1 CONFLITOS FEMININOS EM UNA NUEVA
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1 CONFLITOS FEMININOS EM UNA NUEVA
1 CONFLITOS FEMININOS EM UNA NUEVA MUJER DE ALFONSO VALLEJO Ester Abreu Vieira de Oliveira UFES - APEEES Na dramaturgia de Alfonso Vallejoi observam-se ecos de autores espanhóis e estrangeiros. Por sua técnica sentem-se presentes não só autores do Século de Ouro espanhol como os das modernas dramaturgias europeia e norteamericana, o que pode ser o resultado de suas leituras, assistência a espetáculos, sua vivência, enfim, o efeito da globalização, pois, segundo ele, em uma entrevista com José Gabriel López Antuñano (2011), seu teatro não é expressionista, nem vanguardista, nem realista, nem épico, nem brechtiano, nem valleinclanesco, nem do absurdo, nem nada de nada. Usando suas palavras: “Mi teatro es lo que me ha salido a mí de dentro, como me ha salido en cada obra y en cada momento. E incluso en muchas obras coexisten diferentes lenguajes teatrales, incluso superpuestos”. Na revista Contexto eu o defini como um autor entre fronteiras: “Vallejo é um autor entre fronteiras – na terra de ninguém e de todos, ilhado junto aos escritores de sua época, estando a sua obra situada entre variedades de estilos, de épocas e culturas diferentes, também, seu teatro está situado entre o onírico e a realidade” (OLIVEIRA, 2004, p. 1) Assim, inseri-lo em qualquer grupo ou tendência torna-se problemático e, pela singularidade de seu teatro, como aponta Carbajo Gutiérrez (2011), “parece preferible señalar los rasgos singularizadores de su teatro”, e não subjugá-lo a uma estética determinada. Em suas obras, tanto as poéticas quanto as dramáticas, pode-se observar a sensibilidade do artista e um reflexo de sua vida profissional de médico: seja na realidade subjetivada e deformada das ações, seja no emprego de um léxico preciso próprio da vida profissional ou na apresentação de personagens loucos, assassinos e em estados terminais, como aparece em Panic, ou, ainda, em estados patológicos como a esquizofrenia, como uma forma de escapar de uma sociedade desunida, como em Cangrejos de pared. No fundo de suas obras está sempre presente a morte cuja tragicidade ele atenua, dialogicamente, nas fronteiras lingüísticas da ciência e da praça pública, ou seja, mezclando o trágico com o cômico. 2 Na entrevista a López Antuñano, acima citada, Vallejo fala do seu forte interesse pela filosofia, revelando que a escolha da medicina com ênfase na neurologia clínica, vinculada à neuropsiquiatria, foi uma estratégia, para conhecer mais profundamente o ser humano por dentro, no que tem de mais bonito e profundo, e assim realizar sua vocação de ser escritor, de ser um artista. Revela ainda suas muitas facetas, pois ele “foi muito outras coisas”: Un hombre con todas las complicaciones, contradicciones, deseos y proyectos ilusorios, que tienen los seres cuando por encima de todo son AVENTUREROS. Eso es lo que define mi teatro, mi poesía, mi pintura y toda mi actividad. Yo soy esencialmente un aventurero que vive la vida como un desafío extraordinario y una permanente invención. LA VIDA ES EL GRAN ASOMBRO. Y eso explica todo lo que hago. EL DESLUMBRAMIENTO ante la realidad. Con todo lo gozoso y trágico que esa posición conlleva. `Vivo tan fuera de mí que casi no vivo` [...] Toda mi obra está encaminada al DESLUMBRAMIENTO que produce la vida en todas sus manifestaciones. Y desde luego, en plan concreto, a la defensa de la Justicia y la verdad, que es competencia puramente nuestra. Un teatro de la acción. Con pozos negros y simas evidentemente. (LÓPEZ ANTUÑANO, 2011. Entrevista) Ler suas obras ou assistir a uma representação delas é adquirir uma aprendizagem e deixar fluírem as nossas sensibilidades e abrirem-se bem os olhos para a realidade de nosso mundo. Francisco Gutiérez Carbajo (2011), o maior estudioso das obras de Vallejo, em seu juízo de valor, disse que: Las creaciones de Vallejo, además de ser fuentes de conocimiento y de fruición, nos ayudan a instalarnos en la realidad y a interpretar las representaciones simbólicas. Ya he señalado en otras ocasiones que Vallejo ha logrado armonizar las esferas intelectual cognitiva y sensitiva emocional, que tradicionalmente aparecían disociadas. Nos recuerda además constantemente nuestro importantísimo papel de seres motivados por el sentimiento y por la emoción y regidos por el logos. [...] En 2006, Alfonso Vallejo lançou a obra dramática Una nueva mujer, na qual se encontram 18 breves quadros cujas ações centrais são executadas, em geral, por mulheres adolescentes, jovens e maduras, como uma forma de apresentar dramaticamente a mulher moderna. Em geral, a protagonista sofre um processo de redescobrimento, de epifania de sua vida interior, em uma história atual, que parecem ter saído de algum jornal de hoje e que se assemelha à consciência universal. A arguta perspicácia de Vallejo no desvendar da alma feminina faz lembrar os personagens dramáticos femininos criados por Tirso de Molina. Em Una nueva mujer, ao mesmo tempo em que o dramaturgo revela a alma feminina universal, jovem ou adulta, problematiza temas familiares e sociais entre 3 gerações. Há situações críticas entre professor e aluno, diretor e aluna, amizades de jovens e mãe e filha. Há, também, situações conflituosas no momento de solucionar um problema na eleição de um ou outro ser amado e entre um casal, num desgaste matrimonial. Os temas são variados: iniciação sexual de préadolescentes e adolescentes; crítica aos poderes social e político, acadêmico e científico; paixão de adolescente pela professora, habilidade de uma aluna adolescente para infringir tabus, questionamentos entre mãe e filha, mundo marginal de adolescente, decadência artística de uma atriz, entre outros temas. No prólogo da obra Carbajo Gutiérrez (VALLEJO, A. 2010) manifesta sua opinião sobre a eleição de Vallejo em destacar o tema da mulher espanhola: La mirada astuta y sabia de Vallejo ha percibido la intervención decidida de las mujeres en el imaginario contemporáneo y en el entramado de las fuerzas sociales y de las relaciones interpersonales. Es difícil encontrar otro país que, después de una larga dictadura y en un plazo muy reducido de años, haya experimentado una transformación igual a la del nuestro. En esa transformación las mujeres han ejercido una intervención decisiva, y reconocerlo y testimoniarlo era un estricto ejercicio de justicia. Vallejo lo ha hecho. Essa obra pelos temas instigantes e pela linguagem atual, pela forma breve e pela facilidade de encontrá-la — disponível na WEB —, pode ser utilizada em aulas de língua ou de literatura espanhola. A eleição de Vallejo por peças breves não é um procedimento novo na dramaturgia espanhola, pois já foi utilizado no século XIX em peças cômicas. Mas o dramaturgo dá ao conteúdo dramático extensão psicológica, atualizando esse centenário gênero dramático, de que a dramaturgia contemporânea se apropria, devido à praticidade das peças numa representação teatral (“una puesta en escena”) por incluir, em geral, na forma de monólogo, poucos artistas, um espaço fragmentado e tempo breve de tensão emocional, seguindo as pegadas de dramaturgos contemporâneos como Samuel Becket ou Eugène Ionesco. Na história do teatro espanhol, esse gênero breve (“género chico”) foi utilizado, no Século XVIII, por Don Ramón de la Cruz, que estabeleceu a forma definitiva do sainete, gênero teatral espanhol, de argumento simples, de tempo breve, menos de uma hora de duração, com um só cenário. Esse gênero é decorrente dos entremeses teatrais, do Século de Ouro Espanhol, que eram peças, em um só ato, alegres e cômicas, no qual o diálogo sofria a intervenção de música e bailes e a sua atuação se realizava nos intervalos da obra (“la comedia”) que se representava naquele dia. 4 Os entremeses foram utilizados por muitos autores dos séculos XVI e XVII. Dessa época, como exemplo, destacamos o escritor Miguel de Cervantes. Eram peças jocosas que tiveram como precursor “el paso”, cuja ação cômica era executada por pessoas de classe inferior. Los pasos eram pequenas peças cômicas, em que se brincava com a linguagem, utilizando equivocos e expressões eróticas, num tempo breve, numa linguagem realista, própria dos protagonistas. Eram breves esquetes (sketches). Os assuntos eram simples e se intercalavam nas ações de uma obra (“la comedia”) e foi assim denominado por Lope de Rueda, no Século XVI. Os pasos eram evoluções dos jogos de escárnios ou dos “villancicos”. Os personagens fíxos, típicos: o bobo, o pastor, o viscaíno, a negra, o lavrador, etc. recordam os personagens da comedia del arte. Os sainetes de Don Ramón de la Cruz lembravam esses gêneros anteriores, pela forma realista, pois se fazia um retrato da vida social madrilena, fixando-se no que havia de mais pitoresco, detendo-se nos aspectos degenerativos da realidade, como os arredores mais pobres, marginais e cheios de violência. Seus personagens representavam as ações de pessoas de baixa cultura pelas ações e linguagem. Contudo, Vallejo se transveste da psicologia feminina e nos apresenta os anseios, as dúvidas, o erotismo, os amores, as transformações e os desprezos de mulheres comuns em seu cotidiano, em breves histórias de mulheres, na sua obra em Una nueva mujer. Em oito dessas peças ele utiliza a forma de monólogosii, que lhe servirão para nos proporcionar o processo da mulher reconstruir os retalhos do passado, examinar os contornos deste e ruminar suas incertezas. Mas são os monólogos de desamor e incompreensão entre a mulher e seu companheiro afetivo que predominam na obra. Parece que o autor quer mostrar que o homem de hoje, ainda sob a influência de seus antepassados masculinos, machistas, não está pronto para relacionar-se com a “nova mulher” do século XXI. Das breves peças de Una nueva mujer destacamos como bom exemplo, da leitura que Vallejo faz da alma feminina, os monólogos em que o centro da ação é uma mulher: El matrimonio es um asco, Laura, Una decisión correcta, Jasmin, Soraya, Una nueva mujer, La inmolación, La confesión. O personagem dramático é, segundo Urbersfeld (1998, p.96, 106) “elemento decisivo da poética teatral” e só tem existência concreta em uma representação quando textual – existência virtual. A virtualidade textual serve para atualizar a leitura de um texto dramático, para estimular a sua representação, para assinalar as características físicas e/ou psíquicas que o autor empregou na caracterização das personagens e para 5 apontar as técnicas com as quais caracterizou as confluências de suas funções. Porém o ponto assinalador da situação singular que caracteriza a personagem será o seu discurso. Vallejo mostra a realidade interior das personagens manifestando-se em ações num tempo e num espaço preciso. A fala delas e a ação são expressões muito humanas. A utilização de monólogos após o acontecimento ou fora dele exclui as situações fortes demais, diminui ou elimina o que ele tem de dramático. A pessoa que narra o acontecimento pode reviver com força o que viveu isolando-se, ou, numa aparente fala com o público, sem esperar a sua réplica, impondo o que há de mais patético. A montagem de vários relatos de vida impõe um tempo teatral do ajuste, da reflexão e do distanciamento. Para o estudo de um personagem, a semiologia propõe fundamentar-se em categorias literárias e textuais e evitar o mais possível referências externas ao texto. No teatro é difícil prescindir da noção do personagem. No entanto, paradoxalmente, por sua singularidade e riqueza de signos, o personagem, durante uma representação, pode estar presente ou ausente. Contudo, para isso, requer, para um ou outro caso, recursos semióticos específicos para manter a sua significação. E num monólogo é frequente a referência a um personagem ausente. Em El matrimonio es um asco a personagem Amparo fala da desvantagem de um casamento e da vantagem que é ter uma companhia para discutir e discrepar. Discute por ninharias, coloca em sua insatisfação a família do cônjuge. Mostra sua insatisfação com os sogros e com o marido, menosprezando-o, desvalorizando-o ¡Pero se puede comprender que una mujer como yo esté quince años al lado de una birria como tú! ¡Pero vamos... si es que nunca has valido gran cosa... pero cuando nos conocimos... que maldito el día que nos conocimos... como ibas al gimnasio... pues dije... bueno... con el tiempo... igual se le arregla algo el cuerpo... [...]¡Jilipollas!. Ele, Ricardito, está na cozinha e se feriu (outra vez, em um acidente corriqueiro: “¡Que ha tropezado con la olla express y se ha abierto la cabeza!”, porque , segundo Amparo, é “muy patoso y tropieza en la cocina cuando se pone ciego!” ) e ela friamente e zangada, chama uma ambulância ridicularizando-o: “que no sabe soportar el dolor como lo hacen los hombres que se visten por abajo.”iii Em LAURA – Laura, a protagonista que dá título à peça, é um exemplo de comicidade e patetismo. Ela é uma náufraga que deixou de afogar-se no mar graças a ter flutuado agarrada no cadáver do marido. É um exemplo de sobreviver-se em situações 6 extremas e esse fato pode ser uma espécie de continuação do tema anterior, as relações desgastadas de um casal. Na peça UNA NUEVA MUJER que, também, dá nome ao conjunto das peças, é um exemplo de espertezas de jovens adolescentes e de atitudes lubidinosas de Ronchón, o diretor do colégio onde transcorre a ação. Ele vai repreender a aluna Natalie, de quatorze anos, proibindo-a de manter o seu foro na internet porque estava trazendo problemas para o colégio ao manifestar a sua opinião sobre o poder e a política internacional. Ela era filha de uma francesa, muito moderna e, em sua opinião ser bonita não é estar desinformada do que se passa no mundo nem é ser uma “puta”. E o professor foi mostrando-se voluptuoso durante o diálogo entre eles. Mas ela gravava toda a conversa num cassette e silenciou o diretor dizendo-lhe que divulgaria pela internet aquela conversação entre eles: [.... ] usted un cerdo, que hay cosas en la vida que no se deben permitir... y que me voy al ordenador a informar al resto del mundo... lo que me ha sucedido hoy. (Saca un cassette con la conversación grabada.) Aquí está todo. ¡Todo! ¡Esto es lo que tienen que pasar las jóvenes francesas hoy en día, cuando además de estar muy buenas, quieren defender la verdad. [...] UNA DECISIÓN CORRECTA é um trágico monólogo de uma confissão materna. Irstel teve que assumir uma dolorosa solução em uma situação de eleição. Durante um tsunami estava com dois filhos e para sobreviver, segundo ela, ou soltava uma criança e se agarrava no balustre da escada ou se afogariam os três. Então teve a decisão de soltar o mais velho, Tony, na esperaça de ele ser socorrido, e se firmou na grade apertando o pequeno Iván contra a parede. Assim ela narra: [...] Tony intentó sujetarse a los hierros... pero la corriente era cada vez más fuerte y el agua seguía subiendo. (Pausa.) Lo vi desaparecer en un remolino. Después salió su cabecita unos metros más abajo y lo pude seguir mientras intentaba bracear inútilmente contra el agua. (Pausa.) No sabía qué pensar. No sabía qué hacer. Sujetar al pequeño contra mi pecho y agarrarme a los barrotes con todas mis fuerzas. Y... rezar... sí... No sabía bien ni a quién ni qué tenía que decir. Rezar. Por mí y por mis dos hijos. A quien fuera y como fuera. Rezar. Qué podía hacer. Había tomado una decisión terrible. O saltaba al mayor, que tenía alguna posibilidad de salvarse... o moríamos los tres. (Silencio.) Fue una decisión difícil pero correcta. Tony pudo salvarse. Alguien pudo rescatarlo unos metros más abajo. Yo... y el pequeño... también. Una decisión correcta. Así fue. (Silencio.) Y ahora me encuentro aquí ante ustedes. Viva. Mis dos hijos están vivos. Pero algo en mí, algo por dentro... algo muy profundo permanece. La sensación de haber sacrificado a un hijo... de haberlo matado sin haberlo matado de verdad... Porque fui yo quien tuvo que soltarlo. Fui yo quien lo vio desaparecer arrastrado por el agua. Su propia madre. (Silencio.) Por eso me encuentro aquí y no sé qué 7 hacer. No sé bien qué me sucede. Me siento como muerta. Me miro a las manos y las veo cubiertas de sangre. Y... no sé a quién tengo que pedir perdón. Pero necesito que alguien me perdone. Tomé la decisión correcta en el momento correcto. Pero necesito que alguien me perdone. (Silencio.) Por eso he venido aquí. Por eso estoy ante ustedes. Porque quiero que me limpien estas manos cubiertas de sangre... y pueda encontrar de nuevo la paz. (Silencio. Cierra los ojos. Aprieta los dientes. Llora ) JASMIN trata de um monólogo onde há terror, erotismo, noções históricas e culturais e comicidade, intertextualidades e metateatro. Nessa peça misturam-se realidade, sonho e representação teatral na história de uma mulher malagueña, bonita e já madura, vestida com roupas árabes. Ela se envolveu em uma aventura amorosa com um árabe. Está presa, acorrentada no chão, no Irak, nos arredores de Bagdá, e passa momentos de terror. Ao ver a morte por perto, relembra a sua vida, seus passeios pelo parque e cerveja gelada que tomava comendo “gambas a la plancha”. Os momentos de angústia da jovem se misturam com uma linguagem cômica. Essa habilidade de misturar o cômico com o trágico é uma das características do teatro de Alfonso Vallejo. Do texto podem ser extraídos conceitos sociais, históricos e linguísticos: [...]¡Yo no me llamo Jasmín sino María, y soy cristiana y no mora! ¡Católica, sí, pero malagueña y española, cono! ¡Que yo no hago nada aquí¡ (Tira de la cadena con fuerza, para poder escapar.) ¡Socorroooo! ¡Santa Virgen de los Desamparados, San Braulio, San Baudelio, San Pancracio... Señor Cristo de los Gitanos... sacadme de aquí! (Llora.) [...] créanme que no es una broma. Que esto no es teatro... sino pura realidad. Se acercan los aviones y nos van a bombardear. (Tira de la cadena.) ¡Socorrooooo! ¡No quiero morir! ¡Pero cono, hagan ustedes algo, que esto va de veras! ¡No se piensen que yo soy una de esas locas que se suben a la escena a hacer teatro! ¡Que nos van a bombardear, leche! ¡Y que aquí no se va a salvar ni el apuntador! Que estas bombas modernas cuando dicen... voy por ti... vamos... que te siguen y te dan hagas lo que hagas... ¡Que hay que pirarse mucho antes de que empiecen a pensar... que como piensen... como se les dé tiempo a pensar.,, no te escapas ni con alas! (Esfuerzos desesperados por liberarse. Gritos.) ¡Nada! ¡Y ustedes ahí tan cómodamente sentados! ¡Ayúdenme, cono! ¡Echen una mano... que nos van a reventar! (Queda exhausta mirando al público.) ¿Y quién tiene la culpa de todo esto! ¡El! ¡El bello Tarik y la playa de El Palo! [...]¡Fue el azar el que estaba en contra mía! ¡Fue por esa maldita amiga que quedó conmigo en la playa! ¡Que me dijo... María... vamos a la playa que las dos somos cristianas y creemos en Dios, mujer, vamonos a dar un chapuzón! (Pausa.) ¿Un chapuzón! Y la muy zorra no vino... Pero allí estaba Tarik, como si fuera el año 711 y llegara a Tarifa. ¡Qué hijo de puta... qué guapo era el maldito iraquí! Ojos verdes... moreno... con unos caracoles de pelo que le caían por las orejas... un torso de dios griego plagado de cicatrices... y entre las piernas un paquete que parecía un tiburón... [...]. Porque yo no quería nada... Tan sólo me desnudé y me tendí al sol, haciendo que no le miraba. Al poco me quité el sostén para broncearme... y entonces él se acercó y me dijo: cristiana, enseñar los pezones de esa forma tan ostensible, eso no lo permito yo. Y me tapó con su toalla, abrazándome con fuerza caóticamente el tal Tarik. Yo... pobre de mí... cerré los ojos... pensando que iba con buenas intenciones... y que la 8 suerte por fin me sonreía y Andalucía entera había puesto en mi camino al hombre que me iba a hacer feliz. (Silencio.) ¡Ja, ja! [...]¡Maldita la hora que se me ocurrió darle rayos solares a los pezones! Y por si fuera poco... a Irak. ¡A Bagdad! Nada de Palma de Mallorca como todo el mundo... O incluso a las Canarias. ¡No! ¡A Iraki ¡Con Hassan! ¡Y Bush al otro lado! ¡Y el toro y el mono! ¡Y yo entre medio... con la cara como si estuviera disputando la final de los pesos welter! [...] Yo nací en Málaga pero vengo de los antiguos señores de la Montaña que lucharon contra el moro! ¡Y don Pelayo para mí es... como un padre... un dios! ¡Líbrame de este salvaje, que en vez de salir a tomar la copa y dejarme en casa viendo los programas rosa en la televisión con mis hijos, me sujeta con grilletes al suelo hasta que vuelve con la borrachera y empieza el ring¡ (Tira de la cadena. Se van acercando los aviones. Se oye la voz de Tarik cantando, entrando en casa) ¡Santiago y cierra España! ¡Apóstol de mis amores, ayúdame, ampárate de mí! ¡Libera a esta cristiana cautiva de una vez! ¡Te prometo hacer el Camino, ser buena, visitarte en Compostela...! (Esfuerzo titánico para quitar la cadena del suelo. Se oye el ruido de los aviones encima de la escena. Salta la cadena. Jasmín sale corriendo y desaparece por un lateral gritando de alegría. Aparece Tarik . Se oye el silbido descendente de una bomba. Tremenda explosión.) SORAYA – Ainda que pequena esta peça, a interpretação da personagem deve obedecer a uma das técnicas de Vallejo que é um ator poliédrico, heterogêneo, ambíguo e multigenérico da situação que representará. A cena será representada por uma jovem de uns vinte e cinco anos que traz o braço na tipóia, usa muletas, cabeça enfaixada e uma perna engessada, devido a uma queda de uma moto em alta velocidade. Essa nova mulher é revolucionária. Ela dirá: ¡Se acabó la sumisión! ¡Viva la anarquía puesto que el orden, la disciplina y el trabajo conduce... al paro, a la soledad y a la desesperación de las mujeres que se han independizado! [..] en la democracia, que ha intentado abrir un camino nuevo, aprender, estudiar, formarse, salir al extranjero, independizarse, tener sus propios criterios e imponerlos a la sociedad. De eso es de lo que estoy hablando. ¡Ni más ni menos! ¡De un nuevo tipo de mujer inédito en la historia de la mujer española y que ha tenido que pagar el pato por ser lo que ella misma quería ser! ¡Agárrense! Pagar el pato y de qué forma! Porque muchas cosas han seguido igual [...]” LA INMOLACIÓN – Nessa peça, novamente, o autor interpõe vida e teatralidade durante a representação. Na didascália (rubrica) dessa peça ele define a característica da personagem: (AGUSTINA es una actriz en la madurez. Tiene entre 50 y 70 años, pero posee todos los registros cómicos y trágicos de una larga experiencia. No aparenta la edad que dice tener. Puede ir vestida con ropa de chica joven. AGUSTINA frente al público, seria, grave, con una enorme tripa. Se señala el vientre). Agustina se identifica e explica que sua barriga está grande não por gravidez, mas por trazer uma bomba: Me llamo Agustina. Y esto no es un embarazo. ¡Es una bomba! (Pausa) ¡Esto no es de mentira, sino de verdad! ¡No vengo (Pausa.) Yo misma he preparado, va a estallar ante ustedes, destrozando mi cuerpo y haciéndoles cómplices a todos 9 ustedes, y a todos los responsables de la Cultura..., de esta muerte por explosión de bomba casera [...] Agustina, Mulher-Bomba, mostra sua insatisfação para com a cultura espanhola e declara não valorizar os autores dramáticos: [...] Yo soy una J.A.U! ¡Una Joven Autora Ultrajada de los miles de jóvenes autoras ultrajadas que pueblan la geografía española! ¡Es más: soy una J.A.U.C! Una Joven Autora Ultrajada Crónicamente... De la generación anterior a la de Buero y Sastre..., la Generación Republicana. ¡Mi muerte será un alarido de protesta por la causa del Autor Español Maltratado e Ignorado..., el A.E.M.I! Soy una JAUC y una AEMI los pies a la cabeza..., y después de tanto años de lucha, sólo me queda una solución: explotarme. Nos han humillado..., insultado..., ofendido... A algunas nos han violado... Y, menos apedrearnos, nos han hecho casi de todo... [...] LA CONFESIÓN - Essa peça apresenta um quadro de uma pessoa diante de um confessor impassível. Nota-se uma crítica à maneira de atuar um confessor, de sua falta de vivência. Na fala da personagem pode-se observar a demonstração irônica dos preceitos eclesiático que a “nova mulher”, pensante, questiona: [...] Creo que eres una de esas personas que convencen, porque creen todo lo que dicen. ¡Estás convencido de que lo entiendes todo y que puedes juzgar a los demás con la doctrina exacta! ¡Con la verdad! ¡Por lo menos, con tu verdad. El mensaje certero que impones a quienes se ponen a tus pies! [...] e han enseñado a tenerlo todo perfectamente ordenado, argumentado y explicado. No te han dicho que es una teoría más... [...]¡Responde! ¿Dónde está la verdad? ¡Cuál es la verdad? ¿Quién la conoce? ¿Quién dispone de ella? ¿Quién la transmite? ¿Tú? Tú con tus sermones, con tus tentaciones perpetuas, con la falsa seguridad de quien prefiere juzgar la vida en vez de vivirla. (Silencio.) ¿Me oyes? ¿Por qué no dices algo? ¿Por qué no dices ni siquiera que me calle, que estoy muy nerviosa después del funeral..., que soy joven y encontraré a otra persona igual..., que no era el único ser en una tierra que se ha vuelto inestable y te intenta tragar? (Silencio.) Y ahora, ¿qué vas a hacer, sentado en tu sillón..., con tus gafitas bien puestas, inventando el mundo con esas doctrinas en las que un día todos creímos y que, con el tiempo, han demostrado ser..., simplemente, mentira... y oscuridad? [...] Na obra de Alfonso Vallejo observa-se o propósito de ele criticar a sociedade e de apresentar as suas feridas, fazendo uso da ironia para indicar a limitação da sociedade. Em Una nueva mujer, aponta a trangressão da mulher, de vários seguimentos sociais e de faixas etárias diversas, diante dos rígidos padrões sociais. O interesse de Alfonso Vallejo pelos recursos irônicos permeia a sua obra durante as várias manifestaões de seus personagens. Vallejo utiliza a língua como instrumento de comicidade e de zombaria, no emprego da paródia, do duplo sentido, de cacofonia, de palavrões, de derivação, de onomatopéia, de ultracorreção, de metátese, de síncope, de etimologia, de neologismo, de arcaísmo, de duplo sentido, de trocadilho, de paradoxo e de aproveitamento de deixas do discurso. 10 O riso é fácil quando, com rudeza, suja uma figura e um tabu social; quando assinala um vício e o exagero de um cânone; quando violenta um costume e põe dogmas em ridículo. O riso aparece por semelhança, uma coisa que parece ser outra, como as máscaras do baile de carnaval. A imagem dupla não diz a mesma coisa, mas o diferente. O riso surge quando a imagem nos incomoda. E Alfonso Vallejo usa a técnica variada do riso sem anular o trágico, técnica reconhecida em obras de escritores clássicos espanhóis como em D. Quixote, Cervantes, ou em Los sueños, de Quevedo. Terminamos citando Bakhtin (1981), que, ao examinar a carnavalização em duas obras do segundo período de produção literária de Dostoiévsk, nas quais é forte o elemento cômico, diz que o riso é uma posição estética e Bergson (1978) que afirma que "a arte do caricaturesco consiste em captar um pormenor, às vezes imperceptível, e torná-lo evidente a todos através da ampliação de suas dimensões". É claro que sendo o riso uma característica social e cultural de cada época e de cada povo possui seu próprio e específico sentido de humor e de comicidade, pois ele obedece à condição de ordem histórica, social, nacional e pessoal. Porém cabe ao especialista aproximar-se da cultura e da época em que o texto foi produzido para retirar dele as pérolas que denunciam a sociedade da qual faz parte, e Alfonso Vallejo sabe manejar o risom soltando-o e reprimindo-o. e entre o trágico e o cômico retrata a sociedade atual e, em Una nueva mujer, aponta conflitos universais femininos que podem ocorrer com a mulher de diferente idades e classe social. REFERÊNCIA BAKHTIN, M. Problemas da poética de Dostoiévski. Tradução de Paulo Bezerra. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1981. BERGSON, H. O riso: ensaio sobre a significação do cômico, 2.ed., Rio de Janeiro: Guanabara, 1978. GUTIÉRREZ CARBAJO, F. Disponível em: http://www.alfonsovallejo.com/espanol/libros/librounanuevamujer.pdf. Acesso em: 03 de jan. 2011. LÓPEZ ANTUÑANO, José Gabriel. ENTREVISTA com Alfonso Vallejo. Disponível em: http// www.alfonsovallejo.com/espanol/libros/Entrevista/p.pdf. Acesso em: 08 de jan. de 2011. OLIVEIRA, Ester Abreu Vieira de. Para una lectura del teatro actual. Estudio de PANIC de Alfonso Vallejo. Vitória: Academia Espírito-santense de Letras, 2010. _______. Vallejo: autor entre fronteiras - na terra de ninguém e de todos. Contexto, Vitória, p. 1-14, 2004. RYNGAERT, Jean-Pierre. Ler o teatro contemporâneo. Tradução de Andra Stahel M. da Silva. São Paulo: Martins /Fontes, 1998. 11 UBERSFELD, Anne. Semiótica teatral. Traducción y adaptación de Francisco Torres Monreal. 3.ed. Madrid: Ed. Sociales/Messidor; Ed. Cátedra, 1998. VALLEJO, A. Disponível em: http://www.alfonsovallejo.com/espanol/libros/prologounanuevamujer.pdf. Acesso em: 28 de dez. 2010. i Alfonso Vallejo é o pseudônimo de Rodriguez Vallejo (Santander, 1943), neurólogo, médico de um hospital de Madrid; professor de Patologia; poeta, com 22 livros de poesias, nos quais se revela um poeta de reflexões transcendentais; dramaturgo, com umas 30 obras dramáticas publicadas e varias delas representadas na Espanha e fora dela (Europa e América) e pintor, vanguardista e superrealista. Nessa função artística realizou exposições individuais em várias cidades espanholas [Madri (1983, 1988, 1992, 1997, 2008); Zaragoza (1991); Aranjuez (2004); Aranjuez (2005); Alcorcón (2007) e Cuenca (2008, 2009) e possui quadros no acervo da Biblioteca Nacional]. Por suas obras dramáticas, algumas já traduzidas para o francês, inglês, alemão, búlgaro e português, ele já recebeu os premios: “Lope de Vega” (1975) por Ácido sulfúrico; “Nacional Lope de Vega” (1976) por El Desgüace; “Internacional Tirso de Molina” (1978) por A tumba abierta; Fastenrath de la Real Academia Española (1980) por El Cero Transparente, que constituyó el libreto de la ópera Kiu (1983) de Luis de Pablo. ii O monólogo é uma espécie de forma primeira do teatro, que provèm dos “rapsodos“, declamadores,.que iam de cidade em cidade cantar poesias e sobretudo fragmentos extraídos da llíada e da Odisséia", às vezes alterados. O uso da forma de monólogo é mais apropriado para a exteriorização do tumulto interno de um personagem que um diálogo, pois com esse procedimento pode ser feita uma confissão, que, em uma tragédia, o dramaturgo usa o recurso do solilóquio, procedimento bem utilizado por Shakespeare (cf. Hamlet) e Calderón de la Barca (cf. solilóquio de Segismundo em La vida es sueño), quando seus personagens – símbolos - fazem uma confissão ao público num grande poema-monólogo. Num monólogo é comum que os atores rebusquem pensamentos profundos psicologicamente, expondo idéias que deixam transparecer que há mais de um ator em cena, mas que na realidade exigem somente uma pessoa durante a cena. Ele é um processo semiótico de comunicação em que um personagem dramático enuncia um discurso no qual o Eu fala a um Tu, porém sem a intenção de obter resposta, atitude diferente do processo dialógico em que há interação, num jogo de alternâncias dos sujeitos e interação verbal entre os interlocutores. Enfim, o monólogo está associado a um conflito psicológico que não é necessariamente individual, nele se encontra a exteriorização da auto-análise psíquica dos personagens (é o que os místicos chamavam de introspecção, que são as constantes falas mudas que soam dentro de nós, num constante diálogo secreto, que a imaginação ouve o que quer ouvir). O monólogo usa o estratagema de fazer de um caráter não cênico uma personagem tão real quanto a do palco. O teatro é ação, mas a ação nos interessa quando, através dela, vemos o espírito que a inspira. E, como Vallejo se interesa pelo interior do ser humano e o teatro moderno se apropria de teorias e conceitos oriundos da psicoanálise, Vallejo, para melhor caracterizar os seus personagens, usa frequentemente o solilóquio (como aparece em Panic, já no primeiro ato, na voz de Rex) ou, monólogos como nas oito peças breves de Una nueva mujer. Beckett denomina de "dramatículos" aos seus breves textos dramáticos. iii [...]¡Si yo sé el día de la boda que íbamos a acabar así, vamos... cojo un cuchillo y me lío a cuchilladas y no dejo títeres con cabeza! Y los primeros que hubieran caído hubieran sido tus papás... ¡Vaya unos suegros! ¡Valientes hijos de puta! ¡Que nos iban a avalar el préstamos del banco! ¡Ja! ¡Si estaban al borde de la mendicidad y parecía que estaban emparentados con Botín en línea directa! ¡Valientes caraduras! ¡Y tus primos! ¡Vaya unos primitos! ¡Les gustaba más una bodega que a una tonta un lápiz! ¡Si llego yo a saber esto... vamos... ni por la Iglesia... ni por el Estado... sino por viajes Halcón. ¡Me voy a Tanzania! ¡Salgo pitando y no me veis el pelo 12 hasta la jubilación.! ¡El mismo cuerpo y la misma carne! ¡Ja! ¡Juntos ante la adversidad! ¡Hasta que la muerte nos separe! ¡Ja! ¡Y yo de blanco, como una gilipollas, con cola y todo para darle gusto a tu mamá! Me cago en... [...] ¡Pero se puede comprender que una mujer como yo esté quince años al lado de una birria como tú! ¡Pero vamos... si es que nunca has valido gran cosa... pero cuando nos conocimos... que maldito el día que nos conocimos... como ibas al gimnasio... pues dije... bueno... con el tiempo... igual se le arregla algo el cuerpo... [...]¡Jilipollas! (Marca un número de teléfono.) Oiga... por favor manden ustedes una ambulancia a la calle Dos Huevos número dos. ¿Cómo! ¿Qué quiere que haya? ¡Un herido! ¿Para que les voy a llamar entonces si no hubiera un herido! ¡Sí Ricardito! ¡Y qué? ¿Otra vez! ¡Pues claro que otra vez! ¡Qué pasa, que no puede uno tener un accidente cuando le dé la gana? ¿Qué le ha pasado esta vez? ¡Que ha tropezado con la olla express y se ha abierto la cabeza! ¿Qué hay de malo en eso! Pues que es muy patoso y tropieza en la cocina cuando se pone ciego! (Lamentos) ¡Que te calles! No... a usted no se lo digo... se lo digo a Ricardito... que no sabe soportar el dolor como lo hacen los hombres que se visten por abajo. ¿Cómo! ¡Que si yo estoy bien? ¿Y cómo quiere que esté! ¡En mi sitio! ¡Como hacen las mujeres que cocinan con instrumentos de super-acero de alta calidad.. (Cuelga. Lamentos. Bebe, digna.) ¡¡Las cosas bien claras! ¡Hasta ahí podíamos llegar! ¡No te jode!