clínica de espécies pecuárias

Transcrição

clínica de espécies pecuárias
CLÍNICA DE ESPÉCIES PECUÁRIAS
Relatório Final de Estágio
Licenciatura em Medicina Veterinária
RUI FILIPE MARTINS SOUSA
UNIVERSIDADE DE TRÁS-OS-MONTES E ALTO DOURO
VILA REAL, 2007
Júri de Apreciação
Presidente:
1º Vogal:
2º Vogal:
Classificação:
Data:
/
/
ii
“As doutrinas apresentadas no presente trabalho
são da exclusiva responsabilidade do autor.”
iii
O Aluno,
__________________________________
(Rui Sousa)
O Orientador,
__________________________________
(Dr. João Vidal)
O Coordenador,
__________________________________
(Prof. Dr. João Simões)
iv
Ao meu pai
v
AGRADECIMENTOS
Ao Dr. João Vidal, por todos os ensinamentos transmitidos, pela sua atitude e postura
na vida sempre correctas, que se tornaram num exemplo para mim.
Ao Prof. Dr. João Simões, por ter aceitado coordenar este estágio, pela sua
disponibilidade, ajuda e liberdade que proporcionou no desenvolvimento deste relatório.
Ao Dr. José Henriques, pela sua boa disposição e simpatia.
Ao Darcy, pelo companheirismo.
Ao André, Cuni, Requicha, e Sara pela grande amizade e pelos bons momentos que
passamos juntos.
Ao Maritos, pela pessoa que é e por tudo aquilo que me ensinou. Será sempre uma
referência na minha vida.
À Nala, por estar sempre presente e por todo o apoio que me deu. Nunca te esquecerei.
À minha família, porque são as pessoas que mais adoro.
Ao meu Pai, que está sempre comigo.
E por fim… a todos os que de alguma forma me ajudaram ao longo do meu percurso
pessoal e profissional.
A todos o meu Muito Obrigado
vi
Lista de siglas e abreviaturas
% – Percentagem
UTAD – Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
AASM – Associação Agrícola de São Miguel
Km – Quilómetro
Km2 – Quilómetro quadrado
m - Metro
mm – Milímetro
kg - Quilograma
g – Grama
DAE – Deslocamento do abomaso à esquerda
DAD – Deslocamento do abomaso à direita
ºC – Graus centígrados
IBR – Rinotraqueite Infecciosa Bovina
BVD – Diarreia Vírica Bovina
LBE – Leucose Bovina Enzoótica
BSE – Encefalopatia Espongiforme Bovina
PIs – Permanentemente Infectados
TGI – Tracto Gastrointestinal
HEB – Hematúria Enzoótica Bovina
FSH – Hormona Folículo-Estimulante
mg – Miligrama
TCM – Teste Californiano de Mamites
BVP – Papiloma Vírus Bovino
QIB – Queratoconjuntivite Infecciosa Bovina
S.D.A.S.M. – Serviços de Desenvolvimento Agrário de São Miguel
GnRH – Hormona libertadora de Gonadotropina
hCG – Gonadotropina Coriónica Humana
LH – Hormona Luteinizante
AGV – Ácidos Gordos Voláteis
vii
ÍNDICE
1- INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 1
2- A ILHA DE SÃO MIGUEL: A BOVINICULTURA LEITEIRA ............................... 2
2.1- Caracterização da ilha ........................................................................................... 2
2.1.1- Caracterização geográfica .............................................................................. 2
2.1.2- Caracterização do solo, pastagens e emparcelamento .................................... 3
2.1.3- Caracterização do clima ................................................................................. 5
2.1.4 – Caracterização sócio – económica ................................................................ 6
2.2 – O efectivo pecuário .............................................................................................. 7
2.2.1 – Caracterização das explorações pecuárias .................................................... 7
2.2.2 - Maneio ........................................................................................................... 8
2.2.2.1 – Maneio do parto e dos recém – nascidos ............................................... 8
2.2.2.2 – Maneio das novilhas .............................................................................. 9
2.2.2.3 – Maneio reprodutivo ............................................................................. 10
2.2.2.4 – Maneio das vacas secas ....................................................................... 11
2.2.2.5 – Maneio das vacas em lactação ............................................................. 12
2.2.2.6 – Ordenha ............................................................................................... 12
2.2.3 – Estado sanitário do efectivo ........................................................................ 13
a) Brucelose .................................................................................................... 14
b) Leucose Bovina Enzoótica (LBE) .............................................................. 15
c) Tuberculose ................................................................................................ 16
d) Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE) ............................................... 17
e) Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) ...................................................... 17
f) Diarreia Vírica Bovina (BVD) .................................................................... 18
g) Eczema Facial (Fotossensibilidade) ........................................................... 18
h) Hematúria Enzoótica Bovina (HEB) .......................................................... 19
i) Paratuberculose ........................................................................................... 19
j) Fasciolose .................................................................................................... 20
Breve comentário ao Plano Global de Sanidade ............................................ 21
Leptospirose ................................................................................................... 22
2.3 – Associação Agrícola de São Miguel .................................................................. 23
2.3.1 – Serviços médico veterinários ...................................................................... 23
2.3.2 – Serviço de inseminação e transferência de embriões ................................. 24
2.3.3 – Outros serviços e produtos ......................................................................... 25
2.4 – Futuro da lavoura nos Açores ............................................................................ 26
3- CASUÍSTICA: DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO ......................................................... 28
3.1- Introdução ........................................................................................................... 28
3.2.1 - PELE, CASCOS E GLOBO OCULAR ...................................................... 30
3.2.1.1 - Papilomatose ........................................................................................ 30
3.2.1.4 – Queratoconjuntivite infecciosa bovina (QIB) ..................................... 34
3.2.2 - SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO ................................................... 36
3.2.2.1 - Parésia pós-parto por compressão dos nervos periféricos .................... 36
3.2.3 - APARELHO DIGESTIVO ......................................................................... 38
3.2.3.1 - Diarreias em jovens .............................................................................. 38
3.2.3.2 - Deslocamento de abomaso ................................................................... 41
3.2.4 - APARELHO RESPIRATÓRIO .................................................................. 42
3.2.4.1 - Pneumonia em vitelos .......................................................................... 42
3.2.5 – APARELHO CARDIOVASCULAR ......................................................... 44
3.2.5.1 – Flebite .................................................................................................. 44
viii
3.2.6 –GLÂNDULA MAMÁRIA .......................................................................... 45
3.2.6.1 – Mamites ............................................................................................... 45
3.2.6.2 – Obstrução/hiperqueratose do canal do teto .......................................... 47
3.2.7 – APARELHO UROGENITAL .................................................................... 48
3.2.7.2 – Hematúria Enzoótica Bovina (HEB) ................................................... 50
3.2.7.3 – Inactividade ovárica/Quistos ováricos ................................................. 51
3.2.8 – DESIQUILÍBRIOS METABÓLICOS ....................................................... 52
3.2.8.1 – Hipocalcemia ....................................................................................... 52
3.2.8.2 - Acetonémia........................................................................................... 54
3.2.9 – OUTROS .................................................................................................... 56
3.2.9.1 – Fotossensibilidade ............................................................................... 56
3.2.9.1.1 – Phitomicotoxicose (Eczema facial) .............................................. 57
3.2.9.1.2 – Intoxicação por Lantana camara ................................................... 58
3.2.9.1.3 – Intoxicação crónica por nitratos ................................................... 58
3.2.9.2 - Ataque por cães .................................................................................... 60
ix
ÍNDICE DE FIGURAS
Figura 1 – Localização do arquipélago dos Açores. ......................................................... 2
Figura 2 – Mapa da ilha de São Miguel............................................................................ 3
Figura 3 – Vista geral sobre as pastagens. ........................................................................ 4
Figura 4 – Novilhas criadas em regime de pastoreio exclusivo. ...................................... 9
Figura 5 – Sistema móvel de ordenha mecânica. ........................................................... 13
Figura 6 – Papiloma cutâneo. ......................................................................................... 31
Figura 7 – Artrite séptica distal. ..................................................................................... 33
Figura 8 – Carcinoma da 3ª pálpebra.............................................................................. 33
Figura 9 – Queratoconjuntivite infecciosa bovina. ......................................................... 35
Figura 10 – Aspecto da diarreia provocada por E.coli. .................................................. 39
Figura 11 – Vitelo com diarreia. ..................................................................................... 40
Figura 12 – Morte de um vitelo após pneumonia. .......................................................... 43
Figura 13 – Vaca com retenção placentária.................................................................... 50
Figura 14 – Fluidoterapia a um animal com hipocalcemia. ........................................... 54
Figura 15 – Fotossensibilização. .................................................................................... 56
Figura 16 – Lantana camara. ......................................................................................... 58
Figura 17 – Teste difenilamina positivo. ........................................................................ 59
INDICE DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Percentagem de casos por Aparelho/Sistema. ............................................. 28
Gráfico 2 – Números de casos por Aparelho/Sistema. ................................................... 29
Gráfico 3 – Afecções observadas na pele, cascos e globo ocular................................... 30
Gráfico 4 – Afecções observadas no Sistema Músculo-esquelético. ............................. 36
Gráfico 5 – Afecções observadas no Sistema Digestivo. ............................................... 38
Gráfico 6 – Afecções observadas no Aparelho Respiratório. ......................................... 42
Gráfico 7 – Afecções observadas no Aparelho Cardiovascular. .................................... 44
Gráfico 8 – Afecções observadas no Aparelho Mamário. .............................................. 45
Gráfico 9 – Afecções observadas no Aparelho Urogenital. ........................................... 48
Gráfico 10 – Afecções observadas com origem em desequilíbrios metabólicos. .......... 52
Gráfico 11 – Afecções de várias origens. ....................................................................... 56
x
1- INTRODUÇÃO
O presente relatório refere-se ao estágio curricular da licenciatura em Medicina
Veterinária da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), cuja parte
prática foi realizada em São Miguel (Açores) no período compreendido entre 2 de
Outubro de 2006 e 2 de Fevereiro de 2007.
O orientador de estágio foi o Dr. João Vidal, médico veterinário responsável pelos
serviços veterinários da Associação Agrícola de São Miguel (AASM), cuja área de
trabalho abarca toda a bacia leiteira de Ponta Delgada, sendo o serviço feito em regime
ambulatório.
A escolha do estágio na área clínica dos bovinos leiteiros, em São Miguel, deveuse ao facto de eu ser natural da ilha, convivendo desde cedo com a produção
agropecuária e, também, pelo facto da bovinicultura desempenhar (ainda) um papel
económico e social importante na região.
Os principais objectivos deste estágio foram a sedimentação dos conhecimentos
teórico-práticos adquiridos ao longo do curso e uma melhor integração na actividade
profissional através do contacto com a realidade do trabalho, permitindo assim novas
perspectivas sobre a abordagem clínica dos efectivos bovinos leiteiros e uma melhor
preparação para o futuro.
Tentámos expressar ao longo do texto, para além da vertente técnico-científica, a
realidade vivida e sentida pelos produtores, associações, veterinários e outros
interlocutores da fileira produtiva de leite.
Pelos motivos acima referidos, optámos durante a descrição da casuística proceder
à discussão das patologias mais representativas ou daquelas que pelas suas
particularidades nos mereceram destaque.
1
2- A ILHA DE SÃO MIGUEL: A BOVINICULTURA LEITEIRA
2.1- Caracterização da ilha
2.1.1- Caracterização geográfica
Os Açores são uma região ultraperiférica portuguesa, situada no Oceano Atlântico
(Hemisfério Norte), distando cerca de 1500 quilómetros (km) do continente Europeu e
aproximadamente 3900 km do continente Norte-americano (Figura 1).
Figura 1 – Localização do arquipélago dos Açores.
A ilha de São Miguel é a maior das nove ilhas do arquipélago, apresentando uma
superfície de 746,82 km² (Figura 2), com 90 km de comprimento, 15 km de largura
máxima e 8 km de largura mínima. 37
2
Figura 2 – Mapa da ilha de São Miguel.
Tal como as restantes ilhas do grupo Oriental e Central, São Miguel encontra-se
sobre a intersecção da falha Açores – Gibraltar com o rifte médio do Atlântico, sendo
uma ilha de origem vulcânica resultante da acumulação de materiais de erupções
ocasionadas pelo movimento das placas continentais Africana, Americana e EuroAsiática ocorridas ao longo dos tempos. 5
A ilha é composta por dois maciços vulcânicos separados por uma cordilheira
central de baixa altitude, resultando assim uma paisagem com declives acentuados, o
que por vezes dificulta o acesso às explorações e o trabalho agrícola.
2.1.2- Caracterização do solo, pastagens e emparcelamento
O facto de São Miguel ser uma ilha de origem vulcânica recente, leva a que os
solos sejam constituídos por camadas de rocha consolidada (os tipos de rocha
predominantes são os basaltos alcalinos e oceânicos resultantes da solidificação das
lavas, intercaladas entre formações piroclásticas) e sejam inclinados, o que origina o
aparecimento de uma elevada proporção de solos não aráveis.
São solos ricos em húmus de pouca profundidade e de espessura variável. O pH é
geralmente baixo, com um valor médio de 6, acentuando-se a acidez nas zonas de maior
altitude.
Em geral, os terrenos agrícolas de São Miguel são classificados como ligeiros,
com uma textura franco – arenosa a franco – argilosa e capacidade de campo média.
3
Como noutras regiões vulcânicas, os solos são muito ricos em potássio (embora
boa parte esteja numa forma não utilizável pelas plantas) e muito deficitários em
fósforo, cálcio e, em menor escala, em magnésio.
Em termos de microelementos, estudos indicam falhas em selénio (das mais
problemáticas), zinco, cobre, cobalto e iodo. O excesso de ferro que existe pode
interferir na absorção de cobre e zinco.5
Paisagisticamente pode-se dividir a ilha em três zonas. A zona costeira é o estrato
mais quente, apresenta baixa altitude e é ocupada essencialmente pelo Homem. A zona
intermédia é onde é praticada a maior parte da agricultura, marcada pela pastagem e
muita humanização (caminhos agrícolas, abastecimento de água e electricidade, …). A
zona central é onde a acção do Homem é menos marcada e a bovinicultura é mais
extensiva.
Cerca de 90 % da superfície agrícola útil de São Miguel é ocupada por pastagens e
devido às características climáticas da região (Figura 3), o crescimento da erva é
contínuo ao longo do ano, havendo geralmente períodos de carência nos meses de
Dezembro, Janeiro e Fevereiro nas zonas altas e nos meses de Julho e Agosto nas zonas
baixas.
Figura 3 – Vista geral sobre as pastagens.
Cerca de 90 % dos pastos são compostos por azevém regional (especialmente
resistente às puccinias – fungo vermelho que destrói as folhas), havendo também trevo
branco de variedade australiana (Trofolium repens), havendo pouca quantidade de poa. 8
As pastagens são suplementadas com adubos compostos uma vez por ano na altura da
4
sementeira (na Primavera em pastagens de altitude e no Outono nas pastagens de baixa
altitude), seguidas de adubações com azoto (azoto nítrico) após cada corte de erva.
Apesar de haver um grande número de pastagens destinadas à pecuária, tem-se
verificado um acréscimo da área destinada à cultura de milho forrageiro para a produção
de silagem que vai servir de complemento alimentar do gado bovino.
A superfície média ocupada por exploração é de 8 hectares, divididos em média
por 4 blocos. (Dados dos Serviços de Desenvolvimento Agrário de São Miguel SDASM). Apesar de estes valores médios serem muito generalistas, pode-se através
deles verificar-se uma importante característica da pecuária micaelense, que é o da
divisão da exploração por vários blocos, chegando alguns a encontrar-se em partes
distintas da ilha. Assim, pastagens de pequena dimensão e a dispersão das propriedades
são características estruturais que pesam negativamente no desenvolvimento tanto da
pecuária como das culturas agrícolas, já que dificulta a mecanização e o transporte,
aumentando os custos de produção. Porém, a tendência dos últimos anos é para um
emparcelamento progressivo, apesar de lento.
2.1.3- Caracterização do clima
O arquipélago dos Açores é caracterizado por um clima temperado húmido. Isto
acontece devido ao anticiclone subtropical do Atlântico Norte (com a sua
movimentação constante), à influência variável das massas de ar tropical marítimo e
polar, à passagem da corrente marítima quente do golfo do México e a relevo muito
forte das ilhas. 38
Assim, o clima açoriano é caracterizado por temperaturas amenas, elevada
humidade relativa do ar, céu geralmente encoberto mas com fraca nebulosidade e uma
pluviosidade regularmente distribuída ao longo do ano, embora o período entre
Setembro e Março seja um período predominantemente chuvoso. Isto acontece porque
durante estes meses, o anticiclone dos Açores encontra-se mais a Sul e com menor
intensidade, havendo uma passagem frequente de perturbações depressionárias
associadas á frente polar. Nos restantes meses, a influência do anticiclone é maior e há
menos períodos de chuva. 38
A precipitação anual é superior a 3000 milímetros (mm) nas zonas altas e menor
que 1000 mm no litoral. E como a precipitação é relativamente constante ao longo do
5
ano e devido à elevada humidade do ar, não é necessário o uso de sistemas de rega nos
terrenos.
Em São Miguel, a temperatura média anual (1961-1990) variou entre 9 graus
centígrados (ºC) no Pico da Vara (o ponto mais alto da ilha com 1105metros (m)) e 17
ºC junto á orla costeira. No Inverno e nos mesmos pontos (Pico da Vara e orla costeira),
a média da temperatura mínima foi de 4 ºC e 11 ºC respectivamente, enquanto que no
Verão a média das temperaturas máximas foi de13 ºC e 23 ºC.
38
São portanto
temperaturas moderadas, não havendo uma grande amplitude térmica ao longo do ano.
A variação da humidade relativa é quase directamente proporcional á variação da
temperatura d ar e ronda em média os 75 %, oscilando normalmente entre os 65 % e os
90 %. 38
Com o aumento da altitude, há uma diminuição dos valores de temperatura e um
aumento da humidade relativa, dando origem á formação quase permanente de nuvens a
partir dos 900 m de altitude. Assim, e principalmente devido à altitude, é curioso
verificar que pode estar a chover num ponto da ilha e estar céu limpo noutro.
2.1.4 – Caracterização sócio – económica
A ilha de São Miguel está administrativamente dividida nos concelhos de Ponta
Delgada, Lagoa, Vila Franca do Campo, Povoação, Nordeste e Ribeira Grande, que
compreendem 128 freguesias onde habitam num total de 131 609 pessoas. A taxa de
analfabetismo em 2001 era de 9,4 %. 39
Uma das principais actividades económicas da ilha é a pecuária (e
maioritariamente a produção leiteira), mas nos últimos anos a economia regional tem
crescido sobretudo devido ao sector terciário – 73 %. A contribuição do sector
secundário é de 17 % e a do sector primário fica-se pelos 10 %. 39 Assim, o turismo
continua em franca ascensão e tem sido uma actividade na qual o governo regional tem
apostado para o desenvolvimento da região, nomeadamente com incentivos ao turismo
de habitação, ao agro-turismo e ao turismo rural.
Em 2004, da totalidade da população activa na região, cerca de 12,1 % estava
empregada no sector primário
39
mas este número parece no entanto estar a descer
progressivamente, porque as dificuldades sentidas no sector tem vindo a aumentar
visivelmente todos os anos, nomeadamente com o aumento dos custos de produção e
6
como o preço do leite não acompanha esta subida, os rendimentos obtidos são cada vez
menores.
A agricultura ocupa 81 % do sector primário, 84 % da qual corresponde á
pecuária, com a maioria desta dedicada á bovinicultura. A idade média do agricultor
açoriano é de 55anos, sendo o nível de alfabetização baixo (em média a 4ª classe)
(dados dos SDASM).
Os Açores possuem 102 000 vacas leiteiras, correspondendo a 31,5 % do total do
país, e destas, 58 % encontram-se em São Miguel. Assim, a Região é ainda responsável
por 25 % da produção leiteira nacional, sendo a quota leiteira atribuída aos produtores
de leite açorianos durante a campanha dos anos de 2005/2006 de 507 000 000 quilos
(kg), acrescida de 23 000 000 kg correspondente ao auto consumo, perfazendo um total
de 530 000 000 kg. Até Novembro de 2006, já tinha sido entregues nas fábricas de
lacticínios 469 995 900 kg de leite. 40
A carne de bovino é também a mais abatida dos Açores, com um registo de 7504
toneladas até Novembro de 2006
40
(cerca de 8 % do total nacional).
2.2 – O efectivo pecuário
2.2.1 – Caracterização das explorações pecuárias
O número de animais existentes numa exploração é variado. Num total de 1711
produtores inscritos no POSEIMA (programa de acções especificas para fazer face à
insularidade das Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira), o número de vacas
inscritos por produtor varia entre 1 e 350 animais, sendo a média de vacas leiteiras por
exploração de 24 animais. O tipo de exploração pode ser geralmente considerado de
semi – extensivo.
A raça Frísia é a predominante, havendo actualmente um pequeno nicho de
produtores a apostar, em pequena escala, na incorporação da raça Jersey nas suas
manadas porque são animais que se adaptam melhor a pastagens altas e inclinadas
devido ao seu baixo peso e estatura, necessitando por isso de uma menor quantidade de
alimentos. Por vezes é usado para cruzar com vacas com bacias muito estreitas, já que
as crias são pequenas.
7
Relativamente às dimensões das explorações, estas são maioritariamente
pequenas, fragmentadas e dispersas, sendo a superfície agrícola, utilizada por
exploração, de 8 hectares em média. (dados dos SDASM). Os diferentes blocos podem
ser utilizados para a produção de erva/milho e posterior silagem, ou então para pastoreio
dos animais, geralmente do tipo rotacional em faixas, utilizando-se fio eléctrico para a
delimitação das mesmas.
Assim, e com excepção das maiores, cada exploração possui diversas parcelas, e
essa falta de emparcelamento, além de ser um grande entrave a uma eficiente
mecanização e modernização (por exemplo, na construção de salas de ordenha fixas), é
também um factor que contribui para aumentar os custos de produção (principalmente
com despesas de transporte). Além disso, é um factor negativo para o bem-estar animal,
se tivermos em consideração que, periodicamente, os animais são mudados de
pastagem, podendo originar, entre outros, problemas podais.
Actualmente, observa-se uma tendência crescente para o emparcelamento, através
da aquisição de terrenos adjacentes, incentivada por subsídios do governo específicos
para o efeito.
2.2.2 - Maneio
2.2.2.1 – Maneio do parto e dos recém – nascidos
Os produtores estão geralmente atentos à aproximação do parto das suas vacas,
tentando estar presentes na altura do mesmo. Estas parem no pasto, junto com as vacas
em lactação. No entanto, acontece ainda com alguma frequência que o vitelo seja
puxado com alguma violência, não dando o devido tempo ao animal para fazer a
dilatação uterina adequada e com consequências nefastas não só para a vaca mas
também para o recém – nascido (lacerações uterinas, fracturas dos metacarpos, …).
Embora algumas explorações não estejam indemnes de brucelose, os trabalhadores
raramente tomam os cuidados necessários para se protegerem contra uma eventual
infecção.
Os vitelos são separados da mãe á nascença ou ao segundo dia, para que mamem o
colostro directamente, mas existem alguns casos em que este não é fornecido aos
vitelos. Por esta razão, os viteleiros que compram os jovens machos aos produtores para
8
recria de engorda, apenas aceitam vitelos com um mínimo de 6dias de idade e sem
nenhuma patologia aparente.
As vitelas recém – nascidas ficam normalmente na exploração para futura
substituição das vacas velhas e são criadas até ao desmame (que ocorre por volta dos 2
meses) em grupo no estábulo ou em pastagens, onde ficam presos por correntes. A sua
alimentação consiste principalmente em leite rejeitado da ordenha, leite em pó,
pastoreio directo, acesso a erva de rolo (silagem ou fenossilagem) e por vezes
concentrado.
Infelizmente são raros os produtores que optam pela vacinação dos seus animais,
principalmente contra Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) e Diarreia Viral Bovina
(BVD) e um dos erros mais comuns nas explorações é a não separação dos vitelos
doentes dos saudáveis, fazendo assim com que as infecções se espalhem rapidamente.
Também é frequente, principalmente em vitelos com diarreia, não haver água suficiente
à disposição.
2.2.2.2 – Maneio das novilhas
A criação de novilhas após o desmame é geralmente feita em regime extensivo
(Figura 4). Os pastos reservados às novilhas são normalmente os de maior altitude,
maior inclinação e mais expostos a condições climáticas adversas, onde não é prático
manter as vacas em produção. Este sistema de pastagem pode seguir o método de
“estaca” (onde os animais são presos por correntes) ou então as novilhas são deixadas
em liberdade numa faixa de erva delimitada por uma cerca eléctrica, que vai avançando
à medida que o pasto vai escasseando.
Figura 4 – Novilhas criadas em
regime de pastoreio exclusivo.
9
A alimentação consiste apenas na erva da pastagem, não havendo normalmente
qualquer outro suplemento alimentar (forragens ou alimentos compostos).
As novilhas ficam nestas pastagens até ao período peri – parto, altura que vão para
o grupo das vacas em produção para se habituarem à máquina/sala de ordenha.
2.2.2.3 – Maneio reprodutivo
São poucos os produtores que inseminam as suas novilhas, sendo estas
normalmente cobertas por um touro enquanto estão no pasto. Isto acontece porque as
novilhas estão em grupo, em pastagens diferentes do das vacas em produção, não sendo
devidamente acompanhadas para a detecção dos cios. Desta forma é usado o touro de
exploração.
No entanto, é comum as novilhas serem cobertas pelo touro numa altura em que
estas não apresentam as condições corporais adequadas, originando muitas vezes
distócias por desproporções materno-fetais, com problemas na fertilidade futura do
animal. Nas novilhas em que se procede à inseminação, esta ocorre entre os 15 e os 24
meses de idade.
Nas vacas em lactação, há um número cada vez maior de produtores a apostar na
inseminação artificial, representando a AASM um papel importante nesta área. O
período entre o parto e a primeira inseminação é de cerca de 60 dias mas para as vacas
altas produtoras, aconselha-se a sua inseminação 75 dias após o parto, porque nestes
animais, os níveis de prolactina circulantes são maiores, havendo consequentemente
uma menor quantidade de estrogéneos e, portanto, a fertilidade é menor. Assim, devido
ao potencial produtivo dos animais, o intervalo entre partos é actualmente superior a um
ano.
Quando os animais apresentam dificuldades em ficar gestantes, os produtores
recorrem à cobrição natural.
Em alguns casos, já se procede à transferência de embriões, serviço também
disponível na AASM.
No entanto, uma das grandes falhas do maneio reprodutivo é a ausência de
registos. Assim, o médico veterinário é muitas vezes chamado para fazer diagnósticos
de gestação e estimar a sua duração para o proprietário saber quando proceder à
secagem do animal. Por vezes, também é necessário determinar a idade fetal
aproximada quando os animais estão doentes, com o objectivo de escolher a terapeutica
10
adequada ao seu tratamento de forma a não prejudicar o desenvolvimento do feto. A
falta de registos leva também a dificuldades na detenção de problemas de fertilidade e a
gastos supérfluos em inseminação.
2.2.2.4 – Maneio das vacas secas
As vacas secas são separadas das vacas em lactação e confinadas a uma menor
área de pasto.
A sua alimentação deve ser pobre em energia durante os 2/3 do período seco
evitando-se por isso o fornecimento de silagem e farinha de milho, polpa de beterraba e
outros alimentos muito energéticos, porque pode ocasionar uma condição corporal
excessiva que leva à mobilização dos ácidos gordos livres originando o complexo
cetose-lipidose hepática. Então é fornecido essencialmente erva do pasto, silagem de
erva e por vezes algum concentrado.
O período de secagem varia entre os 45 a 60 dias, mas a ausência de registos faz
com que a determinação deste período não seja muito rigorosa. Uma vaca com mais de
quatro lactações, com condição corporal excessiva ou com história de hipocalcemia,
deve ter um período de secagem que varia entre os 40 a 45 dias enquanto que uma
novilha da 1ª lactação ou uma vaca adulta com baixa condição corporal deve ter um
período seco alongado.
Cerca de 10 dias antes do parto, os animais começam a ser levados à máquina de
ordenha, pelo menos uma vez por dia, para assim se habituarem á máquina e à nova
dieta.
A condição corporal nem sempre é determinada, bem como os devidos ajustes na
dieta do animal, fazendo com que alguns cheguem à altura do parto demasiado gordos
ou magros.
De referir, ainda, que muitos tratadores deixam de ordenhar após a aplicação de
uma bisnaga de secagem contendo antibiótico, mas outros passam a tirar o leite de dois
em dois dias, o que é mais prejudicial porque permite o desenvolvimento de agentes
bacterianos patogénicos e originando mamite. Nenhuma ordenha deve ser realizada
após a aplicação destas bisnagas de forma a promover uma boa distribuição e absorção
do antibiótico na glândula mamária.
11
2.2.2.5 – Maneio das vacas em lactação
A generalidade das explorações mantém as vacas em lactação nas suas melhores
pastagens (mais planas e de baixa ou média altitude), em pastoreio directo e delimitadas
em faixas por fios eléctricos.
Nas explorações em que os animais estão sempre no pasto e aí são ordenhados, a
alimentação consiste em erva verde suplementada com concentrado no momento da
ordenha. Em alturas de escassez de erva no pasto, os animais alimentam-se
predominantemente de feno ou silagem de erva e/ou milho.
Nas explorações com sala de ordenha (mais intensivas), apesar dos animais
estarem no pasto quase todo o dia, a alimentação é geralmente composta por uma
mistura de selagem de milho e de erva, entre outros, fornecidos em comedouros,
complementados com concentrado na altura da ordenha. O abastecimento de água é
feito através de autotanques colocados na pastagem.
A suplementação mineral e vitamínica não são prática corrente, embora exista em
alguns casos. O selénio e vitamina E têm sido aplicados sistematicamente em algumas
explorações na altura da secagem, para a prevenção de problemas reprodutivos, visto
que os solos açorianos, têm, entre outras, carências em selénio.
2.2.2.6 – Ordenha
A ordenha é realizada duas vezes por dia. Existem algumas dezenas de
explorações que possuem salas de ordenha fixas, com sistemas de tanque de
refrigeração do leite, mas, na maioria das explorações, os animais são ordenhados no
meio do campo, com recurso a sistemas móveis (Figura 5).
Nestes casos, as máquinas de ordenha não são mudadas de sítio com frequência, o
que faz com que se acumule grande quantidade de lama junto das mesmas, prejudicando
a limpeza dos úberes, aumentando o número de casos de mamite e prejudicando a
higiene da ordenha. Para evitar isso, algumas explorações têm a máquina de ordenha
fixa num piso de cimento, facilitando a limpeza da área.
Relativamente aos hábitos de higiene na ordenha, as pessoas estão conscientes da
necessidade de verificar a existência de mamite e de limpar os tetos, embora muitas
vezes de forma incorrecta. Assim, apesar de a maioria dos produtores mergulharem os
tetos numa solução desinfectante após a ordenha, os tetos são, não raro, lavados com a
12
mesma esponja para todas as vacas, o úbere e tetos não são secos e os primeiros jactos
para a avaliação usual do leite são feitos para dentro da mão, que é passada directamente
de teto para teto.
Figura 5 – Sistema móvel de ordenha mecânica.
Muitos problemas de higiene na ordenha decorrem do facto de esta ser feita no
pasto (não raro, sem água corrente), mas outras advêm da falta de informação ou da
vontade de alterar velhos hábitos, tornando a rentabilidade do produtor menor.
2.2.3 – Estado sanitário do efectivo
A sanidade animal na Região é da responsabilidade dos Serviços de Sanidade
Animal e Higiene Pública Veterinária, tutelados pela Direcção Regional de
Desenvolvimento Agrário.
Os únicos programas de controlo e erradicação implementados oficialmente são o
Plano de Erradicação da Brucelose e o Plano de Erradicação da Leucose Bovina,
levados a cabo pelos Serviços de Desenvolvimento Agrário, havendo também um
Programa de Vigilância da Encefalopatia Espongiforme Bovina e um Programa de
Vigilância e Controlo das Tuberculose. Mas em meados do 2º trimestre de 2006, foi
apresentado pela Secretaria Regional da Agricultura a proposta de um Plano Global de
Sanidade Animal porque ao longo dos últimos anos foram identificados nos Açores
diversos problemas sanitários que condicionam não só a rentabilidade das explorações
como a qualidade dos produtos de origem animal produzidos. Assim tem-se vindo a
13
efectuar um grande esforço para combater e eliminar determinadas doenças nos
bovinos, com a finalidade que os Açores sejam considerados uma Região de excelente
estatuto sanitário.
Este plano engloba não só os Planos de Erradicação, Vigilância e Controlo já a
decorrer, mas também pretende combater outras doenças da produção. O principal
objectivo é a promoção e a melhoria da Saúde Publica e a rentabilidade das explorações.
Este plano é extensível a todas as ilhas, sendo desenvolvido de acordo com as
especificidades das doenças e problemas consistentes de cada ilha.
a) Brucelose
O Plano de erradicação da Brucelose para os Açores no ano 2007 é o que consta
do plano já em vigor. Actualmente, na Região, as ilhas oficialmente indemnes de
brucelose são a Graciosa, Pico, Flores e Corvo. As ilhas praticamente sem brucelose são
as de Santa Maria e Faial (99,8% das explorações oficialmente indemnes), sendo as
Ilhas de São Miguel, Terceira e São Jorge as ilhas onde se aplica a vacina RB51
(específica no combate à brucelose).
O programa de combate à brucelose iniciou-se há mais de duas décadas, com a
utilização da vacina B19, utilizando-se posteriormente a M45/20 e a partir de 2003 a
vacinação passou a ser efectuada com uma estirpe viva atenuada, a RB51, que confere
uma maior protecção que as vacinas anteriores e permite a diferenciação entre animais
vacinados e não vacinados (os anticorpos induzidos pela vacina não são reactivos nos
testes serológicos).
Em São Miguel, o número de manadas em sequestro, em Maio de 2006, era de
126 num universo de 2154. (Dados dos Serviços de Desenvolvimento Agrário de São
Miguel - SDASM)
A brucelose é a principal causa de aborto em bovinos nos países que não possuem
um programa de controlo
15
sendo principalmente causada pela Brucella abortus, que é
uma bactéria intracelular facultativa que habita sobretudo os nódulos linfáticos, a
glândula mamária, as membranas fetais e o feto. Devido à localização intracelular da
bactéria, não existe tratamento. 15,25
A via de infecção é geralmente a oral, mas existe também a via cutânea, a
conjuntiva e a contaminação do úbere durante a ordenha. Um dos principais sintomas é
14
o aborto no último terço da gestação que ocorre devido a uma necrose da placenta e a
endotoxémia. Vacas idosas podem infectar-se mas não abortam. 25 Retenção placentária
e metrites são sequelas frequentes do aborto. As vacas infectadas são a fonte da maioria
das infecções através das descargas uterinas, da placenta e do feto abortado.
A B. abortus pode permanecer no ambiente durante 100 dias no Inverno e 30 dias
no Verão, 15 mas devido à elevada humidade que se verifica nos Açores, a bactéria fica
por muito mais tempo no ambiente. Assim, a existência de pastagens com declives
acentuados e o movimento dos animais de uma pastagem infectada para outra não
infectada e por vezes com o cruzamento e contacto com animais de outras explorações
torna fácil a disseminação da doença. A existência de falsos positivos e falsos negativos
(principalmente estes) também constituem um obstáculo ao programa de erradicação da
brucelose.
Assim, o programa adopta determinadas medidas como o controlo serológico
(teste Rosa Bengala e Fixação do Complemento) e o teste do “Milk Ring” para a
identificação dos animais positivos e consequente abate. A exigência do programa levou
a que se tenha optado pela vacinação de todo o efectivo, quando a vacina só deveria ser
aplicada a animais não gestantes, ocorrendo inúmeros abortos que não foram
contemplados nas indemnizações concebidas pelo Estado, o que acarretou graves
prejuízos para os produtores. A razão pela qual os abortos ocorrem nunca foi consensual
e o facto deles ocorreram não significa que tenham sido provocados directamente pela
vacinação, mas podem ter sido despontados por ela.
A importância da erradicação da brucelose prende-se também pelo facto de esta
ser uma zoonose (através do consumo de leite não pasteurizado e manuseamento do feto
abortado que provoca recaídas frequentes mesmo após o tratamento.
b) Leucose Bovina Enzoótica (LBE)
A Região apresenta ao nível desta doença o melhor estatuto sanitário nacional,
verificando-se casos positivos apenas na ilha de São Miguel, mas com a percentagem a
diminuir nos últimos anos, de 0,33 % em 2002 para os 0,01 % em 2006, encontrando-se
neste momento 4 manadas em sequestro.
O Plano de Erradicação da Leucose proposto é igual ao que se encontra já em
vigor.
15
A LBE é uma doença causada por um vírus da família Retroviridae, não sendo no
entanto uma zoonose.
A susceptibilidade à infecção está associada à predisposição genética do animal,
sendo uma infecção persistente na maioria dos casos, ocorrendo linfocitólise em 30 %
(proliferação crónica dos linfócitos B) e menos de 5 % dos animais desenvolvem
linfossarcoma. 17
A transmissão ocorre através de sangue contaminado e o animal apresenta
hiperplasia dos nódulos linfáticos, inapetência, perda de peso entre outros. Não existe
tratamento e o diagnóstico é feito através de testes serológicos ou histopatologia.
3,17
A
pesquisa serológica com abate dos animais positivos é uma das principais medidas que
o programa tem.
c) Tuberculose
Na Região nunca foi diagnosticado nenhum caso de tuberculose. Em 2004 iniciouse um Plano de Vigilância e Controlo da Tuberculose, com a duração de 4 anos e com a
realização de 25 % das tuberculinizações exigidas por lei. O objectivo deste plano é o
de, no final deste período, obter o estatuto de “Região Oficialmente Indemne de
Tuberculose”.
O Mycobacterium bovis é o agente mais comum da tuberculose nos ruminantes,
sendo esta doença uma zoonose causada principalmente pelo consumo de leite não
pasteurizado proveniente de animais infectados.
16
Entre os animais, a via de
transmissão mais importante é a oral, sendo os sintomas apresentados não específicos e
por vezes ausentes. As lesões verificam-se sobretudo nos nódulos linfáticos brônquicos,
mediastínicos e mesentéricos, podendo ocorrer a sua calcificação. 32
O
Plano
engloba
a
realização
regular
de
testes
de
diagnóstico
(intradermotuberculinizações a 25 % dos animais) com abate dos animais positivos e
um controlo das lesões nos Matadouros.
16
d) Encefalopatia Espongiforme Bovina (BSE)
Os Açores foram o único território de Portugal que nunca esteve sujeito ao
embargo a que o país foi submetido desde 1998 sendo-lhe, por essa via, atribuído o
estatuto mais elevado da União Europeia em relação a esta doença.
De Maio de 2005 a Abril de 2006 foram analisados 23106 troncos cerebrais de
bovinos, no âmbito do Plano de Vigilância da BSE, sendo todos negativos.
A BSE é uma doença neurodegenerativa progressiva e fatal, com um período de
incubação longo e pensa-se que causado por um prião (PrPSc) que se acumula no
sistema nervoso central, apresentando o animal alterações comportamentais, ataxia,
perda de peso, deficits proprioceptivos, podendo chegar a coma. Os animais infectam-se
através da ingestão de refeições feitas com carcaças contaminadas. Os humanos também
se infectam comendo carne infectada, sendo uma zoonose grave (doença de CreutzfeldJakob). 18,29
As medidas de combatem consistem na análise dos troncos cerebrais de todos os
bovinos com mais de 30meses abatidos nos matadouros para consumo, bovinos com
mais de 24meses nos abates sanitários e nos animais mortos. A técnica utilizada é a
E.L.I.S.A. Está proibido o fabrico e administração de farinha de carne e osso e de
farinha de peixe em rações para ruminantes, havendo também um controlo das
importações dos produtos agrícolas, entre outras medidas.
e) Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR)
A IBR, tal como a BVD, encontra-se disseminada um pouco por toda a ilha, não
havendo registos oficiais da sua prevalência. A maior parte dos proprietários não
conhece a doença nem compreende o seu método de propagação, mantendo, com muita
probabilidade,
animais
Persistentemente
Infectados
(PIs)
visivelmente
subdesenvolvidos e repetidamente doentes no seio das manadas. O número de
explorações que vacinam os seus animais contra estas doenças não é conhecido mas é
seguramente bastante reduzido.
O Herpesvírus Bovino tipo 1 está associado a várias afecções em bovinos, sendo
responsável por diferentes síndromes: Rinotraqueíte Infecciosa Bovina, Vulvovaginite
Pustular Infecciosa e Balanopostite Pustular Infecciosa. A transmissão ocorre
principalmente por via aérea ou através de sémen contaminado. Na IBR o animal
17
apresenta rinite, conjuntivite, inflamação e necrose do palato mole, podendo ocorrer
infecções secundárias. 18,32
Desde de 1986 que nos Açores se faz o diagnóstico laboratorial da doença por
solicitação do agricultor ou por suspeita clínica do médico veterinário.
Para o controlo desta afecção nas manadas está proposto o rastreio através da
análise de amostras de leite, um controlo serológico, aquando do rastreio da brucelose
na exploração, e uma vacinação dos efectivos de 6 em 6 meses com uma vacina
marcada, entre outras medidas.
f) Diarreia Vírica Bovina (BVD)
A BVD pertence a um complexo de doenças associadas à infecção por um
Pestivírus, principalmente do biótipo não citopatogénico. A prevalência da infecção é
elevada, sendo os animais PIs os principais responsáveis pela manutenção do vírus na
exploração (estes animais libertam grandes quantidades de vírus durante a sua vida
através de descargas nasais, saliva, sémen, fezes, urina, lágrimas e leite), sendo os
animais jovens e não vacinados os mais susceptíveis. 11,17
Este vírus provoca frequentemente abortos mas se a infecção da mãe ocorrer entre
o 40º e o 120º dia de gestação, o feto adquire imunotolerância, tornando-se portador
para toda a vida. Estima-se que 70 a 90 % das infecções por BVD ocorrem sem a
demonstração de sinais clínicos, sendo a forma aguda da doença rara em animais com
mais de 2 anos de idade. Mas podem aparecer lesões orais (úlceras) e diarreias e, como
a BVD causa imunossupressão, torna os animais, principalmente os mais jovens,
susceptíveis a infecções bacterianas secundárias. 11,17
Desde 1996 que se faz a pesquisa serológica da doença também por solicitação do
agricultor ou por suspeita do médico veterinário. Neste Plano prevê-se o rastreio global
através de análises do leite e o controlo serológico nas explorações suspeitas através da
colheita de sangue juntamente com o da brucelose.
g) Eczema Facial (Fotossensibilidade)
Em 1999, através do contributo de estudos desenvolvidos pelos Serviços da
Secretaria Regional da Agricultura e Florestas, o problema da fotossensibilidade nos
18
bovinos dos Açores foi pela primeira vez associado ao fungo Phitomyces chartarum. Os
esporos deste fungo produzem uma micotoxina, a esporidesmina, que afecta o fígado
dos animais, provoca abortos, diminui a produção de leite e causa a fotossensibilidade.
A fotossensibilidade encontra-se essencialmente sobre o dorso, nas áreas
despigmentadas. O aspecto varia desde uma alopécia incompleta acompanhada de forte
hiperémia com formação de crostas, até grandes formações espiculadas de
hiperqueratose. A fotossensibilidade ocorre porque há uma deficiente excreção hepática
do produto de degradação da clorofila pelas bactérias do tracto gastrointestinal (TGI), a
filoeritrina, que conserva propriedades fotossensíveis.
O período crítico é no final do Verão/início do Outono, onde as temperaturas estão
acima dos 16 ºC e a humidade relativa do ar acima dos 90 %.
As medidas englobam uma análise às pastagens para a quantificação dos esporos
presentes e a administração de zinco de forma a evitar que a toxina afecte o fígado.
h) Hematúria Enzoótica Bovina (HEB)
Uma das causas da HEB é o consumo continuado do “feto comum”, o Pteridium
aquilinum, que se encontra disseminado nas pastagens açorianas. Este feto contém um
glicósido, o ptaquilósido, que pode ter propriedades mutagénicas depressoras da medula
óssea, originando anemia aplásica em ruminantes e deficiência em tiamina nos
monogástricos.
A exposição prolongada ao feto origina a hematúria, que se deve à presença de
tumores na bexiga.
Para os produtores é necessário haver um aconselhamento relativamente à
utilização de um herbicida específico contra o feto, a utilização de cercas e o corte e
remoção dos fetos.
i) Paratuberculose
A paratuberculose é uma enterite crónica contagiosa dos ruminantes, causada pelo
Mycobacterium avium paratuberculosis.
19
A transmissão horizontal ocorre essencialmente por ingestão de alimentos
contaminados com fezes de animais infectados, mas também pode ocorrer por ingestão
do colostro ou leite de vacas infectadas. A transmissão vertical também é possível.
O período de incubação é longo e como tal foram descritos 4 estádios de evolução
da paratuberculose em bovinos: 16
1- Infecção sem sinais clínicos
2- Doença subclínica. Maioria dos animais é negativa aos testes serológicos.
Alguns casos de mamite e infertilidade.
3- Doença clínica (após os dois anos de idade). Devido à enterite crónica
granulomatosa, o intestino vai perdendo a capacidade de absorção dos nutrientes,
ocorrendo perda de peso gradual apesar do apetite estar normal, diarreia (muitas vezes
após o parto), temperatura normal e diminuição da produção de leite.
4- Doença clínica avançada. Animal emaciado e desidratado, pode ocorrer edema
intermandibular devido a hipoproteinémia, diarreia crónica que não responde à terapia.
O isolamento de M. paratuberculosis em algumas pessoas com a doença de Crohn
levou à investigação de uma possível ligação entre este microrganismo e a doença nos
humanos.
Nos Açores, esta doença tem apresentado alguma prevalência em explorações de
gado bravo na ilha Terceira. Assim, irá proceder-se à vacinação dos efectivos, à
pesquisa serológica de todos os animais de raça brava com mais de 2 anos (a cada 6
meses) com abate dos positivos, separação dos animais com diarreia após o parto até
despiste serológico laboratorial e uma sensibilização dos produtores para a doença.
j) Fasciolose
É uma doença causada por um parasita tremátode, a Fasciola hepática, que tem
como hospedeiro intermediário um molusco gastrópode (Lymnea truncatula) que vive
em terrenos alagados ou próximos de pequenos cursos de água. Há uma maior
prevalência desta doença na zona do Nordeste, na ilha de São Miguel.
A Fasciola hepática afecta o fígado e as vias biliares dos ruminantes, podendo
levar à morte súbita nos ovinos. Os bovinos desenvolvem uma doença crónica com
perda de peso, diminuição da produção leiteira, edema intermandibular, anemia, entre
outros sintomas.
20
As medidas incluem a desparasitação dos animais, controlo nos matadouros das
lesões e realização de exames coprológicos aos animais.
Nota: Em São Miguel, são 7 as doenças prioritárias a combater. Brucelose, LBE,
Tuberculose, IBR/BVD, Eczema Facial e HEB.
Breve comentário ao Plano Global de Sanidade
Foi solicitado à AASM uma apreciação acerca do Plano Global de Sanidade a
aplicar na Região, tendo sido sugerido algumas alterações em determinados pontos:
Brucelose: Devido ao número de falsos positivos e negativos relativamente
elevado do teste do “Milk-Ring”, os serviços de desenvolvimento agrário devem
criar as estruturas necessárias para a realização de um teste serológico de 6 em 6
meses independentemente do estatuto sanitário de cada uma. Quanto à revacinação
das manadas reactoras, devem-se efectuar apenas em animais jovens não
gestantes, devido ao elevado número de abortos verificados anteriormente em
vacas e novilhas gestantes.
IBR: O isolamento dos animais portadores não é uma medida viável visto que a
percentagem de animais infectados é elevada e em algumas explorações se iria isolar
mais de 50% do efectivo. O fundamental é vacinar todas as manadas durante 8-10 anos
consecutivos.
BVD: Todos os animais PIs identificados devem ser obrigatoriamente abatidos.
HEB: As medidas preconizadas estão muito centralizadas no feto comum e sendo
esta uma doença multifactorial, as medidas de combate devem passar por combater
todas as plantas tóxicas susceptíveis de serem consumidas pelos bovinos e aconselhar os
agricultores para o maneio adequado dos fertilizantes para se evitar as intoxicações
agudas e crónicas pelos nitratos.
Paratuberculose: São inúmeros os casos de enterites crónicas provocados pela
paratuberculose nas explorações leiteiras, nomeadamente em São Miguel. Assim, as
medidas de combate a adoptar devem ser idênticas àquelas que se pretende para o gado
bravo da Terceira.
- Provavelmente é prematuro criar o cartão sanitário no imediato, visto que existe
ainda uma inconstância no estatuto sanitário das explorações.
21
- Não é boa prática denunciar à sociedade os agricultores com explorações
positivas às doenças, porque nem sempre são os únicos responsáveis ou culpados e a
perda de subsídios só se deve verificar caso seja provado que o agricultor agiu de má fé
na execução do programa.
- Para além das considerações enumeradas, o restante do programa global é
bastante satisfatório, aguardando-se a capacidade técnica e monetária da secretaria da
agricultura para o implementar.
Leptospirose
A leptospirose não está incluída no Plano Global de Sanidade porque esta
patologia tem um projecto próprio denominado “Epidemiologia e Controlo da
Leptospirose nos Açores”.
Nos dias 24 e 25 de Novembro de 2006 foi realizado em Ponta Delgada um
seminário sobre a leptospirose nos Açores, onde foi apresentado diversos dados sobre
esta zoonose na Região.
Actualmente, os Açores são a região do País com a mais alta incidência de
leptospirose. No período de 1993-2003 foram registados 180 casos de leptospirose em
humanos, de onde 68 casos foram no período entre 2001-2003. De salientar que 40 %
dos casos foram registados na ilha Terceira e 45 % em São Miguel, havendo uma
percentagem de mortes de 8,5 %. Assim, através deste estudo retrospectivo, verificou-se
que a média anual era de 11 novos casos por cada 100 000 habitantes, bem distante da
média nacional que foi de 1,7 por cada 100 000. A população adulta masculina entre os
25-44 anos foi a mais afectada, sendo o período de maior incidência entre Outubro e
Janeiro, que são os meses onde se verifica maior pluviosidade e humidade. A maior
parte das pessoas infectadas tinha algum tipo de relação com o trabalho agrícola, onde
as condições de pobreza e exposição aos vectores são maiores. Diagnósticos serológicos
confirmaram que 85,5 % dos casos de leptospirose foram causados pela Leptospira
interrogans, serogrupo Icterohaemorrhagiae e Ballum.
Entre o período de 2004-2006 foram confirmados 109 casos, sendo a incidência
média anual de 20,6 casos em São Miguel e 12,7 casos na Terceira por cada 100 000
habitantes. Resta saber se a doença está realmente a aumentar ou se são os serviços de
saúde que estão cada vez mais atentos a esta zoonose.
Relativamente à leptospirose bovina, num total de 1471 animais testados, 27,1 %
(400 animais) apresentavam títulos específicos de Leptospira, de onde 18,3 % (271
22
animais) pertenciam ao serovar Saxkoebing. Assim, a leptospirose bovina tem
essencialmente uma importância (doença crónica), onde pode ocorrer abortos a partir do
6º mês de gestação, nascimentos prematuros e infertilidade.
Na leptospirose canina, em 400 animais testados divididos em 3grupos (127
vacinados, 157 não vacinados e 116 de estatuto desconhecido) os resultados positivos
foram de 22 %, 16 % e 18 %, respectivamente, sendo pelo menos 80 % das infecções da
responsabilidade do serogrupo Icterohaemorrhagiae, o que mostra que os cães são
também uma fonte muito importante de transmissão da doença.
Contudo, são 3 espécies de roedores selváticos que existem em grande abundância
nos Açores que ao considerados os principais reservatórios de Leptospira: Mus
musculus, Rattus norvegicus e Rattus rattus.
Para reduzir o impacto desta zoonose, é necessária uma melhor articulação entre
os diferentes serviços de saúde (humanos e veterinários) e a implementação de
campanhas de informação para a população sobre os modos de transmissão da doença e
a sua prevenção.
2.3 – Associação Agrícola de São Miguel
A Associação Agrícola de São Miguel é a maior e mais importante associação
agrícola dos Açores. Fundada em 1975, conta actualmente com cerca de 3000
associados, representando assim a maior parte dos produtores de leite da ilha.
Além da AASM, a Associação Jovens Agricultores Micaelenses é a outra
associação em São Miguel que também presta serviços de veterinária e de inseminação
aos seus associados. Além destas duas associações, há apenas uma clínica privada que
presta serviços veterinários e inseminação em bovinos, nesta ilha.
Espalhados pela ilha existem várias cooperativas agrícolas que vendem diversos
produtos para a pecuária.
2.3.1 – Serviços médico veterinários
A assistência médico veterinária funciona com a divisão da ilha em 6 áreas que
são distribuídas por 8 veterinários, de forma a prestar um serviço de 24horas/dia, 7dias
23
por semana. Em cada dia há um veterinário responsável pelo atendimento aos sócios da
zona que lhe foi atribuída.
Os serviços são recebidos, por telefone, na AASM e reencaminhados ao
veterinário responsável pela área correspondente via rádio. Cada veterinário tem, em
média, 8 consultas por dia.
Numa assistência médico veterinária, o associado tem apenas de pagar os
fármacos e os materiais utilizados na consulta (seringas, agulhas, fios de sutura…)
2.3.2 – Serviço de inseminação e transferência de embriões
A AASM disponibiliza um serviço de inseminação aos seus associados há mais de
18 anos, promovendo assim um significativo melhoramento genético das manadas na
ilha.
O recurso à inseminação tem-se tornado cada vez mais frequente. Enquanto que
em 1995 tinham sido utilizados 19 000 doses de sémen, em 2006 foram vendidos 26
175 doses. Para tal, existe uma equipa de 9 inseminadores e a ilha é também dividida
em 6 zonas. Os inseminadores, ao receberem uma chamada de manhã, aparecem à tarde
na exploração e vice-versa, porque a ovulação ocorre cerca de 20 horas após o do cio.
Um dos grandes responsáveis pelo melhoramento genético dos animais tem sido o
Dr. João Vidal, que é o responsável pela importação de sémen e organização dos
catálogos de genética da AASM. Nestes catálogos, encontram-se descritos as
características melhoradores de vários touros que estão disponíveis nesse ano, bem
como os respectivos preços para assim o agricultor poder escolher o sémen mais
adequado a aplicar em cada uma das suas vacas. Tem sido uma das preocupações da
AASM ter disponível para os seus associados, além de sémen dos mais reputados touros
do mundo a um preço acessível, ter também sémen de touros provenientes de linhagens
distintas de anos anteriores para evitar os efeitos da consanguinidade, conceito muitas
vezes difícil de explicar ao produtor.
Durante as nossas visitas, era comum que houvesse um aconselhamento de
emparelhamento genético aos produtores acerca do sémen ideal para usar na manada ou
em determinadas vacas, porque por vezes os produtores não sabem interpretar o
catálogo de sémen de forma correcta e nem sempre fazem as melhores escolhas (por
exemplo, inseminar touros com dificuldade de parto média em novilhas ou usar touros
da mesma linhagem genética da vaca, …).
24
Para evitar tais problemas, a AASM dispõe agora de um programa de
emparelhamento que permite ao produtor saber qual o sémen de touro adequado para
determinada vaca. É um serviço gratuito que permite corrigir os principais defeitos
morfológicos das vacas, aumentar a sua longevidade e produtividade, poupar custos
com o melhoramento genético e eliminar a consanguinidade.
No entanto, ainda é frequente o uso de touros próprios para a cobrição das vacas
que não ficam gestantes ao primeiro serviço de inseminação e das novilhas.
Está também disponível aos produtores, há cerca de 10 anos, o serviço de
transferência de embriões. Nesta técnica, o primeiro passo é provocar, através da
aplicação de hormonas específicas como a hormona folículo-estimulante (FSH), uma
superovulação numa vaca considerada de elite. Esta, em vez de ovular apenas um óvulo,
que seria o natural, ovula vários. A aplicação hormonal é feita 8 a 12 dias após o cio e
durante 4 dias seguidos. No 3º dia aplica-se uma prostaglandina F2α para induzir o cio
que ocorre 2 dias depois. O passo seguinte é inseminar a vaca e 7 dias depois faz-se uma
lavagem uterina para recolher os óvulos já fertilizados. Em laboratório, os embriões
viáveis são identificados e separados. Daí podem ser congelados ou transferidos
imediatamente para o útero de uma vaca receptora. Esta deve estar com ciclo éstrico
sincronizado com o da vaca dadora. Esta técnica permite aumentar o número de animais
em que se incide a melhoria genética num menor intervalo de tempo.
2.3.3 – Outros serviços e produtos
a) Alimentos compostos para animais (Rações): A AASM possui a fábrica de rações
Santana, que apresenta um volume de negócios a rondar os 60% do mercado. Nesta
fábrica são produzidos 3 tipos de alimentos concentrados para bovinos de leite: a Super
(para animais de alta produção), a Especial e a Normal. São usados como ingredientes
cereais como o milho geneticamente modificado e a cevada, bagaço e outros produtos
azotados de origem vegetal, subprodutos provenientes do fabrico do açúcar, glúten e
substâncias minerais.
b) Contraste leiteiro: O contraste leiteiro é feito desde 1996, havendo neste momento
12 profissionais a trabalhar no campo. Durante o ano de 2006, o contraste foi realizado
em 230 explorações havendo cerca de 10 000 animais em contraste.
25
Através do contraste leiteiro, o produtor poderá saber a quantidade e a qualidade
(composição em proteína e gordura) do leite produzido por cada uma das suas vacas,
permitindo assim uma melhor gestão da exploração e a determinação do seu status
genético.
c) Contabilidade: A AASM é responsável por mais de 1000 contabilidades de
explorações agropecuárias.
d) Gabinete de projectos e apoio ao rendimento: A AASM é responsável pela
elaboração de projectos de investimento a abrigo do PRODESA, de candidaturas à
reserva nacional de quotas leiteiras, de projectos de reforma antecipadas, entre outros.
e) Apoio à qualidade do leite: Existência de um laboratório de contagem de células
somáticas.
f) Outros serviços: Apoio jurídico; Seguro agrícola; Venda e assistência de
máquinas agrícolas; Desconto em combustíveis; Venda de medicamentos
veterinários, fertilizantes, adubos, herbicidas; Gabinete no matadouro industrial
de São Miguel – para apoio aos seus associados
A AASM encontrava-se, no ano 2006, na lista das 30 maiores empresas dos
Açores, o que é indicativo da sua importância a nível regional.
2.4 – Futuro da lavoura nos Açores
O sistema de quotas actualmente em vigor, está previsto acabar até 2014-2015,
altura em que termina o quadro comunitário de apoio. No entanto, devido à grande
procura de leite a nível mundial que se verifica actualmente, é mesmo possível o
desmantelamento das quotas até antes de 2014-2015, tornando-se assim um mercado
livre, com o consequente aumento de produção de leite, já que cada produtor pode
produzir o que quiser.
Os Açores, devido à sua dimensão, vão passar por dificuldades e será impossível
competir com outros países em termos quantitativos. A solução passa por apostar na
26
qualidade do leite, já que o facto de os animais serem criados ao ar livre, o clima
húmido e uma alimentação feita nas pastagens faz com que o leite produzido tenha
características específicas (por exemplo, o leite dos Açores é naturalmente rico em
ómega 3).
Assim, para melhorar a qualidade do leite nos Açores é necessário continuar a
apostar na marca Açores (desenvolver, promover, proteger e exportar a marca),
melhorar a genética, a alimentação e o maneio dos animais, haver uma melhoria das
infra-estruturas agrícolas que passa pela construção de caminhos agrícolas, um
abastecimento de água e luz às explorações e principalmente por um emparcelamento
progressivo dos terrenos.
Necessariamente irá ocorrer uma diminuição do número de produtores (as
explorações pequenas e/ou com problemas sanitários irão acabar) sendo importante que
ocorra um resgate leiteiro que facilite a saída da produção, mas mantendo o número de
animais na Região, haverá cada vez mais explorações maiores e mais competitivas.
Contudo, com o aumento anual dos custos de produção (rações, adubos, gasóleo, …) é
vital que haja aumento do preço do leite para compensar os custos, situação que não se
verifica já que nos últimos anos o preço do leite se manteve devido ao monopólio que se
verifica no sector leiteiro, não havendo concorrência, ficando o produtor com cada vez
menos rendimento.
27
3- CASUÍSTICA: DESCRIÇÃO E DISCUSSÃO
3.1- Introdução
Durante o período de estágio em que se acompanhou a clínica de campo foram
observados 846 casos, não se contabilizando as consultas de acompanhamento, sendo as
consultas realizadas principalmente nas freguesias de Relva, Covoada, Arrifes, Fajã
Cima, Fajã Baixo, S. Pedro, S. José, S. Roque, Livramento, S. Vicente Ferreira, Ferrais
Luz, Pico Pedra e Rabo de Peixe.
Apresenta-se em seguida a distribuição dos casos clínicos pelos principais
aparelhos/sistemas implicados. Sempre que foi possível tentou-se identificar e
contabilizar todas as afecções concomitantes para que fosse possível posteriormente
estudar a sua presença (Gráficos 1 e 2).
Percentagem de casos por Aparelho/Sistema afectado
Pele, faneras e globo ocular
1%
9%
Musculo-esquelético
2%
13%
7%
22%
Digestivo
Respiratório
Cardiovascular
Mamário
24%
16%
1% 5%
Urogenital
Nervoso
Metabólicos
Outros
Gráfico 2 – Percentagem de casos por Aparelho/Sistema.
O exercício clínico foi realizado essencialmente com base no exame clínico dos
animais, na anamnese, análise do meio ambiente, conhecimento da patologia típica da
zona e experiência do clínico, recorrendo-se quando necessário a exames
28
complementares simples como o teste californiano de mamites (TCM) ou tiras reactivas
para a glucose e corpos cetónicos na urina.
No entanto, devido à impossibilidade de recorrer sistematicamente a exames
complementares, nem sempre foi possível determinar o diagnóstico definitivo
(etiológico), pelo que nesses casos o diagnóstico é presuntivo, mesmo que se encontrem
referidos pela sua causa etiológica.
Número de casos por Aparelho/Sistema
21
Outros
80
Metabólicos
6
Nervoso
189
Urogenital
135
Mamário
7
Cardiovascular
40
Respiratório
199
Digestivo
61
Musculo-esquelético
108
Pele, faneras e globo ocular
0
50
100
150
200
250
Gráfico 3 – Números de casos por Aparelho/Sistema.
Posteriormente, iremos analisar de forma mais cuidada as categorias e as
doenças com a casuística mais representativa e de maior relevância no panorama local.
29
3.2 - PATOLOGIAS
3.2.1 - PELE, CASCOS E GLOBO OCULAR
Pele, cascos e globo ocular
Traumatismo do globo ocular
2
Moraxella bovis/QCS
26
Úlcera da cornea
12
6
Neoplasia da 3ª pálpebra e estruturas adjacentes
Tumor ocular
1
Artrite séptica distal/Higroma do carpo
18
Erosão do talão
1
Panarício
1
Úlcera da sola
3
7
Desgaste das unhas
Piolhos
1
Dermatofitose
1
Alopécia (falta de minerais)
1
Abcesso/Hematoma das zonas de sutura
4
Abcesso/Hematoma sub-cutâneo
12
3
Fotossensibilização (Phitomyces)
Laceração traumática
6
Papilomatose
3
0
5
10
15
20
25
30
Gráfico 4 – Afecções observadas na pele, cascos e globo ocular.
3.2.1.1 - Papilomatose
Os papilomas são geralmente classificados como tumores cutâneos benignos
provocados por um vírus da família Papovaviridae.
30
Nos bovinos, distinguem-se cinco subgrupos de Papilomavirus. Os subtipos BVP1
e BVP2 induzem a fibropapiloma, onde há uma resposta epitelial e fibroblástica no
desenvolvimento do tumor cutâneo, e o BVP3, 4 e 5 induzem apenas a alterações
epiteliais 29 Assim:
-
BVP1: fibropapiloma localizado no teto. Pénis ou vulva dos jovens adultos /
adultos;
-
BVP2: fibropapiloma localizado na cabeça, pescoço de animais entre 4-18
meses;
-
BVP3: papiloma cutâneo nos adultos (Figura 6)
-
BVP4: papiloma localizado na língua, orofaringe, esófago e rúmen dos jovens
adultos;
-
BVP5: papiloma localizado no teto e úbere dos adultos.
A transmissão natural ocorre através do contacto com objectos que causem lesões
na pele.
Na maioria dos casos, ocorre regressão espontânea entre 4-8 semanas após o
aparecimento dos primeiros tumores, mas ocasionalmente a doença pode persistir por
longos períodos de tempo. 29
A vacinação do rebanho feita a partir de um tecido tumoral de um animal da
exploração é o mais indicado. Em algumas situações foi feita a excisão cirúrgica e
hemoterapia.
Figura 6 – Papiloma cutâneo.
31
3.2.1.2 - Claudicações
As claudicações, principalmente de origem podal, são um problema importante na
exploração de bovinos leiteiros, sendo uma das causas mais comuns para o refugo dos
animais.
Um animal com dificuldade em movimentar-se alimenta-se menos, devido à
dificuldade em competir com os outros nos comedouro, pela relutância em andar
grandes distâncias na pastagem para encontrar a melhor erva e pela dificuldade do
animal manter-se em estação. Consequentemente, a produção leiteira baixa e atraso
provocado pelas dores não só diminui a produção leiteira, como afecta a eficiência do
sistema imunitário, fazendo com que estes animais sejam muito afectados por
patologias secundárias.
As movimentações entre pastos e o facto de os caminhos estarem muitas vezes
cobertos de cascalho vulcânico são factores de agressão importantes, e as unhas
raramente apresentam sobrecrescimento, tendo normalmente uma boa conformação.
Não sendo necessário o aparo regular das unhas, o seu maneio é frequentemente
descuidado e a falta de verificação periódica do estado das unhas provoca o
agravamento de situações que à partida seriam fáceis de resolver, o que compromete
muitas vezes a sua recuperação.
Os problemas mais comuns, na realidade local, são:

As dermatites interdigitais, devido à maceração constante do espaço interdigital
pela terra, detritos e humidade.

Perfurações várias do espaço interdigital, unha ou talão, normalmente por
cascalhos vulcânicos (piroclastos) dos caminhos agrícolas ou das proximidades
da máquina de ordenha. Estes cascalhos naturais constituem o interior da maior
parte dos montes do centro da ilha, estando revestidos por uma fina camada de
terra com pouco mais de um metro. O problema destes piroclastos deve-se à sua
textura recortada e extremamente abrasiva.
É também frequente as artrites sépticas interfalângicas distais (Figura 7) A sua
origem é incerta dado que na maioria dos casos não se observa qualquer lesão exterior,
sendo o inchaço e a claudicação muitas vezes os únicos sinais. Supõe-se, no entanto,
que qualquer das lesões perfurantes acima descritas pode resultar em migração de
agentes bacterianos para o espaço articular, permanecendo aí após a resolução da lesão
exterior.
32
Figura 7 – Artrite séptica distal.
3.2.1.3 – Carcinoma da 3ª pálpebra
O carcinoma da 3ª pálpebra (Figura 8) é um tumor que se verifica com alguma
frequência nas explorações em São Miguel porque as condições em que se encontram os
animais são muito propícias à ocorrência desta patologia. Os animais estão
permanentemente no exterior, expostos à luz solar, ao vento e às variações climáticas,
sendo estes considerados factores predisponentes.
Figura 8 – Carcinoma da 3ª pálpebra.
Numa fase inicial, a maioria dos casos começa com uma pequena formação
neoplásica isolada no bordo da membrana nictitante, que quando extraída nesta fase
resulta quase sempre em cura completa. No entanto, muitos produtores não estão
33
atentos a esta pequena formação e muitas vezes o veterinário é chamado a intervir
quando já há o envolvimento de outras estruturas, sendo necessário retirar o globo
ocular, já que estes tumores crescem rapidamente e mostram algum carácter invasivo,
metastizando para os nódulos linfáticos locais. 22
3.2.1.4 – Queratoconjuntivite infecciosa bovina (QIB)
É a patologia mais frequente a nível ocular juntamente com o carcinoma das
células escamosas.
22,24
A patologia pode afectar um ou os dois olhos, tem uma
distribuição mundial e uma maior prevalência nos meses de Verão e Outono, devido ao
aumento de vectores. Os animais jovens são os mais susceptíveis, mas podem ser
atingidos em qualquer idade. 10,22
A QIB é provocada principalmente por Moraxella bovis (estirpe hemolítica)
embora outros vírus como o Herpesvírus bovino 1 (IBR) possam estar associados. 26
Os factores de virulência são constituídos por β-hemolisina, pilli, leucotoxina e
proteases. A pilli Q permite a adesão da bactéria à córnea e o estabelecimento da
infecção pela incapacidade de remoção do organismo pelo contínuo fluxo de secreções
oculares e a acção mecânica de pestanejar. A β-hemolisina possui acção citotóxica e
produz lesão corneal. 10,22
A Musca autumnalis é o vector preferencial porque se alimenta nas zonas
perioculares, permanecendo infectada por períodos superiores a três dias. A doença é
transmitida por contacto directo, aerossóis e fómites. 22
Os sinais clínicos envolvem edema da conjuntiva acompanhado de secreção
aquosa abundante, blefarospasmos e fotofobia. Nos dias seguintes, verifica-se uma
opacidade da córnea, as úlceras tornam-se maiores e mais profundas, a descarga ocular
apresenta-se mucopurulenta e sinais de uveíte secundária a queratite podem ser
observados. (Figura 9) 10,22,24
O facto de os animais estarem em pastoreio permanente, à mercê das condições
atmosférica, onde o ambiente seco e poeirento, o stress dos transportes, a luz solar
directa e os agentes irritantes como pólen e ervas podem ser factores predisponentes
e/ou agravantes da infecção, será certamente uma razão pela qual são tão atingidos por
esta infecção.
34
As condições de maneio dos vitelos nos primeiros dias de vida, onde são mantidos
juntos em estabulação ou no pasto, podem propiciar um rápido alastramento desta
condição nos jovens, onde a doença é geralmente mais grave, com aprofundamento da
úlcera no estroma e eventual perfuração da córnea.
A QIB é uma doença autolimitante, onde a recuperação ocorre sem tratamento,
embora a terapêutica reduza a incidência de cicatriz nos olhos. 22 O tratamento utilizado
durante o estágio foi a oxitetraciclina sub-conjuntival. Por vezes, era usado a terapia
parenteral (IM).
Figura 9 – Queratoconjuntivite infecciosa bovina.
35
3.2.2 - SISTEMA MÚSCULO-ESQUELÉTICO
Sistema Musculo-esquelético
1
Micoplasma (suspeita)
5
Astenia
2
Tendinite
9
Miosite
3
Abcessos em membros
1
Parésia pós-parto por miosite
12
Parésia pós-parto por compressão dos nervos periféricos
1
Traumatismo/Fractura de costelas
6
Traumatismo/Fractura do membro
2
Traumatismo/Fractura da coluna vertebral
3
Luxação de articulações
4
Luxação/Fractura coxofemural
5
Artrose
7
Artrite membro/Poliartrite
0
2
4
6
8
10
12
14
Gráfico 5 – Afecções observadas no Sistema Músculo-esquelético.
3.2.2.1 - Parésia pós-parto por compressão dos nervos periféricos
A maioria das doenças nos nervos periféricos dos ruminantes tem origem
traumática mas lesões neoplásicas e inflamatórias são por vezes observadas.
A descrição do parto e o tamanho do vitelo são informações que devem ser obtidas
em situações de animais em decúbito no pós-parto. Uma má apresentação, posição e
postura, bem como uma desproporção feto-pélvica podem traumatizar os nervos devido
à compressão e inflamação dos tecidos moles da cavidade pélvica.
A lesão dos nervos periféricos, particularmente após um parto distócico, pode ser
o responsável directo pelo decúbito das vacas, mas algumas das lesões nos nervos
ocorrem secundariamente após uma lesão extensiva dos músculos e tecidos moles por
decúbito prolongado do animal.
36
Geralmente os animais afectados não se conseguem levantar, mas comem, bebem,
urinam e defecam normalmente, fazendo grande esforço em se levantar especialmente
com os membros anteriores.
É importante que um animal em decúbito prolongado seja colocado num local
amplo, macio, limpo e seco. Deve-se mudar o animal de lado sempre que possível de 6
em 6 horas aproximadamente, acompanhado de sessões de massagem nos membros
posteriores de modo a promover uma boa circulação. Deve-se fazer uma terapia física
encorajando o animal a suportar o seu peso e, se possível, estimula-lo a andar. 6
A profilaxia passa essencialmente pela escolha de touros com elevada facilidade
de parto, prestar assistência durante o parto de modo a evitar a compressão prolongada
dos nervos e as vacas não devem parir gordas nem estarem em superfícies
escorregadias.
37
3.2.3 - APARELHO DIGESTIVO
Sistema Digestivo
5
4
Diarreia em caprinos
Timpanismo gasoso
2
1
2
Dilataçao cecal
Còlicas abdominais
Actinobacilose
16
Corpo estranho
10
Indigestão simples/Inespecifica
3
Ùlcera do abomaso
13
Deslocamento do abomaso á esquerda
6
5
Deslocamento do abomaso á direita
Indigestão láctea
1
1
2
Acidose ruminal (excesso de milho)
Coprostase
Obstrução intestinal
10
Diarreia crónica em jovens
55
Diarreia aguda em jovens
27
25
Diarreia crónica em adultos (alguns possivelmente paratuberculose)
Diarreia aguda em adultos
9
Sub-nutrição
2
Úlceras na lingua
0
10
20
30
40
50
60
Gráfico 6 – Afecções observadas no Sistema Digestivo.
3.2.3.1 - Diarreias em jovens
A diarreia é o sintoma mais comum que se verifica em animais de poucos dias a
um mês de idade, sendo na maioria dos casos resultante de enterites bacterianas ou
virais. A sua incidência é generalizada a todas as explorações, variando na intensidade
de acordo com as condições de higiene e maneio de cada exploração.
38
Podem ser de natureza alimentar ou de origem infecciosa, onde a Escherichia coli,
os Rotavírus e os Coronavírus são os principais responsáveis pelas diarreias que
ocorrem durante o primeiro mês de vida dos vitelos e que geralmente funcionam em
associação. A colibacilose foi a principal suspeita de causa de enterite.
De acordo com o agente patogénico implicado, as diarreias apresentam
determinadas características: 33
E. coli – Há a produção de toxinas pela bactéria que favorecem um aumento da
secreção intestinal, um maior fluxo de água e electrólitos para o intestino e
consequentemente ocorre diarreia e desidratação. São mais frequentes nos vitelos até
aos 10dias de idade e caracterizam-se por emissões frequentes e abundantes de fezes
líquidas, de cor amarela clara e por vezes brancas (Figura 10). Se ocorre septicemia, o
vitelo deixa de mamar, fica prostrado e muito desidratado, podendo atingir o estado de
coma e morrer.
Figura 10 – Aspecto da diarreia provocada por E.coli.
Coronavírus e Rotavírus – Ocorre destruição da camada superficial da mucosa
intestinal, que deixa de absorver os alimentos, conduzindo à diarreia e desidratação.
Surgem normalmente entre os 5 e 15 dias de vida e caracterizam-se por dor abdominal,
temperatura baixa, fezes líquidas ou pastosas de cor esverdeada com bastante muco e
por vezes alguns traços de sangue (Figura 11).
A infecção por estes três agentes em simultâneo é frequente, conduzindo
normalmente a um desfecho fatal. 33
39
A partir do mês de idade, os animais começam a ingerir erva em grande
quantidade, que muitas vezes é demasiado jovem e com teor em fibra muito baixo e
quando a transição alimentar é repentina, resulta em diarreias de origem alimentar
frequentemente complicadas por organismos comensais.
As diarreias verificam-se ao longo de todo o ano mas nos Açores são mais comuns
nos meses entre Dezembro e Maio. As baixas temperaturas e maior humidade deste
período, aliado a problemas de maneio onde os vitelos muitas vezes não bebem o
colostro na quantidade adequada e são criados em grupo, geralmente em pastagens ao ar
livre e muito contaminadas numa altura de grande fragilidade imunitária, contribuem
para o aumento desta doença neste período. 33
As consequências económicas das diarreias neonatais numa exploração são
elevadas devido aos custos com veterinários e medicamentos, aos atrasos no
crescimento dos animais infectados, ao risco de disseminação das infecções aos animais
saudáveis e à elevada taxa de mortalidade que pode ocorrer num surto de diarreia.
O controlo da diarreia em vitelos passa por adoptar medidas de higiene e maneio
adequados e pela utilização de vacinas específicas nas vacas que previnam a infecção
contra os agentes mais frequentes de cada região.
Figura 11 – Vitelo com diarreia.
40
3.2.3.2 - Deslocamento de abomaso
Deslocamento do abomaso à esquerda (DAE)
Nesta doença, o abomaso é deslocado da sua posição normal no chão da
cavidade abdominal para o lado esquerdo do abdómen entre o rúmen e a parede
abdominal esquerda. Os deslocamentos ocorrem devido à posição relativamente livre do
abomaso na cavidade abdominal, estando apenas suspenso pelo grande e pequeno
omento, grande mobilidade dos 2/3 caudais do abomaso, e porque há uma acumulação
de gás com a consequente dilatação do fundo e corpo do abomaso.
Ocorre principalmente em animais de peito profundo e em vacas leiteiras de alta
produção. O risco de ocorrência aumenta com a idade e 90% dos casos ocorrem 6
semanas após o parto. 19
A sua etiologia é multifactorial, sendo um pré-requesito para o desenvolvimento
do DAE a hipomotilidade e a distensão gasosa do abomaso. Assim, são factores de
risco: 11,19
-
Influência da alimentação, onde a diminuição de ingestão de matéria seca
provoca a redução do volume ruminal e a ingestão de uma dieta rica em hidratos
de carbono e com níveis inadequados de fibra aumenta a formação de gás
abomasal.
-
Mudança de disposição dos órgãos abdominais no período peri-parto, onde o
abomaso é empurrado cranialmente.
-
As sobrecargas e alterações metabólicas como cetose e hipocalcemia, stress e
doenças concorrentes também diminuem a ingestão de alimento no peri-parto e a
tonicidade do abomaso.
-
Factores genéticos relacionados com a profundidade corporal e a produção
leiteira.
Com o DAE, há o emagrecimento do animal e pode haver complicações como
úlceras e ruptura abomasal e degenerescência hepática. A produção leiteira diminui
durante a doença e no pós-operatório.
A cirurgia é o tratamento de eleição, com 90 % de eficácia.
Nos Açores, os Invernos rigorosos com muita chuva associado ao pastoreio dos
animais, torna a erva das pastagens menos abundante e consequentemente há
diminuição do consumo sendo necessário suplementar a alimentação dos animais
com concentrado, aumentando o risco de deslocamento de abomaso.
41
Deslocamento do abomaso à direita (DAD)
A proporção entre DAD e DAE é de 1:10 e ocorre quando há uma dilatação
abomasal (gás e líquido) e deslocamento entre o intestino e parede abdominal direita
com eventual torção pela ligação omasal-abomasal.
A etiologia é semelhante à de DAE e os sinais clínicos são geralmente de
evolução rápida. Ocorre emagrecimento, toxemia e alterações hidroelectrolíticas,
sendo a cirurgia mais arriscada e o prognóstico mais reservado.
3.2.4 - APARELHO RESPIRATÓRIO
Aparelho Respiratório
Rotura da traqueia
1
Edema pulmonar
1
Sinusite
1
Estenose da laringe
4
10
Pneumonia em adultos
Pneumonia em vitelos
22
1
Pneumonia por aspiração
0
5
10
15
20
25
Gráfico 7 – Afecções observadas no Aparelho Respiratório.
3.2.4.1 - Pneumonia em vitelos
As pneumonias e broncopneumonias são dos problemas que mais afectam os
vitelos nos primeiros 2 meses de vida, sendo, a seguir às diarreias, a principal causa de
mortalidade em vitelos. (Figura 12)
Têm uma etiologia multifactorial, podendo ser causadas por vírus, bactérias,
fungos, parasitas e agentes físico-químicos. A grande maioria dos agentes infecciosos é
adquirida pelo neonato após o nascimento, a partir da flora respiratória da mãe, do
ambiente ou pelo contacto com outros vitelos infectados. 9
42
Os principais agentes virais implicados são Parainfluenza-3, adenovirus, vírus
respiratório sincicial bovino, reovírus, rinovírus, coronavírus e herpesvírus bovino-1
(IBR), havendo geralmente infecção bacteriana secundária. 9
Em animais saudáveis, a exposição aos agentes infecciosos não é geralmente
suficiente para causar doença e, regra geral, estão presentes factores de stress que
diminuem as defesas dos animais. Os vitelos são mantidos ao ar livre, em campo aberto
e muito expostos ao tempo frio, húmido e ventoso ou estão em cubículos de madeira
com grande concentração de animais e inadequada circulação de ar, o que associado à
deficiência de imunidade passiva (colostro), faz com que haja um grande número de
animais infectados.
Para o controlo e prevenção das pneumonias é necessário que o local de parto e as
instalações dos vitelos sejam limpas e individuais, fornecer colostro aos vitelos nas
primeiras horas de vida porque assim aumenta em muito a taxa de sobrevivência dos
animais, fornecer uma alimentação de qualidade e controlar as situações de stress.
9
A
vacinação dos vitelos e das mães contra esta afecção não é uma pratica comum, apesar
da vacina ser relativamente barata e os tratamentos para a pneumonia serem
consideravelmente mais caros, alem de se verificar um atraso no crescimento dos
animais infectados.
Figura 12 – Morte de um vitelo após pneumonia.
43
3.2.5 – APARELHO CARDIOVASCULAR
Aparelho Cardiovascular
Obstrução linfática
1
Colisepticémia
2
Insuficiencia/Arritmia cardiaca
1
Onfaloflebite
1
Flebite
2
0
0,5
1
1,5
2
2,5
Gráfico 8 – Afecções observadas no Aparelho Cardiovascular.
3.2.5.1 – Flebite
A flebite é uma inflamação de uma veia, não sendo uma situação grave quando a
inflamação se localiza numa veia superficial, pois o fluxo sanguíneo pode ser alterado
significativamente. Contudo quando uma veia grande é acometida (veia mamária) a
flebite é potencialmente mais perigosa porque o risco de trombos é maior. 41
A flebite superficial implica uma reacção inflamatória aguda, que faz com que o
trombo adira firmemente às paredes da veia, havendo dor localizada, inchaço, eritema,
sendo quente e doloroso ao toque. 41
As causas mais comuns são a onfaloflebite e flebite provocada por injecção de
substâncias irritantes ou o uso prolongado de cateter. Os casos verificados ocorreram
por uma administração incorrecta de cálcio. De um modo geral, a flebite desaparece por
si só.
44
3.2.6 – GLÂNDULA MAMÁRIA
Aparelho Mamário
Hiperdistensão/rotura do ligamento suspensor do úbere
2
Amputação de tetos supranumerários
2
Laceração traumática do teto
6
Obstrução do canal do teto/fibrose do canal do teto
5
2
Novilhas com mamite
8
Mamite no periodo de secagem
17
Mamite crónica/Secagem do teto
80
Mamite clinica
7
Mamite sub-clinica
1
Ferida no úbere
Edema do úbere
2
Hemogalactea
3
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
Gráfico 9 – Afecções observadas no Aparelho Mamário.
3.2.6.1 – Mamites
A mamite é a doença dos bovinos leiteiros com maior prevalência. Para além
dos prejuízos económicos que acarreta, levanta problemas de saúde pública quer pela
possível transmissão ao Homem de alguns dos seus agentes etiológicos, quer pelos
transtornos que pode causar a ingestão de leite e seus derivados com resíduos de
antibióticos e produtos de metabolismo de alguns agentes microbianos.1
O clínico é chamado a intervir quase sempre em mamites clínicas, pois não é
prática comum o uso de TCM (teste californiano de mamites) nas explorações. As
inflamações subclínicas são uma das principais causas de perda de produção de leite,
além de aumentarem a probabilidade dos casos clínicos. Daí a importância do seu
diagnóstico por métodos indirectos (contagens celulares, onde o número de leucócitos
libertados no leite é proporcional ao número de agentes patogénicos) ou por técnicas
laboratoriais (culturas microbiológicas). 20
45
Nas mamites clínicas, os sinais clínicos como cor, densidade e aspecto geral do
leite, bem como volume, consistência e forma úbere permitem, com uma certa margem
de erro, identificar o principal grupo de agentes implicados na mamite.
As infecções mamárias na vaca são talvez, o melhor exemplo de infecções
multifactoriais. De facto, as causas de mamites são múltiplas e a qualidade de ordenha,
a higiene no maneio e o microbismo ambiental vão condicionar o seu aparecimento.
Durante o período em que decorreu o estágio (Outono-Inverno), a maior parte das
mamites encontradas foram suspeita de ou provocadas por Streptococcus spp. (S. uberis
e S. agalactiae, …), Staphylococcus aureus e E. coli. Segundo se apurou da patologia
regional, as mamites provocadas por Corynebacterium pyogenes sofrem um pico
considerável no Verão, sendo conhecidas por “mamite de Verão”.
S. aureus: a maioria das infecções causadas por S.aureus evolui sob a forma clínica que
são normalmente, suaves ou moderadas.
31
As alterações nas secreções mamárias
começam com a presença de coágulos e flocos. A principal fonte de infecção é o leite
secretado por vacas adultas com os quartos infectados mas o equipamento de ordenha
contaminado e as mãos dos ordenhadores também são fontes comuns de transmissão,
por isso, a higiene na ordenha tem uma importância primordial, especialmente quando
sabemos que os microrganismos parasitam no meio. 20,31
S. agalactiae: este é um habitante obrigatório da glândula mamária, não invade os
tecidos e é susceptível à terapêutica. Há a formação de “rolhões” de fibrina que
bloqueiam os ductos e impedem a drenagem daquela área da glândula, a resposta
inflamatória causa necrose do tecido e há a substituição deste por tecido fibroso,
resultando numa diminuição da produção de leite. 20,31
S. uberis: é o agente causal mais frequente de mamite durante o período de secagem,
raramente originam mamites clínicas e as infecções permanecem subclínicas durante
longos períodos de tempo que na ausência de tratamento causa grandes perdas na
produção leiteira. A principal fonte de infecção deste microrganismo é o ambiente. 10
E. coli: a fonte primária de infecção são as fezes dos bovinos, embora a multiplicação
secundária das bactérias nas camas seja muitas vezes um factor importante.
10
As
46
mamites são geralmente clínicas, despoletam uma resposta inflamatória muito elevada e
seu período de duração é curto.
O facto de ocorrerem muitas mamites no período de Inverno pode justificar-se
porque durante este período as vacas encontram-se sempre no mesmo local, o que
embora torne o maneio mais fácil e com menos deslocações, aumenta a sujidade e a
lama na zona da máquina de ordenha e a propensão para o aparecimento de mamites
ambientais. Alguns dos erros mais frequentemente encontrados na ordenha foram:
-
Lavagem dos tetos com a mesma esponja para todas as vacas;
-
Primeiros jactos para avaliação visual do leite são feitos para o chão;
-
A ordem estabelecida para a ordenha das vacas nem sempre é a melhor, porque
embora a ordenha das vacas com leite mamítico ou com antibióticos seja feita
para um recipiente à parte, é por vezes intercalada com a de vacas saudáveis,
ocasionando assim a propagação de infecções e o aparecimento de resistências
aos antibióticos;
-
Animais vão para a lama após a ordenha apesar de desinfectarem o teto.
Em alguns casos assistidos, o proprietário já tinha medicado o animal, surgindo
posteriormente resistências aos antibióticos usados, ou formando uma mamite
crónica de muito difícil tratamento. As mamites crónicas passam por períodos de
latência, mais ou menos longos, com acessos esporádicos de mamite clínica.
3.2.6.2 – Obstrução/hiperqueratose do canal do teto
É um problema quase exclusivo da ordenha mecânica, onde factores como o
excesso de vácuo no equipamento ordenha, a retirada da tetina sem a interrupção do
vácuo, a tetina em más condições e a sobre ordenha, de um modo geral, aumentam a
incidência de hiperqueratose, o que dificulta o fecho do canal do teto e nas vacas
lactantes, este canal é a primeira e mais importante linha de defesa, particularmente
porque a superfície exterior está exposta a muitas bactérias ambientais e com a
hiperqueratose há uma maior incidência de mamites porque um esfíncter nestas
condições deixa de coaptar correctamente. Dai a importância deste problema que é,
muitas vezes, erradamente ignorado.
47
Esta patologia ocorre com alguma frequência, embora só tenham sido registados
os casos mais graves, que resultaram em mamites clínicas.
Contudo, este é um problema difícil de eliminar principalmente em manadas de
grandes dimensões, onde existem animais com produção e velocidade de ordenha muito
diferentes.
3.2.7 – APARELHO UROGENITAL
Aparelho Urogenital
9
Brucelose (suspeita)
Diagnóstico de gestação
Hidropsia das membranas fetais
1
Fetotomia
1
3
Distócia resolvida por cesariana
6
Distócia resolvida por manobras
5
Indução do parto
4
Parto
10
Aborto
51
Retenção placentária
3
Torção uterina
23
Endometrite/Metrite
Metrorragia
1
Rotura uterina
1
Prolapso uterino
1
22
Quistos ováricos/Degenerescencia ovárica
14
Inactividade ovárica/Ovários pequenos
13
Laceração vaginal/Laceração da cervix
11
Vaginite/Cervite
2
Tumores da vulva
3
Indução do estro
Freemartinismo
1
Schistosoma reflexus
1
3
Tumor da bexiga/Hematúria
0
10
20
30
40
50
60
Gráfico 10 – Afecções observadas no Aparelho Urogenital.
48
3.2.7.1 – Retenção placentária
Nas vacas, as membranas fetais são eliminadas fisiologicamente até 12 horas após
o parto ou aborto. O decréscimo da população de células epiteliais carunculares e a
apoptose participam activamente no processo normal de maturação e posterior
libertação da placenta. A retenção parcial ou total das membranas fetais, por um período
mais prolongado, deve ser considerado como patológico. 2 (Figura 13)
Uma retenção placentária resulta quase sempre em putrefacção da placenta inútero, com consequente metrite. Mesmo não evoluindo para septicemia, que põe em
causa a vida do animal, uma metrite exige sempre gastos em tratamento, diminuindo
assim a taxa de fertilidade.
A retenção placentária raramente se trata de um processo primário, sendo na
maioria dos casos causadas por distúrbios dos mecanismos de deslocamento os
placentomas.
2
A sua incidência aumenta com: idade, número de partos da vaca,
nascimento prematuro, indução do parto, aborto, distócia, fetotomia, prolapso uterino,
hipocalcemia, partos gemelares e placentite. 2,25
Outros factores que aumentam a incidência de retenção placentária são as
alterações nutricionais e as carências em selénio, vitamina E e vitamina A. Os Açores,
por se tratar de uma região jovem do ponto de vista geológico e com origem vulcânica,
apresenta solos muito deficitários em selénio.
O selénio é um mineral essencial a diversas funções orgânicas, agindo
intimamente ligado com a vitamina E de uma forma sinérgica para proteger as células e
os tecidos da oxidação. Muitas vezes, a deficiência deste mineral manifesta-se em
atrasos nos crescimento e distrofia muscular nutricional nos bovinos jovens (conhecido
como doença do músculo branco), mas outra consequência e aquela que proporções
mais alarmantes atingem a região é a retenção placentária. 35
Através de um estudo realizado pelo Dr. Vidal nos últimos dois anos em duas
explorações, verificou-se que a carência em selénio era a principal causa da elevada taxa
de retenção planetária. Uma exploração apresentava taxas de aproximadamente 70% e
outra de 40%. A todas as vacas foram administradas 42 miligrama (mg) de selénio e
3,75 g de vitamina E, na altura da secagem. Como resultado, verificou-se um
decréscimo para valores abaixo dos 10% das vacas que fizeram retenções placentárias.
Assim aconselha-se aos produtores a utilização de selénio injectável aquando da
secagem, de forma a reduzir este problema.
49
Figura 13 – Vaca com retenção placentária.
3.2.7.2 – Hematúria Enzoótica Bovina (HEB)
A HEB é uma doença de evolução crónica e de origem tóxica, sendo caracterizada
pelo desenvolvimento de lesões inflamatórias e neoplásicas na parede da bexiga e
clinicamente por hematúria intermitente e morte por anemia. Bovinos a partir de 1ano
de idade podem ser afectados mas a doença ocorre principalmente em animais com mais
de 4anos de idade. 13
Embora a HEB tenha uma etiologia multifactorial, o feto vulgar denominado
Pteridium aquilinum é apontado como o principal agente etiológico. Este feto encontrase disseminado pelas pastagens da ilha e as condições climáticas, temperaturas
moderadas, a elevada pluviosidade, natureza dos solos e algumas práticas de maneio
favorecem o crescimento e disseminação desta planta infestante. O principal
constituinte carcinogénico deste feto é o ptaquilósido. 13
A idade dos animais, a duração do período de ingestão, as adubações com
nitratos/nitritos e as suplementações vitamínicas e minerais são factores que influenciam
a forma, localização e incidência das lesões neoplásicas induzidas pelo consumo dos
fetos.
A intoxicação aguda provoca necrose do epitélio intestinal e aplasia medular,
geralmente com consequências fatais.
A intoxicação crónica provoca hematúria devido à ocorrência de tumores de
bexiga. Em 2006, foram registados no matadouro industrial de São Miguel 2035
50
animais com tumores de bexiga, sendo a principal causa de rejeição total das carcaças
de bovinos. No exame post-mortem, a carcaça apresenta-se pálida e emaciada, a bexiga
contém coágulos de sangue e a presença de hemangiomas na submucosa é característico
de HEB.
São contra-indicados quaisquer tentativas de tratamento e os animais afectados
devem ser abatidos.
Os custos para o produtor estão relacionados com a morte dos animais, com a
diminuição dos índices reprodutivos (abortos, infertilidade, malformações), redução da
produtividade nos animais sobreviventes e custos com o controlo das plantas tóxicas. 13
Devido à sua importância, a HEB está incluída no Plano Global de Sanidade,
sendo uma das doenças prioritárias a combater em São Miguel.
3.2.7.3 – Inactividade ovárica/Quistos ováricos
Uma dieta deficiente em energia é a principal causa de inactividade ovárica,
onde a vaca está em anestro prolongado, com os ovários de consistência aumentada e
tamanho semelhante a um feijão.
Os quistos ováricos aparentam, pela quantidade de casos encontrados, ter grande
importância na fertilidade das manadas.
São considerados quistos ováricos os folículos que atingem um diâmetro mínimo
de 17 mm e que persistem por mais de 6 dias na ausência de um corpo lúteo, havendo
uma alteração funcional do padrão da actividade ovárica. 27
Podem ser estruturas simples ou múltiplas, sendo a condição poliquística muito
frequente. A ciclicidade pode voltar ao normal após a regressão do quisto, mas o mais
comum é que os quistos em regressão sejam substituídos por novos quistos.
Estruturalmente, os quistos foliculares apresentam paredes finas, enquanto que os
quistos luteínicos apresentam paredes mais espessas e suficientemente luteinizados para
serem identificadas ecograficamente. 27
Os animais com quistos ováricos podem exibir ninfomania, anestro (mais
frequente) ou uma combinação errática de estro com anestro.
Os factores de risco associados à ocorrência de quistos ováricos são: a
hereditariedade, nutrição do animal, stress puerperal, a produção de leite, a idade e
número de lactações do animal.
51
Aceita-se que esta condição tem uma etiologia multifactorial, em que uma série
de factores climáticos, ambientais e hereditários são responsáveis pela presença de
doença.
O tratamento de quistos ováricos com preparações hormonais é considerado o
tratamento ideal, sendo frequentemente tratados com sucesso através da hormona
libertadora de gonadotropina (GnRH), gonadotropina coriónica humana (hCG) ou
hormona luteinizante (LH). 12
3.2.8 – DESIQUILÍBRIOS METABÓLICOS
Desequilíbrios Metabólicos
Toxémia de gestação
1
Acetonémia (forma nervosa)
2
17
Acetonémia (forma digestiva)
Hipocalcémia sub-clinica
9
Hipocalcémia pós-parto
48
3
Hipocalcémia peri-parto
0
10
20
30
40
50
60
Gráfico 11 – Afecções observadas com origem em desequilíbrios metabólicos.
3.2.8.1 – Hipocalcemia
Hipocalcemia é uma doença metabólica que ocorre principalmente nas vacas
adultas entre os 5 e 9 anos de idade nas primeiras 48 horas após o parto, podendo
ocorrer algumas semanas antes ou depois do parto.
21
É uma doença não febril, onde
ocorre colapso circulatório, paresia generalizada e diminuição da consciência. 27
Está normalmente associado ao início da produção leiteira porque no momento
do parto e início da secreção láctea, passam quantidades apreciáveis de cálcio do sangue
para o colostro. Uma vaca produzindo 10 kg de colostro, perde cerca de 23g de cálcio, o
que é cerca de 9 vezes a quantidade de cálcio presente em todo o “pool” plasmático do
52
animal. 21 O cálcio sanguíneo que se perde tem de ser reposto através de um aumento da
absorção intestinal e reabsorção óssea de cálcio.
O elevado número de casos verificados durante o estágio é devido ao baixo teor
em cálcio dos solos locais, que raramente é corrigido convenientemente com a
adubação, resultando assim forragens muito pobres neste macroelemento. A quantidade
de concentrado ingerida pelos animais normalmente também não chega para colmatar
esta carência.
São considerados factores de risco a idade do animal, a alta produção de leite e o
período seco. 21
Idade: O envelhecimento está associado a um abrandamento do metabolismo ósseo e a
uma diminuição da eficiência da absorção intestinal de cálcio. As novilhas quase nunca
desenvolvem febre vitelar porque se adaptam rapidamente às grandes exigências de
cálcio para a lactação.
Produção leiteira: A mudança de um estado fisiológico (gestação) a outro (lactação) no
animal provoca, a nível do metabolismo do cálcio, uma brusca mudança, pois em
lactação a quantidade de cálcio necessária para o organismo é muito superior ao da
gestação e a excessiva perda de cálcio para o colostro ultrapassa a capacidade de
absorção intestinal e de mobilização óssea.
Período seco: dietas pobres em cálcio durante o período seco previnem a hipocalcemia
através da actuação de mecanismos de reabsorção do cálcio ósseo e absorção intestinal.
O excesso de cálcio neste período torna o organismo ineficaz de utilizar estes
mecanismos de compensação na altura do parto.
Sendo estes animais de alta produção, que têm exigências elevadas que
dificilmente são cobertas, passam as primeiras semanas da sua vida produtiva em
hipocalcemia subclínica, porque os mecanismos homeostáticos do cálcio podem não
estar suficientemente adaptados. A hipocalcemia subclínica é muito importante porque
inibe a motilidade ruminal, afectando o apetite e exacerbando o balanço energético
negativo já existente no animal durante o primeiro mês de lactação.
Porém, muitas recidivas ocorrem porque há uma diminuição dos níveis séricos
de fósforo, havendo um desequilíbrio na relação cálcio: fósforo.
53
A prevenção e controlo passa por:
-
Dietas pobres em cálcio e fósforo durante o período seco;
-
Evitar que no início da lactação o animal fique sem comer porque a absorção
intestinal de cálcio é a maior fonte de cálcio;
-
Evitar a excessiva condição corporal do animal e o stress na altura do parto;
-
A administração de vitamina D3 permite um aumento da absorção intestinal de
cálcio.
Muitos produtores já administram soluções de cálcio endovenosas (Figura 14) a
seguir ao parto e alguns até administram vitamina D3 alguns dias antes, mas o número
de chamadas por “vacas caídas de parto” é muito grande porque algumas vezes já foi
administrado cálcio ao animal mas em quantidade insuficiente e muitas recidivas
ocorrem devido a desequilíbrios metabólicos na relação cálcio: fósforo, sendo
necessário fornecer fósforo por via oral aquando do tratamento de hipocalcemia.
Figura 14 – Fluidoterapia a um animal com hipocalcemia.
3.2.8.2 - Acetonémia
É uma alteração metabólica com origem num balanço energético negativo
durante o início da lactação, onde há uma redução da glucose sanguínea e hepática e um
aumento da mobilização de gordura, resultando numa elevação anormal da
concentração de corpos cetónicos. 4
A cetose bovina é das doenças metabólicas mais comuns das vacas leiteiras de
alta produção e a sua prevalência é elevada na maior parte dos países. A taxa de
54
ocorrência tem aumentado muito devido ao incremento no potencial de lactação das
vacas leiteiras. 21
Ocorre mais frequentemente nas primeiras 6 semanas pós-parto, porque a
ingestão de alimento não acompanha o rápido aumento das necessidades energéticas
para a produção leiteira.
21
O pico de lactação ocorre aproximadamente às 4 semanas
pós-parto, enquanto que o pico de ingestão de matéria seca só se verifica às 7-8
semanas. Assim, as vacas de alta produção apresentam um balanço energético negativo
porque o fornecimento de glucose é inferior ao referido para a produção láctea, e o
organismo tem de compensar mobilizando a gordura corporal e as reservas proteicas. 4
As vacas secas e as novilhas gestantes excessivamente gordas têm um grande
risco de desenvolver cetose após o parto porque uma condição corporal em excesso,
devido a um período seco muito longo ou a uma alimentação incorrecta, inibe a ingestão
de alimentos, aumentando a mobilização das reservas corporais e a perda de peso no
pós-parto. 4,21
A cetose clínica ocorre quando a exigência de glucose pela glândula mamária
excede as reservas energéticas disponibilizadas pela dieta e mobilização da gordura,
originando uma hipoglicemia. As necessidades diárias de glucose aumentam 30 % no
fim da gestação e 75 % com o início da lactação. Apenas 10 % dessas necessidades está
sob a forma de glucose, pois a energia é apresentada ao fígado na forma de ácidos
gordos voláteis (AGV), sendo os principais o acetato, o propionato e o butirato. 4
A cetose manifesta-se clinicamente através de duas principais formas: a
digestiva e a nervosa.
21
A forma digestiva é mais comum e os sinais prolongam-se por
2-4 dias e o peso corporal diminui muito rapidamente devido à diminuição do consumo
de alimentos. Os episódios nervosos duram aproximadamente 1 a 2 horas e repetem-se
em intervalos de 8-12 horas, durante as quais é frequente os animais traumatizarem-se
fisicamente. 4,21
A sua alta incidência e os seus efeitos são uma das principais perdas económicas
nas explorações leiteiras, devido aos custos de tratamento, à diminuição da produção
leiteira, ao aumento da mortalidade e à redução da fertilidade.
A profilaxia passa por uma alimentação e maneio correctos durante o fim da
lactação para que o animal tenha uma boa condição corporal na altura do parto. Existem
formulações orais à base de propilenoglicol, para aplicação pelos próprios produtores,
que ajudam a combater este problema quando aplicados por rotina, mas são raros os
casos de aplicação na prática local.
55
3.2.9 – OUTROS
Outros
Acidentes com meios de transporte
4
Clostridiose (possivel)
1
Ataques de cães
9
Hipertrofia ganglionar
2
Intoxicação cronica por nitratos
2
Intoxicação aguda por nitratos
1
Intoxicação por Lantana camara
2
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Gráfico 12 – Afecções de várias origens.
3.2.9.1 – Fotossensibilidade
Existe fotossensibilidade quando uma substância fotodinâmica penetra na pele e é
afectada pela luz ultravioleta suficiente para activar a inflamação ou para criar uma
reacção fotoquímica que desprende energia, provocando a lesão subsequente da pele.
(Figura 15) Nas vacas, as zonas das uniões muco-cutâneas e as partes de pêlo branco
são os sítios mais frequentes da fotossensibilidade. 23
Figura 15 – Fotossensibilização.
56
A ingestão do fungo Phitomyces chartarum, de Lantana camara e uma
intoxicação crónica de nitratos são factores que levam a fotossensibilidade ou “doença
de pele”. Para a distinção da causa, é importante ter em conta a altura do ano, o número
de animais afectados, a evolução da doença e o tipo de lesões.
3.2.9.1.1 – Phitomicotoxicose (Eczema facial)
Todos os anos, com maior incidência no período compreendido entre Agosto e
meados de Outubro, ocorrem diversos casos de fotossensibilização nas explorações
pecuárias em São Miguel.
Esta doença encontra-se disseminada nas regiões que possuem condições
climatéricas propícias (temperaturas e humidade elevadas) ao desenvolvimento do
fungo Phitomyces chartarum, que possui uma toxina denominada esporodesmina que
provoca graves lesões hepáticas. O fígado lesado fica incapacitado de eliminar a
filoeritrina, substância resultante da degradação da clorofila, que conserva propriedades
fotossensíveis e que se vai acumular na circulação periférica, onde a incidência directa
dos raios solares provoca lesões cutâneas. 36
O animal perde o apetite, apresenta fotofobia (procura as sombras), excitação,
prurido e as áreas despigmentadas e glabras da pele apresentam hiperémia. Numa fase
mais avançada, as zonas queimadas ficam escuras, com a pele ulcerada, desidratada e
muito dura. As mucosas ficam ictéricas, há poliúria e o aborto ocorre frequentemente.
Pode ocorrer a morte do animal.
Dentro de uma mesma exploração, os casos de fotossensibilização verificam-se
particularmente nas vacas secas e nas novilhas, dado que estas normalmente são
separadas do grupo de produção e em muitos casos alimentados com erva das
pastagens.
O controlo passa por: 36
- Evitar aplicar fertilizantes azotados durante os meses de Agosto e Setembro
porque uma pastagem azotada é potencialmente mais perigosa
- Fornecer silagem a todos os animais durante o período crítico
- Quando o problema for detectado, reduzir ao mínimo a dependência alimentar da
pastagem problema.
57
- Todo o animal afectado deve ser isolado num local sombrio
- Proteger os animais de uma eventual contaminação através da administração de
zinco nos períodos de maior susceptibilidade, porque o zinco actua ligando-se à toxina
do fungo formando quelatos, impedindo assim que provoque lesões no ficado.
3.2.9.1.2 – Intoxicação por Lantana camara
A Lantana camara (Figura 16) está presente durante todo o ano nas pastagens,
mas uma das épocas de desenvolvimento exuberante é a Primavera. É uma doença de
evolução rápida que afecta mesmo os animais mais saudáveis.
A intoxicação por L. camara provoca uma destruição hepática grave, causando
colestase intra-hepática com consequente icterícia (mucosas ficam muito ictéricas) e as
fezes apresentam-se duras e muito escuras. Há fotofobia e a pele fica hiperémica e
engrossada. O animal deixa de comer e beber devido à dor que tem ao mastigar e
engolir (porque as mucosas ficam muito danificadas), a depressão e desidratação são
graves, há estase ruminal e pode ocorrer cegueira. A morte do animal é frequente.
Impedir o acesso dos animais à planta é a medida mais eficaz.
Figura 16 – Lantana camara.
3.2.9.1.3 – Intoxicação crónica por nitratos
Trata-se de um problema típico do Outono, altura em que a erva está muito jovem
e com elevados níveis de azoto. Ocorre em qualquer tipo de pastagem, mas com maior
58
incidência nas pastagens provenientes de terras onde se cultivou milho ou beterraba,
uma vez que estas terras são normalmente fertilizadas com grandes quantidades de
azoto.
A evolução dos sintomas varia com os níveis de toxicidade das plantas e com a
quantidade de alimento contaminado ingerido.
Quando uma grande quantidade de erva com elevado teor em nitratos é ingerido,
ocorre a intoxicação aguda, onde as bactérias do rúmen reduzem os nitratos em nitritos,
que uma vez absorvidos e em circulação oxidam o ião ferro existente na hemoglobina,
transformando-o em metahemoglobina, sucedendo-se uma situação de anóxia e muitas
vezes a morte do animal. 14,37
Porém, quando as pastagens não estão muito contaminadas, pode ocorrer a
intoxicação crónica que afecta principalmente os animais com doença hepática
preexistente, que os torna mais sensíveis ao nitrito, ocorrendo a fotossensibilização.
O teste da difenilamina parece ser o mais indicado para solos, forragens e vegetais,
sendo este um teste qualitativo que em caso de positividade indica uma exposição aos
nitratos que pode levar a uma possível intoxicação. Este teste baseia-se no princípio de
que os aniões nitrato/nitrito em meio ácido (ácido sulfúrico) oxidam a difenilamida, da
qual resulta uma cor azul intensa. (Figura 17) Se 10segundos após a aplicação da
solução se notar o aparecimento da cor azul, estamos na presença de um teor em nitrato
superior a 1-2%, passível de causar intoxicações. 7
Este problema pode ser evitado através da utilização de formulações azotadas de
libertação controlada ou azoto amoniacal e amidrico com inibidor de nitrificaçao.
Figura 17 – Teste difenilamina positivo.
59
3.2.9.2 - Ataque por cães
Este é um problema em crescimento e com forte impacto numa região que tem, na
sua maioria dos casos, todos os animais em pastoreio.
Quase todos os produtores têm, preso à máquina de ordenha móvel, um cão cuja
função é manter as vacas afastadas da máquina durante o dia, quando não está a ser feita
a ordenha. Por vezes, estes cães tornam-se errantes e na altura do Verão, há muitos
animais que são abandonados nas pastagens pela população.
Estando o Canil Municipal superlotado, as recolhas dos animais já praticamente
não se fazem e não existe qualquer programa de controlo deste problema. Assim, como
as matilhas de cães têm vindo a aumentar, estes atacam os animais em pastoreio,
estando as vacas paralisadas devido ao parto e os vitelos nos primeiros meses de vida
particularmente vulneráveis.
A construção de um novo Canil Municipal e um programa de recolha e controlo
dos animais é absolutamente necessário. A educação e sensibilização da população em
geral para o abandono dos animais também devem ser feita.
60
4- CONCLUSÃO
O estágio é uma etapa muito importante no percurso académico de um estudante
porque facilita a transição entre o mundo universitário e o mundo do trabalho, sendo o
início daquilo que deverá ser uma aprendizagem contínua e um aperfeiçoamento
permanente por parte do médico veterinário. Através da aplicação prática dos
conhecimentos teóricos adquiridos ao longo de cinco anos, o estágio transmite novos
conhecimentos e cimenta os já existentes.
Relativamente à exploração de bovinos de aptidão leiteira em São Miguel, há
ainda muito a fazer para melhorar a produção, nomeadamente no que diz respeito ao
maneio e profilaxia, porque na produção pecuária há que minimizar os gastos e os
custos com o diagnóstico e com o tratamento devem ser considerados. Assim, a clínica
de espécies de pecuárias irá passar essencialmente pela prevenção, deixando-se para trás
a clássica medicina curativa.
O médico veterinário desempenha um papel fundamental no meio rural porque,
para além da actividade clínica que pratica, tem um papel importante na transmissão de
conhecimentos sobre medidas profiláticas e regras de maneio alimentar e higiosanitárias, nunca esquecendo a vertente social.
Creio ter adquirido princípios e perspectivas que irão ser importantes na minha
vida profissional e pessoal, e num mundo cada vez mais competitivo e economicista,
valores como a amizade e honestidade devem estar sempre presentes em nós.
61
5- BIBLIOGRAFIA
1- ANDRADE, V.A. (1984). Controlo de Mamites: 1-16. Escola Superior Agrária –
Instituto Politécnico de Castelo Branco. Castelo Branco.
2- BIRGEL, E.H; GRUNERT, E. (1984). Purpério Patológico. Em: Obstetrícia
Veterinária. 2ªed. Sulina, Barcelona, pp. 131-305.
3- CARLSON, G.P. (2002). Diseases of the Hematopoietic and Hemolymphatic
Systems. In: Large Animal Internal Medicine, 3rd ed. Editores: B.P.Smith. Mosby, pp.
1067-1070.
4- DYBDAL, N.O. (2002). Endocrine and Metabolic Dideases. In: Large Animal
Internal Medicine, 3rd ed. Editores: B.P.Smith. Mosby, pp. 1241-1247
5- Enciclopédia Geográfica Selecções Reader´s Digest, 1988.
6- JACKSON, P.G.G. (1995). Handbook of Veterinary Obstetrics, W.B. Saunders
Company, Londres, pp. 188-196.
7- JONES, T.O. (1991): Nitrate/nitrite poisoning in cattle. In: Bovine practice. Ed.
Edward Boden-Bailliére Tindall, London.
8- MENDONÇA, O.R.: Caracterização das explorações agro-pecuárias da ilha de São
Miguel.
9- MIGUEL QUARESMA Pneumonia em vitelos. Em: I Congresso de Medicina
Equina e Bovina – 25 e 26 Março 2006.
10- MOORE, C.P. (2002). Diseases of the Eye. In: Large Animal Internal Medicine,
3rd ed. Editores: B.P. Smith. Mosby, pp. 1168-1170.
62
11- MURRAY, M.J; SMITH, B.P. (2002). Diseases of the Alimentary Tract. In: Large
Animal Internal Medicine, 3rd ed. Editores: B.P. Smith. Mosby, pp. 593-789.
12- PETER, A.T. (1997). Infertility due to Abnormalities of the Ovaries. In: Current
Therapy in Large Animal Theriogenology (Youngquist R.S.). W.B. Saunders Company,
Philadelphia, pp. 349-351.
13- PINTO, C.A. (2001). Hematúria Enzoótica Bovina na Ilha de São Miguel – Açores.
Revista Portuguesa de Buiatria, 5, 59-64.
14- PINTO, C; LOBO, A. (2000). Intoxicação por Nitratos em Bovinos. O Médico
Veterinário, nº65.
15- RADIOSTITIS, O.M. (2000). Diseases caused by bactéria – III. In: Veterinary
Medicine, 9th ed. Editores: O.M. Radiostitis, et al. W.B. Saunders Company, pp. 867891.
16- RADIOSTITIS, O.M. (2000). Diseases caused by bacteria – IV. In: Veterinary
Medicine, 9th ed. Editores: O.M. Radiostitis, et al. W.B. Saunders Company, pp. 909942.
17- RADIOSTITIS, O.M. (2000). Diseases caused by viruses and chlamydia – I. In:
Veterinary Medicine, 9th ed. Editores: O.M. Radiostitis, et al. W.B. Saunders Company,
pp. 1019-1134.
18- RADIOSTITIS, O.M. (2000). Diseases caused by viruses and chlamydia – II. In:
Veterinary Medicine, 9th ed. Editores: O.M. Radiostitis, et al. W.B. Saunders Company,
pp. 1233-1237.
19- RADIOSTITIS, O.M. (2000). Diseases of the alimentary tract – II. In: Veterinary
Medicine, 9th ed. Editores: O.M. Radiostitis, et al. W.B. Saunders Company, pp. 321332.
63
20- RADIOSTITIS, O.M. (2000). Mastitis. In: Veterinary Medicine, 9th ed. Editores:
O.M. Radiostitis, et al. W.B. Saunders Company, pp. 601-691.
21- RADIOSTITIS, O.M. (2000). Metabolic diseases. In: Veterinary Medicine, 9th ed.
Editores: O.M. Radiostitis, et al. W.B. Saunders Company, pp. 1417-1474.
22- RADIOSTITIS, O.M. (2000). Specific diseases of uncertain etiology. In:
Veterinary Medicine, 9th ed. Editores: O.M. Radiostitis, et al. W.B. Saunders Company,
pp. 1813-1815.
23- REBHUN, W.C. (1995). Enfermedades de la piel. In: Enfermedades del Ganado
Vacuno Lechero. Editores: W.C. Rebhun. Editorial Acribia (Zaragoza).
24- REBHUN, W.C. (1995). Ocular diseases. In: Diseases of dairy cattle, Williams &
Wilkins, Baltimore, pp. 470-478
25- SEGUIN, B; TROEDSSON, M.H.T. (2002). Diseases of the Reproductive Sistem.
In: Large Animal Internal Medicine, 3rd ed. Editores: B.P. Smith. Mosby, pp. 12921346.
26- SIEGMUND, O.T. (2005a). Eye and Ear. In: The Merck Veterinary Manual, 9th ed.
Editor: O.T. Siegmund. Merck & CO., Inc (USA).
27- SIEGMUND, O.T. (2005b). Metabolic Disturbances. In: The Merck Veterinary
Manual, 9th ed. Editor: O.T. Siegmund. Merck & CO., Inc (USA).
28- SILVIA, W.J; HATLER, T.B; NUGENT, A.M; LARANJA, L.F. (2002).
Ovarian Follicular Cysts in Dairy Cows: Na abnormality in folliculogenesis. Domestic
Animal Endocrinology, 23, 167-177.
29- SMITH, M.O. (2002). Diseases of the Nervous System. In: Large Animal Internal
Medicine, 3rd ed. Editores: B.P. Smith. Mosby, pp. 881-882.
64
30- THEILEN, G.H; MADEWELL, B.R. (1987). Papillomatosis and Fibromatosis.
In: Veterinary Cancer Medicine, 2th ed. Editores: G.H. Theilen; B.R. Madewell.
Editorial Lea & Febiger (Philadelphia), pp. 267-282.
31- TYLER, J.W; CULLOR, J.S. (2002). Mammary Gland Health and Disorders. In:
Large Animal Internal Medicine, 3rd ed. Editores: B.P. Smith. Mosby, pp. 1029- 1038.
32- WILKINS, P.A; BAKER, J.C; AMES, T.R. (2002). Diseases of the Respiratory
System. In: Large Animal Internal Medicine, 3rd ed. Editores: B.P. Smith. Mosby, pp.
479-592.
33- VIDAL, J. (2006). Diarreias em jovens. Agricultor2000
34- VIDAL, J. (2006). Fotossensibilização. Agricultor2000
35- VIDAL, J. (2006). Influencia do Selénio na Produção. Agricultor2000
36- VIDAL, J. (2006). Intoxicação por Nitratos. Agricultor2000
37- http://acores.sapo.pt/turismo/sãomiguel/. Acedido no dia 4 de Fevereiro de 2007.
38- http://www.meteo.pt/. Acedido no dia 7 Fevereiro de 2007.
39- http://www.ine.pt/. Acedido no dia 9 Fevereiro de 2007.
40- http://srea.ine.pt/. Acedido no dia 9 Fevereiro de 2007.
41- http://www.manualmerck.com/. Acedido no dia 2 de Março de 2007.
65

Documentos relacionados