Estruturalismo - Gerativismo - Funcionalismo

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Estruturalismo - Gerativismo - Funcionalismo
ESTRUTURALISMO, GERATIVISMO E FUNCIONALISMO
Uma Análise Conceitual, Histórica e Comparativa
Brian Kibuuka
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INTRODUÇÃO
I. OS PRIMÓRDIOS: A GRAMÁTICA COMPARATIVA
I.1. A Teoria Genética e o Desenvolvimento dos Estudos Histórico-Comparativos
I.2. Os Neogramáticos
II. O ESTRUTURALISMO
II.1. Ferdinand de Saussure e o Status Científico da Linguística Moderna
II.2 Escolas Estruturalistas
a) A Escola de Genebra
b) A Escola de Praga
c) Hjelmslev: a Glossemática
d) O estruturalismo americano
III. LINGUÍSTICA GERATIVA-TRANSFORMACIONAL
III. 1. Noam Chomsky
IV. LINGUÍSTICA FUNCIONALISTA
IV. 1. Antecedentes do funcionalismo
IV.2. As idéias funcionalistas
CONCLUSÃO: CRÍTICAS AO ESTRUTURALISMO, AO GERATIVISMO E AO
FUNCIONALISMO
BIBLIOGRAFIA
INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste uma descrição da linguística moderna a partir das suas três
correntes fundamentais: o estruturalismo, o gerativismo e o funcionalismo. Para o
cumprimento desta tarefa, procura-se descrever a história da linguística e uma breve
síntese do pensamento de lingüistas e de Escolas linguísticas, apresentando as suas
relações com outras Escolas e/ou ciências.
A abordagem deste trabalho é introdutória, consistindo apenas uma descrição
generalizante do pensamento de autores e de Escolas, sem o objetivo de detalhar teorias.
Neste caso, faz-se uma breve descrição das correntes abordadas, acompanhadas de
apontamentos biográficos dos autores com relativo destaque, e que já encerraram a sua
produção acadêmica.1
Iniciamos a esta abordagem com os gramáticos do século XIX e do início do
século XX, conhecidos como “comparativistas” ou “histórico-comparativistas”. Estes
levantaram as principais questões que, a posteriori, serão tratadas pelos estruturalistas,
gerativistas ou funcionalistas, que a estes pensadores do século XIX são devedores.
Após a descrição do pensamento dos gramáticos histórico-comparativos, passa-se
a tratar das tendências estruturalistas já se delineavam desde o fim do século XIX e o
início do século XX, culminando com o pensamento de Ferdinand de Saussure. Este é o
fundador do estruturalismo e principal influência das Escolas tratadas a seguir: a de
Genebra, a de Praga e a Americana.
Passa-se então à análise da linguística gerativo-transformacional, particularmente
uma síntese do pensamento de Noam Chomsky. Este, após Saussure, é o principal teórico,
e suas idéias se disseminaram e alcançaram grande destaque na linguística. A própria
linguística gerativista é uma síntese das contribuições mais interessantes da gramática
tradicional e da gramática estrutural, sendo devedora a ambas.
Após abordar a linguística gerativista, trata-se da linguística chamada de
“funcionalista”. Respeitadas as muitas diferenças entre os teóricos do funcionalismo
linguístico são estabelecidos, em linhas gerais, os principais postulados da teoria, sendo
fechada assim a breve descrição das teorias linguísticas.
1
Dada a sua importância e ao caráter controverso de suas idéias, a única exceção é, neste caso, Noam
Chomsky.
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O último passo desta pesquisa é a formulação de breves críticas ao estruturalismo,
gerativismo e funcionalismo. Estas são críticas sistêmicas, alcançando apenas as linhas
gerais de cada Escola, sem o objetivo de alcançar os detalhes de cada teoria.
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I. OS PRIMÓRDIOS: A GRAMÁTICA COMPARATIVA
Para compreender o início da linguística moderna, é fundamental compreender os
trabalhos dos filólogos e dos gramáticos do século XIX e do início do século XX, que
serviram para o levantamento das principais questões linguísticas, sejam pressupostos
teóricos, sejam campos de estudo e pesquisa. No caso, o delineamento da pesquisa
linguística no período em questão apontava para a comparação entre as línguas e as teorias
a respeito dos vínculos entre elas.
O período da gramática histórico-comparativa é marcado pelo surgimento dos
estudos sobre o indo-europeu, decorrente da descoberta das semelhanças entre várias
línguas, especialmente o sânscrito. Neste caso, a linguística aparece como uma descrição
dos fenômenos linguísticos, sendo a descrição fruto das comparações entre línguas
distintas que, aproximadas pelas suas semelhanças, fornecem subsídios para a formulação
de um vocabulário técnico científico que permita uma descrição eficiente. Por isto, a
linguística surge como ciência neste período, e cabe estudá-lo para a compreensão das
discussões posteriores.
A história da gramática comparativa tem início no século XIX com a hipótese genética
ou genealógica. Na hipótese genética, são evocadas as questões referentes à natureza e
pontuadas as relações entre as línguas. As línguas são classificadas em famílias e
consideradas como organismos vivos. A teoria dos primeiros gramáticos comparativos
era que, no decorrer do tempo, as línguas passavam por progressos ou retrocessos através
de mecanismos de mudança.
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I.1. A Teoria Genética e o Desenvolvimento dos Estudos Histórico-Comparativos
A história da gramática comparativa tem início no século XIX com a hipótese
genética ou genealógica. Na hipótese genética, são evocadas as questões referentes à
natureza e pontuadas as relações entre as línguas. As línguas são classificadas em famílias
e consideradas como organismos vivos. A teoria dos primeiros gramáticos comparativos
era que, no decorrer do tempo, as línguas passavam por progressos ou retrocessos através
de mecanismos de mudança.
William Jones,2 lingüista inglês, foi o primeiro a apontar as afinidades formais
entre o grego, o latim, o persa e o sânscrito. Num discurso proferido perante a Sociedade
Asiática em Calcutá, no ano de 1786, Jones reconhecia uma relação entre estas línguas,
limitando-se, porém, à descrição, não havendo em seu discurso qualquer sistema
comparativo que explicasse as similaridades ou diferenças entre as línguas abordadas.
O interesse pela origem das línguas foi despertado pela influência sobre os
filólogos que o comparativismo exerceu sobre a anatomia, a biologia e a paleontologia.
Une-se a este fato o conhecimento, cada vez mais amplo, de semelhanças entre as línguas,
evidência de algum parentesco linguístico que ainda não tinha sido explorado
substancialmente.
Após a conferência de Jones, Friedrich Von Schlegel publicou, em 1808, a obra
Über die Sprache und die Weisheit der Indier. Na obra, Schlegel faz comparações
sistemáticas e estabelece critérios de classificação entre as línguas. Há, para Schlegel, três
tipos de língua: as isolantes (sem flexões), as sintéticas (com flexões) e as aglutinantes
(seqüências de unidades presas). Dentro deste esquema comparativo, o sânscrito é visto
2
William Jones nasceu em 28 de Setembro de 1746, em Londres; e morreu em 27 de Abril de 1794, em
Calcutá. Exerceu o magistério em língua latina e grega, utilizando em suas aulas fundamentos gramaticais
e traduções de textos clássicos, colocando em destaque o falar nativo para guiar a pronúncia dos textos. Em
Oxford, ele inovou os estudos de língua árabe ao utilizar seu método de estudo das línguas clássicas para a
elaboração de uma descrição da fala nativa do árabe corrente na Síria. Seus estudos culminaram na obra
Grammar of the Persian language, de 1771, que foi reimpressa em 1807. Sua gramática alcançou sucesso,
tendo nove edições na Inglaterra e duas na França, sendo influência para gramáticos como Francis Gladwin,
George Hadley, John Gilchrist, Duncan Forbes e outros. Seus estudos mais relevantes, porém, foram feitos
no sânscrito. Juntamente com 29 colegas europeus, fundou a Asiatic Society e passou a traduzir manuscritos
religiosos em sânscrito, idioma em que ele observou grandes similaridades com o grego, o latim e o persa
(ver: ASIATIC SOCIETY, 1948). A partir da observação destas verossimilhanças, ele redigiu o que Cannon
chama de “um dos mais importantes pronunciamentos da história das idéias. Nesta formulação, em um
artigo sobre o persa (1786), explanou que estas línguas têm similaridades...” (CANNON, Garland, 1992, p.
261). Formulou a partir destas semelhanças a tese de que estas línguas fariam parte de uma mesma família,
em que haviam alternâncias e mutações de sons, informação que influenciou Bopp, Rask, Grimm e Schlegel
(CANNON, Garland, 1964, p. 12).
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como uma língua decadente, em oposição ao latim, que é uma língua mais desenvolvida.
Outras oposições feitas por Schlegel é entre formas orgânicas e mecânicas, sendo as
primeiras inflexionais para efeito de mudança, e as segundas passíveis de mudanças
(MOUNIN, Georges, 1970, p. 162).
Após as importantes pesquisas de Schlegel, surgiram os estudos de August Von
Schleicher.3 Na obra Compendium der vergleichenden Grammatik der indogermanischen
Sprachen, de 1861-1862, ele elaborou em seus estudos no indo-europeu a “teoria da
árvore genealógica” (Stammbautheorie): há uma língua antepassada, cuja mudança gerou
diversas ramificações. O resultado de sua pesquisa foi a definição de dois grandes ramos
linguísticos: o ocidental e o oriental. O método de pesquisa de Schleicher foi isolar as
estruturas gramaticais e elementos lexicais de várias línguas indo-européias, analisandoos comparativamente. Ele o faz procurando reconstruir palavras por um parentesco
hipotético entre as línguas, utilizando para isto uma “aplicação rigorosa de leis
apropriadas do som” (BYNON, Theodora, 1992, p. 382).
Na Dinamarca, Rasmus K. Rask4 publicou um ensaio manuscrito intitulado
Undersøgelse om det gamle nordiske Eller Islandske sprogs oprindelse, escrito em 1814
e publicado em 1818. Nesta obra, Rask analisou diferentes formas de diferentes línguas
usando a metodologia comparativa. Seus princípios são muito semelhantes à “Lei de
Grimm”, com a diferença que foi uma pesquisa independente e anterior à obra Deutsche
Grammatik.
Após a análise das estruturas gramaticais feita por Schleicher, Franz Bopp5
publicou, em 1816, a obra Über das Conjugationssystem der Sanskritsprache: In
3
August Schleicher nasceu em 19 de Fevereiro de 1821 em Meiningen, na Turíngia; e morreu em 6 de
Dezembro de 1868, em Jena, antes de completar 48 anos. Estudou teologia, filosofia e línguas orientais na
Universidade de Leipzig e Tübingen, tendo se especializado em lingüística na Universidade de Bonn.
Obteve seu doutoramento em 1846, e passou a lecionar em Praga e, a partir de 1857, em Jena. Em suas
aulas, o foco de seus ensinos era a gramática comparativa das línguas indo-européias. Sua mais importante
obra, como citado acima, é a sua gramática comparativa das línguas indo-européias em 1861-1862
(Compendium der vergleichenden Grammatik der indogermanischen Sprachen); mas também publicou
importantes estudos: uma obra sobre a palatização em 1848, e um estudo sobre a morfologia em 1859, além
de sua importante teoria evolucionista da relação entre as línguas em 1863. Porém, a maior parte dos seus
artigos foram publicados no periódico Beiträge zur vergleichenden Sprachforschung, fundado por Adalbert
Kuhn. Ver: BYNON, Theodora, 1992, 382.
4
Rasmus Rask nasceu em 1787 e morreu em 1832. Adquiriu conhecimento das línguas abordadas por ele
numa longa viagem feita à Calcutá, Madras, Trankebar e Ceilão, realizada entre 1820 e 1822. ao voltar à
Dinamarca, lecionou na Universidade de Copenhagen a cadeira de História da Literatura.
5
Franz Bopp nasceu em 14 de setembro de 1791, em Maiz, Alemanha; e morreu em 23 de outubro de 1867,
em Berlim. Influenciado por K. Windischmann, Bopp desenvolveu o interesse pelas línguas e literaturas
orientais. Entre 1812 e 1817, estudou o sânscrito e estabeleceu amizade com Wilhelm von Humboldt. Em
1821, devido a influência de William e Alexander von Humboldt, tornou-se professor de literatura oriental
e filologia geral em Berlim, onde permaneceu até a sua morte. Incluiu os estudos de céltico, albanês, antigo
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Vergleichung mit jenem der griechischen, lateinischen, persischen und germanischen
Sprache. Na obra, Bopp destaca elementos morfológicos: trata da importância das
inflexões na conjugação dos verbos, comparando este fenômeno linguístico em várias
línguas distintas.
As pesquisas continuaram com Wilhelm Von Humboldt,6 que classificou as
línguas como isolantes, aglutinantes e flexionais. Na obra Über die Versschiedenheit des
menschlichen Sprachbaues und ihren einfuss auf die geistige Entuwickelung des
Menschengerschlechts, estabeleceu critérios estruturais para as mesmas e definiu regras
de aglutinação e substituição. Humboldt ainda afirma, nesta obra, ser a estrutura das
línguas consiste num reflexo do Volksgeist (espírito do povo). Ao mesmo tempo, esta
manifestação coletiva, que é a língua, reflete a individualidade do espírito humano, que
impõe sobre o mundo a sua ação. Afirma Von Humboldt:
A força do espírito, que desde a profundidade e plenitude de seu interior
impõe sua ação sobre o curso das coisas deste mundo, é o verdadeiro
princípio criador que rege a evolução a um tempo escondida e misteriosa
da humanidade, e é o que mais conduz à frente a evolução manifesta,
visivelmente composta de concatenações de causas e efeitos. Esta
peculiaridade singular do espírito dá novo alcance ao conceito de
intelectualidade humana, já que, quando se manifesta, se faz de forma
inesperada... Quando assim ocorre, a forma antiga da língua se fragmenta
e mesclada com elementos estranhos, seu verdadeiro organismo se
decompõe e as forças que lutam para impelir-se não conseguem fazer dela
o fundamento de uma nova via sem insufar-lhe um princípio vital que
ofereça novo impulso ao espírito (VON HUMBOLDT, 1990, p. 35-36)
Percebe-se que Humboldt entende que a linguagem seja uma habilidade criadora
humana, com caráter universal, e que a língua seja fruto da capacidade do falante em
prussiano, além de estabelecer uma comparação na acentuação entre as várias línguas que abordou na sua
obra Vergleichende Grammatik, de 1833. Teve interesse também pelo malaio-polinésio, além das línguas
do Cáucaso. Porém, segundo Hayward, “Bopp é sempre relembrado pela sua contribuição para a o ensino
de sânscrito.” (HAYWARD, Katrina M., 1992, p. 196).
6
Wilhelm von Humboldt nasceu em 22 de Junho de 1767, em Postdam; e morreu em 8 de Abril de 1835,
em Tagel (atual Berlim). Estudou durante um semestre na Universidade de Frankfurt e 3 anos na
Universidade de Göttingen, estabelecendo relações profícuas com humanistas e literatos como Jacobi,
Schiller, Wolf, Kerner, Goethe e Schütz. Realizou experimentos científicos com Gay-Lussac e publicou,
no início de sua carreira, numerosos artigos sobre a Antigüidade clássica. Foi nomeado, em 1809, membro
de honra DA Academia de Ciências da Prússia e funda, em 16 de Agosto de 1809, a Universidade Friedrich
Wilhelm, que mormente chama-se Universidade de Berlim. São convidados e aceitam lecionar na nova
Universidade Schleiermacher, Fichte, Von Savigny, Böckh, Hegel, Bopp entre outros. Após reunir várias
obras de estudos filológicos e gramaticais, colhidos em suas viagens pela Europa, Humboldt desenvolve
um poliglotismo admirável e se cerca de ajudantes, passando a produzir teorias que, segundo Agud, “está
repleta da tensão entre orientações de sentido oposto: a compreensão de que a diversidade é a conseqüência
imediata da individualidade e, portanto, é o atributo essencial e núcleo de toda a linguagem... mas além da
diversidade, é necessário aprender nos conceitos uma unidade mais profunda, através de uma idéia de
generalidade que não pode ser mera abstração a partir do concreto e singular, nem uma categorização
simplesmente subjetiva.” (VON HUMBOLDT, Wilhelm, 1990, p. 17).
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produzir um número infinito de atos da fala. De igual modo, estes inúmeros atos, dentro
da coletividade, também representam o espírito coletivo da comunidade de falantes, o que
implica em dizer que “cada língua tem fundamento no espírito dos povos e nas famílias
dos respectivos povos” (VON HUMBOLDT, 1990, p. 40). Há em Humboldt uma
abordagem da linguagem e da língua na perspectiva individual e coletiva.
Uma obra muito importante na história da pesquisa da gramática comparativa é a
Deutsche Grammatik, de Jacob Grimm,7 cuja primeira edição de 1819 e a segunda de
1922. Na obra, foram trazidos novos e importantes princípios flexionais. O primeiro
princípio, o Ablaut, marca as mudanças nas formas verbais das línguas a partir de uma
forma indo-européia. O segundo princípio, o Umlaut, consiste um novo processo que
ocorre nas línguas germânicas, marcando alterações de natureza distinta. Por descrever
os processos de mudança fonológica e correspondência fonética, os critérios que
estabeleceu passaram a ser conhecidos como “Lei de Grimm”. Nesta lei são considerados
processos recorrentes, fenômenos de massa, dados fora do controle humano e confusão
entre letras e sons como elementos fundamentais para modificações no plano fonológico
das línguas pertencentes ao mesmo tronco linguístico.
Na Dinamarca, Rasmus K. Rask publicou um ensaio manuscrito intitulado
Undersøgelse om det gamle nordiske Eller Islandske sprogs oprindelse, escrito em 1814
e publicado em 1818. Nesta obra, Rask analisou diferentes formas de diferentes línguas
usando a metodologia comparativa. Seus princípios são muito semelhantes à “Lei de
Grimm”, com a diferença que foi uma pesquisa independente e anterior à obra Deutsche
Grammatik.
Mais uma vez, August Schleicher alcança importância quando, em 1863, publicou
Die Darwinsche Theorie und die Sprachwissenschaft. Nesta obra, Schleicher isolou
estruturas aglutinantes e estruturas inflexionáveis. Explicou estes fenômenos afirmando
que as línguas são orgânicas, e por isto tem um comportamento que pode ser descrito,
analisado e previsto.
7
Jacob Grimm nasceu em 4 de Janeiro de 1785, em Hanau; e morreu em 20 de Setembro de 1863, em
Berlim. fez seus estudos ginasiais em Kassel, e estudou entre 1802 e 1806 na Universidade de Marburg.
Lecionou na Universidade de Göttingen, cargo que abandonou abruptamente. Tornou-se, em 1840, membro
da Real Academia de Ciências da Universidade de Berlim. Considerado o fundador da gramática histórica,
produziu também importantes estudos sobre o folclore alemão, mitologia e história das instituições legais.
Ver: GRIMM, Jacob. Deutsche Grammatik. In: LEHMANN, Winfred P. A reader in nineteeenth century
historical Indo-European linguistics. Bloomington: Indiana University Press, 1967. p. 46-60.
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Os gramáticos comparativos são responsáveis pela pesquisa do idioma indoeuropeu. O indo-europeu é uma língua hipotética, sugerida a partir das evidências de uma
origem comum para um grupo de línguas que eram faladas num passado remoto entre a
Europa (extremo ocidental) e a Índia (extremo oriental). O vocábulo “indo-europeu” foi
utilizado pela primeira vez pelo filólogo Johann Christoph Adelung. O primeiro a
observar sistematicamente o idioma indo-europeu dentro do espectro da gramática
comparativa foi Franz Bopp. Em sua gramática comparada de 1816 entre o sânscrito, o
grego, o latim, o pérsico e o germânico. A segunda gramática de Bopp foi lançada em
1833, tratando do sânscrito, do zend-avéstico, do latim, do lituano, do gótico e do alemão.
No término da publicação, com o advento do segundo volume, foi acrescentado o antigo
eslavo.
O mérito de Bopp foi evitar generalizações vagas, renovando o estudo das línguas.
Porém, além de se deter na morfologia (raiz, ou atributo; cópula ou predicação; e pessoa
ou sujeito), desprezando a evolução fonética e suas regras, o emprego das formas
linguísticas e a estrutura da frase; Bopp ainda considerava mudanças linguísticas como
desintegração da estrutura original organizada. Em suas pesquisas, Bopp concluiu que o
sânscrito era a língua que havia conservado os aspectos morfológicos “originais”.
Percebe-se em Bopp a influência das concepções dos gramáticos de Port-Royal.8 Além
das contribuições de Bopp no campo da morfologia, Schleicher e seu discípulo, J.
Schmidt, trataram do fonetismo indo-europeu.
Entre os gramáticos comparativos, havia aqueles que procuravam descrever a
atribuição do sentido às palavras numa língua. A obra Semasiologie, publicada em 1825
por Karl Christian Reisig, aborda o significado dos princípios que governam o
desenvolvimento do sentido das palavras, considerando a sintaxe e a etimologia na
filologia latina. Também Hermann Paul, em Prinzipien der Sprachgeschichte, de 1880;
e Arsène Darmesteter, em La vie des mots étudiée dans leurs significations, de 1887,
tratam da questão. Porém Michel Bréal é o primeiro a usar o termo “semântica” na obra
Les lois intellectuelles du langage, de 1883. As leis descritas por Bréal são
psicologicamente motivadas, ou seja, as mudanças na língua são motivadas pela
necessidade de uma melhor comunicação e clareza no discurso.
8
Os gramáticos de Port-Royal eram professores que, influenciados pelo pensamento cartesiano, fizeram
uma gramática especulativa publicada em 1660 com o título Grammaire générale et raisónnée (Gramática
geral e racional). O objetivo desta gramática era demonstrar que as variações entre as línguas são variantes
de um sistema racional e lógico geral, decorrentes dos universais presentes de modo inato na mente humana.
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Também entre os gramáticos comparativos surgiu o conceito de “letra” e
“fonema”. Grimm, em 1822, usava o termo “letra” (Buchstabe) para nomear o símbolo
gráfico e o som. O primeiro a diferenciar ambos foi Dufriche-Desgenettes que, em 1873,
usou a palavra phonème (fonema) para a unidade sonora de uma língua. Sweet, em 1877,
estabeleceu um modelo de transcrição fonética, com símbolos distintos para sons
distintos. Os fonemas ainda foram descritos por Saussure em 1879, que comparou as
diferentes descrições dos fonemas em alfabetos de diferentes línguas. Para Kryszewski,
em 1879, os fonemas eram unidades psicologicamente autônomas. Baudouin de
Courtenay estabeleceu, em 1882, uma distinção abstrata entre som e fala.
Depois do período dos gramáticos comparativistas do período de Grimm, as
evoluções fonéticas continuaram a ser estudadas pelos chamados “neogramáticos”
(Junggrammatiker). A escola surgiu após a dissidência de um grupo de jovens estudantes
alemães, que romperam com seu mestre Curtius. Entre os principais representantes desta
escola, estão Hermann Osthoff e Karl Brügmann, além de Hermann Paul. Segundo
Davies, o ponto principal de discordância entre Curtius e os neogramáticos é a seguinte:
“Em 1870, na Alemanha, o anti-organicismo foi associado a um
grupo de jovens estudantes congregados em torno do eslavo
August Leskien, de Leipzig; eles assumiram o nome
Junggrammatiker (Neogramáticos é a tradução usual). No prefácio
do Morphologische ntersuchungen, de 1878, considerado o
manifesto do movimento, Karl Brügmann e Hermann Osthoff
defendem que a língua não pode ser estudada em separado da
fala.” (DAVIES, Anna Morpurgo, 1992, p. 162).
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I.2. Os Neogramáticos
Os neogramáticos foram fortemente influenciados pelo positivismo. Há um
paralelo claro entre o caráter fechado do sistema físico de Newton e o modelo acabado
das leis que regem a língua estabelecido pelos neogramáticos e chamado por eles de
“uniformitarianismo”. De igual modo, há uma estreita relação entre a teoria evolucionista
de Darwin e o modelo evolutivo das mudanças fonéticas adotadas pelos neogramáticos.
Os neogramáticos são contrários à Lei de Grimm no que tange às exceções na lei
de mudança fonética regular. Assumiam que a psicologia deveria fornecer base para seus
estudos, ainda que seu uso fosse restringido a uma utilização criteriosa, sistemática e
coerente. Os neogramáticos também entendiam que as leis fonéticas são absolutas e estão
além da lei de Grimm, ainda que a abarquem. Isto é a chamada “hipótese da regularidade”.
Na mesma direção de Grimm e Schleicher, Hermann Paul, na obra Prinzipien der
Sprachgeschichte, publicada em 1880, afirma que as línguas podem ser analisadas
histórica e diacronicamente, e está sujeita leis naturais, estando nisto a razão dela poder
ser estudada por métodos específicos. Paul chamava isto de distinção entre
Geisteswissenschaft e Naturwissenschaft. Porém, o único método científico para o estudo
de uma língua é o histórico, sendo os demais o próprio método histórico, porém
incompleto e carente de maior especificidade, sendo esta inespecificidade culpa do
observador.
Karl Verner, na obra Eine Ausnahme der ersten Lautverschiebung, publicada em
1875, afirmou que, sem exceção, há regras que regem as línguas. Ele mesmo estabeleceu
a chamada “Lei de Verner”: as diferentes acentuações no indo-europeu servem para
explicar as exceções da “Lei de Grimm”. A acentuação não é fruto do acaso, mas são
regidas por uma regra não abarcada nesta lei. A “Lei de Verner” consiste na descrição das
leis que regem a acentuação.
As pesquisas de Verner são semelhantes em seus resultados às de August Leskien,
que publicou em 1876 a obra Die Declination im Slavisch-Litauischen und
Germanischen. Nesta obra, Leskien afirma que as leis que regem os fonemas não admitem
exceções. Na obra Die Junggrammatiker, de 1878, afirmou que a língua tem
características que independem dos seus falantes. As línguas sofrem mudanças, portanto,
que podem ser estudadas hoje porque os mesmos processos que regem mudanças nas
línguas modernas estão presentes nas línguas antigas. O som, portanto, seria o mecanismo
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fundamental para a mudança das línguas. Leskien resumiu as mudanças àquelas
motivadas principalmente por “analogia” e por “empréstimo”.
No campo de estudo do indo-europeu, Brügmann (Kurze vergleichende
Grammatik der indogermanischen Sprachen) e Ferdinand de Saussure (Mémoire sur le
système primitif des voyelles dans les langues indo-européennes) utilizaram o método
comparativo para o estudo científico da linguagem. Ascoli trabalhou, em continuidade a
Schleicher, o consonantismo indo-europeu. Por fim, Germano Hirt escreveu a obra “Os
Indo-Germanos” (1905-1907), além de uma extensa gramática da língua indo-européia
em cinco volumes (1921-1937) – Die Indogermanen, ihre Verbreitung, ihre Urheimat
und ihre Kultur, Estrasburg. De todos estes estudos, destaca-se para o estudo da
gramática comparativa a obra Grundriss de Brügmann, conforme afirma Lepschy:
“Não foi por acaso que a elaboração da linguística científica teve início não
tanto com Herder, Schlegel, W. Von Humboldt (que, entretanto, lançaram
bases ideais dêsses estudos), mas com uma personalidade de relevo bem
mais modesto na história da cultura como foi Franz Bopp e continuada por
estudiosos, insignes mais por sua capacidade técnica que pelo vigor teórico,
como, por exemplo, Pott, Schleicher e os neogramáticos. Entre êstes,
Brugmann produziu, com o colossal Grundriss, a síntese mais característica
(e apesar de envelhecida, ainda hoje é indispensável) da gramática
comparada indo-européia.” (LEPSCHY, G. C., 1971, pp. 3-4)
Entre os neogramáticos, ocupou-se com a dialectologia, a partir de 1876, o alemão
Georg Wenker, com o propósito de comprovar o determinismo das leis fonéticas. Em suas
pesquisas, Wenker tinha o objetivo de encontrar dialetos “puros”, não “corrompidos” por
qualquer influência, seja de outras línguas, seja da escrita. O resultado dos estudos de
Wenker foi publicado em 1926, 60 anos após o início das pesquisas.
“Entre os pioneiros, está o lingüista alemão Georg Wenker (1852-1911).
Em meio a um estudo sobre a história das consoantes germânicas, esse
lingüista decidiu buscar estabelecer o limite geográfico preciso da grande
divisão dialetal do território de fala alemã que separa as variedades do
norte (o chamado baixo alemão) – que conservam o consonantismo de
um estágio mais antigo da língua – das variedades do sul (o chamado alto
alemão), cujo consonantismo passou por mudanças que o afastaram do
sistema antigo, substituindo as consoantes oclusivas |p-t-k| pelas
fricativas |f-s-x (grafada com ch)| em alguns contextos e pelas africadas
|pf-ts-kx| em outros.” (FARACO, C. A., 1991, p. 112).
As pesquisas de Wenker, feitas no afã de comprovar a regularidade das leis
fonéticas, serviu de base para a percepção da irregularidade nos processos fonéticos.
Neste caso, a análise geográfica, somado ao advento da sociologia enquanto ciência sob
o influxo das pesquisas de Émile Durkheim, tornou possível a mudança nos métodos de
análise linguística. Começaram a ser produzidos trabalhos de dialectologia e Atlas
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linguísticos, como o produzido por Gillerón na França.9 Aqueles que se ocupavam com a
linguagem passaram a diferenciar o domínio físico do domínio psicológico, sendo
reconhecida a consciência coletiva em ação na sociedade, que fazia o coletivo prevalecer
sobre o individual dentro de um grupo social – e, conseqüentemente, na(s) língua(s)
falada(s) pelo grupo. Os fatos sociais seriam, para Durkheim, frutos desta consciência
coletiva que governava o comportamento dos indivíduos dentro de um grupo. Daí, a idéia
das línguas como organismos autônomos cedeu espaço à uma visão diferente: a língua é
um fato social, não tendo sentido pleno na esfera individual.
O advento das considerações sociológicas sobre a língua é responsável pela
modificação do enfoque: de uma perspectiva diacrônica e orgânica da gramática
comparativa, para a consideração de questões sincrônicas e sociais feita por Ferdinand de
Saussure. É uma mudança importante, que passamos a ver a seguir.
“…o lingüista suíço Jules Gilliéron (1845-1926) realizou, entre 1897 e 1901, um vasto inquérito
dialetológico em 639 localidades francesas, do qual resultou o Atlas Lingüístico da França (ALF), modelo
de vários outros atlas posteriores elaborados na Europa e na América.” (FARACO, C. A., 1991, p. 113)
9
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II. O ESTRUTURALISMO
As tendências estruturalistas já se delineavam desde o fim do século XIX e o início
do século XX. As abordagens da língua, outrora comparativas e históricas, com ênfase
em aspectos específicos da língua, passaram a ser vistos em sua totalidade. O
estruturalismo é uma visão distinta da língua, em que se procura a descrição dos seus
aspectos sincrônicos. A língua é vista como um todo dotado de uma estrutura subjacente,
que é explicitada pela descrição linguística.
Este caminho no estudo já havia sido parcialmente trilhado por Humboldt que, ao
evidenciar o fato das línguas serem um todo, elaborou o conceito de forma. Além de
Humboldt, William D. Whitney, J. Baudoin de Couternay, J. Winteler e Anton Marty
perceberam a necessidade de estabelecimento de uma análise sistemática da língua. Entre
estes, destaca-se que Marty divide o estudo linguístico genético do estudo descritivo.
Ferdinand de Saussure, não obstante estar influenciado pelos seus antecessores,
tem marcas particulares em seu pensamento, que garantiram não apenas a mudança nos
rumos da linguística, mas a sedimentação de uma influência que perdura na linguística
até hoje. Discípulos e não discípulos utilizam seus postulados, ainda que seja para
oferecer uma crítica. É fundamental, para abordar a linguística moderna, conhecer o
pensamento saussuriano e seus desdobramentos iniciais.
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II.1. Ferdinand de Saussure e o Status Científico da Linguística Moderna
A fundação do estruturalismo, e provavelmente da linguística moderna enquanto
ciência autônoma se dá com Ferdinand de Saussure. Influenciado por mudanças nas
ciências humanas a partir do século XX e, especificamente, por Émile Durkheim e
William D. Whitney.
Cabe afirmar que, em termos mais amplos, o estruturalismo procura explorar as
inter-relações (estruturas), sendo estas subjacentes e produtoras de significados dentro da
cultura. A teoria estrutural consiste em perceber na cultura o significado reproduzido nas
práticas, fenômenos e atividades que servem como sistemas de significação. Um
estruturalista analisa nas atividades do seu campo de observação as estruturas subjacentes
e procura traduzi-las, bem como suas implicações e significados na cultura. Por exemplo,
no estruturalismo antropológico de Claude Lévi-Strauss, são analisados os fenômenos
culturais como a mitologia, os sistemas de parentesco e a preparação de alimentos. Na
análise da literatura, é examinada a relação subjacente entre os elementos de um texto
literário, sendo comparados os vínculos e estruturas similares em obras pertencentes às
diferentes épocas e culturas.
Na linguística, o estruturalismo consiste no estudo das estruturas subjacentes na
linguagem. A publicação da obra de Ferdinand de Saussure,10 Cours de linguistique
générale, em 1916, é um marco na fundação da escola, se bem que a obra consiste numa
compilação de suas aulas, dadas na Universidade de Genebra entre 1906 e 1911.11
Saussure já havia influenciado a muitos em suas aulas na École des Hautes Études de
Paris e na Universidade de Genebra. Ele já tivera publicado, em 1878, a obra Mémoire
sur le système primitif des voyelles dans les langues indoeuropéennes que, na esteira dos
10
Nascido em Genebra em 1857, Ferdinand de Saussure foi precoce. Viveu e estudou em Leipzig e Berlim,
onde teve contato com gramáticos histórico-comparativos, que exerceram sobre ele influência. Aos 23 anos,
tornou-se diretor da École Pratique des Hautes Études, onde permaneceu entre 1880 e 1891. No período
em que lecionou na França, formou os mais importantes comparativistas franceses. Após 11 anos exercendo
a direção e o magistério em lingüística, Saussure voltou a Genebra em 1891, e passou a lecionar na
Universidade de Genebra. Saussure faleceu na cidade 1913. Durante a sua vida, publicou apenas Mémoire
sur le système primitif des voyelles dans les langues indoeuropéennes, em 1878. Saussure escreveu a Meillet
confessando a sua impossibilidade de escrever, atribuindo esta à uma “epistolofobia”. Todas as outras obras
de Saussure foram publicadas postumamente, como o Cours de linguistique générale e uma coletânea de
suas publicações científicas, memórias, artigos e notas, publicadas em Genebra e Heidelberg no ano de
1922. (MOUNIN, Georges, 1972, p. 52-53).
11
“Em 1916, Ch. Bally e A. Sechehaye publicaram, com o título de Cours de linguistique générale, uma
revisão dos apontamentos que vários alunos haviam tomado, durante três cursos de lingüística geral
proferidos por Saussure em 1906-1907, 1908-1909 e 1911-1911.” (LEPSCHY, G. C., 1971, p. 28)
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estudos dos gramáticos comparativistas, tinha grande originalidade. Nesta obra, Saussure
aponta alguns princípios fundamentais da lei das consoantes palatais (LEPSCHY, G. C.,
1971, p. 27).
Uma das características da mentalidade de Saussure é que cada distinção e cada
delimitação que faz é coerente com suas exigências metodológicas, de modo que suas
doutrinas nascem mais de necessidades técnicas de investigação que da contemplação
filosófica. Percebe-se nisto tudo que Saussure é fundador de antinomias, que visam dar
rigor científico ao sistema descritivo que formula, resolvendo assim uma das principais
críticas que tece aos seus antecessores. O próprio Saussure, comentando a obra de Franz
Bopp e, assim, a gramática comparativa, afirma:
Mas esta escola, que tem o mérito incontentável de abrir um campo novo
e fecundo, não conseguiu constituir uma verdadeira ciência linguística.
Eles jamais se preocuparam em discernir a natureza do seu objeto de
estudo. Ou seja, através de operações elementares, uma ciência é incapaz
de estabelecer um método. (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p. 16).
As críticas de Saussure aos gramáticos comparativos visavam o estabelecimento
do estatuto científico da linguística, ou seja: a linguística, aprisionada à filologia, à
filosofia e a outros campos do conhecimento, só assumia esta condição pela ausência de
rigor científico. A obra de Saussure consiste na tentativa de atribuir este rigor através dos
conceitos descritivos e antinomias que perpassam o Cours.
A primeira dicotomia saussuriana é entre língua e discurso. A língua (la langue)
é a parte social da linguagem, exterior ao indivíduo, sendo constantes da mesma o sistema
fonológico, gramatical e semântico presentes no cérebro dos falantes. O discurso (la
parole) é um ato individual “da vontade e da inteligência” (SAUSSURE, Ferdinand,
1972, p. 30), sendo um sistema de expressões convencionais usado por uma comunidade.
Saussure afirma que o objeto da linguística é a langue, definindo-a mais especificamente
como “o objeto integral e concreto da linguística” (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p. 23).
Saussure, nesta distinção, ainda relaciona os conceitos de langue e parole à sua noção
sistêmica e social, posta em oposição à individual, conforme afirma Malberg:
“Por língua, Saussure designava o próprio sistema da língua, quer dizer,
o conjunto de todas as regras que, dentro de um dado estado de língua,
determina o emprego de sons, das formas e dos meios de expressão
sintáticos e lexicais. Em outras palavras, a língua é o sistema supraindividual, uma abstração, cuja existência é a condição mesma da
comunicação entre os homens. Por fala, Saussure assinalava a utilização
concreta da língua, isto é, a língua tal como é utilizada num momento
preciso por um falante determinado. A fala é individual, a língua é um
fenômeno social.” (MALBERG, Bertil, 1971, p. 62).
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Além da distinção entre língua e discurso, Saussure distingue a linguagem, que é
inata e universal, da língua, que é uma aquisição a partir da observação das realizações
individuais da linguagem, sendo esta observação não sistemática, ou seja: a aquisição de
uma língua se dá pela vivência comunitária (no caso, da língua adquirida na infância).
Saussure afirma que “é necessário dizer que não é possível conhecer o organismo
linguístico interno” (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p. 42), detendo-se nos fenômenos
linguísticos externos, que podem ser conhecidos e estudados.
Portanto, no pensamento de Saussure, a língua é considerada uma
instituição social e um sistema de valores. Este sistema tem uma
organização própria. Além disto, há em todas as línguas um sistema de
relações que marca uma diferença, uma distinção no interior de um
sistema de oposições e contrastes. Em oposição à língua, está o ato
individual da língua, chamada de fala. Saussure, entretanto, não aborda a
influência social na língua. (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p.11).
Outra distinção é entre sincronia ou diacronia. O estudo sincrônico consiste na
descrição da língua sem a consideração da ação do tempo sobre ela. Ainda no tocante à
sincronia, a distinção entre língua oral e língua literária, entre oposição e diferença, entre
relações sintagmáticas ou in presentia e associativas ou in absentia.
O estudo diacrônico é a descrição da língua no eixo das sucessividades, ou seja,
uma descrição de sua evolução histórica. Ainda no campo da diacronia, Saussure
distinguiu mudança fonética e analogia, analogia e aglutinação, linguística externa e
linguística interna, linguística prospectiva e retrospectiva.
A língua é um sistema de signos que combinam com um significado (conceito), e
com a imagem acústica, presente na psique, do som, chamada de significante. O caráter
simbólico da língua é depreendido do caráter simbólico da própria linguagem humana. O
estudo dos signos deve ser estudado por uma ciência que abarcaria a própria linguística,
a semiologia. Quanto à linguística, parte da semiologia deve descrever as estruturas
presentes nos sistemas linguísticos.
Saussure chama de sistema aquilo que também é estrutura. Os sistemas
linguísticos são o fonológico, lexical e morfossintático, havendo nestes subsistemas:
vocálico, consonantal, nominal, verbal, temporal, aspectual etc. A língua é uma
organização destes sistemas, sendo a língua não apenas uma de suas divisões, mas o
sistema amplo, que abarca todos os subsistemas. Conhecer uma língua é, para Saussure,
conhecer o sistema todo, e não apenas conhecer uma parte do mesmo.
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No campo da fonologia, Saussure estabeleceu a tese dos graus de abertura dos
sons como critério de classificação, a oposição entre sons implosivos e explosivos e sua
teoria de sílaba, são marcantes. Afirma também um desacordo entre a grafia e os sons,
sendo a razão disso o fato dos “sinais ortográficos flutuantes serem, em outras épocas,
figuras de sons... o resultado evidente disto é que a escritura segue numa via, a língua em
outra” (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p. 51). Cabe ao lingüista então entender que as
deformações fônicas são resultado de um fenômeno natural nas línguas.
Na definição de idiomas e dialetos, situado dentro da temática da variação, que
pode ocorrer em todos os três sistemas (fonológico, lexical e morfossintático) há o
conceito de força particularista o intercâmbio ou força unificadora. O primeiro explica as
variações sistêmicas da língua. O segundo explica a tendência do sistema em se manter,
pois uma mudança numa parte do sistema implica em outras variações. A força da
comunidade falante é decisiva na manutenção da língua, já que esta adquirida na vivência
comunitária e é, em si, social.
Dentro da semiótica, Saussure afirma que os elementos fundamentais são o
significante (marca escrita ou oral, impressão acústica) e o significado (o conceito da
coisa). A reunião destes dois elementos constitui o signo. A relação entre o significante e
o significado é arbitrária, pois não existe um laço natural que possibilite ser feita uma
analogia entre o som ou a imagem com o objeto assinalado. Saussure afirma:
Para Saussure, o signo linguístico é arbitrário, pois a relação entre o signo e o
significado não se depreende de nenhuma característica fixa presente no campo do
significado. Ele afirma em seu Cours:
O signo linguístico assim definido possui duas características
primordiais. Nesta noção está presente o princípio de todo o estudo desta
ordem. Dito isto, a linha que une o significante e significado é arbitrária,
ou seja, nós entendemos por signo o resultado total da associação de um
significante a um significado. Nós podemos dizer simplesmente: o signo
linguístico é arbitrário. (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p.23).
Esta arbitrariedade pode ser absoluta, ou seja, a imotivação é total; ou relativa, ou
seja, o signo foi relativamente arbitrário. Os signos absolutamente arbitrários são os
nomes não derivados; e os relativos são os que surgem por motivação morfológica,
semântica ou lexical.
Outra oposição feita por Saussure é entre forma e substância. Forma é uma rede
de dependências sem quaisquer caracterizações físicas ou materiais dos elementos que a
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compõem. Substância é a matéria física (som) e conceitual disponível para a forma, porém
ainda não utilizada.
A imutabilidade e mutabilidade do signo linguístico é tratada por Saussure em
termos da idéia que o significante representa, que aparentemente é livre e arbitrária,
porém está radicada na chamada “massa social”. Segundo Saussure:
“O significante escolhido para a língua, não pode ser substituído por
outro. De fato, aqui parece haver uma contradição... a língua não pode ser
entendida como um contrato puro e simples, e neste sentido é que o signo
linguístico é particularmente interessante. É preciso entender que quando
a coletividade admite ou escolhe uma coisa, não o faz por uma regra
livremente consentida, e isto fica mais óbvio na língua. O signo
linguístico escapa à nossa vontade, e daí depreendem-se importantes
conseqüências que decorrem deste fenômeno. Não tem importância a
época que nós nos refiramos, a língua sempre aparece igual, ainda que
seja numa época precedente... ela sempre resiste à toda a substituição
arbitrária.” (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p. 104-105).
Saussure está a afirmar que a tensão para a manutenção da língua se faz presente,
e a escolha de significantes não é motivada por contratos, mas uma vez definido, ele se
mantém. Nisto está a imutabilidade do signo linguístico – o sistema da língua é complexo
e está sob o influxo da inércia coletiva contra inovações linguísticas. Quando há mudança,
esta é motivada não por uma revolução, mas pela “substituição da relação entre
significado e significante” (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p. 109).
O conceito de valor foi atribuído à rigorosa concepção estruturalista das línguas,
em que as línguas são vistas como sistemas em que todos os termos são solidários. O
valor de uma unidade linguística é definido em contraste com outras unidades linguísticas
do sistema. O valor, que consiste na solidariedade e interdependência de uma significação
com outras significações, emana do sistema e implica na presença concreta de um sistema
em cada um dos seus elementos.
Quanto ao significado, este não está apartado do elemento analisado e de sua idéia
representada. Saussure completa seu conceito de língua-sistema com uma visão pessoal
das relações entre a palavra e o pensamento, e entre a matéria acústica e os sons. Antes
da formação idiomática, nosso pensamento não é mais que uma massa amorfa. Somente
os signos linguísticos nos fazem distinguir as idéias de maneira clara e constante. A
substância fônica tampouco é em si mais que uma informe matéria plástica que, somente
graças a língua, se divide em partes distintas para proporcionar os significantes que o
pensamento necessita. O som não é um mero meio fônico material para a expressão das
idéias. Na língua, som e pensamento estão unidos, porém delimitados em unidades.
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O Curso de Linguística Geral de Saussure é um corpo de doutrinas positivistas,
que aumenta a vida-útil desta corrente filosófica por constituir um rigoroso e sistemático
delineamento dos conceitos linguísticos, com o objetivo de ater-se diretamente ao objeto
de estudo, e secundariamente aos métodos respectivos para analise do objeto. Seu objeto,
a língua, é um sistema de expressões convencionais usado por uma comunidade; e a fala
é o uso individual do sistema.
Em sua rigorosa concepção estruturalista das línguas, vistas como sistemas em
que todos os termos são solidários, Saussure supera esta inicial limitação do seu
pensamento estabelecendo o conceito complementar de valor. Esta é uma unidade
linguística determinada, limitada e precisada pelas outras entidades do sistema. O valor,
onde consiste a solidariedade da língua, além da sua interdependência de uma significação
com outras, emana do sistema e implica a presença concreta do sistema em cada um dos
seus elementos, fugindo do risco de mais uma vez tratar a linguagem humana dentro do
terreno da abstração. 12
As relações estabelecidas entre palavra e pensamento; e entre a matéria acústica e
os sons linguísticos demonstram, para Saussure, que o pensamento é massa amorfa. Por
outro lado, a substância fônica é matéria plástica e os sons são meios fônicos materiais.
Todos estes constituintes, ocultos no fenômeno linguístico, assumem existência concreta
quando o objeto, a língua em si, pode ser abordado. Logo, na relação entre língua e
pensamento, Saussure ultrapassa as idéias meramente associonistas dos neogramáticos,13
da forma interior da linguagem de Von Humboldt, de atitude categorial ou classificatória
da razão-linguagem de Bérgson, e da filosofia das formas simbólicas de Cassirer. Ele sai
do campo da abstração especulativa e estabelece um novo nível para a discussão
linguística.
Ao estabelecer oposições entre analogia e aglutinação, entre linguística interna e
externa, entre linguística prospectiva e retrospectiva, todas no campo da sincronia. E
também na sua separação entre língua oral e escrita, entre oposição e diferença, entre
relações sintagmáticas in praesentia e associativas in absentia, além da vida histórico12
O conceito de valor é muito importante devido às múltiplas possibilidades de aplicação científica do
conceito. Permite perceber o funcionamento inteiro de uma língua com rigor científico e, unido à idéia de
significação, já estabelecida por Husserl (HUSSERL, Edmund, 1929, p. 31-109), introduz na lingüística a
primeira concepção sistêmica que permite a observação da língua, sem a necessária transdisciplinaridade
que sempre acompanhou os estudos lingüísticos.
13
O neogramático Paul, na obra Prinzipien der Sprachgeschichte, concebe as associações como simples
imagem acústica (palavra) com a idéia de existência autônoma, segundo a psicologia associonista de
Herbart que influenciou seus estudos.
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geográfica de idiomas e dialetos, forneceu bases para uma linguística diacrônica e
histórica. Sua falha, porém, é conceber dicotomias ou antinomias que, vez por outra,
acabam por cercear a investigação e impedir maior avanço. A opção pela língua em
detrimento do discurso; e da sincronia, em detrimento da diacronia – estas são suas
omissões principais. Ainda há o não reconhecimento, por parte de Saussure, do inatismo,
que é, em maior ou menor medida, aceito pelos lingüistas de hoje, sejam eles gerativistas,
sociolingüistas ou funcionalistas. Cabe, por fim, apreciar a obra saussuriana pelo seu
caráter inédito, fornecendo de fato o estatuto científico da linguística e abrindo a
possibilidade da sua autonomia enquanto ciência, não obstante ele ter defendido ser esta
um campo da semiologia.
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II.2 Escolas Estruturalistas
a) A Escola de Genebra
Não obstante todas as restrições e as críticas surgidas ao pensamento saussuriano,
esta obra influenciou muitos lingüistas no período compreendido entre a Primeira e a
Segunda Guerra Mundial. Os seus discípulos em Genebra foram Charles Bally, Albert
Sechehaye e E. Henri Frei (LEPSCHY, G. C., 1971, p. 32). Dentre os três, Bally foi
discípulo de Ferdinand de Saussure de maior relevância, sucedendo-o na cadeira de
linguística na Universidade de Genebra. Ele, juntamente com Charles Albert Sechechaye
e Albert Riedlinger, reuniu as lições de Saussure e publicou com o título de Cours de
linguistique générale, em 1916.14 Bally continuou os estudos saussurianos,
desenvolvendo pesquisas sobre os elementos afetivos da linguagem. O resultado dos seus
estudos foram as obras Précis de stylistique, publicada em 1905; Traité de stylistique
française, publicada em 1909; Langage et la vie, coletânea sobre estilo e estilística
publicado em 1913; além de Linguistique générale et linguistique française, de 1932.
Para Bally, a língua é um fato social (segundo a sociologia de Durkheim),
impondo coerção ao indivíduo. Porém, os sinais da linguagem na gramática e no
dicionário vão além dos seus significados descritos (valor parassemântico). A oposição
entre semântica e parassemântica, além da oposição entre o emocional e o intelectual, é
o que Bally chama de estilo. Seu método de estudo foi chamado de estilística.
Bally também apresentou alguns desenvolvimentos em relação à teoria de
Saussure, principalmente na aplicação de conceitos saussurianos:
Um fato – que em si é paradoxal – é que a langue é ao mesmo tempo
muito tradicional em todas as instituições sociais, sendo a sua evolução
muito lenta. Ela não conhece mutações bruscas que são observadas na
política, no direito, na moral e na religião. A conseqüência é que ela
reflete muito bem a mentalidade coletiva que está em mutação no
decorrer dos tempos. Ela está mais segura de indeterminações e
diletismos que sofrem outras descrições no decorrer dos tempos, da
famosa “mentalidade coletiva”. (SAUSSURE, Ferdinand, 1972, p.27).
“Em 1916, Ch. Bally e A. Sechehaye publicaram, com o título de Cours de linguistique générale, uma
revisão dos apontamentos que vários alunos haviam tomado, durante três cursos de lingüística geral
proferidos por Saussure em 1906-1907, 1908-1909 e 1911-1911.” (LEPSCHY, G. C., 1971, p. 28)
14
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Pelas suas aplicações do estruturalismo, além do desenvolvimento da estilística,
Bally tem destaque em relação aos outros discípulos de Saussure, os quais formam um
grupo importante do estruturalismo em Genebra.
E. Henri Frei também tem importância em Genebra, por ser aquele que “... com
mais lógica que os outros e que o próprio Saussure, tirou as conseqüências do princípio
concernente à forma na língua.” (MALBERG, Bertil, 1971, p. 71). Sua exposição, partida
da oposição entre langue e parole, consiste em trabalhar a primeira sob um viés mais
rigoroso que o do próprio Saussure, fortalecendo assim a linguística enquanto disciplina
científica, pela delimitação mais específica do seu objeto de estudos.
Outro representante da Escola de Genebra é Albert Sechehaye, que “desenvolveu,
com um espírito relativamente crítico, a teoria sobre a oposição língua-fala (Les trois
linguistiques saussuriennes) [As três linguísticas saussurianas], 1940).” (MALBERG,
Bertil, 1971, p. 71). Esta predisposição crítica consiste na primeira manifestação, no
interior da Escola, de um questionamento coerente da dicotomia saussuriana, ainda que a
antinomia sistêmica tenha sido mantida.
Outro importante discípulo de Saussure, Antoine Meillet15 dedicou-se à
comparação e à linguística histórica. Para Meillet, a evolução linguística é a passagem de
um estado de uma língua a outro, sendo conciliada na descrição deste processo a sincronia
e a diacronia. Ele utiliza a teoria saussuriana, adicionando nesta a compreensão de que o
reajustamento constante dos sistemas linguísticos causa a evolução das línguas. Para
Meillet, estes eventos são definidos socialmente: "Tout fait de langue manifeste em fait
de civilisation" (MEILLET, 1951, p. 168). Meillet também é importante para a
linguística, segundo Faraco:
“Embora Saussure (professor de Meillet, em Paris) considerasse, em tese,
a língua como instituição social (estudando-a, porém, como sistema
autônomo), foi Meillet quem, de fato, elaborou uma perspectiva em que
as condições sociais passaram a ser vistas como tendo uma influência
decisiva sobre a língua e, conseqüentemente, sobre a mudança... Meillet
foi, assim, dos primeiros a tentar formular uma orientação teórica para o
estudo da história linguística que incorporasse a sempre heterogênea
realidade sociocultural das línguas.” (FARACO, C. A., 1991, p. 97-98).
Sobre Meillet, afirma Malberg: “O mais famoso dos discípulos de Saussure foi incontestàvelmente o
comparatista francês Antoine Meillet, cuja obra prova admiràvelmente o efeito estimulante das idéias
saussurianas sobre os métodos históricos e comparativos tradicionais. Meillet via na língua uma totalidade
e considerava as modificações lingüísticas particulares como detalhes num contexto estrutural mais vasto...
Meillet pretendia, então, considerar a língua como um momento num contexto mais vasto, histórico,
cultural e sociológico; êle assinalava a ligação íntima da língua com a cultura e as formas sociais do povo
que a fala. Aplicou este ponto de vista, por exemplo, no seu trabalho sôbre a história da língua latina
(esquisse d’une histoire de la langue latine [Esboço de uma história da língua latina], 3ª ed., 1933).”
(MALBERG, Bertil, 1971, p. 71).
15
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A partir das suas teorias de mudança, Meillet retomou os estudos do idioma indoeuropeu, além de estudar as línguas estavas e os dialetos indo-europeus. Aplica a idéia de
que “o desenvolvimento da linguística se obtém a partir de leis gerais” (MEILLET,
Antoine, 1948, p. 7) para estudar a história das línguas e suas regularidades, estabelecendo
assim a condição de formular “as leis a que estão suscetíveis as mudanças linguísticas”
(MEILLET, Antoine, 1948, p. 11). Assim, uma família de línguas grande e variada, como
a indo-européia, pode fornecer informações de conclusões que podem ter uma validade
geral. O projeto de Meillet é importante para a retomada da perspectiva diacrônica, pois
o estruturalismo e sua predileção pela sincronia tornavam inviável o projeto da avaliação
da variação e mudança numa perspectiva histórica. Além disto, “Meillet foi, assim, dos
primeiros a tentar formular uma orientação teórica para o estudo da história linguística
que incorporasse a sempre heterogênea realidade sociocultural das línguas.” (FARACO,
C. A., 1991, p. 98), daí sua importância crucial no estruturalismo pós-saussuriano.
Além de influenciar seus discípulos, o pensamento de Saussure influenciou
Edward Sapir, o mecanicista Leonard Bloomfield, o psicossistemático Gustave
Guillaume, o estruturalista-transformacional Tesnière e a Escola de Praga. Soma-se a esta
relação Louis Hjelmslev entre os escandinavos e Émile Benveniste.
b) A Escola de Praga
No primeiro Congresso Internacional de Lingüistas, ocorrido em Haia, os
fonólogos Roman Jakobson (Praga), S. Karcevsky (Genebra) e N. Trubetskoy (Viena)
teceram as primeiras críticas significativas ao Cours. Entre as críticas, é significativa a de
que a fonologia sincrônica e a fonética diacrônica é suprimida quando são consideradas
as variações fonéticas em função do sistema fonológico que as sofre. Para eles, é
necessário fugir deste esquema antinomista para explicar devidamente estas mudanças.
A fonética histórica, neste caso, se transforma em uma história da evolução do sistema
fonológico. Não obstante Saussure ter feito oposição aos neogramáticos, herdou deles a
compreensão de que as mudanças fonéticas são fortuitas e involuntárias, sendo
perturbações e destruições cegas causadas por fatores intrínsecos ao sistema fonológico.
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Não obstante as críticas feitas pelos lingüistas reunidos em Haia, o pensamento de
Saussure é mantido intacto na sua intenção programática: conferir status científico à
linguística, apontar o caráter social da língua, teorizar signo linguístico e apresentar seus
componentes (significante e significado) etc. Neste caso, os lingüistas supra citados
podem ser considerados estruturalistas, ainda que de outra ordem, por negarem a
dicotomia saussuriana fundamental entre langue e parole.
Estes lingüistas se reuniram, em sua maioria, no chamado “Círculo de Praga”.
Estes assumiram o estruturalismo entre a década de 20 e 30 do século XX. O tcheco Vilém
Mathesius e os lingüistas russos Nikolai S. Trubetzkoy, Roman Jakobson e Sergei
Karcevski são os principais nomes deste Círculo, que também é denominado “Escola de
Praga.”16 Ainda se aproximaram do Círculo lingüistas franceses como Joseph Vendryés,
Georges Gougenheim, André Martinet e Aurélien Sauvageot. E dos Países Baixos, foi
influenciado pelos lingüistas do Círculo A. De Groot.
Os principais trabalhos desta Escola foram Travaux du Cercle Linguistique de
Prague, publicados a partir de 1929, cujo destaque era dado à fonologia. Esta disciplina
foi fundada, em seu sentido contemporâneo, nesta época.
Segundo Terracini, a obra-chave desta escola é Grunzüge der Phonologie, de N.
S. Trubetzkoy, publicado em Praga no ano de 1939 (TERRACINI, B., 1942, p. 173-180).
É nesta obra que surge a distinção entre fonética e fonologia. Outra distinção é entre
fonema e som da fala: o fonema é a unidade fonológica complexa com função distintiva
e um feixe de traços distintivos caracterizados articulatória e acusticamente; e o som da
fala é uma entidade discursiva.
Semelhantemente à Saussure, os lingüistas do Círculo entendiam que as mudanças
da língua deveriam ser analisadas a partir da consideração da língua como um todo, além
da análise do sistema específico afetado pela mudança. Porém, de forma distinta a
A fundação do Círculo de Praga é assim descrita por Kristeva: “O Círculo de Praga foi fundado em 6 de
outubro de 1926 com a participação dos lingüistas tchecos Bohuslav Havránek, Vilém Mathesius, Jan
Rypka, Bohumil Trnka etc. e dos lingüistas russos Roman Jakobson, s. Kartsevski, N. S. Trubetzkói e do
folclorista e etnógrafo russo P. Bogatyriov. Se é verdade que as teorias dos formalistas russos presidem
àquelas que serão elaboradas pelo Círculo, e que várias figuras eminentes do primeiro movimento se
reencontram no segundo, convém assinalar as questões sobre as quais as duas tendências divergem. Antes
de tudo, a noção de “procedimento” ou de “organização de procedimentos” (Tyanov, Propp, Jakobson),
sustentada na chamada fase pré-estruturalista dos formalistas russos, é substituída pela noção de estrutura.
Considera-se o texto de Roman Jakobson sobre o verso tcheco como o primeiro a aplicar à Literatura a
noção de estrutura: segundo ele, o acento das palavras de uma língua determina o seu tipo de versificação.
Contudo, foi Jan Mukarovsky que mais explicitamente desenvolveu essa mesma noção no plano da
literatura.” (TOLEDO, 1978, p.xiii)
16
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Saussure, os lingüistas de Praga entendiam que o estudo diacrônico não exclui a noção de
sistema. Esta diferença é fundamental: a abordagem sistêmica também na diacronia,
estabelecido pela primeira vez por Roman Jakobson17 na obra Principes de phonologie
historique de 1931, tornou possível entender mudanças fonológicas diacrônicas e
sistêmicas que não poderiam ser contempladas na leitura exclusivamente sincrônica
(FARACO, C. A., 1991, p. 99).
Os lingüistas do Círculo de Praga utilizam os termos “fonética” e “fonologia”,
outrora sinônimos, com significados distintos. A fonética, enquanto ciência natural, se
ocupa dos sons linguísticos em sua constituição material. É a matéria física e a atividade
fisiológica. Quanto à fonologia, esta estuda a constituição intencional do signo. Sendo
uma matéria, o som existe separado e agrupado; porém enquanto signo, somente funciona
na relação com os outros do sistema, com valor solidário. Neste ponto há uma semelhança
entre os lingüistas de Praga e o pensamento Saussuriano.
Porém, não obstante a realização fonética ser, para Saussure, aquele restrito à fala;
e o sistema fonológico realizado pertencente à língua; os lingüistas de Praga vão além:
afirmam que no campo fonético e fonológico a língua é um sistema de valores. A novo
fonologia tem como influências, além de Saussure, o russo Baudouin, Courtenay e o
tcheco Masaryk (JAKOBSON, Roman,1933, p. 637).
As teses do Círculo de Praga foram lançadas no Primeiro Congresso Internacional
de Lingüistas, ocorrido em Haia, em 1929. Neste Congresso, há inicialmente o combate
às teorias dos neogramáticos de “leis fonéticas”, que resolviam os casos de exceção da
Lei de Grimm em termos de “analogia” e “empréstimo”. Distintamente dos
neogramáticos, afirmam os lingüistas do Círculo:
“o que se impõe ao lingüista é a questão da finalidade em uma mudança
fonética, em lugar da questão tradicional das causas. Não superaremos a
tradição dos neogramáticos renunciando a noção de “lei fonética”, senão
interpretando-a teleologicamente e abandonando sua concepção
mecanicista.” (Actes du premier congrès international de Linguistes à La
Haye, sem ano, p. 33-36)
17
Roman Jakobson, nascido em 1896, estudou na Universidade de Mosca e de Praga. Exerceu o magistério
em lingüística geral e de língua e literatura eslava na Universidade de Harvard e no Massachusetts Institute
of Technology (centro de ciência da comunicação). Doutorou-se pela Universidade de Cambridge, Chicago,
Oslo, Uppsala e Michigan. Membro de numerosas academias americanas e estrangeiras, Jakobson ocupou
a vice-presidência da Comissão Internacional de Estudos Eslavos. JAKOBSON, Roman. Alla ricerca
dell’essenza del linguaggio. In: BIENVENISTE, Émile, et al. I problemi attuali della linguistica (traduzido
por Luigi del Grosso Destreri). Milão: Valentino Bompiani, 1970. p. 27-45.
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No ano seguinte, os fonólogos do Círculo de Praga complementaram suas
doutrinas e publicaram teses no Primeiro Congresso de Filólogos Eslavos. Estenderam
suas críticas ao modelo linguístico saussuriano. Nesta, afirmavam que:
“A concepção da língua como sistema funcional é que ela há de se manter
também no estudo dos estados de línguas antigas, e trata de reconstituílas, e de anotar sua evolução. Não é admissível a colocação de barreiras
inquebráveis entre os métodos sincrônico e diacrônico, como faz a Escola
de Genebra. Se na linguística sincrônica são considerados os elementos
do sistema da língua desde o ponto de vista de suas funções, não será
possível interpretar as mudanças sofridas pela língua sem ter em conta o
sistema que está afetado por tais mudanças. Não é lógico supor que as
mudanças linguísticas não sejam mais que golpes destrutivos, frutos de
azar e heterogêneos em relação ao sistema. As mudanças linguísticas
apontam com freqüência o sistema, a sua estabilização, a sua
reconstrução etc. Assim, o estudo diacrônico, longe de excluir as noções
de sistema e de função, é incompleto se não se leva em conta essas
noções. Por outro lado, a descrição sincrônica tampouco pode excluir de
todo a idéia de evolução, pois em um setor visto sincronicamente existe
a consciência do seu estado caduco ou em vias de desaparecimento do
estado presente e de estado de formação; e os elementos estilísticos
considerados arcaísmos; e a distinção entre formas produtivas e não
produtivas são ecos de diacronia, que não se poderão eliminar da
linguística sincrônica.” (Travaux du Cercle Linguistique de Prague,
1929, p. 7-8).18
Entre os lingüistas do Círculo que apresentam contribuições particulares para o
desenvolvimento da Escola, Trubetskoy, partindo da distinção saussuriana entre língua e
fala, elabora os conceitos de “criação linguística” e “ato de fala”. Sobre esta, afirma
Malberg:
“Ao sistema da língua, chama das Sprachgebilde [criação linguística]; à
fala concreta, der Sprechakt [ ato de fala]. Todo Sprechakt, ou ato da fala,
implica a realização de um Sprachgebilde e é, pois, a manifestação de
uma norma ou de um grupo de normas. Uma expressão linguística é
divisível num certo número de partes mínimas a que a fonética tradicional
chamava simplesmente de sons da linguagem (com as dificuldades de
classificação e de terminologia que esta maneira de ver acarretava, ver
acima) e a que Trubetzkoy chama fonemas, tôda língua usa um número
limitado e preciso de fonemas, que se distinguem uns dos outros por
certos característicos fonéticos precisos, que são determinantes para sua
distinção mútua.” (MALBERG, Bertil, 1971, p. 109)
A partir da distinção supracitada, Trubetzkoy permite a elaboração da descrição
deste sistema de oposições. Neste sistema, fonético por natureza, Trubetzkoy estabelece
oposições, que podem ser multilaterais e bilaterais, e isoladas e proporcionais. A
oposição bilateral ocorre, por exemplo entre os fonemas /t/ e /d/, na língua alemã, francesa
18
Ver também JAKOBSON, Roman. Prinzipien der historischen Phonologie. In: Travaux du Cercle
Linguistique de Prague, v. 4, 1931. p. 247-250.
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ou portuguesa. Estes fonemas representam para Trubetzkoy os únicos oclusivos dentais
da língua. Por outro lado, a oposição entre /b/ e /d/ é multilateral, pois há um terceiro
fonema, o /g/, no qual os traços comuns /b/ e /d/, sendo todas estas consoantes
classificadas como oclusivas sonoras. Quanto à distinção oposicional, esta pode ainda ser
classificada de proporcional quando a relação entre os fonemas em questão reaparece em
outras oposições. Ela será isolada quando este fenômeno não ocorre. (MALBERG, Bertil,
1971, p. 114). O sistema de Trubetzkoy é muito importante na descrição do sistema fônico
da língua segundo padrões sistêmicos.19
Outra importante contribuição particular aos estudos da escola foi de Roman
Jakobson.20 Ele procurou “...determinar as leis gerais da estrutura de um sistema
fonético.” (MALBERG, Bertil, 1971, p. 122). Influenciado por Karl Bühler e seu modelo
orgânico da linguagem, vista como uma ferramenta,21 Jakobson expandiu este modelo
afirmando que a língua realiza múltiplas funções simultâneas, interessando-se não só por
textos ou frases hipotéticas, mas pela língua em uso, especialmente o discursos poético.
Esta visão abre a possibilidade para as abordagens funcionalistas, tratadas no capítulo III.
Jakobson também publicou importantes artigos sobre morfologia, tratando da
estrutura dos verbos em russo, das relações entre a fonética e os aspectos gramaticais da
linguagem entre outros. Nestes, Jakobson utiliza como hipótese de pesquisa a idéia da
existência de uma “correlação fonológica entre as estruturas verbais e os paradigmas
fonológicos presentes nas línguas” (JAKOBSON, Roman, 1971, p. 3).
Outro importante representante da Escola de Praga é o acima citado André
Martinet,22 que estabeleceu como principal contribuição a descrição da dupla articulação
19
André Martinet destaca a importância das teorias de Trubetzkoy para os estudos fonéticos e fonológicos
afirmando o seguinte: “Trubetzkoy permanece o homem que, pela primeira vez, nos indicou como devemos
nos conduzir para dar, do sistema fônico de uma língua, uma descrição científica, independentemente dos
antecedentes lingüísticos do seu autor, descrição fundada sôbre a função das unidades da língua a estudar
e não mais sobre aquêles traços físicos que teriam impressionado o descritor.” (MARTINET, André, 1971,
p. 65).
20
Roman Jakobson nasceu em 11 de Outubro de 1896 em Moscou, e faleceu no dia 18 de Julho de 1982
em Boston. Em Moscou, Jakobson recebeu sua educação básica e parte da sua educação universitária. Em
1918, mudou-se para a antiga Tchecoslováquia. Entre 1939 e 1941, viveu na Escandinávia, emigrando
posteriormente para os Estados Unidos, onde lecionou na Universidade de Columbia, Harvard e no MIT.
Ver: HALLE, Morris, 1992, p. 247.
21
“Podemos representar a linguagem como um organismo visível geometricamente. O círculo do centro
simboliza o fenômeno acústico concreto. Três momentos variáveis nele o fazem ir á categoria de signo.
Estes formam um triângulo, em cujos lados deste triângulo incerto simbolizam três momentos: a relevância
abstrativa, um complemento aperceptivo e as funções semânticas.” (BÜHLER, Karl, 1967, p. 69).
22
Nascido em 1908, estudou em Sorbonne, na École Pratique des Hautes Études e na Universidade de
Berlim. Após sua formação, assumiu a cadeira professor adjunto de língua inglesa e doutorou-se em letras.
Assumiu em 1938 a diretoria da École Pratique de Hautes Études. Professor de lingüística geral e
comparada na Universidade de Columbia, assumiu a chefia do Departamento de Lingüística dessa
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da linguagem Esta consiste na oposição (influenciado por Saussure) sistêmica, que
possibilita a existência de dois planos significativos na linguagem humana: o primeiro é
significativo, formado por sememas. O segundo é formado por fonemas. Sobre isto,
afirma Malberg:
“Na análise da linguagem instituída por Martinet, a noção de dupla
articulação é fundamental (ver por ex. os seus Elément de linguistique
générale, 1960). A primeira articulação da linguagem é a que nos permite
dividir uma cadeia de sons da fala numa série de signos independentes
(palavras, morfemas, desinências, construções sintáticas, etc.)... Mas a
“forma vocal é analisável numa sucessão de unidades das quais cada uma
contribui para distinguir, por exemplo, tête de outras unidades como bête,
tante ou terre. É o que se designará como a segunda articulação da
linguagem”... Para Martinet, esta segunda articulação limita-se
ùnicamente ao domínio dos fonemas...” (MALBERG, Bertil, 1971, p.
124-125)
Martinet também contribui com a pesquisa sobre variação ou mudança, ao tratar
da homogeneidade das comunidades linguísticas. Martinet afirma que, não obstante os
estímulos para as mudanças, a língua não apresenta variabilidade comparável à outras
manifestas na cultura. Esta tendência que a língua tem de fixar-se provém do fato dela ser
um “instrumento de comunicação”, sendo necessária uma maior estabilidade para que ela
cumpra seu papel social (MARTINET, André, 1962, p. 104).
c) Hjelmslev: a Glossemática
Outra teoria estabelecida sob o influxo do pensamento de Saussure é o da
glossemática, de Louis Hjelmslev.23 Outrora membro da Escola de Praga, Hjemslev
elaborou a teoria com H. J. Uldall em 1935. Publicou Omkring sprogteorien
grundlaeggelse (1943), e Sproget (escrito em 1943, porém publicado em 1965) e Essais
universidade entre 1947 e 1955. A partir de 1955, assumiu a cadeira de lingüística geral na Universidade
Sorbonne. Entre suas obras mais importantes, estão La gérmination consonantique d’origine expressive
dans les langues germaniques, 1937; La phonologie du mot en danois, 1937; La pronunciation du français
contemporais, 1945; Phonology as Functional Phonetics, 1949; Economie des changements phonetiques,
Traité de phonologie diachronique, 1955; La description phonologique, 1956; La linguistique, 1960; e A
Functional View of Language.
23
Nascido em 1899, começou seus estudos de filologia na Universidade de Copenhagen, indo
posteriormente à Lituânia, Praga e, por fim, à Paris, onde redigiu Principes de grammaire générale, sob a
influência de Saussure, Sapir e dos formalistas russos. Fundou o Círculo de Praga, sendo seu presidente e
redator da Acta Linguistica, órgão de divulgação das idéias da Escola. Assumiu a cadeira de lingüística
comparada na Universidade de Copenhagen, vindo a falecer em 1965. Para mais, ver: RASTIER, François,
1971, p. 1.. Louis Hjelmslev. In:
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linguistiques (1959), onde aborda suas teorias linguísticas peculiares em relação aos
outros membros do Círculo de Praga.
Para Hjelmslev, a língua é uma forma em que há inter-relações de elementos. Seu
projeto é estudar as relações mútuas entre estes elementos com base na descrição,
ausência de contradições e simplicidade. Ele, partindo do texto (falado ou escrito), é
susceptível de ser dividida até não ter mais possibilidade de divisão.
A glossemática, portanto, consiste na observação dos fatos da experiência, sendo
seu objeto de estudos os fenômenos linguísticos: a natureza dos pronomes, a teorização
dos morfemas, a estrutura morfológica entre outros, sob uma perspectiva “empírica e
funcional” (HJELMSLEV, Louis, 1971, p. 8-9). Além disto, Hjelmslev rejeita a adoção
de transcendências para o estudo da língua, adotando um método imanente, ou seja, que
se fundamenta no próprio objeto de estudo. Além disto, ele distingue processo (texto, eixo
sintagmático) e sistema (eixo paradigmático). No processo há uma conjunção lógica e-e,
e no sistema há uma disjunção lógica ou-ou.
Na glossemática, a idéia saussuriana de significante e significado torna-se,
respectivamente, expressão e conteúdo, sendo estas funções (fonctifs) próxima à função
matemática, designando uma ligação entre dois elementos.
Conteúdo e expressão podem ser analisados, para Hjelmslev, em forma e
substância. Quanto à forma, a menor unidade é o fonema, chamado pelo autor de cenema.
Quanto à substância, esta é o plerema, unidades cheias não-coincidentes com os
morfemas, pois são unidades significativas indivisíveis.
Por fim, Hjelmslev afirma que há cinco elementos fundamentais presentes na
estrutura fundamental de qualquer língua. Estes são: conteúdo e expressão; progressão ou
texto, e sistema; conteúdo e expressão ligados por meio de uma comutação; relações no
interior do processo e no interior do sistema; e decomposição dos signos em taxemas de
expressão, que não tem conteúdo algum, porém servem para formar unidades dotadas de
conteúdo. Estas unidades se inserem na antinomia que Hjelmslev propõe em substituição
à distinção saussuriana entre langue e parole:
“Através de uma análise prévia das noções, nós cremos ter chegado a uma
concepção que há de mudar essencialmente a langue saussuriana: esta
concepção nós chamamos de schéma. Este resultado nos conduz, por
outro lado, a uma nova simplificação que nós adotamos por considerar a
distinção entre schéma [esquema] e usage [uso] como uma divisão
essencial que é imposta pela semiologia, e de substituir a divisão langue
e parole por esta, que nós achamos mais correta, considerando porém que
a distinção de Saussure constitui uma primeira aproximação,
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historicamente
importante,
mas
(HJELMSLEV, Louis, 1971, p. 88-89).
teoricamente
imperfeita.”
A crítica estabelecida por parte dos membros da Escola de Praga foi feita por
Martinet. Este destacou o princípio do isomorfismo como sendo o ponto mais
controverso, ainda que atrativo, do pensamento de Hjelmslev. Martinet afirma:
“Entre os numerosos paradoxos que são, ao mesmo tempo, um dos
atrativos da glossemática e a fonte das muitas reservas a seu respeito, o
princípio do isomorfismo ocupa um lugar de destaque. Esse princípio
implica o paralelismo completo dos dois planos do conteúdo e da
expressão, uma organização fundamentalmente idêntica das duas faces
da língua, aquelas que, em termos de substância, se designariam como os
sons e o sentido.” (MARTINET, André, 1971, p. 25-26).
Não obstante as discordâncias, tanto a glossemática quanto às idéias da Escola de
Praga mantiveram-se fiéis ao estruturalismo saussuriano, ainda que numa posição crítica
em relação às teorias expostas no Cours, endossadas de forma mais ampla apenas pela
Escola de Genebra.
Entre os franceses que adotaram o estruturalismo, Émile Bieveniste24 publicou
uma obra numerosa sobre sua teoria a respeito da língua indo-européia (Origines de la
formation des noms em indo-européen, 1935; Noms d’agent et noms d’actions en indoeuropéen, 1948; Hittite et indo-européen, 1962), a respeito da língua irânica (Études sur
la langue osséte, 1959) e um grande número de artigos de linguística geral e comparativa.
Produziu estudos também sobre as línguas iranianas (da Pérsia e do Afeganistão) e sobre
numerosas línguas ameríndias (da Colômbia Britânica e no Alaska). Sua grande
contribuição foi a sugestão de uma resolução para o impasse na oposição entre a diacronia
e a sincronia. Para Bieveniste, a língua está em equilíbrio e todas as suas partes são
solidárias. Toda língua humana tem em comum alguma categoria de expressão que
corresponde a um modelo constante. Quando um dos pontos da língua é afetado, há um
novo arranjo sistêmico. A exibição de duas estruturas sucessivas é a tarefa da análise
diacrônica, o que possibilita revelar as partes do sistema anterior que foram afetadas. Por
isto, a oposição entre sincronia e diacronia se resolve.
d) O estruturalismo americano
24
Émile Bieveniste, nascido em 1902, foi professor do Collège de France, diretor da École des Hautes
Études e secretário da Sociedade de Lingüística de Paris.
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O início da linguística norte americana se deu com Franz Boas, Edward Sapir e
Benjamin Lee Whorf. Os três analisaram as línguas indígenas.
Franz Boas priorizou suas pesquisas no campo da antropologia, sendo importantes
as suas afirmações no campo linguístico, particularmente sobre a alternância de sons. Ele
entende existir “três aspectos fundamentais na fala humana: a fonética, a gramática e o
vocabulário” (BOAS, Franz, 1968, p. 213). Partindo desta premissa, a partir de 1889,
quando concluiu a transcrição fonética dos falares de muitos grupos indígenas
americanos. Classificou os falares americanos e indígenas. Particularmente, em sua
classificação das línguas indígenas, ele afirmou haver duas línguas que são base de
influência para as outras, mas entende não ser possível estabelecer um “rígido um
esquema genealógico para definir as famílias linguísticas” (BOAS, Franz, 1968, p. 225).
Suas abordagens antropológicas influenciaram a pesquisa posterior. Entre Boas e Sapir,
ambos de origem européia, houve grande influência o pensamento de Humboldt e sua
tese da relação entre língua e cultura.
Edward Sapir25 utiliza o termo “fonema” para a discussão dos sons da fala, além
de considerar aspectos psicológicos da linguagem. Desenvolveu a idéia de que na língua
há sons específicos, e que estes não podem ser entendidos apenas mecanicamente. Sapir
afirma:
A língua é primeiramente um sistema de símbolos fonéticos de expressão
da comunicabilidade de intenções e sentimentos. Em outras palavras, os
símbolos da língua são produtos diferenciáveis do comportamento vocal,
associado com a laringe e demais sistemas mecânicos... De fato, a
linguagem é instrumental e lógica, independente do uso de sons
articulados.” (SAPIR, Edward, 1921, p. 7).
Percebe-se a influência de Humboldt em Sapir. Whorf, aluno de Sapir, também é
influenciado por Humboldt, sendo possível trilhar uma linha que vai de Humboldt a
Whorf. Destaca-se, neste caso, a “hipótese Sapir-Whorf” de que a língua de uma
comunidade organiza sua experiência e a partir daí forma seu universo.
“A “teoria de Sapir-Whortf”, como é chamada, combina dois princípios.
O primeiro é conhecido como determinismo linguístico: o estado da
língua determina o que nós vamos desejar. O segundo princípio é
25
Nascido em 1884 m Lauenburg, na Alemanha, e falecido em 1939, nos Estados Unidos, Edward Sapir é
considerado o fundador da moderna lingüística antropológica. Deu importantes contribuições para a
antropologia cultural e para o campo da cultura e da personalidade. Suas obras mais importantes são Time
perspective in aboriginal American culture, de 1916; além de Language, obra utilizada em cursos
introdutórios de lingüística. Suas obras estão reunidas no trabalho feito pelo editor David G. Mandelbaum,
sob o título Selected works, publicado em 1949. Para mais, ver: EGGAN, Fred, 1992, p. 373-374.
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conhecido como relatividade linguística: o sistema de uma língua não
pode ser encontrado em outra.” (CRYSTAL, David, 1997, p. 15).
O estruturalismo, porém, encontrou uma manifestação mais clara nos Estados
Unidos com Leonard Bloomfield.26 Ele, ao contrário dos seus predecessores, adota a idéia
de autonomia da linguística em relação a outras disciplinas. Ele buscou conceder à
linguística um status científico, dando à disciplina um caráter positivista. O resultado foi
a colocação da semântica num lugar secundário nos estudos linguísticos norteamericanos.
Bloomfield considera que a linguística deve adotar postulados científicos
próximos às ciências. Ele afirma:
“O método de postulados (isto é, de assertivas ou axiomas) e definições
é geralmente adequado á matemática; para as outras ciências, é mais
complexo definir conceitos desta natureza... o método postulacional pode
ser aplicado aos estudo da linguagem, porque as forças que estão
presentes nesta estão explicitamente acessíveis a nós, para definições ou
estabelecimento de terminologias, e para decidir que coisas existem
independentemente e que coisas são interdependentes” (BLOOMFIELD,
1957, p. 19).
Desta necessidade de postulados científicos explica-se a proximidade das teorias
de Bloomfield e as de Ferdinand de Saussure.
Bloomfield também tem importância por desenvolver estudos nas línguas
germânicas antigas e no sânscrito. Em sua tese de doutorado de Bloomfield, intitulada A
Sesmalogical Differentiation in germanic Secondary Ablaut, apresentada à Universidade
de Chicago entre 1909 e 1910, orientada por Francis A. Wood, Bloomfield afirma:
“Uma importante característica da família de línguas germânicas é a
presença de graus e variações. Pouco sujeitos às variações, os verbos
“fortes” são modelos de expressão de diferenças de tensão. Os
substantivos derivados e verbos também são – em alguns dialetos antigos
– relacionáveis a estes, e fortemente ligados à raízes primitivas”
(BLOOMFIELD, Leonard, 1973, p. 1).
Ainda, em seus estudos sobre o indo-europeu, Bloomfield trata das palatais no
sânscrito. No trabalho The Indo-european palatals in Sanskrit, de 1910, afirma ser sua
26
Leonard Bloomfield nasceu em Chicago, em 1º de Abril de 1887, e faleceu em New Haven, Connecticut,
em 13 de Abril de 1949. Bloomfield graduou-se na Universidade de Harvard em 1906, recebendo seu
doutoramento pela Universidade de Chicago em 1909. Ensinou em Cincinnati, Illinois, Ohio State e
Chicago, sendo também professor de Lingüística na Universidade de Yale. Conhecedor de alemão, maiaiopolinésio e das línguas indígenas americanas, foi na área de lingüística geral que exerceu maior influência,
sendo representante do estruturalismo nos Estados Unidos da América. Para mais, ver: HALL, Robert A.,
Jr., 1992, p. 191-192.
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proposta nos estudos comparativos “considerar brevemente quais causas fisiológicas
provavelmente proporcionaram estas mudanças de pronúncia no iraniano e no antigoavéstico.” (BLOOMFIELD, Leonard, 1973, p. 7)
Na esteira dos estudos estruturalistas de Bloomfield estavam os lingüistas Z. S.
Harris, C. F. Hockett, H. A. Gleason e A. A. Hill. Estes teorizaram que as unidades
fundamentais de descrição linguística são o fonema e o morfema, sendo aquele uma classe
ou família de sons, e este as unidades significativas pertencentes ao sistema da língua. Os
sons da fala são chamados de fone e alofone, e as unidades morfológicas são chamadas
de morfe e alomorfe. Cabe neste ponto retomar a concepção particular de Bloomfeld de
que a língua apresenta constituintes imediatos, em que os termos de uma oração estão em
relação uns com os outros. Estas idéias, pouco desenvolvidas em Bloomfield, foram
aprofundadas pelos seus discípulos Wells e Harris, que formularam com detalhes o
critério distribucional.
Após Bloomfield, afirma Laroca:
“A morfologia estruturalista americana teve seu período áureo na década
de 50. Em Readings in Linguistics I, abreviadamente, RIL, uma antologia
de autores americanos, (de 1925 a 1956), organizada por Martin Joos, os
artigos selecionados para o período de 1940 a 1956 dedicam-se
predominantemente a questões morfológicas.” (LAROCA, M. N. e C.,
2003, p. 12)
Em oposição à posição convergente de Bloomfield e seus discípulos, K. L. Pike,
que tinha uma posição um pouco diversa dos seguidores de Bloomfield no tocante aos
constituintes imediatos da fala enquanto tagmemas, onde a função gramatical e a classe
de unidades substituíveis ocorrem na mesma posição. Pike adota o conceito de construção
e nível, em que uma seqüência de morfemas ocupa uma posição gramatical.
O estruturalismo, em suas diversas manifestações, consiste numa escola que
subsiste na linguística, em suas variadas manifestações, graças ao seu caráter descritivo
rigoroso e aos inegáveis componentes estruturais e sociais da linguagem humana. Graças
ao estruturalismo, a preocupação recorrente com o caráter científico, descritivo e coerente
se mantém na linguística, sendo encontrado, talvez em seu sentido mais extremo, por
Noam Chomsky e pelos demais lingüistas gerativo-transformacionais. Passamos a
descrever, portanto, o pensamento gerativista e suas implicações.
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III. LINGUÍSTICA GERATIVA-TRANSFORMACIONAL
A linguística
gerativo-transformacional,
generativa transformacional
ou
simplesmente transformacional teve seu início no Massachusetts Institute of Technology
com as publicações de Noam Chomsky e de Morris Halle. Ela consiste uma tentativa de
rigorosa descrição formal da língua. O modelo gerativo-transformacional apresenta-se
como uma síntese das contribuições mais interessantes da gramática tradicional e da
gramática estrutural.
Não obstante esta tentativa de síntese, faz parte do projeto dos lingüistas gerativos
evitar os perigos da gramática tradicional. Para tanto, eles procuram descrever a língua
falada corrente de um indivíduo ou de uma comunidade, limitando-se a descrever a
língua, deixando à parte a significação e levando em consideração o único aspecto
objetivo, observável e verificável da língua: a forma. Os gerativistas objetivam descobrir
e descrever as regras que permitem a todo o falante produzir um número infinito de
enunciados gramaticais, e que constituem sua competência linguística
O método de descrição utilizado pelos gerativistas tem o propósito de ser rigoroso,
sistemático e objetivo, permitindo inferir quase mecanicamente de orações e frases a
gramática de uma língua.
No programa gerativista está presente, portanto, a elaboração de frases tão
representativas quanto possível da língua estudada. Consulta-se o léxico e é estabelecida
a estrutura sintática da frase através da geração de seqüências de símbolos denominadas
estruturas profundas, que contêm, em princípio, todas as informações semânticas
necessárias à interpretação da frase. Os gerativistas ainda submetem as frases a um
segundo grupo de regras que modificam a ordem dos símbolos dessas cadeias e atribui a
cada oração uma estrutura superficial.
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III. 1. Noam Chomsky
Noam Chomsky,27 principal nome da corrente de estudos linguísticos, foi
fortemente influenciado por Zellig S. Harris e por Willard Quine, além de sofrer
influência do pensamento cartesiano. Sua primeira obra, Syntactic structures, de 1957,
apresenta três modelos de estudo da língua: o primeiro era estrutural e baseado na teoria
da comunicação; o segundo era estrutural e baseado na concepção de constituintes
imediatos; e a terceira consiste na análise de orações também com a análise da
transformação gramatical. Os dois primeiros métodos são tidos como insuficientes por
Chomsky que, de forma taxionômica, restringe-se à observação dos fatos e a sua
classificação. Esta observação não é totalmente original, mas fruto de uma síntese das
contribuições científicas de diversas correntes de estudos linguísticos, conforme afirma
Roulet:
“Desenvolvida por Chomsky e seus discípulos a partir de 1955, o modelo
gerativo-transformacional apresenta-se como uma síntese das
contribuições mais interessantes da gramática tradicional e da gramática
estrutural. Na época em que W. Nelson Francis, refletindo a opinião da
maioria dos lingüistas, dedicava-se a lembrar todos os defeitos das
gramáticas tradicionais e apresentava a gramática estrutural como uma
revolução, Chomsky afirma o paradoxo de que a gramática tradicional,
pelos objetivos que visa e as informações que fornece, reflete uma
concepção mais satisfatória da língua. Esclarece , em 1966, em Cartesian
Linguistics / Linguística Cartesiana que a gramática gerativotransformacional é “essencialmente uma versão moderna e mais explícita
da Gramática de Port-Royal”. Mas embora reconheça o interesse do
conteúdo, desconsiderado pelos estruturalistas, das gramáticas
tradicionais, critica-lhes severamente a forma. O caráter vago, ambíguo
ou incompreensível das gramáticas tradicionais prende-se, para
Chomsky, ao fato de que são formuladas em uma metalinguagem
insuficientemente precisa: a linguagem de todos os dias, enriquecida por
alguns termos técnicos como gerundivo ou subjuntivo.Somente o recurso
a uma metalinguagem rigorosa e explícita, como os sistemas formais
utilizados em lógica e matemática, permitiria formular regras precisas.”
(ROULET, Eddy, 1978, p. 43).
Sobre Chomsky, Faraco afirma que ele, “além de assumir uma concepção de
ciência diferente da tradicionalmente aceita pelos lingüistas americanos, Chomsky
fundamentou sua teoria geral da linguagem numa hipótese fortemente inatista.”
(FARACO, C. A., 1991, p. 103).
27
Noam Chomsky nasceu em Filadélfia. Estudou filosofia na Universidade da Pensilvânia, doutorando-se
em lingüística em 1955. Ainda leciona no Massaschussets Institute of Technology.
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Entre 1957 e 1965, a partir de sua obra Syntactic Structures, Chomsky apresentou
seu primeiro modelo teórico, em que procura descrever um falante-ouvinte ideal, uma
comunidade de falantes homogênea, uma língua perfeita e uma gramática não afetada por
limitações de memória ou outras fontes de desvio. Chomsky assim o fez para estabelecer
o conhecimento que fornece bases científicas sólidas para a ciência linguística. Neste
período, Chomsky diferenciou competência, que é a habilidade de discernir estruturas
gramaticais e agramaticais; e performance, que consiste na língua em uso ou “emprego
efetivo da língua em situações concretas”, sujeita a todas as anomalias e variações de
registro (CHOMSKY, Noam, 1970, p. 20).
Para Chomsky, a língua é um conjunto de sentenças, não sendo necessário recorrer
aos dados do discurso para acessar o que ele chama de “Gramática Universal”. Chomsky
também afirma que esta gramática é inata e está presente na mente humana, sendo a
aquisição de uma língua possível por causa da competência inata de adquiri-la.
Chomsky também diferencia, nas línguas, padrões e parâmetros, sendo os
primeiros elementos fundamentais de qualquer língua; e os segundos, interceptores que
são acionados em algumas línguas e em outras não. Mesmo não usados em algumas
línguas, os parâmetros continuam presentes no cérebro humano, possibilitando a
aquisição de outras línguas.
Existem, para Chomsky, três modelos de estudo da língua: um advindo da teoria
da comunicação; o segundo proveniente da análise dos constituintes imediatos; e o
terceiro que é advindo da noção de estrutura da frase. Deste último, considerado o único
adequado, é unido à noção de transformação gramatical.
Do método transformacional depreende-se que a gramática é, para Chomsky,
descrição fonológica, sintática e semântica da língua, com a pressuposição da existência
de universais de forma e substância. Este assunto passou a ser tratado na segunda obra de
Chomsky, que constitui uma segunda fase de seus estudos, obra esta intitulada Aspects of
the theory of syntax.
Os universais de substâncias estão, para Chomsky, presentes em todas as línguas,
sendo abordada na teoria dos constituintes imediatos, porém não de forma suficiente. Os
universais de substância fonéticos consistem em traços articulatórios ou acústicos
presentes em todas as línguas. Os universais sintáticos são estruturas gramaticais que
estão presentes em todas as línguas. Os universais semânticos são as funções de
designação, que são assumidas de forma específica em todas as línguas.
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A partir dos universais, Chomsky afirma ser possível prever fatos novos dentro da
língua. Para tanto, é necessário separar as seqüências gramaticais das não-gramaticais, e
a partir desta divisão o lingüista deve gerar as frases da língua, e somente as gramaticais.
Neste caso, percebe-se que a função da linguística é caracterizar e descrever as
habilidades linguísticas dos falantes e da língua. A competência subjacente da língua e
dos falantes é um sistema de processos gerativos, que tem três componentes: o sintático,
que forma a base da gramática; o fonológico; e o semântico, sendo estes últimos
intérpretes das cadeias abstratas geradas pelo componente sintático.
Os elementos que formam a frase são elementos chamados de terminais, sendo
estes os vocábulos no nível sintático, e os fonemas no nível fonológico. A estes elementos,
soma-se os elementos auxiliares. As orações são divididas em sintagmas, sendo estes
nominais (substantivo, artigo, pronome, eventualmente um verbo etc.) ou verbais (verbo,
que pode ser principal ou auxiliar). A partir desta classificação, é criado um sistema de
regras de ramificação e estas, somadas às informações dadas pelo dicionário da classe das
palavras, obtém-se um diagrama em árvore ou marcador da estrutura frasal. Há ainda
regras de subcategorização que introduzem traços sintáticos que podem ser próprios ou
comuns, concretos ou abstratos, contáveis ou não-contáveis, animados ou inanimados,
humanos ou não-humanos etc. A partir destes traços de subcategorização, estabelece-se
um feixe de traços chamado de símbolo complexo. O componente transformacional da
teoria está presente na relação entre a estrutura subjacente com a superficial, em que há
elisão, inserção, substituição ou mudança de elementos sintáticos.
As frases mal formadas são originadas com asterisco, sendo marcadas e tidas
como agramaticais. A interpretação semântica é definida pela estrutura profunda.
As concepções gerativistas passaram a sofrer maiores variações após a década de
70, com o surgimento de outra corrente de lingüistas gerativos.
“Nos fins da década de 70, a linguística gerativa abandonou seu modelo
tradicional de gramática como um sistema constituído de regras
específicas e adotou um modelo em que a gramática opera restringida por
alguns poucos princípios gerais e se concentra não mais em derivar
(obter) sentenças da língua, mas em justificar representações gramaticais
possíveis. Ao mesmo tempo, introduziu a idéia de que a gramática
universal é um conjunto de parâmetros variáveis, isto é, ela restringe as
gramáticas possíveis, mas admite caminhos alternativos.” (FARACO, C.
A., 1991, p. 105)
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Esta corrente, da semântica gerativa, endossada por Lakoff, Ross, McCalew,
Postal e Bach, diverge quanto à ordem das transformações lexicais e, conseqüentemente,
na interpretação semântica).
Outras revisões às idéias de Chomsky foram formuladas ainda na década de 70.
As mudanças na teoria especificamente abordam a oposição entre as transformações nãolexicais e as lexicais. Às primeiras (lexicais) seguem as segundas, sendo não ordenadas
umas em relação às outras. As transformações de natureza lexical inserem itens lexicais,
sendo a interpretação semântica determinada a partir da estrutura profunda, passando pela
estrutura superficial.
As abordagens sobre a variação da língua, já tratadas por Weinreich, Labov e
Herzog a partir de 1968, encontrou espaço no gerativismo no modelo gerativista
paramétrico da década de oitenta. Esta variação da teoria chomskyana, considerando a
variação interlinguística, trouxe à teoria as questões fundamentais relacionadas à
aquisição da linguagem. Esta questão esteve sempre subjacente à teoria original de
Chomsky, mas assume papel fundamental.
O modelo de variação gerativista abriram também espaço à diacronia gerativista,
ainda que esta se mantenha a - histórica, porque exclui os fatores sócio-políticos e
históricos, na compreensão da questão central da mudança linguística.
Um exemplo da teoria sintática gerativa diacrônica está nos estudos de A. Battye
e I. Roberts. A teoria de ambos descreve noções semânticas de anomalia, contradição,
tautologia, sinonímia, antonomínia, paráfrase etc.
No Brasil, especificamente na Universidade de Campinas, a diacronia gerativista
liderada por Charlotte Galves e Bernadette Abaurre inter-relacionam a questão da
mudança sintática e fonológica, abordando a prosódia no português do século XVIII.
Também Ilza Ribeiro, Maria Aparecida Moraes e Sônia Cyrino desenvolvem pesquisas
sobre a ordem sintática e fenômenos correlatos do período arcaico para o contemporâneo.
Chomsky continuou a desenvolver seu gerativismo, principalmente na abordagem
de campos não explorados da Gramática Universal. Por fim, recentemente, a gramática
gerativa trata da "I-language”, os registros da língua em uso através da internet.
O gerativismo consiste num importante movimento, tanto pela difusão das idéias
de Chomsky em todo o mundo, quanto pelo caráter aglutinador das suas afirmações. A
simplicidade dos fundamentos da teoria gerativista, unida ao grande desenvolvimento e
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complexidade das suas aplicações, tornou difícil a crítica à Escola, que só se delineou de
forma categórica na década de 70. Estas críticas vieram, principalmente, dos lingüistas
funcionalistas, sendo importantes no desenvolvimento da pesquisa. Portanto, urge apontar
o pensamento dos funcionalistas, e suas divergências em relação aos gerativistas, que é o
que se faz logo a seguir.
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IV. LINGUÍSTICA FUNCIONALISTA
A linguística chamada de “funcionalista”, dado o seu caráter recente, é variada.
São muitas versões do funcionalismo, variando de lingüista para lingüista. Mas é possível
estabelecer, em linhas gerais, os principais postulados da teoria.
Desde os primórdios das civilizações investiga-se a linguagem articulada, sua
estrutura e seus usos. As proposições de gramáticas como a greco- latina e a do sânscrito
comprovam que as investigações sobre a linguagem ocupavam um lugar de destaque,
deixando entrever uma concepção de seu papel na comunicação. Segundo Givón, desde
Aristóteles há uma abordagem funcionalista, pois ele considera os contextos
comunicativos nas abordagens sobre a língua. (GIVÓN, 1995, p.3). Também em
Hermann Paul, as frases são consideradas como o registro verbal de um fenômeno
psicológico, onde são associadas idéias e o meio para criar na alma do que ouve a referida
associação de idéias. Sapir também entende que a língua transmite idéias por um sistema
de símbolos produzidos voluntariamente.
Já há, desde muito tempo, um olhar funcionalista para a língua, mas ainda não uma
sistematização do funcionalismo enquanto sistema linguístico. Porém o funcionalismo
começa a alcançar forma com os lingüistas de Praga, já tratados acima, que por isto são
muito influentes no pensamento funcionalista. Estruturalistas sob o influxo das idéias de
Saussure, os integrantes da Escola de Praga também se preocupavam com os usos e
funções da língua, ou seja, desejavam estudar a língua como um sistema, ‘sistema
funcional’, rejeitando a dicotomia diacronia/sincronia e preconizando uma relação entre
sistema e uso.
Passamos a tratar, portanto, outras contribuições ao pensamento funcionalista, que
ajudam a entender as principais teorias da Escola.
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IV. 1. Antecedentes do funcionalismo
A sociolinguística é muito importante para o funcionalismo, pois considera o
contexto comunicativo em suas teorias. O conceito de sociolinguística, para Faraco, é o
seguinte:
“Entende-se por sociolinguística o estudo das correlações sistemáticas
entre formas linguísticas variantes (isto é, entre diferentes formas de dizer
a mesma coisa) e determinados fatores sociais, tais como a classe de
renda, o nível de escolaridade, o sexo, a etnia dos falantes.” (FARACO,
C. A., 1991, p. 115).
Labov afirma que desde que a linguagem existe em variedade e tem passado por
mudanças, qualquer teoria linguística que se queira adequada deve apresentar uma
descrição sociolinguística da descrição das variações da fala, entre classes, regiões e
tempos. Neste caso, Labov entende ser necessário tecer uma crítica à Saussure e sua
distinção entre sincronia e diacronia.
Para Labov, a dicotomia saussuriana entre sincronia e diacronia ignora a dinâmica
natural da linguagem. Esta distinção binária geralmente privilegia apenas a metade do
todo, a linguística sincrônica. Para Labov, a distinção entre língua e discurso privilegia a
língua, o sistema da língua, marginalizando o discurso, a língua em uso. Esta distinção
acaba por ignorar a natureza fundamentalmente social e comportamental da natureza da
linguagem humana.
Labov tece críticas ao estudo sincrônico da língua, pois considera a língua uma
abstração, que sofre variação entre os falantes, regiões e tempos. A língua como um dado
não-cultural, não social, estático, despersonalizado e independente do discurso é alvo do
estudo sincrônico.
Labov chama as críticas que tece a Saussure de “Paradoxo de Saussure”. O
paradoxo é o seguinte: se todos têm conhecimento da langue, qualquer um pode obter
todos os dados para a descrição linguística a partir de uma única pessoa; mas para
conhecer a parole, é preciso estudar o comportamento da comunidade. O aspecto social
da linguagem é estudado pela observação de um falante, mas o aspecto individual não
serve para observar o contexto social.
Uma das questões tratadas por Labov é responder à questão de como as línguas
mudam. Para responder à questão, ele afirma que há aparentemente uma variação livre da
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língua em grupos sociais. Porém Labov sumarizou seis mecanismos de mudança da
língua.
O primeiro mecanismo é a pressão externa sobre um subgrupo social. O segundo
mecanismo é a generalização feita por todos os membros de um subgrupo. A terceira
ocorre na livre variação que ocorre nas gerações que sucedem seus pais. A quarta variação
é uma a apropriação de uma mudança inserida dentro de uma variação estilística. A quinta
é a variação que ocorre no reajustamento do sistema da língua. A última é decorrente da
interpretação de subgrupos das mudanças no sistema promovidas por parte da
comunidade.
Ao definir a língua como um “sistema de meios de expressão apropriados a um
fim”, o Círculo manifesta a intenção de analisar a língua sincronicamente. As
sistematizações da língua são estudadas não dentro de observações abstratas, mas na
língua concreta, considerada através das suas manifestações concretas na comunicação.
É, pois, na definição de língua assim apresentada que está a visão funcional da Escola de
Praga.
Em relação ao gerativismo, “Labov não nega in limine a possibilidade de que haja
universais da mudança linguística independentes de condições históricas, mas – diz ele , se esses universais existem, são certamente muito raros.” (FARACO, C. A., 1991, p.
111).
Quase paralelamente à Escola de Praga, John Rupert Firth28 desenvolvia uma linha
de investigação centrada na linguagem como ‘modo de ação social’. Estudava as ações
sociais praticadas através da utilização da língua. Sobre ele, afirma Malberg:
“Uma teoria da linguagem, independente do estruturalismo, tanto
europeu como americano, foi proposta pelo orientalista e foneticista
inglês J. R. Firth (falecido em 1960) e por seus colegas da London School
of Oriental and African Studies, freqüentemente agrupados sob a
denominação de “escola de Londres”. A maioria das idéias de Firth
provém de seu conhecimento de línguas não européias. Na análise, ele
distingue estritamente a estrutura (relações encontradas no sintagma, ver
p. 69) e o sistema (relações encontradas no paradigma). A estrutura é
assim limitada às categorias extraídas das formas de palavra e de texto,
enquanto o sistema se define como “um conjunto ou conjuntos de
relações paradigmáticas entre unidades ou termos “substituíveis” que
fornecem valôres aos elementos da estrutura”. Firth interessou-se
particularmente pelos fenômenos prosódicos.” (MALBERG, Bertil,
1971, p. 75-76)
28
Sounds and prosodies, 1949; Papers in linguistics, 1957; The tongues of men and speech, 1964; A
synopsis of linguistic theory, 1939-1945 (Publicado nos Studies in linguistic analysis, da The Philological
Society, 1957).
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A investigação de Firth sobre as interações sociais, e como ela influenciava a
prosódia, exerceu importante influxo sobre os funcionalistas.
Também influenciou os funcionalistas a linguística de L. Tesnière. Ele desenvolve
a teoria das ‘valências verbais’, postulando a centralidade do verbo. Para esse estudioso,
o verbo é o elemento central, ou nó central, que estabelece as relações de dependência
com os demais elementos da frase.
Esses elementos que dependem do verbo são identificados como os ‘actantes’ –
elementos exigidos pelo verbo para a complementação valencial no plano das realizações.
É nesse sentido que se diz que o verbo é o termo regente, ou seja, ele rege as relações de
dependência. Os actantes, por sua vez, apresentam valor sintático e semântico na estrutura
verbal. A valência verbal é, então, a capacidade do verbo de prever espaços vazios – os
seus argumentos. A estrutura semântica da frase resulta das relações semânticas entre o
regente e os regidos (Brito, 1991, p.39; Neves, 2002, p.104).
Outro a influenciar os lingüistas funcionalistas é C. Fillmore. Fillmore propôs a
Gramática de Casos. Esses casos aos quais o autor se refere são os casos semânticos. O
verbo, núcleo predicador, na estrutura básica da frase, estabelece determinadas relações
com os sintagmas nominais a ele associados, que são os casos. Dependendo dos traços
semânticos apresentados pelos casos, eles podem ser denominados Agente, Benefactivo,
Locativo, etc.
A gramática de valências e a gramática de casos apresentam semelhanças quanto
à centralidade do predicador (verbo), ou seja, a estrutura frásica é determinada pelo
predicador, resultando na determinação de argumentos e na relação sintático-semântica
dos argumentos com o predicador.
Também E. Benveniste foi uma importante influência para os funcionalistas, com
sua linha de investigação linguística que enfocava a língua como ‘ato social’, buscando a
sua organização no nível do discurso. Com o mesmo interesse na língua como ato social,
ainda se podem destacar J. Austin e a teoria dos atos de fala, Ducrot e a teoria das
pressuposições linguísticas (Meyer, 1991, p. 40).
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IV.2. As idéias funcionalistas
Os que se chamam funcionalistas entendem ser a língua um instrumento
comunicativo, não sendo objeto autônomo, mas uma estrutura submetida às situações
comunicativas. Estas situações interferem decisivamente na língua e na sua estrutura. No
afã de apresentar provas da teoria, os funcionalistas analisam a estrutura gramatical, tendo
como referência a situação comunicativa inteira: o propósito do ato de fala, seus
participantes e seu contexto discursivo.
Segundo André Martinet, é muito importante, para estabelecimento de uma
verdadeira ciência linguística, determinar os modos de comunicação, estabelecendo pela
observação destes modos um conceito claro de competência comunicativa que possibilite
a apreensão da língua enquanto “instrumento da comunicação da experiência”
(MARTINET, André, 1978, p. 14). Por competência comunicativa, entende-se a
consideração das “estruturas das expressões linguísticas como configurações da funções
vista como um diferente modo de significação na oração” (NEVES, Maria Helena de
Moura, 2004, p. 2).
Os funcionalistas, contrariamente aos gerativistas, não consideram a língua um
ente autônomo por si, mas um sistema autônomo em que estão subjacentes de forma
decisiva o processamento mental, a interação social e a cultura. A língua não é dotada de
estatismo, mas de um caráter funcional e dinâmico (GEBRUERS, R.S.C., 1987, p. 129).
A principal tarefa dos funcionalistas é, segundo Beaugrande, “fazer correlações
ricas entre forma e significado dentro do contexto global do discurso”, ou seja, a partir do
discurso entender a língua, e não o estabelecimento de uma configuração idealizada, a
partir da qual se vá adaptando a descrição para que o sistema artificial criado abarque
todos os fenômenos linguísticos. Os lingüistas funcionalistas assim fazem por entender
que a função é fundamental “em referência ao papel que a língua desempenha para os
homens, na comunicação de sua experiência uns aos outros.” (Martinet, 1994, p. 13)
Por função, os funcionalistas, via de regra, entender ser esta o papel da linguagem
para os comunicantes, por ser um instrumento muito importante para a necessária
comunicação demandada nos inter-relacionamentos humanos, que são muitos e variados
(HALLIDAY, M. A. K., 1973, p. 104).
Uma concepção importante para o funcionalismo é a iconicidade, que consiste na
correlação entre a forma da língua e a função desta. Esta relação entre o código e o
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conteúdo é um aspecto na investigação o qual, junto com a noção de compartilhamento
das informações entre os interlocutores (informatividade) e a criatividade do falante em
organizar seu discurso para o ouvinte, numa dada situação (discursivização), são provas
evidentes da amplitude contextual do funcionalismo.
Além dos três campos acima mencionados, é importante a idéia funcionalista de
marcação, que é a oposição entre termos marcados e não marcados. Os marcados são
aqueles que estão em destaque no discurso por não aparecerem na posição mais recorrente
numa dada língua e contexto discursivo, sendo isto designativo da ênfase ao termo
marcado. Também são levadas em conta, para a definição deste fenômeno, a
complexidade estrutural e a complexidade cognitiva da frase. Esta se dá, principalmente,
pela mudança na chamada “posição canônica”, teorizada por Greenberg:
“Mais recentemente (na década de 60), o lingüista norte-americano
Joseph Greenberg (nascido em 1915) elaborou uma tipologia que toma
como critério a ordem básica (também chamada de canônica) dos
constituintes da oração declarativa (um critério sintático, portanto). Falase em línguas SVO, SOB, VOS, VSO e assim por diante, isto é, línguas
cuja ordem canônica é sujeito-verbo-objeto, sujeito-objeto-verbo, verboobjeto-sujeito etc.” (FARACO, C. A., 1991, p. 108)
No discurso, ainda é analisada, na abordagem funcionalista, a conceituação de
planos discursivos, em que é diferenciada a idéia de figura (parte central do discurso) e
fundo (parte periférica do discurso).
Um dos principais conceitos da linguística funcional consiste na explicação, dada
pelos lingüistas funcionalistas, para as mudanças na língua. Esta se dá pela
gramaticalização, ou seja, não há uma diacronia linear, mas a interferência na língua de
tendências cognitivas e conversacionais contínuas relativos ao tempo, cognição e uso. O
mecanismo cíclico presente na evolução linguística (ciclo funcional) é unidirecional, ou
seja: a direção da mudança é dos conceitos abstratos para os concretos, e não vice-versa.
Há estratos na linguagem, com uma base fonológica, intermediada pelo léxico e pela
sintaxe, e estes são os agentes das mudanças. Descrever as estruturas das funções
gramaticais não se esgota por conta disto, devendo sempre ser considerado o contexto
comunicativo. (NEVES, Maria Helena de Moura, 2004, p. 16-17).
Uma das concepções funcionalistas de gramática é o conceito de gramática
sistêmica, adotado por Halliday. Esta consiste numa extensão da linguística firthiana. Em
consonância com a polissistemia de Firth, a gramática sistêmica procura descrever, numa
perspectiva taxionômica (e não gerativa), as estruturas sintáticas.
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Para Halliday, a função não se refere aos das classes de palavras ou sintagmas
dentro da estrutura das unidades maiores, mas ao papel que a linguagem desempenha na
vida dos indivíduos, servindo a certos tipos universais de demanda, que são muitos e
variados. (Halliday, 1973, p. 104). O funcionalismo de Halliday considera as situações
comunicativas, pois o estudo destas condições possibilita inferir as condições de produção
e a dinâmica do ato comunicativo. Para Halliday, bem como para os funcionalistas, a
identidade no ato comunicacional se constrói pelas relações entre os falantes, com a
influência do meio. Um evento de fala tem como sujeitos as pessoas em suas relações
sociais e as categorias sociais.
As funções da comunicação são, para Halliday, a ideacional, em que linguagem
tem como finalidade a manifestação de conteúdos que estejam ligados à experiência que
o falante possui do mundo concreto, real ou de seu universo subjetivo, interior; o
interpessoal, que abrange todos os usos da língua para expressar relações sociais e
pessoais; e o textual, em que a linguagem estabelece vínculos com ela mesma e está ligada
às características da situação em que é usada. Essas três funções se combinam e se
atualizam simultaneamente nas cláusulas, estruturando, assim, o contexto conversacional,
equilibrando o ato de fala em representação (ideacional), troca (interpessoal) e mensagem
(textual).
A concepção de Halliday é chamada de gramática sistêmica. Esta é funcional e
contextual, em contraste com a gramática gerativista, que é abstrata e mentalista. Ela é
descrita na Introduction to functional linguistics, de Halliday, publicada em 1985.
Halliday afirma que a gramática sistêmica tem relação com a sociologia.
Distintamente ao pensamento gerativista, ela não tem suas bases na psicologia, e nem
entende existir a gramática universal na mente dos falantes de uma língua. A língua reflete
categorias culturais, devendo ser buscadas nas relações sociais os paradigmas para a
semiótica e para a linguística.
Porém, Halliday não rejeita apenas o inatismo gerativista e a idéia de uma
gramática universal. Rejeita também a idéia funcionalista de competência e desempenho,
afirmando que o potencial do falante em discernir formas gramaticais não advém de
qualquer inatismo, mas do contexto discursivo. Para tanto, Halliday utiliza os conceitos
campo (atividade), modo (canal, gênero) e tom (relações sociais) para descrever a
concepção de Firth de contexto da situação, enquanto determinante dos sentidos
expressos.
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As ações linguísticas estão associadas, para Halliday, com as ações situacionais,
constituindo um registro (narrativa pessoal e oral). O registro, juntamente com o contexto
cultural, determina o discurso e seus significados.
Existem, para Halliday, 3 componentes semântico-funcionais principais. O
primeiro é a componente ideacional. O segundo é o experiencial, que reflete o contexto
cultural. O terceiro é o componente lógico, sendo este abstrato. Os três componentes
(ideacional, experiencial e lógico) são interpessoais e, por isto, sociais, expressivos e
apelativos. Também são textuais, havendo coerência entre o texto e o contexto.
Halliday também trata da aquisição da linguagem em termos não-gerativistas na
obra Consider the system for person, de 1976. Halliday, juntamente com Hasan, afirmam
que a gramática sistêmica é edificada mediante a descrição sobre o nível da palavra, sendo
estas distintas segundo diferenças colocacionais. A aquisição da linguagem se dá,
segundo Halliday, nos contextos reais de comunicação: as crianças assimilam os modos
e condições do sentido das palavras e, quando as crianças chegam à vida adulta, as
palavras adquirem múltiplos sentidos. Isto se dá pela aquisição de sentidos em múltiplos
contextos, não sendo suficiente a simples consulta ao léxico, como se faz no gerativismo
para definição do sentido das palavras.
No campo da semântica, o funcionalismo de Halliday se ocupa com o
reconhecimento dos sentidos nos contextos. Não há ideais interpessoais, mas a
necessidade de reconhecer os variados sentidos nos variados contextos. A linguística
sistêmica procura descrever o sentido do discurso, oferecendo ferramentas para análise
da coesão, coerência, anáfora etc. Halliday apresenta uma teoria integrada da aquisição
da linguagem, em que a relação entre texto e contexto, a sociolinguística, a variação, a
semântica a gramática são tratadas.
A língua é um sistema que produz significados. Neves, comentando o assunto,
afirma:
“sistema (...) configura uma teoria da língua enquanto escolha. (...) A
consideração do sistêmico implica a consideração de escolhas entre os
termos do paradigma, sob a idéia de que escolha produz significado.” As
escolhas se situam no nível paradigmático, enquanto no nível
sintagmático estão as cadeias de relações. Todo esse processo produz um
texto, que pode ser caracterizado como uma representação do sistema
social e linguístico.” (NEVES, Maria Helena, 1997, p. 59-60).
Outro importante lingüista funcionalista é Simon C. Dik. Este estabelece o conceito de
um paradigma funcional, em que a língua é concebida como instrumento de interação
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social entre os seres humanos. O objetivo principal deste paradigma funcional é o
estabelecimento das relações comunicativas entre os usuários (DIK, Simon C., 1978, p.
1; DIK, Simon C., 1989, p. 3). As funções estabelecidas por Dik são: a intenção do falante,
a informação pragmática do falante e a antecipação que ele faz da antecipação do
destinatário. A interpretação do destinatário é função da expressão linguística, da
informação pragmática do destinatário e da sua conjectura sobre a interação comunicativa
que o falante tenha tido.
Uma preocupação de Dik é analisar como o usuário de uma determinada língua
opera a mesma, sendo importante o lingüista compreender que o homem é muito mais
que um animal linguístico: no processo comunicativo estão envolvidas muitas funções
humanas – contrariando a posição dos gerativistas de que a “função” linguística estaria
acima dos elementos de interação. Para Dik, o ser humano utiliza várias capacidades,
sendo a linguística uma delas.
Há três outros conceitos importantes no pensamento de Dik. O primeiro é de
capacidade epistêmica, que consiste na capacidade do usuário de uma língua de construir,
manter e explorar uma base de conhecimento organizado. O segundo conceito é o de
capacidade lógica, em que o usuário de uma língua, ao acumular conhecimento, compõe
outros conhecimentos através do seu raciocínio e da sua lógica. O terceiro conceito é de
capacidade perceptual, em que o usuário de uma língua, de acordo com o ambiente,
compõe e interpreta expressões linguísticas. Por fim, a capacidade social determina a
maneira como o usuário de uma língua deve adequar seu discurso para atingir seus
objetivos na comunicação. Há um inter-relacionamento entre as capacidades epistêmicas,
lógicas, perceptuais e sociais.
As capacidades dos usuários de uma língua são aplicadas dentro de regras
específicas da língua. O primeiro tipo de regras governa as expressões linguísticas
(semânticas, sintáticas, morfológicas e fonológicas). Este consiste num sistema de regras
instrumental em relação às metas e aos propósitos do falante, pois o paradigma funcional
determina que as expressões linguísticas devam ser descritas e explicadas num quadro
geral fornecido pelo sistema pragmático de interação verbal. O segundo tipo de regras
governa os padrões de interação verbal nos quais essas expressões linguísticas são usadas
(pragmáticas). O modelo de interação verbal proposto por Dik objetiva a explicação do
papel da expressão linguística do falante, prevendo um modelo de construção da
expressão linguística que exerce apenas o papel de mediação entre os falantes.
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Outro lingüista funcionalista, K. Hengeveld, propõe na obra The Architecture of
a Functional Discourse Grammar, de 2000, que deve haver três componente essenciais
na gramática funcional.
O primeiro componente é o conceitual, que consiste na força motriz que dá suporte
à gramática. Este componente possibilita uma descrição mais apropriada Às categorias
gramaticais. O segundo componente é o de contexto, que é um domínio discursivo a partir
do qual novas expressões linguísticas são produzidas. O terceiro contexto é o expressivo,
que é gerador de expressões acústicas e ortográficas. Estes três dão suporte às funções
pragmáticas (no nível interpessoal), às funções semânticas (no nível representacional) e
às funções sintáticas (no nível da expressão ou estrutural). É uma resposta àqueles que
acusam de relativismo absoluto as teorias funcionalistas.
Outro campo de estudo funcionalista é a relação entre o uso e a estrutura de uma
língua. Mackenzie, na comunicação apresentada em 1992 com o título What is functional
grammar?, afirma que a hipótese fundamental do funcionalismo é a relação não-arbitrária
entre a instrumentalidade do uso da língua e a sistematicidade a estrutura da língua.
Ambas são componentes fundamentais, e dimensionar cada uma é o grande desafio do
lingüista funcionalista. Por fim, cita-se também a importância, no funcionalismo, de
autores como Paul Hopper, Sandra Thompson e Talmy Givón, importantes no
funcionalismo por estabelecerem teorizações na pesquisa.
O funcionalismo é uma importante corrente de estudos linguísticos. Não obstante
ser recente, já apresenta importantes estudos que, coligidos, oferecem um novo norte à
observação dos fenômenos linguísticos, por ampliar o campo de observação, tornando
maus crível as teorias que explicam estes fenômenos. Portanto, o funcionalismo, unido às
correntes linguísticas que o precederam, guardando as oposições irreconciliáveis, levam
a linguística a outro patamar. Este patamar a lança, definitivamente, ao caráter de ciência
autônoma e ponto de partida para qualquer explicação sobre as diversas línguas e demais
fenômenos da linguagem humana.
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CONCLUSÃO: CRÍTICAS AO ESTRUTURALISMO, AO GERATIVISMO E AO
FUNCIONALISMO
Todas as diferentes correntes linguísticas, por apresentarem particularidades e
pontos de partida bem diferentes, constituem contribuições, maiores ou menores, ao
desenvolvimento da pesquisa. Tecer críticas aos problemas presentes em cada corrente
implica m delimitar, a partir do conteúdo já exposto, aqueles que são incoerentes ou
insuficientes. Tal abordagem não consiste num demérito, pois sempre há elementos que,
conservados sem crítica, podem ser retomados para a elaboração de novos conceitos. Até
mesmo pontos criticados geralmente o são parcialmente, devendo ser alvos de maior
reflexão.
Em primeiro lugar, o estruturalismo saussuriano apresenta, em sua descrição da
língua, uma ligação psicológica entre o conceito e uma imagem acústica em seu sistema
semiótico. Esta conexão, meramente hipotética e generalizante, era suficiente em sua
época, mas hoje é mais bem explicada em modelos menos dicotômicos, que elaboram de
maneira mais ampla a teoria dos complexos processos mentais presentes na linguagem
humana. Além disto, o tratamento de Saussure de valor e das relações sistêmicas no
campo sincrônico, especialmente na área da semântica, também é generalizante e exclui
o importante conteúdo interacional e contextual da descrição linguística. A partir destes
conceitos abstratos presentes em Saussure, independentes da manifestação do som e da
função da interação humana, formulou-se a dicotomia entre langue e parole. Uma vez
consideradas estas manifestações e dados contextuais, a dicotomia perde a razão de
existir.
Além disto, a semiótica de Saussure aproxima demasiadamente a língua da
abstração, estando fora da mesma a variação em relação ao falante, região e tempo. É um
estatismo não-cultural, não-social e despersonalizado, que consiste numa grave falha na
linguistica saussuriana.
Quanto ao pensamento estruturalista da Escola de Praga, este supera a limitação
inicial presente no pensamento saussuriano, pois contém uma aproximação funcional (por
exemplo, na perspectiva oposicional entre tema e rema). Os desenvolvimentos semânticos
e fonológicos dos lingüistas de Praga, aplicados em textos literários, especialmente os
poéticos, são um exemplo de aplicação estrutural distintiva em relação a Saussure e aos
lingüistas da Escola de Genebra.
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Quanto ao estruturalismo americano, percebe-se que as generalizações induzidas
por Bloomfield, no afã de acumular dados para a concessão de rigor científico à
linguística, culminou numa derrocada ao psicanalismo e na insistência de aplicação deste
rigor, em detrimento da percepção dos fenômenos ocorridos na língua em uso.
Quanto ao gerativismo, este continua no caminho cientificista próprio da
linguística americana da época, estabelecendo em sua gramática gerativista um
absolutismo inexistente e uma perspectiva demasiadamente hipotética, que não tem
logrado êxito quando aplicada a muitas línguas ameríndias. A afirmação de Chomsky que
a gramática reflete a mente humana consiste numa abstração improvável, já que não é
possível provar isto antes de esgotar a análise da variação, identificando nos inúmeros
contextos padrões fixos e rígidos. Por não ter feito esta pesquisa, a linguística gerativista
carece de maior cientificidade, caindo no mesmo equívoco que aponta a outras correntes
linguísticas.
Por outro lado, a assimilação da gramática gerativa por outras teorias demonstra
seu potencial, despertando a atenção á necessidade de teorias que reflitam de maneira
apropriada aquilo que pode ser depreendido da língua.
O programa minimalista dos gerativistas, que acaba por determinas a sintaxe e a
semântica das sentenças, é um programa limitado, insuficiente para provar a teoria
chomskyana, particularmente a idéia de Chomsky de princípios e parâmetros da língua.
A idealização da linguagem, promovida pelos conceitos rígidos, exclui dados reais
do discurso, limitando a abordagem a processos mentais específicos, que por não serem
tão generalizantes o quanto deveriam, estão desqualificados enquanto uma teoria da
linguagem.
Por outro lado, o funcionalismo, opositor natural dos equívocos do gerativismo,
ainda carece de maior sistematização, pois tem terminologia inflacionada e traços
demasiadamente empíricos, ainda que tenha potencialmente uma hipótese universal sobre
a linguagem. Por rejeitar a dicotomia de Saussure, proporciona uma chance de adequar a
descrição do real, abordando o fenômeno linguístico numa perspectiva mais abrangente.
Fugindo das abstrações e do psicologismo da gramática gerativa, o funcionalismo aceita
certo inatismo, ficando ainda por serem determinadas as medidas demarcatórias entre as
forças exercidas pelo contexto comunicativo, e as habilidades humanas inatas. Para tanto,
percebe-se que apenas o tempo e o desenvolvimento da pesquisa serão suficientes, não
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obstante as chances de tais desenvolvimentos serem grandes pela própria natureza do
fenômeno linguístico, bem captados pela linguística funcionalista.
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