civilizado

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civilizado
HISTÓRIA
O Ligier
civilizado
Texto e fotos: Thierry Lesparre
O Ligier JS2 é a imagem de Guy Ligier, podemos amá-lo
ou não, mas não pode ser ignorado.
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HISTÓRIA
N
ascido 12 de Julho de 1930
em Vichy, o jovem Guy Ligier
começou a trabalhar com
a idade de 14 anos como
aprendiz de talhante. Atleta bem sucedido destacou-se em todas as disciplinas
que praticou, desde o remo até ao rugby.
Em 1957, arruma os ténis, para começar
com algum sucesso nas corridas de motos e conseguirá mesmo dois títulos de
campeão da França na sua Norton 500cc.
Preparando-se para o futuro investe os
ganhos da competição na compra da sua
primeira pá mecânica que marcará o arranque da empresa de trabalhos públicos
Ligier.
Em 1960 tenta o automobilismo ao volante de um Fórmula Júnior Elva.
Uma empresa em crescimento e problemas frequentes no Elva, levam Guy Ligier
a dar um passo atrás na competição. Mas
o intervalo será curto, na verdade, vai
retomar as corridas esporadicamente nos
ralis - no Tour de Corse em 63 e 24 Horas
de Le Mans em 64. No ano seguinte, junta-se à equipa “Ford France” e esta é uma
oportunidade para o condutor de Vichy
revelar abertamente as suas características de condutor versátil.
Mas para Guy Ligier a Fórmula 1 é o seu
objectivo e é aos 36 anos, com a ajuda
da BP, que participará no seu primeiro
Grande Prémio. Entre 1966 e 1967, Guy vai
correr um total de doze Grandes Prémios
dirigindo um Cooper T81 com motor Maserati e depois com um Brabham BT20.
No ano seguinte, funda com José Behra
a “Écurie Inter Sport BP” que alinha dois
McLaren M4 A, um para ele e outro para
o seu amigo Jo Schlesser. No mesmo ano,
a Honda entrega a Jo Schlesser o volante
de um dos seus F1 RA302 no GP de França.
Jo vê nisso a sua oportunidade de correr
o seu primeiro Grande Prémio. Infelizmente, ele só fará 3 voltas do Circuito de
Rouen Essarts antes que o carro japonês
se vire e arda.
Muito afetado pela morte trágica de
seu amigo Guy Ligier pensa em deixar
a competição, mas a paixão continua
a ser muito forte. É altura de realizar o
sonho antigo que dividia com Jo Schlesser, construir o seu próprio carro. Ele
tem uma idéia muito clara do que quer.
Não deve ser muito grande, tem de ter
uma boa visibilidade para a frente, sem
saliências, um motor potente e boa tração. No entanto, deve ser habitável, com
portas e acessos suficientemente grandes
para garantir uma fácil acessibilidade,
a adequada para o uso diário - o objetivo
era a possibilidade da sua comercialização.
A concepção do carro é confiada a
Michel Tetu, um jovem engenheiro que
começou na CD, enquanto a carroçaria
é projetado por Pietro Frua, o famoso
fabricante de carroçarias de Turim. O
JS1 (nomeado a partir das iniciais de seu
amigo que desaparecera cedo demais) fez
sua primeira aparição pública no Salão
Automóvel de Paris em 1969.
Dificilmente adaptável à produção em
pequenas séries, o Ligier JS1 dá lugar a
uma versão mais civilizada, o JS2 cujo
protótipo é apresentado no Salão de Paris,
em Outubro de 1970. O desenho da carroçaria vem das oficinas Abrest, perto de
Vichy e é novamente assinado por Pietro
Frua. O JS2 inicialmente é equipado com
um Ford V6 2600cc de injeção de 165CV, no
entanto, no aspecto da motorização nada
estava ainda decidido, corriam boatos de
que o modelo base poderia ser equipado
com um V6 Maserati. Em ambos os casos,
o JS2 vinha equipado com uma caixa de
cinco velocidades sincronizadas SM. O
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HISTÓRIA
preço de venda do novo Ligier rondava os
59 mil francos, embora nenhuma data
ainda tivesse sido anunciada para a comercialização. Entretanto, o anúncio pela
Ford de que iria desenvolver o seu próprio
Grande Turismo, o GT70, e a decisão de
não fornecer o seu motor ao fabricante de Vichy, leva Guy Ligier a voltar-se
agora, logicamente, para a Citroën, que já
fornece a caixa de velocidades e poderia fornecer o motor Maserati, a marca
italiana fazia parte do mundo Citroën.
Michel Tetu é obrigado a reformular o
eixo traseiro do JS2 para ser capaz de
acolher o V6 italiano na sua versão de
2670cc. Enquanto isto, Guy Ligier, que não
estava satisfeito com o projeto de Pietro
Frua, confia a carroçaria a Pichon-Parat
para alguns retoques.
O primeiro JS2 com motor Maserati
será apresentado ao público no Salão
Automóvel de Paris, em Outubro de 1971.
O preço é agora de 74 mil francos, ou seja
15.800 mais do que o SM. Em Fevereiro
de 73, o Ligier JS2 adota o motor V6 da
Merak. A cilindrada passa de 2670cc para
os 2965cc, o que resulta num ganho de
potência de 25CV em relação à versão anterior e, ao mesmo tempo dá-se mais um
aumento de preço, que passa agora para
os 74.500 Francos.
Em Abril de 1974 a parceria com a Citroën reforça-se. Guy Ligier passa a poder
contar com a rede Citroën para distribuir
e oferecer um serviço pós-venda para os
seus carros. No entanto, após o primeiro
choque petrolífero o ambiente económico
não é o mais favorável para a comercialização de carros desportivos. Enquanto
a Citroën entrega a produção dos últimos
SM à Ligier, a fabricação dos JS2 parou
praticamente. Esta interrupção forçada
foi aproveitado por Guy Ligier para reformular radicalmente o carro. A evolução
final do JS2, facilmente reconhecivel
pelos seus faróis retráteis e as suas jantes de 5 porcas, é apresentado no Salão
Automóvel de Genebra, em 1975. O preço
de venda é fixado nos 80 mil francos.
Apenas sete Ligier JS2 da última geração
serão montados, mas Guy Ligier já tem
sua cabeça num outro projecto e acaba
por fechar definitivamente a página do
JS2 para se dedicar inteiramente a um
novo desafio, a Fórmula 1.<
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