DANDEKAR, Sarala
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DANDEKAR, Sarala
www.natamandir.com.br 1 DANDEKAR, Sarala. “Dança esculpida em pedra: uma investigação da apresentação contemporânea da dança Odissi”. York University. Toronto, Ontário. Abril-1998. CAPÍTULO III “De Maya a Moksha O nascimento de Maya” * estória do nascimento de Krishna está ligada ao nascimento de uma das figuras femininas mais importantes do Hinduismo, Maya, a incorporação da ilusão. Os pais terrenos de Krishna, Vasudev e Devaki, estavam impressionados com o primo tirano de Devaki – Kansa. Durante o encarceramento deles, Kansa é advertido de que ele morrerá pelas mãos do oitavo filho do casal. Para não correr riscos, Kansa dispõe guardas na prisão para que lhe informem toda vez que um filho de Devaki nascer. Depois de cada nascimento, o rei entra na cela da prisão e mata o bebê antes mesmo que ele complete poucos dias de vida. Quando é chega a época da oitava criança nascer, ocorre uma tempestade assustadora. Em meio à escuridão e à tempestade selvagem, Krishna nasce. O pai terreno de Krishna, Vasudev, brada que quando o bebê nascer os grilhões que prendem suas pernas cairão no chão e a porta será aberta. Em transe, Vasudev pega o bebê em seus braços e caminha até ultrapassar os guardas que estão dormindo profundamente. Ao viajarem na noite tempestuosa até a casa de Yashoda, pai e filho estão protegidos da tempestade pela serpente de Vishnu, o Sonhador Cósmico, que os abriga. Yashoda, a mãe adotiva de Krishna, está em um sono profundo depois do nascimento de sua menina. Vasudev troca, então, os bebês e carrega a pequena menina de volta à prisão para o quarto onde sua esposa ainda estava dormindo. Tão logo ele retorna, a porta se fecha e os grilhões se prendem novamente em suas pernas. Os guardas, ouvem o choro do bebê e comunicam ao rei o nascimento do oitavo filho de Devaki. Kansas corre para a cela e pega a pequena menina pelos tornozelos, balança-a sobre sua cabeça e a atira contra uma pedra. Ao invés de cair morta no chão, a menina transforma-se em uma mulher de beleza indescritível e flutua no ar, preenchendo todo o espaço da sala com o som sua gargalhada. Deixando o rei assustado, ela anuncia que sua tentativa de matar o oitavo filho de Devaki e www.natamandir.com.br Vasudev foi em vão. A criança está a caminho, viva e salva. “Ademais”, ela afirma, “você tentou me destruir, mas eu sou Maya, nasci neste momento no mundo e a ilusão não pode morrer”. O nascimento de Maya introduz uma nova dinâmica para os acontecimentos mundiais pelo fato de introduzir o elemento da decepção sensorial. Quando Maya declara sua presença, ela invoca uma nova era na qual as coisas não podem mais serem consideradas como aquilo que elas parecem ser. De acordo com Joseph Campbell (1974:52), Maya possui três qualidades. A primeira propriedade da ilusão é sua qualidade de ocultar, que serve para esconder o que é real. A segunda é o poder de projetar impressões ilusórias. Por meio dessa segunda qualidade de projeção, Kansa supõe que o bebê deitado próximo a Devaki é sua oitava criança. Finalmente, Maya possui o poder da revelação. Campbell liga este final, o poder revelador, à função da arte e do ritual, nos quais se pretende tornar conhecido o que é desconhecido. Maya, na forma de artifício guia para a revelação. O estágio moderno da dança Odissi é um exercício na natureza reveladora de Maya. Uma performance completa de Odissi é conduzida com uma estrutura ritual e apresentada como uma dança sagrada e devocional. A impressão dada por uma performance de Odissi é aquela de que a proteção da clausura das 2 paredes dos templos tem sido abolida e o espectador é privilegiado ao testemunhar uma bela forma de devoção, íntima e privada. Esta impressão é orquestrada e coreografada com o máximo precisão com relação à música e aos próprios passos da dança. Para Richard Schechner “o comportamento restaurado”, é uma livre recriação literal do passado. “O comportamento restaurado oferece ambos indivíduo e coletivo a chance de tornarem-se novamente o que eles uma vez foram – ou mesmo... tornarem-se novamente... o que eles desejam ter sido” (1985:38). O papel de Maya na recriação, no palco ritual, é revelar o espírito integral do Odissi através de uma tradição inventada que nunca tinha existido antes deste século. Num lado, a performance como ritual mantém contato entre a forma e suas origens espirituais enquanto acomoda a realidade prática de sua encarnação contemporânea. Por outro lado, o ato ritual como um guia para ambos dançarino e público, guia a consciência em direção a um estado de transcendência e rasa que é freqüentemente esquecido no dia-a-dia do domínio profano. O palco ritual Mircea Eliade identifica um espaço central na religião como “a zona proeminente do sagrado, a zona da realidade absoluta” (1959:169). O centro, no ritual, é ambos uma metáfora espiritual e www.natamandir.com.br uma realidade física. Como o espaço mais potente do sagrado, o centro contém a capacidade de transformação: é um caminho de passagem entre o mundo físico e mundano e o mundo metafísico do sagrado. O Odissi foi originalmente praticado pelas maharis no ponto mais central do complexo do templo, dentro das câmaras sagradas de Jagannath (Devi, 1962). Agora, o palco tem se tornado um centro para a performance do ritual de Odissi contemporâneo e, assim, seu veículo para a transformação. Os novos templos para a dança têm técnicos de iluminação e de som, palco com laterais que permitem elaborar entradas e saídas, uma cortina que abre e fecha o ritual, programas escritos que guiam o público durante a performance, e um camarim. Porém, os gurus de Odissi têm reconstruído a forma de modo que se mantenha uma conexão espiritual para o centro do espaço original, o qual é invocado no coração da dança ritual. Para significar o domínio sagrado do tempo-espaço mitológico, um murti de Jagannath preside no palco com uma oferenda de frutas, flores e incenso colocado em frente à deidade. O murti é usual e ritualmente ornamentado e colocado no palco com uma cerimônia de puja que a acompanha. Uma vez que a deidade está presidindo o palco, ninguém mais pode pisá-lo sem tirar os sapatos como sinal de 3 respeito. O palco torna-se, então, sagrado. A deidade é colocada na frente e à esquerda de quem está no palco, estando também mais próxima do público. Esta posição foi escolhida pelo respeito ao princípio Hindu do darsan. Darsan é a forma de comunicação entre o humano e o divino conduzido através da visão. Ver e ser visto (estar na linha de visão de um murti) é a maior forma de contato. Ver a representação física da energia divina é permitir que o público receba a prece enviada pelo dançarino. Ser visto pelo Murti é ser agraciado com benção divina. Por isso, olhar para o Senhor Jagannath e estar dentro do domínio de seus enormes olhos é comunicar-se diretamente com Deus. Quando o Odissi foi originalmente apresentado, ele era direcionado e observado apenas por aqueles olhos divinos. Hoje, mantendo-se com as origens da tradição seria inaceitável para um dançarino dançar com suas costas para o murti, já que o dançarino está, teoricamente, recriando a tradição mahari da dança para Deus. Assim, o dançarino coloca sua oferenda de flores em frente ao murti no Mangala Charan (a invocação tradicional da dança), ele se curva e se move para o centro do palco com seus olhos e corpo encarando a deidade. A colocação do murti de frente no canto do palco assegura que poucos movimentos coreográficos podem inadvertidamente colocar o dançarino de costas para o Deus. www.natamandir.com.br Seria igualmente inaceitável posicionar o murti com sua face para o dançarino, com suas costas parra o público. Porém, o dançarino estaria apto para apresentar-se diretamente para a deidade, com o público sentando atrás do murti, ser-lhe-ia negado o privilégio do darsan, sendo efetivamente excluído da performance ritual. No culto tradicional, Jagannath é percebido como a incorporação da manifestação de todas as deidades e assim, todos, independentemente da fé, são abençoados por sua presença. Não podemos simultaneamente reconhecer o público como observadores participantes no ritual da dança e excluí-lo do darsan. Ou se deixa inteiramente o “véu protetor” do ritual ou o mantém em segredo. Colocando o murti no lado esquerdo do palco, o público é imediatamente ligado à mística original do tempo-espaço do Odissi. Há, porém, uma estranha ressonância na colocação do murti no palco. O público, crédulo ou não, recebe o darsan de Jagannath, que os está encarando. Este é um privilégio que poucos terão quando se fizerem a peregrinação para Puri na esperança de entrar no templo.1 Enquanto isso, o público 1 Apesar de, tradicionalmente, Jagannath ser cultuado por pessoas de qualquer fé religiosa, após uma longa história de invasões repetidas da região de Oriya e a degradação do templo de Jagannath em Puri, as portas permanecem fechadas para todos os não-Hindus. Esta política é feita rigorosamente, e os pundits (sacerdotes) 4 no teatro está olhando o dançarino, que preenche o palco com a energia apresentada, e muito naturalmente, parece representar o centro do ritual de dança. O dançarino, treinado em uma recriação da tradição da dança mahari para enviar sua dança como prece para Jagannath, paradoxalmente, encara o público, dançando para ele. Raramente o público está consciente da estranha ressonância do passado e das tradições presentes sendo ambos elevado e sutilmente ironizados. O repertório “Há uma década atrás, o Odissi era um longo item apenas, no qual todos os itens atuais estavam misturados para construir o clímax. Por conveniência, porém, este item foi desmembrado e, assim, um número de itens foi criado para constituir um repertório” (D.N. Patnaik 1971:100). O Odissi é ambos uma reconstrução e uma reinvenção de uma tradição da dança. Como documentado por D.N. Patnaik, houve um período durante a evolução moderna da forma da dança na qual o repertório foi alterado “por conveniência”. Desmembrando um longo item de dança em várias partes distintas, cada uma com uma característica reservam o direito de questionar a identidade de qualquer um sobre chão do templo. www.natamandir.com.br coreográfica, sentimento e papel no esquema da performance inteira, é um passo maior no novo design da arquitetura do ritual. As danças têm sido divididas em categorias, delineadas por entradas e saídas coreografadas e colocadas em uma seqüência fixa dentro de uma performance ritual. Porém, o número de itens e conteúdos pode variar de performance para performance, há uma seqüência que deve ser seguida para uma apresentação tradicional de Odissi. Toda performance tradicional começa com um item denominado Mangala Charan, uma invocação em três partes. Mangalacharan começa com uma entrada na qual o dançarino caminha devagar da lateral para o palco em uma posição devocional; suas mãos estão colocadas juntas e posicionadas em frente do peito, carregando uma oferenda de pétalas de flores ou, simplesmente, trazendo palma com palma em frente do peito em prece. A primeira seção do Mangala Charan é devotada ao Senhor Jagannath. O dançarino coloca as flores em frente do murti e entoa a prece ”Jagannatha swami nayana patagami bhavatume”: “Oh! Senhor do Universo, por favor torne-se visível para mim”. No entanto, o dançarino já pode ter feito privadamente a prece para Jagannath atrás das cortinas do palco. Este verso de prece, sloka, é o primeiro ato apresentado no foco de luz do dançarino. Assim, a 5 apresentação de Odissi, iniciada com uma prece coreografada, relembra o público que a essência do ritual da dança não está direcionada para ele, mas para Deus. A prece leva a atenção do público para as origens sagradas e para a proposta da dança-ritual. A coreografia nesta seção é orientada inteiramente para a deidade. E, depois dessa breve prece, o dançarino permanece com a face diretamente para o murti até o final da apresentação quando ele se curvará para Jagannath, para os músicos e para o público. Após completar a prece, o dançarino caminha para o centro do palco, mantendo suas mãos palma a palma em frente do peito e continuando com a encarar a deidade. Estes oito a dezesseis passos servem como uma transição entre o primeiro e segundo pranam (saudação devocional). Um dançarino e professor comenta que a caminhada e os steps transicionais em Mangala Charan “devem ser executados com o máximo de delicadeza. , Não podemos dançar com força sobre o chão sem antes pedirmos as bênçãos e a clemência da mãe terra.” Quando o dançarino chega ao centro do palco, há uma mudança rítmica indicando a introdução para o segundo pranam no qual o dançarino encara o público e apresenta uma reverência estilizada dedicada á mãe-terra. Depois de completar os dois pranams, para Jagannath e para a mãe-terra, o dançarino começa www.natamandir.com.br a segunda sessão do Mangala Charan. A segunda seção da dança é feita na forma de versos de prece em Sânscrito – sloka – dedicado a uma dos deuses do panteão Hindu. Usualmente, o dançarino faz uma prece para Ganesh, que abençoa o início de todo o esforço e remove todos os obstáculos. Há itens invocatórios coreografados para Saraswati, Shiva, Shakti-Devi, Vishnu e outros deuses Hindus. A duas primeiras seções do Mangala Charan, devotada para glorificar os deuses, são geralmente lentas e cheias de graça, incorporando poses esculturais. A terceira seção do Mangala Charan tem um tempo acelerado com uma coreografia mais vigorosa. A energia do dançarino preenche uma vasta área do palco e o trabalho de pés torna-se mais variado e complexo. A dança é concluída com um triconda pranam, uma série de três saudações coreografadas e distribuídas em quatro partes e divididas por pausas de duas batidas cada uma delas. As saudações estão inseridas numa forma rítmica repetida em três tempos. Esta forma, chamada tihaye, é uma ferramenta de composição tradicional usada para sinalizar o término da seção ou da dança. Na primeira saudação, o dançarino coloca suas mãos, palma com palma, sobre sua cabeça para louvar a Deus. Na segunda, coloca suas mãos em sua testa para indicar seu amor e respeito ao seu guru. Finalmente, com um giro, que quebra ambos os focos 6 devocionais e estabelece o espaço do palco ao seu redor, o dançarino abre seus olhos e coloca suas palmas em seu peito, reconhecendo e cumprimentando o público. Assim, se encerra o Mangala Charan, os espectadores são formalmente reconhecidos dentro de uma coreografia e incluída como participantesobservadores no ritual. O Mangala Charan é seguido de um item denominado Batu Nrittya, uma parte de dança pura composta inteiramente de movimentos abstratos. O Batu, também conhecido como Batuka Bhairav, é dedicado a um dos muitos aspectos do Senhor Shiva. É uma rigoroso aspecto orientado da técnica e é descrito por alguns estudiosos como “o item mais difícil no repertório de Odissi” (D.N. Patnaik 1971:104). Entre os dançarinos e gurus, é freqüentemente usada uma measuring stick com a qual se julga a habilidade técnica do estudante e sua resistência. O Batu começa com uma seção representando quatro instrumentos musicais: uma veena (instrumento de corda), uma flauta, um tambor e pequenos sinos de mãos denominados manjeera ou gini. Estes instrumentos estão representados nas esculturas que decoram o lado de fora do templo de Konark em Orissà e as poses têm inspirado a seqüência de movimentos na primeira seção da dança. Nesta primeira fase da coreografia, o dançarino apresenta-se, “carregando os instrumentos, por isso os www.natamandir.com.br movimentos dos braços nesta primeira seção são limitados. Talvez pelo fato de contrastar a relativa simplicidade da parte de cima do corpo, a coreografia para o trabalho de pés tem envolvido maior elaboração e uma seqüência mais rápida dos passos. De acordo com Jeanes (1982:103), entre 1960 e 1980, a coreografia para o Batu aumentou em tempo e em complexidade”. Na primeira seqüência o dançarino está “tocando” uma veena, cruzando o corpo, com a mão esquerda nos traços e a mão direita mostrando a base do instrumento. Nesta seção o dançarino executa o trabalho de pés com movimentos lentos e curvados do torso, juntamente com a inclinação da cabeça, característica da forma. Similarmente, na seção com a flauta, a ênfase é dada na força do trabalho de pés, torso e inclinação da cabeça. Na seção com o tambor, é dada uma introdução sutil e delicada com movimentos dos punhos e a mímica das mãos a bater no instrumento, seguindo o ritmo do trabalho dos pés. Neste minuto o isolamento dos pulsos expande-se e o movimento dos braços executam as poses dos dançarinos em parhva mandala assimétrico (uma pose na qual um braço circula sobre a cabeça e o outro cruza o corpo para bater na face oposta do tambor). Os movimentos dos braços e dos pulsos criam um caminho circular e espiralado, formas semicirculares que representam um toque estilizado dos sinos de 7 mão em cima, em baixo, à direita e à esquerda do corpo. Como é característica no Odissi, mesmo em movimentos cheios de fluidez, os braços nunca estão totalmente estendidos. Os movimentos circulares estão profundamente enraizados no Odissi, ângulos suaves nos cotovelos e nos pulsos. A segunda seção do Batu é introduzida por uma mudança musical intensa, envolvendo uma transição em frases rítmicas e a introdução da voz do cantor. Em muitas composições de Odissi, o vocalista introduz um tema melódico antes da entrada do dançarino ou inicia cantando imediatamente após a entrada dele. No Batu Nrttya, o vocalista não entra na orquestração até que a segunda seção comece. A seção vocal do Batu não é usual, não apenas na sua introdução tardia, mas também na sua forma melódica. O cantor repete a mesma linha de sílabas usando a mesma melodia simples dentro do resto da dança. Na parte que envolve a dança pura, as ondas da música vocal atravessam várias variações melódicas formais (denominadas swaras e antaras), assim como as elaborações improvisadas que são iniciadas pelo cantor. De fato, o Batu é uma dança singular no repertório formal das apresentações nas quais essa forma não é encontrada. A repetição, sem variação, desta linha melódica interposta com seções de seqüência rítmica pura dadas pelo pakavaj cria um sensação de recitação como oposição ao cantar. A www.natamandir.com.br simplicidade da repetição vocal desenvolve um grande poder, uma atmosfera solene que invoca as raízes devocionais da dança.2 A segunda seção do Batu guia metaforicamente o público, das estátuas decorativas do lado de fora das paredes dos templos para o interior do santuário, onde o dançarino, incorporando “A Dançarina” prepara-se para dançar no templo. Esteticamente, a dançarina adorna seu cabelo com flores, olha-se em um espelho de mão, e sorri com timidez de prazer para a imagem refletida. Esta representação do adorno ritual do corpo em preparação para a dança é uma vaga lembrança ao público do processo de preparação e vestimenta no camarim. Uma fase não vista, um processo misterioso de transformação. O Batu é concluído com uma aceleração em tempo e numa rápida seqüência de trabalho de pés, concluindo em um tihaye que representa uma forma típica usada para concluir um pedaço da dança. Neste último pedaço do tihaye, o dançarino pára, em uma pose escultural, e estende suas mãos na direção do público, oferecendo a dança do seu coração. Deste momento de tranqüilidade o dançarino sai devagar encarando o público. 2 Essa melodia também é encontrada em um item de Odissi chamado Sthayi. Sthayi e Batu estão aparentemente relacionados, porém, o Batu é considerado como sendo derivado da tradição gotipua e Sthayi é da tradição mahari. Partes da música e ukutals (formas rítmicas) são encontradas em ambas as danças, porém, a coreografia é diferente. 8 O item que tradicionalmente segue o Batu advém de um grupo de coreografias chamadas de Pallavis. Pallavi significa elaboração e a coreografia, geralmente, é construída a partir de movimentos rítmicos dos olhos, pescoço, torso e mãos para seqüências completas da dança. Enquanto existe uma coreografia fixa para o Batu, existem numerosos pallavis compostos para uma grande variedade de ragas. Um professor descreve os pallavis como “dança melódica pura, elas nos relembram o entrelaçamento de uma parreira, visto no complexo e suave trabalho de pés do Odissi”. Pallavis são uma performance. É aceitável também apresentar um pallavi no lugar do Batu, neste caso o pallavi é seguido de uma abhinaya. A beleza de um pallavi aumenta, significativamente, com a maturidade do performer. Um dançarino em Bombay, conhecido por sua habilidade em transmitir sentimento e emoção, expõe seu approach quando apresenta um pallavi: “Cada movimento deveria transmitir algo mais do que simplesmente a técnica física. Quando o dançarino um giro ela gosta tanto disso e coloca tudo dentro dele para que o público perceba a elevação espiritual e participe desse deleite. Um pallavi não é somente dança pura, ele tem movimento interno da alma. Isto é importante, por exemplo, Saver Pallavi mostra o amanhecer como se ele fosse feminino e estivesse se www.natamandir.com.br adornando. Já que é cedo de manhã, os primeiros passos deveriam ser feitos como se você fosse o próprio amanhecer e quando você percebe isso dentro você e depois transmite isso externamente, o público sente um deleite também. A diferença nos pallavis é o sentimento e ele é conectado á música. Não são movimentos abstratos mas sim movimentos que vocês está apresentando.” A ampla variedade das coreografias dos pallavis provém de uma seqüência expressiva e de graciosidade, em movimentos delicados, como no Saveri; para a força da virtuosa coreografia do Kirvani. Os pallavis desafiam a habilidade do dançarino para interpretar e representar o movimento técnico em um caminho que é ao mesmo tempo de prazer estético e cheio de significado. Pallavis são seguidos por uma abhinaya. As abhinayas estão tradicionalmente ligadas à performance do Gita Govinda no templo de Jagannath em Puri. Muitas das mais complicadas abhinayas tratam de trechos da obra de Jayadev, porém alguns itens têm tratado de trabalhos de outros poetas Oriya, notadamente Kavisurya Baladev Rath, Gopal Krishna Patnaik, Banamali and Upendra Bhanja (Kothari, 1990:72). Abhinayas narram estórias usando uma estilizada linguagem cantada que combina hastas (formas das mãos) e expressões faciais igualmente estilizadas. As abhinayas são profunda e culturalmente 9 codificadas, assim como as estórias representadas e o método de expressão, elas vêm das tradições indianas clássicas. As estórias são retiradas da mitologia Hindu ou do folclore regional. As posições simbólicas das mãos, as expressões faciais e os movimentos estão classificados em textos tradicionais sobre a dança e o drama, tais como o Natya Sastra, Abhinaya Darpana e Abhinaya Chandrika. Ao contrário do Mangala Charan, que segue uma seqüência prescrita de componentes necessários, ou os pallavis, que seguem as estruturas musicais do raga, as abhinayas não seguem um conjunto musical ou uma estrutura coreográfica. A poesia da estória torna-se a estrutura da abhinaya. Alguns dos mais proficientes dançarinos improvisam coreografias no palco, elaborando cada linha da poesia e interpretando cada estado emocional de acordo com a inspiração deles naquele momento. Idealmente, os sentimentos e as emoções da abhinaya, que influenciam o rasa da performance, serão comunicados ao público e compartilhados por ele. O item conclusivo da performance é o Moksha. Na filosofia Hindu o atman, a essência espiritual em cada ser vivo, pode ser liberta do eterno ciclo de reencarnações apenas quando a pessoa atinge um nível de conhecimento que a guia para a libertação do mundo material. Esta última liberação, do plano material para o estado de www.natamandir.com.br iluminação de liberdade completa e, retornando à essência divina da qual todos nós descendemos, é um estado conhecido em Sânscrito como moksha. Não há palavras cantadas durante este item, apenas a voz do guru recitando o ukutal (sílabas rítmicas) e o acompanhamento do pakavaj e de outros instrumentos. O raga é fixado em Bhairav, que evoca um solene, profundo e lento tom. O item final no ritual de dança culmina em uma combinação de intensa exortação física e de prece. Uma combinação de treino disciplinado, concentração e de bhakti (devoção) guia o dançarino, e idealmente o público também, para um estado de moksha. Aharya: ornamento do corpo Horas antes da cortina se abrir, o dançarino inicia sua própria transformação, do seu dia-a-dia para o seu papel como performer. Durante o desenvolvimento atrás do palco há tanto uma transformação interna da própria pessoa como uma transformação externa do corpo, iniciada através de um processo elaborado de vestimenta. Este processo pode levar cerca de duas horas para estar completo. O vestuário para um dançarino de Odissi consiste de: um sari (longo tecido amarrado para formar um vestido), jóias de prata em filigrana, guizos de bronze que são presos com um cordão e 10 amarrados ao redor dos tornozelos, um enfeite de cabeça em flores brancas que decoram o cabelo, e uma aplicação de maquiagem estilizada. Ao contrário de muitas outras tradições de dança teatral, em uma performance solo, a vestimenta não é usada para significar um personagem específico. É considerada parte da proficiência do dançarino para estar apto a mudar de um personagem para o próximo dentro de um item singular, da mesma forma que é essencial para um ator estar apto para mostrar diferentes sentimentos em um personagem. Assim, o dançarino não faz uso de um visual “prop” ou muda de vestuário para demonstrar quando ele está representando um homem ou uma mulher, protagonista ou antagonista. A caracterização torna-se clara através da linguagem corporal do dançarino, do uso dos movimentos, dos gestos das mãos e da expressão facial. Similarmente, deve estar muito claro quando uma personagem muda para outro. Assim, o performer de Odissi veste-se a si mesmo para um papel singular d “Dançarino” no qual lhe é requerido usar instrumentos puramente físicos para representar personagens da dança. Ao contrário das tradições gotipua, os performers masculinos de Odissi contemporâneo não se vestem como dançarinas. Eles usam apenas jóias em seus braços e peito, e o mesmo cinto de prata www.natamandir.com.br usado pelas dançarinas, mas eles não usam nenhum adorno em suas cabeças ou em seu cabelo. Ademais, os dançarinos não decoram suas mãos e pés com o pigmento vermelho usado pelas dançarinas. Os dançarinos usam um dhoti, um espécie de vestuário que consiste de calças folgadas e decoradas, um leque com pregas que caem da cintura. Alguns dançarinos amarram o dhoti. Geralmente, os homens dançam com o peito descoberto, com um pedaço fino de tecido cobrindo o ombro direito, ou eles podem usar um pedaço de túnica lisa. A vestimenta de sari do Odissi para dançarinas, trançado no estilo sambalpuri, que é típico de Orissa foi, originalmente, amarrado de uma forma que assegura à dançarina mais liberdade de movimentos do que o sari amarrado para o uso diário. Na tradição do vestuário contemporâneo, estes saris são cortados e fabricados e bem costurados na forma de uma indumentária. O vestuário é montado em vários pedaços costurados individualmente. A metade de baixo do vestuário vem em dois tipos para as dançarinas: um tipo de leque pregueado que se fixa do joelho à porção da perna do costume e se abre na forma de um semicírculo quando a dançarina flexiona seus joelhos; o outro tipo é uma espécie de leque diagonal, ou estilo de dhoti, que começa em pregas nos tornozelos e uma das pernas e vai até o lado oposto da cintura. O último, tipo dhoti de vestuário é similar ao costume masculino 11 para o palco, enquanto o primeiro é apropriado apenas para dançarinas. A parte de baixo do costume, amarrada ao redor da cintura é fabricada com um material extra ao redor do quadril para acentuar as formas arredondadas da dançarina e aproximar-se mais das proporções das esculturas dos templos. O topo da porção das calças é acinturado com maior ajuste e descreve um semicírculo atrás, dando ênfase na área ao redor do quadril. A parte de cima do costume consiste de uma blusa ajusta e com uma peça pregueada que cruza o busto da dançarina. Da cintura para baixo o costume é desenhado para parecer exatamente com um sari, mas garantindo grande mobilidade. O costume costurado desenvolveu-se a partir de desenhos mais elaborados a fim de conseguir um efeito melhor do que as dobras e amarrações do sari. O costume que já está pronto para vestir é eficiente em termos de rapidez para a mudança de indumentária. O costume é feito de modo a causar o mínimo de incômodo aos cabelos, etc, quando se está mudando a roupa. Para a mudança de um costume, apenas poucos artigos de joalheria serão necessários ser removidos e recolocados sobre a nova indumentária. Ao longo dos anos, o público tem vindo assistir aos espetáculos para ver as mudanças nos costumes dramáticos durante o show. Alguns dançarinos têm feito a mudança de costumes para a www.natamandir.com.br apresentação até quatro vezes. Porém, os mais ortodoxos acreditam que essa mudança constante quebra o fluxo da performance, além de desviar a atenção do evento, criando um sentimento de fashion show. O make-up da dança Odissi mudou muito nos últimos 50 anos. Antes, consistia de uma pasta branca de madeira de sândalo que decorava a testa e as bochechas da dançarina com desenhos de galhos entrelaçados. Essa forma é mostrada nas sobrancelhas e nas bochechas em muitas imagens de Krishna e de Radha e também de Jagannath, Subhudra e Balabhudra. Apesar do fato de que a técnica decorativa está ligada à arte tradicional da região, essa tradição foi modificada radicalmente em conformidade com o padrão universal de beleza. Há 45 anos atrás, uma das dançarinas antigas de Odissi, maquiada pelo guru próprio antes de subir no palco, deixaria qualquer dançarina hoje revoltada.”Eu tinha bochechas com linhas retas de sândalo” (Mohanty, 1981.) Hoje, não há mais a pasta branca de madeira de sândalo nas bochechas e na testa, exceto como um contorno delicado do círculo vermelho (bindi) colocado no centro da testa entre as sobrancelhas com pétalas brancas. Este desenho tido na maioria das dançarinas hoje é um modelo inventado. Um dançarino diz que o desenho do bindi das maharis não era redondo: o bindi era alongado como uma gota com 12 um ponto preto no fundo e na forma de V suportando tudo. O resto do rosto é sombreado num make-up do teatro contemporâneo modificado no estilo para uma estética moderna indiana. As dançarinas, muitas vezes, clareiam a cor da pele delas para parecerem mais pálidas e, assim, mais bonitas seguindo os modelos da Índia 3. Os olhos das dançarinas, contornados fortemente com Kadjal (carvão preto), são decorados de acordo com o conceito estilizado dos “olhos de peixe” que está fortemente enraizado na cultura indiana. Poetas descrevem esse tipo de olhos com muitos detalhes e, segundo um dançarino o Natya Sastra diz que os olhos devem ser marcados em linhas pretas tão finas como o rabo de um peixe. As linhas escuras ao redor dos olhos também servem para enfatizar os movimentos rápidos e controlados dos olhos como um detalhe importante na forma da dança. Olhando em fotos podemos perceber que aquelas flores brancas que adornam os cabelos das dançarinas hoje, consideradas como uma parte significativa do costume do Odissi, estão ausentes nas 3 Para um olhar estrangeiro sobre a Índia, é algumas vezes desconcertante ver uma mulher bonita modificar a pele marrom e sem manchas e saudável, transformando-a em um cinza esbranquiçado para a platéia. Assim, da mesma forma que as dançarinas ocidentais estão com a ditadura do corpo ideal, na Índia existe a preocupação nacional com a cor da pele. www.natamandir.com.br fotografias antigas das maharis e dos gotipuas. As flores que formam um alo, um semicírculo na cabeça da dançarina, finalizando em um pico de flores no topo são uma réplica da arquitetura dos templos de Orissa. As flores também servem para acentuar os movimentos delicados que enfatizam as inclinações da cabeça e do queixo nas posições assimétricas e nas poses durante a dança. As esculturas de dançarinas encontradas em várias regiões de Orissa parecem ter um enfeite de cabeça. Algumas fotografias antigas de algumas dançarinas de Odissi mostram decorações de cabeça semelhantes a uma coroa feita de metal. A joalheria é uma parte muito importante do costume. Hoje, tanto homens como mulheres usam jóias em filigrana, típico da região. A dançarina usa um enfeite de prata na cabeça e brincos semelhantes como aqueles que são usados nas cerimônias de casamento. Pelo fato das maharis serem simbolicamente casadas com Deus, as jóias usadas na performance são intencionalmente evocativas das jóias de casamento. Ultimamente, as jóias usadas nas apresentações tornaram-se mais uniformes devido ao marketing de sets de jóias de Odissi em algumas das maiores cidades da Índia. Foi mencionado anteriormente que o make-up e a colocação do costume servem tanto para a decoração como para evocação da beleza da 13 forma. O make-up dos olhos, com sua forte delineação, chama a atenção dos movimentos dos olhos e da direção do olhar. Adicionalmente, o desenho da coroa em flores brancas evoca tanto a silhueta da arquitetura dos templos como acentua os movimentos característicos da cabeça. A dançarina colore também mãos e pé e dedos com uma tintura vermelha derivada de vegetais chamada alta. Os desenhos geralmente são mais simples do que as criações pintadas à mão com henna para cerimônias de casamento, mas a prática nas duas situações mostra a importância da ocasião. O dançarino está pintando os dedos pequenos e grandes com vermelho e faz apenas uma linha nas mãos e nos pés. Geralmente, o dançarino faz um círculo simples, uma flor ou um sol em cada palma da mão e acima do pé.O vermelho está servindo como decoração, mas também está acentuando as posições dos pés e delineando claramente os vários hastas (posições estilizadas das mãos) que são usadas na forma da dança para contar estórias ou para demonstrar movimentos abstratos. Como a pasta de sândalo que foi substituída por razões de conveniência, pelo lápis das sobrancelhas, ou mesmo com esmalte branco, a tinta vermelha algumas vezes é substituída por um marcador de texto vermelho no camarim. O resultado de todos esses desenvolvimentos nos ornamentos www.natamandir.com.br de Odissi é um costume relativamente uniforme e que é identificado somente com a tradição da dança clássica Odissi. É importante pensar que essa uniformidade foi desenvolvida em um período específico de tempo. Quando colocamos uma fotografia dos anos 80 ao lado de uma de uma dançarina de 1940, percebemos uma diferença forte na aparência, porém, com todas essas mudanças, inovações e substituições que foram incorporadas no processo de colocação do costume a rotina da transformação da própria pessoa na figura do dançarino permanece à parte inalterado e o ápice do ritual da dança. Cada dançarino é encorajado par desenvolver uma rotina pessoal que vai iniciar um processo de transformação tanto físico como mental. A transformação física no camarim é parte do processo de transformação de conhecimento treinado na classe para o sentimento e a sensação da performance, como também da concentração interior para desenvolver uma técnica e depois emanar isso para o público como algo infinitamente mais profundo do que a própria técnica. Uma dançarina de Odissi que mora e apresenta na América do Norte fala eloqüentemente sobre o processo de transformação da ahariya: “Eu fico muita quieta quando eu estou me preparando para a apresentação, diferentemente do que ocorre normalmente. Acontece uma transição 14 que muda o meu ser diário para um natiki (dançarino). E sou uma pessoa diferente e qualquer um pode perceber isso... No camarim eu faço meus cabelos, meu rosto e os olhos, penso sobre cada olhar, cada expressão quando eu estou pintando a linha longa e preta do contorno dos olhos chamado o rabo do peixe. Os lábios são muito importantes e expressivos e essas coisas devem ser realçadas. Colocando o costume é o mesmo que entrar em um outro corpo. Colocando os meus gungurus é muito emocionante algumas vezes para mim, porque eu queria que meu guru os colocasse para mim... Entretanto, aqui nós estamos todos sozinhos, mas na Índia é muito importante e tradicional para o guru preparar você, aqui você não tem isso. Mas, o que me faz sentir como uma verdadeira dançarina de Odissi no camarim é quando coloco as jóias. As jóias do templo fazem com que eu me sinta transformada em uma mahari ou uma devadasi. Em seguida eu faço um pranam para minha mãe e para a foto do meu guru antes de me apresentar no palco.” Muitos dos dançarinos têm descrito a transformação do camarim para a platéia como comparável ao entrar em um outro mundo e nesse mundo a identidade do dançarino e as qualidades elevadas do devoto da dança se misturam. Um dançarino descreve os sentimentos assim: “quando você está ouvindo a música você começa a ficar nervoso com a tensão de oferecer a sua dança para Deus.” Um outro artista sênior relatou: “quando eu estou na palco eu sou eu, mas eu também sou uma outra coisa que é www.natamandir.com.br devoção pura.” Os sentimentos de amor e de devoção descritos pelos dançarinos fazem ecoam na descrição de uma mahari ao descrever as suas experiências dançando no templo: “a dedicação a Jagannath implicou a abdicação completa do corpo (deha), mente (mana), e o sopro da vida (prana) e, assim, tudo isso se transformou em uma fonte de deleite” ·Teoricamente, finalizando o ritual de uma apresentação de Odissi, o dançarino completa o processo de transformação que começou no nível físico no camarim. Começando ao colocar a roupa, fazendo o make-up e colocando as jóias até o item final da dança. Em tudo existe uma continuidade do processo e um aprofundamento da intensidade. Os movimentos físicos de embelezamento do corpo como também os movimentos da dança guiam a concentração do dançarino para o ritual da apresentação. Assim, o conceito do moksha é muito poderoso, ao imaginarmos que a energia da dança, misturada com o espírito do dançarino guia tanto o próprio dançarino como a platéia para um patamar superior.O item da dança invoca beleza numa dinâmica que pode inspirar a liberdade máxima da mente e do espírito, podendo levar a uma verdade maior. Os elementos jocosos (jogo) representados em algumas das abhinayas, o brilho e o luxo dos costumes e das jóias são no finalmente acobertado pela realidade evidenciada no moksha. O moksha representa a dinâmica da forma meditativa. De 15 todas as energias devocionais, a meditativa é a mais profunda e tranqüila. Ela preenche o universo, representando equilíbrio, serenidade e plenitude. Para apresentar o moksha deve haver uma transcendência da identidade pessoal do ego. Essa transformação interna elimina as fronteiras entre o ego e o próprio ritual que ainda permanece como uma barreira de comunicação entre o dançarino e a platéia. O momento final do ritual de Odissi representa um momento de plenitude infinita, de união entre a platéia, o dançarino e o divino, antes que o encanto se quebre. * Texto traduzido por ANDRADE, Rita de Cássia S. e GUTTLER, Rainer Aloys S.