arte poética - Eduardo Guerreiro B. Losso
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arte poética - Eduardo Guerreiro B. Losso
CLÁSSICOS I N Q U É R I T O Tenro -12 HORÁCIO ARTE POÉTICA Introdução, Tradução e Comentário K. M. Rosado Fernandes da faculdade de Letras de Lisboa de IHQPgRITO EDITORIAL I N Q U É R I T O LISBOA V LIMITADA N O T A à PRESENTE E D I Ç Ã O Esteve uma anterior da Arte edição portuguesa Poética boraciana esgotada durante vários anos. Por ser peça indispensável para a compreensão ra da obra literária, por ter influenciado culo XVIII a literatura curada. ocidental, Por ser procurada, vez quase desaparecida, tura de fotocópias se sentem os livros, terada, excepto gráficas, até ao sé- foi essa edição tornou-se rara e, tem sido submetida sem número. Não se sabe mas alegramo-nos sente edição da Inquérito, da feitu- actualizadas, casos do texto português, uma ã torcomo com a pre- que aparece quase no que respeita a indicações que foram pro- inalbiblio- e a dois ou três que foram melhorados. À MEMÓÍUA DO MEU QUERIDO MESTRE PROF. SCARLAT LA MB RI NO H EM LEMBRANÇA DA SUA GRANDE BONDADE E VASTA ERUDIÇÃO. PREFÁCIO A presente edição tem como único fim proporcionar mais um instrumento de trabalho aos estudiosos portugueses interessados no conhecimento da teoria literária antiga e da sua influência nas literaturas modernas. Faltava-lhes, com-efeito, desde há muito tempo, uma tradução portuguesa da Arte Poética horaciana e faltava-Ihes, sobretudo, a edição desta, acompanhada por um comentário actualizado. Este lhes permitirá averiguar em que medida progrediu, neste nosso século, a ciência filológica ocupada em esclarecer este texto fundamental de Horácio. Tal carência foi a razão mais preponderante, sem falar do meu gosto por Horácio, que me levou a abordar o assunto e a levá-lo a cabo, muito embora não ignorasse as dificuldades e as contingências de tal empreendimento. Não deve o leitor procurar, no que se lhe apresenta no comentário, originalidade de métodos e de matérias. Não é possível, sem ser a longo prazo, fazer investigações originais sobre o texto da Arte Poética, pois a bibliografia'fundamental sobre o assunto amontoa-se desde há séculos e, ainda que de qualidade desigual, a verdade é que o seu conhecimento se torna indispensável. Ora ele 9 só é materialmente possível, pela leitura aturada de da forma, ou seja, d a língua e da estrutura do discurso vários anos. horaciano. No entanto, para suprir essa lenta posse de conheci- O' texto | latino fundamenta-se fprmfcipalrnenite nos mentos e idéias, decidi tomar como fontes orientadoras textos estabelecidos por Villeneuve e Klingner, da rainha informação os estudos mais modernos sobre edições estão citadas na bibliografia. Só se introduziram algu- Horácio e a sua Arte Poética, entre os quais se salientam mas ligeiras alterações n o tocante à ortografia, como, os de Rosíagni, Perret e, muito especialmente, o de p . e x . , na substituição de uolt por tmlt (v. 348), a fim Brink. A estes utilizei-os profusamente. de facilitar a compreensão dos versos horacianos a o leitor Quanto ao plano, é este livro, por assim dizer, canónico. Na introdução, situei a Arte Poética no meio am- cujas menos versado na leitura do 'latim. Oxalá esta edição- lhe sirva de algum auxílio. biente em que foi criada e assim também no lugar que Cumpre-me recordar agora a contribuição dada a lhe compete no brilhante processo e evolução da obra este trabalho pelo Prof. Scarlat Lambrino que a morte horaciana. Não descurei igualmente a problemática que aeafxnu de roubar, tão' bruscamente, à nossa convivên- subsiste, no que respeita a estrutura do poema, as suas cia. Ele leu e melhorou o original com várias sugestões fontes e a sua finalidade. P o r fim, tomei em considera- ditadas pelo espírito crítico, severo e justo, que todos ção as edições portuguesas da Arte Poética, para que o lhe conhecíamos. T a m b é m ele deveria ter escrito o pre- leitor possa fazer uma idéia segura do interesse desper- fácio para esta edição, se a morte o não tivesse sur- tado, no nosso país, por este texto. preendido no meio dos seus trabalhos. Todas as palavras Na tradução, que confronta o texto latino, procurei são poucas para descrever a sua acçao benéfica de di- observar com fidelidade o texto original, fazendo o pos- dacta e investigador, mas estou certo de que a obra dos sível para que o leitor o sinta cm todas as suas caracte- seus discípulos a comprovará largamente, pois, através rísticas de documento literário, feito por um espírito deles, a sua figura continuará a viver. perspicaz e crítico. No tocante ao comentário, é ele o mais completo pos- Reata-me agradecer a o Prof. Prado Coelho o interesse tl que demonstrou na publicação deste trabalho le a o meu ;íí: sível, sem que esteja demasiado sobrecarregado por mi- A m i g o Antônio Coimbra Martins a paciência com que nudências inúteis, que em nada facilitam a compreensão leu o original^ do texto e que não interessam senão ao especialista. íívto. Desejo finalmente lembrar a colaboração' dada pelo Atendi sobretudo às dificuldades levantadas pelo con- Dr. Victor Buescu n a comecção das provas tipográficas teúdo, mas esclareci também os aspectos mais insólitos e no melhoramento de vários pormenores. 10 1 e a s sugestões com q u e enriqueceu este y i INTRODUÇÃO H O R Á C I O E A SUA A R T E P O É T I C A Foí na Apúlía e mais precisamente em Venúsía Flaccus que Quintus Horatius Vida Na8c, 65 a.C. nasceu, em 8 de Dezembro de 65 a.C. Ele próprio o diz nas Odes., I I , 17, 17 e segs., referindo-se aos signos astrais que presidiram ao seu nascimento. Filho de um libertas (escravo forro) que, entretanto, grangeara uma posição e uma pequena quinta, foi enviado por seu pai a estudar em Roma com o retor Orbilius, sentando-se nos mesmos bancos que os filhos de senadores e cavaleiros, seus condiscípulos.' Continuará os estudos em Atenas e, aos vinte anos (44 a . C . ) , alistar-se-á no exército de Bruto como tribunus militum, voltando a Roma em 42, depois ido desastre de Filipos, que levara Bruto ao suicídio. N o retorno a Roma espera-o a adversidade: o pai morrera, e a pequena quinta, que possuía, fora confiscada. A pobreza esperava-o, pois, e só com o trabalho quotidiano a poderia Horácio enfrentar. então como scriba quastorius, Emprega-se ou seja, qualquer coisa 13 só é materialmente possível, pela leitura aturada de da forma, ou seja, da língua e da estrutura do discurso vários anos. horaciano. No entanto, para suprir essa lenta posse de conheci- O texto latino fundamenta-se pr mt ipaimente nos mentos e idéias, decidi tomar como fontes orientadoras textos estabelecidos por Villeneuve e Klingner, cujas: da minha informação os estudos mais modernos sobre edições estão citadas na bibliografia. Só se introduziram algu- Horácio e a sua Arte Poética, entre os quais se salientam mas ligeiras 'alterações no tocante à ortografia, como, os de Kostagni, Perret e, muito especialmente, o de p. e x . , n a substituição de uolt por uult (v. 348), a fim Brink. A estes utilizei-os profusamente. de facilitar a compreensão dos versos horacianos a o leitor Quanto ao plano, é este livro, por assim dizer, canónico. Na introdução, situei a Arte Poética no meio am- menos versado na leitura do' 'latim. Oxalá esta edição lhe sirva de algum aruxAio. biente em que foi criada e assim também no lugar que Cumpre-me recordar agora a contribuição dada a lhe compete no brilhante processo e evolução da obra este trabalho pelo Prof. Scarlat Lambrino que a morte horaciana. Não descnrei igualmente a problemática que acabou de roubar, tão bruscamente, à nossa convivên- subsiste, no que respeita a estrutura do poema, as suas cia. Ele leu e melhorou o original com várias sugestões fontes e a sua finalidade. Por fim, tomei em considera- ditadas pelo espírito crítico, severo e justo, que todos ção as edições portuguesas da Arte Poética, para que o lhe conhecíamos. Também ele deveria ter escrito o pre- leitor possa fazer uma idéia segura do interesse desper- fácio para esta edição, se a morte o não tivesse sur- tado, no nosso país, por este texto. preendido no meio dos seus trabalhos. Todas as palavras Na tradução, que confronta o texto latino, procurei são poucas para descrever a sua acção benéfica de di- observar com fidelidade o texto original, fazendo o pos- dacta e investigador, mas estou certo de que a obra dos sível para que o leitor o sinta em todas as suas caracte- seus discípulos a comprovará largamente, pois, através rísticas de documento literário, feito por um espírito deles, a sua figura continuará a viver. perspicaz e crítico. Rcsta-mc agradecer a o Prof. Prado Coalho o> interesse No tocante ao comentário, é ele o mais completo pos- que demonstrou na publicação deste trabalho e a o meu sível, sem que esteja demasiado sobrecarregado por mi- A m i g o Antônio Coimbra Martins a paciência com que nudências inúteis, que em nada facilitam a compreensão leu o original e à s sugestões com que enriqueceu este i do texto e que não interessam senão ao especialista. livro. Desejo finalmente lembrar a colaboração dada pelo Atendi sobretudo às dificuldades levantadas pelo con- Dr. Victor Buesou n a correcção das provas tipográficas teúdo, mas esclareci também os aspectos mais insólitos e no melhoramento de vários pormenores. como amanuense do Ministério das Finanças, setm que, todavia, deixasse a ocupação que lhe era mais agradável, a poesia, comprazendo-se em publicar poemas que, ainda; na juventude, o tornam célebre. a publicação de versos, que o ajudava a aumentar o pecúlio mensal. Foi exactamente nesta fase difícil que travou conhecimento com Vário e Virgílio que o apresentaram a Mecenas, proporcionando-lhe, por volta de 38 a.C., um lugar no círculo de literatos que se reunia na casa do grande benfeitor das letras. Com esta entrada para aquela sociedade de artistas e escritores, começará para Horácio uma nova era de suoesso literário, de melhoria financeira e uma longa amizade com Mecenas e alguns dos poetas protegidos por este. Também, como conseqüência natural do meio que passara a freqüentar, as suas relações sociais estenderam-se às personalidades dominantes da Roma de então e chegaram mesmo ao próprio imperador que igualmente passou a protegê-lo. Alguns anos depois, já Horácio estava definitivamente A obra poética que nos deixou é o Obra poética reflexo da sua personalidade equilibrada, sem ser demasiado satisfeita, do seu carácter ambicioso, sem que por isso fosse possuído por eterno descontentamento. Combinava um bom-gosto muito seu, uma ironia prazenteira e um labor incansável, com os resultados da sua experiência poética, com a leitura da poesia grega e romana e com os conhecimentos teóricos que aprendera na escola de Orbílio, nas escolas de Atenas e nos estudos que fez pala vida fora. Desta sorte, a sua obra — em que a té^v^ grega se combina admiràvelmente com o Italum (ws) facetum e com a ironia que ao poeta era peculiar — , ainda que apresente certa diversidade, não deixa de estar unida interiormente pelo seu equilíbrio e bom senso estético. •liberto das preocupações financeiras e na posse reconfor- Horácio inicia-se e dá-se a conhecer tante de uma propriedade na região sabina, que, com a grande público com os Epodos sua casa de Roíma, formava um dos dois polos que deli- ao mitavam a sua existência de homem e die artista. Eim (:iambi) tem número de dezassete, compostos entre 41! e Roma, desejava ter a tranqüilidade, a simplicidade que 31i a.C. e publicados em 30. Embora ainda incipiente o esperavam na sua quinta. Uma vez nesta, porém, logo e imaturo, o poeta já aqui nos traz inovações importan- ihe voltava o spleen da vida turbulentamente intelectual tes, como ale próprio diz, ao 'dar a conhecer ao Lácio do meio artístico de Roma. os jambos de Arquíloco de Paros {Epíst., Epodos I, 19, 23-5). Neles se ocupa da crítica social e política—-não tão Até à sua morte, em 27 de Novembro de 8 a.C., nunca mais abandonou aa Morte 8 a.C. mordaz e pessoal como a de Arquíloco — , do amor e da tranqüilidade que a vida do campo proporciona. 15 A o s Epodos ftí (Satum seguem-se as Sátiras ou Sermoties) Sátiras constituídas por lembrar os pequenos lugares (fonte de Bandúsia), que, de qualquer modo, lhe tinham agradado e excitado a ima- p i d o i s livros ( o primeiro, publicado cerca de 35 a.C., con- ginação. A sede de perfeição que nas Odes se revela, Ipf^tém dez poemas, e o segundo, que vem a lume cerca de já não escapara ao juízo ida antigüidade que diz, pela 30, contém oito), em que Horácio apresenta temática 'boca de Quintifiano, que «dos líricos é o mesmo Horácio variada que percorre todas as gamas da vida contempo- quasie o único digno de ser lido, pois se inspira por vezes rânea e da sua própria vida. Tomando Lucílio, o velho e está cheio de alegria e beleza, é múltiplo nas figuras, poeta satírico, como seu modelo romano, Horácio vai audaz, com extremo bom gosto na escola das pala- dor um novo rumo à sátira .tornando-a mais dúctil, mais vras» ( l ) . Este juízo da antigüidade define com exacti- bem humorada: tem a arte de a (fazer tão contun- dão, julgamos nós, tudo quanto se possa pensar acerca dente como a do .seu modelo, mas menos directa e me- do poeta. j> \ nos grosseira. Os temas vão desde a gastronomia, literari . tura e observação >de tipos sociais, à descrição dos mais Já no fim da vida encomenda-lhe Carmen I insignificantes incidentes da vida quotidiana, e neles Augusto um hino à maneira sáfica dedi- í: semeia Horácio, a cada passo, pormenores autobiográ- cado a Apoio e Diana. Compõe Horácio ficos, idéias literárias, morais e filosóficas, nas quais então o chamado Carmen Sczculare, que foi cantado nos sobressai notável tendência epicurista, a que apregoa o Jogos Seculares de 17 a.C. por um coro de 27 rapazes meio termo e o prazer moderado. e 27 raparigas. Nele se celebram, em hábil combinação Saeculare de misticismo e patriotismo, a glória de Roma e os beneÉ, no entanto, nas Odes (quatro li- Odes vros e cento e três poemas) que Horácio fícios que a cidade colheu da genial administração de Augusto. mais se evidencia pela veia poética, pela técnica apurada de versificador e pela linguagem tersa e sempre apro- Finalmente restam os dois livros das priada aos temas de que se ocupa. Estão compostas nos Epístolas. O primeiro, com 19 cartas, foi Epístolas mais variados metros gregos, desde as antigas estrofes alcaicas e sáficas, à estrofe asclepiadeia da época helenísüca. Nelas trata Horácio dos temas que mais lhe inte- ( t ) Inst. Of., X, i , 96: « A t lyricarum idem Horatius fere 60ÍUS legi diignus: nairt et msurgit aliquando et plenus est ressam, comprazendo-se em cantar os feitos de homens iucunditatis et gratise et uaxius figuris et uerbis felicissime políticos, em louvar os deuses e os seus amigos, em audax.» 16 1NQ 11 — 2 17 publicado em 20 a.C. Nele se encontra uma verdadeira Horácio marca a sua posição literária, colocando-se entre filosofia da vida, em que o poeta, já amadurecido pelos os modernizantes da escola de Catulo e Calvo e os arcai- anos e na posse de larga experiência, só foca o essencial zantes admiradores de Lucílio. Começa já a defender um e despreza o acessório. Basta lembrar a Epíst. I, 11; princípio que veremos aparecer na Arte Poética: os escri- escrita para combater a angústia de um amigo, a quem tores latinos devem formar o seu gosto na leitura das Horácio diz que, por mais que procure, só nele próprio letras gregas; I I , 1: — Horário defende-se dos seus crí- encontrará a paz: «os que correm os mares, mudam de ticos, fazendo a sua apologia por meio de um diálogo céu, mas não de espírito» ( 2 ) . seu com O' jurisconsulto Trebácio. Vemos que começa agora, no declínio da vida, a acalmar-se, tendendo para uma filosofia, em que entram Nas Epístolas, veremos mais patente Epístolas I, Literárias elementos do epicurismo, de que se considera fiel adepto a veia crítica de Horácio, A Epíst., (diz pertencer ao rebanho de Epicuro, Epíst., I, 4, 16) 19, dedicada a Mecenas, procura servir e do estoicismo. Resta saber se este estoicismo foi apren- de defesa contra os críticos, que o acusa- Epístola a dido nos livros de filosofia ou na sua experiência da vida. vam de imitação. É Horácio, porém, que Mecenas No livro segundo das Epístolas (neste só se contam disso os acusa dizendo: « ó imitadores, ó duas), entrega-se Horácio inteiramente à crítica literária. gado servi]!», pondo neles os defeitos de que o arguiam. £ neste capítulo que vai integrar-se a Arte Defende-se, depois, mostrando em que medida fora ino- Poética. vador e original dentro da poesia de Roma, ao introduzir A Arte Poética, contudo, não surge sem uma prévia evolução, que tentaremos esboçar. Já quando das Sátiras Literárias novos temas e novos metros, ao tdar a conhecer Arquíloco, Safo e Alceu. Sátiras, Horácio procura teorizar os seus conhecimentos de poé- Mais importante do que a anterior Epístola tica. Em três sátiras compostas por volta de 30 a.C., é a epístola a Floro ( I I , 2), na qual o a Floro I, 4; I, 10; I I , 1, tenta responder a certas questões teó- poeta explica as razões que o levaram a ricas de poesia. I, 4: — O que constitui um bom poema não publicar mais no domínio da lírica, É que ele agora e como pode averiguar-se a sua qualidade; I , 10: — não escrevia, porque tinha o suficiente, porque estava velho e porque, enfim, Roma estava demasiado baru- {2) V . 27: tCaelum, non animum inutant, qui trans maré currunt». 18 lhenta. Além disso, todos devem, no fim da vida, voltar à meditação e à filosofia. Entretanto, critica o baixo 19 nível da poesia romana, pela falta de cuidado que os poetas denotam na língua •poética que usam. Horácio disserta sobre as razões de carácter netórico-poético que presidem à escolha de palavras e à composição da frase, tal como fará posteriormente na Arte Poética. Como nesta, já começa a defender o princípio de que o poeta | i. • deve ser um técnico da língua e não simples amador. Horácio aparece-nos, neste poema, como teoriza dor da literatura e como grande estilista, esses mesmos aspectos com que se revestirá e se afirmará definitivamente ma Arte Só três gêneros poéticos serão apreciados: o 'dramático ( w . 139-213), o épico ( w . 214-270) e o lírico ( v v . 132-138), que ocupará um lugar modesto. Trava discussão, sobretudo, acerca dos tópicos literários que lhe eram caros: o antigo e o moderno; o 'grego e o romano; o poeta e a sociedade. Este último tinha muita importância, visto que muitos poetas (como Virgílio), abandonando a poesia subjectiva, se tinham dedicado à causa de Roma a do Estado, cantando a grandeza de ambos. Mas Horácio não toma partido por qualquer posição Poética. extremista: não é arcaizante, mas tão-pouco é moderniEmbora numerada, nas edições de Horácio, antes da epístola a Floro, a Epístola a Augusto epístola dedicada a Augusto pertence a data posterior. Com ela vem o poeta responder ao imperador que demonstrara desejo de possuir uma carta sua, tanto mais que Horácio já enviara epístolas a outros seus amigos, menos importantes. Nesta altura, porém, estava Horácio ocupado com a publicação do quarto livro das Odes e não podia pretextar, como fizera na carta a K Floro, o abandono da poesia, além de que, nesse mesmo zante em todo o sentido. Se é helcnizante, é porque julga que a cultura refinada dos Helenos poderá trazer algum bem ao talento agreste dos Romanos. Quanto à função do poeta na sociedade, acha que este lhe pode ser útil, sem que, contudo, perca todo o seu individualismo. Tudo o que apregoa, já Horácio pusera em prática na poesia até então publicada e isto era a garantia de que os princípios que teorizava levavam, de facto, a urna poesia cuidada e de excelente nível, qualidades que ele tanto prezava. 'livro das Odes, havia cinco poemas dedicados ao próprio pljlAugusto. Assim, vai agora escrever, na epístola ao knpe- Incluída no grupo das epístolas ( 3 ) f>5:\Tador, sobre um tema que a ambos interessava: a posição encontra-se a anais extensa e importante ; ; d o poeta e da poesia ma Roma contemporânea. Naturalpíiíinente que a opinião d o poeta devia diferir da que o político perfilhava, mas Horácio sabe defender-se hàbil^ ^ ^ e n t e de qualquer compromisso. composição, a Epístola aã Pisones, es- ARTE POÉTICA Título crita em hexâ metros dactílicos, sobre iteo{ 3 ) Alguns autores consideram a A. P. como a terceira epís- 21 ria literária. QuintiiLaiio chamar-lhe-á ( 4 ) , algumas gera- por si, uma tradição milenária e, afinal, são mais que ções mais tarde, suficientes para servirem de epígraíe a um poema, «ars poetioa» ou «de arte poética liber» ( 5 ) , títulos que se tornaram os mais conhecidos e que possivelmente já caracterizavam a epístola antes O poema de Horácio é dedicado aos Dedicatória de aparecerem citados na obra do grande retor, Houve Pisones, também quem desejasse combinar os dois títulos possí- identificação nos interessa sobremaneira para determinar veis e 'assim aparece a carta poética designada como dois pontos fundamentais; a data aproximada do poema Epístolas ad Pisones de arte poética. Este título deve ter e o seu escopo. Efectivãmente, contribuiria para o conhe- sido motivado igualmente pelo facto de não estarmos cimento da finalidade com que Horácio escreve a A. diante de um tratado, como daria a entender o Ars poé- o simples facto de se determinarem as actividades lite- tica ou De arte poética, mas de uma simples carta aos rárias dos Pisões, e, bem assim, a data da composição Pisões, onde se formulavam alguns princípios que, por- do poema ressaltaria com mais clareza, desde o momento ventura, também poderiam aparecer num compêndio de em que soubéssemos quando eles viveram. retórica. personalidades romanas, cuja P. Mas a tarefa não é fácil. N o entanto, Porfirião, o Cremos, no entanto, ser preferível utilizar os títulos ad Pisones, os quais, muito milhança, devia estar em melhor posição do que nós embora não dêem a entender tudo o que se encontra no para identificar os Pisões, diz-nos que a A. P. «foi dedi- poema, e possam mesmo levar a certa ambigüidade, têm, cada a Lúcio Pisão e a seus filhos, ao Pisão que poste- Ars poética ( 6 ) ou Epístola comentador de Horácio, e que, segundo toda a verosi- riormente foi custos urbis e que era poeta e patrono das artes liberais» ( 7 ) . tola d o lívxo I I . Outros, porém, falam da A. sendo um poema independente. Vid. P. Hora ti us. como Opera, ed, F . Klingner, Lápsia, 1959, <p. 294. Quintiliano, Or,, Vm, 3, 60, refere-se à A. P., como se um poema à parte constituísse: <t. ..Horatius in prima parte libri de arte poética...» Cremos ser esta segunda hipótese a que Se admitirmos esta identificação Data que é, sem dúvida, a mais provável, somos forçados a aceitar concomitante mente uma data mais se aproxima da verdade. ( 4 ) Inst. Or., Epíst. dedicatória a Trífon, 2: «...usus deinde I i o r a t i consilio, qui in arte poética euadet...» ( 5 ) V i d . n. 3. ( 6 ) Será este o titulo escolhido na nossa tradução. 22 ( 7 ) Comentário à A. P. 1: «hunc librum... ad Lucium Piso-" nem, qui postea urbis custos fuit, eiusque liberos misit; nata et antistes». ipse Piso poeta f u i t et studiorum liberalitLi ffi^^^fyisto que Lúcio Pisão fora cônsul com Augusto (cf. comentário aos w . 55, 387, 438, e t c . ) . O único dado j B p o ^ i s a.Ç. N o entanto, esta identificação não satisfez que prevalece, apesar de certas reservas que se possam M^Igjius eruditos (J. H . vau Réenen e A . Michaelis), que, fazer, é a personagem a quem o poema está dedicado, pela convicção de que o ipoema tratava 'de maté- Lúcio Pisão, e com este a data do seu nascimento, ||masque tinham de ter forçosamente uma data anterior 49 a.C., e o facto de os seus filhos já estarem em idade j f g ^ p b r a honaciana, formularam hipóteses em que ten- de compor poemas. Tudo isto leva a admitir, com J. í ^ t a ^ a m reivindicar para o poema horaciano uma data Ferret, a possível data de i o a.C., ou, mais caute- (^'anterior, partindo de outra identificação, a do Pisão ida losamente com Brink ( 8 ) , a possibilidade ide a Â. A^ P . com Gneu CaJpúrnio Pisão que fora cônsul em V- .28, a.C. juntamente com Augusto. Falta, contudo, apoio epigráíico para esta identificação, pois não consta que Í;Gneu Pisão fosse amigo das letras nem tão-pouco que P. ter sido composta depois de 14-13 a..C. A data tardia parece impor-se, tanto mais que a crítica interna também a autoriza. Com efeito, o poeta, v v . 304-306, afirma que «nil ^tivesse descendência, scribens ipse, docebo», i. e. que, naquela altura, não t f ; . , A verdade é que, de Lúcio Pisão, sabemos que per- se dedicava à poesia lírica, pois Horácio só considerava 'tenda de facto a uma família com reconhecido interesse como escrever o compor poesia lírica ( 9 ) . No entanto, £ pelas artes, muito embora nada saibamos sobre a sua também poderia admitir-se a interpretação de Plessis- BjjV- " -Lejay (10) que afirmam falar Horácio de não escrever •*; descendência. Levanta-se, porém, outro problema quanto à idade de Lúcio Pisão. Ele, que nascera em 49 a.C., na data da publicação da A. P., já tinha filhos em idade de escrever poemas, ou pelo menos, de estarem interessados em fazê-lo. Isso leva-nos a conferir data bastante tardia poesia dramática, mas de, no entanto, a ensinar. Isto invalidaria a utilização deste passo como achega cronológica. Naturalmente, estas suposições poderão ter a sua razão de ser, e o facto dc Horácio não compor poesia lírica no internalhim lyricum de 23-18 a.C. e no de ao poema. Mas neste domínio da crítica externa, isto é, dos ele- : ( 8 ) J. Perret, Horace, mentos exteriores ao poema, ainda há outros dados que Uepistola foram utilizados para datá-Jo em época não tardia. Estes Horace argumentos não são de molde a convencer, visto que as referências a personalidades da época não se apresentam . ' de tal modo claras, que sejam decisivas para a datação Paris, 1959, p. 190. Cf. F, Cupaiolo, di Orazio ai Pisoni, on Poetry, Nápoles, 1194H. C.O.'Brink ( Prolegomena to the Literary Epistles, Omjbridg», 1-963, pp. 239-243 ( 9 ) Brink, ob. cit,, (10) Horace, p. 242. CEuvres, comentário ao v . 306. i í-; t 25 125 14-8 a.C. (8 a.C. é a data da sua morte), mostra que há arte poética que o autor apresenta, ou trata-se apenas do possibilidades de colocar a composição de A.P. no úl- •uma epístola séria — se .bem que com o tom irônico tanto mais que a A. P. é a súmula de próprio a Horácio—, em que este dá, sem procurar siste- todos os seus conhecimentos de teorizador. Não cremos, tematizar, o núcleo das suas idéias sobre poesia e criação todavia, que se possa considerar como definitiva, qual- literária e sobre a formação do bom poeta? Mas a ver- quer das soluções propostas, visto faltarem dados con- dade é que Horácio, cultor da poesia lírica, vai agora cretos e indiscutíveis. formular regras para a poesia dramática, porquê? De timo intervallum J. Perret, por sua vez, admite a data tardia, porque igual maneira, é estranho que tal intento provenha d£ suceda à um poeta que v i v e exactamente numa cidade onde o epístola a Augusto, visto não ser provável que Horácio teatro não fazia parte integrante da vida social, corno tivesse dedicado ao imperador uma epístola mais redu- na Grécia. Para esta escreve Aristóteles a Poética, zida que a dedicada aos Pisões, tanto mais que esta é que pràticamente só fala de: teatro. lhe parece mais verosímil que a Arte Poética em superior do ponto de vista da teoria literária. As epís- Parece-nos plausível como resposta a estas interroga- tolas a que o imperador se refere na carta que mandou ções, o que nos diz J. Perret (12). É que no tempo de a Horácio, lamentando-se por não receber nenhuma de- Augusto teria havido um movimento, dirigido pelo pró- II, prio imperador, para colocar o teatro no seu devido 2) e a Mecenas (as do primeiro livro), muito embora lugar, tanto mais que muitos dos espectáculos citadinos neste caso contemos coim a oposição de E. Fraenkel (11). tinham desaparecido, tais como os .grandes actos de ora- Julgamos, pois, ser mais prudente seguir a tradição tória forense, o que forçava o povo a ir para o circo e admitir uma data de composição, de qualquer modo, ver os gladiadores ou, mais raramente, ao teatro. Além posterior a 14-13 a.C. disto, também apoia esta tese o facto de Augusto ter na las, devem ser as anteriores dedicadas a Floro (Epíst. realidade favorecido autores dramáticos e de ter saiboDepois de ler os 476 versos da Escopo do poe- Arte Poética o leitor tem o direito da ma e suas carac- se perguntar qual o intento pretendido terísticas por Horácio. Trata-se de facto de uma reado com raro prazer — ao contrário de Horácio — os velhos poetas dramáticos do Lácio, como Planto. Tenta, portanto, Horácio escrever uma epístola aos Pisões, em que, de certo modo, desfaça a impressão negativa com que tinha descrito a poesia dramática no (111) Horace, Oxford, p. 383. Quanto às palavras de Augusto a Horácio, vid. p, 20. t (P2) Ob. cit., p , i8ó e segs. 27 125 Lácio, na epístola a Augusto, e dá regras, sem que pre(16), por sua vez, afirma ser um conjunto de tenda escrever um tratado, regras de experiência e de Steidle leitura para que o poeta tenha resultados esteticamente preceitos, mas não um tratado. Cremos, por nossa parte, mais profícuos na composição da poesia dramática. que na A. P. há um pouco de tudo o que se defende No entanto, todos estes motivos são de ordem geral. nestas opiniões sem, no entanto, admitirmos que seja w n Mas, no particular, que pretenderia Horácio? Quereria tratado. A verdade é que o poeta dá preceitos, mas não levar os Pisões a escrever, e bem, obras dramáticas ou os dá todos, pensaria dissuadi-los de .tal intento? A esta pergunta não daqueles que melhor conhece e de que mais gosta e, não é possível responder peremptòriamente, mas de tudo o se submetendo, deste modo, à ordem dos manuais esco- que lemos parece sem dúvida deduzir-se que Horácio lares de retórica, que, porventura, serviriam de introdu- quereria ievá-los a compor poesia dramática, observando ção à arte da poesia. N o entanto ele introduz os leitores, os princípios da- composição literária que conduzem à sem qualquer intento escolar, na verdadeira essência da perfeição. poesia. .. . Resta-nos ainda o problema de como havemos de classificar esta composição. Norden (13) atribui-lhe um carácter isagógico, isto é, considera-a uma introdução à -poesia, com a divisão ars+artifex; Rostagni (14) pre- tende ver nela um tratado de poesia à moda de Aristóteles, sem a profundidade da obra deste. Immtsch (15) diz ,tratar-se de uma selecção de problemas poéticos. (13) E . Norden: « D i e Composition und Litteraturgattung der Horaz.schen Epistula ad Pisones», Hermes, pp. 481-528. Cit. apud Brink, ob. cit., XL {1905}, pp. 20 e segs. uma selecção Procura sobretudo expor as suas idéias, tiradas ou não de autores precedentes, e tenta provar que para fazer poesia não deve pensar o aprendiz de poeta que a poesia é uma actividade de amador, que o poeta nasce por geração' espontânea, nem confiar em demasia no talento, nas aptidões naturais do poeta. Para que a poesia seja algo de elevado, de útil à cidade, para que alcance o seu fim educativo e estético, tem o poeta de possuir talento e arte, e para melhorar o seu critério literário deve submeter-se a trabalho aturado nunca desprezando a opinião dos críticos. Só assim, com uma vigilância perfeita, poderá o poeta criar poesia verda- e 280. (114) A . Rostagni, (reed. 1946). IJArte Poética í 1 5 ) O. Immiseh, Horazens Epistel 28 fazendo, pelo contrário, lologus, Suppl., vol. X X J V ob. cit., pp. 35 e 283. di Orazio, Turim, 111930 über die Dichtkunst, (193-2), cit. apud PhiBrink, deiramente digna deste nome. (U6) W . Steidle, Stuãien tation des Hauptteils auf zur Ars Poética Dichtkunst und des Horaz: Gedichte Interprebezüglichen (ir-294), Würzburg, pp. 147 e segs. Cit, apud Brink, ob. cit., pp. 35 e 283. 29 Para exprimir as suas idéias sobre a maneira de escrever poesia, cia para o conhecimento das fontes da A. P.: o filólogo Fontes e papirologista Christian Jensen publicou um artigo (19) Horácio, além de relembrar a sua longa experiência de poeta e crítico, não esqueceu certos princípios de escola e para tal utilizou, com certeza, fontes da antiga crítica literária. O escoliasta de Horácio, Porfirião (17), diz-nos que Horácio tirara da obra de Neoptólemo de Pário {cidade da Tróadc) os principais elementos cia sua Arte Poética: «Nesse livro reuniu os preceitos de Neoptólemo de Pário acerca da arte poética, não todos, mas os mais importantes». Poemas», no qual apontava que havia encontrado não só referências mais abundantes ao Neptólemo de quem Porfirião falava, como até fragmentos do próprio Neoptólemo, que para mais apresentavam nítida conexão com os princípios defendidos na Arte Poética horaciana. A posição estética de Neoptólemo, que pode ser descortinada através dos fragmentos apresentados, coloca-se nitidamente entre a escola modernista de um Cailímaco, ou seja, entre o neoterismo alexandrino e a escola mais tradicionalista e equilibrada de Aristóteles, mas apresen- A figura de Neoptólemo de Pário, no entanto, sobre um papiro com a obra de Filodemo «Acerca dos foi pouco conhecida até ao Neoptólemo de Pário tando-se preponderantemente com uma feição peripatética. Neoptólemo, que, por certo, era um alexandrino nos versos eruditos que escrevia e na sua erudição, assim séc. x x , pois as referências que a este poeta e, ao mesmo tempo, teorizador da poética se faziam, eram pouco abundantes (em Ateneu, Estrabão, Escoliastas de Homero, etc.), carência que levou os críticos de Horácio a dividirem-se quanto à importância a atribuir a Neoptólemo como inspirador das idéias do poeta romano (18). Na segunda década do século x x , ou seja mais pre- como no requinte do estilo, era, contudo, aristotélico na defesa d o poema longo (Calímaco queria-o breve [ 2 0 ] , como se vê na sua frase: «um grande livro é igual a um grande m a l » ) , e da unidade da concepção literária. Quanto à divisão da abra teórica de Neoptólemo e da sua possível influência na divisão da A. P. horaciana falaremos mais adiante. cisamente em 1918, deu-se um facto da maior importân('19) «Neoptolemos (117) «in quem librum congessit praecepta Neoptolemi joã iraplavou de arte poética, inon quidem omnia, sed eminentíssima». (18) Vid. Brink, ob. cit., t 30 p, 43 e sega. imd Horaz», d. Wt5s. (1918), X I V Abhand. d. Preuss. Ak. (1919), p. 48. Cít. apud Brink, f ob. cit., p . 28, n. 1. Cf. a bibliografia de Jensen, acerca do mesmo assunto, na p. 127S. •' (20) Frag. 465 ( P f e i f f e r ) . 125 ilado de Neoptólemo, porém, outras possíveis in éfluências se entrevêem, destacando-se, sobremaneira, a j da escola aristotélica, cuja influência se pode admitir, pelo menos parcialmente, como .tendo-se infiltrado na obra, através do próprio Neoptólemo. N o entanto, a exiguidade dos fragmentos que deste nos chegaram, não permitem ser-se demasiado afirmativo, muito embora saibamos que a teoria da unidade, da propriedade, do estilo, do 7tçiÍ7tov, são princípios aristotélicos. Se olharmos, contudo, para a teoria dos cinco actos vemos que esta já não pertence a Aristóteles mas aos filósofos da sua escola, dos seus continuadones na escola de Teofrasto ( 2 1 ) . Este princípio, por exemplo, que vai imperar durante todo o hdenismo, foi possivelmente conhecido também através de Neoptólemo. N o comentário ao poema, contudo, poderemos avaliar melhor estes problemas. Tudo isto nos mostra que ao lado de uma possível influência directa de Aristóteles e da escola peripatética, ternos de admitir o conhecimento destes por meio de Mas é Horácio que predomina entre todas estas correntes, é ele que reúne num todo os elementos das diversas escolas, caJdeando-os com idéias e estilo provenientes da sua experiência e talento criador e formando um poema que obedece aos princípios que defende. Apesar do esforço de Horácio para fazer do seu poema uma obra una, este Plano e Estrutura tem sofrido as mais variadas interpretações quanto ao plano. Já Escalígero em 15ól dizia na sua Poética que o poema de Horácio era uma «ars sine arte tradita» (22). A pretensão de Escalígero, contudo, não tem razão de ser, visto que nunca se poderia imaginar um poema sobre a arte poética obedecendo ao sistema rígido a que se sobmete a .estrutura fixa de um manual de retórica. Outra atitude, contrária à de Escalígero, mas que nos parece igualmente errada, é a de Dacier — e, na sua esteira, a de Cândido Lusitano — (23), que admirava, na aparente falta de ordem do poema, «Ia beauté du désordre». A crítica ao plano da Ars Poética torna-se, no en- Neoptólemo de Pário e sua conseqüente influência. Além tanto, especialmente válida no decorrer deste século, pois disso, como Neoptólemo pertence à época helenística não os filóloigos dispõem doutros meios mais seguros. é de estranhar que pela sua leitura tivesse Horácio tam- princípio deste século, em 1905, E . Norden, divide a bém sido influenciado, mas levemente, pelo que se de- A. P. em duas grandes partes: Ars — No 1-294/Artifex fendia na escola alexandrina, a qual Horácio, ao longo da sua obra, mostra conhecer bem. (22) Vid. Brink, ob. cit., p. 17; Arte Poética, dido Lusitano, Lisboa, 1758, Discurso (23) Cândido Lusitano, ob. (21) Vid, comentário aos w . 1189-190. 32 cit., trad. de C l n preliminar. ibidem. Cf. Brink, ob. cit., pp. 16-17. INQ 1! — 3 33 — 295-476. Este esquema, com mais ou (menos subdivisões, será (1930), adoptado Imrnisch por (1932), Jensen (1918), estando todos de quanto à última parte, ou seja, o artifex, Immisch: Ars 1-294: isoíiiciç, 1-46 (sobre a poesiá,:;. Rostagni conteúdo e o r d e m ) , 47-118 (estilo); 119-152 (imitação);! acordo 71 oít]/-!a 153-294 (gêneros literários, sendo o drama o gê- que deve cor- nero escolhido). responder à parte dedicada por Neoptólemo de Pário O último estudo de análise que conhecemos é o de ao poeta (jrstviTTjr). N a verdade, com a descoberta do Brink que apresenta um esquema tripartido, mas com papiro de Filodemo, vira-se, e Jensen o mostrara, que a uma ordem diversa, visto que defende diferente divisão própria poética de Neoptólemo tinha um esquema, de da obra ide Neoptólemo ( 2 4 ) , que em v e z de ser que nos ocuparemos um pouco mais adiante, e que à TtoÍTi/id e 7to[*5tt5:, era sim noíT|/«t, 7toÍ7)eri<;, etc. Deste última parte desse esquema tripartido correspondia exac- modo teremos o seguinte plano, que parece sem dúvida tamente um capítulo dedicado ao poeta, ao artífice. Esta o mais racional, e que obedece, em todas as suas partes, parte, contudo, já fora apontada por Norden, mesmo à influência e estrutura ide certas fontes possíveis, entre antes de se conhecer divisão de Neoptólemo. Temos as quais se evidenciam a própria obra assitm o esquema dado gor Norden: A rs —-1-294: Partes de Neoptólemo de Pário, .as obras de Plano mais ra- Aristóteles, Poética, e o tra- cional (Brink) e tado desaparecido de Aristóteles De respectivas fon- 1-40 (corresponde tes da Arte Poé- poética — 1-130 (1-41: conteúdo; 42-44: -130: estilo); Genera mático). Artifex ordem; 45- poética — 131-294 (épico e dra- ( p o e t a ) : 295-476, sendo esta última poetis: Introdução, Retórica parte admitida unânimemente por todos os críticos, o que a Arist., Poética, nos dispensa de a citar nos planos que a seguir enume- insiste sabre a unidade da concepção ramos. poética, pmceptwn, Jensen, depois de dar a conhecer a divisão da obra de Neoptólemo de Pário: uoína-iç, i:olrijj.a o afirma que a primeira parte da Arte Poética noimúç, tica 7-8) em que o poeta que será válido para todo o poema; I." parte, sobre a ordem e o estilo, 40-118 (corresponde ao capítulo •Koí^fia de Neoptólemo e a Arist., Retórica, horaciana I I I ) ; 2 / parte, sobre os grandes igéneros da poesia, 119- se deve dividir da seguinte maneira; Ars: 1-294: itoÍTjàiç, -294 (que corresponde à tíoÍtjcl; de Neoptólemo e a 1-44 ( o r d e m ) ; i w b ^ a , 45-118 (sobre o estilo), 119-294 Arist., Poética (•gêneros poéticos: épico e dramático). ao poeta e à crítica poética, 295-476 Rostagni, por sua v e z : Ars: t I I , 12-14); parte, dedicada (correspondente 1-294: itoÍYitnç, 1-45 (ordem): itot^/ia, 46-127 (estilo), 128-152 153-294 ( d r a m a ) . e Retórica, (imitação), (24) V i d . p . 33. 35 125 aoTtsinTTÍçde Neoptólemo-e à obra desaparecida de Aris- Horácio de que, infelizmente, só encontrámos a citação: tóteles De o d o P . Bento Peneira (Jesuíta), o de D. Firutuoso de poetis). Não há dúvida de que este esquema nos aparece per- S. João, Cónego Regrante, o de Gaspar Pinto Correia, feitamente verosímil e deve satisfazer todo aquele que que, segundo Costa e Sá, escrevera copiosas notas, o do não procurar na Arte Poética •um plano demasiado fixo (em manuscrito) P . Peixoto Correia em que todas as idéias estejam classificadas por rubricas, destes, temos as edições de Pedro da Veiga, publicada plano que afinal iria contra a concepção poética de em Antuérpia, na Oficina de Cristiano Hauwel, em 1578, Horácio, que vê na poesia não um gênero narrativo como e de Tomé Correia, prof, de humanidades em Pailermo, a história ou os -poemas cíclicos, mas um gênero que Roma e Bolonha, que em Veneza, na Oficina de Fran- cultiva os assuntos por temas, limitando-se a tratá-los cisco de Franciscis, em 1587, publicou um comentário à nos aspectos que mais interessam ao artista. Seria querer Arte Poética de Horácio ( 2 5 ) . (Jesuíta). Além fazer deste poema de Horácio uma obra científica, de feição alexandrina, o querer descobrir um sistema rígido D o séc. x v n conhecemos uma edição da A. P. de idéias que procurassem estudar exaustivamente o cluída na edição das obras completas de Horácio: Enten- assunto que mais preocupa Horácio: como fazer um ibom dimento poema evitando, na medida do possível, os erros em que obras de Horácio tão fàcilmente cai todo o que não tiver talento e técnica. Com Index literal portuguesa de todas as dos poetas latinos das Histórias & Fábulas lyricos. conteúdos nesta segunda impressão por industria de Matheus Rodriguez A A . P . em como em toda a Europa, favor muito príncipe copioso nellas. Emendado A Arte Poética horaciana encontrou, e cons traição in- mercador ãe Uuros, & impresso à sua custa, 1657- Lisboa, Officina de Henrique Valente Portugal especial entre os latinistas portugueses, de Oliveira. Esta obra fora editada pela primeira vez a que dela fizeram várias edições, as quais, muito embora expensas de Francisco da Costa, a quem foi atribuída a d e desigual valor, deram a conhecer Horácio e os seus tradução e fora impressa por Manuel da Silva. Esta é princípios poéticos ao público português. Loganoséc. x v i a opinião de Inocêncio ( 2 6 ) . N o entanto, Menendez Pe- nosso humanista Aquiles Estaço publica em Antuérpia, n o ano de 1553, um comentário à A. P., em que se ocupa principalmente de crítica textual. Este é o pri- (25) Cf. as edições nomeadas por Costa e Sá ( v i d . p. 43), pp. 22-24 e a e< l* Cândido Lusitano no Discurso (26) Inocêncio, v o l . AT, p. 36S. Cf. Exposição Horacianaj meiro trabalho português, de que tivemos notícia. Mas blioteca Nacional, ainda há outros comentários e edições da A. P. Costa e A z e v e d o ) , Lieboa, 1937, pp. 71^713. de Catálogo preliminar. Bi- (elaborado por Luisa Maria da 125 t 36 layo (27) afirma ser esta tradução de Jorge Gomes Arte Poética. Traduzida e illustrada em portuguez Alamo. A edição referida é feita à curiosa maneira do por Cândido Lusitano, 1758, Lisboa, Officina Patriarca] séc. x v n com o texto laitino intercalado no texto .portu- dc Francisco Luiz Ameno; 2. a ed. correcta e emendada, guês, isto é, uma tradução inferiinear. A tradução é Officina Rollandíana, Lisboa, 1778; Nova edição, Officina , demasiado servil e o aspecto tipográfico dificulta a lei- Rollandiana, Lisboa, 1883. tura. Trata-se, contudo, de tentativa meritória, pois o autor esforça-se por traduzir correctamente, palavra por palavra, o texto latino. Sem dúvida alguma é esta a edição, elaborada pelo P . Francisco José Freire (Cândido Lusitano), que goza, entre todas as edições portuguesas, de maior fama, de- Esta obra deve ter conhecido certo êxito na sua vido ao facto de estar trasladada etrn vernáculo sabo- época, visto que foi reproduzida em mais duas edições, roso, se ibem que o autor a tivesse (feito em verso le se que apresentam unicamente como variantes um título tivesse utilizado da (tradução francesa de Dacier (29). com ligeiras modificações e formatos diversos do pri- O meiro: tremamente sugestivo,, sobretudo pelo que revela das Obras de Horácio, Príncipe ricos, com o entendimento dos Poetas Latinos literal & construição giteza, ornadas de hum Index Ly- Por tu- copioso das historias, & Fabulas conteitdas nellas. Emendadas nesta ultima Im- pressão. 1681', Lisboa, Officina de Miguel Manesoal & à sua custa (esta edição tem dois formatos diferentes). Com o mesmo título repete-se esta edição em 1718, em Coinmbra, Officina de Joseph Antunes da Sylva, É portanto esta últimaa 4.a edição, sendo a 1." de 1638, a 2." de 1657 e a 3.a de 1681' (em dois formatos) ( 2 8 ) . É, no entanto, no séc. x v i i i que se publica a mais célebre edição da A. comentário1, preocupações literárias vigentes na sua época. As críticas que se fizeram a esta tradução (30), de que era prosaica, não são justificadas, visto que não se trata da tradução de um poema lírico, mas sim de um poema com fins didácficos, cujo estilo não era considerado, pelo próprio Horácio, como sendo, pertencente ao da poesia pura, na qual o poeta só contava a poesia lírica. Ainda do mesmo século nos chegaram outras edições: 1, A arte poética, ( 2 7 ) Horácio t 38 traduzida em rima por Miguel do P.: 125 (29) V i d . en Espana, ( 2 8 ) C£. Exposição já muito antiquado, ainda nos parece ex- p . 143. Horaciana, p p . 72-73. ed. de p p . .278-279. ( 3 0 ) V i d . a . 29. Antônio Luís de Seabra, (víd. p. 44);:; -.. ttyj ; fcoüto Guerreiro, 1772, Lisboa, Regia Officina T y p o - Universidade de Coimbra o seu autor. Parece, contudo graphica. que a primeira hipótese é a mais provável. Depois de breve introdução, em que, não sem alguma candura, o autor afirma que traduzira em verso «porque Arte poética. Epístola aos Pisões. Traduzida em por- nenhumas razões podem persuadir os leitores a que gos- tuguez e iUustrada com escolhidas notas dos antigos e tem mais do verso solto, que da rima», vem a tradução, modernos sem comentário, escrita com um mau gosto evidente, sobre os preceitos poéticos, lições varias} e in-telligenda fugindo, para mais, à intenção lingüística do .texto hora- dos lugares difficultosos ciano e às próprias idéias do poeta, acrescentando muitos pormenores sem valor, para conseguir obter umas rimas de impressionante pobreza. Tem esta tradução unicamente valor histórico. interpretes e com hum commentario critico por Pedro José da Fonseca, 1790. Lisboa, Officina de Simão Thadeo Ferreira. Esta edição bilingüe é uma das mais bem .documentadas: o texto é precedido de um prólogo e acompanhado por notas a que se segue um «Commentario Critico». O comentário e as notas são documentos da erudição do Arte poética. Traduzida em verso rimado e dedicada Ritta Clara ditos do séc, x v i i i ( 3 2 ) . A tradução em prosa, mantém- Freyre de Andrade. 1781. Coimbra, Regia Officina da -se fiel ao texto e, embora não dúctil, parece-nos valiosa Universidade. pelo que representa de esforço para verter o 'pensamento à memória do grande Augusto, por D. autor e testemunhos da ciência Hlológica dos nossos eru- Consiste esta obra numa simples tradução, precedida horaciano em vernáculo. de uma introdução sucinta em que se remete para o comentário de Cândido Lusitano. A tradução é em verso Poética de Horácio. Traduzida e explicada methodi- limado e disso muito se ressente, além de que o vocabu- camente para uso dos que aprendem por Jeronymo Sua- lário está longe de possuir o sabor .do de Cândido Lusi- res Barbosa, jubilado na Cadeira de Eloqüência e Poezia tano. Também à rima se sacrifica a idéia e a forma, que da Universidade de Coimíbra. 1791. Coimbra, Regis saem por vezes erradas e frouxas. 0 autor desta tradução não é D. Rita de Andrade, mas seu marido Bartolomeu Cordovil, conforme diz Inocêncio (31). Outra hipótese é que teria sido Antônio Isidoro dos Santos, bedel da (312) P e d r o Joeó d a Fonseca, j á fizera anteriormente um comentário à A. P., boa ( n . ° 1 0 6 7 6 ) e c u j o título é: « H o r á c i o , Notas esco- lhidas à epístola feitas por { 3 1 ) V o l . VHE, p . 163. t < que, existe, manuscrito, na B. N. d e ÍLis- Pedro Poética aos Pisoens, José na cidade da Fonseca, de Lisboa, de Q. Horácio professor Anno, Flacco, de Rethorica e ifóç. 41 125 Officina Typographica. 2.* edição. 1815. Lisboa, Typographia Rollandiana. A tradução é em verso rimado mas o estilo não corresponde à língua horaciana, .pois é desinspirado e prosaico. Tem, além disso, o defeito de ser feita na seqüência do texto horaciano inserido em diversas partes separadas, que correspondem aos inúmeros assuntos de que Horácio trata. Assim, a cada passo horaciano, eajbe um comentário que faz corpo com a tradução e o texto latino. Deste modo, a consulta d o livro torna-se difícil não se podendo ler, sem dificuldade, o texto e a tradução em perfeito seguimento. O comentário, contudo, é copioso e bastante completo para a época. A Poética restituida à sua ordem: com a interpretação parajrastica em português e huma carta do editor a certo amigo sobre este mesmo assunto. 1793. Lisboa, Regia Officma Typographica. O autor desta obra é o P . Tomaz José de Aquino que fez uma introdução assaz vaga, na qual semeia rermmscências eruditas sem grande ligação com o poema horaciano; por isso, lhe chama «carta a certo amigo» A tradução, contudo, está escri ta em prosa—o autor chama-lhe parafrástica — , num estilo demasiado prolixo e terra-a-terra, sendo apesar de tudo mais fiel que as de Rita F. de Andrade e de Miguel d o Couto Guerreiro O comentário que o acompanha é magro e mal documentado, seguindo-se-Ihe a tradução das notas de Metastásio à A. P. Arte Poética ou Epístola Flacco aos Pisões, vertida e ornada no idioma vulgar com ções e notas para aso e instrucção ilustra- da mocidade portu- guesa por Joaquim José da Costa e Sá. 1794. Lisboa, Officina de Simão Thaddeo Ferreira. ' '' Esta edição é precedida de uma copiosa introdução, e o texto ibrüngue é acompanhado por não menos ajbiindante comentário. A tradução é conecta, ainda que por vezes seja prolixa. Quanto à introdução parece-nos útil sobretudo um pequeno parágrafo ( V I , pp. 22-26) em que o autor descreve as edições de Horácio em Portugal. Por suia vez, do séc. x i x também chegaram até nós algumas edições da A. Arte Poética. P.: Epístola aos Pisões. Traduzida em verso portuguez por Antonio José de Lima Leitão. 1827. Lisboa, Impressão ide Manuel Joseph da Cruz. Esta edição é constituída unicamente pela traduçãt com um òreve comentário destituído de interesse. A tradução, em verso ibranco, não reproduz o pensamento horaciano, mas sim o pensamento e o mau-gostí do tradutor, muito embora ele diga no prefácio: «Paire ce-me que nesta minha tradução me aproximei ida concisão de Horácio m;ais que todos os outros». Arte Poética. Epístola aos Pisões. Traduzida pek Marquesa de Alorna, in Obras Poéticas, Voi. V , p. 3-66 e 325-326. 42 de Q. Horácio 1844 Lisboa A Marquesa de Alarma fez uma edição bMingue, seguida de breve mas elucidativo comentário. A tradu- emendar se tivessemos paciência e vagar para nos ocuparmos com ella por mais tempo» (p. 280). ção, em verso branco, é bastante prosaica, foge, freqüentes vezes à letra, qiuer acrescentando expressões que não Paraphrase da Epístola aos Pisões, comummente de- estavam no texto latino, quer suprimindo outras que são nominada Arte Poética fundamentais para a sua compreensão. A annotações sobre muitos lugares por D. Gastão Fausto l1.* edição de Quinto Horácio Flacco, com desta tradução da A. P. saiu a lume em Londres, enii da Gamara Coutinho, Lisboa, na Typographia de José 1812 ( 3 3 ) . Baptista Morando, 1853. Aos Pisões, sobre a arte poética, traduzida por An-, tonio Luiz de Seabra, em Satyras e Epístolas de Quinto Horácio Flacco, traduzidas e comentadas por .... Porto, em casa de Cruz Coutinho, 1846, vol. I I , pp. 105-128, 335-280. Esta edição é constituída pelo texto traduzido e por um comentário mediano. O valor da tradução é infeliz- A tradução muito livre, como o 'próprio títuío sugere, lê-se com certo agrado e segue-se-lhe um comentário que, emíbora nada traga de pessoal, satisfaz as exigências do leitor (34). Passamos agora ao séc. x x , do qual só conhecemos, uma tradução, publicada no primeiro decênio do século. mente bastante diminuído pela falta de talento d o autor, que, no entanto, é de extrema severidade para os seus Obras de Horácio—Arte (versão portu- sem nome de tradutor, Cruz e C. a Editor, píedecessores (vid. pp. 277-280). Bfectivaimente, não guesa), aprecia, com razão, nenhuma das traduções em verso, Braga, 1905- Poética que se fizeram anteriortmenbe, mas nem por isso 'deixa de Trata-se de um simples folheto com o texto da tra- tentar o verso para fazer a sua tradução. Quanto a esta, dução, Esta apresenta-se geralmente conecta, mas nem julgamos ser suficiente crítica, o que esítá implícito nas sempre dá o devido lugar a todos os elementos que sur- palavras finais escritas pelo próprio autor: « D a nossa gem no^contexto horaciano. Naturalmente que a falta tradução dizemos unicamente, que reconhecemos que de comentário desvaloriza (bastante este trabalho. leva desigualdade, e alguns defeitos, que poderíamos (33) Cf- a ed- de A, Luís Seabra, p. 279. ( 3 l ) Cf. Eoocêncio, vol. m , p. 136. aa 44 Foram estes os elementos bibliográficos que conseguimos colher sobre a fortuna da A, P. horaciana em Portugal. É possível que haja lacunas, mas julgamos suficiente o número de edições consideradas, visto que, por imeio delas, muito podemos avaliar do conhecimento de Horácio e sua qualidade no nosso país. PRINCIPAL BIBLIOGRAFIA MODERNA Edições da Arte Poética ( A . P . ) Horace on Poetry, The 'Ars Poética', by C. O. Brink, Cambridge, 1971. Horace, Épitres, texte établi et tradiuit par F. Ville- neuve, Paris, 1961. Quintus Horatius Flaccus, Briefe, erklárt von A . Kiessling & R . Heinze, 7,a ed., com apêndice por E . Burck, Berlim, 1961: fundamental quanto à crítica feita por Burck aos mais modernos trabalhos sabre a A. P. Opera, ed. de F . Klingner, Lípsia, 1959. Horatius, Orazio, Arte Poética, introduzione e commento di A . Rostagni, Turim, 1930. Oeuvres dJHorace, ed. F. Plessis & P. Lejay, Paris, 1904. Comentadores Pomponi Porphyrionis commentarii in Horatiwn, ed, G. Meyer, Lípsia, 1874. Pseudoacronis scholia in Horatmm to&tustwra, ed. O. Keller, 2 voís., Lípsia, 1902-1904. 46 47 Obras diversas Grimal, P., Essaisur l'Art Bieler, L . , Geschichte der rõmischen Literatur, Berlim, 1961. rary Eptstles, Cambridge, 1963; The to the lite- 'Ars Poética', Cambridge, 1971; Epistles Book II, The Letters to Augustus and Florus, Cambridge, 1982. E a obra mais actualizada e mais bem orientada que conhecemos. Cupaiolo, F . , L'Epistola di Orazio ai Pisoni, Nápoles, 1941. Trabalho claro e extremamente bem informado e útil. Exposição Paris, s.d. d'Horace, (1968). Lausberg, H , , Elemente Brink. C. O . , Horace on Poetry, Prolegomena Poétique que, 1963; Elementos derItterarischen Muni- Khetorik, de Retórica Literária, introd. e trad. de R. M. Rosado Fernandes, Lisboa. Oxford, 1950 ( O . C . D . ) The Oxford Classical Diciiotiary, Pelayo, Marcelino Mcnéndez y , Horácio duetores y conientadores Solaces bibliográficos, Perret, J . , Horace, en Espana. de la Poesia Tra- Horaciana. Madrid, s. d. Paris, 1959. Monografia sem preten- sões a ser exaustiva, mas que, no entanto, é o resulHoraciana, Catálogo, (Biblioteca Nacional de Lisboa), Lisboa, 1937- Obra organizada por Luiza tado dos conhecimentos de um grande Üatinista. Stégen G., Les épttres littéraires d'Horace, Namur, Maria de Castro e Azevedo, que, com ela, contribui 1958. Estudo da estrutura das epístolas literárias de grandemente -para o conhecimento das edições portu- Horácio, guesas de Horácio. Nem sempre fundamenta as suas opiniões. Vid. a Fxânkel, E . , Horace, O x f o r d , 1959- É este o melhor es- tudo sobre as composições de Horácio, mas infelizmente não trata 'da A. P., em moldes demasiadamente recensão d e Maria Manuela Euphrosyne, III (1961), pp. de B. ambiciosos. Albuquerque, 433-437. muito embora a ela se refira quando necessário. Gonçalves, F . Rebelo: «Horácio e Eurípides», syne, III Euph.ro- (1961), p p . 49-64. Faz-se o estudo das razões por que Horácio não apresenta, nas epístolas literárias, Eurípides como seu modelo. É que o tragediógrafo grego fugia das regras aristotélicas defendidas por Horácio. 48 1NQ 11 - 49 QUINTO HORÁCIO FLACO ARTE POÉTICA Q. HORATI FLACCJ. DE ARTE POÉTICA LIBER Se um pintor quisesse juntar a uma cabeça hu- Humano capiti ceruicem pictor equinam iiungere si uelit et uarias inducere plumas mana. um pescoço de cavalo e_a membros de ani- un dique conlatis memíbris, ut turpiter atrum mjtis de toda a ordem aplicar plumas variegadas, de f desinat in piscem mulier formosa superne, forma a que temi irias se em torpe e negro peixe a. spectatum admissi risum teneatis, amid? 5 ^ mulher de bela face, contenteis vós o riso, ó m e u s _ O Credite, Pisones, isti tabulae fore libram amigos, se a ver tal espectáculo vos levassem? P o i s persimilem, cuius, uelut aegri somnia, uanae crede-me, Pisões, em tudo a este quadro se asseme-' fingentur species, ut nec pes nec caput uni íharia o livro, cujas idéias vãs se concebessem quais reddatur formae. «Pictoribus atque poetis sonhos de doente;, de tal modo que nem pés nem 5 ^cabeça pudessem constituir^ uma só forma, Direis 1-40 — Introdução; defende-se a unidade da eoncepçSo poética. I — Com este início, no qual se descreve um ser de hibridismo impressionante, pretende Horácio defender, tal como & fizera a escola aristotélica, a preferência pelo^verosímil, o que poderá parecer contraditório visto sabermos que se criaram, na vós que «a pintores e a poetas igualmente se consimples e una, formando um todo, Cf, Arist,, Poética, VT-VTI, 1450 b e segs. Este princípio é defendido na A , P , até ao v . 37 3 — turpiter refere-se a de sinal e ao mesmo tempo a atrum, antiga mitologia, seres fabulosos e híbridos corno os Centauros, o que torna difícil a sua tradução. Cremos, todavia, que mais as Sereias, a Quimera, etc. Estes seres podem, no entanto, exis- reforce atrum tir 110 mito, mas a obra poética não se lhes deve assemelhar na sua estrutura. Pelo contrário, a obra de poesia deve ser 50 devido à proximidade. 9 — Esta objecção, feita por um interlocutor imaginário, corresponde a um preceito já conhecido na antigüidade* cujo 51 quMlibet audendi sernper fuit aequa potestas.» 10 cedeu, desde sempre, a faculdade de tudo oUsar».i 10 . Sciinus, et hanc ueníain petimusque damusque uicissim, Bem o sabemos e, por isso, tal liberdade procura-1 l - V f j C 'sed non üt placidis coeant inmitia, non ut mos e reciprocamente a concedemos, sem permitir^ \ ^.serpentes auibus geminentur, tigribus agni. contudo, que à mansidão se junte a ferocidade e- \ Jnceptis grauibus plerumque et magna professis que se associem serpentes a aves e cordeiros a- jjpjirpureus, late qui splendeat, unus et alter 15 tigres. / * Geralmente a princípios solenes e onde se pro- :adsuitur pannus, cum lueus et ara Dianae et properantis aquae per amoenos ambitus agros metem grandes coisas, para obter mais efeito, aut ílumen Rhenrai aut pluuiius describitur arcus: qualquer remendo purpúreo se lhes cose, ao des- sed nunc non erat his locus. Et fortasse cupressum crever o bosque e o altar de Diana, as curvas de 15 rápidos ribeiros por amenos campos, ou o Reno antigo, contudo, que poetas e pintores não têm de dar contas*. ou o chuvoso arco-íris; ali, porém, não cabiam tais descrições. Porventura também sabes figurar um Horácio admite, em princípio, o que esta velha sentença em si cipreste: mas que vem este fazer no meio dos des- eco se encontra, p. ex., e m Luc., Pro imag., '18: t K um dito ooafcém, mas sem aceder a exageros, pois a poesia é imitação (ji£{i7]ffiç) e a realidade não dá azo a fantasias exuberantes e irracionais. não admite esta última hipótese, -porque Bíbáculo nos seus - ,. 14 — Censura o poeta, atendo-se, portanto, ao princípio dajmídade do põemãTíiidõ_o~que não~ tenha íntima conexão com o tema .poético,^tajs_çgmo-.as digressões de que nos dá exemplos nos versos seguintes. Compara essas mesmas digressões a remendos de púrpura que, porventura, se cosam num vestido de tecido diferente e que, em si, forma um todo. Esta crítica, como a seguir apontamos, era possivelmente dirigida* contra certos poetas da antigüidade. No que letras gregas é digno de tal critica, Antímaco respeita às de Cólofon (séc. rv a. C . ) , como nos diz Rostagni, visto que o poeta grego, ma Tebaida, fazia digressões similares. Dentro das letras romanas, contudo, já é mais difícil identificar um poeta que possa ser objecto desta crítica. Rostagni admite que a imagem do bosque de Diana ( v . i ó ) se dirija contra CornéLio Severo, e que de Fúrio Bíbáculo se trate, quanto à crítica da descrit ção do R e n o ( v . r8) feita a despropósito. L e j a y , no entanto, Annales belli Gallici teria sido forçado, pela natureza d o tema, a falar d o Reno, não caindo, por conseqüência, no erro apontado por Horácio, 19 — A comparação do mau poeta com o pintor que, em todos os quadros, só sabia pintar um cipreste é fortemente irônica pelo duplo facto de ser pintada uma árvore numa cena marítima e de ser esta um cipreste, árvore bem conhecida como símbolo funerário. Deste modo, o cipreste, árvore dos mortos, aparecia junto de alguém que no naufrágio se salvara com vida. T u d o isto era contrário à verosimilhança que se pretende na obra de arte. O exemplo horaciano é tirado de um costume normal entre os antigos: os náufragos faziam-se pintar na cena do naufrágio de que se tinham salvo. A pintura podia depois ser depo- 53 125 seis sim ul are; quid hoc si fractis enatat exspes 20 troços do navio, do qual, perdida já a esperança, nauibus, aere dato qui pingitur? Ainphora coepit quem te deu dinheiro para assim o pintares, a institui; ourrente rota cur urceus exit? custo se salvou? Foi uma ânfora, sim, que começou Denique sit quod uis, simplex dumtaxat et unum. a ser modelada: por que razão, da roda circulante^ Maxima pars uatum, pater et iuuenes patre digni, decipimur specie recti. Breuis esse laboro, 25 absourus fio; sectantein leuia nerui delphinum siluis adpingit, fluetibus aprum. 30 In uitium ducif culpae fuga, si caret arte. Odes, X, 5, I I , 1, 33; Pedro, XV, -2J1, -24; Pérsio, 1, S9-91 e 21 — O urceus é um vaso muito diferente da ânfora (am- Esta é esguia e alta ao passo que aquele é baixo, O urceus era, além disso, ' qulseres, contanto que o faças com simplicidade e ( aparências de verdade: forcejo por ser breve, em 25 obscuro me torno; a quem procura o estilo polido, faltam a força e o calor, e todo o que se propõe , 6, 32-33; J i i v „ Sdt., 14, 301 e segs. atarracado. é u m pote que v a i sair? E m suma: faz tudo o q u e l dignos de tal pai, deixamos enganar-nos por falsas qui uariare cupit rem prodigialiter unam, phora). | Com a grande parte dos poetas, ó pai e ó filhos serpit humi tutus nimium timidusque procellae; 13-16; Sát., • 1 unidade. deficiunt animique; professus grandiã turget; sitada, num templo, como ex-voto. Vid, Hor., 20 um vaso para uso vv-;. atingir o sublime, descamba no empolado. Acaba, todavia, rastejando pelo chão o demasiado cauto, o que tem medo da procela; mas quem deseje variar prodigiosamente um tema uno, pintará golfi- 30 nhos nas florestas e javalis nas ondas do mar. Procurando fugir do engano se cai no erro, caso não se possua a arte, Nas imediações da escola doméstico. ex- IIOÔ b 27), eram os pontos óptimos do procedimento humano, postas anteriormente: simplicidade e unidade do poema. Este Esta idéia repete-se na obra horaciana: Odes, I I , 10, 5 (aurea modo de generalizar o princípio aristotélico provém, mediocritas); Sdt., 23 — Neste verso faz-se a conclusão das premissas da influência de Neoptólemo de P l r i o . gomena, Vid. Brink, talvez, Prole- r, i o ó (est modus in rebua); Ep., I, uitiorum e t ufcrimque reduetum: «np meio dos vícios, a virtude se equilibra, igualmente afas- pp. 103, 231, 254. 24 — Inicia agora o poeta a defesa da justa medida e da elaboração cuidada I. r8, 9 (uirtus est médium na criação poética. Este critério, saído tada dos extremos»). Cf. Cíc., Bruto, 25 ~ 1149; De officiis, I, 89. Horácio refere-se à breuitas como qualidade de estilo, da escola perLpatética, aparece-nos aqui caldeado pela con- sem que a admita, contudo, em proporções demasiadas. Nesse cepção horaciana caso, origina-se a falta de clareza obscuritas. da vida (vid. p. 18) segundo a qual comedimento, o meio termo (jíêctÓtt)!;, cf. Arist., Et. t 54 o Nic., Vid. w . 149- -150; 335-336. 125 Aemilium circa ludium faiber imus et unguis Bmília, o mais Ínfimo dos escultores molidairA unhas exiprimet et mollis imitabitur aere capillos, no ibronze e até neíe imitará cabelos sedosos, mas infeJix operis summa, quia ponere totum será infeliz no acabamento da obra por não saber nesciet. Hunc ego me, siquid coraponere curem, 35 criar um todo. Se algo desejasse compor, não que-, non magis esse uelim quam naso uiuere prauo reria assemelhar-me a esse, dq mesmo modo que spectandum nigris oculis nigroque capillo. não me agradaria possuir horrível nariz, ainda que Sumite materiam uestrís, qui scribitís, aequam quid ualeant umeri. Cui Iecta potenter erit res, 4o nec íacundia deseret hunc, nec lucidus ordo. OTdinis haec uir-tus erit et uenius, aut ego fallor, 32 — O Aemilius ludus romana, fundada por era uma Emílio L é p i d o , escola de gladiadores em v o l t a d a qual se encontravam lojas d e artífices, -escultores d o bronze. Ora estes, ainda que soubessem esculpir, não possuíam talento artístico e não eram capazes de conceber uma obra de arte, Vós que escreveis, escolhei matéria à altura das vossas forças e pesai no espírito longamente quo ' j coisas vossos ombros bem carregam e as que eles , ! não podem suportar. A quem escolher assunto de pormenores senão em relação a esse todo. eloqüência nemião-pouco ordem luzida. A virtude e 'beleza da ordem consistirão — ou 40-118 — A segunda parte da A . P . , que trata agora da ordem e do estilo, corresponde respectivamente, segundo o esquema que este passo se termina a primeira parte, a indicámos na Introdução, p. 34, ao capítulo em que Neoptó- qual, nas opiniões de Norden e d e Rostagni, etc., era dedicada lemo de Pário se ocupa à inuentio, Retórica de Aristóteles. Brini, Prolegomenap. classificação de Norden, ia etc., 40 acordo com as suas possibilidades nunca faltará porque a obra de arte tem de formar um todo, não interessando os 38-40 — C o m de admiração. * 5 55 meus olhos negros e negros cabelos fossem dignos 4 f uiribus et uersate diu quid ferre recusent, • discorda visto q u e a admissão d a desta do tcoEt)/*íx. ao capítulo I I I e da inuentio pressuporia que, no resto d o poema, viessem as outras fases 40-41 — Estes dois vereoe servem de ligação entre 1-40 preconizadas pela retórica e 4Í-IÍ18 tornando a transição menos precipitada. A o mesmo antiga, às quais Horácio se refere, mas sem as querer com- tempo que se refere à escolha da matéria, que deve ser feita pendiar. A segundo as possibilidades d o autor, diz-nos o poeta que, 110 da composição da obra literária, verdade é que nos primeiros 37 versos não há I qualquer discussão técnica da escolha da matéria, o que diria caso daquela Respeito a inuentio, cundia e o ordo ou seja o estilo e a ordem da composição, que mas tão-só a defesa da unidade da obra : poética, q u e abrange a escolha d o assunto, a disposição e o ' j^lo («íMeMíio, dispositio e elocutio). Se a o desejo de unidade jSftf juntar o bom-senso teremos então uma obra de arte. 56 condição ser preenchida, completam a escolha da res ( w . da dispositio então a fa- 38-40}. 42-45 — R e f e r e - s e Horácio a o ordo das características surgirá (Vid, ( t á j j i ç ) OU seja a uma Lausberg, Elemente, 57 o o ut iam nume dicat iam nunc debentia dici, eu me engano — em que se diga imediatamente o pleraque differat et praesens in tempus omittat, que tem de ser dito, pondo muitos ponmenores de hoc amet, hoc spernat promissi carminis auctor. 45 lado e omitindo-os de momento: que o autor do poema prometido, ora escolha este aspecto, ora In uerbis et iam tenuis cautusque serendis despreze aquele. dixeris egregie, notum si caliida uerbum 45 N o arranjo das palavras deveras também ser reddiderit iunctura nouum. Si forte necesse est subtil e cauteloso e magnlficamente dirás se, por indiciis monstrare recentibus abdita rerum, et engenhosa combinação, transformares em novida§ 42, que consiste em fixar um plano para a obra e dizer des as palavras mais c o r r e n t e s S e porventura for unicamente o que vem a propósito. Esta divisão tem de ser necessário dar a conhecer coisas ignoradas, com alterada se admitirmos a disposição apresentada por Klingner vocábulos recém-criados, e formar, palavras nunca na sua edição, que tira o verso 45 da disposição tradicional, colocando-o a seguir ao v . 46. Temos assim, em v e z do texto que apresentamos, o seguinte: ração proposta, ainda que seja lógica, carece d o apoio dos manuscritos, e este facto parece-nos extremamente relevante. Ordinis haec uirtus erit et uenus, aut ego fallor 46-7111 — Horácio começa a entrar na teoria da escolha dó ut iam nunc dicat iam nunc debentia dici, palavras, que pròpriamente é uma das partes da pleraque differat et praesens in' tempus omittat. ( V i d . Lausberg., Elemente, dispositío § 46, 2 ) , e discute os preceitos, In uerbis etiam tenuis cautusque serendis 46 que regulam a escolha das palavras em função d o poema {in hoc amet, hoc spernat promissi carminis auctor. 45 uerbis ... serendis), ocupando-se logo dos singula Dixeris egregie, notum si caliida uerbum, etc. 47 veremos, Brink, Prolegomena, Assim a tradução dos w . 42-44 seria: « A virtude e beleza da ordem consistirão — ou eu me engano — em que> se diga imediatamente o que tem de ser dito, pondo muitos ponnenores de lado e omitindo-os de momento.» A tradução dos v v . 46, uerba como <p. 94, aponta a possível in- fluência no passo que se segue, de Aristóteles, Retórica, IMl' 2-6, que Horácio pode ter conhecido directamente e por in•^j. intermédio de Neoptólemo de Pário. 47-48 — Caliida iunctura; trata-se, segundo afirma Ros-t.j' 45, 47 e segs. soaria: « N o arranjo das palavras o autor do tagni, da metáfora, na qual é possível, por hábil combinaçãcfej poema transformar o sentido de uma palavra, ao colocá-la num -iftíflp esta prometido, forma, deixará se for a cauteloso outra de e lado. discreto, E preferirá magnlficamente dirás, se ...» N a versão tradicional, o verso 45 que pertencia ao orâo, passa, na versão de Klingner a pertencer à descrição da elocutio. (que segue B e n t l e y ) , Preferiremos, por nossa parte, mantermo-nos na tradição, reconhecendo, que a altet texto desabitual. Vid. F . Cupaiolo, A proposito iunctura delia calliãã:>^ oraziana, Nápoles, 194a. Horácio dá, juntamente'étfrif*?; o preceito, um exemplo que o corrobora. Efectivaménté,^!^ expressão d o v . 46, in uerbis ... serendis, está pela mais habi-*; tual, in uerbis inueniendis. A expressão horaciana provém 59 125 f^iágere tinctutis non exaudita Cethegis 50 ouvidas pelos Cetegos cintados, podes fazê-lo e • continget dabiturque licentia sumpta pudenter, licença mesmo te é dada, desde que a tomes com e i noua fictaque nuper habebunt ueríba fidem, si discrição. Assim, palavras, há pouco forjadas, em JGraeco fonte cadent parce detorta. Quid autem breve terão ganho largo crédito, se, com parcimô- Çaecilio Plautoque daibit Romanius, ademptum nia, forem tiradas de fonte grega. P o r que motivo, Vergilio Vanioque? E g o cur, adquirere pauca !'í, 55 permitem os Romanos a Plauto e a Cecílio o que 11 recusam a Virgílio e a Vário? Se a língua de Catão uma metáfora de origem agrícola e traduz-se literalmente: « n o semear de vocábulos». Quando ao advérbio egregie tem ele o seu valor etimológico, i. e., de e + grex, que foge d o rebanho, tal (v. 50 e de Énio, produzindo novas palavras, enriqueceu 55 47) 53-58 — o ou seja, o como a língua própria à poesia. poeta, contrapondo os antigos Cecílio (séc. n a. C . ) e Plauto (séc. i a . C ) comediógrafos (sécs. n i - n a. C . ) aos seus D o v . 48 ao v . 69 falará o poeta da possibilidade de criar contemporâneos Virgílio e Vário, alude à dife- vocábulos novos, desde que estes sejam forjados com mode- rença de atitudes dos críticos para com os primeiros, aos quais ração. permitiram inovações vocabulares, ao passo que aos modernos poetas tal liberdade não era concedida. Com esta comparação 50 — Os Cetegos pertenciam a uma antiquíssima d e R o m a . Cinctuti rizados, família é o epíteto com que oe Cetegos 6ão caracte- porque, ainda em tempos não muito afastados de Horácio, eles se cingiam com o rústico cinctus em volta do pretende Horácio trazer a discussão as divergências de duas escolas gramaticais: fendia a analogia uma, chefiada por Cícero e César, de- na parte morfológica e na parte lexical da língua, não admitindo, -portanto, neologismos;- a outra, admi- peito ou da cintura de modo a ficarem os braços livres. Sobre tia a anomalia, os ombros deitavam depois uma toga, Cinctutus meio da introdução de palavras novas. César, 00 seu trabalho é, além disso, concedendo que na língua se inovasse por afirma que se deve fugir, como de um rochedo, um vocábulo f o r j a d o por Horácio que, mais uma vez, exem- De analogia, plifica o preceito dado (cf. v . 4 6 ) . Poderíamos, em português, da traduzir este neologismo latino por icintudos>, ria atque in pectore ut tanquam scopolum sic fugias inauditum conservando palavra desusada e nunca ouvida: « H a b e semper in memó- atque insoliens uerbum* assim a intenção horaciana. (apud A u l o Gélio, 2V. A., I, Io e Macrób., Sat., I , 5, 2 } . Horácio toma a posição defendida pela para a maioria dos romanos contavam escola contrária a César, mas, como sempre, admite-a, pres- como neologismos as palavras derivadas do grego, ou seja, os supondo, que das liberdades concedidas se faça uso com come- helenismos. Estes compreendem não só transi iterações d o gê- dimento e critério. Para continuar com exemplos tradicionais 53 — Graeco fonte: nero de barbitos (lira), cf. Hor., Odes, I , 4 ou diota {vinho e respeitados da literatura arcaica, apresenta Horácio, no v e t h o j j cf, H o r . , Odes, I , 9, «8, mas igualmente palavras decal- v . 56, oe casos de Énio e Catão que inovaram respectivamente cadas semânticamente sobre modelos helénicos, taiscomo na poesia e na prosa, introduzindo, na língua, novos modelos ter d o v . 40 (SuvstTwç). prodigialiter 60, poten- do v . 29 ( t e p a r w S e í ) , etc. vocabulares, 61 si possum, inuideor, cura lingua Catonis et Enni o idioma pátrio, com que razão hao-de malsinar-me sermonem patrium ditauerit et noua rerum caso eu puder acrescentar-lhe algumas? Foi lícit(f*| . ,C nomina protulerit? Licuit semperque Üicebit 1 e l í c i t o sempre será langar-jxm-jvocábulo cunhado^ com o selo da modernidade. Assim como as flores- signatum praesente nota producere nometn. Vt siluae foliis pronos mutantur in annos, 60 tas mudam de folhas no declinar dos anos, e so"ãs^" Í60 prima cadunt, ita uerborum uetus interit aetas, folhas velhas caem, assim tamlbém cai em desuso et iuuenum ritu florent modo nata uigentque. a velha geração de palavras e, à maneira dos J o - Debemur morti nos nostraque. Siue receptus vens, as que há pouco nasceram em breveflores- * terra Neptunus classes Aquilonibus arcet, cem e ganham pleno vigor, Nõs e as nossas obras. regis opus, sterilisue diu palus aptaque remis j estamos fadados para a morte! Mesmo que o m a r j j . 65 uicinas urbes alit et graue sentít aratrum, de Neptuno, recebido pela terra, proteja as arma- seu cursum mutauit iniquum frugiibus axnnis, das dos Aquilões, em obra digna de reis; mesmo que o pântano, estéril durante (muito tempo e apro- 56 — inuideor por mihi trução à moda grega que Horácio apresenta inuidetur: priado para os remos, alimente as cidades vizinhas trata-se d e uma cons- e até sinta o peso do arado; mesmo que o rio, (por ( f ô o v o u ^ a t ) , meologismo helénico, para juntar o exemplo à regra, como já fizera antes { w . 65 levado por caminhos favoráveis, mude o curso fa- tal 47, 50). Horácio, A c r ã o e Pseudoacrão. A d m i t i n d o essas alusões, muitos dos comentadores modernos tentaram indevidamente encontrar 60 — As palavras e sua v i d a são descritas por Horácio com V I 146 e segs., e Mimnermo, aqui um ponto de apoio para a ' d a t a ç ã o do poema, tomando usam para caracterizar a v i d a dos mortais. como premissa o conhecimento de Horácio de certas obras pú- Com ele, o poeta recorda as opiniões dos que pensam ser a blicas levadas a cabo em determinadas datas. "É, porém, ten- língua um fenômeno natural, próprio da <púut; (natureza) t a t i v a falaciosa, visto que nada nos diz que H o r á c i o pensasse o mesmo símile que H o m . , Ilíada, frag. 2 ( D i e h l ) , e em tal ( v i d . Brink, Prolegomena, não imposto por autoridade (vójjuoi Oecst)\ 63 — Debemur morti é construção helenizante e lembra o verso atribuído a Simónides, A n t . Pai., X , 105: «todos estamos destinados à m o r t e » , 64 —-1£ possível Horácio enumere que, nestas referências que se seguem, trabalhos públicos mandados efectuar por p. 241), ou, pelo menos, que pensasse em obras determinadas. D e v i a sim, fazer estas referências com o intuito d e generalizar o tema da debilidade das obras humanos. 65 — Palus, César ou por Augusto, tal c o m o sugerem os comentadores dè t 62 exclusivamente \> — cuja prosódia normal é palus, V1 • f aparece aqui escandido c o m o palus, dando-se, por conseqüência, um caso de correptio iambica, que sobretudo fora normal na métrica ar- caica plautina. 125 v doctus iter rndius, mortal ia facta peribunt, tídico para as searas: são obras humanas e de-* nedam sermonum stet honos et gratia uiuax. 70 palavras nem sempre ^ge^o^ivazes.^Huitos'voe?- quae nunc sunt in honore uocabula, si uolet usus, bulosTjA"desapjareçjdps, voltarão àL_vidaJ e muitos . quem penes arbitrium est et ius et norma loquendi. outros, agora em^moda,. desaparecerão, se o uso Res gestae regumque ducumque et tristia ibella assim quiser, poissó a ele pertencem a soberania_e quo scribi possent numero, monstrauit Homerus. 75 pois não é só aquilo a que se chamava na retórica latina loquentium (Quiot., Inst, Or., I, 6, Gélio, N. A., X H , 13, n6), mas inclui em si a utilitas, 44; Aulo ou seja a necessidade que leva à inovação formada pelos neologismos e pelo retorno ao uso de certos arcaísmos. Isto, contudo, não permite identificar a expressão horaciana com as teorias da escola epicurista ( v i d . IBrkik, Prolegomena, p . a.36. n. 2 ) . Com o v . 72 faz-se a transição para um outro capítulo. os quais, como bem mostra .Rostagni, formam, no caso estrito u-erba (os singula c3' 70 uerba foram tratados nos w . 416-72), pois estes só podem conceber-se dentro trou Homero. O lamento, em tempo antigo, exprimia-se em versos desiguais que foram unidos: 75 gundo a sua teoria literária, eram estes e só estes que os Roma^ nos deviam imitar, 73 — Quanto à epopeia e aos assuntos que descreve, assim como ao tom que nela se procura, tudo é descrito dentro da características mais flagrantes desse gênero. N ã o fora em vão que a tragédia buscara exactamente na epopeia os seus principais temas. 75 — Fala de determinado ritmo. Ora este ritmo é na poesia, o que se agora Horácio dos dísticos elegíacos ( i m p a r i t e r , eaitende por metro, o qual, (para obedecer aos preceitos d o porque constituídos por um hexâmetro e um pentâraetro dactí- •jrpéjrov. tem de ser apropriado a o tema poético de que se trata, licos), mas não lhe é possível apresentar um inventor. N o en- Brink, Prolegomena, fliiência p . gq, aponta, neste caso, a possível in- directa ou indirecta (por Neoptólemo de P á r i o ) • esquema delineado por Aristóteles, Retórica, do LM, 8. Por isso, seguir-se-á uma sinopse dos diversos metros e dos seus inventores (Eoperaí) > tal como era hábito fazer-se nas obras técnicas dos gramáticos antigos. Horácio, muito embora escreva para um público romano, só se referirá a modelos gregos, pois, se- 64 ) •V y^/X V habitual concepção de que tristeza e solenidade são as duas 73-85 — Entra agora Horácio nas discussões dos metros, d o verso, porte dos coniuncta ' v^f Em que metro se podem descrever os feitos d o s ' reis, dos chefes, as tristes guerras, já o demons-' 71 — Usus tem, neste contexto, um sentido bastante rico, tanto, caracteriza os gêneros que adoptaram, como metro, o dístico elegíaco: — r.° os cantos lamentosos, Esta atribuição é provocada pela discussão da origem da palavra elegia, que, na antigüidade, era interpretada como proveniente de e Aéyetv ou seja, traduzindo literalmente, «dizer ais», i. e., «lamentar-se». Segundo recentes invéstígaçõos, um vocábulo armênio elgn — essa palavra, deriva-se de (caniço, f l a u t a ) . Quanto a este aspecto e quanto ao inventor do poema elegíaco, v i d . G. INQ 11 — 3 ; V^ o/direito e a Jegislação da língua.. Versibus impariter iunctís querimonia primum, consuetudo ^ vem perecer. Assim também o valor e a graça das Multa renascentur quae iam cecidere, cadentque a 65 post et iam inclusa est uoti sententia compos; depois, neles se incluiu; a satisfação de promessas quis tamen exiguos elegos emiserit auctor, atendidas. Sobre quem, no entanto, pela primeira grammatici certant et adhuc sub iudice lis est. vez criou as singelas elegias, discutem os gramá- Archílochum proprio rabies armauit iambo; ticos e ainda o litígio está em tribunal. Foi a raiva hunc socci cepere pedem grandesque coturni, 80 quem armou Arquíloco do jambo que a este 6 alternis aptum sermonibus et popularis próprio: depois, a tal pé, adaptaram-no os socos uincentem strepitus et natum rebus agendis. e os grandes coturnos por mais apropriado para Musa dedit fidibus diuos puerosque deonum o diálogo, capaz de anular o ruído da assistência, 80 visto ser criado para a acção. A Musa concedeu à Lucb, Die Rümische Heidelberga, 11961, p. 18 e Liebeselegie, eegs.; — 2.0 os epigramas lira o cantar deuses e filhos de deuses; o vencedor N a realidade, porém, o dís- votivos. tico elegíaco servirá para exprimir muitos outros gêneros poéticos: o satírico, o convivial, o amoroso, etc.; vid. O.C.D., s. u. 80 — Os metros jâmbicos foram adoptados pela comédia e pela tragédia ( v i d . Arist., Poética, V , 1449 a ) , que> a princípio Horácio só se interessou em-referir os primór- usavam o tetrâmetro trocaico, próprio da sua origem satírica dios do dístico elegíaco e não todos os gêneros em que ele e da sua forma coral. Só quando do coro e da exclusiva forma aparece. corail se passou ao diálogo entre actores { f i m d o séc. v i a. C, Elegiac Poetry. 77 — exiguos elegos em comparação com a igrandeza da ticos usaram os jambos. epopeia. 78 com Frínico e Téspis, na tragédia) é que os gêneros dramá- a discussão dos gramáticos (que ainda durava no Com socci (pequenos sapatos da comédia) e os grandes ... (da tragédia), marca o poeta, por meio d e antítese, tempo de Horácio) desenvolvia-se sobretudo em torno d o in- coturni ventor: — Calmo de Éfeso (séc. VII a. C.: de quem temos a a diferença de estilos entre o primeiro e o segundo gêneros: mais antiga elegia), Arquíloco o primeiro mais humilde e o segundo mais sublime. (séc. v n a. C . ) e Mimnermo {séc. VI a. C . ) eram os inventores mais apontados. 79 — Entra-se agora na descrição da poesia jâmbica, que Horácio considera, seguindo a teoria peripatética, como apropriada para as invectivas de carácter pessoal. Afasta-se, porém, da teoria aristotélica, quando propõe, como inventor do jambo, a Arquíloco, pois Aristóteles vira em Homero o seu inventor ( v í d . Arist., Poética, I V , 1448 b ) . Enfileirava assim na escola alexandrina, à qual pertencia, p. ex., Neoptólemo de Pário,^e que recusava a Homero a paternidade d o jambo, considerar homérico o poema Margites, (dentro dos t 66 poemas homéricos), por não no qual, e só neste apareciam jambos. 81-88 — Aristóteles, Poética, X X I V , 1460 a, tem a mesma opinião sobre as funções d o jambo. 83—Agora, na descrição da poesia mélica, i. e., Uricai, {na antiga acepção d a palavra, poesia só acompanhada pela lira — f i d i b u s ) , considera Horácio os seguintes gêneros: i>,° hinos em honra dos deuses; 2.0 encómios celebram personagens, e epinícios em que se pela suas altas qualidades, ou pelas vitórias desportivas obtidas; 3. 0 poemas eróticos, em que -se canta o amor dos jovens; 4. 0 escólios em que se celebram 09 prazeres da mesa e d o vinho. 125 no pugilato e o cavalo que, primeiro, cortou a |;^t : f®|ileítn uictorem et equtun certamine primum ÍÍMuuemum curas et libera mina referre. 85 i ^ g p i s c x i p t a s senuare uices openumque calores meta nas corridas; os cuidados dos jovens e o vinho que liberta dos cuidados. Se não posso nem sei observar as funções pres-1 v cur ego, si nequeo ignoroque, poeta salutor? piudens praue quam discere maio? critas e os tons característicos dos diversos gêneros, ^ fli^epiibus expoui tragicis xes cômica noa uailt; por que hei-de ser saudado como poeta? Qual aí \ í.IÊ® nescire ^.^lídignatur item priuatis ac prope socco 90 razão por que prefiro, com falso pudor, desconhe- {lignis canminibus narrará cena Thyestae. cê-los a aprendê-los? Mesmo a comédia não quer Singula quaeque looum teneamt sortíta decentem. os seus assuntos expostos em versos de tragédia e et tragicus plerumque dolet sermone pedestri 95 86-88 —• Faz-se agora a transição para o capítulo que tra- da comédia, Que cada gênero, bem distribuído Às vezes, todavia, levanta a voz a comédia e Cremete indignado raJlia em tom patético; mais do drama. A l é m d o metro, têm de adaptar-se o estilo (o estilo vezes, no entanto, as personagens trágicas, seja Í58-9 2 ), Telefo ou-Peleu, em língua rasteira se lamentam, decens) aos gêneros literários ( v v . 93-113) e aos próprios caracteres - m 8 ) . Corresponde a Arist-, Retórica, 87 — p o e t a salutor: os Gregos, que os (vv. HEI, 7. traduziram por salue, poeta! Horácio não só se refere a si próprio como a t o d o e qualquer poeta. 88-92 — O estilo tem de obedecer ao gênero a que se adapta, e, portanto, é forçosamente diferente o estilo da , comédia do da tragédia. 90 — priuatis: Horácio parece lembrar com este contexto representava as acções de simples particulares, ao passo que a tragédia só se ocupava com as dos heróis (cf. aa I , p. 488 K e i l ) . 91 — Cena Thyestae; havia tragédias em que a narração desta ceia era o momento fundamental da história de Tiestes. Nessa refeição eram servidos a Tiestes, pelo seu irmão Atreu, os membros dos próprios filhos, Eurípides e Eruio escreveram tragédias com esse nome, e assim também, no tempo de Horácio, o poeta Vário a quem já na A. P., v . 55, se fez referência. 9 3 - H 3 — O estilo tem de adaptar-se às paixões que, no a teoria peripatética de Teofrasto, segundo a qual a comédia Ars Gram., 95 114- referência a uma saudação usual entre Romanos 1 ocupe o lugar que lhe compete. tará d o estilo e da maneira de o adaptar aos diferentes aspectos às paixões ( w . ! > 190 c r narração em metro vulgar, mais próprio dos socos / katusque Chremes temido delitigat ore; tem de ser •npéjrov r OÍ igualmente a ceia de Tiestes não se enquadra na Intèrdum tamen et uocem comoedia tollit, = 85 1 Diomedes drama, se descrevem. 93 — Chremes é o tipo do pai avaro e irasclvel, freqüente na comédia nova. Vid. a personagem deste mesmo nome do Heautontimoroumenos de Tcrêncio. 69 Telephus et Peleus, oum pauper et exuluterque quando, na pobreza e no exílio, lançam frases em--"- proicit ampuHas et sesquipedalia uerba, poladas, palavras de pé e -meio, t e n t a d o c si curat cor spectantis tetigisse querella. pelo lamento o coração de quem os olha... „' Non satis est pulchra esse poemata; dulcia sunto et, quocumque nolent, animum and i to ris agunto. _ MS; ' N ã o basta que os fpoemas sfrjam. bejos: força; é4í$|ff\ 100 que sejam emocionantes e que transportem, parai ;jfftfT V t ridentibus adrident, ita flentibus adsunt onde quiserem, o espírito 'do ouvinte. Assim como '>100,' humani uultus; si uis me flere, dolendum est 0 rosto humano s o m a q u é m vê rir o ads que primum ipsi tibi; tum ,tua me infortunia -laedent, ram se lhes une em pranto, também se queres que Telephe uel Peleu; male si mandata loqueris, eu chore, hás-de sofrer tu primeiro: só teus infor- " aut dormitabo aut ridebo. Tristia rnaestom 105 túnios podem comover-mé, quer sejas Telefo quer uultum uerba dècent, iratom plena minaram, Peleu; se, porém, recitares mal o teu papel, dormi- Iiudentem lasciua, seuerum seria dictu. tarei ou cairei no riso. Tristes palavras só dão bem Format enim natura prius nos intus ad omnem com rosto pesaroso e com o irado as ameaçadoras; for tuna mm habitum; iuuat aut impelHt ad iram, com rosto jovial palavras folgazãs e com o severo aut ad humum maerore graui dediucit et angit; 110 personagem da tragédia, era. rnn rei da Mis ia. Ferido por Aquiles nos campos de Tróia, vai, como mendigo, as contingências^da sorte; eíajnos alegra ou n ^ i m pele para à cólera; também ela nos abate por teira com_ pesada tristeza, com angustia; e só .depois qual, segundo um oráculo, só assim se curaria. A descreve tais mudanças' de alma pela sua intérprete, tragédia * 110. pai de Aquiles, que de- v i d o a vários revezes da sorte, acabou por fugir das terras gregas. Os exemplos dados com Cremete, T e l e f o e Peleu, mostram casos em que o estilo se não adapta aos caracteres e ao gênero literário em que estes e as suas paixões estão integrados. 99 e segs. — N ã o basta a beleza formal, é preciso que o poema dramático interesse os espectadores causando-lhes prazer. Este obtém-se, fazendo-os sentir tudo o que se passa no palco, isto é, os sentimentos das personagens representadas, dé tal modo que haja perfeita comparticipação (ffu^itaQEiv) t 70 105 as que mostrem seriedade. B, pois, a natureza que, ao campo dos Gregos em Argos, a f i m de sarar a ferida, da também 'pertence a figura de Peleu, ; antes de tudo o mais, nos forma inferi ormènfe"pãrã post effert aními motus interprete língua. 96 — Telefo, ' d o ouvinte na acção exposta. T o d o este passo está influenciado pela teoria per.i patética, tal como indicámos no com. aos v v . S6-88. 1 | 108 — Horácio refere-se de novo (como nos v v . 6o e segs.) à teoria que apresentava a língua como resultado de uma origem natural, como fenômeno provocado pelas diversas impressões do espírito. Quanto às interpretações que viam, neste passo, influências estóicas ou epicuristas, Prolegomena, mostra-se Brink, p, '136, n, 2, extremamente céptico. 125 Si dicentis erunt fortunis absona -dieta, a líaffaa.jSe as palavras do actor não corresponde- Roraani tollent equites pedibesque cachinnum. rem à sua sorte, não deixarão todos os Romanos, Xntererit multuirt, diuusne Ioquatur an heros, cavaleiros e peões, de soltar grandes risadas. maturusne senex aq adhuc florente iuuenta 115 Tem igualmente de /tomar-se era conta, se quem feniidus, et matrona potens an sedula nutrix, fala é d-aus ou é herói, velho sisudo ou homem mercatome uagus cultorue uirentis agelli, fogoso, na flor da idade; matrona autorilária 011 115 Cojchus an Assyrius, Thcbis nutritus an Argis. carinhosa ama; mercador errante ou lavrador de vi. t . çosa courcla; sc vem da Cólquida ou da Assíria, se Aut famam sequere aut sibi conuenientia finge scriptor. Honoratmn si forte reponis Achillem, 120 irapíger, iracundus , inexorabilis, acer : nasceu cm Tebas ou em Argos. Segue, ó escritor, a tradição ou imagina carac- iura neget sibi nata, nihil non arroget armis. teres bem 'apropriados: sc acaso repuser es em cena Sit Medea ferox inuictaque, flebilis Ino, o glorioso Aquiles, fá-lo aotivo, colérico, inexorá- 120 fl vel e rude, que não admita terem sido criadas as leis 113 — pedites para manter irônico paralelismo com Una andam a cavalo, são cavaleiros e são nobres, andam a pé, são de infantaria, e são equites. os outros plebeus. 114-118 — O estilo também deve adaptar-se aos caracteres. A f i m de exemplificar este princípio, já defendido pela escola também para ele e nada faça que não confie à força das armas. Que Medeia seja feroz e indomável, a obra poética (w. 119-152), depois falará dos principais gêneros poéticos (153-294^. peripatética, vai Horácio dar-nos uma lista, com valor exem- 119-127 — Para que o poeta consiga fazer obra coerente, plar, de caracteres habituais da tragédia, desde Gregos a bár- força é que se cinja, 11a criação de caracteres, aos modelos baros, desde velhos a jovens, pretendendo, com esta enumera- tradicionais, ção, afirmar que a cada um pertence um tom e um estilo em cena caracteres novos, que os descreva com verosimiltiança .j.ipfÍP1"'0®' Quanto à possibilidade de influência, mesmo que in* ^irecta, da Retórica ...Brink, Prolegomena, de Aristóteles, sobre este passo, vid, p. 99. como Aquiles e Orestes, ou, caso desejar pôr e bem adaptados à acção em que aparecem. 120 — Aquiles é figura da epopeia (lllada, etc.) e da tragédia (em L í v i o Andronico, Acio, É n i o ) . 'ir11 • <í.- • 123 — Medeia, filha do rei da Cólquida, foge da pátria por O l 9 ? 2 9 4 — Constitui este passo a terceira parte da A . P , , e amor a Jasão, um dos Argonautas, sendo posteriormente aban- 1;',corresponde ao capítulo de Neoptólemo de Párío dedicado à donada por ele. Para se vingar de Jasão, mata os filhos que j- JipÍTjfftC e possivelmente a Aristóteles, Retórica, deste tivera, bem como a sua nova mulher Glau^e. Medeia II, 12-14. h Çf., Brink, Prolegomena, p. 138 aparecerá em muitas tragédins: na Grécia, na Medeia de Eurí© passim. Horácio vai agora pides, e m Roma, em tragédias, hoje perdidas, de Énio, Acio - tratar da maneira mais apropriada de arranjar um tema para t 72 125 |>erfidus Ixion, I o uaga, tristia Orestes. Siquid inexpertum scaenae committis et andes Ino chorosa, Ixfon pérfido, I o errante e Orestes 125 personam formare noaiam, seruetur ad ímum ousando conceber em cena nova personagem, então qualis aib incepto processerit et sibi constet. de início e que seja coerente. rectius Iliacum carmen deducis in actus — "É. difícil dizer com propriedade-Q. q ue .n ão_per-"" 130 tence à tradição: melhor farás se o carme de ílion, Puiblica materies priuati iuris erit, s i " em ac tos " trasladarei em vez de proferires, pela- non circa uilem patulumque moraberis orbem, primeira vez, f a c t o s T n f ® o s ^ e ^desconheçidos. e Ovíd 'io (esta última a mais célebre). A respeito de possível crítica, horaciana à Medo ia de Eurípides, v i d . F . Rebelo Gotirçalves, «Horácio e Eurípides», Euphrosyne, H I {'1961}, p. 55 e segs, Ino, filhai de Cadmo, provocou involuntàriamente 125 „que ela seja conservada até ao fim como foi descrita Difficile est proprie comimimia dicere; tuque quam si proferres ignota indictaque primus. triste. Mas se algo -de original quiseres introduzir, a morte d o marido e dos filhos ao suscitar a cólera de Hera. A involuntariedade do seu acto, (contraposto, por Horácio, ao 130 Matéria a todos pertencente será tua legítima pertença, se não ficares a andar àjvolfcano caminho CHtemnestra. Basta lembrar a seu respeito a tragédia do mesmo nome, escrita por Eurípides. 128-130 — Horácio passa agora a tratar de outro aspecto: introduz-nos na melhor maneira de escolher um tema 'para a acto voluntário de Medeia) aumentou o efeito patético de sua obra poética, de modo a fazer obra original. A figura, posta em cena por Eurípides. E m R o m a trataram-na e consistência da obra residirão em não imitar originalidade L í v i o Andronico, Enio e Acio e, depois da morte de Horácio, e em não pretender demasiado, por isso, interessa seguir um Séneca. bom modelo, como a 1 liada de Homero. servíhnente será castigado por Zeus, por ter querido se- 1 3 1 - 1 5 2 — O poeta fundamenta-se, neste passo, na teoria duzir Hera. Zeus faz-lhe- aparecer uma nuvem, com a forma aristotélica — não sabemos se por via directa ou indirecta — 124 — Ixion, de Hera, e Ixío-n unindo-se à nuvem, gerará, a figura híbrida (cf. Aristóteles, Poética, e monstruosa d o centauro. Desta história provém a frase por- seguir de preferência o exemplo de Homero, que reduz as suas tuguesa «tomar a nuvem por Juno ( = H e r a ) > . T e m a de inú- obras a uma acção una sem pretender obter essa unidadé pela. , meras tragédias, de Ésquilo, Sóíocles, Eurípides e outros. monótona apresentação de uma só personagem, ou de mm só... ; Io, amada de Zeus, será perseguida por Hera, que a transforma em vitela e a faz errar pelo mundo, perseguida por um enorme moscardo. Sobre este tema, escreveram Ésquilo, entre os Grego®, e, entre os Romanos, Acio. Orestes tristis, -porque perseguido pelas Eximas, deusas vingadoras, devido a ter praticado o matricfdio, ao assassinar 74 cap. V I T I ) , segundo a qual interessa episódio, como faziam os 'poetas cíclicos, .-.> ' 1 'VííSGÍ 132 — O poeta defende neste verso ponto de vista i d é f em jpj tico ao de Calimaco, que, no epigrama 28, também afirmtt-fr claramente: «odeio o poema cíclico e detesto o caminhò'"Tp>g_ - ... onde segue a multidão.» N ã o defende, contudo, senão-neste^ ponto, as teorias da escola alexandrina, pois se filia, coinbj • i-J;.-"-' 75 H fenèc uerbo uerbum curabis reddere fidus trivial, aberto a todos, e tão-pouco procurarâs, IJpnteipres nec desilies imitator in artum, Infunde -pedem proferre pudor uetet aut operis lex. ffipj 135 Nec sic incípies, ut scriptor cyclious olim: em quadro dez e a economia da obra. E não irás começar ' Quid dignum tanto feret hic promissor hiatu? Parturient montes, nascetur ridiculus mus. 1, - 140 «Dic mihi, Musa, uirum, captae post têmpora Troiae comp^ outrora o escritor,xlclico^ 135 cantarei, a fortuna de Príama.e a guerra famosa». Que obra _ digna de tal exórdio nos dará o autor desta promessa? Os montes parirão c nascerá um pequenino qui mores hominum multorum uidit et urbes», rato. Non fumum ex fulgore, sed ex fumo dare lucem Quanto mais a preceito não começa este que nada constrói sem coicsão: «Fada-me, ó Musa, cogitat, ut speciosa dehinc miracula promat, Antiphaten Scyllamque et cum Cyclope Charybdim. 145 Nec reditum Diomedis ab interitu Meleagri, já dissemos, mas da escola aristotélica, Cf. Brink, vra, nem entrarâs, como imitador, muito estreito de onde te impedirão de sair a tirai- «Fortunam Priami cantabo et nobile bellum». Quanto rectius hic, qui nil molitur inepte: como servil intérprete, traduzir^palavra por pala- 140 do varão que, após os tempos da conquista da Tróia, cidades e costumes viu de tantos homens». Não pretende tirar fumo de um clarão, mas sim Prolegomena, pp. 109, n. -2; 182, •231, n. 4. 1 3 9 — Tradução d o provérbio grego: <0 monte deu à luz, de fumo tirar luz, para daí colher brilhantes prodígios: Antífates, G l a e Caríbdis com o Ciclope. 145 Não inicia o retorno de Diomedes pela morte do e deu à luz um rato», cf. Ateneu, X I V , 616 D. O monossílabo mus no fim do hexâmetro (contra a regra geral da métrica ab ouo. Deste m o d o se tornará o poema sobrecarregado com romana, que, nesse lugar, exigia um dissílabo ou um trissílabo) descrições inúteis, que mais pertencem à história do que à serve para realçar a pequenez d o poesia. Neste ponto, Horácio, toma verdadeiramente o partido 141-142 — Tradução v v . 1-2, não literal rato. de Hom., Odisséia, I, ( O d X , 100 e segs.); Cila e Caríbdis, monstros marinhos que viviam X I I , 85 e segs.); Ciclope, gigante monstruoso com um só olho, que v i v i a na •Sicília (Od., VIII, 1451 a 24, concordando, só em parte, com as teorias alexandrinas, que, muito embora, segundo 1 4 5 — A u t í f a b e s , rei dos antropófagos Testrig5es perto do estreito de Messina, na Sicília (Od., de Aristóteles, Poética, I X , 187, segs.). 146 — Horácio dá aqui exemplos da maneira como se não deve tratar um tema poético, ou seja, começando por narrá-lo Calímaco, fossem contra os poemas de grande extensão, eram pelo menos a favor dos poemas eruditos. Reditum contra Tebas Diomedis é a volta de Diomedes da expedição (os sete contra T e b a s ) , que poderia constituir o tema de um poema cíclico do gênero das Tebaidas que, na antigüidade, se conhecem. Mas o poeta cíclico, em vez de tratar do assunto pròpriamente dito, começa a fazer a história das suas origens relacionando-a com a morte de Meleagro, que t 77 125 nec gemino ibellum Troianum orditur ab ouo; Meleagro, nem a guerra ide Tróia pelos dois ovos; . •(^4 / semper ad euentum festinat et in médias res sempre se apressa para o desenlace e arrebata o non secus ac notas auditorem rapit, et quae ouvinte para o meio da acção, como se esta lha desperat tractata nitescere posse relinquit, 150 ctí^J fosse conhecida, e deixa de lado a matéria que ele atque ita mentitur, sic ueris falsa remiscet, sabe não poder (brilhar. De tal modo cria ficções, de* primo ne mediam, médio ne discrepet imum. tal modo mistura fábulas com a verdade, que nem 150'li Mf;,'! o meio destoa do princípio nem o fim do meio. Tu quid ego et populus mecum desideret audi, Tu atende ao que eu, e o público comigo, dese- si plosoris eges aulaea manentis et usque sessuri donec cantor. «Vos plaudite» dicat. 155 ;r jamos, se quiseres que sentados esperemos o le- Actatis cuiusque notandi sunt tibi mores, vantar d o pano, até que o actor nos peça os mobilibusque decor naturis dandus et annis. aplausos. );• 155 Deves fazer ressaltar os caracteres de cada) estava muito remotamente Ligado à história dos antepassados idade, e não deve faltar propriedade às naturezas, de Diomedes. que com os anos variam. O menino, que já sabe 147—gemino ... ab ouo, trata-se de um exemplo similar a o que acima citámos: a guerra d e T r ó i a f o i declarada por dução sobre a unidade d o poema, n o tratamento dos diversos causa d o roubo d e Helena, irmã dos gêmeos Castor e P ó l u x , gêneros os Dioscuros, que, tal c o m o Helena, nasceram de um o v o de drama Leda. dentro dos princípios qiie lhe são peculiares. Daí o falar o poeta de um « o v o g ê m e o » , i.e, duplo: um, o o v o d e que saiu Helena, o outro, o o v o de; que nasceram dramáticos de Grécia e R o m a : satírico. 148 e segs. — H o m e r o é louvado por Horácio como exem- é cultivado ó a expressão com que terminavam as comédias, p. ex. de Plauto, quando uma das personagens pedia os de o apresentar, Efectiivamente, n ã o só e v i t a digressões fasti- actor acompanhado plo d e brevidade e de coesão na escolha d o tema e na. maneira comédia 153-155 — i n t r o d u ç ã o aos preceitos da arte dramática. 155 — kVos plaudite» os Dioscuros. tragédia, Cada um destes gêneros d e v e ser aplausos do público. pela flauta. Can tor Quanto deve a referir-se aulaeum ao deve diosas, c o m o o seu m é t o d o poético não coincide com o método esclarecer-se que se trata d o pano da cena, que era, no teatro histórico-cronológico, segundo o qual se iniciam as narrações romano, levantado quando terminava a peça 0 baixado en- pelo seu mais remoto principio. quanto ela durava. Deste modo, o poema de H o m e r o apresenta-se uno na concepção e na realização, correspondendo ao ideal aristotélico expresso no v , -152. 153-294 — Depois de ter feito nos versos 1.-152 uma expo- 156-178 — Descreve Horácio os mores das personagens, ou seja os caracteres que podem aparecer nos diversos gêneros dramáticos, Este estudo dos caracteres era habitual na escola sição sobre os princípios a seguir na escolha do estilo e do iperipatética, conteúdo, entra agora Horácio, depois de uma pequena intro- mesmo nome. bastando lembrar a obra de T e o f r a s t o com o 125 t 78 . itHáJí*•il't : Reddere qui uoces iam scit puer et pede certo articular palavras e o chão 'bate com passo certo, signat humum, gestit paribus conludere et iram exulta por brincar com seus iguais e as cóleras colligit ac ponit temere et mutatur in horas. 160 que vai tendo, logo as esquece, mudando de hora) Lnberbus iunenis (tandem custode remoto a hora. O jovem, imberbe ainda, já liberto do pe- gaudet equis canibusque et aprici gramine Campi, dagogo, gosta 'de cavalos c de cães te dos exercícios cereus in uitium flecti, monitoribus asper, soalheiros na relva do campo Márcio. Mas ao vício utilium tardais prouisor, prodigus aeris, se molda como a cera e responde asperamente aos • subJimis cupidusque et amata relinquere pernix. 165 que aconselham, não pensa senão tarde no que á ' Conuersis stndiis aetas animusque uirilis útil; pródigo no dinheiro, altivo e ambicioso, larga • quaerit opes et amicitias, insemit honori, rápido o que ainda há pouco amou. Mudados os seus hábitos, quando a idade e espírito viris o ca- commisisse cauet quod mox mutare laboret. 11 1 * racterizam, "já procura riquezas e amizades, servil, -Multa senem circumueniunt incommoda, uel quod quaerit et inuentis miser abstinet ac .timet uti, 170 uel quod res omnís timide geiideque ministrat, à carreira das honras se submete; foge a comprometer-se para não ter de sofrer depois ao remediar os erros. Muitas agruras rodeiam o velho, ou porque,; dilator, spe longus, iners auidusque futuri, depois de procurar, miseravelmente se abstém e difficilis, querulus, laudator temporis acti hesita em fazer uso d o que encontrou, ou porque se puero, castigator censorque minorum. tudo realiza com temor e frieza, atrasando com sua Multa ferunt anni uenientes com moda secum, 175 multa recedentes adimunt, N e forte seniles esperança a longo prazo, inerte e ávido do futuro, de carácter descontente, laimuriento, louvador dos • mandentur iuueni partes pueroque uiriles; tempos passados, de quando era menino, castiga e vsempre in adiunctis aeuoque morabitur aptis. censura os que são mais novos. Muitas .desvanta- |g|Aut j||pí'l62 agitur res in scaenis aut acta refertur. •— Apricus Campus, por Campo Márcio, onde em R o m a ' 9-188 — Regras concernentes à arte dramática: criação P^l^aracteres e partes representadas eobre a cena ou partes simplesmente narradas por certas personagens outras o declinar leva consigo: não deve, pois, o papel d o velho ser confiado ao jovem, nem o de Rsffilaziam os exercícios militares. * gens traz consigo o mudar dos anos, mas muitas (mensageiros, homem ao rapaz. Que ^sempre os autores se atenha m às qualidades e atributos de cada idade. regra tinha como fim o evitar a apresen- Há acções que se representam no palco, outras, i o de cenas sangrentas ou demasiado maravilhosas, como só se relatam depois de cometidas. O que se trans- *;etc(í* Esta primeira INQ n - 6 Segnius irritant ânimos demissa per aurem 180 mitir pelo ouvido, comove mais dèbilmente os espí- 180 quam quae sunt oculis subiecta fidelibus et quae ritos do que aquelas coisas que são oferecidas aos :: ipse sibi tradit spectator; non tamen intus olhos, testemunhas fiéis, e as quais o espectador digna geri promes in scaenam multaque tolles apreende por si próprio. Não faças, no entanto, ex oculis, quae mox narret facundia praesens. representar na cena o que deva passar-se nos basti- Ne pueros coram populo Medca tmcidet, 185 aut humana palam coquat exta nefarius Atreus, dores, retira muitas coisas da vista, essas que meJhor descreve a facundia de urna testemunha. Que aut in auem Procne uertatur, Cadmusin anguem. Medeia não trucide os filhos diante do público, nem Quodcumque ostendis mihi sic, incredulus odi. 185 o nefando Atreu cozinhe publicamente entranhas Neue minor neu sit quinto produetior actu humanas; tão-pouco em ave Procne se transforme faibuJa, quae posei uult et gpectanda reponi; 190 nec deus intersit, nisi dignus uindice nodus ou Cadmo em serpente. Detestarei tudo o que assim' V me mostrares, porque ficarei incrédulo. inciderit; nec quarta loqui persona laboret. Que a peça nunca tenha mais do que cinco actos nem menos do que esse número, se acaso desejarque já Aristóteles, Poética, X I V , 1453 b i - i r , também tinha acon- selhado. Naturalmente que muitas destas cenas não eram apresentadas, devido a impossibilidade técnica, ainda que Aristó- Que na peça não intervenha um deus, a não ser 114-127, que o desenlace seja digno de um vingador; nem também se refere a aspectos da criação dos tão-pouco se canse um 'quarto actor a falar nai teles e Horácio a esse aspecto se não refiram. Cf. w . onde Horácio voltem a pedi-la e tornar à oena depois de estreada. caracteres. mesma cena. 185 -—Medeia: vid, com. ao v . 123. (segunda, 186 — V i d . com. ao v . 91. 187 — Procne, de Filomela, filha de Pándion, rei de Atenas,, c foi transformada em rouxinol. Cadmo, irmã rei de Tebas, aparecia nas Bacantes de Eurípides, onde Dioniso, deus ex machina, lhe predizia a transformação em serpente, para 1 8 8 — Horácio defende novamente a verosimilhança da acção, tal como os per ipa té ticos. 1 8 9 - 1 9 0 — O poeta fala da divisão em cinco actos, 82 já na época helenfstica, possivelmente na escola de Teofrasto. V i d . T , (B. L . regra Webster, Studies in Menander, 1960, pp. fi®i e segs., 2212; 'Brink, Prolegomena, 191-192 —- Normas (terceira machina, o castigar da sua falta de piedade. em ordem, nesta enumeração) que deve ter surgido, regra) Manchester, p. 1H4. sobre o uso do deus ex que Aristóteles tinha condenado, na Poética, XV, 1 1454 b 2. Horácio admite o seu uso nos casos em que o desenlace exija intervenção divina. - 192 — A quarta regra restringe o número de actores a trêsj'.?Í ; i O quarto actor deve ser muta persona. • 83 ' Que o coro 'deáeuda a sua individualidade reci- § j f l | Ascloris partis chorus officiumque uiríle tando o seu papei como um actor, e não cante, no •• defendat, neu quid médios intercinat actus, ' quod non proposito conducat ©t haereat apte, 195 • IHe 'bonis faueatque et consilietur amioe meio dos actos, o que não se relacionar nem se adaptar intimamente ao argumento. Que ele seja 195 propício aos bons e, com palavras amigas, os acon- et regat iratos et amet peccare timentis; selhe, aos irados insuflando calma e aos que temem ille dapes laudet mensae breuis, ille salubfem pecar, concedendo amor. Que louve as iguarias da iustitiam Iegesque et apertis o tia portis; mesa frugal e assim também a justiça saneadora e iille tegat com missa deosque precetur et oret, 200 ut redeat miseris, abeat Fortuna superbis. as leis, tal como a paz que se goza de porta aberta. Que não revele os segredos confiados e peça aos Tíbia non, iut nunc, orichalco uincta tubaeque deuses e lhes suplique que a Fortuna volte aos des- 200 aemula, sed tenuis simplexque foramine pauco graçados e abandone os soberbos. adspirare et adesse choris erat utitís atque nondum spissa nimis complere sedilia Eatu, 205 quo sane populus numerabilis, utpote paruus, Não era a antiga flauta, como agora, coberta? de Jatão, como se fosse rival 'da tuba, mas tênue e simples, de singela embocadura, suficiente para dar et frugi castusque uerecundusque coibat. o tom, acompanhar o coro e espalhar-se, com seus Postquam coepit agros extendere uictor et urbes acentos, pelas bancadas ainda não à pinha. Nessa latior amplecti murus uinoque 'diurno 20í altura, ainda o povo se contava pelos dedos e, pouco numeroso, acorria ao teatro, sendo sóbrio, 193-201 — E m quinto lugar v e m a regra que prescreve o papel d o coro. Este deve ser considerado como um actor e intervir, portanto, na acção. Horácio tem, neste a mesma opinião de Aristóteles, Poética que já criticava os interlúdios particular, X V U I , T456 a 25-32, , em que o coro morigerado e respeitador. Mas depois que, pelas vitórias, se estenderam os campos e mais largos imuros abraçaram as cidades e depois que, mesmo em dias festivos, se aplacava impunemente o Gé- interrompia a acção cantando sem que as suas palavras tivessem qualquer ligação com a peça. Estes interlúdios eram normais na Comédia N o v a . Aristótélico também é o juízo moral sobre o coro. 202-219 — Horácio refere-se à música, e ás normas d o seu emprego, como elemento fundamental da poesia dramática. pectos mais complicados e sugestivos, visto que a poesia dramática passou pouco a pouco a ser presenceada peitas mais diversas classes sociais. 202 — Orichalcum cida. espécie de lata o de composição desconhe- : Primeiramente austera, foi a música evoluindo e ganhando as1. . OJ 85 placari Genius festis impune diebus 210 nio, durante o dia, em libação de vinho, começou' 210 accessit nume risque modisque licentia maior. então maior licença para os versos e para a música. " /1 Indoctus qui d enim saperet liberque laborum Na verdade, que gosto podia ter o ignorante, o rusticus .urbano confusus, turpis honesto? camponês liberto dos trabalhos? Este agora mis-' Sic priscae motumque et luxuriem addidit arü 215 o outro, honrado cidadão. Assim, acrescentou o * i sic etiam fidibus uoces creuere seueris , flautista à antiga arte mais movimento e lascívia e, '.'•;/• et tulit eloquium insolitum facundia praeceps, sortilegis non discrepuit sententia Delpliis. Carmine qui trágico «uilem certauit ob hircum, 220 mox etiam agrestis Satyros nudauit et asper de cada indivíduo, só era aplacado com libações durante a noite. mesmo modo, se juntaram à severa lira novas ^V^tij1 cordas, criando-se um estilo extravagante que trouxe expressão em moldes nunca ouvidos; e, paras' futuro como os deuses, se concebeu sentença não diferente das de Delfos, a dos oráculos. Fazer as mesmas libações, durante o dia, era sacrilégio. A in- Aquele que, primeiro, por miserável bode se ba- 220 fluência do desenvolvimento social na decadência dos costumes teu com o carme trágico, em breve chegou a desnu- 1 e na concepção artística, era já. tema de discussões na escola p. 11-15. 216 — A lira de Terpandro (é a mais antiga) tinha sete cordas, ao passo que, no séc. iv a.C., este número já fora aumentado para dez. dizia o futuro das personagens do drama, tal como se oráculo fora. O valor destas predicções era, bem entendido, realçado pela música. 220-250 — Depois de falar dos princípios que regem a estruturação da tragédia e do drama satírico, entra Horácio na história destes gêneros, sobretudo do drama satírico, que comparticipava, de certo modo, d o estilo elevado da tragédia e 86, -,í Infelizmente o único drama satírico que da antigüidade até'-'nós chegou, é o Ciclope 220 — A l u d e - s e Atica, 218-219 — Refere-se Horácio às palavras d o coro, que pre- do estilo humilde da comédia, Era um médium .: doutamente coisas úteis aconselhar e predizer o o Gênio, divindade protectora aristotêlica. Vid. Brink, Prolegomena, "."i andando, arrasta pela cena a longa veste. D o -2'.. utiliumque sagax rerum et diurna futuri Genius, . tura-se com o citadino, um, cheio de vulgaridade, tibicen traxitque uagus per palpita uestem; 210 — Placari . dicendt genus. durante á de Eurípides. origem os quais, dos concursos os concorrentes dramáticos disputavam n a ' -5, como • prêmio um bode ou seja um rpayoç- Vid. A . Pickard-Cambridge, Dithyramb, Tragcdy and Comedy, ed. xev. pçr T . B . L , f ' ' Webster, Oxford, 19&2, passim, 221 — S a t y r o s nudauit: deve tratar-se de uma alusão aos coreutas que representavam solenemente vestidos na tragédia e que logo a seguir, ao representarem no drama satírico, se apresentavam com uma pele de cabra sobre os bancos. Ligado à origem do drama satírico, encontra-se Pratinas de Fliunte. V i d . Pickard-Cambridge, ob. cit., p. 65 e segs. 87 incolumi grau itate iocum -temptauit eo quod dar sátiros selvagens e, rudemente, mas sem atentar íllecebris erat et grata nouibate moran-dus contra a solenidade do assunto, introduziu a sátira, spectator functusque sacris et potus et exlex. de modo a que, com atractivos e pela grata novi- Veruim ita risores, ita commeiidare dicacis 225 dade, prendesse o espectador, o qual, -depois de ter J conueniet Sartyros, ita uertere seria -Ilido, presenciado os sacrifícios, se encontrava bem foe- I ne quiciuimquo deus, quicuntque adhibebitur heros, bido e já sem freio. N a verdade, convinha assim, j regali conspectus in auro raiper et ostro, fazer valer os chocarreiros, os sátiros faladores, e Í225 migret in obscuras humili senmone tabernas, . aut, dum uitat humurn, nubes et inania captet. transformar coisa séria em folguedo, Não se -deixou-, 230 contudo, caso aparecesse qualquer deus ou qual- Effutire Jeuis indigna tragoedia uersus, quer herói, há pouco vistos em ouro e púrpura, ut festis matrona moueri iussa -diebus, dignos de reis, que estes passassem agora para som- intererit Satyris paulum pu-dibunda proteruis. brios tugúrios e se extprimissem em íbaixa lingua- Non ego dnornata et dominantia nomina solum uerbaque, Pisones, Satyrorum scriptor amabo, gem. N ã o se permitiu também que, ao evitarem o 235 vulgar terreno, os mesmos entrassem nas nuvens e nec sic enitar trágico -differre colori na fatuidade. Mesmo sendo satírica, a tragédia não ut nihil intersit Dauusne loquatur et audax deve tagarelar em versos levianos e só com alguma Pythias, emuncto lucrata Simone talentum, vergonha se mistura ela com os lascivos Sátiros, tal 230 como a matrona que, nos dias festivos, por dever 227 — Refere-se o poeta à linguagem de deuses e heróis, religioso, tem de dançar. a qual deve manter certa dignidade, coerente com a personagem que a fala. Trata, pois, da elocutio -"**" Eu, ó Pisões, se escrevesse dramas satíricos, referente ao drama não gostaria só de nomes e vocábulos sem figuras satírico. 233 — Horácio defende, de novo, o meio termo no que e no sentido próprio, nem me esforçaria por afas- respeita ao estilo d o drama satírico, que se deve manter entre tar-me de tal sorte do estilo trágico que nenhuma a tragédia e a comédia. Assim poder-se-á distinguir qualitativamente a linguagem d o Sileno, o mítico aio de Dioniso ( v . 239) e personagem freqüente d o drama satírico, da lingua- 235 diferença se notasse entre os falares de Davo e da atrevida Pitias, que tanto aproveitou -dos talentos gem dos escravos característicos da comédia, Da vos e Pftias ( v v . 237-238), a qual é bastante mais popular. Pitias é uma 238 — T a l como já fizera nos w , 46, 50, etc., e .emplifica escrava que em geral aparece na comédia a roubar o seu amo Horácio o facto a que se refere: emprega o vulgarismo Símon ( v . 239). gere t 88 emun- (assoar) para exprimir a idéia de «roubar». 125 que na bolsa de Símon logrou limpar, e o do trá- an custos famulusque dei Silenus ahunni. Ex noto fietum carmen sequar, ut sibi quiuis 240 gico Siieno, servo e tutor do divino -discípulo. Com s<peret ideni, sudet multum frustraque Iaboret elementos conhecidos criarei o poema satírico d e ausus ideni; tantum series ãuneturaque pollet, forma a que todo o que o desejar, se julgue capaz tantum de médio sumptis accedit honoris. de fazer o mesmo, muito embora muito sue e sofra Siluis dedueti caueant me Índice Fauni em vão: tão grande é o poder da ordem e da con- ne, uelut innati triuiis ac paene forenses, 245 textura, tão grande é o respeito que se junta ao que aut nimium teneris iuuenentur uersibus unquam for tirado do corrente linguajar! Os Faunos, trazi- aut immunda crepent ignominiosaque dieta; dos das florestas, devem guardar-se, julgo eu, 'do pffenduntur enim quiibus est equus et pater et res, se exprimir em versos mui polidos, como fazem os nec, si qui d fricti ciceris prabat et nucis emptor, que nasceram nos cruzamentos citadinos e passeiam aequis accipiunt animis donantue corona. 250 pelo foro. Mas também não devem só falar com pes citus; undé etiam trimetris adcrescere iussit do cavaleiro, do nobre, do abastado, que, em geral, nomen iambeis, cum senos redderet ictus, não aceitam com espírito concorde nem por coroas primus ad extremum simiiis sibi; non ita pridem, distinguem tudo o que aprova o comprador d e nozes c de grão frito. 240-250 — Depois de se ter falado da linguagem dos deue d o Sileno (239), continua Horácio a tratar do estilo, afirmando (v, 244 e segs.) que a linguagem do coro dos Faunos assemelhar-se (romparticipantes no drama satírico) -pouco à da gente da cidade. A agrada à alta sociedade romana Sílaba longa que se segue a uma fcreve, forma o que se chama um Jambo, pé veloz; daí, o ter este mandado acrescentai" a seus metros jâmbicoso nome tão- de trímetro, embora batesse seis vezes o compasso,e primeira, com efeito, não fosse sempre igual do primeiro ao último, Não ficou do povoléu, (quibus segunda não ngrada ao p o v o (ciceris não deve 250 nem língua da plcbccula, est equus, et nucis etc.), a que formavam a obra de arte. Começa por tratar do pé jambo, emptorJ que devido aos ictos sucessivos 245 — triuiis — significa <nas encruzilhadas, nos cruza- mentos», i.e. do "entro de Roma, que, por sinédoque, é Roma pròpriamente dita. t 90 — — — ) era conside- rado um pé rápido. Neste passo o Jambo é personificado (sujeito de jmssÍí). Horácio depois dá-nos a entender que, constituído por seis pés, há um trímetro jâmbico (chamado diversos senário jâmbico em R o m a ) . Em princípio deveria chamar-se, pois eia ele a cúpula que unia os elementos de estilo segundo Horácio, hexâmetro. Naturalmente que esta afirmação 251-274 — Fala genera, 245 palavras sujas e obscenas: isso ofende o boin-gosto Syllaba ionga breui subiecta uocabur iambus, ses (227) 240 o poeta do verso a usar nos 125 tardior -ut paulo grauiorque ueniret ad auris, 255 spondeos stabilis in iura paterna recepit muito tempo nesse estado, pois querendo apresen- cammodus et patiens, non ut de sede secunda tar-se mais lento e um pouco- mais solene a quem cederei aut quarta sociaüter, Hic et in Acci escutava, foi, paciente e adaptável, perfilhar o nobilibus trimetris adparet rarus, et Eirni pesado espondeu, sem que, porém, sociável em in scaenam rnissos cum magno pondere uersus 260 demasia, abdicasse d o segundo e quarto lugares. aut operae ceie ris nimium curaque carentis ', Este Jambo, contudo, raro aparece nos nobres trf- aut ignoratae premi t artis crimine turpi. metros de Acio e acusa os versos de Énio, lançados Noa quiuis uidet imimodulata poemata iudex, com grande peso para cena, de serem obra rápida, et data Rornanis «enia est indigna poetis, à qual falta cuidado, de serem a torpe falta de Idcircone uager scribamque licenter? an ominis 265 quem desconhece a arte. Não é qualquer crítico 255 260 \ uisuros peccata putem mea, tutus et intra que vê serem os poemas desarmónícos; eis a razão spem ueniae cautus? uitaui denique culpam, por -que a estes poetas romanos foi concedida in!- j digna aprovação, Mas só .por isso devo eu andar 1 sem norte e escrever sem regra? Ou, por julgar que 265! não tem fundamento científico, pois que Horácio identifica um antiga, iGík®. em meus erros vão atentar, devo, por cau- representava dois pés. Assim, um trimetro tinha seis pés e um tela, manter-me atrás da esperança de uma segura! tetrâmetro, oito. aprovação? Evitei, finalmente, possível erro, mas metro com um só pé quando ele, na terminologia 255 — H o r á c i o refere-se à introdução no trimetro jâmbico puro (usado por Arquíloco) d o espondeu ( —), pé Longo e que o poeta não era consciente da evolução que se operara, e das suas respectivas conseqüências, na passagem d o trimetro de certa solenidade, usado como pé de substituição. jâmbico grego para senário latino. 257-258 — N o trimetro jâmbico, o segundo e quarto pés eram constituídos por jamboe puros. relatado (cf. v v . 46, 50, 238, etc.) fazendo o v . 260 t o d o em Mais uma vez também Horácio junta um exemplo ao facto espondeus, exceptuando-se, naturalmente, o quinto pé. Horácio, levanta, de novo, com a sua critica, o problema 258-262 — O poeta acusa A c i o e Énio de terem substituído literário dos antigos e modernos e, embora não admita sem os metros jâmbicos por metros espondaicos, o que fazia versos reservas muito pesados e sem beleza. L e j a y e Plessis, na sua edição, poetas novos todos os princípios apregoados1 pelas escolas dos (Lutácio Cátulo, Gatulo, etc.), a verdade é que afirmam que Horácio faz uma crítica injusta, pois também não suporta a solenidade grandiloqüente dos poetas as suas afirmações não correspondem à verdade. A verdade é arcaicos, a quem imputa, muitas vezes injustamente, falta de ad. loc., técnica (p. ex. a Plauto, no v . 270). 92 93 non laudem me rui. Vos exemplaria Graeca louvores não mereci. Quanto a vós, compulsai de noeturna uersate manu, uersate diurna. dia e compulsai de noite os exemplares gregos. Mas A t uestri proaui Piau ti nos et números et 270 os vossos avós louvaram os versos de Flauto e o sen kudauere sales, nimium patienter utrumque, espírito, admirando-os com muita indulgência, para ne dicam stulte, mirati, si modo ego et uos não dizer com muita ignorância, se é que hoje e u e scimus inurbanum lépido seponere dicto vós sabemos distinguir a (frase bela da grosseira e Jegitimumque sonum digitis callemus et aure. com dedos e ouvido sabemos conhecer, por expe- Ignotum tragicae genus inuenisse Camenae 275 270 ^ I J riência, o som bem afinado. 1\ • Diz-se que Téspis descobriu o gênero desconhe- , ,.'1' dicitur et plaustris uexisse poemata Tbespis quae caneient agerentque peruneti faecibus ora. cido da Camena trágica e transportou, em carros, as Post hunc personae pallaeque repertor honestae suas peças que os actores cantavam e representavam" Aeschylus et modicis instrauit pulpita tignis de caras besuntadas com o mosto da uva. Depois et docuit magnumque loqui nitique coturno. 280 275 veio Ésquilo, o inventor da máscara e da solene veste da tragédia, que instalou o palco sobre postes - 268 —• Horácio, com nova insistência, para os modelos gregos, que ele considera dignos de serem imitados, por serem chama a atenção como os provenientes de únicos pouco elevados, ensinando a falar com grande eloqüência e a sobressair sobre o coturno. A estes su- 28Õ uma técnica poética perfeita, que contrasta com a negligência romana, Cf. Brink, Prolegomena, 279 — Ésquilo será o grande p. 261. inovador, an introduzir a máscara e a veste séria, que distingue os seus sctoies daqueles 275-294 — Faz mática. Horácio o esboço histórico da arte dra- fere-se o poeta ao inventor .rio, respectivamente Téspis, tragédia. Isto ( e ijpeT7i'ç) Introduz, Ésquilo na epístola a Augusto, II, 1, iór-T'63, acrescentando ', aos seus nomes o de Sófocles. N ã o fala, porém de Eurípides^ gênero li terá- o qual lhe devia desagradar, pois, nas suas tragédias, claudi- ;'. d o demo ático de Icária, quanto cava exactamente nos princípios que o próprio Horácio for-.-ji não exclui, de contudo, cada evolução anterior a Téspis. Mas foi este que lhe deu forma literária. 277 — - O facto de untarem os actores, do coro, as faces com o mosto da uva, faz pressupor que estes festivais estivessem ligados, na sua origem, com as festas da vindima. Vid. Pickard-Cambridge, ob. cit., p . 74. t 94 untavam as faces com mosto. também, o palco. Horácio referira-se igualmente a Téspis e a 275-277 — Seguindo os métodos literários helenístico®, re- à que primeiramente mulava na A. P.. V i d . a este respeito, F . Rebelo Gonçalves, i; «Horácio e Eurípides», Euphrosyne, I I I (19&T), pp. 49-64, em ' que se faz exaustivamente o estudo das discrepâncias entre a teoria de Horácio e os princípios seguidos p.Jlo modernista Eurípides, que foi exactamente quem mais influenciou a tragédia romana, da qual Horácio não gostava. 125 |MSucoessif uetus his comoedia, non sine multa cedeu a comédia antiga e foi recebida não sem v i v o ^BjÉupde; sed in uitium libertas excidit et uim aplauso; mas a liberdade degenerou em vício e em llpig-najTi lege regi; lex cst accepta chorusque abuso que teve de ser reprimido pela lei. Depois- ffiíUrpiter de aceite a lei, calou-se o coro, para sua vergonha, obticuit suiblato iure nocendi. ^ f e ^ N i l intemptatuan nostri liquere poetae, 285 porque se lhe tirara o. direito de injuriar. Os PfHec minimum meruere decus uestigia Graeca nossos poetas nada deixaram que não 285 l l â u s i deserere et cetóbrare domestica facta, experimentassem, nem foi pequeno o louvor que pfuel qui praetextas uel qui docuere togatas. mereceram os que, ousando abandonar o grego trilho, celebraram os pátrios feitos, ora criando as -'Nec uirtute foret clarisue potentius armis fábulas pretextas ora as togadas. Nem o Lácio '} queinque poetaram íimae labor et mora. Vos, o Seria mais ilustre pelasjarmas e valor jdo que pel^ ! Pompilius sanguis, carmen reprehendite quod non sua língua, se não custasse tanto aos seus poetas quarn lingua Latium, si non offenderet unum 290 290/ V gastarem tempo no demorado trabalho da lima. 281-284 — A v comédia . -Cambridge, ob. cit., J Pickard- Mas vós, ó estirpe de Pompflio, censurai todo o I* e segs.) do que nos diz Horácio. poema que não for aperfeiçoado com muito tempo O era p. mais antiga (vid. T a l feito leva a crer que este considere sòmenbe a comédia que foi integrada, por v o l t a de 490 a.C., nas festas promovidas (uetus), pelo estado ateniense. Fala-nos da Comédia antiga cultivada por Aristófanes, Cratino, Eupolis, etc., e da Comédia nova, representada por Menandro, Filémon, etc., na qual deixara o coro de existir, pois fora suprimido porque recorrera ao ataque pessoal e defendera idéias que nem sempre agradavam aos políticos. N ã o se refere à Comédia média de Aléxis e Antlfanes, que infelizmente só ficará atrás d o drama grego, porque os poetas d o Lácio, que todos os gêneros cultivaram, não perdiam tanto tempo, como os Gregos, em limar e aperfeiçoar o estilo. N a estrutura dramática criada pelos Gregos introduzir-se-á, no SLácio, assuntos romanos {domestica facta, v . 287). 288 —•Praetexta, drama histórico caracterlsticamente 96 Togata, comédia de assunto latino, como as de Titínio, Afrâ- nio, etc. e que estavam em grande moda nos princípios do séc. 1 a.C. A. Ernout, 290 — Horácio faz hábil alusão ao lugar comum (topos) Recueil Vid. de textes fragms. latins das pp. archajques, 254-259, de Paris, 1947. da poesia latina, no qual se fazia o lamento da pobreza da língua do Lácio: ipatrii sermonis egestas», Lucr,, De 285-294 — Traça agora o ipoeta a história do drama latino, mano, como p. ex. o Romulus ç/ ro- de N é v i o e as Sabinae de Énio. natura, I , 138, 832; I I I , 260; Cíc., Tusc., 58, 1; Quint., Inst. 292 — Pompilius Or., I I , 35; Sén,, sanguis: trata-se dos Pisões, maneira de se libertar da sua origem inventaram, como era então uso, que para plebéia, um antepassado da gens (à qual pertenciam), filho, diziam eles, de Numa Pompílio e cujo nome era INQ II - 7 Ep., X , r, 10; X I I , 10, 27, etc. encontrarem Calpurnia rerum Calpus. 97 «TÉ: multa dies et multa litura coercuit atque _£_muita emenda e que, depois de, retalhado dea praesectum deciens non castígauit ad unguem. Ingenium mísera quia fortunatius arte 295 credit et excludit sanos Helicone poetas vezes, não for castigado até_ao caibo. Demócriito, porque crera ter o gênio mais valor do que a pobre arte, fechou as portas d o Hélicon Democritus, bona pars non unguis ponene ourat, 293|l aos poetas de juízo. A maior parte dos que per- non barbam, secreta petit loca, balnea íiitat; tencem à sua facção não se preocupa com o arran- nanciscetur enim pretium nomenque poetae, si tribus Anticyris caput insanabile nunquam 300 tonsori Licino commiserit. O ego Iaeuus jar .das unhas, nem com o frisar da barba; escolhe para viver os lugares 'desertos, evita os balneários. Assim obterá a fama e nome de poeta quem nuncai qui purgar bilem sub uerni temporis horam! confiar a Lícino, o barbeiro, essa cabeça que nem 295-476 — Entra-se agora na última parte do poema, perfeitamente distinta das anteriores, e na qual Horácio trata da 300 as três Antíciras já podem curar, E eu, desastrado, que me purgo da .bílis quando se aproxima a épocaj formação do poeta, ou seja da ars que deve possuir todo o que se dedicar à poesia. Ao mesmo tempo enceta, abertamente, neste ponto Horácio leva a ironia às suas últimas conseqüên- o capítulo da crítica literária. Esta última parte corresponde, cias, deve ter mesmo um certo grau de loucura, pois esta possivelmente, ao capítulo, que Neoptólemo de Pário dedicava aumenta ao TtoiviT^ç (poeta) e nela se notam certas influências aristo. télicas, que, segundo Brink, Prolegomena, p. 138, etc., devem provir do De poetis de Aristóteles, obra que não chegou até nós. 295-305 — Teoria poema. ingenium ars concernente Horácio mostra aos (talento) ao poeta, ao artifex Romanos que não basta só do o paira se ser poeta, precisa-se também da (técnica). o talento poético. de furor mócrito, teria este pensado que só poderia ser poeta quem tivesse ünicamente qualidades naturais para o ser. Essas qualidades não necessitavam de ser desenvolvidas e, por isso, toda a doutrina de Horácio mas este é alterado caricaturalmente sagrado, que Cícero, De o transforma diuinatione, furore Democritus quemquam quod idem dicit P l a t o » 300 — Antycira em verdadeira demência. por Vid. 1, í8o (frag. 17 D i e l s ) : «negat sine poetam (cf. De oratore, magnum esse posse: TH, 11(914). era o nome de três cidades da Grécia (na Fócida, Tessália e Lócrida) 297 — Segundo a teoria tradicionalmente atribuída a De- Efectivãmente, Demócrito via no poeta, em vez dessa loucura, uma espécie em que se produzia o heléboro, planta medicinal, que era considerada na antigüidade como tendo propriedades que curavam a loucura. Horácio dá-nos a entender que o heléboro se chamava também Anticyra, iden- tificando o nome da terra com o d o seu produto. e qualquer formação cultural, em que entrasse algo de técnica, 301 —Quícino era um barbeiro romano então cm moda. era considerada como produto de 302 — A um artifkialismo que só estragaria a beleza da obra. O poeta, segundo Demócrito, e 98 bílis era considerada como uma das causas da loucura e, por isso, era debelada igualmente com o heléboro- 99 Non aJíus faceret meliora poemata; ueruxn primaverill Se assim não procedera ninguém faria nil tanti est. Ergo fungar uice cotis, acutum melhores poemas do que eu! Por tal preço, porém, reddere quae ferram ualet exsors ipsa secandi; 305 não vale a pena. Servirei, 'portanto, como a pedra! munus et officium, nil scribens ipse, doeeibo: de amolar que muito embora não corte por si só, unde parentur opes, quid alat formetque poetam, serve para tornar o ferro mais agudo; ensinarei, quid deceat, quid non, quo uirtus, quo ferat error. nada escrevendo eu próprio, o valor e a missão do poeta: de onde vêm os recursos do talento, o que Scribendi recte sapere est et principium et fons. Rem tibi Socraticae poterunt ostendere chartae, 305 310 inspira e forma o poeta, o que convém escrever e o uerbaque prouisam rem non inuita sequentur. que não convém e aonde flevam a qualidade e d Qui didicit, patriae quid debeat et quid amicis, erro. quo sit amore parens, quo frater amandus et hospes, Ser sabe dor é o princípio e a fonte d o bem quod sit conscrípti, quod iudicis officium, quae e s c r e v e r O s escritos socrâ ticos já te "deram idéias 310 e agora as palavras seguirão, sem esforço, o assunto 306-308 — Neste passo faz-se a transição para outros te- imaginado. Quem aprendeu o que se deve à pátria! mas de que Horácio vai tratar. Esses temas são enunciados e aos amigos, quanto afecto se deve conceder aos pelo poeta: onde adquirir a substância da poesia; o que forma um poeta; o que é apropriado ou o que não 6 apropriado para a poesia; perfeição e imperfeição do poeta. Quanto à frase nil scribens P o d e ser identificada com três fases em que Horácio abandonara um pouco o seu ofício interuallum 1) a fase anterior à elaboração das Odes; liricum entre 23 a,C. e 18 a.C,; c ) o 2) o período entre a publicação d o livro I V das Odes e o f i m da sua vida, iq-8 a.C. A primeira deve ser rejeitada, porque Horácio não Kl-, podia intitular-se mestre de poesia antes de ser reconhecido : como grande poeta latino (Latinus fidicen). As duas outras % f a s e s , têm as mesmas possibilidades de serem admitidas, tal diz Brink, Prolegomena, ifcíj,' j á dissemos na introdução, ; dor e do juiz, quais as atribuições do general man- ipse ( v . 306) foi ela interpretada como dado cro- nológico, para a datação da A. P. de poeta: pais, irmãos e hóspedes, quais os deveres do sena- p. 242, mas parece-nos, como p. 25, que a última tem verosimilhança (cf. J. Perret, Horace, mais nil scribens ipse um sentido mais lato, com que Horácio pre- tenderia afirmar que ele não escrevia poesia dramática. 309-33? — Entra agora na apresentação das partes enunciadas. O bom 'poeta tem de possuir uma capaz filosófica, tal como os poetas gregos, que preparação nisso eram bem diferentes dos romanos. Possível influência de Aristóteles, que defendia os conhecimentos filosóficos dos poetas, os poetas contra os ataques de Platão, objecto. Cf. Brink, Prolegomena, 310 — Socraticae chartae, protegendo de que estes eram p. 1-27, e segs. alguns identificam-nas com os p. 186 e segs.). Também escritos de Platão e outros com os dos seus discípulos, p. ex. nos parece viável e bastante lógico que possa atribuir-se ao Xenofonte, e até mesmo com os de Panécio, o estóioo, etc. t 101 125 partes in bellum imissi ducis, ille profecto 315 dado à guerra: esse, na verdade, sabe conferir a reddere personae scit conuenientia cuique. cada personagem a descrição que melhor lhe cabe. Respicere exemplar qitae maruimque iubebo A o douto imitador aconselharei que atente no mo- doctum imitatorem et niiias hinc ducere uoces. delo da vida e dos costumes e 'dai retire vívidq Interdum speciosa locis morataque recte discurso. Comédias há, por vezes, que, embora fabnla nullius nenens, sine pondere et arte, 320 parcas de èlagância, medida e arte, por apresenta- ualdius ohlectat populum meliusque moratur rem temas atraentes e caracteres bem delineados quam uersus inopes rerum nugaeque eanorae. agradam mais ao público e o prendem muito mais telas poéticas. Musa Ioqui, praeter laudem luuHkis auaris: Romani pueri longis rationibus assem 325 A Musa deu aos Gregos o .talento e a possibi- discunt in partis centum diducere. «Dicat lidade de falar com jgrande elevação, a eles que filius Albini: si de quincunce remota est eram uncia, quid superat?.., Poteras dixisse. — Triens.—Eul jovens romanos, por seu lado, aprendem a re- Rem poteris seruare tuam, Redit uncia, quid fit?—- duzir, Semis». An, haec ânimos aerugo et cura peculi 330 Deve, porém, tratar-se de uma simples referência k disciplina moral. 316 — Conuenientia (aptum) corresponde ao arístotélíco Aristóteles, I X e X V . Novamente se refere Horácio aos sentimen- tos das personagens, Cf. A. P., 317 — Exemplar v . 11119 e v . 156 e segs. uitae — refere-se à teoria helenística ti- rada de Aristóteles, segundo a qual a poesia seria da vida, irpírcov ou seja a teoria de qne as características d a descrição devem ser apropriadas ao que se descreve. V i d . Poética, imitação o que se notará na concepção dos gêneros literários da época helenística, p. e x . na Comédia N o v a . P o r isso, Cícero, De republica, TV, 11, chamará à comédia, speculum consuetu- ambiciosos, um _asse_ em 325 cem partes. — «Diga o filho de Albino: se de cinco onças tirares .uma só, quantas ficam? Poderias ter já dito!» — « Q u a t r o » . — «Muito bem! Assim jál poderás administrar a tua fortuna. E se acrescentares uma às cinco, quantas ficam?» — «Seis onças», Esperaremos nós, porventura, que estes espíritos, uma vez imbuídos da preocupação cor1, Menandro. Quanto à teoria da jUÍtLTjatç, poetis na- Poética de Aristóteles, v i d . (Brink, Prolegomena, 323-332 330j:ii . • e no Dái^ pp. • ^SÍS»' Horácio volta ao confronto de Romanos e G t t $ | L goe, pois tinha tomado estes como modelo, visto que sóéíítPp® ram dar a que nos resta da Comédia nova, e sobretudo pelo Díscolo rotundo de mas só de alto renome. Osi .com grandes .contas, dinis. Esta asserção clceroniiana é largamente comprovada pelo 102 320 do que versos sem realidade, ou harmoniosas baga- Grais ingenium, Grais dedit ore trotando da filosofia 3X5 devida loqui). importância ao ingenium e à ars (ore ? N a educação, os Romanos só ss interessam/t. W3 « p •. ffip>um semel imbuerit, speramus carmina fingi rosiva do dinheiro, possam criar versos dignos de gM^osse linenda cedro et leui seruanda cupresso? serem cobertos com óleo de cedro e conservados i p | | . A u t prodesse uolunt aut delectare poetae na madeira do cipreste bem polido? ^ S a t simuí et iucunda et idônea dicere uitae. Os poetas ou querem ser úteis ou dar prazer ^ f e i í i c q u i d praecipies, esto breuis, ut cito dieta 335 cm, a o mesmo tempo. Jratar d e assunto belo e ||§Í£fcípiant animi dociles teneantque fideíes: adaptado à vida. Se algum preceito deres, sê breve, p p D a s e superuacmim pleno de pectore manat. para que rap_Í d am ente^apreen dam e decorem as tu as p F i c t a uoluptatis causa sint próxima ueris, lições os ânimos dóceis e fiéis de quem te ouve: tudo p h e quodcumque uolet poscat sibi fabula credi, o . q u e í q t supérfluo ficará ausente da memória, car- 335 regada em demasia. As tuas ficções, se queres caupelos aspectos práticos e materialistas da vida, preferindo a aritmética à poesia e filosofia. sar prazer, devem ficar próximas da realidade e 332 — Em Koma, os livreiros, para preservarem da des- bula deseja que se creia, como quando se tira v i v a não se pode apresentar tudo aquilo em que a fá- truição os rolos de papiro, costumavam esfregá-los com óleo de cedro e depois metê-los em caixas de cipreste: cf. Vitxiivio, este fala do poema didáctico. Também não é fundamental o H , p. 13; Porfirião, ad loc.; V, objectivo de causar prazer. A escola perlpatética defende, sim, X V I , 76, 39, Com esta imagem pretende a combinação das duas tendências, como vemos no passo citado 4, 2; Plínio, N. H„ Teofrasto, Hist. plantarum, o poeta referir-se à imortalidade de que os bons poemas são de Neoptólemo dignos. cumprir a sua função, o poeta perfeito deve entreter o espírito (Brink, Prolegomena, p. i'20, n. 1): «para do ouvinte e assim também ser útil e ensinara. 333-346 — Horácio apresenta os escopos que o poeta pretende atingir: o utilitário (a que Neoptólemo de Pário dá o nome de yp7jff[[jt,oXoyeTv) ou seja prodesse plesmente artístico e lúdico, delectare ao que tis mutandis, Neoptólemo ( v . 333}, o sim- (que corresponde, mutachama Jíuyaywyta), ou então procura o poeta obter o duplo efeito que reihia ambos os fins (iucunda et idônea, v . 334). Cf. Brink, pp. 128-129, e cs frags. citados apud n.° 10 (De poem., Brink. Prolegomena, Neoptólemo, V, col. X I I I ) , Estes aspectos tiveram sobre- maneira importância na teoria literária da antigüidade, A utilidade não é, contudo, característica fundamental da poesia, como pode ver-se em Aristóteles, Poética, 104 I , T447 b, quando 335 — Tal como já apontara, quando criticava a tendência dos poetas cíclicos para as grandes digressões e fizera o elogio da brevidade de Homero ( v . 140 e segs,), volta Horácio de novo a tocar neste ponto, considerando como essencial a breuitas in rebus. Deve referir-se, neste verso, ao poema didáctico (Quicquid prcscipies), no qual o autor procura instruir. 338 — Depois de falar do poema que procura ser útil e ensinar, fala q poeta daquele em que ímicamente o poeta procura deleitar os ouvintes, inventando novos temas. Aqui também, não são permitidos exageros, pois sempre a verosimilhança deve ser considerada, tal como diz Aristóteles, Poética, X V , 1454 a. 105 neu pransae Lamiae uiuum puerum extrahat aluo. 34o I d o ventre de Lâmia a^ cri anç a h á pouco por esta • 3?i Centuriae seniorum agitant expertía fnugis, {devorada._As centúrias dos mais velhos repudiam'' cefsi praetereunt austera poemata Ramnes. /todo o .poema que não f o r proveitoso, mas os q u g - % Omne tiiíit punctum qui miscuit utile duld, f pertencem à tribo -de Rarnnes,não gostam, desde^ • Jectorem detectando pariberque monendo; nhosos, dos poemas austeros. Jtepebe sempite.jpa;~ hic meret aera liber Sosiis, híc et maré transit 345 fet Iongum noto scriptori prorogat aeuum. votos, o que soube misturar o útil ao agradável/ pois^deleita e ao mesmo tempo ensina o leitor: Sunt delicia tamen quibus ignouisse uelimus; este o livro que dá dinheiro aos Sósios, que passai • nam neque chorda sonum reddit quem uult manus os mares e oferece ao célebre escritor imortal. renome. [et mens, poscentique granem persaepe remittit aoutum, Há, porém, defeitos para os quais exigimos in- nec somper feriei, quodcumque minabitur, arous. 350 dulgência: pois nem a corda produz o som que a Verum ubi plura nitent in carmine, non ego paucis mão e o espírito desejam, saindo, muitas vezes, offendar maculis, quas aiut incúria fudit, som agudo a quem procura o 'grave, nem, tão- r -pouco, o arco encontra sempre, com a flecha, o 340 1 -Lâmia era uma figura da novelística grega, cuja crueldade fazia terror às cfianças, pois, segundo se dizia, devorava os recém-nascidos. V i d . E . Rohde, Der man, Dannstadt, <1960, p. teca, XX, 411:. 2ro griechische , o . e Diodoro Sículo, RoBiblio- M 2 — O s Ramnes (também Rhamnes) correspondem à t n b o dos Ramnenses, uma das t r & mais antigas tribos que Rómulo fundou em R o m a e estão aqui, por antonomásia, em vez de equites (cavaleiros). 343 — Horácio segue a solução intermediária já preconizada pelos peripa té ticos e por Neoptólemo, pretendendo que a boa poesia deve juntar o ú t i j ao agradável (dulce ^ é o prazer artístico). 345 — Sosii era o nome de uma família de livreiros célebres em R o m a (cf. Epíst., I , 20, 2 ) . alvo que se mirou. Na verdade, quando inúmeras 350 qualidades brilham ntrin poemas não vou ofender-me com alguns defeitos, deixados escapar por •.•,• 347-476 — Entra-se na última parte da teoria oonoernerite ao poeta e à crítica literária: procura-se a maneira de evitar o erro e de assim atingir a perfeição poética. 347-360 — A perfeição absoluta não existe e por isso, sem que admitamos erros essenciais, temos de admitir que alguns pequenos defeitos podem existir, N o entanto, o erro que, nos grandes poetas, é excepção, torna-se hábito e vicio nos maus poetas. 3 4 7 — • H o r á c i o emprega, humorlsticamente, um tom Jurídico neste passo,-em que se trata d o perdão ou da condenação de certos delitos poéticos. 106 107, neu pransae Lamiae uiuum puerum extrahat aluo. 34o \ do ventre de Lânnia a_ criajiça há pouco por esta Centuriae seniorum agitant expertia frugis, [devorada, JíS centúrias dosimais velhos repudiam'^ f: cefsi praetereunt austera poemata Ramnes. (ipào o .poema que não for proveitoso, mas os q u e " ^ » 1 Omne tolit punctum qui miscuit utile dulci, pertencem à tribo de Ramnes,não.gostam, desde^ ^ Jectorem delectando pariterque monendo; nhosos, dos poemas austeros. Jtepebe sempm^oá;^ hic meret aera Iiber Sosiis, hic et maré transit 345 fet longum noto scriptori prorogat aeuum. pois^ deleita e ao mesmo tempo ensina o leitor: Sunt delicta tamen quibus ignouisse uelimus; este o livro que dá dinheiro aos Sósios, que passa^ -r'^ nam neque chorda sonum reddit quem uult manus os mares e oferece ao célebre escritor imortal [et mens, nec semper feriei, quodcumque minabitur, arous. 350 Verum abi plura nitent in carmine, non ego paneis L â m i a era crueldade fazia terror às cHanças, pois, segundo se dizia, devoman. Darmstadt, 11960, teca, X X , 411. p . ZIO, griechische dulgência; pois nem a corda produz o som que a f n. e Diodoro Sfculo, -pouco, o arco encontra sempre, com a flecha, o alvo que se mirou. Na verdade, quando inúmeras 350 Ro- qualidades brilham num poema-, não vou ofender- Biblio- -me com alguns defeitos, deixados escapar por M 2 — O s Ramnes (também Rhamnes) correspondem à tribo dos Ramnenses, uma das três mais antigas tribos que Rómulo fundou em R o m a e estão aqui, por antonomásia, em vez de equites (cavaleiros). 343 — Horácio segue a solução intermediária já preconizada pelos peripa té ticos e por Neoptólemo, pretendendo que a boa poesia deve juntar o útil ao agradável (dulce — é o -prazer artllstico), 345 — Sosii era o nome de uma família de livreiros célebres em R o m a (cf. Epíst., I , 20, 2 ) . 106 Há, porém, defeitos para os quais exigimos in- som agudo a quem procura o gtrave, nem, tão^ uma figura da oovelístíca grega. Cuja rava os recém-nascidos. V i d . E . Rohde, Der J mão e o espírito desejam, saindo, muitas vezes, offendar maculis, quas aut incúria fudit, 1 «45 renome. poscentique granem persaepe remittit aoutum, 340 votos, o que soube misturar o útil ao agradável/ ' 347-476 — Entra-se na última parte da teoria conoernedi» ao poeta e à crítica literária: procu«»-se a maneira de evitar o erro e de assim atingir a perfeição poética. 347-3^0 — A perfeição absoluta, não existe e por isso, sem que admitamos erros essenciais, temos de admitir que alguns pequenos defeitos podem existir, N o entanto, o erro que, nos grandes poetas, é excepção, torna-se hábito e vício nos maus poetas. 347 — Horácio emprega, humorlsticamente, um tom Jurídico neste passo,-em que se trata d o perdão ou da condenação de certos delitos poéticos. 107, Í f ; a u t humana param cajuit natura. Quid ergo est? certa incúria ou porque a natureza humana os não V t scríptor si peccat idem librarius usque, : quamuis est monitus, uenia caret, et citharoedus 355 - V ridetur, chorda qui semper oberrat eadem, v| citara é posto a ridículo se, ao dedilhar as cordas, % ; quem his teme bonum cum risu miror; et idem ; - 360 pictura poesis; erit quae, si propius stes/ 1 que muito falha me lembra o célebre Quérilo, o qual escarneço, ainda que duas ou três vezes ele seja digno da minha admiração. E não posso deixar K t e capiat magis, et quaedam, si longius abstes; de indignar-me todas as vezes que dormita o bom jjpSfcaec amat obscurum, uolet haec sub luce uideri, Homero: contudo, é natural que, na descrição de iuidicis argutum quae non formidat aoumen; tão grande assunto, alguma vez nos domine o sono. • - 3ó0 Como a pintura é a poesia: coisas há que de . 357 — Q u é r i l o de laso {Ciaria), poeta épico contemporâ- perto mais te agradam e outras, se a distância companheiro de Alexandre Magno, foi pago por este para estiveres. Esta quer ser vista na obscuridade e jji • || n e o e '^ cantar as suas campanhas. Diz a tradição antiga, que Quérilo y. era ura péssimo poeta, pois ainda que conseguisse ser por literária. V i d . Hor., Epíst., M; r, 232 e segs. <!- aquela à viva luz, por não recear o olhar penetrante % vezes brilhante, a totalidade da sua obra era de m ^ u a l i d a d e U 355 cai sempre no mesmo engano, igualmente o poeta ; ; indignor quandoque bônus dormitat Homerus; fe copista não merece desculpa, porque, embora avisado, sempre faz o mesmo' erro, e o tocador de sic mihi, qui multum cessat, fit Choerilus ille, uerum operi longo fas est obrepere somnum. soube evitar. Que quero eu dizer? Assim como o 24: relata as duas justificações, a de Cícero referente a Demós- ív: • tenes e a de Horácio respeítante a Homero. M ^ Í - ^ 358-360 — Mesmo Homero, o mais perfeito dos poetas ||||,;(çf. v . 140 e segs.) e que deve ser q modelo de todos, também ||||Be engaiia por vezes. Horácio faz-se eco das críticas da escola 361-390 — Mesmo admitindo a natural imperfeição do engenho humano, há que observar, no entanto, certos prin- de cípios: o poeta tem de possuir elevado domínio d o seu talento, l l p ^ e r ò » ) , que, na obra d o grande épico, descobria um sem pois a mediocridade não pode ser consentida: tem de ter ins- r^ilimero de incoerências e de erros. Estas afirmações piração e desenvolrvê-la com a ars. |alexandrina de Zoilo (a quera chamavam <0 chicote provi- sobretudo do desconhecimento científico da língua homé! que parecia, com efeito, f u g i r às regras da língua jónica. I ^ a n i a g e m de que era o sono o causador desses deslizes, já p p ^ r é c e nalguns autores, que ligavam a mesma imagem a oul^os.escritores: Cícero, apud Plut., Cícero, 24, l ^ i r a os erros de Deméetenes, e Quintilíano, Inst. justificava Or., X, T, 361 — A imagem da pintura comparada à poesia {devido à fiEfi.Tjtriç) é muito freqüente na antigüidade. Basta lembrar um símile congênere em Plutarco, De gloria Athen., 346 F, que nos diz «ser a pintura poesia calada e a poesia pintura que f a l a » . 109 cah a e c placuít semel, haec deciens repetita placebit. I 365 O maior iuueaum, quamuis et uoce paterna (' dos seus críticos; esta, só uma vez agradou, aquela, j dez vezes vista, sémpre agradará. • tolle memor, certis médium et tolerabile rebus a mão paterna te tenha encaminhado para o bom- recte concedi; consultus iuris et actor -gosto e 'por ti próprio tenhas aprendido, conserva 370 bem na memória o que .te digo; nas coisas positivas Messallae nec scit quantum Cascellius Aulus, se concebe tolerável mediania e qualquer juriscon- sed tamen in prefcio est; mediocribus esse poetis sulto ou advogado mediano, se não chegou à habi- non homines, non di, non concessere columnae. lidade do eloqüente Messala ou à ciência de Aula Vt gratas inter imensas symphonia discors Cascélio, nem por isso deixa de ter o seu valor. Mas et crassum unguentum et Sardo cum melle papauer 375 os poetas medianos, esses não os_admitem nem os offendunt, poterat duci qui a cena sine istis, deuses nem.os homens, nem as colunas dos livreiros. sic animis natum inuentumque poema iuuandis, Tal como em simpático banquete desagradam con- si paulum summo decessit, uergit ad imum, certos dissonantes, perfumes mal cheirosos e a dor- Ludere qui nescit, campestriibus obstinei armis, mideira temperada com o med da Sardienha, porque dirige-se Horácio ao mais velho o banquete podia passar sem estes, do mesmo modo dos dois Pisões, que de faoto se julga, ter querido dedicar-se o poema nascido e inventado para agradar aos espí- à poesia dramática. O poeta afirma que, se noutras artes de ritos, assim que se afastou um pouco do termo dese- carácter utilitário, não é imprescindível o seu domínio per- jado, logo,tombará no extremo oposto. Quem não as 366 — Com certo pathos feito, na poesia só o melhor nível é admissível. 371—Messala, Mar eus Valerius Messala Corvinus, IN 365 Tu, que és o mais velho de teus irmãos, embora fingeris ad rectum et per te sapis, hoc tibi dictum causaram mediocris abest uirtute diserti MM é um 375 sabe terçar que se abstenha de jogar armas no cam- 1 advogado célebre, contemporâneo de Horácio, e é citado o seu exemplo ao lado d o de Aulus Cascellius, jurisconsulto m u i t o 373 — Anáfora, com que procura obter-se a ênfase decla- conhecido, que nasceu, julga-se, um pouco antes de 100 a.C. matória e irônica, misturando oe nomes dos deuses e .dos Estas citações foram consideradas como dado® para a datação homens d o poema. Messala pouco interessa, visto ser contemporâneo, escaparates dos livreiros. Estes últimos deviam interessar f o r - mas Cascélio, temente aos interesseiros poetas de R o m a . 20 a.C. (se já devia ter cerca de noventa considerarmos Brink, Prolegomena, provável esta anos n o ano data), Por d o grande jurisconsulto como o símbolo, por excelência, homem de leis. t 110 isso, p, 240, propõe que se considere o nome do (como nas fórmulas de invocação solene), com os ••íti#r 375 — Mel com sementes de papoila torradas, era considerado uma iguaria nos banquetes romanos ( P l f n . , H. N,, XIX i ó S ) . O mel da Sardenha, contudo, era dog menos aconâelhá-' veis, parque demasiado amargo. 125 . r ilft-) ' ;*indoctusque pilae disciue trochiue quiescit, 380 po e, quem não aprendeu a lançar a bola, o disco, o 380 ||f| no spissae risum tollant impune coronae; troco, .deve ficar quieto, para que os círculos api- í||);tqui nescit, uersus tamen audet fingere. Quidni? nhados de espeçtadores se não riam impunemente; e |||liber et ingenuus, praesertim census equestrem quem nap sabe, ousa, contudo, fazer versos? Por ^p|summam nummorum uitioque remotus a b omni. que não? Se é livre e de pais livres, sobretudo' i T u nihil inuita «dices faciesue Minerua; 385 !•$!':• " í d tibi iudieium est, ea meus. Siquid tamen olim quando o censo lhe atribui a soma de moedas que dele faz õim cavaleiro, além de estar isento de quaJ- scripseris, in Maeci descendat iiudicis auris quer vergonha? Apesar disso, tu nada deves dizer et patxis et nostras, nonumque prematur in annum ou empreender sem a iboa vontade de Minerva: este 385 ^ membranis intus positis; delere licebit tem de ser o teu princípio e a tua opinião. Se acaso, j ~T I porém, alguma vez quiseres escrever uma obra, l dá-a primeiro a ouvir a o crítico, a teu pai, j £ a nós, e que-em- rolos de pergaminho ela repouse ^ quod non edideris; nescit uox missa reuerti. 390 Siluestris homines sacer interpresque deorum caedibus et uictu foedo detemiit Orpheus, Mécio, - durante nove anos, pois o que não for a flutue é 380 — trochus: círculo de metal, que as crianças faziam girar, por meio de uma vara de ferro. 385 — Expressão proverbial. V i d . Cícero, D e o f f . . I , «inuita, ut aiunt, Minerua, idest aduersante et tio: repugnante ainda susceptível de correcção, mas palavra que for \ lançada já não pode voltar. 390 Foi Orfeu, o sagrado intérprete dos deuses, quem afastou os homens selvagens do assassínio natura». Os desprotegidos de Minerva, a deusa da sabedoria e das artes, não podiam ser artistas. 387 — Spurius Maecius Tarpa em 55 a.C. data a que Cícero, Ep. 388 — Já É-lvio Cina, um dos poetas novos, só publicara devia ter cerca de 30 anos Eam., VTI, 1, 1, se refere quando fala dele como crítico literário e dos maiores. 14 a.C. (data presumível da A. P.) o seu poema Zmyrna Cf. Catulo, Carrn., depois de nove anos de o ter escrito. 95. Em 3 9 2 — Orfeu, poeta mítico, que, segundo antiga tradição, já ele tinha c. de 70 anos. contribuiu pela música e ipelo canto para diminuir a selvajaria Referir-se-ia Horácio a Tarpa, em vida deste, ou pretenderá e a rudeza dos primitivos homens, o poeta, tão-sòmente, dar-nos o nome de Tarpa, como o do Esses homens são identificados, por alegoria, com as feras. crítico por excelência, Quanto ao homem primitivo, tinha já a antigüidade uma ima- tal como talvez fizera a respeito de tirando-os da barbárie. Cascélio ( v i d . v . 371)? Nada se pode afirmar com segurança, gem definida, que o fazia antropófago cadibus e por isso mesmo, estas referências não são dados seguros que admitindo também que se alimentasse de glandes como vemos permitam uma datação do poema horaciano. em Hesíodo, 112 SNQ U - 8 Trab. e Dias, 23I2 e Heródoto, et uictu I, foedo, 06 e segs. 113 didíüs o b hoc lenife tigris rabldosqífélêbnésí frr^up -.roq e d o nefando pasto; por isso se dizia que ele aman- dictus ét Amphion, Thobanae conditdr uíbiá, saxa tigres e ferozes leões. D e igual modo, se fala1 v-ií ' Vj # saxa motière èono testudinis iest prectílílahdâ % -'»> s o f ^ j í duceréqtio tuellet. Ftiií hüke '^pieritiá^tí^daítíin nrrmp publica priuátis secernere, sacra prtffàúiá; concubitu prohibere uago, dare iüfâ ínarítíê,1-- ^.óc-ví- oppida molirí, léges incidere lignb, • ao Sic honor et nomcn diuinis uatibus atque. . ' 400 càrminibus uenit, Post hos insígnia Homerüs ' i'- [ : -;•>". et uitae monstrata uia est, et gratiá régum Pieriis temptata modis ludusque repertus 405 et Iongorum operum finis: ne forte pudori 394 — Com Anfíon dá-nos Horácio mais um exemplo de poeta mítico da geração anterior a Homero, Este pertencia à tradição tebana, uma das mais antigas da Grécia, como diz Varrão, De re rust., H I , 1. 396-399 — O poeta mostra que, nos tempos movimento e as levava para onde .bem queria. Fundava-se a antiga sabedoria em distinguir o público do privado, o sagrado do profano, em pôr freio a " uniões adúlteras, em dar direitos aos maridos, em Assim adveio honroso nome aos divinos vates e aos 400 seus poemas. Depois destes, o ilustre Homero e Tirteu com versos incitaram os espíritos viris para as guerras de Marte; em verso foram proferidos os primitivos, Também 2, 5, nos diz o mesmo, referindo-se, Cícero, dos reis e, no fim de longos trabalhos, foram desb. 4t>5 çgi!terfeis.^^jrepresentações teatrais: agora, que, portanto, não te causem verçonha _auMusa -háí>il_ no dedilhar da lira e Apoio cítaredo. ticos) e à epopeia, vem Tirteu, poeta elegíaco do séc. V H a.C. que representa a primeira fase da elegia. Cultivou-a, em Eeparta, e deu-lhe carácter exortativo e guerreiro. porém, & 403 — Horácio enumera depois da epopeia e da elegia a filosofia; «Tu urbis peperistl, tu dissipatos hominos in socie- poesia sacra! dos oráculos ( V . 403), a poesia elegíaca de carác- tatem uitae conuocasti, tu eos inter se primo domiciliia, deinde ter gnómico, como a de Teógnis, no séc. v i a.C. ( v . conlugils, tu litterarum e, seguidamente ( v . 404), refere-se à poesia mélica coral Tusc., V, uma e só coisa. 39 :'í versos, pelas Piérides inspirados, sejcaptou o favor O ritmo o as palavras tinham, portanto, valor mágico que convencia os ânimos à doçura e comedimento. filosofia eram branda camtilena e pelo som da Jira, dera às pedras oráculos e mostrado q /bom c a m i n h o d a vida; e m , sit tíbi Musa lyrae sollers et cantor Apollo. poesia e de Anfíon, fundador da tebana cidade, que, por - ^ construir cidades e gravar em madeiro as suas leis. Tyrtaeusque mares ânimos in Martia bella • uersibus êxacuit, dictae per càrmina sortes; ' jilf et uocum communione iunxisti, tu 404), (de inuentrix legum, tu magistra morum et disciplinas fuisti...» Hndaro, Baquílides e Simónídes), cujos cultores, nos eptnícios, 402 — A seguir a Homero, séc. I X - V I I I , a.C. (que Horá- procuravam obter o favor dos reis. Finalmente ( v v . 405-406) cio coloca, contra a opinião de alguns, depois dos poetas mit 114 aparece a poesia dramática que é a cúpula de toda esta 125 Natura fieret laudabile oarmen an arte, Há quem disciuta se o bom poema vem da arte :!'•- quaesitum est; ego nec studium sine diuite uena, . se da natureza^: cá por mim^ jie^huima. arte v e j o I nec rude quid prosit uideo ingenium; alterius sic 410 sem rica intuição e tão-pouco serve o engenho.semi altera poscit opem res et coniurat amice. ser trabalhado: cada uma destas qualidades--se Qui studet optatam cursu contingere metam, completa com as outras e amigavelmente devem' multa tuJit fecitque puer, sudauit et alsit, todas cooperar. O atleta que forceja por atingir na abstinuit uenere et nino; qui Pythia cantat £ \ 410 corrida a meta desejada, muito fez e suportou desde tibícen, didicit prius extimuitque magistrum. i>V. / 415 menino, suou, sofreu e abs teve-se do vinho e de Nunc satis est dixisse: « E g o mira poemata pango; Vénus; o flautista, que entoa carmes nos Jogos occupet extremum scabies; mihi turpe relinqui est Píticos, teve de aprender primeiro e de obedecer a um mestre. Mas hoje em dia só basta dizer: — «Es- evolução, e à qual mais de perto se refere a A. P. Cf, w . 73S&it -85, onde há a descrição dos mesmos gêneros poéticos, e até tV;; da poesia jâmbica que falta neste último passo. Acrescenta, 415 crevo versos extraordinários; que a sarna atormente o que chegar em último; considero vergonha o ficar : contudo, aos gêneros já descritos algumas subdivisões, como é, caso da poesia elegíaca, a poesia especial de Tirteu, conferat an doctrina.», X I I , 5, 2; Cícero, Pro 408-411 —Discute-se o tradicional problema debatido pela N ã o há, retórica ensinada nas escolas, sohre a .primazia da arte ou do ingenium. talento. Qual dos dois é mais necessário? —ipregunta Horácio, Archia, 7, 55. portanto, razão de ser para a alternativa ars ou 412-452 — O poeta é um artífice, um técnico da poesia e Conclui que para se ser bom poeta é necessário possuir equi- nunca um amador, tí de notar que Horácio acentua muito o übradamente partes equivalentes de talento e de arte. As qua- papel da técnica na criação poébica, mais ainda do que Aris- lidades naturais têm de ser desenvolvidas. Esta questão já o tóteles, , poeta a tinha posto quando se referira aos escultores que tra- Prolegomena, \ . balbavam perto da escola Emília ( v . 32 e segs.) e quando a comparar quem faz poesia com os que têm qualquer ocupação as teorias da escola de Demócrito ( v . 205 e segs.). de acentuado cunho técnico: ginasta, músico. Ê preciso um tevxríticara rc&iCW Contra Demócrito e a poesia | çomo resultado da inspiração, Horácio coloca-se na posição ' m m Platão que consideravam tJPfv,'' que via na boa poesia o resultado da combinação d a natura (0u<ri() e ars • Neoptólemo de Pário parece defender idéias pareciMj-í-âas em col, X I , etc. V i d . Brink, Prolegomena, '' Quíntüiano, Inst. i 16 Or., possivelmente p . 55. Cf. H , 19: «naturane plns ad eloquentiam já o pressupunha. Vid. ÍBrink, p. 255. Estes os motivos que levam o poeta tempo de aprendizagem. 414 — Pythia m ^intermédia, seguindo a escola peripatética, quie trata-se dos jogos Píticos, celebrados em DeLfos, em honra de A p o i o vencedor da serpente Piton. 416 — Para se fazer poesia é necessário aprender. Cf. v. 88 e segs. 417 — Occupet extremum scabies, expressão tirada de.um jogo de crianças, em que o ganhador dizia ao que perdia, ficando em último (extremum), que a sarna o podia dominar. 117 • et, quod non didici, sane nescire fatexú* V t praeco, ad merces turbam qui cogit emendas, adsentatores iubet ad lucram ire poeta í para trás e confessar a aninha ignorância do que •; não aprendi». -- 420 Como o pregoeiro reúne à sua volta a turiba que diues agris, diues posítis in fenore nummis. a mercadoria quer comprar, assim o poeta rico emj Si uero est, unctum qui recte ponere possit terras, rico em 'dinheiro que, em empréstimos, lhe et spondere leui pro paupere et eripere atris dá somas choradas, reúne, à sua volta, admirado- litibus implicitum, mirabor si sciet inter res que só pensam no lucro. Quando, de facto, se noscere mendacem uemmque beatus amioum, 425 jantar, ou responsabilizar-se por pobres já sem cré- nolito ad uersus tibi factos ducere plenum dito e tirar de funestas questões judiciais quem ne- laetitiae; clamabit enim: «Pulchre, l>ene, recte», las estiver implicado, esse, ou muito me admirarei, pallescet super his, etiam stillabit amicis seria feliz se soubesse distinguir entoe o verdadeiro 430 420 trata de alguém que pode servir lautamente um Tu seu donaris seu quid donare uoles cui, ex oculis rorem, saliet, tundet pede terram. i ' •t'íT'$ e o falso amigo. Se a alguém tiveres dado alguma Vt qui conducti plorant in funere dicunt coisa ou tiveres intenção de lha dares, não o con- et faciunt prope plura dolentibus exanimo, sic vides a ouvir teus versos, porque ele, por si só, está derisor uero plus lauidatore mouetur. cheio de alegria e só clamará: «Que lindo! Que Reges dicuntur muitis .urigere onlillis bem! Que certo!» Ficará pálido ao ouvi-los e mesmo 425 de seus olhos amigos alguma lagrimita brotará ao 419 — Assim como o pregoeiro tem de fazer propaganda d o que vende, assim também o dinheiro do poeta rico, atrae, tal como a propaganda, grande multidão de aduladores, que, sempre louvando, estragam o gosto d o poeta, Este tipo de mesmo tempo que baterá a terra com o pé, Como, nos enterros, os que 'para carpir são* pagos, quase sobrelevam em ditos e acções aos que tra- adulador, era conhecido pelos escritores e filósofos da antigüi- zem o luito no peito, igualmente o adulador, que dade. Intimamente Cf. Teofrasto, Caracteres, II (Acerca da adulação). troça, se comove mais do que o A comédia nova apresentava igualmente o adulador em cena, arrçigo que, com sinceridade, louva. Dizem que v i d . T . . B X . Webster, Studies os reis, para se assegurarem de que alguém é in Menander, Manchester, 1960, p . 67 e segs. digno >da sua amizade, o convidam a beber inú- 434 — Segundo certa tradição relatada por Diodoro Sículo, X X , 63, 1 (Agatócles de Siracusa), Plínio, H. N., 145 e Suetónio, Tibério, 118 X I V , 22, 42, havia reis que, por meio d o vinho, 430 \: •. faziam dizer a verdade aqueles-a quem desejavam entregar um cargo de confiança, 119 .•fí"!? i jjf -. mi^"1' j|£/'et torquere mero, quem perspexisse laborent 435 meras taças e como que o atormentam com o v i - ' 435 í|;i. an> sit amicitia dignus; si carmina condes, nho. Tu, se fizeres versos, não te deixes enganar v muroquaim te faJlent animi suib niulpe daitentes. pelos espíritos que se escondem sob a pele da ra- Quintilio siquid recitares: «Corrige, sodes, posa. Se^algo a Quintilio lesses, ele te dizia: «Gcxr-~\ hoc» aiebat «et hoc»; melius te posse negares, rige, por favor, isto e isto». E se tu dissesses que 1 bis terque expertum frustra; delere rubebat 440 não podias fazer melhor e que já tentaras, em vão, ! et maJe tornatos inoudi reddere uersus. duas e três vezes, ele.te aconselhava a suprimir os 1 Si defendera delictum quam uertere malles, versos,maus e a (meter de novo na bigorna os que nullum ultra uerbum aut operam insumebat inanem, tinham saído mal tormeaidos. Se preferisses, no en- quin sine riuaii teque et tua solus amar es. tanto, defender o erro a corrigi-lo, então, sem mais j palavras, não empreendia ele a inútil tentativa da , Vir ibonns et prudens uersus reprehendet inertis, 445 culpabit duros, incoinptis adlinet atrum te impedir que, desprezando rivais, só de ti e . d e transuerso ca]amo signum, ambítiosa recidet teus versos gostasses. Um homem honesto e ju- ornamenta, parum claris lucem dare coget, dicioso criticará os versos sem beleza, não d es- arguet ambigue dictum, mutanda notabit, culpando os que são duros, fiet Arístarchus, nec dicet: «Cur ego amicum 450 riscando 440 1 com ium traço negro .da sua pena os mal alinhavados, cor- offendam in nugis?» Hae nugae seria ducent tará os onnaitos exagerados, obrigando a dar clareza in mala derisum se me] exceptumque sinistre. aos que de luz carecem, repreenderá os ambíguos e, em suma, notará tudo o que tiver de ser alte- 438 — Quintilius Varus, poeta e crítico, amigo de Virgílio rado. Que seja um Aristarco e nunca (diga: « P o r e <3e Horácio e conhecido como exemplo de crítico íntegro. que hei-ide, em ninharias, aborrecer um amigo?» Morre em 2,4 a.C., portanto, antes da A. P. É que estas ninharias hão-de conduzir a erros sé- ter sido escrita (vid. p. 25). 450 rios todo o que for enganado por sorrisos e for bem 445 — Vir bônus, noção estóica do artista, homem íntegro, aceite sem razão. tal como Catão definira o orador: «ruir bônus, dicendi peritust. 450 — Aristarckus, filólogo alexandrino, crítico de Homero 453-476 — Faz-se o retrato d o tnalus poeta, que é carica- (.r8i^i4'ó) a . C . ) , e apresentado aqui, por antonomásia, como turizado como o poeta louco, uesanus poeta. modelo do exegeta. Cf. Cícero, Ad fatn., do gênio não ensinado, para o qual a ars em nada contribuiu. Aristarchus». t 121 125 I X , 20, «esses alter Este é o sfmbodo Novamente Horácio dá a entender, com ironia, que a poesia V t mala quem scabies aut morbus legius urget Assim como se foge de.aumLsoitrejde-saina. de aut fanaticus error et iracunda Diana, icberíçi^jde fuiror-inísticoue-jdaira^de^Diana,assimi uesanum tetigisse tirnent fugiuntque (poetam, qiui sapiunt; agitant pueri incautique sequuntux. 455 -J também, todo o que sabe, tem medo de tocar n o :' M poeta louco e tíele foge^ as crianças' perseguem-no , 455 Hic, dum stublimis uersus ructatur et errat, e os incautos vãp,_atrás-deíe^ Se este, enquanto' si ueluti merulis intentus decid.it auceps arrota versos sublimes e vagueia, for cair num ; ^ in puteum foueamue, licet «succurrite» longum poço ou numa cova, como o passarinheiro e m clamet «io ciues», non sit qui tollere curet. 460 Si curet quis opem Êerre et demittere funem, busca de melros, bem pode gritar longamente. -}í:fpf; i Ô socorro», «Aqui d'el rei!», que não encontrará - ^ «qui seis an prudens huc se deiecerit atque quem se ocupe em levantá-lo. Se alguém, todavia, 460 •" seruari nolit?» dicarn, Siculique poetae procurar socorrê-lo, deitando-lhe uma corda, eu ••' •< não é eó uma questão de talento, de dotes naturais, mas sim o resultado da combinação destes com a técnica, com o trabalho da lima, com a sabedoria, com a prudência. Assim procurará aniquilar a doutrina demócrito-platónica do «furor poético», da poesia originada pela inspiração divina, facto que também já o levara a troçar d o poeta preconizado pela teoria de Demócrito. nos w . 296 e segs., 408 e segs. lhe direi: «Sabes tu, porventura, se ele não quis deitar-se para aí, pois não lhe interessa ter cuidada consigo próprio?» e, então, contarei a morte d ó 1 458 — Refere-se Horácio a uma fábula d o gênero das que ,; se contavam acerca de Tales de Mileto (cf. Platão, Teetetò;$. 174; Diógenes Laércio, I , 34) e que correspondiam à f á b í ü » Este modo de apresentar, em total paralelismo, as figuras esópica (65 Chambry) do astrólogo, que, ao observar as estte^. do artista perfeito, que atrás se descreve, e d o artista de baixo Ias, cai no poço. Aüém disso, o não saber evitar os poços « S Í M i quilate, era um locus communis considerado na antigüidade como um sinal de demência (cf.'^»;" Horácio, Sdt., - p. ex. Cicero, De oratore. dos tratados de retórica. Vid, I I I , 55, que apresenta, lado a lado, I I , 3, 56-60, Epist., I I , 2, 135). o orador perfeito e o orador louco, ' 453 — morbus regius é a icterfcia, segundo Celso, De medi- 463 — Siculi ... poetae interitum„ cina, I I I , 24. O seu nome justifica-se pelo facto de que, para Empédocles de Agrigento do séc. v a.C., poeta e filósofo, autor ser curada a icterícia, era preciso muito dinheiro. de um poema físico e das Purificações, 454 — fanaticus dotes de Bellona, error, êxtase em que entravam os sacer- seguindo os ritos orientais d o culto do deus capadócio Ma (cf. Sdt., I I , 3, 223). Iracunda Diana, referência à cólera de Diana, que perseguia todo aquele de quem não postasse, ou seja, os t 122 lunatici. ií^F Referência à morte de•< figura que a tradição diz ser mística pois se caracterizava pelo seu enfatuamento religioso. Possuído pela Loucura divina, julgava-se uma divindade e, para provar que assim era, lançou-se no Etna, que depois devolveu uma das suas sandálias. Esta é a tradição cômica de que Horácio se faz eco. Mas a verdade é que nada impedia que Empédocles tivesse morrido ao querer ver o vulcão, assim 125 narrabo interifcuim. Deus immortaüs haberi poeta siciliano. Querendo Empédocles ser tido como dum oupit Empedocles, ardentem frigidus Aetnain ; ; 465 Pois que aos poetas se reconheça o direito de mor- > inuitum qui seruat, idem facit occidenti. rer: dar a vida a guem não quer vaverT^T*fazer o L flf • semel Í10c f e c i t nec> si retractus erit, iam mesmo que matá-lo. Não foi a primeira vez que ele j ^ o m o et ponet famosae mortis amorem. * o tentou^ nem, se o tirares do poço, se tornará, tão- ||;;Nec satis apparet cur uersus factitet, utrium 47b -pouco, em homem capaz de esquecer a atracção dtí j-.minxerit in pátrios cineres, an triste bidental morte tão falada. Também não sei, por que faz M|piouerit incestus; certe furit, ac uelut uisus, versos: se por ter -urinado nas paternas cinzas, se y|p(biectos caueae ualuit si írangere clatros, por ter mexido, iniquamente, nt> funesto lugar onde S í p d o c t u m docturpque fugat recitator acerbus; 470 caiu um raio; o certo é que está doido varrido e, 475 l o q u e m uero arripuit, tenet occiditque legendo, como o urso que teve força para partir as grades § : non missura cutem nisi plena cruoris hirudo. •ííK • da jaula que tinha em frente, este recitador impla- p ; como Plínio-o-Velho morrerá ao querer estudar mais de perto quem ele apanhou, a esse agarra-o e, a ler, o cável põe em fuga os cultos e os ignorantes; mas .. ., a erupção d o Vesúvio que destruiu Pompeios. 475 mata, como a sanguessuga que não larga a pele, 465 — f r i g i d u s p o r q u e , segundo nos diz o escoJiasta de í 465 insiluit. Sit ius liceatque peirire poetís; íjá ^ ^ sem que primeiro fique cheia de sangue. Horácio, o próprio Empédocles dizia que o sangue gelado em volta d o coração era sinal de estupidez Virgílio, Geórgicas, (A 77 Diels). ^está.por Vid. H , 475 e segs. Deve havier, .portanto, -um de palavras motivado peia dissimula tio, em que S deus imortal, já frio, se lançou ao ardente Etna, frigidus 470 — Horácio refere-se a atitudes eacrilegas nos lugares sagrados, tal como o bidental, lugar batido pelo raio e por isso sagrado. Vid, Pfetrónio, 71; Pérsio, 1, 1(13 (pueri, stupidus, est locus, extra/meite), sacer Esses sacrilégios provocavam o castigo do seu autor que, em geral, ficava louco. — Horácio aponta, em estilo jurídico, como faria qual^'líér causídico, as causas por que se não devia salvar o poeta: é ilegal; 2.° é inútil; 3.° é inoportuno. fi.' 467 — hexâmetro espondaico, único na A.P, tJÜv' 124 t 125 ÍNDICE ONOMÁSTICO A Ateneu, 30. Atreu, 83. Acio, 93. Augusto, 17, zo, 26, n., 2f, Alamo, Jorge Gomes, 38, 28. Albino, 103. Alceu, B 19. Andrade, Rita Clara F, de, Brink, 25, 35. 40, 42. Anfíon, Barbosa, Jerónimo Soares, 41. Bruto, 13. 115. Antíciras, 99. Antífates, 77, C Apoio, 17, 117. Cadmo, 83, Apúlia, 13. Calímaco, 31. Aquiles, 73. Calvo, 19, AquilÕes, 63, Camena, 95. Aquino, Tomás José de, 42. Cândido Lusitano Argos, 73. José Freire), 33, 39, 40. Aristarco, r 2 i . Aristóteles, (Poética, tis) Caríbdis, 77, 27, 28, 3r., 32, Retórica, De poe- 35 (De poetis), 36. Carmen Saeculare, Catão, 6r. Arquíloco, rg, rg, 67; Catulo, 19. Cecílio, 61. 28, 33, 34. 17. Cascélio, Aulo, 111. ars, rg, 20, 33, artifex, (Francisco Cetegos, 6r. Assíria, 73. Ciclope, 77. Atenas, 13, 15. Cila, 77. 127 Cólquida, 73. Fonseca, P e d r o José da, 41. Lejay, P. Cardovil, Bartolomeu, 40, Fortuna, 85, Lícino, 99. Piérides Correia, P . P e i x o t o , 37. Fraenkel, E . , Lucíiio, i õ , Pisões ( L ú c i o [ou G n e u ] Correia, T o m é , 37. Frutuoso de S. João, 37. 26. { & Plessis), 25. 19. Coutinho, D. Gastão F . Câmara, 45, Cremete, 69. M G da Marquesa do Alorna, 44. Gênio, 85, 86, Marte, Gregos, 103. Guerreiro, D Miguel d o Couto, 39, 40. 4 2 - D a v o , 89. Homero, 65, 109, 115. iambi, 15. Empédocles, 125. Enio, 61, 93. Epístolas, 17, 19. Epodos, J5. Escalígero, 33. Immiscb, O., 28, 34, 35. lyricum, I o . 75Italum Estaço, Aquiles, 36. Estrabão, 30. V : 0:5, Ixíon, 75. Jambo, 91, 93, Jensen, Chr., 31, 34. 117. L 97. L â m i a , >107. Filodemo, 31, 34. Leitão, A n t ô n i o J. de l i m a , t 28 43. Porfirião, 23, 30, 31, praeceptum, 35. P r i a m o , 77. Procne, 83. Q Quintilio, i 2 i . N e o p t ó l e m o de Pário, 30, 31, R Ramnes, 107. Réencn, J. H . van, 24. N e p t u n o , 63. O Faunos, 91. Floro, 19, 20, 26, 314, Pompílio, 97, Quintiiiano, 17, 22. J Lácio, poeta, Quérilo, 109, Norden, E . 28, 33,. Jogos Píticos, E t n a , 125. Plauto, 27, 61, 95. Musa, 67, 77, 103, 115. 32, 34. 35. facetum, 89, N -25, 26. Pi- 23, 24, 26, Minerva, 113. Inocêncio, 37, 40. interuallum Pitias, Metastásio, 43. I n o , 75. Escoliastas de Homero, 30. Esquilo, 95. Messala, 111. 115. 27, 28, 51, 89. Michaelis, A . , 24. I Diomedes, 77. E m í l i a , Escola, 57. Mécio, 113. Menendez P e l a y o , 37, 38. Diana, 17, 53, 123. E Mecenas, 14, 19, 26. Meleagro, 79. H Héiicon, 99. Delfos, 87. 115. Medeia, 73, 83. Dacier, 33. 39. (Musas), são e f i l h o s ) , Costa, Francisco da, 37. , Perret, J., 25, 26, 27. Reno, 53. Rostagni, A . , 28, 34, S Odes, 116, 20. Orbílio, 13, 15, Sá, J. J. d a Costa e, 37, 43. Orestes, 75, Safo, 19. Orfeu, 113. Santos, A n t ô n i o Isidoro dos, 40. !P Peleu, 69, 71. Pereira, P . Bento, 37. Sardes, 111, Sátiras (Saturae), 1:6, 16. Sátiros, 8g. scriba quaestorius, 13. 125 Seabra, Antônio Lute de, 44. Sermones, ir6. TéspÍ3, g5. Tiestes, 6g. Sileno, g r . Tirteu, 115. ' Silva, Manuel da, 37. Trebácio, r g . Símon, g r . Tróia, 77. 79- Sóeios, 107, V . Steidle, W . , 29. Vário, 14, 61. T Veiga, Pedro da, 37. Tebas, 73. Vónus, 117, Telefo, 69, 71. Venúsia, r 3 . Teofrasto, 32. Virgílio, 14, i t , 61. \y"j *.j\>i'. ')V;\i ''.'li',;'; 4? wêMtívm K }' 7,1) ).<)ViK<\ I' • UWU73M tw)-.p<,,?Av •.. t N D I C E G E R A L .< PREFACIO . jij t. 1iíuvW^íf • ".iV INTRODUÇÃO BIBLIOGRAFIA TEXTO LATINO, ÍNDICE tradução e comentário ONOMÁSTICO 1 127