Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
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Dissertação - PRPG - Universidade Federal da Paraíba
UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA NATUREZA PROGRAMA REGIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE – PRODEMA SUB-PROGRAMA UFPB/UEPB RICARDO CAVALCANTI DE ARRUDA AGROTÓXICOS E SAÚDE NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA: O CASO DA AGRICULTURA IRRIGADA DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA, PARAÍBA. JOÃO PESSOA – PB MAIO DE 2008 RICARDO CAVALCANTI DE ARRUDA AGROTÓXICOS E SAÚDE NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA: O CASO DA AGRICULTURA IRRIGADA DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA, PARAÍBA. Dissertação apresentada ao Programa de PósGraduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente Universidade Federal da Paraíba/Universidade Estadual da Paraíba, como parte dos pré-requisitos para a obtenção do grau de Mestre em Desenvolvimento e Meio Ambiente RICARDO CAVALCANTI DE ARRUDA ORIENTADOR: Prof. Dr. .ROBERTO SASSI A779a Arruda, Ricardo Cavalcanti de . Agrotóxicos e saúde na visão da medicina tradicional chinesa: o caso da agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, Paraíba/Ricardo Cavalcanti de Arruda – João Pessoa, 2008. 170f. Orientador: Roberto Sassi. Dissertação (Mestrado) – PRODEMA/UFPb - CCEN 1.Meio ambiente . 2. Medicina tradicional Chinesa. 3. AcuPuntura Constitucional. 3.Agrotóxico.4.Ecomedicina . UFPb/BC CDU: 504(043) RICARDO CAVALCANTI DE ARRUDA AGROTÓXICOS E SAÚDE NA VISÃO DA MEDICINA TRADICIONAL CHINESA: O CASO DA AGRICULTURA IRRIGADA DO AÇUDE EPITÁCIO PESSOA, PARAÍBA. BANCA EXAMINADORA _____________________________________________________ Prof. Dr. Roberto Sassi (UFPB/PRODEMA) ORIENTADOR _____________________________________________________ Prof. Dr. Paulo José Adissi (UFPB/CT) Examinador Titular __________________________________________________________ Prof. Dr. João Modesto (UFPB/CCS) Examinador Titular ________________________________________________________ Profa. Dra. Loreley Gomes Garcia (UFPB/PRPODEMA) Examinadora Suplente DEDICATÓRIA Religaris, palavra latina que sintetiza o sentimento de ligação entre o ser humano, a diversidade biológica de Gaia, e, até mesmo com o elemento carbono (tetravalente), gerado no fogo dentro do núcleo das estrelas. Essa mesma palavra torna-se infinitamente pequena para expressar a ligação afetiva existente entre o meu ser, meus cinco filhos: Diogo, Ramon, Ricardo Filho, Páola, e Lílian; meu neto Pedro, e, mais ainda, com os meus pais, Juracy Cavalcanti de Arruda e Jacy Miranda Cavalcanti de Arruda. vocês, minha vida! Ricardo Cavalcanti de Arruda A AGRADECIMENTOS 1- A Gabriela, Lila, Eliane, Izabel, e Etiane (que ajudaram no preenchimento dos questionários e das fichas de anamnese durante o atendimento no ambulatório do sindicato dos trabalhadores irrigantes de Boqueirão). 2- Izamario (baro), Vereador e vice-presidente do sindicato dos trabalhadores irrigantes, que não mediu esforços em prestar as informações necessárias à pesquisa. 3- Geraldo Barbosa (vice-prefeito do município de Boqueirão) e presidente do supracitado sindicato, que nos abriu as portas do ambulatório da policlínica do sindicato, quando outras portas tinham se fechado. 4- Ao ex-prefeito, ex deputado estadual, ex secretário chefe da casa civil do estado da Paraíba, João Fernandes da Silva e sua competente esposa Noemia Leitão, pela sincera amizade. 5- Ao Dr Fábio Rocha (Laboratório Dr.Maurílio de Almeida), pela colaboração e sujestões quando da coleta de amostras de sangue para exames laboratoriais. 6- Ao Dr Vandique pelos mesmos motivos referidos no item anterior. 7- Ao Sr. Oliberto Gabi Lobo, um cordeiro em paciência e verdadeiro mestre da informática que em segundos capta minhas idéias e as transforma em gráficos e figuras utilizadas nessa dissertação. 8- Aos trabalhadores da agricultura irrigada do município de boqueirão que gentilmente confiaram em mim entregando seu corpo e relatando suas queixas , para a realização desse trabalho. A vocês, heróis anônimos de uma sociedade muitas vezes injusta, minha gratidão e meu respeito! 9- A meu irmão querido, Guilherme, amigo das horas difíceis. 10- A Manoel, Dida, e Bárbara, respectivamente: irmão, cunhada, e sobrinha, que me conforta com suas atenções e carinhos, nos poucos momentos que passamos juntos, sempre deixando um vazio de saudade. 11- A Paulo Miranda,(avô) que custeou meus estudos básicos de acupuntura. 12- A meu avô Manoel Cavalcanti de Arruda, que ensinou a meu pai ser um pai amoroso. 13- A minha avò querida Alaíde Arruda, que ensinou: Quando alguém lhe agredir, “entregue a Deus”. 14- A meu orientador Professor Roberto Sassi, por me fazer não sentir falta do meu pai durante os estudos. 15- A Professora Doutora Cristiane F. Costa pela imprescindível ajuda nos cálculos estatísticos. 16- A Ramon que me deu um grande incentivo ao se dirigir a minha pessoa certo dia, e falar: “Painho, para um bom médico, você é um bom marketeiro”. 17- A Diogo, por me ajudar a aprender a me virar sozinho. 18- A Eulânia que além de me emprestar o carro para as viagens de campo, é uma boa companheira, que me deu dois presentes: Ricardinho e Lílian. 19- Aos professores do Prodema, em especial Profa Regina e Maristela, pela recepção paciente quando fui o último a se inscrever para a prova de seleção desse mestrado, bem como pela sua dedicação, competência e simpatia. 20- A Sra. Amélia, secretária do Prodema, sempre atenciosa e prestativa. 21- A Professora Dra.Loreley Garcia, pelo ensinamento disciplinar, me fazendo ser pontual, e pelas conversas extra classe sobre Paracelso e sobre Gaia. 22- Ao Técnico em Medicina Tradicional Chinesa , meu amigo Wilson Lopes de Oliveira, pela companhia durante o trabalho de campo, e pelas brilhantes sugestões e observações. 23- Ao Professor Climério Avelino de Figueiredo, meu chefe imediato no NEPHEF/CCS/UFPB(Núcleo de Pesquisa em Homeopatia e Fitoterapia do Centro de Ciências da Saúde, da Universidade Federal da Paraíba), pela ajuda constante desde a implantação do ambulatório de acupuntura no H U L W da UFPB, Campus I. 24- A Professora Dra. Margarete Formiga, diretora do CCS/UFPB, pela ajuda constante, desde quando para implantação do ambulatório de acupuntura do HU/CCS/UFPB, bem como para a realização desse trabalho. Sem a sua ajuda 2/3 dos mineralogramas de amostras do cabelo não seriam realizados. Sua pureza de alma, sua sinceridade, e sua simplicidade, fazem de sua pessoa, um ser iluminado, no meio de tanta mediocridade que muitas vezes perambula no meio acadêmico. Meu respeito professora! 25- A minha querida tia Maria Carmelita por ter amado meu pai; e a tia Arlete pelo incentivo constante. 26- Em especial a minha mãe, Jacy Miranda C. de Arruda, pela dedicação ao ensino das primeiras letras. 27- A Sra. Dalva técnica do Laboratório Maurílio Almeida, pela colaboração durante as coletas de amostra de sangue para análise. 28- A todos mencionados, e aos que minha gratidão. tenham me fugido da lembrança, 29- A Daniela e Marileide pela ajuda nas análises de amostras de tomate junto ao ITEP/PE. 30- Às pessoas más, que nada produzem para a evolução e o bem da humanidade, e passam a vida tentando atrapalhar quem quer fazer o bem, lhes digo: “O que não me mata, só me fortalece”! LISTA DE TABELAS pgs Tabela 1 – Total de arrendatários das terras marginais do Açude Epitácio Pessoa administradas pelo DNOCS, em função dos tamanhos dos lotes (Fonte: DNOCS; * = número de agricultores assentados que praticam agricultura irrigada apenas em áreas de vazante)...................................... 14 Tabela 2 – Algumas características yin e yang, encontradas entre os 46 humanos.................................................................................................. Tabela 3 – Correlação dos cinco elementos com o corpo humano e com os elementos da natureza.............................................................................. 55 Tabela 4. Principais tipos de agrotóxicos usados pelos plantadores de tomate e pimentão no entorno do açude Epitácio Pessoa, Município de Boqueirão\PB, conforme dados levantados em 2007. 89 Tabela 5 – Percentagem da população de homens agricultores do Açude Epitácio Pessoa, PB, cujos resultados dos exames de sangue são normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007.................................. 103 Tabela 6. Percentagem da população de mulheres agricultoras do Açude Epitácio Pessoa, PB, cujos resultados dos exames de sangue são normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007. 104 Tabela 7. Comparação dos percentuais de normalidade das variáveis investigadas nos exames de sangue das pessoas que trabalham na agricultura irrigada do Açude Epitácio Pessoa, PB, quanto aos sexos, conforme dados obtidos em 2007. 105 Tabela 8. Percentagem da população dos agricultores do Açude Boqueirão, PB, cujos resultados das análises de sangue se acham dentro dos limites de normalidade para cada variável medida, conforme resultados de exames efetuados em 2007. 106 Tabela 9. Percentagem da população de homens agricultores do Açude Boqueirão, PB, cujos resultados dos mineralogramas do cabelo são normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007. 110 Tabela 10. Percentagem da população de mulheres agricultoras do Açude Boqueirão, PB, cujos resultados dos mineralogramas do escalpo são normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007. Os casos 111 mais expressivos encontram-se em destaque. Tabela 11. Comparação entre sexos quanto às variáveis dos mineralogramas cujos resultados estão dentro dos limites de normalidade, conforme resultados dos exames efetuados nos agricultores do Açude Boqueirão, PB, no ano de 2007. 112. Tabela 12. Quantidades de óbitos por câncer no município de Boqueirão no período de 1993 a 2007. 113 Tabela 13. Principais incidências de neoplasias malignas no município de Boqueirão no período de 1993 a 2007. 114 Tabela 14. Resultados dos exames de agrotóxicos em Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) do açude Epitácio Pessoa, e em tomates provenientes da margens desse mesmo açude, realizados no Laboratório de toxicologia do ITEP, em março de 2008. 118 Tabela 15. Principais sintomas registrados nas anamneses realizadas entre os agricultores do município de Boqueirão no ano de 2007. 119 Tabela 16. Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e mineralogramas do cabelo para o sexo masculino. Correlações marcadas 120 em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=44). Tabela 17. Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e mineralogramas do cabelo para o sexo feminino. Correlações marcadas em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=17). 121 e 122 Tabela 18. Teste-t para as variáveis dos exames de sangue, comparando o pulso II com o pulso IV. 123 Tabela 19. Teste-t para as variáveis dos exames de sangue, comparando o pulso II com o pulso IV. 124 LISTA DE FIGURAS Pgs Figura 1. Representação esquemática da origem das forças naturais antagônicas (yin-yang) que segundo o I Ching originaram as “dez mil coisas”.................................................................................................... 35 Figura 2 – Representação das forças yin-yang no símbolo do TAO, evidenciando os quatro aspectos do mesmo princípio em um subgrupo de quatro: madrugada: yang no yin; manhã: yang no yang; tarde: yin no yang; noite: yin no yin. A parte clara é yang e a parte escura yin, em conformidade com o simbolismo da luz e da sombra............................... 47 Figura 3 – Esquema da circulação do Chi nos diferentes órgãos no período de 24 horas............................................................................... 50 Figura 4. Os cinco elementos da Medicina Tradicional Chinesa (lei de geração, e a lei da dominância). Fogo gera a terra, a terra gera o metal, o metal gera a água, a água alimenta a madeira, a madeira alimenta o fogo....................................................................................................... 53 Figura 5. Fisiopatologia da Esquistossomose manssônica de acordo com a lei dos cinco elementos.............................................................................................. 54 Figura 6. Modelo sintético da origem e evolução das “10.000 coisas do universo”, conforme concebido no I Ching (Livro das Mutações) e relacionado com os códigos genéticos............................................................................................... 57 Figura 7. Espermatozóides em ação (movimento = Yang), tentando penetrar o óvulo (estático = yin).(Fonte: More & Persaud, 2004..................................................................................................... 60 Figura 8 – observe a divisão celular a partir do ovo fecundado (o um inicial), dando origem a duas células, depois a quatro, oito, 16, 32 e 64 . (no 5º dia a partir da fecundação), quando ocorre a implantação no útero. (Fonte: More & Persaud, 2004).................................................................................................... 60 Figura 9. Os cinco tipos de mãos constitucionais, de acordo com os cinco elementos. Cortesia do Dr. Wo Tou Kuang, 70 SP.......................................................................................................... Figura 10. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a predisposição inata à patologias relacionadas com o elemento madeira e terra. a) quando a linha da vida começa mais próximo ao indicador há uma probabilidade maior de surgir patologias do fígado e vesícula biliar, como por exemplo, coleciste; quando a linha inicia-se mais próximo ao polegar, há maior probabilidade de se ter patologias no estômago e intestinos. 10.b) quando a linha da vida inicia-se no 1/3 médio entre o polegar e indicador, e se prolonga até a prega do punho, passando pela linha reta que passa no meio da mão, vindo do dedo médio até o meio do 1/3 distal do antebraço, próximo aos tendões flexores palmar do carpo, indica que seu portador possui boa vitalidade e resistência 71 física....................................................................................................... Figura 11. Representação esquemática da linha da vida mostrando a predisposição inata a patologias relacionadas com o elemento metal. Quando existir paralela e externamente a linha da vida uma linha menor como acima, existe a probabilidade de disfunção intestinal, prisão de ventre ou diarréia. Quando existir a presença de # ou estrela, pode sofrer de colite ou enterite....................................................................... 72 Figura 12. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a predisposição inata à patologias relacionadas com a vitalidade: a) quando área entre a linha da vida e o polegar é pequena, indica uma tendência a baixa vitalidade, e probabilidade de ter mau funcionamento do sistema digestivo, e esterilidade. b) quando na extremidade da linha da vida existe a presença de estrela, indica que fatores patogênicos e o organismo estão em luta ou que a enfermidade é grave...................................................................... 72 Figura 13. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a predisposição inata à patologias relacionadas com a vitalidade: a) quando existe ilha na ponta dessa linha como acima, indica que fatores patogênicos e o organismo estão em luta, ou que a enfermidade é grave. b) quando a linha da vida é muito curta, indica uma tendência a pouca vitalidade................................................................................................. 70 Figura 14 – Mapa do estado da Paraíba mostrando a localização do Açude Epitácio Pessoa, Município de Campina Grande (Fonte: Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais – SEMARH/PB, 2008)..................................................................................................... 75 Figura 15 – Vista aérea do açude Epitácio Pessoa, na região da barragem, evidenciando imensas áreas de agricultura irrigada em suas margens (Fonte: DNOCS, 2008). ............................................................ 76 Figura 16. Imagem do satélite LANDSAT 5 do açude Epitácio Pessoa, Boqueirão-PB. (Fonte: Franco et al., 2007), evidenciando áreas com e sem vegetação, diferentes tipos de vegetação e identificação de rodovias e áreas urbanas (Banda 3), e a diferenciação dos corpos de água, estrutura da vegetação e características de relevo (Banda 4)................... 78 Figura 17. Classes de ocupação da terra no entorno do açude Epitácio Pessoa, Boqueirão-PB (Fonte: Franco et al., 2007)..................................................................................................... 79 Figura 18. Vista geral da vegetação que margeia o açude Epitácio Pessoa, evidenciando imensas áreas de solos expostos decorrentes da degradação da Caatinga e manejo inadequado do solo. Manchas verdes evidenciam zonas onde se pratica agricultura irrigada (Fotos a, b: retiradas de Franco et al., 2007; fotos c,d: Ricardo Arruda, fevereiro, 2008). ................................................................................................... 80 Figura 19 – Vista geral de diferentes cultivares desenvolvidos às margens do açude Epitácio Pessoa, PB, evidenciados durante as visitas por ocasião dos trabalhos de campo (Fotografia: Ricardo Arruda, 2008)......... 81 Figura 20 – Produção de tomates nas margens do açude Epitácio Pessoa no período de 1970 a 2004 (Fonte: IBGE. Produção agrícola municipal. 1970-2004).............................................................................................. 82. Figura 21. Percentagem da população de homens e mulheres que trabalham na agricultura irrigada do Açude Epitácio Pessoa, PB, que incorpora em sua alimentação diária algum tipo de proteína animal. Dados obtidos em 2007........................................................................... 88 Figura 22. Freqüência semanal de ingestão de proteína animal pelos 89 trabalhadores rurais (homens e mulheres) do Açude Epitácio Pessoa, PB. Dados obtidos em 2007........................................................................... Figura 23. Agricultor preparando veneno para pulverização em plantação de tomate às margens do Açude Boqueirão, PB (Fotografia Ricardo Arruda, Fevereiro de 2008)........................................................ 92 Figura 24. Agricultor pulverizando veneno em plantação de tomate nas margens do Açude Boqueirão, PB, sem mascara e sem luvas (Fotografia: 92 Ricardo Arruda, fevereiro de 2008......................................................... Figura 25. Área externa anexa à moradia onde os agrotóxicos são guardados e a calda é muitas vezes preparada (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008)....................................................................... 93 Figura 26. Restaurantes situados às margens do açude Boqueirão que usualmente oferecem em seus cardápios galinhas de capoeira criadas na região. Na foto 14c destacam-se em primeiro plano, galinhas mortas numa bacia, esperando para serem consumidas em segundo plano, do 95 lado de fora da grade, galinhas andando pelo terreiro............................. Figura 27. Pulverização de veneno, colheita e carregamento, inclusive com participação de crianças nessa atividade (Fotografia: Ricardo 96 Arruda, março de 2008)........................................................................... Figura 28. Criança comendo tomates contaminados com veneno no momento da colheita e carregamento (Fotografia: Ricardo Arruda, março 97 de 2008).................................................................................................. Figura 29. Vista geral das comunidades de agricultores às margens do açude Boqueirão PB (a) e moradia isolada nas proximidades de uma extensa plantação de banana (b). Em a nota-se, ao fundo, áreas cultivadas e caatinga completamente empobrecida pela remoção da vegetação (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008)......................... 99 Figura 30. Vista parcial do Açude Boqueirão, PB. Em primeiro plano, restaurante à margem do açude; ao fundo, ilhas de laser com grandes moradias (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008)........................ 99 Figura 31. Comércio de hortigranjeiros e de peixes da região na feira local da cidade de Boqueirão. (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008)...................................................................................................... 100 Figura 32. Distribuição etária dos homens e mulheres que trabalham na agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, PB, que foram submetidos aos exames de sangue, mineralogramas do cabelo, anamnese e exames clínicos segundo as técnicas da Medicina Tradicional Chinesa no ano de 2007........................................................ 102 Figura 33. Percentagens dos diferentes tipos de grupos sanguíneos de acordo com o sexo (a=homens; b= mulheres), nos agricultoras do açude Epitácio Pessoa, PB conforme pesquisa de campo realizada em 2007....... 108 Figura 34. Percentagem dos agricultores (homens e mulheres) que trabalham na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, PB, entrevistados em 2007 que fizeram uso de tintura para cabelo nos últimos 3 meses que antecederam a coleta de cabelo para os mineralogramas....................................................................................... 109 Figura 35. Percentagem dos agricultores (homens e mulheres) que trabalham na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, PB, entrevistados em 2007 e que responderam às questões quanto à: (a) se tem ou já teve algum tipo de câncer e (b) se te ou teve alguma pessoa da família com câncer.................................................................................. 115 Figura 36. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional, nas mulheres agricultoras do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme pesquisa de campo realizada em 2007..................................................... 115 Figura 37. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional, dos homens agricultores do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme pesquisa de campo realizada em 2007..................................................... 116 Figura 38 – Linha da vida que predominou nos pulsos dos tipos II (a) e IV (b), conforme dados levantados em 2007 nos agricultores do açude Epitácio Pessoa, PB................................................................................. 117 Figura 39. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional, 117 dos homens agricultores do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme pesquisa de campo realizada em 2007..................................................... Figura 40. Os diferentes tipos de língua encontrados nos agricultores 155 com o pulso tipo I (a), II (b), III (c) e IV (d)..................................................................................................... LISTA DE QUADROS pgs Quadro 1 – Síntese comparativa dos resultados clínicos e laboratoriais com os diagnósticos da MTC. Em vermelho............................................. 154 Resumo Este trabalho teve como objetivo avaliar os possíveis danos à saúde humana e ao meio ambiente provocado pela exposição aos agrotóxicos utilizados na agricultura irrigada no açude Epitácio Pessoa, Boqueirão, Paraíba, através de exames clínicos e laboratoriais, incluindo análise mineral do cabelo, complementada por técnicas de diagnósticos da Medicina Tradicional Chinesa, entrevistas dos sujeitos, fotografias, e, analisando a incidência de câncer no Ministério da Saúde e nos arquivos do Cartório Municipal de Boqueirão. O estudo foi realizado nos anos de 2007 e 2008, através de várias visitas à área e exames laboratoriais, incluindo hemograma, prova de função hepática, colinesterases, CD4, CD8, e glicemia. Os metais pesados foram avaliados pelo mineralograma do cabelo no intuito de observar a relação entre a presença destes e os sintomas clínicos apresentados pelos sujeitos estudados. O diagnóstico pela Medicina Tradicional Chinesa incluiu a pulsologia constitucional, e exames da língua e linha da mão. O resultado deste estudo demonstrou que ocorreram danos ao meio ambiente e à saúde humana. Além disso, diversos sintomas clínicos foram observados nos trabalhadores, e os testes laboratoriais mostraram distúrbios imunológicos e hepáticos. A análise mineral do cabelo (mineralograma) mostrou alta concentração de diversos metais pesados nos cabelos dos sujeitos, os quais na sua maioria encontram-se também na formulação de pesticidas. Isto provavelmente deve-se à proteção inadequada dos sujeitos, e, devido a não observação da legislação em vigor sobre agrotóxicos. Além do mais, mulheres e crianças ingerem sem lavar tomates contaminados, e animais são alimentados com estes mesmos tomates. A Medicina Tradicional Chinesa demonstrou uma predominância do pulso tipo II nas mulheres, e, do tipo IV nos homens. O exame da língua mostrou predominância de uma língua pálida, aumentada, e com marcas dos dentes nos sujeitos portadores do pulso tipo IV, e uma língua vermelha escura nos de pulso tipo II. A linha da vida dos homens em comparação com as mulheres, estava mais profunda, longa e continua. Estes achados podem explicar a menor frequência de sintomas nosh omens quando comparados com as mulheres. Concluindo, os achados deste estudo mostrou que ocorreram danos ao meio ambiente e à saúde humana nesta área de agricultura irrigada. Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, há uma predominância de deficiência do yang do rim e excess do yang do coração nas mulheres, e, excess do yin do rim e deficiência do yang do coração nosh omens. Em vista disso, nós sugerimos que esta população poderia ser tratada pela acupuntura, tonificando o que estiver em deficiência, e sedando o que estiver em excesso. ABSTRACT The object of this study was to estimate damage possibility to environment and human health in irrigated agriculture area surrounding Epitácio Pessoa dam, Boqueirão county, Paraíba, Brasil through laboratory and clinical examination including mineral hair analysis, complemented by traditional Chinese medicine diagnose techniques, interviewing the subjects, taking pictures, and checking the incidence of cancer disease on Health Ministry and Boqueirão county archives. The study was performed from 2007 to 2008 by several visiting to the area and the laboratory examination included were Hemogramma, Liver Function Test, Cholinesterases, CD4 CD8, fasting glycemia. The heavy metal was evaluated through the mineral hair analysis in order to evaluate the relationship between their changes and the clinical symptoms. The Traditional Chinese Medicine diagnoses included constitutional pulsology, tongue, and hand line examination. The results of this study demonstrated that there was damage to the environment and human health. In addition several clinical symptoms are observed in the workers and the laboratory test has shown hepatic and immunological disorders. The mineral hair analysis has shown high concentration of several heavy metals on the subject’s hair which is in majority present in the pesticides formulation. These might be due to inadequate protection of the subject and due to non-observation of the law regarding these products. Indeed women and children eat unwashed tomatoes pesticides contaminated and the animals are feeding with them. The Traditional Chinese Medicine demonstrated type II pulse among women and type IV among men. The tongue examination has shown predominance of pale, large and a deep mark of teeth among those with type IV pulse and dark red tongue among those type II pulse. The life line was deeper and longer among men compared to women. These findings might explain the low frequency of symptoms among men when compared to women. In conclusion, the finding of this study has shown that there was damage to environment and human health in this irrigated agriculture area. According to the Traditional Chinese Medicine, there is a predominance of yang kidney deficiency and yang heart excess in women and yin kidney excess and yang heart deficiency in men. In view of this, we suggest that such population could be treated by acupuncture, tonifying the deficiency and made sedation of excess. SUMÁRIO AGRADECIMENTOS LISTA DE TABELAS LISTA DE FIGURAS LISTA DE QUADROS RESUMO ABSTRACT Pags. 1- Introdução.................................................................................... 1 2- Objetivos...................................................................................... 6 3- Fundamentação Teórica................................................................ 8 4 - Características Gerais da Área de Estudos.................................... 75 5- Metodologia................................................................................. 84 6.- Resultados................................................................................... 88 7. Discussão...................................................................................... 125 8- Considerações Finais.................................................................... 159 9- Conclusões................................................................................... 161 10- Recomendações ......................................................................... 163 11- Referências ............................................................................... 164 Anexos ........................................................................................... 173 1 1- Introdução Bom e mau, rico e pobre, alto e baixo, todos os nomes de valores devem ser armas e símbolos bélicos, em sinal de que a vida sempre se há de superar novamente a si mesmo. (Niestzchie). Um dos aspectos merecedores de estudo na atualidade relaciona-se com o nosso modelo atual de agricultura, fortemente dependente de insumos químicos e energéticos, e cada vez mais requeridos para produzir quantidades de alimento que não são suficientes para atender as necessidades da população mundial. A utilização crescente de compostos orgânicos sintéticos na agricultura entra na economia com propósitos específicos, quais sejam o de matar ervas e insetos, e outras formas de vida tidas como daninhas. Entretanto, uma vez dispersos no ambiente é muito difícil identificar esses produtos e é impossível prever todos os impactos que eles podem causar sobre as diferentes formas de vida que existem hoje em nosso planeta, e na saúde da população humana. Geralmente desconhecem-se as formas como esses produtos migram ao longo dos diferentes compartimentos naturais, e como eles se acumulam ou de dispersam ao longo das cadeias alimentares. Muitos deles, depois de utilizados nos tratos culturais, dispersam-se no solo, no ar, e na água, até serem finalmente incorporados nos alimentos. Historicamente, o consumo de agrotóxicos no Brasil se consolidou em função de várias razões, entre as quais, o incentivo governamental, a forte propaganda das firmas do setor agroquímico e, sobretudo, em função de um modelo de agricultura caracterizado pela monocultura, variedades mais produtivas e adubação química. Entretanto, é exatamente este modelo agrícola - o “gerador de pragas” - que irá exigir cada vez mais 2 agrotóxicos, que irão gerar novos desequilíbrios, propiciando o surgimento de novas pragas, exigindo novos agrotóxicos e alimentando esse ciclo vicioso. Atualmente, o Brasil é o terceiro maior consumidor mundial de agrotóxico, perdendo apenas para o Japão e EUA (Garcia e Almeida, 1991 apud Augusto, 1997). As doenças que prejudicam a qualidade dos produtos agrícolas, reduzindo a produção e que “justificam” a utilização de agrotóxicos, são percebidas através de vários sinais, como: manchas, queimaduras, ferrugem, folhas murchas – sintomas de ataque de microorganismos como fungos e bactérias – ou através da visualização de insetos nocivos e ácaros. O emprego abusivo acarretou o desenvolvimento de pragas resistentes aos pesticidas em uso sendo necessário, (cada vez mais) a síntese e a comercialização de novos agrotóxicos para combatê-las. Estes custos são repassados aos agricultores e, em seguida, à população consumidora dos alimentos provenientes das culturas tratadas, isto é, a toda a população do país. Por outro lado, o uso indiscriminado dos agrotóxicos também acarretou a morte dos inimigos naturais das pragas. E muitas pragas secundárias, relativamente sem importância, passaram à categoria de pragas principais. Além disso, o defensivo agrícola desloca-se com facilidade no meio ambiente, através dos ventos e água da chuva para locais distantes do local aplicado, resultando em implicações sinérgicas e globais, muitas vezes imprevisível. A falta de informações precisas sobre as medidas de segurança para aplicação de pesticidas, bem como seus efeitos sobre o ambiente e a saúde humana predomina no meio rural. O impacto sobre o ambiente resulta na degradação lenta dos recursos naturais, em alguns casos, irrecuperáveis. Dentre eles, a morte de animais silvestres, insetos úteis, peixes, a contaminação das águas e os resíduos em alimentos, com implicações diretas na saúde humana (Carlson, 1964). 3 Poucos trabalhadores agrícolas que manipulam os agrotóxicos são treinados para trabalhar com produtos tóxicos e poucos recebem orientação sobre os perigos a que se expõem. Por outro lado, também não acreditam que os agrotóxicos, em contato com a pele, sem queimá-la ou irritá-la possam ser absorvidos em quantidades lesivas ou até mesmo mortais. Em conseqüência, as intoxicações são muito freqüentes. Além disso, o baixo nível nutricional da população, principalmente no meio rural, torna ainda mais favorável o aparecimento de casos graves de intoxicações, que dificilmente são diagnosticados como tal. O impacto dos agrotóxicos sobre a saúde humana e sobre o meio ambiente tem despertado grandes preocupações no mundo todo. No Brasil, o monitoramento do uso destas substâncias é extremamente precário, uma vez que não se sabe ao certo quantos trabalhadores rurais morrem ou adoecem por ano devido à exposição aos agrotóxicos e quanto de pesticidas está presente nos alimentos que consumimos. Ainda, os efeitos sinérgicos desses produtos no meio ambiente e na saúde humana são absolutamente desconhecidos. Além dos problemas da intoxicação, freqüente se encontra associado ao uso dos agrotóxicos um alto número de tentativas de suicídios (ingestão voluntária) que quase sempre resulta num elevado numero de óbitos (Pires et al., 2005). E os índices de suicídio em relação à profissão segundo (Corrêa & Barrero, 2006), apontam para uma taxa de 1,13 para os trabalhadores rurais enquanto que para os fazendeiros a taxa cai para (0,08). Em algumas profissões que utilizam materiais que contém compostos mercuriais os níveis são ainda mais elevados, chegando a 4,45 em dentistas e 2,00 em madeireiros. Muitas destas inquietantes questões não são respondidas de modo preciso, porque não existem políticas públicas de controle em nosso país. O uso de agrotóxicos, de forma abusiva e indiscriminada como é feito, certamente resulta em impactos desastrosos sobre a saúde das pessoas e sobre o meio ambiente. Em todo o mundo, dispõe-se hoje de fartas pesquisas consolidadas sobre estes efeitos deletérios dos agrotóxicos. 4 A disseminação de informações sobre agrotóxicos é fundamental para criar um senso em responsabilidade de toda a sociedade para essa questão. A população informada e consciente pode participar de modo ativo e eficiente para solucionar os diferentes aspectos dos problemas dos agrotóxicos, evitando a poluição ambiental, a intoxicação dos trabalhadores rurais e o acúmulo de resíduos em toda a população. Ainda, por trás do desrespeito geral que se tem com o meio ambiente, nas práticas produtivas atualmente em uso no Brasil e no mundo, está a ganância pelo lucro fácil e imediato, amparada pela falsa dicotomia entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental. O Brasil é um dos países com menor controle sobre a exposição humana a produtos químicos, segundo levantamento do Ministério da Saúde. O estudo, feito entre 2001 e 2004, apontou a existência de cerca de 15 mil áreas contaminadas, sendo que em 689 delas já há evidência comprovada de contaminação, com cerca de um milhão e 949 mil pessoas efetiva ou potencialmente expostas ao problema (Figueiredo & Paula, 2005). Na região semi-árida do nordeste brasileiro, a prática da agricultura irrigada em áreas marginais a açudes tem sido uma constante. E cada vez mais esse tipo de agricultura tem se baseado na utilização de defensivos agrícolas e fertilizantes, com evidentes riscos à saúde humana e ambiental. Casos graves de envenenamento químico são comuns nessas áreas e esses fatos precisam ser quantificados, diagnosticados, levados ao conhecimento público e tratados. Desde que a busca pela sustentabilidade ambiental passa pela sustentabilidade humana, não se pode falar em desenvolvimento sustentável se as pessoas que poderão desenvolvê-lo não têm qualidade de vida. Dessa forma, pressupõe-se que o pleno conhecimento da problemática ambiental e humana relacionada com a produção agrícola desenvolvida nessas áreas críticas da região nordeste poderá trazer novos rumos para uma vida sadia e para a manutenção da integridade ecológica pretendida. Considerando-se que a forma tradicional de produção de alimento baseia-se, portanto, na utilização de fertilizantes químicos e agrotóxicos 5 em larga escala e, considerando-se o fato de que esses produtos contaminam o meio ambiente e trazem sérios riscos à população humana, propõe-se, nesta pesquisa, a elaboração de estudos visando quantificar as conseqüências da utilização desses produtos químicos sintéticos na agricultura irrigada da região semi-árida do nordeste do Brasil, sobre a saúde do trabalhador, tomando-se como estudo de caso a horticultura desenvolvida nas margens do açude Epitácio, situado no município de Boqueirão, Paraíba. A região se acha hoje submetida a um intenso processo de deterioração ambiental, ocasionada principalmente pela exploração agropecuária e extrativismo vegetal, que vem resultando, por conseguinte, num elevado processo de degradação do ambiente socioeconômico (Franco et. al., 2005), indicando claramente um errôneo processo de manejo ambiental e dos recursos naturais. Nossa pretensão foi avaliar a provável contaminação química de humanos envolvidos direta ou indiretamente com esses produtos, analisando as conseqüências dessa contaminação para a saúde humana e, por extensão para o meio ambiente, segundo os preceitos da Medicina Tradicional Chinesa. A idéia de desenvolver esta pesquisa surgiu na década de 1990 quando eu era médico do município de Boqueirão, ocasião em que tive os primeiros contatos com pacientes plantadores de tomate e pimentão nas margens do açude. Ao perguntar-lhes se eles comiam tomates diziam que não, pois colocavam bastante veneno: “Quando está muito úmido, colocamos muito veneno de um tipo e quando está mais seco usamos de outro tipo, mas esses tomates nós vendemos, quando queremos comer plantamos em separado, e não usamos veneno”. Mas a prática médica não parecia concordar com isso. Muitos pacientes apresentavam vários sintomas que me deixavam intrigado e que não poderiam ter outras causas a não serem aquelas decorrentes da contaminação química. 6 2- Objetivos Este trabalho teve por objetivo geral realizar um diagnóstico sobre a utilização de agrotóxicos na agricultura irrigada às margens do açude Boqueirão, Município de Campina Grande, Paraíba, e seus reflexos sobre a saúde humana na visão da Medicina Tradicional Chinesa. Os objetivos específicos da pesquisa foram: a)- Caracterizar, através de pesquisa bibliográfica e observações de campo, a magnitude do problema do uso dos agrotóxicos nas margens do açude Boqueirão, b)- Diagnosticar formulações de a presença agrotóxicos de no metais pesados organismo encontrados humano, através em de mineralogramas efetuados no cabelo de trabalhadores rurais da região. c)- Diagnosticar, através de exames laboratoriais e clínicos possíveis disfunções metabólicas em trabalhadores rurais da região expostos aos agrotóxicos. d)- Mapear, através da anamnese, exames do pulso e da língua, e resultados de exames clínicos e laboratoriais, os sintomas decorrentes da contaminação química provocada por agrotóxicos e metais pesados em agricultores do açude Boqueirão. e)- Caracterizar, através de pesquisa bibliográfica e observações de campo, os diferentes aspectos do cotidiano dos trabalhadores rurais que desenvolvem suas atividades nas margens do açude Boqueirão, na tentativa de relacionar esses aspectos com os níveis de contaminação química encontrados na população em estudo. 7 f)- Analisar de forma integrada e segundo os preceitos da Medicina Tradicional Chinesa os resultados obtidos, propondo para cada caso, tratamentos não convencionais baseados na acupuntura. 8 3- Fundamentação teórica A ciência contemporânea muito contribuiu para demonstrar que o Universo é não-material, que a matéria é energia, que o espaço é real, que os processos são tão válidos quanto os fatos e que o princípio da complementaridade valida o conteúdo subjetivo da experiência humana. (Terry Cliford, 2002). 3.1- A açudagem no Nordeste e a prática da agricultura irrigada As primeiras informações sobre a escassez de água na região Nordeste foram registradas antes da formação do Primeiro Império, em meados do século XVI, sendo a primeira seca registrada em 1564 (Silva, 2005). Uma grande seca foi registrada também em 1583, ocasião em que “as fazendas de canaviais e mandioca muitas se secaram, por onde houve muita fome, principalmente no Sertão de Pernambuco, pelo que desceram do Sertão, apertados pela fome, socorrendo-se aos brancos, quatro a cinco mil índios”, conforme relato do Jesuíta Fernão Cardim, noticiado por Joaquim Alves em seu primeiro livro sobre a História das Secas (Aivargonzalez, 1984). Registros históricos de Aivargonzalez (1984) indicam que ocorreram cinco grandes secas no século XVII, durante os anos de 1603, 1606, 1614, 1652 e 1692. E que na grande seca de 1692 a fome generalizada e o desespero motivaram a ocorrência de uma grande guerra entre índios e portugueses. Uma grande seca também ocorreu de 1766-78 e foi extremamente rigorosa, ocasionando uma redução considerável no rebanho da região, embora sem vítimas humanas. A seca de 1792, segundo este autor, foi ainda maior, flagelando o Nordeste brasileiro por quase quatro anos, tornando evidentes as suas conseqüências para a região: 9 “morreram os gados, os vaqueiros, muitos fazendeiros e os animais domésticos e bravos. As estradas, jucadas de cadáveres, famílias inteiras mortas de fome e sede, e envolvidas no pó dos campos; o interior deserto, a população esfaimada e dizimada pela peste nos povoados do litoral; atulhados de retirantes as capitanias, esmolando uns, furtando outros, trabalhando poucos” (Aivargonzalez, 1984, p. 155). Grandes secas também ocorreram no século XIX, nos anos de 1804, 1809, 1810, 1824, 1825, 1844, 1845, 1977-79, 1887, 1888 e 1889. Destas, a de 1809 não foi muito grave, apesar de causar grande morte entre os rebanhos. E as de 1824 e 1825 resultaram num grande desastre adicional que foi a grande perda de vidas humanas devido à peste da bexiga. A seca de 1877-79 foi tão terrível que ocasionou a morte de quinhentas mil pessoas no Nordeste, havendo como causa a febre, varíola e outras doenças, além da inserção de alimentação nociva (Aivargonzalez, 1984). Todas essas calamidades fizeram com que o governo imperial constituísse uma comissão com o propósito de percorrer toda a região Nordeste visando avaliar o problema e estudar meios práticos de abastecimento de água durante a estiagem, incluindo não somente as necessidades das populações, mas também do rebanho bovino e irrigação. Com a queda da monarquia em 1889 essa Comissão Imperial foi desativada, e novas secas foram registradas nos anos de 1889-89, 1891, 1898, 1901 e 1903 nenhuma, entretanto, foi tão desastrosa quanto à de 1877-79, quando morreram mais de quinhentas mil pessoas. Foi exatamente a partir da grande seca de 1877, quando se inicia o Segundo Império no Brasil, que o governo brasileiro passa a encarar as secas nordestinas como um problema, e naquele tempo surgem as primeiras providências para o combate à seca, mediante a construção de vários açudes e barragens, atribuídas ao senador Padre José Martinho de Alencar (Silva, 2005), a fim de garantir o aumento da oferta de água, para que a situação de 1877-79 não voltasse a ocorrer (Maranhão, 1984). 10 De acordo com Silva (2005), a grande seca de 1904, com grandes conseqüências sócio-econômicas, levou a criação da Comissão de Açudes e de Irrigação, a Comissão de Perfuração de Poços e a Comissão de Estudos e Obras Contra os Efeitos da Seca, que tinham como propósito fazer com que a política, em nível federal, assumisse um papel mais eficaz no que diz respeito à construção de obras de açudagem para a região Nordeste. Mas foi somente em 1909 que a ação intervencionista do Estado brasileiro concretiza ações no tocante ao combate às secas, mediante a criação das Inspetorias e Superintendências responsáveis pela condução de políticas públicas da água para a região Nordeste. Surgem, nesse momento da história do Brasil, a Inspetoria de Obras Contra as Secas (IOCS), em 1909, a Inspetoria Federal de Obras Contra as Secas (FOCS), em 1919, e o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS), em 1936 (Oliveira, 1977). A IOCS, sob a responsabilidade do engenheiro Miguel Lisboa, apresentou em 1912 uma série de projetos importantes de construção de açudes e barragens para armazenamento de água. Mas a grande seca de 1915, que fez com que trezentas mil pessoas abandonassem suas moradias e levou a mortalidade, sobretudo devido a doenças, a cifra de vinte e sete mil óbitos, mostrou que as obras realizadas pela IOCS não permitiram a resistência dos afetados e em face da ineficiência desse órgão, surgem a Inspetoria Federal de Obras contra a Seca (IFOCS), que passou a operar com um nível técnico-profissional mais elevado, visando a implantação de uma açudagem de alto nível e capaz de acabar com os efeitos nocivos da falta de água do cotidiano do homem do nordeste. Em 1919 assume a presidência da República Federativa do Brasil, o paraibano Epitácio Pessoa, que também tinha a mesma forma de pensar dos técnicos do IFOCS, visto que acreditava que através da construção de grandes reservatórios, programas de irrigação e perfuração de poços seriam possíveis amenizar o sofrimento dos atingidos pela seca (Silva, 2005). Epitácio Pessoa, em seu terceiro ano de mandato, estabeleceu 11 várias parcerias com firmas inglesas e americanas, culminando na aquisição de inúmeras máquinas, possibilitando a construção dos primeiros açudes em terras públicas e principalmente privadas (Silva, 2005). O termo “Senhores das Águas” é daquela época, quando, através de um regime de cooperação, o Estado disponibilizava, gratuitamente, o projeto, e os recursos, para que açudes pudessem ser construídos em propriedades privadas, alguns deles com capacidade superior a três milhões de m3 (Oliveira, 1977). O dinheiro destinado por Epitácio Pessoa para as obras contra as secas foi consideravelmente vultoso, mas os desvios de verbas, as falcatruas e a corrupção, gastos excessivos, fraudes do uso de recursos por políticos e dirigentes das Inspetorias, resultou numa total fragmentação do plano de combate à seca (Silva, op. Cit). A ascensão de Getúlio Vargas ao poder, em 1930, surge um novo contexto na história do Brasil, que leva ao rompimento da República Velha, altamente oligárquica e conservadora, consolidando-se a República Nova, muito embora o clientelismo histórico exercido na região Nordeste continue. Com o amplo processo de intervenção do Estado na economia, surge uma série de obras: construções de açudes, barragens, poços, estradas de ferro e de rodagem, duplicando-se, na era de Vargas, os recursos para a execução de programas de açudagem e de combate à seca na região Nordeste (Silva, 2005). Os anos de 1931 e 1932 foram marcados por uma seca de grandes proporções. O fenômeno estendia-se desde o Piauí até o Maranhão e expandia-se pelos vales do Itapicuru e do Vaza Barris, na Bahia, numa extensão de cerca de 650.000 km2, que resultou novamente num grande êxodo rural a partir do Ceará. Tal episódio levou o Governo Federal a quadruplicar os recursos para que as obras fossem rapidamente desenvolvidas, ocasião em que a Inspetoria chegou a empregar 220.000m operários em novembro de 1932 (Aivargonzalez, 1984). Até o ano de 1934, 12 a IFOCS já havia construído 208 açudes, 161 dos quais em cooperação com os estados, municípios e particulares, e 47 em terras públicas. Em 1930, a capacidade de armazenamento de água no Nordeste era de 1.395.985.869 m3 de água, em 1940 o número de açudes pula para 171, aumentando a capacidade total de armazenamento de água na região para mais de 2.000.000.000 m3 (Silva, 2005). Até a criação do DNOCS em 1936, havia sido construído cerca de 310 açudes públicos e 622 açudes privados, o que representava um volume acumulado de armazenamento de água que ultrapassava os 19 bilhões de m3. Foi nesse período que nasce a idéia da construção do açude Epitácio Pessoa. Na verdade, a construção do açude Epitácio Pessoa, ou, como é conhecido popularmente, “Açude Boqueirão”, resultou de uma situação conjuntural na época, que reuniu distintos grupos de interesses: 1. por um lado, a existência de um plano de perenização do rio Paraíba, efetuado pelo historiador Irineu Joffily, desde o século XIX; 2. O colapso do abastecimento de água vivenciado na década de 1940 devido a redução do volume de água do açude Vaca Brava, situado no Brejo Paraibano, entre os municípios de Areia e Remígio; 3. a participação da igreja Católica que, através do I Encontro dos Bispos do Nordeste, realizado em Campina Grande, discutiu a questão do abastecimento de água no Nordeste, e em especial para Campina Grande, e apresentou um documento requerendo ao Presidente Getúlio Vargas, soluções imediatas ao problema, pleiteando pela construção do açude, e ressaltando, neste documento, que a falta d água em Campina Grande estava impossibilitando o desenvolvimento industrial e causando correntes migratórias para o sul do País (Rego, 2001). Os primeiros trabalhos relacionados com a construção do açude iniciam-se em 1948, através do levantamento topográfico da bacia hidrográfica e logo em seguida o levantamento geológico e a elaboração do projeto propriamente dito. Ainda, são construídas as vilas Operária, Mecânica e Morro, cujas casas geminadas, seriam alugadas aos 13 trabalhadores do DNOCS envolvidos na construção do açude. O início das obras propriamente ditas ocorreu em 1951, através da construção de uma barragem do rio Paraíba, na serra de Carnoió (DNOCS, 2006). As obras de construção do açude Boqueirão tiveram a duração de cinco anos, sendo finalizadas em 1956. Nesse período, a então Vila de Boqueirão de Cabaceiras, passou por uma grande transformação, em conseqüência da grande movimentação de máquinas e homens, o que resultou em mudanças nos costumes e nas relações sociais locais, e no crescimento da população, desenvolvendo-se o comércio e novas profissões, enquanto que na zona rural ocorria a indenização das terras inundadas, e mesmo a expulsão daqueles mais refratários ao projeto (Rego, 2001). Em função desse crescimento, a vila de Boqueirão de Cabaceiras teve sua emancipação política em 30 de abril de 1959, através da lei estadual 2078, assumindo o município a denominação de Boqueirão. No dia 16 de janeiro de 1957 deu-se a inauguração do açude. E na solenidade, estiveram presentes o Presidente da República, Dr. Juscelino Kubitschek de Oliveira, o Ministro de Aviação e Obras Públicas, Comandante Lúcio Meira, e o diretor do DNOCS, Engenheiro José Candido Parente Pessoa. A festa de inauguração prolongou-se por três dias. O açude tem uma capacidade de armazenamento de água de 535.680.000 m3, sua bacia hidrográfica cobre uma área de 12.410 km2 e sua bacia hidráulica é de 2.680ha (DNOCS, 2008). Após a construção do açude, coube ao DNOCS a administração da barragem e das áreas irrigadas, as quais foram destinadas a agricultores de baixa renda, mediante arrendamento das terras. As casas e criações de animais, bem como as áreas de pastagens são praticadas nas áreas mais elevadas do relevo, enquanto que nas várzeas são plantadas culturas de subsistência como o feijão, milho, fava, batata doce e algumas hortaliças e cultivares de ciclo curto, destinadas à comercialização, como tomate, pimentão e repolho. 14 No total, o DNOCS assentou 277 arrendatários em 634 hectares de terra nas margens do açude, distribuindo lotes que variam em tamanho desde 01 hectare até 30 ha, assentando ainda um considerável número de famílias que não receberam nenhuma área, mas que praticam a agricultura irrigada exclusivamente em áreas de vazante (Tabela 1). Tabela 1 – Total de arrendatários das terras marginais do Açude Epitácio Pessoa administradas pelo DNOCS, em função dos tamanhos dos lotes (Fonte: DNOCS; * = número de agricultores assentados que praticam agricultura irrigada apenas em áreas de vazante). Área do lote (ha) 00* 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 16 18 28 30 Total = 634 ha Quantidade de arrendatários 18 115 83 26 16 03 02 02 04 01 01 01 01 02 01 01 Total = 277 3.2- A produção agrícola baseada no uso de agrotóxicos Uma das questões de nosso tempo que mais tem chamado a atenção mundial é o reconhecimento de que o planeta vem demonstrado sinais de exaustão causada pelo uso acelerado que a humanidade vem fazendo dos recursos naturais. As causas e conseqüências do uso abusivo desses recursos associam-se ao que Ayres (2000) denomina de “megafenômenos”, dos quais quatro são os principais que deverão afligir a humanidade nesse século: crescimento da população humana; consumo de 15 materiais/energia; concentração de dióxido de carbono; e extinção de espécies. Representam problemas globais, e suas causas são encontradas nos sistemas de produção capitalista que resultaram em fortes danos ambientais, geraram desperdícios e aumentaram os riscos à saúde pública (Thomaz, 1994), e que em hipótese alguma se baseiam em critérios de sustentabilidade conforme preconizado pela agenda 21, uma vez que os prejuízos para a qualidade de vida das gerações presentes são extensivos para as gerações futuras. Muitos dos alimentos que hoje cultivamos e que entram em nossa dieta diária são tóxicos e impedem uma vida longa saudável. Levam ao câncer, provocam letargias crônicas, doenças cardíacas e degenerativas, quebram a imunidade, reduzem as quantidades de esperma e causam mortes massivas de animais silvestres, entre outras ações. Além disso, a introdução de organismos modificados geneticamente na produção de alimento adiciona riscos ainda desconhecidos (Carson, 1964; Zechendorf, 1999). Tradicionalmente, a produção agrícola tem na ocorrência de pragas e doenças um dos principais fatores limitantes ao seu desempenho. Ao longo das últimas décadas, a utilização de agrotóxicos no Brasil tem sido a base técnica através da qual o setor agrícola normalmente vem enfrentando a questão. O consumo de agrotóxicos no país – herbicidas, fungicidas, inseticidas, entre outros, tem sido crescente, alcançando hoje vendas anuais que superam US$ 2,5 bilhões (Ministério da Saúde, 2008). Sabemos que tal geração de riqueza, entretanto, está restrita a algumas poucas empresas do setor agroquímico, altamente concentrado no Brasil e no mundo, sendo que estas empresas são, em geral, transnacionais. A falta de informações precisas sobre as medidas de segurança para aplicação de pesticidas, bem como seus efeitos sobre o ambiente e a saúde humana predomina no meio rural. O impacto sobre o ambiente resulta na degradação lenta dos recursos naturais, em alguns casos, irrecuperáveis. Dentre eles, a morte de animais silvestres, insetos úteis, peixes, a 16 contaminação das águas e os resíduos em alimentos, e a bioacumulação ao longo das cadeias alimentares, com implicações diretas na saúde humana (Carson, op., Cit.). O controle de substâncias químicas no combate às pragas, doenças, ervas daninhas e outros problemas da atividade agrícola é prática adotada no mundo todo. Essas substâncias têm recebido várias denominações: pesticidas, defensivos agrícolas, biocidas, ou dependendo de sua eficácia direta: inseticidas, fungicidas, herbicidas, carrapaticidas, nematicidas, maturadores. No Brasil a Lei Federal de nº 7.802/89 (em vigor a partir de outubro de 1996), considera agrotóxico como “os produtos e componentes de processos físicos, químicos e biológicos destinados a uso nos setores de produção, armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas nativas ou implantadas e de outros ecossistemas e também em ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora e da fauna a fim de preservála da ação danosa de seres considerados nocivos, bem como substâncias e produtos empregados como desfolhantes, dessecantes, estimuladores e inibidores de crescimento” (BRASIL, 1989). Desde que agrotóxicos não matam somente pragas e insetos indesejáveis, mas também vários seres vivos, o termo biocida seria o mais adequado, por deixar clara a ação principal desses produtos: matar (Snelwar, 1992; Almeida, 2001). Além da Lei federal 7802/1989 supra referida, no Brasil os agrotóxicos são bem regulados por outras legislações específicas, como a Lei Federal 9974/2000, o Decreto 4074/2002, a Resolução CONAMA 334/2003, a NBR 13968/1997 (Tríplice lavagem e lavagem sob pressão de embalagens) a NBR 14935/2003 (Destino das embalagens não lavadas) e a NBR 14719/2001 (Destino final das embalagens lavadas). Desde que esses produtos são tóxicos e podem provocar diversos danos à saúde humana a curto e longo prazo, como lesões oculares e dérmicas, neurotoxicidade e serem letais, seus graus de toxicidade são 17 obrigatoriamente representados por rotulagem específica, através de cores. Assim, os agrotóxicos considerados extremamente tóxicos possuem uma tarja vermelha, e são considerados de Grau I, os altamente tóxicos, possuem tarja amarela, e são considerados de Grau II, os que são medianamente tóxicos tem tarja azul, e são enquadrados como de Grau III, e os pouco tóxicos tem tarja verde, sendo classificados como de grau IV. O IBAMA classifica esses produtos do ponto de vista ambiental da seguinte forma: produto altamente perigoso ou Classe I, produto muito perigoso ou Classe II, produto perigoso ou Classe III e produto pouco perigoso ou Classe IV (Lei 7.802/89). O enquadramento nestas classes baseia-se nos parâmetros de bioacumulação, persistência, toxicidade a diversos organismos, potencial para contaminação de águas subterrâneas e superficiais, acumulação na cadeia alimentar e outros, mas há que se considerar que pouco se conhece sobre a mobilização desses produtos nos ecossistemas, de maneira que essa classificação representa uma prática artificial. O processo de utilização desses produtos, que envolve desde a compra até o descarte das embalagens, deveria seguir o que preconiza a Lei. Questões como rotulagem, produção, transporte, destino final de resíduos e embalagens estão contemplados em seu artigo 3º, mas o que se vê, no entanto, é o total desrespeito à lei, visto que a compra desses produtos é livre. Sua aquisição deveria ser feita através de receituário fornecido por um engenheiro agrônomo ou florestal, com prescrição específica para os casos em cada cultura, mas é comum o uso de receituários frios, onde o proprietário da loja vende o agrotóxico e o técnico prescreve a posteriori as receitas, de acordo com os produtos vendidos (Adissi, 1998). Dessa forma, a facilidade com que o trabalhador rural chega ao agrotóxico e a forma de manuseá-lo são fatos preocupantes com sérias conseqüências tanto para a saúde do trabalhador bem como do consumidor (Almeida, 2001). Agrotóxicos estão disponíveis no mercado sob diversas terminologias: pelo seu nome químico (que indica a estrutura química da 18 molécula), pelo nome comum (que é o nome internacionalmente aceito para o ingrediente químico), e pelo nome comercial (que corresponde ao nome do produto formulado). Suas formulações incluem diversos componentes: Ingrediente ativo (que age sobre o alvo), ingredientes inertes (que não agem sobre o alvo, mas que podem vir a agir sobre a saúde humana e ambiental), envolvendo os solventes (usados para formulações líquidas), e os veículos (usados em formulações sólidas), os surfactantes (usados para possibilitar a mistura do produto com água e também para melhor distribuir o produto ou a aderência dele sobre o alvo), os agentes corantes (para distingui-lo de alimento ou bebida), os eméticos (usados para provocar vômito caso seja ingerido acidental ou deliberadamente), substâncias com odor desagradável (usadas a fim de evitar ingestão acidental), agentes de sabor amargo (usados para produzir sabor amargo e evitar ingestão) (Almeida, 2001). De acordo com esta autora, incluem-se, entre os agrotóxicos disponíveis no mercado, os seguintes tipos: 1) Inseticidas: que agem no inseto por ingestão (ingestão do material tratado); contato (atinge-os diretamente como também pelo contato com a superfície tratada); fumigantes (ou por vapor que atua sobre a praga através do sistema respiratório); sistêmicos (entra na seiva da planta e ao alimentar-se dela o inseto ingere uma dose tóxica); repelentes (fazem com que a cultura não seja atraente). Esses produtos encontram-se divididos em: a)- organoclorados: derivados dos hidrocarbonetos aromáticos que se acumulam no tecido adiposo e por isto podem contaminar toda uma cadeia alimentar, são produtos bastante persistentes no meio ambiente. Por estas características são proibidos no Brasil: DDT, Aldrin, Dieldrin, Clhordane, Lindane; sendo apenas liberados alguns deles para o combate de endemias. b)-organofosforados: são compostos orgânicos ésteres do ácido fosfórico que apresentam uma alta toxicidade para mamíferos, mas têm pouca persistência no meio ambiente. Podem ser sistêmicos ou não sistêmicos. 19 Alguns dos organofosforados foram proibidos como TOCP (por serem causadores potenciais de lesões neurológicas irreversíveis), DFP (por ser um potente inativador irreversível da acetilcolinesterase). Alguns compostos apesar de terem os seus usos proibidos como inseticidas são usados como gases de guerra ou em atentados. c) carbamatos: são semelhantes aos compostos fosforados quanto à ação biológica, com variações em sua toxicidade para mamíferos, bem como nas propriedades biológicas. São compostos derivados do ácido carbâmico, mais precisamente do N-metil carbâmico. Apesar de pouco absorvido na formulação em pó, foram encontrados na urina de expostos. d) piretróides: são ésteres ácido-alcoólicos com características lipohidrosolúveis. Sua toxicidade é menor para mamíferos em relação aos outros inseticidas, porém são bastante tóxicos para peixes. 2) Fungicidas: são os derivados do dimetiltiocarbamato e etilenobisditiocarbamato mais usados no trabalho agrícola. São divididos em sistêmicos organofosforados. e não Os sistêmicos, sistêmicos são assim como compostos os inseticidas orgânicos, mais comumente usados, transportados pela seiva e atingem as folhas e os pontos de crescimento. Os não sistêmicos incluem os orgânicos e os não orgânicos, e agem nos locais da planta onde recebem o composto, atuando por contato, não se movendo na planta. 3) Herbicidas: utilizados para destruir ou controlar o crescimento de ervas prejudiciais à cultura, podendo ser minerais (cloratos de sódio e de potássio, borato de sódio e outros) ou orgânicos (derivados de: fenóis e cresóis; de ácido carbâmico e ditiocarbamatos; da uréia; diazine, triazine e triaze; orgânicos clorados e seus sais de sódio; ácido fenoxiacético, propionico, butírico; xantínicos; ftálicos; benzonitrilas; anilina; nitrogênio quaternário). São classificados em seletivos (destroem ervas invasoras específicas) e não seletivos (destroem as plantas sem distinção de espécie). 20 4) Nematicidas: são geralmente formulados em grânulos livres de pó e são aplicados no solo. Utilizados para controlar nematóides, organismos que habitam as raízes e podem provocar danos nas plantas. 5) Acaricidas: são usados para o controle de ácaros, carrapatos e aranhas. Os acaricidas são divididos em: grupo dos enxofres; amitraz, cyhexatin, dicofol; inseticidas com ação acaricida. O controle e o monitoramento pós-registro desses produtos deveriam ser levados a sério no Brasil, como acontece em outros países, mas em nosso país, além da facilidade de aquisição de agrotóxicos, muitas vezes eles são produzidos fora de padrões. Sobre este aspecto, Almeida (2001) exemplifica, informando que em 1989 o Instituto Biológico de São Paulo analisou 1205 amostras de agrotóxicos e constatou que 17% delas se encontravam fora dos padrões físico-químicos exigidos. Alguns agrotóxicos utilizados hoje na agricultura são derivados de produtos que foram desenvolvidos como arma química na Segunda Guerra Mundial. Como ocorreu na guerra do Vietnã quando toneladas do agente laranja foram lançadas para queimar plantações e matas, substância semelhante a um dessecante atualmente utilizado no combate a ervas daninhas, como é o caso do Tordon. Em nosso país, o uso desses produtos não se restringe apenas às práticas agrícolas. Eles também estão presentes rotineiramente nas campanhas de saúde pública, no combate a vetores que transmitem doenças endêmicas e epidêmicas, como a malária, a esquistossomose, o barbeiro e a dengue, por exemplo, e certamente a dimensão ambiental e as conseqüências desse tipo de uso para a saúde pública são desconhecidas. Ainda, muitos desses produtos são comercializados clandestinamente, a fiscalização é ineficiente, e existem fraudes, complicadores estes que dificultam ainda mais o entendimento das implicações que causam ao homem e ao meio ambiente. Definir os fluxos desses produtos ao longo do ambiente natural não é tarefa fácil. Colborn et al. (1996) seguiram o fluxo hipotético de um 21 grupo de PCB-153 um agrotóxico altamente tóxico, que também é usado como isolante líquido em transformadores elétricos, e constataram que esse produto se dispersa por todos os compartimentos e hoje pode ser encontrado em todo o planeta. Este é somente um dos milhares de produtos orgânicos persistentes que contaminam rios, alojam-se em tecidos gordurosos de animais, dispersam-se pelas cadeias alimentares e entram nos ciclos da água e do carbono. Mas este produto não é único; nos dias atuais uma criança que ingere indiretamente PCB-153 do leite da sua mãe, provavelmente também está ingerindo centenas de outros produtos igualmente tóxicos. Além disso, dada a dimensão global do problema é praticamente impossível definir a toxicidade real desses produtos em curto tempo a fim de minimizar danos ambientais e à saúde humana. McGinn (2000) comenta que em 1993 a agência de proteção ambiental dos Estados Unidos (EPA) instituiu um programa orientado para testar a toxicidade dos 20.000 pesticidas diferentes em uso e aprovar a liberação de novos produtos. Até o momento, o EPA conseguiu testar menos de 1,5% desse total, e mesmo se nenhum produto químico novo fosse introduzido calcula-se que seriam necessários mais 560 anos para testar todos os que estão atualmente em uso. Isso é por demais preocupante, sendo suficiente para demonstrar que a extensão do problema relacionado com o uso de agrotóxicos atinge hoje uma dimensão epidemiológica. Os agrotóxicos estão em uso desde a década de 20 (ANVISA, 2006), mas a constatação de que são produtos persistentes e que entram nos circuitos ecológicos através da bioacumulação começou a ser disseminada na década de 60, com a publicação de alguns livros de grande impacto como Silent Spring (Primavera silenciosa) de Rachel Carson (1964) e Pesticides and the living landscape de Rud (1964). Essas obras redirecionaram o pensar ecológico a nível mundial, por ressaltarem as conseqüências dessa tecnologia no controle de pragas e sobre os impactos negativos do uso desses químicos na saúde humana, no ambiente e na agricultura. 22 No Brasil, o crescimento da utilização de agrotóxicos se deu principalmente ente os anos de 1964-1979, como promessa de expansão na agricultura. Segundo Brito & Duque (1996), naquele período o consumo de agrotóxicos aumentou cerca de 42% enquanto que as principais culturas brasileiras alcançaram um crescimento equivalente a um percentual de apenas 5%, evidenciando, desse modo, que o milagre da chamada revolução verde não se confirmou. Na década de 70, a política brasileira de crédito agrícola facilitou o acesso dos produtores rurais aos agrotóxicos ou, melhor dizendo, impôs ao agricultor a sua compra. O país vivia o momento da ditadura militar e o produtor, ao obter o crédito rural tinha por obrigação gastar 15% com insumos químicos (Almeida, 2001). Garcia (1996) relata que o seguro agrícola não cobria perdas por pragas se o agricultor não tivesse feito a compra de agrotóxicos. Entende-se assim porque o uso desses produtos expandiu-se em nosso país e porque a agricultura brasileira jamais voltou a ser como antes, um processo onde a terra era o principal insumo (Almeida, op. cit.). O Programa Nacional de Desenvolvimento Agrícola (PNDA), implantado pelo governo federal em 1975 investiu mais de 200 milhões de dólares americanos na implementação de indústrias de síntese e formulação de agrotóxicos. Naquele ano, surgiram no Brasil 14 unidades de produção de agrotóxicos, e em apenas 10 anos esse número evoluiu para 73 indústrias que abasteciam, naquela época, 80% do mercado nacional. Hoje, nosso país é o maior produtor de agrotóxico da América Latina e também o segundo maior consumidor mundial (ANVISA, 2006), perdendo apenas para os EUA. As maiores demandas desses produtos no Brasil acontecem tradicionalmente nas regiões Sudeste e Sul, onde a atividade agrícola já era mais desenvolvida na década de 60. Em 1985, a comercialização desses produtos na região Nordeste mobilizou um total de 11224 Kg enquanto que na região Sudeste foi vendido 58077 Kg, a maior parte no estado de São Paulo (Almeida, 2001). Apesar das discrepâncias regionais, 23 considerem-se as condições críticas da região Nordeste, uma área de déficit hídrico na maior parte de seu território, historicamente marcada pela monocultura extensiva da cana-de-açúcar no litoral, e pela agricultura de subsistência no semi-árido, o que implica em severas conseqüências à saúde humana e à qualidade ambiental. Fellenberg (1980) comenta que o emprego anual, em todo o globo, era, em 1986, de cerca de 1,5 milhões de toneladas de praguicidas, o que corresponde á respeitável quantidade de 750 mil toneladas. O Brasil é o terceiro maior mercado consumidor de agrotóxicos do mundo (ANVISA, 2008), sendo que em nosso país o consumo desses produtos encontra-se em franca expansão. Alves Filhos (2002) comenta que o gasto em agrotóxicos no Brasil foi de 695 milhões de dólares em 1980; 1225 milhões em 1985 e 1993 milhões em 1990. A SINDAG (1999, apud Moreira et al., 2002) afirma que o país é responsável pelo consumo de cerca de 50% da quantidade de agrotóxicos utilizados na América Latina, o que envolve um comércio estimado em cerca de US$ 2.56 bilhões em 1998. Este valor coincide com o apresentado pelo Conselho Nacional de Saúde (2008), e o consumo anual desses produtos tem sido superior a 300 mil toneladas (Spadotto et al., 2006). Segundo Zamberlam & Froncheti (2001) a média do uso de agrotóxicos entre 1993 e 1999 foi de 1,8 litros/hectare/ano para os Estados Unidos, de 2,0 para a União européia e de 3,6 para o Brasil. O consumo na região Sudeste é estimado em 12 Kg de agrotóxico/trabalhador/ano, mas em algumas áreas agrícolas do Estado do Rio de Janeiro, como na região da Microbacia do Córrego de São Lourenço, Nova Friburgo, chega a 56 Kg de agrotóxico/trabalhador/ano. Elevados níveis de contaminação ambiental e humana foram encontrados nesta região, como decorrência do uso extensivo destes agentes químicos. A idéia de que os agrotóxicos vieram como a salvação das lavouras, demonstra hoje que os estragos foram na verdade muito maiores do que a 24 ilusão produtiva do lucro fácil e rápido e com baixo custo. O trabalhador rural e sua família, particularmente o pequeno agricultor encontra-se diretamente e indiretamente afetado por esses produtos, uma vez que durante as safras vivem cotidianamente com o problema, durante as aplicações do veneno e mesmo na sua residência onde os produtos são guardados e manuseados. E ainda, como referido no início, os trabalhadores continuam sendo vítimas de um processo produtivo que facilita a aquisição desses produtos (mercado livre) o que agrava sua situação de saúde e incrementa a poluição do ambiente onde vivem. No meio ambiente, os principais impactos do uso de agrotóxicos incluem: o aumento do número de pragas resistentes, destruição de insetos úteis; como abelhas e animais polinizadores; mortalidade de animais como peixes, invertebrados aquáticos, aves e mamíferos silvestres; alterações nas populações de insetos, desenvolvimento de pragas secundárias, como conseqüência da eliminação de insetos benéficos, destruição de animais que constituem alimentos para outras espécies (aves, répteis, anfíbios e alguns mamíferos); contaminação desses animais ao se alimentarem de insetos, minhocas e outros, que receberam inseticidas; interferência no mecanismo de formação da casca de ovos de aves, impedindo a deposição da quantidade normal de sais de cálcio, resultando no enfraquecimento dos mesmos; destruição de plantas úteis; contaminação de alimentos de origem vegetal e animal; danos à saúde do homem, etc. (Mota, 1997). Em uma experiência com abelhas sociais nativas, que são importantes vetores de pólen em ecossistemas naturais agrícolas, Morais (1996), através da adaptação de testes feitos na Europa, concluiu que esses insetos quando expostos aos inseticidas piretróides não resistem a uma concentração de 0,70mg/l. Adicionalmente, o conceito de Hormesis, introduzido recentemente por Calabrese & Baldwin (2001), considera que mesmo pequenas quantidades de radiações de produtos químicos podem causar 25 conseqüências danosas em animais e plantas; desta forma, não apenas os grandes volumes de agrotóxicos provocam impactos significativos; fica claro também, que mesmo pequenas quantidades destes produtos causam desordens complexas e muitas vezes já detectadas, de difícil definição. Fellenberg (1980) considera que o emprego de agrotóxicos que apresentam longa atividade residual provoca uma contaminação aguda e involuntária do solo e das águas superficiais e profundas, sendo que a magnitude dessa contaminação pode ser avaliada se levarmos em conta que cerca de 50% desses produtos se perdem como contaminantes. De acordo com Van der Werf (1996) uma vez no ambiente agrotóxicos afetam a vida e a qualidade do solo, eliminando microorganismos e causando degradação química do mesmo. Alcançam o solo a partir das folhas que foram pulverizadas, por intermédio de partes mortas de vegetais ou por meio da aplicação direta e pela ocorrência de chuvas fortes, que podem fazer com que os mesmos penetrem mais profundamente do que desejado (lixiviação). Muitos animais que participam igualmente da degradação de partículas orgânicas junto ao solo, como minhocas, ácaros, colêmbolos e outros, se mostraram bem mais sensíveis à maioria dos praguicidas do que bactérias e fungos. Entretanto, é preciso considerar o fato de que as interações entre esses químicos e os ecossistemas são bastante complexas, não se conseguindo dimensionar concretamente as conseqüências. Apesar de já terem sido avaliados para alguns compostos, os danos potenciais para o ambiente precisam ainda ter maior rigor nas análises, implicando uma avaliação que vá desde a importação do ingrediente ativo ou matéria prima até o destino final das embalagens vazias de agrotóxicos. É comum que estes químicos atinjam áreas não alvo, quer seja pela lixiviação, deriva ou outros processos afetando tanto a fauna e a flora das proximidades dos locais onde foram aplicados, bem como plantações vizinhas, com prejuízos diretos, conforme foi observados nos Estados Unidos em algodoais atingidos pela deriva de herbicidas no Texas, no 26 período de 1983/84 (Garcia, 1996). As características destes produtos é que vão denunciar seu comportamento no ambiente, sendo já constatado o agravamento na redução da biodiversidade devido a seu uso (preparo da calda e destino final de seus restos, aplicação, lavagem de equipamentos, descarte das embalagens). Os atuais dados disponíveis evidenciam que no solo os inseticidas do grupo químico dos organofosforados e carbamatos apresentam uma melhor degradação, sendo pouco persistentes (degradam-se em semanas), e que os produtos resultantes de sua degradação muitas vezes não são tóxicos (Musumeci, 1992). Os organoclorados, ao contrário, podem ser encontrados cerca de 2 a 5 anos após sua utilização, bem como alguns herbicidas, como o 2,4,5 - T, e 2,4 – D, utilizados na guerra do Vietnã para desfolhamento das florestas, podem persistir no solo por mais de um ano. A dioxina, que entra nas formulações desses herbicidas, é uma das substâncias tóxicas mais venenosas, e o único valor admitido para ela em alimentos é zero (Almeida, 2001). A persistência desses produtos no solo vai depender da química dos compostos e das condições ambientais, como o clima, por exemplo. O DDT, pertencente ao grupo químico dos organoclorados, permitido atualmente no Brasil apenas para combate a vetores de doenças endêmicas, tem alta persistência devido a sua pouca solubilidade (Grisi, 1997), o que pode contaminar o solo em longo prazo. Apenas para exemplificar, em amostras de vegetais no interior de São Paulo analisadas pelo Instituto Biológico foi detectado resíduo de DDT onde ele não havia sido aplicado (Garcia, 1996). Em outro estudo realizado em 56 municípios de São Paulo, constatou-se que de um total de 486 amostras de solo 97,7% apresentavam resíduos de agrotóxicos em níveis que variaram entre traços e 0,43 mg/Kg (Garcia, op. cit.). No meio aquático, o comportamento dos agrotóxicos vai depender da sua solubilidade e persistência. A solubilidade interfere diretamente no seu maior ou menor potencial de contaminação de águas superficiais e 27 subterrâneas, mas a movimentação das águas leva agrotóxicos até locais muito distantes, através dos rios e correntes marítimas. Em muitos casos tem-se observado mortandade de organismos aquáticos, principalmente os peixes, devido à presença de agrotóxicos, constatando-se, adicionalmente, a presença de resíduos desses produtos em tecidos destes animais, razão pela qual sejam usados como bioindicadores (Almeida, 2001). Organoclorados são insolúveis, logo podem permanecer em suspensão na água e serem bioacumulados ao longo das cadeias alimentares. Diversos estudos foram efetuados em ambientes aquáticos no estado da Paraíba. Watanabe et al. (1994), por exemplo, em estudo realizado no reservatório de Gramame, evidenciaram que concentrações de 1 ppm, 3 ppm e 5 ppm de inseticidas provocaram maior incremento na atividade fotossintética como mecanismo de compensação do metabolismo de algumas espécies, e que os herbicidas Gramoxone + Goal + V 42 D – FLUID 2, 4 D e Gramoxone + Adefix apresentam um maior efeito inibitório sobre a respiração do que o inseticida usado. Ainda, a mistura Gramoxone + Goal + V 42 D – FLUID 2,4 D à 5ppm provoca um efeito inibitório da fotossíntese. Esses dados evidenciam as complexas reações que podem ocorrer quando esses produtos entram nos mananciais. Corroborando essa assertiva, alterações comportamentais e problemas no sistema hepático de peixes expostos a inseticidas fosforados também foram observadas em testes com curimbatá (Prochilodus scrofa) expostos a concentração de Dipterex 500 0,2µ l / l de água, em tempos de exposição de 24 e 48 horas (Rodrigues et al., 1996), constatando-se que em 24 horas, os organismos apresentaram agitação, perda de equilíbrio com natação lateral, movimentos descontínuos na tentativa de deslocamento com certa ansiedade. Análises efetuadas com o fígado desses animais evidenciaram hepatócritos tumefados, presença de granulações citoplasmáticas após 24 horas de exposição e desorganização de células hepáticas, necrose, entre outros problemas, após 48 horas. 28 Nascimento et al. (1995), em experimentos realizados com o agrotóxico Folidol, e o molusco Pomacea Lineata comum em ambientes aquáticos do nordeste, concluíram que os organofosforados também causavam problemas cardíacos em concentrações menores que 0,05 e que em concentrações mais elevadas tinham seus ritmos cardíacos diminuídos até chegar a estagnação. A explicação dada pelos autores é que a atividade cardíaca é mediada pela acetilcolina e os organofosforados são inibidores da acetilicolinesterase. Pinheiro (1996) também constatou Astyanax bimaculatus, quando expostos que lambaris da espécie ao herbicida Trifluralina, apresentam um enfraquecimento da sua capacidade hiperreguladora, observado pela diminuição na concentração do teor de sódio plasmático e no aumento dos hematócritos, após 6hs a 0,91 ppm, o que foi associado ao estresse provocado pela presença do herbicida, e que após 12 horas estes parâmetros se normalizaram, provavelmente, segundo os autores, como uma resposta adaptativa do animal. Os dados aqui apresentados representam uma pequena amostra dos perigos aos quais a biota aquática está submetida quando na presença desses compostos tóxicos, e ao mesmo tempo, demonstram que as reações individuais são distintas em cada organismo e frente a cada produto, refletindo a dificuldade de se obter generalizações a respeito das conseqüências ambientais promovidas pelos agrotóxicos. Outro fator que merece destaque relaciona-se com as empresas que comercializam os produtos e os acidentes que podem ocorrer durante procedimentos de transporte, armazenamento e manuseio em geral pelos trabalhadores dessas empresas, bem como com funcionários de firmas desinsetizadoras, onde casos de intoxicação aguda são comuns no Brasil. Na cidade de João Pessoa, vários casos destes acidentes têm sido acompanhados pelo Programa de Saúde do Trabalhador (PROSAT) – Hospital Universitário Lauro Wanderley (HULW), Universidade Federal da Paraíba (UFPB), comprovando-se contaminações sérias devido a constante 29 exposição durante a jornada de trabalho (Almeida, 2001). Em funcionários de saúde pública que trabalham em combates de endemias também se tem observado altos graus de contaminação. O relatório da Confederação Democrática dos Trabalhadores de Serviço Público Federal (CONDSEF), em Conceição do Araguaia – PA, por exemplo, demonstra que em 120 exames toxicológicos realizados com trabalhadores, 84 apresentaram contaminação por DDT e Malation, utilizados no combate a Malária e Dengue. Pilotos de avião agrícola e seus auxiliares também se encontram expostos e por último uma grande parcela da população que não se expõe pelo trabalho, mas por acidente ou pela ingestão de alimentos com resíduos de agrotóxicos acima dos níveis permitidos. Há que se considerar, ainda, a questão dos alimentos contaminados com agrotóxicos que chegam à mesa dos consumidores quando se fala de epidemiologia decorrente dos usos desses produtos. Em reportagem a revista Época (11/98), diversas amostras de alimentos apresentavam resíduos de agrotóxicos acima do limite tolerado ou mesmo de alguns químicos que têm o seu uso vetado no Brasil e não permitidos para a cultura na qual estavam sendo usados. Em 1194 amostras de hortaliças e frutas analisadas pelo Instituto Biológico de São Paulo, entre 1978 – 1983, 19,7% continham resíduos de praguicidas. Resíduos de agrotóxicos em alimentos acima dos limites tolerados jamais deveriam ser permitidos, sendo esse fato alvo de preocupação constante. O perigo da ingestão de alimentos contaminados com agrotóxicos que possuem quantidades residuais acima do tolerável ocorre quando a Ingestão Diária Aceitável (IDA) oferece riscos à saúde do indivíduo, o que é calculado em mg de agrotóxico/Kg de peso corpóreo (Almeida, 2001), mas o limite de tolerância não tem sido respeitado, tornando assim fator de preocupação os efeitos crônicos retardados via ingestão de alimentos contaminados (Martins & Mídio, 1997). De acordo com este autor, só nos Estados Unidos estima-se que 20.000 pessoas podem morrer de câncer anualmente devido às pequenas quantidades de 30 agrotóxicos presentes nos alimentos, número este que serve para evidenciar a dimensão epidemiológica do problema. Análises efetuadas pelo Instituto de Tecnologia de Alimentos – ITAL, em Campinas-SP, nos anos de 1977 e 1978 em amostras de sardinha em óleo, salsicha, patê de fígado, demonstraram que todas elas tinham substâncias do grupo DDT e ainda, resíduos de Aldrin, Dieldrin, Endossulfan e Endrin. Em 1979 e 1981, foram encontrados resíduos de organoclorados BHC e DDT em amostras de leite materno num banco de leite do Hospital do Servidor Público de São Paulo. Os valores médios de químicos encontrados no leite foram equivalentes a 278 microgramas por litro, quase 4 vezes mais que o limite de tolerância para leite de vaca (Candotti, 1986). Nesta mesma matéria da citada revista, já se alertava para a tendência a aumentar o nível de contaminação nos países em desenvolvimento. Apenas para se ter uma noção da dimensão do problema na região nordeste, Augusto (1997) nos informa que de 32 amostras de tomates analisadas em Camocim de São Felix, Estado de Pernambuco, 25 (78,12%) apresentaram resíduos de fungicidas além dos permitidos. De todo, entretanto, os trabalhadores da agricultura são considerados os mais expostos. Com eles a situação é bastante delicada, já que o local de trabalho, geralmente, se confunde com o local de moradia. Os agrotóxicos são considerados a 3ª causa de intoxicação na população geral e na população de trabalhadores rurais, é a 2ª causa entre as ocorrências ocupacionais. 3.3- A saúde na visão da medicina tradicional chinesa A medicina tradicional chinesa é por natureza, holística e ecológica. Essencialmente ela se baseia nos princípios naturais de manutenção da ordem e da organização orgânica, dentro da aparente desordem imposta pelas forças que constantemente desestabilizam condições saudáveis. 31 Tal concepção está intrinsecamente relacionada com os fenômenos naturais que mantém a ordem funcional dos ecossistemas, e que são considerados como mecanismos auto-reguladores e auto-organizadores (mecanismos negentrópicos) que contrabalançam o aumento da entropia natural que constantemente atua em todos os sistemas abertos (Shrodinger, 1940). Em outras palavras, a manutenção da ordem orgânica (fisiológica, genética, comportamental e bioquímica) nos sistemas vivos tem um custo relativamente grande, visto que é necessário que os organismos estejam constantemente lutando contra as forças que desagregam estruturas orgânicas e desestabilizam sistemas e aumentam as suas entropias internas. A medicina tradicional chinesa não incorpora apenas a noção de equilíbrio orgânico, mas também considera a necessidade da manutenção do equilíbrio psíquico, o que tem suscitado o interesse no mundo ocidental pelas formas tradicionais de meditação chinesa, que muito contribuiu para o desenvolvimento da psicologia analítica de Jung, por meio do taoísmo. Jung, há mais de quarenta anos, estudando e analisando seus pacientes, observou a existência de relações entre as imagens da meditação taoísta, e o processo psíquico e seus símbolos, e que estes, estão associadas com mudanças da consciência, podendo transformar a personalidade, a atitude, e as reações de uma pessoa, permitindo assim que um nível superior de consciência seja alcançado – o “surgimento do Tao” (Miyuki, 1995). O Taoísmo é a mais importante tradição espiritual milenar chinesa. Seu ensinamento filosófico e prática espiritual através da meditação, da alquimia, e de rituais são desenvolvidos segundo cinco vertentes: 1. Dan Ting, que significa literalmente Caldeirão e Elixir (da alquimia), 2. Fu Lu (ritualística e da Lei Cósmica); 3. Jin Dien (que preza pelos estudos dos Textos Clássicos, sendo, portanto, uma escola eminentemente filosófica), 32 4. Ji San (ou escola da acumulação da bondade, na qual os conhecimentos taoístas são aplicados em benefício da sociedade, da pessoa, da vida); 5. Dzan Yen (que é a escola dos Oráculos e Experiências, e que congrega os ensinamentos do I Ching, a Astrologia, Artes Marciais, a Acupuntura, Fitoterapia e Chi Kung. (Sociedade Taoísta do Brasil, 2008). Os taoístas dividem-se em diferentes escolas, apesar existir uma ampla interação entre elas. Mas é principalmente na concepção taoísta da escola Dzan Yen que a visão holística do equilíbrio orgânico que mantém a saúde física e mental em perfeita harmonia é buscada. Para o taoísta, o autoconhecimento é a ciência suprema. Contudo, qualquer que seja a fonte a que recorrem a fim de obter orientação interior e esclarecimento, o eu é sempre o grande mistério. E é por isso que a introversão da mente para o seu interior, através da prática meditativa, tem como propósito o domínio da mente, o desenvolvimento da consciência e a percepção de que o corpo e a mente são um só, ou, em outras palavras, conforme assinalou Brunton (1970), se considerarmos o osso, a carne, o sangue e o tutano, os órgãos sensoriais e os órgãos internos, nenhuma dessas partes é o eu, pois, obviamente, a consciência ficaria nesse caso limitada àquela parte. Ou, em outras palavras, por mais que se procure não se encontrará uma parte individual do corpo na qual o eu pareça inserir-se, visto que ele é a totalidade integradora do ser humano. No taoísmo, os conceitos que permeiam o desenvolvimento da consciência, projetando-a para o desenvolvimento da personalidade humana, remontam à dinastia Shang (1766 -1122 a.C.) e Chou (1122-255 aC), e dentre eles, três são considerados fundamentais na filosofia chinesa: ti, t´ien e Tao. Nos oráculos chineses da primeira fase, ti aparece como uma espécie de soberano poderoso, cheio de poderes misteriosos e sobrenaturais, que rege fenômenos naturais como a chuva, o vento, a seca, a colheita, etc., além dos destinos humanos, a felicidade e a infelicidade, o bem e o mal, não sendo, no entanto, venerado em ritos religiosos. 33 Numa segunda fase, ti foi usado como título honorífico para o ancestral dos reis, que então estava sendo venerado. Mas ti também se refere a uma festa ritual em honra do primeiro ancestral do povo de Shang. Também representa a imagem de um cálice e o ovário de uma flor, a partir do qual têm origem novas gerações de flores, frutos e plantas. Nesta concepção, ti representa o centro, a origem, o coração e a fonte onde outras gerações têm origem e onde, ao mesmo tempo, reside a totalidade potencial da flor. Ti´en é tida como “idéia religiosa fundamental da dinastia Chou, a dinastia posterior à Shang”. É um demonstrativo que significa o vértice da cabeça, isto é, o ponto mais alto do corpo humano e, como tal, serve simultaneamente para designar o “céu”. Mas o povo de Chou empregava o conceito também para designar uma entidade suprema que exerce influência benéfica sobre o destino dos homens por meio da ordem e da lei, e que se revela no íntimo de uma pessoa de acordo com o seu grau de virtude. Inúmeras advertências como: ”Não dependas das leis celestes”, ou “cultiva as tuas virtudes para que correspondas ao Céu. Tu mesmo deves conquistar a bênção”, ou ainda, “quando criou o homem, o Céu o dotou com suas leis para todos os seus atos e atitudes. O homem deve cultivar essa dádiva com zelo e desenvolvê-la até a perfeição”, serve para ilustrar que o conceito ti´en é muito mais dependente de esforços humanos. O Tao, por sua vez, significa, literalmente, “caminho” ou “estrada” – por extensão, o caminho correto -. A mais antiga forma do ideograma compõe-se de três elementos: um caminho, uma cabeça e um pé humanos. Tanto ti, como ti´en e Tao representam princípios de ordem, mas Tao é mais abrangente e mais fundamental, como diz o grande filósofo chinês Lao Tse, que viveu durante a dinastia Chou (século VI a.C.): “O homem orienta-se pela Terra, a Terra, pelo céu. O céu, pelo Tao; e o Tao, por si mesmo”, e ele se relaciona estreitamente com a cosmogonia yin-yang do I ching: “O Tao gera o um, o um gera os dois, os dois geram os três, e destes 34 nascem as miríades de coisas. Nas miríades de fenômenos manifestam-se o yin e o yang e eles alcançam a sintonia através da energia vital do vazio”. A energia vital do vazio refere-se à energia primordial como fonte e origem de todas as coisas e fenômenos, e aqui ela é equiparada ao Tao. A definição de Tao como “criador” lembra o ti, o ancestral primordial. O fundamento do Taoísmo encontra-se em um dos livros mais antigos do mundo, o TAO TE CHING, “O livro da ordem do mundo e da força vital” escrito pelo grande filósofo chinês Lao Tsé (VI a.C.). Este livro é composto de 81 poemas, que de uma forma sintética, exibe todo o pensamento filosófico de seu autor. Lao Tsé concebia o TAO como sendo a harmonia do mundo natural. “O TAO é a verdadeira base da qual todas as coisas são criadas”. Embora em muitas ocasiões o TAO seja descrito como o “Céu”, não o era dado uma conotação divina, como o Deus antropomórfico cristão. Segundo Lao Tsé, o homem para se integrar com o TAO deveria ter desapego às coisas materiais, e meditar procurando manter a mente tranqüila e vazia de pensamentos, e assim alcançaria a união com o TAO. Depois da morte de Lao Tsé, alguns de seus discípulos se desviaram dos seus ensinamentos, para o misticismo mágico. Foi esse lado mágico, desvirtuado da verdadeira essência filosófica do TAO, que teve maior receptividade nas camadas populares, mais ainda quando esses ensinamentos taoísta se miscigenaram às superstições e feitiçarias do passado. A partir daí, começou a se desenvolver uma religião popular baseada em Lao Tsé, mas com adoração a deuses, templos, com seus monges e sacerdotes, e com rituais de oferendas de alimentos aos deuses, e procissões. Totalmente desvirtuados da sabedoria pregada por Lao Tsé. Outro grande filósofo contemporâneo de Lao Tsé que influenciou também o taoísmo foi Confúcio. É dele a célebre frase: “Mostre respeito pelos deuses, mas mantenha-os a distancia”. Profundo estudioso do I Ching, revisou-o, colocando-o no patamar dos clássicos chineses. Quando lhe perguntavam sobre os mistérios da morte, respondia: “Quando não se compreende nem sequer a vida, como se pode compreender a morte”. Sob 35 a influência filosófica desses dois grandes filósofos, floresceu a Medicina Tradicional Chinesa, livre de superstições religiosas, tendo como base, a meticulosa observação da relação entre o homem e a natureza. Para um sábio taoísta a ação mais importante é a “não ação”. Lao Tsé defendia a idéia de que o homem deveria interferir o menos possível no desdobramento dos acontecimentos, pois de acordo com a teoria do Yin/yang, quando o yang atinge o seu apogeu, inevitavelmente, surgirá o yin, assim sendo, quando, por exemplo, um soberano é muito opressor, atingirá um ponto tal, que mesmo o povo humilde e subserviente se rebelará. O sábio taoísta tem consciência dessa tendência natural à mudança existente na natureza, inclusive na natureza humana. Segundo o TAO TE CHING, quanto menos leis existirem regendo um país, melhor viverá o povo: “Quanto mais leis e mandamentos existirem, mais bandidos e ladrões haverá”. Para o sábio Taoísta, o líder de uma comunidade deveria ser um filósofo, sendo sua principal missão dar exemplo de virtuosidade, prudência, e senso de justiça, para o povo. O Taoísmo é uma filosofia de vida que se fundamenta em quatro pontos: a) a rejeição de qualquer esforço intencional: b) confiança que as ações espontâneas e sem esforços conscientes trazem benefícios; c) que o TAO (Caminho Correto) se manifesta em todas as coisas e em todos os lugares; d) no equilíbrio entre o humano, o espiritual e o terreno. O entendimento do TAO nos diz que quando o evento quer sejam humano ou materiais, coexistem harmoniosamente com a energia do macrocosmo do TAO, tenderá a existir paz e equilíbrio no universo. Assim, o verdadeiro sábio deve seguir sua vida de acordo com os princípios do TAO, passivamente em sintonia com a natureza, onde todas as coisas e todos os seres estão interconectados, numa conotação essencialmente ecológica. Uma boa representação dessa passividade é a água: passivamente, ocupa os lugares mais baixos, porém, nunca perde a sua grande força, sendo capaz de penetrar a rocha mais dura. O objetivo do TAO é deixar as coisas fluírem naturalmente, no ritmo natural, mas isso não deve ser interpretado como um estímulo ao ócio ou à impotência. É a disciplina 36 juntamente com a sabedoria e a paciência para controlar os impulsos de ação, permitindo que no tempo mais certo as realizações mais efetivas e produtivas aconteçam, mas num tempo correto, e do jeito certo. (Chung, 2006). Todas estas concepções podem ser encontradas no I Ching, um dos livros mais antigos da humanidade. Atribuído a Fu shi (2852 a.C), sua importância na cultura chinesa é enorme, chegando ao ponto de um dos expoentes da filosofia chinesa, Confúcio, ter afirmado que se pudesse retornar em outra vida, dedicaria ao estudo desse livro. É usado por muitos como um oráculo, mas na verdade, seu conteúdo excede largamente seu simbolismo como livro de adivinhação. Constitui um elaborado sistema de símbolos, e suas explanações não encontram algo semelhante em nenhuma civilização conhecida. Estes símbolos, segundo a visão chinesa, refletem de um modo abstrato, todos os processos da natureza. É composto por 64 hexagramas, cada um destes, sendo o resultado de 64 combinações entre os oito trigramas do Ba Gua. Estes 64 símbolos dentro do sistema do I Ching desempenham um conjunto de conceitos abstratos capazes de explicar um grande número de eventos e processos dos fenômenos do mundo natural. No I Ching, a representação gráfica para o um inicial é dada por um traço contínuo, que em seguida deu origem a duas forças opostas, porém complementares, representadas como duas linhas, uma contínua (_____) (yang), e uma tracejada (__ __) (yin). A partir dessas duas linhas, cada uma delas deu origem a dois digramas, totalizando quatro digramas. Ou, em outras palavras: A partir do Um inicial, surgiram duas forças opostas e complementares Yin/Yang, que em seguida deram origem a quatro forças, representadas por quatro digramas, denominados de yang velho, yin jovem, yang jovem, yin velho (Figura 1); ou seja, de uma única força primordial, originaram-se quatro forças, sendo em última instância, quatro diferentes aspectos de um mesmo princípio. É bem provável que quem catalogou o I Ching tinha como intenção transmitir às gerações futuras um conhecimento “sagrado”, oculto, 37 fechado, em forma de código cifrado, criptografado, apesar de os não iniciados usarem-no como oráculo, fundamento que o psicólogo Carl Gustav Jung admitiu funcionar como oráculo tendo como base os símbolos dos arquétipos da humanidade. Estes seriam os arquétipos no I ching: os 64 hexagramas representando os 64 códons do DNA. JOVEM YANG VELHO YANG JOVEM YIN VELHO YIN Figura 1. Representação esquemática da origem das forças naturais antagônicas (yin-yang) que segundo o I Ching originaram as “dez mil coisas”. Contrariamente à medicina ocidental, que preza pelo conhecimento científico e menospreza o conhecimento tradicional, a medicina chinesa evoluiu a partir das associações que os antigos faziam acerca da influência dos fenômenos naturais sobre as condições de saúde das pessoas. A Medicina Tradicional Chinesa é a quintessência da Cultura chinesa antiga. Ela tem uma longa história de mais de 5000 anos e seus métodos terapêuticos se acham hoje espalhadas pelo mundo todo. A MTC engloba diversos métodos terapêuticos: desde as técnicas milenares de meditação e exercícios de tai-chi e chi-gong, massagens (tuiná), cromoterapia, musicoterapia, dietoterapia, moxabustão, acupuntura e fitoterapia, todos estes, fundamentados na classificação yin e yang/ cinco elementos. As técnicas de diagnóstico consistem em escuta, inspeção e apalpação do doente, inclusive através do exame do pulso, para depois 38 escolher o tratamento mais indicado, visando harmonizar a saúde do paciente. De acordo com Veith (1966) e Van Nghi (1988), as bases epistemológicas da medicina tradicional chinesa remontam à época do Grande Imperador Amarelo Huang Ti (2698 aC a 2599 aC), venerado como o pai da Medicina Chinesa, também considerado o ancestral de todos os chineses da etnia Han, representada pela maioria dos chineses da minoria Manchu, um grupo étnico que teve origem no nordeste da Manchúria, uma vasta região no leste da Ásia que atualmente inclui o extremo nordeste da China também chamada Manchúria Interior e uma parte da Sibéria (Wikipédia, 2008). O primeiro livro de acupuntura - o NEI CHING SU WEN - também conhecido como “O Clássico do Imperador Amarelo da Medicina Interna” foi a primeira obra a estabelecer as bases teóricas que fundamentam o sistema médico e a teoria filosófica da MTC. A tradição atribui a obra ao imperador Huang Ti (2500 a.C. A obra, em sua forma mais completa e revisada, aparece por volta do ano 200 aC, é composta de duas partes, o SU WEN que descrevia as terapias da medicina chinesa e o LING SHU, ou eixo espiritual, que ensinava como restaurar a harmonia do corpo (American Acupuncture, 2008, Van Nghi, 1988) O Nei Ching representa o livro de ouro da Medicina Chinesa. É um texto que foi retrabalhado várias vezes, particularmente durante a dinastia Han (cerca de 206 aC-25 dC), quando muitos acréscimos e comentários foram efetuados até aparecer em sua primeira forma completa por volta do ano 762 dC (Veith, 1966). A sua versão mais atual é de autoria de Bing Wang, hoje traduzida para o português por José Ricardo Amaral de Souza Cruz (Wang, 2001). Ferreira (2008), no entanto, considera que a origem da Medicina Chinesa remonta à era Shang (cerca de 1800 aC), também denominada de dinastia Yin nos seus últimos estágios, a primeira a deixar sinais de atividades terapêuticas, segundo achados arqueológicos efetuadas no curso médio do Rio Amarelo. Os Shang viviam da agricultura e do gado, a 39 nobreza habitava em pequenas cidades e a maioria da população morava no campo. Os membros da comunidade respeitavam seus ancestrais, e acreditavam que eles podiam tanto lhes favorecer como amaldiçoar. Entre as doenças que reconheciam, a mais importante delas era a "maldição de um ancestral", cujos sintomas poderiam abranger desde dor de dentes até derrota na guerra. Os procedimentos preventivos e terapêuticos envolviam presentes e oferendas aos ancestrais. Há referências a outras causas de doenças, como "vento perverso" que seriam combatidos através dos shamans. (Ferreira, 2008). O vento perverso na verdade representa mudanças na direção predominante do vento em determinada área, que pode provocar alterações fisiológicas, ou metabólicas, ocasionando várias doenças como gripe, rinite, alergias sazonais, etc. Sobre este aspecto. Hipócrates, o pai da medicina ocidental, 400 a.C. também escreveu em um dos seus livros que compõe o Corpus Hipocraticus, um tratado que afirma que a maioria das doenças é causada pelo vento. Os Chou (ou Zhou, segundo Karolinska Institutet, 2008), ocupavam o Vale Wei, onde hoje se situa a moderna Província de Shaansi, sucederam os Shang por volta de 1100 aC (1122aC-221dC), caracterizada como um período de grande desenvolvimento intelectual na história chinesa, da religião e filosofia, incluindo a ascensão do Confucionismo e do Taoísmo, bem como, a escrita da literatura chinesa mais antiga. Os Chou admitiam que os "demônios" teriam importância na vida cotidiana, de sorte que a harmonia nos relacionamentos não seria mais mantida pelos ancestrais. Foram criados mitos reconhecendo "demônios" que exerceriam influências maléficas sobre o homem. Cresce de importância a presença dos shamans que empregavam técnicas de exorcismos com espadas e lanças para dominar os demônios, usando-se da ajuda de espíritos mais graduados. Segundo este autor, foi nesse período que surge uma forma rudimentar de acupuntura, que empregava agulhas em forma de espadas, as quais eram inseridas ou pressionadas sobre treze pontos determinados da superfície da pele, e eram usadas para tratar as doenças causadas pelos demônios. Esta forma de acupuntura primitiva não tinha, 40 portanto, o objetivo de tratar das doenças em si, mas antes, de expulsar e combater os demônios (Ferreira, op. Cit.). Entretanto, a máxima: “Devemos respeitar os deuses, porém mantendo-os à distância”, escrita por Confúcio por volta do ano 500 a.C., demonstra que o apogeu da dinastia Shang foi altamente influenciada por ele e por Lao Tsé, que não eram supersticiosos, nem acreditavam em seres superiores para serem venerados, descartando, assim, a crença em tanta superstição. Ferreira (2008), explica que foi nesse período primitivo da medicina tradicional chinesa que surge a medicina de correspondência sistemática, que reconhece fenômenos de influência mútua, causas e efeitos, além de estabelecer outros princípios como o uso do "yin yang" e das "cinco fases", o conceito de "Qi" ou “Chi” como a base da vida, que seriam "influências materiais sutis". Nessa nova fase, os males não seriam mais atribuídos a demônios, mas antes eram conseqüências de influências e emanações abstratas ou concretas relacionadas ao “Qi" (energia), que em princípio exerceria somente influências maléficas, mas que com o passar do tempo evoluiu para o conceito atual, aproximadamente o das "influências materiais sutis” como foi referido acima. A saúde e a harmonia seriam conseqüência de não haverem extravagâncias ou excessos, sejam alimentares, sexuais, climáticos ou morais. A medicina tradicional chinesa tomou emprestada do cotidiano as terminologias que foram sendo incorporadas em seu vocabulário. Por exemplo, Zang, que representa tanto depósitos como órgãos onde o Qi se armazena; Fu, palácios por onde o Qi passa; Jing-Lo, canais que uniam todo o sistema, como os rios e canais da China integravam o império. Refletindo o que ocorre na irrigação dos campos e na navegação dos rios, era necessário que este fluxo fosse contínuo, sem obstruções ou transbordamentos, que levariam a falhas na distribuição dos bens, causando deficiência nos centros de consumo e excesso nos centros de produção. A Medicina de Correspondência Sistemática tem como objetivo então identificar e localizar estas obstruções, deficiências e excessos, 41 tratando através da normalização do fluxo do Qi nos canais (ou meridianos), dando-se ênfase as alterações funcionais. O "Nei Ching" representa uma coletânea de livros de medicina, escritos na forma de diálogo entre o imperador Huang Ti, que pergunta, e Ch'i Po, um doutor da corte que responde, sobre as relações entre o homem e a natureza, as causas das doenças e os métodos de profilaxia e tratamento, ressaltando a importância da harmonia entre o yin e o yang, nessa abordagem (American Acupuncture, 2008). O "Nei Ching" traz a primeira sistematização de todos os conceitos de saúde existentes no final da era dos "Estados em Guerra" e início da era Han. Foi nessa época que foram descobertos os pontos como locais de estímulo, os doze canais e a associação entre canais e órgãos. Na “Verdade Natural dos Tempos Antigos”, Livro I do Nei Ching, Huang Ti pergunta a Ch´i Po: “Ouvi dizer que nos tempos antigos as pessoas viviam mais de um século e mesmo assim permaneciam ativas e não se tornavam decrépitas nas suas atividades. Hoje em dia, porém, só vivem metade desses anos e mesmo assim tornam-se decrépitas e débeis. É porque o Mundo muda de geração para geração? Ou será por que a espécie humana negligencia as leis da Natureza?”. E Ch´i Po responde: “Antigamente, as pessoas que compreendiam o Tao [o caminho correto] moldavam-se de acordo com o Yin e o Yang [os dois princípios da Natureza], e vivendo em harmonia. Havia temperança no comer e no beber. As horas de dormir e acordar eram regulares e não desordenadas e ao acaso. Graças a isso, os antigos conservavam os seus corpos unidos às suas mentes, a fim de cumprirem por completo o período de vida que lhes estava destinado, contando cem anos antes do passamento. Hoje em dia, as pessoas são diferentes; utilizam o vinho como bebida, e adotam a temeridade e a negligência como comportamento habitual. Entram na câmara do amor em estado de embriaguez; as paixões exaurem-lhes as forças vitais; o ardor dos desejos malbarata-lhes a verdadeira essência; não são hábeis na regulação da sua vitalidade. Devotam toda a atenção ao divertimento dos seus espíritos, desviando-se assim das alegrias da longa 42 vida. Levantam-se e deitam-se sem regularidade. Por tais razões só chegam à metade de cem anos e degeneram. As verdades naturais dos tempos antigos são tão atuais quanto eram nos tempos do imperador amarelo, e em diferentes partes desse tratado se acham detalhados os conselhos para uma boa saúde que em essência se resume em viver em harmonia com o Tao, o Caminho Certo, respeitando as leis e o ritmo da natureza. Os sábios antigos, afirma o Nei Ching, diziam que a fraqueza, as influências insalubres e os ventos nocivos deviam ser evitados em ocasiões específicas. Sentiam-se tranqüilamente satisfeitos na “não ação” e a verdadeira força vital acompanhava-os sempre; preservavam dentro de si o chi ancestral. Assim, como podia a doença acometê-los? Essas passagens do Nei Ching, claramente nos levam a refletir o quanto a nossa medicina ocidental atual, altamente reducionista e especializada, se encontra distante dos verdadeiros princípios da boa saúde. Na MTC, é marcante a visão da ordem intrínseca no funcionamento dos diferentes órgãos, e dos mecanismos de auto-regulação e controle, como vemos no esclarecimento de Ch´i Pó ao imperador Huang Ti: “Os rins do homem regulam a água que recebe e armazena a essência (jing) das cinco vísceras e dos seis intestinos. Quando as vísceras estão abundantemente cheias, encontram-se aptas a segregar; mas quando, neste estágio, as cinco vísceras estão secas, os músculos e os ossos declinam, as secreções reprodutoras exaurem-se e, por isso, o cabelo do homem encanece nas fontes, o corpo torna-se-lhe pesado, a postura deixa de ser ereta e ele se torna incapaz de procriar!. As cinco vísceras referidas acima são: o coração, os pulmões, o fígado, os rins e o baço. Os seis intestinos são: a vesícula biliar, o estômago, o intestino grosso, o intestino delgado, a bexiga e o San Jiao, ou espaço de combustão triplo (triplo aquecedor), a parte do corpo humano acima da extremidade superior do estômago é o espaço de combustão superior, cuja função é receber e não expelir; a parte central do estômago chama-se espaço de combustão médio, cuja função é digerir alimentos, e o 43 espaço de combustão inferior é o órgão de eliminação cuja função é expelir e não receber (Wang, 2001) O "Nan Ching", outro clássico da medicina chinesa, surge no primeiro século Correspondência da era cristã. Sistemática, A obra conforme já refina referida a Medicina em de parágrafos anteriores (ver Ferreira, 2008), definindo as regras e procedimentos que seriam utilizados pela acupuntura até os nossos dias, bem como explicando todos os aspectos práticos e teóricos dos cuidados com a saúde, incluindo a doutrina das cinco fases e a harmonia yin e yang (Unschuld, 1986). Somente na era Song (960–1279 dC) surge outra obra importante, o "Da Cheng" (Van Nghi, 1988), que reúne a experiência prática de acupuntura existente nesta época. A vida em harmonia com o Tao, ou, ou seja, a persistência no Caminho Certo é a principal base da manutenção de uma boa saúde. Isso não se aplica apenas a pessoas, mas a humanidade como um todo. Para ter saúde plena e completa, a humanidade deve ser virtuosa. Essa virtude não deve depender nem do medo da punição, nem de supostos benefícios que venham a lhes prometer em troca, nessa ou noutra vida. Um homem que não pratica o bem, independentemente de religião, não poderá de forma nenhuma viver em harmonia com o universo - entenda-se neste caso o bem não somente aos semelhantes, mas a todas as formas de vida dos diferentes ecossistemas. Ainda, é universalmente aceito que “não devemos desejar a outrem o que não queremos para nós”. Logo, quem agir diferente desse princípio não pode de forma nenhuma, dentro da visão da Medicina Tradicional Chinesa, que se baseia na Filosofia do TAO, estar em equilíbrio pleno físico, mental e social; certamente é doente, e necessita de tratamento integral. Sob esta ótica, claramente podemos perceber que a grande maioria das pessoas não está saudável. Um exemplo remonta à época de Sócrates (500 a.C.), que foi forçado a tomar cicuta por não abdicar das suas virtudes; a sociedade de Atenas é que estava doente. Disse Sócrates, ao 44 tomar o veneno: “Morre Sócrates, mas comigo morre também a democracia de Atenas” (Stone , 1989). Quando olhamos para estas visões da MTC, claramente evidenciamos a natureza preventiva dessa prática. Viver de acordo o Yin e o Yang e em harmonia com as quatro estações e com os outros é, assim, a principal maneira de poupar energias e preservar a saúde, e quando isso é feito juntamente com práticas meditativas que não forçam a mente de forma extenuante, é possível atingir-se o estágio de Homem Espiritual, alcançando-se a perfeita harmonia com o Céu e a Terra, um estágio de felicidade e paz interior e a satisfação mais elevada das realizações. Neste estágio, nada pode molestar-lhes o corpo e nem malbaratar-lhes as faculdades mentais, sendo assim possível chegar-se a idade de cem anos ou mais. A prática da meditação sem extenuação mental é semelhante àquela que é praticada pelo zen budismo que consiste em “ver dentro de sua natureza-própria, ou seja, tornar-se um Buda ou um Cristo”. Essa idéia consiste em contemplar a serenidade e a pureza interior, e não se apegar aos bens materiais (é meu), procurando encontrar o “caminho do meio”, o TAO, que leva ao “quietismo”, ou à tranquilização, quando desaparece a dualidade sujeito-objeto. Essa visão da natureza-própria, evidentemente, não é uma visão comum, onde existe a dualidade do sujeito que vê e do objeto que é visto (Suzuki, 1993). Nesse estágio, expande-se a consciência do eu, que se funde com o cosmos e com todas as partes daquele que vê. Tudo se torna Um, atingindo-se o “Religaris”. Tudo é igualmente importante; o Um sente-se integrado à natureza. Uma visão integradora e holística, como na ecologia. Neste estágio, o respeito aos outros é igual ao respeito que se dá a si próprio; exemplo do mais elevado conceito da ecologia profunda, o ecocentrismo. Note-se que o taoísmo não é budismo; mas neste ponto, há proximidades. Os versos abaixo, atribuídos a Buda, são do poema “A Luz da Ásia” (Suzuki, op. Cit.) e são suficientemente robustos para ilustrar a 45 essência do significado do auto-conhecimento, que também é a meta da meditação taoísta!: Muitas foram as casas da vida Que me prenderam – e eu sempre à procura do forjador Dessas prisões dos sentidos, cheias de sentimento; Minha luta foi árdua e dolorosa Mas agora, Eu te conheço, ó construtor deste Edifício! Nunca mais reconstruirás Estes muros de dor, Nem levantarás outras vias de desenganos, Nem novos esteios fincarás no barro; Tua casa ruiu, partiu-se a viga-mestra do telhado! O engano lhe dera forma! Que agora eu saia a salvo para obter a liberdade. Na busca pela saúde total a visão da medicina tradicional chinesa considera, assim, importante o equilíbrio harmônico entre a mente e o corpo, a psiqué e a matéria, mas também considera muito importante, que sejam consideradas as forças naturais que constantemente agem alterando o ritmo do Tao e que conseqüentemente interferem na harmonia entre o yin e o yang. A vida é uma manifestação rítmica, que segue rigorosamente os princípios do yin e do yang, a bipolaridade universal, opostos que se complementam: frio-quente, repouso-movimento, direita-esquerda, energia elétrica bipolar, polaridade atômica, equilíbrio ácido-básico nos líquidos orgânicos, considerada pelos chineses como o princípio de regulação e manutenção da ordem e em diversos comportamentos e outras características do ser humano (Tabela 2). Utilizando a linguagem Aristotélica e escolástica, pode-se dizer que yang é tudo aquilo que é “em ato” e yin, tudo aquilo que é “em potência”, ou que todo ser é yang do ponto de vista em que é “em ato” e yin do ponto 46 de vista em que é “em potência” visto que esses dois aspectos encontramse reunidos, necessariamente, em tudo aquilo que é manifestado, e um não têm existência sem o outro (Guénon, 1957). O I ching, o maior livro da sabedoria da humanidade de todos os tempos, identifica essas duas forças como o luminoso e o obscuro, que na cosmogonia universal estão associadas, respectivamente, à essência (espiritual, que vem de cima) e a substância (matéria, conforme manifestada; aquilo que é por nós realmente vivido, percebido e experimentado). Tabela 2 – Algumas características yin e yang, encontradas entre os humanos. YIN Tendência à inércia Movimento centrípeto Apatia Fala baixo Obeso Olhar cansado Cabeleira Idoso Salivação Sonolência Tez escurecida Regras abundantes Preferência pelo silêncio Tendência à fadiga Pouca barba Tímido Triste Pouco viril Melhora no verão YANG Tendência expansão Movimento centrífugo Excitação Fala alto Esbelto Olhar vivo Calvície Jovem Boca seca Insônia Tez clara Regras curtas Preferência pelo barulho Tendência a não se cansar Barba abundante Extrovertido Alegre Mais viril Melhora no inverno No I ching, essas duas polaridades são representadas por símbolos lineares que formam o primeiro e o último hexagrama, que são o Kien (seis traços horizontais contínuos) e o Kouen (seis traços horizontais interrompidos), e que representam a plenitude do yang, identificado com o 47 Céu, e do yin, identificado com a Terra. E é entre esses dois extremos que se colocam todos os outros hexagramas, em que o yang e o yin se mesclam em proporções diversas, e que correspondem assim ao desenvolvimento de toda e qualquer manifestação que existe no mundo Esses mesmos dois termos, yang e yin, quando se unem, são representados pelo símbolo do Tao (Figura 2). Figura 2 – Representação das forças yin-yang no símbolo do TAO, evidenciando os quatro aspectos do mesmo princípio em um subgrupo de quatro: madrugada: yang no yin; manhã: yang no yang; tarde: yin no yang; noite: yin no yin. A parte clara é yang e a parte escura yin, em conformidade com o simbolismo da luz e da sombra. Saúde, na medicina tradicional chinesa, significa, portanto equilíbrio de polaridade. E os desequilíbrios podem ser observados da seguinte forma, entre outros tantos exemplos: yang: músculo contraído. Câimbra; espasmo; pele seca. Yin: músculo flácido, que não se contrai; pele úmida (Austregésilo, 1974). Assim, a medicina tradicional chinesa é baseada na distinção entre yang e yin: qualquer doença é devido a um estado de desequilíbrio, isto é, a um excesso ou deficiência de um desses 48 dois pólos em relação ao outro. O tratamento consiste em tonificar o que está em deficiência e sedar o que está em excesso para restabelecer o equilíbrio, atingindo-se a causa da doença, em vez de limitar-se a tratar dos sintomas, como a medicina cartesiana ocidental geralmente faz (Guénon, 1957). Os mesmos ciclos que mantém a organização e a ordem dinâmica dos seres vivos estão em perfeita harmonia com os ciclos cósmicos e da natureza, como o ciclo do sol ao redor da nossa Galáxia (translação que 250 milhões de anos); a rotação do sol e da terra em torno de seu próprio eixo, a translação da terra ao redor do sol, o ciclo das estações do ano, e das fases da Lua, (Rotenberg et al., 1997; Paludetti, 1998a). Esses ciclos têm influência sobre os seres vivos e sobre os ciclos da natureza, regulando as marés e as mudanças climáticas, visto que as variações na órbita da Terra em torno do sol, no ângulo de inclinação do seu eixo, e na oscilação da Terra (ciclos de Milankovitch), determinam a quantidade de luz solar que incide na superfície de nosso planeta e as variações de suas temperaturas) (Salgado-Labouriau, 2006). Nos seres vivos, estes ritmos, determinam a época de reprodução de espécies, o funcionamento do corpo humano e o ritmo de funcionamento de cada órgão, bem como os horários de maior produção de enzimas, hormônios e neurotransmissores. (Jianping, 2001). Entende-se, assim, que praticamente todos os organismos vivos exibem ritmos biológicos, desde organismos unicelulares até o homem, a exemplo do ritmo de divisão celular e fotossíntese, ritmos de excreção renal de potássio, ritmos comportamentais como o de ingestão em ratos, ritmos de floração nas plantas e até mesmo ritmos de infecções por microorganismos (Paludetti, 1998b). Doenças, no contexto da Medicina Tradicional Chinesa, são alterações nesses ritmos, quer sejam decorrente de alterações no próprio ritmo da natureza, ou provocada pelo próprio homem, quer alterando o ambiente onde vive, ou os seus próprios ritmos endógenos. 49 No organismo humano também existe um ritmo interno, sendo este determinado em parte pelo DNA (código genético individual) e em parte pela maneira como as pessoas se comportam durante sua vida tanto moralmente (virtudes) quanto no que diz respeito a sua dieta, bem como se sua forma de viver obedecendo ao ritmo da natureza, ou seja, o TAO, sendo que alterações nesses ritmos tendem a desequilibrar o organismo, provocando o surgimento de enfermidades. Os ritmos que governam todos os fenômenos biológicos em geral, e o funcionamento do corpo humano, em particular, são estudados hoje pela ciência da cronobiologia (Cipola-Neto, 1988; Reppert & Weaver, 2002). Mas eles já eram conhecidos dos chineses antigos, desde a época do lendário Imperador Amarelo Houang Ti (2500 a.C.), que além de descrever detalhadamente no Nei Ching os horários de funcionamento de cada órgão e cada meridiano de acupuntura, recomendou o melhor horário para se tonificar ou sedar um órgão interno pela acupuntura. Segundo essa obra, o Chi percorre ininterruptamente nosso organismo, internamente (órgão internos) e externamente (meridianos), mantendo uma máxima atividade em cada órgão/meridiano a cada duas horas. A circulação do Chi Inicia-se pelo pulmão das 03h00min horas às 05h00min horas, em seguida passa para o Intestino grosso entre às 5:00 horas e as 7:00 horas, depois pelo estomago das 7:00 horas às 9:00 horas, seguindo para os demais órgãos, como representado na Figura 3, até terminar no fígado, entre 1:00 e 3:00 horas, recomeçando o ciclo. Como se vê no esquema representado nessa figura, no organismo humano a energia vital circula de forma regular e contínua, distribuindose harmoniosamente pelo corpo de maneira que cada parte, cada órgão, recebe na sua hora a sua cota máxima de energia. Tal circulação segue rigorosamente as projeções dos órgãos ao nível da superfície da pele nos meridianos de energia, ou de circulação do Chi (Quan, 1988). Qualquer desequilíbrio nesta circulação causará excessos e/ou deficiências energéticas, manifestando-se as doenças, nas formas de sintomas. 50 Figura 3 – Esquema da circulação do Chi nos diferentes órgãos no período de 24 horas. Doenças são, portanto, desequilíbrios energéticos (obstruções) ao longo dos meridianos, que provocam uma quebra no ritmo da circulação do Chi, obrigando o organismo a responder na forma de doença. Esta concepção da MTC sobre o conceito de saúde humana tem uma grande semelhança com o estado de equilíbrio dinâmico que mantém a estabilidade ecológica dos ecossistemas no mundo natural: Biodiversidade, ciclos biogeoquímicos íntegros, troca de matéria e energia entre os organismos de um ecossistema são alguns exemplos de ordem que precisam ser mantidas para que o mundo natural funcione harmonicamente. As degradações ambientais decorrentes de atividades humanas vêm desestabilizando essa ordem e interferindo no equilíbrio dinâmico da natureza, muitas vezes de forma irreversível. Na MTC a compreensão do corpo humano é baseada num entendimento holístico do universo como descrito no Taoísmo e o tratamento é baseado primariamente no diagnostico e diferenciação dos sintomas. Os tecidos e os órgãos do corpo humano são conectados através 51 de uma rede de canais. O Qi (ou Chi) atua de modo a conduzir informações que são expressas através do sistema jingluo (meridianos). Uma disfunção dos órgãos zang-fu pode refletir patologicamente na superfície do corpo através dessa rede de canais, e vice versa. Cada um desses órgãos uma vez afetados pode influenciar outros órgãos, através das conexões internas. O tratamento da MTC inicia-se com a análise de todo sistema, depois foca-se na correção das mudanças patológicas, através do reequilíbrio das funções dos órgãos zang-fu. A avaliação do sintoma não somente inclui a sua causa, mecanismo, local, natureza da doença, mas também a confrontação entre o fator patogênico e a resistência do corpo. O tratamento não se baseia somente nos sintomas, mas na diferenciação das síndromes. Assim, pacientes portadores de uma mesma patologia podem ser tratados escolhendo-se pontos de acupuntura diferentes; e pacientes portadores de patologias diferentes podem ser tratados com o mesmo grupo de pontos de acupuntura. O diagnóstico clínico no tratamento na MCT baseia-se principalmente nas teorias do yin-yang e dos cinco elementos. Essas teorias são aplicadas aos fenômenos e leis da natureza no estudo das atividades fisiológicas e mudanças patológicas no corpo humano e suas inter-relações. Uma terapia típica da MTC inclui a acupuntura, fitoterapia e exercícios de chi gong. Com a acupuntura, o tratamento é acompanhado pelo estímulo de certas áreas do corpo externo. A fitoterapia age nos órgãos zang-fu, enquanto o chi gong tenta restaurar a ordem do fluxo de informações nessa rede de canais, favorecendo a circulação do Qi. O que caracteriza a terapêutica tradicional chinesa é a sua unidade ligada às grandes leis da Natureza que descrevem os fenômenos físicos cíclicos que ocorrem no corpo humano em correspondência com os ciclos do próprio Universo (Austregésilo, 1979). Essas leis incluem: 1. Circulação no corpo da energia vital; 2. Existência de uma polaridade Yin-Yang em todos os seres vivente; 3. Existência de projeções cutâneas dos órgãos profundos; 4. Circulação de energia ao nível da pele sobre trajetórias 52 precisas, 5. Existência sobre essas trajetórias de pontos nos quais a massagem, a pressão ou a introdução de objetos perfurantes elimina a dor. Segundo a Medicina Tradicional Chinesa a energia vital (Chi) não vem apenas dos alimentos que comemos. Ela também tem origem no macrocosmo, vem dos nossos pais, da respiração, da alimentação e das pessoas com as quais convivemos. Uma vez no corpo humano, essa energia circula numa rede fechada que pode ser comparada aos fios que envolvem um solenóide (Austregésilo, 1979), representada por 12 linhas longitudinais e bilaterais simétricas ao eixo central-vertical, a saber: 1. meridiano do coração, 2. pulmão, 3. circulação-sexo (pericárdio, sexualidade e circulação do sangue), 4. fígado, 5. rins, 6. baço-pâncreas, 7. intestino grosso, 8. intestino delgado, 9. triplo aquecedor (que representa a respiração, a digestão e a regulação térmica), 10. estômago, 11. vesícula biliar, 12. bexiga. Pode-se perceber, a partir desta análise, a visão holística e ecológica da medicina tradicional chinesa. O corpo humano é um só e cada órgão não é apenas uma parte deste todo que têm um metabolismo específico. Ele integra-se numa ampla rede de distribuição energética num modelo de circuito cibernético de autoregulação e controle (autopoiético) que são indispensáveis para a manutenção do equilíbrio do todo, exatamente como acontece nos ecossistemas naturais. Nessa concepção holística, os ritmos de funcionamento dos órgãos obedecem a lei dos cinco elementos (Figura 4), e as duas grandes leis: a Lei da Geração, em que um elemento dá origem a outro elemento; por transformação dizemos que cada elemento é “mãe” de seu próximo; e a Lei da Dominância: cada elemento tem dominância sobre o elemento gerado, ou em outras palavras, a “avó” (mãe da mãe), domina o neto (filho do filho). Na lei dos cinco elementos, madeira alimenta o fogo e controla a terra, fogo gera terra e derrete o metal, terra gera o metal e barra a água, metal alimenta a água e destrói madeira, água alimenta a madeira e apaga 53 fogo (Figura 4). Mais uma vez vemos aqui uma grande semelhança com as interações que acontecem na natureza, usadas pelos chineses para explicar o funcionamento dos órgãos, sua harmonia e interações. O calor fornecido pelo sol (fogo), a umidade fornecida pela água, a terra como base, e o oxigênio (metal), constituem o “caldeirão” para fazer a vida germinar, até mesmo literalmente falando, no caso de, por exemplo, uma semente. Terra Figura 4. Os cinco elementos da Medicina Tradicional Chinesa (lei de geração, e a lei da dominância). Fogo gera a terra, a terra gera o metal, o metal gera a água, a água alimenta a madeira, a madeira alimenta o fogo. Esses cinco elementos constituem a matéria prima do mundo material, e existe uma interdependência e um controle recíproco entre eles, sendo isso que permite a manutenção do seu estado de contínuo movimento e mudança. A teoria dos cinco elementos explica a relação de geração, dominância, contradominânica, e neutralização entre si. A utilização destes princípios dentro da medicina chinesa consiste na classificação dos fenômenos naturais, órgãos e tecidos, e emoções humanas, em categorias diferentes. Além disso, essa teoria aplica-se 54 também na interpretação entre a fisiologia e fisiopatologia do corpo humano, e o meio ambiente. As teorias dos cinco elementos e do Yin-Yang representam modos de enxergar a natureza, as duas, em última análise, refletindo a lei objetiva das coisas naturais, obtendo um significado prático na explicação da atividade homeostática e fisiopatológica do corpo humano, e dessa forma orientando a prática na medicina chinesa. A título de exemplo, citamos a fisiopatologia da esquistossomose mansônica, cuja seqüência de manifestações obedece claramente a lei dos cinco elementos em consonância com a harmonia yin-yang (Figura 5). A HIPERTENSÃO PORTAL CAUSA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DIREITA. SCHISTOSSOMA NA VEIA PORTA HEPATOMEGALIA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA LEVA A ESPLENOMEGALIA Terra ÓBITO Água GLOMERULONEFRITE CRÔNICA INSUFICIÊNCIA RENAL PULMÃO TENTA COMPENSAR HIPERTENSÃO PULMONAR Figura 5. Fisiopatologia da Esquistossomose mansônica de acordo com a lei dos cinco elementos. O homem vive em um meio, e este meio é a natureza. As mudanças climáticas e a geografia local influenciam o meio interno do organismo 55 humano, equilibrando ou desequilibrando funções importantes, dependendo das predisposições individuais. O homem depende do meio ambiente e este também influencia na sua adaptação, de modo que existe uma correspondência entre o homem o mundo natural. A partir desse reconhecimento, a Medicina Tradicional Chinesa, conecta a patologia e a fisiologia do corpo humano, aos fatores ambientais, e a partir dessa conexão, faz uma classificação em cinco tipos, baseando-se nos cinco elementos (Tabela 3). Tabela 3 – Correlação dos cinco elementos com o corpo humano e com os elementos da natureza FOGO TERRA METAL ÁGUA MADEIRA alegria melancolia tristeza Medo Raiva coração baço pulmão Rim Fígado tato paladar olfato Audição Visão verão canícula outono Inverno primavera vermelha amarela branca Preta Azul Lá Mi Ré Si Dó amargo doce picante Salgado ácido calor umidade secura Frio Vento riso canto soluço Gemido grito frango boi cavalo Porco carneiro Língua/fala /vasos suor Tec.conjuntivo/ pele lábios saliva muco Osso/medula/ Cabelo Esputo tendões manhã canícula tarde Noite madrugada norte sul centro oeste Norte leste lágrima O conceito da alternância harmônica yin-yang é o mais antigo conceito de polaridade conhecido, e é aplicado na visão da medicina chinesa, na observação do ritmo alternante que existe na natureza, e como parte dela, também no ser humano. O ciclo de noite e dia constitui um dos ritmos biológicos mais importantes para os seres vivos, desencadeando o estado de vigília/sono com repercussões profundas na 56 manutenção da saúde humana. Quando este ciclo é alterado podem surgir graves distúrbios fisiológicos, podendo levar inclusive ao óbito. Na época do imperador Fu shi (2852 a.C, criador do I Ching, conforme diz a lenda) o mistério da compreensão plena do ciclo Yin/Yang era restrito a uma elite. A maioria das pessoas não conseguia entender o simbolismo existente no TAO, no Yin/Yang, no Tai Chi, nos oito trigramas do Ba Gua, e nos 64 hexagramas do I Ching (o livro das Mutações). Todo o simbolismo do I Ching pode ser visualizado na Figura x. Subtende-se, pela analise dos elementos nela representados, que a partir do Um inicial - o círculo vazio - surgiu o dois (Yin/Yang), representado pelo símbolo do TAO, e em seguida, o dois deu origem aos quatro trigramas. Fazendo uma analogia com o meio ambiente, os quatro trigramas representariam as quatro estações do ano: verão, outono, inverno, primavera; com as fases da divisão celular: a prófase, metáfase, anáfase, e telófase; com os pontos cardeais: o norte, sul, leste, e oeste. A Medicina Tradicional Chinesa fundamenta-se na teoria do yinyang e na teoria dos 5 elementos: fogo terra, metal, água, madeira. Onde entraria então o 5º elemento, neste modelo apresentado na figura x?. Na divisão celular, a quinta fase da mitose seria a fase de repouso, a interfase, para em seguida recomeçar o ciclo; nos pontos cardeais, o 5º elemento será o centro, que é ponto de referencia necessário para orientar todos os outros pontos. Na origem da vida na terra é consenso que existiam quatro substâncias básicas: metano, água, amônia, e hidrogênio. Assim, o quinto elemento seria o fogo proveniente dos raios que bombardeavam constantemente essa atmosfera. Nos livros de bioquímica, lê-se que a partir de 8 gases primordiais é que surgiram todas as biomoléculas que deram origem a vida (Campbell & Farrell, 2007). Retornando aos quatro digramas, eles se combinaram entre si (segundo o I Ching), e deram origem aos 8 trigramas (Ba Gua), e a partir da combinação entre estes, surgiram os 64 hexagramas relatados nesse livro. Em nosso modelo (Figura 6), procuramos relacionar os 64 hexagramas com os 64 códons do DNA, tomando como base as 57 concepções de Yan (1991). Quanto às estações, dividindo-se os 90 dias pertinentes aos três meses de cada estação, termos 5 x 18 = 90 dias. Figura 6. Modelo sintético da origem e evolução das “10.000 coisas do universo”, conforme concebido no I Ching (Livro das Mutações) e relacionado com os códigos genéticos. Segundo a MTC, o período correspondente aos últimos 18 dias de cada estação corresponderia a um período de repouso, onde em seguida, teria início à estação seguinte. Surpreendentemente usando as palavras do meu mestre Professor Sassi, vemos aqui, uma grande semelhança do que acontece no microcosmo celular humano, a mitose celular: uma 58 interfase de repouso, como dita acima, porém, vislumbrada 2.500 anos a. C. pelos sábios chineses. Hoje, compreendemos melhor esses princípios, essa alternância que se complementa, o Yin/Yang no universo. Desde a teoria do Big bang, que os físicos usam para explicar a origem do universo, como tendo sido no início, uma grande explosão (Yang), e depois de bilhões de anos, se contrair num Big Crunch (Yin), a alternância entre luz/escuridão, proporcionado pelo ritmo de rotação da Terra e de seu movimento de translação em torno do sol; trazendo a explicação para o organismo humano, observamos a sístole e a diástole cardíaca, a expiração e inspiração pulmonar, os fatores da coagulação e os anticoagulantes no sangue, o estado de vigília e de repouso (sono), a bomba de Na/K celular, o sistema nervoso simpático/parassimpático, contração/relaxamento muscular (permitindo funcionamento adequado do sistema locomotor), mecanismo de biofeedback do sistema endócrino, etc. Como exemplo, podemos citar os hormônios do Pâncreas, órgão que na MTC é representado pelo elemento Terra, a saber: a) A insulina, produzida pelo pâncreas, tem efeito hipoglicemiante (YIN), favorece a penetração da glicose dentro a célula, favorece a formação de glicogênio ao nível do fígado (Madeira), é anabolizante das proteínas, e se opõe ao seu catabolismo, favorece a penetração celular de K, e a retenção de H2O (YIN), favorece a estocagem de graxas, e é antilipolítico (cor amarela/Terra – YIN). O metabolismo da insulina é hiperglicemiante. Na hiperglicemia a maioria dos aminoácidos, os parassimpaticomiméticos, estimulam a secreção de insulina. Ao contrário, os corticóides, os simpaticomiméticos, os parassimpaticolíticos, freiam a sua secreção. A maioria da insulina liberada pelo pâncreas é captada pelo fígado e degradada durante sua passagem (fígado é madeira e controla a terra, ou seja, o pâncreas). b) O Glucagon, secretado pelo pâncreas (terra), tem efeito hiperglicemiante (Yang). É de estrutura próxima do glucagon entérico que é produzido dentro da mucosa intestinal, mas difere em efeitos biológicos. 59 Sua estrutura apresenta igualmente analogia com a secretina, peptídeo que se forma dentro da mucosa duodenal e que estimula a secreção pancreática e o fluxo biliar (Madeira). Estimula a glicogenólise hepática (Madeira). Estimula a neoglicogênese. Favorece a lipólise do tecido adiposo e é catabolisante das proteínas. Com esses exemplos evidenciam-se que as funções fisiológicas da insulina, são yang, opostas, porém complementares, das funções exercidas pelo glucagon (função yin em relação às funções da insulina). Se prestarmos atenção, veremos que o conhecimento tradicional chinês, conforme apresentado no I Ching, pode ser claramente encontrado em muitos exemplos, quer seja nos ritmos da natureza, nas leis da física, na origem da vida ou até mesmo na embriologia. Especificamente neste último exemplo, encontramos uma grande semelhança entre a seqüência binária dos trigramas do I Ching e as fases da divisão celular, a partir do ovo fecundado na trompa (analogicamente seria o um inicial), que em seguida divide-se em duas células, em quatro, oito, dezesseis, 32, até o 4º dia, onde irá penetrar no útero, com aproximadamente 64 células (=64 hexagramas do I Ching, dos quais se originaram as “10 mil coisas”, ou, numa forma analógica as “10 mil células do corpo humano”. Estes aspectos da embriologia podem ser acompanhados na figura 7, onde se podem ver os espermatozóides (yang) em ação, dos quais apenas um vai fecundar o óvulo (yin), e na figura 8, onde o ovo fecundado se divide em 64 células até o 5º dia, quando ocorre sua implantação no útero. Na MTC o entendimento do corpo humano é baseado num entendimento holístico do universo como descrito no Taoísmo e o tratamento é baseado primariamente no diagnóstico e diferenciação dos sintomas. Os tecidos e os órgãos do corpo humano são conectados através de uma rede de canais. O Qi (or Chi) atua de modo a conduzir informações que são expressas através do sistema jingluo. Patologicamente uma disfunção dos órgãos zang-fu podem refletir na superfície do corpo através dessa rede de canais, e a doença pode afetar seus órgãos relacionados zang ou fu. Esses órgãos uma vez afetados podem influenciar outros 60 órgãos, através das conexões internas. O tratamento da MCT inicia-se com a análise de todo sistema, depois foca-se na correlação das mudanças patológicas, através do reajuste das funções dos órgãos zang-fu. Figura 7. Espermatozóides em ação (movimento = Yang), tentando penetrar o óvulo (estático = yin).(Fonte: More & Persaud, 2004) Figura 8 – observe a divisão celular a partir do ovo fecundado (o um inicial), dando origem a duas células, depois a quatro, oito, 16, 32 e 64 (no 5º dia a partir da fecundação), quando ocorre a implantação no útero. (Fonte: More & Persaud, 2004). 61 A avaliação do sintoma não somente inclui a sua causa, mecanismo, local, natureza da doença, mas também a confrontação entre o fator patogênico e a resistência do corpo. O tratamento não se baseia somente nos sintomas, mas na diferenciação das síndromes. Assim, aqueles com uma doença idêntica podem ser tratados de diferentes maneiras e por outro lado, diferentes doenças podem resultar num mesmo sintoma e serem tratadas de maneira similar. O diagnóstico clínico do tratamento na MTC baseia-se principalmente nas teorias do yin-yang e dos cinco elementos, bem como no exame do pulso. Essas teorias são aplicadas aos fenômenos e leis da natureza no estudo das atividades fisiológicas e mudanças patológicas no corpo humano e suas inter-relações No diagnóstico das doenças e desequilíbrios energéticos é possível saber a causa da doença, além da parte do corpo em que ela se aloja apenas através do exame dos pulsos. Aqueles que são hábeis nessa técnica descobrem ou predizem com bastante exatidão todos os sintomas de uma doença, visto que a essência da diagnose pulsológica abrange não só o órgão, mas a totalidade da função que lhe é inerente. O diagnóstico pelo pulso tem acima de tudo a importância de ser também uma técnica preventiva da saúde, visto que através dessa técnica é possível saber onde existem falhas nos órgãos antes que a doença se instale. Conforme se sabe pela MTC, forma-se o pulso a partir de forças yin (fluxo do sangue, a onda sanguínea), e yang (as artérias, onde atua o sistema neurovegetativo), e a partir do seu exame pode-se representar as condições energéticas dos órgãos. A referência mais antiga sobre o uso do pulso como método diagnóstico encontra-se no livro sagrado dos chineses, o “Chou-King”, editado em Paris, em 1770, onde se lê que Chin-Nong (3.106 a.C.) ordenou a Tsiou Ho-Ki: “Anote por escrito tudo quanto diga respeito a cor do doente, bem como tudo que se relaciona com o pulso, a fim de saber se os seus movimentos são regulares e ordenados.Para este último propósito, 62 tateie o pulso e advirta o paciente, a fim de que, assim, se preste grande serviço ao mundo, dando-se, aos homens, tão bom meio de conservar a vida” (Sanchez, s/data). O conhecimento chinês do exame do pulso expandiu-se para diversas partes do mundo, particularmente através das rotas da seda. Os persas cultivavam honradamente a medicina e eram conhecedores dos pulsos. Na Turquia, foi encontrado em 1976, na biblioteca Suleymaniyé, na seção “Aya Sofia”, em Istambul, sob o número 3596, cópia completa do texto do Mo-Tsing, o clássico chinês do pulso, escrito por Wang-Chou-Ho (265317), elaborada no ano de 1313, por Rachid Fadlelah Hamadami. Na Grécia, o conhecimento do pulso foi introduzido por Hipocrates (ca. 400 a.C.), o pai da medicina do ocidente. Galeno também estudou os pulsos, descrevendo-os no seu “De Cresibus”. Outros autores, como Theophilos, Aetius, Stephanus, também na Grécia, e Bernard de Condon, na Idade Média, com sua tese, no sentido de que a interpretação dos pulsos constitui a base de todos os exames médicos, bem como Tondelet, mestre de Rabelais, que afirmava que: caso se pretenda explorar e estudar a força vital, é necessário dirigir-se aos pulsos”. Mais recentemente, as técnicas de diagnóstico pelo pulso foram estudados por R. B. Amber e A.M.Babey Brooke, nos Estados Unidos, cuja obra por eles produzida, comparando as formas de diagnóstico pelo pulso, como usadas no ocidente e no oriente, tem um valor incontestável (Sanchez, s/data). No clássico de Wang Shu He (210-285aC) identificam-se 24 tipos de pulsos usados nas técnicas de diagnósticos, bem como comentários sobre os melhores horários de exame do pulso, as zonas de atividade dos pulsos, sobre o método de exame dos pulsos segundo a idade, estrutura corporal e sexo, pulsos de acordo com as estações do ano, pulsos superficiais e profundos, sobre as doenças dos órgãos, sobre os pulsos yin e pulsos yang, sobre a vida e a plenitude, sobre os pulsos deletérios e terrificantes, sobre os pulsos durante o período de incubação da doença, das doenças na fase de melhora e das doenças difíceis, etc. (Van Nghi et al., 1992). 63 Conforme se encontra na obra de Wang-Chou-Ho (ou Wang Shu He, segundo Van Nghi et al., 1992), a fim de estimar-se a influência da ação terapêutica na harmonização do pulso há que se considerar os seguintes aspectos: a)- a disfunção de um órgão leva a modificação das propriedades funcionais dos pontos, que lhe são correspondentes. b)- o estímulo do ponto de acupuntura provoca uma modificação da função do órgão, que lhe é correspondente. c)- a inserção da agulha produz um estímulo periférico, que interessa o sistema – neural e humoral – e desencadeia a interrupção do mecanismo patógeno de resposta. A tomada do pulso, muito precisa, demanda, sem dúvida, vários anos de aperfeiçoamento. A técnica pode ser assim descrita resumidamente: - O médico sente os vasos com três dedos de ambas as mãos: o indicador, o médio e o anular. - Dentro de cada um dos três dedos, cada metade ou lado indica algo diferente, perfazendo assim doze análises. - Na mão direita, a face externa do dedo indicador (com a palma voltada para o médico) analisa o coração; a face interna analisa os intestinos. A face externa do dedo médio examina o baço; a face interna interpreta o estômago. A face externa do dedo anular analisa o rim esquerdo; a face interna analisa a vesícula seminal ou o útero. - Na mão esquerda, a face externa do dedo indicador examina os pulmões; a face interna examina o intestino grosso. A face externa do dedo médio analisa o fígado; a face interna analisa a vesícula biliar. A face externa do dedo anular interpreta o rim direito; a face interna analisa a bexiga urinária. No capítulo 72 do livro Ling Shu do Nei Ching, está a descrição dos cinco tipos de homens segundo as características morfológicas e psicológicas, porém ainda de forma incipiente, sem esclarecer e detalhar melhor a fisiopatologia de cada tipo. Após a revolução cultural ocorrida na 64 China por Mao Tse Tung, muitos mestres tiveram que se exilar para não morrer, levando consigo os conhecimentos da MTC que era geralmente transmitido de pai para filho, ou de mestre para discípulo verbalmente. Este acontecimento incrementou o surgimento das diversas escolas de acupuntura: japonesa, francesa, vietnamita, coreana. Uma delas, desenvolvida a partir da Coréia, diz respeito à técnica de determinação do pulso constitucional, desenvolvida pelo Dr. Won Kwon em 1965, em Seul, Coréia (Leel, s/data; Lee, 2002). A localização do pulso constitucional difere do pulso utilizado tradicionalmente pela MTC, o pulso radial. No exame do pulso constitucional, coloca-se o dedo indicador abaixo da base da apófise estilóide do osso rádio, aproximadamente a uma distância de três centímetros da prega do punho, colocando-se o dedo médio e anelar subseqüentemente, cada um, contíguo ao outro. O dedo polegar é fixado no dorso do antebraço, na região ulnar. Para analisar o pulso da mão direita do paciente, o médico utiliza a sua mão esquerda; para analisar o pulso da mão esquerda do paciente, o médico deve utilizar a sua mão direita. Além da diferença da tomada de pulso entre pulsologia radial e constitucional quanto à localização, existe outra, quanto à profundidade da pressão exercida pelo médico na apreensão da artéria radial: a maneira correta de se pegar o pulso constitucional é pressionar a artéria radial na localização supracitada, até, quase a ausência total da sensação dos batimentos cardíacos. Mas na verdade, mesmo sob esta pressão, não ocorre o total abolimento dos batimentos. O médico deve observar (pelo tato), à medida que vai diminuindo a pressão exercida pelos seus dedos sobre a artéria radial, em que polpa digital o batimento do pulso será sentido primeiro. A partir de então, interpretará os resultados. Quando a primeira pulsação for sentida no dedo anelar em ambos os lados, o diagnóstico do pulso é do Tipo Constitucional (IV; o contrário do tipo II); quando for sentido no dedo anelar da mão esquerda e no dedo médio da mão direita, será do Tipo Constitucional (I; significando excesso de energia 65 no pulmão, e baixa do fígado); quando a pulsação for sentida no dedo médio de ambos os lados, o diagnóstico será do Tipo Constitucional (III; o contrário do tipo I); e quando a pulsação for sentida no dedo indicador da mão esquerda e no dedo médio da mão direita, o Tipo Constitucional será (II; excesso de energia no coração, e baixa no rim). Apesar do estudo da pulsologia chinesa remontar há mais de cinco mil anos, o estudo das tipologias de acordo com o capítulo 72 do Ling Shu (Nei Ching, 2500 a.c.), utilizando a pulsologia constitucional foi desenvolvido pelo Dr.Won Kwon em 1965, em Seul, Coréia (LEE, 2002). A pulsologia constitucional foi introduzida no Brasil pelo Dr. Eu Won Lee, em São Paulo, SP. Em 1985 esse ensinamento nos foi repassado pelo Professor Lee, resultando nessa dissertação de mestrado. Foi com base no capítulo 72 do Ling Shu do Nei Ching, conforme descrito em LEE (2002), que o Dr Won Kwon desenvolveu a técnica do pulso constitucional conforme exposto acima. Representamos abaixo o referido capítulo 72, onde vamos encontrar num diálogo entre o imperador Huang Ti e médico da corte Chi Po, a descrição morfológica e psicológica dos cinco tipos constitucionais de pessoas. Imperador Houang Ti – Ouvi dizer que o homem é classificado em Yin e Yang. O que é o homem tipo Yin, e o Tipo Yang? Chi Po – No universo, todos os elementos da natureza podem ser analisados e classificados pela teoria dos Cinco Elementos; o homem também não faz exceção; ele não é analisado simplesmente só pela classificação em Yin/Yang, pois, do ponto de vista Yin/Yang, é simples demais. Houang Ti – Gostaria que você me esclarecesse de modo simples exemplificando os casos de mestres antigos, se suas inteligências eram superiores ou se eles possuíam equilíbrio Yin/Yang e não teriam nenhuma anormalidade? 66 Chi Po – O homem pode ser classificado em cinco tipos: Tai Yin, Shao Yin, Tai Yang, Shao Yang, e o Yin/Yang equilibrado. Eles se diferenciam entre si em aspectos psíquicos e por seus comportamentos. Houang Ti – Poderia me explicar as características de cada tipo? Chi Po – A pessoa do tipo Tai Yin é muito cobiçadora e maldosa, mas aparentemente parece ser humilde e correta; de coração astuto, não, não mostra sua verdadeira personalidade, é egoísta e irresponsável. Eis as características do homem tipo Tai Yin. O tipo Shao Yin gosta de bens de terceiros, é desonesto, sente-se satisfeito quando vê o sofrimento alheio e fica irritado quando vê o sucesso do outro; não tem caridade, tem inveja. A do tipo Tai Yang é exibicionista, se orgulha e sonha alto, mesmo se sua capacidade for limitada, indisciplinada e grosseira. Sua autoconfiança excessiva leva-a a falência, e ainda assim, não se corrige. A do tipo Shao Yang é minuciosa e presunçosa, e gosta de divulgar se tiver qualquer sucesso, por menor que seja; é comunicativa, não gosta de ficar no anonimato. É trabalhadora. A pessoa que tem equilíbrio Yin/Yang possui uma vida tranqüila e livre. Não se preocupa com a fama e a riqueza. Sua mente é calma, sem preocupações. Tem poucos desejos e sem emoções excessivas, obedece às regras da natureza, e não discute com ninguém. Quando obtém sucesso ou autoridade, permanece humilde. Tem boa capacidade administrativa, conversa com as pessoas com a razão, não reprova com violência. Estas são as características do tipo equilibrado Yin/Yang. Os bons médicos acupuntores antigos tratavam as doenças de acordo com essas classificações, eliminando o excesso de energia “perversa”, e tonificando a energia deficiente. Houang Ti – Como podem ser tratadas as doenças de acordo com esses cinco tipos de pessoas? Chi Po – A pessoa do tipo Tai Yin tem excesso de Yin e está sem Yang em seu físico. Seu Yin-sangue está turvo e concentrado, e sua energia de defesa está estagnada por causa desse desequilíbrio entre o Yin/Yang, tendo pele espessa e tendões frágeis; para tratar esses casos, deve-se eliminar rapidamente o componente Yin. A do tipo Shao Yin possui Yin 67 abundante e pouco Yang, seu estômago é pequeno, o intestino é grande e assim, provoca desarmonia, e, conseqüentemente a energia do meridiano Yang-Ming do Estômago fica enfraquecido, e tem energia do meridiano Tai Yang abundante. Por isso, deve-se observar bem este desequilíbrio da Bexiga para tratá-lo. A do tipo Tai Yang possui mais energia Yang, e pouco Yin, devendo-se tomar muito cuidado para tratar destes casos. Evite suprimir a energia Yin, só diminua o componente Yang, porém, não o faça em excesso. Caso por ventura ocorrer uma eliminação excessiva de energia Yang, o paciente enlouquecerá; se ocorrer a perda total de Yin/Yang, o paciente morrerá abruptamente, ou perderá totalmente a consciência. A do tipo Shao Yang possui a energia Yang abundante e pouca energia Yin. Seus ramos colaterais de meridianos são grandes, e os meridianos são pequenos; assim, o sangue se esconde na profundidade dos tecidos e a energia fica na superfície. Como este caso tem muito Yang e pouco Yin, deve-se tonificar o Yin, e sedar o excesso de energia Yang. Houang Ti – É difícil reconhecer a personalidade da pessoa de cada tipo, e classificá-las? Chi Po – As pessoas normais não possuem as características destes cinco tipos, portanto “as 25 pessoas de Yin/Yang não são incluídas nesta classificação” (Ling Shu Cap.64). Houang Ti – Como podemos distinguir as diferenças aparentes destes cinco tipos de pessoas? Chi Po – A pessoa do tipo Tai Yin tem uma fisionomia escura, com falta de humildade. Seu corpo é grande, comprido, e curvado para frente; suas pernas são tortas. A pessoa de Shao Yin tem aparência fina e elegante, porém atormentado pelo espírito; faz coisas às escondidas e é astuto e de coração venenoso; quando de pé fica inquieto, e quando anda, inclina o corpo reto ligeiramente inclinado para trás com o peito à mostra, e com pernas curvas. A pessoa Shao Yang costuma levantar bem a cabeça, estender o corpo para trás, balançar o ombro quando anda, freqüentemente dobra os braços com os cotovelos descobertos. A pessoa de equilíbrio Yin/Yang apresenta-se natural, com seriedade na expressão; seus 68 movimentos são fixos e elegantes; boa personalidade, se adapta bem ao ambiente; disciplinado e amigável com os outros, tem olhar suave. É trabalhador, correto e ordenado. É respeitado e elogiado pelas pessoas. Estas são as características de pessoas do tipo equilíbrio Yin/Yang. No universo, segundo a MTC, todas as coisas estão interconectadas, por isso, as mudanças que acontecem internamente no ser humano, provocando o surgimento de patologias, podem apresentar sinais e sintomas que se manifestam externamente, na superfície do corpo. Foi por conta desta percepção que outras importantes formas de diagnóstico, como o exame da língua e da mão foram incorporados na MTC. A partir dessa premissa, os chineses estudaram as linhas e sinais nas mãos, no intuito de correlacioná-las com patologias internas. Observaram que as mudanças nas linhas das mãos além de revelarem mudanças patológicas do organismo, também estão correlacionadas ao DNA, às mudanças ambientais, e ao temperamento individual. (REID, 1993). O organismo humano é um macrossistema no qual os subsistemas estão todos inter-relacionados, interagindo uns com os outros. Assim sendo, quando observamos a linhas das mãos e o surgimento e desenvolvimento das patologias, a complementação diagnóstica através do estudo da mão é de grande valia para a medicina de uma forma geral. Os antigos nos deixaram dados sobre o estudo das linhas das mãos, mas pelas limitações inerentes à época, muitas vezes cometeram erros, às vezes confundindo medicina com superstição; mas de toda forma, estes trabalhos, abriram caminhos para um estudo mais científico do assunto. O Huang Ti Nei Ching (2500 a. C.), nos fala da relação entre as mãos e os órgãos internos: “quando há calor nas mãos há calor nos órgãos fu; quando existe frio nas palmas das mãos, também o há nos órgãos zang”. No Ling Shu, capítulo sobre as formas de enfermidade relacionadas com o aspecto, a energia, e os zang-fu, também encontramos: “Quando o intestino delgado adoece, se o frio é forte, surge calor só nos ombros e entre o dedo mínimo e o anelar”. Na dinastia Han do leste (25-220 a.C.), a 69 MTC progrediu bastante. No livro Lun Heng, escrito por Wang Chong (27 – 97) se lê: “Nunca falha o exame da vida de uma pessoa quando se estuda os nós dos ossos e se observam os tecidos da pele”. Foi o primeiro a deduzir que os nós e os corpos ósseos, estão relacionados com a vida. (Chenxia,1995). No século X, entre o final da dinastia Tang e começo da Song, Chen Zhuan, famoso ermitão Taoísta, escreveu o Ma Yi Shen Xiang (Fisionomia mágica de um taoísta em hábito de linho), onde ele descreve o estudo das linhas das palmas das mãos. Durante a dinastia Song (960 – 1279), foi acrescentado a essa obra muitos dados sobre o estudo das linhas das mãos, e, embora esse livro contenha boa quantidade de superstições e inverdades, seus registros sobre as linhas das mãos são consistentes. Durante a dinastia Ming (1360 – 1644) era de praxe que os médicos pediatras se valessem da análise das linhas do dedo indicador dos pacientes como auxílio diagnóstico. Uma boa parte das obras publicadas durante a dinastia Qing (1616 – 1911), o Xing Se Wai Zhen Jian Mo (estudo Conciso da observação externa do aspecto e da cor), e o Si Zhen Jue wei (Detalhes das quatro observações clínicas) versa sobre o método de diagnóstico, porém, representam compilações de obras anteriores. Apesar do uso desse método diagnóstico existir desde época remota na China, há relato de que na Índia, foi encontrado numa cova dos Brahmanes, livros de quiromancia datados de aproximadamente três mil anos. (Chenxia,1995). A técnica de estudo das linhas das mãos foi levada à Europa por Alexandre o Grande; mas antes disso, o eminente filósofo grego Pitágoras (VI a.C.), viajou para o oriente, onde estudou sua cultura, filosofia, religião, e medicina, inclusive a quiromancia. Aristóteles assimilou conhecimentos sobre este assunto, culminado com a publicação de um livro. Entre os séculos V e XV, a igreja católica reprimiu com violência esse tipo de estudo. Podemos afirmar que foi graças aos ciganos que estes conhecimentos sobreviveram. (Chenxia, 1995). 70 Baseado na teoria dos cinco elementos, os chineses classificaram as mãos em cinco tipos: terra, metal, água, madeira, e fogo. (Van Nghi, 1988) Cada um destes tipos possui características diferentes das linhas palmares, permitindo a obtenção de informações valiosas (Figura 9). FOGO MADEIRA TERRA METAL ÁGUA Figura 9. Os cinco tipos de mãos constitucionais, de acordo com os cinco elementos. Cortesia do Dr. Wo Tou Kuang, SP. A título de exemplos, podemos analisar a linha da vida, conforme representado abaixo nas figuras 10 a 13, e tomando como base as concepções relacionadas ao assunto, apresentadas por: Chenxia (1995). Relacionam-se, nestes exemplos, a proporção da linha da vida com a vitalidade das pessoas, com elementos da Medicina Tradicional Chinesa e com deficiências que podem acometer órgãos internos. 71 Figura 10. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a predisposição inata à patologias relacionadas com o elemento madeira e terra. a) quando a linha da vida começa mais próximo ao indicador há uma probabilidade maior de surgir patologias do fígado e vesícula biliar, como por exemplo, coleciste; quando a linha inicia-se mais próximo ao polegar, há maior probabilidade de se ter patologias no estômago e intestinos. 10.b) quando a linha da vida inicia-se no 1/3 médio entre o polegar e indicador, e se prolonga até a prega do punho, passando pela linha reta que passa no meio da mão, vindo do dedo médio até o meio do 1/3 distal do antebraço, próximo aos tendões flexores palmar do carpo, indica que seu portador possui boa vitalidade e resistência física. Figura 11. Representação esquemática da linha da vida mostrando a predisposição inata a patologias relacionadas com o elemento metal. Quando existir paralela e externamente a linha da vida uma linha menor como acima, existe a probabilidade de disfunção intestinal, prisão de ventre ou diarréia. Quando existir a presença de # ou estrela, pode sofrer de colite ou enterite. 72 Figura 12. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a predisposição inata à patologias relacionadas com a vitalidade: a) quando área entre a linha da vida e o polegar é pequena, indica uma tendência a baixa vitalidade, e probabilidade de ter mau funcionamento do sistema digestivo, e esterilidade. b) quando na extremidade da linha da vida existe a presença de estrela, indica que fatores patogênicos e o organismo estão em luta ou que a enfermidade é grave. Figura 13. Representações esquemáticas da linha da vida mostrando a predisposição inata à patologias relacionadas com a vitalidade: a) quando existe ilha na ponta dessa linha como acima, indica que fatores patogênicos e o organismo estão em luta, ou que a enfermidade é grave. b) quando a linha da vida é muito curta, indica uma tendência a pouca vitalidade. 73 Com relação ao exame da língua, desde seus primórdios a MTC deu a importância devida à inspeção do paciente quanto a sua aparência, bem como, a observação sobre seu comportamento, considerando as manifestações dos sintomas e sinais externos, como sendo decorrente de desequilíbrios internos. No Nei Ching Souen (2500 a. C.) encontramos relatos como estes: “Quando o chi do yin terminal da perna (fígado) estiver esgotado, os lábios ficam azulados e a língua enrola”; ou, “Quando o pulo do Coração está duro e longo, a língua enrola para cima e o paciente não consegue falar”, e mais essa, “Caso a língua esteja frouxa, houver salivação e o doente estiver com irritabilidade, escolha para tratamento o shao yin da perna (meridiano do Rim)”. Inscrições feitas em ossos (1066 a.C.), da dinastia Shang relatam o uso da inspeção da língua como método de diagnóstico (Maciocia, 2003). No período dos estados combatentes (403 – 221 a.C.) houve um grande desenvolvimento da MTC, apesar de ser uma época politicamente instável. Nesse momento da MTC, ocorreu uma maior sistematização dos seus métodos de diagnósticos, inclusive do exame da língua. No método de diagnóstico através da língua é preciso considerar-se o fator luminosidade, visto que ela exerce influência sobre a tonalidade das cores da língua, devendo-se assim proceder-se o exame sob condições de luz natural. Finalizando esta fundamentação referente à Medicina Tradicional Chinesa, podemos afirmar que a base teórica aqui apresentada mostra-se, a nosso ver, suficientemente robusta para indicar que não se deve menosprezar esse conhecimento milenar sobre as formas de diagnóstico e tratamento, e de compreensão da natureza pelos chineses, só porque convivemos com uma ciência formal solidamente estabelecida e com sistemas médicos, profundamente dependentes do conhecimento científico, tecnológico, e altamente especializada e reducionista. Afinal, a medicina tradicional chinesa na sua essência, foi suficientemente competente e poderosa para prevenir doenças, manter a saúde do seu povo, permitindo que 1/4 da população mundial atual fossem chineses, e, mesmo sem a rigidez de uma ciência formal, os chineses são, talvez, a 74 única civilização milenar que se manteve íntegra, quando todas as outras com as quais conviveram em tempos remotos desmoronaram. Ainda, Podemos afirmar sem exagero que, apesar do progresso tecnológico homem ainda vive num estado de ignorância no que tange ao autoconhecimento e aos segredos da sua existência. Desde seu início, o desenvolvimento humano vem oscilando entre o conhecimento da ciência e a superstição, e por conta disso, muitas vezes erra na luta travada em favor da saúde. 75 4- Características Gerais da Área Estudada Aqui, não temos apoio nem orientação técnica de ninguém. A única presença que vez por outra aparece é do IBAMA, para nos punir e proibir nosso trabalho, que é nosso sustento (Plantador de tomate, açude Epitácio Pessoa, PB, 2007). O açude Epitácio Pessoa (Figuras 14, 15), objeto deste estudo, encontra-se localizado no município de Boqueirão, Paraíba, na mesorregião da Borborema, na microrregião do Cariri Paraibano, na bacia Hidrográfica do rio Paraíba, a uma distância de aproximadamente 200 km de João Pessoa, Capital do Estado. Situa-se entre as coordenadas 07º 28´4” e 07º 33´32” de longitude S e 36º 08´23” e 36º 16´51” de longitude W. O mesmo faz parte da Bacia Hidrográfica do rio Paraíba, formada pelo Alto Paraíba e sub-bacia do rio Taperoá. O lago por ele formado, com 30 km de extensão, abrange uma área de 2.680 hectares. Sua bacia hidrográfica cobre uma área de 12.410 km2 e sua extensão adentra os municípios de Barra de São Miguel e Cabaceiras. Figura 14 – Mapa do estado da Paraíba mostrando a localização do Açude Epitácio Pessoa, Município de Campina Grande (Fonte: Secretaria Extraordinária do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e Minerais – SEMARH/PB, 2008). 76 Figura 15 – Vista aérea do açude Epitácio Pessoa, na região da barragem, evidenciando imensas áreas de agricultura irrigada em suas margens (Fonte: DNOCS, 2008). No ano de sua inauguração o açude Epitácio Pessoa tinha uma capacidade de 535.680.000 m3, mas atualmente, conforme diagnóstico ambiental realizado pelo DNOCS em 2005 verte com 411.686.287 m3. Admite-se que, além do assoreamento, outros fatores, provocados, sobretudo, por ação antrópica, têm contribuído para a diminuição do volume do reservatório. Entre esses fatores, Costa (2006), considera: o desmatamento da mata ciliar cuja presença funcionava como um filtro de retenção de sedimentos transportados para os cursos d´água, sendo a vegetação nativa quase totalmente substituída por culturas agrícolas e de pastagens; o uso desordenado do solo ao longo da bacia hidrografia; a construção de moradias nas ilhas e nas margens do açude, e, ainda, a 77 irrigação agrícola, que utiliza métodos inadequados que consomem mais que o necessário, gerando grandes desperdícios de água. A Mesorregião da Borborema é um importante compartimento geomorfológico do Nordeste brasileiro, situada entre o Sertão e o Agreste, ou seja, no centro do estado da Paraíba, no planalto da Borborema. O clima regional caracteriza-se por elevadas temperaturas, médias anuais em torno de 25°C, fracas amplitudes térmicas anuais, chuvas escassas, irregulares e concentradas no tempo, o que provoca fortes déficits hídricos (Duque, 1985). É aqui que ocorrem os menores índices pluviométricos do Estado. Associada a pouca pluviosidade (média anual inferior a 400 mm) com até nove meses de estiagem durante o ano; somam-se fortes limitações em relação a solos salgados e/ou pouco espessos e pedregosos, que repercutem diretamente na atividade agrícola e sobre a ocupação humana, pois essa microrregião, apesar de ter sido povoada a bastante tempo, possui os mais baixos índices de densidade populacional da Paraíba. Portanto, é uma região ímpar, pois ao mesmo tempo em que há limitações do meio, coexiste a fragilidade na economia regional, baixa densidade da população, rios temporários concentrados durante o período das chuvas associado à presença de solos sensíveis a erosão e a salinização. Com um clima muito seco com baixa umidade relativa do ar, lembra o deserto, com dias muito quentes e noites mais frias. Esse tipo de clima pode ser considerado como árido. Tomando como base a interpretação das informações contidas nas imagens de satélite (Figura 16), Franco et al (2007) identificam cinco classes de ocupação da terra na região, que foram mapeadas por eles em diferentes cores: 1. Área de vegetação natural pouco explorada (vermelho); 2. Área com vegetação rala e solo exposto (mostarda); 3. Área de vegetação natural (caatinga) preservada (amarelo); 4. Área de exploração agrícola e com culturas irrigadas (verde claro) e 5. Área com vegetação dispersa e rala, apresentando solo exposto (verde oliva) (Figura 17). Como se vê, a área ocupada por agricultura irrigada expande-se por grandes extensões ao longo de praticamente toda a margem do açude. 78 Segundo esses autores, os principais fatores que tem contribuído para acelerar o processo de degradação ambiental da área e intensificar a erosão, incluem: manejo inadequado do solo, utilização de água com altos teores de sais e sistemas de irrigação superficial por gravidade e uso indiscriminado de fertilizantes e agrotóxicos, associados às condições climáticas adversas. Figura 16. Imagem do satélite LANDSAT 5 do açude Epitácio Pessoa, BoqueirãoPB. (Fonte: Franco et al., 2007), evidenciando áreas com e sem vegetação, diferentes tipos de vegetação e identificação de rodovias e áreas urbanas (Banda 3), e a diferenciação dos corpos de água, estrutura da vegetação e características de relevo (Banda 4). 79 Figura 17. Classes de ocupação da terra no entorno do açude Epitácio Pessoa, Boqueirão-PB (Fonte: Franco et al., 2007). A aparência geral da vegetação que margeia o açude mostra um elevado nível de degradação, com imensas áreas de solos expostos, denotando claramente práticas de manejo inadequadas para uma área de tão elevada fragilidade pluviométricos (Figura 18). ambiental decorrente de baixos níveis 80 A C B D Figura 18. Vista geral da vegetação que margeia o açude Epitácio Pessoa, evidenciando imensas áreas de solos expostos decorrentes da degradação da Caatinga e manejo inadequado do solo. Manchas verdes evidenciam zonas onde se pratica agricultura irrigada (Fotos a, b: retiradas de Franco et al., 2007; fotos c,d: Ricardo Arruda, fevereiro, 2008). Na década de 1960, quando o açude Epitácio Pessoa foi concluído, os agricultores locais iniciaram uma nova agricultura baseada no processo de irrigação, cujos produtos, destinados ao comércio local, incluíam o feijão, o repolho, o pimentão, banana, e principalmente o tomate (Figura 19). A plantação desses produtos alavancou a produção agrícola local, atraindo várias pessoas para a área, oriundas de municípios vizinhos, para dedicarem-se à atividade agrícola nas margens do açude. Hoje, esses cultivares formam um imenso cinturão verde às margens do açude, criando um forte contraste com a vegetação da caatinga em épocas de seca, estendendo-se por vários quilômetros em 6 comunidades: 81 Figura 19 – Vista geral de diferentes cultivares desenvolvidos às margens do açude Epitácio Pessoa, PB, evidenciados durante as visitas por ocasião dos trabalhos de campo (Fotografia: Ricardo Arruda, 2008). De acordo com Melo (1985), e também Moreira & Targino (1997), entre os anos de 1970 e 1980 o cultivo do tomate em torno do açude representava a cultura de maior relevância, fato este que continua ocorrendo atualmente. A quantidade de tomate produzido em torno do açude Epitácio Pessoa, baseada em processo de irrigação, tem variado entre 5417 ton, no ano de 1970, até um máximo de 59.200 toneladas entre 1981 e 1985, declinando para 6750 toneladas entre 1996 e 2000 e chegando a 1580 toneladas entre 2001 e 2004 (Figura 20). 82 70000 59200 60000 toneladas 50000 43489 40000 28600 30000 24480 20000 10000 5417 7250 6750 1580 0 1970 71-75 76-80 81-85 86-90 91-95 96-2000 2001-04 Anos Figura 20 – Produção de tomates nas margens do açude Epitácio Pessoa no período de 1970 a 2004 (Fonte: IBGE. Produção agrícola municipal. 1970-2004). As áreas de plantação de tomate ocorrem nas unidades produtivas que correspondem às áreas de arrendatários, cujos lotes, conforme já comentado anteriormente, variam desde 00 (terras de vazante) até 30 hectares. O processo produtivo utiliza irrigação do tipo superficial, ou seja, baseada em sistemas de sulcos por gravidade e inundações em faixas laterais, com elevados níveis de perda de água (Oliveira, 2007). Segundo este autor, esta prática também é utilizada para o cultivo de pimentão, feijão, banana, maracujá e repolho, entre outros. No processo de irrigação por gravidade a água corre por sulcos infiltrando-se no solo à medida que escoa ao longo dos mesmos, os quais precisam ter um declive suave para possibilitar vazões entre 0,2 e 2,0 litros/h. Mas tal sistema é altamente ineficiente visto que utiliza uma grande quantidade de água com grande desperdício (Winthers e Vipond, 1987). Além do preparo do terreno, que inclui a limpeza (desmatamento), destoca e queima, revolvimento do solo, preparação dos sulcos, etc., os 83 agricultores de tomate das margens do açude Epitácio Pessoa também constroem viveiros de mudas de tomate em sementeiras próximas do local de plantio definitivo (canteiros com 1 m a 1,20 m de largura por 20 m de comprimento e altura de 20 a 30 cm), misturando cerca de 4 a 5 kg de esterco de curral curtido por metro quadrado, e somente quando as mudas possuírem de 4 a 5 folhas é que eles fazem o plantio definitivo nas covas, nos terrenos que foram preparados (Oliveira, 2007). Os tratos culturais incluem a desbrota ou “desfolha”, que consiste em retirar o primeiro broto, deixando os demais; a amarração em estacas ou em arames; o revolvimento do solo; irrigação com moto-bombas elétrica ou a óleo-diesel; adubação química, que é efetuada logo na adubação de cobertura (primeira adubação) e à medida que a planta se desenvolve (a cada 20 ou 25 dias), baseada principalmente na aplicação de Sulfato de Amônia (400 kg/ha) e Cloreto de Potássio (200 kg/ha), além de uma outra adubação com Sulfato de Amônia, Superfosfato Simples e Sulfato de Potássio, distribuídos ao redor das covas; limpeza do mato (capina) e o controle de doenças (Oliveira, 2007). As doenças comuns aos tomateiros, segundo Oliveira (op. Cit), incluem o Talo-oco (provocado por Erwinia spp), que provoca o murchamento das folhas e morte da planta, a parte interna do caule apodrece, as folhas ficam com folhas escuras e os frutos com ferimento podem apodrecer; a Broca-pequena (provocada por Neoleucinodes elegantalis), que ataca a partir do florescimento dos tomateiros. As larvas crescem dentro do tomate, comendo a polpa e abrindo galerias, sendo que os frutos atacados não são bons para o consumo; a Larva-minadora (Liriomyza spp), também conhecida como mosca-branca pelos plantadores de tomate da região, que ataca as culturas ainda jovens, formando minas em forma de serpentina nas folhas, sendo que as mosca adultas atingem cerca de 2 mm de comprimento. Para o combate dessas pragas, o referido autor comenta que são utilizados vários tipos de agrotóxicos, que incluem: Tamarão (Tamaron), Ditano, Falisuper, além da tradicional formicida, empregada no combate às formigas. 84 5.- Metodologia Nenhum vento é bom para quem não sabe para onde ir (Aristóteles). A pesquisa procurou avaliar as conseqüências da utilização de agrotóxicos na saúde dos agricultores irrigantes do açude Epitácio Pessoa, através de exames laboratoriais e anamnese, e como suporte a esses resultados, foram considerados, ainda, aspectos do cotidiano dos trabalhadores rurais que vivem nas margens do açude, o que foi feito através de pesquisa de campo desenvolvida em diferentes visitas realizadas à área, ao longo do ano de 2007 e início de 2008. O critério de seleção das pessoas a serem pesquisados foi aleatório entre os agricultores, considerando-se, entretanto, como condição prévia, apenas os plantadores de tomate e pimentão. Divulgou-se junto à rádio comunitário, no sindicato dos trabalhadores rurais, vereadores e viceprefeito, no hospital Policlínica da Prefeitura Municipal, bem como junto ao comércio local da comunidade de Sangradouro, que esses exames seriam gratuitos e que seriam importantes para avaliar o estado de saúde da população e a partir daí prevenir patologias mais graves. As coletas foram realizadas aos sábados no ambulatório da Policlínica do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do Município de Boqueirão. Os trabalhadores afluíram voluntariamente ao chamado, primeiramente porque consideraram a importância da proposta, e também, porque a maioria já haviam sido meus pacientes da década de 90, quando trabalhei como médico do município de Boqueirão. No total foram estudados 147 agricultores, sendo 127 homens e 20 mulheres. Em todos esses sujeitos foram realizados mineralogramas do cabelo. Em 96 desses indivíduos (76 homens e 20 mulheres) foram realizados anamnese e exames de sangue e urina, bem como aplicação de questionários semi-estruturado (anexo) e realização de entrevistas livres. A 85 diferença no valor do N justifica-se pelo fato de que nem todos quiseram submeter-se à coleta de sangue. As entrevistas tiveram o intuito de avaliar o cotidiano dessas pessoas, considerando tanto a práticas laborais que utilizam bem como seu modo de vida e sobre os principais tipos de agrotóxicos usados. Nesta parte, a pesquisa foi suplementada pelo uso de documentação fotográfica. Os exames de sangue foram realizados pelo Laboratório Maurílio de Almeida, João Pessoa, usando procedimentos de rotina e incluíram as variáveis: Uréia, Creatinina, Glicemia, Fosfatase alcalina, GGT, TGO, TGP; Fator Rh, CD4%, CD4 Total, CD8 %, CD8 Total, CD4/CD8, Colinesterase plasmática, Colinesterase eritrocitária, Hemácias, Hemoglobina, Hematócrito, Leucócitos, Linfócitos, Eosinófilos e Plaquetas; Bilirrubina direta, Bilirrubina Indireta, Bilirrubina Total e Linfócitos. As coletas de amostras sangue foram efetuadas no mês de maio de 2007. Os mineralogramas do cabelo foram realizados parte no Laboratório do Dr Vandique, em João Pessoa e parte no laboratório da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, e incluíram as seguintes variáveis: Ag, Al, As, Au, B, Ba, Be, Bi, Ca, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Ge, Hg, I, K, Li, Mg, Mn, Mo, Na, Ni, P, Pb, Pd, S, Sb, Sc, Se, Sn, Sr, Ti, Th, U, V, W, Zr e Zn. As coletas foram efetuadas em cinco visitas efetuadas à área de estudos, nos meses abril e maio de 2007. Do total pesquisado 15% foram excluídos da pesquisa por terem feito uso de tintura de cabelo nos últimos 3 meses, pois os metais presentes nessas tinturas poderiam mascarar os resultados dos mineralogramas. Nas mesmas ocasiões das coletas de amostras de sangue e cabelo também foram realizadas as anamneses e feitas entrevistas com os agricultores, registrando-se para cada um, suas queixas (sintomas), e realizando-se exames do pulso, da língua, e da mão, de acordo com os métodos de diagnose da Medicina Tradicional Chinesa. A pesquisa foi complementada por tomadas de fotografias da língua e da mão. As aplicações dos questionários contaram com a ajuda de três funcionárias 86 da Policlínica do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Boqueirão, e técnico em Medicina Tradicional Chinesa, da Universidade Federal da Paraíba, Sr. Wilson Lopes de Oliveira. Nas análises das mãos demos ênfase ao estudo de uma única linha palmar, a da vida, visto que, segundo os textos de quiromancia, e conforme Chenxia (1993), ela nos informa sobre a vitalidade do organismo. Neste estudo procuramos correlacionar os aspectos da linha dessa linha com a sintomatologia apresentada pelos agricultores que tem contato com agrotóxicos, conforme detectado nas anamneses e nos resultados dos exames laboratoriais. Ainda, realizamos análises de agrotóxicos em amostras de peixe Hoplias malabaricus (traíra) do açude Epitácio Pessoa, e de tomates, adquiridos no mercado público do município de Boqueirão, bem como foram coletadas amostras de tomate exatamente no momento da colheita, ocasião em que eram feitas pulverizações do fungicida sistêmico Cercobin 700 (Classe IV), em toda plantação, imediatamente antes do carregamento do produto para o transporte. Esses exames foram realizados no laboratório de referência do ITEP/LABTOX (Instituto de Tecnologia de Pernambuco/Laboratório de Toxicologia). Para uniformizar os dados obtidos foram empregados testes estatísticos estabelecidos por Sokal & Rolf (1983). A homocedasticidade das variâncias de todos os parâmetros obtidos foi confirmada usando o teste de Levine. O Teste-t de Student foi aplicado para comparar as diferenças nas variáveis de sangue e dos mineralogramas entre os indivíduos de pulso II e de pulso IV. A análise de correlação de Pearson foi aplicada entre as variáveis estudadas (sangue e mineralogramas) com Todos os cálculos foram efetuados empregando-se o pacote Statistica 6.0 com nível de significância de 95%. Neste trabalho levamos em consideração as observâncias éticas contempladas na resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde, principalmente no que diz respeito ao consentimento livre e esclarecido dos participantes do estudo. 87 88 6.- Resultados “Ao término de um período de decadência sobrevêm o ponto de mutação. A luz poderosa que fora banida ressurge. Há movimento, mas este não é gerado pela força... O movimento é natural, surge espontaneamente. Por essa razão, a transformação do antigo torna-se fácil. O velho é descartado e o novo é introduzido. Ambas as medidas se harmonizam com o tempo, não resultando daí, portanto, nenhum dano” (I Ching, Hexagrama 24). 6.1- Aspectos do cotidiano dos agricultores irrigantes do açude Epitácio Pessoa no que concerne ao uso de agrotóxicos. A maioria (90%) dos trabalhadores que praticam a agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, PB, que foram investigados nesta pesquisa, é natural do município de Boqueirão, denotando, com isso, que tradicionalmente eles se dedicam a esse tipo agricultura há muito tempo. Um grande percentual (43,66%) deles consome bebidas alcoólicas usualmente, e um grande número (42,25%) é fumante. Conforme se constatou pelas entrevistas realizadas com esses trabalhadores, eles ingerem frequentemente proteína de origem animal, particularmente gado bovino, peixe e aves (Figura 21), apesar de se ter constatado que a maioria (60%), faz uso desses tipos de proteína com freqüência de até 2 vezes por semana apenas (Figura 22). 10% 22% 45% vaca ave peixe porco 23% Figura 21. Percentagem da população de homens e mulheres que trabalham na agricultura irrigada do Açude Epitácio Pessoa, PB, que incorpora em sua alimentação diária algum tipo de proteína animal. Dados obtidos em 2007. 89 40% 60% até 2 vezes >3 vezes Figura 22. Freqüência semanal de ingestão de proteína animal pelos trabalhadores rurais (homens e mulheres) do Açude Epitácio Pessoa, PB. Dados obtidos em 2007. Um total de 25 tipos comerciais de agrotóxicos foram inventariados nesta pesquisa, como sendo de uso comum entre os trabalhadores que praticam a agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, os quais se acham distribuídos em 12 grupos químicos distintos, e enquadrados nas classes toxicológicas I, II, III e IV (Tabela 4). Tabela 4. Principais tipos de agrotóxicos usados pelos plantadores de tomate e pimentão no entorno do açude Epitácio Pessoa, Município de Boqueirão\PB, conforme dados levantados em 2007. GRUPO QUÍMICO PIRETROIDES CARBAMATOS NITROGUANIDINA ORGANOFOSFORADOS NOME COMERCIAL Barytróide CE Sumidan 25 CE Karate 50 CE Decis Cartap BR 500 Lannate BR Confidor Elsan Folidol Nemacur Stron Tamaron BR Folysuper Nuvacron CLASSE TOXICOLÓGICA I I II III I I IV I I I I I IV 90 ORGANOFOSFORADOS + PIRETRÓIDE CÚPRICO ENXOFRE ACILURÉIA CARBOXILATO ALANIDATO + DITIO CARBAMATO DITIOCARBAMATO Abamectin Malathion 500 CE Polytrin 400/40 III II Cupravit Reconil Kumulus - S Microsol Match Meothrin 300 Ridomil Mancozeb BR IV IV IV IV III I II Dithane Vertimec II III Verificou-se, ainda, a partir dos dados obtidos com as entrevistas, que eles adquirem livremente e muito facilmente os produtos que utilizam na agricultura (fertilizantes químicos e agrotóxicos) no mercado local e cidades como Campina Grande e João Pessoa, de forma livre, visto que não há exigências do receituário agronômico, conforme prevê a legislação atual. Alguns trabalhadores relataram que quando são emitidos receituários estes já estão disponíveis nos próprios estabelecimentos que vendem os produtos, sendo previamente assinados pelo técnico responsável. Conforme nos informaram, as dosagens e a periodicidade de aplicações dos venenos são baseadas nas informações prestadas pelos próprios vendedores dos produtos, que não tem formação específica nem para receitar e nem para informar adequadamente os riscos potenciais aos quais os trabalhadores são submetidos ao manipularem esses produtos. Usualmente eles colocam veneno acima do que é necessário, e a periodicidade de aplicação baseia-se na rotina à qual eles já se acostumaram. Um dos trabalhadores entrevistados afirmou: “A gente coloca veneno nos pés de tomate a cada três dias, até o dia da colheita que é com 90 dias, então, a gente coloca veneno em cada pé, do dia da plantação até o dia da colheita, 30 vezes. Mas quando o mesmo pé de tomate bota flor em dias diferentes, então a gente repete a aplicação de veneno”. 91 Se a compra dos agrotóxicos é de livre acesso, os cuidados com o manuseio e guarda das embalagens deixam a desejar. Muitos dos agricultores entrevistados alegaram que guardam os produtos em áreas externas (depósitos), geralmente situados nas proximidades das plantações. Mas não foram raras as situações em que se verificou que os agricultores guardavam as embalagens dentro da própria casa, muitas vezes próximo de alimentos, sementes, crianças e água potável. Usualmente colocam os frascos ou caixas desses produtos em sacos plásticos amarrados nos caibros do telhado, às vezes inclusive na cozinha. No preparo da calda os agricultores seguem as recomendações dos vendedores, mas muitos quase sempre colocam um pouco a mais para dar “maior fortidão ao produto”, conforme alegaram. Ainda, vale ressaltar que em muitos casos as formulações empregadas não são indicadas para a cultura tratada, particularmente quando mais de um produto é simultaneamente usado, compondo coquetéis que incluem inseticidas junto com fungicidas e às vezes formicidas. O preparo é feito ao ar livre, geralmente na própria plantação, mas os cuidados com o manuseio não são adequados e pode haver contaminação tanto do próprio trabalhador como do solo (Figura 23). Durante as aplicações dos agrotóxicos os agricultores de Boqueirão preferem os horários mais quentes do dia, quando o correto seria aplicar os produtos pela manha ou à tarde. Em muitos casos, evidenciou-se ausência de utilização de EPI bem como falta de cuidado durante o preparo da calda, além de vestimenta insuficiente, conforme pode se observar nas figuras 23 e 24. Ao questioná-los sobre a falta de cuidado com sua própria saúde, particularmente quanto ao uso de Equipamento de Proteção Individual (EPI), muitos disseram: “não uso porque não tenho”, ou “incomoda” ou “não tem perigo não doutor, a gente ta acostumado, só arde um pouco os olhos e dá um comixãozinho, mas depois logo passa”, ou, ainda: “toda vez que chego da roça tomo um copo de leite pra cortar o efeito”, além de outras falas muito parecidas suficientes para ilustrar que muitos deles não têm consciência dos perigos que correm em longo prazo. 92 Figura 23. Agricultor preparando veneno para pulverização em plantação de tomate às margens do Açude Boqueirão, PB (Fotografia Ricardo Arruda, Fevereiro de 2008). Figura 24. Agricultor pulverizando veneno em plantação de tomate nas margens do Açude Boqueirão, PB, sem mascara e sem luvas (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008. 93 Um dos trabalhadores informou: “Eu trabalhava a noite, das quatro da tarde até as dez da noite, pulverizando o veneno; antigamente não usava máscara nem luvas, mas agora faz um ano que estou usando. O patrão às vezes não quer comprar o material, mas agora a gente exige”. E depois do alerta que fiz sobre os perigos que se corre por não utilizarem equipamentos de proteção, outro disse: “Faz oito anos que trabalho nos campos de tomate, inclusive pulverizando; não usava proteção, mas depois do que o senhor me disse, vou usar”. Os cuidados maiores que eles demonstram terem ocorrem com aqueles agrotóxicos mais perigosos, os das tarjas vermelhas e amarelas (Classes toxicológicas I e II), ou seja, aqueles da caveira. “Mata que deixa só o osso”. Mas os que não têm a caveira, esses não fazem mal, “podem até ser bebidos que não tem perigo. Dão é sustância!...” A guarda dos agrotóxicos é feita geralmente em quartos externos das moradias (Figura 25), em cujo local também é, por vezes, preparada a calda. A justificativa dessa precaução é a de evitar acidentes por parte de crianças, que sempre são curiosas, ou mesmo de desavisados. Figura 25. Área externa anexa à moradia onde os agrotóxicos são guardados e a calda é muitas vezes preparada (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008). Como muitos trabalhadores têm o vicio do fumo, para estes a situação de risco se agrava, particularmente quando fumam cigarros de palha, visto que com as mãos sujas de veneno cortam o fumo e enrolam a palha o que facilita a contaminação pela boca. Ainda, como se constatou 94 pelas entrevistas, muitos deles consomem bebidas alcoólicas, e o álcool tem reconhecidamente um efeito potencializador da ação tóxica dos agrotóxicos. Também falta higiene na hora da alimentação, visto que muitos agricultores costumam não tomar banho ou se lavar adequadamente após uma seção de pulverização. Toda a área marginal de agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa pode ser classificada como área de risco ambiental no que concerne o uso de agrotóxicos. Os venenos usados na agricultura inevitavelmente chegam ao manancial o que pode trazer riscos à vida aquática e para animais que usam água do açude para beber. Por extensão representam riscos à saúde humana de pessoas que utilizam água do açude para abastecimento público. Ainda, é comum verificar-se que muitos dos agricultores lavam as bombas de pulverização nas proximidades do açude, e até mesmo descartam embalagens nas suas margens, representando, esta prática, riscos ambientais adicionais. São poucos os agricultores que dão um destino final adequado às embalagens; alguns as queimam, outros as enterram e outros simplesmente jogam no lixo; mas há aqueles que inclusive reaproveitam-nas. Um fato curioso que chamou a atenção durante a pesquisa de campo diz respeito ao destino final das sobras de tomates não são comercializados, particularmente aqueles que amadurecem sem dar tempo de vender, ou mesmo aqueles que estão podres. O costume local em muitas comunidades visitadas é destinar esses produtos à alimentação de galinhas, porcos, vacas, caprinos e ovinos, o que é feito da forma como foram colhidos. Uma das entrevistadas afirmou: “Toda tarde pego três balaios de tomates bem vermelhas que sobram dos campos, e dou pras minhas galinhas. Elas me abastecem de carne e ovos de capoeira, e ainda vendo o excedente”. Como não há lavagem é evidente que esses animais acabam por se contaminar, o que é traduzido em risco suplementar ao trabalhador rural local, visto que eles criam esses animais usualmente para comer. 95 A dimensão desse perigo não é percebida por eles, que não só comem esses animais, como os vendem quando necessário ou servem a visitantes, como no nosso caso, quando estivemos na casa de uma agricultora e antiga paciente minha da época em que era médico de Boqueirão, e fomos convidados por ela a “comer uma galinha de capoeira”. Também é comum que restaurantes locais, como os representados na figura 26, ofereçam em seu cardápio galinha de capoeira comprada entre os agricultores, além de peixes capturados no próprio açude. Neste caso o consumo de galinhas de capoeira pode chegar a 400 refeições num final de semana, conforme nos foi informado pela dona. Em alguns casos, os próprios donos desses estabelecimentos informaram que criam suas galinhas oferecendo a elas as sobras do que é usado no próprio restaurante, além de tomates. Figura 26. Restaurantes situados às margens do açude Boqueirão que usualmente oferecem em seus cardápios galinhas de capoeira criadas na região. Na última foto destacam-se em primeiro plano, galinhas mortas numa bacia, esperando para serem consumidas e em segundo plano, do lado de fora da grade, galinhas andando pelo terreiro. 96 Embora admitam que respeitem o período de carência desde a última aplicação até a comercialização dos cultivares, que deve ser no mínimo de 8 dias (ou de até 21 dias, como no caso do Tamaron BR, indicado para nas culturas de pimentão), essa prática não condiz com a realidade constatada. A questão econômica é superior a qualquer preocupação com a saúde dos outros, e não há como perder uma safra que já esteja amadurecendo no pé. Em uma das ocasiões, constatamos pulverizações do fungicida sistêmico Cercobin 700, um agrotóxico classe IV, exatamente no momento da colheita, inclusive com participação de mão de obra infantil nesta atividade (Figura 27). Figura 27. Pulverização de veneno, colheita e carregamento, inclusive com participação de crianças nessa atividade (Fotografia: Ricardo Arruda, março de 2008). 97 A carga, neste caso, destinava-se a cidade de Cajazeiras, e as crianças que trabalhavam na colheita e no transporte das caixas de tomate até o caminhão usualmente comem tomates contaminados, do jeito que são colhidos (Figura 28). Figura 28. Criança comendo tomates contaminados com veneno no momento da colheita e carregamento (Fotografia: Ricardo Arruda, março de 2008). Da atividade da catação também participam mulheres, e conforme elas relataram nas entrevistas, geralmente comem tomates enquanto trabalham. Uma afirmou: “eu lavo o fruto antes de comê-lo na água que sai dos canos de irrigação (proveniente do açude); mas têm muitas delas que apenas limpam o tomate na roupa e comem”. O trabalho das mulheres na catação é árduo, mas o ganho é pouco, o que ficou bem claro nas falas dos entrevistados: “A gente trabalha pela produção: cada caixa de tomate enchida pagam pra gente R$0,80(oitenta centavos). Para carregar cada caixa até o caminhão, pagam mais R$1,00 (hum real). Dependendo se a plantação é grande ou pequena, e se os tomates são grandes ou pequenos, a quantidade de caixas que a gente enche num dia varia entre 10 a 40 caixas/dia. Mas não são todas as mulheres que conseguem encher essa quantidade de caixas, somente as mais fortes. A maioria só consegue encher por dia uma média de 10 caixas de tomates”. 98 A grande maioria dos trabalhadores que praticam a agricultura irrigada nas margens do Açude Epitácio Pessoa não tem a percepção de que muitos dos sintomas que eles apresentam (cefaléia, tonturas, insônia, náuseas, etc.) podem ser decorrentes do uso de agrotóxicos. Mas alguns sabem que os problemas que sentem são do veneno. Todas as comunidades visitadas são arrendatários que trabalham com consentimento do DNOCS e muitos receberam suas terras desde que o açude foi construído. Portanto, muitos são agricultores há mais de 30 anos, sendo possível que muitas de suas doenças estejam de fato relacionadas com os agrotóxicos. A falta de cuidados quer seja com o manuseio dos produtos, o preparo da calda e o destino final das embalagens, ou ainda com os tomates que vendem, comem ou dão para os animais que criam para consumo podem estar associados ao quadro clínico observado entre agricultores estudados, conforme detectado nos exames laboratoriais e na anamnese. Alguns se utilizam das próprias embalagens de veneno para armazenamento de água de beber. Os riscos estão por toda parte, não há como negar este fato, inclusive para a população distante que consome os produtos, que bebem água do açude, ou mesmo que comem animais criados nas vizinhanças e peixes. Os fatores de riscos não são, portanto, somente de natureza sócioculturais, visto que a maioria dos agricultores tem baixo nível de instrução e se acostumaram ao uso desta pratica desde há muito tempo. Os fatores são também técnicos e econômicos, portanto, são sistêmicos. 6.2- As condições de vida da população e a percepção dos riscos do uso dos agrotóxicos para o meio ambiente e para a saúde humana. As comunidades que representam locais aprazíveis. casas são de alvenaria, margeiam o açude Epitácio Pessoa As vilas e vilarejos são simples, mas as possuem eletricidade e os terrenos dos 99 arrendatários usualmente são cercados. Mas a vegetação nativa nas imediações encontra-se completamente descaracterizada, como conseqüência da expansão da agricultura proporcionada pelas águas do açude (Figura 29). Figura 29. Vista geral das comunidades de agricultores às margens do açude Boqueirão PB (a) e moradia isolada nas proximidades de uma extensa plantação de banana (b). Em a nota-se, ao fundo, áreas cultivadas e caatinga completamente empobrecida pela remoção da vegetação (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008). A irrigação permite que áreas relativamente distantes das margens do açude recebam água para os cultivares, como se nota na figura 15. Mas além da água, o açude oferece também laser para pessoas de fora, particularmente dono das ilhas onde são construídas belas casas (Figura 30). 100 Figura 30. Vista parcial do Açude Boqueirão, PB. Em primeiro plano, restaurante à margem do açude; ao fundo, ilhas de laser com grandes moradias (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008). O pescado também representa uma rica fonte de proteínas e de subsistência de muitas famílias. A produção pesqueira do açude é relativamente grande e os peixes são comercializados na feira local, juntamente com outros produtos agrícolas produzidos na região, como o pimentão e o tomate (Figura 31), e consumidos pelos próprios trabalhadores e moradores das cidades vizinhas. E certamente os peixes, particularmente os predadores de topo como o tucunaré e a traíra, estejam contaminados com agrotóxicos, representando riscos adicionais à saúde humana, que possivelmente não são percebidos pela população. Usualmente os trabalhadores rurais não observam peixes mortos boiando na água, presumindo-se desta maneira que a água é limpa e o peixe também. Mas os efeitos dos agrotóxicos nos organismos aquáticos nem sempre são imediatos a não ser que um grande derrame de veneno ocorresse. Como os agricultores não percebem claramente a relação entre uso dos agrotóxicos nos cultivares e o veneno no peixe, a conclusão que se tira é a de que a dimensão do problema de contaminação ambiental numa visão sistêmica não é de todo conhecida. Figura 31. Comércio de hortigranjeiros e de peixes da região na feira local da cidade de Boqueirão. (Fotografia: Ricardo Arruda, fevereiro de 2008). 101 A maioria dos trabalhadores entrevistados também não percebe o perigo que resulta do consumo de galinhas contaminadas, ou que a morte de outros animais como sapos, pássaros e mamíferos nativos podem ser conseqüência do consumo de insetos que receberam veneno. Constatou-se, nas entrevistas efetuadas, que o perigo dos descartes das embalagens para o ambiente, e depois para a própria saúde dos trabalhadores, também não é percebido. Ainda, que muitos, senão a maioria dos agricultores que utilizam veneno em suas práticas cotidianas, desconhecem os riscos que correm ou os riscos que causam ao meio ambiente e aos animais em geral, inclusive os animais domésticos, sejam eles galinhas, ou animais de grande porte, como os cavalos. Sem contar ainda que não existe na área uma assistência técnica efetiva que crie expectativas quanto a possibilidades de mudanças da base tecnológica de cultivo existente na área, e que poderia ser a agricultura orgânica ou, preferencialmente a agricultura natural, com recuperação da caatinga e da mata ciliar do açude. Segundo suas falas, muitos alegaram que nunca receberam nenhuma visita técnica de nenhum órgão oficial para orientá-los em suas práticas produtivas. “Aqui estamos entregues a Deus. O único que aparece aqui de vez em quando é o IBAMA, mesmo assim é pra punir, proibindo a irrigação”. Todas essas observações demonstram o quanto é necessário o desenvolvimento na área de um programa de educação ambiental, incluindo nesse programa orientações sobre possíveis alternativas que 102 tragam melhoria de saúde do trabalhador e do meio ambiente, e que ao mesmo tempo garantam o ganho necessário para a sua sobrevivência. 6.3- Resultados dos exames laboratoriais, anamnese e diagnósticos clínicos segundo as técnicas da Medicina Tradicional Chinesa Um total de 76 homens e 20 mulheres que trabalham na agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa foram entrevistados nesta pesquisa, dos quais (98,6%) trabalha com agrotóxicos e possuem idades variando de 14 a 62 anos, predominando aqueles com idades entre 20 e 30 anos (Figura 32). 40 35 percentagem 30 25 20 15 10 5 0 <20 20-30 30-40 40-50 50-60 >60 classes de idade (anos) Figura 32. Distribuição etária dos homens e mulheres que trabalham na agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, PB, que foram submetidos aos exames de sangue, mineralogramas do cabelo, anamnese e exames clínicos segundo as técnicas da Medicina Tradicional Chinesa no ano de 2007. Os exames de sangue efetuados nos homens evidenciaram alterações nas seguintes variáveis: creatinina, fosfatase alcalina, CGT, 103 CD4%, CD8%, CD8 total, CD4/CD8, leucócitos, linfócitos, eosinófilos e bilirrubinas indiretas e totais. Os maiores percentuais de pessoas com valores acima dos limites de referência foram observados para CD4/CD8 (13%), eosinófilos (28,6%), bilirrubina indireta (26%) e bilirrubinas totais (19,5%). Já os maiores percentuais de pessoas com valores abaixo dos limites de referência foram constatados para creatinina (28,6%), CGT (23,4%), CD4% (14,3%), CD8 (22,1%), CD8 total (16,9%), leucócitos (11,7%) e linfócitos (28,6%) (Tabela 5). Tabela 5. Percentagem da população de homens agricultores do Açude Epitácio Pessoa, PB, cujos resultados dos exames de sangue são normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007. Variável Uréia Creatinina Glicemia Fosf.alcalina GGT TGO TGP CD4 % CD4 Total CD8 % CD8 Total CD4/CD8 Colin/plas. Colin/eritro Hemace Hemoglob Hemtcto Leucocito linfocito eosinófilo Plaquetas Bilirru dire Bb Indiret Bb Total % Normal 100,00 71,43 98,60 90,91 67,53 98,70 97,40 84,42 90,91 75,32 80,52 79,22 94,85 98,70 94,81 96,11 94,81 80,52 66,23 68,83 94,81 89,57 70,13 76,62 % acima dos limites de referência 0,00 0,00 1,40 9,09 9,09 0,00 2,60 0,00 0,00 1,30 1,30 12,99 0,00 0,00 2,60 0,00 1,30 5,19 2,60 28,57 0,00 10,39 25,97 19,48 % abaixo dos limites de referência 0,00 28,57 0,00 0,00 23,38 1,30 0,00 14,29 7,79 22,08 16,88 6,49 3,89 0,00 0,00 3,89 1,30 11,69 28,57 0,00 2,60 0,00 0,00 0,00 Não determinado 1,30 1,30 1,30 1,30 1,30 1,26 1,30 2,60 2,60 2,60 2,60 2,60 2,60 3,89 3,90 3,90 104 Para as mulheres, foram evidenciadas alterações em: creatinina, glicemia, fosfatase alcalina, CD8%, CD8 total, CD4/CD8, leucócitos, linfócitos, eosinófilos e bilirrubinas indiretas e totais. Os maiores percentuais com valores acima dos limites de referência foram observados para CD4/CD8 (30%), leucócitos, bilirrubina indireta (15%), Glicemia (10%), fosfatase alcalina (10%) e bilirrubina total (10%). Já os maiores percentuais com valores abaixo dos limites de referência foram constatados linfócitos (35%), CD8% (30%) e CD8 total (20%) e creatinina (10%) (Tabela 6). Como se vê pelos dados, as mulheres apresentaram alterações num maior número de variáveis. Tabela 6. Percentagem da população de mulheres agricultoras do Açude Epitácio Pessoa, PB, cujos resultados dos exames de sangue são normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007. Variável Uréia Creatinina Glicemia Fosf.alcalina GGT TGO TGP CD4 % CD4 Total CD8 % CD8 Total CD4/CD8 Colin/plas. Colin/eritro Hemace Hemoglob Hemtcto Leucocito linfocito eosinófilo Plaquetas Bilirru dire Bb Indiret Bb Total % Normal 100,00 90,00 90,00 90,00 95,00 95,00 100,00 95,00 95,00 70,00 80,00 70,00 100,00 100,00 100,00 100,00 100,00 85,00 55,00 75,00 90,00 95,0 80,00 85,00 % acima dos limites de referência 0,00 0,00 10,00 10,00 5,00 5,00 0,00 5,00 5,00 0,00 0,00 30,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 10,00 5,00 20,00 5,00 0,00 15,00 10,00 % abaixo dos limites de referência 0,00 10,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 30,00 20,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 35,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Não determinado 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 5,00 105 Comparando-se os gêneros quanto aos percentuais de normalidade, constata-se que os homens apresentam maiores problemas em reação à creatinina, GGT e bilirrubinas, enquanto que nas mulheres os maiores problemas ocorrem em CD8%, CD4/CD8, hematócrito e linfócito (Tabela. 7). Tabela 7. Comparação dos percentuais de normalidade das variáveis investigadas nos exames de sangue das pessoas que trabalham na agricultura irrigada do Açude Epitácio Pessoa, PB, quanto aos sexos, conforme dados obtidos em 2007. Variável Uréia Creatinina Glicemia Fosf.alcalina GGT TGO TGP CD4 % CD4 Total CD8 % CD8 Total CD4/CD8 Colin/plas. Colin/eritro Hemace Hemoglob Hemtcto Leucocito linfocito eosinófilo Plaquetas Bilirru dire Bb Indiret Bb Total % Homens 100,00 71,43 98,60 90,91 67,53 98,70 97,40 84,42 90,91 75,32 80,52 79,22 94,85 98,70 94,81 96,11 94,81 80,52 66,23 68,83 94,81 89,57 70,13 76,62 % Mulheres 100,00 90,00 90,00 90,00 95,00 95,00 100,00 95,00 95,00 70,00 80,00 70,00 100,00 100,00 95,00 95,00 75,00 85,00 55,00 75,00 90,00 95,0 80,00 85,00 Comparando-se os sexos quanto aos valores que estão abaixo dos limites de normalidade, evidencia-se que os homens apresentam taxas mais baixas de creatinina, GGT, CD4 e leucócitos do que as mulheres, e 106 nestas, as taxas mais baixas em relação aos homens foram observadas em CD8%, hematócrito e linfócitos (Tabela 8). Tabela 8. Comparação entre sexos quanto às variáveis que estão abaixo dos limites de normalidade para cada variável medida, conforme resultados de exames de sangue efetuados nos agricultores do Açude Boqueirão, PB, no ano de 2007. Variáveis Uréia Creatinina Glicemia Fosf.alcalina GGT TGO TGP CD4 % CD4 Total CD8 % CD8 Total CD4/CD8 Colin/plas. Colin/eritro Hemace Hemoglob Hemtcto Leucocito Linfocito eosinófilo Plaquetas Bilirru dire Bb Indiret Bb Total % Homens 0,00 28,57 0,00 0,00 23,38 1,30 0,00 14,29 7,79 22,08 16,88 6,49 0,00 0,00 0,00 0,00 1,30 11,69 28,57 0,00 2,60 0,00 0,00 0,00 % Mulheres 0,00 10,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 30,00 20,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 10,00 0,00 35,00 0,00 0,00 0,00 0,00 0,00 Comparando-se os sexos quanto aos valores que estão acima dos limites de normalidade, evidencia-se que os homens apresentam taxas mais elevadas de GGT, eosinófilos e bilirrubinas do que as mulheres, e nestas, as taxas mais elevadas em relação aos homens foram observadas em Glicemia, CD4/CD8, hematócritos e leucócitos (Tabela 9). 107 Tabela 9. Comparação entre sexos quanto às variáveis que estão acima dos limites de normalidade para cada variável medida, conforme resultados de exames de sangue efetuados nos agricultores do Açude Boqueirão, PB, no ano de 2007. Variáveis Uréia Creatinina Glicemia Fosf.alcalina GGT TGO TGP CD4 % CD4 Total CD8 % CD8 Total CD4/CD8 Colin/plas. Colin/eritro Hemace Hemoglob Hemtcto Leucocito Linfocito eosinófilo Plaquetas Bilirru dire Bb Indiret Bb Total % Homens 0,00 0,00 1,40 9,09 9,09 0,00 2,60 0,00 0,00 1,30 1,30 12,99 0,00 0,00 2,60 100,00 1,30 5,19 2,60 28,57 0,00 9,09 25,97 19,48 % Mulheres 0,00 0,00 10,00 10,00 5,00 5,00 0,00 5,00 5,00 0,00 0,00 30,00 0,00 0,00 0,00 0,00 10,00 10,00 5,00 20,00 5,00 0,00 15,00 10,00 As análises dos grupos sanguíneos efetuadas nos trabalhadores rurais do açude Epitácio Pessoa em 2007 evidenciaram que a maioria dos homens apresenta sangue tipo O (48%), seguido pelo tipo A (37%) (Figura 33a), enquanto que nas mulheres predomina sangue tos tipos A (47%) e O (42%) (Figura 33b). 108 a 37% tipo A tipo AB 48% tipo B tipo O 8% 7% b tipo A 42% 47% tipo B tipo AB tipo O 0% 11% Figura 33. Percentagens dos diferentes tipos de grupos sanguíneos de acordo com o sexo (a=homens; b= mulheres), nos agricultoras do açude Epitácio Pessoa, PB conforme pesquisa de campo realizada em 2007. Do total de homens e mulheres entrevistados, 85% afirmaram que nunca fizeram uso de tintura de cabelo, contra 15% deles que afirmaram terem usado esses produtos, nos últimos 3 meses (Figura 34). Esses dados são importantes, visto que os resultados dos exames de cabelo poderiam ser mascarados por metais existentes nesses preparados. 109 15% 85% sim não Figura 34. Percentagem dos agricultores (homens e mulheres) que trabalham na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, PB, entrevistados em 2007 que fizeram uso de tintura para cabelo nos últimos 3 meses que antecederam a coleta de cabelo para os mineralogramas. Os mineralogramas do cabelo efetuados nos homens que trabalham na agricultura irrigada às margens do açude Epitácio Pessoa, Boqueirão, evidenciaram alterações nas seguintes variáveis: Al., Ba, Be, Cr, Fe, I, K, Mn, Pb, Sb, Sr, Th e U, cujos valores estão acima dos limites de referência para estas variáveis, e Cd e Mo, cujos valores estão abaixo dos limites de referência para estas variáveis. Os maiores percentuais foram observados para Fe (86,87%), Mn (82,83%) e Al (69,70%), além de K (47,47%) e Cr (46,46%) para as variáveis com valores acima dos limites de referência, e Mo (37,37%) para os valores abaixo desses limites (Tabela 9). Para as mulheres, os resultados dos mineralogramas do escalpo mostraram alterações para Ag, Al., Ba, Be, Bi, Cr, Fe, I, K, Mg, Mn, Pb, Pd, Sb, Sn, Sr e Th, cujos valores estão acima dos limites de referência para estas variáveis, e Mo, P, Pd, S e Zn, cujos valores estão abaixo desses limites. Os maiores percentuais foram observados para Fé (91,67%), Ba (70,83%), Al (66,67%), e I (58,3%), alem de K (41,67%) e Sr (41,67%) para as variáveis com valores acima dos limites de referência, e Zn (83,33%) e S (41,67%) para os valores abaixo desses limites (Tabela 10). 110 Tabela 9. Percentagem da população de homens agricultores do Açude Boqueirão, PB, cujos resultados dos mineralogramas do cabelo são normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007. Variável Ag Al As Au B Ba Be Bi Ca Cd Co Cr Cu Fe Ge Hg I K Li Mg Mn Mo Na Ni P Pb Pd S Sb Se Sn Sr Th U V Zn % com valores normais 92,93 30,30 96,97 29,27 19,19 63,64 51,52 54,55 83,84 79,80 98,99 53,54 98,99 13,13 100,00 89,90 21,43 100,00 88,89 17,17 59,60 84,21 97,98 100,00 75,76 100,0 100,00 67,68 100,00 95,96 87,88 30,95 66,66 95,96 15,15 % com valores acima do limite de referência 7,07 69,70 %com valores abaixo do limite de referência Não determinados 3,03 70,73 80,81 36,36 27,27 5,05 21,21 40,40 16,16 20,20 1,01 46,46 1,01 86,87 6,06 85,37 78,57 7,07 82,83 4,04 14,63 4,04 37,37 3,03 15,79 2,02 24,24 16,16 26,26 4,04 12,12 23,81 33,33 4,04 3,03 42,86 81,82 111 Tabela 10. Percentagem da população de mulheres agricultoras do Açude Boqueirão, PB, cujos resultados dos mineralogramas do escalpo são normais ou estão fora dos limites de referência para cada variável investigada, conforme resultados de exames efetuados em 2007. Os casos mais expressivos encontramse em destaque. Variável Ag Al As Au B Ba Be Bi Ca Cd Co Cr Cu Fe Ge Hg I K Li Mg Mn Mo Na Ni P Pb Pd S Sb Se Sn Sr Th U V Zn % com valores normais 79,17 33,33 100,00 100,00 12,50 29,17 45,83 45,83 87,50 87,50 95,83 75,00 91,67 8,33 100,0 91,67 28,57 100,00 70,83 20,83 79,17 50,00 95,83 60,00 66,67 62,50 100,00 70,83 58,33 10,00 80,00 95,83 12,50 % com valores acima do limite de referência 20,83 66,67 %com valores abaixo do limite Não de referência determinados 87,50 70,83 29,17 20,83 4,17 25,00 0,19 8,33 12,50 4,17 25,00 8,33 91,67 4,17 100,00 71,43 4,17 29,17 79,17 16,67 8,33 4,17 4,17 41,67 40,00 33,33 40,00 60,00 100,00 37,50 29,17 41,67 60,00 20,00 4,17 4,17 30,00 83,33 No geral, tanto homens como mulheres apresentaram alterações nas mesmas variáveis, muito embora em alguns casos fossem mais evidentes nos primeiros: Au, Cr, I, Mo, Pd e S e nas últimas: Ag, Ba, Be, Bi, P e Sr, 112 enquanto que Pd e S mostraram alterações exclusivamente em homens (Tabela 11). Tabela 11. Comparação entre sexos quanto às variáveis dos mineralogramas cujos resultados estão dentro dos limites de normalidade, conforme resultados dos exames efetuados nos agricultores do Açude Boqueirão, PB, no ano de 2007. Destaques em cinza indica prevalência nos dois sexos e em amarelo em apenas um dos sexos. Variável Ag Al As Au B Ba Be Bi Ca Cd Co Cr Cu Fe Ge Hg I K Li Mg Mn Mo Na Ni P Pb Pd S Sb Se Sn Sr Th U V Zn Homens (%) 92,93 30,30 96,97 29,27 19,19 63,64 51,52 54,55 83,84 79,80 98,99 53,54 98,99 13,13 100,00 89,90 Mulheres (&) 79,17 33,33 100,00 100,00 12,50 29,17 45,83 45,83 87,50 87,50 95,83 75,00 91,67 8,33 100,0 91,67 21,43 100,00 88,89 17,17 59,60 84,21 97,98 100,00 75,76 100,0 100,0 67,68 100,00 95,96 87,88 30,95 66,66 95,96 15,15 28,57 100,00 70,83 20,83 79,17 50,00 95,83 60,00 66,67 0,00 0,00 62,50 100,00 70,83 58,33 10,00 80,00 95,83 12,50 Os levantamentos dos dados relacionados com a incidência de câncer no município de Boqueirão demonstraram que nos últimos 14 anos 113 (1993-2007) foram registrados 84 óbitos por CA, conforme dados levantados junto a Secretaria de Saúde do Estado da Paraíba e junto ao cartório de registro do município de Boqueirão, sendo que dos 23 óbitos registrados nesse cartório, 22 (95,65%) eram agricultores (Tabela 12). Tabela 12. Quantidades de óbitos por câncer no município de Boqueirão no período de 1993 a 2007. Períodos investigados 1993 -1996 Quantidades de óbitos por câncer 22 1997-2005 2005-2007 41 21 Fontes de consulta Cartório de registro do município de Boqueirão SS-PB SS-PB As maiores incidências foram para os casos de câncer de fígado, seguidas por brônquios/pulmão, próstata, e estômago, além do expressivo caso de neoplasias não especificadas (Tabela 13). Chama a atenção, entretanto, o elevado número de câncer nos órgãos relacionados com o elemento água, de acordo com a Medicina Tradicional Chinesa: ossos, útero, próstata, aparelho urinário e cérebro, que em seu conjunto totalizaram 20 (23,80%) casos de câncer, e os casos de câncer de fígado/vias biliares, que de acordo com a MTC se relacionam com o elemento madeira, totalizando 10 casos (11,90%). Entretanto, os dados das entrevistas realizadas com os agricultores, podem indicar que esses números estejam subestimados, haja vista, que um dos agricultores relatou: “Na minha família oito primos faleceram de câncer, três de CA de útero, e quatro homens de CA de próstata, garganta e boca. Todos trabalhavam nos campos de tomate”. 114 Tabela 13. Principais incidências de neoplasias malignas no município de Boqueirão no período de 1993 a 2007. Neoplasias malignas Base da língua Assoalho da boca Esôfago Brônquios e pulmões Estômago Reto Intestino Fígado/vias biliares intrahepática Aparelho digestivo (mal definida) Laringe Ossos/cartilagens das articulações dos membros Ossos/cartilagens das articulações/Outros locais e NE Pele Mama Útero porção NE Próstata Outros órgãos urinários e NE Encéfalo Glândula tireóide Outra localização e mal definidas Sem especificação de localização Outra localização e mal definida do aparelho respiratório org intrat Carcinoma in situ de outra localização e das NE Leucemia de tipo celular NE TOTAL N de casos 1 1 3 8 6 1 2 10 3 5 1 2 2 4 3 8 2 4 1 4 10 1 1 1 84 De fato, foi expressivamente alto (acima de 70%) o percentual de pessoas (homens e mulheres) que responderam que têm ou que já tiveram algum membro da família com câncer (Figura 35a), muito embora entre os próprios entrevistados a quantidade de pessoas que afirmou que tem ou teve algum tipo de câncer foi baixa (apenas 1%) (Figura 35b). 115 a b 1% 21% 27% 72% sim não 79% sim não respondeu não Figura 35. Percentagem dos agricultores (homens e mulheres) que trabalham na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, PB, entrevistados em 2007 e que responderam às questões quanto à: (a) se tem ou já teve algum tipo de câncer e (b) se te ou teve alguma pessoa da família com câncer. A análise do pulso segundo a técnica da medicina tradicional chinesa (Pulso Constitucional), realizado com os agricultores do açude Boqueirão, evidenciou que 76% das mulheres examinadas apresentaram pulso do tipo 2 (Figura 36) enquanto que nos homens o pulso predominante foi o do tipo 4 (Figura 37). 12% 0% 12% Pulso 1 Pulso 2 Pulso 3 Pulso 4 76% Figura 36. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional, nas mulheres agricultoras do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme pesquisa de campo realizada em 2007. 116 2% 10% Pulso 1 22% Pulso 2 Pulso 3 Pulso 4 66% Figura 37. Percentagens dos diferentes tipos de pulsos constitucional, dos homens agricultores do açude Epitácio Pessoa, PB, conforme pesquisa de campo realizada em 2007. Os exames das mãos (Figuras 38 a,b) evidenciaram que todos os sujeitos portadores do pulso tipo IV apresentaram a linha da vida semelhante, mostrando-se nítida, profunda, contínua e longa, indo desde o 1/3 médio entre o polegar e o indicador até a prega do punho, tangenciando uma linha virtual que passa no meio da mão, vindo do dedo médio até o meio do 1/3 distal do antebraço, próximo aos tendões flexores palmar do carpo, indicando, essa característica, que seu portador tem boa vitalidade e resistência física. Nos portadores de pulso tipos II a linha da vida apresentou-se menos curta do que nos do tipo IV, e descontínua. Os exames da língua evidenciaram quatro tipos de língua, com prevalência nos homens as línguas pálidas, aumentadas de volume e com marcas dos dentes nos bordos (Figura x), e nas mulheres, as línguas de coloração vermelha e/ou vermelho-escuro, pontos vermelho na ponta da língua e lisa (Figura 4). 117 a b a Figura 38 – Linha da vida que predominou nos pulsos dos tipos II (a) e IV (b), conforme dados levantados em 2007, nos agricultores do açude Epitácio Pessoa, PB. a b Figura 39 – Línguas que predominaram nos agricultores com pulso tipo II (a) e tipo IV (b), conforme dados levantados em 2007, no açude Epitácio Pessoa, PB. Os exames de agrotóxicos realizados no exemplar do peixe Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) do açude Epitácio Pessoa, e nas amostras de tomate provenientes das plantações existentes nas margens do referido açude, realizados no Laboratório de Toxicologia do ITEP (LABTOX/ITEP), surpreendentemente não indicaram a presença de nenhum composto, a não ser nas amostras de tomate colhidas exatamente no momento da pulverização do veneno, em que se constatou a presença de um 118 organofosforado, porém em concentrações abaixo do limite de referência (Tabela 14). Tabela 14. Resultados dos exames de agrotóxicos em Hoplias malabaricus (Bloch, 1794) do açude Epitácio Pessoa, e em tomates provenientes das margens desse mesmo açude, realizados no Laboratório de Toxicologia do ITEP, em março de 2008. Material examinado Peixe (H. malabaricus) Tomate adquirido no mercado local, produzido nas margens do açude Tomate colhido no momento da pulverização com fungicida Qtde 2000 g 3000 g Agrotóxicos encontrados ausente ausente 3000 g Ciclofól Qtde Limite de detectada referência 0,05 ppm 0,01 ppm As anamneses evidenciaram 43 tipos de sintomas nos agricultores e agricultoras do açude Epitácio Pessoa (Tabela 15). Os que mais se destacaram entre as mulheres foram: tontura (70%), cefaléia (60%), insônia (50%), conjuntivite (45%), náuseas (45%), câimbras nos membros inferiores (35%), dor lombar (35%), dormência nos membros inferiores (25%), zumbido no ouvido (25%), dor precordial (20%), sono não reparador (20%), dor nos membros inferiores (20%), rinite (20%), gastrite (20%), prurido na pele (20%) e epistaxe (20%). E entre os homens: cefaléia (46,8%), conjuntivite (32,5%), tontura (32,5%), gastrite (26%), câimbras (20,8%), epistaxe (18,2%), zumbido (18,2%), ansiedade (18,2%), prurido na pele (16,9%), dor lombar (15,6%), dormência nos membros inferiores (14,3%), formigamento (14,3%), sinusite (13%), insônia (12%), dor nos membros inferiores (11,7%), náuseas (10,4%) e hipertensão (10,4%). O tratamento estatístico relativo à análise de correlação (Pearson) entre os exames de sangue e os mineralogramas evidenciou fortes correlações significativas nas mulheres num maior número de variáveis, do que nos homens (Tabelas 16, 17). Os resultados dos testes-t, por sua vez (Tabela 18, 19), evidenciaram que as diferenças entre os indivíduos 119 pulso II e pulso IV são significativas para as variáveis TGO, CD4%, Conilesterase plasmática, Hemáceas, Hemoglobina e Hematócritos dos exames de sangue, e para as variáveis Ba, Ca e Mg dos mineralogramas. Tabela 15. Principais sintomas registrados nas anamneses realizadas entre os agricultores do município de Boqueirão no ano de 2007. Em amarelo, os valores que mais se destacaram para cada sexo. Sintomas Cefaléia Epistaxe Zumbido Hipertensão Coceira Gastrite Conjuntivite Cãibras Náuseas Dormência MI Formigamento Sobressalto Tontura Sinusite Rinite Ansiedade Empachamento Rouquidão Insônia Frieza Dor Membros inferiores (MI) Enxaqueca Diarréia Dor Lombar Dor Precordial Sono Não Reparador Baixa Audição Impotência Fadiga Epicondilite Memória Fraca Fotofobia Infarto Tremor/Mãos Amidalite Urgência Urinária Gripes freqüentes Gases Intestinais Hipotireoidismo Diabetes Frieza Diarréia Angustia Homens (%) 46,8 18,2 18,2 10,4 16,9 26,0 32,5 20,8 10,4 14,3 14,3 1,3 32,5 13,0 7,8 18,2 6,5 0,0 13,0 1,3 11,7 2,6 1,3 15,6 7,8 7,8 1,3 2,6 9,1 1,3 2,6 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 1,3 Mulheres (%) 60,0 20,0 25,0 15,0 20,0 20,0 45,0 35,0 45,0 25,0 15,0 10,0 70,0 15,0 20,0 10,0 10,0 5,0 50,0 0,0 20,0 0,0 0,0 35,0 20,0 20,0 5,0 - 120 Tabela 16. Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e mineralogramas do cabelo para o sexo masculino. Correlações marcadas em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=44). ‘ angue AL D8 PL CE G T O NO Al As Au B I K 0,4 6 0,4 2 0,2 3 0,1 1 0,0 4 0,1 2 0,1 7 0,1 3 0,2 8 0,0 2 0,1 5 0,0 5 0,1 5 0,3 4 0,1 6 0,2 8 0,2 6 0,2 9 0,0 4 0,1 5 0,2 9 -0,35 0,12 -0,15 0,21 -0,37 -0,24 0,08 0,25 0,12 -0,14 -0,04 0,38 0,21 -0,11 -0,02 Li Mg Mn Na Ni P -0,41 -0,12 -0,14 -0,32 -0,22 ,32 -0,34 -0,22 0,24 0,03 -0,28 -0,09 -0,08 -0,01 -0,12 0,26 -0,15 0,08 -0,05 -0,26 0,36 0,22 -0,01 -0,05 0,11 -0,09 0,12 -0,17 -0,11 -0,05 -0,12 0,06 -0,09 0,25 -,15 -0,03 -0,20 0,12 -0,05 0,31 -0,11 -0,06 -0,00 -0,04 0,01 0,13 -0,13 -0,25 -0,07 -0,06 0,08 Pb S Sc Ti V Z ,03 ,32 -,43 -0,15 -,041 -,43 0,27 -0,34 0,29 -0,28 -0,17 -0,17 -,26 -0,12 -0,07 -0,02 -0,08 -0,05 -0,10 -0,09 ,01 0,22 0,37 -0,21 0,16 -0,17 0,19 -0,05 0,13 ,28 0,42 -0,19 -0,06 0,14 -0,12 0,13 -0,14 -0,08 -0,04 -,23 -0,02 0,14 -0,15 0,05 0,11 -0,13 0,12 -0,09 -0,16 -0,08 -,11 -0,15 -0,13 -0,01 -0,09 -0,01 0,15 -0,02 0,17 -0,22 -0,14 -0,14 -,16 -0,10 -0,11 0,00 0,39 -0,10 -0,22 -0,07 0,05 -0,07 -0,01 -0,35 0,03 -,06 -0,07 0,19 0,33 0,10 0,07 0,16 0,32 -0,12 0,16 -0,11 0,28 -0,10 0,12 ,33 -0,17 -0,02 -0,02 0,05 -0,06 -0,08 -0,01 0,08 0,03 0,00 0,02 -0,06 0,16 0,11 ,12 -0,11 -0,19 -0,08 0,20 0,30 0,09 -0,08 0,15 0,41 -0,05 0,03 -0,05 0,17 0,13 0,15 ,36 0,13 -0,02 0,15 -0,07 0,06 -0,07 0,06 0,19 0,01 -0,12 -0,12 -0,02 -0,12 0,07 -0,26 -0,04 -,07 -0,13 0,09 0,04 0,03 -0,12 -0,07 -0,07 -0,25 -0,07 -0,11 -0,02 -0,15 -0,01 -0,09 -0,23 -0,04 ,01 0,10 0,07 -0,12 -0,04 -0,12 -0,17 -0,18 -0,25 -0,15 -0,15 0,06 -0,06 0,06 -0,17 0,07 -0,14 -,23 -0,11 0,13 0,03 0,11 -0,20 -0,16 -0,14 -0,06 -0,14 -0,21 0,13 -0,06 0,14 -0,22 -0,10 -0,17 -,10 -0,16 0,18 0,03 0,08 -0,21 -0,24 -0,13 -0,07 -0,16 -0,20 0,16 0,01 0,16 -0,27 -0,04 -0,29 -,17 -0,16 0,14 0,05 0,08 -0,20 -0,22 -0,12 -0,07 -0,15 -0,24 0,13 0,01 0,13 -0,24 -0,03 -0,26 -,14 -0,20 0,19 -0,13 0,15 -0,26 -0,24 -0,08 -0,14 -0,24 -0,01 0,28 0,09 0,30 -0,31 0,15 -0,34 -,12 0,13 -0,19 -0,04 -0,11 0,12 0,26 0,06 -0,04 0,14 0,22 -0,16 -0,01 -0,17 0,21 0,02 0,17 ,30 -0,03 -0,11 0,05 -0,15 -0,03 -0,08 0,21 0,20 -0,09 -0,07 0,03 -0,20 -0,01 -0,06 -0,02 -0,16 ,06 -0,20 0,04 -0,11 0,07 -0,23 -0,21 0,00 -0,12 -0,23 -0,06 0,12 -0,15 0,10 -0,20 0,02 -0,13 ,01 121 0,0 2 0,2 1 0,2 1 -0,11 0,13 -0,09 0,13 -0,06 0,08 0,08 0,03 -0,14 0,22 0,19 -0,20 0,19 -0,05 0,24 -0,14 ,23 -0,27 0,34 -0,12 0,22 -0,42 -0,27 -0,15 0,10 -0,40 -0,30 0,41 -0,018 0,40 -0,38 0,17 -0,39 -0,2 -0,27 0,32 -0,10 0,24 -0,40 -0,28 -0,15 0,08 -0,39 -,030 0,39 -0,19 0,39 -0,38 0,20 -0,40 -0,2 Tabela 17. Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e mineralogramas do cabelo para o sexo feminino. Correlações marcadas em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=17). Sangue UREIA CREAT GLICE FOSF-AL GGT TGO TGP CD4% CD4Tt CD8% CD8Tt CD4/CD8 COL_PL COL_EN HEMACE HEMOG HEMAT LEUCO LINFO EOSIN PLAQUE Bbd Bbind Bbt Ag ,96 1,0 ,06 ,12 ,95 ,88 ,90 ,85 -,63 ,93 -,33 ,96 1,0 -,78 1,0 ,99 ,98 -,58 ,87 ,97 -,55 1,0 1,0 1,0 As ,67 ,68 -,02 -,02 ,60 ,59 ,67 ,59 -,61 ,68 -,31 ,64 ,66 -,58 ,67 ,67 ,61 -,51 ,59 ,65 -,30 ,68 ,68 ,68 B ,96 1,0 ,07 ,12 ,95 ,88 ,90 ,85 -,62 ,92 -,33 ,96 1,0 -,78 1,00 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,56 1,0 1,0 1,0 Ba ,94 ,97 ,24 ,23 ,95 ,92 ,91 ,84 -,49 ,91 -,28 ,91 ,97 -,76 ,97 ,97 ,97 -,54 ,85 ,94 -,49 ,97 ,97 ,97 Be ,97 1,0 ,07 ,13 ,95 ,88 ,90 ,85 -,61 ,93 -,32 ,96 1,00 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,55 1,0 1,0 1,0 Bi ,97 1,0 ,07 ,13 ,95 ,88 ,90 ,85 -,61 ,93 -,32 ,96 1,0 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,56 1,0 1,0 1,0 Ca -,16 -,18 ,93 ,74 ,02 ,21 ,05 -,05 ,65 -,16 ,24 -,21 -,17 ,24 -,18 -,16 -,16 ,11 -,13 -,21 ,22 -,18 -,18 -,17 Cdi ,97 1,0 ,07 ,13 ,95 ,88 ,90 ,85 -,61 ,93 -,32 ,96 1,0 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,55 1,0 1,0 100 Co ,97 1,0 ,07 ,13 ,95 ,88 ,90 ,85 -,61 ,93 -,32 ,96 1,0 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,55 1,0 1,0 1,0 Cr ,97 1,0 ,07 ,13 ,95 ,88 ,90 ,85 -,61 ,93 -,32 ,96 1,0 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,55 1,0 1,0 1,0 Fe ,83 ,80 ,46 ,37 ,90 ,93 ,90 ,75 -,28 ,75 -,21 ,77 ,81 -,67 ,80 ,81 ,81 -,47 ,75 ,79 -,42 ,80 ,81 ,81 Ge ,97 1,0 ,07 ,13 ,95 ,88 ,90 ,85 -,61 ,93 -,32 ,96 1,00 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,55 1,0 1,0 1,0 Hg ,97 1,0 ,07 ,12 ,95 ,88 ,90 ,85 -,61 ,93 -,33 ,96 1,0 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,56 1,0 1,0 1,0 I ,97 1,0 ,07 ,13 ,96 ,89 ,91 ,86 -,61 ,93 -,32 ,96 1,0 -,79 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,56 1,0 1,0 1,0 Li ,97 1,0 ,07 ,13 ,95 ,88 ,90 ,85 -,61 ,93 -,32 ,96 1,0 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,98 -,55 1,0 1,0 1,0 Mg -,04 -,06 ,95 ,79 ,16 ,35 ,20 ,06 ,57 -,05 ,18 -,09 -,05 ,17 -,06 -,05 -,05 ,04 -,03 -,10 ,10 -,06 -,06 -,06 Mn ,96 1,0 ,10 ,16 ,95 ,89 ,90 ,85 -,57 ,92 -,30 ,95 1,0 -,78 1,0 ,99 ,98 -,57 ,87 ,97 -,54 1,0 1,0 1,0 122 Tabela 17 (continuação). Matriz de correlação (Pearson) entre as variáveis de sangue e mineralogramas do cabelo para o sexo feminino. Correlações marcadas em vermelho são significantes a p < 0,05 (N=17). Sangue UREIA CREAT GLICE FOST_AL GGT TGO TGP CD4% CD4Tt CD8% CD8Tt CD4/CD8 COL_PL COL_EN HEMACE HEMOG HEMAT LEUCO LINFO EOSIN PLAQUE Bbd Bbind Bbt Mo 0,60 0,68 -0,01 0,17 0,61 0,55 0,58 0,67 -0,42 0,59 -0,33 0,65 0,67 -0,41 0,67 0,68 0,66 -0,33 0,55 0,70 -0,41 0,68 0,68 0,68 Na ,05 0,13 -0,13 0,02 0,04 0,03 0,06 -0,05 -0,14 0,19 0,17 0,07 0,13 0,12 0,13 0,14 0,12 0,20 0,14 ,012 -0,05 0,13 0,13 0,13 Ni 0,97 1,00 0,12 0,18 0,96 0,90 0,91 0,86 -0,58 0,93 -0,31 0,96 1,0 -0,77 1,0 0,99 0,98 -0,57 0,87 0,97 -0,55 1,0 1,0 1,0 Pb 0,94 0,99 0,08 0,15 0,94 0,87 0,88 0,83 -0,61 0,91 -0,32 0,95 0,99 -0,77 0,99 0,98 0,97 -0,58 0,84 0,96 -0,58 0,99 0,99 0,99 Pd 0,97 1,0 0,07 0,13 0,95 0,88 0,90 0,85 -0,61 0,93 -0,32 0,96 1,0 -0,78 1,0 0,99 0,98 -0,57 0,87 0,98 -0,55 1,0 1,0 1, 0 Sb 0,97 1,0 0,07 0,13 0,95 0,88 0,90 0,85 -0,61 0,93 -0,32 0,96 1,0 -0,78 1,0 0,99 0,98 -0,57 0,87 0,98 -0,55 1,0 1,0 1,0 Sc 0,97 1,0 0,07 0,13 0,95 0,88 0,90 0,85 -0,61 0,93 -0,32 0,96 1,0 -0,78 1,0 0,99 0,98 -0,57 0,87 0,98 -0,55 1,0 1,0 1,0 Se 0,97 1,0 0,07 0,13 0,95 0,88 0,90 0,85 -0,61 0,93 -,32 0,96 1,0 -0,78 1,0 0,99 0,98 -0,58 0,87 0,98 -0,56 1,0 1,0 1,0 Sn 0,97 1,0 0,09 0,15 0,95 0,89 0,91 0,86 -0,60 0,93 -0,32 0,96 1,0 -0,78 1,0 0,99 0,98 -0,57 0,87 0,98 -0,55 1,0 1,0 1,0 Sr 0,93 0,96 0,31 0,32 0,96 0,95 0,93 0,84 -0,40 0,90 -0,23 0,90 0,96 -0,72 0,96 0,96 0,96 -0,50 0,86 0,92 -0,46 0,96 0,96 0,96 Ti 0,95 1,0 0,06 0,12 0,94 0,87 0,89 0,84 0-,62 0,92 -0,33 0,95 1,0 -0,76 1,0 0,99 0,98 -,56 0,86 0,97 -0,56 1,0 1,0 1,0 Th 0,97 1,0 0,07 0,13 0,95 0,88 0,90 0,85 -0,61 0,93 -0,32 0,96 1,0 -0,78 1,0 0,99 0,98 -0,57 0,87 0,98 -0,55 1,0 1,0 1,0 U 0,97 1,0 0,07 0,13 0,95 0,88 0,90 0,85 -0,61 0,93 -0,32 0,96 1,0 -0,78 1,0 0,99 0,98 -0,57 0,87 0,98 -0,55 1,0 1,0 1,0 V 0,97 1,0 0,07 0,13 0,95 0,88 ,90 0,85 -0,61 0,93 -0,32 0,96 1,0 -0,78 1,0 0,99 0,98 -0,57 0,87 0,98 -0,55 1,0 1,0 1,0 Zr 0,60 0,68 -0,01 0,17 0,61 0,55 0,58 0,68 -0,42 0,59 -0,34 0,65 0,68 -0,41 0,68 0,68 0,67 -0,33 0,55 0,71 -0,42 0,68 0,68 0,68 Zn -,001 -0,04 0,95 0,82 0,16 0,35 0,20 0,12 0,59 -0,05 0,14 -0,06 -0,03 0,21 -0,04 -0,02 -0,03 0,06 -0,01 -0,08 0,14 -0,04 -0,04 -0,03 123 Tabela 18. Teste-t para as variáveis dos exames de sangue, comparando o pulso II com o pulso IV. Sangue Média Pulso II Média Pulso IV T df p Pulso II (n) Pulso IV (n) F-ratio variancs Uréia Creatinina Glicemia Fosfat. Al. GGT TGO TGP CD4 % CD4 total CD8 % CD8 total CD4/CD8 Colin-PL Colin-EN Hemáceas Hemoglobina Hematócrito Leucócitos Linfócitos Eosinófilos Plaquetas 28,0±4,1 0,7±,2 77,0±14,8 74,0±20,8 15,1±5,1 20,3±6,9 29,1±7,7 47,0±6,1 1036,1±262,6 21,5±8,5 511,4±324,1 3,2±3,6 8,1±1,1 468,0±81,4 4,6±0,4 12,5±2,7 39,5±2,6 6861,5±2502,8 26,3±11,3 4,6±5,7 267461,5±1022 17,6 0,2±0,2 0,4±0,2 0,6±0,3 31,3±5,61 0,8±0,16 80,3±26,45 86,5±29,86 23,3±19,56 24,8±5,68 32,4±5,71 41,5±6,48 956,1±406,66 24,5±7,69 572,5±311,31 1,9±0,98 9,2±1,20 470,8±78,63 5,3±0,39 14,8±1,24 44,8±3,52 6955,2±1964,07 32,0±7,80 4,6±2,29 238379,3±67203,54 -1,92 -1,95 -0,40 -1,360 -1,49 -2,230 -1,57 2,58 0,65 -1,11 -0,58 1,77 -3,03 -0,11 -5,01 -3,92 -4,809 -0,13 -1,88 -0,00 1,10 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 40 0,062 0,058 0,679 0,181 0,145 0,031 0,124 0,013 0,520 0,273 0,565 0,084 0,004 0,916 0,000 0,000 0,000 0,896 0,067 0,996 0,279 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 13 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 29 1,83194 1,11538 3,18401 2,05458 14,85835 1,47627 1,81171 1,10949 2,39820 1,22145 1,08381 13,17986 1,17620 1,07060 1,27844 4,70114 1,89124 1,62388 2,10041 6,27843 2,31349 0,2±0,2 0,5±0,3 0,7±0,4 -0,25 -0,19 0-,53 40 40 40 0,799 0,847 0,602 13 13 13 29 29 29 1,02874 1,99996 2,56293 Bilerrubinas Bilir_Ind Bilir_Total 124 Tabela 19. Teste-t para as variáveis dos exames de sangue, comparando o pulso II com o pulso IV. Minerais Ag Al As Au B Ba Be Ca Cd Co Cr Cu Fe Ge Hg Li Mg Mo Ni Se Sr V Zn Média ± DP Pulso II 1,18 ±1,9 48,90±56,1 0,06±0,0 0,01±0,0 0,36±1,1 6,99±5,2 0,04±0,0 688,54±341,7 0,08±0,1 0,06±0,0 0,54±0,1 375,42±1093,7 24,02±11,1 0,01±0,0 0,37±0,4 0,05±0,0 109,85±53,0 0,04±0,0 0,31±0,2 0,81±0,3 6,69±4,2 0,30±0,1 86,17±37,1 Média ± DP Pulso IV T df p 0,47±1,31 43,96±42,52 0,08±0,05 0,00±0,00 0,20±0,49 3,87±2,15 0,03±0,03 380,28±201,85 0,04±0,03 0,05±0,03 0,65±0,30 11,23±3,14 31,53±25,75 0,01±0,0 0,34±0,27 0,05±0,02 62,57±36,74 0,03±,02 0,37±0,27 0,85±0,27 2,91±2,01 0,25±0,11 140,20±76,40 1,22 0,27 -0,57 2,03 0,61 2,49 0,19 3,24 1,34 0,53 -1,04 1,71 -0,84 -0,14 0,24 -0,07 2,94 0,89 -0,63 -0,41 3,57 0,92 -2,02 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 32 0,232 0,785 0,570 0,051 0,544 0,018 0,848 0,003 0,190 0,598 0,305 0,096 0,407 0,890 0,809 0,946 0,006 0,380 0,530 0,685 0,001 0,363 0,051 Pulso II (n) 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 9 Pulso IV (n) F 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 25 2,2 1,7 1,0 9,8 5,0 6,0 1,0 2,9 3,5 1,3 4,2 121492,5 5,4 1,0 1,9 1,7 2,1 1,0 2,8 1,0 4,4 1,9 4,2 125 7.- Discussão O que é a vida? É o brilho de um vagalume na noite. É a respiração de um búfalo no inverno. É a breve sombra que corre sobre a grama e some ao pôr–do-sol (Pé-de-Corvo. Grande caçador, bravo guerreiro e orador eloqüente da tribo dos PésPretos, Canadá). 7.1- O homem, o meio e os agrotóxicos O manejo inadequado do solo da área estudada, em conjunto com a utilização de água com altos teores de sais, sistemas de irrigação superficial por gravidade, quantidades indiscriminados de fertilizantes e agrotóxicos, e, condições climáticas adversas, foram fatores que contribuíram de forma significativa para o desprovimento da cobertura vegetal dos solos, que são rasos e pobres, tornando-os susceptíveis à erosão e acelerando o processo de degradação ambiental. Estes indicadores favorecem, por conseguinte a desertificação (Franco et al., 2007), sendo essa região bioclimática do Estado da Paraíba onde este processo se expande de forma mais expressiva. A perda de qualidade ambiental decorrente da redução da cobertura vegetal, somada ao uso de agrotóxicos pela agricultura irrigada nas margens do açude, configura esta área como de risco ambiental e à saúde humana, merecendo a mesma a necessidade de um monitoramento contínuo, e de atenção especial por parte do poder público, no que concerne ao uso do espaço e dos recursos hídricos. Seguramente precisamos aumentar a produção agrícola para atender as demandas de uma população crescente. Mas uma área de 100 ha irrigados consome água suficiente para o abastecimento diário de uma cidade com população de 48.000 habitantes, e 1 kg de agrotóxicos é suficiente para contaminar 1 bilhão de litros de água (SEMARH, 2008). Neste modelo, não há como deixar de se preocupar, principalmente quando consideramos áreas de fragilidade ambiental extrema, como é o caso da região semi-árida brasileira, onde os recursos hídricos escassos são mal gerenciados, as práticas de manejo do solo inadequadas, e os 126 perigos de contaminação dos mananciais com agrotóxicos seguidos pela eutrofização decorrente do uso de fertilizantes e outras práticas são certezas que deveriam ser evitadas a todo custo. A visão que se tem a partir das entrevistas efetuadas com os agricultores que usam agrotóxicos às margens do açude Boqueirão é que eles têm pouca ou nenhuma percepção das conseqüências desses produtos ao meio ambiente. O perigo se agrava ainda mais, porque usualmente eles utilizam quantidades acima dos limites recomendados, o que acaba por exigir cada vez mais quantidades maiores, o que pode resultar no aparecimento de novas pragas, visto que a literatura mostra que muitas espécies, particularmente insetos e ácaros, acabam por se tornarem resistentes (Augusto, 1997). Agrotóxicos contaminam a água e o solo, e também se dispersam pelo ar por longas distâncias (Krümmel, et. al., 2003), podendo atingir representantes benéficos da fauna e da flora mesmo distantes do seu local de aplicação. Insetos benéficos incluem não somente aqueles que produzem substâncias economicamente importantes, como as abelhas, mas também aqueles que polinizam plantas ou que são predadores naturais de pragas como algumas joaninhas e o louva-a-deus. Nos ambientes aquáticos os efeitos dos agrotóxicos podem ser tanto de natureza imediata (morte da fauna e da flora aquática), ou de longo prazo (processo de biomagnificação). Organofosforados e piretróides são pouco persistentes, assim exercem uma ação mais imediata. Organoclorados são persistentes, logo, amplificam-se ao longo das cadeias alimentares. No meio aquático, alguns produtos, como o inseticida fosforado Malathion alteram a atividade fotossintética de plantas, geralmente aumentando-a em concentrações de 1 até 5 ppm, como mecanismo de compensação do metabolismo de algumas espécies; a mistura de Gramoxone + Goal + V 42 D – FLUID 2,4 D à 5ppm provoca um efeito inibitório da fotossíntese, enquanto que os herbicidas Gramoxone + Goal + 127 V 42 D – FLUID 2, 4 D e Gramoxone + Adefix tem um maior efeito inibitório sobre a respiração (Watanabe et al, 1994). Alguns peixes também apresentam alterações comportamentais e problemas no sistema hepático quando expostos a inseticidas fosforados. O curimbatá (Prochilodus scrofa), por exemplo, mostra agitação, perda de equilíbrio com natação lateral, movimentos descontínuos, hepatócritos tumefatos, granulações citoplasmáticas, desorganização de células hepáticas, com áreas de necrose, entre outros problemas, quando expostos a concentração de Dipterex 500 de 0,2µL/L, em tempos de exposição de 24 e 48 horas (Rodrigues et al, 1996). Nascimento et al (1995) também demonstraram que o organofosforado Folidol, causa problemas cardíacos no molusco de água doce Pomacea lineata (comum em açudes e lagos do nordeste) quando exposto a concentrações menores que 0,05 ppm, e que em concentrações mais elevadas, este organismo tende a diminuir seu ritmo cardíaco. Segundo os autores a atividade cardíaca é mediada pela acetilcolina e os organofosforados são inibidores da acetilicolinesterase. Salmões (Onchorhynchus nerka) contaminados com PCBs (Policlorinados bifenilos), em áreas marinhas do Pacifico Norte levam esses produtos para os locais de desova na cabeceiras do lagos do Alaska a longas distâncias, contaminando as cadeias alimentares locais. PCBs em concentrações de menos de 1 ng/L nas águas oceânicas são concentrados para até 2500 ng/g em lipídeos do Salmão, o que significa que 1 milhão de salmões adultos podem transportar mais do que 0,16 kg de PCBs para a sua área de desova (Krümmel et al. 2003). No solo, alguns agrotóxicos são persistentes e podem ter um elevado efeito residual, o que representa um efeito adicional sobre a microbiota edáfica, reduzindo os microorganismos importantes na fertilização (biomineralizadores da matéria orgânica e fixadores de nitrogênio), ou percolando para níveis mais profundos do sedimento, contaminando a água subterrânea. 128 Garcia (1998) comenta que alguns agrotóxicos particularmente herbicidas, são voláteis, o que representa riscos adicionais, particularmente quando aplicados em solo exposto à ação solar e com pouca ou nenhuma cobertura vegetal, o que exigiria cuidados com os horários de aplicação, controle da umidade do ar, velocidade do vento, e temperatura, aspectos estes que, segundo o autor é quase impossível de se efetivar na prática, quer seja pela ausência de programas de formação técnica do trabalhador, ou os custos elevados para adquirir instrumentos de medição. Os organoclorados em particular são muito persistentes no solo, podendo ser encontrados até cerca de 2 a 5 anos após sua utilização. Por isso, são capazes de se dispersarem por longas distâncias e serem acumulados ao longo das cadeias alimentares. A título de exemplo, amostras de vegetais no interior de São Paulo, analisadas pelo Instituto Biológico de São Paulo, encontraram resíduos de DDT em locais onde ele não havia sido aplicado (Garcia,1996). Mas alguns inseticidas, particularmente os organofosforados são pouco persistentes, ou seja, degradam mais rapidamente no solo. O malathion, por exemplo, é sujeito a hidrólise antes de ser degradado pelos microorganismos do solo. Os carbamatos têm persistência reduzida no solo; facilmente são degradados por microorganismos, através da hidrólise química ou enzimática (Musumeci et al:1992). Entre os carbamatos, o carbaryl parece ter maior persistência, pois em solos pobres ele foi encontrado após 10 semanas, e em solo enriquecido se degradou em 6 semanas. Os organofosforados e carbamatos estão entre os tipos mais utilizados no açude Boqueirão (Ieno, et al., 2006; neste trabalho), mas eles não são persistentes, visto que após sua aplicação permanecem apenas de 1 a 12 semanas no solo. Entretanto, a questão dos perigos que esses produtos podem oferecer à saúde humana baseia-se nos limites de tolerância que são estabelecidos pela Ingestão Diária Aceitável (IDA), que 129 corresponde a quantidade máxima que ingerida diariamente durante toda a vida não deverá oferecer riscos a saúde do indivíduo. O valor é expresso em mg de agrotóxico/Kg de peso corpóreo. O que se vê usualmente é que o limite de tolerância não é respeitado, comprometendo a saúde do consumidor. Martins (1997) comenta que os efeitos crônicos retardados através da ingestão de alimentos contaminados têm gerado grande preocupação a nível mundial. Ressalta-se, entretanto, que no cálculo do IDA não se leva em conta diferenças individuais quanto ao limiar de toxicidade de cada indivíduo. Uma das grandes preocupações acerca do uso dos agrotóxicos é a incidência de câncer, tanto em trabalhadores rurais como entre os consumidores de alimentos contaminados. Nos EUA, estima-se que 20.000 pessoas podem morrer de câncer anualmente devido às pequenas quantidades de agrotóxicos presentes nos alimentos, o que significa dizer, em outras palavras, que mesmo ausentes, ou presentes em quantidades traço, não se deve menosprezar sua capacidade de contaminação em humanos. Nesta pesquisa foram constatados 82 casos de câncer no período de 1996 a 2007, no município de Boqueirão. Mas este número pode estar subestimado, visto que muitos agricultores entrevistados afirmaram que têm ou já tiveram casos de câncer em suas famílias. Assim, espera-se que um maior número óbitos por câncer deve existir na área, sem contar ainda com outras doenças provocadas pelos agrotóxicos. Ressalta-se, aliás, a maioria dos entrevistados é morador antigo da área, não se descartando assim possibilidades de intoxicações crônicas nessas pessoas que durante décadas tem feito uso freqüente de agrotóxicos em suas atividades laborais. Mas, surpreendentemente, os resultados dos exames de agrotóxicos efetuados no Laboratório de Toxicologia do ITEP não evidenciaram a presença de agrotóxicos nem no peixe analisado (Hoplias malabaricum) nem nas amostras de tomate. Esses resultados a nosso ver parecem 130 equivocados, sendo plausível considerar-se que houve falhas nessas análises por parte desse laboratório que é considerado como sendo de referência, haja vista a grande quantidade de diferentes tipos de veneno que é utilizada na agricultura local, e que foi exaustivamente documentada através de registros fotográficos nesta pesquisa. Aliás, dados recentes fornecidos pela ANVISA, comprovam que cerca de 40% do tomate e do morango consumidos pelos brasileiros contêm vestígios irregulares de agrotóxicos. Esses dados foram divulgados em 23/04/2008 e constam do relatório do Programa Nacional de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) (ANVISA, 2008; Lourenço, 2008). Ressalta-se, aliás, que as amostras de tomate obtidas no momento da colheita para comercialização estavam sendo pulverizadas com o fungicida sistêmico Cercobin 700, um produto considerado de baixa toxicidade aguda (classse IV) que pode causar irritações da pele e dos olhos, mas de alta toxicidade ambiental (classe II) por ser altamente persistente no meio ambiente e altamente tóxico para organismos aquáticos e para minhocas. Esses dados contrastam com os inúmeros casos de câncer registrados em Boqueirão e já referidos acima, como também contrastam com a expressiva quantidade de pessoas que trabalham na agricultura irrigada no açude Epitácio Pessoa, que apresentam problemas hepáticos e renais, órgãos que na Medicina Tradicional Chinesa são associados aos elementos madeira e água, onde produtos tóxicos são metabolizados. Frente a esses dados, é no mínimo plausível considerar-se que, de fato são os agrotóxicos os principais responsáveis pelos danos clínicos e alterações nos exames laboratoriais (exames de sangue e mineralogramas), bem como na maioria dos óbitos por câncer observados. A produção de tomates nas margens do açude Epitácio Pessoa chegou a 59.200 toneladas/ano entre 1981/85, caiu para 28.600 ton/ano dez anos depois, baixando para 1.560 ton/ano na década seguinte (20012004) (IBGE. Produção agrícola municipal. 1970-2004). Tal redução é um 131 indício de que houve melhoria de qualidade ambiental, haja vista que houve uma significa redução no consumo de defensivos agrícolas e fertilizantes, e mesmo com tal redução ainda é alto o consumo de agrotóxicos na área, e pessoas que a pelo menos 15 anos atrás estiveram expostas a grandes quantidades de agrotóxicos podem hoje apresentar sintomas de contaminação crônica. Ainda, mesmo com a ação cautelar 570, Classe XII, impetrada pelo Ministério Público Estadual contra o DNOCs em 03/03/1999, obrigando o fechamento das comportas e suspensão da irrigação com o lacre das motobombas a montante do açude, e limitando o uso da água para o abastecimento humano e animal ainda é expressiva as práticas agrícolas nas margens do açude Epitácio Pessoa, baseadas na utilização de agrotóxicos, visto que efetivamente não foram oferecidas aos agricultores nenhum estimulo financeiro para outras atividades produtivas e nenhum incentivo para que práticas economicamente e ecologicamente sustentáveis fossem desenvolvidas, entendendo-se desta forma que a atitude tomada representou um tipo de repressão sem opção. Mesmo que todos os agricultores fossem suficientemente instruídos a respeito dos perigos ecológicos e à saúde humana, que todos usassem equipamentos de proteção individuais, que todos dessem às embalagens um destino final adequado, ainda assim não se teria certeza de que nenhuma contaminação iria ocorrer. Contaminação zero com esses produtos é impossível, o que significa que riscos sempre existirão, mesmo que os cuidados aumentem. Seguramente a conscientização é um fator importante para minimizar danos ambientais e perigo à saúde publica. Em outras palavras, significa dizer que é necessário que se implante programas de educação ambiental que divulguem esses perigos junto às comunidades locais e despertem nessas comunidades o senso coletivo de respeito à saúde humana e à proteção ao meio ambiente. 132 O meio ambiente é um bem difuso, daí a importância do senso coletivo nas tomadas de decisões relativas a estes aspectos. Tentativas de informar o trabalhador sobre os perigos que correm e os perigos ambientais que causam quando usam agrotóxicos por si só não lograram êxito (Almeida, op. Cit.). A informação sozinha não produz mudanças de atitudes e de comportamento nas pessoas. Tais mudanças só ocorrem quando há o engajamento e a vontade de querer mudar. E em nossa sociedade, regida por um forte modelo capitalista e consumista, nem todos têm sensibilidade suficiente para entrar numa onda de mudanças se não tiverem a percepção real de que obterão algum ganho com isso, em curto prazo. Aliás, muitos agricultores entrevistados afirmaram que “todos que vieram aqui pesquisar só tem levado e não tem deixado nada em troca”. Como não há tal percepção, os processos produtivos continuam do mesmo jeito, os riscos ambientais aumentam e a qualidade ambiental dos ecossistemas e a qualidade de vida das populações declina, de forma preocupante. Mas não é somente a questão da renda que precisa ser considerada quando se pretende adotar processos de mudanças. Os problemas migram do capital para o mental, visto que mudanças nas atitudes e práticas cotidianas das pessoas poderiam resultar em angústia coletiva que seria necessário enfrentar em casos de mudanças. A questão do ganho e a questão do trabalho seriam talvez as principais amarras que antes precisariam ser desatadas em programas orientados para uma nova postura de prática produtiva que fosse mais ética e ecologicamente correta. Se não bastasse a questão da renda e do trabalho, existe ainda a questão dos riscos que precisam ser trabalhados nesses programas de conscientização coletiva. Geralmente eles não são percebidos pelos trabalhadores vez que a maioria não tem uma visão sistêmica dos problemas decorrentes do uso de agrotóxicos. E isso não é uma prerrogativa dos agricultores de Boqueirão; esses riscos também não são 133 percebidos em outros lugares, como demonstrou Guivant (1982) em Santa Catarina, e Almeida (1994), no rio Grande do Norte. Almeida (1994), em particular, considera que “a percepção de riscos do uso de agrotóxicos se apresenta relativamente modificada devido ao uso dos sistemas defensivos. A negação da possibilidade de adoecer, a não adoção de uso de Equipamentos de Proteção Individual, e outras situações levam a constatação da presença destes mecanismos. Os sistemas de defesa são geralmente engendrados por um coletivo em atividade de trabalho que apresentam riscos e geram medo. Num momento podem funcionar como proteção dos riscos e em um outro, para se defender do medo. Ambos permitem a execução do trabalho, garantindo a permanência no trabalho (do qual dependem) e, conseqüentemente, a sobrevivência de quem executa. A que preço isto acontece é deveras interrogador, pois em muitas situações os desafios ao perigo podem levar não só a deterioração da saúde como a própria morte pois se os trabalhadores neutralizam o medo, a exposição ao risco continua”. Frente aos problemas de risco, Almeida (1994), considera, ainda, que: “as defesas coletivas servem de certo modo para manter a saúde mental diante de um problema que eles têm de conviver, que não sabem a sua extensão e quais realmente seriam os meios confiáveis de garantir a saúde na execução do trabalho. Qualquer ação a ser desenvolvida com os trabalhadores tem que reconhecer que os mecanismos coletivamente estruturados para suportar o trabalho são de extrema importância e a quebra destes pode trazer sérias conseqüências de ponto de vista da saúde mental”. Dentre as práticas que parecem ser comum entre os agricultores do açude Epitácio Pessoa e que deveriam ser evitadas podemos citar: 1.a aquisição de agrotóxicos sem receituário agronômico, 2.a falta de cuidados com o manuseio do produto, incluindo neste caso, o preparo da calda, aplicação sem EPI e guarda e descarte das embalagens, 3.a ingestão de álcool por trabalhadores que passam veneno. Essas práticas também têm sido evidenciadas em outras localidades, conforme demonstrou Almeida 134 (2001), em plantadores de hortaliças do Rio Grande do Norte e AUGUSTO (1997) em pesquisa realizada em Camocim de São Félix, e previamente na mesma área objeto desta pesquisa por Kuleska et al. (2006). AUGUSTO (1997) chama a atenção ao fato de que o uso de álcool acarreta ainda maiores preocupações, pois tem um efeito potencializador da ação tóxica dos produtos químicos utilizados. De fato, pequenas mudanças que poderiam lograr algum êxito poderiam ser iniciadas pelo cumprimento da lei. O processo de utilização de agrotóxico, que envolve desde a compra até o descarte da embalagem, deveria seguir o que preconiza a lei 7.802/89, mas a mesma é totalmente desrespeitada. A aquisição que deveria ser feita mediante receituário agronômico, ou seja, a partir de uma visita feita por um engenheiro agrônomo ou florestal, estabelecendo-se um diagnóstico e uma prescrição específica para o problema detectado naquela cultura. Mas, o que acontece em Boqueirão segue a tendência nacional, em que esta prática não é observada. Os agricultores compram estes produtos sem grandes dificuldades, inclusive conforme observado por Adissi (1998), com receituários frios, onde o proprietário da loja vende o agrotóxico e o técnico prescreve a “posteriori” as receitas de acordo com os produtos vendidos. No tocante às embalagens as recomendações legais recomendam que elas não devam ser queimadas ou enterradas, nem muito menos jogadas no lixo ou no campo. No açude Boqueirão as pessoas têm dificuldade de relacionar a questão do descarte das embalagens com a contaminação do ambiente conforme observado neste trabalho, e também por Adissi (1998). No município do Conde, Sousa (2005) também observou que todos os agricultores que usam agrotóxicos não descartam as embalagens de forma correta. E que nenhum deles pratica a tríplice lavagem das embalagens, conforme deveria ser. Uns jogam-nas no campo ou no lixo e outros as queimam. Uns costumam espetar as embalagens nas varas condutoras das culturas de inhame, e outros reaproveitam as embalagens plásticas. 135 Ainda, conforme foi verificado em algumas das moradias visitadas durante esta pesquisa, há falta de cuidados com a guarda dos venenos no ambiente doméstico. O mesmo foi observado no município do Conde, onde os agricultores guardam esses produtos no ambiente doméstico, próximos de animais, crianças, alimentos, e sementes, e até mesmo dentro da cozinha (Souza, 2005). No que concerne ao uso de EPI em particular, chama a atenção o fato de que os agricultores de Boqueirão ou não usam ou o usam de forma incompleta. Aconteceu, por exemplo, durante visitas a área, de um agricultor aplicando veneno sem EPI, parou seu trabalho e foi calçar suas botas, e colocar o macacão para nos receber, mas continuou aplicando o veneno sem máscara e sem luvas. Sousa (2005) também constatou que no município do Conde, poucos usam EPI para aplicação dos agrotóxicos. Alguns que trabalham com agrotóxicos pulverizáveis, usam luvas, máscaras, botas e roupas compridas, mas nenhum usa o equipamento de proteção completo ou sem defeito. Singularidades como essa também foi observada por Almeida (2001) em pesquisa efetuada no Rio Grande do Norte. Mas outras práticas, como o horário de pulverização dos venenos, que quase sempre acontece na hora do sol forte, quando provavelmente o corpo absorve o produto com mais facilidade tanto por via dérmica como por via respiratória (Almeida, 2001) e a identificação das classes de risco dos produtos pela rotulagem das embalagens, são também fatos que necessitam de atenção. Almeida (2001) já referia o aspecto de que produtos que não sinalizam o perigo através da caveira são tratados como fracos ou mesmo como vitaminas. Este autor comenta, ainda, sobre o caso do Dithane, usado para combater fungos, que provoca nas folhas uma cor mais forte que é proveniente do Zinco e Manganês presentes na sua composição, que também atuam como micronutrientes, que os agricultores consideram que ele dá “mais furtidão às verduras” e que “não faz mal a ninguém”. Em Boqueirão, alguns relataram: “Não sinto cheiro de nada, doutor, tem perigo 136 não!”. Dentre os produtos apontados como perigoso o Tamaron BR, largamente usado na área é apontado como sendo perigoso, inclusive com relatos de casos de intoxicações. A advertência da caveira estampada no rótulo desses produtos não parece suficiente para despertar nos trabalhadores a responsabilidade do uso adequado de EPIs e os cuidados com o preparo da calda, pulverização, guarda e descarte das embalagens. Em pesquisa realizada no município do Conde, Paraíba, mais precisamente no assentamento da Barra de Gramame, Sousa(2005), constatou que os agricultores locais utilizam grande quantidade de agrotóxicos, principalmente formicidas, na forma de iscas ou pó, sendo este produto predominante sobre aqueles pulverizáveis. Esta prática tem risco menor para o trabalhador rural do que os produtos pulverizáveis, que são facilmente absorvidos pela pele ou pelas vias respiratórias. Os inseticidas pulverizáveis atingem também o solo, a água, plantas insetos e outros animais. No local estudado, o autor contabilizou um total de 1064 kg de agrotóxico por ano, em todo o assentamento. Os formicidas também são produtos tóxicos, e podem afetar o solo e os mananciais locais. Sousa (2005) também faz alusão sobre a possibilidade de contaminação das pessoas que manipula estes produtos, pela falta de cuidados durante o manuseio e o armazenamento. O autor comenta que um total de 12 tipos de agrotóxicos foi catalogado na barra de Gramame, município do Conde: Malathion, Stron, Manzate. Cyptrin, Agrophos, Aminol, Glifosato, Nitrosin, Folisuper, Lanate, Pó 50 e Mirex, sendo os dois últimos, respectivamente, 487 kg e 523 kg. Em nossa pesquisa no açude Epitácio Pessoa nós constatamos o uso de 25 tipos. Uma preocupação muito grande entre agricultores que usam veneno em suas lavouras é a questão do suicídio. O número de óbitos por envenenamento com pesticidas e produtos químicos é o menor no País entre os homens (0,3%), contra 43,8 % com armas de fogo e 34,1% por enforcamento/estrangulamento; mas entre as mulheres o número sobe para 19%, representando a segunda causa de suicídios, depois do enforcamento/estrangulamento, que é de 19% (D`oliveira, 2005). No 137 município de Boqueirão já ocorreram 6 casos de suicídios, 2 em 1982, 1 em 1984, 1 em 1986, 1 em 1987 e 1 em 1990 (MS, 2005) alguns deles possivelmente por ingestão de veneno. Esses números são modestos, mas o perigo existe. Athayde (1996) relata um fato de uma senhora que tentou suicídio com Tamaron BR. 7.2- Os exames clínicos e laboratoriais Os principais grupos de agrotóxicos utilizados em Boqueirão pertencem aos organofosforados e carbamatos. Assim, há que ser fazer uma distinção entre intoxicações agudas e crônicas. Os perigos dos usos desses produtos relacionam-se com as intoxicações que eles podem causar nas pessoas, e sob este aspecto elas podem ser: agudas (surgem rápido, após exposição excessiva por curto período de tempo a produtos extremamente tóxicos ou altamente tóxicos, sendo os sinais e sintomas nítidos e objetivos), sub-agudas (ocorre por exposição moderada a produtos altamente ou medianamente tóxicos) e crônicas (o surgimento é tardio (meses, anos) por exposição pequena ou moderada a produtos medianamente tóxicos ou múltiplos produtos) (Trapé, 1993). O diagnóstico de intoxicações por agrotóxicos, entretanto não é simples, visto que os sintomas se confundem com outros de várias possíveis doenças comuns no nosso meio, e quando ocorre uma exposição múltipla a dificuldade aumenta ainda mais (Almeida, 2001). Nas intoxicações agudas com agrotóxicos a acetilcolina se acumula nas sinapses nervosas parassimpáticas, nas placas terminais motoras e no sistema nervoso central e os sinais e sintomas podem surgir 3 ou 4 horas após a exposição ou mais lentamente (Almeida, 2001). Nas crônicas, as exposições prolongadas a esses produtos podem resultar em efeitos irreversíveis no Sistema Nervoso Central com várias implicações, como degeneração severa da retina com neuropatia óptica e 138 processo arterioesclerótico precoce em coração, cérebro e vasos da retina, que podem ocorrer mesmo quando os pacientes estiveram submetidos a uma exposição prolongada a baixas concentrações, além da carcinogenicidade, conforme tem sido demonstrado experimentalmente em animais (Jacinto, 2001). Ruegg (1986, apud Mota, 1997) comenta que a exposição constante a doses relativamente baixas de agrotóxicos acarreta o aparecimento de sintomas e sinais clínicos, após períodos que variam de algumas semanas até vários anos, sendo alguns deles: lesões hepáticas, lesões renais, neurite periférica, ação neurotóxica retarda, atrofia testicular, esterilidade masculina, cistite hemorrágica, hiperglicemia ou diabete transitória, hipertermia, diminuição das defesas orgânicas, fibrose pulmonar irreversível, reações de hipersensibilidade (urticária, alergia, asma), teratogênese e carcinogênese. O resultado das anamneses efetuadas durante os trabalhos de campo evidenciou que os sinais mais freqüentes eram: tontura, cefaléia, insônia, conjuntivite, náuseas, câimbras nos membros inferiores, dor lombar, dormência nos membros inferiores, zumbido no ouvido, dor precordial, sono não reparador, dor nos membros inferiores, rinite, gastrite, prurido na pele e epistaxe. Muitos desses sintomas também foram observados por Augusto (1997), em pesquisa desenvolvida em Camocim de São Félix-PE. Segundo dados apresentados pelo Laboratório de Toxicologia Ambiental do Departamento de Ciências Biológicas da FioCruz (fundação Oswaldo Cruz), em estudo realizado pelo professor Francisco José Roma, no inicio de 1997, o qual constatou que 92% dos 55 agricultores entrevistados na região de Alferes, RJ, onde na empresa Paty Alferes, a maior produtora de tomate da região, os produtores não usavam quaisquer tipo de equipamento de proteção individual e 62% já haviam passado mal ao preparar ou aplica pesticidas. Segundo o estudo, os sintomas recorrentes são: dor de cabeça, enjôo, vômito, vertigem, irritação 139 da pele e visão embaçada. Destes, 21% necessitam de assistência médica. Análises de água de poços da mesma região, efetuadas pelo Professor Dalton Marcondes Silva do Departamento de Saneamento e Saúde Ambiental da Fiocruz, também demonstraram que de 27 poços selecionados para estudo, apenas oito não apresentam contaminação detectáveis (Figueiredo & Pádua, 2005). Muitos dos sintomas observados por este auto no Rio de Janeiro são similares aos verificados nos trabalhadores rurais do açude Epitácio Pessoa, neste trabalho. Em pesquisa desenvolvida em 19 unidades produtivas às margens do açude Boqueirão-PB, Adissi et al (1999) constataram que de um total de 69 trabalhadores da cultura do tomate e pimentão submetidos a exames diversos (laboratoriais, anamnese clínica e dosagens de acetilcolinesterase), evidenciaram os seguintes resultados: cefaléia (55%), tremores (29%), tonturas (29%), tosse (24,6%), secreção e obstrução nasal (20,3%), dor abdominal (26,1%), prurido ocular (15,9%), hiperemia conjuntival (14,5%) e outros. Um grupo de 18% destes trabalhadores referiu intoxicação anterior por agrotóxico com internação ou atendimento laboratorial. E ainda, de 51 trabalhadores que fizeram testes para verificar os níveis de acetilcolinesterase, 71% deles apresentaram alterações. Os autores chamam atenção às diversas condições de vida que podem contribuir para a presença dos sintomas encontrados, tais como habitação, esgoto e saneamento, estado nutritivo, higiene, grau de escolaridade e condições adversas do trabalho na agricultura. Muitos dos sintomas e grande parte dos resultados dos exames laboratoriais observados nesta pesquisa corroboram com os dados obtidos por Adissi et al. (op. cit.), indicando que os problemas que definem este quadro ainda persistem na área. As discrepâncias observadas particularmente nos valores da acetilcolinesterase plasmática chamam a atenção, muito embora os nossos valores, apesar de se acharem dentro dos parâmetros de normalidade, fossem próximos do limite máximo permitido. 140 Dados sobre intoxicações levantadas por Garcia (1998), através de pesquisa realizada pela FUNDACENTRO, indicavam que numa amostra de 5.143 produtores e trabalhadores rurais pesquisados, 28% referiram já terem sido vítimas dos agrotóxicos, sofrendo pelo menos uma intoxicação. Em Campinas, vários casos atendidos em hospitais da região comprovam intoxicações, como foi o caso de M.A.G, 27 anos, trabalhando com Folidol (organofosforado), que chega ao hospital com sudorese, vômitos, tremores e diarréia. O trabalhador J.C.S, 23 anos, chega ao ambulatório de Toxicologia da Universidade de Campinas (UNICAMP), apresentando náuseas, queimação musculares. Após na boca exames, do estômago, constata-se a fraqueza exposição e a tremores múltiplos agrotóxicos. Os estudos mostram que as queixas vagas e comuns a outras doenças podem confundir o diagnóstico, caso não se considere a vida laboral. Segundo a Organização Mundial de Saúde cerca de 70% das intoxicações agudas são causadas por organofosforados, inibidores da enzima acetilcolinesterase. Mas os efeitos em longo prazo desses produtos para a saúde são pouco conhecidos, necessitando, ainda, de maiores investigações. Já se sabe que depende das características do produto, forma de exposição (via de absorção, dose, concentração, freqüência) e do indivíduo (idade, estado nutritivo, estado de saúde). Dependendo da via de absorção e da magnitude da exposição, os sinais e sintomas podem variar, segundo Trapé (1993). Destacam-se, entre eles: a. A Síndrome Muscarínica ou Colinérgicosudorese (sialorréia, miose, hipersecreção brônquica, colapso respiratório, tosse, vômitos, cólica e diarréia); b. A Síndrome Nicotínica (fasciculações musculares, hipertensão arterial transitória) e c. A Síndrome Neurológica (confusão mental, ataxia, convulsões, depressão cardio-respiratória, coma e morte). Na intoxicação por carbamato o quadro clínico é semelhante ao das intoxicações por organofosforados, porém apresentam ainda outros efeitos, como: alterações dos níveis de serotonina no sangue, decréscimo 141 da atividade metabólica do fígado, da síntese dos fosfolipídeos e da atividade da glândula tireóide. Muitos dos sintomas observados na pesquisa (insônia, ansiedade, cefaléia, tontura) e muitos dos resultados dos exames laboratoriais efetuados (fosfatase alcalina, GGT, bilirrubinas, excesso de iodo nos mineralogramas) são indicativos que intoxicações por carbamato estejam ocorrendo na área. Os sintomas apresentados e os conseqüentes problemas de saúde se diferenciam de acordo com cada grupo químico, os organofosforados são responsáveis pelo maior número de intoxicações, os quais, juntamente com os carbamatos são inibidores da acetilcolinesterase, mas apresentam uma pequena diferença, pois nas intoxicações por carbamatos há uma maior reversibilidade da acetilcolina. Tanto os organofosforados como os carbamatos podem ser absorvidos através da pele (esta é a principal via de absorção), inalação ou ingestão. Alguns desses inseticidas tem sua dose letal (DL 50) muito baixa, cerca de 0,9mg/Kg, como é o caso do Aldicarb (Garcia,1998). A dosagem da acetilcolinesterase eritrocitária (casos crônico) e plasmáticas (casos agudo) é utilizada para indicar a presença de organofosforados ou carbamatos no sangue do indivíduo. Porém, vários autores citados por Augusto (1997), alertam para as limitações destes testes porque variáveis como: gravidez, consumo de álcool, anticoncepcionais orais, problemas hepáticos e renais podem interferir nos resultados. É de extrema importância que os exames sejam feitos junto com uma anamnese clínico-ocupacional. Além disso, há grupos populacionais com mais facilidade de degradar organofosforados, o que indica que pode haver maior susceptibilidade de algumas pessoas. Há dados que mostram que existem grupos de pessoas que toleram grandes quantidades de As, seja por resistência inata ou por adaptação, sem experimentar sintomas tóxicos, como é o caso dos húngaros, tiroleses e estírios (Roux, 1976). Alguns trabalhos realizados para avaliar os níveis de contaminação 142 ocupacional por agrotóxicos em áreas rurais brasileiras têm demonstrado níveis de contaminação humana que variam de 3 a 23% (Moreira et al., 2002). Considerando-se que o número de trabalhadores envolvidos com a atividade agropecuária no Brasil, em 1996, era estimado em cerca de 18 milhões e aplicando-se o menor percentual de contaminação relatado nesses trabalhos (3%), o número de indivíduos contaminados por agrotóxicos no Brasil deve ser de aproximadamente 540.000 com cerca de 4000 mortes por ano. Além disso, estes dados não consideram o impacto indireto resultante da utilização de tais produtos (Sousa, 2005). Quanto aos exames de sangue, os resultados das baixas taxas de creatinina e altas taxas de bilirrubinas, verificado nesta pesquisa particularmente nos homens, sugerem comprometimento hepático, e as diminuições nas taxas de CD8, GGT e linfócitos indicam alterações imunológicas. GGT é uma enzima fisiologicamente envolvida na síntese protéica e peptídica e regulação dos níveis teciduais de glutation e transporte de aminoácidos entre membranas, e quase a totalidade da Gama GT localiza-se nos (www.fwlab.com.br/exames/exames/Wcale18b2bdc6b.htm, hepatócitos 2008, acessado em 24/04/2008). Nas mulheres, o alto percentual de glicemia, é indicativo de diabetes. Em particular merece menção, nesta discussão, a questão dos resultados das análises mineralogramas. O estudo envolvendo a análise do cabelo é muito antigo, remontando ao trabalho de Hoppe (1858) que determinou As no cabelo de cadáveres exumados 11 anos após o sepultamento. Mais tarde, Flesch (1945), propôs que o cabelo poderia ser usado como material de biópsia para a determinação de elementos traço presentes no corpo humano, visto que o cabelo funciona como um órgão excretor (o menor deles). Entretanto, apesar dessas recomendações, as análises de sangue e urina tiveram a preferência, sendo que na década de 1930 iniciou-se a era da medicina industrial, ou seja, o diagnóstico de doenças através de exames laboratoriais. 143 Mas os exames de cabelo foram redescobertos nos anos 60, particularmente por pesquisadores da área de nutrição. Aproximadamente 100 anos após o trabalho de Hoppe, o pesquisador Goldblum (1954), determinou anfetaminas em pêlos de cobaia; e mais tarde, Baumgartner (1979), determinou opiáceos no cabelo humano, através de extração com metanol e detecção por RIA (Radioimunoensaio). Entre os fatos relevantes relacionados com a utilização do cabelo como material investigativo no caso de contaminações, destacam-se a investigação sobre a morte de Napoleão Bonaparte na qual, na qual se constatou através da análise do seu cabelo por NAA (Análise por Ativação Neutrônica), sucessivas exposições ao As, e a contaminação com Hg na população de um vilarejo do Iraque, onde o trigo utilizado para o pão era tratado com fungicida à base de compostos mercuriais. Segundo a O.M.S, o mineralograma é o método mais fidedigno para se detectar contaminação por metais pesados em seres humanos. Para evitar discrepância dos resultados devido à dificuldade de se diferenciar entre contaminação exógena e endógena, convém obedecer aos procedimentos padrão de coleta e preparo da amostra, bem como considerar outros fatores como sexo, raça, hábitos alimentares, localização geográfica do indivíduo e características morfológicas do cabelo. O cabelo é uma matriz mais simples que o sangue e a urina, cuja análise é bastante utilizada para detectar intoxicação. A presença de quantidades muito baixas destes elementos estará sempre presente no organismo em decorrência da alimentação e poluição ambiental. Pode-se afirmar que quase todos os elementos estáveis da tabela periódica estão presentes no cabelo, a menos que o metabolismo celular exclua alguns deles. O cabelo é um material biológico atrativo por causa da simplicidade de amostragem (facilidade de coleta, sem traumas e sem dor), estocagem, transporte e manuseio. Além disso, é um material bastante estável que não precisa ser mantido sob refrigeração, tampouco necessita de preservantes. 144 É bastante provável que as elevadas concentrações de alguns metais pesados encontrados nos exames efetuados nos cabelos dos agricultores do açude Boqueirão estejam de fato relacionadas com a utilização dos agrotóxicos, e em alguns casos de fertilizantes químicos. No Brasil, atualmente, a análise de cabelo é solicitada principalmente por médicos da área da medicina ortomolecular, para avaliar o estado nutricional (elementos essenciais presentes em baixa ou alta concentração) e possíveis contaminações por metais pesados. Citam-se como exemplo os elementos Cr, Co, Cu, Mn, Mo, Ni, Se, Sn, V e Zn que são essenciais ao organismo, mas se estiverem presentes em excesso podem provocar várias doenças ou até mesmo a morte. O contrário também pode ocorrer se não estiverem presentes em quantidades suficientes para o organismo. Elementos tais como Tl, As, Sb, Bi e Hg não são essenciais, sendo sempre indesejáveis em qualquer concentração. O chumbo, por exemplo, afeta primariamente o sistema nervoso central e periférico, a função renal, as células do sangue e o metabolismo da vitamina D e do cálcio. Também pode causar hipertensão arterial e toxicidade reprodutiva (Figueiredo & Pádua, 2005). Esta autora, ainda comenta que a contaminação por produtos químicos pode causar ainda problemas renais, hepáticos, sanguíneos, nervosos e até câncer. Mas na maioria das vezes, as doenças causadas por contaminações por produtos químicos não são registradas como tal. Normalmente as pessoas não sabem que estão contaminadas sendo comum que a doença venha a aparecer cerca de 20 anos depois do contato com o produto químico (Figueiredo & Pádua, 2005). 7.3 – A saúde dos trabalhadores de Boqueirão na visão da MTC Uma das questões a considerar do ponto de vista médico, e em especial da medicina tradicional chinesa, é a questão da baixa da imunidade em alguns dos pacientes estudados. Do ponto de vista 145 científico, sabe-se que imunidade está associada ao papel da glândula timo na produção dos timócitos, e que estas células resultam de diferenciações dos macrófagos e células dendriticas interdigitantes, precursores dos linfócitos T oriundos da medula óssea. Durante o processo de maturação, elas passam a expressar receptores específicos de antígenos (TCR – do inglês, T cell receptor) e outras moléculas, denominadas co-estimuladoras (CD3, CD4, CD8), importantes nos mecanismos de ativação dessas células (Balestieri, 2006). A partir do momento em que os timócitos expressam os receptores de antígenos na membrana, eles são selecionados de acordo com a afinidade e o tipo de moléculas que reconhecem. Nesse processo seletivo quase 90% da população tímica morre por apoptose, mecanismo de morte programada. Durante o processo de seleção, os timócitos passam pelo processo de diferenciação e se tornam LT auxiliares (LTh) ou linfócitos T citotóxicos (LTc) (Balestieri, 2006). Os precursores dos linfócitos T (células CD44+), provenientes da medula óssea, chegam ao timo e sob a influência de fatores quimiotáticos derivados do epitélio tímico, instalam-se na região logo abaixo da cápsula (região subcapsula) e à medida que se tornam maduros migram do córtex para a medula. Os linfócitos T citotóxicos CD8 apesar de produzidos no timo são ativados no baço (Balestieri, 2006). Os Linfócitos citotóxicos CD8 representam a melhor linha de defesa imunológica contra determinadas bactérias, vírus e células atípicas, e pré cancerosas. Os citotóxicos CD8 acoplam-se a membrana da célula que desejam atacar, perfuram essas membranas celulares, e introduzem um ácido nas mesmas, destruindo-as. As células do sistema imune encontram-se organizadas em tecidos e órgãos que coletivamente são chamados órgãos linfóides, os quais são divididos em primários e secundários. Os primários são: a medula óssea (elemento água, segundo a Medicina Tradicional Chinesa) e o timo (elemento terra, pela MTC). Segundo a MTC, quem controla os ossos é o 146 rim. Os demais órgãos como o baço, nódulos linfáticos e placas de Peyer são órgãos linfóides secundários (elemento terra). Segundo Oliveira (2003), nos órgãos primários ocorre a diferenciação das células do sistema imune. Enquanto os linfócitos T se diferenciam no timo, antes de migrar para os órgãos linfóides secundários, os linfócitos B são derivados diretamente da medula óssea (Rin, elemento água segundo a MTC). Vinte e cinco por cento de todos os linfócitos estão no baço. Essa organização é fundamental para permitir o funcionamento do sistema imune que é dependente da interação entre as várias populações celulares que compõem o sistema imunológico. Como o baço recebe uma grande quantidade de sangue, para ele aflui uma grande quantidade de antígenos do sistema imune. Os linfócitos T e B, presentes no sangue, que passa pelo baço já estão diferenciados em linfócitos T CD4 e CD8 e linfócitos B. Uma vez no baço, dentro desse órgão, as células migram para as regiões T e B, onde algumas permanecem até receber o estímulo antigênico. As células presentes no baço circulam por outros órgãos linfóides secundários. Para que essas células se alojem nesses órgãos, eles devem expressar algumas moléculas que permitam a interação entre as células do sistema imune e o órgão. Várias dessas moléculas, moléculas de adesão e receptores de endereçamento (homing) já foram identificadas, assim como os mecanismos de interação entre as células e os receptores. Essas atividades são fundamentais para a manutenção desses ambientes especializados, e são importantes para a dispersão das células, bem como para a interação das células alvo de memória e para o desenvolvimento da resposta imune primária e secundária. O processo de maturação do linfócito T inicia-se na medula óssea onde a célula pluri-potente não diferenciada tem que migrar para o timo. Após a diferenciação do timo, essa célula é introduzida na corrente sanguínea indo para os órgãos linfócitos secundários, principalmente o baço. Chegando ao baço, sua permanência nesse órgão dependerá da interação entre as células e os receptores adequados que permitirão o homing dessas células. O mesmo é importante quando essas células saem do baço e dirigem-se a outro local, 147 pro exemplo onde está ocorrendo inflamação. Para que elas migrem para o local da inflamação será necessária a interação com uma série de outros receptores que permitirão a migração dos linfócitos e outras células do sistema imune para onde elas são necessárias. A função principal de um órgão linfóide secundário é iniciar a resposta imune. Seguindo esse raciocínio, o elemento Terra (Baço pâncreas/estômago), é que teria a incumbência de defender o organismo diante de um agente agressor externo. Mais uma vez aqui vemos, que a MTC estava certa, quando registra nos textos antigos escritos há mais de 2.000 anos antes de Cristo, que os pontos do meridiano do Bp e E, devem ser pontuados para aumentar a capacidade de defesa do organismo. Esse órgão recebe células provenientes de outras regiões do corpo chamadas apresentadoras de antigenos (APC). Dentre essas células estão os macrófagos, células dendríticas e de Langerhans. Elas são denominadas células apresentadoras profissionais, uma vez que outras populações celulares, como os linfócitos B, por exemplo, também podem apresentar antígenos. As APC são responsáveis por levar até este órgão (baço) antígenos estranhos ao organismo presentes na circulação. No baço e em outros órgão linfóides secundários, as APCs interagem com as células T, primadas ou não, que por sua vez interagem com as células B, iniciando o processo da resposta imune. Quando a interação das APCs ocorre com as células T não primadas dá-se o início da resposta imune, ocorrendo a expansão clonal dessas células, e sua diferenciação em células imune efetoras ou de memória. Portanto, o baço é o principal órgão envolvido no início da resposta imune, contra antígenos presentes na circulação sanguínea. O baço é também responsável pelo armazenamento de todos os metais do organismo e de substâncias fundamentais ao metabolismo, principalmente hepáticos. Pode-se considerar que ele precede parte das funções do hepatócito. Portanto, se houver uma doença esplênica ou se o baço for retirado, haverá grande sobrecarga funcional dos hepatócitos e do sistema mononuclear fagocitário do fígado (Petroianu, 2003). Isto 148 comprova o que diz a medicina tradicional chinesa, quanto a relação que existe entre madeira (fígado) e terra (baço). Resende et al. (2003) considera as principais funções do baço como sendo: 1- hematopoiese na vida fetal, ocasionalmente após o nascimento; 2.- Função imunológica devido a: a)- grande acúmulo de linfócitos T e B, macrófagos e outras células com função imunológica; b)- proliferação de linfócitos ativados. c)- síntese local de imunoglobulina, d)- produção de opsoninas que estimulam a fagocitose (Tuftsina), alternativa do complemento – properdina; 3.- e que ativam a via Reconhecimento e eliminação de células sanguíneas anormais, danificadas ou senescentes (seqüestro e fagocitose); 4.- Armazenamento de elementos constituintes do sangue (pooling) e 5.- Controle do volume plasmático. Segundo a Medicina Tradicional Chinesa, teoria Zang-Fu, cada órgão interno está em íntima relação com uma víscera, que eles denominam de relação marido e mulher, fazendo uma analogia à ligação que existe no casamento. Exemplificando, no caso do elemento terra essa relação se dá entre o baço, pâncreas e estômago; no elemento metal, entre pulmão e intestino grosso; no elemento água, entre rim e bexiga; no elemento madeira, entre fígado e vesícula biliar; e no elemento fogo, entre coração e intestino delgado. Assim na visão da Medicina Tradicional Chinesa, existe uma relação fisiológica entre yang ming (estomago e intestino grosso) e Wei Qi (energia defensiva). Nos textos chineses do Ling Shu (capítulo 18) podemos ler: “A energia defensiva Wei Qi, vem do aquecedor inferior. É a principal energia defensiva”. O aquecedor inferior está localizado na região do piloro. Corresponde ao ponto VC10 (vaso concepção 10). Wei Qi flui fora dos meridianos. Então, existe uma circulação do Wei Qi fora dos meridianos e grandes vasos dos troncos arteriais. Esse papel defensivo é incontestável: A energia errante que não segue os meridianos é conhecida como energia defensiva, Wei Qi. Outras passagens deste texto indicam que o Wei Qi circula entre os capilares mais finos. Este é o local, de acordo com os chineses antigos, onde ocorre a luta entre a energia perversa e a energia 149 defensiva: Quanto o paciente é afetado pela energia perversa, é sempre a energia defensiva Wei Qi, que primeiramente é afetada, e a energia perversa quase sempre se aloja nos capilares mais finos. “Se você a dispersa e sangra, você melhorará - Ling Shu, cap. 48” (Requena, 1981) . Assim, do ponto de vista da imunologia nós agora podemos entender muito bem o significado dessa técnica terapêutica. Sabemos que nos casos de agressões, a vaso dilatação é a na maioria dos casos resultado de uma concentração de mastócitos e de liberação de histaminas e de várias cininas. Estas são as origens da atividade dos leucócitos e dos macrócitos. A perfuração do endotélio capilar pela sangria brutal de uma agulha intensifica naturalmente a reação de defesa. Existe também uma observação clínica importante. Notamos, examinando pacientes yang ming e alguns tipos Tai Yin-Terrra, que os sua circulação capilar frequentemente está alterada. Isto se manifesta por uma rede sobre toda superfície corporal, mais frequentemente nas faces e nas pernas, onde a pele fica com aspecto róseo-perolada. Nós esperamos que existam conexões fisiológicas entre sujeitos Yang Ming e a vulnerabilidade capilar desses sujeitos, em sua morbidade vascular. Yang Ming é determinado por uma tendência fisiológica ao excesso do estomago – a gastrina circulante – certos efeitos dos quais são relacionados com a liberação de histamina pelos mastócitos o que pode explicar essas conexões. Isso é uma hipótese que deve servir para orientar pesquisas básicas onde a ação a acupuntura poderia provar ser muito útil (Requena, 1986). Quanto aos resultados dos mineralogramas, podemos fornecer alguns exemplos dos resultados obtidos na visão da MTC. Os elementos Zinco e cobre tonificam o Baço-pâncreas (TERRA); o manganês e o cobre tonificam o pulmão (METAL); o cobre, o ouro, a prata e o cobalto tonificam o Rim (AGUA). O excesso de alumínio leva a uma deficiência de zinco, principalmente dentro das células beta do pâncreas, diminuindo a produção de insulina. O zinco, diminuído nessas células de Langehans, contribui para a diminuição do papel dessas células na defesa imunológica do organismo, causando baixa de linfócitos citotóxicos CD8. 150 O excesso de chumbo também provoca uma diminuição do zinco e tanto o chumbo quanto o urânio, e o bário, possuem um efeito “estrogênio-like”, e causam danos ao rim e fígado, podendo provocar uma quebra do ritmo biológico. O chumbo inibe a absorção de triptofano, aminoácido precursor de um neurotransmissor, a serotonina, levando ao aparecimento de insônia, ansiedade, depressão, patologias essas, que encontramos um déficit na produção de serotonina. Berílio elevado provoca diminuição de Linfócitos T CD8. Excesso de chumbo pode provocar cefaléia, hipertensão arterial, esterilidade, diminuição da aprendizagem, e hiperatividade em crianças. Em busca da origem precisa da toxicidade do chumbo, dois químicos do laboratório de química teórica de universidade Pierre e MarieCurie (Paris VI), pesquisaram o comportamento quântico do átomo de chumbo, bem como a bioquímica molecular das proteínas implicadas, para responder a questão: o que é que torna o chumbo tóxico? Certamente não é devido a sua natureza metálica, pois outros metais além de serem tolerados pelo organismo, são também indispensáveis a ele. Três metais participam da formação das chamadas metaloproteínas, sob uma forma iônica: Fé ++, Cu++, e Zn ++. Sob a forma Pb ++ o chumbo é também um íon, porém, não participa de um papel fisiológico virtuoso. Ao contrário, na verdade, é um grande perturbador das metaloproteínas, principalmente sobre a ALAD, uma enzima essencial à fabricação da hemoglobina das hemáceas. No centro da ALAD existe um íon Zn++, e quando ocorre uma intoxicação pelo chumbo, o íon Pb++, compete com o Zn++, tomando seu lugar, e como conseqüência disso, a enzima ALAD é inibida, ficando impossibilitada de exercer seu papel. Podendo provocar uma anemia severa (Donnars, 2007). Outro exemplo que podemos discutir é o caso do alumínio, um metal encontrado em grande quantidade nos agricultores do açude Epitácio Pessoa. O alumínio é o metal mais abundante na litosfera, sendo seus níveis mais baixos na água, plantas e animais. A média da ingestão diária (DDI) na alimentação oscila entre 2,3 e 100,0 mg dependendo do 151 estudo considerado. Na MTC, o excesso de alumínio provoca uma diminuição do yin do rim, podendo levar a osteoporose pelo excesso de yang. Quando se fala em rim (água) na MTC não se está falando apenas do órgão em si, mas de ossos, medula, cérebro, útero, próstata e glândulas supra-renais, ovários e testículos. Assim, o excesso de alumínio, ao provocar diminuição do yin do rim também resulta em déficit de memória, Alzheimer, redução no metabolismo do cálcio, ansiedade, cefaléia, distúrbios da fala, dores nos ossos, e insuficiência hepática. Ou, no entendimento da MTC, pela lei da geração dos 5 elementos, a água (rim) é que alimenta (nutre) a madeira (fígado), logo, é a insuficiência de água provocada pelo excesso de alumínio que leva às disfunções hepáticas. Muitos desses sintomas constatados nos sujeitos estudados nesta pesquisa comprovam comprometimento hepático, confirmando, desse modo, a eficácia da Medicina Tradicional Chinesa. O excesso de alumínio também causa coagulopatias (aumento do tempo de protrombina), relacionado com a obstrução da absorção de Fósforo pelos Intestinos. O fósforo tem papel importante na coagulação do sangue (função hepática) que segundo a MTC corresponde ao elemento madeira. O excesso de alumínio também provoca Fibrose Pulmonar, visto que, segundo a MTC, o metal (pulmão) não poderá nutrir ou gerar a água, haja vista, que a angiotensina I produzida no Rim, somente será ativada nos alvéolos pulmonares, onde sofre a ação da enzima ECA, transformando a angiotesina I em angiotesina II (ativada), que retornará ao Rim pela corrente sanguínea para cumprir sua função fisiológica. Ainda, o excesso de Al altera os sistemas de enzimas de transferência de fosfatos celular, envolvendo ATP e Mg provocando perturbações no metabolismo dos carbohidratos, que depende do pâncreas (baço- pâncreas/terra). O excesso de Al diminui a quantidade de Zn dentro das células Beta do pâncreas, contribuindo para a diminuição da produção de insulina. A baixa de Zn dentro das células Beta pancreáticas, causará diminuição da defesa orgânica, pelo déficit de linfócitos citotóxicos CD 8 (produzidos no Timo, e ativados no Baço). 152 Alguns tumores são cem vezes mais freqüentes nos pacientes com um sistema imunológico defeituoso. Caso a imunodeficiência possa ser melhorada, os tumores podem regredir. Isso levou alguns pesquisadores a considerar que o sistema imunológico realmente combate os tumores. Apesar de a maioria dos tumores que os pacientes com baixa imunidade desenvolvem é estimulada pelos vírus da mononucleose infecciosa (Epstein-bar), herpes humano 8, e papiloma (HPV), provocando respectivamente: linfoma, sarcoma de Kaposi e o carcinoma de colo de útero. A grande maioria dos tumores não é causada pelos vírus, mas resulta de dano genético provocado por substâncias químicas ou por radiação (Helbert, 2007). Nos sujeitos estudados nesta pesquisa observouse um considerável percentual de pacientes com baixo número de linfócitos, indicando baixa imunidade, um indicativo de que os mesmos estão susceptíveis aos riscos citados. A maioria das substâncias químicas contidas nos agrotóxicos utilizados na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, pode levar, em longo prazo, ao surgimento de cânceres não somente pelo risco de dano genético como exposto acima, bem como pela indução da baixa da imunidade devido a intoxicação crônica por metais pesados e baixas de alguns minerais essenciais como o zinco. O expressivo número de incidências de óbitos por câncer no município de Boqueirão, dos quais a maioria trabalhava principalmente como agricultores, pressupõem-se a existência de uma relação direta entre tais neoplasias e a exposição crônicas aos agrotóxicos. Grisolia (2005) comenta que nas populações de agricultores expostos aos agrotóxicos seus linfócitos apresentavam maiores alterações cromossômicas quando comparados a populações não exposta e que também ocorriam alterações genéticas no que concerne a genes híbridos que são resultantes de uma combinação incomum intralocus, sendo mais um indicador da capacidade mutagênica dos agrotóxicos. Segundo este autor, não somente nossos órgãos, mas também nossos sistemas são regulados pelos hormônios, de maneira que pequenos distúrbios nessas substâncias podem provocar 153 desequilíbrios fisiológicos, em importantes estágios da vida, como na embriogênese, na puberdade, na gestação e na lactação. No meio ambiente existem diversas substâncias que provocam disrupções hormonais, atuando como hormônio “like”, imitando, inibindo, ou bloqueando as funções endócrinas. Diversos agrotóxicos e subprodutos de sua degradação, bem como alguns tipos de metais pesados podem atuar como disruptores endócrinos (Pozo et al., 2008), e provocar essas alterações. Em humanos efeitos adversos tais como: imunossupressão, câncer de mama, próstata, testículo, endometriose, redução da fertilidade, alterações na tireóide, hipófise, e alterações neurológicas podem estar associadas a essas disfunções endócrinas (Grisolia, 2005). Comparando-se os resultados dos exames laboratoriais (sangue e mineralogramas) com os sintomas e com os diagnósticos baseados na MTC (pulso e língua), conforme quadro síntese abaixo (Quadro 1), confirma-se a existência de uma relação de causa-efeito entre essas variáveis e a provável ação dos agrotóxicos usados na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, Boqueirão, PB. Considerando-se que 76% das mulheres apresentam pulso tipo II, o que significa dizer que constitucionalmente possuem baixa no elemento água e excesso do elemento fogo, em outras palavras, baixa energia no rim e alta energia no coração, a ação dos agrotóxicos sobre essas mulheres pode ter efeito direto desequilibrando a energia desses órgãos, piorando a situação inata. Assim, devemos esperar dentre essas mulheres determinada percentagem, particularmente daquelas que foram expostas por mais tempo aos agrotóxicos, de mulheres com creatinina abaixo do limite de referência, indicando que o elemento água, nesses casos, não está cumprindo eficientemente o seu papel fisiológico de nutrir o elemento madeira, ou seja, o fígado, explicando as baixas taxas de creatinina observadas, que clinicamente indica presença de patologia hepática severa. Nessas mulheres, a conseqüência das baixas taxas de creatinina pode justificar as altas percentagens dos sintomas registrados. 154 Quadro 1 – Síntese comparativa dos resultados clínicos e laboratoriais com os diagnósticos da MTC. Em vermelho Variáveis Homens (%) Mulheres (%) Energia em baixa Energia em alta Mão (linha da vida) I 2 0 Madeira (figado) Metal (pulmão) Menor que a IV e descontínua Sintomas principais observados CO, HT, CE, AN (1). Principais alterações exames sangue - Principais alterações nos mineralogramas do cabelo Língua (Figura 38) Tratamento - BP, AS, FIA (3) (foto 1) Sedar pulmão, tonificar fígado. II 10 76 Água (rim) Fogo (coração) Menor que a IV e descontínua CE, EP, FA, TO, TR, CA, IN, ZU, CO, NA, DL, GA, SNR(1) Mulheres: CD4/CD8, Le, Bbi, BBt, GL, Fa,; Li, CD8%, CD8t, Cr(2). Mulheres: Al, Ba, Be, Bi, Cr, Fé, I, Mg, Mn, Pb, Ca, S, Mo, P, Zn. Ve, Vee, PVPL, AS (3) (Foto 2) Sedar coração, tonificar rim. III 22 12 Metal (pulmão) Madeira (fígado) Menor que a IV e descontínua IV 66 12 fogo (coração) água (rim) Nítida e contínua, longa. CE, EP, FA, TO, TR, CO, IN, ZU, CO, CA, GA (1). IM, DP, HT, NA, IN, FA, QE, DMI, DL, CA, UU, SI (1). Homens: CD4/CD8, EO Bbi, Bbt; Cr, CGT CD4%, CD8%, CD8T, Le, Li(2). Homens: Al, Ba, Be, Cr, Fe, I, K, Mn, Pb, Sb, Sr, Th,. U, Au, Ca, I, Zn. Pa, AV, MD (3) (foto 4) Sedar rim, tonificar coração. - - Ve, Ra, Sec (3) (foto 3) Sedar fígado, tonificar pulmão. DO = dor nos olhos, CE = cefaléia, HI= AN = ansiedade, TO= tonturas, EP = epistaxe, FA = fadiga, TR = tremores, CA = câimbras, IN = ZU= zumbido, CO = conjuntivite, DP = dor precordial, tremores=TR, rigidez e contraturas musculares =RM, IM = impotência, HT = hipertensão, GA = gastrite, DMI = dor nos membros inferiores, DL = dor lombar, SNP = sono não reparador. (2)Le = leucócitos, Bbi = bilirrubina indireta, BBt = bilirrubinas totais, GL = glicemia, Fa = fosfatase alcalina; Li = linfócitos, CD8%, CD8t, Cr= creatinina. Em vermelho, valores acima dos limites de referência; em azul, abaixo. (3)BP= branco pálida, AS = ausência de saburra, FIA = Fina e amarelada; Vê = vermelha, Vee = vermelho escuro, PVPL = pontos vermelhos na ponta da língua; Pa = Pálida, AV = aumento de volume, MD = marca dos dentes. (1) O estado de deficiência do yin dos rins, nas pessoas com pulso II, segundo a MTC (Zang-Fu), corresponderia a síndrome do vazio de yin dos rins (hipofunção renal). Um tratamento adequado consistiria em fortificar e alimentar os rins. Aumentar o yin e baixar o fogo. Segundo a medicina tradicional chinesa a acupuntura poderia ser feita nos pontos: 17B, 23B, 52B, 1R, 2 R, 3 R, 6 R, 7R, 1B, 6B, 8B, 1F, 8F, 6VC, 6CS, 11IG. E segundo a acupuntura constitucional: tonificar a água dos rins pela lei dos cinco elementos, tonificar 7R, 9P e sedar 3BP e 3R. 155 Figura 38. Os diferentes tipos de língua encontrados nos agricultores com pulso tipo I (a), II (b), III (c) e IV (d). O estado de excesso yang no fígado, que corresponderia ao pulso III na MTC (Zang-Fu), corresponderia a estagnação da energia do fígado. Na acupuntura chinesa um tratamento adequado poderia ser: alimentar o yin e umedecer o pulmão. A acupuntura poderia incluir os seguintes pontos: 6P, 9P, 10P, 3R, 43Be, 13Be, 23Be, 6BP. A acupuntura constitucional poderia ser feita tonificando o metal do pulmão pela lei dos cinco elementos, tonificando P9 e BP3 e sedando P10 e C8. No caso dos homens, a maioria apresentou pulso do tipo IV, o que significa dizer que constitucionalmente eles são o oposto dos do tipo II. Possuem baixa no elemento fogo e excesso do elemento água, em outras palavras, (melhor função excretora); baixa energia no coração e alta energia nos rins. A ação dos agrotóxicos sobre esses sujeitos pode ter efeito direto desequilibrando a energia desses órgãos, piorando a situação inata. Segundo o diagnóstico pelo pulso constitucional eles têm maior susceptibilidade de adoecer por excesso de Yin nos rins, (por falta de yang nos rins), e deficiência de yang no coração. 156 Assim, devemos esperar determinada percentagem de homens, particularmente daqueles que foram expostas por mais tempo aos agrotóxicos, alterações imunológicas indicando que o excesso do elemento água (yin do rim) nesses casos diminui o fogo do coração, e assim nutri insuficientemente o elemento terra (Baço), provocando baixa do yang do baço, alterando as taxas de linfócitos. As informações extraídas dessa análise corroboram os resultados estatísticos, que evidenciaram uma menor vulnerabilidade dos homens (pulso IV, a maioria) aos fatores que possam desencadear alterações bioquímicas e metabólicas decorrentes de exposições crônicas a agrotóxicos, visto que os que apresentam esse tipo de pulso também apresentam a linha da mão bem marcante, indicando maior vitalidade, apesar de eles estarem expostos a mais de 10 anos. Enquanto as mulheres têm mais contato com esses produtos durante as colheitas. O estado de excesso do yin dos rins, na MTC (Zang-Fu), devido a uma baixa do yang do rim, corresponderia a síndrome do vazio de yin dos rins. Um tratamento adequado consistiria em sedar os rins e tonificar o coração, utilizando os pontos: BP3, C9, R3 em tonificação e R1, C3 e P5 em sedação, pela acupuntura constitucional e pela medicina chinesa (Zang fu) um tratamento adequado poderia ser: 22VC, 23Bx, R3, 6VC, 10P, 7P, 9P, 13 Bx, 7C, 9C, 36E, 40E, 12VC, 4VC, 23Bx e BP6. Para os sujeitos pulso IV, seguindo-se o raciocínio da lei de geração e de dominância dos cinco elementos, onde fogo gera a Terra, esta gera o Metal, este gera a Água, e esta gera a Madeira, teríamos que: Na lei de dominância, água apaga o fogo, fogo derrete o metal, metal corta a madeira, madeira segura a terra, terra controla a água (metafóricamente). Então teremos primariamente: Situação a: O Yang dos rins estado em estado de vazio não pode cumprir a função de aquecer o corpo (suprarenal, produz epinefrina e adrenalina), nem excitar a mente (rim nutre o cérebro pela medicina chinesa). Então, a "habitação dos rins" está enfraquecida, ou seja, o paciente sente uma sensação de vazio ou dor na região lombar. O fogo do Ming Mem (porta da vida) está enfraquecido 157 (DHEA), podendo levar a esterilidade e impotência. O Yang do rim em deficiência, não consegue controlar a temperatura do corpo, assim, o paciente queixa-se de mãos e pés frios. A falta do Yang nos rins, pode levar a quadro de edema e oligúria. O excesso de elemento água (excesso do Yin dos rins) diminui o fogo do coração, levando ao aparecimento de palpitações, dispnéia, tosse asmatiforme, respiração sibilante. Esse tipo de desequilíbrio pode levar as seguintes patologias: enfisema, asma, insuficiência cardíaca crônica, edemas funcionais, nefrites (aguda ou crônica). Secundariamente a este excesso de Yin do rim, pode ocorrer um estado de deficiência do Yang - Qi do coração que na MTC corresponderia a três síndromes: 1) Vazio de Qi do coração, 2) Vazio do Yang do coração, 3) Estase de sangue do coração. Quando o Qi do coração está em deficiência, a capacidade dos ventrículos em impulsionar o sangue é fraco, então a circulação sanguínea é retardada, e o sangue não sobe a face, o paciente apresenta fácies descorada, a língua apresenta-se pálida. Paciente transpira muito. No segundo tipo de síndrome, Yang do coração em vazio, os sintomas acima descritos agravam-se. Pode haver início de confusão mental, que se não tratados vai piorando, o pulso torna-se deslizante, tênue, tendendo a parar. Num estado mais avançado, pode ocorrer uma estase do sangue no coração, por vazio de Yang e Qi, provocado pelo excesso de Yin do rim. Dor precordial, palpitações, irradiando para os ombros, braços e borda medial do membro superior esquerdo. Nesse estágio o corpo da língua pode tomar uma coloração púrpura com pontos violeta, principalmente na ponta. Estas características podem ser encontradas nas seguintes patologias: neurose, cardiopatias, arritmia cardíaca, coronariopatias, angina pectoris, infarto do miocárdio. Terciariamente, o fogo do coração é insuficiente para nutrir a Terra, então pode ocorre estado de deficiência do Yang do baço e estômago, caracterizada por diminuição de apetite, empachamento pós prandial, diarréias (principalmente matinal), fadiga nos membros inferiores, respiração curta, dilatação do abdome, edemas, leucorréia, extremidades frias. As patologias freqüentemente relacionadas são: 158 distúrbios funcionais gastrintestinais, úlcera gástrica crônica, gastrenterite crônica, tuberculose intestinal, hepatite crônica, e cirrose hepática. Hiperenergia de elemento água nos rins pode levar a um excesso de elemento metal, pois o exce4ssode água nos rins apaga o fogo, e o fogo do coração diminuído (Yang do coração em baixa), não consegue controlar (derreter) o metal. Teremos probabilidades de ocorrer as seguintes patologias: inspiração diminuída, expiração aume,0ntada, ocorrendo o que na medicina ocidental recebe o apelido de dispnéia 0suspirosa. Essa queixa é agravada pelo esforço físico. Coexiste palpitação, tosse asmatiforme. Incontinência urinária, ou urinação quando tosse. O rosto fica azulado, a língua é pálida, aumentada de volume, e pode coexistir impressão das marcas do dentes nas bordas da língua, devido ao excesso de yin (água), mesmo que não esteja visível externamente. 159 8.- Considerações Finais Os resultados da pesquisa efetuada em Boqueirão fornecem uma visão complexa do problema, mas é difícil estabelecer uma priorização desses problemas sem um aprofundamento maior na questão. Os dados obtidos parecem contaminações ser crônicas suficientemente estão robustos acontecendo entre para indicar que as pessoas que trabalham na agricultura irrigada do açude Epitácio Pessoa, sejam pela presença de metais pesados encontrados nos mineralogramas, alguns dos quais elementos comuns que entram nas formulações desses produtos, como o mercúrio e o chumbo, por exemplo, seja através das alterações evidenciadas na bioquímica do sangue, ou pelas fortes evidências fotográficas obtidas, ou pelos resultados dos sintomas levantados ou, ainda, pelos dados pulsológicos segundo a MTC. No entanto, não se tem como atacar diretamente o problema, visto que isso depende de diversos fatores de natureza técnica, política, social, cultural e econômica. Ainda, a falta de recursos humanos suficientemente treinados para tratar com a questão e a falta de recursos econômicos para projetar soluções viáveis para um futuro próximo podem inviabilizar quaisquer tentativas de melhoria das condições sócio-ambientais da área, a curto e médio prazo. Apesar de se visualizar que há um longo caminho pela frente, é necessário pensar formas de intervir visando melhoria da qualidade de vida das pessoas e da qualidade ambiental da área, buscando por processos produtivos que garantam ao mesmo tempo sustentabilidade ecológica e econômica, e a saúde dos trabalhadores. A busca por alternativas sustentáveis deve considerar a inserção coletiva no propósito, levando em conta não somente os aspectos técnicos que serão oferecidos aos trabalhadores (exógenos), mas também o saber local, a vivência em suas práticas cotidianas (endógenos), e preferencialmente difundindo novas práticas produtivas no seio das comunidades e das famílias, 160 iniciando-se em particular com os mais jovens que sempre são mais abertos as mudanças. Uma das questões a considerar seria o desenvolvimento de práticas de agricultura orgânica, o que mudaria a base tecnológica local e poderia em médio prazo, melhorar a qualidade de vida das populações. Neste processo, a participação da mídia seria de importância vital, visto que os trabalhadores rurais têm sua sobrevivência exclusivamente calcada em sua prática laboral, o que tornaria difícil a sua sobrevivência se alguns cuidados não fossem tomados para garantir esse ganho. A procura de alternativas de intervenção não pode desconsiderar a presença destes mecanismos nos coletivos de trabalho, assim como, desprezar o saber-fazer e a inteligência criativa dos trabalhadores, sob o risco de recair nos mesmos erros de antes. Seria, assim, dentro deste contexto que ações poderiam ser propostas, evitando-se continuar apostando em trabalhos que há muito não trazem um resultado significativo. Um dos grandes “nós” de se trabalhar com pessoas que não são profissionais formados nas escolas é justamente considerar que o saber delas é menos importante do que o saber técnico, ao contrário de caminhar na direção de complementação de saberes, acabando por acontecer uma confrontação, onde ambas as partes tendem a perder. Finalmente, a comprovação efetiva de que contaminações crônicas estejam ocorrendo poderia ser checada através de análises de pesticidas em sangue e tecidos humanos, mas deve-se alertar para o fato de que esses resultados precisariam ser obtidos em distintos laboratórios, haja vista a discrepância observada entre a ausência de agrotóxicos nas amostras de peixes e tomates coletadas em Boqueirão e o fato de que os tomates colhidos estavam sendo pulverizados com fungicida na hora da coleta. Em face dessa discrepância, sugere-se um monitoramente contínuo dos produtos agrícolas e do pescado oriundos do açude Epitácio Pessoa, através de um órgão oficial do Ministério da Saúde, como a ANVISA. 161 9.- Conclusões a)- as práticas produtivas utilizadas nas margens do açude Epitácio Pessoa, baseadas na utilização de agrotóxicos, comprovadamente provocam danos ao meio ambiente e à saúde humana. b)- os agricultores de Boqueirão não tem o hábito nem a preocupação de utilizar equipamentos de proteção individuais completos nas suas práticas laborais, quando fazem o preparo das caldas e as aplicações de veneno nas plantações de tomate e pimentão. b)- os agricultores de Boqueirão não seguem as recomendações preceituadas pela legislação vigente no que se refere a aquisição e uso de agrotóxicos e o descarte das embalagens. c)- das práticas laborais evidenciadas na pesquisa participam inclusive mulheres e crianças, sendo que estas, em especial, carregam caixas de tomate durante as colheitas, o que pode lhes ocasionar problemas ergonômicos futuros. d)- o consumo de tomates contaminados com agrotóxicos pelos trabalhadores, inclusive crianças, é fato comum no açude Epitácio Pessoa, sendo tal prática perigosa à saúde dos trabalhadores. e)- a prática adotada pelos trabalhadores de Boqueirão em alimentar galinhas e outros animais com tomates não aproveitados para a venda traz risco adicional à saúde da população, visto que os tomates não são lavados e muitos dos agrotóxicos usados são persistentes. f)- muitos dos sintomas evidenciados entre os trabalhadores durante os exames clínicos já foram levantados por outros autores que pesquisaram o problema tanto em Boqueirão como em outras localidades, o que indica 162 que eles de fato podem estar relacionados com contaminações crônicas por agrotóxicos. g)- Os resultados dos exames de sangue indicam que está ocorrendo entre os agricultores do açude Epitácio Pessoa, predominantemente problemas hepáticos e imunológicos. h)- Os exames mineralogramas indicaram a presença de uma grande diversidade de metais nos cabelos dos agricultores de Boqueirão, sendo que muitos desses metais entram em formulações de agrotóxicos. i)- Os exames dos pulsos, segundo as técnicas da medicina tradicional chinesa, indicam predominância dos tipos II entre as mulheres e IV entre os homens. j)- Os exames das mãos dos agricultores de Boqueirão, evidenciam que a maioria dos homens possuem a linha da vida bem acentuada, indicando grande vitalidade. l)- Os testes estatísticos demonstram que as diferenças entre as pessoas que possuem pulso II e pulso IV são significativas, e que as correlações entre as variáveis do sangue e dos mineralogramas mostram maior sensibilidade às mulheres. 163 10.- Recomendações a) Implantar um sistema de vigilância das condições de saúde da população de Boqueirão e adjacências, relacionando-as com análises de agrotóxicos em produtos agrícolas e peixes oriundos do açude Epitácio Pessoa, b)- Iniciar práticas terapêuticas segundo as Técnicas da Medicina Tradicional Chinesa, visando melhorar as condições de saúde da população cujos resultados dos exames comprovadamente evidenciam problemas hepáticos e imunológicos. O Uso das técnicas de Medicina Tradicional Chinesa poderá ser útil no tratamento de pacientes com contaminação crônica por agrotóxicos e derivados. Pacientes contaminados e que apresentam alterações hepáticas e imunológicas poderão ser tratadas através da acupuntura constitucional, por exemplo, utilizando em cada paciente não mais que 10 agulhas de acupuntura por sessão, sendo realizadas duas sessões semanais. Com essa prática, é possível provar que a acupuntura aumenta as taxas de linfócitos CD8, e poderá estimular a eliminação através da urina e das fezes de metais pesados, melhorando o quadro clínico substancialmente e efetivamente. c)- Iniciar um trabalho de distribuição de material informativo junto às escolas e a comunidade em geral, sobre as doenças decorrentes da contaminação por agrotóxicos, as dificuldades de diagnosticá-las, os sintomas, que muitas vezes se confundem com gripe, dor de cabeça e enjôo. Informando, ainda, as formas corretas de manuseio dos produtos, cuja inconseqüência pode levar inclusive ao câncer, enfim, uma cartilha que informe sobre práticas mais limpas como medida de prevenção da saúde, as vantagens do uso de praticas produtivas ecológicas, sem uso de agrotóxicos, mostrando os ganhos não somente monetário, mas acima de tudo de saúde. 164 11.- Referências Adissi, P. J. (1998). O uso de agrotóxicos e os desafios da pesquisa na Paraíba. In: Anais do I Congresso Internacional de Naturologia Aplicada, Florianópolis, UNISUL, volume único Adissi, P. J.; Sobreira, A. E. G.; Ieno, G. M. L.; Kulesza, T. M.; Cardoso, M. A. A. & Brandão, R. W. P. (1999). O Uso de agrotóxicos para além do processo de trabalho: o caso do Açude de Boqueirão/PB. Produção e Sociedade, 3: 43-56. Aivargonzalez, R. (1984). Desenvolvimento do Nordeste Árido. Ministério do Interior, Departamento de Obras Contra as Secas, Fortaleza, Vol. 1. Perfil do Nordeste Árido. Almeida, C. V. B. (2001). 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TIBTECH, 17:2219-225. 173 ANEXO 174 CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO Este projeto científico envolvendo o médico Ricardo Arruda, aluno mestrando do PRODEMA, PROGRAMA REGIONAL DE PÓS GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO E MEIO AMBIENTE NA UFPB (Universidade Federal da Paraíba), e tem por objetivo, pesquisar a contaminação dos plantadores de tomate e pimentão nas margens do açude Epitácio Pessoa – Boqueirão/PB, sob orientação do Prof. Dr. Roberto Sassi. Eu,___________________________________________________________, ao assinar o presente termo, estarei consentindo a utilização de amostras de cabelo, sangue, esperma, e urina para análise de contaminação por agrotóxicos e ou elementos traços (metais), cujas informações sejam confidencialmente utilizadas para fins de pesquisa. 1-Minha participação envolverá em fornecer amostras de sangue, urina, esperma e cabelo, e responder questionários sobre hábitos alimentares e estilo de vida, e sobre sintomas que por ventura eu apresente. 2- Os exames de sangue e urina serão realizados pelo laboratório Maurílio de Almeida, e os mineralogramas (exame dos elementos traços no cabelo), serão realizados pelo laboratório Dr.Vandique, ambos na capital da Paraíba. 3- Eu compreendo que os resultados dos estudos de pesquisa podem ser publicados, mas que meu nome ou identificação não serão revelados. Para manter a confidencialidade de meus registros, o pesquisador acima descrito manterá minha identidade em forma de número e serão guardados dentro de envelopes nos quais somente eles, terão acesso. 4- Os possíveis benefícios de minha participação serão receber as informações sobre a quantidade de metais presentes no organismo, e o resultado dos exames de sangue e urina. 5- Admito que sou voluntária e não receberei nenhum pagamento por minha participação nesse estudo. 6- Fui informada que qualquer dúvida que tiver em relação a pesquisa ou a minha participação, antes ou depois do meu consentimento, serão respondidas pelo pesquisador supracitado. 6-Eu li as informações acima. Recebi a explicação sobre o tipo, riscos e benefícios do projeto de pesquisa, e assumo conscientemente os riscos envolvidos, compreendendo que posso retirar meu consentimento e interromper minha participação a qualquer momento, sem penalidade ou perda do benefício. Assinatura da voluntária Data: / / 2007