila (VV.AA. 2001) ou Atapuerca
un millón de años em Burgos (Bermúdez de
Castro, Arsuaga, Carbonell e Rodríguez
1999).
Em relação ao discurso dos sítios arqueológicos, até agora se tem atuado no
nível macro, atendendo ao acondicionamento dos sítios, sua conservação e sinalização, no entanto, falta ainda o desenvolvimento do nível micro, isto é, dos detalhes e da articulação entre os diferentes
elementos para atingir uma divulgaçao efetiva, integrando a sinalização, a informação in situ e os materiais complementares.
Tem-se incidido principalmente nos cartazes. No entanto, isto não é suficiente, daí
que uma boa divulgação nestes espaços
passe por:
1. Uma boa informação em todos os
âmbitos, frente a situações como a vila romana de Navatejera em León, desconhecida
para a maioria dos turistas, apesar de sua
proximidade à cidade.
2. Uma oferta adequada aos tipos de
público reais, cientes e explicitando que nem
todo o público pode ter acesso a determinados sítios. Isto acontece com Ulaca em Ávila,
onde as própias condições físicas do sítio
numa altura elevada e de difícil acesso restringem as visitas.
3. Uma boa comunicação com o público, através de recursos acessíveis física e
inteletualmente.
Levando em consideração que a visita
in situ em geral atende a diferentes aspectos como o conhecimento, as experiências e as atitudes, bem como favorece
12
uma melhor aproximação ao patrimônio
arqueologico, são quatro os elementos
chave que necessitariam ser repensadas
e melhor articuladas visando o acondicionamento dos sítios:
1)
2)
3)
4)
A paisagem
Os restos arqueológicos
A própria experiência da visita
Os materiais complementares
As aulas arqueológicas, o espaço
divulgativo mais novo, embora sua diferente
denominação responde de fato à mesma problemática comum aos centros de interpretação. Seu crescimento como instrumento de
geração de renda e emprego, bem como de
dinamização turística, são objetivos nem
sempre atingidos (Mansilla 2004 e e.p.,
Mateos 2003).
1. Observa-se uma certa uniformidade no
que diz respeito ao tipo de discurso textual, embora com algumas diferenças na
extensão das unidades textuais, no estilo, no
tom e no léxico. Nos diferentes elementos
divulgativos das aulas, acontecem as mesmas fraquezas, inclusive na aula soriana de
Antiqua Osma, a única que oferece uma visita audio-guiada. De maneira que algumas
das características que se observam nos discursos textuais dos cartezes e painéis, encontram-se também nos vídeos. Há unanimidade quanto à importância de reduzir a
extensão dos textos e evitar o excesso de
termos muito específicos. No entanto, não
se pode falar propriamente de um estilo típico da interpretação do patrimônio, mais direto, que chegue aos diferentes tipos de público, que apele aos conhecimentos ou experiências prévios dos visitantes, que provoque o interesse, que suscite câmbios de atitude principalmente nas questões relativas à
valorização e proteção do patrimônio arqueológico. Não há mensagens diretas deste tipo.
2. No que diz respeito aos conteúdos,
as aulas parecem procurar um equilíbrio entre a introdução de novidades formais próprias de um discurso expositivo contemporâneo
(Figura 4) e a autoproclamada objetividade
baseada nos dados, na pesquisa etc. Não são
A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño
Fig. 4 - Recreação de ambiente romano. Aula Arqueológica Aguilafuente (Segovia)
apresentadas narrativas que resultem significativas para os diferentes públicos. Isto implica um discurso que é muito historicista em
alguns casos, no seu sentido mais tradicional
e distante, muitas datas e dados, governantes
e um mundo masculino de batalhas, detalhe
arquitetónico, tático e técnico, que se conecta
pouco com a experiência quotidiana do visitante, como se aprecia principalmente nas
aulas da rota das fortificações de fronteira em
Salamanca, as quais se afastam das atuais
linhas de pesquisa da arqueologia histórica
de autores como Lydon (1999) ou Funari
(1998, 1999) nos seus diferentes contextos.
No que diz respeito às expectativas, na
maioria dos casos nos quais o visitante não
tem uma idéia muito precisa do que vai ver, o
grau de satisfação é elevado. Pelo contrário,
se aprecia uma certa decepção quando as
expectativas são maiores, como acontecia na
aula dedicada a Atapuerca.
3. A Imagem das aulas nao é homogênea, nem sequer nas que formam parte das
rotas arqueológicas como a dos Valles de
Zamora, e sua articulação com outros espaços divulgativos do patrimônio arqueológico
não está muito definida.
4. Falta uma adequada avaliação dos
elementos expositivos, fundamentalmente
das aportações reais dos elementos mais
novedosos frente aos mais tradidionais. Aqui
entraria o tão discutido tema da
interatividade.(Ramos 2003).
Levando em consideração as características gerais dos discursos nos diferentes espaços, aprecia-se que são mais os elementos partilhados do que as divergências: (Figura 5).
1. Observa-se uma semelhança estrutural entre os diferentes espaços.
2. Existe uma desconexão entre o discurso sobre o patrimônio e o papel do pró13
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Fig. 5 - Discurso dos lugares.
prio patrimônio, o significado do passado na
sociedade contemporânea.
3. Não tem havido uma transformação
do discurso divulgativo, que continua sendo
demorado no seu estilo e no seu ritmo, carente de hierarquização, com um léxico pouco adequado aos contextos e suportes.
Tem-se produzido mudanças formais, com
a diversificação dos espaços divulgativos e
a introdução de elementos expositivos contemporâneos.
4. Nao se incide no significado nem no
sentido dos discursos para os diferentes tipos de público.
5. Transmite-se uma imagem da arqueologia como provedora de restos materiais,
no entanto, seus praticantes estão ausentes. Nao há uma mensagem patrimonial explícita.
6. O passado se identifica com os restos
materiais, colocando num segundo plano as
sociedades.
7. A falta de avaliação e o desconhecimento do público são as duas carências mais
destacadas.
14
CONCLUSÕES E PERSPETIVAS
Chegados a este ponto, são mais as
questões que tem ficado pouco definidas, e
também as linhas de pesquisa que ficam
abertas com este trabalho, do que as respostas definitivas. Assim, em primeiro lugar,
não se estabeleceu uma tipologia clara de
discursos divulgativos, o que tem sido mais
uma reflexão voltada para os aspectos práticos. Em segundo lugar, não se estabeleceram as representações sociais (Ibáñez 1988)
nem relativas ao patrimônio arqueológico,
nem à sua divulgação. De fato, não se definiram quais são as imagens do patrimônio
que estão sendo transmitidas ao público.
Talvez por serem estas duas questões diferentes, uma o que é o patrimônio e como é
trasmitido, e uma outra, como é visto e entendido pelo público. No entanto, uma primeira aproximação a este aspecto foi feita
através do estudo piloto sobre o público.
As linhas de pesquisa abertas são
multiplas, tanto aprofundando na dimensão horizontal que permita a comparação
A divulgação do patrimônio arqueológico em Castilla y Leon (Espanha): O desafio dos espaços divulgativos
Ana Maria Mansilla Castaño
entre diferentes âmbitos geográficos,
como na vertical, aprofundando em diversos aspectos quase não tratados. Fundamentalmente na ênfase dos aspectos que
mais incidem no fortalecimento das imagens populares sobre o patrimônio arqueológico, as atividades e materiais complementares, os produtos à venda etc. e os
mecanismos que intervêm no dito processo. Em definitivo, trata-se de colocar o
público em primeiro lugar, assumindo que
o processo divulgativo não finaliza na
transmissão de determinados conhecimentos. Pelo contrário, estes são re-elaborados ou rejeitados pelo imaginário popular que, ao mesmo tempo, está incidindo
na valorização social do patrimônio num
sentido ou noutro.
Com respeito à pergunta chave feita inicialmente, até que ponto se tem produzido
uma transformação dos discursos divulgativos,
ou apenas uma maquialhem formal dos mesmos, as respostas são múltiplas:
1) As mudanças além dos aspetos formais não são tão radicais.
2) Ainda não houve o passo para um discurso propriamente divulgativo.
3) A divulgação do patrimônio arqueológico ainda é um âmbito da arqueologia um
pouco difuso.
4) Não se conhecem os diferentes tipos
de público.
No entanto, são também numerosas as
vias de atuação que se abrem para aprimorar a divulgação, tanto sob o ponto de vista
teórico quanto prático. Entre o que se pode
considerarcomo propostas teóricas, destacase:
1. A análise dos discursos divulgativos
em outros soportes, Internet, CDs, o que
permitiria contrastar até que ponto, em alguns casos, se mantêm algumas das
caraterísticas que se encontram em suportes mais tradicionais como são os cartazes,
os folders ou as guias.
2. A autocrítica entre os especialistas em divulgação: a responsabilidade
neste âmbito não corresponde apenas a
quem fica fora da disciplina.
3. A aproximação ao olhar de outros
coletivos, principalmente profissionais da
educação, da mídia e do turismo.
4. A análise das imagens patrimoniais
populares, para poder estabelecer uma
melhor comunicação com o público visando
a modificação de idéias erradas e a introdução de outras novas.
Entre as propostas práticas podem ser destacadas:
1. A reorientação da formação, tanto no âmbito formal, universitário, onde com
efeito se estão incorporando cursos principalmente de pós-graduação, quanto no campo não formal, através de uma formação
continuada com oficinas de tipo prático destinadas às pessoas que estão em contato direto com o público. Isto como uma forma,
ao mesmo tempo, de compartilhar experiências e melhorar a qualidade do serviço que
oferecem aos visitantes.1
2. A potenciação da dimensão pessoal. Sucesso ou fracaso nas experiências
dependem muito mais das pessoas do que
da dotação de infra-estruturas, como se pode
apreciar no caso dos sítios arqueológicos de
Numancia (Soria) (Jimeno, Sanz, Benito e
Torre 2004) ou Pintia (Valladolid) (Sanz et
alii 2003) nos quais, graças ao entusiasmo e
perseverância das equipes, conseguem-se
resultados muito bons. Neste sentido, é preciso, de uma parte, considerar a divulgação
num âmbito no qual os estudantes precisam
se formar, e de outro lado, é preciso ampliar
o contexto local na incorporação de novos
profissionais da divulgação, pois nem sempre é fácil poder contar com esses perfis nas
populações pequenas.
3. A imagem que tenho apresentado da
situação atual da divulgação do patrimônio
arqueológico em Castilla y León, partindo da
(1) É importante destacar o papel da Asociación para
la Interpretación del Patrimonio no sentido de aprimorar a qualidade, a formação e a prática da interpretação do Patrimônio.
15
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
analise dos discursos divulgativos, não é uma
imagem definitiva. Com certeza nos diferentes aspectos críticos aos que se fez referência, se atenuarão e irão se corrigindo como
resultado da própria prática divulgativa. Alguns dos casos analisados se renovarão ou
serão completamente substituídos com a introdução de novidades que não foram
indicadas.
Também não é a imagem de uma situação única, se considera que tanto as fraque-
zas quanto as alternativas propostas não
surgem da singularidade das próprias características e da história particular de cada um
dos espaços divulgativos. Trata-se mais do
resultado da aplicação de uma metodologia
de análise que poderia ser extrapolada a
outros contextos, com rumos bastante diferentes. Isto permitiria, assim mesmo, melhorar a definição e o ajuste da mesma para
superar as carências que se têm apresentado neste caso concreto.
Abstract: The interest in archaeological heritage and particularly in its
popularisation is a global phenomenon. In Spain it is in the last decades
when this occurs. This paper analyses the case of one Autonomous
Community, Castilla y León, which is characterized by the richness and
diversity of its heritage. The main focus of this paper is the discursive
dimension of the different popularisation places, museums, archaeological
sites and interpretation centres, in order to evaluate their characteristics
and their inter-relations. Emphasizing the week points and theoretical and
practical alternatives.
Key words: archaeological heritage –popularization – Spain – Castilla y León
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ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA
CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan*
Resumo: Este artigo centra-se na análise da apropriação pública da
herança cultural arqueológica marajoara, cuja reavivação, em um contexto capitalista, assume novos significados. O texto chama a atenção
para as expectativas do público sobre o passado e os entendimentos
incorretos causados pela difusão do jargão arqueológico. Propõe-se
que é necessário refletir sobre o papel do arqueólogo, historiador e
educador na criação de tradições culturais, assim como de nossas próprias construções epistemológicas sobre o “outro” (o passado), entendendo os contextos sociais, políticos e econômicos nos quais essa atividade acontece.
Palavras-chave: Arqueologia pública – cultura Marajoara – tradições
culturais – divulgação científica
“O termo ‘herança’ [cultural] é perigoso: é um daqueles que a maioria das
pessoas pensam que entendem, mas
raramente se dão ao trabalho de definir” (Carman 2005: 96).
INTRODUÇÃO
“Cultura Marajoara” é um termo que
vêm sendo utilizado para denominar indistintamente três tipos de fenômenos: 1) uma
cultura pré-colonial descoberta e estudada
por arqueólogos; 2) um estilo estético de
inspiração arqueológica, representado em
produtos artesanais, principalmente cerâ-
(*) Museu Paraense Emílio Goeldi
[email protected]
mica, e na arquitetura paraense; 3) a cultura do caboclo e vaqueiro habitantes da
Ilha de Marajó. Em um sentido mais amplo, “marajoara” refere-se simplesmente
àquilo que vem da Ilha de Marajó e a seus
moradores.
Os três níveis de entendimento sobre o
que vem a ser a cultura marajoara sobrepõem-se e confundem-se de diversas maneiras. O discurso científico produzido sobre a cultura arqueológica evoluiu e transformou-se no decorrer de mais de cem anos
de pesquisas, atingindo o público de maneiras diversas conforme a época e o tipo de
informação veiculada. Ao mesmo tempo, a
audiência filtrou e selecionou informações
que julgou serem verdadeiras e/ou apropriadas; muitas destas informações eram simplesmente hipóteses que foram mais tarde
descartadas e desprovadas pelos cientistas,
sem terem, no entanto, tido igual repercus19
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
são popular. As “histórias” resultantes, então, sobre a ocupação pré-colonial são recriações realizadas com base na tradução
popular de argumentos científicos, na transfiguração de hipóteses em fatos objetivos e
na imaginação popular.
Os entendimentos populares sobre o
que vem a ser a cultura marajoara são veiculados oralmente, principalmente nos contextos de produção, venda e circulação de
mercadorias artesanais cujos estilos estéticos, bastante diversos entre si, são reconhecidos como “marajoara”. Nos últimos
anos, a produção, venda e circulação crescente desses produtos, impulsionada por
órgãos governamentais, não-governamentais, associações de classe e a mídia tem
estado associada a uma valorização do exótico, do antigo e do regional, o que se poderia chamar de uma busca das “raízes”
ou da “origem” da cultura. Essa identidade remota conferida ao produto contemporâneo vem dessa maneira “agregar valor” ao objeto comercial, dentro da lógica
capitalista.
Dado o lapso de tempo decorrido desde o desaparecimento da cultura arqueológica relacionada a uma sociedade préestatal baseada em relações sociais de
parentesco e sua apropriação por uma sociedade capitalista que a reinvindica como
“passado”, pode-se dizer que se trata da
“invenção de uma tradição”, nos termos do
que vem sendo proposto por Hobsbawm
(1983) e outros.
Esse artigo pretende discutir essa tradição inventada, procurando dissecá-la em
suas motivações, manifestações práticas,
construções simbólicas e nas relações sociais que a partir dela são estabelecidas. Dada
a participação do poder público e da comunidade de intelectuais na recriação da cultura marajoara, pretende-se também questionar as motivações políticas e econômicas que possam estar em sua base, assim
como discutir o papel do arqueólogo, antropólogo e educador na produção e
veiculação do conhecimento produzido pela
pesquisa arqueológica.
20
AS PESQUISAS CIENTÍFICAS E SUA REPERCUSSÃO JUNTO AO PÚBLICO
A história da pesquisa científica na Ilha
de Marajó surge com as primeiras expedições de cientistas na região amazônica durante o século XIX e confunde-se com a própria história do desenvolvimento da arqueologia, da antropologia e da museologia no
Brasil (Barreto & Machado 2001, Barreto
1992). Ao final do século XIX, cientistas identificados com as teorias antropológicas
evolucionistas e difusionistas (Derby 1879,
Ferreira Penna 1877, 1885, Marajó 1895,
Netto 1885) identificaram e escavaram alguns sítios arqueológicos na Ilha de Marajó
– os chamados “tesos” ou aterros (mounds,
em inglês), preocupados em recolher evidências da existência de uma antiga civilização
avançada nas terras baixas tropicais.
Vem desta época a denominação de “cultura marajoara” para um conjunto de traços
culturais considerados “avançados” por seu
contraste com as sociedades indígenas amazônicas então conhecidas e descritas
etnograficamente. Estes traços culturais foram descritos como: a) a construção de enormes colinas de terra (1 a 3 hectares em área
e 10 a 12 metros de altura) sobre a área de
campos alagáveis da ilha; b) a produção e
uso de objetos de cerâmica de formas e decoração complexas, tais como urnas funerárias, estatuetas, tangas, bancos, cachimbos,
e diversos tipos de pratos, vasos e tigelas;
c) o enterro secundário diferenciado em urnas, indicando culto aos antepassados e sugerindo estratificação social; d) a presença
de objetos líticos que indicavam contato e
trocas com regiões distantes; e) o uso de
símbolos gráficos na cerâmica que pareciam
indicar, segundo alguns autores, o uso de uma
escrita rudimentar (Netto 1885); f) a abundância de representações femininas na cerâmica, que foi por vezes interpretada como
prova de descendência matrilinear ou da existência de um matriarcado. A maior parte da
literatura científica deste período foi
publicada em periódicos no Brasil em português, disponíveis em bibliotecas durante o
ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan
século XX, sendo, portanto, material acessível para pesquisa e divulgação.
Durante a primeira metade do século XX,
a arqueologia da Ilha de Marajó atraiu a atenção de estrangeiros: antropólogos, jornalistas e museólogos americanos e europeus
vieram conferir de perto as notícias sobre a
civilização marajoara e obter objetos exóticos para seus museus. A literatura produzida neste período (Farabee 1921, Lage 1944,
Lange 1914, Mordini 1936, 1947, Nordenskiöld
1930, Palmatary 1950, Torres 1940) – quase
toda ela em língua estrangeira - limitou-se a
confirmar o que já havia sido escrito a respeito da cultura marajoara e consistiu principalmente na descrição das escavações e
da cerâmica. Aumentou o número de sítios
conhecidos e a gama de objetos encontrados nos mesmos.
Este afluxo de estrangeiros despertou o
interesse local sobre a riqueza arqueológica. Até então, os fazendeiros criadores de
gado ainda não tinham dado importância às
descobertas e permitiam a entrada em suas
propriedades assim como as escavações por
parte de curiosos e estudiosos, fossem elas
feitas por arqueólogos ou não. A partir da
metade do século XX, então, estabeleceu-se
de forma informal e esporádica um comércio de peças arqueológicas que acabou levando, ironicamente, tanto à destruição de
vários dos sítios assim como à projeção internacional da cerâmica e cultura marajoaras.
Ao final da década de 1940, dois antropólogos americanos, Betty Meggers e Clifford
Evans, identificados com o nascente neoevolucionismo de James Steward realizaram
uma extensa pesquisa no arquipélago de
Marajó (Ilhas de Marajó, Caviana e Mexiana),
assim como no então território do Amapá,
identificando diversas “culturas cerâmicas” e
estabelecendo uma cronologia do desenvolvimento cultural na foz do rio Amazonas
(Meggers & Evans 1957). A escola histórico-cultural ou da ecologia-cultural como ficou conhecida, trouxe consigo toda uma
metologia destinada a mapear o passado
arqueológico brasileiro, formando ao longo
de 20 anos profissionais com ela identifica-
dos em vários Estados brasileiros (Meggers
1985, Simões 1977).
A pesquisa de Meggers e Evans baseavase no pressuposto teórico de que havia uma
estreita relação de dependência entre desenvolvimento cultural e ecologia. De acordo com
a tipologia construída por Steward com base
na etnografia e dados históricos do continente, o grau máximo de evolução cultural possível no ambiente tropical era o de “tribo”
(Steward 1948b). As tribos da floresta tropical, descritas por Lowie na introdução do volume 3, bulletin 143 do Handobook of South
American Indians foram consideradas como
o protótipo da sociedade tropical. Uma vez
que o ambiente tropical limitava o desenvolvimento cultural, restava à arqueologia a tarefa de mapear e identificar as culturas e propor hipóteses sobre movimentos populacionais
destas sociedades semi-sedentárias.
Diversas destas culturas de floresta tropical foram identificadas na Amazônia por
Meggers, Evans e seus sucessores. Essas
culturas eram descritas principalmente em
termos de sua produção cerâmica. A cada
conjunto de traços cerâmicos distintos foi
dado o nome de “fase arqueológica”. As fases que apresentavam traços semelhantes
foram agrupadas dentro de categorias maiores chamadas de “tradições arqueológicas”.
Uma destas fases, no entanto, chamada
de “fase Marajoara” (a mesma cultura
marajoara que vinha sendo pesquisada desde o século XIX) não se encaixava dentro da
descrição de “tribo da floresta tropical”. Devido às suas características complexas, assemelhava-se mais àquelas chefaturas
Circum-Caribenhas também descritas no
Handbook (Steward 1948a). Uma vez que
não havia espaço no modelo para o desenvolvimento autóctone de complexidade nos
trópicos, sugeriu-se que esta sociedade teria vindo das terras altas da América do Sul.
Ao estabelecer-se no pobre ambiente tropical teria degenerado até o nível de tribo. Essa
“degeneração” era supostamente sustentada pela evidência empírica da existência de
cerâmicas menos complexas nos níveis superiores dos aterros, assim como por mu21
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
danças nas práticas funerárias, que teriam
passado de enterro secundário à cremação,
com o uso de urnas menores.
A reconstrução da ocupação pré-colonial da Ilha de Marajó oferecida por Meggers
e Evans teve boa aceitação dentro da comunidade acadêmica e junto ao público, o que
se pode perceber pela popularização de alguns termos e classificações tipológicas que
se tornaram correntes, sendo utilizados na
descrição de objetos arqueológicos em museus, catálogos e literatura menos especializada em geral. A enorme monografia de
doutorado produzida por Meggers e publicada
pelo Instituto Smithsonian em inglês teve algumas partes digeridas em português em
uma publicação do então Instituto de Antropologia e Etnologia do Pará (Meggers & Evans
1954) além de ser constantemente citada em
publicações de outros arqueólogos brasileiros e em catálogos, maneira pela qual alcançou o público. O jargão arqueológico –
fases Ananatuba, Mangueiras, Formiga, Aruã,
Tradição Policrômica, tipos cerâmicos, Joanes
Pintado, Pacoval Inciso, etc – foi absorvido
sem critério e com novos significados. O uso
do termo “fase” para identificar um conjunto
de traços cerâmicos passou a ser usado como
sinônimo para “etnia” ou “tribo”. Os tipos
construídos para a classificação de fragmentos cerâmicos, com vistas à construção de
cronologias relativas, adquiriram vida própria,
passando a serem usados também para denominar as peças completas em acervos e,
o que é pior, em exposições museológicas.
Neste processo, a prática de utilizar arbitrariamente um topônimo para designar um tipo
cerâmico foi entendida de maneira equivocada pelo público, que passou a entender a
denominação do tipo cerâmico como indicando a origem da peça. Por exemplo, os tipos
“Joanes Pintado” e “Pacoval Inciso”, usados
para designar respectivamente a cerâmica
policrômica e a cerâmica decorada com incisões sobre engobo branco foram tomados
como indicando a procedência da peça –
Joanes pintado seria a peça achada na vila
de Joanes e Pacoval inciso a peça achada no
aterro do Pacoval, junto ao lago Arari.
22
A escola histórico-cultural e seu
determinismo geográfico passaram a ser
questionados quase que imediatamente nos
Estados Unidos por Robert Carneiro, Donald
Lathrap e posteriormente por seus alunos
(Carneiro 1961, Lathrap 1970). No entanto,
o domínio teórico-metodológico exercido por
Meggers, Evans e seus colegas brasileiros
impediu a produção de dados empíricos por
meio de pesquisas de campo que os pudessem contestar (Roosevelt 1995). Além disso, as monografias e artigos que questionavam o modelo ecológico eram herméticas e
publicadas em inglês, passando desapercebidas pelo público brasileiro não-especializado.
A situação principiou a mudar somente no
final da década de 1980, com as pesquisas de
Anna Roosevelt - aluna de Lathrap - no rio
Orinoco, no baixo Amazonas e na Ilha de Marajó
(Roosevelt 1980, 1987, 1991; Roosevelt, et al.
1991). A partir daí a escola processual americana e a ecologia histórica adentram o cenário. Esta última, principalmente através do trabalho de geógrafos, etnógrafos e etnoecólogos
veio a oferecer um novo paradigma para a interpretação do desenvolvimento cultural na
Amazônia, que levaria em conta o papel ativo
dos seres humanos na interação com o ambiente tropical, modificando a paisagem e criando uma ecologia antropogênica (Balée 1993,
Posey 1985, Smith 1980).
Pode-se dizer que o trabalho de
Roosevelt teve uma maior repercussão no
meio acadêmico e na mídia nacional e internacional especializada, mas teve pouca penetração junto ao público leigo. Isso porque
a maior parte de sua produção bibliográfica
está em inglês. Além disso, houve pouca
interação entre sua equipe de pesquisa e as
comunidades nas quais as investigações arqueológicas se realizaram. Roosevelt propôs que a cultura marajoara esteve relacionada a uma sociedade complexa cuja origem poderia ser buscada no próprio baixo
Amazonas. Estabeleceu a duração da cultura marajoara em 900 anos – de 400 a 1300
depois de Cristo – e afirmou que o “cacicado”
marajoara estaria entre as mais importantes civilizações pré-históricas das Américas.
ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan
As pesquisas realizadas por nós desde
1994, inicialmente investigando a iconografia
da cerâmica (Schaan 1996, 1997, 1999) e
depois aspectos da organização social através de pesquisas de campo em diversos sítios da Ilha (Schaan 2004, 2005) têm tido uma
repercussão e aceitação pública maior do que
as anteriores. Isso se deve tanto pela disponibilidade de textos em português (em revistas especializadas, livros e na internet, no
site www.marajoara.com), como pelo contato com o público através de palestras, cursos, curadoria de exposições museológicas
e entrevistas dadas aos meios de comunicação. Nossa abordagem (que poderia ser classificada processual-cognitiva e em certa
medida pós-estruturalista) diferiu das pesquisas anteriores em vários aspectos: a) Propôs uma leitura iconográfica estruturalista dos
grafismos na cerâmica, identificando-a como
uma linguagem iconográfica com objetivos
mnemônicos; b) Propôs um modelo diferente do de Roosevelt para explicar a emergência de complexidade social. Enquanto
Roosevelt preconizava o desenvolvimento de
uma agricultura intensiva, oferecemos um
modelo baseado na intensificação da produção de recursos aquáticos, com modificações
da paisagem como meio para incrementar a
produção de alimentos e possibilitar crescimento demográfico e especialização; c) Identificou a existência de várias chefaturas ou
sociedades regionais ao invés de apenas uma
como sugerido por Roosevelt; d) Apresentou uma periodização do desenvolvimento
cultural dentro da fase marajoara; e) Propôs hipótese sobre a continuidade da cultura
marajoara durante o período histórico com
base em pesquisa realizada em sítios contemporâneos ao contato.
Todas estas idéias foram veiculadas em
artigos científicos e de divulgação de alcance público. Temos percebido, no entanto,
que, ao mesmo tempo em que o público reconhece a legitimidade da pesquisa e a autoridade científica dos pesquisadores, os conteúdos são decodificados dentro de uma lógica particular. Ou seja, inconscientemente
ou não, o público absorve e veicula a infor-
mação científica de acordo com suas necessidades e expectativas. Na medida em que
a cultura descrita pelos cientistas é considerada como o passado regional, o público apodera-se da reconstituição deste passado
agregando sua própria interpretação. No
decorrer deste artigo, vamos ver como isso
se dá em situações concretas.
A REINVENÇÃO DA TRADIÇÃO
Na década de 1970, o distrito de
Icoaraci, localizado a 20 km de Belém, capital do Estado do Pará, abrigava diversas
olarias, que retiravam sua matéria-prima
junto ao rio Guamá e seus afluentes. A produção era predominantemente de tijolos e
telhas, mas produziam-se também panelas
e gamelas de barro. Morador de Icoaraci,
Raimundo Saraiva Cardoso, então com cerca de 40 anos, esteve nesta época visitando uma exposição de arqueologia no Museu
Paraense Emílio Goeldi, em Belém – mal
sabia ele que aquela visita iria mudar sua
vida e de toda uma comunidade - e conta
que ficou fascinado com os vasos, urnas
funerárias, estatuetas, enfim, a cerâmica
arqueológica da Amazônia, que não conhecia.1 De imediato associou aquela com a
cerâmica que sua mãe fazia de maneira
artesanal, à moda indígena, quando ele ainda era criança. Um pensamento cruzou sua
mente: se os índios puderam produzir algo
tão exuberante apenas com o barro e as
matérias-primas existentes na mata, ele
também poderia! Começou aí sua história
de mais de 30 anos de pesquisas sobre a
cerâmica arqueológica marajoara e tapajônica,
tempo durante o qual leu todos os livros,
artigos e matérias de revistas que pudesse
obter. Mesmo sem o curso primário completo, garimpou bibliotecas e entrevistou arqueólogos, buscando aprender sobre os pro-
(1) As informações constantes deste texto foram
obtidas em entrevista com Mestre Cardoso em sua
casa em Icoaraci em dezembro de 2005.
23
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
cessos indígenas de produção da cerâmica,
entender seus contextos de uso e, de modo
geral, conhecer a história dos povos que a
produziram. Valendo-se de um parente que
trabalhava no Museu Goeldi, conseguiu uma
entrevista com o arqueólogo Mário Simões
e lhe falou sobre sua idéia de reproduzir
réplicas da cerâmica arqueológica. Com a
oportunidade que se abriu de examinar as
peças originais e produzir as réplicas dentro do próprio museu, Raimundo Cardoso
conseguiu as condições necessárias para
desenvolver sua arte e depois disseminá-la
em sua comunidade.
De lá para cá, Mestre Cardoso, como é
chamado, tornou-se um ícone da produção
cerâmica no Estado do Pará, com trabalhos
seus vendidos inclusive para museus no exterior. Juntamente com sua mulher e filho,
produzem ainda réplicas perfeitas de peças
arqueológicas e é capaz de falar sobre a arqueologia da Ilha de Marajó com a propriedade de um pesquisador. Discute os dados
arqueológicos e hipóteses com o cuidado de
um estudioso e tornou-se uma referência
para o artesanato regional.
A partir da produção de Mestre Cardoso
e dezenas de ceramistas que o seguiram,
estabeleceu-se um pólo de produção cerâmica no Distrito de Icoaraci, que hoje exporta todo o tipo de peças cerâmicas para o Brasil e o exterior. Surgiram outros pólos de
produção também em Santarém, no Amapá
e na Ilha de Marajó. A produção e venda de
cerâmica “arqueológica” torna possível hoje
o sustento de centenas de pessoas, sendo
essa economia estimulada por órgãos públicos, privados, associações de classe e a
mídia. Isso permitiu a divulgação da “cultura marajoara” principalmente (objetos de
outras culturas arqueológicas são também
reproduzidos, mas em menor escala), ainda
que a maior parte das peças produzidas –
mais de 90% - não sejam réplicas das peças
arqueológicas, mas obras de livre inspiração
nos grafismos, formas e decoração arqueológicos. Mesmo as técnicas de fabricação,
que Mestre Cardoso teve o cuidado de reproduzir da maneira indigena, são hoje mo24
dernizadas tendo em vista o caráter quase
industrial da produção: os ceramistas usam
tornos e tintas industrializadas, vernizes e
instrumentos que eram desconhecidos aos
índígenas.
Poucos são os que têm consciência, no
entanto – produtores e consumidores – sobre as diferenças entre a cerâmica arqueológica e a contemporânea, especialmente
porque ambas se chamam “marajoara”.
Tenho ouvido as pessoas se referirem à cerâmica tapajônica (a arqueológica é encontrada na cidade de Santarém), por exemplo,
como “Tapajoara”, e ainda não é claro para
mim se se trata de um estilo híbrido ou se é
somente um nome novo que estão dando
para a cerâmica inspirada nos objetos da fase
Santarém.
A maior parte dos ceramistas não teve
a oportunidade - diferentemente de Mestre Cardoso e outros - de produzir réplicas
dentro do Museu Goeldi a partir de peças
originais; por esse motivo buscam inspiração em fotos e desenhos encontrados em
livros e catálogos. Se, por um lado, a produção artesanal veio a divulgar e chamar
a atenção para a cultura arqueológica, por
outro o faz de maneira equivocada. A cerâmica produzida em Icoaraci possui hoje
diversos estilos, incorporando inclusive
grafismos da arte rupestre, especialmente
após a publicação do livro “Arte da Terra”,
pelo SEBRAE em 1999, que contém textos
direcionados ao público leigo, produzidos
por três arqueólogas e uma antropóloga.
Ao produzir artesanato de inspiração arqueológica, o produtor/vendedor se vale da
relação com o bem cultural resgatado do
passado para agregar um valor cultural,
simbólico ao seu objeto, o que vem a elevar seu valor como mercadoria. Dentro da
dinâmica do mercado, é visível que a produção vem tendendo a se moldar às exigências e demandas do consumidor. Nesse sentido, as inovações passam pelo crivo do mercado e passam a ser incorporadas ou não ao estilo dependendo da possibilidade de aumento de vendas. Quanto ao
valor simbólico, ao ser indagado pelo com-
ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan
prador sobre os significados dos grafismos
e a relação com a cultura arqueológica,
grande parte dos artesãos, com raras exceções, não se dá ao trabalho de ir às fontes, como fez Mestre Cardoso. Eles simplesmente inventam. Ao fazer reviver a
cerâmica arqueológica, Mestre Cardoso
acabou inventando uma tradição.
AS REPRESENTAÇÕES POPULARES
Através de minha convivência com o público e artesãos através de cursos, entrevistas, conversas, internet e observação da relação vendedor - cliente em lojas de venda
de artesanato, entre outros, tenho observado que existe uma grande curiosidade sobre
a cultura marajoara, que se manifesta particularmente com relação aos seguintes temas:
1) A antigüidade da cultura marajoara.
O público demonstra um interesse muito
grande pelo antigo, particularmente pelo
“mais” antigo. Quando são informados que
a maior parte dos artefatos de cerâmica produzidos pelas sociedades marajoara tem
apenas mil anos de idade, ficam claramente
decepcionados. Recentemente, em um
fórum de debates, mencionei em minha palestra que, enquanto a ocupação da ilha de
Marajó remontava há 3.500 anos, a sociedade marajoara emergiu enquanto tal há
1.500 anos atrás. Os dois profissionais que
me seguiram nas apresentações fizeram
menção à cultura marajoara afirmando respectivamente que “urnas marajoara tem milhões de anos” e “aprendemos hoje que a
cultura marajoara tem 3.500 anos”. Esse
exemplo, vindo de profissionais de nível superior, que têm dificuldade de reproduzir corretamente o que acabaram de ouvir e de
aceitar a pouca antigüidade da cultura
marajoara, é bastante ilustrativo do comportamento do público leigo em geral.
2) A origem da sociedade marajoara.
Uma pergunta que sempre me fazem em
entrevistas e conversas informais diz respeito à origem das populações marajoaras. As
pessoas ficam bastante decepcionadas quando informo que as evidências apontam para
um desenvolvimento local da cultura
marajoara, o que é plenamente aceito hoje
pela maioria dos especialistas trabalhando
na Amazônia. No entanto, as hipóteses
lançadas pelos evolucionistas do século XIX
e aqueles profissionais ligados à ecologia
cultural da metade do século XX, de que a
sociedade marajoara havia se originado em
algum local fora da floresta tropical são mais
bem aceitas e continuam sendo reproduzidas
tanto na mídia quanto em trabalhos universitários.
3) O significado das representações na
cerâmica. As pessoas têm necessidade de
receberam respostas completas e imediatas sobre o significado das representações
na cerâmica e não questionam a fonte da
informação. É comum que vendedores de
cerâmica contem estórias fantasiosas e claramente produzidas no calor do momento a
clientes ávidos por significados para aqueles objetos exóticos. Por exemplo, um turista americano esteve recentemente em
uma loja de artesanato em Soure, na Ilha
do Marajó, e comprou uma caneca de cerâmica onde havia a representação de um
sapo. O turista havia comentado com o vendedor que seu irmão iria-se casar. O vendedor então contou uma lenda sobre a origem daquela vasilha, que teria sido utilizada em cerimônias de casamento. Os noivos
deveriam beber juntos ritualmente da mesma vasilha para demonstrar seu amor e fidelidade. O turista se encantou pela estória
e levou a vasilha. Depois resolveu procurar
saber mais sobre aquele ritual amazônico
antigo, pesquisando na internet. Foi quando entrou em contato comigo, relatando o
acontecido. Informei então que a tal vasilha
não era uma réplica de um objeto arqueológico e que a lenda como tal também não
era conhecida. Apesar de decepcionado, o
turista achou a estória engraçada. No entanto, não sabia agora se contaria a verdade aos noivos ou se manteria a estória do
vendedor que, segundo ele, era mais interessante.
25
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
TRADIÇÕES INVENTADAS
Recentemente, antropólogos e historiadores têm-se tornado cientes de que diversas práticas que são consideradas tradicionais são na verdade invenções recentes,
freqüentemente utilizadas para servir a fins
ideológicos específicos. Estas construções
se dão na forma de tradições simbólicas ou
cerimônias de grande alcance popular, cujas
origens são tidas como distantes no tempo,
apesar de poderem ter sido inventadas em
um curto espaço de tempo ou mesmo em
um só evento. Antropólogos e arqueólogos
têm alertado para o fato de que as preocupações com o antigo, a busca do passado, é
sempre feita dentro das expectativas e com
propósitos políticos desenhados no presente
(Carman 1995; Moore 1995). Desta forma,
a recuperação de uma memória pretérita
pode vir a servir a fins ideológicos, políticos
ou econômicos.
Eric Hobsbawm define as “tradições inventadas” como um conjunto de práticas,
normalmente governadas por regras aceitas
aberta ou tacitamente, de natureza simbólica ou ritual, que buscam inculcar certos valores e normas de comportamento pela repetição, que automaticamente implica continuidade com o passado. De fato, onde é
possível, normalmente tenta-se estabelecer
uma continuidade com um passado histórico
adequado... Entretanto, ainda que exista tal
referência ao passado histórico, a peculiaridade das tradições ‘inventadas’ é que a continuidade com ele é largamente fictícia. Em
resumo, existem respostas a novas situações
que tomam a forma de referência a velhas
situações ou que estabelecem seu próprio
passado por uma repetição quase obrigatória” (Hobsbawm 1983: 1).
Hobsbawm (op.cit.: 4) considera que
existem tradições inventadas em diversas
partes do mundo e que conjunturas de rápida transformação social são mais propícias
para a criação de novas tradições, uma vez
quie as velhas podem estar desaparecendo.
Mas não somente novas práticas podem ser
entendidas como tradições inventadas, mas
26
também fenômenos mais sutis podem ser
considerados. Segundo a mesma perspectiva, como por exemplo, o uso de tradições
antigas para novos propósitos ou também o
re-uso de elementos antigos em novos contextos. Especialmente tradições “extintas
podem tornar-se tradições reinventadas” (op.
cit. :5-8) quando aparecem.
Neste sentido, Hobsbawm (op. cit.: 9)
distingue entre três tipos de tradições inventadas, cada uma com uma função distinta:
a) aquelas estabelecendo ou simbolizando
coesão social e identidades coletivas; b)
aquelas estabelecendo ou legitimando instituições e hierarquias sociais; e c) aquelas
socializando pessoas em contextos sociais
particulares. O primeiro tipo freqüentemente
se refere ou implica as duas seguintes também.
As tradições inventadas, ainda segundo
Hobsbawm (op. cit. 12), usam as referências ao passado não apenas para trabalhar
coesão social, mas também para legitimar
suas ações. Logo, historiadores e antropólogos devem estar cientes do uso político que
suas reconstruções do passado podem ter
na esfera pública. Depreende-se daí que
especialmente o trabalho de arqueólogos,
que se dedicam ao estudo do passado distante, tornar-se crucial em contextos políticos modernos em que se pretende negociar
identidades nacionais e étnicas.
“Inventar” tradições com objetivos políticos não é tema novo na história e pode ser
demonstrado em sociedades arqueológicas da
pré-história recente. O uso de enterramento
secundário e construção de estruturas
megalíticas é interpretado por arqueólogos
como maneiras de reverenciar os antepassados ou o próprio passado heróico de um
povo, sendo usado para legitimar o poder e
sistemas de valor, assim como reforçar estruturas hierárquicas na sociedade, perpetuando uma determinada ordem social
(Holtorf 1998).
A representação do “outro” no passado
(Carman 1995) é prática cotidiana dos arqueólogos, que nem sempre se questionam
sobre a legitimidade de sua construção, ao
ARQUEOLOGIA, PÚBLICO E COMODIFICAÇÃO DA HERANÇA CULTURAL: O CASO DA CULTURA MARAJOARA
Denise Pahl Schaan
não se preocupar com os contextos sociais e
políticos nos quais seu texto é produzido. A
representação do “outro” no passado deveria então ser um ponto de reflexão dentro de
projetos que colocam frente a frente cientistas sociais e comunidade.
CONCLUSÕES
A cultura marajoara vem sendo trabalhada na mídia e nas representações populares como um estilo estético antigo que remonta às origens das populações que habitam o Estado do Pará. Nesse processo de
recuperação de uma estética antiga, novos
significados lhe são atribuídos, mediados
pelo discurso arqueológico, pela história oral
e pela imaginação popular. Esse processo,
sempre em construção, parece seguir uma
lógica capitalista onde a produção e venda
de objetos decorativos se potencializa graças ao acoplamento de um valor cultural. Na
medida em que os significados são negociados com base em interesses econômicos,
entretanto, a lógica do lucro impõe os limites e possibilidades da reconstrução histórica, chegando-se a um resultado bastante
diferente daquele mediado pelo conhecimento científico.
A cultura marajoara enquanto “tradição inventada” possui muito pouco da referência original ao passado e há uma tendência crescente de diferenciação das duas
coisas (passado e presente) sem que essa
diferenciação seja explícita. Isso se dá de
duas maneiras: a) através da modificação
crescente de estilos e formas dentro do
processo de produção de objetos cerâmicos
contemporâneos atendendo às expectativas do mercado; e, b) através da transmissão oral do conhecimento produzido por
arqueólogos. A representação do passado, mediada pela arqueologia, possui uma
dinâmica própria que foge do controle dos
cientistas e cuja lógica pode ser encontrada nas expectativas dos indivíduos sobre a
construção de um “outro” que está no passado distante.
A produção de conhecimento científico
não se esgota com a pesquisa e a publicação de um trabalho, pois o pesquisador não
pode se furtar à responsabilidade pelas conseqüências e desdobramentos – na maioria
das vezes inevitáveis, é claro –da difusão do
conhecimento, que dizem respeito à relação
que se estabelece entre cientistas sociais e
público. No exemplo que mostramos sobre
o uso popular do jargão científico da escola
histórico-cultural fica claro que, se o pesquisador se furta em traduzir para o público a
história do passado de uma maneira inteligível, esse mesmo público irá buscá-la dentro
dos museus e bibliotecas. Seguidamente me
perguntam sobre os Ananatuba (fase
Ananatuba, a mais antiga do Marajó segundo Meggers & Evans 1957), sobre como eles
viviam e como desapareceram. Como explicar que Ananatuba é simplesmente uma fase
cerâmica sem um necessário correspondente étnico? Que aqueles povos somente desapareceram no imaginário dos arqueólogos
que os criaram? Em uma outra ocasião, um
repórter que estava fazendo uma matéria
sobre uma cópia de dois metros de altura de
uma urna feita por um ceramista em Icoaraci
me procurou para que eu falasse sobre a
importância da urna que, segundo ele, havia
sido encontrada em Joanes, na Ilha de
Marajó. Ora, eu sabia que dificilmente a urna
teria sido encontrada em Joanes e suspeitei
que a urna que estava sendo reproduzida era
uma urna do tipo “Joanes Pintado”, que de
Joanes só tinha o nome infeliz, dado por arqueólogos na década de 1950 e reproduzido
à exaustão em catálogos e exposições
museológicas.
A cultura marajoara que é reivindicada
no Estado do Pará como parte da história
local não é, parafraseando Hobsbawm (2002:
13), aquela que “foi preservada na memória
popular, mas a que foi selecionada, escrita,
retratada, popularizada e institucionalizada
por aqueles que tem a função de fazê-lo”. O
interesse do público pelo passado é o que
nos mantém trabalhando, que justifica nossos salários, bolsas de pesquisa e financiamentos, portanto não é de se estranhar que
27
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
queiram acesso à história que produzimos.
Mas assim como os arqueólogos desejam
alguma segurança em suas reconstruções o
público leigo busca a história completa, o
quadro acabado. Isso porque existe um apelo
em prover esta história com um fio de continuidade (fictício) que a liga ao presente, legitimando as produções contemporâneas.
Talvez, como Hobsbawm (2002: 2) coloca,
sejam as incertezas e as constantes mudanças de nossa era que fazem com que os seres humanos tentem “estruturar pelo menos
algumas partes da vida social como imutáveis e invariantes”.
Não pretendemos com este trabalho esgotar uma discussão, mas chamar a atenção
para a existência de contextos sociais, políticos e econômicos nos quais se dá a utilização
do conhecimento produzido sobre o passado,
uma vez que estes tendem a passarem despercebidos. Os programas de educação
patrimonial muitas vezes colaboram na invenção de tradições, especialmente na Amazônia, onde têm estimulado a produção de ce-
râmica inspirada em artefatos arqueológicos,
direcionando a participação das comunidades
nesse sentido, em um processo não completamente consciente por parte dos educadores. O uso do passado para promover coesão grupal e identidade social não é uma estratégia nova dos programas de educação
patrimonial, mas foi usada por toda a história
da humanidade com os objetivos mais diversos, dos mais nobres aos mais espúrios. Por
isso a necessidade de que a re-significação
de objetos e práticas antigas dentro de contextos novos venha acompanhada pela consciência dos processos históricos nos quais se
insere e aos quais contribui, maneira pela qual
esta práxis pode vir a somar verdadeiramente para a construção de cidadania e identidade. O passado é sempre construído a partir
do presente e em função do presente. Como
disse Moore (1995: 51): “nossas representações criativas do passado são moldadas não
pelo que sabemos ser verdadeiro sobre o
passado, mas o que acreditamos ser verdadeiro sobre o presente”.
Abstract: This article analyses the public appropriation of Marajoara
cultural heritage, which revival, in a capitalist context, produces new
meanings. The text call attention to the expectations of the audience onto
the past, as well as the mistaken understandings caused by the diffusion
of archaeological jargon. It is proposed that it is necessary to reflect on
the role played by the archaeologist, historian, and educator in the creation
of cultural traditions, as well as to question our own epistemological
reconstructions of the “other” (the past), being aware of the social,
economic, and political contexts in which this activity takes place.
Key words: Public archaeology –Marajoara culture – cultural traditions –
scientific diffusion
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PARA SABER O QUE O PÚBLICO PENSA SOBRE ARQUEOLOGIA...
Marília Xavier Cury*
Resumo: O presente estudo se desenvolveu entre 2003 e 2005 no Museu
Água Vermelha de arqueologia regional, em Ouroeste, estado de São Paulo, Brasil. Consistiu na tese de doutorado intitulada Comunicação Museológica
– Uma Perspectiva Teórica e Metodológica de Recepção, defendida na Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.1
Neste texto, apresentamos para discussão alguns aportes da pesquisa de
maneira sintética e parcial.
A pesquisa se sustentou teórica e metodológicamente nas áreas de
museologia, comunicação e recepção. Quanto à museologia, foram focadas
essencialmente a expologia, expografia e educação patrimonial.
Palavras-chave: Comunicação da arqueologia – Comunicação
museológica – Exposição arqueológica. Educação patrimonial – Avaliação
museológica.
Introdução – A descoberta arqueológica
No ano de 1997, às margens do rio
Grande e junto à Usina Hidrelétrica Água
Vermelha – município de Ouroeste, Estado
de São Paulo – foram achados vários sepultamentos humanos, posteriormente
identificados como pré-coloniais 2 A descoberta gerou duas campanhas arqueológicas entre 1997 e 19983 e a pesquisa de-
(*) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo - [email protected]
(1) Sob a orientação da Profa. Dra. Maria Immacolata
Vassallo de Lopes.
(2) A identificação foi feita pela arqueóloga Maria
Lucia Pardi.
(3)O início dos trabalhos deu-se a partir do contrato
firmado entre a CESP e o MAE/USP (Contrato MMA/
CESP – MAE/USP – 001/97) e da autorização do IPHAN
concedida na Portaria 43, publicada no Diário Oficial
da União em 24/9/1997.
senvolvida por uma equipe interdisciplinar
– antropólogos físicos, zooarqueólogos,
geoarqueólogos, arqueólogos especialistas
em grupos ceramistas e caçadores-coletores4 – revelou uma situação arqueológica
complexa e inédita, o que deveria ser devidamente explorado.
Em 2002, sob a mediação do Ministério
Público Federal, foi firmado o TAC-Termo de
Ajustamento de Conduta pelo prefeito municipal de Ouroeste e por representantes do
IPHAN-Instituto do Patrimônio Histórico e Ar-
(4) São eles: Profs. Drs.: Erika Marion RobrahnGonzález, coordenadora e especialista em grupos
ceramistas; Marisa Coutinho Afonso, geoarqueóloga;
Paulo Antonio Dantas De Blasis, especialista em
grupos caçadores-coletores; Levy Figuti,
zooarqueólogo; Eduardo Goes Neves, especialista em grupos ceramistas; e Sabine Eggers, antropóloga física.
31
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
tístico Nacional, Ministério da Cultura,5 e da
A. E. S. Tietê S. A.6
De acordo com o TAC, várias ações deveriam ser tomadas quanto à preservação e
comunicação do acervo arqueológico. Em síntese, promover o salvamento e monitoramento
arqueológico, criar um museu de arqueologia regional, criar projeto de lei para uma
Política Municipal de Preservação do
Patrimônio Arqueológico.
O Museu de Arqueologia e Etnologia da
USP foi, então, convidado para o desenvolvimento do salvamento arqueológico7 e
para a concepção e implantação daquele
que passou a ser chamado de Museu Água
Vermelha. 8
Após a assinatura do TAC foi realizada
mais uma etapa de escavação e a análise
arqueológica em laboratório. Em paralelo,
deu-se início aos trabalhos museológicos
para a plena instalação do museu.
No dia 2 de setembro de 2003 foi inaugurado o Museu Água Vermelha e a exposição de longa duração Ouroeste: 9 Mil Anos
de História.
Apresentação – Da arqueologia à
museologia
A pesquisa arqueológica nos sítios Água
Vermelha transcorreu em alguns anos – entre as etapas de escavação, a análise
laboratorial e a redação de relatórios cientí-
(5) A arqueóloga Maria Lucia Pardi.
(6) The AES Corporation adquiriu o controle acionário
da CESP em 27/10/1999 em função do Programa Estadual de Desestatização. A Usina Hidrelétrica Água
Vermelha é uma das 10 que compõem a AES Tietê S.
A., uma das empresas geradoras do grupo AES
Corporation.
(7) Os arqueólogos responsáveis foram os Profs. Drs.:
Paulo Antônio Dantas De Blasis e Erika Marion
Robrahn-González. O primeiro é pesquisador do MAE/
USP e a segunda é colaboradora da empresa Documento Antropologia e Arqueologia.
(8) O projeto museológico foi coordenado pela Profa.
Dra. Marilia Xavier Cury, museóloga do MAE/USP.
32
ficos. Esses anos de trabalho, sem dúvida,
resultaram em uma base científica consistente para a aplicação museológica e, em
decorrência disto, a criação de um museu
comprometido com a população regional.
Como conseqüência – e porque não poderia
ser de outra forma – buscamos apoio às bases
concernentes ao nível de profissionalização
que uma instituição museológica contemporânea exige.
Independentemente do porte físico do
Museu Água Vermelha – 250 m2 – a equipe
de museologia9 buscou o aporte museológico
condizente com a relevância arqueológica e
com a responsabilidade social que o museu
passaria a ter na região.
As ações museológicas foram estruturadas
a partir da operação do processo curatorial
– (a) aquisição do acervo; (b) pesquisa, conservação, documentação museológica; (c)
comunicação (exposição e educação)10 – e
compreenderam diversos aspectos e um
cronograma: (1) elaboração da estimativa
orçamentária – novembro de 2000; (2) realização e discussão do programa
arquitetônico11 – março de 2001; (3) conclusão do projeto museológico-institucional12 –
abril de 2001; (4) elaboração dos sub-projetos para reserva técnica e para documentação museológica e da história institucional –
maio de 2002 a março de 2003; (5) avaliação técnica do edifício em construção – setembro de 2002; (6) instalação da reserva
técnica e implantação do sistema de documentação – março de 2003; (7) treinamento
(9) Formamos a Equipe de Gestão Museológica composta por Ana Carla Alonso, Aureli Alves de Alcântara
e Joana Montero Ortiz.
(10) A aquisição/coleta do acervo e a pesquisa ficaram a cargo da equipe de arqueologia, ao passo que
as ações de conservação preventiva, documentação, exposição e educação ficaram sob a responsabilidade da equipe de museologia.
(11) A autora do projeto arquitetônico é Cássia
Magaldi.
(12) As responsabilidades pelo projeto museológico
e programa arquitetônico foram divididas com a Profa.
Dra. Erika Robrahn-González, arqueóloga.
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
de conservação preventiva e documentação13
– março de 2003; (8) elaboração dos subprojetos expositivo e educativo – maio a setembro de 2003; (9) avaliação conceitual ou
pré-avaliação – março de 2003; (10) montagem da exposição e implantação do projeto
educativo – maio a setembro de 2003; (11)
treinamento sobre expografia e educação –
junho e setembro de 2003;14 (12)inauguração da exposição Ouroeste – 9 Mil Anos de
História – 2 de setembro de 2003; (13) início
do atendimento escolar – 3 de setembro de
2003; (14) avaliação da exposição – setembro a novembro de 2003; (15) conclusão da
pesquisa de recepção da exposição15 – maio
de 2005.
A comunicação museológica no Museu
Água Vermelha
A exposição para um museu é a sua parte
mais visível. É, também, o que torna uma
instituição preservacionista um museu, isto
porque um museu preserva e comunica. Não
é possível, para um museu, prescindir de um
acervo, mas o acervo não o torna museu, o
que somente é possível com a comunicação
e, especialmente, com a exposição. Não é
possível, para uma exposição, prescindir do
acervo, pois corre o risco de perder o seu
status privilegiado de linguagem museológica.
Nenhuma outra linguagem alcança ser aquilo que a exposição museológica é.
A dinâmica de um museu opera a partir
do processo museológico e este não é linear.
Ao contrário, é cíclico e, além disto, uma ação
intervém na outra. Sendo um sistema, valeria a pena pensar este processo em sua di-
(13) A partir de 2003 a Prefeitura de Ouroeste indicou três funcionários para cuidar do museu. Eles foram treinados pela equipe de museologia do MAE.
(14) Todas as ações foram desenvolvidas pela Equipe Gestão Museológica.
(15) A pesquisa de recepção faz parte de CURY, Marília
X. Comunicação museológica – Uma perspectiva teórica e metodológica de recepção, tese defendida em
maio de 2005.
mensão sinérgica, quando cada uma de suas
ações age simultaneamente sobre as outras.
O processo curatorial é a cadeia operatória
cíclica que compreende a formação do acervo, pesquisa, salvaguarda (conservação e
documentação) e comunicação (exposição e
educação). O ciclo se fecha, sem nunca se
completar, com a comunicação, sendo que
esta não é a última etapa do processo, ou
seja, na sinergia a comunicação atua igualmente e simultaneamente e não como etapa
posterior que se desdobra das outras.
Comunicação museológica – na contramão dos ideais que a hegemonia faz questão de manter – não consiste na absorção
pelo público de um conhecimento transmitido a ele pelo museu, como um indivíduo submisso ao impacto da mensagem museológica,
ora passivo, ora reativo. Entretanto, a comunicação museológica não se encerra no
museu – o meio – e sim no cotidiano das
pessoas. A moderna teoria da comunicação
fez deslocar as discussões dos “meios para
as mediações” culturais que ocorrem no cotidiano das pessoas (Martín-Barbero 1997).
Com isto, entende-se que o cotidiano do público é o mediador da sua participação
interpretativa, ou seja, o público em museus
interpreta a partir da sua experiência
vivencial. Indo além, entende-se que o público é participante do processo museológico
porque ele traz para o museu a sua interpretação. Interpretar, para os esclarecimentos devidos, é uma ação associada de forma
indissociável à “leitura” e a “(re)significação”:
não há leitura sem interpretação, do contrário não houve leitura de fato, pois ninguém
lê exatamente igual ao outro. Ler não é simples decodificação de “palavras”. Por outro
lado, não há interpretação sem leitura (que
é o que permite a interpretação) e a interpretação é, em si, recriação de significados,
ou ressignificação. Neste sentido, a comunicação museológica é comunicação dos sentidos patrimoniais e as mensagens implícitas
e explicitas em uma exposição são proposições
de significados que serão (des)construídos,
reelaborados, negociados, trocados, pelo visitante em atitude dialógica com o museu.
33
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
O projeto de comunicação do Museu
Água Vermelha – que engloba a exposição e
a ação educação vinculada a ela – partiu
destes pressupostos.
Inicialmente, e entendendo que a recepção é um processo que antecede e sucede a
visita a um museu e a uma exposição, foi
realizado um estudo com um dos públicos
prioritários do museu: estudantes dos ensinos fundamental e médio.16
Para a museologia, esta é uma das formas de avaliação museológica,17 que se enquadra nos chamados estudos de público, o
que denominaremos de pesquisa de recepção. Assim, dentro da perspectiva da pesquisa de recepção, foi desenvolvida uma avaliação conceitual, preliminarmente à elaboração da exposição, com estudantes.
Partimos da constatação que a comunicação institucionalizada da arqueologia está
na mão da escola e do museu. Sabemos, no
entanto, que há um descompasso entre a
(pouca) quantidade de museus arqueológicos e a amplitude e complexidade dos conhecimentos sobre arqueologia brasileira.
Sabemos, também, que, na escola o professor, sem suportes outros, apóia-se no livro
didático como instrumento para ministrar os
conteúdos arqueológicos. Recente estudo
analisou “A abordagem do período pré-colonial brasileiro nos livros didáticos do ensino
fundamental” (Vasconcellos et al. 2000) e nos
apontou algumas vertentes a partir de um
conjunto de 12 livros de 10 autores, selecionados ou por critérios mercadológicos (os
mais vendidos) ou pelo oficial (aqueles indicados para a escolha pelos professores da
Rede Pública de Ensino para posterior distribuição gratuita aos alunos). Os autores, na
análise que fizeram, apresentaram diversas
(16) A pesquisa de recepção desenvolvida no Museu
Água Vermelha compreendeu duas etapas: a preliminar à exposição e a pós montagem. Este texto apresenta a etapa preliminar e como esta se vinculou à
concepção da exposição.
(17) Quanto às formas de comunicação museológica,
vide Cury 2006.
34
questões: a postura evolucionista de alguns,
periodização européia como referência em
outros, e – quando há um enfoque brasileiro –
o texto é de autoria de historiador desvinculado
da produção em arqueologia. Os autores concluíram o estudo com a triste constatação de
que é do professor a incumbência de
desconstruir e reconstruir com seus alunos o
conhecimento sobre esse passado, recorrendo, para tanto, ao museu de arqueologia como
espaço de produção e comunicação arqueológica (Vasconcellos et al. 2000: 237).
Voltamos ao ponto de partida: são poucos os museus; o professor recorre ao livro
didático, cuja mensagem precisa ser
(des)construída por ele com base nas informações comunicadas pelos museus de arqueologia!
Em síntese, não sabemos o que os brasileiros pensam sobre arqueologia. O que
sabemos (ou temos como hipóteses) é que
os brasileiros recebem informações superficiais e desconexas ou descontextualizadas;
às vezes preconceituosas, importadas e, outras vezes, fantasiosas.
Em Ouroeste, os estudantes que participaram da pesquisa conviveram nas ruas com
arqueólogos, receberam alguma informação
sobre o que estava acontecendo e estavam
bastante curiosos com o “cemitério de índio”
em um dos sítios arqueológicos junto à Usina Água Vermelha.
Pesquisa de recepção: a
avaliação conceitual
A pesquisa foi realizada em março de
2003, e antes de iniciar a concepção da exposição Ouroeste: 9 Mil Anos de História,
por meio da aplicação de um questionário
em estudantes da 7a e 8ª séries do ensino
fundamental e de 1º, 2º e 3º anos do ensino
médio da E. E. Sansara Singh Filho. O objetivo foi aferir o conhecimento que esses
estudantes tinham sobre arqueologia e sobre o passado pré-colonial brasileiro. 298
estudantes participaram dessa etapa da
pesquisa de recepção.
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
Considerando que esta etapa da pesquisa tem interesse central na relação dos
estudantes com a questão indígena, e nos
conhecimentos que eles possuem sobre
arqueologia, organizamos as perguntas do
questionário para averiguação dessas
questões. No entanto, não fizemos distinção entre etnologia e arqueologia e índio
dos períodos pré-colonial e contemporâneo, até porque não há a presença indígena na região atualmente ou num passado próximo. A presença indígena existe
nos nomes de algumas cidades, na referência do rio Grande e no imaginário sobre a cachoeira dos Índios (destruída para
a construção da usina). Essa “mistura” de
entendimento por parte do público e os
discursos que ela gera são construções,
enunciações elaboradas e assimiladas.
Não pretendemos levantar e analisar esses discursos - adentrar em suas camadas e buscar suas raízes e estrutura de
funcionamento -, o que seria muito frutífero para a comunicação da arqueologia,
mas seria um estudo de profundidade – e
de extrema necessidade – que a pesquisa
em questão não comportou.
Por outro lado, não consideramos, na
pesquisa, que a arqueologia seja um campo
vasto que envolve a construção de conhecimento por meio de vestígios da cultura material, do passado pré-colonial ou colonial, e
mesmo do presente. Consideramos, sem
entrar no mérito com os estudantes, a arqueologia pré-histórica.
O questionário contou com questões com
múltiplas escolhas, com espaços para justificativas ou esclarecimentos por meio de respostas abertas.
Os dados sofreram uma análise quantitativa e tornaram-se fundamentais para a
concepção da exposição.
tem apenas 52 anos de existência e 818 de
emancipação de Guarani D‘Oeste, da qual era
distrito. De acordo com o censo de 2002, o
município possui 6290 habitantes – sendo
3159 homens e 3131 mulheres – e 5387 eleitores (87% da população). Em 2004 ocorreram 1073 matrículas no ensino fundamental
e 419 no ensino médio. O município possui
três escolas de ensino fundamental, duas de
ensino médio e duas de educação infantil.
Destas apenas uma é particular.
Os dados coletados com os estudantes
revelaram que apenas 13 (4,4%) nasceram
em Ouroeste e nenhum em cidades limítrofes
(Fernandópolis, Indiaporã, Guarani D’Oeste
e Paranapuã). 10,1% deles nasceram na região (aproximadamente 150 km ao redor de
Ouroeste), ou seja, apenas estes dois
percentuais (na soma, 14,5%) têm vínculos
com a história regional e com a memória do
território, e os demais (81,1%) precisam
construir vínculos territoriais. 24,8% dos estudantes vivem há até 5 anos na cidade,
14,4% vivem entre 6 e 10 e 49,3% vivem 11
anos ou mais.
Desses 298 estudantes, 144 (48,3%) são
do ensino fundamental e 154 (51,7%) do
ensino médio.
A idade desses estudantes varia entre 12
e 18 anos. No ensino fundamental temos um
grande número de adolescentes entre 13
(47,9%) e 14 anos (25,7%). No ensino médio
temos uma concentração maior entre 15
(40,9%) e 16 anos (37%). Os dados de idade
não surpreendem, principalmente porque são
estudantes dos períodos da manhã e da tarde.
A relação dos estudantes com
a arqueologia
A primeira fala dos receptores
Diversas questões foram feitas para levantar o nível de conhecimento dos estudantes sobre arqueologia. Uma delas foi se eles
já estudaram, e quando, a pré-história bra-
Esta etapa do estudo revelou aspectos
importantes sobre a população jovem da cidade. Ouroeste é uma cidade jovem, pois
(18) Dados referentes ao ano de 2005, quando a
pesquisa, quando a pesquisa foi concluída.
35
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
sileira. Dos que responderam sim (32,9%),
a maioria aprendeu na escola em várias séries entre a 4a. do ensino fundamental e o
3o. ano do ensino médio, e alguns (1,3%)
aprenderam pela TV ou com o pai. 6,4%
deles não se lembram em que séries aprenderam. 18,1% dos estudantes responderam
que não estudaram, 47,3% não se lembram
e 1,7% não respondeu à questão. Nesta
questão usamos o termo pré-história por ser
o mais familiar nos livros didáticos.
Procuramos, então, levantar o que eles
sabem sobre pré-história por meio de uma
questão direta. Pedimos a eles respostas diretas também, deixando-os à vontade para
ser sinceros, pois não estavam sendo testados. As respostas foram diretas: 52,3% dos
298 estudantes responderam “não sei nada”
ou “não me lembro de nada”, sendo que
63,9% dos 144 alunos do ensino médio tiveram esta resposta, bem como 41,6% dos 154
dos alunos do ensino fundamental. Apenas
19,1% relacionaram a pré-história à existência de índios no passado (13,8%), a homens
que viviam em cavernas (1,3%), ou com um
modo de vida diferente do nosso, precisando
fazer fogo (1%), e que a pré-história foi antes da nossa colonização ou na Grécia (3%).
Alguns consideram que sabem pouco
(13,4%), e outros (2,3%) afirmaram que sabem muito ou tudo. Nos dois casos os
respondentes não discriminam o “pouco” ou
o “muito” que conhecem. 9,1% deles não responderam. As respostas relacionando pré-história a dinossauros não foram muitas, como
se poderia supor: apenas 6,4% da amostra.
Quanto à questão: “O que é arqueologia
para você?”, uma parcela grande da amostra (34,6%) não sabe e 6% dela não respondeu. Para os demais, (1) a arqueologia estuda civilizações, ou povos antigos, ou seres
pré-históricos, ou os índios brasileiros
(23,1%); (2) a arqueologia estuda coisas,
objetos antigos/do passado, estuda ossos
(19,4%); (3) a arqueologia estuda ossos de
animais, como os dinossauros ou fósseis
(9,1%); (4) a arqueologia faz descobrimentos em vários países e é um trabalho bonito,
uma coisa incrível (7,8%).
36
E “Você acha arqueologia importante?”
64,8% acham que sim, 25,2% não sabem,
7,7% acham que tem uma importância relativa e 2% não acham a arqueologia importante. Dos comentários que fizeram, para
27,8 % da amostra de 298 que responderam
sim, da justificativa é que: a arqueologia é
importante para que possamos descobrir/
saber como viviam os antepassados (24,8%),
ou para desvendar a nossa evolução e as
origens da humanidade (3%). 7,4% acham
a arqueologia importante porque ela descobre coisas antigas. Para 13,1% da amostra,
a arqueologia é uma forma de aprender fatos novos e diferentes, e para 4,7%, toda
profissão é importante. Apenas 2% dos
respondentes acham a arqueologia importante para se saber mais sobre a história da
região e do País. Apesar de considerarem a
arqueologia importante, 9,7% dos estudantes não se justificaram. Aqueles que
relativizaram a importância da arqueologia
ou não a consideram importante, não manifestaram interesse especial, acham-na chata ou desconhecem o suficiente para manifestar opinião.
Com relação ao interesse dos estudantes com a disciplina arqueologia, 61,4% se
consideram interessados, 31,5% não se consideram, 5,7% não sabem e 1,4%, mais ou
menos ou não respondeu.
Indagados sobre os motivos do interesse pela arqueologia, um terço aproximadamente da amostra manifestou ser uma pessoa curiosa por descobertas arqueológicas
(5,4%), gostar de ampliar seus conhecimentos (16,8%), sobretudo com estudos interessantes e importantes (12,8%). Muitos vêem
na arqueologia uma possibilidade para saber sobre povos antigos (17,1%) e sobre os
antepassados (5,7%). 2,7% da amostragem
acha a arqueologia legal e quer ser
arqueólogo(a). 3,7% acham a arqueologia
interessante, mas não justificaram por quê.
Os motivos pelo desinteresse ou pouco
interesse pela arqueologia, diríamos, está
relacionado à desinformação. Podemos supor que eles (31,5% da amostra) não têm
interesse porque não conhecem ou não sa-
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
bem do que se trata (12,4%), não têm vontade (6,4%), não gostam de procurar ossos
ou coisas antigas (1%), não gostam de terra
(0,3%), não sabem o porquê do desinteresse (3%), ou não responderam (8,1%). Aqueles que têm um interesse relativo (0,6%)
relacionam o não-interesse à falta de oportunidade ou à forma sem atratividade como
a arqueologia é apresentada.
Como já mencionamos, em 1997 houve
a descoberta do sítio-cemitério, e entre 1997
e 1998, e depois em 2002 foram realizadas
escavações arqueológicas. Isso teve alguma
repercussão na cidade, pois a presença das
equipes de arqueologia foi notada e comentada. Além disso, a descoberta do cemitério
indígena foi amplamente noticiada e os arqueólogos fizeram um trabalho de extensão
universitária com a escola estadual entre
1997 e 1998.19 Com base nisso, procuramos
averiguar se os estudantes correlacionavam
esses fatos a uma descoberta arqueológica.
A pergunta feita foi: “Recentemente você
soube de alguma descoberta arqueológica?”
74,5% da amostra respondeu não, 22,8%
respondeu sim, e 2,7% não respondeu. Dos
que responderam sim, apenas 12,4%, considerando a amostra total, relacionaram os
ossos dos índios e a machadinha achados na
represa (Usina Água Vermelha) com uma
descoberta arqueológica. 4,7% se lembraram de descobertas em caverna no Ceará
ou de outras no Oriente Médio, e 2,7% se
lembraram de descobertas paleontológicas
de dinossauros. 1% não se lembra e 2,7%
não responderam.
Dando continuidade ao levantamento do
que sabiam sobre a disciplina, perguntamos
se para eles a arqueologia brasileira era tão
avançada quanto em outros lugares. 54,3%
da amostra não soube responder, 18,8%
acha que é relativamente avançada com relação a outras localidades, 18,1% acha que
não, e 8,7% acha que sim.
(19) Tendo ocorrido há 5 ou 6 anos, os estudantes da
pesquisa não foram, muito provavelmente, espectadores desse trabalho de extensão arqueológica.
Quanto aos comentários daqueles que
acham que é relativamente avançada, 8,7%
da amostra não comentou, 4,7% relacionoua com a situação econômica do Brasil, e/ou
à falta de recursos ou apoio governamental,
3,7% acha que há desinteresse interno e que
as maiores descobertas são em outros países, 1,7% acha que a arqueologia no Brasil
está avançando da mesma forma que em
outros países.
Daqueles que responderam que a arqueologia brasileira não é tão avançada quanto
outras, 5,4% da amostra não justificou a sua
opinião. Vários estudantes procuraram justificativas externas ao Brasil: a tecnologia
externa é mais avançada (5,4%), a maioria
das descobertas é de fora (1,7%), os outros
têm mais condições financeiras (0,7%), os
arqueólogos internacionais são mais competentes (0,7%). 5,4% procuraram justificativas internas: a arqueologia no Brasil está se
iniciando agora (1,7%), mal se houve falar
nela e poucos a conhecem (1,7%), falta interesse em geral (1,3%), e incentivo do governo (0,7%).
Dos que responderam sim, 3,4% não
justificaram, 2,3% acham que aqui já ocorreram descobertas e ainda há muito material a ser encontrado, 1,7% equipara o desenvolvimento da arqueologia no Brasil a outras
profissões, 1,4% entende que a arqueologia
é uma coisa só no mundo e que o Brasil tem
capacidade de descobrir.
56% da amostra não teria interesse em
fazer algum tipo de pergunta a um arqueólogo, 19,5% gostaria de fazer alguma pergunta, mas não soube elabora-la no momento do preenchimento do questionário. As perguntas que gostariam de fazer foram
categorizadas. A primeira categoria versa
sobre a arqueologia e tivemos 8,6% de dúvidas. As perguntas eram sobre: O que a arqueologia estuda? Como e quando surgiu a
arqueologia? Há quanto tempo há arqueologia no Brasil? Como se descobre alguma coisa? Como se sabe a idade de alguma coisa?
Como se descobre como eram os seres a
partir dos restos mortais? Na segunda categoria temos perguntas mais relacionadas à
37
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
profissão ou ao desempenho do arqueólogo (4,6%) como: Por que você se interessa por arqueologia? Como eu poderia
me tornar um arqueólogo? Posso participar de uma escavação com você? O que
você mais gosta de pesquisar? É difícil
exercer essa profissão? Numa terceira
categoria temos curiosidades (4,1%)
como: Qual a sua descoberta mais interessante? Qual foi o objeto mais antigo
que você descobriu? Você já achou algum
osso estranho de alguma coisa desconhecida? Perguntaria sobre o peixe na caverna, se existiu múmia no Brasil e quando e
quantas ossadas já descobriu, qual foi a
surpresa quando soube do cemitério [junto
à Usina Água Vermelha]. Na quarta categoria as questões são sobre as culturas
descobertas pela arqueologia (2,3%): Há
quantos anos os índios vivem no Brasil?
Gostaria de saber mais sobre os povos de
antigamente? Quais foram os primeiros
povos que habitaram a região? Como era
a vida dos índios? A quinta categoria agrupa questões sobre dinossauros e sobre
fósseis (3,4%): Já foram encontrados outras espécies sem ser de dinossauros? Já
achou algum dinossauro? Você assiste ao
“Mundo do dinossauro”? Na região teve alguma espécie de dinossauro? Como descobriram os ossos de dinossauros? Qual foi o primeiro fóssil descoberto? Uma pessoa queria
saber qual seria o nome do museu.
De outras experiências de atendimento
a público escolar, sabemos que é (ou era)
comum os estudantes relacionarem o profissional arqueólogo ao personagem fictício do
cinema Indiana Jones. Também correlacionam
a arqueologia à busca de tesouros, contribuição negativa do cinema à ciência e à legislação e preservação patrimoniais. Assim,
elaboramos algumas perguntas para constatação
disso. Indagados se eram verdadeiras ou
falsas as afirmações de que:
- “Os arqueólogos procuram tesouros de
outros povos” 59,7% a consideraram falsa,
33,9% verdadeira, e 6,4% não responderam;
- “Os arqueólogos procuram conhecer o
modo de vida de povos antigos por meio de
38
objetos deixados por eles e que foram soterrados”, 90,6% consideraram a afirmativa
verdadeira, 4,7% a consideraram falsa, e
4,7% não responderaram;
- para a afirmação de que “os arqueólogos são grandes aventureiros”, 77,9% acharam que sim, 15,4% acharam que não, e
6,7% não responderam.
- para 44% da amostra, “um dos arqueólogos mais conhecidos é Indiana Jones”,
para 42,3% ele não é um dos mais conhecidos, e 13,8% não responderam.
Por outro lado, muitas pessoas levadas
pela falta de conhecimento sobre o passado
pré-colonial do Brasil compararam o nosso
passado ao de outros locais depreciando o
índio brasileiro. Assim, declararam que:
- “No Brasil não viveram civilizações importantes como maia, asteca e inca”, para
56,4% essas idéias eram falsas; para 36,6%,
eram verdadeiras, e 7% não responderam.
Todas essas questões de “verdade ou
mentira”, “acredito ou não acredito”, “concordo ou não concordo”, nos dão uma primeira informação que mereceria ser
aprofundada. Ao indagar sobre esses pontos, apenas tiramos uma primeira camada
de muitas outras que constituem o modelo
que o brasileiro tem sobre o passado précolonial, e em certa medida, sobre o próprio
brasileiro.
A relação dos estudantes com o
índio brasileiro
Essa abordagem - o índio brasileiro - é
muito ampla e complexa e não tivemos a intenção nesta pesquisa de conhecê-la a fundo, ou de esgotá-la. Interessou-nos, no entanto, sentir um pouco do que os estudantes
pensam e sabem para levantar pontos de
aproximação e/ou de distanciamento, considerando que a história da região cruza com
as ocupações indígenas pré-coloniais.
Como já afirmado anteriormente, não
levamos em consideração a distinção entre
arqueologia e etnologia porque o público também não a faz.
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
Para começar, foi feita a afirmação: “Antes da chegada de Pedro Álvares Cabral em
1500, o Brasil já era todo ocupado por índios”, e pedimos aos adolescentes que dissessem se para eles era verdadeira ou falsa.
Para 51,7% a afirmação é verdadeira, para
32,2% é relativa, e para 12,4% é falsa.
Solicitei que comentassem a resposta.
Dos que consideram a afirmativa verdadeira, 31,9% não comentaram e os outros
(19,8%) consideram que os índios eram os
primeiros habitantes e donos do Brasil, que
havia muitos deles, que travavam guerras
entre si e foram assassinados ou foram sumindo após o descobrimento. Os estudantes
têm provas disso: o cemitério junto à usina
é uma evidência; a história e os professores
comprovam também.
Dos que acham que é uma verdade relativa, 17,8% não comentaram e 14,4% acham
que só uma parte do Brasil era ocupada ou
quase todo e não tudo, só no litoral, as matas e florestas.
Dos que acharam a afirmativa falsa, 6%
não comentaram e 6,4% acham que é falsa
porque só uma parte era ocupada e não havia só índios aqui.
Outra afirmativa, agora para eles dizerem se acreditam ou não: “Viviam no Brasil
mais de 5 milhões de índios na época do
descobrimento.” Da amostra, 37,9 % acreditam, 44% dizem que acreditam mais ou
menos, 13,1% não acreditam e 5% não responderam. Vejamos o que eles comentaram.
Para aqueles de respostas afirmativas,
21% não comentaram a sua concordância, e
para os outros 16,9%, havia muitos índios
em todo o extenso território, eles se reproduziam e as gerações aumentavam, os livros falam sobre isso.
Para aqueles que concordam com ressalvas, 32,9% não comentaram. Os comentários que temos (11,1%) são que não sabem o
número exato e pode ser isso, mas deve ser
um pouco menos, pois o território é grande.
Daqueles que não concordam, 10,4% não
comentaram e os demais 2,7% acham o número muito grande e nunca ouviram falar na
quantidade.
Quando indagados sobre: “O que você
sabe sobre os índios que moraram na região
de Ouroeste?” 80,9% responderam que não
sabem ou não se lembram de nada. Quanto
aos demais da amostra, 8,4% disseram que
a região foi habitada por índios há muitos
anos; para 2,3% eles moravam na cachoeira dos Índios; na opinião de 1,7%, eram índios comuns que caçavam e pescavam, eram
trabalhadores; e no entender de 0,3%, os
índios moravam em cabanas ou em (0,3%)
casas simples de pau-a-pique e palha, em
grandes aldeias; para 0,3%, dominavam o
fogo; para 0,3%, faziam sepultamentos. Eram
os tupi-guaranis (0,7%). Alguns estudantes
conhecem evidências de índios na região,
como os ossos achados recentemente
(3,4%), o avô que falava que eles escreviam
em pedras (0,3), e porque algumas cidades
têm nomes indígenas (1,3%). Um aluno acha
que eles foram embora quando explodiram
a cachoeira dos Índios, um outro viu um índio e ele parecia ser bom e um terceiro acha
que o fato da região ter sido habitada por
índios é bom, para a história da cidade.
Perguntamos, então, o que eles gostariam de saber sobre os índios que moraram
na região. 4,3% não sabiam o que perguntar ou não responderam; 9,1% não gostariam de saber nada; 1,3% quer saber só o
necessário; 39,6% querem saber tudo, o
máximo possível; 34,9% dos estudantes querem saber sobre o modo de vida, hábitos e
sobre a cultura em geral; 6,4% sobre comida e obtenção de alimentos; 3,4% querem
saber sobre a origem dos índios, como e por
onde vieram para a região; 3%, a época em
que chegaram; 1%, como era a região na
época; 2,3%, onde viviam; 2%, qual era o
nome da tribo; 2%, como era a convivência
entre eles; 1,7%, qual era a religião deles e
se acreditavam em vários deuses ou em um
só; 1,3%, como se vestiam e se se vestiam;
1%, como eram as casas; 1%, quantos índios eram; 0,7%, porque enterravam os mortos naquele lugar; 0,3%, se eram alegres;
0,3%, se viviam bem; 0,3%, como faziam
remédios; 0,3%, como se pintavam; 0,3%,
como eram as armas de guerra; 0,7%, por
39
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
que eles foram embora; 0,7% gostaria de
vê-los, e 0,3% gostaria de saber se há a
possibilidade de os índios se juntarem a eles;
0,3% gostaria de ver peças dos índios no
museu.
Apoiados em um comentário corriqueiro
de que “o índio brasileiro é preguiçoso”, solicitamos aos estudantes que dissessem se
essa idéia era falsa ou verdadeira, mesmo
nos arriscando a reforçar uma idéia negativa sobre o índio. Bem, 83,9% acharam que
a afirmação é falsa; 12,1%, verdadeira, e
4% não responderam.
Gostaríamos também de verificar o conhecimento dos estudantes quanto à diversidade cultural entre os índios brasileiros.
Pedimos para comentarem se falsa ou verdadeira a afirmativa de que “os índios eram
todos iguais”. Para 71,1% da amostra, era
falsa; para 25,2%, era verdadeira, e 3,7%
deles não responderam.
A última questão que queremos comentar é: “O que você sabe sobre o cemitério
encontrado perto da represa?” Quase dois
terços dos alunos (63,8%) responderam que
não sabem nada ou não se lembram. As respostas não elucidam muita coisa. 20,8% disseram que era um cemitério de índios; 7%
sabem onde fica e já foram lá; 3% sabem
que junto aos ossos foram achados objetos
e uma machadinha, 2,7% sabem quem são
os pescadores que encontraram o cemitério; 1,7% sabe que eles acharam muitos ossos e fósseis de índios; para 0,7%, o fato
ocorreu após a “caída” de uma árvore; para
1%, o local está fechado para estudo; para
0,7%, encontra-se com um portão com cadeado; para 1,7% o local é sagrado,
patrimônio da humanidade e, assim, resolveram fazer um museu para guardar o que
foi achado.
A exposição e a ação educativa
Ouroeste: 9 Mil Anos de História
A exposição e a ação educativa são manifestações da política de um museu e, para
o público, é o que define a instituição. Há uma
40
verdade nisto, pois são os usos que o público
faz dos museus que lhes dão forma social.
Neste sentido, e a partir da pesquisa
conceitual realizada com os estudantes, uma
equipe interdisciplinar20 conceituou a exposição de longa duração do Museu Água Vermelha, Ouroeste: 9 Mil Anos de História.
Coube a essa equipe a construção do método e estratégias de trabalho e, sobretudo, a
estruturação da linguagem expositiva.
Quanto à linguagem, inicialmente buscamos a interação entre “saberes” – arqueológico, museológico e do público. A preocupação foi criar uma exposição inteligível, com
fundamentação arqueológica e sustentação
museológico-comunicacional. Sendo assim, os
conteúdos inerentes a estes saberes, dialogando entre si de forma interdiscursiva, propiciaram a construção de um mapa cognitivo,
conforme tabela 1. Para que fique clara a nossa
opção, a lógica da exposição respeitou os campos envolvidos, tendo como referencial o público interprete, o que não significa que a arqueologia – a área a ser comunicada – não
tenha sido respeitada e valorizada, da mesma forma que os arqueólogos21
(20) Ficha técnica da exposição Ouroeste - 9 Mil Anos de
História: Projeto Museológico e Coordenação: Marília
Xavier Cury. Projeto Expográfico: Marília Xavier Cury,
Mauro de Vasconcelos Coelho, Ana Carla Alonso, Aureli
Alves de Alcântara, Joana Montero Ortiz. Coordenação
Científica: Erika Robrahn-González, Paulo A. D. De Blasis.
Consultoria Científica: Levy S. Figuti , Sabine Eggers.
Apoio Administrativo: Emília Paula Vieira. Programação
Visual: Cristiane Y. Sato, Raquel M. Yoshizawa, Mariana
A. Iwanaga. Adereçagem: Gil Verx. Cerâmica: Shoichi
Yamada. Fotografia: Erika Robrahn-González, José
Roberto Pellini, Wagner Souza e Silva. Ilustração: Chico
Bela. Maquetes: Kenji Maquetes. Apoio Técnico: Cintia
Bendazolli Simões, Daria Elânia Fernandes Barreto, José
Paulo Jacob, Fernando Victor Aguiar Ribeiro, Juliana de
Souza Batista. Agradecimento: Adelino Francisco do Nascimento, Osterno Machado, Danilo Chagas Assunção,
Daniela Magri Amaral, Gerson Levy da Silva Mendes,
Manoel Mateus Bueno Gonzalez, Paulo Zanettini, Silvana
Viana Cruz de Macedo. Projeto Executivo, Produção e
Montagem: Cinestand Serralheria e Cia.
(21) Quanto à metodologia adotada e à participação
dos arqueólogos e demais membros da equipe, vide
Cury 2005.
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
Tabela 1
Mapa Cognitivo da exposição e ação educativa
Discurso
Arqueológico
Discurso
Expositivo
Discurso
Educativo
Conhecimento metodológico,
científico e técnico.
Conhecimento das especialidades dentro da arqueologia.
Conhecer as áreas auxiliares
à arqueologia
Quadras, trincheiras,
estratigrafia, vestígios,
registro, técnicas, equipamentos e materiais.
Organização do laboratório.
Registro de dados.
Análise e interpretação
Raciocínio lógico e abstrato.
Inferência.Presente
Origem e expansão dos
grupos que se assentaram
na região.
Períodos de ocupação.
Formas de ocupação.
Reconhecimento das tradições arqueológicas.
Tecnologia.
Intercâmbio entre grupos.
Sistema arqueológico
regional.
Modelos de expansão.
Ocupação
Origem
Datação
Densidade demográfica
Diversidade
Obtenção de alimento
Território
Aldeia
Organização
social
Sepultamento
Cemitério
Ritual
Tecnologia
Passado
Antiguidade
Antepassado
Dieta alimentar como cultura
Gosto alimentar
Memória territorial
História territorial
Vida
Estilo de vida
Instrumentos
Utensílios
Casa e lar
Família
Morte e perda
Ente querido
Cerimônia
Religião
”Medicina tropical”
Igualitarismo
Solidariedade
Cooperação
Tolerância
Êxito cultural
Tradição
Continuidade
Presente
Assumindo este compromisso conosco e
com o público, fugimos dos modelos
“estetizantes” de exposição, aqueles que não
querendo recair num didatismo à semelhança do livro escolar, limitam-se a apresentar
objetos com poucas informações – basicamente em etiquetas e textos – em situações
técnicas (iluminação, vitrinas, etc.) favoráveis ao objeto. Esta é uma forma de
fetichizar os objetos museológicos e distanciar o público deles.
Entendemos que o enfrentamento da linguagem expositiva seria o caminho para transpor o
falso dilema didatismo X valorização do objeto.
Assim, a partir do mapa cognitivo definimos os
objetivos da experiência do público (tabela 2),
considerando que esta se daria com a
sobreposição entre exposição e ação educativa.
41
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Tabela 2
Objetivos
Exposição
Ação educativa
Fazer conhecer a pesquisa arqueológica e as
áreas científicas parceiras.
Apresentar a lógica do espaço.
Conhecer o método.
Estabelecer relação entre espaço horizontal
e vertical, espaço de ocupação e antiguidade.
Conhecer a lógica de um laboratório.
Entender as formas de análise de vestígios.
Distinguir entre material lítico, cerâmico,
faunístico e humano.
Conhecer a lógica da análise e interpretação.
Conhecer o método de datação Carbono 14.
Refletir sobre o espaço.
Ler estratigrafia.
Pensar arqueologicamente.
Imaginar.Criar hipóteses.
Conhecer os grupos que ocuparam a região.
Refletir sobre a diversidade cultural no passado pré-colonial da região.
Apresentar as formas de interação entre o
grupo e o território.
Conhecer as soluções sociais e culturais.
Exercitar a tolerância.
Trabalhar para uma consciência de alteridade.
Discutir (re)tradicionalização.
Discutir (des)(re)territorialização.
Estabelecer vínculos entre culturas.
Refletir sobre a história do território.
Desenvolver uma memória territorial.
Desenvolver “gourmets” culturais - cidadãos
habilitados para criar pontos de compreensão
entre culturas diferentes.
Partimos, então, para a construção do
“jogo de equilíbrio” entre temática, objetos,
espaço e tempo – os elementos estruturadores
de uma exposição – e recursos de apoio.
Construímos, então, uma ambiência
expositiva (espaço significado) para
oportunizar que o público pudesse interagir
com a arqueologia e com o patrimônio arqueológico.
Em um espaço de 90 m2, com pé-direito
duplo, estruturamos uma retórica narrativa
em dois eixos principais:
- Histórico das descobertas arqueológicas
- Eixo 1- A construção do conhecimento
na arqueologia
- A etapa de escavação
- A análise e interpretação em laboratório
- A exploração e prospecção regional
- O método Carbono 14 e a antigüidade
do homem na região
- Eixo 2- As descobertas – As quatro
ocupações no tempo
- Os primeiros povoadores de 9 mil
anos atrás
- Os caçadores especializados de 5 mil
anos atrás
- A era das grandes aldeias de 1500
anos atrás
- As sociedades complexas de 500
anos atrás.
- Encerramento: Arqueologia de Ouroeste
A narrativa foi organizada no espaço em
forma de U, pois a sala possui duas entradas. Apesar da estrutura narrativa, o público foi estimulado a explorar a exposição
episodicamente, ou seja, ele mesmo fazer
o seu circuito e, assim, a suas reelaborações.
Para tanto, há uma ligação entre as pernas
do U e a altura dupla da sala foi apropriada
para a construção de possibilidades de apre-
42
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
ciação por uma vista superior (por meio de
um mezanino). De fato, são, ao menos,
duas exposições com múltiplas possibilidades de recortes.
A definição dos dois eixos ocorreu para a
argumentação e persuasão de que o conhecimento arqueológico construído em Ouroeste
teve bases científicas, isto porque, como vimos, os estudantes (e provavelmente seus
pais e irmãos) pouco sabem sobre arqueologia. Para não apresentar os resultados arqueológicos sem que os mesmos fossem fundamentados, apresentamos as armações de
referência – a pesquisa em arqueologia –
como armações interpretativas. A própria
exposição é um conjunto de armações
interpretativas, fruto das intenções dos seus
idealizadores, com as quais o público interage.
Foto 1 – Montagem da cenografia para A Etapa da Escavação
43
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Seguindo este princípio, e recorrendo
sempre aos dados coletados com a avaliação conceitual, o Eixo 2 –”As descobertas”,
foi detalhado de forma padrão nos quatro
submódulo: “Primeiros Povoadores”, “Caçadores-Coletores Especializados”, “A Era das
Grandes Aldeias” e “Sociedades Complexas”.
A padronização foi: origem, datação, densidade demográfica, obtenção de alimento
por caça, pesca, coleta e/ou agricultura; a
preparação dos alimentos; o território de
ocupação e de circulação; aldeia; organização do espaço; organização social, as
formas de sepultamento, a tecnologia, uso
dos artefatos.
Neste eixo, a narrativa foi estruturada a
partir de questões do cotidiano dos grupos
pré-coloniais em paralelo ao cotidiano do
público-visitante. Assim, dentre as informa-
Foto 2 – Os Primeiros Povoadores
44
ções arqueológicas destacaram-se aquelas
que poderiam estabelecer formas de reconhecimento e de vínculos entre passado e
presente, como: constituição da família e
do grupo, alimentação, relação com o território, a casa na aldeia, a morte e os rituais
de sepultamento, cooperação social – o que
posteriormente demonstrou eficácia devido
à forma como estes aspectos foram apropriados pelo público.
A ação educativa, o subtexto invisível
porque atua essencialmente no plano
subliminar, não foi pensada como reforço
ou apoio à exposição (minimizando os problemas de linguagem da mesma). Ela vai
além dela sem contradizê-la. Com a ação
educativa conceitos como êxito cultural,
alteridade e identidade, diferença e diversidade cultural, cooperação e organização
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
Foto 3 – A Era das Grandes Aldeias
social, (des)(re)territorialização podem ser
discutido com o público, ao mesmo tempo
em que se exercita a tolerância e a
dialógica. Com esse arsenal conceitual o
educador pode trabalhar-se e trabalhar com
o público na perspectiva de tornarem-se
“gourmets” culturais (García Canclini 1999:
2), pessoas habilitadas a transitar entre
culturas distintas, viajando pelos repertórios simbólicos alheios, saboreando as diferenças e criando pontos de compreensão entre culturas. E por quê não?
O partido expográfico 22 escolhido para
a exposição foi um “tradicional-modernizado”. Tradicional porque apresenta o con-
(22) Quanto à descrição da expografia, vide Cury
2005 e Cury 2005b.
teúdo linearmente e as coleções
contextualizadamente, utilizando-se de vitrinas e linguagem de apoio convencionais.
Há uma relação hierárquica entre artefatos arqueológicos e recursos expográficos.
Modernizada porque usa materiais modernos e contrastantes entre si (metal das
vitrinas com a mangueira das divisórias)
e porque recorre à cenografia como solução expográfica para a escavação (até nas
quadras delimitadas pela escavação há vitrinas) e elementos de cenografia para
c o n t e x t u a l i z a r, c o m o r e c o n s t i t u i ç õ e s
tridimensionais de cerâmicas, em argila e
em escala real, e alimentos como milho,
mandioca, angus, beiju, coquinhos; ou outros elementos como pele de animal, peças de madeira, algodão, etc.
O partido também orientou para uma
exposição ao mesmo tempo sintética e cheia
45
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Foto 4 – Maquete da Grande Aldeia Circular de 1500 anos atrás
de detalhes. À primeira vista ela é sintética,
com poucos tópicos conceituais, sem acúmulo
de objetos, textos, etiquetas. Em um segundo momento os detalhes aparecem, e o que
era sintético torna-se detalhado.
Após a inauguração do museu, os mesmos estudantes que participaram da avaliação conceitual foram convidados para visitar
a exposição e, em seguida, para avaliá-la.
Nesta etapa de pesquisa de recepção os dados foram coletados por observação, técnicas de discussão em grupo e por meio de
registros escritos. Os resultados são significativos para nós profissionais de museus,
seja para os museólogos, seja para os arqueólogos, pois nos permitem rever todo o
processo a partir de um ângulo diferente: o
público. Certamente que este ponto privilegiado elucida algo mais sobre a nossa práxis,
pois nos faz avaliar as nossas posições e
46
reformulá-las. Mas o essencial é que esses
resultados nos fazem entender que nos fazemos sujeitos com outros sujeitos.
Considerações finais
A pesquisa conceitual desenvolvida no contexto do Museu Água Vermelha foi aqui apresentada visando à ampliação da consciência
dos profissionais do campo museológico quanto
à importância das pesquisas empíricas com o
público. O estudo em questão trouxe à luz aspectos que precisariam ser aprofundados por
meio de pesquisas mais amplas e com planejamento interdisciplinar para que os interesses – arqueológicos e museológicos – sejam
contemplados a contento para a definição de
políticas de ação. Apesar disto, os resultados
obtidos foram relevantes para a concepção da
Para saber o que o público pensa sobre arqueologia...
Marília Xavier Cury
Foto 5 – As Sociedades Complexas
Foto 6 – Maquete das Sociedades Complexas de 500 anos atrás
47
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
exposição Ouroeste: 9 Mil Anos de História e
para o exercício de linguagem, o que é fundamental para os museus.
Cabe salientar que a avaliação conceitual
é uma face de uma realidade empírica e
que associada à avaliação posterior nos permitem conhecer a experiência integral do
visitante e a ter uma visão sinérgica dos
elementos que compõem a exposição e sua
eficácia comunicacional. Ainda, revelam o
público como sujeito dos processos
museológicos.
Antes de tudo, a pesquisa conceitual nos
revelou que há um universo fora dos museus e de nós mesmos que precisa ser explorado, e que este universo é constitutivo
da responsabilidade social reservada aos
museus e a seus profissionais.
Abstract: The study presented herein was carried out in 2003 and 2005
at the Água Vermelha Museum of Regional Archeology in Ouroeste, a
municipality located in the State of São Paulo, Brazil. The study was the
foundation for a doctoral dissertatin entitled Museological Communication
– A Theoretic and Methodological View of Reception defended at the School
of Communication and Arts of the University of São Paulo.23
In this paper we will present certain research findings for discussion. These
are partial findings presented in a succinct manner.
The research was theoretically and methodologically based on the areas
of museology, communication, and reception. Museology focused mainly
expology, expography, and education.
Keywords: Archaeological communication. Museological communication.
Archaeological exhibition. Heritage education. Museological evaluation.
Bibliografia
CURY, M. X.
2006 Exposição – Concepção, montagem e avaliação. São Paulo: Annablume.
CURY, M. X.
2005 Comunicação museológica – Uma perspectiva teórica e metodológica de recepção.
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CURY, M. X.
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VASCONCELLOS, C. DE M.; ALONSO, A. C. &
LUSTOSA, P. R.
2000 A abordagem do período pré-colonial brasileiro nos livros didáticos do ensino fundamental. In: Revista do MAE, São Paulo:
USP, 10: 231-238.
(23) Supervised by Counselor Dr. Maria Immacolata
Vassallo de Lopes
48
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006, pgs. 49-62.
O QUE É ISSO? PARA QUE SERVE?
QUEM SÃO VOCÊS? O QUE FAZEM?
UMA EXPERIÊNCIA DE ARQUEOLOGIA PÚBLICA EM PARANÃ – TO*
Leilane P. Lima**
Gilberto da Silva Francisco***
Resumo: O objetivo deste artigo é comentar a noção de parceria no
debate sobre a Arqueologia Pública, especificamente na dinâmica escolar.
A compreensão do papel da Arqueologia nesse contexto terá como ponto
de partida a experiência dos autores como professores-arqueólogos na
Semana de Arqueologia, realizada no município de Paranã – estado do
Tocantins, evento relacionado a atividade de pesquisas arqueológicas numa
região de impacto ambiental, dada a construção de um empreendimento
hidrelétrico no médio vale do rio Tocantins.
Palavras-chave: Identidade, Arqueologia Pública, Educação Patrimonial,
Patrimônio, Parceria.
“(...) Fiquei pensando, e comecei a descrever
Tudo, tudo de valor que o Brasil me deu
O céu azul, um Pão-de-açúcar sem farelo
Um pano verde e amarelo, tudo isso é meu!
Tem feriado que pra mim vale fortuna,
A Retirada de Laguna, vale um cabedal
Tem Pernambuco, tem São Paulo, tem Bahia
Um conjunto de harmonia que não tem rival.”
(Trecho da música Recenseamento , de
Assis Valente)
(*) Este trabalho foi desenvolvido como parte integrante do “Programa de Pesquisa e Resgate do
Patrimônio Arqueológico, Histórico e Cultural do AHE
Peixe-Angical, estado do Tocantins”, desenvolvido
desde 1998 pela empresa DOCUMENTO Antropologia e Arqueologia. A coordenação do Programa é dos
Profs. Drs. Erika M. Robrahn-González e Paulo De
Blasis, contando com o apoio institucional do Núcleo
Por conta do recenseamento de 1940,
conta Carmem Miranda (a intérprete da música de Assis Valente), que um censor bastante autoritário bate à porta de um lar humilde e começa a esmiuçar a vida de uma
brasileira, que, em desconforto, prefere lembrar das coisas “de valor que o [seu] Brasil
[lhe] deu”. Assim, frente à pergunta: - quem
é você? (bastante peculiar dos objetivos de
um censo), além de falar de si mesma, como
indivíduo, também responde a partir de sua
inserção num grupo, numa generalidade, na
sua nação. O cadinho de referências é varia-
de Estudos Estratégicos/ UNICAMP e da Fundação
Cultural de Jacarey. A obra é de responsabilidade da
empresa ENERPEIXE S/A.
(**) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo [email protected]
(***) Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo [email protected]
49
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
do: riquezas naturais, símbolos nacionais,
feriados (a memória de alguns eventos históricos selecionados), e a própria idéia de
harmonia interestadual (clara idealização: é só
lembrarmos que pouco antes de 1940, a presença do pernambucano João Alberto como
interventor de São Paulo (1930-1931), nomeado por Getúlio Vargas, causou imenso desconforto na elite paulista, havendo inclusive
um surto preconceituoso contra nordestinos).
Apesar de ser uma música datada (por
exemplo, o IBGE [Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística] procura não empreender um censo tão autoritário), algumas das
referências peculiares desse “samba
exaltação” poderiam vir à mente de qualquer
um, quando perguntado “- o que o define
como brasileiro?”. Assim, quais são as coisas que consideramos realmente importantes, aquelas que caracterizam parte do que
somos, e nossa inserção em certo grupo? É
certo que essas referências são inúmeras, e
que a constituição desse grupo de coisas “que
consideramos nossas” não tem uma constituição natural; ou seja, existem processos
(por vezes de longa duração, retomando termos braudelianos (Braudel, 1986), ou então
de recentíssima criação, “tradições inventadas”, conforme Eric Hobsbawn, 1997) constituídos a partir de interesses múltiplos (determinados anseios de grupos sociais,
autoconsciência grupal, extensão do projeto
de um grupo a outro, através de práticas de
dominação etc.). Ainda, essa sensibilidade
quase “natural” das pessoas frente a um símbolo, ação etc. com que se identifica, forjase, geralmente, num processo longo de educação, que está também ligado à ação escolar (ensino público ou privado), mas não somente a ele: a educação é um processo bastante amplo, sendo agregado em situações
familiares, acesso às informações através de
mídias diversas, dentre outros. Nesse quadro, qual o papel da Arqueologia?
É importante saber, de início, que a idéia
que se tem sobre a Arqueologia, no senso
comum, caminha entre um desconhecimento
quase absoluto da disciplina (do que trata a
Arqueologia? Nunca ouvi falar!...) e uma vi50
são idealizada do arqueólogo (Indiana Jones,
Tomb Raider etc.), bem como do objeto arqueológico (algo como uma relíquia, valioso
materialmente e por suas características históricas). Tratar de Arqueologia fora de alguns
centros especializados geralmente parte de
uma situação de amplo desconhecimento do
público leigo, entretanto, há um certo interesse. Por ocasião da comemoração dos 500
anos do Brasil, a grande exposição no
Ibirapuera (Mostra do Redescobrimento. Brasil+500) apresentava, no conjunto das inúmeras peças, a famosa carta de Pero Vaz de
Caminha, e a procura por tal documento era
especialmente grande. O acesso ao seu conteúdo é simples (qualquer busca na Internet,
por exemplo, satisfaria tal necessidade);1 mas
era imperativo para muitos ver com os próprios olhos, mesmo que a grafia de tal carta
não fosse legível para a maioria (ver figura
1), sendo necessário competência para leitura paleográfica, o que a maioria dos visitantes não possuía. O que mais interessava era
ver a carta em si, a carta-objeto; e, para sanar o problema de conteúdo, a organização
da exposição criou uma cabine com recitação
da carta feita pelo ator Paulo Autran. Esse
pequeno exemplo indica a importância do fetiche que pode incidir sobre o objeto material.
Os materiais arqueológicos apresentam
uma certa eloqüência, que contribui grandemente para um interesse inicial. Ou seja,
parece, ao olho leigo, que o objeto material
é auto-explicativo; assim, se os problemas
de interpretação no seio da Arqueologia são
complexos e variados, a dimensão física do
objeto convida o leigo, e esse interesse pode
tornar-se uma posterior reflexão mais
aprofundada (as múltiplas ações relaciona-
(1) Em uma rápida busca na Internet, no site
www.google.com.br (em fevereiro de 2006), a entrada “Carta” e “Caminha” proporcionou a indicação
de 342.000 páginas disponíveis na Web, 321.000 em
português e 198.000 páginas brasileiras. Levandose em conta que nem todas apresentam o texto parcial ou integralmente, o número, mesmo com isso, é
bastante expressivo. Quanto à busca de imagens
visuais, no mesmo site, disponibilizavam-se 175 páginas
O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco
1. Arqueologia Pública e patrimônio: alguns pressupostos teóricos
Entre as inúmeras transformações que
ocorreram relacionadas à Arqueologia praticada no Brasil, especialmente nas últimas
décadas, podemos citar um maior engajamento
político por parte dos arqueólogos. Nas palavras de Funari (2005: 5)
(...) os aspectos públicos, de interação
e ação conjunta com as comunidades,
tanto locais, como regionais, nacionais e
transnacionais, passaram a representar
parcela crescente e cada vez mais significativa da prática e teoria arqueológica.
Somado a esse engajamento político, a
aprovação das leis brasileiras de proteção do
patrimônio arqueológico,2 no âmbito federal,
estadual e municipal,3 contribuiu para a multiplicação dos trabalhos de campo ligados a
licenciamentos ambientais (Funari, 2005: 6);
sendo seguidas essas atividades, em alguns
casos, por ações de cunho público. A Arqueo-
Fig. 1. Detalhe da Carta de Pero Vaz de Caminha, 1500. Torre do Tombo, Portugal.
das à Arqueologia Pública são essenciais nesse sentido, pois podem contribuir para um
abandono da fetichização...).
Como visto, contra um desconhecimento grande sobre a Arqueologia (a disciplina
e a prática), há uma atenção preliminar do
público leigo, interesse de que o arqueólogo voltado às práticas públicas deve lançar
mão. Porém, esse é apenas um primeiro
passo, e não se deve converter esse interesse em toda idéia de Arqueologia Pública; já que muitas vezes esse cenário estrutura-se em torno de uma Arqueologia fantástica, o que destoa freqüentemente das
propostas e materiais apresentados: quando as expectativas residem em materiais de
metais preciosos, monumentais, e se apresentam apenas poucos fragmentos de cerâmica, ou líticos pouco trabalhados.
(2) As publicações sobre o tema Arqueologia Pública e
relacionadas utilizam o termo patrimônio com conotações
variadas, o que deve ser brevemente esclarecido. Há,
então, a utilização de termos como “patrimônio público”,
“patrimônio cultural” e “patrimônio arqueológico”, ou mesmo o termo patrimônio isolado. Os complementos público
e cultural, por vezes guardam certa equivalência, mas o
primeiro é mais abrangente; ou seja, o patrimônio público não se restringe ao patrimônio cultural, é mais amplo.
O mais específico deles é o termo “patrimônio arqueológico”, que se insere nos outros. Assim, o patrimônio arqueológico é também patrimônio cultural e público.
(3) Destacam-se, nesse sentido: 1) A Lei nº 3.924, de
26/07/1961, que proíbe a destruição ou mutilação para
qualquer fim, da totalidade ou parte das jazidas arqueológicas, o que é considerado crime contra o patrimônio
nacional; 2) A Constituição Federal de 1988 (artigo 225,
parágrafo IV), que considera os sítios arqueológicos como
patrimônio cultural brasileiro, garantindo sua guarda e
proteção, de acordo com o que estabelce o artigo 216;
3) A Portaria SPHAN/MinC 07, de 01/12/1988,que
normatiza e legaliza as ações de intervenção junto ao
patrimônio arqueológico nacional; 4) Portaria IPHAN/MinC
nº 230, de 17/12/2002, que define o escopo dos estudos arqueológicos a serem desenvolvidos nas diferentes
fases de licenceamento ambiental (Fonte: Material oferecido por Documento Antropologia e Arqueologia).
51
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
logia Pública, segundo Ascherson (1999, Apud
Funari, Oliveira & Tamanini, 2005: 106),
é compreendida (...) como todos os
aspectos públicos da Arqueologia, incluindo tópicos como políticas arqueológicas,
educação, política, religião, etnicidade,
envolvimento público em Arqueologia.
A Arqueologia Pública tende, geralmente, a estabelecer diálogos com áreas paralelas como a Museologia, de onde surgem questões estritamente ligadas ao
patrimônio e conscientização do leigo. Podemos definir patrimônio como o conjunto
dos bens identificados pelo homem, a partir de suas relações com outros homens e
com o meio ambiente e a própria interpretação que ele faz dessas relações (Bruno,
2002: 89, Apud Bessegato, 2004: 33). Além
disso, conforme Oosterbeek (2005: 97), o
conceito de patrimônio cultural nos remete ao de propriedade, algo a que atribuímos um valor e estabelecemos uma relação de apropriação.
Os bens culturais, num sentido amplo,
são os testemunhos da cultura humana e do
meio no qual construímos nossa identidade
individual e (ou) coletiva através da memória. Caldeira (2006: s. p.) revela que desde
os tempos mais remotos existe a preocupação em preservar os bens culturais. Especialmente no período pós 2ª Guerra Mundial,
vários setores das sociedades ocidentais passaram a enfatizar a importância dos bens
culturais e a sua proteção tornou-se um direito e um dever de todos (Idem). Assim,
várias associações foram criadas visando discutir políticas de defesa e conservação preventiva de bens culturais. Elas promoveram
a criação regulamentar de diversas estratégias de restauro, conservação e proteção do
patrimônio cultural.4
(4) Destacam-se, dessa forma, esforços como a Carta
de Atenas (1931), Carta de Veneza (1964) e Carta
Italiana (1987), que visavam um debate e organização
internacional de um corpus regulamentar para a área
de conservação e restauro (ver Caldeira, op. cit.).
52
Essa correspondência entre a idéia de
patrimônio (seleção) e conservação (permanência) é presente inclusive na acepção de
dicionário: segundo o Dicionário Houaiss da
língua portuguesa, patrimônio define-se, também, como
bem ou conjunto de bens naturais
ou culturais de importância reconhecida num determinado lugar, região, país
ou mesmo para a humanidade, que
passa(m) por um processo de tombamento para que seja(m) protegido(s) e
preservado(s).
O ato de identificar e selecionar o que é
relevante para a memória de uma comunidade local, de um estado ou de um país gera
problemas. Por exemplo, a instituição museu, enquanto lugar de preservação e gestão de vários desses bens culturais, muitas
vezes está exposto ao jogo de interesses
políticos. Assim,
Devemos considerar a existência de
uma intenção inicial que se traduz em
“razão para preservar”, a qual muitas
vezes se configura na criação de um espaço-museu. (...) Quando o Museu é idealizado de acordo com interesses ideológicos pela classe que ocupa o poder e
nele procura manter-se, a instituição fatalmente funcionará como símbolo de força. (Almeida, 2005: 91)
E é nesse contexto que a Arqueologia
Pública pode exercer um papel importante
nos processos de resgate da memória, reconhecimento e valorização do patrimônio,
pois a cultura material, ou seja, o que poderá tornar-se patrimônio arqueológico de uma
determinada comunidade, pode ser tomada
como elemento de memória que permite a
contribuição na construção de uma identidade local/regional. Nas palavras de Bruno
(1996, Apud Almeida 2005: 67), “os indicadores/vestígios das sociedades que
correspondem ao interesse de estudo da Cultura Material são, também, elementos da
herança patrimonial, tratados e comunicados pela Museologia”.
O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco
A Arqueologia busca compreender as
sociedades humanas através da cultura
material, e é a partir do resgate desses
objetos pretéritos para o presente que o
Museu recebe a atribuição de preservá-los
dando-lhes um novo significado (Almeida,
2005: 95). Em outras palavras, cabe à Arqueologia e à Museologia a transmissão do
valor público do patrimônio arqueológico.
Entretanto, vale dizer, uma Arqueologia e
Museologia como vocações públicas; ou
seja, buscando intensos diálogos (numa
acepção ampla do termo) com as comunidades envolvidas nos processos liderados
por essas áreas. Neste ponto, reforça-se a
importância da educação patrimonial, por
exemplo, no seio escolar. Isso, dado o papel agregador, socialmente falando, que as
escolas têm: são espaços de ampla e variada circulação (alunos, professores e outros funcionários, pais, palestrantes etc.),
havendo também a organização e experiência de alguns grupos como grêmios estudantis, associação de pais e mestres,
entre outros.
As atividades relacionadas à ação de
Arqueologia Pública no espaço escolar são
geralmente resultado de projetos de implantação de grandes construções, e, dado
o grande impacto ambiental, é, nessas regiões que ocorrem eventos educativos ligados à conscientização quanto ao
patrimônio arqueológico. Segundo Bessegato
(2004: 34)
(...) cabe à Educação Patrimonial ser
uma atividade paralela, mas, ao mesmo
tempo autônoma e interligada aos Projetos de Salvamento Arqueológico,
efetuados na região atingida pelo empreendimento destas Empresas ou Companhia de energia hidrelétrica.
Mas, especialmente quando tratamos da
relação entre Arqueologia e educação,
deparamo-nos com algumas questões peculiares: por ser um tema que não é tratado
diretamente em sala de aula (quando muito,
um livro didático apresenta a pré-história do
Brasil, ou monumentos gregos e romanos,
de forma ilustrativa e sem reflexões propostas a partir deles).5
Nesse contexto, torna-se bastante importante a interação entre Arqueologia, educação patrimonial e musealização. Segundo
Bessegato e Milder (2005: 85), “a temática
do patrimônio é hoje uma das mais prolíferas
e profícuas da nossa contemporaneidade, e
por isso mesmo, essencial para levarmos o
patrimônio para as salas de aula”. Na mesma medida, a Museologia ganha força, sendo o museu deixado de ser tratado apenas
como guardião móvel, para ser visto como
meio de transmissão do patrimônio. Nas palavras de Almeida (2005: 40)
Se a comunidade que vive num espaço/território tem oportunidade de reconhecer seu passado enquanto herança e vislumbrar sua vivência social e histórica nas transformações infringidas ao
meio ambiente, seja ele rural ou urbano, a questão da eleição sobre o que seria
significativo ou não, em termos de preservação da memória e patrimônio, ou
seja, a escolha daquilo que se pretende
deixar para as novas gerações, penetra
automaticamente no campo das ciências dos museus. Não se pode falar de
identidade sem tratar dos processos de
musealização.
Essas ações educativas não devem apenas oferecer um discurso pronto aos alu-
(5) As escolas brasileiras têm como obrigação criar
planos pedagógicos que seguem orientações gerais,
mas também respondem às realidades locais do público aprendizando, conforme algumas tendências
mais ou menos recentes sobre pedagogia. A questão
é que as matérias clássicas como História, Matemática, Geografia, Português, entre outras, são discutidas nos vários níveis (municipal, estadual e federal),
e existe já uma experiência grande (teórica e prática) na execução das ações curriculares com relação
a elas. No caso da Arqueologia na escola, a situação
é bastante diferente. Como visto, a ampliação de um
interesse de comunicação entre especialistas e público leigo é relativamente recente, e as práticas pedagógicas com relação ao ensino sobre Arqueologia ainda estão sendo discutidas, em estágio inicial.
53
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
nos, faz-se necessário que os professoresarqueólogos, na senda de uma “pedagogia
arqueológica”, 6 tenham em vista também
a experiência do aprendizando. Assim, o
papel do professor-arqueólogo é o de
facilitador. Nas palavras de Bessegatto
(2004: 30), “o professor tem a função de
ajudar o aluno a se organizar, sensibilizando-o de forma que seus sentimentos possam
ser
e x p r e s s o s ”.
Assim,
a
conscientização sobre o patrimônio arqueológico é, muitas vezes, tarefa de grande
dificuldade; mas não apenas por causa
desse conhecimento frágil e fragmentário, 7
mas também, em vário casos, por um
descompasso de linguagem entre o professor-arqueólogo e o público leigo. Para sanar tal problema não é necessário tornarse simplista nas explicações e propostas,
mas trazer o outro, inseri-lo nas questões
arqueológicas, às vezes abrindo mão de termos complicados: a saída pode ser lidar
com conteúdos com os quais eles já têm
alguma experiência.
As pesquisas arqueológicas na região
de Paranã 8 inserem-se num quadro regional mais amplo (AHE [Aproveitamento Hidrelétrico] Peixe Angical), relacionadas às
atividades de salvamento arqueológico, precedente à obra de construção de um gran-
de reservatório hidráulico, em parte do
curso do Rio Tocantins e do Rio Paranã (ver
fig. 2). Além de Paranã, os municípios de
Peixe, São Salvador e Palmeirópolis estão
inseridos na zona de intervenção (e, portanto, de pesquisas arqueológicas precedentes). Nestes municípios haviam sido
igualmente ministradas “Semanas de Arqueologia”, sendo em Paraná, tratada no
presente artigo, a última delas.
Essa Semana de Arqueologia ocorreu
de 07 a 12 de novembro de 2005, e a maior parte dos eventos (palestras e atividades relacionadas) circunscreveu-se às
quatro escolas públicas existentes na cidade: E. M. Floracy Bonfim Pereira de Araújo; E. E. Euclides Bezerra Gerais; C. E.
Des. Virgílio de Melo Franco; E. M.
Soldadinho de Jesus. As atividades envolveram mais de 5.000 alunos inscritos nas
escolas.
O público era bastante variado, composto por alunos desde o ensino fundamental até adultos em situação de alfabetização; e de diferentes grupos sociais.
Dessa forma, não poderia haver, por parte do palestrante, uma entonação única,
mecânica, dada a variedade dos
interlocutores.
O conteúdo das aulas era bastante amplo: uma introdução à Arqueologia, suas
divisões (Arqueologia histórica e pré-histórica), suas fontes etc.; temas apresentados tanto de forma generalista, como específica (retomando as pesquisas arque-
(6) O termo “pedagogia arqueológica” pode parecer estranho e mesmo equivocado. Entretanto,
existem esforços, ainda bastante iniciais, que indicam para uma proposta com fins educativos, baseando-se, inclusive, em literatura peculiar da discussão pedagógica. Não se trata, assim, de um
corpus sistemático ou organizado de procedimentos, mas de algo que é perceptível, projeta-se em
discussões recentes (Ver Bessegato, 2004 e
Bessegato & Milder, 2005).
(7) Um dos autores deste artigo, por exemplo, ao
comentar com pessoas de níveis de escolaridade di-
ferentes (ensino básico e pós-graduação) que estuda Arqueologia, foi questionado da seguinte forma:
“- você estuda para cavar chão?”, e também, “-vocÊ
ganha para fazer isso?”.
(8) Alguns dados sobre a população de Paraná, segundo o IBGE, a partir do site www.ibge.gov.br e
também a seção IBGE – Cidade@: A população estimada é de 10.071 pessoas (número de 01.07.2005).
As matrículas executadas no ano de 2004 foram as
seguintes: Ensino fundamental, 2.595 pessoas e Ensino médio, 224 pessoas.
2. Uma Semana de Arqueologia em
Paranã – Tocantins
54
O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco
São Valério
da Natividade
Peixe
AHE
Peixe Angical
Retiro
Paranã
São Salvador
do Tocantins
Fig. 2. Mapa o reservatório do AHE Peixe Angical.
ológicas da própria região). A estrutura
básica do conteúdo ministrado era o seguinte:
- Primeiro dia – Introdução: O que
é Arqueologia?; Arqueologia pré-histórica; A arte rupestre; ZooArqueologia;
55
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Arqueologia da morte; Arqueologia histórica.
- Segundo dia – O trabalho do arqueólogo: As escavações; Estudos de laboratório; Quando foi? (as datações);
Arqueologia Pública.
- Terceiro dia – O patrimônio arqueológico do AHE Peixe Angical. Objetivos
do projeto e dados gerais: Como se dá a
pesquisa arqueológica na região; Um
pouco da pré-história do Tocantins; A Era
da diversificação: grupos caçadores-coletores mais recentes (9000 a 3000
anos); Sociedades cultivadoras (3000 a
1500 anos); Agricultores de grandes aldeias (1300 anos até a época atual).
- Quarto dia – História: Patrimônio
histórico e cultural. Como se dá a pesquisa; A história do Tocantins... Nossa
História (séc. XVIII-XX).
- Quinto dia – Patrimônio histórico
edificado: Técnicas construtivas; Construções rurais; Construções urbanas;
Conjuntos arquitetônicos.
Freqüentemente, o reconhecimento imediato acontecia quando tratadas as referências de Arqueologia histórica, sobretudo no
tocante à arquitetura da cidade. Ao comentarmos aspectos da arquitetura local, mos-
trando a imagem da Igreja da Matriz (ver
fig. 3), tal situação era amplamente observada. Ainda, não era difícil encontrar quem
reconhecesse a própria casa, de parentes ou
vizinhos dentre as imagens apresentadas.
Nesse sentido, havia intensas trocas de informações, por exemplo, muitos dos
aprendizandos conheciam bem algumas das
técnicas construtivas tratadas, como as casas de palha de Buriti, de adobe etc. Numa
dessas aulas, um aluno chegou a explicar com
detalhes, a todos, como se construía uma
casa de pau a pique.
Entretanto, essa identificação não se
restringiu apenas às referências de Arqueologia histórica. Por exemplo, comentar algumas técnicas da produção ceramista de populações indígenas antigas também ensejava
lapsos de comunicação entre tempos bastante remotos (técnicas bastante antigas e
ainda utilizadas recentemente).
Tal conteúdo, previamente estipulado,
não era extremamente fixo, e o retorno do
público aprendizando poderia propor diferentes encaminhamentos. Por exemplo, a algumas questões muito específicas da Arqueologia, como a estratigrafia, abriu-se um diálogo sobre o passar do tempo, as intempéries, a ação do homem e sua interferência
sobre o solo. Ainda, contra um juízo simplista
sobre a indústria lítica, a própria variedade
de formas e usos do talhes que qualquer um
Fig. 3. Vista panorâmica da Igreja da Matriz, Paranã.
56
O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco
tinha em casa, serviu como parâmetro comparativo.
A duração das aulas introdutórias era
de aproximadamente quarenta e cinco minutos, dependendo da interação entre os
professores-arqueólogos e público escolar
(incluindo professores e outros funcionários da escola, que também participavam);
e, após isso, eram empreendidas outras
atividades que visavam compreender qual
o impacto do que foi discutido antes. Claramente, dadas as variações etárias, as atividades eram pensadas levando em conta
esses recortes: os mais jovens poderiam
criar desenhos baseados na sua experiência (ver fig. 4), e, aos maiores, era proposta a criação de redações, poesias, repentes
etc. Nesse caso específico, interessante foi
o fato do distanciamento na questão da
temporalidade, pois, numa dessas atividades, quando deveriam preencher a frase
“para mim, a Arqueologia é...”, as lacunas
foram completadas repetitivamente com
termos como passado, velho, antigo/antiguidade, antepassado, pré-história/história
(numa acepção passadista), ruínas, mortos/
morte. Entretanto, a interação passado-presente (que está no cerne da questão
patrimonial) e que buscávamos em vários
momentos resgatar, também foi notada; é
certo, por uma parte menos expressiva dos
aprendizandos. Uma das atividades recebeu
atenção especial das crianças, jovens e, ao
Fig. 4. Alunos da 1ª a 3ª série do Ensino Fundamental da escola Floracy Bonfim Pereira de
Araújo; em pintura mural, uma das atividades
posteriores às aulas de arqueologia.
contrário das nossas expectativas, de adultos: era uma simulação de escavação (previamente montada pela equipe de professores arqueólogos) – ver fig. 5.
A Semana de Arqueologia não se restringiu ao espaço das escolas, havendo, nos
últimos dias, algumas apresentações de grupos de seresta, mostra de trabalho dos alunos, a outras apresentações da comunidade
como as danças tradicionais da Pastorinha,
Suscia, oração do Imperador e Folia. Tais
eventos paralelos no seio da Semana de Arqueologia, se parecem destoar do conteúdo
arqueologicamente orientado, no que tange
à idéia de conscientização patrimonial, fo-
Fig. 5. “Tivemos nosso dia de arqueólogos!” (Lamyara Macedo – 6ª A, Escola Virgílio de Melo
Franco). A experiência da escavação: uma das atividades mais apreciadas pelos alunos.
57
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
ram bastante positivo. Destaca-se, nesse
sentido, o grande evento que findava a Semana de Arqueologia na cidade, sediado num
local de grande agregação social: trata-se
da Feira Coberta de Paranã, local onde ocorrem vários eventos da cidade, e há, ao seu
lado, um pequeno comércio bastante freqüentado. Ali, foram expostas as atividades
produzidas durante a semana pelos alunos,
num evento que conclamava toda a cidade.
Foi nesse local, de reconhecimento fácil e
grande circulação, entre as manifestações
culturais que todos bem conheciam, instalou-se a reflexão produzida sobre a cidade
no tocante à arqueologia e ao patrimônio.
Foi, no seio de manifestações tradicionais
mescladas àquele conhecimento recentemente adquirido, que se encerrou a Semana
de Arqueologia de Paranã.
3. A idéia de parceria na Arqueologia
Pública
Há dois atores que devemos caracterizar nessa idéia de parceria, atores bem diferentes, cabe dizer, mas cuja união pode
ser bastante fecunda, se efetivamente
dialética, quando inseridos no quadro da Arqueologia Pública, sobretudo na dinâmica de
uma pedagogia arqueológica. Os atores são
os seguintes: de um lado o profissional (o
arqueólogo) e do outro o que se denomina
geralmente como “leigo”. Há que se saber
que, diferente de qualquer acepção pejorativa do termo, o leigo pode estar no plano do
interlocutor altamente intelectualizado, inclusive na tradição acadêmica, ou aquele completamente distante dela: o leigo é apenas
aquele que não conhece bem a Arqueologia,
seus processos científicos, jargões específicos etc.
A aparente apresentação opositiva não
é casual. Acreditamos que haja mesmo um
distanciamento que deve ser sanado, através de uma aproximação que não seja baseada em práticas unidirecionais (o que só confirmaria tal oposição). Nesse sentido, a Arqueologia, apresentada no seio escolar, ou
58
seja, em contornos pedagógicos, é bastante
viável, e é neste ponto que a experiência em
Paranã, como professores-arqueólogos,
deve ser retomada.
É importante lembrar que os dois atores
encontraram novidades: um, pois lhe será
apresentado algo novo, que conhece pouco
ou desconhece completamente; e ao outro,
pois a escola elementar é um espaço diferente, com dinâmicas novas, a que o pesquisador tem que se adaptar em parte. O público é diverso daquele com que ele está acostumado a dialogar, e os objetivos de tal comunicação também são diversos. O dito professor-arqueólogo não é aquele que se relaciona cotidianamente com essa dinâmica
e s c o l a r, e l e a p a r e c e e m s i t u a ç õ e s
freqüentemente de exceção, ao contrário dos
professores de História, Português, Matemática etc., matérias cujos docentes não são
necessariamente pesquisadores, e mesmo
que sejam, eles devem seguir, pelo menos
em parte, um projeto, um plano de ensino
(pedagógico), discutido no seio da escola,
conselho tutelar, comunidade etc. O professor-arqueólogo chega no contexto escolar
com algo definido por ele e (ou) por uma
equipe que integra, o conteúdo não é discutido no seio escolar e comunitário.
Em Paranã, o caráter de exceção característico dessa inserção do arqueólogo no
seio escolar foi amplamente observado. Em
primeiro lugar, a chegada de um grupo de
estranhos provocou certa ansiedade na cidade, e questões como as do título deste
artigo surgiam. Iniciadas as atividades, as
aulas apresentadas contavam com aparelhagem de reprojeção digital e microfones - ver
fig. 6; o que era bastante diferente dos recursos que as escolas possuíam. Ainda, houve
certa reestruturação das salas, e em alguns
casos até a remoção para outro espaço (a
Feira Coberta de Paranã), que acolhia melhor a aparelhagem e as grandes turmas de
alunos.
Toda essa reorganização promovia a inserção de um pessoal (os professores-arqueólogos) e conteúdos novos nas escolas. Mas,
dadas as condições climáticas (a cidade é
O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco
Fig. 6. Paulinho e Leilane ensinando arqueologia.
bastante quente em novembro), episodicamente
a aparelhagem falhou, e uma comunicação
mais próxima da dinâmica cotidiana da escola restabeleceu-se (na falta de aparelhos,
restavam as lousas e gizes).
Tal esforço servia, claramente, a uma
conscientização (em alguns casos até primária) sobre o patrimônio arqueológico. Entretanto, como romper as barreiras da
conscientização primária (essa passo fundamental, mas inicial) e alcançar a participação no processo seletivo, muitas vezes
restrito aos profissionais relacionados à Arqueologia e ao museu?
As decisões do arqueólogo, a partir de
pressupostos científicos, freqüentemente propõem seleções de artefatos, construções
arquiteturais etc., cuja conservação será feita.9 Há, dessa forma, uma intervenção grande no quadro das referências das coisas a
serem guardadas, conservadas e lembradas.
São comuns as permanências de objetos
arqueológicos dentro de instituições acadêmicas como museus universitários, ou mesmo em outros casos, em museus históricos
e de arte.
(9) A noção de preservação, numa discussão sobre a
Arqueologia Pública que se pretenda realmente ampla,
é variada. Vai desde a preservação material, até tudo o
que ela implica ideologicamente. Preservar, nesse sentido, significa dar destaque a alguns elementos, visando sua continuidade (talvez perenidade); uma sobrevivência física, mas também no campo da memória.
O estatuto do objeto no museu é diverso
daquele no contexto que foi criado e utilizado de forma primária, e mesmo do “abandono”, sanado pela ação arqueológica. Distante da dinâmica do museu universitário, a própria discussão artística do século XX indicava para um debate do papel de determinados objetos num museu, e da variação de
seu estatuto em contextos diferentes. Lembremos aqui da pilha de caixas de suco de
tomate Campbell, criada por Andy Warhol
(1969), e do miquitório (intitulado La
Fontaine) assinado por Mutt (1917), heterônimo
de Marcel Duchamp (ver figs. 7 e 8). Ora,
seriam os mesmos se estivessem no seu local de origem (a prateleira de um supermercado ou num banheiro público qualquer?). A
resposta passa, efetivamente, pela compreensão do estatuto, da constituição de uma
“aura” do que está encerrado nas dependências de qualquer museu.
Escolher esses objetos “auráticos”,
passa, em parte, pela ação arqueológica
desde seus primórdios, ou seja, já na sua
entonação antiquarista, que se caracterizava, em muitos casos, por uma forte aproxi-
Fig. 7. A Fonte, Marcel Duchamp, 1917.
59
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Fig. 8. Suco de tomate Campbell, Andy Warhol,
1969.
mação com o Estado, quando, desde a época moderna, este toma a empresa de preservação patrimonial para si. Tal situação
deu-se freqüentemente contígua a um uso
no campo da propaganda institucional estatal, como no caso da Escandinávia, Suécia,
Dinamarca, desde o século XVI. Clark (1985:
57) conta algo sobre a criação de um Museu
Nacional dinamarquês, que
Incorporando coleções provenientes
da Kunstkammer real, e a nomeação de
uma comissão régia para salvaguardar
monumentos nacionais estabeleceram
um firme vínculo entre o sentimento de
identidade nacional e as relíquias do passado dinamarquês.
Assim, foi no seio da ação acadêmica, freqüentemente endossada pela estatal,
que se escolheram e preservaram as coisas
que devem ser rememoradas. A idéia de
parceria, numa acepção mais ampla; ou
seja, desobjetivando o outro (no caso, o público leigo) parece propor uma mudança nessa situação. Uma pedagogia arqueológica
serviria para algo muito além de ensinar o
que é importante arqueologicamente falando
(o passo inicial), mas de munir o leigo para
uma participação efetiva nessas escolhas.
A ação conscientizadora não se deve
pautar numa situação iluminista de fluxo
60
unidirecional de conhecimento; mas ela pode
ser bastante importante quando se pensa em
integrar o público leigo nas escolhas finais
do processo de preservação patrimonial.
Nesse sentido, as práticas de Arqueologia
Pública, sobretudo as de entonação pedagógica, têm papel essencial na formação (e não
condicionamento) do público leigo. O reconhecimento dos materiais, da função do arqueólogo, e do estatuto que esses devem
ocupar no seio de sua comunidade devem
ser escolhidos, discutidos e construídos no
seio de um diálogo. Diálogo, no sentido mais
amplo da palavra, ou seja, uma relação
dialética, onde há certas interdependências.
Os papéis são claramente diferentes, mas
relativos.
A prática arqueológica propõe diálogos com populações locais, antes mesmo de
qualquer proposta de Arqueologia Pública.
Destaca-se, nesse quadro, uma linha que vê
no outro, no leigo, um parceiro relativamente importante na pesquisa arqueológica. Alguns manuais de Arqueologia indicam a importância do diálogo com populações locais,
que geralmente guardam na memória histórias, e mesmo objetos materiais encontrados ao longo de sua existência. Conversar
com eles, então, mostra-se em alguns casos
indispensável.10 Entretanto, essa prática está
longe de uma ação arqueológica pública,
dado que o relato do outro é usado de forma
quase puramente instrumental, e não é previsto algum retorno posterior.
Por fim, é devido dizer que uma Arqueologia que proponha um verdadeiro diálogo
com o outro lado dos muros da academia,
quando inserida nos processos educativos,
mesmo em caráter de exceção, deve estar
atenta às questões feitas pelo outro, se visa
(10) “A informação oral torna-se muito útil, em geral,
nos casos em que o arqueólogo está estudando um
sítio que foi ocupado em tempos ainda presentes na
memória de testemunhas, ou nos casos em que o
arqueólogo deseja conhecer a história do sítio após
seu uso pelo povo que originalmente o construiu”.
(Orser Jr, 1992: 45)
O que é isso? Para que serve? Quem são vocês? O que fazem? Uma experiência de Arqueologia Pública em Paranã – TO
Leilane P. Lima / Gilberto da Silva Francisco
tê-lo como parceiro. As perguntas do título
aparentemente apresentam respostas simples, as quais o arqueólogo tem bastante
desenvoltura para responder. Porém, visando reconhecer o outro como parceiro, essas
questões devem sempre ser pensadas de
forma relativa, e não com uma objetividade
peculiar do discurso cientificamente baseado. O arqueólogo, suas interpretações, os
materiais com que trabalha, tudo isso está
inserido num universo amplo de significados,
por mais que durante muito tempo tenha-se
optado por ações restritivas.
A Arqueologia é uma área que lida
freqüentemente com questões sobre o passado, e o debate patrimonial insere ações
sobre o presente.11 É necessário deixar claro
que não é apenas a discussão patrimonial
que aproxima a Arqueologia das questões do
nosso presente. A reflexão teórica sobre a
disciplina e sobre sua própria história indica
que a reflexão arqueológica sobre a cultura
material produzida no passado são interpretadas a partir de abordagens teóricas e problemas freqüentemente relacionados ao
universo do pesquisador.
AGRADECIMENTOS
Agradecemos ao professor doutor Pedro
P. A. Funari, pelo interesse, gentil convite para
publicação e sugestões bastante apropriadas; bem como à professora doutora Erika
M. Robrahn-González, pela disposição e interesse sobre nossas atividades, desde a
Semana de Arqueologia em Paranã, até a
disponibilização de informações importantes
para a confecção deste artigo. Agradecemos
também as empresas e instituições envolvidas na organização e execução da Semana
de Arqueologia em Paranã (Documento Antropologia e Arqueologia Ltda., Enerpeixe,
Núcleo de Estudos Estratégicos – Arqueologia Pública/Unicamp e Fundação Cultural de
Jacarehy); e todos os integrantes da equipe
de professores-arqueólogos (Wagner,
Paulinho, Vinícius, Kelly, Silvana e Patrícia).
Por fim, cabem agradecimentos ao CNPq, cujo
incentivo financeiro é responsável pela permanência das atividades acadêmicas de um
dos autores deste artigo. As idéias aqui expostas são de inteira responsabilidade dos
autores.
(11) É necessário deixar claro que não é apenas a
discussão patrimonial que aproxima a Arqueologia das
questões do nosso presente. A reflexão teórica sobre a disciplina e sobre sua própria história indica que
a reflexão arqueológica sobre a cultura material produzida no passado são interpretadas a partir de abordagens teóricas e problemas freqüentemente relacionados ao universo do pesquisador.
61
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Abstract: The aim of this article is to comment about the partnership
notion into the Public Archaeology debate, specifically in the classroom
dynamic. The comprehension about the archaeology role in this context
will be based on the authors’ experience as archaeology teachers during
the Semana de Arqueologia de Paranã - TO (Paranã Archaeology Week TO), a hands-on related to archaeological research activities in an
environmental impact zone, where a dam is about to be built.
Keywords: Identity, Public Archaeology, Heritage Education, Heritage,
Partnership
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ARQUEOLOGIA E SOCIEDADE NO MUNICÍPIO DE
RIBEIRÃO GRANDE, SUL DE SÃO PAULO: AÇÕES EM
ARQUEOLOGIA PÚBLICA LIGADAS AO PROJETO DE
AMPLIAÇÃO DA MINA CALCÁRIA LIMEIRA.
Erika Marion Robrahn-González*
Resumo: O presente artigo visa analisar o desenvolvimento da Arqueologia Pública enquanto prática e conceituação científica, e apresentar uma
iniciativa de aplicação que vem sendo desenvolvida junto à comunidade
do município de Ribeirão Grande, localizado na região sul do Estado de
São Paulo, com apoio da Companhia de Cimento Ribeirão Grande.
Palavras-chave: Arqueologia Pública, Ribeirão Grande, Arqueologia de São Paulo
Introdução
Todo ser humano é, em algum ponto de
sua essência, um arqueólogo. Isto significa
dizer que a Arqueologia existe, em primeiro
lugar, da necessidade do ser humano em
registrar sua própria história, seja através
dos documentos escritos, das narrativas orais
ou dos diferentes marcos deixados no mundo que o rodeia, como a construção de templos, o registro de cenas pintadas em paredes rochosas, a implantação de sinais que
delimitem os territórios ocupados, e assim
por diante. Esses marcos, em especial, são
produzidos pelas sociedades humanas para
que sejam reconhecidos tanto pelos próprios membros de sua sociedade, como também por outras sociedades, definindo seu
universo político, econômico, social e cultu-
(*) Núcleo de Estudos Estratégicos / UNICAMP
[email protected]
ral. Nos dias de hoje, não mais nos limitamos a deixar registros em nosso próprio planeta, mas lançamos artefatos ao espaço
(como a placa metálica enviada pelos EUA
contendo a figura humana desenhada por
Leonardo da Vinci e fórmulas matemáticas).
Estamos preparando, portanto, vestígios arqueológicos para que nossa história possa
ser lida por cientistas de muito mais além.
Por outro lado, todo ser humano tem
necessidade de conhecer sua história,
construindo, a partir dela, suas referências de vida. A experiência acumulada pelo
homem fornece a sustentação necessária
para olhar o futuro: seja perpetuando antigas formas de vida, seja negando estas
formas e construindo novas alternativas de
desenvolvimento.
O ser humano necessita, por fim, compreender formas de vida muito diferentes das
suas, como foram, por exemplo, as sociedades da América para os colonizadores europeus quando alcançaram nosso continente,
no século XV.
63
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
A Arqueologia é, em essência, a busca
desta história de experiências humanas. Milênios antes da Arqueologia se firmar como
disciplina no ocidente membros de diferentes sociedades procuravam explicar o passado das mais variadas formas, onde se incluem desde os mitos de criação do universo
apresentados por grupos indígenas, até escritos gregos datados em 800 anos a.C. que
fazem referência à primeira divisão do passado humano em eras culturais (Idade do
Ouro, Idade da Prata, Idade do Bronze, Idade Heróica e Idade do Ferro).
Estes foram, sem dúvida, os arqueólogos de seu tempo. De fato, a História da
Arqueologia é, antes de mais nada, uma
história de idéias e de descobertas, de formas de olhar o passado. E cada olhar constitui um reflexo ou produto de seu próprio
tempo. Se no início podemos chamar, com
certa liberdade poética, de “arqueólogo”
aquele que registrava cenas de sua cultura em paredes de pedra, hoje chamamos
de arqueólogo aquele que se vale de modernos conceitos teóricos, técnicas sofisticadas e grandes organizações de trabalho para explicar, segundo os atuais preceitos da Ciência, o mesmo velho tema: a
história humana.
Enquanto arqueólogos deste início do
século XXI, trazemos no currículo pelo menos cinco séculos de experiência, contados
desde os primórdios da disciplina no continente europeu, ainda durante o século XV.
Se fôssemos capazes de contabilizar o investimento intelectual e o volume de estudos realizados, certamente nos surpreenderíamos com o resultado: milhares (ou milhões) de trabalhos de campo, de acervos
pesquisados, de datações adquiridas, de publicações, apresentações em reuniões e congressos, debates científicos, exposições e
muitos itens mais.
Dos colecionadores de peças exóticas da
Antiguidade aos dias atuais, a Arqueologia
não foi apenas capaz de acumular um conhecimento respeitável sobre o passado humano; discutiu incansavelmente, também,
sua responsabilidade ética sobre este pas64
sado, à medida em que apontava novas e
mais abrangentes perspectivas de abordar o
desenvolvimento das sociedades ao longo do
tempo.
Como conseqüência e continuidade desta dinâmica, mais uma vez a Arqueologia se
encontra no divã. Todavia, enquanto ao longo de sua história os agentes motivadores
de mudança foram, principalmente, membros de dentro de sua própria comunidade
científica, desta vez eles vêm de fora e podem ser sintetizados em uma única palavra:
sociedade.
Este movimento vem sendo internacionalmente denominado “Arqueologia Pública”,
voltada ao relacionamento entre a pesquisa
e o manejo de bens culturais com os grupos
sociais interessados, de forma a promover a
participação da sociedade na gestão de seu
patrimônio arqueológico e histórico.
Essa abordagem prescinde, todavia, de
uma profunda mudança de postura com respeito ao nosso “objeto de estudo” e procedimentos de trabalho. Hoje entendemos não
ser mais possível que a Arqueologia continue voltada ao desenvolvimento de um ser
abstrato chamado “Ciência”, colecionador
insaciável de novas teorias, novas descobertas, novas abordagens, novas discussões.
Valendo-me de uma imagem da nossa velha
conhecida Teoria de Sistemas, o turning point
da Arqueologia pode ser sintetizado em uma
única palavra: sociedade.
Temos, assim, uma mudança essencial
de foco, onde a Arqueologia deixa de ser uma
ciência com olhar voltado ao passado para
assumir sua responsabilidade na compreensão do presente e na promoção do futuro.
O presente trabalho visa apresentar uma
reflexão sobre o tema, apoiado em uma discussão teórica e conceitual e apresentando
uma síntese dos resultados até o momento
abtidos pela pesquisa que vem sendo desenvolvida em parceria com a empresa Companhia de Cimento Ribeirão Grande (CCRG) por
conta do licenciamento ambiental do Projeto
de Ampliação da Mina Limeira, localizada na
região sul de São Paulo, município de Ribeirão Grande.
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
Conceituação
A busca em compreender o passado humano se deu, inicialmente, através de manifestações oriundas da própria sociedade,
como nos exemplificam os mitos de criação
do mundo, ou mesmo a atividade quase instintiva de colecionar objetos que remetessem e materializassem a própria existência
deste passado. À medida que a Arqueologia
foi se firmando enquanto disciplina (especialmente a partir do século XIX), o estudo e
interpretação da história humana constitui
domínio e atribuição de profissionais cientistas, em busca de um “passado objetivo real”.
A própria terminologia cada vez mais técnica da Arqueologia, em boa parte adquirida
através da New Archaeology, já no século
XX, perpetua a mistificação da disciplina, e
sua prática pressupõe uma crescente alienação junto ao público, fazendo crer que
pouco há para ser aprendido com a participação da sociedade nas pesquisas.
Esse distanciamento do arqueólogo junto ao público pode ser bem ilustrado por uma
situação apresentada em artigo de Shackel
(2002:13), em que relata escavações realizadas no Parque Nacional Harpers Ferry/EUA,
na década de 1970. Na chegada ao local de
trabalho possíveis visitantes eram recepcionados
por uma placa contendo os seguintes dizeres:
Yes – we are archaeologists.
Yes – we are doing archaeology.
Please do not disturb us.
Os primeiros arqueólogos a atravessar
a fronteira entre a audiência científica e a
audiência pública foram duramente criticados, incluindo um certo questionamento sobre a própria sustentação científica de seus
trabalhos.
Essa iniciativa se deveu à Arqueologia
Pós-processualista que, a partir do início da
década de 1980, alertava sobre os cuidados
e responsabilidades referentes ao conteúdo
das mensagens transmitidas sobre o passado, considerando as dimensões sociais e
políticas envolvidas. Isto se aplicava tanto à
divulgação científica quanto à divulgação voltada ao público em geral (para uma revisão
do tema vide Moser 2001).
Observou-se assim uma crescente preocupação, no cenário internacional, com os
aspectos públicos da Arqueologia, entendidos como as questões de planejamento econômico, ações sociais e políticas envolvidas
na prática da disciplina. Com a fundação da
WAC (World Archaeological Congress) em
1986, a Arqueologia tem tratado de forma
mais sistemática o relacionamento entre a
pesquisa e manejo de bens culturais e os
grupos sociais interessados. O surgimento da
primeira publicação periódica sobre o tema,
Public Archaeology (Londres, James &
James), em 2000, assinala o amadurecimento das discussões estratégicas sobre o caráter público da disciplina e sua importância
social.
Em vários outros países do mundo, incluindo o Brasil, a Arqueologia deixou por
muito tempo para uma equipe de não-arqueólogos (incluindo caçadores de tesouros,
amadores, saqueadores e romancistas) a
missão de propagar suas descobertas e interpretações, não raro de modo distorcido.
Nos últimos anos, todavia, os arqueólogos
começaram a introduzir em sua rotina de trabalho diferentes ações referentes à agenda
em Arqueologia Pública, como educação,
integração com a comunidade e proteção/
preservação de sítios arqueológicos.
Inicialmente as ações em Arqueologia
Pública estiveram mais voltadas à proteção
e preservação do patrimônio arqueológico,
haja visto que os profissionais se depararam
com um ritmo cada vez mais acelerado de
degradação e destruição deste patrimônio.
A perda de patrimônio cultural é comparável
à extinção de espécies vegetais ou animais:
é para sempre. A manutenção dos vestígios
do passado (sejam eles artefatos, sítios arqueológicos, paisagens ou qualquer tipo de
estrutura) constitui elemento fundamental
65
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
para continuar havendo uma ligação tangível com o passado, elemento crítico de toda
vida social. Assim sendo, independente de
como o passado é estruturado, compreendêlo e proteger seus símbolos constitui parte
integrante da experiência coletiva humana –
e da classe arqueológica em particular (Smith
& Ehrenhard 2002:121).
Mas rapidamente os arqueólogos perceberam que necessitavam reconhecer não
somente sua responsabilidade sobre os vestígios arqueológicos, mas igualmente sobre
as pessoas cuja herança histórica e cultural
se relacionava a estes vestígios (Little
2002:10). Um dos benefícios públicos da Arqueologia está justamente em contribuir para
o fortalecimento dos vínculos existentes entre a comunidade e seu passado, ampliando
o interesse da sociedade sobre o patrimônio
e criando, assim, a sustentação necessária
às medidas de preservação.
Nessa empreitada devemos explorar o
grande interesse e fascínio que a Arqueologia desperta nas pessoas, por conta de seu
perfil de descobertas e da busca pelo passado. De fato, a Arqueologia parece constituir
a segunda profissão de mais da metade da
população. Freqüentemente nos deparamos
com frases como “se eu não fosse engenheiro (ou médico, ou professor, ou qualquer
outra profissão), seria arqueólogo”.
A relação que a Arqueologia estabelece
com as diferentes áreas de conhecimento uma vez que é uma ciência verdadeiramente interdisciplinar, fruto da somatória de cada
disciplina científica e humanista – é mais um
dos fatores que faz com que muitas pessoas
se sintam próximas a ela. Isto se aplica, por
exemplo, ao caso da estabilidade e mudança ambiental: através do conhecimento da
sucessão de experiências humanas ocorridas sobre um ecossistema, é possível refletir sobre alternativas de gestão e manejo,
trazendo uma visão mais global e tangível
ao tema (Little 2002: 9; De Vries 2003).
Podemos citar ainda como fator de aproximação entre a Arqueologia e o público em
geral o crescente interesse e uso de
tecnologia no mundo moderno. A Arqueolo66
gia não só utiliza uma série de tecnologias
nas pesquisas, onde se incluem as datações
radiocarbônicas, sensoriamento remoto, análises químicas, entre outros (McManamon
2000:13), assuntos que despertam grande
interesse do público em geral, e do estudantil em particular – como por intermédio de
seus estudos é possível conhecer o desenvolvimento tecnológico desde a pré-história
até os dias atuais e outros aspectos do desenvolvimento humano, como a agricultura
e a metalurgia.
Fatores como os acima mencionados levam muitas pessoas a considerar a Arqueologia importante, estando, na maior parte das
vezes, interessadas em aprender sobre ela.
Acreditam que seu estudo traz ferramentas
importantes também para entender o mundo moderno, ressaltando seu valor educativo,
artístico, estético e até espiritual. A Arqueologia pode, assim, desenvolver elos entre
presente e passado, fortalecendo-os mutuamente e trazendo ensinamentos sobre a experiência humana como um todo (Little
2002:16).
Se expandirmos nossa visão para reconhecer os sucessos e insucessos das sociedades ao longo dos tempos, nossa tolerância social deverá ser expandida. Hoje os
estudantes necessitam compreender a história do mundo e de pessoas de diferentes
culturas e contextos que desenvolveram idéias, instituições e formas de vida diferentes
da sua. Nesse sentido, o conhecimento de
diferentes formas de vida, experiências e
perspectivas da humanidade no passado podem contribuir em criar cidadãos mais pacientes e respeitosos, especialmente com grupos excluídos ou minorias étnicas, em nossa
sociedade crescentemente pluralista (Shiva
2003; National Center for History in the
Schools 1996:1, citado por Little 2002:12).
Hoje temos necessidade de sermos competentes num mundo multicultural, e a Arqueologia pode proporcionar ferramentas
que auxiliem a viver nesta sociedade
crescentemente complexa, ensinando as pessoas sobre outras culturas e tempos, fornecendo-lhes ferramentas para melhor com-
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
preender a diversidade humana, ao expandir suas visões de mundo (Little 2002:13).
Essa compreensão da diversidade leva à
tolerância, que permite a inserção de diversos segmentos da sociedade, tornando todos os indivíduos sujeitos plenos de direitos
e deveres: cidadãos. Assim, um dos benefícios públicos da Arqueologia é o mesmo que
oferece a história e a ciência: a educação da
cidadania. Do mesmo modo que o
multiculturalismo pode ser representado tanto pela existência de uma multiplicidade de
culturas do mundo, como pela co-existência
de culturas diversas no espaço de um mesmo Estado-nação e as interinfluências que
ocorrem tanto dentro como além do Estadonação (Santos 2003), o conceito de cidadania não presume limites estritos: pode-se,
ao mesmo tempo, ser cidadão de um município, de um país, ou cidadão do mundo (Ribeiro 2000), e a Arqueologia transita entre
estes diferentes níveis o tempo todo.
Assim, como bem coloca McManamon
(1991, 1994, citado por Smith & Ehrenhard
123), não temos apenas um público a considerar, mas vários. Devemos refletir sobre a
maneirar como nossa sociedade se posiciona
com relação ao seu passado: Qual o passado que merece ser resgatado? Quais os mecanismos que a sociedade utiliza para registrar e perpetuar sua própria história?
Em oposição às ciências naturais, a ciência social necessita ser, particularmente
nestes tempos pós-modernos, pluralista em
essência. A admissão de diferenças não põe
em cheque a autoridade da disciplina. Ao
contrário: o reconhecimento de que as idéias e interpretações são produto de condições históricas específicas amplia o debate
e sua contribuição. Segundo define Molyneaux
(1994:6), se desejamos obter uma compreensão do passado que abranja a complexidade e diversidade de suas mensagens possíveis, então precisamos reconhecer a existência de um público igualmente diverso, e
aprender a lidar com ele. Para assim proceder mostra-se necessário reconhecer e respeitar todos os valores atribuídos à herança
arqueológica, incluindo a científica.
É preciso, assim, reconhecer a pluralidade
de interesses e graus de percepção do passado, bem como as necessidades políticas
do presente. Para tanto, os programas de
pesquisa devem envolver aspectos culturais
e identitários da comunidade envolvida, elementos que exigem novas posturas e abordagens, trazendo alterações essenciais aos
estudos arqueológicos (Gosden 2001; Fagan
2002).
A Arqueologia pode construir elos entre
a comunidade no presente, assim como no
passado, no momento em que sua herança
cultural é valorizada, preservando histórias
e tradições. Por essa razão o conteúdo da
mensagem a ser transmitida ao público deve
estar, antes de mais nada, atrelado à história local, de forma a construir um elo de percepção junto ao público, partindo daí para
contextos mais gerais. Isso pode incluir objetos identificados no local, sítios ou vestígios mais conhecidos, dados sobre como os
grupos humanos do passado viveram naquele
mesmo espaço geográfico, entre tantos outros (McManamon 2000:13; Lerner 1991, citado por McManamon 2000:14). Por outro
lado a mensagem deve também conter dados sobre a importância deste patrimônio, o
fato dele ser único e não renovável, e também o esforço e detalhamento da pesquisa
científica necessária para construir o conhecimento, visando sensibilizar o público sobre
sua valorização e necessidade de preservação.
No caso brasileiro, onde a sociedade
nacional foi formada através de uma ruptura
entre as ocupações indígenas que aqui se
encontravam e o elemento europeu, mais
tarde acrescido pela cultura africana, é freqüente a comunidade atual não reconhecer
vínculos com o contexto arqueológico, embora tenha interesse pelo seu sentido exótico. Isso se agrava pelo fato de que até mesmo a construção da História do Brasil tenha
sido tradicionalmente feita a partir de sua
classe intelectual dominante, resultando em
um baixo ou nulo reconhecimento da população em geral como sendo esta a “sua história”. O próprio currículo escolar não inclui
uma efetiva história das minorias, apesar de
67
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
sua participação fundamental na formação e
desenvolvimento da sociedade nacional.
Contexto muito próximo ocorre em pesquisas no sul da África, onde os vestígios
arqueológicos e a herança patrimonial foram,
durante todo o longo período colonial, tratados a partir dos interesses da aristocracia e
não a partir das aspirações das comunidades locais. Assim, como parte do processo
político e da própria perspectiva da pesquisa
arqueológica realizada, parte do legado colonial foi justamente causar a alienação das
comunidades locais com sua herança cultural (Ndoro & Pwiti 2001:21).
Nesse sentido os vestígios arqueológicos,
enquanto elementos materiais tangíveis, proporcionam uma experiência que auxilia no
reconhecimento de que existe um passado,
constituindo uma ponte concreta entre o antes e o agora e proporcionando, como define Lowenthal (1985:XXIII, citado por
McManamon 2002:32), uma metáfora que
ilumina o processo da história e da memória.
No caminho ressurge uma das questões
fundamentais da Arqueologia: quem controla
e a quem pertence o passado (ou, nos termos acadêmicos, a quem concerne sua propriedade intelectual?). Certamente os arqueólogos não são os únicos a poder contar
histórias, nem tampouco exercem o poder
absoluto sobre o passado das comunidades
vivas, como ocorre com aquelas que não
têm mais voz. Não podemos impor nossa
versão do passado ao mundo, ignorando
histórias tradicionais e outras perspectivas
que a comunidade nos traz. A ciência não é
onipotente ou exclusiva: todos nós controlamos e a todos nós pertence o passado,
incluindo povos dos quatro cantos da terra.
Temos apenas perspectivas diferentes sobre ele, valores culturais específicos e expectativas diversas sobre as lições que pode
nos ensinar. Assim, um dos instrumentos
mais valiosos da Arqueologia Pública é trazer tolerância e compreensão das diversidades culturais e das diversidades sobre o
passado (para uma discussão sobre o tema,
vide Thomas 2000, citado por Little 2002:6;
Kuwanwisiwma 2002).
68
De modo análogo os arqueólogos necessitam considerar as diferenças fundamentais entre os grupos humanos no que
se refere à própria compreensão da dimensão do tempo. A noção ocidental sobre a
passagem do tempo é geralmente adotada
como real e natural, mas existem vários
exemplos antropológicos e etnográficos contrários. Os grupos Inuit do noroeste do Canadá concebem sua realidade vivendo apenas no presente, sem reconhecer
sequenciamentos cronológicos onde organizem seus eventos: o passado é compreendido como parte do presente (Smith &
Ehrenhard 2002:122-3; Crist 2002).
Considerando esse conjunto de aspectos, mostra-se essencial que a pesquisa arqueológica seja realizada em conjunto com
os descendentes vivos da sociedade que criou
ou herdou os vestígios estudados. Assim será
possível conduzir os trabalhos a partir de
uma perspectiva de “arqueologia democrática”, como define Faulkner (2000), que compreende a realização de trabalhos com base
na comunidade, de forma não excludente e
não hierárquica, e dedicados a um desenho
de pesquisa que pressuponha interação entre os vestígios materiais, a metodologia de
trabalho e a interpretação. Dentre outros
exemplos frutíferos de pesquisas arqueológicas realizadas contando com a participação de membros da comunidade podemos
citar o realizado por Field (Field et al 2000)
entre os aborígines Australianos e o de
Faulkner (2000) com a sociedade inglesa
contemporânea.
Contudo, segundo Fabian (1983), o reconhecimento da mudança não nega aspectos de continuidade mas aponta a necessidade de tratar tanto a mudança como a continuidade como questões empíricas. As culturas não correspondem a entidades estáticas que existem à margem da História (Wolf
1984) e a Arqueologia deve analisar as sociedades contemporâneas a partir desta perspectiva. Nesse contexto a Arqueologia é capaz de trazer o poder do passado para a
legitimação das comunidades e seu fortalecimento no presente.
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
Nas últimas décadas muitos estudos têm
se dedicado, por exemplo, a definir de forma
mais clara e precisa a natureza e resultado
das mudanças geradas pelo processo de colonização, especialmente em sociedades da
América e da África (Atkinson 1989; Campbell
1988; Lamphear 1988; Handler 1968; Huffman
1982, 1986; Schmidt 1990; Stahl 1994;
Upham 1987; Whitehead 1990, entre outros).
Os benefícios públicos que a Arqueologia poderá trazer, junto a comunidades indígenas ou a comunidades de qualquer natureza, porém, dependem fortemente da solidez e credibilidade científica das pesquisas.
Sem isso, o interesse da comunidade será
diminuído e sua atenção deverá recair, fatalmente, ao aspecto exótico e fantasioso da
disciplina (Lipe 2000:20 in Little).
O desafio do arqueólogo está, entre outros, em estabelecer um significado científico e histórico às “coisas do passado”, ou seja,
aos objetos retirados das escavações, que
devem ser utilizados como ponte entre a experiência do público e um mundo passado
reconstruído a partir de inúmeras outras evidências (onde se incluem a história oral, os
mitos e os conhecimentos tradicionais). Nessa tarefa o arqueólogo necessita, mais do
que nunca, de uma equipe interdisciplinar que
possa transitar em todos os campos de conhecimento e esferas sociais de atuação.
Cabe a ele não apenas fornecer os dados de
pesquisa que possui, necessários à evolução
do trabalho, mas principalmente fornecer seu
olhar sobre o passado, para que profissionais nas áreas de antropologia, sociologia,
história, educação, publicidade, marketing,
turismo e tantas outras, possam trabalhar
de forma séria e criativa.
A tudo isto podemos denominar “Ciência
Aplicada”, correspondendo ao amplo leque
de contribuições que a Arqueologia pode oferecer no fortalecimento e valorização das
comunidades atuais.
No Brasil este momento apresenta uma
cor especial. Isto se dá especialmente por
conta da conjuntura social e política que atravessa, na qualidade de país em desenvolvimento rumo à era da globalização. À Ar-
queologia abrem-se preciosas oportunidades
de ocupar espaços ainda vazios, voltados a
uma abordagem mais abrangente e pluralista
de nossa herança cultural.
E é dentro desta abordagem e conceituação
que o texto que se segue visa demonstrar
uma experiência de trabalho desenvolvido em
Arqueologia Pública em uma area da região
sul do estado de São Paulo, abrangendo os
campos da educação, divulgação, valorização cultural e preservação, com o objetivo
de expandir as reflexões aqui apresentadas.
O Programa Arqueológico Mina Limeira
O Projeto de Ampliação da Mina Limeira, de responsabilidade da empresa Companhia de Cimento Ribeirão Grande (CCRG),
vem sendo desenvolvido desde 2002 englobando as diferentes fases de licenciamento
ambiental da obra. Abrange terras dos municípios de Capão Bonito e Ribeirão Grande,
localizados na região sudeste do estado de
São Paulo.
A área integra o que se define como “região do alto Paranapanema”, mais precisamente em seu limite meridional, próximo à
crista dos divisores de águas com a bacia do
rio Ribeira de Iguape. A área-foco da pesquisa é banhada por pequenos córregos que
deságuam no rio das Almas que, por sua
vez, é um dos formadores do rio Paranapanema,
em seu alto curso (Figura 1).
O vale do alto Paranapanema oferece
interessantes questões científicas à Arqueologia. Em primeiro lugar, corresponde a uma
zona de transição ambiental entre a região
florestada da serra da Paranapiacaba (fisicamente integrada à porção do médio/alto
vale da bacia do Ribeira de Iguape), e o planalto paulista. Esta condição geográfica teria, ao menos em parte, influenciado no assentamento dos grupos indígenas pré-coloniais que ali se desenvolveram, fazendo com
que aparentem características específicas, e
distintas de suas áreas de origem, o planalto
central brasileiro (De Blasis 1996, RobrahnGonzález & De Blasis 1998).
69
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
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Colônia de S. Maria
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-48º
Figura 1 – Região sudeste do Estado de São Paulo, com a Serra do Paranapiacaba definindo os
limites entre o vale do Paranapanema (a noroeste) e o vale do rio Ribeira de Iguape (ao sul).
Localização regional da área do empreendimento, no vale do rio Almas, um dos formadores do
Paranapanema.
Em segundo lugar, o vale do Paranapanema
é recorrentemente apontado pela bibliografia arqueológica como possível área de fronteira cultural, delimitando o território de ocupação de grupos indígenas tradicionalmente
ligados à região sul brasileira (cujos sítios
são genericamente relacionados às denominadas tradições Umbu e Itararé) e grupos
indígenas ligados à região sudeste (com sítios relacionados às tradições Tupi-guarani e
Humaitá, embora esta última esteja sendo
hoje re-avaliada) (De Blasis 1988, 1996;
Mello Araújo 2001; Robrahn 1989; Barros
Barreto 1988; Hoeltz 1997; Dias 1994;
Schimtz 1981, 1987; Kern 1982; RobrahnGonzález & De Blasis 1998).
No que se refere à delimitação da área
de pesquisa, trata-se de um projeto de am-
70
pliação, considerando que a Mina Limeira
teve sua exploração iniciada há décadas, sem
contudo ter sido, efetivamente, posta em
operação. O objeto do atual licenciamento
implica tanto na área projetada para ampliar e iniciar a exploração calcária da Mina,
como também as obras de apoio que lhe
serão relacionadas, a saber:
• o depósito de estéril Leiteria (D.E. Leiteria, também já há décadas em operação);
• o depósito de estéril Barro Branco (D.E.
Barro Branco)
• via de acesso a ser aberta entre o D.E.
Barro Branco e a fábrica da CCRG.
Estas correspondem às áreas diretamente afetadas pelo empreendimento
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
(ADA), e que foram objeto de estudos sistemáticos intensivos. Todavia, visando obter um contexto científico de referência aos
vestígios identificados no interior da ADA,
os trabalhos de campo e os levantamentos
documentais se estenderam pelo que se
definiu como área de influência indireta do
empreendimento (AII), aqui considerado
como abrangendo todo o vale do rio das
Almas e os municípios afetados. Por outro
lado, muitas das discussões científicas apresentadas pelo texto exigiram a abrangência
de um espaço geográfico maior, podendo
alcançar todo o planalto meridional brasileiro no que se refere a questões como migrações, territórios de ocupação, contatos
extra-culturais, entre outros.
Os trabalhos de campo tiveram início
através de prospecções na ADA, buscando
reconhecer o patrimônio arqueológico envolvido. De início foram realizados levantamentos extensivos, consistindo em uma primeira abordagem de reconhecimento da
área e de seus vestígios (procedimento especialmente empregado durante os estudos
de diagnóstico da área). Em seguida deuse início às prospecções sistemáticas (tipo
varredura), implicando na observação dos
terrenos tanto em superfície como em profundidade.
Durante estas prospecções sistemáticas
as equipes percorreram cada uma das áreas
que compõem a ADA caminhando em alinhamentos paralelos distantes entre si de 20 em
20 metros, com realização de poços-teste a
cada 20 m percorridos. Os poços-teste apresentaram dimensões de 0,4m de diâmetro e
1,0m de profundidade (podendo variar a profundidade de acordo com a espessura de solo
presente, podendo alcançar até 2,5m).
Este tática de cobertura por alinhamentos paralelos com distribuição de poços-testes de forma regular permitiu obter dados necessários ao estudo dos padrões de distribuição dos sítios arqueológicos na paisagem. A pesquisa foi responsável pela identificação de 50 sítios
arqueológicos, dos quais 17 foram, posteriormente, escavados sistematicamen-
te ( Figura 2 ). Dos 50 sítios, 34 são do
tipo lítico (ou 68%), 4 cerâmicos (ou 8%),
9 sítios ligados ao período histórico (ou
18%) e 2 sítios multicomponenciais (ou
seja, sítios que apresentam vestígios relacionados a mais de uma ocupação humana – 4%) (vide Tabela 1 ).
O presente artigo não objetiva detalhar
aspectos referentes a estes sítios arqueológicos, às suas indústrias e às filiações arqueológicas regionais, uma vez que estes
assuntos estão sendo tratados e serão apresentados na dissertação de Mestrado de Gerson Levi da Silva Mendes (MAE-USP). A utilização dos dados da pesquisa para trabalhos
acadêmicos constitui, aliás, outra iniciativa
incentivada pelo Programa, proporcionando
o detalhamento de análises científicas sobre
os temas tratados e resultando em contribuições científicas adicionais e de maior detalhe em focos específicos.
Desta forma apresenta-se, abaixo, uma
síntese dos principais horizontes de ocupação humana identificados pelas pesquisas.
Estes horizontes partem do contexto mais
antigo (paleo-índio), até alcançar a ocupação atual de Ribeirão Grande, buscando incorporar seus diversos passados, por assim
dizer: o passado pré-colonial, formado por
diferentes grupos indígenas que se desenvolveram na região há pelo menos 5.500 anos
atrás, e o passado histórico, que embora na
memória da atual comunidade que ali vive
recue apenas até a época da mineração (a
partir do século XVII), incorpora traços
marcantes de tradição indígena em diversas
práticas do cotidiano.
Neste contexto, o objetivo maior do presente artigo é incorporar a comunidade atual na história regional, através das diferentes nuances materiais e materiais que constituem a continuidade e herança deste passado milenar. Assim, na apresentação dos
chamados “horizontes de ocupação humana”, será dada maior ênfase e detalhamento
em seus aspectos uma vez que, conforme já
mencionado acima, os contextos de ocupação pré-colonial estarão sendo apresentados
em trabalho acadêmico.
71
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Le6
Le5
Cr1
Cr2
Le1
Cr4
Le11
Cr3
Le7
Le11
Le9
Cr5
Le8
Le10
An3
An2
Fabrica
CCRG
Ca1
Sv2
Sv1
Li3
Li1
Ca3
Sv3
Li2
Ca4
Br6
Br9
Br12
Br8
Br18 Br3
Br22
Br4
Br17
Br2
Br16
Br11
Br1
Br14
Br3 Br15
Br23 Br10 Br19
Br20
Br13
Br21
Br5
Br7
Sítios cerâmicos
Sítios históricos
Sítios líticos
Sítios multicomponenciais
Figura 2 - Localização dos sítios arqueológicosura
Tabela 1
Sítios arqueológicos identificados pelo programa
Nome do sítio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
72
Leiteria
Leiteria
Leiteria
Leiteria
Leiteria
Leiteria
1
2
4
5
6
7
Tipo
Lítico
Lítico
Lítico
Multicomponencial
Lítico
Cerâmico
Área
Área
Área
Área
Área
D.E. Leiteria
D.E. Leiteria
de Influência Indireta
de Influência Indireta
de Influência Indireta
de Influência Indireta
Coordenada UTM
22
22
22
22
22
22
J
J
J
J
J
J
765568/7326832
765281/7326621
764889/7326690
765529/7327192
765892/7328244
764702/7326440
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
Tabela 1 (cont.)
Sítios arqueológicos identificados pelo programa
Nome do sítio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sítio
Sítio
Sítio
Sitio
Sítio
Sítio
Sitio
Sitio
Sítio
Sitio
Sítio
Sítio
Sítio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sitio
Sítio
Sitio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Sítio
Tipo
Área
Leiteria 8
Lítico
Área de Influência Indireta
Leiteria 9
Lítico
Área de Influência Indireta
Leiteria 10
Lítico
Área de Influência Indireta
Leiteria 11
Lítico
Área de Influência Indireta
Anacleto 2
Lítico
Área de Influência Indireta
Anacleto 3
Cerâmico
Área de Influência Indireta
Cristal 1
Lítico
D.E. Leiteria
Cristal 2
Lítico
D.E. Leiteria
Cristal 3
Cerâmico
Área de Influência Indireta
Cristal 4
Lítico
Área de Influência Indireta
Cristal 5
Histórico
Área de Influência Indireta
Velho 1
Multicomponencial Área de Influência Indireta
Velho 2
Cerâmico
Área de Influência Indireta
Velho 3
Lítico
Área de Influência Indireta
Limeira 1
Lítico
Mina Limeira
Limeira 2
Lítico
Mina Limeira
Limeira 3
Histórico
Mina Limeira
Barro Branco 1
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 2
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 3
Lítico a
D.E. Barro Branco
Barro Branco 4
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 5
Histórico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 6
Histórico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 7
Histórico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 8
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 9
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 10
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 11
Lítico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 12
Lítico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 13
Histórico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 14
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 15
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 16
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 17
Lítico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 18
Lítico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 19
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 20
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 21
Lítico
D.E. Barro Branco
Barro Branco 22
Lítico
Área de Influência Indireta
Barro Branco 23
Lítico
Área de Influência Indireta
Cachoeira 1
Histórico
Área de Influência Indireta
Cachoeira 3
Histórico
Área de Influência Indireta
Cachoeira 4
Histórico
Área de Influência Indireta
Ribeirão Velho
Histórico
Área de Influência Indireta
Coordenada UTM
22 J 764969/7326112
22 J 764676/7326260
22 J 764882/7326032
22 J 765287/7326459
22 J 765041/7325898
22 J 765251/7325885
22 J 765786/7327045
22 J 765909/732695
22 J 765931/7326680
22 J 766085/7326777
22 J 765940/7326541
22 J 764666/7324030
22 J 765254/7324635
22 J 764730/7324045
22 J 772711/7324330
22 J 772504/7324412
22 J 771445/7324530
22 J 768420/7322684
22 J 768281/7322814
22 J 768421/7322479
22 J 768628/7322818
22 J 767659/7323182
22 J 767549/7323294
22 J 769211/ 7321987
22 J 768731/7323195
22 J 768587/7323278
22 J 768406/7322369
22 J 768129/7322675
22 J 768476/732323
22 J 767696/7322292
22 J 768299/7322661
22 J 768526/7322502
22 J 768558/7322723
22 J 768562/7322784
22 J 768562/7323033
22 J 768590/7322370
22 J 768600/7322256
22 J 768551/7322197
22 J 768368/7322982
22 J 768108/7322235
22 J 769247/7324679
22 J 768461/7324017
22 J 768549/7323965
22 J 767636/7323221
73
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
• Horizonte paleoíndio, com poucos artefatos e lascas encontrados de transienct
settlers, com presença de pontas projéteis rabo de peixe planas lascadas por
pressão, e pontas de lança com até 20cm
de comprimento, encontradas em profundidade superior a 150cm, sempre associados ao entorno de antigas lagunas, hoje
banhados de fundos de vale altos. Esses
sítios têm uma área potencial entre os
bairros dos Caetanos, Caetanos Velhos e
dos Cândidos, onde uma ponta de lança
foi encontrada a 2,5m de profundidade
por habitante local. Estes sítios devem ser
mais raros e profundos e estudos ulteriores de reconstrução ambiental para as
paleolagoas da área apontarão para zonas potenciais de ocorrência. Em outros
municípios pontas de lança também foram encontradas, sobretudo em Iporanga
e em Guapiara, conforme informações de
arqueólogos e colecionistas. Foi denominado “horizonte 1”.
• Horizonte caçador-coletor antigo, caracterizado pela presença de pontas-projéteis e lascas de acabamento, predominantemente de sílex de boa qualidade, além da presença de artefatos de
quartzo hialino, em profundidades superiores a 50cm chegando aos 80cm, situados sempre em topos de colinas e alinhados com outros sítios em situações
de implantação muito similares, apontando para uma provável integração em um
mesmo período (Foto). Foi denominado
“horizonte 2”. As indústrias destes horizontes (2 e 3) não apresentam mudanças significativas se estudadas tecnotipologicamente ou mesmo em sua va-
Horizonte 2: vestígios líticos do sítio Barro Branco 21, (Foto: Gérson Levi Méndes).
74
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
riabilidade isocréstica (como apontado por
Schmidt Dias 2003 para as indústrias
Umbu do extremo nordeste do Rio Grande
do Sul, que indica uma continuidade da
organização social tecnológica irreal entre
os conjuntos artefatuais). Contudo, as
mudanças são percebidas quando estudadas num contexto regional amplo de sistema de povoamento e percebidas articuladamente em vales e microbacias
hidrográficas (Moraes 2000), pois apontam para as diversas respostas que um
mesmo sistema de eventos e povoamento
utilizou-se para responder às necessidades econômicas e sociais locais, criandose um diálogo permanente com seu território móvel (Politis & Cárdenas 2000). Delineiam-se, assim, as escolhas de implantação dos assentamentos para paisagens
com fisionomias geomorfoclimáticas diversas e que tendem a se particularizar de
vale para vale, cada qual, atualmente, com
microclimas e ocorrências de espécies
endêmicas próprias, apontando para um
mosaico vegetacional complexo e alternado, como indicam as manchas de cerrado
em áreas próximas, a presença de
araucárias em fundo de vale onde o lençol
freático está mais alto e a recente formação da floresta tropical úmida, a Mata Atlântica. Para este horizonte tem-se a data de
5.030 +- 50 BP (calibradas em 5.920 a
5.660 BP, Laboratório Beta Analytic Inc,
amostra 207853).
• Horizonte caçador-coletor recente, caracterizado pela presença de pontas projéteis e lascas de acabamento, predominantemente de quartzo e calcário
silicificado (Foto). A maior parte dos sítios arqueológicos desse projeto está
associada a esse horizonte. Em todos os
Horizonte 3: Vestígios do Barro Branco 14, camada 1, (Foto: Gérson Levi Méndes).
75
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
seus sítios as pontas projéteis apresentam sinais de reavivamento intenso de
matérias-primas como o sílex, apontando
para a provável escassez ou esgotamento
dessa matéria-prima. Os sítios estão distribuídos por toda a área entre o bairro
rural do Assentamento, quase nos divisores
de água entre as bacias do Paranapanema
e do Ribeira de Iguape, e se estende até
as proximidades dos bairros Lagoa de
Cima, Cristal, Pêssego e Capoeira Alta, bem
como nas imediações de Ribeirão Grande,
podendo constar no planalto de Capão
Bonito. Formam um território nucleiforme
caçador-coletor diferente daquele encontrado no vale do Ribeira de Iguape. Estão
situados entre 15 a 40cm de profundidade, de acordo com as diversas condições
geomorfológicas locais. Foi denominado
“horizonte 3”. Para este horizonte tem-se
a data de 1.010 +- 50 BP (calibradas em
950 a 750 BP, Laboratório Beta Analytic Inc,
amostra 207852).
• Horizonte de grupos ceramistas
cultivadores, caracterizado pela presença de sítios arqueológicos implantados nas
porções mais abertas dos vales, concentrando-se, sobretudo, entre os bairros
rurais Barreiro Cabral e Pereira em direção aos terrenos suaves próximos à atual
cidade de Ribeirão Grande e nos bairros
Alto Rodrigues e Mata-a-Dentro, Nunes e
Ferreiras, em direção ao limite com o
município de Capão Bonito, a oeste. A
presença destes grupos nos vales do Barro Branco e Ouro Fino é mais tardia e
ocorre após o abandono dos sítios pelos
antigos habitantes caçadores-coletores,
como indicam os estudos de todos os perfis estratigráficos de sítios escavados. Foi
denominado “horizonte 4”. Os vestígios
cerâmicos encontrados no vale do Barro
Branco, de longe o mais conservado e com
condições ideais para escavação, apresentam um intervalo de 10 a 20cm com o
horizonte caçador-coletor. Assim, antes de
haver uma continuidade entre esses horizontes 3 e 4, há um silencio de 15 a
76
20cm de solo que sugere a existência de
um período de abandono da região, seja
porque os grupos caçadores-coletores
entraram em contato com populações
agricultoras e, assim, mantiveram relações com os mesmos de tal forma que se
sedentarizaram no planalto ou no vale do
Ribeira de Iguape, seja porque deveriam
estar em confronto com esses grupos agricultores que já habitavam o vale do Ribeira de Iguape e o planalto paulista nas
cercanias de Capão Bonito e Alto dos
Rodrigues em Ribeirão Grande, e que se
restringiam cada vez mais para um recuo
de seu território nuclear. Os sítios mais
recentes dos grupos caçadores-coletores
devem corresponder àqueles mais próximos aos divisores d’água da Serra dos
Agudos e entre os Parques Carlos Botelho
e Intervales. De qualquer forma, entre esses dois períodos estamos tratando do final da presença de caçadores-coletores
nesta região em data posterior àquela
detectada pelo projeto Gasbol (De Blasis
2000), ou seja, uma possibilidade muito
grande da presença de sítios mais recentes de 800 anos AP. De fato, para este
horizonte tem-se a data de 150 +- 40 BP
(calibradas em 280 a 0 BP, ou ainda, de
1670 a 1950 A.D., Laboratório Beta
Analytic Inc, amostra 207850).
• Horizonte histórico, correspondente ao
ciclo da mineração do ouro de aluvião
que deslocou habitantes dos arraiais dos
médio e alto curso dos afluentes do Ribeira de Iguape em direção às nascentes e à bacia do alto Paranapanema.
Ocorreu a partir da segunda metade do
século XVII e se prolongou até o terceiro
quartel do século XIX. Foi denominado
“horizonte 5”. No que se refere aos registros arqueológicos, os sítios Cristal 3,
5 e Anacletos 3 e 4 apontam para uma
provável relação entre a antiga população ceramista indígena e estes primeiros colonos que aí se estabeleceram por
volta do século XVII (uma pederneira de
produção local foi encontrada associada
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
A participação da comunidade do Barro
Branco, bairro rural localizado no município
de Ribeirão Grande, nas pesquisas de levantamento arqueológico criou um vínculo
que, inicialmente tímido frente à reclusão das
famílias em suas casas e atividades agrícolas e pastoris, foram dando lugar, devido ao
longo período de campo, assim como estratégias selecionadas para acessar essa ‘cultura reclusa’, a uma relação de curiosidade
e descobertas tanto da parte dos pesquisadores quanto dos moradores: o que estávamos fazendo atrás de ‘lugares dos antigos’
(da parte deles) e como podiam manter uma
série de tradições frente à expansão da cultura introduzida recentemente pela mídia nas
casas de pau-a-pique do Barro Branco? (de
nossa parte).
As lendas, as histórias das famílias, os
segredos do sertão, das árvores e plantas,
dos diversos animais, os ‘causos’ e o registro material da presença dos antigos, índios
e jesuítas e os “encanados”2 foram passando de geração em geração.
O estudo da paisagem e das relações que
os antigos habitantes mantinham com seu
espaço podem ser acessadas de uma maneira extraordinariamente rica através do
estudo dos diversos níveis de relações que
as comunidades tradicionais locais mantêm
com o espaço atual. Herdeiras de um espaço, com o qual interagem constantemente, a
população do Barro Branco mantém as relações que seus antepassados mantinham com
a Freguesia-Velha (uma das mais antigas
comunidades do Alto Paranapanema) e com
os vales intermontanos entre a Serra dos
Maciéis e a Serra do Ouro Fino.
Para perceber quais são as diversas intensidades das continuidades indígenas ou
coloniais nas relações atuais com o meio e
com o simbólico em que vivem os tradicionais moradores do Barro Branco, pesquisas
de etnobotânica, cultura imaterial, do universo feminino, infantil e das técnicas construtivas foram postas em prática, tendo, como
(1) Capítulo de relatório originalmente redigido por
Cintia Bendazzoli.
(2) Estrutura histórica relacionada à exploração
aurífera em cursos fluviais.
a fragmentos de cerâmica arqueológica).
Trata-se, nesse caso, de colonos associados aos prováveis arraiais dos Campos
de Guapiara ou de Apiaí-mirim, frutos de
uma situação colonial de mescla entre
portugueses e índios Kaingang do vale
do Ribeira de Iguape, pressupondo a relação etnográfica com estes grupos
(Robrahn 1989). Contudo, com a origem
da Freguesia-Velha pouco dessa ocupação mais esparsa foi aglutinada nos pequenos povoados intermontanos e uma
reconstrução documental que os relacione ao período de construção das estruturas minerarárias conhecidas como
“’encanados” e às diversas cavas de
prospecção mineral presentes na area,
ainda depende de estudo histórico mais
detalhado e é discutido mais adiante.
• Horizonte contemporâneo, correspondente à ocupação rural dos vales do Barro
Branco, Cristal e Limeira. No primeiro vale
a ocupação cabocla é relativamente recente, resultante da migração de tradicionais
habitantes da Freguesia-Velha ainda na
década de 1970, provenientes, em boa
parte, do bairro rural dos Caetanos Velhos
e outros bairros mais interiorizados. O
povoado da Freguesia Velha é o berço do
povoamento das áreas entre Ribeirão Grande e Capão Bonito, e seus antepassados
eram provenientes do vale do Ribeira de
Iguape, sobretudo dos arraiais encontrados no terceiro campo de Guapiara, do
Apiaí-mirim e dos arraiais nas proximidades da Serra da Samambaia, Guapiara.
Foi denominado “horizonte 6”.
Hoje e antes: a herança cultural da
comunidade de Barro Branco 1
77
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
objetivo último, o resgate cultural, a valorização das identidades e a preservação de
seus marcos ancestrais.
As pesquisas revelam elementos de continuidade da cultura indígena (técnicas de
trançado na produção de cestos, áreas de
captação de argila e espécies vegetais, técnicas construtivas, técnica de preparo do
campo para o roçado) que encontram analogias em modelos indígenas antigos e atuais de apropriação do espaço, assim como
elementos de ruptura e de conformidade com
os costumes coloniais (festas religiosas, brincadeiras entre as crianças, etc.).
Este conjunto de fatores acabou por definir a própria missão do Programa Arqueológico Mina Limeira: reconstituir o passado através de sua articulação com o presente, permitindo contribuir para a educação, coesão
da comunidade, lazer e desenvolvimento econômico regional, de acordo com o moderno
conceito de sustentabilidade social.
E isto ocorreu de diferentes maneiras:
no reconhecimento e inclusão de suas formas de viver no que se define como
“patrimônio arquitetônico” da região; na inclusão de seus depoimentos e opiniões sobre o que considerar patrimônio, o que preservar, o que é significativo; e na busca de
vestígios do elemento africano em uma atividade tradicionalmente relacionada ao colonizador branco europeu: a mineração.
Assim, não se buscou registrar apenas
os vestígios físicos da história regional comemorados e consagrados pela história oficial, mas trazer a representação dos cidadãos comuns na formação e transformação
desta história. Desta maneira, buscou-se
mapear os bens tangíveis e intangíveis, materiais e imateriais, que constituíssem elos
de ligação da comunidade com o passado,
reconhecidos enquanto partes de sua herança histórica e cultural.
O texto que se segue traz alguns exemplos deste trabalho, onde a comunidade desenvolveu papel central no “resgate” de seus
elementos identitários, de seus registros históricos e tradicionais que, somados àqueles tão
78
mais antigos (as “vestígios de bugre”), completam o ciclo de experiências humanas desenvolvidas em um mesmo espaço geográfico
compartilhado, resultando na atual paisagem
cultural do Barro Branco. Buscando fornecer
uma visão da abordagem do presente Programa, selecionou-se um item de pesquisa para
cada tipo de patrimônio: técnicas contrutivas
para o patrimônio material, e histórias do bairro Barro Branco, contadas pela própria comunidade, no que se refere ao patrimônio
imaterial, conforme texto que se segue.
Técnicas construtivas
Fazem parte do patrimônio histórico cultural da comunidade do Barro Branco as unidades típicas de moradia e os padrões de
construção das mesmas. Não são poucas as
edificações existentes que ainda seguem os
modos e padrões utilizados há muitos anos.
As casas de barro, ou de pau-a-pique, ainda
são maioria no bairro. Entretanto, já é possível encontrar alguns outros tipos de construções em alvenaria ou madeira.
As residências são simples, com poucos e
pequenos cômodos, a rede elétrica não é presente em boa parte das residências. Sem exceção pode-se afirmar que quando há a construção de banheiros, estes são feitos fora da casa,
e não foi encontrado em nenhuma delas a presença de chuveiros, pois os banhos são feitos
nos rios, córregos ou açudes. Algumas ainda
apresentam uma separação entre os cômodos
de estar e a cozinha com forno à lenha. Nas
maiores e mais tradicionais propriedades são
erguidos paióis para o armazenamento da produção e/ou de bens e utensílios para a prática
agrícola. É praticamente comum em todas as
moradias a construção de galinheiros, que em
geral se assemelham a poleiros erguidos a aproximadamente 1 metro do solo onde grandes
cestos são colocados de forma tombada, com a
abertura voltada para frente, de modo que as
aves possam entrar e sair.
Em algumas propriedades, mas em menor número, é presente também a construção de currais para porcos, denominados
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
localmente de “mangueiras”. Nos últimos 15
anos as propriedades começaram a abrir um
maior número de açudes, objetivando a criação de peixes para consumo próprio. Esta
prática se deu principalmente com o auxílio
de tratores da Prefeitura de Ribeirão Grande. São quatro os monjolos existentes, sendo um deles de uso comum, localizado na
propriedade do senhor Braz Batista Mendes.
Dos outros três, um está sem uso, pertencente ao senhor Caetano Mendes de Oliveira, e os outros dois pertencem a proprietários que não residem na comunidade e fazem
pouquíssimo ou quase nenhum uso deles.
Nas propriedades onde a atividade agrícola de subsistência ainda é preponderante, junto às casas existem os terreiros, áreas abertas onde o feijão colhido passa pelo período
de secagem e é batido. A localização das casas é sempre próxima às bicas ou a algum dos
córregos ou riachos que cortam o bairro. Geograficamente, o bairro do Barro Branco merece destaque por ser um grande manancial de
água, e há uma grande facilidade de obtenção
da mesma por parte dos moradores. Junto às
casas é comum ver-se pequenos canteiros onde
desenvolvem plantios de ervas medicinais.
Nas maiores e mais tradicionais propriedades, precisamente na da senhora Maria
Francisca do Nascimento e do senhor Caetano Mendes de Oliveira, a disposição das casas segue modelos antigos, formando verdadeiros “arraiais de famílias” dentro do bairro. Nos dois casos, os mais velhos têm as
casas como centros gravitacionais, onde perifericamente os filhos ergueram suas moradias. Em ambos os casos, o da matriarca
Maria Francisca do Nascimento e do patriarca Caetano Mendes de Oliveira, os filhos se
estabeleceram no entorno, sendo que algumas edificações de uso comum ficam juntas
à casa destes centros gravitacionais. O maior terreiro, o maior paiol e plantações de
ervas medicinais ficam juntos à casa dos mais
velhos. Este exemplo está presente na família da senhora Maria Francisca e do senhor
Caetano Mendes, sendo que este ainda possui o monjolo usado por todos os membros
da família.
Consideram-se aqui como propriedades
tradicionais aquelas formadas pelas famílias
mais antigas nos bairros que, como pode-se
constatar nos diferentes resultados e relatórios obtidos nos trabalhos de campo, ainda asseguram alguns elementos culturais ainda não
eliminados ou reinterpretados. Essas unidades
mais tradicionais são as formadas pelos pioneiros na formação do bairro ou seus descendentes diretos. O conceito de maiores propriedades foi adotado a partir das áreas em hectares das propriedades, e não por acaso, as
unidades mais tradicionais também constituem algumas das maiores propriedades.
No que se refere aos tipos de construção, o Barro Branco é um bairro que ainda
hoje preserva alguns traços culturais antigos, entretanto, a comunidade adquiriu informações e elementos externos que lhe propiciaram uma reinterpretação cultural em
diversos elementos, dentre eles os métodos
construtivos e os tipos de edificações presentes. Em linhas gerais, temos três tipos de
construções no bairro. São eles:
• Casas de barro: é o modelo mais antigo de construção. Praticamente todos os
moradores já habitaram neste tipo de
residência. Ainda hoje estas casas são
maioria no bairro. Comparadas com casas de barro de outros bairros, são as
únicas que apresentam reboco feito com
barro branco (o mesmo barro que deu
nome ao bairro, Barro Branco).
• Casas de madeira: em geral o uso exclusivo de madeira é para paióis, currais e
abrigos para monjolo, sendo que algumas
poucas casas são feitas deste material.
• Casas de alvenaria: são casas recentes que se diferenciam apenas pelo material construtivo, pois quanto à forma
seguem ainda os padrões de edificação
das casas de barro.
• Outros tipos de construções: há algumas
pouquíssimas casas feitas com os mais diferentes materiais que não se encaixam a
um padrão único de edificação. São construções precárias que empregam o uso de
79
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
“Arraial familiar” da senhora
Maria Francisca do Nascimento
“Arraial familiar” do senhor
Caetano Mendes de Oliveira
Casas das famílias
Casa do patriarca ou matriarca (centros “gravitacionais”)
Edificações de uso comum
Áreas de uso comum intenso (terreiros, jardins e outros)
Áreas de ocupação e/ou “influências” dos arraias
Sentido e grau de integração no “arraial”
Sentido e grau de repulsão no “arraial”
Esquema de círculos representativos dos “arraiais familiares”. As posições das casas estão de acordo com
a localização geográfica encontrada durante as pesquisas em campo. Entretanto, se fosse criado uma
figura representando a posição das mesmas unidades familiares considerando a dependência destas
unidades em relação aos centros gravitacionais, teríamos outras dimensões e localizações. As áreas de
“influências” referem-se as áreas de usos comum e individuais que formam os “arraiais familiares”
lonas, tapetes, restos de madeira e construções. Pertencem exclusivamente a proprietários que não moram no bairro. Os
banheiros entram neste grupo por se apresentarem em vários tipos diferentes de propriedade em propriedade.
O texto que se segue traz detalhes referentes às edificações de barro e de madeira,
constituindo as mais tradicionais da região.
As costruções de barro são quase totalmente restritas apenas às residências, ha80
vendo pouquíssimos celeiros e banheiros com
paredes de barro. As casas podem ser divididas em dois modelos: as de um ou dois
cômodos e as de três ou mais cômodos. Esta
divisão se dá porque as de um ou dois cômodos são ocupadas por pessoas que moram sozinhas, sejam elas viúvas, solteiras
ou separadas. No caso das moradias de um
único cômodo, quarto e cozinha estão no
mesmo espaço; nas de dois cômodos há a
divisão entre o espaço de cozinha e o de
dormir. Nas famílias constituídas há pelo
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
menos três cômodos, o quarto dos pais, o
quarto dos filhos e uma sala/cozinha, variando de caso para caso.
Em geral os cômodos são pequenos, com
um espaço para deslocamento restrito e poucos móveis. As paredes de divisão chegam a
uma altura média 1,90m , no máximo 2m e
nunca alcançam o forro ou telhado. Não há
portas internas e cortinas são utilizadas como
forma de separação dos cômodos. As portas
de entrada não possuem trincos e são fechadas por fora com o uso de correntes e cadeados e, por dentro, com tramelas. São casas
pouco iluminadas em virtude das pequenas
janelas que recebem, sempre de formato
quadrado com no máximo 50 centímetros de
lado, sendo que, em alguns casos, os quartos
não têm janelas. Os telhados podem ser de
telhas de amianto, zinco ou de cerâmica. Foi
encontrada apenas uma casa com cobertura
de palha. Há indícios de que esta técnica tinha maior freqüência antigamente.
O piso é de terra batida, sem nenhuma
cobertura. A cozinha pode ou não ser junto
à casa. Algumas casas têm cozinhas com
fogões à lenha no interior, outras com fogões a gás. As cozinhas externas são sempre as de fogões à lenha. Ali, sobre os fogões à lenha são colocadas carnes para defumarem, conservando assim o alimento.
Nestes casos também, podemos atribuir a
baixa luminosidade ou o escurecimento das
casas devido à ação da fumaça dos fogões,
que pretejam telhados e paredes.
As casas de barro são também feitas em
dois tipos, as de barro branco para reboco e
as sem barro branco para reboco. O uso do
barro branco, na verdade uma composição
de solo de granulometria grosseira mais próxima do silte e de cor esbranquiçada presente na área, serve apenas para o reboco
das casas, interna e externamente (Fotos).
Pode-se atribuir que estas são casas típicas
da comunidade, não encontradas até o momento em outros lugares. O tal barro branco, por sua granulometria mais grosseira, não
se desfaz com facilidade ao longo do tempo
através das intempéries climáticas como chuva, sol ou vento. Atribui-se a isso o fato de
que, quando seco, esse material de
granulometria grosseira fica como poros, antes ocupados pela água, maiores que os de
barro marrom, dando espaços para as dilatações e contrações resultantes de variações
termais com maior facilidade, não ocorrendo, assim, fissuras nas paredes.
O barro marrom, por ter uma granulometria
mais fina, principalmente de argilas, não apresenta estes espaços porosos internos, sendo
mais compactos e desta forma não permitindo
os movimentos de dilatação e contração, e que
quando exposto aos fatores climáticos criam
rachaduras com maior facilidade.
Foi diagnosticado que anteriormente
eram feitas vasilhas cerâmicas com o barro
branco, entretanto não se pode afirmar o
motivo da escolha desse material para a confecção das mesmas, o que se sabe é que
esta já foi uma prática comum e que há tempos está em desuso.
De forma geral, a construção de uma
casa de barro branco típica se dá da seguinte forma: escolhido o local a ser construída
a casa, aplaina-se o terreno de acordo com
as dimensões desejadas. Nas fundações,
onde são erguidas as paredes, troncos de
madeira, chamados de cernes, são cortados
em forma retangular cúbica e colocados na
base, praticamente enterrados entre 20 a 25
centímetros no solo com apenas a face superior exposta. Estes são os esteios, que
podem ser feitos com trocos de nataleiros,
canelas, guatambus ou, se forem encontradas, outras madeiras grossas e que resistam ao tempo tanto quanto as citadas. São
os “cernes direitos”, assim chamados por
possuírem um tronco comprido, reto, grosso
e resistente ao tempo.
Junto aos esteios, nas quinas e extremidades de paredes, são fixadas no solo de forma
perpendicular às colunas ou travas de cerne direito. As travas ou colunas também são grossas, podendo ser cortados de forma retangular
ou colocados como troncos brutos, sem tratamento. O diâmetro destas peças varia de 30 a
50 centímetros e podem ser de árvores como a
cajarana, o sassafrás, o guatambu, nataleiro
ou canela. A altura das colunas ou travas varia
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Técnicas construtivas:
A casa de barro branco: este famoso barro, que dá nome ao bairro, é uma argila fina
captada localmente nas barrancas, próxima de grotas e córregos. O barro é aplicado na
estrutura quadriculada de madeiras e preenchem-nas dando formas às casas, assim como
aos fornos tradicionais do alto Paranapanema.
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Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
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de acordo com a posição em que se encontram, as que estão nas quinas das casas medem menos de 2 metros, e as que chegam ao
meio da casa, medem a altura máxima do telhado, no máximo, 2,50 metros.
Com as colunas já prontas são feitos os
madeiramentos das paredes sobre os esteios.
São as travessas e barrotes, uma verdadeira
malha vazada construída predominantemente
com madeiras taquara e guapeva, amarrados
entre si com o uso de cipó d’alho. A área vazada, que pode ser retangular ou quadrada, varia
de dimensão, mas é nela que se aplica a camada estrutural de barro marrom, retirado de algum barranco próximo ou do próprio local em
que se ergue a casa. O barro umedecido e
pisoteado é colocado entre os buracos vazados
e recobre toda o madeiramento da parede. Após
esta etapa, com a parede já seca, é aplicada a
camada de reboco feito com o barro branco,
também umedecido e pisoteado.
Ainda com relação às travessas, que nas
paredes são dispostas em linha horizontal, pelo
menos três delas são mais grossas e firmes que
as demais, em geral de guatambu e guapeva.
Duas delas na parte coberta por barro na parede, e uma acima, no limite superior da mesma.
Sobre esta travessa superior da parede é que
são passados os caibros para a colocação do
telhado. A estrutura do telhado é toda feita com
caibros e travessas de guatambu ou guapeva, e
sobre elas é que são colocadas as telhas de
Cozinha
com fogão
à lenha
Quarto
Sala
Quarto
1
amianto (brasilite), cerâmica ou palha.
Os moradores atribuem às casas de barro
uma característica de vantagem na superação
do frio. Segundo eles, as paredes e o piso de
terra batida contribuem para uma manutenção do calor gerado pelos fogões à lenha, propiciando uma melhor sensação termal.
Das casas de barro branco, com 3 cômodos ou mais, podemos destacar as propriedades da senhora Maria Francisca do
Nascimento, e dos senhores Braz Batista
Mendes e Antônio Mendes de Oliveira.
As casas que não recebem o tratamento
com o barro branco precisam ser “retocadas”
por barro em tempos mais curtos, pois as paredes ressacam e o barro se quebra, deixando exposto o madeiramento e os buracos antes ocupados pelo barro. São casas típicas de
barro sem revestimento de barro branco, de
um ou dois cômodos a da senhora Tereza
Clarinda Vaz, e dos senhores Antônio Jacinto
Vaz e Waldomiro José dos Santos, sendo que
a deste último é a única encontrada que ainda possui telhado feito com palha.
Apesar de ser mais comum a construção de
casas de barro, o senhor Braz Batista Mendes
ergueu um paiol com paredes de barro. Os banheiros feitos de barro também são feitos da
mesma forma, com acréscimo de piso de madeira, uma vez que estão sobre buraco de fossa.
O tempo médio para construção da casa
de barro, descartado o tempo de corte da
Cozinha
com
fogão
à lenha
Quarto
Quarto
Cozinha
Quarto
2
Sala
Quarto Quarto
Quarto
3
Croquis sem escala, apenas para referência de casas de barro branco habitadas por unidades
familiares. Respectivamente das famílias do senhor Braz Batista Mendes (1), da senhora Maria
Francisca do Nascimento (2) e do senhor Antônio Mendes de Oliveira (3).
83
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Quarto e cozinha
Bar
Balcão
Quarto
Quarto
e
cozinha
Cobertura
conjugada ao bar
para uso dos
frequentadores
1
2
Cozinha
com
fogão
à lenha
3
Croquis sem escala, apenas para referência de moradias de barro habitadas por um único morador e que não têm reboco de
barro branco. Respectivamente da senhora Tereza Clarinda Vaz
(1), Antônio Jacinto Vaz (2) e Waldomiro José dos Santos (3).
madeira, é entre quinze a vinte dias, desde
que não ocorra nenhum imprevisto climático
ou humano que atrapalhe a obra. Ainda hoje
as casas de barro são levantadas com auxílio do “puxirão”, termo utilizado para designar as atividades realizadas em mutirões de
moradores. Durante o “puxirão” para a construção das casas, homens e mulheres realizam os mesmo trabalhos, sendo que as crianças ficam apenas nas etapas de transporte e de amassar o barro com os pés.
Em média, uma casa de barro é habitada por aproximadamente 20 anos, mesmo
com todos os reparos e manutenções feitas
durante esse período. Passado esse tempo,
as casas já apresentam diversos problemas
e costumam serem abandonadas para a construção de novas. As casas de barro mais antigas são as da senhora Maria Francisca do
Nascimento, com aproximadamente vinte
anos e a do senhor Braz Batista Mendes, com
dezoito anos, sendo que as colunas e esteios são de datas mais antigas pois eram pertencentes à casa de seu pai.
Já as edificações feitas unicamente de
madeira são em maior parte paióis, currais,
abrigos para monjolos e alguns banheiros.
84
Poucas são as casas feitas exclusivamente de
madeira. Os paióis de madeira são feitos da
mesma forma que as casas de barro e com o
mesmo material, distinguindo-se pelo fato de
que os paióis não têm janelas, divisões internas ou paredes barro. No caso dos paióis as
paredes são todas vazadas, faltando exatamente o barro para revestir as mesmas.
Os abrigos de monjolos geralmente se
assemelham aos paióis ( Figuras 3 e 4, fotos ). Considerando todas as construções,
trata-se de obras mais modestas que não
visam a moradia, e sim para o uso conjugado à atividade na lavoura.
O senhor Jaime Olívio de Macedo, proprietário que vai esporadicamente ao bairro do
Barro Branco, possui dois exemplos de casa. A
residência oficial é feita com diferentes materiais, e uma segunda moradia, não habitada,
construída somente com tábuas e pedaços de
troncos de nataleiros, guatambus e canela.
O senhor Maximiliano Wilson Godói, que
veio para o bairro nos últimos dez anos, possui a única casa de madeira habitada e que
junto à mesma possui um bar. No caso do
senhor Maximiliano sua propriedade possui um
açude e também uma construção de madeira
Figura 3 - Implantação do sítio Barro Branco 1 (croqui esquemático sem escala).
1 - Estrada vicinal que conduz ao córrego Embramado, abandonada; 2 - Camada húmica com vestígios líticos e
cerâmicos; 3 - Camada argilo-arenosa bruno-escura, arqueológica; 4 - Embasamento c/ cascalhos de quartzo e filito
associados; 5 -Vale com concentração de camada húmica mais extensa e fértil; 6 - Afloramentos de quartzo
leitoso, utilizados no “site catchment”; 7 - Covas de bananeira expandem a camada húmica; 8 - Segunda elevação
com presença de vestígios; 9 - Córrego do Embramado; 10 - Casa do Sr. Firmino; 11 - Estrada em direção à
Freguesia Velha; 12 - Fogueira arqueológica; 13 - Plantação de feijão; 14 - Plantação de abóbora; 15 - Bananeiras;
16 - Pinheiros; 17 - Localização da ocorrência de cerâmica Kaingang no sítio em superfície; v - Algumas das
unidades escavadas no sítio; C1 - Corte 1, sítio cortado p/ construção de casa; F1 - Área de maior freqüência de
vestígios líticos lascados de quartzo leitoso; F2 - Área de maior freqüência de vestígios líticos lascados de sílex.
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Figura 4 - Croqui do Monjolo Coletivo da Comunidade Barro Branco. 1 - Esteios de sustenção,
ripas e varetas da parede da estrutura coberta do monjolo; 2 - Entrada/ porta do interior da
estrutura coberta do monjolo; 3 - Telhas, tijolos, fragmentos de blocos rochosos, terra e outros
materiais utilizados na sustenção da parede da estrutura coberta; 4 - Resto de suporte danificado
de monjolo; 5 - Prato de ágata sobre o suporte danificado de monjolo; 6 - Forno/assador de
farinha de milho; 7 - Assador de ferro encostado na parede da estrutura coberta do monjolo; 8 Madeira usada para manter aberta a porta da estrutura coberta do monjolo; 9 - Pilão tampado
com um assador de ferro, uma tábua e um socador de monjolo, com a concavidade do pilão e o
suporte do monjolo representado pelos tracejados; 10 - Suporte do monjolo; 11 - Chão de terra
batida; 12 - Bica d´água que movimenta o monjolo; 13 - Galão branco de plástico; 14 - Trilhas
(caminhos) em torno do monjolo; 15 - Limites da poça e canal de drenagem artificial cujas águas
movimentam o monjolo; 16 - Barrancos nos limites da área escavada e terraplanada na encosta
em que construiu-se o monjolo; 17 - Vegetação de pequeno porte (gramíneas, samambaias, etc)
em torno do monjolo; 18 - Cerca de arame farpado.
para seus filhos, muito semelhante a uma
palafita, sem paredes, próximo ao açude.
Estas casas de madeira possuem fachadas uniformes, com portas e janelas do mesmo material. Suas divisões internas seguem
os mesmos padrões existentes em outros tipos de construções habitacionais do bairro.
O emprego delas é restrito por não permiti86
rem a construção de fogões à lenha no interior da casa, devido ao riso de incêndio.
As Tabelas 2 e 3, abaixo, mostram as
edificação cadastrados no bairro do Barro
Branco (unidades, tipos, sub-tipos e características marcantes), trazendo o conhecimento construtivo e os padrões de ocupação
das comunidades atuais ali residentes.
Casas exclusivamente presentes no Bairro do Barro Branco. O uso desse tipo de barro
no reboco impede as rachaduras nas paredes por influências climáticas
Em geral habitam estas casas indivíduos que vivem sozinhos, sejam solteiros, separados ou viúvos.
Branco
1 ou 2 cômodos
Em geral são de novos proprietários de terra que não habitam a comunidade. São
construídas com os mais diversos materiais (lonas, tapetes, madeiras, restos de
construção e outros).
O tipo mais comum, seu método de construção é semelhante ao das casas de barro.
Materiais diversos
Madeira
Açudes
Igreja de Santo Antônio, ainda inacabada.
Alvenaria
Outros
Abrigo para alimentação de animais ou de monjolo.
Possuem revestimento das paredes de lona, papelões, tapetes ou esteiras de
taquara, ou então de qualquer outra material que não seja barro, madeira ou tijolo.
Construídos próximos às casas de madeira e em algumas casas de barro.
São os tipos mais comuns construídos no bairro.
São denominados de “mangueiras”. Nem todas as propriedades possuem currais.
Madeira
Materiais diversos
Madeira
Barro
Madeira
Foi identificado apenas um paiol com revestimento de barro nas paredes. Seu uso
não é comum no bairro.
São poucas as casas de madeira no bairro em virtude dos riscos de incêndios que
podem ocorrer com o uso de fogões à lenha.
Madeira
Barro
Seguem os padrões de divisões internas e semelhantes aos das casas de barro, diferenciam por não possuírem cozinhas com fogões à lenha no seu interior.
3 ou mais cômodos Habitados por unidades familiares constituídas por pais e filhos ainda jovens.
Casas com maior incidência de rachaduras nas paredes internas e externas.
CARACTERÍSTICA MARCANTE
Marrom
SUBTIPO
Alvenaria
Barro
TIPO
OBS: Com relação às casas de barro, sua classificação se dá em dois subtipos, envolvendo o tipo de barro utilizado e o número de cômodos existentes.
Outros
Banheiro
Curral
Paiol
Casa
UNIDADE
Tabela 2
Unidades construtivas no bairro do Barro Branco
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Tabela 3
Proprietários e construções no bairro do Barro Branco
Proprietário
Ano de contrução
[estimado]
(confirmado)
Características
e/ou
observações
Adão Clarindo Vaz
[posterior a 1995]
Casa de alvenaria, tida como a primeira a
obter rede elétrica e antena parabólica.
Alsendino Louzada Melo
[ sem data certa pois o Casa feita com restos de materiais consproprietário não reside trutivos, que não objetivava residência fixa.
no local, provavelmente
erguida após 1992]
Ana Maria de Oliveira Ferreira
[1998]
Antônio Favaro
[sem data certa,
provavelmente erguida
após 1992]
Antônio Jacinto Vaz
(1998)
Dois cômodos, um deles quarto e cozinha e outro como bar.
Antônio Mendes de Oliveira
(1999)
É a única de barro branco dos membros da família do senhor Caetano Mendes de Oliveira.
Antônio Souto de Assunção
Casa de alvenaria.
Casa de barro marrom.
[sem data certa pois o Casa de alvenaria.
proprietário não reside
no local, provavelmente
erguida após 1992]
Braz Batista Mendes
(1986) (2003)
São duas residências, a casa de barro
branco, mais antiga, e a casa de alvenaria, mais recente.
Braz Franco da Silva
[sem data certa pois o
proprietário não reside
no local]
Casa de barro marrom, supõe-se que
tida como abandonada.
Caetano Mendes de Oliveira
(1997)
Foi a primeira casa de alvenaria feita por
alguém da família de Caetano Mendes de
Oliveira, está situada onde hoje se sabe
da existência de um sítio arqueológico.
Celina Mendes de Oliveira Cruz
(1998)
Casa de alvenaria
Eduardo Clarindo Vaz
——
Eliseu Ursulino de Moura
sem data certa pois o
proprietário não reside
no local]
88
Segundo o relatório sócio-econômico
há a existência de tal residência, porém ela não foi encontrada.
Casa de barro marrom
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Tabela 3 (cont.)
Proprietários e construções no bairro do Barro Branco
Proprietário
Ano de contrução
[estimado]
(confirmado)
Características
e/ou
observações
Gilmar Favaro
——
Segundo o relatório sócio-econômico
há a existência de tal residência, porém ela não foi encontrada.
Gumercindo Gonçalves Ribeiro
(2003)
Obra de alvenaria inacabada, com muito a se fazer, porém, abandonada.
Jaci Raimundo da Silva
(2003)
Casa de barro marrom, com algumas
partes cobertas por lonas.
Jacinto Martiniano da Costa
[sem data certa pois o
proprietário não reside
no local]
Jaime Olívio de Macedo
Casa de barro marrom.
[sem data certa pois o Casas de madeira ou de restos de maproprietário não reside térias construtivos.
no local, provavelmente
erguida após 1992]
João Francisco Mendes
——
Segundo o relatório sócio-econômico
há a existência de tal residência, porém ela não foi encontrada. Sabe-se
que ele possui algumas poucas tarefas
no bairro e uma propriedade maior, com
casa, no bairro de Ouro Fino.
João Rodrigues do Nascimento
[sem data certa]
Casa de barro com banheiro revestido
com material de cestarias.
Luiz Mendes de Oliveira
(1999)
Casa de alvenaria
Maria Aparecida Vaz de Oliveira
(1999)
Casa de alvenaria
Maria Assunção
——
Não foi possível obter nenhuma informação a respeito.
Maria dos Santos Ferreira
——
Não foi possível obter nenhuma informação a respeito.
Maria Francisca do Nascimento
[1990]
É uma das casas de barro mais antigas do bairro, porém as datas divergem sobre a construção, e as informações são mais próximas do ano de
1990.
Maximiliano Wilson de Godói
[sem data certa,
provavelmente erguida
após 1995]
Casa de madeira que também funciona como estabelecimento comercial.
89
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Tabela 3 (cont.)
Proprietários e construções no bairro do Barro Branco
Proprietário
Ano de contrução
[estimado]
(confirmado)
Características
e/ou
observações
Miguel Vaz de Andrade
[1992]
Casa de barro marrom, uma das primeiras a ser erguida pelos novos moradores do bairro.
Milton César Vaz
——
Segundo o relatório sócio-econômico
há a existência de tal residência, porém ela não foi encontrada.
Milton Souto da Silva
——
Segundo o relatório sócio-econômico
há a existência de tal residência, porém ela não foi encontrada.
Moisés Messias da Silva
[1992]
Casa de barro marrom
Segundo o relatório sócio-econômico
há a existência de tal residência, porém ela não foi encontrada.
Octacílio dos Santos
Orlando Fávero
——
Segundo o relatório sócio-econômico
há a existência de tal residência, porém ela não foi encontrada.
Tereza Clarinda Vaz
(2003)
Casa de barro marrom, a última a ser
erguida no bairro, no primeiro bimestre
de 2003.
Vírgilio Marcos da Cruz
[sem data certa pois o
proprietário não reside
no local]
Waldomiro José dos Santos
(2000)
Casa de barro marrom.
É a única de barro marrom que ainda
utiliza cobertura de palhas sobre a casa,
uma das paredes caiu durante as fortes chuvas que ocorreram no início de
janeiro de 2004
OBS: A tabela acima foi elaborada com dados obtidos nas pesquisas de campo, na consulta
do relatório sócio-econômico e dos mapas elaborados e fornecidos pela Companhia de Cimento Ribeirão Grande. Das 44 famílias registradas pelos relatórios sócio-econômicos, 9 deles não
possuem casas, das 35 restantes, 24 delas foram identificadas de forma preliminar durante as
etapas de campo, sendo que destas, 18 tiveram uma abordagem mais aprofundada. Há um
total de 11 unidades familiares que pelos relatórios sócio-econômicos possuem residências,
entretanto, as informações obtidas em campo, confrontadas com os dados dos relatórios,
são insuficientes para afirmar a existência ou não das residências, exceto por dois únicos
casos identificados através dos mapas.
90
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
É latente a percepção de que os indivíduos que possuem propriedades no bairro
e não o habitam tendem a construir residências que fogem aos padrões culturais
locais. As casas feitas com restos de obras
e materiais diversos sinalizam mais para
uma ocupação descompromissada com o
local e seus hábitos culturais do que unicamente um fator de pobreza. São casas que
não representam o patrimônio local e que
descaracterizam o bairro.
História de Barro Branco
A comunidade do Barro Branco é composta por cinco núcleos de uma mesma raiz
familiar, havendo, no entanto, dois núcleos
principais, cujos membros tem uma relação de parentesco muito próxima e convivem numa mesma área, com pouca distância entre uma residência e outra. Mas
como teve inicio esse arraial? Soubemos
que os primeiros a se instalarem naquela
região foram os pais das duas senhoras
mais velhas da comunidade. Não foi precisada a data, mas provavelmente por volta
da década de 1930 havia uma fazenda exatamente naquelas terras que empregava
mão de obra para trabalhar nas lavouras.
Os moradores mais antigos costumam se
referir à fazenda de “um japonês” que era
o proprietário. Foi então que vieram Antonio Rodrigo do Nascimento, nascido em
Bairro Maciel, e Pedra Paulina do Nascimento, nascida em Ouro Fino. 3
Eles se casaram e os filhos começaram
a nascer. Moravam em Sumidouro e apenas trabalhavam na fazenda nessa época,
segundo informação de uma das filhas ainda viva. Com o tempo, a fazenda foi
desativada e o casal foi convidado a tomar
conta das terras tendo permissão para plantar e morar na propriedade. Segundo informação de Dna Lourdes, uma das filhas do
(3) Informação oral obtida através de entrevista com
Dna Lourdes e Dona Maria.
casal, eles ganharam a terra como doação
dos proprietários da fazenda e passaram a
viver de subsistência. Plantavam para comer e o que sobrava era vendido nas comunidades vizinhas. Possuíam também criação de galinhas, porcos e algum gado para
abastecer a casa de leite e eventualmente
de carne. Os filhos desse casal nasceram
em parte no Sumidouro e em parte no Barro Branco, sendo ao todo cinco: Celestino,
Maria, Lourdes, Ana e Ervelina, e é parte
deles e de seus descendentes que hoje nos
contam a sua história.
Dos cinco filhos de Antonio e Pedra
Paulina duas filhas estão vivas e cada uma
é a matriz de um núcleo de organização familiar, ou seja, em torno delas criou-se uma
relação estreita de laços de parentesco, formando dois núcleos principais dentro do Barro Branco. Aquela comunidade se organizou em família, porém não há um núcleo
só, como talvez tenha havido quando o patriarca ou a matriarca da família estavam
vivos. Hoje em dia a comunidade se divide
tênuamente entre dois núcleos familiares,
um deles centralizado na figura de Dona
Maria e outro na de Dona Lourdes. Para facilitar a compreensão da teia de relações
que abrange esta comunidade, trataremos
de um núcleo de cada vez, mas deve ser
ressaltado que essa separação é exclusivamente metodológica e não um reflexo da
realidade dessas pessoas.
Núcleo Dona Lourdes
A Dona Lourdes é uma senhora de 63
anos de idade casada com Seu Caetano e
mãe de sete filhos Antonio, Senhorinha, Roque, Luis, Ana, Celina e Dirceu. Como alguns
dos filhos e seus descendentes não moram
mais em Barro Branco, concentramos o trabalho no perfil feminino e infantil dos moradores que ainda residem lá.
Dos filhos de Dona Lourdes, Senhorinha, Roque e Luis se mudaram e hoje vivem com as famílias em outros bairros
próximos. Dirceu morreu com um ano de
91
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
idade de tosse comprida. Portanto, o trabalho se concentrou nas famílias de Antonio, Ana e Celina. Mas primeiramente trataremos da figura ao redor da qual todas
as demais pessoas vivem, que é a Dona
Lourdes.
Dona Lourdes acha que nasceu no Sumidouro, não sabe ao certo ( Foto ). Desde pequena, por volta dos 10 anos de idade, começou a ajudar o pai na lavoura,
assim como todos os outros irmãos, e
quando tinha 13 anos mudou-se com a
família para o Barro Branco. Aos 15 anos
se casou e teve seis filhos, hoje tem 24
netos e 4 bisnetos. Mesmo depois de casada Dona Lourdes continuou a trabalhar
na roça, e possuía criação de animais. Hoje
em dia ela não trabalha mais, se diz doente e sem condições, por isso o neto
Roque mora com ela e cuida de criação
de galinhas e suínos, além de ajudar o avô,
Seu Caetano, na lavoura. A nora de Dona
Lourdes, Zilda, é quem lava a roupa e faz
o serviço de casa mais pesado. Ela não
92
soube dizer ao certo que doença tem, mas
“sofre dos pulmões” e já foi desenganada
pelos médicos, que receitam apenas remédio para dor. Frente à perspectiva de
morte dona Lourdes se mostra conformada e justifica que é a vontade de Deus.
Mesmo assim não larga o cigarro de palha que fuma desde menina, pois aprendeu com o pai fumando um pouquinho com
ele todos os dias.
Dona Lourdes é o centro deste núcleo
familiar e é chamada de Madrinha por todos os netos, noras e genros. Todos se dirigem pela manhã à casa dela e, unindo as
palmas das mãos em frente ao peito, pedem a benção. Ela mora em uma casa de
alvenaria construída recentemente como
substituta da antiga casa de pau a pique,
da qual só restou a antiga cozinha e o fogão à lenha. Ela se diz religiosa e as paredes da sua sala são cobertas de imagem de
santos com São Jorge, Cosme e Damião e
Nossa Senhora do Bom Parto, que dividem
o espaço em meio a brinquedos ganhos nas
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
festas e quermesses da região.4 Diz que reza
todos os dias em um pequenino altar no
canto da sala e que quando tem missa ela
vai, em média uma vez por mês.
Dona Lourdes foi durante muitos anos a
parteira da comunidade e responsável pela
maior parte dos nascimentos dos parentes.
Dizem que ela e a irmã Ervelina aprenderam
sozinhas o ofício, e que Dona Lourdes fez
seus próprios partos, sozinha e sem ajuda.
A irmã Ervelina já faleceu e Dona Lourdes
encerrou as suas atividades há treze anos
atrás, quando fez o último parto do nascimento de sua neta Jimerilda. Ela afirma que
só o fez porque não deu tempo da mãe chegar ao hospital, porque naquela época já era
(4) Os brinquedos ganhos nas quermesses podem
ser encontrados em várias casas do Barro Branco,
pendurados nas paredes como se fora um enfeite ou
um objeto de ostentação. Mesmo as crianças mantêm os brinquedos dentro das caixas, porque, segundo Josieli “a gente tem dó de usar”.
proibido. Ao ser indagado o porque da proibição, Dona Lourdes afirma que começaram
a dizer que não podia ser feito sem licença,
e que ela não tinha formação para realizar
aquilo. Então ela deixou de ser parteira,
mesmo tendo realizado vários partos, todos
bem suscedidos. Hoje em dia, todas as mães
do Barro Branco vão para a cidade e têm os
seus filhos no hospital de Ribeirão Grande.
Dona Lourdes mostra os trabalhos manuais que aprendeu a fazer com a mãe e
que representam uma das poucas atividades que ela ainda realiza. São bordados,
colchas de retalhos e forros de estofados que
ela coloca nas poltronas e cadeiras da sala
(Foto). Os bordados são simples e ela os
faz com o aviamento que tiver em casa, fazendo bordas e desenhos em retalhos de
panos que se transformam em toalhinhas de
sala e cozinha. As colchas de retalhos são
feitas com partes de roupas que se estragaram ou que não se usam mais, costurados
os retalhos um a um na mão até formarem
uma colcha. Já os estofados são feitos com
93
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
muitos pequenos retalhinhos de panos coloridos que são costurados um a um numa
base de pano maior, ou entrelaçados na base
formando um trançado no avesso de modo a
ficarem presos à base sem que se precise
usar linha para costurá-lo. Aparentemente
esse é o único tipo de atividade artesanal
que ela produz, enquanto que o marido, Seu
Caetano, faz pilões entalhados na madeira e
cestaria em taquara. Ele e um sobrinho, Adão,
são os únicos homens que produzem cestaria
no Barro Branco. Essa atividade local é masculina e, ao que parece, eles foram os únicos que aprenderam com Seu Jacinto, falecido esposo de Dona Maria e cunhado de Seu
Caetano. Nenhum outro homem ou jovem da
comunidade sabe como fazer os balaios.
Tendo a taquara em mãos, seu Caetano
manufatura um cesto em 25 minutos e permitiu filmar e fotografar todas as etapas de
seu trabalho (Foto).
94
Os cestos são usados para transportar
as frutas e legumes da lavoura, para armazenar alimentos em casa, para guardar coisas pessoais, para abrigo das galinhas no
galinheiro. Vai produzir muitos mais quando
se mudar para a nova casa que está em fase
de construção.
Dona Lourdes é uma das maiores conhecedoras das plantas da região e das ervas,
raízes e outras plantas que podem ser utilizadas como medicamento. Ela foi responsável pelo ditado de parte da lista de plantas
medicinais, suas funções e modo de preparo
que consta em anexo. Ela diz que aprendeu
sobre as ervas com a mãe e passou os
ensinamentos para as filhas e netas, mas
ressalta que alguns homens também são
conhecedores das plantas. Ao que parece
esse conhecimento é mais difundido dentro
de um universo feminino, no entanto este
saber é de certa forma mais geral, dependendo da inclinação e interesse de cada um
no conhecimento desta prática medicinal.
Em entrevista, Dona Lourdes conta que
antigamente não havia médico na região, então eles costumavam levar os doentes na
curandeira, e usavam os remédios caseiros.
Ela própria diz que já foi muito na curandeira
quando era nova, mas não se lembra quais
os procedimentos médicos e nem que tipo de
problema a levou a procurar essa ajuda. Ela
conta que antigamente, quando alguém da
comunidade morria, era levado na rede pelo
antigo peabirú (trilha) para um cemitério. Dona
Lourdes conta que hoje em dia os mortos são
enterrados no cemitério da cidade.
Antigamente os velórios aconteciam nas
casas e muita gente ia e passava a noite
inteira velando o morto até que amanhecesse. Os parentes ofereciam almoço e janta
para todos. Quando ia se comprar o tecido
para fazer a roupa para vestir o defunto, já
se comprava pano para vestir o resto da
família que estaria em luto. Caso a morte
fosse de pai ou mãe, o luto deveria durar
um ano, caso fosse marido ou esposa, seis
meses, e se não fosse um membro da família a falecer não era obrigado vestir preto. Dona Lourdes conta que se lembra que
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
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os pais sempre visitavam os mortos, levavam flor e cantavam orações. Hoje em dia
no Dia das Almas,5 todos levam flor para os
mortos, mas estes estão enterrados em
Ribeirão Grande.
Núcleo Dona Maria
O núcleo de Dona Maria é composto por
ela, seus filhos e netos. Ela tem 65 anos, é
irmã de Dona Lourdes e mora no arraial em
casa de pau a pique com a filha solteira chamada Pedra. Dona Maria é cega dos dois
olhos e não sabe o que resultou nesta cegueira ( Foto). Ela explica dizendo que a
menininha dos olhos está tampada. Quando
indagada a respeito dessa menininha ela diz
que um dia sentiu muita dor num olho e depois no outro, e que depois da dor a menininha dos olhos dela ficou tampada e que agora ela está com problema.
(5) Dia de Finados
Dona Maria nasceu em Ouro Fino, morou no Sumidouro e viveu quase a vida toda
no Barro Branco. Nunca foi para a escola
porque não tinha nenhuma no bairro, “a única escola que tinha era a roça” afirma ela,
que ajudava diariamente o pai na lavoura.
Não lembra quantos anos tinha quando começou a trabalhar, mas sabe que o pai levava todos os filhos bem pequenos, pois ele
era muito pobre e trabalhava com os filhos
carpindo o terreno dos outros. A mãe ficava
em casa cuidando das coisas e dos irmãos
menores. Dona Maria ajudava o pai a plantar milho, feijão, arroz, tudo para comer em
casa e o que sobrava era vendido na cidade,
e diz que foi do mesmo modo que os filhos
dela se criaram. No entanto, os filhos mais
novos de Dona Maria puderam estudar um
pouquinho no Mobral.
Dona Maria não se lembra com que
idade casou, mas sabe que era nova. O
marido, Seu Jacinto, era de Ouro Fino e
eles se conheceram quando ela ainda morava com a família no Sumidouro. Os fi-
95
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
lhos todos nasceram e se criaram no Barro Branco, ajudando Seu Jacinto no roçado. Dona Maria, depois de casada, ia menos à roça, mas o marido continuava trabalhando na plantação, além de lidar com
couro e fazer cestaria. Pelo que foi informado, Seu Jacinto foi o pioneiro naquele
lugar a trabalhar com cestaria e foi responsável por passar seus conhecimentos
ao cunhado Seu Caetano e ao filho Adão,
os únicos que preservaram essa atividade.
Seu Jacinto faleceu há seis anos, ninguém
soube explicar a causa.
Os filhos de Dona Maria nasceram todos em casa e foi a irmã Dona Lourdes quem
fez os partos. Mas os netos foram e vão
quase todos para o hospital na hora do nascimento. Segundo Dona Maria, o parto em
casa era sem remédio nem curativo nessa
hora “só Deus que iluminava e os Santos”.
O único remédio que se usava era salmoura para evitar infecção e bebia-se pinga com
arruda para recaída.
Dona Maria se diz religiosa e conta que
sempre foi com os pais para a igreja no Barro Branco, Ouro Fino e Ribeirão. Foi batizada e crismada “graças a Deus”. Ela fez um
altarzinho para Nossa Senhora dentro de
casa, com São José e outros santinhos pequenos e fala que quando ela mudar o
santinho vai junto.
Conta que quando era nova era comum
a igreja fazer festas em Ribeirão Grande e
em Ouro Fino, como festas de Nossa Senhora, do Bom Jesus, e um monte de outros santos, e que ela e sua família iam a
todas. Diz que nestas festas tinha uma procissão para o santo, vinha um padre rezar
a missa. Depois era feito um leilão para arrecadar dinheiro para a igreja e que normalmente a comida servida era café com
pão, mas que isso já não existe há muitos
anos porque os mais velhos se foram e tudo
ficou abandonado. Contou também que a
festa de Santo Antonio e de São João era
muito bonita em Barro Branco, com procissão e missa, e que faziam bolo para vender
e assavam carne, mas que tudo isso também foi largado. Segundo ela, antigamente
96
havia batizado e casamento na igreja da
comunidade com dança e música de tocador
de viola e cantor. Dona Maria diz que hoje
em dia não vai mais em festas, e que ninguém mais vai.
Aprendeu a cozinhar com a mãe tudo
o que sabe, aprendeu também com a mãe
a costurar e fazia colchas de retalho quando ainda tinha visão. Não sabe fazer tricô
nem crochê. Ela também ajudou a barrear
a casa com a ajuda de toda a família, conta ela. A casa foi feita há 16 anos, antes
era outra casa de pau a pique no mesmo
lugar, estragava uma, colocava outra. Por
fora ela é revestida de barro branco para
dar um melhor acabamento. O fogão foi a
Candinha que fez, mas Dona Maria também sabe fazer e sempre fazia, foi a mãe
que ensinou.
Na cozinha de Dona Maria há sobre o
fogão um tacho de cobre que era muito utilizado para torrar a farinha de milho do
monjolo e para fazer biju. Ela conta que
até há pouco tempo atrás a filha Pedra ainda fazia porque ela prefere a farinha do
monjolo que a comprada. Tem também um
tacho de melado de cana que utilizaram
muito para fazer rapadura. Dona Maria conta que foi ela quem ensinou as filhas a cozinharem de tudo. Diz que quando o marido era vivo e tinha muita criação, eles salgavam a carne de porco e penduravam
para secar num gancho sobre o fogão a
lenha. Até hoje é possível ver o gancho
pendurado lá.
Dona Maria tem também em casa um
antigo plantador de grãos que o marido e
os filhos utilizavam na roça para semear
principalmente o feijão. Na parede presa
ao lado do semeador há ferragens e estribos de cavalos confeccionados pelo falecido marido, e atrás da porta sua filha Tereza mostra antigas esteiras de palha nas
quais, até não muito tempo atrás, todos
dormiam, porque não se usava cama em
Barro Branco.
Hoje em dia dona Maria passa a maior
parte de seu tempo dentro da cozinha na
companhia das filhas. Apesar de ser uma
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
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pessoa idosa e cega, recebeu muito bem a
equipe e, lúcida, assim como a irmã dona
Lourdes, rememorou muitos fatos e acontecimentos de seu passado e da história de
Barro Branco.
Arqueologia Pública e turismo:
os encanados de Ribeirão Grande
Os sítios arqueológicos / históricos conhecidos localmente como “encanados”
correspondem a estruturas construtivas associadas ao ciclo da mineração que se desenvolveu, na região do alto Paranapanema
e vale do Ribeira de Iguape, entre os séculos
XVI e XVIII. Atribuídos em parte aos jesuítas
espanhóis que chegaram ao vale do
Paranapanema utilizando-se de itinerários indígenas, em parte aos bandeirantes em constante incursão nas áreas de aldeamento já
estabelecidas, os “encanados” serviam na
lavra do ouro de aluvião, livre das taxações
metropolitanas até 1702, quando o Regimento
das Minas estabelecia lei que obrigava a comunicação da descoberta e da exploração
da lavra às autoridades portuguesas.
Partindo de vários pontos do litoral
paulista, exploradores portugueses buscavam ouro subindo o curso do Ribeira. Data
de 1576 expedição de Garcia Rodrigues Paes
que fundou o Garimpo Santo Antônio nas
proximidades da atual Iporanga, estabelecendo um dos núcleos que serviriam de base
para a partida de explorações do alto curso
do Ribeira e, posteriormente, do alto
Paranapanema. Acredita-se, no entanto, que
embora inexistam documentos escritos sobre a exploração do ouro de aluvião do alto
Ribeira e do Paranapanema antes da primeira metade do século XVI, ela já tivesse ocorrido antes em pequenas incursões e que tenham se consolidado na segunda metade do
século XVI, quando as populações autóctones já haviam se integrado aos aldeamentos
ou eram transformados em mão-de-obra
escrava dos bandeirantes.
Neste cenário em processo de conquista
e de expansão territorial colonial, as cons-
truções de balos de mineração que arrimavam as barrancas de rios e córregos com
muros de pedras sotopostas sem argamassa, assim como no leito dos mesmos,
agilizavam a vazão da água, aumentando a
velocidade de captação de ouro nas bateias.
Estas estruturas de pedra, semelhantes a
muros edificados que canalizam consideráveis extensões dos rios e córregos da região,
correspondem aos “encanados”.
O ouro do Ribeira e do alto Paranapanema
foi sendo substituído pelo ouro das Minas
Gerais, Goiás e Mato Grosso, fazendo com a
atividade mineradora na área ficasse por
conta de alguns sertanistas, como Francisco
Xavier da Rocha que, transferindo-se com
todos seus escravos das Minas Gerais para o
Paranapanema, fundou em 1728 a Freguesia de Santo Antonio das Minas e, mais tarde, o arraial da Rocinha, hoje cidade de Apiaí.
Com a decadência do ciclo do ouro no
vale do Ribeira e do alto Paranapanema, o
tropeirismo tornou-se predominante e constituiu-se como novo ciclo econômico e social
nesta área, que se passagem das rotas dos
tropeiros para as Minas Gerais e para ramais para o interior paulista. Neste período
os encanados já não são mais construídos e
a mineração se torna menos sistemática.
Permanece então apenas a exploração das
barrancas dos rios de maior porte, como o
Almas, que apresenta poços globulares de
onde se retirou ouro acumulado em seus
sedimentos aluviais. Testemunho desta atividade são os sítios encanados Barro Branco
V e Barro Branco VI, identificados e cadastrados pela presente pesquisa,.
No município de Ribeirão Grande, situado
junto ao divisor de águas das bacias do Ribeira de Iguape e do Paranapanema, tais construções são encontradas em bom estado de
conservação e indicam um rico legado histórico nacional. Prospecções realizadas dentro
do escopo do presente Programa Arqueológico Mina Limeira resultaram no cadastro de 5
novos sítios “encanados”, contando-se ainda
com outros 2 anteriormente conhecidos. A
Tabela 4, abaixo, traz o nome, coordenadas
e fonte de pesquisa destes sítios:
97
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Tabela 4
Sítios encanados de Ribeirão Grande
Nome do Sítio
Coordenadas
Fonte
Encanado I
Rio das Almas
Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos / IPHAN
Encanado II
Rio das Conchas
Cadastro Nacional de Sítios Arqueológicos / IPHAN
Barro Branco VII
22J 769211/7321987
Programa Arqueológico Mina Limeira
Barro Branco XIII Rio das Almas
Programa Arqueológico Mina Limeira
Cachoeira III
22J 768461/7324017
Programa Arqueológico Mina Limeira
Ribeirão Velho
22J 767636/7323221
Programa Arqueológico Mina Limeira
Limeira III
Mina Limeira
Programa Arqueológico Mina Limeira
Destes “encanados”, 3 se encontram
na área de implantação direta do Projeto
Mina Limeira (sítios Limeira III, Barro Branco VII e XIII). Neles foram realizadas ações
de registro e resgate, e estão sendo foco,
ainda, de análises alternativas de tratamento e valoração, considerando seu potencial de visibilidade em ações
museológicas e de turismo patrimonial.
Por outro lado, certamente existem ainda
vários outros “encanados” na região, considerando a abrangência das atividades de
mineração desenvolvidas ao longo dos
séculos.
A partir dos dados acima coletados, e
considerando o atrativo destes sítios integrarem programas turísticos municipais (alguns
inclusive já em curso, mas compreendendo
iniciativas isoladas e sem enfoque de preservação), foi realizada uma primeira análise sobre o potencial turístico dos sítios
“encanados”, com base nos seguintes critérios de avaliação:
• Significado histórico-cultural
• Visibilidade para o público
• Estado de conservação
• Condições de acesso e segurança ao
visitante
• Alternativas regionais de lazer no entorno do sítio
• Propriedade do bem (pública / particular)
98
Fazem parte desta avaliação os 5
“encanados” identificados através da presente pesquisa, para os quais contou-se com os
dados necessários de análise.
A partir desta avaliação preliminar é possível destacar que, dos 3 sítios localizados
na área de intervenção direta do Projeto
Mina Limeira, 2 correspondem a estruturas
simples ou de baixa preservação/visibilidade
(Mina Limeira III e Barro Branco VII). O outro sítio (Barro Branco XIII) apresenta grandes dimensões e bom estado de conservação, devendo receber medidas de aproveitamento museológico.
Considerações finais
O Brasil é um país formado não apenas por uma enorme diversidade de histórias locais e contextos culturais, mas também por uma estrutura social estratificada
onde grande parte da população não tem
acesso a recursos críticos, incluindo educação. Por conta disso, a recente prática
da Arqueologia Pública no país constitui
desafio estimulante, uma vez que oferece
oportunidade de criar uma outra visão do
passado humano, mais diversificada e tolerante, menos rígida e, principalmente,
mais próxima dos legítimos herdeiros desta história. Aproximamo-nos cada vez
mais, afinal, à essência de uma ciência
social.
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
Tabela 5
Avaliação turistia preliminar – Sítios “Encanados”
Sítio
Barro Branco VII
Pontos fortes
Pontos de atenção
Estrutura de baixa visibilidade, fácil Atualmente assoreadoPequenas
acesso, seguro. Poderia ser integra- dimensõesPropriedade particular
do à visita da Capela do Ouro Fino e
da Caverna do Cherol.
Significado histórico-cultural: médio
Barro Branco XIII
Estrutura composta de grandes di- Difícil acessoTurismo pode prejudimensões no rio das Almas, boa vi- car mata ciliar e qualidade da água,
sibilidade, em excelente estado de além das próprias estruturas de
preservação.
mineraçãoBem público
Conjunto paisagístico preservado
com presença de queda d’água formando tanque e mata ciliar. Poderia ser integrado em trilhas que seguem o rio das Almas curso acima, com pontos bons em mirantes próximos e/ou roteiros mistos
no Ouro Fino.
Significado histórico-cultural: alto
Cachoeira III
Estrutura simples em ilha fluvial ge- Propriedade Particular
rada pela atividade de mineração no
rio das Almas; bem preservada, excelente visibilidade e fácil acesso.
Poderia ser integrado aos roteiros
de turismo ao Ouro fino
Significado histórico-cultural: médio
Ribeirão Velho
Estrutura complexa de grande di- Difícil acessoPróximo à EE Xitué.
mensão (150 metros) no Ribeirão Turismo pode prejudicar mata atlânVelho; excelente estado de preser- tica desenvolvida.
vação.
Significado histórico-cultural: alto
Limeira III
Estrutura simples de pequena dimen- Baixa visibilidade
são fronteiriça à Mina Limeira; esta- Difícil acesso
do de preservação comprometido.
Baixa integração aos roteiros turísticos potenciais da região
Significado histórico-cultural: médio
99
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
O desenvolvimento econômico que o Brasil atravessa, nesta virada de século, traz
grande impacto ao seu patrimônio arqueológico, considerando os usos e desusos que
são feitos de seu território. Pela primeira vez
na história da disciplina, creio eu, nos deparamos com uma ameaça que há poucos anos
atrás não nos afligia: a de que nosso
database é finito.
Assim hoje a Arqueologia necessita incorporar um outro perfil, lado a lado com a
comunidade que cria, destrói e preserva seus
recursos. Não lhe basta ser multidisciplinar:
necessita ser também multicultural, na medida em que incorpora os muitos passados
possíveis.
Quais as mudanças necessárias à Arqueologia tradicional, acadêmica e enquanto profissão emergente, para este século XXI?
Quem estará à frente desta mudança, desenvolvendo novos programas de treinamento e currículos acadêmicos necessários para
o futuro?
O desenvolvimento sistemático de ações
em Arqueologia Pública está em grande parte ligado a pesquisas junto a processos de
licenciamento ambiental, onde cada vez mais
os estudos têm como objetivo definir procedimentos e estratégias de sustentabilidade
sócio-ambiental em um contexto capitalista.
Apesar da questão “O que deve ser sustentado?” nunca terá um paradigma unificado, há consenso sobre a efetiva participação
da comunidade na pesquisa arqueológica,
com base em uma estrutura não hierárquica
em que métodos de trabalho e interpretação
necessitam interagir.
Desde a Conferência das Nações Unidas
sobre Ambiente e Desenvolvimento ocorrido
no Rio de Janeiro, em 1992, “desenvolvimento sustentável” se tornou palavra-chave de
um discurso político internacional voltado à
qualidade de vida, conservação dos recursos naturais e responsabilidade para gerações futuras. Apesar das discussões terem
sido inicialmente voltadas às ciências naturais e análises de crescimento populacional,
relaciona-se a uma discussão baseada na
definição social, histórica e cultural do pro100
blema: a viabilidade de serem mantidas relações socialmente definidas entre a natureza e a comunidade durante longos períodos
de tempo. Desta forma, o discurso sobre
sustentabilidade é basicamente público e
estreitamente vinculado a problemas como
justiça social e regulamentação política.
Sustentabilidade ou não sustentabilidade
corresponde a uma qualidade de condições
e processos dentro de um continuum de condições e processos possíveis. Neste sentido,
não se pode considerar a sustentabilidade
ambiental e a sustentabilidade social de forma isolada. Ao contrário, o foco deve recair
na interação entre elas, buscando a viabilidade de suas relações durante longos períodos de tempo. Por outro lado, considerando
a rápida transformação por que as sociedades passam atualmente, a sustentabilidade
necessita ser concebida dentro de uma perspectiva dinâmica, e não baseada em estruturas estáticas.
Nós, arqueólogos, precisamos nos perguntar: Qual a conexão entre nosso campo
de conhecimento e sustentabilidade social?
Como podemos contribuir dentro desta perspectiva? Quais novos tópicos devemos incorporar à nossa área de atuação?
Dentre as respostas possíveis, destacase o estímulo à coesão social através do estabelecimento de pontes entre o presente e
o passado, preservando histórias e tradições
e valorizando a herança cultural. Observase assim, portanto, uma grande mudança de
perspectiva na prática da profissão: hoje a
Arqueologia parte de um profundo conhecimento do presente para dar significado ao
passado e perspectivas de futuro, especialmente em países em desenvolvimento como
o Brasil. O processo pós-colonial e as informações tecnológicas disponíveis criaram um
novo contexto no qual a Arqueologia deve
atuar.
Como conseqüência deste conjunto de
ações, esperamos, virá a tolerância e a possibilidade de cooperação voltada à construção de uma sociedade mais democrática.
Nossa perspectiva é que o trabalho desenvolvido (e ainda em andamento) na pequena
Arqueologia e sociedade no município de Ribeirão Grande, sul de São Paulo: ações em arqueologia pública
ligadas ao Projeto de Ampliação da Mina Calcária Limeira.
Erika Marion Robrahn-González
comunidade de Barro Branco possa ter
contribuido neste caminho.
O trabalho de cadastramento de sítios
históricos do tipo “encanados” na área se
insere, portanto, dentro de uma iniciativa de
valorização e preservação patrimonial, constituindo uma segunda alternativa de aplicação da Arqueologia Pública no Programa Arqueológico que vem sendo desenvolvido.
Agradecimentos
Venho inicialmente agradecer a comunidade de Barro Branco pela sua paciência,
generosidade e compromisso com a presente pesquisa. Sem eles nosso esforço seria
em vão. Agradeço ainda à Companhia de
Cimento Ribeirão Grande (CCRG) e, em especial, a Luiz Carlos Busato, Antonio Mauro
Mendonça Barbosa e Paulo Ricardo Silva
Gobbo, incansáveis estimuladores e defensores dos programas socio-ambientais que
a empresa desenvolve; devo a eles, em grande parte, a oportunidade de desenvolver os
estudos e contribuições que o presente artigo busca trazer. Agradeço às instituições que
apoiaram as pesquisas, a saber, o Núcleo de
Estudos Estratégicos/ Arqueologia Pública da
UNICAMP e a Fundação Cultural de Jacarey,
no centro das quais ocorreu grande parte das
discussões conceituais trazidas por este artigo. Agradeço igualmente aos inúmeros arqueólogos, historiadores, geógrafos e cientistas sociais que, comigo, partilharam destas pesquisas, onde destaco os amigos Dr.
Paulo De Blasis, Dr. Andrés Zarankin e Ms.
Wagner Gomes Bornal. Agradeço especialmente o enorme empenho e compromisso
de Gerson Levi da Silva Mendes em todas as
etapas da pesquisa, bem como de Cintia
Bendazolli pelo belíssimo trabalho junto ao
universo feminino e infantil da comunidade
de Barro Branco. A todos eles e aqueles que,
por falta de espaço, não pude citar, meus
sinceros agradecimentos.
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Resenhas
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Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
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Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Sam Smiles y Stephanie Moser (eds.): Envisioning the past. Archaeology and the image.
Blackwell Publishing. Malden. Oxford y Carthon. 246 páginas.
ISBN. 1-4051-1150-X
Ana Maria Mansilla Castaño*
Este livro, co-editado por uma das pioneiras dos estudos das imagens na arqueologia, oferece uma interessante coletânea de
trabalhos sobre a análise do discurso visual
em arqueologia. Envisioning the Past foi também a primeira Conferência Internacional
sobre o tema na Southampton University
(2000). Não foram publicadas as atas daquela conferência, o que atualiza e valoriza ainda mais a temática com esta nova publicação. A articulação do livro em doze breves
capítulos permite ter uma boa panorâmica
dos principais objetos de estudo neste novo
campo de pesquisa arqueológica. Analisa-se
o papel das imagens na construção do conhecimento arqueológico: as imagens sobre
as origens da humanidade, o papel do imaginário pré-histórico na construção das iden-
tidades, as diferentes fontes do repertório
iconográfico arqueológico, o destaque das
imagens na arqueologia contemporânea tanto no trabalho de campo quanto na divulgação popular ou formal, sem esquecer as
nuances que a introdução das novas
tecnologias implica. No entanto, visando uma
melhor aproximação a este tipo de estudos,
a ordenação temática dos diferentes capítulos teria sido uma opção adequada. Assim
mesmo, a própria brevidade dificulta o passo entre a proposta teórica e a amostra analisada. Mesmo sendo as imagens o fio condutor do livro, os diferentes capítulos sugerem outras interessantes linhas de pesquisa
no âmbito da antropologia do patrimônio, da
divulgação arqueológica e da construção da
comunidade e a cultura arqueológica.
(*) Escola Oficina de Restauro de Salvador
[email protected]
123
Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
124
Resenhas - Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Ian J. Mcniven e Lynette Russell (2005): Appropiated pasts. Indigenous peoples and the
colonial culture of Archaeology. Walnut Creek. Altamira Press. 317 Páginas. 8 Ilustrações.
ISBN 0-7591-0906-9
Ana Maria Mansilla Castaño*
Os títulos dos capítulos identificam já
as differentes teorias que, sob o ponto de
vista teórico, têm apoiado o colonialismo
no discurso arqueológico. Sincronicamente
são analisados os discursos desde as primeiras teorias que configuraram a própria
disciplina até hoje. O segundo objetivo do
livro, depois da análise de como o discurso arqueológico, juntamente com outros,
tem contribuido e contribui ao colonialismo,
que é oferecer alternativas para uma prática arqueológica descolonizada, se resolve rapido demais, uma vez que têm sido
apresentadas questões terminológicas e
conceituais de grande interesse, como a
proposta de desconstrução do termo “PréHistória”. Isto porque, o sentido de tempo
anterior à história resulta ofensivo para
as populações indígenas que entendem
que nenhum povo é povo sem história.
Perante os termos de “community archaeology”
e “shared history”, que enfatizam as relações entre os arqueólogos e as comunidades locais, os autores sugerem sua
sustituição pelo termo de “partnership
research”. Aborda-se o caso australiano,
mas nas frequentes referências a outras
colonias de povoamento sente-se a falta
de algumas experiências no contexto da
America Latina e não apenas o olhar
anglo-saxâo. O que não retira valor à sugestiva e exaustiva análise crítica das
conflitivas relações entre a arqueologia e
a sociedade contemporânea.
(*) Escola Oficina de Restauro de Salvador
[email protected]
125
Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
REVISTA “ARQUEOLOGIA PÚBLICA”
A revista “Arqueologia Pública” é uma iniciativa do Núcleo de Estudos
Estratégicos em Arqueologia Pública/UNICAMP. Com periodicidade anual,
objetiva constituir um fórum de debate sobre o caráter público da disciplina e sua importância social na atuação e manejo do patrimônio
cultural. Tem como prioridade a publicação de trabalhos inéditos e
originais, embora poderão ser aceitos, excepcionalmente, trabalhos
para republicação em português. Os autores da revista têm o prazer
de convidá-lo(a) a participar desta empreitada, encaminhando trabalhos e fornecendo comentários/ sugestões que permitam aprimorar a
publicação.
Instruções aos colaboradores
1. Forma de apresentação
Os autores devem encaminhar à redação uma cópia impressa do trabalho completo, acompanhada por disquete ou CD. O
disquete ou CD deve estar identificado com
o nome do autor principal e com o nome
do programa processador de texto, que
deve ser compatível com softwares tipo MSWord, sistema IBM PC. Deverá trazer indicação do tipo de contribuição a que se refere (artigo, nota, resumo de tese etc.).
Depois de recebido o aceite do Conselho
Editorial e do(s) parecerista(s), o autor será
solicitado a enviar à redação os originais
das ilustrações, em meio digital. Os autores devem manter em seu poder cópias dos
trabalhos e ilustrações, pois o material não
será devolvido. Todos os trabalhos serão
apreciados por pelo menos um membro do
Conselho Editorial. Antes de serem aceitos
para publicação passarão ainda pela análise de pelo menos um parecerista. Os no-
mes dos pareceristas serão mantidos em
sigilo, assim como dos autores dos trabalhos que estiverem sendo avaliados.
2. Idioma
Os trabalhos devem ser escritos em português, espanhol ou inglês. No caso de contribuições em português ou espanhol, a segunda língua utilizada no título, palavras-chave e resumo deverá ser o inglês. No caso de
contribuições em inglês, a segunda língua
utilizada no título, palavras-chave e resumo
deverá ser o português.
3. Tipos de contribuição
Artigos: Resultados de Programas em
Arqueologia Pública, reflexões teóricometodológicas, análises científicas, revisões
críticas (máximo total 30 páginas com ilustrações, bibliografia, notas de rodapé e outros). Deverá conter 5 palavras-chave e resumo de no máximo 100 palavras.
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Notas: Resultados parciais ou preliminares de pesquisas em andamento (máximo
total 10 páginas com ilustrações, bibliografia, notas de rodapé e outros). Deverá conter 5 palavras-chave e resumo de no máximo 100 palavras.
Resumos de teses: Resumos de teses
e dissertações com abordagem em Arqueologia Pública, defendidas nos últimos dois
anos (máximo total 5 páginas com ilustrações, bibliografia, notas de rodapé e outros).
Deverá conter 5 palavras-chave e resumo de
no máximo 100 palavras.
Resenhas: Resumo crítico de livros que
permitam atualização na área de Arqueologia Pública (máximo total 1 página).
4. Preparação dos originais
Configuração:
Os trabalhos deverão ter o número máximo de páginas especificado para cada tipo
de contribuição, de tamanho A4, fonte Arial,
corpo 12, espaço duplo. A margem inferior e
a superior devem ser de 2,5 cm, esquerda e
direita de 3,0 cm, não justificada.
Paginação: as páginas devem ser numeradas consecutivamente e não deve haver anexo.
Primeira página: deve conter o título
do trabalho, o(s) nome(s) do(s) autor(es)
sem qualificações ou títulos, mas com
afiliação e, se houver interesse, endereço
eletrônico, sendo necessário escrever claramente se deseja que seu endereço eletrônico seja publicado. Deve ainda ser incluído
um endereço postal completo, número de
telefone (e/ou fax) e endereço eletrônico do
autor para quem a correspondência deva ser
enviada.
Segunda página: deve conter 5 palavras-chave e um resumo de no máximo
100 palavras, onde devem estar claramen-
128
te indicadas as linhas gerais e conclusões
do trabalho. O resumo deverá estar em
duas línguas, de acordo com as normas
especificadas no item 2 (Idioma).
Tabelas e gráficos: devem ser apresentados em folha separada no final do trabalho, com identificação e nome do autor
principal.
Notas de rodapé: devem ser numeradas automaticamente em algarismos arábicos e aparecer ao final do texto.
Ilustrações: devem ser apresentadas
em folha separada no final do trabalho e
identificadas como Fig. 1, Fig. 2 etc.,
seqüencialmente de acordo com a ordem em
que aparecem no texto, e devem estar prontas para reprodução. Se precisar, deve-se deixar clara a orientação da ilustração. Certifique-se de que as ilustrações ainda serão legíveis após uma redução de 50%. Se tiverem sido feitas em computador, deve-se também enviá-las em disquete ou CD, devidamente identificados com o nome do autor
principal e o programa utilizado. As fotografias devem ser em preto e branco.
Referências bibliográficas:
a) no texto: (Baldus 1944), (Prous 2003:
44), (Baldus 1944, Prous 2003), (Kneip et al.
1995) e (Neves & Blum 1998).
b) na lista de referências: só deve ser
listada a bibliografia citada. Ela deve estar
em ordem alfabética pelo sobrenome do autor citado em primeiro lugar.
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
5. Exemplares do autor
Será enviado ao autor principal 5 exemplares do número em que sua contribuição
estiver publicada.
6. Direitos de propriedade
A simples remessa de originais à revista
implica a autorização para sua publicação.
Não serão pagos direitos autorais. É de inteira responsabilidade do(s) autor(es) de
cada trabalho coletar as permissões e agradecimentos necessários para sua publicação.
Os conceitos emitidos nos textos publicados
serão de responsabilidade exclusiva dos au-
tores, não refletindo obrigatoriamente a opinião da Comissão Editorial.
7. Endereço
Os trabalhos devem ser enviados para:
[email protected]
8. Cronograma
A publicação do primeiro número da Revista Arqueologia Pública está prevista para
julho/06. Para tanto, os trabalhos devem ser
encaminhados até no máximo 31.01.06.
Aqueles que chegarem depois disto deverão
ser reservados para o próximo número.
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Revista Arqueologia Pública, São Paulo, nº 1, 2006.
Apoio
Tiragem 500
130

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