arte poética - Eduardo Guerreiro B. Losso

Transcrição

arte poética - Eduardo Guerreiro B. Losso
CLÁSSICOS I N Q U É R I T O
Tenro
-12
HORÁCIO
ARTE POÉTICA
Introdução, Tradução e Comentário
K. M. Rosado Fernandes
da
faculdade de Letras de Lisboa
de
IHQPgRITO
EDITORIAL I N Q U É R I T O
LISBOA
V
LIMITADA
N O T A Ã PRESENTE E D I Ç Ã O
Esteve uma anterior
da Arte
edição portuguesa
Poética boraciana esgotada durante
vários anos. Por
ser peça indispensável para a compreensão
ra da obra literária,
por ter influenciado
culo XVIII a literatura
curada.
ocidental,
Por ser procurada,
vez quase desaparecida,
tura de fotocópias
se sentem
os livros,
terada, excepto
gráficas,
até ao sé-
foi essa edição
tornou-se
rara e,
tem sido submetida
sem número.
Não se sabe
mas alegramo-nos
sente edição da Inquérito,
da feitu-
actualizadas,
casos do texto português,
uma
ã torcomo
com a pre-
que aparece quase
no que respeita a indicações
que foram
pro-
inalbiblio-
e a dois ou três
que foram
melhorados.
À MEMÓÍUA DO MEU QUERIDO MESTRE
PROF. SCARLAT LA MB RI NO
H EM LEMBRANÇA
DA SUA GRANDE BONDADE
E VASTA ERUDIÇÃO.
PREFÁCIO
A presente edição tem como único fim proporcionar
mais um instrumento de trabalho aos estudiosos portugueses interessados no conhecimento da teoria literária
antiga e da sua influência nas literaturas modernas. Faltava-lhes, com-efeito, desde há muito tempo, uma tradução portuguesa da Arte Poética horaciana e faltava-Ihes, sobretudo, a edição desta, acompanhada por um
comentário actualizado. Este lhes permitirá averiguar
em que medida progrediu, neste nosso século, a ciência
filológica ocupada em esclarecer este texto fundamental
de Horácio.
Tal carência foi a razão mais preponderante, sem
falar do meu gosto por Horácio, que me levou a abordar
o assunto e a levá-lo a cabo, muito embora não ignorasse as dificuldades e as contingências de tal empreendimento.
Não deve o leitor procurar, no que se lhe apresenta
no comentário, originalidade de métodos e de matérias.
Não é possível, sem ser a longo prazo, fazer investigações originais sobre o texto da Arte Poética, pois a bibliografia'fundamental sobre o assunto amontoa-se desde
há séculos e, ainda que de qualidade desigual, a verdade
é que o seu conhecimento se torna indispensável. Ora ele
9
só é materialmente possível, pela leitura aturada de
da forma, ou seja, d a língua e da estrutura do discurso
vários anos.
horaciano.
No entanto, para suprir essa lenta posse de conheci-
O'
texto
|
latino fundamenta-se fprmfcipalrnenite nos
mentos e idéias, decidi tomar como fontes orientadoras
textos estabelecidos por Villeneuve e Klingner,
da rainha informação os estudos mais modernos sobre
edições estão citadas na bibliografia. Só se introduziram algu-
Horácio e a sua Arte Poética, entre os quais se salientam
mas ligeiras alterações n o tocante à ortografia, como,
os de Rosíagni, Perret e, muito especialmente, o de
p . e x . , na substituição de uolt por tmlt (v. 348), a fim
Brink. A estes utilizei-os profusamente.
de facilitar a compreensão dos versos horacianos a o leitor
Quanto ao plano, é este livro, por assim dizer, canónico. Na introdução, situei a Arte Poética no meio am-
cujas
menos versado na leitura do 'latim. Oxalá esta edição- lhe
sirva de algum auxílio.
biente em que foi criada e assim também no lugar que
Cumpre-me recordar agora a contribuição dada a
lhe compete no brilhante processo e evolução da obra
este trabalho pelo Prof. Scarlat Lambrino que a morte
horaciana. Não descurei igualmente a problemática que
aeafxnu de roubar, tão' bruscamente, à nossa convivên-
subsiste, no que respeita a estrutura do poema, as suas
cia. Ele leu e melhorou o original com várias sugestões
fontes e a sua finalidade. P o r fim, tomei em considera-
ditadas pelo espírito crítico, severo e justo, que todos
ção as edições portuguesas da Arte Poética,
para que o
lhe conhecíamos. T a m b é m ele deveria ter escrito o pre-
leitor possa fazer uma idéia segura do interesse desper-
fácio para esta edição, se a morte o não tivesse sur-
tado, no nosso país, por este texto.
preendido no meio dos seus trabalhos. Todas as palavras
Na tradução, que confronta o texto latino, procurei
são poucas para descrever a sua acçao benéfica de di-
observar com fidelidade o texto original, fazendo o pos-
dacta e investigador, mas estou certo de que a obra dos
sível para que o leitor o sinta cm todas as suas caracte-
seus discípulos a comprovará largamente, pois, através
rísticas de documento literário, feito por um espírito
deles, a sua figura continuará a viver.
perspicaz e crítico.
No tocante ao comentário, é ele o mais completo pos-
Reata-me agradecer a o Prof. Prado Coelho o interesse
tl
que demonstrou na publicação deste trabalho le a o meu ;íí:
sível, sem que esteja demasiado sobrecarregado por mi-
A m i g o Antônio Coimbra Martins a paciência com que
nudências inúteis, que em nada facilitam a compreensão
leu o original^
do texto e que não interessam senão ao especialista.
íívto. Desejo finalmente lembrar a colaboração' dada pelo
Atendi sobretudo às dificuldades levantadas pelo con-
Dr. Victor Buescu n a comecção das provas tipográficas
teúdo, mas esclareci também os aspectos mais insólitos
e no melhoramento de vários pormenores.
10
1
e
a s sugestões com q u e enriqueceu este y
i
INTRODUÇÃO
H O R Á C I O E A SUA A R T E P O É T I C A
Foí na Apúlía e mais precisamente
em
Venúsía
Flaccus
que
Quintus
Horatius
Vida
Na8c, 65 a.C.
nasceu, em 8 de Dezembro
de 65 a.C. Ele próprio o diz nas Odes., I I , 17, 17 e
segs., referindo-se aos signos astrais que presidiram ao
seu nascimento. Filho de um libertas
(escravo forro)
que, entretanto, grangeara uma posição e uma pequena
quinta, foi enviado por seu pai a estudar em Roma
com o retor Orbilius, sentando-se nos mesmos bancos
que os filhos de senadores e cavaleiros, seus condiscípulos.'
Continuará os estudos em Atenas e, aos vinte anos
(44 a . C . ) , alistar-se-á no exército de Bruto como tribunus militum,
voltando a Roma em 42, depois ido
desastre de Filipos, que levara Bruto ao suicídio.
N o retorno a Roma espera-o a adversidade: o pai
morrera, e a pequena quinta, que possuía, fora confiscada. A pobreza esperava-o, pois, e só com o trabalho
quotidiano a poderia Horácio enfrentar.
então como scriba quastorius,
Emprega-se
ou seja, qualquer coisa
13
só é materialmente possível, pela leitura aturada de
da forma, ou seja, da língua e da estrutura do discurso
vários anos.
horaciano.
No entanto, para suprir essa lenta posse de conheci-
O
texto latino fundamenta-se pr mt ipaimente
nos
mentos e idéias, decidi tomar como fontes orientadoras
textos estabelecidos por Villeneuve e Klingner, cujas:
da minha informação os estudos mais modernos sobre
edições estão citadas na bibliografia. Só se introduziram algu-
Horácio e a sua Arte Poética, entre os quais se salientam
mas ligeiras 'alterações no tocante à ortografia, como,
os de Kostagni, Perret e, muito especialmente, o de
p. e x . , n a substituição de uolt por uult (v. 348), a fim
Brink. A estes utilizei-os profusamente.
de facilitar a compreensão dos versos horacianos a o leitor
Quanto ao plano, é este livro, por assim dizer, canónico. Na introdução, situei a Arte Poética no meio am-
menos versado na leitura do' 'latim. Oxalá esta edição lhe
sirva de algum aruxAio.
biente em que foi criada e assim também no lugar que
Cumpre-me recordar agora a contribuição dada a
lhe compete no brilhante processo e evolução da obra
este trabalho pelo Prof. Scarlat Lambrino que a morte
horaciana. Não descnrei igualmente a problemática que
acabou de roubar, tão bruscamente, à nossa convivên-
subsiste, no que respeita a estrutura do poema, as suas
cia. Ele leu e melhorou o original com várias sugestões
fontes e a sua finalidade. Por fim, tomei em considera-
ditadas pelo espírito crítico, severo e justo, que todos
ção as edições portuguesas da Arte Poética,
para que o
lhe conhecíamos. Também ele deveria ter escrito o pre-
leitor possa fazer uma idéia segura do interesse desper-
fácio para esta edição, se a morte o não tivesse sur-
tado, no nosso país, por este texto.
preendido no meio dos seus trabalhos. Todas as palavras
Na tradução, que confronta o texto latino, procurei
são poucas para descrever a sua acção benéfica de di-
observar com fidelidade o texto original, fazendo o pos-
dacta e investigador, mas estou certo de que a obra dos
sível para que o leitor o sinta em todas as suas caracte-
seus discípulos a comprovará largamente, pois, através
rísticas de documento literário, feito por um espírito
deles, a sua figura continuará a viver.
perspicaz e crítico.
Rcsta-mc agradecer a o Prof. Prado Coalho o> interesse
No tocante ao comentário, é ele o mais completo pos-
que demonstrou na publicação deste trabalho e a o meu
sível, sem que esteja demasiado sobrecarregado por mi-
A m i g o Antônio Coimbra Martins a paciência com que
nudências inúteis, que em nada facilitam a compreensão
leu o original e à s sugestões com que enriqueceu este i
do texto e que não interessam senão ao especialista.
livro. Desejo finalmente lembrar a colaboração dada pelo
Atendi sobretudo às dificuldades levantadas pelo con-
Dr. Victor Buesou n a correcção das provas tipográficas
teúdo, mas esclareci também os aspectos mais insólitos
e no melhoramento de vários pormenores.
como amanuense do Ministério das Finanças, setm que,
todavia, deixasse a ocupação que lhe era mais agradável,
a poesia, comprazendo-se em publicar poemas que, ainda;
na juventude, o tornam célebre.
a publicação de versos, que o ajudava a aumentar o
pecúlio mensal.
Foi exactamente nesta fase difícil que travou conhecimento com Vário e Virgílio que o apresentaram a Mecenas, proporcionando-lhe, por volta de 38 a.C., um
lugar no círculo de literatos que se reunia na casa do
grande
benfeitor das letras. Com esta entrada para
aquela sociedade de artistas e escritores, começará para
Horácio uma nova era de suoesso literário, de melhoria
financeira e uma longa amizade com Mecenas e alguns
dos poetas protegidos por este. Também, como conseqüência natural do meio que passara a freqüentar, as
suas relações sociais estenderam-se às personalidades dominantes da Roma de então e chegaram mesmo ao próprio imperador que igualmente passou a protegê-lo. Alguns anos depois, já Horácio estava
definitivamente
A obra poética que nos deixou é o
Obra poética
reflexo da sua personalidade equilibrada, sem ser demasiado satisfeita, do seu carácter ambicioso, sem que por isso fosse possuído por eterno descontentamento. Combinava um bom-gosto muito seu,
uma ironia prazenteira e um labor incansável, com os
resultados da sua experiência poética, com a leitura da
poesia grega e romana e com os conhecimentos teóricos
que aprendera na escola de Orbílio, nas escolas de Atenas
e nos estudos que fez pala vida fora.
Desta sorte, a sua obra — em que a té^v^
grega se combina admiràvelmente com o Italum
(ws)
facetum
e com a ironia que ao poeta era peculiar — , ainda que
apresente certa diversidade, não deixa de estar unida
interiormente pelo seu equilíbrio e bom senso estético.
•liberto das preocupações financeiras e na posse reconfor-
Horácio inicia-se e dá-se a conhecer
tante de uma propriedade na região sabina, que, com a
grande
público
com
os
Epodos
sua casa de Roíma, formava um dos dois polos que deli-
ao
mitavam a sua existência de homem e die artista. Eim
(:iambi) tem número de dezassete, compostos entre 41! e
Roma, desejava ter a tranqüilidade, a simplicidade que
31i a.C. e publicados em 30. Embora ainda incipiente
o esperavam na sua quinta. Uma vez nesta, porém, logo
e imaturo, o poeta já aqui nos traz inovações importan-
ihe voltava o spleen da vida turbulentamente intelectual
tes, como ale próprio diz, ao 'dar a conhecer ao Lácio
do meio artístico de Roma.
os jambos de Arquíloco de Paros {Epíst.,
Epodos
I, 19, 23-5).
Neles se ocupa da crítica social e política—-não tão
Até à sua morte, em 27 de Novembro de 8 a.C., nunca mais abandonou
aa
Morte 8 a.C.
mordaz e pessoal como a de Arquíloco — , do amor e da
tranqüilidade que a vida do campo proporciona.
15
A o s Epodos
ftí (Satum
seguem-se as Sátiras
ou Sermoties)
Sátiras
constituídas por
lembrar os pequenos lugares (fonte de Bandúsia), que, de
qualquer modo, lhe tinham agradado e excitado a ima-
p i d o i s livros ( o primeiro, publicado cerca de 35 a.C., con-
ginação. A sede de perfeição que nas Odes se revela,
Ipf^tém dez poemas, e o segundo, que vem a lume cerca de
já não escapara ao juízo ida antigüidade que diz, pela
30, contém oito), em que Horácio apresenta temática
'boca de Quintifiano, que «dos líricos é o mesmo Horácio
variada que percorre todas as gamas da vida contempo-
quasie o único digno de ser lido, pois se inspira por vezes
rânea e da sua própria vida. Tomando Lucílio, o velho
e está cheio de alegria e beleza, é múltiplo nas figuras,
poeta satírico, como seu modelo romano, Horácio vai
audaz, com extremo bom gosto na escola das pala-
dor um novo rumo à sátira .tornando-a mais dúctil, mais
vras» ( l ) . Este juízo da antigüidade define com exacti-
bem humorada: tem a arte de a (fazer tão contun-
dão, julgamos nós, tudo quanto se possa pensar acerca
dente como a do .seu modelo, mas menos directa e me-
do poeta.
j>
\ nos grosseira. Os temas vão desde a gastronomia, literari . tura e observação >de tipos sociais, à descrição dos mais
Já no fim da vida encomenda-lhe
Carmen
I
insignificantes incidentes da vida quotidiana, e neles
Augusto um hino à maneira sáfica dedi-
í:
semeia Horácio, a cada passo, pormenores autobiográ-
cado a Apoio e Diana. Compõe Horácio
ficos, idéias literárias, morais e filosóficas, nas quais
então o chamado Carmen Sczculare, que foi cantado nos
sobressai notável tendência epicurista, a que apregoa o
Jogos Seculares de 17 a.C. por um coro de 27 rapazes
meio termo e o prazer moderado.
e 27 raparigas. Nele se celebram, em hábil combinação
Saeculare
de misticismo e patriotismo, a glória de Roma e os beneÉ, no entanto, nas Odes (quatro li-
Odes
vros e cento e três poemas) que Horácio
fícios que a cidade colheu da genial administração de
Augusto.
mais se evidencia pela veia poética, pela técnica apurada
de versificador e pela linguagem tersa e sempre apro-
Finalmente restam os dois livros das
priada aos temas de que se ocupa. Estão compostas nos
Epístolas. O primeiro, com 19 cartas, foi
Epístolas
mais variados metros gregos, desde as antigas estrofes
alcaicas e sáficas, à estrofe asclepiadeia da época helenísüca. Nelas trata Horácio dos temas que mais lhe inte-
( t ) Inst.
Of.,
X,
i , 96: « A t lyricarum idem Horatius fere
60ÍUS legi diignus: nairt et msurgit aliquando et plenus est
ressam, comprazendo-se em cantar os feitos de homens
iucunditatis et gratise et uaxius figuris et uerbis felicissime
políticos, em louvar os deuses e os seus amigos, em
audax.»
16
1NQ 11 — 2
17
publicado em 20 a.C. Nele se encontra uma verdadeira
Horácio marca a sua posição literária, colocando-se entre
filosofia da vida, em que o poeta, já amadurecido pelos
os modernizantes da escola de Catulo e Calvo e os arcai-
anos e na posse de larga experiência, só foca o essencial
zantes admiradores de Lucílio. Começa já a defender um
e despreza o acessório. Basta lembrar a Epíst.
I, 11;
princípio que veremos aparecer na Arte Poética: os escri-
escrita para combater a angústia de um amigo, a quem
tores latinos devem formar o seu gosto na leitura das
Horácio diz que, por mais que procure, só nele próprio
letras gregas; I I , 1: — Horário defende-se dos seus crí-
encontrará a paz: «os que correm os mares, mudam de
ticos, fazendo a sua apologia por meio de um diálogo
céu, mas não de espírito» ( 2 ) .
seu com O' jurisconsulto Trebácio.
Vemos que começa agora, no declínio da vida, a acalmar-se, tendendo para uma filosofia, em que entram
Nas Epístolas, veremos mais patente
Epístolas
I,
Literárias
elementos do epicurismo, de que se considera fiel adepto
a veia crítica de Horácio, A Epíst.,
(diz pertencer ao rebanho de Epicuro, Epíst.,
I, 4, 16)
19, dedicada a Mecenas, procura servir
e do estoicismo. Resta saber se este estoicismo foi apren-
de defesa contra os críticos, que o acusa-
Epístola a
dido nos livros de filosofia ou na sua experiência da vida.
vam de imitação. É Horácio, porém, que
Mecenas
No livro segundo das Epístolas
(neste só se contam
disso os acusa dizendo: « ó imitadores, ó
duas), entrega-se Horácio inteiramente à crítica literária.
gado servi]!», pondo neles os defeitos de que o arguiam.
£ neste capítulo que vai integrar-se a Arte
Defende-se, depois, mostrando em que medida fora ino-
Poética.
vador e original dentro da poesia de Roma, ao introduzir
A Arte Poética,
contudo, não surge
sem uma prévia evolução, que tentaremos esboçar. Já quando das
Sátiras
Literárias
novos temas e novos metros, ao tdar a conhecer Arquíloco, Safo e Alceu.
Sátiras,
Horácio procura teorizar os seus conhecimentos de poé-
Mais importante do que a anterior
Epístola
tica. Em três sátiras compostas por volta de 30 a.C.,
é a epístola a Floro ( I I , 2), na qual o
a Floro
I, 4; I, 10; I I , 1, tenta responder a certas questões teó-
poeta explica as razões que o levaram a
ricas de poesia. I, 4: — O que constitui um bom poema
não publicar mais no domínio da lírica, É que ele agora
e como pode averiguar-se a sua qualidade; I , 10: —
não escrevia, porque tinha o suficiente, porque estava
velho e porque, enfim, Roma estava demasiado baru-
{2) V .
27: tCaelum, non animum inutant, qui trans maré
currunt».
18
lhenta. Além disso, todos devem, no fim da vida, voltar
à meditação e à filosofia. Entretanto, critica o baixo
19
nível da poesia romana, pela falta de cuidado que os
poetas denotam na língua •poética que usam. Horácio
disserta sobre as razões de carácter netórico-poético que
presidem à escolha de palavras e à composição da frase,
tal como fará posteriormente na Arte
Poética.
Como
nesta, já começa a defender o princípio de que o poeta
| i. • deve ser um técnico da língua e não simples amador.
Horácio aparece-nos, neste poema, como teoriza dor da
literatura e como grande estilista, esses mesmos aspectos
com que se revestirá e se afirmará definitivamente ma
Arte
Só três gêneros poéticos serão apreciados: o 'dramático ( w .
139-213), o épico ( w .
214-270) e o lírico
( v v . 132-138), que ocupará um lugar modesto. Trava
discussão, sobretudo, acerca dos tópicos literários que
lhe eram caros: o antigo e o moderno; o 'grego e o romano; o poeta e a sociedade. Este último tinha muita
importância, visto que muitos poetas (como Virgílio),
abandonando a poesia subjectiva, se tinham dedicado à
causa de Roma a do Estado, cantando a grandeza de
ambos.
Mas Horácio não toma partido por qualquer posição
Poética.
extremista: não é arcaizante, mas tão-pouco é moderniEmbora numerada, nas edições de
Horácio, antes da epístola a Floro, a
Epístola
a Augusto
epístola dedicada a Augusto pertence a
data posterior. Com ela vem o poeta responder ao imperador que demonstrara desejo de possuir uma carta sua,
tanto mais que Horácio já enviara epístolas a outros seus
amigos, menos importantes. Nesta altura, porém, estava
Horácio ocupado com a publicação do quarto livro das
Odes e não podia pretextar, como fizera na carta a
K
Floro, o abandono da poesia, além de que, nesse mesmo
zante em todo o sentido. Se é helcnizante, é porque julga
que a cultura refinada dos Helenos poderá trazer algum
bem ao talento agreste dos Romanos. Quanto à função
do poeta na sociedade, acha que este lhe pode ser útil,
sem que, contudo, perca todo o seu individualismo.
Tudo o que apregoa, já Horácio pusera em prática na
poesia até então publicada e isto era a garantia de que
os princípios que teorizava levavam, de facto, a urna
poesia cuidada e de excelente nível, qualidades que ele
tanto prezava.
'livro das Odes, havia cinco poemas dedicados ao próprio
pljlAugusto. Assim, vai agora escrever, na epístola ao knpe-
Incluída no grupo das epístolas ( 3 )
f>5:\Tador, sobre um tema que a ambos interessava: a posição
encontra-se a anais extensa e importante
; ; d o poeta e da poesia ma Roma contemporânea. Naturalpíiíinente que a opinião d o poeta devia diferir da que o
político perfilhava, mas Horácio sabe defender-se hàbil^ ^ ^ e n t e de qualquer compromisso.
composição, a Epístola
aã Pisones,
es-
ARTE
POÉTICA
Título
crita em hexâ metros dactílicos, sobre iteo{ 3 ) Alguns autores consideram a A. P. como a terceira epís-
21
ria literária. QuintiiLaiio chamar-lhe-á ( 4 ) , algumas gera-
por si, uma tradição milenária e, afinal, são mais que
ções mais tarde,
suficientes para servirem de epígraíe a um poema,
«ars poetioa»
ou
«de arte poética
liber» ( 5 ) , títulos que se tornaram os mais conhecidos
e que possivelmente já caracterizavam a epístola antes
O poema de Horácio é dedicado aos
Dedicatória
de aparecerem citados na obra do grande retor, Houve
Pisones,
também quem desejasse combinar os dois títulos possí-
identificação nos interessa sobremaneira para determinar
veis e 'assim aparece a carta poética designada como
dois pontos fundamentais; a data aproximada do poema
Epístolas ad Pisones de arte poética. Este título deve ter
e o seu escopo. Efectivãmente, contribuiria para o conhe-
sido motivado igualmente pelo facto de não estarmos
cimento da finalidade com que Horácio escreve a A.
diante de um tratado, como daria a entender o Ars poé-
o simples facto de se determinarem as actividades lite-
tica ou De arte poética,
mas de uma simples carta aos
rárias dos Pisões, e, bem assim, a data da composição
Pisões, onde se formulavam alguns princípios que, por-
do poema ressaltaria com mais clareza, desde o momento
ventura, também poderiam aparecer num compêndio de
em que soubéssemos quando eles viveram.
retórica.
personalidades romanas, cuja
P.
Mas a tarefa não é fácil. N o entanto, Porfirião, o
Cremos, no entanto, ser preferível utilizar os títulos
ad Pisones, os quais, muito
milhança, devia estar em melhor posição do que nós
embora não dêem a entender tudo o que se encontra no
para identificar os Pisões, diz-nos que a A. P. «foi dedi-
poema, e possam mesmo levar a certa ambigüidade, têm,
cada a Lúcio Pisão e a seus filhos, ao Pisão que poste-
Ars poética
( 6 ) ou Epístola
comentador de Horácio, e que, segundo toda a verosi-
riormente foi custos urbis e que era poeta e patrono das
artes liberais» ( 7 ) .
tola d o lívxo I I . Outros, porém, falam da A.
sendo um poema independente. Vid.
P.
Hora ti us.
como
Opera,
ed, F . Klingner, Lápsia, 1959, <p. 294. Quintiliano,
Or,,
Vm,
3, 60, refere-se à A. P.,
como se um poema
à parte constituísse: <t. ..Horatius in prima parte libri de
arte poética...» Cremos ser esta segunda hipótese a que
Se admitirmos esta identificação
Data
que é, sem dúvida, a mais provável,
somos forçados a aceitar concomitante mente uma data
mais se aproxima da verdade.
( 4 ) Inst.
Or., Epíst.
dedicatória
a Trífon,
2: «...usus deinde
I i o r a t i consilio, qui in arte poética euadet...»
( 5 ) V i d . n. 3.
( 6 ) Será este o titulo escolhido na nossa tradução.
22
( 7 ) Comentário à A. P.
1: «hunc librum... ad Lucium Piso-"
nem, qui postea urbis custos fuit, eiusque liberos misit;
nata et
antistes».
ipse Piso poeta
f u i t et studiorum
liberalitLi
ffi^^^fyisto
que Lúcio Pisão fora cônsul com Augusto
(cf. comentário aos w . 55, 387, 438, e t c . ) . O único dado
j B p o ^ i s a.Ç. N o entanto, esta identificação não satisfez
que prevalece, apesar de certas reservas que se possam
M^Igjius eruditos (J. H . vau Réenen e A . Michaelis), que,
fazer, é a personagem a quem o poema está dedicado,
pela convicção de que o ipoema tratava 'de maté-
Lúcio Pisão, e com este a data do seu nascimento,
||masque tinham de ter forçosamente uma data anterior
49 a.C., e o facto de os seus filhos já estarem em idade
j f g ^ p b r a honaciana, formularam hipóteses em que ten-
de compor poemas. Tudo isto leva a admitir, com J.
í ^ t a ^ a m reivindicar para o poema horaciano uma data
Ferret, a possível data de i o a.C., ou, mais caute-
(^'anterior, partindo de outra identificação, a do Pisão ida
losamente com Brink ( 8 ) , a possibilidade ide a Â.
A^ P . com Gneu CaJpúrnio Pisão que fora cônsul em
V- .28, a.C. juntamente com Augusto. Falta, contudo, apoio
epigráíico para esta identificação, pois não consta que
Í;Gneu Pisão fosse amigo das letras nem tão-pouco que
P.
ter sido composta depois de 14-13 a..C. A data tardia
parece impor-se, tanto mais que a crítica interna também
a autoriza.
Com efeito, o poeta, v v . 304-306, afirma que «nil
^tivesse descendência,
scribens ipse, docebo», i. e. que, naquela altura, não
t f ; . , A verdade é que, de Lúcio Pisão, sabemos que per-
se dedicava à poesia lírica, pois Horácio só considerava
'tenda de facto a uma família com reconhecido interesse
como escrever o compor poesia lírica ( 9 ) . No entanto,
£ pelas artes, muito embora nada saibamos sobre a sua
também poderia admitir-se a interpretação de Plessis-
BjjV-
"
-Lejay (10) que afirmam falar Horácio de não escrever
•*; descendência.
Levanta-se, porém, outro problema quanto à idade
de Lúcio Pisão. Ele, que nascera em 49 a.C., na data
da publicação da A. P.,
já tinha filhos em idade de
escrever poemas, ou pelo menos, de estarem interessados
em fazê-lo. Isso leva-nos a conferir data bastante tardia
poesia dramática, mas de, no entanto, a ensinar. Isto
invalidaria a utilização deste passo como achega cronológica. Naturalmente, estas suposições poderão ter a sua
razão de ser, e o facto dc Horácio não compor poesia
lírica no internalhim
lyricum
de 23-18 a.C. e no de
ao poema.
Mas neste domínio da crítica externa, isto é, dos ele-
:
( 8 ) J. Perret, Horace,
mentos exteriores ao poema, ainda há outros dados que
Uepistola
foram utilizados para datá-Jo em época não tardia. Estes
Horace
argumentos não são de molde a convencer, visto que as
referências a personalidades da época não se apresentam
. ' de tal modo claras, que sejam decisivas para a datação
Paris, 1959, p. 190. Cf. F, Cupaiolo,
di Orazio ai Pisoni,
on Poetry,
Nápoles, 1194H. C.O.'Brink (
Prolegomena
to the Literary
Epistles,
Omjbridg», 1-963, pp. 239-243
( 9 ) Brink, ob. cit,,
(10) Horace,
p. 242.
CEuvres, comentário ao v . 306.
i í-;
t
25 125
14-8 a.C. (8 a.C. é a data da sua morte), mostra que há
arte poética que o autor apresenta, ou trata-se apenas do
possibilidades de colocar a composição de A.P.
no úl-
•uma epístola séria — se .bem que com o tom irônico
tanto mais que a A. P. é a súmula de
próprio a Horácio—, em que este dá, sem procurar siste-
todos os seus conhecimentos de teorizador. Não cremos,
tematizar, o núcleo das suas idéias sobre poesia e criação
todavia, que se possa considerar como definitiva, qual-
literária e sobre a formação do bom poeta? Mas a ver-
quer das soluções propostas, visto faltarem dados con-
dade é que Horácio, cultor da poesia lírica, vai agora
cretos e indiscutíveis.
formular regras para a poesia dramática, porquê? De
timo intervallum
J. Perret, por sua vez, admite a data tardia, porque
igual maneira, é estranho que tal intento provenha d£
suceda à
um poeta que v i v e exactamente numa cidade onde o
epístola a Augusto, visto não ser provável que Horácio
teatro não fazia parte integrante da vida social, corno
tivesse dedicado ao imperador uma epístola mais redu-
na Grécia. Para esta escreve Aristóteles a Poética,
zida que a dedicada aos Pisões, tanto mais que esta é
que pràticamente só fala de: teatro.
lhe parece mais verosímil que a Arte Poética
em
superior do ponto de vista da teoria literária. As epís-
Parece-nos plausível como resposta a estas interroga-
tolas a que o imperador se refere na carta que mandou
ções, o que nos diz J. Perret (12). É que no tempo de
a Horácio, lamentando-se por não receber nenhuma de-
Augusto teria havido um movimento, dirigido pelo pró-
II,
prio imperador, para colocar o teatro no seu devido
2) e a Mecenas (as do primeiro livro), muito embora
lugar, tanto mais que muitos dos espectáculos citadinos
neste caso contemos coim a oposição de E. Fraenkel (11).
tinham desaparecido, tais como os .grandes actos de ora-
Julgamos, pois, ser mais prudente seguir a tradição
tória forense, o que forçava o povo a ir para o circo
e admitir uma data de composição, de qualquer modo,
ver os gladiadores ou, mais raramente, ao teatro. Além
posterior a 14-13 a.C.
disto, também apoia esta tese o facto de Augusto ter na
las, devem ser as anteriores dedicadas a Floro (Epíst.
realidade favorecido autores dramáticos e de ter saiboDepois de ler os 476 versos da
Escopo do poe-
Arte Poética o leitor tem o direito da
ma e suas carac-
se perguntar qual o intento pretendido
terísticas
por Horácio. Trata-se de facto de uma
reado com raro prazer — ao contrário de Horácio — os
velhos poetas dramáticos do Lácio, como Planto.
Tenta, portanto, Horácio escrever uma epístola aos
Pisões, em que, de certo modo, desfaça a impressão negativa com que tinha descrito a poesia dramática no
(111) Horace,
Oxford, p. 383. Quanto às palavras de Augusto
a Horácio, vid. p, 20.
t
(P2) Ob. cit., p , i8ó e segs.
27 125
Lácio, na epístola a Augusto, e dá regras, sem que pre(16), por sua vez, afirma ser um conjunto de
tenda escrever um tratado, regras de experiência e de
Steidle
leitura para que o poeta tenha resultados esteticamente
preceitos, mas não um tratado. Cremos, por nossa parte,
mais profícuos na composição da poesia dramática.
que na A. P. há um pouco de tudo o que se defende
No entanto, todos estes motivos são de ordem geral.
nestas opiniões sem, no entanto, admitirmos que seja w n
Mas, no particular, que pretenderia Horácio? Quereria
tratado. A verdade é que o poeta dá preceitos, mas não
levar os Pisões a escrever, e bem, obras dramáticas ou
os dá todos,
pensaria dissuadi-los de .tal intento? A esta pergunta não
daqueles que melhor conhece e de que mais gosta e, não
é possível responder peremptòriamente, mas de tudo o
se submetendo, deste modo, à ordem dos manuais esco-
que lemos parece sem dúvida deduzir-se que Horácio
lares de retórica, que, porventura, serviriam de introdu-
quereria ievá-los a compor poesia dramática, observando
ção à arte da poesia. N o entanto ele introduz os leitores,
os princípios da- composição literária que conduzem à
sem qualquer intento escolar, na verdadeira essência da
perfeição.
poesia.
.. . Resta-nos ainda o problema de como havemos de
classificar esta composição. Norden
(13) atribui-lhe um
carácter isagógico, isto é, considera-a uma introdução
à -poesia, com a divisão ars+artifex;
Rostagni
(14) pre-
tende ver nela um tratado de poesia à moda de Aristóteles, sem a profundidade da obra deste. Immtsch
(15)
diz ,tratar-se de uma selecção de problemas poéticos.
(13) E . Norden: « D i e Composition und Litteraturgattung der
Horaz.schen Epistula ad Pisones», Hermes,
pp. 481-528. Cit. apud Brink, ob.
cit.,
XL
{1905},
pp. 20 e segs.
uma
selecção
Procura sobretudo expor as suas idéias, tiradas ou
não de autores precedentes, e tenta provar que para
fazer poesia não deve pensar o aprendiz de poeta que
a poesia é uma actividade de amador, que o poeta nasce
por geração' espontânea, nem confiar em demasia no
talento, nas aptidões naturais do poeta. Para que a
poesia seja algo de elevado, de útil à cidade, para que
alcance o seu fim educativo e estético, tem o poeta de
possuir talento e arte, e para melhorar o seu critério
literário deve submeter-se a trabalho aturado nunca desprezando a opinião dos críticos. Só assim, com uma
vigilância perfeita, poderá o poeta criar poesia verda-
e 280.
(114) A . Rostagni,
(reed. 1946).
IJArte
Poética
í 1 5 ) O. Immiseh, Horazens Epistel
28
fazendo, pelo contrário,
lologus,
Suppl.,
vol. X X J V
ob. cit.,
pp. 35 e 283.
di
Orazio,
Turim, 111930
über die Dichtkunst,
(193-2), cit.
apud
PhiBrink,
deiramente digna deste nome.
(U6) W . Steidle, Stuãien
tation
des
Hauptteils
auf
zur Ars Poética
Dichtkunst
und
des Horaz:
Gedichte
Interprebezüglichen
(ir-294), Würzburg, pp. 147 e segs. Cit, apud
Brink, ob. cit.,
pp. 35 e 283.
29
Para exprimir as suas idéias sobre a
maneira de escrever poesia,
cia para o conhecimento das fontes da A. P.: o filólogo
Fontes
e papirologista Christian Jensen publicou um artigo (19)
Horácio,
além de relembrar a sua longa experiência de poeta e
crítico, não esqueceu certos princípios de escola e para
tal utilizou, com certeza, fontes da antiga crítica literária.
O escoliasta de Horácio, Porfirião (17), diz-nos que
Horácio tirara da obra de Neoptólemo de Pário {cidade
da Tróadc) os principais elementos cia sua Arte
Poética:
«Nesse livro reuniu os preceitos de Neoptólemo de Pário
acerca da arte poética, não todos, mas os mais importantes».
Poemas», no qual apontava que havia encontrado não só
referências mais abundantes ao Neptólemo de quem Porfirião falava, como até fragmentos do próprio Neoptólemo, que para mais apresentavam nítida conexão com
os princípios defendidos na Arte
Poética
horaciana.
A posição estética de Neoptólemo, que pode ser descortinada através dos fragmentos apresentados, coloca-se
nitidamente entre a escola modernista de um Cailímaco,
ou seja, entre o neoterismo alexandrino e a escola mais
tradicionalista e equilibrada de Aristóteles, mas apresen-
A figura de Neoptólemo de Pário, no
entanto,
sobre um papiro com a obra de Filodemo «Acerca dos
foi pouco conhecida
até ao
Neoptólemo
de Pário
tando-se preponderantemente com uma feição peripatética. Neoptólemo, que, por certo, era um alexandrino
nos versos eruditos que escrevia e na sua erudição, assim
séc. x x , pois as referências que a este
poeta e, ao mesmo tempo, teorizador da poética se faziam, eram pouco abundantes (em Ateneu, Estrabão,
Escoliastas de Homero, etc.), carência que levou os críticos de Horácio a dividirem-se quanto à importância
a atribuir a Neoptólemo como inspirador das idéias do
poeta romano (18).
Na segunda década do século x x , ou seja mais pre-
como no requinte do estilo, era, contudo, aristotélico
na defesa d o poema longo (Calímaco queria-o breve
[ 2 0 ] , como se vê na sua frase: «um grande livro é igual
a um grande m a l » ) , e da unidade da concepção literária.
Quanto à divisão da abra teórica de Neoptólemo e da
sua possível influência na divisão da A. P.
horaciana
falaremos mais adiante.
cisamente em 1918, deu-se um facto da maior importân('19) «Neoptolemos
(117) «in
quem
librum
congessit praecepta
Neoptolemi
joã
iraplavou de arte poética, inon quidem omnia, sed eminentíssima».
(18) Vid. Brink, ob. cit.,
t 30
p, 43 e sega.
imd
Horaz»,
d. Wt5s. (1918), X I V
Abhand.
d.
Preuss.
Ak.
(1919), p. 48. Cít. apud Brink, f
ob. cit., p . 28, n. 1. Cf. a bibliografia de Jensen, acerca
do mesmo assunto, na p. 127S.
•'
(20) Frag. 465 ( P f e i f f e r ) .
125
ilado de Neoptólemo, porém, outras possíveis in
éfluências se entrevêem, destacando-se, sobremaneira, a
j da
escola aristotélica, cuja influência se pode admitir,
pelo menos parcialmente, como .tendo-se infiltrado na
obra, através do próprio Neoptólemo. N o entanto, a exiguidade dos fragmentos que deste nos chegaram, não
permitem ser-se demasiado afirmativo, muito embora
saibamos que a teoria da unidade, da propriedade, do
estilo, do 7tçiÍ7tov, são princípios aristotélicos. Se olharmos, contudo, para a teoria dos cinco actos vemos que
esta já não pertence a Aristóteles mas aos filósofos da
sua escola, dos seus continuadones na escola de Teofrasto ( 2 1 ) . Este princípio, por exemplo, que vai imperar
durante
todo o
hdenismo,
foi
possivelmente
conhecido também através de Neoptólemo. N o comentário ao poema, contudo, poderemos avaliar melhor estes
problemas.
Tudo isto nos mostra que ao lado de uma possível
influência directa de Aristóteles e da escola peripatética,
ternos de admitir o conhecimento destes por meio de
Mas é Horácio que predomina entre todas estas correntes, é ele que reúne num todo os elementos das diversas escolas, caJdeando-os com idéias e estilo provenientes
da sua experiência e talento criador e formando um
poema que obedece aos princípios que defende.
Apesar do esforço de Horácio para
fazer do seu poema uma obra una, este
Plano
e Estrutura
tem sofrido as mais variadas interpretações quanto ao plano. Já Escalígero em 15ól dizia na
sua Poética
que o poema de Horácio era uma «ars sine
arte tradita» (22). A pretensão de Escalígero, contudo,
não tem razão de ser, visto que nunca se poderia imaginar um poema sobre a arte poética obedecendo ao
sistema rígido a que se sobmete a .estrutura fixa de um
manual de retórica. Outra atitude, contrária à de Escalígero, mas que nos parece igualmente errada, é a de
Dacier — e, na sua esteira, a de Cândido Lusitano —
(23), que admirava, na aparente falta de ordem do
poema, «Ia beauté du désordre».
A crítica ao plano da Ars Poética
torna-se, no en-
Neoptólemo de Pário e sua conseqüente influência. Além
tanto, especialmente válida no decorrer deste século, pois
disso, como Neoptólemo pertence à época helenística não
os filóloigos dispõem doutros meios mais seguros.
é de estranhar que pela sua leitura tivesse Horácio tam-
princípio deste século, em 1905, E . Norden, divide a
bém sido influenciado, mas levemente, pelo que se de-
A. P.
em
duas grandes partes: Ars —
No
1-294/Artifex
fendia na escola alexandrina, a qual Horácio, ao longo
da sua obra, mostra conhecer bem.
(22) Vid. Brink, ob. cit.,
p. 17; Arte
Poética,
dido Lusitano, Lisboa, 1758, Discurso
(23) Cândido Lusitano, ob.
(21) Vid, comentário aos w . 1189-190.
32
cit.,
trad. de C l n preliminar.
ibidem. Cf. Brink, ob.
cit.,
pp. 16-17.
INQ 1! — 3
33
— 295-476. Este esquema, com mais ou (menos subdivisões,
será
(1930),
adoptado
Imrnisch
por
(1932),
Jensen
(1918),
estando
todos de
quanto à última parte, ou seja, o artifex,
Immisch: Ars 1-294: isoíiiciç,
1-46 (sobre a poesiá,:;.
Rostagni
conteúdo e o r d e m ) , 47-118 (estilo); 119-152 (imitação);!
acordo
71 oít]/-!a 153-294 (gêneros literários, sendo o drama o gê-
que deve cor-
nero escolhido).
responder à parte dedicada por Neoptólemo de Pário
O último estudo de análise que conhecemos é o de
ao poeta (jrstviTTjr). N a verdade, com a descoberta do
Brink que apresenta um esquema tripartido, mas com
papiro de Filodemo, vira-se, e Jensen o mostrara, que a
uma ordem diversa, visto que defende diferente divisão
própria poética de Neoptólemo tinha um esquema, de
da obra ide Neoptólemo ( 2 4 ) , que em v e z de ser
que nos ocuparemos um pouco mais adiante, e que à
TtoÍTi/id e 7to[*5tt5:, era sim noíT|/«t, 7toÍ7)eri<;, etc. Deste
última parte desse esquema tripartido correspondia exac-
modo teremos o seguinte plano, que parece sem dúvida
tamente um capítulo dedicado ao poeta, ao artífice. Esta
o mais racional, e que obedece, em todas as suas partes,
parte, contudo, já fora apontada por Norden, mesmo
à influência e estrutura ide certas fontes possíveis, entre
antes de se conhecer
divisão de Neoptólemo. Temos
as quais se evidenciam a própria obra
assitm o esquema dado gor Norden: A rs —-1-294: Partes
de Neoptólemo de Pário, .as obras de
Plano mais ra-
Aristóteles, Poética,
e o tra-
cional (Brink) e
tado desaparecido de Aristóteles De
respectivas fon-
1-40 (corresponde
tes da Arte Poé-
poética
— 1-130 (1-41: conteúdo; 42-44:
-130: estilo); Genera
mático). Artifex
ordem;
45-
poética — 131-294 (épico e dra-
( p o e t a ) : 295-476, sendo esta última
poetis: Introdução,
Retórica
parte admitida unânimemente por todos os críticos, o que
a Arist., Poética,
nos dispensa de a citar nos planos que a seguir enume-
insiste sabre a unidade da concepção
ramos.
poética, pmceptwn,
Jensen, depois de dar a conhecer a divisão da obra
de Neoptólemo de Pário: uoína-iç, i:olrijj.a o
afirma que a primeira parte da Arte Poética
noimúç,
tica
7-8) em que o poeta
que será válido para todo o poema;
I." parte, sobre a ordem e o estilo, 40-118 (corresponde
ao capítulo •Koí^fia de Neoptólemo e a Arist.,
Retórica,
horaciana
I I I ) ; 2 / parte, sobre os grandes igéneros da poesia, 119-
se deve dividir da seguinte maneira; Ars: 1-294: itoÍTjàiç,
-294 (que corresponde à tíoÍtjcl; de Neoptólemo e a
1-44 ( o r d e m ) ; i w b ^ a , 45-118 (sobre o estilo), 119-294
Arist., Poética
(•gêneros poéticos: épico e dramático).
ao poeta e à crítica poética, 295-476
Rostagni, por sua v e z : Ars:
t
I I , 12-14);
parte, dedicada
(correspondente
1-294: itoÍYitnç, 1-45
(ordem): itot^/ia, 46-127 (estilo), 128-152
153-294 ( d r a m a ) .
e Retórica,
(imitação),
(24) V i d . p . 33.
35 125
aoTtsinTTÍçde Neoptólemo-e à obra desaparecida de Aris-
Horácio de que, infelizmente, só encontrámos a citação:
tóteles De
o d o P . Bento Peneira (Jesuíta), o de D. Firutuoso de
poetis).
Não há dúvida de que este esquema nos aparece per-
S. João, Cónego Regrante, o de Gaspar Pinto Correia,
feitamente verosímil e deve satisfazer todo aquele que
que, segundo Costa e Sá, escrevera copiosas notas, o do
não procurar na Arte Poética •um plano demasiado fixo
(em manuscrito) P . Peixoto Correia
em que todas as idéias estejam classificadas por rubricas,
destes, temos as edições de Pedro da Veiga, publicada
plano que afinal iria contra a concepção poética de
em Antuérpia, na Oficina de Cristiano Hauwel, em 1578,
Horácio, que vê na poesia não um gênero narrativo como
e de Tomé Correia, prof, de humanidades em Pailermo,
a história ou os -poemas cíclicos, mas um gênero que
Roma e Bolonha, que em Veneza, na Oficina de Fran-
cultiva os assuntos por temas, limitando-se a tratá-los
cisco de Franciscis, em 1587, publicou um comentário à
nos aspectos que mais interessam ao artista. Seria querer
Arte Poética de Horácio ( 2 5 ) .
(Jesuíta). Além
fazer deste poema de Horácio uma obra científica, de
feição alexandrina, o querer descobrir um sistema rígido
D o séc. x v n conhecemos uma edição da A. P.
de idéias que procurassem estudar exaustivamente o
cluída na edição das obras completas de Horácio: Enten-
assunto que mais preocupa Horácio: como fazer um ibom
dimento
poema evitando, na medida do possível, os erros em que
obras de Horácio
tão fàcilmente cai todo o que não tiver talento e técnica.
Com Index
literal
portuguesa
de todas as
dos poetas latinos
das Histórias & Fábulas
lyricos.
conteúdos
nesta segunda impressão por industria
de Matheus Rodriguez
A A . P . em
como em toda a Europa, favor muito
príncipe
copioso
nellas. Emendado
A Arte Poética horaciana encontrou,
e cons traição
in-
mercador ãe Uuros, & impresso à
sua custa, 1657- Lisboa, Officina de Henrique Valente
Portugal
especial entre os latinistas portugueses,
de Oliveira. Esta obra fora editada pela primeira vez a
que dela fizeram várias edições, as quais, muito embora
expensas de Francisco da Costa, a quem foi atribuída a
d e desigual valor, deram a conhecer Horácio e os seus
tradução e fora impressa por Manuel da Silva. Esta é
princípios poéticos ao público português. Loganoséc. x v i
a opinião de Inocêncio ( 2 6 ) . N o entanto, Menendez Pe-
nosso humanista Aquiles Estaço publica em Antuérpia,
n o ano de 1553, um comentário à A. P.,
em que se
ocupa principalmente de crítica textual. Este é o pri-
(25) Cf. as edições nomeadas por Costa e Sá ( v i d . p. 43), pp.
22-24
e a e< l*
Cândido Lusitano no Discurso
(26) Inocêncio, v o l . AT, p. 36S. Cf. Exposição
Horacianaj
meiro trabalho português, de que tivemos notícia. Mas
blioteca Nacional,
ainda há outros comentários e edições da A. P.
Costa e A z e v e d o ) , Lieboa, 1937, pp. 71^713.
de
Catálogo
preliminar.
Bi-
(elaborado por Luisa Maria da
125
t 36
layo
(27) afirma ser esta tradução de Jorge Gomes
Arte
Poética.
Traduzida
e illustrada
em
portuguez
Alamo. A edição referida é feita à curiosa maneira do
por Cândido Lusitano, 1758, Lisboa, Officina Patriarca]
séc. x v n com o texto laitino intercalado no texto .portu-
dc Francisco Luiz Ameno; 2. a ed. correcta e emendada,
guês, isto é, uma tradução inferiinear. A tradução é
Officina Rollandíana, Lisboa, 1778; Nova edição, Officina
, demasiado servil e o aspecto tipográfico dificulta a lei-
Rollandiana, Lisboa, 1883.
tura. Trata-se, contudo, de tentativa meritória, pois o
autor esforça-se por traduzir correctamente, palavra por
palavra, o texto latino.
Sem dúvida alguma é esta a edição, elaborada pelo
P . Francisco José Freire (Cândido Lusitano), que goza,
entre todas as edições portuguesas, de maior fama, de-
Esta obra deve ter conhecido certo êxito na sua
vido ao facto de estar trasladada etrn vernáculo sabo-
época, visto que foi reproduzida em mais duas edições,
roso, se ibem que o autor a tivesse (feito em verso le se
que apresentam unicamente como variantes um título
tivesse utilizado da (tradução francesa de Dacier
(29).
com ligeiras modificações e formatos diversos do pri-
O
meiro:
tremamente sugestivo,, sobretudo pelo que revela das
Obras de Horácio,
Príncipe
ricos, com o entendimento
dos Poetas Latinos
literal & construição
giteza, ornadas de hum Index
Ly-
Por tu-
copioso das historias, &
Fabulas conteitdas nellas. Emendadas nesta ultima
Im-
pressão. 1681', Lisboa, Officina de Miguel Manesoal & à
sua custa (esta edição tem dois formatos diferentes).
Com o mesmo título repete-se esta edição em 1718, em
Coinmbra, Officina de Joseph Antunes da Sylva, É portanto esta últimaa 4.a edição, sendo a 1." de 1638, a 2."
de 1657 e a 3.a de 1681' (em dois formatos) ( 2 8 ) .
É, no entanto, no séc. x v i i i que se publica a mais
célebre edição da A.
comentário1,
preocupações literárias vigentes na sua época.
As críticas que se fizeram a esta tradução (30), de
que era prosaica, não são justificadas, visto que não se
trata da tradução de um poema lírico, mas sim de um
poema com fins didácficos, cujo estilo não era considerado, pelo próprio Horácio, como sendo, pertencente ao
da poesia pura, na qual o poeta só contava a poesia
lírica.
Ainda do mesmo século nos chegaram outras edições:
1, A arte poética,
( 2 7 ) Horácio
t 38
traduzida em rima por Miguel do
P.:
125
(29) V i d .
en Espana,
( 2 8 ) C£. Exposição
já muito antiquado, ainda nos parece ex-
p . 143.
Horaciana,
p p . 72-73.
ed.
de
p p . .278-279.
( 3 0 ) V i d . a . 29.
Antônio
Luís
de
Seabra,
(víd.
p.
44);:;
-..
ttyj ;
fcoüto Guerreiro, 1772, Lisboa, Regia Officina T y p o -
Universidade de Coimbra o seu autor. Parece, contudo
graphica.
que a primeira hipótese é a mais provável.
Depois de breve introdução, em que, não sem alguma
candura, o autor afirma que traduzira em verso «porque
Arte poética. Epístola aos Pisões. Traduzida em por-
nenhumas razões podem persuadir os leitores a que gos-
tuguez e iUustrada com escolhidas notas dos antigos e
tem mais do verso solto, que da rima», vem a tradução,
modernos
sem comentário, escrita com um mau gosto evidente,
sobre os preceitos poéticos, lições varias} e in-telligenda
fugindo, para mais, à intenção lingüística do .texto hora-
dos lugares difficultosos
ciano e às próprias idéias do poeta, acrescentando muitos
pormenores sem valor, para conseguir obter umas rimas
de impressionante pobreza. Tem esta tradução unicamente valor histórico.
interpretes
e com hum
commentario
critico
por Pedro José da Fonseca,
1790. Lisboa, Officina de Simão Thadeo Ferreira.
Esta edição bilingüe é uma das mais bem .documentadas: o texto é precedido de um prólogo e acompanhado
por notas a que se segue um «Commentario Critico».
O comentário e as notas são documentos da erudição do
Arte poética.
Traduzida em verso rimado e dedicada
Ritta Clara
ditos do séc, x v i i i ( 3 2 ) . A tradução em prosa, mantém-
Freyre de Andrade. 1781. Coimbra, Regia Officina da
-se fiel ao texto e, embora não dúctil, parece-nos valiosa
Universidade.
pelo que representa de esforço para verter o 'pensamento
à memória
do grande
Augusto,
por D.
autor e testemunhos da ciência Hlológica dos nossos eru-
Consiste esta obra numa simples tradução, precedida
horaciano em vernáculo.
de uma introdução sucinta em que se remete para o
comentário de Cândido Lusitano. A tradução é em verso
Poética
de Horácio.
Traduzida e explicada
methodi-
limado e disso muito se ressente, além de que o vocabu-
camente para uso dos que aprendem por Jeronymo Sua-
lário está longe de possuir o sabor .do de Cândido Lusi-
res Barbosa, jubilado na Cadeira de Eloqüência e Poezia
tano. Também à rima se sacrifica a idéia e a forma, que
da Universidade de Coimíbra.
1791. Coimbra,
Regis
saem por vezes erradas e frouxas. 0 autor desta tradução
não é D. Rita de Andrade, mas seu marido Bartolomeu
Cordovil, conforme diz Inocêncio (31). Outra hipótese
é que teria sido Antônio Isidoro dos Santos, bedel da
(312) P e d r o Joeó d a Fonseca, j á fizera anteriormente um comentário à A. P.,
boa ( n . ° 1 0 6 7 6 ) e c u j o título é: « H o r á c i o , Notas
esco-
lhidas à epístola
feitas
por
{ 3 1 ) V o l . VHE, p . 163.
t
<
que, existe, manuscrito, na B. N. d e ÍLis-
Pedro
Poética
aos Pisoens,
José
na cidade
da Fonseca,
de Lisboa,
de Q. Horácio
professor
Anno,
Flacco,
de Rethorica
e
ifóç.
41 125
Officina Typographica. 2.* edição. 1815. Lisboa, Typographia Rollandiana.
A tradução é em verso rimado mas o estilo não corresponde à língua horaciana, .pois é desinspirado
e
prosaico. Tem, além disso, o defeito de ser feita na
seqüência do texto horaciano inserido em diversas partes
separadas, que correspondem aos inúmeros assuntos de
que Horácio trata. Assim, a cada passo horaciano, eajbe
um comentário que faz corpo com a tradução e o texto
latino. Deste modo, a consulta d o livro torna-se difícil
não se podendo ler, sem dificuldade, o texto e a tradução
em
perfeito
seguimento.
O
comentário,
contudo,
é
copioso e bastante completo para a época.
A Poética restituida à sua ordem: com a interpretação
parajrastica em português e huma carta do editor a certo
amigo sobre este mesmo assunto.
1793. Lisboa, Regia
Officma Typographica.
O autor desta obra é o P . Tomaz José de Aquino
que fez uma introdução assaz vaga, na qual semeia
rermmscências eruditas sem grande ligação com o poema
horaciano; por isso, lhe chama «carta a certo amigo»
A tradução, contudo, está escri ta em prosa—o autor chama-lhe parafrástica — , num estilo demasiado prolixo e
terra-a-terra, sendo apesar de tudo mais fiel que as de
Rita F. de Andrade e de Miguel d o Couto Guerreiro
O comentário que o acompanha é magro e mal documentado, seguindo-se-Ihe a tradução das notas de Metastásio à A. P.
Arte Poética
ou Epístola
Flacco aos
Pisões, vertida e ornada no idioma vulgar com
ções e notas para aso e instrucção
ilustra-
da mocidade
portu-
guesa por Joaquim José da Costa e Sá. 1794. Lisboa,
Officina de Simão Thaddeo Ferreira.
' ''
Esta edição é precedida de uma copiosa introdução,
e o texto ibrüngue é acompanhado por não menos ajbiindante comentário. A tradução é conecta, ainda que por
vezes seja prolixa. Quanto à introdução parece-nos útil
sobretudo um pequeno parágrafo ( V I , pp. 22-26) em
que o autor descreve as edições de Horácio em Portugal.
Por suia vez, do séc. x i x também chegaram até nós
algumas edições da A.
Arte
Poética.
P.:
Epístola
aos Pisões.
Traduzida
em
verso portuguez por Antonio José de Lima Leitão. 1827.
Lisboa, Impressão ide Manuel Joseph da Cruz.
Esta edição é constituída unicamente pela traduçãt
com
um
òreve
comentário
destituído
de
interesse.
A tradução, em verso ibranco, não reproduz o pensamento horaciano, mas sim o pensamento e o mau-gostí
do tradutor, muito embora ele diga no prefácio: «Paire
ce-me que nesta minha tradução me aproximei ida concisão de Horácio m;ais que todos os outros».
Arte
Poética.
Epístola
aos Pisões.
Traduzida pek
Marquesa de Alorna, in Obras Poéticas,
Voi. V , p. 3-66 e 325-326.
42
de Q. Horácio
1844 Lisboa
A
Marquesa de Alarma fez uma edição bMingue,
seguida de breve mas elucidativo comentário. A tradu-
emendar se tivessemos paciência e vagar para
nos
ocuparmos com ella por mais tempo» (p. 280).
ção, em verso branco, é bastante prosaica, foge, freqüentes vezes à letra, qiuer acrescentando expressões que não
Paraphrase da Epístola aos Pisões, comummente
de-
estavam no texto latino, quer suprimindo outras que são
nominada Arte Poética
fundamentais para a sua compreensão. A
annotações sobre muitos lugares por D. Gastão Fausto
l1.* edição
de Quinto Horácio
Flacco,
com
desta tradução da A. P. saiu a lume em Londres, enii
da Gamara Coutinho, Lisboa, na Typographia de José
1812 ( 3 3 ) .
Baptista Morando, 1853.
Aos Pisões, sobre a arte poética, traduzida por An-,
tonio Luiz de Seabra, em Satyras e Epístolas de Quinto
Horácio Flacco,
traduzidas e comentadas por .... Porto,
em casa de Cruz Coutinho, 1846, vol. I I , pp. 105-128,
335-280.
Esta edição é constituída pelo texto traduzido e por
um comentário mediano. O valor da tradução é infeliz-
A tradução muito livre, como o 'próprio títuío sugere,
lê-se com certo agrado e segue-se-lhe um comentário que,
emíbora nada traga de pessoal, satisfaz as exigências do
leitor (34).
Passamos agora ao séc. x x , do qual só conhecemos,
uma tradução, publicada no primeiro decênio do século.
mente bastante diminuído pela falta de talento d o autor,
que, no entanto, é de extrema severidade para os seus
Obras
de Horácio—Arte
(versão
portu-
sem nome de tradutor, Cruz e C. a
Editor,
píedecessores (vid. pp. 277-280). Bfectivaimente, não
guesa),
aprecia, com razão, nenhuma das traduções em verso,
Braga, 1905-
Poética
que se fizeram anteriortmenbe, mas nem por isso 'deixa de
Trata-se de um simples folheto com o texto da tra-
tentar o verso para fazer a sua tradução. Quanto a esta,
dução, Esta apresenta-se geralmente conecta, mas nem
julgamos ser suficiente crítica, o que esítá implícito nas
sempre dá o devido lugar a todos os elementos que sur-
palavras finais escritas pelo próprio autor: « D a nossa
gem no^contexto horaciano. Naturalmente que a falta
tradução dizemos unicamente, que reconhecemos que
de comentário desvaloriza (bastante este trabalho.
leva desigualdade, e alguns defeitos, que poderíamos
(33) Cf- a ed- de A, Luís Seabra, p. 279.
( 3 l ) Cf. Eoocêncio, vol. m , p. 136.
aa
44
Foram estes os elementos bibliográficos que conseguimos colher sobre a fortuna da A, P. horaciana em
Portugal. É possível que haja lacunas, mas julgamos
suficiente o número de edições consideradas, visto que,
por imeio delas, muito podemos avaliar do conhecimento
de Horácio e sua qualidade no nosso país.
PRINCIPAL BIBLIOGRAFIA
MODERNA
Edições da Arte Poética ( A . P . )
Horace on Poetry,
The
'Ars Poética',
by C. O. Brink,
Cambridge, 1971.
Horace, Épitres,
texte établi et tradiuit par F. Ville-
neuve, Paris, 1961.
Quintus Horatius Flaccus, Briefe, erklárt von A . Kiessling & R . Heinze, 7,a ed., com apêndice por E .
Burck, Berlim, 1961: fundamental quanto à crítica
feita por Burck aos mais modernos trabalhos sabre
a A.
P.
Opera, ed. de F . Klingner, Lípsia, 1959.
Horatius,
Orazio,
Arte
Poética,
introduzione e commento di A .
Rostagni, Turim, 1930.
Oeuvres
dJHorace,
ed. F. Plessis & P. Lejay, Paris,
1904.
Comentadores
Pomponi
Porphyrionis
commentarii
in Horatiwn,
ed, G.
Meyer, Lípsia, 1874.
Pseudoacronis
scholia in Horatmm
to&tustwra, ed. O.
Keller, 2 voís., Lípsia, 1902-1904.
46
47
Obras diversas
Grimal, P., Essaisur l'Art
Bieler, L . , Geschichte
der rõmischen
Literatur,
Berlim,
1961.
rary Eptstles,
Cambridge,
1963; The
to the lite-
'Ars
Poética',
Cambridge, 1971; Epistles Book II, The Letters to Augustus and Florus, Cambridge, 1982. E a obra mais
actualizada e mais bem orientada que conhecemos.
Cupaiolo, F . , L'Epistola
di Orazio
ai Pisoni,
Nápoles,
1941. Trabalho claro e extremamente bem informado
e útil.
Exposição
Paris, s.d.
d'Horace,
(1968).
Lausberg, H , , Elemente
Brink. C. O . , Horace on Poetry, Prolegomena
Poétique
que, 1963; Elementos
derItterarischen
Muni-
Khetorik,
de Retórica Literária, introd. e
trad. de R. M. Rosado Fernandes, Lisboa.
Oxford, 1950 ( O . C . D . )
The Oxford Classical Diciiotiary,
Pelayo, Marcelino Mcnéndez y , Horácio
duetores
y conientadores
Solaces bibliográficos,
Perret, J . , Horace,
en Espana.
de la Poesia
Tra-
Horaciana.
Madrid, s. d.
Paris, 1959. Monografia sem preten-
sões a ser exaustiva, mas que, no entanto, é o resulHoraciana,
Catálogo,
(Biblioteca
Nacional
de Lisboa), Lisboa, 1937- Obra organizada por Luiza
tado dos conhecimentos de um grande Üatinista.
Stégen G.,
Les
épttres
littéraires
d'Horace,
Namur,
Maria de Castro e Azevedo, que, com ela, contribui
1958. Estudo da estrutura das epístolas literárias de
grandemente -para o conhecimento das edições portu-
Horácio,
guesas de Horácio.
Nem sempre fundamenta as suas opiniões. Vid. a
Fxânkel, E . , Horace,
O x f o r d , 1959- É este o melhor es-
tudo sobre as composições de Horácio, mas infelizmente não trata 'da A. P.,
em
moldes demasiadamente
recensão d e Maria Manuela
Euphrosyne,
III
(1961), pp.
de
B.
ambiciosos.
Albuquerque,
433-437.
muito embora a ela se
refira quando necessário.
Gonçalves, F . Rebelo: «Horácio e Eurípides»,
syne,
III
Euph.ro-
(1961), p p . 49-64. Faz-se o estudo das
razões por que Horácio não apresenta, nas epístolas
literárias, Eurípides como seu modelo. É que o tragediógrafo grego fugia das regras aristotélicas defendidas por Horácio.
48
1NQ 11 -
49
QUINTO HORÁCIO FLACO
ARTE POÉTICA
Q. HORATI FLACCJ.
DE ARTE POÉTICA LIBER
Se um pintor quisesse juntar a uma cabeça hu-
Humano capiti ceruicem pictor equinam
iiungere si uelit et uarias inducere plumas
mana. um pescoço de cavalo e_a membros de ani-
un dique conlatis memíbris, ut turpiter atrum
mjtis de toda a ordem aplicar plumas variegadas, de f
desinat in piscem mulier formosa superne,
forma a que temi irias se em torpe e negro peixe a.
spectatum admissi risum teneatis, amid?
5
^
mulher de bela face, contenteis vós o riso, ó m e u s _ O
Credite, Pisones, isti tabulae fore libram
amigos, se a ver tal espectáculo vos levassem? P o i s
persimilem, cuius, uelut aegri somnia, uanae
crede-me, Pisões, em tudo a este quadro se asseme-'
fingentur species, ut nec pes nec caput uni
íharia o livro, cujas idéias vãs se concebessem quais
reddatur formae. «Pictoribus atque poetis
sonhos de doente;, de tal modo que nem pés nem
5
^cabeça pudessem constituir^ uma só forma, Direis
1-40 — Introdução; defende-se a unidade da eoncepçSo poética.
I — Com este início, no qual se descreve um ser de hibridismo impressionante, pretende Horácio defender, tal como &
fizera a escola aristotélica, a preferência pelo^verosímil, o que
poderá parecer contraditório visto sabermos que se criaram, na
vós que «a pintores e a poetas igualmente se consimples e una, formando um todo, Cf, Arist,, Poética,
VT-VTI,
1450 b e segs. Este princípio é defendido na A , P , até ao v . 37
3 — turpiter refere-se a de sinal e ao mesmo tempo a
atrum,
antiga mitologia, seres fabulosos e híbridos corno os Centauros,
o que torna difícil a sua tradução. Cremos, todavia, que mais
as Sereias, a Quimera, etc. Estes seres podem, no entanto, exis-
reforce atrum
tir 110 mito, mas a obra poética não se lhes deve assemelhar
na sua estrutura. Pelo contrário, a obra de poesia deve ser
50
devido à proximidade.
9 — Esta objecção, feita por um interlocutor
imaginário,
corresponde a um preceito já conhecido na antigüidade* cujo
51
quMlibet audendi sernper fuit aequa potestas.»
10
cedeu, desde sempre, a faculdade de tudo oUsar».i
10
. Sciinus, et hanc ueníain petimusque damusque uicissim,
Bem o sabemos e, por isso, tal liberdade procura-1 l - V f j C
'sed non üt placidis coeant inmitia, non ut
mos e reciprocamente a concedemos, sem permitir^ \
^.serpentes auibus geminentur, tigribus agni.
contudo, que à mansidão se junte a ferocidade e- \
Jnceptis grauibus plerumque et magna professis
que se associem serpentes a aves e cordeiros a-
jjpjirpureus, late qui splendeat, unus et alter
15
tigres.
/
*
Geralmente a princípios solenes e onde se pro-
:adsuitur pannus, cum lueus et ara Dianae
et properantis aquae per amoenos ambitus agros
metem
grandes coisas,
para
obter
mais
efeito,
aut ílumen Rhenrai aut pluuiius describitur arcus:
qualquer remendo purpúreo se lhes cose, ao des-
sed nunc non erat his locus. Et fortasse cupressum
crever o bosque e o altar de Diana, as curvas de
15
rápidos ribeiros por amenos campos, ou o Reno
antigo, contudo, que poetas e pintores não têm de dar contas*.
ou o chuvoso arco-íris; ali, porém, não cabiam tais
descrições. Porventura também sabes figurar um
Horácio admite, em princípio, o que esta velha sentença em si
cipreste: mas que vem este fazer no meio dos des-
eco se encontra, p. ex., e m Luc., Pro
imag.,
'18: t K um dito
ooafcém, mas sem aceder a exageros, pois a poesia é imitação
(ji£{i7]ffiç) e a realidade não dá azo a fantasias exuberantes e
irracionais.
não admite esta última hipótese, -porque Bíbáculo nos seus
- ,. 14 — Censura o poeta, atendo-se, portanto, ao princípio
dajmídade do
põemãTíiidõ_o~que
não~ tenha íntima conexão
com o tema .poético,^tajs_çgmo-.as digressões de que nos dá
exemplos nos versos seguintes. Compara essas mesmas digressões a remendos de púrpura que, porventura, se cosam num
vestido de tecido diferente e que, em si, forma um todo. Esta
crítica, como a seguir apontamos, era possivelmente dirigida*
contra
certos
poetas
da
antigüidade.
No
que
letras gregas é digno de tal critica, Antímaco
respeita
às
de Cólofon
(séc. rv a. C . ) , como nos diz Rostagni, visto que o poeta
grego, ma Tebaida,
fazia digressões similares. Dentro das letras
romanas, contudo, já é mais difícil identificar um poeta que
possa ser objecto desta crítica. Rostagni admite que a imagem
do bosque de Diana ( v . i ó ) se dirija contra CornéLio Severo,
e que de Fúrio Bíbáculo se trate, quanto à crítica da descrit
ção do R e n o ( v . r8) feita a despropósito. L e j a y , no entanto,
Annales
belli Gallici
teria sido forçado, pela natureza d o tema,
a falar d o Reno, não caindo, por conseqüência, no erro apontado por Horácio,
19 — A comparação do mau poeta com o pintor que, em
todos os quadros, só sabia pintar um cipreste é fortemente
irônica pelo duplo facto de ser pintada uma árvore numa cena
marítima e de ser esta um cipreste, árvore bem conhecida como
símbolo funerário. Deste modo, o cipreste, árvore dos mortos,
aparecia junto de alguém que no naufrágio se salvara com
vida. T u d o isto era contrário à verosimilhança que se pretende
na obra de arte.
O exemplo horaciano é tirado de um costume normal entre
os antigos: os náufragos faziam-se pintar na cena do naufrágio de que se tinham salvo. A pintura podia depois ser depo-
53 125
seis sim ul are; quid hoc si fractis enatat exspes
20
troços do navio, do qual, perdida já a esperança,
nauibus, aere dato qui pingitur? Ainphora coepit
quem te deu dinheiro para assim o pintares, a
institui; ourrente rota cur urceus exit?
custo se salvou? Foi uma ânfora, sim, que começou
Denique sit quod uis, simplex dumtaxat et unum.
a ser modelada: por que razão, da roda circulante^
Maxima pars uatum, pater et iuuenes patre digni,
decipimur specie recti. Breuis esse laboro,
25
absourus fio; sectantein leuia nerui
delphinum siluis adpingit, fluetibus aprum.
30
In uitium ducif culpae fuga, si caret arte.
Odes, X, 5,
I I , 1, 33; Pedro, XV, -2J1, -24; Pérsio, 1, S9-91 e
21 — O urceus é um vaso muito diferente da ânfora
(am-
Esta é esguia e alta ao passo que aquele é baixo,
O
urceus
era,
além
disso,
'
qulseres, contanto que o faças com simplicidade e (
aparências de verdade: forcejo por ser breve, em
25
obscuro me torno; a quem procura o estilo polido,
faltam a força e o calor, e todo o que se propõe ,
6, 32-33; J i i v „ Sdt., 14, 301 e segs.
atarracado.
é u m pote que v a i sair? E m suma: faz tudo o q u e l
dignos de tal pai, deixamos enganar-nos por falsas
qui uariare cupit rem prodigialiter unam,
phora).
|
Com a grande parte dos poetas, ó pai e ó filhos
serpit humi tutus nimium timidusque procellae;
13-16; Sát.,
• 1
unidade.
deficiunt animique; professus grandiã turget;
sitada, num templo, como ex-voto. Vid, Hor.,
20
um vaso para
uso
vv-;.
atingir o sublime, descamba no empolado. Acaba,
todavia, rastejando pelo chão o demasiado cauto,
o que tem medo da procela; mas quem deseje
variar prodigiosamente um tema uno, pintará golfi-
30
nhos nas florestas e javalis nas ondas do mar.
Procurando fugir do engano se cai no erro, caso
não se possua a arte, Nas imediações da escola
doméstico.
ex-
IIOÔ b 27), eram os pontos óptimos do procedimento humano,
postas anteriormente: simplicidade e unidade do poema. Este
Esta idéia repete-se na obra horaciana: Odes, I I , 10, 5 (aurea
modo de generalizar o princípio aristotélico provém,
mediocritas); Sdt.,
23 — Neste
verso faz-se a conclusão das premissas
da influência de Neoptólemo de P l r i o .
gomena,
Vid. Brink,
talvez,
Prole-
r, i o ó
(est modus in rebua); Ep.,
I,
uitiorum e t ufcrimque reduetum:
«np meio dos vícios, a virtude se equilibra, igualmente afas-
pp. 103, 231, 254.
24 — Inicia agora o poeta a defesa da justa medida e da
elaboração cuidada
I.
r8, 9 (uirtus est médium
na criação poética.
Este critério,
saído
tada dos extremos»). Cf. Cíc., Bruto,
25 ~
1149; De officiis,
I, 89.
Horácio refere-se à breuitas como qualidade de estilo,
da escola perLpatética, aparece-nos aqui caldeado pela con-
sem que a admita, contudo, em proporções demasiadas. Nesse
cepção horaciana
caso, origina-se a falta de clareza obscuritas.
da vida
(vid.
p.
18)
segundo a qual
comedimento, o meio termo (jíêctÓtt)!;, cf. Arist., Et.
t 54
o
Nic.,
Vid. w .
149-
-150; 335-336.
125
Aemilium circa ludium faiber imus et unguis
Bmília, o mais Ínfimo dos escultores molidairA unhas
exiprimet et mollis imitabitur aere capillos,
no ibronze e até neíe imitará cabelos sedosos, mas
infeJix operis summa, quia ponere totum
será infeliz no acabamento da obra por não saber
nesciet. Hunc ego me, siquid coraponere curem,
35
criar um todo. Se algo desejasse compor, não que-,
non magis esse uelim quam naso uiuere prauo
reria assemelhar-me a esse, dq mesmo modo que
spectandum nigris oculis nigroque capillo.
não me agradaria possuir horrível nariz, ainda que
Sumite materiam uestrís, qui scribitís, aequam
quid ualeant umeri. Cui Iecta potenter erit res,
4o
nec íacundia deseret hunc, nec lucidus ordo.
OTdinis haec uir-tus erit et uenius, aut ego fallor,
32 — O
Aemilius
ludus
romana, fundada por
era
uma
Emílio L é p i d o ,
escola
de
gladiadores
em v o l t a d a qual se
encontravam lojas d e artífices, -escultores d o bronze. Ora estes,
ainda que soubessem esculpir, não possuíam talento artístico
e não eram capazes de conceber
uma obra de arte,
Vós que escreveis, escolhei matéria à altura das
vossas forças e pesai no espírito longamente quo '
j
coisas vossos ombros bem carregam e as que eles ,
!
não podem suportar. A quem escolher assunto de
pormenores senão em relação a esse todo.
eloqüência nemião-pouco ordem luzida.
A virtude e 'beleza da ordem consistirão — ou
40-118 — A segunda parte da A . P . , que trata agora da ordem
e do estilo, corresponde respectivamente, segundo o esquema que
este passo se termina a primeira parte, a
indicámos na Introdução, p. 34, ao capítulo em que Neoptó-
qual, nas opiniões de Norden e d e Rostagni, etc., era dedicada
lemo de Pário se ocupa
à inuentio,
Retórica de Aristóteles.
Brini,
Prolegomenap.
classificação de Norden,
ia
etc.,
40
acordo com as suas possibilidades nunca faltará
porque
a obra de arte tem de formar um todo, não interessando os
38-40 — C o m
de admiração.
*
5
55
meus olhos negros e negros cabelos fossem dignos
4
f
uiribus et uersate diu quid ferre recusent,
•
discorda
visto q u e a admissão d a
desta
do tcoEt)/*íx.
ao capítulo I I I
e
da
inuentio
pressuporia que, no resto d o poema, viessem as outras fases
40-41 — Estes dois vereoe servem
de ligação entre 1-40
preconizadas pela retórica
e 4Í-IÍ18 tornando a transição menos precipitada. A o mesmo
antiga, às quais Horácio se refere, mas sem as querer com-
tempo que se refere à escolha da matéria, que deve ser feita
pendiar. A
segundo as possibilidades d o autor, diz-nos o poeta que, 110
da composição
da obra literária,
verdade é que nos primeiros 37 versos não há
I qualquer discussão técnica da escolha da matéria, o que diria
caso daquela
Respeito a inuentio,
cundia e o ordo ou seja o estilo e a ordem da composição, que
mas tão-só a defesa da unidade da obra
: poética, q u e abrange a escolha d o assunto, a disposição e o '
j^lo
(«íMeMíio,
dispositio
e elocutio).
Se a o desejo de unidade
jSftf juntar o bom-senso teremos então uma obra de arte.
56
condição
ser preenchida,
completam a escolha da res ( w .
da
dispositio
então
a
fa-
38-40}.
42-45 — R e f e r e - s e Horácio a o ordo
das características
surgirá
(Vid,
( t á j j i ç ) OU seja a uma
Lausberg,
Elemente,
57
o
o
ut iam nume dicat iam nunc debentia dici,
eu me engano — em que se diga imediatamente o
pleraque differat et praesens in tempus omittat,
que tem de ser dito, pondo muitos ponmenores de
hoc amet, hoc spernat promissi carminis auctor.
45
lado e omitindo-os de momento: que o autor do
poema prometido, ora escolha este aspecto, ora
In uerbis et iam tenuis cautusque serendis
despreze aquele.
dixeris egregie, notum si caliida uerbum
45
N o arranjo das palavras deveras também ser
reddiderit iunctura nouum. Si forte necesse est
subtil e cauteloso e magnlficamente dirás se, por
indiciis monstrare recentibus abdita rerum, et
engenhosa combinação, transformares em novida§ 42,
que consiste em fixar um plano para a obra e dizer
des as palavras mais c o r r e n t e s S e porventura for
unicamente o que vem a propósito. Esta divisão tem de ser
necessário dar a conhecer coisas ignoradas, com
alterada se admitirmos a disposição apresentada por Klingner
vocábulos recém-criados, e
formar,
palavras nunca
na sua edição, que tira o verso 45 da disposição tradicional,
colocando-o a seguir ao v . 46. Temos assim, em v e z do texto
que apresentamos, o seguinte:
ração proposta, ainda que seja lógica, carece d o apoio dos
manuscritos, e este facto parece-nos extremamente relevante.
Ordinis haec uirtus erit et uenus, aut ego fallor
46-7111 — Horácio começa a entrar na teoria da escolha dó
ut iam nunc dicat iam nunc debentia dici,
palavras, que pròpriamente é uma das partes da
pleraque differat et praesens in' tempus omittat.
( V i d . Lausberg., Elemente,
dispositío
§ 46, 2 ) , e discute os preceitos,
In uerbis etiam tenuis cautusque serendis
46
que regulam a escolha das palavras em função d o poema {in
hoc amet, hoc spernat promissi carminis auctor.
45
uerbis ... serendis), ocupando-se logo dos singula
Dixeris egregie, notum si caliida uerbum, etc.
47
veremos, Brink, Prolegomena,
Assim a tradução dos w . 42-44 seria: « A virtude e beleza
da ordem consistirão — ou eu me engano — em que> se diga
imediatamente o que tem de ser dito, pondo muitos ponnenores
de lado e omitindo-os de momento.» A tradução dos v v . 46,
uerba como
<p. 94, aponta a possível in-
fluência no passo que se segue, de Aristóteles, Retórica,
IMl'
2-6, que Horácio pode ter conhecido directamente e por in•^j. intermédio de Neoptólemo de Pário.
47-48 — Caliida
iunctura;
trata-se,
segundo afirma Ros-t.j'
45, 47 e segs. soaria: « N o arranjo das palavras o autor do
tagni, da metáfora, na qual é possível, por hábil combinaçãcfej
poema
transformar o sentido de uma palavra, ao colocá-la num -iftíflp
esta
prometido,
forma,
deixará
se
for
a
cauteloso
outra
de
e
lado.
discreto,
E
preferirá
magnlficamente
dirás, se ...» N a versão tradicional, o verso 45 que pertencia
ao orâo,
passa, na versão de Klingner
a pertencer à descrição da elocutio.
(que segue B e n t l e y ) ,
Preferiremos, por nossa
parte, mantermo-nos na tradição, reconhecendo, que a altet
texto desabitual. Vid. F . Cupaiolo, A proposito
iunctura
delia calliãã:>^
oraziana, Nápoles, 194a. Horácio dá, juntamente'étfrif*?;
o preceito, um exemplo que o corrobora.
Efectivaménté,^!^
expressão d o v . 46, in uerbis ... serendis, está pela mais habi-*;
tual, in uerbis inueniendis.
A expressão horaciana provém
59 125
f^iágere tinctutis non exaudita Cethegis
50
ouvidas pelos Cetegos cintados, podes fazê-lo e
• continget dabiturque licentia sumpta pudenter,
licença mesmo te é dada, desde que a tomes com
e i noua fictaque nuper habebunt ueríba fidem, si
discrição. Assim, palavras, há pouco forjadas, em
JGraeco fonte cadent parce detorta. Quid autem
breve terão ganho largo crédito, se, com parcimô-
Çaecilio Plautoque daibit Romanius, ademptum
nia, forem tiradas de fonte grega. P o r que motivo,
Vergilio Vanioque? E g o cur, adquirere pauca
!'í,
55
permitem os Romanos a Plauto e a Cecílio o que
11
recusam a Virgílio e a Vário? Se a língua de Catão
uma metáfora de origem agrícola e traduz-se literalmente: « n o
semear de vocábulos». Quando ao advérbio egregie
tem ele o seu valor etimológico, i. e., de e + grex,
que foge d o rebanho, tal
(v.
50
e de Énio, produzindo novas palavras, enriqueceu
55
47)
53-58 — o
ou seja, o
como a língua própria à poesia.
poeta, contrapondo os antigos
Cecílio (séc. n a. C . ) e Plauto
(séc. i a . C )
comediógrafos
(sécs. n i - n a. C . ) aos seus
D o v . 48 ao v . 69 falará o poeta da possibilidade de criar
contemporâneos
Virgílio e Vário, alude à dife-
vocábulos novos, desde que estes sejam forjados com mode-
rença de atitudes dos críticos para com os primeiros, aos quais
ração.
permitiram inovações vocabulares, ao passo que aos modernos
poetas tal liberdade não era concedida. Com esta comparação
50 — Os Cetegos pertenciam a uma antiquíssima
d e R o m a . Cinctuti
rizados,
família
é o epíteto com que oe Cetegos 6ão caracte-
porque, ainda em
tempos não muito afastados de
Horácio, eles se cingiam com o rústico cinctus
em volta do
pretende Horácio trazer a discussão as divergências de duas
escolas gramaticais:
fendia a analogia
uma, chefiada por Cícero e César,
de-
na parte morfológica e na parte lexical da
língua, não admitindo, -portanto, neologismos;- a outra, admi-
peito ou da cintura de modo a ficarem os braços livres. Sobre
tia a anomalia,
os ombros deitavam depois uma toga, Cinctutus
meio da introdução de palavras novas. César, 00 seu trabalho
é, além disso,
concedendo que na língua se inovasse
por
afirma que se deve fugir, como de um rochedo,
um vocábulo f o r j a d o por Horácio que, mais uma vez, exem-
De analogia,
plifica o preceito dado (cf. v . 4 6 ) . Poderíamos, em português,
da
traduzir este neologismo latino por icintudos>,
ria atque in pectore ut tanquam scopolum sic fugias inauditum
conservando
palavra
desusada e nunca ouvida: « H a b e semper in memó-
atque insoliens uerbum*
assim a intenção horaciana.
(apud A u l o Gélio, 2V. A.,
I,
Io
e
Macrób., Sat., I , 5, 2 } . Horácio toma a posição defendida pela
para a maioria dos romanos contavam
escola contrária a César, mas, como sempre, admite-a, pres-
como neologismos as palavras derivadas do grego, ou seja, os
supondo, que das liberdades concedidas se faça uso com come-
helenismos. Estes compreendem não só transi iterações d o gê-
dimento e critério. Para continuar com exemplos tradicionais
53 — Graeco fonte:
nero de barbitos
(lira), cf. Hor., Odes, I ,
4 ou diota
{vinho
e respeitados da
literatura
arcaica,
apresenta
Horácio,
no
v e t h o j j cf, H o r . , Odes, I , 9, «8, mas igualmente palavras decal-
v . 56, oe casos de Énio e Catão que inovaram respectivamente
cadas semânticamente sobre modelos helénicos, taiscomo
na poesia e na prosa, introduzindo, na língua, novos modelos
ter d o v . 40 (SuvstTwç). prodigialiter
60,
poten-
do v . 29 ( t e p a r w S e í ) , etc.
vocabulares,
61
si possum, inuideor, cura lingua Catonis et Enni
o idioma pátrio, com que razão hao-de malsinar-me
sermonem patrium ditauerit et noua rerum
caso eu puder acrescentar-lhe algumas? Foi lícit(f*| . ,C
nomina protulerit? Licuit semperque Üicebit
1
e l í c i t o sempre será langar-jxm-jvocábulo cunhado^
com o selo da modernidade. Assim como as flores-
signatum praesente nota producere nometn.
Vt siluae foliis pronos mutantur in annos,
60
tas mudam de folhas no declinar dos anos, e so"ãs^" Í60
prima cadunt, ita uerborum uetus interit aetas,
folhas velhas caem, assim tamlbém cai em desuso
et iuuenum ritu florent modo nata uigentque.
a velha geração de palavras e, à maneira dos J o -
Debemur morti nos nostraque. Siue receptus
vens, as que há pouco nasceram em breveflores- *
terra Neptunus classes Aquilonibus arcet,
cem e ganham pleno vigor, Nõs e as nossas obras.
regis opus, sterilisue diu palus aptaque remis
j
estamos fadados para a morte! Mesmo que o m a r j j .
65
uicinas urbes alit et graue sentít aratrum,
de Neptuno, recebido pela terra, proteja as arma-
seu cursum mutauit iniquum frugiibus axnnis,
das dos Aquilões, em obra digna de reis; mesmo
que o pântano, estéril durante (muito tempo e apro-
56 — inuideor
por mihi
trução à moda grega
que
Horácio apresenta
inuidetur:
priado para os remos, alimente as cidades vizinhas
trata-se d e uma cons-
e até sinta o peso do arado; mesmo que o rio,
(por ( f ô o v o u ^ a t ) , meologismo helénico,
para juntar o exemplo à regra,
como já fizera antes { w .
65
levado por caminhos favoráveis, mude o curso fa-
tal
47, 50).
Horácio, A c r ã o e Pseudoacrão. A d m i t i n d o essas alusões, muitos
dos comentadores modernos tentaram indevidamente encontrar
60 — As palavras e sua v i d a são descritas por Horácio com
V I 146 e segs., e Mimnermo,
aqui um ponto de apoio para a ' d a t a ç ã o do poema, tomando
usam para caracterizar a v i d a dos mortais.
como premissa o conhecimento de Horácio de certas obras pú-
Com ele, o poeta recorda as opiniões dos que pensam ser a
blicas levadas a cabo em determinadas datas. "É, porém, ten-
língua um fenômeno natural, próprio da <púut; (natureza)
t a t i v a falaciosa, visto que nada nos diz que H o r á c i o pensasse
o mesmo símile que H o m . , Ilíada,
frag. 2 ( D i e h l ) ,
e
em tal ( v i d . Brink, Prolegomena,
não imposto por autoridade (vójjuoi Oecst)\
63 — Debemur
morti
é construção helenizante e lembra o
verso atribuído a Simónides, A n t . Pai., X , 105: «todos estamos
destinados à m o r t e » ,
64 —-1£ possível
Horácio
enumere
que,
nestas referências que se seguem,
trabalhos
públicos
mandados
efectuar
por
p. 241), ou, pelo menos, que
pensasse em obras determinadas.
D e v i a sim,
fazer estas referências com o intuito d e generalizar o tema da
debilidade das obras humanos.
65 — Palus,
César ou por Augusto, tal c o m o sugerem os comentadores dè
t 62
exclusivamente
\>
—
cuja prosódia normal é palus,
V1 • f
aparece
aqui
escandido c o m o palus, dando-se, por conseqüência, um caso de
correptio
iambica,
que sobretudo fora normal na métrica ar-
caica plautina.
125
v
doctus iter rndius, mortal ia facta peribunt,
tídico para as searas: são obras humanas e de-*
nedam sermonum stet honos et gratia uiuax.
70
palavras nem sempre ^ge^o^ivazes.^Huitos'voe?-
quae nunc sunt in honore uocabula, si uolet usus,
bulosTjA"desapjareçjdps, voltarão àL_vidaJ e muitos .
quem penes arbitrium est et ius et norma loquendi.
outros, agora em^moda,. desaparecerão, se o uso
Res gestae regumque ducumque et tristia ibella
assim quiser, poissó a ele pertencem a soberania_e
quo scribi possent numero, monstrauit Homerus.
75
pois não é só aquilo a que se chamava na retórica latina
loquentium
(Quiot.,
Inst,
Or.,
I,
6,
Gélio, N. A., X H , 13, n6), mas inclui em si a utilitas,
44;
Aulo
ou seja
a necessidade que leva à inovação formada pelos neologismos
e pelo retorno ao uso de certos arcaísmos. Isto, contudo, não
permite identificar a expressão horaciana com as teorias da
escola epicurista ( v i d . IBrkik, Prolegomena,
p . a.36. n. 2 ) . Com
o v . 72 faz-se a transição para um outro capítulo.
os quais, como bem mostra .Rostagni, formam, no caso estrito
u-erba (os singula
c3'
70
uerba foram
tratados nos w . 416-72), pois estes só podem conceber-se dentro
trou Homero. O lamento, em tempo antigo, exprimia-se
em versos desiguais
que foram unidos:
75
gundo a
sua teoria literária, eram estes e só estes que os Roma^
nos deviam imitar,
73 — Quanto à epopeia e aos assuntos que descreve, assim
como ao tom que nela se procura, tudo é descrito dentro da
características mais flagrantes desse gênero. N ã o fora em vão
que a tragédia buscara exactamente na epopeia os seus principais temas.
75 — Fala
de determinado ritmo. Ora este ritmo é na poesia, o que se
agora Horácio dos dísticos elegíacos ( i m p a r i t e r ,
eaitende por metro, o qual, (para obedecer aos preceitos d o
porque constituídos por um hexâmetro e um pentâraetro dactí-
•jrpéjrov. tem de ser apropriado a o tema poético de que se trata,
licos), mas não lhe é possível apresentar um inventor. N o en-
Brink, Prolegomena,
fliiência
p . gq, aponta, neste caso, a possível in-
directa ou indirecta
(por Neoptólemo de P á r i o )
• esquema delineado por Aristóteles, Retórica,
do
LM, 8. Por isso,
seguir-se-á uma sinopse dos diversos metros e dos seus inventores (Eoperaí) > tal como era hábito fazer-se nas obras técnicas
dos gramáticos antigos. Horácio, muito embora escreva para
um público romano, só se referirá a modelos gregos, pois, se-
64
)
•V
y^/X
V
habitual concepção de que tristeza e solenidade são as duas
73-85 — Entra agora Horácio nas discussões dos metros,
d o verso, porte dos coniuncta
' v^f
Em que metro se podem descrever os feitos d o s '
reis, dos chefes, as tristes guerras, já o demons-'
71 — Usus tem, neste contexto, um sentido bastante rico,
tanto, caracteriza os gêneros que adoptaram, como metro, o
dístico elegíaco: — r.° os cantos lamentosos,
Esta atribuição é
provocada pela discussão da origem da palavra elegia, que, na
antigüidade, era interpretada como proveniente de e Aéyetv ou
seja, traduzindo literalmente, «dizer ais», i. e., «lamentar-se».
Segundo
recentes
invéstígaçõos,
um vocábulo armênio elgn
—
essa
palavra,
deriva-se
de
(caniço, f l a u t a ) . Quanto a
este aspecto e quanto ao inventor do poema elegíaco, v i d . G.
INQ 11 — 3
;
V^
o/direito e a Jegislação da língua..
Versibus impariter iunctís querimonia primum,
consuetudo
^
vem perecer. Assim também o valor e a graça das
Multa renascentur quae iam cecidere, cadentque
a
65
post et iam inclusa est uoti sententia compos;
depois, neles se incluiu; a satisfação de promessas
quis tamen exiguos elegos emiserit auctor,
atendidas. Sobre quem, no entanto, pela primeira
grammatici certant et adhuc sub iudice lis est.
vez criou as singelas elegias, discutem os gramá-
Archílochum proprio rabies armauit iambo;
ticos e ainda o litígio está em tribunal. Foi a raiva
hunc socci cepere pedem grandesque coturni,
80
quem armou Arquíloco do jambo que a este 6
alternis aptum sermonibus et popularis
próprio: depois, a tal pé, adaptaram-no os socos
uincentem strepitus et natum rebus agendis.
e os grandes coturnos por mais apropriado para
Musa dedit fidibus diuos puerosque deonum
o diálogo, capaz de anular o ruído da assistência,
80
visto ser criado para a acção. A Musa concedeu à
Lucb, Die
Rümische
Heidelberga, 11961, p. 18 e
Liebeselegie,
eegs.; — 2.0 os epigramas
lira o cantar deuses e filhos de deuses; o vencedor
N a realidade, porém, o dís-
votivos.
tico elegíaco servirá para exprimir muitos outros gêneros poéticos: o satírico, o convivial, o amoroso, etc.; vid. O.C.D.,
s. u.
80 — Os metros jâmbicos foram adoptados pela comédia e
pela tragédia ( v i d . Arist., Poética,
V , 1449 a ) , que> a princípio
Horácio só se interessou em-referir os primór-
usavam o tetrâmetro trocaico, próprio da sua origem satírica
dios do dístico elegíaco e não todos os gêneros em que ele
e da sua forma coral. Só quando do coro e da exclusiva forma
aparece.
corail se passou ao diálogo entre actores { f i m d o séc. v i a. C,
Elegiac
Poetry.
77 — exiguos
elegos em comparação com a igrandeza da
ticos usaram os jambos.
epopeia.
78
com Frínico e Téspis, na tragédia) é que os gêneros dramá-
a
discussão dos gramáticos
(que ainda durava
no
Com socci
(pequenos sapatos da comédia) e os grandes
...
(da tragédia), marca o poeta, por meio d e antítese,
tempo de Horácio) desenvolvia-se sobretudo em torno d o in-
coturni
ventor: — Calmo de Éfeso (séc. VII a. C.: de quem temos a
a diferença de estilos entre o primeiro e o segundo gêneros:
mais antiga elegia), Arquíloco
o primeiro mais humilde e o segundo mais sublime.
(séc. v n a. C . ) e Mimnermo
{séc. VI a. C . ) eram os inventores mais apontados.
79 — Entra-se agora na descrição da poesia jâmbica, que
Horácio considera, seguindo a teoria peripatética, como apropriada para as invectivas de carácter pessoal. Afasta-se, porém,
da teoria aristotélica, quando propõe, como inventor do jambo, a
Arquíloco,
pois Aristóteles vira em Homero o seu inventor
( v í d . Arist., Poética,
I V , 1448 b ) . Enfileirava assim na escola
alexandrina, à qual pertencia, p. ex., Neoptólemo de Pário,^e
que recusava a Homero a paternidade d o jambo,
considerar homérico o poema Margites,
(dentro dos
t 66
poemas homéricos),
por não
no qual, e só neste
apareciam
jambos.
81-88 — Aristóteles, Poética,
X X I V , 1460 a, tem a mesma
opinião sobre as funções d o jambo.
83—Agora,
na descrição da poesia mélica,
i. e., Uricai,
{na antiga acepção d a palavra, poesia só acompanhada pela
lira — f i d i b u s ) , considera Horácio os seguintes gêneros: i>,° hinos em honra dos deuses; 2.0 encómios
celebram
personagens,
e epinícios
em que se
pela suas altas qualidades, ou pelas
vitórias desportivas obtidas; 3. 0 poemas
eróticos,
em que -se
canta o amor dos jovens; 4. 0 escólios em que se celebram 09
prazeres da mesa e d o vinho.
125
no pugilato e o cavalo que, primeiro, cortou a
|;^t : f®|ileítn uictorem et equtun certamine primum
ÍÍMuuemum curas et libera mina referre.
85
i ^ g p i s c x i p t a s senuare uices openumque calores
meta nas corridas; os cuidados dos jovens e o vinho que liberta dos cuidados.
Se não posso nem sei observar as funções pres-1
v cur ego, si nequeo ignoroque, poeta salutor?
piudens praue quam discere maio?
critas e os tons característicos dos diversos gêneros, ^
fli^epiibus expoui tragicis xes cômica noa uailt;
por que hei-de ser saudado como poeta? Qual aí \
í.IÊ® nescire
^.^lídignatur item priuatis ac prope socco
90
razão por que prefiro, com falso pudor, desconhe-
{lignis canminibus narrará cena Thyestae.
cê-los a aprendê-los? Mesmo a comédia não quer
Singula quaeque looum teneamt sortíta decentem.
os seus assuntos expostos em versos de tragédia e
et tragicus plerumque dolet sermone pedestri
95
86-88 —• Faz-se agora a transição para o capítulo que tra-
da comédia, Que cada gênero, bem distribuído
Às vezes, todavia, levanta a voz a comédia e
Cremete indignado raJlia em tom patético; mais
do drama. A l é m d o metro, têm de adaptar-se o estilo (o estilo
vezes, no entanto, as personagens trágicas, seja
Í58-9 2 ),
Telefo ou-Peleu, em língua rasteira se lamentam,
decens) aos gêneros literários ( v v .
93-113) e aos próprios caracteres
- m 8 ) . Corresponde a Arist-, Retórica,
87 — p o e t a salutor:
os Gregos,
que
os
(vv.
HEI, 7.
traduziram
por
salue,
poeta!
Horácio não só se refere a si próprio como a t o d o e qualquer
poeta.
88-92 — O estilo tem de obedecer ao gênero a que se
adapta,
e,
portanto,
é forçosamente
diferente
o estilo
da
, comédia do da tragédia.
90 — priuatis:
Horácio parece lembrar com este contexto
representava as acções de simples particulares, ao passo que
a tragédia só se ocupava com as dos heróis (cf.
aa
I , p. 488 K e i l ) .
91 — Cena Thyestae;
havia tragédias em que a narração
desta ceia era o momento fundamental da história de Tiestes.
Nessa refeição eram servidos a Tiestes, pelo seu irmão Atreu,
os membros dos próprios filhos, Eurípides e Eruio escreveram
tragédias com esse nome, e assim também, no tempo de Horácio, o poeta Vário a quem já na A. P., v . 55, se fez referência.
9 3 - H 3 — O estilo tem de adaptar-se às paixões que, no
a teoria peripatética de Teofrasto, segundo a qual a comédia
Ars Gram.,
95
114-
referência a uma saudação usual entre
Romanos
1
ocupe o lugar que lhe compete.
tará d o estilo e da maneira de o adaptar aos diferentes aspectos
às paixões ( w .
!
>
190 c r
narração em metro vulgar, mais próprio dos socos /
katusque Chremes temido delitigat ore;
tem de ser •npéjrov
r OÍ
igualmente a ceia de Tiestes não se enquadra na
Intèrdum tamen et uocem comoedia tollit,
=
85
1
Diomedes
drama, se descrevem.
93 — Chremes é o tipo do pai avaro e irasclvel, freqüente
na comédia nova. Vid. a personagem deste mesmo nome do
Heautontimoroumenos
de Tcrêncio.
69
Telephus et Peleus, oum pauper et exuluterque
quando, na pobreza e no exílio, lançam frases em--"-
proicit ampuHas et sesquipedalia uerba,
poladas, palavras de pé e -meio, t e n t a d o c
si curat cor spectantis tetigisse querella.
pelo lamento o coração de quem os olha... „'
Non satis est pulchra esse poemata; dulcia sunto
et, quocumque nolent, animum and i to ris agunto.
_
MS;
'
N ã o basta que os fpoemas sfrjam. bejos: força; é4í$|ff\
100
que sejam emocionantes e que transportem, parai ;jfftfT
V t ridentibus adrident, ita flentibus adsunt
onde quiserem, o espírito 'do ouvinte. Assim como '>100,'
humani uultus; si uis me flere, dolendum est
0 rosto humano s o m a q u é m vê rir o ads que
primum ipsi tibi; tum ,tua me infortunia -laedent,
ram se lhes une em pranto, também se queres que
Telephe uel Peleu; male si mandata loqueris,
eu chore, hás-de sofrer tu primeiro: só teus infor- "
aut dormitabo aut ridebo. Tristia rnaestom
105
túnios podem comover-mé, quer sejas Telefo quer
uultum uerba dècent, iratom plena minaram,
Peleu; se, porém, recitares mal o teu papel, dormi-
Iiudentem lasciua, seuerum seria dictu.
tarei ou cairei no riso. Tristes palavras só dão bem
Format enim natura prius nos intus ad omnem
com rosto pesaroso e com o irado as ameaçadoras;
for tuna mm habitum; iuuat aut impelHt ad iram,
com rosto jovial palavras folgazãs e com o severo
aut ad humum maerore graui dediucit et angit;
110
personagem da tragédia, era. rnn rei da Mis ia.
Ferido por Aquiles nos campos de Tróia, vai, como mendigo,
as contingências^da sorte; eíajnos alegra ou n ^ i m pele para à cólera; também ela nos abate por teira
com_ pesada tristeza, com angustia; e só .depois
qual, segundo um oráculo, só assim se curaria. A
descreve tais mudanças' de alma pela sua intérprete,
tragédia
*
110.
pai de Aquiles, que de-
v i d o a vários revezes da sorte, acabou por fugir das terras
gregas. Os exemplos dados com Cremete, T e l e f o e Peleu, mostram casos em que o estilo se não adapta aos caracteres e ao
gênero literário em que estes e as suas paixões estão integrados.
99 e segs. — N ã o basta a beleza formal, é preciso que o
poema dramático interesse os espectadores causando-lhes prazer. Este obtém-se, fazendo-os sentir tudo o que se passa no
palco, isto é, os sentimentos das personagens representadas,
dé tal modo que haja perfeita comparticipação (ffu^itaQEiv)
t 70
105
as que mostrem seriedade. B, pois, a natureza que,
ao campo dos Gregos em Argos, a f i m de sarar a ferida, da
também 'pertence a figura de Peleu,
;
antes de tudo o mais, nos forma inferi ormènfe"pãrã
post effert aními motus interprete língua.
96 — Telefo,
'
d o ouvinte na acção exposta. T o d o este passo está influenciado pela teoria per.i patética, tal como indicámos no com.
aos v v . S6-88.
1 |
108 — Horácio refere-se de novo (como nos v v . 6o e segs.)
à teoria que apresentava a língua como resultado de
uma
origem natural, como fenômeno provocado pelas diversas impressões do espírito. Quanto às interpretações que viam, neste
passo,
influências estóicas ou epicuristas,
Prolegomena,
mostra-se
Brink,
p, '136, n, 2, extremamente céptico.
125
Si dicentis erunt fortunis absona -dieta,
a líaffaa.jSe as palavras do actor não corresponde-
Roraani tollent equites pedibesque cachinnum.
rem à sua sorte, não deixarão todos os Romanos,
Xntererit multuirt, diuusne Ioquatur an heros,
cavaleiros e peões, de soltar grandes risadas.
maturusne senex aq adhuc florente iuuenta
115
Tem igualmente de /tomar-se era conta, se quem
feniidus, et matrona potens an sedula nutrix,
fala é d-aus ou é herói, velho sisudo ou homem
mercatome uagus cultorue uirentis agelli,
fogoso, na flor da idade; matrona autorilária 011 115
Cojchus an Assyrius, Thcbis nutritus an Argis.
carinhosa ama; mercador errante ou lavrador de vi. t
.
çosa courcla; sc vem da Cólquida ou da Assíria, se
Aut famam sequere aut sibi conuenientia finge
scriptor. Honoratmn si forte reponis Achillem,
120
irapíger, iracundus , inexorabilis, acer
:
nasceu cm Tebas ou em Argos.
Segue, ó escritor, a tradição ou imagina carac-
iura neget sibi nata, nihil non arroget armis.
teres bem 'apropriados: sc acaso repuser es em cena
Sit Medea ferox inuictaque, flebilis Ino,
o glorioso Aquiles, fá-lo aotivo, colérico, inexorá-
120 fl
vel e rude, que não admita terem sido criadas as leis
113 — pedites para manter irônico paralelismo com
Una andam a cavalo, são cavaleiros e são nobres,
andam a pé, são de infantaria, e são
equites.
os outros
plebeus.
114-118 — O estilo também deve adaptar-se aos caracteres.
A f i m de exemplificar este princípio, já defendido pela escola
também para ele e nada faça que não confie à força
das armas. Que Medeia seja feroz e indomável,
a obra
poética
(w.
119-152),
depois falará dos
principais
gêneros poéticos (153-294^.
peripatética, vai Horácio dar-nos uma lista, com valor exem-
119-127 — Para que o poeta consiga fazer obra coerente,
plar, de caracteres habituais da tragédia, desde Gregos a bár-
força é que se cinja, 11a criação de caracteres, aos modelos
baros, desde velhos a jovens, pretendendo, com esta enumera-
tradicionais,
ção, afirmar que a cada um pertence um tom e um estilo
em cena caracteres novos, que os descreva com verosimiltiança
.j.ipfÍP1"'0®' Quanto à possibilidade de influência, mesmo que in*
^irecta,
da
Retórica
...Brink, Prolegomena,
de
Aristóteles, sobre
este passo,
vid,
p. 99.
como Aquiles e Orestes, ou, caso desejar
pôr
e bem adaptados à acção em que aparecem.
120 — Aquiles é figura da epopeia (lllada, etc.) e da tragédia (em L í v i o Andronico, Acio, É n i o ) .
'ir11 • <í.- •
123 — Medeia,
filha do rei da Cólquida, foge da pátria por
O l 9 ? 2 9 4 — Constitui este passo a terceira parte da A . P , , e
amor a Jasão, um dos Argonautas, sendo posteriormente aban-
1;',corresponde ao capítulo de Neoptólemo de Párío dedicado à
donada por ele. Para se vingar de Jasão, mata os filhos que
j- JipÍTjfftC e possivelmente a Aristóteles, Retórica,
deste tivera, bem como a sua nova mulher Glau^e. Medeia
II,
12-14.
h Çf., Brink, Prolegomena, p. 138
aparecerá em muitas tragédins: na Grécia, na Medeia de Eurí© passim. Horácio vai agora
pides, e m Roma, em tragédias, hoje perdidas, de Énio, Acio
- tratar da maneira mais apropriada de arranjar um tema para
t 72
125
|>erfidus Ixion, I o uaga, tristia Orestes.
Siquid inexpertum scaenae committis et andes
Ino chorosa, Ixfon pérfido, I o errante e Orestes
125
personam formare noaiam, seruetur ad ímum
ousando conceber em cena nova personagem, então
qualis aib incepto processerit et sibi constet.
de início e que seja coerente.
rectius Iliacum carmen deducis in actus
— "É. difícil dizer com propriedade-Q. q ue .n ão_per-""
130
tence à tradição: melhor farás se o carme de ílion,
Puiblica materies priuati iuris erit, s i "
em ac tos " trasladarei em vez de proferires, pela-
non circa uilem patulumque moraberis orbem,
primeira vez, f a c t o s T n f ® o s ^ e ^desconheçidos.
e Ovíd 'io (esta última a mais célebre). A respeito de possível
crítica, horaciana à Medo ia de Eurípides, v i d . F . Rebelo Gotirçalves, «Horácio e Eurípides», Euphrosyne,
H I {'1961}, p. 55
e segs,
Ino,
filhai de
Cadmo,
provocou
involuntàriamente
125
„que ela seja conservada até ao fim como foi descrita
Difficile est proprie comimimia dicere; tuque
quam si proferres ignota indictaque primus.
triste. Mas se algo -de original quiseres introduzir,
a
morte d o marido e dos filhos ao suscitar a cólera de Hera.
A involuntariedade do seu acto, (contraposto, por Horácio, ao
130
Matéria a todos pertencente será tua legítima
pertença, se não ficares a andar àjvolfcano caminho
CHtemnestra.
Basta
lembrar
a seu respeito
a
tragédia
do
mesmo nome, escrita por Eurípides.
128-130 — Horácio passa agora a tratar de outro aspecto:
introduz-nos na melhor maneira de escolher um tema 'para a
acto voluntário de Medeia) aumentou o efeito patético de sua
obra poética, de modo a fazer obra original. A
figura, posta em cena por Eurípides. E m R o m a trataram-na
e consistência da obra residirão em não imitar
originalidade
L í v i o Andronico, Enio e Acio e, depois da morte de Horácio,
e em não pretender demasiado, por isso, interessa seguir um
Séneca.
bom modelo, como a 1 liada de Homero.
servíhnente
será castigado por Zeus, por ter querido se-
1 3 1 - 1 5 2 — O poeta fundamenta-se, neste passo, na teoria
duzir Hera. Zeus faz-lhe- aparecer uma nuvem, com a forma
aristotélica — não sabemos se por via directa ou indirecta —
124 — Ixion,
de Hera, e Ixío-n unindo-se à nuvem, gerará, a figura híbrida
(cf. Aristóteles, Poética,
e monstruosa d o centauro. Desta história provém a frase por-
seguir de preferência o exemplo de Homero, que reduz as suas
tuguesa «tomar a nuvem por Juno ( = H e r a ) > . T e m a de inú-
obras a uma acção una sem pretender obter essa unidadé pela. ,
meras tragédias, de Ésquilo, Sóíocles, Eurípides e outros.
monótona apresentação de uma só personagem, ou de mm só... ;
Io, amada de Zeus, será perseguida por Hera, que a transforma em vitela e a faz errar pelo mundo, perseguida por um
enorme moscardo. Sobre este tema, escreveram Ésquilo, entre
os Grego®, e, entre os Romanos,
Acio.
Orestes tristis, -porque perseguido pelas Eximas, deusas vingadoras, devido a ter praticado o matricfdio, ao assassinar
74
cap. V I T I ) , segundo a qual interessa
episódio, como faziam os 'poetas cíclicos,
.-.>
' 1 'VííSGÍ
132 — O poeta defende neste verso ponto de vista i d é f em
jpj
tico ao de Calimaco, que, no epigrama 28, também afirmtt-fr
claramente: «odeio o poema cíclico e detesto o caminhò'"Tp>g_ - ...
onde segue a multidão.» N ã o defende, contudo,
senão-neste^
ponto, as teorias da escola alexandrina, pois se filia, coinbj
• i-J;.-"-'
75 H
fenèc
uerbo uerbum curabis reddere fidus
trivial, aberto a todos, e tão-pouco procurarâs,
IJpnteipres nec desilies imitator in artum,
Infunde -pedem proferre pudor uetet aut operis lex.
ffipj
135
Nec sic incípies, ut scriptor cyclious olim:
em quadro
dez e a economia da obra. E não irás começar
' Quid dignum tanto feret hic promissor hiatu?
Parturient montes, nascetur ridiculus mus.
1,
-
140
«Dic mihi, Musa, uirum, captae post têmpora Troiae
comp^ outrora o escritor,xlclico^
135
cantarei, a
fortuna de Príama.e a guerra famosa». Que obra _
digna de tal exórdio nos dará o autor desta promessa? Os montes parirão c nascerá um pequenino
qui mores hominum multorum uidit et urbes»,
rato.
Non fumum ex fulgore, sed ex fumo dare lucem
Quanto
mais
a preceito
não começa
este
que nada constrói sem coicsão: «Fada-me, ó Musa,
cogitat, ut speciosa dehinc miracula promat,
Antiphaten Scyllamque et cum Cyclope Charybdim. 145
Nec reditum Diomedis ab interitu Meleagri,
já dissemos, mas da escola aristotélica, Cf. Brink,
vra, nem entrarâs, como imitador,
muito estreito de onde te impedirão de sair a tirai-
«Fortunam Priami cantabo et nobile bellum».
Quanto rectius hic, qui nil molitur inepte:
como servil intérprete, traduzir^palavra por pala-
140
do varão que, após os tempos da conquista da
Tróia, cidades e costumes viu de tantos homens».
Não pretende tirar fumo de um clarão, mas sim
Prolegomena,
pp. 109, n. -2; 182, •231, n. 4.
1 3 9 — Tradução d o provérbio grego: <0 monte deu à luz,
de fumo tirar luz, para daí colher brilhantes prodígios: Antífates, G l a e Caríbdis com o Ciclope.
145
Não inicia o retorno de Diomedes pela morte do
e deu à luz um rato», cf. Ateneu, X I V , 616 D. O monossílabo
mus no fim do hexâmetro
(contra a regra geral da métrica
ab ouo. Deste m o d o se tornará o poema sobrecarregado com
romana, que, nesse lugar, exigia um dissílabo ou um trissílabo)
descrições inúteis, que mais pertencem à história do que à
serve para realçar a pequenez d o
poesia. Neste ponto, Horácio, toma verdadeiramente o partido
141-142 — Tradução
v v . 1-2,
não
literal
rato.
de
Hom.,
Odisséia,
I,
( O d X ,
100 e segs.); Cila e Caríbdis, monstros marinhos que viviam
X I I , 85 e segs.);
Ciclope, gigante monstruoso com um só olho, que v i v i a na
•Sicília (Od.,
VIII,
1451 a 24, concordando, só em
parte, com as teorias alexandrinas, que, muito embora, segundo
1 4 5 — A u t í f a b e s , rei dos antropófagos Testrig5es
perto do estreito de Messina, na Sicília (Od.,
de Aristóteles, Poética,
I X , 187, segs.).
146 — Horácio dá aqui exemplos da maneira como se não
deve tratar um tema poético, ou seja, começando por narrá-lo
Calímaco, fossem contra os poemas de grande extensão, eram
pelo menos a favor dos poemas eruditos.
Reditum
contra Tebas
Diomedis
é a volta
de Diomedes da expedição
(os sete contra T e b a s ) , que poderia constituir
o tema de um poema cíclico do gênero das Tebaidas
que, na
antigüidade, se conhecem. Mas o poeta cíclico, em vez de tratar
do assunto pròpriamente dito, começa a fazer a história das
suas origens relacionando-a com a morte de Meleagro,
que
t
77 125
nec gemino ibellum Troianum orditur ab ouo;
Meleagro, nem a guerra ide Tróia pelos dois ovos; . •(^4 /
semper ad euentum festinat et in médias res
sempre se apressa para o desenlace e arrebata o
non secus ac notas auditorem rapit, et quae
ouvinte para o meio da acção, como se esta lha
desperat tractata nitescere posse relinquit,
150
ctí^J
fosse conhecida, e deixa de lado a matéria que ele
atque ita mentitur, sic ueris falsa remiscet,
sabe não poder (brilhar. De tal modo cria ficções, de*
primo ne mediam, médio ne discrepet imum.
tal modo mistura fábulas com a verdade, que nem
150'li
Mf;,'!
o meio destoa do princípio nem o fim do meio.
Tu quid ego et populus mecum desideret audi,
Tu atende ao que eu, e o público comigo, dese-
si plosoris eges aulaea manentis et usque
sessuri donec cantor. «Vos plaudite» dicat.
155
;r
jamos, se quiseres que sentados esperemos o le-
Actatis cuiusque notandi sunt tibi mores,
vantar d o pano, até que o actor nos peça os
mobilibusque decor naturis dandus et annis.
aplausos.
);•
155
Deves fazer ressaltar os caracteres de cada)
estava muito remotamente Ligado à história dos antepassados
idade, e não deve faltar propriedade às naturezas,
de Diomedes.
que com os anos variam. O menino, que já sabe
147—gemino
... ab ouo,
trata-se de um exemplo similar
a o que acima citámos: a guerra d e T r ó i a f o i declarada
por
dução sobre a unidade d o poema, n o tratamento dos diversos
causa d o roubo d e Helena, irmã dos gêmeos Castor e P ó l u x ,
gêneros
os Dioscuros, que, tal c o m o Helena, nasceram de um o v o de
drama
Leda.
dentro dos princípios qiie lhe são peculiares.
Daí o falar o poeta de um « o v o g ê m e o » , i.e, duplo:
um, o o v o d e que saiu Helena, o outro, o o v o de; que nasceram
dramáticos de Grécia e R o m a :
satírico.
148 e segs. — H o m e r o é louvado por Horácio como exem-
é
cultivado
ó a expressão com que terminavam
as comédias, p. ex. de Plauto, quando uma das personagens
pedia
os
de o apresentar, Efectiivamente, n ã o só e v i t a digressões fasti-
actor
acompanhado
plo d e brevidade e de coesão na escolha d o tema e na. maneira
comédia
153-155 — i n t r o d u ç ã o aos preceitos da arte dramática.
155 — kVos plaudite»
os Dioscuros.
tragédia,
Cada um destes gêneros d e v e ser
aplausos
do
público.
pela
flauta.
Can tor
Quanto
deve
a
referir-se
aulaeum
ao
deve
diosas, c o m o o seu m é t o d o poético não coincide com o método
esclarecer-se que se trata d o pano da cena, que era, no teatro
histórico-cronológico, segundo o qual se iniciam as narrações
romano, levantado quando terminava a peça 0 baixado en-
pelo seu mais remoto principio.
quanto ela durava.
Deste modo,
o poema
de
H o m e r o apresenta-se uno na concepção e na realização, correspondendo ao ideal aristotélico expresso no v , -152.
153-294 — Depois de ter feito nos versos 1.-152 uma expo-
156-178 — Descreve Horácio os mores das personagens, ou
seja os caracteres que podem aparecer nos diversos
gêneros
dramáticos, Este estudo dos caracteres era habitual na escola
sição sobre os princípios a seguir na escolha do estilo e do
iperipatética,
conteúdo, entra agora Horácio, depois de uma pequena intro-
mesmo nome.
bastando lembrar a obra de T e o f r a s t o com
o
125
t 78
.
itHáJí*•il't :
Reddere qui uoces iam scit puer et pede certo
articular palavras e o chão 'bate com passo certo,
signat humum, gestit paribus conludere et iram
exulta por brincar com seus iguais e as cóleras
colligit ac ponit temere et mutatur in horas.
160
que vai tendo, logo as esquece, mudando de hora)
Lnberbus iunenis (tandem custode remoto
a hora. O jovem, imberbe ainda, já liberto do pe-
gaudet equis canibusque et aprici gramine Campi,
dagogo, gosta 'de cavalos c de cães te dos exercícios
cereus in uitium flecti, monitoribus asper,
soalheiros na relva do campo Márcio. Mas ao vício
utilium tardais prouisor, prodigus aeris,
se molda como a cera e responde asperamente aos
• subJimis cupidusque et amata relinquere pernix.
165
que aconselham, não pensa senão tarde no que á
' Conuersis stndiis aetas animusque uirilis
útil; pródigo no dinheiro, altivo e ambicioso, larga
• quaerit opes et amicitias, insemit honori,
rápido o que ainda há pouco amou. Mudados os
seus hábitos, quando a idade e espírito viris o ca-
commisisse cauet quod mox mutare laboret.
11 1
*
racterizam, "já procura riquezas e amizades, servil,
-Multa senem circumueniunt incommoda, uel quod
quaerit et inuentis miser abstinet ac .timet uti,
170
uel quod res omnís timide geiideque ministrat,
à carreira das honras se submete; foge a comprometer-se para não ter de sofrer depois ao remediar os
erros. Muitas agruras rodeiam o velho, ou porque,;
dilator, spe longus, iners auidusque futuri,
depois de procurar, miseravelmente se abstém e
difficilis, querulus, laudator temporis acti
hesita em fazer uso d o que encontrou, ou porque
se puero, castigator censorque minorum.
tudo realiza com temor e frieza, atrasando com sua
Multa ferunt anni uenientes com moda secum,
175
multa recedentes adimunt, N e forte seniles
esperança a longo prazo, inerte e ávido do futuro,
de carácter descontente, laimuriento, louvador dos
• mandentur iuueni partes pueroque uiriles;
tempos passados, de quando era menino, castiga e
vsempre in adiunctis aeuoque morabitur aptis.
censura os que são mais novos. Muitas .desvanta-
|g|Aut
j||pí'l62
agitur res in scaenis aut acta refertur.
•— Apricus
Campus, por Campo Márcio, onde em R o m a
'
9-188 — Regras concernentes à arte dramática: criação
P^l^aracteres e partes representadas eobre a cena ou partes
simplesmente narradas por certas personagens
outras o declinar leva consigo: não deve, pois, o
papel d o velho ser confiado ao jovem, nem o de
Rsffilaziam os exercícios militares.
*
gens traz consigo o mudar dos anos, mas muitas
(mensageiros,
homem ao rapaz. Que ^sempre os autores se atenha m às qualidades e atributos de cada idade.
regra tinha como fim o evitar a apresen-
Há acções que se representam no palco, outras,
i o de cenas sangrentas ou demasiado maravilhosas, como
só se relatam depois de cometidas. O que se trans-
*;etc(í*
Esta primeira
INQ n - 6
Segnius irritant ânimos demissa per aurem
180
mitir pelo ouvido, comove mais dèbilmente os espí-
180
quam quae sunt oculis subiecta fidelibus et quae
ritos do que aquelas coisas que são oferecidas aos
::
ipse sibi tradit spectator; non tamen intus
olhos, testemunhas fiéis, e as quais o espectador
digna geri promes in scaenam multaque tolles
apreende por si próprio. Não faças, no entanto,
ex oculis, quae mox narret facundia praesens.
representar na cena o que deva passar-se nos basti-
Ne pueros coram populo Medca tmcidet,
185
aut humana palam coquat exta nefarius Atreus,
dores, retira muitas coisas da vista, essas que meJhor descreve a facundia de urna testemunha. Que
aut in auem Procne uertatur, Cadmusin anguem.
Medeia não trucide os filhos diante do público, nem
Quodcumque ostendis mihi sic, incredulus odi.
185
o nefando Atreu cozinhe publicamente entranhas
Neue minor neu sit quinto produetior actu
humanas; tão-pouco em ave Procne se transforme
faibuJa, quae posei uult et gpectanda reponi;
190
nec deus intersit, nisi dignus uindice nodus
ou Cadmo em serpente. Detestarei tudo o que assim'
V
me mostrares, porque ficarei incrédulo.
inciderit; nec quarta loqui persona laboret.
Que a peça nunca tenha mais do que cinco actos
nem menos do que esse número, se acaso desejarque
já Aristóteles, Poética,
X I V , 1453 b i - i r , também tinha acon-
selhado. Naturalmente que muitas destas cenas não eram apresentadas, devido a impossibilidade técnica, ainda que Aristó-
Que na peça não intervenha um deus, a não ser
114-127,
que o desenlace seja digno de um vingador; nem
também se refere a aspectos da criação dos
tão-pouco se canse um 'quarto actor a falar nai
teles e Horácio a esse aspecto se não refiram. Cf. w .
onde Horácio
voltem a pedi-la e tornar à oena depois de estreada.
caracteres.
mesma cena.
185 -—Medeia: vid, com. ao v . 123.
(segunda,
186 — V i d . com. ao v . 91.
187 — Procne,
de Filomela,
filha de Pándion,
rei de Atenas,, c
foi transformada em rouxinol.
Cadmo,
irmã
rei
de
Tebas, aparecia nas Bacantes de Eurípides, onde Dioniso, deus
ex machina,
lhe predizia a transformação em serpente, para
1 8 8 — Horácio
defende novamente
a
verosimilhança
da
acção, tal como os per ipa té ticos.
1 8 9 - 1 9 0 — O poeta fala da divisão em cinco actos,
82
já na época helenfstica, possivelmente na escola de Teofrasto.
V i d . T , (B. L .
regra
Webster,
Studies
in Menander,
1960, pp. fi®i e segs., 2212; 'Brink, Prolegomena,
191-192 —- Normas (terceira
machina,
o castigar da sua falta de piedade.
em ordem, nesta enumeração) que deve ter surgido,
regra)
Manchester,
p. 1H4.
sobre o uso do deus ex
que Aristóteles tinha condenado, na Poética,
XV,
1
1454 b 2. Horácio admite o seu uso nos casos em que o desenlace exija intervenção divina.
-
192 — A quarta regra restringe o número de actores a trêsj'.?Í ; i
O quarto actor deve ser muta
persona.
•
83
'
Que o coro 'deáeuda a sua individualidade reci-
§ j f l | Ascloris partis chorus officiumque uiríle
tando o seu papei como um actor, e não cante, no
•• defendat, neu quid médios intercinat actus,
' quod non proposito conducat ©t haereat apte,
195
• IHe 'bonis faueatque et consilietur amioe
meio dos actos, o que não se relacionar nem se
adaptar intimamente ao argumento. Que ele seja
195
propício aos bons e, com palavras amigas, os acon-
et regat iratos et amet peccare timentis;
selhe, aos irados insuflando calma e aos que temem
ille dapes laudet mensae breuis, ille salubfem
pecar, concedendo amor. Que louve as iguarias da
iustitiam Iegesque et apertis o tia portis;
mesa frugal e assim também a justiça saneadora e
iille tegat com missa deosque precetur et oret,
200
ut redeat miseris, abeat Fortuna superbis.
as leis, tal como a paz que se goza de porta aberta.
Que não revele os segredos confiados e peça aos
Tíbia non, iut nunc, orichalco uincta tubaeque
deuses e lhes suplique que a Fortuna volte aos des- 200
aemula, sed tenuis simplexque foramine pauco
graçados e abandone os soberbos.
adspirare et adesse choris erat utitís atque
nondum spissa nimis complere sedilia Eatu,
205
quo sane populus numerabilis, utpote paruus,
Não era a antiga flauta, como agora, coberta?
de Jatão, como se fosse rival 'da tuba, mas tênue e
simples, de singela embocadura, suficiente para dar
et frugi castusque uerecundusque coibat.
o tom, acompanhar o coro e espalhar-se, com seus
Postquam coepit agros extendere uictor et urbes
acentos, pelas bancadas ainda não à pinha. Nessa
latior amplecti murus uinoque 'diurno
20í
altura, ainda o povo se contava pelos dedos e,
pouco numeroso, acorria ao teatro, sendo sóbrio,
193-201 — E m
quinto
lugar v e m a regra que prescreve o
papel d o coro. Este deve ser considerado como um actor e
intervir, portanto, na acção. Horácio tem, neste
a mesma opinião de Aristóteles, Poética
que já criticava os interlúdios
particular,
X V U I , T456 a 25-32,
, em que o
coro
morigerado e respeitador. Mas depois que, pelas
vitórias, se estenderam os campos e mais largos
imuros abraçaram as cidades e depois que, mesmo
em dias festivos, se aplacava impunemente o Gé-
interrompia a acção cantando sem que as suas palavras tivessem qualquer ligação com a peça. Estes interlúdios eram normais na Comédia N o v a . Aristótélico também é o juízo moral
sobre o coro.
202-219 — Horácio refere-se à música, e ás normas d o seu emprego, como elemento fundamental da poesia
dramática.
pectos mais complicados e sugestivos, visto que a poesia dramática passou pouco a pouco a ser presenceada peitas mais
diversas classes sociais.
202 — Orichalcum
cida.
espécie de lata o de composição desconhe-
: Primeiramente austera, foi a música evoluindo e ganhando as1.
.
OJ
85
placari Genius festis impune diebus
210
nio, durante o dia, em libação de vinho, começou' 210
accessit nume risque modisque licentia maior.
então maior licença para os versos e para a música. " /1
Indoctus qui d enim saperet liberque laborum
Na verdade, que gosto podia ter o ignorante, o
rusticus .urbano confusus, turpis honesto?
camponês liberto dos trabalhos? Este agora mis-'
Sic priscae motumque et luxuriem addidit arü
215
o outro, honrado cidadão. Assim, acrescentou o
* i
sic etiam fidibus uoces creuere seueris
,
flautista à antiga arte mais movimento e lascívia e, '.'•;/•
et tulit eloquium insolitum facundia praeceps,
sortilegis non discrepuit sententia Delpliis.
Carmine qui trágico «uilem certauit ob hircum,
220
mox etiam agrestis Satyros nudauit et asper
de
cada indivíduo, só era aplacado com libações durante a noite.
mesmo
modo, se juntaram à severa lira novas ^V^tij1
cordas,
criando-se
um estilo extravagante
que
trouxe expressão em moldes nunca ouvidos; e, paras'
futuro como os deuses, se concebeu sentença não
diferente das de Delfos, a dos oráculos.
Fazer as mesmas libações, durante o dia, era sacrilégio. A in-
Aquele que, primeiro, por miserável bode se ba-
220
fluência do desenvolvimento social na decadência dos costumes
teu com o carme trágico, em breve chegou a desnu-
1
e na concepção artística, era já. tema de discussões na escola
p. 11-15.
216 — A lira de Terpandro (é a mais antiga)
tinha sete
cordas, ao passo que, no séc. iv a.C., este número já fora
aumentado para dez.
dizia o futuro das personagens do drama, tal como se oráculo
fora. O valor destas predicções era, bem entendido, realçado
pela música.
220-250 — Depois de falar dos princípios que regem a estruturação da tragédia e do drama satírico, entra Horácio na
história destes gêneros, sobretudo do drama satírico, que comparticipava, de certo modo, d o estilo elevado da tragédia e
86,
-,í Infelizmente o único drama satírico que da antigüidade até'-'nós chegou, é o Ciclope
220 — A l u d e - s e
Atica,
218-219 — Refere-se Horácio às palavras d o coro, que pre-
do estilo humilde da comédia, Era um médium
.:
doutamente coisas úteis aconselhar e predizer o
o Gênio, divindade protectora
aristotêlica. Vid. Brink, Prolegomena,
"."i
andando, arrasta pela cena a longa veste. D o -2'..
utiliumque sagax rerum et diurna futuri
Genius,
.
tura-se com o citadino, um, cheio de vulgaridade,
tibicen traxitque uagus per palpita uestem;
210 — Placari
.
dicendt
genus.
durante
á
de Eurípides.
origem
os quais,
dos
concursos
os concorrentes
dramáticos
disputavam
n a ' -5,
como •
prêmio um bode ou seja um rpayoç- Vid. A . Pickard-Cambridge, Dithyramb,
Tragcdy
and Comedy,
ed. xev. pçr T . B . L , f ' '
Webster, Oxford, 19&2, passim,
221 — S a t y r o s nudauit:
deve tratar-se de uma alusão aos
coreutas que representavam solenemente vestidos na tragédia
e que logo a seguir, ao representarem no drama satírico, se
apresentavam com uma pele de cabra sobre os bancos. Ligado
à origem do drama satírico, encontra-se Pratinas de Fliunte.
V i d . Pickard-Cambridge, ob.
cit.,
p. 65 e segs.
87
incolumi grau itate iocum -temptauit eo quod
dar sátiros selvagens e, rudemente, mas sem atentar
íllecebris erat et grata nouibate moran-dus
contra a solenidade do assunto, introduziu a sátira,
spectator functusque sacris et potus et exlex.
de modo a que, com atractivos e pela grata novi-
Veruim ita risores, ita commeiidare dicacis
225
dade, prendesse o espectador, o qual, -depois de ter J
conueniet Sartyros, ita uertere seria -Ilido,
presenciado os sacrifícios, se encontrava bem foe- I
ne quiciuimquo deus, quicuntque adhibebitur heros,
bido e já sem freio. N a verdade, convinha assim, j
regali conspectus in auro raiper et ostro,
fazer valer os chocarreiros, os sátiros faladores, e Í225
migret in obscuras humili senmone tabernas,
.
aut, dum uitat humurn, nubes et inania captet.
transformar coisa séria em folguedo, Não se -deixou-,
230
contudo, caso aparecesse qualquer deus ou qual-
Effutire Jeuis indigna tragoedia uersus,
quer herói, há pouco vistos em ouro e púrpura,
ut festis matrona moueri iussa -diebus,
dignos de reis, que estes passassem agora para som-
intererit Satyris paulum pu-dibunda proteruis.
brios tugúrios e se extprimissem em íbaixa lingua-
Non ego dnornata et dominantia nomina solum
uerbaque, Pisones, Satyrorum scriptor amabo,
gem. N ã o se permitiu também que, ao evitarem o
235
vulgar terreno, os mesmos entrassem nas nuvens e
nec sic enitar trágico -differre colori
na fatuidade. Mesmo sendo satírica, a tragédia não
ut nihil intersit Dauusne loquatur et audax
deve tagarelar em versos levianos e só com alguma
Pythias, emuncto lucrata Simone talentum,
vergonha se mistura ela com os lascivos Sátiros, tal
230
como a matrona que, nos dias festivos, por dever
227 — Refere-se o poeta à linguagem de deuses e heróis,
religioso, tem de dançar.
a qual deve manter certa dignidade, coerente com a personagem que a fala. Trata, pois, da elocutio
-"**"
Eu, ó Pisões, se escrevesse dramas satíricos,
referente ao drama
não gostaria só de nomes e vocábulos sem figuras
satírico.
233 — Horácio defende, de novo, o meio termo no que
e no sentido próprio, nem me esforçaria por afas-
respeita ao estilo d o drama satírico, que se deve manter entre
tar-me de tal sorte do estilo trágico que nenhuma
a tragédia e a comédia. Assim poder-se-á distinguir qualitativamente
a
linguagem d o
Sileno,
o
mítico aio de
Dioniso
( v . 239) e personagem freqüente d o drama satírico, da lingua-
235
diferença se notasse entre os falares de Davo e da
atrevida Pitias, que tanto aproveitou -dos talentos
gem dos escravos característicos da comédia, Da vos e Pftias
( v v . 237-238), a qual é bastante mais popular. Pitias é uma
238 — T a l como já fizera nos w ,
46, 50, etc., e .emplifica
escrava que em geral aparece na comédia a roubar o seu amo
Horácio o facto a que se refere: emprega o vulgarismo
Símon ( v . 239).
gere
t 88
emun-
(assoar) para exprimir a idéia de «roubar».
125
que na bolsa de Símon logrou limpar, e o do trá-
an custos famulusque dei Silenus ahunni.
Ex noto fietum carmen sequar, ut sibi quiuis
240
gico Siieno, servo e tutor do divino -discípulo. Com
s<peret ideni, sudet multum frustraque Iaboret
elementos conhecidos criarei o poema satírico d e
ausus ideni; tantum series ãuneturaque pollet,
forma a que todo o que o desejar, se julgue capaz
tantum de médio sumptis accedit honoris.
de fazer o mesmo, muito embora muito sue e sofra
Siluis dedueti caueant me Índice Fauni
em vão: tão grande é o poder da ordem e da con-
ne, uelut innati triuiis ac paene forenses,
245
textura, tão grande é o respeito que se junta ao que
aut nimium teneris iuuenentur uersibus unquam
for tirado do corrente linguajar! Os Faunos, trazi-
aut immunda crepent ignominiosaque dieta;
dos das florestas, devem guardar-se, julgo eu, 'do
pffenduntur enim quiibus est equus et pater et res,
se exprimir em versos mui polidos, como fazem os
nec, si qui d fricti ciceris prabat et nucis emptor,
que nasceram nos cruzamentos citadinos e passeiam
aequis accipiunt animis donantue corona.
250
pelo foro. Mas também não devem só falar com
pes citus; undé etiam trimetris adcrescere iussit
do cavaleiro, do nobre, do abastado, que, em geral,
nomen iambeis, cum senos redderet ictus,
não aceitam com espírito concorde nem por coroas
primus ad extremum simiiis sibi; non ita pridem,
distinguem tudo o que aprova o comprador d e
nozes c de grão frito.
240-250 — Depois de se ter falado da linguagem dos deue d o Sileno
(239), continua Horácio a tratar
do
estilo, afirmando (v, 244 e segs.) que a linguagem do coro
dos Faunos
assemelhar-se
(romparticipantes no drama satírico)
-pouco à da gente da cidade. A
agrada à alta sociedade romana
Sílaba longa que se segue a uma fcreve, forma o
que se chama um Jambo, pé veloz; daí, o ter este
mandado acrescentai" a seus metros jâmbicoso nome
tão-
de trímetro, embora batesse seis vezes o compasso,e
primeira, com efeito,
não
fosse sempre igual do primeiro ao último, Não ficou
do povoléu,
(quibus
segunda não ngrada ao p o v o (ciceris
não deve
250
nem
língua da plcbccula,
est equus,
et nucis
etc.), a
que formavam a obra de arte. Começa por tratar do pé jambo,
emptorJ
que devido aos ictos sucessivos
245 — triuiis — significa
<nas
encruzilhadas,
nos
cruza-
mentos», i.e. do "entro de Roma, que, por sinédoque, é Roma
pròpriamente dita.
t 90
— — — )
era conside-
rado um pé rápido. Neste passo o Jambo é personificado (sujeito de jmssÍí). Horácio depois dá-nos a entender que, constituído
por
seis
pés,
há
um
trímetro
jâmbico
(chamado
diversos
senário jâmbico em R o m a ) . Em princípio deveria chamar-se,
pois eia ele a cúpula que unia os elementos de estilo
segundo Horácio, hexâmetro. Naturalmente que esta afirmação
251-274 — Fala
genera,
245
palavras sujas e obscenas: isso ofende o boin-gosto
Syllaba ionga breui subiecta uocabur iambus,
ses (227)
240
o
poeta
do
verso a
usar nos
125
tardior -ut paulo grauiorque ueniret ad auris,
255
spondeos stabilis in iura paterna recepit
muito tempo nesse estado, pois querendo apresen-
cammodus et patiens, non ut de sede secunda
tar-se mais lento e um pouco- mais solene a quem
cederei aut quarta sociaüter, Hic et in Acci
escutava, foi, paciente e adaptável, perfilhar o
nobilibus trimetris adparet rarus, et Eirni
pesado espondeu, sem que, porém, sociável em
in scaenam rnissos cum magno pondere uersus
260
demasia, abdicasse d o segundo e quarto lugares.
aut operae ceie ris nimium curaque carentis
',
Este Jambo, contudo, raro aparece nos nobres trf-
aut ignoratae premi t artis crimine turpi.
metros de Acio e acusa os versos de Énio, lançados
Noa quiuis uidet imimodulata poemata iudex,
com grande peso para cena, de serem obra rápida,
et data Rornanis «enia est indigna poetis,
à qual falta cuidado, de serem a torpe falta de
Idcircone uager scribamque licenter? an ominis
265
quem desconhece a arte. Não é qualquer crítico
255
260
\
uisuros peccata putem mea, tutus et intra
que vê serem os poemas desarmónícos; eis a razão
spem ueniae cautus? uitaui denique culpam,
por -que a estes poetas romanos foi concedida in!-
j
digna aprovação, Mas só .por isso devo eu andar
1
sem norte e escrever sem regra? Ou, por julgar que
265!
não tem fundamento científico, pois que Horácio identifica um
antiga,
iGík®. em meus erros vão atentar, devo, por cau-
representava dois pés. Assim, um trimetro tinha seis pés e um
tela, manter-me atrás da esperança de uma segura!
tetrâmetro, oito.
aprovação? Evitei, finalmente, possível erro, mas
metro
com
um só pé quando ele, na
terminologia
255 — H o r á c i o refere-se à introdução no trimetro jâmbico
puro (usado por Arquíloco) d o espondeu
(
—), pé Longo e
que o poeta não era consciente da evolução que se operara,
e das suas respectivas conseqüências, na passagem d o trimetro
de certa solenidade, usado como pé de substituição.
jâmbico grego para senário latino.
257-258 — N o trimetro jâmbico, o segundo e quarto pés
eram constituídos por jamboe puros.
relatado (cf. v v . 46, 50, 238, etc.) fazendo o v . 260 t o d o em
Mais uma vez também Horácio junta um exemplo ao facto
espondeus, exceptuando-se, naturalmente, o quinto pé.
Horácio, levanta, de novo, com a sua critica, o problema
258-262 — O poeta acusa A c i o e Énio de terem substituído
literário dos antigos e modernos e, embora não admita sem
os metros jâmbicos por metros espondaicos, o que fazia versos
reservas
muito pesados e sem beleza. L e j a y e Plessis, na sua edição,
poetas novos
todos
os
princípios
apregoados1 pelas
escolas
dos
(Lutácio Cátulo, Gatulo, etc.), a verdade é que
afirmam que Horácio faz uma crítica injusta, pois
também não suporta a solenidade grandiloqüente dos poetas
as suas afirmações não correspondem à verdade. A verdade é
arcaicos, a quem imputa, muitas vezes injustamente, falta de
ad. loc.,
técnica (p. ex. a Plauto, no v . 270).
92
93
non laudem me rui. Vos exemplaria Graeca
louvores não mereci. Quanto a vós, compulsai de
noeturna uersate manu, uersate diurna.
dia e compulsai de noite os exemplares gregos. Mas
A t uestri proaui Piau ti nos et números et
270
os vossos avós louvaram os versos de Flauto e o sen
kudauere sales, nimium patienter utrumque,
espírito, admirando-os com muita indulgência, para
ne dicam stulte, mirati, si modo ego et uos
não dizer com muita ignorância, se é que hoje e u e
scimus inurbanum lépido seponere dicto
vós sabemos distinguir a (frase bela da grosseira e
Jegitimumque sonum digitis callemus et aure.
com dedos e ouvido sabemos conhecer, por expe-
Ignotum tragicae genus inuenisse Camenae
275
270
^
I
J
riência, o som bem afinado.
1\
•
Diz-se que Téspis descobriu o gênero desconhe- , ,.'1'
dicitur et plaustris uexisse poemata Tbespis
quae caneient agerentque peruneti faecibus ora.
cido da Camena trágica e transportou, em carros, as
Post hunc personae pallaeque repertor honestae
suas peças que os actores cantavam e representavam"
Aeschylus et modicis instrauit pulpita tignis
de caras besuntadas com o mosto da uva. Depois
et docuit magnumque loqui nitique coturno.
280
275
veio Ésquilo, o inventor da máscara e da solene
veste da tragédia, que instalou o palco sobre postes -
268 —• Horácio,
com
nova
insistência,
para os modelos gregos, que ele considera
dignos de serem
imitados,
por serem
chama
a
atenção
como os
provenientes
de
únicos
pouco elevados, ensinando a falar com grande eloqüência e a sobressair sobre o coturno. A estes su- 28Õ
uma
técnica poética perfeita, que contrasta com a negligência romana, Cf. Brink, Prolegomena,
279 — Ésquilo será o grande
p. 261.
inovador, an
introduzir
a
máscara e a veste séria, que distingue os seus sctoies daqueles
275-294 — Faz
mática.
Horácio o esboço histórico da arte
dra-
fere-se o poeta ao inventor
.rio, respectivamente Téspis,
tragédia.
Isto
( e ijpeT7i'ç)
Introduz,
Ésquilo na epístola a Augusto, II, 1, iór-T'63, acrescentando ',
aos seus nomes o de Sófocles. N ã o fala, porém de Eurípides^
gênero li terá-
o qual lhe devia desagradar, pois, nas suas tragédias, claudi- ;'.
d o demo ático de Icária, quanto
cava exactamente nos princípios que o próprio Horácio for-.-ji
não exclui,
de
contudo,
cada
evolução
anterior
a
Téspis. Mas foi este que lhe deu forma literária.
277 — - O facto de untarem os actores, do coro, as faces
com o mosto da uva, faz pressupor que estes festivais estivessem ligados, na sua origem, com as festas da vindima.
Vid. Pickard-Cambridge, ob. cit., p . 74.
t 94
untavam as faces com mosto.
também, o palco. Horácio referira-se igualmente a Téspis e a
275-277 — Seguindo os métodos literários helenístico®, re-
à
que primeiramente
mulava na A. P..
V i d . a este respeito, F . Rebelo Gonçalves, i;
«Horácio e Eurípides», Euphrosyne,
I I I (19&T), pp. 49-64, em '
que se faz exaustivamente o estudo das discrepâncias entre a
teoria de Horácio e os princípios seguidos p.Jlo modernista
Eurípides, que foi exactamente quem mais influenciou a tragédia romana, da qual Horácio não gostava.
125
|MSucoessif uetus his comoedia, non sine multa
cedeu a comédia antiga e foi recebida não sem v i v o
^BjÉupde; sed in uitium libertas excidit et uim
aplauso; mas a liberdade degenerou em vício e em
llpig-najTi lege regi; lex cst accepta chorusque
abuso que teve de ser reprimido pela lei. Depois-
ffiíUrpiter
de aceite a lei, calou-se o coro, para sua vergonha,
obticuit suiblato iure nocendi.
^ f e ^ N i l intemptatuan nostri liquere poetae,
285
porque se lhe tirara o. direito de injuriar.
Os
PfHec minimum meruere decus uestigia Graeca
nossos poetas
nada
deixaram
que
não
285
l l â u s i deserere et cetóbrare domestica facta,
experimentassem, nem foi pequeno o louvor que
pfuel qui praetextas uel qui docuere togatas.
mereceram os que, ousando abandonar o grego trilho, celebraram os pátrios feitos, ora criando as
-'Nec uirtute foret clarisue potentius armis
fábulas pretextas ora as togadas. Nem o Lácio
'}
queinque poetaram íimae labor et mora. Vos, o
Seria mais ilustre pelasjarmas e valor jdo que pel^
!
Pompilius sanguis, carmen reprehendite quod non
sua língua, se não custasse tanto aos seus poetas
quarn lingua Latium, si non offenderet unum
290
290/ V
gastarem tempo no demorado trabalho da lima.
281-284 — A
v
comédia
. -Cambridge, ob. cit.,
J
Pickard-
Mas vós, ó estirpe de Pompflio, censurai todo o
I*
e segs.) do que nos diz Horácio.
poema que não for aperfeiçoado com muito tempo
O
era
p.
mais
antiga
(vid.
T a l feito leva a crer que este considere sòmenbe a comédia
que foi integrada, por v o l t a de 490 a.C., nas festas promovidas
(uetus),
pelo
estado
ateniense.
Fala-nos
da
Comédia
antiga
cultivada por Aristófanes, Cratino, Eupolis, etc., e
da Comédia
nova,
representada por Menandro, Filémon, etc.,
na qual deixara o coro de existir, pois fora suprimido porque
recorrera ao ataque pessoal e defendera idéias que nem sempre
agradavam aos políticos. N ã o se refere à Comédia
média
de
Aléxis e Antlfanes,
que infelizmente só ficará atrás d o drama grego, porque os
poetas d o Lácio, que todos os gêneros cultivaram, não perdiam tanto tempo, como os Gregos, em limar e aperfeiçoar o
estilo. N a estrutura dramática criada pelos Gregos introduzir-se-á, no SLácio, assuntos romanos {domestica facta,
v . 287).
288 —•Praetexta, drama histórico caracterlsticamente
96
Togata,
comédia de assunto latino, como as de Titínio, Afrâ-
nio, etc. e que estavam em grande moda nos princípios do
séc. 1 a.C.
A.
Ernout,
290 — Horácio faz hábil alusão ao lugar comum
(topos)
Recueil
Vid.
de textes
fragms.
latins
das pp.
archajques,
254-259, de
Paris, 1947.
da poesia latina, no qual se fazia o lamento da pobreza da
língua do Lácio: ipatrii sermonis egestas», Lucr,, De
285-294 — Traça agora o ipoeta a história do drama latino,
mano, como p. ex. o Romulus
ç/
ro-
de N é v i o e as Sabinae de Énio.
natura,
I , 138, 832; I I I , 260; Cíc., Tusc.,
58, 1; Quint., Inst.
292 — Pompilius
Or.,
I I , 35; Sén,,
sanguis:
trata-se
dos
Pisões,
maneira de se libertar da sua origem
inventaram,
como era então
uso,
que
para
plebéia,
um antepassado da
gens
(à qual pertenciam), filho, diziam eles, de Numa
Pompílio e cujo nome era
INQ II - 7
Ep.,
X , r, 10; X I I , 10, 27, etc.
encontrarem
Calpurnia
rerum
Calpus.
97
«TÉ:
multa dies et multa litura coercuit atque
_£_muita emenda e que, depois de, retalhado dea
praesectum deciens non castígauit ad unguem.
Ingenium mísera quia fortunatius arte
295
credit et excludit sanos Helicone poetas
vezes, não for castigado até_ao caibo.
Demócriito, porque crera ter o gênio mais valor
do que a pobre arte, fechou as portas d o Hélicon
Democritus, bona pars non unguis ponene ourat,
293|l
aos poetas de juízo. A maior parte dos que per-
non barbam, secreta petit loca, balnea íiitat;
tencem à sua facção não se preocupa com o arran-
nanciscetur enim pretium nomenque poetae,
si tribus Anticyris caput insanabile nunquam
300
tonsori Licino commiserit. O ego Iaeuus
jar .das unhas, nem com o frisar da barba; escolhe
para viver os lugares 'desertos, evita os balneários.
Assim obterá a fama e nome de poeta quem nuncai
qui purgar bilem sub uerni temporis horam!
confiar a Lícino, o barbeiro, essa cabeça que nem
295-476 — Entra-se agora na última parte do poema, perfeitamente distinta das anteriores, e na qual Horácio trata da
300
as três Antíciras já podem curar, E eu, desastrado,
que me purgo da .bílis quando se aproxima a épocaj
formação do poeta, ou seja da ars que deve possuir todo o
que se dedicar à poesia. Ao mesmo tempo enceta, abertamente,
neste ponto Horácio leva a ironia às suas últimas conseqüên-
o capítulo da crítica literária. Esta última parte corresponde,
cias, deve ter mesmo um certo grau de loucura, pois esta
possivelmente, ao capítulo, que Neoptólemo de Pário dedicava
aumenta
ao TtoiviT^ç (poeta) e nela se notam certas influências aristo.
télicas, que, segundo Brink, Prolegomena, p. 138, etc., devem
provir do De poetis de Aristóteles, obra que não chegou até nós.
295-305 — Teoria
poema.
ingenium
ars
concernente
Horácio mostra aos
(talento)
ao
poeta,
ao
artifex
Romanos que não basta só
do
o
paira se ser poeta, precisa-se também da
(técnica).
o
talento
poético.
de furor
mócrito, teria este pensado que só poderia ser poeta quem
tivesse ünicamente qualidades naturais para o ser. Essas qualidades não necessitavam de ser desenvolvidas e, por isso, toda
a
doutrina
de
Horácio
mas este é alterado caricaturalmente
sagrado,
que
Cícero, De
o
transforma
diuinatione,
furore Democritus
quemquam
quod idem dicit P l a t o »
300 — Antycira
em
verdadeira
demência.
por
Vid.
1, í8o (frag. 17 D i e l s ) : «negat sine
poetam
(cf. De oratore,
magnum
esse posse:
TH, 11(914).
era o nome de três cidades da Grécia (na
Fócida, Tessália e Lócrida)
297 — Segundo a teoria tradicionalmente atribuída a De-
Efectivãmente,
Demócrito via no poeta, em vez dessa loucura, uma espécie
em que se produzia o heléboro,
planta medicinal, que era considerada na antigüidade
como
tendo propriedades que curavam a loucura. Horácio dá-nos a
entender que o heléboro se chamava também Anticyra,
iden-
tificando o nome da terra com o d o seu produto.
e qualquer formação cultural, em que entrasse algo de técnica,
301 —Quícino era um barbeiro romano então cm moda.
era considerada como produto de
302 — A
um artifkialismo que
só
estragaria a beleza da obra. O poeta, segundo Demócrito, e
98
bílis era considerada como uma das causas da
loucura e, por isso, era debelada igualmente com o heléboro-
99
Non aJíus faceret meliora poemata; ueruxn
primaverill Se assim não procedera ninguém faria
nil tanti est. Ergo fungar uice cotis, acutum
melhores poemas do que eu! Por tal preço, porém,
reddere quae ferram ualet exsors ipsa secandi;
305
não vale a pena. Servirei, 'portanto, como a pedra!
munus et officium, nil scribens ipse, doeeibo:
de amolar que muito embora não corte por si só,
unde parentur opes, quid alat formetque poetam,
serve para tornar o ferro mais agudo; ensinarei,
quid deceat, quid non, quo uirtus, quo ferat error.
nada escrevendo eu próprio, o valor e a missão do
poeta: de onde vêm os recursos do talento, o que
Scribendi recte sapere est et principium et fons.
Rem tibi Socraticae poterunt ostendere chartae,
305
310
inspira e forma o poeta, o que convém escrever e o
uerbaque prouisam rem non inuita sequentur.
que não convém e aonde flevam a qualidade e d
Qui didicit, patriae quid debeat et quid amicis,
erro.
quo sit amore parens, quo frater amandus et hospes,
Ser sabe dor é o princípio e a fonte d o bem
quod sit conscrípti, quod iudicis officium, quae
e s c r e v e r O s escritos socrâ ticos já te "deram idéias
310
e agora as palavras seguirão, sem esforço, o assunto
306-308 — Neste passo faz-se a transição para outros te-
imaginado. Quem aprendeu o que se deve à pátria!
mas de que Horácio vai tratar. Esses temas são enunciados
e aos amigos, quanto afecto se deve conceder aos
pelo poeta: onde adquirir a substância da poesia; o que forma
um poeta; o que é apropriado ou o que não 6 apropriado para
a poesia; perfeição e imperfeição do poeta. Quanto à frase
nil scribens
P o d e ser identificada com
três fases em que Horácio abandonara um pouco o seu ofício
interuallum
1)
a fase anterior à elaboração das Odes;
liricum
entre 23 a,C. e
18 a.C,; c )
o
2)
o
período
entre a publicação d o livro I V das Odes e o f i m da sua vida,
iq-8 a.C. A primeira deve ser rejeitada, porque Horácio não
Kl-, podia intitular-se mestre de poesia antes de ser reconhecido
:
como grande poeta latino (Latinus
fidicen).
As duas outras
% f a s e s , têm as mesmas possibilidades de serem admitidas, tal
diz Brink, Prolegomena,
ifcíj,' j á dissemos na introdução,
;
dor e do juiz, quais as atribuições do general man-
ipse ( v . 306) foi ela interpretada como dado cro-
nológico, para a datação da A. P.
de poeta:
pais, irmãos e hóspedes, quais os deveres do sena-
p. 242, mas parece-nos, como
p. 25, que a última tem
verosimilhança (cf. J. Perret, Horace,
mais
nil scribens
ipse um sentido mais lato, com que Horácio pre-
tenderia afirmar que ele não escrevia poesia dramática.
309-33? — Entra agora na apresentação das partes enunciadas. O bom 'poeta tem de possuir uma capaz
filosófica, tal como os poetas gregos, que
preparação
nisso eram
bem
diferentes dos romanos. Possível influência de Aristóteles, que
defendia os conhecimentos filosóficos dos poetas,
os poetas contra os ataques de Platão,
objecto. Cf. Brink, Prolegomena,
310 — Socraticae
chartae,
protegendo
de que estes eram
p. 1-27, e segs.
alguns identificam-nas com os
p. 186 e segs.). Também
escritos de Platão e outros com os dos seus discípulos, p. ex.
nos parece viável e bastante lógico que possa atribuir-se ao
Xenofonte, e até mesmo com os de Panécio, o estóioo, etc.
t
101 125
partes in bellum imissi ducis, ille profecto
315
dado à guerra: esse, na verdade, sabe conferir a
reddere personae scit conuenientia cuique.
cada personagem a descrição que melhor lhe cabe.
Respicere exemplar qitae maruimque iubebo
A o douto imitador aconselharei que atente no mo-
doctum imitatorem et niiias hinc ducere uoces.
delo da vida e dos costumes e 'dai retire vívidq
Interdum speciosa locis morataque recte
discurso. Comédias há, por vezes, que, embora
fabnla nullius nenens, sine pondere et arte,
320
parcas de èlagância, medida e arte, por apresenta-
ualdius ohlectat populum meliusque moratur
rem temas atraentes e caracteres bem delineados
quam uersus inopes rerum nugaeque eanorae.
agradam mais ao público e o prendem muito mais
telas poéticas.
Musa Ioqui, praeter laudem luuHkis auaris:
Romani pueri longis rationibus assem
325
A Musa deu aos Gregos o .talento e a possibi-
discunt in partis centum diducere. «Dicat
lidade de falar com jgrande elevação, a eles que
filius Albini: si de quincunce remota est
eram
uncia, quid superat?.., Poteras dixisse. — Triens.—Eul
jovens romanos, por seu lado, aprendem a re-
Rem poteris seruare tuam, Redit uncia, quid fit?—-
duzir,
Semis». An, haec ânimos aerugo et cura peculi
330
Deve, porém, tratar-se de uma simples referência k disciplina
moral.
316 — Conuenientia
(aptum)
corresponde
ao
arístotélíco
Aristóteles,
I X e X V . Novamente se refere Horácio aos sentimen-
tos das personagens, Cf. A. P.,
317 — Exemplar
v . 11119 e v . 156 e segs.
uitae — refere-se à teoria helenística ti-
rada de Aristóteles, segundo a qual a poesia seria
da vida,
irpírcov
ou seja a teoria de qne as características d a descrição
devem ser apropriadas ao que se descreve. V i d .
Poética,
imitação
o que se notará na concepção dos gêneros literários
da época helenística, p. e x . na Comédia N o v a . P o r isso, Cícero,
De republica,
TV, 11, chamará à comédia, speculum
consuetu-
ambiciosos,
um _asse_ em
325
cem
partes. — «Diga o filho de Albino: se de cinco
onças tirares .uma só, quantas ficam? Poderias ter
já dito!» — « Q u a t r o » . — «Muito bem!
Assim jál
poderás administrar a tua fortuna. E se acrescentares uma às cinco, quantas ficam?» — «Seis onças»,
Esperaremos
nós,
porventura,
que
estes
espíritos, uma vez imbuídos da preocupação cor1,
Menandro. Quanto à teoria da jUÍtLTjatç,
poetis
na-
Poética
de Aristóteles, v i d . (Brink, Prolegomena,
323-332
330j:ii
. •
e no Dái^
pp.
• ^SÍS»'
Horácio volta ao confronto de Romanos e G t t $ | L
goe, pois tinha tomado estes como modelo, visto que sóéíítPp®
ram dar a
que nos resta da Comédia nova, e sobretudo pelo Díscolo
rotundo
de
mas só de alto renome. Osi
.com grandes .contas,
dinis. Esta asserção clceroniiana é largamente comprovada pelo
102
320
do que versos sem realidade, ou harmoniosas baga-
Grais ingenium, Grais dedit ore trotando
da filosofia
3X5
devida
loqui).
importância
ao
ingenium
e
à ars
(ore ?
N a educação, os Romanos só ss interessam/t.
W3
«
p
•.
ffip>um semel imbuerit, speramus carmina fingi
rosiva do dinheiro, possam criar versos dignos de
gM^osse linenda cedro et leui seruanda cupresso?
serem cobertos com óleo de cedro e conservados
i p | | . A u t prodesse uolunt aut delectare poetae
na madeira do cipreste bem polido?
^ S a t simuí et iucunda et idônea dicere uitae.
Os poetas ou querem ser úteis ou dar prazer
^ f e i í i c q u i d praecipies, esto breuis, ut cito dieta
335
cm, a o mesmo tempo. Jratar d e assunto belo e
||§Í£fcípiant animi dociles teneantque fideíes:
adaptado à vida. Se algum preceito deres, sê breve,
p p D a s e superuacmim pleno de pectore manat.
para que rap_Í d am ente^apreen dam e decorem as tu as
p F i c t a uoluptatis causa sint próxima ueris,
lições os ânimos dóceis e fiéis de quem te ouve: tudo
p h e quodcumque uolet poscat sibi fabula credi,
o . q u e í q t supérfluo ficará ausente da memória, car-
335
regada em demasia. As tuas ficções, se queres caupelos aspectos práticos e materialistas da vida, preferindo a
aritmética à poesia e filosofia.
sar prazer, devem ficar próximas da realidade e
332 — Em Koma, os livreiros, para preservarem da des-
bula deseja que se creia, como quando se tira v i v a
não se pode apresentar tudo aquilo em que a fá-
truição os rolos de papiro, costumavam esfregá-los com óleo
de cedro e depois metê-los em caixas de cipreste: cf. Vitxiivio,
este fala do poema didáctico. Também não é fundamental o
H , p. 13; Porfirião, ad loc.;
V,
objectivo de causar prazer. A escola perlpatética defende, sim,
X V I , 76, 39, Com esta imagem pretende
a combinação das duas tendências, como vemos no passo citado
4, 2; Plínio,
N. H„
Teofrasto, Hist.
plantarum,
o poeta referir-se à imortalidade de que os bons poemas são
de Neoptólemo
dignos.
cumprir a sua função, o poeta perfeito deve entreter o espírito
(Brink,
Prolegomena,
p.
i'20, n.
1):
«para
do ouvinte e assim também ser útil e ensinara.
333-346 — Horácio apresenta os escopos que o poeta pretende atingir: o utilitário (a que Neoptólemo de Pário dá o
nome de yp7jff[[jt,oXoyeTv) ou seja prodesse
plesmente artístico e lúdico, delectare
ao que
tis mutandis,
Neoptólemo
( v . 333}, o sim-
(que corresponde, mutachama
Jíuyaywyta),
ou
então procura o poeta obter o duplo efeito que reihia ambos
os fins (iucunda et idônea, v . 334). Cf. Brink,
pp.
128-129,
e
cs frags. citados apud
n.° 10 (De poem.,
Brink.
Prolegomena,
Neoptólemo,
V, col. X I I I ) , Estes aspectos tiveram sobre-
maneira importância na teoria literária da antigüidade, A utilidade não é, contudo, característica fundamental da poesia,
como pode ver-se em Aristóteles, Poética,
104
I , T447 b, quando
335 — Tal como já apontara, quando criticava a tendência dos poetas cíclicos para as grandes digressões e fizera o
elogio da brevidade de Homero ( v . 140 e segs,), volta Horácio
de novo a tocar neste ponto, considerando como essencial a
breuitas in rebus. Deve referir-se, neste verso, ao poema didáctico (Quicquid
prcscipies),
no qual o autor procura instruir.
338 — Depois de falar do poema que procura ser útil e
ensinar, fala q poeta daquele em que ímicamente o poeta procura deleitar os ouvintes, inventando novos temas. Aqui também, não são permitidos exageros, pois sempre a verosimilhança deve ser considerada, tal como diz Aristóteles,
Poética,
X V , 1454 a.
105
neu pransae Lamiae uiuum puerum extrahat aluo.
34o
I d o ventre de Lâmia a^ cri anç a h á pouco por esta • 3?i
Centuriae seniorum agitant expertía fnugis,
{devorada._As centúrias dos mais velhos repudiam''
cefsi praetereunt austera poemata Ramnes.
/todo o .poema que não f o r proveitoso, mas os q u g - %
Omne tiiíit punctum qui miscuit utile duld,
f pertencem à tribo -de Rarnnes,não gostam, desde^ •
Jectorem detectando pariberque monendo;
nhosos, dos poemas austeros. Jtepebe sempite.jpa;~
hic meret aera liber Sosiis, híc et maré transit
345
fet Iongum noto scriptori prorogat aeuum.
votos, o que soube misturar o útil ao agradável/
pois^deleita e ao mesmo tempo ensina o leitor:
Sunt delicia tamen quibus ignouisse uelimus;
este o livro que dá dinheiro aos Sósios, que passai •
nam neque chorda sonum reddit quem uult manus
os mares e oferece ao célebre escritor
imortal.
renome.
[et mens,
poscentique granem persaepe remittit aoutum,
Há, porém, defeitos para os quais exigimos in-
nec somper feriei, quodcumque minabitur, arous.
350
dulgência: pois nem a corda produz o som que a
Verum ubi plura nitent in carmine, non ego paucis
mão e o espírito desejam, saindo, muitas vezes,
offendar maculis, quas aiut incúria fudit,
som agudo a quem procura o 'grave, nem, tão-
r
-pouco, o arco encontra sempre, com a flecha, o
340
1
-Lâmia era
uma figura da novelística grega, cuja
crueldade fazia terror às cfianças, pois, segundo se dizia, devorava os recém-nascidos. V i d . E . Rohde, Der
man, Dannstadt, <1960, p.
teca, XX, 411:.
2ro
griechische
, o . e Diodoro Sículo,
RoBiblio-
M 2 — O s Ramnes
(também Rhamnes)
correspondem à
t n b o dos Ramnenses, uma das t r & mais antigas tribos que
Rómulo fundou em R o m a e estão aqui, por antonomásia, em
vez de equites (cavaleiros).
343 — Horácio segue a solução intermediária já preconizada pelos peripa té ticos e por Neoptólemo, pretendendo que a
boa poesia deve juntar o ú t i j ao agradável (dulce ^ é o prazer
artístico).
345 — Sosii era o nome de uma família de livreiros célebres
em R o m a (cf. Epíst., I , 20, 2 ) .
alvo que se mirou. Na verdade, quando inúmeras
350
qualidades brilham ntrin poemas não vou ofender-me com alguns defeitos, deixados escapar por
•.•,•
347-476 — Entra-se na última parte da teoria oonoernerite
ao poeta e à crítica literária: procura-se a maneira de evitar
o erro e de assim atingir a perfeição poética.
347-360 — A perfeição absoluta não existe e por isso, sem
que admitamos erros essenciais, temos de admitir que alguns
pequenos defeitos podem existir, N o entanto, o erro que, nos
grandes poetas, é excepção, torna-se hábito e vicio nos maus
poetas.
3 4 7 — • H o r á c i o emprega, humorlsticamente, um tom Jurídico neste passo,-em que se trata d o perdão ou da condenação
de certos delitos poéticos.
106
107,
neu pransae Lamiae uiuum puerum extrahat aluo.
34o
\ do ventre de Lânnia a_ criajiça há pouco por esta
Centuriae seniorum agitant expertia frugis,
[devorada, JíS centúrias dosimais velhos repudiam'^ f:
cefsi praetereunt austera poemata Ramnes.
(ipào o .poema que não for proveitoso, mas os q u e " ^ » 1
Omne tolit punctum qui miscuit utile dulci,
pertencem à tribo de Ramnes,não.gostam, desde^ ^
Jectorem delectando pariterque monendo;
nhosos, dos poemas austeros. Jtepebe sempm^oá;^
hic meret aera Iiber Sosiis, hic et maré transit
345
fet longum noto scriptori prorogat aeuum.
pois^ deleita e ao mesmo tempo ensina o leitor:
Sunt delicta tamen quibus ignouisse uelimus;
este o livro que dá dinheiro aos Sósios, que passa^ -r'^
nam neque chorda sonum reddit quem uult manus
os mares e oferece ao célebre escritor imortal
[et mens,
nec semper feriei, quodcumque minabitur, arous.
350
Verum abi plura nitent in carmine, non ego paneis
L â m i a era
crueldade fazia terror às cHanças, pois, segundo se dizia, devoman. Darmstadt, 11960,
teca, X X , 411.
p
.
ZIO,
griechische
dulgência; pois nem a corda produz o som que a
f
n. e Diodoro Sfculo,
-pouco, o arco encontra sempre, com a flecha, o
alvo que se mirou. Na verdade, quando inúmeras 350
Ro-
qualidades brilham num poema-, não vou ofender-
Biblio-
-me com alguns defeitos, deixados escapar por
M 2 — O s Ramnes
(também Rhamnes)
correspondem à
tribo dos Ramnenses, uma das três mais antigas tribos que
Rómulo fundou em R o m a e estão aqui, por antonomásia, em
vez de equites (cavaleiros).
343 — Horácio segue a solução intermediária já preconizada pelos peripa té ticos e por Neoptólemo, pretendendo que a
boa poesia deve juntar o útil ao agradável (dulce — é o -prazer
artllstico),
345 — Sosii era o nome de uma família de livreiros célebres
em R o m a (cf. Epíst., I , 20, 2 ) .
106
Há, porém, defeitos para os quais exigimos in-
som agudo a quem procura o gtrave, nem, tão^
uma figura da oovelístíca grega. Cuja
rava os recém-nascidos. V i d . E . Rohde, Der
J
mão e o espírito desejam, saindo, muitas vezes,
offendar maculis, quas aut incúria fudit,
1
«45
renome.
poscentique granem persaepe remittit aoutum,
340
votos, o que soube misturar o útil ao agradável/ '
347-476 — Entra-se na última parte da teoria conoernedi»
ao poeta e à crítica literária: procu«»-se a maneira de evitar
o erro e de assim atingir a perfeição poética.
347-3^0 — A perfeição absoluta, não existe e por isso, sem
que admitamos erros essenciais, temos de admitir que alguns
pequenos defeitos podem existir, N o entanto, o erro que, nos
grandes poetas, é excepção, torna-se hábito e vício nos maus
poetas.
347 — Horácio emprega, humorlsticamente, um tom Jurídico neste passo,-em que se trata d o perdão ou da condenação
de certos delitos poéticos.
107,
Í f ; a u t humana param cajuit natura. Quid ergo est?
certa incúria ou porque a natureza humana os não
V t scríptor si peccat idem librarius usque,
:
quamuis est monitus, uenia caret, et citharoedus
355
- V ridetur, chorda qui semper oberrat eadem,
v|
citara é posto a ridículo se, ao dedilhar as cordas,
% ; quem his teme bonum cum risu miror; et idem
;
-
360
pictura poesis; erit quae, si propius stes/ 1
que muito falha me lembra o célebre Quérilo, o
qual escarneço, ainda que duas ou três vezes ele
seja digno da minha admiração. E não posso deixar
K t e capiat magis, et quaedam, si longius abstes;
de indignar-me todas as vezes que dormita o bom
jjpSfcaec amat obscurum, uolet haec sub luce uideri,
Homero: contudo, é natural que, na descrição de
iuidicis argutum quae non formidat aoumen;
tão grande assunto, alguma vez nos domine o sono.
•
-
3ó0
Como a pintura é a poesia: coisas há que de
.
357 — Q u é r i l o de laso {Ciaria), poeta épico contemporâ-
perto mais te agradam e outras, se a distância
companheiro de Alexandre Magno, foi pago por este para
estiveres. Esta quer ser vista na obscuridade e
jji
•
||
n e o e
'^
cantar as suas campanhas. Diz a tradição antiga, que Quérilo
y.
era ura péssimo poeta, pois ainda que conseguisse ser por
literária. V i d . Hor., Epíst.,
M; r, 232 e segs.
<!-
aquela à viva luz, por não recear o olhar penetrante
%
vezes brilhante, a totalidade da sua obra era de m ^ u a l i d a d e
U
355
cai sempre no mesmo engano, igualmente o poeta
; ; indignor quandoque bônus dormitat Homerus;
fe
copista não merece desculpa, porque, embora avisado, sempre faz o mesmo' erro, e o tocador de
sic mihi, qui multum cessat, fit Choerilus ille,
uerum operi longo fas est obrepere somnum.
soube evitar. Que quero eu dizer? Assim como o
24: relata as duas justificações, a de Cícero referente a Demós-
ív: •
tenes e a de Horácio respeítante a Homero.
M ^ Í - ^ 358-360 — Mesmo
Homero,
o
mais
perfeito dos
poetas
||||,;(çf. v . 140 e segs.) e que deve ser q modelo de todos, também
||||Be engaiia por vezes. Horácio faz-se eco das críticas da escola
361-390 — Mesmo
admitindo
a
natural
imperfeição
do
engenho humano, há que observar, no entanto, certos prin-
de
cípios: o poeta tem de possuir elevado domínio d o seu talento,
l l p ^ e r ò » ) , que, na obra d o grande épico, descobria um sem
pois a mediocridade não pode ser consentida: tem de ter ins-
r^ilimero de incoerências e de erros. Estas afirmações
piração e desenvolrvê-la com a ars.
|alexandrina
de
Zoilo
(a
quera
chamavam
<0
chicote
provi-
sobretudo do desconhecimento científico da língua homé!
que parecia, com efeito, f u g i r às regras da língua jónica.
I ^ a n i a g e m de que era o sono o causador desses deslizes,
já
p p ^ r é c e nalguns autores, que ligavam a mesma imagem a oul^os.escritores:
Cícero,
apud
Plut.,
Cícero,
24,
l ^ i r a os erros de Deméetenes, e Quintilíano, Inst.
justificava
Or.,
X,
T,
361 — A imagem da pintura comparada à poesia
{devido
à fiEfi.Tjtriç) é muito freqüente na antigüidade. Basta lembrar
um símile congênere em Plutarco, De gloria
Athen.,
346 F,
que nos diz «ser a pintura poesia calada e a poesia pintura
que f a l a » .
109
cah a e c placuít semel, haec deciens repetita placebit.
I
365
O maior iuueaum, quamuis et uoce paterna
('
dos seus críticos; esta, só uma vez agradou, aquela,
j
dez vezes vista, sémpre agradará.
•
tolle memor, certis médium et tolerabile rebus
a mão paterna te tenha encaminhado para o bom-
recte concedi; consultus iuris et actor
-gosto e 'por ti próprio tenhas aprendido, conserva
370
bem na memória o que .te digo; nas coisas positivas
Messallae nec scit quantum Cascellius Aulus,
se concebe tolerável mediania e qualquer juriscon-
sed tamen in prefcio est; mediocribus esse poetis
sulto ou advogado mediano, se não chegou à habi-
non homines, non di, non concessere columnae.
lidade do eloqüente Messala ou à ciência de Aula
Vt gratas inter imensas symphonia discors
Cascélio, nem por isso deixa de ter o seu valor. Mas
et crassum unguentum et Sardo cum melle papauer
375
os poetas medianos, esses não os_admitem nem os
offendunt, poterat duci qui a cena sine istis,
deuses nem.os homens, nem as colunas dos livreiros.
sic animis natum inuentumque poema iuuandis,
Tal como em simpático banquete desagradam con-
si paulum summo decessit, uergit ad imum,
certos dissonantes, perfumes mal cheirosos e a dor-
Ludere qui nescit, campestriibus obstinei armis,
mideira temperada com o med da Sardienha, porque
dirige-se Horácio ao mais velho
o banquete podia passar sem estes, do mesmo modo
dos dois Pisões, que de faoto se julga, ter querido dedicar-se
o poema nascido e inventado para agradar aos espí-
à poesia dramática. O poeta afirma que, se noutras artes de
ritos, assim que se afastou um pouco do termo dese-
carácter utilitário, não é imprescindível o seu domínio per-
jado, logo,tombará no extremo oposto. Quem não as
366 — Com certo pathos
feito, na poesia só o melhor nível é admissível.
371—Messala,
Mar eus Valerius
Messala
Corvinus,
IN
365
Tu, que és o mais velho de teus irmãos, embora
fingeris ad rectum et per te sapis, hoc tibi dictum
causaram mediocris abest uirtute diserti
MM
é um
375
sabe terçar que se abstenha de jogar armas no cam-
1
advogado célebre, contemporâneo de Horácio, e é citado o seu
exemplo ao lado d o de Aulus
Cascellius,
jurisconsulto m u i t o
373 — Anáfora, com que procura obter-se a ênfase decla-
conhecido, que nasceu, julga-se, um pouco antes de 100 a.C.
matória e irônica, misturando oe nomes dos deuses e .dos
Estas citações foram consideradas como dado® para a datação
homens
d o poema. Messala pouco interessa, visto ser contemporâneo,
escaparates dos livreiros. Estes últimos deviam interessar f o r -
mas Cascélio,
temente aos interesseiros poetas de R o m a .
20 a.C.
(se
já devia
ter cerca de noventa
considerarmos
Brink, Prolegomena,
provável
esta
anos n o ano
data),
Por
d o grande jurisconsulto como o símbolo, por excelência,
homem de leis.
t 110
isso,
p, 240, propõe que se considere o nome
do
(como nas fórmulas de invocação solene), com
os
••íti#r
375 — Mel com sementes de papoila torradas, era considerado uma iguaria nos banquetes romanos ( P l f n . , H. N,,
XIX
i ó S ) . O mel da Sardenha, contudo, era dog menos aconâelhá-'
veis, parque demasiado amargo.
125
.
r
ilft-) '
;*indoctusque pilae disciue trochiue quiescit,
380
po e, quem não aprendeu a lançar a bola, o disco, o
380
||f| no spissae risum tollant impune coronae;
troco, .deve ficar quieto, para que os círculos api-
í||);tqui nescit, uersus tamen audet fingere. Quidni?
nhados de espeçtadores se não riam impunemente; e
|||liber et ingenuus, praesertim census equestrem
quem nap sabe, ousa, contudo, fazer versos? Por
^p|summam nummorum uitioque remotus a b omni.
que não? Se é livre e de pais livres, sobretudo'
i T u nihil inuita «dices faciesue Minerua;
385
!•$!':• " í d tibi iudieium est, ea meus. Siquid tamen olim
quando o censo lhe atribui a soma de moedas que
dele faz õim cavaleiro, além de estar isento de quaJ-
scripseris, in Maeci descendat iiudicis auris
quer vergonha? Apesar disso, tu nada deves dizer
et patxis et nostras, nonumque prematur in annum
ou empreender sem a iboa vontade de Minerva: este
385 ^
membranis intus positis; delere licebit
tem de ser o teu princípio e a tua opinião. Se acaso,
j ~T I
porém, alguma vez quiseres escrever uma obra,
l
dá-a primeiro a ouvir a
o crítico, a teu pai,
j £
a nós, e que-em- rolos de pergaminho ela repouse
^
quod non edideris; nescit uox missa reuerti.
390
Siluestris homines sacer interpresque deorum
caedibus et uictu foedo detemiit Orpheus,
Mécio,
-
durante nove anos, pois o que não for a flutue é
380 — trochus:
círculo de metal, que as crianças faziam
girar, por meio de uma vara de ferro.
385 — Expressão proverbial. V i d . Cícero, D e o f f . . I ,
«inuita,
ut aiunt,
Minerua,
idest aduersante et
tio:
repugnante
ainda susceptível de correcção, mas palavra que for
\
lançada já não pode voltar.
390
Foi Orfeu, o sagrado intérprete dos deuses,
quem afastou os homens selvagens do assassínio
natura». Os desprotegidos de Minerva, a deusa da sabedoria
e das artes, não podiam ser artistas.
387 — Spurius
Maecius
Tarpa
em 55 a.C. data a que Cícero, Ep.
388 — Já É-lvio Cina, um dos poetas novos, só publicara
devia ter cerca de 30 anos
Eam.,
VTI, 1, 1, se refere
quando fala dele como crítico literário e dos maiores.
14 a.C. (data presumível da A. P.)
o seu poema Zmyrna
Cf. Catulo, Carrn.,
depois de nove anos de o ter escrito.
95.
Em
3 9 2 — Orfeu, poeta mítico, que, segundo antiga tradição,
já ele tinha c. de 70 anos.
contribuiu pela música e ipelo canto para diminuir a selvajaria
Referir-se-ia Horácio a Tarpa, em vida deste, ou pretenderá
e a rudeza dos primitivos homens,
o poeta, tão-sòmente, dar-nos o nome de Tarpa, como o do
Esses homens são identificados, por alegoria, com as feras.
crítico por excelência,
Quanto ao homem primitivo, tinha já a antigüidade uma ima-
tal como talvez fizera a respeito de
tirando-os da
barbárie.
Cascélio ( v i d . v . 371)? Nada se pode afirmar com segurança,
gem definida, que o fazia antropófago cadibus
e por isso mesmo, estas referências não são dados seguros que
admitindo também que se alimentasse de glandes como vemos
permitam uma datação do poema horaciano.
em Hesíodo,
112
SNQ U - 8
Trab.
e Dias,
23I2 e Heródoto,
et uictu
I,
foedo,
06 e segs.
113
didíüs o b hoc lenife tigris rabldosqífélêbnésí frr^up -.roq
e d o nefando pasto; por isso se dizia que ele aman-
dictus ét Amphion, Thobanae conditdr uíbiá,
saxa tigres e ferozes leões. D e igual modo, se fala1 v-ií
' Vj
#
saxa motière èono testudinis iest prectílílahdâ
%
-'»> s o f ^ j í
duceréqtio tuellet. Ftiií hüke '^pieritiá^tí^daítíin nrrmp
publica priuátis secernere, sacra prtffàúiá;
concubitu prohibere uago, dare iüfâ ínarítíê,1--
^.óc-ví-
oppida molirí, léges incidere lignb, •
ao
Sic honor et nomcn diuinis uatibus atque.
. ' 400
càrminibus uenit, Post hos insígnia Homerüs
' i'-
[
:
-;•>".
et uitae monstrata uia est, et gratiá régum
Pieriis temptata modis ludusque repertus
405
et Iongorum operum finis: ne forte pudori
394 — Com Anfíon dá-nos Horácio mais um exemplo de
poeta mítico da geração anterior a Homero, Este pertencia à
tradição tebana, uma das mais antigas da Grécia, como diz
Varrão, De re rust., H I , 1.
396-399 — O poeta mostra que, nos tempos
movimento e as levava para onde .bem queria. Fundava-se a antiga sabedoria em distinguir o público
do privado, o sagrado do profano, em pôr freio a "
uniões adúlteras, em dar direitos aos maridos, em
Assim adveio honroso nome aos divinos vates e aos
400
seus poemas. Depois destes, o ilustre Homero e
Tirteu com versos incitaram os espíritos viris para
as guerras de Marte; em verso foram proferidos os
primitivos,
Também
2, 5, nos diz o mesmo, referindo-se,
Cícero,
dos reis e, no fim de longos trabalhos, foram desb. 4t>5
çgi!terfeis.^^jrepresentações teatrais: agora,
que,
portanto, não te causem verçonha _auMusa -háí>il_
no dedilhar da lira e Apoio cítaredo.
ticos) e à epopeia, vem Tirteu, poeta elegíaco do séc. V H a.C.
que representa a primeira fase da elegia. Cultivou-a, em Eeparta, e deu-lhe carácter exortativo e guerreiro.
porém, &
403 — Horácio enumera depois da epopeia e da elegia a
filosofia; «Tu urbis peperistl, tu dissipatos hominos in socie-
poesia sacra! dos oráculos ( V . 403), a poesia elegíaca de carác-
tatem uitae conuocasti, tu eos inter se primo domiciliia, deinde
ter gnómico, como a de Teógnis, no séc. v i a.C. ( v .
conlugils, tu litterarum
e, seguidamente ( v . 404), refere-se à poesia mélica coral
Tusc.,
V,
uma e só coisa.
39
:'í
versos, pelas Piérides inspirados, sejcaptou o favor
O ritmo o as palavras tinham, portanto, valor mágico que
convencia os ânimos à doçura e comedimento.
filosofia eram
branda camtilena e pelo som da Jira, dera às pedras
oráculos e mostrado q /bom c a m i n h o d a vida; e m ,
sit tíbi Musa lyrae sollers et cantor Apollo.
poesia e
de Anfíon, fundador da tebana cidade, que, por - ^
construir cidades e gravar em madeiro as suas leis.
Tyrtaeusque mares ânimos in Martia bella •
uersibus êxacuit, dictae per càrmina sortes;
' jilf
et uocum communione
iunxisti,
tu
404),
(de
inuentrix legum, tu magistra morum et disciplinas fuisti...»
Hndaro, Baquílides e Simónídes), cujos cultores, nos eptnícios,
402 — A seguir a Homero, séc. I X - V I I I , a.C. (que Horá-
procuravam obter o favor dos reis. Finalmente ( v v . 405-406)
cio coloca, contra a opinião de alguns, depois dos poetas mit 114
aparece a poesia dramática
que é a cúpula de toda
esta
125
Natura fieret laudabile oarmen an arte,
Há quem disciuta se o bom poema vem da arte
:!'•- quaesitum est; ego nec studium sine diuite uena,
.
se da natureza^: cá por mim^ jie^huima. arte v e j o I
nec rude quid prosit uideo ingenium; alterius sic
410
sem rica intuição e tão-pouco serve o engenho.semi
altera poscit opem res et coniurat amice.
ser trabalhado: cada uma destas qualidades--se
Qui studet optatam cursu contingere metam,
completa com as outras e amigavelmente devem'
multa tuJit fecitque puer, sudauit et alsit,
todas cooperar. O atleta que forceja por atingir na
abstinuit uenere et nino; qui Pythia cantat
£
\
410
corrida a meta desejada, muito fez e suportou desde
tibícen, didicit prius extimuitque magistrum.
i>V.
/
415
menino, suou, sofreu e abs teve-se do vinho e de
Nunc satis est dixisse: « E g o mira poemata pango;
Vénus; o flautista, que entoa carmes nos Jogos
occupet extremum scabies; mihi turpe relinqui est
Píticos, teve de aprender primeiro e de obedecer a
um mestre. Mas hoje em dia só basta dizer: — «Es-
evolução, e à qual mais de perto se refere a A. P. Cf, w . 73S&it -85, onde há a descrição dos mesmos gêneros poéticos, e até
tV;; da poesia jâmbica que falta neste último passo. Acrescenta,
415
crevo versos extraordinários; que a sarna atormente
o que chegar em último; considero vergonha o ficar
: contudo, aos gêneros já descritos algumas subdivisões, como é,
caso da poesia elegíaca, a poesia especial de Tirteu,
conferat an doctrina.», X I I , 5, 2; Cícero, Pro
408-411 —Discute-se o tradicional problema debatido pela
N ã o há,
retórica ensinada nas escolas, sohre a .primazia da arte ou do
ingenium.
talento. Qual dos dois é mais necessário? —ipregunta Horácio,
Archia,
7, 55.
portanto, razão de ser para a alternativa ars ou
412-452 — O
poeta é um artífice, um técnico da poesia e
Conclui que para se ser bom poeta é necessário possuir equi-
nunca um amador, tí de notar que Horácio acentua muito o
übradamente partes equivalentes de talento e de arte. As qua-
papel da técnica na criação poébica, mais ainda do que Aris-
lidades naturais têm de ser desenvolvidas. Esta questão já o
tóteles,
,
poeta a tinha posto quando se referira aos escultores que tra-
Prolegomena,
\ .
balbavam perto da escola Emília
( v . 32 e segs.) e quando
a comparar quem faz poesia com os que têm qualquer ocupação
as teorias da escola de Demócrito ( v . 205 e segs.).
de acentuado cunho técnico: ginasta, músico. Ê preciso um
tevxríticara
rc&iCW Contra
Demócrito e
a
poesia
| çomo resultado da inspiração, Horácio coloca-se na
posição
'
m
m
Platão
que
consideravam
tJPfv,''
que via na boa
poesia o resultado da combinação d a natura
(0u<ri()
e ars
• Neoptólemo de Pário parece defender idéias pareciMj-í-âas em col, X I , etc. V i d . Brink, Prolegomena,
''
Quíntüiano, Inst.
i 16
Or.,
possivelmente
p . 55. Cf.
H , 19: «naturane plns ad eloquentiam
já
o
pressupunha.
Vid.
ÍBrink,
p. 255. Estes os motivos que levam o poeta
tempo de aprendizagem.
414 — Pythia
m
^intermédia, seguindo a escola peripatética,
quie
trata-se
dos
jogos Píticos,
celebrados
em
DeLfos, em honra de A p o i o vencedor da serpente Piton.
416 — Para se fazer poesia é necessário aprender. Cf.
v.
88 e segs.
417 — Occupet
extremum
scabies, expressão tirada de.um
jogo de crianças, em que o ganhador dizia ao que perdia,
ficando em último (extremum), que a sarna o podia dominar.
117
•
et, quod non didici, sane nescire fatexú*
V t praeco, ad merces turbam qui cogit emendas,
adsentatores iubet ad lucram ire poeta
í
para trás e confessar a aninha ignorância do que
•;
não aprendi».
--
420
Como o pregoeiro reúne à sua volta a turiba que
diues agris, diues posítis in fenore nummis.
a mercadoria quer comprar, assim o poeta rico emj
Si uero est, unctum qui recte ponere possit
terras, rico em 'dinheiro que, em empréstimos, lhe
et spondere leui pro paupere et eripere atris
dá somas choradas, reúne, à sua volta, admirado-
litibus implicitum, mirabor si sciet inter
res que só pensam no lucro. Quando, de facto, se
noscere mendacem uemmque beatus amioum,
425
jantar, ou responsabilizar-se por pobres já sem cré-
nolito ad uersus tibi factos ducere plenum
dito e tirar de funestas questões judiciais quem ne-
laetitiae; clamabit enim: «Pulchre, l>ene, recte»,
las estiver implicado, esse, ou muito me admirarei,
pallescet super his, etiam stillabit amicis
seria feliz se soubesse distinguir entoe o verdadeiro
430
420
trata de alguém que pode servir lautamente um
Tu seu donaris seu quid donare uoles cui,
ex oculis rorem, saliet, tundet pede terram.
i '
•t'íT'$
e o falso amigo. Se a alguém tiveres dado alguma
Vt qui conducti plorant in funere dicunt
coisa ou tiveres intenção de lha dares, não o con-
et faciunt prope plura dolentibus exanimo, sic
vides a ouvir teus versos, porque ele, por si só, está
derisor uero plus lauidatore mouetur.
cheio de alegria e só clamará: «Que lindo! Que
Reges dicuntur muitis .urigere onlillis
bem! Que certo!» Ficará pálido ao ouvi-los e mesmo
425
de seus olhos amigos alguma lagrimita brotará ao
419 — Assim como o pregoeiro tem de fazer propaganda
d o que vende, assim também o dinheiro do poeta rico, atrae,
tal como a propaganda, grande multidão de aduladores, que,
sempre louvando, estragam o gosto d o poeta, Este tipo de
mesmo tempo que baterá a terra com o pé, Como,
nos
enterros,
os
que 'para
carpir
são* pagos,
quase sobrelevam em ditos e acções aos que tra-
adulador, era conhecido pelos escritores e filósofos da antigüi-
zem o luito no peito, igualmente o adulador, que
dade.
Intimamente
Cf.
Teofrasto,
Caracteres,
II
(Acerca
da
adulação).
troça,
se comove
mais do que
o
A comédia nova apresentava igualmente o adulador em cena,
arrçigo que, com sinceridade, louva. Dizem que
v i d . T . . B X . Webster, Studies
os reis, para se assegurarem de que alguém é
in Menander,
Manchester, 1960,
p . 67 e segs.
digno >da sua amizade, o convidam a beber inú-
434 — Segundo certa tradição relatada por Diodoro Sículo,
X X , 63, 1 (Agatócles de Siracusa), Plínio, H. N.,
145 e Suetónio, Tibério,
118
X I V , 22,
42, havia reis que, por meio d o vinho,
430
\:
•.
faziam dizer a verdade aqueles-a quem desejavam entregar
um cargo de confiança,
119
.•fí"!?
i jjf
-.
mi^"1'
j|£/'et torquere mero, quem perspexisse laborent
435
meras taças e como que o atormentam com o v i - ' 435
í|;i. an> sit amicitia dignus; si carmina condes,
nho. Tu, se fizeres versos, não te deixes enganar
v
muroquaim te faJlent animi suib niulpe daitentes.
pelos espíritos que se escondem sob a pele da ra-
Quintilio siquid recitares: «Corrige, sodes,
posa. Se^algo a Quintilio lesses, ele te dizia: «Gcxr-~\
hoc» aiebat «et hoc»; melius te posse negares,
rige, por favor, isto e isto». E se tu dissesses que 1
bis terque expertum frustra; delere rubebat
440
não podias fazer melhor e que já tentaras, em vão,
!
et maJe tornatos inoudi reddere uersus.
duas e três vezes, ele.te aconselhava a suprimir os 1
Si defendera delictum quam uertere malles,
versos,maus e a (meter de novo na bigorna os que
nullum ultra uerbum aut operam insumebat inanem,
tinham saído mal tormeaidos. Se preferisses, no en-
quin sine riuaii teque et tua solus amar es.
tanto, defender o erro a corrigi-lo, então, sem mais
j
palavras, não empreendia ele a inútil tentativa da
,
Vir ibonns et prudens uersus reprehendet inertis,
445
culpabit duros, incoinptis adlinet atrum
te impedir que, desprezando rivais, só de ti e . d e
transuerso ca]amo signum, ambítiosa recidet
teus versos gostasses. Um homem honesto e ju-
ornamenta, parum claris lucem dare coget,
dicioso criticará os versos sem beleza, não d es-
arguet ambigue dictum, mutanda notabit,
culpando os que são duros,
fiet Arístarchus, nec dicet: «Cur ego amicum
450
riscando
440
1
com ium
traço negro .da sua pena os mal alinhavados, cor-
offendam in nugis?» Hae nugae seria ducent
tará os onnaitos exagerados, obrigando a dar clareza
in mala derisum se me] exceptumque sinistre.
aos que de luz carecem, repreenderá os ambíguos
e, em suma, notará tudo o que tiver de ser alte-
438 — Quintilius
Varus, poeta e crítico, amigo de Virgílio
rado. Que seja um Aristarco e nunca (diga: « P o r
e <3e Horácio e conhecido como exemplo de crítico íntegro.
que hei-ide, em ninharias, aborrecer um amigo?»
Morre em 2,4 a.C., portanto, antes da A. P.
É que estas ninharias hão-de conduzir a erros sé-
ter sido escrita
(vid. p. 25).
450
rios todo o que for enganado por sorrisos e for bem
445 — Vir bônus, noção estóica do artista, homem íntegro,
aceite sem razão.
tal como Catão definira o orador: «ruir bônus, dicendi peritust.
450 — Aristarckus,
filólogo alexandrino, crítico de Homero
453-476 — Faz-se o retrato d o tnalus poeta,
que é carica-
(.r8i^i4'ó) a . C . ) , e apresentado aqui, por antonomásia, como
turizado como o poeta louco, uesanus poeta.
modelo do exegeta. Cf. Cícero, Ad fatn.,
do gênio não ensinado, para o qual a ars em nada contribuiu.
Aristarchus».
t 121 125
I X , 20, «esses alter
Este é o sfmbodo
Novamente Horácio dá a entender, com ironia, que a poesia
V t mala quem scabies aut morbus legius urget
Assim como se foge de.aumLsoitrejde-saina. de
aut fanaticus error et iracunda Diana,
icberíçi^jde fuiror-inísticoue-jdaira^de^Diana,assimi
uesanum tetigisse tirnent fugiuntque (poetam,
qiui sapiunt; agitant pueri incautique sequuntux.
455
-J
também, todo o que sabe, tem medo de tocar n o :' M
poeta louco e tíele foge^ as crianças' perseguem-no , 455
Hic, dum stublimis uersus ructatur et errat,
e os incautos vãp,_atrás-deíe^ Se este, enquanto'
si ueluti merulis intentus decid.it auceps
arrota versos sublimes e vagueia, for cair num ; ^
in puteum foueamue, licet «succurrite» longum
poço ou numa cova, como o passarinheiro e m
clamet «io ciues», non sit qui tollere curet.
460
Si curet quis opem Êerre et demittere funem,
busca de melros,
bem pode gritar longamente. -}í:fpf;
i Ô socorro», «Aqui d'el rei!», que não encontrará
-
^
«qui seis an prudens huc se deiecerit atque
quem se ocupe em levantá-lo. Se alguém, todavia,
460 •"
seruari nolit?» dicarn, Siculique poetae
procurar socorrê-lo, deitando-lhe uma corda, eu
••' •<
não é eó uma questão de talento, de dotes naturais, mas sim
o resultado da combinação destes com a técnica, com o trabalho da lima, com a sabedoria, com a prudência. Assim procurará
aniquilar
a
doutrina
demócrito-platónica
do
«furor
poético», da poesia originada pela inspiração divina, facto que
também já o levara a troçar d o poeta preconizado pela teoria
de Demócrito. nos w . 296 e segs., 408 e segs.
lhe direi: «Sabes tu, porventura, se ele não quis
deitar-se para aí, pois não lhe interessa ter cuidada
consigo próprio?» e, então, contarei a morte d ó
1
458 — Refere-se Horácio a uma fábula d o gênero das que ,;
se contavam acerca de Tales de Mileto (cf. Platão,
Teetetò;$.
174; Diógenes Laércio, I , 34) e que correspondiam à f á b í ü »
Este modo de apresentar, em total paralelismo, as figuras
esópica (65 Chambry)
do astrólogo, que, ao observar as estte^.
do artista perfeito, que atrás se descreve, e d o artista de baixo
Ias, cai no poço. Aüém disso, o não saber evitar os poços « S Í M i
quilate, era um locus communis
considerado na antigüidade como um sinal de demência
(cf.'^»;"
Horácio, Sdt.,
-
p. ex. Cicero, De oratore.
dos tratados de retórica. Vid,
I I I , 55, que apresenta, lado a lado,
I I , 3, 56-60, Epist.,
I I , 2, 135).
o orador perfeito e o orador louco,
'
453 — morbus regius é a icterfcia, segundo Celso, De
medi-
463 — Siculi
... poetae
interitum„
cina, I I I , 24. O seu nome justifica-se pelo facto de que, para
Empédocles de Agrigento do séc. v a.C., poeta e filósofo, autor
ser curada a icterícia, era preciso muito dinheiro.
de um poema físico e das Purificações,
454 — fanaticus
dotes de Bellona,
error,
êxtase em que entravam os sacer-
seguindo os ritos orientais d o culto do deus
capadócio Ma (cf. Sdt., I I ,
3,
223). Iracunda
Diana,
referência
à cólera de Diana, que perseguia todo aquele de quem não
postasse, ou seja, os
t 122
lunatici.
ií^F
Referência à morte de•<
figura que a tradição
diz ser mística pois se caracterizava pelo seu enfatuamento religioso. Possuído pela Loucura divina, julgava-se uma divindade
e, para provar que assim era, lançou-se no Etna, que depois
devolveu uma das suas sandálias. Esta é a tradição cômica
de que Horácio se faz eco. Mas a verdade é que nada impedia
que Empédocles tivesse morrido ao querer ver o vulcão, assim
125
narrabo interifcuim. Deus immortaüs haberi
poeta siciliano. Querendo Empédocles ser tido como
dum oupit Empedocles, ardentem frigidus Aetnain
;
;
465
Pois que aos poetas se reconheça o direito de mor- >
inuitum qui seruat, idem facit occidenti.
rer: dar a vida a guem não quer vaverT^T*fazer o L
flf •
semel
Í10c f e c i t nec>
si retractus erit, iam
mesmo que matá-lo. Não foi a primeira vez que ele j
^ o m o et ponet famosae mortis amorem.
* o tentou^ nem, se o tirares do poço, se tornará, tão-
||;;Nec satis apparet cur uersus factitet, utrium
47b
-pouco, em homem capaz de esquecer a atracção dtí
j-.minxerit in pátrios cineres, an triste bidental
morte tão falada. Também não sei, por que faz
M|piouerit incestus; certe furit, ac uelut uisus,
versos: se por ter -urinado nas paternas cinzas, se
y|p(biectos caueae ualuit si írangere clatros,
por ter mexido, iniquamente, nt> funesto lugar onde
S í p d o c t u m docturpque fugat recitator acerbus;
470
caiu um raio; o certo é que está doido varrido e,
475
l o q u e m uero arripuit, tenet occiditque legendo,
como o urso que teve força para partir as grades
§ : non missura cutem nisi plena cruoris hirudo.
•ííK •
da jaula que tinha em frente, este recitador impla-
p ; como Plínio-o-Velho morrerá ao querer estudar mais de perto
quem ele apanhou, a esse agarra-o e, a ler, o
cável põe em fuga os cultos e os ignorantes; mas
.. ., a erupção d o Vesúvio que destruiu Pompeios.
475
mata, como a sanguessuga que não larga a pele,
465 — f r i g i d u s p o r q u e , segundo nos diz o escoJiasta de
í
465
insiluit. Sit ius liceatque peirire poetís;
íjá ^ ^
sem que primeiro fique cheia de sangue.
Horácio, o próprio Empédocles dizia que o sangue gelado em
volta d o coração era sinal de estupidez
Virgílio, Geórgicas,
(A
77 Diels).
^está.por
Vid.
H , 475 e segs. Deve havier, .portanto, -um
de palavras motivado peia dissimula tio, em que
S
deus imortal, já frio, se lançou ao ardente Etna,
frigidus
470 — Horácio refere-se a atitudes eacrilegas nos lugares
sagrados, tal como o bidental,
lugar batido pelo raio e por
isso sagrado. Vid, Pfetrónio, 71; Pérsio, 1, 1(13 (pueri,
stupidus,
est locus, extra/meite),
sacer
Esses sacrilégios provocavam o castigo
do seu autor que, em geral, ficava louco.
— Horácio aponta, em estilo jurídico, como faria qual^'líér causídico, as causas por que se não devia salvar o poeta:
é ilegal;
2.° é inútil;
3.° é inoportuno.
fi.' 467
— hexâmetro
espondaico,
único na A.P,
tJÜv'
124
t
125
ÍNDICE
ONOMÁSTICO
A
Ateneu, 30.
Atreu, 83.
Acio, 93.
Augusto, 17, zo, 26, n., 2f,
Alamo, Jorge Gomes, 38,
28.
Albino, 103.
Alceu,
B
19.
Andrade, Rita Clara F, de,
Brink, 25, 35.
40, 42.
Anfíon,
Barbosa, Jerónimo Soares, 41.
Bruto, 13.
115.
Antíciras, 99.
Antífates, 77,
C
Apoio, 17, 117.
Cadmo, 83,
Apúlia, 13.
Calímaco, 31.
Aquiles, 73.
Calvo, 19,
AquilÕes, 63,
Camena, 95.
Aquino, Tomás José de, 42.
Cândido Lusitano
Argos, 73.
José Freire), 33, 39, 40.
Aristarco, r 2 i .
Aristóteles,
(Poética,
tis)
Caríbdis, 77,
27, 28, 3r., 32,
Retórica,
De poe-
35 (De poetis),
36.
Carmen
Saeculare,
Catão, 6r.
Arquíloco, rg, rg, 67;
Catulo, 19.
Cecílio, 61.
28, 33, 34.
17.
Cascélio, Aulo, 111.
ars, rg, 20, 33,
artifex,
(Francisco
Cetegos, 6r.
Assíria, 73.
Ciclope, 77.
Atenas, 13, 15.
Cila, 77.
127
Cólquida, 73.
Fonseca, P e d r o José da, 41.
Lejay, P.
Cardovil, Bartolomeu, 40,
Fortuna, 85,
Lícino, 99.
Piérides
Correia, P . P e i x o t o , 37.
Fraenkel, E . ,
Lucíiio, i õ ,
Pisões ( L ú c i o [ou G n e u ]
Correia, T o m é , 37.
Frutuoso de S. João, 37.
26.
{ & Plessis), 25.
19.
Coutinho,
D.
Gastão F .
Câmara, 45,
Cremete, 69.
M
G
da
Marquesa do Alorna, 44.
Gênio, 85, 86,
Marte,
Gregos, 103.
Guerreiro,
D
Miguel d o Couto,
39, 40. 4 2 -
D a v o , 89.
Homero, 65, 109, 115.
iambi, 15.
Empédocles, 125.
Enio, 61, 93.
Epístolas, 17, 19.
Epodos, J5.
Escalígero, 33.
Immiscb, O., 28, 34, 35.
lyricum,
I o . 75Italum
Estaço, Aquiles, 36.
Estrabão, 30.
V
:
0:5,
Ixíon, 75.
Jambo, 91, 93,
Jensen, Chr., 31, 34.
117.
L
97.
L â m i a , >107.
Filodemo, 31, 34.
Leitão, A n t ô n i o J. de l i m a ,
t 28
43.
Porfirião, 23, 30, 31,
praeceptum,
35.
P r i a m o , 77.
Procne, 83.
Q
Quintilio, i 2 i .
N e o p t ó l e m o de Pário, 30, 31,
R
Ramnes, 107.
Réencn, J. H . van, 24.
N e p t u n o , 63.
O
Faunos, 91.
Floro, 19, 20, 26,
314,
Pompílio, 97,
Quintiiiano, 17, 22.
J
Lácio,
poeta,
Quérilo, 109,
Norden, E . 28, 33,.
Jogos Píticos,
E t n a , 125.
Plauto, 27, 61, 95.
Musa, 67, 77, 103, 115.
32, 34. 35.
facetum,
89,
N
-25, 26.
Pi-
23, 24, 26,
Minerva, 113.
Inocêncio, 37, 40.
interuallum
Pitias,
Metastásio, 43.
I n o , 75.
Escoliastas de Homero, 30.
Esquilo, 95.
Messala, 111.
115.
27, 28, 51, 89.
Michaelis, A . , 24.
I
Diomedes, 77.
E m í l i a , Escola, 57.
Mécio, 113.
Menendez P e l a y o , 37, 38.
Diana, 17, 53, 123.
E
Mecenas, 14, 19, 26.
Meleagro, 79.
H
Héiicon, 99.
Delfos, 87.
115.
Medeia, 73, 83.
Dacier, 33. 39.
(Musas),
são e f i l h o s ) ,
Costa, Francisco da, 37.
,
Perret, J., 25, 26, 27.
Reno, 53.
Rostagni, A . , 28, 34,
S
Odes, 116, 20.
Orbílio, 13, 15,
Sá, J. J. d a Costa e, 37, 43.
Orestes, 75,
Safo, 19.
Orfeu, 113.
Santos, A n t ô n i o Isidoro dos,
40.
!P
Peleu, 69, 71.
Pereira, P . Bento, 37.
Sardes, 111,
Sátiras (Saturae),
1:6, 16.
Sátiros, 8g.
scriba
quaestorius,
13.
125
Seabra, Antônio Lute de, 44.
Sermones,
ir6.
TéspÍ3, g5.
Tiestes, 6g.
Sileno, g r .
Tirteu, 115. '
Silva, Manuel da, 37.
Trebácio, r g .
Símon, g r .
Tróia, 77. 79-
Sóeios, 107,
V
. Steidle, W . , 29.
Vário, 14, 61.
T
Veiga, Pedro da, 37.
Tebas, 73.
Vónus, 117,
Telefo, 69, 71.
Venúsia, r 3 .
Teofrasto, 32.
Virgílio, 14, i t , 61.
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PREFACIO .
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INTRODUÇÃO
BIBLIOGRAFIA
TEXTO LATINO,
ÍNDICE
tradução e comentário
ONOMÁSTICO
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