Produzindo eclipses solares totais artificiais: O coronógrafo

Transcrição

Produzindo eclipses solares totais artificiais: O coronógrafo
Produzindo eclipses solares totais artificiais:
O coronógrafo
Norma Teresinha Oliveira Reis ([email protected])
Em todos os períodos históricos, temos registro de que os eclipses totais do Sol causaram grande comoção, medo, apreensão entre as pessoas, sobretudo em épocas em que a maioria da população não tinha acesso a conhecimentos básicos de Astronomia. As pessoas não sabiam que os eclipses eram resultado de uma mera ocultação de um corpo celeste por outro, em uma situação geométrica em que o Sol e a Lua aparentam ter o mesmo tamanho! Note­se que estamos falando de uma época em que a Astronomia era também chamada de Astrologia; uma época em que os governantes também acreditavam que os fenômenos observados no céu exerceriam suposta influência sobre acontecimentos na Terra e, por isso, precisavam ser interpretados. Assim, eclipses totais do Sol foram muitas vezes associados a suposta iminência de catástrofes, ou indicação de que um reino teria vitória em um combate contra outro reino. Eram também usados como ferramenta de manipulação, pois governantes afirmavam que tinham poderes sobre os fenômenos. Muitas civilizações associavam os eclipses a monstros da escuridão, como dragões, que engoliam o Sol em uma temível batalha entre o bem e o mal. Mas ao longo da história, a observação de eclipses não se resumiu a momentos de deslumbramento e medo. Para os astrônomos, a observação de eclipses constitui uma oportunidade singular de produção científica. Por exemplo, durante a fase de totalidade, quando o disco lunar encobre totalmente o disco solar, observações importantes da corona solar (sua atmosfera estendida) podem ser realizadas.
Até meados do século XIX, somente podíamos observar a corona do Sol por ocasião de eclipses totais do Sol. Entretanto, em 1930, um astrônomo francês inventou um instrumento que ampliou essas possibilidades. Esse instrumento foi, posteriormente, incorporado às sondas espaciais enviadas por agências espaciais para estudar o Sol de uma perspectiva diferenciada.
O instrumento do qual estamos falando é o coronógrafo, inventado por Bernard Lyot. O coronógrafo basicamente é um telescópio que cria eclipses solares totais artificiais, por meio de um disco que encobre a superfície do Sol, chamada Fig. 1 – Bernard Lyot e sua invenção, fotosfera. Em outras palavras, ele bloqueia a luz de o coronógrafo. Com esse instrumento uma estrela dentro de um instrumento, de modo que que usa um disco ocultante para
bloquear a luminosidade da fotosfera, objetos próximos daquela estrela, como cometas, podem-se produzir eclipses totais do outras estrelas, planetas e proeminências, possam Sol a qualquer local e a qualquer
momento. Fonte: NASA.
ser observados. Uma das principais vantagens oferecidas por esse instrumento foi a possibilidade de observar a qualquer tempo a corona do Sol. Além da corona, outras características podem ser observadas, tais como flashes de luz que aparecem ao redor da circunferência da Lua durante a fase da totalidade, chamadas Baily's Beads, em homenagem ao seu descobridor. Fig. 2 – Imagem de eclipse em "Fourteen Weeks in Descriptive Astronomy" por J. Dorman
Steele, 1873 (Barnes e Co., NY). Durante esse eclipse, o astrônomo inglês Francis Baily (17741844) notou flashes de luz ao redor da circunferência da Lua, que foram chamadas 'Baily’s
Beads’ em sua homenagem. Fonte: NASA.
Entretanto, os coronógrafos terrestres possuem algumas limitações. Eles somente podem ser usados em altitudes elevadas e em dias bastante claros, quando a difusão atmosférica é mínima. Além disso, imperfeições nas lentes ou poeira no interior do instrumento podem gerar defeitos na observação da corona solar. Por isso, há sondas espaciais como a SOHO, que levaram a bordo esse instrumento, por meio dos quais hoje podemos estudar em uma riqueza muito maior de detalhes os fenômenos solares, por meio de eclipses artificiais gerados a partir do ponto privilegiado da órbita da Terra. Lembre­se: apesar de as sondas espaciais estudarem o Sol, elas ficam na órbita da Terra, e não do Sol! Fig. 3 – Coronógrafo no espaço. Confira nessa imagem o que pode ser
observado usando um coronógrafo a bordo de uma sonda espacial, nesse
caso, a SOHO. Por exemplo, acima um cometa; logo abaixo, uma ejeção
de material coronal, no centro uma circunferência branca que representa o
Sol atrás do disco ocultante, a circunferência azul que representa o disco
ocultante, e a linha escura do lado esquerdo, que é a sombra so braço que
segura o disco ocultante. Crédito: NASA.
Além da observação do Sol, o coronógrafo encontrou recentemente um campo interessante de estudo, para além do nosso Sistema Solar! As técnicas de coronografia estão sendo também utilizadas para detectar discos de poeira de formação de planetas ao redor de outras estrelas e, em breve, serão também usadas para obter imagens de exoplanetas. Talvez seu inventor, em 1930, uma época em que nem havia satélites artificiais no espaço, não imaginaria que sua invenção viesse a ser utilizada não somente no estudo da corona e proeminências do Sol, mas na busca de outros mundos ao redor de outras estrelas!
Fontes consultadas: Sítio NASA's Sun-Earth Day, http://sunearthday.nasa.gov/2006/locations/coronagraph.php
Sítio Space Weather, http://spaceweather.com/glossary/coronagraph.html
Sítio Britannica, http://www.britannica.com/EBchecked/topic/138235/coronagraph

Documentos relacionados