INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DO YOGA E PILATES SOBRE A

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INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DO YOGA E PILATES SOBRE A
WOLFF, G.S.; STIES, S.W.; BÜNDCHEN, D.C.; CARVALHO, T. de; Influência do treinamento do yoga e pilates sobre a qualidade vocal. Coleção
Pesquisa em Educação Física, Várzea Paulista, v. 14, n. 2, p. 67-74, 2015.
Recebido em: 30/03/2014
Parecer emitido em: 22/04/2015
Artigo original
INFLUÊNCIA DO TREINAMENTO DO YOGA E PILATES SOBRE A
QUALIDADE VOCAL
Grazielle Stuck Wolff
Sabrina Weiss Sties
Daiana Cristine Bündchen
Tales de Carvalho
Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC
RESUMO
Objetivo: Verificar a influência do treinamento respiratório utilizado no Yoga e no Pilates sobre a
qualidade vocal. Métodos: 30 indivíduos do sexo feminino, entre 20 e 40 anos de idade, com ausência de
fatores intervenientes nas medidas de interesse (tabagistas, alterações pulmonares) e média de IMC (22,28
kg/m² desvio-padrão ±1,80), foram divididos em 3 grupos: Treinamento de Pilates (TP), Treinamento de
Yoga(TY) e Grupo Controle (GC) e avaliados sua Capacidade Vital (CV), Tempo máximo de Fonação /a/ (TMF
/a/) e frequência fundamental (f0). Resultados: Os grupos foram semelhantes quanto às variáveis TMF e CV
(p<0,05), sendo evidenciada correlação forte para TP e GC e moderada para TY. Os valores encontrados da
f0 não apresentaram boa correlação com nenhuma variável e serviram para comparação com os padrões
normais de f0. Sujeitos que praticam exercícios (TP e TY) obtiveram valores superiores de TMF e CV do que
os que não praticam (GC). Conclusão: Tanto o Pilates quanto a Yoga apresentaram relação positiva com
capacidade vital e o tempo máximo de fonação, que são consideradas medidas da qualidade vocal.
Palavras-chave: Yoga. Pilates. Voz. Respiração.
INFLUENCE OF YOGA AND PILATES TRAINING ON VOCAL
QUALITY
ABSTRACT
Objective: To investigate the influence of respiratory training used in Yoga and Pilates on vocal
quality. Methods: 30 female subjects, between 20 and 40 years old, with no intervening factors in measures
of interest (smokers, lung disorders) and mean IMC (22.28 kg / m² ± 1 80) were divided into 3 groups: Pilates
Training (TP), Yoga Training (TY) and control group (GC) and evaluated its vital capacity (CV), maximum
phonation time / a / (/ a / TMF ), fundamental frequency (f0). Results: The groups were similar in terms of
variables TMF and CV (p <0.05), evidencing strong correlation to TP and GC and moderate to TY. The
values found f0 did not show good correlation with any variable and served for comparison with normal f0
standards. Subjects who exercise (TP and TY) obtained higher values of TMF and CV than those who do not
practice (GC). Conclusion: Both Pilates Yoga were closely related vital capacity and maximum phonation
time, which are considered measures of vocal quality.
Keywords: Yoga. Pilates. Voice. Breathing.
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INTRODUÇÃO
A voz é um conjunto de sons produzidos pelo aparelho fonador composto pelos pulmões, brônquios
e traqueia; pregas vocais e laringe; faringe, boca (lábios, língua, dentes, palato mole, palato duro e mandíbula)
e fossas nasais (BOTELHO, 1998). Ela é produzida pelo trato vocal, a partir de um som básico gerado na
laringe. Este som depende de um refinado controle cerebral, que por meio de informações enviadas para
os nervos laríngeos, coloca em vibração as pregas vocais através da passagem de ar durante a expiração
(BEHLAU e PONTES, 2009).
O sistema respiratório humano é constituído por um par de pulmões e por vários órgãos que
conduzem o ar para dentro e para fora das cavidades pulmonares (fossas nasais, boca, faringe, laringe,
traqueia, brônquios, bronquíolos e os alvéolos) (DÂNGELO, 1997).
Analisando a constituição desses dois sistemas, podemos verificar as semelhanças nos órgãos
anátomo-funcionais que permitem o fluxo correto que o ar faz para entrar e sair do corpo (BOTELHO, 1998).
A relação entre a mecânica respiratória e a vocal inicia-se com a inspiração, na qual ocorre a
contração do diafragma e alongamento dos pulmões. Com o aumento do volume de ar nos pulmões, o
espaço intrapleural - entre os pulmões e as paredes torácicas – formado por vácuo, se comprime e forma
uma região com aumento no gradiente de pressão transmural (é a diferença entre a pressão alveolar a
pressão intratorácica ou intrapleural) (SARAIVA, 1996). Esse processo auxilia na expulsão do ar juntamente
com o relaxamento do diafragma pela compressão do abdômen, resultando na expiração (ZEMLIN, 2000).
O movimento exalatório dos órgãos respiratórios fornece o fluxo de ar subglótico que é cortado em sopros
na glote fechada, enquanto a prega vocal vibra. O som produzido na glote é chamado de tom laríngeo
primário (ISSHIKI, 1999). A partir daí, o som gerado na laringe é modificado e amplificado pelas cavidades
de ressonância (BOTELHO, 1998) e articulado através de um processo pelo qual o som glótico produzido e
amplificado é transformado no som da fala através do movimento dinâmico do trato vocal (ISSHIKI, 1999).
Segundo Sundberg (1987) o órgão responsável pela voz humana consiste em três partes. A primeira
delas é o aparelho respiratório que age como um compressor do ar dos pulmões. A segunda parte é composta
pelas pregas vocais que assumem a ação de produzir os sons, propriamente, ditos. A última e terceira parte
é a formada pelo sistema de cavidades, segundo o autor, pela faringe, cavidade nasal e cavidade oral, ou
seja, pelo trato vocal o qual age como um ressonador ou filtro que modifica e modula os sons gerados pelas
pregas vocais.
As características acústicas dos sons, por sua vez, são determinadas por dois fatores, o próprio
funcionamento das pregas vocais e o trato vocal. A fonte glótica (pregas vocais), através de sua vibração,
fornece a matéria – prima para a produção da fala, básica na produção das vogais. Este som é gerado ao
nível da glote com uma intensidade muito baixa e é composto pela frequência fundamental da onda sonora
e seus harmônicos. Todavia, o som glótico não fica restrito à glote, mas propaga pelo trato vocal o qual
modificará este som básico através da ressonância (BEHLAU, AZEVEDO e MADAZIO, 2001).
A emissão da voz consiste do sinergismo funcional dos cinco sistemas anatômicos: pulmonar
(pulmão, parede torácica e diafragma), sistema de produção (laringe), articulatório (língua, lábios, mandíbula,
palatos e dentes), sistema de ressonância (laringe, faringe, boca, nariz e seios paranasais) e sistema nervoso
(BRAGA, OLIVEIRA e SAMPAIO, 2009).
A intensidade vocal está ligada diretamente à pressão subglótica (abaixo da glote) da coluna aérea.
A voz pode ser avaliada de forma subjetiva (avaliação percetivo-auditiva) e/ou objetivamente com auxílio
de equipamentos de análise acústica. A análise acústica permite determinar o número, a frequência e a
amplitude (intensidade) das vibrações que constituem um som complexo. Os parâmetros vocais acústicos
de maior importância para uso clínico são as medidas de ruído, perfil de extensão vocal, espectrografia
acústica e a frequência fundamental (WERTZNER, SCHREIBER e AMARO, 2005).
Para a prática do Pilates, utilizam-se seis princípios chaves, que são: concentração, controle,
precisão, fluidez do movimento, respiração e centro de força. (LOSS et al., 2010). Por consequência, a
maioria dos exercícios possibilita a ativação muscular da região abdominal e tronco (SOUZA et al., 2012).
Estudos revelam que movimentos adequados do tronco estimulam e ampliam a entrada e a saída de ar dos
pulmões. (LATEY, 2001).
A respiração no Pilates se distribui em três planos principais: anterior-posterior, lateral e superiorinferior que devem ser realizados simultaneamente com o exercício (LATEY, 2001).
A performance cardiorrespiratória tem sido avaliada pela capacidade do organismo de captar,
transportar e utilizar o oxigênio proveniente do ar atmosférico (MCARDLE, KATCH, e KATCH, 1998). Estudos
revelam que a prática de exercícios físicos, através do aumento da ativação e da densidade capilar dos
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músculos respiratórios, influencia no desenvolvimento dessa capacidade (KRAEMER e RATAMESS, 2004).
Os métodos do Yoga e Pilates utilizam a respiração como principal aliada na realização das suas
práticas, sendo ela coordenada e trabalhada em paralela aos exercícios. A respiração no Yoga se dá de
maneira costo-diafragmática, com movimentos profundos de inspiração e expiração em todos os exercícios
(KUPFER, 2001). No Pilates, a respiração depende do tipo de movimento a ser executado, o que ocasiona
numa variação tanto da frequência cardíaca quanto da amplitude respiratória (LOSS et al., 2010).
Sendo a voz, um mecanismo dependente da ação dos músculos respiratórios para a sua produção,
surgiu a necessidade de verificar se há influência das metodologias desenvolvidas nos treinamentos de Pilates
e Yoga, ambos intimamente relacionados com a respiração, causam um efeito de melhora na qualidade
vocal através de seus programas de exercícios.
METODOLOGIA
Sujeitos
O presente estudo tem caráter transversal e comparativo, tendo sido realizado com mulheres adultas
saudáveis, com idade entre 20 e 40 anos, que pelo menos há 3 meses estão praticam pilates ou yoga, ou
são sedentárias.
Participaram 30 mulheres adultas entre 20 e 40 anos que foram divididas em três grupos de dez: grupo
de treinamento de Yoga (TY); grupo de treinamento de Pilates (TP) e grupo de controle (GC). Os treinamentos
e as avaliações foram realizados na academia “Tekné Studio de Pilates”, de onde foram recrutados os sujeitos
dos grupos TY e TP, que se exercitavam em sessões de uma hora, duas vezes por semana; e na Universidade
Federal de Santa Catarina com estudantes e funcionários recrutados para o GC.
Foram considerados critérios de exclusão indivíduos do sexo masculino, pessoas que realizassem
outras atividades, tabagistas, ou que possuíssem algum comprometimento pulmonar comprovado (asma,
bronquite, DPOC, etc.)
A pesquisa foi aprovada pelo comitê de ética da instituição. Todas as participantes foram informadas
dos procedimentos e assinaram termo de consentimento livre e esclarecido.
Instrumentos
Os instrumentos utilizados foram: espirômetro de barness; Software Praat5348; microfone
unidirecional C3Tech gamer pterodax stereo® para a emissão da vogal sustentada /a/ com objetivo de obter
a frequência fundamental e tempo máximo de fonação.
Procedimentos
Inicialmente, os sujeitos realizaram a emissão sustentada da vogal /a/ em uma intensidade e altura
confortáveis, utilizando o microfone unidirecional conectado ao computador registrando o procedimento.
Com essa variável, foi medido o tempo máximo no qual foi realizada essa emissão juntamente com a
frequência fundamental (f0 em Hz) que será calculado através do programa Praat5348 e comparado com
o padrão de normalidade.
A segunda avaliação verificou a capacidade vital de cada indivíduo, através da utilização do
espirômetro de Barness. As voluntárias permaneceram sentadas, com o bucal acoplado à boca (com um
clip nasal para não haver escape de ar) e na altura da embocadura do tubo do aparelho. Foi solicitado uma
longa inspiração seguida da expiração máxima pelo bucal, e foi medida a elevação da coluna de metal
provocada pela força do ar expirado. O procedimento foi realizado três vezes, o maior valor registrado.
O Índice de Massa Corporal foi calculado por meio da fórmula: IMC = massa (kg)/altura2(m), e
classificado de acordo com os pontos de corte estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).
Análise Estatística
Os resultados obtidos entre capacidade vital com tempo máximo de fonação; capacidade vital
com frequência fundamental; tempo máximo de fonação com frequência fundamental foram analisados
por meio do software de análise estatística Statistical Package for Social Science for Windows (SPSS). Para
avaliar a normalidade foi utilizado o teste de Shapiro-Wilk. Para correlacionar as variáveis CV, TMF e f0
foram utilizados o teste de Correlação de Pearson, por grupos. Para a comparação entre os grupos de TP,
TY e TC sobre cada variável (CV, TMF e f0) foi aplicado a análise de variância simples ANOVA Oneway
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seguido do teste Post Hoc Bonferroni.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
A amostra contendo 30 sujeitos do sexo feminino de 20 a 40 anos apresentou IMC com média
22,28 kg/m² desvio-padrão ± 1,80. Foi dividida em 3 grupos de 10 sujeitos: TP, TY e GC.
O teste de Shapiro-Wilk, obteve valor R significante (p>0,05) em todos os grupos: TP, TY e GC para
todas as variáveis: Capacidade Vital (CV), Tempo máximo de fonação (TMF) e Frequência fundamental (f0).
O teste de correlação de Pearson foi positivo em todos os grupos para as variáveis TMF com CV
(figuras 1 e 2). Nos grupos TP e GC a correlação foi positiva e forte, sendo no GC mais forte de todas. No
grupo TY a correlação foi positiva e moderada. A frequência fundamental não foi representada por não ter
valor de correlação significante com nenhuma variável.
A CV e o TMF entre os grupos TP e TY não obteve valores significantes de comparação para a
pesquisa (figuras 3 e 4). Entre os grupos TY e GC houve diferença significativa. Os sujeitos que praticam
exercícios (TY) com valores superiores aos sujeitos que não praticam (GC).
Os resultados, a seguir, são apresentados sob a forma de figuras.
Figura 1: Relação entre Capacidade Vital e Tempo máximo de Fonação.
Figura 2: Relação entre Capacidade Vital e Tempo máximo de Fonação.
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Figura 3: Capacidade Vital entre os grupos.
Figura 4: Tempo Máximo de Fonação entre os grupos.
As 30 mulheres da pesquisa obtiveram para a frequência fundamental (f0) uma média de 201,35 Hz
devio-padrão ± 27,61 com os valores individuais respeitando o padrão de normalidade (de 150 a 250 Hz para
mulheres). A f0 não obteve nenhuma correlação com as outras variáveis (TMF e CV) servindo como mais uma
base de homogeneização do grupo e de caracterização da normalidade. No estudo realizado com um grupo
de 20 mulheres entre 20 e 40 anos (CIELO et al., 2011) que possuía ou não comprometimento vocal, o grupo
que não obteve valores médios de frequência de 200,11 Hertz corroborando com os resultados obtidos nessa
pesquisa. De acordo com Behlau, Azevedo e Madazio (2001) a frequência fundamental é um importante
parâmetro na avaliação anatômica e funcional da laringe e é determinada pelo número de ciclos que as
pregas vocais realizam por segundo. Esta medida é o resultado da interação entre o comprimento, massa e
tensão das pregas vocais durante a fonação. Dentre os parâmetros acústicos, a frequência fundamental tem
se mostrado o mais consistente parâmetro entre diferentes sistemas de análise acústica. Os valores normais
são de 80 a 150 Hz para os homens, 150 a 250 Hz para as mulheres e acima de 250 Hz para as crianças.
Os valores médios de TMF nos grupos foram: 15,5 segundos (devio-padrão ± 1,84 s) para TP; 16,5
segundos (desvio-padrão ± 1,77 s) para TY; 13,8 segundos (desvio-padrão ± 2,14 s) para GC. Ilustrando
a diferença entre a influência da prática ou não de exercícios físicos sobre o TMF. Sendo os dois grupos
que praticam exercícios físicos com valores mais elevados de TMF do que o grupo sedentário. O Tempo
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Máximo de Fonação (TMF) é um teste objetivo amplamente utilizado na avaliação clínica da fala e da voz,
o qual fornece informações a respeito do suporte respiratório e da eficiência glótica, além do controle
neuromuscular e aerodinâmico da produção vocal de um indivíduo (BEHRMAN, 2005). A medida dos TMF
indica a eficiência da coordenação laríngea e respiratória (MENDES e CASTRO, 2005) fornecendo dados
sobre a dinâmica vocal e máximas capacidades vocais (ANSARI, BAKHTIAR e DEHQAN, 2010). O valor da
medição do TMF é obtido através de sustentação vocal do som da fala vozeado ou não vozeado de forma
prolongada em uma só expiração (PINHO, 2003). Para falantes do português do Brasil (experiência com
falantes da cidade de São Paulo) considera-se uma média de 20 segundos (s) para os homens e 14s para as
mulheres. Valores abaixo de 10 segundos demonstram comprometimento no suporte respiratório (BEHLAU,
AZEVEDO e MADAZIO, 2001).
Os valores obtidos na pesquisa de correlação entre TMF e CV foram relevantes e de acordo com a
literatura, sendo em todos os grupos uma relação variando de moderada a forte. Para os grupos de TP e GC
a CV possui forte influência positiva sobre a variância do TMF e moderada influência positiva no TY (figuras
1 e 2). A respiração está intrinsecamente relacionada à Capacidade Vital e esta à coordenação pneumofonica
na qual é representada pelas medidas de TMF.
Estes dados vão ao encontro da literatura que afirma que, para a produção da fonação máxima (TMF),
o indivíduo utiliza sua CV para sustentar a emissão pelo maior tempo possível (BEHLAU, 2008). Como o
sistema respiratório funciona como ativador da voz, qualquer comprometimento da função ventilatória pode
exercer um efeito direto sobre a fala e a voz (intensidade, altura e qualidade) (PINHO, 2003). A correlação
entre CV e TMF verificada neste estudo, também corrobora a idéia de EDGAR (2008) de que a duração da
fonação em uma laringe intacta, teoricamente reflete a função pulmonar do indivíduo.
Estudos mostram que a prática de dois meses de Yoga possibilita uma diminuição da frequência
respiratória de repouso. Acredita-se que o estímulo repetitivo sobre mecanorreceptores localizados nos
pulmões ou nos músculos respiratórios, através de respirações amplas, poderia levar a um mecanismo de
habituação, com redução da informação aferente aos centros respiratórios (STANESCU et al., 1981). No mesmo
período de prática, evidenciou-se o aumento da expansibilidade torácica que foi atribuído aos padrões de
movimento e postura envolvidos na prática da Yoga, que vão desde a realização de manobras respiratórias
lentas e profundas, até posições que propiciam o alongamento muscular e a mobilização de articulações
envolvidas na mecânica respiratória (COELHO et al., 2011).
Corroborando com a literatura, as CV dos grupos de TP e TY foram maiores do que as do GC, com
média de 2640ml (desvio-padrão ±419,52ml), 2960ml (desvio-padrão ±287,51) e 2365ml (devio-padrão
323,22ml) respectivamente. Os valores de normalidade da CV variam de 2.100ml a 3.300ml para adultos
do sexo feminino no espirômetro de Barness (MIGLIORANZI, CIELO e SIQUEIRA, 2011), valores de CV
inferiores a 2.100ml são insuficientes para cumprir com eficácia a função fonatória (BEHLAU, 2008).
A capacidade vital é uma medida da capacidade global de uma pessoa de inspirar e expirar o ar,
e seu valor pode ser determinado, por dois fatores principais: a potência dos músculos respiratórios e a
resistência da parede torácica e dos pulmões para a expansão e para a contração. Ou seja, é a troca/variação
do volume pulmonar entre os pontos de esforço inspiratório máximo, seguido, imediatamente, por esforço
expiratório, igualmente máximo (SOUCHARD, 1989).
As figuras 3 e 4 ilustram a comparação das variáveis CV e TMF, respectivamente, entre os grupos de
TP, TY e GP. Apesar de não haver grau de significância suficiente no TP sobre TY e GC, pode-se perceber
que este possui valor elevado comparado ao GC nas duas variáveis. A provável diferença entre o grupo TP
ter valores menores do que o grupo TY na CV e TMF é devido às realizações da prática dos mantras no Yoga,
que são emissões de sons controlados pela respiração nos momentos iniciais e finais da prática de meditação
(KAMINOFF e MATTHEWS, 2008). No TY encontram-se valores com significância (p<0,05) em ambas as
variáveis sobre o GC, ilustrando a diferença e o aumento delas sobre quem pratica exercícios físicos ou não.
CONCLUSÃO
Tanto o Pilates quanto a Yoga apresentaram relação positiva com capacidade vital e o tempo máximo
de fonação, que são consideradas medidas da qualidade vocal.
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