Anais • III FAVE
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Anais • III FAVE
SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................................06 A PALAVRA DO DIRETOR...................................................................................................................07 CORPO DOCENTE...............................................................................................................................09 COMITÊ ORGANIZADOR.....................................................................................................................10 COMITÊ CIENTÍFICO...........................................................................................................................11 1 - GT 1 – CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA......................................................................................12 1.1 ARTIGO..........................................................................................................................................14 1.1.1 Panorama do custo de produção da cafeicultura de montanha na Zona da Mata Mineira, Minas Gerais – BRASIL ..................................................................................................................................15 1.1.2 Sustentabilidade dos Sistemas Agroflorestais na Agricultura Familiar no córrego dos Eliotas Simonésia - MG.....................................................................................................................................22 2- GT 2 - CIÊNCIAS BIOLÓGICAS.......................................................................................................31 2.1 ARTIGOS........................................................................................................................................33 2.1.1- Conforto térmico e ambientação relacionada à arborização no bairro Boa Vista, em Matipó: um estudo desenvolvido pelo Programa Social...........................................................................................34 2.2- RESUMOS.....................................................................................................................................43 2.2.2- Anastomoses Interarteriais Coronarianas em Queixadas (Tayassu pecari Link, 1795)......................................................................................................................................................44 2.2.3 - Aspectos anatômicos da traqueia e brônquios principais no lobo marinho (Arctocephalus australis Zimmermann, 1783) ...............................................................................................................46 2.2.4 - Caracterização anatômica das vias biliares do queixada (Tayassu pecari Link, 1795)......................................................................................................................................................49 2.2.5 - Influência do acetato de medroxiprogesterona sobre o ciclo estral e a histomorfometria uterina de camundongas...................................................................................................................................52 2.2.6 - Padrão anatômico das artérias coronárias do queixada (tayassu pecari link, 1795)......................................................................................................................................................55 2.2.7 - Distribuição intraparenquimal dos ramos da veia porta hepática no queixada (tayassu pecari link, 1795) .............................................................................................................................................58 3 - GT 4- CIÊNCIAS DA SAÚDE...........................................................................................................61 3.1 ARTIGOS.........................................................................................................................................63 3.1.1- Educação Continuada em Humanização: diminuindo as barreiras entre profissional e profissionais, cliente e profissionais nas clínicas médica, cirúrgica e pediátrica...............................................................................................................................................64 3.1.2- Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças de uma escola da rede pública do município de Matipó-MG.......................................................................................................................74 3.1.3 - Complicações frequentes pós-tratamento cirúrgico do câncer da mama em mulheres do município de Caratinga-MG ..................................................................................................................82 3.1.4 - Incidência de diabetes e hipertensão entre as mulheres matipoenses e a influencia da bebida e do cigarro na manifestação dessas doenças........................................................................................92 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3.1.5 - Multidisciplinar na utilização da nutrição parenteral em hospitais da região leste de Minas Gerais..................................................................................................................................................101 3.1.6 - Projeto piloto - Análise do conhecimento sobre métodos contraceptivos de graduandos de Matipó-MG...........................................................................................................................................110 3.1.7 - Automedicação referida por professores e acadêmicos da área de saúde da Faculdade Vértice – Matipó MG.......................................................................................................................................119 3.1.8 - Obesidade em idade escolar: um estudo de caso do Programa Social...................................132 3.2 - RESUMOS..................................................................................................................................144 3.2.1 - Abortamento: uma análise da repercussão na vida e na saúde da mulher.............................145 3.2.2 - Síndrome de Rett: um caso atípico diagnosticado em mulher de 62 anos..............................148 3.2.3 - Estudo descritivo do consumo referido de psicofármacos em Ouro Preto-Minas Gerais (2006)..................................................................................................................................................151 3.2.4 - Aspectos da utilização de plantas medicinais pela população da região central do município de Matipó, MG..........................................................................................................................................154 3.2.5 - Distribuição dos portadores de diabetes mellitus no centro urbano de Matipó – MG..............157 3.2.6 - Diabetes mellitus tipo 2 em idosos: o papel da educação nutricional no controle glicêmico..............................................................................................................................................160 3.2.7 - Hipertensão arterial: uma breve análise no município de Matipó-MG......................................165 4 - GT 5 - CIÊNCIAS AGRÁRIAS........................................................................................................168 4.1 - ARTIGOS....................................................................................................................................170 4.1.1 - Realidade da pecuária leiteira no município de Matipó............................................................171 4.1.2 - Efeito de arranjos plantio na produtividade do milho consorciado com Brachiaria Brizantha..............................................................................................................................................179 4.1.3 - Efeito do parcelamento e modo de distribuição do adubo nitrogenado na produtividade do milho consorciado com Brachiaria Brizantha em diferentes arranjos de plantio..................................................................................................................................................187 4.2 – RESUMOS.................................................................................................................................194 4.2.1 - Análise de solo e impacto de sua utilização no custo de adubação de lavouras cafeeiras da Zona da Mata mineira..........................................................................................................................195 4.2.2 - Ocorrência de artrópodos em cultivo de café no município de Matipó, Minas Gerais – Brasil....................................................................................................................................................199 4.2.3 - Artropofauna do fragmento de mata com serrapilheira no município de Matipó, Minas Gerais – Brasil....................................................................................................................................................202 5 - GT 6 - CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS...................................................................................205 5.1 - ARTIGOS....................................................................................................................................207 5.1.1 - A importância de desenvolver habilidades de letramento digital nas matrizes educacionais........................................................................................................................................208 5.1.2 - Letramento digital: conceitos, necessidade e cidadania..........................................................218 5.1.3 - O papel dos estudos de impacto de vizinhança na construção da função social da cidade..................................................................................................................................................224 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 5.1.4 - A responsabilidade dos fornecedores de produtos e serviços pelos riscos do desenvolvimento no direito brasileiro do consumidor: uma perspectiva tutelar constitucional........................................236 6 - GT 17 - CIÊNCIAS HUMANAS......................................................................................................248 6.1 - ARTIGOS....................................................................................................................................251 6.1.1 - As descobertas das diferenças................................................................................................252 6.1.2 - O lugar da relação escola-família na educação de alunos de uma escola estadual da cidade de Manhuaçu - MG: a percepção de gestores, pais, professores e pedagogos......................................263 6.1.3 - Competição ou Cooperação? a prática esportiva do tênis e do frescobol...............................274 6.1.4 - Um diálogo preliminar entre a Educação Física que temos e a Educação Física que queremos: um estudo no município de Muriaé......................................................................................................280 6.1.5 - A relação entre Pedagogia das competências e Educação Física numa visão crítica............288 6.1.6 - Educação: nosso maior enigma...............................................................................................296 6.1.7 - Filosofia da educação: uma perspectiva de um diálogo apenas interdisciplinar?....................303 6.1.8 - Inclusão digital do professor: falamos do que?........................................................................314 6.1.9 - Políticas públicas para o desenvolvimento do esporte: um estudo comparativo entre Brasil e Cuba....................................................................................................................................................321 6.1.10 - O ensino da Matemática para alunos com necessidades educativas especiais de uma escola pública estadual de ensino especial de uma cidade do leste de Minas Gerais..................................328 6.1.11 - Efetividade do ensino da Matemática através de estratégias lúdicas...................................337 6.1.12 - O jogo como instrumento indispensável ao processo de ensino e aprendizagem da Matemática: alguns apontamentos......................................................................................................346 6.1.13 - O ensino da Geometria e a teoria Van Hiele: algumas considerações..................................355 6.1.14 - O ensino da Matemática: os desafios da aprendizagem dessa disciplina para alunos e professores..........................................................................................................................................364 6.1.15 - Coerência do processo de avaliação de aprendizagem adotado por professor do 5o ano do ensino fundamental de uma escola pública estadual do município de Manhuaçu – MG....................373 6.1.16 - O lugar do professor no processo de ensino aprendizagem: apontando alguns fatores.......383 6.1.17 - Experiência de afetividade numa turma de educação infantil de uma escola pública municipal da cidade de Manhuaçu – MG.............................................................................................................392 6.1.18 - Necessidade da educação ambiental com tribos indígenas que passam pelo processo de incorporação de elementos culturais dos não índios...........................................................................403 6.1.19 - A percepção das "pessoas comuns" sobre o governo Collor - 1989 a 1992.........................411 6.1.20 - Como os alunos são tratados pelos profissionais da escola? Um estudo realizado em escolas de um município do leste de Minas Gerais.........................................................................................420 6.1.21 - A efetividade do PROERD na resistência às drogas e violência para alunos nas escolas da cidade de Tarumirim – MG..................................................................................................................430 6.1.22 - Os fatores que interferem no processo de ensino aprendizagem: um estudo em escola pública da cidade de Tarumirim – MG.................................................................................................439 6.1.23 - Os desafios e as perspectivas dos alunos que saem da zona rural para estudar na cidade.................................................................................................................................................447 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 6.1.24 - Os desafios do processo de inclusão em uma escola pública estadual da cidade de Manhuaçu: um estudo de caso de um adolescente que apresenta Síndrome de Down....................458 6.1.25 - O judeu voador: as raízes históricas do superman - de 1932 a 1940....................................469 6.1.26 - Relação entre posse de bola e vitórias no Futsal de Alto nível: um estudo de caso da Copa do Mundo de Futsal de 2008....................................................................................................................479 6.1.27 - O perfil dos trabalhadores do café na cidade de Matipó-MG: um estudo desenvolvido pelo Programa Social..................................................................................................................................488 6.2 - RESUMOS..................................................................................................................................500 6.2.1- O futebol como conteúdo hegemônico nas aulas de Educação Física Escolar........................501 6.2.2 - A percepção dos moradores de Santo Antônio do Manhuaçu acerca dos impactos causados pela implantação da PCH areia branca: diferentes contextos socioeconômicos................................504 7 - GT 8 – LINGUISTICA, LETRAS E ARTES.....................................................................................508 7.1 - ARTIGOS....................................................................................................................................510 7.1.1 - Topônimos comerciais: uma análise da nomenclatura comercial de Matipó...........................511 7.1.2 - Qual é a pior tortura? uma análise da obra “o queijo e os vermes”, de Carlo Ginsburg..........520 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 APRESENTAÇÃO É com grande satisfação que, entre os dias 19 e 22 de outubro de 2010, a Faculdade Vértice, através da comissão organizadora do III FAVE (Fórum Acadêmico) realiza um evento que irá associar ciência, cultura, negócios e integração social. O III FAVE: ciência, cultura, negócios e integração social tem como objetivos: (1) promover intercâmbio entre acadêmicos e professores da Faculdade Vértice e de outras Instituições; (2) divulgar as produções científicas dos diversos cursos de graduação da Faculdade Vértice; (3) integrar-se à sociedade, valorizando o comércio, a cultura e as demais manifestações artísticas e culturais do município e região. E não é por acaso que o III FAVE trás, esse ano, a temática em questão. Quando tratamos de ciência nos referimos as quase 30 palestras e mini-cursos com profissionais de renome de várias instituições de ensino superior de Minas Gerais e os mais de 70 trabalhos científicos (artigo e resumos) recebidos pelo comitê científico do evento e disponíveis neste anais. Ao incluirmos a cultura versamos sobre as manifestações artísticas que Matipó tem de melhor, que foram apresentadas no evento, principalmente pelos alunos e professores das escolas. A parte de negócios será representada com as diversas empresas de Matipó e região que estiveram presentes como colaboradoras mostrando as suas marcas. E, por fim, a integração social, já que o III FAVE é um evento aberto à comunidade e que conta com a sua participação. Isso se deve ao fato de a Instituição acreditar que o cumprimento de sua especificidade apenas se concretizará se ela caminhar ao lado da sociedade. O “III FAVE é um evento que associou, num mesmo grupo, acadêmicos e professores de todos os cursos de graduação, incluindo, portanto, Administração, Agronomia, Ciências Contábeis, Enfermagem, Educação Física, Farmácia e Medicina Veterinária e o seu mais novo curso, Engenharia Civil. Além disso, no evento estiveram presentes professores e acadêmicos de outras Instituições. Engajada em seu compromisso de oferecer ensino de qualidade, a Faculdade Vértice, com seus quase três anos de existência, almejou, com o III FAVE, marcar o início de sua história de produção cientifica, já que entendemos que a pesquisa é interface do ensino. Esta Instituição tem a expectativa de obter resultados que cumpram a especificidade do evento: romper com a concepção de que o processo de produção científica é privilégio de grandes intelectuais. É a oportunidade de apontar novos caminhos, de compreender que, na Modernidade Tardia, a formação acadêmico-profissional de qualidade exige pesquisa. E pesquisar envolve trabalhar de maneira co-participativa, socializar o conhecimento, enfrentar críticas, criticar, ouvir e se fazer ouvido, respeitar e fazer-se respeitado. Essa tarefa, portanto, envolve respeito e humildade de professores especialistas, mestres, doutores e, sem dúvida, acadêmicos, independente do nível, como produtores de pesquisa. Assim, além de todos os objetivos, com o III FAVE esperamos contribuir para a sensibilização quanto à necessidade das habilidades de pesquisa como instrumento para o desenvolvimento profissional permanente. Profa. M.Sc. Kelly Aparecida do Nascimento Coordenadora do III FAVE Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A PALAVRA DO DIRETOR A Faculdade Vértice, sabe como é difícil trilhar um caminho de conquistas e vitórias. Ingressar numa faculdade implica em novos desafios, especialmente para quem deseja crescer. Em 2008 iniciamos nossas atividades, com o principal objetivo de oferecer, o que há de melhor em qualidade de ensino superior. A motivação e dedicação de nossos colaboradores são ingredientes fundamentais para o sucesso de nossa faculdade, que, com pouco mais de 2 anos de funcionamento, consolida o funcionamento de 8 cursos de graduação presencial, todos autorizados pelo MEC. Uma das características marcantes desse sucesso foi o direcionamento dos cursos para os verdadeiros anseios da sociedade regional. Cursos como Medicina Veterinária, Agronomia, Engenharia Civil se tornaram diferenciais da instituição. Além disso, toda a comunidade tem acesso aos tradicionais cursos de Administração, Ciências Contábeis, Enfermagem, Educação Física e Farmácia. A implantação desses novos cursos, no interior de Minas Gerais, ampliou as opções para todos os alunos concluintes do segundo grau, que agora podem estudar perto de suas casas, com um custo acessível. Os principais diferenciais da Vértice estão relacionados a filosofia educacional rigorosa baseada na ética e na educação como um todo, que poderá ser comprovada nas ações de implementação dos cursos e de sua equipe. No momento a faculdade investe na implantação de 2 campos experimentais para o curso de Agronomia com 48 hectares, onde pesquisas e aulas práticas serão intensificadas. O projeto de um moderno Hospital Escola para Medicina Veterinária está sendo concluído, será implantado numa área de 8 hectares, com mais de 1.200 m2 da mais alta tecnologia, consultórios, salas de exames complementares, cirurgia para pequenos e grandes animais, possibilidade de internação e tratamento de alta qualidade para toda a região. As obras começam em 2011 e o início dos atendimentos está previsto para 2012. Alçar novos vôos, sempre mais altos, parece a marca registrada da família Gardingo, mantenedora dessa instituição, que anuncia para 2011 novos investimentos e muitas novidades, dentre elas a criação de Cursos Técnicos profissionalizantes. A idéia é qualificar a mão-de-obra regional e oportunizar vagas no mercado de trabalho com as parcerias já fechadas com dezenas de empresas da região. Cursos de 800 a 1200 horas de duração em média, profissionalizantes serão oferecidos a partir de 2011, para alunos do ensino médio, que poderão qualificar-se rapidamente para o mercado e ocupar as vagas ociosas. “Com o primeiro emprego, a possibilidade de continuar estudando e fazer um curso superior fica mais próxima”, acreditam os dirigentes da instituição. Pesquisas recentes revelam que até 70% das vagas oferecidas no Sudeste deixam de ser preenchidas pela falta de qualificação da mão-de-obra. Além disso, a Faculdade Vértice, brevemente passará a adotar a marca Univertix, fruto do início, do que chamamos de Fase 2 de implantação do projeto. Essa referida fase 2, faz parte do que seria o mais audacioso de todos os projetos da instituição até agora, sua ampliação e a abertura de novas sedes em outras cidades do Estado e do Brasil. Nossa faculdade nasceu com grandes ambições e almeja projetar o nome de sua cidade e região no âmbito nacional, provando que é possível oferecer ensino de qualidade com preços acessíveis e competir em todo o território nacional. Prof. D.Sc. Lúcio Flávio Sleutjes Diretor Acadêmico Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 SOEGAR - SOCIEDADE EDUCACIONAL GARDINGO LTDA. João Batista Gardingo Diretor Presidente Sebastião Gardingo Diretor Executivo FACULDADE VÉRTICE – UNIVERTIX Prof. D.Sc. Lúcio Flávio Sleutjes Diretor Acadêmico M.Sc. Fernanda Cristina Ferrari Coordenadora do curso de Farmácia D.Sc. Irlane Bastos Costa Coordenadora do curso de Agronomia M.Sc. Karen Estefan Dutra Coordenadora do curso de Administração e Ciências Contábeis Prof. Esp. Márcio Lopes de Oliveira Coordenador do curso de Educação Física Prof. D.Sc. Gilberto Machado Valente Coordenador do curso de Medicina Veterinária Esp. Vandeir de Oliveira Guerra Gerente Financeiro Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 CORPO DOCENTE Esp. Ana Lígia de Souza Pereira M.Sc. Andréia Almeida Mendes M.Sc. Bruna Waddington de Freitas Esp. Carlos Eduardo Toledo Esp. Celso Abreu de Araújo M.Sc. Cínthia Mara de O. L. Schuengue Esp. Clésio Gomes de Jesus Esp. Cristina Maria Lobato Pires Esp. Daniel Vieira Ferreira Esp. Daniela Gomes Rosado Esp. Deisy Mendes Silva Esp. Edimaldo Garcia Júnior Esp. Elder Machado Dutra Esp. Emanuelle Ferreira de Souza Esp. Érica Estanislau Muniz M.Sc. Fernanda Cristina Ferrari Esp. Gabriela Chaves Mendes Justino D.Sc. Gilberto Machado Valente M.Sc. Guanayr Jabour Amorim Esp. Hermínio Medeiros Oliveira D.Sc. Irlane Bastos Costa Esp. Ivonaldo Aristeu Gardingo Esp. Janine Lopes de Carvalho Grad. João Luís do Espírito Santo Júnior Esp. José Célio Klen M.Sc. Karen Estefan Dutra M.Sc. Kelly Aparecida do Nascimento D.Sc. Lúcio Flávio Sleutjes D.Sc. Manuella Carvalho Costa M.Sc. Marcelo Silva dos Santos M.Sc. Márcia Ferreira da Silva Esp. Márcio Lopes de Oliveira Esp. Margareth Knupp Toledo de Carvalho M.Sc. Maria Aparecida Salles Franco Grad. Maria Aparecida Schroder Dutra Esp. Neiler Soares Vieira de Oliveira M.Sc. Orismário Lúcio Rodrigues M.Sc. Patrícia Luísa Mendes de Araújo Esp. Patrícia Sad M.Sc. Renata Aparecida Fontes Esp. Renata de Abreu e Silva Esp. Rita de Cássia F. P. Lazaroni Esp. Rodrigo Júlio dos Santos D.Sc. Rogério Oliva Carvalho Esp. Tadeu Hipólito da Silva Esp. Valéria de Mello Esp. Valter Mageste de Ornelas M.Sc. Vitória Emanuela da Silva Alves Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 COMITÊ ORGANIZADOR Coordenação M.Sc. Kelly Aparecida do Nascimento Coordenação Setorial Esp. Ana Lígia de Souza Pereira Esp. Daniel Vieira Ferreira Esp. Patrícia Sad M.Sc. Karen Estefan Dutra D.Sc. Lúcio Flávio Sleutjes M.Sc. Patrícia Luísa Mendes de Araújo M.Sc. Renata Aparecida Fontes Esp. Rita de Cássia Ferreira Pedrosa Lazaroni Financeiro Esp. Vandeir de Oliveira Guerra Estagiários de apoio Francis Leônidas Mara Rúbia Torres Barreto Nathália de Oliveira Pereira Otávia Stoupa Costa Vera Villares Nogueira Estagiários da secretaria do evento Ariádyni Montes Gardingo Leandro Moreira Pedroso Vanessa Queiroz Teixeira Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 COMITÊ CIENTÍFICO Coordenação M.Sc. Kelly Aparecida do Nascimento Comitê técnico-científico Esp. Ana Lígia de Souza Pereira M.Sc. Patrícia Luísa Mendes de Araújo M.Sc. Renata Aparecida Fontes Comitê científico Esp. Ana Lígia de Souza Pereira M.Sc. Andréia Almeida Mendes M.Sc. Cínthia Mara de O. L. Schuengue Esp. Daniela Gomes Rosado Esp. Érica Estanislau Muniz M.Sc. Fernanda Cristina Ferrari Esp. Gabriela Chaves Mendes Justino D.Sc. Gilberto Machado Valente D.Sc. Irlane Bastos Costa M.Sc. Karen Estefan Dutra M.Sc. Kelly Aparecida do Nascimento M.Sc. Marcelo Silva dos Santos M.Sc. Márcia Ferreira da Silva Esp. Márcio Lopes de Oliveira M.Sc. Maria Aparecida Salles Franco M.Sc. Patrícia Luísa Mendes de Araújo M.Sc. Renata Aparecida Fontes Revisão de Língua Portuguesa Andréia Almeida Mendes Design e Desenvolvimento D.Sc. Lúcio Flávio Sleutjes Estagiárias de apoio Nathália de Oliveira Pereira Vera Villares Nogueira Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT 1 CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT1 – CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA Tipo de Apresentação Comunicação 1 Oral – A Comunicação 2 Oral– A A - ARTIGOS Nº TRABALHO Panorama do custo de produção da cafeicultura de montanha na Zona da Mata Mineira, Minas Gerais – BRASIL Sustentabilidade dos sistemas agroflorestais na agricultura familiar no Córrego dos Eliotas Simonésia – MG Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ARTIGOS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 PANORAMA DO CUSTO DE PRODUÇÃO DA CAFEICULTURA DE MONTANHA NA ZONA DA MATA MINEIRA, MINAS GERAIS-BRASIL Vinícius Sigilião Silveira Silva, Alekson Vieira Amorim e Mirelle Rodrigues Dornelas - graduandos em Agronomia. Vitória Emanuella da Silva Alves - graduada em Agronomia, Mestre em Fitotecnia. Professora da Faculdade Vértice. Patrícia Sad - graduada em Ciências Econômicas, mestranda em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Professora da Faculdade Vértice. Faculdade Vértice [email protected] RESUMO A região da Zona da Mata que produz café de montanha necessita lançar mão de tecnologias que permitam aos produtores se manterem estáveis no mercado que cada dia fica mais competitivo. Devido ao relevo montanhoso, fica oneroso o custeio de produção. Assim, a pesquisa exploratória permitiu verificar um panorama do custo de produção da cafeicultura onde o uso de iniciativas tecnológicas usadas de forma inteligente e prática permitem ao homem um melhor gerenciamento de suas atividades profissionais e o que precisa investir em qualidade para adicionar valor ao seu produto, podendo para tanto justificar um custo mais elevado de produção. PALAVRAS-CHAVE: Café de montanha; Tecnologia; Custo de produção; Produtividade. 1. Introdução O café foi o principal produto das exportações brasileiras durante mais de um século, até a crise de 1929/30, quando o país percebeu a necessidade de diversificar sua pauta de exportação. Atualmente, em 2010, O Brasil se destaca como produtor e exportador de café numa fase de preços internacionais relativamente favoráveis (VIEIRA e HAFERS, 2010). Minas Gerais é o maior produtor de café do Brasil, com 46,8% de toda a produção do grão do país (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CAFÉ – ABIC, 2005). A microrregião de Manhuaçu tem como principal atividade econômica a produção de café, estando entre os maiores produtores do estado de Minas Gerais. Por estes dados, percebe-se a importância do café para a economia nacional, estadual e regional. Todavia existem entraves aos produtores da Zona da Mata mineira, pois não tem obtido o retorno adequado, o que pode ser decorrente da estrutura de comercialização muito competitiva, mas também pode advir da falta de controle de custos de produção. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A busca da qualidade é fundamental para que esta atividade seja satisfatoriamente rentável, visto que o preço do produto desde meados dos anos 90 não tem sido o esperado pelos produtores, destacando a busca da produção sustentável de café, a qual já é apresentada pelo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CASTRO JUNIOR, 2005). A região da Zona da Mata, a qual produz o café das montanhas, necessita urgentemente lançar mão de novas tecnologias que permitam aos produtores se manterem estáveis no mercado que a cada dia fica mais competitivo. Não há mais como se manter neste ramo de negócio sem produzir café de qualidade e de maneira organizada, mantendo controle orçamentário, de custos de produção e planejamento de compras, tudo isso com o mínimo possível de desperdício, procurando retornar para o próprio processo produtivo os resíduos da produção, para que as constantes oscilações e quedas de preço do produto sejam superadas por meio da obtenção de uma alta produtividade, compensando também a falta de políticas favoráveis a esse setor de atividade como as existentes no passado. A cultura cafeeira, por se tratar de ciclo perene, com produção bianual, grande diversidade de situações e de sistemas produtivos e com razoáveis níveis de investimentos na implantação, condução e pós-colheita, requer maior rigor na análise e interpretação dos resultados de custos (COSTA et al., 2001). Teixeira et al. (2000) recomendam que sejam incorporados na análise de custos de produção de café aqueles investimentos decorrentes das estruturas internas à propriedade cafeeira, como terreiros, tulhas, armazéns, descascador, lavadores, secadores, máquinas de benefício, energia elétrica, tratores e implementos, uma vez que se constituem em investimentos de médio e longo prazos. A inexistência de metodologia para calcular os custos reais, capaz de abranger vários biomas com diversificadas condições climáticas, hídricas, vegetativas, de solo e relevo, tem limitado avaliações e/ou comparações entre alternativas tecnológicas, com influência negativa no processo decisório, na propriedade. Entretanto, isto não pode ser visto como fator paralisante: o produtor deve buscar alternativas para ter o controle dos custos de sua produção. Uma opção viável é a utilização de softwares de custo e gestão agrícola. A crescente popularização da informática, e o surgimento de novas tecnologias na fabricação de componentes eletrônicos vêm possibilitando o acesso a um público cada vez maior dos recursos de um sistema de informação. Dessa forma os Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 programas de cálculos de custo de produção são bem utilizados nas finanças do café, garantindo maior precisão: assim as novas tecnologias passam a trazer benefícios diretos à atividade agrícola (CASTRO JUNIOR, 2005). Para a região da Zona da Mata mineira a utilização de software básico desenvolvido para as necessidades da região e com uma boa escalabilidade permitiria atender às necessidades e características do processo produtivo de café, visando obter uma padronização deste processo e a inclusão digital dos administradores de propriedades. Como outra alternativa, Costa et al. (2001) sugeriram que para o levantamento de coleta de dados nas propriedades cafeeiras deve ser estabelecido um conjunto de formulários padronizados e específicos para cada fase do ciclo da cultura, como forma de orientar o processo de uniformização da metodologia para obtenção dos custos de produção da cafeicultura brasileira. Todas as novas iniciativas tecnológicas usadas de forma inteligente e prática permitem ao homem um melhor gerenciamento de suas atividades profissionais. Neste paradigma, este trabalho objetivou verificar as alternativas para ter o controle dos custos da produção na região da Zona da Mata em Minas Gerais, utilizando para isso informações obtidas em meios de comunicação tais como, Internet e periódicos especializados, com o intuito de levantar um panorama no processo produtivo do café e a competitividade do setor. Justifica-se este estudo pela importância que assume o café na economia da região e pela necessidade de profissionalizar o controle dos custos de produção desse produto para tornar-se mais competitivo. 2. Metodologia A pesquisa possuiu um caráter exploratório e foi realizada no período de agosto à setembro de 2010 que objetivou proporcionar ao pesquisador uma maior familiaridade com o problema em estudo. Este trabalho teve como meta tornar um problema complexo mais explícito ou mesmo construir hipóteses mais adequadas. A base desta pesquisa de meta-análise foi utilizar manuscritos extraídos em periódicos, livros e artigos acessíveis pela internet relacionados aos custos de produção da cafeicultura de montanha em Minas Gerais. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. Resultados e discussão Nossa preocupação foi em fornecer aos futuros pesquisadores e profissionais da área de economia rural um quadro de referência que ofereça suporte às dúvidas mais elementares sobre pesquisa de custo de produção na região da Zona da Mata em Minas Gerais. Ao mesmo tempo, as referências bibliográficas servem como ligações para aprofundamentos maiores. A cafeicultura chegou ao estado de Minas Gerais por meio da Zona da Mata, pela fronteira com o Rio de Janeiro, devido ao deslocamento da cultura do Vale do Paraíba, que por muito tempo foi a principal região produtora de café do estado do Rio de Janeiro e, mais tarde, foi se interiorizando pelo estado (CRUZ, 2002). Na Zona da Mata mineira, a cultura cafeeira encontrou condições adequadas ao desenvolvimento, dada a existência de fatores de produção ociosos: terra, mãode-obra e capital. Devido ao relevo montanhoso da região, fica muito difícil para os produtores a utilização de máquinas, por isso, a maior parte do trabalho dispensado à lavoura cafeeira é realizado manualmente, desde o preparo da terra para o plantio até a colheita (CASTRO JUNIOR, 2005). Para tanto, nas regiões de montanha o principal impacto na cafeicultura é a perda de competitividade do produtor tradicional, que tem uso intensivo da mão de obra com elevado encarecimento deste serviço e severa legislação trabalhista cada vez mais exigente. As informações fitotécnicas e socioeconômicas indicam, ainda, que no Sul de Minas Gerais os sistemas de produção são mais heterogêneos, com predomínio de pequenos produtores, parte significativa deles em áreas de montanha, porém responsáveis pelo volume de produção inferior ao produzido pelos médios e grandes produtores. As diferenças de utilização de tecnologia nessa região também são significativas. Bessa Junior e Martins (1992) concluíram que sistemas de produção de café mais tecnificados e com maior produtividade tiveram maior capacidade de resistir às eventuais crises de preços, comparativos àqueles em que prevaleciam padrões mais tradicionais e com baixa utilização de insumos. A Tabela 1 traz os dados referentes aos custos de produção da safra 2008/2009 comparando os municípios de Guaxupé e Manhuaçu, ambos em Minas Gerais, sendo que Manhuaçu utiliza métodos mais tradicionais. Observa-se que Manhuaçu teve o custo total de produção mais elevado e menor produtividade que Guaxupé. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Tabela 1- Custos de produção Safra 2008/2009 Município Sc/ha Custo Total Guaxupé/ MG 25 246,10 Manhuaçu/MG 24 259,88 Fonte: CONAB/MAPA, in VEGRO, 2009. Segundo Bliska et al. (2009) os fatores de custo de produção do café arábica (Coffea arabica) são subdivididos por atividades do sistema de produção (total gasto com insumos e com operações em cada atividade), o que permite ao produtor visualizar os pontos de seu sistema de produção que merecem maior atenção ou até mesmo uma reestruturação. As atividades consideradas foram: nutrição, fitossanidade, controle do mato, colheita, preparo, beneficiamento e outros custos. Esse último item inclui podas (recepa, esqueletamento, decote, condução, limpeza), transporte (produtos, insumos, terreiro, mão de obra), irrigação, arruação, conservação de carreadores, análise de solo, utensílios (custeio e colheita). Em pesquisa, utilizando questionário estruturado, realizada por Castro Junior (2005) ao analisar o processo produtivo de café para microrregião de Manhuaçu mostrou que 70% do total dos entrevistados não estavam satisfeitos com a situação vivida pelo produtor, devido, em sua maioria, pela falta de incentivo oferecido pelo governo federal e principalmente pelo baixo valor de mercado da saca do produto. Motivos que se apresentam como causa para o baixo investimento ou até mesmo o não investimento em tecnologia para melhoria do processo. Fato este verificado porque 57% dos entrevistados exerciam outra atividade paralela à produção. Alguns produtores não encaram esta atividade com uma visão empresarial, o que fez com que o negócio não tivesse prioridade e passasse a ter um caráter amador. Contudo, 80% dos entrevistados não pensavam em abandonar a atividade. Constatou assim, que para cada produtor existiu sua maneira particular de controlar seu negócio e a utilização de sistemas específicos para a produção acontece normalmente em grandes propriedades, onde um funcionário é contratado especialmente para exercer esta função (CASTRO JUNIOR, 2005). 4. Considerações finais Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A concepção da pesquisa constituiu uma estrutura para a realização do panorama de custo de produção para a região da Zona da Mata mineira, exigindo total responsabilidade e seriedade dos profissionais que a dirigem. O panorama do cafeicultor o coloca, simultaneamente, em dois mercados distintos: um, de seu produto, ofertante de café; outro, do adquirente dos insumos, demandando fatores de produção. Sabe-se que o preço do café varia de acordo com a safra e é determinado pelo mercado consumidor e fornecedor internacional, tanto é que o mesmo é uma das commodities agrícolas comercializadas em Bolsas de Valores e Mercado Futuro. Como os preços dos insumos agrícolas variam refletindo a cotação diária do dólar e sobre isso, o produtor não tem nenhuma margem de manobra, resta muito pouco a fazer. Se não dá para mexer nos elevados custos de produção nem no preço final, o cafeicultor de montanha precisa investir em qualidade para adicionar valor ao seu produto, conseguindo dessa forma aumentar os preços, e até mesmo justificar um custo tão elevado de produção. Vegro (2009) recomenda atenção ao manejo agronômico com seleção genética de cultivares realizando a renovação de 5% a.a para obter maior resistência, produtividade e qualidade, adotando a localização do terreiro (nunca na baixada) e técnicas de cultivo adequadas tais como: gessagem/calagem, desbrotas, podas, manejo do mato, arborização. Ressalta ainda a importância da análise de solo e foliar o que permite uma otimização da aplicação de fertilizantes e a necessidade dos cuidados com os recursos ambientais utilizando madeira de reflorestamento e de cafezais erradicados, irrigação, uso de combustíveis alternativos em detrimento dos combustíveis fósseis e aproveitamento de resíduos em sistemas de agricultura e pecuária. Finalizando, Vegro (2009), sugere o planejamento da lavoura e treinamento de funcionários assim como investimento em equipamentos e terreiros: todas essas alternativas visando melhorias na produtividade. Vale ressaltar que a responsabilidade social do produtor tanto para com seus funcionários quanto para com a comunidade em que está inserido pode parecer a primeira vista uma forma de onerar sua produção, mas a um olhar minucioso, notase que é um investimento do qual ele terá retorno no longo prazo. Cartilhas de gestão financeira também recomendam cuidado com o crédito: utilizá-lo com o propósito a que foi concedido e não acumular prestações. Dessa Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 forma, há possibilidade de melhorar a gestão do negócio. O rígido controle dos custos de produção não é garantia de retorno do investimento, entretanto é um instrumento de gestão indispensável ao produtor que tem uma visão global do seu empreendimento e aspira por melhorias contínuas. REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DE CAFÉ – ABIC. Minas produz metade do café do Brasil, [online] Set. 2005 Disponível <http://www.abic.com.br/noticias/ nota_ minas_230905.html> [capturado em 20 Out. 2005]. BESSA JUNIOR, Alfredo de A.; MARTIN, Nelson B. Custos e rentabilidade na cultura do café. Informações Econômicas, São Paulo, v.22 n.º 7, p.30-35, jul.1992. BLISKA, F. M. M. et al. Dinâmica fitotécnica e socioeconômica da cafeicultura brasileira. Informações Econômicas, São Paulo, v. 39, n. 1, p. 15-18, jan. 2009. CASTRO JUNIOR, Dirceu Lacerda de. Adoção de Tecnologia da Informação no processo produtivo do café de montanha. Monografia (Sistemas de Informação). Faculdade de Direito e Ciências Sociais do Leste de Minas (FADILESTE), 2005. COSTA, E. B.; GARCIA, R. D. C.; TEIXEIRA, S. M. Custo de produção da cafeicultura de montanha do Espírito Santo em diversos sistemas de produção. In: Anais do SIMPÓSIO DE PESQUISAS DOS CAFÉS DO BRASIL, 2, Vitória (ES), Vitória: EMBRAPA, 2001. CRUZ, Carlos Henrique. 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Acesso em: 03.set.2010 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 SUSTENTABILIDADE DOS SISTEMAS AGROFLORESTAIS NA AGRICULTURA FAMILIAR NO CÓRREGO DOS ELIOTAS SIMONÉSIA - MG. Maria Aparecida Salles Franco – Graduada em Zootecnia, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; Professora da Faculdade Vértice. Luiz Cláudio Ribeiro Rodrigues – Geólogo, PhD [email protected] RESUMO Este trabalho analisou a sustentabilidade de cinco agricultores familiares que produzem em Sistemas Agroflorestais (SAFs) no entorno da Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Sossego, localizada no município de Simonésia, MG. Como parâmetro analisou-se a sustentabilidade de outros quatro agricultores familiares em sistema convencional. Foram utilizados três questionários: o primeiro, de caráter qualitativo, o primeiro buscou informações sobre aspectos socioeconômicos e culturais das famílias dos nove agricultores envolvidos nesta pesquisa; o segundo avaliou o grau de percepção dos cinco agricultores agrofloresteiros e de alguns dos membros destas famílias com relação a aspectos ambientais e sociais. Por ultimo o terceiro, de caráter quantitativo, buscou avaliar a sustentabilidade da produção dentro dos sistemas agroflorestal e convencional, levantando-se a produção em kg ou litros, os valores de vendas e os custos de produção em reais - este último obtido pela soma dos insumos adquiridos e gastos com mão-de-obra. Conclui-se que o sistema agroflorestal contribui com a conservação ambiental, os agrofloresteiros são auto-sustentáveis em boa parte dos itens da cesta básica e produzem parte de suas necessidades energéticas. Os resultados mostram que o sistema agroflorestal estudado apresenta renda bruta e renda líquida inferior ao do sistema convencional. PALAVRAS-CHAVE: Agrofloresta; sustentabilidade; agricultura familiar. 1. Introdução Segundo MDA (Ministério de Desenvolvimento Agrário), atualmente, um dos grandes desafios da agricultura brasileira é a sustentabilidade econômica, ambiental e social das pequenas propriedades agrícolas. Estas mantêm uma maioria da população tradicional que é responsável por grande parte da produção agrícola do país. Baseado nessa premissa este trabalho analisou a sustentabilidade econômica, ambiental e social de algumas famílias de agricultores que utilizam sistemas agroflorestais. Essas famílias residem no entorno da reserva Particular do Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Patrimônio Natural (RPPN) Mata do Sossego, no Córrego dos Eliotas, localizado no município de Simonésia, MG. Existe um projeto de criação de um corredor ecológico entre esta reserva e a RPPN Feliciano Abdala, localizada entre os municípios de Caratinga e Ipanema. O espaço traçado pelo projeto do Corredor se localiza em uma região com alto índice de agricultura familiar. As leis ambientais enfim saem do papel e passam a cumprir sua função de defesa ambiental. Neste contexto aumenta-se a tendência do êxodo rural que é vivida entre a população jovem do campo por falta de possibilidade de trabalho e renda no seio familiar. Nesse espaço ocupado por agricultores familiares é necessário que haja sustentabilidade econômica para se usufruir de um espaço social em harmonia com o ambiente. O objetivo geral do trabalho foi analisar a sustentabilidade do sistema agroflorestal e compará-la a agricultura convencional, ambas realizadas por agricultores familiares. Registramos que este trabalho constitui-se em um recorte da dissertação de mestrado, apresentada ao Programa de Pós-graduação em Meio Ambiente e Sustentabilidade, do Centro Universitário de Caratinga - UNEC, com o mesmo título do referido artigo. Este trabalho justifica-se pela necessidade de analisar o grau de sustentabilidade dos agricultores familiares, principalmente aqueles que se encontram no entorno da RPPN Mata do Sossego que vem trabalhando em sistemas agroflorestais, onde o principal componente desse sistema é o café. Comparou-se esse sistema com o sistema de produção convencional (uso de fertilizantes químicos e defensivos em sistemas de monocultura a pleno sol) copiado do agronegócio por agricultores familiares. Os resultados da pesquisa podem indicar essa prática pouco usual (agroflorestas) como relevante no processo de preservação ambiental, recuperação de áreas degradadas e na manutenção da sustentabilidade familiar, ou mostrar problemas de sustentabilidade das famílias envolvidas que inviabilizem este modelo de produção, a partir daí, apontar soluções. 2. Histórico Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Um programa desenvolvido pela Fundação Biodiversitas em outubro de 1997 visou à conscientização e sensibilização dos agricultores buscando a parceria destes na manutenção do fragmento de Mata Atlântica RPPN Mata do Sossego, além de disseminar técnicas de agroecologia, ajudar na organização do grupo e, principalmente, possibilitar a troca de saberes agroecológicos entre os agricultores. Assim, esse grupo de agricultores desenvolve, há cinco anos, uma experiência de introdução de espécies da flora nativa, cana e frutas nas entrelinhas de cafezais já estabelecidos, convertendo-os em sistemas agroflorestais. A sustentabilidade - dentro do contexto da agricultura familiar que desenvolve práticas agroecológicas - é uma informação importante para o processo de motivação e multiplicação deste modelo de produção dentro da categoria de produtores que ocupam áreas agrícolas no entorno das UCs (Unidades de Conservação) e no caminho dos fragmentos que formarão os corredores. Também é importante para os que necessitam atender a legislação ambiental averbando reservas legais e recuperando APPs. 3. Revisão bibliográfica e referencial teórico Sustentabilidade Segundo o Ministério de Desenvolvimento Agrário (2006) O conceito “sustentável”, que pode ser aplicado para desenvolvimento e mais especificamente para agricultura, aceita uma vasta gama de definições, que se ajusta a diferentes interesses e filosofias, não apresentando um consenso. Há uma discussão mundial, a respeito deste assunto, entre o setor industrial economicamente dominante da sociedade e o movimento ambientalista”. “O crescimento e a intensificação dos ciclos de mercadorias negociadas no mercado internacional (commodities) têm contribuído pouco para a diversificação das localidades rurais”. (CONDRAF/MDA, 2006). Commodities na realidade local é o café - principal produto da região e entre os agricultores familiares estudados. A maioria das pesquisas científicas da agricultura moderna, baseadas no paradigma dominante, tem buscado maximizar a produção, ao invés de otimizá-la, solucionando problemas de produção mais imediatos sem entender sua resiliência e com isso buscar a sustentabilidade dos sistemas agrícolas (e.g., Gliessman, 1990). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Paralelamente ao modelo acima citado, observa-se o surgimento de uma nova proposta de desenvolvimento rural com enfoque nas diferentes dimensões da sustentabilidade (econômica, social, política, cultural, ambiental e territorial). MDA (2006) No desenvolvimento sustentável, busca-se compatibilizar o crescimento econômico com a proteção ambiental, diminuindo gradativamente os impactos sobre a qualidade do ar, da água, do solo, dos recursos naturais e da biodiversidade. Segundo Altieri, 1983, a agrofloresta é a forma sustentável de produção que mais se aproxima de um ambiente natural, onde ocorre ciclagem de nutrientes, maior controle de pragas e doenças e menor dependência de insumos externos. A agrofloresta também contribui com a manutenção do solo e da água no sistema. Agrofloresta O conceito de Sistemas Agroflorestais (SAFs) mais conhecido ou divulgado foi definido pelo Centro Mundial de Agroflorestas (ICRAF) como sendo “combinações do elemento arbóreo com herbáceas e/ou animais organizados no espaço e/ou no tempo” (Lundgren1982). Agricultura Familiar Segundo Coelho (2005) “a maioria dos dados referentes à produção de café englobam a agricultura familiar e a patronal como uma coisa única. Outros dividem estas categorias de agricultores pelo tamanho de suas propriedades”. Nenhuma das duas formas caracteriza a agricultura familiar com exatidão. Guanzirolli e Cardim (2000), tendo como base os dados do Censo Agropecuário de 1995/1996 (IBGE, 1996) apresentam a agricultura familiar e a sua contribuição dentro da agricultura nacional, como sendo: Aqueles em que os trabalhos realizados pelos familiares são a base de sua produção. Estariam incluídos nesta categoria aqueles que utilizam mão-deobra contratada esporádica ou permanente desde que estes não ultrapassem a força de mão-de-obra familiar. Dentro dos critérios de classificação estabelecidos, considerando-se todo o país, temos 76,9% dos estabelecimentos familiares que utilizavam apenas mão de obra familiar. 4. Metodologia Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A metodologia adotada foi pesquisa participante, de caráter qualitativo e quantitativo, utilizando como ferramentas questionários estruturados e DRP (Diagnóstico Rápido Participativo). Buscou-se analisar a sustentabilidade ambiental, social e principalmente econômica dos produtores de agroflorestas, comparando-a à sustentabilidade de um grupo de agricultores familiares que produzem de forma convencional. Durante a pesquisa descobriu-se que não havia nenhum documento escrito que comprovasse as despesas e os lucros - não é feito nenhum tipo de anotação pelos produtores. Como circula muito pouco dinheiro entre eles e nunca utilizam qualquer forma de crédito, guardam na memória seus gastos e seus lucros provenientes da produção agrícola ou de outra forma de trabalho. Portanto, sem os registros, a pesquisa fiou-se no relato dos produtores entrevistados. A renda bruta estimada nos dois sistemas engloba o valor bruto da produção vendida e a produção consumida na unidade produtiva. Obtida através da fórmula, segundo Faro (1979): RBT = ∑ Pi Qi, em que: RBT = renda bruta total, medida em reais (R$) por unidade produtiva familiar. Pi = preço do produto i medido em reais (R$) Qi = Quantidade do produto i. Os preços utilizados nos cálculos da renda bruta estimada dos sistemas produtivos foram aqueles recebidos por cada família por unidade do produto comercializado ou o seu valor na CEASA Caratinga, com preços de abril de 2007, para os consumidos na propriedade. A renda líquida foi obtida a partir da diferença entre a renda bruta e o custo de produção em cada uma das unidades produtivas. Por fim, foram feitas comparações entre a renda bruta, o custo de produção e a renda líquida dos agricultores familiares agrofloresteiros e convencionais. 4. Resultados e Discussão A fragmentação das terras através da divisão por herança - fato ocorrido entre o grupo pesquisado - faz com que cada vez mais as glebas diminuam tornando-se inviáveis ao objetivo de uma produção meramente comercial. Esta situação contribuiu com o êxodo rural vivido na região e no Brasil em geral, nas três últimas décadas do século XX (INDI, 2007; IBGE, 2000). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Dos cinco agrofloresteiros estudados, quatro são irmãos, e suas glebas são o resultado do que chamamos reforma agrária por “herança”. Terras antes maiores e isoladas pela situação topográfica, e que passaram por divisões e redistribuição das terras nas três últimas gerações, sustentam famílias numerosas que sempre viveram do cultivo. Esse grupo mantém muito da tradição da cultura caipira, talvez devido ao isolamento em que viveu por muito tempo, resultado da sua distante localização e as dificuldades de acesso aos centros urbanos próximos (Santa Bárbara do Leste, Simonésia, Manhuaçu). Segundo relatos dos mais velhos, até pouco tempo não havia estrada de rodagem. O Córrego dos Eliotas era riscado de trilhas, por onde eram transportadas as produções agrícolas nas tropas de muares. Viajava-se a pé ou no lombo de animais. O grupo guarda várias tradições culturais como o uso do melado e da rapadura para adoçar café e preparar os doces caseiros (Figuras 1 e 2) Figura 1 e 2 - Moagem da cana para o preparo da rapadura; Divisão da calda em tijolos de rapadura. A utilização de utensílios simples principalmente pelas mulheres, como gamelas, “porongos” (também chamados cabaças) e peneiras são percebidos no dia a dia do grupo. A realização dos trabalhos na lavoura com acordo de mutirão, a troca de serviços, e a ajuda aos enfermos da família, fazem parte dos acordos entre os membros do grupo. Fazem parcerias também na compra de suínos, que são abatidos e distribuídos entre os membros da família. O sexo feminino com idade acima de 18 anos, tem o maior grau de escolaridade neste grupo de 23 pessoas. Apenas quatro adolescentes do sexo feminino, têm o segundo grau completo. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Demonstraram estar conscientes em relação às questões ambientais, especialmente quanto à importância de preservação da água na sua quantidade e qualidade, e quanto à importância da biodiversidade para uma vida saudável, mantendo a qualidade dos sistemas agrícolas, a beleza, a saúde e a harmonia da biosfera. Os agricultores familiares que trabalham em sistemas agroflorestais produzem em média 68% do que consomem enquanto os agricultores familiares em sistema convencional produzem em média 50% do que consomem. Os produtos da cesta básica comprados variam de 5 a 9 nas agroflorestas e de 9 a 15 no sistema convencional. Figura 3 - Comparação da sustentabilidade da produção cafeeira dos agricultores familiares em sistema agroflorestal e convencional. Comparativo entre Custos e Rendas no Sistema Agroflorestal e no Convencional 12000 10000 8000 6000 4000 2000 0 Custo Produção Renda bruta grofloresteiros Renda líquida Convencionais Segundo os resultados deste trabalho (figura 3) a produção do café - único produto comercializado por todos e a base econômica dos produtores estudados teve renda bruta e renda líquida no sistema agroflorestal inferior ao do sistema convencional. Na agrofloresta a renda líquida é menor que o custo de produção, enquanto no sistema convencional a renda líquida é mais que o dobro do custo de produção. Este resultado é explicado pela diminuição da produção do café principal produto comercializado e mais valorizado. Sendo assim é necessário agregar valor ao café produzido em sistema agroflorestal pelos serviços ambientais e sociais que ele gera. Além de causar menor impacto no ambiente, ele aumenta a biodiversidade no local, retém mais água no sistema, como também evita a erosão e consequentemente o assoreamento de cursos d‟água. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Mesmo tendo sido demonstrado através da pesquisa que os produtores agrofloresteiros são menos dependente de insumos externos, mais sustentáveis nos itens de subsistência, ficou clara a sua dificuldade econômica. Uma demanda apontada pelos agricultores entrevistados é a necessidade de diversificação de atividades no espaço rural, como forma de manter os seus descendentes morando e trabalhando na comunidade. Possuidores de pequenas glebas, os mesmos declaram não ter como ampliar o nem obter produção suficiente que permita adquirir mais terras para aumentar o espaço de produção, restando apenas duas opções: divisão dos bens com a nova família formada ou saída dos filhos para o espaço urbano. Recursos provenientes de certificações e projetos de carbono social1, através do resgate efetuado pela agrofloresta, poderiam agregar valor a produção do café e outros produtos como melado, rapadura e açúcar mascavo, já produzidos na comunidade. Pequenas fabricações de mariolas, bananadas, banana-passa poderiam fortalecer a produção de banana instalada no sistema, que tem também a função de disponibilizar matéria orgânica, nutrientes e umidade ao solo. 5. Considerações finais A sustentabilidade dos SAFs da área de estudo apresentou-se pequena considerando-se apenas os resultados econômicos. No entanto, faz-se necessário considerar os retornos ambientais e sociais, a variedade dos itens da cesta básica das famílias, a saúde dos produtores e a satisfação destes por se sentirem aliados na manutenção do ambiente saudável. Com tudo isso, estes produtores não se sentem seguros economicamente e demonstram incerteza de que seus filhos, no futuro, sigam esta forma alternativa de produção, tendo em vista o baixo retorno econômico dos sistemas agroflorestais e o forte apelo consumista presente na sociedade atual. REFERÊNCIAS 1 Segundo Rezende 2002, é um conjunto de atividades socialmente benéficas que reduzam, ao mesmo tempo, as emissões de carbono na atmosfera. Objetivam a absorção e redução do carbono; desenvolvendo ações que viabilizem e melhorem as condições de vida das comunidades envolvidas nos projetos de redução de emissões. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ALTIERI, M. A. Agroecologia: as bases científicas da agricultura alternativa. Rio de janeiro: AS-PTA, 1989. BIODIVERSITAS, “Mapeamento e caracterização dos remanescentes de mata Atlântica no eixo Simonésia – Caratinga, Minas gerais” 2003/2004 www.biodiversitas.org.br/sossego > acesso em 13 de outubro de 2006. COMBE, J. Técnicas agroflorestais em países tropicais: potenciais e limitações. Agroforestry Systems, v. 1, p. 13-27, 1982. FARO, C. Elementos de engenharia econômica. São Paulo, ATLAS, 1979. GUANZIROLLI, C.E., CARDIM, S.E. DE C.S (Coord.) Novo retrato da agricultura familiar: o Brasil Redescoberto. Brasília: INCRA/FAO, 2000. Disponível em: http://www.incra.gov.br/sade/doc/AfriFam.htm. Acesso em 12 abril 2007. LUNDGREN, B. Introduction. Agroforestry, Systems, V.1, p.3-6, 1982. MDA/CONDRAF, Documento-base pós Plenária Nacional de Desenvolvimento Rural Sustentável. Brasília, DF. 2006. REZENDE, D. , MERLIM S., SARMENTO A. , Carbono Social: agregando valores ao desenvolvimento sustentável. 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Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT 2 CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT2 – CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Nº Tipo de Apresentação 1 Pôster - A 2 Pôster - R 3 Pôster - R 4 Pôster - R 5 Pôster - R 6 Pôster - R 7 Pôster - R TRABALHO Conforto térmico e ambientação relacionada à arborização no bairro Boa Vista, em Matipó: um estudo desenvolvido pelo Programa Social Anastomoses Interarteriais Coronarianas em Queixadas (Tayassu pecari Link, 1795) Aspectos anatômicos da traqueia e brônquios principais no lobo marinho (Arctocephalus australis Zimmermann, 1783) Caracterização anatômica das vias biliares do queixada (Tayassu pecari Link, 1795) Influência do acetato de medroxiprogesterona sobre o ciclo estral e a histomorfometria uterina de camundongas Padrão anatômico das artérias coronárias do queixada (tayassu pecari link, 1795) distribuição intraparenquimal dos ramos da veia porta hepática no queixada (tayassu pecari link, 1795) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ARTIGOS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 CONFORTO TÉRMICO E AMBIENTAÇÃO RELACIONADOS À ARBORIZAÇÃO NO BAIRRO BOA VISTA: UM ESTUDO DESENVOLVIDO PELO PROGRAMA SOCIAL Patrícia Luísa de Araújo Mendes – graduada em Ciências Biológicas, Mestre em Botânica. Professora da Faculdade Vértice. Érica Estanislau Muniz – graduada em Física, especialista em Ensino de Física. Professora da Faculdade Vértice. Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Professora da Faculdade Vértice. e-mail: [email protected] link: www.faculdadevertice.com.br/programasocial RESUMO Esta pesquisa, em fase diagnóstica apresenta o monitoramento das temperaturas do interior das residências da rua projetada no bairro Boa Vista, na cidade de Matipó/MG, devido a falta de planejamento da arborização e do tipo de cobertura das residências. Assim, o objetivo deste estudo foi determinar o índice de área verde e sua influência sobre a população e avaliar ainda as condições de sol e sombra a que os moradores estão expostos, considerando o conforto térmico. Os instrumentos de coleta de dados foram o termômetro de bulbo seco e o globo negro. O experimento revelou níveis de conforto térmico alarmantes em relação à época do ano. Tendo em vista os resultados, a equipe pretende continuar os trabalhos realizando o plantio de mudas de árvores e acompanhamento da saúde das famílias, o que poderá contribuir em longo prazo para amenizar a situação constatada. PALAVRAS-CHAVE: Arborização; Qualidade de vida; Conforto térmico. 1. Introdução A vegetação possui grande influência sobre o clima de uma cidade. A existência de áreas verdes e a arborização de ruas, dentro de uma cidade, trazem enormes benefícios para a saúde humana, atuando principalmente no controle do clima, proporcionando à população condições de bem-estar. A existência de árvores no contexto urbano ameniza temperaturas elevadas, aumenta a umidade relativa do ar, reduz a velocidade dos ventos, controla a poluição, auxilia na conservação da água e na redução da erosão e na economia de energia (GOMES e AMORIM, 2003). De acordo com Bueno (1998), o aumento da temperatura dos centros urbanos em relação às áreas rurais adjacentes tem sido apontado como efeito que evidencia as alterações climáticas pelo ambiente construído. A grande diferença de centros urbanos para áreas rurais pode ser relacionada pela ausência ou escassez Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 de vegetação nas áreas urbanas e pelos materiais de construção que são usados em casas que são construídas sem planejamento urbano, amplificando o efeito de aumento de temperatura provocado pela incidência de radiação solar. Bryson e Ross (1972), realizando estudos comparativos sobre o clima de cidades vizinhas e das áreas rurais próximas, encontraram resultados de diminuição de até 8% da umidade relativa do ar no verão e de 2% no inverno, aumento de até 5% de radiação ultravioleta no verão e aumento de até 1ºC na temperatura média anual no verão. Estudos mais recentes comprovam o trabalho pioneiro desses dois pesquisadores e mostram a relevância da preservação de áreas verdes no entorno e dentro das cidades e de um planejamento público da arborização urbana direcionado a proporcionar um conforto ambiental aos habitantes e criando um mesoclima agradável nas áreas onde há implantação de vegetação. A temperatura do ar e a umidade relativa são fatores que agem na sensação do conforto do organismo. As condições climáticas das moradias são condicionantes importantes para determinar o conforto das pessoas que ali vivem e o comportamento diferenciado de acordo com o microclima de cada residência, relacionado ao tipo de construção (alvenaria ou telha de amianto) (DOURADO, 2000). O aumento das áreas urbanas de uma cidade, sem um prévio planejamento de arborização, ou mesmo a retirada da cobertura vegetal para a ocupação urbana têm gerado, para os habitantes, graves problemas relacionados com o aumento de temperatura, causando danos para a saúde física e mental. Algumas das consequências do aumento da pressão térmica são: desconforto, cansaço excessivo, mal estar, pressão baixa, desânimo, incômodo causado pelo suor da pele, dor de cabeça, esgotamento, diminuição da atividade alimentícia devido ao suprimento insuficiente do sangue e possíveis deficiências de sal devido às perdas através do suor, além do stress (DOURADO, 2000). Considerando-se as afirmações anteriores, emergiu o Projeto Ambientação do Programa Social da Faculdade Vértice. Tal projeto encontra-se em fase piloto e foi proposto pela preocupação do aumento de temperatura nas ruas do Bairro Boa Vista, devido a fatores como planejamento inadequado das moradias, o não aproveitamento dos recursos naturais, a ausência de áreas verdes dentro dos limites do bairro e à ausência de uma arborização urbana das ruas. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Trabalhos de levantamento da arborização em áreas urbanas ou, até mesmo, sua implantação tornam-se, portanto, necessários para uma melhoria na qualidade de vida dos moradores. Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi determinar o índice de área verde e sua influência sobre a população e avaliar as condições de sol e sombra a que os moradores estão expostos, considerando o conforto térmico. Com este estudo, pretendemos contribuir para que as autoridades percebam a necessidade desse tipo de iniciativa para a qualidade de vida das populações, notadamente àquelas em situação de vulnerabilidade social. Além disso, um projeto dessa natureza contribui para o aumento da biodiversidade animal e vegetal, situação essa muito relevante para o atual momento histórico da crise socioambiental. 2. Metodologia Para o desenvolvimento do experimento das medições de temperatura foram utilizados os termômetros de bulbo seco (TBS), o termômetro de bulbo úmido (TBU) e o globo negro (TGn). O globo negro é uma esfera de cobre com diâmetro de 150 mm, aproximadamente, pintada exteriormente de preto fosco, em que foi inserido um termômetro que permite avaliar, além da temperatura do ar, o índice térmico ambiental. É pintado de preto para ser um meio absorvedor onde a radiação é um componente significativo do ambiente térmico, exercendo influência acentuada no processo de transferência de calor ser humano-ambiente. Os dados colhidos através desses instrumentos foram utilizados para avaliar o conforto térmico proporcionado pelas coberturas das residências. O Índice de Temperatura do Globo Negro (ITGU) foi calculado de acordo com Buffington et al. (1981), baseado na temperatura do ambiente dos dias observados. O ITGU possibilitou o cálculo da umidade relativa e das temperaturas em locais sombreados e a pleno sol. As medições de temperatura e umidade relativa foram feitas dentro e fora das casas e em áreas de sol e sombra fora das moradias. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Como parâmetro, apresenta-se a Tabela 1: Tabela 1- Referência para o Índice da Temperatura do Globo Negro. Índice da Temperatura do Globo Negro Sensação proporcionada às pessoas De 70 a 72 Ideal, sensação agradável 73 a 76 76 a 82 Sensação suportável com calor A vida produtiva fica dificultada O ambiente é propício para a desidratação, diminuição da pressão arterial e indisposição para tarefas básicas do dia-adia. Maior que 86 O experimento foi realizado no mês de novembro de 2009, em oito casas, sendo 4 de cobertura de telha de amianto e 4 de alvenaria. As casas localizam-se na Rua projetada no Bairro Boa Vista, Matipó- MG. O clima da região de Matipó é do tipo tropical úmido com índices pluviométricos bem acentuados no verão. As variáveis analisadas foram delineadas por análise estatística pelo programa Bioestat 5.0, (Ayres et al., 2007) comparando os índices de conforto térmico. 3. Achados da pesquisa 3.1 Caracterização 3.1.1 Matipó A cidade de Matipó possui uma área de 277 km 2 e população estimada em 17.017 habitantes e está localizada na bacia do Rio Doce. Possui altitudes máxima e mínima de 989 e 660 metros, respectivamente (IBGE, 2009). Matipó limita-se com os municípios de Abre Campo, Caputira, Manhuaçu, São João do Manhuaçu, Santa Margarida e Pedra Bonita, e está em uma região de relevo cuja topografia possui 20% de áreas planas, 35% de áreas onduladas e 45% de áreas montanhosas. A posição da sede do município é latitude 20º17‟00 e longitude WGr 42º20‟30. A principal via de acesso até a cidade é através da BR 262, distante apenas 4 km, pela rodovia Ozires Linhares Fraga. A distância do município à capital do estado é de aproximadamente 175 km em linha reta e 250 km pela BR 262. Matipó é uma cidade essencialmente agrícola, sendo o café seu principal produto, participando também de sua economia a pecuária e o comércio, porém com Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 menor sustentabilidade. É uma região com cerca de 600.000 hectares (PROGRAMA SOCIAL, 2009). A comunidade do Bairro Boa Vista é constituída por 03 (três) grandes aglomerados denominados: Bairro Boa Vista, Bairro Boa Esperança e Loteamento do Celinho – nesse último, funciona a APAE (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais de Matipó). A comunidade do bairro Boa Vista – Matipó/MG concentra uma parcela expressiva da população desse município – estima-se que população residente nesta área corresponda à 1/3 do total de todo o município. De acordo com os dados da E. E. do Bairro Boa Vista e do Posto de Saúde local, 2/3 dessa população é constituída por crianças, adolescentes e jovens com idade inferior a 25 anos. Esse bairro está localizado numa área afastada da região central da cidade; os morros são íngremes e existe acesso sim para ônibus. O bairro possui duas escolas públicas – uma municipal e outra estadual, que oferecem, a primeira, apenas ensino fundamental e, a segunda, ensino fundamental e médio, além da modalidade de Educação de Jovens e adultos (EJA). Na região do Bairro Boa Vista situa-se o asilo municipal e a maior creche da cidade. O bairro conta com um Posto de Saúde e uma quadra poliesportiva coberta, mas é recorrente a presença de crianças que brincam pelas ruas. Existe um pequeno comércio local, composto por bares e mercearias que suprem as necessidades imediatas dos moradores. 3.1.2 O Programa social O “Programa social e multidisciplinar: educação, saúde, meio ambiente, planejamento financeiro doméstico e geração de renda” constitui-se em uma proposta da Faculdade Vértice em parceria com a Samarco Mineradora S.A., iniciada no ano de 2009. Esse Programa tem como objetivo contribuir para a promoção da qualidade de vida dos moradores do Bairro Boa Vista, em Matipó, Minas Gerais. Sua essência está pautada no envolvimento e na participação da população em todas as propostas que pretende desenvolver, já que acreditamos que a participação é um aspecto indispensável ao sucesso de projetos que visam ao desenvolvimento de comunidade; nesse caso, a integração da Comunidade com a Instituição de Ensino Superior. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A equipe que atua no Programa é formada por acadêmicos dos diversos cursos de graduação e pelo corpo docente da Faculdade Vértice. O Programa vem realizando ações, atividades e projetos no Bairro Boa Vista. Os projetos do Programa Social incluem: projeto de capoeira; projeto de dança, escolinha de futebol; visita programada; projeto Hip-hop, projeto de administração financeira e doméstica e qualidade de vida da Família. O Programa realiza também pesquisas e, nesse caso, podemos citar o estudo antropométrico, o perfil colheitadores de café e o estudo de ambientação. A partir do Programa Social, a Faculdade Vértice tornou-se muito mais conhecida e reconhecida no Município e região. Diante de tudo que vimos e ouvimos durante o período que a Faculdade Vértice esteve mais perto da comunidade através do Programa Social, temos o orgulho e segurança em afirmar que fomos que ultrapassamos os rituais de inserção, portanto estamos hoje totalmente integrados à Sociedade matipoense. É por isso que acreditamos que essa parceria de tamanha magnitude entre a Vértice e a Samarco está viabilizando um profícuo engajamento no que se refere ao cumprimento das responsabilidades sociais de ambas as empresas junto à sociedade, além de contribuir para o fortalecimento das atividades de pesquisa e extensão que, por sua vez, almejam a promoção do desenvolvimento humano. 3.2 Resultados e discussão Estudos realizados pela Equipe do Projeto mostraram que a ausência de árvores ou a escassez delas podem estar relacionadas às mudanças no mesoclima do bairro, refletindo uma redução da umidade relativa do ar e, também, um aumento da temperatura dentro das moradias, um dos agravantes mais preocupantes. O conforto térmico é condicionado a diversos fatores como radiação solar, temperatura, umidade relativa e movimentação de ar. A vegetação presente no entorno das casas poderia contribuir para o controle de temperatura do ambiente, da umidade do ar e da radiação solar por fazer uma interceptação da radiação direta e difusa, como também da radiação refletida pelo solo ou construções próximas. O sombreamento proporcionado por uma árvore depende da densidade de folhagem ao longo de seu ciclo anual e seu porte. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Um fator que deve ser levado em consideração é a presença de muros, superfícies de pedra, asfalto e concreto, que absorvem e armazenam muito mais calor que a vegetação e a terra. A Rua Projetada foi asfaltada há menos de um ano e as árvores localizadas nela foram arrancadas em função das mudanças ocorridas e não houve reposição. Isso será proporcionado pelo aumento da área verde presente no entorno das casas avaliadas (arborização urbana), aumentando-se, portanto, o sombreamento nas casas. A escolha do local de implantação das mudas foi determinada pela equipe de professores do Projeto Ambientação, juntamente com os estagiários do Programa Social. A umidade do ar, um dos parâmetros avaliados, contribui para a perda de calor por evaporação, sendo importantes as condições ambientais no entorno do indivíduo para favorecer essa perda quando o calor estiver desconfortável. A umidade relativa teve grande aumento na manhã devido às chuvas que ocorreram no final da tarde anterior. Todas as residências tiveram um aumento acentuado mesmo com diferenças de cobertura (amianto ou alvenaria). Nos dias das medições, a temperatura observada teve valores bruscos, principalmente em residências de cobertura de telha de amianto e que, na manhã nublada, teve alterações pequenas em relação ao esperado, praticamente não interferindo no grau de sensação térmica das residências. Os valores obtidos na manhã de sol resultaram em uma média de 78,830, valor que torna a vida produtiva difícil. Os valor de média da tarde de sol foi 82,758, fator muito preocupante pela sensação de incômodo e mal estar percebida pela equipe do Projeto e por relato das famílias que residem na rua. Mediante aos dados alarmantes, as medições feitas no dia nublado evidenciaram uma média de temperatura de 75,005, valor considerado mais ameno pela tabela de referência (Tabela 1) e, mesmo assim, proporcionando uma sensação de calor nas residências de cobertura de telhas de amianto em comparação às medições realizadas em residências com alvenaria. É possível perceber, na Figura 1, altas temperaturas em função da ausência de vegetação, se comparado à área na mesma rua onde há a presença de uma árvore, resultando numa temperatura mais amena nesse local, além de provocar um aumento da umidade relativa do ar em seu entorno (Figura 2). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Figura 1 – Índice de Temperatura do Globo Negro em residências da Rua Projetada, Bairro Boa Vista, Matipó-MG. Figura 2 – Índices da Umidade Relativa (%) e a Temperatura do Ar em °C em residências da Rua Projetada, Bairro Boa Vista, Matipó-MG. O índice de conforto calculado para os ambientes estudados comprovam que a otimização térmica é alcançada quando as árvores estão presentes próximas às Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 residências, estabelecendo assim um ambiente mais propício à moradia dentro das condições climáticas a que estão condicionadas para que a população tenha qualidade de vida. 4. Considerações finais O projeto visa a continuidade, com implantação e acompanhamento do crescimento das mudas dentro dos quintais e nas ruas do bairro. Serão realizadas medições periódicas de temperatura e umidade relativa do ar dentro e fora das casas e os possíveis efeitos causados na saúde dos moradores pela mudança na sensação térmica. Tendo em vista os resultados, a equipe pretende continuar os trabalhos realizando o plantio de mudas de árvores e acompanhamento da saúde das famílias, o que poderá contribuir, em longo prazo, para amenizar a situação constatada. 5. Referências AYRES M., AYRES J.R.M., AYRES D.L. & SANTOS A.S. 2007. BioEstat 5.0 Aplicações Estatísticas nas Áreas das Ciências Biológicas e Médicas. Sociedade Civil Mamirauá, Belém. CNPq, Brasília. 290p. BRYSON, R.A.; ROSS, J.E. The Climate of the City. In: Urbanizations end Enverionment, DETWELER, T. R. end MARCUS, M. G., Duxbury Press, Belmont, 1972. BUENO, C.L. Estudo da atenuação da radiação solar incidente por diferentes indivíduos arbóreos. Tese (Doutorado em Engenharia Civil) - Faculdade de Engenharia Civil, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998. BUFFINGTON, D.E.; COLLAZO AROCHO, A.; CANTON, G.H. PITT, D. Black globe humidity index (BGHI) as a comfort equation for dairy cows. Trans. ASAE, St. Joseph, v.24, n. 3, p. 711-714, 1981. DOURADO, S. C. Ilhas de calor e urbanização na Amazônia mato-grossense. Trabalho de conclusão de curso, Departamento de Geografia, Universidade Federal de Mato Grosso, 2000. GOMES, M. A. S e AMORIM, M. C. de C. T. Arborização e conforto térmico no espaço urbano: estudo de caso nas praças públicas de Presidente Prudente (SP). Caminhos da Geografia, São Paulo, v. 7, n.10, p. 94-106, Set 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 10 ago 2010. PROGRAMA SOCIAL. Roteiro padrão de projeto social. Samarco, 2009. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 RESUMOS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ANASTOMOSES INTERARTERIAIS CORONARIANAS EM QUEIXADAS (Tayassu pecari Link, 1795) Pedro Henrique Rodrigues Werner, Deyvid Lopes de Souza e Natália Mayrinck Cunha – graduandos em Medicina Veterinária Gilberto Valente Machado – graduado em Medicina Veterinária, mestre e doutor em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres. Professor e coordenador do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Vértice. Lucio Flávio Sleutjes – graduado em Fisioterapia, mestre em Motricidade e doutor em Cinesiologia. Professor e diretor geral da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Coração; Artérias coronárias; Tayassu pecari. 1. Introdução A importância funcional das anastomoses interarteriais coronarianas, em corações normais, ainda é motivo de discussões e suas possíveis implicações não são muito claras. Estudos baseados em diferentes métodos têm comprovado que a circulação colateral cardíaca, independente da sua forma, em corações normais, desempenha papel de considerável importância na prevenção de infartos do miocárdio, como consequência de oclusão coronariana. Com base nesses pressupostos, Eckstein (1953, 1954) estudou a frequência das anastomoses interarteriais coronarianas em Sus scrofa jovens, comparando-os aos seus próprios achados em Canis familiaris, inferindo serem aquelas mais frequentes nessa última espécie. Outros estudos (BLUMGART et al., 1950) indicam que o fluxo coronariano, o consumo de oxigênio pelo miocárdio e a resposta vasomotora coronariana em suínos apresentam dados semelhantes aos dos cães. 2. Metodologia Com vistas à obtenção de dados sobre o padrão coronariano de queixadas (Tayassu pecari), foram injetadas, com solução aquosa de Neoprene Látex nas cores amarela e azul, respectivamente, as artérias coronárias esquerda e direita, após a canulação das mesmas, mediante o uso de seringas e pressão suficiente para o total preenchimento e consequente caracterização daqueles vasos e seus territórios de distribuição. Para tal, foram utilizados oito corações de animais adultos, machos e fêmeas, daquela espécie. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. Resultados e Discussão Pelo método ora utilizado, verificou-se um número variável de anastomoses interarteriais nas imediações do ápice cardíaco e sobre a margem ventricular esquerda, entre ramos colaterais ventriculares esquerdos, provenientes do ramo interventricular paraconal e ramos colaterais ventriculares esquerdos oriundos do ramo interventricular subsinuoso, esse continuação da artéria coronária direita. Esses achados ocorreram em três (37,5%) dos corações examinados. Quando comparados, esses resultados àqueles referentes aos suínos jovens (18,05%) e aos dados obtidos em cães (47,3%), (ECKSTEIN, 2008), nota-se uma frequência intermediária na espécie em apreço. 4. Considerações Finais Existe consenso entre os diversos autores de que as anastomoses interarteriais coronarianas permitem ao sistema coronariano o recurso do fluxo retrógrado, como forte aliado na neutralização dos efeitos das obstruções progressivas das artérias coronárias. REFERÊNCIAS BLUMGART, H. L., ZOLL, P. M., FREEDBERG, A. S., AND GIDLIGAN, D. R.: The experimental production of intercoronary arterial anastomoses and their functional significance. Circulation 1:10, 1950. ECKSTEIN, R. W., HORNBERGER, J. C, TOYOMI, S. Acute effects of elevation of coronary sinus pressure. Circulation 7: 422, 1953. ECKSTEIN, R. W., LBIGHNINGER, D. S.: Chronic effects of aorta-coronary sinus anastomosis of Beck in dogs. Circulation Research 2: 60, 1954. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ASPECTOS ANATÔMICOS DA TRAQUEIA E BRÔNQUIOS PRINCIPAIS NO LOBO MARINHO (Arctocephalus australis Zimmermann, 1783) Gilberto Valente Machado – graduado em Medicina Veterinária, mestre e doutor em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres. Professor e coordenador do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Vértice. Lucio Flávio Sleutjes – graduado em Fisioterapia, mestre em Motricidade e doutor em Cinesiologia. Professor e diretor geral da Faculdade Vértice. Isabela Rocha Verner e Winnie Alves Lopes – graduanda em Medicina Veterinária Alexandre Geraldo Martins – graduando em Enfermagem [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Traquéia; Brônquios; Lobo marinho 1. Introdução Considerando a escassez de dados na literatura especializada, no referente aos vários aspectos da morfologia do lobo marinho (Arctocephalus australis), tendo em vista a necessidade de se acrescentarem dados que venham enriquecer o conhecimento sobre esses animais, sem perder de vista o grande interesse da anatomia comparativa, busca-se, com o presente relato, oferecer dados anatômicos que contribuam para a anatomia comparativa e que possam subsidiar discussões, do ponto de vista funcional, sobre o aparelho respiratório da espécie em apreço. Trata-se de animal pertencente ao grupo dos pinípedes, até bem pouco enquadrado na Ordem Carnívora; porém, cada vez mais fortes argumentos vêm alimentando discussões sobre a separação da Ordem Pinipédia, contemplando assim esses animais. Evidências anatômicas vêm dando suporte aos argumentos que reforçam aquela decisão. O presente relato, acredita-se, virá inexoravelmente intensificar tal discussão. 2. Metodologia Foram dissecados dois lobos marinhos, adultos jovens, ambos machos, encontrados, já em óbito, no litoral do Paraná, na localidade de Pontal do Sul e, com a devida autorização, encaminhados ao Laboratório de Anatomia Veterinária da Faculdade Vértice. Em laboratório, esses espécimes foram imediatamente fixados em solução aquosa de formol a 10% e, posteriormente, dissecados. Mediante incisão na linha mediana ventral de toda a região cervical, afastamento dos planos musculares, com exposição da laringe e traqueia, seguida da abertura da cavidade Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 torácica e exposição concomitante dos órgãos respiratórios ali contidos, procedeu-se a total remoção das porções cervical e torácica daquele aparelho, registrando-se os aspectos anatômicos que ora se relatam. 3. Resultados e Discussão Registrou-se o que segue: a) a parte cervical da traquéia é formada inicialmente por sete cartilagens anulares, todas elas com a clássica abertura dorsal, compensada pela presença, internamente, do músculo traqueal; b) na altura da quinta vértebra cervical, a traqueia sofre uma bifurcação, resultando os dois brônquios principais, direito e esquerdo; entretanto, esses brônquios são formados, como a traquéia, por anéis cartilaginosos interrompidos dorsalmente; c) já na cavidade torácica, na altura da quarta costela direita, o brônquio principal direito emite um brônquio lobar cranial, destinado ao lobo cranial do pulmão direito e, após mais quatro cartilagens anulares – abertas –, bifurca-se em dois brônquios lobares, médio e caudal; d) o brônquio principal esquerdo, na altura da quinta costela, bifurca-se em brônquios lobares, cranial e caudal; e) apenas os brônquios lobares apresentam cartilagens em forma de anel completo – três à direita e dois à esquerda; f) o pulmão direito do lobo marinho não apresenta lobo acessório. Tais resultados apontam, no lobo marinho, aspectos inusitados, considerando os mamíferos em geral, com nuances que destoam em definitivo dos carnívoros, assim como aspectos que lembram os artiodáctilos (como o possível brônquio lobar traqueal). 4. Considerações Finais Tais resultados apontam, no lobo marinho, aspectos inusitados, considerando os mamíferos em geral, com nuances que destoam em definitivo dos carnívoros, assim como aspectos que lembram os artiodáctilos (como o possível brônquio lobar traqueal). REFERÊNCIAS CAROLYN, L. et al. Gross and microscopic visceral anatomy of the male Cape fur seal, Arctocephalus pusillus pusillus (Pinnipedia: Otariidae), with reference to organ size and growth. J. Anat. 195: 235-255, 1999. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 KASAI, T., CHIBA, S. Macroscopic anatomy of the bronchial arteries. Anat Anz, 145: 166–181, 1979. NICKEL,, R., SCHUMMER, A., SEIFERLE, E. The Anatomy of the Domestic Animals - The Circulatory System, Vol. 3. Berlin: Verlag Paul Parey, p. 123, 1981. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 CARACTERIZAÇÃO ANATÔMICA DAS VIAS BILIARES DO QUEIXADA (Tayassu pecari Link, 1795) Isabela Rocha Verner e Winnie Alves Lopes – graduanda em Medicina Veterinária Alexandre Geraldo Martins – graduando em Enfermagem Gilberto Valente Machado – graduado em Medicina Veterinária, mestre e doutor em Anatomia dos Animais Domésticos e Silvestres. Professor e coordenador do curso de Medicina Veterinária da Faculdade Vértice. Lucio Flávio Sleutjes – graduado em Fisioterapia, mestre em Motricidade e doutor em Cinesiologia. Professor e diretor geral da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Fígado; Vias biliares; Queixada. 1. Introdução O queixada (Tayassu pecari), também referido como porco do mato do queixo branco, pertence à família dos Tayassuidae e, assim como o cateto (Tayassu tajacu), vem sendo explorado zootecnicamente em intensidade crescente em decorrência do valor nutritivo de sua carne. A morfologia dos taiassuídeos vem sendo bastante estudada, tanto como subsídio às pesquisas de cunho fisiológico, como base de apoio ao aperfeiçoamento das práticas de seu manejo ou, até mesmo, para dar suporte às pesquisas que visam a garantir a sobrevivência dessa espécie na natureza. Com o propósito de oferecer dados que subsidiem o conhecimento da anatomia desses animais, com vistas ao conhecimento da segmentação hepática, assim como em apoio ao interesse da anatomia comparativa, o presente trabalho visa a fornecer dados sobre o padrão de formação das vias biliares do queixada. 2. Metodologia Para o estudo das vias biliares do queixada, utilizaram-se 20 fígados de espécimes adultos, 12 machos e 8 fêmeas, os quais tiveram aquelas vias injetadas após a canulação do ducto colédoco e utilização de seringas, com solução corada de Neoprene Látex “450”, até o total preenchimento do sistema; na sequência, esses órgãos foram mergulhados em solução aquosa de formol a 10 %, para sua fixação e, ulteriormente, dissecados. A dissecação pautou-se pela remoção parcial do parênquima hepático, numa abordagem pela face visceral do órgão, em Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 profundidades variáveis que permitissem visualizar, macroscopicamente, os diversos ramos formadores do sistema biliar, assim como o seu território de drenagem. 3. Resultados e discussão Após as dissecações, esquematização e análise, verificou-se que: a) o queixada, assim como o cateto (Tayassu tajacu), diferente de outros suiformes, não apresenta vesícula biliar; b) o ducto colédoco encontra-se, na maioria das preparações (17 vezes), formado pela convergência dos ramos principal direito e principal esquerdo, ao passo que, nas demais peças, resulta da tríplice união dos ramos principal direito, principal esquerdo e ramo do lobo quadrado (duas vezes) ou, ainda, dos ramos principal direito, principal esquerdo e ramo ventral do lobo direito (uma vez); c) o sistema formador do ramo principal direito aparece constituído pelo ramo dorsal do lobo direito, ramo médio do lobo direito, ramo ventral do lobo direito e ramo do processo caudato; d) compõem o sistema do ramo principal esquerdo: o ramo do lobo lateral esquerdo, o ramo do lobo medial esquerdo, o ramo do lobo quadrado (seis vezes) e o ramo do processo caudato (13 vezes), além de frequentes contribuições provenientes do lobo medial direito e, até mesmo, do processo caudato; e) não foram evidenciadas anastomoses pelos critérios de observação utilizados, assim como não ficaram evidentes diferenças estatisticamente significantes em relação aos sexos, ao nível de 5,0%, ao confrontarem-se os aspectos investigados. 4. Considerações finais O queixada (Tayassu pecari), diferente do suíno, não apresenta vesícula biliar e seu padrão de formação e distribuição do sistema excretor hepático, como descrito nos achados ora apresentados, também destoa das descrições encontradas na literatura. REFERÊNCIAS BRUNI, A.; ZIMMERL, A. U. Anatomi degli animali domestici. Milano: Francesco Vallardi, v. 1-2. p. 80-382, 1946.. GETTY, R. Sisson/Grossman anatomia dos animais domésticos. 5.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, v. 2, p. 1137-2000, 1986. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 NICKEL, R., SCHUMMER, A., SEIFERLE, E. The Anatomy of the Domestic Animals - The Circulatory System, Vol. 3. Berlin: Verlag Paul Parey, p. 123, 1983. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 INFLUÊNCIA DO ACETATO DE MEDROXIPROGESTERONA SOBRE O CICLO ESTRAL E A HISTOMORFOMETRIA UTERINA DE CAMUNDONGAS Manuella Carvalho da Costa- graduada em Medicina Veterinária, especialista em Clínica e Cirurgia de Pequenos Animais, doutora em Biologia Celular e Estrutural pela UFV. Professora da Faculdade Vértice. Izabel Regina dos Santos Costa Maldonado- Professora adjunta do depto de Biologia Geral da UFV. Mariana Ferreira Lanna- doutoranda do Depto de Biologia da UFOP Raphael Teixeira Melo- mestrando do Depto de Biologia Geral da UFV [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Acetato de medroxiprogesterona; Endométrio; Ciclo estral; Miométrio; Progesterona. 1. Introdução Os métodos contraceptivos vêm sendo cada vez mais utilizados por mulheres em todo o mundo. Atualmente, a contracepção é considerada um direito, uma opção individual, baseada na informação e escolha livre dos diferentes métodos disponíveis. Dentre os fatores que contribuíram para esse aumento, destacam-se o acesso facilitado aos contraceptivos e o início precoce da vida sexual (GREYDANUS et al., 2001; ORNSTEIN et al., 2006). O acetato de medroxiprogesterona (MPA) é a progestina injetável mais utilizada, tanto na clínica médica humana quanto na medicina veterinária. É um derivado sintético da progesterona que apresenta atividade progestacional prolongada quando administrada por via intramuscular, resultando, principalmente, na inibição da ovulação, aumento da viscosidade do muco cervical e inibição da contratilidade do miométrio (RATHKE et al., 2001; SCHINDLER et al., 2003; HICKEY & SALAMONSEN, 2008). Sabe-se que, para cadelas, a dose preconizada é de 2 a 5 mg/Kg, sendo aplicado na fase de anestro, devendo ser repetida a cada 6 meses. Já para a mulher, recomenda-se a dose única de 150 mg, administrada na fase folicular do ciclo a cada três meses (LUCAS et al., 2000/01; RATHKE et al., 2001). De modo geral, os contraceptivos podem apresentar vários efeitos indesejáveis. Uma queixa frequentemente relatada por usuárias que fazem tratamento contínuo com o MPA é o tempo necessário para que seja restabelecida a função ovariana e fertilidade após a suspensão do tratamento, que pode variar de três meses a um ano (RATHKE et Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 al., 2001). Já em gatas e cadelas, a estimulação contínua com MPA predispõe ao desenvolvimento de hiperplasia endometrial cística e piometrite, além da ocorrência de tumores mamários (LUCAS et al., 2000/01). Com base nesses relatos, o objetivo deste trabalho foi avaliar a influência do tratamento com acetato de medroxiprogesterona sobre o ciclo estral e o útero de camundongas nulíparas. Foram utilizadas 18 fêmeas nulíparas, com 60 dias de idade. Após verificação da regularidade do ciclo estral, através de exame colpocitológico, as fêmeas foram distribuídas de modo aleatório nos seguintes grupos: 1) controle, sem tratamento com MPA; 2) dose de 0,06 mg de MPA/animal; 3) dose de 0,12 mg de MPA/animal. Nos grupos tratados, cada fêmea recebeu uma dose de MPA por via subcutânea a cada 15 dias, sempre no período do diestro, totalizando 90 dias de experimento (6 doses). Foram realizados exames colpocitológicos a cada 15 dias antes de cada aplicação do MPA, para assegurar que a medicação seria aplicada sempre no período de diestro. Além disso, foram realizados três períodos de avaliação contínua para o monitoramento do ciclo estral. As avaliações consistiram na obtenção diária dos esfregaços sempre no mesmo horário, durante 10 dias antes do início do tratamento com o MPA durante 15 dias após a primeira dose de MPA e durante 15 dias após a última dose de MPA. Ao final do tratamento, todas as fêmeas foram submetidas à eutanásia no período do diestro. Fragmentos dos cornos uterinos foram fixados em solução tamponada de paraformaldeído a 4% e incluídos em resina à base de glicol-metacrilato. Cortes semi-seriados e transversais do corno uterino direito, com 4 μm de espessura, foram corados com solução de azul de toluidina/borato de sódio. A análise histomorfométrica consistiu na determinação da espessura do endométrio e miométrio, além da proporção volumétrica dos seguintes constituintes: glândulas uterinas, conjuntivo da lâmina própria, artérias, veias, capilares e polimorfonucleares. As fêmeas do grupo 3, após a última dose de MPA, apresentaram maior duração da fase do diestro (P<0,05) no seu ciclo estral. O acetato de medroxiprogesterona causou atrofia das glândulas uterinas, fenômeno que determinou a diminuição da espessura do endométrio nos dois grupos tratados. O MPA também promoveu aumento de capilares sanguíneos e polimorfonucleares no conjuntivo endometrial. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 de REFERÊNCIAS GREYDANUS, D. E.; PATEL, D. R.; RIMSZA, M. E. Contraception in the adolescent: an update. Pediatrics, v. 107, n. 3, p. 562- 573, 2001. HICKEY, M.; SALAMONSEN, L. A. Endometrial structural and inflammatory changes with exogenous progestogens. Trends in Endocrinology and Metabolism, v. 19, n.5, p. 167-174, 2008. LUCAS, S. S.; OLIVEIRA, A. L. L.; SCHOSSLER, J. E. W. Piometrite em cães e gastos: revisão de 103 casos. Revista da Faculdade de Zootecnia, Veterinária e Agronomia, v. 7/8, n.1, p. 99-103, 2000/01. ORNSTEIN, R. M.; FISHER, M. M. Hormonal contraception in adolescents: especial considerations. Paediatr Drugs, v. 8, n. 1, p. 25-45, 2006. RATHKE, A. F.; POESTER, D.; LORENZATTO, J. F.; SCHMIDT, V. B.; HERTER, L. D. Contracepção hormonal contendo apenas progesterona. Adolescência Latinoamericana, v. 2, n. 2, p. 90-96, 2001 SCHINDLER, A. E., CAMPAGNOLI, C.; DRUCKMANN, R.; HUBER, J.; PASQUALINI, J. R. ; SCHWEPPE, K. W.; THIJSSEN, J. H. H. Classification and Pharmacology of Progestins. Maturitas, 36S1, p. S7-S16, 2003. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 PADRÃO ANATÔMICO DAS ARTÉRIAS CORONÁRIAS DO QUEIXADA (Tayassu pecari Link, 1795) Alexandre Breder Werner, Laís da Silva Santos Josiane Miranda Breder – graduandos em Medicina Veterinária / Faculdade Vértice Gilberto Valente Machado – graduado em Medicina Veterinária, mestre e doutor em anatomia dos animais domésticos e silvestres Lucio Flávio Sleutjes – graduado em Fisioterapia, mestre em motricidade e doutor em cinesiologia [email protected] PALAVRAS-CHAVE: coração, artérias coronárias, queixada 1. INTRODUÇÃO O queixada (Tayassu pecari) pertence à família dos Tayassuidae e, semelhante ao que ocorre com o cateto (Tayassu tajacu), vem sendo explorado zootecnicamente em intensidade crescente, em decorrência do valor de sua carne. Sua morfologia vem sendo bastante estudada, em apoio às pesquisas de cunho fisiológico, com vistas ao aperfeiçoamento das práticas de seu manejo, bem como daquelas que visam garantir a sua sobrevivência na natureza. O presente trabalho busca enfocar aspectos relativos ao padrão de divisão e distribuição das artérias coronárias dessa espécie, comparando-os aos aspectos relativos aos suínos domésticos (Sus scrofa), contribuindo desta feita para o interesse da anatomia comparativa. 2. MATERIAL E MÉTODO Para o estudo das artérias coronárias do queixada, injetaram-se oito corações de animais adultos, sem problemas cardíacos aparentes, 5 machos e 3 fêmeas, os quais tiveram o sistema coronariano injetado, após a canulação seletiva do tronco das artérias coronárias, direita e esquerda, com solução corada de Neoprene Látex “450”, até o total preenchimento e visualização daqueles vasos. Na sequência, aqueles órgãos foram mergulhados em solução aquosa de formol a 10%, para sua fixação, e posteriormente dissecados. A dissecação pautou-se pela remoção, com o uso de pinças, bisturi e tesouras, do epicárdio e tecido adiposo perivascular, até que se tornassem evidentes os ramos superficiais das artérias coronárias e seus territórios de distribuição. Após as dissecações, analisou-se o padrão coronariano, o Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 qual passou a ser registrado mediante desenhos esquemáticos e fotografias. Não ficaram evidentes diferenças estatisticamente significantes em relação aos sexos, ao nível de 5,0%, ao confrontarem-se os aspectos investigados. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO A artéria coronária esquerda, logo após a sua emergência na face esquerda da aorta, bifurca-se para originar os ramos circunflexo e interventricular paraconal em 100% dos casos; entretanto, em um espécime, observou-se uma artéria diagonal. O ramo circunflexo originou de três a seis ramos para o átrio esquerdo, e de três a sete ramos para o ventrículo esquerdo, dentre eles (75,0%) uma bastante conspícua artéria marginal esquerda. Após contornar a margem ventricular esquerda, o ramo circunflexo desfaz-se em dois a quatro ramos, que se aprofundam na face direita do ventrículo esquerdo. O ramo interventricular paraconal emite de três a oito ramos para o ventrículo esquerdo, e de dois a três delgados ramos para o ventrículo direito, desfazendo-se em delgados ramos junto ápice cardíaco. A artéria coronária direita, mediante seu ramo circunflexo, emite de dois a quatro ramos para o átrio direito e, além de uma artéria marginal direita (50,0%), emite de três a cinco ramos para o ventrículo direito. O ramo interventricular subsinuoso, pertencente à artéria coronária direita, de três a seis ramos para o ventrículo direito, e de dois a quatro delgados ramos para o ventrículo esquerdo; dentre esses últimos, diversos ramos anastomóticos para ramos equivalentes da artéria coronária esquerda (anastomoses interarteriais). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Os achados acima descritos permitem apontar a predominância da artéria coronária direita sobre a coronária esquerda, o que aproxima estes resultados àqueles obtidos nos suínos domésticos. REFERÊNCIAS BILAZARIAN, S.D., JACOBS, A.K., FONGER, J.D. Case report of a coronary anomaly: crossing obtuse marginal arteries. Cathet Cardiovasc Diagn 23:130-2, 1993. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 MUYLDERMANS, L.L., Van der HEUVEL, P.A., ERNST, S.M. Epicardial crossing of coronary arteries: a variation of coronary arterial anatomy. Int J Cardiol 7:416-9, 1985. NICKEL, R., SCHUMMER, A., SEIFERLE, E. The Anatomy of the Domestic Animals - The Circulatory System, Vol. 3. Berlin: Verlag Paul Parey, p. 123, 1981. YILMAR, H., DEMIR, I. Crossing epicardial coronary arteries. Heart 91:1523, 2005. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 DISTRIBUIÇÃO INTRAPARENQUIMAL DOS RAMOS DA VEIA PORTA HEPÁTICA NO QUEIXADA (Tayassu pecari Link, 1795) Deyvid Lopes de Souza, Natália Mayrinck Cunha, Alexandre Breder Werner graduando de Medicina Veterinária / Faculdade Vértice Gilberto Valente Machado – graduado em Medicina Veterinária, mestre e doutor em anatomia dos animais domésticos e silvestres Lucio Flávio Sleutjes - graduado em Fisioterapia, mestre em motricidade e doutor em cinesiologia [email protected] PALAVRAS-CHAVE: fígado, veia porta hepática, queixada 1. INTRODUÇÃO Visando o interesse da anatomia comparativa, e tendo em conta a necessidade de se obter melhores informações, de cunho morfológico, das espécies pertencentes à fauna brasileira, tem o presente trabalho o intuito de acrescentar dados referentes ao padrão de distribuição intraparenquimal dos ramos da veia porta hepática no queixada (Tayassu pecari). O queixada (Tayassu pecari), também referido como porco do mato do queixo branco, pertence à família dos Tayassuidae e, assim como o cateto (Tayassu tajacu), vem sendo explorado zootecnicamente em intensidade crescente, em decorrência do valor nutritivo de sua carne. A literatura registra dados obtidos por Oliveira et al. (1972), na Panthera onca, que não se coadunam com os que ora se relata, assim como informa, porém de forma genérica, sobre aspectos semelhantes para os animais domésticos, como em Zietzschmann et al. (1943), Evans & Christensen (1979) e Schummer et al. (1981). 3. MATERIAL E MÉTODO Utilizaram-se 20 fígados de queixadas adultos, 12 machos e 8 fêmeas, os quais tiveram a veia porta hepática injetada, no sentido intra-hepático, após a sua canulação e utilização de seringas, com solução corada de Neoprene Látex “450”, até o total preenchimento daqueles vasos; em seguida, esses órgãos foram submersos em solução aquosa de formol a 10% e ali mantidos por um período mínimo de 72 horas, visando a sua fixação, e posteriormente dissecados. A dissecação pautou-se pela remoção parcial do parênquima hepático, numa abordagem pela face visceral do órgão, em profundidades variáveis, que permitissem visualizar, macroscopicamente, os diversos ramos oriundos das divisões e subdivisões da veia porta hepática. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Após a dissecação, esquematização e análise, observaram-se as seguintes características: a) ao atingir o fígado, a veia porta se divide por trifurcação, em 16 casos (80,0%), em quatro ramos (15,0%), ou em dois ramos (5,0%); b) por trifurcação, emite os ramos caudato direito – para o processo papilar do lobo caudato – e caudato esquerdo – para o processo caudato do lobo caudato e para o lobo lateral direito – e um ramo médio, de orientação ventral, que emite os seguintes ramos: um ramo para o lobo medial direito, um ramo para o lobo lateral esquerdo, dois ramos para o lobo medial esquerdo, um ou dois ramos para o lobo quadrado, além de um ramo comum aos lobos quadrado e medial esquerdo, nessa ordem; c) em quatro ramos, são eles, pela ordem, um ramo dorsal para o lobo lateral direito, um ramo dorsolateral direito, para o lobo lateral direito, processo caudato e lobo medial direito, um ramo ventral destinado aos lobos quadrado e medial esquerdo, e um ramo, em tronco comum, que se divide em dois ramos, dorsal e ventral, endereçados, respectivamente, ao processo papilar e lobos lateral esquerdo e medial esquerdo; d) no caso dois ramos apenas, constituíram dois troncos, direito e esquerdo; o ramo direito, para os lobos quadrado, medial direito, lateral direito e processo caudato, e o ramo esquerdo para os lobos medial esquerdo, lateral esquerdo e processo papilar. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O padrão de distribuição dos ramos da veia porta hepática do queixada não se coaduna com aquele descrito na literatura no que se refere aos suínos. A ausência da vesícula biliar, assim como a lobação hepática nesta espécie são fatores que destoam na comparação com o Sus scrofa, residindo aí possíveis fundamentos para discussões do ponto de vista morfológico e funcional. REFERÊNCIAS EVANS, H. E.; CHRISTENSEN, G. C. Miller’s Anatomy of the dog. 2.ed. Philadelphia: W. B. Saunders, p. 497–498, 1979. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 HEATH, T.; HOUSE, B. Origin and distribution of portal blood in the cat and rabbit. American Journal of Anatomy, v. 127, n. 2, p. 71–80, 1970. HEBEL, R.; STROMBERG, M. V. Anatomy and Embriology of the Laboratory Rat. Wörthesee: Bio Med. Verlag, 270 pp, 1982. NICKEL, R., SCHUMMER, A., SEIFERLE, E. The Anatomy of the Domestic Animals - The Circulatory System, Vol. 3. Berlin: Verlag Paul Parey, p. 123, 1981. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT 4 CIÊNCIAS DA SAÚDE Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT4 – CIÊNCIAS DA SAÚDE Nº Tipo de Apresentação 1 Comunicação Oral – A 2 3 Comunicação Oral– A Comunicação Oral – A 4 Pôster – A 5 Pôster – A 6 Pôster – A 7 Comunicação oral - A 8 Pôster - A 9 Pôster – R 10 Pôster – R 11 Pôster – R 12 Pôster – R 13 Pôster – R 14 Pôster – R 15 Pôster – R Trabalho Educação Continuada em Humanização: diminuindo as barreiras entre profissional e profissionais, cliente e profissionais nas clínicas médica, cirúrgica e pediátrica Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças de uma escola da rede pública do município de Matipó-MG Complicações frequentes pós-tratamento cirúrgico do câncer da mama em mulheres do município de Caratinga-MG Incidência de diabetes e hipertensão entre as mulheres matipoenses e a influencia da bebida e do cigarro na manifestação dessas doenças Multidisciplinar na utilização da nutrição parenteral em hospitais da região leste de Minas Gerais Projeto piloto - Análise do conhecimento sobre métodos contraceptivos de graduandos de Matipó-MG Automedicação referida por professores e acadêmicos da área de saúde da Faculdade Vértice – Matipó MG Obesidade em idade escolar: um estudo de caso do Programa Social Abortamento: uma análise da repercussão na vida e na saúde da mulher Síndrome de Rett: um caso atípico diagnosticado em mulher de 62 anos Estudo descritivo do consumo referido de psicofármacos em Ouro Preto-Minas Gerais (2006) Aspectos da utilização de plantas medicinais pela população da região central do município de Matipó, MG Diabetes mellitus tipo 2 em idosos: o papel da educação nutricional no controle glicêmico Distribuição dos portadores de diabetes mellitus no centro urbano de Matipó/ MG Hipertensão arterial: uma breve análise no município de Matipó-MG A – Artigo R – Resumo Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ARTIGOS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 EDUCAÇÃO CONTINUADA EM HUMANIZAÇÃO: DIMINUINDO AS BARREIRAS ENTRE PROFISSIONAL E PROFISSIONAIS, CLIENTE E PROFISSIONAIS E NAS CLÍNICAS MÉDICA, CIRÚRGICA E PEDIÁTRICA Laudinei de Carvalho Gomes, Shélida Muratori Vieira de Assis, Lucimar da Silva Gomes e Adriana Acipreste Souza Caetano - Graduandos em Enfermagem. Emanuelle Ferreira de Souza - Graduada em Enfermagem /especialista em Gestão do Programa Saúde da Família. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] RESUMO Os profissionais de saúde, muitas das vezes, deixam a desejar no cuidado ao paciente/cliente, devido à jornada de trabalho muito estressante e por serem encarregados da parte burocrática e assistencial; é nesse momento que surge os conflitos, sendo necessário implementar a humanização, como instrumento de trabalho, auxiliando assim a diminuir esses fatores estressantes. Favorecendo o profissional e contribuindo para um clima de harmonia no ambiente de trabalho mais favorável para o cuidado com os pacientes/clientes. Este estudo teve como objetivo avaliar como era o atendimento ao paciente; satisfação do cliente/paciente, para com os profissionais e com o hospital; e as condições que eram submetidos. Para isso, foi aplicado um questionário na Fundação de Saúde Cristo Rei (FSCR) avaliando e evidenciando as deficiências da instituição. Os resultados demonstram que a FSCR, apesar de ser um hospital de pequeno porte obteve, resultados satisfatórios quanto à humanização, porém faz-se necessário haver algumas mudanças. PALAVRAS-CHAVE: Pediátrica. Humanização; Centro Cirúrgico; Clínica Médica e 1. Introdução Diante da possibilidade de trabalhar em um ambiente mais dinâmico, harmônico e prazeroso, falar de humanização é essencial. A evolução da medicina estaria ligada, na condição da visão humanística do paciente, atendendo o mesmo seguindo a teoria do holismo, em que o ser humano deve ser visto como um todo. Dessa forma, o profissional de saúde tem como objetivo analisar na sua totalidade o corpo físico e mental, comportamental, social, familiar e cultural, buscando saber, de algum modo, de onde pode surgir a doença, assim como as barreiras que impeçam a posterior cura do paciente, para que com mais segurança possam ser Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 aplicados os recursos tecnológicos disponíveis (OLIVEIRA, 2006). Com isso, observou-se a necessidade de implantar a humanização em setores hospitalares como na clínica médica, cirúrgica e pediátrica. Humanizar caracteriza-se em colocar a cabeça e o coração na tarefa a ser desenvolvida, entregar-se de maneira sincera e leal ao outro e saber ouvir com ciência e paciência as palavras e os silêncios. O relacionamento e o contato direto fazem crescer, e é neste momento de troca, que humanizo, porque assim posso me reconhecer e me identificar como gente, como ser humano (BEDIN, et al. 2004). Humanizar caracteriza-se pela maneira como os profissionais de saúde prestam o atendimento ao paciente/cliente; nesse sentido, humanizar está além de dar um bom dia, um sorriso nos lábios e nem tão pouco chamar o paciente/cliente pelo nome, é muito importante também interpretar seus medos, angústias, incertezas, dando-lhe apoio e atenção constantemente (OLIVEIRA, 2006). Todavia, o comportamento impessoal dos profissionais de saúde que trabalham na clínica médica, clínica cirúrgica e pediátrica, podem estar ligados à demanda dos serviços estressantes, muitas das vezes, não raras, o paciente/cliente se encontra em situação eminente de morte. Contudo, essas intercorrências geram estresse, desgaste físico e psicológico, tanto para o acompanhante do enfermo, como para os profissionais que trabalham nesses locais, reduzindo assim as interações entre família, profissional e paciente (SQUASSANTE et al, 2009). Portanto, este estudo teve como objetivo avaliar como era o atendimento da instituição; a satisfação do paciente para com os profissionais; assim como a satisfação geral para com o hospital. 2. Revisão bibliográfica A humanização não é apenas um instrumento de trabalho, é uma medida que visa diminuir os agravantes da saúde do paciente/cliente e dos profissionais das respectivas áreas abordadas. Além disso, não pode ser taxada como uma mera medida de mudança no espaço físico, com adequações; mas, principalmente, uma mudança nas ações e comportamento dos profissionais frente ao paciente/cliente e seus familiares ou seus responsáveis. Em especial, a enfermagem, por estar em contato maior com o paciente/cliente, deve ser a primeira a realizar as atividades Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 com princípios humanísticos, abordando as doutrinas do SUS, como equidade, integralidade e outros (BEDIN, et al 2004). Humanizar caracteriza-se pela maneira como os profissionais de saúde prestam o atendimento ao paciente/cliente; essa pode ser diagnosticada, no momento da internação do paciente no centro cirúrgico, ou em qualquer outro local, gerando quase sempre uma ocasião muito difícil para a família. Surgindo, nesse momento, sentimentos de incertezas quanto ao presente e ao futuro de seu familiar. É nesse momento que questionamentos quanto ao futuro surgem: “como será a cura?” “Haverá problemas futuramente que produziram deficiências?” “Tem algum risco de morte?” “Ele pode nos entender?”. Medidas cabíveis devem ser adotadas por parte dos profissionais de saúde nesse momento, para garantir conforto à família, minimizando essas incertezas, ainda sim bem como dar apoio, interagir, sentar com a família e, ou responsável para conversar é fundamental, caracterizando, nesse momento, um passo indispensável para a humanização em saúde (BEDIN, et al 2004). Segundo o PNHAH 2002, de modo geral, alguns propósitos são acatados para traçar uma assistência em um ambiente humanizado: aperfeiçoar o conhecimento científico sequencialmente, é um efeito do interesse e da competência, todavia, objetivando sempre em dar atenção às necessidades do pacientes/cliente. Tranquilizar à medida que possível, diminuir ou controlar a dor e atender as queixas físicas e emocionais. Seguir as determinações, a qualidade e o modo de vida do paciente/cliente, o tratamento deve ser uma atitude que visa a melhorar a qualidade de vida do mesmo. Garantir a privacidade do paciente/cliente, de forma alguma o tratamento deve expor o mesmo; a exposição do paciente/cliente, de certa forma, provoca desconforto. Oferecer suporte emocional adequado, evitar expor para o paciente/cliente os mínimos detalhes de procedimentos que não são necessários ao seu conhecimento, como por exemplo, “isso não tem cura, depende só de Deus”. Problemas como frustração, ansiedade e descontentamento profissional, repercutem no trabalho. Assim como prestar informações quanto à doença, prognóstico e tratamento ao paciente. Os profissionais de saúde não devem reduzir palavras, o silêncio dos profissionais é uma das queixas mais comuns em relação ao mau atendimento. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 No ano de 2000, o Ministério da Saúde, comovido pelo número significativo de queixas dos usuários referentes aos maus tratos nos hospitais, deu início à convocação de profissionais da saúde mental para criar soluções dirigidas para a humanização das assistências hospitalares e de saúde. Esses profissionais constituíram um Comitê Técnico que elaborou um Programa Nacional de Humanização da Assistência Hospitalar (PNHAH) para promover mudanças nas características do atendimento de saúde no Brasil. Por intermédio de normas e supervisão do PNHAH (2002), orientava-se que houvesse uma requalificação dos hospitais públicos. Com este propósito, o Ministério da Saúde concederia o título de "Hospital Humanizado", pelo período de um ano, aos hospitais cuja base de assistência e funcionamento global respeita-se a conformidade com os indicadores de humanização e os princípios e diretrizes do PNHAH. Para muitos defensores da humanização, as esperanças e as expectativas não estão nas intervenções do governo, mas sim nas mãos das escolas de formação dos profissionais de saúde. Waldow (1998, p.62 apud BEDIN, et al. 2004) ressalta que: É importância unir e harmonizar as muitas funções do enfermeiro, quando certifica: O cuidado humanístico não é rejeição aos aspectos técnicos, tão pouco aos aspectos científicos, o que se pretende ao revelar o cuidado é enfatizar a característica do processo interativo e de fluir energia criativa, emocional e intuitiva, que compõe o lado artístico além do aspecto moral. A humanização não é apenas um instrumento de trabalho, é uma medida que visa diminuir os agravantes da saúde do paciente/cliente e dos profissionais das respectivas áreas abordadas. E em especial, a enfermagem, por estar em contato direto com o paciente/cliente. 3. Metodologia Estudo quanti-qualitativo do tipo exploratório-descritivo, realizada no período de setembro a dezembro de 2009 na “Fundação de Saúde Cristo Rei” (FSCR), situada na cidade de Matipó, no interior de Minas Gerais. Para coleta de dados, foi utilizado um questionário avaliativo institucional, previamente montado e tendo, como foco de pesquisa, 41 pacientes/clientes internados na FSCR, com intuito de identificar o fluxo de atendimento; avaliar a satisfação do cliente/paciente para com Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 os profissionais; analisar as condições do atendimento e quantificar a satisfação geral do cliente/paciente para com o hospital. A coleta de dados foi realizada a partir da entrevista semi-estruturada, aplicando-se 41 questionários no mês de novembro 2009, pelos acadêmicos referidos no estudo. Cabe salientar que este estudo foi devidamente lido e analisado pela direção da FSCR e coordenação do projeto antes da aplicação dos questionários. A coleta de dados deu-se a partir do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, anexado ao questionário, previamente assinado pelos participantes da pesquisa, sendo prestados os devidos esclarecimentos pertinentes à pesquisa. Após analise, os dados foram representados em gráficos de pizza, para melhor visualização. 4. Resultados e discussão A população estudada compõe-se de paciente/cliente da FSCR, que encontravam internados na instituição de saúde, dentre as questões analisadas podemos destacar, em forma gráfica, os principais resultados: 2 01 6 15 22 Ótimo 2 0 12 Ótimo Bom Bom Regular Regular Ruim Ruim Brancos Brancos 21 Gráfico 1: Atendimento de Enfermagem Diurno Gráfico 2: Atendimento de enfermagem Noturno No contexto estudado quanto ao atendimento prestado pelos profissionais de enfermagem que trabalham no turno diurno (gráfico 1), 15 pessoas caracterizaram a FSCR como sendo ótima, 22 pessoas relataram que o atendimento foi bom, 2 disseram que era regular, 1 não quis responder, titulando assim a FSCR como bom, não obtendo dados ruins nesse quesito. No (gráfico 2), o pico de maior valor também ocorreu com o conceito bom; nesse quesito 21 pessoas responderam bom, 12 pessoas disseram ser ótimo, 6 não responderam, 2 caracterizaram como sendo Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 regular não obtendo dados ruins. Pode-se notar que o atendimento da enfermagem do turno noturno caiu levemente. 1 0 1 12 Ótimo Bom 0 Regular 0 6 10 Ótimo Ruim Bom Brancos 22 Regular Ruim Brancos 24 Gráfico 3: Recepção diurno Gráfico 4: Recepção noturno Quanto ao atendimento na recepção (gráfico 3), 12 pessoas classificara-no como sendo ótima, 22 disseram ser bom, 1 pessoa respondeu regular e 1 pessoa não quis responder, não obtendo assim dados ruins. No atendimento da recepção noturno (gráfico 4), 10 pessoas classificaram-no como sendo ótimo, 24 disseram ser bom, 6 não responderam. 2 1 1 17 Ótimo 0 Bom 1 7 7 Ótimo Bom Regular Regular Ruim 20 Ruim Brancos Brancos 26 Gráfico 5: Atendimento prestado pelos Médicos. Gráfico 6: Nutrição (alimentação) O atendimento médico (gráfico 5) foi representado da seguinte forma, 17 pessoas classificaram-no como ótimo, 20 analisaram como sendo bom, 2 disseram ser regular, 1 caracterizou como ruim e 1 não respondeu. Quanto à alimentação (gráfico 6) oferecida pela FSCR, 7 pessoas disseram que a alimentação é ótima, 26 disseram ser boa, 1 respondeu que é regular, nesse quesito não houve dados ruins, 7 não classificaram, pois não utilizaram o serviço. 6 8 1 1 1 Ótimo 2 Ótimo Bom Bom 6 Regular Regular Ruim 20 16 Ruim Brancos Brancos Gráfico 7: Exames complementares (RX, Sangue e outros) 21 Gráfico 8: Rouparia. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Quanto aos exames complementares (gráfico 7), 8 pessoas disseram ser ótimo, 20 responderam estar satisfeitos com o atendimento classificando como sendo bom, 6 disseram ser regular, 1 caracterizou como ruim e 6 não opinaram, por não terem utilizado esse serviço. Quanto à rouparia (gráfico 8), 21 pessoas disseram ser ótima, 16 classificaram como sendo bom, 1 regular, 1 ruim e 2 não opinaram. 1 0 2 0 0 Ótimo 4 13 Bom 21 18 Regular Ruim Ruim Brancos Brancos 23 Gráfico 8: Rouparia Gráfico Ótimo Bom Regular Gráfico 10: Satisfação geral A respeito da limpeza geral (gráfico 9), 21 pessoas classificaram como sendo ótimo, 18 responderam como bom, 02 disseram ser regular, não havendo dados ruins ou regulares. Em relação a satisfação geral (gráfico 10), 13 pessoas mostraram estar em satisfeitas para com a fundação, 23 caracterizaram como sendo bom, 4 responderam regular, 1 pessoa não respondeu, dessa forma não houve dados ruins. 5 21 3 0 13 31 141 Ótimo Bom 0 Regular 3 17 Ruim 3 Branco 212 Confiabilidade Localização Indicação família/amigos Falta de opção Encaminhamento médico Convênio Outras oções Gráfico 11: Totalidade das Respostas Gráfico 12: Motivos da procura a FSCR Dentre as questões analisadas (gráfico 11), 141 respostas caracterizaram a FSCR como sendo ótima, 21 boa, 21 regular e 3 como sendo ruim, 31 respostas não foram respondidas. Entre os motivos pelos quais as pessoas procuraram a FSCR destacam-se (gráfico 12): 3 pessoas relataram confiabilidade, 17 localização, 5 indicações de família/amigos, 13 encaminhamento médico, 3 por outras opções, não obteve-se dados por convênio e falta de opção. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Dentro do universo pesquisado, 98% das pessoas disseram que voltariam a procurar o atendimento da Fundação de Saúde Cristo Rei, apenas 2% disseram que não voltariam, pelo fato de não estarem satisfeitos com o atendimento. Representado pelas seguintes reclamações: “(...) não gostei do médico e do HCR” (M.L.); “(...) muita demora em atender na chegada” (J.M.); “(...) depois de não ter dinheiro para pagar a consulta, eu voltaria” (C.B.V.). Porém, é relevante destacar que esses relatos não caracterizam a FSCR, pois nos gráfico 11 e 12, é possível observar que uma grande parcela dos resultados obtidos, conceitua a FSCR como ótima e boa, demonstrando assim estarem satisfeitos com os serviços oferecidos. Todavia, a FSCR obteve elogios satisfatórios, dentre os mesmos podemos citar: “(...) todas as vezes que o procurei fui bem tratada” (O); “(...) gostei do atendimento” (D.I.); “(...) o atendimento melhorou muito”(sem identificação); “(...) porque eles nós tratam muito bem e sem esperar, é rápido”(M.F.M.); “(...) atendimento está ótimo”(M.G.M.); com esses dados podemos afirmar que os profissionais de saúde da FSCR estão em busca de uma melhoria continua, isso pode ser evidenciando no momento em que a direção da fundação propôs-se a aceitar que fosse realizada esta pesquisa. É importante ressaltar que a FSCR encontra-se em processo de implantação da Humanização Hospitalar. Por isso, segundo a direção: é muito importante projetos como esses para o crescimento da instituição e, principalmente, em parceria como a “Faculdade Vértice”, dos Acadêmicos em Enfermagem, realizando levantamento dos problemas e propondo programas de treinamento e outros; pois é fato que, na FSCR, a grande maioria dos funcionários é antiga e fechada a humanização. Porém, é importante aceitar criticas e sugestões, essas fazem com que os profissionais cresçam e colaborem para o crescimento da empresa. Seguem algumas sugestões citadas: “o mais importante é o médico, muitas vezes saímos para outra cidade em busca de médicos qualificados.” (sem identificação); “os médicos deveriam ser mais compreensivos, principalmente com aqueles que não têm ninguém.”(sem identificação); “trocar os lençóis e retirar as vasilhas utilizadas pelos pacientes, a cada alta.”(A.M.S.); “melhorar o atendimento das enfermarias no período noturno.”(O.A.M). Segundo relatos da direção. “estamos trabalhando para melhoria da instituição; reparando falhas e erros. Mas, a FSCR é uma instituição filantrópica, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 dependente de verbas e doações; devido a isso, direcionamos as verbas com cautela, de acordo, com as prioridades de cada setor; no entanto o que estiver ao nosso alcance”. As condições apresentadas pela FSCR é uma realidade geral de todos os Hospitais de pequeno porte do Brasil, que dependem de doações para se manter funcionando e oferecer os serviços com dignidade seguindo os princípios éticos e legais que as regem. Durante a realização da pesquisa de campo, observamos que os funcionários mostraram-se prestativos, atenciosos e interessados na proposta. A educação continuada visa a proporcionar conhecimento e mudanças de comportamento, a fim de contribuir para o crescimento através da disseminação de conhecimentos e consequente melhoria no atendimento. 5. Considerações finais É estranho falar em humanização com humanos, não dá para entender quando/como esse foi perdido, pois humanizar deveria ser da natureza do ser humano. O centro cirúrgico, a clínica cirúrgica, a clínica médica e a pediatria são unidades de complexidade tecnologia e de procedimentos que exploram a privacidade dos pacientes; os profissionais que ali trabalham, devem estar cientes da relevância de dar atenção ao paciente/cliente, ouvindo, olhando, tocando e sendo presente, pois, a segurança e a tranquilidade favorecem o prognóstico. Favorecendo assim, também o trabalho da equipe (médicos, enfermeiros, faxineiros, etc) em prol do paciente/cliente. O que acaba que por acelerar a recuperação do paciente, quanto mais rápida menos gastos são gerados para a instituição, para isso é fundamental respeitar os valores, a ética, a moral e ter profissionalismo. As ações éticas expostas na graduação devem ser colocadas em prática pelos enfermeiros ao prestarem assistências aos pacientes. Por outro lado, a repetição diária das atividades, como se fossem meras máquinas; a grande carga de trabalho e, até mesmo, a acomodação, tem afastado substancialmente a prática da teoria, deixando, com isso, vestígios e evidências de insatisfação dos pacientes/clientes com relação à atenção recebida. Nesse momento, faz-se necessário propor algumas orientações: no caminho para o centro cirúrgico ou para a clínica médica, pediátrica, converse com paciente/cliente tranqüilizando, esclarecendo o que está ocorrendo e o que irá Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 acontecer, para deixá-lo mais calmo. O paciente/cliente tem direito a ser identificado por nome e sobrenome, não deve ser nomeado pela patologia ou do agravo da saúde, nem de forma desrespeitosa ou preconceituosa e, principalmente, pelo número da enfermaria e leito pelo qual ocupa. Dessa forma, o presente estudo salienta o valor das mudanças perante aos profissionais. Por investigar questões acerca da necessidade de mudança dos conceitos sobre assistência, na clínica médica, cirúrgica e pediátrica. Introduzindo uma assistência humanizada, em prol do paciente/cliente, tratando-o como ser humano merecedor de respeito e dignidade em seu tratamento. REFERÊNCIAS BEDIN, E. et al. Humanização da assistência de enfermagem no centro cirúrgico. Revista Eletrônica de Enfermagem, vol. 06, nº. 03, 2004. Disponível em: www.fen.ufg.br. Acesso em: 19. Out. 2009. OLIVEIRA, B. R. G. de et al; A humanização na assistência à saúde. Ribeirão Preto, 2006. Disponível: http://www.scielo.br/scielo Acesso em: 14. set.2009. SQUASSANTE, N. D.; ALVIM, N. A. Relação equipe de enfermagem e acompanhantes de clientes hospitalizados: implicações para o cuidado. Revista Brasileira Enfermagem, Brasília, 2009. Disponível: http://www.scielo.br/scielo. Acesso em: 15. Mai. 2009. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 PREVALÊNCIA DE SOBREPESO E OBESIDADE EM CRIANÇAS DE UMA ESCOLA DA REDE PÚBLICA DO MUNICÍPIO DE MATIPÓ-MG Gabriela Chaves Mendes Justino – graduada Fisioterapia, mestranda em Ciências da Reabilitação. Professora da Faculdade Vértice. Joana Martins de Andrade, José Cyro Santos Miranda, Leidiana Pereira Queiroz e Lindinalva Aparecida Romeiro – graduandos em Educação Física da Faculdade Vértice [email protected] RESUMO Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), obesidade é uma doença em que existe excesso de gordura corporal acumulada, capaz de provocar problemas de saúde. O presente estudo tem como objetivos determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade em estudantes de uma escola da rede pública de Matipó, entre seis a nove anos através dos pontos de corte do IMC descritos por Cole et al, 2000. e recomendados pela IOTF. Foi realizada a avaliação do IMC de 160 estudantes, encontrando uma prevalência do sobrepeso maior no sexo feminino, e quanto a obesidade a prevalência foi igual independendo do sexo. PALAVRAS-CHAVE: obesidade; índice de massa corporal; estudantes; prevalência. 1. Introdução Nas últimas décadas muitas pesquisas têm sido realizadas sobre a saúde da criança e do adolescente, principalmente relacionado à obesidade. Isto se deve pelo aumento deste quadro entre crianças, não apenas em países desenvolvidos, bem como em países em desenvolvimento. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (WHO - World Health Organization, 1995), obesidade é uma doença em que existe excesso de gordura corporal acumulada, capaz de provocar problemas de saúde. Sendo considerada pelo mesmo órgão uma epidemia global do século XXI, pela sua alta prevalência a nível mundial. Os problemas mais freqüentes em casos de obesidade infantil são diabetes tipo 2, hipertensão arterial, dislipidemia, aterosclerose, problemas osteoarticulares, depressão, problemas respiratórios e alguns tipos de cancro. Sendo que dentre os fatores de risco podemos destacar pais obesos peso Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 excessivo ao nascer número de irmãos nível sócio-economico, alimentação excessiva e muito calórica, sedentarismo (SANCHO, 2007). Diversos métodos têm sido desenvolvidos para medir a gordura corporal, incluindo densitometria, 7575757575757575ultra-sonografia, tomografia computadorizada, ressonância magnética, medida dos níveis de potássral, da creatinina e da água corpórea total. Em geral são métodos caros, demorados, que requerem pessoal especializado e que não estão largamente disponíveis (ZLOCHEVSKY, 1996). Baseando-se nas medidas antropométricas, índice de massa corpóreo (IMC) tem sido o mais utilizado para definir sobrepeso e obesidade. O IMC é calculado seguindo a fórmula Peso/Altura², sendo o método mais utilizado em rotina clínica e saúde pública. Em uma população onde o peso está elevado para estatura pode ser considerado um indicador adequado de obesidade (WHO - World Health Organization, 1995). Porém, de acordo com relatório da OMS sobre antropometria, de 1995, numa base individual o termo obesidade deve ser utilizado apenas em situações em que a adiposidade é mensurada, como na medida da espessura das pregas cutâneas, por exemplo. Em estudos recentes realizados em escolas brasileiras, tem demonstrado uma porcentagem relativamente alta de obesidade em crianças, revelando um grau acima de 50 % (PIMENTA e PALMA, 2001; BALABAN e SILVA, 2001; SOAR et al., 2004). Em 1997 um Workshop de Obesidade Infantil organizado pela International Obesity Task Force (IOTF), concluiu que o índice de massa corporal (IMC) é uma medida razoável de determinação de gordura em crianças e adolescentes e que os padrões usados para identificar sobrepeso e obesidade deveriam seguir os padrões de população adulta, onde o IMC maio r ou igual a 25 kg/m² indica sobrepeso e maior ou igual a 30 kg/m² obesidade (BELLIZZI e DIETZ, 1999). Baseado nesta conclusão, Cole et al., (2000) propuseram os valores correspondentes ao IMC 25 kg/m² como indicativo de sobrepeso e 30 kg/m² para caracterizar a obesidade em crianças a partir de dois anos de idade. O presente estudo tem como objetivos determinar a prevalência de sobrepeso e obesidade em estudantes de uma escola da rede pública de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Matipó, de seis a nove anos através dos pontos de corte do IMC descritos por Cole et al., (2000) e recomendados pela IOTF. 2. Metodologia O estudo foi realizado na Escola Estadual José Mendes Magalhães, escola da rede pública de Matipó-MG, a qual atende a uma clientela de classe social mista. A população do estudo foi composta de todos os alunos matriculados na escola no ano letivo de 2010, no turno vespertino, num total de 160 estudantes. Trata-se de um estudo de caráter observacional e descritivo. A amostra foi escolhida de forma aleatória de acordo com a presença dos alunos no dia da coleta dos dados. O calculo do IMC, foi feito utilizando peso em quilogramas e altura em metros. Sendo que as medidas de peso foram obtidas em única tomada, com o avaliado em posição ortostática, em uma balança, da marca GEOM. A estatura foi verificada em tomada única, utilizando-se fita métrica milimetrada fixada à parede com ponto zero ao nível do solo. O avaliado adotou a posição ortostática, pés descalços e unidos, mantendo contato com a fita os calcanhares e região occipital. As medidas de peso e altura possibilitaram a construção do índice antropométrico IMC, o qual será analisado por sexo e idade, de acordo com o modelo da tabela 1. A autorização da participação dos escolares na pesquisa efetivou-se a partir da assinatura de termos de consentimento livre e esclarecido pelos pais dos alunos selecionados. Para o diagnóstico de sobrepeso e obesidade foram utilizados os pontos de corte do IMC recomendados pela IOTF conforme sexo e idade (Tabela 1). Os pontos de corte selecionados foram os correspondentes à idade na metade do ano, conforme outros autores (SOAR et al., 2004). Os valores de IMC descritos aos 7,5 anos foram usados para o diagnóstico de crianças de 7 a 7,9 anos; os descritos aos 8,5 anos para crianças de 8 a 8,9 anos e os descritos aos 9,5 anos para crianças de 9 a 9,9 anos. Os dados foram digitados em uma planilha do Microsoft Office Excel 2003 e a análise estatística foi feita utilizando o programa BioEstat 5.0. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Tabela 1 - Pontos de corte internacionais do índice de massa corporal (IMC) para sobrepeso e obesidade por sexo, entre seis e nove anos de idade. Sobrepeso (kg/cm²) Obesidade (kg/cm²) Idade (anos) Meninos Meninas Meninos Meninas 6,5 17,7 7,5 18,2 8,5 18,8 9,5 19,5 10,5 20,2 17,5 24,7 Fonte: Adaptado de Cole et al., (2000) 17,5 18,0 18,7 19,5 20,3 24,8 20,2 21,1 22,2 23,4 24,6 29,7 20,1 21,0 22,2 23,5 24,8 29,8 3. Resultados e discussão A coleta dos dados foi realizada no dia 01 de setembro de 2010, na Escola Estadual José Mendes Magalhães, sendo estudado um total de 160 alunos. Dentre as crianças havia 72 meninas (45%) e 88 meninos (55%). Com relação a idade 52 (32,5%) tinham 6 anos, 45 (28,13%) tinham 7 anos, 45 (28,13%) tinham 8 anos, 14 (8,75%) tinham 9 anos, 3 (1,87%) tinham 10 anos, 1 (0,62%) 17 anos. Na Tabela 2, apresentam-se os valores das medidas de tendência central e de dispersão para as variáveis idade e IMC da população investigada. Tabela 2 -Valores das medidas de tendência central e de dispersão para as variáveis idade e índice de massa corporal (IMC) em escolares de uma escola pública. Matipó, Minas Gerais, 2010. Variáveis Idade IMC Mediana 1º.quartil 3º.quartil 7 6 8 15,8 14,7 17,0 Mínimo 6 11,6 Máximo 9 27,6 Os dados da Tabela 3 mostram a prevalência de sobrepeso e obesidade na população investigada segundo o sexo. Observou-se, para ambos os sexos, uma prevalência maior de sobrepeso que de obesidade. A prevalência de sobrepeso encontrada foi de 11,9%, enquanto a de obesidade foi de 5,0%. A Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 prevalência do sobrepeso foi maior no sexo feminino e da obesidade teve prevalência igual independendo do sexo. Tabela 3 - Distribuição da prevalência de sobrepeso e obesidade conforme sexo, em escolares de uma escola pública. Matipó, Minas Gerais, 2010. Classificação Sexo Sobrepeso n % Obesidade n % Masculino 7 4,3 4 2,5 Feminino 12 7,5 4 2,5 Total 19 11,8 8 5 Na Tabela 4, apresenta-se a prevalência de sobrepeso e obesidade na população investigada segundo faixa etária e sexo. As prevalências de sobrepeso para sexo feminino e masculino são distintas dentro da mesma faixa etária, embora a diferença não tenha sido estatisticamente significante. Com relação à obesidade as prevalências mantiveram-se em torno de 4% novamente sem diferença estatística significante entre os sexos nas diferentes idades. Mesmo com as limitações com relação ao uso do IMC para verificação da composição corporal, ele ainda tem sido considerado um procedimento mais utilizado para verificação da gordura corporal, utilizando as medidas de peso e estatura (GUO e CHUMLEA, 1999). Tem como uma de suas vantagens o fácil acesso aos dados que serão analisados e também por não ser um método invasivo, tem sido muito utilizado em estudos relacionando crianças (BELLIZZI e DIETZ, 1999). No atual estudo foi encontrado uma baixa prevalência de sobrepeso e obesidade, correspondendo a 0,6%. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Tabela 4 - Distribuição da prevalência de sobrepeso e obesidade conforme faixa etária e sexo, em escolares de uma escola pública. Matipó, Minas Gerais, 2010. Classificação Idade(em anos) Sobrepeso Feminino n % Obesidade Masculino n % 6 4 16,0 4 14,3 (p)=0,5582 7 4 21,0 2 (p)=0,8375 8,0 8 1 5,3 9 1 14,3 0 (p)=0,010 2 (p)=0,9955 Total n % 8 Feminino n % Masculino n % Total n % 5,6 2 8,0 2 (p)=0,0435 7,1 4 7,5 6 4,4 0 0 2 (p)=0,1155 8,0 2 4.5 7,4 3 1,2 2 10,5 0 (p)=0,1167 0 2 4,3 0 1 0,6 0 0 0 (p)=0,001 0 0 0 Muito diferentes do que foram encontrados em outros estudos descritos por Balaban e Silva, (2001), onde foi pesquisada uma amostra maior, com 762 estudantes entre crianças e adolescentes de uma escola da rede privada do Recife, encontrando uma prevalência de 26,2% de sobrepeso e 8,5% de obesidade. Fato este que também pode estar relacionado a questão socioeconômica que segundo Silva et al., (2005) interfere nas práticas alimentares aumentando a prevalência de sobrepeso e obesidade infantil. Esta alta prevalência de sobrepeso e obesidade encontrada em outros estudos também pode estar relacionado ao tempo que a criança dedica a ficar em frente a televisão e ao sedentarismo que se instala (PIMENTA e PALMA, 2001). Porém, devemos ressaltar que em nosso estudo a amostra pesquisada foi restrita aos alunos de uma escola pública que estudavam no turno vespertino e que estão na faixa etária entre 6 e 9 anos de idade, sendo que a classe socioeconômica é bastante heterogênea, incluindo alunos que Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 participam do projeto Escola em Tempo Integral, que apresentam em sua maioria uma condição socioeconômica baixa. Com relação a faixa etária neste estudo foi observado uma prevalência maior de sobrepeso entre seis e sete anos de idade, semelhante aos valores encontrados em um estudo na rede pública de Florianópolis que também adotou os mesmos métodos diagnósticos para sobrepeso e obesidade (SOAR et al., 2004). 4. Considerações finais Mesmo observando uma baixa prevalência de sobrepeso e obesidade infantil em nosso estudo, é muito importante que esta prevenção da obesidade inicie ainda na infância promovendo um estilo de vida saudável, sendo que para que esse tratamento tenha sucesso é necessária a atuação de uma equipe multiprofissional (médico, nutricionista, psicólogo, e o educador físico). Para melhores resultados no tratamento é importante a cooperação dos pais e também a escola tem papel fundamental ao modelar as atitudes e comportamentos das crianças sobre a atividade física e nutrição (SOARES e PETROSKI, 2003). Ao final, devemos esclarecer que o emprego dos resultados deste estudo torna-se limitado, pois foi baseado em amostra pequena, de estudantes de uma única escola pública e, portanto não representativa da população. Desta forma, não devem ser extrapolados para a população de crianças em geral e sua comparação com outros estudos deve ser cautelosa. Sendo nesessário outros estudos com uma amostra maior e abrangendo as demais escolas públicas e privadas do município de Matipó, para se ter uma amostra mais representativa da população. REFERÊNCIAS BALABAN, Geni; SILVA, Gisélia A. P. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes de uma escola da rede privada de Recife. J. Pediatr. Rio de Janeiro, v. 2,n. 77, 96-100, 2001. BELLIZZI, Mary C; DIETZ, William H. Workshop on childhood obesity: summary of the discussion. Am J Clin Nutr 1999; 70: 173-5. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 COLE, Tim J; BELLIZZI, Mary C; FLEGAL, Katherine M; DIETZ, William H. Establishing a standard definition for child overweight and obesity worldwide: international survey. BMJ 2000; 320: 1240-3. GUO SS, CHUMLEA WC. Tracking of body mass index in children in relation to overweight in adulthood. Am J Clin Nutr 1999; 70: 145S-8S. PIMENTA, Ana Paula de Almeida Amaral; PALMA, A. Perfil epidemiológico da obesidade em crianças: relação entre televisão, atividade física e obesidade. Rev. Bras. Ciên. e Mov. Brasília, v.9, n. 4, 19-24, 2001. SANCHO, Teresa Sofia. Obesidade Infantil e Alimentação Saudável. Fórum Algarve, Faro, 2007. SILVA, Giselia Alves Pontes; BALABAN, Geni; MOTTA, Maria Eugênia F. de A. Prevalência de sobrepeso e obesidade em crianças e adolescentes de diferentes condições socioeconômicas. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant., Recife, n.1, v. 5, 53-59, 2005. SOAR, Claudia; VASCONCELOS, Francisco de Assis Guedes; ASSIS, Maria Alice Altenburg; GROSSEMAN, Suely; LUNA, Maria Elizabeth Peixoto. Prevalência de sobrepeso e obesidade em escolares de uma escola pública de Florianópolis, Santa Catarina. Rev. Bras. Saúde Matern. Infant. Recife, v.4, n.4, 391-397, 2004. SOARES, Ludmila Dalben; PETROSKI, Edio Luiz. Prevalência, fatores etiológicos e Tratamento da obesidade infantil. Revista Brasileira de Cineantropometria e Desempenho Humano. São Paulo, v. 5, n.1, 63-74, 2003. WHO - World Health Organization. Physical Status: the use and interpretation of anthropometry-Report of a WHO Expert Committee. Genera, 1995. ZLOCHEVSKY, ERM. Obesidade na infância e adolescência. Rev. Paul. Ped. São Paulo, v.14, 124-133, 1996. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 COMPLICAÇÕES FREQUENTES PÓS-TRATAMENTO CIRÚRGICO DO CÂNCER DA MAMA EM MULHERES DO MUNICÍPIO DE CARATINGA-MG Gabriela Chaves Mendes Justino – graduada em Fisioterapia, Mestranda em Ciências da Reabilitação. Professora da Faculdade Vértice. Bruna Lívia Lage Ladeira – graduada em Fisioterapia, Mestre em Ciências da Saúde. Tatiana Pereira de Abreu – graduada em Fisioterapia [email protected] RESUMO O câncer da mama é a neoplasia mais comum entre as mulheres (SASAKI, 2000) e constitui-se na primeira causa de morte entre elas. Este estudo teve como objetivo conhecer e analisar a prevalência das complicações pós-cirurgia do câncer da mama em mulheres do município de Caratinga-MG. Foi um estudo descritivo transversal, em que a seleção da amostra foi realizada por meio de uma entrevista com as participantes, a fim de incluí-las na pesquisa. Foi avaliado a queixa principal, história atual, inspeção, palpação, perimetria, goniometria, força muscular, sensibilidade. As complicações mais encontradas foram: linfedema e alteração de sensibilidade e postural. PALAVRAS-CHAVE: Câncer da mama; Cirurgia; Complicações. 1. Introdução O câncer da mama é uma doença complexa e heterogênea apresentando formas de evolução, lenta ou rapidamente progressivas, sendo dependente do tempo de divisão celular dentre outras características biológicas de progressão (SASAKI, 2000). A Organização Mundial de Saúde estima que, por ano, ocorram mais de 1.050.000 casos novos do câncer da mama em todo o mundo, o que o torna mais comum entre as mulheres. No Brasil, não tem sido diferente: informações processadas pelos Registros de Câncer de Base Populacional, disponíveis para 16 cidades brasileiras, demonstram que, na década de 90, esse foi o câncer mais freqüente no país. As maiores taxas de incidência foram observadas em São Paulo, no Distrito Federal e em Porto Alegre. Além disso, o câncer da mama constitui-se na primeira causa de morte entre as mulheres, registrando-se uma variação percentual relativa de mais de 80 % em pouco Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 mais de duas décadas: a taxa de mortalidade padronizada por idade, por 100.000 mulheres, aumentou de 5,77 em 1979, para 9,74 em 2000 (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2004). Jales e Falcão (2005) evidenciaram em seu estudo que a faixa etária em que mais ocorreu o câncer da mama foi aproximadamente entre 41 e 50 anos, sendo que a maioria delas tinha baixo nível de escolaridade e ocupavam-se principalmente dos afazeres domésticos. A cirurgia do câncer da mama tem por objetivos: promover o controle local com a remoção mecânica de todas as células malignas presentes junto ao câncer primário; proporcionar maior sobrevida; orientar a terapia sistêmica; definir o estadiamento cirúrgico da doença e ideificar o grupo de maior risco de metástase à distância. A opção cirúrgica será determinada pelos seguintes fatores: tipo histológico, tamanho do tumor, idade da paciente, experiência e preferência do cirurgião e protocolo de tratamento instituído por cada serviço. Durante o período de até seis meses após a cirurgia de extirpação, é considerado imediato e, após seis meses esse é classificado como tardio. A classificação desses foi estabelecida afim de separar o período pós-operatório quanto à possibilidade de instalações das complicações e tempo da cirurgia (SASAKI, 2000). Houve um aprimoramento das técnicas cirúrgicas, que passaram de um tratamento agressivo com uma extirpação total da mama, para cirurgias mais localizadas com preservação de estruturas relevantes para a reabilitação pósoperatória. Através de estudos que compararam os tipos de procedimentos com o aumento da linforréia e o desenvolvimento de seroma no pós-operatório, comprovou-se, portanto que ocorreu menor incidência de seroma em cirurgias conservadoras (MENDONÇA E ROICHMAN, 2003). Associado ao tratamento cirúrgico de acordo com a necessidade individual, as mulheres acometidas por câncer da mama, recebem tratamento complementar. Esses tratamentos são: quimioterapia, hormonioterapia e radioterapia (SASAKI, 2000; VIANNA et al., 2000). Quanto às complicações após o tratamento do câncer da mama, Panobianco e Mamede (2002) mencionaram em seu estudo que as principais complicações encontradas foram: limitação da amplitude de movimento do ombro (64,7%); deiscência (47%); seroma (41,1%); aderência (41,1%); dor Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 (41,1%); infecção (23,5%); inflamação no local de inserção do dreno aspirativo (11,8%); celulite (5,9%). E as intercorrências apresentadas foram: presença de secreção no local cirúrgico ou no local de inserção dos drenos (54,5%); outros problemas com o dreno aspirativo (27,3%); cortes, contusões, punções venosas e picadas de insetos (27,3%); flebites (18,2%); hematoma (18,2%); queimadura (9,09%), e micose de unha (9,09%). No mesmo estudo, comprovou-se que, dentre as mulheres com edema, houve predomínio daquelas que apresentaram limitação da amplitude de movimento do ombro do lado operado e que não praticavam exercícios físicos regularmente para reabilitação. Constatou-se ainda que a presença de complicações e intercorrências em mulheres submetidas à cirurgia por câncer da mama, podem levar ao aparecimento do linfedema de braço. O estudo é justificado pelo desconhecimento das complicações existentes pós-tratamento cirúrgico em mulheres acometidas pelo câncer da mama, residentes no município de Caratinga – MG; e também pela ausência de um centro especializado em tratamento multidisciplinar do câncer nessa cidade, bem como do registro dessas informações no sistema público e privado de saúde, subestimando essa população, assim como suas necessidades de tratamento e apoio. 2. Metodologia Trata-se de um estudo descritivo transversal, executado na Clinica Escola de Fisioterapia da UNEC, no período de fevereiro a maio de 2006. O mesmo iniciou-se a partir da triagem das mulheres acometidas por câncer da mama no município de Caratinga-MG, por meio da busca ativa em oito Programas de Saúde da Família, na Policlínica de Caratinga, no Núcleo de voluntários de Caratinga no combate ao câncer, no arquivo da Clínica Escola de Fisioterapia do UNEC, e por meio da divulgação da pesquisa nas centrais de rádio e jornais do município. Como critérios de inclusão, destacaram-se: mulheres acometidas por câncer da mama, que foram submetidas à cirurgia de extirpação do câncer há mais de seis meses e a tratamento complementar quando indicado. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Em contrapartida, mulheres acometidas mesmo que há anos, por outro tipo de câncer, e a patologias neurológicas, foram excluídas do estudo. A seleção da amostra foi realizada por meio de uma entrevista com as participantes, a fim de incluí-las na pesquisa. Após a inclusão, as dezesseis mulheres foram avaliadas com base na ficha de avaliação adotada pelo Estágio de Fisioterapia Uroginecológica da Clínica Escola de Fisioterapia do UNEC. A amostra foi avaliada por apenas uma das autoras com o intuito de padronização e sistematização, a fim de evitar viés quanto aos dados subjetivos, e esta foi treinada para realizar tal função. Nessa ficha de avaliação, foram enfatizados os seguintes pontos: dados de identificação; queixa principal relatada pela paciente; história atual; se foi submetida à quimioterapia, radioterapia ou hormonioterapia; avaliação postural visual, em vista anterior, perfil e posterior; inspeção e palpação da mama acometida e de membros superiores; perimetria dos membros superiores, sendo utilizada uma fita métrica, avaliando de 4 em 4 centímetros, abaixo e acima da fossa cubital, sendo essa forma de medida uma padronização para a avaliação do linfedema; encurtamentos musculares e força muscular de ombro, observando flexão, extensão, abdução, adução, rotação interna e externa, e também de cotovelo analisando flexão e extensão; goniometria de membros superiores, sendo avaliados nos mesmos movimentos anteriormente citados, utilizando um goniômetro da marca CARCI; análise da marcha detalhada e sensibilidade das mamas e membros superiores, usando o estesiômetro. Foram avaliadas as análises postural e da marcha, uma vez que estas, servem de parâmetros para a apresentação e avaliação das alterações; e caso a paciente esteja em tratamento, sirva de instrumentos de reavaliação para mensurar os progressos alcançados. A força muscular dos membros superiores (MMSS) foi avaliada através da resistência manual, apesar de existir instrumentos considerados padrão ouro para a avaliação, os mesmos não foram utilizados por não estarem disponibilizados na clínica em questão. Os parâmetros para determinar o grau de força foram os mesmos utilizados por Magee, (2005) e Torres, (2006). Quanto à avaliação da amplitude de movimento com a utilização do goniômetro, os movimentos testados foram: flexão, extensão, adução e Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 abdução de ombro e flexão e extensão do cotovelo. O parâmetro de normalidade utilizado foi o relatado por Cipriano, 2005. Os dados obtidos na forma de protocolo foram transferidos para uma planilha eletrônica digital utilizando o software excel, 2003, e analisados através de percentil simples. 3. Resultados e discussão Após análise dos dados das dezesseis pacientes incluídas neste estudo, foi possível constatar que a média de idade da amostra foi de 54,37 anos, compreendendo entre 41 e 80 anos, com desvio padrão de 12,55. No momento do diagnóstico, essa média foi de 49,5 anos, estando entre 33 e 70 anos e apresentando desvio padrão de 12,04. As médias de idade citadas anteriormente demonstram uma heterogeneidade da amostra tanto no momento do diagnóstico quanto atualmente. Batiston (2003) relatou que a média de idade no diagnóstico do câncer da mama de sua amostra esteve entre os 40-60 anos, associando-a ao tempo de exposição aos fatores hormonais, menarca precoce e menopausa tardia. Na análise dos dados, foi observado a queixa principal: 18,75%(3) relataram a não realização das atividades de vida diária (AVD‟s); 12,5%(2) nada relataram; 12,5%(2) relataram dor no membro superior homolateral; 12,5%(2) referem a falta da mama e a mutilação; 12,5%(2) revolta; 6,25%(1) queixa de não fazer academia; 6,25%(1) linfedema; 6,25%(1) depressão; 6,25%(1) queixa de dor na coluna e 6,25%(1) refere a dor no corpo. Bergmann et al. (2004) relataram que uma freqüência elevada de linfedema é esperada em virtude dos tratamentos mais radicais do câncer e pelo diagnóstico tardio da doença . Ao serem arguidas quanto ao tipo de cirurgia que foram submetidas, 50%(8) fizeram cirurgia radical (mastectomia) e 50%(8) cirurgia conservadora (quadrantectomia). Bergmann et al. (2004), relataram que a maioria das mulheres estudadas foram submetidas à mastectomia radical modificada (69%). No mesmo estudo foi encontrado um número reduzido de mulheres submetidas à reconstrução mamária imediata ou tardia (7%). O mesmo Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 observa-se no estudo de Marinho e Macedo (2006); no qual das pacientes mastectomizadas, a maioria (60%) foi submetida a mastectomia radical modificada do tipo Madden. Em relação aos tratamentos complementares, 50%(8) fizeram radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia; 18,75%(3) radioterapia e hormoniterapia; 18,75%(3) radioterapia e quimioterapia; 6,25%(1) quimioterapia e 6,25%(1) radioterapia. Quanto ao tratamento complementar, Marinho e Macedo (2006), observam que nove pacientes (90%) foram submetidas a tratamento de quimioterapia e radioterapia. Panobianco e Mamede (2002) encontraram 82,3% (14) que também foram submetidas a esses tipos de tratamentos complementares. Em relação ao tratamento radioterápico póscirúrgico; Bergmann et al. (2004) concluíram que o mesmo foi realizado em mais da metade das mulheres envolvidas no estudo (56%). Já a quimioterapia foi realizada em 61,2% das mulheres e 44% hormonioterapia com Tamoxifeno. Na inspeção, foi possível detectar que 31,25%(5) apresentavam cicatriz lateral na mama homolateral à cirurgia; 25%(4) edema de membro superior, cicatriz na região peitoral e ausência da mama; 18,75%(3) ausência da mama e cicatriz na região peitoral; 6,25%(1) cicatriz na mama, axila e abdômen; 6,25%(1) edema na mama e cicatriz periareolar; 6,25%(1) mamilo homolateral lateralizado e 6,25%(1) cicatriz na axila homolateral a cirurgia. O lado mais acometido foi o direito, com 62,5%(10) e o esquerdo com 37,5%(6). Com relação à palpação, 62,5%(10) não relataram dor; 12,5%(2) relataram dor no membro superior homolateral à cirurgia; 6,25%(1) relatou dor no trapézio e grande dorsal; 6,25%(1) na região medial do cotovelo e punho; 6,25%(1) na mama e 6,25%(1) relatou dor ao redor da cicatriz cirúrgica. Quanto aos encurtamentos musculares, 31,25%(5) não os apresentaram; 12,5%(2) tiveram encurtamento leve de flexores e extensores de ombro; 12,5%(2) encurtamento moderado de flexores e extensores de ombro; 6,25%(1) encurtamento leve bilateral; 6,25%(1) moderado bilateral; 6,25%(1) encurtamento severo de flexores e extensores de ombro; 6,25%(1) encurtamento de flexores de ombro moderado e leve de flexores de ombro; 6,25%(1) encurtamento leve de flexores de ombro; 6,25%(1) encurtamento moderado de extensores de ombro e 6,25%(1) apresentou encurtamento leve de flexores de ombro e moderado de abdutores do ombro. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Na perimetria, 37,5%(6) apresentaram diferença de até 1 cm; 31,25%(5) de até 0,5 cm; 18,75%(3) apresentaram ausência de alteração; 6,25%(1) de 2 cm e 6,25%(1) com até 8cm. O que demonstra que, apesar da amostra estar no pós-operatório tardio e o linfedema ser uma complicação crônica, esse não foi o encontrado. Segundo Rezende et al.(2006), o linfedema crônico é uma complicação tardia do câncer da mama e não são esperadas alterações precoces de circunferência. Bergmann et al. (2004), em um estudo realizado com 394 mulheres portadoras do câncer da mama, notou que 60,9% dessas apresentavam perimetria alterada de MMSS maior que 20 cm. Em relação à força muscular dos membros superiores, 37,5%(6) apresentaram grau 4 homolateral; 18,75%(3) grau 5 bilateral; 18,75%(3) grau 4 de ombro e 5 de cotovelo homolateral; 12,5%(2) grau 3 bilateral; 6,25%(1) grau 4 bilateral; 6,25%(1) grau 3 homolateral e 4 contralateral (Tabela 6). Apesar de terem sido evidenciadas alterações, essas foram consideradas de grau 3 a 5, o que representa uma força fisiologicamente normal. No estudo de Kärki (2005), a fraqueza no membro superior foi um relato menos frequente que outros relatos comuns e o distúrbio sensorial mais comum foi a dormência, um desconforto comum nesse estudo. A sensibilidade foi avaliada na mama e membros superiores, estando 43,75%(7) normal (verde); 12,5%(2) vermelho escuro na mama; 12,5%(2) azul cicatriz mama; 6,25%(1) violeta na axila e mama; 6,25%(1) violeta na mama; 6,25%(1) violeta na mama e membro superior; 6,25%(1) vermelho escuro na cicatriz mama; 6,25%(1) azul e laranja cicatriz e axila. Segundo Torresan et al. (2002), no grupo das pacientes que fizeram preservação do nervo intercostobraquial, houve mais casos assintomáticos e menos casos com hipoestesia comparado ao grupo submetido à secção do nervo intercostobraquial. Dessa forma, foi comprovado que a preservação do nervo intercostobraquial é uma técnica com um impacto positivo nas alterações de sensibilidade dolorosa do braço após a linfadenectomia axilar, sem alteração do tempo de cirurgia e o número de linfonodos dissecados, ressalta ainda que devido ao diagnóstico precoce do câncer da mama, o tratamento proporciona à paciente uma maior sobrevida e, muitas mulheres, viverão um tempo maior após a cirurgia. De modo que o desenvolvimento de técnicas mais conservadoras, com menor morbidade, mas que mantenha a eficiência da Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 abordagem radical, tem sido um ponto de discussão no meio médico e, dessa forma, inclui a contribuição da preservação do nervo intercostobraquial. Quanto à marcha, 43,75%(7) apresentaram diminuição da dissociação de cinturas; 25%(4) diminuição da dissociação de cinturas e base alargada; 25%(4) diminuição do balanço de membros superiores e tronco lateralizado e 6,25%(1) sem alteração. Apesar da não realização de avaliação da marcha anteriormente ao tratamento cirúrgico, constata-se que a alteração encontrada tenha relação com a mudança da imagem corporal e mutilação, mesmo que mínima; uma vez que as alterações evidenciadas focaram na cintura escapular e tronco. Com relação a goniometria, 50%(8) das mulheres apresentaram alteração, enquanto 50%(8) dessas mulheres tinham amplitude de movimento normal. Marinho e Macedo (2006) também usaram o goniômetro simples como fonte de registro e quantificação das eventuais alterações na amplitude de movimento do ombro homolateral. Avaliando a amplitude de movimento, concluimos, portanto, que todas as pacientes apresentaram diminuição da amplitude de movimento do ombro homolateral à cirurgia. Em relação à avaliação postural, 100% das mulheres avaliadas apresentaram alteração da postura. Não foi possível referendar estudos quanto a análise postural, pois esta não foi relatada em mulheres mastectomizadas até o momento. 4. Considerações finais As mulheres avaliadas portadoras do câncer da mama, em sua maioria, residem na zona urbana, são aposentadas, casadas, com a cor da pele predominantente branca, e, com base na escolaridade, possuem apenas primeiro grau incompleto. Não houve predominância quanto ao tipo de cirurgia, tanto a cirurgia radical quanto a conservadora ficaram na mesma proporção. Com relação aos tratamentos complementares, grande parte das mulheres avaliadas fizeram radioterapia, quimioterapia e hormonioterapia. As complicações encontradas foram: linfedema e alteração de sensibilidade e postural. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 REFERÊNCIAS BATISTON, Adriane Pires. 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Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 INCIDÊNCIA DE DIABETES E HIPERTENSÃO ENTRE AS MULHERES MATIPOENSES A INFLUÊNCIA DA BEBIDA E DO CIGARRO NA MANIFESTAÇÃO DESSAS DOENÇAS Irlane Bastos Costa – Graduada em Agronimia. Doutor em Genética e Melhoramento de Plantas. Professora da Faculdade Vértice. Maria Aparecida Rodrigues de Freitas – acadêmica do curso de Enfermagem da Faculdade Vértice. Ivone Aparecida Bastos Clemente – acadêmica do curso de Bacharelado em Farmácia. [email protected] RESUMO O presente trabalho teve como principais objetivos identificar a incidência do diabetes e da hipertensão nas mulheres matipoenses e avaliar a contribuição dos cigarros e das bebidas alcoólicas na manifestação dessas doenças. Uma tenda foi montada na Praça Central de Matipó onde alunos e professores aplicaram um questionário a um grupo de mulheres voluntárias. O índice de mulheres com algum problema de saúde é alto. A hipertensão (60%) e o diabetes (15,5%) foram as doenças mais frequentes. A maioria dessas mulheres não fuma nem faz uso de bebidas alcoólicas. Logo, há outros fatores ambientais contribuindo para a manifestação dessas doenças. PALAVRAS-CHAVE: Hipertensão; Diabetes; Genética Multifatorial; Idoso; Saúde da mulher. 1. Introdução O número de pessoas com idade de 60 anos ou mais continua aumentando gradativamente. Os idosos, que em 1991 representavam 7,3% da população, em 2025 irão representar 15%. Na realidade, a segunda metade do século XX foi salientada pelo aumento absoluto de adultos. A expectativa de vida média está aumentando regularmente e espera-se que a média de idade no ano de 2020 seja em torno de 73 anos, tanto para homens como mulheres. A manutenção da saúde dessa população vem se tornando uma tarefa importante para os médicos, no que se refere aos cuidados primários (ZASLAVSKY, 2002). O velho é mais vulnerável a doenças degenerativas de começo insidioso, como as cardiovasculares e cérebro-vasculares, o câncer, os transtornos mentais, os estados patológicos que afetam o sistema locomotor e os sentidos. A saúde no velho consiste em três fatores relacionados: a ausência de doença, a manutenção de ótima função, a presença de um apoio adequado (ZASLAVSKY, 2002). Segundo o Ministério da Saúde, as doenças mais comuns nos idosos são as doenças cardiovasculares e respiratórias, o AVC (Acidente Vascular Cerebral), o câncer, o diabetes, e a osteosporose. A hipertensão é uma doença genética multifatorial, que se caracteriza pelo aumento da pressão arterial. Atinge, aproximadamente, 25% da população brasileira. Uma pesquisa do Ministério da Saúde (Vigitel) revelou que, no período 2006-2009, a doença aumentou em todas as faixas etárias, principalmente entre os idosos (PIZZOLATO et al., 2010). Outra doença que também apresenta herança multifatorial e manifesta-se em grande parte da população brasileira é o diabetes. O diabetes é um distúrbio metabólico causado pela falta relativa ou absoluta de insulina no organismo. Insulina é um hormônio produzido pelo pâncreas e tem a função de facilitar a absorção da glicose pelo organismo. Com a insuficiência da insulina ou inadequação da ação, os níveis de glicose aumentam e concentram-se no sangue a taxas elevadas, caracterizando o diabetes. Em outras palavras, diabetes é o excesso de açúcar no sangue. A classificação proposta pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pela Associação Americana de Diabetes (ADA)(2) e também recomendada pelas diretrizes da Sociedade Brasileira de Diabetes inclui quatro classes clínicas de Diabetes mellitus: DM tipo 1, DM tipo 2, outros tipos específicos de DM e diabetes mellitus gestacional. O DM tipo 1 é o resultado da destruição das células beta pancreáticas com consequente deficiência de insulina. O DM tipo 2 é a forma presente em 90%-95% dos casos e caracteriza-se por defeitos na ação e na secreção da insulina. Logo, no diabetes mellitus tipo 1, o pâncreas não produz insulina enquanto que, no DM tipo 2, a insulina é produzida mas o organismo não consegue “aproveitá-la”. Tanto a hipertensão quanto o diabetes possuem herança do tipo multifatorial, ou seja, manifesta-se por ação conjunta de dois fatores: o fator hereditário (genes) e fator ambiental. Dentre os fatores ambientais, os que mais contribuem para a manifestação do diabetes e também da hipertensão são: maus hábitos alimentares, sedentarismo, idade avançada, excesso de peso, alcoolismo e consumo de drogas. Diante do exposto, este trabalho foi realizado visando identificar a incidência do diabetes, da hipertensão e de outras doenças na população feminina da cidade de Matipó e verificar a contribuição de fatores externos como cigarros e bebidas alcoólicas na manifestação dessas doenças. 2. Metodologia No dia 18 de outubro de 2008, uma tenda foi montada na Praça Padre Fialho, no Centro de Matipó, onde se aplicou um questionário (Tabela 1) às mulheres voluntárias que se disponibilizaram a comparecer no local no horário de oito ao meio dia. As perguntas encontram-se detalhadas na Tabela 1. Também foram obtidos dados de pressão arterial e glicemia. Este trabalho foi realizado por alunos do curso superior de enfermagem orientados por professores da área. Tabela- 1 Questionário aplicado às mulheres que se apresentaram como voluntárias à pesquisa de campo realizada por professores e alunos do curso de Enfermagem da Faculdade Vértice, na Praça Padre Fialho, no centro de Matipó, em comemoração ao dia do idoso Idade Fuma? Bebe? Problemas Qual? Pressão Glicose de saúde? Arterial O local de verificação da pressão arterial foi o braço, usando como ponto de ausculta a artéria braquial. O equipamento usado foi o esfigmomanômetro ou tensiômetro, vulgarmente chamado de manguito e, para auscultar os batimentos, usou-se o estetoscópio. A glicose foi medida através do Glicosímetro, colhendo-se uma gota de sangue de cada voluntária. Os teste de glicose foram realizados em mulheres que estão em jejum e também que não estavam. Foram avaliadas 45 mulheres cuja idade variou de 26 a 83 anos. Verifica-se que a maioria dessas mulheres (40%) apresentou idade superior a 45 anos e igual ou inferior a 55 anos. A porcentagem de mulheres com idade igual ou inferior a 45 anos foi de aproximadamente 22%. E a porcentagem de mulheres com idade superior a 55 anos foi de aproximadamente 36%. A idade média das mulheres foi de 55 anos com desvio padrão de 8,4854 anos (Tabela 2). Tabela 2- Distribuição de freqüência da idade das mulheres que se apresentaram como voluntárias à pesquisa de campo realizada por professores e alunos do curso de Enfermagem da Faculdade Vértice, na Praça Padre Fialho, no centro de Matipó, em Classes Número de Mulheres 25 - 35 2 35 - 45 8 45 - 55 18 55 - 65 6 65 - 75 4 75 - 85 7 Média 55,1111 Variância 72,0014 Desvio 8,4854 CV 15,3967 fi 0,044444 0,177778 0,400000 0,133333 0,088889 0,155556 fi (%) 4,4444 17,7778 40,0000 13,3333 8,8889 15,5556 Fi (%) 4,4444 22,2222 62,2222 75,5556 84,4444 100 comemoração ao dia do idoso 3. Resultados Verifica-se que, das 45 mulheres avaliadas, apenas 16% fumam (Gráfico 1) e 2% fazem uso de alguma bebida alcoólica (Gráfico 2). Esses dados revelam que “não beber” e “não fumar” não são as principais medidas preventivas contra doenças tipo hipertensão, diabetes, insônia, dentre outras; mas evidenciam que outros fatores ambientais estariam favorecendo ou contribuindo para o surgimento dessas doenças. De acordo com Reis (2009), o Diabetes Mellitus tipo 2 é desencadeado normalmente por hábitos não saudáveis, sendo a chance de adquiríu-lo maior com o avanço da idade, não sendo característica da herdabilidade. Acomete, principalmente nos obesos, hipertensos e dislipidêmicos (que compreendem de 9095% de todos os casos de Diabetes Mellitus tipo 2). Borges-Osório e Robinson (2001) classificam o diabetes e a hipertensão como doenças crônicas que seguem um padrão de herança complexo, cuja manifestação é fortemente influenciada por fatores externo. Dentre esses fatores externos, podemos citar a obesidade, o sedentarismo, a má alimentação e o estresse (MOORE e PERSAUD 2004). Além da hipertensão e do diabetes, as duas doenças mais relatadas entre as mulheres (60% das mulheres entrevistadas disseram sofrer de hipertensão e 15,5% disseram sofrer de diabetes), também foram citadas doenças como hanseníase, insônia, colesterol e outras. As frequências dessas doenças, com menor incidência, entre as mulheres entrevistadas, foram de 4%, 7%, 9% e 22%, respectivamente (Gráfico 3). É importante ressaltar que, das 45 mulheres avaliadas, 12 apresentaram mais de um problema de saúde. No gráfico 4, encontra-se os dados referentes às medidas de pressão arterial considerando apenas as mulheres hipertensas. Das 45 mulheres avaliadas, 27 disseram ser hipertensas (60%). O valor ótimo da pressão arterial é 120/80 mmHg (lê-se 12 por 8). Indivíduos com valores iguais ou superiores a 140/90 mmHg (14 por 9) são considerados hipertensos. Das 27 mulheres hipertensas, 24 (89%) foram classificadas como apresentando um quadro de hipertensão leve, duas estavam com hipertensão moderada (7%) e apenas uma com hipertensão grave (4%). Esses dados revelam que os métodos utilizados por essas mulheres no tratamento da hipertensão têm sido satisfatoriamente eficientes em manter a pressão arterial controlada. Constatou-se que todas fazem uso de algum tipo de medicamento para o controle da pressão. Dentre os medicamentos mais citados, estão o Captopril e o Hidroclorotiazida. Os dados de glicemia encontram–se no gráfico 6. Segundo os critérios da Associação Americana de Diabetes, o resultado é normal quando a taxa apresentase entre 70 e 110 mg/dl, na dosagem feita em jejum. De 110 a 125 mg/dl, a pessoa é portadora de glicemia de jejum inapropriada, sendo, então, necessário à realização de curva glicêmica. Acima de 125 mg/dl, desde que o valor seja encontrado em pelo menos dois exames, fica confirmado o quadro de diabetes mellitus. Uma glicemia superior a 200 mg/dl, colhida a qualquer hora do dia, desde que na presença de sintomas de diabetes, também é suficiente para o diagnóstico de diabetes mellitus. Diante do exposto, verifica-se que 60,60% das mulheres avaliadas para glicemia, apresentam nível de glicose no sangue dentro de uma faixa considerada normal, enquanto que 21,21% apresentam altos níveis de glicose no sangue. Gráfico 1- Porcentagem de mulheres fumantes e não fumantes que se apresentaram como voluntárias à pesquisa de campo realizada por professores e alunos do curso de Enfermagem da Faculdade Vértice, na Praça Padre Fialho, no centro de Matipó, em comemoração ao dia do idoso Fumam 16% Não fumam 84% Gráfico 2 - Porcentagem de mulheres, que se apresentaram como voluntárias à pesquisa de campo realizada por professores e alunos do curso de Enfermagem da Faculdade Vértice, na Praça Padre Fialho, no centro de Matipó, em comemoração ao dia do idoso, que fazem ou não fazem uso de algum tipo de bebida alcoólica, Bebem 2% Não Bebem 98% Gráfico 3 - Doenças mais freqüentes entre as mulheres que se apresentaram como voluntárias à pesquisa de campo realizada por professores e alunos do curso de Enfermagem da Faculdade Vértice, na Praça Padre Fialho, no centro de Matipó, em comemoração ao dia do idoso Gráfico 4 - Classificação da pressão das mulheres hipertensas que se apresentaram como voluntárias à pesquisa de campo realizada por professores e alunos do curso de Enfermagem da Faculdade Vértice, na Praça Padre Fialho, no centro de Matipó, em comemoração ao dia do idoso Moderada 7% Grave 3,7% Leve 89% Gráfico 5 - Classificação da glicemia das mulheres que se apresentaram como voluntárias à pesquisa de campo realizada por professores e alunos do Curso de Enfermagem da Faculdade Vértice, na Praça Padre Fialho, no Centro de Matipó, em comemoração ao dia do idoso 4. Conclusão Conclui-se que as doenças mais incidentes entre as mulheres são a hipertensão e o diabetes. Outro fato interessante é que a maioria dessas mulheres não fuma nem fazem uso de bebidas alcoólicas, indicando que outros fatores externos podem estar contribuindo para a incidência dessas doenças. É preciso identificar esses fatores externos e amenizá-los ou, até mesmo, eliminá-los. Segundo Oliveira et al. (2010), a prática de exercício físico é estratégia coadjuvante no tratamento da hipertensão, pois pode levar a reduções da pressão arterial e das doses de medicamentos, além de melhorar a qualidade de vida, aumentando a chance de controle da pressão alta. E, isso somente é possível, se iniciado ainda na infância despertando e ensinando as crianças a se prevenirem de possíveis doenças no futuro. Para tanto, faz-se necessário, primeiramente, conscientizar os pais e os educadores do quanto eles são essenciais na formação da personalidade dessas crianças, podendo contribuir substancialmente para o bom desempenho físico e mental das futuras gerações. Modificações de estilo de vida estão definitivamente comprovadas como eficazes e devem ser estimuladas para a população geral e para os grupos de maior risco. Convém destacar ainda que a faixa etária pediátrica deve ser o alvo para implantação dessas medidas (MAGALHÃES et al. 2010). REFERÊNCIAS BORGES-OSÓRIO, M. R.; ROBINSON, W. M. Genética humana. 2 ed., Porto Alegre: Artmed, 2001. JORDE, L. B.; CAREY, J.C.; BANSHAD, M. J.; WHITE, R.L. Genética médica. 3.ed.. Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. 415P. MAGALHÃES, M. E. C.; BRANDÃO, A. A.; POZZAN, R.; CAMPANA, E. M. G.; FONSECA, F. L.; PIZZI, O. L.; BRANDÃO, A. P. Prevenção da hipertensão arterial: para quem e quando começar? Revista Brasileira de Hipertensão, vol.17(2):93-97, 2010. MOORE, K. L.; PERSAUD, T.V.N. Embriologia básica. 6 ed., Rio de Janeiro: Elsevier, 2004. OLIVEIRA, K. P. C.; VIEIRA, E. L.; OLIVEIRA, J. D. DE; OLIVEIRA, K. R. DE; LOPES, F.J. G.; AZEVEDO, L. F. Exercício aeróbio no tratamento da hipertensão arterial e qualidade de vida de pacientes hipertensos do Programa de Saúde da Família de Ipatinga. Revista brasileira de hipertensão, v. 17, n. 2, p.78-86, 2010. PIZZOLATO, A. L. B.; MARINS, J. R.; STEIN, J. O.; NILCÉIA D. SQUASSANTE, N. D.; PAES, M. F. Hipertensão: uma herança genética multifatorial. Genética na escola, n. 5, v. 1, p. 43-52, 2010. REIS, L. A.; TORRES, G. DE V.; REIS, L. A. Dos; OLIVEIRA, L. DE S.; SAMPAIO, L. S. Avaliação da qualidade de vida em idosos protadores de Diabetes Mellitus tipo 2. Ciência & Desenvolvimento - Revista Eletrônica da FAINOR, v. 2, n.1, 2009 TRATAMENTO E ACOMPANHAMENTO DO DIABETES MELLITUS. Diretrizes da Sociedade Brasileira do Diabetes. Diretrizes SBD, 2006. ZASLAVSKY, C.; GUS, I. Idoso. Doença cardíaca e comorbidades. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v.79, n. 6, São Paulo, 2002. MULTIDISCIPLINAR NA UTILIZAÇÃO DA NUTRIÇÃO PARENTERAL EM HOSPITAIS DA REGIÃO LESTE DE MINAS GERAIS Daniela da Fonseca Pacheco – graduada em Odontologia e Doutora em Ciências Biológicas (Fisiologia e Farmacologia) Luciano Montes Justino – graduado em Farmácia [email protected] RESUMO A nutrição parenteral destina-se a pacientes que necessitam de complementação ou substituição da alimentação enteral. O presente estudo avaliou a existência de uma equipe multidisciplinar responsável pela administração da nutrição parenteral em hospitais. A amostra consistiu em profissionais de saúde envolvidos com a administração desse tipo de nutrição. A coleta de dados foi feita através da aplicação de um questionário semi-estruturado aos profissionais. Os resultados obtidos mostraram a inexistência dessa equipe em 80% dos hospitais. Conclui-se, portanto, ser de grande importância a implantação de uma equipe multidisciplinar a fim de garantir maior segurança e melhoria na promoção da saúde. PALAVRAS-CHAVE: multidisciplinar. nutrição parenteral; nutrição enteral; equipe 1.Introdução O suporte nutricional constitui um fator de grande importância na recuperação de pacientes com enfermidades de graus moderados a grave e, juntamente com a anestesia, a assepsia e a antibioticoterapia, constitui um dos maiores avanços da medicina no último século (SILVA, 2006). No ano de 1968, alguns pesquisadores propuseram a introdução de uma técnica coerente de suporte nutricional por via parenteral e, a partir daí, não houve mais questionamentos sobre a importância da nutrição na recuperação de pacientes clínicos ou cirúrgicos, hospitalizados (DUDRICK et al., 1968). Em pacientes com doenças gastrointestinais, frequentemente, ocorre nutrição inadequada por causa da má absorção, anorexia e incapacidade da ingestão de alimentos sem desconforto, desse modo, a terapia nutricional torna-se fundamental na recuperação do paciente. Além disso, em várias doenças, tais como sepse, trauma e câncer, a capacidade de utilização de nutrientes está alterada, o que resulta em perda de peso e desnutrição do paciente (JEEJEEBHOY, 2001). O suporte nutricional por via enteral é preferencial sempre que possível, pois mantém a sequência fisiológica normal: digestão, absorção e incorporação dos princípios alimentares essenciais ao organismo. Ela constitui-se de uma formulação especial e combinada de alimentos, com composição definida de nutrientes para uso por meio de sondas, na impossibilidade da ingestão de alimentos por via oral. Por outro lado, em situações em que os pacientes encontram-se impedidos de fazer a nutrição enteral por tempo predefinido, a nutrição por via parenteral deverá ser implementada, por exemplo, trato digestivo não funcionante ou obstruído e absorção incompleta de nutrientes. Nesse tipo de nutrição, os nutrientes são administrados diretamente na circulação sanguínea sem a necessidade de absorção pelo trato gastrointestinal (SIMPSON & DOING, 2005; SILVA, 2006). A nutrição parenteral apresenta vários benefícios no tratamento de pacientes graves, entretanto, complicações decorrentes do seu uso são comuns. A utilização de cateteres é um dos motivos de grande preocupação, principalmente pela sua manipulação, visto que estudos comprovam que as mãos são a maior fonte causadora de infecção hospitalar. A infecção, quando presente, necessita de uma intervenção medicamentosa forte e em se tratando de pacientes que já se encontram debilitados, aumenta o tempo de internação e a chance de óbito (DINC, 2000). Outro problema grave é a síndrome de realimentação, uma síndrome metabólica grave, geralmente caracterizada pelo excesso de oferta calórica, desequilíbrio hidroeletrolítico e hiperglicemia (KRAFT et al., 2005). Atualmente, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamenta a formação de uma Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional nos hospitais brasileiros. Essa regulamentação é regida pelas portarias 272 e 337, para nutrição parenteral e enteral, respectivamente. Na maioria dos hospitais brasileiros, a equipe multidisciplinar funciona como uma equipe de apoio, estabelecendo diretrizes e protocolos de conduta nutricional. Em outros hospitais, a equipe tem atuação clínica avaliando diretamente o doente mediante solicitação da equipe assistencial que conduz o doente (LEITE et al., 2005). Tendo em vista o exposto acima, este trabalho busca levantar informações, em hospitais localizados na região leste de Minas Gerais, sobre a presença de uma equipe capacitada envolvida com a utilização da nutrição parenteral. Tal implementação melhora a qualidade do serviço, diminui o tempo de internação, reduz a chance de infecção e atende de maneira mais eficiente as necessidades individuais do paciente. 2. Materiais e métodos Trata-se de um estudo quantitativo do tipo descritivo, tendo como forma de avaliação a aplicação de um questionário semi-estruturado aos profissionais da área de saúde envolvidos com administração da nutrição parenteral, em hospitais localizados na região leste de Minas Gerais. Os hospitais escolhidos foram aqueles de referência no atendimento de pacientes com enfermidades de grau moderado a grave, que realizam o procedimento de nutrição parenteral e encontram-se localizados na referida região. O levantamento foi realizado no período de fevereiro a maio de 2010, mediante autorização dos responsáveis por cada um dos hospitais. No total, foram 6 hospitais, todos localizados em diferentes municípios e os profissionais participantes foram aqueles que estavam de acordo com o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido apresentado pelo pesquisador. Os questionários aplicados consistiram em perguntas que buscavam avaliar a integração entre os profissionais envolvidos na utilização da nutrição parenteral, bem como, seu conhecimento sobre o procedimento: indicações, contra-indicações, complicações. Em seguida, os dados coletados foram agrupados e expressos graficamente e em tabelas, com o auxílio dos programas Word 2007 e Prisma 4.0, respectivamente. Os dados foram analisados pelo teste de variância ANOVA seguido pelo teste de Bonferroni para múltiplas comparações e foram considerados estatisticamente significativos os valores de p < 0,05. O trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética e Pesquisa da Faculdade do Futuro, protocolo 0080/2009. 3. Resultados e discussão Os resultados obtidos mostraram ausência de uma equipe multidisciplinar para nutrição parenteral em 80% dos hospitais participantes da pesquisa (100%). Os outros 20% apresentavam tal equipe. Também foi observada uma grande deficiência de interação entre os profissionais responsáveis pela nutrição parenteral, principalmente na atuação da equipe de suporte clínico. De todos os profissionais entrevistados, 50% consideram ruim a interação entre os profissionais e 50% a consideram boa. Nenhum dos profissionais considerou ótima a interação entre os profissionais responsáveis pela administração da nutrição parenteral, seja na presença de uma equipe multidisciplinar ou não. Para 100% dos entrevistados, o médico, o nutricionista e o farmacêutico são os profissionais envolvidos na utilização na nutrição parenteral. Os enfermeiros não foram citados por nenhum dos entrevistados. Os resultados também mostraram que 75% dos profissionais entrevistados consideram fundamental a implantação da equipe multidisciplinar e 25% a consideram importante. Nenhum profissional respondeu ser sem necessidade a implantação de uma equipe. Na avaliação sobre o conhecimento dos profissionais sobre a nutrição parenteral, foi observado que 100% dos profissionais consideram indicações para a nutrição parenteral a absorção incompleta de nutrientes e a incapacidade de tolerar a nutrição enteral. Como contra-indicações, 100% dos entrevistados consideram ser uma contra-indicação a possibilidade de receber a nutrição por via enteral. A presença de doença terminal e o uso por curto período representaram 50% e 12,5%, respectivamente. Em relação às complicações decorrentes da nutrição parenteral, 75% disseram ter conhecimento da manipulação do cateter como principal motivo de infecção, os outros 25% desconhecem tal fato. Outro resultado obtido foi referente ao número de casos de óbito decorrente de infecção por manipulação do cateter. Dos entrevistados, 25% responderam ser de 1 a 25% os casos de óbito por manipulação do cateter, os outros 75% responderam ser de 26 a 50% o número de óbitos. As opções “51 a 75%” e “76 a 100%” não foram escolhidas por nenhum dos participantes. Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), a prevenção em saúde pública ou coletiva é uma ação antecipada que tem por objetivo antecipar ou anular a evolução de uma doença. Desse modo, pode-se constatar que a presença de uma equipe multidisciplinar para a administração da nutrição parenteral em hospitais é fundamental, visto que ela garante maior segurança e melhoria na promoção de saúde dos pacientes, prevenindo muitas das complicações decorrentes da administração da nutrição parenteral. A atuação conjunta de especialistas com formações distintas permite integrar, harmonizar e complementar os conhecimentos e habilidades dos integrantes da equipe a fim de se cumprir o objetivo proposto que é o de identificar, intervir e acompanhar o tratamento dos distúrbios nutricionais (PENIÉ et al., 2006). De maneira contrária, o presente estudo mostrou que muitos hospitais localizados na região leste de Minas Gerais ainda não apresentam uma equipe multidisciplinar envolvida com o suporte nutricional do paciente, embora a maioria dos entrevistados considere fundamental a presença de uma equipe. Também um levantamento realizado em 1997 pela Sociedade Brasileira de Nutrição Parenteral e Enteral mostrou que apenas 20% dos hospitais do Rio de Janeiro e São Paulo apresentam uma equipe multidisciplinar (LEITE et al., 2005). Atualmente, a ANVISA regulamenta a formação de uma Equipe Multidisciplinar de Terapia Nutricional nos hospitais brasileiros, sendo essa composta por médicos, farmacêuticos, nutricionistas e enfermeiros. Essa regulamentação é regida pelas portarias 272 e 337, para nutrição parenteral e enteral, respectivamente. Na maioria dos hospitais brasileiros, a equipe multidisciplinar funciona como uma equipe de apoio, estabelecendo diretrizes e protocolos de conduta nutricional. Em outros hospitais, a equipe tem atuação clínica avaliando diretamente o doente mediante solicitação da equipe assistencial que conduz o doente (LEITE et al., 2005). O presente trabalho mostrou a atuação de médicos, nutricionistas e farmacêuticos na administração da nutrição parenteral. Dada a complexidade dos fatores envolvidos na monitoração do paciente hospitalizado e no tratamento da desnutrição hospitalar, o trabalho conjunto de especialistas tem sido apontado como de extrema importância no sucesso da terapêutica (PENIÉ et al., 2000). Os profissionais devem revisar as prescrições, analisar a adequação, concentração e compatibilidade físico-química dos componentes, realizarem todas as operações inerentes ao desenvolvimento, manipulação, controle de qualidade, conservação e transporte da nutrição, atendendo às recomendações das Boas Práticas de Preparação de Nutrição Parenteral - BPPNP, conforme Anexo II da Portaria 272/98-Secretaria de Vigilância Sanitária/Ministério da Saúde (SVS/MS). Qualquer alteração que se fizer necessária na formulação deve ser discutida com o médico responsável. Os hospitais que não possuem as condições previstas quanto à estrutura física, a organizacional e a de recursos humanos capacitados podem contratar firmas prestadoras de bens e serviços, devidamente licenciadas que atuem em conformidade com a Portaria 272/98/SVS, para o fornecimento da nutrição parenteral e assistência ao paciente. A nutrição parenteral apresenta vários benefícios no tratamento de pacientes graves, entretanto, complicações decorrentes do seu uso são comuns. Dentre as principais complicações, podem ser citadas a hipomotilidade gástrica, a secreção reduzida de hormônios gastrointestinais, a síndrome de retroalimentação e a infecção (SILVA, 2006). A utilização de cateteres é um dos motivos de grande preocupação, principalmente pela sua manipulação; visto que, estudos comprovam que as mãos são a maiores fontes causadoras de infecção hospitalar. A infecção, quando presente, necessita de uma intervenção medicamentosa forte e tratando-se de pacientes que já se encontram debilitados, aumenta o tempo de internação e a chance de óbito (DINC, 2000). Pelos resultados apresentados, um grande número de óbitos ocorre devido à infecção por manipulação do cateter. Outro problema grave é a síndrome de realimentação, uma síndrome metabólica grave, geralmente caracterizada pelo excesso de oferta calórica, desequilíbrio hidroeletrolítico e hiperglicemia (KRAFT et al., 2005). Alguns profissionais entrevistados não mostraram conhecimento adequando sobre a manipulação do cateter como principal causa de infecção em pacientes que recebem nutrição parenteral. Muitos se mostraram inclusive surpresos com tal informação, confirmando os achados de pesquisas que discutem o desconhecimento técnico e científico dos profissionais envolvidos. (DINC, 2000; PENIÉ et al., 2000). Além disso, pelos resultados apresentados pode-se observar um grande número de óbitos devido a infecção do cateter. Os riscos e os danos à saúde estão relacionados com o consumo de produtos, tecnologias e serviços de interesse terapêuticos, falhas de diagnósticos, inadequação da prescrição, entre outros. Mas os riscos e danos também resultam da insuficiente busca pelo conhecimento ou dificuldade de acesso ao saber já produzido (LEITE et al., 2005). A pesquisa realizada nos hospitais da região leste de Minas Gerais mostrou a carência da interação entre profissionais, principalmente com a equipe de enfermagem, pois essa não consta no campo de atuação multidisciplinar dessas instituições. Além disso, alguns ressaltaram dificuldade de interação com esses profissionais, ficando assim somente para os técnicos de enfermagem a responsabilidade dos procedimentos a eles prescritos. Tal conduta não está de acordo com o estabelecido pela ANVISA, que destaca a importância de cada um dos profissionais na equipe. Por exemplo, o cateter só deve ser passado pelo enfermeiro capacitado, ou seja, aquele que tem total conhecimento dos riscos, tanto na inserção, quanto na retirada do cateter (COUTO et al., 2002). O profissional sem nenhum embasamento desconhece as complicações citadas e retira o cateter de maneira indevida, tornando assim o procedimento muito mais caro para a instituição, além da maior chance de infecção. A atuação da equipe multidisciplinar melhora a qualidade do atendimento nutricional, ao identificar corretamente os pacientes que requerem suporte nutricional, reduzindo as complicações metabólicas e infecciosas relacionadas aos procedimentos utilizados na nutrição e também ao favorecer um melhor gerenciamento dos recursos humanos e materiais (WAITZBERG, 1990). De acordo com os resultados, nem todos os profissionais entrevistados apresentam o mesmo conhecimento sobre as principais indicações e contra-indicações da nutrição parenteral, o que reforça a necessidade de uma equipe multidisciplinar atuante, em que a troca de conhecimento é de suma importância. A evolução para formações de valores, atitudes e competências capazes de aprender e atuar dentro da concepção de um mundo com sistemas sócios ambientais complexos implica a necessidade de pesquisar problemas dentro do seu contexto cultural e ambiental próprio (LEFF, 2001). Isso abre campo para um processo capaz de traçar formas de intervenção e interação entre profissionais com programas diferenciados e específicos para os diferentes graus e níveis das necessidades individuais. Atualmente, tem sido observado um grande impacto positivo causado pela formação de equipes ou comissões multidisciplinares de padronização de suporte nutricional. A presença da equipe leva a redução dos gastos hospitalares, sua racionalização, padronização dos nutrientes administrados, bem como, melhor controle de qualidade. Todos esses aspectos atuam em benefício do paciente (RIELLA, 1993). 4. Considerações finais A interação entre os profissionais envolvidos na administração da nutrição parenteral é fundamental para o sucesso do procedimento. Tal interação leva a uma maior troca de conhecimento entre todos os profissionais da equipe, o que reduz a chance de complicações na terapêutica. Embora a presença de uma equipe multidisciplinar ainda não seja realidade em muitos hospitais, a sua implantação deverá ser buscada em vista de todos os benefícios produzidos pela sua presença. Enquanto perdurar um modelo assistencial curativo, as causas de muitas complicações e agravamentos do quadro clínico estarão presentes, levando a maior chance de óbitos entre os pacientes que recebem nutrição parenteral. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde. Decreto-lei 85878 de 07 de outubro de 1981. BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria nº 272, de 08 de abril de 1998. Diário oficial da União de 15 de abril de 1999. BRASIL. Ministério da Saúde. Conselho Nacional de Saúde. Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Resolução 196/96. COUTO JCF. BENTO AC. COUTO A. FERREIRA M. OLIVEIRA SBC. GOMES IA. Nutrição enteral em terapia intensiva. Revista Brasileira de Nutrição Clínica. 17(2):43-46, abr.-jun. 2002. DINC, L.E. The effectiveness of an educational intervention in changing nursing practice, and preventing catheter-related infection for patients receiving total parenteral nutrition. International Journal of Nursing Studies vol. 37:p. 371-373, 2000. DUDRICK SJ, S.P; SAKS, D.; SOUZA, F.G.. Long-term parenteral nutrition with growth, development and positive nitrogen balance. Surgery vol 64: 134- 142, 1968. JEEJEEBHOY KN. Total parenteral nutrition: potion or poison? American Journal of Clinical Nutricional vol.74:160–163, 2001. KRAFT, M.D., BTAICHE, I.F., SAKS, G.S. Review of the refeeding syndrome. Nutricion in Clinical Practice vol. 20(6):p. 625-33, 2005. LEFF, E. Saber Ambiental. 4.ed. Petrópolis-RJ: Editora Vozes. p. 223-235, 2001. LEITE, H.P.,CARVALHO, H.B, SANTANA, J.F. Atuação da equipe multidisciplinar na terapia nutricional de pacientes sob cuidados intensivos. In: Revista de nutrição vol 18 (6):p. 777-784, 2005. PENIÉ, J.B., PORBÉN, S.S., GONZALÉZ, C.M, IBARRA, A.M.S. Grupo de apoyo nutricional hospitalario: diseño, composición y programa de actividades. In: Revista Cubana Alimentação Nutricional vol 14(1):p. 55-64, 2000. RIELLA MC. Suporte nutricional parenteral e enteral. 2.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 1993. SILVA, Penildon. Farmacologia. 7.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan. p. 12481251, 2006. SIMPSON F. Doig GS. Parenteral vs. enteral nutrition in the criticallyill patient: a meta-analysis of trials using the intention to treat principle. Intensive Care Med. 31:12–23, 2005. WAITZBERG DL. Nutrição parenteral e enteral na prática clínica. Rio de Janeiro, São Paulo: Livraria Atheneu, 1990. (2009) PROJETO PILOTO: ANÁLISE DO CONHECIMENTO SOBRE MÉTODOS CONTRACEPTIVOS DE GRADUANDOS DE MATIPÓ-MG Thamires Soares de Medeiros – Graduanda em Farmácia da Faculdade Vértice Fernanda Cristina Ferrari - Graduada em Farmácia – Mestre em Ciências Farmacêuticas. Professora da Faculdade Vértice. Ana Lígia de Souza Pereira – Graduada em Enfermagem. Especialista em Estomaterapia. Professora da Faculdade Vértice. Renata Aparecida Fontes – Graduada em Farmácia com Habilitação em Bioquímica. Mestre em Ciências Farmacêuticas. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] RESUMO O conhecimento inadequado dos métodos anticoncepcionais pode ser um fator que interfere na aceitação e utilização. Interpretar a relação com a utilização, permitirá a elaboração de estratégias que levarão a subsídios para lidar com essa situação. O objetivo é mostrar o conhecimento de alunos da Faculdade Vértice sobre os contraceptivos, através de um estudo transversal. Já foram analisados 16,3% dos alunos; desses alunos, 87,5% possuem informações através de palestras (26%), televisão (21%) e estabelecimentos de ensino (21%). O método referido como mais utilizado foi camisinha masculina (60%). A conclusão dos resultados é essencial para identificar o panorama e, assim, delinear as propostas. PALAVRAS-CHAVE: Métodos contraceptivos; Estudantes; Conhecimento; Utilização. 1. Introdução Nas últimas décadas, o percurso entre a infância e a idade adulta foi profundamente alterado nas sociedades ocidentais modernas e a mudança de maior repercussão relaciona-se à vida sexual (TORRES, 2008). Na busca do exercício pleno da sexualidade, costuma ocorrer o início precoce da atividade sexual, ainda sem amadurecimento afetivo e/ou cognitivo (MOSER et al., 2007). É sabido que fatores sócio-culturais e sócio-econômicos, influem no comportamento sexual precoce dos jovens. Esses fatores estão diretamente ligados à educação e ao meio que o indivíduo encontra-se e vão refletir no exercício da sexualidade, intimidade e afetividade (GUAJARDO, 1983; CARLINI-COTRIM et al., 2000). O início da atividade sexual torna os adolescentes e adultos jovens vulneráveis a alguns riscos, destaque para a gravidez e as doenças sexualmente transmissíveis, muitas vezes comprometendo o projeto de vida desses jovens. (BRASIL, 2007). As doenças sexualmente transmissíveis e a gravidez ocorrem devido ao desconhecimento e/ou uso inadequados de métodos contraceptivos e/ou de proteção nas relações sexuais, não conhecimento da fisiologia da reprodução e das conseqüências das relações sexuais (CARTER et al.,1994; JASKIEWICZ & MCANARNEY, 1994; BRASIL, 2000; SIMÕES et al.,2003; PERSON et al., 2004). Além disso, o conhecimento inadequado sobre qualquer método anticoncepcional pode ser um fator que interfere diretamente na aceitação e utilização desse método (ESPEJO, 2003). Cada vez mais, tem crescido o número de jovens grávidas antes dos 20 anos de idade; essa gravidez precoce, em grande parte, está diretamente relacionada à afetividade. Além do que, muitos jovens não usam nenhum método contraceptivo por acreditar que não ter laços afetivos com o parceiro, está relacionado a não “precisar” utilizar nenhum método contraceptivo (SILVA, 2008). Apesar de grande parte dos jovens conhecerem algum método contraceptivo, muitos não fazem o uso continuo dos métodos. Assim sendo, cada dia mais torna-se importante a conscientização, não só dos adolescentes e jovens, mas de toda a população para o uso de métodos contraceptivos. Dessa forma, existe a necessidade de estudos que ajudem a criar estratégias para aumentar o uso de métodos contraceptivos no decorrer da vida (TEIXEIRA et al., 2006). No mais, literatura destaca ainda que as complicações biológicas e emocionais da gravidez “fora de hora” e as infecções sexualmente transmissíveis, são uns dos desfechos desfavoráveis para esses jovens (CAMARANO 1998; LONGO, 2002). Nesse sentido, a análise do conhecimento sobre métodos contraceptivos é importante para produzir uma interpretação desse grau de conhecimento e a relação com a utilização prática e assim poder estimar influência do conhecimento sobre o uso de métodos anticoncepcionais. Além disso, essa identificação poderá permitir a elaboração das questões o que possibilitará subsídios para lidar com esses problemas. 2. Objetivos Descrever o conhecimento sobre os métodos contraceptivos de graduandos da Faculdade Vértice. 2.1 - Objetivos Específicos caracterizar o conhecimento sobre os métodos contraceptivos; determinar a utilização dos métodos contraceptivos; descrever fatores relacionados à saúde sexual. 3. Metodologia Este trabalho é um estudo transversal de base populacional direcionado a acadêmicos da Faculdade Vértice em Matipó-MG. 3.1 - Área de Estudo A Faculdade Vértice é uma instituição de ensino superior localizada na cidade de Matipó – MG. Possui 456 alunos matriculados. 3.2 - Desenho e população do estudo Trata-se de um estudo de delineamento transversal entre os alunos ingressos em 2010/2, na Faculdade Vértice. 3.3 - Considerações éticas A Faculdade Vértice é uma instituição criada recentemente (2008) e ainda não possui um Comitê de Ética em Pesquisa. No entanto, para garantir o cumprimento dos deveres e direitos dos participantes da pesquisa, foi elaborado um Termo de Consentimento Livre Esclarecido gerando um consentimento informado dos participantes, que foi produzido levando em consideração as determinações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). 3.4 - Obtenção de dados Os dados estão sendo obtidos por meio de questionários, distribuídos à população do estudo pelas coordenadoras do projeto. Os alunos estão sendo esclarecidos sobre o trabalho à medida que os questionários estão sendo aplicados. 3.5 - Instrumento de coleta de dados Consistiu em um questionário padronizado. Esse possui informações de fácil compreensão, com perguntas relacionadas à saúde sexual e métodos contraceptivos. 3.6 - Análise e processamento dos dados 3.6.1 - Codificação e digitação de dados As questões foram codificadas diretamente no questionário, a partir dos quais estão sendo digitados em banco de dados padronizado no software Microsoft Office Excel. 3.6.2 - Características Acadêmicas e Demográficas Os sujeitos estão sendo estratificados quanto ao gênero (feminino ou masculino), faixa etária, estado civil. De 18 e 19 anos, correspondendo aos adolescentes; De 20 a 39 anos, correspondendo aos adultos jovens; De 40 a 59 anos, correspondendo aos adultos; 60 anos ou mais, correspondendo aos idosos. Em relação ao estado civil, foram utilizados os seguintes estratos: Solteiro; Casado; Viúvo; Divorciado; Outros. Em relação a situação acadêmica, estão sendo observados os alunos que ingressaram na Faculdade Vértice, em 2010/2 (1º período). 3.6.3 – Saúde sexual e Métodos contraceptivos O presente trabalho assume as informações sobre saúde sexual e métodos contraceptivos foram referidas pelos sujeitos investigados. O questionário utilizado possui perguntas abrangentes sobre diferentes temas: conhecimento e utilização dos diferentes métodos contraceptivos; atividade sexual; gravidez; período fértil; proteção contra doenças sexualmente transmissíveis (DST). 3.7 - Processamento dos dados As informações contidas nos questionários estão sendo digitados. Os dados estão passando por correções, padronização antes de serem processados. As análises estatísticas estão sendo realizadas no Microsoft Office Excel e baseiamse na estatística descritiva das características demográficas e acadêmicas, além das informações sobre automedicação. Posteriormente, poderão ser realizadas comparações de proporções. 4. Resultados preliminares e discussões 4.1 - Caracterização da população do estudo Até o momento, foram investigados 8 acadêmicos dos 49 ingressos em 2010/2, o que corresponde a 16,3% da população estimada. As características acadêmicas e demográficas apresentam-se na Tabela 4.1. Tabela 4.1 – Características acadêmicas e demográficas referidas pela da população investigada. Característica n=8 % Curso Enfermagem 4 50 Farmácia 5 50 Feminino 6 75 Masculino 2 25 18 – 19 4 50 20 – 39 4 50 Solteiro 7 87,5 Casado 1 12,5 Gênero Faixa Etária Estado Civil 4.1.2 – SAÚDE SEXUAL E MÉTODOS CONTRACEPTIVOS Dos alunos ingressos em 2010/2 na Faculdade Vértice, 87,5% afirmam já possuir informações sobre métodos anticoncepcionais e obtém-nas, principalmente, através de palestras (26%), televisão (21%) e estabelecimentos de ensino (21%). Os métodos mais conhecidos pelos alunos estão no Gráfico 4.1. Gráfico 4.1 – Tipos de métodos contraceptivos referidos como conhecidos pelos alunos (%). Os investigados também foram questionados aos métodos que utilizam e esses são apresentados no Gráfico 4.2. Gráfico 4.2 – Tipos de métodos contraceptivos referidos como utilizados pelos alunos (%). Em relação à gravidez na adolescência, apenas 12,5% referiram passar pela experiência, mas a grande maioria (87,5%) relata conhecer alguém que já engravidou. Já em relação às DST´s, os anticoncepcionais relatados como aplicados para prevenção foram: Tabela 4.2 – Métodos contraceptivos referidos para prevenção de doenças sexualmente transmissíveis. Característica n=8 % Camisinha masculina 7 50 Camisinha feminina 6 42,8 Diafragma 1 7,2 5. Considerações Finais As práticas sexuais, na juventude, têm sido descritas como dinâmicas e em constantes transformações, sendo que seus perfis podem acarretar impacto importante na vida reprodutiva e no perfil epidemiológico dos jovens brasileiros (BRASIL, 2007). No que diz respeito especificamente a jovens com escolaridade mais alta, nesse caso os universitários foco deste estudo, entre os quais, supostamente, informação e acesso aos métodos contraceptivos não seriam problema (PIROTTA, 2004; SCHOR, 2000). Nos resultados encontrados até agora, destaca-se a possibilidade de uso do diafragma na prevenção de DST´s referida pelos alunos, prática essa que não é verdadeira. Já é conhecido na literatura, que quanto menor o grau de escolaridade, relacionada com o pouco conhecimento dos métodos, menor a chance de utilização desses (BEMFAM, 1999). Neste projeto, é pretendido levantar uma discussão sobre as idéias para abordar a sexualidade, principalmente nos jovens, por isso, a conclusão dos resultados é essencial para o delineamento dessas propostas. REFERÊNCIAS BEMFAM (Sociedade civil de bem-estar familiar no Brasil). Comportamento e intenções reprodutivas da população masculina. Pesquisa Nacional sobre Demografia e Saúde. Rio de Janeiro: 1999. BRASIL. Ministério da Saúde - Coordenação Nacional de DST e Aids. Os Jovens na Mídia: o desafio da Aids. Brasília, 116 p. 2000. BRASIL. Ministério da Saúde. A saúde de adolescentes e jovens: uma metodologia de auto-aprendizagem para equipes de atenção básica de saúde. 2.ed. Brasília. 2007. CAMARANO, A. A. Fecundidade e anticoncepção da população jovem. In: Comissão Nacional de População e Desenvolvimento, organizador. Jovens acontecendo na trilha de políticas públicas. Brasília: Comissão Nacional de População e Desenvolvimento. 109-33, 1998. CARLINI-COTRIM, B.; GAZAL-CARVALHO, C.; GOUVEIA, N. Comportamento de saúde entre jovens estudantes das redes publica e privada da área metropolitana do estado de São Paulo. Revista de Saúde Pública, 34 (6), 636645, 2000. CARTER, D.M.; FELICE, M.E.; ROSOFF, J.; ZABIN, L.S.; BEILENSON, P.L.; DANNENBERG, A.L. When children have children: the teen pregnancy predicament. American. Journal of Preventive Medicine, 10, 108-113, 1994. ESPEJO, X. 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AUTOMEDICAÇÃO REFERIDA POR PROFESSORES E ACADÊMICOS DA ÁREA DE SAÚDE DA FACULDADE VÉRTICE – MATIPÓ- MG Adelaide Soares Carvalho – Graduanda do curso de Farmácia da Faculdade Vértice Rafaela Aparecida Ferreira Paula - Graduando do curso de Enfermagem da Faculdade Vértice. Fernanda Cristina Ferrari - Graduada em Farmácia – Mestre em Ciências Farmacêuticas. Professora da Faculdade Vértice. Renata Aparecida Fontes – Graduada em Farmácia com Habilitação em Bioquímica. Mestre em Ciências Farmacêuticas. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] RESUMO A automedicação pode ser prejudicial à saúde, pois nenhum fármaco é inócuo. Portanto, é importante descrevê-la para promoção de medidas que estimulem o uso seguro. Está sendo realizado um estudo transversal entre professores e alunos da Faculdade Vértice e estão sendo avaliadas fatores que podem estar associados a automedicação. Até o momento, avaliou-se 13,8% da população de alunos e 27,1% dos professores. 86,7% dos alunos e 92,7% dos professores declararam praticar a automedicação e os medicamentos mais referidos foram para resfriados e gripe. Após a analisar toda a população, será possível identificar melhor o problema e realizar as intervenções necessárias. PALAVRAS-CHAVE: medicamentos. Automedicação; Estudantes; Prevalência; Uso de 1- INTRODUÇÃO O medicamento é um importante bem para a recuperação e manutenção da saúde e uma ferramenta terapêutica de grande valor para os médicos, sendo responsável por parte significativa da melhoria da qualidade e expectativa de vida da população; porém, seu mau emprego é responsável por diversos tipos de decorrências indesejáveis (ARRAIS et al., 2005). A automedicação é uma prática tradicional de auto-cuidado, utilizada com o objetivo de tratar e/ou eliminar sintomas de problemas de saúde. É um fato independente da prescrição médica, por isso, é bastante discutido na prática médico-farmacêutica (BUKO PHARMA KAMPAGNE, 1989; ARRAIS et al., 1997; PEREIRA et al., 2007). De acordo com Vilarino et al.(1998), a automedicação pode ser extremamente prejudicial à saúde, tendo em vista que nenhum fármaco é inócuo, pois podem levar a reações adversas graves, reações de hipersensibilidade, resistência bacteriana, além de diversas outras consequências que podem até serem fatais. No Brasil, estudos têm demonstrado que o uso de medicamentos varia com relação a idade, gênero, estado de saúde, condições sociais, econômicas e com outros fatores demográficos, e que a utilização tem dimensões estruturais, políticas, sociais e histórico-culturais (PENTEADO, 1999; ROZENFELD & VALENTE, 2004; BERTOLDI et al., 2004; ARRAIS et al., 2005; FLORES E MENGUE, 2005). A Organização Mundial da Saúde (OMS), segundo o Conselho Nacional de Saúde (CNS, 2005), divulgou que cerca de 50% dos usuários de medicamentos o fazem de forma incorreta, talvez pelo grande consumo determinado pela automedicação. Essa prática é um hábito comum que tem o objetivo de resolver por conta própria, ou sem ajuda profissional, os problemas de saúde e é considerado, por muitos, como um procedimento natural. Contudo, tal hábito fundamentado na crença de que os medicamentos são capazes de resolver qualquer problema de saúde, leva a um processo de risco (ARRAIS, 1997). Outros fatores citados por Sebastião (1998) que influenciam o consumo de medicamentos são as propagandas, as recomendações de familiares, de vizinhos, de colegas; prática essa que faz parte da cultura do brasileiro e pode levar a riscos e em alguns casos, até a morte. O consumo facilitado pelo acesso pode estar conduzindo ao uso indiscriminado de substâncias nocivas ao organismo. Dados recentes publicados pelo Sistema Nacional de Informações Tóxico Farmacológicas (SINITOX), evidenciaram que 30,7% de todos os casos registrados de intoxicação e/ou envenenamento, foram decorrentes da utilização de medicamentos, sendo que 7% desses evoluíram para o óbito (SINITOX,2010) . O Portal do Consumidor, em 2009, relatou que, de acordo com a Associação Brasileira das Indústrias Farmacêuticas, em torno de 80 milhões de brasileiros praticam a automedicação. Ainda destacou que, em um levantamento do Conselho Regional de Farmácia do Estado de São Paulo (CRF-SP), realizado em 2008, foi detectado que 68% das farmácias e drogarias do Estado venderam antibióticos sem prescrição médica (PORTAL DO CONSUMIDOR BLOG, 2009). Diante do exposto, o presente estudo pretende estudar a automedicação entre professores e acadêmicos da área de saúde da Faculdade Vértice em MatipóMG, com o propósito de conhecer aspectos qualitativos e quantitativos dessa prática. A partir daí, servir como base para a realização de intervenções visando a estimular práticas que fomente o uso racional de medicamentos. 2. Objetivos Descrever a automedicação entre os professores e estudantes da área de saúde da Faculdade Vértice. 2.1 Objetivos específicos descrever a utilização por aspectos demográficos e acadêmicos; determinar a frequência de utilização, patologias relacionadas e classes de medicamentos mais utilizados; caracterizar os motivos mais comuns que levam à utilização e a influência de propagandas e terceiros. 3. Metodologia Este trabalho é um estudo transversal de base populacional direcionado aos professores e acadêmicos da área de saúde da Faculdade Vértice em Matipó. 3.1 - Área de estudo, desenho e população do estudo A Faculdade Vértice é uma instituição de ensino superior localizada na cidade de Matipó – MG. Possui 48 professores e 456 alunos matriculados. Oferece 7 cursos graduação sendo 3 deles relacionados a grande área das Ciências da Saúde – Farmácia, Enfermagem e Medicina Veterinária. Trata-se de um estudo de delineamento transversal entre os professores e alunos da área da saúde da Faculdade Vértice. 3.2 - Considerações éticas A Faculdade Vértice é uma instituição criada recentemente (2008) e ainda não possui um Comitê de Ética em Pesquisa. No entanto, para garantir o cumprimento dos deveres e direitos dos participantes da pesquisa, foi elaborado um Termo de Consentimento Livre Esclarecido gerando um consentimento informado dos participantes. Esse foi produzido levando em consideração as determinações da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP). 3.3 - Obtenção de dados Os dados estão sendo obtidos por meio de questionários, distribuídos à população do estudo pelas coordenadoras do projeto com auxílio dos alunos dos 1os e 2os períodos de Farmácia e Enfermagem da referida instituição de Ensino. Os alunos estão sendo esclarecidos sobre o trabalho à medida que os questionários estão sendo aplicados. Os alunos que estão trabalhando na aplicação foram previamente treinados pelas professoras coordenadoras. 3.4 - Instrumento de coleta de dados Consistiu em um questionário padronizado. Esse possui informações de fácil compreensão, com perguntas relacionadas à automedicação e à algumas características dos participantes. 3.5 - Análise e processamento dos dados 3.5.1 - Codificação e digitação de dados As questões foram codificadas diretamente no questionário, a partir dos quais estão sendo digitados em banco de dados padronizado no software Microsoft Office Excel. 3.5.2 - Características Acadêmicas e Demográficas Os sujeitos estão sendo estratificados quanto ao gênero (feminino ou masculino), faixa etária, estado civil. de 18 e 19 anos, correspondendo aos adolescentes; de 20 a 39 anos, correspondendo aos adultos jovens; de 40 a 59 anos, correspondendo aos adultos; 60 anos ou mais, correspondendo aos idosos. Em relação ao estado civil, foram utilizados os seguintes estratos: solteiro; casado; viúvo; divorciado; outros. Os investigados também estão sendo agrupados de acordo com as diversas situações acadêmicas. Em relação aos alunos estão sendo observados os cursos (Farmácia, Enfermagem e Medicina Veterinária) e os períodos que estão esses alunos. Já em relação aos professores, estão sendo avaliados os cursos em que lecionam na Faculdade Vértice e a carga horária de trabalho semanal na instituição; além disso, investiga-se a prática de outras atividades (outros empregos) e a carga horária semanal. 3.5.3 - Automedicação O presente trabalho assume as informações sobre automedicação referidas pelos sujeitos investigados. O questionário utilizado possui perguntas abrangentes sobre diferentes temas: utilização de medicamentos sem receita; a recomendação de medicamentos por terceiros; a busca de orientação/ajuda de profissionais de saúde; utilização de prescrições antigas; grupos/classes terapêuticas de medicamentos utilizados; tempo de utilização; problemas de saúde associados com a prática; leitura da bula dos medicamentos. 3.6 - Processamento dos dados As informações contidas nos questionários estão sendo digitados. Os dados estão passando por correções, padronização antes de serem processados. As análises estatísticas estão sendo realizadas no Microsoft Office Excel e baseiamse na estatística descritiva das características demográficas e acadêmicas, além das informações sobre automedicação. Posteriormente, poderão ser realizadas comparações de proporções. 4. Resultados Preliminares 4.1 - Automedicação entre os Acadêmicos 4.1.1 - Caracterização da população do estudo Até o momento, foram investigados 30 acadêmicos dos 218 esperados, o que corresponde a 13,8% da população estimada. As características acadêmicas e demográficas apresentam-se na Tabela 4.1. Tabela 4.1 – Características acadêmicas e demográficas referidas pela da população investigada. Característica n = 30 % Enfermagem 9 30 Farmácia 21 70 1º 8 26,7 2º 22 73,3 Feminino 21 70 Masculino 9 30 18 – 19 15 50 20 – 39 12 40 Curso Período Gênero Faixa Etária 40 – 59 1 ≥ 60 0 IND (1) 3,3 2 6,7 Solteiro 25 83,3 Casado 5 16,7 Estado Civil (1) Dados indefinidos/sem informação 4.1.2 - AUTOMEDICAÇÃO Do total de questionários avaliados até o momento, 86,7% declararam já utilizar/comprar algum medicamento sem receita médica. Os investigados ainda afirmaram já ter utilizado 161 tipos fármacos para se automedicar (Figura 4.1). Figura 4.1 – Tipos de medicamentos referidos como utilizados na automedicação. Os sujeitos investigados referiram que, quando se automedicam, a prática ocorre 80% das vezes por recomendação, sendo que os que mais os influenciam são amigos, parentes, vizinhos e conhecidos (30,2%), e o farmacêutico (25,6%), além de que 2,3% afirmam sofrer influência de propagandas nos diversos meios de comunicação. Quando procuram orientação antes de se automedicar, os participantes dizem que já procuraram a orientação de farmacêuticos (73,3%) e balconistas (63,3%). A utilização de medicamentos, nesses casos, ocorre buscando a solução de diversos problemas como descrito na Tabela 4.2. Tabela 4.2 – Problemas de saúde que a população referida acreditava possuir para se automedicar Problemas n = 30 % Dor de cabeça 21 20,8 Febre 10 9,9 Resfriado e/ou gripe 19 18,8 Infecções/ inflamações de garganta 13 12,9 Infecções e/ou inflamações de ouvido 3 3,0 Sinusite 5 5,0 Rinite 7 6,0 Alergias 13 12,9 Lesões orais 1 1,0 Lesões de pele 5 5,0 Refluxo 5 1,0 Outras 1 3,4 IND 1 1,0 (1) Dados indefinidos/sem informação Os acadêmicos ainda foram questionados quanto à leitura das bulas dos medicamentos utilizados para automedicação e 66,7% afirmaram ler antes de utilizar os medicamentos, e destes, 75% dizem seguir as instruções recomendadas. No entanto, dentre os que não realizam a leitura (33,3%), 40% deixam de ler, pois não consideram necessária e, 30%, por achar que já conhecem todas as informações. 4.2. Automedicação entre os Professores 4.2.1 - Caracterização da população do estudo Até o momento, foram investigados 18 (27,1%) professores dos 48 que fazem parte do corpo docente da Faculdade Vértice. Na Tabela 4.3, apresentam-se as características acadêmicas, profissionais e demográficas. Tabela 4.3 – Características acadêmicas, profissionais e demográficas referidas pela da população investigada. Característica n = 13 % 2- 4 2 15,4 6-8 3 23,1 8 – 10 3 23,1 11- 15 4 30,8 ≥ 16 1 7,7 Sim 8 61,5 Não 4 30,8 1 7,7 2- 4 1 7,7 6-8 1 7,7 8 – 10 3 23,1 11- 15 0 0 ≥ 16 2 15,4 2 15,4 NA 4 30,8 Feminino 10 77 Masculino 3 23 Carga Horária na Faculdade Vértice (horas) Trabalho em outras instituições IND (1) Carga Horária em outras instituições (horas) IND (1) (2) Gênero Faixa Etária 20 – 39 10 77 40 – 59 3 23 ≥ 60 0 0 Solteiro 7 53,8 Casado 5 38,5 Outros 1 7,7 Estado Civil (1) Dados indefinidos/sem informação; 4.1.2 - AUTOMEDICAÇÃO (2) Não se aplica Do total dos professores avaliados até o momento, 92,3% referiram já utilizar/comprar algum medicamento sem receita médica. Os avaliados referiram já ter se automedicado com 72 tipos de medicamentos (Figura 4.2). Figura 4.2 – Tipos de medicamentos referidos como utilizados na automedicação. Os professores referiram que já utilizaram medicamentos recomendados por amigos, parentes, vizinhos e conhecidos (69,2%), o médico (23,1%), farmacêutico (15,4%) e por propagadas nos meios de comunicação (7,7%). Quando procuram orientação para se automedicar, os sujeitos dizem que já procuraram a orientação de farmacêuticos (100%) e balconistas (69,2%). A utilização de medicamentos, nesses casos, ocorre buscando a solução de diversos problemas como descrito na Tabela 4.2. Tabela 4.4 – Problemas de saúde que a população referida acreditava possuir para se automedicar (1) Problemas n = 13 % Dor de cabeça 10 22,7 Febre 4 9,1 Resfriado e/ou gripe 9 20,4 Infecções/ inflamações de garganta 4 9,1 Sinusite 4 9,1 Rinite 4 9,1 Alergias 6 13,6 Lesões de pele 1 2,3 Refluxo 1 2,3 Outras 1 2,3 Dados indefinidos/sem informação Os professores ainda foram questionados quanto à leitura das bulas dos medicamentos utilizados para automedicação e 77% afirmaram ler antes de utilizar os medicamentos e, destes, 100% dizem seguir as instruções recomendadas. No entanto, dentre os que não realizam a leitura (23%), um terço diz não ler por considerarem conhecer as instruções, 33,3% não consideram necessário e, 33,3%, possuem dificuldade de entender as informações ali contidas. 5. Considerações finais Resultados sobre automedicação, nessas proporções, são observados em trabalhos com estudantes do ensino superior como, por exemplo, o resultado encontrado por Neto et al., (2006) que foi de 76%. Esses trabalhos realizados remetem a uma ligação entre automedicação, idade, escolaridade, principalmente, entre acadêmicos de cursos da grande área das Ciências da Saúde. Esse fato é atribuído ao conhecimento adquirido ao longo dos cursos; pois assim, os estudantes sentem-se mais confiantes para se automedicar (VILARINO et al.,1998; FRANCO et al., 2009; FONSECA et al., 2010; NERES et al., 2010). Não foram encontrados trabalhos que demonstrem especificamente a prática da automedicação a professores. Entretanto, Tomasi et al.,(2007) perceberam que características do processo de trabalho (volume de trabalho e acúmulo de cargos) possuem relação com a prática da automedicação. Após a análise de todos os questionários, será possível ter uma visão mais ampla sobre o problema, e assim permitirá a realização de intervenções para estimular o uso racional de medicamentos. REFERÊNCIAS ARRAIS, P. S. D. Perfil da automedicação no Brasil. Revista Saúde Pública, 31, 71-77, 1997. ARRAIS, P.S.D.; COELHO, H.L.L.; BASTISTA, M.C.D.S.; CARVALHO, M.L.; RIGHI, R. E.; ARNAU, J.M. Perfil da automedicação no Brasil. Revista de Saúde Pública, 31(1), 71-77, 1997. ARRAIS, P.S.D.; BRITO, L.L.; BARRETO, M.L.; COELHO, H.L.L. Prevalência e fatores determinantes do consumo de medicamentos no município de Fortaleza, Ceará, Brasil. Caderno de Saúde Pública, 21(6), 1737-1746, 2005. BERTOLDI, A.D., BARROS, A.J.D., HALLAL, P.C.M., LIMA, R.C., Utilização de medicamentos em adultos: prevalência e determinantes individuais. Revista de Saúde Pública, 38 (2), 228-238, 2004. BUKO PHARMA KAMPAGNE. Dypirone: a drug no onde needs. Bielefeld, Amsterdam, 1989. CNS - Conselho Nacional de Saúde. 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Mestrando em Ciência da Educação Física, Esporte e Recreação – UCCDF - Cuba Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Nathália Pereira de Oliveira – Acadêmica do curso de Educação Física da Faculdade Vértice [email protected] www.faculdadevertice.com.br/programasocial Programa Social Faculdade Vértice RESUMO O objetivo deste estudo foi verificar a incidência de obesidade em escolares na faixa etária de 10 a 14 anos, atendidos por ações do Programa Social, no município de Matipó, Minas Gerais. Foram avaliados 78 adolescentes na faixa etária de 10 a 14 anos de ambos os sexos, através do protocolo de Guedes (1994), um protocolo especificamente voltado para uma população de crianças e adolescentes brasileiros (7 a 18 anos), diferenciando ainda a fase de maturação e etnia, onde trabalhamos com duas pregas cutâneas, a do tríceps e a subescapular, para estarmos adquirindo os resultados das medidas. Foram tratados os dados de forma descritiva através do Microsoft Office Excel 2007. Conclui-se que é importante definir as características da obesidade na infância e adolescência, na tentativa de se detectar fatores predisponentes, e viabilizar estratégias eficazes de controle e prevenção da mesma;a população Infantil é do ponto de vista psicológico, sócio-econômico e cultural, dependente do ambiente onde vive que na maioria das vezes é constituído pela família, sendo que suas atitudes são, freqüentemente, reflexo deste. PALAVRAS-CHAVE: Obesidade; Sobrepeso; Realidade Escolar. 1. Introdução A Obesidade, segundo Organização Mundial de Saúde (OMS), é uma doença crônica no âmbito da Saúde Pública, com incidência crescente na população mundial. De acordo com este órgão, dos seis bilhões de indivíduos do mundo, 23,4% são obesos. No Brasil, este índice gira em torno de 40% (DÂMASO, 2001; PEREIRA, 2006). Além do risco de desenvolver doenças, tais como: diabetes, doenças cardiovasculares e outras como: câncer, doenças osteomioarticulares e distúrbios respiratórios, distúrbio do sono ou apnéia do sono, a obesidade gera preconceito, sentimento de rejeição, vergonha e depressão, especialmente entre as crianças (MONDINI e MONTEIRO, 1998). Tal fato, de consenso mundial, é explicado pela relação existente entre a Obesidade e o nível de desenvolvimento econômico do país, em função do uso abusivo de alimentos ricos em gorduras, em especial, em lojas de fast food, da inatividade física e do tempo escasso para a realização de uma alimentação saudável. Além destes fatores, a evolução tecnológica propicia uma comodidade que corrobora com o aumento do peso (BENEDETTI, 2003). Hoje a escola é fonte de muitos estudos na área para diagnosticar as origens deste processo e o que se observa não é nada animador, as pessoas cada vez mais precocemente apresentam casos inicias de obesidade, sendo assim se faz necessário conhecer a realidade escolar para assim poder intervir a prevenir esta doença. Dados do II Estudo Epidemiológico em Saúde Escolar de Belo Horizonte demonstraram alta prevalência, não apenas de obesidade, mas de outros transtornos da alimentação: 5,1% de baixo peso; 8,6% de sobrepeso; e, 3,3% de obesidade (Vilela, 2000). Nos Estados Unidos da America, já na década de 90, a Obesidade era responsável por 300.000 óbitos, com cerca de 80 milhões de dólares/mês para o sustento de 137.000 obesos incapacitados para o trabalho. Este governo revelou que o custo anual, direto e indireto, da obesidade no país era de 117 bilhões de dólares. Segundo Viuniski (1999), em outros países como o Brasil, os custos com essa doença gira em torno de 2% a 8% do orçamento total destinado para saúde. A população foco desse estudo é do ponto de vista psicológico, sócioeconômico e cultural, dependente do ambiente onde vive que na maioria das vezes é constituído pela família, sendo que suas atitudes são, freqüentemente, reflexo deste (ZABOTO, 2005). Quando desfavorável, o ambiente poderá propiciar condições que levem ao desenvolvimento de distúrbios alimentares que, uma vez instalados, poderão permanecer caso não aconteçam mudanças neste contexto. Portanto, o conhecimento das influências fornece substrato ao desenvolvimento de programas que visem minimização, controle e erradicação do problema (DÂMASO, 2001). O objetivo desta pesquisa foi conhecer o perfil antropométrico de crianças em idade escolar de 10 a 12 anos, atendidos por ações do Programa Social, no município de Matipó, Minas Gerais. Nos dias atuais as crianças têm cada dia mais, assumido um estilo de vida sedentária, o que leva a quadro de obesidade e doenças cada vez mais cedo. Este trabalho é de grande relevância devido à necessidade de se conhecer o perfil antropométrico de alunos em idade escolar. Surge então a seguinte questão: qual a prevalência de obesidade e sobrepeso em crianças e adolescentes de Matipó, Minas Gerais? 2. Referencial teórico De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é um estado geral de bem estar físico, mental e social, compreendendo o indivíduo como um todo em um complexo, ou seja, na comunidade onde vive. De acordo com a OMS, a Obesidade é uma doença crônica, na qual o aumento do peso está presente em decorrência de fatores endógenos e exógenos (GUEDES e GUEDES, 1997). A Obesidade pode ser de origem endógena ou exógena. A endógena, a qual gira em torno de 5% está relacionada com comprometimentos de origem psicogênica, neurológica, hereditária e/ou congênita e endócrina. Em compensação, a exógena com 95% dos casos, tem origem nos múltiplos fatores ambientais, tais como: sedentarismo e ingestão inadequada (DÂMASO, 2001). De forma a corroborar com o exposto, Stella (2000) ratifica que a causa da Obesidade, é multifatorial, ou seja, é decorrente de vários fatores que podem estar agindo isoladamente ou em conjunto. Entre esses fatores, está a ingestão aumentada de calorias, diminuição da atividade física, idade, fatores genéticos e emocionais. Da mesma forma a Obesidade e o excesso de peso são fruto da interação entre fatores genéticos e ambientais. Damiani et al. (2007) verificaram que nos últimos anos, a Obesidade em todas as faixas etárias e, particularmente, a Obesidade Infantil tem aumentado de incidência em várias partes do mundo. Nesta revisão, os autores abordam os aspectos epidemiológicos, os fatores condicionantes da Obesidade, os fatores neuroendócrinos da Obesidade e do apetite, bem como, os fatores genéticos da Obesidade diante dos fatores ambientais. Estudos epidemiológicos realizados por Viuniski (1999), na região Nordeste e Sudeste do Brasil entre 1975 e 1997, mostraram que a prevalência da Obesidade apresenta uma tendência secular de ascensão. Esta evidenciou um claro crescimento nas duas regiões e em ambos os sexos, mas com um detalhe importantíssimo: uma redução significativa (de 14,1% para 12,4%) da prevalência da Obesidade no gênero feminino na região Sudeste, de 1989 para 1997 (de 13,2% em 1989 para 8,2% em 1997) comparado ao extrato de menor renda (11,6% para 15%). Tal fato é explicado pelo nível de conhecimento desta população no que se refere aos riscos à saúde associados à Obesidade, sobre as formas efetivas de controle de peso, educação nutricional, além de um poder econômico melhor para realizar o tratamento adequado. Esta doença geralmente é o resultado de um processo de longo prazo, muitas vezes iniciado na infância que se estende até a idade adulta. As mudanças no hábito de lazer e na alimentação são os principais fatores da Obesidade Infantil. A quantidade de ingestão associada à qualidade da mesma em uma criança está diretamente relacionada com a Obesidade (DÂMASO, 2001). A alimentação inadequada durante o período gestacional também é considerada como um dos fatores de risco. Da mesma forma, o aleitamento materno deve ser incentivado, assim como, o seu tempo, no sentido de evitar a introdução precoce de alimentos sólidos e ricos em gorduras. Apesar de parecer controverso, o risco de Obesidade é elevado em crianças de baixo peso ao nascimento, especialmente, quando: ambos os progenitores são obesos; quando o estilo de vida familiar se caracteriza por hábitos alimentares inadequados; na presença de sedentarismo, ou ainda quando existe história familiar de doenças relacionadas com a Obesidade (Ex. Diabetes, Doenças Cardiovasculares). Acredita-se que o hábito alimentar associado ao sedentarismo, este justificado pelos longos períodos frente a televisão e ao computador, têm sido os principais fatores responsáveis pelo aumento da Obesidade Infantil. Outro aspecto sobre os fatores relacionados à epidemia da Obesidade é a contribuição do aumento das porções dos alimentos servidas em restaurantes, bares e supermercados. Nos Estados Unidos da América (EUA), um estudo constatou a evolução do tamanho das porções de alimentos oferecidas em alguns estabelecimentos, nas últimas décadas. Os resultados mostraram que o tamanho da porção de carnes, massas e chocolates ultrapassavam em 224, 480 e 700%, respectivamente, ao estabelecido pelo Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). Além disso, foi constatado que na década de 70, o aumento das porções coincidiu com a atuação mais forte do marketing na indústria alimentícia (OLIVEIRA et al., 2007). Estudos realizados por Leão et al. (2005) demonstraram que em algumas cidades brasileiras o sobrepeso e a Obesidade já atingem 30% ou mais das crianças e adolescentes, como em Recife, alcançando 35% dos escolares avaliados. Nestes foi identificada uma prevalência de 15,8% de Obesidade em 387 escolares de Salvador, sendo que esta foi significativamente maior nas escolas da rede particular (30%) em relação às da rede pública (8,2%). O mesmo grupo de pesquisadores encontrou dados semelhantes em um estudo realizado na cidade de Santos, no estado de São Paulo, com toda a população (10.821) de escolares da rede pública e privada, na faixa etária de 7 a 10 anos de idade, em que 15,7% e 18,0% apresentavam sobrepeso e Obesidade, respectivamente, sendo que os maiores índices apareciam em escolares de instituições privadas. Este grupo associou estes resultados ao livre acesso aos alimentos e uso de fast foods. Oliveira et al. (2007) relatam que algumas áreas merecem atenção, sendo a educação, a indústria alimentícia e os meios de comunicação, os principais veículos de atuação. Medidas de caráter educativo e informativo, através do currículo escolar e dos meios de comunicação de massa, assim como, o controle da propaganda de alimentos não saudáveis, dirigidos principalmente ao público infantil e, a inclusão de um percentual mínimo de alimentos in natura no programa nacional de alimentação escolar e redução de açúcares simples são ações que devem ser praticadas. Segundo Ramos (2005), Médicos e Nutricionistas têm alertado sobre o risco de doenças, tais como a diabetes, hipertensão, artrose e os transtornos psíquicos, entre outras, associadas ao sedentarismo infantil. 3. Metodologia O presente trabalho baseou-se na pesquisa bibliográfica, a qual, segundo Andrade (2005) constitui o primeiro passo para todas as atividades acadêmicas por ser obrigatória nas pesquisas exploratórias, na delimitação do tema de um trabalho ou pesquisa, no desenvolvimento do assunto, nas citações e na apresentação das conclusões. O desenvolvimento desta pesquisa foi realizado com base na pesquisa de campo, de grau quantitativo, onde foram avaliados o percentual de gordura e o IMC de alunos do ensino fundamental de uma Instituição da rede pública na cidade de Matipó, Minas Gerais, na faixa etária de 10 a 14 anos de idade. Para avaliar o percentual de gordura das crianças, foi utilizado um adipômetro da marca Cerscof. O protocolo utilizado foi o de Guedes (1994), um protocolo especificamente voltado para uma população de crianças e adolescentes brasileiros (7 a 18 anos de idade), diferenciando ainda a fase de maturação e etnia, onde foram aferidas duas pregas cutâneas (tríceps e subescapular). Para as medidas do IMC, que segundo a Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica (ABESO), o IMC é reconhecido como padrão internacional para avaliar o grau de Obesidade. Foram utilizadas uma balança mecânica da Filizola e um estadiômetro montado seguindo padrões antropométricos de avaliação. 4. Análise e discussão dos dados 4.1. Matipó e o Programa Social da Faculdade Vértice A cidade de Matipó possui uma área de 277 km 2 e população estimada em 17.017 habitantes e está localizada na bacia do Rio Doce. Possui altitudes máxima e mínima de 989 e 660 metros, respectivamente (IBGE, 2009). É uma cidade essencialmente agrícola, sendo o café seu principal produto, participando também de sua economia a pecuária e o comércio, porém com menor sustentabilidade. É uma região com cerca de 600.000 hectares (PROGRAMA SOCIAL, 2009). O “Programa social e multidisciplinar: educação, saúde, meio ambiente, planejamento financeiro doméstico e geração de renda” constitui-se em uma proposta da Faculdade Vértice em parceria com a Samarco Mineradora S.A., iniciada no ano de 2009 para atender ao Bairro Boa Vista de Matipó. Este programa tem como objetivo contribuir para a promoção da qualidade de vida dos moradores do Bairro Boa Vista, em Matipó. Sua essência está pautada no envolvimento e na participação da população em todas as propostas que pretende desenvolver, já que acreditamos que a participação é um aspecto indispensável ao sucesso de projetos que visam ao desenvolvimento de comunidade; nesse caso, a integração da Comunidade com a Instituição de Ensino Superior. A equipe que atua no Programa é formada por acadêmicos dos diversos cursos de graduação e pelo corpo docente da Faculdade Vértice. O Programa vem realizando ações, atividades e projetos no Bairro Boa Vista. Os projetos do Programa Social incluem: capoeira; dança, escolinha de futebol; visita programada; projeto Hip-hop e projeto de administração financeira e doméstica e qualidade de vida da Família. O Programa realiza também pesquisas e, nesse caso, podemos citar o estudo antropométrico, o estudo de ambientação e o perfil colheitadores de café. A comunidade do Bairro Boa Vista é constituída por 03 (três) grandes aglomerados denominados: Bairro Boa Vista, Bairro Boa Esperança e Loteamento do Celinho. A comunidade do bairro Boa Vista – Matipó/MG concentra uma parcela expressiva da população desse município – estima-se que população residente nessa área corresponda à 1/3 do total de todo o município. 4.2. Obesidade em idade escolar: o que apontam os dados? O IMC transforma-se com o avançar da idade de maneira constante, sendo três, os períodos críticos para o início da obesidade: o primeiro corresponde ao primeiro ano de vida; o segundo, entre os 5-7 anos de idade e o terceiro período é a adolescência (Halpern, 1998). No presente estudo, 78 escolares da rede pública de ensino do município de Matipó, Minas Gerais, na faixa etária de 10 a 14 anos de idade de ambos os gêneros, sendo 44 do feminino e 35 do masculino, foram submetidos às medidas de IMC e dobras cutâneas. Ao analisarmos os 78 escolares, observamos que 66,78% estavam dentro da faixa de normalidade quando avaliados pelo IMC, 20,68% apresentavam sobrepeso, 9,33% abaixo do peso e 3,44% obesidade (figura 1). Dentre os 3,44%, 100% eram do gênero masculino (três escolares), conforme apresentado nas figuras 2 e 3. A prevalência de baixo peso está presente em 9,33% dos escolares o que se demonstra alto, e indica alimentação insuficiente ou presença de patologias associadas. Figura 1. Classificação do estado nutricional dos participantes Figura 2. Percentual de obesos do gênero feminino pelo IMC. Figura 3. Percentual de obesos do gênero masculino pelo IMC. Na figura 4 são apresentados os resultados do número escolares com sobrepeso. Observa-se que dos 78 participantes de ambos os gêneros, 20,45% apresentavam sobrepeso, sendo destes, nove do gênero feminino e oito do masculino. Figura 4. Percentual de escolares com sobrepeso pelo IMC. Viuniski (1999) destaca que alguns jovens queimam menos calorias que outras porque existem variações na secreção de substâncias e hormônios responsáveis pela regulação do processo de queima de gordura. Se estas forem submetidas somente a dieta de baixas calorias, a taxa do metabolismo diminuirá pela restrição calórica. Ao analisarmos o percentual de gordura, somente 6,98% do total de 78 participantes foram considerados obesos (figura 5). Figura 5. Percentual de escolares obesos pelo % gordura. Ao diferenciarmos por gênero o resultado encontrado para o percentual de gordura, encontramos um escolar do gênero feminino e cinco do masculino foram considerados obesos (figuras 6 e 7). Figura 6. Percentual de escolares obesos através % de gordura com relação ao gênero feminino. Figura 7. Percentual de escolares obesos através % de gordura com relação ao gênero masculino. 5. Considerações finais De acordo com os resultados encontrados no presente trabalho e em consonância com a literatura pesquisada, conclui-se que é importante definir as características da obesidade na infância, na tentativa de se detectar fatores predisponentes e viabilizar estratégias eficazes de controle e prevenção da mesma. Outro fato se relaciona a orientação nutricional que deve ser iniciada desde o período gestacional. A população Infantil é do ponto de vista psicológico, sócioeconômico e cultural, dependente do ambiente onde vive que na maioria das vezes é constituído pela família, sendo que suas atitudes são, freqüentemente, reflexo deste. A prevalência de baixo peso está presente em 9,33% dos escolares o que se demonstra alto, e indica alimentação insuficiente ou presença de patologias associadas, o que indica a necessidade de um trabalho conjunto para diagnosticar e montar estratégias para erradicar esta deficiência. REFERÊNCIAS ANDRADE, Maria M. de. Introdução a metodologia do trabalho científico: elaboração de trabalho na graduação – 7.ed. São Paulo: Atlas, 2005 BENEDETTI, C. De obeso a magro: a trajetória Psicológica. São Paulo: Vetor, 2003. DÂMASO, A. Nutrição e Exercício na Prevenção de Doenças. Rio de Janeiro: Medsi, 2001. DAMIANI, D. et al. Obesidade: fatores genéticos ou ambientais. 2007. Disponível em:< http://bases.bireme.br>. Acesso em: 10. Out.2010. GUEDES, D. GUEDES, J. Crescimento, Composição Corporal e Desempenho Motor de Crianças e adolescentes. São Paulo: CLR Baliero, 1997. GUEDES, D. P. Sugestões de Conteúdo programático para programas de Educação física escolar direcionados à promoção da saúde. 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Especialista em Estomaterapia. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Aborto; Complicações; Sociedade; Saúde da mulher. 1. Introdução O aborto, desde os tempos da antiguidade, é nomeado por tabus e preconceito, envolvendo não só o direito de escolha da mulher, mas também as questões jurídicas. Segundo Carvalho (2004, p.137), “aborto é o término da gravidez antes que o feto se torne viável, ou seja, antes de 22 semanas, ou com peso menor que 500g”. Todavia, é digno de menção citar alguns fatores que podem levar ao aborto, considerando, nesse momento, a forma espontânea: na grande maioria das vezes é causado por alterações cromossômicas ou genéticas; diminuição da progesterona (sua insuficiência determina maior sensibilidade uterina e contrações que podem levar ao abortamento); infecções (sífilis, rubéola etc.); traumatismo materno; distúrbios uterinos e/ou patologias originarias no mesmo (incompetência istmocervical); doenças maternas graves, dentre outros (CARVALHO, 2004). No que se refere ao aborto induzido, é designado como um grande problema de saúde publica, por estar intimamente ligado as intercorrências geradas, que, na maioria das vezes, leva à morte materna. Essa prática, muitas das vezes, está relacionada com a pressão em que a mulher sofre pela falta de companheirismo do parceiro: por, na maioria das vezes, ser uma gravidez não planejada, acarretando inúmeros problemas para a mesma (GARCIA e PEDROSA, 2000). Este estudo teve como objetivo, analisar as diferentes concepções da prática abortiva no Brasil e as intercorrências geradas na vida das mulheres, bem como buscar interpretação dos motivos que levam a um aborto, habitual ou provocado e a situação da mulher com essa prática, abordando as questões legais e religiosas no mesmo. 2. Metodologia Estudo de revisão de literatura que teve como base científica, artigos publicados e disponibilizados pelo Scielo e literatura, durante o levantamento de dados, foi usado como palavra-chave para pesquisa Aborto, nos quais foram encontrados 154 artigos. Após uma análise criteriosa, escolhemos como referencial teórico do trabalho, artigos recentes e com a temática, acerca das formas de aborto: as questões religiosas sobre o abortamento e a situação da mulher pela prática impensada sobre o aborto. Abordando, neste contexto, 4 artigos e uma referência literária. 3. Resultados e discussão O que leva, muitas das vezes, às mulheres a tomarem a decisão de abortar, é evidenciado em vários dos artigos analisados, o medo da descoberta da gravidez pela família, a falta de compromisso do parceiro em assumir o filho. A utilização de argumentos, de modo geral, exclui qualquer possibilidade de autonomia decisória da mulher, negando-a como ser político. Com isso, evidenciou-se que a tomada da decisão pela mulher é influenciada, por fatores, sociais predominantes, negociações ideológicas, entre outros. Todavia, o aborto desenvolve nas mulheres, vários sentimentos e percepções psicológicas e físicas que variam de indivíduo para indivíduo. O simples fato dos profissionais serem prestativos, acolhedores e comunicativos, colocam a mulher em situação de abortamento, seja habitual o por intercorrências da prática induzida, a sensação de bem estar, físico e emocional, proporcionam-lhe ainda tranquilidade (BAZOTTI e STUMM, 2009). Nesse momento, mesmo em casos de aborto induzido, o sentimento de insatisfação, depressão, indignação e outros, são gerados e agravados, a prática da equipe de saúde em atender essas pacientes, proporcionado atenção íntegra, tende a minimizar essas intercorrências que, muitas das vezes, podem ser fatais, como por exemplo: grandes hemorragias; perfurações uterinas por sonda; infecções (endometrite, septicemia e outros); ocorrência de possíveis abortos habituais no futuro; partos prematuros e outros (BENUTE, 2009). As questões religiosas acerca do aborto no Brasil são tratadas pelas igrejas, como uma prática inadmissível, sendo alvo de críticas e de conflitos entre parte da população e defensores da vida. Em Portugal, a prática abortiva é legalizada, sendo que a mulher deve optar por essa decisão até a décima semana de gestação. (PORTO, 2008) 4. Considerações finais As mulheres submetidas em situações de aborto ou em processo de tomada de decisão para a prática abortiva estão sempre sendo alvos de criticas, por profissionais de saúde, religiosos e a sociedade no geral. Entre os sentimentos vivenciados pelas mulheres que praticam o aborto, estão: tristeza, dor pela perda, angústia, medo, ansiedade, nervosismo e constrangimento. Sentimentos esses que devem ser amenizados pelos profissionais de saúde que trabalham com a atenção voltada para esse público; assim, a relação paciente/cliente e profissional é fundamental nesse processo. A enfermagem deve avaliar sangramento e sinais de infecção, dar apoio emocional e realizar todas as prescrições de cunho da mesma. REFERÊNCIAS BAZOTTI, Kellen Daiane Valandro; STUMM, Eniva Miladi Fernandes; KIRCHNER, Rosane Maria. Ser cuidada por profissionais da saúde: percepções e sentimentos de mulheres que sofreram abortamento. Texto contexto - enferm. Mar 2009, vol.18, no. 1, p.147-154. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 6 de set. de 2010. BENUTE, Gláucia Rosana Guerra et al. Abortamento espontâneo e provocado: ansiedade, depressão e culpa. Rev. Assoc. Med. Bras. 2009, vol.55, no. 3, p.322327. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 06 de set. 2010. CARVALHO, Geraldo Mota de. Enfermagem em Ginecologia. Edição revisada e ampliada. São Paulo: EPU, 2004. ISBN 85-12-12730-9. PEDROSA, Ivanilda Lacerda; GARCIA, Telma Ribeiro. Não vou esquecer nunca!: a experiência feminina com o abortamento induzido. Rev. Latino-Am. Enfermagem. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 10 de set. 2010. PORTO, Rozeli Maria. Objeção de consciência, aborto e religiosidade: práticas e comportamentos dos profissionais de saúde em Lisboa. Rev. Estud. Fem. Ago. 2008, vol.16, no.2, p.661-666. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 04 de set. 2010. SÍNDROME DE RETT: UM CASO ATÍPICO DIAGNOSTICADO EM MULHER DE 62 ANOS Kêmila Martins Chaves – graduanda em Medicina do Centro Universitário de Caratinga - UNEC Gustavo Fonseca Genelhu – Bacharel em Medicina e Especialista em Psiquiatria. Professor da UNEC. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Síndrome de Rett; Mutação do gene MECP2; Microcefalia adquirida. 1. Introdução Descrita inicialmente por Andréas Rett em 1966, a síndrome de Rett é uma patologia que tem variante congênita e caracteriza-se por ser neurodegenerativa e ter uma mutação no gene MECP2, está ligada ao cromossomo X, acometendo em sua maioria pessoas do sexo feminino; quando acomete o sexo masculino, geralmente são observados genótipos XXY (POZZI, et al). Há um déficit no desenvolvimento cerebral que pode levar a uma microcefalia adquirida, esse déficit compromete também as funções motoras, de cognição, intelectuais, de linguagem e comportamentais; nesse caso, o isolamento social é comum (SCHWARTZMAN, 2008; VELLOSO, 2009). Muitas vezes, essa síndrome é diagnosticada erroneamente como autismo ou retardo mental. 2. Metodologia Foi realizado um estudo de caso, em que os dados foram obtidos por meio de uma entrevista psiquiátrica feita com um informante direto, que compreende o exame psíquico, súmula e exame físico. 3. Relato de caso M.E.L. 62 anos, sexo feminino, solteira, aposentada, analfabeta. Apresentou, inicialmente, um atraso no desenvolvimento psicomotor, “demorou a começar a andar”, sendo acompanhado de um atraso da verbalização. Tornou-se uma criança e adolescente isolada, sem amigos, “diferente das outras meninas”, sempre de atitude pueril. Quando adolescente ainda tinha suas habilidades manuais preservadas, ajudando nos afazeres domésticos, não chegou a frequentar uma escola. Por volta dos 30 anos de idade, iniciou quadro de déficit motor e cognitivo mais progressivo que interferiu na realização de suas tarefas habituais. A família relata que os sintomas surgiram após uma dor de cabeça muito forte. Após 20 anos do inicio da cefaléia, passou a deambular com muita dificuldade, levantando-se apenas para tomar banho e fazer suas necessidades fisiológicas. Surgiram sintomas alucinatórios, “via coisas andando nas paredes e no teto e pedia para elas irem embora”, em seguida, maior deterioração cognitiva. A família ainda revela que M.E.L. sempre foi uma criança, nunca agressiva, “não tinha juízo nenhum”. A paciente nunca foi submetida a avaliações médicas durante a infância e adolescência, sendo acompanhada somente há algum tempo, pela equipe de Saúde da Família de Piedade de Caratinga. Ao exame físico, observado fácie típica com um riso imotivado, hiperflexão em membro superiores e inferiores, escoliose grave, sensibilidade tátil preservada, aparelhos cardiovascular e respiratório dentro da normalidade, perímetro cefálico de 49 cm. 4. Discussão De acordo com a literatura, a síndrome de Rett é uma importante patologia, pois as deficiências associadas a ela são severas, que debilitam muito a qualidade de vida das pacientes acometidas, como no caso relatado, em que a paciente chegou a um estágio de dependência que condicionará sua vida. Essa patologia é diagnosticada mais comumente em crianças, tornando esse um caso atípico, pois a paciente apresenta 62 e só agora passou a receber cuidados médicos, fato que nos leva a questionar a política de saúde pública vigente, em que os menos favorecidos demoram ou não recebem o diagnóstico e tratamento adequado em tempo hábil. De acordo com os estágios estabelecidos por Hagberg & Witt-Engerström (SCHWARTZMAN 2003; SCHWARTZMAN 1998) o caso relatado atende a todos como, a desaceleração do crescimento craniano, em que a paciente apresenta perímetro cefálico de 49 cm que, quando colocados no percentil, dão abaixo da normalidade; a perda dos movimentos voluntários manuais já adquiridos; movimentos estereotipados das mãos; ataxia da marcha e apraxia-ataxia do tronco, não podendo ser confirmados apenas as alterações nos períodos pré e perinatais. Baseado nos estágios de diagnóstico, pode-se afirmar que M.E.L. é uma representante da Síndrome de Rett, porem apenas estes não são necessários, pois para se fazer o diagnóstico diferencial com patologias fixas, como a paralisia cerebral a síndrome de Angelman; o autismo; o lipofuscinose, em que tem que se lançar mão de métodos diagnósticos como o eletro-retinograma, a biópsia de reto, o eletro encefalograma, estudo genético, dentre outros (SCHWARTZMAN, 2003; SCHWARTZMAN, 1998; VELLOSO, 2009). 5. Considerações finais Enfim, esse relato se mostra importante no correto diagnóstico da síndrome de Rett, pois suas características são intrigantes e pouco elucidadas apesar do fantástico avanço nas ciências da saúde em que vivemos. REFERÊNCIAS POZZI, Cristina M.; ROSEMBERG, Sergio. Delineação da síndrome de Rett, forma clássica e variante: diagnóstico diferencial. Arq. Neuropsiquiatria. 2003, vol.61, n.4, pp. 909-915. SCHWARTZMAN, José Salomão. Síndrome de Rett. Revista Brasileira de Psiquiatria. 2003, vol.25, n.2, pp. 110-113. SCHWARTZMAN, J.S.; BERNARDINO, A.; NISHIMURA, A.; GOMES, R.R.; ZATZ, M.. Rett syndrome in a boy with a 47,XXY karyotipe confirmed by a rare mutation in the MECP2 gene. Neuropediatria 2001; 32:162-164. SCHWARTZMAN, Flavia; VITOLO, Márcia Regina; SCHWARTZMAN, José Salomao; MORAIS, Mauro Batista de. Práticas alimentares, estado nutricional e constipação intestinal na síndrome de Rett. Arq. Gastroenterologia. 2008, vol.45, n.4, pp. 284289. SCHWARTZMAN, José Salomão; SOUZA, Angela Maria Costa de; FAIWICHOW, Guido; HERCOWITZ; Luiz Henrique. Fenótipo Rett em paciente com cariótipo XXY. Arq. Neuropsiquiatria. 1998, vol. 56, n. 4, pp. 824-828. VELLOSO, Renata de Lima; ARAUJO, Ceres Alves de; SCHWARTZMAN, José Salomão. Conceitos de cor, forma, tamanhos e posição em dez crianças com síndrome de Rett. Arq. Neuropsiquiatria. 2009, vol.67, n.1, pp. 50-54. ESTUDO DESCRITIVO DO CONSUMO REFERIDO DE PSICOFÁRMACOS EM OURO PRETO - MINAS GERAIS (2006) Renata Aparecida Fontes – Graduada em Farmácia com Habilitação em Bioquímica. Mestre em Ciências Farmacêuticas. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Farmacoepidemiologia; Estudos de utilização de medicamentos; Inquérito em saúde; Estudo transversal; Psicofármacos. 1. Introdução A farmacoepidemiologia é definida pelos estudos de utilização de medicamentos e dos determinantes da saúde e doença das populações. Reúne a farmacologia, a clínica, a epidemiologia, a bioestatística, além das ciências sociais e demográficas (STROM & TUGWELL, 1990). Essa ciência contribui na formulação de estratégias congruentes, que fomentem o uso racional dessa ferramenta tecnológica, poderosa para a promoção, recuperação e manutenção da saúde. Esse fato é devido a possibilidade de fornecimento de estimativas das probabilidades de efeitos benéficos e/ou adversos nas populações, além de outros parâmetros relacionados à utilização. Com isso, a farmacoepidemiologia, através dos estudos de utilização de medicamentos, permite o monitoramento continuado do uso de fármacos, relacionando principalmente a segurança com o seu consumo (MELO et al., 2006; NWOKEJI et al., 2007). No Brasil, a farmacoepidemiologia em saúde mental ainda é incipiente. Trabalhos sobre esse tema contribuem para a discussão sobre a problemática de acesso às terapias farmacológicas dos transtornos mentais, pois permitem entender relação de sua utilização com as dimensões sócio-demográficas e políticas públicas de saúde. Por isso, torna-se importante determinar a prevalência e fatores associados ao uso de psicofármacos e, neste trabalho, esse procedimento foi realizado pela população residente na zona urbana de Ouro Preto, Minas Gerais. 2. Objetivos Descrever o padrão de consumo de psicofármacos pela população de Ouro Preto, Minas Gerais. Sendo necessário Caracterizar, qualitativa e quantitativamente, o consumo de psicofármacos; Descrever a frequência da utilização dos psicofármacos; Descrever os grupos terapêuticos e fármacos mais utilizados pela população em estudo. 3. Metodologia Este foi um inquérito epidemiológico do tipo transversal com base populacional, por meio de questionários censitários padronizados e testados cujos dados estão em banco digital. O principal critério de inclusão foram questionários que continham ao menos um psicofármaco. Os medicamentos foram classificados segundo ATC e realizou-se análise estatística descritiva para as variáveis sócio-demográficas. 4. Resultados e Discussões Foram coletadas informações de 24.169 habitantes. A prevalência estimada foi de 4,18% (n=1012). Os subgrupos terapêuticos mais referidos: psicolépticos (n=767; 49,1%), psicoanalépticos (n=540; 34,6%), antiepilépticos (n=213; 13,8%) e antiparkinsonianos (n=39; 2,5%). Os medicamentos mais utilizados: Diazepam (n=311; 19,9%) e Amitriptilina (n=187; 12,0%); a principal forma de uso foi a contínua (n=1522; 97,4%); a principal forma de obtenção relatada foi o fornecimento de medicamentos pelo SUS (n=363; 95,9%). Verificou-se que o maior consumo de psicofármacos foi feito por mulheres (n=763,75,4%); faixa etária de 40 a 59 anos (n=360; 35,8%); o nível de escolaridade mais relatado foi baixo (n=593, 62,1%). Também foram referidas a presença de doença crônica (n=716; 85,75%) e a prática de hábitos não saudáveis (n= 283, 51,27%). 5 - Considerações Finais Este estudo permitiu a identificação dos grupos mais sujeitos ao uso de psicofármacos e, assim, pode embasar a estruturação de intervenções de Saúde Pública para a racionalização do uso medicamentos psicoativos. REFERÊNCIAS STROM, B.L.; TUGWELL, P. Pharmacoepidemiology: current status, prospects, and problems. Annals Internal Medicine, 113(3),179-81,1990. MELO, D.O.; RIBEIRO, E., STORPIRTIS, S. A importância e a história dos estudos de utilização de medicamentos. Rev. Bras. Cien. Farm., 42 (4), 475-485, 2006. NWOKEJI, E.D.; RASCATI, K. L.; MOCZYGEMBA, L. R., WILSON, J. P.Pharmacoepidemiology Education in US Colleges and Schools of Pharmacy. American Journal of Pharmaceutical Education, 71 (4), 1-5, 2007 ASPECTOS DA UTILIZAÇÃO DE PLANTAS MEDICINAIS PELA POPULAÇÃO DA REGIÃO CENTRAL DO MUNICÍPIO DE MATIPÓ, MG Kênia Pereira Lemos Bastos – Graduada em Nutrição – Especialista em Nutrição Clínico-esportiva Prefeituras de Abre Campo e Matipó Maira Ribeiro de Souza - Graduada em Farmácia - Mestranda em Ciências Farmacêuticas. Universidade Federal de Ouro Preto-MG Fernanda Cristina Ferrari - Graduada em Farmácia. Mestre em Ciências Farmacêuticas. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Plantas Medicinais; Fitoterápicos; Sistema Único de Saúde. 1. Introdução As plantas medicinais continuam sendo utilizadas pela população e jamais foram completamente substituídas pelos fármacos sintéticos. Acredita-se que entre os motivos que explicam a opção pelo uso delas, estão: a insatisfação com a eficácia, o custo elevado e os efeitos indesejáveis dos medicamentos convencionais. (BRESOLIN; CECHINEL, 2003). De acordo com a Organização Mundial de Saúde, estima-se que 80% da população mundial utiliza a medicina tradicional nos cuidados primários à saúde. Muitos dos medicamentos prescritos mundialmente são de origem vegetal, com suas substâncias ativas sendo utilizadas na terapêutica. Em março deste ano, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) regulamentou a comercialização das drogas vegetais através da Resolução número 10, que traz em anexo uma lista com informações sobre as plantas medicinais mais utilizadas no país. O presente trabalho levantou dados em relação ao uso de plantas medicinais pela população de um bairro do município de Matipó, MG, com a finalidade de reunir informações necessárias para a implantação das espécies vegetais e de fitoterápicos no Sistema Único de Saúde (SUS) e avaliar como essa inserção seria aceita por essa população. 2. Metodologia Os dados foram obtidos na Unidade de Saúde da região central do município de Matipó, em Minas Gerais. Foram entrevistados todos os pacientes que buscaram acompanhamento nutricional no período de fevereiro e março de 2010, utilizando questionário padronizado que abordava a utilização de plantas medicinais. A análise dos dados foi feita no SPSS 17.0. 3. Resultados e Discussão Setenta pacientes foram entrevistados, sendo 64 mulheres e 6 homens com idades variando de sete a setenta anos, mas 60% acima de 30 anos. De acordo com as análises dos dados obtidos, as espécies vegetais mais utilizadas são capim cidreira (Cymbopogon citratus (Dc.) Stapf), tanchagem (Plantago major L.) e chá verde (Camellia sinensis). 20,97% dos pacientes que utilizam plantas medicinais já utilizaram em casos de gripes e resfriados. Mas o uso é comum também em casos de diarréia, inflamação e para redução de peso. Dezenove pacientes entrevistados alegaram possuir alguma doença crônica, e desses, 9 já utilizaram plantas medicinais para o tratamento da mesma. Dos pacientes portadores de hipertensão e diabetes concomitantemente, 4 já recorreram às plantas medicinais para o tratamento de tais patologias, como apresenta a tabela 1. Tabela 1 – Uso de plantas medicinais para tratamento de doenças crônicas Uso de Plantas Medicinais especificamente para essa doença? Doença crônica Total NR* sim não hipertensão 1 4 3 8 diabetes 0 1 2 3 doença renal 0 0 1 1 0 4 2 6 hipertensão diabetes *NR: não responderam e Pacientes com determinadas doenças crônicas como diabetes e hipertensão costumam tomar diariamente diversos medicamentos convencionais para controlar a glicemia e a pressão arterial. Isso torna necessário um acompanhamento com orientações profissionais para utilização de drogas vegetais para auxiliar a terapia farmacológica. Muitas plantas minimizam, aumentam ou se opõem aos efeitos dos medicamentos convencionais. As várias atividades atribuídas às espécies vegetais incluem ação ansiolítica, anticonvulsivante, anticoagulante, antiplaquetário, antiarrítmico, hipotensivo, hipocalemia, tratamento do câncer, entre outras (PINN, 2001). Muitas dessas atividades já foram comprovadas, mas ainda faltam estudos que avaliem a toxicidade das espécies, o que exige um cuidado na utilização, principalmente quando associados com outros medicamentos (SILVEIRA et al, 2008). 4. Considerações Finais Este trabalho demonstra a importância de observar o padrão de consumo de plantas medicinais por uma população específica. Essa é uma forma de proporcionar aos usuários segurança e eficácia no consumo, fornecendo informações sobre as espécies utilizadas e orientações sobre o uso adequado. REFERÊNCIAS BRASIL. Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância Sanitária. Resolução no 10 de 10/03/2010. Diário Oficial da União, 10/03/2010. BRESOLIN T. M. B.; CECHINEL FILHO, V. Contribuição ao Desenvolvimento de Novos Fármacos e Medicamentos. Ciências Farmacêuticas. Itajaí. UNIVALI, 2003. PINN G. 2001. Adverse effects associated with herbal medicine. Australian Family Physician 30: 1070-1075. SILVEIRA P.F.; BANDEIRA M.A.M.; ARRAIS P.S.D.; Farmacovigilância e reações adversas às plantas medicinais e fitoterápicos: uma realidade; Revista Brasileira de Farmacognosia; 18(4):618-626,Out./Dez.2008. DISTRIBUIÇÃO DOS PORTADORES DE DIABETES MELLITUS NO CENTRO URBANO DE MATIPÓ/ MG Márcia Ferreira da Silva - Graduada em Educação Física, Mestre em Educação Física- UFV. Professora da Faculdade Vértice. Joana Martins de Andrade - Graduanda do curso de Educação Física- Faculdade Vértice Daniela Gomes Rosado- Graduada em Educação Física-UFV. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Diabetes mellitus; Insulina; Distribuição. 1. Introdução A Organização Mundial de Saúde estima que o diabetes afeta 246 milhões de pessoas em todo o mundo. No Brasil, a Sociedade Brasileira de Diabetes estima que o diabetes mellitus é um distúrbio do metabolismo de carboidratos que apresenta, entre outras manifestações, a hiperglicemia contínua ou intermitente. O DM tipo 1 tem como causa primária a destruição auto-imune das células beta pancreáticas, responsáveis pela produção de insulina, ao passo que a causa do DM tipo 1 é a resistência das células alvo à insulina (Fang et al., 2004; Aires, 2008; Howarth et al., 2008). A insulina é um hormônio anabólico produzido pelas células β das ilhotas de Langerhans do pâncreas em resposta a alterações nos níveis plasmáticos de nutrientes, em especial a glicose (Aires, 2008). Em condições normais, ao ser secretada, a insulina liga-se a receptores inseridos na membrana das células insulinodependentes. As principais funções desse hormônio são: transporte de glicose, recrutamento do transportador GLUT-4 do “pool” citoplasmático, estimula tomada de aas, K+, PO4 -2, Mg+deposição de substrato, inibição de proteólise/lipólise (Raw, 2006). Na falta desse hormônio, os indivíduos apresentam hiperglicemia crônica num quadro de polifagia, polidipsia, glicosúria, entre outras manifestações. O descontrole metabólico em indivíduos portadores de diabetes mellitus traz complicações que colaboram para elevação dos índices de morbidades nesse grupo de pacientes. Dessa forma, programas que incentivem os portadores de diabetes a conhecer a doença e as formas de tratamento são extremamente importantes para que o controle seja feito de maneira adequada. Nessa perspectiva, o presente estudo se prestou a identificar, na cidade de Matipó/ MG, o número de portadores de diabetes, assim como a assistência dada pelos órgãos municipais de saúde ao grupo em questão. 2. Metodologia Foram coletados, no Posto de Saúde Municipal, os casos de diabetes encontrados no município de Matipó/MG através do Programa Saúde da Família. Resultados e Discussão: Verificou-se que a cidade de Matipó/ MG, em sua zona urbana, apresenta 389 portadores de diabetes mellitus entre os quais 12,5 % são diabéticos tipo1, 35,9% diabéticos tipo2 e 51,6 % não estão identificados. Isso sugere que esses indivíduos não estejam sendo assistidos de maneira satisfatória e que o controle glicêmico está comprometido no que se refere a orientações dos diferentes tratamentos que o portador de diabetes deve se submeter para reduzir as disfunções causadas pelo controle deficiente da doença. Quanto ao tratamento medicamentoso com insulina, 24,9% utilizam esse hormônio como tratamento medicamentoso para a patologia, o que sugere que, no caso dos diabéticos tipo 2, a falta de controle glicêmico pode ter influência na necessidade de administração de insulina exógena; visto que, em pacientes cujo o controle está satisfatório, a utilização de hipoglicemiantes como metformina contribui sobremaneira para o tratamento. No que se refere à assistência de programas de saúde que tratam especificamente do diabetes, 48,5% dos portadores de diabetes estão inscritos no „‟Programa Hiperdia‟‟ sugerindo que parte dos portadores de diabetes conhece sobre a doença e sobre as formas de tratamento, uma vez que o referido programa prevê o acompanhamento desse grupo de forma a possibilitar o recebimento de medicamentos, informações sobre formas de tratamento da doença e melhoria da qualidade de vida de portadores de diabetes mellitus. 3. Considerações finais Nosso estudo concluiu que, apesar de existirem portadores de diabetes mellitus assistidos por programas do governo, ainda se faz necessário ampliar a assistência a esse grupo haja vista que grande maioria se, quer está devidamente cadastrada, o que dificulta sobremaneira o controle eficiente da doença e a redução das complicações futuras. REFERÊNCIAS AIRES MM. Fisiologia. 3.ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2008. FANG, Z. Y., Prins, J. B. and Marwick, T. H. Diabetic cardiomyopathy: evidence, mechanisms, and therapeutic implications. Endocr Rev, v.25, n.4, Aug, p.543-67. 2004. HOWARTH, F. C., CHANDLER, N. J., KHARCHE, S., TELLEZ, J. O., Greener, I. D., Yamanushi, T. T., Billeter, R., Boyett, M. R., Zhang, H. and Dobrzynski, H. Effects of streptozotocin-induced diabetes on connexin43 mRNA and protein expression in ventricular muscle. Mol Cell Biochem, v.319, n.1-2, Dec, p.105-14. 2008 RAW, Isaias. Mecanismo de ação da insulina. Revista de Medicina. v.4 n. 85, p. 124-129. São Paulo, out.-dez, 2006. SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Disponível em: www.sbd.org.br . Acesso em: 09. Set.2010. DIABETES MELLITUS TIPO 2 EM IDOSOS: O PAPEL DA EDUCAÇÃO NUTRICIONAL NO CONTROLE GLICÊMICO Física- UFV. Professora da Faculdade Vértice. Joana Martins de Andrade - Graduanda do curso de Educação Física- Faculdade Vértice Kelly Raspante Teixeira- Graduada em Nutrição – UFV Daniela Gomes Rosado- Graduada em Educação Física-UFV. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Diabetes, Educação Nutricional, Idosos 1. Introdução O diabetes mellitus tipo 2 é um distúrbio do metabolismo dos carboidratos associados à produção deficiente de insulina pelas células beta-pancreáticas e\ou diminuição da sensibilidade celular a esse hormônio (IDF, 2009). O controle glicêmico favorece o retardo no aparecimento e/ou progressão de complicações crônicas. Tal controle é atingido por meio do tratamento adequado da doença por meio do uso de medicamentos (hipoglicemiantes orais e/ou insulina), da ingestão de dieta adequada e da prática regular de atividade física (SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES, 2008). Por outro lado, o descontrole glicêmico resultante dessa doença leva ao aumento da mortalidade e ao desenvolvimento de complicações vasculares, neuropatias; retinopatias e insuficiência renal e ulcerações nos pés. Essas complicações são responsáveis por gastos excessivos em saúde e redução da capacidade de trabalho e da expectativa de vida de indivíduos diabéticos (BATISTA et al, 2005). Assim, a conscientização do paciente sobre as possíveis complicações, advindas do descontrole metabólico, é importante para a adoção de um estilo de vida adequado, favorecendo assim o sucesso do tratamento e minimizando as complicações decorrentes do descontrole glicêmico. Bruce et.al (2003) e MILLER et al. (2002) constataram que, em idosos, o controle metabólico do diabetes foi mais eficiente naqueles que participavam de atividades de educação nutricional. Apesar da constatação desse fato, tais autores afirmam existir poucos programas educativos para idosos diabéticos. Nesse sentido, o objetivo do presente estudo foi avaliar o impacto das atividades educativas conduzidas pelo projeto de Atendimento Nutricional a Diabéticos da Terceira Idade no conhecimento dos participantes em relação à doença e ao tratamento de suas complicações. 2. Metodologia As atividades educativas foram realizadas por meio de orientações dietéticas individuais mensais e reuniões quinzenais. Para avaliar o grau de retenção das informações transmitidas aos diabéticos, aplicou-se um questionário semi-estruturado, adaptado de Salvia e colaboradores (2005) e Costa e colaboradores (2004). Esse questionário foi aplicado no primeiro e segundo semestre de 2008. O mesmo continha itens relacionados aos conceitos básicos referentes ao diabetes, incluindo questões relativas ao tratamento e às complicações resultantes do mau controle da doença, além de questões voltadas a percepção do diabético com relação à doença. Tal questionário apresentava 34 questões e foi aplicado a um total de 44 participantes. 3. Resultados e Discussão Na primeira aplicação do questionário, os participantes apresentaram porcentagem de acerto maior do que na segunda (Figura 1). No entanto, os participantes do projeto acertaram quase 80% das perguntas feitas em tal questionário. Esse resultado indica uma alta retenção das informações transmitidas nas atividades educativas conduzidas no projeto. Em estudo semelhante, Albarran e colaboradores (2006) verificaram que após a intervenção, por meio de discussões em grupo, houve um aumento nos conhecimentos dos participantes a respeito do diabetes e de práticas nutricionais adequadas. Assim, a intervenção por meio da educação nutricional continuada consiste em uma estratégia relevante para que portadores de diabetes mellitus façam o controle metabólico adequado. Figura 1 - Porcentagem de erros e acertos das perguntas contidas no questionário aplicado aos participantes do projeto Atendimento Nutricional a Diabéticos da Terceira Idade, no primeiro e no segundo semestre de 2008. Quando questionados sobre a origem da doença 90,5% (n=19), no primeiro momento em que o questionário foi aplicado e 82,6% (n=19) no segundo, responderam que o pâncreas é o órgão que não funciona de forma adequada. Sendo que 100% dos participantes afirmaram que a doença em questão não é contagiosa. Ao contrário, Costa e colaboradores (2004), em trabalho semelhante de educação e prevenção em diabéticos, observaram que 2,9% (n=3) das pessoas entrevistadas, consideraram ser o diabetes uma doença contagiosa. O mesmo não foi encontrado quando o questionário foi replicado, pelos autores supracitados. Com relação aos conceitos de alimentação saudável, obteve-se 79,37% de acertos, sendo que, na reaplicação do questionário, esse valor aumentou para 81,64%, resultado este considerado bom. Já, no estudo de Almeida e colaboradores (1995), a porcentagem de acertos a respeito do assunto em questão não foram satisfatórios. Tais autores acreditam que esse resultado pode estar relacionado a dificuldade do diabético de adotar uma dieta adequada a sua necessidade. Além disso, foi observado que, nas duas aplicações do questionário 57,2% (n=12) e 65,2% (n=15), respectivamente, quem não possuía não possuíam conhecimento dos sintomas da hipoglicemia. Tal falha também foi encontrada por Costa e colaboradores (2004). Esses autores afirmam que, tendo em vista a possibilidade de ser a hipoglicemia uma emergência médica, a melhora no nível de informação dos pacientes representa um grande avanço na abordagem do diabetes mellitus. Nas duas aplicações do questionário, todos os participantes afirmaram que o apoio da família é importante no tratamento do diabetes. Contrário ao que era esperado, a maioria dos voluntários, nas duas aplicações, afirmaram que não tem vergonha de ser diabético, pois disseram que tal fato não os tornavam pessoas diferentes se não tivessem diabetes. A maioria dos participantes não considera a adequação dietética um problema para portadores de diabetes. 4. Considerações finais Assim, foi possível observar que os resultados obtidos podem ter alguma relação com a aceitação da doença pelo diabético. Aqueles que estão mais preocupados em seguir o tratamento buscam ter maiores informações a respeito da patologia em questão. Os resultados observados não alcançaram as metas desejáveis, apesar do bom nível de compreensão dos participantes. No entanto, acredita-se que, apesar da aquisição do conhecimento não ser garantia de aplicação dos mesmos na vida diária, a mudança dos hábitos de vida requer tempo, conscientização e aceitação da doença. REFERÊNCIAS Albarran, N. B. Dietary behavior and type 2 diabetes care. Patient Educ Couns, v.61, p.191-199, May. 2006. ALMEIDA, H. G. G. et al. Avaliação dos conhecimentos teóricos dos diabéticos de um programa interdisciplinar. Revista Latino-americana de enfermagem, Ribeirão Preto, v. 3, n. 2, p. 145-164, jul. 1995. BRUCE, D.G ; DAVIS, W.A ; DAVIS, T.M. Diabetes Education and Knoledge in pacients with type 2 diabetes from the community: the Fremantle Diabetes Study. Journal of diabetes and its complications. v.2, n.17 Mar\ Abr. 2003 BATISTA, M. C. R.; et al. Avaliação dos resultados da atenção multiprofissional sobre o controle glicêmico, perfil lipídico e estado nutricional de diabéticos atendidos em nível primário. Revista de Nutrição, Campinas, v.18, n.2, mar./abr. 2005. COSTA, M. B.; et al. Acompanhamento, Educação e Prevenção em Diabetes Mellitus. In: Anais do 2º Congresso Brasileiro de Extensão Universitária. Belo Horizonte. 2004. SALVIA, Leonardo Laguna; SALVIA, Leonides Laguna; SARDIÑAS, Osvaldo Segura. Comportamiento Clínico- Epidemiológico de la Diabetes Mellitus en el municipio Jobabo. Hospital “14 de Junio”. Correo Científico Médico de Holguín, v. 9, n. 1, 2005. MILLER, C.K; EDWARDS L.; KISSLING G. SANVILLE L.Nutrition Education Improves Metabolic Outcomes among Older Adults with Diabetes Mellitus: Results from a Randomized Controlled Trial. Preventive Medicine, v.34, n. 2, Feb. 2002 SOCIEDADE BRASILEIRA DE DIABETES. Disponível em: www.sbd.org.br Acesso em: 18.dez.2008. HIPERTENSÃO ARTERIAL: UMA ANÁLISE NO MUNICÍPIO DE MATIPÓ-MG Vera Lúcia Villares Nogueira e Bruna Batista Zanetti Lemos – Graduandas em Enfermagem da Faculdade Vértice. Ana Lígia de Souza Pereira – Graduada em enfermagem. Especialista em Estomaterapia. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Hipertensão Arterial; Unidades Básicas de Saúde; Busca ativa. 1. Introdução Nos países em desenvolvimento assim como o Brasil, o crescimento da população idosa e o aumento da longevidade, associados a mudanças nos padrões alimentares e no estilo de vida, têm forte repercussão sobre o padrão de morbimortalidade. No Brasil, projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) (2002) indicam que a mediana da idade populacional passará, de 25,4 anos em 2000 a 38,2 anos em 2050. Uma das conseqüências desse envelhecimento populacional é o aumento das prevalências de doenças crônicas, entre elas a hipertensão (WHO, 1998). A hipertensão arterial, mais conhecida como “Pressão Alta” pode ser encarada como uma doença e como um fator de risco para o desenvolvimento de doenças do coração, pois na maioria das vezes, não provoca sintomas ou os mesmo são gerais, como: dor de cabeça, enjôo, náusea, vômito, falta de ar, vertigem, palpitação e dor no peito. É uma patologia crônica que afeta cerca de 20% da população adulta, sendo que a metade destes hipertensos desconhece a própria enfermidade, podendo evoluir sem sintomas por mais de 20 anos e, quando não tratada, pode causar lesões em diversos órgãos e sistemas, produzindo graves complicações (PASSOS; ASSIS; BARRETOS, 2006). Os fatores de risco para instalação desta patologia são divididos em: modificáveis e não modificáveis. Os fatores modificáveis estão relacionados a hábitos de vida, como sedentarismo, ingestão de sal e gordura, excesso de peso, aspectos emocionais como irritação e depressão e/ou uso de drogas ilícitas; já os não modificáveis, estão relacionados a características herdadas ou inalteráveis, como herança familiar, raça, sexo, idade e baixo peso ao nascer (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 1998). A hipertensão arterial, bem como suas complicações, podem ser controladas, bastando que se conheça melhor a patologia. Este fato torna-se ainda mais importante, pois a doença é o fator de risco mais evidente para ocorrência dos acidentes vasculares encefálicos, tanto isquêmicos como hemorrágicos, relacionados com o sedentarismo, má alimentação, consumo excessivo de álcool, sal, açúcar, tabagismo, excesso de peso e estress (SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 1998). O objetivo principal da pesquisa foi fazer um levantamento sobre os hipertensos da cidade de Matipó, e o objetivo específico compreende identificar os fatores que contribuem para ocasionar a hipertensão arterial na população estudada. 2. Metodologia O trabalho consistiu em uma busca ativa de dados sobre pacientes hipertensos acompanhados em sete Unidades Básicas de Saúde(UBS) da cidade de Matipó-MG. Houve consentimento da Secretaria de Saúde Municipal (SMS) para realização do trabalho, que foi previamente esclarecida sobre os objetivos, metodologia, finalidade e importância do trabalho. O levantamento foi realizado em maio de 2009 e os dados obtidos foram organizados no Microsof Office Excel. 3. Resultados e discussão Foram obtidos dados de 3270 pacientes e a faixa etária mais acometida pela hipertensão foi a de 45 a 60 anos A faixa etária mais acometida pela doença é a de 45 a 60 anos (42%). Segundo Kaplan (2001) a prevalência da hipertensão arterial aumenta progressivamente com a idade, chegando a 60% na faixa etária acima de 70 anos. Resultado diferente foi observado em Matipó. No entanto Dallacosta, Dallacosta, Nunes (2010) e Pereira et al., (2007) encontraram os valores de 51,9% entre 51 a 60 anos e 67,8% entre 50 e 59 anos respectivamente, resultados estes mais semelhantes ao observados em Matipó. 4. Considerações finais Diante dos resultados obtidos podemos constatar que o índice de hipertensos é significativo e preocupante para os governos federais, estaduais e municipais. A prática de promoção de planos de cuidados para o atendimento deste grupo de pacientes, com finalidade de controle e prevenção da hipertensão arterial, e consequentemente a prevenção de patologias desenvolvidas pela falta de seu tratamento adequado é fator determinante para a manutenção da qualidade de vida dos acometidos e diminuição dos casos. REFERÊNCIAS DAlLACOSTA, Fabiana Meneghetti; DALLACOSTA, Hotone; NUNES, Alessandra Daros. Perfil de hipertensos cadastrados no programa Hiperdia de uma unidade básica de saúde. Unoesc & Ciência – ACBS, Joaçaba, v. 1, n. 1, p. 45-52, jan./jun. 2010 NOVAES, Giovanni da Silva; NOVAES, Jefferson da Silva, NUNES, Rodolfo de Alkmim Moreira. Guia de Socorros e de Urgências. 2.ed. Rio de janeiro: Shape, 2006. PASSOS, Valéria Maria de Azevedo; ASSIS,Tiago Duarte; BARRETO, Sandhi Maria. Hipertensão arterial no Brasil: estimativa de prevalência a partir de estudos de base populacional. Epidemiologia e Serviços de Saúde. Vol. 15. nº. 2006. Pereira Marcia Regina et al. Prevalência, conhecimento, tratamento e controle de hipertensão arterial sistêmica na população adulta urbana de Tubarão, Santa Catarina, Brasil, em 2003. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 23(10):2363-2374, 2007. SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO. Sociedade Brasileira de Cardiologia. Sociedade Brasileira de Nefrologia. III Consenso Brasileiro de Hipertensão Arterial. Campos do Jordão; 1998. WHO - WORLD HEALTH ORGANIZATION. Population aging: a public health challenge. Geneva: WHO; 1998. KAPLAN, N. M. Systemic hypertension: mechanisms and diagnosis IN Branwald Zippes Libby HeartDisease. Ed 6; p 941-947. HIE/Sauders 2001. GT 5 CIÊNCIAS AGRÁRIAS GT5 – CIÊNCIAS AGRÁRIAS Nº 1 Tipo de Apresentação Comunicação Oral – A TRABALHO Realidade da pecuária leiteira no município de Matipó Efeito de arranjos plantio na produtividade do milho consorciado com Brachiaria Brizantha Efeito do parcelamento e modo de distribuição do adubo Comunicação 3 nitrogenado na produtividade do milho consorciado com Oral – A Brachiaria Brizantha em diferentes arranjos de plantio Análise de solo e impacto de sua utilização no custo de 4 Pôster – R adubação de lavouras cafeeiras da Zona da Mata mineira Ocorrência de artrópodos em cultivo de café no município de 5 Pôster – R Matipó, Minas Gerais – Brasil Artropofauna do fragmento de mata com serrapilheira no 6 Pôster – R município de Matipó, Minas Gerais – Brasil A – ARTIGO R – RESUMO 2 Pôster – A ARTIGOS REALIDADE DA PECUÁRIA LEITEIRA NO MUNICÍPIO DE MATIPÓ Geraldo D’Avila Monteiro Júnior , José Carlos Alves de Paula, Guilherme Souza Pereira e Newton José Martins Fialho – graduandos em Medicina Veterinária Irlane Bastos Costa – graduada em Agronomia, Mestre em Genética e Melhoramento, Doutora em Genética e Melhoramento. Professora e coordenadora do curso de Agronomia da Faculdade Vértice. [email protected] RESUMO O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de avaliar a realidade da pecuária leiteira no município de Matipó–MG. Uma amostra de 53 propriedades foram analisadas mediante aplicação de um questionário. Verifica-se uma área média/propriedade de aproximadamente 35,75ha com 13 animais em lactação cada. A média diária de litros de leite por vaca é de 4,39 no período da estiagem e de 6,42 no período das chuvas. Mastite, babesiose, diarréia e retenção de placenta são as doenças mais comuns. Muitas foram as dificuldades relatadas pelos proprietários, dentre as quais: preço do leite e a falta de incentivo do governo. PALAVRAS-CHAVE: Pecuária leiteira; Manejo; Zona Rural de Matipó. 1. Introdução O município de Matipó – MG abrange uma área de aproximadamente 277,9 km², sua economia deriva basicamente do agronegócio. Dentre as atividades exercidas no campo, a pecuária leiteira tem presença marcante. A mão-de-obra destinada à pecuária leiteira da Zona da Mata Mineira provém da própria família ou funcionários contratados. Verifica-se pouco investimento no setor, principalmente, pelas frequentes divergências entre os preços dos insumos agrícolas e o litro do leite. Também se verifica baixa produtividade em decorrência da precariedade das pastagens, falta de genética do rebanho, práticas e manejo inadequadas, cultura regional, pouco investimento tecnológico e, principalmente, a falta de incentivos dos órgãos públicos. A pecuária leiteira tem uma maior produção no período das chuvas (setembro março) devido à melhor qualidade das pastagens. No período da seca (abril – agosto), o volume de leite produzido as fazendas sofrem queda significativa devido à má qualidade das pastagens, além do frio. Diante o exposto, foi realizado um estudo em que foi avaliada uma amostra de 53 propriedades destinadas à produção leiteira com o intuito de mostrar a realidade da pecuária leiteira no município. 2. Metodologia Para a obtenção dos dados, desenvolveu-se um questionário aplicado diretamente a uma amostra de 53 produtores com as seguintes perguntas: área destinada à produção leiteira; quantidade de animais para esse fim; média diária de leite produzida no período da seca e no período das águas; destino do leite; raça do reprodutor; destino das fêmeas após o desmame; doenças mais freqüentes; método utilizado na reprodução; tratamento do rebanho no período da seca e no período das águas e obstáculos encontrados na produção. De posse desse questionário, visitas foram realizadas nas propriedades visando a coleta dos dados. Num primeiro momento, fez-se um levantamento do número de propriedades rurais da região. Posteriormente, identificaram-se quais dessas propriedades exerciam a prática leiteira. De posse desses dados, selecionou-se uma amostra de 53 propriedades cuja principal atividade econômica era a pecuária leiteira. 3. Resultados e Discussões Os resultados da pesquisa revelaram que o uso da cana e capim no período da seca como suplemento alimentar é uma prática utilizada na maioria das propriedades do município de Matipó. Alguns produtores acrescentam ainda ração proteínada. A porcentagem de produtores que utilizam sal mineral, tanto no período das secas quanto no período das águas, foi de 86% Em relação ao acompanhamento Médico Veterinário, 69,4% não utiliza desse recurso, tendo como principal fato, a falta de profissional qualificado no município. Nas propriedades visitadas, 48% da área total é destinada à produção leiteira, esse total é formado de piquetes com pastagem, canaviais e capinheiras. O restante da área é voltada para outras culturas tais como: lavouras de café, milho, feijão, plantação de eucalipto, além de uma pequena porcentagem de reserva legal. A união das propriedades analisadas em um somatório de 660 vacas, em lactação, com uma produção diária de 2.901 litros/dia, média de 4,39 litros/vaca/dia no período da seca; nas águas, tem um aumento de 2,03/litros de média diária por animal, chegando a um total de 4.239 litros/dia com média de 6,42 litros/vaca/dia (Gráfico 1). Cerca de 68,94% do leite produzido tem como destino cooperativas, 31,06% é vendido na zona urbana (Gráfico 2); dessa última porcentagem analisada, uma pequena parte é utilizada para a produção de derivados do leite (queijos, iogurte, doces, entre outros). Todos os produtores entrevistados também utilizam para consumo próprio. As raças de touros mais usadas são o Gir Leiteiro e o Girolando, devido a sua alta aptidão para a produção leiteira, além de serem raças com boa adaptabilidade ao clima da região. Dos métodos utilizados para a reprodução, a monta natural é a mais comum (79% das propriedades), alguns produtores utilizam técnicas como a inseminação artificial (21% das propriedades) (Gráfico 3). Apesar de ser menos utilizada no município, a inseminação artificial é a mais viável para reprodução, pois o produtor consegue um alto nível genético, podendo ter uma ampla escolha de reprodutores com alta genética para leite. Das proles produzidas, 44,4% continuam na propriedade após o desmame para serem usadas como futuras matrizes, substituindo animais mais velhos; 36,1% das bezerras da região continuam na propriedade para fins comerciais (açougue, frigoríficos) e 19,5% das fêmeas são vendidas após o desmame, seja por falta de pastagem suficiente para recriá-las ou por necessidade de capital (Gráfico 4). A manifestação de doenças na região é pouco frequente, quando acontecem tem maior incidência de: mastite, babesiose (tristeza parasitária), diarréia e retenção de placenta, respectivamente (Gráfico 5). Segue breve explanação sobre essas doenças. A mastite pode ser considerada como um fator de grande impacto na pecuária leiteira, não somente pela alta prevalência, como também pelos altos custos nos tratamentos normalmente adotados. (OLIVER e JAYARAO, 1997). Além da queda na produção e na qualidade do leite produzido, pode haver também descarte de leite, aumento da mão-de-obra e do número de descartes involuntários em virtude das lesões definitivas na glândula mamária (RENEAU, 1993). Os Staphylococus coagulase negativos (CNS) são os principais causadores de infecções e intramamárias. CNS fazem parte da microbiota normal da pele do teto, colonizam o canal e penetram de oportunidade a glândula mamária causando mastite. Uma boa higienização do ambiente, das ordenhadeiras e da mão do retireiro é imprescindível para evitar tal doença. A babesiose bovina é uma hemoparasitose (parasito sanguíneo) causada no Brasil, pelos protozoários Babesia bovis e Babesia bigemia, as quais apresentam como vetor Boophilus micropulus . A babesiose interfere no melhoramento da produtividade. Um tratamento eficaz contra ectoparasitos é suficiente para prevenção da doença, visto que o carrapato é um hospedeiro intermediário. A diarréia caracteriza-se por uma grande perda de líquidos e eletrólitos corporais causando a desidratação; dependendo do grau, pode levar a perda de peso podendo evoluir para um choque hipovolêmico ou até a morte do animal. Os fatores desencadeantes do processo são bactérias (Escherichia Coli), vírus (rota vírus), protozoários (Eimeria SP); verminoses. A retenção da Placenta após o parto resulta de uma insuficiência nas contrações uterinas. Pode ocorrer devido alguns fatores como estresse, falhas de manejo, doenças bacterianas, hipocalcemia e Cetose, deficiência de vitaminas (A e E) e minerais como iodo e selênio, brucelose, ceptospirose. Uma boa mineralização do rebanho, assim como um bom manejo, diminuiu a probabilidade de uma provável retenção. Devido a pastagem com pouco capim, ou capim seco e com baixo teor de proteínas, durante o período da seca, o volume utilizado na maioria dos currais é a cana em conjunto com capim e uréia, uma pequena porcentagem dos produtores utilizam, além disso, ração proteínada como suplemento alimentar. No período de setembro à março (chuva), a maioria dos produtores voltam com o rebanho no processo extensivo (a pasto), pois o capim sobra e há um aumento nos níveis das proteínas. A maioria dos produtores utilizam o sal mineral durante todo o ano. Os maiores obstáculos na pecuária leiteira provêm de fatores externos e internos. Falta de uma boa genética, boa pastagem, além de uma boa reserva alimentar para o período da seca são exemplos de fatores internos, entre os obstáculos externos que mais interferem na produção leiteira está a divergência do preço do leite e insumos, e a falta de incentivo público para com os produtores, burocracia para empréstimos bancários também se encaixa nesse fator (Gráfico 6). Gráfico 1- Média diária da produção leiteira por vaca nas 53 propriedades amostradas na Zona Rural de Matipó MÉDIA DIÁRIA DA PRODUÇÃO LEITEIRA MÉDIA LEITEIRA 7 6 5 4 Seca 3 Água 2 1 0 Seca Água PERÍODO Gráfico 2- Destino da produção leiteira nas 53 propriedades amostradas na Zona Rural de Matipó DESTINO DA PRODUÇAO LEITEIRA 70,00% Produçao 60,00% 50,00% Cooperativa 40,00% Venda na Zona Urbana 30,00% Fabricação de Derivados 20,00% 10,00% 0,00% Cooperativa Venda na Zona Urbana Fabricação de Derivados Destino Gráfico 3- Métodos utilizados para a reprodução nas 53 propriedades amostradas na Zona Rural de Matipó MÉTODOS UTILIZADOS PARA A REPRODUÇÃO 90 80 70 60 50 40 30 20 10 0 Monta Natural Inseminação Artificial Monta Natural Inseminação Artificial Métodos Gráfico 4- Destino das proles nas 53 propriedades amostradas na Zona Rural de Matipó DESTINO DAS PROLES 50,00% Recria de Todas 40,00% 30,00% Recria de AlgumasPara Fins Comerciais 20,00% Venda de todas 10,00% 0,00% Recria de Todas Recria de AlgumasPara Fins Comerciais Venda de todas Destino Gráfico 5- Média diária da produção leiteira por vaca nas 53 propriedades amostradas na Zona Rural de Matipó Frequencia % Doenças mais frequentes no rebanho 70 60 50 40 30 20 10 0 Mastite Babesiose Diarréia Retenção de placenta Mastite Babesiose Diarréia Retenção de placenta Doenças Gráfico 6- Principais dificuldades encontradas na pecuária leiteira nas 53 propriedades amostradas na Zona Rural de Matipó DIFICULDADES ENCONTRADAS NA PECUÁRIA LEITEIRA 40% 35% 30% 25% 20% 15% 10% 5% 0% Falta de incentivo Preço baixo do Leite Baixa qualidade genética Outros Falta de incentivo Preço baixo do Leite Baixa qualidade genética Outros DIFICULDADES ENFRENTADAS 4. Considerações finais Os resultados indicam que, no município, a média diária de leite encontra-se baixa pela má qualidade das pastagem no período seco do ano. Algumas doenças podem ser controladas com um manejo sanitário adequado e um bom controle de ectoparasitas. O baixo preço do leite, e a falta de incentivo de órgãos públicos são fatores que deixam os produtores desmotivados e sem recursos financeiros para investir em seu rebanho. REFERÊNCIAS BAZAN, Christovam Tabox, et aL. Babesiose bovina. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária – ISSN: 1679 – 7353 – Ano VI – número 11 – julho de 2008. FORTES, Elinor. Parasitologia veterinária. 4ª edição, Ícone Editora, 2004. OLIVER,S.P, JAYARAO,B.M. Coagulase-negative staphylococcal intrammamary infections in cows and heifers during the nonlactating and periparturient periods.J.Vet.Med.B,.v44,p.355-363,1997. PELEGRINO, Raeder do Carmo, et aL. Retenção da placenta em vacas. Revista Científica Eletrônica de Medicina Veterinária – ISSN: 1679 – 7353 – Ano VI – número 10 – janeiro de 2008. RENEAU,J.K. Clinical mastitis records in prodution medicine programs.Compemdium on Continuing Education for the Pratcting Veterinariam. Treton, v.15,p.497 – 504, 1993. EFEITO DE ARRANJOS PLANTIO NA PRODUTIVIDADE DO MILHO CONSORCIADO COM Brachiaria brizantha Orismário Lúcio Rodrigues – Graduado em Agronomia, Doutorando em Fitotecnia. Professor da Faculdade Vértice. [email protected] RESUMO A utilização do consórcio de culturas de grãos com forrageiras é uma estratégia interessante para recuperação de pastagens degradadas. O sistema consiste no plantio concomitante de cereais e espécies forrageiras, de modo que a forrageira venha a se beneficiar do efeito residual da adubação da cultura. Os experimentos foram realizados na estação experimental de Coimbra-UFV no ano agrícola de 2004/2005, com o objetivo de avaliar os efeitos de arranjos de plantio no consórcio entre Brachiaria brizantha e os híbridos de milho AG9010 e A4646. Foram avaliadas a produtividade de milho (PROD) e massa seca de braquiária (MSB). O híbrido A4646 apresentou redução na sua produtividade quando a braquiária foi plantada na linha e na entrelinha do milho. A braquiária apresentou maior rendimento quando plantada no arranjo de duas linhas na entrelinha do milho quando consorciada com o híbrido AG9010, sendo o arranjo de plantio na linha e na entrelinha o mais produtivo quando consorciada com o híbrido A4646. PALAVRAS-CHAVE: Adubação, Braquiária, Consórcio, Nitrogênio, Milho. 1. Introdução A prática de integração agricultura/pecuária com a finalidade de implantar ou renovar pastagens apresenta vantagens por amortizar, parcial ou totalmente, o investimento empregado com a venda de grãos produzidos pela cultura e aproveitar o efeito residual da adubação da cultura para o estabelecimento da pastagem (SILVA et al., 2004). Várias culturas anuais têm sido utilizadas. Entretanto, tem-se preferido o milho, devido a sua tradição de cultivo, ao grande número de cultivares comerciais adaptados às diferentes regiões ecológicas do Brasil e à sua excelente adaptação quando plantado em consórcio. O sistema de plantio do milho consorciado com braquiária ficou conhecido como Sistema Santa Fé. A viabilidade deste consórcio é alcançada quando são adotadas técnicas de manejo que minimizem os efeitos da competição, dando condições para que os consortes possam ser explorados de forma a alcançar o máximo potencial produtivo. Assim, este trabalho foi proposto com o objetivo de avaliar os efeitos do arranjo de plantio da Brachiaria brizantha consorciada com dois cultivares de milho. 2. Revisão Bibliográfica O sistema de plantio do milho consorciado com braquiária ficou conhecido como Sistema Santa Fé. A viabilidade deste consórcio é alcançada quando são adotadas técnicas de manejo que minimizem os efeitos da competição, dando condições para que os consortes possam ser explorados de forma a alcançar o máximo potencial produtivo. As espécies consorciadas estão sujeitas a interferências mútuas por estarem presentes no mesmo ambiente. É inevitável que haja competição por recursos como água, nutrientes e luz, de modo que é de fundamental importância o conhecimento das características fisiológicas das espécies a serem empregadas no consórcio, visando adoção de técnicas que reduzam os efeitos negativos da competição, principalmente quando as culturas consorciadas apresentam diferentes características e habilidades competitivas. O arranjo do consórcio entre milho e braquiária pode determinar a intensidade da competição entre as espécies, o que influencia de forma direta a produtividade do sistema. O arranjo adotado pode intensificar a competição por nutrientes, água e principalmente por luz. Portanto, o conhecimento de tais interações é imprescindível para a viabilidade do consórcio. Maior ou menor densidade de plantas, em uma determinada área, afeta a produtividade das culturas, por causa da competição entre elas por espaço, água, luz e nutrientes que se estabelece na comunidade vegetal. (MACHADO et al., 1996). A braquiária pode ser implantada simultaneamente à implantação da cultura anual ou cerca de 10 a 20 dias após a emergência destas (KLUTCHCOUSKI et al., 2000). A época ideal para implantação de braquiárias, objetivando a manutenção da produção do milho, deve ser entre a emissão da 3 a/4a folha deste cereal (FANCELLI, 2000). Souza Neto et al. (2002) avaliaram épocas de semeadura de B. brizantha cv. Marandu em consórcio com o milho e verificaram que a produção de milho, grãos e planta inteira, não foi influenciada pela forrageira intercalar. Segundo Silva et al. (2004), essa forrageira apresenta taxa de crescimento inicial lenta e sofre competição desfavorável da cultura do milho, que apresenta excelente potencial de competição com plantas de menor porte, devido à maior taxa de massa seca produzida nas primeiras quinzenas de desenvolvimento e à elevada capacidade de interceptação da radiação fotossinteticamente ativa ao longo do dossel, reduzindo a quantidade desse recurso para as outras espécies. O arranjo de plantio da forrageira também pode exercer influência direta sobre a população de plantas daninhas da área. De acordo com Cruz Filho et al. (1986), um dos fatores que influenciam a infestação por plantas daninhas consiste na eficiência do método de semeadura da forrageira. Jakelaitis et al. (2004) constatou que no arranjo de semeadura de duas linhas de braquiária na entrelinha do milho houve maior supressão de plantas daninhas, mostrando ser este um importante método de controle cultural em função da maior cobertura do solo. Quando as culturas associadas são plantadas em linha e não a lanço, há um favorecimento do manejo, uma vez que as culturas podem ser manejadas como culturas individuais. Foram avaliados os efeitos de diferentes modos de plantio da braquiária consorciada com milho, nos espaçamentos de 0,45 e 0,90 m. Os tratamentos avaliados constituíam de milho solteiro, braquiária plantada na linha do milho, na entrelinha do milho durante a adubação de cobertura e à lanço no plantio do milho e durante a adubação de cobertura. Os resultados mostraram que a produtividade do milho foi influencia da pelo consórcio e que a maior redução na produtividade do milho ocorreu quando a braquiária foi plantada na linha do mesmo. Para a produção de biomassa de braquiária não foram encontradas diferenças significativas, no entanto o tratamento no qual a braquiária foi plantada na linha de plantio do milho apresentou-se como o mais produtivo, evidenciando a mais rápida instalação da braquiária quando semeada na época de plantio do milho e mostrando que a mesma necessita de um período maior para se desenvolver quando semeada na época de adubação de cobertura da cultura do milho (PANTANO, 2003). Freitas et al. (2004) verificou que o arranjo de semeadura de duas linhas de B. brizantha na entrelinha do milho foi o que mais se destacou, com maior produção de biomassa seca; a semeadura a lanço aos 30 dias após a semeadura do milho, método esse comumente empregado pelos produtores, apresentou os piores resultados. De acordo com Silva et al. (2004), a incorporação beneficia a germinação e a sobrevivência de plantas, devido à proteção das sementes, à eficiência no aproveitamento da água e à facilidade de fixação das plântulas ao solo. Esses resultados estão de acordo com os de Jakelaitis et al. (2005), que verificaram, no arranjo com duas linhas de braquiária na entrelinha do milho, propiciou maior produção forrageira na colheita e 50 dias após a colheita do milhogrão, sendo ela superior aos sistemas de semeadura de uma linha na entrelinha do milho, semeadura na mesma linha do milho e a semeadura da forrageira a lanço as quais não diferiram entre si. 3. Metodologia Foram instalados concomitantemente dois experimentos na estação experimental de Coimbra-UFV no ano agrícola de 2004/2005. Cada ensaio foi conduzido com um híbrido de milho: AG9010 e A4646. O AG 9010 é híbrido simples, com plantas de porte baixo e arquitetura foliar moderna, ou seja, com folhas eretas, o que facilita a penetração da luz no dossel da planta e permite um plantio mais adensado. O A4646 é híbrido duplo, ciclo de vida normal e apresenta plantas altas e arquitetura foliar planiforme. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, com quatro repetições. Os tratamentos consistiram de dois arranjos de plantio da braquiária em consórcio com milho: braquiária na linha do milho e no centro de suas entrelinhas e duas linhas de braquiária nas entrelinhas do milho a 25 cm das linha do milho, mais milho e braquiária em monocultivo (testemunha). Cerca de 15 dias antes do plantio foi realizada a dessecação da área com glyphosate na dose de 1,44 kg.ha -1. A adubação de plantio foi realizada manualmente no sulco de plantio, na dose de 400 kg.ha-1 da formulação 8-28-16 (N-P-K). A semeadura do milho e da B. brizantha cultivar Xaraés (braquiária) foi realizada no dia 22 e 23 de novembro de 2004. A população de plantas foi de 50.000 plantas por hectare, para o híbrido A4646, e a 70.000, para o AG9010, no espaçamento de 1,0 m entre fileiras. A forrageira foi semeada (semeadora manual), a uma profundidade de 2 cm, utilizado-se 5 kg.ha-1 de sementes com valor cultural de 76%. As parcelas foram constituídas de seis linhas de milho espaçadas de um metro, com seis metros de comprimento. A área útil da parcela constou das duas linhas centrais, desconsiderando-se 1,0 m de bordadura em cada extremidade da parcela, onde foram coletados os dados referentes ao milho. Para as avaliações relativas a braquiária, foram estabelecidas áreas de corte de 1,0 m² dentro da área útil. Foram avaliadas a produtividade de milho (PROD) e massa seca de braquiária (MSB). Os dados foram submetidos à análise de variância a 5%. 4. Resultados e discussão Os resultados indicam interferência da B. brizantha sobre o milho no arranjo de semeadura na linha do milho e uma linha nas entrelinhas do milho, quando se comparam os dois arranjos de plantio. Este resultado pode ser atribuído ao fato do milho híbrido A4646 apresentar germinação posterior à da braquiária, contrariando um dos pré-requisitos para a viabilização do consórcio que é exatamente o estabelecimento inicial da cultura do milho, para que este, com crescimento inicial mais rápido, venha a sombrear a braquiária evitando assim que a mesma venha a competir com ele. Ademais, a maior competição exercida pela braquiária neste arranjo, devido a presença das plantas na linha do milho exercendo forte competição por água, luz e pelos nutrientes na linha de plantio (Tabela 1). A braquiária no arranjo de semeadura na linha do milho e uma linha nas entrelinhas do milho apresentou incremento na produção de 1 t ha, em relação à de duas linhas nas entrelinhas do milho, ou seja, houve um aumento de 24% na produção de matéria seca. Isto possivelmente possa ter ocorrido devido á maior disponibilidade de nutrientes presentes nas linha de plantio. Tabela 1 - Produtividade do milho (PROD) e massa seca de braquiária (MSB) no cultivo consorciado entre o híbrido A4646 e Brachiaria brizantha. ARRANJOS DE PLANTIO Braquiária na linha do milho e uma linha na entrelinha do milho Duas linhas de braquiária na entrelinha do milho Monocultivo Consorciado PROD (kg ha-1) MSB (kg ha-1) 5.487B 5.349A 6.137A 4322B 7.101ns 5.812ns 14.000A 4.836B ns Não-significativo. Médias seguidas por uma mesma letra na coluna não diferem entre si, a 5% de probabilidade pelo teste F. A produtividade do híbrido AG9010 não foi influenciada significativamente pelos diferentes arranjos de plantio (Tabela 2). É provável que esses resultados devam-se as características fisiológicas do híbrido bem como ao desenvolvimento fenológico do mesmo. No estudo do consórcio milho-B. brizantha é importante que sejam levados em consideração a duração do ciclo do híbrido, velocidade de germinação e a capacidade do material de suportar a competição Resultados semelhantes foram encontrados por Freitas et al., (2005), que constataram que a presença da braquiária submetida ao nicosulfuron não influenciou a produtividade do milho, mostrando neste caso que a forrageira não interferiu na produtividade do mesmo. Tabela 2- Produtividade do milho (PROD) e massa seca de braquiária (MSB) no cultivo consorciado entre o híbrido AG9010 e Brachiaria brizantha. ARRANJOS DE PLANTIO Braquiária na linha do milho e uma linha na entrelinhas do milho Duas linhas de braquiária na entrelinha do milho PROD (kg ha-1) MSB (kg ha-1) 6.483ns 2.560B 6.240ns 3.410A Monocultivo 6811ns 15.000A Consorciado 6623ns 3.900B ns Não-significativo. Médias seguidas por uma mesma letra na coluna não diferem entre si, a 5% de probabilidade pelo teste F. A menor produção de braquiária no arranjo de semeadura na linha do milho e uma linha nas entrelinhas do milho pode ser atribuída ao maior sombreamento exercido pelas plantas de milho, uma vez que este hibrido é de ciclo super- precoce promovendo maior sombreamento sobre a forrageira, em relação ao plantio realizado apenas na entrelinha. Castro et al. (2001) avaliaram o crescimento de espécies forrageiras com luminosidade reduzida e verificaram redução de 25% no acúmulo de massa seca de B. brizantha com sombreamento de 30 a 60% em relação à ausência de sombra. 5. Conclusões As respostas ao arranjo de plantio variam em função do híbrido utilizado, do ciclo do híbrido e da época de germinação dos consortes. Os arranjos de plantio da braquiária em consórcio com o milho não influenciaram os componentes de produção e a produtividade do híbrido AG 9010. O arranjo de plantio de duas linhas de braquiária nas entrelinhas do milho foi mais vantajoso na produção do milho, para o híbrido A4646. Maior produção de braquiária foi alcançada no arranjo de braquiária na linha do milho e uma linha entrelinhas do milho, para o híbrido A4646. REFERÊNCIAS CASTRO, C. R. T. et al. Produção forrageira de gramíneas cultivadas sob luminosidade reduzida. Rev. Bras. Zootec., v. 30, p. 1959-1968, 2001 (suplemento 6). CRUZ FILHO, A. B. et al. Comparação entre métodos de Brachiaria decumbens em pastagens de capim-gordura em áreas montanhosas. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 15, n. 4, p. 297-306, 1986. FANCELLI, A. L; DOURADO NETO, D. Produção de milho. Guaíba: Agropecuária, 2000. 360 p. FREITAS, F. C. L.; FERREIRA, F. A.; FERREIRA, L. R.; SANTOS, M. V.; AGNES, E. L. Cultivo consorciado de milho para silagem com Brachiaria brizantha no sistema de plantio convencional. Planta Daninha, Viçosa, v. 23, n. 4, p. 635-644, 2005. FREITAS, F. C. L. de; FERREIRA, L. R.; FERREIRA, F.; SANTOS, M. V.; CARDOSO, A. A.; AGNES, E. L.; JAKELAITIS, A. Formação de pastagem via consórcio de Brachiaria brizantha com milho para silagem no sistema de plantio direto. Planta Daninha, v. 23, n. 1, p. 49-58, 2005. JAKELAITIS, A. et al. Manejo de plantas daninhas no consórcio de milho com capimbraquiária (Brachiaria decumbens). Planta Daninha, v. 22, n. 4, p. 553-560, 2004a. JAKELAITIS, A. et al. Controle de plantas daninhas, crescimento e produção de milho e Brachiaria brizantha cultivados em consórcio. In: CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, n. 24, 2004, São Pedro. Resumos expandidos... São Paulo: SBCPD, 2004b. CD-ROM. KLUTHCOUSKI, J.; PACHECO, A. R.; TEIXEIRA, S. M. et al. Renovação de pastagem do cerrado com arroz. 1 – Sistema Barreirão. Goiânia-GO: EMBRAPACNPAF, 2000. 20 p. (Documentos, 33). MACHADO, A. N.; SIEWERDT, L.; SILVEIRA J.; SIEWERDT, FRANK, P. Efeito do espaçamento de plantio na produção e qualidade de forragem capim-elefante cv. Três Rios. Revista Brasileira de Agrociência, n. 1, v .2, p. 57-62, 1996. PANTANO, A. C. Semeadura de Braquiária em consorciação com milho em diferentes espaçamentos na integração agricultura-pecuária em plantio direto. 2003. 69 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado de São Paulo, UNESP, 2003. SILVA, A. A. et al. Biologia e controle de plantas daninhas. Viçosa: Universidade Federal de Viçosa, 2002. CD-ROM. SILVA, A. A.; JAKELAITIS, A.; FERREIRA, L. R. Manejo de plantas daninhas no sistema integrado agricultura-pecuária. In: ZAMBOLIM, L.; FERREIRA, A. A.; AGNES, E.L. (Coord.) Manejo integrado: integração agricultura-pecuária. Viçosa: 2004a. p. 117-169. SILVA, A. F. da; JAKELAITIS, A.; SILVA, A. A. da; FERREIRA, L. R.; PEREIRA, J. L. Efeitos da densidade e época de emergência de Brachiaria brizantha sobre plantas de milho. In: XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 2004, São Pedro, XXIV Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, 2004. v. 1. SILVA, A. A.; JAKELAITIS. A.; FERREIRA, L. R. Manejo de plantas daninhas no sistema integrado agricultura-pecuária. In: ZAMBOLIM, L.; FERREIRA, A. A.; AGNES, E. L. Manejo integrado: integração agricultura-pecuária. Viçosa: 2004a. p. 117-169. SOUZA NETO, J. M.; PEDREIRA, C. G. S.; COSTA, G. B. Estabelecimento de pastagens de Brachiaria brizantha cv. Marandu com milho como cultura acompanhante. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 40., 2002, Recife. Anais... Viçosa: SBZ, 2002. CD-ROM. EFEITO DO PARCELAMENTO E MODO DE DISTRIBUIÇÃO DO ADUBO NITROGENADO NA PRODUTIVIDADE DO MILHO CONSORCIADO COM BRACHIARIA BRIZANTHA EM DIFERENTES ARRANJOS DE PLANTIO Orismário Lúcio Rodrigues – Graduado em Agronomia, Doutorando em Fitotecnia. Professor da Faculdade Vértice. [email protected] RESUMO Para aumentar a eficiência dos adubos nitrogenados, existem três opções: a tecnológica (controle da disponibilidade); a agrícola (parcelamento e época de aplicação, localização do N,) e a genética (diferenças existentes na absorção de N por espécies e cultivares). Objetivando-se avaliar os efeitos de arranjos de plantio e da forma de distribuição da adubação nitrogenada no consórcio entre Brachiaria brizantha e os híbridos de milho AG9010 e A4646, foram realizados dois ensaios em delineamento de blocos ao acaso, em arranjo fatorial, com quatro repetições, combinando-se dois arranjos de plantio da braquiária e três formas de distribuição do adubo nitrogenado. A produtividade dos híbridos de milho não foi influenciada pelos modos de aplicação do adubo nitrogenado nos dois arranjos de plantio da braquiária avaliados, no entanto no arranjo de plantio de duas linhas de braquiária na entrelinha do milho, o parcelamento da adubação nitrogenada aumentou a produção de biomassa da forrageira. PALAVRAS–CHAVE: adubação, Brachiaria, consórcio, nitrogênio, milho 1. Introdução O nitrogênio é o nutriente mineral que as plantas exigem em maior quantidade devido a sua grande importância no metabolismo, e o que, geralmente proporciona as maiores respostas da cultura à adubação. A prática de integração agricultura/pecuária com a finalidade de implantar ou renovar pastagens apresenta vantagens por amortizar, parcial ou totalmente, o investimento empregado com a venda de grãos produzidos pela cultura e aproveitar o efeito residual da adubação da cultura para o estabelecimento da pastagem (SILVA et al., 2004). Nas adubações com doses superiores a 100 kg.ha -1 de N, a possibilidade de lixiviação não pode ser descartada, na cultura do milho. Portanto o parcelamento da adubação deve ser adotado, pois minimiza as perdas por lixiviação, ampliando a oferta de nutrientes nos períodos de maior exigência da cultura, reduzindo assim os efeitos da competição (MALAVOLTA et al., 1986). Desta forma, este trabalho foi proposto com o objetivo de avaliar efeitos do parcelamento e forma de distribuição da adubação nitrogenada no consórcio entre Brachiaria brizantha cv. Xaraés e os híbridos de milho AG9010 e A4646, combinado-se dois arranjos de plantio da braquiária. 2. Revisão Bibliográfica A prática de integração agricultura/pecuária com a finalidade de implantar ou renovar pastagens apresenta vantagens. Pois com a venda de grãos produzidos pela cultura é possível amortizar parcial ou totalmente o investimento empregado, e aproveitar o efeito residual da adubação da cultura para o estabelecimento da pastagem (SILVA et al., 2004). O nitrogênio é o nutriente mineral que as plantas exigem em maior quantidade devido a sua grande importância no metabolismo, e o que, geralmente proporciona as maiores respostas da cultura à adubação. Nas adubações com doses superiores a 100 kg.ha -1 de N, a possibilidade de lixiviação não pode ser descartada na cultura do milho. Portanto o parcelamento da adubação deve ser adotado, pois minimiza as perdas por lixiviação, ampliando a oferta de nutrientes nos períodos de maior exigência da cultura, reduzindo assim os efeitos da competição (MALAVOLTA et al., 1986). A produtividade das plantas forrageiras é estimulada pelo adubo nitrogenado e, por essa razão, tem sido objeto de estudo. O nitrogênio além de atuar na sustentabilidade da comunidade de plantas, também atua como modulador da produtividade agrícola. Assim, quando o suprimento de nitrogênio do solo não é adequado para suprir as necessidades da planta, a produção da forragem é reduzida. O nitrogênio é o nutriente que mais limita o crescimento da forrageira, e a sua deficiência tem sido apontada como uma das principais causas da degradação do sistema (MACHADO, 2001). A resposta das forrageiras ao adubo nitrogenado depende da dose utilizada e, entre outros fatores, à espécie utilizada. Alvim et al. (1990), avaliaram a produção de matéria seca de cinco espécies de braquiária com diferentes doses de nitrogênio (0, 75 e 150 kg.ha-1). Verificaram que a produção anual de matéria seca foi incrementada em todas as espécies com a adição de nitrogênio. A Brachiaria brizantha foi a que apresentou maior potencial de produção de matéria seca e a maior eficiência relativa demais, com as doses de nitrogênio. Entretanto, com deficiência desse nutriente no solo, essa espécie foi a que produziu menor quantidade de matéria seca. A produção de biomassa das gramíneas forrageiras decorre da contínua emissão de folhas e perfilhos, importante para a restauração da área foliar após o corte ou pastejo, o que garante a perenidade dessas plantas. Os processos de formação e desenvolvimento de folhas são fundamentais para o crescimento vegetal, uma vez que elas são essenciais para a fotossíntese. (ALEXANDRINO et al., 2000) O adubo nitrogenado pode proporcionar maior freqüência de cortes e aumentar a taxa de crescimento das folhas após a desfolhação quando as plantas eram capazes de mobilizar o N, demonstrando a importância do mesmo para o processo (THORNTON e MILLARD, 1997; ALVIM et al., 1998). 3. Metodologia Foram instalados concomitantemente dois experimentos com o objetivo de avaliar o efeito do arranjo de plantio e da forma de distribuição no adubo nitrogenado no consórcio milho-braquiária. Cada ensaio foi conduzido com os híbridos de milho AG9010 e A4646. O AG 9010 é híbrido simples, com plantas de porte baixo e arquitetura foliar moderna, ou seja, com folhas eretas, o que facilita a penetração da luz no dossel da planta e permite um plantio mais adensado. O A4646 é um híbrido duplo, que apresenta ciclo de vida normal e apresenta plantas altas e arquitetura foliar planiforme. A semeadura do milho e braquiária em consórcio foram realizadas no dia 22 de novembro de 2004. A área foi dessecada com glyphosate na dose de 1,44 kg.ha -1 cerca de 15 dias antes do plantio, e a adubação de plantio foi de 400 kg.ha -1 da formulação 8-28-16 (N-P-K). Após a germinação foi feito o desbaste e a população de foi de 50.000 plantas/ ha, para o híbrido A4646, e a 70.000, para o AG9010, no espaçamento de 1,0 m entre fileiras. A forrageira foi semeada (semeadora manual), a uma profundidade de 2 cm, utilizado-se 5 kg.ha-1 de sementes com valor cultural de 76%. O delineamento experimental utilizado foi o de blocos ao acaso, em arranjo fatorial com quatro repetições. Os tratamentos consistiram de dois arranjos de plantio da braquiária em consórcio com milho: braquiária na linha do milho e no centro de suas entrelinhas e duas linhas de braquiária nas entrelinhas do milho a 25 cm das linha do milho, mais milho e braquiária em monocultivo (testemunha) e três modos de aplicação do adubo nitrogenado: 120 kg.ha-1 de nitrogênio aplicado de forma localizada na linha de plantio do milho quando este apresentava quatro folhas, 120 kg.ha -1 de nitrogênio aplicado a lanço quando o milho apresentava quatro folhas e a aplicação de 120 kg.ha 1 de nitrogênio aplicado a lanço de forma parcelada, sendo metade quando o milho tinha quatro folhas e metade com oito folhas. As parcelas foram constituídas de seis linhas de milho espaçadas de um metro, com seis metros de comprimento. Foram avaliadas as características: massa de mil grãos (MMG), massa média de espigas (MME), produtividade de milho (PROD), matéria seca de braquiária (MSB) e massa seca de braquiária (MSB). Os dados foram submetidos à análise de variância a 5%. 4. Resultados e Discussão O parcelamento da adubação aplicada a lanço, proporcionou um incremento na massa média de 1.000 grãos no arranjo de braquiária na linha e entrelinha do milho. A resposta positiva ao parcelamento da adubação nitrogenada pode ser atribuída à sincronização da aplicação do nitrogênio com o período de alta demanda da cultura. A adubação nitrogenada tanto localizada quanto à lanço, foi eficaz independentemente do arranjo de plantio do consórcio, não havendo diferença significativa para massa média de espigas e produção de milho híbrido AG9010 (Tabela 2). No arranjo de plantio de duas linhas de braquiária na entrelinha do milho, o parcelamento da adubação nitrogenada à lanço também proporcionou aumento na produção de matéria seca da braquiária, este incremento, certamente ocasionado pela aplicação do adubo a lanço, proporcionando contato direto com as raízes da braquiária, minizando possível competição com a cultura de milho. Tabela 1 - Médias estimadas para massa de mil grãos (MMG), massa média de espigas (MME), produtividade do milho A4646 (PROD) e matéria seca de braquiária (MSB) em função do arranjo de plantio e modos de aplicação do adubo nitrogenado. MMG MME PROD (g) (g) (kg.ha-1) Braquiária na linha do milho e uma linha na entrelinha do milho Adubação nitrogenada Localizada 331,8ns 168,4ns 5.892ns MSB (kg.ha-1) Adubação nitrogenada à Lanço 332,7ns 174,3ns 5.285ns 5.127ns Adubação nitrogenada à Lanço parcelada 303,5B 179,5ns 4.927ns 5.508ns 169,1ns 5.643ns 4.747ns 174,5ns 5.929ns 4.941ns ARRANJOS DE SEMEADURA Adubação nitrogenada à Lanço não 361,9A parcelada Duas linhas de braquiária na entrelinha do milho Adubação nitrogenada Localizada 382,8ns 5.744ns Adubação nitrogenada à Lanço 350,5ns 186,3ns 6.241ns 4.288ns Adubação nitrogenada à Lanço parcelada 382,8ns 191,0ns 5.965ns 5.102A Adubação nitrogenada à Lanço não 352,7ns parcelada 181,6ns 6.518ns 3.475B ns Não-significativo. Médias seguidas por uma mesma letra na coluna não diferem entre si, a 5% de probabilidade pelo teste F. Não houve diferença significativa entre os tratamentos das médias dos consórcios para o híbrido AG9010 (Tabela 2). Os componentes de produção assim como a produtividade não foram reduzidos pela presença da braquiária, independentemente dos arranjos de plantio e da forma de aplicação do adubo nitrogenado. Isso parece indicar ser esse um híbrido altamente tolerante à competição com a braquiária, característica fundamental para a viabilização do consórcio. A estabilidade da produção do híbrido no consórcio pode ser resultado da sua alta eficiência na utilização de nitrogênio. Não houve efeito significativo do modo de aplicação do adubo nitrogenado na produção de massa de braquiária seca. Tabela 2 - Médias estimadas para massa de mil grãos (MMG), massa média de espigas (MME), produtividade do milho AG9010 (PROD) e matéria seca de braquiária (MSB) em função do arranjo de plantio e modos de aplicação do adubo nitrogenado. MMG MME PROD ARRANJOS DE SEMEADURA (g) (g) (kg.ha-1) Braquiária na linha do milho e uma linha na entrelinha do milho Adubação nitrogenada Localizada 308,4ns 140,3ns 6.089ns Adubação nitrogenada à Lanço 307,4ns 144,1ns 6.679ns MSB (kg.ha-1) Adubação nitrogenada à Lanço parcelada 329,9ns Adubação nitrogenada à Lanço não 307,4ns parcelada Duas linhas de braquiária na entrelinha do milho Adubação nitrogenada Localizada 307,3ns 2.500ns 2.450ns 147,6ns 6.902ns 2.740ns 140,5ns 6457ns 2.450ns 142,3ns 6.735ns 3.130ns Adubação nitrogenada à Lanço 313,0ns 141,0ns 5.992ns 3.550ns Adubação nitrogenada à Lanço parcelada 306,8ns 130,5ns 5.804ns 3.260ns Adubação nitrogenada à Lanço não 319,7ns parcelada 131,5ns 6.181ns 3.850ns ns Não-significativo. Médias seguidas por uma mesma letra na coluna não diferem entre si, a 5% de probabilidade pelo teste F. 5. Considerações finais O parcelamento da adubação nitrogenada propiciou incremento na produção de braquiária consorciada com o híbrido A 4646 no arranjo de plantio de duas linhas de braquiária na entrelinha do milho. A produtividade dos híbridos avaliados não variou em função da forma de distribuição do adubo nitrogenado. REFERÊNCIAS ALVIM, M. J.; Botrel, M. A.; SALVATI, J. A. Métodos de estabelecimento de Brachiaria decumbens em associação à cultura do milho. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, v. 18, n. 5, p. 417-425, 1998. MACHADO, A. N.; SIEWERDT, L.; SILVEIRA J.; SIEWERDT, FRANK, P. Efeito do espaçamento de plantio na produção e qualidade de forragem capim-elefante cv. Três Rios. Revista Brasileira de Agrociência, n. 1, v .2, p. 57-62, 2001. MALAVOLTA, E. et al. Avaliação do estado nutricional de plantas: princípios e aplicações. Piracicaba: Potafos, 1996. MALAVOLTA, E. et al. Exigências nutricionais das plantas forrageiras. In: MATTOS, H. B. (Ed.) Calagem e adubação de pastagens. Piracicaba: Associação Brasileira para Pesquisa da Potassa e do Fosfato, 1986, p. 31-91. SILVA, A. A.; JAKELAITIS, A.; FERREIRA, L. R. Manejo de plantas daninhas no sistema integrado agricultura-pecuária. In: ZAMBOLIM, L.; FERREIRA, A. A.; AGNES, E.L. (Coord.) Manejo integrado: integração agricultura-pecuária. Viçosa: 2004a. p. 117-169. SILVA, A. F. da; JAKELAITIS, A.; SILVA, A. A. da; FERREIRA, L. R.; PEREIRA, J. L. Efeitos da densidade e época de emergência de Brachiaria brizantha sobre plantas de milho. In: XXIV CONGRESSO BRASILEIRO DA CIÊNCIA DAS PLANTAS DANINHAS, 2004, São Pedro, XXIV Congresso Brasileiro da Ciência das Plantas Daninhas, 2004. v. 1. SILVA, A. A.; JAKELAITIS. A.; FERREIRA, L. R. Manejo de plantas daninhas no sistema integrado agricultura-pecuária. In: ZAMBOLIM, L.; FERREIRA, A. A.; AGNES, E. L. Manejo integrado: integração agricultura-pecuária. Viçosa: 2004a. p. 117-169. THORNTON, B., MILLARD, P. Increased defoliation frequency depletes remobilization of nitrogen for leaf growth in grasses. Annals of Botany, v. 80, p. 89-95, 1997. RESUMOS ANÁLISE DE SOLO E IMPACTO DE SUA UTILIZAÇÃO NO CUSTO DE ADUBAÇÃO DE LAVOURAS CAFEEIRAS DA ZONA DA MATA MINEIRA Marcelo de Souza Cesar – Licenciado em Matemática, Graduando em Agronomia Afrânio Marcial Lopes- Graduando em Agronomia Edimaldo Garcia Júnior – Graduado em Agronomia, Mestrando em Solos e Nutrição de Plantas. Professor da Faculdade Vértice. Moacir de Abreu Pereira Neto – Graduando em Agronomia Patrícia Sad – Graduada em Ciências Econômicas, mestranda em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Professora da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Análise de solo; Custo de adubação; Fertilidade; Solo. 1. Introdução Considera-se o solo como o alicerce da vida terrestre, em que os macros e micro nutrientes, bem como boa parte da água necessária ao desenvolvimento dos vegetais se encontra. O solo é um recurso finito, limitado e não renovável, face às suas taxas de degradação potencialmente rápidas, que têm vindo a aumentar nas últimas décadas (pela pressão crescente das atividades humanas) em relação às suas taxas de formação e regeneração extremamente lentas. A formação de uma camada de solo de 30 cm leva 1.000 a 10.000 anos a estar completa (HABERLI, et al, 1991). Caracterizado como um material inconsolidado, que recobre a superfície terrestre, sendo composto de três fases: sólida (minerais e matéria orgânica), líquida (solução do solo) e gasosa (ar). O solo é um meio vivo e dinâmico, sendo uma reserva de nutrientes, mas essa reserva depende de fatores que irão determinar a fertilidade do solo e o seu equilíbrio, de acordo com o tipo de cultura implantada. O objetivo deste trabalho é simular uma recomendação de adubação com e sem a análise de fertilidade do solo e o impacto dessa decisão na relação de custos e o benefício no empreendimento agrícola. A grande oscilação dos preços do café no mercado internacional e a concorrência exigem que o produtor utilize com maior racionalidade os fatores de produção disponíveis o que justifica a análise do solo. 2. Metodologia Foi realizada amostragem do solo em três diferentes áreas da Fazenda Córrego Alto situada no município de Santa Margarida, MG. As amostras coletadas são respectivamente, talhão 01- Cultura café; Talhão mata – Referência; Talhão 03 – Cultura café. As amostras foram coletadas nas profundidades de 0 a 20 cm, com o uso de um trado holandês. Na seqüência, as amostras foram enviadas ao laboratório para ser feita a análise da sua fertilidade. Com o resultado analítico e com a anamnese das áreas, foram feitas análises em relação à aplicação de manejo para restituir o NPK do solo, comparando o custo de acordo com a fonte de NPK a ser utilizada para uma adubação de produção de 20 a 30 sacas/ha, com teor foliar adequado. Considerando os resultados analíticos da análise do solo, temos: Resultados Analíticos de Amostras de Solo - Ano de 2010 Propriedade Fazenda Córrego Alto Munícipio de Santa Margarida/MG Lavoura/nº de plantas: 5000pl/há Espaçamento: 2,00 x 1,00 m DETERMINAÇÕES MO Amostr dag/d as m³ 3,91 Mata Talhão 03 Talhão 01 3,69 3,13 pH P K N a mg/dm³ 4,8 0, 8 2,4 35 9 5,5 54, 15 0, 5 8 3 9 4,7 20, 17 1, 4 1 9 5 Ca Mg H+ Al Al 0,1 0,0 1,4 1 3 4 0,3 0,2 6 0,1 4 0,2 0,0 1,0 7 7 8 SB cmolc/dm³ 0,2 10,6 3 0,8 6,1 6 0,8 9,8 1 CTC (t) CTC( T) m Prem V % 86,0 1,67 10,83 1 2,16 21,8 12,3 1,1 6,96 8 2 57,2 1,89 10,61 5 7,6 M n Cu F e mg/dm³ 13,8 0,0 0, 7 4,5 0,2 7 8 17,7 26,3 0,5 1,3 0, 8 8 9 6 5 88,8 88,8 0,4 0,3 0, 3 3 5 4 8 0,0 9 0,0 7 0,1 3 1 3 5, 5 4, 8 S B Zn Necessidade da Amostra Necessidade da Amostra Necessidade da Amostra da Mata Talhão 03 Talhão 01 N P K N P K N P K Kg/há (P2O5 (K2O) Kg/ha (P2O5 (K2O) Kg/ha (P2O5 (K2O) ) Kg/ha ) Kg/ha ) Kg/ha Kg/ha 175 40 Kg/ha 250 Opções de Fonte Mistura1: Sulfato amônio + Super Simples + Cloreto de Potássio = R$ 1.184,28/ha Mistura2: Super Simples + Cloreto de Potássio + Ureia = R$ 982,20/ha Formulado: 20-05-20 + Cloreto de Potássio = R$ 967,20 175 0 Kg/ha 125 175 0 125 Opções de Fonte Mistura 1: Sulfato amônio + Cl. Potássio = R$ 809,40/ha Opções de Fonte Mistura 1: Sulfato amônio + Cl. Potássio = R$ 809,40/ha Mistura 2: Cloreto de Potássio + Uréia = R$ 606,70/ha Formulado: 20-00-10 = R$ 648,00/ha 20-10-20 = R$ 864,00/ha Mistura 2: Cloreto de Potássio + Uréia = R$ 606,70/ha Formulado: 20-00-10 = R$ 648,00/ha 20-10-20 = R$ 864,00/ha 3. Resultado e Discussão. O uso do solo pelo homem através da implantação de culturas altera as suas propriedades físicas e químicas. Assim, para a restituição da fertilidade, é necessário o fornecimento mínimo de nutrientes que reestabelecem as condições necessárias para o desenvolvimento das plantas (PORTUGAL. A.F. et al, 2010). Analisando os resultados obtidos após a interpretação dos resultados analíticos do solo, podemos concluir: Com a análise de solo a demanda de restituição de nutrientes será feita de forma adequada; O uso de misturas ou formulados trará economia para o produtor rural, baseada na interpretação dos resultados da análise de solo. Considerando o uso de um formulado 20-05-20 para a área em estudo e a quantidade de plantas por hectare, usando de forma usual sem análise de solo, teremos: 5000 pl/ha x 300g/pl = 1500 kg/ha= 30 sacos x R$ 46,00 = R$ 1.380,00/ha. Cada saco do formulado vem com 50kg a um preço de R$ 46,00. Assim, comparando o maior e menor valor dentre as recomendações sugeridas para as amostras em questão, verifica-se uma economia em média de R$ 484,51/ha, em relação ao uso de um fertilizante sem análise de solo. Destaca-se que o valor de uma análise de solo varia entre R$ 12,00 a R$ 30,00 e que uma amostra de solo (composta) poderá representar até 10 a de uma determina propriedade de acordo com o seu relevo. Análise de solo = R$ 30,00 (10 ha) = 10 ha x R$ 484,51 = R$ 4845,10 – R$ 30,00 = R$ 4815,10 / 10 ha = economia média 4. Considerações Finais A análise de solo deve ser realizada anualmente, obedecendo a critérios de coleta para não haver erros nos resultados de laboratório. A interpretação dos resultados deve ser realizada por Agrônomo ou profissional capacitado. A adesão do produtor rural ao uso dessa tecnologia resultará em uma maximização de lucros com a redução de custos com insumos agrícolas. REFERÊNCIAS OLIVEIRA, Fábio Henrique Tavares de et al . Amostragem para avaliação da fertilidade do solo em função do instrumento de coleta das amostras e de tipos de preparo do solo.Disponível em http://www.scielo.br. Acesso em: 09. set. 2010. PORTUGAL, Arley Figueiredo; COSTA, Oldair Del'Arco Vinhas; COSTA, Liovando Marciano da. Propriedades físicas e químicas do solo em áreas com sistemas produtivos e mata na região da Zona da Mata mineira. Disponível em: http://www.scielo.br. Acesso em: 13. set. 2010. RIBEIRO, Antônio Carlos; GUIMARÃES, Paulo Tácito Gontijo; Alvarez V, Victor Hugo. Recomendações para uso de corretivos e fertilizantes em Minas Gerais: 5ª Aproximação. Viçosa, CFSEMG, 1999. VEZZANI, Fabiane Machado; MIELNICZUK, João. Uma visão sobre qualidade do solo. Disponível em: http://www.scielo.br/. Acesso em 13. set.2010. OCORRÊNCIA DE ARTRÓPODOS EM CULTIVO DE CAFÉ NO MUNICÍPIO DE MATIPÓ, MINAS GERIAS – BRASIL Vitória Emanuella da Silva Alves - graduada em Agronomia, Mestre em Fitotecnia. Professora da Faculdade Vértice. Neyde Terezinha de A. G. de Azevedo, Moacir de Abreu Pereira Neto e Alberto Peres Moreira - graduandos em Agronomia. Daniel Vieira Ferreira - graduado em Matemática, Especialista em Matemática e Estatística. Professor da Faculdade Vértice. [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Armadilha de solo; Insetos; Aranhas; Fauna. 1. Introdução As populações existem em paisagens heterogêneas, em que podemos interpretar o mundo natural como um mosaico de manchas de habitats, sendo que a maioria das populações está dividida em subpopulações de indivíduos que vivem dentro de manchas homogêneas de habitat adequado, separadas de outras subpopulações por áreas de habitat desfavorável. Dependendo da distância entre as subpopulações, da natureza do ambiente interveniente e da mobilidade das espécies, as áreas de habitat desfavorável podem ou não se constituir em barreiras substanciais ao movimento de indivíduos (RICKLEFS, 2003). Dentre os bioindicadores ecológicos, os invertebrados com diâmetro corporal acima de 2 mm constituem a macrofauna, à qual pertencem os grupos de minhocas, coleópteros em estado larval e adulto, centopeias, cupins, formigas, diplópodes, isópodes e aracnídeos (LAVELLE e SPAIN, 2001). A complexidade dos habitats das espécies pode ser medida pela heterogeneidade de seus elementos componentes. Em geral, comunidades de plantas simplificadas após perturbação ou amplamente dominadas por uma ou poucas espécies, representam ambientes mais homogêneos e de menor complexidade. Áreas de vegetação nativa tendem a apresentar maior diversidade de espécies, em comparação com plantios de espécies exóticas, que são ambientes simplificados (MARINHO et al., 2002). Nesse sentido, esse trabalho objetivou estudar a artropodofauna do solo em cultivo de café (Coffea arabica (L.)) em sistema convencional adensado e sem tratamento fitossanitário. 2. Metodologia O estudo foi realizado em uma área de cultivo de café (Coffea arabica (L.)), com aproximadamente 2 ha, no período de agosto a setembro de 2008, na Fazenda Areia Branca do Município de Matipó, MG (20°17′02″S e 42°20′27″W). As avaliações foram sob o sistema de manejo convencional adensado – cultura solteira, sem a presença de outras espécies, com espaçamento reduzido e sem a presença de tratamentos fitossanitários a cerca de um ano. Sete pontos amostrais, com intervalos de 50m entre si, foram distribuídos em um transecto para captura dos artrópodos; cada ponto amostral recebeu uma armadilha de queda („pitfall‟). Os artrópodos do solo foram extraídos manualmente e armazenados em uma solução de álcool a 70%. No laboratório, com auxílio de uma lupa binocular, procedeu-se à identificação e contagem dos organismos, em nível de grandes grupos taxonômicos. As armadilhas do tipo „pitfall‟ eram confeccionadas com copos descartáveis (7,5 cm de diâmetro e 11,5 cm de altura) com capacidade de 200 mL. Essas foram mantidas enterradas de forma que sua abertura ficasse exatamente ao nível da superfície do solo com 70 mL de água e 5 gotas de detergente, para quebrar a tensão superficial da água e para que os artrópodos afundassem sem debaterem; como também, e sem a utilização de atrativos. Essas armadilhas permaneceram funcionais, no período de sete dias, para após realizarem as coletas. 3. Resultados e discussão A diversidade de artrópodos, para o cultivo de café, foi representada por grupos de insetos e aracnídeos, durante o período amostral, foi representada pelas ordens Hymenoptera, Diptera, Coleoptera, Orthoptera, Blattodea, Isoptera, Hemiptera e Lepidoptera, e aranaida, respectivamente. O grupo insecta dominante, 73,48%, foi Hymenoptera corroborando a ideia de que as formigas representam um grupo indicador de biodiversidade. A família Formicidae (Hymenoptera) foi predominante; provavelmente, a dominância das formigas deva-se a seu comportamento de forragear em bando. Apesar da grande abundância de Formicidae (160 indivíduos), destacou-se também a abundância de Diptera (25 indivíduos) e Blattodea (12 indivíduos). Os outros grupos de indivíduos representam a 14,35% do total dos indivíduos. Pode-se considerar que a presença ou a ausência de determinadas espécies em um local não infere em uma relação direta com o habitat, mas o habitat afeta a facilidade de locomoção e a suscetibilidade de caçar dessas espécies (PEARCE et al., 2004). 4. Considerações finais Conforme o método de coleta empregado, armadilha do tipo pitfall, foram capturados, principalmente, formigas da superfície do solo, de acordo com a intensidade de atividade dessas. Esse método de coleta serve para inferir sobre dominância, flutuações de frequência, ciclos anuais de atividade e ciclo de vida, permitindo também fazer comparações entre diferentes áreas de um habitat com o mesmo período de amostragem (SPENCE e NIEMELÃ, 1994). REFERÊNCIAS LAVELLE, P. e SPAIN, A. V. Soil ecology. Dordrecht: Kluwer Academic, 2001. MARINHO, C.G.S. et al. Diversidade de formigas (Hymenoptera: Formicidae) da Serapilheira em Eucaliptais (Myrtaceae) e Área de Cerrado de Minas Gerais. Neotropical Entomology 31 (2) p.187-195, 2002. PEARCE, J. L. et al. Influence of habitat and microhabitat on epigeal spider (Araneae) assemblages in four stand types. Biodiversity and Conservation, Irvine, v. 13, n. 7, p. 1305- 1334, 2004. RICKLEFS, R. E. A Economia da Natureza, 5ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 2003. SPENCE, J. R. e NIEMELÃ, J. K. Sampling carabid assemblages with pitfall traps: the madness and the method. The Canadian Entomologist, v. 126, p. 881-894, 1994. ARTROPODOFAUNA DO FRAGMENTO DE MATA COM SERRAPILHEIRA NO MUNICÍPIO DE MATIPÓ, MINAS GERAIS – BRASIL Vitória Emanuella da Silva Alves - graduada em Agronomia, Mestre em Fitotecnia; Vinícius Sigilião Silveira Silva - graduando em Agronomia; Bruno César Veríssimo Gomes - graduando em Agronomia; Mirelle Rodrigues Dornelas - graduanda em Agronomia; Alekson Vieira Amorim - graduando em Agronomia Faculdade Vértice [email protected] PALAVRAS-CHAVE: Pitfall; Diversidade; Fauna de solo. 1. Introdução Os artrópodos ocupam uma larga diversidade de ecossistemas, microhabitats e nichos ecológicos, sendo elementos-chave nas cadeias alimentares exercendo papéis fundamentais como decompositores, consumidores primários e secundários. Estudos com esse grupo de animais podem prover boas respostas sobre a qualidade das matrizes com relação à manutenção da fauna local. Dentre os artrópodos, estão os insetos da macrofauna de solo que atuam na ciclagem de nutrientes por fragmentação e ingestão de material presente na liteira. A liteira funciona como suporte necessário ao desenvolvimento dos ecossistemas, isto é, faz parte do controle biótico do ciclo de elementos químicos (BORMANN e LIKENS, 1994). Esses animais interagem com outros microorganismos, os quais decompõem e mineralizam os detritos do solo (HÖFER et al., 2001), afetando a estrutura do solo e alterando as suas propriedades físicas e biológicas. Dessa forma, o presente trabalho objetiva contribuir com informações básicas para análises futuras das possíveis relações entre a artropodofauna e os processos de decomposição da matéria orgânica no solo através do uso de armadilhas de solo do tipo „pitfall‟. 2. Metodologia O estudo foi realizado em uma área de fragmento de mata com serrapilheira, com aproximadamente 3 ha, no período de agosto a setembro de 2008, na Fazenda Areia Branca do Município de Matipó, MG (20°17′02″S e 42°20′27″W. Oito pontos amostrais, com intervalos de 50m entre si, foram distribuídos em um transecto para captura dos artrópodos; cada ponto amostral recebeu uma armadilha de queda (“pitfall”). Os artrópodos do solo foram extraídos manualmente e armazenados em uma solução de álcool a 70%. No laboratório, com auxílio de uma lupa binocular, procedeu-se à identificação e à contagem dos organismos em nível de grandes grupos taxonômicos. As armadilhas do tipo „pitfall‟ foram confeccionadas com copos descartáveis (7,5 cm de diâmetro e 11,5 cm de altura) com capacidade de 200 mL. Essas eram mantidas enterradas de forma que sua abertura ficasse exatamente ao nível da superfície do solo com 70 mL de água e 5 gotas de detergente, para quebrar a tensão superficial da água e para que os artrópodos afundassem sem se debaterem e sem a utilização de atrativos. Essas armadilhas permaneceram funcionais, no período de sete dias, para após realizarem as coletas. 3. Resultados e discussão A diversidade de artrópodos, para esse experimento foi representada por grupos de insetos e aracnídeos, durante o período amostral que foi representada pelas ordens: Hymenoptera, Diptera, Coleoptera, Orthoptera, Blattodea, Isoptera, Neuroptera, Lepidoptera e Acarina; e aranaida, respectivamente O grupo insecta de destaque, 63,35%, foi Hymenoptera. Foram capturados um artropodofauna com um total de 513 indivíduos. Apesar da maior abundância de Formicidae (325 indivíduos), destacou-se também as ordens4xa (71 indivíduos) e Diptera (69 indivíduos). Os outros grupos dos artrópodos representam 9,36% do total dos indivíduos. As formigas são organismos dominantes nos ecossistemas, tanto em riqueza de espécies quanto em abundância, sendo denominadas engenheiros do ecossistema, por promover benefícios à estrutura e contribuir para a fertilidade do solo, através de seu hábito de vida (FOWLER et al.,1991). Pearce et al. (2004), afirmam que variações na estrutura do habitat devem ser consideradas, assim como a vegetação, pois esta também influencia na preferência do habitat e na composição das comunidades, sendo que pequenas alterações podem alterar a composição dessas. 4. Considerações finais Dentre os artrópodos, os insetos destacam-se porque exercem um papel fundamental na dinâmica do fragmento de mata. Eles são resistentes aos impactos e podem influenciar na recuperação de áreas degradadas. Os dados do levantamento dos artropodofauna podem ser utilizados como subsídios para novos estudos, enriquecimento das informações biológicas e avaliar o nível de perturbação nesse ecossistema, que é de extrema importância para desenvolver programas de conservação, proteção, manejo e recuperação de sua biodiversidade. REFERÊNCIAS BORMANN, F.H. e LIKENS, G.E. Pattern and Process in a Forested Ecosystem. New York: Springer Verlag. 1994. FOWLER, H. G.et al. Ecologia nutricional de formiga. In: PANIZZI, A. R.; PARRA, J. R. P. (Org.). Ecologia nutricional de insetos e suas implicações no manejo de pragas. Brasília, DF: Manole: CNPq, p. 131-223. 1991 HÖFER, H et al. Structure and function of soil fauna communities in Amazonian anthropogenic and natural ecosystems. European Journal of Soil Biology, v.37, p.229-235, 2001 PEARCE, J. L. et al. Influence of habitat and microhabitat on epigeal spider (Araneae) assemblages in four stand types. Biodiversity and Conservation, Irvine, v. 13, n. 7, p.1305-1334, 2004. GT 6 CIÊNCIAS SOCIAIS E APLICADAS GT5 – CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS Nº 1 2 3 4 Tipo de Apresentação Comunicação Oral – A Comunicação Oral – A Comunicação Oral – A Pôster – A A – ARTIGO TRABALHO A importância de desenvolver habilidades de letramento digital nas matrizes educacionais Letramento digital: conceitos, necessidade e cidadania O papel dos estudos de impacto de vizinhança na construção da função social da cidade A responsabilidade dos fornecedores de produtos e serviços pelos riscos do desenvolvimento no direito brasileiro do consumidor: uma perspectiva tutelar constitucional ARTIGOS A IMPORTÂNCIA DE DESENVOLVER HABILIDADES DE LETRAMENTO DIGITAL NAS MATRIZES EDUCACIONAIS Sílvio José Trindade Alvim – graduado em Sistema de Informação, especialista em produção de software, Mestrando em Educação. Andréia Almeida Mendes – graduada em Letras, especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Linguística, Doutoranda em Linguística. Faculdade Vértice [email protected] RESUMO A pretensão, neste trabalho, é refletir sobre as habilidades de leitura, diferenciando alfabetização, letramento e letramento digital e, também, discutir sobre o “novo jeito” de aprender que surgiu com a chegada da Era da Informação. Percebe-se que apesar de ser uma realidade, as matrizes do governo desconsideram o letramento digital das habilidades que a escola necessita desenvolver nos alunos. Para solucionar esse problema, propõem-se aqui uma matriz para o ensino de língua materna. PALAVRAS-CHAVE: Alfabetização; Letramento; Letramento digital; Aprendizagem; Matrizes educacionais. 1. Considerações iniciais É indiscutível o fato de que a cultura escrita esteja consolidada em nossa sociedade tanto pela escola quanto pelos meios de comunicação tradicionais e modernos. Podemos afirmar que, atualmente, algumas das prioridades mais importantes da escola sejam: alfabetizar e letrar pessoas. Mas, apenas letrar alfabeticamente indivíduos garante a cidadania em sua plenitude? Com a chegada da Era da Informação, a tecnologia surge em todos os lugares e, para dominá-la, torna-se necessário letrar digitalmente também. É esse o intuito deste artigo: mostrar em que o letramento digital pode beneficiar as pessoas, focando os alunos das escolas públicas. O objetivo deste trabalho é refletir sobre as habilidades de leitura, diferenciando alfabetização, letramento e letramento digital e, também, discutir sobre o “novo jeito” de aprender que surgiu com a chegada da Era da Informação. Percebe-se que apesar de o letramento digital ser uma realidade, as matrizes do governo desconsideram o domínio da tecnologia digital dentre as habilidades que a escola necessita desenvolver nos seus alunos. Através de uma revisão bibliográfica, baseada principalmente nas ideias de Dias e Novais (2009), Soares (2010), Xavier (2010) e Ribeiro e Coscarelli (no prelo), o artigo divide-se em quatro partes: na primeira, falar-se-á a respeito dos procedimentos metodológicos utilizados; na segunda, dia forma “velha” de aprendizagem está sendo substituída por uma “nova”.“Jeito velho”“Jeito novo”Implicações para o alunoCentrado no professorCentrado no alunoAprendizes ativosAbsorção passivaParticipação ativa do alunoMuita motivaçãoTrabalho individualTrabalho coletivoEquipe constrói habilidades desenvolvidas coletivamenteProfessor “sabe-tudo”Professor articuladorAprendizagem adequada às mudanças no mundoEnsino estáticoEnsino dinâmicoMaterial didático online substitui livros etc.Aprendizado predeterminadoAprender a apreXavier (2010) e Ribeiro e Coscarelli (no prelo), pretende-se refletir sobre a diferenciação dos conceitos de alfabetização, letramento e letramento digital; bem como analisar o “novo jeito” de aprender que vem sendo criado com a chegada dos computadores nas escolas. Ao se perceber todos os problemas oriundos desse novo tipo de aprendizagem, propõem-se aqui uma matriz para o ensino de língua materna que privilegie o letramento digital. Ao se propor essa matriz de letramento digital para o ensino de língua materna, não se pretende definir todos os descritores que uma matriz digital necessita ter; mas sim analisar a necessidade e a emergência de matrizes digitais nos contextos sociais e contemporâneos. 2. Alfabetização, letramento e letramento digital Alfabetizar é adquirir a tecnologia de escrita, saber decodificar os sinais gráficos do seu idioma, ou seja, alfabetizado é Aquele indivíduo que, mesmo tendo passado pela escola, ainda lê com dificuldade, de modo muito superficial e escreve com pouca freqüência e, quando escreve, produz textos considerados simples (bilhetes, listas de compras, preenchimento e proposta de emprego e coisas do gênero) (XAVIER, 2006, p.01) Mas apenas a alfabetização não é suficiente: para se viver bem em nossa sociedade, tornou-se indispensável a aquisição do letramento alfabético, pois as formas de vida atuais estão condicionadas por essa capacidade. É através do letramento que conseguimos ler e compreender textos mais aprofundados; escrever textos argumentativos, analisar as informações implícitas, escrever textos técnicos detalhados. É o letramento que garante ao indivíduo ocupar o papel de cidadão, podendo decidir não só sobre sua vida como também da vida em comunidade, vinculando-se à realidade histórica, social e política do seu tempo. Ler não é apenas decodificar sinais gráficos, é uma ação muito mais abrangente, “ler é executar diversas operações que vão desde o reconhecimento da letra até a construção de sentidos mais globais, fazendo inferências e colhendo pistas, de uma maneira coordenada.” (RIBEIRO e COSCARELLI, [s.d., p.11]). Cabe aqui outro questionamento: apenas ser letrado alfabeticamente garante às pessoas plenamente a cidadania atualmente? Se levarmos em conta o desenvolvimento tecnológico dos meios de comunicação, perceberemos que não mais. Surge a necessidade de também se tornar letrado digitalmente; não se pode desconsiderar as mudanças nos modos de ler e escrever códigos e sinais verbais e não verbais oriundos da cultura digital e, com ele, um novo meio de aprendizado. 3. Um novo conceito de aprendizagem Tappscot (1995 apud XAVIER, 2006, p.2-3), ao analisar um questionário respondido na Internet por pré-adolescentes e adolescentes que cresceram com acesso à informática, concluiu que a forma “velha” de aprendizagem está sendo substituída por uma “nova”. “Jeito velho” Centrado no professor Absorção passiva Trabalho individual “Jeito novo” Centrado no aluno Participação ativa do aluno Trabalho coletivo Professor “sabe-tudo” Professor articulador Ensino estático Ensino dinâmico Aprendizado predeterminado Aprender a aprender Implicações para o aluno Aprendizes ativos Muita motivação Equipe constrói habilidades desenvolvidas coletivamente Aprendizagem adequada às mudanças no mundo Material didático on-line substitui livros etc. Competências voltadas para a Era da Informática Fonte: Tappscot 1994 apud XAVIER, 2006, p.3 O auto-letramento digital pela Internet está desafiando os sistemas educacionais tradicionais e está trazendo um “jeito novo” de se aprender. Ao se analisar a matriz do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM), percebese que a prova constituída por questões abertas e de múltipla escolha com o objetivo de avaliar as habilidades dos estudantes que concluíram o Ensino Médico desconsidera essa realidade. Desconsidera por não avaliar nenhuma habilidade que seja específica da cultura escrita digital, como se a modalidade textual veiculada nesse tipo de cultura não estivesse amplamente difundida socialmente e como se ela não requeresse algumas habilidades diferenciadas das exigidas pela cultura impressa. Se analisarmos que essas matrizes de ensino devem conter as habilidades consideradas relevantes no processo de ensino e aprendizagem, omitir o ambiente virtual seria até certo ponto desconsiderar a sua importância. Navegar e ler são etapas diferenciadas da leitura, concorrendo ambas para a composição de uma competência que, se relacionada a práticas de leitura (e escritas) em ambiente suportado por computadores ou, mais abrangentemente, por tecnologia digital. (RIBEIRO e COSCARELLI, [s.d., p.3]) Se essa matriz não é suficiente para contemplar habilidades necessárias para se ler e escrever em ambiente digital, torna-se necessário que se construa outra, voltada, dessa vez, ao problema da utilização do computador como ferramenta de produção de leitura de textos escritos, para que se possa refletir sobre as experiências tradicionais de escrita como também sobre as experiências genuinamente digitais de comunicação. Para tanto, torna-se necessário analisar quais são as habilidades necessárias para lidar em ambientes digitais. Segundo Tapscott (1999 apud XAVIER, 2006, p.3), a geração que tem crescido na rede de computadores desenvolve as seguintes habilidades: independência e autonomia na aprendizagem; abertura emocional e intelectual; preocupação com os acontecimentos globais; liberdade de expressão e convicções firmes; curiosidade e faro investigativo; imediatismo e instantaneidade na busca de soluções; responsabilidade social; senso de contestação; tolerância ao diferente. (TAPSCOTT, 1999 apud XAVIER, 2006, p.3) Cabe lembrar que essa geração amadurece mais rápido que a de seus pais; isso ocorre pelo intercâmbio das informações na rede, que levam esses adolescentes a ensinar e aprender mutuamente, produzindo experiências compartilhadas com todos. Em contrapartida, esse processo exige a mudança do perfil do professor e da sua prática pedagógica; pois só assim ele conseguirá acompanhar a geração digital. Ele deve se tornar: pesquisador, não mais reprodutor de informação; articulador do saber, não mais fornecedor único do conhecimento; gestor de aprendizagens, não mais instrutor de regras; consultor que sugere, não mais chefe autoritário que manda; motivador da “aprendizagem pela descoberta”, não mais avaliador de informações empacotadas a serem assimiladas e reproduzidas pelo aluno. (TAPSCOTT, 1999 apud XAVIER, 2006, p.3) Dessa forma, o letramento digital faz com que os indivíduos assumam uma nova maneira de realizar suas atividades de leitura e de escrita. Essa nova proposta de se analisar o hipertexto pressupõe em um conjunto de capacidades mentais que envolvem algumas competências: competência para compreender os novos princípios que regulam a organização e a armazenagem do conhecimento em um ambiente virtual, não mais em locais físicos, como livros, por exemplo; competência para clicar nos “links” que são ferramentas auxiliares de navegação na página eletrônica; competência para “sacar” os dados apresentados na tela de modo diverso como em textos,imagens e sons, que precisam ser selecionados e filtrados em meio às muitas informações dispostas na página eletrônica visitada e em toda a Internet (TAPSCOTT, 1999 apud XAVIER, 2006, p.3) Como se percebe, os textos digitais exigem novas competências, exigem gêneros próprios e geram um tipo de tratamento diferenciado; as condições sociais, culturais e tecnológicas apresentam, por usa vez, cada vez mais favoráveis à aquisição do letramento digital. Mas, em uma sociedade desigual como a nossa, valorizar ainda mais esse letramento considerando suas habilidades como básicas nas matrizes das avaliações do governo não seria excluir ainda mais aqueles que não fazem parte desse mundo digital? Até que ponto também nossas escolas e professores estão preparados para tudo isso? Cabe, portanto, ao Estado, o desenvolvimento de condições para tentar universalizar cada vez mais o acesso ao universo digital com o intuito de amenizar as desigualdades sócio-econômicas e históricas, garantindo o acesso à cidadania plena. Se a política de educação do governo atual estimular e financiar a construção de telecentros públicos (locais de acesso à Internet e de aprendizagem de processadores de textos), equipar as escolas do ensino fundamental e médio com laboratórios de computação, capacitar em massa seus professores transformando-o em “letrados digitais”, é bem provável que os gêneros digitais (...) serão cada vez mais trabalhados, aprendidos e utilizados na escola e principalmente fora dela. (XAVIER, 2006, p. 5-6) Só assim, os profissionais de educação, nesse caso, em especial, os professores de linguagem, conseguirão desenvolver estratégias pedagógicas mais eficazes em seus mais variados espaços educacionais com o intuito de enfrentar os desafios colocados atualmente: alfabetizar, letrar e letrar digitalmente um maior número de pessoas. 4. Possibilidades de trabalho oriundas da utilização da matriz de letramento digital Ao se propor uma matriz de letramento digital para o ensino de língua materna, não se pretende definir todos os descritores que uma matriz digital necessita ter; mas sim analisar a necessidade e a emergência de matrizes digitais nos contextos sociais e contemporâneos. Cabe lembrar que a matriz proposta não foi testada com relação à produção de atividades e nem com relação à capacidade de se medir o nível de letramento digital de um indivíduo; apenas se quis listar quais seriam as habilidades básicas para que um indivíduo para aprender e aperfeiçoar seus conhecimentos de língua materna através do ambiente digital. É primordial que ela seja analisada, aplicada e testada nas escolas para que possa ser adaptada e melhorada; pois, só assim, poder-se-á refinar esse instrumento que irá desenvolver as habilidades de leitura e escrita mediadas pelas tecnologias digitais. REFERÊNCIAS DIAS, Marcelo Cafiero; NOVAIS, Ana Elisa Novais. Por uma matriz de letramento digital. III Encontro Nacional Sobre Hipertexto. Belo Horizonte, CEFET- MG, 2009. Disponível em: http://www.ufpe.br/nehte/hipertexto2009/anais/p-w/por-uma-matriz.pdf. RIBEIRO, Ana Elisa e COSCARELLI, Carla Viana. Matrizes de habilidades e leitura digitais. Educação em Revista. (no prelo). SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Campinas: Ed. Soc. Vol. 23, n. 81, dez. 143-160, dez. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935.pdf. Acesso em: 14 de agosto de 2010. XAVIER, Antônio Carlos dos Santos. Letramento digital e ensino. Disponível em: http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Letramento%20digital%20e%20ensino.pdf. Acesso em: 15 de agosto de 2010. Matriz de letramento digital para o ensino de língua materna Grupo CONT1 CONT2 CONT3 Contato Nome descritor Saber ligar e desligar o computador Reconhecer a área de trabalho do computador Aprender a usar cada um dos periféricos CONT4 Estabelecer relação tipográfica entre as letras alfabéticas e os outros signos CONT5 Utilizar todas as funções do teclado CONT6 Reconhecer a barra de status dos diferentes programas CONT7 Reconhecer os mecanismos de busca e de busca avançada COM1 Inferir os processos e comandos padronizados pela interface COM2 Perceber como funcionam os processos realizados pelo computador COM3 Criar e nomear locais adequados para o Detalhamento Aprender todos os passos necessários para ligar e desligar o computador. Saber localizar na tela inicial todos os ícones necessários. Saber a função e usar cada um dos periféricos: teclado, mouse, desenvolvendo a coordenação motora fina; utilizando de forma correta cada um dos comandos. Manipular o teclado levando em conta a materialização das letras do alfabeto e outros signos que possuem função específica Aprender a digitar corretamente, utilizando todos os recursos do teclado. Saber identificar todos os elementos que compõem a barra de status dos mais diferentes programas utilizados. Saber quais são as ferramentas de busca e saber diferenciar as de busca de informação das demais ferramentas. Saber qual é a função de cada um dos botões a partir do seu significado e da relação com funções semelhantes. Identificar e diferenciar os processos de instalação dos programas, download e descompactação de arquivos. Diferenciar os tipos de arquivos, sabendo armazenamento de arquivos Compreensão COM4 Diferenciar endereços de páginas na internet COM5 Hierarquizar a estrutura hipertextual COM6 Saber selecionar conteúdos pertinentes aos objetivos de leitura Entender a forma como cada um dos programas funciona COM7 ANA1 Operar vários softwares para edição e busca on line ANA2 Saber utilizar os recursos da web ANA3 Utilizar os ambientes e ferramentas para elaborar textos Usar a rede para buscar informações as necessárias para a leitura e escrita de textos Usar as ferramentas de busca, bancos de dados on line e e-mail ANA4 ANA5 ANA6 ANA7 ANA8 Desenvolver habilidades de comunicação Aprender a avaliar e corrigir seus próprios textos Aprender a se comunicar em ambiente virtual armazená-los em pastas distintas do computador. Diferenciar endereços de sites em gratuitos e pagos, diferenciando também os endereços de blogs dos endereços de sites. Perceber a macroestrutura no texto, sabendo diferenciar as partes principais das secundárias. Identificar links e informações que se adéqüem ao objetivo de leitura pretendido. Compreender os diferentes tratamentos que devem ser dados para cada um dos programas. Contemplar a diversidades de software disponíveis para a exploração dos recursos de edição de texto, leitura e busca na internet. Ensinar os alunos a navegar em sítios e catálogos. Usar ambientes ou ferramentas para elaborar textos no programa Word e textos on line Aprender a consultar dicionários e enciclopédias para ajudar no aprendizado da língua. Aprender a utilizar ferramentas de busca, bases de dados on line e e-mail para a troca de informações. Aprender habilidades de comunicação, criando e lendo os mais variados tipos de textos. Utilizar a auto-correção dos programas de edição de textos. Desenvolver habilidades cognitivas para se comunicar e usar essas habilidades para a ANA9 ANA10 Análise Incorporar a produção multimídia em sua vida Saber buscar informações na web e relacioná-las ANA11 Usar as diferentes linguagens em práticas sociais diversas ANA12 Dominar os diferentes gêneros textuais veiculados na internet ANA13 Utilizar as tecnologias relacionadas à informação e à comunicação em contextos relevantes para a vida Construir categorias de diferenciação e apreciação de textos Analisar as diferenças e semelhanças entre a linguagem e seu código ANA14 ANA15 ANA16 ANA17 ANA18 ANA19 Associar a produção de conhecimentos, das diferentes áreas, as linguagens que lhe dão suporte Reconhecer o potencial significativo da web Desenvolver as habilidades que compõe as competências de ler, escrever e resolver problemas de forma integrada Produzir textos, nas mais diversas escrita de textos. Usar as mais diversas tecnologias de produção de textos. Relacionar informações e conhecimentos necessários para compreender e construir argumentação consistente nos mais diversos assuntos. Usar as diferentes linguagens usadas na internet para que se possam compreender os diversos gêneros textuais. Compreender as características de cada um dos gêneros veiculados na internet com o intuito de ler e produzir esses textos. Conseguir aplicar as tecnologias de informação e de comunicação no contexto familiar, escolar, de trabalho, entre outros. Diferenciar os mais variados tipos de textos e apreciá-los com relação a essas categorias. Compreender que cada um dos textos utiliza uma linguagem e, consequentemente, um código específico. Produzir conhecimentos necessários para saber diferenciar as linguagem que dão suporte a essas linguagens. Compreender que a web possui um potencial imenso tanto para a leitura quanto para a criação dos textos. Conseguir realizar todas as habilidades necessárias para realizar todas as competências de uma só vez. Produzir textos, de modo seguro e autoral, não situações de comunicação ANA20 Ampliar as oportunidades de letramento. apenas em situações cotidianas da esfera privada, como também nas esferas públicas de atuação social. Construir sentidos nos mais variados tipos de leitura, ampliando as oportunidades de letramento do aluno. LETRAMENTO DIGITAL: CONCEITOS, NECESSIDADE E CIDADANIA Sílvio José Trindade Alvim – graduado em Sistema de Informação, especialista em produção de software, Mestrando em Educação. Andréia Almeida Mendes – graduada em Letras, especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Linguística, Doutoranda em Linguística. Faculdade Vértice [email protected] RESUMO O presente artigo de revisão bibliográfica pretende analisar a diferença entre letramento e letramento digital, tentando mostrar quais saberes um indivíduo necessita ter para ser considerado letrado digitalmente; além disso, falar-se-á também a respeito dos locais e as formas em que se pode aprender ou adquirir esse tipo de letramento, bem como os perigos que a exclusão digital pode trazer a um indivíduo neste mundo globalizado. Dominar esse mundo digital e, consequentemente, toda essa tecnologia que advém dele, é essencial para que o indivíduo saia do processo de exclusão social e exerça a sua cidadania com plenitude. Só assim teremos a tecnologia em favor do homem, a tecnologia sendo usada em seu favor e não contra; uma vez que o objetivo principal da tecnologia é a valorização dos seres humanos. PALAVRAS-CHAVE: Letramento; Letramento digital; cidadania; exclusão social. 1. Considerações iniciais Todas as mudanças ocorridas no cenário mundial levam-nos à reflexão de que o letramento digital torna-se extremamente necessário, já que as relações do sujeito com o mundo estão cada vez mais dependentes do acesso a instrumentos mediadores de informações e da repercussão de se transformar essas informações em conhecimentos. É justamente esse o ponto de partida deste trabalho: mostrar que o letramento digital é necessário para que o processo de exclusão não se agrave ainda mais. O objetivo deste trabalho é analisar a diferença entre letramento e letramento digital, tentando mostrar quais saberes um indivíduo necessita ter para ser considerado letrado digitalmente; os locais e as formas em que se pode aprender ou adquirir esse tipo de letramento, bem como os perigos que a exclusão digital pode trazer a um indivíduo neste mundo globalizado serão também analisados. Para tanto, analisar-se-á, inicialmente, os procedimentos metodológicos que nortearam a pesquisa; em seguida, o que é letramento; logo após, será realizada uma análise sobre o que é letramento digital e, na sequência, retratar-se-á a questão da inclusão social e da cidadania. Para terminar, serão apresentadas as considerações finais. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 2. Procedimentos metodológicos A metodologia aqui utilizada será a revisão bibliográfica, valendo-se, para tanto, das idéias dos seguintes teóricos: Soares (2010), Xavier (2010) e Pereira (2005). Segundo esses teóricos, as diferenças entre tecnologias tipográficas e digitais são claras, tanto na recepção, quanto nos gêneros e funções do texto, como também nos processos cognitivos e discursivos e no estado ou condição dos destinatários dos textos. “No computador, o espaço de escrita é a tela, ou a “janela”; ao contrário do que ocorre quando o espaço da escrita são as páginas do códice, quem escreve ou quem lê a escrita eletrônica tem acesso, em cada momento, apenas ao que é exposto no espaço da tela.” (SOARES, 2002, p. 150) Não se pode negar que o letramento digital é fator primordial para que as pessoas consigam exercer de fato a cidadania. Ao dominar esse mundo digital e, consequentemente, toda essa tecnologia que advém dele, o indivíduo sai do processo de exclusão social e passa a exercer a sua cidadania com plenitude. Só assim a tecnologia passa a trabalhar em favor do homem, e não contra; assumindo o papel de valorização dos seres humanos. 3. O que é letramento? O termo letramento é uma palavra nova na língua, que ainda não foi dicionarizada; sendo, portanto, um neologismo baseado na tradução da palavra inglesa literacy, cujo significado é: a condição de ser letrado. O termo literacy, por sua vez, baseia-se na palavra latina littera (letra) somada ao sufixo cy (que indica qualidade, condição e estado). Essa palavra apóia-se no termo também em inglês literate, que, por sua vez, é um adjetivo que designa aquele que é educado, mais especificamente não apenas aquele que possui a habilidade de ler e escrever, mas aqueles que fazem uso competente e frequente da leitura e da escrita. Assim, letramento não se reduz meramente ao processo de aquisição das práticas de leitura e escrita; é o “estado ou condição de indivíduos ou grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita” (SOARES, 2002, p. 145). Percebe-se que não basta apenas dominar o uso da leitura e da escrita, há a necessidade de se participar de forma ativa e competente nas situações em que ocorrem essas práticas de leitura. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Dessa maneira, fica clara a diferença entre saber ler e escrever, ou seja, a condição de ser alfabetizado; e viver como alguém que sabe faz uso constante da leitura e da escrita, envolvendo-se nas práticas sociais de leitura e de escrita. Assim, podemos afirmar que muitas pessoas, apesar de serem alfabetizadas, não são letradas, uma vez que embora saibam ler e escrever, não usam esses conhecimentos constantemente. Ao alcançar a condição de letramento, o indivíduo passa a ter uma condição social e cultural diferente dos que não possuem essa habilidade. Essa pessoa passa a ocupar um lugar social diferente, mudando o seu modo de viver na sociedade e sua relação com a cultura e com a apropriação dos bens culturais. 4. O que é letramento digital? Durante o processo histórico de aquisição da escrita pelo homem, percebe-se que o espaço da escrita sofreu inúmeras modificações, iniciando com a superfície de uma tabuinha de argila, madeira ou pedra, passando pelos rolos de papiro ou de pergaminho, chegando à estrutura da página, até chegar à tela do computador. (SOARES, 2002, p. 149). Nesse momento privilegiado, em que novas práticas de leitura e escrita surgem, torna-se necessário analisar se “as práticas de leitura e de escrita digitais, o letramento na cibercultura, conduzem a um estado diferente daquele que conduzem as práticas de leitura e escrita quirográficas e tipográficas” (SOARES, 2002, p. 146). As diferenças entre tecnologias tipográficas e digitais são claras, tanto na recepção, quanto nos gêneros e funções do texto, como também nos processos cognitivos e discursivos e no estado ou condição dos destinatários dos textos. “No computador, o espaço de escrita é a tela, ou a “janela”; ao contrário do que ocorre quando o espaço da escrita são as páginas do códice, quem escreve ou quem lê a escrita eletrônica tem acesso, em cada momento, apenas ao que é exposto no espaço da tela.” (SOARES, 2002, p. 150) Surge com isso, um novo conceito, o de letramento digital que pode ser entendido não somente com o saber utilizar as tecnologias digitais, mas ao fato de estar sempre em contato com essas novas tecnologias, utilizá-las como instrumentos de leitura e escrita, entendendo os usos e as novas possibilidades que elas podem trazer para a nossa vida. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O Letramento digital implica realizar práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização. Ser letrado digital pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não-verbais, como imagens e desenhos, se compararmos às formas de leitura e escrita feitas no livro, até porque o suporte sobre o qual estão os textos digitais é a tela, também digital. (XAVIER, 2005, p.02) É uma verdadeira revolução na forma de conceber a aprendizagem, sendo muito comum o “auto-letramento” pela Internet, segundo Xavier (2005, p. 3) surge um novo jeito de aprender: mais dinâmico, participativo, descentralizado da figura do professor; pautado na independência, na autonomia e nas necessidades e interesses imediatos de cada um dos usuários das tecnologias de comunicação digital. Segundo Tapscott (apud Xavier, 2005, p. 3), a geração que tem crescido na rede de computadores tende a desenvolver habilidades como: independência e autonomia na aprendizagem, abertura emocional e intelectual, preocupação pelos acontecimentos globais, liberdade de expressão e convicções firmes, curiosidade e faro investigativo, imediatismo e instantaneidade na busca de soluções, responsabilidade social, senso de contestação, tolerância ao diferente. Cabe lembrar que para ser letrado digitalmente, há primeiro a necessidade de se letrar alfabeticamente, o “novo” tipo de letramento é totalmente dependente do “velho”, o que faz com que aumente a importância do letramento alfabético na vida do indivíduo. A grande massa de dados que surgem a todo instante na Internet faz com que o letramento alfabético torne-se essencial na conquista da cidadania. Não é necessário conhecer computador a fundo, mas precisa-se vencer a limitações impostas pelo analfabetismo digital. Segundo XAVIER (2000, p.5), há a necessidade de se conhecer pelos menos as “infovias ou auto-estradas virtuais por onde trafegam as informações relevantes que ficam à espera de serem transformadas em conhecimento.” Há a necessidade de saber “buscar” pelo menos determinada informação na rede digital, utilizando com eficiência as informações armazenadas e disponibilizadas nos sites, é isso que irá assegurar a cidadania de cada um dos indivíduos. 5. Inclusão digital e cidadania Um dos grandes desafios desse século é o de justamente formar cidadãos preparados para o mundo contemporâneo; cada dia que passa, está mais claro que “os mesmos métodos que produziram sucesso no estágio passado podem não ter serventia alguma no estágio atual ou no futuro.” Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 (PEREIRA, 2005, p.13). Torna-se, portanto, necessário investir em métodos mais atuais; para que isso ocorra, a exclusão digital ou o analfabetismo digital deve ser expurgada de nosso sistema de ensino. Essa constatação leva-nos a algumas reflexões sobre a natureza dos problemas que iremos enfrentar ao fazer parte da Sociedade da Informação na Era do Conhecimento: Problemas são normais e desejáveis, são resultado da mudança. O único lugar no ciclo da vida em que não há nenhum problema é o lugar em que não há nenhuma mudança, que é a morte. O papel daqueles que conduzem o ensino não é impedir problemas ou retardar o ritmo das mudanças. Em vez disso, deve-se focalizar e acelerar suas habilidades e competências para reconhecer e resolver problemas. A maioria dos problemas que as instituições de ensino na Sociedade da Informação irão enfrentar é comum a todas instituições, não somente o Brasil, mas em todo o mundo. Para aqueles que ainda não se alertaram, a Sociedade da Informação nos conduz, irreversivelmente, à globalização. Isso não serve de consolo, mas a exclusão a exclusão digital não é um problema exclusivo dos países de terceiro mundo, é um problema global. Em todas as partes do mundo esse problema é discutido por educadores, sociedade civil e governos. Pode se economizar muito tempo e esforço compreendendo quais são boas práticas adotadas ao redor do mundo. (PEREIRA, 2005, p.14) Vários são os organismos associados à educação na Sociedade da Informação: educadores, instituições de ensino, professores etc.. Cabe a todos envolvidos nesse processo entender que letramento digital é muito mais do que saber ler, escrever e digitar em um computador. A inclusão é um processo em que “uma pessoa ou um grupo de pessoas passa a participar dos usos e costumes de outro grupo, passando a ter os mesmos direitos e os mesmos deveres dos já participantes daquele grupo onde se está incluindo”. (PEREIRA, 2005, p.15). Entende-se por digital não apenas o uso do computador, mas também o uso de celulares, caixas eletrônicos, máquinas fotográficas modernas, televisão etc.. Assim, a inclusão digital é um “processo em que uma pessoa ou grupo de pessoas passa a participar dos métodos de processamento, transferência e armazenamento de informações que já são do uso e do costume de outro grupo, passando a ter os mesmos direitos e os mesmos deveres dos já participantes daquele grupo onde se está incluindo.” (PEREIRA, 2005, p.17). Dessa forma, torna-se cada vez mais necessário dominar a tecnologia para que dela se possa extrair conhecimento. Como já foi dito, esse é um problema mundial, o mundo inteiro tenta eliminar a exclusão digital da sociedade organizada. É certo que os países do “terceiro mundo” sofrem muito Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 mais com esse problema, principalmente, nas comunidades rurais, onde existem muito mais limitações com relação ao acesso ao mundo digital. Mas é só através da superação desse problema que iremos conseguir superar esse processo de exclusão e garantir cidadania a todos, sem distinção. 6. Considerações finais A informação apresenta-se, atualmente, como um meio de produção de conhecimento; a partir dessas informações o sujeito formula respostas aos seus questionamentos. Devido a isso, o letramento digital torna-se cada vez mais importante para o processo de compreensão do mundo e problematização de tudo que o cerca. Dominar esse mundo digital e, consequentemente, toda essa tecnologia que advém dele, é essencial para que o indivíduo saia do processo de exclusão social e exerça a sua cidadania com plenitude. Só assim teremos a tecnologia em favor do homem, a tecnologia sendo usada em seu favor e não contra; uma vez que o objetivo principal da tecnologia é a valorização dos seres humanos. REFERÊNCIAS SOARES, Magda. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Campinas: Ed. Soc. Vol. 23, n. 81, dez. 143-160, dez. 2002. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/es/v23n81/13935.pdf. Acesso em: 14 de agosto de 2010. XAVIER, Antônio Carlos dos Santos. Letramento digital e ensino. Disponível em: http://www.ufpe.br/nehte/artigos/Letramento%20digital%20e%20ensino.pdf. Acesso em: 15 de agosto de 2010. PEREIRA, João Thomaz. Educação e Sociedade da Informação. In: COSCARELLI, Carla Viana e RIBEIRO, Ana Elisa (orgs.). Letramento digital: aspectos sociais e possibilidades pedagógicas. Belo Horizonte: Autêntica, 2005. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O PAPEL DOS ESTUDOS DE IMPACTO DE VIZINHANÇA NA CONSTRUÇÃO DA FUNÇÃO SOCIAL DA CIDADE João Emilio de Assis Reis - Graduado em Direito, Especialista em Direito Público, Especialista em Direito Processual e Mestre em Direito UNILAVRAS [email protected]. RESUMO Este trabalho é um ensaio teórico que busca refletir sobre o papel dos Estudos de Impacto de Vizinhança na consolidação da função social das cidades. Buscou suporte na ideia do meio ambiente equilibrado com direito fundamental de todos e na ideia do urbanismo funcional, no sentido de propiciar a todos os integrantes da comunidade livre acesso aos recursos da cidade e o Estudo de Impacto de Vizinhança como instrumento adequado para o diagnóstico objetivando esse fim, já que permitirá a detecção dos efeitos negativos e positivos das atividades ou obras capazes de gerar degradação ambiental ou distúrbios no ambiente urbano e apresentação de medidas mitigadoras ou eliminatórias dessas situações. PALAVRAS-CHAVE: Planejamento Urbano; Estudos Vizinhança; Função Social da Cidade; Direito Ambiental. de Impacto de 1. Introdução A organização e a regulação das cidades sempre foi um problema para o homem. Nos primórdios da civilização, quando a revolução agrícola permitiu ao homem se fixar em um lugar e abandonar a vida nômade, surgem também os primeiros aglomerados urbanos, desenvolvendo atividades não diretamente ligadas ao cultivo da terra, como o comércio e serviços religiosos. Com esse novo modo de vida, surgem também novos problemas próprios dele, que o Direito não pode ignorar e, desde então, vem tentando controlar, surgindo então o urbanismo e a legislação urbanística. O conceito de urbanismo e a função do Direito Urbanístico vem evoluindo através dos tempos. De um urbanismo estético, “embelezador de cidades”, passa-se ao urbanismo funcional, preocupado com a funcionalidade das atividades citadinas e com o acesso dos seus habitantes a serviços. Alia-se a isso o surgimento da chamada “consciência ecológica” e o ambientalismo que vê como direito fundamental do homem viver e interagir em um meio ambiente sadio e equilibrado. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Sob esse prisma, políticas públicas ambientais preventivas tornam-se essenciais e criam-se instrumentos para o planejamento da atividade urbanística. Um desses instrumentos é justamente o Estudo de Impacto de Vizinhança. O presente trabalho, a partir de pesquisa bibliográfica, pretende justamente analisar o Estudo de Impacto de Vizinhança como instrumento de consolidação do Direito Fundamental ao Meio Ambiente equilibrado, sendo imprescindível no urbanismo contemporâneo, preocupado com o acesso à cidade por parte de seus habitantes. Primeiramente analisar-se-á evolução do urbanismo e direito urbanístico no decorrer da história. A seguir, passa-se a uma análise da evolução do Direito ao Ambiente para, finalmente, contextualizar-se os Estudos de Impacto de Vizinhança como instrumentos necessários do Planejamento Urbano contemporâneo, voltado para a consolidação das Funções Sociais da Cidade. 2. Urbanização, Urbanismo e a Função Social das Cidades É verdade que, desde os primórdios da civilização humana, quando populações passaram a se aglomerar cada vez mais e as pequenas vilas do neolítico evoluíram para as cidades nos vales da Mesopotâmia por volta de 3.100 a.C., surgiram também problemas específicos, próprios dessas aglomerações. Também desde essa época, os governantes das cidades tentam resolver os problemas que vêm surgindo ao longo do tempo. Questões sanitárias, de abastecimento de água potável e alimentos e, até mesmo, as limitações às edificações eram tratadas por aqueles governantes (MARCHI, 2002, p. 18). Noticia-se que após o incêndio de Roma por Nero, aquela cidade foi objeto de cuidados urbanísticos (SILVA, 2006, p. 27). Assim desde a Antiguidade e também no Medievo, é possível observar-se o cuidado com as cidades e a existência de normas urbanísticas. No entanto, somente a partir da Revolução Industrial é que podemos realmente falar no fenômeno da Urbanização, pois é com esse processo histórico que se desencadeia realmente o processo de concentração urbana e não o simples crescimento das cidades. Esse fenômeno trouxe ainda mais problemas: a deterioração do ambiente, a sub-habitação ou mesmo a falta de habitação, desemprego, problemas de higiene e saneamento básico, exclusão social e aumento da violência e da criminalidade. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Assim, o Urbanismo, inicialmente concebido como a arte de embelezar a cidade (SILVA, 2006, p. 27-28), é obrigado a ampliar seus conceitos, evoluindo de um urbanismo empírico e predominantemente estético para um urbanismo mais funcional e social. Nessa visão, “o urbanismo é uma ciência, uma técnica e uma arte ao mesmo tempo, cujo objetivo é a organização do espaço urbano visando o bem estar coletivo – através de uma legislação, de um planejamento e da execução de obras públicas que permitam o desempenho harmônico e progressivo das funções urbanas elementares: habitação, trabalho, recreação, do corpo e do espírito, circulação no espaço urbano” (SILVA, 2006, p. 30). Nesse novo contexto de Urbanismo e Direito Urbanístico, a Constituição Federal Brasileira de 1988 vem cunhar o termo Função Social da Cidade em nosso ordenamento jurídico, ao dispor que a política de desenvolvimento urbano, executada pelo Poder Público municipal, conforme diretrizes gerais fixadas em lei, tem por objetivo ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes. A qualificação da norma jurídica como regra ou princípio depende de conexões axiológicas que não estão presentes no texto legal, mas que são construídas pelo intérprete na realização de seu trabalho, estando ele limitado aos valores e fins do ordenamento jurídico. Princípios, em seu conceito, são normas imediatamente finalísticas, por estabelecerem um fim a ser atingido. Eles instituem o dever de adotar comportamentos necessários à realização de um estado de coisas ou, inversamente, instituem o dever de efetivação de um estado de coisas pela adoção de comportamentos a ele necessários. Essa perspectiva de análise evidencia que os princípios implicam comportamentos, ainda que por via indireta e regressiva (ÁVILA, 2004, p. 72). Dessa forma, ao dispor que a Política Urbana tem como finalidade ordenar o pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e garantir o bem estar de seus habitantes, a Constituição estabelece um princípio constitucional para a atividade urbanística em torno do qual todos os instrumentos de regulamentação e organização do espaço urbano deverão gravitar. Assim, é necessário, inicialmente, entender o que é Função Social das Cidades e qual seu alcance enquanto princípio jurídico. O fenômeno da funcionalização do direito significa o abandono da velha concepção estrutural, científica do Direito, no qual a ciência Direito não se preocupa com o papel do Direito enquanto instrumento de controle social, preocupando-se apenas com seus elementos estruturais deixando à sociologia Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 e à filosofia a análise funcional. A análise funcional do Direito surge, assim, como um contraponto em relação a análise estrutural do Direito. O recurso à analise funcional do Direito, em aproximação da ciência jurídica com as demais ciências sociais, permite então uma maior compreensão do fenômeno jurídico, bem como os impactos do Direito na realidade com que esse pretende interagir (AMARAL, 2003, p. 386). O foco deixa de ser o modo como as estruturas ou subestruturas do Direito relacionam-se entre si, mas a forma como essas estruturas se relacionam com a realidade, ou, como atuam na vida social. A funcionalização dos institutos jurídicos significa, então, que o direito em particular e a sociedade em geral começam a interessar-se pela eficácia das normas e dos institutos vigentes, não só no tocante ao controle ou disciplina social, mas também no que diz respeito à organização e direção da vida em sociedade, abandonando-se a costumeira função repressiva tradicionalmente atribuída ao direito, em favor de novas funções, de natureza distributiva, promocional e inovadora, principalmente na relação do direito com a economia (AMARAL, 2003, p. 387). Assim, o fenômeno da funcionalização surge no Direito buscando uma guinada no universo do Direito, no sentido de que a ciência jurídica tire o foco de si mesma e volte suas preocupações para a sociedade enquanto principal destinatária de seus efeitos. Tem por fim a reconstrução dos principais institutos do direito contemporâneo, baseado nos fins desses institutos que, no caso são o equilíbrio nas relações entre os interesses individuais e as necessidades coletivas e sociais. Esse equilíbrio se impõe em decorrência da própria natureza da vida em sociedade. Como se sabe, a pessoa humana é um ser gregário, que vive da colaboração como instrumento de conservação da espécie. É impossível imaginar pessoa que não necessite de alguma espécie de trabalho ou serviço prestado por outrem. Assim, sendo indispensável a colaboração recíproca entre os seres humanos, a relação entre a dimensão individual e comunitária entre os seres humanos, a relação entre a dimensão individual e comunitária da pessoa humana acaba por obrigar a relativização do individualismo tão marcante nas codificações oitocentistas (GAMA, 2007, p. 2). Compreender a cidade em sua função social significa então compreender que o espaço urbano não é simplesmente um aglomerado de pessoas e edificações. O espaço urbano passa a ter funções a realizar. Conforme a famosa Carta de Atenas, “o urbanismo é a ordenação dos lugares e dos locais diversos que devem abrigar o desenvolvimento da vida material, sentimental e espiritual em todas as suas manifestações, individuais e coletivas” (SILVA, 2006, p. 31). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. O Direito ao ambiente como um Direito Fundamental Outro elemento importante para compreender os contornos do princípio da função social da cidade pode ser extraído do Direito Ambiental: a compreensão do Direito ao meio ambiente sadio e equilibrado com um direito fundamental da coletividade. Embora desde os primórdios o homem tenha se preocupado com o meio ambiente, somente no século XX o meio ambiente torna-se uma questão de preocupação universal e de estudo sistemático. Esse crescimento da consciência ecológica deve-se, principalmente, aos impactos ambientais provocados pelo ser humano sobre a terra que tem se refletido sobre a própria humanidade e a compreensão de que as transformações provocadas ocorrem numa escala e velocidade muito maior do que o planeta é capaz de recuperar. Os efeitos da poluição industrial, o uso de combustíveis fósseis como matriz energética básica, o processo de desertificação que ameaça a capacidade de produzir alimentos, a destruição das florestas são fatos que deixam claro a limitação e a fragilidade dos recursos naturais, enquanto que, por outro lado, a população mundial vem crescendo exponencialmente. Basta se observar que a população mundial simplesmente duplicou nos últimos quarenta anos. De fato, como é comumente apontado pelos estudiosos do meio ambiente, a crescente degradação ambiental é responsável pelo início da tutela estatal do meio ambiente, através do que José Afonso da Silva chama de despertar da “consciência ecológica” pela população, uma vez que chamou a atenção das autoridades para o problema da degradação e da destruição do meio ambiente, natural e cultural, de forma sufocante (2004, p. 33). Da necessidade de proteção jurídica ao meio ambiente, com o combate a degradação ambiental e objetivando o equilíbrio ecológico, foram surgindo em todos os países as legislações ambientais. No entanto, essa legislação apresenta-se bastante variada, dispersa e confusa. Se por um lado têm-se normas ambiciosas, de base ecológica, que tentam relacionar os elementos envolvidos na situação para normatizar uniformemente as regras relativas ao meio ambiente, por outro, é possível observar normas que constituem simples adequações da legislação sanitária e higienista do século XIX e também da que, em outras épocas, protegiam a paisagem, a fauna e a flora. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 No âmbito do Direito Constitucional, somente as constituições do pósguerra passam a se referir ao meio ambiente. É assim com a Constituição da República Federal da Alemanha, de 1949, que toma como prerrogativa da união disciplinar normas gerais sobre a caça, a proteção da natureza e a estética da paisagem (art. 75, 3º), e ao enunciar como prerrogativa concorrente da União e dos Estados o combate à poluição (art. 74, 4º) (SILVA, 2004, p. 43). Num sentido mais ambientalista, temos as Constituições promulgadas no antigo bloco socialista na década de 70, como a búlgara, de 1971; a cubana, de 1976, e a soviética, de 1977, sendo que as duas primeiras estabelecem como dever do Estado e da Sociedade a salvaguarda da natureza e dos recursos naturais e, a última, assegura a proteção da natureza no interesse das gerações presentes e futuras (SILVA, 2004, p. 45). No entanto, é unanimidade que cabe ao ordenamento constitucional português o vanguardismo quanto ao tema, já que foi a Constituição da República Portuguesa de 1976 que deu a formulação contemporânea ao tema, correlacionando-o com o direito à vida, quando institui em seu art. 66 o direito de todos a um ambiente de vida humana sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de todos de defender esse ambiente. Torna-se incumbência do Estado prevenir e controlar a degradação ambiental e a promoção de políticas públicas no sentido de proteger paisagens e sítios, conservar a natureza, e preservar valores culturais de interesse histórico ou artístico. Também trata como dever do Estado promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de renovação e a estabilidade ecológica (SILVA, 2004, p. 45). No plano normativo internacional, é importante lembrar a Conferência das Nações Unidas, de 1972, em Estocolmo, que institui a convenção relativa à proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural, que reconhece o interesse excepcional sobre o patrimônio ambiental e cultural e o caráter incomparável e insubstituível desses bens, bem como reconhece como direito fundamental do homem à qualidade do meio ambiente (COMPARATO, 2003, p.382). O homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequada em meio cuja qualidade lhe permite levar uma vida digna e gozar de bem estar e tem a obrigação de proteger e melhorar esse meio para as gerações presentes e futuras (SILVA, 2004, p. 59). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 No âmbito constitucional brasileiro, a Constituição de 1988 foi a primeira a tratar claramente da questão ambiental. O núcleo normativo do Direito Ambiental na Constituição encontra-se no art. 225 de cujo caput é possível se extrair o status da questão ambiental no texto constitucional: Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (Constituição Federal, 1988). O Direito ao Meio ambiente está inserto na “Ordem Social”. Assim, tratase de um direito social do homem. De fato, o Direito ao Ambiente sadio e ecologicamente equilibrado é há muito considerado pela doutrina e pela jurisprudência com uma extensão do direito à vida. Assim, quando se fala em tutela do meio ambiente, tem-se em jogo formas de garantir a qualidade de vida humana, pois lhe é essencial. O equilíbrio ecológico, nessa relação tão direta com o ser humano, faz do direito ao ambiente um direito fundamental da pessoa humana, em função dos elementos e valores que congrega, como saúde, segurança, cultura, identidade. Preservar o patrimônio ambiental é garantir vida sadia e com qualidade. Garantir vida com qualidade é promover a dignidade da pessoa humana. Sob esse ponto de vista, não restam dúvidas de que o direito ao ambiente sadio é também um direito fundamental de todos no ordenamento jurídico brasileiro. Se não se encontra previsto expressamente no Título II da Constituição, em que estão enumerados formalmente alguns direitos fundamentais, a partir do momento em que congrega valores como a dignidade humana, princípio fundamental da República e o valor vida, esse protegido expressamente no Caput do art. 5, encontra-se implícito em nosso ordenamento jurídico. Dessa forma, considerando-se o meio ambiente em seu sentido amplo como sendo a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas, abrangendo inclusive o ambiente citadino, resta claro que a ideia de função social das cidades tem íntima ligação com o Direito fundamental ao meio ambiente equilibrado. Como a ideia de funcionalidade, não comporta um fim em si mesmo, sendo antes de tudo um processo, um mecanismo Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 direcionador; pode-se mesmo dizer que a principal finalidade da função social das cidades é de fazer dessas última mais do que um aglomerado de pessoas e edificações, um conjunto em que o ser humano possa viver desfrutando de qualidade de vida, um ambiente em que se possa desenvolver suas potencialidades e se realizar enquanto pessoa. 4. Os Estudos de Impacto de Vizinhança e a Função Social da Cidade A preservação ambiental também vai ter um papel preponderante no meio ambiente artificial ou meio ambiente urbano. Como já dito, a urbanização criou problemas urbanos que precisavam ser corrigidos mediante a ordenação dos espaços habitáveis no meio urbano. Dessa necessidade, surgiu o urbanismo. “O urbanismo apresenta-se como a ciência do estabelecimento humano, preocupando-se substancialmente com a racional sistematização do território, como pressuposto essencial e inderrogável da convivência sã e ordenada dos grupos de indivíduos, que nele transcorre sua própria existência” (TESTA, apud SILVA, 2006, p. 31). Assim, a preservação, o planejamento e, até mesmo, a reconstrução do chamado meio ambiente urbano apresentam-se como pressupostos da realização do bem- estar e da qualidade de vida dos habitantes das cidades. Nesse contexto, inserem-se os chamados Estudos de Impacto Ambiental e Estudos de Vizinhança, que está ligado diretamente ao planejamento da atividade urbanística. O planejamento é a chave de toda a atividade urbanística, pois o agente urbanificador deve ter uma ideia clara do fim que deseja alcançar ao impulsionar aquela atividade, do que seja bom ou desejável para o espaço em que pretende interagir. A Lei 6.938, de 1981, que instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente, dentre os diversos meios de gestão ambiental criou alguns instrumentos preventivos de proteção ao meio ambiente, como o Licenciamento Ambiental para as obras e atividades potencialmente poluidoras e os Estudos de Impacto Ambiental. Dessa forma, qualquer atividade ou obra potencialmente nociva ao meio ambiente deve se submeter a um controle prévio, que tem por objetivo analisar todos os riscos e impactos ambientais, de forma que possam ser prevenidos, corrigidos, minorados ou compensados quando da instalação e funcionamento da obra ou atividade. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Trata-se de um meio de atuação preventiva, que visa evitar as conseqüências danosas, sobre o meio ambiente, de um projeto de obras, ou de qualquer atividade. Seu objetivo central é evitar que um projeto (obra ou atividade), justificável sob o prima econômico ou em relação aos interesses imediatos de seu proponente, se revele posteriormente nefasto ou catastrófico para o meio ambiente. Valoriza-se, na plenitude, a vocação essencialmente preventiva do Direito Ambiental, expressa no conhecido apotegma “é melhor prevenir do que remediar” (mieux vaut prevenir que guérir) (PRIEUR, apud MILARÉ, 2001, p. 316). O Estudo de Impacto de Vizinhança, embora pertença ao mesmo gênero do Estudo de Impacto ambiental, visto que ambos se destinam ao planejamento de ações e prevenção no sentido de evitar a degradação ambiental e buscar a conservação do ambiente sadio e equilibrado tem como escopo específico as cidades e, em razão disso, guarda suas próprias peculiaridades. O estudo de impacto de vizinhança é um desses instrumentos que permitem a tomada de medidas preventivas pelo ente estatal a fim de evitar o desequilíbrio no crescimento urbano e garantir condições mínimas de ocupação dos espaços habitáveis, principalmente nos grandes centros (SOARES, 2003, p. 293). Conforme prevê a própria Lei 10.257/2001, o Estatuto das Cidades veio estabelecer “normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental” (art. 1, parágrafo único). Diante do que dispõe a norma, o objeto dos Estudos de Impacto de Vizinhança será diagnosticar e limitar o uso da propriedade urbana, no sentido de que todas as obras e atividades de determinado empreendedor estarão dentro dos parâmetros urbanísticos estabelecidos nos instrumentos de zoneamento urbano, no Plano Diretor, e nas demais normas urbanísticas, e que elas não venham ocasionar impacto negativo sobre o ambiente citadino, ocasionando lesão aos interesses coletivos. Nesse sentido, o objeto dos Estudos de Impacto de Vizinhança desdobrar-se-ão em dois. Em primeiro lugar, seu objetivo será identificar quais obras ou atividades encontrarão óbices na regulação urbanística da cidade. É normal se afastar de plano determinada obra ou empreendimento por ser facilmente perceptível que aquela atividade provocará degradação ambiental ou distúrbios e não preenche os requisitos e condições impostos pelos Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 regramentos urbanísticos. Em muitos casos, no entanto, não é possível se perceber de plano os impactos que determinada obra terá no espaço da cidade, ou mesmo, pode ocorrer o caso em que as normas urbanísticas existentes não alcançam determinado empreendimento e, mesmo assim, é facilmente perceptível que aquela atividade é potencialmente causadora de distúrbios e degradação do ambiente urbano. E, nesse caso, fala-se mesmo em degradação ambiental, como por exemplo, o lançamento de poluentes no ar ou a poluição sonora, ou distúrbios de outra ordem, como a instalação de um determinado empreendimento de grande porte em uma área que não oferece infra-estrutura adequada, afetando inclusive o equipamento urbano e os serviços públicos na região, como transporte, saneamento, energias diversas etc. Nesses casos, os Estudos de Impacto de Vizinhança atuarão tanto para diagnóstico, como para adequar as atividades e empreendimentos a serem realizados na cidade, no sentido de buscar quando possível a conciliação do empreendimento com o ambiente em que se pretende inseri-lo. Assim, os Estudos de Impacto de Vizinhança deverão contemplar não só os aspectos positivos e negativos do empreendimento ou da atividade, a relação custobenefício, mas também apontar alternativas para mitigar, minorar ou eliminar os efeitos negativos, buscando conciliá-la com os interesses coletivos. Ressalte-se que, no caso dos Estudos de Impacto de Vizinhança – e aí uma peculiaridade que os distanciam dos Estudos de Impacto Ambiental –, poderá ser exigido em qualquer situação, independentemente de potencial impacto ambiental. É a lei municipal que cuidará de definir os casos em que serão exigíveis. Tal medida parece salutar, resguardando à legislação municipal a escolha das situações em que são exigíveis os referidos estudos. Afinal, projetando-se para o futuro, é a população local que viverá concretamente as situações que surgirão e quem sofrerá diretamente as consequências dos impactos ambientais. Da mesma forma, são as necessidades/interesses da população local que definirão as relações de custobenefício referentes a qualquer atividade ou empreendimento a ser instalado na cidade. De toda forma, a Lei 10.257/2001 traz alguns elementos mínimos que deverão constar, obrigatoriamente, no Estudo a ser realizado. São questões referentes ao adensamento populacional, equipamentos urbanos e comunitários, uso e ocupação do solo, valorização imobiliária, geração de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 tráfego e demanda por transporte público, ventilação e iluminação, além da paisagem urbana e patrimônio natural e cultural. Assim, o Estudo de Impacto de Vizinhança tem extrema importância nos Estudos de Impacto de Vizinhança, como “termômetro” da atividade urbanística e como instrumento de implementação da função social das cidades. O uso e a ocupação do solo estão ligados aos aspectos sociais e econômicos de uma comunidade, vez que a organização do equipamento urbano na cidade deve ser justificável, ou seja, atenda aos interesses da comunidade e de forma que cada integrante da comunidade possa ter acesso às funções básicas da cidade. Assim, ter-se-á a função social da cidade na medida em que aquelas três funções fundamentais pelas quais o urbanismo deve velar são obedecidas: habitar, trabalhar e recrear-se.2 Na medida em que a cidade é disposta ou busca transformar-se por um urbanismo inclusivo, para que todos os integrantes da comunidade tenham livre acesso a essas três funções básicas, realizar-se-á a função social da cidade e, para isso, o Estudo de Impacto de Vizinhança é um instrumento de vital importância. 5. Considerações Finais Diante do presente estudo, é possível concluir que a organização do meio urbano sempre foi motivo de preocupações para o homem, muito embora o conteúdo dessas preocupações variem no tempo. O urbanismo, inicialmente estético, evolui para um urbanismo funcional e, hoje, acima de tudo inclusivo, preocupado com a qualidade de vida do cidadão. O direito ao meio ambiente equilibrado é um direito fundamental do homem posto que uma extensão do direito à vida. O acesso à cidade e às suas funções básicas está incluso no direito ao meio ambiente equilibrado. Cada integrante da comunidade precisa ter acesso às funções básicas da cidade como forma de viver e desenvolver suas potencialidades enquanto ser humano. O urbanismo hodierno, diante dos vários problemas das cidades contemporâneas, precisa ser funcional e a ocupação do solo não deve mais se basear nas questões estéticas, mas atender as necessidades das pessoas, de forma que são necessários mecanismos para a translação dessas ideias para o 2 SILVA, José Afonso da. Op. Cit., p. 31. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 plano concreto da ordenação e planejamento urbano. Nesse sentido, os Estudos de Impacto de Vizinhança são mecanismos adequados a realizar os diagnósticos dos distúrbios e degradações ambientais, permitir a avaliação de medidas tendentes a saná-los e verificar as necessidades da comunidade. REFERÊNCIAS AMARAL, Francisco. Direito civil; introdução. 5 ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2003 ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios. 3. ed., São Paulo: Malheiros, 2004. COMPARATO, Fábio Konder. A afirmação histórica dos direitos humanos. 3. ed., São Paulo: Saraiva, 2003 SOARES, Lucélia Martins. Estudo de impacto de vizinhança. In: DALLARI, Adilson de Abreu, FERRAZ, Sérgio (coord.). Estatuto da cidade; comentários à lei federal 10.257/2001. São Paulo: Malheiros, 2003 GAMA, Guilherme Calmon Nogueira da ET all. Função social no direito civil. Guilherme Calmon Nogueira da Gama (org.). São Paulo: Atlas, 2007. MARCHI, Eduardo C. Silveira. A propriedade horizontal no direito romano. 2. Ed., São Paulo: Quartier Latin, 2002. MILARÉ, Edis. Direito do ambiente; doutrina – prática jurisprudência – glossário. 2. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2001. SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 5. ed., São Paulo: Malheiros, 2004. SILVA, José Afonso da. Direito urbanístico brasileiro. 4. ed., São Paulo: Malheiros, 2006. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A RESPONSABILIDADE DOS FORNECEDORES DE PRODUTOS E SERVIÇOS PELOS RISCOS DO DESENVOLVIMENTO NO DIREITO BRASILEIRO DO CONSUMIDOR: UMA PERSPECTIVA TUTELAR CONSTITUCIONAL João Emilio de Assis Reis - Graduado em Direito, Especialista em Direito Público, Especialista em Direito Processual e Mestre em Direito UNILAVRAS [email protected]. RESUMO Os riscos do desenvolvimento são as situações de certos produtos e/ou serviços que, quando colocados no mercado, mostravam-se adequados e seguros, mas que, com o decorrer do tempo e o avanço da ciência, descobrese que os mesmos são inadequados ou mesmo nocivos aos consumidores. O presente trabalho versa sobre a assunção da responsabilidade pelos fornecedores, ante os prejuízos causados ao consumidor no caso dos riscos do desenvolvimento se implementarem ou se os consumidores devem suportar os danos, partindo de uma leitura tutelar constitucional da relação de consumo e da figura do consumidor. Trata-se de uma questão bastante controversa no Direito Brasileiro atual, uma vez que o Código de Defesa do Consumidor, considerado uma das normas mais avançadas no mundo sobre a questão consumerista, completou 19 anos e não traz norma regulamentadora específica. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento. Consumidor; Responsabilidade, Riscos do 1. Introdução O presente trabalho tem como escopo analisar, no Direito Brasileiro, a questão da existência ou não de responsabilidade do empresário fornecedor de produtos e/ou serviços que, quando coloca um determinado produto no mercado, esse produto apresenta-se eficaz e seguro quando confrontado com o conhecimento técnico e científico da época; mas que, com o decorrer do tempo e o desenvolver da ciência e da tecnologia, mostra ineficaz ou mesmo nocivo à vida, à saúde, ou mesmo ao patrimônio do consumidor. Para que se possa melhor visualizar a importância de tal discussão e suas implicações práticas, pode-se citar o caso célebre há algumas décadas atrás conhecido como “Síndrome da Talidomida”. A Talidomida3 é um 3 Site da Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida. Disponível em: http://www.talidomida.org.br/ . Acesso em 02 de setembro de 2009. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 medicamento que foi desenvolvido na Alemanha, em 1954; inicialmente, como sedativo usado para controlar a ansiedade, tensão e náuseas. Em 1957, a Talidomida passou a ser comercializada mundialmente, mas apenas alguns anos depois, em 1960, descobriu-se que o referido medicamento, quando consumido por gestantes nos 3 (três) primeiros meses de gestação interfere na formação do feto, gerando casos de focomelia, síndrome caracterizada pelo encurtamento dos membros junto ao tronco do feto, podendo provocar ainda problemas visuais, auditivos, na coluna vertebral e, em casos mais raros, problemas cardíacos e no tubo digestivo. Assim, a talidomida foi retirada do mercado a partir de 1961. Afora esse caso notável, percebe-se a importância dessa discussão em várias áreas em que os produtos estão em constante desenvolvimento, como na área de cosméticos, farmacêutica, alimentos industrializados, alimentos transgênicos, criação de softwares, entre outras. Isso tem levado a comunidade científica de países no mundo a discutir sobre a questão e, no caso dos juristas, a discutirem sobre as responsabilidades dos chamados “riscos do desenvolvimento”. Assim, com base em pesquisa bibliográfica, buscar-se-á indentificar o posicionamento do direito brasileiro sobre a imputação de responsabilidade pelos riscos do desenvolvimento, confrontando as posições doutrinárias a respeito do tema - inclusive com uma perspectiva do Direito Comparado -, para finalmente analisar-se o problema na ótica da legislação consumerista brasileira e do Direito Constitucional. 2. Posições Doutrinárias a Respeito da Questão. Basicamente, têm-se duas posições doutrinárias fundamentais a respeito do tema. Uma entendendo pelo caso da exclusão da responsabilidade do fornecedor e, outra, entendendo pela responsabilização no caso dos riscos do desenvolvimento. Na defesa da posição a respeito da exclusão da responsabilidade, conforme alvitra Cavalieri filho, tem-se sustentado que fazer o fornecedor responder pelos riscos do desenvolvimento pode tornar insuportável para o setor produtivo da sociedade, a ponto de inviabilizar a pesquisa e o progresso científicoAnais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 tecnológico, frustrando o lançamento de novos produtos. Sem conhecer esses riscos o fabricante não teria como incluí-los nos seus 4 custos e, assim, reparti-los com os seus consumidores. Assim, a responsabilização do fornecedor inibiria o meio empresarial em investir em pesquisas, pelo fato de responder por eventuais danos futuros descobertos nessas mesmas pesquisas causados por produtos que, à época que foram lançados, mostravam-se seguros. Além disso, tornaria a atividade empresarial da área específica onerosa e sem competitividade no mercado globalizado. Por fim, a assunção dos riscos por parte dos empresários terminaria por fazê-los incluir no preço final dos produtos o custo desses riscos, o que acarretaria a privação de boa parte da população a produtos por vezes essenciais de forma desnecessária, já que os riscos podem nunca vir a se concretizar. Defendendo-se a responsabilidade do fornecedor pelos riscos do desenvolvimento, aponta-se que a exclusão da responsabilidade do fornecedor pode tornar o consumidor uma espécie de “cobaia” para o desenvolvimento dos produtos em estudo. Além disso, a responsabilização do meio empresarial não causaria inibição das pesquisas científicas e a oferta de novos produtos à sociedade, pois existem mecanismos capazes de garantir a reparação da vítima como os seguros, ou mesmo o repasse de possíveis custos de indenizações através do aumento dos preços dos produtos ofertados aos consumidores. Assim, enquanto o meio produtivo teria soluções possíveis para se precaver nessa situação, o consumidor não. Frise-se ainda que, mesmo que o consumidor venha a pagar o preço do progresso, está pagando o preço por produtos melhores e por uma inovação benéfica ao consumo de uma forma geral. A União Européia adotou a política de não responsabilidade do fornecedor pelo risco do desenvolvimento5 através da Diretiva da CEE nº. 85 4 CAVALIERI FILHO. Programa de responsabilidade civil. 7. ed., São Paulo: Atlas, 2007, p. 168. 5 Dispõe o art. 7 da Diretiva No. 85 de 25 de julho de 1985: O produtor não é responsável nos termos da presente directiva se provar: (...) b) Que, tendo em conta as circunstâncias, se pode considerar que o defeito que causou o dano não existia no momento em que o produto foi por ele colocado em circulação ou que este defeito surgiu posteriormente; Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 de 25 de julho de 1985; no entanto, permitiu a liberdade a cada Estado componente, de no âmbito de sua legislação interna, optar ou não pela responsabilização6. Assim, existem países que adotam a exclusão total de responsabilidade, caso de Portugal, Itália e Reino Unido, que adotam a responsabilidade, como Luxemburgo e Finlândia, e ainda países que adotam a responsabilidade no caso de produtos específicos, como a Alemanha, que adota a responsabilidade no caso de produtos farmacêuticos e a Espanha para medicamentos e alimentos de consumo humano7. 3. Em Defesa da Não Responsabilização No Brasil, entre os vários doutrinadores que tratam do tema, tem-se James Marins para quem os riscos do desenvolvimento são eximentes de responsabilidade, posto que seriam irrelevantes, significando irrelevante “insusceptível de levar à responsabilização do fornecedor pelo fato do produto”8. Também Gustavo Tepedino entende pela não responsabilização do fornecedor no caso dos riscos dos produtos em desenvolvimento. Entende o referido que se tratando de responsabilidade objetiva, não seria consentido ao e) Que o estado dos conhecimentos científicos e técnicos no momento da colocação em circulação do produto não lhe permitiu detectar a existência do defeito. LEGISLAÇÃO EUROPÉIA. Diretiva 85 da CEE de 25 de julho de 1985, relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membros em matéria de responsabilidade decorrente dos produtos defeituosos. Disponível em http://eur-lex.europa.eu/pt/index.htm . Acesso em 02 de setembro de 2009. 6 Art. 15, da Diretiva 85 de 25 de julho de 1985: Qualquer Estado-Membro pode: (...) b) Em derrogação da alínea e) do artigo 7o, manter ou, sem prejuízo do procedimento definido no No 2, prever na sua legislação que o produtor é responsável, mesmo se este provar que o estado dos conhecimentos científicos e técnicos no momento da colocação do produto em circulação não lhe permitia detectar a existência do defeito; LEGISLAÇÃO EUROPEIA. Op. cit. 7 CALIXTO, Marcelo Junqueira. O art. 931 do código civil e os riscos do desenvolvimento. Âmbito Jurídico. Disponível em: http://www.ambito- juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5895. Acesso em 02 de setembro de 2009. 8 MARINS, James, apud DENARI, Zelmo, et all. Código brasileiro de defesa do consumidor; comentado pelos autores do anteprojeto. 7. ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001, p. 166. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 intérprete admitir hipótese de excludente de responsabilidade não admitida em lei, fonte da responsabilidade objetiva. Por outro lado, a responsabilidade civil, sendo objetiva, embora não tenha como pressuposto a quebra de dever jurídico, também não nasce de todo e qualquer dano produzido por produtos ou serviços, exigindo para a sua deflagração a presença dos três pressupostos, que, ausentes, excluem a responsabilidade: a) o defeito do produto e do serviço; b) o dano; c) nexo causal.9 Dessa forma, conclui pela dicção do art. 12, § 1º, do Código de Defesa do Consumidor, que trata de forma expressa da responsabilidade pelo fato do produto que “o produto é defeituoso quando não oferece a segurança que dele se legitimamente se espera, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes, entre as quais”, e enumera o inciso III, “a época em que foi colocado em circulação”. Assim, não há defeito do produto ou do serviço no caso do risco do desenvolvimento. Reforça a sua opinião, no art. 10 do mesmo diploma legal, que determina que “o fornecedor não poderá colocar no mercado de consumo produto ou serviço que sabe ou deveria saber apresentar alto grau de nocividade e periculosidade, à saúde ou à segurança” (destaque nosso). Assim, se o conhecimento técnico-científico existente na época em que o produto é colocado em circulação não permitia o conhecimento dos malefícios que ele poderia causar, impossível se responsabilizar o fornecedor. “Não se pode esperar algo que se desconhece. Há, sim, nesse consideradas, caso, embora periculosidade desconhecidas ou pela nocividade, ciência no objetivamente momento do 10 oferecimento do produto ou serviço” . Existem ainda vários outros doutrinadores que defendem a não responsabilidade, pelos quais não avançar-se-á dado o objetivo do presente trabalho que se pretende sintético, e ao fato de que as posições acima explicitadas terminam por sintetizar, embora com algumas variantes, as principais teses que partem pelo caminho da não responsabilização. 4. Em favor da Responsabilidade do Fornecedor. 9 TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil. 3. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2004, p. 273. 10 TEPEDINO, Gustavo. Temas de direito civil: tomo II., 2006, p.114. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Dentre os defensores da responsabilidade do fornecedor frente ao consumidor pelos riscos do desenvolvimento, podemos destacar Antonio Herman de Vasconcellos e Benjamim, Sérgio Cavalieri Filho e Marcelo Junqueira Calixto. Para Herman Benjamin, o produto encontra-se sim defeituoso no caso de riscos do desenvolvimento; existindo, no caso, um defeito de concepção devido à “carência de informações científicas, à época da concepção, sobre os riscos inerentes à adoção de uma determinada tecnologia nova” que não encontra causa exonerativa de responsabilidade no Código de Defesa do Consumidor.11 Outro defensor dessa corrente é Marcelo Junqueira Calixto, para quem a questão se situa na existência do defeito, já que o nexo de causalidade e o dano são claros. E no caso dos riscos do desenvolvimento, o produto deve ser considerado defeituoso porque frustra legítima expectativa do consumidor que, ao adquirir os produtos, o faz na certeza de que se utilizados corretamente, não lhes acarretarão danos. No caso, o dano, ainda que verificado posteriormente, representará a violação de uma expectativa de segurança que existia desde o momento da introdução do produto no mercado de consumo, lembrando-se ser esta uma circunstância relevante para a determinação do caráter 12 defeituoso do produto (art. 12, § 1°, III do CDC). Para Cavalieri Filho, os riscos do desenvolvimento devem ser considerados como caso fortuito interno, assim entendido como o fato imprevisível e, por isso inevitável, ocorrido no processo de produção do produto ou do serviço que não exclui a responsabilidade do empresário, posto que faz parte da sua atividade, liga-se aos riscos do empreendimento, submetendo-se à noção geral de defeito de concepção do produto ou formulação do serviço, diferenciando-se assim do caso fortuito externo, assim entendido como aquele que não guarda qualquer relação com a atividade do fornecedor13. Rizatto Nunes14, embora sem se referir diretamente ao caso dos riscos do desenvolvimento, afirma que a utilização do advérbio “só” no texto que compõe o § 3.o do art. 12 do Código de Defesa do Consumidor deixa claro que 11 BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcelos e. et. all. Comentários ao código de proteção do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1991. p. 67. 12 CALIXTO. Op. loc. cit. 13 CAVALIERI FILHO. Op. cit. 476. 14 NUNES, Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 2ª ed., São Paulo: Saraiva, 2005, p. 175. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 as excludentes de responsabilidade ali enumeradas são taxativas e não meramente exemplificativas, de forma que o fabricante, construtor, produtor ou importador só não será responsabilizado quando provar: a) que não colocou o produto no mercado; b)que, embora haja colocado o produto no mercado, o defeito inexiste (grifo nosso); c)a culpa exclusiva do consumidor ou do terceiro. A base da maioria das teorias que afirmam a responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços basicamente parte da afirmação da existência prévia do defeito. É o estágio em que a ciência se encontra que não permite o seu conhecimento ou detecção, conforme o próprio conceito de riscos do desenvolvimento. Assim, o defeito existe e, dessa forma, é excluído do rol taxativo das excludentes de responsabilidade elencadas pelo Código de Defesa do Consumidor no caso de Acidentes de Consumo. 5. Análise do problema numa perspectiva tutelar constitucional do consumidor Uma vez que a questão dos riscos do desenvolvimento não encontra disposição normativa específica, havendo argumentos válidos do ponto de vista jurídico tanto pela responsabilidade como pela não responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços, necessário se faz recorrer a uma interpretação sistemática do ordenamento jurídico, tendo como eixo norteador a Constituição da República e os princípios que dela emanam, para solucionar a questão. Em um primeiro momento, necessário se faz observar os dispositivos referentes ao consumidor e sua proteção no texto constitucional. Art. 5. - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros, e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e a propriedade, nos termos seguintes: ... XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; E, no outro ponto, tem-se: Art. 170. A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: ... V - defesa do consumidor; Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Para a compreensão correta dos dispositivos acima referidos, é preciso não só a compreensão literal do seu significado, mas também a compreensão contextual dessas normas: entender o contexto em que estão inseridos. O inciso XXXII, do art. 5, encontra-se inserido no Título II da Constituição Federal “Dos Direitos e Garantias Fundamentais” e, no Capítulo I, “Dos Direitos e Deveres Individuais e Coletivos”. Assim sendo, é direito fundamental, individual ou coletivo, e dever do Estado brasileiro, promover a proteção do consumidor. Importante salientar aqui que a Constituição Federal, dá ao consumidor uma perspectiva tutelar. Não parte de uma perspectiva meramente regulamentar e prescreve a regulação das relações de consumo, mas fala claramente em “defesa” do consumidor, assumindo claramente que é dever do Estado/Direito Fundamental a proteção do consumidor, na forma da lei. Aqui, tem-se o exemplo claro do que afirma Cláudia Lima Marques de que o direito deixa o ideal positivista (e dedutivo) da ciência, reconhece a influência do social (costume, moralidade, harmonia, tradição) e passa a assumir proposições ideológicas, ao concentrar seus esforços na solução de problemas (...). Este parece ser a fase do direito atual, pois superado o ceticismo quanto ao declínio do pensamento sistemático, a infalível descodificação, evoluímos parar considerar a realidade positiva função do pensamento tópico e da re15 etização do direito . O pensamento de Luiz Edson Fachin corrobora com a referida ideia, ao propor uma ruptura com a abstração instituída pela codificação, entendendo que a Constituição, deixa de ser apenas uma carta política, definindo as relações entre indivíduos e Estado, passando a assumir também um papel de elemento de integração de todo o ordenamento jurídico, incluindo-se as relações privadas. Cabe enfatizar, todavia, a necessidade de interpretação dos próprios direitos fundamentais de modo que não se corra o risco de transformá-los em modelos abstratos. A dignidade da pessoa humana não pode ser vista como mera proclamação discursiva, lida numa imensidão de abstração (...). Uma Análise da relação entre direitos fundamentais e Direito Civil não pode, pois, ignorar as vítimas dos modelos, cuja dignidade é por eles negada. O sujeito a que se destinam os direitos fundamentais não é o modelo abstrato que se 15 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002, p. 178-179. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 põe como elemento da relação jurídica: é a pessoa concreta, o sujeito 16 de necessidades. Nessa linha de ideias, os direitos fundamentais deixam de ser as tradicionais “liberdades públicas”, os direitos de 1ª geração, limitadores do poder do Estado perante o cidadão, mas também assumem uma feição promocional, com fins a serem perseguidos e no caso, a tutela do consumidor. Assim, analisando-se a situação da sociedade e do consumo e seu surgimento, observe-se que as relações de aquisição de produtos e serviços são desiguais por natureza, em razão da produção de bens em massa em decorrência da revolução industrial. De forma que, para que se garanta a igualdade substancial, é necessária a ação do direito como instrumento de transformação da sociedade humana no sentido de “reequilibrar o jogo”, ou contrabalancear o poder econômico. Analisando o dispositivo seguinte, o inciso V, do art. 170, observa-se inserto no Título VII da Constituição Federal denominado “Da Ordem Econômica e Financeira” e, no Capítulo I, “Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica”. A previsão da defesa do consumidor como princípio da ordem econômica vem a fortalecer a ideia de que mais do que uma mera questão de direito privado é uma verdadeira instituição do Direito Constitucional Econômico, fazendo da defesa do consumidor não só um alicerce fundamental a que se prende toda a ordem econômica brasileira, mas também um fim a ser perseguido, por meio da implementação dos ditames econômicos constitucionais. Frise-se ainda que é fim da Ordem Econômica Constitucional assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social. Busca assim inserir num sistema de base capitalista e individualista, um lugar para a dignidade humana. Para José Afonso da Silva, A constituição de 1988 é ainda mais incisiva no conceber a ordem econômica sujeita aos ditames da justiça social para o fim de assegurar a todos existência digna. Dá a justiça social um conteúdo preciso. Preordena alguns princípios da ordem econômica – a defesa do consumidor, a defesa do meio ambiente, a redução das desigualdades regionais e pessoais e a busca do pleno emprego – 16 FACHIN, Luiz Edson, RUZYK, Carlos Eduardo PIanovski. Direitos fundamentais, dignidade da pessoa humana e novo código civil: uma análise crítica. Constituição, direitos fundamentais e direito privado. Ingo Wolfgang Sarlet (organizador). Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. p.100-101. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 que possibilitam a compreensão de que o capitalismo concebido há 17 que humanizar-se... Eros Grau confirma, o que já foi dito retro a respeito da defesa do consumidor como direito fundamental, no caso da defesa do consumidor como princípio da ordem econômica, respeita a não configuração das medidas voltadas à defesa do consumidor como meras expressões da ordem pública. A sua promoção há de ser lograda mediante a implementação de específica normatividade e de medidas dotadas de caráter interventivo. Por isso mesmo é que o caráter eminentemente conformador da ordem 18 econômica, do princípio, é nítido Isso posto, se alguém tem que suportar os inevitáveis custos dos riscos do desenvolvimento, esses custos devem ser suportados pelo setor produtivo e não pelos consumidores. Além disso, como exposto anteriormente, os fornecedores de produtos e serviços têm mecanismos para se resguardar no caso de se consumarem os riscos do desenvolvimento, seja por meio de seguros ou agregando o valor do risco nos produtos. O consumidor não tem com o que se valer. Finalmente, numa análise final do Código de Defesa do Consumidor, tendo como norte a leitura da Constituição feita até aqui, a Política Nacional das Relações de Consumo tem por objetivo, a dignidade, a saúde, a segurança do consumidor e a proteção de seus interesses econômicos, conforme o art. 4, caput (grifo nosso). Considerando-se ou não defeito a descoberta posterior de vício em produto ou serviço anteriormente considerado adequado, o fato é que o defeito coloca em risco a vida, a saúde, a segurança ou os interesses econômicos do consumidor e, por isso, o fornecedor deve ser responsabilizado. Assim, não restam dúvidas de que, no caso dos riscos do desenvolvimento, não obstante outras leituras possíveis dos diversos dispositivos que o Código traz em seu bojo, válidas e bem fundamentadas, deve prevalecer a tese da responsabilidade do fornecedor de produtos e serviços em face da perspectiva tutelar da Constituição em face do consumidor quanto do próprio Código de Defesa do Consumidor, que sempre deve ser 17 SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed., São Paulo: Malheiros, 2005, p. 790. 18 GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na constituição de 1988. 6. ed., São Paulo: Malheiros, 2001, p. 274. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 interpretado e integrado, como todo ordenamento jurídico relacionado ao direito privado pela Constituição Federal. 6. Considerações Finais Ante a questão dos riscos do desenvolvimento, surge o problema sobre quem deve suportar os custos do referidos riscos, ante o fato de que o produto, quando colocado no mercado mostrava-se perfeitamente seguro e eficaz, não havendo meios, nem para o consumidor nem para o fornecedor, dado o estágio do conhecimento científico anterior, de reconhecer a periculosidade ou nocividade do produto ou serviço colocado no mercado. Na falta de dispositivo específico no Código de Defesa do Consumidor sobre a questão e na leitura isolada de dispositivos do referido Estatuto, são possíveis análises que entendam tanto pela responsabilidade quanto pela não responsabilidade. A questão só pode ser resolvida com uma leitura contextual do estatuto do consumidor sob a ótica da Constituição Federal, que assume uma função claramente protetiva do consumidor e tem como máximas a dignidade e a vida humana, não restando outra leitura possível que não a de que o consumidor é uma figura a ser protegida. Assim, tendo a Constituição como “fiel da balança” nas diversas situações em que faz necessário a integração das normas jurídicas inclusive do direito privado, como no caso em tela em que tratamos dos riscos do desenvolvimento, conclui-se que é o fornecedor responsável perante os consumidores pelos riscos do desenvolvimento, partindo-se de uma leitura contextual da inserção da defesa do consumidor como princípio da ordem econômica da República, alçando ainda a sua proteção a condição de direito fundamental constitucional. REFERÊNCIAS Associação Brasileira dos Portadores da Síndrome da Talidomida. Disponível em: http://www.talidomida.org.br/. Acesso em 02 de setembro de 2009. BARCELLOS, Ana Paula. A eficácia jurídica dos princípios fundamentais. Rio de Janeiro: Renovar, 2002. BENJAMIN, Antonio Herman de Vasconcelos e. et. all. Comentários ao código de proteção do consumidor. São Paulo: Saraiva, 1991. CALIXTO, Marcelo Junqueira. O art. 931 do código civil e os riscos do desenvolvimento. Âmbito Jurídico. Disponível em: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5895. Acesso em 02 de setembro de 2009. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 CAVALIERI FILHO, Sérgio. Programa de responsabilidade civil. 7. ed., São Paulo: Atlas, 2007. DENARI, Zelmo, et all. Código brasileiro de defesa do consumidor; comentado pelos autores do anteprojeto. 7. ed., Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2001. FACHIN, Luiz Edson, RUZYK, Carlos Eduardo Pianovski. Direitos fundamentais, dignidade da pessoa humana e novo código civil: uma análise crítica. Constituição, direitos fundamentais e direito privado. Ingo Wolfgang Sarlet (organizador). Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2003. GRAU, Eros Roberto. A ordem econômica na constituição de 1988. 6. ed., São Paulo: Malheiros, 2001. LEGISLAÇÃO EUROPÉIA. Diretiva 85 da CEE de 25 de julho de 1985, relativa à aproximação das disposições legislativas, regulamentares e administrativas dos Estados-Membros em matéria de responsabilidade decorrente dos produtos defeituosos. Disponível em http://eur-lex.europa.eu/pt/index.htm. Acesso em 02 de setembro de 2009. MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor. 4. ed., São Paulo: Revista dos Tribunais, 2002. NUNES, Rizzatto. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 2ª ed. Reformulada. São Paulo: Saraiva, 2005. SILVA, José Afonso da. Curso de direito constitucional positivo. 24. ed., São Paulo: Malheiros, 2005. TEPEDINO, Gustavo. A responsabilidade civil por acidentes de consumo na ótica civil-constitucional. Temas de direito civil. 3. ed., Rio de Janeiro: Renovar, 2004. TEPEDINO, Gustavo. A responsabilidade médica na experiência brasileira contemporânea. Temas de direito civil: tomo II., 2006. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT 17 CIÊNCIAS HUMANAS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT7 – CIÊNCIAS HUMANAS Nº Tipo de Apresentação 1 Pôster - A 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 TRABALHO As descobertas das diferenças O lugar da relação escola-família na educação de alunos Comunicação de uma escola estadual da cidade de Manhuaçu - MG: a Oral – A percepção de gestores, pais, professores e pedagogos Competição ou Cooperação? a prática esportiva do tênis Pôster - A e do frescobol Um diálogo preliminar entre a Educação Física que temos Pôster - A e a Educação Física que queremos: um estudo no município de Muriaé Comunicação A relação entre Pedagogia das competências e Oral – A Educação Física numa visão crítica Comunicação Educação: nosso maior enigma Oral - A Comunicação Filosofia da educação: uma perspectiva de um diálogo Oral – A apenas interdisciplinar? Pôster – A Inclusão digital do professor: falamos do que? Políticas públicas para o desenvolvimento do esporte: um Pôster – A estudo comparativo entre Brasil e Cuba O ensino da Matemática para alunos com necessidades Pôster – A educativas especiais de uma escola pública estadual de ensino especial de uma cidade do leste de Minas Gerais Efetividade do ensino da Matemática através de Pôster – A estratégias lúdicas O jogo como instrumento indispensável ao processo de Pôster – A ensino e aprendizagem da Matemática: alguns apontamentos Comunicação O ensino da Geometria e a teoria Van Hiele: algumas Oral – A considerações Comunicação O ensino da Matemática: os desafios da aprendizagem Oral – A dessa disciplina para alunos e professores Coerência do processo de avaliação de aprendizagem Comunicação adotado por professor do 5o ano do ensino fundamental Oral - A de uma escola pública estadual do município de Manhuaçu - MG O lugar do professor no processo de ensino Pôster – A aprendizagem: apontando alguns fatores Experiência de afetividade numa turma de educação Comunicação infantil de uma escola pública municipal da cidade de Oral - A Manhuaçu - MG Necessidade da educação ambiental com tribos Comunicação indígenas que passam pelo processo de incorporação de Oral - A elementos culturais dos não índios Comunicação A percepção das "pessoas comuns" sobre o governo Oral - A Collor - 1989 a 1992 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Como os alunos são tratados pelos profissionais da Comunicação escola? Um estudo realizado em escolas de um Oral – A município do leste de Minas Gerais A efetividade do PROERD na resistência às drogas e Comunicação 21 violência para alunos nas escolas da cidade de Tarumirim Oral – A - MG Os fatores que interferem no processo de ensino Comunicação 22 aprendizagem: um estudo em escola pública da cidade Oral – A de Tarumirim - MG Comunicação Os desafios e as perspectivas dos alunos que saem da 23 Oral – A zona rural para estudar na cidade Os desafios do processo de inclusão em uma escola Comunicação pública estadual da cidade de Manhuaçu: um estudo de 24 Oral – A caso de um adolescente que apresenta Síndrome de Down Comunicação O judeu voador: as raízes históricas do superman - de 25 Oral – A 1932 a 1940 Relação entre posse de bola e vitórias no Futsal de Alto Comunicação 26 nível: um estudo de caso da Copa do Mundo de Futsal de Oral - A 2008 O perfil dos trabalhadores do café na cidade de Matipó27 Pôster – A MG: um estudo desenvolvido pelo Programa Social O futebol como conteúdo hegemônico nas aulas de 28 Pôster – R Educação Física Escolar A percepção dos moradores de Santo Antônio do Manhuaçu acerca dos impactos causados pela 29 Pôster – R implantação da PCH areia branca: diferentes contextos socioeconômicos A – Artigo R – Resumo 20 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ARTIGOS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A DESCOBERTA DAS DIFERENÇAS Rita de Cássia Ferreira Pedrosa Lazaroni – graduada em História, especialista em Educação, Mestranda em Educação. Andréia Almeida Mendes – graduada em Letras, especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Linguística, Doutoranda em Linguística. Faculdade Vértice [email protected] RESUMO Este artigo tem por objetivo analisar o conceito de inteligência, bem como o das Inteligências Múltiplas, que é uma nova visão sobre a inteligência, mudando as linhas de conhecimento sobre o cérebro e questionando processos estabelecidos para explicar os sistemas cerebrais. Através dessa análise, pode-se “descongelar” antigos paradigmas estigmatizadores que costumam imperar na educação. PALAVRAS-CHAVE: Inteligência; Inteligências múltiplas; Diferenças, Inclusão. 1. Considerações iniciais A palavra Inteligência sempre foi objeto de pesquisa desde tempos imemoriais; buscando descobrir o que realmente este conceito vinha a ser, estudiosos das mais diversas áreas desenvolveram inúmeras pesquisas em torno deste tema. Se os muitos psicólogos que pesquisam o funcionamento mental fossem solicitados a definir inteligência, haveria uma grande quantidade de diferenças de opinião. Alguns cientistas propõem que a inteligência é essencialmente uma capacidade geral única; outros argumentam que a inteligência depende de muitas capacidades separadas. Se formos analisar de forma mais generalizada, a Inteligência pode ser vista como um conjunto de aptidões em função das quais os indivíduos aprendem mais rapidamente novas informações e se revelam mais eficientes no manejo e aproveitamento adequado de conhecimentos já armazenados através de aprendizados anteriores. Este artigo tem por objetivo analisar o conceito de inteligência, bem como o das Inteligências Múltiplas, que é uma nova visão sobre a inteligência, mudando as linhas de conhecimento sobre o cérebro e questionando processos estabelecidos para explicar os sistemas cerebrais. Através desta análise, pode-se “descongelar” antigos paradigmas estigmatizadores que costumam imperar na educação. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 2. Procedimentos metodológicos Realizar-se-á aqui uma revisão bibliográfica sobre o assunto e, após analisar o que dizem diversos autores sobre o assunto, em especial a teoria de Gardner (1985) e (1989). Após se analisar os diversos tipos de inteligência, tratar-se-á o conceito de diversidade e diferença; a visão desse assunto analisando todos esses fatores é muito importante dentro da ótica educacional, pois nos permite perceber a diferença desde cedo, para que não haja uma troca de significados, visto que muitos consideram que diferença seja igual à deficiência, talvez por não terem a oportunidade de vivenciar tais diferenças. 3. Os testes de inteligência Inteligência é qualidade que se expressa pela maneira como o indivíduo se adapta ao meio, tal adaptação deve implicar processos de assimilação e acomodação. Até há bem pouco tempo, só conhecíamos a "Inteligência Racional"- advinda dos estudos de Binet (França) e de W. Stern - que introduziu o famoso QI na classificação dos débeis mentais, dos imbecis e dos idiotas. A sociedade ocidental sempre enfatizou a inteligência e o desenvolvimento intelectual. Prova disto esse conceito do QI-Quociente Intelectual, é considerado, desde o início do século, como uma medida respeitável do potencial do indivíduo. Tudo parece ter começado em 1900, quando Alfred Binet, psicólogo francês, foi chamado para desenvolver uma medida de predição do sucesso escolar de crianças das primeiras séries. Surgiu assim o Teste de QI e esta moda parisiense logo chegou aos Estados Unidos. O maior entusiasmo com esta medida aconteceu na Primeira Guerra Mundial, quando o instrumento foi utilizado para medir a inteligência dos soldados e, em seguida, aplicado na população em geral. Essas idéias de Binet foram adotadas no mundo inteiro porque seu modelo “funcionava” em um sentido prático: permitia aos psicólogos designar à inteligência um número que parecia razoável. Atualmente, pesquisas mais recentes em desenvolvimento cognitivo e neuropsicologia sugerem que as habilidades cognitivas são bem mais diferenciadas e mais específicas do que se acreditava (Gardner, I995). Neurologistas têm documentado que o sistema nervoso humano não é um órgão com propósito único, nem tão pouco é infinitamente plástico. Acredita-se, hoje, que o sistema nervoso seja altamente Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 diferenciado e que diferentes centros neurais processem diferentes tipos de informação (Gardner, 1989). 4. A teoria das inteligências múltiplas Howard Gardner, psicólogo da Universidade de Harvard, baseou-se nestas pesquisas para questionar a tradicional visão da inteligência, uma visão que enfatiza as habilidades lingüística e lógico-matemética. Segundo Gardner, todos os indivíduos normais são capazes de uma atuação em pelo menos sete diferentes e, até certo ponto, independentes áreas intelectuais. Ele sugere que não existem habilidades gerais, duvida da possibilidade de se medir a inteligência através de testes de papel e lápis e dá grande importância a diferentes atuações valorizadas em culturas diversas. Finalmente, ele define inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que sejam significativos em um ou mais ambientes culturais. Essas descobertas de Gardner resultaram na Teoria das Inteligências Múltiplas, uma nova visão sobre a inteligência que muda as linhas de conhecimento sobre o cérebro e questiona os processos estabelecidos para explicar sistemas cerebrais que envolvem a memória, a aprendizagem, a consciência, as emoções e as inteligências em geral. Substitui-se a concepção de que possuímos “uma inteligência”. Na realidade, abrigamos um elenco extremamente diversificado de “diferentes inteligências”, cada uma sensível a estímulos que, aplicados nas idades convenientes, altera a concepção que o ser humano faz de si mesmo e os limites de suas possibilidades. Essa nova abordagem teórica é uma alternativa para o conceito de inteligência como uma capacidade inata, geral e única, que permite aos indivíduos um desempenho maior ou menor, em qualquer área de atuação. Sua insatisfação com a idéia de QI e com visões unitárias de inteligência, que focalizam, sobretudo, as habilidades importantes para o sucesso escolar, levou Gardner a redefinir inteligência à luz das origens biológicas da habilidade para resolver problemas. Na sua pesquisa, Gardner estudou também: (a) o desenvolvimento de diferentes habilidades em crianças normais e crianças superdotadas; (b) adultos com lesões cerebrais vendo não como estes não perdem a intensidade de sua produção intelectual, mas sim uma ou algumas habilidades, sem que outras habilidades sejam sequer atingidas; Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 (c) populações ditas excepcionais, tais como idiot-savants e autistas, e como os primeiros podem dispor de apenas uma competência, sendo bastante incapazes nas demais funções cerebrais, enquanto as crianças autistas apresentam ausências nas suas habilidades intelectuais; (d) como se deu o desenvolvimento cognitivo através dos milênios. Psicólogo construtivista muito influenciado por Piaget, Gardner distinguese de seu colega de Genebra na medida em que Piaget acreditava que todos os aspectos da simbolização partem de uma mesma função semiótica, enquanto ele acredita que processos psicológicos independentes são empregados quando o indivíduo lida com símbolos linguísticos, numéricos gestuais ou outros. Segundo Gardner, uma criança pode ter um desempenho precoce em uma área (o que Piaget chamaria de pensamento formal) e estar na média ou mesmo abaixo da média em outra (o equivalente, por exemplo, ao estágio sensório-motor). Gardner descreve o desenvolvimento cognitivo como uma capacidade cada vez maior de entender e expressar significado em vários sistemas simbólicos utilizados num contexto cultural, e sugere que não há uma ligação necessária entre a capacidade ou estágio de desenvolvimento em uma área de desempenho e capacidades ou estágios em outras áreas ou domínios. Gardner sugere, ainda, que as habilidades humanas não são organizadas de forma horizontal; ele propõe que se pense nessas habilidades como organizadas verticalmente, e que, ao invés de haver uma faculdade mental geral, como a memória, talvez existam formas independentes de percepção, memória e aprendizado, em cada área ou domínio, com possíveis semelhanças entre as áreas, mas não necessariamente uma relação direta. Outro fator decisivo que ajudou a aceitação dessa teoria foi o advento de novas tecnologias e aparelhamentos observadores de reações neurais; tornouse possível o uso da ressonância magnética nuclear e do sistema PET (Tomografia por Emissão de Pósitrons). Assim, surgiram novos paradigmas sobre a ação de funções mentais superiores. Substitui-se a concepção de que possuímos "uma inteligência". Na realidade, abrigamos um elenco extremamente diversificado de "diferentes inteligências", cada uma sensível a estímulos que, aplicados nas idades convenientes, altera a concepção que o ser humano faz de si mesmo e os limites de suas possibilidades. Para Gardner, os seres humanos dispõem de graus variados de cada uma das inteligências e maneiras diferentes com que elas se combinam e organizam e se utilizam dessas capacidades intelectuais para resolver Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 problemas e criar produtos. Gardner ressalta que, embora estas inteligências sejam, até certo ponto, independentes uma das outras, elas raramente funcionam isoladamente. As inteligências são classificadas por ele da seguinte forma: Inteligência lingüística - Os componentes centrais da inteligência lingüística são uma sensibilidade para os sons, ritmos e significados das palavras, além de uma especial percepção das diferentes funções da linguagem. É a habilidade para usar a linguagem para convencer, agradar, estimular ou transmitir idéias. Gardner indica que é a habilidade exibida na sua maior intensidade pelos poetas. Em crianças, esta habilidade se manifesta através da capacidade para contar histórias originais ou para relatar, com precisão, experiências vividas. Inteligência musical - Esta inteligência se manifesta através de uma habilidade para apreciar, compor ou reproduzir uma peça musical. Inclui discriminação de sons, habilidade para perceber temas musicais, sensibilidade para ritmos, texturas e timbre, e habilidade para produzir e/ou reproduzir música. A criança pequena com habilidade musical especial percebe desde cedo diferentes sons no seu ambiente e, freqüentemente, canta para si mesma. Inteligência lógico-matemática - Os componentes centrais desta inteligência são descritos por Gardner como uma sensibilidade para padrões, ordem e sistematização. É a habilidade para explorar relações, categorias e padrões, através da manipulação de objetos ou símbolos, e para experimentar de forma controlada; é a habilidade para lidar com séries de raciocínios, para reconhecer problemas e resolvê-los. É a inteligência característica de matemáticos e cientistas. Gardner, porém, explica que, embora o talento científico e o talento matemático possam estar presentes num mesmo indivíduo, os motivos que movem as ações dos cientistas e dos matemáticos não são os mesmos. Enquanto os matemáticos desejam criar um mundo abstrato consistente, os cientistas pretendem explicar a natureza. A criança com especial aptidão nesta inteligência demonstra facilidade para contar e fazer cálculos matemáticos e para criar notações práticas de seu raciocínio. Inteligência espacial - Gardner descreve a inteligência espacial como a capacidade para perceber o mundo visual e espacial de forma precisa. É a habilidade para manipular formas ou objetos mentalmente e, a partir das percepções iniciais, criar tensão, equilíbrio e composição, numa representação Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 visual ou espacial. É a inteligência dos artistas plásticos, dos engenheiros e dos arquitetos. Em crianças pequenas, o potencial especial nessa inteligência é percebido através da habilidade para quebra-cabeças e outros jogos espaciais e a atenção a detalhes visuais. Inteligência cinestésica - Esta inteligência se refere à habilidade para resolver problemas ou criar produtos através do uso de parte ou de todo o corpo. É a habilidade para usar a coordenação grossa ou fina em esportes, artes cênicas ou plásticas no controle dos movimentos do corpo e na manipulação de objetos com destreza. A criança especialmente dotada na inteligência cinestésica se move com graça e expressão a partir de estímulos musicais ou verbais demonstra uma grande habilidade atlética ou uma coordenação fina apurada. Inteligência interpessoal - Esta inteligência pode ser descrita como uma habilidade pare entender e responder adequadamente a humores, temperamentos motivações e desejos de outras pessoas. Ela é mais bem apreciada na observação de psicoterapeutas, professores, políticos e vendedores bem sucedidos. Na sua forma mais primitiva, a inteligência interpessoal se manifesta em crianças pequenas como a habilidade para distinguir pessoas, e na sua forma mais avançada, como a habilidade para perceber intenções e desejos de outras pessoas e para reagir apropriadamente a partir dessa percepção. Crianças especialmente dotadas demonstram muito cedo uma habilidade para liderar outras crianças, uma vez que são extremamente sensíveis às necessidades e sentimentos de outros. Inteligência intrapessoal - Esta inteligência é o correlativo interno da inteligência interpessoal, isto é, a habilidade para ter acesso aos próprios sentimentos, sonhos e idéias, para discriminá-los e lançar mão deles na solução de problemas pessoais. É o reconhecimento de habilidades, necessidades, desejos e inteligências próprias, a capacidade para formular uma imagem precisa de si própria e a habilidade para usar essa imagem para funcionar de forma efetiva. Como esta inteligência é a mais pessoal de todas, ela só é observável através dos sistemas simbólicos das outras inteligências, ou seja, através de manifestações lingüísticas, musicais ou cinestésicas. Em recente visita ao Brasil, o autor detalhou duas novas descobertas: Inteligência Pictórica ou Pictográfica: habilidade para desenhar. "Inteligência" Existencial: responsável pela necessidade do homem fazer perguntas sobre si mesmo, sua origem e seu fim. Está ainda em estudo, sendo Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 considerada uma meia inteligência, por preencher apenas quatro dos oito requisitos avaliados para assegurar a existência da inteligência. Na sua teoria, Gardner propõe que todos os indivíduos, em princípio, têm a habilidade de questionar e procurar respostas usando todas as inteligências. Todos os indivíduos possuem como parte de sua bagagem genética, certas habilidades básicas em todas as inteligências. A linha de desenvolvimento de cada inteligência, no entanto, será determinada tanto por fatores genéticos e neurobiológicos quanto por condições ambientais. Ele propõe, ainda, que cada uma destas inteligências tem sua forma própria de pensamento, ou de processamento de informações, além de seu sistema simbólico. Estes sistemas simbólicos estabelecem o contato entre os aspectos básicos da cognição e a variedade de papéis e funções culturais. 5. A importância da cultura e da educação na teoria das inteligências múltiplas A noção de cultura é básica para a Teoria das Inteligências Múltiplas. Com a sua definição de inteligência como a habilidade para resolver problemas ou criar produtos que são significativos em um ou mais ambientes culturais, Gardner sugere que alguns talentos só se desenvolvem porque são valorizados pelo ambiente. Ele afirma que cada cultura valoriza certos talentos, que devem ser dominados por uma quantidade de indivíduos e, depois, passados para a geração seguinte. Segundo Gardner, cada domínio, ou inteligência, pode ser visto em termos de uma seqüência de estágios: enquanto todos os indivíduos normais possuem os estágios mais básicos em todas as inteligências, os estágios mais sofisticados dependem de maior trabalho ou aprendizado. A seqüência de estágios se inicia com o que Gardner chama de habilidade de padrão cru. O aparecimento da competência simbólica é visto em bebês quando eles começam a perceber o mundo ao seu redor. Nesta fase, os bebês apresentam capacidade de processar diferentes informações. Eles já possuem, no entanto, o potencial para desenvolver sistemas de símbolos, ou simbólicos. O segundo estágio, de simbolizações básicas, ocorre aproximadamente dos dois aos cinco anos de idade. Neste estágio as inteligências se revelam através dos sistemas simbólicos. Aqui, a criança demonstra sua habilidade em cada inteligência através da compreensão e uso de símbolos: a música Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 através de sons, a linguagem através de conversas ou histórias, a inteligência espacial através de desenhos, etc. No estágio seguinte, a criança, depois de ter adquirido alguma competência no uso das simbolizações básicas, prossegue para adquirir níveis mais altos de destreza em domínios valorizados em sua cultura. À medida que as crianças progridem na sua compreensão dos sistemas simbólicos, elas aprendem os sistemas que Gardner chama de sistemas de segunda ordem, ou seja, a grafia dos sistemas (a escrita, os símbolos matemáticos, a música escrita etc.). Nesta fase, os vários aspectos da cultura têm impacto considerável sobre o desenvolvimento da criança, uma vez que ela aprimorará os sistemas simbólicos que demonstrem ter maior eficácia no desempenho de atividades valorizadas pelo grupo cultural. Assim, uma cultura que valoriza a música terá um maior número de pessoas que atingirão uma produção musical de alto nível. Finalmente, durante a adolescência e a idade adulta, as inteligências se revelam através de ocupações vocacionais ou não-vocacionais. Nesta fase, o indivíduo adota um campo específico e focalizado, e se realiza em papéis que são significativos em sua cultura. As implicações da teoria de Gardner para a educação são claras quando se analisa a importância dada às diversas formas de pensamento, aos estágios de desenvolvimento das várias inteligências e à relação existente entre estes estágios, a aquisição de conhecimento e a cultura. Sua teoria apresenta alternativas para algumas práticas educacionais atuais, oferecendo uma base para: o desenvolvimento de avaliações que sejam adequadas às diversas habilidades humanas; uma educação centrada na criança e com currículos específicos para cada área do saber; um ambiente educacional mais amplo e variado, e que dependa menos do desenvolvimento exclusivo da linguagem e da lógica. Quanto à avaliação, Gardner faz uma distinção entre avaliação e testagem. A avaliação, segundo ele, favorece métodos de levantamento de informações durante atividades do dia-a-dia, enquanto que testagens geralmente acontecem fora do ambiente conhecido do indivíduo sendo testado. Segundo Gardner, é importante que se tire o maior proveito das habilidades individuais, auxiliando os estudantes a desenvolver suas capacidades intelectuais, e, para tanto, ao invés de usar a avaliação apenas como uma maneira de classificar, aprovar ou reprovar os alunos, esta deve ser Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 usada para informar o aluno sobre a sua capacidade e informar o professor sobre o quanto está sendo aprendido. Gardner sugere que a avaliação deve fazer jus à inteligência, isto é, deve dar crédito ao conteúdo da inteligência em teste. Se cada inteligência tem certo número de processos específicos, esses processos têm que ser medidos com instrumento que permitam ver a inteligência em questão em funcionamento. Para Gardner, a avaliação deve ser ainda ecologicamente válida, isto é, ela deve ser feita em ambientes conhecidos e deve utilizar materiais conhecidos das crianças que estão sendo avaliadas. Também enfatiza a necessidade de avaliar as diferentes inteligências em termos de suas manifestações culturais e ocupações adultas específicas. Finalmente, ele propõe a avaliação, ao invés de ser um produto do processo educativo, seja parte do processo educativo, e do currículo, informando a todo o momento de que maneira o currículo deve se desenvolver. No que se refere à educação centrada na criança, Gardner levanta dois pontos importantes que sugerem a necessidade da individualização. O primeiro diz respeito ao fato de que, se os indivíduos têm perfis cognitivos tão diferentes uns dos outros, as escolas deveriam, ao invés de oferecer uma educação padronizada, tentar garantir que cada um recebesse a educação que favorecesse o seu potencial individual. Quanto ao ambiente educacional, Gardner chama a atenção para o fato de que, embora as escolas declarem que preparam seus alunos pare a vida, a vida certamente não se limita apenas a raciocínios verbais e lógicos. Ele propõe que as escolas favoreçam o conhecimento de diversas disciplinas básicas; que encorajem seus alunos a utilizarem esse conhecimento para resolver problemas e efetuar tarefas que estejam relacionadas com a vida na comunidade a que pertencem; e que favoreçam o desenvolvimento de combinações intelectuais individuais, a partir da avaliação regular do potencial de cada um. Dentro desse plano de desenvolvimento das habilidades de cada um, abrir-se-á então um terreno mais fértil e preparado para receber as populações excepcionais. Possuindo cada pessoa um tipo específico de inteligência mais desenvolvido, as áreas do saber devem ser trabalhadas tendo em mente que cada aluno pode se desenvolver com mais facilidade em uma determinada área. Segundo Gama (s.d.), com o reconhecimento da existência de múltiplas inteligências, “é possível expandir o atendimento a alunos tradicionalmente Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ignorados pelo sistema, seja porque necessitam de currículos mais avançados, seja porque a desaceleração em determinadas áreas é a única opinião justa”. Até então, as pessoas com necessidades especiais sempre foram tratadas como seres a parte do contexto social, e conseqüentemente, do contexto educacional, sendo, portanto, marginalizadas. Depois da descoberta de novas formas de inteligência e da Teoria das Inteligências Múltiplas, surge a inclusão, como um modelo de ruptura de todos os paradigmas tradicionais que vêm se opondo a aceitação dos alunos com necessidades especiais como pessoas, como seres humanos únicos e diferentes entre si. 6. Considerações finais Inclusão não trata apenas de colocar uma criança deficiente em uma sala de aula, ou em uma escola, pois essa é apenas a menor peça do quebra cabeça que necessita ser montado. Inclusão trata, sim, de como nós lidamos com a diversidade, como lidamos com a diferença, se ainda possuímos ema visão tradicional a respeito do que venha a ser inteligência ou já passamos a avaliar os nossos alunos dentro da visão caleidoscópica das Inteligências Múltiplas. Esse tipo de visão é muito importante dentro da ótica educacional, pois nos permite perceber a diferença desde cedo, para que não haja uma troca de significados, visto que muitos consideram que diferença seja igual à deficiência, talvez por não tiverem tido oportunidade de vivenciar tais diferenças. Nada melhor do que a escola para servir como espaço de diversidade humana; dentro dessa concepção, a missão do professor muda radicalmente. Ele pode ensinar dentro do seu estilo e atender aos alunos que se adequarem a ele ou tentar adaptar seu estilo à realidade dos seus alunos fazendo com que cada um seja atendido em suas capacidades individuais. Seu papel passa a ser o de estimular todas as inteligências e as suas combinações, de modo a melhorar a forma com que cada aluno lida com os problemas que enfrenta na vida e com a forma que ele usa para se aceitar enquanto pessoa e cidadão. Devemos lembrar que a vida é um movimento constante; não fomos, não seremos, estamos sendo; e esta idéia de movimento nos fornece a vontade de participar da “onda inclusiva”, de entrar no mar da força, de mover moinhos com os poderosos ventos da mudança e auxiliar no processo de descongelamento daqueles paradigmas estigmatizadores que imperavam na educação. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 REFERÊNCIAS GAMA, Maria Clara Sodré Salgado. A teoria das inteligências múltiplas ou a descobreta das diferenças. (mimeo). GARDNER, Howard. As Inteligências Múltiplas para a escola: implicações educacionais sobre as Inteligências Múltiplas. Educational Researcher, v.18, n.8. p.4-10, 1989. GARDNER, Howard. Inteligências múltiplas - a teoria na prática. Porto Alegre: Artes médicas, 1995. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O LUGAR DA RELAÇÃO ESCOLA-FAMILIA NA EDUCAÇÃO DE ALUNOS DE UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL DA CIDADE DE MANHUAÇU-MG: A PERCEPÇÃO DE GESTORES, PAIS, PROFESSORES E PEDAGOGOS Sabrina Gardingo Vieira – graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC Rosária Amorim Silva Barbosa - graduada em Pedagogia pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO O objetivo deste estudo foi compreender a percepção da família e da escola sobre o lugar da parceria entre essas duas instituições na educação de alunos de uma escola pública estadual a cidade de Manhuaçu – MG. Quando se fala na desejável parceria escola e família e convoca-se a participação dos pais na educação, sobretudo pela participação em reuniões bimestrais e nos deveres de casa como estratégia de promoção do sucesso escolar, não se consideram: as mudanças históricas, a diversidade de arranjos familiares e as desvantagens materiais e culturais de grande parte da família. Em nossa pesquisa os entrevistados foram: pais, professores, pedagogos e gestores. Nessas entrevistas concluímos que a escola deve buscar incansavelmente diversas maneiras de despertar nos pais o acompanhamento no desenvolvimento dos filhos. Também que o diálogo com a escola confirma no aluno a confiança com a proposta de ensino que ele está vivenciando. E ainda, que a escola não deve assumir as atribuições dos pais por ter sua função definida e em muitos pontos diferenciada da família. Afinal, enfatizamos a necessidade de uma integração mais efetiva entre a família e escola, respeitando as peculiaridades de cada segmento. PALAVRAS-CHAVE: Relação escola-família; Percepção; Participação; Educação. 1. Introdução Nos dias de hoje, a família se encontra desestruturada devido as mudanças ocorridas na sociedade. Com o advento da globalização na atualidade, a educação é tida como maior recurso de que se dispõe para enfrentar a nova estruturação do mundo. Embora a educação brasileira esteja permeada de desafios e incertezas ela têm um papel transformador na sociedade (SANTOS, 2007). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Nesse sentido, a escola deve considerar os diversos modelos de família para que haja uma parceria saudável entre elas. A esse respeito, Valadão e Santos (1997, p. 47), afirmam que: O que ocorre é que se torna difícil caracterizar os papéis dessas instituições. As funções da família e da escola encontram-se muito difusas numa sociedade tão complexa como a atual. Há uma confusão de papéis, sendo que tanto os pais quanto os professores sentem dificuldades em definir suas funções. É justamente a relação escola-família que essa pesquisa pretende discutir. Nesse sentido, foram formuladas algumas questões para nortear as investigações sobre o tema: Como é o lugar da relação escola-família na educação de crianças e adolescentes? Quais as peculiaridades educativas existentes entre a instituição escola e a instituição família? Quais as concepções de educação essas duas instituições apresentam? As diferentes classes sociais educam seus filhos de forma diferente? Qual o papel da família no sucesso escolar de seus filhos? O objetivo desse estudo é compreender a percepção da família e da escola sobre o lugar da parceria entre essas duas instituições na educação de alunos de uma escola pública estadual a cidade de Manhuaçu – MG. Com esse estudo pretendemos contribuir para que a escola e a família percebam entre elas que uma parceria entre elas é indispensável para o sucesso do processo de ensino e aprendizagem. Além disso, pretendemos apontar caminhos na produção do conhecimento cientifico que outros estudos ainda não possibilitaram. 2. Escola e família: conceitos A educação tem uma dimensão maior do que propriamente ensinar. O processo educacional não reside apenas nas escolas. Diante disso Vianna (2006), afirma que a Educação, em sentido amplo, representa tudo aquilo que pode ser feito para desenvolver o ser humano e, no sentido estrito, representa a instrução e o desenvolvimento de competências e habilidades. Segundo o Código Civil de 1916 era considerada família apenas aqueles agrupamentos originados do instituto do matrimonio. O modelo único de família era caracterizado como um ente fechado. O código de 1916 tentou impor a sociedade um conceito único de família, ao prever que apenas o casamento Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 poderia legitimar a formação deste ente. Notava-se uma certa ausência de preocupação com a felicidade dos membros e seus integrantes. A Constituição Federal (1988) veio a alterar radicalmente o paradigma da família. O casamento deixa de ser o único meio de formação para se constituir uma família. A família passa a ser definida modernamente como uma comunidade de afeto. Entende-se que a família não é apenas uma instituição de origem biológica, mas, sobretudo um organismo com nítidos caracteres culturais e sociais. A organização familiar muda no decorrer da história do homem, sendo alterada em função das mudanças sociais. Assim, não se pode continuar pensando num único modelo de família, formada por pai, mãe e filhos, como norma, o que não corresponde mais á realidade social e pior, tem servido para considerar como “desorganizadas” as famílias que não correspondem a essa forma de organização simbólica na sociedade. Quando a escola pensa dessa maneira, os alunos podem ser rotulados como estranhos, desorganizados e problemáticos, precisando até mesmo de tratamento. Acontece que a família parece estar se reestruturando, organizando-se em novos moldes e não necessariamente caminhando na direção da desestruturação. As estatísticas mostram que aumenta, cada vez mais, o número de mulheres que são a “cabeça do casal”, sendo as únicas responsáveis pela família e provedoras da maior parte do orçamento doméstico. A escola deve estar atenta a essas mudanças (PROCAD, 2001). 3. Metodologia Essa pesquisa qualitativa foi realizada através de entrevista estruturada com gestores, pais, professores e pedagogos de uma escola pública estadual da cidade de Manhuaçu-MG, de fevereiro a junho no ano de 2009. A escola pesquisada atende a setecentos e oitenta e três alunos de diferentes classes socioeconômicas dos anos iniciais do ensino fundamental e localiza-se no centro de cidade. Possui dois pedagogos que são responsáveis pelo atendimento dos professores, pais e alunos. Possui sessenta e nove funcionários, entre eles professores, bibliotecário, funcionários de serviços gerais, e eventuais. A escola funciona nos turnos matutino e vespertino. A cidade de Manhuaçu-MG possui aproximadamente setenta e quatro mil, duzentos e noventa e sete habitantes, sua principal atividade econômica é a cafeicultura e agropecuária. A cidade possui aproximadamente sessenta e Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 seis escolas do Ensino Fundamental, e dezoito do Ensino Médio, possui quatorze mil, duzentos e quarenta alunos matriculados no Ensino Fundamental e dois mil, oitocentos e quarenta e oito do Ensino Médio, são aproximadamente setecentos e sessenta docentes que atuam no Ensino Fundamental e duzentos e vinte e oito no Ensino Médio. 4. Os achados da pesquisa É importante perceber os sentimentos e as experiências dos pais, professores, pedagogos e gestores sobre a construção de uma relação saudável entre a família e a escola. Ao ouvirmos a família foi possível observar pais que acreditam na importância da relação família e escola. Em nossas conversas pudemos nos confrontar com diversos olhares a respeito do mesmo assunto. Muitos pais acreditam que a escola e a família devem caminhar juntas. Segundo Leite e Tassoni (2002), quando a família e a escola mantêm boas relações, as condições para um melhor aprendizado e desenvolvimento da criança podem ser maximizadas. A fala de Joana afirma essa idéia: Eu acho que é fundamental a participação da família, tenho dois filhos, esse que estuda no 2º ano e o outro já tá no 8º ano. Eu fico no pé dus dois, vou na escola, vejo os cadernos, pergunto pros professores, acho que sou até chata. Mas eu vejo umas mães que não tão nem aí e os filhos não querem nada, eu tenho uma vizinha que o filho dela já foi pro 6º ano e não sabe nada, mas ela não faz nada pra ajudar, anda o dia inteiro e não coragem de ir a escola pra saber do menino. Eu tenho outra vizinha que fica em casa o dia inteiro e não tem corage de levar o menino pra escola, se eu não passá lá todo dia e pega o menino ele fica sem estudá. Eu já falei com ela que ela tem que mudá, mas ela acha que estudo não faz falta. (Joana, 35 anos) A mãe Mariana também acredita na importância da relação escola e família. Mesmo trabalhando fora ela diz encontrar tempo para participar da vida escolar do filho. Nesse sentido Souza e José (2008) afirmam que a parceria escola e família são necessárias para que juntas atuem como agentes facilitadores do desenvolvimento pleno do educando. A mesma mãe ainda diz: Eu acho que a família tem que participar da vida escolar dos filhos, eu trabalho o dia todo, mas chego em casa e pego o caderno dele todo dia. Tem mães que ficam o dia inteiro em casa e não querem nem saber dos filhos. (Mariana, 25 anos) Embora alguns pais considerem indispensável uma parceria saudável com a escola, outros tantos atribuem a responsabilidade da educação dos Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 filhos à escola. A participação dos pais na educação dos filhos se torna cada vez mais difícil, inúmeras são as justificativas. As mais ouvidas são o trabalho e a separação. Com isso, há uma grande desestruturação familiar e o filho, em muitos momentos, fica sem o acompanhamento escolar. A família considera importante a participação na educação dos filhos. Porém, entre o saber e o fazer-se presente, de fato, existe uma barreira significativa. A função da família não pode parar no reconhecimento da necessidade, mas ir além. Como coloca Osório (1996) proporcionar o ambiente adequado para a aprendizagem empírica, bem como facilitar o intercâmbio com o universo circunjacente são fatores fundamentais para a aprendizagem. O depoimento da mãe Maria evidencia essa situação: Como já te falei eu não só muito de ir na escola, só fui uma vez numa festa que teve pras mães. Quem leva os menino pra mim é minha vizinha. Cês sabem né, eu só sô chamada pra ouvi reclamação dos meu filho. Eu sei que eles não são fácil, mas a professora tem que dá conta, se não deu conta dentro da sala, manda pra diretora, arruma um jeito. Eu acho bom a família ajudá a escola, eu faço o que posso, pra mim ajudá a fazer o dever já tá de bom tamanho e às vezes aquelas professora passa coisa muito difícil pra eles. Acho que sim, eu mesma se eu não ensinasse o dever pra eles seria pior, cê não acha? Eu já faço minha parte. (Maria, 38 anos) Junto da falta de acompanhamento da família encontramos alguns fatores que dificultam essa relação na percepção dos pais. As falas de Mariana e Maria evidenciam alguns desses fatores: Eu acho que eles tinham que marcar a reunião pra mais tarde, o horário que eles marcam a maioria dos pais estão trabalhando, depois eles reclamam que os pais não vão, mas com esse horário é difícil. (Mariana, 25 anos) Quando solicitada a informar sobre os fatores que dificultam a relação escola e família, Maria diz: Há tem, eu só sou chamada na escola pra ouvi fala mau dos meu menino, eu sei que eles não são fácil, mas eu sou mãe e toda mãe não gosta de ouvi fala mau dos filho. Eu acho que elas tem que dá conta dos menino se um jeito ou de outro. Quando recebo um recado eu já penso, é fala mau dos menino pra que que eu vo? Eu já mandei fala que pode até bate mas não precisa chamar là. (Maria, 38 anos) Nesse sentido, Carvalho (2004) afirma que as professoras recorrem aos pais quando se sentem frustradas e impotentes, quando os estudantes apresentam dificuldades de aprendizagem ou comportamento com as quais elas não conseguem lidar. A escola, certa de que em muitos momentos não Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 conseguirá sozinha, sem a participação dos pais, chegar a melhor forma de resolver determinado problema ou dificuldade do aluno, recorre, como de costume, ao auxílio dos responsáveis. Porém, também é verdade que a família nem sempre vê com bons olhos essa chamada que a escola faz, muitas vezes menosprezando a sua presença na escola para dialogar sobre o filho. Já para os sujeitos Fátima e Angélica o fator que dificulta a relação com a escola é a falta de tempo dos professores. Segundo elas, os professores nunca têm tempo para atendê-las. Como te falei, gostaria que quando eu fosse à escola para conversar elas tivessem mais tempo pra mim. (Fátima, mãe, 45 anos) Quando chego à escola no horário que posso sair do serviço, o professor não está disponível, fecha a cara, não me recebe muito bem. Na hora da reunião não dá pra saber tudo. A escola tinha que ter um dia para professores e pais, isso seria tão bom né? (Angélica, mãe, 39 anos) A partir das falas das mães pode-se afirmar que a mesma escola que quer a presença dos pais é a mesma que dificulta a relação. As professoras cobram a presença da família, mas quando as mães vão à escola as mesmas alegam não ter tempo para atendê-las. Os dados colhidos na entrevista não coincidem com os relatos da direção e das professoras. Segundo a escola, os professores sempre estão disponíveis para atender os pais, mas os pais não sentem essa disposição quando vão à escola. Durante a observação realizada na escola podemos perceber o quanto a escola se limita a pensar que participação da família é o comparecimento as reuniões. Durante as reuniões os pais não possuem espaço suficiente para se expressarem. Nesse sentido Coser (2003), afirma que apesar do interesse de muitos pais em participar da vida escolar dos filhos, seu esforço não repercute na escola e sua participação não ocorre no mesmo nível de seus anseios. Já na óptica da escola os fatores que dificultam a relação escola e família é a falta de interesse de alguns pais em relação à educação dos filhos. A professora Joana diz que recorre aos pais e muitos não comparecem. Quando solicitamos a informar os fatores que dificultam a relação escola e família, a professora disse: A falta de interesse de alguns pais na vida escolar de seus filhos. Há alguns que mando vários bilhetes pedindo sua presença e não comparecem. (Joana, professora, 28 anos). A professora afirma que a falta de interesse da família prejudica a vida escolar dos alunos. A qualidade da educação pra López (2002) depende do Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 envolvimento da família. Segundo ele a eficácia da educação escolar depende do grau de implicação, enfim, do grau de participação dos pais. Quando pais e professores foram solicitados a informar o olhar que possuem uns sobre os outros ficou claro que ambos carregam um sentimento de cobrança mútua. A família afirma ser indispensável uma relação saudável com os professores, mas sempre pensam que os educadores precisam melhorar do outro lado, os professores reclamam pela participação da família na vida escolar dos filhos. As falas dos sujeitos Joana e Mariana evidenciam que apesar da falta de intimidade com as professoras, elas mantêm uma relação saudável entre elas e a escola: Eu não tenho nada que reclamar deles, mas eu ouço alguns pais falando mal. Ontem quando eu fui levar o meu menino eu ouvi o pai de um aluno falando de uma professora, ele estava reclamando porque o filho dele tinha ficado sem recreio só porque ele não sabia fazer uma continha, isso não pode, se fosse com o meu filho eu também ia reclamar. Se o menino não sabe, a professora tem que ensinar, você não acha? (Joana, 35 anos) Eu não tenho muito contato com eles, queria participar mais, mas eu preciso trabalhar, meu marido não dá conta de tudo sozinho. Mas os poucos contatos que eu tenho com eles parecem ser gente boa. A professora do meu menino é ótima, eu vejo ela sempre quando vou levar ele. Ano passado o meu menino tinha uma professora muito ruim, ela não deixava os meninos nem respirarem direito, vários pais reclamaram dela, inclusive eu, no final do ano ela estava um pouco melhor. (Mariana, 25 anos) O ideal seria se pais e professores fossem efetivamente parceiros na educação. Segundo Carvalho (2000) parece razoável esperar que os pais/mães sejam parceiros, aliados das professoras, pois desejam o melhor para seus filhos/as – nesse caso, o sucesso escolar. Já o sujeito Maria não demonstra muito interesse em manter um relacionamento saudável com os professores. Ela não procura se envolver com a educação dos filhos. Eu nem conheço muito o pessoal da escola, só sei que o nome deles. Só vi uma vez de longe. Pelo que meus menino falam elas são bem enjuada. Só de ficarem mandando bilhete todo dia pra mim já dá vê o enjuamento né.? (Maria, 38 anos) A mãe Maria reclama que a escola só a procura para solucionar algum problema. Assim, ela considera essas chamadas como um fator que dificulta a relação com a escola. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Já os professores e gestores quando solicitados a informar seus olhares a respeito da família foram unânimes em clamar maior participação da família na vida escolar dos alunos. A fala de Carla evidencia essa afirmação: Tem um aluno naquela sala muito levado, o pai dele foi chamado o ano todo na escola e nunca apareceu. Já é a quarta vez que eu chamo esses pais na escola, hoje é que apareceram, viram como o filho deles não faz nada, pelo menos eles viram que a culpa dele não aprender não é minha. (Carla, 35 anos) Com o intuito de manter uma parceria saudável com a família, a escola realiza reuniões, mas infelizmente, nem sempre o objetivo é alcançado. Muitas vezes os pais vão à reunião escolar, mas não se sentem a vontade, às vezes, a escola não dá oportunidade e também durante a reunião os pais só ouvem sobre seus deveres. A atitude da diretora Lúcia retrata bem isso: Todos se sentaram lá atrás, eu coloquei as cadeiras aqui na frente para vocês ficarem perto de mim. Que exemplo vocês estão dando para os seus filhos, todo pai gosta que o filho se sente na primeira cadeira, e vocês se sentam lá atrás. A família tem deveres com a escola. Nós sabemos que temos compromissos, não podemos chegar atrasados no emprego, por exemplo, a escola começa as 7h, vocês tema que mandar seus filhos as 7h, não as 7:15h, 7:20h. Precisamos ter compromissos. Infelizmente, muitos pais só matriculam os filhos na escola por causa do Bolsa Família, muitos chegam na secretaria e me falam que só estão matriculando os meninos por que se não matricular vão perder a Bolsa Família. Vocês concordam? (Lucia, 40 anos) Nesse sentido, Carvalho (2000) reconhece que a escola, hoje, ainda não está preparada para lidar com o envolvimento da família. Para que isto ocorra, deve haver, primeiramente, o reconhecimento do meio familiar como um verdadeiro aliado da escola no seu empreendimento escolar. Quando os pais foram solicitados a falar em que situações são chamadas a escola, os mesmos respondem: Sim. Vou quando tem reunião, costumo ir de surpresa também. Mas, quando vou de surpresa vejo que os professores não me dão muita atenção, falam que estão muito ocupados. (Fátima, 45 anos) Vou é quando sou chamada pela professora. (Angélica, 39 anos) Pode-se perceber que a escola solicita a presença da família somente quando há um problema. Às vezes que eles comparecem por vontade própria não são bem recebidos. Segundo López (2002), a escola pensa que a participação dos pais é flagrantemente necessária para que continuem a exercer seu papel de principais educadores dos filhos. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Mas uma vez foi possível notar a limitação que a escola impõe a participação da família. Para a escola a participação da família na educação dos filhos se limita em participar das reuniões escolares e a colaboração nos deveres escolares. Nesse sentido, Carvalho (2004) afirma que a escola espera que mães e pais arranjem tempo para monitorar o dever de casa diariamente e atender algumas demandas escolares, mas na sociedade de hoje a família não têm tempo disponível como antes. As falas abaixo confirmam essa idéia: Deveres de casa, conversando mais com seus filhos sobre o comportamento. (Joana, professora, 28 anos) Colocando a educação de seu filho como prioridade, freqüentando as reuniões, opinando nas decisões escolares, acompanhando nas atividades de casa, monitorando a vida escolar de seu filho. (Estela, professora, 45 anos) É imprescindível que as escolas convidem as famílias para planejar suas atividades e seus projetos pedagógicos como forma de acreditar na interação dos pais com a escola. A falta de liberdade ou de vontade para participar da vida escolar dos filhos, muitas vezes ocasiona uma dificuldade de aprendizagem. 6. Considerações finais Os argumentos e reflexões sobre a relação entre escola e família, elaborados nesse trabalho, culminam em uma só premissa: ambas querem sujeitos que transcendam em intelectualidade e que sejam crianças com sonhos e atitudes. Porém, as formas de manifestar esse desejo são desencontradas e cheias de recalques. Ora a escola sonha com a participação dos pais, ora os pais reclamam por não serem chamados, ora os pais delegam sua função à escola, ora a escola é culpada por não acompanhar seus filhos. São inúmeros os problemas registrados no dia-a-dia escolar. Esses problemas aparecem sempre motivados por uma infinidade de carências ou excessos na relação com os pais. Diante disso, a sala de aula é o espaço aonde vêm à tona todas as situações mal resolvidas. Por mais competente que o professor e os gestores sejam, em muitos casos, a presença da família é a possibilidade mais segura dos problemas serem encaminhados e resolvidos. Muitas vezes a escola solicita a presença dos pais tendo como único intuito a resolução de problemas, o que resulta no afastamento desses pais. Já quando os pais vão à escola por vontade própria não são recebidos como Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 anseiam. Há também aqueles pais que deposita na escola toda responsabilidade sobre os filhos e se mostra alheia a aprendizagem dos alunos. Por esses e outros vários impasses escola e família vão se distanciando. Nesse sentido, é possível afirmar que a cumplicidade entre a escola e a família é indispensável para o processo de ensino e aprendizagem. A família não deve atribuir toda responsabilidade a escola e a mesma deve ser mais tolerante com a família. Por fim, a aprendizagem deveria ser um resultado coeso entre a escola e a família e não a tentativa de aprender sozinho ou com as lições que a vida, duramente ensina. Para tal, o ambiente familiar é o espaço privilegiado para as interferências formativas marcantes. Assim, ao se trabalhar com o ser humano é necessário enxergá-lo como ser contextualizado e portador de sentimentos que nasceram essencialmente na família. REFERÊNCIAS ALSOP, Pippa. Transtornos emocionais na escola: alternativas teóricas. S/cidade: s/ editora, 1995. ALVES, Leonardo Barreto Moreira. O reconhecimento legal do conceito moderno de família. São Paulo: s/ editora, 2006. CARVALHO, Maria Eulina Pessoa. Relação entre família e escola e suas implicações de gênero. Paraíba: UFPB. Caderno de Pesquisa, nº 110. p. 143155, julho/2000. CARVALHO, Maria Eulina Pessoa. Modos de educação, gênero e relações escola-família. Paraíba: UFPB. Caderno de Pesquisa, v.34. nº 12. p. 41-58, jan/abr. 2004. COSER. Raquel. A visão da escola sobre a interação com as famílias dos alunos: o cenário das primeiras séries do ensino fundamental. Dissertação de Mestrado. São Paulo. FREIRE, PAULO; Pedagogia da autonomia. São Paulo: Paz e Terra, 1998. LEITE, Sara e TASSONI, Elza. Afetividade em sala de aula: condições do ensino e a mediação do professor. São Paulo: s/ editora, 2002. LÒPEZ, Jaume. Educação na família e na escola: o que é, como se faz. São Paulo: Loyola, 2002. NÉRICI, Imídeo. Lar, escola e educação. São Paulo: s/ editora, 1972. OSÒRIO, Luiz Carlos. Família hoje. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 POLONIA, Ana da Costa; DESSEN, Maria Auxiliadora. Em busca de uma compreensão das relações entre família e escola. Campinas, Psicologia escola e educação, v.9, nº 2, 2005. PROCAD, Fase escola Sagarana. SEE-2001 – 2001. REALI, Aline Maria de Medeiros Rodrigues; TANCREDI, Regina Maria Simões Puccinelli. A importância do que se aprende na escola: a parceria escolafamília em perspectiva. São Carlos: EdUFSCar, 2005. SANTOS, Adriana Regina de Jesus, Processo educativo no contexto histórico. São Paulo, 2007. SOUSA, Ana Paula; JOSÉ, Mário Filho. A importância da parceria entre família e escola o desenvolvimento educacional. São Paulo, Revista Iberoamericana de Educación. 2008 VALADÃO, Cláudia Regina, SANTOS, Regina de Fátima Mendes (1997): Família e escola: visitando seus discursos. (Trabalho de Conclusão de Curso apresentado a UNESP-Franca). VIANNA, Carlos Eduardo Souza. Evolução histórica do conceito de educação e os objetivos constitucionais da educação brasileira. São Paulo: PUC, 2006. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 COMPETIÇÃO OU COOPERAÇÃO? A PRÁTICA ESPORTIVA DO TÊNIS E DO FRESCOBOL Andréia Almeida Mendes – graduada em Letras, especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Linguística, Doutoranda em Linguística. Rita de Cássia Ferreira Pedrosa Lazaroni – graduada em História, especialista em Educação, Mestranda em Educação. Faculdade Vértice [email protected] Não desvalorizemos nossas crianças em função daquilo que elas não sabem; valorizemos o seu saber. Guiemos nossas crianças em direção de um fazer (saber) que tenha relação com seu mundo cotidiano. Convidemos nossas crianças a olhar o que fazem e, sobretudo, não as levemos o competir. (Humberto Maturana, 1998) RESUMO A avaliação será vista aqui como reflexão acerca do nível de qualidade do trabalho escolar e não como um instrumento de controle. O estudo de revisão bibliográfica tem como objetivo apresentar um paralelo entre a competição e a cooperação relacionando-os com a prática esportiva do tênis e do frescobol, vendo qual deles é mais produtivo para o processo de avaliação. Essa escolha reflete na visão de educação que queremos e no papel que acreditamos que a avaliação deva ter: na mera atribuição de notas ou uma pausa para refletir sobre a prática. PALAVRAS-CHAVE: Avaliação; Competição; Cooperação; Educação. 1. Considerações iniciais A avaliação é uma tarefa didática necessária e permanente que deve objetivar o acompanhamento do processo de ensino-aprendizagem dos alunos; deveria ser baseada em uma reflexão sobre o nível de qualidade do trabalho escolar; o problema é que isso nem sempre ocorre na prática dos docentes. Em sua maioria, os professores vêem a avaliação como um instrumento de controle, restringindo todo esse processo de reflexão a um ato de aplicar provas, atribuir notas e classificar os alunos; ignorando por completo a complexidade de fatores que envolve o ensino tais como os objetivos de formação, os métodos e procedimentos do professor, a situação social dos alunos, as condições e meios de organização do ensino, os requisitos prévios que têm os alunos para assimilar matéria nova, as diferenças individuais, o nível de desenvolvimento intelectual, as dificuldades de assimilação devidas a condições sociais, econômicas, culturais adversas dos alunos. (LIBÂNEO,1994, p.192) Dentro desse processo de “classificação” de nossos alunos, acabamos por esquecer-nos do verdadeiro propósito do ensino - que é o de gerar Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 aprendizagem - em prol de colocarmos nossos alunos numa verdadeira arena, na qual vence quem conseguir acumular o maior número de pontos; embora, muitas vezes, o acúmulo destes não corresponda a uma aprendizagem de fato. O objetivo do estudo de revisão bibliográfica é apresentar um paralelo entre a competição e a cooperação relacionando-os com a prática esportiva do tênis e do frescobol, vendo qual deles é mais produtivo para o processo de avaliação. Analisar-se-á, inicialmente, o real significado da avaliação e se esse processo consiste na relação de competição ou de cooperação. Em seguida, será feito um paralelo entre dois esportes distintos: tênis e frescobol; com base neles, será feita uma reflexão sobre o processo de avaliação. Por derradeiro, serão apresentadas as considerações finais desse trabalho. 2. Avaliação: competição x cooperação Dentro desse contexto, passamos a ver a educação como um processo de competição que faz da vida estudantil uma preparação para uma futura competição profissional que consiste na negação do outro, já que a vitória de um surge na derrota do outro. O problema maior é que o fenômeno da competição não ocorre apenas em relação a colegas de classe ou de escolas; muitas vezes ocorre entre professores e alunos: muitas pessoas julgam que o “bom professor” é aquele do tipo “durão”, que aplica provas dificílimas e que reprova boa parte da classe, esquecendo assim que a aprendizagem depende do ensino e que a ausência de um quase sempre resulta na ausência do outro. Observemos com atenção esse exemplo que Valla trata em um de seus livros, ele consiste num raciocínio extremamente simples, mas esclarecedor de uma das participantes de um debate sobre o fracasso escolar na escola pública de primeiro grau; o seu pressuposto é o seguinte: Embora o professor tenha um livro didático ou notas como referência, faz, na realidade, uma seleção da matéria que oferecerá aos alunos. A seleção que faz provavelmente se deve a um domínio maior sobre a matéria, ou, quem sabe, a uma afinidade com algumas idéias oferecidas. Mas o importante é o reconhecimento de que o professor faz uma seleção da matéria, oferecendo alguns pontos e deixando outros de lado. Os alunos , por sua vez, também fazem uma seleção. A atenção exigida pelo professor não é suficiente para fazer com que tudo seja assimilado pelos alunos. Justamente devido a sua história de vida, alguns pontos são vistos com mais atenção do que outros, fazendo com que sejam retidos e os outros não. (VALLA,1996, p.179-180) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A lógica seria que a avaliação fosse sobre aquilo que o aluno percebeu na fala do professor uma vez que foi isso o que ele reteve, mas o que encontramos no cotidiano escolar é o que foi relatado na fala da expositora; provas, testes e exames que cobram de nossos alunos exatamente aquilo que eles não sabem (e que muitas vezes nem foi ensinado) e esquecem de avaliar aquilo que foi explicado e retido por eles - o seu saber. Esse clima de competição por parte do professor é repassado aos alunos que são estimulados, a todo momento, pelo professor a competir entre si visando saber: quem acaba primeiro, quem possui melhores notas, quem é o “mais inteligente”. Implantando o germe da disputa em sua sala de aula, o professor tirará a oportunidade de seus alunos aprenderem através da ajuda e compartilhamento de dúvidas e descobertas. Sem esse processo de cooperação mútua, o professor impede a socialização de seus alunos, o que também é um dos deveres da escola. 3. O tênis e o frescobol Rubem Alves propõe-nos uma metáfora muito intrigante para explicar o abismo existente entre a competição e a cooperação; ela baseia-se nas diferenças existentes entre o tênis e o frescobol: O tênis é um jogo feroz. O seu objetivo é derrotar o adversário. E a sua derrota se revela no seu erro: o outro foi incapaz de devolver a bola. Joga-se tênis para fazer o outro errar. O bom jogador é aquele que tem a exata noção do ponto fraco do seu adversário, e é justamente para aí que ele vai dirigir a sua cortada - palavra muito sugestiva, que indica o seu objetivo sádico, que é o de cortar, interromper, derrotar. O prazer do tênis se encontra, portanto, justamente no momento em que o jogo não pode mais continuar porque o adversário foi colocado fora de jogo. Termina sempre com a alegria de um e a tristeza de outro. O frescobol se parece muito com o tênis: dois jogadores, duas raquetes e uma bola. Só que, para o jogo ser bom, é preciso que nenhum dos dois perca. Se a bola veio meio torta, a gente sabe que não foi de propósito e faz o maior esforço do mundo para devolvê-la gostosa, no lugar certo, para que o outro possa pegá-la. Não existe adversário porque não há ninguém a ser derrotado. Aqui ou os dois ganham ou ninguém ganha. E ninguém fica feliz quando o outro erra - pois o que se deseja é que ninguém erre(...) pois o gostoso mesmo é aquele ir e vir, ir e vir, ir e vir... E o que errou pede desculpas; e o que provocou o erro se sente culpado. Mas não tem importância: começa-se de novo este delicioso jogo em que ninguém marca pontos... (ALVES,s.d., p.51) A partir da análise dessa metáfora podemos enquadrar dois tipos de professores: Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 1- O professor que é adepto ao jogo de tênis em sua sala - vê seu aluno como um adversário, e como tal necessita eliminá-lo a qualquer custo. Aplica provas, testes e exames que visam testar o que os alunos não sabem - ponto fraco - e não o que realmente foi ensinado e apreendido. A prova funciona como a cortada fatal que tem como objetivo derrotar o adversário. O professor possui prazer em distribuir notas baixas e em reprovar seus alunos, pois para ele, o bom professor necessita da derrota de boa parte de seus alunos para mostrar sua competência. A vitória desse professor consiste na negação de seus alunos. 2- O professor que prefere praticar o frescobol em sala de aula - como não existe um único vencedor, o professor praticante desse esporte acredita que a vitória consiste em prolongar ao máximo o momento do jogo; ao invés de testar seus alunos, opta por avaliá-los para tentar descobrir seus pontos fracos com o objetivo de fortalecê-los. A vitória consiste em fazer com que todos cheguem num mesmo denominador comum, não havendo adversários, mas companheiros, que em sentido etimológico significa cun-panere, ou seja, aqueles que compartilham o pão. O processo de ensino-aprendizagem passa a ser a bola dessas duas modalidades esportivas e, a avaliação, a hora da partida. No jogo de tênis, a partida funciona mais ou menos assim: a prova representa uma tentativa de destruir ou arrebentar com a possibilidade de vitória do adversário, como se fosse bola de sabão. O que o professor busca é ter sempre a razão, é ser sempre o detentor dos conhecimentos e o que ganha com isso é o distanciamento de seus alunos através de um mecanismo chamado por Bordieu de “violência simbólica”. Achando que está ganhando, o professor acaba por perder sempre. No frescobol, a história é bem diferente: o processo de ensinoaprendizagem passa a ser visto como um brinquedo que deve ser preservado, já que é delicado e do coração. Ao invés de tentar arrebentar as bolhas de sabão, essa partida visa abrir espaços para que elas voem livres. E a cada erro, é retomada a partida com o intuito de que todos aprendam as regras desse jogo. Tanto o professor quanto o aluno ganham, pois bola vai, bola vem, cresce o amor... O desejo de todos é que o jogo dure para sempre e que a Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 aprendizagem/bola não pare nunca, pois ela representa a eterna produção de conhecimento dos participantes dessa partida. 4. Considerações finais Resta a cada professor decidir o seu esporte favorito e a hora em que a partida iniciar-se-á... Então, qual é a melhor opção: competição ou cooperação? Cabe lembrar ainda que essa escolha refletirá ainda na visão de educação que possuímos; queremos um mecanismo de conservação e reprodução da sociedade ou de transformação social? Se queremos equalização social para que ocorra realmente a tão sonhada emancipação das camadas populares e um novo modelo social que exija a participação democrática de todos, teremos que deixar de praticar tênis, que aliás, é um esporte de elite, e passar a praticar o frescobol, um esporte muito mais popular. Agindo assim, o ato de avaliar deixará de ser apenas uma verificação do aprendido com uma mera atribuição de notas e passará a ser uma “pausa para pensar a prática e retornar a ela” (LUCKESI, 2001, p.34). O professor poderá retirar do insucesso e do erro todos os benefícios, eles passarão a ser uma trilha necessária em nossas vidas, percalços de travessia, que serão fonte de aprendizado e evolução, garantindo a todos as condições mínimas de competência para a convivência social, integrando o educando num grupo de iguais - o todo da sociedade. REFERÊNCIAS ALVES, Rubem. Tênis e Frescobol. In:___. O retorno eterno. [s.l./s.e], s.d. BORDIEU, Pierre e PASSERON, Jean-Claude. Fundamentos de uma teoria da violência simbólica. In:___.A reprodução. Elementos para uma teoria do sistema de ensino. Rio de Janeiro: Francisco Alves,1992. pp. 15-76. LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994. LUCKESI, Cipriano Carlos. Avaliação da Aprendizagem Escolar. São Paulo: Cortez, 2001. MATURANA, Humberto. Uma abordagem da educação atual na perspectiva da biologia do conhecimento. In:___.Emoções e Linguagem na Educação e na Política. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 1998. pp.11-35. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 VALLA, Victor Vincent. A crise de interpretação é nossa: procurando compreender a fala das classes subalternas. In: Educação e Realidade. Vol21(2):177:190. Jul./dez.1996. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 UM DIÁLOGO PRELIMINAR ENTRE A EDUCAÇÃO FÍSICA QUE TEMOS E A EDUCAÇÃO FÍSICA QUE QUEREMOS: UM ESTUDO NO MUNICÍPIO DE MURIAÉ Lucas Eduardo de Oliveira Gomes e Karla Lemos Fazolo - Graduados em Educação Física e Fisioterapia da Faculdade de Minas – FAMINAS Gabriela de Souza Debossan e Kássio Fernandes Lorde - Graduados em Educação Física da FAMINAS Marcelo Silva dos Santos - Graduado em Educação Física, Mestre em Educação e Doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana. Professor da Faculdade Vértice. Orientador [email protected] RESUMO Com o objetivo de se fazer uma avaliação geral de como vem se dando a prática pedagógica em Educação Física no que se refere à metodologia, estrutura, características e aceitação perante os discentes no município de Muriaé-MG, foi realizada uma pesquisa dos últimos 60 anos (período entre 1958 e 2008) com 250 (duzentas e cinquenta) pessoas de ambos os sexos divididas em cinco grupos, por faixas etárias escolhidas aleatoriamente. Após a análise, foi possível chegar ao entendimento de que embora tenha tido avanço no que se refere à fundamentação teórico-metodológica em função de intensos e profundos debates, as mudanças não se tornaram concretas, pois a Educação Física ainda está muito longe de garantir aos alunos uma reflexão pedagógica do acervo de formas de representação do mundo que homem vem produzindo historicamente de forma autônoma e crítica. PALAVRAS-CHAVE: Educação Física; História; Formação humana crítica. 1. Introdução A Educação Física, disciplina escolar instituída com fundamentação militarista no século XVIII (SOARES, 1996), possui um processo histórico de grande complexidade. Ao longo do tempo, seus interesses e objetivos se modificaram de acordo com o momento histórico e o contexto em que estivesse inserida. Com a visão militar, a Educação Física pretendia produzir um sentimento patriótico generalizado, vindo depois visar à promoção de saúde enquanto possuía uma visão médica, não separada totalmente do conceito militarista proclamado anteriormente, Em seguida, tal área do conhecimento rendeu-se aos valores apregoados pelo rendimento esportivo, quando proporcionou a esse uma grande aclamação Posteriormente, veio a objetivar uma visão do indivíduo com um perfil psicomotor equilibrado e bem estruturado, por fim retornando a se interessar pela vida civil do indivíduo com seu caráter político-social (OLIVEIRA, 2002). Tantas faces e características Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 não surgiram em detrimento das anteriores, mas sim numa relação de coexistência. Ao observar as modificações sofridas pela Educação Física, o que se percebe é uma enorme tendência da mesma em adquirir e cumprir funções diferenciadas, revelando assim seu potencial; já que, em cada modificação sofrida, ela demonstrava responsabilidade e disciplina na garantia da parte que lhe cabia. Fato esse que contribui sobremaneira, para que ela viesse a ser reconhecida como disciplina de extrema importância no currículo educacional (BELTRAMINI, 2001). Porém com esse processo histórico conturbado e tão cheio de contradições, a disciplina Educação Física mergulhou numa profunda crise, principalmente quando começou a abandonar valores, e assim, sua capacidade de ser uma disciplina atrativa sob o ponto de vista dominante. Hoje, tal disciplina é considerada, tanto por alguns alunos como também por outras esferas da comunidade escolar, como disciplina secular e maçante Além disso, destaca-se o fato de que, em algumas escolas ela sofre do problema da evasão, tornando-se assim, muitas vezes, uma disciplina pouco frequentada e muito criticada. 2. Metodologia Com o objetivo de identificar como se constituiu a educação física no que se refere a metodologia, estrutura, características e aceitação perante os discentes, realizou-se um estudo dos últimos 60 anos de Educação Física através de entrevistas realizadas com alunos e ex-alunos escolhidos aleatoriamente no Município de Muriaé-MG, que vivenciam ou vivenciaram a disciplina em momentos históricos distintos. A amostra foi composta por 250 (duzentas e cinquenta) pessoas de ambos os sexos, divididos em 5 (cinco) grupos de acordo com a faixa etária, remetendo cada grupo a um período entre 1958 (mil e novecentos e cinquenta e oito) e 2008 (dois mil e oito), ficando os grupos separados e denominados da seguinte forma: grupo A, de 50 a 60 anos; grupo B, de 40 a 50 anos; grupo C, de 30 a 40 anos; grupo D, de 20 a 30 anos; e grupo E, de 10 a 20 anos. 3. Resultados e discussão Nas décadas de 1920 a 1950, a educação e a própria Educação Física recebeu grande influência das teorias escolanovistas, mas isso não impediu Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 que, no Brasil, o caráter militar ainda se sobrepusesse; suas práticas e sua busca teórica se baseava nas atividades que visassem a um treinamento corporal vigoroso e uma formação de caráter civil intensa, logo sua visão se detinha num conhecimento bélico e patriótico. Nesse período, a Educação Física foi vista como uma disciplina cheia de regras e com forte autoritarismo, os indivíduos que por ela passaram, mencionam-na como um momento histórico em que a relação professor-aluno simplesmente se tratava de algo quase profissional, não havia acessibilidade aos professores, os quais, em sua maioria tratavam-se de militares metódicos e possuidores de uma seriedade tal que mantinha os alunos a certa distância (OLIVEIRA, 2002). A Educação Física mantinha seus princípios e de uma forma geral era ministrada utilizando, no mínimo, três de seus cinco conteúdos (jogos, esporte, ginástica, dança e lutas), o que a tornava bem frequentada, primeiro pelas exigências que possuía enquanto disciplina de currículo escolar, depois porque, mesmo diante de tanto autoritarismo e rigidez, ela é mencionada como uma disciplina interessante, com criatividade e inovação; as atividades, que a primeira vista, pareciam maçantes e entediantes se apresentavam tão atraentes quanto as demais, e logo mais atraente que qualquer outra. Interessante observar que algumas ex-alunas mencionam terem possuído uma relação bem próxima das professoras, as quais demonstravam grande interesse e chegavam a produzir um clima de amizade com as alunas, que se sentiam bem com as atividades propostas, julgadas importantes e atrativas; além de, em alguns casos, afirmarem que as aulas proporcionavam a elas corpos saudáveis e belos, o que era mais um ponto positivo para a Educação Física a 60 anos atrás. Os alunos do sexo masculino também afirmam possuírem grande interesse pelas aulas, mesmo que estas ocorressem antes do período das aulas, pois possuíam sempre novas atividades, sendo que o esporte era apenas uma delas e não a exclusiva e repetitiva atividade de sempre (o que é comum na atualidade). Citado por FILHO (2004), o Professor Waldemar Areno, então Diretor da Escola Nacional de Educação Física menciona a fundamentação, ou a própria Educação Física militar como uma condição de respeito, na qual se deve um respeito tal a ponto de lhe homenagear levantando os grandes benefícios ofertados à Educação Física de uma forma geral e à Medicina Desportiva. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 É impreterível mencionar que a Educação Física foi moldada e fundamentada pelas visões militares, a busca pelo conhecimento próprio e as pesquisas na área se deram a partir desse embasamento a ela proporcionado, isso fica claro tanto através das bibliografias que nos remetem a esse período, quanto às próprias afirmações adquiridas pela entrevista aplicada; a Educação Física recebeu essa legitimação devido ao seu sucesso nas investidas militares, sendo instrumento firme e altamente funcional para a produção do caráter patriótico e a manutenção da segurança nacional. Nesse período, a visão médica, sanitarista, que visava à docilidade corporal e se fortalecia ao proclamar uma abordagem estética, tornava-se mais aceita e firmada pelos estudos incessantes a respeito do corpo humano e seu funcionamento, o que parece ter atraído um grupo significante de adeptos. Também nesse período, uma visão inovadora se estendia aos domínios da Educação Física, visão essa que se detinha numa preocupação constante com a vida alheia, ao determinar a necessidade de profissionais que se responsabilizassem pelo atendimento do povo, constituindo o principio de uma abordagem multiprofissional, em que a Educação Física também estava incluída, já que assim como proporcionava benefícios aos escolares, ela se baseava em uma fundamentação posterior, concernente à revolução industrial ocorrida na Europa e extendida pelo mundo, tratando-se então de uma forma eficiente de promover ao trabalhador, de forma geral, um momento de descanso, momentos recreativos ou de lazer, que promoviam uma maior disposição no labor. Não se pode dizer que essa preocupação com a condição de vida dos demais remetia-se apenas a uma visão capitalista e/ou política, mas pode-se afirmar que, nessa função, a Educação Física também foi um instrumento muito válido nos valores da sociedade em questão. Logo podemos concluir que esse período avaliado através das entrevistas com o grupo A foi um momento realmente cheio de regras e um autoritarismo militar geral; porém, percebe-se que a disciplina comum nos militares proporcionou à Educação Física a capacidade de se alicerçar e alcançar um reconhecimento tal que não podia ser negado, mas que deve ser tratado com ressalvas por aqueles que querem concretizar uma prática pedagógica crítica. O grupo B, que remete à década de 70, proporcionou resultados consideráveis, pois revela pequenas alterações na execução da Educação Física, sua fundamentação ainda se mantinha numa disciplina militarista; Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 porém, já se fazia perceptível uma maior liberdade concedida aos alunos durante as aulas, além de um processo de esportivização intenso. O esporte, nessa época, já se tratava do conteúdo mais trabalhado nas aulas; porém, ainda estava em conjunto com os demais fatores constituintes da disciplina, ainda se mantinha uma aula rica, composta por, no mínimo, 3 (três) de seus conteúdos, como foi destacada na realidade pesquisada. O esporte era utilizado constantemente, porém, de uma forma mais abrangente, os esportes com bola eram apenas mais alguns conteúdos utilizados; esportes como a natação e o atletismo já eram comuns na prática das aulas em algumas escolas. Afinal, na década de 1970, não houve grandes modificações práticas que pudessem criar uma preocupação maior com a situação, o que pode ser um dos motivos pelos quais a situação da Educação Física chegou a tal ponto na atualidade. Porém, a partir dessa década é que a Educação Física inseriu-se firmemente no âmbito acadêmico, com uma busca cada vez maior pelo conhecimento específico da disciplina; e, mais que isso, pela formação de um corpo docente que viesse a propagar os conhecimentos agora obtidos; nesse momento também, percebe-se uma busca por uma formação continuada fora do Brasil (BETTI e ZULIANI, 2002). As décadas seguintes, 1980 e 1990, representaram um dos momentos mais fervorosos no que se refere ao entendimento do que viria significar Educação Física Escolar. Sob o aparato de toda a discussão que a educação já vinha fazendo, a Educação Física entrou num profundo processo de discussão. A perspectiva da aptidão física, que vinha de certa forma mascarada atrás das intenções militarista , médicas e esportivas, tornou-se o ponto de pauta crucial para análise da condição atual e futura da disciplina. A Educação Física precisava de uma fundamentação mais científica, segundo alguns estudiosos. Na década de 1980, surge um novo grupo que defendia uma nova fundamentação, a corrente crítica e progressista, a qual trouxe consigo diversas propostas pedagógicas que ainda se manifestam intensamente, como propostas desenvolvimentista, propostas vinculadas à psicologia como a psicomotricidade, outra voltada para a discussão da cultura psicológica infantil (OLIVEIRA, 2002) Além dessas, é necessário assinalar outras duas perspectivas que muito se destacaram: a crítico-superadora, que trazia uma sistematização do ensino fundamentada nos pressupostos do materialismo-histórico, e a críticoAnais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 emancipatória, que vê o movimento como uma forma de diálogo, de comunicação com o mundo (COLETIVO DE AUTORES, 1992). As entrevistas com os grupos que remetem a esse período (grupo C e grupo D) permitiram uma análise riquíssima dentro da nossa temática, quando revelou que a Educação Física estava se perdendo em meio às suas múltiplas teorias, funções e fundamentações. Grupos homogêneos estavam agora por se separar em subgrupos. A Educação Física parece ter se tornado tema de discussões calorosas, porém essas discussões não pareciam resultar em nada para ela, os seus conteúdos se tornaram pobres; já na década de 1990, quando o esporte tomou praticamente todas as aulas, não se via mais uma preocupação com o desenvolvimento, com a saúde, com a disciplina ou seu papel civil e patriótico, alcançamos uma filosofia liberalista antiga de “Laissez faire, laissez passer, lê monde va de lui même” ( Deixe fazer, deixe passar, o mundo vai por si mesmo, de Vincent de Gournay ( 1712 – 1759), filosofia que se propagou. O grupo E, relativo aos tempos mais atuais, trouxe espanto pelas respostas: realmente a Educação Física encontra-se numa condição muito questionável sob o ponto de vista da garantia de apropriação, pelos alunos, do conhecimento historicamente acumulado. O que se percebeu é que ela não passa de uma disciplina secular em muitas escolas, seu conteúdo, de forma paradoxal, é vazio e, além disso, o esporte e o jogo são os conteúdos predominantes; porém, essa realidade não é animadora, o esporte trabalhado não passa de uma ilusão, não se tratam de verdadeiras aulas de Educação Física, mas apenas de uma atividade física que pode ser “supervisionada” por qualquer um. A maioria dos alunos entrevistados diz não possuir interesse algum pela prática da Educação Física, afirmam que as aulas são repetitivas e cansativas, que os professores não se interessam pela forma como as atividades acontecem, e em poucas vezes acompanham o andamento das aulas de perto. Algumas entrevistas chegam a ser desanimadoras, pois mencionam situações de extrema mediocridade, aulas em que o professor não se interessa pelas práticas e muito menos pelos alunos, aulas sem fundamentação e objetivos, com atividades repetitivas. A bola está sempre em quadra, os alunos ficam “a mercê” de si mesmos, não se pode nem mesmo afirmar que as atividades são realizadas conforme a produção acadêmica de uma área que, há décadas, vem dando uma Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 significativa contribuição para a educação, pois não existe sequer um objetivo traçado pelo professor. 4. Considerações Finais Estamos vivendo num mundo conturbado em que toda a produção acadêmica, como parte do todo, estabelece uma relação dialética com o primeiro. A Educação Física não está fora desse contexto, a situação em que a mesma se encontra, como pudemos perceber na pesquisa, é alarmante e, por vezes, desanimadora, mas isso não significa que devemos cruzar os braços, pois é somente através da adoção de uma pedagogia crítica e historicizadora que conseguiremos caminhar rumo a concretização de uma Educação Física dotada de sentido. É sábido que, mesmo diante de um quadro precário, ainda encontremos professores que trabalham arduamente para colocar em prática uma Educação Física que tenha um referencial metodológico sólido o suficiente para romper com a tendência tradicional de se atrelar à ideologia dominante. A Educação Física deve assumir a responsabilidade de sistematizar a reflexão pedagógica do acervo de formas de representação do mundo, analisando que homem vem sendo produzindo historicamente, exteriorizados pela expressão corporal a qual denominamos cultura corporal. É nesse sentido, que consideramos importante que os professores lutem para que sejam retomadas, por um lado, as discussões já realizadas em outros momentos e por outro, busquem concretizar propostas que realmente contribuam para uma formação humana crítica e contextualizada em que o ser humano seja considerado na sua totalidade e não somente numa dimensão física. Além disso, é importante que, ao final de sua escolarização básica, o aluno, cidadão tenha um mínimo de autonomia de ação no que refere ao saber historicamente acumulado dos temas da cultura corporal. REFERÊNCIAS BELTRAMINI, D. M. Dos Fins da Educação Física Escolar. Maringá: Revista da Educação Física/UEM, v. 12, n. 2, p. 27-33, 2. sem, 2001 BETTI, M; ZULIANI, L. R. Educação Física escolar: uma proposta de diretrizes pedagógicas. São Paulo: Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte ,ano 1, n1, 2002. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Educação Física. Brasília: MEC/SEF, 1997. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física. São Paulo: Cortez, 1992. FENSTERSEIFER, P.E. A Educação Física na crise da modernidade. Ijuí: Unijuí, 2001. FILHO, L.C. Educação Física no Brasil: a história que não se conta, 10 ed. Campinas: Papirus, 2004. OLIVEIRA, M.A.T. Educação Física escolar e ditadura militar no Brasil (1968-1984): história e historiografia. São Paulo: Educação e Pesquisa, vol 28, n.1. jan/jun, 2002 SILVA, P.T N. A Formação do professor de Educação Física no Brasil: avanços e retrocessos . Campinas : Universidade Estadual de Campinas Faculdade de Educação, tese de doutorado, 2002 SOARES, Carmem Lúcia. Educação Física Escolar : Conhecimento e Especificidade. São Paulo: Revista paulista de Educação Física, supl.2, p.612, 1996. VAGO, Tarcísio Mauro. Início e fim do século XX: maneiras de fazer educação física na escola. São Paulo: Caderno CEDES, vol.19, no.48, p.30-51, ago. 1999 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A RELAÇÃO ENTRE PEDAGOGIA DAS COMPETÊNCIAS E EDUCAÇÃO FÍSICA NUMA VISÃO CRÍTICA Marcelo Silva dos Santos - Graduado em Educação Física Mestre em Educação e Doutorando em Políticas Públicas e Formação Humana. Professor da Faculdade VÉRTICE e da Faculdades Sudamérica [email protected] RESUMO O trabalho teve como objetivo apreender a noção de competência vem assumindo a centralidade na esfera educativa ao mesmo tempo em que coloca os saberes e o conhecimento em segundo plano. Além disso, buscou-se compreender como a tendência colocada acima, sob a égide de dois documentos oficiais: Relatório Jacques Delors e Parâmetros Curriculares Nacionais repercutem nos saberes a serem trabalhados pela Educação Física no atual momento histórico. Por último, foi feito um estudo de caso na Escola Municipal Cecília Meireles em Juiz de Fora-MG, onde se concluiu que a Educação Física, pode vir a dar sua contribuição, através da reafirmação de padrões de comportamentos que visam conformar o novo cidadão, trabalhador ou desempregado à lógica do capitalismo contemporâneo. PALAVRAS-CHAVE: Mundo do trabalho; Pedagogia das Competências; Educação Física. 1. Introdução As mudanças ocorridas no mundo contemporâneo e sua configuração específica na realidade brasileira estão exigindo um cidadão-trabalhador de novo tipo que possua uma nova forma de pensar, de agir, de comunicar-se e, principalmente, de estar no mundo. Surge uma nova forma de organização do modo de produção capitalista, o padrão de acumulação flexível, caracterizado por novo código cultural, que precisa ser decifrado e compreendido em decorrência das inovações tecnológicascientíficas que atenda plenamente às mudanças na forma de organização e da gestão do trabalho. Ao contrário do sistema organizacional de base fordista, em que os papéis desempenhados pelos trabalhadores eram associados ao cargo ou ao posto de trabalho, a relação se inverte. A importância é conferida mais às pessoas do que aos papéis que ela exercem. Como coloca Ramos, “A mudança no caráter do trabalho seria de tal ordem que não se justificaria como princípio educativo, pois o Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 conhecimento e personalidade é que teriam adquirido valor produtivo” (2001b, p. 301). Nesse contexto, como fica a escola, tendo em vista que ela é a forma de educação dominante na sociedade atual? Considerando a escola como espaço de “conformação humana”, no sentido gramsciano, e as políticas educacionais como orientadoras da reorganização dos sistemas e das práticas educativas necessárias às novas exigências, concordamos com Saviani (1994, p. 123) quando diz que, ao mesmo tempo em que ela é desvalorizada, ela é hipertrofiada. Ao mesmo tempo em que se amplia, perde substância, assume uma nova configuração sem mudar substantivamente o seu caráter terminal; sendo, portanto, objeto de preocupação em amplos setores da vida social, principalmente, no aparato estatal. Ela vem sendo um importante e estratégico campo para se consolidar o projeto de formação humana na lógica da adaptabilidade ao atual momento. Num mundo caracterizado pelo fortalecimento da ciência como importante força produtiva e o predomínio do capital financeiro que se exerce tanto em nível nacional como também em nível internacional, “tornou-se uma espécie de lugar comum falar-se em crise do trabalho e emergência da sociedade do conhecimento; crise ou fim do emprego e era da empregabilidade” (FRIGOTTO, 2002, p. 11). Tendo como referência mais ampla a consolidação da política neoliberal em curso no país a partir da década de 90, inúmeras ações foram tomadas que objetivaram o ajustamento passivo do país à nova ordem mundial capitalista e a construção de um consenso social para que os indivíduos aceitem, sem nenhum questionamento, uma sociedade em que o direito ao trabalho é negado. Como ilustração, podemos citar no plano internacional o papel desempenhado pela UNESCO, principalmente no que concerne ao já mencionado Relatório da Comissão Internacional para o Século XXI (Relatório Jacques Delors publicado no Brasil em 1998). No Brasil, destacamos como exemplo as orientações do Governo Federal (LDB, Diretrizes curriculares e Parâmetros curriculares), Estaduais (Diretrizes curriculares) e Municipais (Diretrizes curriculares). A conseqüências dessas ações, podem ser vistas nas orientações didáticopedagógicas das disciplinas escolares de uma forma geral construídas pós 1990; que, ao se redefinirem para conformar o cidadão/trabalhador á nova sociabilidade, materializam uma pedagogia emergente denominada por Ramos (2001a) como sendo a “pedagogia das competências”. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Assim, a escola assumiu, mesmo que de uma forma contraditória, a função de desenvolver um novo cidadão-trabalhador coadunados com as novas competências requeridas pelas mudanças na forma de organização da produção, gestão do trabalho e os novos códigos culturais que precisam ser decifrados e compreendidos. Pelo que observamos, seria mais conveniente para os ideólogos do capitalismo, substituir conhecimento por competência, sabendo-se que o primeiro é um dos elementos da segunda, que se abre para os demais saberes, principalmente o saber ser. Como a Educação Física escolar, historicamente, já vem contribuindo para conformar os indivíduos a não perturbarem a ordem da sociedade capitalista, priorizando, sobretudo, os conteúdos em suas dimensões, quase que exclusivamente, procedimental e atitudinal, ou seja, saber fazer e o saber ser, conforme coloca Darido (2001), ela representa um excelente componente curricular para incorporar a “Pedagogia das Competências”. 2. Metodologia A questão de um referencial teórico metodológico para qualquer análise investigativa, não se limita à opção por uma forma mais cômoda, ou até mesmo eficiente, para a busca do objeto da pesquisa. Ela não está somente no plano teórico, mas sim, ligada, necessariamente, a um contexto em que se constrói a realidade social. Portanto, a metodologia por nós escolhida parte necessariamente do pressuposto de que, ao adotarmos um ou outro método, estamos assumindo, acima de tudo, uma postura política que passa, sobretudo, por uma concepção de homem, ciência e de mundo, em que não podemos nos limitar simplesmente à explicação do fenômeno estudado, mas sim, desnudar o fenômeno para atingirmos a essência. Como Kosik (2002) ensina-nos: O fenômeno não é radicalmente diferente da essência, e a essência não é uma realidade pertencente a uma ordem diversa do fenômeno. (...). Compreender o fenômeno é atingir a essência. Sem o fenômeno, sem a sua manifestação e revelação, a essência seria inatingível. (p. 16) Ainda nas considerações de Kosik, é necessário levarmos em consideração o fato de que para se compreender o significado de uma determinada „‟coisa‟‟, é preciso conhecer sua estrutura, “a característica precípua do conhecimento consiste na decomposição do todo” (ibid, p. 18). No caso aqui, partiremos do entendimento Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 que a Educação Física Escolar é parte do mundo da escola que, por sinal, é também parte um de todo orgânico da sociedade capitalista. Sendo assim, a partir dos pressupostos do materialismo histórico-dialético, entende-se que o princípio desse método tem como referência básica a totalidade concreta, permitindo não só que as partes estabelecem reações entre si e ao mesmo tempo com o todo, do mesmo modo que o todo não está desconectado das partes e muito menos pairando sobre elas. Mesmo que a Educação Física tenha suas peculiaridades, não a enxergamos fora da totalidade do contexto escolar que estabelece mediações com a estrutura societal. Como o conhecimento humano não pode jamais, por princípio, abranger todos os fatos – pois sempre é possível acrescentar fatos e aspectos ulteriores – a tese da concreticidade ou da totalidade é considerada uma mística. (...) Totalidade significa: realidade como um todo estruturado, dialético, no qual ou do qual um fator qualquer (classes de fatos, conjuntos de fatos) pode vir a ser racionalmente compreendido. (ibid, p. 43). Diferentemente de uma sistematização que domestifica ou romantiza a visão que construímos sobre uma determinada realidade, a dialética segundo Kosik, é “o pensamento crítico que se propõe a compreender a „a coisa em si‟ e sistematicamente se pergunta como é possível chegar à compreensão da realidade” (ibid, p. 20). Ela não considera os produtos sociais do mundo das representações e do pensamento comuns originais e independentes; muito pelo contrário, submete-os a um exame com a pretensão de mostrar que “por trás da aparência externa do fenômeno desvenda a lei do fenômeno; por trás do movimento visível, o movimento real interno; por trás do fenômeno, a essência”. (ibid, p. 20). O que confere a estes fenômenos o caráter da pseudoconcreticidade. Para o materialismo histórico-dialético, a realidade só pode ser conhecida na sua totalidade, a partir do momento em que se descobre a natureza de tal realidade, destrói-se a pseudoconcreticidade, conhece-se o homem como sujeito histórico social, porque ele próprio é produtor dessa realidade como nos diz Kosik (ibib): A dialética é o método de reprodução espiritual e intelectual da realidade é o método do desenvolvimento e da explicitação dos fenômenos culturais partindo da atividade prática objetiva do homem histórico (p.39). Nesse sentido, com intuito de apreender no contexto de mudanças nos processos produtivos, em que há uma exigência de um trabalhador de novo tipo, de que forma a pedagogia das competências, como reforçadora dos princípios neoliberais, tem ou não norteado as diretrizes curriculares para o ensino da Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 disciplina Educação Física, fizemos um estudo de caso no município de Juiz de Fora-MG, mais especificamente na Escola Municipal Cecília Meireles. Optamos por realizar o trabalho de investigação nessa escola pelo fato de que ela possui um projeto de parceria empresa-escola com a Fundação BelgoMineira e uma proposta-pedagógica revisada, atualizada anualmente, contendo inclusive uma diretriz para o ensino da disciplina Educação Física que é muito raro em se tratando da realidade dessa disciplina. 3. Resultados e Discussão Sob o ponto de vista da Educação Física como um todo que integra o âmbito escolar, o que destacamos é que, mesmo de uma forma indireta, a Educação Física faz parte de um movimento de enquadrar a educação ao cenário neoliberal e pósmoderno do capitalismo contemporâneo, mesmo num momento em que a centralidade nos processos de formação é ocupada por disciplinas que possui uma dimensão mais cognitiva que propicie aos alunos “um sólido domínio dos códigos instrumentais da linguagem, da matemática e dos conteúdos específicos” (MELLO, 1995, p. 40), a Educação Física pode vir a dar sua contribuição através da forma como vem buscando tratar o conhecimento. A partir dos elementos que nos foi possível destacar, pudemos perceber que a Educação Física imediatamente não contribui para a formação exigida pela gestão de trabalho flexível; porém, mediatamente sim, quando o trabalho pedagógico se volta, essencialmente, para a perspectiva de instrumentalizar os alunos para a resolução de problemas e a tomada de decisões acertadas ao longo da vida. Diferentemente dos momentos anteriores em que se dava significativa importância para a Educação Física, o que ocorre hoje é a secundarização de seu conteúdo, pois ao invés de garantir a socialização do conteúdo produzido historicamente, ele se constitui apenas num meio para garantir a estrutura social dessa nova fase do capitalismo através da difusão e reafirmação de padrões de comportamentos que possam contribuir para a conformação passiva do novo cidadão, trabalhador ou desempregado. Mesmo que muitas propostas curriculares de Educação Física mencionem os elementos da cultura corporal de movimento trazida pelo Coletivo de Autores (1992): jogo, dança, esporte, lutas e ginástica, não se tem como objetivo trabalhar, através da transmissão do saber clássico, para que o aluno ultrapasse o senso comum e construa formas mais elaboradas de pensamento. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Uma outra questão que pontuamos, em decorrência da anterior, é a que diz respeito à adoção de uma postura eclética em algumas Propostas Curriculares. Balizados pela crença de que é possível se apropriar da parte “boa” de cada referencial teórico, acabam absorvendo, mesmo que de uma forma ingênua uma noção ideológica que o capitalismo contemporâneo busca construir, o estabelecimento de consensos. Em relação ao estudo de caso, foi possível constatar, além das questões já levantadas acima, que embora numa apreensão fenomênica a parceria entre a Escola Municipal Cecília Meirelles e a Fundação Belgo-Mineira pareça benéfica, em sua essência tal questão aponta para o atrelamento da prática educativa a lógica empresarial do capitalismo contemporâneo. Como concluiu Tomas (op cit, p. 176), a parceria é “mais uma das estratégias da burguesia, não só no sentido de construção da força de trabalho de novo tipo, mas também de (con)formação da sociedade à nova forma de ser, de viver, de pensar e agir imposta pelas exigências contemporâneas de reorganização societal”. Com isso, afirmo ser possível colocar em prática uma perspectiva de educação Física voltada para a mobilização de competências e habilidades necessárias para uma atuação cidadã sintonizada com as requisitadas para a vida onde “o cotidiano doméstico mais alienado possível, torna-se o padrão de comportamento” (DUARTE, 2001a, p. 68). Compreendendo que dentro da teoria marxista o real é histórico e dialético e que, por isso, encontra-se em constante movimento de ação e superação da realidade concreta, foi possível entender que a escola, enquanto um espaço de disputa política, constitui um importante locus para se explicitar as contradições e a dimensão política-pedagógica de caráter restrito a empregabilidade numa sociabilidade que se generaliza o desemprego. 4. Considerações Finais Em articulação com a abordagem crítico-superadora, defendo no presente estudo, necessidade de uma pedagogia marxista que contribua “para que um número maior de indivíduos se apropriem do saber científico, filosófico e artístico, de tal maneira que esses saber torne-se uma mediação na construção de uma prática social de luta contra o capitalismo, uma prática social de resistências às brutais formas de alienação hoje existentes” (DUARTE, 2001a, p. 282). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Os processo educacionais constituem-se em práticas sociais mediadoras e formadoras da sociedade em que vivemos, não podendo, portanto, ser consideradas neutras. Desta forma, a Educação Física deve assumir a responsabilidade de sistematizar a reflexão pedagógica do acervo de formas de representação do mundo que homem vem produzindo historicamente exteriorizadas pela expressão corporal a qual denominamos cultura corporal á luz do referencial teórico marxista, de forma a contribuir para que os indivíduos não se calem diante do avançar da barbárie da sociedade capitalista. Como escreveu o músico e compositor Marcelo Yuca “Paz sem voz não é paz é medo. (...). É pela paz que eu não quero seguir admitindo”. Sem o intuito de esgotar a discussão, espero ter contribuído, através dos elementos que destaquei ao longo do presente estudo, para que os professores de Educação Física possam refletir sobre até que ponto, através de suas práticas pedagógicas estão contribuindo, mesmo que ingenuamente para a perpetuação da sociedade capitalista que requer um cidadão fácil de manipular e de explorar, isto é, alienado. REFERÊNCIAS BRASIL, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº. 9.394 de Dezembro de 1996. Brasília: Câmara dos Deputados, 1996. _________, Secretaria de educação Fundamental. Parâmetros curriculares Nacionais: Educação Física/Secretaria de educação Fundamental: Brasília: MEC/SEF, 1997. _________, Secretaria de educação Fundamental. Parâmetros curriculares Nacionais: Introdução. Brasília: MEC/SEF, 1997. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do ensino da Educação Física, São Paulo: Cortez, 1992. DELORS, Jacques (org.). Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez/Brasília: DF: MEC: UNESCO, 1998. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 DARIDO, Suraya Cristina. Os conteúdos da educação física escolar: influências, tendências, dificuldades e possibilidades. IN: Perspectiva em Educação Física escolar. Niterói, v.2, n°1. pp. 5-24 (suplemento), 2001. DUARTE. Newton. Vigotski e o “aprender a aprender”: crítica às apropriações neoliberais e pós modernas da teoria vigotskiana. 2. ed. Campinas: Autores associados, 2001. __________, Gaudêncio. A dupla face do trabalho: criação e destruição da vida. In: FRIGOTTO, Gaudêncio; CIAVATTA, Maria (org.). A experiência do marxismo e a educação básica. Rio de janeiro: DP&A, 2002. KOSIK, Karel. A dialética do concreto. 5.ed. Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1976. MARX, Karl. O Capital. O vol. 1/1. Civilização Brasileira, Rio de janeiro, 1971. _______. Manuscritos Econômicos Filosóficos e outros textos escolhidos. São Paulo, Abril Cultural, 1983 (Os pensadores). MELLO, Guiomar Namo de. Cidadania e competitividade: desafios educacionais do terceiro milênio. 8° ed.. São Paulo: Ed. Cortez, 2000. RAMOS, Marise Nogueira. Da qualificação à competência: deslocamento conceitual na relação trabalho – educação. Tese de doutorado, UFF: Niterói, 2001a. RAMOS, Marise Nogueira. A pedagogia das competências: autonomia ou adaptação? São Paulo: Cortez, 2001b. SAVIANI, Demerval. Pedagogia Histórico-crítica: primeiras aproximações. 4.ed. Campinas, São Paulo: Autores associados, 1994. TOMAZ, Adriane Silva. Projeto de parceria empresa-escola: a intervenção direta do empresariado na educação escolar das massas trabalhadoras:uma análise do programa ensino de qualidade da fundação belgo-mineira. Dissertação de mestrado, Niterói UFF, 2003. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 EDUCAÇÃO: NOSSO MAIOR ENIGMA Rita de Cássia Ferreira Pedrosa Lazaroni – graduada em História, especialista em Educação, Mestranda em Educação. Andréia Almeida Mendes – graduada em Letras, especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Linguística, Doutoranda em Linguística. Faculdade Vértice [email protected] RESUMO Os critérios para seleção e ingresso nas universidades estão sendo revistos pela atual reforma universitária; durante várias décadas, processos ideológicos foram criados na tentativa de justificar o processo de discriminação social e a elitização presente nas universidades públicas. Este artigo pretende avaliar as tentativas de solução para esse “enigma” e propor uma possível solução para esse problema: a formação qualitativa de professores voltada para a pesquisa, prática e atitude reflexiva a ser realizada pelas universidades. Resta-nos saber se as universidades estão preparadas e se têm noção do papel que precisam desempenhar para garantir um ensino que seja realmente “um direito de todos”. PALAVRAS-CHAVE: Enigma; Esfinge; Educação; Ensino Superior; Universidade. 1. Considerações iniciais Vivenciamos atualmente no sistema educacional universitário um grande “enigma”, e encontramo-nos como Édipos diante da Esfinge; temos apenas duas alternativas: ou deciframos o enigma ou seremos devorados pelo monstro. Dentro do atual contexto, sermos devorados por ele, significa passarmos a fazer parte do modelo educacional vigente e nos tornarmos uma engrenagem dentro da máquina social, reproduzindo-a a todo instante no sistema educacional. “A condição de não ser mais uma engrenagem é sermos capazes de decifrar os enigmas que a crise na educação nos apresenta, conseguindo superar esse momento de rupturas”. (GALLO, 1999, p.17). Os atuais “enigmas” não são poucos, o sistema universitário apresenta uma crise multifacetada; mas, uma dos principais problemas vem a ser quanto ao processo de seleção, ingresso e permanência dos alunos na universidade. Esse problema da democratização do acesso está interligado a políticas de inclusão social, de distribuição de renda, de erradicação da indigência que afetam mais da metade dos brasileiros. O objetivo deste artigo é analisar os critérios para seleção e ingresso nas universidades que surgiram com a reforma atual. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Discutir-se-á, inicialmente, os procedimentos teórico-metodológicos utilizados; logo após, o papel das universidades; em seguida, as principais ideologias que dominam esse universo. Na sequência, será a vez de se analisar as tentativas de solução para o problema em questão e os principais desafios a serem superados. Para terminar, serão apresentadas as considerações finais. 2. Procedimentos metodológicos Durante várias décadas, processos ideológicos foram criados na tentativa de justificar o processo de discriminação social e a elitização presente nas universidades públicas. As tentativas de solução para esse “enigma” propõe uma possível solução para esse problema: a formação qualitativa de professores voltada para a pesquisa, prática e atitude reflexiva a ser realizada pelas universidades serão analisadas através de uma revisão bibliográfica sobre o assunto, tendo por base as ideias de Bourdieu (1989), Gallo (1999), Perrenoud (1999) e Soares (1989) O questionamento colocado por esses autores diz respeito ao fato de saber se as universidades estão preparadas e se têm real noção do papel que precisam desempenhar para garantir um ensino que seja realmente “um direito de todos”. A universidade é, potencialmente, o melhor lugar para se formar profissionais para a prática reflexiva e a participação crítica, mas para isso ela deve evitar o pedantismo e se dispor a trabalhar com a realidade educacional dos professores e mantendo um diálogo que não negue as diferenças. 3. O papel da Universidade A universidade deve ser vista como um grande centro, um agente de desenvolvimento, no seu sentido mais amplo. O semiólogo francês Roland Barthes falava que a universidade é o espaço por excelência da liberdade, da polêmica, da criatividade e da inovação; o lugar onde a heterogeneidade, a pluralidade dos pensamentos e os saberes se encontram. É uma pena que isso nem sempre ocorra; atualmente, a universidade é vista no topo da pirâmide educacional brasileira, simbolizando uma espécie de filtro social e mostrandose inacessível para as camadas populares, acentuando ainda mais as desigualdades sociais e, sobretudo, a legitimação das mesmas. O sucesso excepcional de alguns indivíduos que escapam ao destino coletivo dá uma aparência de legitimidade à seleção escolar, e dá crédito ao mito da escola libertadora junto àqueles próprios indivíduos Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 que ela eliminou, fazendo crer que o sucesso é uma simples questão de trabalho e de dons. Enfim, aquele que a escola “libertou”, mestres ou professores, colocam sua fé na escola libertadora garantindo uma parte de seu poder de conservação. Assim, o sistema escolar pode, por sua lógica própria, servir à perpetuação dos privilégios culturais sem que os privilegiados tenham de se servir dele. Conferindo às desigualdades culturais uma sanção formalmente conforme aos ideais democráticos, ele fornece a melhor justificativa para essas desigualdades. (BOURDIEU,1989,p.59) Baseado nessa legitimação, vemos constantemente o uso de expressões como “educação como direito de todos” e “igualdade de oportunidades educacionais” usadas como lugares comuns, num discurso repetitivo em favor da democratização de um ensino que é antes “contra o povo” do que “para o povo”. 4. Principais ideologias Partindo-se do princípio da democracia que “é dar, a todos, o mesmo ponto de partida. Quanto ao ponto de chegada, isso depende de cada um” (QUINTANA,1973,p.45), o sistema educacional criou a idéia de “ que todos tenham seu lugar na escola - e a todos será dado o mesmo ponto de partida. Qual será o ponto de chegada - o sucesso ou o fracasso -, isso dependerá de cada um” (SOARES,1989,p.10). A partir daí, formou-se a ideologia do dom, segundo a qual, a escola (inclusive a universidade) oferece uma igualdade de direitos e que o bom aproveitamento dessas oportunidades dependerá do dom de cada um. Outra ideologia muito utilizada durante anos para justificar a exclusão educacional foi a ideologia da deficiência cultural, a partir da qual as desigualdades sociais é que seriam responsáveis pelas diferenças de rendimento dos alunos na escola. Assim, torna-se natural que os alunos pertencentes às classes dominadas tenham maior probabilidade de fracasso na escola por serem menos dotados, menos aptos e menos inteligentes e por pertencerem a uma “classe inferior”. Como se vê, tanto nesta ideologia, a da deficiência cultural, quanto na ideologia do dom, a culpa e o “erro” está única e exclusivamente no aluno que não conseguiu se adaptar aos padrões exigidos pela escola. Uma terceira tentativa de explicação foi a ideologia das diferenças culturais: existe uma cultura socialmente privilegiada e considerada “superior” e única “legítima” - a da classe dominante - e o aluno que não pertencer a ela sofre um processo de marginalização cultural e fracassa, não por deficiências Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 intelectuais ou culturais como nas outras duas ideologias, mas porque possui uma cultura diferente; assim, as diferenças são transformadas em deficiências. Todas essas ideologias serviram e ainda servem para justificar anos e anos de discriminação acintosa entre os candidatos: os alunos oriundos de classes mais abastadas e de escolas que preparam melhor alcançam as primeiras posições nas faculdades gratuitas e os alunos das classes mais baixas que conseguiram “sobreviver” até o 2º grau, encaminham-se para as faculdades particulares onde não gozam do benefício da gratuidade. 5. Tentativas de solução e principais desafios Qual seria a solução para esse problema: adotar cotas para negros, pardos, índios, ex-presidiários e estudantes vindos do Ensino Médio? Garantir vagas nas faculdades particulares através do projeto “Universidade para Todos”? Dobrar o número de vagas nas universidades federais? A resposta a essas perguntas é complexa e passa inevitavelmente por um longo processo de reflexão: não podemos ter a ilusão de que essas propostas signifiquem a resolução dos problemas enfrentados pela educação em nosso país, pois corremos o risco de ter a qualidade do ensino ameaçada; mas, em contrapartida, não podemos acreditar que o filtro que é colocado hoje na porta da universidade seja uma garantia de qualidade, muitas vezes, ele significa apenas a garantia de homogeneidade social e uma tentativa de fazer da universidade um espaço exclusivo para a elite. A procura pelo Ensino Superior está crescendo e crescerá ainda mais o número de pessoas dispostas a concorrer a uma vaga. O grande problema é saber como a universidade vai se expandir, quantitativamente, para atender a todos sem perder a sua qualidade e buscando sempre o aperfeiçoamento. Infelizmente, tanto o governo quanto a sociedade não vêem a educação como o mais importante dos investimentos sociais: a educação é libertadora; portanto, só seremos livres, quando a tivermos. Mas essa compreensão diferese da visão imediatista que busca atacar o desemprego com programas de reciclagem e de treinamento, quando o fundamental é escolaridade. Há a necessidade de garantir a permanência dos alunos em uma escola de qualidade e não tentarmos “compensá-los” pela falta de oportunidade. Outro equívoco que nos aflige é a idéia de que devemos investir mais no Ensino Fundamental e Médio. Não há dúvida de que a educação básica é o alicerce de uma boa formação, mas só teremos uma melhor educação básica Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 quando tivermos professores e processos educacionais de qualidade; elementos esses que são produzidos nas universidades através da associação de ensino, pesquisa e extensão. Então, se as universidades não tiverem recursos que garantam essas condições, não teremos uma educação básica de bom nível. O problema é que a universidade está passando por transformações e precisa resgatar o seu papel de ser vanguarda das idéias e do conhecimento científico, o que significa que ela tem de ser inovadora do ponto de vista científico, tecnológico e da produção de novas idéias. Por isso é que não se pode eleger a universidade como lugar ideal da formação de profissionais sem antes ser feita uma análise profunda. Certamente, a formação de profissionais para o espírito científico, para o rigor, para a atitude descentralizada de si constitui o trunfo que a universidade pode pôr a serviço da formação de profissionais. Igualmente, de acordo com a concepção de pesquisa e método que se tenha, as divergências com a prática reflexiva se modulam: Um seminário de pesquisa, de acordo com o modo pelo qual é concebido e conduzido, pode colocar os estudantes no coração de uma prática reflexiva ou formá-los como pequenos soldados da ciência. Enquanto se formar os estudantes para a pesquisa fazendoos recolher e sistematizar dados em função de hipóteses de pesquisa para cuja definição eles não contribuíram, se manterá a ilusão de que se formas pesquisadores quando, na verdade, se treina técnicos. Há aí um duplo desafio: 1) Ampliar a concepção de pesquisa e de formação para a pesquisa, em especial, nas ciências humanas. A distância entre essa formação e o desenvolvimento de uma atitude reflexiva depende dessa ampliação. 2) Criar, nos cursos universitários, dispositivos que visem, especificamente, a desenvolver a prática reflexiva, independentemente da pesquisa. Esses dispositivos poderiam também contribuir para formar os pesquisadores, mas, de início, seriam postos a serviço de um profissional engajado em uma ação complexa.( PERRENOUD, 1999,p.16). É claro que apenas essas duas condições não bastarão para que a prática reflexiva habite no dia-a-dia do profissional, mas se ela estiver integrada na mentalidade desse futuro professor, certamente ela se tornará o motor da articulação teoria-prátrica em suas atitudes. Não basta, porém, que a universidade seja politizada para pretender desenvolver uma participação crítica, pois a atitude dos professores não se transmite magicamente aos estudantes, não basta confiar na essência da instituição, é preciso instaurar formas e dispositivos de formação precisos e Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 desenvolver competências fundadas nos saberes. Torna-se então muito importante saber por que a universidade quer formar profissionais: Se é por razões claramente ligadas a sua identidade e articulada à construção de saberes e se ela está disposta a conceber os percursos de formação profissional superando seus hábitos e tradições didáticas, então certamente ela é o lugar apropriado. Se, ao contrário, a universidade quer se ocupar da formação de professores apenas para não abandoná-la a outras instituições ou para ampliar o seu público, obter subvenções ou prestar um serviço, então é preferível confiar a sua formação a institutos que não terão vergonha de formar profissionais”. (PERRENOUD, 1999,p.17). Portanto, se se concebe a universidade como uma “torre de marfim” protegida dos murmúrios do mundo para que cada um se consagre à busca serena do saber, não se pode esperar que ela forme profissionais críticos; por isso, as universidades têm que se conscientizar de que não podem mais permanecer enclausuradas em seu campus. Elas precisam ter a capacidade de sair e levar o conhecimento que produzem para a sociedade, observando as transformações do mundo contemporâneo, processando essas modificações e gerando novos conhecimentos. Outro grande desafio é questionar o tipo de profissional que as universidades estão formando, hoje, frente à necessidade de recursos humanos altamente qualificados, que tenham uma formação básica sólida, um engajamento social e certa especialização. A universidade deve fornecer além dos aparatos básicos para que os futuros profissionais possam se relacionar com seus alunos e com a sociedade, uma postura crítica diante dessa mesma sociedade, garantindo dessa maneira, uma formação social através do exercício de posturas e relacionamentos que sejam expressão da liberdade, da autenticidade e da responsabilidade. Outro ponto que não pode ser esquecido é que estes currículos, além de oferecer uma formação básica bem fundamentada, devem se preocupar em formar profissionais para um contexto social em constante mudança, preparando-os para que aprendam a aprender e desenvolvendo a idéia de que há a necessidade de atualização constante e que isso deve sempre vir em sua experiência prática para se renovarem. 6. Considerações finais A universidade é, potencialmente, o melhor lugar para se formar profissionais para a prática reflexiva e a participação crítica, mas para isso ela Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 deve evitar o pedantismo e se dispor a trabalhar com a realidade educacional dos professores e mantendo um diálogo que não negue as diferenças. Torna-se necessário também, ter consciência de que o processo atual da reforma universitária oferece um vasto caleidoscópio e que ao tentarmos desvendar o “enigma da Esfinge” que a educação nos apresenta através da simplificação, corremos o risco de sermos engolidos pelo monstro. Somente quando entendermos que todos os dilemas e contradições do Ensino Superior, Médio e Fundamental se refratam na questão do papel das universidades na formação de profissionais, estaremos de fato desvendando o enigma com o qual a Esfinge-Educação nos aterroriza atualmente. REFERÊNCIAS BOURDIEU, Pierre. A escola conservadora: as desigualdades frente á escola e à cultura. Trad. Maria Alice Nogueira. In: Educação em revista. Faculdade da Educação da UFMG, dez. 1989. pp.5-15. GALLO, Sílvio. Transversalidade e educação: pensando uma educação não-disciplinar. In: GARCIA, R.L., ALVES, N. O sentido da escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, pp.17-41 PERRENOUD, Philippe. Formar professores em contextos sociais em mudança. Prática reflexiva e participação crítica. In: Revista brasileira de educação. ANPED (Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação), 1999, set./out./nov./dez., nº12, trad. Denice Bárbara Catani, pp.519. QUINTANA, Mário. Caderno H. Porto Alegre: Globo,1973. SOARES, Magda. Linguagem e escola. Uma perspectiva social. São Paulo: Ática,1989. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO: PERSPECTIVA DE UM DIÁLOGO APENAS INTERDISCIPLINAR? Rita de Cássia Ferreira Pedrosa Lazaroni – graduada em História, especialista em Educação, Mestranda em Educação. Andréia Almeida Mendes – graduada em Letras, especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Linguística, Doutoranda em Linguística. Faculdade Vértice [email protected] Filosofar é como tentar descobrir o segredo de um cofre: cada pequeno ajuste no mecanismo parece levar a nada. Apenas quando tudo entra no lugar a porta se abre. (Ludwig Wittgenstein) RESUMO O conhecimento humano passou por um longo processo, iniciando-se pelo saber mitológico, passando pelo teológico, filosófico até chegar ao científico, nos dias atuais. Ressalta o processo de fragmentação que ocorreu ao longo desse processo, fazendo surgir assim áreas específicas que deram ênfase ao processo de especialização. Em meio a tudo isso, surge a Filosofa da Educação, na tentativa de estabelecer possíveis elos entre as disciplinas, através de um processo de interdisciplinaridade. Mas, será apenas esse o papel da Filosofia da Educação? Seria a interdisciplinaridade o caminho certo? Não seria então a transversalidade o ideal a ser alcançado e defendido pela Filosofia? É justamente isso que este artigo pretende discutir. Trata-se de uma pesquisa de revisão bibliográfica que tem por objetivo analisar qual é o verdadeiro papel que a Filosofia deve ocupar na educação. PALAVRAS-CHAVE: Filosofia da Educação; Interdisciplinaridade; Transversalidade; Conhecimento. 1. Considerações iniciais Durante muito tempo, a Filosofia foi vista como a “Rainha das Ciências”; isso aconteceu devido a uma idéia aristotélica de que ela era a totalidade dos conhecimentos teóricos e práticos da humanidade. “A Filosofia era representada como uma grande árvore frondosa, cujas raízes eram a metafísica e a teologia, cujo tronco era a lógica, cujos ramos principais eram, a Filosofia da Natureza, a ética e a política e cujos galhos extremos eram as técnicas, as artes, e as invenções.” (CHAUÍ, 2002, p.53) Nos seus 25 séculos de existência, as ciências, após definirem os seus objetivos e métodos, passaram a desligar-se dessa grande árvore e a seguirem um caminho autônomo. Isso se tornou mais crítico no século XIX, quando o otimismo positivista supôs que a Filosofia não teria mais motivo para existir, pois as ciências que dela desgarraram-se teriam a capacidade de conhecer e explicar tudo. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Felizmente ou infelizmente (não se sabe ao certo), as ciências falharam nessa sua missão de independência; a partir daí, a Filosofia propôs-se justamente a investigar os fundamentos, os métodos e os resultados das ciências, voltando a afirmar assim o seu papel de tentar compreender e interpretar criticamente as ciências, discutindo a validade das mesmas. Essas transformações fizeram com que aumentasse novamente o campo de investigação da Filosofia, fazendo surgir novas disciplinas filosóficas com métodos adequados aos objetos que haveriam de ser conhecidos. O objetivo deste trabalho é analisar o processo de fragmentação que ocorreu ao longo do processo de fragmentação das disciplinas, fazendo surgir assim áreas específicas que deram ênfase ao processo de especialização. Em meio a tudo isso, surge a Filosofa da Educação, na tentativa de estabelecer possíveis elos entre as disciplinas, através de um processo de interdisciplinaridade. Surgem aí os seguintes questionamentos: será apenas esse o papel da Filosofia da Educação? Seria a interdisciplinaridade o caminho certo? Não seria então a transversalidade o ideal a ser alcançado e defendido pela Filosofia? Apresentar-se-á, neste artigo, inicialmente, os procedimentos metodológicos, logo após, realizar-se-á uma revisão bibliográfica sobre o assunto, realizando-se também uma análise lingüística das diversas abordagens que a Filosofia pode ter com a educação, analisando teorias de Aranha (1996), Chauí (2002), Gallo (1994) e (1999), Guattari (1992), Luckesi (1994) e Saviani (1983); incluindo, para tanto, estruturas em árvores de Saussure (2008), comuns para explicar a estrutura de frases e sintagmas. Logo após, serão apresentadas as considerações finais. 2. Procedimentos metodológicos Apresentar-se-á, neste artigo, uma revisão bibliográfica sobre o assunto, realizando-se também uma análise linguística das diversas abordagens que a Filosofia pode ter com a educação, analisando teorias de Aranha (1996), Chauí (2002), Gallo (1994) e (1999), Guattari (1992), Luckesi (1994) e Saviani (1983); incluindo, para tanto, estruturas em árvores de Saussure (2008), comuns para explicar a estrutura de frases e sintagmas. Percebeu que adotar a interdisciplinaridade como forma de minimizar as aparências dessa compartimentalização dos saberes não seria a forma mais adequada de resolver nossa realidade educacional; propõe-se então a transversalidade como solução mais viável para tanto. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. Filosofia e educação, filosofia na educação ou filosofia da educação: qual o melhor caminho? Dentre esses novos campos de investigação, encontramos a Educação, um terreno completamente fértil; mas, ao mesmo tempo, totalmente contaminado pelo senso comum. Como em cada conhecimento, a Educação também tenta criar seus próprios mecanismos e, dentre eles, sua própria linguagem. A partir dessa criação, perguntamo-nos o que seria melhor para esse campo: Filosofia e Educação? Filosofia na Educação? Ou Filosofia da Educação? Para tentar esclarecer esse problema altamente lingüístico, recorremos ao estruturalismo e às idéias de Ferdinand Saussure para observarmos a estrutura da língua e fazermos uma operação lógica. Inicialmente, avaliaremos esses dois substantivos do ponto de vista semântico, para depois analisarmos a sintaxe da estrutura. Como não é fácil definir a Filosofia, optaremos pela definição de Marilena Chauí: “a decisão de não aceitar como óbvias e evidentes as coisas, as idéias, os fatos, as situações, os valores, os comportamentos de nossa existência cotidiana; jamais aceitá-los sem antes havê-los compreendidos”. (CHAUÍ, 2002, p.12). Já para a definição de Educação, optaremos pela de Cipriano Carlos Luckesi: A educação é um típico „que-fazer‟ humano, ou seja, um tipo de atividade que se caracteriza fundamentalmente por uma preocupação, por uma finalidade a ser atingida. A educação dentro de uma sociedade não se manifesta como um fim em si mesma, mas sim como um instrumento de manutenção ou transformação social. Assim sendo, ela necessita de pressupostos, de conceitos que fundamentem e orientem os seus caminhos. A sociedade dentro da qual ela está deve possuir alguns valores norteadores de sua prática. (LUCKESI, 1990, pp.30-31 Como já vimos, a Educação, como qualquer outra ciência, não conseguirá sozinha nortear a sua prática, e é justamente a reflexão filosófica que irá guiá-la. Agora, iremos ver estruturalmente qual será a melhor forma de intervenção filosófica. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 SN N N Filosofia Educação e SN – sintagma nominal N – nome Temos, no exemplo acima, dois nomes (núcleos) ligados por uma conjunção coordenativa aditiva que possui a idéia de soma ou adição, ou seja, devemos somar os saberes filosóficos com os educacionais para tentarmos resolver os problemas da Educação. SN N SP SN pre p em em SN – sintagma nominal Filosofia Det + na N a Educação N – nome SP – sintagma preposicional prep – preposição Det – Determinante Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Agora, nesse exemplo, temos uma relação de subordinação estabelecida pelo conectivo em, uma preposição com idéia de lugar, que se liga a um artigo (Det) e juntos se unem ao nome Educação para exercerem a função sintática de adjunto adverbial de lugar; o que semanticamente significa que necessitamos de colocar os conhecimentos filosóficos dentro do campo da Educação. SN N SP SN pre p de de Filosofia Det + da N a Educação SN – sintagma nominal N – nome SP – sintagma preposicional prep – preposição Det - Determinante Temos novamente uma relação de subordinação, só que, dessa vez, estabelecida pelo conectivo de ligado ao artigo a (Det) que se une ao termo Educação e passam a exercer a função sintática de adjunto adnominal. Esse conectivo (preposição de) possui a idéia de posse ou origem; isso implica que a Educação toma posse dos métodos e conhecimentos filosóficos para discutir e tentar resolver os seus problemas; originando assim, uma forma crítica de pensar a Educação Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 e, ao mesmo tempo, uma nova disciplina e um novo caminho de investigação. Atentemos novamente a essas análises estruturais: somar os saberes da Filosofia com os da Educação, colocar a Filosofia na Educação, não seria justamente criar uma disciplina específica chamada Filosofia da Educação? Uma disciplina que assim como a Filosofia realizasse uma reflexão (radical, rigorosa e de conjunto) sobre os problemas que a realidade educacional apresenta? (SAVIANI, 2000, p.20). Essa nova especialização do saber teria como função mostrar ao educando que sua prática pedagógica deve ir muito além de enumerar as teorias da educação de acordo com as concepções pedagógicas e do saber; que sua atitude deve ser filosófica e, portanto, deve tentar identificar, analisar e resolver os problemas da educação. A tarefa da Filosofia da Educação é de oferecer aos educadores um método de reflexão que lhes permitam encarar os problemas educacionais, penetrando na sua complexidade e encaminhando a solução de questões tais como: conflito entre filosofia de vida e ideologia na atividade do educador, a relação entre meios e fins da educação, a relação entre teoria e prática, os condicionamentos da atividade docente, até onde se pode contá-los ou superá-los. (SAVIANI, 2000, p.23) O que nós, enquanto educadores, necessitamos compreender é que, consciente ou inconscientemente, toda prática pedagógica está embasada numa teoria, numa filosofia, ou seja, numa concepção de mundo, de educação e de homem que se pretende formar, e que quando optamos por não escolher que tipo de mundo, educação ou homem queremos, é o senso comum que efetuará isso por nós. 4. O processo de especialização pelo qual passou o conhecimento Além desse caráter de transformação de mundo e de mudança de nossa realidade, a filosofia tem também a função de interdisciplinaridade, ou seja, é ela que irá acabar com a compartimentalização do conhecimento do ensino contemporâneo, que é resultado de um fenômeno maior, a especialização do saber. Nas sociedades antigas, a produção do conhecimento fazia-se em resposta às necessidades de explicação de uma realidade misteriosa que era experimentada no dia-a-dia; isso espantava nossos ancestrais e fazia com que eles buscassem respostas para suas indagações. Essas respostas eram Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 construídas dentro daquele contexto social e eram globalizantes, pois misturavam religiosidade, engenhosidade e praticidade. Dessa forma, a construção inicial dos primeiros conhecimentos humanos não estava dissociada, mas brotava de um ponto comum e da procura de uma explicação que seria base para futuras explicações. Como já falamos, o crescente acúmulo de saberes fez com que, com o tempo, fosse ocorrendo uma especialização cada vez maior do mesmo, já que a própria acumulação de conhecimentos sobre determinada área do saber dificultava ao indivíduo o domínio de sua totalidade. Não podemos deixar de reconhecer os inúmeros benefícios trazidos pela especialização do saber, nem negar o progresso da ciência e da técnica ao longo da evolução do pensamento mitológico, teológico e filosófico para o científico. Mas não podemos nos esquecer de que temos que compreender essas especializações como parte de um todo complexo inter-relacionado, pois se isso não acontecer, correremos o risco de desvirtuarmos o próprio conhecimento adquirido ou construído durante todo esse processo evolutivo. E esse talvez seja o maior risco da Filosofia da Educação, o de tentar desenvolver-se por conta própria e deixar para trás as suas raízes e questionamentos oriundos da Filosofia; pois, à medida que a Filosofia da Educação aumenta a sua quantidade de conhecimento, fica difícil perceber a sua base estritamente filosófica e isso pode culminar em uma total abstração. 5. O processo de compartimentalização do saber Esse processo de abstração pode ser visualizado, atualmente, em muitas escolas (para não dizer na maioria delas); os saberes são vistos como “gavetinhas” estanques, sem nenhuma relação com as demais. Os alunos acabam por não conseguir perceber que todos os conhecimentos apreendidos por eles na escola são, na verdade, perspectivas diferentes de uma única realidade. O que poucos conseguem perceber (e aqui se inclui também nós, professores) é que dentro dessa disciplinarização dos conteúdos escolares esconde-se, além da compartimentalização dos saberes, uma questão de poder. Baseados no velho preceito político: “conhecer é dominar”, notamos que a construção histórica do saber dividiu-o em fragmentos cada vez menores para que ficasse mais fácil conhecê-los e dominá-los; dentro desse desejo Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 humano de conhecer o mundo está disfarçado o próprio desejo humano de dominá-lo. Esse processo histórico de especialização não pode ser visto tendo apenas a classe docente como culpada; pois, ele é, na realidade, um resultado do processo histórico de fragmentação disciplinar; o que fica para o nosso mérito é a continuação de uma burocracia escolar na qual, muitas vezes, nós somos fiéis instrumentos; devido ao fato de nunca pararmos para indagar a respeito do tipo de cidadão queremos formar, de sempre seguirmos sem nenhuma espécie de questionamento os programas e os livros; de acostumarmo-nos às explicações e compreensões que sempre foram nos dadas e de sempre seguirmos o senso comum pedagógico. 6. Interdisciplinaridade ou transversalidade? É nesse contexto escolar e social que a Filosofia da Educação tem o seu papel preponderante; cabe a ela, fazer com que ultrapassemos os limites estreitos do senso comum para que possamos enxergar que é justamente esse processo de fragmentação disciplinar que afasta a realidade escolar da vida de nossos alunos; criando cenários irreais e estanques para os saberes, estamos justamente alimentando a tradição alienante de nosso processo educacional; pois, cada vez mais os saberes distanciam-se da realidade. “A filosofia tem a função de interdisciplinaridade pela qual estabelece a ligação entre as diversas ciências e técnicas que auxiliam a pedagogia” (ARANHA, 2002, p.108). Palmade dá-nos uma visão bastante interessante do que vem a ser interdisciplinaridade: a interdisciplinaridade tem recebido diferentes definições: integração interna e conceitual que rompe a estrutura de cada disciplina para construir uma axiomática nova e comum a todas elas com o objetivo de dar uma visão unitária de um setor do saber (na visão de Soler); intercâmbios mútuos e integrações recíprocas entre as várias ciências. Tal cooperação resulta num reconhecimento recíproco (na perspectiva de Piaget).( PALMADE apud GALLO, 1999, p.26). Guy Palmade ainda nos diz que a interdisciplinaridade também foi adjetivada das mais variadas formas: auxiliar, complementar, composta, de engrenagem, estrutural, heterogênea, linear, restritiva e unificadora; podemos incluir também a pseudo-interdisciplinaridade ou a pluridisciplinaridade. Isso só nos mostra que, ao longo desses 24 anos, houve várias formas de se compreender essa mesma questão. A interdisciplinaridade é a consciência da necessidade de um interrelacionamento explícito e direto entre as disciplinas todas. Em outras Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 palavras, a interdisciplinaridade é a tentativa de superação de um processo histórico de abstração do conhecimento que culmina com a total desarticulação do saber que nossos estudantes (e também nós, professores) tem o desprazer de experimentar. (GALLO, 1996, p.27) Esse processo interdisciplinar não surgiu do nada, durante o movimento de compartimentalização/especialização dos saberes, chegou-se a um ponto, em nossa história, em que eles passaram a não dar conta de responder a certos questionamentos; começou a ocorrer, então, uma espécie de abertura entre os saberes para que esses questionamentos pudessem valer-se de abordagens de diferentes campos dos saberes. Mas, será que esse livre acesso é suficiente para romper as barreiras seculares das disciplinas? Ao afirmarmos uma possível interdisciplinaridade não chegaremos à conclusão de que para que ela ocorra haverá a necessidade das próprias disciplinas? A interdisciplinaridade realmente significa um avanço para um currículo não-disciplinar? Realizar um trabalho disciplinar seria, para Sílvio Gallo, uma volta à metáfora da árvore. O tronco da „árvore do saber‟ seria a própria Filosofia, que originalmente reunia em seu seio a totalidade do conhecimento; com o crescimento progressivo da „árvore‟, adubada intensamente pela curiosidade e sede de saber própria do ser humano, ela começa a desenvolver os galhos das mais diversas „especializações‟ que, embora mantenham suas estreitas ligações com o tronco – nutrem-se de sua seiva e a ele devolvem a energia conseguida pela fotossíntese das folhas em suas extremidades, num processo de mútua alimentação/fecundação – apontam para as mais diversas direções não guardando entre si outras ligações que não sejam o tronco comum, que não seja a ligação de sua genealogia. Para ser mais preciso, as ciências relacionam-se todas com seu „tronco comum – pelo menos no aspecto formal e potencial –, embora consigam, no contexto deste paradigma, relacionarem entre si. (GALLO, 1999, p.29). O que se encontra nessa metáfora nada mais é do que a continuidade da fragmentação (os galhos) e a hierarquização (os galhos ramificam-se e a não ser que passem pelo mesmo tronco, não se comunicam mais entre si). Diante desse problema, qual seria então a melhor forma de acabar com as famosas “gavetinhas” estanques de nossa educação? Felix Guattari, preocupado em desenvolver uma terapêutica coletiva e não-hierárquica, propôs a transversalidade como a forma de atravessar as relações entre as pessoas. Esse termo, com o tempo, foi estendido para o conhecimento e deu-se início aos saberes e temas transversais. Não seria então o papel da Filosofia da Educação estabelecer a transversalidade. “Assumir a transversalidade é transitar pelo território do saber como as sinapses viajam pelos neurônios em nosso cérebro, uma viagem Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 aparentemente caótica que constrói seu(s) sentido(s) à medida que desenvolvemos sua equação fractal.” (GALLO, 1999, p.33). A transversalidade significa o fim da compartimentalização do saber, pois as gavetas serão abertas e os conhecimentos poderão dialogar entre si; significa também a construção de possíveis trânsitos pela multiplicidade dos saberes numa tentativa de estabelecer policompreensões infinitas. Assumindo essa perspectiva transversal, assume-se também uma mudança na noção de escola que possuímos. A interdisciplinaridade proposta pelo MEC continua sendo uma espécie de tentativa de colocar em prática a idéia de transversalidade, já que se mantêm as disciplinas (ou áreas) e juntamente a ela a estruturação básica do plano curricular da escola. É apenas uma tentativa de costurar o incosturável: uma fragmentação histórica dos saberes. Essa proposta transversal de Gallo é realmente muito ousada; pois além de não trabalhar da forma em que fomos formados e “treinados”, ela bate de frente com a burocracia do sistema escolar. O que podemos fazer é realmente pouco; mas, por menor que seja a transformação que fazemos no espaço em que somos autônomos (sala de aula), ela pode ter um resultado maior do que pensamos, pois seremos um profissional a menos dentro do senso comum pedagógico, uma roda a menos na engrenagem. Tomemos a transversalidade como uma estrela a nos guiar num horizonte utópico, pois nosso aluno apreende o mundo com a pluralidade; trabalhando assim os conteúdos escolares, a realidade do ensino poderá ficar mais próxima das vivências do aluno. Quem sabe assim a autonomia na educação e na sociedade não passe a ser um fato e crie-se verdadeiramente uma realidade/sociedade mais solidária e mais democrática. 7. Considerações finais A Filosofia da Educação tem um papel fundamental na vida de nós, educadores, já que é através dela que refletimos a respeito de nossa prática e tentamos melhorar nossa atividade docente; principalmente, no que diz respeito às diversas áreas do conhecimento que subdividem os saberes. Adotar a interdisciplinaridade como forma de minimizar as aparências dessa compartimentalização não seria a forma mais adequada de resolver nossa realidade educacional. Tudo bem que não podemos vencer esse Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 problema de imediato, mas se é para lutarmos pela melhoria do ensino em nossas escolas, lutemos pelo menos com as armas certas e não com paliativos, pois quem sabe com o tempo não consigamos desentranhar a fragmentação disciplinar de nossos currículos através da adoção de temas transversais. O que não devemos é aceitar que os nossos alunos continuem vivendo alienados em meio a um ensino desassociado de suas vivências ou que ele passe a viver uma globalização aparente e falsa dos conteúdos ministrados. Depende de nós, professores, o delineamento de um processo educativo e de uma educação em que a autonomia ocorra realmente em uma sociedade mais solidária e mais democrática. REFERÊNCIAS ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da Educação. São Paulo: Moderna, 1996. CHAUÍ, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Ática, 2002. GALLO, Sílvio. Educação e interdisciplinaridade. In: Impulso. Piracicaba: Unimep, 1994, pp.157-163, vol. 7, n.16. ______. Transversalidade e educação: pensando uma educação nãodisciplinar. In: GARCIA, R.L., ALVES, N. O sentido de escola. Rio de Janeiro: DP&A, 1999, pp.17-41. GUATTARI, Félix. Caosmose: um novo paradigma estético. Rio de Janeiro: Editora 31, 1992. LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: FTD, 1994. SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de Linguística Geral. 29.ed. São Paulo: Cultrix, 2008 SAVIANI, Demerval. Educação e Transformação. In: MENDES, Trigueiro (coord.). Filosofia da educação brasileira. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1983. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 INCLUSÃO DIGITAL DO PROFESSOR: FALAMOS DO QUÊ? Inês Aparecida de Sousa Azevedo – graduada em Pedagogia, Mestre em Educação e Linguagem – Centro Universitário de Caratinga - UNEC [email protected] RESUMO O objetivo deste artigo é refletir sobre as iniciativas do poder público para inclusão digital dos professores, numa perspectiva de participação ativa, produção de cultura e de conhecimento, na sociedade da informação, através de programas de informática implantados nas escolas públicas brasileiras. A realização dessa investigação possibilitou a identificação da concepção de inclusão digital que os professores participantes da pesquisa possuem, e confirmou a proposição de que não estão preparados para o uso das TIC na sala de aula. Além disso, verificou-se que as iniciativas de políticas públicas para inclusão digital, destacando o PROINFO, nas escolas investigadas, oferecem possibilidades, mas também limites. Numa região com 102 Escolas Estaduais, onde 85 possuem laboratórios de informática, é inviável a existência de dois técnicos para manutenção, apoio didático, treinamento, capacitação. PALAVRAS-CHAVE: Inclusão digital; Informática; Políticas Públicas. 1. Introdução As idéias apresentadas neste artigo são resultantes de pesquisa de mestrado cujo objetivo central foi analisar o processo de inclusão digital do professor e, subsidiariamente, verificar em que medida e de que forma os programas oferecidos pelo governo Federal podem se tornar elementos significativos para a inclusão digital do professor. Enquanto professora universitária, atuando a oito anos na graduação, verifiquei a falta de conhecimento de um número considerável de alunos, futuros professores, em relação ao uso de alguns equipamentos tecnológicos, como retro projetores, vídeos, câmeras fotográficas, data-show e, finalmente, nesses últimos anos, o computador. Atrelada a essa vivência prática em sala de aula, ouvi relatos de experiências frustrantes desses alunos em relação ao pouco uso dos laboratórios de informática, nas escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio da região. Os laboratórios ficam trancados, sem uso efetivo, por falta de uma política interna da própria escola ou por falta de treinamento e suporte técnico especializado. Essas questões fomentaram meu interesse pelo tema. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Sendo assim, a proposição que norteou essa investigação é que os professores não se encontram preparados para fazer uso das TIC‟s no cotidiano da sala de aula, enfatizando o uso do computador. Algumas das categorias de análise que emergiram desse estudo são as dificuldades pessoais e sistêmicas que se apresentam nesse processo de inclusão digital, como o medo que o professor manifesta de ser substituído pelos computadores e outras tecnologias, a resistência ao novo, a falta de preparo técnico e pedagógico, a falta de infra-estrutura das escolas e as dificuldades sócio-econômicas dos professores. 2. Metodologia Trata-se de uma pesquisa com características da abordagem quantitativa e qualitativa, visto que o objetivo maior é elaborar uma análise sobre a temática, em busca de alternativas para as possíveis limitações do processo de inclusão digital do professor. Os instrumentos de coleta de dados utilizados foram questionários e entrevista semi-estruturada. O contexto da investigação são as escolas públicas pertencentes à 6ª Superintendência Regional de Ensino (SRE) de Caratinga - MG, que foram contempladas com o Programa de Informatização das Escolas (PROINFO), nos últimos dez anos. Os sujeitos são os professores efetivos, de ensino Fundamental e Médio, que vivenciaram a implantação dos laboratórios de informática e que acompanham o uso desses no cotidiano dessas escolas, tendo, portanto, condições de constatar o quanto eles efetivamente são utilizados. Além desses professores, um representante do Programa Nacional de Informática na Educação (PROINFO), da 6ª SRE de Caratinga também contribuiu para o levantamento dos dados aqui analisados. Como um dos pontos relevantes da discussão da pesquisa é o PROINFO, destaco algumas questões interessantes sobre esse programa. O Ministério da Educação e do Desporto, através de sua Secretaria de Educação à Distância, tem se envolvido ativamente na transformação da escola, oferecendo Programas e Projetos que favorecem o processo de inclusão digital dos professores. O PROINFO é a pedra angular dessa iniciativa, oferecendo capacitação para os professores entenderem as novas tecnologias. Desde 1997, já foi investido, no PROINFO, R$ 726 milhões de reais. Os gastos crescem anualmente. Segundo dados publicados pelo jornal Folha Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 de São Paulo (22/04/2009), só no ano passado, eles chegaram a R$ 317 milhões (1% do orçamento do MEC). Porém, a previsão de implantação desses laboratórios de informática em todas as Escolas Públicas do país, até o fim de 2010, esbarra no despreparo dos profissionais da educação para usar o computador e na falta de manutenção dos equipamentos e instalações, responsabilidade de Estado e Municípios. O atual secretário de Educação a Distância do Ministério da Educação, Carlos Eduardo Bielschowsky, diz que o governo tem consciência da necessidade de formar professores para trabalharem com o computador em sala de aula e, por isso, criou no ano passado um programa específico com esse fim. De acordo com Bielschowsky, mais de 100 mil professores já estão participando do ProInfo Integrado, curso com carga horária de 140 horas de introdução à Educação digital e de preparação do professor para utilizar a tecnologia como ferramenta pedagógica. Até o fim do ano, ele diz que a meta é chegar a 240 mil profissionais (cerca de 10% do total de 2,5 milhões de professores na Educação básica). Sobre a falta de manutenção dos equipamentos e instalações, o secretário argumenta que o governo federal não tem condições de contratar um técnico para cada Escola, e que isso cabe aos Estados e municípios (FOLHA, São Paulo, 2009). De acordo com o MEC, apesar de o número de computadores instalados nas escolas até 2005 ter ficado abaixo das metas estabelecidas pelo governo anterior, a capacitação de professores superou as expectativas. Essa também tem sido uma preocupação nas iniciativas de estados e municípios No entanto, os resultados desta pesquisa possibilitaram verificar que ter computadores nas escolas não é sinal de inclusão digital efetiva. Na maioria das escolas pesquisadas, o laboratório de informática existe, mas não é usado. Vale ressaltar então que a inclusão digital não é aqui entendida como um mero provimento de infra-estrutura de acesso; mas, todo um processo de preparo para o uso das potencialidades das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC‟s) pertinentes ao contexto da internet. Bonilla (2004) relata sua experiência nas escolas públicas que possuem laboratórios de informática e afirma que ter computadores nas escolas não é sinal de inclusão digital efetiva. O laboratório de informática existe, mas não é usado, é como a biblioteca que fica aberta o tempo todo, mas vazia. O professor não leva o aluno, não desenvolve projetos que possibilitem a utilização da Internet, não prioriza tempo e espaço para frequentar o laboratório e se familiarizar com o computador, com a Internet. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Em uma das escolas pesquisadas, havia um grupo de alunos no laboratório acessando um jogo de luta na internet. Segundo a professora, eles estavam fazendo uma pesquisa no laboratório; porém, o que se constatou foi o fato de, sem acompanhamento efetivo, esses e outros alunos fazerem uso da internet para atividades que julgam prazerosas, isso tanto na escola quanto em casa ou outros ambientes. Entre as professoras pesquisadas, uma pequena porcentagem usa o computador nas escolas para responder e-mail, digitar plano de aula e, quando tem tempo, acessar algum site educativo. Vale ressaltar então que, a inclusão digital não é aqui entendida como um mero provimento de infra-estrutura de acesso. Mas, todo um processo de preparo para o uso das potencialidades das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC‟s) pertinentes ao contexto da internet. Bonilla (2004) afirma ser necessário pensar a “inclusão digital” como um conceito abrangente, rompendo com o reducionismo que lhe impõem. Pensá-la na perspectiva da participação, da produção de cultura e conhecimento. Nas palavras de Mori e Assumpção (2006): As ações efetivas de inclusão digital só são possíveis com envolvimento das comunidades participantes na gestão das iniciativas, e com recursos humanos e de capacitação como principais componentes de custo, uma vez que, a apropriação das tecnologias de maneira autônoma e crítica, propiciando um uso qualificado e provido de sentido, dificilmente se dão de maneira automática, a partir da mera promoção de acesso aos equipamentos e à Internet (MORI E ASSUMPÇÃO, 2006, p.34). Nesse sentido, Lévy (2007), também sustenta a idéia de que não basta estar à frente de uma tela de computador para se considerar incluído digitalmente. Mais do que isso, é necessário desenvolver saberes para gerenciar as informações que chegam através dessa conexão em rede, saber aonde buscar e o que buscar, pois, a oferta é grande, mas, a qualidade duvidosa. Nessa mesma linha de pensamento, Cruz (2004) afirma que: para ser incluído digitalmente, não basta ter acesso a micros conectados à Internet. Também é preciso estar preparado para usar estas máquinas, não somente com capacitação em informática, mas com uma preparação educacional que permita usufruir de seus recursos de maneira plena (CRUZ, 2004, p. 13). A expressão “inclusão digital”, portanto, refere-se à capacidade de utilização plena de uma tecnologia (CHAVES, 2006, p.3). Esse processo de inclusão digital pode ser promovido em dois espaços distintos: fora da escola e dentro da escola. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Segundo Chaves (2006), fora da escola, o cidadão pode aprender em telecentros ou escolas de informática algumas tarefas básicas do uso do computador. Os participantes em um programa de Inclusão Digital extraescolar podem aprender a usar o Word, o Excel, PowerPoint. Mas, acima de tudo, necessitam saber como construir competências para melhoria de vida através do uso dessas ferramentas. Segundo o autor, o grande desafio é proporcionar aprendizado para a vida: que aprendam a escrever uma carta no Word, a redigir um currículo, uma proposta de trabalho, que aprendam que as planilhas eletrônicas auxiliam no controle e planejamento das finanças, e que o PowerPoint seja apenas apoio para que saibam falar em público. Nesse sentido, mesmo acontecendo fora da escola, esse processo não pode prescindir de um forte e indispensável componente educacional. Quanto ao processo de inclusão digital dentro da escola, acontece de maneira mais natural, visto que consideravelmente 95% da população em idade escolar, no Brasil, estão hoje na escola (IBGE, 2008). Existem várias vantagens para que esse processo se desenrole no contexto educacional, evitando assim, que quem concluir a sua escolaridade básica seja considerado digitalmente excluído: acesso à tecnologia digital, capacitação no manejo técnico da tecnologia e capacitação para integração das tecnologias nos afazeres cotidianos, proporcionando o desenvolvimento de competências necessárias para melhorar a qualidade de vida. Portanto, tratar do processo de inclusão digital implica tratar de outro processo mais complexo ainda, a alfabetização digital. Na realidade social do nosso país, o excluído digital é privado de um computador, de uma linha telefônica e de um provedor de Internet, o que fará desse cidadão um analfabeto digital. No Dicionário Interativo Brasileiro, encontramos o seguinte significado para analfabetismo digital: refere-se a uma incapacidade em “ler” o mundo digital e mexer com a tecnologia moderna, principalmente com relação ao domínio dos conteúdos da informática como planilhas, Internet, editor de texto, desenho de páginas web etc. (www.educabrasil.com.br). Segundo Menezes e Santos (2002), a causa do analfabetismo tecnológico é associada a não inclusão digital, denunciada em todo o mundo como a forma mais moderna de violência e modalidade sutil de manutenção e ampliação das desigualdades. Tal exclusão não se dá apenas no interior das Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 classes sociais de um país, mas também entre nações e continentes. Os números são assustadores e os efeitos devastadores, não só no que diz respeito a distanciamentos econômicos, como também culturais e políticos. As ações para inclusão digital necessitam contemplar cursos de alfabetização digital, além de considerar três eixos relevantes para sua implementação como promoção da competência informacional que deve começar na escola fundamental, ampliando a oportunidade dos jovens brasileiros se tornarem cidadãos incluídos na sociedade da informação; ampliação dos serviços universais para a cidadania através de portais eletrônicos governamentais e desenvolvimento de conteúdos locais trazendo linguagem, temas e discussões dos problemas regionais. Discutir a qualidade e as formas de acesso do professor às tecnologias é questão de suma importância no momento histórico que a sociedade apresenta, visto ser esse cidadão um importante ator social no processo de construção histórica da humanidade. Possibilitar a esse cidadão a inserção na cultura digital da Sociedade da Informação e Comunicação é uma questão de prioridade. Oferecer-lhe programas de inclusão digital com atividades contextualizadas às suas características, de forma que a utilização da tecnologia seja feita de maneira conexa, promovendo a troca de experiência entre indivíduos e grupos, mediados pela tecnologia. Assim, respeitando o conceito de inclusão digital que abarca desde o acesso aos bens tecnológicos, até a capacidade dos indivíduos em utilizá-los com autonomia, buscando a apropriação informacional para movimentar o exercício da cidadania, é que se discute esse processo, focando o professor, visto que as escolas estão equipadas com computadores, o governo atual está implementando muitos projetos nesse sentido e os cursos de formação na área são oferecidos. Nesse sentido, como afirma Borges (2005, p.58), “não poderá haver sociedade da informação sem cultura informacional e o maior problema da inclusão social não é a falta de computadores, mas o analfabetismo em informação”. Desenvolver a competência informacional nessa sociedade atual é prioridade para o processo de inclusão, digital e social. REFERÊNCIAS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 CHAVES, Eduardo. A Inclusão digital e a Educação. Campinas, 2006. Disponível em: <www.eduardochaves.net/artigos>. Acesso em: 15. Dez. 2009. Pesquisa nacional por amostra de domicílios 2001: microdados. Rio de Janeiro: IBGE, 2002. Disponível em. http://portal.mec.gov.br. Acesso em: 15. Dez. 2009. BONILLA, Maria Helena Silveira. Inclusão digital e formação professores. Revista de Educação, Lisboa. Vol. XI, n°1, 2002. de LEVY, Pierre. Cibercultura. Tradução de Carlos Irineu da Costa. Editora 34: São Paulo, 2007. FOLHA DE SÃO PAULO. O digital e a inteligência coletiva. Folha de São Paulo, São Paulo. 2009; Caderno Mais. MORI, Cristina e ASSUMPÇÃO, Rodrigo. Inclusão Digital: discursos, práticas e um longo caminho a percorrer. 2006. Disponível em: http://www.inclusaodigital.gov.br/>. Acesso em: 24.Fev.2008. CRUZ, Renato. O que as empresas podem fazer pela inclusão digital . São Paulo: Instituto Ethos, 2004. BORGES, J; SILBA, H.P.; Informação e Mudança: estudo da efetividade dos programas de inclusão digital em Salvador – BA. In: Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação,2005. Rio de Janeiro. Anais São Paulo: CD-Room. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 POLÍTICAS PÚBLICAS PARA O DESENVOLVIMENTO DO ESPORTE: UM ESTUDO COMPARATIVO ENTRE BRASIL E CUBA Márcio Lopes de Oliveira - Bacharel e Licenciado em Educação. Especialista em Futebol – UFV – Viçosa. Mestrando em Ciência da Educação Física e Esporte - UCCFD – Matanzas – Cuba. Professor da Faculdade Ozanam Coelho – FAGOC – Ubá e da Faculdade Vértice. Matipó – Minas Gerais Luis Cortegaza Fernándes. Profesor de la Universidad de las Ciencias de la Cultura Física y el Deporte – UCCFD – Matanzas - Cuba [email protected] RESUMO O Brasil é um país onde a tradição esportiva, especialmente no Futebol está sempre presente na vida do seu povo, o país apresenta bons resultados em competições esportivas mundiais e agora tem um grande desafio a ser o país sede de grandes eventos esportivos; mundiais sendo: a Copa do Mundo de Futebol 2014 e os Jogos Olímpicos de Verão 2016 na cidade do Rio de Janeiro. O objetivo deste estudo foi conhecer as políticas públicas para o esporte no Brasil e no mundo e sua influência sobre os resultados esportivos tendo como referência os resultados esportivos de Brasil e Cuba nos Jogos Olímpicos de verão em todos os tempos. Podemos concluir que, no mundo de hoje, existem diversos sistemas de seleção de talentos bem sucedidos em vários países, mas todos eles apresentam algo em comum: ter como base do sistema esportivo as escolas de educação básica. No Brasil, o sistema esportivo tem como base os clubes, o que se mostra ineficiente, pois nem todas as pessoas passam pelos clubes e assim perde-se todos os anos milhares de talentos esportivos. PALAVRAS-CHAVE: Esporte; Políticas Públicas; Jogos Olímpicos. 1. Introdução Nos dias de hoje, muito se fala em melhores condições de vida para a população e a participação do governo nesse processo. Na sociedade atual em que se tem uma organização política com um governo que se espera apoio e a organização de todos os setores da sociedade, muito se fala em qualidade de vida que, segundo Seidl e Zannon (2004), é um termo utilizado em linguagem cotidiana pelas pessoas em geral, jornalistas, políticos, profissionais e diretores de diferentes áreas relacionadas às políticas públicas e, em um contexto de investigação cientifica em diferentes contextos da investigação cientifica do conhecimento como: economia, sociologia, educação, medicina, enfermagem, psicologia e outras especialidades da saúde (BOWLING e BARZIER, 1995). Em estudos da Organização Mundial de Saúde caracterizou-se qualidade de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 vida como sendo: “a percepção do indivíduo de sua condição de vida nos contextos da cultura e sistemas de valores em que vivem e sua relação com seus objetivos, expectativas, normas e preocupações” (WHOQOL, 1995). Para que isso ocorra, são criadas as chamadas políticas públicas que tem por responsabilidade planejar ações para atender a sociedade em suas necessidades, em todos setores: no setor de saúde, educação, segurança e também no setor de esportes. Para Barreto (2003, p,33), “Em termos gerais, as políticas públicas são a ação do estado, guiado pelo interesse geral da sociedade”. Hofling apud Barreto (2003) afirma que, para se compreender as políticas públicas, temos que pensar na ação estatal, que executa projetos através de programas, o estado dividido em setores que orientam a ação da sociedade. Segundo Hall (2004), a planificação de políticas públicas pode ser entendida como o processo de decisão: “a planificação é um processo de preparação de uma série de decisões que se colocarão em prática no futuro”. Brasil e Cuba, assim como outros países do mundo, têm suas diferenças e semelhanças quando se fala em esportes. No que diz respeito às semelhanças, podemos destacar o processo de reconhecer o esporte como direito do povo, como podemos observar na Constituição Federal de 1998, no decreto 51 e na Carta Magna da Republica de Cuba, nas leis 936 e 1323. Em 27 de novembro de 1979 o conselho de ministros em sua comissão executiva adotou o decreto 51 sobre o novo regime de participação esportiva que entro em vigor em 1° de janeiro de 1980 onde os artigos da carta Magna da república nas leis 936 e 1323 garantem o esporte como direito e um dever do povo em Cuba (LORENZO e GARCIA, 2000). A Constituição Federal Brasileira de 1988 trata o esporte como direito do povo e dever do estado, assim o esporte, no Brasil, é um direito de todos os cidadãos: É dever do estado e fomentar práticas esportivas formais e nãoformais como direito de cada um, observados: I – A autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto a sua organização e funcionamento; II –a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos específicos, para a do desporto de rendimento; III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e não profissional; IV – a proteção e o incentivo às manifestações esportivas de criação nacional (...) o poder público incentivará o lazer, como forma de promoção social (BRASIL, 1989) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Quando se analisa em todo mundo as nações mais bem sucedidas em todos os tempos nos jogos olímpicos de verão, os principais jogos esportivos do mundo, que servem para avaliar a competência dos países na área esportiva e sua atuação desde o ano de 1896, quando se realizou em Atenas na Grécia os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna, observa-se entre os melhores países do mundo: Estados Unidos (1°), Grã-Bretanha (3°), Alemanha (6°) e China (7°); já entre os vinte melhores colocados estão os países: Austrália (11°), Rússia (13°), Cuba (18° e primeiro país da America Latina no quadro de medalhas) e Canadá (20°) (COI, 2010). Depois de Cuba, o próximo país da América Latina no quadro de medalhas, ou seja, o segundo colocado na América latina no quadro geral de medalhas dos Jogos Olímpicos de verão é exatamente o Brasil, colocado como 37° no quadro geral (COI, 2010). Os resultados cubanos só foram alcançados através de um modelo de seleção de talentos esportivos que se desenvolve ao comando de uma agência de controle que se designa INDER (Instituto Nacional de Desenvolvimento do Esporte e Recreação). O Governo Revolucionário criou o Instituto Nacional de Esportes, Educação Física e Recreação "INDER" em 23 de fevereiro de 1961, com a idéia de que "a missão do Instituto é o de ser o órgão máximo responsável pelo planejamento, direção, racionalização, divulgação e implementação de atividades de desporto, educação física e recreação, em todos os níveis e regiões do país. Isto é possível através da Lei 936 de 23 de fevereiro de 1961 emitido pelo governo revolucionário. Esta lei cria o INDER para o desenvolvimento das atividades nacionais e internacionais, tais como as atividades escolares para educar e competir. Desenvolvimento de atividades recreativas, a reação em sistema de acompanhamento e formação de professores, a criação do Sistema Único de Competências Calendário por categoria, tendo o Esporte, Educação Física e recreação para os lugares mais remotos, utilizando a mídia para fornecer informações sobre as atividades sendo realizadas e garantir o uso múltiplo dos recursos e instalações desportivas. Para levar a cabo a realização de todas estas funções foram criados mecanismos como eram naquela época (LORENZO e GARCIA, 2000). O Brasil nunca antes buscou tantas políticas esportivas como agora, a prova disso é que será sede dos dois principais eventos mundiais, sendo estes: a Copa do Mundo de Futebol em 2014 e os Jogos Olímpicos de Verão de 2016; porém necessita-se de um modelo único de implantação de um modelo esportivo que una esforços para se buscar bons resultados esportivos para o país, algo que não ocorre de forma ideal nos dias atuais. Os sistemas esportivos Cubano e Brasileiro são parecidos quando buscam oferecer o esporte para toda população; porém, diferentes quando se Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 analisa a base do sistema esportivo, em Cuba a base são as escolas, o que se mostra muito eficiente quando se analisa os resultados educacionais e esportivos do país (CARNOY, 2009). Em Cuba, a base do sistema esportivo são as crianças e a instituição responsável e a escola enquanto no Brasil a base são os clubes e instituições privadas de fomento ao esporte (ALMEIDA, ALMEIDA e GOMES, 2000), o que se traduz ineficiente porque não aproveita todo potencial atlético de sua grande população, devido a falta de oportunidade a todas as crianças de conhecer, praticar e fazer parte do sistema esportivo nacional. O Brasil não possui ainda um sistema único e claro para desenvolver o esporte, assim como todas as ações são isoladas e fundamentadas na política de projetos do Ministério dos Esportes brasileiro. Em relação a extensão territorial e população, o Brasil tem 20 vezes mais população que Cuba e 85 vezes a extensão territorial deste país (IBGE, 2010); porém está apenas na 37° posição no ranking de medalhas olímpicas. Em todos os tempos Cuba detém o 18° lugar o que demonstra a superioridade de Cuba nos esportes e evidencia a bem sucedida adoção de um modelo baseado na escola para desenvolvimento do esporte e um sistema único e claro de promoção da prática esportiva. O objetivo deste estudo foi conhecer as políticas públicas para o esporte no Brasil e no mundo e sua influência sobre os resultados esportivos tendo como referência os resultados esportivos de Brasil e Cuba nos Jogos Olímpicos de verão em todos os tempos. Este trabalho se faz de extrema importância devido a necessidade em se aperfeiçoar o sistema esportivo nacional devido às mudança sociais e econômicas nas quais o país enfrenta, e também a busca por resultados esportivos e uma eficiente organização dos principais eventos esportivos mundiais: a Copa do Mundo de Futebol da FIFA e os jogos Olímpicos de Verão de 2016. Surge então a questão: qual a relação entre as políticas públicas esportivas e os resultados esportivos no Brasil? 2. Metodologia Este estudo caracteriza-se por análise de documentos e tratamento descritivo, no qual se busca conhecer a realidade sem buscar interferir na mesma. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. Análise e discussão dos dados Em relação à participação de Brasil e Cuba e seus respectivos resultados nos Jogos Olímpicos de Verão em todos os tempos, observamos que a participação dos dois países ocorre de forma mais significativa depois do ano de 1948, nos Jogos Olímpicos de Londres. Os dois países têm resultados poucos significativos até os anos 70, sendo que o Brasil apresenta melhores resultados que Cuba até os Jogos Olímpicos de Tóquio em 1964; depois dessa data, Cuba obtém melhores resultados que o Brasil em todos os Jogos Olímpicos, sendo que o Brasil somente vem a conseguir melhor desempenho em Jogos Olímpicos que Cuba nos Jogos Olímpicos de Pequim, no ano de 2008 (Gráfico 1). Os bons resultados de Cuba ocorrem exatamente após a criação do INDER (Instituto de Desenvolvimento do Esporte e da Recreação) através da lei 936, que cria uma política de ações para valorização do esporte no país com base nas escolas e nas aulas de Educação Física, o que nos leva a pensar que os resultados foram possíveis devido a criação dessa política esportiva e, assim, somente uma política pública governamental é capaz de promover resultados esportivos de excelência em um país. GRÁFICO 1: Resultados de Brasil e Cuba nos Jogos Olímpicos em todos os tempos. As ações promovidas e regulamentadas pelo governo cubano foram tão efetivas que levaram o país a uma posição de destaque no cenário esportivo Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 entre as décadas de 70 e 90: a quarta colocação no quadro de medalhas nos Jogos de Moscou, em 1980, e a quinta colocação nos Jogos de Barcelona, em 1992, foram os melhores resultados já conquistados por Cuba em Jogos Olímpicos, só ficando atrás das grandes potências olímpicas (Gráfico 1). 4. Considerações finais Sobre o tema em análise, podemos concluir que, no mundo de hoje existem diversos sistemas de seleção de talentos em vários países, mas todos eles apresentam algo em comum: ter como base do sistema esportivo as escolas de educação básica. Sistemas esportivos como de Cuba, Estados Unidos, Grã-Bretanha e Alemanha têm como base fundamental a seleção feita a partir de escolas de educação básica. No Brasil, o sistema esportivo tem como base os clubes, o que mostra-se ineficiente, pois nem todas as pessoas passam pelos clubes, e assim se perdem todos os anos milhares de talentos esportivos. Os conceitos de detecção, captação e seleção de talentos são etapas de um sistema maior que visa a descobrir um talento esportivo de uma forma específica no desporto. As etapas devem ser seguidas na ordem da seguinte forma: a primeira, onde a detecção é realizada, a segunda etapa é a de captação, que o jovem é levado à prática sistemática do esporte e, a terceira, a seleção em que os melhores jovens são encaminhados a níveis mais altos de treinamento no esporte. Para se alcançar o sucesso na seleção de talentos, é necessário condições físicas adequadas, vontade, formação adequada dos profissionais que irão trabalhar neste objetivo, sendo esse um modelo único de trabalho a ser seguido em todo país. O Brasil necessita de um sistema único e claro para desenvolver o esporte no país em todos os seus aspectos: esporte de alto rendimento, educacional ou de participação, de modo que os resultados possam ser alcançados para o desenvolvimento esportivo do país. Além disso, é necessário pensar uma estrutura que pode favorecer o desporto escolar, uma vez que o Brasil tem uma boa estrutura esportiva, podendo assim atingir o sucesso desportivo nos Jogos Olímpicos de 2016 e outros; as escolas têm, urgentemente, que se transformar na base da “pirâmide esportiva” nacional. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 REFERÊNCIAS ALMEIDA, Hélio. F. R; ALMEIDA, Dulcenira. C. M; GOMES, Antonio. C. Uma ótica evolutiva do treinamento desportivo através da história. Revista Treinamento Desportivo. Volume 5 – Número 1 – 2000. Pag. 40-52 BARRETTO, Margarita. Turismo, políticas internacionais. São Paulo: Papirus, 2003. públicas e relações BOWLING. A, BRAZIER J. Quality of life in social science and medicine – Introduction. Soc. Sci. Med 1995; 41:1337-8. BRASIL. Constituição de 1988. Rio de Janeiro: FAE, 1989 CARNOY, Martin. A vantagem Acadêmica de Cuba. Por que seus alunos vão melhor na escola? São Paulo: Ediouro, 2009. COI (Comitê Olímpico Internacional). Acesso em 08 de setembro de 2010, disponível em www.olympic.org HALL, C. M. Planejamento Turístico: políticas, processos e relacionamentos. São Paulo: Editora Contexto, 2004. IBGE. Área territorial oficial. Resolução da Presidência do IBGE de n° 5 (R.PR5/02). Página visitada em 12 de Agosto de 2010. IBGE. Estimativas da população para 1º de julho de 2009 (PDF). Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (14 de agosto de 2009). Página visitada em 12 de Agosto de 2010. LORENZO. Humberto V. Arbona, GARCÍA. Josefa N. Aguirre . Historia de la Cultura Física en Cuba. Revista Digital - Buenos Aires - Año 5 - N° 28 Diciembre de 2000. SEIDL, Eliane M. F; ZANNON, Célia L. C. Qualidade de vida e saúde: aspectos conceituais e metodológicos. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20 (2):580-588, mar- abr, 2004. The WHOQOL Group. The World Health Organization quality of life assessment (WHOQOL): position paper from the World Health Organization. Soc. Sci. Med 1995; 41:1403-10. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O ENSINO DA MATEMÁTICA PARA ALUNOS COM NECESSIDADES EDUCATIVAS ESPECIAIS DE UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL DE ENSINO ESPECIAL DE UMA CIDADE DO LESTE DE MINAS GERAIS Adriana dos Santos Silva e Cristiane Rosa Gomes Moreira – acadêmicas do curso de Licenciatura em Matemática do Centro Universitário de Caratinga– UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO O objetivo deste estudo foi o de compreender o ensino da Matemática para alunos que apresentam necessidades educativas especiais. Esta pesquisa qualitativa foi realizada através de entrevista estruturada com gestores, professores e pedagogos de uma Escola Estadual de Ensino Especial e observação participante do cotidiano da escola. A pesquisa está sendo realizada no segundo semestre de 2010. Até o momento em que foi realizada a coleta de dados, os alunos mostraram que após participarem das confecções de objetos, figuras, desenhos, elaboraram conceitos básicos como cor, tamanho e forma. Os jogos matemáticos também favoreceram a construção da estrutura fundamental de número. Os alunos conseguem construir conceitos científicos quando as atividades são planejadas e mediadas pelo professor. Trata-se de uma pesquisa em andamento. PALAVRAS CHAVE: Educação Especial; Educação Matemática; Aprendizagem. 1. Introdução Em nossa formação profissional, acima de tudo humana, despertamos o interesse em aprimorar os conhecimentos básicos iniciais pela educação especial, a fim de que possamos atender melhor a forma de lidar com os alunos que apresentarem necessidades educativas especiais. Fomos motivadas pela curiosidade sobre a construção do conhecimento matemático em alunos com essas características, isto é, o que poderíamos fazer enquanto professoras de Matemática para atender esses alunos. Assim, nesta pesquisa, buscamos respostas para as seguintes questões: Como os conceitos básicos matemáticos são ensinados a alunos especiais? Qual é a metodologia utilizada pelo professor? Como os alunos especiais percebem as aulas? Eles conseguem aprender? Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Diante dessas questões, o nosso objetivo foi compreender o ensino da Matemática para alunos que apresentam necessidades educativas especiais de uma Escola Estadual de Ensino Especial de uma cidade do leste mineiro. Com este estudo, pretendemos contribuir para que educadores repensem suas práticas em relação ao ensino da Matemática com alunos que apresentam necessidades educativas especiais. 2. Informações sobre o tema e seus conceitos Ao tratarmos de um assunto tão importante como a educação especial, foi necessária fazer uma reflexão sobre todas as deficiências existentes, instituições especializadas para entender o posicionamento da família e da escola em relação a eles. Em se tratando de um assunto de grande importância na área da educação especial, a Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) é uma instituição de apoio social, de caráter cultural, assistencial e educacional. Nascida em 1954, no Rio de Janeiro, caracteriza-se por ser uma organização social, cujo objetivo principal é promover a atenção integral à pessoa com deficiência, prioritariamente com deficiência intelectual e múltipla. A Rede APAE destaca-se por seu pioneirismo e capilaridade, estando presente, atualmente, em dois mil municípios em todo território nacional (APAE, 2010). A deficiência física (de origem motora) é o conjunto de condições que afetam o indivíduo em sua coordenação, motora ou da fala decorrente de inúmeros fatores, dentre eles estão: as lesões neurológicas, as ortopédicas e a má formação congênita. Segundo Diniz (2006), são alguns exemplos de quadros de deficiência física: exposição aos raios-x nos primeiros meses de gestação, fator RH, diabetes, problemas respiratórios na hora do parto, bebês prematuros, traumas da medula espinhal decorridos por acidentes, processos tumorais. Na escola, o professor deve escolher as atividades do aluno que apresenta deficiência física levando em conta suas habilidades e interesse na realização das atividades. Outra deficiência muito comum é a intelectual (de vários graus). Na visão de Miranda (2003), esses deficientes sofriam muito preconceito na Idade Média. A ênfase era na incapacidade e na anormalidade da pessoa com essa limitação, não se importavam se tinham condições de aprenderem algo, simplesmente eram ignorados, abandonados ou, em alguns casos até mesmo eliminado devido as suas condições atípicas. E a sociedade legitimava essas Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ações como normais. Segundo Pessotti (1984) citado por Miranda (2003, p.02) “Na era cristã, o tratamento variava devido às concepções de caridade ou castigo predominantes na comunidade em que o deficiente estava inserido”. Para Goddoy (2010), existem dois tipos de deficientes intelectuais a serem descritos, são eles: deficientes intelectuais educáveis, possuem QI entre 50 e 75, apresentam dificuldades na aprendizagem escolar, mas podem tornarse sociais e independentes quando adultos; deficientes intelectuais treináveis; são aqueles que apresentam QI entre 30 e 50, espera-se que desenvolvam apenas habilidades de cuidados pessoais, sociais, comunicação e com dificuldades na alfabetização. Diniz (2006, p.51) lembra-nos que: A proposta pedagógica para a pessoa com deficiência intelectual, deve ter como objetivo ofertar atividades que lhe possibilitem a aquisição de leitura escrita e cálculo. Segundo Diniz (2006) a deficiência auditiva (surdez) consiste na perda total ou parcial da audição resultando em dificuldades de comunicação, interpretação, produção de escrita, causando até o isolamento do aluno em relação ao entorno. A surdez pode ser congênita ou adquirida, como em alguns exemplos: fatores hereditários, doenças, anóxia cerebral, trauma de parto etc. Na escola, para o bom desenvolvimento da criança com deficiência auditiva, é muito importante a conscientização dos professores e pais para que haja mudança de comportamento, pois a falta de informação dificulta o processo de socialização dessas crianças. Nesse sentido Oliveira (2006, p.24) afirma que: Através de um sistema simbólico, como o da linguagem o ser humano descobre novas formas de pensamento, proporcionar a pessoa surda à exposição a uma língua o mais cedo possível, é fundamental ao seu desenvolvimento. Goés (1996) e Quadros (1997), citados por Petean e Borges (2003) afirmam que, a língua de sinais deve ser aprendida, sobretudo nas situações de surdez congênita ou precoce em que há problemas de acesso à linguagem falada, à incorporação de uma língua de sinais; mostra-se necessária para que sejam configuradas condições mais propicias a expansão das relações interpessoais, que constituem o funcionamento nas esferas cognitivas e afetivas dos alunos. Para Diniz (2006), a deficiência visual é compreendida como perda ou redução da capacidade de ver. A cegueira pode ser proveniente de quatro Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 causas: doenças infecciosas, doenças sistêmicas, traumas oculares e causas congênitas. As causas mais comuns são: diabetes, rubéola, catarata, glaucoma, toxoplasmose, tracoma, sarampo, doenças venéreas etc. As crianças com deficiência visual precisam das mesmas necessidades afetivas, físicas, intelectuais, sociais e culturais das outras crianças. O sistema Braille utilizado universalmente na leitura e escrita por pessoas cegas, foi inventado na França, em 1825, por Lowis Braille, um jovem cego, e foi o grande responsável pela inclusão dos cegos na rede regular de ensino. É utilizada também na Matemática, na Informática, na Música e em outras áreas do conhecimento (ARAÚJO, 2005). Para tanto, é necessária a utilização de uma simbologia peculiar a cada área do conhecimento. O código matemático unificado (1998) retrata um avanço para o estudo da Matemática, com a utilização, a partir de 1994, para a Língua Castelhana, com as necessárias adaptações a realidade brasileira. A utilização e o domínio dessa simbologia são de vital importância para que o deficiente visual consiga estudar a disciplina, já que o Braille é sempre escrito de forma linear e faz-se necessário símbolo que representem as operações do sistema comum, que é escrito verticalmente (ARAÚJO, 2005). Puga (2009, p.33) afirma que: A pessoa com deficiência visual necessita de formação diferenciada que possa fornecer os requisitos para o seu desenvolvimento pleno, deste modo a educação do deficiente visual deve se processar por métodos como os materiais concretos diferenciados para a exploração de seus sentidos. Quando falamos de Inclusão, para Diniz (2006), o seu o objetivo é promover mudanças nas escolas e no sistema educacional para atender a uma gama de necessidades celebrando a diversidade de gênero. A inclusão visa a garantir o acesso de todos, em todas as possibilidades ofertadas pela escola e impedir a segregação e o isolamento como foi praticado ao longo dos tempos. Stainback (1998), citado por Melquiades (2007) afirma que um aspecto extremamente importante para a inclusão é trilhar novos caminhos educacionais, pensando não somente na alfabetização destes, mas sim na modificação curricular da escola de ensino comum para atender as outras habilidades que os alunos apresentem e com outro olhar sobre o papel do educador. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Mittler (2002) citado por Diniz (2006, p.12), afirma “a inclusão representa, de fato, uma mudança subjetiva e nos valores para as escolas e para a sociedade como um todo. É um processo que deve começar bem antes de a criança ir para a escola”. Segundo Diniz (2006), as pessoas com qualquer deficiência, independentemente de suas condições físicas, sensoriais, cognitivas ou emocionais são pessoas que têm necessidades e possibilidades de conviver, interagir, trocar, aprender, brincar e de serem felizes, embora, algumas vezes, por caminhos e formas diferentes. Essa forma diferente de se agir torna-as seres únicos, singulares. Devem ser olhadas não como defeituosas incompletas ou incapazes, mas como pessoas com possibilidades e dificuldades que podem ser superadas ou minimizadas. Para o entendimento dessa lacuna os alunos com necessidades educativas especiais precisam do uso de materiais concretos para otimizar o processo de ensino e aprendizagem. Necessitam de uma metodologia diferenciada que estimulem suas potencialidades, pois aprendem a partir daquilo que vêem e que sentem. 4. Metodologia Esta pesquisa qualitativa foi realizada através de entrevista estruturada com gestores, professores e pedagogos de uma Escola Estadual de Ensino Especial e observação participante do cotidiano da escola. A pesquisa está sendo realizada no segundo semestre de 2010. A Educação Especial faz-se presente na vida profissional dos educadores. Diante disso, visitamos uma Escola Estadual de Ensino Especial para observar como seria feito o ensino da disciplina de Matemática para os alunos dessa instituição. A Escola localiza-se na região central de uma cidade do leste mineiro, sua estrutura física comporta salas de aula equipadas com materiais lúdicos, banheiros, sala de atendimento especializado como psicólogos, médicos e dentistas, refeitório, quadra para a prática de esportes, oficinas pedagógicas, biblioteca, atendendo 221 alunos com deficiências múltiplas. A cidade onde foi realizada a pesquisa, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE 2009), possui aproximadamente 78.605 habitantes tendo como principal atividade econômica a cafeicultura e a agropecuária. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Destacamos que este estudo apresenta resultados parciais, haja vista que se caracteriza numa pesquisa em andamento. 5. Uma escola especial: as experiências Chegando à escola, a pedagoga estava fazendo uma avaliação pedagógica com um aluno. Enquanto esperávamos, fomos até o refeitório e lá havia algumas crianças merendando e um fato chamou-nos atenção. Uma das crianças com deficiência motora muito acentuada estava com dificuldades para se assentar e, antes que oferecêssemos ajuda, o seu colega que também apresentava um quadro não muito diferente ajudou-a com muito carinho e respeito. Depois de um tempo, a pedagoga pôde nos atender. Diante disso, perguntamos a ela que medidas são tomadas em casos como o do aluno que estava sendo avaliado. Respondeu que ele será encaminhado a uma psicóloga para outra avaliação, já que a primeira foi feita por ela. Afirmou ainda que esse aluno veio da escola regular para obter atendimento especializado na APAE, pois as professoras observaram as dificuldades e o comportamento desse aluno e concluíram que o caso dele era de atendimento especializado. Perguntamos se na escola existem turmas que trabalham conteúdos como a escola regular e a profissional respondeu que sim. Segundo ela, existem 03 turmas que dão conta da aprendizagem dos conteúdos como as 04 operações fundamentais, noção de antecessor e sucessor, dentre outras. As outras 07 turmas são trabalhadas de forma lúdica. Algumas turmas apresentam dificuldades no aprendizado de conteúdos e desenvolvem apenas habilidades básicas de higiene como escovar os dentes, tomar banho sozinho etc. Saindo da sala dela, fomos até a primeira sala de aula. Os alunos não estavam, pois foram fazer visitas a algumas empresas para a feira cultural que iriam realizar. Mas, pudemos perceber os numerais pendurados na parede e diversos materiais lúdicos no canto da sala. Na segunda sala, vimos algumas crianças confeccionando uma maquete com a supervisão da professora deles, a maquete tinha casas, carros, prédios, lojas e as crianças estavam muito alegres. A terceira turma estava desenhando. Havia, nessa sala, crianças com deficiência intelectual, auditiva e visual. Quando a pedagoga abriu a porta da Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 sala, uma criança que apresentava deficiência visual, uma menina de 04 anos, chamou-a pelo nome e esticou os braços perguntando onde ela estava. A pedagoga olhou para nós com uma expressão de emoção e perguntou para a menina como sabia que era ela. A criança respondeu que a conhecia pelo jeito de andar. A pedagoga aproximou-se e a menina tocou o seu relógio no punho para continuar a identificação. A menina perguntou a pedagoga o que ela calçava, esta respondeu de propósito que estava de tênis, embora não estivesse. A pedagoga olhou para nós e cochichou para prestarmos atenção. A criança foi tateando as pernas dela e falou sorrindo: Ah! Você está de bota! E está muito linda! Ficamos muito emocionadas com aquela experiência, pois a criança mesmo com as limitações da visão evidencia o desenvolvimento de outras habilidades perceptivas. Na quarta sala de aula, as crianças também confeccionavam materiais para a feira cultural. Essas crianças ficaram responsáveis em falar sobre a economia da cidade e confeccionavam cestas contendo grãos de café. Havia muitas revistas sobre gado e agricultura para os alunos recortarem figuras e matérias. A pedagoga disse que, nesse evento, eles iriam utilizar muita Matemática, porém de uma forma adaptada às necessidades deles. Das 07 turmas, 03 estavam na quadra fazendo Educação Física. E as outras tinham poucas crianças em sala, já que algumas haviam faltado de aula. Depois, a profissional levou-nos a uma sala com muitos jogos como material dourado, blocos lógicos, dominó, baralho e jogos no computador. E percebemos que na parede dessa sala tinha o alfabeto em Braille e em Libras. Em seguida, conhecemos a oficina pedagógica, um local onde os alunos fazem atividades para o desenvolvimento motor e psicológico, tais como pintura, tapeçaria, materiais reciclados. Fazendo esse trabalho as crianças aprendem a medir figuras, desenhar e cortar para construir os objetos. Quando chegamos até a oficina, ela mostrou-nos panos de prato que os próprios alunos fizeram com a supervisão dos professores. Para os alunos confeccionarem, eles precisam aprender a usar a régua para medir e a observar a proporção dos desenhos. Este trabalho dos alunos é feito por fases, cada aluno fica responsável por fazer uma parte do desenho, um risca com a régua, o outro pinta uma parte do desenho, e assim vão fazendo até formar o todo. Para Bzuneck citado por Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Almeida Cosendey (2009), na sala de aula, os efeitos imediatos da motivação do aluno consistem em ele se envolver ativamente nas tarefas pertinentes ao processo de aprendizagem, sabendo que o desafio dos docentes seria criar ações concretas que incentivem os alunos a buscar e a realizar. As crianças dessa escola demonstram afetividade e elas mesmas procuram ajudar uns aos outros. Ribeiro, Jutras e Louis (2005), citados por Almeida e Cosendey (2009, p.08), afirmam que “a afetividade representa uma atitude, quer dizer, uma disposição interna para compreender, respeitar, proteger, tomar cuidado, ajudar, dialogar, escutar, aceitar e desejar a proximidade do outro”. Finalizando a nossa visita, agradecemos pelo carinho e atenção a qual ela nos dedicou. Percebemos o quanto é importante o trabalho que essa escola realiza com os alunos que apresentam necessidades educativas especiais. Lá, eles descobrem suas habilidades e seus limites acompanhados por profissionais de qualidade e, pelo que pudemos observar parecem gostar muito do trabalho pelo qual se dedicam. Pretendemos retornar ao local outras vezes para novas experiências que irão compor esta pesquisa. 6. Considerações parciais Até o momento em que foi realizada a coleta de dados, os alunos mostraram que após participarem das confecções de objetos, figuras, desenhos, elaboraram conceitos básicos como cor, tamanho e forma. Os jogos matemáticos também favoreceram a construção da estrutura fundamental de número. Os alunos conseguem construir conceitos científicos quando as atividades são planejadas e mediadas pelo professor. Ao ajudarmos os alunos com necessidades educativas especiais a construir o seu próprio conhecimento, acreditamos que contribuímos para formar cidadãos capazes de serem inseridos na sociedade. REFERÊNCIAS DINIZ, Margareth. Projeto Incluir: diretrizes da educação Inclusiva em Minas Gerais. Belo Horizonte: Gráfica e Editora Geraes, 2006. MIRANDA, Arlete Aparecida Bertoldo. História, deficiência e educação especial. Uberlândia: Unimep, 2003. Disponível em: http://www.mariegog.blogspol.com.br. Acesso em: 06.maio.2010. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GODDOY, Evandro Caversan de. A visão do terapeuta ocupacional na educação especial e inclusão social. São Paulo. Disponível em: http:\\www,webartigos.com.br. Acesso em: 02.maio.2010. SHIMAZAKI, Elsa Midori; PACHECO, Edilson Roberto. Matemática para alunos com necessidades especiais. Maringá, 1999. Disponível em: http://www.unicentr.com.br. Acesso em: 07.maio.2010. MELQUIADES, Sidinei. Práticas pedagógicas para o ensino da Matemática dos alunos com deficiência mental. São Paulo, 2007. Disponível em: http://www.webartigos.com.br. Acesso em: 14.maio.2010. ARAÚJO, Marcelo Oliveira. A inclusão Matemática aos portadores de deficiências visuais no distrito federal. Brasília (2005, p.01 a 13). Disponível em: http://www.universidadecatolicadebrasilia.com.br. Acesso em: 15.maio.2010. OLIVEIRA, Sônia Marta de, Oficina: educação de surdos. Belo Horizonte. Secretaria de Estado de Educação Diretoria de Educação Especial. 2006. PUGA, Leonardo Fortunato. Inclusão de alunos deficientes visuais nas aulas de Matemática. Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo (IME-USP), 2009. Disponível em: http://www.usp.br/siicusp/resumos/17siicusp/resumos/843.pdf. Acesso em:20.maio.2010. PETEAN, Éucia Beatriz Lopez; BORGES, Camila Dellatorre. Deficiência auditiva: escolarização e aprendizagem de língua de sinais na opinião das mães. Universidade de São Paulo. 2003. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/Paidéia/v12n24/08.pdf. Acesso em: 28.maio.2010. VIEIRA, Margarete Ferreira Baião. Psicologia da educação I. Caratinga, 2003. Mímeo. SASSAKI, Romeu Kazumi. Todos juntos na escola. Seminário de Educação Inclusiva. Manhuaçu, 2002. SILVA, Rosária Amorim; VIEIRA, Sabrina Gardingo. O lugar da relação escola-família na educação de alunos de uma escola pública estadual da cidade de Manhuaçu-MG. Trabalho de conclusão de curso (TCC). Curso de Pedagogia. Centro Universitário de Caratinga. Manhuaçu, 2008. APAE, História da APAE. Disponível em: http://www.apae.org.com.br. Acesso em: 08.maio.2010. ALMEIDA, Amanda Cerqueira de; COSENDEY, Kênia Mendes. Percepção de profissionais da educação considerados criativos sobre as suas próprias práticas pedagógicas. Trabalho de conclusão de curso (TCC). Curso de Pedagogia. Centro Universitário de Caratinga. Manhuaçu, 2008. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 EFETIVIDADE DO ENSINO DA MATEMÁTICA ATRAVÉS DE ESTRATÉGIAS LÚDICAS Lídia Miranda Amorim e Cristiane Mendes de Oliveira acadêmicas do curso de Licenciatura em Matemática do Centro Universitário de Caratinga–UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO Este estudo teve como objetivo identificar a efetividade do ensino da Matemática através de estratégias lúdicas. Esta pesquisa de revisão bibliográfica levou em conta obras dos principais autores pertinentes ao tema. Para o referencial teórico, buscou-se as contribuições de Souza (2002), Mendonça (2002), Rodrigues e Ricci (2008), Borin (1996), Ribeiro (2004), Lara (2005), Farias (2009), Silva (2008) entre outros que enfatizam a importância do jogo e da ludicidade na efetividade do ensino da Matemática. Os jogos, como estratégia de ludicidade, podem ser utilizados para introduzir, amadurecer conteúdos e preparar o aluno para aprofundar os itens já trabalhados. Devem ser escolhidos e preparados com cuidado para levar o estudante a adquirir conceitos matemáticos. Entendemos que, através de atividades lúdicas, dinâmicas e jogos, possamos contribuir para o processo de ensino e aprendizagem da Matemática. A proposta deste estudo não foi a de reduzir as aulas de Matemática à utilização de jogos, mas de estimular uma reflexão sobre o uso desse recurso de forma eficiente na aprendizagem dos conteúdos da disciplina. Trata-se de uma pesquisa em andamento. PALAVRAS-CHAVE: estratégias lúdicas; jogo; ensino da Matemática; efetividade. 1. Introdução Uma das principais preocupações do educador é a formação do aluno e fazer com que esse realmente aprenda Matemática e tenha prazer em aprender. Diante disso, preocupadas com dificuldades que alunos encontram na Matemática, foi proposto este estudo que abrangeu a importância dos jogos na Matemática. A esse respeito, Souza (2002, p.132) expressa a importância de se trabalhar com o jogo na sala de aula dizendo que: Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A proposta de se trabalhar com jogos no processo ensino aprendizagem da Matemática implica numa opção didático metodológica por parte do professor, vinculada às suas concepções de educação, de Matemática, de mundo, pois é a partir de tais concepções que se definem normas, maneiras e objetivos a serem trabalhados, coerentes com a metodologia de ensino adotada pelo professor. A Matemática é uma disciplina dentro do currículo escolar que muitas vezes, evidencia grande desinteresse e dificuldades por parte dos alunos. Ao contrário disso, essa disciplina precisa estar ao alcance de todos, fazer parte do cotidiano do aluno. Assim, é preciso buscar novos recursos didáticos que tornem a aprendizagem da Matemática mais agradável. Essa nova maneira seria utilizando estratégias lúdicas. Mendonça (2001, p.14) menciona que: Ensinar e aprender Matemática pode e deve ser uma experiência feliz. Curiosamente quase nunca se cita a felicidade dentro dos objetivos educativos, mas é bastante evidente que só poderemos falar de um trabalho docente bem feito quando todos alcançarmos um grau de felicidade satisfatório. O interesse pela temática proposta surgiu diante de certas dificuldades em ensinar significativamente a Matemática e da observação cotidiana em sala de aula quanto ao desinteresse e, até mesmo, aversão de uma parcela significativa dos alunos pela disciplina. Assim, conhecer e compreender melhor o trabalho com jogos na Matemática também foi um dos motivos da escolha do tema. A questão eixo deste estudo é: qual a efetividade do ensino da Matemática através de estratégias lúdicas? E o objetivo deste trabalho foi identificar a efetividade do ensino da Matemática através de estratégias lúdicas. Com este estudo, pretendemos contribuir para a reflexão sobre os princípios que norteiam a experiência de novas práticas em sala de aula, em especial quanto Ao uso da ludicidade como uma forma de apresentação dos conteúdos da Matemática no ensino fundamental, trazendo à luz elementos válidos para questões futuras. 2. Revisão bibliográfica Rodrigues e Ricci (2008) realizaram um estudo com o objetivo mostrar o uso dos jogos Matemáticos, como recurso didático de grande importância no desenvolvimento do aluno, ressaltando que o jogo na Matemática é Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 considerado um recurso didático viável e eficaz para a construção do saber e do conhecimento Matemático de maneira mais lúdica de aprender. Segundo Tahan Malba (1966, p.22), “para que os jogos produzam os efeitos desejados é preciso que sejam de certa forma dirigidos pelos educadores”. Partindo do princípio que a criança pensa de maneira diferente dos adultos e de que nosso objetivo não é ensiná-las a jogar, devemos acompanhar a maneira como as crianças jogam, sendo observadores atentos, interferindo para colocar questões interessantes sem perturbar a dinâmica dos grupos e auxiliá-los a construir regras e pensar de modo que elas entendam. Borin (1996, p.91) afirma que: Outro motivo para introdução de jogos na aula de Matemática é a possibilidade de diminuir bloqueios apresentados por muito de nossos alunos quem temem a Matemática e sentem-se incapacitados para aprendê-la. Dentro de situações de jogo, onde é impossível uma atitude passiva e a motivação é grande, notamos que, ao mesmo tempo em que estes alunos falam Matemática apresentam também um maior desempenho e atitudes mais positivas frente a seus processos de aprendizagem. Ribeiro (2004, p. 35) também realizou uma pesquisa de campo em que o objetivo foi mostrar e assim relatar as experiências que foram feitas junto aos alunos da 8ª série do Ensino Fundamental, em 2004. Evidencia que, através dos jogos matemáticos, o aluno consegue, de maneira significativa, melhorar sua aprendizagem. Nesse sentido, Lara (2005, p.78), considera que ensinar Matemática seja “desenvolver o raciocínio lógico, estimular o pensamento, desenvolver a criatividade, desenvolver a capacidade de manejar situações reais e resolver diferentes tipos de problemas”. Lara (2005, p. 83) afirma ainda ser indispensável repensarmos nossa prática e sairmos em busca de novas estratégias de ensino, realizando um trabalho que vá ao encontro da realidade do nosso aluno em que seja possível, através de diferentes recursos, propiciar um ambiente de construção de conhecimento. Embora os autores citados não tenham abordado as medidas que devem ser tomadas para que os jogos não venham a ser apenas instrumento de “recreação”, procuramos desvendar as ações que devem ser tomadas para haver aquisição de conhecimento e não apenas uma aprendizagem mecânica. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. Metodologia Esta pesquisa de revisão bibliográfica levou em conta obras dos principais autores pertinentes ao tema. Para o referencial teórico, buscou-se as contribuições de Souza (2002), Mendonça (2002), Rodrigues e Ricci (2008), Borin (1996), Ribeiro (2004), Lara (2005), Farias (2009), Silva (2008), entre outros, que enfatizam a importância do jogo e da ludicidade na efetividade do ensino da Matemática. Destacamos que este estudo apresenta resultados parciais, haja vista que se caracteriza numa pesquisa ainda em andamento. 4. A efetividade do ensino da Matemática através de estratégias lúdicas 4.1 Matemática e os jogos como estratégia lúdica A função dos educadores é preparar as novas gerações para o mundo em que terão que viver. Isso quer dizer que devemos proporcionar um ensino necessário para que adquiram as habilidades que vão necessitar para seu desempenho, com comodidade e eficiência, no seio a sociedade a qual se encontram inseridos. No que diz respeito ao ensino da Matemática, essa disciplina deve estimular a criatividade, mostrando que ela é como um edifício em construção, sempre necessitando de modificações e adaptações, fazendo com que o aluno aprenda a executar matematicamente situações reais ou fictícias e, em seguida, levar o resultado como um problema proposto (GALVEZ, 1996). Não é necessário ressaltar a grande importância da solução de problemas, pois vivemos em um mundo no qual, cada vez mais, exige que as pessoas pensem, questionem e arrisquem-se propondo soluções aos vários desafios que surgem no trabalho ou na vida cotidiana (FARIAS, 2009). Assim, pode-se dizer que as situações de jogo são consideradas parte das atividades pedagógicas, justamente por serem elementos estimuladores do desenvolvimento. É esse raciocínio de que os sujeitos aprendem através dos jogos que nos leva a utilizá-los em sala de aula (SILVA, 2008). Os jogos são educativos, sendo assim, requerem um plano de ação que permita a aprendizagem de conceitos matemáticos e culturais de uma maneira geral. Já que os jogos em sala de aula são importantes, devemos ocupar um horário dentro de nosso planejamento, de modo a permitir que o professor possa explorar todo o potencial dos jogos, nos processos de solução, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 registros e discussões sobre possíveis caminhos que poderão surgir (SILVA, 2008). De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais- PCNs: À medida que vamos nos integrando ao que se denomina uma sociedade da informação crescente e globalizada, é importante que a Educação se volte para o desenvolvimento das capacidades de comunicação, de resolver problemas, de tomar decisões, de fazer interferência, de criar, de aperfeiçoar conhecimento e valores, de trabalhar cooperativamente. (2000, p.251) Dentro desse contexto, é essencial o jogo na Matemática, pois passa a ser visto como um agente cognitivo que auxilia o aluno e leva-o a agir livremente sobre suas ações e decisões fazendo com que ele se desenvolva além do conhecimento matemático (LARA, 2005). Os jogos podem ser utilizados para introduzir, amadurecer conteúdos e preparar o aluno para aprofundar os itens já trabalhados. Devem ser escolhidos e preparados com cuidado para levar o estudante a adquirir conceitos matemáticos (SILVA, 2008). Para Lara (2005), se concebermos o ensino da Matemática como sendo um processo de repetição, memorização e treinamento, o jogo será desenvolvido apenas com outro tipo de atividade; porém, se imaginarmos esse ensino como sendo um momento de descoberta, de criação e de experimentação, veremos o jogo como um instrumento de recreação e também como um veículo para a construção do conhecimento. As crianças são mais ativas mentalmente enquanto jogam o que escolheram e que lhes interessa, do que quando preenchem folhas de exercícios. Muitas crianças gostam de fazê-lo, mas os que elas aprendem com isso são o que vem da professora, e que Matemática é um conjunto misterioso de regras que vem de fontes externas ao seu pensamento. (KAMII e DECLARK, p. 172, 1992) O uso de jogos e curiosidades no ensino da Matemática tem o objetivo de fazer com que os adolescentes gostem de aprender essa disciplina, mudando a rotina da classe e despertando o interesse do aluno envolvido. Nesse sentido, verificamos que há três aspectos que por si só justificam a incorporação do jogo nas aulas, são estes: o caráter lúdico, o desenvolvimento de técnicas intelectuais e a formação de relações sociais (GROENWALD, 2000). O que devemos ter em mente é que devemos escolher jogos que estimulem a resolução de problemas, principalmente quando o conteúdo a ser estudado for abstrato, difícil e desvinculado da prática diária, não nos Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 esquecendo de respeitar as condições de cada comunidade e o querer de cada aluno, situações desafiadoras, agradáveis e significativas em sala de aula, motivar o aluno para o aprendizado da Matemática e aprimorar a didática usada durante as aulas proporcionam qualidade na arte de ensinar e melhoram a receptividade por parte dos estudantes. Entende-se, portanto, que a aprendizagem deve acontecer de forma interessante e prazerosa e um recurso que possibilita isso são os jogos. Guzmán (1986, p.78) expressa muito bem o sentido que essa atividade tem na educação Matemática “o interesse dos jogos na educação não é apenas divertir, mas sim extrair dessa atividade matérias suficientes para gerar um conhecimento, interessar e fazer com que os estudantes pensem com certa motivação”. Assim, os jogos possibilitam a supervisão do trabalho de criação de estratégias, desenvolvem senso critico, além de incentivar a confiança em si mesmo, características pertinentes ao desenvolvimento cognitivo (RIBEIRO, 2004). 5. O ensino da Matemática através da ludicidade Faz-se interessante notar, neste momento que durante o período de realização deste estudo, foi possível constatar o porquê de todo pensamento pedagógico moderno, priorizar a aplicação de estratégias lúdicas nas práticas cotidianas em sala de aula. O que fica claro, por outro lado, é que a escola e os educadores de forma geral devem buscar uma adequação a essa nova realidade, preparando-se para uma nova demanda que depende do uso de metodologias inovadoras na construção do saber. Azevedo (1979) confirma tais constatações através das descobertas de Montessori, que desenvolveria, no início deste século, vários materiais manipulativos destinados a aprendizagem da Matemática. Para ela, "nada deve ser dado à criança, no campo da Matemática, sem primeiro apresentar-se a ela uma situação concreta que a leve a agir, a pensar, a experimentar, a descobrir, e daí a mergulhar na abstração” (AZEVEDO, 1979, p. 27) O estudo encontra respaldo em Groenwald e Lisete (2000), que afirmam que “jogar não é estudar nem trabalhar, porque jogando a aluno aprende, sobretudo, a conhecer e a compreender o mundo social que o rodeia” (p. 7). Assim, reafirma-se a expressão do aprender brincando e pode-se confirmar Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 que através do uso dos jogos, o educando pode desenvolver não apenas aspectos cognitivos, mas também, psicossociais, entre outros. Outro ponto de destaque é que, mais do que um desafio, a atividade lúdica e, mais especificamente o jogo, é uma atividade caracterizada por liberdade de ação, assim é uma atividade na qual a criança envolve-se buscando superar os desafios de diferentes ordens. Conforme Kamii (1992, p.36): A interação social implícita nos jogos de Matemática fornece uma alternativa para o professor como recurso do encontro de respostas certas. Quando as crianças discutem quais respostas estão certas, elas se tornam fontes de verdade, e as crianças desenvolvem a confiança em suas próprias habilidades para descobrir as coisas. Entretanto, uma vez que os desafios são imediatos às crianças têm possibilidades de defender e/ou corrigir seus próprios processos de pensar, em vez de esperar pelas respostas das folhas de exercícios, as quais serão desenvolvidas no dia seguinte. Os jogos, como instrumentos de aprendizagem na Matemática, tornamse grandes aliados, interferindo no interesse, na concentração e na motivação dos alunos. O jogo é ainda um eficiente recurso ao se trabalhar com algumas dificuldades de aprendizagem, contribuindo também no desenvolvimento da natureza questionadora das crianças e na construção de uma aprendizagem significativa. Nessa perspectiva Moura (1994, p.28), afirma que o jogo possibilita “a aproximação do sujeito ao conteúdo científico, através da linguagem, informações, significados culturais, compreensão de regras, imitação, bem como pela ludicidade inerente ao próprio jogo, assegurando assim a construção de conhecimentos mais elaborados”. Os jogos, através de objetivos bem definidos pelo professor, são um recurso didático valioso na disciplina de Matemática. Entende-se, dessa forma, que o seu uso estimula o desenvolvimento do raciocínio lógico, o pensamento independente; desenvolve a criatividade e a capacidade de manejar situações reais e resolver diferentes tipos de problema. Dessa forma, Fiorentini (1994, p.21) demonstra que: A principal finalidade do ensino da Matemática é de natureza formativa. Os conteúdos passam a desempenhar papel de meios úteis, mas não indispensáveis, para a construção e desenvolvimento das estruturas básicas da inteligência. Ou seja, o importante não é Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 aprender isto ou aquilo, mas sim aprender a aprender e desenvolver o pensamento lógico-formal. Através dos jogos, é possível desenvolver no aluno, além de habilidades Matemáticas, a concentração, a curiosidade, a consciência de grupo, o companheirismo, a autoconfiança e a auto-estima. 6. Considerações parciais A proposta deste estudo não foi a de reduzir as aulas de Matemática à utilização de jogos, mas de estimular uma reflexão sobre o uso desse recurso de forma eficiente na aprendizagem dos conteúdos da disciplina. Entendemos que, através de atividades lúdicas, dinâmicas e jogos, possamos contribuir para o processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Entendemos ainda que esse espaço não foi suficiente para se esgotar o assunto, mas que abre questionamentos para novas discussões. Espera-se, no entanto, ter respondido ao objetivo do estudo, compreendendo que ensinar e aprender através de estratégias lúdicas é uma aventura por caminhos que enriquecem a tarefa educadora. REFERÊNCIAS AMARAL, João J. F. Como fazer uma pesquisa bibliográfica. Ceará: UFC, 2007. AZEVEDO, Edith D. 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Rio de Janeiro: Conquista, 1966. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O JOGO COMO INSTRUMENTO INDISPENSÁVEL AO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA: ALGUNS APONTAMENTOS José Carlos Cecílio Fialho e Maura Lina Aguiar dos Santos – acadêmicos do curso de Licenciatura em Matemática do Centro Universitário de Caratinga– UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO Este trabalho tem como objetivo identificar o lugar do jogo no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Esta pesquisa de revisão bibliográfica foi realizada através de fontes confiáveis e autores de referência, tais como: Antunes (2002), Sassaki (1999), Kishimoto (2003), entre outros. Quanto a contribuição dos jogos matemáticos, pesquisadores como Antunes (2002), Sassaki (1999), Kishimoto (2003), Guzmán (1986) afirmam que eles possuem caráter lúdico e auxiliam a aprendizagem na sala de aula, visto que os alunos ficam mais motivados a aprender, além de ser um importante instrumento para que o educando tenha a oportunidade de familiarizar com os cálculos que, muitas vezes, são vistos como algo muito difícil. Ao realizar esta pesquisa, pôde-se confirmar que os jogos constituem-se em ótimos instrumentos para o ensino da Matemática, sendo um recurso que contribui para a educação Matemática e, ao mesmo tempo, possibilita aos alunos a convivência social e a ludicidade. Trata-se de uma pesquisa em andamento. PALAVRAS-CHAVE: jogos; processo de ensino e aprendizagem; Matemática. 1. Introdução Diante de tantas situações ouvidas e presenciadas em relação às dificuldades para o ensino da Matemática, decidimos então, como alunos e futuros professores dessa disciplina, entender melhor o assunto. Consideremos que o jogo propicia situações que, comparadas a problemas, exigem soluções vivas, originais e rápidas. Muitos desses jogos estudados têm regras que exigem considerável raciocínio dos jogadores. Investigação, tentativa e erro, levantamento e checagem de hipóteses são algumas das habilidades de raciocínio lógico que estão envolvidas no processo de jogar. De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN‟s (1997), o jogo pode ser usado por muitas crianças, mas seu efeito sobre a inteligência será sempre pessoal e impossível de ser generalizado. Graças a ele, pode-se obter a satisfação simbólica do desejo de ser grande, do anseio em ser livre. Socialmente, o jogo impõe o controle dos impulsos, a aceitação das regras, mas sem que se aliene a elas, desde que Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 sejam as mesmas estabelecidas pelos que jogam e não são impostas por qualquer estrutura alienante. Brincando com sua espacialidade, a criança se envolve na fantasia e constrói um trabalho entre o mundo inconsciente, em que se desejaria viver e o mundo real, em que precisa conviver (KISHIMOTO, 2003). De acordo com Antunes (2002), outro motivo para a introdução dos jogos nas aulas é a possibilidade de diminuir bloqueios apresentados por muitos de nossos alunos que temem e sentem-se incapacitados para aprender. Dentro da situação de jogo, é impossível uma atitude passiva e a motivação é grande, apresentam um melhor desempenho e atitudes mais positivas frente seus processos de aprendizagem. Se o raciocínio for estimulado através de brincadeiras, na forma de charadas, jogos ou histórias de aventura a aprendizagem fica muito mais prazerosa. Sassaki (1999), ao recomendar o uso de jogos na aprendizagem tinha consciência de que era uma estratégia eficaz para entender conceitos, além de educar a atenção, despertar interesse e contribuir para o espírito de grupo. A Palavra jogo provém de jócu, substantivo masculino de origem latina que significa gracejo. Em sentido etimológico, expressa um divertimento, brincadeira, passatempo sujeito as regras que devem ser observadas quando se joga. Significa também balanço, oscilação, astúcia, ardil, manobra; jogos para a estimulação das múltiplas inteligências (ANTUNES, 2002). Diante do exposto até aqui, surgem as questões: como é o lugar do jogo no processo de ensino e aprendizagem da Matemática? Como o professor, utilizando o jogo, pode estimular a aprendizagem do aluno? Qual a melhor forma de utilizar os jogos em sala de aula? O tempo das aulas de Matemática é suficiente para a utilização dos jogos em sala de aula? Como fazer opção dos jogos para as aulas de Matemática? Este estudo teve como objetivo identificar o lugar do jogo no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Com esse estudo, pretendemos contribuir para que o ensino da Matemática seja realizado de forma prazerosa e de maneira que desperte o interesse do aluno, também para que os profissionais da área percebam a importância da inserção do jogo em sala de aula como um recurso metodológico. 2. Revisão bibliográfica Consideremos que o jogo propicia situações que, podendo ser comparadas a problemas, exigem soluções vivas, originais e rápidas. Neste processo, o planejamento, a busca por melhores jogadas, a utilização de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 conhecimentos adquiridos anteriormente propiciam a aquisição de novas idéias, novos conhecimentos, habilidades e atitudes. Nesse sentido, Castro (2003) realizou um estudo com o objetivo de mostrar a importância dos jogos na aprendizagem, uma vez que os alunos, não apenas se divertem, mas também extraem das atividades materiais suficientes para gerar conhecimento. Percebeu-se, com as aplicações desses jogos, o aumento da capacidade de resolver problemas e a ampliação das possibilidades dos alunos de compreender e transformar a realidade. Groenwald e Timm (2002) também realizaram uma pesquisa em universidade, tendo como objetivo abordar a importância dos jogos e desafios como metodologia de ensino nas aulas de Matemática, uma vez que o aluno necessita da utilização de conhecimentos matemáticos para joga-los. Defendem que os jogos, quando convenientemente preparados, tornam-se um recurso pedagógico eficaz para a construção dos conhecimentos matemáticos; com isso percebeu-se uma maior motivação dos estudantes para pensarem sobre problemas sugeridos. Outro estudo, realizado por Macedo (1995), teve como objetivo caracterizar exercícios, símbolos e regras como formas de jogos e analisar a importância dos jogos na escola mediante respostas às seguintes questões: o que é o jogo? Por que se joga? Para que se joga? Graças a essa pesquisa as crianças, nos primeiros anos escolares, desenvolveram hábitos na qualidade de esquemas sensório motores. Neves (2003) realizou uma pesquisa com o objetivo de estimular o pensamento independente, a criatividade e a capacidade de resolver problemas e, consequentemente, estimular a socialização e aumentar a interação do sujeito com outras pessoas, com jogos simples, como jogar utilizando partes do corpo e, com isso, estimular o pensamento lógico do aluno. Notou-se uma maior facilidade em desenvolver trabalhos em equipe e relacionar-se com outras pessoas. Também foi realizado um estudo por Calsa (2002), que teve como objetivo possibilitar a construção do conhecimento matemático por meio de jogos convencionais, utilizados sob uma abordagem psicopedagógica. Utilizouse o jogo da velha e o bafo. Os resultados evidenciaram modificações das estratégias nos procedimentos de resolução das operações. As crianças passaram a preocupar-se com as dimensões envolvidas nos jogos, espacial e Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 numérica, a levar em conta as estratégias dos adversários e a efetuar a soma das parcelas dos jogos por meio de cálculo mental. Todos os estudos citados discutiram a importância dos jogos na aprendizagem da Matemática, no entanto, esses estudos não discutiram tal enfoque do jogo, aplicando-o nos anos finais do ensino fundamental. Esses autores que foram estudados fortaleceram a idéia de que o jogo não é apenas uma diversão, mas sim um recurso para que o professor facilite seu trabalho e proporcione aos alunos um melhor desenvolvimento de raciocínio. 3. Metodologia Esta pesquisa de revisão bibliográfica foi realizada através de fontes confiáveis e autores de referência, tais como: Antunes (2002), Sassaki (1999), Kishimoto (2003), entre outros. Utilizaremos fontes divulgadas nos últimos 5 anos. Segundo Gil (2002, p. 44) citado por Pereira e Vilashi (2006, p. 3): a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. Embora, em quase todos os estudos seja exigidos algum tipo de trabalho dessa natureza, há pesquisas desenvolvidas exclusivamente a partir de fontes bibliográficas. Assim, a pesquisa bibliográfica apresenta o objetivo de contribuir para o debate entre esses importantes elementos de transparência e de relevância social, ressaltando que o espírito deste trabalho pode ser denominado de notas prévias, por assim dizer de uma leitura exploratória. “As notas prévias podem ser comunicações originais curtas, cuja publicação é acelerada em virtude da importância que assume sua divulgação imediata para a atividade de outros pesquisadores” (REY, 2003, p. 176, citado por PEREIRA e VILASHI, 2006, p. 3). Destacamos que este estudo apresenta resultados parciais, haja vista que se caracteriza numa pesquisa em andamento. 4. O jogo como instrumento indispensável ao processo de ensino da Matemática 4.1 Jogos, brinquedos e brincadeiras: alguns conceitos Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Pelas definições evidenciadas, vê-se que jogos, brinquedos e brincadeiras são termos que empregados com significados diferentes, terminam se tornando imprecisos, pois existe uma variedade de jogos conhecidos que podem ser considerados como brincadeiras e, muitas vezes, um brinquedo também é utilizado como objeto de um jogo ou de uma brincadeira. Essas considerações foram reforçadas por Kishimoto (2003) salientando que a perplexidade aumenta quando se observa diferentes situações recebendo a mesma denominação: para alguns, é brincadeira, para outros, é jogo e, assim, sucessivamente. Qual é a diferença entre jogo e brincadeira? A variedade de fenômenos considerados como jogo mostrou que a dificuldade de definição aumenta mais quando se percebe que um mesmo comportamento pode ser visto como jogo ou não-jogo. Para um observador externo, a criança indígena que se diverte atirando com arco e flecha em animais é uma brincadeira, mas para o grupo, é um preparo para a arte de caça, necessária à subsistência da tribo. Disso decorre que manusear o arco e a flecha para alguns é jogo, para outros é preparo profissional. Uma mesma conduta pode ser jogo ou não-jogo, em diferentes culturas, dependendo do significado a ela atribuído (KISHIMOTO, 2003). Diante desse quadro, verificou-se que é difícil separar ou classificar os termos: jogo, brinquedo e brincadeira, mas todos eles são descritos pelo autor “como elementos da cultura, excluindo o jogo dos animais”. Dentro da variedade de significados, são as semelhanças que permitem classificar jogos de faz-de-conta, de construção, de regras, de palavras, políticos e outros. Dessas considerações, seguindo as definições dessa autora, brinquedo será entendido sempre como objeto, suporte de brincadeira e jogo infantil para designar tanto o objeto e as regras do jogo da criança-brinquedo e brincadeiras. O brinquedo é o suporte de uma brincadeira, seja ela qual for. O brinquedo tem sempre como referencial a criança, e sua história está ligada com a história da criança (KISHIMOTO, 2003). Dessa perspectiva, entende-se que o jogo, por ser uma ação voluntária da criança, um fim em si mesmo, não pode criar nada, não visa a um resultado final. O que importa é o processo em si de brincar que a criança se impõe, sua atenção está concentrada na atividade em si e não em seus resultados ou efeitos (ANTUNES, 2002). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Se o jogo é uma atividade de natureza livre, como atividade voluntária do ser humano historicamente, quando sujeito a ordem, a regras explícitas, deixa de ser jogo. A criança quando brinca está distante da vida cotidiana, está no mundo imaginário. Quando a criança brinca não se preocupa com aquisição de conhecimento e qualquer habilidade mental ou física (KISHIMOTO, 2003). Há muito tempo, já havia sido descoberta a importância das brincadeiras e dos jogos. “Onde entre os egípcios, romanos e maias, o lúdico se destacava em importância, pois era através dos jogos que as gerações mais jovens aprendiam com os mais velhos os valores e conhecimentos de sua cultura”. (SOUZA, 1996, p. 343). Guzmán (1986) expressa muito bem o sentido que os jogos têm na educação Matemática: “O interesse dos jogos na educação não é apenas divertir, mas sim extrair dessa atividade materiais suficientes para gerar um conhecimento, interessar e fazer com que os estudantes pensem com certa motivação”. Para Kishimoto (2003, p.6), o jogo educativo, utilizado em sala de aula, muitas vezes, desvirtua esse critério de dar prioridade ao produto, à aprendizagem de noções e habilidades significativas. Afirma o autor “o jogo só pode ser jogo quando selecionado livre e espontaneamente pela criança”. 4.2. Os jogos e o ensino da Matemática Para Almeida (2004) a participação nos jogos representa uma conquista cognitiva, emocional, moral e social para o estudante. Através dos jogos, se prepara o aluno também para a vida profissional ele aprende a resolver as situações sem esperar que outros lhe ajudem e tem a capacidade de agir, criar, fazer as coisas de formas diferentes, procurando sempre inovar, dar o melhor de si. Ainda segundo esse autor: outro motivo para a introdução de jogos nas aulas de Matemática é a possibilidade de diminuir bloqueios apresentados por muitos de nossos alunos que temem a Matemática e sentem-se incapacitados para aprendê-la. Dentro da situação de jogo, onde é impossível uma atitude passiva e a motivação é grande, notamos que, ao mesmo tempo em que estes alunos fazem Matemática, apresentam também um melhor desempenho e atitudes mais positivas frente a seus processos de aprendizagem (ALMEIDA, 2004, p.11). De acordo com Antunes (2002) os jogos podem contribuir para um trabalho de formação de atitudes e superação de desafios; para lançar-se a busca de soluções, desenvolvimento da crítica, da intuição, da criação de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 estratégias e da possibilidade de alterá-las quando o resultado não é satisfatório, necessário para a aprendizagem. Baseando-se nas questões abordadas, encontramos situações que envolvem cálculos que solucionam muitos problemas do nosso cotidiano e que a Matemática está inserida nos jogos como o jogo da velha e o bafo. A escola é responsável por possibilitar a aprendizagem da Matemática. Sobre as experiências com a Matemática Kishimoto (2003) coloca que: As experiências em sala de aula que aumenta a auto-estima dos alunos favorecem a aprendizagem. Entre tais experiências podemos citar o êxito obtido pelo estudante, desde os alcançados nas tarefas diárias, provas, trabalhos, aprovações, conclusão de curso, até a qualificação profissional. O professor, por conseqüência, deve organizar os jogos de modo a proporcionar o máximo de sucesso ao aluno, o que depende, entre outras coisas, da consideração do nível de desenvolvimento dos aprendizes e de uma seqüência curricular atenta aos pré-requisitos. Outra estratégia é o uso de reforços como elogio, aceitação das perguntas dos alunos valorização de suas idéias, comentários positivos a respeito de seus trabalhos (KISHIMOTO, 2003, p. 187). Quanto a contribuição dos jogos matemáticos para a educação, pesquisadores como Antunes (2002), Sassaki (1999), Kishimoto (2003), Guzmán (1986) afirmam que eles possuem caráter lúdico e auxiliam a aprendizagem na sala de aula, visto que os alunos ficam mais motivados a aprender, além de ser um importante instrumento para que o educando tenha a oportunidade de familiarizar com os cálculos que, muitas vezes, são vistos como algo muito difícil. Do ponto de vista dos autores revisados, tais como Calsa (2002), Groenwald e Timm (2002), Castro (2003), Neves (2003), Macedo (2005), a melhor forma de aplicar os jogos na sala de aula é utilizando-o como recurso de fixação do conteúdo. Depois de se trabalhar com o livro didático, aplicar os jogos, os próprios alunos deverão definir as regras, desenvolvendo o raciocínio lógico. Os jogos devem ser aplicados como instrumento que chamem a atenção dos alunos e nesse processo o professor entra como mediador. Os livros didáticos devem ser usados como um suporte para o professor, pois apresentam uma seqüência de níveis diferentes de dificuldades que o ajudará a organizar suas aulas, além de ser uma fonte de pesquisa para os alunos (GUZMÁN, 1989). Em relação aos tipos de materiais concretos que o professor pode usar em suas aulas, podemos citar vários: sólidos, construção de figuras geométricas, gráficos, etc. A manipulação do material concreto aproxima da Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 realidade, mostrando que ele faz parte do mundo matemático, aprendendo brincando aumenta a auto-estima e torna-os mais confiantes (SASSAKI 1999). A possibilidade de se trabalhar os jogos matemáticos estimulando a aprendizagem do aluno e possibilitando que eles percebam que a Matemática é fundamental, pois quanto mais dinâmico é o professor ao aplicar os jogos, maior será a motivação dos alunos. 5. Considerações parciais Através deste estudo, reforça-se a idéia de utilizar os jogos matemáticos em sala de aula. Um dado particularmente interessante é que, a partir do jogo, o professor detecta nos alunos dificuldades de aprendizagem. A utilização dos jogos na sala de aula contribui para identificação das relações matemáticas que acompanham o estudo no período escolar. Com jogos, os alunos ficam mais alegres e se divertem ao mesmo tempo em que aprendem, sem decoreba e sem traumas, pois é uma fonte riquíssima de aprendizagem. Através deles, o professor trabalha com seu aluno cálculo mental e lógico. Além disso, contribui para o desenvolvimento dos valores, já que o aluno tem a oportunidade de desenvolver a sua capacidade de competição e também demonstra que, na vida, nem sempre ganhamos, que é preciso aprender também a perder, mas, acima de tudo, é necessário sempre lutar por aquilo que se quer. Ao realizar esta pesquisa, pode-se confirmar que os jogos se constituem em ótimos instrumentos para o ensino da Matemática, sendo um recurso que contribui para a educação Matemática e, ao mesmo tempo, possibilita aos alunos a convivência social e a ludicidade. REFERÊNCI AS ANTUNES, Celso. Jogos para a estimulação das múltiplas inteligências. 11.ed. Petrópolis: vozes, 2002. CALSA, Geiva C. Explorando a Matemática com jogos de regras. (UEMMaringá-PR), Tese (Doutorado em educação) – Universidade Estadual de Campinas- Campinas (2002). Disponível em<http//www.aprender-ai.com. Acesso em: 10. Mar.2010. CARRAHER, Terezinha Nunes. SCHLIEMANN, Ana. Na vida dez, na escola zero. 5. ed. São Paulo: Cortez, 1991. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 CASTRO, Eliziane. A importância dos jogos na aprendizagem Matemática. Disponível em: http//www.unimeo.com.br/artigos. Acesso em 10.mar.2010. 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Artes médicas, 1999. SOUZA, Edson Roberto. O lúdico como possibilidade de inclusão no Ensino Fundamental. Revista Motrivivência v. 8, n. 9, 1996. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O ENSINO DA GEOMETRIA E A TEORIA VAN HIELE: ALGUMAS CONSIDERAÇÕES José Carlos da Silva e Silvânia Maria Lelles Santana – acadêmicos do curso de Licenciatura em Matemática do Centro Universitário de Caratinga–UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO Esse estudo de revisão bibliográfica teve como objetivo compreender os desafios do ensino da Geometria e a aplicabilidade do método Van Hiele nesse contexto. Em todo o movimento da educação Matemática o ensino de Geometria ainda parece ser deixado para segundo plano. Incontestavelmente, um círculo vicioso se forma em torno do processo de ensino e aprendizagem de Geometria: alunos que não aprendem Geometria e se tornam professores continuam deixando a Geometria de lado, mesmo dispondo de livros didáticos que trabalham a Geometria de formas variadas e não mais a relegam para os capítulos finais, como acontecia anteriormente. Assim, entra o método Van Hiele para contribuir com a mudança dessa percepção. Os Van Hiele descreveram um modelo de aprendizagem fundamentado numa visão que valoriza a aprendizagem da Geometria como um processo gradual, global e construtivo. Esse modelo consiste em um esquema de compreensão do aluno através de níveis de raciocínio hierárquicos e sequênciais. Estes níveis são classificados em visualização, análise, dedução informal, dedução formal e rigor. Após o estudo de várias obras, percebemos a eficácia do Método Van Hiele, recomendando a exploração da Geometria neste modelo. Trata-se de uma pesquisa em andamento. PALAVRAS-CHAVE: Ensino da Geometria; Teoria Van Hiele. 1. Introdução A Geometria é uma das áreas da Matemática, extremamente usada no cotidiano por quase todas as pessoas. Ao longo da história surgiram grandes nomes como Thales de Mileto, Pitágoras, além de muitos outros que apenas utilizaram da lógica para alcançar resultados na aplicação da Geometria e resolver problemas inimagináveis para a época em que viveram (REIS, 2008). Percebemos que o ensino escolar da Matemática atingiu o status de automático, pois está muito concentrado no processo de memorização de fórmulas e cálculos. Com isso consegue-se um efeito de automatização, que difere muito do ideal a ser alcançado na educação. Além disso, na visão de Carraher (1995) citado por Machado (1999) a Matemática ainda não conseguiu se desprender do estigma do bicho de sete Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 cabeças, de matéria difícil, de que só aprende quem já nasce com o dom para cálculos. Porém vale salientar as palavras de Piaget quando afirma que os educadores, todos nós, precisamos encontrar formas eficientes de ensino e aprendizagem em nossa sociedade. No Brasil, alguns argumentos podem ser usados para tentar justificar tais dificuldades encontradas nas salas de aula em relação à Geometria. Pesquisas realizadas por Pavanello (1993) e Lorenzato (1995) citados por Santos (2003) constataram um abandono do ensino da geometria nas aulas de Matemática. Segundo eles, um dos motivos que levaram a esta ausência foi a falta de preparo do professor em Geometria e a limitação em trabalhar com a Aritmética e as noções sobre conjuntos, não abordando os conhecimentos geométricos, cuja relevância, vem sendo salientada nas propostas da atualidade. Intrigados com o estudo sobre Geometria a que fomos submetidos e com o propósito de algo fazer para melhorar o ensino de tal assunto, motivados por nosso grande interesse na área, vimos na Teoria de Van Hiele uma maneira de contribuir para que o educando se interesse e se envolva no estudo da Geometria. Mas, diante do papel da escola como instituição educacional e de tanta dificuldade e falhas no ensino da Geometria, como o método Van Hiele pode ser utilizado enquanto alternativa para o ensino da Matemática? Quem é o responsável por tais falhas? O que dificulta a aprendizagem da Matemática? O que pode ser feito pra reverter essa situação? Sendo assim, temos o objetivo de compreender os desafios do ensino da Geometria e a aplicabilidade do método Van Hiele nesse contexto. Com esta pesquisa pretendemos contribuir para uma melhor aprendizagem da Geometria, tentado mostrar que o método de Van Hiele pode ser uma alternativa para essa melhoria. Além disso, poderá auxiliar os profissionais da educação a refletirem sobre suas práticas pedagógicas e a reduzir assim as falhas no ensino dessa disciplina. 2. Metodologia Esta é uma pesquisa de revisão bibliográfica. Foram analisados publicações através de livros, artigos científicos, publicações eletrônicas, etc., material este que tivemos acesso por meio da Biblioteca Municipal da cidade Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 de Abre Campo - MG, empréstimo por parte de professores do Centro Universitário de Caratinga (UNEC) unidade de Manhuaçu e por meio eletrônico. Destacamos que este estudo apresenta resultados parciais, haja vista que se caracteriza numa pesquisa em andamento. 3. A teoria Van Hiele e o ensino da Geometria 3.1 primeiras palavras Para Nasser (1994) nas últimas décadas uma necessidade de modificações no ensino da Geometria cresceu ao redor do mundo devido às dificuldades encontradas e ao desempenho insuficiente mostrado por alunos secundários em Geometria. Uma dessas formas é o estudo da teoria de Van Hiele. Nesse sentido, Werlang e Pazos (2000) realizaram um projeto cujo objetivo foi verificar se o esquema de Van Hiele pode ser adaptado a outros conceitos matemáticos. Para isso, fizeram uso de uma pesquisa de campo na qual elaboraram questões sobre o conteúdo de funções, onde alguns alunos do Ensino Médio das redes particular e estadual do Vale do Rio Pardo e Taquari responderam o instrumento. Depois avaliaram por meio dos dados obtidos em que nível de raciocínio os alunos estavam. Após fazerem uso de material adequado, um novo levantamento foi realizado com esses mesmos alunos. Ao término da pesquisa concluíram que o esquema pode e deve ser adaptado a outros conceitos, já que foi de grande ajuda para o desenvolvimento dos alunos no decorrer da aplicação dos testes. Outro estudo com discentes foi o de Santos (2003) que pesquisou o nível 1 do esquema de Van Hiele, com o objetivo de detectar dificuldades de aprendizagem e avaliar se houve alguma melhoria após a conclusão das atividades. Participaram desse projeto 28 alunos da 4ª série do Ensino Fundamental de uma escola pública municipal da Cidade do Paulista/PE. As atividades eram realizadas em grupos ou duplas. Primeiramente foi realizado um pré-teste para detectar as dificuldades e lacunas existentes em Geometria Plana, especificamente na parte de nomeação e classificação de figuras geométricas. Após a análise dos resultados, dividiu-se a intervenção em 4 momentos, dando ênfase ao estudo dos triângulos. O índice de acerto não foi satisfatório. Após o processo de intervenção, os alunos foram submetidos a um pós-teste. Ao comparar os resultados obtidos do pré e pós-teste verificou-se uma melhora significativa de desempenho por parte dos alunos. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Todas as propostas apresentadas nos levam a uma mesma conclusão, ou seja, mostra a tendência do trabalho da Geometria nas fases de ensino, recomendando a exploração desse conteúdo no modelo Van Hiele. A Geometria é um grande facilitador dos processos mentais, porque prestigia o processo de construção do conhecimento, valoriza o descobrir, o analisar e o experimentar; além do que elucida situações abstratas e comunica a idéia matemática com maior simplicidade. Em tempos passados, a Geometria era uma ciência empírica, uma coleção de regras práticas para obter resultados aproximados. Apesar disso, estes conhecimentos foram utilizados nas construções das pirâmides e templos Babilônios e Egípcios. Mas, é sem dúvida com os geômetras gregos, começando com Tales de Mileto (624-547a.C.), que a geometria é estabelecida como teoria dedutiva. O trabalho de sistematização em geometria iniciado por Tales é continuado nos séculos posteriores, nomeadamente pelos pitagóricos. (BALDISSERA, 2007) Voltando a falar de situações atuais, sabemos que a Geometria está presente em diversas situações da vida cotidiana do ser humano: na natureza, nos objetos que usamos, nas brincadeiras infantis, nas construções, nas artes. A nossa volta podemos observar as mais diferentes formas geométricas. Muitas dessas formas fazem parte da natureza, outras já são resultados das ações do ser humano. (SANTOS, 2003) Desse modo a importância de trabalhar os conhecimentos geométricos desde o início do Ensino Fundamental está presente na fala de alguns autores. Para Dante (2005) citado por Guimarães (2006) a alfabetização Matemática necessária a todo cidadão do terceiro milênio não se restringe a números e cálculos. Tão importante quanto o número é a Geometria, que permite compreender o espaço, as superfícies, as linhas e as relações entre todas as formas geométricas. Segundo Guimarães (2006) Imenes (1987) enfatiza que para essa alfabetização ser bem sucedida, é necessário que se trabalhe com os alunos, além da Aritmética, a Geometria, desde suas primeiras experiências escolares, e esse trabalho deve começar através da exploração sensorial dos objetos. 3.1 Considerações sobre a teoria Van Hiele Diante de todos esses comentários sobre a Geometria e seu ensino, podemos citar um importante trabalho feito por Dina e Peter Van Hiele. Crowley Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 (1994) citado por Bogoni, Perin e Brancher (2004) afirma que a teoria desse casal refere-se ao ensino e aprendizagem da Geometria. Identifica o comportamento na aprendizagem como o nível de maturidade geométrica do aluno. Assim, o modelo geométrico pode ser usado para orientar na formação e também para avaliar as habilidades do aluno. O modelo na íntegra consiste em um esquema de compreensão do aluno através de níveis de raciocínio hierárquicos e sequênciais. Estes níveis são classificados em visualização, análise, dedução informal, dedução formal e rigor. (WERLANG e PAZOS, 2000). A visualização é o primeiro nível de acordo com Van Hiele, e é também chamado de nível do reconhecimento. Nesse nível deve acontecer o reconhecimento, comparação e nomenclatura das figuras geométricas por sua aparência global (FREITAS, 2006) Aqui o aluno é capaz de identificar formas geométricas, denominá-las, reproduzi-las. Mas, ainda não consegue caracterizá-las de acordo com os seus detalhes, como por exemplo, os lados e os ângulos. Segundo Schirlo e Silva (2006) o segundo nível é a análise. Neste nível o sujeito começa a analisar as figuras geométricas, diferenciando suas propriedades. A criança, no caso, ao identificar o quadrado, relaciona aos lados iguais e ângulos com mesma medida. Verifica-se aqui que a percepção é capaz de deslocar-se do todo para as partes. As características desse nível é a análise das figuras em termos de seus componentes, reconhecimento de suas propriedades e uso dessas propriedades para resolver problemas. De acordo com o mesmo autor abstração ou dedução informal é o terceiro nível. Nesta fase a característica mais importante do pensamento geométrico, é o fato da possibilidade da criança estabelecer inter-relações de propriedades dentro de uma figura e entre outras figuras. Assim, com base nas propriedades a criança terá condições de reconhecer classes de figuras e realizar inclusões de classes. Veja o exemplo: perceber a classe dos paralelogramos e ser capaz de incluí-la na classe dos quadriláteros. Então as definições passam a ter significados, mas a criança ainda não apresenta a capacidade de fazer deduções, nem consegue compreender os axiomas. O quarto nível é a dedução formal. Neste nível há uma evolução do pensamento, onde a criança consegue compreender os axiomas, postulados, definições, teoremas e realizações de demonstrações e deduções. Por Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 exemplo, ocorre a compreensão de que a soma dos ângulos internos de um triângulo é de 180º, com argumentação de axiomas e postulados. Uma criança só consegue atingir esse nível nos últimos anos do Ensino Fundamental. (SANTOS, 2003) De acordo com o mesmo autor, rigor é o quinto nível. Neste estágio a geometria passa a ser vista no plano abstrato. Nível em que a abstração geométrica não-euclidiana é compreendida. O sujeito pode comparar sistemas diferentes, desenvolve sistemas axiomáticos e as relações topológicas mais complexas. Espera-se do aluno neste nível a capacidade de compreender demonstrações formais e o estabelecimento de teoremas em diversos sistemas e comparação dos mesmos. O aluno deve aqui realizar estabelecimento e demonstração de teoremas em uma geometria finita. 3.3 O ensino da Geometria O papel da escola em relação ao ensino da disciplina é qualificar o aluno a desenvolver seu potencial de modo que ele possa criar paralelismos com as suas situações cotidianas. Sendo assim, ela deve estar preparada, metodologicamente e funcionalmente, para atender a estas exigências que basicamente tratam de mudanças essenciais para o interesse e o desenvolvimento matemático do aluno. O cotidiano das pessoas está permeado em larga escala com estes conceitos, de acordo com suas necessidades básicas. Desde os cálculos desgastantes efetuados por um investidor da bolsa ao ato praticado por uma lavadeira de se dobrar a roupa de maneira adequada. Todas as pessoas se utilizam da Matemática em seu cotidiano, por vezes, via raciocínio aritmético e outras raciocínio geométrico. A respeito desse raciocínio geométrico, Fainguelernt (1995) citado por Santos (2003) afirma que a Geometria ativa as estruturas mentais, possibilitando a passagem do estágio das operações concretas para o das operações abstratas. E se este ensino for de qualidade, dando possibilidades aos alunos de entrelaçar os conhecimentos adquiridos dentro de sala com as atividades relacionadas com a resolução de situaçõesproblemas terão capacidade de conhecer e explorar o espaço onde vivem, fazer descobertas, identificar as formas geométricas, etc., além do mais pode contribuir para o desenvolvimento do pensamento crítico e autônomo. Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais: Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Os conceitos geométricos constituem parte importante do currículo de Matemática no ensino fundamental, porque, por meio deles, o aluno desenvolve um tipo especial de pensamento que lhe permite compreender, descrever e representar, de forma organizada, o mundo em que vive. (BRASIL, 1997, p. 55) Porém, a Matemática e os seus diversos ramos não é vista com bons olhos, como Vitti (1999) citado por Santos, França e Santos (2007, p.32-33) afirma: É muito comum observarmos nos estudantes o desinteresse pela Matemática, o medo da avaliação, que pode ser contribuído, em alguns casos, por professores e pais para que esse preconceito se acentue. Os professores na maioria dos casos se preocupam muito mais em cumprir um determinado programa de ensino do que em levantar as idéias prévias dos alunos sobre um determinado assunto. Os pais revelam aos filhos a dificuldade que também tinham em aprender Matemática, ou até mesmo escolheram uma área para sua formação profissional que não utilizasse matemática. Apesar de esse modelo obedecer a uma seqüência, como se estivesse reforçando a aprendizagem da Geometria exclusivamente das partes para o todo, do particular para o geral, sufocando a visão global, ele aponta as lacunas de aprendizagem que o aluno tem e assim o professor poderá organizar-se criativamente na sua prática pedagógica para facilitar a aprendizagem do aluno. Estabelecendo estratégias metodológicas que favoreça a resolução de problemas e a interdisciplinaridade numa visão não linear (SANTOS, 2003). Segundo Serrazina (1996) citado por Hamazaki (2005) os Van Hiele descreveram um modelo de aprendizagem fundamentado numa visão que valoriza a aprendizagem da Geometria como um processo gradual, global e construtivo. Gradual, porque considera que a intuição, o raciocínio e a linguagem geométrica são obtidos gradativamente. Global, porque figuras e propriedades não são abstrações isoladas, relacionam-se e pressupõem diversos níveis que levam a outros significados. Construtivo, porque pressupõem que não existe transmissão de conhecimentos, mas que o aluno deverá construir ele próprio os seus conceitos. Como podemos observar, sem estudar Geometria, os alunos não desenvolvem o pensar geométrico ou o raciocínio visual e, sem essa habilidade, têm comprometidas as suas capacidades de resolverem as situações de vida que forem geometrizadas, abrangendo inclusive, assuntos Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 pertinentes a muitas outras áreas, científicas ou não. Esse conhecimento pode facilitar e clarificar as idéias estabelecendo conexões didático-pedagógicas mais eficientes que a Matemática possui. Somando-se a Geometria, a Álgebra e a Aritmética, teremos grande chances de estabelecer um verdadeiro tradutor da linguagem matemática para o aprendiz. 4. Considerações parciais O abandono da Geometria tem sido um fato marcante na educação. Ao mesmo tempo, esse abandono tem sido motivo de grande preocupação por parte de muitos professores que se incomodam com a situação. Apesar disso, em todo o movimento da Educação Matemática o ensino de Geometria ainda é deixado para segundo plano. Incontestavelmente um círculo vicioso se forma em torno do processo de ensino e aprendizagem de Geometria: alunos que não aprendem Geometria e se tornam professores continuam deixando a Geometria de lado, mesmo dispondo de livros didáticos que trabalham a Geometria de formas variadas e não mais a relegam para os capítulos finais, como acontecia anteriormente. É necessário que se trabalhem as dificuldades, não só dos alunos, mas também dos professores, para que assim se possa contribuir para a construção de seres autônomos. Essa autonomia é conquistada pela segurança diante dos conteúdos que se apresentam como propostas de trabalho. Também há de se pensar que é necessário que o professor veja a Geometria de uma maneira mais ampla, pois só assim despertará nele a preocupação de fazer que seus alunos aprendam este conteúdo. Na atualidade é desafio constante dos bons profissionais da educação (bons professores) buscar, a todo custo, a satisfação em ensinar e, principalmente, a motivação dos seus estudantes em aprender, tentando alcançar o verdadeiro objetivo de um educador: Transmitir seus conhecimentos, buscando desenvolver no estudante seu maior potencial. REFERÊNCIAS WERLANG, Márcia; PAZOS, Rubén Edgardo Panta. A Matemática no Ensino Médio e o esquema de Van Hiele. 2000. 1p. 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[email protected] RESUMO Este trabalho teve como objetivo compreender as dificuldades apresentadas pelos alunos e professores no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. A pesquisa, de revisão bibliográfica, foi realizada através de publicações dos últimos cinco anos. As conclusões apontaram que, há um conjunto de fatores que podem prejudicar a aprendizagem dessa disciplina, como o método de ensino adotado pelo professor, a relação entre os alunos, a relação professor/aluno, o ambiente escolar, o desinteresse do aluno pelos estudos, o despreparo do professor, a história familiar, o relacionamento com a Matemática e as experiências dos alunos e dos próprios professores com essa disciplina. Trata-se de uma pesquisa em andamento. PALAVRAS-CHAVE: matemática; aprendizagem; desafios; professor; aluno. 1. Introdução São muitos os desafios na aprendizagem da Matemática. E estes desafios indiretamente envolvem toda a comunidade escolar, principalmente professores e alunos. A Matemática comporta um amplo campo de relações, regularidades e coerências que despertam a curiosidade e instigam a capacidade de generalizar, projetar, prever e abstrair, favorecendo a estruturação do pensamento e o desenvolvimento do raciocínio lógico, fazendo parte da vida de todas as pessoas. No entanto, muitas vezes os alunos não compreendem a importância dessa disciplina para a vida. É imprescindível fomentar essa abordagem envolvendo alunos e professores. Segundo Vitti (1999, p. 32-3), citado por Santos, França e Santos (2007, p. 15). É muito comum observarmos nos estudantes o desinteresse pela Matemática. O medo da avaliação pode ter sido contribuído, em alguns casos, por professores e pais(...). Os professores, na maioria dos casos, se preocupam muito mais em cumprir um determinado programa de ensino do que em levantar as idéias prévias dos alunos sobre um determinado assunto. Os pais revelam aos filhos a dificuldade que também tinham em aprender Matemática ou até mesmo escolheram uma área para sua formação profissional que não utilizasse Matemática. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Segundo D‟ambrósio (1997) citado por Silva, Geraldo e Ricci (2008. p. 2) “ninguém poderá ser um bom professor sem dedicação, preocupação com o próximo, sem amor num sentido amplo. O professor passa ao próximo aquilo que ninguém pode tirar de alguém. O conhecimento só se dá por meio de uma doação”. Este estudo levou-me a questionamentos sobre o processo de ensino e aprendizagem da Matemática no Ensino Fundamental: como os alunos pensam sobre essa disciplina e seu ensino? Como suas concepções foram constituídas ao longo desse período escolar? Quais os desafios mais urgentes na aprendizagem da Matemática? Qual a melhor forma de estudar Matemática? Seria este o maior desafio no ensino da Matemática nas escolas hoje? A Matemática tem mesmo importância no cotidiano das pessoas? Nessa linha de pensamento, o objetivo deste estudo foi compreender os desafios da aprendizagem de Matemática no ensino fundamental. Com este estudo pretendemos contribuir para uma reflexão no que se refere ao ensino e à aprendizagem da Matemática a fim de que os professores criem alternativas para tornar o ensino dessas disciplina menos desafiador. 2. Metodologia Este estudo se constitui numa pesquisa de revisão bibliográfica. Esta é um procedimento metodológico que se oferece ao pesquisador como uma possibilidade na busca de soluções para seu problema de pesquisa. Trabalhar com a pesquisa bibliográfica significa realizar um movimento incansável de apreensão dos objetivos, de observância das etapas, de leitura, de questionamentos e de interlocução crítica com o material bibliográfico, e que isso exige vigilância epistemológica (LIMA e MIOTO, 2007). Destacamos que este estudo apresenta resultados parciais, haja vista que se caracteriza numa pesquisa ainda em andamento. 3. O ensino da Matemática: os desafios da aprendizagem dessa disciplina para alunos e professores 3.1 O ensino da Matemática e a docência O conhecimento matemático e sua atitude pedagógica foram sendo modificados através de pesquisas e de discussões acerca de sua eficiência, bem como de sua aplicabilidade ao cotidiano e a função social da construção do raciocínio matemático. As dificuldades de aprendizagem, as deficiências no Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ensino de Matemática constituíram, já há algum tempo, preocupações para os estudiosos cujas investigações são dedicadas às questões inerentes à aplicação de metodologias no ensino da Matemática. Dias e Ferreira (2009) afirmam que a defasagem professor-alunoaprendizagem de Matemática continua um tópico permeado de indagações quanto ao fazer docente, mas recursos existem e devem ser viabilizados em prol da melhoria da educação. Para Silva, Geraldo e Ricci (2008, p. 2) “a pessoa que se propõe a ensinar tem que promover a motivação, pois pode-se aprender sem escola, sem professor, sem material, porém sem motivação nada se aprende”. A arte de raciocinar é realmente fundamental no processo de aprendizagem e é, sem dúvidas, produto da motivação e do encorajamento. Santos, França e Santos (2007) afirmam que a Matemática precisa ser ensinada usando estímulos da capacidade de investigação lógica do aluno, fazendo-o raciocinar. Sabemos que qualquer aprendizado é um desafio. É algo novo, uma descoberta. No caso da Matemática não é diferente. Reis (2007) nos relata que os maiores desafios na aprendizagem da Matemática são as dificuldades por parte dos alunos em lidar com a disciplina, falta de motivação de professores e alunos, o rigor matemático, a falta de ligação entre a Matemática escolar e o cotidiano dos alunos. O aluno acredita que, o professor qualificado é aquele que irá enfatizar sua compreensão, preparar atividades interessantes que possam realmente treinar o seu raciocínio e empolgá-lo para o estudo desenvolvendo conceitos, mostrando exemplos e aferindo correções sempre que necessárias. Quando isso não ocorre, vem a desmotivação seguida de não aprendizado. Silva, Geraldo e Ricci (2008) apontam o grande desafio é estabelecer critérios de aprendizagem através de experiências vivenciadas pelos próprios alunos e professores. Paz Júnior (2008) esclarece que a atitude educativa autêntica não consiste somente dos problemas pedagógicos e sim em encontrar a melhor solução possível, em presença dos diferentes fatores encontrados na Matemática. Segundo Paz Júnior (2008, p. 2) a falta de tempo do educador leva-o a certos impedimentos de modificar sua prática pedagógica tendo como referencial um plano que sane as dificuldades diárias. É esse obstáculo na vida Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 do professor, especificamente o de Matemática, que o faz viver em constante reflexão acerca de quão grande problemática. Para resolução dessa lacuna talvez seja necessária uma mudança de comportamento de todos os envolvidos nesse contexto. O fato de a aprendizagem da Matemática ser considerada difícil não deve ser atribuído somente ao professor e não podemos esperar somente dele rumos diferentes. Sobre isso coloca Vasconcelos (2009, p. 12) citado por Dias e Ferreira (2009, p. 5): Não se muda o ensino da Matemática de um dia para o outro. É necessário um planejamento a médio e longo prazo, uma execução paciente ao longo de muitos anos, com a participação ativa indispensável de todas as pessoas com relação direta ou indireta com o ensino da Matemática. As conclusões de “conceitos matemáticos” talvez sejam no momento um dos pontos mais críticos dentro do ensino da disciplina e que são questionados pelos alunos e por todos. O papel do professor de encorajar o aluno para que ele ganhe confiança em suas capacidades de resolução e conclusão é de suma importância na aprendizagem. Dias e Ferreira (2009, p. 10) afirmam que: Quando são apresentadas às crianças tarefas que fazem sentido para elas, encorajando-as a resolvê-las e discuti-las, as crianças, em vez de seguirem procedimentos que tenham sido apresentados pelo professor, desenvolvem uma variedade de estratégias para alcançar a solução. Numa situação desafiante, os alunos utilizam os conhecimentos que já têm para desenvolver raciocínios com significado pessoal. Percebe-se que os conceitos matemáticos às vezes não fazem muito sentido para os alunos, mas o encorajamento por parte do professor é indispensável. Quando os alunos têm incentivos eles resolvem questões complexas. Isso não tira a importância de saber de conceitos matemáticos, mas demonstra que a Matemática é uma disciplina que se ensinada dentro da realidade pode surtir efeitos significativos para a aprendizagem do aluno. Os conceitos matemáticos não são de fácil aprendizagem. Este ponto relevante no processo de ensino e aprendizagem da Matemática nos é relatado por Parra e Saiz (2001, p. 43) citado por Dias e Ferreira (2009, p. 8): Os conceitos matemáticos não são aprendidos de um momento para o outro. Os programas com capítulos estanques dificultam a Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 assimilação lenta; entretanto, é muito difícil ensinar de forma que cada aluno possa ir interiorizando à sua própria velocidade. É necessário um envolvimento direto, uma participação ativa, tanto em cada momento de estudo quanto ao longo do ano escolar: é preciso voltar várias vezes ao mesmo assunto, de preferência seguindo ângulos de abordagem diversificados para se poder aprender um conceito (HUETE e BRAVO, 2006, p. 51, citado por DIAS e FERREIRA, 2009, p. 8-9). Miguel também trata desse assunto: Há que se apontar para um quadro de carência praticamente generalizado no contexto educacional brasileiro: a necessidade de se repensar a educação matemática no sentido de uma orientação pedagógica que possa conduzir o aluno para uma assimilação compreensiva dos conceitos fundamentais e de uma contextualização da aprendizagem matemática. Trata-se, então, de desmistificar a idéia de que passar conteúdo para o aluno é o único papel da escola, o que, no caso da aprendizagem Matemática, conduz o aluno a uma ação mecânica, estática e enfadonha, voltada inteiramente para a memorização. (MIGUEL, 2006, p. 384) Segundo Silveira (2002) a Matemática ocupa o lugar das disciplinas que mais reprova o aluno nas escolas. A justificativa que a comunidade escolar dá a esta "incapacidade" do aluno com esta área do conhecimento é que a Matemática é difícil e o senso comum confere-lhe o aval. Verificar as dificuldades apresentadas pelos alunos em aprender Matemática é uma tarefa fácil, é perceptível essa defasagem apresentadas por eles. Mas não é tarefa simples diagnosticar o problema nem a sua dimensão. O fato é que o desafio é para todos. 3.2. O ensino da Matemática: alguns fatores Buscando compreender os fenômenos que envolvem a aprendizagem da Matemática, alguns estudos possibilitaram-me a observação de pontos relevantes dentro deste contexto. Entre eles o de Miguel (2006) que afirma que o ensino de Matemática deve conduzir os alunos à exploração de uma grande variedade de idéia. Dobrowlski e Pinto (2009. p. 6) destacam que: a Matemática é uma disciplina indispensável para o dia-dia, principalmente no contexto econômico em que se vive atualmente, onde invariavelmente se discutem valores, custos, medidas, entre outros. Porém, comumente ouve-se, seja de estudantes, ou de profissionais de diversas áreas, que a sua relação com a Matemática é desconfortável e desmotivadora. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 De acordo com Daher e Moraes (2007) é crescente a idéia de que o desenvolvimento da capacidade de resolver problemas em Matemática tem repercussões na formação global de qualquer indivíduo e de maneira diversificada. E ainda, analisando as atitudes e as concepções dos alunos pais e professores é possível orientar o ensino desta disciplina de modo a torná-la uma experiência escolar de sucesso. A estratégia de utilizar as concepções dos alunos, pais e professores podem até surtir alguns efeitos positivos mais não são muitos. Em uma sala de aula, há sempre um número de alunos bastante elevado dificultando para o professor ouvir seus alunos. Rodrigues et. al (2008) afirmam que para que a educação se concretize e se mude a percepção é necessário trabalhar com exemplos locais que as pessoas conheçam, pois o que é pertinente ao cidadão é mais fácil de ser reconhecido e assimilado. Para o professor não é o bastante saber Matemática, é preciso saber ensinar Matemática. Por vários momentos encontramos professores se esbanjando o saber e o prazer que tem em trabalhar com Matemática. No entanto, na concepção de seus alunos, essa disciplina é a maior vilã e algo totalmente sem sentido. Segundo Miguel (2006) o desinteresse e o baixo rendimento dos alunos em Matemática, historicamente decorrente da forma tradicional de veiculação do conhecimento matemático, contrastam com o conteúdo lúdico e a beleza formal da Matemática. Vários fatores podem levar ao desinteresse por parte do aluno. Mas, a forma como o professor media os conteúdos é decisivo para tal. Também não podemos generalizar esta questão, uma vez que esses profissionais têm todo um plano de ensino a cumprir. E por esse motivo não “sobra” tempo para pensar em novas formas de trabalhar seus alunos. Para Daher e Moraes (2007) a sala de aula não é um ponto de encontro de alunos com um professor sábio, mas sim um espaço em que os conhecimentos do senso comum são considerados e a Matemática é aplicada a situações prática onde são adquiridos conhecimentos sistematizados. Para atingir estes objetivos, segundo Schneider (2007) o processo de ensino e aprendizagem da Matemática deve acontecer na construção do pensamento lógico, despertando o espírito da investigação, além de fornecer elementos básicos para a participação do aluno na vida em sociedade. E para isso, o professor deve fazer da sala de aula um laboratório, levantando sempre situações-problemas que os instigue. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A dimensão a que se comporta a Matemática e suas relações são amplas, coerentes e desperta a curiosidade levando seus adeptos a instigarem suas capacidades de generalização, projeção, prevenção e até abstração. Mas no que tange a sua aquisição de conceitos, domínio de procedimentos e desenvolvimento de atitudes são aspectos, segundo Paz Júnior (2009, p. 4), “relativos a cada aluno e dependem diretamente de como o professor atua quanto ao dimensionamento dos conteúdos, práticas pedagógicas e as condições em que se processam o trabalho em seu ensino”. Para Rangel (1992) citado por Daher e Moraes (2007, p. 15) “o grande erro do ensino da matemática tem sido o de estar voltado para a aprendizagem superficial de regras e de toda a linguagem de sinais operatórios”. Nesse sentido, coloca Dobrowolski e Pinto (2009) que a inquietação com relação ao aprendizado da Matemática é o fato que não se pode limitar a escrever no quadro negro o simbolismo da disciplina, uma vez que os educandos, em geral, apenas aprendem as fórmulas, ou as teorias abstratas, fora de sua aplicabilidade prática. O professor se vê diante de uma constrangedora situação. Não dá para descrever a Matemática e sua importância em pequenos parágrafos. Precisamos aprender a olhar a Matemática, compreendê-la e relacioná-la com o nosso cotidiano. Uma vez que conceitos matemáticos estão intimamente relacionados com a experiência podemos então entender que o aluno pode ter sua própria maneira de percebe-la e conceituá-la. O professor precisa estar atendo a isso. Entende-se que o ser humano que não sabe matemática, certamente, não se dará bem no convívio social. Ela é uma disciplina que está constantemente na vida de todos e em qualquer circunstância, como no dia do nascimento, na hora de acordar, dormir, na hora do almoço, no produto que compramos, na hora do trabalho, no comércio, nos livros, etc. Em tudo ela está presente. Segundo Feynman (2002. p. 2) Um arquiteto dirá que a Matemática é útil para auxiliar a percepção e a criação da beleza, um engenheiro dirá que é útil para reforçar e aprovar experiências, um físico dirá que é útil por ser a linguagem da ciência, um político dirá que a Matemática orienta-o na administração e na implementação de leis, um psicólogo afirmará que auxilia-o no tratamento estatístico de inquéritos, um matemático mostrará que um corpo matemático é útil quando for aplicável a outro corpo. A Matemática é um saber necessário a todas as disciplinas e ciências, devido ao seu rigor. Deste modo se mostra que as outras ciências não se desenvolveriam se a Matemática não existisse e não fosse estudada. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Portanto, a Matemática é fundamental a todas as ciências e nesse sentido é que precisam ser criadas estratégias para ensiná-la em todo e qualquer contexto social e de aprendizagem. 4. Considerações finais A percepção que tive é que as dificuldades de aprendizagem da Matemática enfrentadas pelos alunos são oriundas de vários fatores. Ora é o desinteresse do aluno, ora parte do professor, de sua desmotivação, de seu despreparo, de sua falta de percepção, de seu tempo e de um plano de aula imposto a ser seguido por ele em contradição à realidade do aluno. Essas dificuldades podem ser acentuadas pelas condições da própria entidade educacional no que se refere às suas condições físicas e suas instalações, bem como a concepção dos gestores da escola e a forma de orientar o trabalho de seus professores ao longo do ano letivo. O que mais me instigou neste trabalho foi a descoberta de que os desafios de aprendizagem da Matemática não são somente produto de um desinteresse do aluno, mas de todo um contexto que o envolve. O fato de o aluno muitas vezes não compreender a importância dessa disciplina para a vida tem fundamentos arraigados que, às vezes, o professor não se dá conta. REFERÊNCIAS DAHER, Álvaro; MORAIS, Guilherme de. Os desafios da aprendizagem Matemática. Disponível em: http://www.somatematica.com.br/artigos.php. Acesso em: 29. jul. 2010. DIAS, Maria Aparecida; FERREIRA, Rozimar Gomes da S. Reflexões sobre o Ensino-aprendizagem da Matemática: o papel do professor. Disponível em: http://www.evata.com.br/downloads/MODELO%20DE%20ARTIGO%20DE%20 REVISAO.doc. Acesso em: 23. dez. 2009. REIS, Leonardo Rodrigues dos. Rejeição à Matemática: causas e formas de intervenção. Disponível em: http://www.matematica.ucb.br/sites/000/68/00000015.pdf. Acesso em: 15. jan. 2010. 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Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 COERÊNCIA DO PROCESSO DE AVALIAÇÃO DE APRENDIZAGEM ADOTADO POR UMA PROFESSORA DO 5° ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL DE UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL NO MUNICÍPIO DE MANHUAÇU- MG Josélia Maria Amancio e Ana Paula Costa Silva- acadêmicas do curso de Pedagogia pelo Centro Universitário de Caratinga - UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO O estudo tem como objetivo identificar o método de avaliação utilizado por uma professora do 5° ano do Ensino Fundamental, de uma escola pública estadual da cidade de Manhuaçu. Os instrumentos de coleta de dados foram a observação participante e a entrevista. O processo de avaliação deve ser pensado de acordo com o nível de conhecimento da classe, levando em consideração a realidade de cada um, sendo bem planejadas e reelaboradas, caso seja necessário, para que não seja vista como uma prática classificatória e excludente, mas sim como um instrumento que auxilia o professor a perceber o rendimento da turma. Trata-se de uma pesquisa em andamento. PALAVRAS-CHAVE: avaliação; ensino fundamental; aprendizagem. 1. Introdução Como alunas do curso de Pedagogia, optamos por realizar esta pesquisa sobre avaliação porque acreditamos que seja esse um assunto de grande relevância para o desenvolvimento do educando. Escolhemos refletir sobre avaliação da aprendizagem do 5º ano pelo fato de nas séries anteriores, frequentemente, os alunos são aprovados para a série seguinte, mesmo quando não obtiveram conhecimento satisfatório. Já no 5º ano, esses alunos têm que conseguir um nível adequado de aprendizagem para passarem para a série seguinte. É muito importante que o ato de avaliar não esteja, necessariamente, ligado ao conjunto de técnicas e normas, mas à compreensão, à análise e à reflexão crítica da nossa prática pedagógica no cotidiano da escola (QUEIROZ, 2008). Segundo Hoffmann (2009, p.56): A avaliação, enquanto relação dialógica vai conceber o conhecimento como apropriação do saber pelo aluno e também pelo professor, como ação-reflexão-ação que se passa na sala de aula em direção a um saber aprimorado, enriquecido, carregado de significados, de compreensão. Dessa forma, a avaliação passa a Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 exigir do professor uma relação epistemológica como o aluno – uma conexão entendida como reflexão aprofundada a respeito das formas como se dá a compreensão do educando sobre o objeto do conhecimento. As questões que neste estudo atentamos-nos são: como é a avaliação da aprendizagem dos alunos do 5° ano no ensino fundamental de uma escola da rede pública do município de Manhuaçu? Questões periféricas: como são planejadas as avaliações desses alunos? Os resultados obtidos através da metodologia empregada para a avaliação estão sendo satisfatórios? Nosso objetivo é identificar a coerência da avaliação do processo de ensino e aprendizagem adotado por professores do 5° ano do ensino fundamental de uma escola pública estadual no município de Manhuaçu, Minas Gerais. Com este estudo pretendemos contribuir com a discussão dos obstáculos e desafios no aperfeiçoamento dos métodos avaliativos, para que os profissionais, notadamente os professores, sensibilizem-se com relação ao lugar da avaliação da escola. 2. Revisão bibliográfica Para haver uma aprendizagem significativa, é essencial que o olhar do professor em relação à avaliação não esteja centrado em critérios próprios e rígidos, absolutos, incapaz sequer de uma aproximação com o pensar da criança, do jovem ou do adulto, dos seus valores ou expectativas (HOFFMANN, 2003). Silva e Silva (2008) realizaram um estudo de revisão bibliográfica com o objetivo de discutir as razões da dicotomia entre o discurso e as práticas avaliativas, buscando identificar quais os fatores que têm contribuído para a não ocorrência de mudanças significativas nestas práticas. O processo avaliativo deve ser um debate coletivo coordenado pelos professores, não devendo ser imposto pelas instâncias governamentais. A reflexão sobre as práticas avaliativas na escola é uma das etapas a ser estabelecidas para a superação de práticas classificatórias e excludentes. Transformar a prática avaliativa prescinde explicitar nosso entendimento sobre a educação a partir de sua concepção, fundamentos, organização e suas relações com a sociedade. Araújo (2009) também realizou um estudo de revisão bibliográfica visando refletir sobre o papel da avaliação do desempenho escolar e, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 sobretudo da educação, tendo consciência de que para aceitar o grande desafio do desenvolvimento, não é possível obter êxito sem o alicerce de um povo que se educa para a cidadania. Segundo ela, as posições rígidas, vigentes nas escolas não são eficazes para que os alunos adquiram conhecimento, que é o fator principal da nova sociedade globalizada. O centro da inteligência é aprender a aprender, saber pensar, ser crítico e analítico. Esse deve ser o centro da educação e é dentro dessa perspectiva que a avaliação do desempenho escolar deve ser concebida. Tendo como sujeito a equipe profissional da escola e alunos da escola pública, Queiroz (2008) realizou um estudo com a finalidade de fomentar uma reflexão entre professores, gestores escolares e coordenadores pedagógicos sobre a concepção de avaliação da aprendizagem aplicada ao aluno. Os resultados apontam que a escola pública só irá melhorar em todos os aspectos e, principalmente na avaliação da aprendizagem escolar quando ela entender de fato que por ser pública e democrática, é de todos. Partindo do mesmo princípio, Macedo (1994) realizou um estudo de revisão bibliográfica com intuito de analisar como fazer a avaliação da produção ou construção de um conhecimento na escola. Uma é a que analisa a criança como sujeito epistêmico e outro como sujeito psicológico (INHELDER E CELFERIER,1992). A primeira propõe uma análise estrutural e a segunda uma análise funcional, ambas baseadas no construtivismo de Piaget. Ser construtivista é produzir conhecimento em um contexto em que o diálogo, a confrontação de pontos de vista, o entrechoque de idéias estão sempre presentes. Ainda com base nos estudos de avaliação da aprendizagem Hoffmann (1994) realizou um estudo de revisão bibliográfica com objetivo de mostrar que a visão comportamentalista dos professores parece manifestar-se de forma radical em sua prática avaliativa, sendo muito grave a resistência dos mesmos em perceber o autoritarismo inerente a tal concepção. Ela buscou investigar o significado da avaliação enquanto relação dialógica na construção do conhecimento, privilegiando a feição de mediação sobre informação na avaliação do aluno e buscando a compreensão da prática avaliativa dos professores. Nos trabalhos observados a respeito do tema avaliação de aprendizagem, os estudos não foram realizados com base no trabalho de campo, que é o único método que atesta a veracidade dos dados Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 apresentados, afinal, é necessário aliar teoria e prática. Somente no estudo de Queiroz foi realizado, porém a pesquisa não se apresentava com riqueza de detalhes. Destacamos que este estudo apresenta resultados parciais, haja vista que se caracteriza numa pesquisa em andamento. 3. Referencial teórico Para fundamentar a nossa pesquisa, abordaremos os seguintes conceitos: avaliação, prova e erro, pois são fatores polêmicos ao se tratar do processo de ensino e aprendizagem. Segundo Perrenoud (1999, p.10) “a avaliação está no âmago das contradições do sistema educativo, constantemente na articulação da seleção e da formação, do reconhecimento e da negação das desigualdades”. Para Luckesi (2000, p.170) “a avaliação da aprendizagem escolar auxilia o educador e o educando na sua viagem comum de crescimento e a escola na sua responsabilidade social. Educador e educando, aliados, constroem a aprendizagem na escola, e de aqui à sociedade”. Vasconcellos (1995, p.29), afirma que “a avaliação não seria este “bicho de sete cabeças” se não houvesse o respaldo legal para a reprovação do aluno por parte do professor. Objetivamente, no sistema educacional, a avaliação é hoje o instrumento de controle oficial, o “selo” do sistema, o respaldo legal para a reprovação/aprovação, para o certificado, para o diploma, para a matrícula, etc.”. Para os autores mencionados, avaliar é conhecer o nível de conhecimento que o aluno apresenta e suas dificuldades. Para isso, a avaliação deve estar sempre ligada à aprendizagem, ajudando os alunos a serem cidadãos críticos e conscientes, não devendo ser utilizada somente para aprovar ou reprovar, separando os aptos dos não aptos. Outro conceito muito importante é o da prova. Vasconcellos (1991, p.62) afirma que “a prova é apenas uma das formas de se gerar nota, que, por sua vez, é apenas uma das formas de se avaliar. Assim, podemos atribuir nota sem ser por prova, bem como podemos avaliar sem ser por nota”, então Vasconcellos fala que há outros meios de avaliar o conhecimento do aluno. Hoffman (1991, p.57) afirma que “toda e qualquer tarefa realizada pelo aluno deveria ter por intencionalidade básica a investigação. O teste é Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 fundamentalmente um instrumento de questionamento sobre as percepções de mundo, avanços ou incompreensões dos alunos. Exige do professor uma tarefa séria de interpretação”. A partir de tudo o que aqui abordamos, percebemos que há vários meios de se avaliar o conhecimento do aluno, algo que se comprova nas salas de aula, pois muitos professores avaliam através de trabalhos, conceitos, exercícios e outros; porém, ainda prevalece na maioria das escolas a avaliação através de provas, que os mais conservadores dizem ser o método mais eficaz de se “testar” o conhecimento dos alunos. No entanto, há controvérsias sobre isso, pois nem sempre um aluno que tem um bom desempenho nas provas é porque sabe mais do que outro que não se saiu tão bem assim. O nervosismo, por exemplo, pode comprometer o resultado e, algumas vezes, as notas boas das provas são frutos de práticas ilícitas. Além disso, vale ressaltar que, nos dias de hoje, faz-se necessário realizar avaliações de trabalhos em equipe, bem como da convivência dos alunos uns com os outros, preparando-os desde a mais tenra idade para o mercado de trabalho que preza muito as boas relações sociais, a liderança e a disciplina. Outro conceito importante para a nossa pesquisa é o erro, pois “se valorizarmos os “erros” dos alunos, considerando-os essenciais para vir a ser do processo educativo, temos de assumir também a possibilidade das incertezas, das dúvidas, dos questionamentos que possam ocorrer conosco a partir da análise das respostas deles, favorecendo, então, a discussão sobre essas idéias novas ou diferentes” (HOFFMANN, 1991, p.62). Essa autora ressalta que o “erro” pode vir a ser significativo para o aluno, tornando-se aprendizagem. Saber lidar com o erro é algo que pode contribuir muito no crescimento do aluno, pois corrigir o erro implica em amadurecer e, para que isso ocorra, é importante que o professor aponte onde o errou do aluno e justifique o porquê, para que ele descubra por si mesmo como consertar. Compreendendo, provavelmente não repetirá. O aluno necessita de lidar com o erro a cada dia, pois é saudável que ele saiba superar suas frustrações e perceba que ele será uma constante em seu processo de ensino e aprendizagem que perdurará por toda a sua vida. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 As colocações de todos os autores completam-se, pois o aprendizado escolar não ocorre somente com o aluno, afinal aprende junto ao professor, e a avaliação escolar é primordial para complementar esse processo. 4. Metodologia Essa pesquisa qualitativa foi realizada no primeiro semestre de 2010, tendo como sujeitos professores e alunos do 5° ano do Ensino Fundamental numa escola pública estadual do município de Manhuaçu, também realizamos entrevistas semi-estruturadas e observações participantes com os sujeitos da pesquisa. Segundo Bogdan e Biklen (1994, p.134),“a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma idéia sobre a maneira como o sujeito interpretam aspectos do mundo”. Na observação participante, o investigador geralmente já conhece os sujeitos, de modo que a entrevista assemelha-se muitas vezes a uma conversa entre amigos. Nesse caso, não se pode separar facilmente a entrevista das outras atividades de investigação (BOGDAN e BIKLEN, 1994). O município de Manhuaçu possui aproximadamente 74.297 habitantes e sua principal atividade econômica é a cafeicultura (IBGE, 2007). Destacamos que este estudo apresenta resultados parciais, haja vista que se caracteriza numa pesquisa em andamento. 5. Avaliação a aprendizagem A avaliação de aprendizagem é realizada de diversas formas, de acordo com as práticas pedagógicas e com a metodologia utilizada por cada professor. Sobre isso, Hoffmam (1991) afirma que toda e qualquer tarefa realizada pelo aluno deveria ter por intencionalidade básica a investigação. O teste é fundamentalmente um instrumento de questionamento sobre as percepções de mundo, avanços ou incompreensões dos alunos e exige do professor uma tarefa séria de interpretação. Segundo a professora, os alunos são avaliados cotidianamente, em tudo que eles desenvolvem na sala de aula, tais como: atividade oral, prova escrita, participação nas aulas, sempre aproveitando aquilo que o aluno tem de conhecimento prévio, respeitando-se a singularidade de cada um deles. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Nesse sentido, durante as observações, percebemos que a professora, durante suas aulas, constantemente desafia os alunos, trabalhando com eles de forma dinâmica, despertando em todos o interesse de aprender, através de historinhas, testes que avaliam o raciocínio lógico, músicas, jogos pedagógicos. Além disso, valoriza muito a presença, a participação e a pontualidade dos alunos, bem como o cumprimento das tarefas estipuladas. Diante isso, constatamos que o que a professora diz fazer é exatamente o que observamos na sala de aula. Observamos que ela utiliza frases do dia, é dinâmica, faz combinados com a turma, desafios e, até ao chamar atenção dos alunos, ela canta “Pa-raram-pa” e os alunos juntos respondem “pam-pam”. Percebemos ser tudo isso muito importante e que os resultados obtidos dessa maneira são satisfatórios, pois os alunos mostravam-se motivados, sendo participativos nas atividades e apresentando baixo índice de alunos faltosos. A função da avaliação no ensino escolar está ligada à qualidade e às condições de aprendizagem oferecidas; como os professores ajudam nas dificuldades de seus alunos e o nível de compreensão deles sobre determinado tema ou disciplina. Por isso, é importante que a avaliação seja administrada da melhor forma possível, indo ao encontro dos interesses e necessidades dos alunos. Assim, é fundamental que a prova não seja vista como único método de avaliação do aluno; afinal, muitas vezes, desperta sentimentos como: medo, segurança e deixa-o desmotivado, pois nem sempre consegue obter um rendimento satisfatório diante da mesma, embora, muitas vezes, o aluno se esforce e tenha conhecimento sobre o assunto. Muitas vezes, a prova é vista pelos alunos como algo desnecessário, pois os conteúdos estipulados nelas frequentemente lhes parecem inúteis e difíceis de serem assimilados. Embora seja um dos instrumentos de avaliação mais utilizado pelos docentes, é preciso haver outros instrumentos, pois ela não é suficiente para testar se um aluno aprendeu ou não. Muitas vezes, a nota é comportamentalista e não leva em consideração o desempenho do aluno. Diante disso, Luckesi (1994) fala que os professores utilizam as provas como instrumentos de ameaça e tortura prévia dos alunos, protestando ser um elemento motivador da aprendizagem. Nesse sentido, a professora colocou: Os alunos mostram-se tranqüilos, seguros e agem com concentração. Não faço terrorismo, ajo naturalmente com eles; não os pressionando quanto à realização das provas. (professora - Maria Flor) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Observamos que, no dia da prova de história, a professora entregou-lhe aos alunos, de carteira em carteira, e eles demonstravam-se um pouco apreensivos e com medo de não se saírem bem. A avaliação era de múltipla escolha. Os discentes liam concentradamente a prova, enquanto a docente recomendava-lhes repetidamente sobre bem interpretarem a prova. A classe permanecia em total silêncio, devido à forma como Maria Flor conduzia as aulas e lhes proporciona relativo bem estar. São muitas as estratégias que ela utiliza em uma sala de aula, para que haja melhor aprendizado. Nesse sentido, a comunicação oral, isto é, ouvir a opinião dos alunos, perceber o que eles aprenderam ao longo do tempo, permitindo que eles se expressem, avaliando assim o conhecimento deles, bem como o nível de dificuldade que apresentam. Além disso, o conhecimento pode ser percebido através da produção escrita, que a professora acredita também ser muito importante. Ao elaborar uma prova deve-se levar em consideração as dificuldades, a realidade e o nível do aluno, para que sejam alcançados com sucesso os objetivos da prova. Sobre a elaboração da prova, a entrevistada disse: Os descritores: que tipo de habilidade quero que o aluno desenvolva, se sabe responder, intervir no caso. Avalio se o aluno tem capacidade de resolver a prova sem a minha ajuda. (professora, Maria Flor) Para Luckesi (1998), o conceito "avaliação" é formulado a partir das determinações da conduta de atribuir um valor ou qualidade a alguma coisa, ato ou curso de ação, que por si, implica um posicionamento positivo ou negativo em relação ao objeto, ato ou curso de ação avaliado. Diante disso, pudemos concluir que é indispensável o uso da prova, pois é através dela que percebemos o nível de conhecimento do aluno, por isso é preciso que seja bem elaborada e que o professor faça as intervenções adequadas. Sobre isso, Vasconcellos (1994) afirma que a prova é apenas uma das formas de se gerar nota que, por sua vez, é apenas uma das formas de se avaliar. Assim, podemos atribuir nota sem ser por prova, bem como podemos avaliar sem ser por nota. Assim como o autor, a professora não acredita que a prova deve ser o único instrumento a ser utilizado. Diz a professora: Prova não mede o conhecimento do aluno, pois o seu resultado depende do seu estado emocional, estado psíquico, ela não pode ser excluída, deve ser valorizado, não como principal método. (professora - Maria Flor) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 São muitos os desafios de se avaliar, pois temos de conciliar, a matéria com o conhecimento obtido e prévio dos alunos e a diversidade em meio à classe. Luckesi (1998) afirma que, para não ser autoritária e conservadora, a avaliação terá de ser diagnóstica, ou seja, deverá ser o instrumento dialético do avanço, terá de ser o instrumento de identificação de novos rumos. Enfim, terá de ser o instrumento do reconhecimento dos caminhos percorridos e da identificação dos caminhos a serem perseguidos. Ainda sobre esse assunto a entrevistada relata que: A falta de maturidade dos alunos que são muito imaturos para certas situações que você precisa trabalhar com eles. (professora - Maria Flor) O desafio de avaliar está diretamente ligado à falta de interesse dos alunos, por isso cabe aos professores planejar aulas interativas, dinâmicas e informativas, afinal o processo de avaliar deve ser algo prazeroso para professor e aluno que devem aprender juntos em uma contínua troca de experiências. 6. Considerações parciais A avaliação escolar é um grande desafio enfrentado no cotidiano da sala de aula: como julgar se o outro sabe ou não, se está bem preparado ou não, para desenvolver uma atividade avaliativa? Por isso, o processo avaliativo deve ser contínuo e cumulativo, utilizando os resultados obtidos através dessas atividades a favor da aprendizagem de qualidade e significativa para ampliar o conhecimento de cada indivíduo. Acreditamos que só assim a avaliação deixará de ter pontos desgastantes tanto para os alunos quanto para os professores e passará a ser vista como algo bom e positivo para os mesmos. REFERÊNCIAS ARAUJO, Andréa Cristina Marques. A avaliação do desempenho escolar como ferramenta de exclusão social. Disponível http:// www.ccuec.unicamp.br Acesso em 09. set. 2009. BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sári. Investigação qualitativa em educação: uma introdução as teorias e aos métodos. Portugal: Porto editora 1994. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Estimativa de população. Instituto brasileiro de geografia e estatística (IBGE) 14 de ago. de 2009. Disponível em http://www.ibge.gov.br. Acesso em: 22out.2009. HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma relação dialógica na construção do conhecimento. Disponível em www.crmaricovas.sp.gov.br. Acesso em: 26.ago.2009. HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Pontos e contrapontos do pensar ao agir em avaliação. 7.ed. Porto Alegre: Mediação , 2003. HOFFMANN, Jussara Maria Lerch. Avaliação mediadora: uma prática em construção da pré-escola à universidade. Porto Alegre: Educação e realidade, 1993. 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[email protected] RESUMO Este estudo teve o objetivo de compreender o lugar do professor no processo de ensino e aprendizagem nos anos iniciais no ensino fundamental de uma escola pública municipal de uma cidade do leste de Minas Gerias. A pesquisa qualitativa teve como instrumentos de coleta de dados a observação participante e a entrevista. Constatamos que existem fatores decisivos para compreendermos o lugar do professor no processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita, dentre eles destacamos a relação da família com a escola, a metodologia ensinada pelo professor dentro da sala de aula e a postura desse professor com seus alunos. Trata-se de uma pesquisa em andamento. PALAVRAS-CHAVE: Professor; Processo de ensino e Aprendizagem; Fatores. 1.Introdução Como estudantes do curso de Pedagogia a partir da observação das aulas de OPTSA (Organização do Processo de Trabalho na Sala de aula), descobrimos fatores relevantes para o sucesso da criança no seu processo de escolarização. Então viemos falar do processo de ensino e aprendizagem, uma tarefa que envolve a compreensão da leitura e escrita. A educação acompanha-nos durante toda a vida, pois sempre estamos aprendendo coisas novas e, portanto, o proceso de ensino e aprendizagem é um conteúdo exclusivo e um meio também de se trabalhar conteúdos específicos. Para que isso aconteça, é imprescindivél o papel do educador que, interagindo com os alunos, planeja e propicia a prática educativa e as formas de ação e conhecimento do aluno. Segundo Ferreiro (1999, p. 23): há crianças que chegam a escola sabendo que a escrita serve para escrever coisas inteligentes, divertidas ou importantes. Essas são as que terminam de alfabetizar-se na escola, mas começaram a alfabetizar muito antes, através da possibilidade de entrar em contato, de interagir com a língua escrita. Há outras crianças que necessitam da escola para apropriar-se da escrita. Diante disso, este estudo buscou ilucidar as questões do processo de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ensino e aprendizagem e suas implicações educacionais nos diversos contextos, a partir daí pergunta-se: como é o lugar ocupado pelo professor no processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita no anos iniciais do ensino fundamental de uma escola municipal de uma cidade do leste de Minas Gerais? Além dessa questão eixo emergiram outras: a educação familiar e o próprio aluno pode contribuir para que o processo de ensino e aprendizagem seja efetivo na sala de aula? A metodologia utilizada pelo professor poderá fazer a diferença no processo de ensino e aprendizagem? A qualificação do profissional exerce influência no processo de ensino e aprendizagem? Nesse sentido, o objetivo deste estudo foi compreender o lugar do professor no processo de ensino e aprendizagem nos anos iniciais no ensino fundamental de uma escola pública municipal de uma cidade do leste de Minas Gerias. Com este estudo, pretendemos contribuir para que os professores, principalmente do anos iniciais, possam perceber a sua importância no processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita, possibilitando um repensar dessa prática na escola. 2. Referencial teórico Segundo Mizukami (1986), o professor é um planejador do processo de ensino e aprendizagem que trabalha no sentido de dar maior produtividade, eficiência e eficácia a tal processo, maximizando o desempenho do aluno. Segundo Giroux (1997, p.157), “é preciso encarar os professores como intelectuais transformadores, e, da mesma forma, esses precisam desenvolver a capacidade de levantar pontos relevantes sobre o que ensinam, de que maneira ensinam e o que pretendem atingir”.Os docentes devem ser preparados para a arte do ensinar. Não basta ser um bom pesquisador, necessário se faz que seja, também, um mediador da aprendizagem. Diante disso, é relevante destacar que a secura e o distanciamento entre professor e aluno não deixa o educando ser levado a querer a aprender, a desejar sempre mais, pois o professor é elemento fundamental na vida daquele aluno que levará para sempre os ensinamentos adquiridos (SILVA, 2008). Para haver aprendizagem, é necessário um sistema composto de três elementos: o aluno, o processo de aprendizagem e a situação de aprendizagem. De acordo com Lindgren (1977), os alunos são os discípulos ou Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 estudantes que individualmente ou coletivamente constituem o grupo da classe, as pesssoas para quem o programa educacional existe e funciona. Sem o aluno, não há aprendizagem, sem ele de nada adiantaria o processo e a situação de aprendizagem. O processo pelo qual a pessoa apresenta mudanças no agir, novos conceitos, novas informações, equivale na concepção de Campos (1997). Esse autor coloca que a situação de aprendizagem, por sua vez, refere-se mais especificamente ao ambiente onde se dá o seu processo, isto é, o local onde o aluno se encontra. Ela se refere a qualquer circunstância que possa influenciar o aluno ou o processo de aprendizagem e interferir neles. De posse dessas definições, pode-se afirmar que há um grande volume de fatores que influencia a aprendizagem de um aluno: professores, localização da sala de aula, número de alunos em classe, iluminação, barulho, disposição das carteiras, relacionamento entre professor e aluno e, entre os próprios alunos, o clima emocional da classe e a própria atitude da comunidade para com a escola. Pimentel (1986) acredita que a alfabetização tem sido considerada como um processo de aprendizagem no qual a qualidade da metodologia adotada e os pré-requisitos indispensáveis à aquisição da leitura e escrita são fundamentais para a obtenção dos bons resultados. O processo começa e acaba entre as “quatro paredes” da sala de aula, com aplicação correta do método garantindo ao professor a condução do processo de alfabetizaçao de cada aluno. Segundo Lopes (2005), existem, ainda, práticas pedagógicas que utilizam métodos mistos, fundamentados nos aspectos positivos contidos num ou noutro tipo. Sejam sintéticos, analíticos ou mistos, baseiam-se em diferentes concepções do funcionamento psicológico e em várias teorias de aprendizagem. Dentro de todas perspectivas, Ferreiro (1986) considera que a alfabetização se refere à aquisição de representação escrita de uma linguagem entendendo que os processos de produção de textos (escrita) e de interpretação de textos (leitura) encontram-se perfeitamente relacionados, o que não significa paralelismo completo. 3. Metodologia Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Esta pesquisa qualitativa foi realizada através de entrevistas semiestruturadas e observação participante das aulas de uma professora do 2º ano dos anos iniciais do ensino fundamental. Fizemos entrevistas com os pedagogos, diretores, alunos e com os próprios professores investigados. A pesquisa foi realizada em uma escola pública municipal de uma cidade do leste de Minas Gerais. Mediante a aprendizagem na leitura e escrita, escolhemos o 2º ano do ensino fundamental; pois nessa fase, o processso de leitura e escrita já esta bem desenvolvido. Segundo Bogdan e Biklen (1994, p. 134), em investigação qualitativa, a entrevista é utilizada para recolher dados descritivos na linguagem do próprio sujeito, permitindo ao investigador desenvolver intuitivamente uma idéia sobre a maneira como os sujeitos interpretam aspectos do mundo. A partir desse pressuposto, Gil (1999, p.17) argumenta que “pode-se definir entrevista como a técnica em que o investigador apresenta-se frente ao investigado e lhe formula perguntas com o objetivo de obtenção dos dados que interessem à investigação”. Ainda sobre a entrevista, Bogdan e Biklen (1994, p.135) colocam que mesmo quando se utiliza um guião, as entrevistas qualitativas oferecem ao entrevistador uma amplitude de temas considerável, que lhe permite levantar uma série de tópicos e oferecem ao sujeito a oportunidade de moldar o seu conteúdo. A escola pesquisada atende alunos da educação infantil e dos anos iniciais do ensino fundamental, de diferentes classes socioeconômicas. Ela localiza-se num bairro habitacional muito heterogêneo, confrontando, por um lado, pessoas de baixo nível sócioeconômico e, por outro, uma presença relativa da classe média. O município tem uma população de aproximadamente 79.000 habitantes. O comércio resume-se em 70% cafeicultura e 30% pecuária. Assim, o café representa considerável parte da renda da cidade (CERQUEIRA e COSENDEY, 2009). Destacamos que este estudo apresenta resultados parciais, haja vista que se caracteriza numa pesquisa em andamento. 4. Categorias Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O lugar do educador é levar os alunos a terem prazer na leitura e escrita, devendo motivar sempre seus alunos. Lerner (2000) comenta que o ambiente alfabetizador é aquele que promove um conjunto de situações de usos reais de leitura e escrita nas quais as crianças têm a oportunidade de participar. Se os adultos com quem as crianças convivem utilizam a escrita no seu cotidiano e oferecem a elas a oportunidade de presenciar e participar de diversos atos de leitura e de escrita, elas podem, desde cedo, pensar sobre a língua e seus usos, construindo idéias sobre como se lê e como se escreve. Diante disso, a professora Joana relata: Que o professor deve ser firme com seus alunos e às vezes até com castigos, mas a postura que eu falei é amor pela profissão. É realmente amar, ler e passar esse gosto para o aluno, levar o aluno a sonhar com novos horizontes e acreditar que eles são capazes e não apenas ressaltar seus pontos negativos. Para auxiliar esse processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita, é indispensável que a sala de aula seja um ambiente motivador, que tenha um visual que desperte a atenção dos pequenos. Sobre isso acrescentou: Acredito que o visual é muito importante, principalmente para as crianças, pois os cartazes ajudam os alunos a memorizar a matéria trabalhada e através deles faço esse procedimento diário. Os cartazes e painéis na sala não devem ter apenas o objetivo de decorar a sala, mas o objetivo principal deve ser a aprendizagem do aluno. Esses cartazes devem ser trocados com freqüência de acordo com a necessidade. Nesse sentido, acreditamos que o professor pode fazer várias coisas para auxiliar esse processo, trabalhar leitura diariamente com os alunos, proporcionar tipos de leituras diferentes como poesia, trava língua, canções, revistas em quadrinhos e parlendas. A família também pode contribuir para aprendizagem do aluno pois, segundo Ferreiro (1999), “a alfabetização não é um estado ao qual se chega, mas um processo cujo início é na maioria dos casos anterior a escola e que não termina ao finalizar a escola primária”. A fala da professora Joana aborda: A família é a base, é o primeiro contato que a criança tem com a educação e com o aprendizado. O que eu acredito ser importante na família para que o aluno tenha um bom desempenho na escola é amor e Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 a união, porque famílias desestruturadas geram filhos inseguros e despreparados. Os pais que mantém certa ordem e disciplina também estão facilitando a vida do seu filho na escola que tem normas e disciplina a serem seguidas. O acompanhamento da família junto ao aluno na escola também é muito importante para o aprendizado. Ao perguntarmos sobre a presença da família na escola, percebemos que embora ela tenha essa percepção da participação da família, isso não parece ser o que acontece na escola. A metodologia utilizada pelo professor é outro fator que influencia no lugar deste profissional no processo de ensino e aprendizagem. É o que nos aponta Freire (1996) ao colocar que o bom professor é o que consegue, enquanto fala, trazer o aluno até a intimidade do movimento do seu pensamento. Sua aula é assim um desafio e não uma cantiga de ninar. Seus alunos cansam, não dormem. Cansam porque acompanham as idas e vindas de seu pensamento, surpreendem suas pausas, suas dúvidas, suas incertezas. Numa das aulas a professora Joana falou: Hoje iremos estudar uma poesia de Vinicius de Moraes chamado, “A foca”. Então, ela se levantou foi até o quadro e começou a escrever a poesia. Entre uma estrofe e outra Joana colocou um “X” (xis) no quadro dizendo que cada X representa o número de linhas que eles terão que saltar. Assim que Joana termina de escrever a poesia, ela faz o desenho de uma foca com a bola no nariz, volta a se sentar e começa a mexer em alguns papéis. A professora Joana estava com uma aparência de cansada, toda hora ela bocejava. Um aluno diz: Tia, já terminei o que vou fazer agora? Ela o chamou em sua mesa e pediu para ele ler a poesia para ela. A impressão que tivemos é que a professora não preparou sua aula e está fazendo hora para o tempo passar. Ela levanta e pede aos alunos para olharem para ela e pede para lerem. Eles lêem com dificuldade e então repetem a leitura e dessa vez a professora lê com os alunos. Após a leitura ela pergunta: Quantas vezes a palavra FOCA aparece na poesia? O que faz a foca ficar feliz? Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Houve um momento em que a professora Joana disse baixinho para ela mesma: Deixa eu ver o que mais vou passar para vocês. Mediante ao que foi observado, é necessário que o professor tenha autonomia e conhecimento do que realmente deve ser ensinado em sala de aula. Outro fator relevante é a qualificação que o profissional exerce no processo de ensino e aprendizagem. Gadotti (1999, p.2) afirma que “o educador para colocar em prática o diálogo, não deve sentir-se na posição de detentor do saber, deve antes, colocar-se na posição de quem também aprende”. A esse respeito, afirmou Joana: Acredito que a qualificação é o ponto de partida mais importante no processo de alfabetização, pois através dele o professor vai trabalhar com o aluno de acordo com suas necessidades. Tal idéia vai ao encontro ao que foi proposto por Ferreiro (2000) na qual o professor não pode, então, se tornar um prisioneiro de suas próprias convicções; as de um adulto alfabetizado. Percebemos que a professora pesquisada entende que o seu lugar é o de detentora do saber, aquela que passa as informaçoes para seus alunos sem levar em consideração o seu convivio social. A professora parece não saber o papel que deve ocupar enquanto educadora, haja vista que ela passa as atividades no quadro e os alunos copiam igual ao que ela passou. Se eles não copiam exatamente igual ao dela esta não aceita e pede que desmanchem tudo. Ao contrário disso, o professor tem a função de mediar a aprendizagem dos alunos e construir as regras de convívio entre eles, precisando ter autoridade, habilidade, atitude, criatividade, respeito e dedicação ao trabalho que realiza. Para Pilleti (2003) o processo de ensino e aprendizagem não se dá por seguir um manual, mas sim por utilizar estratégias de ensino e aprendizagem que envolvam a criatividade do aluno, tornando o ato de aprender mais dinâmico e significativo. Para que o lugar do professor no processo de ensino e aprendizagem seja realmente considerável, é preciso criatividade, pois como afirma Montenegro (2004), a criatividade deve ser definida como somatório da Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 imaginação, realização, expressão e construção. 5. Considerações parciais Através de pesquisa realizada, constatamos que existem fatores que foram decisivos para compreendermos o lugar do professor no processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita, dentre eles destacamos a relação da família com a escola, a metodologia ensinada pelo professor dentro da sala de aula e a postura desse professor com seus alunos. Desse modo, entendemos que a escola constitui-se em espaço sóciocultural em que o aluno passa a maior parte do seu tempo, sendo assim. cabe a instituição reforçar e orientar a educaçao que é a funçao da familia. A conclusão que pudemos tirar dessa pesquisa é que, faz-se urgente a tomada de providências para melhorar a qualidade do ensino público, referindo-se às mudanças nas metodologias de ensino. Para Vendramento e Pabis (2007), não existe aluno ideal e nem uma única forma de aprender. O professor necessita rever sempre o processo de ensino e aprendizagem, não aceitando o fracasso, que gera exclusão da escola e da sociedade. Com essa investigação pretendemos apontar caminhos, meios de intervenção para que os professores e profissionais da educação reflitam na contribuição da melhoria do ensino e para o crescimento qualitativo de nossa sociedade, estimulando seus alunos para serem pessoas críticas, para a mudança de vida do cidadão. 6. REFERÊNCIAS BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. 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Ano VI- Número 11- www.revista.inf.br Janeiro de 2008_ Períodicos Semestral. FERREIRO, EMILIA. Reflexões sobre alfabetização. São Paulo: Cortez, 2000. 104p. LERNER D. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre: Ed. Artmed. 2000. LUCKESI,C.C. Avaliação da aprendizagem escolar: estudos e proposições. São Paulo, Cortez, 1995. PIMENTEL, M. A. M. Alfabetização: a construção do objeto conceitual. Revista da Educação. Belo Horizonte, 9 (3): 39- 50, jun. 1986. 64p. ZUANON, Atima Clemente Alves. Revista Ponto de Vista – vol. 3. Colegio de Aplicação- Coluni. Universidade federal de Viçosa (UFV): Processo de ensino e aprendizagem. [email protected] Janeiro,2007. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 EXPERIÊNCIA DE AFETIVIDADE NUMA TURMA DE EDUCAÇÃO INFANTIL DE UMA ESCOLA PÚBLICA MUNICIPAL DA CIDADE DE MANHUAÇU – MG Paula Graize Magalhães Batista, Rejane Gonçalves Madeira e Samila Cristina Aparecida Cabral - acadêmicas do curso de Pedagogia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. RESUMO Esse estudo teve como objetivo identificar as relações afetivas entre professoraluno numa sala da Educação Infantil de uma escola pública municipal da cidade de Manhuaçu-MG. A pesquisa qualitativa foi realizada em uma Escola Municipal da cidade de Manhuaçu – MG e tivemos como instrumento a observação participante e entrevista semi-estruturada com a professora. Como principais resultados percebemos que o professor sabe que a afetividade influencia no comportamento dos alunos e principalmente no processo de ensino e aprendizagem, mas nem sempre a escola percebe um professor que não demonstra afetividade com seus alunos.Com tudo isso, percebemos que a falta de afetividade do professor com o aluno pode influenciar muito no seu desempenho escolar. Precisamos estar atentos ao fato de que, enquanto não dermos atenção ao fator afetivo na relação professor-aluno, corremos o risco de estarmos deixando de lado o trabalho que envolve valores e o próprio caráter necessário para o seu desenvolvimento integral. PALAVRAS-CHAVE: afetividade; educação infantil; ensino; aprendizagem; aluno. 1. Introdução Sabemos que afetividade e inteligência estão intimamente ligadas. A afetividade é necessária na formação de pessoas felizes, seguras, capazes de conviver com o mundo que a cerca. No ambiente escolar, além de dar carinho ao aluno, o professor deve acreditar, saber ouvi-lo e valorizá-lo, dando total liberdade para que exponha suas idéias, críticas e conhecimentos. O ser humano é repleto de desejos, vontades e sentimentos próprios que começam a se desenvolver desde o nascimento e o acompanha até a sua morte. Ao longo da infância, acontece o processo de desenvolvimento afetivo e social da criança. Neste período tanto a família quanto os professores desempenham um papel importante no desenvolvimento, porque são eles, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 enquanto seres mais experientes, que coordenam o processo de aprendizagem. Segundo Codo (1999), se o aluno não se envolve de uma forma afetiva, ele poderá até fixar conteúdo, mas uma aprendizagem significativa, com certeza não ocorrerá, o que deixará o processo de ensino e aprendizagem com grandes lacunas. Toto (1998) acredita que a escola dá certo quando o aluno aprende e é feliz. Mediante essas discussões e as experiências vivenciadas com crianças da Educação Infantil é que surgiu o interesse por esta pesquisa. Elas demonstravam dificuldades de aprendizagem, carência afetiva e algumas até reações de agressividade. Sabemos que o fator afetivo é muito importante para o desenvolvimento e a construção do conhecimento do ser humano, sendo a relação professor-aluno a base para o desenvolvimento cognitivo e social em sala de aula. Assim, o objetivo da pesquisa foi identificar as relações afetivas entre professor-aluno. Para isso usamos como questões no decorrer do trabalho: como é a relação afetiva entre professor e aluno em uma turma de uma escola particular de Manhuaçu-MG? Os sentimentos fazem diferença na hora da aprendizagem? Como é o processo de ensino e aprendizagem de alunos que possuem professores afetivos? Como a escola percebe os professores considerados afetivos? Pretendemos com esta contribuir para que os professores da educação infantil possam refletir sobre seus comportamentos afetivos ou não e a influência deles no processo de ensino e aprendizagem. 2. Revisão bibliográfica Para Wallon (1979) a personalidade é constituída por duas funções básicas: afetividade e inteligência. A afetividade está vinculada às sensibilidades internas e orientada para o mundo social, para a construção da pessoa; a inteligência, por outro lado, está vinculada às sensibilidades externas e orientada para o mundo físico, para a construção do objeto. Dessa forma, a afetividade assume papel fundamental no desenvolvimento humano. Nesse sentido, Sobral (2007) realizou um estudo com o objetivo de analisar a relação afetiva entre professor e aluno, considerando sua importância no processo de ensino e aprendizagem. Foram realizadas Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 observações diretas na sala de aula das professoras participantes da pesquisa e entrevistas com 20 (vinte) alunos de 2 (duas) turmas de 1ª (primeira) série e seus respectivos professores. Com base no registro das observações feitas e dos paralelos traçados, a autora percebeu que muitas vezes, os educadores não conseguem se colocar como sujeitos mediadores de uma aprendizagem afetiva. Lopes (2006) realizou um estudo para compreender a afetividade entre professor e aluno na educação infantil, com docentes em formação do curso de licenciatura em séries iniciais do Departamento de Educação Estadual de Feira de Santana. Foram realizadas entrevistas semi-estruturadas. Os resultados indicam que a afetividade é concebida como um sentimento, um estado e uma ação que se transforma em expressão humana de amor, respeito, amizade e afeição entre as pessoas, e que o professor que possui a competência afetiva é humano, pois consegue perceber seu aluno em suas múltiplas dimensões, complexidades e totalidades. Dias (2003) faz uma observação que a dimensão afetiva contribui para a aquisição de atitudes positivas entre a relação professor e aluno, e que as disciplinas por ele ministradas ficam bem mais interessantes e significativas quando são passadas com amor, paciência e respeito, abrindo assim a relação com o saber. Sabim Pessoa (2000) realizou um estudo de revisão bibliográfica com o objetivo de enfatizar a importância da afetividade no processo de ensino e aprendizagem, e nas relações pedagógicas professor-aluno. Apontando para o fato de que a afetividade pode determinar o sucesso ou o fracasso de uma criança na escola, a autora percebeu sob a abordagem psicanalítica, que a afetividade é vista como um processo em que alguém investido de amor, constrói o seu eu, e descobre o prazer e o desejo de aprender. Sob a ótica piagetiana, ela aparece como um aspecto necessário, complementar e indissociável no desenvolvimento intelectual do ser humano. Contudo, esses estudos chamam a atenção dos professores para a necessidade de serem afetivos com seus alunos, porque é através do seu método de ensinar que seus alunos aprenderão a gostar da matéria que lhes é ensinada e, assim, impulsionando neles o desenvolvimento cognitivo com o meio social e modificando seu comportamento e atitude. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. Referencial teórico As relações afetivas evidenciam-se, pois a mediação da aprendizagem implica, necessariamente, uma interação entre pessoas. Portanto, na relação professor-aluno, uma relação de pessoa para pessoa, o afeto está presente (ALMEIDA, 1999). O professor afetivo é aquele que consegue estabelecer uma relação pessoal com seus alunos, considerando a história e a subjetividade dos mesmos, assim como a própria. Ser afetivo não significa estar fora do papel de mediador do processo de ensino e aprendizagem, mas se colocar como protagonista desse processo enquanto ser humano que participa afetivamente da construção de si e do outro. O professor é um importante intermediário para o aluno em suas aprendizagens e em seu desenvolvimento, pois participa de uma boa parte do tempo da construção de seus conhecimentos e de sua formação como ser humano. (RODRIGUES e SILVA, 2007). Segundo Pessoa (2000, p. 104): Todo educador precisa ter clara a importância da afetividade na interação com seu aluno, e na construção do conhecimento. Essa relação afeto-cognição pode favorecer o desenvolvimento global da criança, um maior equilíbrio e uma maior estabilidade na sua vida social, afetiva, moral e intelectual. A afetividade implica diretamente no desenvolvimento emocional e afetivo, na socialização, nas interações humanas e, sobretudo, na aprendizagem. Para Holanda: Afetividade é o conjunto de fenômenos psíquicos que se manifestam sob a forma de emoções, sentimentos e paixões, acompanhados sempre da impressão de dor ou prazer, de satisfação ou insatisfação, de agrado ou desagrado, de alegria ou tristeza. (HOLANDA, 1994, p.34). Da mesma forma, é a partir da relação com o outro, através do vínculo afetivo, que nos anos iniciais, a criança vai tendo acesso ao mundo simbólico e, assim, conquistando avanços significativos ao âmbito cognitivo. Nesse sentido, para a criança, torna-se importante e fundamental o papel do vínculo afetivo, que inicialmente apresenta-se na relação pai-mãe-filho e, muitas vezes, irmãos. No decorrer do desenvolvimento, os vínculos afetivos vão ampliandose e a figura do professor surge com grande importância no processo de ensino e aprendizagem na época escolar. Para aprender, necessitam-se dois personagens (ensinante e aprendente) e um vínculo que se estabelece entre Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ambos. Como coloca Fernandez (1991, p.47) “não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar”. A forma como o professor apresenta o conteúdo de sua aula está revestido de uma conotação afetiva especial, que torna o mestre original e afeta cada aluno de uma maneira peculiar, repercutindo de forma diversa na sua aprendizagem. 4. Metodologia Este projeto de pesquisa foi desenvolvido em uma escola municipal, que atende crianças da educação infantil, da cidade de Manhuaçu, estado de Minas Gerais, durante o 1º (primeiro) semestre de 2010. Assim, a investigação utilizou os pressupostos da pesquisa qualitativa, através de observação participante de uma turma de educação infantil, faixa etária de 5 anos de idade, e entrevista semi-estruturada com a professora dessa turma. Como afirma Minayo (2000) a intenção da pesquisa qualitativa não é quantificar, mas sim trabalhar com aspectos mais profundos das relações, processos e fenômenos. Manhuaçu é um município do Estado de Minas Gerais, foi fundada em 05 de novembro de 1877 e sua população estimada em 2009 era de 78.605 habitantes. As principais atividades econômicas são a cafeicultura e agropecuária, sendo o café, representante de boa parte da renda da cidade e característica da região. A educação é uma das prioridades da cidade, tendo em torno de 15 escolas particulares, 16 escolas públicas, 39 escolas públicas municipais, e um total de aproximadamente 22.347 alunos. Devido a grandes mudanças na cidade em menos de três anos, a cidade tornou-se pólo comercial e industrial. 5. O valor do afeto na relação professor-aluno Nas escolas, em geral, os alunos vivenciam diversas relações afetivas, como o prazer de conseguir realizar algo pela primeira vez, tristeza ao saber da doença de um amigo, ou mesmo raiva ao discutir com colegas. Essas experiências com outras pessoas é que vão possibilitar a construção da sua afetividade e consequentemente da sua identidade. Um sujeito fundamental Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 nessa construção é o professor, que se torna um referencial muito importante, principalmente para as crianças da educação infantil. Segundo Wallon (1968), a afetividade contribui significativamente para o desenvolvimento da criança, pois são os motivos, as necessidades e os desejos que orientam o interesse dela para o conhecimento e a conquista do mundo exterior. Sobre isso, perguntamos a professora pesquisada o que ela achava ser necessário ao profissional que atua com a faixa etária de 5 anos: O mais necessário é dedicação e carinho, eles estão iniciando a vida na escola agora e se não tiver certo carinho com eles podem até ficar com algum trauma, mais tem que haver limite e respeito entre ambos. Tem que ter vocação e gostar do que faz, eu não me vejo em outra área sem ser a da educação, a sala de aula então, eu adoro, porque se você gostar do que faz vai fazer com amor buscando sempre melhorar. Gostar é a principal coisa (Flávia, professora, 42 anos). A afetividade implica diretamente no desenvolvimento emocional e afetivo, na socialização, nas interações humanas e, sobretudo, na aprendizagem. A respeito dessa relação da afetividade com a aprendizagem, a professora apresentou um depoimento que enfatiza isso: Eu nunca consegui aprender matemática, eu sou péssima até hoje, porque eu não tive uma relação de afeto com os meus professores (Flávia, professora, 42 anos). Na opinião da professora, o desinteresse da criança em determinada matéria se dá, na maioria das vezes, pelo fato de o professor não ter uma relação de carinho e respeito com a criança, pois se o professor for atencioso com a criança ela passa a gostar da matéria e consegue aprender. Do contrário, ele pode causar na criança um bloqueio, e ela não conseguirá aprender. Através das observações, notamos que a professora falava baixo com as crianças, chegava perto delas, explicava como era para recortar a gravura, segurava o jornal indicando o lugar, ia passando de carteira em carteira não só ajudando, mas também elogiando o recorte das crianças e pedia para que eles juntassem os papéis que tinham caído no chão e jogassem no lixo. Falava com autoridade, mas sem gritar com um aluno que estava mexendo na caixa que não era dele. Ela diz: O vínculo é de ele me respeitar e eu respeitar ele, procuro sempre elogiar e incentivar as crianças, com tudo isso cria-se uma relação de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 amizade entre nós, mas nunca deixo de chamar a atenção deles para que melhorem sempre mais (Flávia, professora, 42 anos). Eles voltaram do recreio e, como de costume, a professora pediu para abaixarem a cabecinha para descansarem um pouquinho e cantou uma música e foi passando a mão na cabeça deles (um por um), depois da música ela perguntou se eles tinham descansado, responderam que sim e começaram a alongar os braços. Flávia afirmou: Ah, é maravilhoso né, eu pareço uma manteiga derretida, é muito legal, eu vejo que as crianças me olham com carinho (Flávia, professora, 42 anos). Sobre as estratégias utilizadas para trabalhar em sala de aula, ela falounos um pouco sobre sua prática pedagógica e como percebemos na observação das aulas, ela trabalha com o alfabeto móvel, autonomia, identidade, procura também trabalhar com psicomotricidade e coordenação motora sem deixar de dar a matéria. Nesse ano a diretora reservou um horário para a professora trabalhar com teatro e música. Observamos uma aula de teatro, que é realizada em uma sala com colchonetes, almofadas, TV, DVD, fantoches, as crianças iam chegando e se acomodando, depois de todos bem acomodados cantaram uma música e quando terminaram, a professora começou a contar a história. A professora interagia com as crianças, fazendo com que todos participassem, eles faziam perguntas, falavam junto com ela e prestavam atenção quietinhos. Quando terminou, ela pediu para que cada um falasse do que mais gostou na história e eles adoraram, bateram palmas no final. Ela nos disse que, às vezes, se acha muito brava, mas não demonstra que se arrependeu para não acabar perdendo a autoridade. Em uma das aulas observadas, ela trabalhou com a psicomotricidade, pegou 4 caixinhas e colocou uma em cada mesa e pediu para que cada um pegasse uma tesoura. Enquanto isso distribuiu uma folha de jornal e pediu para que recortassem figuras para fazerem uma colagem. Gabriel fez uma sujeira no chão da sala e a professora ficou irritada pela bagunça. Mandou todos colocarem as mãozinhas na mesa e prestar atenção, pois ela iria explicar como iriam confeccionar o índio. Segundo Rodrigues e Silva (2007), o professor é um importante intermediário para o aluno em suas aprendizagens e em seu desenvolvimento, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 pois participa de uma boa parte do tempo da construção de seus conhecimentos e de sua formação como ser humano. A professora relata-nos que trabalhar com a Educação Infantil é muito bom, é muito verdadeiro o que as crianças sentem por você. A Educação Infantil é que dá uma base para as crianças irem para a escola estadual e isso acaba dando um choque de mudança, porque elas aqui estão acostumadas a terem sempre alguém as vigiando na hora do recreio, sempre esperando o responsável vir buscá-las, tem toda uma estrutura em torno delas, mas não deixamos de ensinar elas a se virarem. Muitas vezes a professora demonstra carinho e atenção com os alunos, mas não deixa de chamar atenção quando é necessário, nem de ensinar-lhes como podem se defender na hora que uma criança os agride. É o caso do Daniel. Falta limite nele, mais eu não permito que ele faça hora dentro da sala, falo com as crianças que quando ele bater nelas que é pra elas revidarem não com exagero mais pra ele perceber que esta fazendo errado. Ele tem que saber que vai encontrar alguém pra encará-lo e se ele fizer alguma coisa com as crianças eu o deixo sem recreio, sem brincar, ele tem que saber que aqui tem regras e limites (Flávia, professora, 42 anos). Apesar de muito bem intencionada e carinhosa com os alunos, essa postura da professora é um pouco preocupante, pois nem castigo e nem estímulo para que as crianças revidem educa. Segundo a professora, a família é primordial no desenvolvimento da criança, e seu comportamento é de acordo com o meio em que vive, se ela tem uma assistência em casa ela vem pra escola e comporta-se muito bem; não responde, não bate nos colegas e são muito atenciosas, mas tem o caso dos alunos que vivem só com um dos pais ou com madrastas, o comportamento delas, muitas vezes, é de não estar nem aí para as coisas, acaba não tendo capricho com seus materiais, são rebeldes e tem uns que são até agressivos com seus colegas. A professora acredita que a família e a estrutura familiar estão sendo extintas e, quebrando este ciclo, as crianças acabam sendo prejudicadas, porque dentro de casa já não existe mais uma estrutura, quando chegam à escola acabam ficando sem direção para distinguir o certo do errado. A professora nos diz que gosta muito do que faz, e que gostaria muito de fazer mestrado pelo prazer que tem em estudar, mas confessa que o sistema e os pais não os valorizam em nada. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O governo também está tirando toda a autoridade do professor com a criança. Eles sabem que o professor não pode fazer nada contra elas porque senão chamam o conselho tutelar, sabem que somos mal pagas e daqui a pouco a gente tem que entrar muda na sala de aula e sair calada, porque quem tem educação e boas maneiras a gente pode contar nos dedos (Flávia, professora, 42 anos). Com tudo isso que acontece entre o governo, os pais e os professores ela nos diz que: A escola é pouco atrativa o que produz um desinteresse na criança, o professor que dobra fica cansado, tem problema familiar, os alunos com falta de respeito, o professor dá a matéria do jeito que quiser, não tem aquele carinho com os alunos com tudo isso fica maçante e a escola acaba sendo chata, porque em casa os pais estão para o trabalho, às crianças podem usufruir da internet e da televisão o tanto que quiserem isso às leva a pensar, pra que ir a escola se em casa eu posso fazer o que quiser e é bem mais interessante? (Flávia, professora, 42 anos) Finalizou a nossa entrevista com uma frase: “Mas quando a gente gosta não tem problema, a gente leva”. O que se tornou evidente é que mesmo com todas as dificuldades que ela enfrenta, ama o que faz. 6. Considerações finais Com tudo isso, percebemos que a falta de afetividade do professor com o aluno pode influenciar muito no seu desempenho escolar. Precisamos estar atentos ao fato de que, enquanto não dermos atenção ao fator afetivo na relação professor-aluno, corremos o risco de estarmos deixando de lado o trabalho que envolve valores e o próprio caráter necessário para o seu desenvolvimento integral. Vimos que há necessidade de se cuidar do aspecto afetivo no processo ensino e aprendizagem, levando em conta que a criança é diferente em cada fase do seu desenvolvimento. REFERÊNCIAS ALMEIDA, Ana Rita Silva. Emoção na sala de aula. Campinas: Papirus, 1999. ARANTES, Valéria Amorim. Afetividade e cognição: rompendo a dicotomia na educação. Editora Mandruvá, 2004. Disponível em http://www.hottopos.com/videtur23/valeria.htm>. Acesso em: 26.out.2009. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 BALLONE, Geraldo José. Afetividade. PsiqWeb (2007). Disponível em http://www.psiqweb.med.br/. Acesso em: 02.out.2009. BOGDAN, Robert.; BIKLEN, Sari. 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Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 NECESSIDADE DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL COM TRIBOS INDÍGENAS QUE PASSAM PELO PROCESSO DE INCORPORAÇÃO DE ELEMENTOS CULTURAIS DOS NÃO ÍNDIOS Kelly Aparecida do Nascimento– graduada em Educação Física e Pedagogia, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Professora do Centro Universitário de Caratinga - UNEC e da Faculdade Vértice. Celeste Aparecida Dias – professora e diretora do Instituto Superior de Educação do Centro Universitário de Caratinga - UNEC Grupo de Pesquisa e Extensão “Educação Ambiental: das nossas casas para o mundo” da UNEC [email protected] RESUMO Esta pesquisa teve como objetivo descrever processos de aculturação subjetiva identificados no cotidiano de tribos indígenas do norte do país em contato com população não-índia da cidade e que ameaçam o ambiente natural de seu entorno e, consequentemente, a própria vida dos índios. A pesquisa, de caráter qualitativo, foi realizada em dezembro de 2009, através de entrevista não estruturada com índios de uma tribo de origem Karíb, que habita a região norte do Brasil, notadamente as margens de um dos principais rios do sul do estado de Roraima, e tem aproximadamente 2000 integrantes. As entrevistas foram realizadas na própria tribo, tendo como principal entrevistado e mediador o líder da comunidade indígena, o tuchaua. A presença mais forte de aculturação está nas roupas e na alimentação. Entretanto, o uso das tecnologias, especialmente as de comunicação, pode constituir também ameaças a destruição de mais uma das culturas nativas do País. Nossas constatações apontam a necessidade de a população não-índia realizar a educação ambiental com essa tribo indígena, a partir dos hábitos culturais que já assimilaram. Mas essa educação ambiental precisa pautar-se em ações afirmativas que respeitem a própria cultura indígena, especialmente, no respeito a relação que estabelece com a natureza. PALAVRAS-CHAVE: Índios; Não-índios; Educação Ambiental; Aculturação. 1. Introdução Este artigo é parte das publicações elaboradas pelo grupo de Pesquisa e Extensão “Educação Ambiental: das nossas casas para o mundo”, criado e mantido desde 2007 na UNEC/Caratinga e fomentado pela Fundação de Amparo a Pesquisa de Minas Gerais (FAPEMIG), já pela segunda vez consecutiva. Como seu foco é a pesquisa e a intervenção em educação ambiental visando ao redimensionamento consciente das relações dos seres humanos entre si e de si com a natureza para preservação do Planeta, a investigação aqui apresentada expande as discussões a respeito das responsabilidades da população não-índia em desenvolver práticas de cuidado Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 com o habitat das diversas formas de vida, todas ameaçadas, inegavelmente, por si mesma como a maior depredadora do planeta. Após realizar as primeiras investigações com populações rurais do município de Caratinga, de etnia predominantemente oriunda de população afro-brasileira com histórias de vida vinculadas, simultaneamente, a exescravos e a uniões matrimoniais com a aristocracia rural que se apossou das terras na região, identificamos o predomínio de hábitos culturais de exploração da riqueza da terra, sem os cuidados devidos para evitar a crise socioambiental. Essas práticas tem origem na finalidade para a qual o País foi habitado: a colonização para exploração. Tal identificação nos levou a questionamentos sobre as diferenças de cuidados com a natureza entre tais povos de descendência afro-brasileira e os nativos: os índios. As experiências de visitas técnicas de uma das pesquisadoras em diversas tribos indígenas no Brasil, nos últimos dez anos, produziram novos questionamentos sobre os riscos de encantamento das comunidades indígenas com os hábitos culturais da população não-índia quando entram em contato com a cidade e, por conseqüência, motivaram a investigação deste processo de aculturação que aumenta os riscos de danos irreversíveis a natureza. A aculturação é um processo de caráter social imposto por uma sociedade distinta, que pode ocorrer de maneira objetiva, neste caso por imposição aberta ou colonialista. Pode ocorrer também, de forma subjetiva, marcada por imposição baseada na atração e consequente desvalorização do sistema cultural materno em detrimento ao apresentado, ambas igualmente danosas (LIDÓRIO, 2008). Desde a chegada dos colonizadores em 1500, a população indígena vem passando por transformações em sua cultura. Constase, desde esse período, a destruição de etnias, tanto por extermínio como por doenças, perda de suas terras, sendo estimulados a se introduzir na sociedade não-índia e viver submetido a ela (SILVA, 2006), caracterizando o processo de aculturação. O convívio cotidiano do índio com o não-índio na cidade possibilita a assimilação de hábitos alimentares e práticas de (falta de) cuidado com o ambiente natural de seu entorno. Antes desse convívio, os povos indígenas viviam em equilíbrio com a natureza, tirando apenas o suficiente para se alimentarem, e sua produção cultural relativa a costumes e crenças provocavam alterações mínimas no ambiente natural, de forma que a natureza Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 tinha tempo de fazer sua recomposição sem degradação. Para Silva (2006), o convívio desmedido dos grupos indígenas com os não-índios foi acentuando a aculturação dos índios, tornando-se esses últimos vítimas de um processo de transferência e assimilação dos elementos culturais entre as diferentes culturas. Esse convívio é inevitável pela proximidade física entre a cidade e as comunidades indígenas, mas, se esse processo não for acompanhado pelos grupos de não-índios atuantes nas causas culturais e ambientais, em futuro próximo, de vítimas, os índios também vão circular no cenário de réus colaboradores para a destruição do Planeta. Por isso, esta pesquisa tem como objetivo descrever processos de aculturação subjetiva identificados no cotidiano de tribos indígenas do norte do país em contato com população não-índia da cidade e que ameaçam o ambiente natural de seu entorno e, consequentemente, a própria vida dos índios. Os resultados desta investigação podem colaborar para ampliar as discussões sobre a necessidade da educação ambiental com tribos indígenas em processo de incorporação de elementos culturais da população não índia ao seu estilo de vida. 2. Metodologia A pesquisa, de caráter qualitativo, foi realizada em dezembro de 2009, através de entrevista não estruturada com índios de uma tribo de origem Karíb, que habita a região norte do Brasil, notadamente as margens de um dos principais rios do sul do estado de Roraima, e tem aproximadamente 2000 integrantes. As entrevistas foram realizadas na própria tribo, tendo como principal entrevistado e mediador o líder da comunidade indígena, o tuchaua. Para resguardar a identidade desse grupo indígena, o nome da tribo e de seus integrantes não será mencionado. 3. O que encontramos na Amazônia A investigação iniciou no centro da cidade mais próxima da comunidade indígena visitada, onde encontramos casualmente com um índio responsável pelos serviços de saúde da referida comunidade. Ele informou-nos que hoje a comunidade receberia visita da Fundação Nacional de Saúde (FUNASA) e que a população indígena estaria na cidade para receber tratamento odontológico. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Tais informações se confirmaram, pois quando chegamos à comunidade, uma equipe da FUNASA estava lá. E quando estávamos indo embora um transporte coletivo da prefeitura trazia um grupo que havia ido ao dentista na cidade. Da referida cidade até o local em que a estrada possibilita a circulação de carro, deslocamos 14 km de estrada vicinal. Nesse ponto da viagem tem uma primeira comunidade, onde nos informaram que a viagem só poderia continuar de caminhonete 4x4 ou de moto, já que o percurso é apenas de trilhas dentro da floresta amazônica. Assim, após negociação com os índios, conseguimos dois deles para nos levar de moto pelos 20 km que faltavam. E, nessa negociação, já identificamos um primeiro traço de aculturação capitalista: o índio que nos atendeu informou que os índios que dirigiam as motos da aldeia não estavam: um deles, o líder dessa comunidade, que poderia nos ajudar, estava para a cidade e o outro índio ele não sabia onde estava. Insistimos com ele que havíamos vindo de Minas Gerais para visitá-los novamente e que uma de nós já havia ido lá há dez anos e queria rever o Tuchaua, que teria sido muito gentil conosco a época. Nessa insistência informamos que iríamos pagá-los para nos levar, como havíamos pagado o táxi para nos levar até ali e que é prática comum na população não-índia. Ele colocou o preço de R$50,00 (cinqüenta reais) e logo chamou os dois índios que, no início da conversa, não estaria na comunidade. Um deles estava dentro de uma das moradias e outro estava na mata, próxima da aldeia. Descobrimos que o Tuchaua é o pai de todos estes três índios e fomos nós na garupa das motos de dois deles em direção a comunidade de difícil acesso. Um deles, o líder, apresentou uma agilidade sobre a moto que poucos não-índios possuem. Um traço visível no trajeto foi que ele não analisava previamente o percurso mais fácil de passar e sim adaptava a roda da moto diante do perigo e ali passava. Nestes momentos, informou que uma moto dura de três a seis meses na comunidade e que há subsídio do governo para comprar. Parecem usar a tecnologia a serviço de seus objetivos, sem os cuidados da conservação e duração máxima possível que os não-índios geralmente tem com os objetos tecnológicos mais caros. No próprio trajeto, observamos índios utilizando bicicletas e, ao chegar a segunda comunidade avistamos alguns motores de barco, de marca de qualidade e que tinham aspecto de novos. Vimos também a utilização de uma cadeira de rodas por uma criança acidentada em uma árvore e que ficou paraplégica. Os índios têm utilizado as tecnologias de locomoção mais Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 adequadas a sua realidade e, portanto, para romper a distância, o que favorece o seu contato com os não-índios. Através de relatos da população da cidade e dos próprios indígenas, eles freqüentam cotidianamente a cidade através desses meios de transporte, exceto a cadeira de rodas. Ao chegar à segunda comunidade da tribo, os primeiros contatos foram permeados por um breve momento de desconfiança e não receptividade com o Tuchaua. Somente quando disse a ele que uma de nós havia visitado a tribo há dez anos com um empresário da cidade próxima é que ele nos convidou para conhecer a aldeia e modificou o jeito de nos tratar. Apesar de percorrerem, cotidianamente, um trajeto de muitas flores tropicais - observadas na trilha da floresta amazônica, nas duas aldeias -, não há qualquer indício dessas plantas com a finalidade de ornamentação do ambiente de entorno das moradias indígenas, tampouco de ornamentação do próprio corpo, já coberto por vestuários da população não índia. São comunidades sem a presença da riqueza das cores oferecidas pela natureza. Todos os adultos e crianças de diversas idades usam todas as peças de roupas usadas pelo não-índio, inclusive os bebês, com fraldas descartáveis, diferente da visita de dez anos atrás, em que a maioria ainda usava seus hábitos indígenas seminus, exceto para ir à cidade. Apesar de terem assimilado o vestuário da população não-índia, as peças de roupas usadas apresentavam aspecto de sujas e sem cor e, sequer vimos varal de roupas secando, nem mesmo onde havia muitas crianças. Outra diferença percebida nos dez anos que separam as duas visitas foi a crença religiosa dessa comunidade indígena. Hoje com predominância de aculturação religiosa evangélica, o Tuchaua negou ter contado algumas histórias relacionadas aos espíritos protetores que habitavam algumas árvores as margens do rio e que ele havia mostrado a uma das pesquisadoras em 2000, cujo percurso a aldeia foi feito pelo rio através do barco da própria comunidade indígena. O senso estético indígena de ornamentação do próprio corpo associado a crenças religiosas pode estar sob ameaça de desaparecimento, uma vez que, em nenhuma das conversas, fizeram referência a algum ritual e a tal ornamentação. O trabalho produtivo capitalista parece estar começando a ser incorporado pela comunidade indígena, pois traços de produção econômica já estão em evidência. Um dos índios mais velhos da primeira comunidade visitada mostrou-nos alguns cipós retirados da floresta amazônica que Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 acreditam curar a aids e que comercializam com população não-índia para remédio. Além disso, ao longo do trajeto, identificamos vários montes de toras de madeiras recortadas por máquinas (acreditamos que motosserra) em forma retangular que nos disseram serem usadas na própria aldeia, mas não localizamos nenhuma construção ou utilização delas em nenhuma das duas comunidades. Durante o percurso de moto ouviu-se o som da motosserra e de árvores caindo. A produção alimentícia é rara, pois plantam somente mandioca para fazer o beiju, base da alimentação deles, além do peixe, retirado do rio em cujas margens a aldeia se localiza. Tivemos a oportunidade de participar de um momento de sua alimentação, juntamente com os dois funcionários – um homem e uma mulher – da FUNASA: o prato era piranha, acompanhada de beiju para os que desejassem. Nesse momento, observamos também a presença da tecnologia do não-índio também no fogão a gás e no refrigerador. Mas, ao lado havia também uma fornalha e nela estava a piranha na brasa. O convívio com a cidade contribui para o contato com o estilo de vida do ser humano não-índio. O indígena vai assimilando um novo tipo de alimentação, diferente daquela que estava habituado exclusivamente na comunidade. Com isso, corre-se o risco de ir perdendo a necessidade de ir às matas buscar a sobrevivência, isto é, colher os frutos, caçar, pescar e plantar, além de ficarem mais suscetíveis a doenças relacionadas a mudanças nos hábitos alimentares. Decorrentes do uso de vestuário e alimentação industrializados, na visita há dez anos, o entorno da comunidade era muito suja com os resíduos das embalagens de produtos industrializados, mas, atualmente, esses resíduos têm sido queimados no próprio local onde são acumulados nas proximidades do lugar. As queimadas são também frequentes ao longo das matas, ora para plantar mandioca, ora para “limpar” o local, economizando mão-de-obra como o faz o não-índio. Em conversas, evidenciaram desconhecer que as queimadas produzem uma substância cancerígena, além dos riscos de perda de controle do fogo. Um fator que, certamente, colabora para conhecer a cultura do outro, acentuando a entrada ao mundo externo ao deles, é o acesso aos meios de comunicação, tais como o rádio e a televisão, notando-se inclusive a existência de antenas parabólicas na comunidade. Na visita feita há dez anos, a televisão Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 e o refrigerador ficavam na maloca, no centro da aldeia, onde era usada para seus rituais, reuniões e escola indígena. Na visita de agora, a maloca foi toda reconstruída em tamanho maior e essas tecnologias não estão mais neste local e, por certo, tornaram-se mais privativos a algumas moradias, como a do Tuchaua, onde estivemos numa varanda, comendo o peixe. Mas, o índio parece usar as tecnologias não-índias para não precisar fazer serviços manuais pesados e não para gerar conforto e bem-viver, já que suas moradias continuam muito simples e servem somente para se protegerem das intempéries. Dessa forma, parece que essa comunidade indígena utiliza os recursos tecnológicos não-índigenas a características próprias de sua cultura. Os índios são incluídos nos programas de governo destinados a população não-índia, a exemplo do bolsa-família. Medidas aparentemente simples, mas que gera a longo prazo, dependência financeira e, consequentemente, submissão alienada ao modelo de sociedade capitalista. Exemplo disso é o depoimento do Tushaua, que disse ter tentado implantar o sistema de organização do poder executivo da prefeitura na tribo, a divisão dos serviços sob encargo das diversas secretarias, tais como a de saúde, a de educação, a do ambiente, entre outras. Entretanto, ele declarou que não deu muito certo porque começou a ocorrer disputas de poder entre os índios homens da comunidade e ele, então, interrompeu o uso deste modelo. Apesar dessas evidências de processos de aculturação subjetiva cujos resultados podem ser danosos tanto para a comunidade indígena, quanto para a natureza em seu entorno, esses índios visitados ainda vivem o tempo da natureza e tem uma luta constante para tentar salvar a cultura da tribo indígena, como a escola indígena com o ensino sendo realizado por índio da própria comunidade e na língua dessa tribo. Além disso, há o esforço do Tuchaua em escrever um livro de gramática de sua língua para deixar como herança a seus descendentes. Apesar de também ser uma prática de uso das tecnologias não-índias, estão usando-as a serviço da preservação da memória cultural indígena. 4. Considerações finais A presença mais forte de aculturação está nas roupas e na alimentação. Entretanto, o uso das tecnologias, especialmente as de comunicação, pode constituir também ameaças a destruição de mais uma das culturas nativas do País. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Nossas constatações apontam a necessidade de a população não-índia realizar a educação ambiental com essa tribo indígena, a partir dos hábitos culturais que já assimilaram. Mas essa educação ambiental precisa pautar-se em ações afirmativas que respeitem a própria cultura indígena, especialmente, no respeito a relação que estabelece com a natureza. Que a população nãoíndia tenha a humildade de atuar de forma tal que evidenciem para os índios o quanto a cultura não-índia acelera a destruição do habitat planetário. REFERÊNCIAS SILVA, Marta Jussara Bezerra. Desaculturação e aculturação indígena. da Revista dominium: revista cientifica da Faculdade de Natal FAL. Disponível em: http://webserver.falnatal.com.br/revista_nova/a4_v2/index.php. Acesso 20.jul.2010. LIDÓRIO, Ronaldo. O envangelho e a aculturação indígena. Disponível em: http://instituto.antropos.com.br/index.php?option=com_content&task=view&id=3 9&Itemid=1 . Acesso em: 20.jul.2010 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A PERCEPÇÃO DAS “PESSOAS COMUNS” SOBRE O GOVERNO COLLOR – 1989 A 1992 Albert dos Reis Ceia e Verônica da Mata Huebra – acadêmicos do curso de Licenciatura em História pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO O objetivo deste estudo foi compreender a percepção das pessoas comuns” sobre o governo Collor – 1989 a 1992. Esta pesquisa qualitativa teve como instrumento de coleta de dados a entrevista semi-estruturada. Como vimos, embora às acusações de corrupção tenham motivado o afastamento de Collor da presidência da república, nem sempre elas relacionadas pelos sujeitos ao fracasso de seu governo. A juventude, vista anteriormente como qualidade, a incompetência de seus aliados e a pressão da oposição são justificativas apresentadas para o fim do governo Collor. A memória do governo Collor é marcantemente emocional e a figura do então presidente permanece ambígua no imaginário popular. Embora seu governo seja considerado equivocado, raros são aqueles que lançam sobre ele uma aura de vilania. PALAVRAS-CHAVE: Fernando Collor; Percepção; Pessoas comuns; Memória; Imaginário. 1. Introdução Fernando Collor de Mello foi o trigésimo segundo presidente da República Federativa do Brasil. Aos 40 anos de idade, foi o mais jovem político na história a assumir o cargo, tomando posse no dia 15 de março de 1990 e governando até 29 de dezembro de 1992 (SCHIMIDIT, 2007). Collor foi o primeiro presidente eleito por voto direto após o Regime Civil-Militar, em 1989, e renunciou ao cargo na tentativa de evitar um processo de impeachment devido a acusações de corrupção (SCHIMIDIT, 2007). A expressão “meteoro chamado Collor”, cunhada por Melo (2007, p.1) sugere o impacto representado por Fernando Collor na história política brasileira. Cientes desse impacto procuramos responder à questão que norteou este trabalho: como é a percepção das “pessoas comuns” sobre o governo Collor – 1989 a 1992? Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Nesse sentido, o objetivo desse estudo é compreender a percepção das pessoas comuns” sobre o governo Collor – 1989 a 1992. Seguindo o conceito de percepção definido por Chauí (2002) como a interação entre o sujeito e o ambiente, através da qual damos às coisas percebidas sentidos subjetivos, abordamos nosso objeto sob a significação simbólica. Tal atitude deveu-se a importância atribuída por Campbell (1990), Carvalho (1998) e Eco (2008) ao imaginário como instrumento de legitimação ideológica através da instituição da memória. Trabalhando sob a ótica das “pessoas comuns” que, para Prins (1992), constituem as massas populares, buscamos proporcionar a visão do povo para os eventos históricos, destacando-o como agente transformador no mundo em que vive (SHARP, 1992). Para Montenegro (2003), a relação e as diferenças entre o conceito de memória e história, colocam-se como questão angular de debate. O campo da memória, assim como a Historia, constitui-se a partir dos fatos. Mas, enquanto a memória opera o que está submerso na vontade a história trabalha com o que se torna público, recebendo recorte cultural, temático e metodológico a partir do trabalho do historiador (MONTENEGRO, 2003). Para Bossi (1999) a memória constitui-se de uma representação da realidade percebida, não de sua reprodução fidedigna. A nosso ver, a gama de conceitos utilizáveis na interpretação dos eventos, sem que haja comprometimento da objetividade defendida por Fausto (2002) representa um grande atrativo no estudo da história. Assim, utilizandonos do testemunho oral para atingir as fontes que não se expressam documentalmente (PRINS, 1992), buscamos contribuir com o debate entre História e Memória ao investigar as reminiscências do Governo Collor no imaginário, confrontando-as com a historiografia produzida sobre o mesmo. Dentro dessa visão, trabalhamos não apenas com documentos materiais, mas o resgate da memória individual que, para Montenegro (2003), possibilita trazer para o plano do historiador o registro da reação vivida dos eventos históricos. O Governo Collor foi objeto de muitos estudos com os quais dialogamos na realização desta investigação, visto que a produção historiográfica, conforme Montenegro (2003) se ancora não só nos elementos resgatados da realidade, mas em outras histórias produzidas. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Tavares (1998) traça uma análise da produção discursiva do expresidente Fernando Collor de Mello. Para a pesquisadora, o sentido buscado por Collor possui uma conexão estreita com a prática discursiva messiânica. Através da análise desses discursos, a autora percebe o poder de manipulação presente na fala do ex-presidente da república. Melo (2007), por sua vez, aborda a construção do fenômeno Collor pela mídia. Esse autor demonstra, através de análise das imagens, as similaridades entre o populismo de Vargas e o de Collor. Carvalho (2000) pesquisou as origens do bloqueio da liquidez e do plano Collor, utilizando-se da avaliação do debate econômico dos anos anteriores. Para o autor, o bloqueio baseou-se na situação econômica vigente e teria sido adotado por qualquer outro candidato que chegasse ao poder naquele momento. No artigo de Alves (2004), discute-se como a reforma do estado apareceu nos discursos do presidente Collor. Utilizando-se da avaliação dessa preleção em comparação à realidade vigente, constata a vitória ideológica de Collor e daqueles que representava, pelo desenvolvimento de sua política nos governos subseqüentes. Fonseca (2001) analisou a hegemonia neoliberal no Brasil através da grande imprensa a partir do governo Collor, procurando demonstrar como, numa conjuntura decisiva, a grande imprensa se posicionou e reposicionou efetivamente, não para discutir idéias, mas obter a hegemonia ideológica do neoliberalismo. O diferencial de nossa pesquisa encontrou-se no resgate da história vista pelo povo ou “história vista de baixo” (SHARP, 1992), ao considerar como aspecto relevante a percepção das “pessoas comuns” (PRINS, 1992), sobre os elementos trazidos a tona nos trabalhos supracitados. Para Levi (1992), o registro de acontecimentos significativos que, de outra forma, seriam imperceptíveis, permite interpretá-los por sua inserção no discurso social, de modo que a redução de escala revele fatores previamente não observados. 2. Metodologia Este trabalho, de caráter qualitativo, utilizou-se da confrontação de dados colhidos através de entrevistas semi-estruturadas com a historiografia Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 produzida sobre o período do governo Collor. A pesquisa foi realizada de maio a junho do ano de 2010. Foram inquiridos cinco sujeitos de idade superior a 37 anos, que, portanto, puderam votar quando do pleito de 1989 e, entende-se, possuíam discernimento para compreender os eventos da época. Os sujeitos abordados residem nos municípios de Martins Soares, Manhuaçu e arredores, localizados na Mesorregião da Zona da Mata – MG. Na transcrição de seus depoimentos, os sujeitos foram identificados por suas iniciais, de modo a preservar suas identidades. SAG- Tem sessenta e cinco anos e é funcionário público da prefeitura de Durandé, MG. É casado e tem sete filhos. Seu grau de escolaridade é baixo, possuindo apenas a 4° série. É uma pessoa simples e residente na referida cidade. JMM - Tem cinqüenta anos e possui segundo grau completo. Trabalha como radialista em Manhuaçu e, na época do governo Collor, começou um trabalho de microempresário que acabou não dando certo. CAM - Tem trinta e oito anos, reside em Manhuaçu e é repórter da Radio Manhuaçu AM. Possui segundo grau completo, curso básico, comunicação e também os cursos de contabilidade, científico e o magistério. VBE - Tem cinqüenta e sete anos, é casado e tem cinco filhos. Desses, apenas dois vivem com ele e os demais moram nos EUA. Ele pertenceu às forças armadas no período de 1979 a 1988. Hoje, é residente em Martins Soares e é mecânico de moto. ARB - É residente em Martins Soares e tem quarenta e dois anos. Sua condição financeira é muito boa. É comerciante e possui imóveis de aluguel. É graduada em Letras. O objetivo das entrevistas foi recolher as memórias dos sujeitos sobre eventos da História contemporânea, proporcionando detalhes que, conforme Levi (1992) seriam inacessíveis de outra forma. As entrevistas foram gravadas em CD e transcritas em arquivo tipo Word 2003, sendo as observações registradas em forma de nota de campo. O material historiográfico confrontado com os depoimentos recolhidos constituiu-se de livros e artigos produzidos desde a época da candidatura de Fernando Collor à presidência. A Zona da Mata Mineira é uma das doze mesorregiões de estado de Minas Gerais, constituída de 142 municípios agrupados em sete microrregiões. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Situa-se à sudeste do estado, próxima à divisa com estados do Rio de Janeiro e Espírito Santo. Sua população é de aproximadamente 2.145,945 habitantes, sendo destaques em sua economia as indústrias, a criação de gado leiteiro e plantações de cana-de-açúcar, café, milho e feijão. (SOUZA & WONG, 2000) 3. O que os entrevistados falam sobre o governo Collor? De acordo com Eco (2008), na sociedade de consumo, a opção ideológica é “imposta” através de um cauteloso controle das emoções do cidadão, pelos meios de comunicação. Collor manejou com destreza a lógica do marketing político. Conquistou a simpatia de seus conterrâneos e popularidade em todo o país com uma campanha em cima dos meios de propaganda, apoiada na perseguição a funcionários públicos com autos salários, apelidados de “marajás”. (MELO, 2007) Jovem, empresário, bonito e autoconfiante, conseguiu arrebatar o país naquele momento. Utilizando-se principalmente da mídia eletrônica, Collor vendia uma imagem de renovação nacional, mesmo que baseada nos tradicionais quadros políticos oligárquicos (MELO, 2007). Os depoimentos colhidos junto aos sujeitos apontam à implicação sociopolítica da percepção dessa iconografia pela população. ARB destaca: Olha, o Collor foi uma pessoa assim, um político muito bem apresentável, muito bonito. Naquela época ele tinha um sorriso que marcava. E ele, assim, ele passava. Lembro que ele teve um debate com o Lula. E o Lula “pegou ele”. Ele foi muito conceituado na época. Me parece que ele era governador de um estado. Governador do... Estado do... Ai fugiu o nome agora. (ARB, comerciante, 42 anos.) A construção do fenômeno Collor, através da imagem do herói nacional, é marcante na memória dos entrevistados. O depoimento de CAM demonstra o peso do discurso messiânico: Um salvador. Um homem que era novo. Apresentava uma imagem… é… positiva para a sociedade. Muitas coisas que aconteceram lá dentro do congresso mesmo, até hoje existem dúvidas, mas era uma pessoa que eu acreditava muito naquele momento. (CAM, repórter, 38 anos) Montenegro (2003) afirma que memória atende a um processo de mudança ou de conservação. O governo Collor foi marcado na memória dos entrevistados pela implementação do “Plano Brasil Novo”, ou “Plano Collor I”, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 destacando-se a lembrança da abertura do mercado nacional às importações, como um fator positivo que reflete nos dias de hoje, e o confisco, que surge como grande fator negativo. Em seu depoimento JMM exemplifica: Na área econômica, por exemplo, a abertura econômica começou com ele. Hoje se você tem produtos importados ou coisas assim, é uma das coisas que ele fez no período governante… talvez… uma das… a única coisa de boa foi essa. (JMM, radialista, 50 anos) ARB, por sua vez, apresenta uma visão particular do plano “Brasil Novo”: E assim, teve as mudanças de moeda no país, que foi uma época que segurou o dinheiro de todo mundo no banco. Ficou uma coisa, assim, bem estarrecedora. Assim, mesmo pro Brasil. Todo mundo levou um choque, já que ele era o “caçador de marajá” e tal! Ele queria o que pra igualar o nível financeiro de praticamente todo mundo? Então, quem tinha poupança, tinha muito dinheiro, ficou com tudo retido no banco. Até quem votou nele ficou muito nervoso, porque, gente, se ele queria igualar ou, no pensamento dele, era igualar financeiramente todas as classes: média, baixa e alta, como na época tinha mais era baixa e alta, então ia ter esse tipo de confronto mesmo. E a minha vida, no meio de tudo aquilo ali, eu era recém casada. Senti aquele impacto no tempo. Assim, já não podia ter as mesmas coisas, na mesma hora, porque o dinheiro tava todo travado no banco e foi muito difícil. Mais teve um lado positivo também, mas de início foi bem conturbado. (ARB, comerciante, 42 anos) SAG, ao conceder sua entrevista, desabafa: É só a lembrança do dinheiro que eu pus no banco e perdi. Só que graças a Deus eu fui “lutano”, só que eu deixei de ser o “ferrão” pra ser o “boi”, por que eu fui trabalhar de empregado, por que o meu dinheiro, dinheiro vivo que eu vendi a propriedade (…) E “acabano” até hoje eu “tô” ai, sem nada. “Num” consegui “aposentá”. “Tô trabaiando” de empregado “prosoto” e sem nada. (…) eu vou te falar com “cê”, tudo que eu consegui foi com dificuldade. Foi “trabaiando”. Eu e a minha família. Passando dificuldade pra vim um homem que eu nem sei da onde saiu, pra pode “panhá” tudo que eu tenho. “Fazê” o que, “né”? A gente tem que conformar com aquilo que Deus faz pra gente. “Tô véio”, mas nunca deixei de ter expediente. Depois que isso aconteceu eu fui trabalhar de empregado e “fazê” o quê? Foi o que Deus quis que acontecesse. Pelo menos eu “tô trabaiano” e lutando, mesmo que de empregado “prosoto”. (SAG, funcionário público, 65 anos) SAG demonstra tristeza e conformismo em sua fala: Mas, o que eu queria falar é que aquele homem num fez um papel correto com a gente não. Porque tudo que eu consegui foi com muita dificuldade, eu mais a minha família, pra ele vim e “levá” tudo que eu Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 tinha e agora nem consegui aposentá eu num consigo, por causa disso, ua Eu vendi carroça, café, “uns porquinho” que eu tinha, pra mim “pô” o dinheiro a juro, pra um vagabundo “dum” homem desses tomar tudo que eu tenho? Foi muito difícil. E o que mais me entristece é que eu não consigo nem aposentar. A verdade é essa. Então é isso ai que eu to falando. (SAG, funcionário público, 65 anos) Antes da “Era Collor” (MELO, 2007), o Brasil sofreu por anos com a hiperinflação. Sarney deixou a presidência com a inflação acumulada batendo 611.000%, índice de 84%, apenas no último mês de gestão. O Plano Collor I procurava estabilizar a inflação pelo "congelamento" da liquides, restringindo o fluxo monetário de modo a deter a inflação (CARVALHO, 2000). Para Chauí (2002) damos as coisas percebidas novos sentidos e valores, de modo a adequá-los a estrutura de nossa vida. É interessante, portanto, que, embora bastante vivos, os depoimentos não revelam nenhum conhecimento concreto do Plano Collor I ou do confisco em particular. Ao contrário, há construtos subjetivos sobre os eventos. Outro ponto interessante é que, embora as palavras “impeachment” e “corrupto” sejam relacionadas à Collor pelos entrevistados, percebemos também certa empatia por ele, como demonstra ARB: Como nem todo mundo nem só acerta... Deixa errar também. Ele foi infeliz assim. De ter começado um trabalho tão bem e ter deixado, assim, que momentos (…) esse momento, ai, de alegria deles deixasse vir à tona e acabasse com o governo dele. Ele tinha tudo pra ser um ótimo governo e infelizmente não veio a ser, devido... Ah! Eu não sei talvez... Porque na época ele era muito jovem também. Ele, se não me engano, ele tinha trinta e poucos anos. Isso pode vir a pesar muito. Jovem não tem aquele domínio da situação. Eu acho que o marco que ele deixou pra gente foi isso essa acessibilidade, “né”? Lá fora. Com tudo que tem o mundo de primeira... De primeira... Primeiro mundo aqui pra nós... (ARB, comerciante, 42 anos.) CAM revela desconfiar da veracidade das acusações sofridas por Collor: E depois veio a imagem do corrupto. Do homem que estava levando o dinheiro do Brasil. Mas eu, como m… na época, acreditava muito no trabalho dele, eu tive uma dúvida: será que é verdade? Será o que ele fez… é… é… foi comprovado ou não? Ai a imagem que eu tinha depois era de desconfiança. (CAM, repórter, 38 anos) VBE, por sua vez, demonstra admiração: A Administração dele era boa. O cara era um empreendedor. Um empresário. Um cara que vê o futuro onde eu não vejo. E assim ele fez a família dele toda. Todos empresários, proprietários de rádios, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 televisões, jornais no alagoas. Quer dizer… um cara interado no mundo. Na hora dele trazer isso pra presidência ele não trouxe. E quem veio com ele trouxe gente errada. Gente que não tinha cacife pra acompanha a cabeça dele. Pra mi aí foi o erro. Aí foi o erro chave. Ele tinha que ter vindo por ele. Igual eu “tô” falando por mim, eu sozinho e criado. Ele tinha que ter vindo e sentido a necessidade de mudança. Sabe sentido a necessidade de mudança, de botar em prática o que ele tem que eu sei que ele tem em mente. Ele tem muita coisa em mente. (VBE, mecânico e ex-militar, 57 anos) Como vimos, embora as acusações de corrupção tenham motivado o afastamento de Collor da presidência da república, esta nem sempre são relacionadas pelos sujeitos ao fracasso de seu governo. A juventude, vista anteriormente como qualidade, a incompetência de seus aliados e a pressão da oposição, são justificativas apresentadas para o fim do governo Collor. 4. Considerações finais O fato histórico, embora se refira ao passado, tem impacto no presente, cabendo ao historiador interpretá-lo e explicá-lo (FAUSTO, 2002). A memória, por sua vez, forma um imaginário que se constitui em referência permanente para o futuro (MONTENEGRO, 2003). Ao concluirmos esta pesquisa, constatamos que a percepção das “pessoas comuns” sobre o governo Collor guarda uma profunda ambigüidade. Embora seu governo seja considerado equivocado, raros são aqueles que lançam sobre ele uma aura de vilania. Sua representação no imaginário, sensivelmente influenciado pela grande mídia, é um amálgama oscilante entre o marco da mudança e a completa decepção. Para Fausto (2002), a história, enquanto ciência humana possui certa relatividade, dependendo da interpretação dos fenômenos pelo historiador. Ao investigar o impacto do fato histórico sobre o imaginário dos indivíduos, procuramos enriquecer essa interpretação, acrescentando a ela o fator emocional e humano. REFERÊNCIAS SHARPE, Jim. A história vista de baixo. In: BURKE, Peter (Org.) A Escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Fundação Editora da UNESP (FEU), 1992. 39-62p. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 LEVI, Giovanni. Sobre a micro-história. In: BURKE, Peter (Org.) A Escrita da História: novas perspectivas. São Paulo: Fundação Editora da UNESP (FEU), 1992. 133-161p. PRINS, Gwyn. História oral. In: BURKE, Peter (Org.) 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Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 COMO OS ALUNOS SÃO TRATADOS PELOS PROFISSIONAIS DA ESCOLA? UM ESTUDO REALIZADO EM ESCOLAS DE UM MUNICÍPIO DO LESTE DE MINAS GERAIS Zilanda Cattia da Cunha; Cleuva Maner Rodrigues; Lucimar Aparecida de Oliveira– graduandas do 6º período de Pedagogia do Centro Universitário de Caratinga – UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. Ana Suely Mateus Carreiro – graduada em Letras. Especialista em Gestão e Coordenação. Coordenadora da UNEC Tarumirim. [email protected] RESUMO O objetivo desse estudo foi compreender o tratamento que os alunos de um município do Leste de Minas gerais recebem dos profissionais da escola e que relação este tratamento tem com sua aprendizagem e a indisciplina. Os sujeitos desta investigação foram 06 alunos de três escolas do município de Tarumirim Minas Gerais, com idade entre 09 e 15 anos. A pesquisa foi realizada através de entrevista estruturada. Diante de todos os depoimentos compreendemos que os alunos ainda continuam sendo tratados com desrespeito. Sabemos que não é fácil lidar com crianças e adolescentes que tem comportamentos de diversas naturezas, e que, inclusive, podem ser considerados indisciplinados. Mas, todos eles têm o direito a um profissional qualificado na escola. Assim, cabe a grande parte dos profissionais da escola reverem suas atitudes e comportamentos a fim de (re)pensarem seus conceitos e práticas. PALAVRAS-CHAVE: Autonomia. Atitude, Comportamento, Indisciplina, Afetividade; 1. Introdução “As escolas deveriam entender mais de seres humanos e de amor do que de conteúdos e técnicas educativas. Elas têm contribuído em demasia para a construção de neuróticos por não entenderem de amor, de sonhos, de símbolos e de dores.” Cláudio Saltini A forma como alguns profissionais da escola, notadamente professores, lidam com seus alunos, nos chama a atenção desde a escola básica. O que nos levou a fazer tal pesquisa foi o fato de nos incomodar a forma como os educadores nos tratavam nas séries iniciais e finais do ensino fundamental, e como alguns ainda tratam seus alunos neste momento histórico. Passamos por experiências com professores que, na maioria das Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 vezes, pareciam não ter paciência para ensinar e, diante disso, nos castigavam quando não fazíamos a lição corretamente. Ao contrário disso, é de suma importância que o professor tenha equilíbrio emocional, pois aquilo que ele ensina está diretamente ligado à sua personalidade. Sobre isso Saltini (1997, p.91) afirma que: A serenidade e a paciência do educador, mesmo em situações difíceis fazem parte da paz que a criança necessita. Observar a ansiedade, a perda de controle e a instabilidade de humor, vai assegurar à criança ser o continente de seus próprios conflitos e raivas, sem explodir, elaborando os sozinhos ou em conjunto com o educador. A serenidade faz parte do conjunto de sensações e percepções que garantem a elaboração de nossas raivas e conflitos. Ela conduz ao conhecimento de si mesmo, tanto do educador quando da criança. Toda criança deseja e necessita ser amada, aceita, acolhida e ouvida para que possa despertar para a vida da curiosidade e do aprendizado. E o professor é quem prepara e organiza o micro universo da busca e do interesses das crianças. A postura desse profissional se manifesta na percepção e na sensibilidade aos interesses das crianças que, em cada idade, diferem em seu pensamento e modo de sentir o mundo. Diante das dúvidas que temos em como lidar com os alunos, buscamos respostas para as seguintes perguntas: como os alunos de escolas de um município do Leste de Minas são tratados pelos professores na escola? Existe relação entre o tratamento que os alunos recebem dos professores e as manifestações de indisciplina? Existe relação entre as formas de os profissionais da escola tratar os alunos e o processo de ensino e aprendizagem? Com esta investigação buscamos compreender o tratamento que os alunos de um município do Leste de Minas gerais recebem dos profissionais da escola e que relação este tratamento tem com sua aprendizagem e a indisciplina. Com esse estudo pretendemos contribuir para que os profissionais da escola repensem as formas de tratar os alunos e que tomem conhecimento de como é fundamental o estilo de relacionamento que estabelecem com os educandos. Além disso, pretendemos apontar caminhos para a melhora da educação. 2. Referencial teórico Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Toda investigação se depara com novos jeitos de olhar, pesquisar e discutir. Há que se rever conceitos, reformular idéias, ressignificar palavras dentro do contexto no qual estão inseridas. “Uma palavra adquiri seu sentido no contexto em que surge; em contextos diferentes altera seu significado” (LUFTI, 2001, citado em NASCIMENTO 2005, p.41). Portanto, para discutir os conceitos dessa investigação buscamos entrar em contato com outros autores que já pesquisaram sobre o assunto, e que nos auxiliarão. Estudaremos os conceitos de atitude, comportamento, indisciplina, afetividade e autonomia. Para Kardec (1978), atitude significa uma “maneira organizada e coerente de pensar, sentir e reagir em relação a grupos, questões, outros seres, ou (...) acontecimentos ocorridos em nosso meio circundante”. (KARDEC, 1978, citado em GREGÓRIO, 2007, p.3). Newcomb (1965) citado por Deutsch (1999) afirma que o comportamento é o resultado de variadas atitudes. Para Gregório (2007), porto em latim significa levar, em português quer dizer portar-se “com”. Basicamente, a diferença entre atitude e comportamento é: “a atitude é intenção; o comportamento é ação”. (GREGÓRIO, 2007, p.4). Indisciplina é um termo muito usado pelos docentes nas escolas. Para Silva (2004), citado em Ferreira, Palácio e Favarim (2006, p.2): é quase sempre empregada para designar todo e qualquer comportamento que seja contrário às regras, às normas e às leis estabelecidas por uma organização. No caso da escola, significa que todas as vezes que os alunos desrespeitam alguma norma desta instituição serão vistos como indisciplinados. Outro conceito de indisciplina é dado por Ribas, que afirma que “todo ato praticado pelo aluno traduzido no direito lesado dos colegas em aprender e dos profissionais em educação de trabalharem é um ato de indisciplina” (RIBAS, 2002, p.02). A afetividade pode ser o agente transformador dos comportamentos na relação professor-aluno. “A afetividade que se manifesta na relação professoraluno constitui-se em elemento inseparável do processo de construção do conhecimento” (TASSONI, 2004, p.04). A autonomia também é muito importante, pois está pode aparecer de várias formas. Para Kamii (1990), a autonomia significa “levar em consideração os fatores relevantes para decidir, agir da melhor forma para todos” (KAMII, 1990, p. 108). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 3. Metodologia A pesquisa foi realizada em três escolas do município de Tarumirim, Minas Gerais. O município situa-se no leste de Minas Gerais e segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas, 2007) tem uma população de 14.185 habitantes. Segundo o Censo escolar (2009) o município tem 3.580 alunos matriculados em creches, pré-escolar e escolas estaduais e municipais. Observamos as aulas dos professores, a relação professor/aluno dentro da sala de aula, e também a relação entre os alunos e os demais profissionais das escolas fora da sala de aula. Segundo Bogdan e Biklen (1994, p.150) essas observações são “o relato escrito daquilo que o investigador ouve, vê, experiência e pensa no decurso da recolha e refletindo sobre os dados de um estudo qualitativo”. As entrevistas foram realizadas no primeiro semestre de 2010 com seis alunos, não entrevistamos os profissionais da escola devido à dificuldade de aceitação dos profissionais em relação ao tema da pesquisa. As entrevistas foram transcritas e armazenadas em arquivo Word 2003. 4. Os achados da pesquisa Ao pensarmos em educação, em especial ao ensino dos anos iniciais, cabe-nos ressaltar a importância do modo como os professores conduzem seus alunos, como é fundamental que eles recebam um tratamento adequado, não apenas pelos professores como também pelos demais funcionários da escola. Como alunas na década de 1980 e 1990, víamos o professor como o dono da sala de aula, o comandante, existia uma disciplina forçada, impunhase um limite à base de castigos rigorosos. Por não terem paciência para ensinar, nos castigavam com beliscões, nos batiam com régua e vara de bambu, coques e nos agrediam verbalmente quando não entendíamos o que era pra ser feito e não fazíamos corretamente as lições. Durante as entrevistas com os alunos pudemos observar que ainda hoje as atitudes de alguns educadores continuam sendo semelhantes: Acho minha escola boa, mas poderia melhorar principalmente a forma que alguns professores se dirige aos alunos, tem muitos professores que não tem paciência e brigam a toa com alguns alunos, muitos também parece que vai pra sala sem preparar a aula e fica nervoso se algum aluno pergunta alguma coisa que ele não está preparado pra Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 responder, isso não é problema nosso.(Carla Silva, aluna, 15 anos) Segundo o Estatuto da criança e do adolescente (ECA – 8.069/90) no artigo 53, capítulo IV, inciso II “todo o aluno tem o direito de ser respeitado por seus educadores” (1990 p. 31). O professor tem que ser um mediador do processo de ensino e aprendizagem e as relações na sala de aula necessitam ser fundamentadas na confiança entre ambas as partes. Segundo Krueger (2002) a escola por ser o primeiro agente socializador fora do círculo familiar da criança, torna-se a base da aprendizagem se oferecer todas as condições necessárias para que ela se sinta segura e protegida. Assim, para que a criança tenha um desenvolvimento saudável dentro do ambiente escolar, e consequentemente social, é indispensável que haja relações interpessoais positivas, como aceitação e apoio possibilitando assim o sucesso dos objetivos educativos. O contrário disso acontece na escola, como coloca a aluna: Depois do recreio eles fecha o padrão de água ai não tem mais como beber água, tem que ir neste horário no banheiro também por que eles trancam tudo. (Angélica, aluna, 09 anos). Como uma criança que ainda não aprendeu a controlar seu organismo pode se sentir segura num ambiente escolar que funciona com regras apropriadas para adultos, ou melhor, para militares? Sendo assim seus direitos estão sendo violados, num lugar onde mais deveria ser ensinado sobre seus direitos e deveres. Que cidadão uma escola que age assim irá formar? Para Chardelli (2002) a todo o momento a escola recebe crianças com a auto-estima comprometida, tristeza, dificuldades em aprender ou em se entrosar com os colegas e que são, na maioria das vezes, rotuladas de complicadas, sem limites, entre outros adjetivos negativos. Além disso, não são tocadas e nem são entendidos os motivos que as deixou assim. Nesse sentido, afirma Gabriela: Tem uns professores que são muitos estressados, qualquer coisa fica nervoso, já quer pegar os alunos. Que pegar o aluno pela orelha, bater sei lá fica nervoso por que ele esta explicando, e fica nervoso com um e acaba fazendo falta de educação com outro, descontando em outro que não tem nada a ver. Só por que ele pergunta alguma coisa ele fala: ”eu já expliquei monte de vez, por que você não prestou atenção”, mas ele tem que saber que às vezes tem aluno que tem dificuldade pra entender Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 a matéria, e por causa de outros que estão fazendo bagunça atrapalha prestar atenção, ai a gente fica prejudicado. (Gabriela, aluna 10 anos) Muitos professores não compreendem por que o aluno conversa muito, anda na sala, grita e é briguento. Ressalva-se que este aluno pode estar apenas querendo ser ouvido, percebido pelo professor, procurando um pouco de afeto e compreensão das pessoas que lhe estão próximas. Diante dessa incompreensão a relação entre ambos acaba se tornando intolerável e o professor tenta resolver tal situação com gritos estridentes e castigos, o que acaba piorando ainda mais a situação. Macatão, Guim e Lucas Junior (2008) afirmam que o comportamento indisciplinado muitas vezes é condenado sem que se analise ou compreenda seus por quês e algumas vezes o próprio professor está sendo responsável por tais atitudes, visto que o aluno pode refletir alguma ação deste profissional que, talvez, nem perceba sua influência sobre o educando. Dessa forma, acreditam que indisciplina pode ser uma reação do aluno frente à sua insatisfação, desinteresse ou desilusão aos fatos por ele vivenciados. Vindo ao encontro das nossas experiências, muitos alunos relataram que já presenciaram e até mesmo já sofreram agressões físicas ou psicológicas (verbais) na escola, tal como registrado nas entrevistas: Já presenciei uma professora xingando e brigando com um aluno dentro da sala de aula e ainda ela chamou o aluno pra resolver a briga "no braço”, ela queria bater no menino dentro da sala. Essa professora é acostumada a fazer isso, ela se acha porque ela é mulher de policial. (Carla, aluna, 15 anos) Uma serviçal me agrediu verbalmente, pois no dia eu estava sem o uniforme da escola, então a serviçal estava no portão e me disse que eu não iria entrar, mas naquele dia eu não estava me sentindo bem, eu não iria à aula e só fui até a escola para entregar alguns trabalhos. Tentei explicar a ela, mas nada adiantou, a serviçal então ficou muito descontrolada e me xingou. Fiquei muito chateada, achei aquilo um absurdo, minha sorte foi que o diretor estava chegando, expliquei a ele a situação e ele me deixou entrar na escola. (Renata, aluna, 12 anos) Já chorei muitas vezes, de raiva da minha professora, por que a menina que sentava na minha frente, virou para conversar comigo, ai ela falou um monte de coisa que eu só ficava atrapalhando a aula que era por isso que só tirava notas baixas que ia chamar meus pais na escola. Mas o que doeu é que ela virou para a minha colega e disse assim: “fica sua besta indo na onda desta daí que você vai ficar igual a ela, esta daí,” até parece que eu sou besta. E ainda mais que os meus pais nunca foram à Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 escola por minha causa, ai a menina falo umas verdades com ela, que ela devia brigar com os meninos porque ela só brigava com as meninas. Já presenciei também um caso que aconteceu em outra sala, isso aconteceu no ano passado, que a professora bateu em dois alunos. (Gabriela, alunas, 10 anos) Já presenciei várias brigas na minha escola, um dia a professora de ciências deu uma briga com meu amigo lá que foi feia, ele gritou com ela. E foi parar na diretoria, agora ele só chega na escola na hora do recreio nas quartas-feiras, até a mãe dele já foi lá para ver o que dava para fazer, mas, não resolveu eu fico triste com isso porque ele vai tomar bomba de ciências. E no ano que vem ele não pode ser meu colega de sala. (José, aluno,09 anos) Uma serviçal que estava no portão brigou comigo perto dos meus colegas, falou coisas que não precisava, me senti muito humilhada e fiquei morrendo de vergonha dos meus colegas, só porque eu estava sem a camisa do uniforme. (Milene, aluna, 12 anos) Nas observações que realizamos nas escolas, pudemos rever muitas cenas que vivenciamos quando estudávamos. Sabemos que foram criadas leis para amparar o aluno que é agredido física ou verbalmente, ou melhor, que proíbe o educador de praticar tais atitudes, mas em algumas escolas essas leis ainda não saíram do papel. Pudemos observar que ainda existem professores que usam da força física e até mesmo do status social conferido por familiares para ter o controle dos alunos, como o caso da aluna que se referiu a uma professora que faz o que quer com os alunos por ser esposa de policial. Ainda falando a respeito do profissional policial, presenciamos uma cena que vale a pena ser descrita. Estávamos na escola fazendo nossa observação, então quando percebemos certo alvoroço na sala da 6° ano, com alunos de aproximadamente 10 a 11 anos de idade. Aproximamos-nos pra ver o que estava ocorrendo e ali vimos o policial que havia ido buscar sua esposa na escola. Ele entrou na sala de aula como se ali fosse seu setor de trabalho e começou a falar como se estivesse falando com bandidos, haja vista que seu tom de voz era ríspido, alto, arrogante e ameaçador. Depois do seu discurso ele saiu da sala falando pelos corredores que iria até levar certos alunos presos se fosse preciso. Embora não haja justificativa para tal comportamento do militar, isso ocorreu devido ao fato de o professor não ter autoridade com a turma, situação essa que todos da escola comentam. Presenciamos também vários professores agredindo fisicamente seus alunos, com beliscões, sacolejos, empurrões, puxões de orelha e com palavras Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 muito pesadas para crianças daquela idade. A exemplo disso, presenciamos a pedagoga que é a professora alfabetizadora de uma das escolas falar com os alunos do 5ª ano que se eles continuassem a não comportar na escola quando eles crescessem iriam se tornar bandidos, que iriam encontrar alguém que os mataria com uma arma ou então o que mais iria acontecer com eles seria apanhar dos policiais. Agressão psicológica é um mal que precisa ser combatido urgentemente nas escolas, pois um educador tem por função formar um cidadão qualificado e não o frustrar e nem o desanimar diante dos problemas da sociedade em que vivemos. Diante de todos os depoimentos compreendemos que os alunos ainda continuam sendo tratados com desrespeito. Sabemos que não é fácil lidar com crianças e adolescentes que tem comportamentos de diversas naturezas, e que, inclusive, podem ser considerados indisciplinados. Mas, todos eles têm o direito a um profissional qualificado na escola. Assim, cabe a grande parte dos profissionais da escola reverem suas atitudes e comportamentos a fim de (re)pensarem seus conceitos e práticas. 5. Considerações finais Tendo como base o referencial bibliográfico analisado e as observações que fizemos, é possível apresentar algumas reflexões. A relação professoraluno é um aspecto fundamental da organização do trabalho docente visando alcançar os objetivos do processo de ensino e aprendizagem. Sendo assim, essa relação será mais eficiente quando for permeada pela compreensão e confiança. O professor deve perceber o aluno em sua singularidade, ajudandoo a adquirir autonomia e segurança. Quanto à indisciplina, é preciso que o professor saiba lidar com autoridade sem ser autoritário, empregando com segurança todo conhecimento profissional sem deixar de fora a afetividade, orientando o aluno em sua caminhada. Tendo em vista que fora do círculo familiar, a escola é o primeiro agente socializador, cabe ao professor, como parte integrante da escola, ter a responsabilidade e o compromisso com o aluno, dando apoio para que este se torne um cidadão participativo na sociedade, capaz de agir e interagir como um todo. A relação entre professor e aluno depende fundamentalmente do ambiente estabelecido pelo professor, quando cria em sua classe uma relação Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 de empatia, de sua capacidade de também ouvir, refletir e discutir o nível de assimilação de seus alunos e da ponte que se faz entre o conhecimento dele e os de seus educandos. Estamos vivendo em uma era em que o educador, com raras exceções, precisa educar para as mudanças, para a autonomia, para a liberdade possível numa abordagem global trabalhando o aluno para ser um cidadão consciente de seus deveres e de suas responsabilidades sociais. Ensinar, entretanto, transcende meramente a transmissão de conhecimentos: é oportunizar ao educando a construção de sentidos amplos e a transformação dele próprio e do mundo que o rodeia. Nisso consiste a essência de nossa verdadeira e única missão enquanto educadores do novo milênio a sermos peças na transformação do mundo. Todavia, a mudança deve se iniciar primeiramente em nós mesmos, nenhuma renovação acontecerá se não dermos o primeiro passo. Isso sim é educação. REFERÊNCIAS BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari. Investigação qualitativa em Educação – uma introdução à teoria e aos métodos. Porto: Porto Editora, 1994. BRASIL. Censo Escolar. Brasília. D.F. 2009. Disponível em http://www.inep.gov.br/basica/censo/Escolar/Matricula/censoescolar_2009.asp? metodo=1&ano=2009&UF=MINAS+GERAIS&MUNICIPIO=Tarumirim&Submit= Consultar acessado em 02/09/2009. BRASIL. Estatuto da criança e do adolescente (ECA – 8069/90), Brasília. D.F. 2007. Disponível no site http://www.planalto.gov.br/ccivil/LEIS/L8069.htm acessado em 21/10/2009. BRASIL. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – contagem de população 2007. Brasília – DF. CHARDELLI, Rita de Cássia Rocha. Brincar e ser feliz. Disponível em http://7mares.terravista.pt/forumeducacao/textos/testobrincareserfeliz.htm DEUTSCH, S. Atitude de trabalhadores quanto a prática da atividade física no tempo livre. Revista Motriz, São Paulo, v.5, s.n. p. 160 – 167, 1999 FERREIRA, Josiane Peres; PALÁCIO, Claudia Cristina; FAVARIM, Márcia Maria Geron. Indisciplina, limites e relações de poder entre professor e alunos de educação infantil. 2006. Disponível no site http://www.proex.uel.br/estacao/index.php?arq=ARQ_art&FWS_Ano_Edicao=4 &FWS_N_Edicao=5&FWS_N_Texto=3&FWS_Cod_Categoria=1 acessado em 28/10/2009. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GREGÓRIO, Sérgio Biagi Atitude e comportamento. Disponível em http://www.ceismael.com.br/artigo/artigo057.htm acessado em 15/10/2009 KAMII, Constance. A criança e o número. 11. ed. Campinas: Papirus, 1990. KRUEGER, Magrit Froehlich. A relevância da afetividade na educação infantil. 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Ana Suely Mateus Carreiro – graduada em Letras. Especialista em Gestão e Coordenação. Coordenadora da UNEC Tarumirim. [email protected] RESUMO O objetivo desse estudo foi compreender a efetividade do PROERD na vida de alunos nas escolas da cidade de Tarumirim-MG. Essa pesquisa qualitativa foi realizada entre os meses de abril e maio do ano de 2010, através de entrevista semi-estruturada com 5 alunos do 5º , 6º e 7º ano, que se encontram na faixa etária de 11 a 13 anos de idade. Esses alunos estudam em uma escola pública da rede estadual de um distrito do município de Tarumirim-MG. Todos os nomes utilizados são fictícios para resguardar a identidade dos sujeitos. Por se tratar da primeira turma formada pelo programa e a pesquisa ter sido feita apenas com cinco alunos em tão pouco tempo sugerimos que uma nova pesquisa seja feita, talvez com mais tempo e após o programa ter sido completado, a fim de dar um tempo maior para que talvez os alunos passem por situações que os colocarão a prova. Dessa forma, poderíamos ter resultados que possam mais efetivamente apontar o lugar do PROERD no processo de prevenção. A não continuidade nas atividades desenvolvidas pelo PROERD junto aos alunos deixa uma lacuna quanto a este processo de prevenção, que deveria ser constante, pois situações de risco os envolverão com certeza constantemente. PALAVRAS-CHAVE: PROERD; Drogas; Prevenção; Violência. 1. Introdução Nos dias atuais, as questões relacionadas ao uso de drogas e violência entre crianças e adolescentes destacam-se como um dos problemas emergentes a serem discutidos pela sociedade. Diante dessa preocupação percebe-se que a escola é o local mais propício para a realização de práticas preventivas. Como estudantes do curso de Pedagogia nos deparamos com informações e discussões sobre problemas sociais, principalmente no âmbito escolar, como violência, indisciplina dos alunos, falta de apoio das famílias, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 desigualdade social e o uso de drogas. Percebemos que não é somente necessário remediar esses problemas, mas preveni-los. De todos eles, o que mais nos inquieta são as drogas, haja vista que acoplado a elas podem surgir os demais problemas citados anteriormente. A lei de 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente – ECA) reforça os preceitos constitucionais sobre os cuidados relativos a responsabilidade da família, da sociedade e do Estado de colocar a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e pressão todas as crianças e adolescentes. Concernente a isso, como mães, no ano de 2009 fomos convidadas a participar de uma reunião sobre implantação do Programa Educacional de Resistência as Drogas e Violência – PROERD –, na escola. O Programa estava sendo apresentado aos pais e alunos. Saber da existência do PROERD nos despertou o interesse de conhecer a efetividade desse programa após os alunos terem passado por ele. Em nosso município o PROERD é um programa novo, que pela primeira vez estava sendo realizado em seis escolas do município. O Programa, que é desenvolvido na escola, é precedido por uma reunião com pais e educadores, no sentido de apresentar todas as informações relevantes a seu respeito e orientar o engajamento e a participação de todos no processo (PROERD, 2009). Vem sendo cada vez maior a aceitação e pressão do meio social para o uso de drogas, há oferta em quase todos os lugares, tais como escolas, festas, convívio familiar onde há usuário de drogas e até mesmo problemas de relacionamento familiares, como falta de diálogo, permissividade e falta de compromisso dos pais, dos pais com a educação e influência de “falsos” amigos, o que, muitas vezes, pode ocasionar conseqüências devastadoras e permanentes na sua formação. Em relação à educação, muitas vezes a família transfere a responsabilidade para a escola, mas a Instituição realmente tem um papel importante na vida dos alunos para a conscientização, principalmente quanto informados dos problemas físicos e de demais conseqüências que o uso de drogas pode acarretar. Independente da classe social o uso de drogas no Brasil e no mundo está crescendo a cada ano, e está sendo cada vez maior o número de crianças e adolescentes envolvidos, o que afeta também toda a família. Tarumirim, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 mesmo sendo um município de interior e de pequeno porte, com aproximadamente 15 mil habitantes vem tendo um crescente número de crianças e adolescente se envolvendo cada vez mais com as drogas e a violência. O PROERD baseou-se no Drug Abuse Resistance Education (DARE), projeto criado em 1983 nos Estados Unidos, no estado da Califórnia, em Los Angeles. O PROERD foi implantado no Brasil em 1992, pela Polícia Militar (PM) do estado do Rio de Janeiro e em São Paulo em 1993. Desde 2002 o PROERD funciona em todos os Estados do Brasil e, atualmente, programas similares a ele e, consequentemente, ao DARE são desenvolvidos em 58 países (PROERD, 2009). Diante do exposto, a questão eixo que nos colocamos é: Como é a efetividade do PROERD na vida de alunos de uma escola de um distrito da cidade de Tarumirim-MG? E as outras questões: Como os alunos percebem o PROERD? O PROERD alterou a forma de eles pensarem a respeito das drogas? Assim definimos como objetivo deste estudo que foi compreender a efetividade do PROERD na vida de alunos nas escolas da cidade de Tarumirim-MG. Com esse estudo pretendemos contribuir para que professores, pais, alunos, compreendam a necessidade de valorizar esse programa como estratégia de prevenção às drogas. 2. Revisão de literatura O PROERD é um programa de caráter social preventivo, ministrado por Policiais Militares (PM‟s) a alunos do 5º ano que se encontram na faixa etária de 09 a 12 anos de idade e dos adolescentes do 7º ano, na faixa etária de 12 a 14 anos de idade (PROERD, 2009). O PROERD é aplicado nas escolas da rede de ensino público e privado, através do esforço cooperativo entre PM, escola e família, oferecendo atividades educacionais em sala de aula, que discutem com as crianças e os adolescentes a necessidade de desenvolver as suas potencialidades ajudando a preparar para o futuro uma geração consciente do exercício de sua cidadania (PROERD, 2009), longe das drogas. Ainda segundo o Programa, as aulas são ministradas uma vez por semana, durante um semestre, por um policial sempre fardado e acompanhado pelo professor da turma. Este profissional não poderá ter vício, passando por Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 uma rigorosa seleção, já que o sucesso do programa baseia-se no referencial representado pelo policial. As aulas encontram-se organizadas no livro do estudante, em 10 (dez) lições de 60 minutos. Além do livro do estudante a criança recebe um “kit” de comunicação visual composto de 01 camiseta e 01 boné com a logomarca do PROERD, entregues no dia da formatura, juntamente com um certificado de conclusão do curso, momento esse em que o aluno formando presta o compromisso, diante da Polícia, da escola e da família, de resistir às drogas e à violência (PROERD, 2009). O Programa oferece em linguagem acessível às faixas etárias que se direciona uma variedade de atividades interativas com a participação de grupos em aprendizado cooperativo; atividades que foram projetadas para estimular os estudantes a resolverem os principais problemas recorrentes na faixa etária em que se encontram. A cooperação da sociedade e a participação efetiva do empresariado é fundamental e se constitui na sustentação econômica e financeira, da viabilidade e continuidade do PROERD, visando atender uma parcela, cada vez mais significativa, das crianças e adolescentes, criando, dessa forma, uma rede protetiva, crescente, contra as drogas (lícitas e ilícitas), bem como contra as atitudes que geram violência (PROERD, 2009). As lições têm o objetivo de contribuir para a melhora da auto-estima, o cultivo da felicidade, o controle das tensões, a civilidade, além de ensinar técnicas de autocontrole e resistência às pressões dos companheiros e as formas de oferecimento de drogas por pessoas estranhas ao convívio das crianças e adolescentes. O Programa possibilita a redução de problemas que afetam a segurança pública, notadamente pelo fato de oportunizar a interação entre a PM, a escola e a família (PROERD, 2009). 3. Metodologia Essa pesquisa qualitativa foi realizada entre os meses de abril e maio do ano de 2010, através de entrevista semi-estruturada com 5 alunos do 5º , 6º e 7º ano, que se encontram na faixa etária de 11 a 13 anos de idade. Esses alunos estudam em uma escola pública da rede estadual de um distrito do município de Tarumirim-MG. Os depoimentos dos sujeitos foram registrados em linguagem coloquial. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Todos os nomes utilizados são fictícios para resguardar a identidade dos sujeitos. A fala dos alunos foi mantida em linguagem coloquial. 4. O que dizem os alunos sobre o PROERD? Com o crescimento do uso de drogas e violência entre crianças e adolescentes tornou-se imprescindível discutir, analisar e inserir as questões quanto à prevenção do uso de drogas. Quando perguntamos aos alunos entrevistados se já tinham participado de algum programa de prevenção ao uso de drogas, todos afirmaram que sim, tal como observado nos relatos: Ano passado nois istudo isso de drogas, o PROERD. Era bom. Ensinava muitas coisas; que num pode pegá droga. (Fábio, aluno, 12 anos, 5º ano) Ele mostrava uns filme, do jeito que a muié era, depois ela fico com a cara toda inrrugada. (Douglas, aluno,12 anos, 5º ano) Porém, esses mesmos relatos parecem evidenciar uma percepção superficial do Programa, já que entendem que o seu objetivo é a prevenção ao uso das drogas, mas não conseguem detalhá-lo. O PROERD é um programa que seu objetivo maior é manter as crianças e adolescentes longe das drogas e violência. Apesar da compreensão superficial, as entrevistas apontam que os garotos entendem este princípio: Ele fica falano quando os zoto tivé fumano, ficá longe do zoto, que fais mau tamém. É melhor você da as costa do que você fica lá xeratano lá intende? É melhor você fica longe dele se manter o mais longe possível pra ele não te oferecer aquilo, isso que eu intendo. (André, aluno, 11 anos, 7º ano) Era bom, ensinava muitas coisas; que num pode pegá droga. Ah ele [policial] falava muito sobre as drogas, não fica fazendo isso, bebeno cachaça, bebeno cerveja, usar droga, pode levar até a morte, esses negoço assim. (Fábio, aluno, 12 anos, 5º ano) Ah! ele falava muito sobre as drogas, não fica fazendo isso bebeno cachaça, bebeno cerveja, usar droga, pode levar até a morte, esses negoço assim. (Diego, aluno, 13 anos, 7º ano) Segundo Del Claro (2002, p.41) citado por Dias (2004, p.29) a política brasileira de combate à utilização de drogas está ramificada em três frentes: a primeira concentra-se no combate os tráfico de drogas; a segunda é a Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 prevenção; e a terceira é traduzida pela batalha do tratamento. Dentro da prevenção às drogas, a autora relata que existem duas maneiras de se convencer o sujeito a não usar drogas: reprimindo ou educando. A segunda opção é a concepção do PROERD. A maioria dos entrevistados apresentou certo receio em falar sobre este assunto. Para eles droga é vista como algo que tem que ficar escondido e que quando descoberto dever ser penalizado. Outro questionamento é se eles assimilaram através das aulas ministradas pelo programa o conteúdo referente às principais drogas, aquelas que estão próximas de suas realidades. Quando perguntado para um entrevistado se para ele bebida alcoólica e cigarro são drogas enfatiza: Ah! pra mim não, pra mim é só uma bebida e um fumo que eles tá fumano, pra mim isso né droga não. (André, aluno, 11 anos, 7º ano) Sobre as drogas lícitas, embora não as definam assim, já lhes foram oferecidas, 3 deles disseram que já consumiram bebida alcoólica, que pessoas adultas ofereceram ou que pegaram em casa escondido ou na presença dos pais. Fábio disse já ter dado uma tragada no cigarro do pai e que na casa dele seu pai, mãe e irmão fumam. Depoimento deles: “Não ele botô no copo e botô em cima da mesa, eu bebi aquele trem ruim, margoso (cerveja).” (Fábio, aluno, 12 anos, 5º ano) “Só tirei uma tragada do meu pai (cigarro).” (Fábio, aluno, 12 anos, 5º ano) “Cerveja, quando a mãe comprava lá em casa, eu bebi um tantinho assim eu ficava com a cabeça rodano, eu ia pra debaixo do chuveiro. Um dia desse teve jogo, a mãe foi lá no Tiãozinho e comprou um fardo daquela cerveja, não tem umas piquinininha, agora fininha? Foi lá comprou e colocou na geladeira, eu fui lá falei assim: vô pega uma pra mim, uma pro meu irmão, tem um irmão piquititinho que eu tenho me chamou nós pegou, mas a hora que cheguei assim não acontece nada, bebi, virei tudo de uma vez assim, quando penso que não minha cabeça começô rodá eu fiquei tonto e eu fui pra casa tomei um banho, fiquei lá, deitei de noite vortei, eu vim embora.” (João, aluno, 11 anos, 6º ano) É muito importante que se analise o uso do álcool e o do tabaco, pois estas drogas são consideradas como porta de entrada para outras drogas, as chamadas drogas ilícitas. O adolescente começa fumando um cigarro e experimenta a maconha e acha aquela sensação “maneira” e passa a Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 experimentar outra mais pesada e assim sucessivamente até chegar a uma situação da qual não consegue mais sair sozinho, passando a ser um dependente químico (DIAS, 2004, p.25). Quando perguntamos se alguém já os pressionou a usar drogas dois afirmaram: “O cara tava bebeno e eu tava sentado lá, e o cara tava mandano eu beber a cerveja, a cachaça dele, eu fui e sai de perto dele e fui pro lado lá; eu sai de perto dele.” (Douglas, aluno,12 anos, 5º ano) “Já, Ah, pega ai cara sua mãe não vai saber não, eles falam isso; Foi um monte.(de vezes) . (Diego, aluno, 13 anos, 7º ano) Para Dias (2004, p.24) “a sociedade atual demonstra pouca importância ao consumo de bebidas alcoólicas, justificando esta prática com explicações como “o álcool é uma droga cultural e por isso eu a aceito” ou ainda não a considerando uma droga”. Dias (2004, p.28) afirma que no Brasil existe uma grande preocupação em divulgar que somente as drogas ilícitas são as responsáveis pela desagregação familiar e pela violência exacerbada. Se observarmos as campanhas contra as drogas percebemos que elas são direcionadas para as ilícitas, deixando a entender que o tabaco e o álcool não fazem mal e não geram qualquer conseqüência ao indivíduo. Cada vez mais o número de usuários de drogas vem aumentando e eles não estão muito longe de nossas crianças e adolescentes. Quando perguntamos se conhecem pessoas usuárias de drogas, 3 deles responderem: “Só tem meu tio que mexe, matô quatro carinha” (Fábio, aluno, 12 anos, 5º ano) “Lá perto da minha casa mesmo.” (Douglas, aluno,12 anos, 5º ano) “Meu vô mora lá em cima, assim e tem uma varanda, eu sento na varanda lá, e es fica na varanda assim pro zoto vê. Faiz perto do zoto.” (Douglas, aluno,12 anos, 5º ano) Eles têm na própria família pessoas que são usuários, sendo uma situação que eles presenciam ou já presenciaram no cotidiano dentro da comunidade. Considerando-se o lugar de referencial que a família ocupa isso poderá se tornar um problema futuro. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Nas entrevistas percebe-se que antes de participarem do programa os alunos tinham a imagem do policial como uma pessoa que apenas exerce a função de punir, castigar, tal como coloca os depoimentos: “Eu corria tinha medo de poliça. Agora eu não tenho medo de policia mais não, policia lá ele não qué pegá a gente. Pega só se a gente tivé mexendo com as coisas né.” (João, aluno, 11 anos, 6º ano) “Antes eu pensava assim, que ia brigá cá gente, fazê, forçá a gente estudá. Ah, pensava antes que o policial ia tirá na gente. Que ele é Bom! Que ele tá ensinano a gente, depois a gente taca esse trem, para toma coro? Aí depois vi que ele é bom e que ensina a gente a istudá.” (Fábio, aluno, 12 anos, 5º ano) Através da participação no Programa passaram a perceber o policial como uma pessoa de autoridade, mas que não é necessário ter medo desde que se sejam cidadãos em conformidade com a lei vigente. A esse respeito, Silva e Lima (2005) acrescentam que o policial militar torna-se uma peça fundamental na ação de um programa de educação preventiva. E que a presença do policial na sala de aula contribui de maneira significativa para aumentar a interação dos alunos com a polícia militar, proporcionando no futuro um maior comprometimento para a prevenção de ordem pública. 5. Considerações finais Percebemos através da pesquisa que o PROERD teve boa aceitabilidade pelos alunos envolvidos e que o objetivo dele é o de contribuir para a conscientização de crianças e adolescentes para que elas não envolvam com drogas e nem violência. O Programa evidencia as conseqüências na vida daqueles que trilham este caminho. Os entrevistados falaram sobre os procedimentos que devem ter para que isso aconteça; procedimento esses, no qual sabemos que foram transmitidos pelo programa. Mas por outro lado, percebemos que estas afirmações não tiveram uma boa definição. Por se tratar da primeira turma formada pelo programa e a nossa pesquisa ter sido feita apenas com cinco alunos em tão pouco tempo sugerimos que uma nova pesquisa seja feita, talvez com mais tempo e após o programa ter sido completado, para dar um tempo maior para que talvez eles passem por situações que os colocarão a prova. Dessa forma, poderíamos ter Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 resultados que possam mais efetivamente apontar o lugar do PROERD no processo de prevenção. A não continuidade nas atividades desenvolvidas pelo PROERD junto aos alunos deixa uma lacuna quanto a este processo de prevenção, que deveria ser constante; pois situações de risco os envolverão com certeza constantemente. Ribeiro (2005) citado por Oliveira e et al. (2001) afirma que a maioria das escolas não desenvolve e nem possuem um projeto de prevenção continuada, tampouco desenvolve atividades sintonizadas com a realidade dos educando e, grande parte dos docentes não é e nem estão preparados para lidar com o assunto de forma contextualizada. Neste sentido fica claro que é preciso que a escola desenvolva estratégias como forma de dar continuidade a prevenção ao uso de drogas e a violência, tão presente na vida dos discentes. Que essas escolas não fiquem restritas ao programa em questão. Afinal, a escola é um espaço fundamental na difusão da cultura e da informação, tornando assim um lugar ideal para desenvolver ações que promovam a saúde, elevação da autoestima e construção de uma visão crítica sobre seu papel na sociedade. REFERÊNCIAS DIAS, Fernando Oliveira; Programa Educacional de Resitência as Drogas e a Violência: os resultados do PROERD na Juventude Cuiabana. Cuiabá. 2004. 132 p. Monografia. Curso de Formação de Oficiais da Policia Militar do Estado de Mato Grosso. ECA – Estatuto da Criança e Adolescente – Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm. Acesso em: 15.ago. 2009 OLIVEIRA Flaviane da costa, ANDRADE Renato Judice de, ORTEGA Maria Ribeiro Lenise, REZENDE Junio Vieira de, Avaliando O Proerd: Desafio e Possibilidades. http://www.simposioestadopoliticas.ufu.br/imagens/anais/pdf/DC17.pdf. Acesso em 02. set.2010 PROERD - Programa Educacional de Resistência as Drogas e Violência – PROERD. Disponível em: http://www.proerd.rn.gov.br/oquee.htm. Acesso em: 09. ago.2009. SILVA, Montgomery; LIMA, Jomário Fernandes de. Análise da ação do PROERD no período de 2000 a 2004: Um estudo de caso. Disponível em: pm.pb.gov.br/CE/acadêmico/monomgrafia/tema04.pdf. Acesso em 20.ago.2009. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 OS FATORES QUE INTERFEREM NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDIZAGEM: UM ESTUDO EM ESCOLA PÚBLICA DA CIDADE DE TARUMIRIM-MG Ana Paula Gonçalves; Maria Lucia Aleixo; Claudete Rosa Cunha - graduanda do 6º período de Pedagogia da UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice.Orientadora. Ana Suely Mateus Carreiro – graduada em Letras. Especialista em Gestão e Coordenação. Coordenadora da UNEC Tarumirim. [email protected] RESUMO Este estudo teve como objetivo identificar os fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem de alunos de duas escolas públicas de um município do Leste de Minas Gerais. A pesquisa foi realizada através de entrevista estruturada com 3 professoras, 1 pedagoga e uma serviçal, que é também vó de aluno. Os principais fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem apontados nessa pesquisa foram: relação escolafamília, meios de comunicação utilizados de forma inadequada, relação professor-aluno, saúde, mudanças constantes nas políticas educacionais e a burocratização, estrutura física e materiais de didáticos sem qualidade. PALAVRAS-CHAVE: Educação; Relação família-escola; Relação Professoraluno; Ensino- aprendizagem. 1. Introdução O desenvolvimento é um processo global, há de se entender que a formação de uma criança é o resultado da inter-relação de um conjunto de fatores que envolvem a família e a escola. Segundo Sousa e José (2008), a educação em escola foi uma inovação para as famílias, que eram as únicas responsáveis, até então, pelo desenvolvimento e educação das crianças. Houve um tempo em que as famílias “davam educação” e as escolas “ensinavam”. As responsabilidades eram bem demarcadas e cada um sabia o que lhe competia. Mas a história da família na sociedade ocidental se modificou e, como toda sociedade se altera, muda também a estrutura e a função da família. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A família é o lugar indispensável para a garantia da sobrevivência e da proteção integral dos filhos e demais integrantes. É a família que propicia os aportes afetivos e, sobretudo, materiais necessários ao desenvolvimento e bem-estar dos seus componentes. Gokhale (1980) acrescenta que a família não é somente o berço da cultura e a base da sociedade futura, mas é também o centro da vida social. A Educação, bem sucedida da criança na família é que vai servir de apoio à sua criatividade e ao seu comportamento produtivo quando for adulto. Chardelli (2002) diz que a escola atual recebe crianças com auto-estima baixa, tristeza, dificuldade de aprender ou de se entrosar com os coleguinhas. Muitas vezes essas crianças são rotuladas de alunos problema, sem limites e sem educação. Assim, a responsabilidade do professor é grande, uma vez que a natureza de sua prática é formadora. O motivo de realizar essa pesquisa pauta-se nas observações do quadro da educação e da família nos dias atuais. É diante das nossas interrogações, como professoras, ao lidar com o processo de ensino e aprendizagem, é que buscamos respostas para as seguintes questões: Quais são os fatores que interferem no processo de ensino aprendizagem de alunos de uma escola pública da cidade de Tarumirim-MG? A satisfação com as condições de trabalho dos professores interfere na forma de organizar o processo de ensino e aprendizagem dos alunos? Os problemas familiares podem comprometer tal processo? O excesso de cobranças dos superiores interfere na produtividade dos professores? Com esta investigação tentaremos identificar os fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem de alunos de duas escolas públicas de um município do Leste de Minas Gerais. Com este estudo pretendemos contribuir para que os profissionais envolvidos com a educação direta e indiretamente possam compreender e refletir sobre os aspectos que interferem no processo de ensino e aprendizagem e que possam elaborar alternativas para lidar com essas dificuldades. 2. Metodologia A pesquisa foi realizada com profissionais de uma escola pública do município de Tarumirim, Minas Gerais. O município situa-se no leste de Minas Gerais, tem uma população de 14.185 habitantes (Instituto Brasileiro de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Geografia e Estatísticas – IBGE, 2007). O Censo escolar de 2009 aponta que o município tem 3.580 alunos matriculados em creches, pré-escolar e escolas estaduais e municipais. Realizamos entrevista estruturada A pesquisa foi realizada através de entrevista estruturada com 3 professoras, 1 pedagoga e uma serviçal, que é também vó de aluno. Esse instrumento foi aplicado no primeiro semestre de 2010. 3. Os fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem: o que dizem os profissionais da escola? Os principais fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem apontados nessa pesquisa foram: relação escola-família, meios de comunicação utilizados de forma inadequada, relação professor-aluno, saúde, mudanças constantes nas políticas educacionais e a burocratização, estrutura física e materiais de didáticos sem qualidade. O primeiro fator que abordaremos é a família. Nossa sociedade é caracterizada por situações de injustiça e desigualdade, criam famílias que lutam com muita dificuldade. Esses problemas atingem as crianças que enfrentam inúmeras dificuldades para aprender, é o que aborda a professora: Temos exemplos de filhos de vaqueiros, os pais vivem mudando, e sobrevivem de barganhas (vende, troca), um dia tem televisão, outro tem um rádio, outro dia não tem energia elétrica. É um fato que interfere na aprendizagem, fica 2 a 3 meses numa escola, mudam, aí muda todo o sistema , o ritmo da criança. (Neusa, professora, 59 anos) Tanto família quanto a escola tem objetivo de educar, cada um à sua maneira. É fundamental que se percebam como parcerias, pois ambas são responsáveis pelo que produzem (SOUZA e JOSÉ, 2008). Porém, nem sempre é isso que acontece, tal como destaca a professora: Em primeiro lugar, falta de limites vindos dos pais, hoje os pais não ensinam nem os princípios básicos para sobrevivência de seus filhos. Chega aqui na escola, temos que ensinar princípios e os conteúdos, com muito cuidado ainda por cima; porque uma coisinha mínima que falamos ou fazemos, chegam em casa contam tudo diferente para os pais. (Isabel, professora, 39 anos) Torna-se cada vez menor a preocupação dos pais em educar os filhos para inserção na escola e na sociedade. Essa lacuna do lugar da família fica evidente no depoimento: Pra ela (mãe) tudo é normal, se menino quiser vim pra escola vem, se não quiser não vem. Quando falo alguma coisa dos meninos com ela, fala assim: Hoje é outro mundo, não esquenta a cabeça não mãe, a Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 televisão, o computador, também ensina, o mundo ensina (Marina, professora, 35 anos). Com tantas mudanças, os meios de comunicação acabaram exercendo forte influência sobre a família. Alguns entendem isso como positivos outros como negativo. Integrantes da família dão o seu parecer: Menino hoje, não faz dever de casa, não estuda pra prova, não pega um livro pra ler. A escola hoje em dia ta assim, se aprender bem, se não aprender, tá passando de ano assim mesmo. (Siqueira, 45 anos) Com certeza, os meus netos, por exemplo, não saem da frente da televisão, do computador, não faz dever de casa de jeito nenhum, vem pra escola obrigados, com uma má vontade danada, a professora coitadinha, faz de tudo pra eles, mais eles num tão nem aí. (Maria, vó de aluno, serviçal, 44 anos) Mas pergunta procê vê assunto de... internet, um tal de “kut‟, “ogute‟, não sei nem falar o nome, sabe tudo e mais um pouco, que eles não precisava saber. (Maria, vó de aluno, serviçal, 44 anos) Acho que a escola não está mais chamando atenção não por causa do bendito computador. (Maria, vó de aluno, serviçal, 44 anos) O problema não é a utilização dos meios de comunicação, principalmente a televisão e o computador através da internet. O grande limite concentra-se na maneira em que as crianças e adolescentes os tem utilizado, já que com a falta de limite e controle dos pais possibilita uma utilização exagerada. O problema maior é o que esses alunos acabam aprendendo nesses meios de comunicação, que muitas das vezes não vão ao encontro do que é ensinado na escola. Além disso, àquele tempo que deveria ser despendido aos estudos acaba ficando comprometido. Por outro lado, os professores precisam criar novas estratégias para atender ao grupo desse momento histórico, que não mais aprende como aqueles que freqüentaram a escola há 30 anos. Embora a educação brasileira esteja permeada de desafios e incertezas, ela é o único instrumento para a transformação da sociedade. Outro aspecto muito importante é a relação professor-aluno. Para Voli (1998) essa relação deve ser uma relação de fé, colaboração e apoio mútuo para desenvolvimento de cada um. Por isso é muito importante que ela se baseie no respeito, na dignidade, na integridade, nas capacidades de amor e compaixão mútua. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O professor, ah se esse não for o pesquisador, o leitor, o mediador, o disciplinador, o responsável pela aprendizagem efetiva, ninguém mais é. (Neusa, professora, 59 anos) Para oferecer uma nova perspectiva de trabalho um professor deveria ser valorizado pelo sistema, pela própria família e pela sociedade e sua formação continuada deveria ser um direito gratuito. Pimenta (1999) afirma que a formação do professor reflexivo: se constitui numa prática de valorização do desenvolvimento pessoal, profissional dos professores e das instituições escolares, (...) isso porque trabalhar o desenvolvimento na dinâmica da sociedade multimídia da globalização da transformação dos mercados produtivos (...), requer permanente formação, entendida como ressignificação identitática dos professores. (Pimenta, 1999, p. 31) O professor, como atua em diferentes realidades ter que ser conhecedor de todas as áreas do conhecimento, já que lida com uma diversidade de situações. É observador de comportamento, atitudes ou reações que venham interferir na aprendizagem da criança. Nesse sentido, outro fator que precisa ser considerado são os relacionados à saúde. Também a saúde, porque se a criança tiver algum problema não vai desenvolver. Observar se a criança está enxergando bem. Esse indivíduo para aprender tem que estar bem fisicamente e emocionalmente. (...) Sintomas físicos e neurológicos têm que ser observados, suas atitudes, seus movimentos na sala de aula, no recreio, na rua e etc. Genética também influencia. (Nilda, pedagoga, 61 anos, p. 29) Observar e registrar todas as atitudes e comportamentos do aluno que apresenta alguma dificuldade de aprendizagem a fim de passá-la aos pedagogos é a função do professor. Sobre esse aspecto Sousa e José (2008, p. 33) afirma que o ambiente é fundamental no diagnóstico do problema de aprendizagem à medida que permite compreender como esse aluno se relaciona individualmente e em grupo. As mudanças constantes nas políticas educacionais e a burocratização da escola se constituem como outro fator que acaba tendo influência no processo de ensino e aprendizagem. Sobre isso, fala a professora: Muitas mudanças na família, no sistema, um ano é ciclo, outro ano é série, outro é ano, hoje em dia você pergunta até pra equipe pedagógica que série esse menino ta, aí tem que ver a idade, tem que falar assim: ele está no 1º ano, antigo introdutório, ou 2º ano, antiga 1ª série, então virou uma bagunça na cabeça do professor. O professor dá um exercício mais inseguro, será que isso é dessa série, quero dizer desse ciclo, ou melhor, ano? (Neusa, professora, 59 anos) De acordo com Libâneo (2004), há uma distância, um fosso, entre as políticas e diretrizes educacionais no nosso país e a realidade das escolas, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 distância do ensino do trabalho cotidiano dos professores e da aprendizagem dos alunos. A professora reforça essa idéia quando afirma: Não sabe nem sequer fazer um planejamento bimestral, que é tirado do anual, pra vocês terem idéia, tem professor que tem a cara de pau de ir pra sala de aula sem saber o que vai ensinar naquele dia, tem a ousadia de ir a outra sala e pegar a cópia de exercício e mandar xerocar depressa pra dar para os alunos; xerocam os planejamentos de outras professoras até de outra escola, além de ser outra realidade, porque turma nenhuma é igual a outra, é crime, plágio, copiar idéias de outra equipe pedagógica e ainda colocar o nome no bendito. (Neusa, professora, 59 anos) Não poderia ser assim, porque políticos, militantes de partido, os pesquisadores da área da educação precisam ter em mente que paralelo à análise política ou sociológica da educação há uma análise pedagógica, e que precisa ser específica. E profissionais que estão fora do campo pedagógica a maioria das vezes não dominam os instrumentos para elaborar as leis. A esse respeito Libâneo (2004) coloca que boa parte as políticas educacionais fracassam porque não partem da realidade escolar voltadas diretamente às escolas e à aprendizagem dos alunos. Entendemos que não há como definir políticas educacionais sem antes dar condições favoráveis para o processo de ensino e aprendizagem na escola, isto é, na sala de aula, a começar pela estruturas física adequada e materiais pedagógicos que são fundamentais na expressão e compreensão do conteúdo no momento da aprendizagem. A esse respeito também fala as profissionais: Material adequado, suficiente e de qualidade para o professor e o aluno. Porque é uma miséria de material que a escola fornece para o professor, uma resma de papel tem que dar para 6 meses, juntamente com uma caixinha de giz do mais ruim que tem no mercado, 3 estêncil, um mimeógrafo antigo que amassa as folhas e um litro de álcool para o ano inteiro. E as demais coisas que precisar tem que ser do meu bolso. (Neusa, professora, 59 anos) Falta de estrutura física (1m² por aluno) da escola, a sala te que ser ampla e arejada, porque sabemos que até o material, o mobiliário, que são mesas, cadeiras adequadas, iluminação etc., são responsáveis por uma aprendizagem eficaz. (Nilda, 61 anos, pedagoga) Além de estrutura física e materiais inadequados, outra situação é o fato de que muitas vezes quando o material é fornecido ele ainda costuma ser de má qualidade, é o que destaca umas das professoras: O lápis que a direção compra ou quando a Secretaria municipal oferece não tem grafite dentro, quando tem está todo quebrado, o aluno passa a aula apontando lápis, a borracha esfarinha toda, o material não tem qualidade, é descartável. (Neusa, professora,59 anos) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Professores, pais, educandos dever funcionar como um conjunto articulado de ações, aproximando a educação escolar dos desafios da comunidade em que a escola, a criança estão inseridos. 4. Considerações finais Após vários estudos e pesquisas sobre os fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem aprendemos a olhar a relação professor, aluno, família e pedagogo como primordial, já que são essenciais ao desenvolvimento emocional, cognitivo e social da criança, matéria prima de seu trabalho. Descobrimos que toda criança tem um potencial a ser explorado. E que somos chamados a nutrir mentes para a transformação do mundo, duvidar das nossas falsas verdades, criticar políticas educacionais e o ensino em sala de aula, inclusive nossas próprias idéias. A compreensão sobre os fatores que interferem no processo de ensino e aprendizagem nos possibilitou a perceber muitas situações antes incompreendidas. A carreira nos será repleta de desafios, mas ao lembrarmos de que a infância – a matéria prima da humanidade –, está a nossa espera, temos a ânsia de lutar contra a ignorância e contra a escuridão. Não esperamos recompensas materiais pelo labor prestado à sociedade, somente a nossa alma cheia de alegria, essa que será o melhor de nossos galardões. REFERÊNCIAS BRASIL. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – contagem de população 2007. Brasília – DF. CHARDELLI, Rita de Cássia Rocha. Brincar e ser feliz. Endereço eletrônico: < http://7mares.terravista.pt/forumeducacao/Textos/textobrincareserfeliz.htm>. Acesso em: 20.mai.2010. GOKHALE, S.D. A Família Desaparecerá? In Revista Debates Sociais nº 30, ano XVI. Rio de Janeiro, CBSSIS, 1980. LIBÂNEO, Carlos, José. Pedagogia e Pedagogos, para quê? São Paulo: Cortez. 2004. PIMENTA, Selma Garrido (org). Professor: formação, identidade e trabalho docente. In Saberes Pedagógicos e Atividades Docente. São Paulo: Cortez, 1999. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 VOLI, F. A auto-estima do professor: manual de reflexão e ação educativa. 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[email protected] RESUMO Essa pesquisa teve o objetivo de compreender os desafios e as perspectivas dos alunos que saem da zona rural para estudarem na cidade, conhecendo assim o sujeito campestre, sua realidade e a forma de adaptação dentro de uma sala de aula urbana com toda a comunidade escolar. Essa pesquisa qualitativa foi realizada no primeiro semestre de 2010, através de observação participante e a entrevista estruturada com 3 alunos da escola básica, 3º ano do Ensino Médio. Ainda fizemos entrevista com 2 ex-alunos que residem/residiram na zona rural e estudam/estudaram em escolas públicas na cidade Tarumirim, leste de Minas Gerais. Os dados foram colhidos a partir do primeiro semestre de 2010. Os principais resultados nos mostraram que mesmo com tantas dificuldades vêem nos estudos uma forma de se realizar pessoalmente e profissionalmente, e as alunas entrevistadas que já terminaram seus estudos demonstraram que foram compensador os desafios enfrentados. PALAVRAS-CHAVE: Cidade; Alunos do Campo; Perspectivas; Desafios. 1. Introdução Como acadêmicas de Pedagogia no momento histórico em que vigora a globalização, com informações que nos chegam de forma acelerada, quase que em tempo real, temos ainda na Zona Rural um índice de 23,3% de pessoas analfabetas no Brasil (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, 2008). Esses alunos que moram no campo enfrentam dificuldades em relação à distância, ao clima, além de muitas vezes ocorrer por parte da escola o desrespeito à cultura rural e as adaptações que deveriam ser realizadas para os alunos do campo, tal como salienta a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDBEN – 9394/96), conforme seu art. 28, (1996, p.17): Na oferta de educação básica para a população rural, os sistemas de ensino promoverão as adaptações necessárias à suas adequação às peculiaridades da vida rural e de cada região, especialmente: I – Conteúdos curriculares e metodologias apropriadas às reais necessidades e interesses dos alunos da zona rural; Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 II – Organização escolar própria, incluindo adequação do calendário escolar às fases do ciclo agrícola e as condições climáticas; III - Adequação à natureza do trabalho na zona rural. O contexto histórico da educação rural no Brasil iniciou, por volta de 1917, quando a migração rural-urbana começou a ser vista como um problema. No período de 1930 a 1960, ao se reacender a questão ruralista no Brasil, a Educação rural foi vista como um dos fatores essenciais para a solução do problema da migração rural, que mobilizou a extensão da educação às populações rurais. Mas, na segunda metade da década de 1990, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), uma nova visão de "campo" está substituindo esse termo por "educação do campo”. Durante muitos anos a educação do campo foi excluída das políticas educacionais do nosso país, e, por isso, permaneceu no silêncio por muito tempo. As políticas traçadas negaram a população do campo o acesso à educação, por vários motivos: as escolas rurais não funcionavam com sucessos, o difícil acesso entre a propriedade e a escola. Segundo Ribeiro (2004) pode-se dizer que não houve uma política educacional dirigida aos agricultores e seus filhos. Diante do exposto até aqui, as principais indagações que buscamos respostas são: Como os alunos que residem no campo enfrentam os desafios de estudar na cidade? Como são recebidos pelos professores e colegas? Como é o desempenho escolar desses alunos? O que eles planejam para o futuro? Como eles fazem para chegar à escola? Como é a vida deles no dia-adia fora da escola? Apesar de enfrentarem muitos desafios, o que estimula esses alunos a continuar estudando? Nesse sentido, o objetivo desse estudo é compreender os desafios e as perspectivas enfrentadas por alunos que residem no campo e estudam na cidade. Esta investigação contribuiu para que os profissionais da educação reflitam sobre suas práticas pedagógicas e valorizem a cultura do campo no ambiente escolar, como uma habilidade fundamental para o sucesso profissional dos alunos campestres. 2. Referencial Teórico Dentre as abordagens que compreendemos sobre os desafios dos alunos que moram no campo e estudam nas cidades, existem diversos Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 conceitos que norteou a nossa pesquisa. Um desses conceitos é cultura, que buscou diferenciar educação rural e educação no campo. Para Freire (1983) a definição de cultura na dimensão cultural, num sentido amplo, antropológico-descritivo, é tudo que o homem cria e recria, engendrado nas permanentes relações homem-realidade, homem-estrutura, realidade-homem, estrutura homem. Continua a definição inferindo que Todos os produtos que resultam da atividade do homem, todo o conjunto de suas obras, materiais ou espirituais, por serem produtos humanos que se desprendem do homem, voltando-se para ele e o marcam, impondo-lhe formas de ser e de se comportar também culturais. Sob este aspecto evidentemente, a maneira de andar, de falar, de cumprimentar, de se vestir, os gostos são culturais. Cultural também é a visão que tem ou estão tendo os homens de sua própria cultura, da sua realidade. (FREIRE, 1983, p. 56-7). Segundo Chauí (2002, p. 295) cultura é “a maneira pela qual os humanos se humanizam por meio de práticas que criam a existência social, econômica, política, religiosa, intelectual e artística”. Diante dessas definições sobre cultura, de certa forma todas são coincidentes, possibilitando uma melhor compreensão de sujeito, o contexto social e o espaço físico do meio rural. Para Caldart (2008, p. 69) a expressão “educação do campo” é um conceito novo e em construção na última década, sendo ainda um conceito próprio do nosso tempo histórico e que somente pode ser entendido no contexto da sociedade brasileira atual, especificamente no que tange à dinâmica específica que envolve os sujeitos sociais do campo. Esse conceito amplia mais a história contemporânea do sujeito do campo e não apenas a alunos e professores. E continua: a afirmação deste traço que vem desenhando nossa identidade é especialmente importante se levamos em conta que a história do Brasil, toda vez que houve alguma sinalização de política educacional ou projeto pedagógico especifico isto foi feito para o meio rural e muitas poucas vezes para o sujeito do campo como sujeito da política e da pedagogia, sucessivos governos tentaram sujeita-los a um tipo de educação domestificadora e atrelada a modelos econômicos perversos. (CALDART, 2002, p.28). Kolling, Cerioli e Caldart (2002) colocam que o povo tem direito a uma educação pensada desde o seu lugar e com sua participação, vinculada à sua cultura e às suas necessidades humanas e sociais, que seria a educação do campo e a educação no campo, afirmando então que o povo tem direito de ser educado no lugar onde vive. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Para Arroyo (1999) a educação básica e o movimento social do campo tratam sobre a questão da adaptação, ou seja, as políticas educacionais e os currículos são pensados para a cidade e para a produção industrial urbana, apenas lembrando-se do campo de situações consideradas anormais, das minorias, recomendando adaptar as propostas, a escola, o currículo e os calendários a essas anormalidades. Dessa forma, não reconhecem as especificidades do campo. Kolling et. al. (1999) colocam que a educação rural oferecida tornou-se instrumento de reprodução e expansão de uma estrutura agrária concentradora. Uma educação que predomina uma concepção “urbana” de vida e desenvolvimento, em que não há uma valorização da cultura, do modo de vida, dos valores e concepções do homem e mulher do campo, como se a vida e a cultura do campo estivessem condenadas a extinção ou fossem de inferior qualidade. Portanto, a construção do conceito de educação campestre vem sendo construída pelos movimentos sociais do campo. 3. Metodologia Essa pesquisa qualitativa foi realizada no primeiro semestre de 2010, através de observação participante e a entrevista estruturada com 3 alunos da escola básica, 3º ano do Ensino Médio. Ainda fizemos entrevista com 2 exalunos que residem/residiram na zona rural e estudam/estudaram em escolas públicas na cidade Tarumirim, leste de Minas Gerais. O município de Tarumirim situa-se no leste de Minas Gerais, tem uma população de 14.185 habitantes segundo o IBGE (2007) e sua economia é baseada na agropecuária, sendo que mais ou menos 60% dos seus moradores residem na zona rural e alguns estudam na cidade. Optamos em investigar alunos do campo que estudam na cidade de Tarumirim/MG, na E. E. Coração dos Milagres, que é composta de 830 alunos, incluindo a Ensino Fundamental, anos finais e o ensino médio, onde 40% dos alunos moram na zona rural e dependem de transporte escolar para chegar até a escola. Todos os nomes de pessoas e instituições são fictícios para resguardar a identidade dos sujeitos. 4. Os desafios dos alunos que residem no campo e estudam na cidade Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Ao falar em escola do campo, pensamos logo em agricultura, chuva, sol, lugar lúdico e às vezes bucólico. Essa visão está ligada a um contexto em que “os rurícolas” ou “as pessoas do campo” têm de viver em um mundo isolado. Na verdade, há uma interpretação às vezes inadequada dessa visão, o ser do campo tem seus sonhos, suas lutas, conquistas e se interagem no seu meio social. Quando resolvemos fazer esta pesquisa, tivemos a curiosidade e necessidade de entendermos os sujeitos que moram na zona rural e estudam na zona urbana, suas trajetórias, seus desafios, sonhos, estímulos e expectativas. Segundo Fernandes (2004) o meio rural é: lugar de vida, onde as pessoas podem morar, trabalhar, estudar com dignidade de quem tem o seu lugar, a sua identidade cultural. O campo não é só o lugar da produção agropecuária e agroindustrial, do latifúndio e da grilagem de terra. O campo é espaço e território dos camponeses e dos quilombolas. (FERNANDES et al., 2004, p. 137) Falamos em necessidade porque o fortalecimento do movimento por uma educação do campo é na realidade a escolarização do campo neste século, que ainda é vista como precária. É possível dizer que em muitos locais se faz a reprodução do modelo das escolas da cidade ou o transporte dos alunos moradores do campo para escolas urbanas, uma vez que é mais vantajoso do que levar professores até o local onde os alunos moram, principalmente no que se refere aos fatores pecuniários. Nesse sentido, a aluna afirma: É tem o transporte né, eu ando 10 minutos e depois pego o transporte. (Joelma, aluna que reside no campo, 16 anos) Os alunos que pesquisamos moram na zona rural e estudam nas escolas mais próximas de suas casas, que estão localizadas na sede, distritos e povoados. Nos relatos, um primeiro fato que nos chamou à atenção foi em relação à perda das aulas durante o período das chuvas. Muitas contam que o transporte atolava na lama e tinham que sair do carro para emburrá-lo, como segue o relato de uma aluna: Época de chuva, por exemplo, às vezes a gente já checou até 03:00 da manhã, porque se o ônibus agarrava, não tinha como o motorista seguir e a gente chegava acabava de ir a pé pra casa, então chegava até 03:00 horas da manhã em casa. (Cristiane, ex-aluna que residia no campo e estudava na cidade, 30 anos) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Algumas alunas informaram que iam para a escola a pé, de bicicleta, mesmo no período de seca, já que na época que estudava não havia transporte escolar. E ainda tinham de contar, em alguns casos, com a ausência dos professores, destaca Cristiane: Pegava a sombrinha e ia a pé do mesmo jeito, às vezes a gente ia os professores não vinham porque moravam em Itanhomi, aí se ônibus não viesse não tinha como eles virem também, a gente ia e esperava, quando viam que eles não chegavam mais, voltávamos. (Cristiane, exaluna que residia no campo e estudava na cidade, 30 anos) Esses alunos que enfrentam no seu cotidiano longas distâncias, sol, chuva, animais na estrada, tem que atravessar rios para chegar à escola, geralmente estão cansados e com fome, necessitam de espaço, brincadeiras, do lúdico para tornar sua ida à escola mais prazerosa. A respeito disso, Bezzera (2009, p.4-5) afirma que as “crianças que tem como endereço o meio rural possam sonhar, sentir, brincar e principalmente, produzir conhecimento. Pesquisando e valorizando sua realidade, seu ambiente”. Mesmo na situação atual de ter transporte escolar às alunas ainda enfrentam dificuldades no período de chuva: Quando chove pouco, a Kombi busca, mas se for chuva de dá barro, a gente vai a pé ou a cavalo, acabo gastando de cavalo 02:h30min. É o mesmo tempo que a Kombi leva porque a kombi vai parando, né. Se for a pé eu gasto 03h30min. Isto se for de turma, porque andando de turma a gente não ver o tempo passar, e se chove grosso ou o tempo fica e tem a biblioteca perto tudo perto. Ela fazia o trabalho, passava pra mim eu estudava e na hora de apresentar eu apresentava o trabalho. (Joelma, aluna que reside no campo, 16 anos)É preciso enfatizar que alunos que vem dessa realidade necessitam de tratamento específico de acordo com o seu contexto, daí a necessidade de fazer com que eles se sintam acolhidos pela escola e pelos colegas. Sobre esse sentimento de acolhimento no ambiente escolar, foi relatado: Sentia sim, gostava muito de estudar então eu sempre me senti bem. (Cristiane, ex-aluna que reside no campo, 30 anos)Entretanto, autador. Nessa interação, muitas vezes o aluno do campo acaba ficando em desvantagem: Eu passei muita dificuldade pra fazer trabalho por causa disso (computador/internet) e ainda passo por que eu não tenho internet e não posso ficar saindo muito porque eu trabalho né, mas só que antes às vezes eu fazia trabalho com uma amiga eu deixava assim, ela fazia a parte de pesquisa lá, por que já tem internet e tem a biblioteca perto tudo perto. Ela fazia o trabalho, passava pra mim eu estudava e na hora de apresentar eu apresentava o trabalho. (Joelma, aluna que reside no campo, 16 anos) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 É preciso enfatizar que alunos que vem dessa realidade necessitam de tratamento específico de acordo com o seu contexto, daí a necessidade de fazer com que eles se sintam acolhidos pela escola e pelos colegas. Sobre esse sentimento de acolhimento no ambiente escolar, foi relatado: Sentia sim, gostava muito de estudar então eu sempre me senti bem. (Cristiane, ex-aluna que reside no campo, 30 anos) Entretanto, alguns alunos evidenciam uma outra situação, a de utilização de apelidos por parte de colegas que residem na cidade, como pontua a aluna: Ah! de colega sempre aquela zuação né, aquela bobeira né. De colocar apelido essas coisas assim, eles sabem que tá tirando sarro da gente que mora na roça né, tipo isso... Ah roceira e tal, da roça, jacú da roça. (Joelma, aluna que reside no campo, 16 anos) Quando esses alunos saem de suas casas, em alguns relatos vimos a necessidade que eles tem de ter uma alimentação mais nutritiva para um melhor desenvolvimento na escola. Dentre as merendas oferecidas pelas escolas, de acordo com todos os entrevistados, a preferência é pela merenda salgada: Sopa de galinha com arroz. Acho mais gostosa e sustenta. Na escola tem merenda e eu gosto da merenda da escola. (Dolores, aluna que reside no campo, 17 anos) Isso deve-se ao fato de a merenda salgada nutrir melhor esses alunos até que cheguem em casa após a aula é também pelo fato de irem para a escola sem terem se alimentado. Isso é o que diz a aluna: Não a gente sai de manhã bem cedo, e não tomava café e 09h30min que era a merenda, era a primeira refeição da gente. (Cristiane, ex-aluna que residia no campo e estudava na cidade, 30 anos) Observa-se a atenção à alimentação para esses alunos na escola, uma vez que mesmo com uma merenda mais nutritiva já ocorreram casos de alguns alunos sofrerem mal-estar, como relatado a seguir: Uma vez desmaiei. Acho que fome e sol [...] Era aula de Educação Física e o sol tava muito quente, aí desmaiei eles me deram um copo de leite com sal e eu melhorei. (Cristiane, ex-aluna que residia no campo e estudava na cidade, 30 anos) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Dor de cabeça muito forte e cólica. Fico esperando a professora chamar o diretor, aí o diretor dá um Dipirona pra gente e mede a temperatura (Dolores, aluna que reside no campo, 17 anos) O relato dessas alunas reforça a concepção de que essas alunas não compõem apenas uma paisagem de passado, de atraso. Ao contrário disso, o que eles necessitam é de um atendimento na escola que vá ao encontro da experiência deles. Além disso, para elas estudar colabora para aumentar os vínculos sociais: Porque já moro na roça, e estudar faz com que a gente conheça mais gente e faça novas amizades. (Dolores, aluna que reside no campo, 17 anos) E suas expectativas para o futuro estão explícitas em suas declarações, pois mesmo vivendo em um contexto, às vezes, de menos oportunidades, buscam forças para alcançar seus objetivos. Olha o que eu estou planejando no momento é me casar, no momento, mas de sonho assim de tudo eu sempre quis formar em música. Por enquanto não, mas eu tenho um dinheirinho guardado que eu pretendo fazer um cursinho, mesmo casada eu pretendo fazer algum curso profissionalizante, alguma coisa assim. (Joelma, aluna que reside no campo, 16 anos) Enfatizando as expectativas, a aluna Dolores, afirma querer: Ser professora de Matemática, para ter uma profissão, e também porque eu gosto de estudar. (Dolores, aluna que reside no campo, 17 anos) Apesar das dificuldades anseiam continuar os estudos. Nesse sentido, o que percebemos é que esses alunos do campo se constituem um grupo que necessita de uma política pensada para esse contexto. Assim como Bezerra (2009) acreditamos que as crianças que tem como endereço o meio rural possam sonhar, sentir, brincar e produzir conhecimento e também que são sujeitos que lutam por um sonho de se realizarem profissionalmente, pessoalmente, e que apesar de serem vistos como diferentes, são diferentes com direito à diferença. Consideramos que seus professores necessitam de uma formação continuada para trabalhar e compreender a realidade de um aluno rural. Tais alunos merecem tratamento adequado por parte da escola, se os professores Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 não moram na zona rural, que pelo menos sejam sensíveis a tal realidade, respeitando a cultura campestre dos alunos. 5. Considerações Finais Ao terminarmos esta pesquisa, tiramos uma lição fundamental para nossas vidas. Uma lição que nos faz repensar a cada momento o valor e o sentido de nossas vidas urbanas. A forma de pensar, de agirmos, de olhar os ruralistas nos despertou a sensibilidade, enquanto educadoras, de considerar as expectativas quanto a maneira de ver o mundo. Quão necessário é enxergarmos com a alma e tão importante é aguçar os nossos sentimentos que nos faz sermos sensíveis a realidade de um ser. Com isso, repensamos a necessidade de nos tornarmos jardineiros, educadores sensíveis aos cuidados que este jardim necessita, disponibilizando informações de acordo com a necessidade que cada uma dessas plantas irá nutrir vidas futuras no próprio campo. O quanto vale uma vida escolar rural? Um sonho, para ser alguém na vida? Sol, chuva, desgaste de chinelo, da pele, encontro com animais ferozes, longa distância a ser percorrida a pé, transporte inadequado, enfim, a vida em risco por uma educação. Esta dirigida por políticas e diretrizes distanciadas, inadequadas da realidade desses alunos, que buscam incessantemente apenas sabedoria. Enquanto observadoras, pesquisadoras dessa realidade, percebemos o quanto nós educadoras somos responsáveis em despertar a consciência desses alunos para serem cidadãos críticos, flexíveis, democráticos e políticos para fazer de sua educação do campo, uma educação no campo e do campo. O poder de transformar suas realidades, o seu potencial diante das políticas, das ações educacionais que privilegia o urbano. Pensamos que o campo é o melhor lugar para enterrar essas sementes, pois ainda possuem solos férteis. A recompensa por cuidar desse jardim estará guardada em suas raízes que demonstrará suas riquezas em seus frutos. Nutrindo novas plantações no próprio campo. REFERÊNCIAS BEZERRA, Oliveira, Paloma. BEZERRA, Santos, Oliveira, Regina, Márcia. Educação Infantil na zona rural. Centro Cientifico Conhecer, Goiânia, Enciclopédia Biosfera N. 07, 2009, ISSN 1809-05835, página 04-05. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 FERNANDES, Bernardo Mançano. Diretrizes de uma caminhada. In: ARROYO, Miguel .Gonzáles; CALDART, Roseli Salete; MOLINA, Mônica Castanga. Por uma educação do campo. Petrópolis: Vozes, 2004. p. 133-145 ABRAMOVAY, R. Educação e empreendedorismo do Campo. Marco social nº. 7, p. 32-39, agosto 2005. ARROYO, Miguel. Gonzáles. A educação básica e o movimento social do campo. Brasília: Articulação Nacional por uma educação básica do campo, 1999. BOGDAN, Robert; BIKLEN, Sari (1994). Investigação qualitativa em educação. Colecção Ciências da Educação, Porto: Porto Editora. BRASIL. Educação rural: estrutura do termo, 2001. Disponível: http://www.inep.gov.br/pesquisa/thesaurus acessado em 23/09/09 às 15:35. BRASIL. IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Contagem de população 2007. Brasília – DF. BRASIL. 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Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 OS DESAFIOS DO PROCESSO DE INCLUSÃO EM UMA ESCOLA PÚBLICA ESTADUAL DA CIDADE DE MANHUAÇU: UM ESTUDO DE CASO DE UM ADOLESCENTE QUE APRESENTA SÍNDROME DE DOWN Viviane de Abreu Almeida e Geanne Lessa Lacerda - graduadas em Pedagogia pelo Centro Universitário de Caratinga – UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO Esta pesquisa teve por objetivo compreender os desafios do processo de inclusão de um adolescente de 14 anos que apresenta Síndrome de Down, inserido na rede regular de ensino, numa escola da rede pública estadual na cidade de Manhuaçu-MG. Foram feitas observações participantes e entrevistas, nas quais tivemos como sujeitos, além do adolescente, professores, alunos, pedagogos e especialistas. Contudo, Ao final deste estudo percebemos que, de fato, o que existe na escola é integração, já que o aluno faz parte daquele contexto coletivo da sala de aula, porém, não há para ele adequações à sua necessidade educativa especial. Concluímos que é fundamental que seja incentivado e evidenciado nas escolas a valorização e o respeito às diferenças individuais, as mudanças de atitudes em relação aos alunos que fogem aos padrões de normalidade da sociedade e a que haja a extinção de rótulos que acentuam as diferenças. PALAVRAS-CHAVE: Inclusão; Rede Regular; Síndrome de Down. 1. Introdução O conceito de educação inclusiva como direito social é relativamente recente na realidade educacional brasileira. Foi a Constituição Federal de 1988 que assegurou a todas as crianças o direito de serem educadas de acordo com suas necessidades educacionais especiais e a “igualdade de condições de acesso e permanência na escola” (art.206, inciso I). A educação enfrenta hoje um grande desafio, o de incluir os alunos com necessidades educacionais especiais nas redes regulares de ensino. Compreende-se que essa nova realidade tem trazido para professores e alunos muita ansiedade, medo e alguns questionamentos, principalmente em relação às condições que essa modalidade de educação vem acontecendo. Entretanto, esse papel social deve ser desempenhado pela escola e assumido integralmente pela sociedade e órgãos competentes, para garantir o Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 acesso, a permanência e a qualidade da educação oferecida a todas as crianças. O interesse pela Educação Inclusiva surgiu quando cursávamos ainda o primeiro semestre do curso de Pedagogia (UNEC), em que o assunto foi muito discutido nas aulas e chamou a atenção por sua roupagem pedagógica. A descoberta de um adolescente que apresenta Síndrome de Down (SD) e freqüentador do ensino regular de uma escola pública estadual do município de Manhuaçu aguçou ainda mais a curiosidade sobre o tema. Tal descoberta trouxe certa euforia, mas também preocupações em relação à estrutura da escola e a qualificação dos professores. Daí o questionamento: Em que condições esta escola pública estadual recebeu este aluno? Nesse sentido, emergiram questões que irão nortear este estudo: Como é o processo de inclusão de um adolescente que apresenta síndrome de down numa escola pública estadual da cidade de Manhuaçu? Esse adolescente foi incluído ou apenas integrado à escola? Os professores têm qualificação adequada para trabalhar com ele? Esse adolescente recebe algum tipo de tratamento especializado dentro e fora da escola? Como é a relação da família dele com a escola? Existe algum tipo de preconceito ou discriminação em relação a esse adolescente? Diante disso, o objetivo da pesquisa foi compreender os desafios do processo de inclusão de um adolescente que apresenta síndrome de down numa escola pública estadual da cidade de Manhuaçu - MG. Com este estudo pretendemos contribuir para que escolas e educadores possam, utilizando sua própria experiência, amenizar ou até modificar o panorama atual da inclusão escolar, que apesar dos avanços, tem pela frente um longo caminho a percorrer. 2. Metodologia Utilizamos das diretrizes da pesquisa qualitativa por ser mais apropriada para compreender a natureza de um fenômeno social complexo e único como a da inclusão escolar. Esta pesquisa foi realizada através de um estudo de caso de um adolescente de 14 anos, chamada de Gustavo, que apresenta Síndrome de Down, inserido numa escola da rede pública estadual na cidade de Manhuaçu-MG. Além do adolescente, tivemos como sujeitos desta pesquisa os alunos, professores, diretores, pedagogos e especialistas. Foram feitas Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 entrevistas e observações participantes na sala de aula em que estuda o adolescente. Todos os nomes utilizados são fictícios. 3. O lado de dentro da sala de aula 3.1 A sexualidade na síndrome de down A sexualidade faz parte de nossa conduta. Ela faz parte da liberdade em nosso usufruto deste mundo. Michel Foucault O desenvolvimento da sexualidade está vinculado ao desenvolvimento integral do indivíduo, sendo considerado um elemento constitutivo da personalidade, com isso está relacionada à intimidade, à afetividade, ao carinho, à ternura, a uma forma de expressão de sentir e de expressar o amor humano através das relações afetivo-sexuais. Assim, sua presença está em todos, desde a concepção até a morte. Glat (2002) define a sexualidade como um conjunto colorido que contém contato, relação corpórea, psíquica, sentimental, desejo voltado a pessoas e sonhos. Constatamos isso, mediante ao relato dos colegas de classe de Gustavo: Ele tava beijando a parede e colocano a mão dentro da bermuda, quando ia tirá a camisa o sinal bateu, aí nóis falamo pra ele pará e ele sussegô. (Aluno Pedro) O desenvolvimento da sexualidade é uma etapa fundamental do ser humano. E é na adolescência que acontecerão as modificações físicas e psicossociais que serão responsáveis pelo despertar dessa sexualidade. Com o portador da SD não é diferente, mesmo diante da limitação cognitiva, sua forma de expressar essas modificações acontece naturalmente, o que o diferencia, no entanto, é a sua falta de consciência sócio-cultural. Nesse sentido, Gustavo tenta beijar a colega Laila na boca, mas ela não deixa, ele até morde sua orelha, mas ela vira o rosto. Ele fica bravo e diz a ela: Olha cá, olha cá!... beijá boca... olha! A forma como a família reage as essas mudanças pode facilitar ou prejudicar o desenvolvimento do adolescente. Glat (2002) afirma ainda que a sexualidade da pessoa com deficiência mental não é qualitativamente diferente Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 das demais, e está intimamente relacionada à adaptação de sua família diante da situação. Assim, o adolescente com SD não se diferenciará quanto ao desenvolvimento e às inclinações sexuais de outros jovens de sua idade, mas pode apresentar comportamentos infantilizados, pela maneira insistente como é mantido em suas relações vinculares como uma “criança grande”. Em uma das aulas Gustavo colocou a mão dentro da bermuda tocando seu órgão genital, como se estivesse se masturbando, parecia sentir prazer. Após algum tempo ele tirou a mão de dentro da bermuda, ela estava meio suja, limpou-a na camisa com receio de tocar na mochila, colocou novamente a mão no órgão genital. Outro exemplo disso foi quando Gustavo, em uma aula, pegou seu livro na mochila e junto com o colega da frente começa a folhear o livro. Quando ele vê uma figura do aparelho reprodutor masculino, ele diz ao colega: Piru, piru, piru aqui! Almeida (1998) afirma que as pessoas com SD não querem somente se masturbar ou terem relações sexuais ou exibir os órgãos genitais que se tornaram maduros, ou muitas vezes tirar a roupa revelando seu corpo modificado, vivem tudo isto como uma vazão saudável, mas impulsiva, desorganizada, sem limites, e é exatamente isso que assusta a todos. E isso não pode ser mais considerado como patológico ou como um distúrbio de conduta. 3.2 A relação professor – aluno especial Ser professor é apenas uma função técnica, ser educador vai além. Os educadores são como velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma “estória” a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma “entidade”, portador de um nome e também de uma “estória”. Rubem Alves No contexto da sala de aula professor e aluno são considerados em sua totalidade e não apenas em seus aspectos cognitivos. Com isso, o papel do professor é o de mediar a aprendizagem, valorizando o desenvolvimento social e afetivo do aluno. Sentimos isso, quando em uma das aulas a professora de Língua Portuguesa foi à mesa de Gustavo para ver o quadro que ele copiou do livro e o elogiou. Então lhe fez um pedido: Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Gustavo, copia duas palavras do livro em seu caderno para eu ver, mas copia direitinho! Quando terminou de corrigir com os alunos as atividades, foi até ele e perguntou: Você já terminou? Ele mostra o caderno e ela diz: Viu, você sabe fazer direitinho! Acredita-se que a maioria dos professores tem uma visão funcional do ensino, e com isso, tudo que ameaça romper o esquema de trabalho prático que aprenderam a aplicar em suas salas de aula é inicialmente rejeitado. Portanto, a inclusão tem a ver com a postura que o professor assume frente ao que lhe é estranho, desconhecido. No caso da deficiência, isso irá depender de como o educador percebe a diferença do outro. O olhar do professor é que guiará o desenvolvimento da criança incluída. Por isso, quanto maior a rigidez de suas expectativas e a tendência de querer enquadrar esse aluno em padrões pré-existentes, maior a probabilidade de tal comportamento repercutir de maneira negativa sobre os ritmos de aprendizagem, comprometendo a tendência à atualização. Observem o depoimento: Esse aí é bom, é até educado, tem um no 7º ano que é agressivo, mas esse aí é bom, só não faz nada. (Professora Angélica) A inclusão, portanto, requer um movimento de adesão, não somente a uma proposta coletiva, mas também, um movimento interno, da ordem da subjetividade e dos relacionamentos interpessoais. Concebemos, assim, que o momento pedagógico diz respeito não apenas a conteúdos e métodos de ensino, mas também aos afetos, à visão de mundo e de Homem, dos sujeitos que interagem no espaço escolar. O fragmento que segue evidencia a difícil tarefa que é conciliar emoção e cognição no âmbito da sala de aula. Percebi que nessa escola essas crianças são deixadas de lado. Gustavo é bastante arredio, não gosta de fazer as atividades, talvez com o tempo eu conquiste confiança dele. Eu já trabalhei com três pessoas assim, com este problema, e elas se saíam bem, se desenvolviam. Agora eu nunca vi alguém ter tanta ciência do seu problema como o Gustavo. Se ele está brincando e os colegas dizem que ele errou, ele se recusa continuar, achando que está atrapalhando, que não é capaz. Nunca vi isso, deve ser a família, que passa isso pra ele! (Professora Laura) Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Com isso, o professor deve partir da idéia de que todos os alunos podem aprender, valorizando as potencialidades de aprendizagem de cada um, potencialidades estas que podem ser desenvolvidas por meio de propostas metodológicas adaptadas às suas necessidades, levando em consideração o interesse de cada aluno e sua capacidade de aprender. Incluir significa ver além das diferenças e estar disposto a acolher. Precisamos rever a nós mesmos, sujeitos da ação, considerando nossas atitudes, valores, limites e preconceitos, enquanto construtores na efetivação do processo de inclusão. 3.3 Currículo na escola inclusiva A distorção ideológica do ensino tradicional chegou a tal ponto que, hoje, é necessário reincorporar o ser humano à aprendizagem da qual foi marginalizado em nome de uma pretensa objetividade. J. Bleger Currículo é o projeto que preside as atividades escolares, ele proporciona informações concretas sobre o que ensinar, quando ensinar, como ensinar e como e quando avaliar (CARVALHO, 2003). Com isso, torna-se imprescindível ter um olhar apurado para o currículo aplicado nas escolas que possuem alunos com necessidades educacionais especiais, questionando em que medida está sendo concebido e se está contribuindo para o processo de inclusão ou se pode ser considerado como estigma da diferença. Glat (2004) escreve que o grande nó e desafio da educação inclusiva é como ensinar ao aluno com deficiência junto com os demais, pois é no espaço da sala de aula que a inclusão deixa de ser uma filosofia, uma ideologia ou uma política e se torna ação concreta em situações reais, envolvendo indivíduos com dificuldades e necessidades específicas. Segundo a autora, a educação inclusiva, entendida sob a dinâmica didático-curricular, é aquela que proporciona ao aluno com necessidades educacionais especiais, participar das atividades cotidianas da classe regular, aprendendo as mesmas coisas que os demais, mesmo que de modos diferentes. Ele não é um menino agressivo, ele tenta acompanhar a turma, segundo ele está copiando. A gente tenta dar atenção e estimular. Ele é muito bom, só que não temos preparo nenhum para trabalhar com ele. (Professora Mônica). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Acredita-se que o professor saiba acolher a diversidade e desenvolver aprendizagem em seus alunos, porém, para que isso aconteça, a escola precisa adaptar-se às necessidades dos alunos e, para tal, destaca-se a necessidade de um currículo flexível, abrangendo uma proposta de conteúdos a partir da realidade de cada escola com base na sua autonomia, onde os elementos curriculares deverão adquirir novas formas, ou seja, os conteúdos não serão memorizados, mas compreendidos. Estamos acolhendo esses meninos desde o ano passado, mas não fizeram nem uma reunião conosco para falar sobre como deveríamos trabalhar com eles. Jogam eles nas salas e nós é que temos que nos virar. (Professora Angélica) A prática pedagógica precisa urgentemente articular-se com a teoria, de nada adianta todo esse discurso em documentos se a escola não está caminhando junto com a proposta de inclusão. Isso pode ser percebido através da fala da Pedagoga: Não tem nada pra ele aqui, os professores não são preparados para lidar com ele. Eu não tenho preparo nenhum para lidar com ele, não fiz curso. Cada um nasce com uma habilidade, não é preconceito, é despreparo mesmo! (Pedagoga Marisa) Ao planejar, o professor precisa estabelecer expectativas altas e criar oportunidades para todos os alunos aprenderem com sucesso, incluídos todos em suas diferenças, sejam étnicas, sociais ou as necessidades educacionais especiais. Durante a aula eu desenhei um armário de arquivo no quadro para demonstrar que a nossa mente é como um armário onde são armazenados vários arquivos, um dos alunos me disse que parecia o CPU de um computador, achei interessante à comparação. Gustavo, o que tem SD, me disse que tem um computador em casa. Eu perguntei o que ele faz no computador, eleme disse que gosta de navegar na internet. (Professora Alessandra) O aluno pode estar presente, mas não necessariamente participando. É preciso dar condições para que o aluno realmente participe das atividades escolares. Em outros casos, o aluno pode estar presente na escola, participando e não estar aprendendo. Ele copia as atividades, porém não consegue resolvê-las. Ele presta atenção nas explicações e até balança a cabeça, como se estivesse entendendo. (Professora Danielle) O desenvolvimento de um currículo inclusivo é, sem dúvida, o fator mais importante para se alcançar uma educação inclusiva de qualidade primando Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 pela heterogeneidade de nossos alunos. Portanto, inclusão significa ter o aluno na escola, participando, aprendendo e desenvolvendo suas potencialidades. 3.4 A relação aluno “comum” e aluno “especial” O que mata o jardim não é o abandono, o que mata um jardim é o olhar indiferente de quem passa por ele. Mário Quintana É possível observar que, a partir da convivência de aluno comum com aluno especial em ambientes comuns, com pessoas com características diversas, ocorrem interações significativas. Assim, eles desenvolvem a amizade, aprendem a trabalhar em grupo, a compreender, a respeitar e a conviver com as semelhanças e as diferenças individuais de seus pares. O apoio dos colegas é fundamental para a permanência do aluno com deficiência na escola, porque, com isso, ele começa a ser visto como ser singular, único, dotado de potencialidades, principalmente no caso daqueles alunos para os quais as experiências anteriores se restringiram apenas à escola ou à classe especial, de cunho segregacionista. Alguns dos seus colegas de sala vieram chamá-lo para jogar vôlei com eles, dizendo: Vamo jogar Gustavo, vem! Porém, ele não aceitou. Outros dois colegas insistiram e ele então resolveu ir. Ensinaram a ele como jogar e bater na bola, quando ele acertava o incentivavam dizendo: Aê Gustavo, é assim mesmo, vai Gustavo! Embora as interações sociais não possam ser forçadas, seu desenvolvimento pode ser encorajado e facilitado pelo professor, e pelas demais pessoas que com eles convivem no ambiente educacional, social e comunitário. Nas classes regulares, quando se desenvolve uma orientação adequada, todos os alunos enriquecem-se por terem a oportunidade de aprender uns com os outros, de cuidar uns dos outros e de desenvolver atitudes, habilidades e valores importantes, contribuindo para que a sociedade possa ser menos preconceituosa e busque apoiar a inclusão de todos, sem distinção. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A Mariza pediu pra gente dar uma atenção especial pra ele. Pediu pra gente cuidar dele. (Aluna Laila) Durante as observações desenvolvidas na classe, pudemos perceber que as interações entre os alunos considerados normais e o aluno que apresenta SD ocorrem de forma espontânea, sendo ricas e variadas, pois a deficiência não é percebida pelos alunos como problema ou diferença, mas como diversidade. Todos são tratados da mesma forma, interagindo com seus pares na classe e fora dela, sendo vistos de forma natural. Em vários momentos observamos que para não ficar “para trás”, ele faz o que os colegas fazem (imitando-os), pois, para ele é como um encorajamento, um estímulo necessário. Esse fato nos mostra como é importante ter modelos positivos para poder se espelhar. Se esse aluno estivesse numa escola especial, provavelmente estaria imitando um aluno cuja deficiência poderia ser mais acentuada que a dele, ocasionando modelos menos significativos. 4. Considerações finais Ao final deste estudo percebemos que, de fato, o que existe na escola é integração, já que o aluno faz parte daquele contexto coletivo da sala de aula, porém, não há para ele adequações à sua necessidade educativa especial. O desafio de ensinar a todos os alunos na escola que se quer inclusiva exige compromisso e responsabilidade. Assim, é fundamental que nos conscientizemos das necessidades dos alunos especiais e nos comprometamos a tornar real tal paradigma. Incluir significa ver além da deficiência e as diferenças consideradas peculiaridades. Para isso a escola tem de se dispor a acolher e a buscar meios para que a permanência destes alunos seja a mais humana possível. Esse adolescente que apresenta síndrome de down foi incluído ou apenas integrado à escola? Dentre as muitas indagações feitas ao iniciarmos esta pesquisa, esta foi a que realmente norteou nossos passos. E ao findarmos, a mesma não sai de nossas mentes, pois o que foi visto em sala de aula é muito distinto do que rezam as leis e do que a sociedade diz ser “inclusão”. O que vimos foi despreparo falta de interesse, descaso, imparcialidade, intolerância, falta de amor. E o que mais ouvíamos eram professores insatisfeitos, reclamando de uma situação que lhes foi imposta. Alunos sendo Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 integrados a um ambiente sem condições adequadas, sem muitos questionamentos ou reivindicações e ainda sem ajuda daqueles que estão ali como mediadores de uma sociedade que futuramente estará à frente das regras que hoje são impostas a eles. 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Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O JUDEU VOADOR: AS RAÍZES HISTÓRICAS DO SUPERMAN - DE 1932 A 1940 Albert dos Reis Ceia – acadêmico do curso de Licenciatura em História do Centro Universitário de Caratinga – UNEC Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade; professora da UNEC e da Faculdade Vértice. Orientadora. [email protected] RESUMO Este estudo de revisão bibliografica concentrou-se na figura do Superman, com o objetivo de apresentar a relação entre as aventuras originais desse super-herói, publicadas entre 1938 e 1940, com a produção historiográfica existente sobre o período e as idéias ligados à sua gênese.Analisando os aspectos apresentados neste trabalho, observa-se que Siegel e Shuster transcenderam mais que um gênero de entretenimento. Eles criaram um paradigma. Um mito duradouro, que possui várias facetas, possibilitando interpretações plurais. O Superman constituiu-se, com o passar dos anos, para bem ou para mal, na própria idealização da perfeição no mundo ocidental e nos EUA em particular, além de uma metáfora para a situação do povo judeu na diáspora. PALAVRAS-CHAVE: Superman; Super-Herói; História em quadrinhos; Mito; Judeus. 1. Introdução Os mitos são metáforas de idéias vigorosas. Uma constelação de imagens suficientemente poderosas para reunir, sob uma mesma intenção, todas as tendências individualistas de uma sociedade (CAMPBELL,1990). Segundo Taliaferro e Lindahl-Urben (2006) uma correnteza narrativa poderosa flui das antigas histórias gregas até o mundo moderno, onde continuamos a dramatizar a batalha entre o bem e o mal em nossos contos de aventura e conflitos heróicos. Esses autores afirmam que a tradução refletiva de virtude e vício encontrada nos principais quadrinhos de super-heróis é semelhante à sabedoria emergente da antiga ética filosófica. Conforme Campbell (1990, p. 62): O campo simbólico se baseia nas experiências das pessoas de dada comunidade, num dado tempo e espaço. Os mitos estão tão intimamente ligados a cultura, a tempo e espaço, que, a menos que os mitos e as metáforas se mantenham vivos, por uma constante recriação através das artes, a vida simplesmente os abandona. Para Irwin (2006), o forte ressurgimento do super-herói como ícone é um dos mais notáveis desenvolvimentos da cultura popular na atualidade. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Segundo o autor, esse ícone não é tão inocente como parece, visto que, além de divertir o leitor, expõe de forma perspicaz questões referentes à ética e a moral, que todos enfrentamos no cotidiano. Definições de bem e mal, humanidade, justiça, amor, amizade, a utilização e os limites da violência são assuntos correntes nos quadrinhos de super-heróis (IRWIN, 2006). Entre os atuais aficionados por quadrinhos encontram-se alguns dos mais influentes formadores de opinião da atualidade, incluindo respeitados romancistas, diretores e astros de cinema (IRWIN, 2006). O presidente dos EUA, Barack Obama, por exemplo, é um fã e colecionador das revistas do Homem-Aranha (FORLANI, 2009). Outros autores já pesquisaram o tema do Superman, sobre diversos aspectos. Para Waid (2006) Superman é uma instituição cultural. “O máximo que a cultura ocidental consegue visualizar de um campeão que é o epítome do altruísmo” (WAID. 2006, p.15). Tallon e Walls (2004) ressaltam as semelhanças entre o Superman clássico e a figura cristã central de Jesus Cristo. Segundo Eco (2008) Superman simboliza uma sociedade particularmente nivelada, onde as perturbações psicológicas, as frustrações e os complexos de inferioridade estão na ordem do dia. Diante da relevância cultural apresentada, levantamos a seguinte questão: o que o mito do Super-herói simbolizou para a sociedade e o período histórico no qual se originou? Para buscar tal resposta, esta pesquisa concentrou-se no super-herói primordial, com o objetivo de apresentar a relação entre as aventuras originais do Superman, publicadas entre 1938 e 1940, com a produção historiográfica existente sobre o período e as idéias ligados à sua gênese. Mesmo diante de visões tão variadas, esta pesquisa se diferencia ao utilizar o referencial historiográfico na interpretação da figuração mítica, almejando contribuir para a conscientização de que a cultura pop pode constituir-se em rica fonte de conhecimento e reflexão para aqueles dispostos a conhecerem suas nuances. 2. Metodologia Este trabalho de revisão bibliografica recorreu ao estudo das compilações de histórias escritas pelos autores originais do Superman, produzidas entre 1938 e 1940; a obra historiográfica de Schmiit (2007) , Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Châtelet (1985) e Gutin e Bank (2004) ; aos estudos sobre mitos e símbolos de Campbell (1990), Eco (2008), Argel e Moura Neto (2008), Carvalho Junior (2002) , Darnton (1988) e Tallon e Walls (2004); à Bíblia e à biografia de Jerry Siegel e Joe Shuster, escrita por Jones (2006). O material foi utilizado de forma a traçar paralelos entre os eventos históricos, a fantasia e as idéias que permeiam não só a gênese da personagem, mas o próprio imaginário judaico-cristão, com o objetivo de preencher lacunas interpretativas, de modo a identificar os símbolos ocultos sob a figura mítica do Superman. 3. Discussão Criado e desenvolvido, entre os anos de 1932 e 1937, durante a grande depressão americana, por Jerome “Jerry” Siegel e Joseph “Joe” Shuster, dois adolescentes judeus de Cleveland, o Superman é o primeiro e maior super-herói de todos os tempos (JONES, 2006). Sua estréia, em junho de 1938, no primeiro número da revista Action Comics, publicada pela National Periodical Publications (atual DC Comics), estabelece o marco fundamental do que se convencionou chamar de Super-Herói (JONES, 2006). Ao abordar o “mito do Superman” enquanto fenômeno da antropologia cultural, Eco (2008) caracteriza as histórias em quadrinhos como reflexo de uma situação social e reafirmação periférica de um modelo geral. Do ponto de vista mitopoético, o achado chega a ser sapiente: de fato, Clark Kent personaliza, de modo bastante típico, o leitor médio torturado por complexos e desprezado pelos semelhantes; através de um obvio processo de identificação, um accountant qualquer de uma cidade norte-americana qualquer, nutre secretamente a esperança de que um dia, das vestes da sua atual personalidade, possa florir um super-homem capaz de resgatar anos de mediocridade. (ECO, 2008, p.248) O autor propõe que a personagem representa um modelo de heterodireção. Um projeto de desabituação à idéia de auto-responsabilidade. Para o autor, as histórias em quadrinhos constituem-se em “um repertório mitológico claramente instituído de cima, isto é, criado por uma indústria jornalística” (ECO, 2008, p.244). O super-herói é um instrumento pedagógico que incute na mente de seus leitores, da mesma maneira que as campanhas publicitárias, os princípios pedagógicos de uma sociedade baseada na economia de consumo (ECO, 2008). Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 “Superman deve fazer com que a virtude consista em vários pequenos atos parciais, nunca numa tomada de consciência total” (ECO. 2008, p.277), a fim de promover a concepção de ordem que impregna seu modelo cultural. Jones (2006) não corrobora a idéia de que os quadrinhos são uma mitologia elitista. Segundo este, as revistas em quadrinhos são de fato um formato de publicação proveniente das páginas dominicais de quadrinhos dos jornais, porém, na década de 1930, as páginas de quadrinhos eram o formato mais livre da mídia popular. Enquanto o cinema e o rádio eram produtos de grupos corporativos, os quadrinhos saiam das pranchetas dos desenhistas sem grandes interferências editoriais. Os padrões, assim como o valor pago por página desenhada, eram muito baixos. Os quadrinhos eram considerados lixo, de modo que era fácil para qualquer um entrar no ramo (JONES, 2006). Para os judeus do início do século XX o caminho para a fama passava pelo mercado do entretenimento de massas, área na qual os americanos tradicionais, por preconceito ou provincianismo, não estavam interessados em trabalhar (JONES, 2006). Em Nova Iorque, a indústria gráfica era dominada por alemães, irlandeses e escoceses, mas os judeus eram o grupo étnico mais letrado da América e os tipógrafos das demais etnias não dominavam os caracteres hebraicos usados no iídiche. Boa parte do capital empregado no lançamento de editoras judaicas saía da indústria de vestuário e o sistema de produção dessas servia como modelo para as pequenas editoras (JONES, 2006). Para Campbell (1985) as pessoas comuns não produzem mitos. “O conto popular se destina ao entretenimento” (CAMPBELL. 1985, p.61), não atingindo o nível do mito. No entanto, ao estudar os contos populares franceses dos séculos XVII e XVIII, Darnton (1988) observa que os contadores de histórias camponeses não achavam as histórias apenas divertidas, assustadoras ou funcionais, mas também boas para pensar. Para ele, os contos comunicam uma visão do mundo e de como enfrentá-lo. Outro aspecto observado por Darnton (1988) é a fantasia de virar a mesa onde os camponeses franceses obtinham satisfação logrando, em suas fantasias, os ricos e os poderosos. No entanto, os contos manifestavam também a impotência dos camponeses em alterar a situação vigente, visto que proporcionavam uma forma de lidar com uma sociedade dura e não de subvertê-la. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Assim como nos contos franceses, as histórias do Superman refletiam a situação geral dos EUA. No início de sua carreira, o Superman não possuía inimigos espetaculares. Suas aventuras enfocavam os problemas de trabalhadores comuns, sendo o próprio herói o único elemento fantástico no mundo retratado por Siegel e Shuster (JONES, 2006). Em sua luta contra as injustiças sociais do período da depressão, Superman enfrentava políticos (junho de 1938), industriais (agosto de 1938) e empresários (novembro de 1938) corruptos. (Republicadas em Superman Crônicas n°1, 2008). Na edição de janeiro de 1939, o homem de aço decide enfrentar o problema das condições precárias de moradia evacuando e demolindo toda uma favela de modo a forçar o governo a construir casas populares para seus ocupantes (Republicada em Superman Crônicas n°1, 2008). Segundo Schmiit (2007), naqueles anos, a superprodução do pósguerra e a especulação financeira da década anterior, levaram o sistema capitalista a uma crise financeira sem precedentes. Tendo como grande marco a quebra da bolsa de valores de Nova Iorque, em 1929, a crise, que começou nos EUA, espalhou-se pelo mundo inteiro (SCHMIIT, 2007). Mais de 100 mil empresas faliram. Um milhão de fazendeiros tiveram de vender seus bens. A produção industrial caiu em 50 % e, em 1933, um terço dos americanos já não tinha emprego fixo (SCHMIIT, 2007). Em 1932 o presidente Franklin Roosevelt pôs em prática o plano de recuperação econômica, chamado “New Deal”, cuja principal característica era o fim do liberalismo econômico. O estado passou a intervir diretamente na economia e a fazer obras públicas no intuito de gerar novos empregos e encomendas para a indústria particular, sem estimular a superprodução. (SCHMIIT, 2007). Para tentar aumentar o mercado consumidor, Roosevelt adotou medidas como a construção de casas populares e leis de proteção social, como salário mínimo, seguro desemprego e previdência. Os empresários e políticos conservadores não queriam tais leis, pois estas atrapalhavam a livre empresa, base da liberdade americana. Ainda assim, o New Deal conseguiu evitar que a crise fosse mais violenta ainda (SCHMIIT, 2007). Neste ambiente, a figura sobre-humana, envolta em cores primárias, correndo ao amparo de operários e donas de casa oprimidas, falando grosso e Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 não agüentando desaforos de opressores, pode ter personalizado a fantasia de virar a mesa. Um New Deal mítico. Outro ponto que chama a atenção na gênese do super-herói é que “os criadores originais da história do Superman, Jerry Siegel e Joe Shuster eram judeus e muitos paralelos já foram apontados entre Moisés e Superman”. (TALLON e WALLS, 2006 p. 190). Graças a forma de narrativa compacta utilizada nas histórias em quadrinhos da década de 1930, é possível fazer uma comparação direta entre o texto de Siegel e do livro do Êxodo, em busca dos paralelismos entre ambos: Enquanto um planeta distante era destruído devido à sua idade avançada, um cientista colocou seu bebê dentro de uma espaçonave construída às pressas, lançando-a em direção a Terra. Quando o veículo pousou no Planeta, um motorista passou e descobriu o bebê dormindo lá dentro. Ele entregou a criança a um orfanato. Ignorando que a estrutura física da criança era milhões de anos mais avançada que a deles, os enfermeiros ficaram abismados com seus feitos de força. (ACTION COMICS, n° 1/ junho 1938). Então o Faraó ordenou a todo o seu povo: “joguem no rio Nilo todo menino que nascer; e se for menina, deixem viver”. (Êxodo c.1, v.22) Um homem da tribo de Levi casou-se com uma mulher da mesma tribo: ela concebeu e deu a luz um filho. Vendo que era belo, o escondeu por três meses. Quando não pôde mais escondê-lo, pegou um cesto de papiro, vedou com betume e piche, colocou dentro a criança e a depositou entre os juncos na margem do rio. A irmã da criança observava de longe para ver o que aconteceria. Nesse momento, a filha do Faraó desceu para tomar banho no rio, enquanto suas servas andavam pela margem. Ela viu o cesto entre os juncos e mandou a criada apanhá-lo. Ao abrir o cesto, viu a criança: era um menino que chorava. Ela se compadeceu e disse: “é uma criança dos hebreus”. (Êxodo 2,1-6) Embora Campbell (1990) identifique uma seqüência de eventos arquetípicos, característicos de todas as narrativas heróicas, a comparação entre a narrativa bíblica e a origem do Superman evidencia uma transliteração da história mosaica para um vocabulário de ficção científica. A transferência de atributos de Moisés para o Superman pode caracterizar uma metáfora que identifica o Superman como um hebreu. Segundo Carvalho Junior (2002) a etimologia do nome kryptoniano do Superman, Kal-El, é hebraica, significando “Amigo de Deus”. Além disso, o nome de seu pai biológico, Jor-El, aproxima-se do hebraico Joel, cujo significado é “Javé é Deus”. Em junho de 1939, nas páginas de Superman n°1, os Kents foram apresentados como um casal que não podia ter filhos e, já idosos, encontraram o bebê Kryptoniano, remetendo ao mito bíblico de Abraão e Sarah (Gênesis, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 c.21, v.1-5). Cabe acrescentar que a mãe de Sansão, herói hebreu conhecido por sua grande força, também era estéril (Juízes c.13, v.2). o anti-semitismo sempre se manifestou na sociedade estadunidense, mesmo que, nunca tenha havido discriminação sancionada contra os judeus (GUTIN e BANK, 2004). Tal situação justifica as palavras de Theodor Herzl citado por Châtelet (1985, p. 313): Por toda parte tentamos nos fundir com as coletividades nacionais que nos cercavam, salvaguardando apenas a fé de nossos pais. Inutilmente somos patriotas fiéis, até mesmo em certos países de exuberantes patriotas; inutilmente aceitamos os mesmos sacrifícios em dinheiro e sangue que nossos compatriotas; inutilmente nos esforçamos para elevar a glória de nossas respectivas pátrias no domínio das artes e das ciências, assim como para aumentar suas riquezas através do comércio e da troca. Os americanos possuiam a crença de que os EUA eram uma nação cristã e, consequentemente, a antiga noção dos judeus como assassinos de cristo e indigno de confiança era dominante entre muitas camadas da população. Assim como na Europa, as situações de crise contribuiam para a ascensão do anti-semitismo entre os estadunidenses. Durante a depressão era comum a acusação de que os judeus controlavam os mercados financeiros e eram culpados pela queda do mercado de ações (GUTIN e BANK, 2004). Na primeira metade do seculo XX, o anti-semitismo podia ser distinguido atravéz de quotas de imigração, negação da admissão em muitas universidades de prestígio e escolas profissionais, clubes sociais, hotéis e mesmo bairros. Atos abertos de anti-semitismo no meio militar, numerosos ataques físicos, recusa de bancos, hospitais e firmas legais em empregar judeus (GUTIN e BANK, 2004). As coisas só melhoraram após o fim da Segunda Guerra Mundial, com o trauma mundial causado pelo holocausto. Mesmo que ainda existisse, o antisemitismo se tornou mais sutil (GUTIN e BANK, 2004). Ao criar o binômio Superman/Clark Kent estaria Siegel sugerindo que os judeus, o povo que gerou homens como Jesus, Simão Bar-Kochba, Benedictus Spinoza, Albert Saibin, Karl Marx, Leon Trotsky, Sigmund Freud e Albert Einstein, eram uma “raça de super-homens” subestimada? Argel e Moura Neto (2008), ao abordar o personagem Drácula, identificam a xenofobia do europeu ocidental em relação ao forasteiro. O imigrante é visto como uma figura de terror, vindo de uma cultura distinta e incompreensível. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 No Superman ao contrário, é o imigrante que projeta o olhar sobre si mesmo. Nele, a dupla identidade de Clark Kent/Superman era uma alegoria que ecoava na mente de imigrantes e judeus (JONES, 2006), visto que representava “o forasteiro que chega e esconde sua identidade estrangeira para poder ser aceito por uma cultura que preza a uniformidade” (JONES. 2006, p. 207). Jerry Siegel era o mais novo dos seis filhos de Mitchell e Sarah Siegel. Seu pai, um imigrante judeu da Lituânia foi assassinado quando um ladrão invadiu sua loja de trajes masculinos, em 1932. Mesmo sendo um jovem muito tímido, atingiu certa fama no colégio com o personagem “Goober the Mighty”, uma paródia de Tarzan. Ainda no colégio, trabalhou no jornal semanal “The Torch”, onde seus colegas o consideravam um garoto nervoso, ao mesmo tempo convencido e tímido, que facilmente se apagava no grupo. (JONES, 2006) Joe Shuster era baixo, raquítico, muito míope e terrivelmente tímido. Nasceu em Toronto, no Canadá, filho de Julius e Ida Shuster. Seu pai era um alfaiate judeu holandês, filho de russos. Sua mãe era ucraniana. Ninguém nunca se pareceu tanto com Clark Kent, o alter ego do Superman, quanto Joe, visto que o rapaz inspirou-se em si mesmo para desenhá-lo. (JONES, 2006) Para compor o homem de aço, a dupla buscou inspiração no ator Douglas Fairbanks, no fisiculturista Bernarr MacFadden, em Flash Gordon e no marinheiro Popeye. Já a origem do nome de Clark Kent é motivo de dúvidas até hoje. Uma corrente defende que o nome foi tirado de Clark Gable e Kent Taylor, dois famosos atores da época. Porém, a hipótese mais coerente é que os autores tenham se inspirado nas identidades civis de dois heróis das histórias de aventura Pulp: Doc Savage e Sombra, cujos alter egos eram respectivamente Clark Savage e Kent Allard, cuja namorada, aliás, era Margot Lane. (JONES, 2006) Lois Lane, a namorada do Superman, recebeu seu nome em homenagem a Lois Amster uma das colegas de Jerry Siegel no jornal “The Torch”, descrita pelos colegas como uma mistura de provocações com espírito colegial. Outra adolescente, Jolan Kovacs, baixinha, magricela, de olhos juntos e nariz pronunciado, serviu de modelo para a personagem (JONES, 2006). Jones (2006) afirma que, ao tentar reunir suas muitas paixões numa única, Jerry e Joe acabaram criando uma personagem que transcendia e redefinia o gênero da aventura. Apresentados estes dados, encerramos essa Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 discussão com a percepção de que o mito do Superman primordial possui reflexos em vários níveis, representando elementos sociais, étnicos e psicológicos. Uma fantasia de virar a mesa ou um símbolo de perfeição, Superman é uma metáfora para a realidade de seus criadores e de seu povo, constituindose em um símbolo profundo e complexo. 4. Considerações Finais Analisando os aspectos apresentados neste trabalho, observa-se que Siegel e Shuster transcenderam mais que um gênero de entretenimento. Eles criaram um paradigma. Um mito duradouro, que possui várias facetas, possibilitando interpretações plurais. O Superman constituiu-se, com o passar dos anos, para bem ou para mal, na própria idealização da perfeição no mundo ocidental e nos EUA em particular, além de uma metáfora para a situação do povo judeu na diáspora. 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No Brasil o esporte ganha adeptos devido à emoção proporcionada pelas partidas seja ela disputada por profissionais ou simples amadores, o futsal se destaca como uma das modalidades esportivas mais difundidas, tendo em vista a facilidade de sua prática. No futsal, assim como qualquer outro esporte, podemos ver que a posse de bola, é de essencial importância em uma partida, para que a equipe tenha vantagens no jogo precisa ter a posse de bola, para que possa criar oportunidades de finalizar ao gol, essa posse de bola pode interferir enormemente no resultado de uma partida. O objetivo deste estudo foi verificar a relação entre a posse de bola e a obtenção de vitórias no Futsal de alto nível. Foram analisadas as partidas da Copa do Mundo de Futsal do Brasil de 2008 e tratados os dados de forma descritiva através do Microsoft Office Excel 2007. Conclui-se que a posse de bola é um elemento importante para a obtenção de vitórias no Futsal e cada segundo de posse de bola se faz importante em uma partida. A posse de bola pode ser um fator determinante para se prever as colocações em um torneio devido aos resultados encontrados. PALAVRAS-CHAVE: Futsal; Posse de Bola; Obtenção de Vitórias. 1. Introdução O Futsal é um esporte onde se joga em uma quadra com espaço delimitado, em dois tempos de 20 minutos cada, com intervalo de 10 minutos entre o primeiro e segundo tempos de jogo. Os jogadores por equipe são em número de 12, denso 5 titulares de 7 reservas. Um dos esportes extremamente dinâmico e que encanta os jovens e adultos. O Futebol de Salão tem duas versões sobre o seu surgimento, como em outros esportes, há divergências quanto a sua invenção. Há uma versão que diz que o Futebol de Salão começou a ser jogado no Brasil por volta de 1940 por freqüentadores da Associação Cristã de Moços, na cidade de São Paulo, Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 pois havia uma grande dificuldade em encontrar campos de futebol livres para poderem jogar e então começaram a jogar suas "peladas" nas quadras de basquete e hóque (FUTSALBRASIL, 2010). Outra versão salienta que, no início jogava-se com cinco, seis ou sete jogadores em cada equipe, mas logo definiram o número de cinco jogadores para cada equipe. As bolas usadas eram de serragem, crina vegetal ou de cortiça granulada, mas apresentavam o problema de saltarem muito e freqüentemente saiam da quadra de jogo. Então tiveram seu tamanho diminuído e seu peso aumentado. Por este fato o Futebol de Salão passou a ser chamado de "O Esporte da Bola Pesada". Temos também a versão que fala que foi os gaúchos, amantes deste esporte. Nessa versão, tida como a mais provável, o Futebol de Salão foi inventado em 1931 na Associação Cristã de Moços de Montevidéu/Uruguai, pelo professor Juan Carlos Ceriani, que chamou este novo esporte de "Indoor-Foot-Ball”. Destaca-se na cidade de São Paulo o nome de Habib Maphuz, que muito trabalhou nos primórdios do Futebol de Salão no Brasil. O professor da ACM de São Paulo, no início dos anos cinqüenta participou da elaboração das normas para a prática de várias modalidades esportivas, sendo uma delas o futebol jogado em quadras, tudo isto no âmbito interno da ACM Paulista (FUTSALBRASIL, 2010). Este mesmo salonista fundou a 1ª Liga de Futebol de Salão, a Liga de Futebol de Salão da Associação Cristã de Moços e após foi o 1º presidente da Federação Paulista de Futebol de Salão. Foi colaborador de Luiz Gonzaga de Oliveira Fernandes para a elaboração do 1º Livro de Regras de Futebol de Salão editada no mundo, em 1956. Apesar das divergências, o que se conclui é que o Futebol de Salão nasceu na Associação Cristã de Moços, na década de 1930 em Montevidéu ou na década de 1940 na cidade de São Paulo. Por que só pode se considerar que o esporte foi inventado após criar regras para o jogo, já havia em vários lugares, muitos já jogavam, mas sem se preocupar com regras. Assim, ocorreu o primeiro campeonato de futsal onde criaram o primeiro livros de regras. Em seguida, foram estabelecidas as regras nas competições onde o futsal foi apresentado para o mundo com as primeiras regras criadas na cidade de São Paulo (FUTSALBRASIL, 2010). Como qualquer outro esporte, o Futsal é composto de características próprias e regras que regulamentam seu jogo, regras essas que sofreram e ainda sofrem mudanças desde sua primeira sistematização. É um esporte que Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 promove a socialização de uma forma lúdica, tirando as crianças do meio da violência e das drogas (SANTOS FILHO, 1998). O objetivo desse trabalho foi verificar a relação entre a posse de bola e a obtenção de vitórias no Futsal de alto nível. As hipóteses deste trabalho se relacionam à medida que busca-se, compreender o fenômeno, sendo: a maior posse de bola em uma partida está diretamente relacionada à obtenção de vitórias; a maior posse de bola em uma partida está diretamente relacionada às de derrotas nas partidas e, a maior posse de bola em uma partida não tem qualquer relação a obtenção de vitórias em partidas de Futsal. Este trabalho é de extrema importância devido à carência e literatura específica na área e, a relevância do tema se traduz na busca de métodos científicos que possam contribuir, de forma decisiva, para o desenvolvimento do Futsal mundial, e assim surge a questão: qual a relação entre a posse de bola e a obtenção de vitórias em partidas de Futsal de alto nível? 2. Referencial teórico Os fundamentos técnicos são a base para o trabalho em qualquer esporte e, não é diferente no Futsal. Santos (2001) define técnica como a execução dos elementos fundamentais do jogo, ou seja, a execução de todas as habilidades que um praticante precisa para se tornar um atleta do futebol. Uma boa equipe apresenta os fundamentos técnicos bem assimilados pelos seus integrantes, onde Fernandes (1994) enumera como: passe, drible, cabeçada, chute e condução de bola. A técnica individual e em equipe, é um conjunto de movimentos que os jogadores executam durante o jogo de futsal, ou em qualquer outro esporte. Para Garcia e Lemos (2001) apud Drubscky (2003) os fundamentos técnicos do Futebol são: recepção, domínio, controle, orientação, condução de bola, drible, finta, marcação, desmarcação, passe, chute, cabeceio e fundamentos do goleiro; para Frisseli e Mantovani (1999) são: recepção, domínio, controle, orientação e condução de bola, drible, finta, marcar, desmarcar, passe, chute, cabeceio e técnicas do goleiro. Nos dias atuais, o que se observa, é o grande avanço do Futsal, por ser um esporte fácil de ser praticado, que se tornou a paixão dos brasileiros, pela forma simples de se jogar e também por nossa seleção ocupar uma posição de destaque mundial, o Futsal vem crescendo cada dia mais, por ser um esporte de fácil adaptação; pode se jogar em qualquer local basta-se colocar dois Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 chinelos, pedras, bolsas, blusa, e outros, podendo jogar em vários locais como: pátio, rua, campo, terrenos e outros (VOSER e GIUSTI, 2002) A falta de análise por parte do comandante da equipe, de como neutralizar as jogadas fortes do adversário, de como marcar o “craque” da outra equipe e como fazer com que o adversário não descubra as suas fraquezas são pontos importantes na tática de uma equipe que deve ser levado em conta na hora de se escolher a tática adequada para a equipe (ALVES FILHO, 2004). Por fundamentos táticos entende-se todas as ações colocadas em prática antes, durante e depois de uma partida, buscando-se alcançar o objetivo pretendido para a mesma (SANTOS FILHO, 2002). Bayer (1986), citado por Filgueiras e Greco (2008) define tática como sendo a inter-relação dos fatores do jogo: espaço, tempo, colega, bola, adversário em cada situação, gerando a dependência direta do objetivo final do esporte e dos objetivos táticos gerais e específicos da ação. A Tática é fator decisivo para obtenção de vitórias e qualquer estratégia pode ser o limite entre vencer ou perder. Vale ressaltar que a simples obediência tática não e fator limitante para se alcançar a vitória como cita Daolio (1998), pois se faz necessário que em algum momento de jogo, um ou mais jogadores de liberte do esquema tático e, ouse uma jogada individual, isso pode levar a derrota da sua equipe, mas se der certo resultará em um lance de beleza plástica resultando no gol da vitória da sua equipe. Como podemos observar em todas as escolas, a prática do Futsal, se impõe obrigatória, todo o professor de Educação Física tem que inserir em seu plano de ensino o Futsal não só por ser um conteúdo obrigatório, mas também pelo interesse de todas as crianças pela prática do Futsal nas escolas; o que podemos observar é um interesse muito grande das crianças em relação à prática do Futsal, talvez pelo fato do Brasil ser seleção mais vitoriosa em competições de Futsal, e também pela divulgação da mídia sobre os jogadores destaques em todo o mundo. Os alunos se espelham muito nesses jogadores e sonham em ser iguais á seus ídolos (FILGUEIRAS, 2004). A Copa do Mundo de Futsal é um evento promovido de quatro em quatro anos, que visa reunir as melhores seleções do mundo, em uma competição em moldes semelhantes à Copa do Mundo de Futebol FIFA. O evento foi promovido em 2008 pelo Brasil, com duas sedes, sendo uma em Brasília, capital federal, e outra no Rio de Janeiro. A competição contou com a participação de 20 equipes, dos cinco continentes, o Brasil sagrou-se campeão Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 vencendo a seleção da Espanha na decisão por pênaltis. A competição realizou-se nos meses de setembro e outubro de 2008. Rússia, Brasil, Espanha e Itália foram as quatro melhores seleções na Copa do Mundo. Foram 397 gols marcados em 56 jogos, média de 6.91 por partida, o artilheiro marcou 16 gols, o russo Pula. A média de público foi de 5.217 espectadores por partida, para um total de público de 292.161 espectadores (O GLOBO, 2008) 3. Metodologia A pesquisa trata-se de um estudo descritivo onde dados estatísticos da Copa do Mundo de Futsal realizada no Brasil no ano de 2008 no Brasil, obtidos, foram somados em cada um de seus aspectos, sendo aplicado em cada um individualmente o calculo da Média, Máxima e Mínima utilizando-se o programa Microsoft Office Excel 2007. Em seguida aplicou-se o calculo percentual para alguns aspectos, cujos resultados foram apresentados em forma de gráficos, para melhor compreensão das conclusões de forma descritiva. 4. Análise e discussão dos dados A posse de bola no Futsal é algo muito importante durante uma partida, os treinadores tendem a pedir sempre à suas equipes atenção especial à busca pela posse de bola como instrumento de obtenção de vitórias (DIAS, 1989). Uma dúvida sempre se faz presente no sentido de elucidar se realmente a posse de bola define o campeão em uma partida de Futsal e assim orientar uma equipe em buscar manter a bola sobre seu domínio, logicamente aliada a outros fatores, seriam o diferencial em obter vitorias neste esporte. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Gráfico 1: posse de bola em partidas de Futsal, analise entre os vencedores e perdedores em partidas da Copa do Mundo de Futsal no ano de 2008. No Gráfico 1 observamos que em média o percentual de posse de bola das equipes que venceram as partidas foi de 54%, o que foi superior ao percentual das equipes que perderam as partidas em 8%, sendo o percentual médio de posse de bola das equipes que perderam as partidas de 46%. A maior posse de bola indica, segundo os resultados da Copa do Mundo de 2008, o vencedor em partidas de Futsal e que a diferença está em pequenos detalhes visto a pequena diferença percentual entre vencedor e vencido. Gráfico 2: posse de bola em partidas de Futsal, analise dos melhores e piores desempenhos em partidas da Copa do Mundo de Futsal no ano de 2008. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O Gráfico 2 indica que a diferença percentual entre os melhores e piores resultados em termos de posse de bola nos jogos de Futsal oscilam entre 71% e 29% de média de posse de bola por jogo o que é uma diferença muito grande. Esta diferença cai quando a qualidade das equipes envolvidas aumenta o que se indica pela diferença encontrada nos jogos da primeira e segunda fases da Copa do Mundo de Futsal de 2008. Quando se analisa as equipes detentoras dos melhores e piores índices de posse de bola, encontramos a Espanha vice-campeã do mundo detentor do recorde de posse de 71% e a Líbia uma seleção que figurou entre as últimas colocações da competição com 29% de posse; na segunda fase o Brasil campeão mundial, configura-se como detentor do melhor desempenho, 65% de posse de bola, e o Iran com o pior desempenho o de 35%, seleção que não passou à fase de semifinais. Assim podemos inferir que posse de bola exerce influencia na obtenção de vitórias no que diz respeito aos melhores desempenhos alcançados pelas equipes mais bem sucedidas durante o campeonato. Gráfico 3: posse de bola em partidas de Futsal, analise dos melhores e piores desempenhos por equipe em partidas da Copa do Mundo de Futsal no ano de 2008. No Gráfico 3 analisou-se o desempenho das duas melhores seleções do mundial assim com das duas piores colocadas no mundial. Podemos observar que o percentual médio de posse de bola destas seleções não varia muito, ou seja, a variação dos melhores colocados, Brasil e Espanha, foi de 1,5% e dos últimos colocados foi de 1%, o que nos leva a crer que podemos prever os resultados futuros de uma equipe de Futsal em uma competição através de sua posse de bola em partidas anteriores, e assim se configura em mais um indicio Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 para se acreditar na posse de bola como fator decisivo na obtenção de vitórias em partidas de Futsal. 5. Considerações finais Após á analise dos dados obtidos, através de todos os instrumentos utilizados para estudar a relação entre a posse de bola e as vitórias na copa do mundo de futsal 2008 conclui-se: 1- A relação entre a posse de bola e as vitórias no campeonato tem uma relação direta, as seleções que ocupam as primeiras posições da competição, sempre têm um controle das partidas em relação à posse de bola, mas podemos ver que no Futsal a diferença entre as equipes pode ser um fator muito significativo no resultado final do jogo; 2- As equipes que procuram ter um domínio do jogo durante a partida, na maioria das vezes é o time que ao final da partida chega à vitória; 3- A posse de bola das equipes tem uma grande influencia no resultado do jogo, devido à estatística, o gráficos comprovam que as equipes que ocuparam o primeiro e o segundo lugar na competição, tiveram um aproveitamento da posse de bola superior aos adversários durante a competição, ao compararmos a posse de bola das equipes podemos observar que a uma diferença enorme entre as equipes que ocupam a parte de baixo da tabela e as equipes que ocupam o primeiro lugar, depois de observar as estatísticas entre 1º primeiro e 2º segundo lugar e comparar com décimo nono e vigésimo, chegamos à conclusão ouve uma diferença consistente em relação à posse de bola, observamos o 1º lugar que foi o Brasil com a porcentagem de 55,5 % e o 2º lugar Espanha com 54% já o décimo nono que e a China com a percentagem de 42% de posse de bola, e o 20º vigésimo lugar que foi Ilhas Salomão ficando com uma porcentagem de 43% em média. Podemos observar claramente que a posse de bola se relaciona diretamente e proporcionalmente com as posições conquistadas no mundial; 4- Faz-se de extrema importância que o técnico treine sua equipe com base no trabalho de posse de bola, a ser contemplado na preparação de sua equipe, o técnico tem um fator fundamental nas partidas de futsal, ao treinar sua equipe, ele deve treinar para ter uma maior percentual de posse de bola dentro do jogo, fazendo com que sua equipe possa obter vantagens sobre a equipe adversária, sendo assim ele deve conhecer Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 seus adversário em também no que diz respeito às estatísticas de jogo para elaborar estratégias para vencer as partidas. REFERÊNCIAS FUTSAL BRASIL. História do Futsal. Disponível em: www.futsalbrasil.com. Acesso: 10. Set. 2010. ___________________. História do Futsal. Disponível www.oglobo.globo.com/esportes. Acesso em: 10. Set. 2010. em: ___________________. Mundial de Futsal será de 1° a 19 de outubro. . O globo online de 17/07/2007. Disponível em: www.oglobo.globo.com. Acesso em: 10. Set. 2010. ALVES FILHO, M. Futebol coloca tática para escanteio. Jornal da Unicamp, Campinas, 27 jun 2004. Disponível em: http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/jornalPDF/ju256pag09.pdf. Acesso em: 11. set. 2010. DAÓLIO, Jocimar. Educação Física brasileira: Autores a atores da década de 1980. Campinas, SP: Papirus, 1998. DIAS, C. Manual de futebol. São Paulo: Marco Zero, 1989. DRUBSCKY, Ricardo. O universo tático do Futebol: escola brasileira. Belo Horizonte: Health, 2003. FERNANDES, José Luís. Futebol: ciência arte ou sorte! Treinamento para profissionais – alto rendimento: preparação física, técnica, tática e avaliação. São Paulo: EPU, 1994. FILGUEIRAS F. M. e GRECO P. J. Futebol: um estudo sobre a capacidade tática no processo de ensino aprendizagem – treinamento. Disponível em: www.rbfutebol.com.br. Revista Brasileira de Futebol. Belo Horizonte: v.1, n. 2, p. 53-65, jul. 2008. FILGUERAS, Fabrício. M. Futebol: uma visão as iniciação esportiva. Ribeirão Preto: Ribergráfica, 2004. FRISSELI, Ariobaldo; MANTOVANI, Marcelo. Futebol: teoria e prática. São Paulo: Phorte, 1999. SANTOS FILHO, J. L. A. Manual de Futebol. São Paulo: Phorte, 2002. SANTOS FILHO, J. L. A. Manual de futsal. Rio de Janeiro: Sprint, 1998. SANTOS, E. dos. Futebol. Rio de Janeiro: FERJ, 2001. VOSER, Rogério da C; GIUSTI, João Gilberto. O futsal e a escola: uma perspectiva pedagógica. Porto Alegre: Artmed, 2002. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O PERFIL DOS TRABALHADORES DO CAFÉ NA CIDADE DE MATIPÓ: UM ESTUDO DESENVOLVIDO PELO PROGRAMA SOCIAL Karen Estefan Dutra – Graduada em Administração, Especialista em Gestão Estratégica de Marketing, Mestre em Engenharia de Produção, Doutoranda em Educação. Kelly Aparecida do Nascimento – Graduada em Educação Física e Pedagogia, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Patrícia Luísa de Araújo Mendes – graduada em Ciências Biológicas, Mestre em Botânica Érica Estanislau Muniz – graduada em Física, especialista em Ensino de Física [email protected] www.faculdadevertice.com.br/programasocial Programa Social Faculdade Vértice RESUMO Através de uma pesquisa de campo realizada com os trabalhadores do café, na cidade de Matipó/Minas Gerais, esse trabalho propõe apresentar o perfil, situação de vida e saúde desses profissionais em uma produção importante para a cidade e região. A investigação será apresentada de forma a proporcionar um melhor entendimento sobre essa atividade profissional e sua repercussão na vida das pessoas e sociedade. Esses profissionais representam hoje grande parte da sociedade e contribuem significativamente com a sua mão de obra. A atividade do café representa grande parte da contribuição de renda da região. Contudo, esses profissionais, pelo trabalho desenvolvido, não têm condições de estudo, fazendo isso se repercutir também nas gerações futuras.Os mesmos apresentam uma renda financeira baixa e com poucas condições de desenvolvimento. Contudo, apesar de todas as dificuldades consideram boa a saúde e se dizem satisfeitos em relação a vida com familiares e amigos. A presente pesquisa permitiu descrever uma realidade que servirá de base para que novos projetos sejam realizados, considerando as necessidades da comunidade de Matipó. PALAVRAS-CHAVE: Café; colheita; saúde do profissional. 1. Introdução O Brasil é, atualmente, o maior produtor de café do mundo, responsável por 30% do mercado internacional. Essa produção do café brasileiro concentrase no centro-sul, Minas Gerais, que é o melhor e maior produtor nacional, Espírito Santo, Paraná, São Paulo, na região nordeste no estado da Bahia, e no norte. A cidade de Matipó/Minas Gerais e região tem como forte característica a colheita de café, sendo essa uma atividade geradora de Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 emprego e renda para a sociedade. Sendo assim, este artigo pretende identificar o perfil dos principais responsáveis para que este produto tão desejado – café – seja colhido de maneira eficiente. O presente trabalho tem como objetivo demonstrar algumas características dos profissionais responsáveis pela colheita do café, além de descrever seu perfil na sociedade. A primeira parte do trabalho tratará dados relacionados a Matipó e região, embasando essa importante atividade para o contexto social, além de abordar a respeito da cafeicultura como uma das grandes atividades que o Brasil possui. Logo em seguida, será apresentada a metodologia trabalhada para a coleta de dados que serviu de base para essa pesquisa. Na sequência, os dados já trabalhados, estão apresentados com suas análises, permitindo uma exposição mais clara do assunto abordado. E, finalmente, são apresentadas as considerações finais do estudo. 2. Matipó e o Programa Social da Faculdade Vértice A cidade de Matipó possui uma área de 277 km2 e população estimada em 17.017 habitantes e está localizada na bacia do Rio Doce. Possui altitudes máxima e mínima de 989 e 660 metros, respectivamente (IBGE, 2009). É uma cidade essencialmente agrícola, sendo o café seu principal produto, participando também de sua economia a pecuária e o comércio, porém com menor sustentabilidade. É uma região com cerca de 600.000 hectares (PROGRAMA SOCIAL, 2009). O “Programa social e multidisciplinar: educação, saúde, meio ambiente, planejamento financeiro doméstico e geração de renda” constitui-se em uma proposta da Faculdade Vértice em parceria com a Samarco Mineradora S.A., iniciada no ano de 2009 para atender ao Bairro Boa Vista de Matipó. Este programa tem como objetivo contribuir para a promoção da qualidade de vida dos moradores do Bairro Boa Vista, em Matipó. Sua essência está pautada no envolvimento e na participação da população em todas as propostas que pretende desenvolver, já que acreditamos que a participação é um aspecto indispensável ao sucesso de projetos que visam ao desenvolvimento de comunidade; nesse caso, a integração da Comunidade com a Instituição de Ensino Superior. A equipe que atua no Programa é formada por acadêmicos dos diversos cursos de graduação e pelo corpo docente da Faculdade Vértice. O Programa vem realizando ações, atividades e projetos no Bairro Boa Vista. Os projetos do Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Programa Social incluem: capoeira; dança, escolinha de futebol; visita programada; projeto Hip-hop e projeto de administração financeira e doméstica e qualidade de vida da Família. O Programa realiza também pesquisas e, nesse caso, podemos citar o estudo antropométrico, o estudo de ambientação e o perfil colheitadores de café. A comunidade do Bairro Boa Vista é constituída por 03 (três) grandes aglomerados denominados: Bairro Boa Vista, Bairro Boa Esperança e Loteamento do Celinho. A comunidade do bairro Boa Vista – Matipó/MG concentra uma parcela expressiva da população desse município – estima-se que população residente nessa área corresponda à 1/3 do total de todo o município. 3. Café: sua importância no mercado brasileiro O café é uma das bebidas mais populares do mundo. Amplamente consumido e apreciado tanto por seu sabor, como também pelo seu aroma. Além desses pontos um grande número de propriedades benéficas à saúde têm sido atribuídas a este produto (ALMEIDA et al, 2006). O produto, no Brasil, ganha uma atenção especial, de forma que o país chegou a responder por 80% da produção mundial, mas sua participação é decrescente, mesmo ainda sendo o maior exportador. E ainda com o agravante de ser conhecido como um exportador de quantidade, e não de qualidade, recebendo preços mais baixos do que a média (ORMOND et al, 1999). Este fator está relacionado em grande parte à atenção dispensada na produção e colheita do produto, sendo o lavrador uns dos grandes responsáveis pelo cuidado permanente do café. Para conseguir aumentar a qualidade, além das técnicas, é necessário também um conhecimento mais aprofundado a respeito da situação de vida das pessoas que participam desse processo. Permitindo assim uma análise mais detalhada para possíveis tomadas de decisão no processo produtivo. Para tanto, o presente trabalho descreve nos pontos a seguir a realidade encontrada dos responsáveis pela colheita desse produto tão singular, em Matipó e região. 4. Metodologia O método utilizado para coleta de dados foi a pesquisa bibliográfica e o contato com o vasto material pertinente ao assunto em questão. Para uma Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 análise mais profunda foi realizada uma pesquisa de campo com os responsáveis pela colheita do café da cidade de Matipó – MG, o que possibilitou um contato direto com dados e informações relevantes para análise sobre o tema. A pesquisa foi realizada através de um questionário semi-estruturado, elaborado pelos alunos da Faculdade Vértice com o auxílio das coordenadoras do projeto Kelly Aparecida do Nascimento e Karen Estefan Dutra. Dentro do universo pesquisado, foi calculada a amostra necessária para que o resultado da pesquisa apresentasse a veracidade dos dados. O cálculo da amostra tem a confiança de 95% (noventa e cinco por cento) e margem de erro de 5% (cinco por cento). Após a fase de abordagem em campo, houve o registro dos dados, ou seja, a formalização ordenada das informações coletadas (tabulação), realizada com a utilização de softwares específicos para essa finalidade. A seguir foi elaborado o presente trabalho contendo gráficos e tabelas, representando os dados obtidos através da aplicação dos questionários. 5. Resultados da pesquisa e suas análises 1 Sexo dos entrevistados Fonte: Pesquisa realizada pelos autores A grande maioria dos entrevistados é do sexo masculino, isso se deve, principalmente, à questão de ser um trabalho com um índice de exigência física muito grande, fazendo com que as mulheres se esforcem mais na realização do trabalho. 2 Idade dos entrevistados Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Percebe-se que o maior índice de trabalhadores encontra-se com a faixa etária entre 25 e 30 anos, ou seja, pessoas com uma idade jovem e com energia para o trabalho em questão. Entretanto, a representatividade de 20,5% de pessoas acima de 49 anos, demonstra que a idade nesse tipo de trabalho não é um fator limitante. Em relação à idade, entre 13 e 18 anos, apesar de apresentar um índice pequeno com pouca representatividade, é ainda preocupante, pois muitas crianças e adolescentes já iniciam o trabalho na roça muito cedo, deixando de estudar e desenvolver atividades que seriam próprias da sua idade. 3 Escolaridade dos entrevistados Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Quanto à escolaridade, consegue-se visualizar que a grande maioria não consegue completar a 8ª. série. Essa é um realidade na sociedade, visto que o trabalho de colheita, muitas vezes, é transmitido de pai para filho. Este trabalho exige um desempenho físico muito grande e, na maioria das vezes, impossibilita que o estudo seja realizado. 4 Profissão dos entrevistados Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 PROFISSÃO Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Dentre as pessoas entrevistadas, é transparente que a atividade lavrador, ou seja, lidar com todas as atividades do campo é a que predomina. E é importante relatar que esse trabalho permanece também após o período de colheita. 5 Bairro em que reside Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Considerando que os entrevistados em questão realizam um trabalho que apesar de ser fundamental para o desenvolvimento do setor, é um trabalho simples e que demanda pouco preparo para o seu desempenho, os mesmos têm uma condição financeira mais limitada, o que repercute diretamente nas condições de vida que têm. O gráfico acima deixa claro que os bairros em que moram apresentam, em sua maioria, as classes mais simples da cidade de Matipó. 6 Tipo de moradia Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Uma informação interessante é que embora a maioria dos entrevistados apresentem sua moradia nos bairros mais simples da cidade de Matipó, grande parte com 74% têm casa própria, o que demonstra uma segurança para os mesmos. Uma prática comum nessa profissão é o dono da fazenda fornecer a casa para que esses funcionários possam morar. Essa casa normalmente fica localizada dentro da propriedade, permitindo melhor acesso ao trabalho a ser desempenhado. Com isso, o produtor tem a vantagem de ter a mão de obra por perto e o colheitador tem o benefício de não ter que disponibilizar recursos por uma moradia. 7 Renda familiar x número de pessoas que vivem dessa renda Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Com a análise do gráfico, pode-se perceber que mais de 60% dos entrevistados vivem com uma renda familar de um salário mínimo e que essa renda deve ser distribuída para colaborar com o número de pessoas que residem na mesma casa. Esse é um fator preocupante, pois identifica-se que, da pequena renda de cada entrevistado, pode ser percebido que, na maioria, participam duas ou três pessoas. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Essa renda passa por uma alteração no período da colheita e o gráfico a seguir pode demonstrar que a renda aumenta nesse período, pois os profissionais recebem a mais pelo trabalho desempenhado nesse período. Com o aumento da renda, percebe-se que a maioria dos entrevistados se encontram agora com um recebimento entre um e dois salários mínimos. Esse valor representa muito quando se considera a necessidade de distribuição entre as pessoas em casa que participam dessa renda. Fonte: Pesquisa realizada pelos autores 8 Atividade fora da época da colheita Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Novamente, este gráfico vem reafirmar uma informação já relatada anteriormente, que mesmo que a colheita já tenha sido finalizada, muitos profissionais permanecem desenvolvendo atividades de conservação, limpeza de áreas, plantio nas propriedades, ou seja, preparando para o próximo ano. 9 Jornada de trabalho Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Fonte: Pesquisa realizada pelos autores O dia a dia desses profissionais apresenta uma carga horária em sua maioria normal, considerando 8 horas diárias. Contudo, deve ser levado em consideração que 41% desses profissionais trabalham além desse horário. 10 Carteira de trabalho assinada Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Precebe-se que assinar a carteira do funcionário não é uma prática comum na região. Isso acontece por dois motivos principais, o primeiro é que o empregador não faz muita questão, evitando com isso encargos profissionais e, o segundo, diz respeito ao próprio profissional que também não tem muito o hábito de permanecer em uma única fazenda, mudando de propriedade sempre que lhe for mais conveniente. 11 Acidente de trabalho Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Um fator positivo é que a maioria dos entrevistados nunca teve nenhum tipo de acidente de trabalho, considerando a falta de equipamentos de proteção Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 e, também, a falta de instrução dos mesmos em relação aos riscos dessa atividade. Contudo, um índice de 26% já relataram terem tido algum tipo de acidente, entre eles pode ser descrito: queda do caminhão, queda do carro de boi, queda na área de trabalho, perda dos dedos da mão, sentiu-se mal durante o trabalho ficando paralisado e mordida de cobra. 12 Saúde dos entrevistados Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Em relação a saúde dos entrevistados, pode-se considerar que mais 90% consideram-se pessoas saudáveis e com potencial para o desempenho do trabalho. As pessoas que responderam que a saúde está ruim, apresentam idade superior a 49 anos. 13 Saúde dos entrevistados após 1 (um ano) Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Este gráfico demonstra como os entrevistados consideraram a variação da saúde após um ano, e é interessante perceber que não houve variação de um ano para o outro, apresentando os mesmos percentuais da análise anterior. 15 Problema de saúde causando prejuízo no trabalho Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Fonte: Pesquisa realizada pelos autores Quando o assunto é a saúde prejudicando o desenvolvimento do trabalho, visualiza-se que a maioria não apresenta esse problema. Entretanto, 21% dos entrevistados consideram que já foram afetados em alguma situação, e entre elas pode ser citado: gripe e febre, pressão alta, sinusite, perda de gravidez aos sete meses, problema nas pernas, quebra do pé e hipertensão. 6. Considerações finais A pesquisa realizada visa a demonstrar o perfil dos profissionais responsáveis pela colheita de café na cidade de Matipó e mostra, através das informações descritas, a realidade da região. Esses profissionais representam hoje grande parte da sociedade e contribuem significativamente com a sua mão de obra. A atividade do café, hoje, representa grande parte da contribuição de renda da região. Contudo, esses profissionais, pelo trabalho desenvolvido, não têm condições de estudo, fazendo isso se repercutir também nas gerações futuras. Os mesmos apresentam uma renda financeira baixa e com poucas condições de desenvolvimento. Contudo, apesar de todas as dificuldades, consideram boa a saúde e se dizem satisfeitos em relação a vida com familiares e amigos. A presente pesquisa permitiu descrever uma realidade que servirá de base para que novos projetos sejam realizados, considerando as necessidades da comunidade de Matipó. REFERÊNCIAS ALMEIDA, A. A. P.;OLIVEIRA L.S.; MORAES SANTOS T.; GLÓRIA M. B. A.. Café e saúde: três décadas de estudos. Rev. Bras. Armaz., especial café, n.7, p.56-63, 2003. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Disponível em: http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1. Acesso em: 10 ago 2010. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ORMOND, J. G. P.; PAULA, S. R. L.; FAVERET FILHO, P. Café (re)conquista de mercados. BNDES Setorial, Rio de Janeiro, n. 10, p. 3-56, set. 1999. Disponível em: <http://www.bndes.gov.br/SiteBNDES/export/sites/default/bndes_pt/Galerias/Ar quivos/conhecimento/bnset/set1001.pdf>. Acesso em 15 abr 2010. PROGRAMA SOCIAL. Roteiro padrão de projeto social. Samarco, 2009. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 RESUMOS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 O FUTEBOL COMO CONTEÚDO HEGEMÔNICO NAS AULAS DE EDUCAÇÃO FÍSICA ESCOLAR Márcia Ferreira da Silva - Graduada em Educação Física, Mestre em Educação Física- UFV Joana Martins de Andrade - Graduanda Curso de Educação Físicaprofressora da Faculdade Vértice Daniela Gomes Rosado- Graduada em Educação Física-UFV. Professora da Faculdade Vértice [email protected] 1. Introdução Segundo o Coletivo de Autores (1992), a Educação Física é uma disciplina que trata, pedagogicamente de uma área denominada de cultura corporal, sendo configurada com temas ou formas de atividades, particularmente corporais entre as quais estão o jogo, esporte, ginástica, dança, lutas, capoeira e outras que constituirão seus conteúdos. Porém, o esporte tem sido tematizado nas aulas de Educação Física como único conteúdo dessa disciplina, restringindo o conhecimento dos alunos do que é Educação Física. Nessa perspectiva, Kunz (2004), propõe a transformação didático-pedagógica do esporte, uma vez que o esporte de rendimento segue princípios que, em sua maioria, não se aplicam ao contexto escolar, principalmente, no que se refere à cooperação, inclusão e respeito às insuficientes condições técnicas dos alunos. Dessa forma, apesar de propostas para reinvenção do esporte para o trato pedagógico desse no contexto da educação física escolar como proposto por Assis(2005), o esporte, ao longo de sua história, tem sido ministrado como único conteúdo das aulas de educação física caracterizando um quadro identificado por muitos autores como “O esporte na escola”. Dessa forma, esse conteúdo é ministrado sem qualquer transformação didática que possa ampliar o conhecimento dos alunos no campo do diferentes conteúdos da educação física escolar, uma vez que as aulas se restringem, na maioria das vezes, ao conhecimento exclusivo do futebol. Nessa perspectiva, esse estudo se prestou a identificar quais conteúdos foram oferecidos aos alunos do curso de Educação Física da Faculdade Vértice ao longo do Ensino Fundamental e verificar, dessa forma, se o futebol realmente se apresenta como conteúdo hegemônico nas aulas de Educação Física Escolar para o público em questão. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 2. Metodologia Foi aplicado um questionário em que os entrevistados respondiam questões relacionadas à suas aulas de Educação Física Escolar, quais conteúdos da Educação Física eram oferecidos nas aulas e, dentre eles, os esportes mais praticados. 3. Resultados e Discussão Modalidades praticadas 60 VOLEI 51 50 40 HANDEBOL BASQUETE 36 FUTEBOL 30 22 LUTAS 20 13 9 10 0 2 DANÇA GINÁSTICA ARTISTICA 0 0 0 GINÁSTICA RÍTMICA OUTROS modalidades Modalidades praticadas VOLEI DANÇA OUTROS 10% 2% VOLEI 27% HANDEBOL BASQUETE FUTEBOL LUTAS FUTEBOL 37% HANDEBOL BASQUETE 17% 7% DANÇA GINÁSTICA ARTISTICA GINÁSTICA RÍTMICA OUTROS Verificou-se que 37% dos praticavam regularmente futebol, 27% voleibol, 17% lutas, 7% basquete, 2% dança e 10% outras modalidades como mostrado nos gráficos acima. Assim, nosso estudo mostrou que a maior parte dos alunos entrevistados praticavam, em suas aulas de Educação Física Escolar, modalidades esportivas, e que o futebol apresentou–se como o conteúdo mais praticado nessas aulas, evidenciando um quadro que poderíamos identificar como “futebol na escola”. 3. Considerações finais Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Este estudo concluiu que, apesar de alguns avanços, o futebol ainda se mostra hegemônico nas aulas de educação física, sendo tratado como conteúdo principal da disciplina. Neste sentido, professores de Educação Física devem ser encorajados a reverem sua atividade docente para que esse quadro possa ser modificado. REFERÊNCIAS ASSIS de Oliveira, Sávio. Reinventando o Esporte: possibilidades da prática pedagógica. 2.ed. Campinas, SP: Autores associados, CBCE, 2005. BRACHT, Valter. Educação Física & Ciência: cenas de um casamento (in) feliz. 2.ed. Ed.Ijuí: Unijuí, 2003. COLETIVO DE AUTORES. Metodologia do Ensino de Educação Física. 11.ed. São Paulo: Cortez, 1992. KUNZ, Eleanor. Transformação Didático- Pedagógica do Esporte. 6ª ed. Ijuí. Unijuí, 2004 Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A PERCEPÇÃO DOS MORADORES DE SANTO ANTÔNIO DO MANHUAÇU ACERCA DOS IMPACTOS CAUSADOS PELA IMPLANTAÇÃO DA PCH AREIA BRANCA: DIFERENTES CONTEXTOS SOCIOECONÔMICOS Josiane Wendt Antunes Mafra – graduada em Direito, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade. Kelly Aparecida do Nascimento – graduada em Educação Física e Pedagogia, Mestre em Meio Ambiente e Sustentabilidade [email protected] É de sabença trivial que o Brasil possui grande potencial hidrelétrico e que esta é a principal fonte da energia aqui produzida (ANEEL, 2008). Sem embargo, é possível verificar que a implantação de usinas hidrelétricas no território brasileiro, por constituir uma atividade geradora de impactos de natureza diversas, vem gerando tensão entre os diferentes atores sociais envolvidos, notadamente no que tange aos impactos socioeconômicos dela provenientes, razão pela qual inelutável se faz adentrar no estudo desta questão. Deveras, a partir da implantação de uma hidrelétrica em determinada comunidade, começa-se a observar que há, não somente pessoas diretamente atingidas - em virtude do alagamento de propriedades onde existem casas, benfeitorias e/ou áreas produtivas -, mas também, pessoas que sofrem perdas indiretas, visto que os laços comunitários são desfeitos e a cultura do local é atingida, destruindo-se o patrimônio histórico, cultural e ambiental, muitas das vezes (SCUDDER, 1997). Independe do porte das hidrelétricas (Pequena Central Hidrelétrica - PCH; Usina Hidrelétrica de Energia - UHE, Micro Central Hidrelétrica - MCH), percebe-se que a população, de modo global, sofre os reflexos, positivos e/ou negativos, decorrentes de sua implantação. O estudo em questão baseou-se, tão-somente, nos distintos atores sociais englobados na condição de moradores do distrito de Santo Antônio do Manhuaçu, localidade que pertence ao município de Caratinga/MG, onde, juntamente com o município de Ipanema/MG, foi implantada a PCH denominada “Areia Branca”. Embora até o encaminhamento desse resumo não tenha sido possível encontrar fontes oficiais acerca do número de habitantes do distrito, um levantamento para implantação de um posto de saúde aponta que a população é de aproximadamente 2000 habitantes. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa que foi realizada através da observação participante e entrevista semi-estruturada com os moradores de Santo Antônio do Manhuaçu. Houve, pois, inserção em campo com a finalidade de realizar a entrevista semi-estruturada com moradores de diferentes contextos socioeconômicos, tendo esta sido realizada com 20 (vinte) pessoas, dentre as quais destacamos empresários locais e funcionários do comércio (setor empresarial), aposentados, trabalhadores rurais, empregados domésticos e trabalhadores eventuais (diaristas), ocupantes de cargos públicos, profissionais da área de educação, todos atingidos direta e/ou indiretamente pela implantação do empreendimento. A pesquisa foi realizada no ano 2008. No primeiro momento, apresentamo-lhes os objetivos e a relevância do estudo e, após adesão voluntária e assinatura do termo de consentimento, a entrevista foi iniciada, utilizando-se um gravador digital, cuja autorização foi, igualmente, concedida. Para realizar a observação participante, permanecemos um dia na comunidade para acompanhar a rotina daqueles moradores, atentando-nos, especialmente, para o período em que os empregados da PCH retornavam, das obras, para o descanso intrajornada, o que se dava, aproximadamente, às 17h (dezessete horas). As entrevistas foram transcritas, enquanto as observações participantes organizadas em nota de campo expandida. Os resultados indicam que, de fato, há diferentes percepções sobre os impactos advindos da implantação da PCH Areia Branca, variação ocorrida, por sua vez, em função dos distintos contextos socioeconômicos no supramencionado distrito. Observamos que os empresários e funcionários do comércio estavam satisfeitos com as atividades decorrentes da implantação das hidrelétricas, haja vista o aumento da demanda por seus produtos e serviços, notadamente no caso de bares e restaurantes onde o horário de funcionamento foi expandido para atender a demanda (nos finais de semana os estabelecimentos passaram a fechar aproximadamente às 03h00min da manhã e nos dias de semana às 22h, duas horas a mais do que antes do início das obras). Foi, aliás, inaugurado um novo restaurante na cidade, tendo em vista o aumento considerável da demanda. Do mesmo modo, os trabalhadores rurais cuja mãode-obra foi absorvida pela PCH estão satisfeitos com o empreendimento, tendo, lado outro, consciência de que se trata de emprego temporário, fato que muito lhes preocupa. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 A demanda por empregados domésticos e trabalhadores eventuais (diaristas), igualmente, aumentou consideravelmente, de modo que estes, também, se mostraram satisfeitos com a chegada do empreendimento no distrito (lavadeiras auferiam, em média, R$ 30,00 ao mês pela faxina, enquanto, atualmente a cifra atinge a quantia média equivalente a R$ 70,00 mensal). Os moradores proprietários de imóveis no distrito estão satisfeitos, haja vista o acréscimo no preço da locação em montante superior a 100%, o que levou algumas famílias proprietárias a se mudarem para uma única casa, enquanto outras a alugarem imóveis no núcleo urbano do Município de Caratinga, a fim de pagarem menores valores com a locação residencial e, assim, auferirem renda. É preciso registrar, ainda, que os ocupantes de cargos públicos, de um modo geral, estão relativamente satisfeitos, imputando, tal satisfação, ao progresso vislumbrado no distrito e entorno. Os demais moradores entrevistados (aposentados, trabalhadores rurais não empregados na PCH, profissionais da área de educação), lado outro, não estão nada satisfeitos com a implantação do empreendimento, apontando uma série de razões para tanto, senão vejamos: excesso de tráfego em virtude do estacionamento de ônibus, vans e caminhões estacionados próximos à escola, igreja e praça, ocupando ruas antes praticamente desertas, fato que muito amedronta a população no que tange ao deslocamento dos idosos e quanto à poluição visual e sonora antes inexistente; conquanto alguns moradores tenham interagido social e positivamente com os trabalhadores forasteiros, participando, inclusive, de festas em comum, registrou-se incômodo quanto à presença de moradores estranhos à comunidade que, inclusive, são vistos como elemento de destaque, pelo excesso populacional (aproximadamente 350 trabalhadores) em detrimento dos moradores do distrito; preocupação quanto ao desvirtuamento moral de adolescentes entre 14 e 17 anos, visto que têm se envolvido amorosamente com os trabalhadores forasteiros, registrandose, contudo, que, até o momento, não houve registro de estupro ou gravidez; desagregação da antiga associação de moradores do distrito, em razão de desentendimentos gerados pelos diferentes interesses no que tange ao empreendimento, já que, para alguns, representou aumento da demanda, empregos e, via de conseqüência, renda, enquanto para outros, apenas transtornos de ordem econômica, cultural e de identidade; há, enfim, o registro de estranhamento da população de moradores quanto a presença de grandes caminhões e carga excessiva movimentando-se, diuturnamente, no distrito. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Com quanto os moradores dos diversos contextos socioeconômicos apresentem percepções positivas e negativas em relação à implantação do empreendimento, de um modo geral, paira ente eles a preocupação comum em relação ao futuro do distrito. REFERÊNCIAS AGÊNCIA NACIONAL DE ENERGIA ELÉTRICA – ANEEL. Gestão e Estudos Hidroenergéticos. Disponível em www.aneel.gov.br. Acesso em: 02. fev.2008. SCUDDER, T. Social impacts of large dam projects, Large Dams – Learning from the Past, Looking at the Futurepg. IUCN / The World Bank, Switzerland, April, 1997. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT 8 LINGÜISTICA, LETRAS E ARTES Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 GT2 – LINGUISTICA, LETRAS E ARTES Nº Tipo de Apresentação 1 Topônimos comerciais: uma análise da nomenclatura Comunicação oral - A comercial de Matipó 2 Comunicação Qual é a pior tortura? uma análise da obra “o queijo e os oral - A vermes”, de Carlo Ginsburg TRABALHO A – ARTIGOS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 ARTIGOS Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 TOPÔNIMOS COMERCIAIS: UMA ANÁLISE DA NOMENCLATURA COMERCIAL DE MATIPÓ Andréia Almeida Mendes – graduada em Letras, especialista em Docência do Ensino Superior, Mestre em Linguística, Doutoranda em Lingüística pela UFMG. Professora da Faculçdade Vértice. Fabiene Dutra Mendes, Leiliane de Abreu Mendes, Priscila Miranda Silva Vieira e Walquíria Silva Vieira – graduandas em Administração. [email protected] RESUMO Através de uma pesquisa de campo realizada a respeito da Toponímia comercial da zona urbana de Matipó/Minas Gerais, este trabalho propõe analisar a motivação destes vocábulos lexicais, o processo e os critérios de criação de cada um dos nomes de estabelecimentos comerciais da cidade em questão. Será levada em conta a influência exercida pelo nome no público consumidor e os meios utilizados para atingir esse fim. PALAVRAS-CHAVE: Toponímia; léxico; nomes de estabelecimentos comerciais. 1. Considerações iniciais A propaganda comercial tem por finalidade ajudar, estimular e motivar a venda de produtos e serviços, para tanto, torna-se necessário criar nomes específicos para os mesmos e para as lojas com o objetivo de distinguir a imagem da marca em meio às concorrentes. Para alcançar tal fim, são utilizados inúmeros recursos lingüísticos como forma de diferenciar o nome do estabelecimento comercial. Ao contrário do léxico da língua comum, em que se podem encontrar palavras “opacas”, ou melhor, “imotivadas”, os nomes próprios comerciais são, por excelência, “motivados” ou “transparentes”. O comerciante cria, geralmente, o nome de seu estabelecimento com o intuito de que esse topônimo comercial seja capaz de representar o lugar que denomina, atuando e influenciando sua clientela. Esse artigo pretenderá analisar os topônimos comerciais existentes na cidade de Matipó, Minas Gerais, num total de 252 estabelecimentos comerciais; com o objetivo de investigar os princípios lingüísticos que nortearam a escolha e a criação dos nomes dos topônimos comerciais matipoenses. Para esse levantamento, foi realizada uma pesquisa in loco: foi percorrida toda a zona urbana da cidade, criando não só uma lista dos topônimos como também coletando a autorização dos proprietários dos Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 estabelecimentos comerciais, dados esses que constituem o corpus dessa análise.19 A primeira parte do trabalho tratará dos nomes de estabelecimento comercial; a segunda, retratará a presença de empréstimos internos e externos nos topônimos comerciais; a terceira, apresentará os neologismos que nomeiam os estabelecimentos comerciais da cidade de Matipó.20 Logo em seguida, serão apresentadas as considerações finais. 2. Os nomes de estabelecimento comercial O conceito tradicional de Toponímia envolve o significado etimológico do próprio vocábulo; assim temos do grego, topos, significando lugar, e onoma, significando nome. A Toponímia tem como finalidade básica o estudo dos nomes de lugar e seus designativos geográficos; mas, se formos analisar mais aprofundadamente os seus objetivos, notar-se-á que a Toponímia atinge um alcance de muito mais amplitude. “Os nomes de lugares se formalizam segundo condicionantes típicas a cada denominador, isoladamente ou como decorrência de uma manifestação mais ampla da comunidade envolvida” (DICK, 1990, p. 55). A linguagem da propaganda comercial, por sua vez, tem por objetivo atuar sobre o público consumidor, levando-o à compra do serviço; para atingir a esse fim, ela representa características universais de concisão e de afetividade, no sentido de apelo ou atuação social. Essa propaganda se manifesta de maneira predominantemente escrita, não se submete a uma tradição disciplinadora; prova disso é a criação de neologismos vocabulares, cuja única e universal “lei” é a expressividade. Segundo Dick, é o nome que transforma o não-lugar em lugar, uma vez que “aquilo ou o que é inominado não pertence a ninguém” (DICK, 2002, p.335); apesar disso, foram encontrados inúmeros estabelecimentos comerciais que não foram “batizados”, ou seja, não apresentaram um nome que os individualizasse dos demais. Esses estabelecimentos são chamados 19 Apesar de se haver feito um levantamento de todos os topônimos comerciais da cidade, só serão citados os nomes dos estabelecimentos comerciais que foram devidamente autorizados pelos donos. 20 Alguns topônimos, por se enquadrarem em mais de uma análise, serão citados mais de uma vez. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 apenas pela sua função, pelo produto das atividades realizadas: Bar e Restaurante, Bar e Mercearia. O mais comum e mais inteligente, porém, é que o comerciante “batize” o seu estabelecimento. Para tanto, ele dispõe de um variado material, tanto nacional ou estrangeiro, ficando a critério a nomeação a ser escolhida. É freqüente encontrar também, além do nome conotativo, um denotativo que informa o ramo de atividade a que se dedica o estabelecimento. Existem várias denominações denotativas, mas as mais recorrentes na cidade foram: casa, loja. * Casa – é a palavra mais tradicional e mais antiga das denominações genéricas de estabelecimentos comerciais. É quase sempre determinada por topônimos e antropônimos, aparecendo uma grande quantidade de nomes comerciais do tipo “opaco”: Casa Sabino, Casa Darissi, Casa Magalhães; ou ainda a palavra determinada por um adjunto adnominal restritivo, possibilitando nomes transparentes e especificativos do ramo de atividade exercida pelo estabelecimento comercial: A Casa do Pai. Encontra-se ainda na cidade o vocábulo casa ligado a outro termo: Casa & Cia, mostrando que nesse estabelecimento vende-se produtos relacionados à casa. * Loja – em sua origem, loggia, designava um local baixo, geralmente em pavimento subterrâneo ou térreo, onde funcionava uma pequena indústria, oficina ou qualquer comércio rudimentar. Atualmente, designa um estabelecimento espaçoso e com estoque variado, podendo denominar, segundo Neves (1971) nomes “opacos” e “transparentes”; nos estabelecimentos comerciais da referida cidade, temos como exemplo os seguintes topônimos: Lojão do Povo, para retratar que se trata de um comércio popular; ou Loja Jeito de Ser, com o intuito de mostrar que cada pessoa tem seu próprio jeito de se e de se vestir. 3. Presença de empréstimos internos e externos nos topônimos comerciais Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 Os topônimos comerciais matipoenses apresentam, do ponto de vista lingüístico, formações vernáculas e empréstimos; aquelas criadas dentro da língua e, estes, importados do estrangeiro. Algumas vezes, a formação vernácula apresenta elementos mórficos de línguas estrangeiras, clássicas e modernas. De acordo com Mattoso Câmara Júnior, os empréstimos dividem-se em internos (frutos de contato entre os diversos níveis da mesma língua) e externos (frutos do intercâmbio cultural entre os povos que falam a mesma língua). São chamados estrangeirismos os “termos ou expressões de outras línguas que estão sendo cada vez mais empregados na língua falada e escrita no Brasil” (FARACO, 2001, p. 49) O uso de estrangeirismos em estabelecimentos comerciais é, visto por muitos, como sinal de modernidade e requinte. As influências das línguas clássicas (grego e latim) estão presentes nos estabelecimentos comerciais da cidade através de radicais e prefixos. Temos tele, no topônimo Tele Rádio Eletrônica; agro, no topônimo Agrominas; info, no topônimo Infomais Informática e rodo, no topônimo Rodogás. A influência do latim também se encontra na formação de pseudolatinismos através de prefixação. Assim, tem-se o prefixo super, com sentido etimológico de excesso e superioridade: Supermercado São João.. Das línguas modernas, há a presença de vocábulos na Toponímia que recebem influência francesa, inglesa, italiana e judaica. A influência maior provém do inglês, por razões de ordem econômica; encontra-se assim a forte presença do genitive case: Ronaldo‟s Lanches. Há também estabelecimentos que possuem seu nome parcialmente ou totalmente americanizado: Miami Imports, Isa Baby Confecções. Todas as culturas e civilizações estão sofrendo uma avassaladora influência da língua inglesa e da cultura americana, como conseqüência do grande prestígio que a civilização americana assumiu em todo o mundo. Vivemos a era da Pax Americana, na qual o império cultural dos Estados Unidos da América se exerce sobre todas as nações, culturas e línguas. Nos tempos contemporâneos o inglês pode ser considerado uma língua franca universal. E assim, os bens, os conceitos, inventos americanos, com a sua nomenclatura inglesa, vão sendo absorvidos pelas outras culturas. (BIDERMAN, 2001, p.208) Encontra-se influência francesa no processo de formação do seguinte topônimo: Hotel La-Provence (sendo essa uma influência mais cultural, uma vez que os neologismos franceses sugerem luxo e elegância). Há também uma Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 influência italiana no seguinte topônimo: Antonella Modas e uma influência judaica: Shalon Presentes. A contribuição maior, porém, vem da própria língua portuguesa; são inúmeras as palavras e expressões utilizadas. A influência que mais se destaca nos estabelecimentos comerciais matipoenses consiste no uso de antropônimos21 (53,9% dos topônimos analisados). “Geralmente eles se prestam mais à satisfação pessoal e à vaidade do proprietário do que à propaganda do estabelecimento” (NEVES, 1971:96). Essa predominância também pode ser justificada pelo fato da cidade pesquisada ser pequena e interiorana, lugar em que a maioria das pessoas se conhece – o topônimo torna-se uma espécie de referência. Deve-se considerar também que a “utilização do antropônimo como nome comercial é um procedimento antigo na linguagem do comércio (...) há, ao lado de modelos tradicionais, outros que obtêm a preferência dos comerciantes que estão inaugurando o seu estabelecimento” (NEVES, 1971, p. 96). Assim têm-se topônimos baseados no: * Prenome do proprietário ou de algum parente – Papelaria Gustavo, Sorveteria e Lanchonete do Eduardo, Hotel Paloma, Renato Celular, Depósito de Pâes Luana, Elias Presentes. * Sobrenome: Irmãos Gardingo Comérico e Distribuidora, Casa Sabino, Casa Darissi, Mobiliadora Gardingo, Loiola Presentes, Casa Magalhães. 21 Nomes próprios de pessoas. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 * Apelido: Papelaria Pititico, Zitinho Materiais de Construção, Rafa presentes, Lurdinha Moda Íntima, Muca Lanches, Maitê Confecções, Locadora Dugato, IKI Confecções, Isa Baby Confecções, Distribuidora de Doces Diney. * Nome de santos ou de personalidade religiosa22: Supermercado São João, Loja Nossa Senhora Aparecida, Cafeeira São João, Drogaria São João, Barbearia São José. * Representação de um antropônimo por meio de suas iniciais – MRF – Maurício Foto e Vídeo, R e J Modas (R = Reinaldo e J = Joana). * “Genitive case” com antropônimos portugueses – Ronaldo‟s Lanches. A presença doa próprios topônimos na nomeação da Toponímia dos estabelecimentos comerciais, por sua vez, é utilizada quase sempre para indicar a localização do estabelecimento ou a origem real ou suposta dos produtos vendidos: Miami Imports, Coisas da Roça, Bar do Ponto, Drogaria Avenida, Drogaria da Praça, Agrominas, D‟Rio Confecções, D‟Rio Doce-Mel, Padaria Avenida Ltda., Hotel La-Provence. Nesse caso, o topônimo mais recorrente, por razões óbvias, refere-se ao nome da cidade: Drogaria Matipó, Serralheria Matipoense, Vidraçaria Matipoense. São classificados como “transparentes”, os topônimos que se relacionam diretamente com o tipo de comércio nomeado: Sabor e Arte (lanchonete e 22 A antroponímia religiosa (hagiotopônimos), segundo Neves, aparece geralmente nos estabelecimentos mais tradicionais e nos mais populares. Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 confeitaria), Cheirinho de Neném (loja de artigos infantis), Casa & Cia (produtos para casa), Outros topônimos se relacionam de forma transparente, tornando-se originais na tentativa de persuadir o consumidor: Mercearia Pag-Pouco, Realce (loja de roupas), Visane Jóias, + Você (loja de roupas); Mais em Conta (loja de produtos de limpeza), UZZY (loja de roupas), Loja Jeito de Ser (loja de roupas), Lojão do Povo (loja com preços populares). Topônimos valorativos também são utilizados como forma de engrandecer um estabelecimento, enobrecendo-o aos olhos da clientela; para isso, utilizam termos designativos de significação valorativa: Multimarcas fenomenal (loja de roupas). 4. Neologismos que nomeiam os estabelecimentos comerciais Neste trabalho, será utilizado o conceito de neologismo de Biderman, segundo o qual: Neologismo é uma criação vocabular nova, incorporada à língua. Distinguem-se dois tipos de neologismo: 1) o neologismo conceptual e 2) o neologismo formal. No primeiro caso, se trata de uma acepção nova que se incorpora ao campo semasiológico de um significante qualquer (...) O neologismo formal constitui uma palavra nova introduzida no idioma. Pode ser um termo vernáculo ou um empréstimo estrangeiro. (BIDERMAN, 2001, p. 203-206). Valorizando de modo especial o nome de seu estabelecimento, alguns comerciantes utilizam expressividade e recursos inusitados para nomear o seu comércio. O recurso mais utilizado pelos comerciantes matipoenses é a formação do novo vocábulo a partir de neologismos de base antroponímica: Informax (loja de informática cujo dono possui o apelido de Max), Premárcio (pré-moldados do Márcio), Italogard Club (junção da descendência italiana ao Anais do III FAVE – Fórum Acadêmico da Faculdade Vértice – Matipó – MG – 19 a 22 de outubro de 2010 ISSN – 2178-7301 sobrenome Gardingo), KALÚ (junção dos nomes Karina e Luciano), HEWA (junção dos nomes Helena e W anêssa). Outro recurso utilizado consiste na união de prefixos, substantivos comuns e/ou adjetivos: Agrominas (loja de produtos agrícolas), Ótica Olhart (olho + arte). Encontra-se também a associação de sinais gráficos a palavras: + você (loja de roupas e acessórios femininos). Um último processo utilizado é a abreviação, que “consiste em criar lexemas mediante a redução da forma de uma construção que funciona como unidade lexical” (AZEREDO, 2002, p. 97). Dentre os