Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba

Transcrição

Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA
PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE – PRODEMA
SUB-PROGRAMA UFPB/UEPB
RICARDO CAVALCANTI DE ARRUDA
AGROTÓXICOS E SAÚDE NA VISÃO DA MEDICINA
TRADICIONAL CHINESA: O CASO DA AGRICULTURA
IRRIGADA DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA, PARAÍBA.
JOÃO PESSOA – PB
MAIO DE 2008
RICARDO CAVALCANTI DE ARRUDA
AGROTÓXICOS E SAÚDE NA VISÃO DA MEDICINA
TRADICIONAL CHINESA: O CASO DA AGRICULTURA
IRRIGADA DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA, PARAÍBA.
Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio
Ambiente
Universidade
Federal
da
Paraíba/Universidade Estadual da Paraíba,
como parte dos pré-requisitos para a
obtenção
do
grau
de
Mestre
em
Desenvolvimento e Meio Ambiente
RICARDO CAVALCANTI DE ARRUDA
ORIENTADOR: Prof. Dr. .ROBERTO SASSI
A779a
Arruda, Ricardo Cavalcanti de .
Agrotóxicos e saúde na visão da medicina tradicional chinesa: o caso
da agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, Paraíba/Ricardo
Cavalcanti de Arruda – João Pessoa, 2008.
170f.
Orientador: Roberto Sassi.
Dissertação (Mestrado) – PRODEMA/UFPb - CCEN
1.Meio ambiente . 2. Medicina tradicional Chinesa. 3. AcuPuntura Constitucional. 3.Agrotóxico.4.Ecomedicina
.
UFPb/BC
CDU: 504(043)
RICARDO CAVALCANTI DE ARRUDA
AGROTÓXICOS E SAÚDE NA VISÃO DA MEDICINA
TRADICIONAL CHINESA: O CASO DA AGRICULTURA
IRRIGADA DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA, PARAÍBA.
BANCA EXAMINADORA
_____________________________________________________
Prof. Dr. Roberto Sassi (UFPB/PRODEMA)
ORIENTADOR
_____________________________________________________
Prof. Dr. Paulo José Adissi (UFPB/CT)
Examinador Titular
__________________________________________________________
Prof. Dr. João Modesto (UFPB/CCS)
Examinador Titular
________________________________________________________
Profa. Dra. Loreley Gomes Garcia (UFPB/PRPODEMA)
Examinadora Suplente
DEDICATÓRIA
Religaris,
palavra
latina
que
sintetiza o sentimento de ligação entre
o ser humano, a diversidade biológica
de Gaia, e, até mesmo com o elemento
carbono (tetravalente), gerado no fogo
dentro do núcleo das estrelas. Essa
mesma palavra torna-se infinitamente
pequena
para
expressar
a
ligação
afetiva existente entre o meu ser, meus
cinco filhos: Diogo, Ramon, Ricardo
Filho, Páola, e Lílian; meu neto Pedro,
e, mais ainda, com os meus pais,
Juracy Cavalcanti de Arruda e Jacy
Miranda
Cavalcanti
de
Arruda.
vocês, minha vida!
Ricardo Cavalcanti de Arruda
A
AGRADECIMENTOS
1- A Gabriela, Lila, Eliane, Izabel, e Etiane (que ajudaram no
preenchimento dos questionários e das fichas de anamnese durante o
atendimento no ambulatório do sindicato dos trabalhadores irrigantes
de Boqueirão).
2- Izamario (baro), Vereador e vice-presidente do sindicato dos
trabalhadores irrigantes, que não mediu esforços em prestar as
informações necessárias à pesquisa.
3- Geraldo Barbosa (vice-prefeito do município de Boqueirão) e
presidente do supracitado sindicato, que nos abriu as portas do
ambulatório da policlínica do sindicato, quando outras portas tinham
se fechado.
4- Ao ex-prefeito, ex deputado estadual, ex secretário chefe da casa civil
do estado da Paraíba, João Fernandes da Silva e sua competente
esposa Noemia Leitão, pela sincera amizade.
5- Ao Dr Fábio Rocha (Laboratório Dr.Maurílio de Almeida), pela
colaboração e sujestões quando da coleta de amostras de sangue para
exames laboratoriais.
6- Ao Dr Vandique pelos mesmos motivos referidos no item anterior.
7- Ao Sr. Oliberto Gabi Lobo, um cordeiro em paciência e verdadeiro
mestre da informática que em segundos capta minhas idéias e as
transforma em gráficos e figuras utilizadas nessa dissertação.
8- Aos trabalhadores da agricultura irrigada do município de boqueirão
que gentilmente confiaram em mim entregando seu corpo e relatando
suas queixas , para a realização desse trabalho. A vocês, heróis
anônimos de uma sociedade muitas vezes injusta, minha gratidão e
meu respeito!
9- A meu irmão querido, Guilherme, amigo das horas difíceis.
10- A Manoel, Dida, e Bárbara, respectivamente: irmão, cunhada, e
sobrinha, que me conforta com suas atenções e carinhos, nos poucos
momentos que passamos juntos, sempre deixando um vazio de
saudade.
11- A Paulo Miranda,(avô) que custeou meus estudos básicos de
acupuntura.
12- A meu avô Manoel Cavalcanti de Arruda, que ensinou a meu pai ser
um pai amoroso.
13- A minha avò querida Alaíde Arruda, que ensinou: Quando alguém lhe
agredir, “entregue a Deus”.
14- A meu orientador Professor Roberto Sassi, por me fazer não sentir falta
do meu pai durante os estudos.
15- A Professora Doutora Cristiane F. Costa pela imprescindível ajuda nos
cálculos estatísticos.
16- A Ramon que me deu um grande incentivo ao se dirigir a minha
pessoa certo dia, e falar: “Painho, para um bom médico, você é um bom
marketeiro”.
17- A Diogo, por me ajudar a aprender a me virar sozinho.
18- A Eulânia que além de me emprestar o carro para as viagens de
campo, é uma boa companheira, que me deu dois presentes: Ricardinho
e Lílian.
19- Aos professores do Prodema, em especial Profa Regina e Maristela,
pela recepção paciente quando fui o último a se inscrever para a prova
de seleção desse mestrado, bem como pela sua dedicação, competência
e simpatia.
20- A Sra. Amélia, secretária do Prodema, sempre atenciosa e prestativa.
21- A Professora Dra.Loreley Garcia, pelo ensinamento disciplinar, me
fazendo ser pontual, e pelas conversas extra classe sobre Paracelso e
sobre Gaia.
22- Ao Técnico em Medicina Tradicional Chinesa , meu amigo Wilson
Lopes de Oliveira, pela companhia durante o trabalho de campo, e pelas
brilhantes sugestões e observações.
23- Ao Professor Climério Avelino de Figueiredo, meu chefe imediato no
NEPHEF/CCS/UFPB(Núcleo de Pesquisa em Homeopatia e Fitoterapia
do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba),
pela ajuda constante desde a implantação do ambulatório de
acupuntura no H U L W da UFPB, Campus I.
24- A Professora Dra. Margarete Formiga, diretora do CCS/UFPB, pela
ajuda constante, desde quando para implantação do ambulatório de
acupuntura do HU/CCS/UFPB, bem como para a realização desse
trabalho. Sem a sua ajuda 2/3 dos mineralogramas de amostras do
cabelo não seriam realizados. Sua pureza de alma, sua sinceridade, e
sua simplicidade, fazem de sua pessoa, um ser iluminado, no meio de
tanta mediocridade que muitas vezes perambula no meio acadêmico.
Meu respeito professora!
25- A minha querida tia Maria Carmelita por ter amado meu pai; e a tia
Arlete pelo incentivo constante.
26- Em especial a minha mãe, Jacy Miranda C. de Arruda, pela dedicação
ao ensino das primeiras letras.
27- A Sra. Dalva técnica do Laboratório Maurílio Almeida, pela colaboração
durante as coletas de amostra de sangue para análise.
28- A todos mencionados, e aos que
minha gratidão.
tenham me fugido da lembrança,
29- A Daniela e Marileide pela ajuda nas análises de amostras de tomate
junto ao ITEP/PE.
30- Às pessoas más, que nada produzem para a evolução e o bem da
humanidade, e passam a vida tentando atrapalhar quem quer fazer o
bem, lhes digo: “O que não me mata, só me fortalece”!
LISTA DE TABELAS
pgs
Tabela 1 – Total de arrendatários das terras marginais do Açude Epitácio
Pessoa administradas pelo DNOCS, em função dos tamanhos dos lotes
(Fonte: DNOCS; * = número de agricultores assentados que praticam
agricultura irrigada apenas em áreas de vazante)...................................... 14
Tabela 2 – Algumas características yin e yang, encontradas entre os 46
humanos..................................................................................................
Tabela 3 – Correlação dos cinco elementos com o corpo humano e com os
elementos da natureza.............................................................................. 55
Tabela 4. Principais tipos de agrotóxicos usados pelos plantadores de tomate e
pimentão no entorno do açude Epitácio Pessoa, Município de Boqueirão\PB,
conforme dados levantados em 2007.
89
Tabela 5 – Percentagem da população de homens agricultores do Açude
Epitácio Pessoa, PB, cujos resultados dos exames de sangue são normais
ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada,
conforme resultados de exames efetuados em 2007.................................. 103
Tabela 6. Percentagem da população de mulheres agricultoras do Açude
Epitácio Pessoa, PB, cujos resultados dos exames de sangue são normais
ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada,
conforme resultados de exames efetuados em 2007.
104
Tabela 7. Comparação dos percentuais de normalidade das variáveis
investigadas nos exames de sangue das pessoas que trabalham na
agricultura irrigada do Açude Epitácio Pessoa, PB, quanto aos sexos,
conforme dados obtidos em 2007.
105
Tabela 8. Percentagem da população dos agricultores do Açude
Boqueirão, PB, cujos resultados das análises de sangue se acham dentro
dos limites de normalidade para cada variável medida, conforme
resultados de exames efetuados em 2007.
106
Tabela 9. Percentagem da população de homens agricultores do Açude
Boqueirão, PB, cujos resultados dos mineralogramas do cabelo são
normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável
investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007.
110
Tabela 10. Percentagem da população de mulheres agricultoras do Açude
Boqueirão, PB, cujos resultados dos mineralogramas do escalpo são
normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável
investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007. Os casos 111
mais expressivos encontram-se em destaque.
Tabela 11. Comparação entre sexos quanto às variáveis dos
mineralogramas cujos resultados estão dentro dos limites de
normalidade, conforme resultados dos exames efetuados nos agricultores
do Açude Boqueirão, PB, no ano de 2007.
112.
Tabela 12. Quantidades de óbitos por câncer no município de Boqueirão
no período de 1993 a 2007.
113
Tabela 13. Principais incidências de neoplasias malignas no município de
Boqueirão no período de 1993 a 2007.
114
Tabela 14.
Resultados dos exames de agrotóxicos em Hoplias
malabaricus (Bloch, 1794) do açude Epitácio Pessoa, e em tomates
provenientes da margens desse mesmo açude, realizados no Laboratório
de toxicologia do ITEP, em março de 2008.
118
Tabela 15. Principais sintomas registrados nas anamneses realizadas
entre os agricultores do município de Boqueirão no ano de 2007.
119
Tabela 16. Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e
mineralogramas do cabelo para o sexo masculino. Correlações marcadas 120
em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=44).
Tabela 17. Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e
mineralogramas do cabelo para o sexo feminino. Correlações marcadas
em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=17).
121
e
122
Tabela 18. Teste-t para as variáveis dos exames de sangue, comparando o
pulso II com o pulso IV.
123
Tabela 19. Teste-t para as variáveis dos exames de sangue, comparando o
pulso II com o pulso IV.
124
LISTA DE FIGURAS
Pgs
Figura 1. Representação esquemática da origem das forças naturais
antagônicas (yin-yang) que segundo o I Ching originaram as “dez mil
coisas”.................................................................................................... 35
Figura 2 – Representação das forças yin-yang no símbolo do TAO,
evidenciando os quatro aspectos do mesmo princípio em um subgrupo
de quatro: madrugada: yang no yin; manhã: yang no yang; tarde: yin no
yang; noite: yin no yin. A parte clara é yang e a parte escura yin, em
conformidade com o simbolismo da luz e da sombra............................... 47
Figura 3 – Esquema da circulação do Chi nos diferentes órgãos no
período de 24 horas...............................................................................
50
Figura 4. Os cinco elementos da Medicina Tradicional Chinesa (lei de
geração, e a lei da dominância). Fogo gera a terra, a terra gera o metal, o
metal gera a água, a água alimenta a madeira, a madeira alimenta o
fogo.......................................................................................................
53
Figura 5. Fisiopatologia da Esquistossomose manssônica de acordo com
a
lei
dos
cinco
elementos..............................................................................................
54
Figura 6. Modelo sintético da origem e evolução das “10.000 coisas do
universo”, conforme concebido no I Ching (Livro das Mutações) e
relacionado
com
os
códigos
genéticos...............................................................................................
57
Figura 7. Espermatozóides em ação (movimento = Yang), tentando
penetrar o óvulo (estático = yin).(Fonte: More & Persaud,
2004.....................................................................................................
60
Figura 8 – observe a divisão celular a partir do ovo fecundado (o um
inicial), dando origem a duas células, depois a quatro, oito, 16, 32 e 64 .
(no 5º dia a partir da fecundação), quando ocorre a implantação no
útero.
(Fonte:
More
&
Persaud,
2004)....................................................................................................
60
Figura 9. Os cinco tipos de mãos constitucionais, de acordo com os
cinco
elementos.
Cortesia
do
Dr.
Wo
Tou
Kuang,
70
SP..........................................................................................................
Figura 10. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a
predisposição inata à patologias relacionadas com o elemento madeira e
terra. a) quando a linha da vida começa mais próximo ao indicador há
uma probabilidade maior de surgir patologias do fígado e vesícula biliar,
como por exemplo, coleciste; quando a linha inicia-se mais próximo ao
polegar, há maior probabilidade de se ter patologias no estômago e
intestinos. 10.b) quando a linha da vida inicia-se no 1/3 médio entre o
polegar e indicador, e se prolonga até a prega do punho, passando pela
linha reta que passa no meio da mão, vindo do dedo médio até o meio do
1/3 distal do antebraço, próximo aos tendões flexores palmar do carpo,
indica que seu portador possui boa vitalidade e resistência 71
física.......................................................................................................
Figura 11. Representação esquemática da linha da vida mostrando a
predisposição inata a patologias relacionadas com o elemento metal.
Quando existir paralela e externamente a linha da vida uma linha menor
como acima, existe a probabilidade de disfunção intestinal, prisão de
ventre ou diarréia. Quando existir a presença de # ou estrela, pode
sofrer de colite ou enterite.......................................................................
72
Figura 12. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a
predisposição inata à patologias relacionadas com a vitalidade: a)
quando área entre a linha da vida e o polegar é pequena, indica
uma tendência a baixa vitalidade, e probabilidade de ter mau
funcionamento do sistema digestivo, e esterilidade. b) quando na
extremidade da linha da vida existe a presença de estrela, indica
que fatores patogênicos e o organismo estão em luta ou que a
enfermidade é grave...................................................................... 72
Figura 13. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a
predisposição inata à patologias relacionadas com a vitalidade: a)
quando existe ilha na ponta dessa linha como acima, indica que fatores
patogênicos e o organismo estão em luta, ou que a enfermidade é grave.
b) quando a linha da vida é muito curta, indica uma tendência a pouca
vitalidade.................................................................................................
70
Figura 14 – Mapa do estado da Paraíba mostrando a localização do
Açude Epitácio Pessoa, Município de Campina Grande (Fonte: Secretaria
Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais –
SEMARH/PB,
2008).....................................................................................................
75
Figura 15 – Vista aérea do açude Epitácio Pessoa, na região da
barragem, evidenciando imensas áreas de agricultura irrigada em suas
margens (Fonte: DNOCS, 2008). ............................................................
76
Figura 16. Imagem do satélite LANDSAT 5 do açude Epitácio Pessoa,
Boqueirão-PB. (Fonte: Franco et al., 2007), evidenciando áreas com e
sem vegetação, diferentes tipos de vegetação e identificação de rodovias e
áreas urbanas (Banda 3), e a diferenciação dos corpos de água,
estrutura da vegetação e características de relevo (Banda 4)...................
78
Figura 17. Classes de ocupação da terra no entorno do açude Epitácio
Pessoa,
Boqueirão-PB
(Fonte:
Franco
et
al.,
2007).....................................................................................................
79
Figura 18. Vista geral da vegetação que margeia o açude Epitácio
Pessoa, evidenciando imensas áreas de solos expostos decorrentes da
degradação da Caatinga e manejo inadequado do solo. Manchas verdes
evidenciam zonas onde se pratica agricultura irrigada (Fotos a, b:
retiradas de Franco et al., 2007; fotos c,d: Ricardo Arruda, fevereiro,
2008). ...................................................................................................
80
Figura 19 – Vista geral de diferentes cultivares desenvolvidos às margens
do açude Epitácio Pessoa, PB, evidenciados durante as visitas por
ocasião dos trabalhos de campo (Fotografia: Ricardo Arruda, 2008)......... 81
Figura 20 – Produção de tomates nas margens do açude Epitácio Pessoa
no período de 1970 a 2004 (Fonte: IBGE. Produção agrícola municipal.
1970-2004).............................................................................................. 82.
Figura 21. Percentagem da população de homens e mulheres que
trabalham na agricultura irrigada do Açude Epitácio Pessoa, PB, que
incorpora em sua alimentação diária algum tipo de proteína animal.
Dados obtidos em 2007........................................................................... 88
Figura 22. Freqüência semanal de ingestão de proteína animal pelos 89
trabalhadores rurais (homens e mulheres) do Açude Epitácio Pessoa, PB.
Dados obtidos em 2007...........................................................................
Figura 23. Agricultor preparando veneno para pulverização em
plantação de tomate às margens do Açude Boqueirão, PB (Fotografia
Ricardo Arruda, Fevereiro de 2008)........................................................
92
Figura 24. Agricultor pulverizando veneno em plantação de tomate nas
margens do Açude Boqueirão, PB, sem mascara e sem luvas (Fotografia: 92
Ricardo Arruda, fevereiro de 2008.........................................................
Figura 25. Área externa anexa à moradia onde os agrotóxicos são
guardados e a calda é muitas vezes preparada (Fotografia: Ricardo
Arruda, fevereiro de 2008)....................................................................... 93
Figura 26. Restaurantes situados às margens do açude Boqueirão que
usualmente oferecem em seus cardápios galinhas de capoeira criadas na
região. Na foto 14c destacam-se em primeiro plano, galinhas mortas
numa bacia, esperando para serem consumidas em segundo plano, do 95
lado de fora da grade, galinhas andando pelo terreiro.............................
Figura 27. Pulverização de veneno, colheita e carregamento, inclusive
com participação de crianças nessa atividade (Fotografia: Ricardo 96
Arruda, março de 2008)...........................................................................
Figura 28. Criança comendo tomates contaminados com veneno no
momento da colheita e carregamento (Fotografia: Ricardo Arruda, março 97
de 2008)..................................................................................................
Figura 29. Vista geral das comunidades de agricultores às margens do
açude Boqueirão PB (a) e moradia isolada nas proximidades de uma
extensa plantação de banana (b). Em a nota-se, ao fundo, áreas
cultivadas e caatinga completamente empobrecida pela remoção da
vegetação (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008)......................... 99
Figura 30. Vista parcial do Açude Boqueirão, PB. Em primeiro plano,
restaurante à margem do açude; ao fundo, ilhas de laser com grandes
moradias (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008)........................
99
Figura 31. Comércio de hortigranjeiros e de peixes da região na feira
local da cidade de Boqueirão. (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de
2008)...................................................................................................... 100
Figura 32. Distribuição etária dos homens e mulheres que trabalham na
agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, PB, que
foram submetidos aos exames de sangue, mineralogramas do cabelo,
anamnese e exames clínicos segundo as técnicas da Medicina
Tradicional Chinesa no ano de 2007........................................................ 102
Figura 33. Percentagens dos diferentes tipos de grupos sanguíneos de
acordo com o sexo (a=homens; b= mulheres), nos agricultoras do açude
Epitácio Pessoa, PB conforme pesquisa de campo realizada em 2007....... 108
Figura 34. Percentagem dos agricultores (homens e mulheres) que
trabalham na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, PB,
entrevistados em 2007 que fizeram uso de tintura para cabelo nos
últimos 3 meses que antecederam a coleta de cabelo para os
mineralogramas....................................................................................... 109
Figura 35. Percentagem dos agricultores (homens e mulheres) que
trabalham na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, PB,
entrevistados em 2007 e que responderam às questões quanto à: (a) se
tem ou já teve algum tipo de câncer e (b) se te ou teve alguma pessoa da
família com câncer..................................................................................
115
Figura 36. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional,
nas mulheres agricultoras do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme
pesquisa de campo realizada em 2007..................................................... 115
Figura 37. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional,
dos homens agricultores do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme
pesquisa de campo realizada em 2007..................................................... 116
Figura 38 – Linha da vida que predominou nos pulsos dos tipos II (a) e
IV (b), conforme dados levantados em 2007 nos agricultores do açude
Epitácio Pessoa, PB................................................................................. 117
Figura 39. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional, 117
dos homens agricultores do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme
pesquisa de campo realizada em 2007.....................................................
Figura 40. Os diferentes tipos de língua encontrados nos agricultores 155
com
o
pulso
tipo
I
(a),
II
(b),
III
(c)
e
IV
(d).....................................................................................................
LISTA DE QUADROS
pgs
Quadro 1 – Síntese comparativa dos resultados clínicos e laboratoriais
com os diagnósticos da MTC. Em vermelho............................................. 154
Resumo
Este trabalho teve como objetivo avaliar os possíveis danos à saúde humana
e ao meio ambiente provocado pela exposição aos agrotóxicos utilizados na
agricultura irrigada no açude Epitácio Pessoa, Boqueirão, Paraíba, através
de exames clínicos e laboratoriais, incluindo análise mineral do cabelo,
complementada por técnicas de diagnósticos da Medicina Tradicional
Chinesa, entrevistas dos sujeitos, fotografias, e, analisando a incidência de
câncer no Ministério da Saúde e nos arquivos do Cartório Municipal de
Boqueirão. O estudo foi realizado nos anos de 2007 e 2008, através de várias
visitas à área e exames laboratoriais, incluindo hemograma, prova de função
hepática, colinesterases, CD4, CD8, e glicemia. Os metais pesados foram
avaliados pelo mineralograma do cabelo no intuito de observar a relação
entre a presença destes e os sintomas clínicos apresentados pelos sujeitos
estudados. O diagnóstico pela Medicina Tradicional Chinesa incluiu a
pulsologia constitucional, e exames da língua e linha da mão. O resultado
deste estudo demonstrou que ocorreram danos ao meio ambiente e à saúde
humana. Além disso, diversos sintomas clínicos foram observados nos
trabalhadores, e os testes laboratoriais mostraram distúrbios imunológicos e
hepáticos. A análise mineral do cabelo (mineralograma) mostrou alta
concentração de diversos metais pesados nos cabelos dos sujeitos, os quais
na sua maioria encontram-se também na formulação de pesticidas. Isto
provavelmente deve-se à proteção inadequada dos sujeitos, e, devido a não
observação da legislação em vigor sobre agrotóxicos. Além do mais, mulheres
e crianças ingerem sem lavar tomates contaminados, e animais são
alimentados com estes mesmos tomates. A Medicina Tradicional Chinesa
demonstrou uma predominância do pulso tipo II nas mulheres, e, do tipo IV
nos homens. O exame da língua mostrou predominância de uma língua
pálida, aumentada, e com marcas dos dentes nos sujeitos portadores do
pulso tipo IV, e uma língua vermelha escura nos de pulso tipo II. A linha da
vida dos homens em comparação com as mulheres, estava mais profunda,
longa e continua. Estes achados podem explicar a menor frequência de
sintomas nosh omens quando comparados com as mulheres. Concluindo, os
achados deste estudo mostrou que ocorreram danos ao meio ambiente e à
saúde humana nesta área de agricultura irrigada. Segundo a Medicina
Tradicional Chinesa, há uma predominância de deficiência do yang do rim e
excess do yang do coração nas mulheres, e, excess do yin do rim e
deficiência do yang do coração nosh omens. Em vista disso, nós sugerimos
que esta população poderia ser tratada pela acupuntura, tonificando o que
estiver em deficiência, e sedando o que estiver em excesso.
ABSTRACT
The object of this study was to estimate damage possibility to environment
and human health in irrigated agriculture area surrounding Epitácio Pessoa
dam, Boqueirão county, Paraíba, Brasil through laboratory and clinical
examination including mineral hair analysis, complemented by traditional
Chinese medicine diagnose techniques, interviewing the subjects, taking
pictures, and checking the incidence of cancer disease on Health Ministry
and Boqueirão county archives. The study was performed from 2007 to 2008
by several visiting to the area and the laboratory examination included were
Hemogramma, Liver Function Test, Cholinesterases, CD4 CD8, fasting
glycemia. The heavy metal was evaluated through the mineral hair analysis
in order to evaluate the relationship between their changes and the clinical
symptoms. The Traditional Chinese Medicine diagnoses included
constitutional pulsology, tongue, and hand line examination. The results of
this study demonstrated that there was damage to the environment and
human health. In addition several clinical symptoms are observed in the
workers and the laboratory test has shown hepatic and immunological
disorders.
The mineral hair analysis has shown high concentration of several heavy
metals on the subject’s hair which is in majority present in the pesticides
formulation. These might be due to inadequate protection of the subject and
due to non-observation of the law regarding these products. Indeed women
and children eat unwashed tomatoes pesticides contaminated and the
animals are feeding with them. The Traditional Chinese Medicine
demonstrated type II pulse among women and type IV among men. The
tongue examination has shown predominance of pale, large and a deep mark
of teeth among those with type IV pulse and dark red tongue among those
type II pulse. The life line was deeper and longer among men compared to
women. These findings might explain the low frequency of symptoms among
men when compared to women. In conclusion, the finding of this study has
shown that there was damage to environment and human health in this
irrigated agriculture area. According to the Traditional Chinese Medicine,
there is a predominance of yang kidney deficiency and yang heart excess in
women and yin kidney excess and yang heart deficiency in men. In view of
this, we suggest that such population could be treated by acupuncture,
tonifying the deficiency and made sedation of excess.
SUMÁRIO
AGRADECIMENTOS
LISTA DE TABELAS
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
RESUMO
ABSTRACT
Pags.
1- Introdução....................................................................................
1
2- Objetivos......................................................................................
6
3- Fundamentação Teórica................................................................
8
4 - Características Gerais da Área de Estudos....................................
75
5- Metodologia.................................................................................
84
6.- Resultados...................................................................................
88
7. Discussão......................................................................................
125
8- Considerações Finais....................................................................
159
9- Conclusões...................................................................................
161
10- Recomendações .........................................................................
163
11- Referências ...............................................................................
164
Anexos ...........................................................................................
173
1
1- Introdução
Bom e mau, rico e pobre, alto e baixo, todos os nomes de
valores devem ser armas e símbolos bélicos, em sinal de
que a vida sempre se há de superar novamente a si
mesmo. (Niestzchie).
Um dos aspectos merecedores de estudo na atualidade relaciona-se
com o nosso modelo atual de agricultura, fortemente dependente de
insumos químicos e energéticos, e cada vez mais requeridos para produzir
quantidades de alimento que não são suficientes para atender as
necessidades da população mundial.
A utilização crescente de compostos orgânicos sintéticos na
agricultura entra na economia com propósitos específicos, quais sejam o
de matar ervas e insetos, e outras formas de vida tidas como daninhas.
Entretanto, uma vez dispersos no ambiente é muito difícil identificar esses
produtos e é impossível prever todos os impactos que eles podem causar
sobre as diferentes formas de vida que existem hoje em nosso planeta, e
na saúde da população humana.
Geralmente desconhecem-se as formas como esses produtos migram
ao longo dos diferentes compartimentos naturais, e como eles se
acumulam ou de dispersam ao longo das cadeias alimentares. Muitos
deles, depois de utilizados nos tratos culturais, dispersam-se no solo, no
ar, e na água, até serem finalmente incorporados nos alimentos.
Historicamente, o consumo de agrotóxicos no Brasil se consolidou
em função de várias razões, entre as quais, o incentivo governamental, a
forte propaganda das firmas do setor agroquímico e, sobretudo, em função
de um modelo de agricultura caracterizado pela monocultura, variedades
mais produtivas e adubação química. Entretanto, é exatamente este
modelo agrícola - o “gerador de pragas” - que irá exigir cada vez mais
2
agrotóxicos, que irão gerar novos desequilíbrios, propiciando o surgimento
de novas pragas, exigindo novos agrotóxicos e alimentando esse ciclo
vicioso. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior consumidor mundial de
agrotóxico, perdendo apenas para o Japão e EUA (Garcia e Almeida, 1991
apud Augusto, 1997).
As doenças que prejudicam a qualidade dos produtos agrícolas,
reduzindo a produção e que “justificam” a utilização de agrotóxicos, são
percebidas através de vários sinais, como: manchas, queimaduras,
ferrugem, folhas murchas – sintomas de ataque de microorganismos como
fungos e bactérias – ou através da visualização de insetos nocivos e
ácaros.
O
emprego
abusivo
acarretou
o
desenvolvimento
de
pragas
resistentes aos pesticidas em uso sendo necessário, (cada vez mais) a
síntese e a comercialização de novos agrotóxicos para combatê-las. Estes
custos são repassados aos agricultores e, em seguida, à população
consumidora dos alimentos provenientes das culturas tratadas, isto é, a
toda a população do país.
Por outro lado, o uso indiscriminado dos agrotóxicos também
acarretou a morte dos inimigos naturais das pragas. E muitas pragas
secundárias, relativamente sem importância, passaram à categoria de
pragas principais. Além disso, o defensivo agrícola desloca-se com
facilidade no meio ambiente, através dos ventos e água da chuva para
locais distantes do local aplicado, resultando em implicações sinérgicas e
globais, muitas vezes imprevisível.
A falta de informações precisas sobre as medidas de segurança para
aplicação de pesticidas, bem como seus efeitos sobre o ambiente e a saúde
humana predomina no meio rural. O impacto sobre o ambiente resulta na
degradação lenta dos recursos naturais, em alguns casos, irrecuperáveis.
Dentre eles, a morte de animais silvestres, insetos úteis, peixes, a
contaminação das águas e os resíduos em alimentos, com implicações
diretas na saúde humana (Carlson, 1964).
3
Poucos trabalhadores agrícolas que manipulam os agrotóxicos são
treinados para trabalhar com produtos tóxicos e poucos recebem
orientação sobre os perigos a que se expõem. Por outro lado, também não
acreditam que os agrotóxicos, em contato com a pele, sem queimá-la ou
irritá-la possam ser absorvidos em quantidades lesivas ou até mesmo
mortais. Em conseqüência, as intoxicações são muito freqüentes. Além
disso, o baixo nível nutricional da população, principalmente no meio
rural, torna ainda mais favorável o aparecimento de casos graves de
intoxicações, que dificilmente são diagnosticados como tal.
O impacto dos agrotóxicos sobre a saúde humana e sobre o meio
ambiente tem despertado grandes preocupações no mundo todo. No
Brasil, o monitoramento do uso destas substâncias é extremamente
precário, uma vez que não se sabe ao certo quantos trabalhadores rurais
morrem ou adoecem por ano devido à exposição aos agrotóxicos e quanto
de pesticidas está presente nos alimentos que consumimos. Ainda, os
efeitos sinérgicos desses produtos no meio ambiente e na saúde humana
são absolutamente desconhecidos.
Além dos problemas da intoxicação, freqüente se encontra associado
ao uso dos agrotóxicos um alto número de tentativas de suicídios
(ingestão voluntária) que quase sempre resulta num elevado numero de
óbitos (Pires et al., 2005). E os índices de suicídio em relação à profissão
segundo (Corrêa & Barrero, 2006), apontam para uma taxa de 1,13 para
os trabalhadores rurais enquanto que para os fazendeiros a taxa cai para
(0,08). Em algumas profissões que utilizam materiais que contém
compostos mercuriais os níveis são ainda mais elevados, chegando a 4,45
em dentistas e 2,00 em madeireiros.
Muitas destas inquietantes questões não são respondidas de modo
preciso, porque não existem políticas públicas de controle em nosso país.
O uso de agrotóxicos, de forma abusiva e indiscriminada como é feito,
certamente resulta em impactos desastrosos sobre a saúde das pessoas e
sobre o meio ambiente. Em todo o mundo, dispõe-se hoje de fartas
pesquisas consolidadas sobre estes efeitos deletérios dos agrotóxicos.
4
A disseminação de informações sobre agrotóxicos é fundamental
para criar um senso em responsabilidade de toda a sociedade para essa
questão. A população informada e consciente pode participar de modo
ativo e eficiente para solucionar os diferentes aspectos dos problemas dos
agrotóxicos,
evitando
a
poluição
ambiental,
a
intoxicação
dos
trabalhadores rurais e o acúmulo de resíduos em toda a população.
Ainda, por trás do desrespeito geral que se tem com o meio
ambiente, nas práticas produtivas atualmente em uso no Brasil e no
mundo, está a ganância pelo lucro fácil e imediato, amparada pela falsa
dicotomia entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. O
Brasil é um dos países com menor controle sobre a exposição humana a
produtos químicos, segundo levantamento do Ministério da Saúde. O
estudo, feito entre 2001 e 2004, apontou a existência de cerca de 15 mil
áreas contaminadas, sendo que em 689 delas já há evidência comprovada
de contaminação, com cerca de um milhão e 949 mil pessoas efetiva ou
potencialmente expostas ao problema (Figueiredo & Paula, 2005).
Na região semi-árida do nordeste brasileiro, a prática da agricultura
irrigada em áreas marginais a açudes tem sido uma constante. E cada vez
mais esse tipo de agricultura tem se baseado na utilização de defensivos
agrícolas e fertilizantes, com evidentes riscos à saúde humana e
ambiental. Casos graves de envenenamento químico são comuns nessas
áreas e esses fatos precisam ser quantificados, diagnosticados, levados ao
conhecimento público e tratados. Desde que a busca pela sustentabilidade
ambiental passa pela sustentabilidade humana, não se pode falar em
desenvolvimento sustentável se as pessoas que poderão desenvolvê-lo não
têm
qualidade
de
vida.
Dessa
forma,
pressupõe-se
que
o
pleno
conhecimento da problemática ambiental e humana relacionada com a
produção agrícola desenvolvida nessas áreas críticas da região nordeste
poderá trazer novos rumos para uma vida sadia e para a manutenção da
integridade ecológica pretendida.
Considerando-se que a forma tradicional de produção de alimento
baseia-se, portanto, na utilização de fertilizantes químicos e agrotóxicos
5
em larga escala e, considerando-se o fato de que esses produtos
contaminam o meio ambiente e trazem sérios riscos à população humana,
propõe-se, nesta pesquisa, a elaboração de estudos visando quantificar as
conseqüências da utilização desses produtos químicos sintéticos na
agricultura irrigada da região semi-árida do nordeste do Brasil, sobre a
saúde do trabalhador, tomando-se como estudo de caso a horticultura
desenvolvida nas margens do açude Epitácio, situado no município de
Boqueirão, Paraíba.
A região se acha hoje submetida a um intenso processo de
deterioração
ambiental,
ocasionada
principalmente
pela
exploração
agropecuária e extrativismo vegetal, que vem resultando, por conseguinte,
num elevado processo de degradação do ambiente socioeconômico (Franco
et. al., 2005), indicando claramente um errôneo processo de manejo
ambiental e dos recursos naturais.
Nossa pretensão foi avaliar a provável contaminação química de
humanos envolvidos direta ou indiretamente com esses produtos,
analisando as conseqüências dessa contaminação para a saúde humana
e, por extensão para o meio ambiente, segundo os preceitos da Medicina
Tradicional Chinesa.
A idéia de desenvolver esta pesquisa surgiu na
década de 1990 quando eu era médico do município de Boqueirão, ocasião
em que tive os primeiros contatos com pacientes plantadores de tomate e
pimentão nas margens do açude. Ao perguntar-lhes se eles comiam
tomates diziam que não, pois colocavam bastante veneno: “Quando está
muito úmido, colocamos muito veneno de um tipo e quando está mais seco
usamos de outro tipo, mas esses tomates nós vendemos, quando queremos
comer plantamos em separado, e não usamos veneno”. Mas a prática
médica não parecia concordar com isso. Muitos pacientes apresentavam
vários sintomas que me deixavam intrigado e que não poderiam ter outras
causas a não serem aquelas decorrentes da contaminação química.
6
2- Objetivos
Este trabalho teve por objetivo geral realizar um diagnóstico sobre a
utilização de agrotóxicos na agricultura irrigada às margens do açude
Boqueirão, Município de Campina Grande, Paraíba, e seus reflexos sobre
a saúde humana na visão da Medicina Tradicional Chinesa. Os objetivos
específicos da pesquisa foram:
a)- Caracterizar, através de pesquisa bibliográfica e observações de campo,
a magnitude do problema do uso dos agrotóxicos nas margens do açude
Boqueirão,
b)-
Diagnosticar
formulações
de
a
presença
agrotóxicos
de
no
metais
pesados
organismo
encontrados
humano,
através
em
de
mineralogramas efetuados no cabelo de trabalhadores rurais da região.
c)- Diagnosticar, através de exames laboratoriais e clínicos possíveis
disfunções metabólicas em trabalhadores rurais da região expostos aos
agrotóxicos.
d)- Mapear, através da anamnese, exames do pulso e da língua, e
resultados de exames clínicos e laboratoriais, os sintomas decorrentes da
contaminação química provocada por agrotóxicos e metais pesados em
agricultores do açude Boqueirão.
e)- Caracterizar, através de pesquisa bibliográfica e observações de campo,
os diferentes aspectos do cotidiano dos trabalhadores rurais que
desenvolvem suas atividades nas margens do açude Boqueirão, na
tentativa de relacionar esses aspectos com os níveis de contaminação
química encontrados na população em estudo.
7
f)- Analisar de forma integrada e segundo os preceitos da Medicina
Tradicional Chinesa os resultados obtidos, propondo para cada caso,
tratamentos não convencionais baseados na acupuntura.
8
3- Fundamentação teórica
A ciência contemporânea muito contribuiu para demonstrar
que o Universo é não-material, que a matéria é energia, que o
espaço é real, que os processos são tão válidos quanto os fatos
e que o princípio da complementaridade valida o conteúdo
subjetivo da experiência humana. (Terry Cliford, 2002).
3.1- A açudagem no Nordeste e a prática da agricultura irrigada
As primeiras informações sobre a escassez de água na região
Nordeste foram registradas antes da formação do Primeiro Império, em
meados do século XVI, sendo a primeira seca registrada em 1564 (Silva,
2005).
Uma grande seca foi registrada também em 1583, ocasião em que
“as fazendas de canaviais e mandioca muitas se secaram, por onde houve
muita fome, principalmente no Sertão de Pernambuco, pelo que desceram do
Sertão, apertados pela fome, socorrendo-se aos brancos, quatro a cinco mil
índios”, conforme relato do Jesuíta Fernão Cardim, noticiado por Joaquim
Alves em seu primeiro livro sobre a História das Secas (Aivargonzalez,
1984).
Registros históricos de Aivargonzalez (1984) indicam que ocorreram
cinco grandes secas no século XVII, durante os anos de 1603, 1606, 1614,
1652 e 1692. E que na grande seca de 1692 a fome generalizada e o
desespero motivaram a ocorrência de uma grande guerra entre índios e
portugueses. Uma grande seca também ocorreu de 1766-78 e foi
extremamente rigorosa, ocasionando uma redução considerável no
rebanho da região, embora sem vítimas humanas.
A seca de 1792,
segundo este autor, foi ainda maior, flagelando o Nordeste brasileiro por
quase quatro anos, tornando evidentes as suas conseqüências para a
região:
9
“morreram os gados, os vaqueiros, muitos fazendeiros e os animais
domésticos e bravos. As estradas, jucadas de cadáveres, famílias inteiras
mortas de fome e sede, e envolvidas no pó dos campos; o interior deserto, a
população esfaimada e dizimada pela peste nos povoados do litoral;
atulhados de retirantes as capitanias, esmolando uns, furtando outros,
trabalhando poucos” (Aivargonzalez, 1984, p. 155).
Grandes secas também ocorreram no século XIX, nos anos de 1804,
1809, 1810, 1824, 1825, 1844, 1845, 1977-79, 1887, 1888 e 1889.
Destas, a de 1809 não foi muito grave, apesar de causar grande morte
entre os rebanhos. E as de 1824 e 1825 resultaram num grande desastre
adicional que foi a grande perda de vidas humanas devido à peste da
bexiga. A seca de 1877-79 foi tão terrível que ocasionou a morte de
quinhentas mil pessoas no Nordeste, havendo como causa a febre, varíola
e outras doenças, além da inserção de alimentação nociva (Aivargonzalez,
1984).
Todas essas calamidades fizeram com que o governo imperial
constituísse uma comissão com o propósito de percorrer toda a região
Nordeste visando avaliar o problema e estudar meios práticos de
abastecimento de água durante a estiagem, incluindo não somente as
necessidades das populações, mas também do rebanho bovino e irrigação.
Com a queda da monarquia em 1889 essa Comissão Imperial foi
desativada, e novas secas foram registradas nos anos de 1889-89, 1891,
1898, 1901 e 1903 nenhuma, entretanto, foi tão desastrosa quanto à de
1877-79, quando morreram mais de quinhentas mil pessoas.
Foi exatamente a partir da grande seca de 1877, quando se inicia o
Segundo Império no Brasil, que o governo brasileiro passa a encarar as
secas nordestinas como um problema, e naquele tempo surgem as
primeiras providências para o combate à seca, mediante a construção de
vários açudes e barragens, atribuídas ao senador Padre José Martinho de
Alencar (Silva, 2005), a fim de garantir o aumento da oferta de água, para
que a situação de 1877-79 não voltasse a ocorrer (Maranhão, 1984).
10
De acordo com Silva (2005), a grande seca de 1904, com grandes
conseqüências sócio-econômicas, levou a criação da Comissão de Açudes
e de Irrigação, a Comissão de Perfuração de Poços e a Comissão de
Estudos e Obras Contra os Efeitos da Seca, que tinham como propósito
fazer com que a política, em nível federal, assumisse um papel mais eficaz
no que diz respeito à construção de obras de açudagem para a região
Nordeste.
Mas foi somente em 1909 que a ação intervencionista do Estado
brasileiro concretiza ações no tocante ao combate às secas, mediante a
criação das Inspetorias e Superintendências responsáveis pela condução
de políticas públicas da água para a região Nordeste. Surgem, nesse
momento da história do Brasil, a Inspetoria de Obras Contra as Secas
(IOCS), em 1909, a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (FOCS),
em 1919, e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS),
em 1936 (Oliveira, 1977).
A IOCS, sob a responsabilidade do engenheiro Miguel Lisboa,
apresentou em 1912 uma série de projetos importantes de construção de
açudes e barragens para armazenamento de água. Mas a grande seca de
1915, que fez com que trezentas mil pessoas abandonassem suas
moradias e levou a mortalidade, sobretudo devido a doenças, a cifra de
vinte e sete mil óbitos, mostrou que as obras realizadas pela IOCS não
permitiram a resistência dos afetados e em face da ineficiência desse
órgão, surgem a Inspetoria Federal de Obras contra a Seca (IFOCS), que
passou a operar com um nível técnico-profissional mais elevado, visando a
implantação de uma açudagem de alto nível e capaz de acabar com os
efeitos nocivos da falta de água do cotidiano do homem do nordeste.
Em 1919 assume a presidência da República Federativa do Brasil, o
paraibano Epitácio Pessoa, que também tinha a mesma forma de pensar
dos técnicos do IFOCS, visto que acreditava que através da construção de
grandes reservatórios, programas de irrigação e perfuração de poços
seriam possíveis amenizar o sofrimento dos atingidos pela seca (Silva,
2005). Epitácio Pessoa, em seu terceiro ano de mandato, estabeleceu
11
várias parcerias com firmas inglesas e americanas, culminando na
aquisição de inúmeras máquinas, possibilitando a construção dos
primeiros açudes em terras públicas e principalmente privadas (Silva,
2005).
O termo “Senhores das Águas” é daquela época, quando, através de
um regime de cooperação, o Estado disponibilizava, gratuitamente, o
projeto, e os recursos, para que açudes pudessem ser construídos em
propriedades privadas, alguns deles com capacidade superior a três
milhões de m3 (Oliveira, 1977).
O dinheiro destinado por Epitácio Pessoa para as obras contra as
secas foi consideravelmente vultoso, mas os desvios de verbas, as
falcatruas e a corrupção, gastos excessivos, fraudes do uso de recursos
por
políticos
e
dirigentes
das
Inspetorias,
resultou
numa
total
fragmentação do plano de combate à seca (Silva, op. Cit).
A ascensão de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, surge um novo
contexto na história do Brasil, que leva ao rompimento da República
Velha, altamente oligárquica e conservadora, consolidando-se a República
Nova, muito embora o clientelismo histórico exercido na região Nordeste
continue.
Com o amplo processo de intervenção do Estado na economia, surge
uma série de obras: construções de açudes, barragens, poços, estradas de
ferro e de rodagem, duplicando-se, na era de Vargas, os recursos para a
execução de programas de açudagem e de combate à seca na região
Nordeste (Silva, 2005).
Os anos de 1931 e 1932 foram marcados por uma seca de grandes
proporções. O fenômeno estendia-se desde o Piauí até o Maranhão e
expandia-se pelos vales do Itapicuru e do Vaza Barris, na Bahia, numa
extensão de cerca de 650.000 km2, que resultou novamente num grande
êxodo rural a partir do Ceará. Tal episódio levou o Governo Federal a
quadruplicar os recursos para que as obras fossem rapidamente
desenvolvidas, ocasião em que a Inspetoria chegou a empregar 220.000m
operários em novembro de 1932 (Aivargonzalez, 1984). Até o ano de 1934,
12
a IFOCS já havia construído 208 açudes, 161 dos quais em cooperação
com os estados, municípios e particulares, e 47 em terras públicas. Em
1930, a capacidade de armazenamento de água no Nordeste era de
1.395.985.869 m3 de água, em 1940 o número de açudes pula para 171,
aumentando a capacidade total de armazenamento de água na região para
mais de 2.000.000.000 m3 (Silva, 2005).
Até a criação do DNOCS em 1936, havia sido construído cerca de
310 açudes públicos e 622 açudes privados, o que representava um
volume acumulado de armazenamento de água que ultrapassava os 19
bilhões de m3. Foi nesse período que nasce a idéia da construção do açude
Epitácio Pessoa.
Na verdade, a construção do açude Epitácio Pessoa, ou, como é
conhecido popularmente, “Açude Boqueirão”, resultou de uma situação
conjuntural na época, que reuniu distintos grupos de interesses: 1. por
um lado, a existência de um plano de perenização do rio Paraíba, efetuado
pelo historiador Irineu Joffily, desde o século XIX; 2. O colapso do
abastecimento de água vivenciado na década de 1940 devido a redução do
volume de água do açude Vaca Brava, situado no Brejo Paraibano, entre
os municípios de Areia e Remígio; 3. a participação da igreja Católica que,
através do I Encontro dos Bispos do Nordeste, realizado em Campina
Grande, discutiu a questão do abastecimento de água no Nordeste, e em
especial para Campina Grande, e apresentou um documento requerendo
ao Presidente Getúlio Vargas, soluções imediatas ao problema, pleiteando
pela construção do açude, e ressaltando, neste documento, que a falta d
água em Campina Grande estava impossibilitando o desenvolvimento
industrial e causando correntes migratórias para o sul do País (Rego,
2001).
Os primeiros trabalhos relacionados com a construção do açude
iniciam-se em 1948, através do levantamento topográfico da bacia
hidrográfica e logo em seguida o levantamento geológico e a elaboração do
projeto propriamente dito. Ainda, são construídas as vilas Operária,
Mecânica
e
Morro,
cujas
casas
geminadas,
seriam
alugadas
aos
13
trabalhadores do DNOCS envolvidos na construção do açude. O início das
obras propriamente ditas ocorreu em 1951, através da construção de uma
barragem do rio Paraíba, na serra de Carnoió (DNOCS, 2006).
As obras de construção do açude Boqueirão tiveram a duração de
cinco anos, sendo finalizadas em 1956. Nesse período, a então Vila de
Boqueirão de Cabaceiras, passou por uma grande transformação, em
conseqüência da grande movimentação de máquinas e homens, o que
resultou em mudanças nos costumes e nas relações sociais locais, e no
crescimento
da
população,
desenvolvendo-se
o
comércio
e
novas
profissões, enquanto que na zona rural ocorria a indenização das terras
inundadas, e mesmo a expulsão daqueles mais refratários ao projeto
(Rego, 2001). Em função desse crescimento, a vila de Boqueirão de
Cabaceiras teve sua emancipação política em 30 de abril de 1959, através
da lei estadual 2078, assumindo o município a denominação de
Boqueirão.
No dia 16 de janeiro de 1957 deu-se a inauguração do açude. E na
solenidade, estiveram presentes o Presidente da República, Dr. Juscelino
Kubitschek de Oliveira, o Ministro de Aviação e Obras Públicas,
Comandante Lúcio Meira, e o diretor do DNOCS, Engenheiro José
Candido Parente Pessoa. A festa de inauguração prolongou-se por três
dias.
O açude tem uma capacidade de armazenamento de água de
535.680.000 m3, sua bacia hidrográfica cobre uma área de 12.410 km2 e
sua bacia hidráulica é de 2.680ha (DNOCS, 2008).
Após a construção do açude, coube ao DNOCS a administração da
barragem e das áreas irrigadas, as quais foram destinadas a agricultores
de baixa renda, mediante arrendamento das terras. As casas e criações de
animais, bem como as áreas de pastagens são praticadas nas áreas mais
elevadas do relevo, enquanto que nas várzeas são plantadas culturas de
subsistência como o feijão, milho, fava, batata doce e algumas hortaliças e
cultivares de ciclo curto, destinadas à comercialização, como tomate,
pimentão e repolho.
14
No total, o DNOCS assentou 277 arrendatários em 634 hectares de
terra nas margens do açude, distribuindo lotes que variam em tamanho
desde 01 hectare até 30 ha, assentando ainda um considerável número de
famílias que não receberam nenhuma área, mas que praticam a
agricultura irrigada exclusivamente em áreas de vazante (Tabela 1).
Tabela 1 – Total de arrendatários das terras marginais do Açude Epitácio Pessoa
administradas pelo DNOCS, em função dos tamanhos dos lotes (Fonte: DNOCS; *
= número de agricultores assentados que praticam agricultura irrigada apenas
em áreas de vazante).
Área do lote (ha)
00*
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
16
18
28
30
Total = 634 ha
Quantidade de arrendatários
18
115
83
26
16
03
02
02
04
01
01
01
01
02
01
01
Total = 277
3.2- A produção agrícola baseada no uso de agrotóxicos
Uma das questões de nosso tempo que mais tem chamado a atenção
mundial é o reconhecimento de que o planeta vem demonstrado sinais de
exaustão causada pelo uso acelerado que a humanidade vem fazendo dos
recursos naturais. As causas e conseqüências do uso abusivo desses
recursos associam-se ao que Ayres (2000) denomina de “megafenômenos”,
dos quais quatro são os principais que deverão afligir a humanidade nesse
século:
crescimento
da
população
humana;
consumo
de
15
materiais/energia; concentração de dióxido de carbono; e extinção de
espécies.
Representam problemas globais, e suas causas são encontradas nos
sistemas de produção capitalista que resultaram em fortes danos
ambientais, geraram desperdícios e aumentaram os riscos à saúde pública
(Thomaz, 1994), e que em hipótese alguma se baseiam em critérios de
sustentabilidade conforme preconizado pela agenda 21, uma vez que os
prejuízos para a qualidade de vida das gerações presentes são extensivos
para as gerações futuras.
Muitos dos alimentos que hoje cultivamos e que entram em nossa
dieta diária são tóxicos e impedem uma vida longa saudável. Levam ao
câncer, provocam letargias crônicas, doenças cardíacas e degenerativas,
quebram a imunidade, reduzem as quantidades de esperma e causam
mortes massivas de animais silvestres, entre outras ações. Além disso, a
introdução de organismos modificados geneticamente na produção de
alimento adiciona riscos ainda desconhecidos (Carson, 1964; Zechendorf,
1999).
Tradicionalmente, a produção agrícola tem na ocorrência de pragas
e doenças um dos principais fatores limitantes ao seu desempenho. Ao
longo das últimas décadas, a utilização de agrotóxicos no Brasil tem sido a
base técnica através da qual o setor agrícola normalmente vem
enfrentando a questão. O consumo de agrotóxicos no país – herbicidas,
fungicidas, inseticidas, entre outros, tem sido crescente, alcançando hoje
vendas anuais que superam US$ 2,5 bilhões (Ministério da Saúde, 2008).
Sabemos que tal geração de riqueza, entretanto, está restrita a algumas
poucas empresas do setor agroquímico, altamente concentrado no Brasil e
no mundo, sendo que estas empresas são, em geral, transnacionais.
A falta de informações precisas sobre as medidas de segurança para
aplicação de pesticidas, bem como seus efeitos sobre o ambiente e a saúde
humana predomina no meio rural. O impacto sobre o ambiente resulta na
degradação lenta dos recursos naturais, em alguns casos, irrecuperáveis.
Dentre eles, a morte de animais silvestres, insetos úteis, peixes, a
16
contaminação das águas e os resíduos em alimentos, e a bioacumulação
ao longo das cadeias alimentares, com implicações diretas na saúde
humana (Carson, op., Cit.).
O controle de substâncias químicas no combate às pragas, doenças,
ervas daninhas e outros problemas da atividade agrícola é prática adotada
no mundo todo. Essas substâncias têm recebido várias denominações:
pesticidas, defensivos agrícolas, biocidas, ou dependendo de sua eficácia
direta: inseticidas, fungicidas, herbicidas, carrapaticidas, nematicidas,
maturadores.
No Brasil a Lei Federal de nº 7.802/89 (em vigor a partir de outubro
de 1996), considera agrotóxico como “os produtos e componentes de
processos físicos, químicos e biológicos destinados a uso nos setores de
produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas
pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros
ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja
finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna a fim de preservála da ação danosa de seres considerados nocivos, bem como substâncias e
produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e
inibidores de crescimento” (BRASIL, 1989). Desde que agrotóxicos não
matam somente pragas e insetos indesejáveis, mas também vários seres
vivos, o termo biocida seria o mais adequado, por deixar clara a ação
principal desses produtos: matar (Snelwar, 1992; Almeida, 2001).
Além da Lei federal 7802/1989 supra referida, no Brasil os
agrotóxicos são bem regulados por outras legislações específicas, como a
Lei Federal 9974/2000, o Decreto 4074/2002, a Resolução CONAMA
334/2003, a NBR 13968/1997 (Tríplice lavagem e lavagem sob pressão de
embalagens) a NBR 14935/2003 (Destino das embalagens não lavadas) e
a NBR 14719/2001 (Destino final das embalagens lavadas).
Desde que esses produtos são tóxicos e podem provocar diversos
danos à saúde humana a curto e longo prazo, como lesões oculares e
dérmicas, neurotoxicidade e serem letais, seus graus de toxicidade são
17
obrigatoriamente representados por rotulagem específica, através de
cores. Assim, os agrotóxicos considerados extremamente tóxicos possuem
uma tarja vermelha, e são considerados de Grau I, os altamente tóxicos,
possuem tarja amarela, e são considerados de Grau II, os que são
medianamente tóxicos tem tarja azul, e são enquadrados como de Grau
III, e os pouco tóxicos tem tarja verde, sendo classificados como de grau
IV. O IBAMA classifica esses produtos do ponto de vista ambiental da
seguinte forma: produto altamente perigoso ou Classe I, produto muito
perigoso ou Classe II, produto perigoso ou Classe III e produto pouco
perigoso ou Classe IV (Lei 7.802/89). O enquadramento nestas classes
baseia-se nos parâmetros de bioacumulação, persistência, toxicidade a
diversos organismos, potencial para contaminação de águas subterrâneas
e superficiais, acumulação na cadeia alimentar e outros, mas há que se
considerar que pouco se conhece sobre a mobilização desses produtos nos
ecossistemas, de maneira que essa classificação representa uma prática
artificial.
O processo de utilização desses produtos, que envolve desde a
compra até o descarte das embalagens, deveria seguir o que preconiza a
Lei. Questões como rotulagem, produção, transporte, destino final de
resíduos e embalagens estão contemplados em seu artigo 3º, mas o que se
vê, no entanto, é o total desrespeito à lei, visto que a compra desses
produtos é livre.
Sua aquisição deveria ser feita através de receituário
fornecido por um engenheiro agrônomo ou florestal, com prescrição
específica para os casos em cada cultura, mas é comum o uso de
receituários frios, onde o proprietário da loja vende o agrotóxico e o
técnico prescreve a posteriori as receitas, de acordo com os produtos
vendidos (Adissi, 1998). Dessa forma, a facilidade com que o trabalhador
rural chega ao agrotóxico e a forma de manuseá-lo são fatos preocupantes
com sérias conseqüências tanto para a saúde do trabalhador bem como
do consumidor (Almeida, 2001).
Agrotóxicos
estão
disponíveis
no
mercado
sob
diversas
terminologias: pelo seu nome químico (que indica a estrutura química da
18
molécula), pelo nome comum (que é o nome internacionalmente aceito
para o ingrediente químico), e pelo nome comercial (que corresponde ao
nome
do
produto
formulado).
Suas formulações
incluem
diversos
componentes: Ingrediente ativo (que age sobre o alvo), ingredientes inertes
(que não agem sobre o alvo, mas que podem vir a agir sobre a saúde
humana e ambiental), envolvendo os solventes (usados para formulações
líquidas), e os veículos (usados em formulações sólidas), os surfactantes
(usados para possibilitar a mistura do produto com água e também para
melhor distribuir o produto ou a aderência dele sobre o alvo), os agentes
corantes (para distingui-lo de alimento ou bebida), os eméticos (usados
para provocar vômito caso seja ingerido acidental ou deliberadamente),
substâncias com odor desagradável (usadas a fim de evitar ingestão
acidental), agentes de sabor amargo (usados para produzir sabor amargo e
evitar ingestão) (Almeida, 2001). De acordo com esta autora, incluem-se,
entre os agrotóxicos disponíveis no mercado, os seguintes tipos:
1) Inseticidas: que agem no inseto por ingestão (ingestão do material
tratado); contato (atinge-os diretamente como também pelo contato com a
superfície tratada); fumigantes (ou por vapor que atua sobre a praga
através do sistema respiratório); sistêmicos (entra na seiva da planta e ao
alimentar-se dela o inseto ingere uma dose tóxica); repelentes (fazem com
que a cultura não seja atraente). Esses produtos encontram-se divididos
em:
a)- organoclorados: derivados dos hidrocarbonetos aromáticos que se
acumulam no tecido adiposo e por isto podem contaminar toda uma
cadeia alimentar, são produtos bastante persistentes no meio ambiente.
Por estas características são proibidos no Brasil: DDT, Aldrin, Dieldrin,
Clhordane, Lindane; sendo apenas liberados alguns deles para o combate
de endemias.
b)-organofosforados: são compostos orgânicos ésteres do ácido fosfórico
que apresentam uma alta toxicidade para mamíferos, mas têm pouca
persistência no meio ambiente. Podem ser sistêmicos ou não sistêmicos.
19
Alguns dos organofosforados foram proibidos como TOCP (por serem
causadores potenciais de lesões neurológicas irreversíveis), DFP (por ser
um
potente
inativador
irreversível
da
acetilcolinesterase).
Alguns
compostos apesar de terem os seus usos proibidos como inseticidas são
usados como gases de guerra ou em atentados.
c) carbamatos: são semelhantes aos compostos fosforados quanto à ação
biológica, com variações em sua toxicidade para mamíferos, bem como
nas propriedades biológicas. São compostos derivados do ácido carbâmico,
mais precisamente do N-metil carbâmico. Apesar de pouco absorvido na
formulação em pó, foram encontrados na urina de expostos.
d) piretróides: são ésteres ácido-alcoólicos com características lipohidrosolúveis. Sua toxicidade é menor para mamíferos em relação aos
outros inseticidas, porém são bastante tóxicos para peixes.
2)
Fungicidas:
são
os
derivados
do
dimetiltiocarbamato
e
etilenobisditiocarbamato mais usados no trabalho agrícola. São divididos
em
sistêmicos
organofosforados.
e
não
Os
sistêmicos,
sistêmicos
são
assim
como
compostos
os
inseticidas
orgânicos,
mais
comumente usados, transportados pela seiva e atingem as folhas e os
pontos de crescimento. Os não sistêmicos incluem os orgânicos e os não
orgânicos, e agem nos locais da planta onde recebem o composto, atuando
por contato, não se movendo na planta.
3) Herbicidas: utilizados para destruir ou controlar o crescimento de
ervas prejudiciais à cultura, podendo ser minerais (cloratos de sódio e de
potássio, borato de sódio e outros) ou orgânicos (derivados de: fenóis e
cresóis; de ácido carbâmico e ditiocarbamatos; da uréia; diazine, triazine e
triaze; orgânicos clorados e seus sais de sódio; ácido fenoxiacético,
propionico, butírico; xantínicos; ftálicos; benzonitrilas; anilina; nitrogênio
quaternário). São classificados em seletivos (destroem ervas invasoras
específicas) e não seletivos (destroem as plantas sem distinção de espécie).
20
4) Nematicidas: são geralmente formulados em grânulos livres de pó e
são aplicados no solo. Utilizados para controlar nematóides, organismos
que habitam as raízes e podem provocar danos nas plantas.
5) Acaricidas: são usados para o controle de ácaros, carrapatos e
aranhas. Os acaricidas são divididos em: grupo dos enxofres; amitraz,
cyhexatin, dicofol; inseticidas com ação acaricida.
O controle e o
monitoramento pós-registro desses produtos
deveriam ser levados a sério no Brasil, como acontece em outros países,
mas em nosso país, além da facilidade de aquisição de agrotóxicos, muitas
vezes eles são produzidos fora de padrões. Sobre este aspecto, Almeida
(2001) exemplifica, informando que em 1989 o Instituto Biológico de São
Paulo analisou 1205 amostras de agrotóxicos e constatou que 17% delas
se encontravam fora dos padrões físico-químicos exigidos.
Alguns agrotóxicos utilizados hoje na agricultura são derivados de
produtos que foram desenvolvidos como arma química na Segunda Guerra
Mundial. Como ocorreu na guerra do Vietnã quando toneladas do agente
laranja foram lançadas para queimar plantações e matas, substância
semelhante a um dessecante atualmente utilizado no combate a ervas
daninhas, como é o caso do Tordon.
Em nosso país, o uso desses produtos não se restringe apenas às
práticas agrícolas. Eles também estão presentes rotineiramente nas
campanhas de saúde pública, no combate a vetores que transmitem
doenças endêmicas e epidêmicas, como a malária, a esquistossomose, o
barbeiro e a dengue, por exemplo, e certamente a dimensão ambiental e as
conseqüências desse tipo de uso para a saúde pública são desconhecidas.
Ainda, muitos desses produtos são comercializados clandestinamente, a
fiscalização é ineficiente, e existem fraudes, complicadores estes que
dificultam ainda mais o entendimento das implicações que causam ao
homem e ao meio ambiente.
Definir os fluxos desses produtos ao longo do ambiente natural não
é tarefa fácil. Colborn et al. (1996) seguiram o fluxo hipotético de um
21
grupo de PCB-153 um agrotóxico altamente tóxico, que também é usado
como isolante líquido em transformadores elétricos, e constataram que
esse produto se dispersa por todos os compartimentos e hoje pode ser
encontrado em todo o planeta. Este é somente um dos milhares de
produtos orgânicos persistentes que contaminam rios, alojam-se em
tecidos gordurosos de animais, dispersam-se pelas cadeias alimentares e
entram nos ciclos da água e do carbono. Mas este produto não é único;
nos dias atuais uma criança que ingere indiretamente PCB-153 do leite da
sua mãe, provavelmente também está ingerindo centenas de outros
produtos igualmente tóxicos.
Além disso, dada a dimensão global do problema é praticamente
impossível definir a toxicidade real desses produtos em curto tempo a fim
de minimizar danos ambientais e à saúde humana. McGinn (2000)
comenta que em 1993 a agência de proteção ambiental dos Estados
Unidos (EPA) instituiu um programa orientado para testar a toxicidade
dos 20.000 pesticidas diferentes em uso e aprovar a liberação de novos
produtos. Até o momento, o EPA conseguiu testar menos de 1,5% desse
total, e mesmo se nenhum produto químico novo fosse introduzido
calcula-se que seriam necessários mais 560 anos para testar todos os que
estão atualmente em uso. Isso é por demais preocupante, sendo suficiente
para demonstrar que a extensão do problema relacionado com o uso de
agrotóxicos atinge hoje uma dimensão epidemiológica.
Os agrotóxicos estão em uso desde a década de 20 (ANVISA, 2006),
mas a constatação de que são produtos persistentes e que entram nos
circuitos ecológicos através da bioacumulação começou a ser disseminada
na década de 60, com a publicação de alguns livros de grande impacto
como Silent Spring (Primavera silenciosa) de Rachel Carson (1964) e
Pesticides and
the living landscape de Rud (1964).
Essas obras
redirecionaram o pensar ecológico a nível mundial, por ressaltarem as
conseqüências dessa tecnologia no controle de pragas e sobre os impactos
negativos do uso desses químicos na saúde humana, no ambiente e na
agricultura.
22
No Brasil, o crescimento da utilização de agrotóxicos se deu
principalmente ente os anos de 1964-1979, como promessa de expansão
na agricultura. Segundo Brito & Duque (1996), naquele período o
consumo de agrotóxicos aumentou cerca de 42% enquanto que as
principais culturas brasileiras alcançaram um crescimento equivalente a
um percentual de apenas 5%, evidenciando, desse modo, que o milagre da
chamada revolução verde não se confirmou.
Na década de 70, a política brasileira de crédito agrícola facilitou o
acesso dos produtores rurais aos agrotóxicos ou, melhor dizendo, impôs
ao agricultor a sua compra. O país vivia o momento da ditadura militar e o
produtor, ao obter o crédito rural tinha por obrigação gastar 15% com
insumos químicos (Almeida, 2001). Garcia (1996) relata que o seguro
agrícola não cobria perdas por pragas se o agricultor não tivesse feito a
compra de agrotóxicos. Entende-se assim porque o uso desses produtos
expandiu-se em nosso país e porque a agricultura brasileira jamais voltou
a ser como antes, um processo onde a terra era o principal insumo
(Almeida, op. cit.).
O
Programa
Nacional
de
Desenvolvimento
Agrícola
(PNDA),
implantado pelo governo federal em 1975 investiu mais de 200 milhões de
dólares americanos na implementação de indústrias de síntese e
formulação de agrotóxicos. Naquele ano, surgiram no Brasil 14 unidades
de produção de agrotóxicos, e em apenas 10 anos esse número evoluiu
para 73 indústrias que abasteciam, naquela época, 80% do mercado
nacional. Hoje, nosso país é o maior produtor de agrotóxico da América
Latina e também o segundo maior consumidor mundial (ANVISA, 2006),
perdendo apenas para os EUA.
As maiores demandas desses produtos no Brasil acontecem
tradicionalmente nas regiões Sudeste e Sul, onde a atividade agrícola já
era mais desenvolvida na década de 60. Em 1985, a comercialização
desses produtos na região Nordeste mobilizou um total de 11224 Kg
enquanto que na região Sudeste foi vendido 58077 Kg, a maior parte no
estado de São Paulo (Almeida, 2001). Apesar das discrepâncias regionais,
23
considerem-se as condições críticas da região Nordeste, uma área de
déficit hídrico na maior parte de seu território, historicamente marcada
pela
monocultura
extensiva
da
cana-de-açúcar
no
litoral,
e
pela
agricultura de subsistência no semi-árido, o que implica em severas
conseqüências à saúde humana e à qualidade ambiental.
Fellenberg (1980) comenta que o emprego anual, em todo o globo,
era, em 1986, de cerca de 1,5 milhões de toneladas de praguicidas, o que
corresponde á respeitável quantidade de 750 mil toneladas.
O Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de agrotóxicos do
mundo (ANVISA, 2008), sendo que em nosso país o consumo desses
produtos encontra-se em franca expansão. Alves Filhos (2002) comenta
que o gasto em agrotóxicos no Brasil foi de 695 milhões de dólares em
1980; 1225 milhões em 1985 e 1993 milhões em 1990.
A SINDAG (1999, apud Moreira et al., 2002) afirma que o país é
responsável pelo consumo de cerca de 50% da quantidade de agrotóxicos
utilizados na América Latina, o que envolve um comércio estimado em
cerca de US$ 2.56 bilhões em 1998. Este valor coincide com o
apresentado pelo Conselho Nacional de Saúde (2008), e o consumo anual
desses produtos tem sido superior a 300 mil toneladas (Spadotto et al.,
2006).
Segundo Zamberlam & Froncheti (2001) a média do uso de
agrotóxicos entre 1993 e 1999 foi de 1,8 litros/hectare/ano para os
Estados Unidos, de 2,0 para a União européia e de 3,6 para o Brasil. O
consumo
na
região
Sudeste
é
estimado
em
12
Kg
de
agrotóxico/trabalhador/ano, mas em algumas áreas agrícolas do Estado
do Rio de Janeiro, como na região da Microbacia do Córrego de São
Lourenço, Nova Friburgo, chega a 56 Kg de agrotóxico/trabalhador/ano.
Elevados níveis de contaminação ambiental e humana foram encontrados
nesta região, como decorrência do uso extensivo destes agentes químicos.
A idéia de que os agrotóxicos vieram como a salvação das lavouras,
demonstra hoje que os estragos foram na verdade muito maiores do que a
24
ilusão produtiva do lucro fácil e rápido e com baixo custo. O trabalhador
rural e sua família, particularmente o pequeno agricultor encontra-se
diretamente e indiretamente afetado por esses produtos, uma vez que
durante as safras vivem cotidianamente com o problema, durante as
aplicações do veneno e mesmo na sua residência onde os produtos são
guardados
e
manuseados.
E
ainda,
como
referido
no
início,
os
trabalhadores continuam sendo vítimas de um processo produtivo que
facilita a aquisição desses produtos (mercado livre) o que agrava sua
situação de saúde e incrementa a poluição do ambiente onde vivem.
No meio ambiente, os principais impactos do uso de agrotóxicos
incluem: o aumento do número de pragas resistentes, destruição de
insetos úteis; como abelhas e animais polinizadores; mortalidade de
animais
como
peixes,
invertebrados
aquáticos,
aves
e
mamíferos
silvestres; alterações nas populações de insetos, desenvolvimento de
pragas secundárias, como conseqüência da eliminação de insetos
benéficos, destruição de animais que constituem alimentos para outras
espécies (aves, répteis, anfíbios e alguns mamíferos); contaminação desses
animais ao se alimentarem de insetos, minhocas e outros, que receberam
inseticidas; interferência no mecanismo de formação da casca de ovos de
aves, impedindo a deposição da quantidade normal de sais de cálcio,
resultando no enfraquecimento dos mesmos; destruição de plantas úteis;
contaminação de alimentos de origem vegetal e animal; danos à saúde do
homem, etc. (Mota, 1997).
Em uma experiência com abelhas sociais nativas, que são
importantes vetores de pólen em ecossistemas naturais agrícolas, Morais
(1996), através da adaptação de testes feitos na Europa, concluiu que
esses insetos quando expostos aos inseticidas piretróides não resistem a
uma concentração de 0,70mg/l.
Adicionalmente, o conceito de Hormesis, introduzido recentemente
por Calabrese & Baldwin (2001), considera que mesmo pequenas
quantidades
de
radiações
de
produtos
químicos
podem
causar
25
conseqüências danosas em animais e plantas; desta forma, não apenas os
grandes volumes de agrotóxicos provocam impactos significativos; fica
claro também, que mesmo pequenas quantidades destes produtos causam
desordens complexas e muitas vezes já detectadas, de difícil definição.
Fellenberg (1980) considera que o emprego de agrotóxicos que
apresentam longa atividade residual provoca uma contaminação aguda e
involuntária do solo e das águas superficiais e profundas, sendo que a
magnitude dessa contaminação pode ser avaliada se levarmos em conta
que cerca de 50% desses produtos se perdem como contaminantes. De
acordo com Van der Werf (1996) uma vez no ambiente agrotóxicos afetam
a vida e a qualidade do solo, eliminando microorganismos e causando
degradação química do mesmo. Alcançam o solo a partir das folhas que
foram pulverizadas, por intermédio de partes mortas de vegetais ou por
meio da aplicação direta e pela ocorrência de chuvas fortes, que podem
fazer com que os mesmos penetrem mais profundamente do que desejado
(lixiviação). Muitos animais que participam igualmente da degradação de
partículas orgânicas junto ao solo, como minhocas, ácaros, colêmbolos e
outros, se mostraram bem mais sensíveis à maioria dos praguicidas do
que bactérias e fungos.
Entretanto, é preciso considerar o fato de que as interações entre
esses químicos e os ecossistemas são bastante complexas, não se
conseguindo dimensionar concretamente as conseqüências. Apesar de já
terem sido avaliados para alguns compostos, os danos potenciais para o
ambiente precisam ainda ter maior rigor nas análises, implicando uma
avaliação que vá desde a importação do ingrediente ativo ou matéria
prima até o destino final das embalagens vazias de agrotóxicos.
É comum que estes químicos atinjam áreas não alvo, quer seja pela
lixiviação, deriva ou outros processos afetando tanto a fauna e a flora das
proximidades dos locais onde foram aplicados, bem como plantações
vizinhas, com prejuízos diretos, conforme foi observados nos Estados
Unidos em algodoais atingidos pela deriva de herbicidas no Texas, no
26
período de 1983/84 (Garcia, 1996). As características destes produtos é
que vão denunciar seu comportamento no ambiente, sendo já constatado
o agravamento na redução da biodiversidade devido a seu uso (preparo da
calda e destino final de seus restos, aplicação, lavagem de equipamentos,
descarte das embalagens).
Os atuais dados disponíveis evidenciam que no solo os inseticidas
do grupo químico dos organofosforados e carbamatos apresentam uma
melhor degradação, sendo pouco persistentes (degradam-se em semanas),
e que os produtos resultantes de sua degradação muitas vezes não são
tóxicos (Musumeci, 1992). Os organoclorados, ao contrário, podem ser
encontrados cerca de 2 a 5 anos após sua utilização, bem como alguns
herbicidas, como o 2,4,5 - T, e 2,4 – D, utilizados na guerra do Vietnã para
desfolhamento das florestas, podem persistir no solo por mais de um ano.
A dioxina, que entra nas formulações desses herbicidas, é uma das
substâncias tóxicas mais venenosas, e o único valor admitido para ela em
alimentos é zero (Almeida, 2001).
A persistência desses produtos no solo vai depender da química dos
compostos e das condições ambientais, como o clima, por exemplo. O
DDT, pertencente ao grupo químico dos organoclorados, permitido
atualmente no Brasil apenas para combate a vetores de doenças
endêmicas, tem alta persistência devido a sua pouca solubilidade (Grisi,
1997), o que pode contaminar o solo em longo prazo. Apenas para
exemplificar, em amostras de vegetais no interior de São Paulo analisadas
pelo Instituto Biológico foi detectado resíduo de DDT onde ele não havia
sido aplicado (Garcia, 1996). Em outro estudo realizado em 56 municípios
de São Paulo, constatou-se que de um total de 486 amostras de solo
97,7% apresentavam resíduos de agrotóxicos em níveis que variaram entre
traços e 0,43 mg/Kg (Garcia, op. cit.).
No meio aquático, o comportamento dos agrotóxicos vai depender da
sua solubilidade e persistência. A solubilidade interfere diretamente no
seu maior ou menor potencial de contaminação de águas superficiais e
27
subterrâneas, mas a movimentação das águas leva agrotóxicos até locais
muito distantes, através dos rios e correntes marítimas. Em muitos casos
tem-se observado mortandade de organismos aquáticos, principalmente os
peixes, devido à presença de agrotóxicos, constatando-se, adicionalmente,
a presença de resíduos desses produtos em tecidos destes animais, razão
pela
qual
sejam
usados
como
bioindicadores
(Almeida,
2001).
Organoclorados são insolúveis, logo podem permanecer em suspensão na
água e serem bioacumulados ao longo das cadeias alimentares.
Diversos estudos foram efetuados em ambientes aquáticos no
estado da Paraíba. Watanabe et al. (1994), por exemplo, em estudo
realizado no reservatório de Gramame, evidenciaram que concentrações de
1 ppm, 3 ppm e 5 ppm de inseticidas provocaram maior incremento na
atividade fotossintética como mecanismo de compensação do metabolismo
de algumas espécies, e que os herbicidas Gramoxone + Goal + V 42 D –
FLUID 2, 4 D e Gramoxone + Adefix apresentam um maior efeito inibitório
sobre
a respiração do que o inseticida usado. Ainda, a mistura
Gramoxone + Goal + V 42 D – FLUID 2,4 D à 5ppm provoca um efeito
inibitório da fotossíntese. Esses dados evidenciam as complexas reações
que podem ocorrer quando esses produtos entram nos mananciais.
Corroborando
essa
assertiva,
alterações
comportamentais
e
problemas no sistema hepático de peixes expostos a inseticidas fosforados
também foram observadas em testes com curimbatá (Prochilodus scrofa)
expostos a concentração de Dipterex 500 0,2µ l / l de água, em tempos de
exposição de 24 e 48 horas (Rodrigues et al., 1996), constatando-se que
em 24 horas, os organismos apresentaram agitação, perda de equilíbrio
com
natação
lateral,
movimentos
descontínuos
na
tentativa
de
deslocamento com certa ansiedade. Análises efetuadas com o fígado
desses
animais
evidenciaram
hepatócritos
tumefados,
presença
de
granulações citoplasmáticas após 24 horas de exposição e desorganização
de células hepáticas, necrose, entre outros problemas, após 48 horas.
28
Nascimento et al. (1995), em experimentos realizados com o
agrotóxico Folidol, e o molusco Pomacea Lineata comum em ambientes
aquáticos do nordeste, concluíram que os organofosforados também
causavam problemas cardíacos em concentrações menores que 0,05 e que
em concentrações mais elevadas tinham seus ritmos cardíacos diminuídos
até chegar a estagnação. A explicação dada pelos autores é que a atividade
cardíaca é mediada pela acetilcolina e os organofosforados são inibidores
da acetilicolinesterase.
Pinheiro (1996) também constatou
Astyanax
bimaculatus,
quando
expostos
que lambaris da espécie
ao
herbicida
Trifluralina,
apresentam um enfraquecimento da sua capacidade hiperreguladora,
observado pela diminuição na concentração do teor de sódio plasmático e
no aumento dos hematócritos, após 6hs a 0,91 ppm, o que foi associado
ao estresse provocado pela presença do herbicida, e que após 12 horas
estes parâmetros se normalizaram, provavelmente, segundo os autores,
como uma resposta adaptativa do animal.
Os dados aqui apresentados representam uma pequena amostra dos
perigos aos quais a biota aquática está submetida quando na presença
desses compostos tóxicos, e ao mesmo tempo, demonstram que as reações
individuais são distintas em cada organismo e frente a cada produto,
refletindo a dificuldade de se obter generalizações a respeito das
conseqüências ambientais promovidas pelos agrotóxicos.
Outro fator que merece destaque relaciona-se com as empresas que
comercializam os produtos e os acidentes que podem ocorrer durante
procedimentos de transporte, armazenamento e manuseio em geral pelos
trabalhadores dessas empresas, bem como com funcionários de firmas
desinsetizadoras, onde casos de intoxicação aguda são comuns no Brasil.
Na cidade de João Pessoa, vários casos destes acidentes têm sido
acompanhados pelo Programa de Saúde do Trabalhador (PROSAT) –
Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), Universidade Federal da
Paraíba (UFPB), comprovando-se contaminações sérias devido a constante
29
exposição durante a jornada de trabalho (Almeida, 2001). Em funcionários
de saúde pública que trabalham em combates de endemias também se
tem observado altos graus de contaminação. O relatório da Confederação
Democrática dos Trabalhadores de Serviço Público Federal (CONDSEF),
em Conceição do Araguaia – PA, por exemplo, demonstra que em 120
exames toxicológicos realizados com trabalhadores, 84 apresentaram
contaminação por DDT e Malation, utilizados no combate a Malária e
Dengue. Pilotos de avião agrícola e seus auxiliares também se encontram
expostos e por último uma grande parcela da população que não se expõe
pelo trabalho, mas por acidente ou pela ingestão de alimentos com
resíduos de agrotóxicos acima dos níveis permitidos.
Há que se considerar, ainda, a questão dos alimentos contaminados
com agrotóxicos que chegam à mesa dos consumidores quando se fala de
epidemiologia decorrente dos usos desses produtos. Em reportagem a
revista Época (11/98), diversas amostras de alimentos apresentavam
resíduos de agrotóxicos acima do limite tolerado ou mesmo de alguns
químicos que têm o seu uso vetado no Brasil e não permitidos para a
cultura na qual estavam sendo usados. Em 1194 amostras de hortaliças e
frutas analisadas pelo Instituto Biológico de São Paulo, entre 1978 – 1983,
19,7% continham resíduos de praguicidas.
Resíduos de agrotóxicos em alimentos acima dos limites tolerados
jamais deveriam ser permitidos, sendo esse fato alvo de preocupação
constante. O perigo da ingestão de alimentos contaminados com
agrotóxicos que possuem quantidades residuais acima do tolerável ocorre
quando a Ingestão Diária Aceitável (IDA) oferece riscos à saúde do
indivíduo, o que é calculado em mg de agrotóxico/Kg de peso corpóreo
(Almeida, 2001), mas o limite de tolerância não tem sido respeitado,
tornando assim fator de preocupação os efeitos crônicos retardados via
ingestão de alimentos contaminados (Martins & Mídio, 1997). De acordo
com este autor, só nos Estados Unidos estima-se que 20.000 pessoas
podem morrer de câncer anualmente devido às pequenas quantidades de
30
agrotóxicos presentes nos alimentos, número este que serve para
evidenciar a dimensão epidemiológica do problema.
Análises efetuadas pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL,
em Campinas-SP, nos anos de 1977 e 1978 em amostras de sardinha em
óleo, salsicha, patê de fígado, demonstraram que todas elas tinham
substâncias do grupo DDT e ainda, resíduos de Aldrin, Dieldrin,
Endossulfan e Endrin. Em 1979 e 1981, foram encontrados resíduos de
organoclorados BHC e DDT em amostras de leite materno num banco de
leite do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Os valores médios de
químicos encontrados no leite foram equivalentes a 278 microgramas por
litro, quase 4 vezes mais que o limite de tolerância para leite de vaca
(Candotti, 1986). Nesta mesma matéria da citada revista, já se alertava
para a tendência a aumentar o nível de contaminação nos países em
desenvolvimento. Apenas para se ter uma noção da dimensão do problema
na região nordeste, Augusto (1997) nos informa que de 32 amostras de
tomates analisadas em Camocim de São Felix, Estado de Pernambuco, 25
(78,12%) apresentaram resíduos de fungicidas além dos permitidos.
De
todo,
entretanto,
os
trabalhadores
da
agricultura
são
considerados os mais expostos. Com eles a situação é bastante delicada,
já que o local de trabalho, geralmente, se confunde com o local de
moradia. Os agrotóxicos são considerados a 3ª causa de intoxicação na
população geral e na população de trabalhadores rurais, é a 2ª causa
entre as ocorrências ocupacionais.
3.3- A saúde na visão da medicina tradicional chinesa
A medicina tradicional chinesa é por natureza, holística e ecológica.
Essencialmente ela se baseia nos princípios naturais de manutenção da
ordem e da organização orgânica, dentro da aparente desordem imposta
pelas forças que constantemente desestabilizam condições saudáveis.
31
Tal concepção está intrinsecamente relacionada com os fenômenos
naturais que mantém a ordem funcional dos ecossistemas, e que são
considerados como mecanismos auto-reguladores e auto-organizadores
(mecanismos negentrópicos) que contrabalançam o aumento da entropia
natural
que
constantemente
atua
em
todos
os
sistemas
abertos
(Shrodinger, 1940).
Em outras palavras, a manutenção da ordem orgânica (fisiológica,
genética, comportamental e bioquímica) nos sistemas vivos tem um custo
relativamente grande, visto que é necessário que os organismos estejam
constantemente lutando contra as forças que desagregam estruturas
orgânicas e desestabilizam sistemas e aumentam as suas entropias
internas.
A medicina tradicional chinesa não incorpora apenas a noção de
equilíbrio orgânico, mas também considera a necessidade da manutenção
do equilíbrio psíquico, o que tem suscitado o interesse no mundo
ocidental pelas formas tradicionais de meditação chinesa, que muito
contribuiu para o desenvolvimento da psicologia analítica de Jung, por
meio do taoísmo.
Jung, há mais de quarenta anos, estudando e analisando seus
pacientes, observou a existência de relações entre as imagens da
meditação taoísta, e o processo psíquico e seus símbolos, e que estes,
estão associadas com mudanças da consciência, podendo transformar a
personalidade, a atitude, e as reações de uma pessoa, permitindo assim
que um nível superior de consciência seja alcançado – o “surgimento do
Tao” (Miyuki, 1995).
O Taoísmo é a mais importante tradição espiritual milenar chinesa.
Seu ensinamento filosófico e prática espiritual através da meditação, da
alquimia, e de rituais são desenvolvidos segundo cinco vertentes: 1. Dan
Ting, que significa literalmente Caldeirão e Elixir (da alquimia), 2. Fu Lu
(ritualística e da Lei Cósmica); 3. Jin Dien (que preza pelos estudos dos
Textos Clássicos, sendo, portanto, uma escola eminentemente filosófica),
32
4.
Ji
San
(ou
escola
da
acumulação
da
bondade,
na
qual
os
conhecimentos taoístas são aplicados em benefício da sociedade, da
pessoa, da vida); 5. Dzan Yen (que é a escola dos Oráculos e Experiências,
e que congrega os ensinamentos do I Ching, a Astrologia, Artes Marciais, a
Acupuntura, Fitoterapia e Chi Kung. (Sociedade Taoísta do Brasil, 2008).
Os taoístas dividem-se em diferentes escolas, apesar existir uma
ampla interação entre elas. Mas é principalmente na concepção taoísta da
escola Dzan Yen que a visão holística do equilíbrio orgânico que mantém a
saúde física e mental em perfeita harmonia é buscada. Para o taoísta, o
autoconhecimento é a ciência suprema. Contudo, qualquer que seja a
fonte a que recorrem a fim de obter orientação interior e esclarecimento, o
eu é sempre o grande mistério. E é por isso que a introversão da mente
para o seu interior, através da prática meditativa, tem como propósito o
domínio da mente, o desenvolvimento da consciência e a percepção de que
o corpo e a mente são um só, ou, em outras palavras, conforme assinalou
Brunton (1970), se considerarmos o osso, a carne, o sangue e o tutano, os
órgãos sensoriais e os órgãos internos, nenhuma dessas partes é o eu,
pois, obviamente, a consciência ficaria nesse caso limitada àquela parte.
Ou, em outras palavras, por mais que se procure não se encontrará uma
parte individual do corpo na qual o eu pareça inserir-se, visto que ele é a
totalidade integradora do ser humano.
No taoísmo, os conceitos que permeiam o desenvolvimento da
consciência, projetando-a para o desenvolvimento da personalidade
humana, remontam à dinastia Shang (1766 -1122 a.C.) e Chou (1122-255
aC), e dentre eles, três são considerados fundamentais na filosofia
chinesa: ti, t´ien e Tao.
Nos oráculos chineses da primeira fase, ti aparece como uma
espécie
de
soberano
poderoso,
cheio
de
poderes
misteriosos
e
sobrenaturais, que rege fenômenos naturais como a chuva, o vento, a
seca, a colheita, etc., além dos destinos humanos, a felicidade e a
infelicidade, o bem e o mal, não sendo, no entanto, venerado em ritos
religiosos.
33
Numa segunda fase, ti foi usado como título honorífico para o
ancestral dos reis, que então estava sendo venerado. Mas ti também se
refere a uma festa ritual em honra do primeiro ancestral do povo de
Shang. Também representa a imagem de um cálice e o ovário de uma flor,
a partir do qual têm origem novas gerações de flores, frutos e plantas.
Nesta concepção, ti representa o centro, a origem, o coração e a fonte onde
outras gerações têm origem e onde, ao mesmo tempo, reside a totalidade
potencial da flor.
Ti´en é tida como “idéia religiosa fundamental da dinastia Chou, a
dinastia posterior à Shang”. É um demonstrativo que significa o vértice da
cabeça, isto é, o ponto mais alto do corpo humano e, como tal, serve
simultaneamente para designar o “céu”. Mas o povo de Chou empregava o
conceito também para designar uma entidade suprema que exerce
influência benéfica sobre o destino dos homens por meio da ordem e da
lei, e que se revela no íntimo de uma pessoa de acordo com o seu grau de
virtude.
Inúmeras advertências como: ”Não dependas das leis celestes”, ou
“cultiva as tuas virtudes para que correspondas ao Céu. Tu mesmo deves
conquistar a bênção”, ou ainda, “quando criou o homem, o Céu o dotou
com suas leis para todos os seus atos e atitudes. O homem deve cultivar
essa dádiva com zelo e desenvolvê-la até a perfeição”, serve para ilustrar
que o conceito ti´en é muito mais dependente de esforços humanos.
O Tao, por sua vez, significa, literalmente, “caminho” ou “estrada” –
por extensão, o caminho correto -. A mais antiga forma do ideograma
compõe-se de três elementos: um caminho, uma cabeça e um pé
humanos.
Tanto ti, como ti´en e Tao representam princípios de ordem, mas Tao
é mais abrangente e mais fundamental, como diz o grande filósofo chinês
Lao Tse, que viveu durante a dinastia Chou (século VI a.C.): “O homem
orienta-se pela Terra, a Terra, pelo céu. O céu, pelo Tao; e o Tao, por si
mesmo”, e ele se relaciona estreitamente com a cosmogonia yin-yang do I
ching: “O Tao gera o um, o um gera os dois, os dois geram os três, e destes
34
nascem as miríades de coisas. Nas miríades de fenômenos manifestam-se
o yin e o yang e eles alcançam a sintonia através da energia vital do vazio”.
A energia vital do vazio refere-se à energia primordial como fonte e origem
de todas as coisas e fenômenos, e aqui ela é equiparada ao Tao. A
definição de Tao como “criador” lembra o ti, o ancestral primordial.
O fundamento do Taoísmo encontra-se em um dos livros mais
antigos do mundo, o TAO TE CHING, “O livro da ordem do mundo e da
força vital” escrito pelo grande filósofo chinês Lao Tsé (VI a.C.). Este livro é
composto de 81 poemas, que de uma forma sintética, exibe todo o
pensamento filosófico de seu autor. Lao Tsé concebia o TAO como sendo a
harmonia do mundo natural. “O TAO é a verdadeira base da qual todas as
coisas são criadas”. Embora em muitas ocasiões o TAO seja descrito como
o “Céu”, não o era dado uma conotação divina, como o Deus
antropomórfico cristão. Segundo Lao Tsé, o homem para se integrar com o
TAO deveria ter desapego às coisas materiais, e meditar procurando
manter a mente tranqüila e vazia de pensamentos, e assim alcançaria a
união com o TAO.
Depois da morte de Lao Tsé, alguns de seus discípulos se desviaram
dos seus ensinamentos, para o misticismo mágico. Foi esse lado mágico,
desvirtuado da verdadeira essência filosófica do TAO, que teve maior
receptividade
nas
camadas
populares,
mais
ainda
quando
esses
ensinamentos taoísta se miscigenaram às superstições e feitiçarias do
passado. A partir daí, começou a se desenvolver uma religião popular
baseada em Lao Tsé, mas com adoração a deuses, templos, com seus
monges e sacerdotes, e com rituais de oferendas de alimentos aos deuses,
e procissões. Totalmente desvirtuados da sabedoria pregada por Lao Tsé.
Outro grande filósofo contemporâneo de Lao Tsé que influenciou
também o taoísmo foi Confúcio. É dele a célebre frase: “Mostre respeito
pelos deuses, mas mantenha-os a distancia”. Profundo estudioso do I
Ching, revisou-o, colocando-o no patamar dos clássicos chineses. Quando
lhe perguntavam sobre os mistérios da morte, respondia: “Quando não se
compreende nem sequer a vida, como se pode compreender a morte”. Sob
35
a influência filosófica desses dois grandes filósofos, floresceu a Medicina
Tradicional Chinesa, livre de superstições religiosas, tendo como base, a
meticulosa observação da relação entre o homem e a natureza.
Para um sábio taoísta a ação mais importante é a “não ação”. Lao
Tsé defendia a idéia de que o homem deveria interferir o menos possível
no desdobramento dos acontecimentos, pois de acordo com a teoria do
Yin/yang, quando o yang atinge o seu apogeu, inevitavelmente, surgirá o
yin, assim sendo, quando, por exemplo, um soberano é muito opressor,
atingirá um ponto tal, que mesmo o povo humilde e subserviente se
rebelará. O sábio taoísta tem consciência dessa tendência natural à
mudança existente na natureza, inclusive na natureza humana. Segundo
o TAO TE CHING, quanto menos leis existirem regendo um país, melhor
viverá o povo: “Quanto mais leis e mandamentos existirem, mais bandidos
e ladrões haverá”. Para o sábio Taoísta, o líder de uma comunidade
deveria ser um filósofo, sendo sua principal missão dar exemplo de
virtuosidade, prudência, e senso de justiça, para o povo.
O Taoísmo é uma filosofia de vida que se fundamenta em quatro
pontos: a) a rejeição de qualquer esforço intencional: b) confiança que as
ações espontâneas e sem esforços conscientes trazem benefícios; c) que o
TAO (Caminho Correto) se manifesta em todas as coisas e em todos os
lugares; d) no equilíbrio entre o humano, o espiritual e o terreno. O
entendimento do TAO nos diz que quando o evento quer sejam humano ou
materiais, coexistem harmoniosamente com a energia do macrocosmo do
TAO, tenderá a existir paz e equilíbrio no universo. Assim, o verdadeiro
sábio deve seguir sua vida de acordo com os princípios do TAO,
passivamente em sintonia com a natureza, onde todas as coisas e todos os
seres estão interconectados, numa conotação essencialmente ecológica.
Uma boa representação dessa passividade é a água: passivamente, ocupa
os lugares mais baixos, porém, nunca perde a sua grande força, sendo
capaz de penetrar a rocha mais dura. O objetivo do TAO é deixar as coisas
fluírem
naturalmente,
no
ritmo
natural,
mas
isso
não
deve
ser
interpretado como um estímulo ao ócio ou à impotência. É a disciplina
36
juntamente com a sabedoria e a paciência para controlar os impulsos de
ação, permitindo que no tempo mais certo as realizações mais efetivas e
produtivas aconteçam, mas num tempo correto, e do jeito certo. (Chung,
2006).
Todas estas concepções podem ser encontradas no I Ching, um dos
livros mais antigos da humanidade. Atribuído a Fu shi (2852 a.C), sua
importância na cultura chinesa é enorme, chegando ao ponto de um dos
expoentes da filosofia chinesa, Confúcio, ter afirmado que se pudesse
retornar em outra vida, dedicaria ao estudo desse livro. É usado por
muitos como um oráculo, mas na verdade, seu conteúdo excede
largamente seu simbolismo como livro de adivinhação.
Constitui um elaborado sistema de símbolos, e suas explanações
não encontram algo semelhante em nenhuma civilização conhecida. Estes
símbolos, segundo a visão chinesa, refletem de um modo abstrato, todos
os processos da natureza. É composto por 64 hexagramas, cada um
destes, sendo o resultado de 64 combinações entre os oito trigramas do Ba
Gua. Estes 64 símbolos dentro do sistema do I Ching desempenham um
conjunto de conceitos abstratos capazes de explicar um grande número de
eventos e processos dos fenômenos do mundo natural.
No I Ching, a representação gráfica para o um inicial é dada por um
traço contínuo, que em seguida deu origem a duas forças opostas, porém
complementares, representadas como duas linhas, uma contínua (_____)
(yang), e uma tracejada (__ __) (yin). A partir dessas duas linhas, cada uma
delas deu origem a dois digramas, totalizando quatro digramas. Ou, em
outras palavras: A partir do Um inicial, surgiram duas forças opostas e
complementares Yin/Yang, que em seguida deram origem a quatro forças,
representadas por quatro digramas, denominados de yang velho, yin
jovem, yang jovem, yin velho (Figura 1); ou seja, de uma única força
primordial, originaram-se quatro forças, sendo em última instância,
quatro diferentes aspectos de um mesmo princípio.
É bem provável que quem catalogou o I Ching tinha como intenção
transmitir às gerações futuras um conhecimento “sagrado”, oculto,
37
fechado, em forma de código cifrado, criptografado, apesar de os não
iniciados usarem-no como oráculo, fundamento que o psicólogo Carl
Gustav Jung admitiu funcionar como oráculo tendo como base os
símbolos dos arquétipos da humanidade. Estes seriam os arquétipos no I
ching: os 64 hexagramas representando os 64 códons do DNA.
JOVEM YANG
VELHO YANG
JOVEM YIN
VELHO YIN
Figura 1. Representação esquemática da origem das forças naturais antagônicas
(yin-yang) que segundo o I Ching originaram as “dez mil coisas”.
Contrariamente à medicina ocidental, que preza pelo conhecimento
científico e menospreza o conhecimento tradicional, a medicina chinesa
evoluiu a partir das associações que os antigos faziam acerca da
influência dos fenômenos naturais sobre as condições de saúde das
pessoas. A Medicina Tradicional Chinesa é a quintessência da Cultura
chinesa antiga. Ela tem uma longa história de mais de 5000 anos e seus
métodos terapêuticos se acham hoje espalhadas pelo mundo todo.
A MTC engloba diversos métodos terapêuticos: desde as técnicas
milenares de meditação e exercícios de tai-chi e chi-gong, massagens (tuiná), cromoterapia, musicoterapia, dietoterapia, moxabustão, acupuntura e
fitoterapia, todos estes, fundamentados na classificação yin e yang/ cinco
elementos.
As técnicas de diagnóstico consistem em escuta, inspeção e
apalpação do doente, inclusive através do exame do pulso, para depois
38
escolher o tratamento mais indicado, visando harmonizar a saúde do
paciente.
De acordo com Veith (1966) e Van Nghi (1988), as bases
epistemológicas da medicina tradicional chinesa remontam à época do
Grande Imperador Amarelo Huang Ti (2698 aC a 2599 aC), venerado como
o pai da Medicina Chinesa, também considerado o ancestral de todos os
chineses da etnia Han, representada pela maioria dos chineses da minoria
Manchu, um grupo étnico que teve origem no nordeste da Manchúria,
uma vasta região no leste da Ásia que atualmente inclui o extremo
nordeste da China também chamada Manchúria Interior e uma parte da
Sibéria (Wikipédia, 2008).
O primeiro livro de acupuntura - o NEI CHING SU WEN - também
conhecido como “O Clássico do Imperador Amarelo da Medicina Interna”
foi a primeira obra a estabelecer as bases teóricas que fundamentam o
sistema médico e a teoria filosófica da MTC. A tradição atribui a obra ao
imperador Huang Ti (2500 a.C. A obra, em sua forma mais completa e
revisada, aparece por volta do ano 200 aC, é composta de duas partes, o
SU WEN que descrevia as terapias da medicina chinesa e o LING SHU, ou
eixo espiritual, que ensinava como restaurar a harmonia do corpo
(American Acupuncture, 2008, Van Nghi, 1988)
O Nei Ching representa o livro de ouro da Medicina Chinesa. É um
texto que foi retrabalhado várias vezes, particularmente durante a dinastia
Han (cerca de 206 aC-25 dC), quando muitos acréscimos e comentários
foram efetuados até aparecer em sua primeira forma completa por volta
do ano 762 dC (Veith, 1966). A sua versão mais atual é de autoria de Bing
Wang, hoje traduzida para o português por José Ricardo Amaral de Souza
Cruz (Wang, 2001).
Ferreira (2008), no entanto, considera que a origem da Medicina
Chinesa remonta à era Shang (cerca de 1800 aC), também denominada de
dinastia Yin nos seus últimos estágios, a primeira a deixar sinais de
atividades terapêuticas, segundo achados arqueológicos efetuadas no
curso médio do Rio Amarelo. Os Shang viviam da agricultura e do gado, a
39
nobreza habitava em pequenas cidades e a maioria da população morava
no campo. Os membros da comunidade respeitavam seus ancestrais, e
acreditavam que eles podiam tanto lhes favorecer como amaldiçoar. Entre
as doenças que reconheciam, a mais importante delas era a "maldição de
um ancestral", cujos sintomas poderiam abranger desde dor de dentes até
derrota na guerra. Os procedimentos preventivos e terapêuticos envolviam
presentes e oferendas aos ancestrais. Há referências a outras causas de
doenças, como "vento perverso" que seriam combatidos através dos
shamans. (Ferreira, 2008). O vento perverso na verdade representa
mudanças na direção predominante do vento em determinada área, que
pode provocar alterações fisiológicas, ou metabólicas, ocasionando várias
doenças como gripe, rinite, alergias sazonais, etc. Sobre este aspecto.
Hipócrates, o pai da medicina ocidental, 400 a.C. também escreveu em
um dos seus livros que compõe o Corpus Hipocraticus, um tratado que
afirma que a maioria das doenças é causada pelo vento.
Os Chou (ou Zhou, segundo Karolinska Institutet, 2008), ocupavam
o Vale Wei, onde hoje se situa a moderna Província de Shaansi,
sucederam os Shang por volta de 1100 aC (1122aC-221dC), caracterizada
como um período de grande desenvolvimento intelectual na história
chinesa, da religião e filosofia, incluindo a ascensão do Confucionismo e
do Taoísmo, bem como, a escrita da literatura chinesa mais antiga. Os
Chou admitiam que os "demônios" teriam importância na vida cotidiana,
de sorte que a harmonia nos relacionamentos não seria mais mantida
pelos ancestrais. Foram criados mitos reconhecendo "demônios" que
exerceriam influências maléficas sobre o homem. Cresce de importância a
presença dos shamans que empregavam técnicas de exorcismos com
espadas e lanças para dominar os demônios, usando-se da ajuda de
espíritos mais graduados. Segundo este autor, foi nesse período que surge
uma forma rudimentar de acupuntura, que empregava agulhas em forma
de espadas, as quais eram inseridas ou pressionadas sobre treze pontos
determinados da superfície da pele, e eram usadas para tratar as doenças
causadas pelos demônios. Esta forma de acupuntura primitiva não tinha,
40
portanto, o objetivo de tratar das doenças em si, mas antes, de expulsar e
combater os demônios (Ferreira, op. Cit.).
Entretanto, a máxima: “Devemos respeitar os deuses, porém
mantendo-os à distância”, escrita por Confúcio por volta do ano 500 a.C.,
demonstra que o apogeu da dinastia Shang foi altamente influenciada por
ele e por Lao Tsé, que não eram supersticiosos, nem acreditavam em seres
superiores para serem venerados, descartando, assim, a crença em tanta
superstição.
Ferreira (2008), explica que foi nesse período primitivo da medicina
tradicional chinesa que surge a medicina de correspondência sistemática,
que reconhece fenômenos de influência mútua, causas e efeitos, além de
estabelecer outros princípios como o uso do "yin yang" e das "cinco fases",
o conceito de "Qi" ou “Chi” como a base da vida, que seriam "influências
materiais sutis". Nessa nova fase, os males não seriam mais atribuídos a
demônios, mas antes eram conseqüências de influências e emanações
abstratas ou concretas relacionadas ao “Qi" (energia), que em princípio
exerceria somente influências maléficas, mas que com o passar do tempo
evoluiu para o conceito atual, aproximadamente o das "influências
materiais sutis” como foi referido acima. A saúde e a harmonia seriam
conseqüência
de
não
haverem extravagâncias
ou
excessos,
sejam
alimentares, sexuais, climáticos ou morais.
A medicina tradicional chinesa tomou emprestada do cotidiano as
terminologias que foram sendo incorporadas em seu vocabulário. Por
exemplo, Zang, que representa tanto depósitos como órgãos onde o Qi se
armazena; Fu, palácios por onde o Qi passa; Jing-Lo, canais que uniam
todo o sistema, como os rios e canais da China integravam o império.
Refletindo o que ocorre na irrigação dos campos e na navegação dos rios,
era necessário que este fluxo fosse contínuo, sem obstruções ou
transbordamentos, que levariam a falhas na distribuição dos bens,
causando deficiência nos centros de consumo e excesso nos centros de
produção. A Medicina de Correspondência Sistemática tem como objetivo
então identificar e localizar estas obstruções, deficiências e excessos,
41
tratando através da normalização do fluxo do Qi nos canais (ou
meridianos), dando-se ênfase as alterações funcionais.
O "Nei Ching" representa uma coletânea de livros de medicina,
escritos na forma de diálogo entre o imperador Huang Ti, que pergunta, e
Ch'i Po, um doutor da corte que responde, sobre as relações entre o
homem e a natureza, as causas das doenças e os métodos de profilaxia e
tratamento, ressaltando a importância da harmonia entre o yin e o yang,
nessa abordagem (American Acupuncture, 2008). O "Nei Ching" traz a
primeira sistematização de todos os conceitos de saúde existentes no final
da era dos "Estados em Guerra" e início da era Han. Foi nessa época que
foram descobertos os pontos como locais de estímulo, os doze canais e a
associação entre canais e órgãos.
Na “Verdade Natural dos Tempos Antigos”, Livro I do Nei Ching,
Huang Ti pergunta a Ch´i Po: “Ouvi dizer que nos tempos antigos as
pessoas viviam mais de um século e mesmo assim permaneciam ativas e
não se tornavam decrépitas nas suas atividades. Hoje em dia, porém, só
vivem metade desses anos e mesmo assim tornam-se decrépitas e débeis.
É porque o Mundo muda de geração para geração? Ou será por que a
espécie humana negligencia as leis da Natureza?”. E Ch´i Po responde:
“Antigamente, as pessoas que compreendiam o Tao [o caminho correto]
moldavam-se de acordo com o Yin e o Yang [os dois princípios da
Natureza], e vivendo em harmonia. Havia temperança no comer e no
beber. As horas de dormir e acordar eram regulares e não desordenadas e
ao acaso. Graças a isso, os antigos conservavam os seus corpos unidos às
suas mentes, a fim de cumprirem por completo o período de vida que lhes
estava destinado, contando cem anos antes do passamento. Hoje em dia,
as pessoas são diferentes; utilizam o vinho como bebida, e adotam a
temeridade e a negligência como comportamento habitual. Entram na
câmara do amor em estado de embriaguez; as paixões exaurem-lhes as
forças vitais; o ardor dos desejos malbarata-lhes a verdadeira essência;
não são hábeis na regulação da sua vitalidade. Devotam toda a atenção ao
divertimento dos seus espíritos, desviando-se assim das alegrias da longa
42
vida. Levantam-se e deitam-se sem regularidade. Por tais razões só
chegam à metade de cem anos e degeneram.
As verdades naturais dos tempos antigos são tão atuais quanto
eram nos tempos do imperador amarelo, e em diferentes partes desse
tratado se acham detalhados os conselhos para uma boa saúde que em
essência se resume em viver em harmonia com o Tao, o Caminho Certo,
respeitando as leis e o ritmo da natureza.
Os sábios antigos, afirma o Nei Ching, diziam que a fraqueza, as
influências insalubres e os ventos nocivos deviam ser evitados em ocasiões
específicas. Sentiam-se tranqüilamente satisfeitos na “não ação” e a
verdadeira força vital acompanhava-os sempre; preservavam dentro de si o
chi ancestral. Assim, como podia a doença acometê-los?
Essas passagens do Nei Ching, claramente nos levam a refletir o
quanto a nossa medicina ocidental atual, altamente reducionista e
especializada, se encontra distante dos verdadeiros princípios da boa
saúde. Na MTC, é marcante a visão da ordem intrínseca no funcionamento
dos diferentes órgãos, e dos mecanismos de auto-regulação e controle,
como vemos no esclarecimento de Ch´i Pó ao imperador Huang Ti: “Os
rins do homem regulam a água que recebe e armazena a essência (jing)
das cinco vísceras e dos seis intestinos. Quando as vísceras estão
abundantemente cheias, encontram-se aptas a segregar; mas quando,
neste estágio, as cinco vísceras estão secas, os músculos e os ossos
declinam, as secreções reprodutoras exaurem-se e, por isso, o cabelo do
homem encanece nas fontes, o corpo torna-se-lhe pesado, a postura deixa
de ser ereta e ele se torna incapaz de procriar!.
As cinco vísceras referidas acima são: o coração, os pulmões, o
fígado, os rins e o baço. Os seis intestinos são: a vesícula biliar, o
estômago, o intestino grosso, o intestino delgado, a bexiga e o San Jiao, ou
espaço de combustão triplo (triplo aquecedor), a parte do corpo humano
acima da extremidade superior do estômago é o espaço de combustão
superior, cuja função é receber e não expelir; a parte central do estômago
chama-se espaço de combustão médio, cuja função é digerir alimentos, e o
43
espaço de combustão inferior é o órgão de eliminação cuja função é expelir
e não receber (Wang, 2001)
O "Nan Ching", outro clássico da medicina chinesa, surge no
primeiro
século
Correspondência
da
era
cristã.
Sistemática,
A
obra
conforme
já
refina
referida
a
Medicina
em
de
parágrafos
anteriores (ver Ferreira, 2008), definindo as regras e procedimentos que
seriam utilizados pela acupuntura até os nossos dias, bem como
explicando todos os aspectos práticos e teóricos dos cuidados com a
saúde, incluindo a doutrina das cinco fases e a harmonia yin e yang
(Unschuld, 1986). Somente na era Song (960–1279 dC) surge outra obra
importante, o "Da Cheng" (Van Nghi, 1988), que reúne a experiência
prática de acupuntura existente nesta época.
A vida em harmonia com o Tao, ou, ou seja, a persistência no
Caminho Certo é a principal base da manutenção de uma boa saúde. Isso
não se aplica apenas a pessoas, mas a humanidade como um todo. Para
ter saúde plena e completa, a humanidade deve ser virtuosa. Essa virtude
não deve depender nem do medo da punição, nem de supostos benefícios
que venham a lhes prometer em troca, nessa ou noutra vida. Um homem
que não pratica o bem, independentemente de religião, não poderá de
forma nenhuma viver em harmonia com o universo - entenda-se neste
caso o bem não somente aos semelhantes, mas a todas as formas de vida
dos diferentes ecossistemas.
Ainda, é universalmente aceito que “não devemos desejar a outrem o
que não queremos para nós”. Logo, quem agir diferente desse princípio não
pode de forma nenhuma, dentro da visão da Medicina Tradicional
Chinesa, que se baseia na Filosofia do TAO, estar em equilíbrio pleno
físico, mental e social; certamente é doente, e necessita de tratamento
integral.
Sob esta ótica, claramente podemos perceber que a grande maioria
das pessoas não está saudável. Um exemplo remonta à época de Sócrates
(500 a.C.), que foi forçado a tomar cicuta por não abdicar das suas
virtudes; a sociedade de Atenas é que estava doente. Disse Sócrates, ao
44
tomar o veneno: “Morre Sócrates, mas comigo morre também a democracia
de Atenas” (Stone , 1989).
Quando
olhamos
para
estas
visões
da
MTC,
claramente
evidenciamos a natureza preventiva dessa prática. Viver de acordo o Yin e
o Yang e em harmonia com as quatro estações e com os outros é, assim, a
principal maneira de poupar energias e preservar a saúde, e quando isso é
feito juntamente com práticas meditativas que não forçam a mente de
forma extenuante, é possível atingir-se o estágio de Homem Espiritual,
alcançando-se a perfeita harmonia com o Céu e a Terra, um estágio de
felicidade e paz interior e a satisfação mais elevada das realizações. Neste
estágio, nada pode molestar-lhes o corpo e nem malbaratar-lhes as
faculdades mentais, sendo assim possível chegar-se a idade de cem anos
ou mais.
A prática da meditação sem extenuação mental é semelhante àquela
que é praticada pelo zen budismo que consiste em “ver dentro de sua
natureza-própria, ou seja, tornar-se um Buda ou um Cristo”. Essa idéia
consiste em contemplar a serenidade e a pureza interior, e não se apegar
aos bens materiais (é meu), procurando encontrar o “caminho do meio”, o
TAO, que leva ao “quietismo”, ou à tranquilização, quando desaparece a
dualidade sujeito-objeto. Essa visão da natureza-própria, evidentemente,
não é uma visão comum, onde existe a dualidade do sujeito que vê e do
objeto que é visto (Suzuki, 1993). Nesse estágio, expande-se a consciência
do eu, que se funde com o cosmos e com todas as partes daquele que vê.
Tudo se torna Um, atingindo-se o “Religaris”. Tudo é igualmente
importante; o Um sente-se integrado à natureza. Uma visão integradora e
holística, como na ecologia. Neste estágio, o respeito aos outros é igual ao
respeito que se dá a si próprio; exemplo do mais elevado conceito da
ecologia profunda, o ecocentrismo.
Note-se que o taoísmo não é budismo; mas neste ponto, há
proximidades. Os versos abaixo, atribuídos a Buda, são do poema “A Luz
da Ásia” (Suzuki, op. Cit.) e são suficientemente robustos para ilustrar a
45
essência do significado do auto-conhecimento, que também é a meta da
meditação taoísta!:
Muitas foram as casas da vida
Que me prenderam – e eu sempre à procura do forjador
Dessas prisões dos sentidos, cheias de sentimento;
Minha luta foi árdua e dolorosa
Mas agora,
Eu te conheço, ó construtor deste Edifício!
Nunca mais reconstruirás
Estes muros de dor,
Nem levantarás outras vias de desenganos,
Nem novos esteios fincarás no barro;
Tua casa ruiu, partiu-se a viga-mestra do telhado!
O engano lhe dera forma!
Que agora eu saia a salvo para obter a liberdade.
Na busca pela saúde total a visão da medicina tradicional chinesa
considera, assim, importante o equilíbrio harmônico entre a mente e o
corpo, a psiqué e a matéria, mas também considera muito importante, que
sejam
consideradas
as
forças
naturais
que
constantemente
agem
alterando o ritmo do Tao e que conseqüentemente interferem na harmonia
entre o yin e o yang.
A vida é uma manifestação rítmica, que segue rigorosamente os
princípios do yin e do yang, a bipolaridade universal, opostos que se
complementam:
frio-quente,
repouso-movimento,
direita-esquerda,
energia elétrica bipolar, polaridade atômica, equilíbrio ácido-básico nos
líquidos orgânicos, considerada pelos chineses como o princípio de
regulação e manutenção da ordem e em diversos comportamentos e
outras características do ser humano (Tabela 2).
Utilizando a linguagem Aristotélica e escolástica, pode-se dizer que
yang é tudo aquilo que é “em ato” e yin, tudo aquilo que é “em potência”,
ou que todo ser é yang do ponto de vista em que é “em ato” e yin do ponto
46
de vista em que é “em potência” visto que esses dois aspectos encontramse reunidos, necessariamente, em tudo aquilo que é manifestado, e um
não têm existência sem o outro (Guénon, 1957).
O I ching, o maior livro da sabedoria da humanidade de todos os
tempos, identifica essas duas forças como o luminoso e o obscuro, que na
cosmogonia universal estão associadas, respectivamente, à essência
(espiritual, que vem de cima) e a substância (matéria, conforme
manifestada; aquilo que é por nós realmente vivido, percebido e
experimentado).
Tabela 2 – Algumas características yin e yang, encontradas entre os humanos.
YIN
Tendência à inércia
Movimento centrípeto
Apatia
Fala baixo
Obeso
Olhar cansado
Cabeleira
Idoso
Salivação
Sonolência
Tez escurecida
Regras abundantes
Preferência pelo silêncio
Tendência à fadiga
Pouca barba
Tímido
Triste
Pouco viril
Melhora no verão
YANG
Tendência expansão
Movimento centrífugo
Excitação
Fala alto
Esbelto
Olhar vivo
Calvície
Jovem
Boca seca
Insônia
Tez clara
Regras curtas
Preferência pelo barulho
Tendência a não se cansar
Barba abundante
Extrovertido
Alegre
Mais viril
Melhora no inverno
No I ching, essas duas polaridades são representadas por símbolos
lineares que formam o primeiro e o último hexagrama, que são o Kien (seis
traços
horizontais
contínuos)
e
o
Kouen
(seis
traços
horizontais
interrompidos), e que representam a plenitude do yang, identificado com o
47
Céu, e do yin, identificado com a Terra. E é entre esses dois extremos que
se colocam todos os outros hexagramas, em que o yang e o yin se
mesclam em proporções diversas,
e
que correspondem assim
ao
desenvolvimento de toda e qualquer manifestação que existe no mundo
Esses
mesmos
dois
termos,
yang
e
yin,
quando
se
unem,
são
representados pelo símbolo do Tao (Figura 2).
Figura 2 – Representação das forças yin-yang no símbolo do TAO, evidenciando
os quatro aspectos do mesmo princípio em um subgrupo de quatro: madrugada:
yang no yin; manhã: yang no yang; tarde: yin no yang; noite: yin no yin. A parte
clara é yang e a parte escura yin, em conformidade com o simbolismo da luz e da
sombra.
Saúde,
na
medicina
tradicional
chinesa,
significa,
portanto
equilíbrio de polaridade. E os desequilíbrios podem ser observados da
seguinte forma, entre outros tantos exemplos: yang: músculo contraído.
Câimbra; espasmo; pele seca. Yin: músculo flácido, que não se contrai;
pele úmida (Austregésilo, 1974). Assim, a medicina tradicional chinesa é
baseada na distinção entre yang e yin: qualquer doença é devido a um
estado de desequilíbrio, isto é, a um excesso ou deficiência de um desses
48
dois pólos em relação ao outro. O tratamento consiste em tonificar o que
está em deficiência e sedar o que está em excesso para restabelecer o
equilíbrio, atingindo-se a causa da doença, em vez de limitar-se a tratar
dos sintomas, como a medicina cartesiana ocidental geralmente faz
(Guénon, 1957).
Os mesmos ciclos que mantém a organização e a ordem dinâmica
dos seres vivos estão em perfeita harmonia com os ciclos cósmicos e da
natureza, como o ciclo do sol ao redor da nossa Galáxia (translação que
250 milhões de anos); a rotação do sol e da terra em torno de seu próprio
eixo, a translação da terra ao redor do sol, o ciclo das estações do ano, e
das fases da Lua, (Rotenberg et al., 1997; Paludetti, 1998a).
Esses ciclos têm influência sobre os seres vivos e sobre os ciclos da
natureza, regulando as marés e as mudanças climáticas, visto que as
variações na órbita da Terra em torno do sol, no ângulo de inclinação do
seu eixo, e na oscilação da Terra (ciclos de Milankovitch), determinam a
quantidade de luz solar que incide na superfície de nosso planeta e as
variações de suas temperaturas) (Salgado-Labouriau, 2006).
Nos seres vivos, estes ritmos, determinam a época de reprodução de
espécies, o funcionamento do corpo humano e o ritmo de funcionamento
de cada órgão, bem como os horários de maior produção de enzimas,
hormônios e neurotransmissores. (Jianping, 2001).
Entende-se, assim, que praticamente todos os organismos vivos
exibem ritmos biológicos, desde organismos unicelulares até o homem, a
exemplo do ritmo de divisão celular e fotossíntese, ritmos de excreção
renal de potássio, ritmos comportamentais como o de ingestão em ratos,
ritmos de floração nas plantas e até mesmo ritmos de infecções por
microorganismos (Paludetti, 1998b). Doenças, no contexto da Medicina
Tradicional Chinesa, são alterações nesses ritmos, quer sejam decorrente
de alterações no próprio ritmo da natureza, ou provocada pelo próprio
homem, quer alterando o ambiente onde vive, ou os seus próprios ritmos
endógenos.
49
No organismo humano também existe um ritmo interno, sendo este
determinado em parte pelo DNA (código genético individual) e em parte
pela maneira como as pessoas se comportam durante sua vida tanto
moralmente (virtudes) quanto no que diz respeito a sua dieta, bem como
se sua forma de viver obedecendo ao ritmo da natureza, ou seja, o TAO,
sendo que alterações nesses ritmos tendem a desequilibrar o organismo,
provocando o surgimento de enfermidades.
Os ritmos que governam todos os fenômenos biológicos em geral, e o
funcionamento do corpo humano, em particular, são estudados hoje pela
ciência da cronobiologia (Cipola-Neto, 1988; Reppert & Weaver, 2002).
Mas eles já eram conhecidos dos chineses antigos, desde a época do
lendário Imperador Amarelo Houang Ti (2500 a.C.), que além de descrever
detalhadamente no Nei Ching os horários de funcionamento de cada órgão
e cada meridiano de acupuntura, recomendou o melhor horário para se
tonificar ou sedar um órgão interno pela acupuntura. Segundo essa obra,
o Chi percorre ininterruptamente nosso organismo, internamente (órgão
internos) e externamente (meridianos), mantendo uma máxima atividade
em cada órgão/meridiano a cada duas horas. A circulação do Chi Inicia-se
pelo pulmão das 03h00min horas às 05h00min horas, em seguida passa
para o Intestino grosso entre às 5:00 horas e as 7:00 horas, depois pelo
estomago das 7:00 horas às 9:00 horas, seguindo para os demais órgãos,
como representado na Figura 3, até terminar no fígado, entre 1:00 e 3:00
horas, recomeçando o ciclo.
Como se vê no esquema representado nessa figura, no organismo
humano a energia vital circula de forma regular e contínua, distribuindose harmoniosamente pelo corpo de maneira que cada parte, cada órgão,
recebe na sua hora a sua cota máxima de energia. Tal circulação segue
rigorosamente as projeções dos órgãos ao nível da superfície da pele nos
meridianos de energia, ou de circulação do Chi (Quan, 1988). Qualquer
desequilíbrio
nesta
circulação
causará
excessos
e/ou
deficiências
energéticas, manifestando-se as doenças, nas formas de sintomas.
50
Figura 3 – Esquema da circulação do Chi nos diferentes órgãos no período de 24
horas.
Doenças são, portanto, desequilíbrios energéticos (obstruções) ao
longo dos meridianos, que provocam uma quebra no ritmo da circulação
do Chi, obrigando o organismo a responder na forma de doença. Esta
concepção da MTC sobre o conceito de saúde humana tem uma grande
semelhança com o estado de equilíbrio dinâmico que mantém a
estabilidade
ecológica
dos
ecossistemas
no
mundo
natural:
Biodiversidade, ciclos biogeoquímicos íntegros, troca de matéria e energia
entre os organismos de um ecossistema são alguns exemplos de ordem
que precisam ser mantidas para que o mundo natural funcione
harmonicamente. As degradações ambientais decorrentes de atividades
humanas vêm desestabilizando essa ordem e interferindo no equilíbrio
dinâmico da natureza, muitas vezes de forma irreversível.
Na MTC a compreensão do corpo humano é baseada num
entendimento holístico do universo como descrito no Taoísmo e o
tratamento é baseado primariamente no diagnostico e diferenciação dos
sintomas. Os tecidos e os órgãos do corpo humano são conectados através
51
de uma rede de canais. O Qi (ou Chi) atua de modo a conduzir
informações que são expressas através do sistema jingluo (meridianos).
Uma disfunção dos órgãos zang-fu pode refletir patologicamente na
superfície do corpo através dessa rede de canais, e vice versa. Cada um
desses órgãos uma vez afetados pode influenciar outros órgãos, através
das conexões internas. O tratamento da MTC inicia-se com a análise de
todo sistema, depois foca-se na correção das mudanças patológicas,
através do reequilíbrio das funções dos órgãos zang-fu.
A avaliação do sintoma não somente inclui a sua causa, mecanismo,
local, natureza da doença, mas também a confrontação entre o fator
patogênico e a resistência do corpo. O tratamento não se baseia somente
nos sintomas, mas na diferenciação das síndromes. Assim, pacientes
portadores de uma mesma patologia podem ser tratados escolhendo-se
pontos de acupuntura diferentes; e pacientes portadores de patologias
diferentes podem ser tratados com o mesmo grupo de pontos de
acupuntura. O diagnóstico clínico no tratamento na MCT baseia-se
principalmente nas teorias do yin-yang e dos cinco elementos. Essas
teorias são aplicadas aos fenômenos e leis da natureza no estudo das
atividades fisiológicas e mudanças patológicas no corpo humano e suas
inter-relações.
Uma terapia típica da MTC inclui a acupuntura, fitoterapia e
exercícios de chi gong. Com a acupuntura, o tratamento é acompanhado
pelo estímulo de certas áreas do corpo externo. A fitoterapia age nos
órgãos zang-fu, enquanto o chi gong tenta restaurar a ordem do fluxo de
informações nessa rede de canais, favorecendo a circulação do Qi.
O que caracteriza a terapêutica tradicional chinesa é a sua unidade
ligada às grandes leis da Natureza que descrevem os fenômenos físicos
cíclicos que ocorrem no corpo humano em correspondência com os ciclos
do próprio Universo (Austregésilo, 1979). Essas leis incluem: 1. Circulação
no corpo da energia vital; 2. Existência de uma polaridade Yin-Yang em
todos os seres vivente; 3. Existência de projeções cutâneas dos órgãos
profundos; 4. Circulação de energia ao nível da pele sobre trajetórias
52
precisas, 5. Existência sobre essas trajetórias de pontos nos quais a
massagem, a pressão ou a introdução de objetos perfurantes elimina a
dor.
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa a energia vital (Chi) não
vem apenas dos alimentos que comemos. Ela também tem origem no
macrocosmo, vem dos nossos pais, da respiração, da alimentação e das
pessoas com as quais convivemos. Uma vez no corpo humano, essa
energia circula numa rede fechada que pode ser comparada aos fios que
envolvem um solenóide (Austregésilo, 1979), representada por 12 linhas
longitudinais e bilaterais simétricas ao eixo central-vertical, a saber: 1.
meridiano
do
coração,
2.
pulmão,
3.
circulação-sexo
(pericárdio,
sexualidade e circulação do sangue), 4. fígado, 5. rins, 6. baço-pâncreas,
7. intestino grosso, 8. intestino delgado, 9. triplo aquecedor (que
representa a respiração, a digestão e a regulação térmica), 10. estômago,
11. vesícula biliar, 12. bexiga.
Pode-se perceber, a partir desta análise, a visão holística e ecológica
da medicina tradicional chinesa. O corpo humano é um só e cada órgão
não é apenas uma parte deste todo que têm um metabolismo específico.
Ele integra-se numa ampla rede de distribuição energética num modelo de
circuito cibernético de autoregulação e controle (autopoiético) que são
indispensáveis para a manutenção do equilíbrio do todo, exatamente como
acontece nos ecossistemas naturais.
Nessa concepção holística, os ritmos de funcionamento dos órgãos
obedecem a lei dos cinco elementos (Figura 4), e as duas grandes leis: a
Lei da Geração, em que um elemento dá origem a outro elemento; por
transformação dizemos que cada elemento é “mãe” de seu próximo; e a Lei
da Dominância: cada elemento tem dominância sobre o elemento gerado,
ou em outras palavras, a “avó” (mãe da mãe), domina o neto (filho do
filho).
Na lei dos cinco elementos, madeira alimenta o fogo e controla a
terra, fogo gera terra e derrete o metal, terra gera o metal e barra a água,
metal alimenta a água e destrói madeira, água alimenta a madeira e apaga
53
fogo (Figura 4). Mais uma vez vemos aqui uma grande semelhança com as
interações que acontecem na natureza, usadas pelos chineses para
explicar o funcionamento dos órgãos, sua harmonia e interações. O calor
fornecido pelo sol (fogo), a umidade fornecida pela água, a terra como
base, e o oxigênio (metal), constituem o “caldeirão” para fazer a vida
germinar, até mesmo literalmente falando, no caso de, por exemplo, uma
semente.
Terra
Figura 4. Os cinco elementos da Medicina Tradicional Chinesa (lei de geração, e a
lei da dominância). Fogo gera a terra, a terra gera o metal, o metal gera a água, a
água alimenta a madeira, a madeira alimenta o fogo.
Esses cinco elementos constituem a matéria prima do mundo
material, e existe uma interdependência e um controle recíproco entre
eles, sendo isso que permite a manutenção do seu estado de contínuo
movimento e mudança. A teoria dos cinco elementos explica a relação de
geração, dominância, contradominânica, e neutralização entre si. A
utilização destes princípios dentro da medicina chinesa consiste na
classificação dos fenômenos naturais, órgãos e tecidos, e emoções
humanas, em categorias diferentes. Além disso, essa teoria aplica-se
54
também na interpretação entre a fisiologia e fisiopatologia do corpo
humano, e o meio ambiente.
As teorias dos cinco elementos e do Yin-Yang representam modos de
enxergar a natureza, as duas, em última análise, refletindo a lei objetiva
das coisas naturais, obtendo um significado prático na explicação da
atividade homeostática e fisiopatológica do corpo humano, e dessa forma
orientando a prática na medicina chinesa.
A título de exemplo, citamos a fisiopatologia da esquistossomose
mansônica, cuja seqüência de manifestações obedece claramente a lei dos
cinco elementos em consonância com a harmonia yin-yang (Figura 5).
A HIPERTENSÃO
PORTAL CAUSA
INSUFICIÊNCIA
CARDÍACA
DIREITA.
SCHISTOSSOMA NA
VEIA PORTA
HEPATOMEGALIA
INSUFICIÊNCIA
CARDÍACA LEVA A
ESPLENOMEGALIA
Terra
ÓBITO
Água
GLOMERULONEFRITE
CRÔNICA
INSUFICIÊNCIA RENAL
PULMÃO TENTA
COMPENSAR
HIPERTENSÃO
PULMONAR
Figura 5. Fisiopatologia da Esquistossomose mansônica de acordo com a lei dos
cinco elementos.
O homem vive em um meio, e este meio é a natureza. As mudanças
climáticas e a geografia local influenciam o meio interno do organismo
55
humano,
equilibrando
ou
desequilibrando
funções
importantes,
dependendo das predisposições individuais. O homem depende do meio
ambiente e este também influencia na sua adaptação, de modo que existe
uma correspondência entre o homem o mundo natural. A partir desse
reconhecimento, a Medicina Tradicional Chinesa, conecta a patologia e a
fisiologia do corpo humano, aos fatores ambientais, e a partir dessa
conexão, faz uma classificação em cinco tipos, baseando-se nos cinco
elementos (Tabela 3).
Tabela 3 – Correlação dos cinco elementos com o corpo humano e com os
elementos da natureza
FOGO
TERRA
METAL
ÁGUA
MADEIRA
alegria
melancolia
tristeza
Medo
Raiva
coração
baço
pulmão
Rim
Fígado
tato
paladar
olfato
Audição
Visão
verão
canícula
outono
Inverno
primavera
vermelha
amarela
branca
Preta
Azul
Lá
Mi
Ré
Si
Dó
amargo
doce
picante
Salgado
ácido
calor
umidade
secura
Frio
Vento
riso
canto
soluço
Gemido
grito
frango
boi
cavalo
Porco
carneiro
Língua/fala
/vasos
suor
Tec.conjuntivo/ pele
lábios
saliva
muco
Osso/medula/
Cabelo
Esputo
tendões
manhã
canícula
tarde
Noite
madrugada
norte sul
centro
oeste
Norte
leste
lágrima
O conceito da alternância harmônica yin-yang é o mais antigo
conceito de polaridade conhecido, e é aplicado na visão da medicina
chinesa, na observação do ritmo alternante que existe na natureza, e
como parte dela, também no ser humano. O ciclo de noite e dia constitui
um dos ritmos biológicos mais importantes para os seres vivos,
desencadeando o estado de vigília/sono com repercussões profundas na
56
manutenção da saúde humana. Quando este ciclo é alterado podem surgir
graves distúrbios fisiológicos, podendo levar inclusive ao óbito.
Na época do imperador Fu shi (2852 a.C, criador do I Ching,
conforme diz a lenda) o mistério da compreensão plena do ciclo Yin/Yang
era restrito a uma elite. A maioria das pessoas não conseguia entender o
simbolismo existente no TAO, no Yin/Yang, no Tai Chi, nos oito trigramas
do Ba Gua, e nos 64 hexagramas do I Ching (o livro das Mutações).
Todo o simbolismo do I Ching pode ser visualizado na Figura x.
Subtende-se, pela analise dos elementos nela representados, que a partir
do Um inicial - o círculo vazio - surgiu o dois (Yin/Yang), representado
pelo símbolo do TAO, e em seguida, o dois deu origem aos quatro
trigramas. Fazendo uma analogia com o meio ambiente, os quatro
trigramas representariam as quatro estações do ano: verão, outono,
inverno, primavera; com as fases da divisão celular: a prófase, metáfase,
anáfase, e telófase; com os pontos cardeais: o norte, sul, leste, e oeste.
A Medicina Tradicional Chinesa fundamenta-se na teoria do yinyang e na teoria dos 5 elementos: fogo terra, metal, água, madeira. Onde
entraria então o 5º elemento, neste modelo apresentado na figura x?. Na
divisão celular, a quinta fase da mitose seria a fase de repouso, a
interfase, para em seguida recomeçar o ciclo; nos pontos cardeais, o 5º
elemento será o centro, que é ponto de referencia necessário para orientar
todos os outros pontos. Na origem da vida na terra é consenso que
existiam quatro substâncias básicas: metano, água, amônia, e hidrogênio.
Assim, o quinto elemento seria o fogo proveniente dos raios que
bombardeavam constantemente essa atmosfera. Nos livros de bioquímica,
lê-se que a partir de 8 gases primordiais é que surgiram todas as
biomoléculas que deram origem a vida (Campbell & Farrell, 2007).
Retornando aos quatro digramas, eles se combinaram entre si
(segundo o I Ching), e deram origem aos 8 trigramas (Ba Gua), e a partir
da combinação entre estes, surgiram os 64 hexagramas relatados nesse
livro. Em nosso modelo (Figura 6), procuramos relacionar os 64
hexagramas com os 64 códons do DNA, tomando como base as
57
concepções de Yan (1991). Quanto às estações, dividindo-se os 90 dias
pertinentes aos três meses de cada estação, termos 5 x 18 = 90 dias.
Figura 6. Modelo sintético da origem e evolução das “10.000 coisas do universo”,
conforme concebido no I Ching (Livro das Mutações) e relacionado com os
códigos genéticos.
Segundo a MTC, o período correspondente aos últimos 18 dias de
cada estação corresponderia a um período de repouso, onde em seguida,
teria início à estação seguinte. Surpreendentemente usando as palavras
do meu mestre Professor Sassi, vemos aqui, uma grande semelhança do
que acontece no microcosmo celular humano, a mitose celular: uma
58
interfase de repouso, como dita acima, porém, vislumbrada 2.500 anos a.
C. pelos sábios chineses.
Hoje, compreendemos melhor esses princípios, essa alternância que
se complementa, o Yin/Yang no universo. Desde a teoria do Big bang, que
os físicos usam para explicar a origem do universo, como tendo sido no
início, uma grande explosão (Yang), e depois de bilhões de anos, se
contrair num Big Crunch (Yin), a alternância entre luz/escuridão,
proporcionado pelo ritmo de rotação da Terra e de seu movimento de
translação em torno do sol; trazendo a explicação para o organismo
humano, observamos a sístole e a diástole cardíaca, a expiração e
inspiração pulmonar, os fatores da coagulação e os anticoagulantes no
sangue, o estado de vigília e de repouso (sono), a bomba de Na/K celular,
o
sistema
nervoso
simpático/parassimpático,
contração/relaxamento
muscular (permitindo funcionamento adequado do sistema locomotor),
mecanismo de biofeedback do sistema endócrino, etc.
Como exemplo, podemos citar os hormônios do Pâncreas, órgão que
na MTC é representado pelo elemento Terra, a saber:
a) A insulina, produzida pelo pâncreas, tem efeito hipoglicemiante
(YIN), favorece a penetração da glicose dentro a célula, favorece a formação
de glicogênio ao nível do fígado (Madeira), é anabolizante das proteínas, e
se opõe ao seu catabolismo, favorece a penetração celular de K, e a
retenção de H2O (YIN), favorece a estocagem de graxas, e é antilipolítico
(cor amarela/Terra – YIN).
O metabolismo da insulina é hiperglicemiante. Na hiperglicemia a
maioria dos aminoácidos, os parassimpaticomiméticos, estimulam a
secreção de insulina. Ao contrário, os corticóides, os simpaticomiméticos,
os parassimpaticolíticos, freiam a sua secreção. A maioria da insulina
liberada pelo pâncreas é captada pelo fígado e degradada durante sua
passagem (fígado é madeira e controla a terra, ou seja, o pâncreas).
b)
O
Glucagon,
secretado
pelo
pâncreas
(terra),
tem
efeito
hiperglicemiante (Yang). É de estrutura próxima do glucagon entérico que
é produzido dentro da mucosa intestinal, mas difere em efeitos biológicos.
59
Sua estrutura apresenta igualmente analogia com a secretina, peptídeo
que se forma dentro da mucosa duodenal e que estimula a secreção
pancreática e o fluxo biliar (Madeira). Estimula a glicogenólise hepática
(Madeira). Estimula a neoglicogênese. Favorece a lipólise do tecido adiposo
e é catabolisante das proteínas.
Com esses exemplos evidenciam-se que as funções fisiológicas da
insulina,
são
yang,
opostas,
porém
complementares,
das
funções
exercidas pelo glucagon (função yin em relação às funções da insulina).
Se prestarmos atenção, veremos que o conhecimento tradicional
chinês, conforme apresentado no I Ching, pode ser claramente encontrado
em muitos exemplos, quer seja nos ritmos da natureza, nas leis da física,
na origem da vida ou até mesmo na embriologia. Especificamente neste
último exemplo, encontramos uma grande semelhança entre a seqüência
binária dos trigramas do I Ching e as fases da divisão celular, a partir do
ovo fecundado na trompa (analogicamente seria o um inicial), que em
seguida divide-se em duas células, em quatro, oito, dezesseis, 32, até o 4º
dia, onde irá penetrar no útero, com aproximadamente 64 células (=64
hexagramas do I Ching, dos quais se originaram as “10 mil coisas”, ou,
numa forma analógica as “10 mil células do corpo humano”. Estes
aspectos da embriologia podem ser acompanhados na figura 7, onde se
podem ver os espermatozóides (yang) em ação, dos quais apenas um vai
fecundar o óvulo (yin), e na figura 8, onde o ovo fecundado se divide em 64
células até o 5º dia, quando ocorre sua implantação no útero.
Na MTC o entendimento do corpo humano é baseado num
entendimento holístico do universo como descrito no Taoísmo e o
tratamento é baseado primariamente no diagnóstico e diferenciação dos
sintomas. Os tecidos e os órgãos do corpo humano são conectados através
de uma rede de canais. O Qi (or Chi) atua de modo a conduzir informações
que são expressas através do sistema jingluo. Patologicamente uma
disfunção dos órgãos zang-fu podem refletir na superfície do corpo através
dessa rede de canais, e a doença pode afetar seus órgãos relacionados
zang ou fu. Esses órgãos uma vez afetados podem influenciar outros
60
órgãos, através das conexões internas. O tratamento da MCT inicia-se com
a análise de todo sistema, depois foca-se na correlação das mudanças
patológicas, através do reajuste das funções dos órgãos zang-fu.
Figura 7. Espermatozóides em ação (movimento = Yang), tentando penetrar o
óvulo (estático = yin).(Fonte: More & Persaud, 2004)
Figura 8 – observe a divisão celular a partir do ovo fecundado (o um inicial),
dando origem a duas células, depois a quatro, oito, 16, 32 e 64 (no 5º dia a partir
da fecundação), quando ocorre a implantação no útero. (Fonte: More & Persaud,
2004).
61
A avaliação do sintoma não somente inclui a sua causa, mecanismo,
local, natureza da doença, mas também a confrontação entre o fator
patogênico e a resistência do corpo. O tratamento não se baseia somente
nos sintomas, mas na diferenciação das síndromes. Assim, aqueles com
uma doença idêntica podem ser tratados de diferentes maneiras e por
outro lado, diferentes doenças podem resultar num mesmo sintoma e
serem tratadas de maneira similar.
O diagnóstico clínico do tratamento na MTC baseia-se principalmente
nas teorias do yin-yang e dos cinco elementos, bem como no exame do
pulso. Essas teorias são aplicadas aos fenômenos e leis da natureza no
estudo das atividades fisiológicas e mudanças patológicas no corpo
humano e suas inter-relações
No diagnóstico das doenças e desequilíbrios energéticos é possível
saber a causa da doença, além da parte do corpo em que ela se aloja
apenas através do exame dos pulsos. Aqueles que são hábeis nessa
técnica descobrem ou predizem com bastante exatidão todos os sintomas
de uma doença, visto que a essência da diagnose pulsológica abrange não
só o órgão, mas a totalidade da função que lhe é inerente.
O diagnóstico pelo pulso tem acima de tudo a importância de ser
também uma técnica preventiva da saúde, visto que através dessa técnica
é possível saber onde existem falhas nos órgãos antes que a doença se
instale.
Conforme se sabe pela MTC, forma-se o pulso a partir de forças yin
(fluxo do sangue, a onda sanguínea), e yang (as artérias, onde atua o
sistema neurovegetativo), e a partir do seu exame pode-se representar as
condições energéticas dos órgãos.
A referência mais antiga sobre o uso do pulso como método
diagnóstico encontra-se no livro sagrado dos chineses, o “Chou-King”,
editado em Paris, em 1770, onde se lê que Chin-Nong (3.106 a.C.) ordenou
a Tsiou Ho-Ki: “Anote por escrito tudo quanto diga respeito a cor do
doente, bem como tudo que se relaciona com o pulso, a fim de saber se os
seus movimentos são regulares e ordenados.Para este último propósito,
62
tateie o pulso e advirta o paciente, a fim de que, assim, se preste grande
serviço ao mundo, dando-se, aos homens, tão bom meio de conservar a
vida” (Sanchez, s/data).
O conhecimento chinês do exame do pulso expandiu-se para diversas
partes do mundo, particularmente através das rotas da seda. Os persas
cultivavam honradamente a medicina e eram conhecedores dos pulsos. Na
Turquia, foi encontrado em 1976, na biblioteca Suleymaniyé, na seção
“Aya Sofia”, em Istambul, sob o número 3596, cópia completa do texto do
Mo-Tsing, o clássico chinês do pulso, escrito por Wang-Chou-Ho (265317), elaborada no ano de 1313, por Rachid Fadlelah Hamadami. Na
Grécia, o conhecimento do pulso foi introduzido por Hipocrates (ca. 400
a.C.), o pai da medicina do ocidente. Galeno também estudou os pulsos,
descrevendo-os no seu “De Cresibus”. Outros autores, como Theophilos,
Aetius, Stephanus, também na Grécia, e Bernard de Condon, na Idade
Média, com sua tese, no sentido de que a interpretação dos pulsos
constitui a base de todos os exames médicos, bem como Tondelet, mestre
de Rabelais, que afirmava que: caso se pretenda explorar e estudar a força
vital, é necessário dirigir-se aos pulsos”. Mais recentemente, as técnicas
de diagnóstico pelo pulso foram estudados por R. B. Amber e A.M.Babey
Brooke, nos Estados Unidos, cuja obra por eles produzida, comparando as
formas de diagnóstico pelo pulso, como usadas no ocidente e no oriente,
tem um valor incontestável (Sanchez, s/data).
No clássico de Wang Shu He (210-285aC) identificam-se 24 tipos de
pulsos usados nas técnicas de diagnósticos, bem como comentários sobre
os melhores horários de exame do pulso, as zonas de atividade dos pulsos,
sobre o método de exame dos pulsos segundo a idade, estrutura corporal e
sexo, pulsos de acordo com as estações do ano, pulsos superficiais e
profundos, sobre as doenças dos órgãos, sobre os pulsos yin e pulsos
yang, sobre a vida e a plenitude, sobre os pulsos deletérios e terrificantes,
sobre os pulsos durante o período de incubação da doença, das doenças
na fase de melhora e das doenças difíceis, etc. (Van Nghi et al., 1992).
63
Conforme se encontra na obra de Wang-Chou-Ho (ou Wang Shu He,
segundo Van Nghi et al., 1992), a fim de estimar-se a influência da ação
terapêutica na harmonização do pulso há que se considerar os seguintes
aspectos:
a)- a disfunção de um órgão leva a modificação das propriedades
funcionais dos pontos, que lhe são correspondentes.
b)- o estímulo do ponto de acupuntura provoca uma modificação da
função do órgão, que lhe é correspondente.
c)- a inserção da agulha produz um estímulo periférico, que interessa
o sistema – neural e humoral – e desencadeia a interrupção do mecanismo
patógeno de resposta.
A tomada do pulso, muito precisa, demanda, sem dúvida, vários
anos
de
aperfeiçoamento.
A
técnica
pode
ser
assim
descrita
resumidamente:
- O médico sente os vasos com três dedos de ambas as mãos: o
indicador, o médio e o anular.
- Dentro de cada um dos três dedos, cada metade ou lado indica
algo diferente, perfazendo assim doze análises.
- Na mão direita, a face externa do dedo indicador (com a palma
voltada para o médico) analisa o coração; a face interna analisa os
intestinos. A face externa do dedo médio examina o baço; a face interna
interpreta o estômago. A face externa do dedo anular analisa o rim
esquerdo; a face interna analisa a vesícula seminal ou o útero.
- Na mão esquerda, a face externa do dedo indicador examina os
pulmões; a face interna examina o intestino grosso. A face externa do dedo
médio analisa o fígado; a face interna analisa a vesícula biliar. A face
externa do dedo anular interpreta o rim direito; a face interna analisa a
bexiga urinária.
No capítulo 72 do livro Ling Shu do Nei Ching, está a descrição dos
cinco tipos de homens segundo as características morfológicas e
psicológicas, porém ainda de forma incipiente, sem esclarecer e detalhar
melhor a fisiopatologia de cada tipo. Após a revolução cultural ocorrida na
64
China por Mao Tse Tung, muitos mestres tiveram que se exilar para não
morrer, levando consigo os conhecimentos da MTC que era geralmente
transmitido de pai para filho, ou de mestre para discípulo verbalmente.
Este acontecimento incrementou o surgimento das diversas escolas de
acupuntura:
japonesa,
francesa,
vietnamita,
coreana.
Uma
delas,
desenvolvida a partir da Coréia, diz respeito à técnica de determinação do
pulso constitucional, desenvolvida pelo Dr. Won Kwon em 1965, em Seul,
Coréia (Leel, s/data; Lee, 2002).
A localização do pulso constitucional difere do pulso utilizado
tradicionalmente
pela
MTC,
o
pulso
radial.
No
exame
do
pulso
constitucional, coloca-se o dedo indicador abaixo da base da apófise
estilóide do osso rádio, aproximadamente a uma distância de três
centímetros da prega do punho, colocando-se o dedo médio e anelar
subseqüentemente, cada um, contíguo ao outro. O dedo polegar é fixado
no dorso do antebraço, na região ulnar. Para analisar o pulso da mão
direita do paciente, o médico utiliza a sua mão esquerda; para analisar o
pulso da mão esquerda do paciente, o médico deve utilizar a sua mão
direita.
Além da diferença da tomada de pulso entre pulsologia radial e
constitucional quanto à localização, existe outra, quanto à profundidade
da pressão exercida pelo médico na apreensão da artéria radial: a maneira
correta de se pegar o pulso constitucional é pressionar a artéria radial na
localização supracitada, até, quase a ausência total da sensação dos
batimentos cardíacos. Mas na verdade, mesmo sob esta pressão, não
ocorre o total abolimento dos batimentos. O médico deve observar (pelo
tato), à medida que vai diminuindo a pressão exercida pelos seus dedos
sobre a artéria radial, em que polpa digital o batimento do pulso será
sentido primeiro. A partir de então, interpretará os resultados. Quando a
primeira pulsação for sentida no dedo anelar em ambos os lados, o
diagnóstico do pulso é do Tipo Constitucional (IV; o contrário do tipo II);
quando for sentido no dedo anelar da mão esquerda e no dedo médio da
mão direita, será do Tipo Constitucional (I; significando excesso de energia
65
no pulmão, e baixa do fígado); quando a pulsação for sentida no dedo
médio de ambos os lados, o diagnóstico será do Tipo Constitucional (III; o
contrário do tipo I); e quando a pulsação for sentida no dedo indicador da
mão esquerda e no dedo médio da mão direita, o Tipo Constitucional será
(II; excesso de energia no coração, e baixa no rim).
Apesar do estudo da pulsologia chinesa remontar há mais de cinco
mil anos, o estudo das tipologias de acordo com o capítulo 72 do Ling Shu
(Nei
Ching,
2500
a.c.),
utilizando
a
pulsologia
constitucional
foi
desenvolvido pelo Dr.Won Kwon em 1965, em Seul, Coréia (LEE, 2002). A
pulsologia constitucional foi introduzida no Brasil pelo Dr. Eu Won Lee,
em São Paulo, SP. Em 1985 esse ensinamento nos foi repassado pelo
Professor Lee, resultando nessa dissertação de mestrado.
Foi com base no capítulo 72 do Ling Shu do Nei Ching, conforme
descrito em LEE (2002), que o Dr Won Kwon desenvolveu a técnica do
pulso constitucional conforme exposto acima.
Representamos abaixo o
referido capítulo 72, onde vamos encontrar num diálogo entre o imperador
Huang Ti e médico da corte Chi Po, a descrição morfológica e psicológica
dos cinco tipos constitucionais de pessoas.
Imperador Houang Ti – Ouvi dizer que o homem é classificado em Yin e
Yang. O que é o homem tipo Yin, e o Tipo Yang?
Chi Po – No universo, todos os elementos da natureza podem ser
analisados e classificados pela teoria dos Cinco Elementos; o homem
também não faz exceção; ele não é analisado simplesmente só pela
classificação em Yin/Yang, pois, do ponto de vista Yin/Yang, é simples
demais.
Houang Ti – Gostaria que você me esclarecesse de modo simples
exemplificando os casos de mestres antigos, se suas inteligências eram
superiores ou se eles possuíam equilíbrio Yin/Yang e não teriam nenhuma
anormalidade?
66
Chi Po – O homem pode ser classificado em cinco tipos: Tai Yin, Shao Yin,
Tai Yang, Shao Yang, e o Yin/Yang equilibrado. Eles se diferenciam entre si
em aspectos psíquicos e por seus comportamentos.
Houang Ti – Poderia me explicar as características de cada tipo?
Chi Po – A pessoa do tipo Tai Yin é muito cobiçadora e maldosa, mas
aparentemente parece ser humilde e correta; de coração astuto, não, não
mostra sua verdadeira personalidade, é egoísta e irresponsável. Eis as
características do homem tipo Tai Yin. O tipo Shao Yin gosta de bens de
terceiros, é desonesto, sente-se satisfeito quando vê o sofrimento alheio e
fica irritado quando vê o sucesso do outro; não tem caridade, tem inveja. A
do tipo Tai Yang é exibicionista, se orgulha e sonha alto, mesmo se sua
capacidade for limitada, indisciplinada e grosseira. Sua autoconfiança
excessiva leva-a a falência, e ainda assim, não se corrige. A do tipo Shao
Yang é minuciosa e presunçosa, e gosta de divulgar se tiver qualquer
sucesso, por menor que seja; é comunicativa, não gosta de ficar no
anonimato. É trabalhadora. A pessoa que tem equilíbrio Yin/Yang possui
uma vida tranqüila e livre. Não se preocupa com a fama e a riqueza. Sua
mente é calma, sem preocupações. Tem poucos desejos e sem emoções
excessivas, obedece às regras da natureza, e não discute com ninguém.
Quando obtém sucesso ou autoridade, permanece humilde. Tem boa
capacidade administrativa, conversa com as pessoas com a razão, não
reprova com violência. Estas são as características do tipo equilibrado
Yin/Yang. Os bons médicos acupuntores antigos tratavam as doenças de
acordo com essas classificações, eliminando o excesso de energia
“perversa”, e tonificando a energia deficiente.
Houang Ti – Como podem ser tratadas as doenças de acordo com esses
cinco tipos de pessoas?
Chi Po – A pessoa do tipo Tai Yin tem excesso de Yin e está sem Yang em
seu físico. Seu Yin-sangue está turvo e concentrado, e sua energia de
defesa está estagnada por causa desse desequilíbrio entre o Yin/Yang,
tendo pele espessa e tendões frágeis; para tratar esses casos, deve-se
eliminar rapidamente o componente Yin. A do tipo Shao Yin possui Yin
67
abundante e pouco Yang, seu estômago é pequeno, o intestino é grande e
assim, provoca desarmonia, e, conseqüentemente a energia do meridiano
Yang-Ming do Estômago fica enfraquecido, e tem energia do meridiano Tai
Yang abundante. Por isso, deve-se observar bem este desequilíbrio da
Bexiga para tratá-lo. A do tipo Tai Yang possui mais energia Yang, e pouco
Yin, devendo-se tomar muito cuidado para tratar destes casos. Evite
suprimir a energia Yin, só diminua o componente Yang, porém, não o faça
em excesso. Caso por ventura ocorrer uma eliminação excessiva de energia
Yang, o paciente enlouquecerá; se ocorrer a perda total de Yin/Yang, o
paciente morrerá abruptamente, ou perderá totalmente a consciência. A do
tipo Shao Yang possui a energia Yang abundante e pouca energia Yin. Seus
ramos colaterais de meridianos são grandes, e os meridianos são pequenos;
assim, o sangue se esconde na profundidade dos tecidos e a energia fica na
superfície. Como este caso tem muito Yang e pouco Yin, deve-se tonificar o
Yin, e sedar o excesso de energia Yang.
Houang Ti – É difícil reconhecer a personalidade da pessoa de cada tipo, e
classificá-las?
Chi Po – As pessoas normais não possuem as características destes cinco
tipos, portanto “as 25 pessoas de Yin/Yang não são incluídas nesta
classificação” (Ling Shu Cap.64).
Houang Ti – Como podemos distinguir as diferenças aparentes destes
cinco tipos de pessoas?
Chi Po – A pessoa do tipo Tai Yin tem uma fisionomia escura, com falta de
humildade. Seu corpo é grande, comprido, e curvado para frente; suas
pernas são tortas. A pessoa de Shao Yin tem aparência fina e elegante,
porém atormentado pelo espírito; faz coisas às escondidas e é astuto e de
coração venenoso; quando de pé fica inquieto, e quando anda, inclina o
corpo reto ligeiramente inclinado para trás com o peito à mostra, e com
pernas curvas. A pessoa Shao Yang costuma levantar bem a cabeça,
estender o corpo para trás, balançar o ombro quando anda, freqüentemente
dobra os braços com os cotovelos descobertos. A pessoa de equilíbrio
Yin/Yang apresenta-se natural, com seriedade na expressão; seus
68
movimentos são fixos e elegantes; boa personalidade, se adapta bem ao
ambiente; disciplinado e amigável com os outros, tem olhar suave. É
trabalhador, correto e ordenado. É respeitado e elogiado pelas pessoas.
Estas são as características de pessoas do tipo equilíbrio Yin/Yang.
No universo, segundo a MTC, todas as coisas estão interconectadas,
por isso, as mudanças que acontecem internamente no ser humano,
provocando o surgimento de patologias, podem apresentar sinais e
sintomas que se manifestam externamente, na superfície do corpo. Foi por
conta desta percepção que outras importantes formas de diagnóstico,
como o exame da língua e da mão foram incorporados na MTC.
A partir dessa premissa, os chineses estudaram as linhas e sinais
nas mãos, no intuito de correlacioná-las com patologias internas.
Observaram que as mudanças nas linhas das mãos além de revelarem
mudanças patológicas do organismo, também estão correlacionadas ao
DNA, às mudanças ambientais, e ao temperamento individual. (REID,
1993).
O organismo humano é um macrossistema no qual os subsistemas
estão todos inter-relacionados, interagindo uns com os outros. Assim
sendo, quando observamos a linhas das mãos e o surgimento e
desenvolvimento das patologias, a complementação diagnóstica através do
estudo da mão é de grande valia para a medicina de uma forma geral. Os
antigos nos deixaram dados sobre o estudo das linhas das mãos, mas
pelas limitações inerentes à época, muitas vezes cometeram erros, às
vezes confundindo medicina com superstição; mas de toda forma, estes
trabalhos, abriram caminhos para um estudo mais científico do assunto.
O Huang Ti Nei Ching (2500 a. C.), nos fala da relação entre as
mãos e os órgãos internos: “quando há calor nas mãos há calor nos órgãos
fu; quando existe frio nas palmas das mãos, também o há nos órgãos
zang”. No Ling Shu, capítulo sobre as formas de enfermidade relacionadas
com o aspecto, a energia, e os zang-fu, também encontramos: “Quando o
intestino delgado adoece, se o frio é forte, surge calor só nos ombros e
entre o dedo mínimo e o anelar”. Na dinastia Han do leste (25-220 a.C.), a
69
MTC progrediu bastante. No livro Lun Heng, escrito por Wang Chong (27 –
97) se lê: “Nunca falha o exame da vida de uma pessoa quando se estuda
os nós dos ossos e se observam os tecidos da pele”. Foi o primeiro a
deduzir que os nós e os corpos ósseos, estão relacionados com a vida.
(Chenxia,1995).
No século X, entre o final da dinastia Tang e começo da Song, Chen
Zhuan, famoso ermitão Taoísta, escreveu o Ma Yi Shen Xiang (Fisionomia
mágica de um taoísta em hábito de linho), onde ele descreve o estudo das
linhas das palmas das mãos. Durante a dinastia Song (960 – 1279), foi
acrescentado a essa obra muitos dados sobre o estudo das linhas das
mãos, e, embora esse livro contenha boa quantidade de superstições e
inverdades, seus registros sobre as linhas das mãos são consistentes.
Durante a dinastia Ming (1360 – 1644) era de praxe que os médicos
pediatras se valessem da análise das linhas do dedo indicador dos
pacientes como auxílio diagnóstico. Uma boa parte das obras publicadas
durante a dinastia Qing (1616 – 1911), o Xing Se Wai Zhen Jian Mo
(estudo Conciso da observação externa do aspecto e da cor), e o Si Zhen
Jue wei (Detalhes das quatro observações clínicas) versa sobre o método
de diagnóstico, porém, representam compilações de obras anteriores.
Apesar do uso desse método diagnóstico existir desde época remota na
China, há relato de que na Índia, foi encontrado numa cova dos
Brahmanes, livros de quiromancia datados de aproximadamente três mil
anos. (Chenxia,1995).
A técnica de estudo das linhas das mãos foi levada à Europa por
Alexandre o Grande; mas antes disso, o eminente filósofo grego Pitágoras
(VI a.C.), viajou para o oriente, onde estudou sua cultura, filosofia,
religião, e medicina, inclusive a quiromancia. Aristóteles assimilou
conhecimentos sobre este assunto, culminado com a publicação de um
livro. Entre os séculos V e XV, a igreja católica reprimiu com violência esse
tipo de estudo. Podemos afirmar que foi graças aos ciganos que estes
conhecimentos sobreviveram. (Chenxia, 1995).
70
Baseado na teoria dos cinco elementos, os chineses classificaram as
mãos em cinco tipos: terra, metal, água, madeira, e fogo. (Van Nghi, 1988)
Cada um destes tipos possui características diferentes das linhas
palmares, permitindo a obtenção de informações valiosas (Figura 9).
FOGO
MADEIRA
TERRA
METAL
ÁGUA
Figura 9. Os cinco tipos de mãos constitucionais, de acordo com os cinco
elementos. Cortesia do Dr. Wo Tou Kuang, SP.
A título de exemplos, podemos analisar a linha da vida, conforme
representado abaixo nas figuras 10 a 13, e tomando como base as
concepções relacionadas ao assunto, apresentadas por: Chenxia (1995).
Relacionam-se, nestes exemplos, a proporção da linha da vida com a
vitalidade das pessoas, com elementos da Medicina Tradicional Chinesa e
com deficiências que podem acometer órgãos internos.
71
Figura 10. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a
predisposição inata à patologias relacionadas com o elemento madeira e terra. a)
quando a linha da vida começa mais próximo ao indicador há uma probabilidade
maior de surgir patologias do fígado e vesícula biliar, como por exemplo,
coleciste; quando a linha inicia-se mais próximo ao polegar, há maior
probabilidade de se ter patologias no estômago e intestinos. 10.b) quando a linha
da vida inicia-se no 1/3 médio entre o polegar e indicador, e se prolonga até a
prega do punho, passando pela linha reta que passa no meio da mão, vindo do
dedo médio até o meio do 1/3 distal do antebraço, próximo aos tendões flexores
palmar do carpo, indica que seu portador possui boa vitalidade e resistência
física.
Figura 11. Representação esquemática da linha da vida mostrando a
predisposição inata a patologias relacionadas com o elemento metal. Quando
existir paralela e externamente a linha da vida uma linha menor como acima,
existe a probabilidade de disfunção intestinal, prisão de ventre ou diarréia.
Quando existir a presença de # ou estrela, pode sofrer de colite ou enterite.
72
Figura 12. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a
predisposição inata à patologias relacionadas com a vitalidade: a) quando área
entre a linha da vida e o polegar é pequena, indica uma tendência a baixa
vitalidade, e probabilidade de ter mau funcionamento do sistema digestivo, e
esterilidade. b) quando na extremidade da linha da vida existe a presença de
estrela, indica que fatores patogênicos e o organismo estão em luta ou que a
enfermidade é grave.
Figura 13. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a
predisposição inata à patologias relacionadas com a vitalidade: a) quando existe
ilha na ponta dessa linha como acima, indica que fatores patogênicos e o
organismo estão em luta, ou que a enfermidade é grave. b) quando a linha da
vida é muito curta, indica uma tendência a pouca vitalidade.
73
Com relação ao exame da língua, desde seus primórdios a MTC deu
a importância devida à inspeção do paciente quanto a sua aparência, bem
como,
a
observação
sobre
seu
comportamento,
considerando
as
manifestações dos sintomas e sinais externos, como sendo decorrente de
desequilíbrios internos. No Nei Ching Souen (2500 a. C.) encontramos
relatos como estes: “Quando o chi do yin terminal da perna (fígado) estiver
esgotado, os lábios ficam azulados e a língua enrola”; ou, “Quando o pulo
do Coração está duro e longo, a língua enrola para cima e o paciente não
consegue falar”, e mais essa, “Caso a língua esteja frouxa, houver
salivação e o doente estiver com irritabilidade, escolha para tratamento o
shao yin da perna (meridiano do Rim)”.
Inscrições feitas em ossos (1066 a.C.), da dinastia Shang relatam o
uso da inspeção da língua como método de diagnóstico (Maciocia, 2003).
No período dos estados combatentes (403 – 221 a.C.) houve um grande
desenvolvimento da MTC, apesar de ser uma época politicamente instável.
Nesse momento da MTC, ocorreu uma maior sistematização dos seus
métodos de diagnósticos, inclusive do exame da língua. No método de
diagnóstico através da língua é preciso considerar-se o fator luminosidade,
visto que ela exerce influência sobre a tonalidade das cores da língua,
devendo-se assim proceder-se o exame sob condições de luz natural.
Finalizando esta fundamentação referente à Medicina Tradicional
Chinesa, podemos afirmar que a base teórica aqui apresentada mostra-se,
a nosso ver, suficientemente robusta para indicar que não se deve
menosprezar esse conhecimento milenar sobre as formas de diagnóstico e
tratamento, e de compreensão da natureza pelos chineses, só porque
convivemos com uma ciência formal solidamente estabelecida e com
sistemas
médicos,
profundamente
dependentes
do
conhecimento
científico, tecnológico, e altamente especializada e reducionista. Afinal, a
medicina tradicional chinesa na sua essência, foi suficientemente
competente e poderosa para prevenir doenças, manter a saúde do seu
povo, permitindo que 1/4 da população mundial atual fossem chineses, e,
mesmo sem a rigidez de uma ciência formal, os chineses são, talvez, a
74
única civilização milenar que se manteve íntegra, quando todas as outras
com as quais conviveram em tempos remotos desmoronaram. Ainda,
Podemos afirmar sem exagero que, apesar do progresso tecnológico
homem ainda vive num estado de
ignorância no que tange ao
autoconhecimento e aos segredos da sua existência. Desde seu início, o
desenvolvimento humano vem oscilando entre o conhecimento da ciência
e a superstição, e por conta disso, muitas vezes erra na luta travada em
favor da saúde.
75
4- Características Gerais da Área Estudada
Aqui, não temos apoio nem orientação técnica de ninguém. A
única presença que vez por outra aparece é do IBAMA, para
nos punir e proibir nosso trabalho, que é nosso sustento
(Plantador de tomate, açude Epitácio Pessoa, PB, 2007).
O açude Epitácio Pessoa (Figuras 14, 15), objeto deste estudo,
encontra-se
localizado
no
município
de
Boqueirão,
Paraíba,
na
mesorregião da Borborema, na microrregião do Cariri Paraibano, na bacia
Hidrográfica do rio Paraíba, a uma distância de aproximadamente 200 km
de João Pessoa, Capital do Estado. Situa-se entre as coordenadas 07º
28´4” e 07º 33´32” de longitude S e 36º 08´23” e 36º 16´51” de longitude
W. O mesmo faz parte da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba, formada pelo
Alto Paraíba e sub-bacia do rio Taperoá. O lago por ele formado, com 30
km de extensão, abrange uma área de 2.680 hectares. Sua bacia
hidrográfica cobre uma área de 12.410 km2 e sua extensão adentra os
municípios de Barra de São Miguel e Cabaceiras.
Figura 14 – Mapa do estado da Paraíba mostrando a localização do Açude
Epitácio Pessoa, Município de Campina Grande (Fonte: Secretaria Extraordinária
do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais – SEMARH/PB, 2008).
76
Figura 15 – Vista aérea do açude Epitácio Pessoa, na região da barragem,
evidenciando imensas áreas de agricultura irrigada em suas margens (Fonte:
DNOCS, 2008).
No ano de sua inauguração o açude Epitácio Pessoa tinha uma
capacidade de 535.680.000 m3, mas atualmente, conforme diagnóstico
ambiental realizado pelo DNOCS em 2005 verte com 411.686.287 m3.
Admite-se que, além do assoreamento, outros fatores, provocados,
sobretudo, por ação antrópica, têm contribuído para a diminuição do
volume do reservatório. Entre esses fatores, Costa (2006), considera: o
desmatamento da mata ciliar cuja presença funcionava como um filtro de
retenção de sedimentos transportados para os cursos d´água, sendo a
vegetação nativa quase totalmente substituída por culturas agrícolas e de
pastagens; o uso desordenado do solo ao longo da bacia hidrografia; a
construção de moradias nas ilhas e nas margens do açude, e, ainda, a
77
irrigação agrícola, que utiliza métodos inadequados que consomem mais
que o necessário, gerando grandes desperdícios de água.
A Mesorregião da Borborema é um importante compartimento
geomorfológico do Nordeste brasileiro, situada entre o Sertão e o Agreste,
ou seja, no centro do estado da Paraíba, no planalto da Borborema.
O clima regional caracteriza-se por elevadas temperaturas, médias
anuais em torno de 25°C, fracas amplitudes térmicas anuais, chuvas
escassas, irregulares e concentradas no tempo, o que provoca fortes
déficits hídricos (Duque, 1985). É aqui que ocorrem os menores índices
pluviométricos do Estado. Associada a pouca pluviosidade (média anual
inferior a 400 mm) com até nove meses de estiagem durante o ano;
somam-se fortes limitações em relação a solos salgados e/ou pouco
espessos e pedregosos, que repercutem diretamente na atividade agrícola
e sobre a ocupação humana, pois essa microrregião, apesar de ter sido
povoada a bastante tempo, possui os mais baixos índices de densidade
populacional da Paraíba. Portanto, é uma região ímpar, pois ao mesmo
tempo em que há limitações do meio, coexiste a fragilidade na economia
regional, baixa densidade da população, rios temporários concentrados
durante o período das chuvas associado à presença de solos sensíveis a
erosão e a salinização. Com um clima muito seco com baixa umidade
relativa do ar, lembra o deserto, com dias muito quentes e noites mais
frias. Esse tipo de clima pode ser considerado como árido.
Tomando como base a interpretação das informações contidas nas
imagens de satélite (Figura 16), Franco et al (2007) identificam cinco
classes de ocupação da terra na região, que foram mapeadas por eles em
diferentes cores: 1. Área de vegetação natural pouco explorada (vermelho);
2. Área com vegetação rala e solo exposto (mostarda); 3. Área de vegetação
natural (caatinga) preservada (amarelo); 4. Área de exploração agrícola e
com culturas irrigadas (verde claro) e 5. Área com vegetação dispersa e
rala, apresentando solo exposto (verde oliva) (Figura 17).
Como se vê, a área ocupada por agricultura irrigada expande-se por
grandes extensões ao longo de praticamente toda a margem do açude.
78
Segundo esses autores, os principais fatores que tem contribuído para
acelerar o processo de degradação ambiental da área e intensificar a
erosão, incluem: manejo inadequado do solo, utilização de água com altos
teores de sais e sistemas de irrigação superficial por gravidade e uso
indiscriminado de fertilizantes e agrotóxicos, associados às condições
climáticas adversas.
Figura 16. Imagem do satélite LANDSAT 5 do açude Epitácio Pessoa, BoqueirãoPB. (Fonte: Franco et al., 2007), evidenciando áreas com e sem vegetação,
diferentes tipos de vegetação e identificação de rodovias e áreas urbanas (Banda
3), e a diferenciação dos corpos de água, estrutura da vegetação e características
de relevo (Banda 4).
79
Figura 17. Classes de ocupação da terra no entorno do açude Epitácio Pessoa,
Boqueirão-PB (Fonte: Franco et al., 2007).
A aparência geral da vegetação que margeia o açude mostra um
elevado nível de degradação, com imensas áreas de solos expostos,
denotando claramente práticas de manejo inadequadas para uma área de
tão
elevada
fragilidade
pluviométricos (Figura 18).
ambiental
decorrente
de
baixos
níveis
80
A
C
B
D
Figura 18. Vista geral da vegetação que margeia o açude Epitácio Pessoa,
evidenciando imensas áreas de solos expostos decorrentes da degradação da
Caatinga e manejo inadequado do solo. Manchas verdes evidenciam zonas onde
se pratica agricultura irrigada (Fotos a, b: retiradas de Franco et al., 2007; fotos
c,d: Ricardo Arruda, fevereiro, 2008).
Na década de 1960, quando o açude Epitácio Pessoa foi concluído,
os agricultores locais iniciaram uma nova agricultura baseada no processo
de irrigação, cujos produtos, destinados ao comércio local, incluíam o
feijão, o repolho, o pimentão, banana, e principalmente o tomate (Figura
19). A plantação desses produtos alavancou a produção agrícola local,
atraindo várias pessoas para a área, oriundas de municípios vizinhos,
para dedicarem-se à atividade agrícola nas margens do açude. Hoje, esses
cultivares formam um imenso cinturão verde às margens do açude,
criando um forte contraste com a vegetação da caatinga em épocas de
seca, estendendo-se por vários quilômetros em 6 comunidades:
81
Figura 19 – Vista geral de diferentes cultivares desenvolvidos às margens do
açude Epitácio Pessoa, PB, evidenciados durante as visitas por ocasião dos
trabalhos de campo (Fotografia: Ricardo Arruda, 2008).
De acordo com Melo (1985), e também Moreira & Targino (1997),
entre os anos de 1970 e 1980 o cultivo do tomate em torno do açude
representava a cultura de maior relevância, fato este que continua
ocorrendo atualmente.
A quantidade de tomate produzido em torno do açude Epitácio
Pessoa, baseada em processo de irrigação, tem variado entre 5417 ton, no
ano de 1970, até um máximo de 59.200 toneladas entre 1981 e 1985,
declinando para 6750 toneladas entre 1996 e 2000 e chegando a 1580
toneladas entre 2001 e 2004 (Figura 20).
82
70000
59200
60000
toneladas
50000
43489
40000
28600
30000
24480
20000
10000
5417
7250
6750
1580
0
1970
71-75
76-80
81-85
86-90
91-95
96-2000 2001-04
Anos
Figura 20 – Produção de tomates nas margens do açude Epitácio Pessoa no
período de 1970 a 2004 (Fonte: IBGE. Produção agrícola municipal. 1970-2004).
As áreas de plantação de tomate ocorrem nas unidades produtivas
que correspondem às áreas de arrendatários, cujos lotes, conforme já
comentado anteriormente, variam desde 00 (terras de vazante) até 30
hectares. O processo produtivo utiliza irrigação do tipo superficial, ou
seja, baseada em sistemas de sulcos por gravidade e inundações em faixas
laterais, com elevados níveis de perda de água (Oliveira, 2007). Segundo
este autor, esta prática também é utilizada para o cultivo de pimentão,
feijão, banana, maracujá e repolho, entre outros.
No processo de irrigação por gravidade a água corre por sulcos
infiltrando-se no solo à medida que escoa ao longo dos mesmos, os quais
precisam ter um declive suave para possibilitar vazões entre 0,2 e 2,0
litros/h. Mas tal sistema é altamente ineficiente visto que utiliza uma
grande quantidade de água com grande desperdício (Winthers e Vipond,
1987).
Além do preparo do terreno, que inclui a limpeza (desmatamento),
destoca e queima, revolvimento do solo, preparação dos sulcos, etc., os
83
agricultores de tomate das margens do açude Epitácio Pessoa também
constroem viveiros de mudas de tomate em sementeiras próximas do local
de plantio definitivo (canteiros com 1 m a 1,20 m de largura por 20 m de
comprimento e altura de 20 a 30 cm), misturando cerca de 4 a 5 kg de
esterco de curral curtido por metro quadrado, e somente quando as
mudas possuírem de 4 a 5 folhas é que eles fazem o plantio definitivo nas
covas, nos terrenos que foram preparados (Oliveira, 2007).
Os tratos culturais incluem a desbrota ou “desfolha”, que consiste
em retirar o primeiro broto, deixando os demais; a amarração em estacas
ou em arames; o revolvimento do solo; irrigação com moto-bombas elétrica
ou a óleo-diesel; adubação química, que é efetuada logo na adubação de
cobertura (primeira adubação) e à medida que a planta se desenvolve (a
cada 20 ou 25 dias), baseada principalmente na aplicação de Sulfato de
Amônia (400 kg/ha) e Cloreto de Potássio (200 kg/ha), além de uma outra
adubação com Sulfato de Amônia, Superfosfato Simples e Sulfato de
Potássio, distribuídos ao redor das covas; limpeza do mato (capina) e o
controle de doenças (Oliveira, 2007).
As doenças comuns aos tomateiros, segundo Oliveira (op. Cit),
incluem o
Talo-oco
(provocado por Erwinia spp), que
provoca o
murchamento das folhas e morte da planta, a parte interna do caule
apodrece, as folhas ficam com folhas escuras e os frutos com ferimento
podem
apodrecer;
a
Broca-pequena
(provocada
por
Neoleucinodes
elegantalis), que ataca a partir do florescimento dos tomateiros. As larvas
crescem dentro do tomate, comendo a polpa e abrindo galerias, sendo que
os frutos atacados não são bons para o consumo; a Larva-minadora
(Liriomyza spp), também conhecida como mosca-branca pelos plantadores
de tomate da região, que ataca as culturas ainda jovens, formando minas
em forma de serpentina nas folhas, sendo que as mosca adultas atingem
cerca de 2 mm de comprimento. Para o combate dessas pragas, o referido
autor comenta que são utilizados vários tipos de agrotóxicos, que incluem:
Tamarão (Tamaron), Ditano, Falisuper, além da tradicional formicida,
empregada no combate às formigas.
84
5.- Metodologia
Nenhum vento é bom para quem não sabe para onde ir
(Aristóteles).
A pesquisa procurou avaliar as conseqüências da utilização de
agrotóxicos na saúde dos agricultores irrigantes do açude Epitácio Pessoa,
através de exames laboratoriais e anamnese, e como suporte a esses
resultados,
foram
considerados,
ainda,
aspectos
do
cotidiano
dos
trabalhadores rurais que vivem nas margens do açude, o que foi feito
através de pesquisa de campo desenvolvida em diferentes visitas
realizadas à área, ao longo do ano de 2007 e início de 2008.
O critério de seleção das pessoas a serem pesquisados foi aleatório
entre os agricultores, considerando-se, entretanto, como condição prévia,
apenas os plantadores de tomate e pimentão. Divulgou-se junto à rádio
comunitário, no sindicato dos trabalhadores rurais, vereadores e viceprefeito, no hospital Policlínica da Prefeitura Municipal, bem como junto
ao comércio local da comunidade de Sangradouro, que esses exames
seriam gratuitos e que seriam importantes para avaliar o estado de saúde
da população e a partir daí prevenir patologias mais graves.
As coletas foram realizadas aos sábados no ambulatório da
Policlínica do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de
Boqueirão. Os trabalhadores afluíram voluntariamente ao chamado,
primeiramente porque consideraram a importância da proposta, e
também, porque a maioria já haviam sido meus pacientes da década de
90, quando trabalhei como médico do município de Boqueirão.
No total foram estudados 147 agricultores, sendo 127 homens e 20
mulheres. Em todos esses sujeitos foram realizados mineralogramas do
cabelo. Em 96 desses indivíduos (76 homens e 20 mulheres) foram
realizados anamnese e exames de sangue e urina, bem como aplicação de
questionários semi-estruturado (anexo) e realização de entrevistas livres. A
85
diferença no valor do N justifica-se pelo fato de que nem todos quiseram
submeter-se à coleta de sangue.
As entrevistas tiveram o intuito de avaliar o cotidiano dessas
pessoas, considerando tanto a práticas laborais que utilizam bem como
seu modo de vida e sobre os principais tipos de agrotóxicos usados. Nesta
parte, a pesquisa foi suplementada pelo uso de documentação fotográfica.
Os exames de sangue foram realizados pelo Laboratório Maurílio de
Almeida, João Pessoa, usando procedimentos de rotina e incluíram as
variáveis: Uréia, Creatinina, Glicemia, Fosfatase alcalina, GGT, TGO, TGP;
Fator Rh, CD4%, CD4 Total, CD8 %, CD8 Total, CD4/CD8, Colinesterase
plasmática,
Colinesterase
eritrocitária,
Hemácias,
Hemoglobina,
Hematócrito, Leucócitos, Linfócitos, Eosinófilos e Plaquetas; Bilirrubina
direta, Bilirrubina Indireta, Bilirrubina Total e Linfócitos. As coletas de
amostras sangue foram efetuadas no mês de maio de 2007.
Os
mineralogramas
do
cabelo
foram
realizados
parte
no
Laboratório do Dr Vandique, em João Pessoa e parte no laboratório da
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e incluíram as
seguintes variáveis: Ag, Al, As, Au, B, Ba, Be, Bi, Ca, Cd, Co, Cr, Cu, Fe,
Ge, Hg, I, K, Li, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, P, Pb, Pd, S, Sb, Sc, Se, Sn, Sr, Ti,
Th, U, V, W, Zr e Zn. As coletas foram efetuadas em cinco visitas
efetuadas à área de estudos, nos meses abril e maio de 2007. Do total
pesquisado 15% foram excluídos da pesquisa por terem feito uso de
tintura de cabelo nos últimos 3 meses, pois os metais presentes nessas
tinturas poderiam mascarar os resultados dos mineralogramas.
Nas mesmas ocasiões das coletas de amostras de sangue e cabelo
também foram realizadas as anamneses e feitas entrevistas com os
agricultores, registrando-se para cada um, suas queixas (sintomas), e
realizando-se exames do pulso, da língua, e da mão, de acordo com os
métodos de diagnose da Medicina Tradicional Chinesa. A pesquisa foi
complementada por tomadas de fotografias da língua e da mão. As
aplicações dos questionários contaram com a ajuda de três funcionárias
86
da Policlínica do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Boqueirão, e
técnico em Medicina Tradicional Chinesa, da Universidade Federal da
Paraíba, Sr. Wilson Lopes de Oliveira.
Nas análises das mãos demos ênfase ao estudo de uma única linha
palmar, a da vida, visto que, segundo os textos de quiromancia, e
conforme Chenxia (1993), ela nos informa sobre a vitalidade do
organismo. Neste estudo procuramos correlacionar os aspectos da linha
dessa linha com a sintomatologia apresentada pelos agricultores que tem
contato com agrotóxicos, conforme detectado nas anamneses e nos
resultados dos exames laboratoriais.
Ainda, realizamos análises de agrotóxicos em amostras de peixe
Hoplias malabaricus (traíra) do açude Epitácio Pessoa, e de tomates,
adquiridos no mercado público do município de Boqueirão, bem como
foram coletadas amostras de tomate exatamente no momento da colheita,
ocasião em que eram feitas pulverizações do fungicida sistêmico Cercobin
700 (Classe IV), em toda plantação, imediatamente antes do carregamento
do produto para o transporte. Esses exames foram realizados no
laboratório de referência do ITEP/LABTOX (Instituto de Tecnologia de
Pernambuco/Laboratório de Toxicologia).
Para uniformizar os dados obtidos foram empregados testes
estatísticos estabelecidos por Sokal & Rolf (1983). A homocedasticidade
das variâncias de todos os parâmetros obtidos foi confirmada usando o
teste de Levine. O Teste-t de Student foi aplicado para comparar as
diferenças nas variáveis de sangue e dos mineralogramas entre os
indivíduos de pulso II e de pulso IV. A análise de correlação de Pearson foi
aplicada entre as variáveis estudadas (sangue e mineralogramas) com
Todos os cálculos foram efetuados empregando-se o pacote Statistica 6.0
com nível de significância de 95%.
Neste trabalho levamos em consideração as observâncias éticas
contempladas na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde,
principalmente no que diz respeito ao consentimento livre e esclarecido
dos participantes do estudo.
87
88
6.- Resultados
“Ao término de um período de decadência sobrevêm o ponto de
mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há
movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é
natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação
do antigo torna-se fácil. O velho é descartado e o novo é
introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo,
não resultando daí, portanto, nenhum dano” (I Ching,
Hexagrama 24).
6.1- Aspectos do cotidiano dos agricultores irrigantes do açude
Epitácio Pessoa no que concerne ao uso de agrotóxicos.
A maioria (90%) dos trabalhadores que praticam a agricultura
irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, PB, que foram investigados
nesta pesquisa, é natural do município de Boqueirão, denotando, com
isso, que tradicionalmente eles se dedicam a esse tipo agricultura há
muito tempo. Um grande percentual (43,66%) deles consome bebidas
alcoólicas usualmente, e um grande número (42,25%) é fumante.
Conforme se constatou pelas entrevistas realizadas com esses
trabalhadores, eles ingerem frequentemente proteína de origem animal,
particularmente gado bovino, peixe e aves (Figura 21), apesar de se ter
constatado que a maioria (60%), faz uso desses tipos de proteína com
freqüência de até 2 vezes por semana apenas (Figura 22).
10%
22%
45%
vaca
ave
peixe
porco
23%
Figura 21. Percentagem da população de homens e mulheres que trabalham na
agricultura irrigada do Açude Epitácio Pessoa, PB, que incorpora em sua
alimentação diária algum tipo de proteína animal. Dados obtidos em 2007.
89
40%
60%
até 2 vezes
>3 vezes
Figura 22. Freqüência semanal de ingestão de proteína animal pelos
trabalhadores rurais (homens e mulheres) do Açude Epitácio Pessoa, PB. Dados
obtidos em 2007.
Um total de 25 tipos comerciais de agrotóxicos foram inventariados
nesta pesquisa, como sendo de uso comum entre os trabalhadores que
praticam a agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, os
quais se acham distribuídos em 12 grupos químicos distintos, e
enquadrados nas classes toxicológicas I, II, III e IV (Tabela 4).
Tabela 4. Principais tipos de agrotóxicos usados pelos plantadores de tomate e
pimentão no entorno do açude Epitácio Pessoa, Município de Boqueirão\PB,
conforme dados levantados em 2007.
GRUPO QUÍMICO
PIRETROIDES
CARBAMATOS
NITROGUANIDINA
ORGANOFOSFORADOS
NOME COMERCIAL
Barytróide CE
Sumidan 25 CE
Karate 50 CE
Decis
Cartap BR 500
Lannate BR
Confidor
Elsan
Folidol
Nemacur
Stron
Tamaron BR
Folysuper
Nuvacron
CLASSE TOXICOLÓGICA
I
I
II
III
I
I
IV
I
I
I
I
I
IV
90
ORGANOFOSFORADOS
+ PIRETRÓIDE
CÚPRICO
ENXOFRE
ACILURÉIA
CARBOXILATO
ALANIDATO + DITIO
CARBAMATO
DITIOCARBAMATO
Abamectin
Malathion 500 CE
Polytrin 400/40
III
II
Cupravit
Reconil
Kumulus - S
Microsol
Match
Meothrin 300
Ridomil Mancozeb BR
IV
IV
IV
IV
III
I
II
Dithane
Vertimec
II
III
Verificou-se, ainda, a partir dos dados obtidos com as entrevistas,
que eles adquirem livremente e muito facilmente os produtos que utilizam
na agricultura (fertilizantes químicos e agrotóxicos) no mercado local e
cidades como Campina Grande e João Pessoa, de forma livre, visto que
não há exigências do receituário agronômico, conforme prevê a legislação
atual.
Alguns
trabalhadores
relataram
que
quando
são
emitidos
receituários estes já estão disponíveis nos próprios estabelecimentos que
vendem
os
produtos,
sendo
previamente
assinados
pelo
técnico
responsável.
Conforme nos informaram, as dosagens e a periodicidade de
aplicações dos venenos são baseadas nas informações prestadas pelos
próprios vendedores dos produtos, que não tem formação específica nem
para receitar e nem para informar adequadamente os riscos potenciais aos
quais os trabalhadores são submetidos ao manipularem esses produtos.
Usualmente eles colocam veneno acima do que é necessário, e a
periodicidade de aplicação baseia-se na rotina à qual eles já se
acostumaram. Um dos trabalhadores entrevistados afirmou: “A gente
coloca veneno nos pés de tomate a cada três dias, até o dia da colheita que
é com 90 dias, então, a gente coloca veneno em cada pé, do dia da
plantação até o dia da colheita, 30 vezes. Mas quando o mesmo pé de
tomate bota flor em dias diferentes, então a gente repete a aplicação de
veneno”.
91
Se a compra dos agrotóxicos é de livre acesso, os cuidados com o
manuseio e guarda das embalagens deixam a desejar. Muitos dos
agricultores entrevistados alegaram que guardam os produtos em áreas
externas
(depósitos),
geralmente
situados
nas
proximidades
das
plantações. Mas não foram raras as situações em que se verificou que os
agricultores guardavam as embalagens dentro da própria casa, muitas
vezes
próximo
de
alimentos,
sementes,
crianças
e
água
potável.
Usualmente colocam os frascos ou caixas desses produtos em sacos
plásticos amarrados nos caibros do telhado, às vezes inclusive na cozinha.
No preparo da calda os agricultores seguem as recomendações dos
vendedores, mas muitos quase sempre colocam um pouco a mais para dar
“maior fortidão ao produto”, conforme alegaram. Ainda, vale ressaltar que
em muitos casos as formulações empregadas não são indicadas para a
cultura
tratada,
particularmente
quando
mais
de
um
produto
é
simultaneamente usado, compondo coquetéis que incluem inseticidas
junto com fungicidas e às vezes formicidas. O preparo é feito ao ar livre,
geralmente na própria plantação, mas os cuidados com o manuseio não
são adequados e pode haver contaminação tanto do próprio trabalhador
como do solo (Figura 23). Durante as aplicações dos agrotóxicos os
agricultores de Boqueirão preferem os horários mais quentes do dia,
quando o correto seria aplicar os produtos pela manha ou à tarde. Em
muitos casos, evidenciou-se ausência de utilização de EPI bem como falta
de cuidado durante o preparo da calda, além de vestimenta insuficiente,
conforme pode se observar nas figuras 23 e 24.
Ao questioná-los sobre a falta de cuidado com sua própria saúde,
particularmente quanto ao uso de Equipamento de Proteção Individual
(EPI), muitos disseram: “não uso porque não tenho”, ou “incomoda” ou “não
tem perigo não doutor, a gente ta acostumado, só arde um pouco os olhos e
dá um comixãozinho, mas depois logo passa”, ou, ainda: “toda vez que
chego da roça tomo um copo de leite pra cortar o efeito”, além de outras
falas muito parecidas suficientes para ilustrar que muitos deles não têm
consciência dos perigos que correm em longo prazo.
92
Figura 23. Agricultor preparando veneno para pulverização em plantação de
tomate às margens do Açude Boqueirão, PB (Fotografia Ricardo Arruda, Fevereiro
de 2008).
Figura 24. Agricultor pulverizando veneno em plantação de tomate nas margens
do Açude Boqueirão, PB, sem mascara e sem luvas (Fotografia: Ricardo Arruda,
fevereiro de 2008.
93
Um dos trabalhadores informou: “Eu trabalhava a noite, das quatro
da tarde até as dez da noite, pulverizando o veneno; antigamente não
usava máscara nem luvas, mas agora faz um ano que estou usando. O
patrão às vezes não quer comprar o material, mas agora a gente exige”. E
depois do alerta que fiz sobre os perigos que se corre por não utilizarem
equipamentos de proteção, outro disse: “Faz oito anos que trabalho nos
campos de tomate, inclusive pulverizando; não usava proteção, mas depois
do que o senhor me disse, vou usar”.
Os cuidados maiores que eles demonstram terem ocorrem com
aqueles agrotóxicos mais perigosos, os das tarjas vermelhas e amarelas
(Classes toxicológicas I e II), ou seja, aqueles da caveira. “Mata que deixa
só o osso”. Mas os que não têm a caveira, esses não fazem mal, “podem até
ser bebidos que não tem perigo. Dão é sustância!...”
A guarda dos agrotóxicos é feita geralmente em quartos externos das
moradias (Figura 25), em cujo local também é, por vezes, preparada a
calda. A justificativa dessa precaução é a de evitar acidentes por parte de
crianças, que sempre são curiosas, ou mesmo de desavisados.
Figura 25. Área externa anexa à moradia onde os agrotóxicos são guardados e a
calda é muitas vezes preparada (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008).
Como muitos trabalhadores têm o vicio do fumo, para estes a
situação de risco se agrava, particularmente quando fumam cigarros de
palha, visto que com as mãos sujas de veneno cortam o fumo e enrolam a
palha o que facilita a contaminação pela boca. Ainda, como se constatou
94
pelas entrevistas, muitos deles consomem bebidas alcoólicas, e o álcool
tem reconhecidamente um efeito potencializador da ação tóxica dos
agrotóxicos. Também falta higiene na hora da alimentação, visto que
muitos
agricultores
costumam
não
tomar
banho
ou
se
lavar
adequadamente após uma seção de pulverização.
Toda a área marginal de agricultura irrigada do açude Epitácio
Pessoa pode ser classificada como área de risco ambiental no que
concerne o uso de agrotóxicos. Os venenos usados na agricultura
inevitavelmente chegam ao manancial o que pode trazer riscos à vida
aquática e para animais que usam água do açude para beber. Por
extensão representam riscos à saúde humana de pessoas que utilizam
água do açude para abastecimento público. Ainda, é comum verificar-se
que muitos dos agricultores lavam as bombas de pulverização nas
proximidades do açude, e até mesmo descartam embalagens nas suas
margens, representando, esta prática, riscos ambientais adicionais. São
poucos os agricultores que dão um destino final adequado às embalagens;
alguns as queimam, outros as enterram e outros simplesmente jogam no
lixo; mas há aqueles que inclusive reaproveitam-nas.
Um fato curioso que chamou a atenção durante a pesquisa de
campo diz respeito ao destino final das sobras de tomates não são
comercializados, particularmente aqueles que amadurecem sem dar
tempo de vender, ou mesmo aqueles que estão podres.
O costume local em muitas comunidades visitadas é destinar esses
produtos à alimentação de galinhas, porcos, vacas, caprinos e ovinos, o
que é feito da forma como foram colhidos. Uma das entrevistadas afirmou:
“Toda tarde pego três balaios de tomates bem vermelhas que sobram dos
campos, e dou pras minhas galinhas. Elas me abastecem de carne e ovos
de capoeira, e ainda vendo o excedente”. Como não há lavagem é evidente
que esses animais acabam por se contaminar, o que é traduzido em risco
suplementar ao trabalhador rural local, visto que eles criam esses animais
usualmente para comer.
95
A dimensão desse perigo não é percebida por eles, que não só
comem esses animais, como os vendem quando necessário ou servem a
visitantes, como no nosso caso, quando estivemos na casa de uma
agricultora e antiga paciente minha da época em que era médico de
Boqueirão, e fomos convidados por ela a “comer uma galinha de capoeira”.
Também é comum que restaurantes locais, como os representados na
figura 26, ofereçam em seu cardápio galinha de capoeira comprada entre
os agricultores, além de peixes capturados no próprio açude. Neste caso o
consumo de galinhas de capoeira pode chegar a 400 refeições num final
de semana, conforme nos foi informado pela dona. Em alguns casos, os
próprios donos desses estabelecimentos informaram que criam suas
galinhas oferecendo a elas as sobras do que é usado no próprio
restaurante, além de tomates.
Figura 26. Restaurantes situados às margens do açude Boqueirão que
usualmente oferecem em seus cardápios galinhas de capoeira criadas na região.
Na última foto destacam-se em primeiro plano, galinhas mortas numa bacia,
esperando para serem consumidas e em segundo plano, do lado de fora da grade,
galinhas andando pelo terreiro.
96
Embora admitam que respeitem o período de carência desde a
última aplicação até a comercialização dos cultivares, que deve ser no
mínimo de 8 dias (ou de até 21 dias, como no caso do Tamaron BR,
indicado para nas culturas de pimentão), essa prática não condiz com a
realidade constatada. A questão econômica é superior a qualquer
preocupação com a saúde dos outros, e não há como perder uma safra
que já esteja amadurecendo no pé. Em uma das ocasiões, constatamos
pulverizações do fungicida sistêmico Cercobin 700, um agrotóxico classe
IV, exatamente no momento da colheita, inclusive com participação de
mão de obra infantil nesta atividade (Figura 27).
Figura 27. Pulverização de veneno, colheita e carregamento, inclusive com
participação de crianças nessa atividade (Fotografia: Ricardo Arruda, março de
2008).
97
A carga, neste caso, destinava-se a cidade de Cajazeiras, e as
crianças que trabalhavam na colheita e no transporte das caixas de
tomate até o caminhão usualmente comem tomates contaminados, do
jeito que são colhidos (Figura 28).
Figura 28. Criança comendo tomates contaminados com veneno no momento da
colheita e carregamento (Fotografia: Ricardo Arruda, março de 2008).
Da atividade da catação também participam mulheres, e conforme
elas relataram nas entrevistas, geralmente comem tomates enquanto
trabalham. Uma afirmou: “eu lavo o fruto antes de comê-lo na água que sai
dos canos de irrigação (proveniente do açude); mas têm muitas delas que
apenas limpam o tomate na roupa e comem”.
O trabalho das mulheres na catação é árduo, mas o ganho é pouco,
o que ficou bem claro nas falas dos entrevistados: “A gente trabalha pela
produção: cada caixa de tomate enchida pagam pra gente R$0,80(oitenta
centavos). Para carregar cada caixa até o caminhão, pagam mais R$1,00
(hum real). Dependendo se a plantação é grande ou pequena, e se os
tomates são grandes ou pequenos, a quantidade de caixas que a gente
enche num dia varia entre 10 a 40 caixas/dia. Mas não são todas as
mulheres que conseguem encher essa quantidade de caixas, somente as
mais fortes. A maioria só consegue encher por dia uma média de 10 caixas
de tomates”.
98
A grande maioria dos trabalhadores que praticam a agricultura
irrigada nas margens do Açude Epitácio Pessoa não tem a percepção de
que muitos dos sintomas que eles apresentam (cefaléia, tonturas, insônia,
náuseas, etc.) podem ser decorrentes do uso de agrotóxicos. Mas alguns
sabem que os problemas que sentem são do veneno.
Todas as comunidades visitadas são arrendatários que trabalham
com consentimento do DNOCS e muitos receberam suas terras desde que
o açude foi construído. Portanto, muitos são agricultores há mais de 30
anos, sendo possível que muitas de suas doenças estejam de fato
relacionadas com os agrotóxicos.
A falta de cuidados quer seja com o manuseio dos produtos, o
preparo da calda e o destino final das embalagens, ou ainda com os
tomates que vendem, comem ou dão para os animais que criam para
consumo podem estar associados ao quadro clínico observado entre
agricultores estudados, conforme detectado nos exames laboratoriais e na
anamnese. Alguns se utilizam das próprias embalagens de veneno para
armazenamento de água de beber.
Os riscos estão por toda parte, não há como negar este fato,
inclusive para a população distante que consome os produtos, que bebem
água do açude, ou mesmo que comem animais criados nas vizinhanças e
peixes. Os fatores de riscos não são, portanto, somente de natureza sócioculturais, visto que a maioria dos agricultores tem baixo nível de instrução
e se acostumaram ao uso desta pratica desde há muito tempo. Os fatores
são também técnicos e econômicos, portanto, são sistêmicos.
6.2- As condições de vida da população e a percepção dos riscos do
uso dos agrotóxicos para o meio ambiente e para a saúde humana.
As
comunidades
que
representam locais aprazíveis.
casas
são
de
alvenaria,
margeiam
o
açude
Epitácio
Pessoa
As vilas e vilarejos são simples, mas as
possuem
eletricidade
e
os
terrenos
dos
99
arrendatários usualmente são cercados. Mas a vegetação nativa nas
imediações
encontra-se
completamente
descaracterizada,
como
conseqüência da expansão da agricultura proporcionada pelas águas do
açude (Figura 29).
Figura 29. Vista geral das comunidades de agricultores às margens do açude
Boqueirão PB (a) e moradia isolada nas proximidades de uma extensa plantação
de banana (b). Em a nota-se, ao fundo, áreas cultivadas e caatinga
completamente empobrecida pela remoção da vegetação (Fotografia: Ricardo
Arruda, fevereiro de 2008).
A irrigação permite que áreas relativamente distantes das margens
do açude recebam água para os cultivares, como se nota na figura 15.
Mas além da água, o açude oferece também laser para pessoas de fora,
particularmente dono das ilhas onde são construídas belas casas (Figura
30).
100
Figura 30. Vista parcial do Açude Boqueirão, PB. Em primeiro plano, restaurante
à margem do açude; ao fundo, ilhas de laser com grandes moradias (Fotografia:
Ricardo Arruda, fevereiro de 2008).
O pescado também representa uma rica fonte de proteínas e de
subsistência de muitas famílias. A produção pesqueira do açude é
relativamente grande e os peixes são comercializados na feira local,
juntamente com outros produtos agrícolas produzidos na região, como o
pimentão
e
o
tomate
(Figura
31),
e
consumidos
pelos
próprios
trabalhadores e moradores das cidades vizinhas. E certamente os peixes,
particularmente os predadores de topo como o tucunaré e a traíra,
estejam contaminados com agrotóxicos, representando riscos adicionais à
saúde humana, que possivelmente não são percebidos pela população.
Usualmente os trabalhadores rurais não observam peixes mortos
boiando na água, presumindo-se desta maneira que a água é limpa e o
peixe também. Mas os efeitos dos agrotóxicos nos organismos aquáticos
nem sempre são imediatos a não ser que um grande derrame de veneno
ocorresse. Como os agricultores não percebem claramente a relação entre
uso dos agrotóxicos nos cultivares e o veneno no peixe, a conclusão que se
tira é a de que a dimensão do problema de contaminação ambiental numa
visão sistêmica não é de todo conhecida.
Figura 31. Comércio de hortigranjeiros e de peixes da região na feira local da
cidade de Boqueirão. (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008).
101
A maioria dos trabalhadores entrevistados também não percebe o
perigo que resulta do consumo de galinhas contaminadas, ou que a morte
de outros animais como sapos, pássaros e mamíferos nativos podem ser
conseqüência do consumo de insetos que receberam veneno.
Constatou-se, nas entrevistas efetuadas, que o perigo dos descartes
das embalagens para o ambiente, e depois para a própria saúde dos
trabalhadores, também não é percebido. Ainda, que muitos, senão a
maioria dos agricultores que utilizam veneno em suas práticas cotidianas,
desconhecem os riscos que correm ou os riscos que causam ao meio
ambiente e aos animais em geral, inclusive os animais domésticos, sejam
eles galinhas, ou animais de grande porte, como os cavalos.
Sem contar ainda que não existe na área uma assistência técnica
efetiva que crie expectativas quanto a possibilidades de mudanças da base
tecnológica de cultivo existente na área, e que poderia ser a agricultura
orgânica ou, preferencialmente a agricultura natural, com recuperação da
caatinga e da mata ciliar do açude. Segundo suas falas, muitos alegaram
que nunca receberam nenhuma visita técnica de nenhum órgão oficial
para orientá-los em suas práticas produtivas. “Aqui estamos entregues a
Deus. O único que aparece aqui de vez em quando é o IBAMA, mesmo assim
é pra punir, proibindo a irrigação”.
Todas essas observações demonstram o quanto é necessário o
desenvolvimento na área de um programa de educação ambiental,
incluindo nesse programa orientações sobre possíveis alternativas que
102
tragam melhoria de saúde do trabalhador e do meio ambiente, e que ao
mesmo tempo garantam o ganho necessário para a sua sobrevivência.
6.3- Resultados dos exames laboratoriais, anamnese e diagnósticos
clínicos segundo as técnicas da Medicina Tradicional Chinesa
Um total de 76 homens e 20 mulheres que trabalham na agricultura
irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa foram entrevistados nesta
pesquisa, dos quais (98,6%) trabalha com agrotóxicos e possuem idades
variando de 14 a 62 anos, predominando aqueles com idades entre 20 e
30 anos (Figura 32).
40
35
percentagem
30
25
20
15
10
5
0
<20
20-30
30-40
40-50
50-60
>60
classes de idade (anos)
Figura 32. Distribuição etária dos homens e mulheres que trabalham na
agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, PB, que foram
submetidos aos exames de sangue, mineralogramas do cabelo, anamnese e
exames clínicos segundo as técnicas da Medicina Tradicional Chinesa no ano de
2007.
Os
exames
de
sangue
efetuados
nos
homens
evidenciaram
alterações nas seguintes variáveis: creatinina, fosfatase alcalina, CGT,
103
CD4%, CD8%, CD8 total, CD4/CD8, leucócitos, linfócitos, eosinófilos e
bilirrubinas indiretas e totais. Os maiores percentuais de pessoas com
valores acima dos limites de referência foram observados para CD4/CD8
(13%), eosinófilos (28,6%), bilirrubina indireta (26%) e bilirrubinas totais
(19,5%). Já os maiores percentuais de pessoas com valores abaixo dos
limites de referência foram constatados para creatinina (28,6%), CGT
(23,4%), CD4% (14,3%), CD8 (22,1%), CD8 total (16,9%), leucócitos
(11,7%) e linfócitos (28,6%) (Tabela 5).
Tabela 5. Percentagem da população de homens agricultores do Açude Epitácio
Pessoa, PB, cujos resultados dos exames de sangue são normais ou estão fora
dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de
exames efetuados em 2007.
Variável
Uréia
Creatinina
Glicemia
Fosf.alcalina
GGT
TGO
TGP
CD4 %
CD4 Total
CD8 %
CD8 Total
CD4/CD8
Colin/plas.
Colin/eritro
Hemace
Hemoglob
Hemtcto
Leucocito
linfocito
eosinófilo
Plaquetas
Bilirru dire
Bb Indiret
Bb Total
% Normal
100,00
71,43
98,60
90,91
67,53
98,70
97,40
84,42
90,91
75,32
80,52
79,22
94,85
98,70
94,81
96,11
94,81
80,52
66,23
68,83
94,81
89,57
70,13
76,62
% acima dos
limites de
referência
0,00
0,00
1,40
9,09
9,09
0,00
2,60
0,00
0,00
1,30
1,30
12,99
0,00
0,00
2,60
0,00
1,30
5,19
2,60
28,57
0,00
10,39
25,97
19,48
% abaixo dos
limites de
referência
0,00
28,57
0,00
0,00
23,38
1,30
0,00
14,29
7,79
22,08
16,88
6,49
3,89
0,00
0,00
3,89
1,30
11,69
28,57
0,00
2,60
0,00
0,00
0,00
Não
determinado
1,30
1,30
1,30
1,30
1,30
1,26
1,30
2,60
2,60
2,60
2,60
2,60
2,60
3,89
3,90
3,90
104
Para as mulheres, foram evidenciadas alterações em: creatinina,
glicemia, fosfatase alcalina, CD8%, CD8 total, CD4/CD8, leucócitos,
linfócitos, eosinófilos e bilirrubinas indiretas e totais. Os maiores
percentuais com valores acima dos limites de referência foram observados
para CD4/CD8 (30%), leucócitos, bilirrubina indireta (15%), Glicemia
(10%), fosfatase alcalina (10%) e bilirrubina total (10%). Já os maiores
percentuais
com
valores
abaixo
dos
limites
de
referência
foram
constatados linfócitos (35%), CD8% (30%) e CD8 total (20%) e creatinina
(10%) (Tabela 6). Como se vê pelos dados, as mulheres apresentaram
alterações num maior número de variáveis.
Tabela 6. Percentagem da população de mulheres agricultoras do Açude Epitácio
Pessoa, PB, cujos resultados dos exames de sangue são normais ou estão fora
dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de
exames efetuados em 2007.
Variável
Uréia
Creatinina
Glicemia
Fosf.alcalina
GGT
TGO
TGP
CD4 %
CD4 Total
CD8 %
CD8 Total
CD4/CD8
Colin/plas.
Colin/eritro
Hemace
Hemoglob
Hemtcto
Leucocito
linfocito
eosinófilo
Plaquetas
Bilirru dire
Bb Indiret
Bb Total
% Normal
100,00
90,00
90,00
90,00
95,00
95,00
100,00
95,00
95,00
70,00
80,00
70,00
100,00
100,00
100,00
100,00
100,00
85,00
55,00
75,00
90,00
95,0
80,00
85,00
% acima dos
limites de
referência
0,00
0,00
10,00
10,00
5,00
5,00
0,00
5,00
5,00
0,00
0,00
30,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
10,00
5,00
20,00
5,00
0,00
15,00
10,00
% abaixo dos
limites de
referência
0,00
10,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
30,00
20,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
35,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
Não
determinado
5,00
5,00
5,00
5,00
5,00
5,00
5,00
105
Comparando-se os gêneros quanto aos percentuais de normalidade,
constata-se que os homens apresentam maiores problemas em reação à
creatinina, GGT e bilirrubinas, enquanto que nas mulheres os maiores
problemas ocorrem em CD8%, CD4/CD8, hematócrito e linfócito (Tabela.
7).
Tabela 7. Comparação dos percentuais de normalidade das variáveis investigadas
nos exames de sangue das pessoas que trabalham na agricultura irrigada do
Açude Epitácio Pessoa, PB, quanto aos sexos, conforme dados obtidos em 2007.
Variável
Uréia
Creatinina
Glicemia
Fosf.alcalina
GGT
TGO
TGP
CD4 %
CD4 Total
CD8 %
CD8 Total
CD4/CD8
Colin/plas.
Colin/eritro
Hemace
Hemoglob
Hemtcto
Leucocito
linfocito
eosinófilo
Plaquetas
Bilirru dire
Bb Indiret
Bb Total
% Homens
100,00
71,43
98,60
90,91
67,53
98,70
97,40
84,42
90,91
75,32
80,52
79,22
94,85
98,70
94,81
96,11
94,81
80,52
66,23
68,83
94,81
89,57
70,13
76,62
% Mulheres
100,00
90,00
90,00
90,00
95,00
95,00
100,00
95,00
95,00
70,00
80,00
70,00
100,00
100,00
95,00
95,00
75,00
85,00
55,00
75,00
90,00
95,0
80,00
85,00
Comparando-se os sexos quanto aos valores que estão abaixo dos
limites de normalidade, evidencia-se que os homens apresentam taxas
mais baixas de creatinina, GGT, CD4 e leucócitos do que as mulheres, e
106
nestas, as taxas mais baixas em relação aos homens foram observadas em
CD8%, hematócrito e linfócitos (Tabela 8).
Tabela 8. Comparação entre sexos quanto às variáveis que estão abaixo dos
limites de normalidade para cada variável medida, conforme resultados de
exames de sangue efetuados nos agricultores do Açude Boqueirão, PB, no ano de
2007.
Variáveis
Uréia
Creatinina
Glicemia
Fosf.alcalina
GGT
TGO
TGP
CD4 %
CD4 Total
CD8 %
CD8 Total
CD4/CD8
Colin/plas.
Colin/eritro
Hemace
Hemoglob
Hemtcto
Leucocito
Linfocito
eosinófilo
Plaquetas
Bilirru dire
Bb Indiret
Bb Total
%
Homens
0,00
28,57
0,00
0,00
23,38
1,30
0,00
14,29
7,79
22,08
16,88
6,49
0,00
0,00
0,00
0,00
1,30
11,69
28,57
0,00
2,60
0,00
0,00
0,00
%
Mulheres
0,00
10,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
30,00
20,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
10,00
0,00
35,00
0,00
0,00
0,00
0,00
0,00
Comparando-se os sexos quanto aos valores que estão acima dos
limites de normalidade, evidencia-se que os homens apresentam taxas
mais elevadas de GGT, eosinófilos e bilirrubinas do que as mulheres, e
nestas, as taxas mais elevadas em relação aos homens foram observadas
em Glicemia, CD4/CD8, hematócritos e leucócitos (Tabela 9).
107
Tabela 9. Comparação entre sexos quanto às variáveis que estão acima dos
limites de normalidade para cada variável medida, conforme resultados de
exames de sangue efetuados nos agricultores do Açude Boqueirão, PB, no ano de
2007.
Variáveis
Uréia
Creatinina
Glicemia
Fosf.alcalina
GGT
TGO
TGP
CD4 %
CD4 Total
CD8 %
CD8 Total
CD4/CD8
Colin/plas.
Colin/eritro
Hemace
Hemoglob
Hemtcto
Leucocito
Linfocito
eosinófilo
Plaquetas
Bilirru dire
Bb Indiret
Bb Total
%
Homens
0,00
0,00
1,40
9,09
9,09
0,00
2,60
0,00
0,00
1,30
1,30
12,99
0,00
0,00
2,60
100,00
1,30
5,19
2,60
28,57
0,00
9,09
25,97
19,48
%
Mulheres
0,00
0,00
10,00
10,00
5,00
5,00
0,00
5,00
5,00
0,00
0,00
30,00
0,00
0,00
0,00
0,00
10,00
10,00
5,00
20,00
5,00
0,00
15,00
10,00
As análises dos grupos sanguíneos efetuadas nos trabalhadores rurais
do açude Epitácio Pessoa em 2007 evidenciaram que a maioria dos
homens apresenta sangue tipo O (48%), seguido pelo tipo A (37%) (Figura
33a), enquanto que nas mulheres predomina sangue tos tipos A (47%) e O
(42%) (Figura 33b).
108
a
37%
tipo A
tipo AB
48%
tipo B
tipo O
8%
7%
b
tipo A
42%
47%
tipo B
tipo AB
tipo O
0%
11%
Figura 33. Percentagens dos diferentes tipos de grupos sanguíneos de acordo
com o sexo (a=homens; b= mulheres), nos agricultoras do açude Epitácio Pessoa,
PB conforme pesquisa de campo realizada em 2007.
Do total de homens e mulheres entrevistados, 85% afirmaram que
nunca fizeram uso de tintura de cabelo, contra 15% deles que afirmaram
terem usado esses produtos, nos últimos 3 meses (Figura 34). Esses
dados são importantes, visto que os resultados dos exames de cabelo
poderiam ser mascarados por metais existentes nesses preparados.
109
15%
85%
sim
não
Figura 34. Percentagem dos agricultores (homens e mulheres) que trabalham na
agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, PB, entrevistados em 2007 que
fizeram uso de tintura para cabelo nos últimos 3 meses que antecederam a coleta
de cabelo para os mineralogramas.
Os mineralogramas do cabelo efetuados nos homens que trabalham
na agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, Boqueirão,
evidenciaram alterações nas seguintes variáveis: Al., Ba, Be, Cr, Fe, I, K,
Mn, Pb, Sb, Sr, Th e U, cujos valores estão acima dos limites de referência
para estas variáveis, e Cd e Mo, cujos valores estão abaixo dos limites de
referência para estas variáveis. Os maiores percentuais foram observados
para Fe (86,87%), Mn (82,83%) e Al (69,70%), além de K (47,47%) e Cr
(46,46%) para as variáveis com valores acima dos limites de referência, e
Mo (37,37%) para os valores abaixo desses limites (Tabela 9).
Para as mulheres, os resultados dos mineralogramas do escalpo
mostraram alterações para Ag, Al., Ba, Be, Bi, Cr, Fe, I, K, Mg, Mn, Pb, Pd,
Sb, Sn, Sr e Th, cujos valores estão acima dos limites de referência para
estas variáveis, e Mo, P, Pd, S e Zn, cujos valores estão abaixo desses
limites. Os maiores percentuais foram observados para Fé (91,67%), Ba
(70,83%), Al (66,67%), e I (58,3%), alem de K (41,67%) e Sr (41,67%) para
as variáveis com valores acima dos limites de referência, e Zn (83,33%) e S
(41,67%) para os valores abaixo desses limites (Tabela 10).
110
Tabela 9. Percentagem da população de homens agricultores do Açude
Boqueirão, PB, cujos resultados dos mineralogramas do cabelo são normais ou
estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme
resultados de exames efetuados em 2007.
Variável
Ag
Al
As
Au
B
Ba
Be
Bi
Ca
Cd
Co
Cr
Cu
Fe
Ge
Hg
I
K
Li
Mg
Mn
Mo
Na
Ni
P
Pb
Pd
S
Sb
Se
Sn
Sr
Th
U
V
Zn
% com
valores
normais
92,93
30,30
96,97
29,27
19,19
63,64
51,52
54,55
83,84
79,80
98,99
53,54
98,99
13,13
100,00
89,90
21,43
100,00
88,89
17,17
59,60
84,21
97,98
100,00
75,76
100,0
100,00
67,68
100,00
95,96
87,88
30,95
66,66
95,96
15,15
% com valores
acima do limite
de referência
7,07
69,70
%com valores
abaixo do limite
de referência
Não
determinados
3,03
70,73
80,81
36,36
27,27
5,05
21,21
40,40
16,16
20,20
1,01
46,46
1,01
86,87
6,06
85,37
78,57
7,07
82,83
4,04
14,63
4,04
37,37
3,03
15,79
2,02
24,24
16,16
26,26
4,04
12,12
23,81
33,33
4,04
3,03
42,86
81,82
111
Tabela 10. Percentagem da população de mulheres agricultoras do Açude
Boqueirão, PB, cujos resultados dos mineralogramas do escalpo são normais ou
estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme
resultados de exames efetuados em 2007. Os casos mais expressivos encontramse em destaque.
Variável
Ag
Al
As
Au
B
Ba
Be
Bi
Ca
Cd
Co
Cr
Cu
Fe
Ge
Hg
I
K
Li
Mg
Mn
Mo
Na
Ni
P
Pb
Pd
S
Sb
Se
Sn
Sr
Th
U
V
Zn
% com
valores
normais
79,17
33,33
100,00
100,00
12,50
29,17
45,83
45,83
87,50
87,50
95,83
75,00
91,67
8,33
100,0
91,67
28,57
100,00
70,83
20,83
79,17
50,00
95,83
60,00
66,67
62,50
100,00
70,83
58,33
10,00
80,00
95,83
12,50
% com valores
acima do limite
de referência
20,83
66,67
%com valores
abaixo do limite Não
de referência
determinados
87,50
70,83
29,17
20,83
4,17
25,00
0,19
8,33
12,50
4,17
25,00
8,33
91,67
4,17
100,00
71,43
4,17
29,17
79,17
16,67
8,33
4,17
4,17
41,67
40,00
33,33
40,00
60,00
100,00
37,50
29,17
41,67
60,00
20,00
4,17
4,17
30,00
83,33
No geral, tanto homens como mulheres apresentaram alterações nas
mesmas variáveis, muito embora em alguns casos fossem mais evidentes
nos primeiros: Au, Cr, I, Mo, Pd e S e nas últimas: Ag, Ba, Be, Bi, P e Sr,
112
enquanto que Pd e S mostraram alterações exclusivamente em homens
(Tabela 11).
Tabela 11. Comparação entre sexos quanto às variáveis dos mineralogramas
cujos resultados estão dentro dos limites de normalidade, conforme resultados
dos exames efetuados nos agricultores do Açude Boqueirão, PB, no ano de 2007.
Destaques em cinza indica prevalência nos dois sexos e em amarelo em apenas
um dos sexos.
Variável
Ag
Al
As
Au
B
Ba
Be
Bi
Ca
Cd
Co
Cr
Cu
Fe
Ge
Hg
I
K
Li
Mg
Mn
Mo
Na
Ni
P
Pb
Pd
S
Sb
Se
Sn
Sr
Th
U
V
Zn
Homens (%)
92,93
30,30
96,97
29,27
19,19
63,64
51,52
54,55
83,84
79,80
98,99
53,54
98,99
13,13
100,00
89,90
Mulheres (&)
79,17
33,33
100,00
100,00
12,50
29,17
45,83
45,83
87,50
87,50
95,83
75,00
91,67
8,33
100,0
91,67
21,43
100,00
88,89
17,17
59,60
84,21
97,98
100,00
75,76
100,0
100,0
67,68
100,00
95,96
87,88
30,95
66,66
95,96
15,15
28,57
100,00
70,83
20,83
79,17
50,00
95,83
60,00
66,67
0,00
0,00
62,50
100,00
70,83
58,33
10,00
80,00
95,83
12,50
Os levantamentos dos dados relacionados com a incidência de
câncer no município de Boqueirão demonstraram que nos últimos 14 anos
113
(1993-2007) foram registrados 84 óbitos por CA, conforme dados
levantados junto a Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba e junto ao
cartório de registro do município de Boqueirão, sendo que dos 23 óbitos
registrados nesse cartório, 22 (95,65%) eram agricultores (Tabela 12).
Tabela 12. Quantidades de óbitos por câncer no município de Boqueirão no
período de 1993 a 2007.
Períodos
investigados
1993 -1996
Quantidades de
óbitos por
câncer
22
1997-2005
2005-2007
41
21
Fontes de consulta
Cartório de registro do
município de Boqueirão
SS-PB
SS-PB
As maiores incidências foram para os casos de câncer de fígado,
seguidas por brônquios/pulmão, próstata, e estômago, além do expressivo
caso de neoplasias não especificadas (Tabela 13). Chama a atenção,
entretanto, o elevado número de câncer nos órgãos relacionados com o
elemento água, de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa: ossos,
útero, próstata, aparelho urinário e cérebro, que em seu conjunto
totalizaram 20 (23,80%) casos de câncer, e os casos de câncer de
fígado/vias biliares, que de acordo com a MTC se relacionam com o
elemento madeira, totalizando 10 casos (11,90%).
Entretanto, os dados das entrevistas realizadas com os agricultores,
podem indicar que esses números estejam subestimados, haja vista, que
um dos agricultores relatou: “Na minha família oito primos faleceram de
câncer, três de CA de útero, e quatro homens de CA de próstata, garganta e
boca. Todos trabalhavam nos campos de tomate”.
114
Tabela 13. Principais incidências de neoplasias malignas no município de
Boqueirão no período de 1993 a 2007.
Neoplasias malignas
Base da língua
Assoalho da boca
Esôfago
Brônquios e pulmões
Estômago
Reto
Intestino
Fígado/vias biliares intrahepática
Aparelho digestivo (mal definida)
Laringe
Ossos/cartilagens das articulações dos membros
Ossos/cartilagens das articulações/Outros locais e
NE
Pele
Mama
Útero porção NE
Próstata
Outros órgãos urinários e NE
Encéfalo
Glândula tireóide
Outra localização e mal definidas
Sem especificação de localização
Outra localização e mal definida do aparelho
respiratório org intrat
Carcinoma in situ de outra localização e das NE
Leucemia de tipo celular NE
TOTAL
N de casos
1
1
3
8
6
1
2
10
3
5
1
2
2
4
3
8
2
4
1
4
10
1
1
1
84
De fato, foi expressivamente alto (acima de 70%) o percentual de
pessoas (homens e mulheres) que responderam que têm ou que já tiveram
algum membro da família com câncer (Figura 35a), muito embora entre os
próprios entrevistados a quantidade de pessoas que afirmou que tem ou
teve algum tipo de câncer foi baixa (apenas 1%) (Figura 35b).
115
a
b
1%
21%
27%
72%
sim
não
79%
sim
não respondeu
não
Figura 35. Percentagem dos agricultores (homens e mulheres) que trabalham na
agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, PB, entrevistados em 2007 e que
responderam às questões quanto à: (a) se tem ou já teve algum tipo de câncer e
(b) se te ou teve alguma pessoa da família com câncer.
A análise do pulso segundo a técnica da medicina tradicional chinesa
(Pulso Constitucional), realizado com os agricultores do açude Boqueirão,
evidenciou que 76% das mulheres examinadas apresentaram pulso do
tipo 2 (Figura 36) enquanto que nos homens o pulso predominante foi o
do tipo 4 (Figura 37).
12%
0%
12%
Pulso 1
Pulso 2
Pulso 3
Pulso 4
76%
Figura 36. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional, nas
mulheres agricultoras do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme pesquisa de
campo realizada em 2007.
116
2%
10%
Pulso 1
22%
Pulso 2
Pulso 3
Pulso 4
66%
Figura 37. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional, dos
homens agricultores do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme pesquisa de campo
realizada em 2007.
Os exames das mãos (Figuras 38 a,b) evidenciaram que todos os
sujeitos portadores do pulso tipo IV apresentaram a linha da vida
semelhante, mostrando-se nítida, profunda, contínua e longa, indo desde
o 1/3 médio entre o polegar e o indicador até a prega do punho,
tangenciando uma linha virtual que passa no meio da mão, vindo do dedo
médio até o meio do 1/3 distal do antebraço, próximo aos tendões flexores
palmar do carpo, indicando, essa característica, que seu portador tem boa
vitalidade e resistência física. Nos portadores de pulso tipos II a linha da
vida apresentou-se menos curta do que nos do tipo IV, e descontínua.
Os exames da língua evidenciaram quatro tipos de língua, com
prevalência nos homens as línguas pálidas, aumentadas de volume e com
marcas dos dentes nos bordos (Figura x), e nas mulheres, as línguas de
coloração vermelha e/ou vermelho-escuro, pontos vermelho na ponta da
língua e lisa (Figura 4).
117
a
b
a
Figura 38 – Linha da vida que predominou nos pulsos dos tipos II (a) e IV (b),
conforme dados levantados em 2007, nos agricultores do açude Epitácio Pessoa,
PB.
a
b
Figura 39 – Línguas que predominaram nos agricultores com pulso tipo II
(a) e tipo IV (b), conforme dados levantados em 2007, no açude Epitácio
Pessoa, PB.
Os exames de agrotóxicos realizados no exemplar do peixe Hoplias
malabaricus (Bloch, 1794) do açude Epitácio Pessoa, e nas amostras de
tomate provenientes das plantações existentes nas margens do referido
açude, realizados no Laboratório de Toxicologia do ITEP (LABTOX/ITEP),
surpreendentemente não indicaram a presença de nenhum composto, a
não ser nas amostras de tomate colhidas exatamente no momento da
pulverização do veneno, em que se constatou a presença de um
118
organofosforado, porém em concentrações abaixo do limite de referência
(Tabela 14).
Tabela 14. Resultados dos exames de agrotóxicos em Hoplias malabaricus
(Bloch, 1794) do açude Epitácio Pessoa, e em tomates provenientes das margens
desse mesmo açude, realizados no Laboratório de Toxicologia do ITEP, em março
de 2008.
Material examinado
Peixe (H. malabaricus)
Tomate adquirido no
mercado local,
produzido nas
margens do açude
Tomate colhido no
momento da
pulverização com
fungicida
Qtde
2000 g
3000 g
Agrotóxicos
encontrados
ausente
ausente
3000 g
Ciclofól
Qtde
Limite de
detectada referência
0,05 ppm
0,01 ppm
As anamneses evidenciaram 43 tipos de sintomas nos agricultores e
agricultoras do açude Epitácio Pessoa (Tabela 15). Os que mais se
destacaram entre as mulheres foram: tontura (70%), cefaléia (60%),
insônia (50%), conjuntivite (45%), náuseas (45%), câimbras nos membros
inferiores (35%), dor lombar (35%), dormência nos membros inferiores
(25%), zumbido no ouvido (25%), dor precordial (20%), sono não reparador
(20%), dor nos membros inferiores (20%), rinite (20%), gastrite (20%),
prurido na pele (20%) e epistaxe (20%). E entre os homens: cefaléia
(46,8%), conjuntivite (32,5%), tontura (32,5%), gastrite (26%), câimbras
(20,8%), epistaxe (18,2%), zumbido (18,2%), ansiedade (18,2%), prurido na
pele (16,9%), dor lombar (15,6%), dormência nos membros inferiores
(14,3%), formigamento (14,3%), sinusite (13%), insônia (12%), dor nos
membros inferiores (11,7%), náuseas (10,4%) e hipertensão (10,4%).
O tratamento estatístico relativo à análise de correlação (Pearson)
entre os exames de sangue e os mineralogramas evidenciou fortes
correlações significativas nas mulheres num maior número de variáveis,
do que nos homens (Tabelas 16, 17). Os resultados dos testes-t, por sua
vez (Tabela 18, 19), evidenciaram que as diferenças entre os indivíduos
119
pulso II e pulso IV são significativas para as variáveis TGO, CD4%,
Conilesterase plasmática, Hemáceas, Hemoglobina e Hematócritos dos
exames de sangue, e para as variáveis Ba, Ca e Mg dos mineralogramas.
Tabela 15. Principais sintomas registrados nas anamneses realizadas entre os
agricultores do município de Boqueirão no ano de 2007. Em amarelo, os valores
que mais se destacaram para cada sexo.
Sintomas
Cefaléia
Epistaxe
Zumbido
Hipertensão
Coceira
Gastrite
Conjuntivite
Cãibras
Náuseas
Dormência MI
Formigamento
Sobressalto
Tontura
Sinusite
Rinite
Ansiedade
Empachamento
Rouquidão
Insônia
Frieza
Dor Membros inferiores (MI)
Enxaqueca
Diarréia
Dor Lombar
Dor Precordial
Sono Não Reparador
Baixa Audição
Impotência
Fadiga
Epicondilite
Memória Fraca
Fotofobia
Infarto
Tremor/Mãos
Amidalite
Urgência Urinária
Gripes freqüentes
Gases Intestinais
Hipotireoidismo
Diabetes
Frieza
Diarréia
Angustia
Homens (%)
46,8
18,2
18,2
10,4
16,9
26,0
32,5
20,8
10,4
14,3
14,3
1,3
32,5
13,0
7,8
18,2
6,5
0,0
13,0
1,3
11,7
2,6
1,3
15,6
7,8
7,8
1,3
2,6
9,1
1,3
2,6
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
1,3
Mulheres (%)
60,0
20,0
25,0
15,0
20,0
20,0
45,0
35,0
45,0
25,0
15,0
10,0
70,0
15,0
20,0
10,0
10,0
5,0
50,0
0,0
20,0
0,0
0,0
35,0
20,0
20,0
5,0
-
120
Tabela 16. Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e
mineralogramas do cabelo para o sexo masculino. Correlações marcadas
em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=44).
‘
angue
AL
D8
PL
CE
G
T
O
NO
Al
As
Au
B
I
K
0,4
6
0,4
2
0,2
3
0,1
1
0,0
4
0,1
2
0,1
7
0,1
3
0,2
8
0,0
2
0,1
5
0,0
5
0,1
5
0,3
4
0,1
6
0,2
8
0,2
6
0,2
9
0,0
4
0,1
5
0,2
9
-0,35
0,12
-0,15
0,21
-0,37
-0,24
0,08
0,25
0,12
-0,14
-0,04
0,38
0,21
-0,11
-0,02
Li
Mg
Mn
Na
Ni
P
-0,41
-0,12
-0,14
-0,32
-0,22
,32
-0,34
-0,22
0,24
0,03
-0,28
-0,09
-0,08
-0,01
-0,12
0,26
-0,15
0,08
-0,05
-0,26
0,36
0,22
-0,01
-0,05
0,11
-0,09
0,12
-0,17
-0,11
-0,05
-0,12
0,06
-0,09
0,25
-,15
-0,03
-0,20
0,12
-0,05
0,31
-0,11
-0,06
-0,00
-0,04
0,01
0,13
-0,13
-0,25
-0,07
-0,06
0,08
Pb
S
Sc
Ti
V
Z
,03
,32
-,43
-0,15
-,041
-,43
0,27
-0,34
0,29
-0,28
-0,17
-0,17
-,26
-0,12
-0,07
-0,02
-0,08
-0,05
-0,10
-0,09
,01
0,22
0,37
-0,21
0,16
-0,17
0,19
-0,05
0,13
,28
0,42
-0,19
-0,06
0,14
-0,12
0,13
-0,14
-0,08
-0,04
-,23
-0,02
0,14
-0,15
0,05
0,11
-0,13
0,12
-0,09
-0,16
-0,08
-,11
-0,15
-0,13
-0,01
-0,09
-0,01
0,15
-0,02
0,17
-0,22
-0,14
-0,14
-,16
-0,10
-0,11
0,00
0,39
-0,10
-0,22
-0,07
0,05
-0,07
-0,01
-0,35
0,03
-,06
-0,07
0,19
0,33
0,10
0,07
0,16
0,32
-0,12
0,16
-0,11
0,28
-0,10
0,12
,33
-0,17
-0,02
-0,02
0,05
-0,06
-0,08
-0,01
0,08
0,03
0,00
0,02
-0,06
0,16
0,11
,12
-0,11
-0,19
-0,08
0,20
0,30
0,09
-0,08
0,15
0,41
-0,05
0,03
-0,05
0,17
0,13
0,15
,36
0,13
-0,02
0,15
-0,07
0,06
-0,07
0,06
0,19
0,01
-0,12
-0,12
-0,02
-0,12
0,07
-0,26
-0,04
-,07
-0,13
0,09
0,04
0,03
-0,12
-0,07
-0,07
-0,25
-0,07
-0,11
-0,02
-0,15
-0,01
-0,09
-0,23
-0,04
,01
0,10
0,07
-0,12
-0,04
-0,12
-0,17
-0,18
-0,25
-0,15
-0,15
0,06
-0,06
0,06
-0,17
0,07
-0,14
-,23
-0,11
0,13
0,03
0,11
-0,20
-0,16
-0,14
-0,06
-0,14
-0,21
0,13
-0,06
0,14
-0,22
-0,10
-0,17
-,10
-0,16
0,18
0,03
0,08
-0,21
-0,24
-0,13
-0,07
-0,16
-0,20
0,16
0,01
0,16
-0,27
-0,04
-0,29
-,17
-0,16
0,14
0,05
0,08
-0,20
-0,22
-0,12
-0,07
-0,15
-0,24
0,13
0,01
0,13
-0,24
-0,03
-0,26
-,14
-0,20
0,19
-0,13
0,15
-0,26
-0,24
-0,08
-0,14
-0,24
-0,01
0,28
0,09
0,30
-0,31
0,15
-0,34
-,12
0,13
-0,19
-0,04
-0,11
0,12
0,26
0,06
-0,04
0,14
0,22
-0,16
-0,01
-0,17
0,21
0,02
0,17
,30
-0,03
-0,11
0,05
-0,15
-0,03
-0,08
0,21
0,20
-0,09
-0,07
0,03
-0,20
-0,01
-0,06
-0,02
-0,16
,06
-0,20
0,04
-0,11
0,07
-0,23
-0,21
0,00
-0,12
-0,23
-0,06
0,12
-0,15
0,10
-0,20
0,02
-0,13
,01
121
0,0
2
0,2
1
0,2
1
-0,11
0,13
-0,09
0,13
-0,06
0,08
0,08
0,03
-0,14
0,22
0,19
-0,20
0,19
-0,05
0,24
-0,14
,23
-0,27
0,34
-0,12
0,22
-0,42
-0,27
-0,15
0,10
-0,40
-0,30
0,41
-0,018
0,40
-0,38
0,17
-0,39
-0,2
-0,27
0,32
-0,10
0,24
-0,40
-0,28
-0,15
0,08
-0,39
-,030
0,39
-0,19
0,39
-0,38
0,20
-0,40
-0,2
Tabela 17. Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e
mineralogramas do cabelo para o sexo feminino. Correlações marcadas em
vermelho são significantes a p < 0,05 (N=17).
Sangue
UREIA
CREAT
GLICE
FOSF-AL
GGT
TGO
TGP
CD4%
CD4Tt
CD8%
CD8Tt
CD4/CD8
COL_PL
COL_EN
HEMACE
HEMOG
HEMAT
LEUCO
LINFO
EOSIN
PLAQUE
Bbd
Bbind
Bbt
Ag
,96
1,0
,06
,12
,95
,88
,90
,85
-,63
,93
-,33
,96
1,0
-,78
1,0
,99
,98
-,58
,87
,97
-,55
1,0
1,0
1,0
As
,67
,68
-,02
-,02
,60
,59
,67
,59
-,61
,68
-,31
,64
,66
-,58
,67
,67
,61
-,51
,59
,65
-,30
,68
,68
,68
B
,96
1,0
,07
,12
,95
,88
,90
,85
-,62
,92
-,33
,96
1,0
-,78
1,00
,99
,98
-,57
,87
,98
-,56
1,0
1,0
1,0
Ba
,94
,97
,24
,23
,95
,92
,91
,84
-,49
,91
-,28
,91
,97
-,76
,97
,97
,97
-,54
,85
,94
-,49
,97
,97
,97
Be
,97
1,0
,07
,13
,95
,88
,90
,85
-,61
,93
-,32
,96
1,00
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,55
1,0
1,0
1,0
Bi
,97
1,0
,07
,13
,95
,88
,90
,85
-,61
,93
-,32
,96
1,0
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,56
1,0
1,0
1,0
Ca
-,16
-,18
,93
,74
,02
,21
,05
-,05
,65
-,16
,24
-,21
-,17
,24
-,18
-,16
-,16
,11
-,13
-,21
,22
-,18
-,18
-,17
Cdi
,97
1,0
,07
,13
,95
,88
,90
,85
-,61
,93
-,32
,96
1,0
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,55
1,0
1,0
100
Co
,97
1,0
,07
,13
,95
,88
,90
,85
-,61
,93
-,32
,96
1,0
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,55
1,0
1,0
1,0
Cr
,97
1,0
,07
,13
,95
,88
,90
,85
-,61
,93
-,32
,96
1,0
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,55
1,0
1,0
1,0
Fe
,83
,80
,46
,37
,90
,93
,90
,75
-,28
,75
-,21
,77
,81
-,67
,80
,81
,81
-,47
,75
,79
-,42
,80
,81
,81
Ge
,97
1,0
,07
,13
,95
,88
,90
,85
-,61
,93
-,32
,96
1,00
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,55
1,0
1,0
1,0
Hg
,97
1,0
,07
,12
,95
,88
,90
,85
-,61
,93
-,33
,96
1,0
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,56
1,0
1,0
1,0
I
,97
1,0
,07
,13
,96
,89
,91
,86
-,61
,93
-,32
,96
1,0
-,79
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,56
1,0
1,0
1,0
Li
,97
1,0
,07
,13
,95
,88
,90
,85
-,61
,93
-,32
,96
1,0
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,98
-,55
1,0
1,0
1,0
Mg
-,04
-,06
,95
,79
,16
,35
,20
,06
,57
-,05
,18
-,09
-,05
,17
-,06
-,05
-,05
,04
-,03
-,10
,10
-,06
-,06
-,06
Mn
,96
1,0
,10
,16
,95
,89
,90
,85
-,57
,92
-,30
,95
1,0
-,78
1,0
,99
,98
-,57
,87
,97
-,54
1,0
1,0
1,0
122
Tabela 17 (continuação). Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis
de sangue e mineralogramas do cabelo para o sexo feminino. Correlações
marcadas em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=17).
Sangue
UREIA
CREAT
GLICE
FOST_AL
GGT
TGO
TGP
CD4%
CD4Tt
CD8%
CD8Tt
CD4/CD8
COL_PL
COL_EN
HEMACE
HEMOG
HEMAT
LEUCO
LINFO
EOSIN
PLAQUE
Bbd
Bbind
Bbt
Mo
0,60
0,68
-0,01
0,17
0,61
0,55
0,58
0,67
-0,42
0,59
-0,33
0,65
0,67
-0,41
0,67
0,68
0,66
-0,33
0,55
0,70
-0,41
0,68
0,68
0,68
Na
,05
0,13
-0,13
0,02
0,04
0,03
0,06
-0,05
-0,14
0,19
0,17
0,07
0,13
0,12
0,13
0,14
0,12
0,20
0,14
,012
-0,05
0,13
0,13
0,13
Ni
0,97
1,00
0,12
0,18
0,96
0,90
0,91
0,86
-0,58
0,93
-0,31
0,96
1,0
-0,77
1,0
0,99
0,98
-0,57
0,87
0,97
-0,55
1,0
1,0
1,0
Pb
0,94
0,99
0,08
0,15
0,94
0,87
0,88
0,83
-0,61
0,91
-0,32
0,95
0,99
-0,77
0,99
0,98
0,97
-0,58
0,84
0,96
-0,58
0,99
0,99
0,99
Pd
0,97
1,0
0,07
0,13
0,95
0,88
0,90
0,85
-0,61
0,93
-0,32
0,96
1,0
-0,78
1,0
0,99
0,98
-0,57
0,87
0,98
-0,55
1,0
1,0
1, 0
Sb
0,97
1,0
0,07
0,13
0,95
0,88
0,90
0,85
-0,61
0,93
-0,32
0,96
1,0
-0,78
1,0
0,99
0,98
-0,57
0,87
0,98
-0,55
1,0
1,0
1,0
Sc
0,97
1,0
0,07
0,13
0,95
0,88
0,90
0,85
-0,61
0,93
-0,32
0,96
1,0
-0,78
1,0
0,99
0,98
-0,57
0,87
0,98
-0,55
1,0
1,0
1,0
Se
0,97
1,0
0,07
0,13
0,95
0,88
0,90
0,85
-0,61
0,93
-,32
0,96
1,0
-0,78
1,0
0,99
0,98
-0,58
0,87
0,98
-0,56
1,0
1,0
1,0
Sn
0,97
1,0
0,09
0,15
0,95
0,89
0,91
0,86
-0,60
0,93
-0,32
0,96
1,0
-0,78
1,0
0,99
0,98
-0,57
0,87
0,98
-0,55
1,0
1,0
1,0
Sr
0,93
0,96
0,31
0,32
0,96
0,95
0,93
0,84
-0,40
0,90
-0,23
0,90
0,96
-0,72
0,96
0,96
0,96
-0,50
0,86
0,92
-0,46
0,96
0,96
0,96
Ti
0,95
1,0
0,06
0,12
0,94
0,87
0,89
0,84
0-,62
0,92
-0,33
0,95
1,0
-0,76
1,0
0,99
0,98
-,56
0,86
0,97
-0,56
1,0
1,0
1,0
Th
0,97
1,0
0,07
0,13
0,95
0,88
0,90
0,85
-0,61
0,93
-0,32
0,96
1,0
-0,78
1,0
0,99
0,98
-0,57
0,87
0,98
-0,55
1,0
1,0
1,0
U
0,97
1,0
0,07
0,13
0,95
0,88
0,90
0,85
-0,61
0,93
-0,32
0,96
1,0
-0,78
1,0
0,99
0,98
-0,57
0,87
0,98
-0,55
1,0
1,0
1,0
V
0,97
1,0
0,07
0,13
0,95
0,88
,90
0,85
-0,61
0,93
-0,32
0,96
1,0
-0,78
1,0
0,99
0,98
-0,57
0,87
0,98
-0,55
1,0
1,0
1,0
Zr
0,60
0,68
-0,01
0,17
0,61
0,55
0,58
0,68
-0,42
0,59
-0,34
0,65
0,68
-0,41
0,68
0,68
0,67
-0,33
0,55
0,71
-0,42
0,68
0,68
0,68
Zn
-,001
-0,04
0,95
0,82
0,16
0,35
0,20
0,12
0,59
-0,05
0,14
-0,06
-0,03
0,21
-0,04
-0,02
-0,03
0,06
-0,01
-0,08
0,14
-0,04
-0,04
-0,03
123
Tabela 18. Teste-t para as variáveis dos exames de sangue, comparando o
pulso II com o pulso IV.
Sangue
Média Pulso II
Média Pulso IV
T
df
p
Pulso II (n)
Pulso IV (n)
F-ratio
variancs
Uréia
Creatinina
Glicemia
Fosfat. Al.
GGT
TGO
TGP
CD4 %
CD4 total
CD8 %
CD8 total
CD4/CD8
Colin-PL
Colin-EN
Hemáceas
Hemoglobina
Hematócrito
Leucócitos
Linfócitos
Eosinófilos
Plaquetas
28,0±4,1
0,7±,2
77,0±14,8
74,0±20,8
15,1±5,1
20,3±6,9
29,1±7,7
47,0±6,1
1036,1±262,6
21,5±8,5
511,4±324,1
3,2±3,6
8,1±1,1
468,0±81,4
4,6±0,4
12,5±2,7
39,5±2,6
6861,5±2502,8
26,3±11,3
4,6±5,7
267461,5±1022
17,6
0,2±0,2
0,4±0,2
0,6±0,3
31,3±5,61
0,8±0,16
80,3±26,45
86,5±29,86
23,3±19,56
24,8±5,68
32,4±5,71
41,5±6,48
956,1±406,66
24,5±7,69
572,5±311,31
1,9±0,98
9,2±1,20
470,8±78,63
5,3±0,39
14,8±1,24
44,8±3,52
6955,2±1964,07
32,0±7,80
4,6±2,29
238379,3±67203,54
-1,92
-1,95
-0,40
-1,360
-1,49
-2,230
-1,57
2,58
0,65
-1,11
-0,58
1,77
-3,03
-0,11
-5,01
-3,92
-4,809
-0,13
-1,88
-0,00
1,10
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
40
0,062
0,058
0,679
0,181
0,145
0,031
0,124
0,013
0,520
0,273
0,565
0,084
0,004
0,916
0,000
0,000
0,000
0,896
0,067
0,996
0,279
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
13
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
29
1,83194
1,11538
3,18401
2,05458
14,85835
1,47627
1,81171
1,10949
2,39820
1,22145
1,08381
13,17986
1,17620
1,07060
1,27844
4,70114
1,89124
1,62388
2,10041
6,27843
2,31349
0,2±0,2
0,5±0,3
0,7±0,4
-0,25
-0,19
0-,53
40
40
40
0,799
0,847
0,602
13
13
13
29
29
29
1,02874
1,99996
2,56293
Bilerrubinas
Bilir_Ind
Bilir_Total
124
Tabela 19. Teste-t para as variáveis dos exames de sangue, comparando o
pulso II com o pulso IV.
Minerais
Ag
Al
As
Au
B
Ba
Be
Ca
Cd
Co
Cr
Cu
Fe
Ge
Hg
Li
Mg
Mo
Ni
Se
Sr
V
Zn
Média ± DP Pulso
II
1,18 ±1,9
48,90±56,1
0,06±0,0
0,01±0,0
0,36±1,1
6,99±5,2
0,04±0,0
688,54±341,7
0,08±0,1
0,06±0,0
0,54±0,1
375,42±1093,7
24,02±11,1
0,01±0,0
0,37±0,4
0,05±0,0
109,85±53,0
0,04±0,0
0,31±0,2
0,81±0,3
6,69±4,2
0,30±0,1
86,17±37,1
Média ± DP Pulso IV
T
df
p
0,47±1,31
43,96±42,52
0,08±0,05
0,00±0,00
0,20±0,49
3,87±2,15
0,03±0,03
380,28±201,85
0,04±0,03
0,05±0,03
0,65±0,30
11,23±3,14
31,53±25,75
0,01±0,0
0,34±0,27
0,05±0,02
62,57±36,74
0,03±,02
0,37±0,27
0,85±0,27
2,91±2,01
0,25±0,11
140,20±76,40
1,22
0,27
-0,57
2,03
0,61
2,49
0,19
3,24
1,34
0,53
-1,04
1,71
-0,84
-0,14
0,24
-0,07
2,94
0,89
-0,63
-0,41
3,57
0,92
-2,02
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
32
0,232
0,785
0,570
0,051
0,544
0,018
0,848
0,003
0,190
0,598
0,305
0,096
0,407
0,890
0,809
0,946
0,006
0,380
0,530
0,685
0,001
0,363
0,051
Pulso II
(n)
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
9
Pulso IV (n)
F
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
25
2,2
1,7
1,0
9,8
5,0
6,0
1,0
2,9
3,5
1,3
4,2
121492,5
5,4
1,0
1,9
1,7
2,1
1,0
2,8
1,0
4,4
1,9
4,2
125
7.- Discussão
O que é a vida? É o brilho de um vagalume na noite. É a
respiração de um búfalo no inverno. É a breve sombra que corre
sobre a grama e some ao pôr–do-sol (Pé-de-Corvo. Grande
caçador, bravo guerreiro e orador eloqüente da tribo dos PésPretos, Canadá).
7.1- O homem, o meio e os agrotóxicos
O manejo inadequado do solo da área estudada, em conjunto com a
utilização de água com altos teores de sais, sistemas de irrigação
superficial por gravidade, quantidades indiscriminados de fertilizantes e
agrotóxicos,
e,
condições
climáticas
adversas,
foram
fatores
que
contribuíram de forma significativa para o desprovimento da cobertura
vegetal dos solos, que são rasos e pobres, tornando-os susceptíveis à
erosão
e
acelerando
o
processo
de
degradação
ambiental.
Estes
indicadores favorecem, por conseguinte a desertificação (Franco et al.,
2007), sendo essa região bioclimática do Estado da Paraíba onde este
processo se expande de forma mais expressiva.
A perda de qualidade ambiental decorrente da redução da
cobertura vegetal, somada ao uso de agrotóxicos pela agricultura irrigada
nas margens do açude, configura esta área como de risco ambiental e à
saúde humana, merecendo a mesma a necessidade de um monitoramento
contínuo, e de atenção especial por parte do poder público, no que
concerne ao uso do espaço e dos recursos hídricos.
Seguramente precisamos aumentar a produção agrícola para
atender as demandas de uma população crescente. Mas uma área de 100
ha irrigados consome água suficiente para o abastecimento diário de uma
cidade com população de 48.000 habitantes, e 1 kg de agrotóxicos é
suficiente para contaminar 1 bilhão de litros de água (SEMARH, 2008).
Neste modelo, não há como deixar de se preocupar, principalmente
quando consideramos áreas de fragilidade ambiental extrema, como é o
caso da região semi-árida brasileira, onde os recursos hídricos escassos
são mal gerenciados, as práticas de manejo do solo inadequadas, e os
126
perigos de contaminação dos mananciais com agrotóxicos seguidos pela
eutrofização decorrente do uso de fertilizantes e outras práticas são
certezas que deveriam ser evitadas a todo custo.
A visão que se tem a partir das entrevistas efetuadas com os
agricultores que usam agrotóxicos às margens do açude Boqueirão é que
eles têm pouca ou nenhuma percepção das conseqüências desses
produtos ao meio ambiente. O perigo se agrava ainda mais, porque
usualmente eles utilizam quantidades acima dos limites recomendados, o
que acaba por exigir cada vez mais quantidades maiores, o que pode
resultar no aparecimento de novas pragas, visto que a literatura mostra
que muitas espécies, particularmente insetos e ácaros, acabam por se
tornarem resistentes (Augusto, 1997).
Agrotóxicos contaminam a água e o solo, e também se dispersam
pelo ar por longas distâncias (Krümmel, et. al., 2003), podendo atingir
representantes benéficos da fauna e da flora mesmo distantes do seu local
de aplicação. Insetos benéficos incluem não somente aqueles que
produzem substâncias economicamente importantes, como as abelhas,
mas também aqueles que polinizam plantas ou que são predadores
naturais de pragas como algumas joaninhas e o louva-a-deus.
Nos ambientes aquáticos os efeitos dos agrotóxicos podem ser tanto
de natureza imediata (morte da fauna e da flora aquática), ou de longo
prazo (processo de biomagnificação). Organofosforados e piretróides são
pouco
persistentes,
assim
exercem
uma
ação
mais
imediata.
Organoclorados são persistentes, logo, amplificam-se ao longo das cadeias
alimentares.
No meio aquático, alguns produtos, como o inseticida fosforado
Malathion alteram a atividade fotossintética de plantas, geralmente
aumentando-a em concentrações de 1 até 5 ppm, como mecanismo de
compensação do metabolismo de algumas espécies;
a mistura de
Gramoxone + Goal + V 42 D – FLUID 2,4 D à 5ppm provoca um efeito
inibitório da fotossíntese, enquanto que os herbicidas Gramoxone + Goal +
127
V 42 D – FLUID 2, 4 D e Gramoxone + Adefix tem um maior efeito inibitório
sobre a respiração (Watanabe et al, 1994).
Alguns peixes também apresentam alterações comportamentais e
problemas no sistema hepático quando expostos a inseticidas fosforados.
O curimbatá (Prochilodus scrofa), por exemplo, mostra agitação, perda de
equilíbrio com natação lateral, movimentos descontínuos, hepatócritos
tumefatos,
granulações
citoplasmáticas,
desorganização
de
células
hepáticas, com áreas de necrose, entre outros problemas, quando
expostos a concentração de Dipterex 500 de 0,2µL/L, em tempos de
exposição de 24 e 48 horas (Rodrigues et al, 1996).
Nascimento
et
al
(1995)
também
demonstraram
que
o
organofosforado Folidol, causa problemas cardíacos no molusco de água
doce Pomacea lineata (comum em açudes e lagos do nordeste) quando
exposto a concentrações menores que 0,05 ppm, e que em concentrações
mais elevadas, este organismo tende a diminuir seu ritmo cardíaco.
Segundo os autores a atividade cardíaca é mediada pela acetilcolina e os
organofosforados são inibidores da acetilicolinesterase.
Salmões
(Onchorhynchus
nerka)
contaminados
com
PCBs
(Policlorinados bifenilos), em áreas marinhas do Pacifico Norte levam esses
produtos para os locais de desova na cabeceiras do lagos do Alaska a
longas distâncias, contaminando as cadeias alimentares locais. PCBs em
concentrações de menos de 1 ng/L nas águas oceânicas são concentrados
para até 2500 ng/g em lipídeos do Salmão, o que significa que 1 milhão de
salmões adultos podem transportar mais do que 0,16 kg de PCBs para a
sua área de desova (Krümmel et al. 2003).
No solo, alguns agrotóxicos são persistentes e podem ter um elevado
efeito residual, o que representa um efeito adicional sobre a microbiota
edáfica,
reduzindo
os
microorganismos
importantes
na
fertilização
(biomineralizadores da matéria orgânica e fixadores de nitrogênio), ou
percolando para níveis mais profundos do sedimento, contaminando a
água subterrânea.
128
Garcia (1998) comenta que alguns agrotóxicos particularmente
herbicidas,
são
voláteis,
o
que
representa
riscos
adicionais,
particularmente quando aplicados em solo exposto à ação solar e com
pouca ou nenhuma cobertura vegetal, o que exigiria cuidados com os
horários de aplicação, controle da umidade do ar, velocidade do vento, e
temperatura, aspectos estes que, segundo o autor é quase impossível de
se efetivar na prática, quer seja pela ausência de programas de formação
técnica do trabalhador, ou os custos elevados para adquirir instrumentos
de medição.
Os organoclorados em particular são muito persistentes no solo,
podendo ser encontrados até cerca de 2 a 5 anos após sua utilização. Por
isso, são capazes de se dispersarem por longas distâncias e serem
acumulados ao longo das cadeias alimentares. A título de exemplo,
amostras de vegetais no interior de São Paulo, analisadas pelo Instituto
Biológico de São Paulo, encontraram resíduos de DDT em locais onde ele
não havia sido aplicado (Garcia,1996).
Mas alguns inseticidas, particularmente os organofosforados são
pouco persistentes, ou seja, degradam mais rapidamente no solo. O
malathion, por exemplo, é sujeito a hidrólise antes de ser degradado pelos
microorganismos do solo. Os carbamatos têm persistência reduzida no
solo; facilmente são degradados por microorganismos, através da hidrólise
química ou enzimática (Musumeci et al:1992). Entre os carbamatos, o
carbaryl parece ter maior persistência, pois em solos pobres ele foi
encontrado após 10 semanas, e em solo enriquecido se degradou em 6
semanas.
Os organofosforados e carbamatos estão entre os tipos mais
utilizados no açude Boqueirão (Ieno, et al., 2006; neste trabalho), mas eles
não são persistentes, visto que após sua aplicação permanecem apenas de
1 a 12 semanas no solo.
Entretanto, a questão dos perigos que esses
produtos podem oferecer à saúde humana baseia-se nos limites de
tolerância que são estabelecidos pela Ingestão Diária Aceitável (IDA), que
129
corresponde a quantidade máxima que ingerida diariamente durante toda
a vida não deverá oferecer riscos a saúde do indivíduo. O valor é expresso
em mg de agrotóxico/Kg de peso corpóreo. O que se vê usualmente é que
o limite de tolerância não é respeitado, comprometendo a saúde do
consumidor. Martins (1997) comenta que os efeitos crônicos retardados
através da ingestão de alimentos contaminados têm gerado grande
preocupação a nível mundial. Ressalta-se, entretanto, que no cálculo do
IDA não se leva em conta diferenças individuais quanto ao limiar de
toxicidade de cada indivíduo.
Uma das grandes preocupações acerca do uso dos agrotóxicos é a
incidência de câncer, tanto em trabalhadores rurais como entre os
consumidores de alimentos contaminados. Nos EUA, estima-se que
20.000 pessoas podem morrer de câncer anualmente devido às pequenas
quantidades de agrotóxicos presentes nos alimentos, o que significa dizer,
em outras palavras, que mesmo ausentes, ou presentes em quantidades
traço, não se deve menosprezar sua capacidade de contaminação em
humanos.
Nesta pesquisa foram constatados 82 casos de câncer no período de
1996 a 2007, no município de Boqueirão. Mas este número pode estar
subestimado, visto que muitos agricultores entrevistados afirmaram que
têm ou já tiveram casos de câncer em suas famílias. Assim, espera-se que
um maior número óbitos por câncer deve existir na área, sem contar
ainda com outras doenças provocadas pelos agrotóxicos. Ressalta-se,
aliás, a maioria dos entrevistados é morador antigo da área, não se
descartando assim possibilidades de intoxicações crônicas nessas pessoas
que durante décadas tem feito uso freqüente de agrotóxicos em suas
atividades laborais.
Mas, surpreendentemente, os resultados dos exames de agrotóxicos
efetuados no Laboratório de Toxicologia do ITEP não evidenciaram a
presença de agrotóxicos nem no peixe analisado (Hoplias malabaricum)
nem nas amostras de tomate. Esses resultados a nosso ver parecem
130
equivocados, sendo plausível considerar-se que houve falhas nessas
análises por parte desse laboratório que é considerado como sendo de
referência, haja vista a grande quantidade de diferentes tipos de veneno
que
é
utilizada
na
agricultura
local,
e
que
foi
exaustivamente
documentada através de registros fotográficos nesta pesquisa. Aliás,
dados recentes fornecidos pela ANVISA, comprovam que cerca de 40% do
tomate e do morango consumidos pelos brasileiros contêm vestígios
irregulares de agrotóxicos. Esses dados foram divulgados em 23/04/2008
e constam do relatório do Programa Nacional de Análise de Resíduos de
Agrotóxicos em Alimentos (PARA) (ANVISA, 2008; Lourenço, 2008).
Ressalta-se, aliás, que as amostras de tomate obtidas no momento
da colheita para comercialização estavam sendo pulverizadas com o
fungicida sistêmico Cercobin 700, um produto considerado de baixa
toxicidade aguda (classse IV) que pode causar irritações da pele e dos
olhos, mas de alta toxicidade ambiental (classe II) por ser altamente
persistente no meio ambiente e altamente tóxico para organismos
aquáticos e para minhocas.
Esses dados contrastam com os inúmeros casos de câncer
registrados em Boqueirão e já referidos acima, como também contrastam
com a expressiva quantidade de pessoas que trabalham na agricultura
irrigada no açude Epitácio Pessoa, que apresentam problemas hepáticos e
renais, órgãos que na Medicina Tradicional Chinesa são associados aos
elementos madeira e água, onde produtos tóxicos são metabolizados.
Frente a esses dados, é no mínimo plausível considerar-se que, de fato são
os agrotóxicos os principais responsáveis pelos danos clínicos e alterações
nos exames laboratoriais (exames de sangue e mineralogramas), bem
como na maioria dos óbitos por câncer observados.
A produção de tomates nas margens do açude Epitácio Pessoa
chegou a 59.200 toneladas/ano entre 1981/85, caiu para 28.600 ton/ano
dez anos depois, baixando para 1.560 ton/ano na década seguinte (20012004) (IBGE. Produção agrícola municipal. 1970-2004). Tal redução é um
131
indício de que houve melhoria de qualidade ambiental, haja vista que
houve uma significa redução no consumo de defensivos agrícolas e
fertilizantes, e mesmo com tal redução ainda é alto o consumo de
agrotóxicos na área, e pessoas que a pelo menos 15 anos atrás estiveram
expostas a grandes quantidades de agrotóxicos podem hoje apresentar
sintomas de contaminação crônica.
Ainda, mesmo com a ação cautelar 570, Classe XII, impetrada pelo
Ministério Público Estadual contra o DNOCs em 03/03/1999, obrigando o
fechamento das comportas e suspensão da irrigação com o lacre das
motobombas a montante do açude, e limitando o uso da água para o
abastecimento humano e animal ainda é expressiva as práticas agrícolas
nas margens do açude Epitácio Pessoa, baseadas na utilização de
agrotóxicos, visto que efetivamente não foram oferecidas aos agricultores
nenhum estimulo financeiro para outras atividades produtivas e nenhum
incentivo
para
que
práticas
economicamente
e
ecologicamente
sustentáveis fossem desenvolvidas, entendendo-se desta forma que a
atitude tomada representou um tipo de repressão sem opção.
Mesmo que todos os agricultores fossem suficientemente instruídos
a respeito dos perigos ecológicos e à saúde humana, que todos usassem
equipamentos de proteção individuais, que todos dessem às embalagens
um destino final adequado, ainda assim não se teria certeza de que
nenhuma contaminação iria ocorrer. Contaminação zero com esses
produtos é impossível, o que significa que riscos sempre existirão, mesmo
que os cuidados aumentem.
Seguramente
a
conscientização
é
um
fator
importante
para
minimizar danos ambientais e perigo à saúde publica. Em outras
palavras, significa dizer que é necessário que se implante programas de
educação ambiental que divulguem esses perigos junto às comunidades
locais e despertem nessas comunidades o senso coletivo de respeito à
saúde humana e à proteção ao meio ambiente.
132
O meio ambiente é um bem difuso, daí a importância do senso
coletivo nas tomadas de decisões relativas a estes aspectos. Tentativas de
informar o trabalhador sobre os perigos que correm e os perigos
ambientais que causam quando usam agrotóxicos por si só não lograram
êxito (Almeida, op. Cit.). A informação sozinha não produz mudanças de
atitudes e de comportamento nas pessoas. Tais mudanças só ocorrem
quando há o engajamento e a vontade de querer mudar. E em nossa
sociedade, regida por um forte modelo capitalista e consumista, nem todos
têm sensibilidade suficiente para entrar numa onda de mudanças se não
tiverem a percepção real de que obterão algum ganho com isso, em curto
prazo. Aliás, muitos agricultores entrevistados afirmaram que “todos que
vieram aqui pesquisar só tem levado e não tem deixado nada em troca”.
Como não há tal percepção, os processos produtivos continuam do mesmo
jeito, os riscos ambientais aumentam e a qualidade ambiental dos
ecossistemas e a qualidade de vida das populações declina, de forma
preocupante.
Mas não é somente a questão da renda que precisa ser considerada
quando se pretende adotar processos de mudanças. Os problemas migram
do capital para o mental, visto que mudanças nas atitudes e práticas
cotidianas das pessoas poderiam resultar em angústia coletiva que seria
necessário enfrentar em casos de mudanças. A questão do ganho e a
questão do trabalho seriam talvez as principais amarras que antes
precisariam ser desatadas em programas orientados para uma nova
postura de prática produtiva que fosse mais ética e ecologicamente
correta.
Se não bastasse a questão da renda e do trabalho, existe ainda a
questão dos riscos que precisam ser trabalhados nesses programas de
conscientização coletiva. Geralmente eles não são percebidos pelos
trabalhadores vez que a maioria não tem uma visão sistêmica dos
problemas decorrentes do uso de agrotóxicos. E isso não é uma
prerrogativa dos agricultores de Boqueirão; esses riscos também não são
133
percebidos em outros lugares, como demonstrou Guivant (1982) em Santa
Catarina, e Almeida (1994), no rio Grande do Norte.
Almeida (1994), em particular, considera que “a percepção de riscos
do uso de agrotóxicos se apresenta relativamente modificada devido ao uso
dos sistemas defensivos. A negação da possibilidade de adoecer, a não
adoção de uso de Equipamentos de Proteção Individual, e outras situações
levam a constatação da presença destes mecanismos. Os sistemas de
defesa são geralmente engendrados por um coletivo em atividade de
trabalho que apresentam riscos e geram medo. Num momento podem
funcionar como proteção dos riscos e em um outro, para se defender do
medo. Ambos permitem a execução do trabalho, garantindo a permanência
no trabalho (do qual dependem) e, conseqüentemente, a sobrevivência de
quem executa. A que preço isto acontece é deveras interrogador, pois em
muitas situações os desafios ao perigo podem levar não só a deterioração
da saúde como a própria morte pois se os trabalhadores neutralizam o
medo, a exposição ao risco continua”.
Frente aos problemas de risco, Almeida (1994), considera, ainda,
que: “as defesas coletivas servem de certo modo para manter a saúde
mental diante de um problema que eles têm de conviver, que não sabem a
sua extensão e quais realmente seriam os meios confiáveis de garantir a
saúde na execução do trabalho. Qualquer ação a ser desenvolvida com os
trabalhadores tem que reconhecer que os mecanismos coletivamente
estruturados para suportar o trabalho são de extrema importância e a
quebra destes pode trazer sérias conseqüências de ponto de vista da saúde
mental”.
Dentre as práticas que parecem ser comum entre os agricultores do
açude Epitácio Pessoa e que deveriam ser evitadas podemos citar: 1.a
aquisição de agrotóxicos sem receituário agronômico, 2.a falta de cuidados
com o manuseio do produto, incluindo neste caso, o preparo da calda,
aplicação sem EPI e guarda e descarte das embalagens, 3.a ingestão de
álcool por trabalhadores que passam veneno. Essas práticas também têm
sido evidenciadas em outras localidades, conforme demonstrou Almeida
134
(2001), em plantadores de hortaliças do Rio Grande do Norte e AUGUSTO
(1997) em pesquisa realizada em Camocim de São Félix, e previamente na
mesma área objeto desta pesquisa por Kuleska et al. (2006). AUGUSTO
(1997) chama a atenção ao fato de que o uso de álcool acarreta ainda
maiores preocupações, pois tem um efeito potencializador da ação tóxica
dos produtos químicos utilizados.
De fato, pequenas mudanças que poderiam lograr algum êxito
poderiam ser iniciadas pelo cumprimento da lei. O processo de utilização
de agrotóxico, que envolve desde a compra até o descarte da embalagem,
deveria seguir o que preconiza a lei 7.802/89, mas a mesma é totalmente
desrespeitada. A aquisição que deveria ser feita mediante receituário
agronômico, ou seja, a partir de uma visita feita por um engenheiro
agrônomo ou florestal, estabelecendo-se um diagnóstico e uma prescrição
específica para o problema detectado naquela cultura. Mas, o que
acontece em Boqueirão segue a tendência nacional, em que esta prática
não é observada. Os agricultores compram estes produtos sem grandes
dificuldades, inclusive conforme observado por Adissi (1998), com
receituários frios, onde o proprietário da loja vende o agrotóxico e o
técnico prescreve a “posteriori” as receitas de acordo com os produtos
vendidos.
No tocante às embalagens as recomendações legais recomendam
que elas não devam ser queimadas ou enterradas, nem muito menos
jogadas no lixo ou no campo. No açude Boqueirão as pessoas têm
dificuldade de relacionar a questão do descarte das embalagens com a
contaminação do ambiente conforme observado neste trabalho, e também
por Adissi (1998). No município do Conde, Sousa (2005) também observou
que todos os agricultores que usam agrotóxicos não descartam as
embalagens de forma correta. E que nenhum deles pratica a tríplice
lavagem das embalagens, conforme deveria ser. Uns jogam-nas no campo
ou no lixo e outros as queimam. Uns costumam espetar as embalagens
nas varas condutoras das culturas de inhame, e outros reaproveitam as
embalagens plásticas.
135
Ainda, conforme foi verificado em algumas das moradias visitadas
durante esta pesquisa, há falta de cuidados com a guarda dos venenos no
ambiente doméstico. O mesmo foi observado no município do Conde, onde
os agricultores guardam esses produtos no ambiente doméstico, próximos
de animais, crianças, alimentos, e sementes, e até mesmo dentro da
cozinha (Souza, 2005).
No que concerne ao uso de EPI em particular, chama a atenção o
fato de que os agricultores de Boqueirão ou não usam ou o usam de forma
incompleta. Aconteceu, por exemplo, durante visitas a área, de um
agricultor aplicando veneno sem EPI, parou seu trabalho e foi calçar suas
botas, e colocar o macacão para nos receber, mas continuou aplicando o
veneno sem máscara e sem luvas. Sousa (2005) também constatou que no
município do Conde, poucos usam EPI para aplicação dos agrotóxicos.
Alguns que trabalham com agrotóxicos pulverizáveis, usam luvas,
máscaras, botas e roupas compridas, mas nenhum usa o equipamento de
proteção completo ou sem defeito. Singularidades como essa também foi
observada por Almeida (2001) em pesquisa efetuada no Rio Grande do
Norte.
Mas outras práticas, como o horário de pulverização dos venenos,
que quase sempre acontece na hora do sol forte, quando provavelmente o
corpo absorve o produto com mais facilidade tanto por via dérmica como
por via respiratória (Almeida, 2001) e a identificação das classes de risco
dos produtos pela rotulagem das embalagens, são também fatos que
necessitam de atenção.
Almeida (2001) já referia o aspecto de que produtos que não
sinalizam o perigo através da caveira são tratados como fracos ou mesmo
como vitaminas. Este autor comenta, ainda, sobre o caso do Dithane,
usado para combater fungos, que provoca nas folhas uma cor mais forte
que é proveniente do Zinco e Manganês presentes na sua composição, que
também atuam como micronutrientes, que os agricultores consideram que
ele dá “mais furtidão às verduras” e que “não faz mal a ninguém”. Em
Boqueirão, alguns relataram: “Não sinto cheiro de nada, doutor, tem perigo
136
não!”. Dentre os produtos apontados como perigoso o Tamaron BR,
largamente usado na área é apontado como sendo perigoso, inclusive com
relatos de casos de intoxicações. A advertência da caveira estampada no
rótulo desses produtos não parece suficiente para despertar nos
trabalhadores a responsabilidade do uso adequado de EPIs e os cuidados
com o preparo da calda, pulverização, guarda e descarte das embalagens.
Em pesquisa realizada no município do Conde, Paraíba, mais
precisamente no assentamento da Barra de Gramame, Sousa(2005),
constatou que os agricultores locais utilizam grande quantidade de
agrotóxicos, principalmente formicidas, na forma de iscas ou pó, sendo
este produto predominante sobre aqueles pulverizáveis. Esta prática tem
risco menor para o trabalhador rural do que os produtos pulverizáveis,
que são facilmente absorvidos pela pele ou pelas vias respiratórias. Os
inseticidas pulverizáveis atingem também o solo, a água, plantas insetos e
outros animais. No local estudado, o autor contabilizou um total de 1064
kg de agrotóxico por ano, em todo o assentamento.
Os formicidas também são produtos tóxicos, e podem afetar o solo e
os mananciais locais. Sousa
(2005)
também faz alusão
sobre a
possibilidade de contaminação das pessoas que manipula estes produtos,
pela falta de cuidados durante o manuseio e o armazenamento. O autor
comenta que um total de 12 tipos de agrotóxicos foi catalogado na barra
de Gramame, município do Conde: Malathion, Stron, Manzate. Cyptrin,
Agrophos, Aminol, Glifosato, Nitrosin, Folisuper, Lanate, Pó 50 e Mirex,
sendo os dois últimos, respectivamente, 487 kg e 523 kg. Em nossa
pesquisa no açude Epitácio Pessoa nós constatamos o uso de 25 tipos.
Uma preocupação muito grande entre agricultores que usam veneno
em suas lavouras é a questão do suicídio. O número de óbitos por
envenenamento com pesticidas e produtos químicos é o menor no País
entre os homens (0,3%), contra 43,8 % com armas de fogo e 34,1% por
enforcamento/estrangulamento; mas entre as mulheres o número sobe
para 19%, representando a segunda causa de suicídios, depois do
enforcamento/estrangulamento, que é de 19% (D`oliveira, 2005). No
137
município de Boqueirão já ocorreram 6 casos de suicídios, 2 em 1982, 1
em 1984, 1 em 1986, 1 em 1987 e 1 em 1990 (MS, 2005) alguns deles
possivelmente por ingestão de veneno. Esses números são modestos, mas
o perigo existe. Athayde (1996) relata um fato de uma senhora que tentou
suicídio com Tamaron BR.
7.2- Os exames clínicos e laboratoriais
Os principais grupos de agrotóxicos utilizados em Boqueirão
pertencem aos organofosforados e carbamatos. Assim, há que ser fazer
uma distinção entre intoxicações agudas e crônicas. Os perigos dos usos
desses produtos relacionam-se com as intoxicações que eles podem
causar nas pessoas, e sob este aspecto elas podem ser: agudas (surgem
rápido, após exposição excessiva por curto período de tempo a produtos
extremamente tóxicos ou altamente tóxicos, sendo os sinais e sintomas
nítidos e objetivos), sub-agudas (ocorre por exposição moderada a
produtos altamente ou medianamente tóxicos) e crônicas (o surgimento é
tardio (meses, anos) por exposição pequena ou moderada a produtos
medianamente tóxicos ou múltiplos produtos) (Trapé, 1993).
O diagnóstico de intoxicações por agrotóxicos, entretanto não é
simples, visto que os sintomas se confundem com outros de várias
possíveis doenças comuns no nosso meio, e quando ocorre uma exposição
múltipla a dificuldade aumenta ainda mais (Almeida, 2001).
Nas intoxicações agudas com agrotóxicos a acetilcolina se acumula
nas sinapses nervosas parassimpáticas, nas placas terminais motoras e
no sistema nervoso central e os sinais e sintomas podem surgir 3 ou 4
horas após a exposição ou mais lentamente (Almeida, 2001).
Nas crônicas, as exposições prolongadas a esses produtos podem
resultar em efeitos irreversíveis no Sistema Nervoso Central com várias
implicações, como degeneração severa da retina com neuropatia óptica e
138
processo arterioesclerótico precoce em coração, cérebro e vasos da retina,
que podem ocorrer mesmo quando os pacientes estiveram submetidos a
uma
exposição
prolongada
a
baixas
concentrações,
além
da
carcinogenicidade, conforme tem sido demonstrado experimentalmente em
animais (Jacinto, 2001).
Ruegg (1986, apud Mota, 1997) comenta que a exposição constante
a doses relativamente baixas de agrotóxicos acarreta o aparecimento de
sintomas e sinais clínicos, após períodos que variam de algumas semanas
até vários anos, sendo alguns deles: lesões hepáticas, lesões renais,
neurite periférica, ação neurotóxica retarda, atrofia testicular, esterilidade
masculina, cistite hemorrágica, hiperglicemia ou diabete transitória,
hipertermia,
diminuição
das
defesas
orgânicas,
fibrose
pulmonar
irreversível, reações de hipersensibilidade (urticária, alergia, asma),
teratogênese e carcinogênese.
O resultado das anamneses efetuadas durante os trabalhos de
campo evidenciou que os sinais mais freqüentes eram: tontura, cefaléia,
insônia, conjuntivite, náuseas, câimbras nos membros inferiores, dor
lombar, dormência nos membros inferiores, zumbido no ouvido, dor
precordial, sono não reparador, dor nos membros inferiores, rinite,
gastrite, prurido na pele e epistaxe. Muitos desses sintomas também
foram observados por Augusto (1997), em pesquisa desenvolvida em
Camocim de São Félix-PE.
Segundo dados apresentados pelo Laboratório de Toxicologia
Ambiental do Departamento de Ciências Biológicas da FioCruz (fundação
Oswaldo Cruz), em estudo realizado pelo professor Francisco José Roma,
no inicio de 1997, o qual constatou que 92% dos 55 agricultores
entrevistados na região de Alferes, RJ, onde na empresa Paty Alferes, a
maior produtora de tomate da região, os produtores não usavam
quaisquer tipo de equipamento de proteção individual e 62% já haviam
passado mal ao preparar ou aplica pesticidas. Segundo o estudo, os
sintomas recorrentes são: dor de cabeça, enjôo, vômito, vertigem, irritação
139
da pele e visão embaçada. Destes, 21% necessitam de assistência médica.
Análises de água de poços da mesma região, efetuadas pelo Professor
Dalton Marcondes Silva do Departamento de Saneamento e Saúde
Ambiental
da
Fiocruz,
também
demonstraram
que
de
27
poços
selecionados para estudo, apenas oito não apresentam contaminação
detectáveis (Figueiredo & Pádua, 2005). Muitos dos sintomas observados
por este auto no Rio de Janeiro são similares aos verificados nos
trabalhadores rurais do açude Epitácio Pessoa, neste trabalho.
Em pesquisa desenvolvida em 19 unidades produtivas às margens
do açude Boqueirão-PB, Adissi et al (1999) constataram que de um total
de 69 trabalhadores da cultura do tomate e pimentão submetidos a
exames diversos (laboratoriais, anamnese clínica e dosagens de acetilcolinesterase), evidenciaram os seguintes resultados: cefaléia (55%),
tremores (29%), tonturas (29%), tosse (24,6%), secreção e obstrução nasal
(20,3%), dor abdominal (26,1%), prurido ocular (15,9%), hiperemia
conjuntival (14,5%) e outros. Um grupo de 18% destes trabalhadores
referiu intoxicação anterior por agrotóxico com internação ou atendimento
laboratorial. E ainda, de 51 trabalhadores que fizeram testes para verificar
os níveis de acetilcolinesterase, 71% deles apresentaram alterações. Os
autores chamam atenção às diversas condições de vida que podem
contribuir para a presença dos sintomas encontrados, tais como
habitação, esgoto e saneamento, estado nutritivo, higiene, grau de
escolaridade e condições adversas do trabalho na agricultura.
Muitos dos sintomas e grande parte dos resultados dos exames
laboratoriais observados nesta pesquisa corroboram com os dados obtidos
por Adissi et al. (op. cit.), indicando que os problemas que definem este
quadro
ainda
persistem
na
área.
As
discrepâncias
observadas
particularmente nos valores da acetilcolinesterase plasmática chamam a
atenção, muito embora os nossos valores, apesar de se acharem dentro
dos parâmetros de normalidade, fossem próximos do limite máximo
permitido.
140
Dados sobre intoxicações levantadas por Garcia (1998), através de
pesquisa realizada pela FUNDACENTRO, indicavam que numa amostra de
5.143 produtores e trabalhadores rurais pesquisados, 28% referiram já
terem sido vítimas dos agrotóxicos, sofrendo pelo menos uma intoxicação.
Em Campinas, vários casos atendidos em hospitais da região comprovam
intoxicações, como foi o caso de M.A.G, 27 anos, trabalhando com Folidol
(organofosforado), que chega ao hospital com sudorese, vômitos, tremores
e diarréia. O trabalhador J.C.S, 23 anos, chega ao ambulatório de
Toxicologia da Universidade de Campinas (UNICAMP), apresentando
náuseas,
queimação
musculares.
Após
na
boca
exames,
do
estômago,
constata-se
a
fraqueza
exposição
e
a
tremores
múltiplos
agrotóxicos. Os estudos mostram que as queixas vagas e comuns a outras
doenças podem confundir o diagnóstico, caso não se considere a vida
laboral.
Segundo a Organização Mundial de Saúde cerca de 70% das
intoxicações agudas são causadas por organofosforados, inibidores da
enzima acetilcolinesterase. Mas os efeitos em longo prazo desses produtos
para a saúde são pouco conhecidos, necessitando, ainda, de maiores
investigações. Já se sabe que depende das características do produto,
forma de exposição (via de absorção, dose, concentração, freqüência) e do
indivíduo (idade, estado nutritivo, estado de saúde).
Dependendo da via de absorção e da magnitude da exposição, os
sinais e sintomas podem variar, segundo Trapé (1993). Destacam-se, entre
eles: a. A Síndrome Muscarínica ou Colinérgicosudorese (sialorréia, miose,
hipersecreção brônquica, colapso respiratório, tosse, vômitos, cólica e
diarréia); b. A Síndrome Nicotínica (fasciculações musculares, hipertensão
arterial transitória) e c. A Síndrome Neurológica (confusão mental, ataxia,
convulsões, depressão cardio-respiratória, coma e morte).
Na intoxicação por carbamato o quadro clínico é semelhante ao das
intoxicações por organofosforados, porém apresentam ainda outros
efeitos, como: alterações dos níveis de serotonina no sangue, decréscimo
141
da atividade metabólica do fígado, da síntese dos fosfolipídeos e da
atividade da glândula tireóide. Muitos dos sintomas observados na
pesquisa (insônia, ansiedade, cefaléia, tontura) e muitos dos resultados
dos exames laboratoriais efetuados (fosfatase alcalina, GGT, bilirrubinas,
excesso de iodo nos mineralogramas) são indicativos que intoxicações por
carbamato estejam ocorrendo na área.
Os sintomas apresentados e os conseqüentes problemas de saúde
se diferenciam de acordo com cada grupo químico, os organofosforados
são responsáveis pelo maior número de intoxicações, os quais, juntamente
com os carbamatos são inibidores da acetilcolinesterase, mas apresentam
uma pequena diferença, pois nas intoxicações por carbamatos há uma
maior reversibilidade da acetilcolina. Tanto os organofosforados como os
carbamatos podem ser absorvidos através da pele (esta é a principal via de
absorção), inalação ou ingestão. Alguns desses inseticidas tem sua dose
letal (DL 50) muito baixa, cerca de 0,9mg/Kg, como é o caso do Aldicarb
(Garcia,1998).
A dosagem da acetilcolinesterase eritrocitária (casos crônico) e
plasmáticas (casos agudo) é utilizada para indicar a presença de
organofosforados ou carbamatos no sangue do indivíduo. Porém, vários
autores citados por Augusto (1997), alertam para as limitações destes
testes
porque
variáveis
como:
gravidez,
consumo
de
álcool,
anticoncepcionais orais, problemas hepáticos e renais podem interferir
nos resultados. É de extrema importância que os exames sejam feitos
junto com uma anamnese clínico-ocupacional. Além disso, há grupos
populacionais com mais facilidade de degradar organofosforados, o que
indica que pode haver maior susceptibilidade de algumas pessoas. Há
dados que mostram que existem grupos de pessoas que toleram grandes
quantidades de As, seja por resistência inata ou por adaptação, sem
experimentar sintomas tóxicos, como é o caso dos húngaros, tiroleses e
estírios (Roux, 1976).
Alguns trabalhos realizados para avaliar os níveis de contaminação
142
ocupacional por agrotóxicos em áreas rurais brasileiras têm demonstrado
níveis de contaminação humana que variam de 3 a 23% (Moreira et al.,
2002). Considerando-se que o número de trabalhadores envolvidos com a
atividade agropecuária no Brasil, em 1996, era estimado em cerca de 18
milhões e aplicando-se o menor percentual de contaminação relatado
nesses trabalhos (3%), o número de indivíduos contaminados por
agrotóxicos no Brasil deve ser de aproximadamente 540.000 com cerca de
4000 mortes por ano. Além disso, estes dados não consideram o impacto
indireto resultante da utilização de tais produtos (Sousa, 2005).
Quanto aos exames de sangue, os resultados das baixas taxas de
creatinina e altas taxas de bilirrubinas, verificado nesta pesquisa
particularmente nos homens, sugerem comprometimento hepático, e as
diminuições nas taxas de CD8, GGT e linfócitos indicam alterações
imunológicas. GGT é uma enzima fisiologicamente envolvida na síntese
protéica e peptídica e regulação dos níveis teciduais de glutation e
transporte de aminoácidos entre membranas, e quase a totalidade da
Gama
GT
localiza-se
nos
(www.fwlab.com.br/exames/exames/Wcale18b2bdc6b.htm,
hepatócitos
2008,
acessado em 24/04/2008). Nas mulheres, o alto percentual de glicemia, é
indicativo de diabetes.
Em particular merece menção, nesta discussão, a questão dos
resultados das análises mineralogramas. O estudo envolvendo a análise
do cabelo é muito antigo, remontando ao trabalho de Hoppe (1858) que
determinou As no cabelo de cadáveres exumados 11 anos após o
sepultamento. Mais tarde, Flesch (1945), propôs que o cabelo poderia ser
usado como material de biópsia para a determinação de elementos traço
presentes no corpo humano, visto que o cabelo funciona como um órgão
excretor (o menor deles). Entretanto, apesar dessas recomendações, as
análises de sangue e urina tiveram a preferência, sendo que na década de
1930 iniciou-se a era da medicina industrial, ou seja, o diagnóstico de
doenças através de exames laboratoriais.
143
Mas os exames de cabelo foram redescobertos nos anos 60,
particularmente por pesquisadores da área de nutrição. Aproximadamente
100 anos após o trabalho de Hoppe, o pesquisador Goldblum (1954),
determinou anfetaminas em pêlos de cobaia; e mais tarde, Baumgartner
(1979), determinou opiáceos no cabelo humano, através de extração com
metanol e detecção por RIA (Radioimunoensaio).
Entre os fatos relevantes relacionados com a utilização do cabelo
como material investigativo no caso de contaminações, destacam-se a
investigação sobre a morte de Napoleão Bonaparte na qual, na qual se
constatou através da análise do seu cabelo por NAA (Análise por Ativação
Neutrônica), sucessivas exposições ao As, e a contaminação com Hg na
população de um vilarejo do Iraque, onde o trigo utilizado para o pão era
tratado com fungicida à base de compostos mercuriais.
Segundo a O.M.S, o mineralograma é o método mais fidedigno para
se detectar contaminação por metais pesados em seres humanos. Para
evitar discrepância dos resultados devido à dificuldade de se diferenciar
entre
contaminação
exógena
e
endógena,
convém
obedecer
aos
procedimentos padrão de coleta e preparo da amostra, bem como
considerar
outros
fatores
como
sexo,
raça,
hábitos
alimentares,
localização geográfica do indivíduo e características morfológicas do
cabelo. O cabelo é uma matriz mais simples que o sangue e a urina, cuja
análise é bastante utilizada para detectar intoxicação.
A presença de quantidades muito baixas destes elementos estará
sempre presente no organismo em decorrência da alimentação e poluição
ambiental. Pode-se afirmar que quase todos os elementos estáveis da
tabela periódica estão presentes no cabelo, a menos que o metabolismo
celular exclua alguns deles.
O cabelo é um material biológico atrativo por causa da simplicidade
de amostragem (facilidade de coleta, sem traumas e sem dor), estocagem,
transporte e manuseio. Além disso, é um material bastante estável que
não precisa ser mantido sob refrigeração, tampouco necessita de
preservantes.
144
É bastante provável que as elevadas concentrações de alguns metais
pesados encontrados nos exames efetuados nos cabelos dos agricultores
do açude Boqueirão estejam de fato relacionadas com a utilização dos
agrotóxicos, e em alguns casos de fertilizantes químicos. No Brasil,
atualmente, a análise de cabelo é solicitada principalmente por médicos
da área da medicina ortomolecular, para avaliar o estado nutricional
(elementos essenciais presentes em baixa ou alta concentração) e
possíveis contaminações por metais pesados. Citam-se como exemplo os
elementos Cr, Co, Cu, Mn, Mo, Ni, Se, Sn, V e Zn que são essenciais ao
organismo, mas se estiverem presentes em excesso podem provocar várias
doenças ou até mesmo a morte. O contrário também pode ocorrer se não
estiverem presentes em quantidades suficientes para o organismo.
Elementos tais como Tl, As, Sb, Bi e Hg não são essenciais, sendo sempre
indesejáveis em qualquer concentração.
O chumbo, por exemplo, afeta primariamente o sistema nervoso
central e periférico, a função renal, as células do sangue e o metabolismo
da vitamina D e do cálcio. Também pode causar hipertensão arterial e
toxicidade reprodutiva (Figueiredo & Pádua, 2005). Esta autora, ainda
comenta que a contaminação por produtos químicos pode causar ainda
problemas renais, hepáticos, sanguíneos, nervosos e até câncer. Mas na
maioria das vezes, as doenças causadas por contaminações por produtos
químicos não são registradas como tal. Normalmente as pessoas não
sabem que estão contaminadas sendo comum que a doença venha a
aparecer cerca de 20 anos depois do contato com o produto químico
(Figueiredo & Pádua, 2005).
7.3 – A saúde dos trabalhadores de Boqueirão na visão da MTC
Uma das questões a considerar do ponto de vista médico, e em
especial da medicina tradicional chinesa, é a questão da baixa da
imunidade em alguns dos pacientes estudados. Do ponto de vista
145
científico, sabe-se que imunidade está associada ao papel da glândula
timo na produção dos timócitos, e que estas células resultam de
diferenciações dos macrófagos e células dendriticas interdigitantes,
precursores dos linfócitos T oriundos da medula óssea. Durante o
processo de maturação, elas passam a expressar receptores específicos de
antígenos (TCR – do inglês, T cell receptor) e outras moléculas,
denominadas
co-estimuladoras
(CD3, CD4,
CD8),
importantes nos
mecanismos de ativação dessas células (Balestieri, 2006).
A partir do momento em que os timócitos expressam os receptores
de antígenos na membrana, eles são selecionados de acordo com a
afinidade e o tipo de moléculas que reconhecem. Nesse processo seletivo
quase 90% da população tímica morre por apoptose, mecanismo de morte
programada. Durante o processo de seleção, os timócitos passam pelo
processo de diferenciação e se tornam LT auxiliares (LTh) ou linfócitos T
citotóxicos (LTc) (Balestieri, 2006).
Os precursores dos linfócitos T (células CD44+), provenientes da
medula óssea, chegam ao timo e sob a influência de fatores quimiotáticos
derivados do epitélio tímico, instalam-se na região logo abaixo da cápsula
(região subcapsula) e à medida que se tornam maduros migram do córtex
para a medula. Os linfócitos T citotóxicos CD8 apesar de produzidos no
timo são ativados no baço (Balestieri, 2006).
Os Linfócitos citotóxicos CD8 representam a melhor linha de defesa
imunológica contra determinadas bactérias, vírus e células atípicas, e pré
cancerosas. Os citotóxicos CD8 acoplam-se a membrana da célula que
desejam atacar, perfuram essas membranas celulares, e introduzem um
ácido nas mesmas, destruindo-as.
As células do sistema imune encontram-se organizadas em tecidos e
órgãos que coletivamente são chamados órgãos linfóides, os quais são
divididos em primários e secundários. Os primários são: a medula óssea
(elemento água, segundo a Medicina Tradicional Chinesa) e o timo
(elemento terra, pela MTC). Segundo a MTC, quem controla os ossos é o
146
rim. Os demais órgãos como o baço, nódulos linfáticos e placas de Peyer
são órgãos linfóides secundários (elemento terra).
Segundo Oliveira (2003), nos órgãos primários ocorre a diferenciação
das células do sistema imune. Enquanto os linfócitos T se diferenciam no
timo, antes de migrar para os órgãos linfóides secundários, os linfócitos B
são derivados diretamente da medula óssea (Rin, elemento água segundo
a MTC). Vinte e cinco por cento de todos os linfócitos estão no baço. Essa
organização é fundamental para permitir o funcionamento do sistema
imune que é dependente da interação entre as várias populações celulares
que compõem o sistema imunológico. Como o baço recebe uma grande
quantidade de sangue, para ele aflui uma grande quantidade de antígenos
do sistema imune. Os linfócitos T e B, presentes no sangue, que passa
pelo baço já estão diferenciados em linfócitos T CD4 e CD8 e linfócitos B.
Uma vez no baço, dentro desse órgão, as células migram para as regiões T
e B, onde algumas permanecem até receber o estímulo antigênico. As
células
presentes
no
baço
circulam
por
outros
órgãos
linfóides
secundários. Para que essas células se alojem nesses órgãos, eles devem
expressar algumas moléculas que permitam a interação entre as células
do sistema imune e o órgão. Várias dessas moléculas, moléculas de
adesão e receptores de endereçamento (homing) já foram identificadas,
assim como os mecanismos de interação entre as células e os receptores.
Essas atividades são fundamentais para a manutenção desses ambientes
especializados, e são importantes para a dispersão das células, bem como
para a interação das células alvo de memória e para o desenvolvimento da
resposta imune primária e secundária. O processo de maturação do
linfócito T inicia-se na medula óssea onde a célula pluri-potente não
diferenciada tem que migrar para o timo. Após a diferenciação do timo,
essa célula é introduzida na corrente sanguínea indo para os órgãos
linfócitos secundários, principalmente o baço. Chegando ao baço, sua
permanência nesse órgão dependerá da interação entre as células e os
receptores adequados que permitirão o homing dessas células. O mesmo é
importante quando essas células saem do baço e dirigem-se a outro local,
147
pro exemplo onde está ocorrendo inflamação. Para que elas migrem para o
local da inflamação será necessária a interação com uma série de outros
receptores que permitirão a migração dos linfócitos e outras células do
sistema imune para onde elas são necessárias. A função principal de um
órgão linfóide secundário é iniciar a resposta imune. Seguindo esse
raciocínio, o elemento Terra (Baço pâncreas/estômago), é que teria a
incumbência de defender o organismo diante de um agente agressor
externo. Mais uma vez aqui vemos, que a MTC estava certa, quando
registra nos textos antigos escritos há mais de 2.000 anos antes de Cristo,
que os pontos do meridiano do Bp e E, devem ser pontuados para
aumentar a capacidade de defesa do organismo.
Esse órgão recebe células provenientes de outras regiões do corpo
chamadas apresentadoras de antigenos (APC). Dentre essas células estão
os
macrófagos,
células
dendríticas
e
de
Langerhans.
Elas
são
denominadas células apresentadoras profissionais, uma vez que outras
populações celulares, como os linfócitos B, por exemplo, também podem
apresentar antígenos. As APC são responsáveis por levar até este órgão
(baço) antígenos estranhos ao organismo presentes na circulação. No baço
e em outros órgão linfóides secundários, as APCs interagem com as
células T, primadas ou não, que por sua vez interagem com as células B,
iniciando o processo da resposta imune. Quando a interação das APCs
ocorre com as células T não primadas dá-se o início da resposta imune,
ocorrendo a expansão clonal dessas células, e sua diferenciação em
células imune efetoras ou de memória. Portanto, o baço é o principal
órgão envolvido no início da resposta imune, contra antígenos presentes
na circulação sanguínea.
O baço é também responsável pelo armazenamento de todos os
metais do organismo e de substâncias fundamentais ao metabolismo,
principalmente hepáticos. Pode-se considerar que ele precede parte das
funções do hepatócito. Portanto, se houver uma doença esplênica ou se o
baço for retirado, haverá grande sobrecarga funcional dos hepatócitos e do
sistema
mononuclear
fagocitário
do
fígado
(Petroianu,
2003).
Isto
148
comprova o que diz a medicina tradicional chinesa, quanto a relação que
existe entre madeira (fígado) e terra (baço).
Resende et al. (2003) considera as principais funções do baço como
sendo: 1- hematopoiese na vida fetal, ocasionalmente após o nascimento;
2.- Função imunológica devido a: a)- grande acúmulo de linfócitos T e B,
macrófagos e outras células com função imunológica; b)- proliferação de
linfócitos ativados. c)- síntese local de imunoglobulina, d)- produção de
opsoninas que estimulam a fagocitose (Tuftsina),
alternativa
do
complemento
–
properdina;
3.-
e que ativam a via
Reconhecimento
e
eliminação de células sanguíneas anormais, danificadas ou senescentes
(seqüestro e fagocitose); 4.- Armazenamento de elementos constituintes do
sangue (pooling) e 5.- Controle do volume plasmático.
Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, teoria Zang-Fu, cada
órgão interno está em íntima relação com uma víscera, que eles
denominam de relação marido e mulher, fazendo uma analogia à ligação
que existe no casamento. Exemplificando, no caso do elemento terra essa
relação se dá entre o baço, pâncreas e estômago; no elemento metal, entre
pulmão e intestino grosso; no elemento água, entre rim e bexiga; no
elemento madeira, entre fígado e vesícula biliar; e no elemento fogo, entre
coração e intestino delgado.
Assim na visão da Medicina Tradicional Chinesa, existe uma relação
fisiológica entre yang ming (estomago e intestino grosso) e Wei Qi (energia
defensiva). Nos textos chineses do Ling Shu (capítulo 18) podemos ler: “A
energia defensiva Wei Qi, vem do aquecedor inferior. É a principal energia
defensiva”. O aquecedor inferior está localizado na região do piloro.
Corresponde ao ponto VC10 (vaso concepção 10). Wei Qi flui fora dos
meridianos. Então, existe uma circulação do Wei Qi fora dos meridianos e
grandes vasos dos troncos arteriais. Esse papel defensivo é incontestável:
A energia errante que não segue os meridianos é conhecida como energia
defensiva, Wei Qi. Outras passagens deste texto indicam que o Wei Qi
circula entre os capilares mais finos. Este é o local, de acordo com os
chineses antigos, onde ocorre a luta entre a energia perversa e a energia
149
defensiva: Quanto o paciente é afetado pela energia perversa, é sempre a
energia defensiva Wei Qi, que primeiramente é afetada, e a energia
perversa quase sempre se aloja nos capilares mais finos. “Se você a
dispersa e sangra, você melhorará - Ling Shu, cap. 48” (Requena, 1981) .
Assim, do ponto de vista da imunologia nós agora podemos entender
muito bem o significado dessa técnica terapêutica. Sabemos que nos
casos de agressões, a vaso dilatação é a na maioria dos casos resultado de
uma concentração de mastócitos e de liberação de histaminas e de várias
cininas. Estas são as origens da atividade dos leucócitos e dos macrócitos.
A perfuração do endotélio capilar pela sangria brutal de uma agulha
intensifica naturalmente a reação de defesa. Existe também uma
observação clínica importante. Notamos, examinando pacientes yang ming
e
alguns
tipos
Tai
Yin-Terrra,
que
os
sua
circulação
capilar
frequentemente está alterada. Isto se manifesta por uma rede sobre toda
superfície corporal, mais frequentemente nas faces e nas pernas, onde a
pele fica com aspecto róseo-perolada. Nós esperamos que existam
conexões fisiológicas entre sujeitos Yang Ming e a vulnerabilidade capilar
desses sujeitos, em sua morbidade vascular. Yang Ming é determinado por
uma tendência fisiológica ao excesso do estomago – a gastrina circulante –
certos efeitos dos quais são relacionados com a liberação de histamina
pelos mastócitos o que pode explicar essas conexões. Isso é uma hipótese
que deve servir para orientar pesquisas básicas onde a ação a acupuntura
poderia provar ser muito útil (Requena, 1986).
Quanto aos resultados dos mineralogramas, podemos fornecer
alguns exemplos dos resultados obtidos na visão da MTC. Os elementos
Zinco e cobre tonificam o Baço-pâncreas (TERRA); o manganês e o cobre
tonificam o pulmão (METAL); o cobre, o ouro, a prata e o cobalto
tonificam o Rim (AGUA). O excesso de alumínio leva a uma deficiência de
zinco, principalmente dentro das células beta do pâncreas, diminuindo a
produção de insulina. O zinco, diminuído nessas células de Langehans,
contribui
para
a
diminuição
do
papel
dessas
células
na
defesa
imunológica do organismo, causando baixa de linfócitos citotóxicos CD8.
150
O excesso de chumbo também provoca uma diminuição do zinco e tanto o
chumbo quanto o urânio, e o bário, possuem um efeito “estrogênio-like”, e
causam danos ao rim e fígado, podendo provocar uma quebra do ritmo
biológico. O chumbo inibe a absorção de triptofano, aminoácido precursor
de um neurotransmissor, a serotonina, levando ao aparecimento de
insônia, ansiedade, depressão, patologias essas, que encontramos um
déficit na produção de serotonina. Berílio elevado provoca diminuição de
Linfócitos T CD8. Excesso de chumbo pode provocar cefaléia, hipertensão
arterial, esterilidade, diminuição da aprendizagem, e hiperatividade em
crianças.
Em busca da origem precisa da toxicidade do chumbo, dois
químicos do laboratório de química teórica de universidade Pierre e MarieCurie (Paris VI), pesquisaram o comportamento quântico do átomo de
chumbo, bem como a bioquímica molecular das proteínas implicadas,
para responder a questão: o que é que torna o chumbo tóxico?
Certamente não é devido a sua natureza metálica, pois outros metais além
de serem tolerados pelo organismo, são também indispensáveis a ele. Três
metais participam da formação das chamadas metaloproteínas, sob uma
forma iônica: Fé ++, Cu++, e Zn ++. Sob a forma Pb ++ o chumbo é
também um íon, porém, não participa de um papel fisiológico virtuoso. Ao
contrário, na verdade, é um grande perturbador das metaloproteínas,
principalmente sobre a ALAD, uma enzima essencial à fabricação da
hemoglobina das hemáceas. No centro da ALAD existe um íon Zn++, e
quando ocorre uma intoxicação pelo chumbo, o íon Pb++, compete com o
Zn++, tomando seu lugar, e como conseqüência disso, a enzima ALAD é
inibida, ficando impossibilitada de exercer seu papel. Podendo provocar
uma anemia severa (Donnars, 2007).
Outro exemplo que podemos discutir é o caso do alumínio, um
metal encontrado em grande quantidade nos agricultores do açude
Epitácio Pessoa. O alumínio é o metal mais abundante na litosfera, sendo
seus níveis mais baixos na água, plantas e animais. A média da ingestão
diária (DDI) na alimentação oscila entre 2,3 e 100,0 mg dependendo do
151
estudo considerado. Na MTC, o excesso de alumínio provoca uma
diminuição do yin do rim, podendo levar a osteoporose pelo excesso de
yang. Quando se fala em rim (água) na MTC não se está falando apenas
do órgão em si, mas de ossos, medula, cérebro, útero, próstata e
glândulas supra-renais, ovários e testículos. Assim, o excesso de alumínio,
ao provocar diminuição do yin do rim também resulta em déficit de
memória, Alzheimer, redução no metabolismo do cálcio, ansiedade,
cefaléia, distúrbios da fala, dores nos ossos, e insuficiência hepática. Ou,
no entendimento da MTC, pela lei da geração dos 5 elementos, a água
(rim) é que alimenta (nutre) a madeira (fígado), logo, é a insuficiência de
água provocada pelo excesso de alumínio que leva às disfunções
hepáticas.
Muitos desses sintomas constatados nos sujeitos estudados
nesta pesquisa comprovam comprometimento hepático, confirmando,
desse modo, a eficácia da Medicina Tradicional Chinesa.
O excesso de alumínio também causa coagulopatias (aumento do
tempo de protrombina), relacionado com a obstrução da absorção de
Fósforo pelos Intestinos. O fósforo tem papel importante na coagulação do
sangue (função hepática) que segundo a MTC corresponde ao elemento
madeira. O excesso de alumínio também provoca Fibrose Pulmonar, visto
que, segundo a MTC, o metal (pulmão) não poderá nutrir ou gerar a água,
haja vista, que a angiotensina I produzida no Rim, somente será ativada
nos
alvéolos
pulmonares,
onde
sofre
a
ação
da
enzima
ECA,
transformando a angiotesina I em angiotesina II (ativada), que retornará
ao Rim pela corrente sanguínea para cumprir sua função fisiológica.
Ainda, o excesso de Al altera os sistemas de enzimas de transferência de
fosfatos celular, envolvendo ATP e Mg provocando perturbações no
metabolismo
dos
carbohidratos,
que
depende
do
pâncreas
(baço-
pâncreas/terra). O excesso de Al diminui a quantidade de Zn dentro das
células Beta do pâncreas, contribuindo para a diminuição da produção de
insulina. A baixa de Zn dentro das células Beta pancreáticas, causará
diminuição da defesa orgânica, pelo déficit de linfócitos citotóxicos CD 8
(produzidos no Timo, e ativados no Baço).
152
Alguns tumores são cem vezes mais freqüentes nos pacientes com
um sistema imunológico defeituoso. Caso a imunodeficiência possa ser
melhorada, os tumores podem regredir. Isso levou alguns pesquisadores a
considerar que o sistema imunológico realmente combate os tumores.
Apesar de a maioria dos tumores que os pacientes com baixa imunidade
desenvolvem é estimulada pelos vírus da mononucleose infecciosa
(Epstein-bar),
herpes
humano
8,
e
papiloma
(HPV),
provocando
respectivamente: linfoma, sarcoma de Kaposi e o carcinoma de colo de
útero. A grande maioria dos tumores não é causada pelos vírus, mas
resulta de dano genético provocado por substâncias químicas ou por
radiação (Helbert, 2007). Nos sujeitos estudados nesta pesquisa observouse um considerável percentual de pacientes com baixo número de
linfócitos, indicando baixa imunidade, um indicativo de que os mesmos
estão susceptíveis aos riscos citados.
A maioria das substâncias químicas contidas nos agrotóxicos
utilizados na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, pode levar, em
longo prazo, ao surgimento de cânceres não somente pelo risco de dano
genético como exposto acima, bem como pela indução da baixa da
imunidade devido a intoxicação crônica por metais pesados e baixas de
alguns minerais essenciais como o zinco.
O expressivo número de incidências de óbitos por câncer no
município de Boqueirão, dos quais a maioria trabalhava principalmente
como agricultores, pressupõem-se a existência de uma relação direta entre
tais neoplasias e a exposição crônicas aos agrotóxicos. Grisolia (2005)
comenta que nas populações de agricultores expostos aos agrotóxicos
seus linfócitos apresentavam maiores alterações cromossômicas quando
comparados a populações não exposta e que também ocorriam alterações
genéticas no que concerne a genes híbridos que são resultantes de uma
combinação incomum intralocus, sendo mais um indicador da capacidade
mutagênica dos agrotóxicos. Segundo este autor, não somente nossos
órgãos, mas também nossos sistemas são regulados pelos hormônios, de
maneira que pequenos distúrbios nessas substâncias podem provocar
153
desequilíbrios fisiológicos, em importantes estágios da vida, como na
embriogênese, na puberdade, na gestação e na lactação. No meio
ambiente
existem
diversas
substâncias
que
provocam
disrupções
hormonais, atuando como hormônio “like”, imitando, inibindo, ou
bloqueando as funções endócrinas. Diversos agrotóxicos e subprodutos de
sua degradação, bem como alguns tipos de metais pesados podem atuar
como disruptores endócrinos (Pozo et al., 2008), e provocar essas
alterações. Em humanos efeitos adversos tais como: imunossupressão,
câncer de mama, próstata, testículo, endometriose, redução da fertilidade,
alterações na tireóide, hipófise, e alterações neurológicas podem estar
associadas a essas disfunções endócrinas (Grisolia, 2005).
Comparando-se os resultados dos exames laboratoriais (sangue e
mineralogramas) com os sintomas e com os diagnósticos baseados na
MTC (pulso e língua), conforme quadro síntese abaixo (Quadro 1),
confirma-se a existência de uma relação de causa-efeito entre essas
variáveis e a provável ação dos agrotóxicos usados na agricultura irrigada
do açude Epitácio Pessoa, Boqueirão, PB.
Considerando-se que 76% das mulheres apresentam pulso tipo II, o
que significa dizer que constitucionalmente possuem baixa no elemento
água e excesso do elemento fogo, em outras palavras, baixa energia no rim
e alta energia no coração, a ação dos agrotóxicos sobre essas mulheres
pode ter efeito direto desequilibrando a energia desses órgãos, piorando a
situação
inata.
Assim,
devemos
esperar
dentre
essas
mulheres
determinada percentagem, particularmente daquelas que foram expostas
por mais tempo aos agrotóxicos, de mulheres com creatinina abaixo do
limite de referência, indicando que o elemento água, nesses casos, não
está cumprindo eficientemente o seu papel fisiológico de nutrir o elemento
madeira, ou seja, o fígado, explicando as baixas taxas de creatinina
observadas, que clinicamente indica presença de patologia hepática
severa. Nessas mulheres, a conseqüência das baixas taxas de creatinina
pode justificar as altas percentagens dos sintomas registrados.
154
Quadro 1 – Síntese comparativa dos resultados clínicos e laboratoriais com os
diagnósticos da MTC. Em vermelho
Variáveis
Homens (%)
Mulheres (%)
Energia em baixa
Energia em alta
Mão (linha da vida)
I
2
0
Madeira (figado)
Metal (pulmão)
Menor que a IV
e descontínua
Sintomas principais
observados
CO, HT, CE, AN
(1).
Principais alterações
exames sangue
-
Principais alterações
nos mineralogramas
do cabelo
Língua (Figura 38)
Tratamento
-
BP, AS, FIA (3)
(foto 1)
Sedar pulmão,
tonificar fígado.
II
10
76
Água (rim)
Fogo (coração)
Menor que a IV
e
descontínua
CE, EP, FA, TO,
TR, CA, IN, ZU,
CO, NA, DL,
GA, SNR(1)
Mulheres:
CD4/CD8, Le,
Bbi, BBt, GL,
Fa,; Li, CD8%,
CD8t, Cr(2).
Mulheres:
Al,
Ba, Be, Bi, Cr,
Fé, I, Mg, Mn,
Pb, Ca, S, Mo,
P, Zn.
Ve, Vee, PVPL,
AS (3) (Foto 2)
Sedar coração,
tonificar rim.
III
22
12
Metal (pulmão)
Madeira (fígado)
Menor que a IV e
descontínua
IV
66
12
fogo (coração)
água (rim)
Nítida
e
contínua, longa.
CE, EP, FA, TO,
TR, CO, IN, ZU,
CO, CA, GA (1).
IM, DP, HT, NA,
IN, FA, QE, DMI,
DL, CA, UU, SI
(1).
Homens:
CD4/CD8,
EO
Bbi, Bbt;
Cr,
CGT
CD4%,
CD8%,
CD8T,
Le, Li(2).
Homens: Al, Ba,
Be, Cr, Fe, I, K,
Mn, Pb, Sb, Sr,
Th,. U, Au, Ca, I,
Zn.
Pa, AV, MD (3)
(foto 4)
Sedar
rim,
tonificar
coração.
-
-
Ve, Ra, Sec (3)
(foto 3)
Sedar
fígado,
tonificar pulmão.
DO = dor nos olhos, CE = cefaléia, HI= AN = ansiedade, TO= tonturas, EP = epistaxe,
FA = fadiga, TR = tremores, CA = câimbras, IN = ZU= zumbido, CO = conjuntivite, DP =
dor precordial, tremores=TR, rigidez e contraturas musculares =RM, IM = impotência,
HT = hipertensão, GA = gastrite, DMI = dor nos membros inferiores, DL = dor lombar,
SNP = sono não reparador.
(2)Le = leucócitos, Bbi = bilirrubina indireta, BBt = bilirrubinas totais, GL = glicemia, Fa =
fosfatase alcalina; Li = linfócitos, CD8%, CD8t, Cr= creatinina. Em vermelho, valores
acima dos limites de referência; em azul, abaixo.
(3)BP= branco pálida, AS = ausência de saburra, FIA = Fina e amarelada; Vê = vermelha,
Vee = vermelho escuro, PVPL = pontos vermelhos na ponta da língua; Pa = Pálida, AV =
aumento de volume, MD = marca dos dentes.
(1)
O estado de deficiência do yin dos rins, nas pessoas com pulso II,
segundo a MTC (Zang-Fu), corresponderia a síndrome do vazio de yin dos
rins (hipofunção renal). Um tratamento adequado consistiria em fortificar
e alimentar os rins. Aumentar o yin e baixar o fogo. Segundo a medicina
tradicional chinesa a acupuntura poderia ser feita nos pontos: 17B, 23B,
52B, 1R, 2 R, 3 R, 6 R, 7R, 1B, 6B, 8B, 1F, 8F, 6VC, 6CS, 11IG. E
segundo a acupuntura constitucional: tonificar a água dos rins pela lei
dos cinco elementos, tonificar 7R, 9P e sedar 3BP e 3R.
155
Figura 38. Os diferentes tipos de língua encontrados nos agricultores com pulso
tipo I (a), II (b), III (c) e IV (d).
O estado de excesso yang no fígado, que corresponderia ao pulso III
na MTC (Zang-Fu), corresponderia a estagnação da energia do fígado. Na
acupuntura chinesa um tratamento adequado poderia ser: alimentar o yin
e umedecer o pulmão. A acupuntura poderia incluir os seguintes pontos:
6P, 9P, 10P, 3R, 43Be, 13Be, 23Be, 6BP. A acupuntura constitucional
poderia ser feita tonificando o metal do pulmão pela lei dos cinco
elementos, tonificando P9 e BP3 e sedando P10 e C8.
No caso dos homens, a maioria apresentou pulso do tipo IV, o que
significa dizer que constitucionalmente eles são o oposto dos do tipo II.
Possuem baixa no elemento fogo e excesso do elemento água, em outras
palavras, (melhor função excretora); baixa energia no coração e alta
energia nos rins. A ação dos agrotóxicos sobre esses sujeitos pode ter
efeito direto desequilibrando a energia desses órgãos, piorando a situação
inata.
Segundo o diagnóstico pelo pulso constitucional eles têm maior
susceptibilidade de adoecer por excesso de Yin nos rins, (por falta de yang
nos rins), e deficiência de yang no coração.
156
Assim, devemos esperar determinada percentagem de homens,
particularmente daqueles que foram expostas por mais tempo aos
agrotóxicos, alterações imunológicas indicando que o excesso do elemento
água (yin do rim) nesses casos diminui o fogo do coração, e assim nutri
insuficientemente o elemento terra (Baço), provocando baixa do yang do
baço, alterando as taxas de linfócitos.
As informações extraídas dessa análise corroboram os resultados
estatísticos, que evidenciaram uma menor vulnerabilidade dos homens
(pulso IV, a maioria) aos fatores que possam desencadear alterações
bioquímicas
e
metabólicas
decorrentes
de
exposições
crônicas
a
agrotóxicos, visto que os que apresentam esse tipo de pulso também
apresentam a linha da mão bem marcante, indicando maior vitalidade,
apesar de eles estarem expostos a mais de 10 anos. Enquanto as
mulheres têm mais contato com esses produtos durante as colheitas.
O estado de excesso do yin dos rins, na MTC (Zang-Fu), devido a
uma baixa do yang do rim, corresponderia a síndrome do vazio de yin dos
rins. Um tratamento adequado consistiria em sedar os rins e tonificar o
coração, utilizando os pontos: BP3, C9, R3 em tonificação e R1, C3 e P5
em sedação, pela acupuntura constitucional e pela medicina chinesa
(Zang fu) um tratamento adequado poderia ser: 22VC, 23Bx, R3, 6VC,
10P, 7P, 9P, 13 Bx, 7C, 9C, 36E, 40E, 12VC, 4VC, 23Bx e BP6.
Para os sujeitos pulso IV, seguindo-se o raciocínio da lei de geração
e de dominância dos cinco elementos, onde fogo gera a Terra, esta gera o
Metal, este gera a Água, e esta gera a Madeira, teríamos que: Na lei de
dominância, água apaga o fogo, fogo derrete o metal, metal corta a
madeira, madeira segura a terra, terra controla a água (metafóricamente).
Então teremos primariamente: Situação a: O Yang dos rins estado em
estado de vazio não pode cumprir a função de aquecer o corpo
(suprarenal, produz epinefrina e adrenalina), nem excitar a mente (rim
nutre o cérebro pela medicina chinesa). Então, a "habitação dos rins" está
enfraquecida, ou seja, o paciente sente uma sensação de vazio ou dor na
região lombar. O fogo do Ming Mem (porta da vida) está enfraquecido
157
(DHEA), podendo levar a esterilidade e impotência. O Yang do rim em
deficiência, não consegue controlar a temperatura do corpo, assim, o
paciente queixa-se de mãos e pés frios. A falta do Yang nos rins, pode
levar a quadro de edema e oligúria. O excesso de elemento água (excesso
do Yin dos rins) diminui o fogo do coração, levando ao aparecimento de
palpitações, dispnéia, tosse asmatiforme, respiração sibilante. Esse tipo de
desequilíbrio
pode
levar
as
seguintes
patologias:
enfisema,
asma,
insuficiência cardíaca crônica, edemas funcionais, nefrites (aguda ou
crônica). Secundariamente a este excesso de Yin do rim, pode ocorrer um
estado de deficiência do Yang - Qi do coração que na MTC corresponderia
a três síndromes: 1) Vazio de Qi do coração, 2) Vazio do Yang do coração,
3) Estase de sangue do coração. Quando o Qi do coração está em
deficiência, a capacidade dos ventrículos em impulsionar o sangue é fraco,
então a circulação sanguínea é retardada, e o sangue não sobe a face, o
paciente apresenta fácies descorada, a língua apresenta-se pálida.
Paciente transpira muito. No segundo tipo de síndrome, Yang do coração
em vazio, os sintomas acima descritos agravam-se. Pode haver início de
confusão mental, que se não tratados vai piorando, o pulso torna-se
deslizante, tênue, tendendo a parar. Num estado mais avançado, pode
ocorrer uma estase do sangue no coração, por vazio de Yang e Qi,
provocado pelo excesso de Yin do rim. Dor precordial, palpitações,
irradiando para os ombros, braços e borda medial do membro superior
esquerdo. Nesse estágio o corpo da língua pode tomar uma coloração
púrpura
com
pontos
violeta,
principalmente
na
ponta.
Estas
características podem ser encontradas nas seguintes patologias: neurose,
cardiopatias, arritmia cardíaca, coronariopatias, angina pectoris, infarto
do miocárdio. Terciariamente, o fogo do coração é insuficiente para nutrir
a Terra, então pode ocorre estado de deficiência do Yang do baço e
estômago, caracterizada por diminuição de apetite, empachamento pós
prandial,
diarréias
(principalmente
matinal),
fadiga
nos
membros
inferiores, respiração curta, dilatação do abdome, edemas, leucorréia,
extremidades frias. As patologias freqüentemente relacionadas são:
158
distúrbios
funcionais
gastrintestinais,
úlcera
gástrica
crônica,
gastrenterite crônica, tuberculose intestinal, hepatite crônica, e cirrose
hepática. Hiperenergia de elemento água nos rins pode levar a um excesso
de elemento metal, pois o exce4ssode água nos rins apaga o fogo, e o fogo
do coração diminuído (Yang do coração em baixa), não consegue controlar
(derreter) o metal. Teremos probabilidades de ocorrer as seguintes
patologias: inspiração diminuída, expiração aume,0ntada, ocorrendo o que
na medicina ocidental recebe o apelido de dispnéia 0suspirosa. Essa
queixa
é
agravada
pelo
esforço
físico.
Coexiste
palpitação,
tosse
asmatiforme. Incontinência urinária, ou urinação quando tosse. O rosto
fica azulado, a língua é pálida, aumentada de volume, e pode coexistir
impressão das marcas do dentes nas bordas da língua, devido ao excesso
de yin (água), mesmo que não esteja visível externamente.
159
8.- Considerações Finais
Os resultados da pesquisa efetuada em Boqueirão fornecem uma
visão complexa do problema, mas é difícil estabelecer uma priorização
desses problemas sem um aprofundamento maior na questão. Os dados
obtidos
parecem
contaminações
ser
crônicas
suficientemente
estão
robustos
acontecendo
entre
para
indicar
que
as
pessoas
que
trabalham na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, sejam pela
presença de metais pesados encontrados nos mineralogramas, alguns dos
quais elementos comuns que entram nas formulações desses produtos,
como o mercúrio e o chumbo, por exemplo, seja através das alterações
evidenciadas na bioquímica do sangue, ou pelas fortes evidências
fotográficas obtidas, ou pelos resultados dos sintomas levantados ou,
ainda, pelos dados pulsológicos segundo a MTC.
No entanto, não se tem como atacar diretamente o problema, visto
que isso depende de diversos fatores de natureza técnica, política, social,
cultural e econômica. Ainda, a falta de recursos humanos suficientemente
treinados para tratar com a questão e a falta de recursos econômicos para
projetar soluções viáveis para um futuro próximo podem inviabilizar
quaisquer tentativas de melhoria das condições sócio-ambientais da área,
a curto e médio prazo.
Apesar de se visualizar que há um longo caminho pela frente, é
necessário pensar formas de intervir visando melhoria da qualidade de
vida das pessoas e da qualidade ambiental da área, buscando por
processos produtivos que garantam ao mesmo tempo sustentabilidade
ecológica e econômica, e a saúde dos trabalhadores. A busca por
alternativas sustentáveis deve considerar a inserção coletiva no propósito,
levando em conta não somente os aspectos técnicos que serão oferecidos
aos trabalhadores (exógenos), mas também o saber local, a vivência em
suas práticas cotidianas (endógenos), e preferencialmente difundindo
novas práticas produtivas no seio das comunidades e das famílias,
160
iniciando-se em particular com os mais jovens que sempre são mais
abertos as mudanças.
Uma das questões a considerar seria o desenvolvimento de práticas
de agricultura orgânica, o que mudaria a base tecnológica local e poderia
em médio prazo, melhorar a qualidade de vida das populações. Neste
processo, a participação da mídia seria de importância vital, visto que os
trabalhadores rurais têm sua sobrevivência exclusivamente calcada em
sua prática laboral, o que tornaria difícil a sua sobrevivência se alguns
cuidados não fossem tomados para garantir esse ganho.
A procura de alternativas de intervenção não pode desconsiderar a
presença destes mecanismos nos coletivos de trabalho, assim como,
desprezar o saber-fazer e a inteligência criativa dos trabalhadores, sob o
risco de recair nos mesmos erros de antes. Seria, assim, dentro deste
contexto que ações poderiam ser propostas, evitando-se continuar
apostando em trabalhos que há muito não trazem um resultado
significativo. Um dos grandes “nós” de se trabalhar com pessoas que não
são profissionais formados nas escolas é justamente considerar que o
saber delas é menos importante do que o saber técnico, ao contrário de
caminhar na direção de complementação de saberes, acabando por
acontecer uma confrontação, onde ambas as partes tendem a perder.
Finalmente, a comprovação efetiva de que contaminações crônicas
estejam ocorrendo poderia ser checada através de análises de pesticidas
em sangue e tecidos humanos, mas deve-se alertar para o fato de que
esses resultados precisariam ser obtidos em distintos laboratórios, haja
vista a discrepância observada entre a ausência de agrotóxicos nas
amostras de peixes e tomates coletadas em Boqueirão e o fato de que os
tomates colhidos estavam sendo pulverizados com fungicida na hora da
coleta. Em face dessa discrepância,
sugere-se um monitoramente
contínuo dos produtos agrícolas e do pescado oriundos do açude Epitácio
Pessoa, através de um órgão oficial do Ministério da Saúde, como a
ANVISA.
161
9.- Conclusões
a)- as práticas produtivas utilizadas nas margens do açude Epitácio
Pessoa,
baseadas
na
utilização
de
agrotóxicos,
comprovadamente
provocam danos ao meio ambiente e à saúde humana.
b)- os agricultores de Boqueirão não tem o hábito nem a preocupação de
utilizar equipamentos de proteção individuais completos nas suas práticas
laborais, quando fazem o preparo das caldas e as aplicações de veneno
nas plantações de tomate e pimentão.
b)-
os
agricultores
de
Boqueirão
não
seguem
as
recomendações
preceituadas pela legislação vigente no que se refere a aquisição e uso de
agrotóxicos e o descarte das embalagens.
c)- das práticas laborais evidenciadas na pesquisa participam inclusive
mulheres e crianças, sendo que estas, em especial, carregam caixas de
tomate durante as colheitas, o que pode lhes ocasionar problemas
ergonômicos futuros.
d)-
o
consumo
de
tomates
contaminados
com
agrotóxicos
pelos
trabalhadores, inclusive crianças, é fato comum no açude Epitácio Pessoa,
sendo tal prática perigosa à saúde dos trabalhadores.
e)- a prática adotada pelos trabalhadores de Boqueirão em alimentar
galinhas e outros animais com tomates não aproveitados para a venda
traz risco adicional à saúde da população, visto que os tomates não são
lavados e muitos dos agrotóxicos usados são persistentes.
f)- muitos dos sintomas evidenciados entre os trabalhadores durante os
exames clínicos já foram levantados por outros autores que pesquisaram o
problema tanto em Boqueirão como em outras localidades, o que indica
162
que eles de fato podem estar relacionados com contaminações crônicas
por agrotóxicos.
g)- Os resultados dos exames de sangue indicam que está ocorrendo entre
os agricultores do açude Epitácio Pessoa, predominantemente problemas
hepáticos e imunológicos.
h)- Os exames mineralogramas indicaram a presença de uma grande
diversidade de metais nos cabelos dos agricultores de Boqueirão, sendo
que muitos desses metais entram em formulações de agrotóxicos.
i)- Os exames dos pulsos, segundo as técnicas da medicina tradicional
chinesa, indicam predominância dos tipos II entre as mulheres e IV entre
os homens.
j)- Os exames das mãos dos agricultores de Boqueirão, evidenciam que a
maioria dos homens possuem a linha da vida bem acentuada, indicando
grande vitalidade.
l)- Os testes estatísticos demonstram que as diferenças entre as pessoas
que possuem pulso II e pulso IV são significativas, e que as correlações
entre as variáveis do sangue e dos mineralogramas mostram maior
sensibilidade às mulheres.
163
10.- Recomendações
a) Implantar um sistema de vigilância das condições de saúde da
população de Boqueirão e adjacências, relacionando-as com análises de
agrotóxicos em produtos agrícolas e peixes oriundos do açude Epitácio
Pessoa,
b)- Iniciar práticas terapêuticas segundo as Técnicas da Medicina
Tradicional Chinesa, visando melhorar as condições de saúde da
população cujos resultados dos exames comprovadamente evidenciam
problemas hepáticos e imunológicos. O Uso das técnicas de Medicina
Tradicional Chinesa poderá ser útil no tratamento de pacientes com
contaminação
crônica
por
agrotóxicos
e
derivados.
Pacientes
contaminados e que apresentam alterações hepáticas e imunológicas
poderão ser tratadas através da acupuntura constitucional, por exemplo,
utilizando em cada paciente não mais que 10 agulhas de acupuntura por
sessão, sendo realizadas duas sessões semanais. Com essa prática, é
possível provar que a acupuntura aumenta as taxas de linfócitos CD8, e
poderá estimular a eliminação através da urina e das fezes de metais
pesados, melhorando o quadro clínico substancialmente e efetivamente.
c)- Iniciar um trabalho de distribuição de material informativo junto às
escolas e a comunidade em geral, sobre as doenças decorrentes da
contaminação por agrotóxicos, as dificuldades de diagnosticá-las, os
sintomas, que muitas vezes se confundem com gripe, dor de cabeça e
enjôo. Informando, ainda, as formas corretas de manuseio dos produtos,
cuja inconseqüência pode levar inclusive ao câncer, enfim, uma cartilha
que informe sobre práticas mais limpas como medida de prevenção da
saúde, as vantagens do uso de praticas produtivas ecológicas, sem uso de
agrotóxicos, mostrando os ganhos não somente monetário, mas acima de
tudo de saúde.
164
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173
ANEXO
174
CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Este projeto científico envolvendo o médico Ricardo Arruda, aluno
mestrando do PRODEMA, PROGRAMA REGIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO
EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE NA UFPB (Universidade
Federal da Paraíba), e tem por objetivo, pesquisar a contaminação dos
plantadores de tomate e pimentão nas margens do açude Epitácio Pessoa
– Boqueirão/PB, sob orientação do Prof. Dr. Roberto Sassi.
Eu,___________________________________________________________,
ao
assinar o presente termo, estarei consentindo a utilização de amostras de
cabelo, sangue, esperma, e urina para análise de contaminação por
agrotóxicos e ou elementos traços (metais), cujas informações sejam
confidencialmente utilizadas para fins de pesquisa.
1-Minha participação envolverá em fornecer amostras de sangue, urina,
esperma e cabelo, e responder questionários sobre hábitos alimentares e
estilo de vida, e sobre sintomas que por ventura eu apresente.
2- Os exames de sangue e urina serão realizados pelo laboratório Maurílio
de Almeida, e os mineralogramas (exame dos elementos traços no cabelo),
serão realizados pelo laboratório Dr.Vandique, ambos na capital da
Paraíba.
3- Eu compreendo que os resultados dos estudos de pesquisa podem ser
publicados, mas que meu nome ou identificação não serão revelados. Para
manter a confidencialidade de meus registros, o pesquisador acima
descrito manterá minha identidade em forma de número e serão
guardados dentro de envelopes nos quais somente eles, terão acesso.
4- Os possíveis benefícios de minha participação serão receber as
informações sobre a quantidade de metais presentes no organismo, e o
resultado dos exames de sangue e urina.
5- Admito que sou voluntária e não receberei nenhum pagamento por
minha participação nesse estudo.
6- Fui informada que qualquer dúvida que tiver em relação a pesquisa ou
a minha participação, antes ou depois do meu consentimento, serão
respondidas pelo pesquisador supracitado.
6-Eu li as informações acima. Recebi a explicação sobre o tipo, riscos e
benefícios do projeto de pesquisa, e assumo conscientemente os riscos
envolvidos, compreendendo que posso retirar meu consentimento e
interromper minha participação a qualquer momento, sem penalidade ou
perda do benefício.
Assinatura da voluntária
Data:
/
/ 2007

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