DNa_DNm 396 02072004 - Dna - 61_Sons

Transcrição

DNa_DNm 396 02072004 - Dna - 61_Sons
:sons
A CÂMARA
OCULTA
:61
AS COLUNAS DE SOM SÃO TESTADAS EM
LABORATÓRIO DENTRO DE CÂMARAS ANECÓICAS. A
EVENTUS AUDIO FOI MAIS LONGE: COLOCOU A
CÂMARA ANECÓICA DENTRO DA PRÓPRIA COLUNA...
Designada por SACC, Simulated Anechoic Cabinet Construction, a tecnologia patenteada de construção das caixas acústicas
da Eventus consiste em simular uma minicâmara anecóica no interior da coluna, evitando assim que esta contribua com «som
próprio» para o resultado final. As paredes
paralelas são o principal factor de existência
de ondas estacionárias no interior das caixas
acústicas. Quase todos os grandes construtores apresentam assim soluções alternativas: caixas redondas, elípticas, trapezoidais,
em forma de quilha, de alaúde, etc.
Mas a Eventus Audio foi mais longe: com
base em múltiplas peças irregulares, a partir das quais se constrói uma curiosa caixa
acústica ondulada no exterior e com o tradicional padrão de protuberâncias em forma
de cunha no interior que simulam as paredes
de uma câmara anecóica, conseguiram eliminar os reflexos internos causadores de colorações e ressonâncias. Na audição, o efeito sente-se (ou melhor, não se sente) como
uma total ausência de... caixa. A qualidade
de construção assistida por computador é
exemplar. Os suportes dedicados em madeira e metal completam esta bela escultura audiófila. As Eventus Audio Metis aliam
forma e função, e são a consecução de um
dos objectivos últimos do áudio: o casamento entre engenho e arte.
A beleza e as formas originais das Eventus
Metis já me tinham impressionado no
HighEnd Show, em Frankfurt, em 2003. Agora, com tempo para as olhar de frente e de
lado, de as experimentar a frio e a quente, a
impressão inicial saiu reforçada. Quando se
C
pensava que a Sonus Faber tinha atingido o
limite na relação forma/função, utilizando as
caixas como se de um instrumento musical
se tratasse, eis que as paredes externas graciosamente onduladas e as ameaçadoras
entranhas pontiagudas das Eventus Metis
surgem como um novo tema de debate audiófilo: será a «ausência de caixa» uma mais
valia acústica?
IMAGEM HOLOGRÁFICA. Às primeiras notas
o equilíbrio tonal soa-nos estranho, em especial as vozes («slightly pinched», diria um
crítico anglosaxónico). Será o cérebro a habituar-se à ausência de caixa?, pensei. Será
que me faz falta o som da vibração da madeira? Tinha acabado de ouvir música nas gigantescas (por comparação) Martin Logan
Odyssey acolitadas por um par de «subwoofers» MJ Acoustics Reference One, e sentia
ainda falta de outra coisa: a última oitava. As
Metis associam a ausência de colorações de
caixa à ausência de graves profundos. A caixa acústica das Metis, que já de si é pequena, tem o volume interno ainda mais reduzido pelo «miolo» SACC e, apesar de ser uma
«reflex» (saída do pórtico inferior exige a colocação elevada sobre bicos de aço), o pequeno diâmetro do woofer Morel de 14, 5 cm
não lhe permite descer muito abaixo dos
65Hz, embora o pórtico esteja sintonizado
para os 31Hz, e fica à espera que a sala faça
o resto. Com sinais de teste, a resposta é até
razoavelmente linear acima dos 100Hz e
com um ligeiro ênfase nos 7kHz. Com música, a crista harmónica das fundamentais de
baixa frequência está lá, e permite-nos se-
ACENDAM VELAS. O equilíbrio tonal das Metis
soou-me assim em geral um pouco «puxado
para cima» (será ainda a ausência de ressonâncias e colorações de caixa?), conferindo
aos sons agudos um brilho de seda – literalmente, o tweeter Morel (lembra o Esotar) tem
cúpula de seda – e uma presença nos registos
médios altos que enfatiza a sensualidade sussurrante das sibilantes de Patricia Barber e me
deu por vezes a sensação de estar a ouvir música com auscultadores abertos, tal a limpeza
asséptica do som das Metis.
Se há uma coluna de som a pedir que a casem com um amplificador a válvulas é esta.
Embora não sejam das mais eficientes (88dB
1w/1m), a impedância é benigna (6 Ohms) e o
baixo factor de amortecimento da tecnologia
de vácuo não constitui aqui problema. E, já agora, junte-lhe um gira-discos analógico – a Interlux especializou-se nessa área.
As Eventus Audio Metis são inexcedíveis no
«mapeamento» do palco sonoro, um verdadei-
ro exercício de cartografia de precisão. Não
me refiro à «volumetria» do palco que é pouco expansivo; refiro-me ao posicionamento
exacto de cada interveniente no seu espaço de acção que surge como que iluminado
por um feixe laser individual. Os Americanos chamam a isto «pin-point-accuracy».
Neste particular lembram uma versão menos musculada das famosas Wilson Watts
(sem as Puppies).
PRIMEIRO ESTRANHA-SE... Quem não for
capaz de resistir a tanto charme, para parafrasear Abrunhosa, tem de aprender a
aceitar as limitações de potência das Metis
na gama inferior do espectro áudio, isto se
não quiser perder o espectáculo único a
este nível da cenografia acústica e a catadupa de informação «atmosférica» que lhe
está associada. As Eventus Audio Metis são
amor à primeira vista mas não são amor à
primeira audição. A ausência das colorações de caixa é um hábito que se adquire
com o tempo: ao princípio estranha-se, depois entranha-se, diria Pessoa se as pudesse ouvir. Ao fim de um tempo, o som das outras colunas vai saber-lhe a «barril». Estas
belas italianas associam os tons meridionais da madeira natural ao aço fino dos suportes, qual espada de samurai que corta
em quatro partes sons já de si finos como
cabelos, uma imagem que me foi suscitada
pelo que ouvi e pela grelha de madeira (retire-a sempre para ouvir música) a lembrar
uma máscara de Kendo.
Nunca a proverbial máxima audiófila «ouvir antes de comprar» fez tanto sentido. As
Metis custam 2 100 euros (600 euros pelas
bases) e Carlos Henriques, da Interlux (não é
meu familiar), está pronto para lhe proporcionar também a si o prazer da descoberta
na nova loja da Av. da Liberdade, 245, loja 8,
em Lisboa. Para mais informações: 21 314
3804 ou [email protected] rr
José Victor Henriques
www.hificlube.net
DNm.. 2 de Julho de 2004
Carlos Henriques posa apoiado nas belas Eventus Metis
guir com prazer as linhas de um contrabaixo ou
o choro dolente de um violoncelo, assim como
o impacte transitório dos metais e das percussões (notável velocidade de resposta). Mas eu
gosto de cordas com um pouco mais de «caixa», passe a contradição; e dá-me gozo o corpo, impacte e violência visceral e telúrica própria da relação tumultuosa entre um ouvinte
colocado no epicentro do fenómeno acústico e
o ar da sala excitado pelos pedais de um orgão,
a vibração dos grandes tímbales ou a mão esquerda de um pianista, tal como nos são proporcionadas por uma coluna de banda larga.
Colocá-las perto da parede traseira ajuda
mas afecta a extraordinária precisão holográfica da imagem. Como ajuda colocar a boca
dos pórticos reflex do lado de dentro do triângulo cujos vértices são as colunas e o ouvinte.
Ou a solução mais radical de lhes associar os
«subwoofers» das MJ Acoustics, que resolvem
de imediato o problema, não sem corrermos o
risco de perturbar a espantosa geometria da
imagem estereofónica que, com as Metis a
solo, parece ter sido desenhada com régua e
esquadro a tinta da China em papel milimétrico, tal é a minúcia dos pormenores e o rigor da
arquitectura do palco sonoro. O que me suscita o desejo de ouvir em breve as Phobos, o modelo-de-chão de três-vias da Eventus que responde com insustentável leveza à questão dos
graves.

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