A INOVAÇÃO RADICAL GUIADA PELO DESIGN
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A INOVAÇÃO RADICAL GUIADA PELO DESIGN
A INOVAÇÃO RADICAL GUIADA PELO DESIGN JOSÉ HERNANI ARRYM FILHO 19 novembro 2012 1. Introdução 03 2. Tipologias de inovação 05 3. Design-driven innovation, a inovação guiada pelo design 08 3.1 Epifania tecnológica 3.2 Intérpretes-chave 4. O caso Havaianas 16 5. Considerações finais 22 5.1 Inovação de significado x medição de resultados 5.2 Inovação de significado x commodities 5.3 Além do “usuário” 6. Referências bibliográficas 25 ANEXO – Mais sobre o caso HAVAIANAS 27 1 PALAVRAS-CHAVE Inovação, design-driven innovation, inovação guiada pelo design, inovação de significado, epifania tecnológica, intérprete-chave. RESUMO Por meio de um método sistemático, é possível criar produtos/ serviços inovadores que o cliente nem sabia que queria. Para tanto, o professor Roberto Verganti, do Instituto Politécnico de Milão e de Harvard, propõe a inovação de significado, a inovação guiada pelo design. Para o desenvolvimento convencional de produtos, a empresa busca por uma nova tecnologia que atenda às necessidades de seus atuais clientes, e isto lhe basta. De outro lado, a empresa verdadeiramente inovadora se impõe, permanente e insistentemente, as seguintes perguntas: com esta nova tecnologia, vamos poder criar produtos e serviços que o público considere mais relevantes do que as soluções atuais? a tecnologia vai transcender necessidades existentes e dar ao cliente uma razão totalmente nova para comprar um produto? Verganti considera que uma rede de intérpretes-chave, e não os usuários, é decisiva para se ter as melhores respostas. 2 1 INTRODUÇÃO O Brasil procura movimentar-se atualmente para combinar inovação (radical de preferência) com resultados sustentáveis nos diferentes setores e, assim, promover desenvolvimento econômico e crescimento. Procura com isto inserirse em uma posição privilegiada de competitividade no contexto global e mantê-la a longo prazo. Faz isto em meio a um mundo de mudanças crescentemente frenéticas, habitado por sete bilhões de pessoas, muitas delas consumidores insaciáveis, onde potências do passado e do futuro se engalfinham para dominar mercados. Resta responder, como fazer o movimento rumo à inovação? De um lado, os dirigentes de empresas assistem aflitos a uma invasão de importados que, por muitos anos no Brasil, significaram qualidade e vanguarda. Em outra perspectiva, a dos consumidores, cujas expectativas em relação a produtos e serviços cresceram vertiginosamente nos últimos anos, aparece uma nova categoria formada por 95 milhões de pessoas recém-endinheiradas – a Nova Classe Média Brasileira que ascendeu das classes D e E, marcando uma profunda mudança sócio-cultural. A arena perfeita para a inovação e para a criação do que é hoje “o mercado Brasil”, no qual o mundo todo está de olho. O Governo, por sua vez, mistura receitas antigas, medidas pontuais (e não sustentáveis) de protecionismo e programas de incentivo à inovação, notavelmente mais tímidos do que o País precisaria para inserir-se entre os verdadeiramente inovadores. O resultado é uma busca brasileira pela inovação radical, ao mesmo tempo excitante e desanimadora. Excitante porque todos nós sabemos que ela assegura lucros significativos e de longa duração. As cópias que se seguem às impactantes inovações nem de longe alcançam os resultados gerados pelos 3 fascinantes produtos e serviços novos. Onde entra o caráter desanimador, então? O desânimo é por conta da velocidade relativa de avanço da tecnologia, um dos principais motores da inovação radical. Os avanços neste campo são, normalmente, lentos e graduais. Além disto, demandam fortes investimentos em educação e infraestrutura. Sejamos honestos, o Brasil, salvo em raras exceções, nunca se mostrou um celeiro natural gerador de avanços tecnológicos para o mundo. Não está aí a nossa força. A abordagem inédita de Roberto Verganti, contida em seu mais recente livro "Design Driven Innovation" (Editora Canal Certo, 2012), nos abre um novo e importante caminho para a inovação radical. A inovação guiada pelo design, que é mais humana – isto não pode ser aceito de modo amplo, geral e irrestrito – e, certamente, está mais ligada às pessoas e à íntima interpretação que é dada por cada uma delas às suas necessidades, desejos e aos produtos e serviços que elas adquirem. O significado que estes produtos têm para cada individuo é que está no centro das inovações. Este tipo de inovação está muitas vezes conectado a mudanças como as que vivemos hoje no Brasil. O capital cultural de cada uma das pessoas, seu estado de espírito, o ambiente em que estão imersas, a sabedoria popular e o bem ou o mal que os produtos causam - são o combustível para estas inovações. Por tudo isto é que acredito que seja a categoria estratégica de inovações para o Brasil. Vivemos por muitos anos a combinação explosiva de todos estes ingredientes dando corpo a um novo Brasil. Uma nova realidade social que revolucionará a cultura e os mercados. Boa parcela de consumidores, após viver décadas de consumo reprimido, inflação e escassez, aprende a consumir e a atribuir significado a um leque muito mais amplo de produtos. Por todos estes motivos, a Inovação Guiada pelo Design pode ser uma estratégia poderosa de geração de valor para setores inteiros em nosso País. 4 É preciso destacar que inovações de qualquer tipo, incrementais ou radicais, para que aconteçam na prática e de verdade, requerem esforço sistemático, abordagem baseada em conceitos e métodos. Requerem escolhas estratégicas e profissionais especialmente selecionados, treinados e retidos - que Verganti chama de intérpretes-chave. Na minha opinião, este sim é o desafio dos administradores nos dias de hoje: dedicarem-se a gerenciar a inovação de significado e potencializarem os fatores facilitadores para que este tipo de inovação aconteça. Não só em empresas, produtos e serviços, mas também nas práticas dos três níveis de governo. Por fim, enquanto o Brasil titubeia em tomar as medidas que poderiam fazer o necessário investimento em P&D e tecnologia quadruplicar em relação ao que é hoje, abre-se uma janela para produzirmos inovação radical guiada pelo design. Uma alternativa de valorização de novos significados para explorá-los e, assim, fazer negócios rentáveis e sustentáveis. Empresas como Algar, Alpargatas, CCBM, CPFL, Embraer, Embrapa, Laboratórios Fleury, Natura, Nutrimental, Petrobrás, Tecnisa e Weg, dentre outras genuinamente brasileiras e inovadoras, descobriram a inovação radical de significado para orientar a sua estratégia competitiva, e os resultados impactantes que podem ser atingidos no curto prazo. Mudar, recombinar, criar novos e importantes significados para os produtos e serviços: esta é uma alternativa vencedora, e ao alcance de quem se conscientizou que precisa inovar. 2 TIPOLOGIAS DE INOVAÇÃO Para inovar efetivamente, são necessários visão de futuro da inovação, uma estratégia e um sistema de gestão da inovação (que considere as dimensões ambiente, processos, pessoas, cultura e arquitetura organizacional). Uma importante etapa da definição da estratégia constitui-se na opção que a 5 empresa deve fazer entre as tipologias clássicas de inovação, que VASCONCELLOS (2012) nos apresenta a seguir: • “tecnology-push: nesse modelo, a inovação é proveniente do progresso de pesquisas científicas que resultam em novas linhas de produtos para o mercado; • marketing-pull: nesse modelo, o fator-chave do processo de inovação é a identificação das necessidades dos usuários. As atividades de P&D são direcionadas de acordo com as necessidades dos usuários previamente identificadas; • coupling model: partindo-de do pressuposto de que os dois modelos anteriores possuem deficiência, surgiu na década de 70 um modelo que tentou unir os dois anteriores. Nesse novo modelo, a inovação é influenciada por interações entre a ciência e tecnologia e pelas necessidades do mercado; • integrated model: ao contrário dos modelos tradicionais, que previam um fluxo sequencial de inovação, este modelo promove o desenolvimento paralelo e multifuncional do processo de inovação. A preocupaçãochave deste modelo é com o tempo de desenvolvimento, que é fator crucial para a competição de mercado; • systems integration and networking: prevê um desenvolvimento integrado através de alianças e trabalhos colaborativos entre empresas de diferentes portes e em diferentes localizações geográficas, proporcionado pelas tecnologias de informação. Uma sexta via para inovar é proposta por VERGANTI (2012), para quem competir globalmente apenas com base em tecnologia não é suficiente e, também, ter boas ideias não é difícil nos dias de hoje. O que ele propõe é um processo, direções que se pode seguir para conseguir olhar o mesmo contexto 6 competitivo por uma nova perspectiva, e sem que seja necessário um grande cenário ou investimento. Para tanto, networking seria a principal ferramenta para se conseguir inovar, pois na rede de relacionamentos e comunicação é que se encontram as pessoas com um outro ponto de vista sobre o negócio. A referida rede constitui-se dos chamados “intérpretes-chave”. O caráter prático da abordagem de Verganti se justifica pela turbulência e mudanças cada vez mais velozes no mundo e nos negócios, com cenários imprevistos, exigindo portanto dos gestores foco na execução das estratégias. GUILLÉN (2012) reforça isto, quando nos diz que “antigamente, havia mercados previsíveis e mercados imprevisíveis – sendo que os menos previsíveis tendiam a estar no mundo em desenvolvimento. Empresas desses mercados aprenderam obrigatoriamente adaptar-se à turbulência: a fazer mais com menos, a adotar métodos nada convencionais para competir e a não perder muito tempo traçando estratégias de mercado rebuscadas. Hoje, muitos mercados desenvolvidos estão de pernas para o ar. Para empresas de mercados desenvolvidos, o futuro deixou de ser previsível – exceto no sentido de que há alta probabilidade de solavancos.” Quando falamos em inovação, vale a pena registrar que Philip Kotler, o mais importante formulador da teoria mercadológica, em seu livro “Administração de Marketing” de 1967, já tinha tratado da questão da inovação ao nos apresentar o conceito de (cinco) níveis de produto, que compreende: • Benefício-núcleo (ou benefício central); • Produto genérico; • Produto esperado; • Produto ampliado, é o espaço onde se dá a maior concorrência entre as empresas, em outras palavras, é o espaço da inovação incremental; • Produto potencial, entendido como sendo tudo aquilo que o produto ainda não é, em outras palavras, é o nível onde se dá a inovação disruptiva. 3 DESIGN-DRIVEN INNOVATION, a inovação guiada pelo design 7 Para VERGANTI (2012), a inovação movida pela tecnologia depende de engenheiros e muito investimento em pesquisa, e nem sempre surge uma tecnologia verdadeiramente revolucionária; a inovação orientada pelo mercado é muito importante para ajudar a melhorar o que existe no curto prazo. Mas para criar inovações realmente novas, é preciso começar de uma visão que gere propostas, novas propostas para as pessoas (entidades maiores do que usuários ou clientes). A etimologia da palavra design vem do latim (de-signare) e quer dizer usar um sinal para designar algo, dando significado, designando sua relação com outras coisas, proprietários ou usuários. Enfim, design é significado, é o processo pelo qual se pode mudar o significado das coisas, é usar sinais para criar significado para as coisas. Este é um novo jeito que vem ganhando força atualmente para se fazer inovação radical, mudando-se o significado do produto (bem ou serviço). Por que as pessoas compram? Se a ênfase está na tecnologia, pensamos em como resolver um problema. Quando se pensa em significado, pensamos em “por quê?”, não em “como?”. Neste sentido, está ao alcance das empresas e de seus gestores influenciarem a razão pela qual as pessoas fazem isso. Para Verganti, a inovação movida a design ajuda a criar produtos que as pessoas amam e compram, pois trata-se da inovação radical do significado. Para uma estratégia de inovação guiada pelo design, vide figura abaixo. 8 Fonte: VERGANTI (2010) O caso da Nintendo é ilustrativo. O videogame Wii não foi pioneiro dentre os games no mundo, nem tem o console mais poderoso ou com mais tecnologia ou com mais recursos gráficos do que seus concorrentes (vale dizer, tem menos). A parte gráfica foi mais simplificada e os dois concorrentes diretos, PS3 da Sony e Xbox da Microsoft, têm chips mais poderosos. Mesmo assim, as vendas nos dois primeiros anos após lançamento em 2006 foram o dobro das vendas destes concorrentes. Por quê? Segundo Verganti, “Wii foi bemsucedido, apesar de muito mais simples, porque criou um novo significado que as pessoas amaram, porque não se joga em um ambiente de realidade virtual, mas com seu próprio corpo, o jogador fica totalmente imerso no jogo. Você tem que se movimentar, suar, sair do sofá, enfim, permanecer no mundo real, se mexer e socializar mais. Isso fez da experiência algo totalmente diferente. A inovação aqui não foi de desempenho, mas de significado das coisas. A Nintendo trocou o que os concorrentes ofereciam, que é entrar em uma realidade virtual, por viver o jogo na vida real. Mudou radicalmente o significado de um console de videogame. E as pessoas amam coisas com significado.” 9 Se a proposta da empresa fosse para apenas melhorar a experiência de realidade virtual, a Nintendo poderia ter dado como resposta focar esforços apenas no desenvolvimento de um videogame mais poderoso. Em outras palavras, se o foco for o usuário, a empresa nunca vai fazer algo totalmente novo; se prestar atenção às necessidades do mercado ou dos usuários, ela perde a oportunidade de falar com as pessoas. A Microsoft teve a oportunidade de fazer o Wii primeiro. A empresa que inventou fazia 20 anos o acelerômetro (do tipo MEMS micro-electro-mechanical-systems) usado no controle remoto do Wii o ofereceu primeiro para a Microsoft, mas ela disse que não estava interessada, pois os seus estudos de mercado diziam que os adolescentes queriam mais realidade virtual. Nenhum adolescente poderia imaginar que seria possível criar um acelerômetro e criar um videogame totalmente novo, mas a Nintendo fez uma proposta, criou uma nova visão em relação ao convencional. Para reforçar o conceito acima, o autor recorre a metáfora do bom pai: não é aquele que que dá à criança o que ela quer, mas sim é aquele que dá o que é mais significativo para ela. O pai tem a visão. As empresas verdadeiramente inovadoras agem como um pai que sabe o que é melhor para o filho, mesmo que ele próprio ainda não saiba; para tanto, é preciso apresentar uma proposta verdadeiramente diferente e adorável. Isso não significa que não precisamos olhar para o que os clientes querem, apenas que devemos propor a eles o que nós (empresas) consideramos melhor, diz ele. Verganti nos diz que design deve ser não apenas uma ferramenta usada para dar uma forma agradável a alguma coisa. Mais do que isto, deve antecipar uma necessidade, propor uma visão. Além de Nintendo, alguns outros exemplos de empresas que não foram as primeiras a lançar uma tecnologia em dada categoria mas lançaram a forma mais rentável, decorrente de uma mudança radical na experiência do usuário com o produto/ serviço (a “epifania tecnológica”, que definiremos abaixo): 10 • a americana Intuit e o software Quicken Books, para a contabilidade de pequenas empresas e profissionais liberais; • a Philips Medical e os aparelhos para diagnóstico por imagem, como ultrasons e scanners, cujo caso detalharemos abaixo; • a Apple e a criação do iPOD e da ITunes Store, facilitando a vida do consumidor para descobrir e comprar música nova e para organizar sua discoteca em playlists; • a Swatch transformou o relógio em acessório de moda acessível, usando a tecnologia a quartzo, barata e de precisão; antes, Casio tinha unido tal tecnologia a telas de LED e LCD para substituir mecanismos mecânicos, criando apenas relógios baratos e precisos; • a Artemide, que mudou o significado das suas luminárias passando a vender a atmosfera que elas criam, por meio da luz e as suas respectivas cores e emoções; Ikea vem fazendo cópias há 10 anos das mesmas luminárias mas a empresa italiana é um sucesso crescente. Apresentarei a seguir os dois conceitos-chave da abordagem "Design Driven Innovation” de Verganti: epifania tecnológica; e intérpretes-chave. 3.1 EPIFANIA TECNOLÓGICA Segundo o Dicionário Houaiss de Língua Portuguesa, a etimologia da palavra epifania vem da palavra grega epipháneia, que significa “aparição”, “manifestação”. Em latim, a palavra epiphanía denomina a “aparição, manifestação de Jesus aos Reis Magos”. O dicionário sugere os seguintes significados para o termo: “aparecimento ou manifestação reveladora de Deus ou de uma divindade”; “encarnação de Deus ou de uma deidade sob uma forma terrena”; “manifestação ou percepção da natureza ou do significado essencial de uma coisa”; “apreensão intuitiva da realidade por meio de algo geralmente simples e inesperado” (como um lugar-comum ou uma pessoa vulgar); e, finalmente, “a representação literária de uma epifania” ou “trabalho, ou parte dele, simbolicamente revelador”. 11 Segundo Verganti, a epifania tecnológica não precisa ser resultado de raros momentos de eureca mas pode ser sistematicamente produzida, tanto por aqueles que criam uma nova tecnologia como pela empresa que a incorpora em seus produtos ou serviços. Um exemplo considerado marcante pelo autor é o da Philips Electronics e o AEH Ambient Experience for Healthcare, solução revolucionária para reduzir a ansiedade sentida por quem precisa fazer um exame de diagnóstico por imagem, tais como tomografia computadorizada e ressonância magnética. A competição neste ramo sempre foi por desempenho, a máquina que faz imagens mais rapidamente gera a melhor qualidade de imagem. O diferencial da empresa foi a criação de um sistema que, acoplado às suas máquinas que não eram as mais potentes e modernas, conseguiu obter as melhores imagens. Como neste negócio o que conta é cada milionésimo de segundo, então a empresa pensou em buscar uma solução que fizesse com que o paciente não se mexesse, ficasse relaxado e, assim, obtivesse uma imagem igual ou melhor do que as máquinas mais potentes. O sistema compreende deixar o ambiente do hospital mais amigável, com luzes, música, tela de LED, projeção de filmes e desenhos animados, controle de som e várias outras tecnologias (já existentes) juntas, que funciona muito bem com crianças. Philips mudou o significado de fazer um exame de diagnóstico por imagem, não competindo na raia da máquina mais poderosa, mas mudando o ambiente. Benefícios obtidos: tornou a experiência do paciente melhor, redução do tempo para fazer tomografia em 15-20%, redução em 30-40% do número de crianças com menos de 3 anos de idade que precisavam ser sedadas, redução do vlume de radiação recebido pelas crianças em 25-50%. Importante destacar que hospitais e pacientes não tinham pedido algo assim, mas ao experientar o AEH adoraram. Este exemplo contém uma lição de ouro para as empresas em geral que, frente a tecnologias novas, adotam uma estratégia de inovação (na verdade, um arremedo de estratégia) calcada na substituição de tecnologia, pois se fazem uma pergunta simplória, confortável, pouco desafiadora: podemos usar a nova tecnologia no lugar de uma velha para satisfazer melhor às necessidades 12 atuais do cliente/ usuário? Já as (poucas) empresas que buscam sistematicamente a epifania tecnológica se fazem outros tipos de pergunta, arrojados: com esta nova tecnologia, vamos poder criar produtos e serviços que o público considere mais relevantes do que as soluções atuais? A tecnologia vai transcender necessidades existentes e dar ao cliente uma razão totalmente nova para comprar um produto (isto é, a empresa vai criar necessidades novas, necessidades que talvez nem o usuário saiba que tenha)? Philips começou a cometer epifanias tecnológicas no início da década de 1990 e vem investindo sistematicamente nesta estratégia desde 2001. 3.2 INTÉRPRETES-CHAVE Então, como a empresa deve cometer as tais epifanias tecnológicas, isto é, como criar as visões que a tecnologia poderia dar solução e que poderiam criar novas necessidades nos atuais (e nos potenciais) usuários, diferentemente do que faz o produto existente? ESTRIN (2010) disse que “a tentativa de encaixar projetos inovadores em formatos tradicionais de reunião e divulgação de informações pode sair pela culatra porque com isso se criam espaços propícios para que os administradores esmaguem as novas ideias.” Vale destacar que em seu livro ela fez uma fabulosa avaliação sobre o papel dos EUA como principal motor da inovação global nos pós-guerra, o declínio subsequente e o que é necessário para retomar aquele ímpeto. Segundo VERGANTI (2010), o primeiro passo para a solução deste problema é achar intérpretes-chave, “os especialistas que estudaram os mesmos usuários de seu produto, no mesmo contexto, mas sob uma perspectiva diferente. Pode ser gente de dentro ou de fora da organização – acadêmicos, pesquisadores, designers ou indivíduos de outros setores ou de fornecedores de tecnologias complementares.” 13 Fonte: VERGANTI (2010) Quando a Philips desenvolveu a inovação para hospitais acima descrita, um dos intérpretes externos por ela usados foi Keneth Garfinkle, psicólogo clínico, professor americano, especialista em dor infantil. “Em vez de avaliar as máquinas, investigou o ambiente dos hospitais e como as crianças interagiam com o ambiente – e o que deveria ser feito para que elas se sentissem melhor. Garfinkle foi um bom intérprete, olhou além das máquinas e mostrou para a empresa alho diferente.” Um intérprete interno foi Sachin Behere, um arquiteto especialista em desenho e análise ambiental, que deu importantes contribuições sobre o que fazer para relaxar um paciente e funcionários. E além dele, a equipe contava com vários outros profissionais de áreas (aparentemente) estranhas a de diagnósticos hospitalares, tais como arquitetura, psicologia, desenho contemporâneo de interiores, tecnologia de LED e projeção de vídeos, desenho de interação e hardware e software de interação. VERGANTI (2000) nos dá algumas dicas de ouro sobre como achar os intérpretes-chave certos: 14 • O usuário costuma ser útil para a compreensão de sentidos existentes, mas raramente para a detecção de novos; • Intérpretes podem vir de dentro ou de fora da empresa; • Analise como é a experiência do usuário antes, durante e depois do contato com o seu produto/ serviço, isto é, analise a experiência inteira do usuário; • Identifique outros domínios (campos do conhecimento com os quais sua empresa normalmente não interage) que também se interessam pela experiência inteira de seus usuários, isto é, busque intérpretes fora do networking atual de sua empresa; • Em cada domínio outro domínio, descubra quais indivíduos estão investigando essa experiência; • Dentre estes indivíduos, identifique quais poderiam passar despercebidos por seus concorrentes; • Identifique pesquisadores que estão explorando novas perspectivas, isto é, identifique pesquisadores com olhos no futuro; • Recorra aos intérpretes que você elegeu e lhes peça para sugerir outros intérpretes; • Um especialista não precisa ser a figura mais renomada da respectiva área; uma equipe talentosa de pesquisadores jovens, antenados com o futuro, pode ser mais eficaz; • Um profissional renomado que seja referência no setor pode ter dificuldade de contestar as “verdades reinantes”; • Se um especialista for muito conhecido, é bem provável que os concorrentes da sua empresa também o procurem. 15 4 O CASO HAVAIANAS Um caso da indústria brasileira que ilustra muito bem a abordagem DesignDriven Innovation, de Roberto Verganti, é o das sandálias Havaianas. De calçado único de pessoas pobres a artigo de luxo comercializado nas Galleries Lafayette em Paris, ou na loja-conceito Espaço Havaianas, na rua Oscar Freire em São Paulo, onde em novembro de 2011 foram lançados novos modelos da coleção Special Collection, confeccionada com cristais Swarovski!!! Ao longo do tempo, nota-se claramente a inovação de significado do produto Havaianas: • a linha das sandálias Havaianas cresceu de apenas um modelo até 1994 para mais de 100 modelos nos dias atuais, comercializadas em mais de 65 cores e 600 combinações de estampas diferentes; • além disto, formou-se uma categoria Havaianas de produtos que, além dos chinelos de borracha, inclui bolsas de lona, toalhas de algodão, chaveiros, pingentes para celulares, imãs para geladeira, meias, calçados casuais e até galochas. (A descrição que se segue foi extraída e adaptada do blog “Mundo das Marcas”.) • Dados corporativos ● Origem: Brasil ● Lançamento: 14 de junho de 1962 ● Criador: São Paulo Alpargatas S.A. ● Sede mundial: São Paulo, Brasil ● Proprietário da marca: São Paulo Alpargatas S.A. ● Capital aberto: Não ● CEO: Márcio Luiz Simões Utsch ● Diretora Divisão de Sandálias: Carla Schmitzberger 16 ● Faturamento: R$ 1.25 bilhões (estimado) ● Lucro: Não divulgado ● Loja: 250 ● Presença global: + 80 países ● Presença no Brasil: Sim ● Maiores mercados: Brasil, Estados Unidos, França e Austrália ● Segmento: Calçados ● Principais produtos: Sandálias, calçados, meias e bolsas ● Concorrentes diretos: Ipanema e Dupé ● Slogan: Havaianas, todo mundo usa. ● Website: www.havaianas.com.br • A marca no mundo A marca, que possui participação de 80% no mercado brasileiro de chinelos de borracha, comercializou em 2011 mais de 210 milhões de pares de sandálias, das quais mais de 15% exportados para 80 países dos cinco continentes (da França ao Japão, de Honduras ao Congo), podendo ser encontrada em mais de 200 mil pontos de venda. A marca mantém duas lojas oficiais (ambas localizadas na cidade de São Paulo), além de possuir aproximadamente 250 unidades franqueadas, a grande maioria localizada no estado de São Paulo. A marca possui ainda lojas próprias em Madri, Barcelona, Valência, Roma, Paris e Londres. As exportações chegam a 30 milhões de pares (somente nos Estados Unidos está presente em 1.700 pontos de vendas). Atualmente a HAVAIANAS é a 4ª marca mais lembrada da América Latina, representando quase 50% do faturamento (R$ 2.57 bilhões em 2011) da Alpargatas São Paulo. A cada três brasileiros, dois em média consomem um par de HAVAIANAS por ano. Somente na fábrica de Campina Grande (Paraíba) são produzidos mais de seis pares de sandálias HAVAIANAS por segundo. Desde seu lançamento as sandálias já venderam 3.7 bilhões de pares. No exterior a sandália é chamada de FLIP FLOP HAVAIANAS. As HAVAIANAS foram comparadas pelo jornal americano Wall Street Journal e pela revista inglesa The Independent Review ao Boeing e ao Fusca, produtos que reinventaram 17 suas categorias. • Uma profusão de inovações de significado, muito além da inicial “coisa de pobre” A linha das sandálias HAVAIANAS cresceu de apenas um modelo até 1994 para mais de 100 modelos nos dias atuais, comercializadas em mais de 65 cores e 600 combinações de estampas diferentes. “Coisa de pobre” no Brasil, virou produto fashion em menos de quatro décadas, e hoje enfeita inclusive os pés milionários de atores e atrizes famosas. Em 1980, já eram vendidos mais de 80 milhões de pares da sandália por ano. Nesta mesma década, ainda com 4 cores do modelo original, as HAVAIANAS tornavam-se cada vez mais populares entre as classes humildes, e estavam de tal forma enraizadas que chegaram a ser consideradas pelo governo como um “produto de primeira necessidade”, Depois da forte concorrência dos chinelos de PVC, liderados pelo modelo Rider, da Grendene, era preciso adotar um novo posicionamento para alavancar as vendas e mudar sua imagem na mente dos consumidores brasileiros. O grande toque de Midas foi o lançamento, em 1994, de uma nova versão: HAVAIANAS TOP, com cores fortes, ligeiramente mais altas no calcanhar do que o modelo original e o nome gravado em relevo. A partir do final da década de 1990, foram criadas novas estampas, cores e modelos – até mesmo para os que mal tinham aprendido a andar, como as HAVAIANAS BABY. Foram concebidas estratégias de inovação de significado mais ousadas, como a parceria feita com a joalheria H.Stern para lançar seis pares de HAVAIANAS com acabamento em ouro 18K e diamantes. Em 2005 foi lançada a HAVAIANAS SOCKS, uma meia que se adaptava ao 18 contorno do dedão do pé, permitindo que ele se encaixasse perfeitamente na sandália (primeiro passo da empresa para a extensão da marca para outra categoria de mercado). Sucessivos ciclos de inovação em estilos e cores, que passaram a ser pesquisados com a ajuda de birôs internacionais, romperam com o velho estigma e valorizaram o produto. A partir de 2008 a empresa iniciou a inauguração de lojas franqueadas das HAVAIANAS, onde era possível encontrar todos os produtos da marca em um só lugar, em um ambiente colorido e moderno com todo o astral que a marca representa. A expansão da linha de produtos (sandálias, meias e toalhas) teve continuidade nesse mesmo ano de 2008, quando no mês de novembro a marca lançou oficialmente no mercado uma linha de bolsas. Principal extensão no portfólio de HAVAIANAS para além das tradicionais sandálias de borracha ocorreu em 2010 com o lançamento da SOUL COLLECTION, coleção de calçados fechados e tênis (feitos de lona e os tradicionais solados de borracha em seu interior). Em 2010, a iniciativa MYOH (abreviação de “Make Your Own Havaianas”), que é uma coleção completa de solas e tiras de diferentes cores em separado que, junto com vários alfinetes e pequenos cristais Swarovski, oferecem a possibilidade ao consumidor de criar o seu par único e exclusivo de HAVAIANAS, com infinitas possibilidades. Alguns eventos contribuíram para o sucesso da marca no exterior, tais como: o quando as brasileiríssimas sandálias chegaram ao mercado francês em 2001 por meio de uma amostra sobre a América Latina na chique Galeries Lafayette; o em 2003, quando foram distribuídas sandálias HAVAIANAS aos indicados ao Oscar; 19 o outro fator importante para consolidação da marca no mundo foi quando grifes de renome internacional ofereceram a sua própria visão de HAVAIANAS por meio de edições limitadas: a grife francesa Celine (2004), H.Stern (2010), Paul&Joe (2010) e Missoni (2011 e 2012). • História dos principais lançamentos 1997 ● Lançamento das HAVAIANAS BABY, sandálias direcionadas para um público infantil, em tamanhos que variam do 17/18 ao 23/24, com feixe para prender ao calcanhar. Possuem as variações Baby Pets (com bichinhos nas tirinhas), Baby Brasil (com estilo idêntico ao modelo adulto) e Baby Estampadas (com estampas coloridas na base) 1998 ● Lançamento das HAVAIANAS BRASIL, sandálias com uma pequena bandeira do Brasil na tira e listras nas cores verde e amarela em torno da base. Essa sandália logo se tornou objeto de desejo no exterior e motivo de orgulho para os brasileiros. 2003 ● Lançamento das HAVAIANAS FLASH, que possuem diferentes formas de tiras e estampas. Existem as inúmeras variações como Hit, Indian, Urban, Fresh, Way, Way Etnics e Tresse (modelos com tiras trançadas e em cores quentes). ● Lançamento das HAVAIANAS HIGH, modelos com saltos de até 6 centímetros disponíveis em diferentes cores e estampas. 2004 ● Lançamento das HAVAIANAS IPÊ, modelos com estampas de animais em extinção feitas em parceria com o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), onde 7% das vendas líquidas eram destinadas ao instituto. Essa parceria teve início com uma coleção formada por sandálias que ilustravam o peixe-boi, o mico leão de cara-preta e o papagaio de cara-roxa. Já no ano seguinte, houve a renovação da coleção com novas espécies como a arara, o muriqui e a onça. 20 Houve também o lançamento da coleção filhotes para as crianças, devido aos inúmeros pedidos dos consumidores. 2005 ● Lançamento das HAVAIANAS CARTUNISTA, sandálias infantis que traziam estampas de cartunistas famosos. ● Lançamento das HAVAIANAS JOY, modelo feminino com salto pequeno de 3 centímetros. Não possuem estampas nem variação de modelos, apenas de cores. Todas trazem flores delicadas presas às tiras. 2006 ● Lançamento das HAVAIANAS MENINA, uma linha feminina com modelos perfumados, muito cor-de-rosa e estampas de corações, flores e frutas. Existem as variações Flores, Lucky, Stars e Tropical, que vêm com uma bolsinha estampada. ● Lançamento das HAVAIANAS MENINO, sandálias com temas de esportes radicais e aventura. ● Lançamento das HAVAIANAS SLIM, sandálias simples com tiras mais finas e delicadas e solado baixo. Possui duas variações, a Slim, lisa contando apenas com variação de cores, e a Slim Season, com tiras e estampa floral dourada. Rapidamente esse modelo caiu no gosto do público feminino e se tornou um ícone da marca. 2007 ● Lançamento das HAVAIANAS TRIAL, sandália com tiras fixas e mais largas que contornam o calcanhar garantindo estabilidade aos pés. ● Lançamento das HAVAIANAS WAVE, sandálias masculinas com formato anatômico com tiras bicolores mais largas. 2008 ● Lançamento das HAVAIANAS FIT, sandálias com solado super macio que acompanham as curvas dos pés e tiras que se ajustam aos calcanhares. ● Lançamento das HAVAIANAS LOGO, sandálias com tiras translúcidas que trazem o logotipo da marca em borracha injetada, em cor contrastante. ● Lançamento das HAVAIANAS 4 NITE, modelo com tiras e estampas fosforescentes. 2009 ● Lançamento de uma edição especial das sandálias com toque retrô e visual 21 sofisticado, uma releitura do modelo tradicional com sola branca e tiras coloridas. As femininas foram criadas na cor nude metalizado, e para os homens a cor eleita foi cinza também metalizado. As sandálias eram entregues dentro de uma caixa, cuja parte interna apresentava a patente da marca e um texto cronológico que contava a sua história. ● Lançamento das HAVAIANAS SLIM ÁFRICA, com estampas tribais e combinações de cores vibrantes. ● Lançamento das HAVAIANAS SLIM WIND, que esbanja conforto com sua tira tubular. ● Lançamento das HAVAIANAS FUN, criadas para o público adolescente com estampas modernas e divertidas, em opções de tira flúor ou jelly. ● Lançamento das HAVAIANAS SLIM ILLUSION, sandálias femininas super delicadas, psicodélicas e coloridas, que chegaram ao mercado com tiras nas cores neon, flúor e candy combinando com os traços de cores vibrantes pincelados nas solas. 2010 ● Lançamento das HAVAIANAS TEAMS, sandálias que traziam as cores e estampas das 32 seleções que participaram da Copa do Mundo de Futebol da África do Sul. ● Lançamento das HAVAIANAS DIA DOS NAMORADOS, sandálias delicadas e românticas. O novo modelo foi desenvolvido no formato Slim, com tiras douradas e solado estampado com corações vermelhos e dourados. 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS A título de discussão, apresento a seguir três assuntos que merecem ser tratados com maior em detalhe, como objeto de uma outra investigação em separado, que foge ao escopo do presente artigo. 5.1 Inovação de significado x medição de resultados Acredito que um dos grandes desafios para esta abordagem proposta por Verganti, de se fazer inovação de significado, resida na medição de seus 22 resultados, especialmente para a maioria das empresas que focam exclusivamente em resultados de curto prazo e têm aversão ao risco. Segundo o autor, os gestores “estão acostumados a avaliar inovação com medidas numéricas, financeiras, de fluxo de caixa. Isso é muito útil para medir performance mas, para melhorias ou mudanças no significado dos bens ou serviços, essa medidas não funcionam. Não se usam ferramentas convencionais quando se quer descobrir o significado das coisas. Como é possível demonstrar que é melhor jogar na realidade do que no mundo virtual? (No caso, ele se refere a videogame e à Nintendo.) Significados não podem ser medidos objetivamente por uma escala, é uma questão de interpretação pessoal.” Além disto, há a grande dificuldade de se estabelecer uma relação de causa e efeito entre os supostos motores (drivers) e a inovação em seus vários estágios (pesquisa básica, pesquisa exploratória, pesquisa aplicada, desenvolvimento técnico, melhoria de produtos/ processos). Isto é, o elo entre criação de valor e cada uma destas etapas é variável, o que impede a adoção de um único tipo de indicador, seja ele quantificável ou não-quantificável. Alinhada com esta mesma preocupação, ESTRIN (2010) disse: “As avaliações operacionais que se preocupam com marcos e resultados práticos devem ser postergadas para um momento posterior do processo, quando da monitoração do desenvolvimento ou implementação do projeto. Quando impomos medidas operacionais muito prematuras, poucos projetos com potencial disruptivo para criar crescimento futuro passam nos testes, quando muito ... Algumas empresas estabelecem as famosas taxas de retorno mínimo ou taxas mínimas de atratividade como mecanismo para examinar e avaliar as ideias e determinar quais serão financiadas. Porém, mediadas financeiras como estas precisam estar aliadas ao bom senso e à intuição.” Uma possível resposta ao desafio a que me referi estaria no uso de técnicas semi-quantitativas para avaliar a inovação nos seus citados estágios. Para tanto, recomendo o texto “Avaliação dos resultados de P&D na empresa: uma 23 possível abordagem para o problema“, de Roberto Sbragia, apresentado por VASCONCELLOS (1992). As referidas técnicas “lidam com o problema de medida de uma forma mais flexível do que as técnicas quantitativas e, portanto, contemplam mais apropriadamente a natureza dos esforços de P&D conduzidos pelas empresas ... no estágio de pesquisa básica o método quantitativo é menos aplicável porque os resultados são muito abstratos. O método qualitativo, portanto, baseado em sentimentos intuitivos parece ser mais conveniente. No outro extremo, no estágio de aperfeiçoamento de produtos/ processos, já se tem resultados mais quantificáveis e, portanto, mais susceptíveis de serem avaliados por meio de modelos matemáticos.” 5.2 Inovação de significado x commodities Um mito existente nas empresas que produzem commodities é que não há espaço para inovar e que a competição se dá apenas com base em preço. Para fugir deste oceano vermelho e criar um oceano azul, caberia aos gestores saírem do lugar comum e buscarem por novos significados para tais produtos, pois somente significados têm o poder de transformar commodities em algo de valor; a tecnologia não tem muito o que fazer neste caso, segundo Verganti. Como exemplo, podemos voltar ao caso Nintendo e o seu videogame Wii. Se os desenvolvedores de acelerômetros ficassem esperando pela Nintendo lhes pedir que projetassem e fabricassem um acelerômetro para usar nos controles remotos de videogames, esperariam por muito tempo, pois provavelmente a Nintendo nunca pensaria nisto. Intérpretes-chave podem ajudar em imaginar em qual cadeia de valor ainda inexplorada o seu produto poderia ser usado, por exemplo; as empresas líderes se impõem o dever de serem as primeiras, fazendo a inovação com disciplina e método. É preciso imaginar insistentemente cenários e clientes possíveis, e procura-los para sugerir como eles podem usar a sua tecnologia para inovar o significado de alguma coisa. “Em mercados onde qualquer um pode facilmente ter acesso a novas tecnologias, os grandes vencedores em geral não são as empresas que conseguem primeiro a tecnologia e a usam para melhorar produtos 24 existentes. São sim empresas que entendem como estas tecnologias podem ser usadas para criar uma experiência melhor para o usuário em relação às aplicações existentes. E as maiores vencedoras de todas serão empresas que aprenderem a ter, sistematicamente, uma epifania tecnológica atrás da outra”, segundo Verganti. 5.3 Além do “usuário” Entendo que deveria ser amplificado o conceito de “usuário” usado por Verganti na formulação de uma estratégia de inovação guiada pelo design, portanto, recorro ao conceito de “centro de compras” de Philip Kotler. Kotler identifica cinco papéis no processo de compra de um produto/ serviço, a saber: 6 • Iniciador: quem primeiro sugere a ideia de comprar o produto/ serviço; • Influenciador: pessoa com sugestões que influenciam a decisão; • Decisor: pessoa que decide se deve comprar, o que, como e onde; • Comprador: é quem faz a compra; • Usuário: pessoa que usará o produto/ serviço. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ESTRIN, Judy. Estreitando a lacuna da inovação: como reacender a centelha da criatividade na economia global. 1a edição. São Paulo, DVS Editora, 2010. GUILLÉN, Mauro e GARCIA-CANAL, Esteban. Execução como estratégia. In Harvard Business Review Brasil, outubro de 2012. HAVAIANAS. Disponível em: <http://mundodasmarcas.blogspot.com.br/>. Acesso em outubro 2011. 25 HOUAISS, Antonio e outros. Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro: Objetiva, 2009. VASCONCELLOS, Eduardo (coordenador). Como vencer a concorrência de forma lucrativa: ensinamentos do Google, Intel, Sap, Cielo, Man, Wahler, Petrobras e outras empresas. São Paulo, ed. Atlas, 2012. VASCONCELLOS, Eduardo (coordenador). Gerenciamento da tecnologia: um instrumento para a competitividade empresarial. 1a edição. São Paulo, ed. Edgard Blucher, 1992. VERGANTI, Roberto. Design-driven innovation. 1a. edição. São Paulo, ed. Canal Certo, 2012. VERGANTI, Roberto. Inovação radical do significado: como as empresas podem criar valor mudando o objetivo do negócio. Harvard Business Review Brasil, maio de 2012. VERGANTI, Roberto. Designing breakthrough products. Harvard Business Review, novembro de 2011. 26 ANEXO – Mais sobre o caso Havaianas A descrição que se segue foi extraída e adaptada do blog “Mundo das Marcas”. Elas estão nas prateleiras de lojas de departamentos chiques como Saks Fifth Avenue e Bergdorf Goodman, em Nova York, e Galleries Lafayette, em Paris. Ocupam espaço em vitrines da badalada Via Spiga, em Milão, dividindo a cena com marcas famosas como Dior e Prada. Adornam pés de socialites, artistas, modelos e até mesmo da Presidente da República. Ao mesmo tempo são vistas em uma marcha do Movimento Sem-Terra em Brasília, nos pés de milhares de homens, mulheres e crianças. Sem dúvida é a sandália mais democrática que se tem notícia. Estamos falando das sandálias HAVAIANAS. Calça “do mais pobre ao mais rico” - como disse o escritor Jorge Amado. O que começou como um produto popular, que já foi considerado “coisa de pobre” no Brasil, virou produto fashion em menos de quatro décadas, e hoje enfeita pezinhos milionários, como das atrizes Julia Roberts e Sandra Bullock, e das modelos Naomi Campbell e Kate Mossvisto. Bonita e gostosa, a sandália se transformou em um objeto cult. No exterior, os modelos mais incrementados, feitos sob encomenda, chegam a custar US$ 100. Nada mal para a brasileiríssima HAVAIANAS. A história Tudo leva a crer que foi a Zori, típica sandália de dedo feita de palha de arroz e usada pelos agricultores japoneses, a real fonte de inspiração para a criação das sandálias HAVAIANAS no dia 14 de junho de 1962 pela empresa Alpargatas São Paulo. Por essa razão, o solado das HAVAIANAS possui uma textura que reproduz grãos de arroz, um dos muitos detalhes que a torna inconfundível. Mas a versão nacional trazia um grande diferencial: eram feitas de borracha. Um produto natural, totalmente nacional e que, acima de tudo, garantia um calçado durável e confortável. Devido a sua comodidade, 27 durabilidade e ótimo preço, os brasileiros das classes trabalhadoras se apaixonaram pelos primeiros modelos do tal chinelo, ainda com sola bicolor azul e branca combinando com as tiras azuis. Nascia aí o calçado do povo. Embora o design das sandálias fosse de origem oriental, seu nome foi inspirado no Havaí, o paraíso do sol e do mar, onde ricos e famosos americanos passavam suas férias. Esse nome era considerado ideal, já que a sandália era adequada para o uso em países de clima quente e tropical, pois deixava os pés descobertos, evitando o excesso de transpiração. A ideia da nova sandália se espalhou feito rastilho de pólvora. Em menos de um ano a empresa fabricava mais de mil pares por dia, o que levou ao aparecimento das imitações, mas “legítimas, só as havaianas” (como dizia o slogan criado pela agência JW Thompson), as únicas que “não deformam, não têm cheiro e não soltam as tiras”. As cópias, de qualidade inferior, eram citadas pelos comerciais da marca como cópias “fajutas”, e o novo termo acabou sendo incluído no Dicionário Aurélio como sinônimo de produto de má qualidade. Exatamente dois anos depois de seu lançamento, já fazendo sucesso, a direção da empresa resolveu entrar com pedido de patente de modelo industrial n.5891, sob o título “Novo modelo de palmilha com forquilha”. O pedido chegou ao Departamento Nacional da Propriedade Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio exatamente no dia 13 de agosto de 1964. 28 Por mero acaso, as HAVAIANAS evoluíram, devido a um lote que deveria ser na tradicional cor azul que em virtude de um problema técnico saiu verde. O que era para ser um desastre se tornou um imenso sucesso e marcou uma nova era para a marca. A nova cor foi tão bem recebida pelo público que a marca começou a produzir os mesmos chinelos com tiras em outras cores, como verde, amarelo, rosa, vermelho e preto. Em 1980, já eram vendidos mais de 80 milhões de pares da sandália por ano. Nesta década, ainda com 4 cores do modelo original, as HAVAIANAS tornavam-se cada vez mais populares entre as classes humildes, e estavam de tal forma enraizadas que chegaram a ser consideradas pelo governo como um “produto de primeira necessidade”, passando inclusive a fazer parte dos itens integrantes da cesta básica, assim como o arroz e o feijão. Foi assim que o governo brasileiro começou a fiscalizar seu preço como fazia com os outros produtos considerados essenciais, mantendo assim, a inflação sob controle. A concorrência exige de HAVAIANAS uma primeira inovação de significado Durante quase trinta anos o consumidor das tradicionais sandálias, vendidas com mais frequência em mercados de bairros, se restringia a uma classe menos favorecida e costumava-se dizer que “Havaianas era chinelo de pobre”. Depois da forte concorrência dos chinelos de PVC, liderados pelo modelo Rider, da Grendene, era preciso adotar um novo posicionamento para alavancar as vendas e mudar sua imagem na mente dos consumidores brasileiros. O grande toque de Midas foi o lançamento, em 1994, de uma nova 29 versão: HAVAIANAS TOP, com cores fortes, ligeiramente mais altas no calcanhar do que o modelo original e o nome gravado em relevo. O novo modelo, com tiras e solados monocromáticos, foi inspirado na moda inventada pelos surfistas brasileiros que viravam as palmilhas de suas (antigas) HAVAIANAS a fim de deixar a face colorida voltada para cima. O modelo foi posicionado no mercado como um produto mais caro do que as tradicionais. Impulsionada por maciços investimentos em campanhas publicitárias protagonizadas por artistas e celebridades, transformou-se em objeto de desejo. No primeiro ano foram comercializadas 300 mil unidades das novas sandálias. Nas revistas, a explosão de cores e as imagens divertidas dos anúncios traduziam o alto-astral da marca. Em seguida, a distribuição também passou a ser focada em nichos de mercado. Cada ponto de venda recebia um modelo diferente, de acordo com seu público-alvo. Outra mudança foi na exposição do produto nos pontos de venda. Ao invés das grandes cestas com os pares misturados, criou-se um display para valorizar o produto, facilitar a escolha e, claro, impulsionar as vendas. A partir do final desta década, HAVAIANAS não parou mais de inventar moda. Foram criadas novas estampas, cores e modelos – até mesmo para os que mal tinham aprendido a andar, como as HAVAIANAS BABY; ou a HAVAIANAS SURF, com modelos simples de tiras pretas com cores e estampas renovadas e desenhos de manobras, paisagens, tribais e grafismos que refletiam o espírito do surfe. A partir do ano 2000, as sandálias da marca se tornam mania internacional. Estrangeiros compravam no Brasil e levavam para seus países como objetos de desejo ou presentes. Rapidamente as HAVAIANAS viraram 30 assunto nas páginas das grandes revistas e jornais do mundo, e conquistaram algumas das vitrines mais concorridas do planeta. O novo posicionamento também permitiu o desenvolvimento de estratégias mais ousadas, como a parceria feita com a joalheria H.Stern para lançar seis pares de HAVAIANAS com acabamento em ouro 18K e diamantes. Um deles chegou a ser vendido por R$ 52 mil. Isso gerou uma enorme exposição de mídia espontânea para a marca. O mesmo ocorreu quando a empresa colocou o logotipo de Miró nas sandálias que foram distribuídas em uma festa no consulado espanhol, em 2004. Continuando a segmentação de mercado, novas versões e muitas cores foram lançadas, além da introdução, em 2005, da HAVAIANAS SOCKS, uma meia que se adaptava ao contorno do dedão do pé, permitindo que ele se encaixasse perfeitamente na sandália (primeiro passo da empresa para a extensão da marca para outra categoria de mercado). O produto foi introduzido no mercado com o slogan “Havaianas Socks, para quem é louco por Havaianas”. As novas opções e o posicionamento diferenciado caíram no gosto do povo. E de repente, andar de HAVAIANAS por aí não parecia mais coisa de pobre, mas algo da moda. E assim as sandálias se tornaram objeto de desejo dos brasileiros mais abastados. 31 Sucessivos ciclos de inovação em estilos e cores, que passaram a ser pesquisados com a ajuda de birôs internacionais, romperam com o velho estigma e valorizaram o produto. A partir de 2008 a empresa iniciou a inauguração de lojas franqueadas das HAVAIANAS, onde era possível encontrar todos os produtos da marca em um só lugar, em um ambiente colorido e moderno com todo o astral que a marca representa. Ao final deste ano a marca já possuía 26 lojas franqueadas, incluindo o conceito de quiosques em grandes centros comerciais. A expansão da linha de produtos (sandálias, meias e toalhas) teve continuidade nesse mesmo ano, quando no mês de novembro a marca lançou oficialmente no mercado uma linha de bolsas. Foram, inicialmente, oito 32 modelos em cores, tamanhos e formatos diferentes. Tinha a Mega, ideal para quem ama levar todo o armário na bolsa; a Side, inspirada no modelo carteiro; a Tote, espaçosa e com base reforçada; a Zip com vários zíperes e um compartimento coringa para guardar toalhas ou jaquetas; e a Saco com alças iguais as das tiras da sandália - ideal para quem gosta de carregar somente o necessário. Produzidas em 100% algodão possuíam detalhes emborrachados e em metal e a versão estampada trazia um floral composto por pequenas sandálias HAVAIANAS. O charme ficava claro, por conta do chaveirinho em formato da tradicional sandália colorida. As novas bolsas foram comercializadas inicialmente em apenas 60 pontos de venda em todo o país e num único local no exterior: a Galeries Lafayette, em Paris. Para manter a posição de destaque no mercado, a Alpargatas, detentora da marca, aposta em ampliação constante nas suas linhas e no conceito de brasilidade. A principal extensão no portfólio de HAVAIANAS para além das tradicionais sandálias de borracha ocorreu em 2010 com o lançamento da SOUL COLLECTION, coleção de calçados fechados e tênis (feitos de lona e os tradicionais solados de borracha em seu interior). A princípio, os produtos foram desenhados para atender o mercado europeu que, por conta do inverno rigoroso, não dava espaço para a venda dos modelos originais durante todo o ano. A Internet, no entanto, acabou fazendo com que os itens acabassem ficando conhecidos e caíssem no gosto dos consumidores brasileiros. Além dos calçados fechados, a marca trabalha atualmente com produtos de outras categorias como bolsas, toalhas, chaveiros, pingentes para celular e mais 33 recentemente lançou uma linha de galochas mais que descoladas. A ideia é continuar lançando outros itens. Em breve, a empresa se prepara para disponibilizar no varejo capas para iPads e iPhones com a identidade da marca. Ainda em 2010, como parte do plano de consolidação da marca no mercado internacional, a cidade espanhola de Barcelona foi a primeira a receber um espaço exclusivo da HAVAIANAS. Pouco depois, a segunda franquia internacional foi inaugurada na ensolarada Huntington Beach na Califórnia. Além disso, como forma de agradecer a todos os consumidores e a todos os que apoiam a marca ao longo da sua história foi lançada a iniciativa MYOH (abreviação de “Make Your Own Havaianas”). É uma coleção completa de solas e tiras de diferentes cores em separado que, junto com vários alfinetes e pequenos cristais Swarovski, oferecem a possibilidade ao consumidor de criar o seu par único e exclusivo de HAVAIANAS, com infinitas possibilidades. 34 O mundo a seus pés A revolução da marca começou com a criação do departamento de comércio exterior em 2000. Até então, as vendas para o exterior eram esparsas, ou seja, não havia um movimento articulado em direção a esse mercado. A decisão de explorar a marca no exterior deu-se pelo fato de ser um produto tipicamente brasileiro, colorido e sem concorrência interna ou externa. E uma das primeiras medidas para chegar a esses destinos foi reorganizar a rede de distribuidores no mundo todo. Alguns eventos contribuíram para o sucesso da marca no exterior, como quando as brasileiríssimas sandálias chegaram ao mercado francês em 2001 através de uma amostra sobre a América Latina na chique Galeries Lafayette, onde foram vendidos três mil pares de HAVAIANAS. Em 2003, os tradicionais chinelos de borracha desfilaram nos pés de todas as modelos na passarela do estilista Jean-Paul Gaultier. Nada melhor para criar uma boa imagem da sandália e aumentar as vendas. Hoje, é possível esbarrar nas ruas com mais de um milhão de franceses usando HAVAIANAS. Esse aumento só foi possível porque a distribuidora francesa trabalhou o conceito da marca. Além do desfile de Gaultier a empresa fez parceria com grandes lojas de departamento, como a Galeries Lafayette, Printemps e o Bon Marche, que passaram a comercializar as sandálias. 35 Outro evento importante para divulgação da marca no exterior ocorreu em 2003 quando foram distribuídas sandálias HAVAIANAS aos indicados ao Oscar. Dois meses antes da cerimônia a empresa desenvolveu um modelo sofisticado, decorado com cristais austríacos Swarovski e guardado em caixas especiais com o nome dos atores imitando os símbolos estampados na calçada da fama de Hollywood. Paralelamente, a fábrica entrou em contato com os agentes das 61 celebridades indicadas ao prêmio - entre elas, Jack Nicholson, Nicole Kidman e Renée Zellweger - para saber que número elas calçavam. No dia seguinte à premiação, todos receberam sua sandália. Iniciativas como essa ajudaram a empresas a vender 1 milhão de pares de HAVAIANAS aos varejistas americanos neste ano. Nos últimos anos, a receita gerada pela exportação do produto praticamente quadruplicou. Austrália, Filipinas, Argentina, Estados Unidos, França, Itália e Espanha são os maiores mercados da marca no exterior. Em acelerado ritmo de expansão internacional a marca passou a atuar diretamente na Europa em 2008. 36 Outro fator importante para consolidação da marca no mundo foi quando grifes de renome internacional ofereceram a sua própria visão de HAVAIANAS através de edições limitadas: a grife francesa Celine (2004), H.Stern (2010), Paul&Joe (2010) e Missoni (2011 e 2012). Além disso, considerada como “a sandália de quem tem muito dinheiro e nada para provar”, a comunicação criada para veiculação da marca no exterior utiliza linguagem que sustenta tal fato, como por exemplo, “Somente o Titanic tinha tantos milionários em cima”. Em pouco mais de uma década, devido a todas essas ações, as tradicionais sandálias HAVAIANAS saíram das praias brasileiras e foram parar em 80 países e nos pés de celebridades como Angelina Jolie, Brad Pitt, Britney Spears, Kate Hudson e até da princesa Stéphanie de Mônaco. 37 A loja conceito A primeira loja-conceito da marca no mundo, batizada de ESPAÇO HAVAIANAS, foi inaugurada no dia 23 de janeiro de 2009, na badalada Rua Oscar Freire, em São Paulo. A loja reunia tudo o que os apaixonados por HAVAIANAS sempre sonharam: linha completa de sandálias, produtos exclusivos para o mercado internacional, customização e novos produtos. Com 300m² o luxuoso endereço, assinado pelo arquiteto Isay Weinfeld, é decorado com mosaico de clara-bóias no teto e paisagismo lateral (com palmeiras e pitangueiras), passando a impressão de se estar literalmente em uma praça, inclusive com barraca de feira, que remete à origem dos chinelos. Além disso, os bancos de tronco de madeira pequiá e o piso de pedra Goiás tornam o ambiente bem despojado. O sistema de luz, som (há setenta caixas acústicas escondidas no jardim e nas prateleiras) e vídeo é acionado por uma rede de computadores. Os produtos para exportação ficam expostos num contêiner. Amplo e contemporâneo, o espaço reúne todas as principais linhas da marca divididas por setores, com destaques para dois: Barraca de Feira, em homenagem à origem popular das HAVAIANAS, expondo os modelos mais tradicionais como se fossem frutas da estação; e Customização, com as inúmeras possibilidades de combinações entre solas, tiras e pins. Existe ainda um corner com as opções infantis, expostas em um display em formato de quebra-cabeça. O visitante pode encontrar toda a linha das sandálias (são mais de 500 modelos, inclusive, os destinados apenas à exportação), desde a mais simples até uma 38 customizada com cristais Swarovski. Além da recém-lançada coleção de bolsas e também toalhas, chaveiros, pins e meias. O visitante pode também conhecer a história e evolução da marca em um cubo vidro (onde repousa o primeiro modelo da sandália criado em 1962), ou nas paredes, onde frases e informações explicam a trajetória e o desenvolvimento da marca ao longo dos seus 50 anos de existência. O visitante pode inclusive customizar as sandálias. Há uma tela no balcão, onde o produto criado é fotografado e assinado, depois é arquivado em uma biblioteca virtual. A cinquentona Em 2012, para celebrar o seu 50º aniversário, a HAVAIANAS lançou uma edição limitada de sandálias, inspiradas na virada da marca, ocorrida nos anos 90, quando as pessoas tiveram a ideia de virar a sola das HAVAIANAS para cima, criando a sandália de uma cor só. Uma edição de 50 mil pares da nova sandália será vendida no Brasil, Estados Unidos, Europa e em outros países. O modelo comemorativo na verdade são dois: um que lembra aquele originalmente lançado em 1962, de solado branco e tira colorida; e o de uma cor só, simulando aqueles de solado virado. E para celebrar este momento tão importante para a marca, 100% da receita líquida da venda dos produtos será revertida ao projeto Selo Unicef, iniciativa do fundo voltada aos municípios brasileiros para a melhoria da qualidade de vida de crianças e adolescentes. 39 Campanhas que fizeram história A qualidade do produto, a estratégia de marketing e as campanhas publicitárias baseadas em depoimentos de gente famosa usando as tradicionais sandálias, trouxeram vida para a marca, ainda que ela dispensasse maiores apresentações. Quem primeiro apresentou o produto, por muitos anos, foi o humorista saudoso Chico Anysio com o slogan “Não deforma, não tem cheiro, não solta as tiras”. Na década de 90, ele voltou em um dos anúncios do lançamento das HAVAIANAS TOP proclamando “Isso é amor antigo”. A simbiose entre o produto e o artista foi tão grande que houve tempo em que se acreditava ser ele o dono da marca. Saiu Chico Anysio e entrou Thereza Collor. “Todo mundo usa Havaianas” era o tema da campanha que foi ao ar logo depois com o ator Luis Fernando Guimarães. Ele flagrava personalidades como Vera Fisher, Malu Mader, Maurício Mattar e o jogador Bebeto usando as sandálias. 40 Na televisão, a popularidade de Carolina Ferraz caiu ao tirar suas HAVAIANAS. Cristiana Oliveira ia tirando as peças de sua indumentária para descobrir o responsável pelos miligramas a mais que a balança quebrada não acusava. Em outro filme uma fã quase descobre Fábio Assunção disfarçado na praia através de suas sandálias. Pouco depois um garoto beijava as sandálias de Rodrigo Santoro pensando serem de Luana Piovani; outro pedia as HAVAIANAS da Déborah Secco para fazer traves de gol. Marcos Palmeira, Raí, Popó, Luma de Oliveira, Reinaldo Gianechini e Luiza Brunet também apareceram nas telinhas em divertidas situações relacionadas à marca. Uma coisa é certa: objeto de desejo, as HAVAIANAS têm glamour, personalidade e estilo. Básicas, irresistíveis, imprescindíveis, elas serão eternas enquanto durarem. Suas famosas campanhas publicitárias impressas também são cheias de humor, cores e uma linha alegre e criativa. Os slogans Havaianas, todo mundo usa. (1994) Legítimas só Havaianas. As legítimas, recuse imitação. Havaianas, As Legítimas. (1970) 41
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