IMPORTÂNCIA DOS APRUMOS PARA A VACA LEITEIRA

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IMPORTÂNCIA DOS APRUMOS PARA A VACA LEITEIRA
IMPORTÂNCIA DOS APRUMOS PARA A VACA LEITEIRA
Função do aparelho locomotor para vacas leiteiras: É proporcionar a sustentação e locomoção de toda massa
corporal e de forma confortável, garantir a busca por alimentos, a boa performance produtiva e reprodutiva.
Definição e avaliação dos aprumos na vaca leiteira: Aprumos são linhas imaginárias, traçadas sobre o aparelho
locomotor, com o objetivo de delinear e avaliar a postura dos animais. Estas linhas são traçadas virtualmente, não
existem parâmetros métricos para avaliação, na prática usa-se do bom senso e educação visual, que pode ser
aprimorada através do hábito de julgamento e avaliação da composição de pernas e pés dos animais.
Aprumos Corretos (vistos de lado)
Existe uma postura ideal, desejável ou normal, em que o aprumo é considerado correto e existe algumas
irregularidades posturais ou postura anormal e indesejável em que o aprumo é considerado incorreto. Para o
exame e avaliação dos aprumos, os animais são observados vistos de frente, de lado e por trás, estáticos e em
movimento a passo. Pontuações podem ser dadas para uma avaliação individual que resulta em um escore ou
composto pernas e pés.
Visto de frente, observamos os aprumos dos membros torácicos ou anteriores, os aprumos corretos são
caracterizados por pernas retas, alinhadas, membros paralelos e pinças das unhas direcionadas para frente.
Alguns desvios podem ocorrer, o que caracteriza uma irregularidade postural, as mais comumente observadas,
visto de frente são: Elevada ou reduzida distância entre joelhos, denominadas de aprumos cambotas e cambaios,
respectivamente e elevada ou reduzida distância entre as pinças dos cascos, denominados de pinças para fora e
pinças para dentro, respectivamente. Também podem ocorrer desvios nos boletos, para fora ou para dentro.
Pinças Voltadas para Dentro
Aprumos Corretos (visto de frente)
Pinças para Fora
Aprumos Cambaios e Pinças para fora
Aprumos Cambotas
Aprumos Cambaios e Pinças para Fora
Deformidade da Unhas
Visto de lado e avaliando os aprumos dos membros anteriores, traçando uma linha imaginária partindo do meio da
escápula (paleta), em direção ao solo onde divide todo o membro ao meio, até a altura do boleto, incluindo
antebraço (úmero), joelho (carpo), canela (metacarpo) e boleto, tocando o solo alguns centímetros atrás dos talões
das unhas, logo abaixo das sobre-unhas. As principais irregularidades observadas são o adiantamento ou
atrasamento dos joelhos, chamados de transcurvo e ajoelhado respectivamente. Podemos observar também por
esta vista, a angulação dos cascos, altura ou profundidade dos talões e força das quartelas, onde podemos ter
cascos encastelados ou achinelados, talões altos ou baixos e quartelas fortes ou arreadas e fracas,
respectivamente.
Deformidade das Unhas e Desvio do Boleto Lateralmente
Visto de lado e avaliando os aprumos dos membros posteriores, traçando uma linha imaginária partindo da
tuberosidade isquiática (ponto mais caudal da garupa), em direção ao solo onde passa logo atrás e paralelamente
ao jarrete e canela (metatarso) tocando o solo alguns centímetros atrás dos talões das unhas, logo abaixo das
sobre-unhas. As principais irregularidades observadas são a elevada ou reduzida angulação do jarrete (articulação
tíbio-társica), chamados de perna curva ou em foice e perna reta ou de frango, respectivamente. Podemos
observar também por esta vista, a angulação dos cascos, altura ou profundidade dos talões e força das quartelas,
onde podemos ter cascos encastelados ou achinelados, talões altos ou baixos e quartelas fortes ou fracas e
arreadas, respectivamente. As quartelas devem ser flexíveis, porem não muito em pé e nem muito baixas. A
angulação de cascos desejável é próxima ou igual a 45º, angulações maiores caracterizam cascos muito em pé ou
encastelados, causam redução da flexibilidade das quartelas e interferem na qualidade da andadura, deixando-a
mais dura e dificultosa, o que implica em maior impacto das extremidades ósseas nas articulações. Angulações
menores que 45º caracterizam cascos achinelados, esta condição deixa a andadura pesada e dificultosa, o animal
dispõe de mais energia para realizá-la.
Encastelamento das Unhas
Pernas excessivamente curvas ("em foice")
Pernas Retas (com reduzida curvatura)
e presença de "ovas"nos jarretes
Tanto pernas curvas, quanto muito retas tendem a levar o animal a uma menor vida útil no rebanho devido a
problemas de locomoção. Entretanto, mais prejudiciais para vacas são as pernas curvas em demasia, que
desgastam o talão dos cascos rapidamente, causando muita dor nas articulações e fazendo com que as vacas
produzam menos. Já as pernas retas têm maior importância nos touros, o que causam dificuldade para efetuar a
monta, influenciando diretamente os índices reprodutivos do touro e das vacas às quais está servindo. Portanto,
são desejáveis, animais com pernas harmoniosas, que na altura dos jarretes apresentam uma ligeira curvatura,
não muito acentuada e jarretes limpos.
Lesão nos Jarretes (bursite)
Quartelas Fracas
Achinelamento das Unhas
Aprumos Corretos (vistos por trás)
Visto por trás, observamos os aprumos dos membros pélvicos ou posteriores, os aprumos corretos são
caracterizados por pernas retas, alinhadas, membros paralelos e pinças das unhas direcionadas para frente.
Alguns desvios podem ocorrer, os mais comumente observadas são: Elevada ou reduzida distância entre jarretes,
denominadas de jarretes abertos ou fechados e elevada ou reduzida distância ou medida entre as pinças dos
cascos, denominados de pinças para fora e pinças para dentro, respectivamente. Também podem ocorrer desvios
nos boletos, para fora ou para dentro. O desejável são pernas bem paralelas, não comprometendo o
desenvolvimento do úbere, uma vês que o desenvolvimento e o posicionamento do úbere tem uma relação muito
alta com a perna visto por trás.
Quando em movimento o andar deve ser suave, leve e harmonioso, com ausência de claudicações, lesões e
desvios laterais de joelhos, jarretes, boletos e deformidades nas unhas. No escore de pernas e pés avalia-se o
andar do animal e o quanto, no conjunto, as pernas são paralelas e os jarretes limpos.
Jarretes Abertos
Como as irregularidades posturais podem interferir na produtividade da vaca leiteira: Em vacas leiteiras a
qualidade dos aprumos está diretamente relacionada a saúde geral do animal e a sua longevidade, qualquer
irregularidade postural pode determinar, a curto, médio ou longo prazo, condições de desconforto de graus
variados, que inclusive podem passar desapercebido e ser negligenciado pelo criador e ainda ser fator
desencadeante para outros agravantes clínicos, que no final estes animais serão descartados mais precocemente,
quando comparados aos animais com aprumos corretos. Mesmo nos graus mais brandos de desconforto, como
num simples achinelamento das unhas, os animais passam a caminhar menos, alimentam-se menos, permanecem
boa parte do tempo deitadas, emagrecem e mantêm um baixo escore corporal, a produção leiteira cai e a
reprodução é afetada, há ausência de estro e concepção, o ciclo produtivo é quebrado e o animal encaminhado ao
descarte. Muitos estudos são realizados na tentativa de estimar este prejuízo, acredita-se que seja em torno de R$
15.000,00 para cada 100 vacas/ano.
As afecções relacionados às pernas e patas são a terceira maior causa de descarte de vacas leiteiras, em todo o
mundo. Dentre os fatores que determinam o descarte involuntário de vacas leiteiras, ou seja, o descarte contra a
vontade do criador, em primeiro lugar são as disfunções reprodutivas, como a sub-fertilidade e infertilidade, em
segundo lugar as vacas que apresentam afecções da glândula mamária, como as mastites, que causam a redução
ou perda da sua função e na seqüência as disfunções do aparelho locomotor, como as irregularidades nos
aprumos e as lesões de casco. Também dentre os fatores que determinam o descarte voluntário de animais, ou
seja, dentre as características de seleção de um rebanho leiteiro, a qualidade das pernas e patas, são para muitos
técnicos, criadores e selecionadores, o primeiro caractere a ser selecionado, pois possui relação direta ou indireta
com todos os demais caracteres.
Principais causas das irregularidades posturais em vacas leiteiras: Ao nascerem, a grande maioria dos animais
possuem aprumos corretos. Ao se desenvolverem, o sistema locomotor sofre influencia de fatores genéticos, que
podem se expressar durante esta fase da vida e transformar ou alterar a postura, e também do meio ambiente que
podem alterá-lo de diversas formas. Aos 15 meses de idade ocorre a consolidação óssea e a definição da postura
dos bovinos. Poucos estudos tem sido reportados, porem observa-se uma predominância de determinadas
deformidades posturais em famílias e também entre as raças. Acredita-se que algumas deformidades possam ser
transmitidas de uma geração a outra, porem, entretanto, observa-se também que o meio parece ter maior
influencia sobre a qualidade dos aprumos, em detrimento ao fatores genéticos. Os animais criados em ambientes
mais naturais, sob reduzida intervenção do homem, apresentam, em geral, aprumos corretos e quanto mais se
manejam os animais, principalmente durante a fase de crescimento, maiores as ocorrências de desvios posturais.
Esqueleto dos Membros Pélvicos de Bovino
Em bezerros leiteiros e principalmente os destinados a exposições e pista observa-se uma elevada ocorrência de
deformidades posturais em função da presença de três fatores, que podem estar associados ou não: ponderal
elevado, acesso a piso abrasivo e falta de casqueamento preventivo. Porem, também, não é possível afirmar que
algum tipos de desvio de postura seja especificamente de origem genética e hereditária ou especificamente de
falha de manejo, já que, uma mesma deformidade postural, pode estar presente em ambas situações, ou seja,
observadas com elevada ocorrência em algumas famílias e ou raça e também observada isoladamente, sob
influencia de alguma deficiência no manejo. Acredita-se que animais que apresentam pernas retas, pernas em
foice, aprumos cambaios e aprumos cambotas, possam transmitir estas características aos seus descendentes,
porem, falhas de manejo também causam estas mesmas irregularidades, que, quando corrigidas precocemente,
podem reverter o quadro. Apenas o conhecimento profundo e estatístico dos indivíduos de uma família e ou raça
ou linhagem poderá determinar se um caractere vem sendo transmitido às gerações de indivíduos. Analisando o
desvio de aprumo, seja qual for, de um indivíduo isoladamente, não caracteriza que o respectivo desvio seja de
origem genética. Os fatores ligados ao meio ambiente e relacionados às deficiências de manejo são os principais
responsáveis por alterações posturais em vacas leiteiras:
Esqueleto das Patas de Bovino
• Fatores relacionados à Nutrição: Durante a fase de crescimento o aporte energético, proteico e mineral tem
importante função no desenvolvimento saudável do esqueleto e articulações. Animais subnutridos apresentam
muito freqüentemente irregularidades posturais. Também os animais que apresentam ponderais elevados são
muito freqüentemente acometidos por afecções nas patas e articulações e conseqüentemente às irregularidades
posturais.
• As laminites são responsáveis por grande parte das irregularidades posturais em vacas leiteiras, em razão da
lesões nas patas.
• Presença de Lesões: O aparecimento de alguma lesão que leve a claudicação, pode desencadear irregularidade
no apoio da pata lesada ao solo e sobrecarga da outra, gerando uma irregularidade postural. A postura
normalmente volta ao normal após o tratamento da lesão primária. Quanto mais rápido e precocemente for tratada
a lesão primária, menores serão as conseqüências para os aprumos. A docilidade pode interferir na qualidade dos
aprumos, animais indóceis são muito suscetíveis a traumatismos e lesões podais. As raças zebuínas são mais
resistentes à ocorrência de lesões podais, comparativamente às taurinas.
• Tipo de piso: A permanência ou trânsito, periódicos, sobre piso abrasivo, causa desgaste natural excessivo das
unhas, desconforto, lesões na sola dos cascos e deformidades nas unhas e nos aprumos.
• Imprudência no casqueamento: O desbaste excessivo e o uso imprudente de lixadeira elétrica na sola dos cascos
causam lesões e hematomas no seu interior e afetam o crescimento saudável das unhas, ocorrem deformidades
na muralha do casco e dos aprumos.
Manejo curativo e preventivo: Para otimizar a performance dos aprumos, reduzir a taxa de descarte por alterações
de pernas e pés e elevar o tempo de permanência dos animais no rebanho é indispensável a assessoria de um
profissional especializado que realizará um exame periódico do rebanho, diagnóstico das principais ocorrências e
estabelecimento de estratégias de controle. Porem algumas dicas podem ajudar o criador.
• Importância do casqueamento periódico: Recomenda-se no mínimo duas visitas anuais, porem as melhores
performances são atingidas com visitas bimensais onde todos os animais do rebanho são avaliados e àqueles que,
julgados necessário, serão examinados e tratados.
A Fase de crescimento: Aos 15 meses de idade ocorre a definição dos aprumos em bovinos e os trabalhos de
correção, portanto, devem ser iniciados mais cedo, a partir de 5 meses de idade, através de exames periódicos,
monitoramento e correções, se necessário. Sabe-se que alguns tipos de desvios não são passiveis de correção,
não respondem a aparação corretiva, assim como nos animais maiores de 15 meses de idade.
A Fase adulta: Vacas que possuem achinelamento das unhas, unhas compridas, irregularidades e deformidades
das unhas, lesões e ferimentos em uma ou mais patas, devem ser imediatamente tratadas.
• Trabalhando a docilidade: O conhecimento de técnicas de adestramento e manejo anti-estresse, produz animais
dóceis, com reduzidas ocorrências de acidentes traumáticos, desgaste excessivo das unhas e lesões podais.
• Seleção genética: Procurar utilizar da inseminação artificial e animais melhoradores, para os caracteres pernas e
pés.
Escore de casqueamento: Um estudo dos relatórios periódicos de casqueamento, emitidos pelo técnico
Podologista, pode identificar animais com elevado índice ou taxa de casqueamento, os quais deverão fazer parte
da relação de descarte, pois certamente, estão elevando os custos da atividade.
Autor:
Dr. Luciano Monteiro Marega
Veterinário Podologista Autônomo
Mestre em Cirurgia Veterinária pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), campus de Jaboticabal SP
E-mail: [email protected]
Blog-Site: www.lucianomarega.blogspot.com

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