análise de conjuntura temas de economia aplicada
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análise de conjuntura temas de economia aplicada
Nº 335 Agosto / 2008 FUNDAÇÃO INSTITUTO DE PESQUISAS ECONÔMICAS issn 1234-5678 análise de conjuntura Em Nota de Conjuntura, Carlos Eduardo Gonçalves afirma que a inflação começa a recuar, mas ainda é cedo para apostar em reversão de curso na política monetária. Simão Davi Silber analisa a trajetória recente do setor externo brasileiro e o desempenho do balanço de pagamentos do País, à luz da conjuntura internacional atual. José Francisco de Lima Gonçaslves apresenta as motivações do COPOM para a manutenção da trajetória de alta da taxa Selic (13,75%) e seus desdobramentos para o crescimento econômico brasileiro. temas de economia aplicada Otaviano Canuto discute os potenciais impactos do processo de “late securitization” para as microfinanças e para a melhora do padrão de vida das camadas mais pobres da América Latina. Tomas Palley destaca os aspectos estruturais da recente bolha financeira e aponta o caráter conservador da “regulação” que “amenizou” os desdobramentos da crise. Jaqueline Maria de Oliveira analisa, para o Brasil, os desdobramentos da redução dos tamanhos da classe e ampliação da jornada escolar no rendimento escolar. Emilio Chernavsky investiga o canal de custos na transmissão da política monetária e seus impactos sobre a relação entre taxa de inflação e taxa de juros. Julio Lucchesi Moraes discute, em último artigo da série, a convergência regional entre as cidades de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto, com base no IPC-R e o processo inflacionário automotivo. Diva Benevides Pinho investiga a relação entre as preferências do mercado consumidor de pinturas e a produção destas obras de arte. Nº 335 AGOSTO DE 2008 INFORMAÇÕES FIPE É UMA PUBLICAÇÃO MENSAL DE CONJUNTURA ECONÔMICA DA FUNDAÇÃO ANÁLISE DE CONJUNTURA issn 1234-5678 nota de conjuntura .......................................................................................................... 3 Carlos Eduardo Gonçalves setor externo ..................................................................................................................... 5 Simão Davi Silber CONSELHO CURADOR Hélio Nogueira da Cruz (Presidente) Andrea Sandro Calabi Juarez B. Rizzieri Joaquim José Martins Guilhoto Ricardo Abramovay Simão Davi Silber Vera Lucia Fava política monetária ........................................................................................................... 7 José Francisco de Lima Gonçalves DIRETORIA TEMAS DE ECONOMIA APLICADA 9 ..................................................................... late securitization and micro-insurance Otaviano Canuto DIRETOR PRESIDENTE Carlos Antonio Luque DIRETOR DE PESQUISA Eduardo Haddad 13 ................................................................................................. scapegoating regulation Thomas Palley 15 ..... custo efetividade de políticas de redução do tamanho da classe e ampliação da jornada escolar: uma aplicação de estimadores de matching Jaqueline Maria de Oliveira DIRETOR DE CURSOS Cicely M. Amaral PÓS-GRADUAÇÃO 23 ....................... nota sobre o canal de custos na transmissão da política monetária Emilio Chernavsky 26 ............... índices de preços regionais e inflação automotiva: privação material e convergência regional Dante Mendes Aldrighi SECRETARIA EXECUTIVA Domingos Pimentel Bortoletto Julio Lucchesi Moraes 30 ............................................................................ quais as pinturas “mais desejadas”? PReparação de originais e revisão Alina Gasparello de Araujo Diva Benevides Pinho EDITOR CHEFE Gilberto Tadeu Lima CONSELHO EDITORIAL Ivo Torres Lenina Pomeranz Luiz Martins Lopes José Paulo Z. Chahad Maria Cristina Cacciamali Maria Helena Pallares Zockun Simão Davi Silber AS IDÉIAS E OPINIÕES EXPOSTAS NOS ARTIGOS SÃO DE RESPONSABILIDADE EXCLUSIVA DOS AUTORES, NÃO REFLETINDO A OPINIÃO DA FIPE ASSISTENTE Maria de Jesus Soares PROGRAMAÇÃO VISUAL E COMPOSIÇÃO Sandra Vilas Boas análise de conjuntura Carlos Eduardo Gonçalves (*) a inflação começa a amolecer, mas os juros devem subir mais Uma saraivada de dados de inflação, divulgados nas últimas semanas, aponta todos na mesma direção de acomodação das pressões. As expectativas declinaram (ver gráfico a seguir), os preços das commodities sofreram expressiva queda, o índice de difusão (que mede a generalização da alta de preços) retraiu-se e, por fim, a inflação dos itens menos voláteis recuou – sinalizando a consistência do processo. Em suma, o pior da alta dos preços parece ter ficado para trás, ensejando a natural pergunta: deve o BC seguir apertando a política monetária? gráfico – expectativas Focus 6.3 6.45 12 meses 2008 (Variação %) 5.8 5.3 agosto de 2008 6.8 5.34 4.8 4.3 3.8 3.3 nov/06 jan/07 mar/07 mai/07 jul/07 set/07 nov/07 jan/08 mar/08 mai/08 jul/08 3 O mais provável é que o aperto continue, possivelmente com mais um aumento de 75 pontos-base seguido de outros dois de 50 pontos. Esta conjetura tem raízes nos seguintes pontos: Apesar de os preços de bens comercializáveis terem recuado, os dados de atividade seguem indicando um hiato do produto positivo (isto é, demanda mais forte que oferta), que é sinal de pressão futura nos preços, principalmente dos itens não-comercializáveis. agosto de 2008 O BC, no jogo de queda-de-braço com a Fazenda, aventou com toda a clareza seu objetivo de trazer o IPCA para 4,5% já no apagar das luzes do próximo ano. Dado ser muito improvável que a inflação feche 2008 abaixo de 6%, o objetivo para 2009 demandará continuada rigidez na condução da política monetária. Concluindo, o mais provável neste momento é que os juros sigam em alta. 1 As opiniões contidas nesta nota são de responsabilidade do autor, mas também expressam as opiniões apresentadas nas reuniões do Grupo de Conjuntura da FIPE. A atividade econômica segue forte, o que enfraquece a sonoridade dos queixumes contra o arrocho monetário vigente. Por fim, é importante ressaltar que devido aos enormes IGPs de 2008, os preços dos itens administrados no ano que vem não vão ajudar o BC como neste ano. O que pode mudar este quadro de continuísmo do aperto monetário? Primeiramente, um declínio adicional nos preços das commodities – o que a propósito seria bem prejudicial ao crescimento da economia, apesar de seu efeito profilático em relação à inflação. Segundo, um plano consistente de aperto fiscal, enxugando a contribuição do governo para a demanda agregada. É verdade que os dados relativos ao crescimento dos gastos públicos do primeiro semestre surpreenderam 4 positivamente ao ficarem abaixo da expansão do PIB. Mas a perenidade do fenômeno não está absolutamente garantida, dado que muitos aumentos salariais já aprovados no Congresso se materializarão alguns trimestres à frente, e dado que a moderação registrada não foi fruto de um plano deliberado de ajustamento fiscal de longo prazo. (*) Professor do Departamento de Economia da FEA-USP e Economista do Grupo de Conjuntura da Fipe. (E-mail: [email protected]). Simão Davi Silber (*) setor externo Dada a interdependência das economias nacionais, as mudanças recentes que estão ocorrendo nos países industrializados já estão afetando a trajetória do setor doze meses encerrados em julho de 2008, a inflação na União Européia estava situada no patamar de 4,1%, o dobro da meta do Banco Central Europeu, enquanto externo da economia brasileira e deverão influenciar o desempenho do balanço de pagamentos do País nos próximos anos. As informações divulgadas até agosto de 2008 dão uma indicação cada vez mais clara de que as economias dos países desenvolvidos estão passando por um processo de redução do nível de atividade econômica, caminhando em direção à recessão. A economia da União Européia teve no segundo trimestre uma queda no PIB de 0,2%, a economia japonesa teve uma contração de 0,6% no mesmo período e a economia americana teve crescimento nulo. nos Estados Unidos a inflação atingiu 5,6% e no Japão 1,9%. Com exceção do Banco Central Europeu que tem mantido juros básicos mais elevados (4,25% ao ano), Estados Unidos e Japão estão dando prioridade à defesa do nível de atividade econômica e o emprego com juros menores, respectivamente de 2% e 0,5% ao ano. Mesmo com juros menores, o efeito do aumento da taxa de inflação, da crise de crédito e a queda de preço dos imóveis e ações tem sido dominante sobre a demanda agregada, fazendo com que os impulsos monetários e fiscais não sejam suficientes para evitar a recessão nos países ricos. Nos próximos trimestres teremos um teste importante se efetivamente os países em desenvolvimento conseguiram ou não se desacoplar dos ciclos das economias dos países desenvolvidos. Pelas informações disponíveis para 2007, o PIB da União Européia, Estados Unidos e Japão conjuntamente representavam 56% do PIB mundial e a probabilidade de uma retração de demanda nessas regiões afetar o desempenho das economias em desenvolvimento é muito alta. Particularmente para o Brasil, onde o superávit comercial tem uma dependência forte do preço de commodities, os efeitos poderão ser significativos. Os resultados ainda não se materializaram sobre o balanço de pagamentos, mas o que aconteceu em agosto com a queda de preços de importantes produtos exportados pelo País já é um prenúncio dos problemas que poderão ocorrer ainda este ano e se estender até 2009. nas bolsas mundiais. Adicionalmente, o crescimento acelerado da economia mundial no período 2003-2007, associado a problemas de oferta de commodities, elevou o patamar da taxa de inflação mundial. Nos últimos No primeiro semestre de 2008, houve uma mudança importante no comportamento das contas externas do país: de um lado houve uma redução do superávit agosto de 2008 Existem vários fatores para explicar essa mudança de rumo da economia mundial: em primeiro lugar, a ampliação da crise imobiliária dos Estados Unidos, Reino Unido, Espanha e Irlanda para a retração generalizada na atividade de crédito está reduzindo o dinamismo da economia dos países desenvolvidos. Até agora não se sabe ao certo se a fase mais aguda da crise do subprime está ultrapassada. Quando se acreditava que as medidas de estimulo monetário e fiscal na economia americana e européia poderiam ter eliminado o pior da crise, eclodiu o problema das duas agências que financiam hipotecas e são a espinha dorsal do sistema americano (Fannie Mae e Freddie Mac). A solvência dessas duas agências está em risco e a possível intervenção do governo estatizando as agências aumentou a volatilidade do mercado financeiro internacional nos meses de julho e agosto. Um indicador dessa volatilidade foi a forte oscilação e queda de preço das ações 5 comercial e do outro se acentuou uma entrada maciça de capital financeiro. Explicam essas mudanças a forte expansão do nível de atividade econômica no país, a sistemática apreciação da taxa de câmbio e uma taxa de juros interna elevada, suficiente para atrair capitais externos através de arbitragem internacional de juros. Em termos de taxas anualizadas, a crescimento do PIB está em 5,8% ao ano e o crescimento da produção industrial se situa no patamar de 7,2%. Está havendo uma expansão importante do consumo das famílias como um todo, que cresce atualmente a taxas anualizadas de 6% e a formação bruta de capital fixo está crescendo a uma taxa de 14,8%. agosto de 2008 O crescimento da economia tem sido comandado pela demanda interna, já que a apreciação cambial tem propiciado uma maior expansão da importação comparada com a exportação, fazendo com que a contribuição do setor externo para o crescimento da economia seja negativa. Por outro lado, esse crescimento maior das importações tem contribuído para arrefecer pressões inflacionárias decorrentes da expansão da demanda interna. Para se ter uma idéia da rápida expansão das importações, pode-se destacar as seguintes estatísticas para os últimos doze meses, encerrados em julho: as importações cresceram a uma taxa anual de 46%, contra 23% para as exportações. Mesmo assim, espera-se que o país termine o ano com um superávit comercial de US$ 23 bilhões. Para 2009, as perspectivas são as de que o superávit comercial continuará a tendência descendente para um patamar de US$ 15 bilhões. Nessa condição, volta-se a condição usual de déficit de balanço de pagamentos em transações correntes, depois de cinco anos de superávits. perdeu seu dinamismo, os preços desses produtos continuam crescendo no mercado externo. Nos últimos doze meses encerrados em junho, o quantum de exportação de produtos básicos apresenta uma taxa de crescimento modesto de 2,4% ao ano, enquanto que a de manufaturados já apresenta uma queda de 0,1%. O que tem mantido o superávit comercial é o aumento de preços no mercado externo. Tanto produtos básicos como manufaturadas continuam com preços crescentes no mercado mundial. Nesse mesmo período, o preço dos produtos básicos exportados pelo Brasil, aumentou 53% e o preço dos produtos manufaturados 18%. Existem dois fatores para explicar a redução de dinamismo do quantum das exportações de manufaturados: o crescimento da absorção doméstica e a continua apreciação cambial. Entre 2003 e 2008, houve uma apreciação real da taxa de câmbio de 47% e atualmente o patamar da taxa de câmbio efetiva real é equivalente a observada em janeiro de 1999. Mesmo assim, o resultado do balanço de pagamentos continua superavitário e o Banco Central está ampliando continuamente a compra de reservas. As informações disponíveis na terceira semana de agosto contabilizam US$ 205 bilhões de reservas externas. A manutenção desse resultado depende de preços de exportação elevados e da entrada de capitais para financiar o déficit de transações correntes. Portanto, não pode ocorrer uma desaceleração da economia mundial e nem mudanças bruscas com relação às expectativas do câmbio, caso contrário a turbulência poderá se instalar no setor externo da economia brasileira. Com as informações disponíveis até julho, as exportações totais dos últimos doze meses já atingiram um patamar de US$ 184 bilhões, enquanto que as importações ultrapassaram a marca de US$ 154 bilhões. Desagregando as exportações brasileiras entre produtos básicos e manufaturados, já se pode constatar uma mudança importante no comportamento das exportações. Enquanto o quantum das exportações de produtos básicos e manufaturados 6 (*) Professor do Departamento de Economia da FEA/USP. (E-mail: [email protected]). José Francisco de Lima Gonçalves (*) política monetária preventivo, tempestivo e vigoroso O COPOM acelerou o ritmo de alta da taxa Selic em sua reunião de julho e a expectativa dominante é de nova alta de mesma proporção agora em setembro. Após atingir o nível de 13,75%, são esperados mais dois aumentos de 0,50% em cada uma das duas reuniões do colegiado em 2008, até 14,75%. A deterioração da inflação corrente e das expectativas para a inflação futura verificada a partir de março persistiu até pouco antes da reunião de julho. Naquele momento, verificaram-se os primeiros sinais de enfraquecimento dessa deterioração. Os argumentos do COPOM para acelerar o ritmo da alta são sobejamente conhecidos, embora questionáveis. A piora na situação internacional estaria na “severa crise financeira” que assola os EUA e a Europa, associada à forte desaceleração econômica nessas regiões e ao recrudescimento da inflação entre os países emergentes. O aperto das políticas monetárias ao redor do mundo se fez sentir, persistindo ainda o dilema dos juros negativos (ou quase) nos EUA, Europa, Reino Unido e Japão. A percepção de risco deteriorou-se e a preocupação passou a ser descobrir o efeito da contração econômica sobre a taxa de câmbio de um país exportador de commodities. Segundo a ata da reunião de julho, a redução da vulnerabilidade externa tem contribuído “para mitigar, mas não eliminar, os efeitos das dificuldades que caracterizam Se assim é, a mudança de preços relativos pressiona o nível geral de preços a depender da pressão da demanda sobre a oferta. Donde a queda meteórica do saldo comercial pelo lado das importações (o desempenho das exportações também deve ser considerado, mas não no argumento do COPOM). Desse modo, a pressão de demanda estimulada pelo crescimento da massa salarial, do crédito e do gasto público supera a expansão da oferta doméstica: “a redução pronta e consistente do descompasso entre o crescimento da oferta de bens e serviços e o da demanda continua sendo central na avaliação das diferentes possibilidades que se apresentam para a política monetária.” Mais claro, difícil. O crescimento extraordinário das importações e a ampliação esperada da capacidade produtiva como resultado de vários trimestres de crescimento da formação bruta de capital fixo não têm sido suficientes para atender ao crescimento da demanda. As importações crescem a 40% ao ano, a produção industrial a 6,5%, as vendas no varejo a uma taxa entre 10% e 14% e o crédito a mais de 30%. agosto de 2008 De fato, os preços das commodities já estavam em queda de 10% entre o dia 1º de julho e o dia da reunião. A elevação do IPCA esperado na pesquisa Focus já ocorria apenas na segunda casa depois da vírgula; os juros futuros, à exceção do vencimento de janeiro de 2009, estavam em queda desde o dia 7 daquele mês. o cenário externo sobre a atividade econômica no Brasil, cujo dinamismo vem sendo sustentado essencialmente pela demanda doméstica.” A população ocupada cresce de modo a compensar o efeito corrosivo da inflação sobre o salário real. Os componentes dos IGPs mostram a desaceleração – e até deflação – em alimentos e matérias-primas, mas confirmam a estabilidade dos IPCs e dos custos de construção civil (estes, infensos a câmbio e importações). Se o diagnóstico é este, a elevação da Selic vai prosseguir. Enquanto não houver um sinal claro e convin- 7 cente de desaceleração no crescimento da demanda, a alta prosseguirá. Aguarda-se ansiosamente a divulgação da estimativa do PIB do segundo trimestre (aproximações pela produção industrial não mostram desaceleração) e a improvável definição da tendência da taxa de câmbio. agosto de 2008 A queda nos preços das commodities pode prosseguir, mas não no ritmo de encolhimento da bolha verificado desde o início de julho. Ademais, um ritmo mais vigoroso deve criar fortes incertezas a respeito da taxa de câmbio e adicionar pressão às expectativas. Uma Selic de 14,75% em dezembro é muito provável, assim como sua manutenção por uns quatro a seis meses entrando em 2009. É possível levar o IPCA para um valor entre o centro da meta e 5% no ano que vem. Não sei para quê. O custo será a redução do crescimento do PIB de 5% para 3,5%. (*) Professor do EAE/FEA/USP e Economista-chefe do Banco Fator. (E-mail: [email protected]). Os artigos da seção Análise de Conjuntura foram escritos entre escritos entre 20 e 22/08/2008 8 temas de economia aplicada Otaviano Canuto (*) late securitization and1 micro-insurance Last October 1 (Canuto, 2007), I argued here that the debris of securitization after the current financial crisis would still contain great utility, as at least some of the financial innovations of the last few years are likely to outlive the securitization excesses. I also referred to possible gains to be accrued in Latin America from a sort of “late securitization” process provided that lessons learnt from the pioneers’ experience are applied. micro-insurance as a frontier within microfinance Microfinance – provision of financial services to poor or low-income people who are not “bankable” – is advancing fast throughout the developing world. The advance has been such as to lead Muhammad Yunus, the Nobel laureate pioneer of micro-credit, to warn Notwithstanding the booming features of microfinance, and micro-credit in particular, in a world where economic integration of poor people has been dynamic in many regions and has started to attract attention of opportunity-stripped traditional financial institutions, micro-insurance is still lagging behind. According to Martin Buehler (FT, June 02) from International Finance Corporation (IFC), “Micro-insurance is now where microfinance was about eight to 10 years ago. Microfinance now is a multibillion dollar industry. Micro-insurance is probably not yet in the billion dollar premium area.” agosto de 2008 A colleague from the Inter-American Development Bank (IADB), Bernardo Weaver, has recently called my attention to a product with which he has been working and that would constitute a perfect illustration for my upbeat view. He referred to a scheme of securitization of micro-insurance operations that may permit higher scales and lower funding costs in such a market with high impact on the welfare of poor people and, at the same time, unattractive features for traditional financial institutions. last week against risks of a bubble-generating entry of big banks into the market (FT, July 29). Either to assist the provision of micro-loans or as a stand-alone product, the availability of low-cost micro-insurance to “un-bankable” people has an obvious potential to ameliorate life conditions and welfare. This is not the time and place to address perils and conditions under which microfinance, and micro-insurance in particular, must operate, but one can take for granted that financial exclusion of large population contingents cannot be a good thing. The Chart below shows the wide range of needs that microfinance can help attend. 9 chart 1 – types of microfinance used by poor people agosto de 2008 Source: Brett Mathews, Mathwood Consulting Company. Micro-insurance displays in stark form those features that make microfinance a challenge: high transaction costs per unit of value, constraints to enforceability of contracts and use of collaterals etc. Furthermore, in order to succeed, micro-insurance needs to face the following requisites: (i) it has to reach massive market penetration, with contracts sold to vast numbers of people at very low rates and providing coverage against relatively small losses; (ii) it has to display simple and direct underwriting possible, in order to guarantee accuracy and appropriate pricing of underwriting and claims handling, the former has to rely on mass underwriting, and mass claims handling. No wonder non-profit institutions still mainly permeate the universe of micro-insurance. Let me refer now to how the product outlined to me by Bernardo Weaver may help reduce the mismatch between, on the one hand, the ugly features of single microinsurance contracts and, on the other, the need of minimum scales to make feasible the operation with the corresponding products. methods; (iii) its commercialization methods have to adapt to an environment in which there is no previous accumulated experience with the product by clients; and (iv) it must be offered with coverage of multiple events, in a combined fashion. The last feature highlights how different the ethoses of micro-insurance and traditional insurance are. While the latter is all about slicing risks as much as 10 GILR-Bond: as attractive and sinful as other securities, yet worth it A Group Insured Loss Ratio Bond (GILR-Bond) is a securitization of bulks of insurance contracts. In essence, through a GILR-Bond, investors in exchange for cash flows assume some pre-defined portions of the contingent liabilities associated with a cluster of micro-insurance contracts. The GILR-Bond would be an insurance-derivative swap, which is a complete or partial ceding treaty reinsurance agreement issued as a bond in the market. By lump-summing vast numbers of micro-insurance contracts, one is able to slice and dice risk dimensions, what otherwise would be unfeasible to attain. Financial engineering can then decompose and transfer the returns of the bundle of underlying micro-insurance contracts into different fundamental components of risks (credit defaults, maturity mismatch, inflation risks etc.) (b) Some information is inevitably lost as the distance between originators and end-investors increases, and the information gap thereby generated cannot be simply filled by rating agencies. (c) Given the extension reached by the full network of exposures as instruments unfolded into successive waves of derivatives, the assessment of counterparty credit risks became not much reliable. Thus, micro-insurers may become able not only to manage better their risk exposures, but also scale-up their funding, freeing themselves from the restriction of only operating with conventional re-insurance. Competition in funding micro-insurance would be enhanced, as outsiders would also be able to accrue portfolio diversification gains by acquiring risk-return positions in fields uncorrelated with their conventional ones. (d) The three previous informational problems sowed the ground for endogenous risk-creating behavior by investors. Incentives for due diligence and monitoring at the origin were diluted. Additionally, investors became prone to herd-like behaving and other “anomalous” reactions. (e) Information uncertainty and misaligned incentives led to increasing market liquidity risks, which revealed to be very high when a bout of suspicion was sparked. (f) The predominance of non-standardized products negotiated over-the-counter in broker-dealer relationships rather than through centralized clearing houses, accentuated the shortcomings above listed. Increasing operational risks went unobserved – including the extent to which the expansion of transactions outstripped the ability of back offices At the current juncture of the sub-prime crisis, there is already a reasonable outline of what went wrong with financial innovations. Indeed, the originate-todistribute model revealed much intrinsic vulnerability that had been underestimated. However, not many analysts have rushed to decree a “death of securitization”. In a recent well-balanced stocktaking, Jenkinson et al. (2008) remark that: (a) With the benefit of hindsight, we realize now how difficult it had become to establish the pay-off distribution for many complex structured products, with high sensitivity to small macroeconomic landscape changes. to update trading positions. agosto de 2008 “There they come with a new sub-prime-like adventure”, the reader might say. Besides the point that sub-prime clients also deserve to be integrated, and that the baby does not have to be thrown out with the water of recent malfunctions, there is some ground to believe that the development of GILR-Bonds and others in “late securitization” processes may avoid most of the pitfalls of the current US mortgage mess. (g) Information uncertainty, misaligned incentives, and markets with rapidly-vanishing liquidity turned the whole structure of securities liable to amplify adverse shocks coming from primary (“natural”) assets. Notwithstanding those pitfalls associated with the originate-to-distribute model, one may bet on its resurgence, even if in a more frugal lifestyle: simpler-tounderstand and transparent products, standardized and negotiated primarily through clearing houses, with a higher content of risks kept explicitly by originators and issuers, as well as clearer rules governing collaterals. On top of a self-selective market process 11 that will tend to favor such features, it is likely that future financial regulation will give a hand in the same direction. The fact is that the upside aspects of securities are material enough to impede their complete scrapping. agosto de 2008 It is worth noticing that the wild party experienced by securities, followed by a heavy hangover, cannot be explained as a self-contained process. Ultimately, the whole edifice – or castle of cards – was built upon a generalized willingness to overlook risks, as caused or manifested by long enduring “razor-thin credit spreads” (Heise, 2008). Whether those razor-thin credit spreads were to be explained by lax monetary policies and a “Greenspan-put”, or rather by some sort of Hyman Minsky’s shrinking - or suppressed Jenkinson, N.; Penalver, A.; Vause, N. Financial innovation: what have we learnt? Conference on Lessons from the Financial Turmoil of 2007 and 2008. Reserve Bank of Australia, July 14-15, 2008. 1 Originalmente publicado em http://www.rgemonitor.com/ latam-monitor/ - “cushions of safety” as an outcome of the “Great Moderation”, it is hard to put the whole blame of the financial crisis on securitization as such. bottom line “Late securitization” processes may benefit from lessons learnt from the boom-bust experience of pioneers. And indeed the former shall have many opportunities to use a post-crisis generation of securities, among other ends to enlarge microfinance and improve life conditions of poor people. A Group Insured Loss Ratio Bond (GILR-Bond) is just an example. references Canuto, O. Securitization in Latin America: advantages of latecomers. Latin American EconoMonitor, October 01, 2007. [http://www.rgemonitor.com/latam-monitor/] Financial Times (FT). Microfinance commercialization warning. July 29, 2008a. ______. Micro-insurance: cover for those who cannot afford to lose. June 02, 2008b. Heise, M. Securitisation is not dead. Euromoney, July 17, 2008. 12 (*) Vice-Presidente de Países do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Professor (licenciado) do Departamento de Economia da FEA-USP. (E-mail: [email protected]). Thomas Palley (*) scapegoating regulation Many progressives now believe the age of Milton Friedman may be drawing to a close. Their hope is the current financial crisis has shown the costs and dangers of inadequate market regulation, thereby discrediting the anti-regulation philosophy of Milton Friedman and his Chicago School colleagues. 2006 lacks even superficial merit. This is because since 2003 both Fannie and Freddie have had limited asset growth, and Fannie’s assets actually fell significantly after 2003. Moreover, the roots of the crisis lie in the sub-prime market. That is where “no doc” and “zero down” mor- Evidence of the changing times is supposedly provided by Treasury Secretary Paulson’s and Federal Reserve Chairman Bernanke’s public admissions about the need for regulatory change. This tried and tested conservative tactic is already surfacing in the debate surrounding Fannie Mae and Freddie Mac, the giant mortgage financing companies. The conservative argument is government’s provision of an implicit guarantee to Fannie and Freddie distorted the market by giving them subsidized finance. The implication is that this enabled them to pump up the housing bubble, while simultaneously making them the dominant players in the securitized mortgage market. This conservative tactic scapegoats Fannie and Freddie, making them the fall guys for the bubble’s financial excesses, when the true cause was inadequate regulation of mortgage lending and failed macroeconomic policy. The insinuation that Fannie and Freddie were primary movers of the housing market excesses of 2004 – in volume, where losses started, and where the bulk of losses have been so far. Yet, Fannie and Freddie are prevented from financing such mortgage products by their charters. These facts should make clear that Fannie and Freddie did not cause the crisis. Instead, it was driven by loose and negligent lending by banks and Wall Street. That behavior was due to lack of regulatory oversight, combined with a failed incentive system that rewards management and mortgage brokers for pushing loans rather than prudent lending. Such loan pushing was even promoted by conservative animus to Fannie and Freddie, as Wall Street was encouraged to muscle in on the formers’ business. agosto de 2008 Yet the reality is far more complex, and economic conservatives will not roll-over and surrender just because of a financial crisis. Instead, if history is a guide, they will blame regulation for the crisis. That was Milton Friedman’s modus operandi when he launched the modern era of deregulation and animus to government with his false claim that the Fed caused the Great Depression. tgages proliferated, where loan originations exploded That is why the Bush administration sought regulatory limits on Fannie and Freddie’s asset holdings. However, unlike Fannie and Freddie, Wall Street has no legal restrictions on loan quality and opted for gorging on sub-prime. The bubble’s origins lie in the combination of a flawed economic growth paradigm that prompted the Fed to push interest rates too low for too long, plus loose lending by banks and Wall Street. This combination inflicted a huge negative “pecuniary externality” on Fannie and Freddie, driving up house prices in the normally sound mortgage markets they serve. Consequently, they too have been battered by the bubble’s implosion. 13 The bottom line is Fannie and Freddie had little to do with the bubble. That said conservatives raise a legitimate question of how to organize the securitized mortgage market. agosto de 2008 Fannie and Freddie’s implicit government guarantee has helped them lower the cost of mortgage finance, making home ownership more affordable to millions. In effect, the guarantee has made government’s lower borrowing cost available to the public, which is good. The downside is it has made Fannie and Freddie overwhelmingly dominant in the securitized mortgage market. 14 This suggests that in addition to tighter mortgage lending regulation, there is a case for nationalizing Fannie and Freddie on grounds that they are natural monopolies. That is the very opposite of conservative arguments opposing need for tighter regulation and proposing disbanding Fannie and Freddie. That would leave Wall Street unreformed, and make home ownership more expensive by removing the assist provided by access to government’s lower borrowing cost. (*) Thomas Palley is the founder of the Economics for Democratic & Open Societies Project. (E-mail: [email protected]; www.thomaspalley.com). Jaqueline Maria de Oliveira (*) custo efetividade de políticas de redução do tamanho da classe e ampliação da jornada escolar: uma aplicação de estimadores de matching introdução A questão da identificação dos impactos dos gastos em recursos escolares sobre o desempenho educacional tem implicações importantes para a formulação de políticas públicas. No que se refere à avaliação quantitativa deste impacto, como potencialmente a seleção dos insumos escolares empregados no processo educacional é endógena, ou seja, pode estar correlacionada com fatores não observáveis que também interferem no resultado escolar, faz-se necessário o uso de estratégias de identificação do efeito causal desses insumos sobre a proficiência. Além disto, tão A análise que se segue, a ser publicada nesta e na próxima edição deste boletim Informações Fipe, concentrou-se em duas políticas: redução do tamanho da classe e ampliação da jornada escolar. A escolha justifica-se pelo fato de que para essas intervenções, extensamente discutidas na literatura internacional, poucas evidências foram produzidas para o Brasil, embora sejam citadas com freqüência em propostas de formulações de políticas educacionais. Além disto, a disponibilidade de informações torna a análise viável. Assim, o presente estudo tem como objetivo contribuir para a identificação do efeito causal de reduções no tamanho da classe e ampliação da jornada escolar sobre o rendimento escolar em matemática dos estudantes brasileiros da 4ª série do ensino fundamental de escolas de área urbana e que pertençam à rede pública de ensino. Para tanto, os estimadores de Matching foram aplicados aos dados do Sistema de Avaliação do Ensino Básico, o SAEB, referentes ao ano de 2005. Num segundo artigo, a ser publicado na próxima edição deste boletim Informações Fipe, os custos associados a essas duas políticas foram avaliados em contraposição aos benefícios por meio de uma análise de custo efetividade. agosto de 2008 Grande parte dos estudos em economia da educação desenvolvidos no Brasil concentrou-se nos benefícios de se promover anos de estudos adicionais aos indivíduos, considerando ser esta a principal forma de investimento direto em capital humano. Neste sentido, as políticas educacionais voltaram-se principalmente para a expansão do acesso à educação. Contudo, o problema da qualidade do ensino tornou-se recentemente o principal tema de estudos na agenda de pesquisa em economia da educação no País, dado o desempenho insatisfatório dos estudantes brasileiros em testes padronizados. No que se refere à educação pública, o governo tem papel fundamental na trajetória de construção de capital humano de suas crianças, que constituirão parte da força de trabalho futura. E seja qual for o tipo de benefício advindo da educação, a questão a ser levantada refere-se à quantidade de recursos que devem ser investidos e, principalmente, como devem ser investidos, dado que os investimentos em educação se realizam às expensas de alternativas de uso de tais recursos, tanto públicas quanto privadas. importante quanto detectar qual tipo de investimento tem maior impacto é verificar os custos associados a cada intervenção. Trata-se não apenas de identificar se o aumento dos gastos em insumos escolares impacta a proficiência, mas também se os benefícios justificam os custos e em que medida. tamanho da classe, jornada escolar e proficiência Os estudos a respeito do efeito tamanho da classe sobre a proficiência geram resultados bastante dis- 15 agosto de 2008 cordantes. De um lado, alguns autores defendem a idéia de que políticas de redução do tamanho da classe não têm impacto significativo sobre o desempenho do aluno, sendo ao mesmo tempo uma medida bastante cara e por isso ineficiente (Hanushek, 1998; 2002). Contudo, outros especialistas na área afirmam que os ganhos de redução do total de alunos em sala de aula são consideráveis (Krueger, 1999; Finn; AchilLes, 1990; Urquiola, 2000). Se na verdade o número de alunos comportados dentro de uma mesma sala de aula não afeta o seu desempenho, é possível cada vez mais atrair alunos para as escolas, sem se preocupar com perda da qualidade do ensino. Logo, mais recursos poderiam ser direcionados a outros insumos que não salas de aulas reduzidas. Se, por outro lado, o tamanho das salas de aula for fundamental para os objetivos de provimento de uma educação de mais qualidade, isto significa que, para um dado nível de eficiência, o aumento do número de matrículas requer aumento na quantidade de recursos, de forma a se manter ou mesmo ampliar a qualidade do ensino. Como a expansão do acesso ao ensino, principalmente em níveis iniciais, tem sido um objetivo comum dos governos de países em desenvolvimento, esta é uma questão que deve ser levada em conta. Para avaliar as implicações de uma política de redução do tamanho da classe é preciso compreender melhor os mecanismos pelos quais essa variável pode afetar a proficiência. A princípio, existem dois canais pelos quais o acréscimo de um estudante em sala de aula afeta o desempenho: o efeito tamanho da classe e o efeito dos pares (ou peer effect). O primeiro canal pode atuar por meio da redução do “insumo professor” e/ ou pelo “efeito lotação”. O acréscimo de um aluno na classe reduz a quantidade de “insumo professor” destinado a cada aluno individualmente. O “efeito lotação” é talvez o mais comumente associado ao aumento do tamanho da classe. Em uma sala de aula com 40 alunos, por exemplo, o aprendizado pode ser prejudicado pelo aumento das interrupções devido à indisciplina, e o atendimento das necessidades específicas de cada aluno é praticamente inviável. Além disto, classes superlotadas são vistas pelos professores como sobrecarga de trabalho, podendo incentivar 16 faltas e diminuição do esforço por parte desses professores, impactando negativamente a proficiência. O segundo canal é a externalidade gerada pelos pares, conhecido por peer effect. Quando um estudante é adicionado a uma sala de aula, este irá interagir com os demais alunos e, possivelmente, influenciará o desempenho escolar. O argumento é que o acréscimo de um aluno na sala de aula, sendo este diferente de pelo menos um dos demais, pode gerar o que se chama de learning spillovers. E se é verdade que existe uma assimetria em que os piores alunos se beneficiam mais da exposição a bons alunos do que o contrário1, é provável que ao se adicionar um novo aluno diferente dos demais, controlando-se pelo efeito tamanho da classe, as externalidades geradas sejam positivas. Se o aluno adicional fosse igual aos demais em termos de habilidade, então não existiriam learning spillovers e a única forma de este aluno adicional impactar a proficiência seria por meio do efeito tamanho da classe. 2 Diante do exposto, fica claro que estimar o efeito tamanho da classe não é uma tarefa simples. Além das interações entre este efeito e o efeito dos pares, existe o fato de que a alocação dos alunos entre diferentes tamanhos de classe não é exógena, ou seja, é tipicamente correlacionada com fatores não observados que também afetam o desempenho escolar. As fontes de viés de seleção comprometem as conclusões de estudos que não empregam uma estratégia de identificação satisfatória e são fonte de toda controvérsia na literatura discutida anteriormente. O objetivo deste trabalho é tentar amenizar esses problemas por meio da aplicação do Propensity Score Matching para tratamento contínuo. No que se refere à jornada escolar, diversos estudiosos da área de educação advogam a favor da ampliação do tempo de permanência dos alunos na escola e alegam que os benefícios são consideráveis não apenas para os alunos, mas também para a sociedade. A maior permanência dos alunos nas escolas pode reduzir, por exemplo, o trabalho infantil e a marginalidade, além de constituir uma alternativa para as mães que precisam trabalhar durante todo o dia e não têm com quem deixar os seus filhos. Do ponto de vista pedagógico, a extensão do tempo na escola pode possibilitar, dentre outras coisas, mais tempo para trabalhar o conteúdo acadêmico básico, suporte para estudantes com dificuldades de aprendizado, ampliação e aprofundamento da cobertura do currículo, estreitamento da relação entre o aluno e o ambiente escolar, e oportunidade para o desenvolvimento profissional e colaboração entre os professores. Todos estes fatores associados teriam um impacto esperado positivo sobre o desempenho escolar, não apenas no que diz respeito às notas em testes de proficiência, mas também sobre a redução da evasão escolar e da reprovação. Assim como no caso do tamanho da classe, a identificação do efeito da jornada escolar sobre a proficiência pode ser comprometida pelo viés de seleção. Uma vez que a jornada escolar é um insumo escolar e, desta forma, é associada à qualidade da escola, a possível seleção dos alunos com maior habilidade e com pais que valorizam mais a educação de seus filhos em escolas com jornada escolar mais extensa deve ser levada em conta. Do contrário, o efeito da jornada escolar é superestimado. O estimador de Matching também será empregado na tentativa de lidar com este problema. Os estimadores de Matching têm sido utilizados para obter o efeito causal ao reduzir o viés causado pela seleção não-aleatória do tratamento. A técnica de estimação do efeito tratamento baseada em propensity score, também conhecida como estimador de Propensity Score Matching, foi desenvolvida por Rosembaum e Rubin (1983). Essa técnica é aplicada em casos onde o tratamento é binário. Contudo, o método de Generalized Propensity Score Matching (GPS Matching) foi recentemente desenvolvido por Hirano e Imbens (2004). Este método estende a análise de propensity score quando o tratamento é contínuo e permite estimar o efeito tratamento da redução do tamanho da classe. [ ] em apenas uma variável, o propensity score. Esta variável descreve a probabilidade de o indivíduo receber o nível de tratamento t. Para obter o efeito tratamento de um aumento na jornada escolar de quatro para cinco horas, o estimador de Matching utilizado foi o Nearest Neighbor Matching, aplicado quando o tratamento é binário. A lógica do estimador é a mesma. O objetivo é estimar o efeito tratamento médio, dado por E Yi (1) − E Yi (0) onde Yi (1) é o resultado potencial se o indivíduo i recebe o tratamento e Yi (0) é o resultado potencial se o indivíduo não recebe o tratamento. A diferença é que este não se baseia no propensity score, mas sim na distância entre os vetores de covariadas. [ ] [ ] agosto de 2008 metodologia dos potenciais Yi (t ) , para t ∈ ℑ , conhecido como função resposta-à-dose da unidade de análise i. No caso contínuo, ℑ é um intervalo t 0 ,t1 . O objetivo é estimar a função resposta-à-dose média (ARDF), µ (t ) = E Yi (t ) , e obter o efeito tratamento médio (AT E ), µ (t ) − µ (t + ∆t ) = E Yi (t ) − E Yi (t + ∆t ) . Sob a hipótese de inconfundibilidade fraca, ou seja, de que o tratamento é “puramente aleatório” para indivíduos com valores similares das variáveis prétratamento, a idéia básica é comparar os indivíduos que receberam um determinado nível de tratamento t com outros indivíduos na amostra cujas covariadas são similares. Dado que o matching baseado em um vetor n-dimensional é inviável quando n é grande, a metodologia de Propensity Score Matching propõe que as características pré-tratamento sejam sumarizadas fonte de dados e tratamento das variáveis A base de dados utilizada neste trabalho é o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB), coordenado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Os dados, obtidos com a aplicação de provas de matemática e leitura aos alunos da 4ª e 8ª séries do ensino fundamental e da 3ª série do ensino médio, permitem acompanhar a evolução do desempenho e dos diversos fatores associados à qualidade e à efetividade do ensino ministrado nas Suponha que temos uma amostra aleatória i = 1,..., N . Para cada unidade i existe um conjunto de resulta- escolas. O ano de referência dos dados empregados neste trabalho é 2005 e as informações correspondem 17 aos alunos da 4ª série do ensino fundamental. Foram utilizados os resultados dos exames de proficiência em matemática. A variável de resposta é a proficiência em matemática dos alunos da 4ª série do ensino fundamental. O tamanho da classe e a jornada escolar são as variáveis de tratamento de interesse. As variáveis pré-tratamento escolhidas referem-se às características dos alunos, ao background familiar, características dos diretores e professores e da turma, infra-estrutura da escola e localização. A escolha das variáveis baseou-se na necessidade de eliminar as diversas fontes de seleção, sejam estas entre escolas ou dentro das escolas. A amostra que será utilizada nas estimações refere-se aos alunos da 4ª série do ensino fundamental da rede pública, de áreas urbanas, pertencentes aos departamentos administrativos estaduais e municipais. 3 A amostra referente ao Brasil é composta por 29.643 observações. Esses 29.643 alunos estão distribuídos entre 1.523 escolas, 774 estaduais e 749 municipais. resultados A função resposta-à-dose e o efeito tratamento estimados para o tamanho da classe aparecem no gráfico a seguir. Esses resultados foram obtidos pela aplicação da metodologia GPS à amostra de alunos referentes ao Brasil. 1 0 -1 -3 20 30 40 tamanho da classe Resposta-à-Dose 50 Lim. Inferior Lim.Superior Inter. Confiança de .95 % Função resposta-à-dose = previsão linear 18 Função Efeito Tratamento -2 E[proficiência(t+1)]-E[proficiência(t)] 180 160 170 E[proficiência(t)] 10 2 Função Resposta-à-Dose 190 200 agosto de 2008 gráfico 1 - função resposta-à-dose e função efeito tratamento para o tamanho da classe, Brasil, 2005 10 20 30 40 tamanho da classe Efeito Tratamento 50 Lim.Inferior Lim. Superior Inter. Confiança de .95 % Função resposta-à-dose = previsão linear Idealmente, o objetivo é identificar o efeito tamanho da classe controlando pelo peer effect. Contudo, ������ é����� possível que o intervalo de 23 a 30 no tamanho da classe não seja suficientemente pequeno para que o efeito da redução do insumo professor atue, ou suficientemente grande para que o “efeito lotação” prevaleça. Assim, se o GPS Matching não foi capaz de separar esses dois canais, o acréscimo de um aluno no tamanho da classe pode afetar positivamente a proficiência neste intervalo via peer effect. Na tentativa de separar, ou pelo menos amenizar a interação entre o efeito classe e o efeito dos pares, a amostra foi separada em alunos cujo diretor forma as turmas na escola por critério de homogeneidade de rendimento escolar e de heterogeneidade de rendimento.4 O argumento é que, nas turmas homogêneas, os alunos são mais parecidos entre si e, desta forma, o aluno adicional gera menos externalidades (positivas ou negativas) sobre os demais. Desta forma, se o matching consegue isolar o peer effect, então as funções resposta-à-dose não devem ser significativamente diferentes para esses dois grupos de alunos. As funções resposta-à-dose estimadas, bem como as funções efeito tratamento são apresentadas nos Gráficos 2 e 3. gráfico 2 - função resposta-à-dose para o tamanho da classe em turmas homogêneas e heterogêneas, Brasil, 2005 agosto de 2008 19 agosto de 2008 gráfico 3 - função resposta-à-dose para o tamanho da classe em turmas homogêneas e heterogêneas, Brasil, 2005 A função efeito tratamento para a amostra de turmas heterogêneas apresentou o mesmo padrão daquela estimada para toda a amostra. Contudo, analisando a função efeito tratamento para a amostra de alunos em turmas homogêneas, percebe-se que o efeito positivo do aumento do tamanho da classe na faixa de 23 a 30 alunos desaparece. Uma explicação possível para este resultado é que, ao utilizarmos a amostra de turmas homogêneas, conseguimos amenizar o efeito dos com rendimento mais baixo estarão expostos a colegas com maior habilidade e podem se beneficiar de learning spillovers positivos, o que ocorreria em menor grau se as turmas fossem heterogêneas. Se a assimetria é relevante, ou seja, se os piores alunos ganham mais com a exposição aos bons alunos do que esses bons alunos perdem ao serem expostos aos alunos com rendimento inferior, então as turmas heterogêneas geram efeitos positivos sobre o desempenho escolar. pares associado ao acréscimo de mais alunos na sala de aula, de forma que o canal pelo qual o tamanho da classe afetaria positivamente o desempenho escolar é controlado. Apenas a partir de um tamanho de classe superior a 30 alunos o efeito adverso do aumento da classe, o “efeito lotação”, é observado. Para obter o efeito do aumento da jornada escolar de quatro para cinco horas, o estimador de Nearest Neighbor Matching com correção de viés foi utilizado e o ATE estimado é apresentado na Tabela 1. Como explicar o fato de que a proficiência escolar é maior entre os alunos de turmas heterogêneas? Vamos supor que um grupo de 200 alunos com determinada distribuição de habilidade tenham de ser alocados em 10 turmas de 20 alunos cada, de forma que cada turma seja a mais heterogênea possível. Neste caso, os alunos 20 tabela 1 - efeito tratamento médio estimado para o aumento da jornada escolar com base no estimador Nearest Neighbor Matching com correção de viés Num. Obs. = 4.637 Proficiência ATE Coeficiente Desv. Pad. P-valor 8,357 4,435 0,059 Assim, o ATE estimado do aumento da jornada escolar de quatro para cinco horas é de 8,36 pontos na proficiência em matemática, o que corresponde a cerca de 0,20 desvios padrão da distribuição das notas. considerações finais Boa parte dos trabalhos produzidos na área de economia da educação procurou avaliar o impacto dos insumos escolares sobre o desempenho escolar como forma de propor políticas educacionais com o objetivo de melhorar a qualidade do ensino. Esta investigação assume caráter estratégico, uma vez que o provimento desses insumos é o instrumento mais direto à disposição dos responsáveis pela formulação das políticas públicas. Assim, a falta de consenso entre os estudiosos do tema torna necessária a produção de investigações mais profundas sobre a questão, principalmente no que se refere a estudos específicos para o Brasil. Outro resultado importante apresentado neste trabalho é que em termos de rendimento escolar os alunos de classes heterogêneas apresentaram melhor desempenho relativamente àqueles em classes homogêneas. Se os piores alunos ganham mais com a exposição aos bons alunos do que esses bons alunos perdem ao serem expostos aos alunos com rendimento inferior, então as turmas heterogêneas geram efeitos positivos sobre o desempenho escolar. Desta forma, a formação de turmas heterogêneas seria uma das formas de aumentar a proficiência. Os resultados obtidos favorecem a conclusão de que os recursos escolares impactam o desempenho Por fim, se a aplicação dos estimadores de Matching eliminou o viés gerado pela não aleatoriedade do tratamento, isto depende da verificação da hipótese que identifica os resultados do método como o efeito causal das intervenções sobre a proficiência. Em outras palavras, a hipótese de que todas as variáveis pré-tratamento empregadas produziram um bom pareamento dos estudantes não deve ser rejeitada. Contudo, é necessário considerar a possibilidade de que o procedimento aplicado não tenha lidado escolar. O efeito estimado da ampliação da jornada escolar de quatro para cinco horas foi de 8,36 pontos de acréscimo na proficiência em matemática dos alunos da 4ª série, o que corresponde a um movimento de 0,20 desvios padrão na distribuição das notas. No caso do tamanho da classe, a identificação do efeito tratamento é dificultada pela interação entre o efeito tamanho da classe e o efeito dos pares. Na tentativa de lidar com a questão, o efeito tratamento foi estimado considerando-se apenas a amostra de alunos em turmas homogêneas. Houve evidências de um efeito tamanho da classe apenas para turmas a partir completamente com o problema de variáveis nãoobserváveis que afetam a seleção ao tratamento. Um ponto importante a ser considerado, entretanto, é que a direção do viés levaria a subestimar o efeito da redução do tamanho da classe. Como houve evidências de um efeito positivo, pelo menos para classes a partir de 30 alunos, isto sugere que, se o viés não foi eliminado, o efeito da redução do tamanho da classe é pelo menos o encontrado neste trabalho. Por outro lado, no caso da jornada escolar a direção do viés nos levaria a superestimar o efeito do aumento da jornada de quatro para cinco horas. Se o viés não foi agosto de 2008 Neste sentido, o presente trabalho buscou contribuir para o estudo dos determinantes da qualidade da educação no Brasil ao propor a estimação dos efeitos de políticas de redução do tamanho de classe e ampliação da jornada escolar por meio dos estimadores de Matching. Como a seleção dos insumos escolares empregados no processo educacional é possivelmente endógena, utilizou-se o referido método na tentativa de identificar o efeito causal desses insumos, tamanho de classe e jornada escolar, sobre a proficiência. de 30 alunos. A redução do tamanho da classe de 38 para 30 alunos está associada a um aumento de 10,67 pontos, ou equivalentemente a um movimento de 0,26 desvios padrão na distribuição de proficiência. Este resultado é compatível com o efeito classe estimado por alguns trabalhos na literatura sobre tamanho da classe, entre eles Finn e Achilles (1990) – cujo efeito classe estimado está entre 0,13 e 0,27 desvios padrão – e Urquiola (2000) – efeito classe estimado entre 0,17 a 0,26 desvios padrão. 21 eliminado, o efeito desta política seria menor do que o mostrado aqui. 3 Foram excluídos da análise os alunos pertencentes às escolas do departamento administrativo federal, uma vez que acredita-se que essas escolas possuam algumas peculiaridades que as tornam diferentes das demais. referências 4 As amostras de alunos em turmas heterogêneas e homogêneas são compostas por 2.934 e 1.467 observações, respectivamente. DUFLO, Esther; DUPAS, Pascaline; KREMER, Michael. Peer effects, pupil-teacher ratios, and teacher incentives: evidence from a randomized evaluation in Kenya. 2007. 47 p. (Mimeo). FINN, Jeremy D.; ACHILLES, Charles M. Answers and questions about class size: a Statewide experiment. 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Identifying class size effects in developing countries: evidence from rural schools in Bolivia. 2000. 1 Hoxby (2000). 2 Duflo, Dupas e Kremer (2007). 22 (*) Mestre em Economia pelo IPE-USP e doutoranda em Economia pela Yale University. (E-mail: [email protected]). Emilio Chernavsky (*) nota sobre o canal de custos na transmissão da política monetária 1. a taxa de juros e a inflação A política monetária atualmente praticada pelos bancos centrais de um número grande e crescente de países ao redor do mundo tem sido pautada pela adesão ao regime de metas de inflação. Nesse regime, um valor numérico explícito é escolhido e publicamente anunciado como meta a ser perseguida para a taxa de inflação, e um conjunto de práticas e procedimentos é adotado de forma a conferir credibilidade ao compromisso institucional assumido com o alcance dessa meta. A manutenção de uma taxa de inflação baixa e estável é o objetivo central da política monetária ao qual outros eventuais objetivos estão subordinados. Entretanto, pelo menos desde Tooke (1838), um dos fundadores da Banking School, é conhecido na literatura econômica o que foi denominado por Keynes (1983) como paradoxo de Gibson, que se refere à possibilidade de que, contrariamente à visão tradicional, a relação entre a taxa de juros e o nível de preços seja positiva, como identificado nos trabalhos de Gibson no início dos anos 1920 para o caso do Reino Unido durante um período de 200 anos. Nessa situação, choques positivos na taxa de juros são seguidos pela elevação dos preços e a aceleração da taxa de inflação. Na literatura de Vetores Auto-Regressivos, esse efeito é chamado de price puzzle (Eichenbaum, 1992). Evidências de sua ocorrência têm sido efetivamente encontradas em numerosos estudos empíricos recentes tanto para o caso de países desenvolvidos – como, por exemplo, em Christiano et al. (2005), usando dados agregados para os EUA, e em Peersman e Smets (2005), com dados desagregados para onze indústrias em sete países da zona do Euro –, quanto para o caso do Brasil (Cysne, 2004; Ferreira; Castelar, 2006), em trabalhos construídos a partir de modelos VAR que encontram efeitos positivos – embora de pequena magnitude e relativamente curta duração – de choques na taxa de juros sobre a taxa de inflação. agosto de 2008 O principal, quando não único, instrumento de operação da política monetária utilizado pelo Bacen é o controle da taxa nominal básica de juros de curto prazo – no caso brasileiro, a taxa Selic -, manipulada em resposta a desvios da taxa de inflação efetiva ou esperada com relação à meta fixada: assim, diante da percepção da elevação (redução) da taxa de inflação e o aparecimento de um hiato positivo (negativo), o Bacen responde aumentando (diminuindo) a meta da taxa nominal de juros. Se, como proposto em modelos novo-keynesianos (Woodford, 2003) que fundamentam grande parte da teoria monetária moderna, o ajuste dos preços ocorre apenas de forma lenta e gradual, o aumento na taxa nominal conduzirá à elevação da taxa real de juros vigente na economia. Este aumento, por sua vez, provocará a contração de ambas as componentes, do consumo e do investimento, da demanda agregada, reduzindo as pressões inflacionárias correntes e reconduzindo as expectativas de inflação em direção à meta fixada. A eficácia da manipulação da taxa de juros como instrumento central para o controle da inflação e que justificaria sua utilização pressupõe que a elasticidade-juro da demanda e a sensibilidade da taxa de inflação em relação a variações na demanda sejam tais que a relação entre a taxa de juros e a taxa de inflação seja negativa. Se, como sugerido por tais estudos, a relação entre a taxa de juros e a de inflação for de fato positiva, choques positivos na taxa de juros, ao invés de terem por efeito a redução da inflação, resultariam no seu aumento. Isto levaria o Bacen a novas elevações nos juros e à realimentação de um círculo vicioso que faria 23 com que a política adotada fosse contraproducente. É, portanto, fundamental compreender as condições nas quais tal fenômeno pode efetivamente se verificar. agosto de 2008 2. o canal de custos A explicação do paradoxo de Gibson associa-se normalmente ao canal de custos da transmissão da política monetária. Através desse canal, as elevações na taxa de juros provocam o aumento dos custos de produção correntes e esperados das empresas que, quando repassados aos preços que elas fixam, pressionam positivamente a taxa de inflação. O paradoxo está caracterizado quando o efeito da elevação da taxa de juros sobre os custos das firmas, ou seja, seu efeito sobre a oferta, é mais importante – domina – o efeito contracionista normalmente esperado do aumento dos juros sobre a demanda; esta situação é identificada, por exemplo, em estudo de Barth e Ramey (2001) para o caso dos EUA entre 1960 e 1996. Mesmo quando tal situação extrema não é atingida, o impacto das variações da taxa de juros geralmente não será corretamente avaliado se os efeitos que operam através do canal de custos - que tendem a diminuir o impacto dos juros sobre a taxa de inflação e aumentar o choque sobre o produto - não forem incorporados à análise. Estes efeitos podem ser divididos em dois grupos principais: diretos e estruturais. Os efeitos estruturais, que afetam as condições sob as quais os preços reagem às situações de expansão da demanda ao longo do tempo, serão objeto de um segundo artigo sobre o canal de custos a ser publicado proximamente neste boletim Informações Fipe. Os efeitos diretos são aqueles mais freqüentemente abordados pela literatura (Lima; Setterfield, 2008; inter allia) e referem-se ao impacto da elevação da taxa de juros sobre a taxa de inflação que decorre do repasse direto aos preços do aumento dos custos financeiros das empresas, custos cuja relação com a taxa de juros é mais evidente. Numa indústria com estrutura oligopolista como a que caracteriza a maior parte das economias modernas, as firmas fixam seus preços por meio da adição de um mark-up sobre seus custos de produção. Estes custos incluem, além dos custos com salários e matérias-primas, os 24 encargos financeiros relacionados principalmente ao financiamento do capital de giro da empresa – de curto prazo por natureza e, portanto, especialmente suscetível às flutuações da taxa básica de juros –, mas também ao financiamento de seu capital fixo e, de forma cada vez mais freqüente, de fusões e aquisições das quais a empresa participa. Da mesma forma em que são capazes de transferir aos preços o aumento de seus custos salariais (Galbraith, 1958), as firmas oligopolistas procuram repassar diretamente pelo menos parte do aumento em seus custos financeiros decorrente da elevação das taxas básicas de juro. Quando os efeitos deste tipo de comportamento se sobrepõem ao impacto contracionista do aumento dos juros sobre a demanda estabelece-se uma relação positiva entre a taxa de juros e a taxa de inflação, que será tanto mais importante quanto mais intensiva em capital for a estrutura produtiva da firmas presentes na economia. 3. conclusão Neste breve artigo, procurou-se chamar a atenção para a possibilidade de que, em função da operação do canal de custos da política monetária, a relação entre a taxa de juros e a taxa de inflação, de forma contrária ao que é normalmente esperado, possa vir a ser positiva e que, mesmo permanecendo negativa, sua importância possa ser menor do que tradicionalmente se acredita. Foram focalizados aqui os efeitos diretos da elevação da taxa de juros sobre os custos financeiros das firmas – parte de seus custos de produção – que, numa estrutura industrial oligopolista, são repassados aos preços e com isso afetam positivamente a taxa de inflação, eventualmente superando o efeito contracionista que existe sobre a demanda. Como argumentaremos na próxima edição deste boletim Informações Fipe, existem também efeitos estruturais que afetam as condições sob as quais os preços respondem às situações de expansão da demanda ao longo do tempo e que podem igualmente estar na origem de um canal de custos dessa natureza. Conclui-se, ressaltando a importância da análise do canal de custos no desenho e implementação da política monetária de modo a evitar que uma política restritiva (cujo objetivo principal seja o controle da inflação) apresente custos desproporcionalmente elevados ou que, inclusive, se mostre completamente ineficaz. Peersman, G.; Smets, F. The industry effects of monetary policy in the Euro area. Economic Journal, v.115, n.503, p.319342, 2005. Tooke, T. A history of prices, and the state of circulation, from 1793 to 1837. London: Longman, 1838. Woodford, M. Interest and prices. Princeton University Press, 2003. referências Barth, M.J.; Ramey, V.A. The cost channel of monetary transmission. In: Bernanke, B.; Rogoff, K. (eds.) NBER Macroeconomics Annual 2001, Cambridge: MIT Press, 2001. Christiano, L.; Eichenbaum, M.; Evans, C. Nominal rigidities and the dynamic effects of a shock to monetary policy. Journal of Political Economy, 113, p.1-45, 2005. Cysne, R.P. Is there a Price Puzzle in Brazil? An application of Bias-Corrected Bootstrap. Ensaios Econômicos. Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas, n. 577, dez. 2004. Eichenbaum, M. Comment on ‘Interpreting the macroeconomic time series facts: the effects of monetary policy’ by C.A. Sims. European Economic Review, 36, p.1001-1011, 1992. Ferreira, R.T.; Castelar, I. 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(E-mail: [email protected]). agosto de 2008 25 Julio Lucchesi Moraes (*) índices de preços regionais e inflação automotiva: privação material e convergência regional introdução internacionais, portanto, poderiam ser superadas no longo prazo quando todas as regiões tendessem para No último artigo da série de inflação automotiva e um patamar comum, chamado de renda de equilíbrio os índices de preços regionais (IPC-R), discutiremos de longo prazo, ou steady state (Chagas; Toneto algumas proposições teóricas, relacionando os re- Jr., 2003, p. 352). agosto de 2008 sultados do IPC-R calculados para as cidades de São José do Rio Preto e Ribeirão Preto a outros fenômenos Fundamental neste processo, portanto, é a velocidade ligados à economia regional. Discutiremos, primeira- de convergência de cada país: dadas as características mente, alguns aspectos relacionados à convergência e de cada localidade (sobretudo sua taxa de investi- ao conceito de privação material (material hardship). mento, sua taxa de crescimento demográfico e um Em seguida, aventaremos a hipótese de que a alta vetor de outras características iniciais daquela nação), inflação automotiva e os níveis de acessibilidade aos poderíamos inferir quanto tempo (em anos ou mesmo automóveis em São José do Rio Preto, se comparados décadas) cada país demoraria até se estabilizar no à região de Ribeirão Preto, podem estar sugerindo patamar comum aos demais. uma situação de catch-up da região de São José do Rio Preto e, em última análise, um caso de convergência Se em sua proposição inicial Solow pensava num regional. modelo cross-section entre países, a teoria econômica regional permitiu um avanço, adaptando o modelo convergência regional e privação material inicial para um modelo de convergência regional. O trabalho de Azzoni (2001), por exemplo, mostra alguns Os modelos de convergência, que têm na obra de R. resultados referentes à convergência no caso brasilei- Solow Contribuição para a teoria do crescimento, de ro, valendo-se de uma análise das cinco macro-regiões 1956, sua principal fonte teórica, representam uma brasileiras e estimando o tempo que o Nordeste e o das mais debatidas aplicações dos estudos de ma- Norte, as regiões com menores patamares de renda croeconomia internacional e teoria do crescimento. per capita, demorariam até alcançar o patamar do A idéia proposta por Solow é de que (i) países com Centro-Sul. altas taxas de investimento tendem a ser mais ricos, 26 (ii) países com altas taxas de crescimento demográfico Já Chagas e Toneto Jr. (2003) chegam a um nível de tendem a ser mais pobres. O fator crucial dentro do abrangência ainda mais detalhado, propondo um modelo, entretanto, não são os valores fixos de inves- modelo de convergência não mais de escopo interna- timento e de demografia de cada país, mas sim suas cional ou interestadual, mas sim na escala municipal. taxas de crescimento de longo prazo, sendo a taxa de Isso porque, de acordo com os autores, boa parte das progresso técnico a mais decisiva. As disparidades grandes transformações registradas na economia atual vem se desenvolvendo no ambiente urbano pequeno distanciamento entre os valores, de 2002 até ou em suas proximidades. A idéia parece ser de que 2005, de acordo com o PIB dos Municípios do IBGE. mesmo as atividades que se realizam fora dos limites Sob o critério convencional, portanto, não haveria urbanos formais (a agricultura ou as indústrias em re- uma situação de convergência. Por outro lado, a dife- giões mais afastadas, por exemplo) gerariam impactos rença entre a porcentagem de domicílios com acesso significativos não para essas regiões mais distantes, aos automóveis entre as duas cidades, já relativamente mas sim para os centros urbanos, onde a produção pequena em 1991, caiu para um valor ainda menor, seria transacionada e onde morariam os trabalhadores havendo, para o ano de 2000, uma diferença de apenas a ela ligados. 0,3% entre os dois municípios. Tal valor, portanto, estaria refletindo uma situação de convergência pelo O aumento do detalhamento da área de análise, en- critério de privação material, sugerindo que o muni- tretanto, não altera o critério básico de comparação cípio de São José do Rio Preto estaria alcançando o entre as regiões, que é a renda per capita. Numa outra patamar de consumo de Ribeirão Preto. Vimos, por perspectiva sobre a questão aventa-se a hipótese de outro lado, que São José do Rio Preto registrou um que os níveis de renda per capita não seriam a única nível de inflação automotiva bastante superior ao de maneira de analisar padrões de convergência entre Ribeirão Preto. Como explicar tal padrão à luz dos as regiões ou municípios. Recentemente, começa a modelos aqui apresentados? figurar dentro da bibliografia o conceito de material Sem embargo, a alta elevação dos preços de automó- levaria em conta não os critérios de renda familiar, veis pode ser um indício de que, a despeito da con- mas sim de acessibilidade aos bens duráveis quando vergência entre as cidades, as estruturas urbanas (de da comparação entre países e regiões distintas como disponibilidade e comercialização dos automóveis, de um critério mais ajustado de análise (Golgher, transporte urbano etc.) entre as cidades ainda não são 2008). Trata-se de uma abordagem distinta e que iguais. É sabido, por exemplo, que no atual momento permitiria às pesquisas de economia regional analisar do setor automobilístico nacional, o consumo tem casos em que a convergência regional ocorresse sem aumento numa escala superior à produção, sobretudo que o mesmo se verificasse com relação aos padrões de por efeito da expansão do financiamento, conforme renda entre as localidades comparadas (Oullette pode ser visto no gráfico a seguir. A linha contínua et alli, 2004). mostra a evolução da relação vendas/produção 1, enquanto a tracejada mostra, em valores anuais, o convergência e elasticidades dos automóveis agosto de 2008 hardship, traduzido aqui como privação material, que volume total, em milhões de reais de 2005 até 2007, que foram destinados ao financiamento de compra de Vimos no artigo anterior sobre inflação automotiva automóvel. Pode-se imaginar que a situação fora das que a relação PIB per capita entre o município de capitais do País seja ainda mais crítica, em se tratando Ribeirão Preto e São José do Rio Preto tem se man- de abastecimento de carros de um lado e demanda tido relativamente constante, havendo inclusive um por veículos do outro. 27 gráfico 1 - relação venda/produção e volume de financiamento para compra de automóveis no Brasil agosto de 2008 Fonte: ANFAVEA, ANEF, tabulação e tratamento próprios. Vimos, por exemplo, que Ribeirão Preto é uma cidade de maior porte; em termos estruturais isso pode representar a presença de um sistema de transporte urbano mais amplo e disseminado entre a população, maior disponibilidade de concessionárias, enfim, uma situação de menor dependência em relação aos automóveis. Tal discussão pode ser feita à luz do trabalho de De Negri (1998) a respeito das elasticidade-renda e elasticidade-preço dos automóveis no Brasil. Na Tabela 1, o autor reúne os valores de diversos trabalhos a respeito, propondo que a evolução do perfil do consumidor brasileiro e da economia nacional alterou os valores das elasticidades ao longo do tempo, fazendo dos automóveis bens cada vez mais inelásticos. tabela 1 - elasticidade-preço e elasticidade-renda de automóveis no Brasil Ano Elasticidade-renda Elasticidade-preço 1972 6,28 (0,55) a (1,87) 1973 2,46-2,66 -0,37 1985 1,74 - 1988 0,76 -0,98 1993 1,93 -1,63 1998 1,1 - 1,5 (0,6) - (0,7) Fonte: De Negri (1998). 28 O trabalho de De Negri contribui em dois sentidos para as hipóteses aqui levantadas: (i) em primeiro lugar, ao mostrar que os automóveis vêm se tornando cada vez menos sensíveis às variações na renda ou nos preços. Isto é, mesmo numa situação de elevação de preços como de fato está se registrando atualmente no País, o consumo segue se elevando, uma vez que já estaríamos na parte inelástica da curva de demanda; (ii) além disso, ao propor que a elasticidade se altera ao longo do tempo, podemos imaginar que ela também se altere ao longo do espaço: São José do Rio Preto, que estaria numa situação de catch-up em relação a Ribeirão Preto, teria maior dependência em relação aos automóveis e uma estrutura de transporte público e venda de carros de menor porte. Em termos econômicos, isso representaria um padrão de elasticidades menores e, portanto, maior “tolerância” aos aumentos dos preços, o que justificaria valores superiores de inflação automotiva durante todo o período de 2005 a 2008. conclusões Os indicadores de privação material (Material Hardship) podem ser utilizados como uma alternativa quando da comparação da situação socioeconômica entre regiões distintas. Dentro desses modelos, um dos indicadores mais freqüentes é o de acesso a bens duráveis e, dentre estes, a acessibilidade aos automóveis. Se tais modelos ainda não estão suficientemente estruturados para substituir os modelos de convergência regional clássicos, podem ser utilizados de maneira auxiliar para compreender fenômenos locais quando não se observa convergência pelo critério da renda per capita. Vimos, também, que a elasticidade preço e a elasticidade-renda no Brasil são variantes ao longo do tempo, caminhando para se tornar mais inelásticas. Poderíamos então imaginar que a essa tendência se alia, também, uma variação ao longo do espaço, representada por maior dependência de automóveis em São José do Rio Preto quando comparada a Ribeirão Preto, dadas as características urbanas e o tamanho dos dois municípios. Em termos econômicos, esse perfil mais OULLETTE, Tammy; BURSTEIN, Nancy; LONG, David; BEECROFT, Erik. Measures of material hardship. United States Department of Health and Human Services. abr 2004. Disponível em: http://aspe.hhs.gov/hsp/material-hardship04. Acesso em: 14 ago 2008. 1 A série foi dessazonalizada por processo de média móvel. dependente em relação aos carros seria expresso por elasticidades menores e, portanto, maior tolerância a aumentos de preço dos automóveis sem que isso representasse uma diminuição do consumo. referências AZZONI, Carlos Roberto. �������������������������������� Economic growth and regional income inequality in Brazil. The Annals of Regional Science, nº35, 2001, p.133-152. agosto de 2008 CHAGAS, André Luís Squarize; TONETO JR., Rudinei. Fatores determinantes do crescimento local – evidências a partir de dados dos municípios brasileiros para o período 1980-1991. Pesquisa e Planejamento econômico, v. 33, n. 2, ago 2003. DE NEGRI, João Alberto. Elasticidade-renda e elasticidade-preço da demanda de automóveis no Brasil. Brasília: IPEA, abr. 1998 (Texto para discussão, nº558). GOLGHER, André Braz. Poverty in Brazil: income, material hardship and deprivation perception. Trabalho apresentado em RSAI World Congress. São Paulo, Brasil, mar. 2008. (*) Graduando de Economia (FEA-USP) e assistente de pesquisa pela FIPE. (E-mail: [email protected]). 29 Diva Benevides Pinho (*) quais as pinturas “mais desejadas”? O conhecimento das necessidades dos consumidores Mesmo entre especialistas em marketing, alguns econo- e das variações de suas preferências representa item mistas, investidores em arte, marchands ou galeristas, fundamental em qualquer tipo de análise mercado- poucos se dedicam a estudos analíticos do mercado lógica voltada à orientação dos produtores para a de arte. conquista do mercado e o lançamento planejado de “produtos”. Entre 1994 e 1997, entretanto, dois artistas soviéticos naturalizados norte-americanos - Vitaly Komar e Alex No campo da pintura, entretanto, a persistente tradi- Melamid – realizaram ampla e interessante pesquisa ção de liberdade artística ou de liberdade de criação em vários países, para obter informações a respeito do artista tem sido pouco compatível com os estudos das pinturas atualmente “mais desejadas”. agosto de 2008 de marketing, entendidos como orientação para atender às aspirações do mercado. De modo geral, os artistas- Nascidos na então URSS (respectivamente em 1943 e produtores-pintores “rejeitam” considerar o mercado 1945), Komar e Melamid fixaram residência nos EUA. consumidor mais importante do que a obra de arte. Trabalharam juntos de 1973 a 2003 e expuseram obras nos maiores museus norte-americanos e do mundo. Durante muito tempo os artistas foram considerados “gênios” que transcendiam seu meio e sua época e Por meio da Web e com a cooperação de professores deviam “criar” sem nenhuma coerção. universitários nos diversos países pesquisados, Komar e Melamid realizaram surveys em 14 países e reuniram Está, porém, ultrapassado o mito da inspiração di- entrevistas de pessoas de várias profissões, maiores vina e da concepção romântica do gênio artístico de 18 anos. Concomitantemente, com apoio do Dia ou da “criatura excepcional”. E há certo consenso em Center Foundation for the Arts, um site sobre a pesquisa termos de “obviedade” da relação direta entre arte e também foi colocado na Web para receber respostas sociedade. de visitantes. Os excessos das “tentativas” atuais de originalidade, avaliação do survey realizado na França entretanto, levantam a dúvida sobre se os consumidores estão recebendo “o que desejam” ou se realmente “desejam” o que estão recebendo dos artistas. A maioria dos artistas ainda tenta “ignorar” as sofisti- Comentamos aqui apenas a avaliação dos questionários aplicados na França. Os interessados encontrarão informações sobre todos os países pesquisados em <www.diacenter.org/Km/painting.html>. cadas técnicas matemáticas, estatísticas, econômicas, sociológicas e psicológicas aplicadas às pesquisas de mercado para indicação das estratégias de adequação da obra de arte às necessidades reais ou imaginárias dos consumidores. 30 Na França, as questões foram apresentadas por telefone (entre 14 e 19 de junho de 1995) e o survey dirigido por Jean-François Tchernia e Françoise Lebreton. A amostra abrangeu 501 pessoas de 18 anos e mais, com indicação de seu nível de escolaridade, profissão e sexo. As respostas indicaram preferência pela cor azul (39% dos entrevistados), estilo tradicional (60%), ausência de tema religioso (72%), estação do ano (outono 31,76%), lagos, rios, oceanos (25%), campos e cenas rurais (24%), cenas domésticas com pessoas (50,65%), ausência de mensagens e ênfase em temas agradáveis à contemplação (51,78%). Quadro-resumo do survey realizado na França, com destaque dos maiores percentuais de respostas: Questões: BB Se tiver que colocar uma pintura em seu lar, o que você prefere: ââ Cor de uma pintura: 39% azul;17% verde; 5% vermelho; 21% s/r. ââ Estilo tradicional ou moderno? 60% tradicional; 22% moderno; 15% ambos/depende; 3% s/r. ââ Animais selvagens, domésticos ou ambos? 34% selvagens; 16% domésticos; 8% nenhum; 3% s/r. ââ Cenas de interiores ou de exteriores? 69% exteriores; 17% ambas; 10% interiores; 3% s/r. ââ Temas: 25 % lagos, rios, oceanos; 24% campos e cenas rurais; 10% florestas; 2% cidades. ââ Estações do ano: 9% outono; 3% primavera; 14% verão; 3% inverno. ââ Natureza-morta com pessoas (26%); flores (25%); animais (12%); objetos domésticos (4%). ââ Referências religiosas (8%); sem (72%); indiferentes (16%); s/r 4%. ââ Pinturas da realidade, mais próximas da fotografia (69%); abstratas (21%); ambas (8%). ââ Dimensões exageradas e realidade deformada (30%); abstratas, irreais e imaginárias (50%). ââ Padrões geométricos (4%); livre (70%); ambos (12%); s/r (4%). ââ Textura fina (40%); relevo (43%). ââ Atmosfera festiva e feliz (64%); séria (19%); ambas (14%); s/r (4%). ââ Pinturas grandes ou pequenas – do tamanho de TV (62%); indiferente (20%); uma parede inteira (18%). agosto de 2008 ââ Cores com matizes suaves (55%); muito suaves (18%); fortes (11%); s/r (12%); depende (3%). ââ Pinturas com crianças (48%); s/r (32%); mulheres (17%); homens (2%). ââ Um grupo de pessoas (46%); uma só pessoa (27%); depende (19%); s/r (9%). ââ Uma pessoa ou um grupo: parcialmente vestidos (38%); completamente vestidos (27%); depende (22%); nu (6%); s/r (nenhum). BB Se alguém quiser presenteá-lo e pedir-lhe para escolher: você prefere um valor monetário ou uma pintura do mesmo valor? Pintura (47%); dinheiro (41%); s/r (8%); não sei (5%). BB Em média, você vai a museus de arte: nunca (33%); 1 ou 2x/ano (28%); + de 2x/ano (20%); menos de 1x/ano (19%). BB Você vai a museus tantas vezes quanto gostaria? Não (59%), sim (41%) BB Por que você não vai mais freqüentemente a museus? Falta de tempo (50%); distância grande (28%); entrada cara (6%); não gosto (4%); não me sinto bem (2%); s/r (1%). 31 Como se vê, em Paris - cidade do Louvre, do Museu d’Orsay, do revolucionário Pompidou, de múltiplos centros interativos de arte, de grande número de museus especializados e de variados estímulos à cultura artística - metade dos entrevistados alegou falta de tempo para ir a museus “tantas vezes quanto gostaria”. Contudo, 47% revelaram preferir pintura a presente em dinheiro (41%). agosto de 2008 A maioria entrevistada mostrou preferência por cores suaves, figurativismo, cenas domésticas com pessoas, temas bucólicos e repousantes. 32 Será que os problemas das sufocantes megalópoles - congestionamentos quilométricos, poluição, insegurança, entre outros - estão trazendo de volta a oposição entre a utopia de uma feliz vida rural versus estressante vida urbana, que marcaram a primeira metade do século 19? (*) Professora Titular da FEA-USP, economista, advogada e pesquisadora da Fipe. Mais informações sobre o tema deste artigo, cf. o Capítulo 3 de meu estudo Mercado de Arte (São Paulo: Esetec, 2008). (E-mail: [email protected]).