Catálogo completo Full catalog catálogo
Transcrição
Catálogo completo Full catalog catálogo
2014 3rd Ecofalante Environmental Film Festival 2014 3rd Ecofalante Environmental Film Festival A Eaton é uma empresa de gerenciamento de energia, que fornece soluções para seus clientes gerenciarem de forma mais eficiente as energias elétrica, hidráulica e mecânica. Eaton is a power management company that provides its customer solutions for a more efficient management of electrical, hydraulic and mechanical energies. Em 2013, por meio da sua política de responsabilidade social, a Eaton ajudou a viabilizar 27 projetos de cultura, esporte e saúde que possibilitam à população o acesso a conceitos de sustentabilidade, ética e educação, incentivando a inclusão e a diversidade e criando produtos que minimizam o impacto ambiental. In 2013 through its social responsibility policy, Eaton has helped to make feasible 27 culture, sports and health projects that enable people to access the concepts of sustainability, ethics and education, encouraging diversity and inclusion and A empresa conta com aproximadamente creating products that minimize 102.000 funcionários e fornece seus produtos environmental impact. para clientes em mais de 175 países. The company has approximately 102,000 employees and provides Eaton Brasil products to customers in more than 175 countries. Eaton Brasil apresentação introduction A Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental chega à sua terceira edição se consolidando como espaço para exibição de produções audiovisuais de grande qualidade e sua vocação para promover o debate sobre questões presentes em nosso dia a dia. Realizadores, cientistas, ativistas, gestores públicos, enfim, discorrem sobre estas questões a partir de filmes de diferentes nacionalidades, a maioria deles inéditos no Brasil. O objetivo principal da Mostra, criada em 2012, é trazer ao público filmes que somem qualidade cinematográfica e análise de questões ambientais, bem como facilitar o acesso às discussões propostas pelas produções audiovisuais que são, independentemente da nacionalidade dos filmes, presentes em todo o mundo em diferentes escalas e tons locais. Esta 3a edição traz duas novidades importantes. Pela primeira vez vamos premiar o melhor filme latino americano da programação, buscando incentivar a produção, o intercâmbio e o debate entre realizadores dessa região. Foram recebidas inscrições de quase todos os países da América Latina e um júri composto por três renomados profissionais do setor ambiental e audiovisual selecionará o melhor dentre um universo de 13 filmes que foram selecionados para a Mostra. O público poderá também escolher o melhor filme. Outro ponto importante é a realização de um circuito universitário com a exibição de filmes em instituições de ensino superior, cujo objetivo é levar informação aos futuros tomadores The Ecofalante Environmental Film Festival reaches its third edition consolidating itself as an exhibition space for audiovisual products of great quality and for its commitment to promote debate on issues present in our everyday life. Producers, scientists, activists, public management, finally, discuss these issues raised in movies of different nationalities, most of them unheard in Brazil. The main objective of the Film Festival, created in 2012, is to bring to the public movies that add cinematic quality and analysis of environmental issues, also facilitating the access to discussions offered by the audiovisual productions that are, regardless of the movies nationality, present all over the world at different scales and locations tones. This 3rd edition brings two important novelties. For the first time it will be rewarded the best Latin American movie of the exhibition, seeking to encourage the production, the exchanging and debate among filmmakers of this region. There has been enrollment of almost every country in Latin America and a jury consisting of three recognized professionals in the environmental and audiovisual sector will select the best among a universe of 13 movies which were selected for the exhibition. The public can also choose the best movie. Another important point is the implementation of a college circuit with exhibition of movies in higher education institutions, whose goal is to bring information to future decision makers, thus contributing to foster the debate, improvement and even to audiovisual production in universities offering courses in the area. Universidade de São Paulo - USP (São Paulo Univercity), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC (Catholic University), Cásper Líbero, Universidade São Judas de decisão, contribuindo ainda para fomentar o debate, a formação de público e até mesmo a produção audiovisual nas universidades que oferecem cursos na área. Participam do Circuito Universidade de São Paulo (USP), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Cásper Líbero, Universidade São Judas Tadeu (USJT) e Universidade Presbiteriana Mackenzie. Sessões especiais para escolas acontecem no Museu da Imagem e do Som – MIS, buscando levar o debate também para estudantes de diversos colégios e estimular a formação de público. A realização da 3a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental é possível graças ao Programa de Apoio à Cultura – ProAC – do Governo do Estado de São Paulo, através do qual patrocinam o projeto Eaton e White Martins. O evento conta com apoio do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), Programa de Pós-Gradução em Ciência Ambiental da USP (Procam), Instituto de Estudos Avançados da USP, Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da USP, Centro Universitário Maria Antônia, Cinusp, Secretaria Municipal de Cultura, Centro Cultural São Paulo, Galeria Olido, Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas, Rede Nossa São Paulo, Instituto Pólis, Instituto Pepsico, Matilha Cultural, Le Monde Diplomatique Brasil, Revista Piauí, Envolverde, Rádio Eldorado, Rádio Estadão e Catraca Livre. Tadeu - USJT (Saint Jude University) and Universidade Presbiteriana Mackenzie (Mackenzie Presbyterian University) participate in the contest. Special sessions for schools also happen at Image and Sound Museum - MIS, in order to bring the debate for students of several colleges and to stimulate the public development. The 3rd Ecofalante Environmental Film Festival is made possible thanks to the Cultural Support Program - ProAC of São Paulo, which allows the sponsorship of Eaton and Praxair. The event has also the support of Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente - PNUMA (The United Nations Environment Program), Programa de Pós-Gradução em Ciência Ambiental da USP Procam (The Post graduation program in Environmental Science of USP), Instituto de Estudos Avançados da USP - Procam (Institute for Advanced Studies of USP), Dean of Culture and University Extension of USP, Centro Universitárrio Maria Antonia - CINUSP (University Center Maria Antonia, Secretaria Municipal de Cultura (Municipal Culture Secretariat), Centro Cultural São Paulo (São Paulo Cultural Center, Olido Gallery, Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (Center for Sustainability Studies of Getulio Vargas Foundation), Rede Nossa São Paulo, Polis Institute, Pepsico Institute, Matilha Cultural, Le Monde Diplomatique Brazil, Revista Piauí (Piauí Magazine), Envolverde, Eldorado Radio, Radio Estadão and Catraca Livre . a mostra the festival E m sua terceira edição, a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental consolida a proposta curatorial que propõe um recorte aliando qualidade técnica e artística das obras e a discussão dos mais urgentes temas socioambientais. Assim, em 2014 estão presentes na programação produções recentes que se destacaram não só em importantes vitrines do segmento como os festivais CinemAmbiente (Turim), DC Environmental (Washington, DC), Planet in Focus (Toronto) e FIFE (Paris), entre outros – ou nos mais renomados eventos dedicados à não-ficção (IDFA Amsterdã, FID Marseille, Hot Docs Toronto, DOK Leipzig etc), mas também em eventos do porte dos festivais de Cannes, Berlim, Veneza, Toronto, Roterdã, Locarno e Sundance. Fruto de um abrangente processo de pesquisa e visionamento realizado ao longo de meses, foram considerados pelo comitê de seleção e curadoria um total aproximado de 1.200 títulos. Cidades, energia, economia, campo e povos e lugares - estes, os cinco eixos temáticos que In its third edition, the Ecofalante Environmental Film Festival consolidates the curatorial proposal, which proposes a clipping combining technical and artistic quality of the works and discussion of the most pressing environmental issues. Thus, in 2014 the programming presents the recent productions that have excelled not only in important showcases of the market – as well as the festivals CinemAmbiente (Turin), DC Environmental (Washington, DC), Planet on Focus (Toronto) and FIFE (Paris), among others - or the most recognized events dedicated to nonfiction (IDFA Amsterdam, FID Marseille, Hot Docs Toronto, DOK Leipzig, etc), but also in events in the size of Cannes, Berlin, Venice, Toronto, Rotterdam, Locarno and Sundance Festivals. Resulting from an extensive process of research and viewing carried out for months, it was considered by the selection and curator committee around 1,200 titles in total. Cities, energy, economy, country and people and places - these are the five thematic axis that organize the contemporary movies. Around them, there are discussions with experts, a hallmark of Ecofalante Environmental Film Festival. Novelty in the programming there is a competition dedicated to the Latin American cinematography, a debut in this edition. Argentina, Bolivia, Brazil, Chile, Ecuador, Mexico, Peru and Uruguay are represented, which demonstrates the potential of this new section . The honoree this year is the Washington Novaes, a journalist organizam os filmes contemporâneos. Em with over 50 years of experience torno deles, são promovidos debates com espe- and interaction on indigenous cialistas, uma das marcas da Mostra Ecofalante peoples and environmental issues, de Cinema Ambiental. internationally recognized. With Novidade na programação, estreia nesta more than a dozen published books, edição uma competição dedicada à cinema- Novaes has its audiovisual work tografia latino americana. Estão representa- awarded at Movies and Television dos Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Equador, festivals in New York and Seoul. México, Peru e Uruguai, o que demonstra a He also received the International potencialidade desta nova seção. Award for Journalism Spanish King O homenageado do ano é o jornalista and the UNESCO Prize for the Washington Novaes, com mais de 50 anos Environment, besides deserving de profissão e de atuação em temas de meio special room at the Venice Biennale. ambiente e povos indígenas internacionalmente The historical retrospective is reconhecida. Com mais de uma dezena de livros dedicated to Japanese filmmaker publicados, Novaes tem sua obra audiovisual Kaneto Shindo (1912 - 2012). premiada nos festivais de cinema e televisão Responsible for directing 49 de Nova York e Seul. Recebeu ainda o Prêmio films, including the powerful Internacional de Jornalismo Rei de Espanha e and disconcerting masterpiece o Prêmio Unesco de Meio Ambiente, além de “Children of Hiroshima” (1952) , merecer sala especial na Bienal de Veneza. Shindo impressed generations of A retrospectiva histórica é dedicada ao Brazilian moviegoers with “The cineasta japonês Kaneto Shindo (1912-2012). Naked Island” (1960), which won Responsável pela direção de 49 filmes, entre the country ‘s ranking for best eles a obra-prima poderosa e desconcertante picture for consecutive months, “Filhos de Hiroshima” (1952), Shindo mar- surprising the specialized criticism cou gerações de cinéfilos brasileiros com “A for its revolutionary language. It will Ilha Nua” (1960), que conquistou no país o also be shown “Dragon Felizardo ranking de melhor filme por meses consecu- Nr. 5” (1959), “The Man” (1962), tivos, surpreendendo a crítica especializada “The Mother” (1963) and “Onibaba por sua linguagem revolucionária. Também - The Devil Woman” (1964), all in são exibidos “Dragão Felizardo no 5” (1959), 35mm prints . “O Homem” (1962), “A Mãe” (1963) e The programming is followed by a “Onibaba – A Mulher Demônio” (1964), todos section celebrating World Water Day em cópias 35mm. (March 22) and special projections Completa a programação uma sessão cele- for schools session - dedicated brando o Dia Mundial da Água (22 de março) to the last 2 years of Elementary e projeções especiais para escolas - voltadas School and also High School. às últimas séries do Fundamental 2 e para o The Ecofalante Environmental ensino médio. Film Festival thus reaffirms its A Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental commitment to contribute not reafirma, assim, seu compromisso de contri- only to the dissemination of buir não apenas para a difusão de importan- important films, but also for the tes obras cinematográficas, mas também para enrichment of the discussions, o enriquecimento das discussões, inevitáveis inevitable and unavoidable, about e inadiáveis, sobre sustentabilidade e meio sustainability and the environment ambiente no Brasil e no mundo. in Brazil and worldwide. índice index 12 campo countryside 24 cidades cities 40 economia economy 52 energia energy 74 povos e lugares people and places 92 especial dia da água water day special program 94 competição latino-americana latin american competition 112 panorama histórico historical panorama 132 homenagem tribute 154 mostra escola/circuito universitário school/university showcase 156 programação program índice por filmes index by films 98 74 Metros Quadrados 74 Square Meters 151 Amazonas, A Pátria da Água Amazonas, Water Nation 99 Amazônia Desconhecida Unknown Amazon 100 Apocalipse de Verão Summer Apocalypse 46 Blackfish - Fúria Animal Blackfish 101 Chapada do Apodi, Morte e Vida Apodi’s Plateau, Death and Life 84 Costa da Morte Coast of Death 85 A Criação Como a Vimos The Creation As We Saw It 30 De Para From To 86 Defensores do Ártico Arctic Defenders 153 Desafio do Lixo Trash Challenge 66 Desconectado Powerless 102 Deserto Verde Green Desert The Naked Island 127 Dragão Felizardo no 5 Lucky Dragon n 5 o 31 Ecumenópolis: A Cidade Sem Limites Ecumenopolis: City Without Limits 32 A Escala Humana The Human Scale 47 Febre do Ouro Gold Fever 48 Figurões Big Men 126 Filhos de Hiroshima Children of Hiroshima 88 Floresta dos Espíritos Dançarinos Forest of the Dancing Spirits 33 Fora de Quadro Out of Frame 68 Fukushima: Um Registro de Coisas Vivas Fukushima: A Record of Living Things 34 Guerra de Areia Sand Wars 89 Homem Máquina Machine Man 17 O Homem Vaca The Moo Men 128 A Ilha Nua 69 Jornada ao Local Mais Seguro da Terra Journey to the Safest Place on Earth 35 Lamento de Yumen Lament of Yumen 18 Lamento dos Camponeses Farmer’s Blues 19 A Lenda de Iya The Tale of Iya 103 Linear Linear 130 A Mãe Mother 93 Marca d’Água Watermark 70 Metamorphosen Metamorphosen 49 Montanhas Enevoadas Cloudy Mountains 104 Nahuas, 20 Anos Depois Nahuas, 20 Years Later 105 Não Há Lugar Distante No Place is Far Away 36 Nature House Inc. Nature House Inc. 129 O Homem Human 131 Onibaba A Mulher Demônio Onibaba 106 Paal Child 108 Pacha Pacha 93 Paulicéia Canta, TY-ETÊ Pauliceia Sings: TY-ETÊ 50 Planeta RE:pense Planet RE:think 71 Promessa de Pandora Pandora’s Promise 20 A Quinta Estação The Fifth Season 72 A Revolução do Lítio The Lithium Revolution 90 Um Rio Muda de Curso A River Changes Course 109 As Ruas da Minha Cidade The Street of My City 110 Seca Drought 37 Sempre Fui um Sonhador I have Always Been a Dreamer 38 A Sídrome de Veneza The Venice Syndrome 21 Sinfonia do Solo Symphony of the Soil 22 Somos Todos Cobaias? All of Us Guinea Pigs Now? 51 Os Sub-humanos Redemption Impossible 73 Terra da Esperança The Land of Hope 39 Tóquio Waka Tokio Waka 155 Trashed - Para Onde Vai o Nosso Lixo Trashed - No Place for Waste 111 O Último Mercador de Gelo The Last Ice Merchant 91 Vila no Fim do Mundo Village at the End of the World 23 Vozes da Transição Voices of Transition 152 Xingu - A Terra Mágica Xingu – Magical Land 152 Xingu - A Terra Ameaçada Xingu – Threatened Land Dois séculos movimentados Denis Russo Burgierman campo countryside Two busy centuries Denis Russo Burgierman There’s one thing no one can deny : the century that is over was a busy one. Some might say they have been the 100 most productive years in the history of man on earth. Others will assert the opposite: that was the most destructive period of all times. And there is truth in both statements. If we come back 100 years into the past until 1914, we would find in a suburb on north of Detroit a factory called Ford, putting to work for the first time an invention of the last year: the assembly line. Across from the Atlantic, in a German town on the edge of the Rhine called Ludwigshafen , another factory, called Basf, began to produce ammonia industrially. These two inventions of 1913, that started to be reproduced in Uma coisa ninguém há de negar: este que passou foi um século movimentado. Haverá quem diga que foram os 100 anos mais produtivos da História do Homem sobre a Terra. Outros afirmarão o contrário: que foi o período mais destrutivo de todos os tempos. E há verdade nas duas afirmações. Se voltássemos 100 anos rumo ao passado, até 1914, encontraríamos num subúrbio ao norte de Detroit uma fábrica chamada Ford, pondo para funcionar pela primeira vez uma invenção do final do ano anterior: a linha de montagem. Do outro lado do Atlântico, numa cidadezinha alemã à beira do Rio Reno chamada Ludwigshafen, outra fábrica, essa chamada Basf, começava a produzir amônia industrialmente. Essas duas invenções de 1913, reproduzidas em massa a partir de 1914, colocariam o mundo na era da escala. O processo desenvolvido pela Ford aumentaria descomunalmente a capacidade produtiva da humanidade. O fertilizante desenvolvido por Carl Bosch na Basf serviria de base para o fenômeno que décadas depois ficaria conhecido como Revolução Verde – a industrialização da produção agrícola. Ninguém nega a importância dessas duas descobertas. Graças a elas, a população humana saltou de pouco menos de 2 bilhões de pessoas em 1914 para mais de 7 bilhões hoje – um aumento tão mastodôntico que é até difícil de conceber. Nunca antes a humanidade viveu tanto, soube tanto, produziu tanto, consumiu tanto, acumulou tanto. Mas esse ganho impressionante de escala teve consequências, e a seleção de filmes da 3a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental traz campo countryside 13 No movimentado século que passou, a humanidade investiu todas as suas fichas em escala. O resultado foi um desequilíbrio que levou a um colapso da complexidade. um monte de exemplos disso – uns mais poéticos, uns mais políticos, uns fictícios, outros dolorosamente reais. Basicamente todos os grande ciclos complexos sobre os quais nossa existência se apoia foram rompidos: o da água, o dos nutrientes, o do clima. A perplexidade pela quebra desses ciclos é o tema da surreal ficção belga A Quinta Estação (The Fifth Season), na qual a primavera simplesmente deixa de chegar quando o inverno termina. As sementes não germinam, as abelhas desaparecem, as vacas não dão leite – tornando a humanidade inviável. Segundo a ciência da complexidade, tudo aquilo que é complexo tem necessariamente duas características: escala e complexidade. Só que tem uma pegadinha aí. Quando se investe em escala, a complexidade é afetada, e vice-versa. Há um trade-off entre as duas coisas. No movimentado século que passou, a humanidade investiu todas as suas fichas em escala. O resultado foi um desequilíbrio que levou a um colapso da complexidade. Passamos décadas comemorando aumentos de produtividade de 200%, 500%, 1.000%. Diante desses ganhos enormes, as perdas A Quinta Estação The Fifth Season mass from 1914, would put the world in the era of scale. The process developed by Ford would increase in extraordinary ways the productivity of the mankind. The fertilizer developed by Carl Bosch at BASF would serve as the basis for the phenomenon that decades later would be known as the Green Revolution - the industrialization of agricultural production. No one denies the importance of these two discoveries. Thanks to them, the human population jumped from just under 2 billion people in 1914 to over 7 billion today – such a mammoth increase which is even difficult to conceive. Never before has mankind lived so long, learned so much, produced so much, consumed so much, accumulated so much. But this impressive gain of scale had consequences and the selection of films for the 3rd Ecofalante Environmental Film Festival brings a lot of examples of this: some of them more poetic, others more political, some of them fictional and others painfully real. Basically every large complex cycles in which our existence relies over have been broken: the water, the nutrients, the climate. The perplexity of breaking these cycles is the subject of the surreal Belgian Fiction Fifth Season, in which the spring simply ceases to arrive when the winter ends. The seeds do not germinate, the bees disappear, the cows do not produce milk – making the mankind unfeasible. According to the science of complexity, all that is complex has necessarily two characteristics : scale and complexity. But there is a prank there. When investing in scale, microscópicas de complexidade pareciam irrelevantes. Mas elas foram se acumulando por 100 anos e hoje basta olhar ao redor para perceber o tamanho do problema. Enchentes, câncer, poluição, guerras, furacões, loucura, desmoronamentos, enfartes, obesidade, desnutrição, doenças degenerativas, engarrafamentos, perda de sentido de tudo. Dos filmes da mostra, o belo Sinfonia do Solo (Simphony of the Soil) fala explicitamente disso. O documentário pacientemente revela a incrível complexidade do solo terrestre, segundo o filme “a interface entre a geologia e a biologia”, já que é a forma como os minérios da Terra transformam-se nos nutrientes que tornam possível que haja vida no planeta. E contrapõe essa riqueza incrivelmente multifacetada à monotonia da produção agrícola industrial, que há meio século converte complexidade em escala. Outro olhar sobre a mesma questão é o do filme Lamento dos Camponeses (Farmer’s Blues), um retrato de uma espécie em extinção na Europa: o pequeno fazendeiro, substituído no mundo da escala por uma economia industrial, financeira. Se o século que está se fechando em 2014 foi o da escala, aquele que vem em seguida precisa ser o da complexidade, para que nossos sistemas voltem ao equilíbrio. Por sorte, a tecnologia fundamental para que isso seja possível já existe: a conexão em rede entre todos os habitantes da Terra. Escala se produz em hierarquias, como aquelas que vigoravam na Ford e na Basf. Mas complexidade só surge quando há uma grande quantidade de indivíduos ligados em rede, algo que só agora é possível. Se os protagonistas do século que passou foram grandes chefes da indústria como Henry Ford e Carl Bosch, comandantes de hierarquias, os protagonistas do século In the busy century that has finished, mankind has invested all the chips in scale. The result was an imbalance that led to a collapse of complexity. complexity is affected and vice versa. There is a trade-off between these two things. In the busy century that has finished, mankind has invested all the chips in scale. The result was an imbalance that led to a collapse of complexity. We spent decades celebrating productivity increases of 200%, 500%, 1,000%. Given these huge gains, microscopic losses of complexity seemed irrelevant. But they have been accumulating for 100 years and today just looking around it is possible to realize the size of the problem. Floods, cancer, pollution, wars, hurricanes, madness, landslides, strokes, obesity, malnutrition, degenerative diseases, congestion, loss of sense in everything. Regarding the Environmental Film Festival, the beautiful movie – Symphony of the Soil – talks clearly about it. The documentary patiently reveals the incredible complexity of the Earth’s soil, according to the movie “the interface between geology and biology” since that’s how the minerals of the earth become the nutrients that makes life on the planet possible. And this incredibly multifaceted richness contrasts to the monotony of industrial agricultural production, which for half a century converts complexity into scale . Another look at the same issue is the movie Farmer’s Blues, a portrait of an endangered species in Europe : the small farmer, replaced in worldwide scale by industrial and financial economy. If the century that is closing in 2014 was focused in scale, the next one is supposed to be in complexity, so that our systems can go back campo countryside 15 It is not a great invention of scale that will save us – it will be millions of small complex inventions that will redeem the diversity lost in the world. que se apresenta serão milhares de indivíduos autônomos, nós de rede, encontrando soluções locais para problemas locais. Se queremos voltar a viver num mundo em equilíbrio, o próximo século terá que ser pelo menos tão movimentado quanto o que passou – talvez mais. Não é uma grande invenção de escala que vai nos salvar – serão milhões de pequenas invenções complexas que resgatarão a diversidade perdida no mundo. A Mostra Ecofalante deste ano não tem a solução para todos os nossos problemas, mas traz algumas dezenas de pequenas histórias redentoras, espalhadas por seus filmes. Nossa esperança está no acúmulo de mais e mais dessas histórias. Denis Russo Burgierman tem 40 anos e é diretor de redação da revista Superinteressante. Autor de livros como Piratas no Fim do Mundo, sobre a caça a baleias na Antárica, e O Fim da Guerra, sobre o futuro das políticas de drogas, foi curador do TEDxAmazônia e do TEDxSão Paulo. Escreve sobre sistemas complexos e mantém o blog Mundo Novo. Movimenta-se entre uma tarefa e outra de bicicleta. Não é uma grande invenção de escala que vai nos salvar – serão milhões de pequenas invenções complexas que resgatarão a diversidade perdida no mundo. into balance. Luckily, the fundamental technology to make this possible already exists : the networking among all the inhabitants of the earth. Scale is produced in hierarchies , such as those that prevailed at Ford and BASF. But complexity arises only when there are a lot of individuals connected in a network, something that is only possible now. If the protagonists of the past century were great leaders of industry like Henry Ford and Carl Bosch, masters of hierarchies, the protagonists of the century now are thousands of autonomous individuals, network nodes, finding local solutions to local problems. If we want to come back to live in a balanced world, the next century will have to be at least as busy as now - maybe more. It is not a great invention of scale that will save us – it will be millions of small complex inventions that will redeem the diversity lost in the world. The Ecofalante Film Festival this year does not have the solution for all our problems, but brings dozens of small redemptive stories spread over their films. Our hope is in the accumulation of more and more stories like these O Homem Vaca The Moo Men Reino Unido, 2013, 98’ DIREÇÃO DIRECTOR Andy Heathcote, Heike Bachelier PRODUÇÃO PRODUCER Andy Heathcote, Heike Bachelier FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Andy Heathcote EDIÇÃO EDITOR O leiteiro Stephen Hook decide ignorar os supermercados e vender diretamente a seus clientes seu leite orgânico. Ele espera, permanecendo pequeno, conseguir manter o ótimo relacionamento que possui com suas 55 vacas, em especial com Ida, a rainha de seu rebanho. O resultado é uma história surpreendentemente engraçada e emotiva sobre os incríveis laços entre fazendeiro, animal e campo em uma Inglaterra que vem desaparecendo rapidamente. Heike Bachelier Dairy farmer Stephen Hook decides to turn his back on the cost cutting supermarkets and instead sell his milk raw and direct. He hopes that by staying small he can keep the great relationship he has with his 55 cows, especially with Ida, the queen of his herd. The result is a surprisingly funny, heart warming tearjerker about the incredible bonds between farmer, animal and countryside in a fast disappearing England. Denis Russo Burgierman is 40 years old and is the Managing Editor for Superinteressante Magazine. Author of several books such as Piratas no Fim do Mundo “ (Pirates in the End of the World) about the whales hunting in Antárica, and “O Fim da Guerra” (The End of War) about the future of drug policy. He was curator of TEDx Amazon and TEDx São Paulo. He writes about complex systems and maintains the New World blog. He moves between one task and another by bike. campo countryside 17 Lamento dos Camponeses A Lenda de Iya Luxemburgo, 2011, 71’ Um túnel a ser construído em Iya, última região intocada do Japão, ameaça o funcionamento natural da vida na região. Um homem DIREÇÃO DIRECTOR idoso e sua neta, Haruna, encontram um Tetsuichiro Tsuta jovem de Tóquio, o avô começa a adoecer e PRODUÇÃO PRODUCER sua pacífica vida de contos de fadas parece Tetsuichiro Tsuta estar chegando ao fim. The Tale of Iya Japão, 2013, 169’ Farmer’s Blues Nos últimos 150 anos a produção agrícola luxemburguesa tornou-se irreconhecível, com uma queda na taxa DIREÇÃO DIRECTOR de emprego de mais de 60%. Com este declínio como Julie Schroell pano de fundo, Julie Schroell parte em busca dos últi- PRODUÇÃO PRODUCER mos agricultores restantes no país, ao mesmo tempo Viviane Thill em que explora os efeitos da industrialização, a política FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER de subsídios da UE e a ascensão da agricultura orgânica. Laurent Van Eijs EDIÇÃO EDITOR In the last 150 years luxembourgish agricultural production Anne Schroeder, has changed beyond recognition, with a fall in employment Isabel Bento dos Reis of over 60%. With this decline as a backdrop, Julie Schroell set out to track down the last remaining farmers in the country, and explores the affects of industrialisation, the EU’s subsidy policy and the rise of organic farming. ROTEIRO WRITER Tetsuichiro Tsuta A tunnel to be built in Iya, Japan’s last FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER untouched region, threatens to disrupt Yutaka Aoki the natural order. An elderly man and his EDIÇÃO EDITOR granddaughter Haruna meet a young man from Tetsuichiro Tsuta Tokyo, Grandpa starts loosing his health, and ELENCO CAST their peaceful, fairytale-like life starts coming to Rina Takeda, Min Tanaka an end. e Shima Ohnishi campo countryside 19 Sinfonia do Solo A Quinta Estação Symphony of the Soil The Fifth Season EUA, 2012, 104’ França/ Holanda/ Bélgica, 2012, 93’ Uma misteriosa calamidade ataca: a primavera não chega. O ciclo da natureza está quebrado. Alice e Thomas, dois adolescentes que vivem em uma vila belga no coração da floresta de Ardennes, lutam para dar sentido ao mundo que está desmoronando ao seu redor. O filme analisa nossa relação com o solo, seu uso e abuso na agricultura, desmatamento e desenvolvimento, Deborah Koons Garcia e as últimas pesquisas científicas sobre o papel fundaPRODUÇÃO PRODUCER mental do solo na melhoria das questões ambientais Deborah Koons Garcia mais desafiadoras de nosso tempo. Ao compreender as ROTEIRO WRITER relações elaboradas e mútuas entre o solo, água, atmosDeborah Koons Garcia fera, plantas e animais, passamos a apreciar a natureza FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER complexa e dinâmica deste recurso precioso. DIREÇÃO DIRECTOR DIREÇÃO DIRECTOR Peter Brosens e Jessica Woodworth PRODUÇÃO PRODUCER Peter Brosens, Jessica Woodworth, Diana Elbaum, Sébastien Delloye, Joop van Wijk, JB Macrander e Philippe Avril A mysterious calamity strikes: spring refuses ROTEIRO WRITER to come. The cycle of nature is capsized. Alice Peter Brosens e Jessica Woodworth and Thomas, two teenagers living in a Belgian FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER village deep in the Ardennes forest, struggle Hans Bruch Jr. to make sense of the world that is collapsing EDIÇÃO EDITOR around them. Jessica Woodworth ELENCO CAST Aurélia Poirier, Django Schrevens, Sam Louwyck e Gill Vancompernolle John Chater EDIÇÃO EDITOR The film examines our human relationship with soil, the Vivien Hillgrove use and misuse of soil in agriculture, deforestation and development, and the latest scientific research on soil’s key role in ameliorating the most challenging environmental issues of our time. By understanding the elaborate relationships and mutuality between soil, water, the atmosphere, plants and animals, we come to appreciate the complex and dynamic nature of this precious resource. A Lenda de Iya The Tale of Iya campo countryside 21 Vozes da Transição Somos Todos Cobaias? Voices of Transition All of Us Guinea Pigs Now? França, 2011, 66’ França, 2012, 118’ Como é possível que os transgênicos agrícolas estejam nos campos e nos pratos quando eles foram testados por apenas DIREÇÃO DIRECTOR três meses em ratos? Como é possível que Jean-Paul Jaud a energia nuclear ainda seja a energia do PRODUÇÃO PRODUCER futuro quando já vivenciamos Chernobyl e Béatrice Jaud e Fukushima? Serão as conclusões devastado- Lucile Moura ras? ROTEIRO WRITER Jean-Paul Jaud How is it possible that agricultural GMOs are FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER in the fields and in the plates when they were Cyril Thépenier tested for only three months on rats? How is it EDIÇÃO EDITOR possible that nuclear energy is still the energy Vincent Delorme of the future when men have lived Chernobyl and Fukushima? Would the conclusions be devastating? Como iremos manter nossa alimentação no futuro? Quais são as alternativas DIREÇÃO DIRECTOR à agricultura industrial? Como podemos Nils Aguilar fazer uma transição para um sistema ecoPRODUÇÃO PRODUCER nômico verdadeiramente resistente? Nils Aguilar Vozes da Transição discute tais questões ROTEIRO WRITER e apresenta respostas inspiradoras. Nils Aguilar FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER How can we feed ourselves in the future? Jérôme Polidor What alternatives are there to industrial EDIÇÃO EDITOR agriculture? How can we make the transition Nicolas Servide e Nils to a relocalised, truly resilient economic system? Aguilar Voices of Transition poses these questions – and presents inspirational answers. campo countryside 23 Cidades e territórios vivos Ariel Kogan e Mauricio Broinizi Pereira cidades O mundo está se urbanizando rapidamente. Atualmente 50% da população mundial vive em áreas urbanas; em 2050, serão 80%. No caso da América Latina, 80% da população já vive em cidades, e a estimativa para 2050 é que esse número chegue a 89%.1 Tal transformação demográfica altera profundamente a maneira como o mundo é governado. As cidades, com o seu entorno rural, estão se transformando nas principais unidades de gestão do território e da sociedade. As realidades locais são diversas e dinâmicas. No entanto, além das particularidades, muitas cidades apresentam situações semeCities and living areas lhantes de injustiça social, déficit democrático, perda de patrimônio histórico e cultural, Ariel Kogan and Mauricio degradação ambiental e práticas de desenvolPereira Broinizi vimento insustentáveis. Para Joi Ito, diretor do Media Lab do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), a The world is rapidly urbanizing. chave da inovação na busca pelo desenvolviCurrently 50% of the world mento urbano sustentável é entender e trapopulation lives in urban areas; balhar junto com a natureza, no lugar de in 2050, it will be 80%. In Latin tentar controlá-la, e permitir e reforçar a inoAmerica, 80% of the population now lives in cities, and the estimate vação na base nos processos de governança e planejamento. for 2050 is that this number will O filme A Escala Humana (The Human reach 89%1. This demographic transformation Scale) apresenta o contexto de urbanização acelerada e desordenada em algumas das maiores profoundly changes the way the cidades do mundo, em diferentes continentes, world is ruled. The cities, with its rural surroundings, are becoming e a importante tarefa do aclamado arquiteto e urbanista dinamarquês Jan Gehl e sua equipe the main units of territorial and por recuperar o espaço público nas cidades para society management. cities 1 Estado de las Ciudades de América Latina y el Caribe 2012 cidades cities 25 os pedestres e ciclistas, em detrimento dos veículos motorizados. Com isso, busca-se construir outro modelo de desenvolvimento urbano, com o foco nas pessoas, na escala humana e no ambiente propício para melhorar a qualidade de vida nas cidades. Em Nova York, por exemplo, estão transformando algumas ruas emblemáticas como a Broadway e a Times Square em espaços de contemplação, voltados para a convivência entre as pessoas. O filme A Síndrome de Veneza (The Venice Syndrome) retrata as dificuldades que enfrenta um dos centros culturais e históricos da Itália e do mundo, acolhendo milhares de turistas de todas as nacionalidades diariamente. São mais de 20 milhões de visitantes em Veneza anualmente, o que gera impactos significativos no cotidiano da cidade e de seus moradores. Busca-se construir outro modelo de desenvolvimento urbano, com o foco nas pessoas, na escala humana e no ambiente propício para melhorar a qualidade de vida nas cidades. Local realities are diverse and dynamic . However, beyond the particularities, many cities have similar situations of social injustice, democratic deficit, loss of historical and cultural heritage, environmental degradation and unsustainable development practices. For Joi Ito, director of the Media Lab at MIT (Massachusetts Institute of Technology), the key innovation in the search for a sustainable urban development is to understand and work with nature, instead of trying to control it, and to enable and enhance innovation on the basis of the processes of governance and planning. The film A Escala Humana (The Human Scale) shows the context of rapid and unplanned urbanization in some of the largest cities in the world, on different continents, and the important task of the acclaimed Danish architect and urban planner Jan Gehl and his team to regain public space in cities for pedestrians and cyclists instead of motorized vehicles. Thus, we seek to build another model of urban development, with the focus on people, on human scale and on the environment to enable improvement for quality of life in cities. In New York, for example, it has been turning some emblematic streets such as Broadway and Times Square in spaces of contemplation, focused on the relationships among people. The film A Síndrome de Veneza (The Venice Syndrome) portrays the difficulties facing one of the cultural and historical centers of Italy and the world, welcoming thousands of tourists of all A Escala Humana The Human Scale Numa viagem por duas cidades com contextos socioculturais muito diferentes – Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, e Detroit, nos Estados Unidos – o filme Sempre fui um Sonhador (I Have Always Been a Dreamer) mostra como o planejamento norteado unicamente pelo crescimento econômico tem moldado a paisagem física e impactado as comunidades locais. O filme Ecumenopolis: Cidade sem Limites (Ecumenopolis: City Without Limits) também retrata esta dinâmica de crescimento sem limites e sem um planejamento participativo e inclusivo na mística cidade de Istambul, na Turquia. A obra busca mostrar o custo social e ambiental desse modelo de desenvolvimento predatório. Semelhante à situação em algumas cidades brasileiras em ano de Copa, a área de Ayazma, afastada e carente de serviços públicos e de infraestrutura urbana, tornou-se uma área valorizada após a construção do Estádio Olímpico de Istambul, sofrendo um intenso processo de especulação imobiliária. Atualmente as cidades parecem buracos negros de recursos naturais. Grandes quantidades de matérias primas são extraídas de diferentes ecossistemas para serem processadas e consumidas principalmente nos centros urbanos. O filme Guerra de Areia (Sand Wars) mostra as cadeias produtivas e os impactos sociais e ambientais vinculados a um dos recursos mais explorados hoje em dia, a areia. Cada casa, prédio, ponte, shopping, aeroporto, celular, nationalities daily. More than 20 million of visitors annually in Venice, which generates significant impacts on the life of the city and its residents. In a trip through two cities with very different socio cultural contexts – Dubai, in United Arab Emirates, and Detroit in the United States – the movie Sempre fui um sonhador (I Have Always Been a Dreamer) shows how a planning guided solely by economic growth has shaped the physical landscape and impacted local communities. The film Ecumenopolis: Cidade sem Limites (Ecumenopolis: City Without Limits) also portrays this dynamic growth without limits and with no participatory and inclusive planning in the mystical city of Istanbul in Turkey. The work aims at showing the social and environmental cost of predatory development model. Similar to the situation in some Brazilian cities in a Cup year, the area of Ayazma, extinguished and in need of public services and urban infrastructure, has become a prized area after the building of the Olympic Stadium in Istanbul, suffering an intense process of land speculation. Currently the cities seem black holes of natural resources. Large amounts of raw materials are extracted from different ecosystems to be processed and consumed mainly in urban centers. The movie Guerra de Areia (Sand Wars) shows the supply chains and the social and environmental impacts linked to one of the most exploited resources today, the sand. Every house, building, bridge, mall, airport, phone, computer and many other products uses cidades cities 27 computador e muitos outros produtos utilizam areia como matéria prima em algum dos seus componentes. Mas a areia é um recurso infinito? Existe areia suficiente para esta demanda desmedida? Quais são as consequências socioambientais da mineração de areia? Qual é a responsabilidade das cidades em relação à sobrevivência e sustentação dos ecossistemas? Não há como dissociar a qualidade de vida nas cidades do verde, da biodiversidade urbana. Como diz o arquiteto australiano Paul Downton, “uma autêntica cidade ecológica deve não só estar em sintonia com a natureza, mas deve regenerar e restaurar os ecossistemas naturais de forma permanente”. O filme Tóquio Waka (Tokio Waka) representa poeticamente esta relação entre a natureza e a agitada e cinzenta vida moderna. Com a sensibilidade característica do cinema japonês, o filme retrata o cotidiano dos milhares de corvos que vivem em Tóquio e se adaptam aos 13 milhões de habitantes da cidade. Ou são os habitantes que se adaptam aos corvos? O curta Fora de Quadro (Out of Frame), de Yorgos Zois, rodado na Grécia, filma centenas de outdoors sem publicidade alguma. A We seek to build another model of urban development, with the focus on people, on human scale and on the environment to enable improvement for quality of life in cities. sand as raw material in some of its components. But is the sand an infinite resource? Is there enough sand for this outrage demand? What are the environmental consequences of sand mining? What is the responsibility of cities in relation to the survival and sustainability of ecosystems ? There is no way to separate the quality of life from green cities, from urban biodiversity. As the Australian architect Paul Downton says “a real ecological city should not only be in tune with nature, but should regenerate and restore natural ecosystems permanently” The film Tóquio Waka (Tokio Waka) poetically represents this relationship between nature and stirred and gray modern life. With the characteristic sensitivity of Japanese cinema, the film portrays the daily lives of thousands of crows living in Tokyo and adapting to the 13 million inhabitants of the city. Or are the people that fit to the crows? The short Fora de Quadro (Out of Frame), of Yorgos Zois, shot in Greece, films hundreds of outdoors without any advertising. The message is just the empty outdoors. Images that depict not only the social and financial collapse, but at the same time, in the words of the director, our own inner world. Ecumenopolis: Cidade sem Limites Ecumenopolis: City Without Limits mensagem é justamente os outdoors vazios. Imagens que retratam não apenas o colapso social e financeiro mas, ao mesmo tempo, segundo palavras do diretor, o nosso próprio mundo interior. O grande desafio das cidades é superar sua aura reducionista de locus do consumismo (cujo corolário tem sido lixo, poluição, congestionamentos crescentes etc) e melhorar a qualidade de vida dos seus cidadãos, diminuindo as desigualdades e incluindo-os nos processos decisórios e de planejamento, cuidando e valorizando seu patrimônio cultural, além de restaurar e regenerar os ecossistemas de forma permanente. The great challenge for cities is to overcome its aura of reductionist locus of consumerism (the corollary has been garbage, pollution, growing traffic jam, etc) and improve the quality of life of its citizens , reducing inequalities and including them in decision making and planning, caring and valuing their cultural heritage, besides restoring and regenerating ecosystems permanently. Ariel Kogan and Mauricio Ariel Kogan e Mauricio Broinizi Pereira Broinizi Pereira are part in the netintegram a Rede Nossa São Paulo, movimento criado em 2007 com o desafio de mobilizar diversos segmentos da sociedade para, em parceria com instituições públicas e privadas, construir e se comprometer com uma agenda e um conjunto de metas, articular e promover ações, visando a uma cidade de São Paulo justa e sustentável. work Nossa São Paulo, a movement created in 2007 with the challenge to mobilize different segments of society in partnership with public and private institutions, build and engage with an agenda and a set of goals, articulate and promote actions aimed at a fair and sustainable São Paulo. cidades cities 29 De Para Ecumenópolis: A Cidade Sem Limites From To Croácia, 2012, 10’ Instituições públicas, salas de espera, transporte público. São lugares com nomes diferentes, mas com características semelhantes. Neles ficamos para ir a outros DIREÇÃO DIRECTOR lugares. São lugares “entre”, locais de tem- Miranda Herceg poralidade e exclusão que comunicam-se PRODUÇÃO PRODUCER com todos da mesma forma, convencional- Ankica Juric Tilic mente, sem interesse por indivíduos. ROTEIRO WRITER Miranda Herceg Public institutions, waiting rooms, public FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER transportation are places of different names, Stanko Herceg but of the same character. In them one stays EDIÇÃO EDITOR in order to be somewhere else. These are places Vladimir Gojun “in between”, the places of temporality and exclusiveness which communicate to everyone in the same way, conventionally, without interest for individuals. DIREÇÃO DIRECTOR Ecumenopolis: City Without Limits Imre Azem Turquia/ Alemanha, 2011, 93’ PRODUÇÃO PRODUCER Gaye Günay O filme conta a história de Istambul e outras ROTEIRO WRITER megacidades em um caminho neoliberal em FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER ria de uma família migrante da demolição de Imre Azem direção à destruição. Ele acompanha a históImre Azem seu bairro à sua luta contínua pelo direito à EDIÇÃO EDITOR moradia. Eray lhan e Arzu Volkan The film tells the story of Istanbul and other Mega-Cities on a neo-liberal course to destruction. It follows the story of a migrant family on their on-going struggle for housing rights. cidades cities 31 A Escala Humana Fora de Quadro Out of Frame Grécia, 2012, 10’ The Human Scale Dinamarca, 2012, 83’ 50% da população mundial vive em áreas urbanas. Até 2050 esse número chegará a 80%. Viver em uma megacidade é tanto encantador quanto problemático. Hoje enfrentamos escassez de petróleo, mudanças climáticas, solidão e diversos problemas de saúde devido ao nosso estilo de vida. Mas por que? O arquiteto e professor dinamarquês Jan Gehl estudou o comportamento humano em cidades ao longo de 40 anos. Ele documentou como cidades modernas repelem a interação humana e argumenta que podemos construir cidades de uma forma que leve em consideração necessidades humanas de inclusão e intimidade. DIREÇÃO DIRECTOR Andreas M. Dalsgaard PRODUÇÃO PRODUCER Signe Byrge Sørensen ROTEIRO WRITER Andreas M. Dalsgaard FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Heikki Färm, Adam Philp, Manuel Claro, René Strandbygard e Casper Høyberg Na Grécia, a propaganda em outdoors foi recentemente proibida. Como resultado, existem centenas de outdoors vazios que não mostram nenhuma mensagem. Mas as DIREÇÃO DIRECTOR molduras vazias são agora a mensagem. E nós estamos Yorgos Zois fora de quadro. PRODUÇÃO PRODUCER Yorgos Zois e In Greece the advertisement in exterior billboards has been Maria Drandaki recently forbidden. As a result there are hundreds of blank ROTEIRO WRITER billboards that don’t show any messages. But the empty Marisha Triantafyllidou frames are now the message. And we are out of frame. FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Yannis Kanakis EDIÇÃO EDITOR Yannis Chalkiadakis EDIÇÃO EDITOR Søren B. Ebbe e Nicolas Servide Staffolani 50 % of the world’s population lives in urban areas. By 2050 this will increase to 80%. Life in a mega city is both enchanting and problematic. Today we face peak oil, climate change, loneliness and severe health issues due to our way of life. But why? The Danish architect and professor Jan Gehl has studied human behavior in cities through 40 years. He has documented how modern cities repel human interaction, and argues that we can build cities in a way, which takes human needs for inclusion and intimacy into account. cidades cities 33 Guerra de Areia Lamento de Yumen França/Canadá, 2013, 74’ China, 2012, 27’ Sand Wars Depois da água, a areia é o recurso natural mais consumido no planeta. Como consequência, as limitadas reservas de areia estão ameaçadas. Uma “guerra de areia”, iniciada por um boom da construção civil, cresce em todo o lugar e ¾ das praias do planeta estão diminuindo e destinadas a desaparecer, vitimas da erosão e – por mais incrível que pareça – do contrabando. After water, sand is the most consumed natural resource on the planet. Consequently, the limited reserves of sand are threatened. A “sand war”, initiated by explosions of buildings, grow all over the place and ¾ of the beaches on the planet are shrinking and destined to disappear, victims of erosion and - incredible as it may seem - smuggling. Lament of Yumen DIREÇÃO DIRECTOR Denis Delestrac PRODUÇÃO PRODUCER Guillaume Rappeneau, Laurent Mini, Karim Samai e Nathalie Barton FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Marc Martinez Sarrado e Alam Raja Vergès EDIÇÃO EDITOR Michèle Hollander, Seamus Haley e Ibon Olaskoaga DIREÇÃO DIRECTOR Huaqing Jin PRODUÇÃO PRODUCER Huaqing Jin FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Lu Jian EDIÇÃO EDITOR Shi Xinjie A cidade de Yumen, onde o primeiro campo de petróleo da China foi encontrado, já foi uma cidade de glórias e sonhos. Meio século depois, seus recursos petrolíferos estão esgotados. As bases do governo e do petróleo mudaram-se e mais de 90 mil residentes migraram, deixando uma cidade praticamente deserta. O documentário explora os crescentes problemas sociais que surgem com as grandes reformas chinesas, focando na luta desesperada pela vida das classes menos privilegiadas. Yumen City, where China’s first oil field was found, was once the city of glories and dreams. Half a century passing by, its oil resources are depleted. The government and oil bases moved out and over 90,000 residents migrated, leaving it a nearly empty city. The documentary explores the social problems emerging along with China’s dramatic reforms by focusing on the underclass’ hopeless struggle for living. cidades cities 35 Nature House Inc. Sempre Fui Um Sonhador Nature House Inc. Reino Unido, 2013, 6’ Um curta metragem que foca na proliferação de casas de passarinho, construídas para atrair a Andorinha Azul – “O Pássaro Mais Procurado da América”. A extraordinária abundância dessas casas construídas pelo homem DIREÇÃO DIRECTOR reflete um desejo de viver mais próximo à natureza, em Nick Jordan um cenário suburbano de uma pequena cidade. PRODUÇÃO PRODUCER Nick Jordan A short film which centres upon the proliferation of bird FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER houses, erected to attract the Purple Martin - ‘America’s Nick Jordan Most Wanted Bird’. The extraordinary abundance of man- EDIÇÃO EDITOR made habitats reflects a desire to live in close proximity to Nick Jordan nature, in a suburban, small town setting. I Have Always Been a Dreamer EUA, 2012, 78’ DIREÇÃO DIRECTOR Sabine Gruffat Um filme-ensaio sobre globalização e ecologia urbana, PRODUÇÃO PRODUCER utilizando os exemplos de duas cidades em estágios de Sabine Gruffat desenvolvimento contrastantes: Dubai, Emirados Árabes FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Unidos e Detroit, EUA. No contexto de uma economia Sabine Gruffat em ascensão e queda, o filme questiona as ideologias coletivas que moldam a paisagem física e impactam as comunidades locais. An essay film about globalization and urban ecology using the examples of two cities in contrasting states of development: Dubai, UAE and Detroit, U.S.A. Within the context of a boom and bust economy, the film questions the collective ideologies that shape the physical landscape and impact local communities. cidades cities 37 A Síndrome de Veneza Tóquio Waka Tokyo Waka Japão/ EUA, 2012, 63’ The Venice Syndrome Alemanha, 2012, 80’ Veneza vive sob a enorme pressão do turismo de massa – DIREÇÃO DIRECTOR e vive disso. A cidade deixou de existir como uma estrutura Andreas Pichler urbana, foi abandonada por seus habitantes e está caindo PRODUÇÃO PRODUCER em decadência física, social e moral. O filme é um retrato Thomas Tielsch de uma cidade magnífica no processo de autodestruição. ROTEIRO WRITER Andreas Pichler Venice lives under the enormous pressure of mass tourism FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER - and lives from it. The city has ceased to exist as an urban Attila Boa structure, has been deserted by its inhabitants and is EDIÇÃO EDITOR descending into physical, social and moral decay. The film is a Florian Miosge portrait of a magnificent city in the process of destroying itself. DIREÇÃO DIRECTOR John Haptas e Kristine Samuelson PRODUÇÃO PRODUCER John Haptas e Kristine Samuelson Tokyo Waka é tanto um retrato lírico cuidadosamente construído de Tóquio e seus habitantes quanto uma representação da surpreendentemente rica vida dos corvos. É um encapsulamento evocativo da Tóquio pós-bolha, quando as pessoas pegas no fluxo das mudanças buscam seus portos seguros precários perante um futuro incerto. FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER John Haptas e Kristine Tokyo Waka is as much a carefully etched, Samuelson lyrical portrait of Tokyo and its denizens as it is EDIÇÃO EDITOR a full-fledged rendering of the surprisingly rich John Haptas e Kristine life of crows. It’s an evocative encapsulation of Samuelson post-bubble Tokyo, when people caught in the flux of change seek their own precarious perches in an uncertain future. cidades cities 39 Entre os limites físicos do planeta e os limites morais dos mercados Inaiê Takaes Santos economia economy Between the physical limits of the planet and the moral limts of the markets Os filmes do eixo temático Economia da 3a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental trazem à tona questões que, embora não sejam novidade para os que trabalham ou possuem algum interesse em recursos naturais, direitos humanos e proteção animal, ficam adormecidas no pensamento da maior parte das pessoas. Tratam das relações de dominação que o homem é capaz de manter com a natureza, seres de outras espécies ou, ainda, seres da mesma espécie, despertando reflexões sobre o sentido do nosso convívio social e as consequências do modo de produção e consumo na sociedade moderna. Inaiê Takaes Santos Febre do Ouro (Gold Fever), Figurões (Big Men) e Montanhas Enevoadas (Cloudy Mountains) The Economics theme movies at retratam os conflitos subjacentes à explorathe 3rd Ecofalante Environmental ção de recursos naturais, chamando atenção Film Festival bring up issues that, não só à dimensão geopolítica, pois tratameven though not new to those -se de cadeias produtivas inseridas no comérwho work or have an interest in cio internacional, mas também às dimensões natural resources, human and sociais locais, dado que as atividades de exploanimal protection rights, become ração e o potencial de ganho econômico com dormant in the thoughts of most elas trazem perturbações ao convívio daquepeople. They concern the relations les que habitam a região explorada. Blackfish of domination that man is able to – Fúria Animal (Blackfish) e Os Sub-Humanos maintain with nature, with other (Redemption Impossible), por sua vez, tocam em or even the same species, awaking questões delicadas relacionadas à dominação reflections about the meaning of dos animais pelo homem. Em Blackfish, partiour social life and the consequences cularmente, a despeito de toda a infraestrutura of the production and consumption criada para que essa dominação seja mantida, way in modern society. revelam-se áreas não governadas pelo homem. economia economy 41 Revela-se que as fronteiras entre o mundo dos Febre do Ouro (Gold Fever), humanos e o dos animais precisa ser revista. Figurões (Big Men) and A partir disso, é interessante notar como Montanhas Enevoadas (Cloudy evolui a relação do Homem com os animais Mountains) depict the underlying e a natureza ao longo de seu ciclo de vida. Ao exploitation of natural resources ocuparem as páginas de livros, as fábulas e conflicts, drawing attention not as cantigas, os animais ensinam-nos a ser only to the geopolitical dimension mais humanos em nosso imaginário infantil. as it deals with international trade Quando crescemos, esse mundo em que os ani- supply chains, but also to local mais pensam, falam e sentem dá lugar a rela- social dimensions considering ções mercadológicas, posto que o Homem é o that the exploration activities and centro do universo e todos os recursos plane- the potential for economic gain tários devem ser utilizados para satisfazer suas bring with them disruption to necessidades e desejos. the society of those who inhabit Que os impactos ambientais das atividades the explored region. Blackfish econômicas têm sido historicamente negligen- - Fúria Animal (Blackfish) and ciados não é novidade. Embora a humanidade Os Sub-Humanos (Redemption seja altamente dependente de recursos naturais Impossible), on the other hand para promover o bem-estar social e o desenvol- approach sensitive issues related vimento econômico, o que observamos com fre- to the domination of animals quência na sociedade são ações despreocupadas by the humans. In Blackfish, com as origens e a destinação de tudo que se con- particularly, in spite of allthe some e produz. A intensificação da divisão do infrastructure created for the trabalho contribui para essa situação tirando das dominance maintenance, there pessoas a capacidade de enxergar os processos are revealed areas which are como um todo, segregando e criando “bolhas”. not ruled by man. It shows out that the boundaries between the human world and the animal needs to be reviewed. From this point of view, it is interesting to note how the relationship between man and animals and nature throughout its life cycle evolves. By occupying the pages of books, tales and songs, the animals teach us to be more human in our childhood Nas fábulas e nas cantigas, os imagination. When we grow animais ensinam-nos a ser mais up, this world in which animals humanos em nosso imaginário think, talk and feel is replaced by market relations, since the man is infantil. Quando crescemos, the center of the universe and all esse mundo em que os animais planetary resources should be used to meet their needs and desires. pensam, falam e sentem dá It is not any new that lugar a relações mercadológicas. environmental impacts of economic activities have historically been neglected. While humanity is highly dependent on natural resources in order to promote social welfare and economic development, what we observe in society are often unconcerned actions about the origins and destination of everything that is consumed and produced. The intensification of the labor division contributes Febre do Ouro Gold Fever to this situation by taking from people the ability to see the process as a whole, segregating and creating “bubbles” . When it comes to incorporating environmental issues in economic theory, most economists will be ready to answer that we need to work around the problem of negative externalities, incorporating to the decisions of the agents the social cost of economic interference in the cycles Blackfish – Fúria Animal Blackfish of nature. In this case, there is “only” the problem of pricing the environmental goods and services. However, the shortage is an economic problem per excellence, so, since all relevant variables are set, the Homo economicus, endowed with perfect rationality, is able to maximize its usefulness. Quando se trata de incorporar o tema Although the pricing and market ambiental na teoria econômica, a maioria dos creation are extremely valid economistas estará pronta para responder que approaches to drive economic é preciso contornar o problema das externali- decisions in market economies, dades negativas, incorporando às decisões dos the possibility of buying and selling agentes o custo social da interferência da eco- of various rights that were created nomia nos ciclos da natureza. Nesse caso, tem- with the evolution of capitalism -se “apenas” um problema de precificação de does not let us to avoid nuisance bens e serviços ambientais. Ora, a escassez é on the real motivations of the um problema econômico por excelência, por- agents to change their behaviors. tanto, desde que todas as variáveis relevantes In this sense, the philosopher estejam definidas, o Homo economicus, dotado Michael Sandel argues that, during de racionalidade perfeita, é capaz de maximizar the last three decades, market economies have been replaced by sua utilidade. economia economy 43 On tales and songs, the animals teach us to be more human in our childhood imagination. When we grow up, this world in which animals think, talk and feel is replaced by market relations. Montanhas Enevoadas Cloudy Mountains Embora a precificação e a criação de mercados sejam abordagens extremamente válidas para direcionar as decisões econômicas nas economias de mercado, a possibilidade de compra e venda dos mais diversos direitos que foram criados com a evolução do capitalismo não deixa de gerar incômodo quanto às reais motivações dos agentes para mudar seus comportamentos. Nesse sentido, o filósofo Michael Sandel afirma que, durante as últimas três décadas, economias de mercado deram lugar a sociedades de mercado. Sem que percebêssemos, as transações mercadológicas tomaram conta de todas as dimensões da vida social. Quando tudo está à venda, os preços tomam o lugar dos valores. O problema, na visão de Sandel, é que os mercados não são moralmente neutros e degeneram valores cívicos que deveriam ser praticados espontaneamente1. Observando o ritmo das mudanças e o comportamento das pessoas na cidade em que moro, penso nas palavras do cientista James Lovelock: market societies. Without realizing it , the marketing transactions have taken into account all dimensions of social life. When everything is for sale, the prices overcome the place of values. The problem, in the view of Sandel, is that markets are not morally neutral and degenerate civic values that should be practiced spontaneously . Observing the pace of change and the behavior of people in the city I live in, I think of the words of the scientist James Lovelock: “our moral progress has not followed our technological progress” . Indeed, it is difficult to argue that just the technology will be able to balance the environmental problem associated with growth. Possibly, sustainability will depend “nosso progresso moral não acompanhou nosso progresso tecnológico”2. De fato, é difícil afirmar que a tecnologia por si só será capaz de equacionar o problema ambiental associado ao crescimento. Possivelmente, a sustentabilidade dependerá mais da transformação da natureza de consumo do que de inovações no modo de produção. A crise financeira que se arrasta pelos últimos anos não representa desafio maior do que a crise ambiental resultante da cultura do desperdício e do consumismo. Planeta Re:pense (Planet Re:think) mostra o senso de urgência com a qual a nossa geração precisa atuar para promover uma profunda mudança de valores na sociedade moderna. Faz-se necessário repensar qual é o real sentido da vida econômica: o crescimento por si só não deve ser um fim em si mesmo. more on changing the nature of consumption than innovations in productive way. The financial crisis that has dragged on for the past year is not greater challenge than the environmental crisis resulting from the culture of waste and consumerism. Planet Re:Pense (Planet Re:Think ) shows the sense of urgency with which our generation must act to promote a profound change of values in modern society. It is necessary to rethink what is the real meaning of economic life: just the growth should not be an end in itself. Inaiê Takaes Santos is a graduate Inaiê Takaes Santos é economista graduada economist of the University of São Paulo, pela Universidade de São Paulo, com mestrado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Atualmente sou Pesquisadora do GVces (Centro de Estudos em Sustentabilidade da EAESP-FGV). with a Masters in the Federal University of Rio de Janeiro (UFRJ) . Currently, a Researcher at GVces (Center for Sustainability Studies of EAESP - FGV) . 1 SANDEL, Michael. O que o dinheiro não compra: os limites morais do mercado. Ed. Civilização Brasileira. 2012. 2 Entrevista concedida a Jeff Goodel (Revista Rolling Stone). Disponível em: http://bbcnews.com.br/noticia/135121-aquecimento-global-e-inevitavel-e-6-bi-morrerao-diz-cientista.html. economia economy 45 Febre do Ouro Blackfish – Fúria Animal Gold Fever EUA, 2013, 83’ Blackfish EUA, 2013, 82’ A história de Tilikum, a principal baleia orca do parque temático SeaWorld, em Orlando, Estados Unidos, responsável pela morte de três pessoas. Imagens fortes e entrevistas emocionantes compõem este documentário, que explora o comportamento da espécie, o tratamento cruel no cativeiro, além de recuperar as trajetórias e mortes dos treinadores, pilares de uma indústria multibilionária. O filme convida o espectador a repensar a nossa relação com a natureza e explicita o quão pouco os humanos estão dispostos a aprender com esses mamíferos. DIREÇÃO DIRECTOR Gabriela Cowperthwaite PRODUÇÃO PRODUCER Manny Oteyza ROTEIRO WRITER Gabriela Cowperthwaite e Eli Despres FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Christopher Towey e Jonathan Ingalls EDIÇÃO EDITOR The story of Tilikum, a performing killer whale that Eli Despres killed several people while in captivity. The film compiles shocking footage and emotional interviews to explore the creature’s extraordinary nature, the species’ cruel treatment in captivity, the lives and losses of the trainers and the pressures brought to bear by the mulit-billion dollar sea-park industry. This emotionally wrenching, tautly structured story challenges us to consider our relationship to nature and reveals how little we humans have learned from these highly intelligent and enormously sentient fellow mammals. Febre do Ouro testemunha a chegada da Goldcorp Inc em uma aldeia remota da Guatemala. Presos na mira de um frenesi DIREÇÃO DIRECTOR mundial pelo ouro, Diodora, Crisanta e GreAndrew Sherburne, goria resistem à ameaça às suas terras JT Haines e Tommy Haines ancestrais diante de graves conseqüências. PRODUÇÃO PRODUCER Andrew Sherburne, Gold Fever witnesses the arrival of Goldcorp Inc JT Haines e Tommy Haines to a remote Guatemalan village. Caught in the ROTEIRO WRITER crosshairs of a global frenzy for gold, Diodora, Andrew Sherburne, Crisanta and Gregoria resist the threat to their JT Haines e Tommy Haines ancestral lands in the face of grave consequences. FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Marcos Perez e Peter Majerle EDIÇÃO EDITOR Andrew Sherburne, JT Haines e Tommy Haines economia economy 47 Montanhas Enevoadas Figurões Big Men EUA, 2013, 99’ Em Gana, uma pequena empresa norte-americana de energia luta para garantir sua descoberta de petróleo, enquanto um novo governo chega ao poder. Na Nigéria, onde o petróleo já foi descoberto, as ramificações da indústria petrolífera cobraram seu preço do povo. À medida que a empresa norte-americana cai sob o escrutínio do novo governo de Gana e do Departamento de Justiça dos EUA, os contratos para exploração do campo de petróleo vão desaparecendo. Os empregos se perdem, jogos de poder entram em cena e, enquanto isso, o povo de Gana espera para colher seus benefícios. Com um acesso sem precedentes e um olhar inabalável, Figurões leva-nos fundo na indústria africana de petróleo em Gana e Nigéria, oferecendo um panorama sobre a ambição, a ganância e a corrupção que ameaçam agravar a maldição dos recursos naturais da África e deixar mais de seus cidadãos para trás. In Ghana, a small American energy company fights to hold onto its discovery of oil just as a new government comes into power. In Nigeria, where oil has already been discovered, the ramifications of the oil industry have taken their toll on the people. As the American company falls under the scrutiny of the new Ghanaian government and the U.S. Justice Department, the contracts for the oil field languish. Jobs are lost, power plays are made and all the while, the Ghanaian people wait to reap the benefits. With unprecedented access and an unflinching eye, Big Men takes us deep into the African oil industry in Ghana and Nigeria, delivering an exposé on the ambition, greed and corruption that threaten to exacerbate Africa’s resource curse and leave more of its citizens behind. Cloudy Mountains China, 2012, 85’ DIREÇÃO DIRECTOR Rachel Boynton PRODUÇÃO PRODUCER Rachel Boynton ROTEIRO WRITER Rachel Boynton FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Jonathan Furmanski EDIÇÃO EDITOR Seth Bomse DIREÇÃO DIRECTOR Zhu Yu PRODUÇÃO PRODUCER Han Lei FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Liu Zhifeng e Zhu Yu EDIÇÃO EDITOR Zhu Yu e Han Lei O lado sul das montanhas de Lop Nur, no oeste da China, é rico em amianto. Os trabalhadores criam poeira enquanto exploram o minério. De longe, parece uma máquina de fazer nuvem, soprando nuvens no ar. Apesar das pessoas que trabalham nesse ambiente tão severo viverem uma vida dura e isolada, elas não perderam sua alegria de viver. No entanto, não sabem ou se preocupam com as consequências que esse ambiente pode ter. The southern foot of the mountains in Lop Nur in western China is rich in asbestos. The workers create dust while exploiting the asbestos. From far away, it looks like a cloud-making machine, puffing clouds into the air. Though people working in such a harsh environment live a hard and isolated life, they have have not lost their joy of living. However, they don’t know or care about what consequences the environment can have. economia economy 49 Os SubHumanos Planeta RE:pense Planet RE:think Dinamarca, 2012, 85’ Redemption Impossible Como medimos nossas riquezas invendáveis? E como colocamos um verdadeiro preço em nossas conquistas? Planeta RE:pense apresenta uma intrínseca e convincente relação entre a destruição ambiental e a crise financeira DIREÇÃO DIRECTOR global, ilustrada na falácia fundamental do modelo do Eskil Hardt PIB, através do qual medimos riquezas nacionais. PRODUÇÃO PRODUCER Eskil Hardt How do we measure our unsellable wealth? And FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER how do we put a true price on our gains? Planet Esben Hardt RE:think presents a compelling, inherent link between EDIÇÃO EDITOR environmental destruction and the global financial crisis, Adrian Beard illustrated in the fundamental fallacy of the GDP model in which we measure national wealth. Alemanha, 2013, 90’ DIREÇÃO DIRECTOR Claus Strigel e Christian Rost PRODUÇÃO PRODUCER Claus Strigel ROTEIRO WRITER Christian Rost FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Em um safari hermeticamente fechado na Áustria, os desafios morais de nossa civilização colidem sob uma lupa: culpa, responsabilidade, redenção. Quarenta chimpanzés sobreviveram a experimentos com o vírus HIV “servindo à humanidade.” Traumatizados, altamente agressivos e mentalmente isolados. Hoje, quatro cuidadoras administram um projeto de reabilitação único, onde as vítimas reaprendem a se tornar macacos. Waldemar Hauschild EDIÇÃO EDITOR In a hermetically sealed off safari park in Austria Julia Furch our civilization’s moral challenges collide under a magnifying glass: guilt, responsibility, redemption. Forty chimpanzees survived HIV experiments “serving mankind”. Traumatized, highly aggressive and mentally isolated. Today four caretakers manage a unique rehabilitation project, where the victims learn how to become monkeys. economia economy 51 A energia que nos divide Sérgio Abranches energia energy A energia está no centro dos esforços para conter a mudança climática. A geração de eletricidade e os transportes são, de longe, a maior fonte de emissões de gases estufa. A transição de uma economia baseada em energia de fontes fósseis para uma economia com energia renovável é decisiva para a redução das emissões e tentar evitar mudança climática catastrófica. A mudança climática já dividiu muito as opiniões. Mas o consenso científico hoje é avassalador. Não existe uma só organização científica de peso, uma única academia de ciências, que The energy that divides us não afirme que a mudança climática é um fato real e presente e que sua aceleração é causada Sergio Abranches pela ação humana. Os que se contrapõem a esse consenso são poucos e já não há entre eles cientistas especializados em clima, com qualifiEnergy is at the center of efforts cação e pesquisa de peso. to curb climate change. Electricity Energia divide muito mais. O uso de energeneration and transport is by far gia nuclear opõe de forma radicalmente polarithe largest source of greenhouse zada aqueles que defendem a energia renovável gas emissions . The transition e que não emita gases estufa. A energia nuclear from an economy based on fossil não emite gases estufa. Mas não é limpa. Gera energy sources to an economy uma quantidade apreciável, embora em declíwith renewable energy is crucial nio, de resíduo radiativo. Seus defensores vêm to reducing emissions and try to nela a única saída rápida para a mudança de avoid catastrophic climate change. padrão energético. Seus críticos argumenClimate change has already tam que resolve-se um problema que ameaça divided a lot the opinions, but a humanidade e agrava-se outro que também the scientific consensus today ameaça a humanidade. Confesso que tenho is overwhelming . There is not a sentimentos contraditórios sobre energia single one scientific organization nuclear. Fui convidado tempos atrás para falar of importance or a mere academy em um congresso de técnicos e cientistas sobre of sciences that does not affirm o tema. Resolvi estudar as evidências e os arguthat climate change is a real mentos. É inegável que é a única fonte domiand present fact and that its nada que tem escala para substituir o carvão e energia energy 53 Não existe uma só organização científica de peso, uma única academia de ciências, que não afirme que a mudança climática é um fato real e presente e que sua aceleração é causada pela ação humana. acceleration is caused by human action. Those who oppose to this consensus are few and there is no longer among them important climate scientists with skills and background on research. Energy divides much more. The use of nuclear energy causes so radically polarized oppositions to those who are in favor renewable energy and which does not emit greenhouse gases. Nuclear power does not emit greenhouse gases. But it is not clean. It generates a considerable amount, although declining , of radioactive waste. His defenders have it the only quick exit for changing energy pattern. His critics argue that resolves a problem that threatens humanity and worsens others that also threatens humanity. I confess I have mixed feelings about nuclear energy. Time ago I was invited to speak at a conference of scientists and technicians on the topic. I decided to study the evidence and arguments. It is undeniable that it is the only dominated source that has scale to replace coal and oil for electricity generation quickly. It is true that does not emit . I was convinced that new technologies generate less waste and waste of less radioactive intensity. Still, this residue o óleo rapidamente na geração de eletricidade. É verdade que não emite. Fiquei convencido de que as novas tecnologias geram menos resíduo e resíduo de menor intensidade radiativa. Ainda assim, esse resíduo precisa de manejo e armazenagem seguros por algumas centenas de anos. Além disso, a maior parte do resíduo hoje produzido ainda vem de usinas com tecnologias mais velhas, que geram mais lixo nuclear e mais radiativo, cujo risco de contaminação letal perdura por muitos séculos. A pergunta que fiz no congresso e que não tem resposta adequada foi: quem garante que haverá governança estável de qualidade capaz de assegurar a integridade dos recipientes e dos locais de armazenagem por pelo menos 300 anos? Meu treino em ciência política me diz que não há como dar essa garantia, mesmo nas democracias mais maduras e avançadas do mundo. O filme documentário também divide opiniões desde os seus primórdios. Há correntes opostas sobre a ética e a técnica do documentário. Uns defendem a máxima objetividade possível. Outros dizem que a objetividade é impossível e o cineasta deve interpretar a realidade para sua audiência. Segundo eles, mesmo o documentário é um filme autoral. Esse debate já foi mais aceso. No começo do moderno documentário, seguidores do cinema verdade, de Jean Rouch, preconizado por Dziga Vertov, ensinavam que se deveria combinar a improvisação ao uso direto da câmera para desvendar a verdade por trás da realidade aparente. Outros diziam que o documentário deveria partir de Fukushima: Um Registro de Coisas Vivas um roteiro e que os entrevistados e retratados Fukushima: A Record of Living Things There is not a single one scientific organization of importance or a mere academy of sciences that does not affirm that climate change is a real and present fact deveriam ser dirigidos para garantir a qualidade do resultado. Joris Ivens, um dos pais do documentário moderno, comentando seu excepcional filme sobre a guerra civil espanhola de 1936, cuja estratégia geral diz ter sido contribuição direta do escritor e jornalista Ernst Hemingway, dá uma resposta simples a essa questão. Ele diz que havia imaginado filmar seguindo um argumento escrito previamente. Mas foi impossível fazê-lo em campo. Como entrevistar pessoas em meio àquela matança toda? O único jeito era filmar o que estavam vendo. Ele conta como foram filmando cenas da guerra, pessoas, moribundos, cadáveres, e diz: “Você é capaz de pensar muito claramente porque você está em uma guerra popular na qual você tem um lado. Não há hesitação.” Mas defendia a edição cuidadosa das imagens depois. Ele compara o documentário ao filme noticiário. “O filme noticiário nos conta onde-quando-o quê; o filme documentário nos conta por que e as relações entre os eventos”, diz. Para ele, o documentário não conseguiria realizar seus objetivos sem alguma intervenção artística. management and insurance needs storage for a few hundred years. Furthermore , most of the waste produced today still comes from plants with older technologies that generate more and more radioactive nuclear waste, where the risk of lethal infection persists for many centuries. The question I asked in Congress and has no proper answer was : who can assure that there will be a stable governance to provide a quality control that ensures the integrity of the containers and storage sites for at least 300 years? My training in political science tells me there is no way to guarantee that, even in the most mature and advanced democracies in the world. The documentary film also divided opinions since its inception. There are opposing opinions on the ethics and techniques of the documentary. Some are for the greatest possible objectivity. Others say that objectivity is impossible and the filmmaker should interpret the reality for its audience. According to them, even the documentary is a copyrighted movie. This debate has already been more heated . At the beginning of the modern documentary, followers of cinema Vérité. created by Jean Rouch and envisioned by Dziga Vertov, taught that improvisation should be combined to the direct use of the camera in order to find out the truth behind the apparent reality. Others said that the documentary should come from a script and that the respondents and portrayed should be directed to ensure the quality of the result. Joris Ivens, one of the fathers of modern energia energy 55 Lembrei-me dessa A escassez de energia afeta velha leitura das refle- principalmente os mais pobres xões de Joris Ivens sobre sua prática com e sem poder do mundo. Neste documentários, vendo caso, energia escassa e de os filmes sobre o tema energia da 3a Mostra má qualidade causa conflito Ecofalante de Cinema entre os que a provêm e os Ambiental. O autor de nenhum deles parece que não a recebem, entre os ter dúvidas sobre de que têm e os que não têm. que lado está. Alguns são muito explícitos, como a defesa da ener- documentary, commenting on gia nuclear em Promessa de Pandora (Pandora’s his exceptional film about the Promise), de Robert Stone, ou a denúncia dos Spanish Civil War in 1936, in which efeitos da radiação do acidente da usina nuclear the general strategy is said to de Fukushima, em, Fukushima: Um Registro have been a direct contribution das Coisas Vivas (Fukushima: A Record of Living of the writer and journalist Ernst Things), de Masanori Iwasaki, da explosão quase Hemingway, gives a simple answer desconhecida da usina nuclear Mayak ao sul dos to this question. He says he had Urais, em Metamorphosen (Metamorphosen), imagined shooting following a de Sebastian Mez, ou do acidente que desloca previously written argument. But e separa uma família, em Terra da Esperança it was impossible to do it on the (The Land of Hope), de Sion Sono. Outros são field. How to interview people in mais sutis, como Jornada ao Local mais Seguro the midst of all that killing? The da Terra (A Journey to the Safest Place on Earth), only way was to film what they de Edgar Hagen, sobre os riscos de armazena- were seeing. He tells how the war, people, dying ones and corpses mento do resíduo das usinas. Em sintonia fina com os dilemas de nosso were filmed, and says: “You are tempo, os filmes da mostra refletem a ameaça able to think very clearly because da mudança climática; o confronto em torno you’re in a popular war in which da energia nuclear; a falta de energia que aflige you are defending a side. There is grande parte dos mais pobres do mundo; a pro- no hesitation”. But he advocated messa do lítio. Dos sete documentários selecio- for a careful edition on the images nados para a mostra, cinco são sobre energia afterwards. He compares the documentary to the news. “The nuclear. Falarei deles ao final. Desconectado (Powerless), de Fahal Mustafa news film tells us where-whene Deepti Kakkar, mostra o outro lado do pro- what; and the documentary film blema energético: sua falta. A escassez de ener- tells us why and the relationship gia afeta principalmente os mais pobres e sem between the events” he said . For poder do mundo. Neste caso, energia escassa e him, the documentary could not de má qualidade causa conflito entre os que a accomplish their goals without provêm e os que não a recebem, entre os que some artistic intervention . têm e os que não têm. O cenário é Kanpur, na I remembered reading that old Índia. A história, que muitas vezes chega a pare- Joris Ivens reflections about his cer ficção, gira em torno dos “gatos” (katyya) e o practice with documentaries , protagonista central é Loha Singh, um “mestre” watching movies on the theme dessas ligações clandestinas, (katiyabaaz). A câmera mostra todo o tempo a intrincada e precária teia de fios saindo das linhas principais para ligá-las ilegalmente a casas sem energia. Os diretores usam muito o recurso da câmera direta para capturar as contradições sociais e políticas que correm pelo cotidiano da população e da vida pessoal de Loha. A fotografia explora com precisão o “claro-escuro”, contrastando os momentos em que há luz e os apagões frequentes. As imagens em baixa luminosidade são particularmente interessantes do ponto de vista da estética do filme. Os autores não adotam uma marcada posição entre os dois lados da disputa, a companhia elétrica e o mestre das ligações ilegais, mas não escondem sua maior identificação com Loha. A Revolução do Lítio (The Lithium Revolution), de Andreas Pichler, volta-se para outra questão Desconectado Powerless of energy on the 3rd Ecofalante Environmental Film Festival The author of all of them seems to have no doubts about which side they are supposed to be. Some of them are very explicit, such as the defense of nuclear power in Pandora ‘s Promise of Robert Stone, or the denunciation of the effects of radiation on the Fukushima nuclear power plant accident in Fukushima: A Record of Living Things, from Masanori Iwasaki, the almost unknown explosion of the Mayak nuclear plant located in south of the Urals, in Metamorphosen, of Sebastian Mez, or the accident that displaces and separates a family in The Land of Hope, of Sion Sono. Others are more subtle, such as A Journey to the Safest Place on Earth, of Edgar Hagen, on the risks of storing waste originated from nuclear power plants. Fine-tuned to the dilemmas of our time, the films in the Exhibition shows a reflection on the threat of climate change; the confrontation around nuclear energy; the lack of energy that afflicts much of the world’s poorest ones, the lithium promise. Five of the seven films selected for the festival are about nuclear energy. I will talk about them in the end. Powerless of Fahal Mustafa and Deepti Kakkar, shows the other side of the energy problem : its lack. The power shortage affects specially the poor and powerless people in the world. In this case, energy lack and of poor quality causes conflict between those who should provide it and those who do not receive it, between who has and who has not. The energia energy 57 setting is Kanpur, India. The story, which sometimes looks like a fiction, is developed around the “cats” (katyya) and the central protagonist is Loha Singh , a “master” of these illegal connections (katiyabaaz). The camera shows all the time the intricate and fragile web of wires coming out of the main lines to connect them illegally to the houses without power. The directors use the resource of putting the camera very close to capture the social and political contradictions that goes through daily life of the population and Loha’s personal life. The photograph explores precisely the “light and darkness “ contrasting the times when there is light and the frequent blackouts. The low-light images are particularly interesting from the standpoint of aesthetics of crucial. A armazenagem barata, eficiente e em the film. The authors did not adopt escala suficiente de energia. A única alternativa a marked position between the two em processo avançado de desenvolvimento é a sides of the dispute, the electric bateria de lítio-íon. Mas ela ainda não atende company and the master of illegal plenamente a esses requisitos. Armazenagem connections, but do not hide their adequada permitiria que a energia das fontes greater identification with Loha. solar e eólica ganhasse escala e pudesse subs- The Lithium Revolution, of Andreas tituir tanto os combustíveis fósseis, quanto a Pichler, turns to another crucial nuclear. Ela é a chave, também, para a e-mobi- issue. The cheap storage in efficient lidade, baseada em veículos elétricos com auto- and sufficient energy scale. The only nomia comparável aos veículos com motores alternative in advanced development a combustão. O filme, algumas vezes, resvala process is the lithium- ion batteries. para a pressão sobre o governo da Bolívia para But it does not fully meet these abrir seus enormes campos de lítio no deserto requirements yet. Proper storage de sal de Uyuní à exploração internacional. Do would allow energy from solar and ponto de vista da estrutura narrativa, apro- wind sources gain scale and could xima-se de Promessa de Pandora (Pandoras’s replace both fossil fuels such as Promise), entrevistando personagens do mundo nuclear power. This is also the do lítio que tratam de suas promessas, limita- key to e-mobility based on electric ções atuais e futuro. vehicles with comparable autonomy Promessa de Pandora (Pandora’s Promise), as vehicles with combustion uma produção muito bem cuidada, adota engines. The film sometimes com toda a transparência a promoção da ener- slips into pressure on the Bolivian gia nuclear. Centra-se em depoimentos clara- government to open its huge fields mente estruturados, diante de uma câmera of lithium in the salt desert of Uyuni A Revolução do Lítio The Lithium Revolution geralmente parada. Mas a edição é dinâmica, a fotografia limpa, as locações bem escolhidas. O documentário visita algumas áreas icônicas do dilema nuclear, como Chernobyl e Fukushima, palcos dos piores acidentes nucleares da história. Seus protagonistas principais são figuras de prestígio da indústria nuclear e do ambientalismo. Conheço bem a trajetória de três deles. Todos autores importantes no tema ambiental e da mudança climática. Stewart Brand foi um pioneiro do lado verde da contracultura, com a publicação do “The Whole Earth Catalog”, nos anos 1960 nos EUA. Mais recentemente, criou a The Long Now Foundation, dedicada a estimular visões de longo prazo e à disseminação de ideias inovadoras que ajudem a humanidade a enfrentar seus principais desafios. É mestre em adotar posições polêmicas. Mark Lynas é autor de dois livros sobre a ameaça real da mudança climática: “High Tide: the truth about our climate crisis” e “Six Degrees: our future in a hotter planet”. Sua conversão recente à energia nuclear e aos transgênicos foi recebida como um escândalo entre os to international exploitation. On the point of view of narrative structure, it looks like Pandora ‘s Promise, interviewing personalities of the world of lithium which and approach to their promises, current limitations and future. Pandora ‘s Promise, a very careful production, adopts fully transparent promotion of nuclear energy. Focus on clearly structured interviews, usually on a still camera, but with a dynamic edition, clean photography and well-chosen locations . The documentary visits some iconic areas of the nuclear dilemma, like Chernobyl and Fukushima, stages of the worst nuclear accidents in history. Its main protagonists are people of prestige from the nuclear industry and environmentalism. I know the trajectory of three of them, all important authors in the environmental theme and climate change. Stewart Brand was a pioneer of counterculture green, with the publication of “The Whole Earth Catalog” in the 1960s in the USA. Most recently, he created the The Long Now Foundation, dedicated to stimulate long-term visions and to disseminate innovative ideas that help humanity to face its The power shortage affects specially the poor and powerless people in the world. In this case, energy lack and of poor quality causes conflict between those who should provide it and those who do not receive it energia energy 59 ambientalistas europeus. Michael Shellenberg major challenges. He is master in sempre militou em causas socioambientais. adopting controversial positions. Em 2004, provocou intensa reação no meio Mark Lynas is the author of two ambientalista, ao circular, com Ted Nordhaus, books about the real threat of artigo muito polêmico, com o título provoca- climate change : “High Tide : the dor de “The death of environmentalism” (“A truth about our climate crisis” and morte do ambientalismo”). Eles expandiram “Six Degrees : our future in a hotter o argumento de que o ambientalismo preci- planet”. His recent conversion to sava mudar seu foco e sua narrativa para vol- nuclear power and transgenics tar a ter vitórias no livro “Break Through: from was received as a scandal among the death of environmentalism to the poli- European environmentalists. tics of possibility”. Os dois mantêm o The Michael Shellenberg always Breakthrough Institute, de orientação mode- campaigned on environmental radamente conservadora, que defende políti- causes. In 2004 he provoked cas públicas para energia e mudança climática, intense reaction in environmental entre outras áreas. São fortes defensores de circles by spreading with Ted energias renováveis e eficiência energética. Nordhaus a very controversial Os melhores argumentos do filme são aque- article with the provocative title les a favor da energia nuclear no quadro de acele- “The death of environmentalism”. rado crescimento do risco associado à mudança They expanded the argument climática. O filme me impressiona menos that environmentalism needed to quando minimiza os efeitos de acidentes nucle- change its focus and its narrative ares e os riscos associados aos resíduos radiati- to get back victories on the book vos. Ao tratar das posições contrárias à energia “Break Through: from the death of nuclear, não entrevista nenhum autor do mesmo environmentalism to the politics porte de seus protagonistas. Prefere mostrar a of possibility”. The Breakthrough posição mais impressionista de militantes san- Institute is conducted by them, guíneos. Mas, como disse, Promessa de Pandora with moderately conservative guidance, to advocate public policies to energy and climate change, among other areas. They are strong advocates of renewable energy and energy efficiency. The best arguments of the film are those in favor of nuclear energy in the context of rapid growth to the risk associated with climate change. The film impresses me less when it minimizes the effects Promessa de Pandora (Pandora’s of nuclear accidents and the risks associated with radioactive waste. Promise) é transparente no When dealing with positions seu propósito de promover against nuclear power, it does not interview any author of the same a energia nuclear. Não faz size of its protagonists and prefer questão de tratar com o to show the more impressionistic position of some bloodthirsty mesmo peso o outro lado. militants. But as I said, Pandora‘s Promise is transparent in its Pandora‘s Promise is transparent in purpose to promote nuclear energy. its purpose to promote nuclear energy. It does not deal with the question of even weight the other side. It’s a It does not deal with the question good movie, with good arguments, of even weight the other side. which will provoke talk. But did not change me. Fukushima : A Record of Living Things is a cautionary counterpoint to the inevitable optimism from Pandora ‘s Promise. Almost a “road movie” it documents the search of a scientist for living creatures in the affected areas of Fukushima’s disaster still sealed to the previous inhabitants. It wants to record the effects that radiation caused in animals. (Pandora’s Promise) é transparente no seu proPerhaps the clearest evidence pósito de promover a energia nuclear. Não faz shown by the film is the low questão de tratar com o mesmo peso o outro occurrence of many species and lado. É um bom filme, com bons argumentos, the radiation present in the fish que vai dar o que falar. Mas não me converteu. entrails. But while searching for Fukushima: Um Registro das Coisas Vivas living creatures, it finds so many (Fukushima: A Record of Living Things) é um contraponto acautelador do otimismo inevitável marks of the tragedy and gives us de Promessa de Pandora (Pandora’s Promise). a dimension less emotional, not Quase um “road movie”, documenta a busca de hot as in the time of the events, um cientista por criaturas vivas nas áreas afeta- on the extent of the destruction das pelo desastre de Fukushima, ainda vedadas and social drama, not just from aos antigos habitantes. Quer registrar os efei- the tsunami but also from the tos que a radiação causou nos animais. Talvez a explosions of the Fukushima evidência mais clara mostrada pelo filme seja a reactors. The camera gives the real baixa ocorrência de muitas espécies e a radiação - human and physical - extension of presente nas entranhas de peixes. Mas ao sair the tragedy that is still unfolding em busca das criaturas vivas, encontra as mui- around Fukushima. It finds very tas marcas da tragédia e nos dá uma dimensão interesting human characters living menos emocional, menos no calor da hora, da in the area. Fukushima: A Record extensão que foi a destruição e o drama social, of Living Things has the DNA of não apenas do tsunami, mas também das explo- the most classic documentaries sões dos reatores de Fukushima. A câmera dá a . A less clean aesthetic with the extensão real, humana e física da tragédia que direct camera recording every step ainda se desenrola no entorno de Fukushima. of this journey through the ghost Encontra personagens humanos muito inte- streets and interviews with local ressantes vivendo na área. Fukushima: Um characters and experts. Registro das Coisas Vivas (Fukushima: A Record Seeing the two films drove me to of Living Things) tem o DNA dos documentários a serious doubt . The first recorded energia energy 61 Promessa de Pandora Pandora’s Promise negligible levels of radioactivity in the sites visited in Fukushima . The second recorded levels above the tolerable for humans . Who is right ? Maybe this is not a question to be taken to documentaries, but a matter for science to resolve empirically with systematic methodology . The Land of Hope is not a documentary. In a certain extent it complements Fukushima : A Record of Living Things with drama and poetry. It is a fiction about the disruptive impact of a nuclear accident on two neighbor families in rural Japan, after an earthquake followed by a tsunami. It takes place in the fictional province of Nagashima (Hiroshima + Nagasaki or Nagasaki + Fukushima?). The main focus is on the Ono family. Aesthetically, Sion Sono uses in a very skillful way the documentary narrative style, with the clear objective of seeking maximum realism for more than two-thirds of its long duration. However, the film contains numerous symbolic allusions, deeply rooted in Japanese culture. At the end , photography and narrative adopts a poetic and almost dreamlike, heavily dramatic tone, ending the story with sensitivity and emotion. mais clássicos. Uma estética menos limpa, com a câmera direta registrando cada passo dessa jornada pelas ruas fantasmas e entrevistas com personagens locais e especialistas. Ao ver os dois filmes em sequência, ficou-me uma séria dúvida. O primeiro, registra níveis desprezíveis de radiatividade nos sítios que visita em Fukushima. O segundo, registra níveis acima do tolerável para os seres humanos. Quem tem razão? Talvez essa não seja uma pergunta a ser feita aos documentários, mas uma questão para a ciência resolver empiricamente, com metodologia sistemática. Terra da Esperança (The Land of Hope) não é um documentário. Em certo sentido, complementa, com dramaturgia e poesia, Fukushima: Um Registro das Coisas Vivas (Fukushima: A Record of Living Things). É uma ficção sobre o impacto disruptivo de um acidente nuclear em duas famílias vizinhas no Japão rural, após um terremoto seguido de um tsunami. Ele se passa na fictícia província de Nagashima (Nagasaki + Hiroshima ou Nagasaki + Fukushima?). O foco principal é na família Ono. Esteticamente, Sion Sono recorre, de maneira muito hábil, à forma narrativa do documentário, com o claro objetivo de buscar o máximo de realismo, por mais de dois terços de sua longa duração. Contudo, o filme contém numerosas alusões simbólicas, profundamente enraizadas na cultura japonesa. Ao final, a fotografia e a narrativa adotam um tom poético e quase onírico, fortemente dramático, fechando uma estória contada com sensibilidade e emoção. Fukushima é lembrada repetidamente, como para “colar” o real Terra da Esperança The Land of Hope ao ficcional. A referência ao acidente real também projeta para o futuro e as futuras gerações o risco e as conseqüências da energia nuclear. O acidente de Nagashima se daria depois de Fukushima. O centro da narrativa é o velho chefe da família Ono, que vive uma terna relação com sua mulher dominada pela demência senil. Os dois atores têm desempenho marcante, de grande sensibilidade. Toda a preocupação dele e o olhar convergente da estória é com o futuro, representado primeiro pelos personagens mais jovens e, em última instância, pelo neto ainda por nascer. A Jornada ao Local mais Seguro da Terra (Journey to the Safest Place on Earth), de Edgar Hagen, é uma proposta. Hagen, um documentarista conhecido por seu estilo de filme-reportagem, adota a estratégia de perguntar exaustivamente sobre a existência real de um local completamente seguro para servir de depósito para os resíduos nucleares gerados em todo o mundo. O documentário tem um personagem central, a quem se dirige a maioria das perguntas de Hagen. Ele é Charles McCombie, que tem liderado essa busca por um local seguro para o lixo nuclear por 35 anos. Como o próprio Hagen diz, neste filme ele embarca “numa jornada que examina o complexo processo de busca pelo local mais seguro Jornada ao Local mais Seguro da Terra A Journey to the Safest Place on Earth Fukushima is reminded repeatedly, like if is “to paste” the real to the fictional. The reference to the actual accident also designs for the future and future generations the risk and consequences of nuclear energy. The accident Nagashima accident seems to happen after Fukushima . The center of the narrative is the old head of the Ono family, who lives a tender relationship with his wife dominated by senile dementia. The two actors have outstanding performance and high sensitivity. All his concern and the converging story is looking to the future, represented first by the younger characters and, ultimately, by the unborn grandson. The Journey to the Safest Place on Earth, of Edgar Hagen is a proposal. Hagen, a documentary filmmaker known for his style of film-report, adopts the strategy of asking hardly about the actual existence of a completely safe place to be used as the location for the nuclear waste generated worldwide. The documentary has a central character, to whom it is addressed most Hagen´s questions. He is Charles McCombie, who has led the search for a safe place for nuclear waste site along 35 years. As Hagen says, this film he embarks “on a journey that examines the complex process of searching for the safest place on earth”. He describes his documentary as “focused on the people who have to solve that problem for us, portraying his efforts, concerns, battles, hopes and failures. The central protagonist, Charles McCombie, never lost faith even energia energy 63 for a moment. The film collects numerous testimonials and the simple and sincere, but no less shrewd questions that Hagen does. tells a no ending story. It travels around the world from the Yucca Mountain to the Gobi Desert, to Sweden and to Australia. The search O governo soviético usou is exhaustive and can not find that safe place. Halfway there, exposes como cobaias as populações the marketing strategies of the dos lugarejos às margens nuclear industry and the conflicts that this incessant demand leads. In do rio Tetcha, cujas águas his narration, in first person, Hagen continuam radiativas, para stresses his doubts. He made personal discoveries while filming. estudar o efeito de explosões “In the midst of this struggle [to film nucleares em pessoas. the radioactive waste] there was an idea growing inside me that da terra”. Ele descreve seu documentário como we will only find the safest place “focalizado nas pessoas que têm como objetivo if we become able to challenge resolver esse problema para nós, retratando collectively the extreme pressure of seus esforços, preocupações, batalhas, esperan- economic constraints, and do not ças e fracassos. O protagonista central, Charles blindly believe in everything you are McCombie, nunca perdeu a fé um momento told and do not accept statements sequer”. O filme recolhe numerosos depoimen- of fact as absolute truths”. tos e as perguntas simples, sinceras e nem por The astonishment caused by isso menos argutas de Hagen, vão contando Metamorphosen begins in the first uma história sem fim. Dá a volta ao mundo de image with the beautiful black-andYucca Mountain ao deserto de Gobi, à Suécia e white, often showing scenes almost à Austrália. A busca é exaustiva e não encontra frame by frame, such as in a photo esse lugar seguro. No meio do caminho, expõe exhibition . From all of them, this as estratégias de marketing da indústria nuclear movie is the one with the most e os conflitos que essa procura incessante pro- sophisticated aesthetic. The terror voca. Na sua narração, em primeira pessoa, continues , as it reveals the extent Hagen sublinha suas dúvidas. Ele fez descober- of the accident at the Mayak nuclear tas pessoais enquanto filmava . “No meio dessa plant, the first to produce fissile luta [para filmar os resíduos radiativos] formou- material for Russian bombs, in the -se em mim a ideia de que só encontraremos southern Urals, in Soviet territory, in o local mais seguro se conseguir coletivamente 1957, and the unacceptable fact that desafiar a extrema pressão das limitações eco- the true story was hidden by the nômicas, não acreditar cegamente em tudo que Soviet State over the decades. The nos é dito e não aceitar as afirmações de fato film has an unexpected beauty telling a desolating situation more than 50 como verdades absolutas.” O espanto causado por Metamorphosen years later situation. When watching (Metamorphosen) começa na primeira imagem, Metamorphosen , I ended convinced com a belíssima fotografia em preto e branco, that the Soviet government used as guinea pigs the populations of the villages on the banks of Tetcha river, whose waters are still radioactive, to study the effects of nuclear explosions on people in a certain radius away from the epicenter. The camera wanders through the landscapes of the region, the faces and the daily lives of people and hardly need words to tell the desolation, abandonment, horror and expectation story. The pace of the images , amazing in their cinematic aesthetics, gives us the exact dimension of the slow agony of those people. The narratives are impressive and unpretentious. Metamorphosen do not allow us to forget what has been covered up for so long by authoritarianism and censorship. Sergio Abranches, Ph.D. , sociologist, political scientist, political analyst and writer, and writes about Ecopolitics. As a commentator of CBN radio maintains daily newsletter “Ecopolitics”. Author of “Copenhague: Antes e Depois”, Brazilian Civilization, 2010 on the global political climate, and O Pelo Negro do Medo, romance, Record, 2012. He was awarded with the Journalists Award & Co. of HSBC Press and Sustainability. He was also the Sustainability Personality of the Year in 2011and received the Chico Mendes Environmental Journalism Award in 2013 (for radio program). muitas vezes mostrando cenas quase quadro a quadro, como uma exposição de fotos. De todos, é o filme com estética mais sofisticada. O espanto continua, à medida que vai revelando a extensão do acidente ocorrido na usina nuclear de Mayak, a primeira a produzir material físsil para as bombas russas, ao sul dos Urais, em território soviético, no ano de 1957, e o inaceitável acobertamento da verdade pelo estado soviético por décadas a fio. O filme é de uma beleza inesperada, narrando uma situação desoladora mais de 50 anos depois. Ao assistir a Metamorphosen, terminei convencido de que o governo soviético usou como cobaias as populações dos lugarejos às margens do rio Tetcha, cujas águas continuam radiativas, para estudar o efeito de explosões nucleares em pessoas em um determinado raio de distância do epicentro. A câmera passeia pelas paisagens da região, pelos rostos e pelo cotidiano das pessoas e quase não precisa palavras para contar essa história de desolação, abandono, horror e expectativa. O ritmo das imagens, surpreendentes em sua estética cinematográfica, nos dá a dimensão exata da lenta agonia daquelas pessoas. As narrativas são impressionantes e singelas. Metamorphosen não nos deixará esquecer o que foi encoberto por tanto tempo pelo autoritarismo e pela censura. Sérgio Abranches, PhD, sociólogo, cientista político, analista político e escritor. Escreve sobre Ecopolítica. É comentarista da rádio CBN, onde mantém o boletim diário Ecopolítica. Autor de Copenhague: Antes e Depois, Civilização Brasileira, 2010, sobre a política global do clima; e de O Pelo Negro do Medo, romance, Record, 2012. Prêmio Jornalistas&Cia HSBC de Imprensa e Sustentabilidade: Personalidade do Ano em Sustentabilidade 2011. Prêmio Chico Mendes de Jornalismo Socioambiental 2013 (rádio). The Soviet government used as guinea pigs the populations of the villages on the banks of Tetcha river, whose waters are still radioactive, to study the effects of nuclear explosions on people. energia energy 65 Desconectado Powerless Índia/EUA, 2013, 83’ Kanpur já foi uma das principais cidades industriais da Índia, mas sua infraestrutura precária hoje obriga boa parte da população a lidar constantemente com a falta de eletricidade. Loha Singh é um eletricista que realiza ligações clandestinas nos bairros pobres, fazendo funcionar pequenos negócios, fábricas e residências. Paralelamente, Ritu Maheshwari é a nova diretora da companhia de eletricidade local que tenta reprimir os roubos de eletricidade. Esses dois personagens são antagonistas de uma situação que se desdobra pela cidade. DIREÇÃO DIRECTOR Deepti Kakkar e Fahad Mustafa PRODUÇÃO PRODUCER Deepti Kakkar e Fahad Mustafa FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Maria Trieb e Kanpur was once one of the major industrial cities in India, Amith Surendran but its poor infrastructure today requires much of the EDIÇÃO EDITOR population to constantly deal with the lack of electricity. Maria Trieb, Namrata Rao Loha Singh is an electrician who performs illegal connections e Fahad Mustafa in poor neighborhoods, working for small businesses, factories and homes. In parallel, Ritu Maheshwari is the new director of the local electricity company that tries to repress theft of electricity. These two characters are antagonists of a situation that unfolds through the city. Desconectado Powerless energia energy 67 Jornada ao Local Mais Seguro da Terra Fukushima: Um Registro de Coisas Vivas Fukushima: A Record of Living Things DIREÇÃO DIRECTOR Japão, 2013, 76’ Masanori Iwasaki ROTEIRO WRITER O desastre nuclear de Fukushima após o grande terre- Masanori Iwasaki moto do leste do Japão forçou as pessoas a evacuar a área, mas o que aconteceu com os animais selvagens que não tinham para onde ir? Substâncias radioativas que se espalham por áreas restritas e não restritas estão afetando não apenas os animais selvagens, como andorinhas, vacas, ratos do campo, toupeiras, javalis, porcos selvagens e macacos japoneses, mas também animais de fazenda e de estimação. Este filme documenta o que está acontecendo nas áreas contaminadas pela radiação. The Fukushima nuclear disaster after the Great East Japan Earthquake forced people to evacuate but what happened to the wild animals that had nowhere to go? Radioactive substances that spread through the restricted and nonrestricted areas are affecting not just wild animals such as swallows, cows, field mouse, moles, wild boar and pig crossbreds and Japanese monkeys etc, but also farm animals and pets. This film documents what is going on in the radiation contaminated areas. DIREÇÃO DIRECTOR Journey to the Safest Place on Earth Edgar Hagen Suíça, 2013, 100’ PRODUÇÃO PRODUCER Hercli Bundi Ao longo dos últimos 60 anos, mais de 350.000 tonelaROTEIRO WRITER das de resíduos nucleares de alto nível foram acumuladas Edgar Hagen em todo o mundo. Este material deve ser depositado por FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER milhares de anos em um lugar seguro, ou seja, onde não Peter Indergand irá prejudicar os seres humanos ou o meio ambiente. EDIÇÃO EDITOR No entanto, tal depósito ainda precisa ser criado e a pro- Paul-Michael Sedlacek e dução de resíduos nucleares continua inabalável. O Edgar Hagen internacionalmente renomado físico nuclear suíço Charles McCombie e alguns de seus mais importantes aliados fornecem ao diretor Edgar Hagen um panorama de sua luta persistente para encontrar o lugar mais seguro da terra, a fim de resolver esse grave dilema. Over the last 60 years, more than 350,000 tons of highlevel nuclear waste has been amassed the world over. This material must be deposited for thousands of years in a safe place, i.e. one that will not harm humans or the environment. However, such a repository has yet to be created and the production of nuclear waste continues unabated. Swiss-based nuclear physicist and internationally renowned repository specialist Charles McCombie and some of his most important allies provide director Edgar Hagen with insight into their persistent struggle to find the safest place on earth in order to resolve this grave dilemma. energia energy 69 Metamorphosen Promessa de Pandora Metamorphosen Alemanha, 2013, 84’ Estabelecidas na região Ural no sul da Rússia, o filme conta a história de pessoas que moram em um dos lugares mais contaminados por radiação do planeta. Fato desconhecido pelo público, a região foi irradiada repeti- DIREÇÃO DIRECTOR damente por diferentes acidentes da instalação nuclear Sebastian Mez Mayak, a primeira a produzir material físsil para armas PRODUÇÃO PRODUCER nucleares da União Soviética, ainda hoje ativa. O filme Sebastian Mez capta um perigo que não é perceptível ou visível, assim FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER como a força das pessoas que têm que lidar com ele. Sebastian Mez EDIÇÃO EDITOR Settled in the middle of nowhere in the south Ural region Katharina Fiedler in Russia, the film is the story of people living in one of the most radioactive contaminated spots on earth. Unknown to a wide public this region was repeatedly irradiated by different accidents of the nuclear facility Mayak, which was the first plant for the production of fissile material for nuclear weapons in the Soviet Union and which is still in operation. The filmmakers attempt is to find a cinematic translation for a danger that is not perceptible nor visual and to capture the strength of people who has to cope with it. Pandora’s Promise EUA, 2013, 89’ DIREÇÃO DIRECTOR Robert Stone PRODUÇÃO PRODUCER Robert Stone, Jim Swartz e Susan Swartz ROTEIRO WRITER Robert Stone FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Robert Stone EDIÇÃO EDITOR Don Kelszy Todos os ambientalistas e ativistas políticos de esquerda se opõem à energia nuclear, certo? Errado. Nós todos sabemos que os vazamentos nucleares em Chernobyl, Three Mile Island e agora Fukushima sinalizam o potencial de um holocausto nuclear global, certo? Errado. E se tudo o que sabíamos sobre a energia nuclear estivesse errado? E se a energia nuclear for a única fonte de energia que tem a capacidade de parar as mudanças climáticas? O ex-crítico da energia nuclear e documentarista Robert Stone examina algumas das crenças generalizadas sobre os perigos da energia nuclear em um esclarecedor e fascinante filme. All environmentalists and left-leaning political activists oppose nuclear energy, right? Wrong. We all know the nuclear meltdowns in Chernobyl, Three Mile Island and now Fukushima signal the potential of a global nuclear holocaust, right? Wrong. What if everything we knew about nuclear energy was wrong? What if nuclear power is the only energy source that has the ability to stop climate change? Former nuclear energy critic and documentarian Robert Stone examines some of the widespread beliefs about the dangers of nuclear energy in an illuminating and riveting film. energia energy 71 A Revolução do Lítio Terra da Esperança The Lithium Revolution The Land of Hope Alemanha/ Espanha, 2012, 52’ Em um momento de escassez global de recursos e aumento dos preços de energia, o lítio está no caminho para se tornar “o” recurso natural do século 21. O lítio é a base para um novo tipo de tecnologia de bateria e, portanto, um pré-requisito para a propagação de mobilidade eletrônica. Será o lítio uma resposta para a crise energética iminente e a chave para o futuro? Japão, 2012, 133’ DIREÇÃO DIRECTOR Andreas Pichler e Julio Weiss PRODUÇÃO PRODUCER Georg Tschurtschenthaler ROTEIRO WRITER Andreas Pichler e Julio Weiss FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER In a time of global resource shortage and Jakob Stark increasing energy prices, it is lithium that is on EDIÇÃO EDITOR the way to becoming „the“ natural resource Christian R. Timmann of the 21st century. Lithium is the basis for a new kind of battery technology and thus a prerequisite for the spreading of electronic mobility. Is lithium an answer to the imminent energy crisis and key to the future? DIREÇÃO DIRECTOR Sion Sono PRODUÇÃO PRODUCER Yuji Sadai, Mizue Kunizane e Yuko Shiomaki ROTEIRO WRITER Sion Sono FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Shigenori Miki Em uma típica vila japonesa, Yoichi Ono vive com sua esposa, Izumi e seus pais. A família Ono leva uma vida simples, mas feliz, como produtores de leite vivendo nessa pacata vila. Um dia, o pior terremoto da história causa a explosão de uma usina nuclear próxima. Seus vizinhos, que vivem dentro do alcance da usina de energia nuclear, são obrigados pelo governo a evacuar a área. Mas a família Ono tem apenas metade de seu jardim designado como dentro do alcance. Eles, então, tem que tomar uma decisão difícil de refugiar-se ou não. EDIÇÃO EDITOR Junichi Ito In a typical Japanese village, Yoichi Ono lives with his wife, ELENCO CAST Izumi and his parents. The Ono family live a frugal, but happy Isao Natsuyagi, Naoko life as dairy farmers living in the peaceful village. One day the Otani e Jun Murakami worst earthquake in history strikes causing a nearby nuclear power station to explode. Their neighbors, who live within the range of the nuclear power station, are forcibly ordered to evacuate by the government. But the Ono family have only half of their garden designated as within range. They then have to make a hard decision whether to take refuge or not. energia energy 73 Povos, lugares e um mundo em comum Ana Beatriz Vianna Mendes povos e lugares people and places Peoples, places and a world in common “O mundo é de quem não sente. A condição essencial para se ser um homem prático é a ausência de sensibilidade. A qualidade principal na prática da vida é aquela qualidade que conduz à ação, isto é, a vontade. Ora há duas coisas que estorvam a ação — a sensibilidade e o pensamento analítico, que não é, afinal, mais que o pensamento com sensibilidade. Toda a ação é, por sua natureza, a projeção da personalidade sobre o mundo externo, e como o mundo externo é em grande e principal parte composto por entes humanos, segue que essa projeção da personalidade é essencialmente o atravessarmo-nos no caminho alheio, o estorvar, ferir e esmagar os outros, conforme o nosso modo de agir. Ana Beatriz Vianna Mendes “The world belongs to those who don’t feel. The essential condition for being a practical man is the absence of sensibility. The chief requisite for the practical expression of life is will, since this leads to action. Two things can thwart action – sensibility and analytic thought, the latter of which is just thought with sensibility. All action is by nature the projection of our personality on to the external world, and since the external world Para agir é, pois, preciso que nós não figuremos com facilidade as personalidades alheias, as suas dores e alegrias. Quem simpatiza para. O homem de ação considera o mundo externo como composto exclusivamente de matéria inerte — ou inerte em si mesma, como uma pedra sobre que passa ou que afasta do caminho; ou inerte como um ente humano que, porque não lhe pôde resistir, tanto faz que fosse homem como pedra, pois, como à pedra, ou se afastou ou se passou por cima.” – Fernando Pessoa. In: ‘O Livro do Desassossego’ A partir dos documentários selecionados para a sessão Povos e Lugares da Mostra Ecofalante de 2014, outra não é nossa sensação senão a de reflexão e perplexidade diante povos e lugares people and places 75 Homens e mulheres que com seus modos próprios de conceber o mundo e de lidar com o ambiente, nos mostram como são ricas e plurais as possibilidades de conferir significado à vida e ao mundo. da condição humana, do relacionamento dos homens entre si e de seu relacionamento com o Planeta Terra. Nos vários lugares que passamos a conhecer por meio dos filmes, apreciamos algumas das agruras e satisfações de homens e mulheres que, com seus modos próprios de conceber o mundo e de lidar com o ambiente, nos mostram como são ricas e plurais as possibilidades de conferir significado à vida e ao mundo. Essa imensa diversidade de povos e seus lugares, da qual temos aqui apenas uma pequena mas rica amostra, muitas vezes refletida e reflexo da variedade espetacular das línguas existentes (só no Brasil, estimam-se 274 línguas indígenas faladas atualmente – IBGE, 2010; e, no mundo, pelo menos 6.000 Vila no Fim do Mundo Village at the End of the World is largely and firstly made up of human beings, it follows that this projection of personality is basically a matter of crossing other people’s path, of hindering, hurting or overpowering them, depending on the form our action takes. To act, then, requires a certain incapacity for imagining the personalities of others, their joys and sufferings. Sympathy leads to paralysis. The man of action regards the external world as composed exclusively of inert matter – either intrinsically inert, like a stone he walks on or kicks out of his path, or inert like a human being who couldn’t resist him and thus might as well be a stone as a man since, like a stone, he was walked on or kicked out of the way.” – Fernando Pessoa. In: “O livro do Desassossego”(The Book of Disquiet) From selected documentaries for the Peoples and Places Session at Ecofalante Film Festival 2014, our sense is not more than a reflection and perplexity on the human condition, the relationship among men and their relationship with the Earth. In several places we came to know through the movies, we enjoyed some of the travails and satisfactions of men and women who with their own ways of conceiving the world and dealing with the environment, show us how rich and plural are the ways of giving meaning to life and to the world. This vast diversity of peoples and their places, of which we have here only a small but rich sample, often reflected and reflecting the spectacular range of existing languages (just in Brazil there are Men and women who with their own ways of conceiving the world and dealing with the environment, show us how rich and plural are the ways of giving meaning to life and to the world. – Summer Institute of Linguistics, Texas, 1995), denota, em muitos casos, um saber profundo e respeitoso em relação ao ambiente. Este saber, no entanto, ao contrário do que às vezes pode parecer, não está baseado necessariamente numa condição de isolamento de povos e seus lugares em relação a outros lugares e centros de poder. São muitos os laços que ligam esses povos e comunidades ao mundo. Isso fica claro, por exemplo, no caso do filme com o sugestivo título de Vila no Fim do Mundo (Village at the End of the World). A decisão do governo de fechamento da fábrica de peixes na longínqua vila Inuit de Niaqornat, na Groelândia, uma comunidade habitada por apenas 59 pessoas, instaura um drama que diz respeito à possibilidade da vila ter que ser abandonada pelos seus moradores em decorrência da falta de trabalho. Outro documentário que retrata os povos Inuit, e este trazendo um recorte histórico mais amplo e com um escopo político mais claro, é Defensores do Ártico (Arctic Defenders). Ele trata justamente da união e mobilização social dos povos Inuit, de diversos lugares, para terem reconhecidos os seus direitos de soberania diante do Estado Canadense. Apenas unidos eles poderiam conseguir tal façanha. Outro caso que aparentemente denota uma situação de isolamento, mas que em realidade nos mostra justamente a conexão deste lugar around 274 indigenous languages spoken today - IBGE , 2010; and in the world, at least 6,000 - Summer Institute of Linguistics, Texas, 1995) indicates, in many cases, a profound and respectful knowledge towards the environment. This knowledge, however, contrary to what sometimes may seem, is not necessarily based on a condition of isolation of peoples and their locations regarding other locations and power centers. There are many ties that bind these peoples and communities to the world. This is clear, for example, in the case of the film with the suggestive title of Vila no fim do mundo (Village at the End of the World). The government’s decision to close the fish factory in remote Inuit village of Niaqornat, in Greenland, an inhabited community for only 59 people, introducing a drama that concerns the possibility of the village having to be abandoned by its residents due to the lack of job. Another documentary that portrays the Inuit peoples, and this was supposed to bring a historical view and with a wider and clearer political scope, is Defensores do Ártico (Artic Defenders). It is precisely the union and social mobilization of the Inuit peoples, from different places, in order to have their rights of sovereignty recognized by the Canadian State. Only together they could achieve such a feat. povos e lugares people and places 77 com o mundo, é Floresta dos espíritos dançantes (Forest of the Dancing Spirits). O documentário mostra uma comunidade de pigmeus do Congo, com cosmologia, conhecimento sobre o meio e dinâmicas sociais e espirituais próprias, cujos sentimentos e crenças são apresentados pela diretora [Linda Västrik] de modo dramático, num mundo povoado por espíritos, especialmente a partir da narrativa de um casal que não consegue dar à luz uma criança viva. Mas, sorrateiramente, ficamos sabendo de mudanças que ocorrem no contexto da aldeia e que terão impacto incomensurável sobre a tribo. Finalmente, em Um Rio Muda de Curso (A River Changes Course), acompanhamos uma família pescadora e agricultora do Camboja e Defensores do Ártico Arctic Defenders Um Rio Muda de Curso A River Changes Course Another case that apparently denotes a situation of isolation, but in reality just shows the connection of this place with the world, is Floresta dos espíritos dançantes (Forest of the Dancing Spirits). The documentary shows a very social and spiritual community of pygmies in Congo with cosmology, knowledge about the environment and dynamics, whose feelings and beliefs are presented by the director (Linda Västrik) dramatically, in a world populated by spirits, especially from the narrative of a couple who could not give birth to a living child. But surreptitiously we get to know the changes that happen in the context of the village and that will have immeasurable impact on the tribe . Finally, in Um Rio muda de lugar (A River Changes Course), we follow a fisherman and farmer family from Cambodia and the various networks of influence that permeate the decisions and options for staying or leaving their places. Due to the lack of land (which has been bought by entrepreneurs), or the lack of fish (whose scarcity is due to the predatory activities of large fishing companies) , or even by debt (contracted for the maintenance of agriculture), these people move in search of work in the closest cities and even in other countries, confronting difficulties and dilemmas about the strategies for the family survival and place remaining for them. In these four documentaries there are implicit relations of knowledge and respect for the environment that have been threatened by the arrival of Floresta dos Espíritos Dançarinos Forest of the Dancing Spirit as várias redes de influência que permeiam as decisões e suas opções por permanecerem ou saírem de seus lugares. Seja pela falta de terra (que tem sido comprada por empresários), seja pela falta de peixe (cuja escassez é decorrente da atuação predatória das grandes empresas de pesca), ou seja ainda pelo endividamento (contraído em prol da manutenção da agricultura), essas pessoas circulam em busca de trabalhos na cidade mais próxima e mesmo em outros países, confrontando dificuldades e dilemas sobre as estratégias de sobrevivência da família e de permanência no lugar. Nesses quatro documentários estão implícitas relações de conhecimento e de respeito em relação ao ambiente que têm sido ameaçadas pela chegada de grandes empresas ou large companies or so-called ‘development’, in contexts that, in good measure, are related to the phenomenon of globalization . The dangers of entering an unknown territory are extensively narrated in conversations and testimony of fishermen from the Galicia neighborhood, in the movie Costa da Morte (Coast of Death). In a landscape already marked by huge windmills wind power, eucalyptus farms, quarrying and fishing in large scale, with harbors carrying goods of every kinds, there are still maritime processions, cavalcades, campsites in the mountains, craft hunters and fishermen. It is precisely these fishermen the main narrators of the various stories of shipwreck that occurred over the years in the dangerous coast of death, and they are also catching a real fight with the sea in order to ensure their livelihoods . Still on the theme of the struggle for survival, perhaps the most disturbing film is the short film Homem Máquina (Machine Man). What does it mean for us, as humanity, to know that we share the world today with people as the ones portrayed in different stunning and work povos e lugares people and places 79 do chamado ‘desenvolvimento’, em contextos que, em boa medida, se relacionam ao fenômeno da globalização. Os perigos de se adentrar num território desconhecido são extensivamente narrados nas conversas e depoimentos de pescadores da região da Galícia, no filme Costa da Morte (Coast of Death). Numa paisagem já marcada por enormes cataventos de energia eólica, por exploração de eucalipto, de pedreiras e de pesca de larga escala, com portos transportando produtos de todos os tipos, encontram-se ainda procissões marítimas, cavalgadas, campings nas montanhas, caçadores e pescadores artesanais. São justamente estes pescadores os narradores principais das várias histórias de naufrágio que ocorreram ao longo dos anos na perigosa Costa da Morte; e são eles também que travam uma verdadeira luta com o Mar para garantir seus sustentos. Ainda na temática da luta pela sobrevivência, talvez o filme mais inquietante seja o curta-metragem Homem Máquina (Machine Man). O que significa para nós, enquanto humanidade, saber que partilhamos o mundo, ainda hoje, com pessoas como as retratadas nas diversas e atordoantes situações de trabalho análogas à de escravidão, na Índia contemporânea? Trata-se, como os depoimentos dos personagens e o próprio título revelam, de uma desumanização desses homens e mulheres, submetidos a jornadas de trabalho de mais de doze horas diárias. É situations analogous to slavery in contemporary India? It is, as the statements of characters and the very title reveals, a dehumanization of these men and women subjected to more than twelve labor hours daily. It’s like watching Tempos Modernos (Modern Times), of Charles Chaplin (1936), re-actualized and transformed, he, the man himself, in machine. All of these situations made me think, resuming the argument from the beginning, in the relations among men to each other and to the Earth. In order to foster reflection, as a sort of broader contextualization of the problem, it is worth thinking whether the promises of modernity to ensure peace, prosperity and health to all mankind, from reason and science, have been met . What many of these documentaries show is not just about trying to create mechanisms to regulate the relations of men among themselves, a task that has been debated for a long time, Costa da Morte Coast of Death Homem Máquina Machine Man como ver Tempos Modernos, de Charles Chaplin (1936), reatualizado e, transformado, ele, o próprio homem, em máquina. Todas essas situações me fizeram pensar, retomando o argumento do início, nas relações que os homens travam entre si e com o planeta Terra. Para avançar na reflexão, como uma espécie de contextualização mais ampla do problema, vale pensar se as promessas da modernidade de garantir a paz, a prosperidade e a saúde a toda humanidade, a partir da razão e da ciência, foram cumpridas. O que muitos desses documentários mostram é que não se trata apenas de tentar criar mecanismos que regulem as relações dos homens entre si, tarefa há muito tempo debatida, embora a violência, o desrespeito e a desumanização ainda sejam práticas comuns. É preciso também, de forma urgente, pensar num pacto que regule a relação dos homens com o planeta Terra, numa escala global (Serres, 1991; Santos, 2007)1. Ainda que tal debate esteja ocorrendo de forma mais concreta desde pelo menos a Conferência de Estocolmo, em 1972, os filmes demonstram os reflexos da voracidade de alguns homens ou povos sobre outros povos, bem como sobre o Planeta Terra. Tal voracidade é propiciada, em grande medida, pela maior capacidade de ação sobre a Terra e também sobre os homens; sendo que os impactos dessas ações raramente podem ser calculados. although violence, disrespect and dehumanization are still common practice. We must also urgently think about a pact that governs our relationships with the planet Earth, on a global scale (Serres, 1991; Santos, 2007)1 . Although the debate is taking place in a more concrete form since at least the Stockholm Conference in 1972, the films demonstrate the effects of the greed of a few men or people on other peoples and on Planet Earth. Such greed is fostered largely by a higher capacity of action on Earth and on men, and the impacts of these actions can seldom be calculated . The already recognized and valued knowledge and indigenous people and traditional communities around the world - at least since the Convention on Biological Diversity, signed by 175 countries in 1992 - is only one aspect of the matter. But perhaps it is a crucial aspect. Considering the increasingly broad and widely recognized need for a new covenant with the human planet, perhap it is precisely these varied traditional peoples who povos e lugares people and places 81 A pergunta passa a ser então se é possível fazer um pacto que seja includente em relação aos vários mundos existentes no Planeta Terra. documentários A Criação Como a Vimos (The Creation as WeSaw It), que aposta numa experiência sonora arrojada e descreve a cosmologia de um povo do sul do Pacífico; e o já mencionado Floresta dos Espíritos Dançarinos (Forest of The Dancing Spirits), o fato de estarmos no mesmo planeta não garante que estejamos, de fato, tratando sobre as mesmas coisas. A pergunta passa a ser então se é possível fazer um pacto que seja includente em relação aos vários mundos existentes no Planeta Terra. The question then becomes whether it is possible to make a pact to be fully inclusive in relation to the various worlds featured on Planet Earth . Ana Beatriz Vianna Mendes é antropóloga, O já reconhecido e valorizado conhecimento de povos e comunidades indígenas e tradicionais ao redor do mundo - desde pelo menos a Convenção sobre a Diversidade Biológica, assinada por 175 países, em 1992 – é apenas um dos aspectos da questão. Mas talvez seja um aspecto crucial. Levando em consideração a necessidade cada vez mais ampla e extensamente reconhecida de um novo pacto humano com o planeta, talvez sejam precisamente esses variados povos tradicionais os que estejam mais próximos de uma resposta plausível para esta crise civilizatória que atravessamos. Entretanto, como o demonstram de maneira mais evidente os are closer to a plausible answer to this civilization crisis we are experiencing. However, as shown more evidently the documentaries A Criação Como a Vimos (The Creation as We Saw It), which focuses on bold sound experience and describes the cosmology of people of the South Pacific, and the afore mentioned Floresta dos Espíritos Dançantes (Forest of The Dancing Spirits), the fact that we are on the same planet does not guarantee that we are indeed dealing with the same things . The question then becomes whether it is possible to make a pact to be fully inclusive in relation to the various worlds featured on Planet Earth . Ana Beatriz Vianna Mendes is an anthropologist, Professor of Anthropology at the Federal University of Minas Gerais and part of the Research Group on Environmental Issue (GESTA / UFMG) and of the Research Group Town and Otherness : urban multicultural coexistence and justice (UFMG/CES - Coimbra) . A Criação Como a Vimos The Creation as WeSaw It professora do Departamento de Antropologia da Universidade Federal de Minas Gerais e participa do Grupo de Pesquisa em Temáticas Ambientais (GESTA/ UFMG) e do Grupo de Pesquisa Cidade e Alteridade: convivência multicultural e justiça urbana (UFMG/ CES-Coimbra). Legislação comentada/pertinente BRASIL, 2007. Decreto n° 6.040. Institui a Política Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades Tradicionais. BRASIL, 2005. Decreto n° 5.051, de 19 de abril de 2004, promulga a Convenção n°169 da Organização Internacional do Trabalho. BRASIL, 1998. Decreto n° 2.519, de 16 de março de 1998. Promulga a Convenção sobre Diversidade Biológica. Commented / relevant legislation BRAZIL, 2007. Decree No. 6,040. Establishing the National Policy for the Sustainable Development of Traditional Peoples and Communities . BRAZIL, 2005. Decree No. 5,051, of April 19, 2004. Promulgating the Convention 169 of the International Labor Organization. BRAZIL, 1998. Decree No. 2,519, of March 16, 1998. Promulgates the Convention on Biological Diversity. povos e lugares people and places 83 Costa da Morte A Criação Como a Vimos Coast of Death Espanha, 2013, 81’ Costa da Morte é uma região no noroeste da Galícia, que foi considerada como o fim do mundo durante o período romano. Seu nome dramático vem dos inúmeros naufrágios que aconteceram ao longo da história nesta área feita de rochas, névoa e tempestades. Atravessamos esta terra observando as pessoas que a habitam, pescadores, coletores de mariscos, madeireiros... Testemunhamos artesãos tradicionais que mantêm tanto uma relação íntima quanto uma batalha antagônica com a vastidão do território. O vento, as pedras, o mar, o fogo, são personagens deste filme, e através deles nos aproximamos do mistério da paisagem, entendendo-a como um conjunto unificado com o homem, sua história e lendas. The Creation As We Saw It Reino Unido, 2012, 14’ DIREÇÃO DIRECTOR Lois Patiño PRODUÇÃO PRODUCER Felipe Lage Coro e Martin Pawley FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Lois Patiño EDIÇÃO EDITOR Lois Patiño Três histórias míticas da República de Vanuatu, uma ilha-nação localizada no Oceano Pacífico Sul, sobre a oriBen Rivers gem dos seres humanos, porque os porcos caminham FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER de quatro, e porque um vulcão fica onde ele se encontra. DIREÇÃO DIRECTOR Ben Rivers EDIÇÃO EDITOR Three mythical stories from the Republic of Vanuatu, an Ben Rivers island nation located in the South Pacific Ocean, concerning the origin of humans, why pigs walk on all fours, and why a volcano sits where it does. Costa da Morte is a region in the northwest of Galicia, which was considered as the end of the world during the Roman period. Its dramatic name comes from the numerous shipwrecks that happened along history in this area made of rocks, mist and storms. We cross this land observing the people who inhabit it, fishermen, gatherers of shellfish, loggers... We witness traditional craftsmen who maintain both an intimate relationship and an antagonistic battle with the vastness of this territory. The wind, the stones, the sea, the fire, are characters in this film, and through them we approach the mystery of the landscape, understanding it as a unified ensemble with man, his history and legends. povos e lugares people and places 85 Defensores do Ártico Arctic Defenders Canadá, 2013, 90’ Defensores do Ártico conta a notável história iniciada em 1968 com um movimento radical Inuit que mudaria o cenário político para sempre. Ele levou à maior reivindicação de terras da história da civilização ocidental, orquestrada pelos jovens visionários Inuit com um sonho: a governança do seu território - a criação de Nunavut. A história revela o lado obscuro da ameaça do Canadá à soberania no norte e encontra esperança e inspiração a partir da determinação Inuit que mudou as regras do jogo. DIREÇÃO DIRECTOR John Walker PRODUÇÃO PRODUCER Alethea Arnaquq-Baril, Charles Konowal, e John Walker ROTEIRO WRITER John Walker FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Charles Konowal, e John Arctic Defenders tells the remarkable story that began Walker in 1968 with a radical Inuit movement in Canada, that EDIÇÃO EDITOR would change the political landscape forever. It led to the Jeff Warren largest land claim in western civilization, orchestrated by young visionary Inuit with a dream - the governance of their territory - the creation of Nunavut. The story reveals the dark side of Canada’s attempt at sovereignty in the north and finds hope and inspiration from determined Inuit who changed the rules of the game. povos e lugares people and places 87 Floresta dos Espíritos Dançarinos Homem Máquina Machine Man Espanha, 2011, 15’ Forest of the Dancing Spirits Canadá / Suécia, 2013, 104’ Akaya, Kengole, Dibota e seus amigos e família são caçadores-coletores (e também grandes contadores de histórias), que nos guiam através do seu mundo na floresta tropical da bacia do Congo. Eles explicam suas origens, mitos e o sentido bastante espiritual que dão à vida. O filme acompanha a singular vida comunitária do grupo ao longo de muitos anos. Nós testemunhamos a prática de sua espiritualidade nas situações mais difíceis. Sua religião é lúdica e muito criativa para lidar com as questões profundamente sérias da vida e da morte, e pode ser a mais antiga religião praticada hoje. Akaya, Kengole, Dibota and their friends and family are hunters-gatherers (and also great story-tellers) who guide us through their world in Congo Basin rainflorest. They explain their origins, myths, and the very spiritual meaning of life. The film follows their unique community life as it unfolds over many years. We experience the practice of their spirituality in the most difficult situations. Their religion is playful and highly creative in dealing with deeply serious matters of life and death, and may be the oldest human religion practiced on earth today. DIREÇÃO DIRECTOR Linda Västrik PRODUÇÃO PRODUCER Linda Västrik e Mila Aung-Thwin ROTEIRO WRITER Linda Västrik FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Linda Västrik EDIÇÃO EDITOR Fredrik Alneng DIREÇÃO DIRECTOR Roser Corella e Alfonso Moral PRODUÇÃO PRODUCER Roser Corella e Alfonso Moral Uma reflexão sobre a modernidade e o desenvolvimento global. Homens como máquinas. O uso da força física humana para realizar trabalhos no século XXI. O filme se passa na capital de Bangladesh, Daca, onde uma massa de milhões de pessoas tornou-se a força motriz por trás da cidade. FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Alfonso Moral A reflection on modernity and global EDIÇÃO EDITOR development. Men as machines. The use of Roser Corella human physical force to perform work in the XXI Century. The film takes place in the capital of Bangladesh, Dhaka, where a mass of millions of people become the driving force behind the city. povos e lugares people and places 89 Vila no Fim do Mundo Um Rio Muda de Curso Village at the End of the World A River Changes Course Camboja/ EUA, 2012, 83’ Reino Unido, 2013, 76’ Duas vezes por ano no Camboja, o rio Tonle Sap muda de curso, enquanto o rio da vida flui em um ciclo perpétuo de morte e renascimento e de criação e destruição. Trabalhando em um estilo íntimo, Kalyanee Mam passou dois anos em sua terra natal acompanhando três jovens cambojanos lutando para superar os efeitos esmagadores do desmatamento, sobrepesca e da dívida opressiva. DIREÇÃO DIRECTOR Kalyanee Mam PRODUÇÃO PRODUCER DIREÇÃO DIRECTOR Sarah Gavron Niaqornat, no Noroeste da Groenlândia, tem uma populae David Katznelson ção de 59 pessoas. Se a população cair abaixo de 50, a vila perde seus subsídios dinamarqueses e corre o risco de ter Kalyanee Mam e Ratanak Leng Al Morrow e Helle Faber todos os seus habitantes transferidos para a cidade mais FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Kalyanee Mam EDIÇÃO EDITOR Twice a year in Cambodia, the Tonle Sap River changes Chris Brown course, while the river of life flows in a perpetual cycle of death and rebirth and of creation and destruction. Working in an intimate, verite style, Kalyanee Mam, spent two years in her native homeland following three young Cambodians struggling to overcome the crushing effects of deforestation, overfishing, and overwhelming debt. PRODUÇÃO PRODUCER próxima. Sabemos que existem pressões latentes em um David Katznelson lugar como este - o gelo está derretendo, o governo não EDIÇÃO EDITOR quer mais subsidiar o navio de abastecimento que traz o Jerry Rothwell, alimento que não pode ser caçado, e as pessoas estão parRussell Crockett tindo devido à falta de trabalho. O filme reflete os dilemas e Hugh Williams da maioria das pequenas comunidades de todo o mundo, retratando um dos lugares mais remotos da Terra. Niaqornat in North West Greenland has a population of 59, if the population falls below 50 then the village loses its Danish subsidies and there is a danger of the entire village being relocated to the nearest town. We know that there are very real pressures on a place like this – the ice is melting, the government no longer wants to subsidise the supply ship that brings the food that can’t be hunted locally, and people are leaving due to the lack of work. Ultimately it’s a film that reflects the dilemmas of most small communities all over the world, this one just happens to be in one of the remotest spots on earth. povos e lugares people and places 91 Marca d’Água Watermark Canadá, 2013, 90’ especial dia da água water day special program DIREÇÃO DIRECTOR Jennifer Baichwal e Edward Burtynsky PRODUÇÃO PRODUCER Nicholas de Pencier ROTEIRO WRITER Jennifer Baichwal FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Todo ser vivo necessita de água. Nós, humanos, interagimos com ela em uma miríade de formas, várias vezes ao dia. Mas com que frequência consideramos a complexidade dessa interação? E, exceto quando confrontado por sua escassez, quando meditamos sobre sua onipresença na criação, manutenção e enriquecimento da vida? Marca d’Água reúne diversas histórias de todo o mundo sobre nossa relação com a água: como somos atraídos a ela, o que podemos aprender com ela, como a utilizamos e as consequências dessa utilização. Nicholas de Pencier EDIÇÃO EDITOR Every living thing requires water. We humans interact with Roland Schlimme it in a myriad of ways, numerous times a day. But how often do we consider the complexity of that interaction? And, unless confronted by scarcity, when do we meditate on its ubiquity in creating, sustaining and enriching life? Watermark brings together diverse stories from around the globe about our relationship with water: how we are drawn to it, what we learn from it, how we use it and the consequences of that use. Paulicéia Canta, TY-ETÊ! Paulicéia Sings, TY-ETÊ! DIREÇÃO DIRECTOR Céu D’Ellia Tendo como palco o principal rio da cidade de São Paulo, o Rio Tietê, vemos como a arte pode despertar a vida. PRODUÇÃO PRODUCER Céu D’Ellia With Tietê, the main river in the city of São Paulo, ROTEIRO WRITER as a stage, we witness how art can awaken life. Roney Freitas Marca d’Água Watermark especial dia da água water day special 93 competição latinoamericana latin american competition In its third edition, the Ecofalante Environmental Film Festival will reward the best Latin American movie. More than one hundred productions were received, from almost all Latin American countries, and 13 among these were selected and will be on display during the festival. There are movies from Mexico, Argentina, Uruguay, Peru, Bolivia, Ecuador and Brazil. A jury of three experts in the audiovisual and environmental sector will select the best production, which will be awarded at the end of the festival. The Competitive festival aims at encouraging Latin American production, promoting integration and exchange among the filmmakers and becoming a space for these encounters to happen. Em sua terceira edição, a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental vai premiar o melhor filme latino-americano. Foram recebidas mais de 100 produções, vindas de quase todos os países da América Latina. Deste total, 13 foram selecionadas e estarão em exibição durante a Mostra. Há filmes do México, da Argentina, do Uruguai, do Peru, da Bolívia, do Equador e do Brasil. Um júri formado por três especialistas do setor audiovisual e ambiental selecionará a melhor produção, que será premiada ao final da Mostra. A Mostra Competitiva objetiva incentivar a produção latino-americana, promover a integração e o intercâmbio entre os realizadores, tornando-se espaço para este encontro. competição latino-americana latin american competition 95 Júri Evaldo Mocarzel Evaldo Mocarzel tem 54 anos e nasceu no dia 9 de fevereiro de 1960 em Niterói, no Estado do Rio de Janeiro. Formou-se em Cinema e Jornalismo na Universidade Federal Fluminense, no Rio, em 1982. Foi editor de cultura do jornal O Estado de S. Paulo durante oito anos. Realizou os seguintes filmes: “Retratos no Parque” (1999); “À Margem da Imagem” (curta 2002 e longa 2003); “Mensageiras da Luz - Parteiras da Amazônia” (curta e longa 2004); “Primeiros Passos” (2005); “Do Luto à Luta” (2005); “À Margem do Concreto” (2006); “Jardim Ângela” (2007); “O Cinema dos Meus Olhos” (2007); “Brigada Pára-quedista” (2007), “Sentidos à Flor da Pele” (2008), “À Margem do Lixo” (2008), “BR-3 (a peça) e “BR-3 (o documentário)” (2009), “Quebradeiras” (2009), “Cinema de Guerrilha” (2010), “São Paulo Companhia de Dança” (2010), “Cuba Libre” (2011), “A Última Palavra é a Penúltima” e “Hysteria” (2012), e “Antártica” e “Dizer e Não Pedir Segredo” (2013). Como dramaturgo, escreveu as seguintes peças:”É o Bicho - A Ordem Natural das Coisas” (infantil com direção de Rosi Campos e Cláudia Borioni em 2003), “RG” (encenada por José Renato em 2004), “A Caçada” (ainda inédita), “Tragicomédia de um Homem Misógino” (encenada por André Guerreiro Lopes em 2009), “Kastelo” (livre adaptação da obra de Kafka, com encenação do Teatro da Vertigem em 2010), “A Conquista da Peste” (também ainda inédita), “Satyricon” (livre adaptação da obra de Petrônio com encenação do grupo Os Satyros) e “Fome de Notícia” (que foi encenada em 2013 no Centro Cultural São Paulo com direção de Maurício Perussi). Evaldo Mocarzel Evaldo Mocarzel is 54 years old and was born on February 9, 1960 in Niterói, Rio de Janeiro. He graduated in Film and Journalism at the Fluminense Federal University in Rio in 1982. He was the Culture editor on the newspaper O Estado de São Paulo for eight years. He has made the following films: Retratos no Parque, 1999 (Portraits in the Park); À Margem da Imagem, short in 2002 and feature in 2003 (Aside of the Picture); Mensageiros da Luz - Parteiras da Amazônia, short and feature in 2004 (Messengers of Light - Amazon Midwives); Primeiros Passos, 2005 (First Steps); Do Luto à Luta, 2005 (From Grief to Fight); À Margem do Concreto, 2006 (Aside the Concrete); Jardim Angela, 2007; O Cinema dos Meus Olhos, 2007 (The Cinema of My Eyes); Brigada Páraquedista, 2007 (Paratrooper Brigade); Sentidos à Flor da Pele, 2008 (Senses on the Edge); À Margem do Lixo, 2008 (Aside the Trash); BR-3, 2009 (the play and the documentary); Quebradeiras, 2009; Cinema de Guerrilha (Guerrilla Cinema, 2010); São Paulo Companhia de Dança, 2010 (São Paulo Dance Company); Cuba Libre, 2011; A Última Palavra é a Penúltima (The Last Word is the Penultimate One)” and Hysteria, 2012, Antarctica and Dizer e não Pedir Segredo (Say and Do not Ask for Secrecy) in 2013. As a playwright wrote the following plays: Ė o Bicho - A Ordem Natural das Coisas (It’s the Bug - The Natural Order of Things, a kids play directed by Rosi Campos and Claudia Borioni in 2003); RG (ID, directed by José Renato in 2004); A Caçada (The Hunt, still unpublished); Tragicomédia de um Homem Misógeno (Tragicomedy of a Misogynist Man, directed by André Guerreiro Lopes in 2009); Kastelo (free adaptation of Kafka’s work, staged in the Vertigo Theatre in 2010), A Conquista da Peste (The Pest Conquest, also still unpublished); Satyricon (free adaptation of the play from Petronius staged Paulina Chamorro Paulina Chamorro é jornalista, chilena, formada no Brasil. Com experiência no tema meio ambiente há mais de 15 anos, trabalhou como pauteira, produtora, repórter e apresentadora na Radio Eldorado AM e FM, foi assessora de comunicação da Reserva da Biosfera da Mata Atlântica (programa MaB/ UNESCO) e coordenadora de comunicação da Rede Brasileira de Reservas da Biosfera. Foi correspondente no Brasil para questões ambientais do programa de rádio Ventana al Mundo, produzido em espanhol pela Teleproductions Internacional (sediada em Washington-EUA) e distribuído para mais de 90 emissoras da América Latina e Caribe. Foi editora, produtora e repórter do projeto Mar Sem Fim, que por dois anos veiculou na TV Cultura e TVE-RJ 90 capítulos sobre a costa brasileira, mostrando a viagem da equipe do Oiapoque ao Chuí. Hoje é editora de meio ambiente e apresentadora de programas nas Rádios Eldorado e Estadão, emissoras do Grupo Estado. É diretora da empresa Andina Comunicação, onde desenvolve conteúdos em plataformas variadas. Fabio Luiz Vasconcelos Formado em ciências biológicas, com especialização em gestão ambiental pela Universidade de São Paulo, mestrando pela Universidade Estadual de Campinas, com estudos nas áreas de tecnologia da informação, comunicação e educação ambiental. Atua há 15 anos na área socioambiental e atualmente coordena o programa de Educação para a Sustentabilidade do Sesc SP. by the Satyros Group) and Fome de Notícias (Hungry for News, which was staged in 2013 at the Centro Cultural São Paulo directed by Maurice Perussi). Paulina Chamorro Paulina Chamorro is a Chilean journalist, graduated in Brazil . With experience in the environmental theme for over 15 years, Chamorro worked as an assignment editor, producer, reporter and presenter at Radio Eldorado AM and FM, was also a communication advisor for the Atlantic Forest Biosphere (MAB Programme / UNESCO ) and the communications coordinator for the Brazilian Network of Biosphere Reserves. She was a correspondent in Brazil for environmental issues on the radio program “Ventana al Mundo”, produced in Spanish by the Teleproductions International (based in Washington, USA) and distributed to over 90 broadcasters in Latin America and the Caribbean. She was editor, producer and reporter for the Endless Sea project, which ran for two years on TV Cultura and TVE RJ - 90 chapters on the Brazilian coast, showing the journey of the team from Oiapoque to Chuí. Nowadays Chamorro is the environmental editor and presenter at radio programs on the Radio Eldorado and Radio Estadão, broadcasters of the Estado Grupo. She is a director of Andina Communicação, which develops content for various platforms. Fabio Luiz Vasconcelos Fabio Luiz Vasconcelos graduated in biological sciences with specialization in environmental management at the University of Sao Paulo, has a master’s degree from the Campinas State University and has also taken courses in information technology, communication and environmental education. He has been working for 15 years in the environmental area and currently coordinates the Education for Sustainability Program at SESC SP. competição latino-americana latin american competition 97 74 Metros Quadrados Amazônia Desconhecida 74 Square Meters / 74 Metros Cuadrados Unknown Amazon Brasil, 2013, 71’ Chile/EUA, 2013, 67’ Iselsa e Cathy decidem participar de um projeto concebido por líderes em arquitetura social, que lhes dará sua casa própria e os integrará em um bairro de classe média. A câmera observa ao longo de sete anos: os recursos escassos, um bairro que os rejeita, problemas na construção, e os desastres que as chuvas trazem. A maior dificuldade será superar a divisão da comunidade. DIREÇÃO DIRECTOR Paola Castillo e Tiziana Panizza PRODUÇÃO PRODUCER Tiziana Panizza e Soledad Silva ROTEIRO WRITER Paola Castillo e Tiziana Panizza Iselsa and Cathy decided to take part in a project designed FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER by leaders in social architecture, which will grant them their Eduardo Cruz-Coke own home, and will integrate them into a middle class e Pablo Valdés neighborhood. The camera observed over 7 years: the scarce EDIÇÃO EDITOR resources, a neighborhood that rejects them, problems in the Andrea Chignoli construction, and the disasters the rains bring. The hardest thing will be to overcome the community’s division. DIREÇÃO DIRECTOR A Amazônia é um dos lugares mais famosos do mundo Daniel Augusto e e, curiosamente, um dos menos conhecidos. Em meio Eduardo Rajabally a tanta desinformação, o documentário se propõe uma PRODUÇÃO PRODUCER difícil missão: buscar as inúmeras verdades existentes, Fernando Dias, derrubando mitos e levando ao público um retrato mais Maurício Souza Dias, fiel da maior floresta tropical do planeta. Caio Gullane e Fabiano Gullane ROTEIRO WRITER The Amazon is one of the most famous places in the world Daniel Augusto, Luiz Bolognesi and, curiously, one of the least known. The documentary e Eduardo Rajabally has a difficult mission: to search for the existent truths, FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER understanding some myths and bringing to the public Dado Carlín, Mauro Martins, a more solid portrait of the biggest tropical forest in the Rodrigo Menck, Maurício Tibiriçá planet. e Carlos Jay Yamashita EDIÇÃO EDITOR Daniel Augusto, Alessandra Iglesias, Paulo Mattos, Veri Ravizza e Renata Terra competição latino-americana latin american competition 99 Apocalipse de Verão Chapada do Apodi, Morte e Vida Summer Apocalypse Apodi’s Plateau, Death and Life Brasil, 2013, 15’ Brasil, 2013, 27’ Rio de Janeiro, 45° C, praias lotadas: Apocalipse de verão! Daniel, 8 anos, está de férias na praia. Lá ele expe- DIREÇÃO DIRECTOR rimenta diversos mundos e se diverte entre a fantasia e Carolina Durão a realidade. Um dia, o mar está cheio de algas tóxicas. A PRODUÇÃO PRODUCER praia está imprópria! Será o fim do verão? Daniela Santos e Eduardo Ades ROTEIRO WRITER Rio de Janeiro, 113 Fahrenheit, packed beaches: summer Carolina Durão apocalypse! Daniel, 8 y-o, is on vacations. There he FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER experiences several worlds and plays between fantasy Ivo Lopes Araújo and reality. One day, the sea gets impregnated with toxic EDIÇÃO EDITOR seaweed rendering the beach inappropriate. Will that be the Karen Black end of summer? ELENCO CAST Pedro Perpétuo e Malu Rocha DIREÇÃO DIRECTOR Tiago Carvalho ROTEIRO WRITER Arthur Frazão e Tiago Carvalho FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Paulo Castiglioni EDIÇÃO EDITOR A Chapada do Apodi fica na divisa entre Ceará e Rio Grande do Norte. Em 1989, o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) implementou um projeto de irrigação no lado cearense. A área foi ocupada por grandes empresas de fruticultura, desarticulando a produção de milhares de pequenos agricultores. Em 2013, um projeto semelhante está prestes a chegar ao lado potiguar da chapada, ameaçando 6 mil agricultores familiares. Arthur Frazão The Apodi’s Plateau is on the border between Ceará and Rio Grande do Norte. In 1989, the National Department of Works Against Drought (DNOCS) implemented an irrigation project in the Ceará’s side. The area was occupied by large fruitculture companies, dismantling the production of thousands of small farmers’. In 2013, a similar project is about to come to Natal’s side of the plateau, threatening 6000 farmers families. competição latino-americana latin american competition 101 Linear Deserto Verde Linear Green Desert / Desierto Verde Brasil, 2013, 6’ Argentina, 2013, 84’ O uso de produtos químicos na produção agrícola tem mais de um século. Diferentes pesticidas têm sido utilizados, sempre escondendo os efeitos prejudiciais à saúde. Mas o enorme avanço das fronteiras agrícolas levaram o uso dessas substâncias a uma situação de DIREÇÃO DIRECTOR abuso, intervindo na produção de milhões e milhões de Ulises de la Orden hectares: alimento que chega à nossa mesa, juntamente PRODUÇÃO PRODUCER com o veneno. Existem maneiras de se criar riqueza, Ulises de la Orden produzir alimentos e exportar para o mundo sem nos ROTEIRO WRITER intoxicar: não vamos engolir o contrário. Mariano Starosta FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER The use of chemicals in agricultural production has more Alejandro Reynoso than a century. Different pesticides have been used, EDIÇÃO EDITOR always hiding the harmful health effects. But the huge Germán Cantore advancement of agricultural frontiers have led the use of these substances to a situation of abuse, intervening in the production of millions and millions of hectares: food that reaches our table, along with the poison. There are ways to create wealth, produce food and export to the world without intoxicated: let’s not accept the contrary. A linha é um ponto que saiu caminhando. A line is a dot that went for a walk. DIREÇÃO DIRECTOR Amir Admoni PRODUÇÃO PRODUCER Amir Admoni ROTEIRO WRITER Amir Admoni e Fabito Rychter FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Newton Leitão EDIÇÃO EDITOR Amir Admoni competição latino-americana latin american competition 103 Não Há Lugar Distante Nahuas, 20 Anos Depois No Place is Far Away / No Hay Lugar Lejano Nahuas, 20 Years Later / Nahuas, 20 Años Después Mexico, 2012, 82’ Peru/Espanha, 2012, 26’ Até 1984, o povo Nahua viveu dentro da selva amazônica, evitando qualquer contato com a civilização (ocidental). A chegada da Shell e o desenvolvimento do projeto de extração de gás em Camisea trouxe conseqüências graves para os seus habitantes e sua cultura. Until 1984, the Nahua people lived inside the Amazonian jungle, avoiding any contact with (western) civilization. The arrival of Shell and the further development of the gas extraction project in Camisea, has brought grievous consequences to its inhabitants and their culture. DIREÇÃO DIRECTOR Marc Gavaldà, Eduard Alter e Jordi Salvadó PRODUÇÃO PRODUCER Eduard Alter ROTEIRO WRITER Marc Gavaldà, Eduard Alter e Jordi Salvadó FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Jordi Salvadó EDIÇÃO EDITOR Jordi Salvadó DIREÇÃO DIRECTOR Michelle Ibaven Julian, um menino indígena de 8 anos, testemunha PRODUÇÃO PRODUCER Enedina Molina Mendoza ROTEIRO WRITER Michelle Ibaven e Sergio Blanco FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Michelle Ibaven EDIÇÃO EDITOR a construção de uma estranha atração turística na longínqua Serra Tarahumara, onde sua tribo vive há séculos. Para Nazareno e outros membros anciãos da comunidade, estas obras apenas confirmam a ameaça que sua pequena vila, localizada no ponto mais remoto da serra, sofre há décadas de ser removida do local - vila ignorada pelo governo, cujas crianças crescem para abandoná-la e os velhos morrem para dali não sair. Viviana García Besné Julian, an 8 year-old Rarámuri boy, starts to glimpse the construction of strange tourist attractions in the Sierra Tarahumara mountain range. For Nazareno and other community elders, these events confirm the threat of displacement that, for decades, has been hanging over their town - the most remote one, where, ignored by government officials, children grow up to leave and the elders die to stay. competição latino-americana latin american competition 105 Paal Child / Paal Mexico/Canadá/Suíça, 2012, 21’ Memo é um garoto maia cujo maior sonho é contar as histórias de seu povo. Sob sua ótica e fantasia, exploramos o dia a dia e a cultura de sua cidade e a natureza exuberante da DIREÇÃO DIRECTOR floresta de Yucatán, no sul do México. Christoph Müller e Victor Vargas Villafuerte Memo is a Mayan child, whose biggest dream is PRODUÇÃO PRODUCER to tell the stories of his people. Through his own Christoph Müller e vision and fantasy, we explore the everyday life and Victor Vargas Villafuerte culture of his town, and the exuberant nature of ROTEIRO WRITER Yucatan’s jungle in the south of Mexico. Christoph Müller e Victor Vargas Villafuerte FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Victor Vargas Villafuerte EDIÇÃO EDITOR Christoph Müller Paal Child/Paal competição latino-americana latin american competition 107 Pacha As Ruas da Minha Cidade Pacha / Pacha Bolívia/México, 2012, 88’ Tito, um engraxate, dorme nas ruas de La Paz. Adormecido debaixo de um sombrero ele sonha com um outro mundo, até que é acordado abruptamente pelo pesadelo de seu presente - e a descoberta do roubo da caixa de engraxate que ele precisa para sobreviver. Em DIREÇÃO DIRECTOR todos os lugares ao seu redor uma batalha constante Héctor Ferreiro está sendo travada contra as condições sociais mise- PRODUÇÃO PRODUCER ravelmente pobres. Quando a população indígena luta Juan E. García e Victoria Guerrero por seus direitos, a polícia responde com gás lacrimo- ROTEIRO WRITER gêneo e balas de borracha. Héctor Ferreiro FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Tito, a shoeshine boy, sleeps on the streets of La Paz. Juan Pablo Uriostes Slumbering underneath a Zapata hat he dreams EDIÇÃO EDITOR of another world until he is rudely awakened by his Héctor Ferreiro nightmarish present – and the discovery of the theft of ELENCO CAST the shoeshine box he needs to survive. Everywhere around Límber Calle e Erika Andia him a constant battle is being waged against miserably impoverished social conditions. When the indigenous population makes a stand for their rights the police answer with tear gas and sharpshooting. The Streets of My City / Las Calles De Mi Ciudad Uruguai, 2012, 6’ DIREÇÃO DIRECTOR Lucía Nieto Salazar Ela acorda, anda pela floresta; chega a uma PRODUÇÃO PRODUCER cidade vazia, onde apenas o vento passa ROTEIRO WRITER outra cidade, esta habitada, mas ela está Lucía Nieto Salazar por suas ruas. Mais tarde, ela passa por Lucía Nieto Salazar perdida. Perdeu-se de si mesma. Ela medita FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER e se questiona, ela desaparece e reaparece. Lucía Nieto Salazar Finalmente ela volta para a floresta, onde ela EDIÇÃO EDITOR se sente em paz. Lucía Nieto Salazar She wakes up, walks through the woods; arrives to an empty city, where only the wind goes through its streets. She later walks by another city, this one is habited but she is lost. Lost of herself. She meditates and asks herself, she disappears and reappears. Finally she comes back to the woods where she feels in peace. competição latino-americana latin american competition 109 Seca O Último Mercador de Gelo Drought / Cuates de Australia Mexico, 2011, 90’ Os habitantes de “Cuates de Austrália” enfrentam a morte a cada ano, evitando a seca que os ameaça. Enquanto a comunidade é forçada a um êxodo, o Ejido é abandonado e, pouco a pouco, os animais do deserto se DIREÇÃO DIRECTOR apoderam do lugar. Em seu exílio, homens e mulheres, Everardo González jovens e velhos esperam as primeiras gotas de chuva, a PRODUÇÃO PRODUCER fim de retornar. Martha Orozco FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Desert cowboys “Cuates de Australia” face death every year, Everardo González avoiding the drought that threatens the ranch. While the EDIÇÃO EDITOR community is forced into an exodus, the Ejido is abandoned Felipe Gomez e and eventually the desert animals take over the place. In Clementina Mantellini their exile, men and women, young and old wait for the first drops of rain in order to return. The Last Ice Merchant / El Último Hielero Equador, 2012, 14’ DIREÇÃO DIRECTOR Sandy Patch Por mais de 50 anos Baltazar Ushca extraiu o gelo glacial PRODUÇÃO PRODUCER do Monte Chimborazo, no Equador. Seus irmãos, ambos Jeremy Yaches comerciantes de gelo, há muito se aposentaram da FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER montanha. O Último Mercador de Gelo é uma história de Sandy Patch mudança cultural e como três irmãos se adaptaram a ela. EDIÇÃO EDITOR Josh Banville For over 50 years Baltazar Ushca has harvested the glacial ice of Ecuador’s Mount Chimborazo. His brothers, both raised as ice merchants, have long since retired from the mountain. The Last Ice Merchant is a story of cultural change and how three brothers have adapted to it. competição latino-americana latin american competition 111 panorama histórico historical panorama Kaneto Shindo em seis filmes Por Sérgio Alpendre Kaneto Shindo in six films By Sergio Alpendre Filhos de Hiroshima Children of Hiroshima/Gembaku no Ko Among the Japanese directors called by Audie Bock as “postwar humanistic” - a group formed, according to the historian, by directors Akira Kurosawa, Keisuke Kinoshita, Masaki Kobayashi and Kon Ichikawa –, the unjustly overlooked Kaneto Shindo (I include him on the list myself) is the one which best represents the bridge between classical cinema and the Japanese Nouvelle Vague Dos diretores japoneses chamados por Audie Bock de “humanistas do pós-guerra”, grupo a que pertencem, segundo a historiadora, Akira Kurosawa, Keisuke Kinoshita, Kon Ichikawa e Masaki Kobayashi, o injustamente esquecido Kaneto Shindo (que coloco na lista por conta própria) é o que melhor representa a ponte entre o cinema clássico e a Nouvelle Vague japonesa (Nuberu Bagu). Isto porque seu cinema comporta uma série de experimentações que antecipam as dos jovens diretores do final dos anos 1950, notadamente Nagisa Oshima e Shohei Imamura. Ao mesmo tempo, conserva marcas do estilo dos mestres do chamado cinema clássico japonês. Seus primeiros filmes deixam evidentes tanto a filiação aos clássicos quanto a antecipação da Nuberu Bagu. Os mais famosos, Filhos de Hiroshima (1952), A Ilha Nua (1960), Onibaba – A Mulher Demônio (1964), Instinto (1966 – não tão conhecido panorama histórico historical panorama 113 quanto os demais por uma tremenda injustiça) (Nuberu Bagu). This is so because e O Gato Preto (1968), antecipam (no caso do his body of work contemplates primeiro) ou refletem (no caso dos demais) as a great deal of experimentation principais preocupações estéticas e temáticas do that anticipates similar attempts cinema japonês nos anos 1960. Não à toa Shindo by the young directors of the late escreveu roteiros para Yasuzo Masumura, Seijun 1950s - notably Nagisa Oshima Suzuki e outros diretores mais ou menos ligados and Shohei Imamura. At the same à Nuberu Bagu. E também não é por acaso que a time, it keeps the style hallmarks produtora independente que criou com o diretor of the masters of the so-called Kozaburo Yoshimura em 1950 (e que possibili- Classical Japanese Cinema. His tou que ele estreasse na direção no ano seguinte) first films show evident affiliation chamava-se Sociedade do Cinema Moderno. both to classical film and the Donald Richie chama atenção para a reação anticipation of the Nuberu Bagu. padrão aos filmes de Shindo durante quase toda His most famous titles, Children sua carreira, começando pelo primeiro filme, of Hiroshima (1952), The Naked A História de uma Esposa Amada (1951)1: “elo- Island (1960), Onibaba (1964), giado por sua crítica social e amaldiçoado pelo Instinct (1966 – not as well known as the others by a tremendous injustice) and The Black Cat (1968) anticipate (in the first case) or reflect (in all the others) the major aesthetic and thematic concerns of Japanese cinema in the 1960s. It’s no wonder Shindo wrote screenplays for Yasuzo Masumura, Seijun Suzuki and other directors more or less linked to the Nuberu Bagu. And it is also not by chance that the independent production company created by him alongside director Kozaburo Yoshimura Além de ser o primeiro in 1950 (and which enabled him to make his directing debut the filme a abordar o tema no following year) was called Modern Japão, Filhos de Hiroshima Film Society. Donald Richie draws attention to ainda antecipa em três the standard reaction to Shindo’s anos o tom histórico e films for almost his entire career, beginning with his first film, Story incisivo de Noite e Neblina, of a Beloved Wife (1951)1: “praised de Alain Resnais. for its social criticism and cursed 1 Richie escreveu essa afirmação em 1971, sem saber como seria a continuação da carreira do diretor, que duraria até 2010, com o filme Postcard. Richie wrote this statement in 1971, without knowing how the director’s career, which lasted until 2010’s Postcard, would turn out. sentimentalismo em quase igual medida” (em Japanese Cinema – Film style and national character, p.167). Isso acontece por causa da filiação de Shindo ao melodrama de Mizoguchi, sobretudo por ter sido seu assistente na juventude e por ter escrito (com Yoshikata Yoda, parceiro constante de Mizoguchi) Chama do Meu Amor (1949), um dos melodramas mais fortes do cinema japonês. Mas se Mizoguchi procurava esconder os rompantes de emoção de suas mulheres afastando a câmera ou colocando um objeto entre a lente e os rostos cheios de lágrimas, Shindo não é tão cauteloso. Suas críticas ou seus exercícios de gênero querem também sensibilizar o espectador pelo drama humano, sem necessidade de atenuar a maneira como vemos sofrimentos e traumas. Junta-se a isso o tradicional preconceito em relação ao melodrama, sobretudo nos politizados anos 1960, e temos então a reação padrão descrita por Richie. O autor acrescenta ainda que somente em Filhos de Hiroshima Shindo encontraria um “assunto amplo o suficiente para conter o sentimentalismo excessivo”, e só com Esgoto (1954) “sua crítica ao Japão contemporâneo torna-se sutil o bastante para ser eficaz”. Trabalhando geralmente com uma equipe de fiéis seguidores – a atriz e esposa Nobuko Otowa, os atores Kei Sato e Taiji Tonoyama (entre outros), o compositor Hikaru Hayashi, o diretor de fotografia Kiyomi Kuroda – Shindo tornou-se indubitavelmente um dos diretores mais consistentes e mal vistos do cinema japonês (à exceção de Filhos de Hiroshima e A Ilha Nua, seus únicos filmes que escapam a um gueto de cinefilia). Filhos de Hiroshima Children of Hiroshima for its sentimentality in almost equal measure” (in Japanese Cinema - Film style and national character, p.167). This happens because of Shindo’s affiliation with Mizoguchi’s melodrama, a result especially of being his assistant in youth and of writing (with Yoshikata Yoda, Mizoguchi’s frequent partner) Flame of My Love (1949), one of the most powerful melodramas in Japanese cinema. But if Mizoguchi tried to hide his women’s bursts of emotion by moving the camera away or by placing an object between the lens and the tearful faces, Shindo is not as cautious. His criticisms and his genre exercises also want to sensitize the viewer through human drama, so there’s no need to soften the way we see suffering and trauma. Add to this the traditional prejudice against the melodrama, especially in the politicized 60s, and we have the standard reaction described by Richie. The author also adds that only in Children of Hiroshima does Shindo find “a subject broad enough to hold excessive sentimentality”, and that only with Sewage (1954) “his critique of contemporary Japan becomes subtle enough to be effective”. Usually working with a team of loyal followers - actress and wife Nobuko Otowa, actors Kei Sato and Taiji Tonoyama (among others), composer Hikaru Hayashi, director of photography Kiyomi Kuroda - Shindo has become undoubtedly one of the most consistent and frowned upon directors in Japanese cinema (except for Children of Hiroshima and The Naked Island, his only films to escape the cinephilia ghetto). panorama histórico historical panorama 115 A bomba Filhos de Hiroshima, terceiro longa de Shindo, alterna ficção e documentário para mostrar o horror da bomba em Hiroshima. Além de ser o primeiro filme a abordar o tema no Japão, ainda antecipa em três anos o tom histórico e incisivo de Noite e Neblina, de Alain Resnais. A professora Takako Ishikawa (Nobuko Otowa) decide, após quatro anos de ausência, visitar o lugar onde nasceu, e encontra sua Hiroshima ainda devastada pela bomba, apesar de algumas reconstruções em curso. Ao visitar os lugares por onde passava, lembra-se do fatídico 6 de agosto de 1945. Mas a encenação da tragédia se alterna entre o tom documental e o onírico: bebês e mulheres de seios à mostra se fundem a terra, homens são vaporizados, testemunhas observam a explosão catatônicos. O filme foi considerado um melodrama barato por aqueles que o encomendaram. Queriam uma obra política, antiamericana, não um filme sensível e tocante, sem deixar, ainda assim, de ser antiamericano. A despeito desse desajuste, os momentos de antologia são muitos, a começar pela encenação da explosão mencionada acima. O primeiro encontro de Takako, por exemplo, é com um antigo funcionário de seu pai, agora cego e mendigo. A reação desse velho amigo é tipicamente nipônica. Ele se envergonha de não ter mais o status social de outrora. A conversa entre eles à beira do rio é Besides being the first film to tackle the subject in Japan, Children of Hiroshima also anticipates by three years the historical and incisive tone of Alain Resnais’s Night and Fog. The bomb Children of Hiroshima, Shindo’s third feature, alternates fiction and documentary to portray the horror of the Hiroshima bombing. Besides being the first film to tackle the subject in Japan, it also anticipates by three years the historical and incisive tone of Alain Resnais’s Night and Fog. Teacher Takako Ishikawa (Nobuko Otowa) decides, after four years of absence, to visit the place where she was born, and finds her Hiroshima still devastated by the bomb, despite some ongoing reconstructions. While visiting the places where she used to pass by, she remembers the fateful August 6, 1945. But the staging of the tragedy alternates between documentary and a dreamlike tone: babies and exposed women’s breasts fuse with the earth, men are vaporized, catatonic witnesses observe the explosion. The film was considered a cheap melodrama by those who comissioned it. They expected a political and anti-American piece, not a sensitive and touching, yet still unamerican, movie. Despite this mismatch, anthological moments abund, starting with the enactment of the explosion mentioned above. Takako’s first encounter, for example, is with a former employee of her father, now a blind beggar. This old friend’s reaction is typically Nipponese. He is ashamed of not having his previous social status anymore. Their riverside conversation is one of those moments that prove the excellence of a director. Born in Hiroshima, like his partner Yoshimura, Shindo works here with a material that is very close A Ilha Nua The Naked Island um desses momentos que comprovam a excelência de um diretor. Nascido, como seu sócio Yoshimura, em Hiroshima, Shindo trabalha aqui com um material que lhe é muito próximo. Como herdeiro de Mizoguchi, não teria como abandonar totalmente o melodrama. Tadao Sato lembra, em seu livro Currents in Japanese Cinema, que Shindo introduziu pela primeira vez a questão da responsabilidade do Japão no abandono das vítimas da bomba. Essa situação é reiterada em uma série de cenas, notadamente aquela em que o avô aceita deixar que o menino Taro se vá com a professora por não ver um possível futuro para ele em Hiroshima. O final é um esplendor: voltando com Taro para a ilha onde escolheu viver após o desastre da bomba, Takako observa sua terra natal do barco. As montanhas que a cercam, o céu coberto de radiação, a natureza ultrajada pelo homem e pelo poder. A partir de Filhos de Hiroshima, a associação de Kaneto Shindo com a natureza e os problemas ambientais seria marcante em uma série de filmes, numa alternância (e muitas vezes acumulação) com o tema da mulher sofredora que ele herdou do mestre Mizoguchi. Shindo faria ainda outro filme sobre a bomba atômica (subtema que voltaria, mais ou menos sutilmente, em momentos de vários outros filmes). Dragão Felizardo No5 (1959) não fala diretamente das tragédias de Hiroshima e Nagasaki, mas alerta para o perigo nuclear. O filme mostra to him. As Mizoguchi’s inheritor, there would be no way for him to abandon melodrama entirely. In his book Currents in Japanese Cinema, Tadao Sato recalls that Shindo was the one who first introduced the issue of Japan’s liability for abandoning of the victims of the bombing. This situation is repeated in a series of scenes, notably one where the grandfather agrees to let the boy Taro go with the teacher on account of not seeing a possible future for him in Hiroshima. The finale is a splendor: returning with Taro to the island where she chose to live after the nuclear disaster, Takako observes her homeland from the boat. The mountains that surround it, the sky overcast with radiation, nature outraged by man and power. From Children of Hiroshima on, the Kaneto Shindo’s connection with nature and environmental issues would be remarkable in a number of films, alternating (and often accumulating) with the suffering woman theme he inherited from the master Mizoguchi. Shindo come to make another film about the atomic bomb (a subtheme that would return, more or less subtly, in several moments in other films). Lucky Dragon No. 5 (1959) does not speak directly about the Hiroshima and Nagasaki tragedies, but warns against nuclear danger. The film portrays a group of fishermen that are contaminated by radiation at the Bikini Atoll, where many nuclear tests were conducted in the 1950s. The real fishermen’s episode happened in 1954, and raised a series of examinations by specialists in contamination panorama histórico historical panorama 117 um grupo de pescadores que se contaminam com a radiação no atol de Bikini, onde foram realizados diversos testes nucleares na década de 1950. O episódio real dos pescadores aconteceu em 1954, e suscitou uma série de exames de especialistas em contaminação por radiação e alguns protestos da imprensa nipônica. O filme se veste assim com o tom de denúncia ecológica. A natureza mais uma vez é ultrajada pelo militarismo, e a família japonesa é novamente vítima de uma demonstração da força militar americana. Tudo isso é mostrado de forma predominantemente documental, abrindo-se ao melodrama apenas nos minutos finais. Documentário e fábula No ano seguinte, Shindo faria aquele que se tornaria seu trabalho mais conhecido e celebrado: A Ilha Nua (1960). Construído sem diálogos, mesclando música melodiosa com silêncios brutais, o filme flagra, também de Dragão Felizardo No5 mostra um grupo de pescadores que se contaminam com a radiação no atol de Bikini, onde foram realizados diversos testes nucleares na década de 1950. by radiation, as well as some protests by the Japanese media. The film dresses itself in a tone of ecological complaint. Nature is once again outraged by militarism, and the Japanese family is once again a victim of a demonstration of American military force. All of this is predominantly shown in documentary form, which opens up to melodrama only in the final minutes. Documentary and fable In the following year, Shindo would make that which would become his most famous and celebrated work: The Naked Island (1960). Built with no dialogues, mixing melodious music with brutal silence, the film captures, also in documentary fashion, a family of farmers who live on a small island in the Setonaikai archipelago. Man and woman work hard, bringing water from a neighboring island to their plantation, while the two children enjoy the natural wonders of the region. In a few moments, we realize that the absence of speech makes no sense. That’s because Shindo pursues here, in parallel, a fable tone in contrast with the documentary approach. The relationship between the husband (Taiji Tonoyama) and his wife (Nobuko Otowa) is mostly ceremonial, and culminates with an emotional outburst from the woman after the death of one of their sons. At that point, the husband looks at her with compassion and understanding, painfully observing her destructive actions of plucking pieces of the plantation and throwing them roughly to the ground (at the maneira documental, uma família de fazendeiros que mora numa pequena ilha no arquipélago de Setonaikai. Homem e mulher trabalham duro, levando água de uma ilha vizinha a suas plantações, enquanto as duas crianças se deliciam com as maravilhas naturais da região. Em alguns momentos, percebe-se que não há sentido algum na ausência de falas. Isso porque Shindo persegue aqui, paralelamente, um tom de fábula, em contraponto ao tom documental. A relação entre marido (Taiji Tonoyama) e esposa (Nobuko Otowa) é quase sempre protocolar, e culmina com a explosão emocional da mulher após a morte de um de seus filhos. Nesse momento, o marido a olha com piedade e compreensão, observando condoído os gestos destrutivos dela, que arranca pedaços da plantação e joga-os com força no solo (no início do filme o marido tinha sido bastante rude na repreensão a um pequeno descuido da parte dela). Essa explosão emocional da mulher rompe o silêncio (e o tom fabular) de forma marcante, antes de um retorno ao cotidiano. O trabalho na lavoura os torna prisioneiros, limitados à rotina de pequenos fazendeiros. Aqui não se trata da natureza ultrajada. Antes, é da natureza que oprime, e cobra um alto valor pelo seu uso. Com A Ilha Nua, Shindo passa a ser respeitado também como diretor, não só como roteirista. Novamente o mar, pessoas isoladas com a natureza, a necessidade de sobreviver em situações penosas (e Nobuko Otowa mostrando toda sua versatilidade) são elementos de um filme pouco conhecido, mas de nobre envergadura. O Homem (1962) mostra quatro tripulantes de Lucky Dragon No5 portrays a group of fishermen that are contaminated by radiation at the Bikini Atoll, where many nuclear tests were conducted in the 1950’s. beginning of the film, her husband is quite rude in reprehending her for being a little careless in her gestures). This emotional outburst from the woman remarkably interrupts the silence (and the fable-like tone) in a most remarkable way, before returning then to everyday life. Work in the harvest makes them prisoners, limited to a small farmers’ routine. Outraged nature is not what it is about. It is rather nature’s oppression, which charges a high price. With The Naked Island, Shindo becomes respected as a director, not only as a writer. Once again the sea, people isolated in nature, the need for survival in difficult situations (and Nobuko Otowa in all her versatility) are elements of a little-known movie, but one of noble wingspan. Human (1962) shows the four-person crew of a small boat that goes adrift after a violent storm. In this situation, the terribly human dimension of their personalities is revealed. Characters here are not confined to a small island, nor subjected to radiation. They are truly adrift, without food and without knowing what awaits them. They become selfish, competitive, desperate. They reach unimaginable extremes (as in Buñuel’s The Exterminating Angel, which curiously came out the same year). Shindo is less interested in the possibility of overcoming than in the ability a person has to become a savage. The title refers to captain Kamegoro, played by Taiji Tonoyama. He is the only character to end the film with immaculate dignity. panorama histórico historical panorama 119 um pequeno barco que fica à deriva após uma The soundtrack contrasts violenta tempestade. Com a situação, revelam a urban jazz with the boat’s dimensão terrivelmente humana de suas perso- movement. This differs it from nalidades. Os personagens aqui não estão con- the one used in The Naked Island. finados numa pequena ilha, nem submetidos à In the 1960 film, the melody radiação. Estão verdadeiramente à deriva, sem reflects nature, its seasons mantimentos e sem saber o que lhes espera. and its tender complacency. In Tornam-se egoístas, competitivos, desespera- Human, nature harms, as if in dos. Chegam a extremos inimagináveis (como revenge for being mistreated. The em O Anjo Exterminador, de Buñuel, que curio- soundtrack therefore is noisier, samente é do mesmo ano). Shindo está menos with experimental raptures and interessado na possibilidade de superação do minimalist excerpts. But it is so que na capacidade que uma pessoa tem de se even before the first storm, as if tornar selvagem. O homem do título é o capi- it intends to already demonstrate tão Kamegoro, vivido por Taiji Tonoyama. É o the depths of human nature. The único personagem que termina sem a digni- cinematography allows both the dade maculada. burst of light in overexposure, A trilha sonora contrapõe um jazz urbano as well as the predominance of com os movimentos do barco. Nisso ela é dife- shadows which move according rente daquela usada em A Ilha Nua. No filme de to the swing of the boat. The film 1960, a melodia espelha a natureza, suas esta- is even more distressing than The ções e sua terna complacência. Em O Homem, a Naked Island, but at the same time natureza agride, como que a vingar-se dos maus it is more palatable, less radical in tratos sofridos. A trilha, por isso, é mais ruidosa, its aesthetic proposal. The music com arroubos experimentais e trechos minima- is its most dissonant factor, one listas. Mas é assim antes mesmo da primeira that brings to the comical into the tempestade, como se quisesse demonstrar já as tragic, or terror into the prosaic. profundezas da natureza humana. A fotografia permite tanto o estouro da luz quanto o predomí- New change of course nio das sombras, que se movem de acordo com Mother and Onibaba, the films o balançar do barco. O filme é até mais aflitivo que A Ilha Nua, mas Shindo está menos ao mesmo tempo é mais palatável, interessado na possibilidade menos radical em sua proposta estética. A música é mesmo seu fator de superação do que na mais dissonante, aquele que leva capacidade que uma pessoa para o cômico dentro do trágico, ou tem de se tornar selvagem. para o terror dentro do prosaico. Shindo is less interested in the possibility of overcoming than in the ability a person has to become a savage. Nova mudança de curso A Mãe e Onibaba – A Mulher Demônio, os filmes que se seguiram a O Homem, sinalizam uma mudança na concepção dramatúrgica de Kaneto Shindo. A crítica social continua existindo, no subsolo, dando espaço ao que realmente passa a predominar em seus filmes: o erotismo. Essa tendência chega ao auge com Instinto, que mostra a impotência de um homem de meia idade (consequência de contaminação por radiação – novamente: a bomba) e os traumas psicológicos decorrentes dessa deficiência. É com um drama sobre uma criança doente, contudo, que Shindo realiza a transição entre suas raízes melodramáticas para o erotismo representado como força motriz do Japão moderno (lembrando que foi durante os anos 1960 que se deu a popularização do Pinku Eiga, gênero erótico de muito sucesso por lá). Da imensidão da natureza em A Ilha Nua e O Homem para o drama entre quatro paredes de A Mãe parece que temos outro diretor. O erotismo ainda é discreto se comparado ao de Onibaba, o filme seguinte. Mas sentimos sua pulsação sobretudo no suor que escorre pelo rosto e pelo corpo de Nobuko Otowa, obrigada a deitar-se com um homem que não ama, mas que lhe dá o sustento necessário para ao menos uma vida simples; ou na luxúria de seu irmão, que percorre prostíbulos em busca de sexo livre de amarras. O longa começa com a protagonista (Otowa) observando algo por trás de uma janela. O contracampo nos mostra um casal, com o homem deitado na cama e a mulher o beijando de forma muito sensual. A mãe é enquadrada com reflexos de nuvem emoldurando seu rosto. Ela tem o ar melancólico, as nuvens reforçam o estado sonhador, distante dos problemas cotidianos. A mulher que beijava o marido percebe sua presença e fecha that followed Human, signaled a change in Kaneto Shindo’s concept of dramaturgy. Social criticism is still present, in the underground, granting space to what really begins to dominate his films: eroticism. This trend reaches its peak with Instinct, which presents a middle-aged man’s impotence (as a result of contamination by radiation – again: the bomb) and the psychological trauma resulting from this deficiency. It is with a drama about a sick child, however, that Shindo makes the transition between his melodramatic roots and eroticism depicted as a driving force in modern Japan (mind you that it was during the 1960s that Pinku Eiga, an erotic genre very successful in the country, became popular). From the immensity of nature in The Naked Island and in Human to the drama-within-four-walls in Mother, it appears we have another director. Eroticism is still discrete when compared to Onibaba, his next film, but we feel its pulse especially in the sweat that drips down Nobuko Otowa’s face and body, forced to lie down with a man she doesn’t love but who gives her the necessary maintenance to live a simple life; or in the lust of her brother, who wanders around brothels in a search of non-committed sex. The feature begins with its protagonist (Otowa) watching something from behind a window. The reverse shot shows us a couple, the man lying in bed and the woman kissing him in a very sensual way. The mother’s face is framed with cloud reflections. She has a melancholic demeanor, the clouds reinforce her dreamy state, panorama histórico historical panorama 121 distant from everyday problems. The woman kissing her husband realizes her presence and shuts the drapes, preparing the room for something we were not invited to witness. Soon after, a nurse calls the mother, which turns her eyes to the hospital corridor. Cut to the boy, who turns his face a cortina, preparando Em A Mãe e Onibaba towards his mother. o quarto para algo que Back again to the não fomos convidados – A Mulher Demônio a nurse, who calls her a testemunhar. Logo crítica social continua insistently. There’s no em seguida, uma need for much more enfermeira chama a existindo, no subsolo, than that to indicate mãe, que volta seu dando espaço ao que that Kaneto Shindo is olhar para o corredor great at two things at do hospital. Corta para realmente passa a least: o garoto, que vira o predominar em seus a) presenting rosto em direção à mãe. characters and Volta novamente para a filmes: o erotismo. situations (a mother enfermeira, que insiste taking her son to no chamado. Não é preciso muito mais que isso the hospital); b) establishing a para mostrar que Kaneto Shindo é grande em relationship between people and pelo menos duas coisas: a) na apresentação de space (the clouds that frame the personagens e situações (mãe levando o filho ao daytime reverie, the corridor that hospital); b) no estabelecimento de uma relação translates the cold reality). entre as pessoas e o espaço (as nuvens que emol- Otowa’s face, before wild and duram o devaneio diurno, o corredor que traduz frantic in Human, here shows a fria realidade). its opposite side. A sweet and O rosto de Otowa, antes selvagem e des- suffering woman. Not a Mizoguchivairada em O Homem, aqui mostra seu lado like victim of male brutality, but in oposto. Uma mulher meiga e sofredora. Não ao Shindo’s own fashion, suffering for modo Mizoguchi, vítima da brutalidade mas- her son’s fatal illness. A mention, culina, mas ao modo Shindo, sofredora pela in the final half of the film, to doença fatal do filho. Uma menção, na metade the Hiroshima bomb leads us to final do filme, à bomba de Hiroshima, nos leva think of the child as a victim of a pensar na criança como mais uma vítima da radiation, of the outraged nature. radiação, da natureza ultrajada. Nada disso é None of this is put directly. In colocado de modo direto. No cinema de Shindo, Shindo’s cinema, the viewer is o espectador é convidado a completar as lacu- invited to complete the gaps in nas de informação. O filme alterna brilhante- information. The film brilliantly mente momentos de profunda tristeza com alternates moments of deep momentos mais leves e bem-humorados. Por sadness with lighter and more esse motivo, A Mãe pode ser considerado uma humorous moments. For this versão mais carnal e trágica de Mamãe (1952), reason, Mother can be considered clássico de Mikio Naruse. a more carnal and tragic version of Chegamos então a 1964, quando dois filmes de horror, dirigidos por dois dos “humanistas do pós-guerra”, arrebatam o ocidente. Kwaidan, de Masaki Kobayashi, é mais ambicioso, com suas quatro histórias de fantasmas em cores. Onibaba – A Mulher Demônio, de Kaneto Shindo, retoma o jidaigeki (filmes históricos), ambiência preferida de seu mestre Mizoguchi, e acrescenta uma dose de horror e muito erotismo2. Na história, uma mãe cujo nome não nos é revelado (Otowa, envelhecida e ameaçadora) aguarda com a nora, igualmente sem nome (Jitsuko Yoshimura, atriz principal de Todos Porcos, de Shohei Imamura), a chegada de Kichi, seu filho que está na guerra (e a certa altura é tido como morto). Juntas, elas matam samurais para vender seus ornamentos e, assim, ter o que comer (os samurais, informa-nos Tadao Sato, geralmente são retratados como pessoas de mau caráter nos filmes de Kaneto Shindo). Hashi, um velho amigo de Kichi, reaparece como um anjo caído e se coloca entre the homonymous Mother (1952), a Mikio Naruse classic. We now arrive at 1964, when two horror films, directed by two of the “postwar humanists”, sweep the western world away. Ghost Stories, by Masaki Kobayashi, is more ambitious, with its four ghost stories in color. Kaneto Shindo’s Onibaba recuperates jidaigeki (historical films), his master Mizoguchi’s favorite medium, and adds a dose of horror and a lot of eroticism2. In the story, a mother whose name is not revealed (Otowa, aged and menacing) waits alongside her daughter-in-law, also unnamed (Jitsuko Yoshimura, the leading lady in Shohei Imamura’s Pigs and Battleships), for the arrival of Kichi, her son who is at war (and who is considered dead from a certain point on). Together they kill samurais to sell their ornaments and thus have something to eat (the samurais, Tadao Sato informs us, are usually portrayed as bad people in Kaneto Shindo’s movies). Hashi, an old friend of Kichi’s, reappears as a fallen angel standing between the two women. Employing a strong erotic element that the filmmaker would explore more frequently in his upcoming films, and again making an excellent initial presentation of characters and situations, Onibaba could very well be called Clamor do 2 Em O Gato Preto, realizado em 1968, Shindo novamente faz um filme de horror com ambientação histórica, e uma clara ligação com Contos da Lua Vaga, de Mizoguchi. No filme, uma situação se repete. Um filho está na guerra, sua mãe e sua esposa o esperam. Aqui, ele volta e as encontra como fantasmas. Em Onibaba, o filho não retorna. In O Gato Preto (The Black Cat), from 1968, Shindo makes again a horror film in an historical ambience, and with a clear connection with Contos da Lua Vaga (Tales of Moonlight), from Mizoguchi. In this movie there is a repeated situation: a son is in the war and his mother and wife are waiting for him. Here he cams back and mett them as ghosts. In Onibaba, the son does not return. panorama histórico historical panorama 123 O Homem The Man as duas mulheres. Com um forte erotismo, elemento que o cineasta iria explorar com maior frequência nos próximos filmes, e de novo uma excelente apresentação inicial de personagens e situações, Onibaba poderia muito bem se chamar Clamor do Sexo, remetendo ao título brasileiro para Splendor in the Grass, filme de Elia Kazan. Em dado momento, mãe e nora matam um cachorro para saciar a fome. Enquanto saboreiam a carne, Hashi, sedento por sexo, uiva do lado de fora da cabana como um cão no cio. Desejo carnal, instinto animal, pendor para o sexo. É dessa maneira que Onibaba, mais do que com Kwaidan, se relaciona perfeitamente com outro filme de 1964: Desejo Assassino, de Shohei Imamura. Nesta obra-prima do cinema moderno, uma mulher desprezada pelo marido recebe a visita de um ladrão, que, não satisfeito em levar algumas peças de valor, a estupra. O ladrão retorna, e eles acabam desenvolvendo uma relação conturbada e movida a sexo. Em Onibaba, o vento, a lua, o matagal que cerca a cabana, o calor, o suor, tudo parece convidar ao sexo. A natureza não está mais ultrajada. Onibaba – A Mulher Demônio Onibaba Sexo (Clamor for Sex), referring to the Brazilian title for Elia Kazan’s Splendor in the Grass. At a certain point, mother and daughter-in-law kill a dog to satisfy their hunger. While savoring the flesh, a sexthirsty Hashi howls outside the shack like a dog in heat. Carnal desire, animal instinct, inclination towards sex. This is how Onibaba, more than Ghost Stories, fits perfectly with another 1964 film: Shohei Imamura’s Intentions of Murder. In this modern cinema masterpiece, a woman scorned by her husband is visited by a thief, who, unsatisfied by taking a few valuable items, rapes her. The thief returns and they end up developing a troubled and sex-driven relationship. In Onibaba, the wind, the moon, the bushes around the shack, the heat, the sweat, everything seems like an invitation In Mother and Onibaba, social criticism is still present, in the underground, granting space to what really begins to dominate his films: eroticism. Pelo contrário, ela obriga as pessoas a se aproximarem ou se repelirem sendo mais instintivas. Para Kaneto Shindo, assim como para Imamura, o homem é, antes de tudo, um animal, um ser que responde aos impulsos e caprichos da natureza. for sex. Nature is not outraged anymore. On the contrary, it forces people together or apart by being more instinctive. For Kaneto Shindo, as well as for Imamura, man is an animal above all, a being who responds to nature’s impulses and urges. Sérgio Alpendre é crítico de cinema, professor, pesquisador e jornalista, bem como mestre em Meios e Processos Audiovisuais pela ECA-USP. É colaborador da Folha de São Paulo desde 2008, e coordena o Núcleo de História e Crítica da Escola Inspiratorium. Participa como oficineiro do programa Pontos MIS, e edita a revista Interlúdio e o blog Chip Hazard. Foi curador das mostras Retrospectiva do Cinema Brasileiro e Tarkovski e seus Herdeiros, editando também os catálogos de tais eventos. Participa de comitês de seleção e júris em festivais de cinema, além de ministrar cursos de história do cinema e oficinas de crítica por todo o Brasil. Sérgio Alpendre is a film critic, teacher, researcher and journalist, as well as a master in Media and Audiovisual Processes at ECA - USP. He has been a contributor for newspaper Folha de São Paulo since 2008, and coordinates the History and Film Criticism Department at the Inspiratorium free school. He gives workshops at the Pontos MIS program, and is the editor of Interlúdio Magazine and the Chip Hazard blog. He was a curator for Retrospectiva do Cinema Paulista (a retrospective dedicated to films made in São Paulo) and of the Tarkovsky and his Heirs festival, also working as a catalogue editor for both events. Alpendre takes part in selection committees and juries in film festivals, in addition to teaching film history and giving criticism workshops throughout Brazil. panorama histórico historical panorama 125 Filhos de Hiroshima Children of Hiroshima/ Gembaku no Ko Japão, 1952, 100’ DIREÇÃO DIRECTION Kaneto Shindo PRODUÇÃO PRODUCTION Kôzaburô Yoshimura ROTEIRO WRITER Hiroshima pós-guerra: Já se passaram quatro anos des- Kaneto Shindo de a última vez que ela visitou sua cidade natal. Takako FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER enfrenta os efeitos da bomba atômica quando viaja ao Takeo Itô redor da cidade para visitar velhos amigos. EDIÇÃO EDITOR Zenju Imaizumi Post war Hiroshima: It’s been four years since the last time ELENCO CAST she visited her hometown. Takako faces the after effects of the Nobuko Otowa, Osamu A-bomb when she travels around the city to call on old friends. Takizawa e Miwa Saito DIREÇÃO DIRECTION Kaneto Shindo PRODUÇÃO PRODUCTION Dragão Felizardo Nº5 Lucky Dragon No 5 / Daigo Fukuryu Maru Toshio Itoya, Setsuo Noto e Japão, 1959, 110’ Tengo Yamada ROTEIRO WRITER Em 1954, logo após os testes nucleares dos Kaneto Shindo e EUA no Atol de Bikini, a tripulação de Yasutarô Yagi um navio pesqueiro sofre com a FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER contaminação radioativa. Eikichi Uematsu ELENCO CAST In 1954, in the aftermath of US nuclear tests Jukichi Uno e on Bikini Atoll, a crew of tuna fisherman Nobuko Otowa suffers from radioactive contamination. panorama histórico historical panorama 127 A Ilha Nua The Naked Island/ Hadaka no Shima DIREÇÃO DIRECTION Kaneto Shindo PRODUÇÃO PRODUCTION DIREÇÃO DIRECTION Japão, 1960, 95’ Kaneto Shindo PRODUÇÃO PRODUCTION O filme lida com a vida insuportavelmente difícil de uma Eisaku Matsuura e família de quatro pessoas, os únicos habitantes de uma Kaneto Shindo pequena ilha japonesa no arquipélago Setonaikai. Várias ROTEIRO WRITER vezes por dia eles remam até a ilha vizinha para buscar Kaneto Shindo água para os seus campos miseráveis. FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER O Homem Human / Ningen Japão, 1962, 117’ Setsuo Noto ROTEIRO WRITER O barco Netuno fica à deriva após uma violenta tem- Kaneto Shindo pestade. O desespero dos quatro tripulantes aumenta FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER quando a comida e a água terminam. Kiyomi Kuroda ELENCO CAST The Kaijin Maru ship is left adrift after losing all means of Taiji Tonoyama, Nobuko Otowa, navigation in a storm. The four people on the ship become Kei Satô e Kei Yamamoto increasingly desperate as food and water run out. Kiyomi Kuroda The film deals with the intolerably hard life of a family of EDIÇÃO EDITOR four, the only inhabitants of a very small Japanese island Toshio Enoki in the Setonaikai archipelago. Several times a day they ELENCO CAST row over to the neighboring island to fetch water for their Nobuko Otowa e miserable fields. Taiji Tonoyama panorama histórico historical panorama 129 A Mãe Mother / Haha Onibaba A Mulher Demônio DIREÇÃO DIRECTION Japão, 1963, 100’ Kaneto Shindo Onibaba / Onibaba PRODUÇÃO PRODUCTION Tamiko é mãe solteira. Seu filho está ficando cego. O diagnóstico é tumor cerebral. Não há dinheiro para a cirurgia. Ela pede auxílio à mãe, Yoshie. A ajuda financeira é negada, mas Yoshie arranja um casamento para Tamiko, a fim de que o novo marido pague pela urgente cirurgia. Toshio Itoya, Eisaku Matsuura, Tamotsu Minato e Setsuo Noto ROTEIRO WRITER Kaneto Shindo Tamiko is a single mother. Her son Toshio is going blind. He FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER is diagnosed with a brain tumour. She does not have the Kiyomi Kuroda money for surgery. She asks her mother Yoshie for money. ELENCO CAST Yoshie refuses but arranges a marriage with another single Nobuko Otowa e parent, so that the new groom pays for the urgent surgery. Haruko Sugimura Japão, 1964, 100’ DIREÇÃO DIRECTION Kaneto Shindo Século 14, Japão. Esperando o filho que está na guer- PRODUÇÃO PRODUCTION ra, uma mulher e sua nora sobrevivem em uma aldeia Hisao Itoya, Tamotsu Minato através de tocaias que armam para alguns soldados, e Setsuo Noto matando-os e vendendo seus pertences. Com a morte ROTEIRO WRITER do filho, a mãe põe em prática um plano diabólico para Kaneto Shindo manter a companhia de sua nora. FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Kiyomi Kuroda In a 14th century Japan, waiting for the son who is at war, EDIÇÃO EDITOR a woman and her daughter-in-law survive in a village by Toshio Enoki ambushing some soldiers, killing them and selling their ELENCO CAST belongings. With the death of her son, the mother puts Nobuko Otowa e into practice a diabolical plan to keep the company of her Jitsuko Yoshimura daughter-in-law. panorama histórico historical panorama 131 homenagem foto: Marcelo Novaes tribute The wise of the tribe O sábio da tribo André Trigueiro André Trigueiro When Washington Novaes abandoned the bad idea of being a lawyer - nothing against the profession, but it’s hard to imagine him doing so well other jobs than those related to the field of communication - and ventured into journalism, Brazil was ashamed of its environmental exuberance (has it changed?). Development was synonymous of smoke, and the Amazon needed to be occupied and exploited with no respite, the overcrowded cities were increasing, and São Paulo “could not stop” . It was a time when no one studied journalism in the Communication Universities – they didn’t even existed – and a remarkable generation of journalists “born in the newsrooms” lent a new identity to the national press, less provincial and more daring in seeking new languages and task assignments. “In those days, we used to find Washington a little bit weird. Quando Washington Novaes abandonou a péssima ideia de ser advogado – nada contra a profissão, mas é difícil imaginá-lo realizando tão bem outros ofícios que não aqueles relacionados à área da comunicação - e se aventurou no jornalismo, o Brasil tinha vergonha de sua exuberância ambiental (será que isso mudou?). Desenvolvimento era sinônimo de fumaça, a Amazônia precisava ser ocupada e explorada sem trégua, acelerava-se o crescimento desordenado das cidades, e São Paulo “não podia parar”. Era uma época em que não se aprendia jornalismo em faculdades de comunicação – elas sequer existiam – e uma notável geração de jornalistas “criados nas redações” emprestava uma nova identidade à imprensa nacional, menos provinciana e mais ousada na busca de novas linguagens e pautas. “Naqueles tempos a gente achava o Washington meio esquisito. Quando a maioria de nós só pensava em driblar a censura e denunciar as mazelas do regime militar, lá vinha ele com aquelas pautas de meio ambiente. homenagem tribute 133 Quando a maioria de nós só pensava em driblar a censura e denunciar as mazelas do regime militar, lá vinha ele com aquelas pautas de meio ambiente. When most of us thought only in circumventing the censorship and denounce the evils of the military regime, there he was with those assignments related to environment. In the course of time, we saw that Washington was a pioneer, the first to notice these problems”, said Zuenir Ventura, another veteran of this golden generation of journalism, in a statement here rescued from the memory during a debate in Goiás. It was a time when there were no licensing, ministry or departments (nor state nor local ones) for environment, no one spoke about “environmentally friendly” neither about “sustainable development”. There was not ISO 14,000, environmentally Com o tempo, a gente viu que o Washington foi certified products, Green Party or um pioneiro, ao perceber primeiro esses pro- Greenpeace. Environment was a blemas”, disse certa vez Zuenir Ventura, outro matter of “hippies” or “alienated veterano desta geração de ouro do jornalismo, people” - not to mention other num depoimento resgatado aqui de memória far more offensive names, used in order to disqualify anyone durante um debate em Goiás. Era uma época em que não havia licencia- who dared to give it a more mento ambiental, ministério ou secretarias serious treatment. Washington (estaduais ou municipais) de meio ambiente, belongs to the very select group ninguém falava em “ecologicamente correto” of journalists who bravely muito menos em “desenvolvimento sustentável”. paved the way toward a new Não havia ISO 14.000, produtos certificados consciousness within newsrooms. ambientalmente, Partido Verde ou Greenpeace. Wherever he has passed, he Meio ambiente era assunto de “bicho grilo” ou “contaminated” co-workers with “alienados” – para não mencionar outras denomi- this strange determination to nações bem mais ofensivas, que tentavam des- denounce the evils of a predator qualificar quem ousasse lhe dar um tratamento development model, short-termed mais sério. Washington pertence ao seletíssimo and doomed to destroy the natural grupo de jornalistas que pavimentou com cora- non-renewable resources that are gem esse caminho na direção de uma nova cons- essential for human life and even to the economy. Intelligence, credibility, ciência dentro das redações. Por onde passou, “contaminou” os colegas good sources and flawless text de profissão com essa estranha determinação (direct, incisive, invariably packed em denunciar as mazelas de um modelo de with striking data ) were precious to desenvolvimento predador, de curto prazo e gradually open the deserved spaces condenado ao fracasso por destruir os recursos he would conquer along this journey. naturais não renováveis fundamentais à vida e à própria economia. Inteligência, credibilidade, boas fontes e um texto irretocável (direto, incisivo, recheado de dados invariavelmente contundentes) foram aliados preciosos para abrir, aos poucos, os merecidos espaços que conquistaria ao longo dessa jornada. Com passagem pelos mais importantes veículos de comunicação do Brasil, exercendo as funções de repórter, editor, produtor, comentarista, articulista, diretor e consultor, Washington Novaes conquistou respeito e admiração pela farta produção multimídia num filão carente de especialistas. Desde 1997 seus artigos no jornal O Estado de São Paulo vêm inspirando o primeiro escalão da República, parlamentares e ONGs, despertando o senso de urgência onde havia desleixo e omissão. Não por acaso, foi ele o escolhido para estruturar as bases de discussão da Agenda 21 brasileira, um imenso receituário de como alcançar a utopia da sustentabilidade num país com o tamanho e a complexidade do Brasil. De terno e gravata cobrindo diferentes Conferências da Organização das Nações Unidas (ONU), nas diversas incursões pelo tão castigado e querido Cerrado ou num furgão com uma numerosa equipe de TV num When most of us thought only about circumventing the censorship and denouncing the evils of the military regime, there he was with those assignments related to environment. Working on the most important communication medias of Brazil, where he worked as a reporter, editor, producer, commentator, writer, director and consultant, Washington Novaes gained respect and admiration for his abundant multimedia production in an area in need of experts. Since 1997 his articles in the newspaper O Estado de Sao Paulo have been inspiring the first echelon of the Republic, parliamentary and NGOs, awakening the sense of urgency where there was negligence and omission. Not coincidentally, he was chosen to structure the basis of Brazilian Agenda 21, an immense prescription on how to achieve the utopia of sustainability in a country with the size and complexity of Brazil. Wearing suit and tie covering different Conferences of the United Nations (UN), in the various incursions into his so punished and beloved Cerrado or in a van with a large TV staff on a tour over various European countries in order to monitor the disposal of waste in the old continent Washington always practiced the noblest of all possible occupations within journalism: of being a reporter. Being a witness to History, being close to the events, feel the “smell of the news” gives unquestionable credibility to those who has the task of registering the most important events of our time. But when it comes to the environment, media professionals are subject to certain risks. It was Washington who denounced in 1996, in a meeting with journalists in Sao Paulo, what is at stake in this area of journalism: “I homenagem tribute 135 tour por vários países da Europa - para acompanhar a destinação final do lixo no velho continente - Washington sempre praticou a mais nobre de todas as ocupações possíveis dentro do jornalismo: a de repórter. Ser testemunha da História, estar perto dos acontecimentos, sentir o “cheiro da notícia” afere inquestionável credibilidade a quem tem a missão de registrar os fatos mais importantes do nosso tempo. Mas quando o assunto é meio ambiente, os profissionais de imprensa estão sujeitos a certos riscos. Foi o próprio Washington quem denunciou em 1996, num encontro com jornalistas em São Paulo, o que está em jogo nessa área do jornalismo: “Acho que a questão ambiental é ameaçadora para os jornalistas na medida em que os jornalistas têm uma vida pessoal muito pouco adequada em termos ambientais. O jornalista, em geral, bebe muito, fuma muito, leva uma vida extremamente competitiva, apressada, estressante, onde a disputa pelo poder está sempre muito presente dentro e fora do trabalho, mora em cidades com problemas ambientais gigantescos, todas essas coisas. Ele vai ter que se perguntar um pouco sobre sua vida. Será que é essa mesmo a vida que eu quero? Será que é essa a vida que eu devo levar?”. Será que Washington sabia exatamente o “risco” que corria quando começou a registrar em reportagens premiadas a realidade das comunidades indígenas pelo Brasil? Foi no think the environmental issue is a threatening to journalists considering that journalists have a personal life very little suitable considering environmental aspects. Journalists usually drink too much, smoke too much, takes an extremely competitive, hurried and stressed life, where the power struggle is always present inside and outside work; he lives in cities with huge environmental problems, all these things . He’ll have to wonder a bit about his own life. Is this the life I really want? Is it the life I really should live?” Did Washington know exactly under what “risk” was he when he began to record his rewarded articles about the reality of indigenous communities in Brazil? It was in Xingu that something different happened to him. His immersion in five different villages consumed two months of travel, 70-hour in motor boat or canoes, and 500 miles on foot. The experience affected him deeply. In a casual encounter with Washington on a plane, the anthropologist Darcy Ribeiro noticed a strange look in his friend’s eyes : you already know Washington Novaes gained respect and “Now that it’s not possible admiration for his abundant multimedia to pass unscathed by the experience production in an area in need of experts. of seeing the world through the Indians’ Washington Novaes conquistou respeito e admiração pela farta produção multimídia num filão carente de especialistas. eyes”. And predicted: “You’ll never be the same person” The “curse” of Darcy was confirmed in the renewed willfulness of this man, always combative and willing, in favor of a journalism committed to a better and fairer world. I owe Washington Novaes important choices I have made in my career. Especially to understand, as a journalist, the real dimension Xingu que algo diferente lhe aconteceu. Sua of environmental issues in modern imersão em cinco diferentes aldeias consu- life and in my profession. It’s miu dois meses de viagem, 70 horas de barco honestly a privilege to have him as a motor ou canoas, 500 quilômetros a pé. A a reference, as a friend and, as the experiência o marcou profundamente. Num Indians say, “the wise of the tribe.” encontro casual com Washington num avião, Finally , here’s an important tip : o antropólogo Darcy Ribeiro percebeu um do not call him as “environmental brilho diferente no olhar do amigo: “Agora journalist”. More than once I saw você já sabe que não se passa incólume pela him decline with elegance such experiência de ver o mundo com os olhos dos presentation. Washington is simply índios”. E vaticinou: “Você nunca mais vai ser a journalist those who masterfully a mesma pessoa”. knows “how to poke” gigantic A “maldição” de Darcy se confirmou na obsti- economic and political interests nação renovada desse homem, sempre aguerrido that enrich under conditions that e disposto, em favor de um jornalismo compro- are not sustainable. It belongs metido com um mundo melhor e mais justo. to him the phrase that appears Devo a Washington Novaes escolhas impor- again and again in articles wrathful tantes que fiz na minha carreira. Especialmente with the governmental negligence a de entender, como jornalista, a real dimensão towards environmental matters dos assuntos ambientais na vida moderna e “The environmental issue should homenagem tribute 137 ENTREVISTA Eu sempre tento esclarecer que não sou ambientalista no meu ofício. É sinceramente um privilégio tê-lo como referência, amigo e, como diriam os índios, “o sábio da tribo”. Por último, aqui vai uma dica importante: não o chamem de “jornalista ambiental”. Por mais de uma vez eu o vi declinar, com elegância, esta apresentação. Washington é simplesmente jornalista, daqueles que sabem “cutucar” com maestria os gigantescos interesses econômicos e políticos que se locupletam no que não seja “sustentável”. É dele a frase que aparece reiteradas vezes em artigos indignados com o descaso dos governos para com os assuntos de meio ambiente: “a questão ambiental deveria ser o centro e o princípio de todas as políticas”. Podemos ainda estar muito longe disso, mas é nessa direção, como já defendia Washington décadas atrás, que devemos caminhar. André Trigueiro é jornalista com Pós-graduação em Gestão Ambiental pela COPPE/UFRJ onde hoje leciona a disciplina Geopolítica Ambiental, professor e criador do curso de Jornalismo Ambiental da PUC/RJ, autor dos livros Mundo Sustentável 2 – Novos Rumos para um Planeta em Crise (Ed.Globo, 2012); Mundo Sustentável - Abrindo Espaço na Mídia para um Planeta em transformação (Ed.Globo, 2005) e Espiritismo e Ecologia (Ed.FEB, 2009); Coordenador editorial e um dos autores do livro Meio Ambiente no século XXI (Ed.Sextante, 2003). Durante 16 anos foi âncora e repórter do Jornal das Dez da Globo News. Desde abril de 2012, vem atuando como repórter do Jornal Nacional e colunista do Jornal da Globo, onde apresenta o quadro Sustentável, especialmente criado para ele na Rede Globo. É editor-chefe do programa Cidades e Soluções, da Globo News, comentarista da Rádio CBN e colaborador voluntário da Rádio Rio de Janeiro. be the center and principle of all policies”. We may be still far from it, but it is in this direction, as already advocated by Washington decades ago, that we are supposed to walk . André Trigueiro is a journalist with a postgraduate degree in Environmental Management from COPPE / UFRJ where today he teaches Environmental Geopolitics. He is a professor and developer of the Environmental Journalism Course at PUC / RJ. Autor of “Sustainable World 2 - New Directions for a Planet in Crisis” from Ed Globo, 2012, “Sustainable World - Making Space in Media for a Planet in transformation” from Ed.Globo, 2005 and “Spiritualism and Ecology” from Ed FEB 2009 He is editorial Coordinator and one of authors of the book “Meio Ambiente do Século XXI from Ed Sextante, 2003 (Environment in the XXI century). During 16 years he was anchor and reporter for “Jornal das Dez” at Globo News. Since April 2012, has been working as a reporter for “Jornal Nacional” and as a columnist for “Jornal da Globo”, where he presents “Sustentável” (Sustainable) a framework especially created for him on Rede Globo. He is the general editor of “Cidades e Soluções (Cities and Solutions) of Globo News, commentator at CBN Radio and a voluntary employee for Rio de Janeiro Station. Numa tarde de janeiro, nos jardins da TV Cultura em São Paulo, Washington Novaes concedeu a entrevista abaixo às jornalistas Paulina Chamorro e Mônica C. Ribeiro. Partindo de sua atuação como documentarista e jornalista e da experiência como Secretário de INTERVIEW Meio Ambiente no Distrito Federal, I always try to clarify that I Novaes aborda questões que o país am not environmentalist não pode mais tratar em banho-maria: saneamento, resíduos sólidos, In the end of January, in the mudanças climáticas, matriz energé- gardens of TV Cultura in São Paulo, Washington Novaes granted the tica, demarcação de terras indígenas. following interview to the journalists Paulina Chamorro and Monica Mônica C. Ribeiro (MR): Como surgiu o C. Ribeiro. Starting from his work interesse em trabalhar as questões ambientais as a documentary filmmaker and em documentários e no jornalismo? journalist, and the experience as Environment Secretary in the Washington Novaes (WN): Eu sempre Federal District, Novaes addresses tento esclarecer que não sou ambientalista. issues that the country can no Eu sou jornalista há 57 anos, e se trato muito longer treat on the backburner : dessas questões é porque não há como isolar o sanitation, solid waste, climate meio ambiente do restante. O meio ambiente change, energy matrix, demarcation está em tudo que a gente faz, na nossa vida toda. of indigenous lands. Não pensar nas chamadas questões ambientais significa deixar os problemas crescerem, e Monica C. Ribeiro (MR) : How esses problemas são cada vez maiores. have your interest in working Eu fui para a televisão em 1973 - até então on environmental issues in só tinha trabalhado em jornais e em revistas - documentaries and journalism dirigir o jornalismo da TV Rio, e comecei a appeared? tratar muito dessas questões. Em seguida fui para a TV Globo ser chefe de redação do Globo Washington Novaes (WN): I Repórter. Lembro que o primeiro programa que always try to clarify that I am not an eu dirigi pessoalmente foi sobre uma grande environmentalist. I ‘m a journalist inundação em Pernambuco, principalmente for 57 years, and deal with these em Recife e nas vizinhanças, com mortes, des- issues very often because there is moronamentos, essas coisas. E a partir daí tudo no way to isolate the environment foi se acentuando. Fiz vários documentários, from the rest. The environment is homenagem tribute 139 um deles foi Amazonas, a Pátria da Água, que era um roteiro do Thiago de Mello, o escritor. Esse trabalho inclusive ganhou um prêmio no Festival de Televisão em Nova York [Medalha de prata no Festival de Cinema e TV de Nova York (1982)]. Depois eu fui trabalhar como produtor independente e na TV Cultura. MR: As séries sobre o Xingu talvez sejam seus trabalhos mais conhecidos do grande público. Que diferenças o senhor encontrou no Xingu passadas duas décadas entre a primeira e a segunda série? WN: A primeira série – eu fiz as gravações lá no Xingu em 1985, 1986 –, foi exibida na TV Manchete. A segunda eu fiz em 2006/2007. Há mudanças grandes porque há uma aproximação cada vez maior dos brancos, vamos chamá-los assim, e dos índios. Em 1986 não havia quase comunicação, não havia estradas para chegar ao Xingu, só se chegava por rio ou avião. Em 2006 já havia estradas de todas as aldeias ligando à Canarana e às cidades ali do Mato Grosso. Em 2006, os chefes mais velhos, que eu conhecia desde a primeira vez em que fui ao Xingu, me falaram que eu precisava ajudá-los a acabar com o processo de educação bilíngue, de ensinar português para os índios nas escolas junto com a língua nativa. Diziam: in everything we do, in our lifetime. Do not think about the called environmental issues means allow the problems to increase, and these problems are ever growing. I went for television in 1973 until then I had only worked in newspapers and magazines - to direct the journalism at TV Rio, and started to deal a lot with these issues. Then I went to TV Globo to be the managing editor of Globo Reporter. I remember the first program I personally drove was about a great flood in Pernambuco, especially in Recife and neighborhoods, with deaths, landslides and all this stuff. And from there everything has been more important to me. I made several documentaries, one of them is Amazonas, a Pátria da Água (Amazon , the homeland of water) which was a script from the writer Thiago de Mello. This work even won an award at the Television Festival in New York (silver medal in Film and TV Festival of New York in 1982 ). Then I went to work as an independent producer and also in TV Cultura. MR : The series on the Xingu are perhaps your best known works for the general public . What differences did you find in the Xingu after two decades between the first and second series? The Indian is self-sufficient, he knows everything that is necessary to live. WN: The first series - I did the recordings there in Xingu in 1985-1986 - was shown on TV Manchete. The second I did in 2006-2007. There are huge changes because there is an increasing approximation of the whites, let’s call them this way, and O índio é autossuficiente, sabe fazer tudo que precisa para viver. isso vai acabar com a nossa cultura, as crianças aprendem a falar português e depois querem viver como os brancos, querem ter as coisas que o branco tem. Querem ter televisão, gravador, óculos, tênis, querem todas essas coisas. Isso é uma questão muito séria, à qual se presta muito pouca atenção, se é que se presta atenção. Uma visão que me foi acentuada pelo Pierre Clastres no livro A Sociedade contra o Estado: ele disse que nós sempre tentamos ver o índio não pelo que ele tem, e sim pelo que ele não tem. Um índio não tem roupa, não tem geladeira, não tem televisão, não tem máquina de lavar, não tem gravador, enfim. E enquanto isso nós nos esquecemos das coisas que o índio tem. Um índio, na força da sua cultura, não delega poder a ninguém. Nas sociedades indígenas que mantêm sua cultura, o chefe é o representante e o que mais sabe daquela cultura, da tradição. É o grande mediador de conflitos, mas não dá ordem para ninguém. O índio é autossuficiente, sabe fazer tudo que precisa para viver. Então, são dois luxos enormes: você nascer e morrer sem receber ordem de ninguém, e nascer e morrer sem nunca depender de ninguém. Mas para isso acontecer tem também o terceiro ponto: a informação é aberta. Ninguém se apropria da informação para transformar em poder político e econômico. of the the Indians. In 1986 there was almost no communication, there were no roads to get to Xingu, that could only be reached by river or air. In 2006 there were roads connecting all the villages there to Canarana and to Mato Grosso cities. In 2006, the older heads I knew from the first time I went to Xingu told me that I needed to help them ending the process of bilingual education - teaching Portuguese for Indians in schools together with the native language. They said “it will end with our culture, the children learn to speak Portuguese and then they want to live like the whites, they want to have the same things that whites have . They want television, recorder, sunglasses, shoes, all these stuff. This is a very serious issue to which it is paid very little attention, if one pays attention. A vision that I was marked by Pierre Clastres in the book “The Society Against the State”: he said that we always try to see the Indian not by what he has, but by what he has not. An Indian has no clothes, no refrigerator, no TV, no washing machine, no recorder. And meanwhile we forget the things that the Indian has. An Indian, on the strength of his culture, does not delegate power to anyone. In indigenous societies that maintain their culture, the boss is the representative and the one who knows the most of that culture and tradition. It is the great mediator of conflicts, but does not give orders to anyone. The Indian is selfsufficient, knows everything that is necessary to live. So there are two golden rules: you are born and die without receiving orders from homenagem tribute 141 Um dia, subindo a escada para um avião em Brasília, o Darcy Ribeiro vinha atrás de mim, nós começamos a conversar e naquela época estava sendo exibida a primeira série sobre o Xingu. E ele então me disse, “eu estou vendo a sua série, estou gostando muito e agora você já sabe de uma coisa: você nunca mais vai ser a mesma pessoa; ninguém passa pela experiência de ver o mundo pelos olhos do índio sem se modificar profundamente.” E isso é verdade, eu sou uma pessoa que se modificou muito. MR: O senhor foi Secretário de Meio Ambiente no Distrito Federal na década de 1990. Como é que essa experiência influencia na sua a sua produção, a sua visão das questões ambientais? WN: Eu fui durante dois anos Secretário de Meio Ambiente, Ciência e Tecnologia. Foi uma experiência muito rica e muito dolorosa. Rica no sentido de que você aprende muito lidando concretamente com a realidade e os conflitos anyone, and live and die without ever relying on anyone. But for this to happen there is also a third point : the information is open. Nobody appropriates information to transform into political and economic power. One day, climbing the ladder to a plane in Brasilia, Darcy Ribeiro was behind me and we started talking. At that time the first series on Xingu were being showed. And then he told me “I’m watching your show, I’m really enjoying it, and now you know one thing: you will never be the same person, no one has the experience of seeing the world through the eyes of the Indians without changing deeply” And this is true, I am a person who has changed a lot. MR: You were Environment Secretary in the Federal District in the 1990s. How did that experience influence your production, from the perspective of environmental issues? WN: I was Secretary of Environment, Science and Technology for two years. It was a very rich and very painful experience. Rich in the sense that you learn a lot when specifically dealing with the reality and inherent conflicts - every question you will have to address have a conflict, a disagreement, oppositions, difficulties that you have to solve . I also had to face the question of conflicts within the government. Every day I had a clash with a secretary: a day with the Construction Secretary, or with the Transports Secretary, another day with the Sanitation Secretary, and so on. que ela encerra – toda questão que você vai tratar tem um conflito, tem uma divergência, oposições, dificuldades que você tem que resolver. Tinha também a questão de enfrentar os conflitos dentro do governo. A cada dia eu tinha um choque com um secretário: um dia com o Secretário de Obras, com o Secretário de Transportes, outro dia era com o Secretário de Saneamento e assim por diante. Na área do lixo, que talvez seja a mais complicada de todas, eu recebi duas ameaças de morte por causa dos programas que comecei a tentar implantar. Até hoje os grandes problemas que existiam na época continuam. Por exemplo, eu queria começar enfrentando o problema do lixão na via estrutural, que é dentro do Plano Piloto – já havia na época mais de mil pessoas morando lá e vivendo no lixo. E eu tentei uma porção de soluções: tirá-las dali, fazer conjunto habitacional, cooperativa de reciclagem, usina de reciclagem. Não consegui fazer nada, hoje o lixão está lá ainda, e há cinco mil pessoas morando nele. Além das ameaças de morte, um suplente de senador um dia pediu uma audiência e entrou dizendo: “eu vou direto ao assunto, me disseram que o senhor está abrindo uma licitação para a coleta de lixo aqui no Plano Piloto.” Eu disse: “sim, é verdade”. E ele: “Mas isso é um absurdo”. “Por quê?”, eu perguntei. “Porque o lixo no Distrito Federal é meu”, e ele batia no peito. Eu disse: “como assim, é seu?”“Eu trabalhei nas campanhas, contribuí, então o lixo é meu.” E saiu batendo a porta. Em tudo você vai enfrentar beneficiários que vão se opor a essas transformações. Não é por acaso que é tão difícil fazer qualquer coisa. In the garbage field, which is perhaps the most complicated of all of them, I received two death threats because of programs that started trying to deploy. The major problems that existed at the time exists today. For example, I wanted to start facing the problem of a landfill in the structural pathway, which is within the Pilot Plan at that time there were over a thousand people living there and surviving in the trash. And I tried a lot of solutions : take them away, making housing, create a recycling cooperative, a recycling plant. I could not do anything, the dumpsite is still there and there are five thousand people living on it. In addition to the death threats, an alternate senator one day requested a hearing and entered saying. “I’ll cut to the chase, I was told you are opening a tender for garbage collection here in the Plano Piloto “ I said: “yes it’s true”. And he : “But this is nonsense”. Why? , I asked”. “Because the waste the Federal District is mine” he said, beating his chest. I said “How do you say it is yours?”. “I worked in the campaigns, I contributed to them, so the trash is mine”, and slammed the door. In every area you will face beneficiaries who will oppose to these changes. It is not by accident that it is so hard to do anything . homenagem tribute 143 Paulina Chamorro (PC): Vamos falar sobre grandes temas que pontuaram os primeiros anos do século XXI no Brasil, começando com a reformulação do Código Florestal. Depois de dois anos de discussões e idas e vindas das propostas no Congresso, qual é a opinião do senhor sobre esse processo? WN: Ainda na década de 1980 havia incentivos fiscais para desmatamento na Amazônia – as pessoas deixavam de pagar imposto e com esse dinheiro faziam o desmatamento. Grandes bancos, grandes empresas fizeram projetos enormes de desmatamento e de pecuária na Amazônia. Depois se evoluiu, os incentivos acabaram, graças principalmente ao José Lutzenberger [Secretário Especial de Meio Ambiente do Brasil entre 1990 e 1992], que foi demitido do governo inclusive por causa da oposição ao desmatamento e aos grandes projetos na Amazônia. A legislação evoluiu, foi criando restrições, e de repente voltou a recuar, porque há uma pressão muito grande da agricultura e da pecuária no sentido de não haver limitações para as suas atividades. Vou dar um exemplo concreto. Você tem um avanço enorme da produção de grãos e da pecuária no Cerrado brasileiro, e o desmatamento Um suplente de senador um dia entrou dizendo: “Me disseram que o senhor está abrindo uma licitação para a coleta de lixo aqui no Plano Piloto. Isso é um absurdo, o lixo no Distrito Federal é meu” Paulina Chamorro (PC) : Let’s talk about big issues that impacted the early years of the twenty-first century in Brazil, starting with the Forest Code re-writing. After two years of discussions, comings and goings of the proposals in Congress, which is your opinion about this process? WN: Even in the 1980s there were tax incentives for deforestation in the Amazon - people failed to pay tax and used this money for deforestation. Big banks, big companies have made massive deforestation and ranching projects in the Amazon. Then it evolved and the incentives ended, thanks mainly to José Lutzenberger (Special Secretary for the Environment of Brazil between 1990 and 1992) who was even dismissed from government because of the opposition to deforestation and to the large projects in the Amazon. The legislation evolved and restrictions were created, and suddenly it turned to retreat, because there is a lot of pressure from agriculture and livestock in order to avoid restrictions or limitations to their activities. Let me give a concrete example. You have a huge breakthrough in grain production and livestock in the Brazilian Cerrado (area of open pasture) and deforestation is increasing enormously. Today more than 50% of the natural vegetation of the Cerrado has already been removed because of these projects. About eight years ago I interviewed Braulio Dias, who was the Director of Biodiversity of the Ministry of Environment, vem avançando enormemente. Hoje mais de 50% da área de vegetação natural do Cerrado já foi removida por causa desses projetos. Há uns oito anos eu entrevistei o Bráulio Dias, que era Diretor de Biodiversidade do Ministério do Meio Ambiente, professor universitário, e hoje é secretário geral do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. E o Bráulio naquela época começou a manifestar preocupação com a água no Cerrado. Eles tinham feito uma estimativa e uma análise que mostravam que o Cerrado tinha no subsolo água para o fluxo de sete anos. No Cerrado nascem 14% das águas brasileiras, que vão para a Bacia do São Francisco, Bacia Amazônica e Bacia do Paraná. Uns quatro anos depois voltei a entrevistar o Bráulio sobre isso. O estoque de água já tinha baixado para três anos, porque com a remoção da vegetação há um processo de compactação do solo, e a água não se infiltra. Hoje a reposição de água no subsolo do Cerrado é menor do que a quantidade de água utilizada. O combate ao Código Florestal e às regras é uma coisa que se voltará contra os próprios produtores, porque eles dependem desse ambiente. university professor , and is now the General Secretary of The United Nations Program for the Environment. And Braulio, at that time, began expressing concerns about the water in the Cerrado. They had made an estimate and an analysis showing that the Cerrado had underground water to flow seven years. 14% of Brazilian waters are born in the Cerrado and then go to the São Francisco, the Amazon and the Parana Basins. About four years later I interviewed Bráulio again about . The stock of water had already decreased to three years because with the removal of vegetation there is a process of soil compaction and so the water does not infiltrate in it. Today, the replacement of water in the basement of Cerrado is smaller than the amount of water used. The fight against Forest Code and the rules is one thing that will turn against the producers themselves, because they depend on this environment. PC: Another great point for economic and environmental development of Brazil is the energy matrix. After all, does the country have an idea about they are doing in relation to the energy? An alternate senator one day entered my room saying: “I was told you are opening a tender for garbage collection here in the Plano Piloto. This is nonsense, the waste of the Federal District is mine.” WN: I don’t think so. Above all it is missing a view able to put in it a turning point in Brazilian politics. Brazil is a very privileged country, in the mainland and with sunshine during the whole year to plant and to harvest. We got here about 13% of all surface water on the planet not to mention the underground aquifers. We have the possibility of an energy matrix extremely homenagem tribute 145 O combate ao Código Florestal e às regras é uma coisa que se voltará contra os próprios produtores, porque eles dependem desse ambiente. clean, renewable, unique in the world . But in 2013 we had energy auctions where the share of wind energy was prohibited. Why? Because it already has prices to compete with traditional sources, including hydroelectric, and this affects the interests of many sectors. In the northeast we have over 80 wind farms ready, but there are no lines to connect them to the main system, and it is a government obligation on the contracts signed with companies, with the aggravating circumstance that the government has to pay for the energy that has not been used. It is also not possible to continue with this system of transmission lines with two thousand, three thousand, four thousand kilometers. There are studies PC: Outro grande ponto para o desenvol- that say we are losing 17 % of the vimento econômico e ambiental do Brasil é a energy that goes through these matriz energética. Afinal, o país tem ideia do transmission lines. Governmental que está fazendo em relação à energia? sectors say it is much less , around 7%, but even 7% is too much. WN: Acho que não. Falta, principalmente, uma visão que coloque isso como ponto deci- PC: Two draft laws approved in sivo das políticas brasileiras. O Brasil é um país Brazil are of strong importance muito privilegiado, de território continental, for the cities sustainability: the com sol o ano todo para plantar, para colher. national policy on solid waste and Temos aí uns 13% de toda água superficial do sanitation policy. Most Brazilian planeta, fora os aquíferos subterrâneos. Nós cities have even submitted temos a possibilidade de uma matriz energé- implementation proposals of tica extremamente limpa e renovável, única no these two laws to the Country mundo. Mas em 2013 tivemos leilões de ener- Government . What future do you gia onde foi proibida a participação da energia see in this scenario? eólica. Por quê? Porque ela já tem preço capaz de competir com as fontes tradicionais, inclu- WN: Almost 50% of the waste sive com a hidroelétrica, e isso atinge interesses in Brazil goes to landfills. The de muitos setores. No nordeste já temos mais National Solid Waste Policy was de 80 instalações eólicas prontas, mas não há made and the cities had up to linhas para conectá-las à rede geral, e isso é August 2013 to present projects uma obrigação do governo pelos contratos que and apply for federal funds. Less assinou com as empresas, com o agravante de than 10% of cities have submitted que o governo tem que pagar pela energia que their plans. Every city is required The fight against the Forest Code and the rules is something that will turn against the producers themselves, because they depend on this very environment. não é usada. Também não é possível continuar com esse sistema de linhas de transmissão de dois mil, três mil, quatro mil quilômetros. Há estudos que dizem que nós estamos perdendo 17% da energia que passa por estas linhas de transmissão. Os setores governamentais dizem que é muito menos, em torno de 7%. Mas mesmo que fosse 7%, é muita coisa. PC: Dois projetos de lei aprovados no Brasil são de suma importância para a sustentabilidade das cidades: a política nacional de resíduos sólidos e a política de saneamento. Grande parte dos municípios brasileiros não apresentou nem propostas para a União para a implantação destas duas leis. Qual futuro o senhor enxerga diante deste cenário? WN: Quase 50% do lixo no Brasil vai para lixões. Foi feita a Lei Nacional da Política de Resíduos Sólidos e os municípios tinham até agosto de 2013 para apresentar projetos e se candidatar a recursos federais. Menos de 10% dos municípios apresentaram planos. Todos os municípios estão obrigados pela lei a apresentar projetos para coleta seletiva e reciclagem. Hoje você tem menos de 1% do lixo do Brasil indo para usinas de reciclagem oficiais. É uma coisa calamitosa, ainda mais que a tendência é uma pressão muito forte para que o país caminhe para a incineração de lixo para produzir energia, e este é o pior dos caminhos. Primeiro, porque é um desperdício, você está queimando recursos que poderia reutilizar, reaproveitar, reciclar. Segundo, é um processo muito caro, porque se você não separar o lixo orgânico do seco, terá que usar temperaturas de mais de 900oC, e isso custa caríssimo para não emitir dioxinas e furanos, que são cancerígenos. E quem é que by law to submit proposals for selective collection and recycling. Today you have less than 1% of the waste going to Brazil ‘s official recycling plants . It is a disastrous thing, even more when there is trend in the country for a very strong pressure in order to produce energy from garbage incineration, and this is the worst way. First, because it is a waste, you’re burning resources that could be reused and recycled. Second, it is a very expensive process, because if there is no separation between the organic waste and dry waste, it is necessary to use temperatures of over 900°C, being very expensive to avoid the production of no dioxins and furans in the process because they are carcinogenic. And who separates garbage in Brazil? Hardly anyone. Large contractors that have decisive influence in all Brazilian policies have set up garbage incineration companies and are pushing for the trash to be incinerated. In the area of sanitation, 40% of the population does not have their homes connected to sewers. This means that these sewers are not even gathered and go straight to pollute Brazilian rivers. Even the portion that is collected, only 18%, I believe, receive some form of treatment. Not to mention that we continue with an average 40% of the water that comes out of the homenagem tribute 147 separa lixo no Brasil? Quase ninguém. Grandes empreiteiras que têm influência decisiva em todas as políticas brasileiras já montaram empresas de incineração de lixo e estão pressionando para que o lixo seja incinerado. Na área de saneamento, 40% da população brasileira não tem suas casas ligadas a redes de esgoto. Isso significa que estes esgotos não são sequer coletados e vão direto poluir os rios brasileiros. Mesmo na parte que é coletada, só 18%, eu creio, recebe alguma forma de tratamento. Sem falar que nós continuamos com uma perda média de 40% da água que sai das estações de tratamento e se perde no caminho antes de chegar aos consumidores. Há alguns anos fui a uma cidade do interior de São Paulo, onde eu nasci [Vargem Grande do Sul], e o Prefeito veio conversar comigo para ver se eu não podia ajudá-lo a conseguir financiamento para um novo reservatório de água, uma adutora e uma estação de tratamento. Aí eu disse: “mas essa rede de água é muito antiga, da minha infância, e deve estar com muitos furos e vazamentos, como acontece em quase todo o Brasil. Você tem algum controle disso?”’ Ele respondeu: “Nós temos tudo contabilizado, estamos perdendo 60% da água que sai da estação de tratamento”. “Mas perdendo 60% da água já tratada, porque vocês não fazem um projeto para recuperação da rede?” Ele retrucou: “Porque não há financiamento oficial para isso”. Bom, uns dois No nordeste já temos mais de 80 instalações eólicas prontas, mas não há linhas para conectá-las à rede geral treatment plant lost on the way before reaching the consumer . A few years ago I went to a town in the countryside of São Paulo, where I was born (Vargem Grande do Sul) and the Mayor came to me to ask if I could help him get financing for a new water reservoir, a pipeline and a treatment plant . Then I said, but this water network is very old, from my childhood, and maybe there are many holes and leaks, as in most of Brazil. Do you have some control of it? He replied: “We have all accounted for, we are losing 60% of the water that leaves the treatment plant”. But if you are losing 60% of the water already treated, why do not you do a project for network recovery? He replied : “because there is no government funding for this”. Well, a couple years later I came back and he came to me and said he had gotten a grant from the Ministry of Cities. And I know now that in Recife there was a project financed by a bank to take care of the recovery network . But it is a dire situation . PC: In the book “Além da Conquista” (Beyond Conquest) by Scott Wallace - produced from an expedition to Vale do Javari along with the entourage of Sidney Possuelo (President of the National Indian Foundation - FUNAI - in the 1990s and head of the sector of isolated tribes until 2006) - Possuelo sentences: “our authorities are ashamed to have such a great extension of our forests is in the hands of naked people using archery”. To where do you think the indigenous issues in Brazil are going to walk? And In the northeast we have over 80 wind farms ready, but there are no lines to connect them to the main system anos depois eu voltei e ele me procurou e disse que tinha conseguido um financiamento do Ministério das Cidades. E eu soube agora que em Recife houve um primeiro projeto financiado por um banco para cuidar da recuperação das redes. Mas é uma situação calamitosa. PC: No livro Além da Conquista, de Scott Wallace – produzido a partir de uma expedição ao Vale do Javari junto com a comitiva de Sidney Possuelo [presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai) na década de 1990 e chefe do setor de tribos isoladas até 2006] –, Possuelo sentencia: “Nossas autoridades têm vergonha de que uma extensão tão grande de nossas florestas esteja nas mãos de gente pelada e com arco e flecha”. Para onde o senhor acha que vai caminhar a questão indígena no Brasil? E finalmente, como é que o Brasil vai se enquadrar no futuro das mudanças climáticas? WN: Essa questão de que índios são 1% da população e têm 11% do território me faz sempre lembrar do Lévi-Strauss, que chegou a viver entre os índios brasileiros, e que faz uma pergunta muito interessante: “Por que os índios brasileiros – eles eram alguns milhões quando os portugueses chegaram aqui – não massacraram todos os portugueses e continuaram vivendo a vida deles? Pelo contrário, eles receberam os portugueses como fidalgos, fizeram tudo para ajudá-los, e foram massacrados. Por quê?” O Lévi-Strauss diz o seguinte: na visão de mundo, na cosmogonia do índio, a chegada do outro está sempre prevista. E o outro é o limite da sua liberdade. Porque você tem que conviver, a sua liberdade com a liberdade dele, e o índio tentou fazer isso sempre. O índio aponta para as finally, how is that Brazil will fit into the future of climate change ? WN: That Indians issues - 1% of the population with 11% of the territory - makes me always remember the Levi-Strauss, who came to live among the Brazilian Indians and made very interesting question : “why didn’t the Brazilian Indians - they were a few million when the Portuguese arrived here massacre all the Portuguese people and continue to live their lives? Quite on the contray, they received the Portuguese as noblemen, they did everything to help them , and they were massacred. Why?” Lévi-Strauss says the following: in worldview, in the Indian cosmogony, the arrival of others is always expected. And the homenagem tribute 149 Hoje você tem menos de 1% do lixo do Brasil indo para usinas de reciclagem oficiais. É uma coisa calamitosa, ainda mais que a tendência é uma pressão muito forte para que o país caminhe para a incineração de lixo para produzir energia utopias humanas – um ser autônomo que não recebe ordens, um ser que não depende ninguém, um ser que não está condicionado. Mas a nossa sociedade não quer ver o índio assim exatamente porque quer as terras dele. Você tem uma visão que é permeada por interesses econômicos quando, ao contrário, nós deveríamos olhar cada vez mais para o índio e aprender com ele, porque o mundo vai ter que mudar. E respondendo à parte final, o Brasil já enfrenta muitas dificuldades na área de mudanças do clima por causa do desmatamento, das emissões de poluentes e de outros fatores. O que os estudos científicos estão nos dizendo é que se o mundo prosseguir no caminho que vai hoje, nós teremos um aumento de pelo menos três graus e meio na temperatura da Terra. Não se consegue chegar a um acordo no âmbito da Convenção do Clima para garantir a redução de emissões e conter a temperatura. Para conter em dois graus seria preciso reduzir em 80% o consumo de combustíveis fósseis. E a gente sempre esbarra em uma mesma questão, que são as lógicas financeiras se sobrepondo às chamadas lógicas ambientais. Today you have less than 1% of the waste going to official Brazilian recycling plants. It is a disastrous thing, even more so on account of a tendency to increase pressure for the country to step towards garbage incineration as a means of producing energy. other is the limit of your freedom. Because you have to live together, your freedom with the other’s freedom, and the Indian tried to do this forever. The Indian points to human utopias - an autonomous human being who does not take orders, a human being that does not depend on anyone, a human being who is not conditioned. But our society does not want to see the Indian just because we want his land. There is a vision that is permeated by economic interests when, instead of that, we should look increasingly to the Indian and learn from it, because the world will have to change . And responding to the final part, Brazil is already facing many difficulties in the area of climate change due to deforestation, emissions of pollutants and other factors . What scientific studies are telling us is that, if we continue in the path we are today, we will have an increase of at least three and a half degrees in the temperature of Earth. It hasn’t reached an agreement within the UNFCCC to ensure the emissions reduction and the containment of the temperature. In order to contain two degrees we would need to reduce by 80% the consumption of fossil fuels . And we always bump into the same issue, that are the financial logics overlapping the so called environmental logic . Amazonas, a Pátria da Água Amazonas, Water Nation Brasil, 1981, 51’ DIREÇÃO DIRECTOR Washington Novaes Amazonas, a Pátria da Água, produzido e exibido pelo PRODUÇÃO PRODUCER Globo Repórter, foi baseado em um texto do poeta Ezequiel Santos Thiago de Mello (que aparece na tela com algumas faROTEIRO WRITER las). O documentário tem como tema central a compa- Thiago de Mello e ração entre as vidas de uma criança nascida numa aldeia Washington Novaes indígena, outra criança nascida e criada numa minúscula FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER vila no interior do Amazonas, e uma terceira criança, Amâncio Luís Ronqui filha de mãe muito pobre, nascida num hospital público EDIÇÃO EDITORS de Manaus. A viagem da equipe, feita em barco, durou Wilson Bruno, Mário algumas semanas, ao longo das quais puderam docuMurakami e mentar muito do que era a vida no interior da Amazônia Valdir Barreto na época, suas belezas e seus dramas. Amazonas, Water Nation, produced and broadcasted by Globo Repórter, was based on an essay by poet Thiago de Mello (who appears on-screen with a few lines). The documentary has as a central theme a comparison between the lives of a child born in an indigenous village, another child born and raised in a tiny village in the countryside of the Amazonas state, and a third child, daughter to a very poor mother, born in a public hospital in Manaus. The crew’s boat trip, which lasted a few weeks, allowed them to document much of what life was like in the deep Amazon, its beauties and its dramas. homenagem tribute 151 Desafio do Lixo (Episódios 1 e 5) Xingu – A Terra Mágica (Episódio 1) Trash Challenge (Episodes 1 and 5) Xingu – Magical Land (Episode 1) Brasil, 2001, 55’ e 53’ Brasil, 47 min, 1984 DIREÇÃO DIRECTOR Xingu – A Terra Ameaçada (Episódio 1) Washington Novaes Com a incumbência de retratar o problema do lixo e PRODUÇÃO PRODUCER ROTEIRO WRITER a equipe da TV Cultura viajaram mais de 70 mil quilô- FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Desafio do Lixo. Dois episódios foram escolhidos para Washington Novaes metros pelas Américas e Europa para realizar a série Xingu – Threatened Land (Episode 1) Brasil, 49 min, 2007 Em 1984, Washington Novaes documentou cinco grupos indígenas na região do Xingu. O resultado foi a série Xingu – A Terra Mágica, exibida pela primeira vez em 1985 na TV Manchete, com grande sucesso e várias premiações. Em 2006, 22 anos depois, Novaes retornou à região para documentar os mesmos grupos – Waurá, Kuikuro, Yawalapiti, Metuktire e Panará. O resultado foi Xingu – A Terra Ameaçada. O conjunto dos documentários registra o passado e o presente destes povos fascinantes que se encontram hoje ameaçados. mostrar as bem sucedidas experiências na busca de Roberto Tibiriçá soluções para essa grave questão, Washington Novaes e DIREÇÃO DIRECTOR Washington Novaes PRODUÇÃO PRODUCER WN Produções e Intervídeo ROTEIRO WRITER Cleumo Segond e compor este programa da Homenagem a Washington Lula Araújo Novaes: o primeiro da série se debruça sobre os Estados EDIÇÃO EDITOR Unidos, com destaque para o esgotamento dos aterros Sergio Antonio Pereira sanitários, a coleta seletiva, a reciclagem e o lixo nuclear; já o quinto episódio é focado na experiência brasileira com reciclagem de alumínio, metal, embalagens e baterias, bem como no destino dos afluentes rurais. Washington Novaes FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Lula Araújo EDIÇÃO EDITORS João Paulo Carvalho e In 1984, Washington Novaes documented five indigenous groups in the Aline Nóbrega Xingu region. The result was Xingu – Magical Land, documentary series screened for the first time in 1985 at the Manchete Network, achieving great success and winning several awards. In 2006, 22 years later, Novaes returned to the region to document the same groups - Waurá, Kuikuro, Yawalapiti, Metuktire and Panará. The result was Xingu – Threatened Land. The set of both series together captures the past and present of these fascinating peoples who have their existence threatened nowadays. Presented with task of portraying the trash issue and showcasing successful experiences regarding this grave matter, Washington Novaes and the Cultura Network team travelled over 70 thousand kilometers across the Americas and Europe to produce the Trash Challenge series. Two episodes were chosen for this program: the first one of the series is dedicated to the United States, highlighting above all the exhaustion of landfills, selective collection, recycling and nuclear waste; the fifth episode focuses on the brazilian experience with aluminum, metal, packaging and battery recycling, as well as the fate of rural effluents. homenagem tribute 153 mostra escola/ circuito universitário school/university showcase Trashed – Para Onde Vai o Nosso Lixoo? Trashed – No Place for Waste Reino Unido, 2012, 97 min DIREÇÃO DIRECTOR Candida Brady Trashed – Para Onde Vai o Nosso Lixo? olha para os risPRODUÇÃO PRODUCER cos causados pelo lixo para a cadeia alimentar e o meio Candida Brady ambiente através da poluição do nosso ar, terra e mar. e Titus Ogilvy O filme revela fatos surpreendentes sobre os perigos ROTEIRO WRITER reais e imediatos para a nossa saúde. É uma conversa FOTOGRAFIA CINEMATOGRAPHER Jeremy Irons e cientistas, políticos e pessoas comuns, Candida Brady global, da Islândia à Indonésia, entre o astro de cinema Sean Bobbitt BSC cuja saúde e meios de subsistência foram fundamentalEDIÇÃO EDITOR mente afetados pela poluição de resíduos. James Coward, Kate Coggins Trashed - No Place for Waste looks at the risks to the food e Jamie Trevill chain and the environment through pollution of our air, land and sea by waste. The film reveals surprising truths about very immediate and potent dangers to our health. It is a global conversation from Iceland to Indonesia, between the film star Jeremy Irons and scientists, politicians and ordinary individuals whose health and livelihoods have been fundamentally affected by waste pollution. Trashed – Pra Onde Vai o Nosso Lixo? Trashed – No Place for Waste mostra escola/circuito universitário school show/university showcase 155 programação Cine Livraria Cultura program 21.mar sexta-feira 25.mar terça-feira 15h30 Planeta Re:Pense 15h30 Os Sub-Humanos TEMAS campo countryside L (Dinamarca, 89’) 17h30 Montanhas Enevoadas (China, 85’) 17h30 A Síndrome de Veneza L 19h Febre do Ouro** (EUA, 84’) 12 20h30 Debate Temática Economia economia economy 22.mar sábado energia energy 15h30 Fukushima: Um Registro de povos e lugares people and places 17h30 Metamorphosen** especial dia da água water day special program 19h 21h * exibição em 35mm / 35m projectiom ** sessão com a presença do diretor / session attended by the film director 19h 26.mar quarta-feira 15h30 Lamento de Yumen (China, 27’) Tóquio Waka** (Japão, 63’) L 17h30 Guerra de Areia L Debate Temática Energia Promessa de Pandora (França/ Canadá, 74’) 19h L 23.mar domingo L 20h30 Debate Temática Cidades 15h30 Vozes da Transição (França, 66’) 17h30 Lamento dos Camponeses** 19h 21h L L Debate Temática Campo Sinfonia do Solo (EUA, 104’) 27.março quinta-feira 15h30 Defensores do Ártico L (Canadá, 90’) 17h30 A Revolução do Lítio L (Alemanha/Espanha, 52’) 24.mar segunda-feira 19h 12 20h30 Cerimônia de Premiação L 17h30 Costa da Morte (Espanha, 80’) 19h Vila do Fim do Mundo** (Reino Unido, 76’) L Blackfisk – Fúria Animal (EUA, 82’) 15h30 Homem Máquina (Espanha, 15’) Um Rio Muda de Curso (Camboja, 83’) L De Para (Croácia, 10’) A Escala Humana** (Dinamarca, 83’) (Luxemburgo, 71’) 16 (França/Holanda/Bélgica, 93’) L (Alemanha, 84’) A Quinta Estação 20h30 Debate Mostra Competitiva Coisas Vivas (Japão, 76’) competição latino-americana latin american competition L (Alemanha, 80’) cidades cities (EUA , 89’) L (Alemanha, 90’) L L 20h30 Debate Temática Povos e Lugares programação programming 157 Reserva Cultural MIS 20.mar quinta-feira 24.mar segunda-feira 20h30 Blackfish – Fúria Animal 15h (EUA, 82’) 12 17h15 Lamento dos Camponeses** (Luxemburgo, 71’) 19h A Revolução do Lítio 17h15 Desconectado (Índia/EUA, 83’) 19h Metamorphosen** 10 20h30 Terra da Esperança (Japão, 133’) L 22.mar sábado 15h (França/Holanda/Bélgica, 93’) 17h15 Febre do Ouro** (EUA, 84’) 19h Os Sub- Humanos 21h 16 12 L Figurões (EUA, 99’) 12 23.mar domingo 15h A Criação Como a Vimos Floresta dos Espíritos Dançarinos L (Canadá/Suécia, 104’) 18h Nahuas, 20 Anos Depois Amazônia Desconhecida** (Brasil, 70’) 21h L Chapada do Apodi, Morte e Vida (Brasil, 27’) Deserto Verde** (Argentina, 84’) 15h 17h15 19h 21h Sinfonia do Solo (EUA, 104’) L Vozes da Transição (França, 66’) L Apocalipse de Verão (Brasil, 15’) As Ruas da Minha Cidade (Uruguai, 6’) Pacha** (Bolívia/México, 88’) L O Último Mercador de Gelo 19h (Dinamarca, 83’) L 19h L Limites (Turquia/Alemanha, 93’) De Para (Croácia, 10’) A Escala Humana** 21h 20h30 Filhos de Hiroshima* (Japão, 97’) 14 25.mar terça-feira 21h Xingu – A Terra Mágica / Xingu – A Terra Ameaçada** (Brasil, 104’) L Debate Homenagem – Washington Novaes 26.mar quarta-feira 17h15 Ecumenópolis: A Cidades Sem (Equador, 14’) Seca (México, 90’) L Nature House Inc. (Reino Unido, 6’) Fora de Quadro (Grécia, 10’) Sempre Fui um Sonhador (EUA, 78’) (Japão, 115’) 10 18h O Homem* (Japão, 117’) L 20h30 A Ilha Nua* (Japão, 94’) L 27.mar quinta-feira 15h Dragão Felizardo Nº5* 23.mar domingo Linear (Brasil, 7’) 74 Metros Quadrados** (Chile/EUA, 67’) L L L (México, 82’) L 19h 21h Amazonas, a pátria da água (Brasil, 52’) L Desafio do Lixo (Brasil, 108’) L L A Síndrome de Veneza (Alemanha, 80’) (Reino Unido, 14’) L 25.mar terça-feira A Quinta Estação (Alemanha, 90’) 21h L (Alemanha, 84’) Jornada ao Local Mais Seguro da Terra (Suíça, 100’) L 17h15 O Homem Vaca (Reino Unido, 98’) 19h Paal (México/Canadá/Suíça, 21’) Não Há Lugar Distante** (Peru/Espanha, 26’) L (Alemanha/Espanha, 52’) 22.mar sábado 15h L (França, 118’) 21.mar sexta-feira 16h Somos Todos Cobaias? 26.mar quarta-feira L 27.mar quinta-feira 19h 21h A Mãe* (Japão, 100’) 14 Onibaba – A Mulher Demônio* (Japão, 103’) 16 17h15 Defensores do Ártico (Canadá, 90’) 19h L Vila do Fim do Mundo** (Reino Unido, 76’) L 20h30 A Lenda de Iya (Japão, 169’) L programação programming 159 Centro Cultural São Paulo Cine Olido 21.mar sexta-feira 21.mar sexta-feira 17h 20h A Lenda de Iya (Japão, 169’) Fukushima: Um Registro de Coisas Vivas (Japão, 76’) L 27.mar quinta-feira L 22.mar sábado 16h 18h 20h 14 Jornada ao Local Mais Seguro da Terra (Suíça, 100’) L Costa da Morte (Espanha, 81’) L 23.mar domingo 16h 18h 20h Ecumenópolis: A Cidade Sem Limites (Turquia/Alemanha, 93’) L Nature House Inc. (Reino Unido, 6’) Fora de Quadro (Grécia, 10’) Sempre Fui um Sonhador (EUA, 78’) L L 25.mar terça-feira 17h 20h 17h L 20h Filhos de Hiroshima* (Japão, 97’) 14 Dragão Felizardo Nº5* (Japão, 115’) 10 18h 15h 20h 17h L 19h L A Criação Como a Vimos Floresta dos Espíritos Dançarinos L 20h Apocalipse de Verão (Brasil, 15’) As Ruas da Minha Cidade (Uruguai, 6’) Pacha (Bolívia/México, 88’) L 26.mar quarta-feira 17h 19h Desconectado (Índia/EUA, 83’) 10 Ecumenópolis: A Cidades Sem Limites (Turquia/ Alemanha, 93’) L 27.mar quinta-feira 17h Guerra de Areia (França/Canadá, 74’) 19h L A Quinta Estação (França/Holanda/Bélgica, 93’) 16 Nahuas, 20 Anos Depois Amazônia Desconhecida (Brasil, 70’) 17h L Desconectado (Índia/EUA, 83’) L L (Peru/Espanha, 26’) Figurões (EUA, 99’) 12 Promessa de Pandora (EUA, 89’) Paal (México/Canadá/Suíça, 21’) Não Há Lugar Distante 23.mar domingo 15h 30.mar domingo 16h 18h L Lamento de Yumen (China, 27’) Tóquio Waka (Japão, 63’) L Nature House Inc. (Reino Unido, 6’) Fora de Quadro (Grécia, 10’) Sempre Fui um Sonhador (EUA, 78’) L A Síndrome de Veneza (México, 82’) (Reino Unido, 14’) L Chapada do Apodi, Morte e Vida (Brasil, 27’) Deserto Verde (Argentina, 84’) (Alemanha, 80’) Montanhas Enevoadas (China, 85’) 17h 19h 22.mar sábado Guerra de Areia (França/Canadá, 74’) Linear (Brasil, 7’) 74 Metros Quadrados (Chile/EUA, 67’) 29.mar sábado 16h 17h 19h Onibaba – A Mulher Demônio* (Japão, 103’) 16 A Mãe* (Japão, 100’) 14 (Canadá/Suécia, 104’) Somos Todos Cobaias? (França, 118’) Terra da Esperança (Japão, 133’) Lamento de Yumen (China, 27’) Tóquio Waka** (Japão, 63’) L 28.mar sexta-feira O Homem Vaca (Reino Unido, 98’) 17h 20h 25.mar terça-feira 10 L O Último Mercador de Gelo (Equador, 14’) Seca (México, 90’) L 26.mar quarta-feira 17h 20h A Ilha Nua* (Japão, 94’) L O Homem* (Japão, 117’) 14 programação programming 161 Matilha Cinusp Maria Antônia Cultural 21.mar sexta-feira 20h 21.mar sexta-feira Lamento dos Camponeses 18h L (Luxemburgo, 71’) (França, 118’) 20h 22.mar sábado 18h L 17h 20h L Metamorphosen (Alemanha, 84’) Febre do Ouro (EUA, 84’) 12 Terra da Esperança L (Japão, 133’) 23.mar domingo 18h 20h 12 22.mar sábado Homem Máquina (Espanha, 15’) Um Rio Muda de Curso (Camboja, 83’) L Blackfish – Fúria Animal (EUA, 82) De Para (Croácia, 10’) A Escala Humana (Dinamarca, 83’) 20h Somos Todos Cobaias? Amazonas, a pátria da água (Brasil, 52’) L 23.mar domingo L 20h Xingu – A Terra Mágica / Xingu – A Terra Ameaçada (Brasil, 104’) L 25.mar terça-feira 18h 20h Jornada ao Local Mais Seguro da Terra (Suíça, 100’) L Desafio do Lixo (Brasil, 108’) 26.mar quarta-feira 18h Os Sub-Humanos (Alemanha, 90’) 20h L Promessa de Pandora (EUA , 89’) L 27.mar quinta-feira 20h Planeta Re:Pense (Dinamarca, 85’) L programação programming 163 3a Mostra Ecofalante de Cinema Ambiental 3rd Ecofalante Environmental Film Festival 20 a 27 de março de 2014 patrocínio . sponsorship Eaton White Martins curadoria panorama histórico historical panorama curatorship Alex Andrade apoio . support PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente GVces – Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas Instituto Akatu Rede Nossa São Paulo / Programa Cidades Sustentáveis Instituto Pólis Le Monde Diplomatique Brasil Instituto Envolverde Revista Piauí Catraca Livre Rádio Eldorado FM Rádio Estadão Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo Programa de Pós-Graduação em Ciência Ambiental da Universidade de São Paulo Pró-Reitoria de Cultura e Extensão Universitária da Universidade de São Paulo Centro Universitário Maria Antônia Cinusp Centro Cultural São Paulo Galeria Olido Matilha Cultural Prefeitura de São Paulo direção geral . director Chico Guariba produção executiva executive producer Daniela Guariba coordenação de produção production coordinator Leonardo Mecchi coordenação de comunicação communication coordinator Mônica C. Ribeiro pesquisa de filmes film’s research Cândida Guariba produção de filmes film’s production Cândida Guariba internacional/international Lara Lima e Alex Andrade latino americana/latin american, panorama histórico/historical panorama homenagem/tribute assistente de produção production assistant Amanda Miranda Projeto realizado com o apoio do Governo do Estado de São Paulo, Secretaria da Cultura, Programa de Ação Cultural 2013 assistente de comunicação communication assistant Olivia Steed produção . production Doc e Outras Coisas receptivo . receptive Henrique Valente da Costa realização . realization Ecofalante monitoria . monitoring Fabiana Amorim curadoria . artistic director Francisco César Filho assessoria de imprensa . press office ATTi Comunicação e Ideias Eliz Ferreira e Valéria Blanco comissão de seleção selection committee Alex Andrade, Beth Sá Freire, Cândida Guariba, Chico Guariba, Liciane Mamede, Marcio Miranda, Pedro Roberto Jacobi e Saulo França Rosa still Rodrigo Paiva concepção visual, projeto gráfico e site visual and graphic design and website Amatraca Design Gráfico aplicativo para iphone e android iphone and android app Ambientic tradução de textos . translation Luciana Quadros Canassa vinheta . vignette Estúdio Teremim trilha sonora . soundtrack PlayRK30 troféu . trophy Design Possível & Projeto Tear tradução e legendagem eletrônica dos filmes translation and electronic subtitling of films 4estações Video Trade tradução simultânea dos debates simultaneous translation of debates Tela Mágica Produções ARK Intérpretes agradecimentos . thanks Alejandro Hormigo Vega, Ana Paula Calvo, Bianca Alves Costa, Brian Belovarac, Carlos Muñoz Vásquez, Catalina Mac-Auliffe, CEDOC TV Globo, Célio Franceschet, Cleo Araujo, David Kalischer, Fernando Ferrari Duch, Fernando Tadeu, Fundação Padre Anchieta, Gabrielle Araújo, Gaya Machado, Helen Y. Altimeyer, Intervídeo Digital, Isadora Candian dos Santos, Ivo Pons, Jarbas Vargas Nascimento, Jiro Shindo, João Novaes, José Antônio Medeiros, Laure Bacqué, Leticia Santinon, Marcelo Novaes, Marcelo Ramalho, Maria de Toledo Piza, Mariani Ohno, Munir Younes Soares, Ninho Moraes, Patricia Primon, Patrícia Rabello, Paula Asprella, Paulina Chamorro, Pedro Novaes, Rafael Carvalho, Renato Nery, Ricardo Barreto, Roberto D’Ugo Junior, Sérgio Alpendre, Sergio Minehiro Kitayama, Thiago André e Vera Diegoli. apresentação patrocínio apoio apoio institucional CU LTUR A realização produção